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Uma Liberdade
Total e Eterna
Silvio Dutra
NOV/2015
2
A474
Alves, Silvio Dutra Uma Liberdade Total e Eterna/ Silvio Dutra Alves. - Rio de Janeiro, 2015. 133p.; 14,8x21cm
1. Teologia. 2. Liberdade. 3. Eternidade. I. Título.
CDD 230.227
CDD 230.227
3
Sumário
Introdução 4
1. A Formação de Nossas Crenças e Valores 6
2. Há Somente Um Evangelho 8
3. Comissionado por Deus e não pelos
Homens
11
4. A Firme Defesa do Evangelho Verdadeiro 24
5. O Poder da Graça que Liberta Opera Pelo
Evangelho
34
6. O Modo do Nosso Resgate da Prisão e da Condenação
42
7. Porque Deus deu a Lei Através de Moisés 48
8. Rudimentos Fracos não Podem nos Tornar Fortes para a Libertação
66
9. A Liberdade dos Nascidos pela Promessa 80
10. Voltando à Prisão Depois de Ter Sido Libertado
84
11. A Lei da Liberdade é Manifestada pelo
Amor
104
Conclusão 116
4
Introdução
O homem foi criado por Deus para ser
completamente livre.
Todavia, convém entender o significado desta
liberdade conforme fora planejada por Deus para nós.
Antes de tudo, é liberdade de nós mesmos, de
não sermos escravos de nossa própria vontade, ou de qualquer outra forma de
escravidão, como por exemplo, a do princípio operativo do pecado atuante em nossa natureza terrena.
Além disso, devem ser consideradas outras formas de escravidão a que estamos sujeitos,
como por exemplo, a que existe em relação aos espíritos das trevas, ao fascínio do mundo, a todas as formas de temores e ansiedades,
dentre tantas outras.
Quando analisamos a nossa presente
condição, podemos concluir sem o perigo de errar, que mesmo julgando ser livres, somos na verdade escravizados a muitas coisas e poderes.
Disto tudo há somente um meio que pode nos libertar, e verdadeiramente nos livrar de
5
modo total, perfeito e eterno – o arrependimento e a fé em Jesus Cristo.
Desta liberdade experimentada e revelada pelos apóstolos de Jesus, temos uma bela e
profunda descrição na epístola de Paulo aos Gálatas, que tomaremos como base para discorrer sobre tão importante assunto.
Nesta epístola é abordada principalmente, a liberdade que recebemos em Cristo de todas
as ordenações cerimoniais da Lei de Moisés, e a isto se aplica também qualquer tipo de religiosidade extrabíblica ou mesmo bíblica, que seja inerente ao sistema de culto do Velho
Testamento.
6
I – A Formação de Nossas Crenças e Valores
Tão poderosa é a influência da tradição
cultural e religiosa pelas quais foram formadas nossas crenças e valores, que sempre há um risco de retornar a ela, mesmo
quando conduzidos a um padrão de crenças e valores superior.
Isto foi visto de modo muito claro no
comportamento de muitos judeus que haviam sido alcançados pelo evangelho nos dias
apostólicos, que mesmo tendo uma experiência de conversão real a Cristo, estavam voltando às mesmas práticas
religiosas em que criam antes de se converterem, como sendo fundamentais para a salvação de suas almas, quando na verdade
não eram de modo algum.
Este foi o principal motivo que inspirou a
escrita da epístola de Paulo aos Gálatas, cujo tema central é um forte apelo a que não nos demovamos do firme fundamento da fé em Cristo, que é o único em que podemos estar
seguros da libertação de todas as formas de cadeias que podem aprisionar as nossas almas.
7
Por isso, somos convocados a
permanecermos firmes em nossas convicções quanto à Palavra revelada do
evangelho nas Escrituras, para que jamais nos desviemos delas.
Nossa consciência e caráter devem ser
moldados pelos padrões da referida Palavra, de modo a não permitirmos que sejamos
movidos da firmeza em que nos encontramos.
A incredulidade em Cristo é o pior tipo de
escravidão da mente do qual necessitamos ser libertados, e isto é feito principalmente pela operação do Espírito Santo quando depositamos nossa fé na Palavra do
Evangelho.
8
II – Há Somente um Evangelho
Certa mãe cristã ficou perplexa com a
indagação que lhe foi dirigida por seu filho adolescente nos seguintes termos: “Como é que vocês podem ter certeza de que somente a
religião cristã de vocês é a única verdadeira? Por que não o budismo ou o islamismo?
Sem ter um firme testemunho de vida cristã e
comunhão com o Senhor, ela ficou sem respostas, apesar de conhecer a verdade. Mas,
isto não aconteceu com o apóstolo Paulo quando teve que lidar com a apostasia dos crentes gálatas.
Eles tinham muitas dúvidas acerca de Cristo, todavia Paulo não tinha qualquer dúvida, tanto
na sua experiência de fé quanto no seu conhecimento da verdade.
Então pôde ser de grande auxílio para com
eles, para reconduzi-los a Cristo.
Precisamos, portanto, conhecer de modo
adequado este único evangelho que foi dado por Deus aos homens para que possam ser salvos por meio da sua mensagem.
Como poderemos proclamar e defender o que não conhecemos?
9
Como podemos sair da prisão em que nos
encontramos se não temos as únicas chaves que podem abrir suas portas?
A Palavra do evangelho se revela verdadeira
pelo efeito que produz em nossa própria vida, de modo que se cumpram todas as coisas que nele nos são prometidas.
A própria vida do cristão é uma carta viva escrita pelo dedo de Cristo nas tábuas de seu
coração, de modo que se possa ler a mensagem do evangelho na própria vida e procedimento do cristão.
Paulo possuía este testemunho; por isso foi ouvido e atendido por aqueles aos quais se
dirigiu no passado. O argumento de sua vida em Cristo era irrefutável. Sua vida não proclamava apenas palavras, mas
demonstrava o poder transformador da fé em Jesus Cristo. Além disso, o apóstolo tinha a grande vantagem de ter aprendido o
evangelho diretamente de Jesus Cristo, conforme ele mesmo afirma em Gálatas 1.11,12:
“11 Mas faço-vos saber, irmãos, que o
evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens.
10
12 Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus
Cristo.”
Assim, o ensino sobre o evangelho em suas
epístolas não são palavras propriamente suas, mas a exata palavra de Jesus Cristo, para que fosse ensinada e pregada em todo o mundo.
11
III – Comissionado por Deus e não Pelos Homens
Os inimigos de Paulo faziam todo o possível
para minar a reputação do apóstolo, que pregava o puro evangelho de Cristo aos
gentios, e ele se esforçou para demonstrar que eram divinas, tanto a sua missão quanto à doutrina que pregava e ensinava, de modo a
rechaçar as acusações dos seus inimigos tanto contra ele quanto contra a sã doutrina, para que pudesse ser restaurada a confiança dos
cristãos da Galácia, no evangelho que havia sido pregado a eles.
Senhor Jesus não foi formado em qualquer
instituição teológica formal terrena, nem mesmo edificou uma com o propósito de
preparar e comissionar Seus discípulos, de modo que tanto Ele quanto os Seus seguidores foram duramente rejeitados, especialmente
pelos clérigos judeus.
No verso décimo do primeiro capítulo de Gálatas, Paulo faz duas indagações que são
seguidas por uma afirmação conclusiva, como que sendo a resposta para a pergunta que havia feito anteriormente.
12
“Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se
estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.” (v. 10).
O verbo persuadir, “peítho”, no grego, tem o
sentido de “tentar alcançar o favor de alguém através de argumentos.”
Assim, a primeira pergunta de Paulo tinha em
vista, levar os gálatas a refletirem que não era para alcançar o favor dos homens que ele
pregava o evangelho, mas para agradar a de Deus que lhe havia separado e designado para o apostolado.
Na segunda pergunta o verbo usado é agradar, no grego, “arésko”, que significa “provocar
emoções, excitamento, alegria em alguém.”
Daí a razão de não ter se referido a Deus nesta
segunda pergunta, senão somente aos homens. E assim, nós aprendemos que a finalidade do evangelho não é produzir estas
coisas nas pessoas.
O apóstolo diz que se ainda estivesse fazendo isto, a saber, agradando a homens, não
poderia efetivamente servir a Cristo, cujo propósito em relação à pregação do evangelho não é este.
13
Por isso ele não moldou, nem mesmo poderia moldar sua doutrina ao gosto das pessoas,
com o fim de obter seu afeto, ou mesmo para evitar que ficassem ressentidas.
Afinal ele não estava buscando a aprovação
dos homens, mas a de Deus, por obedecer a tudo quanto Ele lhe havia ordenado relativamente ao dever e modo de pregar o
evangelho.
Paulo sabia que Jesus é o único caminho, e sair
deste caminho estreito e único significava conduzir seus ouvintes ao caminho amplo da perdição.
“Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão
por mim.” (João 14:6)
Os judaizantes (religiosos judeus aferrados à
Lei de Moisés) estavam misturando a fé com as obras para a salvação, e a graça do evangelho com as exigências cerimoniais da
lei, com o fim de escaparem das perseguições que teriam que enfrentar dos judeus, caso pregassem um evangelho que não se amoldasse ao gosto deles.
Paulo reforçou seu argumento dizendo aos gálatas, que não havia recebido o seu
14
evangelho por meio de qualquer homem, mas diretamente do próprio Cristo.
Como os judaizantes se gloriavam no próprio
conhecimento do judaísmo, Paulo relembrou aos Gálatas que eles sabiam como ele havia sobrepujado a muitos da sua idade no
judaísmo, e como era extremamente zeloso da tradição religiosa que havia recebido dos seus pais, a ponto de ter sido um perseguidor
implacável da Igreja.
O seu argumento focava então, no fato de que
se fosse o caso seria muito mais cômodo para ele, ter ministrado aos Gálatas o mesmo ensino dos judaizantes, até mesmo de uma
forma mais elevada do que a deles.
E, se não o fizera, era para eles refletirem no
fato de que a doutrina que lhes havia ensinado era superior à que lhes estava sendo ministrada pelos judaizantes; na verdade
Paulo havia renunciado a ela, não às Escrituras do Antigo Testamento, mas ao falso ensino de que a salvação era consequência de se guardar toda a Lei de Moisés, inclusive a
cerimonial, coisa que jamais foi ensinada por Deus nas Escrituras como sendo o caminho da salvação eterna.
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O caminho para a liberdade total e eterna não era e nunca foi este. A salvação é pela graça,
mediante a fé, e somente isto. Nada mais.
Deste modo, nós vemos Paulo revelando ao mesmo tempo duas coisas importantes, a
primeira, que ele era indigno como qualquer outra pessoa, da salvação, porque todos são pecadores, e no seu caso havia a agravante de
ter sido perseguidor da Igreja.
Mas, como a salvação não é segundo o nosso
mérito e obras, porém pelo Deus que ama de modo incondicional, segundo o exercício de pura graça e misericórdia, Ele chamou Paulo
pela Sua graça, para ser apóstolo dos gentios desde o ventre da sua mãe (Gál 1.15).Ele afirma que aprouve a Deus revelar Jesus nele, que
fora perseguidor da igreja, para que O pregasse entre os gentios (v. 16).
Quando isto ocorreu, ele não consultou
nenhum homem, nem voltou para Jerusalém para consultar os que já eram apóstolos antes
dele, mas viajou de Damasco, onde havia se convertido, para a Arábia, tendo retornado a Damasco (v. 17).
Somente depois de terem decorrido três anos
foi que se dirigiu a Jerusalém para se avistar com Pedro, tendo permanecido com ele
16
durante quinze dias (v. 18), e não tinha visto nenhum outro apóstolo, senão Tiago, irmão do Senhor, segundo a carne, porque era também filho de Maria (v. 19).
Depois disto ele foi para a Síria e Cilícia (v. 21), e nesta ocasião não era conhecido de vista
pelos cristãos da circuncisão, mas souberam que aquele que antes os perseguia, anunciava a fé que antes destruía (v. 23), e davam glória a
Deus pela Sua graça, longanimidade, amor e poder, manifestados na vida de Paulo (v. 24).
Deste modo, o apóstolo estava, pelo seu
próprio testemunho, encorajando os Gálatas a confiarem na bondade, longanimidade e
misericórdia de Deus, para renová-los na graça da qual haviam se afastado, uma vez que havia lhes demonstrado como ele próprio
havia sido salvo e eleito pelo Senhor, para ser o apóstolo dos gentios desde o ventre de sua mãe.
