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Texto Rosane da Silva Borges São Paulo março | 2005 Realização UM FÓRUM PARA A IGUALDADE RACIAL: Articulação entre Estados e Municípios 2005 - “Ano Nacional de Promoção da Igualdade Racial”

Um Fórum para a Igualdade Racial

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livro sobre igualdade racial

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Texto

Rosane da Silva Borges

São Paulomarço | 2005

Realização

UM FÓRUM PARA A IGUALDADE RACIAL:Articulação entre Estados e Municípios

2005 - “Ano Nacional de Promoção da Igualdade Racial”

PPrreessiiddeennttee ddaa RReeppúúbblliiccaa -- Luiz Inácio Lula da Silva

VViiccee--PPrreessiiddeennttee ddaa RReeppúúbblliiccaa -- José Alencar Gomes da Silva

SSeeccrreettaarriiaa EEssppeecciiaall ddee PPoollííttiiccaass ddee PPrroommooççããoo

ddaa IIgguuaallddaaddee RRaacciiaall -- Ministra Matilde Ribeiro

UM FÓRUM PARA A IGUALDADE RACIAL -

ARTICULAÇÃO ENTRE ESTADOS E MUNICÍPIOS

TTeexxttoo::

Rosane da Silva Borges

EEddiiççããoo ee FFoottooss::

Fernanda de Carvalho Papa

CCoollaabboorraaççããoo::

José Carlos Rodrigues Esteves

RReevviissããoo::

Francisco Soares

PPrroojjeettoo GGrrááffiiccoo::

SM&A Design

Direção de Arte: Samuel Ribeiro Jr.

Diagramação: Patricia Morezuela

Camila da Silva Adão, de São Paulo, é a jovem retratada

na capa do livro

Foto do arquivo da Fundação Friedrich Ebert

FÓRUM INTERGOVERNAMENTAL DE PROMOÇÃO

DA IGUALDADE RACIAL - FIPIR

CCoooorrddeennaaççããoo ggeerraall

FFuunnddaaççããoo FFrriieeddrriicchh EEbbeerrtt -- FFEESS::

Reiner Radermacher - Representante da FES no Brasil

Fernanda de Carvalho Papa - Coordenadora de Programas FES

SSEEPPPPIIRR::

João Carlos Nogueira - Subsecretário de Políticas

de Ações Afirmativas

José Carlos Rodrigues Esteves - Gerente de Projetos

EEqquuiippee::

Antonio José Rollas de Brito - Consultor FES

Ana Claudia Pecchi - Assistente de Projetos FES

Cristina de Fátima Guimaraes - Assessora Técnica -

SUBAA/SEPPIR

Benemiria Eufrásio (Miria) - Assessora Técnica -

SUBAA/SEPPIR

F797

Fórum para igualdade racial: articulação entre estados emunicípios / organizadora Rosane Borges. - São Paulo: Fundação

Friedrich Ebert Stiftung, 2005.

128 p.; 21 X 22,5 CMISBN: 85- 9913-801-4

1. Política étnica-racial 2. Igualdade étnica-racial 3. Discriminação racial 4. Desigualdades raciais 5. Racismo I. BORGES, Rosane. II.SEPIR. III. FórumIntergovernamental de Promoção da Igualdade Racial. IV. Brasil.Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade.V.Título.

CDD 320.56

Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada destapublicação, por qualquer meio, seja total ou parcial, constituiviolação da Lei nº 5.988.

Introdução

Discurso do Presidente da República em Exercício, José de Alencar - maio de 2004

Prefácio

Ministra Matilde Ribeiro

1 Apresentação

2 O papel do Estado no combate ao racismo e na promoção da igualdade racial: um breve relato

2.1 Distâncias e aproximações: demandas da população negra e poder público

2.2 Algumas políticas que já foram desenhadas e implementadas

2.3 Governo Lula: diálogo ampliado

2.4 SEPPIR, instância representativa para a conquista da promoção da igualdade racial

3 O Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial - FIPIR

3.1 Objetivos do Fórum

3.2 Metodologia e formas de atuação do Fórum

3.3 Temas tratados

3.4 Abrangência do Fórum

3.5 Organismos municipais e estaduais integrantes do Fórum

4 O Fórum acontecendo

4.1 Primeira e segunda praças de debates: outubro de 2003 e janeiro de 2004

4.2 Terceira praça de debates: lançamento do Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade

Racial - FIPIR

SUMÁRIO

4.3 No centro da praça, a educação

a) Interlocução qualificada de gestores e gestoras

b) Na tribuna, os gestores e as gestoras

c) Outros desdobramentos da interlocução - Seminários Técnicos

d) Formação de educadores/as

e) Material Pedagógico

f) Outras conquistas na educação

5 Quarta praça de debates: monitorando as ações na educação e em outros temas

5.1 Acompanhamento da Lei 10.639/2003

5.2 Mapeando desafios

5.2.1 Mercado de trabalho e população negra: descortinando a realidade

5.2.2 Delineando políticas à luz dos indicadores - algumas idéias para outro desenvolvimento possível

6 Nos bastidores e no palco: o FIPIR cresce

6.1 Perspectivas para 2005

6.2 Desafios

6.3 Alguns resultados

6.4 Como aderir ao Fórum

7 Anexos

8 Fontes bibliográficas

Quero cumprimentar nossa querida ministraMatilde Ribeiro, secretária especial de Polí-

ticas de Promoção da Igualdade Racial, pela ini-ciativa de realizar aqui este Seminário.

Cumprimento nosso companheiro, ministrode Estado-Chefe da Secretaria-Geral daPresidência da República, Luiz Dulci, meucoestaduano de Minas,

Cumprimento também o meu coestaduano doRio Grande do Norte, deputado Vicentinho, queestá aqui conosco,

Cumprimento a excelentíssima senhora Valé-ria Pires Franco, ilustre vice-governadora doestado do Pará,

Quero cumprimentar também o Luiz Abílio deSouza Neto, governador interino de Alagoas,

Excelentíssimas autoridades aqui presentes,

Senhoras e senhores,

É realmente excepcional a satisfação que tenhode estar aqui, participando da abertura desteencontro, deste Fórum que vai, naturalmente,realizar trabalhos altamente produtivos nessesdois dias em que se realiza.

A cerimônia deste Fórum é sempre razão paraque todos nós, brasileiros, estejamos mais próxi-mos desta causa de igualdade racial. Nosso paístem todas as características para levar aomundo o exemplo da igualdade racial, porque araça brasileira aqui constituída é a raça maismiscigenada que pode haver. Aqui nós temosinfluência de todos os povos, especialmente dospovos africanos, que participaram grandementedo trabalho de construção do país.

A cerimônia da Secretaria Especial de Políticas dePromoção da Igualdade Racial, cuja titular é aministra Matilde Ribeiro, constituiu-se nummarco do governo Lula. Eu não tenho dúvida deque o nosso presidente Lula, se não estivesse forado país, estaria aqui prestigiando a aberturadeste Fórum. Esta é a razão pela qual eu aceitei oconvite honroso da Ministra Matilde. Estarei,aqui, no sentido de constituir o marco do gover-no Lula, no sentido de ampliar as posições deação do governo, para dar sustentabilidade àsdimensões de raça e de gênero, reafirmando aresponsabilidade da sociedade brasileira comgrupos historicamente excluídos.

O presidente Lula lançou, em 20 de novembro doano passado, a Política Nacional de Promoção daIgualdade Racial. Esse foi mais um passo para aredução das desigualdades raciais no campo

Discurso do Presidente da República em exercício,José de Alencar, no lançamento do FórumIntergovernamental de Promoção da Igualdade Racial

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econômico, social, político e cultural. Para issoforam estabelecidos seis programas, que estão acargo da Secretaria Especial de Políticas dePromoção da Igualdade Racial.

Para que esses programas e ações possamalcançar o seu objetivo, é necessária a adesão ea participação efetiva dos governos estaduaise municipais. Este Fórum tem, então, este obje-tivo: estimular os estados e municípios, assimcomo as empresas e as organizações não-governamentais, a adotarem, cada vez mais,programas que contemplem a promoção daigualdade racial. É necessário que todos osagentes sociais incorporem esta iniciativa emseus programas de atuação.

Há mais ou menos um mês, o presidente Lula mepediu que o representasse na posse do presidenteMbeki, na África do Sul. E me recomendou, quan-do estávamos preparando a viagem, que nãodeixasse de fazer um encontro especial com opresidente Mandela, em nome dele. Eu fiqueiadmirado quando me encontrei com o Mandela,pela atenção e a consideração que ele tem pelopresidente Lula. Então, foi realmente umaviagem muito proveitosa para o Brasil, porque aÁfrica do Sul é um grande país. É um país de 45milhões de habitantes, com cerca de 1 milhão e200 mil quilômetros quadrados, mas que tem umdesenvolvimento muito grande. E a gente senteque o povo está participando.

Na solenidade de posse do presidente Mbeki,quando chegou o presidente Mandela - o presi-dente Mandela não ocupa hoje um cargo execu-tivo, ele é o homem que trouxe o maior exemplo

para o mundo do que significa um resgateracial, foi uma coisa fantástica o trabalho queele realizou, como todos sabem - ele chegou e,humildemente, se sentou no meio da platéia, dopovo. É verdade que esse povo a que eu merefiro, é um povo constituído de autoridades domundo inteiro. Havia lá mais de 100 paísesrepresentados. Mas ele se sentou ali, ele não foipara o grande palanque que estava armadopara as autoridades. Porém, houve, pelo menos,uns 15 minutos de hinos e de aplausos, nomomento em que ele chegava e caminhava -ele tinha uma bengala, havia uma senhora euma outra pessoa ao lado dele, porque ele estáandando com uma certa dificuldade - edurante todo esse tempo que ele caminhava,ele foi aplaudido e houve hinos que eles can-tavam. São coisas da cultura deles, mas tudoaquilo era em homenagem ao presidenteMandela. Foi uma solenidade emocionante.

Depois disso foi que eu estive com ele. E quandoeu falei que estava levando um grande abraçodo presidente Lula, comecei a sentir o quanto opresidente Lula é conhecido, admirado e estima-do, não só por ele, como pelas autoridades quelá estavam, porque antes do almoço nós tivemosuma reunião ampla, demorada, com váriospresidentes de vários Estados que estavam alirepresentados e a primeira coisa que todos per-guntavam era como estava o presidente Lula.

Então, isso é uma coisa que também traz para agente uma grande alegria, de verificar que essetrabalho que o Presidente tem realizado em via-gens ao exterior tem sido proveitoso para o país,não só no que diz respeito ao campo econômico,

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mas também ao campo político e cultural.O Brasil passa a ser mais conhecido e maisrespeitado à medida em que o Presidente leva asua mensagem, a sua presença e esse esforçoque ele realiza nesse nosso país continental,que precisa, obviamente, ocupar o espaço quelhe cabe, de direito, por força também do valorde seu povo.

Então, é por isso que eu reitero, Matilde, o meuabraço de congratulações, de parabéns, pelainiciativa de realização deste Fórum, que háde trazer grandes resultados para o objetivo aque se propõe.

Agradeço, mais uma vez o convite que me foifeito, ainda que não soubesse direito, pois eupensei que o Fórum ia se realizar lá no Palácio,depois é que me disseram que era aqui. Mas, dequalquer maneira, foi um prazer muito grandereceber aquele telefonema seu, reiterando o con-vite para que eu pudesse estar aqui, presidindo aabertura deste Fórum.

Muito obrigado a todos.

José de AlencarPresidente da República em ExercícioHotel Partenon, Brasília, 27 de maio de 2004

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Este livro, resultado de um trabalho coletivo,faz associação a ação como uma dinâmica

de uma praça. Ao conhecê-lo, além de reviver osmomentos de sua construção, passei a pensarno significado de uma praça... inevitavelmentesurgem as lembranças das cantigas antigas edeste espaço como lócus de convívio: o pipo-queiro, a criança brincando, os idosos conver-sando, o casal namorando, as mulheres em seusafazeres, as folhas secas no jardim e o cotidianoem circulação, dia após dia. Portanto, a imagemda praça, associada a idéia de trabalho, podesignificar uma roda de discussão e ação pública,coletiva, democrática e inclusiva.

Assim, este livro apresenta uma das inúmerasconstruções da Seppir (Secretaria Especial dePolíticas de Promoção da Igualdade Racial,criada em 21 de março de 2003, pelo Presi-dente da República, Luiz Inácio Lula da Silva),sendo ele resultado de uma parceria com oIldes - Fundação Friedrich Ebert, visando adinamização da política pública.

Essa ação é antes de tudo uma construção co-letiva. Denominada originariamente Rede, em2003, foi rebatizada, no processo de debate paraFórum, para melhor expressar sua proposta edestacar o caráter de união entre Estado esociedade civil organizada. Assim, passamos aretratar de maneira mais clara a articulaçãoinstitucional entre Governo Federal, Estados emunicípios, rumo a uma possível capilaridadedas ações de governo.

O Fipir (Fórum Intergovernamental de Promo-ção da Igualdade Racial) é mais um espaço deconsolidação de políticas públicas efetivas eampliação da Política Nacional de Promoção daIgualdade Racial, elaborada por este governo epela sociedade civil. É fruto da necessidade dearticulação, capacitação, planejamento, exe-cução e monitoramento das ações para aimplementação das políticas de promoção daigualdade racial no País.

O Governo Federal sinaliza de forma clara seucompromisso com a temática e o reconhecimentode que urge implementar políticas públicas deações afirmativas. Explicita a importância daadesão de municípios, Estados, empresas pri-vadas e Organizações Não-Governamentais(ONGs) aos programas que contemplem a pro-moção da igualdade racial.

Na nossa praça se dão as reuniões e parceriasem que gestores públicos de diferentes pontosdo país, das capitais e pequenos e médiosmunicípios, autoridades governamentais, orga-nismos nacionais públicos, privados e organis-mos internacionais do sistema ONU e demaisinstituições públicas e privadas buscam oconhecimento, socialização das experiências,necessidade de capacitação, formulação depolíticas públicas especifícas, execução qualifi-cada, monitoramento e avaliação.

Os gestores ocuparam papel relevante nagrande arena de discussão, oferecendo aportes

Prefácio

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importantes para a implementação da Lei nº10.639/2003 - que inclui história e culturaafricanas e dos afrodescendentes na grade cur-ricular dos ensinos fundamental e médio dasescolas em todo o Brasil -, tema que foi priori-tário no Fórum, em 2004. Em 2005 e 2006, alémdesta já em construção, abordaremos outrasgrandes temáticas tais como: Desenvolvimento,Geração de Emprego e Renda, com juventude, eSaúde Nacional da População Negra.

Este livro, iniciativa da Seppir e da FundaçãoFriedrich Ebert/Ildes, é fruto dos trabalhos doFipir e tem como objetivo uma atuação conti-nuada no combate às desigualdades raciais apartir das três esferas de governo. Ofereceelementos para a reflexão sobre a importân-cia de se desenvolver políticas de intervençãosocial com sujeitos variados. Retrata e con-ceitua formas de pensar comuns, dispares eaté contraditórias. Os enfoques dados pelosque protagonizaram sua construção partemdas várias vozes e observam os olhares que secruzam na diversidade de cada praça, de cadamunicípio e Estado.

Apresenta as estratégias de articulação e açõesque fornecem referências para novas orien-tações no mapa da exclusão racial brasileira.Assim como na dinâmica das atividades doFórum, este livro também se estrutura comouma praça de debates.

Os nossos agradecimentos vão para os gestoresintegrantes do Fórum, Governadores, Prefeitos,organismos governamentais federais parceiros,organismos internacionais e especialmente a

arquibancada, plenária constituída de movimen-tos organizados de mulheres, negros, juventude,quilombolas e especialistas que constroem, jun-tos, a tão sonhada democracia participativa pre-gada nas praças onde o povo tem voz.

A Seppir e o Ildes, articuladores da idéia e daação continuada do Fórum Intergovernamental,são ao mesmo tempo aprendizes e mestresdesta tão necessária inclusão da promoção daigualdade racial nas políticas públicas. O pontode partida é a crença de que não há democraciacom racismo, e de que o encontro na praça podee deve ser prazeroso e desbravador.

MMiinniissttrraa MMaattiillddee RRiibbeeiirrooSecretária Especial de Políticas de

Promoção da Igualdade Racial10

Este livro é fruto dos trabalhos do FFóórruummIInntteerrggoovveerrnnaammeennttaall ddee PPrroommooççããoo ddaa IIgguuaall--

ddaaddee RRaacciiaall, ou FFIIPPIIRR, uma iniciativa pioneira daSEPPIR - Secretaria Especial de Políticas dePromoção da Igualdade Racial do governo fede-ral e da Fundação Friedrich Ebert, ou FES/ILDES,1

como também é conhecida. Visa a promoção deuma ação continuada no combate às desigual-dades raciais a partir das três esferas de gover-no (federal, estadual e municipal).

O Fórum surge da necessidade de articulação,capacitação, planejamento, execução e monito-ramento das ações para a implementação dapolítica de promoção da igualdade racial no País.O que apresentamos, aqui, é a sistematizaçãodos conhecimentos e experiências adquiridos aolongo de 13 meses de atividades, que agorachega a suas mãos como um documento capazde oferecer elementos para a reflexão sobre aimportância de se desenvolver uma política deintervenção social.

São vários os sujeitos sociais que fazem partedessa empreitada: organismos públicos, governo

federal, estados, prefeituras, gestoras (es) coor-denadoras(es) da política de promoção da igual-dade racial em suas localidades e instituições decooperação internacional. Com esta iniciativacelebramos a parceria efetiva entre as váriasinstâncias de governo e os parceiros acima cita-dos que se solidarizam no delineamento deestratégias e aplicação de políticas para a supe-ração do racismo e da discriminação.

Não é mais novidade que as desigualdades raciaisvêm derrubando o mito da democracia racial,um dos pilares da identidade brasileira, exigindopolíticas que possam eliminar o fosso abissalentre brancos e negros em nossa sociedade.O enfrentamento destas assimetrias requer aadoção de uma política engajada entre todos ossetores sociais, com metodologias e estratégiasque estejam à altura da magnitude dos efeitosdo racismo e da discriminação sobre a popu-lação negra. A era da inocência acabou - e já foitarde-,2 portanto, a construção de uma naçãoefetivamente inclusiva e democrática requer, emprimeira instância, uma atenção redobrada àquestão racial.

1 A FES, uma das fundações políticas da Alemanha, atua fora de seu país de origem por meio da cooperação internacional para o desenvolvimento, sobo ideário da democracia social alemã. No Brasil há quase 30 anos, e nos cerca de 90 países em que está representada, apóia organizações da sociedadecivil e governos com que compartilha objetivos comuns.2 Evocamos, aqui, o título de artigo de Jurema Werneck - fundadora e organizadora-geral da Criola, organização de mulheres negras sediada no esta-do do Rio de Janeiro - publicado no livro Racismos contemporâneos. São Paulo: Takano, 2003.

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1 Apresentação

CCaarroo((aa)) LLeeiittoorr((aa)),,

Caminhante, não há caminho;faz-se o caminho andando!

Pelos decantados diagnósticos das desigualda-des no Brasil (mapeamento empírico das condi-ções de vida da população, análises qualitativas),temos que as desigualdades - à luz de indica-dores, como renda, saúde, educação, expectativade vida etc - são movidas por um fundamentoracial. O universo que os dados estatísticosdescortinam vem exigindo novas/outras pos-turas dos(as) formuladores(as) de políticaspúblicas. Não se permitem mais projetos e açõesvoltados para a superação das desigualdades eda pobreza sem que neles não se perceba algumaceno ao tópico racial, visto que a pobreza tempredominância na raça negra.

É nessa atmosfera social e política, onde qualquersustentação do ideal de uma igualdade racial soacomo triste eloqüência, que o FFóórruumm IInntteerrggoovveerr--nnaammeennttaall ddee PPrroommooççããoo ddaa IIgguuaallddaaddee RRaacciiaall seinstitui como uma forma de estabelecer parâme-tros e de fomentar a execução de políticas comcapilaridade para combater as assimetrias raciaisem diversos municípios e estados brasileiros.O Fórum foi projetado para ser um espaço dearticulação para estabelecer vínculo permanenteentre a União e o cotidiano institucional dosmunicípios e Estados, com a tarefa de garantir atransversalidade nas políticas públicas dessesorganismos. Até o momento, esta iniciativa reco-briu 39 municípios e 8 estados de todas asregiões brasileiras e em seus poucos meses defuncionamento já apresenta alguns resultados.

A acepção mais corrente de Fórum é praçapública, tribuna. É assim que o "nosso Fórum", oFFóórruumm IInntteerrggoovveerrnnaammeennttaall ddee PPrroommooççããoo ddaaIIgguuaallddaaddee RRaacciiaall, vem se comportando. São vá-

rias as vozes e olhares que se cruzam na diver-sidade de cada praça, de cada município. Duran-te esses meses de trabalho, os(as) gestores(as)ocuparam papel de destaque na grande arena dediscussão, oferecendo aportes importantes paraa implementação da Lei 10.639/03 - tema prin-cipal do FIPIR no exercício de 2004.

Neste livro você poderá conhecer as estratégiasde articulação e ações desses atores e atrizes, oque fornece referências para reorientações nomapa da exclusão racial brasileiro.

Da mesma forma que nas atividades do Fórum,como já foi dito antes, este livro também se es-trutura segundo uma praça de debates. Ele é te-cido a partir dessas vozes e olhares, o que resul-ta em um material tratado à luz da experiência econhecimento de toda a equipe que compôsesta iniciativa. A matéria-prima desse materialsão as falas e depoimentos dos(as) gestores(as),dos membros da SEPPIR, da Fundação FriedrichEbert, dos(as) palestrantes que participaram dosencontros, das leituras dos relatórios.

Antes, porém, convidamos você a visitar a ante-sala da tribuna. Nela, discutiremos, preliminar-mente, a importância do Estado brasileiro napromoção da igualdade racial a partir de umcurto itinerário, destacando o período da cha-mada transição democrática até os dias atuais.

Os desdobramentos dessa trajetória contornamum outro perfil para as políticas desenhadas eimplementadas atualmente pelo poder público.Os governos, principalmente em decorrência dasreivindicações históricas dos movimentos

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negros, vêm considerando a questão racial comoum eixo estruturante e, portanto, fundamentalpara a construção de políticas públicas que sepretendem afinadas com as demandas sociais.

A nossa próxima primeira "praça de debates"tratará exatamente disso. O Fórum Intergover-namental de Promoção da Igualdade Racialemblematiza um esforço coletivo dos governosmunicipais, estaduais e federal para o planeja-mento e execução de políticas eficazes no com-bate ao racismo. Apresentaremos para você,nesta seção, a concepção do FIPIR: objetivos,metodologia, temas abordados, abrangência,organismos integrantes.

Os encontros, parte central desta iniciativa,foram realizados com os objetivos de articular,planejar e construir conjuntamente a dinâmi-ca do Fórum (outubro de 2003 e janeiro de2004) e de qualificar os(as) gestores por meiode conteúdos (maio de 2004) e monitorar asações empreendidas (setembro de 2004).

Essas etapas, interligadas entre si, contaramcom a participação de especialistas que con-tribuíram para o trabalho dos(as) gestores(as)em suas localidades. A educação, nomeada-mente, a implementação da Lei 10.639/2003,esteve no centro do debate deste primeiro ano.

A política de trabalho e emprego, na interface degeração de trabalho e renda, é outra aliada paraos objetivos do Fórum. Ela precede às discussõessobre o monitoramento.

A participação de múltiplos sujeitos é um bomsinal para o enfrentamento de um problema quesolicita, a todo o momento, a participação efeti-va de todo(as). Bem-vindo(a) à nossa praça dediscussão. As discussões em cada praça seespraiam e sinalizam para a construção de umBrasil sem racismo. Boa leitura!

RRoossaannee ddaa SSiillvvaa BBoorrggeess

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Rosane da Silva Borges é jornalista e doutoranda da ECA-USP

GGeessttoorreess ee ggeessttoorraass ddoo FFIIPPIIRR,,mmooddeerraaddoorreess ddaa FFEESS//IILLDDEESS eeZZeeccaa EEsstteevveess,, ddaa SSEEPPPPIIRR,, eemmsseetteemmbbrroo ddee 22000044,, eemm BBrraassíílliiaa

O papel do Estado nocombate ao racismo e napromoção da igualdaderacial: um breve relato

Ante-sala do Fórum:uma discussão preliminar

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Oartigo constitucional acima deixa claro osmarcos legais voltados para a promoção

dos direitos humanos fundamentais. A chamadaConstituição "cidadã" de 1988 enumerou am-plamente tais direitos concebidos como valorese objetivos a serem garantidos pelo Estado. Noentanto, ainda que a nossa Constituição sejaexplícita no que diz respeito à garantia e pro-moção dos direitos fundamentais, segmentosexpressivos da população continuam avoluman-do os índices sociais no que diz respeito àpobreza e à desigualdade. Ou seja, os direitosfundamentais ainda são inacessíveis para certaspessoas, a despeito das conquistas obtidas. Aaplicação da lei tropeça nas barreiras impostaspor problemas seculares.

A injustiça social, a má distribuição dos recursose da riqueza são obstáculos, entre outros, queimpedem a universalização dos direitos. Os de-safios são grandes e inúmeros para que as leis se

tornem realidade prática. As reformas econômi-cas, sociais, as mudanças de práticas institucio-nais são bem vistas como medidas importantespara a superação desse dilema.

O descompasso entre uma legislação que res-guarda os direitos fundamentais dos(as) cida-dãs(os) e uma realidade social que nem sempreestá afinada com os princípios legais torna-seainda mais evidente quando entra em cena ofundamento racial. O nosso passado histórico,de base escravagista, condenou a populaçãonegra a posições desfavoráveis em todas asinstâncias da vida social, posto que é constituí-da por cidadã(os) de "terceira categoria", ou,como diria Milton Santos, a deficientes cívicos.

A situação praticamente inalterada da popu-lação negra nos últimos 20 anos3 não foi, aolongo da história, devidamente acompanhadapor políticas capazes de romper o legado

2 O papel do Estado no combate ao racismo e napromoção da igualdade racial: um breve relato

Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;II - garantir o desenvolvimento nacional;III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisqueroutras formas de discriminação.(Constituição Brasileira, 1988)

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3 A esse respeito, estaremos discutindo no item 3.

2.1 Distâncias e aproximações: demandas da população negrae poder público

discriminatório que ela teve como herança.Ainda que a Constituição seja explícita no quediz respeito ao papel do Estado na promoção egarantia do bem-estar de todos, nem sempre aspolíticas públicas se mostraram adequadas paraa conquista desse princípio, a fim de que o "so-nho da igualdade suplante a realidade da dife-rença", no dizer de Wânia Sant'Anna.

Geralmente, as diretrizes de governos foramorientadas por políticas universalistas que, nomais das vezes, diluíram o tópico racial naschamadas questões macro. Como pensar nasuperação do racismo e da discriminação levan-do em conta o importante papel do Estado?Como pensar em igualdade para todos se persis-tem as desigualdades de gênero e de raça, por

exemplo? De que forma o Estado brasileiro podeexercer o seu papel considerando os segmentosmais vulneráveis?

Esta primeira seção de conversas na nossapraça de debates fará um breve passeio noscaminhos trilhados pelos(as) agentes sociaise pelo poder público no que se refere aesses questionamentos. Consideramos que oFFóórruumm IInntteerrggoovveerrnnaammeennttaall ddee PPrroommooççããoo ddaaIIgguuaallddaaddee RRaacciiaall expressa um momentoimportante de aproximação das pautashistóricas construídas pelo movimentonegro e estreitamento aos governos, o queresulta de um percurso histórico com tra-jetórias nem sempre convergentes.

Reconhecer "a raça como um fator que possuipeso muito significativo na lógica de estru-

turação e desenvolvimento das relações sociais"(Brandão, 2004: 19) é um passo fundamental paraque o Estado assuma a tarefa de atuar no com-bate ao racismo e, conseqüentemente, na promo-ção da igualdade racial. De fato, o pertencimentoracial, conforme lembra Ricardo Henriques, temimportância vital na estruturação das desigual-dades sociais e econômicas no Brasil. (cf. 2003: 1).

Embora esteja expresso nas recentes políticas pú-blicas, o entendimento do racismo enquanto fator

preponderante de exclusão é algo relativamenterecente nos discursos oficiais dos nossos gover-nos. Ainda que se tenha leis anti-racismo commais de cinqüenta anos, a tarefa de promoção daigualdade racial não nasce, necessariamente,como interesse público, já que vivíamos sob acrença de uma democracia em termos de raça(após a abolição da escravatura nunca houve dis-criminação formal contra os negros, convivíamosharmoniosamente, ostentamos uma "cultura assi-milacionista", etc.). Em crítica à postura históricado Estado, o diagnóstico do governo do presidenteLula, em relação à questão racial, enfatiza:

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Tomados em conjunto, os dados sobrea situação do negro revelam o equívo-co - para o mínimo - do credo segundoo qual a igualdade formal perante a lei,por si mesma, garante a igualdade deoportunidade e tratamento. Ao mesmotempo, revelam a vocação excludentedo Estado brasileiro, engendrado sob osigno do euro e do etnocentrismo, quetem se revelado incapaz de assegurariguais possibilidades a todos osbrasileiros. Considerada historicamentepelo Estado como um problema inexis-tente, a questão racial - ainda que aConstituição vigente criminalize oracismo - encontra-se fora dos incon-táveis projetos nacionais apresentadospelos sucessivos governos. A omissãoinstitucional, que pode ser observadano atual quadro de miséria e desagre-gação que vítima a grande maioria dosbrasileiros, é especialmente criminosano trato das desigualdades raciais.Significa a reprodução ampliada daexclusão de uma maioria populacionalatingida por discriminações raciais,sexuais, regionais e outras. Para o povonegro brasileiro, a proposta de Estadomínimo representará a consolidaçãode uma política surda de exclusão eextermínio que se agrava dia após dia.(Documento Brasil sem racismo, 2002: 2).

