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Uma análise sociolinguística em NELL SINOPSE Criada por sua mãe, que em função de um derrame, ficou afásica, ou seja, com distúrbios na fala devido a uma paralisia de um dos lados do corpo por conta de vários problemas do coração, Nell (Jodie Foster) vive até os 30 anos afastada de qualquer contato social, exceto o de sua mãe e sua irmã gêmea que falece ainda criança. Após a morte da mãe, Nell desperta o interesse do Dr. Lovell (Liam Neeson), médico encarregado de zelar por sua i ntegridade e da Dra. Paula (Natasha Richardson), psicóloga que insiste em adequá-la à realidade. Mas será certo civilizar uma pessoa selvagem, sem que ela deseje realmente isto? Vivendo completamente isolada, Nell desenvolveu uma linguagem própria. Por isto, ela só consegue comunicar-se através da dança, da mímica e de um conjunto de expressões bem peculiares. Nell procura ser feliz com as pequenas coisas. E consegue. Um filme comovente e inesquecível, num cenário exuberante, em meio a florestas, lagos e montanhas, onde a inocência está acima de tudo e que abre também uma discussão sobre as necessidades do convívio social na aquisição da língua. Embora não tenha domínio da língua Inglesa, os médicos chegam à conclusão de que ela fala uma variação do Inglês. Variação esta que se refere ao convívio com sua mãe, que era falante nativa de Inglês, porem apresentava dificuldades na fala. ABORDAGEM TEÓRICA Segundo Tânia Maria Alkimim (2004, p. 21), "Linguagem e sociedade estão ligadas entre si de modo inquestionável. Mais do que isso, podemos afirmar que essa relação é a base da constituição do ser humano." Sociolingüística é uma vertente da lingüística que tem como objetivo o estudo da fala em situação de uso que estuda exatamente as associações entre Língua e Sociedade, e como a interferência da sociedade em que estamos influencia na nossa maneira de falar. Alk imim, (apud Maillet) afirma que "[...] a linguagem é, eminentemente um fato social." Segundo BORTONNI-RICARDO (2010 apud Cagliari,1999. p. 3): "[...] as peculiaridades que a língua vai adquirindo com o tempo em função do seu uso por comunidades específicas. ?T odas as variedades, do ponto de vista estrutural lingüístico, são perfeitas e completas entre si. O que as diferencia são os valores sociais que seus membros têm na sociedade. ?" No caso NELL, a personagem não apresenta deficiências mentais, ou alguma dificuldade de aprendizado explícita. Ela adquiriu a língua através do convívio social no qual estava inserida, nesse caso, uma variação do Inglês. Conclui-se então após um período de observação, que a deficiência na linguagem de NELL caracteriza-se como um fenômeno sociolingüístico. Para que pudesse ser feita uma decodificação da linguagem de NELL foi necessária a utilização de convenções de contextualização que são as pistas de natureza sociolingüística que

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Uma análise sociolinguística em NELL

SINOPSE Criada por sua mãe, que em função de um derrame, ficou afásica, ou seja, com

distúrbios na fala devido a uma paralisia de um dos lados do corpo por conta de vários

problemas do coração, Nell (Jodie Foster) vive até os 30 anos afastada de qualquer contato social, exceto o de sua mãe e sua irmã gêmea que falece ainda criança. Após a

morte da mãe, Nell desperta o interesse do Dr. Lovell (Liam Neeson), médico encarregado

de zelar por sua integridade e da Dra. Paula (Natasha Richardson), psicóloga que insiste

em adequá-la à realidade. Mas será certo civilizar uma pessoa selvagem, sem que ela

deseje realmente isto? Vivendo completamente isolada, Nell desenvolveu uma linguagem

própria. Por isto, ela só consegue comunicar-se através da dança, da mímica e de um

conjunto de expressões bem peculiares. Nell procura ser feliz com as pequenas coisas. Econsegue. Um filme comovente e inesquecível, num cenário exuberante, em meio a

florestas, lagos e montanhas, onde a inocência está acima de tudo e que abre também

uma discussão sobre as necessidades do convívio social na aquisição da língua. Embora

não tenha domínio da língua Inglesa, os médicos chegam à conclusão de que ela fala

uma variação do Inglês. Variação esta que se refere ao convívio com sua mãe, que era

falante nativa de Inglês, porem apresentava dificuldades na fala. ABORDAGEM TEÓRICA

