Upload
vantuyen
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UMA GUERRA, DUAS VOZES: a visão do Deutscher Morgen sobre a Segunda Guerra
Mundial
Claiton da Silva1
Tailor Elias Giombelli2
Palavras-chave: imprensa, nazismo e propaganda.
1. Introdução
O objetivo geral deste trabalho é analisar o processo de construção de uma ideologia que
favorece à atuação da Alemanha na Segunda Guerra Mundial através do periódico e Deutscher
Morgen. O jornal incentivam a tomada de posição de seus leitores pela guerra, partindo do ponto de
vista da nação à qual pertence. o jornal é produzido pela agência do Partido Nazista no Brasil, tendo
como redator-chefe Hans Henning Von Cossel, que era o chefe do partido. O jornal Deutscher
Morgen, será analisado no período de:1939 à 1941 (período em que o Brasil ainda não tinha uma
posição sobre a guerra e permanecia como país neutro), sendo estes o período em que foi publicado
em português.
Desse modo, é importante ressaltar que o trabalho não se concentrará no público-alvo ou na
receptação do jornal, mas como o jornal faz a construção dos países que entendem como ‘inimigos’'
ou ‘aliados’, utilizando-se de diferentes e complexas estratégias discursivas, tais como: argumentos,
falas, fotos e charges.
A motivação em trazer um debate envolvendo jornais produzidos por uma nação que foi
derrota nesse conflito, demonstrado não somente a visão dos vitoriosos sobre o conflito, mas
também a propagandística de guerra, e que não ocorre apenas em um determinado país: neste
sentido, procuraremos entender o processo de fabricação de consenso, utilizando o conceito do
linguista norte-americano Noam Chomsky: a propaganda para a sociedade deve ter o intuito de
manipular a opinião das massas, fazendo com que os indivíduos passem por uma doutrinação, seja
ela financiada pelo Estado ou por classes dominantes.3
1 Orientador e professor do curso de História da Universidade Federal da Fronteira Sul- campus Chapecó,
2 Acadêmico da 9ª fase do curso de História da Universidade Federal da Fronteira Sul- campus Chapecó,
3 CHOMSKY, Noam. Mídia: propaganda política e manipulação. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,
É pertinente estudar a imprensa, pois está, é importante na formação de ideias perante fatos,
sendo que ha diferentes formas de se ver um conflito ou até mesmo movimentos políticos, mas se
dever ter alguns cuidados como quais são as pretensões do jornal:
Daí a importância de se identificar cuidadosamente o grupo responsável pela linha
editorial, estabelecer os colaboradores mais assíduos, atentar para a escolha do título e
para os textos programáticos, que dão conta de intenções e expectativas, além de fornecer
pistas a respeito da leitura de passado e de futuro compartilhada por seus propugnadores.4
Portanto, como o jornal se propõem apresentar uma imagem de outras nações em meio ao
conflito, é importante analisar sua produção, origem e estrutura.
O livro “Mídia propaganda política e manipulação” de Noam Chomsky, problematiza
diversas questões sobre a mídia, utilizando-se de exemplos da mídia estadunidense. Em seu início
busca fazer uma breve introdução sobre o contexto histórico, buscando demonstrar como a
propaganda americana foi utilizada em diferentes momentos, fazendo com que a opinião da
população americana sofra mudanças. O autor utiliza de exemplos para fundamentar suas opiniões,
como, por exemplo, a propaganda feita por jornais americanos durante a primeira guerra mundial,
fazendo como que a população americana passasse de passiva à fervorosa em poucos meses: “Foi
construída uma comissão de propaganda governamental, a Comissão Creeel, que conseguiu, em seis
meses, transformar uma população pacifista numa população histérica e belicosa[...]”5.
É importante citar que após 1933, alguns ideólogos antissemitas foram incorporados na
propaganda nazista, os mais importantes são Joseph Goebbels, Alfred Rosenberg e Otto Drietrich,
porém segundo Herf, Goebbels era o “principal propagandista” e disseminador da ideóloga
antissemita, dessa forma Goebbels chegou a ser diretor do “Ministério da Propaganda” onde foi
responsável pela disseminação da propaganda nazista.6
Não podemos deixar de ter em mente o que Robert Darnton cita sobre a imprensa, ao fazer
uma análise sobre a importância da imprensa durante diversos momentos históricos, dessa forma a
imprensa é uma força ativa e manipuladora da opinião: “Mas a prensa tipográfica ajudou a dar
forma aos eventos que registrava. Foi uma força ativa na história, especialmente durante a década
2013. 4 PINSKY. Carla Bassanezi (org.). Fontes históricas. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2008, p. 140.
