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CAPÍTULO 24
“UM LUGAR AO SOL”
DE RICARDO NASCIMENTO
REVISADO EM 18/01/2013
PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO
AFONSO
ÁLVARO
ANDRÉA
BIA
DIVA
EDU
ELISA
FERNANDA
GILSINHO
GILSON
HEITOR
INGRIND
JOÃO
JULIANO
LÚCIA
LUIZA
MARCELO
MAURO
RAFAELA
RITINHA
SANDRA
SHEYLA
SILVIA
SIMONE
THAÍS
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL DESTE CAPÍTULO:
Cliente Sandra, Delegado, Médico Marcelo.
UM LUGAR AO SOL CAPÍTULO 24 PÁG.:
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CENA 01. AP LÚCIA. INTERIOR. NOITE.
A cena inicia na reação de Lúcia completamente aflita
com a notícia que acabou de receber de Gilson. Diálogo
já iniciado.
LUCIA: -(estarrecida) Você perdeu o Gilsinho?
GILSON: - Eu tirei os olhos dele por dois
minutos e ele sumiu, escafedeu.
LÚCIA: - Como você tirou os olhos dele? Você
deixou uma criança de seis anos
sozinha a essa hora da noite?! Que
tipo de pai você é?
GILSON: - (brada) Eu não tive culpa, Lúcia
Helena.
LUCIA: - Claro que você não teve culpa, você
nunca tem culpa de nada. Ah meu Deus,
meu filho.
Juliano e Ritinha já entraram em cena, também estão
aflitos.
JULIANO: - O que ta acontecendo? Que gritaria é
essa?
LÚCIA: - Sequestraram meu filho.
JULIANO: - Como é que é?
GILSON: - Ele estava comigo no bar aqui de
esquina, eu me distrai por dois
minutos e ele tinha sumido. Um cara
que estava por perto disse que viu ele
entrando num carro.
JULIANO: - Que carro é esse? Ninguém viu quem
estava dirigindo?
GILSON: - Não. Ele só disse que viu o Gilsinho
entrando e o carro arrancou.
RITINHA: - Meu irmão.
JULIANO: - O que a gente esta esperando, então?
Vamos procurar, vamos fazer alguma
coisa.
LUCIA: - Eu vou à delegacia prestar queixa.
GILSON: - Vamos.
Já cortou rapidíssimo.
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CENA 02. HALL PRÉDIO FERNANDA. INTERIOR. NOITE.
Fernanda acabou de chegar, cumprimenta o porteiro.
FERNANDA: - Boa noite, seu João.
JOÃO: - Boa noite, dona Fernanda. Se a
senhora chega dez minutinhos antes ia
pegar seu Bruno, ele acabou de sair.
FERNANDA: - Ah, saiu? Que pena. Deixa eu subir
que estou exausta.
Vemos em segundo plano o elevador chegando, descem
Lúcia, Gilson, Juliano e Ritinha, todos muito aflitos.
Lúcia chora compulsivamente, Fernanda logo percebe e
assusta-se.
FERNANDA: - Lúcia? O que aconteceu?
LUCIA: - (chorando) Sequestraram meu
Gilsinho, Fernanda. Levaram meu
menino.
FERNANDA: - Meu Deus. Como isso aconteceu?
Quando, onde?
GILSON: - Foi quase agora. Ele tava comigo.
Foi tudo muito rápido. Eu pisquei e
ele sumiu.
JULIANO: - A gente ta indo pra delegacia.
FERNANDA: - Mas vocês já procuraram pelo bairro?
GILSON: - Não, ainda não. Eu to desesperado.
FERNANDA: - Então se acalmem. Eu sei que é
difícil, mas nessas horas temos que
nos manter calmos. Lúcia eu vou com
você a delegacia, Gilson vai com o
Juliano fazer uma busca pelo bairro,
leva uma foto dele, perguntem as
pessoas, batam nas casas. Seu João,
ajuda eles.
JOÃO: - Claro, dona Fernanda. Pode deixar.
RITINHA: - Eu vou com você, mãe.
FERNANDA: - Ritinha, meu amor, delegacia não é
lugar pra você. O melhor que tem a
fazer é ficar em casa, de repente
alguém pode fazer contato. O Gilsinho
sabe o número de casa, não sabe? Ele
mesmo pode ligar. Aproveita e use a
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internet, temos essa ferramenta agora
que pode ser muito útil.
JULIANO: - A Fernanda esta certa, Ritinha.
LUCIA: - Qualquer coisa liga pra gente.
RITINHA: - Pode deixar.
FERNANDA: - Vamos, não podemos perder tempo.
GILSON: - Verdade, vamos. Eu tenho uma foto
dele aqui na carteira.
JOÃO: - Vambora. Deus nos ajude.
FERNANDA: - Chama a Vera lá no meu apartamento,
chama os outros moradores. Vamos.
LUCIA: - Obrigada, minha amiga.
Lúcia dá um abraço em Fernanda. As duas deixam o local
muito rápido. Já cortou.
CENA 03. ORLA. EXTERIOR. NOITE.
CONTINUAÇÃO CENA 13. CAPÍTULO 23.
Ponto imediato onde paramos no capítulo anterior. Vemos
o carro parado, Simone caída no chão, Sandra esta de pé,
já fora do carro. Simone nada sofreu, apenas esta muito
assustada. Closes alternados.
SANDRA: - Você ficou louca, garota? Se joga na
frente do carro. Podia ter morrido.
O homem que acompanha Sandra que estava dirigindo o
carro, agora sai do veículo, muito irritado.
HOMEM: - E depois morre a culpa ainda vai ser
minha.
SANDRA: - O que foi? Você não fala? O gato
comeu sua língua?
HOMEM: - Vamos, Sandra. Essa garota deve
estar drogada. Eu vou te deixar em
casa e tenho que ir.
