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Um puta almoço Nosso bar favorito possui sedes em todos os lugares do país. Em uma de nossas visitas a uma cidade do sudeste, encontramos uma dessas sedes. Bem mais aconchegante e vendia a especialidade da casa: Pão-de- queijo com cerveja preta. Uma maravilha! Parados nesse bar, após uma longa caminhada de 8 km com os amigos, a qual havia iniciado-se com a decisão de que, como a noitada anterior havia sido onerosa aos que participaram, não gastaríamos nossos poucos centavos com transporte. A cidade era linda e nós estávamos a caminho da sede do bar, no centro da cidade. Nem vimos por oito mil metros passarem. Pareceram-se mais com oitocentos mil centímetros. Eu poderia subdividir esse número infinitamente, mas ainda assim, seriam oito kilometros parando minuto-a-minuto pra um dos amigos fotografar o mundo inteiro e a memória da câmera parecia ser um MicroSD-Buraco-Negro-De-Pixels. Ô câmera odiada! Sério, era a cada dez passos uma foto. Não era possível que a bateria e a memória fossem tão grandes. A caminhada tornou-se longa por esse fato, mas ainda assim, curta pelo divertimento. Acontece que a cidade era por inteira bonita e o bar era distante. Com pouco dinheiro no bolso e com muito entusiasmo, os amigos pouco ligavam pro cansaço. Haveria tempo pra isso, a noite. E, conferidas as espessuras dos solados dos tênis, dava pro gasto. Andamos! Percorremos lugares lindos, fomos de trem até outra cidade só pra zoar. Voltamos, tomamos banho em um chafariz, fomos a lugares bonitos e a outros nem tão bonitos. Alguns lugares santos, também, por que não? Lugares de todos os tipos. Às vezes pareciam repetitivos. Visitamos galinheiros!!!!! Imaginem só, senhores, corrida de canoa, onde o mais magro ficou na mesma canoa do mais gordo que, cansou no meio da corrida, tendo de ser rebocado pelo mais magro. Hilariante, a cena do

Um Puta Almoço

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Page 1: Um Puta Almoço

Um puta almoço

Nosso bar favorito possui sedes em todos os lugares do país.

Em uma de nossas visitas a uma cidade do sudeste, encontramos uma dessas sedes.

Bem mais aconchegante e vendia a especialidade da casa: Pão-de-queijo com cerveja preta. Uma maravilha!

Parados nesse bar, após uma longa caminhada de 8 km com os amigos, a qual havia iniciado-se com a decisão de que, como a noitada anterior havia sido onerosa aos que participaram, não gastaríamos nossos poucos centavos com transporte.

A cidade era linda e nós estávamos a caminho da sede do bar, no centro da cidade. Nem vimos por oito mil metros passarem. Pareceram-se mais com oitocentos mil centímetros. Eu poderia subdividir esse número infinitamente, mas ainda assim, seriam oito kilometros parando minuto-a-minuto pra um dos amigos fotografar o mundo inteiro e a memória da câmera parecia ser um MicroSD-Buraco-Negro-De-Pixels.

Ô câmera odiada! Sério, era a cada dez passos uma foto. Não era possível que a bateria e a memória fossem tão grandes. A caminhada tornou-se longa por esse fato, mas ainda assim, curta pelo divertimento. Acontece que a cidade era por inteira bonita e o bar era distante.

Com pouco dinheiro no bolso e com muito entusiasmo, os amigos pouco ligavam pro cansaço. Haveria tempo pra isso, a noite. E, conferidas as espessuras dos solados dos tênis, dava pro gasto. Andamos!

Percorremos lugares lindos, fomos de trem até outra cidade só pra zoar. Voltamos, tomamos banho em um chafariz, fomos a lugares bonitos e a outros nem tão bonitos. Alguns lugares santos, também, por que não? Lugares de todos os tipos. Às vezes pareciam repetitivos. Visitamos galinheiros!!!!!

Imaginem só, senhores, corrida de canoa, onde o mais magro ficou na mesma canoa do mais gordo que, cansou no meio da corrida, tendo de ser rebocado pelo mais magro. Hilariante, a cena do barco inclinado com a proa levantada pelo peso do mais pesado na popa e o magricela se esticando para alcançar a água.

E, então, quando em horário de almoço, chegando na sede do bar, um dos amigos depara-se com a seguinte resolução da visão de tudo o que continha, sua carteira: Só tenho dinheiro pra mais esse almoço.

Os amigos se olham, olham para seus bolsos e para o próximo dia que ainda estaria por vir na cidade antes de mais dois dias de viagem de volta. Olham para o amigo, fazem as contas...

O sábio, pesaroso, um homem bom, uma pessoa incapaz de prostar-se oculto frente a situações como essa, uma pessoa de índole límpia, transparente, incólume, de criteriosos olhares de amizade que nos transmitem solidez em suas palavras e atitudes, um cidadão, cumpridor de seus deveres para consigo e com os demais... Não, ele não poderia deixar que o

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mal assolasse aquele grupo. O bem-estar de seu amigo era prioridade, naquele momento. O céu, então escureceu.

Na penumbra surgida mais que de repente, um clarão surge do céu com foco no batráquio Sábio defensor dos indefesos, passa uma banda marcial tocando um leve e progressivo e rítmico fundo de heroísmo enquanto o sábio enrijece o cenho, franze a testa, olha pronfundamente para todos os amigos, toma fôlego, prepara um peito de pomba e proclama ao fim da música as seguintes palavras de sabedoria:

“Se eu tenho dinheiro pra comer puta, um amigo meu não passa fome”.