A situação do negro, sistematicamente denun-ciada e combatida pelas organizações negras,

vem demandando a instituição de políticas quepossam focar o problema. De umas décadas paracá, testemunhamos uma intervenção governa-mental voltada para as questões raciais nodesenho das políticas implementadas. A criaçãoda Secretaria Especial de Política de Promoçãoda Igualdade Racial4 - SEPPIR sintetiza ummomento de franco estreitamento entre Estadoe demandas históricas construídas e susten-tadas pelo movimento negro. Num país em quea "elite brasileira fez a opção de assentar oEstado sobre as desigualdades raciais", con-forme considera o ativista Edson Cardoso, acriação desta Secretaria com status de Minis-tério pode ser considerada uma vitória, ummomento ímpar para novos direcionamentos noâmbito do poder público.

A propósito, podemos dizer, em linhas gerais,que as reivindicações dos movimentos negrosperfazem um arco que vai da denúncia daexistência e persistência de práticas discrimi-natórias e racistas a um diálogo com ospoderes públicos na tentativa de executarmedidas concretas para a superação destaspráticas (os movimentos de reparação e aspolíticas focalistas, em voga nestes últimosanos, se perfilam nessa vertente). De acordocom Silvério:

Tais denúncias e exigências fazemparte de um contexto mais amplo delutas que exigiam uma mudança notratamento da questão social por partedo Estado brasileiro. Este processo

4 A respeito da SEPPIR discutiremos de forma pormenorizada no item 2.3.

19

dinâmico tem permitido visualizar umadisputa entre um projeto político quecontinua a apostar na tradiçãoautoritária e outro que aponta para anecessidade de atualização democráti-ca no processo de tomada de decisãodos rumos do País. (1999: 2).

As décadas de 1950-60 pavimentaram o terreno

para as exigências contemporâneas: nesse pe-

ríodo a crítica ao mito da democracia racial já

estava consumada. Datam desta época os estu-

dos feitos por intelectuais - nomeadamente

Florestan Fernandes e o grupo de estudos da

Universidade de São Paulo - que declaravam a

fragilidade, se não a inexistência, de um paraíso

racial em termos estruturais. No final da década

de 1970 e início da de 1980 temos a continui-

dade das pesquisas iniciadas em 1950 por teóri-

cos como Carlos Hasenbalg e Nelson do Vale

Silva. A particularidade das pesquisas feitas por

estes últimos em relação àquelas feitas por

Florestan Fernandes é que elas se assentaram

em dados estatísticos e indicadores.

Os resultados desses trabalhos bem como a efer-

vescência política do momento deram respaldo aos

movimentos negros emergentes. É nesta época

que começam a eclodir, aqui e ali, várias organiza-

ções com a missão de denunciar e combater o

racismo. Vivíamos, ainda, em plena ditadura militar,

onde as lutas para o Estado de democracia foram

acrescidas, por essas jovens e ousadas organiza-

ções, com a luta anti-racista. O binômio raça e

classe passa a ser mote com o qual a conquista da

igualdade é posta no horizonte do possível.

A década de 1980 irrompe com a promessade uma reatualização democrática, que exi-giu dos vários movimentos sociais organiza-dos a tarefa hercúlea de construção de umatrama política na qual estivessem implicadosos vários atores/atrizes sociais, instânciasrepresentativas da sociedade.

O processo de redemocratização do país foi

marcado por essa bandeira: extinta a época de

exceção, de restrição dos direitos, passa-se a

reivindicar, nesta década, efetiva participação

popular na nova configuração política que então

se formava. Essa "institucionalidade emergente"

fez com que o universo das leis e direitos fosse

apropriado pelos vários movimentos sociais.

A máxima "direito a ter direitos assegurados",

instituída pela Declaração Universal dos Direitos

Humanos de 1948, é o traço essencial das lutas

sociais deste período, onde a redefinição das

relações entre Estado e Sociedade é conseqüên-

cia desse ambiente político. A criação e garantia

de direitos é um ponto de pauta inegociável

para que se esboce uma nova fisionomia para a

vida política do País, que ainda portava marcas

de um período autoritário e repressivo.

A formação desse ambiente democrático, por sua

vez, fez com que viessem à tona a "diversidade do

universo popular e um conjunto de demandas tão

multifacetadas quanto particulares e urgentes

nas suas exigências; o que gera, normalmente,

uma tensão entre o particularismo das demandas

e a construção negociada de uma noção de inte-

resse público" (Singer apud Silvério, 1999: 3).

20

Sob este ponto de vista, as reivindicações feitaspelo movimento negro foram vistas muitas vezescomo particulares, como marcadamente resi-duais, o que parecia, segundo essa perspectiva,agregar muito pouco para o interesse público.Este argumento, de que as desigualdades raciaisdizem respeito a situações específicas, típicas deminorias, impossibilitou que as questões relati-vas ao racismo e à discriminação figurassemcomo um problema relevante no temário maisgeral das discussões sobre Estado e Sociedade,portanto, um tema ausente nas políticas públicasque ensaiavam projeção na época.

A grande contribuição das organizações negrasé exatamente a de que as chamadas questõesespecíficas, oriundas do tópico racial, são funda-mentais para a constituição da sociedade bra-sileira, que se pretendia assentada em princípiosdemocráticos de igualdade.

Ativistas e intelectuais engajados(as) na lutaanti-racista passaram a afirmar, com base emestudos e análises consistentes, que a democra-cia brasileira só será possível quando as desi-gualdades provocadas por um fundamentoracial forem tiradas das margens e postas nocentro do debate enquanto assunto de interessepúblico. Os princípios democráticos, tão aclama-dos neste momento histórico, precisavam estarirmanados com as demandas raciais.

A desconsideração das desigualdades raciaispelo poder público não faz parte apenas doimaginário e da prática da nossa reconfigu-ração política pós regime militar. MarceloPaixão (2004) nos informa que, desde o período

que imediatamente se seguiu à abolição daescravatura, as instâncias públicas não semostraram empenhadas em lidar com o tema.Segundo ele, "os motivos dessa postura foramos mais variados: medo de um levante dos ex-escravos, influência do ideário imperialista eracista vindo da Europa, vergonha das elites dasorigens africanas do povo, etc" (2004: 26).

As conseqüências desse desinteresse são inú-meras, entre elas, a invisibilidade do quesitocor/raça nos censos demográficos do País: osdois primeiros recenseamentos gerais (1900 e1920) ignoraram o quesito cor; já os de 1940 e1950 apresentaram informações desagregadaspor cor ou raça da população para todos osquesitos levantados na pesquisa. O censo de1970 volta a ter o mesmo procedimento dosdois primeiros do século XX e omitem o quesi-to cor/raça. As reivindicações do movimentonegro fazem com que cor/raça volte a figurarnos dados demográficos.

As organizações negras surgidas no final dadécada de 1970 inspirarão a criação de tantasoutras no período seguinte. Os anos de 1980foram pródigos na criação de um sem-númerode instâncias políticas organizadas. O debatesobre a questão racial suscita o surgimento degrupos de mulheres negras, o que possibilitaque à dimensão de raça fosse acrescida a degênero. Foram várias as organizações autôno-mas de mulheres que inseriram no palco dasdiscussões a conjugação perversa do racismoe do sexismo.

21

Como vimos, o final da década de 1970 e a de1980 foi um momento profícuo para a

denúncia e combate contra o racismo. No bojodas reivindicações pelo Estado democrático dedireito, onde diversos movimentos sociaisprotagonizam a luta para a conquista e garantiadesses direitos, as instituições do movimentonegro nascem e se consolidam como uma viafundamental para que temas como racismo, dis-criminação e preconceito fossem incluídos norol das solicitações. Frisamos que nesse momen-to o fundamento do direito para todos e a noçãode esfera e interesse públicos regem as lutas epolíticas voltadas para a inclusão social.

No entanto, o acúmulo proveniente das lutasdas organizações negras faz com que o poderpúblico reconheça, ainda que tardiamente, oproblema da desigualdade racial como um eixoestruturante da sociedade, em meio ao predomí-nio das políticas universalistas.

Os Conselhos de Participação e Desenvolvi-mento da Comunidade Negra são a provadesse reconhecimento: em 1984 é criado, emSão Paulo, no governo Franco Montoro, o pri-meiro Conselho. Outros estados, igualmente,seguiram o mesmo exemplo de São Paulo,criando secretarias, coordenadorias e asses-sorias do negro. Muitas destas instituiçõestinham uma feição culturalista.

O reconhecimento por parte do Estado da dis-criminação racial implica a definição deestratégias para a transposição desse problema.

O resgate, a preservação, e divulgação do patri-mônio histórico e cultural do povo negro foioutra iniciativa tomada pelo poder público comoforma de dar visibilidade à história desse seg-mento, colocando-a em pé de igualdade com osvalores brancos. Decorre dessa prerrogativa aadoção de medidas valorativas que pudessemimpactar na sociedade. É nesse mesmo períodoque são tombados pelo patrimônio históricodois símbolos da cultura negra: o terreiro decandomblé Casa Branca, na Bahia (1984), e aSerra da Barriga (1986), em Alagoas, sede doQuilombo dos Palmares. Em 1987 é criado, viadecreto presidencial, o Programa Nacional doCentenário da Abolição da Escravatura, a serexecutado durante o ano de 1988.

A Constituição de 1988 é outra referênciaimportante. Algumas conquistas foram obtidascom a Carta Magna:

o reconhecimento das contribuiçõesculturais e dos diferentes segmentosétnicos, considerando-os em pé deigualdade com a sociedade envol-vente; a criminalização do racismo e odireito das comunidades remanescen-tes de quilombos ao reconhecimentoda propriedade definitiva de suas ter-ras, devendo o Estado emitir-lhes ostítulos de propriedade. (Laccoud &Beghin, 2002: 17).

Há quem considere que no caso brasileiro alegislação antidiscriminatória tem uma

2.2 Algumas políticas que já foram desenhadas e implementadas

22

característica marcadamente penal "atuandopouco eficazmente mais na dimensão individualda discriminação e menos na dimensão institu-cional do racismo. O racismo institucionalperpassa todas as relações sociais daquelas for-mações sociais que Hall chama de racialmenteestruturadas" (2002: 7).

E as iniciativas não param: a criação da Funda-ção Cultural Palmares, em 1988, e a campanha"Não deixe sua cor passar em branco", de 1989são também outros marcos importantes.

Essas situações até aqui delineadas são reve-ladoras das relações entre poder público esociedade civil, permitindo que se assinalemomentos específicos da ingerência do Estadono que diz respeito à questão racial no País: adécada de 1980 foi marcada pela denúncia epelo reconhecimento institucional do racismo;já os anos 1990 vão se caracterizar pela neces-sidade de políticas públicas para grupos histori-camente discriminados. 5

De fato, esta década vai servir de palco paraavanços e conquistas para a questão racial. Énela que se vê projetos com fisionomia maisacabada que procuram dar novas respostas paraa problemática. A criação da Secretaria de Defe-sa e Promoção das Populações Negras, em 1991,no Rio de Janeiro, e do decreto presidencial, oGrupo de Trabalho Interministerial de Valori-zação da População Negra (GTI População Ne-gra), ligada ao Ministério da Justiça são açõesfundamentais.

Além das iniciativas governamentais, as institui-ções sindicais também cumprem seu papel na

promoção da igualdade racial. Várias instânciasencaminham à Organização Internacional doTrabalho - OIT denúncia sobre a existência no Paísde discriminação racial no mercado de trabalho.

Do reconhecimento, uma aproximação primeirado Estado com a questão na contemporaneida-de (1980), passando pelo desenho de políticaspúblicas mais consistentes, que flagra passosmais largos do poder público rumo ao tema dadiscriminação e do racismo (1990), chegamos aum diálogo mais intenso, a vínculos maisestreitos do Estado com as reivindicaçõeshistóricas da população negra. Os anos 2000,na esteira dos períodos anteriores, despontamcomo um momento indispensável para que oEstado tenha papel fundamental na criação edesenvolvimento de políticas públicas. Estão naordem do dia, em sintonia com o espírito dotempo, o movimento de reparação e a luta pe-las políticas de ações afirmativas, que ganhamexpressividade crescente:

Se tal noção se constitui numa demandainternacionalizada do movimento negro(presente em vários países africanos e nosEstados Unidos), no Brasil, a reparação épensada como combate às desigualdadesentre brancos e negros (desigualdadesraciais). E a responsabilidade histórica poreste combate caberia ao Estado brasileiro.Sendo assim, a modalidade de políticaeleita como reivindicação principal domovimento negro, na atualidade, são aspolíticas públicas de ação afirmativa.E, por causa delas, o diálogo entre omovimento negro e o Estado é cada vezmais intenso. (Carneiro, 2002: 4).

23

5 As cotas para mulheres nos partidos, segundo Silvério (2002), é uma política que expressa bem essa nova concepção.

Duas peças importantes estão no tabuleironestes últimos anos: uma de caráter inter-nacional, a Conferência Mundial contra oRacismo, a Homofobia, a Xenofobia e FormasCorrelatas de Intolerância, e a outra gestadanas fronteiras nacionais, o Estatuto da Igual-dade Racial. Estes dois marcos estão servindode base para a formulação de políticas capazesde atingir a igualdade racial.

A primeira, a Conferência Mundial contra oRacismo, vem instando os Estados-membros daONU a desenvolverem políticas para a supera-ção do racismo e da discriminação racial:

Embora as políticas de ação afirmativajá estivessem sendo discutidas porvárias entidades do movimento negro emesmo pelo governo federal (que criou,em 1995, um Grupo de TrabalhoInterministerial para debater estamodalidade de política pública), aConferência de Durban vem sendodescrita pelos ativistas como o momen-to no qual o movimento negro seaglutinou em torno desta reivindicação:"Durban sinaliza um consenso sobre anecessidade de se implantar ações afir-mativas no Brasil". (Id. Ibid.: 6).

A segunda peça, o Estatuto da IgualdadeRacial, repõe questões importantes para oexercício dos direitos já previstos na legis-lação anti-racista. O Estatuto da IgualdadeRacial, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), está em tramitação no CongressoNacional desde 1998. Existe grande expecta-tiva de que ele seja aprovado em novembrode 2004.6 A aprovação do Estatuto vem con-centrando os esforços de boa parte da mil-itância negra que o considera um marco

político por condensar as reivindicaçõeshistóricas do movimento.

O projeto de lei é amplo e prevê, em seus capí-tulos, questões como pesquisa, formas de pre-venção e combate de doenças prevalecentes napopulação negra (tal como a anemia falci-forme); direito à liberdade religiosa e de culto,especialmente no que diz respeito às chamadasreligiões afro-brasileiras como o candomblé; re-conhecimento e titulação das terras remanes-centes de quilombos; inclusão no mercado detrabalho, através da contratação preferencial deprofissionais negros, tanto na administraçãopública quanto nas empresas privadas. O sis-tema que prevê cotas para negros compreendeos concursos públicos e instituições de ensinosuperior (públicas e privadas), a apresentaçãode candidaturas pelos partidos políticos e a par-ticipação de artistas e profissionais negros natelevisão, publicidade e cinema.

O Estatuto tem uma orientação no sentido deque todas as políticas de desenvolvimentoeconômico e social devem conter a dimensãode superação das desigualdades raciais. É umaorientação para se redefinir as políticasuniversalistas. Ele também tem como diretriz,portanto, as ações afirmativas e, dentro delas,uma medida especial que é o sistema de cotas."Esta distinção é importante para não reduzir aamplitude do Estatuto", afirma Edson Cardoso.

Essa trajetória prepara o terreno para as dis-cussões posteriores que serão tecidas aqui.Estamos num momento político importante,orquestrado pelo poder público, para que apromoção da igualdade racial seja uma con-quista para tornar o Brasil uma nação de todose para todos. Este é o desafio a que o governoLula se lançou.

6 O então presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, em encontro com representantes de várias entidades do movimento negro, teria secomprometido a colocar o projeto na pauta do plenário da Câmara até o dia 20 de novembro de 2004.

24

Ogoverno Lula despontou como uma alter-nativa viável para a incorporação da pro-

blemática racial às diretrizes de um Governodemocrático e popular, como condição básicapara a universalização da democracia e para apromoção dos direitos da cidadania dossetores excluídos. Ao inscrever a questão dasdesigualdades raciais no bojo de uma campa-nha nacional pela geração de emprego, foiconstatado o óbvio: a absoluta impossibilidadede transformações estruturais na sociedadebrasileira sem o tratamento devido da questãoracial. De acordo com o Documento Oficial daPresidência da República:

Tomada como violência, a discrimi-nação racial atenta contra os direitosfundamentais do povo negro.Excluindo-os dos centros de decisão ereservando para ele as piores mazelasde um capitalismo dependente e peri-férico. A discriminação expõe-se comoinstrumento de dominação e de con-trole social. (2002: 2).

Tal violência não se restringe a aspectos físi-cos/materiais, mas também morais, simbólicose políticos, de forma direta ou indireta.A associação de diferenças dos gruposhumanos a pseudo-inferioridade de atributosintelectuais ou morais configura uma formaacabada de violência. Isto é, o racismo consti-tui, em si, uma expressão de violência.

Mas quando o racismo - uma ideologia - setraduz em preconceito - uma idéia - e resul-ta em discriminações, isto é, em violaçãoconcreta de direitos em razão da cor ou raçada vítima, temos um quadro agravado de vio-lência associado à raça. A discriminaçãoracial tem também uma base material eeconômica, e é na distribuição desigual dasoportunidades econômicas, educacionais,sociais e outras entre negros e brancos que oracismo vai revelar seu papel de elementodiferencial de direitos.

Nesta perspectiva, reafirmamos a funçãoessencial do Estado de assegurar a igualdadede oportunidade e de tratamento e uma justadistribuição da terra, do poder político e dariqueza nacional. Cabe ao Estado não apenasdeclarações solenes de igualdade perante a lei,mas também a promoção da igualdade dedireitos. Impõe-se a criação de condições quetornem iguais as possibilidade dos indivíduos eque transformem a democracia formal emdemocracia substantiva, a igualdade formal emigualdade autêntica.

A igualdade de oportunidade e de tratamento nãopode ser vista apenas sob um ângulo procedi-mental ou ético. A discriminação racial viola direi-to à igualdade e requer não uma ação protetorados grupos discriminados, mas a efetiva tutelaestatal de um bem jurídico - a igualdade - com-preendida como pedra angular da democracia.

2.3 Governo Lula: diálogo ampliado

25

Não será apenas a adoção de políticas antidis-criminatórias que possibilitará a inserção do povonegro na esfera da cidadania, mas a combinaçãodesta com políticas de profissionalização, degeração de empregos, de distribuição de renda,enfim, com a adoção de um novo modelo dedesenvolvimento para o Brasil.

A gestão das políticas de igualdade de opor-tunidade e de tratamento não deverá circuns-crever-se à atuação de órgão isolados naadministração. Mas será responsabilidade doGoverno democrático e Popular, em confor-midade com os objetivos fundamentais daRepública, nos termos do artigo 3º, IV daConstituição Federal, promover:

Igualdade de direitos de oportunidadee de tratamento

1. Reconhecer publicamente a raça como umdos elementos distribuidores das oportunidadessociais; a adoção do princípio anti-racista comodiretriz para as políticas globais do governo;

2. Desenvolver uma política global contra a dis-criminação racial que neutralize, no plano daspolíticas públicas, quaisquer componentes re-produtores das desigualdades raciais; a modifi-cação das disposições e práticas administrativasque sejam incompatíveis com essa política;

3. A execução da proposta do item anteriorserá procedida pela montagem de um diag-nóstico global das condições socioeconômicase educacionais de negros e brancos, visando a

estruturação de um banco de dados que subsi-die as ações governamentais;

4. A imediata implementação, no que competeao Poder Executivo, das normas e convençõesinternacionais mais antidiscriminatórias dasquais o Brasil é signatário;

5. Implementar imediatamente os dispositivosconstitucionais antidiscriminatórios;

6. Propor projeto de lei visando ao aperfeiçoa-mento da legislação antidiscriminatória, deforma a instrumentar a consolidação de umapolítica nacional de promoção de igualdade, deoportunidade e de tratamento; o Governo De-mocrático e Popular assume o compromisso defortalecer a luta contra as discriminações,visando a alcançar a meta de tratar desigual-mente os desiguais, como condição básica paraa promoção da igualdade;

7. Garantir a promoção de campanhas e pro-gramas educativos que, por sua natureza,possam garantir a aceitação e o cumprimentodessa política.

Igualdade econômica e social

1. Assegurar a titularidade da terra às comu-nidades remanescentes de quilombos, con-forme disposto no artigo 68 das DisposiçõesConstitucionais Transitórias. Os quilombos sãosímbolos vivos da luta e da resistência negracontra a escravidão e o racismo. Assim, as co-munidades descendentes de quilombos devem

26

ter assegurados seus direitos à propriedadecoletiva das terras que ocupam e que foramconquistadas pelos seus antepassados. OGoverno democrático e Popular emitirá os títu-los de propriedade das terras a todas as comu-nidades descendentes de quilombos no Brasil;

2. Assegurar o desenvolvimento de progra-mas de profissionalização de mão-de-obra,preferencialmente para os membros dosgrupos excluídos;

3. Introduzir, nas políticas de apoio à pes-quisa científica e tecnológica, a igualdade detratamento para os projetos referentes àsrelações raciais;

4. Implementar a Convenção 111 da OrganizaçãoInternacional do Trabalho (OIT) (Decreto legisla-tivo nº 104, de 1964) e instalar imediatamente aCâmara sobre as Discriminações, vinculada aoConselho Nacional do Trabalho;

5. Implementar a Convenção Internacional sobrea Eliminação de Todas as Formas de Discri-minação Racial (Decreto legislativo nº 23, de 21de junho de 1967);

6. Introduzir o quesito cor nos sistemas deinformação sobre saúde, incluindo siste-mas de informação sobre morbidade emortalidade profissionais;

7. Implementar o Programa Integral de Saúde daMulher, incluindo o desenvolvimento do binô-mio raça e gênero como um dos condicionantesda relação saúde/doença;

8. Adotar, no sistema público de saúde, pro-cedimentos de detecção de anemia falciforme(nos primeiros anos de vida), hipertensão emiomatose, males cuja incidência é maior napopulação negra e acarretam repercussões nasaúde reprodutiva;

9. Adotar a apresentação proporcional dosgrupos étnicos em todas as campanhas e ativi-dades que tenham investimento político oueconômico da União;

10. Assegurar a adoção de pedagogia inter-étnica na rede de ensino, de forma a im-plementar o artigo 242, parágrafo 1º, daConstituição Federal;

11. Desenvolver programas que asseguremigualdade de oportunidade e de tratamento naspolíticas culturais da União, tanto no que dizrespeito ao fomento à produção cultural, quan-to na preservação da memória, objetivando darvisibilidade aos símbolos e manifestações cul-turais do povo negro brasileiro;

12. Promover o mapeamento e tombamentodos sítios e documentos detentores de remi-niscências históricas dos quilombos, bemcomo a proteção das manifestações culturaisafro-brasileiras, em observância à norma doartigo 215 parágrafo 1º, e artigo 216, pará-grafo 5º, da Constituição Federal;

27

Entre as medidas político-administrativas im-plementadas pelo governo federal, visando à

efetiva orientação estratégica que une a políticasocial e o combate à discriminação racial, foicriada, em 21 de março de 2003, através doDecreto 4.651 e da Lei 10.678, de 23 de maio de2003, a SEPPIR - Secretaria Especial de Políticasde Promoção da Igualdade Racial, órgão deassessoramento direto e imediato ao presidenteda República. A SEPPIR tem por missão:

Promover a igualdade e a proteção dosdireitos de indivíduos e grupos raciais eétnicos afetados pela discriminação edemais formas de intolerância, com ênfasena população negra;

Acompanhar e coordenar políticas de di-ferentes ministérios e outros órgãos dogoverno brasileiro para a promoção daigualdade racial;

Articular, promover e acompanhar aexecução de diversos programas decooperação com organismos públicos eprivados, nacionais e internacionais;

Acompanhar e promover o cumprimentode acordos e convenções internacionais,assinados pelo Brasil, que digam respeito àpromoção da igualdade e combate à dis-criminação racial ou étnica.

Assim, o compromisso efetivo da SEPPIR é aconstrução de uma política de governo voltadaaos interesses reais da população negra e deoutros segmentos étnicos discriminados nasociedade brasileira.

Para a formulação de seu plano de ação, aSEPPIR teve como referência inicial o "ProgramaBrasil sem Racismo", documento elaborado nacampanha para eleição presidencial, cujasmetas, apontadas para as políticas públicas depromoção da igualdade racial, abrangiam asseguintes áreas: trabalho, emprego e renda, cul-tura e comunicação, educação, saúde, terras dequilombos, mulheres negras, juventude, segu-rança e relações internacionais. A base paratodas estas formulações foi a Declaração daConferência Mundial contra a Discriminação,Racismo, Xenofobia e Intolerâncias Correlatasocorrida em 2001, em Durban - África do Sul.

A SEPPIR teve, também, como referência o plano"Brasil, um país para todos" e o Projeto de LeiOrçamentária de 2004, documentos que conso-lidam a orientação estratégica do governo para2004-2007 e a relação entre as políticas de in-clusão social e promoção da igualdade racial.

O Plano Plurianual (PPA) 2004-2007 prevê pro-fundas transformações estruturais na sociedadebrasileira, transformações estas alicerçadas pelainclusão social e distribuição da renda através

2.4 SEPPIR, instância representativa para a conquista dapromoção da igualdade racial

28

do crescimento do PIB e do emprego, além daredução das disparidades regionais, da amplia-ção do mercado de consumo por meio deinvestimentos e elevação da produtividade daeconomia, com a expansão da competitividadeque viabilize o crescimento sustentado e a redu-ção da vulnerabilidade externa.

Dentre os desafios validados no PPA, umdeles visa à redução das desigualdades raciaisno Brasil. Com esta perspectiva, o PPA esta-belece que serão ampliadas as condições deação do governo, visando dar sustentabili-dade às dimensões de raça e de gênero, comoum momento ímpar na história brasileira,reafirmando a responsabilidade com gruposhistoricamente excluídos.

Entre as medidas e ações voltadas paraa redução das desigualdades raciais, aSEPPIR enfoca a adoção de políticas deações afirmativas para a promoção daigualdade racial. Tais políticas apresen-tam-se como um desafio que deve serenfrentado por todos os órgãos doPoder Executivo Federal, tanto na con-cepção quanto na execução das políti-cas públicas que vão ao encontro daconstrução de um novo modelo de de-senvolvimento para o Brasil.

Em 20 de novembro de 2003 - Dia Nacional daConsciência Negra - o presidente da Repúblicalançou a Política Nacional de Promoção daIgualdade Racial (Decreto nº. 4.886, de20/11/03). A Política Nacional de Promoção daIgualdade Racial sistematiza e articula as dire-trizes para a indicação de Programas e Ações do

Governo Federal, que, através da coorde-nação da SEPPIR, possam,

29

GGeessttoorreess dduurraannttee ddeebbaattee ssoobbrree jjuuvveennttuuddee nneeggrraa ee ttrraabbaallhhoo

no longo prazo, contribuir para a redução dasdesigualdades raciais - no campo econômico,social, político e cultural - existentes na socie-dade brasileira.

Essa política estrutura-se a partir de seis progra-mas: Implementação de um modelo de gestãodas políticas de promoção da igualdade racial;apoio às comunidades remanescentes de qui-lombos; ações afirmativas; desenvolvimento einclusão social; relações internacionais e pro-dução de conhecimento. As ações da SEPPIR noperíodo 2004-2007 se concentrarão em tornodesses subprogramas.

Para a SEPPIR, os programas e ações previstosna Política Nacional de Promoção da Igualdade

Racial só terão êxito se forem incorporados pe-los governos dos estados e dos municípios.

O desafio da SEPPIR consiste em fazer comque todos os agentes sociais incorporem aperspectiva da igualdade racial, seja por meioda ação direta, seja direcionando os programasfederais para assimilarem a Política Nacionalde Promoção da Igualdade Racial. Caberá àSEPPIR fornecer o conhecimento necessáriovisando a uma mudança de mentalidade eestimular os estados e municípios, empresas eONGS, por meio de incentivos, convênios eparcerias, a adotarem programas de promoçãoda igualdade racial.