O argumento aqui era o de que eles confiassem que a salvação é exclusivamente pela graça de Deus, e então havia a
oportunidade para que fossem reconciliados com Seu Senhor e Salvador, por causa do Seu grande amor e misericórdia.
17
Se Cristo havia se revelado não somente a ele, mas nele, que antes era perseguidor da Igreja,
quanto mais não poderia ser favorável aos Gálatas que haviam sido enganados por falsos apóstolos, pastores e mestres, que falavam em nome de Cristo, mas com um evangelho
totalmente diferente do verdadeiro evangelho, que se funda na graça de Deus, e não nas obras meritórias dos homens.
Nem mesmo debaixo da autoridade dos apóstolos de Jerusalém, Paulo se encontrava,
porque fora chamado pelo Senhor para ser apóstolo como eles, com a mesma autoridade para ministrar aos gentios.
Por isso ele deixa registrado, que foi ter com Pedro somente três anos depois de ter viajado
para a Arábia e ter retornado a Damasco. Isto implica que o evangelho que ele pregava era o mesmo evangelho pregado por Pedro, e pelos
demais apóstolos.
Pelo relato que Paulo faz no segundo capítulo
de Gálatas parece que os primeiros cristãos judeus mantiveram uma consideração à lei cerimonial, conforme testemunho que se dá do próprio Ananias, a quem Paulo havia sido
enviado no princípio, quando se converteu, de quem se diz que era homem piedoso conforme a lei, e tinha bom testemunho dos
18
judeus (At 22.12); mas os primeiros cristãos gentios viviam um cristianismo inteiramente
independente da lei cerimonial de Moisés, conforme estavam sendo instruídos por Paulo; que um gentio não necessitava viver como um judeu para que fosse salvo, porque o
povo da Nova Aliança era um povo formado tanto por judeus quanto por gentios, porque em Cristo a barreira que os separava havia
caído.
Antes, os gentios não tinham a Deus, e eram
estranhos às Suas alianças, porém pela fé em Cristo estavam também sendo adotados como filhos de Deus, e aproximados dEle somente
pela fé, porque as bases que regiam a Nova Aliança, conforme promessa do próprio Deus seriam inteiramente diferentes das que
regiam a Antiga (Jer 31.31-34).
Contudo, como entre os gentios havia
também judeus, já que se encontravam espalhados pelo mundo desde o cativeiro babilônico, muitos destes que se convertiam
ao cristianismo se mantinham fiéis às tradições do judaísmo, e, portanto, se revoltavam contra Paulo alegando que ele pregava um evangelho sem lei.
Porém, Paulo jamais pregou contra a importância da Lei para outros propósitos,
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como por exemplo, nos levar ao
conhecimento do pecado, e também da sua importância na nossa santificação, dentre outros usos que foram determinados por Deus.
Então, havia esta tensão entre a circuncisão (judeus) e a incircuncisão (gentios) nos
primeiros anos do cristianismo. Não pela existência de duas doutrinas diferentes, mas pela dificuldade que os judeus tinham em
reconhecer que em Cristo a Lei cerimonial havia sido completamente revogada quanto à obrigatoriedade de seu cumprimento,
inclusive pelos judeus.
No período do Antigo Testamento, todo gentio
que quisesse fazer parte do povo de Deus, deveria ser circuncidado e se submeter a toda a Lei de Israel, tanto civil, quanto moral e
cerimonial, para que fosse aceito como um israelita.
Mas, isto havia sido derrubado na Nova
Aliança, ficando os gentios obrigados somente ao cumprimento da Lei moral, que é eterna e aplicável a todos os homens, de todas
as épocas e lugares. Contudo, em sua ignorância os judeus continuavam afirmando que os gentios deviam ser circuncidados, e
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guardarem toda a Lei de Moisés, sem o quê não poderiam ser salvos (At 15.1,5).
Porém, Paulo reafirma a falsidade deste ensino, dizendo aos Gálatas que ele havia dado
o exemplo de não ter permitido que Tito, seu cooperador no ministério, não fosse circuncidado quando havia descido com ele a Jerusalém, de maneira que a verdade do
evangelho que afirma que a justificação é independente das obras da Lei fosse mantida entre os gentios.
O perigo não se encontrava no fato de que um gentio poderia se circuncidar ou não, porque
os cristãos judeus continuavam circuncidando seus filhos. O perigo não era a circuncisão, mas o fato de crer que alguém
pode ser salvo e entrar no reino dos céus por meio da circuncisão do prepúcio. Este sim era o grande perigo: afirmar um caminho de
salvação diferente da graça mediante a fé, que sempre foi e será o caminho de salvação para qualquer pessoa, quer no passado, quer no
presente, quer no futuro. O problema era exatamente este.
O mesmo problema enfrentado pela mãe que
mencionamos em nosso primeiro capítulo, quando foi questionada por seu filho adolescente. Ele estava crendo que há outros
21
meios de salvação para os pecadores, além do evangelho de Cristo.
Para defender a verdade, Paulo se levantou
com muita veemência, porque se a causa judaizante tivesse triunfado muitas outras maneiras diferentes da verdade evangélica,
para que os homens sejam salvos, estariam sendo pregadas pela própria igreja dos gentios; e não haveria qualquer eficácia de
salvação nelas, porque Deus designou um único caminho para tal propósito.
Por isso, Paulo cita que retornara a Jerusalém
quatorze anos depois de ter ali estado por quinze dias com Pedro (Gál 1.18), ocasião em
que se fazia acompanhar de Barnabé e Tito.
Nós vemos que ele não havia ainda se
separado de Barnabé, o que ocorreria não muito depois, quando desse início à sua segunda viagem missionária, depois de ter
retornado de Jerusalém a Antioquia da Síria.
Ele desceu a Jerusalém, para defender a
doutrina da justificação pela fé.
Ao se referir a Tito, que era um grego que havia se convertido ao cristianismo, e agora
um pastor de pastores, porque seria a ele que Paulo encarregaria de organizar a igreja em Creta no futuro, o apóstolo quis dar um recado
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muito claro aos Gálatas, que eles não deveriam se deixar persuadir com a ideia de que deviam se circuncidar para serem salvos,
conforme lhes haviam ensinado os judaizantes; aqueles judeus aferrados à Lei, mas sem discernimento nos assuntos relativos à salvação dos pecadores.
Porque ele, Paulo, não havia se deixado persuadir pelos argumentos daqueles que
haviam se levantado contra ele em Jerusalém, de modo que a causa da justificação pela graça, mediante a fé havia triunfado,
conforme reconhecimento dos apóstolos e presbíteros da Igreja de Jerusalém, como se vê no parecer final que havia sido expedido pelo
apóstolo Tiago, naquela ocasião em que a igreja, os apóstolos e pastores se reuniram em Jerusalém, conforme narrativa de Atos 15.
É muito importante que destaquemos, que esta ida de Paulo a Jerusalém foi em razão de
uma revelação direta que recebera de Deus, para proceder tal defesa da graça, conforme se vê em Gál 2.2; e sem esta revelação ele não teria ido lá. Ele foi, portanto, em obediência à
vontade do Senhor para firmar de uma vez para sempre, o ensino relativo ao modo da nossa salvação.
23
Paulo não condenou a circuncisão em si
mesma. Nem por palavra nem por ação ele foi contra a circuncisão, mas protestou contra a circuncisão que é feita como sendo uma
condição para a salvação, assim como teria se levantado contra qualquer prática religiosa com tal propósito, além da graça e da fé.
Boas obras podem ser consideradas em nossa
santificação, mas não para a nossa justificação e regeneração (novo nascimento do Espírito –
conversão) porque isto é instantâneo e ocorre uma única vez na vida do crente, tão somente por meio da fé em Jesus Cristo. E sem esta
justificação e regeneração, não pode ocorrer nenhuma santificação, porque Deus primeiro justifica e regenera, para que depois possa
santificar progressivamente aquele que foi justificado e regenerado.
Paulo citou o caso dos patriarcas de Israel. Eles
não foram justificados através da circuncisão; ela era apenas um sinal e selo da justiça. Eles
viam a circuncisão como uma confissão da fé deles.
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IV – A Firme Defesa do Evangelho Verdadeiro (Gálatas 2.11-21)
Para dar um maior peso ao que já havia dito
anteriormente, para fortalecer os Gálatas contra as insinuações dos falsos mestres
judaizantes, Paulo passou a narrar o que ocorrera na visita que Pedro e alguns cristãos da circuncisão haviam feito a ele em
Antioquia.
Antioquia era na ocasião, uma das principais
igrejas dos gentios. Paulo diz que resistiu a Pedro face a face diante de toda a congregação, porque era repreensível no que
havia feito. Ele não agira como os falsos mestres judaizantes que estavam falando contra ele com os Gálatas, pelas costas, sem
terem a coragem de enfrentá-lo na face, porque suas consciências os condenavam e sabiam que não tinham argumentos
verdadeiros para sustentar contra o apóstolo.
Paulo está dizendo então, que não havia falado
mal de Pedro pelas costas, quanto ao que ele havia feito de errado contra a verdade do evangelho, mas que lhe havia resistido franca e abertamente.
Na antiga dispensação (do Velho Testamento) era vedado aos israelitas comerem na
25
companhia de gentios, porque não eram circuncidados, mas apenas Israel era
considerado o povo de Deus naquele período. Porém, em Cristo caiu a barreira de separação, de maneira que não era mais vedado a qualquer judeu comer na companhia
dos gentios.
Portanto, qual foi o erro de Pedro?
Não foi o de estar comendo na companhia dos cristãos não circuncidados de Antioquia,
porque eram gentios, mas o de ter dissimulado que estava comendo com eles quando chegou uma embaixada de cristãos de
Jerusalém, que eram aferrados à ideia da necessidade da circuncisão, mesmo dos cristãos gentios.
Com isto, ele estava sinalizando, ainda que indiretamente, que assumia a importância da
circuncisão para a salvação, e para alguém ser considerado como parte integrante do povo de Deus. Certamente, isto não correspondia à
verdade do evangelho, que afirma que uma pessoa é salva por Deus somente pela graça, mediante a fé em Cristo.
Paulo demonstrou então aos Gálatas, que, o
que se encontrava na atitude de Pedro não era uma questão de somenos importância, mas o
26
coração da verdade do Evangelho, que é a doutrina da justificação somente pela graça e
mediante a fé.
E havia um agravante na atitude de Pedro,
porque depois da repreensão que havia recebido do Senhor, com a visão do grande lençol, quando lhe foi ordenado que se dirigisse à casa do centurião romano chamado
Cornélio, tudo indica que Pedro havia sido curado do sentimento preconceituoso contra os gentios, de maneira que tendo entendido
que em Cristo haviam caído as obrigações da Lei cerimonial, ele próprio veio a chamar de “jugo que nem nossos pais nem nós pudemos
suportar” (At 15.10).
Estas palavras e as de Paulo em relação a Pedro
(Gál 2.14), de que apesar de ser um judeu vivia como um gentio; bem comprovam que ele havia deixado para trás os costumes do
judaísmo, pois quem via Pedro, via mais um gentio do que um judeu. Então, Paulo se referiu à contradição que havia nele de exigir
pelo seu comportamento, que os gentios vivessem como judeus, quando ele já não vivia debaixo daqueles costumes que identificavam os judeus como tais.
Assim, aquele erro foi uma tentação que lhe sobreveio na ocasião, na qual caiu em face de
27
se sentir pressionado psicologicamente por aqueles judeus que haviam chegado de
Jerusalém.
Não era insensato e errado voltar à Lei, e esperar ser justificado pelo mérito de boas
obras, ou qualquer sacrifício, ou purificação cerimonial?
E se era errado que os judeus, que por
natureza não eram considerados estranhos para Deus como os demais pecadores gentios,
se voltarem para a Lei buscando serem justificados dos seus pecados; quanto mais não seria errado requerer isto dos gentios.
Não pensemos que este grave problema foi um caso isolado e pertinente a um longínquo
passado. Não prezados leitores. É um problema sempre presente em toda a história da Igreja cristã. Pedro se arrependeu do seu
desatino no passado ao ser repreendido por Paulo, mas tem ainda seus sucessores quanto ao comportamento de afirmar uma salvação
possível por meio das obras da Lei, em vários segmentos da cristandade.