5 CHOMSKY, Noam. Mídia: propaganda política e manipulação. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,
2013, p. 11. 6 HERF, Jeffrey. Inimigo judeu: propaganda nazista durante a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto. São
Paulo: EDIPRO, 2014.
de 1789-1799, quando a luta pelo poder foi uma luta pelo domínio da opinião pública”7
Mesmo que Darnton se referia a um período histórico diferente, a imprensa ainda sim foi e
continua sendo um importante meio de comunicação e criação de opinião, seja qual for seu período.
2. A guerra do jornal deutscher morgen
O jornal Deutscher Morgen (Aurora Alemã), publicado no Brasil entre os anos de 1932-
1941, era um periódico semanal do Partido Nazista no Brasil, tinha como uma de suas principais
metas difundir as ideias do nazismo para a comunidade alemã. O conselho editorial era formado
portanto por Hans Hening Von Cossel (chefe nacional do Partido Nazista no Brasil) redator-chefe,
Ernst Sommer gerente e Hans Lucke que era membro do partido nazista em São Paulo. A redação
do jornal estava localizada em São Paulo na rua da Mooca nº 38 e posteriormente teve transferência
para a rua Vitória,2008.
O jornal até os anos de 1939 era escrito somente em língua alemã, a partir desse ano até 29
de agosto de 1941 o jornal também trazia partes em língua portuguesa. Já em 5 de setembro de 1941
o jornal passa a ter unicamente a língua portuguesa, e a inscrição em alemã Deutscher Morgen não
aparece nas próximas edições e é substituída pelo nome de Aurora Alemã9.
O jornal Deutscher Morgen foi logo em seus primeiros anos investigado pelo DEOPS, que
confiscou no ano de 1932 os periódicos de 16 e 23 de março. Em 1940 os donos do Deutscher
Morgen Hebert Sack e o casal Ernst e Ernestina Sommer foram indiciados em um inquérito
policial10.
O jornal não escondia seu caráter ideológico nazista, desferindo em suas páginas a luta
contra o comunismo e principalmente o judaísmo, utilizando-se de fotos, charges, manchetes e
discursos. O jornal traz em suas páginas, notícias da Alemanha e principalmente como começo dos
conflitos que originaram a segunda guerra mundial, notícias de guerra e informações sobre a
campanha do exército alemão. É importante lembra que a análise desse jornal se deteve aos anos de
1939 à 1941, período em que o jornal passa a ter também a linguagem portuguesa em suas páginas.
A estrutura do jornal é bem simples, mas merece alguma atenção, o jornal é composto
7 DARNTON, Robert; ROCHE, Daniel (orgs.). A Revolução Impressa: A Imprensa na França, 1775-1800. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996, p. 15.
8 CARNEIRO, Maria Luiza Tucci; KOSSOY, Boris (orgs.). A imprensa confiscada pelo deops: 1924 – 1954.
São Paulo: Ateliê Editorial; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Arquivo do Estado, 2003, p. 126. 9 O jornal mantém o nome de Aurora Alemã
10 CARNEIRO, Maria Luiza Tucci; KOSSOY, Boris (orgs.). A imprensa confiscada pelo deops: 1924 – 1954.
São Paulo: Ateliê Editorial; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Arquivo do Estado, 2003, p. 126.
geralmente de vinte páginas, sendo que entre quatro a sete páginas são destinadas a somente
material iconográfico. A linguagem presente no jornal como citado anteriormente traz duas
linguagens em suas páginas, mas até certo ponto, pois a partir da página cinco a linguagem em
português e retirada e somente o alemão se mantêm, algo muito curioso para ser analisado, mas esse
trabalho não se aterá sobre esse aspecto.