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Na tribuna, a construçãoparticipativa e interlocuçãoqualificada

O FórumIntergovernamental dePromoção da IgualdadeRacial - FIPIR

3

Conforme já dissemos, a missão da SEPPIR épromover a articulação e a integração entre

os órgãos públicos, nos âmbitos federal, esta-duais, municipais, visando ao fortalecimentoe/ou criação de órgãos estaduais e municipaisde proteção e promoção da igualdade racial.

No entanto, há pouquíssimos órgãos municipaise estaduais com o objetivo específico de tratarda promoção da igualdade racial e não há ne-nhum marco legal ou jurídico que comprometaos órgãos públicos federais, estaduais, munici-pais e do distrito federal a tratarem de políticaspúblicas focadas no combate às desigualdadesraciais. Nessa medida, a SEPPIR depara-se comum enorme vazio institucional e, portanto, énecessário que os(as) gestores(as) assumam aresponsabilidade institucional de articulação eimplementação das políticas de promoção deigualdade racial. Ou seja, é preciso ampliar acapilaridade institucional da SEPPIR nos estadose municípios, se considerarmos o tamanho dapopulação negra brasileira, o número de municí-pios e a dimensão territorial do País.

Considerando ser fundamental a implemen-tação de estratégias voltadas para a execução daPolítica Nacional de Promoção da IgualdadeRacial, a SEPPIR tomou a iniciativa de constituiro Fórum Intergovernamental de Promoção daIgualdade Racial, FIPIR, por meio da proposta detrabalho conjunto com municípios e estados quepossuam organismos executivos: secretarias,coordenadorias, assessorias ou afins com aresponsabilidade de coordenar políticas de

promoção da igualdade racial. Para a criação doFórum foram realizadas duas atividades: umaem outubro de 2003, de consulta sobre aidéia, e outra em janeiro de 2004, contandocom a participação de trinta representantesde vinte e três administrações municipais eestaduais, responsáveis pela formulação eexecução de políticas de promoção da igual-dade racial nos seus municípios.

De acordo com o subsecretário da SEPPIR, JoãoCarlos Nogueira, o Fórum cumpre o papel estra-tégico de materializar a promoção da igualdaderacial no Brasil. Ele incide sobre o desenho fede-rativo, instando os diversos estados a cons-truírem políticas públicas voltadas para o tópicoracial. A ausência de políticas públicas faz doFórum uma iniciativa pioneira importante parauma nova fisionomia do poder público, assegu-ra o subsecretário. Segundo Diva Moreira,

É preciso pensar em diretrizes polí-ticas sobre mudanças raciais noBrasil. Acredito que precisamosarticular experiências acumuladasno campo da legislação anti-racis-ta, da criação de órgãos governa-mentais, da implementação depolíticas públicas e dos projetos dasorganizações não-governamentaisa teorias mais abrangentes,ampliando o escopo de nossa visãopara construir um projeto de futurocom o povo negro e para o povobrasileiro (...). (2003: 63).

3 O Fórum Intergovernamental de Promoçãoda Igualdade Racial - FIPIR

33

Nesse sentido, o FIPIR é uma iniciativa queprocura pensar e estabelecer diretrizes para amudança racial no Brasil, conforme aconselhaMoreira, e constitui-se num espaço de articu-lação dos organismos públicos, cuja efetiva par-ticipação dos(as) gestores(es) e coordenadoresda política de promoção da igualdade racial éfundamental para sua estruturação.

Conforme dissemos na introdução, para a estru-turação do Fórum contou-se desde o início coma parceria entre a SEPPIR e o ILDES - FundaçãoFriedrich Ebert.7 No momento, busca-se a am-pliação desta parceria junto à OIT - OrganizaçãoInternacional do Trabalho e à UNESCO - Orga-nização das Nações Unidas para a Educação, aCiência e a Cultura.

Com essa configuração, entende-se o Fórumcomo um processo continuado de articulaçãoinstitucional com estados e municípios, contan-do com parcerias de instituições nacionais einternacionais. A partir desse trabalho cria-se apossibilidade de execução e monitoramento deações conjuntas impulsionadas pela convergên-cia de interesses comuns, baseadas numa inte-ração horizontal descentralizada.

Pretende-se fortalecer uma articulação insti-tucional para a implementação de um mode-lo de gestão das políticas de promoção daigualdade racial, que prevê um conjunto deações relativas à qualificação de gestores(as)públicos representantes de órgãos estaduaise municipais.

3.1 Objetivos do Fórum

Geral

34

7 A propósito, o modelo de funcionamento do Fórum foi inspirado em um projeto que a Fundação Friedrich Ebert realizou no final dos anos 90, reunin-do gestoras de políticas de gênero de diferentes municípios brasileiros. Entre eles estava Santo André, onde a Ministra Matilde Ribeiro, à época, dirigiaa Assessoria dos Direitos da Mulher da Prefeitura Municipal.

OFórum Intergovernamental de Promoção daIgualdade Racial tem como objetivo geral a

implementação de estratégias que visem à

incorporação da Política Nacional de Promoçãoda Igualdade Racial nas ações governamentaisde estados e municípios.

Específicos

a) Ampliar e construir formas de capilaridade daPolítica Nacional de Promoção da Igualdade Racial;

b) Promover o fortalecimento da transversali-dade da promoção da igualdade racial nas polí-ticas públicas;

c) Promover a troca de experiências e a articu-lação entre os organismos e identificar expe-riências comuns;

d) Contribuir para o debate sobre a promoção daigualdade étnica e racial na sociedade brasileira;

e) Contribuir para o fortalecimento insti-tucional dos órgãos similares à SEPPIRvoltados para a execução de políticaspúblicas para a população negra, como se-cretarias, coordenadorias, assessorias, etc.,de âmbito municipal ou estadual, buscan-

do o empoderamento político das estru-turas institucionais existentes;

f) Estimular os municípios e estados a realizar asplenárias municipais e Conferências Estaduais eNacionais de Promoção da Igualdade Racial.

35

3.2 Metodologia e formas de atuação do Fórum

Para consolidação do Fórum foram planeja-dos e executados quatro encontros durante

os anos de 2003 e 2004 com a participaçãodos(as) responsáveis pelas políticas públicas depromoção da igualdade racial. Os encontrostiveram o objetivo de intensificar a troca deexperiências; suscitar e aprofundar debatespropiciando a qualificação na gestão pública noque diz respeito à promoção da igualdade racial;e monitorar as ações planejadas. Nesses espa-ços, além do intercâmbio de experiências, os(as)gestores(as) puderam apresentar iniciativas eações desenvolvidas em seus municípios e esta-dos e avaliar os impactos das políticas públicasna melhoria da qualidade de vida da populaçãonegra e na redução dos índices das desigual-dades raciais existentes na sociedade brasileira. De acordo com José Carlos Esteves, gerente deprojetos institucionais da SEPPIR, uma das basesmetodológicas do Fórum é a formação para aintervenção qualificada dos(a) gestores(as) noâmbito da política pública sobre a temática ra-cial e dos outros agentes envolvidos na imple-mentação e execução de políticas educacionais(secretarias de educação, professores(as), entre

outros.). Segundo ele, essa intervenção dá umacerta organicidade às ações em nível nacional.

Segundo Joana D'Arc, pedagoga, militante domovimento negro há quinze anos e gestora doFórum no município de Jandira (SP):

A criação do Fórum foi uma idéiaexcelente. Com o Fórum se insti-tuiu ou se reforçou a discussão datransversalidade junto às secreta-rias de educação nos municípios.É uma via de mão dupla, pois for-talece também as secretarias deeducação. As reuniões do Fórumsão importantes porque dissemi-nam a idéia para outros municí-pios que, gradativamente, vãoaderindo à idéia. Vários municí-pios vão propor outras relaçõescom o governo de São Paulo,estabelecendo vínculos com aSecretaria de Justiça, com pro-gramas de combate ao racismo.(novembro, 2004).

Pelo depoimento acima, podemos notar que o

Fórum é uma ação importante para disseminar

junto aos órgãos competentes a necessidade da

inclusão de temas transversais, com enfoque na

questão racial.

De acordo com José Eduardo Batista, gestor de

Goiânia, o Fórum vem suscitando várias ações

para a promoção da igualdade racial. Entre elas,

destaca as seguintes pautas apresentadas à po-

pulação de Goiânia:

Criação de diálogo com a sociedade civil em

particular com o movimento negro;

A criação da CONEGO (Coordenadoria

Municipal para Assuntos da Comunidade

Negra), ação pioneira nas administrações de

Goiânia;

Assinatura do Acordo de Cooperação

Técnica com o Governo Federal através

da SEPPIR. Trata-se do resgate de uma

histórica dívida social, que assegura

mecanismos de promoção de igualdade

de oportunidades;

Criação do "Conselho Municipal de Promo-

ção da Igualdade Racial - COMPIR", sediado

na Câmara Municipal de Goiânia;

Formação continuada para o ensino funda-

mental e médio além da realização de se-

manas pedagógicas, algumas em parceria

com entidades do movimento negro;

Ampliação do programa de alfabetização de

jovens e adultos, beneficiando a população

negra que é a maioria dos não alfabetizados

segundo dados do IBGE;

Implementação do Programa Municipal de

Combate ao Racismo e de Ações Afirma-

tivas para afro-descendentes do município

de Goiânia;

Eixo estrutural de uma política municipal de

promoção da igualdade racial, até então

ausente nos setenta anos de história da

capital do estado de Goiás;

Realização da I Conferência Municipal de

Promoção da Igualdade Racial, a qual rece-

beu o nome de Eni Mendonça da Silva, uma

importante militante do movimento negro,

falecida em 1999.

Estas ações impulsionadas ou reforçadas pelo

Fórum são um bom termômetro para o papel

desta iniciativa nos municípios, locus impor-

tante para o desenho de novas políticas de pro-

moção da igualdade racial.

36

Para o primeiro ano de funcionamento doFórum - maio de 2004 a maio de 2005 a

Educação foi escolhida como tema prioritário detrabalho. Mais precisamente tem sido enfocadaa implementação da Lei 10.639, que prevê oensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira,com o objetivo de:

Propor que as Secretarias de Estado da Edu-cação organizem seminários regionais comSecretários Municipais de Educação com afinalidade de analisar, debater e estimular aimplementação da Lei 10.639;

Contribuir para consolidação de um Pro-grama de Inclusão do Negro na EducaçãoBrasileira, através da instituição deProgramas de Educação para IgualdadeRacial baseados nos seguintes eixos:mudança do currículo escolar com aimplementação da Lei 10.639, que tornaobrigatório o estudo da história e da cul-tura afro-brasileira e da África no ensinofundamental e médio; formação de pro-fessores; produção, publicação e dis-tribuição de material didático pedagógicoe incentivo à pesquisa no campo dasrelações raciais e educação;

Estimular o envolvimento das Secretarias Esta-duais e Municipais de Cultura na medida emque são tratadas questões referentes à cultura ehistória afro-brasileira e africana.

Além da educação, o Fórum elegeu, no planeja-mento coletivo realizado em janeiro de 2004,outros temas para ampliar a atuação dos(as)gestores(as) e, conseqüentemente, promover aigualdade racial nos municípios. Segundo No-gueira, subsecretário da SEPPIR, a escolha dostemas não foi acidental:

As políticas públicas voltadas para odesenvolvimento estão assentadas,prioritariamente, em educação,trabalho e saúde. No nosso caso, aaplicação da Lei 10.639 cria novasdiretrizes para a promoção da igual-dade racial, ou seja, permite que sejareconstruída a história dos afro-brasileiros e também a história daÁfrica contada a partir de uma visãoconstruída no Brasil. A Lei 10.639efetiva uma estratégia no campoeducacional. Esse tema que não seesgotará nos anos seguintes terá,também, nos anos subseqüentes oacréscimo de temas como geração deemprego e renda e saúde da popu-lação negra. Esses temas serãogradativa e cumulativamente empre-gados em conjunto, pois o Fórumnão tem prazo para finalizar. Ele éuma ação que se pretende perma-nente nas políticas públicas dos esta-dos brasileiros, e que se sustenta natransversalidade. (novembro, 2004).

3.3 Temas tratados

37

Nesse sentido, o Fórum tem sustentação notripé temático:

2004 - Educação com a implementação daLei 10639/2003 que institui no âmbito dosensinos fundamental e médio a história dacultura afro-brasileira;

2005 - desenvolvimento e geração deemprego e renda, começando com enfoqueem juventude;

2006 - saúde da população negra

3.4 Abrangência do Fórum

38

Conforme o esquema acima, os temas nãosão estanques, eles possuem uma relação deinterdependência e complementaridade, com

incidência nas áreas prioritárias para a pro-moção da igualdade racial.

P ara os desafios a que se propõe - pro-

mover a igualdade racial em todos os

estados da Federação -, o Fórum pretende ter

uma capilaridade que seja capaz de atingir o

maior número de municípios possível. O FIPIR

abrigava, até novembro de 2004, quarenta e

dois organismos municipais e nove estaduais.

José Carlos Esteves, gerente de projetos insti-

tucionais da SEPPIR, espera que o FIPIR atin-

ja em 2005 a maioria dos estados brasileiros.

Alguns deles já estabeleceram contato com a

SEPPIR desde o final de 2004.

O FIPIR vem suscitando alguns redimensiona-

mentos na estrutura de várias instâncias

estaduais e municipais. Ainda de acordo com

Esteves, o Rio de Janeiro pode ser citado

como exemplo desse redimensionamento:

"antes do Fórum, o estado não tinha coorde-

nadoria específica na Secretaria Estadual de

Direitos Humanos para tratar da questão

racial. Foram feitos vários contatos para

resolver essa situação. O Secretário criou,

então, uma coordenadoria específica dentro

da Secretaria de Direitos Humanos. Então,

agora, de fato, o governo estadual do Rio de

Janeiro irá se integrar ao Fórum, assim como

o Espírito Santo e Tocantins."

Alguns estados possuem representação expres-

siva, como: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande

do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, Ceará e

Goiás. Segundo Esteves, o fato de estes estados

possuírem coordenadorias historicamente estru-

turadas voltadas para a questão racial parece jus-

tificar a concentração do Fórum nesses locais no

seu primeiro ano de funcionamento/atividades.

39

EEssttaaddooss ccoomm rreepprreesseennttaaççããoo nnoo FFIIPPIIRR -- ppoorr mmeeiioo ddee ggoovveerrnnooss mmuunniicciippaaiiss ee//oouu eessttaadduuaaiiss -- aattéé 22000044

Organismo

Secretaria Executiva de Defesa e Proteção das Minorias - SEDEM *

Secretaria Municipal de Reparação

Superintendência de Direitos Humanos Governo da BahiaAssessoria Étnica *

SEPPIR - Secretaria de Promoção da Igualdade Racial

Secretaria Especial de Políticas de Promoção e Igualdade Social (Racial)

Coordenadoria Municipal para Assuntos da Comunidade Negra -CONEGO

Superintendência da Promoção da Igualdade Racial do Estado de Goiás *

Supervisão de Ações Afirmativas (Secretaria de Estado deDesenvolvimento Social - SEDES) *

Coordenadoria de Políticas de Combate ao Racismo *

Coordenadoria Municipal para Assuntos da Comunidade Negra

Seção Municipal para Assuntos da Comunidade Negra

Coordenadoria Municipal Afro-Racial - COAFRO

Conselho Municipal de Defesa do Negro (Executivo)

Programa Raízes - Indígenas e Quilombolas

Assessoria Municipal da Promoção da Igualdade Racial

Coordenadoria do Negro e Negra

Programa Combate ao Racismo Institucional

Coordenação da Pessoa Negra *

Assessoria da Comunidade Negra

Coordenação de Cultura Afro-Brasileira - CORAFRO - FundaçãoMacaé de Cultura

Coordenadoria da Secretaria Especial de Políticas de Promoçãoda Igualdade Racial

Assessoria de Assuntos sobre Desigualdade

Assessoria de Promoção da Igualdade Racial

Assessoria de Relações Comunitárias

3.5 Organismos municipais e estaduais integrantes do FÓRUMatravés de representação de gestoras/es

40

Município

Maceió

Salvador

Salvador

Cachoeiro do Itapemirim

Formosa

Goiânia

Goiânia

São Luís

Campo Grande

Belo Horizonte

Itabira

Uberlândia

Belém

Belém

Maringá

Olinda

Recife

Teresina

Barra Mansa

Macaé

Paraty

Pinheiral

Porto Real

Quatis

UF

AL

BA

BA

ES

GO

GO

GO

MA

MS

MG

MG

MG

PA

PA

PR

PE

PE

PI

RJ

RJ

RJ

RJ

RJ

RJ

41

Organismo

Coordenadoria da Comunidade Negra

Assessoria de Assuntos da Comunidade Negra

Assessoria de Assuntos da Comunidade Negra

Assessoria de Assuntos de Promoção da Igualdade Racial

Sec. de Justiça e Cidadania do Estado do Rio Grande do Norte -Sub. Direitos Humanos *

Assessoria de Promoção da Igualdade Racial

Assessoria de Políticas Públicas para o Negro

Coordenadoria do Negro

Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbanade Porto Alegre

Coordenadoria de Políticas Públicas para Comunidade NegraGrupo de Trabalho Anti-racismo

GT Anti-racismo

Centro de Referência da Cidadania

Coordenadoria de Assuntos da Comunidade Negra

Assessoria de Promoção da Igualdade Racial

Assessoria da Comunidade Negra

Coordenadoria do Departamento de Combate ao Racismo

GT de Gênero e Raça

Secretaria Municipal de Educação (Grupo Anti-Racismo)

Assessoria dos Direitos da Comunidade Negra

Seção de Combate ao Racismo e à Discriminação

Coordenadoria para Assuntos da População Negra

Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania Assessoria Étnica *

Assessoria Técnica da Política da Igualdade Racial

EEmm ffaassee ddee aaddeessããoo ee rreegguullaammeennttaaççããoo

Município

Resende

Valença

Vassouras

Volta Redonda

Natal

Caxias do Sul

Gravataí

Pelotas

Porto Alegre

Santa Maria

Viamão

Araraquara

Campinas

Diadema

Embu das Artes

Jandira

Mauá

Ribeirão Preto

Santo André

São Carlos

São Paulo

São Paulo

Aracaju

ES, MG, RJ, TO, SC, MT,DF, PR, CE, AC

UF

RJ

RJ

RJ

RJ

RN

RS

RS

RS

RS

RS

RS

SP

SP

SP

SP

SP

SP

SP

SP

SP

SP

SP

SE

(*) Organismos Estaduais

GGeessttoorreess HHaallddaaccii ((PPII)) ee DDjjeennaall ((AArraaccaajjuu -- SSEE)),, aa pprrooffeessssoorraaddaa PPUUCC--SSPP MMeerrcceeddeess CCwwiinnkkyy ((àà eessqq..)) ee aa MMiinniissttrraa MMaattiillddeeRRiibbeeiirroo dduurraannttee eennccoonnttrroo ddoo FFIIPPIIRR,, eemm sseetteemmbbrroo ddee 22000044

O Fórum acontecendo4

45

Descentralização, sustentabilidade, unidade nadiferença, compartilhamentos, inter-relações,

horizontalidade... Estes são princípios que regem alógica política e operacional do Fórum Intergover-namental de Promoção da Igualdade Racial.

Os marcos iniciais do FIPIR estiveram assen-tados, e assim permanecem, na participaçãosolidária, onde os(as) representantes institu-cionais (dos estados, dos municípios e asinstituições executoras) foram peças indis-pensáveis para a concepção desta iniciativa.As consultas a esses(as) agentes foram fun-damentais para o desenho do Fórum, poisaportaram informações importantes sobre odiagnóstico dos municípios e, conseqüente-mente, sobre as demandas prementes nafronteira das relações raciais.

Esse momento inicial, de outubro/2003 a janei-ro/2004, foi fundamental para aparar asarestas, pavimentar o terreno e contornar o(s)caminho(s) a ser(em) seguido(s). As fecundasdiscussões e propostas nessa fase de cons-trução participativa delinearam a fisionomia doFórum como uma instância entretecida com asvárias vozes e olhares que compõem o mosaicode propostas convergentes para a superação doracismo e da discriminação.

Questões micro ou macro estiveram sujeitas àavaliação do grupo de gestores(as) e dos(as)outros(as) agentes, que se detiveram em algu-mas questões cuidadosa e criteriosamente. Anomeação desta iniciativa exemplifica o traba-lho prévio que foi empreendido pela equipe.Sabemos que as palavras portam identidades,carregam sentidos específicos, denunciamintencionalidades. Em nome desse princípio, aexpressão rede foi substituída por fórum. Deacordo com José Carlos Esteves, gerente de pro-jetos institucionais da SEPPIR:

Inicialmente a iniciativa foi concebidacom o nome de rede. Posteriormente,foi substituído porque rede está direta-mente associada ao Terceiro Setor. Paranão confundirmos o papel da SEPPIR,da Secretaria de Direitos Humanos doGoverno Federal, a denominação redefoi substituída por fórum.

Além da definição do nome da iniciativa, as reu-niões preliminares também serviram parabalizar as ações: prioridades temáticas, articu-lação e integração de programas e políticas nosâmbitos municipal, estadual e federal, criação efortalecimento de organismos públicos voltadospara a temática racial.

4.1 Primeira e segunda praças de debates:outubro de 2003 e janeiro de 2004

4 O Fórum acontecendo

46

Essa etapa de organização e reordenamento

do FIPIR foi realizada em dois momentos

seqüenciais: 27 outubro de 2003 e 27 e 28

de janeiro de 2004 em Brasília. Nestes dois

encontros, a presença de gestores(as) de

vários estados e municípios foi significativa.

Nas ocasiões, os(as) gestores(as) já anun-

ciaram expectativas a partir das realida-

des dos municípios e estados em nome

dos quais faziam projeções e planeja-

mentos. A construção de uma agenda de

trabalho exeqüível, planejamento de me-

tas a serem alcançadas a curto, médio e

longo prazos, o cumprimento das metas

estabelecidas foram destacados como a

espinha dorsal do trabalho dos(as) ges-

tores(as) em suas localidades.

4.2 Terceira praça de debates: lançamento do FórumIntergovernamental de Promoção da Igualdade Racial - FIPIR

Uma vez definidos os passos iniciais para suaexecução, o FIPIR foi lançado oficialmente

em 27 de maio de 2004, em Brasília, com as pre-senças do presidente da República em exercício,José de Alencar, do Ministro da Secretaria Geral daPresidência, Luiz Dulci e da Ministra da SecretariaEspecial de Políticas de Promoção da IgualdadeRacial, Matilde Ribeiro. Na ocasião, foi feita a assi-natura dos termos de cooperação entre estados,municípios e governo federal, visando à implan-tação de políticas de promoção da igualdaderacial, em particular da Lei Federal 10.639/2003.Prefeitos e vice-governadores de diferentes esta-dos e municípios participaram da solenidade.

Gestores(as) de diversos municípios e estadostambém se fizeram presentes. Os municípiosforam os seguintes:

Região Sudeste: São Paulo (SP), Jandira (SP),Santo André (SP), Campinas (SP), São Carlos

(SP), Araraquara (SP), Diadema (SP), Embu(SP), Uberlândia (MG), Belo Horizonte (MG),Itabira (MG), Vassouras (RJ), Paraty (RJ),Volta Redonda (RJ), Pinheiral (RJ), Resende(RJ), Barra Mansa (RJ), Quatis (RJ), PortoReal (RJ), Cachoeiro do Itapemirim (ES);

Região Sul: Santa Maria (RS), PortoAlegre (RS), Gravataí (RS), Viamão (RS),Maringá (PR);

Região Centro-Oeste: Goiânia (GO),Formosa (GO);

Região Nordeste: Olinda (PE), Salvador (BA),Aracaju (SE)

Os estados brasileiros presentes foram:

Alagoas;Ceará;

47

Mato Grosso do Sul;Piauí;Goiás;Pará;Rio de Janeiro;

Santa Catarina;Tocantins;Maranhão;Rio Grande do Norte;Bahia.

Após a assinatura dos termos de adesão eacordo de cooperação, o seminário de lan-

çamento do FIPIR foi focado nos conteúdos re-lativos ao temário definido para o ano de 2004:

a educação; mais precisamente na Lei Federal10.639/03 que instituiu a obrigatoriedade do en-sino da História da África e dos africanos no cur-rículo escolar do ensino fundamental e médio.

4.3 No centro da praça, a educação

Lei nº. 10.639 de 09 de janeiro de 2003

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dosseguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:

"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiaise particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluiráo estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a culturanegra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a con-tribuição do povo negro nas áreas social, econômica e políticas pertinentes à Históriado Brasil.

§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão mi-nistrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de EducaçãoArtística e de Literatura e História Brasileiras.

§ 3o (VETADO)"

"Art. 79-A. (VETADO)"

"Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como 'DiaNacional da Consciência Negra'".

Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVACristovam Ricardo Cavalcanti Buarque

48

A instituição da Lei 10.639/03 expressa a posi-ção do governo do presidente Lula no que dizrespeito à questão racial. De acordo com a mi-nistra Matilde Ribeiro:

O Brasil Colônia, Império e Repúblicateve historicamente, no aspecto legal,uma postura ativa e permissiva dianteda discriminação e do racismo queatinge a população afrodescendentebrasileira até hoje. O Decreto nº. 1.331,de 17 de fevereio de 1854, estabeleciaque nas escolas públicas do país nãoseriam admitidos escravos, e a previsãode instrução para adultos negrosdependia da disponibilidade de profes-sores. O Decreto nº. 7.031-A, de 6 desetembro de 1878, estabelecia que osnegros só podiam estudar no períodonoturno, e diversas estratégias forammontadas no sentido de impedir oacesso pleno dessa população aosbancos escolares. (2004: 5).

Ainda que essa postura tenha sido modificadaao longo da história, persistem ainda situaçõeseivadas de preconceito e discriminação contra apopulação afrodescendente. Essa realidade vemsuscitando medidas emergenciais capazes decoibir práticas racistas e discriminatórias noambiente escolar. Tais medidas tornam-se aindamais necessárias quando realçamos o papel daEducação enquanto "um dos principais meca-nismos de transformação de um povo" (Id. Ibid.:5) e o da escola como um espaço onde ocorremessas transformações.

A implementação da Lei 10.639/03 é uma inicia-tiva que procura promover alteração positiva na

realidade vivenciada pela população negra compotência e legitimidade para reverter os dele-térios efeitos seculares do racismo, do precon-ceito e da discriminação no âmbito da educação,mas que possui abrangência em vários setoresda sociedade.

Esse novo instrumento legal acena para novasperspectivas e paradigmas no fazer educativo,historicamente fundado e arraigado em con-cepções eurocêntricas. Segundo a educadora emestra de capoeira, Rosângela Araújo:

O momento atual é ímpar na históriados povos negros brasileiros e seusancestrais africanos. No dia 9 dejaneiro de 2003, o presidente petistaLuiz Inácio Lula da Silva assinou asegunda lei do seu recente mandato. ALei 10.639/03 altera a Lei 9.394 de 20de dezembro de 1996, que estabeleceas diretrizes e bases da educaçãonacional, tornando obrigatório aoscurrículos oficiais o ensino da Históriae da Cultura Afro-brasileira, nos esta-belecimentos de ensino fundamental emédio, públicos e particulares, emespecial nas áreas de arte, literatura ehistória. (2003: 218).

A Lei, para Araújo, sinaliza para outra atmosferano ambiente educativo, pois se "estabelececomo matriz referencial ao entendimento emovimento cotidianos de nossa experiência deemancipação política." (Id. Ibid.: 219). A autoralembra que a Lei vem no lastro das reivindi-cações históricas dos movimentos negros noBrasil e refunda as aspirações e avanços con-quistados por esses movimentos.

49

Ao eleger o tema da Educação, precisa-mente a implementação da Lei 10.639/03, oFIPIR assume o compromisso de promover aigualdade racial por meio de uma das ques-tões mais candentes para o equacionamen-to de problemas relativos à democracia, àcidadania e à igualdade.

Se o lugar de execução desta tarefa são osmunicípios e estados da Federação brasileira, osesforços para a efetiva aplicação da Lei nãopodem se traduzir em "um instrumento a maisem mãos de apressados técnicos e/ou burocra-tas" (Id. Ibid.: 219).

O Fórum objetiva promover a implemen-tação da Lei 10.639 de forma responsável eabrangente em conjunto com os organis-mos municipais e estaduais a partir damediação de gestores(as) públicos. Daí anecessidade de qualificação desses(as)agentes para uma interlocução eficienteem suas localidades.

Este terceiro encontro, em maio de 2004, foimarcado pela apresentação e discussão de con-teúdos sobre o tema. A composição das mesasfoi feita por especialistas da área. Segundo aministra Matilde Ribeiro, "nossa função aqui énos prepararmos do ponto de vista técnico epolítico. Só com o aprendizado do movimentosocial nós morreremos na curva. Precisamosnos apropriar da linguagem da administraçãopública: os instrumentos de elaboração, exe-cução, avaliação e gestão da política. Há que terum espaço de definição da política pública emvárias áreas." (ministra Matilde Ribeiro).