SANDRA: - Espera. (a Simone) Ei garota,
levanta daí.
Simone continua sentada no chão, amuada, muito
assustada. Close nela. Já cortou.
UM LUGAR AO SOL CAPÍTULO 24 PÁG.:
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CENA 04. FLAT MAURO. INTERIOR. NOITE.
Vemos Mauro sentado, ele esta nervoso, toma um copo de
whisky, olha para os lados demonstrando impaciência.
Ouvimos o som da porta abrindo, já revela Rafaela
entrando.
MAURO: - Eu pensei que você não fosse vir.
RAFAELA: - (irritada) Eu não deveria ter vindo.
Cadê o moleque?
MAURO: - Ta la dentro no meu quarto, dormiu.
RAFAELA: - Mas você é um incompetente. Não
consegue dar cabo numa criança de
cinco anos de idade. Aliás, ele deve
ser mais inteligente que você. Onde já
se viu, é muito amadorismo pra uma
pessoa só. Onde você estava com a
cabeça? Sequestrar uma criança?
MAURO: - Eu não pensei, eu tava com o sangue
quente.
RAFAELA: - Você naturalmente não pensa. Com ou
sem sangue quente.
Mauro começa a se irritar e olhar com ódio pra Rafaela.
RAFAELA: - Já parou pra raciocinar que a essa
hora a família do remelentinho já deve
estar na delegacia prestando queixa do
sumiço. E se alguém tiver te visto? Se
alguém viu esse garoto entrar no teu
carro? Já pensou? Já pensou se a
polícia bate ai na tua porta. E você
ainda me envolve nas suas lambanças,
seu paspalhão.
Mauro explode e segura Rafaela fortemente pelos braços.
MAURO: - Chega, eu já falei que eu quero a
tua ajuda e não um sermão.
RAFAELA: - Me larga Mauro.
MAURO: - Nós não estamos juntos nessa?
RAFAELA: - Me solta. Você esta me machucando.
MAURO: - Nós não somos uma dupla? Então, um
parceiro não deixa o outro na mão.
UM LUGAR AO SOL CAPÍTULO 24 PÁG.:
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Rafaela consegue se esquivar de Mauro.
RAFAELA: - Que/que foi? Ficou louco? Deu pra me
enfrentar agora? Não tenta medir
forças comigo, Mauro. Ah, não tenta.
Eu to vendo que você não serve pra ser
meu parceiro, ficou com peninha de
mandar o remelento pra terra dos pés
juntos. Tem que dar um jeito nesse
garoto. Ele já viu tua cara, se ele
resolve num arroubo de inteligência te
descrever pro papaizinho dele. É claro
que o pião da obra vai descobrir que é
você.
MAURO: - Eu não posso matar o garoto. (T) Eu
não consigo. (brada) Eu não sou um
assassino.
RAFAELA: - (brada) Então porque começou o
serviço se não era capaz de terminar?
(T. humana) Sejamos práticos, eu sei
que você é incapaz de matar uma mosca,
e isso não foi um elogio. Você vai ter
que devolver o garoto.
MAURO: - Devolver?
RAFAELA: - É. Devolver, sim senhor. Os pais do
remelento já devem ter ido a
delegacia, mas como não se passaram
vinte e quatro horas não configura
sequestro. Você vai devolver esse
garoto em algum lugar bem longe, num
lugar que ele não conheça de
preferência.
MAURO: - Eu devia é ter acabado com esse
moleque depois do que o pai dele fez
com o meu carro.
RAFAELA: - Pára. Não promete o que você não
pode cumprir. Tantas formas de você se
vingar e você vai sequestrar uma
criança. Consulte-me antes de cometer
uma besteira dessas, porque pensar
nunca foi o seu forte. Vai, devolve o
garoto num fim de mundo desses
qualquer, que eu sei que você conhece,
mas antes dá uma prensa nele. Nada que
uma pressão psicológica não faça um
UM LUGAR AO SOL CAPÍTULO 24 PÁG.:
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moleque de cinco anos travar. Diz que
se ele contar alguma coisa, você vai
acabar com a família dele. Vê se não
faz besteira dessa vez. Agora deixa eu
ir, que eu deixei o meu marido
dormindo pra resolver as suas
lambanças.
Rafaela já deixou o flat. Mauro senta-se e dá outro gole
no seu whisky. Já cortou.
CENA 05. BAIRRO IPANEMA. EXTERIOR. NOITE.
Planos gerais do bairro de Ipanema. A CAM vai buscar
Gilson, Juliano, Vera e João que percorrem a orla e o
calçadão abordando as poucas pessoas que se encontram
por ali. Cada um segura uma foto de Gilsinho nas mãos.
Áudio em off. Todas as pessoas abordadas farão sinais
negativos, dando a entender que não viram o garoto.
Tempo neles. Corta.
ATENÇÃO SONOPLASTIA: Ligar no áudio da próxima cena.
LÚCIA: - (off) Por favor, acha meu filho, seu
delegado.
Corta rapidíssimo.
CENA 06. DELEGACIA. INTERIOR. NOITE.
Long shot de uma delegacia, vemos Lúcia e Fernanda
sentadas à frente de um delegado, ele a interroga.
DELEGADO: - E quando isso aconteceu, minha
senhora? Quando a senhora deu por
falta do seu filho?
LUCIA: - Foi agora mesmo, seu delegado. Ele
estava com meu marido num barzinho na
esquina da minha casa. Ele disse que
foi tudo muito rápido.
FERNANDA: - Se o senhor puder mandar uma
patrulha fazer uma busca nos arredores
no bairro. Quem sabe eles encontram
alguma coisa.
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DELEGADO: - Acho difícil, minha senhora. Se foi
um sequestro, o sequestrador já deve
estar longe, mas eu vou avisar as
patrulhas daquela área. Fica
tranquila, nós vamos encontrar seu
filho.