Existiam muitas propagandas nas páginas do jornal Deutscher Morgen, principalmente
empresas ligadas a comunidade alemã e ao país da Alemanha como por exemplo: a cerveja Brahma,
e o “Banco Allemão Transatlantico” entre outros que traziam somente a escrita em alemão em seus
anúncios, o que demostra a quem era o jornal era destinado (comunidade alemã).
Muita eram as firmas alemãs que anunciavam no jornal – relojoarias, consultórios
dentários, confeitarias, restaurastes, bares, tinturarias, livrarias, expressando o
comprometimento da comunidade alemã com o ideário sustentado por este (docs.42 e 43).
Além de anúncios, o jornal publicava também charadas, piadas e poesia, cujos conteúdos
colaboravam – ainda que de forma sutil – para a ‘catequese’ nazista11
Por um lado o jornal obtinha financiamento com as propagandas para a sua circulação e por
outro lado o jornal Deutscher Morgen trazia um objetivo ainda maior:
Há vários anúncios que convidam a comunidade alemã de São Paulo a comparecer às
palestras e aos encontros do Partido Nazista aqui estabelecido. Dessa forma, os redatores do
Deutscher Morgen pretendiam informar ao alemão residente no estrangeiro a situação de
sua Pátria, convidando-o a aderir ao nazismo e ao clima nacionalista da Alemanha dos anos
de 1930. Pelo conteúdo das reportagens prevalece a idéia de que a lealdade à Patria-mãe
estava ligada ao apelo de engajamento político do imigrante alemão12
Como a comunidade alemã era consideravelmente grande no Brasil, o jornal também trazia
a doutrinação à ideologia nazista para toda uma comunidade filiada ao partido espalhada no Brasil
entre 1930 à 194013. Números consideráveis, já que os partidários não se encontravam somente nas
cidades e espaços urbanos, mas também na zona rural como Dientrich esclarece, citando que a
doutrinação não ocorria somente pelos partidários, mas através de escolas, rádios, o uso da
linguagem alemã e é claro jornais vinculados ao Partido Nazista alemão14.
Outro fato que Dientrich discorre, é sobre a ligação entre Alemanha e seu povo, essa ligação
11 DIETRICH, Ana Maria. Caça às suásticas: o Partido Nazista em São Paulo sob a mira da Polícia Política.
São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Fapesp, 2007, p. 299. 12 DIETRICH, Ana Maria. Caça às suásticas: o Partido Nazista em São Paulo sob a mira da Polícia Política.
São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Fapesp, 2007, p. 296. 13 Princialmente nas regiões sudeste com 45.590 partidários e no sul 38.913 Dientrich pg. 220 Tese de
doutorado.
14 DIETRICH, Ana Maria. Caça às suásticas: o Partido Nazista em São Paulo sob a mira da Polícia Política.
São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Fapesp, 2007, p. 267.
estaria vinculada ao sangue alemão, não importando o lugar onde estaria:
Não importaria o lugar onde os alemães morassem, mas sim os laços de sangue. Eles
tinham o dever de prestar fidelidade a sua Pátria Mãe. Foram encontradas expressões no
primeiro número do jornal Deutscher Morgen, que se referem a um ‘despertar’, ‘acordar’
desta comunidade alemã ao 'novo tempo' que estava surgindo na Alemanha com o
movimento nacional-socialista. Neste sentido, a propaganda nazista enfatizou a
responsabilidade do alemão no exterior que, mesmo morando fora de seu país, deveria
corresponder aos apelos de sua pátria15.