Este é um erro muito agradável e fácil para o
religioso que escolhe umas poucas coisas para nelas crer e praticá-las, pensando com isso ter estabelecido seu próprio meio de salvação,
28
quando não passa de uma grande ilusão que
jamais poderá salvá-lo.
O evangelho demanda um novo nascimento, que sejamos transformados em novas
criaturas, que sejamos dirigidos pela vontade de Deus mediante instrução do Espírito Santo, e não pela nossa própria vontade, e assim, não
são tantos os que se dispõem a isto.
Ele demanda comunhão permanente com
Deus em vidas santificadas pela Palavra e pelo Espírito Santo, para que possamos ser participantes das realidades espirituais,
celestiais e divinas. Logo, sendo por graça, e por meio da fé, a salvação nos conduz a um caminho estreito depois de termos passado
pela porta estreita.
Há uma cruz que devemos carregar e um ego
ao qual devemos renunciar. Meros dogmas não podem satisfazer a tais exigências e assim cumprir o eterno propósito de Deus.
Afinal, a liberdade que nos é proposta no evangelho não é liberdade para praticarmos o que seja de nossa própria vontade, mas
sermos libertados do pecado para podermos fazer a vontade de Deus, que é o único modo de conhecermos a verdadeira libertação de
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tudo quanto nos escraviza, incluída aí a nossa própria vontade e natureza pecaminosas.
Por isso, ao falar no tema da liberdade cristã em Gálatas, Paulo deu maior peso ao seu ensino quando acrescentou no verso 17 que:
“Pois, se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é porventura Cristo
ministro do pecado? De maneira nenhuma.”
O que ele está dizendo é que a justificação nos
salva, mas não é um passe livre para que possamos pecar, uma vez que se diz que não são exigidas as obras da lei para a justificação,
como de fato não são – já dissemos antes, na justificação, mas não na santificação.
Assim os que querem afirmar a necessidade
da Lei para a justificação, para a santificação e bom testemunho de vida, alegando que é
exigido por Deus em sua Palavra, erram não no que dizem em relação à santificação, mas no que dizem quanto à justificação que é
realmente somente por graça mediante a fé.
Mas se eles querem e exigem, como de fato deve se exigir testemunho de vida em boas
obras, eles devem saber que Cristo não é ministro do pecado, senão de completa pureza e santidade de vida; pois os que confiam
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somente nas obras jamais poderão ser justificados e salvos, pois sem Cristo na vida é
impossível praticar as boas obras da fé, conforme e do modo que são requeridas por Deus.
Os que são justificados o são exatamente para
que se cumpra o propósito de santificação completa de suas vidas; o que, a propósito não
pode ser alcançado de fato, caso o homem não seja antes justificado e regenerado.
Uma obra espiritual como esta é algo que pode
ser realizado somente por Deus, pelo Seu Espírito, e jamais pelo próprio poder do
homem.
As obras da Lei que os judaizantes afirmavam
como necessárias para a justificação, não poderiam jamais atingir tal propósito por causa da fragilidade e pecaminosidade da
natureza terrena. Se a justificação pudesse ser alcançada por obras da Lei, Cristo não precisaria ter morrido pelos pecadores. Ele
teria morrido em vão, já que o próprio homem poderia ser justificado pelo seu próprio e exclusivo esforço em guardar a Lei de Deus.
Somente a justificação verdadeira, que é pela
graça, pode transformar o coração do pecador e inserir nele um novo princípio espiritual de
31
vida, que o levará a detestar o pecado e a
desejar se consagrar inteiramente a Deus.
A Lei é boa, santa, e justa, mas não justifica.
Calvino disse que nós não podemos
acrescentar com nenhuma das nossas boas obras de justiça, mesmo que sejamos cristãos,
um só milímetro à justiça perfeita de Jesus Cristo que recebemos somente pela graça e mediante a fé.
Spurgeon acrescentou que, sendo cristãos, nós não teremos no céu uma justiça mais
perfeita do que a que temos aqui na terra. A obra que Jesus realizou na cruz foi plenamente consumada, de maneira que não necessita
que nada mais lhe seja acrescentado para a nossa salvação.
A justiça que recebemos dEle na conversão é
suficiente para nos dar o céu, porque é perfeita em todos os aspectos necessários
para satisfazer às demandas da própria justiça de Deus em relação a nós. De maneira que a justiça que nos é implantada pelo Espírito Santo, através da prática das nossas boas
obras, não acrescenta nenhum mérito a nós, de forma que possamos nos tornar mais merecedores do amor de Deus. Ele nos tem
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amado incondicionalmente por causa de Cristo.
Ele nos tem recebido incondicionalmente e sempre nos receberá; sempre e sempre por causa dos méritos de Cristo, e nunca pelos
nossos próprios méritos.
Nós poderemos agradá-Lo ou desagradá-Lo,
respectivamente, pela prática ou não das boas obras, mas não será pela aprovação ou reprovação que nós acrescentaremos ou
perderemos um só côvado da justiça perfeita que recebemos de Cristo em nossa justificação.
Nós O amamos, amamos a Sua Palavra, amamos a santificação, e é isto que é tido em
conta em nosso favor, superando nossas limitações e fraquezas, porque o amor cobre multidão de pecados.
Esta veste com a qual fomos vestidos está perfeita, e nada deve lhe ser acrescentado ou
retirado. O nosso aperfeiçoamento espiritual não significa o aperfeiçoamento desta justiça que nos foi atribuída na conversão.
Nós crescemos espiritualmente, nós
desenvolvemos a nossa salvação com temor e tremor, mas nada disto nos tornará mais
33
filhos de Deus do que já somos pela simples fé em Cristo.
Por isso, o Evangelho é retratado na
experiência do filho pródigo na parábola narrada por Jesus Cristo. Ele foi recebido de
braços abertos pelo Pai, porque era filho.
Ele tinha a justiça perfeita que livra de toda
condenação, e foi isto que o habilitou a ser recebido daquela maneira, porque tinha a justiça perfeita de Cristo, foi adotado como
filho de Deus, pois aqueles que são Seus filhos podem desfrutar inteiramente do Seu amor.
Esta é a grande e essencial diferença entre o
Evangelho e a Lei.
Daí se dizer que em Cristo, todos os cristãos se
encontram aperfeiçoados diante de Deus, quanto a esta justiça perfeita que receberam
pela fé, ainda que possam não estar ainda aperfeiçoados em seu amadurecimento espiritual, que será realizado pelo processo da
santificação do Espírito, mediante a Palavra de Deus, conforme se afirma em textos como Col 2.10; Hb 7.19, 25; 10.1, 14; 12.23.
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V – O Poder da Graça que Liberta
Opera Pelo Evangelho (Gálatas 3.1-5)
O apóstolo interrompeu seu discurso sobre a
justificação que havia iniciado na parte final
do segundo capítulo, para repreender os gálatas chamando-os de insensatos, por terem permitido ser fascinados para abraçarem um
falso evangelho que obscurecia e negava a doutrina da justificação pela graça mediante a fé.
É dever de todo pastor cristão disciplinar as pessoas sobre as quais foi constituído pelo
Espírito, como líder de suas almas à verdade.
Então, Paulo primeiramente os reprovou, para
em seguida se esforçar para lhes convencer pela evidência da verdade. Este é o método correto, quando reprovamos alguém por uma
falta ou erro, porque necessitamos convencê-lo quanto ao que é o erro que cometeu.
O apóstolo destaca que o erro dos gálatas não
consistiu simplesmente em terem se colocado debaixo do jugo da Lei cerimonial, mas terem desobedecido à verdade.
Isto revela que não é suficiente saber a verdade e dizer que cremos nela, mas temos
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também que obedecê-la. Nós temos que nos submeter à verdade e praticá-la, senão não podemos viver em liberdade.
Como podemos ser livres estando presos a hábitos e costumes pecaminosos?
Afinal, Cristo não se manifestou para o propósito de nos libertar do pecado?
Nós podemos inferir de Gál 3.1, que aqueles que estão espiritualmente encantados, que,
mesmo que a verdade em Jesus esteja claramente diante deles, ela não será obedecida. Deste modo, é importante evitar
todo tipo de fascínio espiritual que opere no sentido de nos separar da verdade que está em Cristo.
Somos ordenados a nos manter afastados das fontes de tentação e do falso ensino.
Nós temos aqui, um exemplo característico das coisas ruins que sucedem a cristãos
individualmente, e mesmo a congregações inteiras.
A graça não transforma um cristão
instantaneamente em nova criatura perfeita, porque restos de corrupção permanecem na velha natureza. O Espírito Santo não pode
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vencer imediatamente a deficiência humana. A santificação leva tempo.
Paulo disse que Jesus havia sido exposto crucificado diante dos gálatas, isto é, a doutrina da cruz lhes tinha sido pregada. A
morte vicária de Cristo tinha sido ensinada a eles como o fundamento da nossa salvação, porque o pecador necessitava que alguém
morresse no seu lugar, em face da sua completa insuficiência e incapacidade para operar sua própria salvação, em razão
principalmente, da dívida de pecados que não pode ser liquidada eternamente pelos homens, ainda que sofrendo um castigo
eterno.
E o que fizeram os gálatas?
Eles abandonaram esta doutrina e abraçaram em seu lugar, a doutrina da salvação pelas
suas próprias obras.
Isto não era uma tremenda insensatez? Isto
não poderia ser explicado senão somente, como sendo o resultado de um fascínio diabólico?
Por isso Paulo os chamou de insensatos e
encantados, porque haviam permitido que fossem persuadidos pelo encantamento de
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Satanás através dos seus falsos profetas,
pastores e mestres.
Satanás é astuto. Ele não somente encanta os homens de uma maneira crua, como também
de maneira sutil. Ele maltrata a mente dos homens com falácias horrorosas.
Não há ninguém entre nós que não tenha sido
seduzido alguma vez por Satanás em falsas convicções sobre o evangelho. Mas, os
ataques da velha Serpente não são sem lucro a nós, porque confirmam nossa doutrina e fortalecem nossa fé em Cristo.
Assim, não devemos pensar que apenas os gálatas foram os únicos a serem fascinados
pelo diabo.
Consequentemente nos é ordenado que
estejamos revestidos de toda a armadura de Deus para resistir aos principados e potestades, e a vigiar em todo o tempo, de
maneira que não sejamos também seduzidos pelo Inimigo de nossas almas.
Com a pergunta: “Quem vos fascinou”, Paulo
desculpa os gálatas, ao mesmo tempo em que culpa os falsos apóstolos que lhes haviam conduzido à apostasia.
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É como se ele estivesse dizendo: “eu sei que a
apostasia de vocês não foi voluntária. O diabo enviou falsos apóstolos a vocês, e lhes ensinaram que deveriam crer que somente poderão ser justificados pela Lei. Então, com
esta epístola pretendemos desfazer o dano que os falsos apóstolos produziram em vocês.”
Como o diabo tem esta habilidade misteriosa
de nos fazer crer numa mentira, a ponto de jurarmos mil vezes que ela seja a verdade, nós
não deveríamos então ser orgulhosos, mas estar em temor e humildade diante de Deus, e clamar por nosso Senhor Jesus Cristo para não
nos deixar cair em tentação.
Para provar a insensatez dos gálatas em terem
renunciado à doutrina que lhes havia sido pregada e ensinada, Paulo se vale do argumento de que eles tinham recebido o
Espírito Santo simplesmente pela fé, na doutrina que lhes havia sido pregada de que a salvação é obtida exclusivamente pela graça.
Isto não era uma prova suficiente, de que o Evangelho que Paulo lhes havia pregado era a verdade?
As suas palavras não os levaram a receber o Espírito prometido?
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A presença do Espírito Santo neles, não era a assinatura de aprovação da verdade da Palavra
que lhes havia sido pregada?
Não foi também debaixo da doutrina da graça, que Deus havia feito tantas maravilhas entre
eles?
E a pregação desta verdade, não lhes trouxe
sofrimentos por conta das perseguições, tribulações, aflições que experimentaram e visavam ao aperfeiçoamento espiritual
deles? (v. 4).
Deus fizera todas estas coisas neles e entre
eles sem nenhum ensino sobre salvação pelas obras da Lei, senão somente pelo Evangelho que haviam abraçado, a saber, da salvação
pela graça, mediante a fé. E, como é que estavam renunciando à Palavra da verdade que estava produzindo tais operações reais e
celestiais entre eles?