Close em Lúcia que esta muito apreensiva. Já cortou.
CENA 07. ORLA. QUIOSQUE. EXTERIOR. NOITE.
Vemos Sandra sentada frente a frente com Simone, que
continua muito assustada. O cliente de Sandra esta de
pé, próximo às duas.
HOMEM: - Você tem certeza que vai ficar ai
com essa garota?
SANDRA: - Pode deixar, vô ajudar essa pobre
coitada. Depois eu pego um táxi e to
casa. Fica tranquilo. Aqui é a minha
área.
HOMEM: - Você que sabe. Agora eu tenho que ir
que a minha mulher deve estar
chegando. (baixo, só pra Sandra) Eu te
ligo, gostosa.
O homem entra no carro e sai de cena.
SANDRA: - E então, agora somos só nós duas.
Você não vai dizer o que esta
acontecendo?
Simone bebe água, ainda assustada.
SANDRA: - Você não é daqui. Eu não te conheço.
Essa área é do Alemão. Foi ele que te
colocou aqui?
Simone balança a cabeça em sinal de negativo.
SANDRA: - Você não tem cara de garota de
programa. Você ta drogada?
SIMONE: - Não. Eu não nunca usei drogas em
todo a minha vida. Eu não curto.
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SANDRA: - Olha, estamos começando a progredir.
Você fala. Qual o seu nome?
SIMONE: - É Simone. Eu cheguei hoje de São
Paulo, eu não conheço ninguém aqui, eu
tava dormindo na praia e uns caras me
atacaram. Eu tava fugindo, por isso eu
atravessei a rua sem olhar.
A cena continua em off. Simone contando sua história
para Sandra. Tempo nelas, já cortou.
CENA 08. AP ÁLVARO. INTERIOR. NOITE.
A porta se abre, Álvaro chega ao seu apartamento com
Andréa em seu colo. Trilha sonora: “Um dia de Sol –
Papas da Língua”. Ele rodopia com ela no colo.
ANDRÉA: - Álvaro, você vai me derrubar.
ÁLVARO: - Hoje é o dia mais feliz da minha
vida. Você esperando um filho meu.
ANDRÉA: - Como eu esperei por isso, Álvaro.
Finalmente te dar um filho. O filho
que eu perdi. E eu tenho certeza que
esse filho que eu to carregando aqui
na minha barriga, é homem. Homem, do
jeito que você sempre sonhou. Um
herdeiro. Pra você ensinar a andar de
bicicleta, ensinar a jogar futebol e
assumir a empresa do jeito que você
sempre quis.
ÁLVARO: - Não importa se vai ser menino ou
menina. O que importa que ele vai ser
muito mamado.
ANDRÉA: - Só me promete uma coisa.
ÁLVARO: - O que você quiser, meu amor.
ANDRÉA: - Promete que você vai continuar me
amando, mesmo quando eu engordar por
causa da gravidez, mesmo quando meu
corpo ficar todo deformado, mesmo
quando eu estiver horrível.
ÁLVARO: - Não fala besteira, Andréa...
ANDRÉA: - Promete, Álvaro?
ÁLVARO: - Você nunca vai ficar horrível. Você
é linda e vai ficar cada vez mais
linda com um barrigão, carregando o
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nosso filho... Mas se é importante pra
você. Eu prometo que vou continuar te
amando pra sempre.
Os dois se beijam. Sobe trilha “Um Dia de Sol – Papas da
Língua”.
ANDRÉA: - Só mais uma coisa.
ÁLVARO: - O que?
ANDRÉA: - Não vamos contar pra ninguém ainda
essa novidade.
ÁLVARO: - Por quê?
ANDRÉA: - Vamos esperar mais um pouco. Você
sabe que todo início de gravidez é
delicado. Eu quero esperar até ter
certeza que esta tudo certo com o
nosso filho. Depois a gente faz uma
festa e anuncia pra todo mundo.
Continua diálogo fora de áudio. Os dois conversam
empolgados, alternando com beijos. Já cortou.
CENA 09. CASA RAFAELA. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
A cam abre em Afonso, já trajando pijama, preparado para
dormir, deitado em sua cama, ele rola de um lado para
outro, algo parece atormentá-lo. Ele senta-se na cama,
agarra o travesseiro.
INSERT – FLASH BACK. CENA 9 – CAPÍTULO 22.
SANDRA: - É assim, né? Pois bem, eu vou dar o
fora sim, mas olha só, tu não aparece
na minha casa nem tão cedo, viu seu
velho babão. A puta aqui vai estar
ocupada.
Já cortou para Afonso, que esta irritado e desconta sua
raiva no travesseiro, apertando ou esmurrando talvez.
AFONSO: - (pra si) Eu quero ver essa puta se
virar sem o velho babão aqui. Eu que
banco todas as regalias dela. Onde já
se viu, me procurar na minha empresa.
Mas eu vou dar um gelo nela, quero ver
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se ela não vai vir correndo atrás de
mim, me implorando pra voltar. Porque
com o Afonsão aqui é assim, escreveu
não leu, o pau comeu. Eu que dou as
cartas e ela é doidinha por mim. Eu
que levo ela as nuvens. Duvido que
homem nenhum a deixe do jeito que eu
deixo.
Inicia trilha sonora “Losing My Ground”.
INSERT RAPIDÍSSIMO. FLASH BACK.
Clipe curto com vários momentos de Sandra das cenas 8 –
Capítulo 7, cena 11 – Capítulo 12. Mantém trilha sonora.
Já cortou para Afonso, ele agora esta agarrado ao
travesseiro, faz algum carinho.
AFONSO: - (pra si) Será que eu vou conseguir
ficar sem aquela puta? Uma coisa eu
tenho que admitir que é uma puta
gostosa, é.