Dessa forma com uma comunidade alemã bem ampla e articula com a Auslandsorganisation
der NSDAP (organização do partido nazista no exterior), a comunidade alemã se mostra um
importante grupo se analisarmos o contexto entre Brasil-Alemanha anteriormente e durante o
conflito que ocorreram durante os anos de 1939 à 1945, período em as mudanças e a opinião
pública se mostravam importante para um conflito, como Chomsky descreve em seu livro Mídia,
propaganda política e manipulação, ao falar sobre a propaganda de guerra ele cita o exemplo da
mídia norte-americana e o que podemos aprender com ela “[…] a propaganda política patrocinada
pelo Estado, quando apoiada pelas classes instruídas e quando não existe espaço para contestá-la,
pode ter consequências importantes. Foi uma lição aprendida por Hitler e por muitos outros e que
tem sido adotada até os dias de hoje.”16
2.1 Atacar para defender
Com o começo da invasão alemão sobre a polônia em 1 de setembro de 1939, o jornal
alemão Deutscher Morgen, começa a noticiar sobre o conflito,17 na primeira edição depois do
ataque alemão sobre a polônia a edição número 36, de 8 de setembro, trás um pequeno texto na
primeira página intitulado “Calculos falhos dos inglezes” que comenta o porque do ataque alemão,
segundo o jornal a grande motivação seria que: os ingleses não estariam dispostos a devolver a
cidade de Dantzig que possuiria 400.000 habitantes alemães ao Reich alemão, culminado na
invasão alemã. Ainda nesse pequeno texto o jornal deixa claro, que o conflito que está ocorrendo na
Polônia está “em torno do imperio mundial britannico”18 o que passa a impressão que o grande
motivador e vilão do conflito é a Inglaterra. Encerando esse pequeno texto o jornal Deutscher
Morgen, enfatiza o erro que o governo polonês cometeu, confiando nos aviões ingleses, nas
15 DIETRICH, Ana Maria. Nazismo Tropical? O partido nazista no Brasil. São Paulo, 2007, p. 153.
16 CHOMSKY, Noam. Mídia: propaganda política e manipulação. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,
2013, p. 13. 17 Em um primeiro momento não se tem a noção do conflito em grande escala, mas se compreende como um
conflito regional que pode se expandir para outros países.
18 Deustche Morgen, ed. 36, 1939, p. 1, 8- Set.
baionetas francesas e a boa vontade pró paz da Alemanha; enfatizando dessa forma a culpa dos
ingleses na conflito e a busca pela paz do governo alemão. Além disso, a propaganda em que Hitler
se beseava antes de começar o conflito contra a Polônia e descrita por Jeffrey Herf :
“Hitler iniciou a Segunda Guerra Mundial com um ato de agressão gratuita, apoiado por
projeções e mentiras sobre um incidente na fronteira que o regime havia fabricado. Era a
culminância de meses de propaganda culpando a Polônia pela guerra que Hitler planejava
começar”19
Com relação a esse fato, podemos relevar a ideia de Chomsky, em que ele deixa claro que,
quando uma nação invade outra, é necessário passar a impressão que na verdade o que está
ocorrendo e uma atitude defensiva; O que ocorre nesse momento e uma inversão de “invasor e
invadido”, o ataque só ocorre para a defesa e por isso ela se torna legitima20. Portanto, fica evidente
na visão do jornal, quem é o “vilão” do conflito, quando é noticiado que o governo alemão quer a
cidade de Dantzig de volta a sua nação, a frase “devolver a cidade de Dantzig” que está no jornal,
remate que a cidade já pertencia a Alemanha e portanto e dela por direito, além da grande
quantidade de alemães na cidade, que contribuem para a legitimidade da exigência. A Alemanha
também busca a paz, mas o criador do conflito segundo o jornal é a Inglaterra.
O jornal faz diversas acusações, sobre o conflito que ocorre contra a Inglaterra, na edição
41, de 1940, datada de 11 de outubro. A legenda da foto “bombas inglezas sobre objetivos não-
militares em Berlin”21 já indica os alvos atingidos por aviões Ingleses. Uma outra foto ao lado, trás
também o efeito das bombas inglesas em alvo não militares, nesse caso o alvo segundo o jornal, a
Igreja do Coração de Maria de Hamm. Os aviadores ingleses ainda são chamados de “piratas
19 HERF, Jeffrey. Inimigo judeu: propaganda nazista durante a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto. São
Paulo: EDIPRO, p.102, 2014.
20 CHOMSKY, Noam. Mídia: propaganda política e manipulação. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,
2013. 21 Deuscher Morgen , ed. 41, 1940, p. 5, 11-Out.
Figura 1: Deuscher Morgen , ed. 41, 1940, página 5, 11-Outubro.
nocturnos inglezes”. O termo pirata abre um leque de interpretações perante o leitor, percebe-se que
no caso da legenda, a palavra usada para descrever os aviadores ingleses remete ao barbarismo ou a
quem aterroriza populações civis, ou até mesmo, quem não segue regras.