Isto não ocorrera afinal, porque foram
fascinados e não agiram com sabedoria divina, senão com insensatez carnal?
Não foi por crerem em justificação por obras
da Lei que Deus havia operado entre eles, e como poderiam então ter apostatado da verdade?
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Se era o Espírito Santo que estava produzindo
novo nascimento e santificação, como poderiam tentar aperfeiçoar sua vida espiritual pela simples observância da Lei cerimonial, e segundo a própria capacidade
em cumprir a Lei, aparte de Cristo?
Eles estavam intentando fazer pela carne,
aquilo que somente pode ser produzido pelo Espírito, porque sem estar debaixo da instrução, direção e poder do Espírito, não é
possível guardar de fato os mandamentos de Deus, e não haverá nenhuma transformação espiritual que nos conduza a uma semelhança
cada vez maior com Cristo.
Por isso o apóstolo disse que eles haviam
começado no Espírito, mas estavam tentando se aperfeiçoar pela carne (v. 3). Estavam tentando aperfeiçoar o velho homem, a velha
natureza decaída no pecado, que a Bíblia chama de carne, quando Cristo veio para crucificar esta natureza e nos revestir de uma
inteiramente nova e celestial.
Quanto a isto, lembro que em certa ocasião fui repreendido pelo Espírito Santo em sonho
com as seguintes palavras: “não pense que educar o velho homem com boas maneiras é a verdadeira santificação.”
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De fato eu estava exigindo de mim mesmo e
dos meus irmãos em Cristo, que eles se esforçassem para ser pessoas mais refinadas segundo uma boa educação de seu
comportamento e maneiras.
Ignorantemente eu pensava estar fazendo a
coisa certa, porém não estava lhes ensinando o evangelho, senão a se entregarem à missão impossível de transformação do nosso velho
homem. Este não pode ser transformado, senão deve ser crucificado e mortificado diariamente por meio da fé em Jesus Cristo.
Devemos buscar ser pessoas mais educadas, mas não devemos nos iludir pensando que
com isto estejamos acrescentando um único grão à nossa santificação, de modo a que nos tornemos pessoas mais úteis nas mãos de
Deus.
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VI – O Modo do Nosso Resgate da
Prisão e da Condenação (Gálatas 3.6-18)
Como pode um espírito que se encontra
debaixo da maldição e condenação de Deus, mediante a Sua Lei, sentir-se abençoado e livre?
Para usufruir da bênção e da liberdade que se encontram na comunhão com Deus, necessita
ser antes livrado da Sua maldição e condenação.
Pela prática da nossa própria justiça, e de
nossas boas obras, jamais poderemos satisfazer às demandas da justiça divina,
porque por melhores que sejam nossas obras e intenções, permanecemos sendo pecadores, e, portanto, amaldiçoados e condenados pela
Sua Lei.
Não há nenhum outro modo de sermos
resgatados desta condição senão somente pela graça que nos é oferecida em Jesus Cristo.
Paulo disse aos gálatas e o diz a nós, que o
Espírito Santo foi dado para salvar, santificar e operar milagres pela graça, e não pelas obras da Lei.
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O que aconteceu à igreja da Galácia ensejou a
escrita desta epístola para a advertência dos cristãos e igrejas de todas as épocas, para que vigiemos intensamente para não incorrermos no mesmo erro deles, por abandonarmos
verdades reveladas por Deus no Evangelho, e abraçar falsas doutrinas inventadas por homens e demônios, que são uma grande
marca em nossa época.
Lembremos que esta doutrina de se obter a
salvação por meio das obras além da fé é uma das principais doutrinas dos homens, para afastar os pecadores da possibilidade de
serem salvos por Deus.
Por isso, se somos dignos de repreensão,
submetamo-nos humildemente a ela e nos apressemos em retornar à verdade da qual possivelmente tenhamos nos desviado por
persuasões e argumentações meramente humanas, baseadas em palavras de sabedoria deste mundo, e não das que provêm do céu,
que foram registradas na Bíblia.
A partir do verso 6 nós vemos o apóstolo, depois de ter repreendido os gálatas,
esforçando-se para expor-lhes de novo a doutrina que haviam rejeitado, e da qual certamente já deviam estar esquecidos.
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Ele fez isto de diversas maneiras: primeiro,
usando o argumento que havia sido justificado pela fé o próprio Abraão, que era o grande patriarca de todos os judeus, designado como o pai de todos os cristãos em todas as nações,
por conta da promessa que Deus lhe fizera, em razão de que se proveria de muitos filhos através daquele que descenderia dele
segundo a carne, a saber, o Senhor Jesus Cristo.
Paulo diz que os cristãos são filhos de Abraão
(v. 7), não segundo a carne, mas segundo a promessa, e, por conseguinte, eles são
justificados da mesma maneira que o patriarca havia sido.
O apóstolo identifica a promessa que havia
sido feita por Deus a Abraão, de abençoar na sua descendência todas as nações da terra
(Gên 12.3), como um prenúncio da justificação pela fé, isto é, Deus fizera naquela ocasião a Abraão, a promessa do Evangelho (v.8),
muitos séculos antes do evangelho ter sido manifestado e cumprido em Jesus Cristo.
Consequentemente, o resultado da fé nesta
promessa é bênção para todo o que crê, assim como o próprio Abraão havia sido abençoado sendo justificado pela sua fé, para que fosse o
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patriarca de todos aqueles, que tal como ele viessem a crer no futuro (v. 9).
Quando estive hospitalizado fui visitado por
um irmão em Cristo, que me disse que estava procurando se esforçar bastante na prática das boas obras para receber a mesma bênção
que Abraão havia recebido, conforme está registrado nesta porção da epistola aos Gálatas.
Para desviá-lo de tal pensamento errôneo, escrevi-lhe na ocasião as seguintes palavras:
A Bênção de Abraão
Deus prometeu a Abraão que na sua
descendência seriam benditas todas as nações da terra. (Gên 12.3b; 18.18)
Isso tem sido interpretado por muitos, fora do contexto do ensino bíblico, ao se referirem
simplesmente à bênção de Abraão como algo inerente ao próprio patriarca, e que também desejam para si mesmos, como por exemplo
as riquezas que ele conseguiu por ter confiado em Deus.
Todavia, quando examinamos atentamente
no texto bíblico em que consiste a referida bênção, percebemos que se trata de uma referência direta a nosso Senhor Jesus Cristo,
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que seria descendente de Abraão, segundo a carne, e que é por meio da fé nEle que recebemos o dom do Espírito Santo.
Não se trata, portanto, da bênção que
recebemos diretamente de Abraão ou por causa de Abraão, mas como diz a Bíblia, a
bênção que Deus prometeu a Abraão, a saber, Jesus Cristo, para a conversão de pessoas de todas as nações, e não apenas de Israel.
O texto de Gálatas 3.13-16 apresenta esta verdade de forma muito clara e direta:
“13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;
14 Para que a bênção de Abraão chegasse aos
gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito.
15 Irmãos, como homem falo; se a aliança de um homem for confirmada, ninguém a anula
nem a acrescenta.
“16 Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às
descendências, como falando de muitos, mas como de um só: E à tua descendência, que é Cristo.” (Gálatas 3.13-16)
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A bênção de Abraão à qual se refere a Bíblia,
especialmente para nós gentios, é Jesus Cristo, para os que têm fé nEle.
A fé verdadeiramente honra a Deus, porque é
a firme confiança em tudo o que a boca de Deus tem proferido. E porque a fé honra a
Deus, Ele imputa a fé para justiça de todo aquele que Nele crê.
A Lei revela que a transgressão de qualquer
mandamento de Deus torna o homem culpado de uma condenação eterna.
E quem, na condição de pecador por natureza poderia cumprir tal exigência moral de Deus?
A Sua justiça o exige, porque se demanda conformação perfeita à Sua santidade para
que alguém possa ir para o céu, sem culpa alguma. Mas o pecado ofendeu a justiça de Deus. Foi por causa desta ofensa que o pecador
perdeu o céu.
Então, o caminho de volta ao céu deve passar
obrigatoriamente pela plena satisfação da justiça de Deus.
O homem necessita então de justiça para ser
salvo. Mas o alto nível desta justiça não pode ser encontrado nele ou produzido por ele. Daí ter o próprio Cristo se tornado a nossa justiça.
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É pela Sua justiça imputada a nós que podemos nos aproximar do Deus que é
inteiramente justo e santo.
Consequentemente a Lei afirma que todo aquele que não cumpre os Seus mandamentos
permanece debaixo de maldição, porque os mandamentos da Lei refletem o caráter da perfeita justiça de Deus.
Há somente uma maneira de ser resgatado desta maldição, uma vez que a própria
maldição não pode ser removida, em razão da exigência da justiça de Deus que amaldiçoa todos os transgressores da Sua vontade, a
menos que tenham sido justificados em Cristo Jesus, pela justiça que lhes é imputada por Deus somente pela graça, e mediante a fé.
Deste modo, Paulo explica que somente podemos ser justificados pela fé que se firma
no Evangelho, na boa nova de grande alegria de que Deus se faz favorável para com os pecadores que se arrependem de seus
pecados e se unem pela fé a Cristo, para serem justificados e santificados.
Por isso, aqueles que pensam que poderão ser
justificados pelo próprio esforço em praticarem as obras da lei, à parte da fé em Cristo, estarão permanentemente debaixo da
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maldição da Lei, porque a Lei não foi dada por Deus para o propósito de justificar, e não
poderia ser dada para tal objetivo, porque o homem é pecador e já se encontra condenado, independentemente do que possa fazer de bom.
As santas exigências da Lei comprovam o quanto o homem está distanciado da perfeita
justiça e santidade de Deus.
Logo, a Lei não poderá justificá-lo, porque
para isto seria necessário que o homem fosse perfeito no cumprimento de tudo o que a Lei exige desde o seu nascimento, quer em
palavras, em pensamentos e ações; tanto nos deveres relativos a Deus quanto ao seu próximo.
Ninguém além de Jesus Cristo conseguiu cumprir perfeitamente toda a Lei, e somente
Ele poderia reivindicar a justificação da Lei caso necessitasse dela, mas isto nunca seria preciso no Seu caso, porque Ele não tinha do
que ser justificado, pois era sem pecado.
Quando alguém confia em seu coração que seus pecados são perdoados por causa do
sacrifício de Cristo, e da Sua justiça, Deus cobrirá os seus muitos pecados com o sangue do Seu Filho, e lhe aceitará por causa desta
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confiança nos méritos de Cristo como suficientes para expiar a sua culpa e dar-lhe a salvação.
É como se Deus dissesse: “Eu perdoarei os
seus pecados porque você crê que o meu Filho é poderoso para livrá-lo da condenação futura,
porque Ele próprio se fez maldição no seu lugar na cruz, para que você não estivesse mais debaixo da maldição da Lei. E por causa
desta sua confiança nEle, Eu lhe darei o Espírito Santo que prometi derramar como aceitação plena do sacrifício que o meu Filho
fez por você na cruz, de maneira que o Espírito Santo possa transformar seu coração e operar em você um caráter verdadeiramente santo,
assim como Eu sou santo.”
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VII – Porque Deus Deu a Lei Através
de Moisés (Gálatas 3.19-29)
Ao introduzirmos o comentário desta
passagem de Gálatas 3.19 a 29, é importante
fixarmos diante de nós ao longo de tudo o que falarmos e ouvirmos acerca deste assunto, que as coisas que são afirmadas relativamente
ao mesmo, não significam que devemos ter a Lei de Deus em baixa estima.
Ao contrário, devemos estimá-la muito, amá-
la e estarmos sinceramente interessados não apenas em ouvir seus mandamentos, mas,
sobretudo praticá-los.
No entanto, quando o assunto que se tem em
vista é o relativo à nossa justificação, então a Lei deve ser deixada de lado nesta hora, e confiarmos somente em Cristo e na Sua graça
para que possamos ser justificados, porque se olharmos para a Lei, somente acharemos motivo para sermos condenados, porque
somos pecadores, e não podemos cumprir perfeitamente todos os Seus mandamentos.
Não somos à vista de Deus, pecadores apenas
pelos atos consumados que praticamos, mas também pelas intenções dos nossos corações e nossas atitudes.
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Mas, como os gálatas estavam fascinados pela
Lei e não mais pela graça, Paulo se esforçou para lhes explicar o que ela é, e qual foi o propósito de Deus ao dar a Lei a Moisés.