Segundo Tânia Maria Alkimim (2004, p. 21), "Linguagem e sociedade estão ligadas entresi de modo inquestionável. Mais do que isso, podemos afirmar que essa relação é a base

da constituição do ser humano." Sociolingüística é uma vertente da lingüística que tem

como objetivo o estudo da fala em situação de uso que estuda exatamente as

associações entre Língua e Sociedade, e como a interferência da sociedade em que

estamos influencia na nossa maneira de falar. Alkimim, (apud Maillet) afirma que "[...] a

linguagem é, eminentemente um fato social." Segundo BORTONNI-RICARDO (2010 apud

Cagliari,1999. p. 3): "[...] as peculiaridades que a língua vai adquirindo com o tempo em

função do seu uso por comunidades específicas. ?Todas as variedades, do ponto de vista

estrutural lingüístico, são perfeitas e completas entre si. O que as diferencia são os

valores sociais que seus membros têm na sociedade. ?" No caso NELL, a personagem

não apresenta deficiências mentais, ou alguma dificuldade de aprendizado explícita. Ela

adquiriu a língua através do convívio social no qual estava inserida, nesse caso, uma

variação do Inglês. Conclui-se então após um período de observação, que a deficiência

na linguagem de NELL caracteriza-se como um fenômeno sociolingüístico. Para que

pudesse ser feita uma decodificação da linguagem de NELL foi necessária a utilização de

convenções de contextualização que são as pistas de natureza sociolingüística que

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utilizamos para sinalizar as nossas intenções comunicativas ou para inferir as intenções

conversacionais do interlocutor. São pistas lingüísticas, como dialeto ou de estilo; pista

paralinguísticas; pausa, o tempo da fala, as hesitações; e ou pistas prosódicas como a

entonação, o acento e o tom, construídas de vários sistemas de sinais culturalmente

estabelecidos. Também há pistas não-vocais tais como o direcionamento do olhar, odistanciamento entre os interlocutores, suas posturas e gestos. Somente após essa

contextualização e decodificação é possível estabelecer alguma comunicação com NELL.

Só assim que o processo de alfabetização poderá ser efetivado. ATUAÇÃO EM SALA DE

AULA COM ALUNOS COMO NELL O processo de ensino do Inglês propriamente dito

seria feito como uma alfabetização utilizando-se dos mesmos meios de ensino de Língua

Estrangeira. Slama-Cazacu (1979, p. 93) destaca que: "A LE poderia ser considerado

como parte da lingüística aplicada e, deste ponto de vista, trata de melhorar o estudo dalíngua materna ou de encontrar métodos mais adequados para levar a aprendizagem de

uma ou de outras línguas estrangeiras." Aplicando esse conceito ao caso NELL,

destacam-se dois pontos: "melhorar o estudo da língua materna" ou "encontrar métodos

mais adequados para levar a aprendizagem de uma ou de outras línguas estrangeiras"

Nell fala Inglês, no filme isso é observado pela Dra. Paula. Ao observar a maneira de Nell

se comunicar por dias, ela compreende que ela fala o Inglês, mas de uma forma particular 

através de palavras como: KAY - CRY BIN - BEEN SPEE - SPEAK AF - AFTER GA? INJA

- GUARD ANGEL T'EE - TREE EVA'DUR - EVILDOERS Entretanto, Nell não tem

consciência de que sua língua precisa ser melhorada, nesse caso entraria o processo de

aprendizado de uma nova língua. "A linguagem é uma ferramenta social, pelo que, para

aprender a comunicar, [...] necessitam de: sentir essa necessidade; ouvir os outros a falar 

e ser ouvidas; ter oportunidade para imitar sons e palavras; ter um ambiente estimulante,

com reação ajustada às suas respostas" (COSTA, 2010) Podemos observar no filme, que

o convívio com Jerry e Paula faz com que Nell aprenda a maneira que eles se

comunicavam. A necessidade da comunicação, e a convivência deram a ela a

oportunidade de aprender a se comunicar na língua que eles falavam. E este estímulo é

necessário para o aprendizado. Com certeza, para um professor, ensinar um aluno com

as dificuldades que NELL apresenta é desafiador. Em Inclusão: um guia para Educadores,

Susan e William Stainback (1999, p. 354) acreditam que no ensino desafiador, como seria

o caso de Nell, é necessário que: "Antes de tomar decisões sobre a melhor maneira de

abordar um aluno com comportamento desafiador, é importante, em primeiro lugar,

observar cuidadosamente como pensamos e falamos sobre tal comportamento. Isso é

muito importante, pois a maneira como enxergamos o comportamento do aluno determina

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como. ? Estruturamos ou definimos o problema ? Selecionamos os objetivos ?