Outro momento em que é destacado o ataque inglês a alvos não militares, está na edição 42
do ano de 1940, do dia 18 de outubro. O jornal novamente enfatiza o ataque, mas agora com vítimas
de um sanatório, que totalizaram 9 crianças mortas e 12 feridas. Esse ato foi caracterizada nas
páginas do jornal como “o mais barbaro e infame dos crimes” feitos pelos pilotos ingleses. A
seleção dessas publicações que acusam os ataques ingleses sobre áreas não militares demostrando
os ataques ao povo alemão, podem ter duas análises pontuais; o simples fatos do jornal Deutscher
Morgen trazer essas imagens para suas páginas, já podem ser interpretadas como uma tentativa do
jornal fazer com que, seu leitor tenha uma tomada de posição sobre o conflito, pois quem ataca civis
e mata crianças, não é a Alemanha de Hitler, mas sim aviadores ingleses que propositalmente
atacam hospitais e áreas residenciais. Outro ponto a ser analisado é como os aviadores ingleses são
caracterizados pelo jornal, como por exemplo: bárbaros, piratas e que sem piedade atacam civis
inocentes e que passa a interpretação de legitimidade dos ataques alemães sobre a Inglaterra, já que
seria uma atitude de defesa perante as “atrocidades inglesas”.
Portanto é clara a ideia transmitida através do jornal Deutscher Morgen, quando expõe os
ataques sofridos sobre o “povo alemão”, o que legitima os ataques deferidos pelos exercito alemão
sobre outra nação. Como foi exemplificado acima no texto, existem algumas características que são
usadas para definir esses ataques sofridos a nação alemã, como o jornal expõe. Os ataques sempre
são contra uma população indefesa, portanto civil, alvos não militares como hospitais, e são mortos
nesses ataques até mesmo crianças. Além, de haver uma perseguição sobre o povo germânico, como
é retratado no caso das escolas alemãs na Polônia, passando a ideia sobre os conflitos que envolvem
a Alemanha em que, alemães estão sendo atacados impiedosamente e brutalmente, criando um
imaginário de vilão ao inimigo alemão.
2.2 Contra quem a Alemanha luta
Se existe uma guerra a ser travada existe um inimigo a ser combatido, mas contra quem a
Alemanha luta e como o inimigo alemão é construído na visão do jornal Deutscher Morgen?
Ao contrário da União Soviética as publicações antissemitas e contrária a Inglaterra
continuaram a ser publicadas. Uma importante publicação datada de 6 de setembro de 1940, consta
um importante registro sobre a visão do Deutscher Morgen sobre a população inglesa, com um
título chamado de “Isto é a Inglaterra”, o jornal publica uma série de três fotos juntamente a uma
pequena legenda, que anuncia o lançamento de uma obra que é dada a autoria ao Dr. Wilheim
Zieger a pedido do “Ministério de Propaganda e Orientação popular da Allemanha”, Zieger escreve
sobre a democracia inglesa. Segundo o jornal, o trabalho do Dr. Wilheim Zieger acabou de ser
publicado, desmascarando o que é chamado de “pseudo-democracia ingleza” e a miséria em que o
povo inglês está naquele momento22.
A partir de três imagens, a estrutura da sociedade britânica e exemplificada pelo jornal,
desse modo todas as imagens trazem crianças oriundas de alguma classe social. Na primeira
fotografia demonstra-se três crianças aparentemente bem-vestidas, filhos de aristocratas que
segundo o jornal não andam pelas ruas mais pobres da Inglaterra, na segunda imagem outras três
crianças filhas de plutocratas a bordo de um navio sobre águas americanas, dando a atenção ao fato
de terem poder aquisitivo para fugir da guerra segundo o jornal, enquanto na última imagem, as
crianças são filhos de operários e portanto não possuem como sair da Inglaterra, e tendem a ficar
como na fotografia mostra em porões23. As três imagens chamativas, com as legendas que colocam
em foco a desigualdade dentro da social inglesa, demonstram que classes mais abastadas filhos de
aristocratas e plutocratas circulam nas ruas e tem condições de fugir da guerra, enquanto a classe
operária amargura a miséria.