Afonso volta a realidade com a próxima fala, em off. CAM
frisa a reação de Afonso.
RAFAELA: - (off, forte) Sonhando acordado,
Afonso?
É tamanho o susto de Afonso, que ele engasga, começa a
tossir ou algo do gênero. Agora a cam abre plano geral e
revela Rafaela, de pé, imponente, dando a entender que
assistiu a Afonso “se esfregando” com o travesseiro.
AFONSO: - Que susto, Rafaela. Nem sabia que
você já tinha chegado. Entrou sem
fazer barulho, quase me mata do
coração.
RAFAELA: - Eu vi o tamanho do seu susto,
parecia até que estava fazendo algo de
errado.
AFONSO: - (dá bandeira) Fazendo algo de
errado? Claro que eu não estava
fazendo nada de errado, estava aqui me
preparando pra dormir.
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RAFAELA: - Depois de velho deu pra assediar o
travesseiro?
AFONSO: - Rafaela me poupe das suas tiradas
que hoje eu não to com paciência.
RAFAELA: - (irônica) Ah, desculpa doutor
Afonso. Só me responde uma coisa, quem
era a “gostosa” que você estava
falando quando eu cheguei?
Reação de Afonso, se engasga novamente, começar a
tossir.
AFONSO: - Que gostosa?
RAFAELA: - Como que gostosa? Eu que pergunto
que gostosa.
AFONSO: - Você esta ficando louca, ouvindo
demais.
RAFAELA: - Alto lar. Louco aqui em casa, só
você. Aliás, louco, velho e gagá.
Anda, desembucha, quem era a gostosa
que estava povoando o seu imaginário?
Era tanta a sua empolgação com o pobre
coitado do travesseiro que o sonho
deveria ser no mínimo impróprio pra
menores.
AFONSO: - (disfarça, tenta fugir do assunto,
minimiza) Ai Rafaela, eu estava
pensando na... Gládias.
RAFAELA: - (surpresa, engraçada) Na Gládis?!
AFONSO: - (gagueja) Que Mané Gládias, eu quis
dizer na compota de papaia que ela fez
pra sobremesa.
RAFAELA: - (desconfiada) Compota de papaia?
AFONSO: - Era isso que eu estava pensando em
voz alta. Que gostosa estava a
sobremesa que a Gládis fez. Você me
confunde com esse interrogatório.
RAFAELA: - Ta bom, seu Afonso. Eu vou fingir
que acredito. Discutir com você é uma
afronta a minha inteligência.
AFONSO: - Nem sonhar mais eu posso nessa casa?
RAFAELA: - Sonhar pode, só não pode verbalizar
o sonho. Agora toma cuidado esses seus
sonhos picantes com a compota da
Gládis, porque você já é um senhor de
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idade e sabe que nessa fase da vida
não é bom ter fortes emoções, vai que
você enfarta.
AFONSO: - Vira essa boca pra lá. Ta me rogando
praga?
RAFAELA: - Estou sendo realista, meu bem. Você
é um homem senil, e homens nessa idade
estão sujeitos a esse problema...
Alias, esse e tantos outros que a
velhice traz. Quer que eu cite alguns
só pra exemplificar?! Vamos lá,
surdez, problema de visão, perda de
memória, incontinência urinária,
impotência sexual....
AFONSO: - Êpa, péra lá. Eu estou velho, mas
não morto. Eu sou um garanhão ainda.
RAFAELA: - Afonso, você cansa a minha beleza.
Você é um pangaré cansado. Agora deixa
eu me arrumar pra dormir.
Rafaela dá as costas e Afonso dá uma banana muito bem
dada pra Rafaela. Já cortou.
CENA 10. AP SANDRA. INTERIOR. NOITE.
Geral do apartamento de Sandra, a porta se abre. Entram
Sandra e Simone, esta ainda muito assustada, segura sua
mochila,olhando para todos os lados. Sandra recolhe
algumas roupas, talvez enquanto conversa.
SANDRA: - É aqui que eu moro. É pequeno, mas é
meu. Como dizia minha finada mãezinha,
é de pobre, mas é limpinho. Como eu te
disse, esse apê aqui só tem um quarto,
dá pra você se ajeitar aqui pelo sofá
da sala enquanto tu não toma um rumo
pra sua vida. E naquele esquema,
quando eu tiver visita, você dá um
jeito de sumir.
SIMONE: - Orra, Sandra. Brigada mesmo. Você ta
sendo um anjo na minha vida. Se não
fosse você eu nem sei o que seria de
mim. Ia dormir lá pela praia.
SANDRA: - Pois é, mas não acostuma não,
bonita. Esses rompantes de bondade eu
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só costumo ter uma vez por ano, na
época do natal e olhe lá. (humaniza-
se) Mas eu fiquei com pena da sua
história. A gente tem história triste
parecida. Eu também perdi a minha mãe
muito cedo, e eu também tive alguém
pra me estender a mão quando eu mais
precisei. E agora eu to aqui. Mas
chega de história triste, isso aqui
não é esses programas que passam de
tarde na TV aberta. Vamos falar de
coisa boa. Ta com fome?
Simone balança a cabeça em sinal de positivo.
SANDRA: - Eu também to varada. Acabou que nem
deu pra comer nada nesse jantar ai que
eu fui. Ó, aqui em Copa mesmo tem um
japonês divino que entrega até tarde,
vou pedir uma barca pra gente. Gosta?
SIMONE: - (faz cara de nojo) Peixe cru?
SANDRA: - Também. Sushi, sashimi, uramaki. Ai,
num faz a louca, num faz essa cara de
nojo. É uma delícia. Vou refinar o seu
paladar. Vou te ensinar um monte de
coisas. Algo me diz que vamos ser
grandes amigas. Vai tomar um banho
enquanto eu peço alguma coisa pra
comer.