Esta advertência da Ministra sinaliza para umadas prioridades do FIPIR: atingir a igualdaderacial por meio da intervenção, da sensibilização,do convencimento à luz de competências espe-cíficas. Segundo ela:

Algumas palavras são importantes:conhecimento - os iguais à gente eos que mandam efetivamente, alémde quem executa. O convencimentosupõe outra palavra, que é a nego-ciação. Se fosse fácil incluir a popu-lação negra nas políticas públicas,não precisaríamos de nós mesmos(...). É importante que entendamos onosso papel. Mudar os quadros daspolíticas públicas requer um traba-lho, igualmente, político. (...). Sãovárias as estratégias de convenci-mento. (novembro de 2004).

Em relação à aplicabilidade da Lei 10.639/03,a Ministra afirma que partimos da lei paraa prática. "Devemos pensar como vamosfazer conexão deste aprendizado em rela-ção à Lei 10.639, com os novos temas daagenda" [política].

Este foi o desafio a que o Fórum se lançouno primeiro ano em curso. Foi preciso, paratanto, produzir e reunir materiais, captaras demandas que se anunciavam, refletirsobre políticas educacionais frequente-mente pouco sensíveis à diversidade.

50

8 Os encontros tinham uma dinâmica própria. Era o momento, por excelência, de trocas de experiências entre os(as) gestores(as) dos municípios.Segundo Esteves, "tínhamos sempre a intenção de fazer a memória dos encontros passados, levando em conta que nem todos (as) estiveram presentesnos anteriores. Recentemente os encontros também ganharam um momento cultural. O primeiro deles foi na Academia de Tênis, em um show do can-tor Chico Cesar. A participação dos gestores no momento cultural foi expressiva.

Em nome da preparação técnica e política

anunciada pela Ministra, o desenvolvimento

do Fórum Intergovernamental de Promoção da

Igualdade Racial passou, nesse primeiro ano, por

vários desdobramentos que estão interligados

entre si. Um dos desdobramentos iniciais foi a

qualificação dos(as) gestores(as), pois, na esteira

das considerações da ministra Matilde Ribeiro,

parte-se do princípio de que a transversalidade

na educação requer uma sensibilização dos

órgãos públicos para que se tenha políticas

públicas focadas na questão racial.

Para tanto, a equipe de gestores(as) deve estar

tecnicamente preparada para o importante

exercício de mediação junto aos poderes públi-

cos em suas localidades, conforme dito anterior-

mente. O engajamento político demonstrado

pela equipe para alcançar reconhecimento

público e adentrar em espaços de representação

política em diferentes esferas de participação

que vêm se abrindo na sociedade brasileira deve

estar acompanhado da qualificação dos(as)

mesmos(as) gestores(as) que são operadores(as)

de políticas, de forma que se possa fazer frente,

com completa eficácia, às demandas colocadas.

Como também mostra a ministra, "somos inter-

locutores privilegiados nas cidades para o trata-

mento desta questão" [racial].

Levando em conta tal necessidade, este ter-

ceiro encontro8 do FIPIR, além de lançar ofi-

cialmente o Fórum, prestou-se a suscitar e

aprofundar debates propiciando a qualifi-

cação na gestão pública, com vistas a incre-

mentar o capital técnico e político destes

interlocutores no que tange ao tema em

foco: a implementação da Lei 10.639.

Os temas discutidos foram: Avanços edesafios na implementação de políticas depromoção da igualdade racial na educação:perspectivas abertas pela Lei Federal10.639/2003, cujos expositores foram Hédio

Silva (CEERT - Centro de Estudo das Relações

do Trabalho e Desigualdades), Carlos Abicalil

(Comissão Educação - Câmara dos Deputados)

e Ricardo Henriques (MEC); A situação dapopulação negra na Educação Brasileira, dis-

cutido por Dionísio Lázaro Poyebaro (Ipea -

Instituto de Pesquisas Aplicadas), e Eliane

Cavalleiro (MEC); e Como implementar a lei10.639/2003 nos municípios e estados?Experiências na gestão pública.

A primeira mesa, Avanços e desafios na imple-mentação de políticas de promoção da igual-dade racial na educação: perspectivas abertaspela Lei Federal 10.639/2003, pôs em relevo

a) Interlocução qualificada de gestores e gestoras

51

questões importantes para o trabalho dos(as)

gestores(as) nos municípios e estados.

Seguem abaixo algumas considerações

feitas pelos(as) especialistas:

Segundo Hédio Silva, coordenador do

CEERT - Centro de Estudo das Relações do

Trabalho e Desigualdades:

Há uma tendência de deslocamento da

LDB - Lei de Diretrizes e Bases. A Lei

10.639 alterou a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação;

A Lei 10.639 traz a preocupação da gestão da

educação e não só dos equipamentos e con-

teúdos. Ela resgata o caráter educativo e não

mercadológico da Educação;

A proposta da Lei 10.639 tem 4 pilares:

(1) organizar as fontes (mercado edito-

rial), (2) metodológicas (preconceito tem

um componente afetivo), (3) conteúdo,

(4) políticas públicas.

Para o deputado federal Carlos Abicalil:

Existe um problema na política educacional

brasileira: a gestão básica da educação con-

tinuada é descentralizada. E ele pergunta:

Qual é o conteúdo que irá "rechear" o 20 de

novembro nas escolas?

Como vamos monitorar as ações ou realiza-

ções no 20 de novembro das escolas?

O movimento tem capacidade de sensibilizar

as redes diversas da educação pelo País afora?

Para o secretário de Educação Continuada, Alfa-

betização e Diversidade, Ricardo Henriques:

65% das crianças negras de zero a seis

anos são pobres;

Mais da metade da desigualdade salarial

na educação advém da desigualdade

racial e de gênero;

Secularmente, nada melhora para

ninguém em termos raciais, apenas

intergeracionalmente;

A educação está no centro da desigualdade

racial no País;

Para a juventude, as escolas têm o papel de

"máquinas de exclusão";

As escolas públicas em vários momentos/si-

tuações são privatizadas pelos seus gestores.

Em relação à segunda mesa, A situação dapopulação negra na Educação Brasileira, os

tópicos postos em destaque pelos(as) espe-

cialistas foram os seguintes:

Dionísio Lázaro Poyebaro (Ipea) assegurou que:

O Ipea vem mapeando as políticas de igual-

dade racial em termos gerais e de modo

particular, na educação;

52

84% da população de jovens negros nãoconcluem o ensino médio;

O racismo presente nas escolas contribuipara aumentar as dificuldades de apren-dizagem dos alunos negros.

7% da população brasileira, em 1992,cursavam o curso superior. Nesta época,apenas 1,8% era negra. Em 2001, estepecentual salta apenas para 2,5%.

As políticas universalistas historicamenteconstruídas não conseguiram incluir apopulação negra.

Eliane Cavalleiro, coordenadora-geral de Diver-sidade e Inclusão Educacional da Secretaria deEducação Continuada, Alfabetização e Diversi-dade (SECAD) do MEC, lembra que:

As crianças negras, desde a educaçãoinfantil, vivem um processo de socializa-ção do racismo;

A maioria dos profissionais da educaçãonão teve a oportunidade de refletir sobre oracismo nas escolas;

Há um trabalho solitário de profissionaisque estão desenvolvendo a temática doracismo nas escolas;

A SECAD vem pensando as políticas deinclusão desde a creche até a educaçãoinfantil. Há também o programa diversidadena universidade (nível médio e superior);

A SECAD, estrategicamente, busca dialogar comas diversas secretarias do MEC. Foram instituí-dos fóruns regionais que buscam conhecer edialogar com as ações e instâncias locais.

A partir das discussões suscitadas pelos(as) espe-cialistas, algumas projeções foram postas no rolde atividades a serem executadas, conjuntamente,pelas instâncias federal, estadual e municipal.

Propostas

O esforço institucional para a aplicação da Lei10.639 traduziu-se em balizas importantes paraas políticas públicas. Entre elas, as discussões doFIPIR realçaram:

Criação de matéria anti-racismo em cadaum dos níveis educacionais;

Criação pelo MEC de um fórum nacional,com sede em Brasília, direcionado aosgestores/diretores (as) de ensino;

Criação pelo MEC de um banco de dadospara monitorar as experiências de imple-mentação da 10.639/2003;

Reserva de recursos específicos para arequalificação dos professores a ser propos-ta e executada pelo MEC;

Criação de mecanismos de combate àdiscriminação para além das secretariasde educação;

Instituição de cursos a distância e de pós-

graduação sobre a História da África nas

universidades federais.

A terceira mesa, "Como implementar a Lei

10.639/2003 nos municípios e estados? Expe-

riências na gestão pública", esteve voltada para

as discussões sobre os modos pelos quais os

municípios e estados podem, efetivamente,

aplicar a lei. Os(as) gestores(as) Ana Sena, repre-

sentante do estado de Mato Grosso do Sul,

Adriana Perdomo, representante da cidade de

Porto Alegre, Zezito de Araújo, do estado de

Alagoas e João Carlos Nogueira da SEPPIR par-

ticiparam desta mesa de reflexões.

Segundo Esteves, a construção e implemen-

tação da Lei 10.639 passaram por várias eta-

pas. "No caso específico do FIPIR, perfizemos

uma trajetória com caminhos que se cru-

zavam: sensibilização, qualificação dos(as)

gestores(as) com a participação efetiva de

setores do MEC e com reprodução de mate-

riais didáticos. Para este momento, foram

indispensáveis os relatos de experiências de

organismos municipais ou estaduais. Mato

Grosso do Sul, Alagoas, município de São

Paulo e Porto Alegre se manifestaram".

Um dos obstáculos para a implementação da Lei

10.639 se origina da pergunta clássica: A lei vai

pegar? De acordo com Esteves,

as pessoas têm de ter predisposição

para isso. É preciso que a gente encare

isso como um direito essencial, funda-

mental. A Lei está vinculada à LDB

(Lei de Diretrizes e Bases) e aos PCNs

(Parâmetros Curriculares Nacionais)

e vai dar uma outra envergadura

para os chamados temas transver-

sais. Ela só pode se efetivar com o

comprometimento político de

todos(as), principalmente dos

agentes educacionais (secretários/as,

prefeitos e quem está na ponta, o

professor). (novembro de 2004).

A consideração acima, feita pelo gerente de pro-

jetos institucionais da SEPPIR, revela a necessi-

dade de se trabalhar de forma integrada com

mecanismos diversos. O Ministério da Educação

vem contribuindo com aportes fundamentais

para as atividades do Fórum. No bojo das rei-

vindicações por um outro modelo de desen-

volvimento,9 o MEC vem priorizando a criação e

fortalecimento de políticas e instrumentos de

gestão "para a afirmação cidadã, valorizando a

riqueza de nossa diversidade étnico-racial e cul-

tural". (Genro, 2004: 3).

A criação SECAD representa uma conquista ins-

titucional importante para articular programas

de combate à discriminação racial e sexual com

projetos de valorização da diversidade étnica.

53

9 Falaremos brevemente a esse respeito no capítulo 3.

54

10 A Comunidade Bahá'í está estabelecida no Brasil desde fevereiro de 1921, com a vinda da Sra. Leonora Holsapple Armstrong. Hoje os bahá'ís formamum contingente de aproximadamente 57.000 pessoas. A Comunidade Bahá'í é reconhecida no Brasil por estabelecer projetos de desenvolvimentoeconômico e social em diversas regiões do país.11 Geledés é uma organização não-governamental de mulheres negras, fundada em 30 de abril de 1988, sediada em São Paulo, que tem como missãocombater o racismo e o sexismo.

No que diz respeito à valorização dos afro-

descendentes, sabe-se que o racismo atrapalha

o desempenho escolar da população negra, o

que se reflete nos índices de analfabetismo,

repetência e evasão escolar. A visão eurocêntri-

ca do mundo, transmitida nos bancos escolares,

perpetua a discriminação racial e fere a auto-

estima desse segmento.

Essa situação se agrava quando se constata que

grande parte dos profissionais da educação

básica não sabe como incorporar essa temática

no cotidiano escolar, pois eles próprios desco-

nhecem o conteúdo.

Neste sentido, a sensibilização dos professores

para a importância do tema deve ser uma das

principais tarefas do governo. A mudança de-

pende, em grande medida, dos professores.

Outro grande desafio diz respeito ao material

didático e pedagógico. "Para que a lei saia do

papel, é preciso um grande investimento em

material pedagógico sobre o negro".

O combate a essas deficiências vem de várias

frentes: a Comunidade Bahá'í10 do Brasil e o

Geledés11 - Instituto da Mulher Negra, com o

apoio institucional do MEC, lançaram, em 24

de novembro de 2004, uma página na

Internet com materiais didáticos e experiên-

cias de vários professores para a implantação

de uma educação anti-racista e não sexista

(www.unidadenadiversidade.org.br).

De acordo com Eliane Cavalleiro, a implemen-

tação da lei exige: formação de profissionais de

educação, material didático e pedagógico, for-

mação de gestores de ensino e currículo escolar.

"O MEC está articulando com as secretarias

estaduais e municipais para que elas entendam

a responsabilidade e o dever de colocar a lei em

prática", afirma.

Para isso, o Ministério está realizando fóruns

estaduais com o objetivo de apresentar a lei e

suas diretrizes, além de discutir a questão da

educação e da diversidade étnico-racial no País.

Até agora já foram realizados dez fóruns esta-

duais e um regional, envolvendo estados e

municípios, em parceria com secretarias esta-

duais e municipais de Educação, entidades do

movimento negro, universidades, sindicatos de

profissionais de educação, deputados estaduais

e vereadores, entre outros. A partir da realização

do fórum, deve-se organizar uma agenda local

55

em cada estado que dialogue com a temática,

para implementar a lei de acordo com os quatro

eixos estabelecidos pelo MEC. A idéia é que até o

segundo semestre de 2005 tenham sido realiza-

dos fóruns em todos os estados brasileiros e que

todos eles já recebam cooperação técnica e

apoio financeiro do MEC.

"O maior obstáculo no diálogo com o sistema

de ensino é conseguir um consenso e conheci-

mento maior sobre o racismo e a discriminação

racial no cotidiano escolar, pois muitos gestores

não acreditam nem percebem como estão pre-

sentes e como dificultam o sucesso escolar da

população negra", acredita Cavalleiro. Segundo

ela, os profissionais precisam reconhecer essa

resistência e o desconhecimento do conteúdo a

ser ensinado. O MEC pretende fornecer

cooperação técnica e apoio financeiro às secre-

tarias de educação para que elas superem as

dificuldades iniciais. O ministério também está

fazendo parcerias com diversas universidades

para a formação de profissionais de educação

nos estados e filmando os cursos para servirem

de subsídio para um curso de formação a dis-

tância, que deve atingir 10 mil profissionais de

educação em todo o Brasil.

Todas essas ações sinalizam para a aplicabili-

dade da Lei 10.639 e de outras medidas que

visem à promoção da igualdade racial. Os(as)

gestores(as) relatam experiências voltadas para

a inserção do tópico racial nas escolas e apon-

tam o FIPIR como uma instância para a criação

de estratégias e organismos com legitimidade

para atuarem no combate ao racismo.

b) Na tribuna, os gestores e as gestoras

Segundo Zezito Araújo, gestor do estado deAlagoas,

a experiência com a transversalidadena educação no estado remonta àdécada de 1980. Desde então, algunsprojetos foram empreendidos, entreeles, o Projeto Interação que procuraintervir no processo de ensino apren-dizagem em comunidades remanes-centes. O desafio era incluir a históriado Quilombo dos Palmares nos

currículos. Esse projeto foi inter-rompido um ano depois.Esta experiência revelou a importânciada parceria, da interação entre poderpúblico e militância. Uma segundaexperiência de transversalização foisistematizada pelo município deMaceió na rede pública municipal. Foiuma experiência exitosa, ainda quenão contemplasse no planejamento deação a questão negra.Essa lacuna foi atribuída à formação

56

dos professores, via de regra, determi-nada pela estrutura na rede educa-cional da cidade. Tais projetos reve-laram algumas situações, entre elas omodo como o negro era representadono livro didático.Em 2001, a Secretaria de Estado dasMinorias incluiu nos livros didáticos,em conjunto com a Secretaria deEducação, a História de Zumbi dosPalmares. O trabalho partiu da sensi-bilidade, levando em conta que o tra-balho tinha que ser iniciado com quemtinha afinidade com o tema. Vários desdobramentos surgiram apartir daí. A criação da disciplinaHistória do escravismo, naUniversidade Federal de Alagoas, foium deles que foi reforçada com aimplantação do sistema de cotas.Apesar das conquistas, alguns proble-mas persistem: a falta de materialdidático para subsidiar a disciplina, asrelações interétnicas na sala de aula.(novembro de 2004).

Joana D'Arc, gestora do município de Jandira(SP), também assinala os antecedentes históri-cos da implementação da Lei 10.639, destacan-do as dificuldades encontradas:

Já tínhamos a Lei 1330 de abrilde 2002 para a escola municipal

voltada para a questão racial.A 10639 só reforçou a anterior.Nesse sentido, o papel dosgestores é chamar para as dis-cussões: a Secretaria de Edu-cação deve estar discutindo a lei ,a sala de aula, idem, pois aindatemos muito que conquistar.(novembro de 2004).

No município de São Paulo, a CONE,12

Coordenadoria do Negro vinculada àPrefeitura, também estabeleceu várias metaspara o alcance da Lei 10.639. Segundo Marisado Nascimento, gestora participante doFórum, algumas medidas foram fundamen-tais. Entre elas:

1. Estabelecimento de programas de formação etreinamento dos servidores públicos municipais,visando a suprimir a discriminação nas relaçõesentre os profissionais;

2. Articulação, implementação e incentivo deprojetos e programas para formulação de pro-postas e medidas, a fim de eliminar todas as for-mas de discriminação;

3. Elaboração, divulgação e publicação de ma-terial cultural para a população negra, assimcomo a difusão de textos de natureza educativa.

12 A CONE - Coordenadoria Especial dos Assuntos da População Negra é um órgão da Prefeitura de São Paulo com a missão de formular, coordenar eimplementar políticas públicas para a população negra, visando a acabar com a desigualdade racial na cidade. Para tanto, atua na área da educação,estabelecendo parceria com a Secretaria Municipal de Educação e com as Coordenadorias de Educação das Subprefeituras, para assessoria dos ProjetosEducativos de Promoção da Igualdade Racial.

57

Essas medidas foram materializadas em açõespropostas para o ano de 2004:

a) Seminários - Reflexões sobre a Intolerância;

b) Atividade mensal - apresentação e dis-cussão, com educadores e educandos (daEducação de Jovens e Adultos - EJA) e comu-nidade em geral dos seguintes temas: Vida eObra de Luiz Gama; O Papel da Mídia noCombate à Intolerância; Cotas e PolíticasPúblicas; Direito e Relações Raciais; Negro eEducação; Por que Consciência Negra?;

c) Lançamento do Caderno Luiz Gama, OPoeta Abolicionista - Memória de Luta Negraem São Paulo;Distribuição nas escolas municipais de ensinofundamental e apresentação para educadores,educandos e comunidade escolar;

d) Realização do "Curso Negro e Currículo" para40 professores do Ensino Fundamental dasEscolas Municipais, com as Coordenadorias deEducação das subprefeituras de Campo Limpo eda Cidade Tiradentes;

e) Programa Educação e Relações Raciais (agen-damento com antecedência):

Palestras para educadores e educandoscom os temas: "O Negro na Mídia"; “O Ra-cismo e suas Cruéis Sutilezas", “A Históriado Negro no Brasil - Avanços e Desafios(Ações Afirmativas)" e "Uma Viagem aoContinente Africano";

Projeto O Escritor na Escola - encontro dosescritores da Bibliografia Afro-brasileiracom educadores e educandos;

Exposição Fotográfica "Ícones Negros"nos CEU's (Centros de EducaçãoUnificados) - apresentação de pessoasilustres para a comunidade negra, comreferências biográficas.

Os depoimentos de Vânia Diniz, gestora deBelo Horizonte, também possuem seme-lhanças com os apresentados acima. Confor-me passagem abaixo:

Em Belo Horizonte desde 1990 que a leiorgânica prevê a obrigatoriedade doensino da história da África e culturaafro-brasileira no currículo das escolaspúblicas municipais. É assim que nestagestão (2001/2004) quanto às políticasassumimos priorizar as áreas de edu-cação, saúde, qualificação profissionalde trabalho e renda.Em 2001 apresentamos à Secretaria deEducação a proposta de construirmosum programa para implementaçãodaquela Lei, considerando: - o acúmulo do movimento negro;- as diversas experiências da redemunicipal; - a formação dos profissionais da redemunicipal, revisão de livros didáticosquanto a imagem , representação dopovo negro e conteúdo programático.De acordo com a proposta que

58

apresentamos, criou-se uma comissãocom participação de gerentes da edu-cação dos nove regionais, represen-tantes do gabinete da Secretaria deEducação, professores do Centro deAperfeiçoamento dos Professores e doCentro Político Pedagógico. No entan-to, por decisão de pessoas do movi-mento negro, a Comissão foi desfeita efragmentos da proposta foram viabi-lizados como evento, por aquele grupo. Com a criação do Fórum e as diretrizescolocadas, houve a retomada do proje-to e uma nova construção, com a par-ticipação da Secretaria de Educação edesta Coordenadoria. Acreditamos queem 2005 o mesmo será viabilizado eque a Comissão seja ampliada comoutros profissionais da educação.(novembro/2004).

As falas dos(as) gestores acenam para umproblema comum: os municípios já ensaiaramem algum momento políticas educacionais,seja por meio de projetos, leis e decretos,empenhadas no tratamento da questão racialcomo um tema permanente na educaçãobrasileira. No entanto, há uma descon-tinuidade em quase todos eles na efetivaçãodessas políticas.

Segundo João Carlos Nogueira, subsecretário daSEPPIR, essas experiências apresentadas13 sãoum bom termômetro para avaliarmos quanto os

processos instaurados para a execução daspolíticas educacionais voltadas para a questãoracial são intermitentes; para ele, "a implemen-tação da Lei 10.639 padece do mesmo problema.O valor estratégico da Lei está sendo poucoexplorado". Vânia Diniz reconhece o papel daSEPPIR para transpor os problemas e desafios

Neste sentido, referenciamos a SEPPIRe os desdobramentos daí advindos,como o salto de qualidade na imple-mentação das políticas públicas parapromoção da igualdade racial, con-siderando como eixos estruturantes:- Criação do Conselho Nacional dePromoção da Igualdade Racial;- Criação do FórumIntergovernamental de Políticas dePromoção da Igualdade Racial e suasdiretrizes;- Criação dos Grupos de Trabalho nosdiversos Ministérios voltados às políti-cas de promoção da igualdade racial,com acompanhamento da SEPPIR;Realização da Conferência Nacionalem 2005 e das Pré-Conferênciasmunicipais e estaduais, garantindo asocialização e participação na cons-trução dessas políticas do governo esociedade civil.

O subsecretário da SEPPIR assegura que "asdiferenças substanciais da formação dos agentestêm relação com o grau de institucionalidade ecom o projeto político-pedagógico. É possível

13 Os municípios ouvidos neste livro foram ouvidos e selecionados em virtude do critério regional.

59

verticalizar uma experiência piloto. Podemosrealizar, por exemplo, um seminário com espe-cialistas da língua brasileira à luz da Lei 10.639."

Além das mesas e relatos de experiências, este

encontro partilhou das discussões levantadas.

Foram realizados trabalhos em subgrupos para a

reflexão sobre os desafios.

(1) Quais os limites que os municípios e os

estados enfrentam para implementar a Lei

10.639/2003?

Medo de perda de privilégio, preconceito,

conservadorismo, burocracia, falta de sensi-

bilização e de vontade política.

Falta de Divulgação;

Falta de Visibilidade;

Falta de informação;

Falta de instrumentação;

Falta de fiscalização;

Falta de recursos;

Política de governo (isolada) e não política

de Estado;

Inexistência de recursos financeiros especí-

ficos para implementação da Lei;

A falta de conhecimento e de compromisso

com a causa, a questão dos recursos e

divulgação acanhada por parte do governo

federal.

Falta de orçamento;

Processo eleitoral;

Reformulação dos critérios do FNDE;

Prioridade política.

(2) Que ações o Fórum propõe para o cumpri-

mento da Lei 10.639 nos municípios e estados?

(a) Atividades de sensibilização e formação da

comunidade escolar.

(b) Produção de diversos materiais, implemen-

tação de parcerias.

(c) Inclusão de conteúdos em todas as disciplinas.

(a) Inclusão dos gestores na interlocução com o

MEC.

(b) Qualificação e formação de educadores.

(c) Implementação de projeto piloto com metas

estabelecidas para ampliação.

(d) Proposta de currículo da história africana no

2º grau, de curto, médio e longo prazos, sendo:

60

Curto: estudar África pré-colonização,

grandes navegações;

Médio: intencionamento dentro do

currículo de humanas; disciplina da

história da África; colonização; desco-

lonização; e atualidade.

Longo: transformação da visão euro-

cêntrica para a construção de uma

história universal;

ensino religioso voltado ao conhecimen-

to das religiões e não de uma doutrina

religiosa específica;

realizar reuniões regionais de sensibi-

lização para a Lei 10.639 com secretários

estaduais e municipais;

priorizar como "projeto piloto" os

municípios participantes do Fórum

Intergovernamental.

(3) Que instrumentos o Fórum deverá desen-

volver para acompanhar e sistematizar a imple-

mentação da lei nos estados e municípios?

1) estabelecer um elo com a SECAD na cons-

trução e sistematização e implementação da lei

nos estados e municípios;

2) elaborar proposta de conteúdo programático;

3) fazer uma seleção das experiências bem-

sucedidas em todo o País e publicá-las, como

sugestão, acrescentada de outras orientações e

distribuir para todas as escolas do país;

4) garantir rubrica específica no orçamento da

União, para implementar a Lei;

5) realizar seminários nacionais com secretários

(as) estaduais de Educação para sensibilização

da política da Lei 10.639.

Além das discussões relativas à implementação

da Lei 10.639, a qualificação dos(as) gestores(as)

recobriu assuntos outros indispensáveis para a

formação da equipe. Representantes de organis-

mos da ONU, como UNESCO, OIT e Unicef indi-

caram como cada gestor(a) pode absorver de

temas específicos questões importantes: cons-

tituição de futuras parcerias, indicativos de

fontes de financiamento. A propósito, esse tema

é fundamental para o trabalho dos(as) gesto-

res(as), tanto em níveis municipal quanto esta-

dual. Para conhecer mais sobre o trabalho destes

organismos e agências, consultar os respectivos

sites da OIT (http://www.ilo.org/public/por-

tugue/region/ampro/brasilia/), do UNICEF

(http://www.unicef.org/brazil/) e UNESCO

(http://www.unesco.org.br).

61

Se, entretanto, é inequívoca a grandiosidadeda importância da qualificação dos(as)

gestores(as), se é absolutamente verdadeiro queo papel destes(as) agentes é uma chave funda-mental para a promoção da igualdade racial,não menos essencial é ter-se consciência que aqualificação deve atingir também os demaissujeitos que concebem e executam as políticasde educação a fim de que elas possam estar emconsonância com as demandas presentes. Deacordo com Diva Moreira:

Falar na sintonia com as massas énecessário também porque as nossasescolhas acerca do que é bom e dese-jável para o conjunto da populaçãonegra podem estar marcadas por umaconcepção conservadora de integraçãoracial e mediatizadas pelas instituiçõeshegemonizadas pelos brancos. Assim,precisamos construir teorias demudança e integração racial progres-sistas, críticas, que dêem conta dasvicissitudes que a população negraenfrenta desde o nível municipal até oquestionamento da globalizaçãoneoliberal, que é também um estágioelevado da opressão racial em todo omundo, e que precisa ser detida (...).Que políticas de aliança ou de coalizãoconstruir e com que atores sociais epolíticos? Como nos capacitarmospara o máximo de previsibilidade e

antecipação dos riscos, minimizandoos erros, a frustração de nosso povo ea redução da legitimidade de nossaslutas?. (2003: 65).

Os encontros com os(as) gestores(as) em Brasíliae os seminários técnicos, realizados a partir devisitas da SEPPIR aos municípios, se prestam aesse papel.

"Nós queremos a implementação da Lei 10.639 omais rápido possível", disse João Carlos Noguei-ra em referência à instituição da obrigatoriedadedo ensino de História da África, e da culturaafro-brasileira nas escolas de ensino fundamen-tal e médio. Segundo Nogueira, "tão logo o pre-sidente Lula sancionou a lei, a SEPPIR buscou,junto ao Ministério da Educação (MEC), cons-truir estratégias para sua implementação". Eleafirma que o Fórum se tornou uma estratégiadefinitiva nesta luta, mas diz que alterar o con-teúdo escolar a partir de uma nova diretriz nocurrículo não é tarefa fácil:

Nós não podemos achar que 5.000municípios vão acatar a lei ao mesmotempo. Isso envolve milhões de profes-sores, material didático, envolve asestruturas de todo o sistema de ensino.Mas esperamos que até 2007 pelomenos a maioria das escolas tenhaaderido", afirmou o subsecretário.

c) Outros desdobramentos da interlocução -Seminários Técnicos

62

A grandiosidade dessa empreitada envolvesujeitos diversos da área educacional. Os semi-nários técnicos são destinados a eles. Desde julhode 2004 a SEPPIR vem promovendo uma série deseminários técnicos de Promoção da IgualdadeRacial nos municípios e estados integrantes doFIPIR. A média do público nos seminários é desessenta e cinco pessoas. Os encontros têm oobjetivo de discutir formas de implementar a Lei10.639 que introduz na grade curricular do ensi-no fundamental e médio os temas sobre Históriae Cultura Afro-Brasileira e construir a 1ª Confe-rência Nacional de Promoção da IgualdadeRacial, marcada para junho de 2005.