Escolhemos os procedimentos de intervenção adequados ? "Definimos o sucesso." Nell

não apresenta problemas cognitivos de aprendizado. Apresenta um comportamento

desafiador, que é respaldado pela maneira como viveu por 30 anos. É necessário para o

professor entender essa situação e a partir daí traçar os objetivos de aprendizado, nessecaso, que ela conheça e passe a se comunicar de maneira que possa entender e ser 

compreendida no meio. Para abordar Nell de maneira a conseguir esses objetivos, o

professor pode seguir mais esses passos dados por Susan e William Stainback ( 1999, p.

359) fazendo o aluno compreenda que: "É seguro estar comigo pode confiar em mim."

Assim como Jerry e Paula fizeram com Nell, a ponto de Nell reconhecer Jerry como anjo

da guarda. Mostrar que ela pode confiar no professor. "Será interessante, divertido,

envolvente e de alguma maneira compensador cooperar e trabalhar comigo." Mostrar quenão é algo forçado, mas algo que ela vai gostar de fazer. "Será benéfico fazer uma

modificação no comportamento, aprender uma nova habilidade, adquirir competência ou

reduzir o comportamento problemático." Mostrar a Nell, que o convívio social é uma coisa

boa, e que adquirir a habilidade de se comunicar bem a ajudaria a estar mais segura na

sociedade. Nell como adulta deve ser alfabetizada em uma turma para alfabetização de

adultos. O convívio social e a interação com os colegas e o professor são indispensáveis

na aquisição de uma L2. (L2, dado que ela conviveria no meio em que a língua é falada.)

Para alcançar a confiança de Nell, o professor terá que interagir com ela. A observação do

seu comportamento, diz muito a respeito do que ela quer comunicar. Nell é muito

expressiva. Nesse caso, um conhecimento, obtido por meio de observação da sua

linguagem não verbal, ajudaria a estudar a linguagem verbal dela, assim, ensiná-la a

expressar esse mesmo sentimento em L2. "O conhecimento adquirido sobre a linguagem

não-verbal pode servir ao estudo da linguagem verbal." (Correa, 2003, p. 19) Conclusão

Concluimos, assim, que a tarefa de alfabetizar Nell não seria fácil. Contudo o professor 

em questão deve levar em conta os fatores explicitados acima e assim interagir de forma

correta com o aluno. De forma que este venha a se sentir seguro em relação ao ambiente

escolar, professor e colegas. Notamos então que toda e qualquer pessoa é passível de

aprendizado em conjunto; e que esta interação social certamente faz a diferença quando

se tratando de alcançar o objetivo esperado. Referências: BORTONNI-RICARDO, Stella

Maris. Métodos de alfabetização e consciência fonológica: o tratamento de regras de

variação e mudança. Disponível em: Acesso em 21 set 2010. CAVALCANTE, Maria

Auxiliadora da Silva. Procedimentos Metodológicos para abordar questões de Variação

Lingüística em uma turma da Educação de jovens e adultos. Disponível em: Acesso em

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21 set 2010. CORREA, Manoel Luiz Gonçalves. Linguagem e Comunicação Social:

Visões da Lingüística Moderna. Ed. Parábola, São Paulo, 2002 COSTA, Sandra.

Perturbações da Linguagem (Parte I) disponível em acesso em 02 set . 2010 NELL .

Direção: Michael Apted. Produção: Renee Missel e Jodie Foster. Protagonistas: Jodie

Foster, Liam Neeson e Natasha Richardson. FoxVideo, 1995. 115 min. MUSSALIN,Fernanda; BENTES, Anna Christina; et al. Introdução a Linguística. Domínios e

Fronteiras. Cortez. 4 ed, São Paulo, 2004. SLAMA-CAZACU, Tatiana. Pscicologia

Aplicada ao Ensino de Línguas. Ed. Pioneira. São Paulo, 1979 SOUZA, Maria Alves de.

Oralidade e Aquisição da Linguagem Escrita. Disponível em: Acesso em 21 set 2010

STAINBACK, Susan; STAINBACK, William. Inclusão: Um guia para educadores. Ed.

Artmed, porto alegre, 1999.