Evidentemente, ele não esgotou o assunto na epístola aos Gálatas, mas destacou alguns
exemplos sobre o caráter e propósito da Lei, que julgou necessários para que pudessem entender o uso adequado que deveriam fazer
da Lei, para o benefício do crescimento deles na graça e no conhecimento de Jesus.
Ele introduz o assunto, com a pergunta que
encontramos no verso 19: “Logo, para que é a Lei?
Este “logo” demonstra que a pergunta que ele estava fazendo, era conclusiva dos argumentos que havia apresentado
anteriormente, isto é, em face de tudo o que havia dito, qual era a conclusão que se poderia chegar em relação ao que é a Lei, já que ele
havia enfatizado muito mais, a necessidade da graça do que a da Lei para a nossa salvação?
Ele poderia ter perguntado em face da
promessa que havia sido feita a Abraão antes da Lei, e à qual havia se referido anteriormente:
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“Se aquela promessa é suficiente para a salvação, para que então serve a Lei? Ou, por
que Deus deu a Lei por intermédio de Moisés, já que havia prometido salvar apenas pela fé, desde Abraão?”
O apóstolo responde abreviadamente, que a
Lei foi acrescentada por causa das transgressões (v. 19). Ela não foi projetada para
anular a promessa, ou para estabelecer um segundo modo diferente de justificação, que não fosse simples e unicamente pela
promessa que Deus fez, de salvar aqueles que se unissem pela fé ao descendente de Abraão, que é Cristo.
Porque a promessa diz que é nEle, isto é, pela união com Ele, que são benditas todas as
nações da terra.
A Lei foi dada principalmente, para
comprovar que vivemos num mundo que ficou sujeito ao pecado, pois nossos pensamentos e ações não são o reflexo das
exigências morais e espirituais da Lei, a qual reflete o caráter santo de Deus.
Por isso, a dispensação da Lei deveria vigorar
primeiro, antes da dispensação da graça, e as punições que estão previstas na própria Lei, que foram aplicadas abundantemente sobre a
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nação de Israel no período do Antigo Testamento, no qual vigorou a dispensação da Lei naquela nação tiveram a sua razão de ser
nos conselhos de Deus, para nos convencer de que Ele é santo, exige santidade de Seus filhos, e castiga o pecado.
Aqueles que são do povo de Deus receberam a
Lei para entenderem principalmente, esta grande verdade, que Deus exige santidade do
Seu povo, e por isso Jesus nos foi dado, bem como a Sua graça, para que pudéssemos viver nesta santidade que nos é ensinada pela Lei.
A Lei veio colocar o pecado em realce, como se afirma em Rom 5.20:
“Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou,
superabundou a graça;”.
Como se vive num mundo onde todos são
pecadores, e a tendência da natureza terrena decaída no pecado é justificar o pecado, então Deus revelou Sua santidade e justiça pela Lei,
de maneira que sejamos indesculpáveis em relação ao pecado.
Também foi pretendido por Deus, com a Lei,
que a prática do pecado fosse contida pelo temor que a Lei produz na mente, de maneira que aja como um freio naquilo para o que os
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homens são naturalmente inclinados a praticar.
E, ainda pelo motivo de ter sido acrescentada
a Lei por causa das transgressões, ela cumpre sua grande e principal finalidade, que é a de nos convencer da nossa necessidade absoluta
de um Salvador que possa nos apartar das nossas iniquidades.
Paulo acrescenta que a Lei foi determinada
para este propósito, até que viesse a posteridade à qual a promessa do Evangelho
havia sido feita.
Então, a Antiga Aliança baseada na Lei teria
um tempo pré-determinado por Deus para sua duração, e efetivamente ela vigorou desde Moisés até João Batista, como se afirma em Mt
11.13; Lc 16.16.
Portanto, a Nova Aliança entraria em vigor a
partir da morte de Jesus, porque foi estabelecida no sangue que Ele derramou na cruz, passando a vigorar não com base na Lei,
mas na Graça. Daí se afirmar em João 1.7 que; “a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.”
Ou seja, a promessa do evangelho entraria
plenamente em vigor com a morte de nosso Senhor na cruz.
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Assim, a Antiga Aliança seria revogada para
dar lugar a uma Nova Aliança muito melhor que a primeira, como se lê em Hb 8.7,8; que consiste na promessa de Deus feita a Abraão, e nas fiéis misericórdias prometidas a Davi de
que faria uma aliança eterna com todos os que são da sua casa espiritual, como se afirma em Is 55.3; At 13.34.
Portanto, o terror dos juízos de Deus na Antiga Aliança contra o pecado dos israelitas tinha o
propósito de levá-los a aspirar pela Nova Aliança, que seria feita segundo a promessa e a graça, e não segundo a Lei.
Todo cristão deveria ser imensamente grato a Deus por ter preparado tal Aliança, na qual
seria inteiramente longânimo para com os pecadores enquanto viverem neste mundo sujeito às trevas do pecado. Porque a
promessa se refere a este novo pacto do qual se diz:
“31 Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que
farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá.
32 Não conforme a aliança que fiz com seus
pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles
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invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor.
33 Mas esta é a aliança que farei com a casa de
Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão
o meu povo.
“34 E não ensinará mais cada um a seu
próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior
deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.”. (Jer 31.31-34).
E ainda:
“38 E eles serão o meu povo, e eu lhes serei o seu Deus;
39 E lhes darei um mesmo coração, e um só caminho, para que me temam todos os dias,
para seu bem, e o bem de seus filhos, depois deles.
40 E farei com eles uma aliança eterna de não
me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor nos seus corações, para que nunca se apartem de mim.
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“41 E alegrar-me-ei deles, fazendo-lhes bem; e plantá-los-ei nesta terra firmemente, com
todo o meu coração e com toda a minha alma.” (Jer 32.38-41).
Deus é um só, mas não é Deus de uma só
pessoa e uma só nação. Moisés foi o mediador da Aliança que foi feita com um só povo, a saber, o de Israel, mas Jesus é o Mediador de
muitas nações, porque foi este o caráter da promessa feita a Abraão, de que seria através de Jesus pai de numerosas nações (Rom
4.16,17).
Além disso, Jesus é o Mediador de ambas as
partes envolvidas na Aliança que é feita no Seu sangue, tanto Deus quanto o pecador.
O pecador como a parte ofensora da justiça, e
Deus a parte ofendida. Ele, e somente Ele poderia satisfazer à justiça de Deus, de modo
que agindo também como nosso Mediador, limpando-nos das nossas culpas e ofensas pudéssemos ser reconciliados com Deus, por
este Seu trabalho de mediação.
Como Moisés e a Lei poderiam fazer este trabalho? Pois ele recebeu além dos
mandamentos morais, mandamentos civis e cerimoniais para serem cumpridos por Israel; o que seria exigido de todos os israelitas para
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que agradassem a justiça de Deus naquela Antiga Aliança.
Eles deveriam atender a todas as
especificações relativas aos sacrifícios de animais, para a cobertura do pecado.
Ainda que fossem oferecidos com toda a
sinceridade, aqueles sacrifícios não podiam remover a culpa do pecado, porque eram
apenas figura do único sacrifício que pode remover a culpa do pecador, a saber, o de Jesus Cristo.
Mas tal era exigido naquela Aliança, da qual Moisés era o mediador; por conseguinte, diz-
se que ele era mediador de um pacto inferior, que a ninguém podia aperfeiçoar na justiça e santidade de Deus (Hb 7,19; 8.6).
“Pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou e desta sorte é introduzida uma melhor esperança,
pela qual chegamos a Deus.” (Hb 7.19).
“Mas agora alcançou ele ministério tanto
mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas.” (Hb 8.6).
Moisés, simples homem que era, não poderia
também, na qualidade de mediador capacitar o povo a amar e obedecer a Deus, de maneira
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que cumprissem efetivamente Seus mandamentos. E muito menos havia nele
poder para purificar seus corações do pecado.
Como poderia então, Moisés e a Lei que lhe fora dada promoverem a plena satisfação da
justiça de Deus?
Por isso há apenas um só Mediador entre Deus
e os homens, para o propósito de se satisfazer à justiça divina; porque na condição de Mediador, Jesus é infinitamente superior a
Moisés e não somente pôde remover inteiramente a culpa do pecador, quanto reconciliá-lo com Deus, pelo sacrifício de si
mesmo, como também é poderoso para aperfeiçoar os cristãos na justiça; tanto por ter se tornado a justiça deles pela justificação
imputada, quanto como Sumo Sacerdote que lhes deu o Espírito Santo para a transformação de suas vidas em santidade, tanto na
regeneração quanto na santificação.
De maneira que eles são capacitados a
amarem e a obedecerem a Deus. Não é, portanto, maravilhoso o plano de salvação de Deus estabelecido em Cristo Jesus? Glórias ao Seu santo nome!
Deste modo, a Lei não é Graça, porque a Antiga Aliança é totalmente diferente da
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Nova, mas a Lei cumpre o propósito que Deus
designou para ela, tanto na Antiga quanto na Nova Aliança, de nos convencer do pecado e levar-nos a depender inteiramente do Senhor em tudo o que se refere à nossa salvação
(eleição, chamada, justificação, regeneração, santificação, glorificação).
Consequentemente, a Lei não é de modo
algum incompatível com a promessa, mas é sua serva pelo desígnio que lhe foi dado por
Deus, de revelar o pecado dos homens, e lhes mostrar que necessitam de uma justiça mais elevada do que a justiça que é decorrente das
obras da Lei, a saber, da simples prática dos seus mandamentos.
Por isso é dito que a justiça com a qual somos
justificados por Cristo é evangélica, isto é, ela é decorrente da graça e da nossa fé no
evangelho, e não por causa da nossa perfeição moral total e absoluta, a qual não é possível de ser atingida por ninguém enquanto estiver
vivendo neste mundo.
Os atos produzidos debaixo do Espírito dão para vida e paz, mas os que são produzidos
debaixo da carne produzem a morte das graças que estão destinadas a viver e crescer, e não a morrer.
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A carne quer reconhecimento e louvor, mas o espírito dá glória e graças a Deus por tudo.
Quão fácil é errar continuamente o alvo,
porque estamos inclinados naturalmente para a carne e não para o Espírito.
A falta de empenho em submissão ao Espírito dá natural e consequentemente, o governo à
carne.
Paulo diz que a lei nos serviu como um
pedagogo, isto é, um professor de infantes cujo alvo foi o de nos preparar para nos apresentar a Cristo.
Assim, depois que a fé do evangelho veio na dispensação da graça, já não haveria mais
necessidade da Antiga Aliança, e por isso ela foi revogada; o pedagogo não seria mais necessário, porque já havia cumprido o papel
que lhe havia sido designado por Deus, de nos convencer que somos pecadores que transgridem Seus mandamentos santos e
justos.
A Graça é diferente da Lei, mas não é contra a Lei.
A Lei é diferente da Graça, mas não é contra a Graça.
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Ambas são diferentes em seus propósitos e
cumprimentos, mas procedem do mesmo Deus santo e verdadeiro.
Então, depois de ter apresentado todos os
argumentos relativos ao propósito da Lei, que foi um servo, um professor que nos conduziu a Cristo, Paulo faz a declaração solene que
encontramos em Gál 3.26-29.
“Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a
fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Desta forma, não pode haver
judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo,
também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa.”
Mesmo em sua desobediência, por estarem
debaixo da Nova Aliança, os gálatas podiam contar com seus privilégios e benefícios,
porque através da união com Cristo foram feitos filhos de Deus, e esta união não pode ser desfeita por nenhum poder terreno ou celestial, porque Deus fez a promessa de não
lançar fora a nenhum daqueles que fossem transformados em Seus filhos por meio da fé em Cristo.
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Tentar separá-los de Cristo é uma tarefa impossível, porque os cristãos foram
batizados nEle próprio, tanto na Sua morte, quanto na Sua ressurreição, de maneira que tudo o que Jesus conquistou em Seu trabalho,
é também propriedade deles.
A promessa que Deus fez a Abraão foi selada com um juramento do próprio Deus, de
maneira que por essas duas coisas imutáveis (a promessa e o juramento) os cristãos estejam certos de que sua salvação é segura e
eterna, independentemente do grau de santificação que possam vir a obter neste mundo, pois regenerados pelo Espírito, todos
eles foram transformados em santos para o Seu Deus, que determinou salvá-los não segundo suas obras, mas segundo a Sua
promessa. Portanto, se somos salvos por promessa, o meio desta salvação não é condicional a nada que devamos fazer para
sermos salvos. Não é por mérito pessoal, porque é por promessa.