As visitas e seminários fazem parte de definiçãointerna do Fórum e compõem a estratégia daSEPPIR e do governo federal que é a descentrali-zação e gestão democrática por meio da trans-versalização das ações governamentais. Foramrealizados aproximadamente de julho a novem-bro de 2004 mais de 30 seminários técnicos.Segundo Esteves,

estivemos em diversos estados emunicípios realizando os semináriosjunto aos secretários/as de Educação,professores/as, prefeitos e prefeitas egestoras da educação - coordenadorespedagógicos, professores, estudantes,em alguns locais, pesquisadores, repre-sentantes das religiões de matrizafricana - agentes que se mostraramengajados no monitoramento da Lei10.639 nas suas localidades. Tivemostambém representação de gênero.Além disso, foi apresentado o trabalhofeito com os povos indígenas da regiãoNorte, o que é também um relato de

experiência importante. A iniciativa [derealizar estes seminários] é dos municí-pios de Paraty e Vassouras do Rio deJaneiro. (novembro de 2004).

O trabalho consiste em visitas técnicas para atroca de experiências e divulgação das açõesexistentes no cenário nacional, com o objetivode integrar as ações e estabelecer protocolos econvênios com os governos envolvidos com otema da Promoção da Igualdade Racial e testaros parâmetros adotados.

As primeiras visitas foram realizadas no estadodo Rio de Janeiro. No município de Paraty, oseminário contou com a presença do Prefeitomunicipal, secretárias de Educação, AssistênciaSocial, diretoras de escola, coordenadoras deensino, lideranças nas áreas de cultura e lideran-ças quilombolas. O seminário foi muito bem re-cebido no município que já havia realizado umcurso de formação de professores sobre ahistória da África, em parceria com universi-dades e o movimento negro local.

No município de Resende, o FIPIR reuniu outrospares, como: Volta Redonda, Barra Mansa,Quatis, e Porto Real. O seminário aconteceu naSecretaria Municipal de Educação, com as pre-senças das Secretárias de Educação de Resende,Porto Real e Representação de Quatis, Secretáriode Cidadania e gestores de promoção da igual-dade racial destes municípios.

Em Vassouras, o gestor local, subsecretário dePlanejamento e o prefeito municipal acolherama SEPPIR. A atividade reuniu cerca de setentapessoas, entre elas, a secretária de Educação,vice-reitor da Universidade Severino Sombra,

63

Centro de Documentação da Universidade, agentesculturais e representantes dos municípios de Barra doPiraí e Pinheiral. O município de Vassouras foi a últi-ma cidade do estado a abolir a escravidão e possuium ícone na luta anti-escravagista, Manoel Congo.

No Rio Grande do Sul, Porto Alegre, o semináriotécnico aconteceu com o aval do secretário deDireitos Humanos e Segurança Pública, da se-cretária municipal de Educação e do gestor local,Talis da Rosa, e SEPPIR. O município já desenvolveinúmeras ações de combate à discriminaçãoracial. Na oportunidade, foi mencionada aaprovação de recursos para a implementação daCampanha Eu assumo minha Negritude. Bancosde dados, seminário nacional de complexos cul-turais e instrumentos didáticos pedagógicos parasubsidiar a implementação da Lei nº 10.639/2003também fizeram parte da pauta do seminário.

Ainda no Rio Grande do Sul, em Viamão, o se-minário técnico sinalizou para as ampliações deações voltadas para a promoção da igualdaderacial. O prefeito e gestores locais foram atoresimportantes para a proposição de novas fren-tes. Aprovaram posteriormente, por exemplo,iniciativa importante como a instituição da cotaétnico-racial de 40% nos concursos públicos.

Cachoeiro do Itapemirim (ES), Vitória (ES),Uberlândia (MG) Itabira (MG), Goiânia (GO) tam-bém fizeram parte do mapa de diálogos com ospoderes públicos e outros atores sociais.

A realização desses seminários, a exemplo deoutros que foram realizados, propiciou açõespositivas para a promoção da igualdade racial.Segundo informação abaixo:

Universidade Federal do Espírito Santo terácurso a distância sobre História da África

A partir de 16 de julho a Pró-Reitoria deExtensão juntamente com o Núcleo deEducação Aberta e a Distância da Ufes -ne@ad -, promovem o Curso de Extensãoem História Afro-Brasileira, conteúdo obri-gatório para a Rede de Ensino Fundamentale Médio por determinação da Lei 10.639 de2003 promulgada pelo presidente LuizInácio Lula da Silva. O curso, sob a coorde-nação dos professores Adriana PereiraCampos, Gilvan Ventura da Silva e Og GarciaNegrão, será realizado por meio de sistemade ensino a distância. O material didático -incluindo aula de uma hora, textos-guia doprofessor-palestrante, documentos e ima-gens próprios para o trabalho em sala deaula - foi elaborado por 13 professoresespecialistas em cultura africana de renomenacional e internacional e estará à dis-posição em CD-Rom. O curso terá alcancenacional e no Espírito Santo será transmiti-do para todos os Centros Regionais deEducação Aberta e a Distância - Cread pormeio de videoconferência.

As inscrições já se encontram abertas no sitedo NEAD (www.nead.ufes.br) e poderão serfeitas pelo próprio participante. O investimen-to é de R$ 180,00 dividido em seis parcelas deR$ 30,00, dando direito aos CD-Rom queserão entregues no início de cada módulo.

Joana D'Arc, gestora do município de Jandira,sinaliza para o papel fundamental dos semi-nários técnicos.

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Na Secretaria de Educação de Jandiratem uma pessoa responsável peladiscussão (da transversalidade).Os gestores atuam junto aos delega-dos de ensino. Fizemos reunião com oMEC visando parceria para orientar osprofessores. Apresentamos relação delivros que auxiliam os professores.A lei está sendo aceita, o mês denovembro favoreceu. É difícil por quenão está posto para o conjunto da so-ciedade. A falta de consciência é gran-de, mas nós gestores estamos puxandoa discussão. (novembro/2004).

Talis da Rosa, gestor de Porto Alegre, rela-ta, igualmente, a importância dos semi-nários técnicos:

Tentamos implementar a Lei 10.639 detodas formas possíveis com seminário

de formação, reunião inclusive com oministro da Educação, Tarso Genro.Atualmente estamos em conjunto como governo federal fazendo Curso sobreRaça e Etnia para professores da regiãoda grande Porto Alegre. Estamos emfase de confirmar convênio comUniversidade Federal e outros órgãospara aprofundarmos esse convívio.(novembro/2004).

Outro desdobramento dos seminários téc-nicos diz respeito à formação adequada deprofessores(as), conforme faz notar odepoimento de Talis. O professor é umagente importante para a promoção deuma educação plural, onde se possa verrespeitadas as diferenças. Portanto, a sen-sibilização e qualificação docente é tam-bém uma prioridade das ações estratégicasdo FIPIR.

T ópico importante para uma educação dequalidade, a formação de professores vem

se prestando a uma série de iniciativas, poissempre que se discute algum problema rela-cionado à educação, chega-se, invariavel-mente, a esse expediente.

De fato, a formação de professores é aponta-da como uma componente essencial dasolução das questões educacionais (seja indis-ciplina, insucesso, desmotivação, currículos,

programas, administração escolar, partici-pação, cidadania).

Atualmente, talvez devido ao ritmo acelerado demudanças, fala-se intensamente de formação. Umbreve diálogo com a história auxilia a discussão.

Surgida em 1880, a Escola Normal tinha, até1916, um caráter profissionalizante. Era carac-terizada como uma escola destinada a pessoascom poucos recursos e/ou professores que já

d) Formação de educadores/as

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exerciam a atividade de forma precária. Em vir-tude disso, os cursos eram oferecidos apenas noperíodo noturno.

Apesar de todas as limitações, é fato que a for-mação de professores conheceu no início doséculo XX uma efetiva expansão. Durante aPrimeira República ocorrem algumas impor-tantes inovações institucionais, mas, devido àsconvulsões internas do regime, estas raramenteultrapassaram o nível experimental. A ditaduraque se inicia em 1926 teme a ação dos profes-sores, e procura limitar a sua profissionalização,mas também a sua formação. Os anos trintaforam neste aspecto uma época de regressão nosistema de formação de professores. Será pre-ciso esperar pela agonia do regime, no Consu-lado Marcelista, para que se sejam introduzidasimportantes alterações na formação de profes-sores, impostas pela expansão do sistemaeducativo. Os anos oitenta serão marcados peladiversificação dos modelos e modalidades deformação, mas também de consolidação dasciências da educação.

Essas mudanças sucessivas ao longo dahistória são reveladoras da importância daformação do professor para a conformaçãodos processos educacionais. O FIPIR partedesse princípio e defende o investimento narequalificação docente a fim de que o profes-sor esteja, em meio a suas múltiplas habili-dades, técnica e teoricamente preparado paraa promoção da igualdade racial.

Nesse sentido, procura contribuir para o desen-volvimento profissional de professores, levando

em conta os conteúdos relativos à história daÁfrica e do negro no Brasil; promover um co-nhecimento mais aprofundado a respeitodessas disciplinas; suscitar a reflexão sobreexperiências de inovação no ensino/apren-dizagem com base nas linhas orientadorasfeitas pelos organismos competentes como oMEC; fortalecer os vínculos entre escola, go-vernos e secretarias de ensino.

Quando se leva em conta a questão racial, adebilidade na formação docente desponta deforma saliente. Essa debilidade decorre, sobretu-do, do papel histórico das universidades, poissegundo a educadora Iolanda Oliveira:

vinculada com freqüência a interessesde grupos minoritários. A Universidadese legitima como uma instituição que"seleciona temas para estudo, nadeterminação de procedimentos e noensino, ao mesmo tempo em quedestaca a necessária vinculação dasatividades de extensão à produçãoacadêmica e ao ensino, sem o que oserviço público teria caráter assisten-cialista ou seria uma agência deprestação de serviço. (2003: 108).

Ainda que seja difícil trabalhar com um públicotão abrangente como é o professorado, a SEPPIRpretende desenvolver projetos pilotos que pos-sam jogar luzes na qualificação dos professores,instituindo outras formas de ensinar. SegundoEsteves, não basta apenas aprovar a Lei, é precisoque as pessoas aprendam, incorporem a lei paraque possam aplicá-la devidamente. É preciso

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sensibilização, qualificação e subsídios teóricos(as três frentes das atividades do Fórum).

Esse último item, os subsídios teóricos, não serestringe apenas às ditas disciplinas culturais ouhistóricas. O conhecimento sobre a história donegro vai além. A transversalidade tem de estarpresente em todas as disciplinas: matemática,geografia, português, física, química, etc. comoforma de expressar o legado do conhecimentoafricano em todas as áreas do conhecimento. Deacordo com Esteves, o desconhecimento emrelação a isso é total. A esse respeito, Garcia,pesquisador na área de educação e relaçõesraciais, afirma:

A temática afro-americana, principal-mente na América Latina e no Caribe,foi reduzida por uma vasta bibliografiaque limitou sua caracterização apenasa aspectos "folclóricos" como música,dança e religião. Esta bibliografia

reducionista, que na maioria dos casosera carregada de preconceitos,obscurecia outros aspectos de grandesignificação na vida dos afro-descen-dentes por afirmação. Em primeirolugar, não se difundiam seus códigosculturais ancestrais transferidos para onovo mundo (em suas diferentes fasesde conservação, criação, recriação einovação), tampouco se falava da lutapela conquista de espaços nas esferassociais, políticas e jurídicas dassociedades latino-americanas ecaribenhas nos processos de moder-nização dos estados. (Garcia, 2003: 7).

A transposição desse problema exige que outrasnarrativas sejam tecidas a respeito do legadocultural e histórico do negro. Daí a necessidadede produção e disseminação de materiais queenfoquem a história do negro a partir de umaperspectiva inclusiva.

e) Material Pedagógico

A obrigatoriedade de inclusão deHistória e Cultura Afro-Brasileira eAfricana nos currículos da educaçãobásica trata-se de decisão política,com fortes repercussões pedagógicas,inclusive na formação de professores.Com esta medida, reconhece-se que,além de garantir vagas para negrosnos bancos escolares, é preciso valo-rizar devidamente a história e cultura

de seu povo, buscando reparar danos,que se repetem há cinco séculos, àsua identidade e a seus direitos.A relevância do estudo de temasdecorrentes da história e culturaafro-brasileira e africana não serestringem à população negra, aocontrário, dizem respeito a todos osbrasileiros, uma vez que devem edu-car-se enquanto cidadãos atuantes

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no seio de uma sociedade multicultu-ral e pluriétnica, capazes de construiruma nação democrática. (MinistraMatilde Ribeiro).

Além da qualificação dos diversos agentessociais, a implementação da Lei 10.639 requera produção e divulgação de materiais didáticosem todas as áreas e que sejam alterativos eproativos, a fim de que a história do negro nãoseja vista apenas sob o ponto de vista dasmanifestações culturais.

A apropriação da cultura e conhecimentonegros apenas sob a ótica folclórica minimizoua contribuição do legado histórico e cultural dastradições africanas nos diversos âmbitos doconhecimento. Garcia nos lembra, ainda, queapós as "guerras de independência dos paísesde nosso continente, surgiram as Constituições,mas nem os indígenas nem os afro-descen-dentes foram considerados cidadãos; alémdisso, os afro-subsaarianos que haviam sidoseqüestrados para nossos países continuaramsubmetidos à escravidão durante muitos anos."(Id. Ibid.: 7-8).

O processo de modernização dos estados duran-te o século XX "privilegiou" alguns grupos paraserem partícipes do processo em curso. Osnegros ficaram de fora desse projeto, por seremvistos como incapazes, sem cabedal para a for-mação das nações que se formavam. Essa visãose confirma em, por exemplo, José Ingenieros:"povoar não é civilizar quando esse povoamentoé feito com chineses e índios da Ásia e comnegros da África" (apud Garcia, 2003: 8). Os

negros, para Ingenieros, se aproximavam maisdos símios antropóides do que do homem civi-lizado, e tudo o que já se tem feito a favor dasraças inferiores é anticientífico.

Somam-se às considerações de Ingenieros, as deVasconcelos e do marxista peruano José CarlosMariategui. De acordo com Mariategui,

A contribuição do negro que chegoucomo escravo parece ser menosvaliosa e mais negativa. O negrotrouxe consigo sua sensibilidade, suasuperstição e sua natureza primitiva.Não está em condições de contribuircom a criação de nenhuma cultura, oúnico que faz é obstrui-la por meioda influência crua e vivente de suabarbárie. (Campbel, 2000).

Vasconcelos, por sua vez, afirmava que "às dife-renças físicas é preciso acrescentar as profundasparticularidades de história e de raça que carac-terizam cada um dos grupos étnicos da Américacontemporânea, pois, como todos sabem, nósprocedemos de uma cultura hispânica e latina eos do norte são perpetradores de uma tradiçãogermânica e saxônica". (2003: 9).

São esses discursos e visões que contribuírampara a construção de um imaginário e uma açãodiscriminatória que anula o negro e o seu patri-mônio cultural.

Nas últimas décadas, várias organizações negrasvêm se empenhando na "desconstrução dos re-ferentes estabelecidos sobre a negação da

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cidadania e da participação", apontando oimportante papel do povo negro na construçãocultural e do conhecimento do País. De acordocom Martín Hopenhayn:

...há duas tarefas fundamentais quesão claramente necessárias para umprojeto integrador. Em primeirolugar, é preciso superar a longatradição do que aqui chamamos dedialética da negação do outro, aondeuma cultura (da mulher, do índio, donegro, do pagão, do mestiço, dohomem do campo, do marginal-urbano etc.) constitui o cimentosobre o qual se constrói uma longatradição de exclusão socioeconômica,cultural e sociopolítica (2000).

Faz-se necessário que se elabore uma agendapara o auto-reconhecimento das contribuiçõesdos africanos e de seus descendentes na for-mação da diversidade cultural, pelo reconheci-mento das contribuições políticas e religiosasdeste continente. Os seminários técnicos, pro-movidos pela SEPIR no marco do FIPIR, vêmprocurando criar novas referências para asuperação do racismo no ambiente escolar.

Neles, o parecer produzido em conjunto com oMEC, INEP (Instituto Nacional de Estudos ePesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e SEPPIR- Diretrizes Curriculares Nacionais para aEducação das Relações Étnico-Raciais e para oensino da História e Cultura Afro-Brasileira eAfricana - é apresentado aos administradoresdos sistemas de ensino, de mantenedores de

estabelecimentos de ensino, aos estabelecimen-tos de ensino, seus professores e a todos osimplicados na elaboração, execução, avaliaçãode programas de interesse educacional, deplanos institucionais, pedagógicos e de ensino.Esse material foi produzido em julho de 2004com uma tiragem de 10 mil exemplares queforam distribuídos no Fórum Mundial de Edu-cação em Porto Alegre (RS). Ele será relançadoem larga escala, atingindo mais de 200 milexemplares que serão enviados para todas asescolas do País para que os professores tenhamacesso ao material, um subsídio facilitador paraa implementação da Lei 10.639.

Além das Diretrizes Curriculares, foi produzido,também, o kit pedagógico piloto, um conjuntode livros paradidáticos para ser utilizado comosuporte pedagógico nas escolas de ensino fun-damental e médio na aplicação das temáticasprevistas na Lei 10.639 (o ensino de História daÁfrica, do negro no Brasil e da Cultura Afro-brasileira e Africana). O material, entregue na 4ªreunião do FIPIR em setembro de 2004, orientaos professores para a abordagem dos referidostemas em sala de aula. Segundo João CarlosNogueira, "as três grandes deficiências que oprocesso de implementação das diretrizes cur-riculares sofre são a baixa formação dos profes-sores, a ausência de material didático e um cur-rículo que não expressa esses conteúdos".

O kit pedagógico foi amplamente divulgadopelos(as) gestores(as), que têm o papel de indi-car, em seus municípios, a utilização do materi-al para as secretarias de educação. Ainda segun-do o subsecretário, as secretarias estaduais e

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municipais vão avaliar o material e, a partir dokit, discutirão qual o material didático-peda-gógico mais adequado ao local. "É uma estraté-gia de incentivo para simbolizar o esforço dogoverno federal nesta questão", completou.

Os avaliadores das obras são profissionais renoma-dos com histórico de atuação nas relações raciais.Cada livro será acompanhado de resenha feita poreducadores e pesquisadores para facilitar o seumanuseio como material didático-pedagógico.

E m parceria com o INEP, o FIPIR con-seguiu incluir o quesito cor no censo

escolar de 2005. Para isso, está sendodesenvolvida uma campanha com cartazes efolhetos explicativos. De acordo com Este-ves, "embora a prevalência da populaçãonegra nas escolas públicas seja fato con-sumado, esse censo será fundamental para

que saibamos detectar a presença da po-pulação negra nas escolas. Na nossa avali-ação, o questionário deverá ser um dos maiscompletos porque ele mostrará dadosimportantes para a construção de novosindicadores e para a inversão de prioridadesde políticas públicas. Tudo isso está vincula-do à implementação da Lei 10.639".

f) Outras conquistas na educação

LLiivvrrooss ddoo kkiitt ppeeddaaggóóggiiccoo

ZZeezziittoo ddee AArraaúújjoo,, ggeessttoorr ddoo EEssttaaddooddee AAllaaggooaass,, rreecceebbee ddaa MMiinniissttrraaMMaattiillddee RRiibbeeiirroo oo kkiitt ddee mmaatteerriiaaiissddiiddááttiiccooss ssuuggeerriiddooss ppeellaa SSEEPPPPIIRR eeppeelloo MMEECC ppaarraa oo eennssiinnoo ddaa HHiissttóórriiaaddaa ÁÁffrriiccaa nnaass eessccoollaass bbrraassiilleeiirraass

Na tribuna, monitoramentoe novos desafios

Quarta praça de debates,monitorando as ações naeducação e em outrostemas

5

73

5. Quarta praça de debates, monitorando as açõesna educação e em outros temas

Abase metodológica do Fórum esteve, em 2004,alicerçada nos encontros que serviram para

intercâmbio de experiências com gestores e espe-cialistas da sociedade civil e o debate de estraté-gias para ação nos governos. Os dois primeirosvisaram à construção participativa do FIPIR com aconsulta aos gestores em outubro de 2003 e pla-nejamento em janeiro de 2004; o terceiro, quemarcou o lançamento oficial do evento, teve comoobjetivo começar a pôr em prática o plano de açãodelineado nos encontros anteriores e construir umquadro referencial e conceitual sobre o tema doFórum no exercício de 2004-2005: a educação,mais precisamente a implementação da Lei 10.639.

Paralelamente, foram realizadas também as visi-tas técnicas pela SEPPIR em diversos municípios.Levando em conta o acúmulo obtido por essas ini-ciativas, o quarto encontro, realizado de 20 a 22de setembro de 2004, também em Brasília, tevecomo objetivo monitorar as ações já realizadas(avaliação dos avanços da Política Nacional dePromoção da Igualdade Racial e da implemen-tação da Lei 10.639/2003) e pensar nas ainda porserem feitas. Contou com a participação de 32gestores(as) de todas as regiões do Brasil. Todos ostemas propostos, educação geração de emprego erenda com enfoque na juventude e saúde da po-

pulação negra, foram trazidos pelos(as) gestores,a partir da realidade dos municípios e estados aosquais estão vinculados(as).

O questionamento central que orientou adiscussão foi: Como está o processo de imple-mentação da Lei 10.639 em meu estado oumunicípio?. Segundo Joana D'Arc, gestora doFIPIR no município de Jandira (SP), "a despeitodas conquistas, muitas coisas ainda estão porser feitas. O tema do racismo não está posto daforma que deveria nas escolas. É preciso aindasensibilização e convencimento".

Conquistas e deficiências foram levantadaspelos(as) gestores(as) presentes, com diferentesníveis de avanço ou dificuldade entre os municí-pios reunidos. Repertoriamos algumas delas:

Deficiências

Falta de material didático

Falta de qualificação dos professores

Resistência aos temas relacionados à negri-tude pelos(as) educadores(as)

5.1 Acompanhamento da Lei 10.639/2003

74

Desarticulação entre estados e municí-pios das ações voltadas para educaçãoétnico-racial

Faltam iniciativas em áreas quilombolas

Conquistas

Realização de fóruns pelos(as) gestores(as) doFIPIR para a formação dos(as) professores(as);

Promoção de seminários, fóruns e confe-rências relativos à questão racial e educação;

Assinatura dos Termos de Adesão e deCooperação técnica;

Elaboração do material didático pedagógico;

Censo de discente e docente da rede;

Distribuição de mapa da África nasredes de ensino;

Institucionalização do dia da cons-ciência negra;

Estabelecimento de parcerias entre poderpúblico, movimentos sociais e universidades;

A rede escolar vem aderindo à questão racial;

A Lei 10.639 foi distribuída nas escolas;

Formação de professores das redes estaduale municipal com as Diretrizes Curriculares;

Conforme assinalamos, a aplicação da Lei 10.639faz parte das ações estratégicas das políticas depromoção da igualdade racial. Monitorar osprocessos de implementação da lei significaincidir sobre as políticas públicas desenhadaspara a superação das desigualdades raciais. Naesteira do questionamento anterior, impõe-seoutra indagação: Existem políticas de promoçãoda igualdade racial em outras áreas do governo?Se sim, quais?

No que tange à essa questão, os(as) gestores(as),porta-vozes legítimos dos seus municípios, fize-ram algumas solicitações:

Ampliação do programa SOS racismoatravés dos Centros de Integração daCidadania

Inclusão da capoeira como prática desporti-va pela Secretaria de Esporte e Lazer emCaxias do Sul

Recortes raciais nas políticas de saúde, edu-cação e cultura no município de Jandira;

Enfoque na questão dos Quilombos

Expressividades de coordenadorias da mu-lher, gênero e raça

Celebração de convênios com a SEPPIR

Políticas voltadas para trabalho e rendaestruturadas por raça

Desenvolvimento local, integral e sustentável

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À luz das solicitações dos(as) gestores(as),

Nogueira ressaltou que é insuficiente só assi-

nar acordos e convênios. É preciso ter acom-

panhamento. "Por isso fizemos o esforço

imenso de estarmos juntos nos municípios.

Como exigir a implementação da lei? O fato de

ser lei já é exigência. Tecnicamente, eu e vocês

como gestores já somos, por força de lei,

exigidos a executá-la. (...)."

Arany Santana, responsável pela Secretaria

Municipal de Reparação da cidade de Salvador,

avalia que a Lei 10.639/2003 avançou na

cidade. Mas faz observações pertinentes: "é

preciso fazer seminários, grupos de estudo,

capacitar professores" (novembro de 2004).

Quanto aos seminários técnicos nos municí-

pios, os governos municipais e estaduais con-

sideram positiva a presença de represen-

tantes do governo federal, como é o caso da

SEPPIR-Paraná. Tais seminários fortalecem o

papel dos(as) gestores(as), estimulam o tra-

balho já realizado e abrem novas perspecti-

vas. O Seminário foi um marco histórico.

O monitoramento da política de promoção

da igualdade racial descortina o quadro

social sobre o qual ela se movimenta.

Infelizmente, esse quadro ainda é emoldura-

do por desigualdades extremas entre brancos

e negros e demanda por intervenções ca-

pazes de superar o problema. Conforme de-

poimento de Arany Santana:

É preciso continuar com o debate

[sobre a implementação da Lei

10.639/2003] e olhar também a

questão do trabalho e renda porque a

"barriga também fala forte". Fica para

nós decidirmos como encaminhar esta

questão. (novembro de 2004).

De acordo com Nogueira, subsecretário da

SEPPIR:

Não é fácil o reconhecimento e va-

lorização da política de igualdade

racial. A ministra Matilde Ribeiro

tem enfatizado que essa política é

fruto de lutas do movimento

negro, do movimento de mulheres

negras. E isso não é ladainha. Não

devemos deixar de lembrar da

importância dessa tarefa. A dis-

cussão da política de promoção da

igualdade racial é uma responsa-

bilidade que está crescendo.

(novembro de 2004).

76

Sob esse ponto de vista, outro momento im-

portante do FIPIR foi a apresentação, pelo

Dieese, dos diagnósticos sobre a população negra,

principalmente sobre a juventude negra e a mu-

lher negra no mercado de trabalho. Uma vez que

as assimetrias no mundo do trabalho podem ser

avaliadas sob vários prismas, as discussões do

Fórum foram direcionadas para a questão da

juventude neste primeiro momento. Os dados

demonstram, com clareza, que são os jovens os

mais vulneráveis às imposições do mercado.

Segundo Carlos Alberto Grana, secretário-geral da

CUT nacional, "a crise vivida pela nação e que se

arrasta ao longo de mais de uma década atinge e

marginaliza a população jovem" (www.cut.org.br,

acessado em 18 de dezembro de 2004). As pers-

pectivas de colocação no mercado de trabalho

têm sido cada vez menores para esse segmento.

Os dados concretos, disponibilizados pelo

Dieese, visam subsidiar os gestores no seu tra-

balho diário de intervenção: formatação de

projetos, discussão com as suas represen-

tações municipais ou estaduais, reconheci-

mento dos grupos historicamente vulneráveis

e suas principais demandas.

De acordo com Esteves, a aplicação da política

de promoção da igualdade racial será exitosa se

os gestores estiverem devidamente subsidiados

com os indicadores e a situação de exclusão que

vive a população negra no Brasil e em suas

respectivas localidades. A interlocução qualifica-

da pressupõe conhecimento. Ainda que a maio-

ria dos gestores possua, de qualquer forma, uma

trajetória nas diversas organizações negras, há

que se reconhecer que eles necessitam de um

ferramental específico para manejar políticas

públicas específicas.

O tema do Fórum para o exercício de 2005 diz

respeito à geração de emprego e renda. A

aproximação com o tema deu-se em 2004

com enfoque na juventude negra. Uma

avaliação do estado da arte da população

negra e, em específico, desse segmento

colabora para o desenho de algumas políti-

cas. Assunto para a próxima tribuna!

5.2 Mapeando os novos desafios

77

Aintervenção nas políticas públicas dosmunicípios requer a adoção de estratégias

acertadas que expressem as demandas colo-cadas. Os indicadores sociais e econômicos vêmorientando na formulação e execução de algu-mas políticas, posto que demonstram o funda-mento das desigualdades no País e suas nuancesde cor, raça, gênero, pertencimento geográfico,faixa etária, etc.