O
utro
ponto
funda
menta
l para
enten
der as
ideias
entrel
22 Deutscher Morgen, ed. 36, 1940, 6-Set.
23 Deutscher Morgen, ed. 36, 1940, 6-Set.
Figura 2: Deutscher Morgen, ed. 36, 1940, 6-Setembro.
açadas ao jornal Deutscher Morgen, são os discursos de Hitler, já que o jornal era vinculado ao
partido nazista. Para expor suas ideias trazem a transcrição do discurso do membro maior do partido
nazista: Adolf Hitler. Como Herf em seu livro a importância de Hitler: “Hitler permaneceu como o
principal narrador e propagandista. Seus discursos veiculavam por escrito na imprensa, eram
transmitidos nas rádios e trechos selecionados apareciam em centenas de milhares de pôsteres.”24
Na transcrição do discurso presente no jornal do dia 10 de outubro de 1941. Hitler expõe o
desejo de paz e conciliação com o primeiro-ministro da Inglaterra Wiston Churchill: “Nos meses em
que eu me esforcei em obter um entendimento, o sr. Churchill só tinha sempre uma única
exclamação: eu quero uma guerra. Ele a tem agora”25. Hitler portanto continua com seu discurso
enfatizando a necessidade que Churchill e seus colaboradores de procurarem uma guerra, Hitler
também cita a felicidade dos mesmos ao saberem que o conflito se iniciava no dia 1 de setembro de
193926. Hitler cita a Inglaterra como uma provocadora do conflito entre alemães e poloneses.
Portanto, Hitler em seu discurso cria uma imagem “maléfica” dos governantes inglês, chegando a
descrevê-los como insanos ao falar da procura de uma guerra por parte de Churchill.
Com o início da guerra contra a União Soviética o jornal Deutscher Morgen, volta a fazer
uma campanha anticomunista intensa. A primeira publicação em que se pode notar o
anticomunismo nas páginas do jornal, está datada de 27 de junho de 1941, que em sua manchete
está escrito “Os 'stukas' arrasaram o quartel general sovietico!” descrevendo o primeiro ataque
alemão sobre a União Soviética, mas o que chama atenção na primeira página é um pequeno texto
intitulado de “Churchill, inimigo ou amigo dos comunistas?” que cita as contradições e o
alinhamento dos ingleses juntamente aos soviéticos, segundo o texto, Churchill se mostrou um
grande inimigo dos comunistas em discursos proferidos na câmara dos comuns, e o próprio teria
frisado que não retiraria uma única palavra dita anteriormente27.
Segundo o jornal Churchill abandonaria esse discurso contra o comunismo e usando de suas
habilidades para encontrar o que é chamado de “desculpa rabuscada” para se aproximar dos
comunistas e, acabar com o que Churchill mencionou de “sede de sangue de Hitler”. Ainda nesse
texto, o jornal enfatiza que Hitler buscou barrar “o perigo mundial do comunismo” através do
tratado de paz entre União Soviética e Alemanha, sendo que esse tratado, evitaria um derramamento
24 HERF, Jeffrey. Inimigo judeu: propaganda nazista durante a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto. São
Paulo: EDIPRO, 2014, p. 59.
25 Deutscher Morgen, ed. 41, 1941, p. 4, 10-Out.
26 Deutscher Morgen, ed. 41, 1941, 10-Out.
27 Deutscher Morgen, ed. 26, 1941, 27-Jun.
de sangue e a paz perduraria entre as nações e seria de beneficio de todo o mundo, mas o jornal
esclarece “O pacto de não agressão que a Alemanha havia firmado com o Estado russo redundária
em grande benefício para todo o mundo, embora os bolchevistas o tivessem rasgado logo depois”28.
Mas o pacto de Churchill libertou as “algemas” que seguravam os russos, e dessa forma o povo
russo marcham contra todo o povo europeu, destruindo a sua cultura e suas crenças. O jornal em
uma mesma frase justifica o pacto entre russos e alemãs e ataca o pacto entre ingleses e russos: “O
pacto de Hitler foi um ato de paz: o pacto de Churchill com a rubra Moscou é uma ação de guerra
mortífera brotada do pavor insano dêsse <pai da segunda guerra mundial> ante o desmoronamento
fatal frente a Temis vingadora.”29 Churchill é declarado como da “pai da segunda guerra mundial” o
grande vilão e incitador portanto do conflito, além disso, ao mesmo tempo em que o pacto feito
entre a Alemanha e União Soviética é enaltecida, por ser um ato supostamente de paz feito por
Hitler, o pacto de Churchill e o revés da paz, um pacto feito com a União Soviética para causar mais
conflitos e mortes.