Sandra observa a mochila de Simone.
SANDRA: - Você só trouxe essa bolsa de roupa?
SIMONE: - É só o que eu tenho.
SANDRA: - Ta, vai tomar seu banho. Eu vou te
emprestar uma camisola. A gente tem
mais ou menos o mesmo corpo. Ó, tem
shampoo e condicionador no Box, pode
usar.
Simone vai saindo. Ela para, pensa e volta.
SANDRA: - Que foi?
SIMONE: - Brigada, viu Sandra. Brigada mesmo.
De coração.
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SANDRA: - Eu to precisando acertar as contas
com o cara lá de cima. Fazer umas boas
ações pra vê se ele alivia pra mim,
porque vô te contar, bonita. Ta
complicado pro meu lado. Mas anda,
vai. Antes que eu mude de ideia.
Já cortou.
CENA 11. EXTERIOR. NOITE.
Long shot de uma praça, um terreno baldio talvez, a
critério do diretor. Planos gerais, takes aéreos, local
vazio, penumbra, clima soturno, os faróis de um carro
vão iluminando o cenário e podemos identificar do que se
trata. Ainda não revelamos quem esta dirigindo. O carro
estaciona e num chicote a cam vai buscar o motorista e
revela Mauro. Close no seu olhar, inicia trilha sonora
tensa impactante. Agora a cam revela Gilsinho, que dorme
encolhido no banco do passageiro. Tempo em Mauro que
observa o menino, primeiro com certa humanidade, mas
logo seu semblante transfigura em apatia.
MAURO: - Acorda garoto. (irônico) Chegamos.
Gilsinho começa a despertar, ainda zonzo de sono,
apertar os olhos para tentar identificar onde esta.
GILSINHO: - Onde é que eu to?
MAURO: - (irônico) Titio te trouxe pra dar
uma volta num lugar bem legal.
GILSINHO: - (brada) Eu quero ir pra minha casa,
eu quero minha mãe!
MAURO: - Cala a boca, pirralho. Você vai
voltar pra casa, se você fizer tudo o
que o titio mandar. Presta bem atenção
no que eu vou te dizer. Eu sei onde
você mora, eu sei quem são seus pais.
Eu conheço o Gilson e a Lúcia Helena.
Não é esse o nome deles? Então se você
abrir a boca pra contar onde você
esteve, eu acabo com os teus pais. Ta
entendendo?
Close na expressão de espanto de Gilsinho.
UM LUGAR AO SOL CAPÍTULO 24 PÁG.:
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MAURO: - Agora você vai esquecer quem eu sou,
vai esquecer pra onde eu te levei, ou
então eu mato os teus pais e ainda
coloco fogo na tua casa. Entendeu?
Gilsinho continua estático, olhos arregalados. Mauro
irrita-se.
MAURO: - Entendeu moleque?
Gilsinho balança a cabeça em sinal de positivo.
MAURO: - Agora desce.
GILSINHO: - Você vai me deixar aqui?
MAURO: - Eu mandei descer!
Mauro abre a porta do motorista.
FADE IN. FADE OUT.
A cena reinicia com Gilsinho ao lado da porta do
motorista, com semblante triste, choroso. Mauro encara o
menino.
GILSINHO: - Tio, não me deixa aqui sozinho.
MAURO: - Calma, teus pais logo, logo te
acham... E você não esta sozinho. Tem
um monte de fantasma pra te fazer
companhia ai nessa escuridão.
Mauro fecha o vidro automático e vemos a imagem de
Gilsinho refletida. Mauro arranca com o carro, trilha
sonora tensa de fundo. Gilsinho começa a gritar e correr
atrás do carro.
GILSINHO: - Tio, não me deixa aqui sozinho. Por
favor.
Tempo em Gilsinho correndo atrás do carro, até que ele
suma na escuridão onde não possamos mais ver e o menino
fica ali, sozinho, chorando, no escuro.
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* Essa sequência é uma clara referência ao estrondoso
sucesso que foi “Avenida Brasil” no último ano, a cena
em que Max (Marcelo Novaes) abandona Rita (Mel Maia) no
lixão. Usamos as personagens de Mauro e Gilsinho para
prestar uma singela e humilde homenagem a essa trama que
mudou a forma de se escrever e assistir uma novela.
Continua instrumental triste, a cam focaliza Gilsinho,
ali sozinho, em meio a escuridão. Ligar no áudio da
próxima cena.
LÚCIA: - (grita, em off) Gilsinho!
Reação de Gilsinho, como se conseguisse ouvir o grito
desesperado da mãe. Já cortou imediatamente para a
próxima cena.
CENA 12. ORLA. EXTERIOR. NOITE.
Lúcia completamente desnorteada, desesperada grita pelo
filho no meio da praia.
LÚCIA: - (grita) Gilsinho.
Lúcia se ajoelha na areia e chora copiosamente. Agora a
cam focaliza Fernanda e abraça a amiga.
LÚCIA: - Onde o meu filho deve estar uma hora
dessas, Fernanda? O que será que esta
acontecendo com ele?
FERNANDA: - (humana) Fica calma, meu bem. Tudo
vai ser resolver.
ATENÇÃO EDIÇÃO: Alternar imagens das cenas 11 e 12.
FADE IN.
UM LUGAR AO SOL CAPÍTULO 24 PÁG.:
18
CENA 13.
FADE OUT.
Nascer do sol. Amanhece no Rio de Janeiro.
ATENÇÃO EDIÇÃO: Ligar no áudio da próxima cena.
JULIANO: - (off) Não pregou o olho a noite
inteira...
Cortou rapidíssimo.
CENA 14. AP LÚCIA. SALA. INTERIOR. DIA.
Vemos Fernanda e Juliano conversando e em segundo plano,
Lúcia dorme sentada no sofá da sala. Diálogo já
iniciado.