Uma infinidade de pesquisas vem demonstran-do, inequivocamente, que o problema racialestrutura as relações que aqui se instituem.Alguns(mas) pesquisadores(as) a exemplo deCarlos Hasenbalg, Nelson do Vale Silva, WâniaSant'Anna, Marcelo Paixão, Ricardo Henriqueselaboraram estudos e pesquisas nas fronteirasdos números e indicadores que convergem paraa centralidade da componente racial no País. Olugar de chegada, mesmo que o lugar de partidaseja diferente, é sempre o mesmo: ainda queligeiras alterações tenham ocorrido nestecenário nos últimos anos, em quase todos osaspectos de análise o padrão de vida do negroencontra-se em situação de desvantagem quan-do comparado ao do branco. O que nos permiteafirmar que as desigualdades equacionam-se,fundamentalmente, em torno da questão racial.Segundo Henriques, "o Brasil, tanto em termosabsolutos como em termos relativos, não podeser considerado um país pobre, mas deve serreconhecido como um país extremamente

injusto. E essa injustiça social encontra-se naorigem do enorme contingente de pobres emnossa sociedade". (2003: 1).

De acordo com os dados obtidos por essepesquisador, em 1999 cerca de 54 milhões debrasileiros eram pobres, dos quais 22 milhõesindigentes. Esse enorme contingente de pobrezainquieta, sobretudo, porque as experiências dospaíses com renda per capita semelhante àbrasileira tornam evidente o caráter excepcionalde sua magnitude. Por exemplo, se o grau dedesigualdade de renda brasileira correspondesseà média da desigualdade dos países com níveisde renda per capita similares ao Brasil, ten-deríamos a ter cerca de 10% de pobres ao invésdos atuais 34%.

Ainda segundo Henriques, a intensidade denossa desigualdade de renda, por sua vez, colo-ca o Brasil distante de qualquer padrão reco-nhecível, no cenário mundial, como razoável emtermos de justiça distributiva.

A desigualdade na distribuição de recursos é adeterminante da pobreza no Brasil e prejudicaconsideravelmente a população negra: "nascernegro no Brasil está relacionado a uma maiorprobabilidade de crescer pobre".

Os dados da PNAD revelam que em 1999 cerca de34% da população brasileira vivia em famílias

5.2.1 Mercado de trabalho e população negra:descortinando a realidade

78

com renda inferior à linha de pobreza, e 14% emfamílias com renda inferior à linha de indigência.Os anos 1980 aumentam o contingente de pobresno País, que chega a ultrapassar a marca dos 50%.

Quando a pobreza é vista sob o ângulo de suacomposição racial constatamos que os 53 mi-lhões de pobres e 22 milhões de indigentes nãoestão "democraticamente" distribuídos. Osnegros estão sobre-representados nos segmen-tos pobres14 e indigentes.

Esses dados, eloqüentes por si mesmos, con-tribuíram significativamente para que o mito dademocracia racial se fragilizasse. Aliás, Paixão(2003) considera que o mito só teve ressonânciano País em virtude da falta de "informaçõesestatísticas e demográficas sobre a realidade dasdesigualdades raciais" (2003: 67). Os movimen-tos negros são esferas importantes para amudança de trajetória: nos últimos 15 anos, porpressão desses movimentos, dos vários institu-tos e respectivas pesquisas e análises, entre elesa PNAD, passam a incorporar o quesito cor/raça.Eles são fundamentais para que as políticaspúblicas reconheçam as especificidades dopúblico a que se dirigem.

Para Diva Moreira (2003) esse conhecimento éfundamental para uma mudança sócio-racial noBrasil, pois, para ela, devemos fazer com quenossas idéias de transformação estejam em har-monia com os anseios das grandes massas de

afro-descendentes e marginalizados (cf. 2003:63). Ainda segundo, Diva:

Para que a sintonia com as grandesmassas possa acontecer, precisamosconhecer suas necessidades e prio-ridades, conviver com elas em seusespaços, conhecedores que somosda topografia racial existente noPaís, aprender com elas sua cultura,sua visão de mundo e os saberesque viabilizaram sua existência...Também precisamos partilhar comelas o nosso conhecimento paraajudá-las a decifrar o outro lado datopografia racial, aquele constituí-do pelo Brasil dos brancos, no qualse localizam os recursos de poder,sem os quais a mudança sócio-racial não se viabiliza. (2004: 64).

Os indicadores são uma boa fonte de pesquisapara a obtenção do conhecimento necessáriosobre a população negra. Taxas de rendimento,de emprego são fundamentais para se traçarum retrato das desigualdades e construirmospolíticas públicas eficientes que atuem sobreelas. O monitoramento das ações já realizadasno FIPIR é fundamental para a eficácia daspolíticas públicas nos municípios e estados. Aodisponibilizar a interpretação de dados e infor-mações com recorte racial/étnico, esse item"contribui para visibilizar as desigualdades

14 As linhas de indigência e pobreza referem-se, respectivamente, aos custos de uma cesta alimentar, regionalmente definida, que atenda às necessi-dades de consumo calórico mínimo de um indivíduo e a um mínimo de gastos individuais com vestuário, habitação e transportes, além dos gastos comalimentação.

79

raciais, qualificar o debate político sobre aspolíticas de ação afirmativa e, assim, conferirdensidade à luta por políticas, em especial aspúblicas, que tenham a busca da eqüidade comoleito principal". (Sant'Anna, 2003: 1).

O Dossiê Assimetrias Raciais no Brasil: alerta paraa elaboração de políticas, elaborado por WâniaSant'Anna, tem como ponto de partida municiarativistas anti-racistas para atuar com base naapropriação de dados da realidade na exigência,no monitoramento e controle social de políticasde promoção da igualdade racial, considerando,sobretudo, a inovação na elaboração do PlanoPlurianual 2004-2007 (PPA). (cf. Sant'Anna,

2003). O alerta feito por Sant'Anna é fundamen-tal para que se desenhe políticas que possamexpressar as necessidades dos segmentos his-toricamente vulneráveis e que, portanto, pos-suam eficácia para a superação das assimetrias.

Presente no quarto encontro do Fórum,encontro reservado para o monitoramento, aministra Matilde Ribeiro iluminou o debatecom as suas experiências em políticas públicasna área de trabalho e renda, com foco emgênero e raça.

O debate foi enriquecido por números trazidospor Patricia Lino Costa, técnica do DIEESE.

EEssttiimmaattiivvaa ddaa PPooppuullaaççããoo EEccoonnoommiiccaammeennttee aattiivvaa ttoottaall ee nneeggrraa RReeggiiõõeess MMeettrrooppoolliittaannaass ee DDiissttrriittoo FFeeddeerraall -- 22000033

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e entidades regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

80

TTaaxxaa ddee PPaarrttiicciippaaççããoo ppoorr ccoorrRReeggiiõõeess MMeettrrooppoolliittaannaass ee DDiissttrriittoo FFeeddeerraall -- 22000033

EEssttiimmaattiivvaa ddooss ddeesseemmpprreeggaaddooss ttoottaall ee nneeggrrooss RReeggiiõõeess MMeettrrooppoolliittaannaass ee DDiissttrriittoo FFeeddeerraall -- 22000033

(em %)

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e entidades regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e entidades regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

81

TTaaxxaa ddee ddeesseemmpprreeggoo ppoorr ccoorr RReeggiiõõeess MMeettrrooppoolliittaannaass ee DDiissttrriittoo FFeeddeerraall -- 22000033

DDuurraaççããoo mmééddiiaa ddaa pprrooccuurraa ppoorr ttrraabbaallhhoo ppoorr ccoorr ee sseexxooRReeggiiõõeess MMeettrrooppoolliittaannaass ee DDiissttrriittoo FFeeddeerraall -- 22000033

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e entidades regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e entidades regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

(em %)

(em meses)

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DDiissttrriibbuuiiççããoo ddooss ooccuuppaaddooss ppoorr sseettoorr ddee aattiivviiddaaddee ee ccoorrRReeggiiõõeess MMeettrrooppoolliittaannaass ee DDiissttrriittoo FFeeddeerraall -- 22000033

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e entidades regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

Obs.: Outros setores inclui Construção Civil e Serviços Domésticos

(em %)

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PPrrooppoorrççããoo ddee ooccuuppaaddooss eemm ppoossttooss ddee ddiirreeççããoo ee ppllaanneejjaammeennttoo ppoorr ccoorrRReeggiiõõeess MMeettrrooppoolliittaannaass ee DDiissttrriittoo FFeeddeerraall -- 22000033

RReennddiimmeennttoo mmééddiioo rreeaall ddooss ooccuuppaaddooss ppoorr ccoorrRReeggiiõõeess MMeettrrooppoolliittaannaass ee DDiissttrriittoo FFeeddeerraall -- 22000033

(em %)

(em R$ de janeiro de 2004)

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e entidades regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e entidades regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

Obs.: Inflator utilizado: IPCA/BH/IPEAD; ICV-DF/Codeplan; IPC-IEPE/RS; IPC-DESCON/FUNDAJ/PE; IPC-SEI/BA; ICV-DIEESE/SP

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GGRRÁÁFFIICCOO 11TTaaxxaass ddee ddeesseemmpprreeggoo ttoottaall ddaa ppooppuullaaççããoo ffeemmiinniinnaa cchheeffee ddee ddoommiiccíílliioo,, sseegguunnddoo ccoorr

RReeggiiõõeess MMeettrrooppoolliittaannaass ee DDiissttrriittoo FFeeddeerraallBBiiêênniioo 22000022--22000033

TTAABBEELLAA 22TTaaxxaass ddee ddeesseemmpprreeggoo ddaa ppooppuullaaççããoo nneeggrraa ee nnããoo nneeggrraa,, sseegguunnddoo sseexxoo

RReeggiiõõeess MMeettrrooppoolliittaannaass ee DDiissttrriittoo FFeeddeerraallBBiiêênniioo 22000022--22000033

MMuullhheerreess nneeggrraass nnoo mmeerrccaaddoo ddee ttrraabbaallhhoo:: aallgguunnss ddaaddooss iimmppoorrttaanntteess

(em %)

(em %)

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

Obs.: Negros: inclui pretos e pardos. Não-negros: inclui brancos e amarelos.

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

Obs.: Negros: inclui pretos e pardos. Não-negros: inclui brancos e amarelos.

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PPeessssooaass ddeesseemmpprreeggaaddaass qquuee uuttiilliizzaamm oo ttrraabbaallhhoo aaddiicciioonnaall oouu iirrrreegguullaarr ccoommoo eessttrraattééggiiaa ddeessoobbrreevviivvêênncciiaa,, sseegguunnddoo ccoorr ee sseexxoo

RReeggiiõõeess MMeettrrooppoolliittaannaass ee DDiissttrriittoo FFeeddeerraall -- 22000022//22000033

PPeessssooaass ddeesseemmpprreeggaaddaass ssee qquuee uuttiilliizzaamm ddaa aajjuuddaa ddee ppaarreenntteess oouu ccoonnhheecciiddooss ccoommooeessttrraattééggiiaa ddee ssoobbrreevviivvêênncciiaa,, sseegguunnddoo ccoorr ee sseexxoo

RReeggiiõõeess MMeettrrooppoolliittaannaass ee DDiissttrriittoo FFeeddeerraall -- 22000022//22000033

(em %)

(em %)

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

Obs.: Dados de Porto Alegre não disponíveis.

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

Obs.: Dados de Porto Alegre não disponíveis.

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GGRRÁÁFFIICCOO 22PPrrooppoorrççããoo ddaa ppooppuullaaççããoo ffeemmiinniinnaa nneeggrraa ee nnããoo nneeggrraa ooccuuppaaddaa ppeelloo eemmpprreeggoo ddoommééssttiiccoo

RReeggiiõõeess MMeettrrooppoolliittaannaass ee DDiissttrriittoo FFeeddeerraallBBiiêênniioo 22000022--22000033

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

Obs.: Negros: inclui pretos e pardos. Não-negros: inclui brancos e amarelos.

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESENota: (1) Inclui empresários, direção e gerência, e planejamento e organização.Obs.: Negros: inclui pretos e pardos. Não-negros: inclui brancos e amarelos.

GGRRÁÁFFIICCOO 33PPrrooppoorrççããoo ddaa ppooppuullaaççããoo ffeemmiinniinnaa nneeggrraa ee nnããoo nneeggrraa eemm ooccuuppaaççõõeess

ddee ddiirreeççããoo ee ppllaanneejjaammeennttoo ((11))RReeggiiõõeess MMeettrrooppoolliittaannaass ee DDiissttrriittoo FFeeddeerraall

BBiiêênniioo 22000022--22000033

(em %)

(em %)

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GGRRÁÁFFIICCOO 44ÍÍnnddiiccee ddoo rreennddiimmeennttoo hhoorraa mmééddiioo mmeennssaall ddooss ooccuuppaaddooss,, ppoorr sseexxoo ee ccoorr

RReeggiiõõeess MMeettrrooppoolliittaannaass ee DDiissttrriittoo FFeeddeerraallBBiiêênniioo 22000022--22000033

(rendimento homem não-negro = 100)

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

Obs.: Negros: inclui pretos e pardos. Não-negros: inclui brancos e amarelos.

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

AAllgguunnss ddaaddooss ssoobbrree jjoovveennss nneeggrrooss nnoo mmeerrccaaddoo ddee ttrraabbaallhhoo

TTaaxxaa ddee ppaarrttiicciippaaççããoo jjoovveennss BBiiêênniioo 22000022//22000033

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TTaaxxaa ddee ddeesseemmpprreeggoo ddee jjoovveennssBBiiêênniioo 22000022//22000033

DDiissttrriibbuuiiççããoo ddooss jjoovveennss ddee 1166 aa 2244 aannooss ddeesseemmpprreeggaaddooss sseegguunnddooeexxppeerriiêênncciiaa aanntteerriioorr ddee ttrraabbaallhhoo

RReeggiiããoo MMeettrrooppoolliittaannaa ddee SSããoo PPaauulloo ee SSaallvvaaddoorr -- 22000033

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e entidades regionais. PED – Pesquisa de Emprego e DesempregoEEllaabboorraaççããoo:: DIEESE

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DDiissttrriibbuuiiççããoo ddooss jjoovveennss ddee 1166 ee 1177 aannooss sseegguunnddoo ssiittuuaaççããoo ddee ttrraabbaallhhoo ee eessttuuddooRReeggiiããoo MMeettrrooppoolliittaannaa ddee SSããoo PPaauulloo ee SSaallvvaaddoorr -- 22000033

DDiissttrriibbuuiiççããoo ddooss jjoovveennss ddee 1188 aa 2244 aannooss sseegguunnddoo ssiittuuaaççããoo ddee ttrraabbaallhhoo ee eessttuuddooRReeggiiããoo MMeettrrooppoolliittaannaa ddee SSããoo PPaauulloo ee SSaallvvaaddoorr -- 22000033

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênioss regionais. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego

Nota: Exclui os que só trabalham e os que não estudam e procuram.

FFoonnttee:: DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênioss regionais. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego

Nota: Exclui os da categoria Outros.

Em São Paulo, 4,8% só trabalham e 4,4% não estudam e buscam trabalho.

(em %)

(em %)

90

Aavaliação dos resultados até então alcança-dos, tarefa deste quarto encontro que se

deteve no monitoramento das ações já emprei-tadas pela Lei 10.639/03, sinalizou para a viradade novos horizontes, forjou a inclusão de outrositens no menu temático do Fórum. A partir dasdemandas mais prementes em escalas municipale estadual, dos relatos dos(as) gestores(as) e dosdados obtidos com as pesquisas estatísticaspublicadas pelo Dieese, uma questão se impõe: odesenvolvimento social e econômico, comenfoque na geração de emprego e renda para apopulação negra, particularmente a juventude.Os números não erram quanto a necessidade dese pensar em um novo modelo de desenvolvi-mento no qual a população negra esteja incluí-da. Ao modo de uma tautologia, promover aigualdade racial é promover uma política dedesenvolvimento economicamente equilibrada esocialmente justa, e vice-versa.

De acordo com Moreira, "falar em luta política, emlibertação da opressão racial sem desenvolvimen-to social e econômico inviabiliza o diálogo e a sin-tonia com a população negra (...). Uma eficaz lutaanti-racismo no Brasil deve produzir o desenvolvi-mento social e econômico dos afro-descendentes.Nada misterioso ou inalcançável". (2003: 65-66).

Qualquer projeto de desenvolvimento quequeira fazer frente às carências sociais doPaís precisa investir claramente nas assime-trias raciais. Provado está que apenas ocrescimento à moda das tendências monera-tistas não consegue promover o encontroentre crescimento e o desenvolvimento, entreo político e o econômico. Isso implica dizerque para o Brasil não basta crescer. É precisocrescer em bases diferentes, que possibilitem,ao mesmo tempo, integrar-se positivamenteà economia mundial e reduzir os desequi-líbrios sociais e regionais internos.

Este é o grande desafio que se coloca paraos economistas e outros profissionais en-gajados na busca de um caminho para odesenvolvimento equilibrado.

Premidos pelas exigências do mercado, os proje-tos desenvolvimentistas acabaram supervalo-rizando as políticas de juros e outras variáveiseconômicas e preterindo a dimensão política esocial, áreas importantes para a consolidação doEstado democrático. A mudança de foco, domodelo mercadocêntrico para o político, é ogrande desafio que se impõe para a governança. O período de franco desenvolvimento do Brasil,

5.2.2 Delineando políticas à luz dos indicadores - um novomodelo de desenvolvimento é possível

"Para chegar a lugares onde ainda não estivemos,é preciso passar por caminhos pelos quais ainda não passamos."

Mahatma Ghandhi

91

1950-1980, o colocou entre as dez maioreseconomias do mundo, com uma estrutura pro-dutiva relativamente integrada e diversificada.Em termos absolutos houve, nessa época, umaredução dos níveis de pobreza, o que melhorouos índices de alfabetização, mortalidade infantile expectativa de vida. Porém, em termos rela-tivos, a situação se manteve inalterada, fazendocom que o País amargasse uma das piores dis-tribuições de renda do planeta.

Via de regra, atribui-se ao modelo de substitui-ção de importações a combinação entre cresci-mento acelerado e concentração de renda: "ofinanciamento inflacionário no qual se baseou,em larga medida, a ação desenvolvimentista doEstado; as altas margens de lucro propiciadaspor níveis muito elevados de proteção do mer-cado doméstico; maciça transferência de recur-sos públicos para o setor privado, sob a forma deincentivos fiscais e crédito subsidiado; o baixoestímulo ao investimento na qualificação damão-de-obra".

Esse modelo deixou um saldo de problemas já apartir da década de 1980: inflação, globalização,isolamento do País em relação aos fluxos inter-nacionais de capital e tecnologia. Este últimoaumentou o abismo tecnológico entre a pro-dução doméstica e o padrão mundial.

Vulnerável a esse cenário, o Estado deixou deinvestir suficientemente na manutenção, muitomenos na expansão da infra-estrutura. "De prin-cipal agente do desenvolvimento, tornou-se oprincipal foco dos desequilíbrios macroeconô-micos que alimentavam a superinflação".

Essas condicionantes estão no centro das preo-cupações das propostas de governo para o País.Presenciamos um momento de claro esforçopara reencontrar o caminho do desenvolvimen-to econômico e social. No entanto, é fato consu-mado, que às tentativas se colocam dificuldadesque impedem o efetivo crescimento do Brasilnas últimas décadas.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silvatoma para si o papel de promover o desenvolvi-mento e a geração de empregos. Dadas ascondições de crise macroeconômica herdadashistoricamente, a realização do desenvolvimen-to foi postergada.

Segundo especialistas, a exemplo de San-tos, o debate que necessita ser intensifica-do diz respeito

ao modelo de desenvolvimento e àscondições que podem proporcioná-lo.Preliminarmente, o desenvolvimentoprecisa ser qualificado no seu conteú-do e na sua dimensão. Quanto ao con-teúdo, ele não deve restringir-se aocrescimento quantitativo da economia.No passado, o Brasil cresceu. Mas nãodistribuiu renda nem promoveu a inte-gração social. Por isso, o novo modelo,além do crescimento quantitativo, devedistribuir renda e gerar empregos".

Ainda segundo Santos,

Quanto à dimensão, cabe perguntarqual é o tamanho do crescimento que

92

a sociedade almeja e o país precisa. Separtirmos do pressuposto de que hojeas economias nacionais estãointegradas à economia global e seolharmos para o crescimento dos paí-ses emergentes, como China, Rússia,Índia e outros, e para a necessidade debuscar uma ordem econômica mundialmais simétrica, e se olharmos aindapara as necessidades internas,chegaremos facilmente à conclusão deque o Brasil deve crescer num patamarnão inferior a 4% ao ano. Esta é umaquestão que diz respeito ao lugar que asociedade deseja para o Brasil nomundo. Se quisermos que o Brasil sejauma potência significativa e não percaa corrida dos países emergentes, deve-mos querer que o nosso crescimentoseja de 5% a 6% ao ano.

Essas considerações são esclarecedoras quantoà limitação dos aspectos estritamente econô-micos para atingirmos o desenvolvimentoesperado. Além de condições macroeconômicasadequadas, investimentos em infra-estrutura,marco regulatório pertinente, segurança jurídi-ca, incidência tributária moderada na produção,no trabalho e nas exportações, estímulos àcompetitividade e à inovação, investimentos emciência e tecnologia, etc, uma política de desen-volvimento exige muito mais. Santos consideraque o Estado deva ter uma atuação "mais proa-tiva na definição de um modelo de desenvolvi-mento, ao menos em três aspectos: na identifi-cação dos problemas e das áreas potencialmenteestratégicas do desenvolvimento; na definição

de políticas públicas de estímulos; e na coorde-nação ativa de processos organizadores eestruturadores do desenvolvimento. Nenhumdesses três aspectos pode ser implementadosem uma interação com os agentes econômi-cos e sociais. Localiza-se no terceiro aspectoa maior dificuldade que o Brasil encontrapara uma ação governamental eficaz, orien-tada para o desenvolvimento".

Os objetivos estratégicos do desenvolvimentodevem levar em conta a capacidade das açõesgovernamentais no seu decisivo papel de "iden-tificar e coordenar a organização produtiva deáreas potencialmente estratégicas, competitivase inovadoras", tais como, os instrumentos públi-cos (ministérios, BNDES e outros bancos públi-cos, agências, etc.), os estímulos e os incentivosgovernamentais e as diretrizes de política indus-trial, de ciência e tecnologia e de educação.

A combinação dessas áreas estratégicas é vistacomo uma alternativa ao modelo de desen-volvido construído desde o pós-guerra. Sãofrentes que facilitam o ingresso de valorescomo a postura ética (do governo, dos setoresde mercado, da sociedade civil), a cooperação,a solidariedade, entre outros. A saída é que asações possam ser efetivadas nos espaços locaispara disseminarem-se em espaços nacionais e,por fim, em ambientes internacionais. A máxi-ma expressa pelo movimento ecologista - "agirlocalmente e pensar globalmente" - parece sera tônica dessa estratégia.

Somam-se a essas questões os deficits sociaisque se acumulam exponencialmente. Pensar em

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um novo modelo de desenvolvimento que con-jugue criatividade, equilíbrio ecológico, sobera-nia do País, implica também a ampliação dademocracia e redução das diferenças de renda eriqueza. O Brasil do século XXI precisa desen-volver políticas sociais como reforma agrária,investir em educação, saúde e habitação popularpara acabar com a miséria absoluta, que atinge58 milhões de brasileiros representadosmajoritariamente pela população negra. É pre-ciso integrar estes excluídos e rumar no cami-nho da sustentabilidade. Eixo central para umnovo modelo de desenvolvimento, esse é umtema que custa caro para as políticas públicasque tencionam incidir sobre esses problemas.

Ativistas e pesquisadores(as) envolvidos(as) coma questão racial vêm apontando para a urgênciadesse novo modelo de desenvolvimento, vistoque o atual não resolve um dos nossos entravesestruturais: a exclusão via pertencimento racial.Em artigo intitulado Trabalho e inclusão racial,publicado no jornal "Correio Braziliense", SueliCarneiro, diretora executiva de Geledés -Instituto da Mulher Negra, adverte ser este oentrave para conjugar desenvolvimento, traba-lho e inclusão racial. Referindo-se a incorpo-ração da população negra no mercado de tra-balho, ela reúne elementos importantes parapensarmos em desenvolvimento e inclusão.Segundo ela:

Um estudo sobre o atual perfil profis-sional que está sendo exigido pelomercado de trabalho brasileiro foi reali-zado pelo Ministério do Trabalho/IBGE.As preferências para o preenchimento

das novas vagas recaem sobre aquelesque têm um mínimo de 11 anos deestudos. É um alto nível de exigênciaem termos de escolaridade para ospadrões nacionais, no qual a média deescolaridade para brancos é da ordemde 6,6 anos de estudo e, para negros,4,4. Em um contexto econômico mar-cado por altas taxas de desemprego epelo desemprego estrutural, agrega-seà intensa disponibilidade de mão-de-obra desempregada exigências de altosníveis de escolarização para os traba-lhos mais banais, que afastam cadavez mais os negros do mercado de tra-balho, posto que reconhecidamentecompõem o segmento social queexperimenta as maiores desigualdadeseducacionais. (Correio Braziliense, 16de outubro de 2004).

Sueli Carneiro, oportunamente, assevera queembora venha se anunciando ligeiro crescimen-to econômico no País, tal crescimento, por si só,não é suficiente para eliminar as distâncias his-tóricas entre brancos e negros, pois não impedea "transmissão hereditária das desigualdades".Ainda segundo ela,

Essas são algumas das possíveis razõespara o fato de que crescimentoeconômico não resulta, necessaria-mente, em redução sobre as desigual-dades sociais. E tem menor impactosobre a diminuição da pobreza do quepolíticas focadas no combate àsdesigualdades sociais, como vem

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sendo apontado por estudos realizadospelo Instituto de Pesquisa EconômicaAplicada (Ipea). Os efeitos imediatos darecuperação econômica, que se diz emcurso, é a absorção no processo dedesenvolvimento dos mais educados,postergando ou inviabilizando ainclusão dos historicamente excluídos.(Id. Ibid.).

As observações de Diva Moreira se adequam àsfeitas por Carneiro. Ela também é enfática aolembrar que

sem investimentos significativos naformação de mão-de-obra e sem umaampla política de capacitação, aslegiões de mulheres e homens negroscontinuarão a figurar desproporcional-mente nas estatísticas do desempregoe do subemprego. Se em épocas decrescimento os ganhos da populaçãonegra foram insuficientes para alteraro perfil da desigualdade racial noBrasil, o nosso povo ficará totalmentesem futuro (...). (2003: 66).

Do ponto de vista conjuntural, Nogueira diz que

o FIPIR tem feito a contraposição àsafirmações de que poderíamos resolvero déficit social a partir de uma políticaampla de desenvolvimento. O subse-cretário enfatiza que o crescimentodeve assegurar a inclusão de pobres eda população negra. (...). No final doséculo XIX o desenvolvimento também

era pungente. Na década de 1930, atéos anos 1950, também vimos muitocrescimento, de até 5% de seu PIB. Doponto de vista econômico essa marca éum crescimento extraordinário, mas,ainda assim, não vemos participaçãodos negros, pobres, indígenas na ele-vação da qualidade de vida. Dos anos1950-70, o crescimento de quase 8%ao ano, também não mudou pratica-mente em nada para a populaçãonegra e pobre do país.

Segundo o subsecretário, a promoção da igual-dade racial forja um novo ciclo de desenvolvi-mento. "Em épocas passadas tínhamos gente domovimento negro acompanhando o modelo dedesenvolvimento. Lélia Gonzáles e tantos outrosfizeram muito. E estas marcas precisam de con-tinuidade. Precisamos apalpar a realidade. Te-mos uma parcela ínfima de poder e represen-tação". Nogueira considera, ainda:

Este ciclo, para ser sustentável,forte e consistente, deve serduradouro. Não podemos mais vircom pequenos programas, recursosminguados e soltos. A política temque ser grande e estar colocadacom o novo ciclo de desenvolvi-mento do país. Precisamosinclusão do ponto de vista edu-cacional, do trabalho e acesso àterra. Estas reivindicações histó-ricas precisam, de certo modo,ficar ao alcance de nossas mãos.(novembro de 2004).

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Moreira propõe saídas para o aparente dilema.Se para ela a eficaz luta anti-racismo não é nadamisterioso ou inalcançável é porque existemalternativas críveis e exeqüíveis capazes de pro-por metas e alcançá-las. Segundo ela,

Trata-se de aproveitar as bases dedados das agências governamentais,de fundações e de agências multi-laterais, como a ONU, para subsidiarlegislações e políticas públicas de pro-moção da igualdade racial. Sendo oEstado brasileiro signatário de váriostratados e agendas internacionais, aspolíticas a serem efetivadas poderiamter como eixos a melhoria na posiçãoda população negra no Índice deDesenvolvimento Humano (IDH) dasNações Unidas e o cumprimento dasmetas de desenvolvimento do milênio.Embora lamentavelmente não tenhamincluído a questão racial, essas metasconstituem índices que permitem com-parações desde o nível municipal até ointernacional (...). (Id. Ibid.: 67).