A figura construída em torno de Churchill foge a sanidade mental do primeiro-ministro
inglês, Churchill é descrito como uma pessoa sedenta por conflito buscando a guerra e a destruição
a qualquer custa da Alemanha, contrária a figura construída em torno de Hitler, que mesmo com
ideologias diferentes, propôs a paz e a conciliação entre os povos.
O jornal Deutscher Morgen, ao citar o comunismo faz com que ingleses e soviéticos sejam
pertencentes a uma única nação, ou até, que ambos só teriam chagado a um acordo para um único
fim: destruir o povo alemão. Dessa forma criam na população um medo, esclarece que a população
de modo geral não tem motivos para se aventurar em conflitos, portanto e necessário criar medo,
amedrontá-las é nessa perspectiva que a construção de um inimigo poderoso e que se une contra a
Alemanha é criado.30
2.3 O inimigo judeu
O jornal Deutscher Morgen publica uma série de reportagens que procura enquadrar os
inimigos da Alemanha ao chamado “povo judeu”. Também são descritas elementos da vida desse
suposto grupo. Nesse capítulo procurarei entender demostrar como o conceito antissemita se
enquadra nas páginas do jornal e como e formado o maior inimigo alemão.
28 Deuscher Morgen, ed. 26, 1941, pg 1, 27-Jun.
29 Deuscher Morgen, ed. 26, 1941, pg 1, 27-Jun.
30 CHOMSKY, Noam. Mídia: propaganda política e manipulação. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,
2013.
Herf seu livro o inimigo Judeu, demonstra como os alemães enquadraram e criaram através
da propaganda antissemita um inimigo de proporções inimagináveis, o que o jornal Deutscher
Morgen e a propaganda nazista chamou de Judaísmo Internacional. Os judeus por tanto, ganham
nas páginas do Deutscher Morgen um papel na guerra fundamental, pois segundo o jornal são eles
juntamente a lideres de outras nações usados como fantoches, para chegar a um objetivo: a
dominação mundial.31
Os judeus ganham várias atribuições perante o jornal, a mais notória é a incitação da guerra
e ódio supostamente feita pelo grupo religioso, o título de uma matéria já resume como o jornal
descrevem o povo judeu: “Judaismo Massacrador de Povos”. A matéria tem como principal
proposta, demonstrar através de fatos supostamente históricos e bíblicos como foi a história do
judaísmo na tentativa de dominação mundial. Em diversas passagens do texto a uma clara menção a
ideologia racial, onde arianos são visto como o povo de deus. O jornal ainda invoca o profeta Ageu,
que segundo o jornal supostamente já preveria o domínio dos povos pelo “povo judeu”. As
passagens bíblicas são amplamente usadas ao decorrer do discurso, para descrever o que é chamado
de “Fatos históricos demonstrativos das trapaças judaicas para a obtenção do domínio mundial”32.
Outra parte da matéria, leva o subtítulo de “O ódio – um elemento da vida do judeu”; o jornal ainda
cita que desde o surgimento do judaísmo, o que tem se propagado por esse “povo” são a
intolerância e o ódio sobre os que o jornal chama de não judeus33. Fica evidente o antissemitismo
nas páginas do Deutscher Morgen, a propaganda perante o povo judeu, demonstra uma guerra
travada pelos Terceiro Reich que combate o que parece ser o fruto de diversas guerras ao longo dos
séculos, já que o judeu é declarado como o incitador de guerras. Outro ponto que podemos analisar,
é a utilização de um livro que é visto por muitos leitores como algo divino, livro esse a bíblia, e
portanto aos leitores religiosos, é mais do que suficiente para comprovar o que o jornal expõe. O
uso da bíblia também pode ser visto perante o leitor como uma ato premeditado do “povo judeu”.