JULIANO: - ... Ficou aqui de pé, de prontidão,
olhando pro telefone, esperando alguma
notícia. To morrendo de pena da minha
mãe.
FERNANDA: - Mas é assim, Juliano. Se eu bem
conheço a minha amiga, a Lúcia só vai
sossegar quando encontrar o Gilsinho.
O telefone toca, Lúcia acorda e dá um pulo do sofá e
corre em direção ao telefone para atendê-lo.
LÚCIA: - (tel, esbaforida) Alo.
Fernanda e Juliano, em segundo plano, ansiosos por
notícia enquanto Lucia fala ao telefone. Ela faz
mistério, mas logo empolga-se.
LÚCIA: - (tel) Sim, sou mãe dele. É meu
filho. (T) (vibra) Encontrado? Ai,
graças a Deus. Meu filho ta bem? Como
ele esta? (T) Onde? (T) Guapimirim? Eu
to indo pra lá.
Quando Lúcia disser “encontrado” Fernanda e Juliano
darão suspiro de alívio, talvez abraçam-se.
UM LUGAR AO SOL CAPÍTULO 24 PÁG.:
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FERNANDA: - E então, Lúcia?
LÚCIA: - Encontraram o Gilsinho.
Já cortou rapidíssimo.
CENA 15. AP FERNANDA. SALA JANTAR. INTERIOR. DIA.
Luiza toma café da manhã, enquanto Vera, de pé, faz
companhia. Diálogo já iniciado.
VERA: - Rezei tanto pra Nossa Senhora do
Carmo essa noite pra encontrarem o
Gilsinho são e salvo.
Luiza, com ar de desdém, ouve a tudo.
LUIZA: - E minha mãe ainda ta lá bancando a
protetora dos fracos e oprimidos
ajudando nas buscas do xexelentinho?
VERA: - Ai Luiza, não fala assim. A Fernanda
ta ajudando a Lucia nesse momento tão
difícil, as duas são amigas há longa
data.
LUIZA: - Minha mãe ta querendo aparecer, do
jeito que ela adora e sempre fez.
Agora seria muita sorte se esse garoto
nunca mais aparecesse e de quebra,
essa família buscapé sumisse desse
prédio pra nunca mais.
VERA: - (horrorizada) Eu, hein. Cruz credo.
(se benze) Deixa eu ir pra minha
cozinha que esse seu azedume deve
pegar. Vira essa boca pra lá, garota.
LUIZA: - Ai vai... Cadê a Ingrid?
VERA: - Essa daí que você deveria tratar
desse jeito, tu trata bem. “Num” te
entendo. Foi pro hospital visitar a
Lisa. Essa sim se sumisse pra sempre
não ia fazer a menor falta. Escuta o
que eu to dizendo, essa mulher não
presta.
Vera já saiu e deixou Luiza sozinha.
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CENA 16. AP THAÍS. QUARTO. INTERIOR. DIA.
Vemos Thaís despertando, ela olha pro lado e não
encontra Eduardo. Já se levantou e foi até sala. Vemos
uma mesa de café da manhã posta, sem luxos, algumas
frutas, cereais, tudo bem natural. Eduardo esta servindo
dois copos com uma vitamina. Thais logo avista e abre um
sorriso.
THAÍS: - Eu já te disse que vou ficar mal
acostumada acordando todos os dias com
esse café da manhã delicioso e essa
vitamina que só você sabe fazer?
EDU: - Já sim, mas é melhor você ir
desacostumando.
PV Thaís: Vemos uma mochila e alguns pertences de
Eduardo sobre o sofá da sala.
THAÍS: - (estranhamento, franzindo o cenho)
Ué, porque você esta dizendo isso? E
essa mochila? Não vai me dizer que
você embora?
EDU: - (humano) Thaisinha, você foi super
maneira me ajudando quando eu mais
precisei, mas eu acho melhor eu seguir
meu caminho agora.
THAIS: - Por quê? A gente esta se dando super
bem. A gente combina em tudo, Edu,
principalmente na cama. (percebe) Já
sei, você esta com medo do compromisso
sério, né? (ri) Sabia. Típico medo dos
homens da família Martins Brandão. O
Álvaro fugia de relacionamento igual
diabo foge da cruz. Você esta com medo
de se envolver demais comigo e eu
começar a cobrar. Mas ó, pode ficar
tranquilo, eu não sou dessas
“mulherzinhas” que cobram atenção,
flores nas datas especiais, muito
menos pretendo casar de branco. Aliás,
não agora, eu sou muito jovem. Eu
quero curtir, aproveitar a vida. Vamos
curtir juntos?!
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EDU: - Engano seu, Thais. Você é igual a
todas as outras. E isso não é uma
critica. Todas as mulheres são iguais.
Querem um príncipe encantado, que as
deem atenção, lhe enviem flores no
aniversário de relacionamento e o
principal, querem uma festa de
casamento digna de uma princesa,
querem casar de véu e grinalda, como
manda o figurino, com toda pompa e
circunstância/
THAÍS: - E você esta com medo de ser esse
príncipe encantado, não é?
EDU: - Não! Eu não estou com medo de ser
esse príncipe. Eu tenho certeza que eu
não sou.
THAIS: - E porque essa certeza toda?
EDU: - Porque esse príncipe já existe, tem
nome e sobrenome: Álvaro Martins
Brandão, meu irmão.
Thaís fica visivelmente sem graça.
THAÍS: - Edu, eu tive sim um lance com seu
irmão, mas no passado. Já foi. Hoje
nós somos amigos. Nada mais.
EDU: - Qualé, Thaís? Vamos bater a real.
Seu ponto forte sempre foi a
sinceridade. A gente sabe que você
foi, ainda é e sempre vai ser caidinha
pelo Álvaro. Você nunca fez questão de
esconder isso de ninguém, nem da
Andréa que é mulher dele, sempre deu
em cima na maior cara de pau.