Moreira ressalta, ainda, que as políticas têm deter uma clara definição: estabelecimento demetas, resultados e cronogramas, adequando-osàs particularidades regionais; montar um bomsistema de acompanhamento e avaliação deimpacto descentralizado; dimensionar os custose prever uma escala de desembolso, avaliação docusto da exclusão sócio-racial. (Id. Ibid.: 67).

Essas considerações são importantes para pen-sarmos em desenvolvimento econômico e social

e geração de renda e trabalho com foco nos gru-pos historicamente discriminados. Pensar o Es-tado, a democracia e relações raciais implicaredirecionamentos de uma economia quepense raça e gênero: "[é] ao nível do político, enão do mercado, que se defrontam e são arbi-tradas as escolhas que comprometem todapessoa. Essa concepção fundamenta asupremacia do político sobre o econômico".(Passet apud Moreira, 2003: 68).

A mudança de foco, do mercado para o âmbitopolítico, é fundamental para que possamosconstruir estratégias amplas, nacionais, de com-bate ao desemprego e à pobreza, sem preterir doenfoque racial e de gênero.

Aprendizado conjunto

O quarto encontro do Fórum Intergoverna-mental de Promoção da Igualdade Racial pro-curou estabelecer alguns parâmetros para pro-por um modelo de desenvolvimento econômicolevando em conta as assimetrias no mundo dotrabalho, eixo extremo de exclusão da populaçãonegra. A questão da juventude foi escolhida pelogrupo para abrir os debates a respeito do tema.

O professor e militante do movimento negroHélio Santos foi o convidado para discutir comos(as) gestores(as) as possibilidades de se pen-sar políticas de geração de renda e trabalho paraa juventude negra. A fala do professor e mili-tante se integra, em alguns aspectos, às demaisjá proferidas durante as reuniões realizadas aolongo do ano. Santos abordou questões como a

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trajetória do movimento negro nacional, aimplementação das políticas públicas, modelode desenvolvimento, os avanços e as impli-cações desse modelo para a população negra. Ospróximos parágrafos foram construídos a partirde colocações do professor em sua palestra noquarto encontro.

Segundo o professor, cabe ao movimento negrodiscutir um modelo novo de desenvolvimentosocial para o Brasil. Do ponto de vista econômi-co, precisamos encontrar alternativas paratornar as pessoas produtivas e com renda paraestarem no mercado? É preciso, segundo ele,que formulemos uma proposta de carátermacroeconômico para superarmos tal problema.Precisamos de um rearranjo produtivo.

Para Santos, o momento é de diagnóstico dobarbarismo social brasileiro, e comprovando queele tem cor. Para falarmos de algumas políticasfocadas na juventude negra, precisamos pensarem alguns conceitos. E, para ele, no Brasil o con-ceito não deve ser o politicamente correto, maso moralmente correto. É preciso fazer com queos discriminados sejam cidadãos.

Para ilustrar a situação dos(as) jovens, Santos sevaleu da realidade do município de São Paulo:800 mil jovens de 18 a 21 anos estão sem em-prego na cidade. A maioria compõe o segmentopobre ou muito pobre. As crises de empregoatingem primeiramente o negro, afirma.

No que diz respeito aos processos de recruta-mento e seleção, as medidas estão cada vez maissofisticadas. A exigência do inglês, por exemplo,

é uma diferenciação subliminar. Os programasde trainees não contemplam os negros enegras egressos da universidade, poisagregam requisitos que nem sempre essesegmento consegue atender.

Sobre Ações Afirmativas

Para Santos, quando o tema das ações afirmati-vas emerge na pauta de discussões sobreinclusão, a pergunta que não quer calar é: Porquê políticas de ação afirmativa? Por quê nãopensar em políticas para pobres, já que majori-tariamente a população negra é pobre?

Este argumento tem um efeito avassalador.Antes de responder a argumentos dessa natu-reza, devemos lembrar que ações afirmativasnão são meramente cópia das políticas deinclusão dos Estados Unidos, como muitosteimam em afirmar. Faz-se necessário lembrar-mos que o Brasil é pioneiro na adoção de políti-cas focadas. Temos antecedentes desde 1818com a chegada de 2000 suíços que receberamamparo legal para fundarem Nova Friburgo. Omesmo procedimento foi adotado com osalemães em São Leopoldo (RS).

No que diz respeito à distribuição de renda, épreciso pensá-la levando em conta os gruposraciais. Salvador e Florianópolis são exemplosmagistrais: a presença do negro na primeiracapital dificulta a distribuição de renda.

É imperioso que estejamos atentos a essesmeandros porque os discursos dos economistas,

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dos cientistas sociais, dos analistas políticos eoutros especialistas do barbarismo socialbrasileiro criaram uma expressão que vem sendousada com muita desenvoltura por muitos, oapartheid social. O que deve ser desvelado é oseguinte: o que leva tanta gente, no Brasil, a nãonotar o que realmente acontece?

Faz-se mister que estejamos preparados porqueargumentos de economistas têm feito com quea gente não avance. Ninguém consegue decifraro Brasil, por isso que a gente patina. Quando meperguntam de Brasil, eu pergunto: qual Brasil?Do Brasil que se aproxima da Europa, ou doBrasil que se assemelha a Burkina Faso?

A banalização dos dois mundos é o problemamaior. A invisibilidade da questão racial é anossa grande dificuldade. Quebrar a invisibili-dade desta situação exige mais.

"A pobreza, no Brasil, é difusa: não se pode corrigirpobreza com idéias pobres. A pobreza no Brasilatinge brancos também, 30%, mas nós somos 70%."

Quando falarmos em distribuição de renda, pre-cisamos enfatizar o desemprego crônico da po-pulação negra. Os negros vieram da África sópara trabalhar. E agora recaem sobre eles osmaiores índices de desemprego.

As políticas de ação afirmativa buscam compen-sar prejuízos que se acumularam. O que fazer?

Um dado publicado no jornal Folha de S. Paulosinaliza para questões importantes em relação aoemprego e distribuição de renda: dois terços dos

empregos recentes foram dedicados a pessoascom 40 anos ou mais. Elas vêm de uma época emque a escola era melhor. E praticamente todosestes empregos são destinados a pessoas quetêm 11 anos ou mais de escolaridade. Isso signifi-ca dizer que estas pessoas não são negras.

Ainda segundo Santos, metade da populaçãonegra jovem interrompe a sua educação formalantes de terminar o primeiro grau. "Os analfa-betos funcionais deveriam ser a nossa clientelade propostas. É preciso discutir empregabilidadee não emprego. Emprego é para quem já traba-lhou. Empregabilidade é como tornar empre-gáveis o contingente que não é absorvido pelomercado", completa o professor.

A celebração de convênios com instituiçõescomo, SENAI, SENAC, etc. desponta como umaalternativa viável. Precisamos pensar em cursosde madureza profissionalizante, com bolsa, paraos(as) jovens. Cursos de 12 meses para os maisjovens. Teríamos que pensar também em pro-gramas para outros segmentos etários. Paraestes, deveriam ser pensados cursos promovidospelas prefeituras, estados e com convênios.

No que se refere às cotas, elas não deveriam serdestinadas apenas à universidade. Deve havercotas para jovens negros(as) de famílias de risco.A maior parte da nossa população na periferia éde famílias negras de risco. Na maior parte dasvezes chefiadas por mulheres. Filhos com paisdiferentes. Tragédias do dia-a-dia.

Se o que está em jogo é a empregabilidade,temos que qualificar as pessoas para irem ao

98

mercado de trabalho que é privado. Precisa-mos buscar as profissões para as quais hádemanda. Olhar escolas federais, as FATECs, osprogramas multissetoriais.

Excetuando essas propostas e alternativas, o quepodemos oferecer para a juventude negra queestá fora do mercado competitivo? Qual a nossaproposta para esse segmento?

Em meio a esses desafios, não se pode perder de vis-ta a questão de gênero. Homens e mulheres negrosnão são iguais. Políticas para mercado de trabalhotêm que dar ênfase à mulher, que é atingida de for-ma mais dura, apesar de ter mais escolaridade.

É bastante razoável que pensemos em tecnolo-gia da inclusão, a fim de criarmos modelos deprogramas de inclusão, de programas de for-mação dos chamados analfabetos funcionais.

A criatividade é um elemento fundamental paraimplementarmos as nossas políticas.

O movimento negro é o único que inova o hori-zonte das políticas no Brasil no cenário de esta-bilidade versus crescimento. Esta é a tarefa detodos(as) nós, precisamos convencer para omoralmente correto.

Para a ministra Matilde Ribeiro, "no plano dogoverno federal indicamos, com muita pre-tensão, apontar para o desenvolvimentoeconômico com foco no social. Isso não éprática neste País. E o nosso governo federalousou fazer isso. O desafio é trazer o socialpara o centro da política de desenvolvimento,considerando a sustentabilidade. Pensar nãoapenas o econômico, mas o social, o racial, ogênero, o número e o grau".

Nos bastidores e nopalco: o FIPIR cresce

6

101

Para 2005, as atividades do Fórum Inter-governamental de Promoção da Igualdade

Racial incidirão sobre a frente de geração deemprego e renda. As pautas de 2004 permane-cem, tendo em vista a integração das estratégiasque se combinam e se completam. O caráter dasações não é de exclusão, mas de complemen-taridade e acúmulo.

A qualificação dos(as) gestores(as), por exem-plo, é uma ação permanente que não sairá dapauta em 2005. Pelos relatos deles(as), dos(as)gestores, é possível perceber que o Fórum tempossibilitado o exercício de uma experiência ricaem trocas, negociações e diálogo. Esteves, noentanto, adverte: lidar com questões adminis-trativas, da ordem da elaboração de projetos,pensar de maneira sistêmica na montagem deprogramas e ações sobre a realidade local ouaté mesmo contextualizar a questão municipalcom a estadual e a federal é uma tarefa queexige permanente acompanhamento. Emboraos(as) gestores(as) possuam, conforme dito emlinhas anteriores, uma trajetória política, aequipe é composta por um público de certaforma heterogêneo, com desníveis de forma-ção: alguns/mas possuem mais experiênciascom a temática, outros(as) menos.

Em 2005 a equipe executora do FIPIR dará con-tinuidade a esse processo, intensificando-o,

alargando suas possibilidades num conti-nuum entre o fazer e o refletir sobre. A novaparceria com o Ibam - Instituto Brasileiro deAdministração Municipal com sede no Rio deJaneiro e com 50 anos de experiência no tratodessa temática será um reforço importante.Segundo Esteves, "o Ibam contribuiu conoscoem dois momentos já em 2004: o primeirodeles diz respeito ao acompanhamento dasconferências estaduais, preparatórias para aConferência Nacional de Promoção daIgualdade Racial, na confecção dos relatórios;o segundo refere-se à apresentação a SEPPIRdo projeto de formação dos(as) gestores(as),projeto que irá sistematizar algumas ques-tões já vistas em 2004. Estarão no foco dessaatividade: questão orçamentária, de proposi-ção e formatação de políticas públicas nessesmunicípios ou estados e também o monitora-mento da implementação da Lei 10.639/03. Aparceria tem três objetivos: pesquisa socio-econômica que contemple os quesitos gêneroe raça; capacitação de recursos humanos ecombate à discriminação nos órgãos públicos,em especial nos municípios e nas ocupaçõesprofissionais em geral.

"Creio que estamos vivendo um momento deefervescência de experiências. Temos queinstigar e provocar a ampliação desse proces-so", afirmou a ministra Matilde Ribeiro.

6 Nos bastidores e no palco: o FIPIR cresce

6.1 Perspectivas para 2005

102

Depois do primeiro ano completo de ativi-dades, o FIPIR segue em 2005 com a tarefa

de "oxigenar" o trabalho de gestores e gestorasque têm se dedicado às políticas públicas depromoção da igualdade racial. Com a alternân-cia de governos após as eleições 2004, umprimeiro desafio é o de contribuir para que osespaços conquistados para a articulação destapolítica continuem a ser impulsionados pelasnovas administrações.

Seguir com o acompanhamento da implemen-tação da Lei nº 10.639/2003 é outro pontoimportante. Que municípios têm implementadoa lei? Com que resultados positivos e superandoque tipo dificuldades? Onde estão as boas práti-cas até agora? A transversalidade da questãoracial nas políticas públicas também é um

desafio para os participantes do fórum. Olhar asexperiências e problemas enfrentados paraconstruir e garantir ações transversais a partirde diferentes setores dos governos e estimularos gestores e gestoras a promover o monitora-mento e avaliação de suas ações também sãodesafios colocados para este espaço.

Para melhorar o intercâmbio de experiências,uma comunicação mais intensa entre os partici-pantes e com a SEPPIR será uma ferramentaimportante e que poderá ir além dos encontrospresenciais previstos segundo o plano de ação,construído pelo grupo em 2004. A divulgaçãode resultados já positivos desta articulação tam-bém deve contribuir para a superação de umdesafio constante: a ampliação do número demunicípios e Estados presentes no fórum.

6.2 Desafios

Ela avaliou ser muito importante ter registros,pesquisas com números e com possibilidadesconcretas para o fortalecimento da políticanacional de promoção da igualdade racial. "Éum longo trabalho ao qual o Ibam se associaagora", afirma Mara de Biasi, superintendentegeral do Ibam. Para ela, a entidade tem umpapel importante na difusão e na consoli-dação dessas conquistas. "O município é oponto-chave da questão porque é lá quemoram as pessoas, é lá que elas têm de teracesso aos direitos, onde a discriminação defato acontece, onde a escola não atende aos

desejos de todos, onde não há emprego erenda", analisa Mara.

"Em pouco tempo vimos o crescimentorápido do Fórum", afirmou Reiner Rader-marcher, representante no Brasil da Funda-ção Friedrich Ebert (FES/ILDES), parceira naidealização e construção do FIPIR ao ladoda SEPIR. Ele diz que o trabalho do Fórumprecisará cada vez mais de instituições,como o Ibam, que apóiem o trabalho queestá sendo realizado.

103

Os(as) gestores(as) vêm demonstrando, aolongo do trabalho nos Estados e municípios

que, apesar das dificuldades, é possível influen-ciar o desenho das políticas públicas. Sua parti-cipação no fórum, segundo alguns depoimentos,tem sido rica porque agregam conteúdos a seurepertório técnico e político, de maneira aestarem mais bem preparados para as demandasno campo das relações raciais.

O reconhecimento institucional mostra que ametodologia utilizada é uma aposta correta, aovalorizar cada uma destas pessoas. SegundoVânia Lucia Ferreira Diniz, Coordenadoria Muni-cipal para Assuntos da Comunidade Negra, deBelo Horizonte - MG,

A inclusão desta Coordenadoria e deoutros órgãos integrantes do Fórum,como é do meu conhecimento, pro-moveu o "empoderamento" destes namedida em que passaram a serem in-cluídos na interlocução, governo fede-ral e governo local. Ainda, oficialmente,passaram a ter atribuição articuladoradas políticas de promoção no seu esta-do e município. (novembro/2004).

O número de adesões ao FIPIR cresceu desdeque foi realizado o primeiro encontro para dis-cutir a idéia de criação de um fórum com suascaracterísticas, em outubro de 2003. Eram 15municípios inicialmente e o número passou para47, entre Estados e municípios, no final de 2004.

Para Zeca Esteves, a crescente adesão indica efi-ciência do fórum em sua fase inicial. "Os ges-tores estão se sentindo empoderados. Algunsmunicípios que integram o fórum já foram pre-miados pelas experiências com a promoção daigualdade racial na educação, por exemplo:Campinas, Belo Horizonte e São Carlos. O con-curso do CEERT - Educar para a Igualdade Racial- é para muitos gestores e gestoras um momen-to de coroação e reconhecimento dos trabalhosque vêm sendo desenvolvidos", afirma o gerentede projetos da SEPPIR.

Esteves foi o articulador de mais uma iniciati-va motivada pelos debates do FIPIR: A realiza-ção dos chamados Seminários Técnicos dePromoção da Igualdade Racial, num total de31, em que representantes da SEPPIR visita-ram diferentes lugares do Brasil para dialogarsobre a importância das políticas de pro-moção da igualdade racial, com destaque paraa Lei 10.639/2003.

Pelo menos 25 municípios ligados ao fóruminiciaram ações para a implementação da Lei10.639/2003, realizando capacitação de pro-fessores e adoção de materiais didáticos ade-quados, por exemplo. Também foram quatroos municípios e Estados que até 2004 cele-braram convênios com a SEPPIR e já contamcom algum apoio do Governo Federal paraimpulsionar as políticas de promoção daigualdade racial.

6.3 Alguns resultados

104

E stados e municípios que queiram par-ticipar do FIPIR precisam atender às se-

guintes exigências:

Possuir ou criar um organismo de caráterexecutivo para a política de promoção daigualdade racial, com pessoa responsávelpelo trabalho e/ou equipe;

Comprovar (via fax ou correio - original ouxerox) a ação apresentando o marco insti-tucional jurídico de criação ou nomeaçãodo/a gestor/a;

Apresentar o Plano de Trabalho e o Cronogra-ma de Atividades do ano deste organismo;

Assinar o Termo de Adesão;

Assinar o Acordo de Cooperação Técnica;

A SEPPIR está à disposição dos municípios eEstados que tiverem interesse em sabermais sobre o fórum e encaminhar o proces-so de adesão. Contatos podem ser feitos pormeio dos telefones (0xx61) 411-4957 / 3669 /3690, fax (0xx61) 226-5625 / 411-3674 oue-mail: [email protected] [email protected].

6.4 Como aderir ao Fórum

AArraannyy SSaannttaannaa ddooss SSaannttooss,, ggeessttoorraaddee SSaallvvaaddoorr,, rreecceebbeennddoo kkiitt ddaaMMiinniissttrraa MMaattiillddee RRiibbeeiirroo

Anexos

107

ACORDO DE COOPERAÇÃO QUE, ENTRE SI, CELEBRAM A SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS DE

PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL, DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, E A PREFEITURA MUNICI-

PAL DE ___________________, VISANDO PROMOVER A CRIAÇÃO E A IMPLEMENTAÇÃO DO

FORUM INTERGOVERNAMENTAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL.

Aos ___ dias do mês de Maio de 2004, de um lado a SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS DE

PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL - SEPPIR, da Presidência da República, situada na Esplanada

dos Ministérios, Bloco "A", 9° andar. Brasília - DF, doravante denominada SEPPIR, neste ato repre-

sentado por sua Ministra, MATILDE RIBEIRO, e, de outro lado, a PREFEITURA MUNICIPAL DE

__________________, neste ato representada por seu Prefeito Municipal, __________________,

tendo entre si, justo e acordado, celebram o presente Acordo de Cooperação Técnica, aprovado

pela Consultoria Jurídica da Presidência da República, resolvendo de comum acordo pactuar obri-

gações recíprocas, por meio das seguintes cláusulas e condições:

UM EXEMPLO DE ACORDO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA *

CLÁUSULA PRIMEIRA - DO OBJETO:

O presente Protocolo de Intenções tem por objeto estabelecer cooperação entre os partícipes,visando promover a criação e a implementação do Fórum Intergovernamental de Promoçãoda Igualdade Racial.

Para tanto, a cooperação deverá gerar ações entre os partícipes, estabelecidas em planos de trabalho,de modo a:

I - Apoiar a construção do Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial, visando oenvolvimento de estados e municípios que tenham organismos similares à SEPPIR;

* Válido para Governos Estaduais e Municipais.

108Para a concretização do presente Acordo de Cooperação, as partes assumem as seguintes responsabilidades:

No primeiro ano de funcionamento do Fórum - maio de 2004 a maio de 2005 - o tema prioritário doFórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial será o da Educação, cujo foco é a imple-mentação da Lei 10.639/2003 - torna obrigatório o ensino da História e da Cultura Afro Brasileira eAfricana na Educação Básica - Ensino Fundamental e Médio - (em anexo), com o objetivo de:

Contribuir para consolidação de um Programa de Inclusão do Negro na Educação Brasileiraatravés da instituição de Programas de Educação para a Igualdade Racial baseados nosseguintes eixos: mudança do currículo escolar; formação de professores; produção, publi-cação e distribuição de material didático pedagógico e incentivo à pesquisa no campo dasrelações raciais e educação.

Realizar, através da Secretaria Municipal de Educação, seminários locais e regionais com a finali-dade de analisar, debater e estimular a implementação da Lei 10.639/2003.

Envolvimento da Secretaria Municipal de Cultura na medida em que se trata de questões refe-rentes à Cultura e História Afro-brasileira e africana.

II - Promover ações continuadas junto aos governos federais, estaduais e municipais, por meio deorganismos responsáveis pelas políticas de promoção da igualdade racial, visando à articulação, acapacitação e o planejamento das ações políticas;

III - Direcionar a atuação dos organismos integrantes do Fórum Intergovernamental de Promoção daIgualdade Racial para o atendimento à Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial, instituídapelo Decreto n° 4.886, de 20 de novembro de 2003.

IV - Promover o fortalecimento da transversalidade da promoção da igualdade racial nas políticaspúblicas do Município e do Estado.

V - Promover a troca de experiências e a articulação entre os organismos e identificarexperiências comuns.

CLÁUSULA SEGUNDA - DAS RESPONSABILIDADES:

109

As Partes Cooperantes se obrigam a mobilizar recursos humanos e materiais compatíveis com o obje-

tivo do Acordo de Cooperação, de acordo com suas respectivas dotações orçamentárias.

São obrigações dos partícipes:

a) Acompanhar e controlar a execução do objeto do presente Acordo de Cooperação, propondo,

de forma justificada, e quando necessário mudanças e/ou reorientações que possibilitem o aper-

feiçoamento dos mesmos;

b) Nomear, de seus respectivos quadros, uma equipe de cooperação, com coordenador respon-

sável pela elaboração e acompanhamento dos planos de trabalho, bem como de todo tipo de

comunicação/solicitação dirigida em função do objeto ou das atividades emanadas do presente

Acordo de Cooperação.

c) Cooperar para a elaboração, implementação e execução das ações necessárias ao atendimen-

to a este Acordo de Cooperação;

d) Prestar, de acordo com as possibilidades, apoio à implementação do presente Acordo de

Cooperação com especialistas de seus respectivos quadros.

Estimular a participação de ONGs e instituições públicas e privadas no desenvolvimento do trabalho.

Após a consolidação do tema Educação/ Lei 10.639/2003, as ações serão ampliadas para outras temáti-cas, sendo estas:

a) Desenvolvimento socioeconômico da População Negra nos eixos do Empreendedorismo,Trabalho e Geração de Renda.

b) Política Nacional de Saúde da População Negra

CLÁUSULA TERCEIRA - DA OPERACIONALIZAÇÃO

110

O presente Acordo de Cooperação Técnica não prevê o repasse de recursos entre as partes. Os contratosespecíficos que envolverem compromissos de desembolso financeiro de quaisquer das partes signa-tárias terão a sua operacionalização vinculada aos normativos próprios de cada uma das instituições,com definição prévia das condições de realização dos trabalhos e as atribuições e responsabilidadestécnicas, administrativas e financeiras dos Contratantes, inclusive de terceiros participantes, investidosde funções executoras ou de outra natureza.

CLÁUSULA QUARTA - DOS CONTRATOS ESPECÍFICOS

CLÁUSULA QUINTA - DA VIGÊNCIA E DA DENÚNCIA

CLÁUSULA SEXTA - DAS ALTERAÇÕES

CLÁUSULA SÉTIMA - DA SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS

O presente Acordo de Cooperação terá vigência, a partir da data de sua assinatura, pelo período de 24(vinte e quatro) meses, podendo ser prorrogado mediante manifestação escrita das partes. Poderá,ainda, ser denunciado a qualquer momento, por qualquer das partes e sem qualquer ônus, desde quea parte que assim o desejar dê ciência inequívoca de sua intenção à outra, com antecedência mínimade 30 (trinta) dias, sem prejuízo das ações e atividades em desenvolvimento.

O presente Acordo de Cooperação, ressalvado o seu objetivo, poderá ser alterado por Termos Aditivos,por mútuo consentimento das Partes.

As divergências, se houver, serão dirimidas de forma arbitral. De comum acordo, as Partes Cooperantesindicarão um árbitro, cuja decisão será final e inapelável. Os custos de um eventual laudo arbitral serãodivididos igualmente entre as Partes.

111

E por estarem assim ajustados e de pleno acordo, assinam o presente Acordo de Cooperação, os titu-lares da SEPPIR e da Prefeitura Municipal, em 2 (duas) vias de igual teor e valia, na presença das teste-munhas que também o subscrevem.

Brasília, ___ de ___________ de 2004.

MATILDE RIBEIROMinistra de Estado da Secretaria Especial dePolíticas de Promoção da Igualdade Racial

Prefeito Municipal / ou Governador de Estado

Testemunhas:

1) Nome: Assinatura: Identidade:

2) Nome:Assinatura:Identidade:

112

GGeerraallddoo AAllcckkmmiinn FFiillhhooGovernador de EstadoPalácio dos Bandeirantes Avenida Morumbi 4500 - MorumbiSão Paulo - SP - CEP 06598-900E-mail: [email protected]

JJoosséé OOrrccíírriioo MMiirraannddaa ddooss SSaannttoossGovernador de EstadoParque dos Poderes - Bloco 8Campo Grande - MS - CEP 79031-902E-mail: [email protected]

JJoosséé RReeiinnaallddoo TTaavvaarreessGovernador de EstadoAv. Jerônimo de Albuquerque, S/NCalhauSão Luís - MA - CEP 65070-900

MMaarrccoonnii FFeerrrreeiirraa PPeerriilllloo JJuunniioorrGovernador de EstadoPalácio das Esmeraldas Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira 1 - Centro Goiânia - GO - CEP 74003-010 E-mail: [email protected]

PPaauulloo SSoouuttooGovernador de EstadoCentro Administrativo da BahiaPrédio da Governadoria3a Avenida, 390Salvador - BA - CEP 41750-300 E-mail: [email protected]

RRoonnaallddoo AAuugguussttoo LLeessssaa SSaannttoossGovernador de EstadoPalácio Marechal Floriano PeixotoAv. Marechal Floriano Peixoto, 517 - CentroMaceió - AL - CEP 57020-901E-mail: [email protected]

SSiimmããoo RRoobbssoonn OOlliivveeiirraa JJaatteenneeGovernador de EstadoPalácio dos DespachosRodovia Augusto Montenegro, Km 9Belém - PA - CEP 66823-010E-mail: [email protected]

WWeelllliiggttoonn DDiiaassGovernador de EstadoPalácio de KarnakAv. Antonino Freire, 1450 - CentroTeresina - PI - CEP 64.001-040E-mail: [email protected]

WWiillmmaa FFaarriiaassGovernadora de EstadoCentro Administrativo do EstadoBR101 - km 0 - Lagoa NovaNatal - RN - CEP 59000-900Tel. 84 232 - Fax. 84 232E-mail: [email protected]

GOVERNADORES DE ESTADO *

* Por ordem alfabéticaOs estados de SP, RN, BA ainda não haviam assinado o Termo de Adesão e Acordo de Cooperação Técnica

113

01) AAllttaaiirr PPaauulliinnoo ddee OOlliivveeiirraa CCaammppoossPrefeito Municipal Rua Barão de Capivari, 20 - CentroVassouras - RJTel: (24) 2471-0125Fax: (24) 2471-1120CEP 27700-000E-mail: [email protected]

02) AAnnttoonniioo FFrraanncciissccoo NNeettooPrefeito MunicipalPça. Sávio Gama, 53 - AterradoVolta Redonda - RJCEP 27251-970E-mail: [email protected]

03) AAnnttoonniioo JJoosséé IImmbbaassssaahhyy ddaa SSiillvvaaPrefeito Municipal Palácio Tomé de SouzaPça Municipal, s/nSalvador - BACEP 40020-010E-mail: [email protected]

04) AAnnttoonniioo VVaallddeeccii ddee OOlliivveeiirraaPrefeito MunicipalRua Venâncio Aires, 2277Santa Maria - RSCEP 97010-05Email: [email protected]

05) CCaarrllooss CCeellssoo BBaalltthhaazzaarr ddaa NNóóbbrreeggaaPrefeito MunicipalTravessa Assumpção, 69 - CentroBarra do Piraí - RJCEP 27101-970

06) DDaanniieell LLuuiiss BBoorrddiiggnnoonnPrefeito municipalAv. José Loureiro da Silva, 1350 - CentroGravataí - RSCEP 94000-000E-mail: [email protected]

07) EElliisseeuu FFaagguunnddeess CChhaavveessPrefeito MunicipalPça. Júlio de Castilhos, s/n - CentroViamão - RSCEP 94410-060E-mail: [email protected]

08) EEddmmiillssoonn RRooddrriigguueessPrefeito MunicipalPalácio Antonio LemosPraça Dom Pedro II s/nBelém - PACEP 66020-240Tel: (91) 219-8202 / 224-6128Fax: (91) 225-4540E-mail: [email protected]

PREFEITOS MUNICIPAIS * **

* Por ordem alfabética** Alguns contatos, em função das eleições municipais de 2004, podem ter sido alterados a partir de 2005.