Logo, somente pode ser por graça, porque o
que foi prometido é que seríamos salvos se estivéssemos unidos ao descendente de Abraão, que é Cristo. E como esta união é
espiritual e sobrenatural, ela não pode ser realizada por nenhum meio carnal, senão unicamente pela fé.
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Deste modo, os cristãos na Nova Aliança desfrutam de muito maiores e melhores
privilégios que os judeus tinham debaixo da Antiga Aliança; por isso nenhum deles deveria se gloriar no fato de serem superiores aos gentios, pelo argumento de serem os
depositários da Lei, porque, como temos visto, a Lei foi um servo para nos conduzir a Cristo, e em Cristo já não permanecemos debaixo da
autoridade deste aio, de maneira que em Cristo não há mais as distinções que existiam na Antiga Aliança, entre judeus e gregos,
servos e livres, homens e mulheres, porque como diz o apóstolo, todos os cristãos são um, em Cristo Jesus.
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VIII – Rudimentos Fracos não
Podem nos Tornar Fortes para a Libertação (Gálatas 4.1-20)
O apóstolo, neste capítulo, ainda está tendo o
mesmo propósito geral dos capítulos anteriores que era o de levar os cristãos gálatas a serem purificados dos falsos ensinos
que haviam abraçado, por terem sido fascinados e enganados pelos falsos apóstolos e mestres.
Os falsos apóstolos, que haviam fascinado os gálatas transitavam como mestres da Lei,
pessoas entendidas nos assuntos relativos ao Deus que havia se revelado a Israel, agindo falsamente em nome dos apóstolos que
estavam em Jerusalém, sem estarem autorizados por eles; ou, mesmo que isto fosse do seu conhecimento, afirmavam que
estavam defendendo em nome deles a Lei de Moisés, que Paulo estava desprezando.
Veja a sutileza dos argumentos do diabo. Paulo
não estava falando contra a Lei, mas apenas dizendo que ela havia sido dada para propósitos completamente diferentes do
relativo à justificação dos pecadores, ainda que contribuísse até mesmo para este propósito conduzindo os pecadores a Cristo,
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por convencê-los acerca do pecado e da santidade que é devida a Deus.
Mas como Paulo havia demonstrado claramente, que a Lei era apenas um servo de
um propósito muito maior, então os falsos mestres estavam se jactando de um conhecimento sem entendimento, porque não conseguiam discernir o plano de salvação
de Deus, nem mesmo qual foi o Seu propósito quando estabeleceu a Antiga Aliança.
Eles haviam tropeçado na Rocha de escândalo
(Rom 9.33; I Pe 2.8), porque sua confiança estava na mera religiosidade e não
propriamente em Deus e Sua vontade; tanto que eles haviam rejeitado a Cristo, e a promessa que foi feita a Abraão, por causa do
orgulho nacional que os levava a crer, que eram superiores a todos os homens, e que o mero ritualismo da lei que seguiam e haviam
adulterado de várias maneiras era o padrão a ser seguido para se agradar a Deus. Quanta ilusão e engano havia da parte deles!
Eram na verdade guias cegos, nuvens sem água, mestres sequer da Lei que eles fartamente transgrediam, como se afirma na
Bíblia, mas mesmo assim, se consideravam a luz e a esperança dos gentios, e não nosso Senhor Jesus Cristo.
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As palavras que Paulo usou em Romanos 2 e 3
para se referir a estes judeus, bem definem seus sentimentos e pensamentos a que nos
referimos:
Os judaizantes estavam equivocados, por se considerarem os depositários de uma
revelação melhor (a da Lei), que a do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
Porque se dá exatamente o oposto, conforme
Paulo estava demonstrando na sua argumentação junto aos gálatas.
Paulo chama a Lei cerimonial e civil do Antigo Testamento, e a própria Antiga Aliança, de
rudimentos fracos que os gálatas queriam servir.
Eles eram pagãos antes de terem vindo a
Cristo, isto é, não tinham nenhum conhecimento sobre a vontade revelada de
Deus nas Escrituras, e não eram contados em suas nações com o povo de Israel, que era a única nação com a qual Deus estava aliançado
no Velho Testamento.
Não que Ele esteja agora propriamente aliançado com todas as nações da terra, mas
na dispensação da Lei nenhuma outra nação se encontrava debaixo do regime teocrático, senão Israel, de modo, que naquele tempo
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todas as demais nações eram consideradas pagãs.
E, cada uma destas nações servia aos seus
falsos deuses, até que Cristo veio, e muitos destes pagãos se converteram ao Deus vivo e verdadeiro, como foi o caso dos gálatas; de
maneira que deixaram os seus falsos deuses para servirem unicamente ao Senhor, que passaram a conhecer pessoalmente, pela
revelação do Espírito Santo em seus corações.
Mas, ainda que alguns ou a maioria deles,
apesar desta experiência pessoal com Deus, não o conhecessem da maneira pela qual convém ser conhecido, através de um
amadurecimento espiritual em santificação que nos habilita a conhecer melhor qual é o caráter e vontade do Deus que servimos; no
entanto, todos os filhos de Deus, sem uma única exceção, são perfeitamente conhecidos por Ele (II Tim 2.19).
Por isso, no ato de se voltarem para os rudimentos fracos da Antiga Aliança, tendo uma vez sido revogados por Cristo, eles eram
mais indesculpáveis do que os próprios judeus, porque afinal, não haviam sido educados nos costumes deles.
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Eles serviam a ídolos, e conheceram a
santidade do Senhor pelo Espírito e pela palavra do Evangelho, e agora estavam
deixando uma adoração espiritual na liberdade do Espírito, por uma adoração cerimonial que se baseava em guardar dias, meses, épocas e anos sagrados.
É provável que estivessem guardando as festas dos tabernáculos, o sábado da Lei com todas as
suas prescrições cerimoniais previstas na Lei de Moisés, e todas as demais festas e celebrações judaicas.
Deus é espírito, e deve ser adorado somente em espírito. Deus é verdade, e deve ser
adorado somente em verdade. A graça e a verdade foram trazidas por Cristo, de modo que não se sirva mais a Deus nas bases de um
antigo pacto que Ele revogou.
Lembremos que Deus nunca prometeu salvar
qualquer pessoa, pela observância religiosa de cerimônias e rituais.
Paulo então roga humildemente como um pai
que insta com seu filho perdido, a voltar ao mesmo bom caminho em que andava antes da sua perdição.
Ele havia desabafado no verso 11, dizendo que estava perplexo com o que haviam feito, e
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receava que tivesse trabalhando em vão em relação a eles.
Mas como que logo lembrando imediatamente da condição deles, de terem
sido feitos filhos de Deus, tal como ele havia sido feito também, ele desce ao nível deles, não no que se refere ao pecado, mas da sua miséria, e por um momento também se sente
miserável com eles, ante a impotência de poder fazer por si mesmo algo em relação a eles, de modo que todo o seu trabalho e
cuidado não se tornasse infrutífero.
E assim, lhes fez recordar quão grande era o
afeto que tinham por ele quando lhes pregou o evangelho pela primeira vez, e como lhe haviam tratado tão bem, mesmo diante da sua
fraqueza na ocasião, provavelmente em razão de alguma possível enfermidade, pois lhes disse que estavam dispostos até mesmo, se
possível fora, a arrancarem seus próprios olhos para lhos darem. Ou, isto foi o resultado de ferimentos produzidos pelo
apedrejamento que ele havia sofrido dos judaizantes naquela região.
O livro de Atos conta detalhes do que ocorreu
ao apóstolo quando pregava o evangelho nas cidades da Galácia (Perge, Derbe, Listra, Antioquia da Psídia e Icônio).
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Aquela fraqueza quanto à sua incapacidade e
impotência pessoais serviu aos propósitos de Deus, porque o poder de Cristo e Sua graça se
aperfeiçoam em nossa fraqueza. De modo que quando somos fracos, então é que somos fortes, porque trocamos a nossa incapacidade pelo poder do Espírito Santo, que nos assiste
em nossas fraquezas.
Deste modo, Paulo introduz esta seção da
epístola, chamando os gálatas de irmãos.
Ele quer demonstrar que apesar de apóstolo
de Cristo, ele não se envergonha de chamá-los de irmãos, desde o maior até o menor deles, assim como o nosso Salvador também não se
envergonha de nos chamar de irmãos, apesar de ser o nosso Senhor.
No amor cristão as diferenças se dissolvem.
Assim como Cristo se rebaixou deixando a
glória dos céus, por amor também devemos nos humilhar para que possamos ser úteis àqueles que se encontram em necessidade
espiritual, que é comum a todos nós.
Não devemos lhes falar do alto da nossa autoridade e importância, porque
esmagaríamos a cana quebrada e apagaríamos o pavio fumegante, e certamente não é este o ministério do Senhor Jesus neste
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mundo, porque tem se compadecido das nossas misérias espirituais.
E quando o próprio Paulo havia pregado o evangelho em fraqueza, os gálatas superaram por causa do seu amor a ele, a tentação que foi
para eles vê-lo naquela fraqueza.
Eles não o desconsideraram, nem o
desprezaram como possivelmente estavam fazendo agora, por causa dos argumentos dos judaizantes, porque procuravam por todos os
meios desqualificar e rebaixar o apóstolo diante dos seus olhos, afirmando que se fosse verdadeiro ministro de Cristo não estaria
sujeito a tantas tribulações, fraquezas e perseguições.
Os falsos apóstolos se gloriavam das suas
honrarias, suas posses e conquistas terrenas, alegando que eram bênçãos de Deus por
observarem a Lei de Moisés.
E agora, os gálatas não haviam conseguido
vencer a tentação, de considerar Paulo alguém que não era bem-sucedido segundo os padrões do mundo.
Ele lhes rogou que voltassem a ser como
foram no princípio. Que não julgassem segundo a aparência, e não interpretassem as
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tribulações como prova de um possível desfavor de Deus.
Paulo fecha esta seção da epístola afirmando,
que o que estava dizendo quanto à reprovação do que estavam fazendo agora, não era movido por nenhum ressentimento pessoal, ou por
inimizade; ao contrário, eram palavras de um autêntico amigo, porque eram a pura expressão da verdade. O amor folga com a
verdade.
O amor não recorre à mentira. Que os gálatas
aprendessem a julgar segundo a reta justiça, conforme convém a todo filho de Deus.
Um verdadeiro amigo prevenirá seu irmão
que estiver errando, e se o irmão errado tiver algum senso, ele agradecerá ao seu amigo.
O apóstolo queria que os gálatas soubessem que lhes tinha falado a verdade, para o próprio
bem, e que não pensassem que ele os repugnava. Ele lhes falou a verdade, porque os amava.
Assim, o apóstolo alertou aos gálatas sobre as reais intenções dos judaizantes.
Eles protestavam que tudo o que estavam
fazendo era por causa do zelo deles em relação aos gálatas.
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Mas, Paulo lhes disse qual era a real motivação
por detrás daquele suposto zelo: eles odiavam a doutrina de Paulo e queriam jogá-la fora da
vida dos gálatas.
Eles queriam afastar seus corações, do coração de Paulo. Eles queriam em última
instância, afastá-los de Cristo.
Eles agiam movidos por inveja, porque lhes
incomodava o modo como o evangelho avançava rapidamente no mundo, ganhando muito mais adeptos do que o judaísmo, que
nos dias de Jesus havia se transformado numa religião pervertida, baseada em mandamentos de homens enfatuados em sua
compreensão carnal.
Enquanto a mensagem dos judaizantes estava
muito afastada da revelação das Escrituras, o cristianismo nos dias de Paulo seguia fielmente esta revelação, e o evangelho estava
plenamente em conformidade com tudo o que os profetas do Velho Testamento haviam falado da parte de Deus a respeito dele.
Então, que zelo pelo que é bom, era aquele que os judaizantes afirmavam ter pelos gálatas?
Aquilo que parecia um grande zelo era na
verdade, ausência de sinceridade e amor à verdade.
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É costume dos sedutores insinuarem muito afeto pelas pessoas, somente com a intenção
de ganhá-las para suas causas.