Na edição 39 de 1941, o jornal Aurora alemã, em uma página destinada a fotografias, expõe
uma foto de um grupo de trabalhadores que carregam com sigo um pá, a frente desse grupo um
homem vestindo o que parece ser uma farda militar, fazendo um sinal de continência.
31 HERF, Jeffrey. Inimigo judeu: propaganda nazista durante a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto. São
Paulo: EDIPRO, 2014.
32 Aurora alemã, ed. 36, 1941, p. 4, 5-Set.
33 Aurora alemã, ed. 36, 1941, p. 4, 5-Set.
Na
legenda
da
imagem é
exposto
que os
homens
que
seguem
com as
pás nas
mãos, são
judeus,
enquanto
o homem
a sua
frente é um “natural do país”. Trago essa imagem para demonstrar um outro elemento na construção
do judeu, segundo é claro o jornal Aurora alemã, e em diversas passagens inclusive nessa o judeu
não é visto como um trabalhador digno ou alguém que produz algo e com esse trabalho ganha seu
dinheiro, mas alguém que usurpa a riqueza alheia beneficiando-se de “outros povos” como inclusive
o povo alemão. É nessa visão que o nazismo empregou os “culpados” pela crise alemã durante a
República de Weimar, “Responsabilizavam os 'judeus marxistas' e os partidos republicanos que
haviam assinado o tratado de paz, pela situação desesperada em que se encontrava o país."34 dessa
forma, a imagem do judeu na Alemanha perpassa o começo da Segunda Guerra Mundial, aplicando-
se anteriormente ao conflito.
3. Considerações Finais
O jornal Deutscher Morgen foi um importante meio de divulgação do nazismo no Brasil, já
34 ALMEIDA, Ângela Mendes de. A República de Weimar e a ascensão do nazismo. São Paulo: Editora
brasiliense, 1982, p. 102.
Figura 3: Aurora Alemã, ed. 39, 1941, página 9. 26-Setembro.
que o mesmo era vinculado ao partido. Dessa forma, o período de análise do jornal, se passa durante
a Segunda Guerra Mundial, na qual a Alemanha se encontra envolvida. Assim, o jornal se propõe a
divulgar notícias do conflito, a partir das concepções do partido nazista.
Com a análise do jornal, foi perceptível que na visão dos redatores do mesmo, divulgou-se a
ideia de que os inimigos da Alemanha e da paz mundial, seriam: os judeus, comunistas e, os
ingleses. Partindo dessa ideia, passou-se a interpretação de que os alemães eram os oprimidos, e não
os opressores. Portanto, o jornal tem intuito de propagandear os conceitos nazistas a partir da
Segunda Guerra Mundial em prol da Alemanha, criando opressores e oprimidas, baseando-se nas
publicações feitas.
REFERÊNCIAS:
ALMEIDA, Ângela Mendes de. A República de Weimar e a ascensão do nazismo. São Paulo:
Editora brasiliense, 1982.
CARNEIRO, Maria Luiza Tucci; KOSSOY, Boris (orgs.). A imprensa confiscada pelo deops:
1924 – 1954. São Paulo: Ateliê Editorial; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Arquivo do
Estado, 2003.
CHOMSKY, Noam. Mídia: propaganda política e manipulação. São Paulo: Editora WMF Martins
Fontes, 2013.
DARNTON, Robert; ROCHE, Daniel (orgs.). A Revolução Impressa: A Imprensa na França,
1775-1800. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996.
DIETRICH, Ana Maria. Caça às suásticas: o Partido Nazista em São Paulo sob a mira da Polícia
Política. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo,
Fapesp, 2007.
DIETRICH, Ana Maria. Nazismo Tropical? O Partido nazista no Brasil. 2007. p. 389. Tese
(Doutorado em História) USP, São Paulo, 2007.
HERF, Jeffrey. Inimigo judeu: propaganda nazista durante a Segunda Guerra Mundial e o
Holocausto. São Paulo: EDIPRO, 2014.
PINSKY. Carla Bassanezi (org.). Fontes históricas. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2008.
FONTE:
Jornal Deutscher morgen Publicações 1939 à 1941
Disponíveis em:
<bibdig.biblioteca.unesp.br/handle/10/8049/browse?value=Alemães+-+Brasil+-