114

09) EEddssoonn AAnnttoonniioo ddaa SSiillvvaa

Prefeito Municipal

Centro de Referência da Cidadania

Rua São Bento, 840 - Centro

Araraquara - SP

CEP 14801-901

E-mail: [email protected]

10) EEdduuaarrddoo MMeehhooaass

Prefeito Municipal

Rua Augusto Xavier de Lima, 251 - Jd. Jalisco

Resende - RJ

CEP 27510-090

E-mail: [email protected]

11) FFeerrnnaannddoo ddaa MMaattaa PPiimmeenntteell

Prefeito Municipal

Av. Afonso Pena, nº 1212

Belo Horizonte - MG

CEP 30130-003

E-mail: [email protected]

12) FFeerrnnaannddoo MMaarrrroonnii

Prefeito Municipal

Praça Coronel Pedro Osório, 101

Pelotas - RS (Gestão anterior - PT)

CEP 96015-010

Tel: 225-7355 - Fax: 227-2061

E-mail: [email protected]

13) GGeerraallddoo LLeeiittee ddaa CCrruuzz ((****))

Prefeito Municipal

Rua Andronico dos Prazeres Gonçalves, 114 - Centro

Embu das Artes - SP

CEP 06804-200

E-mail: [email protected]

14) GGiillbbeerrttoo JJoosséé SSppiieerr VVaarrggaass ((****))

Prefeito Municipal

Rua Alfredo Chaves, nº 1333

Caxias do Sul - RS

CEP 90020-460

E-mails: [email protected],

[email protected]

15) GGiillbbeerrttoo MMaaggggiioonnii ((nnoovvoo))

Prefeito Municipal

Praça Barão do Rio Branco, s/n

Ribeirão Preto - SP

CEP 14010-140

Tel: (16) 3977-9000 - Fax: (16) 635-5533

E-mail: [email protected]

16) IIzzaalleennee TTiieennee

Prefeita Municipal

Av. Anchieta, 200

Campinas - SP

E-mail: [email protected]

17) JJooããoo AAvvaammiilleennoo

Prefeito Municipal

Praça IV Centenário, nº 01

Santo André - SP

E-mail: [email protected]

18) JJooããoo PPaauulloo

Prefeito Municipal

Cais do Apolo, 925 - Bairro do Recife

Recife - PE

CEP 50030-230

Tel: (81) 3232-8000 / 8117 / 8127

Fax: (81) 3232-8862

E-mail: [email protected]

115

19) JJooããoo VVeerrllee

Prefeito Municipal

Praça Montevidéu, nº 10

Porto Alegre - RS

CEP 90010-170

E-mail: [email protected]

20) JJoosséé CCllááuuddiioo ddee AArraaúújjoo

Prefeito Municipal

Rua Dr. Samuel Costa, 29 - Centro

Paraty - RJ

CEP 23970-000

E-mail: [email protected]

21) JJoosséé FFiilllliippii JJuunniioorr

Prefeito Municipal

Rua Almirante Barroso, 111

Diadema - SP

CEP 09912-900

E-mail: [email protected]

22) JJoosséé LLaaeerrttee DD''EElliiaass

Prefeito Municipal

Assessoria de Relações Comunitárias (Recém criada)

Av. Argelino Batista Soares, 122 - Centro

Quatis - RJ

CEP 27371-970

Tel: (24) 3353-2408 - Fax: (24) 3353-2408

E-mail: [email protected]

23) LLaaeerrccee ddee PPaauullaa NNuunneess

Prefeito Municipal

Rua Justino Ribeiro, 228 - Centro - RJ

Pinheiral - RJ

CEP 27197-000

E-mail: [email protected]

24) LLuucciiaannaa BBaarrbboossaa ddee OOlliivveeiirraa SSaannttooss

Prefeita Municipal

Rua São Bento, nº 123 - Varadouro

Olinda - PE

CEP 53130-081

E-mail: [email protected]

25) LLuuiizz AAnnttoonniioo ddaa CCoossttaa CCaarrvvaallhhoo CCoorrrrêêaa

ddaa SSiillvvaa

Prefeito Municipal

Pça. Quinze de Novembro, 676 - Centro

Valença - RJ

CEP 45400-000

E-mail: [email protected]

26) MMaarrcceelloo DDeeddaa CChhaaggaass

Prefeito Municipal

Pça Olímpio Campos, 180 - Centro

Aracaju - SE

CEP 14010-140

E-mail: [email protected]

27) MMaarrttaa SSuupplliiccyy

Prefeita Municipal

Praça Cívica Ulisses Guimarães, s/n

São Paulo - SP

CEP 03003-060

E-mail: [email protected]

28) NNeewwttoonn LLiimmaa NNeettoo

Prefeito municipal

Rua Conde do Pinhal, 2017 - Centro

São Carlos - SP

CEP 13560-140

E-mail: [email protected]

116

29) OOsswwaallddoo DDiiaassPrefeitura do Município de MauáEdifício Irineu Evangelista de Souza Av. João Ramalho, 205 - CentroMauá - SP CEP 09371-900Tel: 4512-7500 / 4555-5131E-mail: [email protected]

30) PPaauulloo HHeennrriiqquuee BBaarrjjuuddPrefeito Municipal Rua Elton Silva, nº 300Jandira - SPCEP 06600-025E-mail: [email protected]

31) PPeeddrroo WWiillssoonn GGuuiimmaarrããeessPrefeito Municipal Av. Serrado, 999Centro Administrativo MunicipalGoiânia - GOCEP 74884-092E-mail: [email protected]

32) RRoonnaallddoo LLaaggee MMaaggaallhhããeessPrefeito Municipal Av. Carlos de Paula Andrade, 135Itabira - MGCEP 35900-206E-mail: [email protected]

33) RRoooosseevveelltt BBrraassiill FFoonnsseeccaaPrefeito MunicipalRua Luis Ponce, 263CentroBarra Mansa - RJE-mail: [email protected]

34) SSeebbaassttiiããoo MMoonntteeiirroo GGuuiimmaarrããeess FFiillhhoo ""TTiiããooCCaarrooççoo""Prefeito MunicipalPraça Rui Barbosa, 208 - CentroFormosa - GOCEP 73800-000E-mail: [email protected]

35) SSéérrggiioo BBeerrnnaaddeelllliiPrefeito MunicipalRua Estevão Domingos Pederassi, 83 - CentroPorto Real - RJCEP 27570-000E-mail: [email protected]

36) SSyyllvviioo LLooppeess TTeeiixxeeiirraaPrefeito Municipal Rua Visconde de Quissamã, 355 - CentroMacaé - RJCEP 27910-290Tel: (24) 2772-1992 Ramal 313E-mail: [email protected]

37) TThheeooddoorriiccoo ddee AAssssiiss FFeerrrraaççooPrefeito Municipal Rua 25 de Março, 28 - CentroCachoeiro de Itapemirim - ESCEP 29300-110E-mail: [email protected]

38) ZZaaiirree RReezzeennddeePrefeita Municipal Av. Anselmo Alves dos Santos, 600Santa MônicaUberlândia - MGCEP 38408-900E-mail: [email protected]

117

1) Nome: AADDEEIILLDDOO AARRAAUUJJOO LLEEIITTEECCoooorrddeennaaddoorriiaa ddoo NNeeggrroo//NNeeggrraaTel: (81) 3439-5019E-mail: [email protected]: Olinda - PE

2) Nome: AANNAA LLUUCCIIAA DDAA SSIILLVVAA SSEENNAACCoooorrddeennaaddoorriiaa ddee PPoollííttiiccaass ddeeCCoommbbaattee aaoo RRaacciissmmooTel: (67) 318-1078 / 1024 / 1001E-mail: [email protected]: Campo Grande - MS

3) Nome: AARRAANNYY SSAANNTTAANNAA DDOOSS SSAANNTTOOSSSSeeccrreettaarriiaa MMuunniicciippaall ddee RReeppaarraaççããooTel: (71) 320-8219E-mail: [email protected]: Salvador - BA

4) Nome: CCAARRLLIINNDDOO FFAAUUSSTTOO AANNTTOONNIIOOCCoooorrddeennaaddoorriiaa ddee AAssssuunnttooss ddaa CCoommuunniiddaaddee NNeeggrraaTel: (19 )3735-1036Fax: (19) 3735-1045E-mail: [email protected] Cidade: Campinas - SP

5) Nome: DDJJEENNAALL NNOOBBRREE CCRRUUZZAAsssseessssoorriiaa TTééccnniiccaa ddaa PPoollííttiiccaa ddaaIIgguuaallddaaddee RRaacciiaallTel: (79) 3179-1342 / 1364Fax: (79) 214-3826E-mail: [email protected] [email protected]: Aracaju - SE

6) Nome: DDOORRAALLIICCEE BBAATTIISSTTAA MMAACCHHAADDOOAAsssseessssoorriiaa ddee AAssssuunnttooss ssoobbrree aaDDeessiigguuaallddaaddee RRaacciiaallTel: (24) 3356-2039E-mail: [email protected] Cidade: Pinheiral - RJ - Rio de Janeiro - RJ

7) Nome: EEDDMMAARR SSIILLVVAA //MMAARRIISSAA DDOO NNAASSCCIIMMEENNTTOOCCoooorrddeennaaddoorriiaa ppaarraa AAssssuunnttooss ddaa PPooppuullaaççããooNNeeggrraa ddaa PPrreeffeeiittuurraa ddee SSããoo PPaauullooTel: (11) 3113-9745 / 41 / 42 / 47 E-mail: [email protected] [email protected]: São Paulo - SP

FÓRUM INTERGOVERNAMENTAL DE PROMOÇÃODA IGUALDADE RACIAL

GESTORES/AS PÚBLICOS EM 2004

118

8) Nome: EEDDMMIILLSSOONN BBIISSBBOO DDOOSS SSAANNTTOOSS

SSeeccrreettaarriiaa eessppeecciiaall ddee PPoollííttiiccaass ddee PPrroommooççããoo

ee IIgguuaallddaaddee SSoocciiaall

Tel: (61) 631-5435 / 1100*

Fax: (61) 632-1067

Cidade: Formosa - GO

9) Nome: EEDDSSOONN DDAANNIIEELL JJOOÃÃOO "" MMIISSTTEERR""

AAsssseessssoorriiaa ddee AAssssuunnttooss ddee PPrroommooççããoo

ddaa IIgguuaallddaaddee RRaacciiaall

Tel: (24) 3345-4444 Ramal 288

E-mail: [email protected]

Cidade: Volta Redonda - RJ - Rio de Janeiro - RJ

10) Nome: EEVVAANNDDRROO RROOSSAA DDOOSS SSAANNTTOOSS

AAsssseessssoorriiaa ddee PPrroommooççããoo ddaa IIgguuaallddaaddee RRaacciiaall

Rua Afonso Pena, 516 - Jardim Alvorada

CEP 09960-490

Tel: (11) 4057-7451 / 7764

E-mail: [email protected]

Cidade: Diadema - SP

11) Nome: EEVVEERRAALLDDOO BBAARRBBOOSSAA DDEE SSAANNTTAANNAA

""FFAARRIIAASS""

AAsssseessssoorriiaa ddee RReellaaççõõeess CCoommuunniittáárriiaass

Tel: (24) 3353-6129 / 2258* / 2918 ** ou

(24) 3353-6417 (orelhão)

E-mail: [email protected]

Cidade: Quatis - RJ - Rio de Janeiro - RJ

12) Nome: FFÁÁBBIIOO DDOOSS SSAANNTTOOSS

SSeeccrreettaarriiaa ddee JJuussttiiççaa ee CCiiddaaddaanniiaa ddoo

EEssttaaddoo ddoo RRiioo GGrraannddee ddoo NNoorrttee

SSuubbsseeccrreettaarriiaa ddee DDiirreeiittooss HHuummaannooss

Av. Deodoro, 249 - Petrópolis

Tel: (84) 232-2836

Fax: (84) 232-2835

E-mail: [email protected]

Cidade: Natal - RN

13) Nome: FFÁÁBBIIOO SS.. RREEIISS

SSeeccrreettaarriiaa ddaa JJuussttiiççaa ee DDiirreeiittooss HHuummaannooss

GGoovveerrnnoo ddaa BBaahhiiaa

Tel: (71) 3115-8454

E-mail: [email protected]

Cidade: Salvador - BA

14) Nome: FFEERRNNAANNDDOO MMOORRAAEESS

CCoooorrddeennaaddoorriiaa ddaa SSeeccrreettaarriiaa EEssppeecciiaall ddee

PPoollííttiiccaass ddaa PPrroommooççããoo ddaa IIgguuaallddaaddee

RRaacciiaall ddee PPaarraattyy ((IInntteerriinnoo))

Tel: (24) 3371-2743

E-mail: [email protected]

Cidade: Paraty - RJ - Rio de Janeiro - RJ

119

15) Nome: GGIILLBBEERRTTOO MMOONNTTEEIIRROO // AANNTTOONNIIOO --

TTOONNIINNHHOO CCAANNEECCÃÃOO

AAsssseessssoorriiaa ppaarraa AAssssuunnttooss ddaa

CCoommuunniiddaaddee NNeeggrraa

Tel: (24) 2453-0782 / 2452-6337 / 6054 (Fax)

E-mail: turismo.valenç[email protected]

Cidade: Valença - RJ - Rio de Janeiro- RJ

16) Nome: HHEELLEENN RREEJJAANNEE MMAACCIIEELL ((NNOOVVAA))

FFAABBIIAANNAA

CCoooorrddeennaaddoorriiaa ddoo NNeeggrroo -- PPeelloottaass

Tel: (53) 225-7355 (Helen)

Tel: (53) 222-2955 (Cristina)

E-mail: [email protected]

Cidade: Pelotas - RS

17) Nome: HHEELLEENNAA AALLVVEESS PPIINNTTOO

((DDIIVVAA -- CCOONNTTAATTOO))

CCoooorrddeennaaddoorriiaa ddaa MMuullhheerr

Tel: (11) 4555-5131

E-mail: [email protected]

18) Nome: HHEERRVVAALL PPIIRREESS

SSEEPPPPIIRR -- SSeeccrreettaarriiaa ddee PPoollííttiiccaass ddaa PPrroommooççããoo ddaa

IIgguuaallddaaddee RRaacciiaall -- EESS

Tel: (28) 3155-5334 / 5345

E-mail: [email protected]

Cidade: Cachoeiro do Itapemirim - ES

19) Nome: JJAADDEERR LLUUIISS NNOOGGUUEEIIRRAA DDAA FFOONNTTOOUURRAA

GGTT AAnnttii--rraacciissmmoo

Tel: (51) 492-7653

E-mail: [email protected] e

[email protected]

Cidade: Viamão - RS

20) Nome: JJOOAANNAA DD´́AARRCC DDOO SSAANNTTOOSS LLAARRAA

CCoooorrddeennaaddoorriiaa ddoo DDeeppaarrttaammeennttoo ddee

CCoommbbaattee aaoo RRaacciissmmoo

Tel: (11) 4707-2036 / 4789-4305 / 4619-8215

E-mail: [email protected]

Cidade: Jandira - SP

21) Nome: JJOOSSÉÉ EEDDUUAARRDDOO DDAA SSIILLVVAA BBAATTIISSTTAA

CCoooorrddeennaaddoorriiaa MMuunniicciippaall ppaarraa AAssssuunnttooss ddaa

CCoommuunniiddaaddee NNeeggrraa -- CCOONNEEGGOO

Tel: (62) 524-2342 / 2338*

Cidade: Goiânia - GO

22) Nome: JUULLIIOO CCÉÉSSAARR RREEIISS

SSeeççããoo MMuunniicciippaall ppaarraa AAssssuunnttooss ddaa

CCoommuunniiddaaddee NNeeggrraa

E-mail: [email protected]

Cidade: Itabira - MG

120

23) Nome: JJUUSSSSSSAARRAA QQUUAADDRROOSS (**)

AAsssseessssoorriiaa ddee PPrroommooççããoo ddaa IIgguuaallddaaddee RRaacciiaall

Rua Alfredo Chaves, 1333 - bairro Exposição

CEP 95020-460

Tel: (54) 218-6000 / 218-6019 / 215-2078

E-mail: [email protected]

Cidade: Caxias do Sul - RS

24) Nome: KKEEIILLAA MMAARRIIAA CCAANNDDIIDDOO

SSeeççããoo ddee CCoommbbaattee AAoo RRaacciissmmoo ee aa DDiissccrriimmiinnaaççããoo

Tel: (16) 3374-4031 / 3374-3374

E-mail: [email protected]

Cidade: São Carlos - SP

25) Nome: LLEEAANNDDRROO SSOOUUZZAA DDAA SSIILLVVAA //

HHAALLDDAACCII RREEGGIINNAA DDAA SSIILLVVAA

CCoooorrddeennaaççããoo ddaa PPeessssooaa NNeeggrraa ((SSeeccrreettaarriiaa

EEssttaadduuaall ddee AAssssiissttêênncciiaa SSoocciiaall ee CCiiddaaddaanniiaa))

Rua Acre, 340 - Cabral

CEP 64000-000 - Teresina - PI

Tel: (86) 223-4670 / 221-5972 / 221-5977 (Fax)

E-mail: [email protected]

26) Nome: LLUUCCIILLIIAA PPIINNTTOO DDIIAASS -- SSÃÃOO LLUUIISS -- MMAA //

CCLLAAUUDDIIAA NNEETTAA

SSeeccrreettaarriiaa ddee EEssttaaddoo ddee DDeesseennvvoollvviimmeennttoo

SSoocciiaall--SSEEDDEESS

Rua V-9 Condomínio Água Branca II Bloco

Aptº. 101 - Parque SHALON

Tel: 226-9303 / 218-8321 / 9972-3287

27) Nome: LLUUIIZZ CCAARRLLOOSS RROODDRRIIGGUUEESS DDOOSS

SSAANNTTOOSS ((CCAACCAALLOO))

AAsssseessssoorriiaa ppaarraa AAssssuunnttooss ddaa

CCoommuunniiddaaddee NNeeggrraa

Tel: (24) 2491-9034 / 2491-9000 / 2491-9011

(Prefeitura)

Cidade: Vassouras/Rio de Janeiro - RJ

28) Nome: MMAARRAAIISSAA DDEE FFAATTIIMMAA AALLMMEEIIDDAA

PPrreeffeeiittuurraa MMuunniicciippaall ddee SSaannttoo AAnnddrréé

Tel: (11) 4433-0460

E-mail: [email protected]

Cidade: Santo André - SP

29) Nome: MMAARRIIAA AADDEELLIINNAA GGUUGGLLIIOOTTII BBRRAAGGLLIIAA

PPrrooggrraammaa RRaaíízzeess -- GGoovveerrnnoo PPaarráá

Tel: (91) 276-3032 / 277-0159*

E-mail: [email protected] ou

[email protected]

Cidade: Belém - PA

30) Nome: MMAARRIIAA OOLLIIVVEEIIRRAA

CCoooorrddeennaaddoorriiaa MMuunniicciippaall AAffrroo--RRaacciiaall -- CCOOAAFFRROO

Tel: (34) 3239-2449

E-mail: [email protected]

Cidade: Uberlândia - MG

121

31) Nome: MMAARRTTAA IIRRIISS CCAAMMRRGGOO MMEESSSSIIAASSCCoooorrddeennaaççããoo ddee PPoollííttiiccaass PPúúbblliiccaassppaarraa CCoommuunniiddaaddee NNeeggrraaTel: (55) 221-8562Cidade: Santa Maria - RS

32) Nome: MMAARRTTAA IIVVOONNEESSuuppeerriinntteennddêênncciiaa ddee PPrroommooççããoo ddeeIIgguuaallddaaddee RRaacciiaallTel: (62) 565-1555 / 0800-6461555Cidade: Goiânia - GO

33) Nome: HHEELLEENNIIRR CCEELLMMII FFEERRNNAANNDDEESSDDEE MMIIRRAANNDDAA (**)AAsssseessssoorriiaa ddooss DDiirreeiittooss ddaa MMuullhheerrTel: (11) 4704-0238 E-mail: [email protected]: Estância Turística de Embu - SP

34) Nome: OOJJIINNIIEELL MMAACCHHAADDOOAAsssseessssoorriiaa ddaa CCoommuunniiddaaddee NNeeggrraaTel: (24) 3325-3384Cidade: Barra Mansa - RJ - Rio de Janeiro - RJ

35) Nome: PPEEDDRROO CCAAVVAALLCCAANNTTEEPPrrooggrraammaa ddee CCoommbbaattee aaoo RRaacciissmmooTel: (81) 3425-8123E-mail: [email protected]

36) Nome: RREEGGIINNAA BBRRIITTOO

CCoooorrddeennaaddoorriiaa ddoo NNeeggrroo

Tel: (16) 602-2699

Conselho Municipal

Tel: (16) 3977-9006 (Nazaré)

Cidade: Ribeirão Preto - SP

37) Nome: RRIICCAARRDDOO SSIILLVVAA

CCEENNTTRROO DDEE RREEFFEERRÊÊNNCCIIAA DDAA CCIIDDAADDAANNIIAA

Tel: (16) 201-5101 / 3334-2027

E-mail: [email protected]

Cidade: Araquara - SP

38) Nome: RROOSSAAIINNEE PPEERREEIIRRAA DDAA SSIILLVVAA

AAsssseessssoorriiaa ddee PPrroommooççããoo ddaa IIgguuaallddaaddee RRaacciiaall

Fone de contato: (24) 3353-4929 / 3353-4058

E-mail: [email protected] ou

[email protected]

Cidade: Porto Real - RJ - Rio de Janeiro - RJ

39) Nome: SSAADDII CCAAMMIILLOO DDOOSS SSAANNTTOOSS // MMAARRCCOO

AANNTTOONNIIOO DDAA SSIILLVVAA

AAsssseessssoorriiaa ddee PPoollííttiiccaass PPúúbblliiccaass ppaarraa oo NNeeggrroo

Tel: (51) 497-4052 / 484-8500

E-mail: [email protected]

Cidade: Gravataí - RS

122

40) Nome: SSÔÔNNIIAA MMAARRIIAA DDEE FFRREEIITTAASS TTIIRROONNII

CCoooorrddeennaaddoorriiaa ddaa CCoommuunniiddaaddee NNeeggrraa

Tel: (24) 3354-4160 / 3354-6374 (Fax)

E-mail: [email protected]

Cidade: Resende - RJ

41) Nome: SSoonniiaa MMaarriiaa SSaannttooss ((VVaaii aassssiinnaarr

oo TTeerrmmoo ddee AAddeessããoo ee AAccoorrddoo))

CCoorraaffrroo -- FFuunnddaaççããoo MMaaccaaéé ddee CCuullttuurraa

Av. Rui Barbosa, 773 - Centro

CEP 27910-360

Tel: (22) 2773-4354

E-mail: [email protected]

Cidade: Macaé - RJ

42) Nome: TTAALLIISS FFEERRNNAANNDDOO RROOSSAA DDAA RROOSSAA

GGrruuppoo ddee TTrraabbaallhhoo AAnnttii--rraacciissmmoo

Tel: (51) 3221- 2490 / 4104

E-mail: [email protected]

Cidade: Porto Alegre - RS

43) Nome: VVAALLDDEEIIRR GGOOMMEESS DDEE SSOOUUZZAA

AAsssseessssoorriiaa MMuunniicciippaall ddaa PPrroommooççããoo ddaa

IIgguuaallddaaddee RRaacciiaall

Tel: (44) 221-1550 / 1449 / 3901-1856 (Fax)

E-mail: [email protected]

Cidade: Maringá - PR

44) Nome: VVAANNIIAA LLUUCCIIAA FFEERRRREEIIRRAA DDIINNIIZZ

CCoooorrddeennaaddoorriiaa MMuunniicciippaall ppaarraa AAssssuunnttooss

ddaa CCoommuunniiddaaddee NNeeggrraa

Tel: (31) 3277-4626 / 4696 / 4717 / 4264

E-mail: [email protected]

Cidade: Belo Horizonte - MG

45) Nome: ZZEEZZIITTOO DDEE AARRAAÚÚJJOO

SSeeccrreettaarriiaa EEssppeecciiaalliizzaaddaa ddee DDeeffeessaa

ddaa PPrrootteeççããoo ddaass MMiinnoorriiaass -- SSEEDDEEMM

Tel: (82) 315-2625 / 260-7294

E-mail: [email protected] ou

[email protected]

Cidade: Maceió - AL

46) PPrreeffeeiittuurraa ddee BBeelléémm

Secretaria de governo

Tel: (91) 212-9943

Cidade: Belém - PA

123

Exemplo de recibo de entrega do Termo de Adesão

124

BBoomm eexxeemmpplloo aanntteerriioorr àà LLeeii 1100..663399//22000033 -- PPuubblliiccaaççããoo ddaa LLeeii 99..777777 ssoobbrree aa iinncclluussããoo nnoo ccuurrrrííccuulloo eessccoollaarr ddaa rreeddee mmuunniicciippaall ddeeeennssiinnoo ddaa ddiisscciipplliinnaa HHiissttóórriiaa ddoo NNeeggrroo eemm CCaammppiinnaass -- SSPP

125

CCaammppiinnaass -- MMaattrriizz CCuurrrriiccuullaarr ccoomm iinncclluussããoo ddaa ddiisscciipplliinnaa HHiissttóórriiaa ddoo NNeeggrroo

126

LLEEII MMUUNNIICCIIPPAALL NNºº 33..221111//22000044

DISPÕE SOBRE A RESERVA DE VAGAS PARAAFRO-BRASILEIROS EM CONCURSOSPÚBLICOS PARA PROVIMENTO DE CARGOSEFETIVOS, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.

ELISEU FAGUNDES CHAVES, Prefeito Municipal de Viamão, no uso de suas atribuições legais.

Faço saber que a Câmara Municipal de Viamão aprovou e eu sanciono a seguinte Lei.

AArrtt.. 11ºº -- Ficam reservados aos afro-brasileiros 44% (quarenta e quatro) por cento das vagas oferecidas nos concursospúblicos efetuados pelo Poder Público Municipal para provimento de cargos efetivos.

§§ 11ºº -- A fixação do número de vagas reservadas aos afro-brasileiros e respectivo percentual, far-se-á pelo total de vagasno edital de abertura do concurso público e efetivar-se-á no processo de nomeação.

§§ 22ºº -- Preenchido o percentual estabelecido no edital de abertura, caso a Administração ofereça novas vagas durantea vigência do concurso em questão, a reserva de 44% (quarenta e quatro) por cento aos afro-brasileiros deverá sermantida.

§§ 33°° -- Quando o número de vagas reservadas aos afro-brasileiros resultar em fração, arredondar-se-á para o númerointeiro imediatamente superior, em caso de fração igual ou maior a 0,5 (zero vírgula cinco), ou para número inteiroimediatamente inferior, em caso de fração menor que 0,5 (zero vírgula cinco).

§§ 44ºº -- A observância do percentual de vagas reservadas aos afro-brasileiros dar-se-á durante todo o período de vali-dade do concurso e aplicar-se-á a todos cargos oferecidos.

AArrtt.. 22ºº -- O acesso dos candidatos à reserva de vagas obedecerá ao pressuposto do procedimento único de seleção.

AArrtt.. 33ºº -- Na hipótese de não-preenchimento da quota prevista no art. 1º, as vagas remanescentes serão revertidas paraos demais candidatos qualificados no certame, observada a respectiva ordem de classificação.

AArrtt.. 44ºº -- Para efeitos desta Lei, considerar-se-á afro-brasileiro aquele que assim se declare expressamente, identifi-cando-se como de cor negra ou parda.

PPaarráággrraaffoo ÚÚnniiccoo -- Tal informação integrará os registros cadastrais de ingresso de servidores.

AArrtt.. 55ºº -- Detectada a falsidade na declaração a que se refere o artigo anterior, sujeitar-se-á o infrator às penas da lei eainda:

II -- se candidato, à anulação da inscrição no concurso público e de todos os atos daí decorrentes; IIII -- se já nomeado no cargo efetivo para o qual concorreu na reserva de vagas aludidas no art. 1°, utilizando-se dadeclaração inverídica, à pena disciplinar de demissão.

PPaarráággrraaffoo ÚÚnniiccoo -- Em qualquer hipótese, ser-lhe-á assegurada ampla defesa.

AArrtt.. 66ºº -- Revogado.

AArrtt.. 77ºº -- As disposições desta Lei não se aplicam àqueles concursos públicos cujos editais de abertura foram publica-dos anteriormente à sua vigência.

AArrtt.. 88ºº -- Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

AArrtt.. 99ºº -- Revogadas as disposições em contrário.

GGAABBIINNEETTEE DDOO PPRREEFFEEIITTOO MMUUNNIICCIIPPAALL DDEE VVIIAAMMÃÃOO, em 23 de janeiro de 2004.

EELLIISSEEUU FFAAGGUUNNDDEESS CCHHAAVVEESS -- RRIIDDIIPPRREEFFEEIITTOO MMUUNNIICCIIPPAALL

RReeggiissttrree--ssee ee PPuubblliiqquuee--ssee

LLUUIISS HHEENNRRIIQQUUEE DDAA SSIILLVVAASSEECCRREETTÁÁRRIIOO DDEE AADDMMIINNIISSTTRRAAÇÇÃÃOO

IINNIICCIIAATTIIVVAA DDOO PPOODDEERR EEXXEECCUUTTIIVVOO

Decreto da Prefeitura de Viamão sobre cotasno concurso para serviço público

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