THAÍS: - Mas Edu/
EDU: - Espera, deixa eu terminar. Eu não
estou te condenando, no fundo eu até
acho louvável essa sua força de
vontade, essa sua determinação em
correr atrás do que você realmente
quer. Só não concordo com determinados
métodos que você usa, mas ai é um
dilema de consciência seu, depois você
vai prestar conta, o que eu não posso
deixar é que você me use pra chegar no
UM LUGAR AO SOL CAPÍTULO 24 PÁG.:
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meu irmão, muito menos atingir a
Andréa.
THAÍS: - Perai cara, você esta querendo
insinuar que eu só te chamei pra morar
aqui/
EDU: - Claro, Thaís. Você sempre fez de
tudo pra ficar mais próxima do Álvaro.
Ce acha que ninguém percebia aquelas
suas idas la em casa? Suas desculpas
esfarrapadas pra dormir por lá? Seus
convites inesperados? Eu sabia que
você tinha segundas intenções quando
me ajudou. Mas eu não estou me fazendo
de vitima, não. Muito pelo contrário.
Eu também me aproveitei da situação.
Sempre te achei muito gostosa... Mas a
grande realidade é que eu não sou o
Álvaro, nem nunca vou ser. Aliás,
nunca tive essa vontade de ser igual
ao meu irmão. Mas eu te desejo toda a
sorte do mundo e mais uma vez obrigado
pela força, obrigado mesmo.
Thaís de pé, com os olhos marejados, olha para Edu sem
esboçar nenhuma reação. Ele, muito humano, se aproxima
dela e lhe dá um beijo nos lábios com muito carinho,
logo em seguida, pega sua mochila e deixa o apartamento.
Tempo em Thaís. Corta.
CENA 17. HOSPITAL. QUARTO ELISA. INTERIOR. DIA.
Elisa deitada, Ingrid ao seu lado. As duas conversam,
diálogo já iniciado.
INGRID: - Tenho ótimas notícias para você.
ELISA: - Vou receber alta?
INGRID: - Vai sim. Acabei de conversar com o
seu médico. Ele disse que você esta se
recuperando otimamente bem. Logo, logo
estaremos em casa.
ELISA: - Eu não vejo a hora, mãe. Não aguento
mais esse quarto de hospital.
INGRID: - Mas a senhora vai ter que sossegar.
Ainda vai ficar de molho por uns dias
com esse gesso na perna. O seu médico
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me explicou, você fica por uns dias
com esse gesso, depois retira e
colocar uma botinha.
ELISA: - E o Marcelo, mãe?
INGRID: - Eu não sei, meu amor. Parece que os
médicos iam tentar desligar o
respirador hoje pra fazer um teste.
Closes alternados. Corta rapidíssimo.
CENA 18. HOSPITAL. SALA ESPERA. INTERIOR. DIA.
O médico de Marcelo esta no centro da sala, ao redor
estão Heitor, Silvia, Bia, Diva e Sheyla. Clima tenso.
Suspense. O médico esta com um semblante sério, não
esboça nenhuma emoção. Todos estão aflitíssimos.
SILVIA: - Então, doutor. Como esta o meu
filho?
DIVA: - Fala logo, doutor. O meu neto esta
bem?
HEITOR: - Ele reagiu bem sem os respiradores?
O médico faz suspense. Todos muito apreensivos. Closes
alternados.
CORTE CONTINUIDADE.
CENA 19. DELEGACIA. INTERIOR. DIA.
Cenário de uma delegacia, a mesma que vimos na cena 06
deste capítulo. Estão Lúcia e Fernanda na sala do
delegado. Lúcia esta aflitíssima, levanta-se da onde
esta sentada e anda de uma lado para o outro
demonstrando impaciência. Fernanda logo se aproxima.
FERNANDA: - Fica calma, minha amiga. O
importante é que o Gilsinho esta bem e
daqui a pouco vai estar aqui com você.
LÚCIA: - Eu só vou me acalmar quando eu
estiver com meu filho nos meus braços.
E essa demora toda?
Nesse momento entra o delegado, também o mesmo da cena
06 deste capítulo.
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LÚCIA: - E então, seu delegado? Cadê meu
filho?
DELEGADO: - Calma, dona. De guapimirim até aqui
é chão. Já falei com a viatura que
esta trazendo o seu filho, eles já
estão a caminho.
Já cortou.
CONTINUAÇÃO CENA 18.
Ponto imediato onde paramos. O médico continua fazendo
suspense. Closes alternados.
MÉDICO: - Nós fizemos uma manobra arriscada,
do ponto de vista clinico do paciente.
Desligamos os respiradores a fim de
testar a resistência do seu sistema
respiratório e tentar força-lo a
respirar sozinho... E eu posso dizer
que essa tentativa foi um sucesso. O
paciente já respira sem ajuda de
aparelhos e já foi transferido para o
quarto.
Comoção geral. Inicia trilha sonora instrumental.
SILVIA: - Ai meu filho.
DIVA: - Graças a Deus, eu sabia que o meu
neto ia sair dessa.
Todos se abraçam muito emocionados.
SILVIA: - E eu já posso ver o meu filho? Ele
ta acordado?
MÉDICO: - Bom, o paciente esta recobrando os
sentidos agora e o ideal é que ficasse
em repouso absoluto. Mas eu também sou
pai e eu to vendo o sofrimento de
todos da família... Eu vou autorizar a
entrada de vocês. Não há nada melhor
que a presença e o carinho de quem
gostamos pra acelerar a recuperação do
Marcelo.
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CENA 20. AP ÁLVARO. INTERIOR. DIA.
A cena inicia com a campanhia esta tocando. Andréa desce
as escadas e vai atender a porta. Abre, é Edu.