Eles as adulam, envolvendo-as com apelos emocionais e sentimentais, procurando
agradá-las, dando-lhes aquilo para o qual sua natureza está inclinada, sem levar em conta se estas coisas estão em conformidade com a
vontade revelada de Deus.
O diabo não se importa nem um pouco, em
concordar com todos os nossos desejos e em estimular a realização de todos os nossos sonhos. Neste sentido ele é o maior amigo dos
pecadores, só que, o que ele faz é agravar ainda mais a culpa pelos seus pecados.
Ele usa sempre a mesma estratégia do Éden,
pois promete mundos e fundos, tal como fez descaradamente, até com o próprio Jesus na
tentação do deserto.
Foi a mesma velha Serpente que prometeu
onisciência divina a Adão e Eva, e procurou se mostrar mais amigo deles do que o próprio Deus, dizendo-lhes que eram livres e deveriam fazer um bom uso da sua liberdade,
fazendo tudo o que desejassem, inclusive comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.
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Ele não disciplina, nem cura feridas com remédios amargos; antes sempre sinaliza o
que é doce e agradável, promete riquezas, fama e honrarias, e não são poucos os que caem nos seus laços vitimados por suas próprias cobiças pecaminosas.
Então, o trabalho do diabo é basicamente este, de estimular a própria natureza decaída do
homem a pecar e a se desviar da verdade, não importando que a Palavra de Deus seja transgredida, e que os autênticos ministros
que Deus tem levantado para nos servir sejam feridos por nossas ingratidões e rebeliões.
Foi assim que o diabo agiu no céu quando da
sua queda, e ele tem procurado ardorosamente discípulos na terra, entre os
homens que estejam dispostos a seguir seus passos.
O que os gálatas haviam feito foi um ato de
rebelião contra a verdade revelada, para seguirem após o diabo, virando as costas para
o Senhor que lhes havia salvado, e serem ingratos a Paulo.
Deste modo, todo zelo verdadeiro deve ser
sempre pelo bem, que é a verdade (v. 18); um zelo sincero e bem disciplinado que exista não somente na presença dos homens, mas em
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todas as ocasiões da nossa vida, porque não é zelo para agradar a homens, mas para agradar a Deus.
O sentimento de Paulo em relação aos gálatas
era o de que necessitaria gerar de novo neles, a vida de Cristo.
Isto não seria necessário quanto à regeneração, porque eram nascidos de novo
pelo Espírito, e por isso Paulo os chama de “meus filhinhos”. Mas necessitavam serem renovados na Palavra da verdade, na vida e no
andar no Espírito.
Isto era algo que havia deixado o apóstolo
inteiramente perplexo. Eles haviam se afastado da verdade em muito pouco tempo.
Todo pastor deveria ser como Paulo, no
esforço de formar Cristo no coração dos seus ouvintes.
Os Gálatas haviam perdido a forma de Cristo, mas Paulo estava dizendo que estava disposto
a reformar Cristo neles, isto é, a formá-lo de novo em seus corações.
Paulo expressa que gostaria de fazer isto
estando presente entre eles, e mudando seu tom de voz, porque em face do arrependimento que visse neles, à medida que
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lhes expusesse estas coisas, ele mudaria
também o tom de suas palavras repreensivas.
Ele preferiria fazê-lo realmente com outro tom de voz, porque é muito doloroso para todo
pai ter que corrigir duramente seus filhos à altura da gravidade dos erros que eles cometeram, mas todo pai amoroso sempre
abaixará o tom da sua voz quando perceber um sincero arrependimento no filho que se submeteu à sua repreensão.
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IX – A Liberdade dos Nascidos pela
Promessa (Gálatas 4.21-31)
Paulo demonstra nesta seção da epístola,
que o que estava ocorrendo com os gálatas era o mesmo que havia ocorrido entre Ismael e Isaque, porque Ismael zombava de Isaque, porque era filho da mulher livre (Sara), e ele,
filho de uma escrava (Agar).
De igual modo, os dois povos que haviam se
formado como descendência de Abraão, o terreno (Israel na Palestina) e o celestial (os cristãos) estariam na mesma condição
relativa a Isaque e Ismael, pois os que nasceram como povo no Sinai, onde a Lei foi promulgada, e Deus fez aliança com este
Israel terreno através de Moisés, viria a perseguir o povo nascido pela aliança firmada no sangue de Jesus derramado no monte Sião,
cuja pátria não é a Jerusalém terrena, mas a Jerusalém celestial.
Logo, não era nada surpreendente que
aqueles judeus estivessem perseguindo a Igreja de Cristo para sujeitá-la à escravidão da Lei; e os gálatas deviam estar bem inteirados
disto, de modo que entendessem qual era a verdadeira natureza do assédio que estavam sofrendo da parte dos judeus.
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Deus havia profetizado que colocaria Israel
em ciúmes com os gentios, porque em face do seu endurecimento, Ele estenderia a salvação aos gentios. Eles não concordariam do ponto
de vista religioso deles, que pagãos pudessem ser aceitos por Deus, ainda que se convertessem a Ele, fora dos termos da
Aliança que havia sido feita no monte Sinai.
Assim, como no dizer de Paulo; Agar e Sara
representam alegoricamente duas alianças, duas dispensações diferentes. Uma que gera filhos para servidão (Agar), porque não são
nascidos segundo a promessa de Deus, tal como fora Isaque. A Jerusalém terrena gerou filhos para servidão na Antiga Aliança, isto é,
debaixo da Lei, porque não havia naquela aliança nenhuma promessa de Deus relativa à vida eterna, tal como há na Nova.
Deus salvou naquela dispensação também pela graça, mediante a fé, mas não por alguma
promessa inerente àquela dispensação para os que faziam parte da Antiga Aliança.
As promessas que encontramos nos profetas
do Velho Testamento neste sentido, se referem à Nova Aliança que ainda seria inaugurada com a morte de Jesus.
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A igreja é a noiva de Cristo, e é nEle que se
cumprem as promessas de Deus relativas à vida eterna celestial.
A Jerusalém celestial ainda não foi
manifestada, e pode-se dizer que é uma mulher estéril, por ora, tal como Sara, mas no momento aprazado pelo Senhor ela estará
cheia de filhos; filhos que viverão eternamente, porque o que Deus tem prometido, cumprir-se-á a seu tempo.
Os judeus, que ainda hoje permanecem com seus filhos, resistindo à Aliança da Graça, por
estarem apegados à justiça da Lei, permanecem em estado de escravidão, e não conhecerão a liberdade dos filhos de Deus,
caso não se convertam, voltando-se para Cristo.
Enquanto isto, os gentios que não conheciam
a revelação de Deus estão se convertendo pelo mundo afora, porque estes que se convertem
são filhos da promessa, e vivem na liberdade do Evangelho, e não sob o jugo da Antiga Aliança.
Devemos considerar que aqueles que são das
obras da Lei ainda em nossos dias, perseguem aqueles que vivem na graça de Cristo.
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Os próprios cristãos legalistas são assassinos
da graça, e apesar de livres agem como se fossem escravos, porque querem viver debaixo das cerimônias e ritos da Lei, não
sabendo que em Cristo não estão mais debaixo da Lei, e por isso não devem viver debaixo dela, colocando-se debaixo de um jugo do qual foram livrados pela promessa que Deus fez
acerca dos seus filhos gerados na Nova Aliança.
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X – Voltando à Prisão Depois de Ter Sido Libertado (Gálatas 5)
Tendo argumentado no capítulo anterior
quanto à liberdade que os cristãos têm em Cristo por serem filhos da promessa, da Jerusalém celestial, por terem sido libertados
em Cristo da condenação e da maldição da Lei, é seu dever viverem para Cristo, não como escravos, mas como livres que são.
O cristão é livre até mesmo da escravidão do seu próprio ego, da sua própria vontade,
porque é livre para poder escolher e viver segundo a vontade de Deus pelo poder do Espírito.
Portanto, uma vez que os gálatas retornassem à obediência, à verdade do Evangelho
deveriam ter o devido cuidado de não retornarem a cair na mesma sedução que lhes havia vencido, e removido da liberdade em
que se encontravam para serem sujeitados ao jugo de servidão que lhes foi imposto pelos judaizantes.
Há poderes terríveis operando no mundo
espiritual, e eles disputam pelo governo total de nossa vontade e espírito.
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A carne sempre tentará trazer o cristão de
novo, à sujeição total que exercia sobre ele, quando andava no mundo sem Cristo.
O mundo também faz o mesmo, tentando cativar totalmente a vontade e os afetos do cristão nos tesouros terrenos, sejam eles
lícitos ou não.
Satanás, o diabo, dispensa comentários
quanto a isto, quer agindo diretamente, quer usando seus ministros que se transfiguram em ministros de justiça, para enganar os
cristãos.
A liberdade com que Cristo nos libertou é
muito ampla, mas Paulo tem em mente aqui, nesta seção de Gálatas, a liberdade relativa ao jugo da Lei que havia sido colocado pelos
judaizantes sobre os cristãos gálatas.
Aprouve a Deus salvar e libertar os pecadores
através da fé, conforme revelou ao profeta Habacuque (2.4). Então, a mensagem de salvação e libertação do evangelho é a
pregação da fé e não das obras da Lei.
Assim, os muitos “evangelhos” que não ensinam que Cristo é o tudo da nossa salvação,
e que é olhando sempre para Ele com os olhos espirituais da fé, que progredimos espiritualmente, sempre produzirão o efeito
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de nos separar da comunhão com o Senhor, ainda que afirmemos que é em Seu nome que
nos submetemos às práticas que são estranhas ao evangelho.
Uma vez estando separado da comunhão com
o Senhor, por se entristecer e apagar a atuação do Espírito Santo, com este pecado de ingratidão, de desconsideração para com Ele e
com tudo o que fez por nós, e que nos tem ordenado no evangelho; a consequência imediata é a de se decair da graça, isto é, não a
perda da salvação, mas ficar privado do crescimento e das consolações da graça pelo Espírito. E de retornarmos às prisões
espirituais das quais havíamos sido libertados.
Por isso o Espírito Santo luta contra a carne, no
crente que está despertado para seu dever para com Deus, pois se a carne procura nos reconduzir à prisão da qual fomos resgatados
por Cristo, o Espírito Santo luta contra a carne para subjugá-la e, com isto, preservará a nossa liberdade espiritual.
A propósito, faremos bem em considerar que a graça não é uma filosofia, mas um poder, na verdade, o maior poder operante neste
mundo, porque é por ela que se destrói o pecado, e se transforma progressivamente pecadores em santos, pela regeneração (novo
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nascimento espiritual), e o processo da santificação, pelo Espírito Santo.
Como o objetivo dos gálatas era o de serem justificados pela circuncisão, Paulo lhes lembrou que isto era muito pouco ou quase
nada, porque segundo a justiça da lei, para a justificação é necessário cumprir perfeitamente todos os demais
mandamentos, e isto continuamente por toda a vida.
E, que poder poderiam a circuncisão e todos
os mandamentos cerimoniais e rituais da Antiga Aliança fazer para subjugar o poder do
pecado? Nenhum!
Temos demonstrado anteriormente que isto é
uma tarefa impossível, porque o homem é pecador.
Nós não estamos tratando agora de um
assunto sem importância. É uma questão que envolve liberdade perpétua ou escravidão
perpétua.
Porque a libertação da ira de Deus pelo ofício amoroso de Cristo, não é um benefício
transitório, mas uma bênção permanente; assim como o jugo da Lei para os que permanecem debaixo da maldição da Lei, por
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não terem sido libertados por Jesus, não é temporário, mas uma aflição perpétua.
Contudo, os gálatas haviam sido encantados e
estavam cegos quanto a esta verdade que lhes havia sido ensinada, na qual não haviam ficado firmes. Eles não permaneceram firmes
na graça, e decaíram dela.
Porque não há outro modo de permanecer na
graça, a não ser o de ficar firme na palavra do evangelho, sem se deixar remover na mente ou no espírito, dando crédito a doutrinas que
afirmam o oposto da nossa segurança em Jesus.
Este descaimento como afirmamos
anteriormente é consequente da desonra que se dá ao poder do Senhor, à Sua graça e
Palavra, quando se pensa que há outro modo de se agradar a Deus, a não ser pela fé e por um caminhar constante no Espírito.
A falta de fé naquilo que Deus tem afirmado é incredulidade, o que é um pecado terrível.