ANDRÉA: - Edu! Que surpresa.
EDU: - Oi, Andréa. Tudo bom? Posso entrar?
ANDRÉA: - Claro que pode. Quase que você não
nos encontra em casa. Estávamos de
saída. Eu vou pegar uma carona com o
Álvaro. Só o tempo de terminar de
arrumar, mas entra, a mesa de café da
manhã ainda esta posta. Come alguma
coisa.
EDU: - (sem jeito) Obrigado, mas eu queria
mesmo é conversar com você. Eu prometo
que vou ser rápido.
ANDRÉA: - Aconteceu alguma coisa, cunhado?
EDU: - Eu queria pedir desculpas por ontem.
Aquela cena na casa da Thaís, o Álvaro
só foi até lá por minha causa, eu não
queria causar aquele mal estar.
ANDRÉA: - Edu esquece isso porque eu já
esqueci. Eu e o seu irmão já nos
acertamos e eu tenho uma surpresa, eu
pedi pra ele não contar pra ninguém,
mas como eu gosto muito de você, vou
te dar a notícia em primeira mão.
Andréa, muito sorridente, alisa sua barriga. Edu
surpreende-se.
EDU: - Você ta grávida?
ANDRÉA: - Tô! Você vai ser titio.
EDU: - Meus parabéns, Andréa.
Álvaro entra em cena já falando, não viu Edu ainda.
ÁLVARO: - Andréa, meu amor, vamos. Te deixo na
sua mãe, aproveito e faço uma visita
pra filha do Bruno e tenho que voltar
correndo pra construtora. Tenho uma
reunião importantíssima hoje. (repara)
Edu.
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EDU: - Oi Álvaro, vim me desculpar por
ontem, mas vocês já estão de saída.
ÁLVARO: - Estamos, mas vem com a gente, é bom
que a gente conversa no caminho.
Já cortou.
CENA 21. HOSPITAL. QUARTO. INTERIOR. DIA.
Geral de um quarto de hospital, aos poucos a cam vai
abrindo e revelando Marcelo, dormindo, ainda com vários
hematomas e curativos condizentes com o acidente que
sofreu. Ele não esta mais monitorado por nenhum
aparelho. A porta se abre e revela Silvia e Heitor,
muito emocionados, os dois se olham, sorriem,
extasiados. Trilha sonora: “Casa Pré-Fabricada – Roberta
Sá. Os dois ficam ao lado da cama, bem próximo a
Marcelo, observam o filho com todo zelo. Marcelo começa
a despertar, reação de Silvia. Ainda sem muitas forças,
ele balbucia algumas palavras, ainda inaudíveis.
SILVIA: - Ele esta acordando. Vamos chamar o
médico.
HEITOR: - Espera, ele esta falando alguma
coisa.
Close em Marcelo, que continua a balbuciar. Agora
entendemos.
MARCELO: - Luiza... Luiza... Cadê você?
Silvia e Heitor se olham. Closes alternados. Já cortou.
CENA 22. PRÉDIO FERNANDA. SAGUÃO. INTERIOR. DIA.
Andréa chega acompanhada de Álvaro e Eduardo,
cumprimenta o porteiro. Diálogo iniciado.
ANDRÉA: - Bom dia, seu João. Minha mãe ta ai?
JOÃO: - Bom dia, dona Andréa. Ta sim. Cabei
de falar com ela.
Álvaro chama o elevador.
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ÁLVARO: - Quer dizer que você resolveu sair da
casa da Thaís?
EDU: - Foi.
ANDRÉA: - Quer saber, cunhado? Foi a melhor
coisa que você fez. Sair de perto
daquelazinha. Essa garota não presta.
Você não precisa ficar hospedado no
apartamento dela. É rico, tem pai
rico.
EDU: - Você ta certa, Andréa.
O elevador chega, todos embarcam. Antes que a porta se
feche, ouvimos em off.
INGRID: - (off) Segura pra mim, por favor.
Edu segura a porta do elevador. A cam agora revela
Ingrid chegando ao saguão do prédio, acompanhada por
Eliza que anda apoiando-se em duas muletas. Edu logo
reconhece Elisa. Agora o olhar dos dois se cruza.
ELISA: - (juntos) Você?
EDU: - (juntos) Você?
CORTE CONTINUIDADE.
CENA 23. DELEGACIA. INTERIOR. DIA.
Lúcia e Fernanda continuam esperando por Gilsinho. Lucia
toma um copo de água. A cam vai buscar Gilsinho que
chega acompanhado por um policial, o menino logo avista
a mãe, ele se solta da mão do policial, grita e sai
correndo em direção a Lucia.
GILSINHO: - (grita) Mãe!
Efeito: Slow motion. Lúcia vira-se e vê o filho. Ela
também corre de encontro a ele. Os dois se abraçam
fortemente.
LÚCIA: - Meu filho, deixa eu te ver. Você ta
bem? Te fizeram alguma coisa? Você
esta machucado? Me fala.
Fernanda, muito emocionada, assiste a cena bem próxima.
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GILSINHO: - Eu to bem, manhê. Eu fiquei com medo
de nunca mais ver nem a senhora, nem
meu pai. Fiquei com saudades até da
chata da Ritinha.
LÚCIA: - Ai, meu filho. Não fala isso. Eu
morria. Mas quem fez isso com você?
Você viu quem te levou?
Close em Gilsinho.
INSERT RÁPIDO. FLASH BACK. CENA 11. CAPÍTULO 24.
MAURO: - Agora você vai esquecer quem eu sou,
vai esquecer pra onde eu te levei, ou
então eu mato os teus pais e ainda
coloco fogo na tua casa. Entendeu?
LUCIA: - E então, Gilsinho? Você viu quem fez
isso com você?
FIM DO CAPÍTULO