Deixar de crer naquilo que a boca de Deus tem proferido para se dar crédito ao homem ou ao diabo é falta de fé, e desonra ao Senhor; por
isso Paulo afirma que é pelo Espírito da fé que aguardamos a esperança da justiça, isto é, esta fé é operada pelo Espírito, de modo que temos
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plena esperança da justiça (v. 5) que temos recebido em Cristo Jesus.
Assim, Paulo afirma que não é ser judeu ou
gentio que tem qualquer valor, mas ter esta fé que opera pelo amor (v. 6).
O amor é, sobretudo a união do cristão com Cristo, que é a fonte do amor. Isto significa que
não é possível ter fé aparte da comunhão com Cristo.
Se os gálatas estavam se desligando de Cristo
para se ligarem aos judaizantes e ao seu ensino pervertido, que fé eles poderiam ter?
Como uma fé que não atuava pelo amor poderia aumentar?
Tal como a igreja de Éfeso citada em Apocalipse, os gálatas haviam abandonado o
seu primeiro amor, e como a igreja de Laodiceia tinham deixado Cristo do lado de fora dos seus corações, batendo à porta para
que se arrependessem.
O Senhor estava fazendo exatamente isto, através da epístola que Paulo escreveu aos
Gálatas. Jesus mesmo o inspirou a isto, para buscar as Suas ovelhas que haviam fugido do aprisco.
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O lobo tinha-lhes atacado e não poucas
estavam muito feridas.
A perplexidade de Paulo em relação aos gálatas estava fundada no fato de que eles
vinham correndo bem a carreira cristã, estavam progredindo na fé, e de repente, por terem permitido serem removidos da sua
própria firmeza por darem ouvidos aos judaizantes, ficaram paralisados e impedidos de continuar a carreira que vinham
efetuando.
Lembremos que a nossa luta não é contra a
carne e o sangue, mas contra Satanás que semeia o joio do erro enquanto dormimos, isto é, quando descuidamos na nossa vigilância e
diligência.
As realidades espirituais do cristianismo, que
se manifestam em nossa experiência real de vida operam somente pela verdade, de maneira que Jesus pediu ao Pai que os cristãos
fossem santificados, e indicou o meio pelo qual o Espírito realizaria esta santificação: a Palavra da verdade (Jo 17.17).
Então, nada além da verdade revelada na
Bíblia pode produzir o novo nascimento do Espírito Santo e Suas operações poderosas em
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nossa experiência real desta vida divina, até a sua plenitude, conforme é da vontade de Deus.
Devemos, portanto, zelar pela manutenção da
verdade, tal como está revelada na Palavra, para que possamos garantir a manifestação e manutenção da vida abundante que
recebemos da parte de nosso Senhor Jesus Cristo, à medida que permanecemos nEle e na Sua Palavra, que é a verdade.
Paulo esclareceu aos gálatas, que quem lhes havia persuadido àquela insensatez que
haviam cometido não fora o Senhor que os chamou, mas o diabo através dos seus instrumentos, com o fim de separá-los da
comunhão com Cristo. O diabo sabe quão difícil é a reconciliação de um cristão desviado com o seu Senhor.
Por isso Satanás tudo fará para trazer dores aos cristãos, por saber que não os terá mais
consigo no inferno depois que saírem deste mundo.
Portanto, eles deveriam ter muito cuidado
com o fermento do erro, porque não é necessário muito fermento para levedar toda a massa de cristãos, desviando-os da verdade.
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Todo aquele que pregava o evangelho era motivo de escândalo para os judeus e
suscitava a perseguição deles.
O verso 11 deve ser entendido da seguinte forma, porque o que ali se afirma é como se
Paulo o dissesse deste modo, em outras palavras: “Porém, irmãos, se é verdade que eu continuo a anunciar que a circuncisão é
necessária, por que é que sou perseguido? Se eu anunciasse isso, então a minha pregação a respeito da cruz de Cristo não causaria
dificuldade para ninguém.”
Isto implica que é possível que os oponentes
de Paulo podem ter até mesmo usado seu nome para enganar os gálatas, dizendo-lhes falsamente que Paulo dizia que a circuncisão
era necessária para a salvação.
Isto explicaria a defesa que ele fez
ironicamente desautorizando o que haviam falado a seu respeito.
Ao se referir aos judaizantes no verso 12
dizendo: “Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando“, parece que o apóstolo tinha em mente a circuncisão
que tanto prezavam e pregavam como o fim mesmo da vida com Deus, e assim ele diz, já que eles gostavam tanto de cortar os
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prepúcios, então que se mutilassem totalmente.
Parece que Paulo estava falando de modo irônico para deixar nos gálatas uma impressão bastante forte quanto à religião que estavam
querendo seguir: baseada na carne e não no Espírito.
Ele vai falar logo a seguir, da luta da carne
contra o Espírito e do Espírito contra a carne.
Na ilustração do capítulo anterior, ele havia
demonstrado que é um princípio inalterável esta luta entre o que é carnal e o que é
espiritual, no exemplo que havia fixado em Ismael e Isaque, em Agar e Sara; entre a Jerusalém terrena e a Jerusalém celestial;
entre o escravo e o livre; entre o nascido por promessa e o não nascido por promessa.
Todas estas comparações tinham em vista
conduzir ao entendimento de que o cristão estará sempre empenhado numa luta contra a
carne (natureza terrena), não propriamente ele, senão o Espírito que nele habita (nova natureza obtida pela fé em Cristo).
Aquelas ilustrações do capítulo anterior
tinham em vista, ensinar que o que é nascido meramente da carne, não herdará o céu e
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tudo o que é espiritual, celestial e divino, juntamente com o que é nascido do Espírito.
Porque o que é nascido da carne é carne, e o
que é nascido do Espírito é espírito.
O homem não herdará o céu, a menos que
tenha sido transformado em espiritual, e isto é uma obra exclusiva do Espírito Santo que é dado somente àqueles que creem em Cristo.
Foi somente a estes que Deus fez a promessa de conceder o Espírito, porque disse a Abraão
que daria esta bênção somente aos que estivessem unidos ao seu descendente, que é Cristo, verdade à qual Paulo já havia se
referido no terceiro capítulo.
Ao chegar a este nível de argumentos na
epístola, Paulo iria deixar de lado o assunto da circuncisão para se concentrar na fonte que havia dado causa ao problema dos gálatas.
Ele iria colocar o dedo na ferida para extirpar a infecção que havia contaminado toda a
igreja.
Ele fez o diagnóstico espiritual e afirmou a eles que haviam caído, não por uma mera troca de
doutrina. Não foi meramente a circuncisão que lhes havia afastado da comunhão com Cristo.
95
Algo tinha acontecido antes de terem sido
fascinados pelos judaizantes, e foi isto que permitiu a facilidade de semear sua heresia
entre eles.
Eles haviam feito um mau uso da liberdade que alcançaram em Cristo; não usaram a
liberdade da graça para crescerem no amor, servindo uns aos outros. Antes, usaram esta liberdade para dar ocasião às suas cobiças
carnais. Seu
Eles pensaram que ser livrado por Cristo
significava liberdade para fazerem o que fosse do agrado, isto é, para fazerem a vontade do ego. Eles perderam de vista o jugo e o fardo de
Jesus, que é a obediência devida a Ele.
Eles perderam de vista, a cruz que deve ser
carregada diariamente, e o dever da autonegação.
Eles esqueceram o que o apóstolo lhes havia
ensinado acerca da vida eterna que existe nos cristãos, e que deve crescer até à inteira
plenitude de Deus, para que através disso possa ser possível combater o erro, e toda forma de morte espiritual que é decorrente dele.
É somente pela permanência na vida espiritual que é operada pela fé, e cresce na
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provação da fé, que se pode ser mais do que vencedor na prática da vida cristã diária, e não apenas por mero conhecimento doutrinário.
Os judaizantes haviam aproveitado a
perplexidade dos gálatas com as várias tribulações e sofrimentos do apóstolo, para
argumentarem a favor da malfazeja doutrina da prosperidade material, e de se aproveitar o melhor deste mundo, assim como ocorre em
nossos dias, como uma nova versão repaginada desta doutrina.
Os líderes judaizantes desconheciam as
tribulações do apóstolo porque não pregavam a verdade, e assim em vez de serem
perseguidos pelo diabo eram amparados e incentivados por ele.
Mas desconhecendo as realidades do mundo
espiritual, os gálatas ficaram fascinados com a aparência das coisas visíveis deste mundo que
passa, e pensando que o bem-estar, a bem-aventurança prometida pelo evangelho consistia na chamada “vida boa”, que o mundo tanto preza fugiram das tribulações do
evangelho para as benesses prometidas pelos ministros de Satanás transfigurados em anjos de luz.
97
Uma vez afastados da sã doutrina, das palavras
de vida eterna, o resultado é a queda espiritual e a quebra da comunhão com Cristo.
A doutrina verdadeira deve ser praticada,
senão as graças que existem em nós, estão prestes a morrer (desaparecer), tal como
havia ocorrido com a Igreja de Sardes (Apo 3.1,2).
Contudo quem é suficiente para estas coisas?
Eles perderam também de vista, a
necessidade de se estar debaixo da influência do Espírito Santo, praticando a Palavra de Deus (andar no Espírito), para que estas coisas
ordenadas pelo Senhor possam ser cumpridas e vividas.
A liberdade cristã não é liberdade para a
carne, mas liberdade para a nova criatura.
A carne deve ser mortificada; por isso foi
crucificada juntamente com Cristo quando Ele morreu na cruz do Calvário (v. 24).
A nova criatura, esta sim, é livre, ela é celestial e não terrena.
Ela é responsável e perfeitamente santa. É a
semente da vida eterna que foi semeada no coração do cristão. É a nova vida do céu que foi
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implantada nele, e que está destinada a
crescer e a vencer a antiga natureza, assim como a Nova Aliança revogou e substituiu a Antiga. Ela é o odre novo no qual o Senhor está colocando o vinho celestial da verdadeira
alegria.
É por viver e andar no Espírito, no crescimento
progressivo da nova natureza, que os cristãos são habilitados e capacitados a viverem em unidade, unidos pelo vínculo do amor, sendo
um só corpo em Cristo,.
Somente assim se cumpre o propósito de Deus
em relação a eles; porém, quando se deixam governar pela carne, e negligenciam os deveres que lhes são ordenados na Palavra;
quando deixam de ser diligentes no hábito da santificação, esquecendo de purificar seus corações pela Palavra, pelo poder do Espírito,
e de permanecerem continuamente nisto por todos os dias das suas vidas, então o que se verá são todas as manifestações que são
designadas por obras da carne (dissensões, iras, etc.) e não o fruto do Espírito, que é amor, paz, etc.
Os que andam na carne jamais cumprirão a
Lei, e se iludirão se pensarem que a estão cumprindo.
99
Os que andam no Espírito têm cumprido a Lei,
e por isso não estão debaixo da Lei (v. 18), porque não há lei que possa ser contrária ao fruto do Espírito Santo (v. 23).
Como toda Lei se cumpre no amor (v. 14) que é
fruto do Espírito, então nenhum cristão deve negligenciar o dever de amar a Deus e ao
próximo, para que não seja achado em falta quanto ao cumprimento dela, porque se diz que aquele que ama tem cumprido a Lei.
É muito fácil errar esse alvo, e é aí que Satanás encontra facilidade para semear o joio.
Não basta, portanto, somente defender a sã doutrina, é necessário praticá-la por um viver
no amor de Deus.
É por isso que Paulo diz no verso 24 que: “os
que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências”.
Ora, se Deus sentenciou à morte a carne com
suas paixões e cobiças na cruz, como podem os cristãos viverem debaixo desta influência, em vez de se despojarem de tudo isto, uma vez
que a vontade de Deus é que este corpo de morte de pecado não seja apenas morto, mas também lançado fora?
100
A nós é dado, o dever de fazermos este
trabalho de despojamento pelo Espírito Santo, em vez de hospedarmos e alimentarmos o
velho homem, que já foi morto desde o dia que nos convertemos a Cristo e passamos a pertencer a Ele.
Deste modo, quanto mais uma igreja se torna
carnal, mais ela estará sujeita à influência das falsas doutrinas.
Elas serão recepcionadas com muito maior facilidade, porque é somente sendo
espirituais que podemos discernir não somente estas coisas, porque o homem espiritual discerne todas as coisas,
principalmente as que são do Espírito, porque elas se discernem espiritualmente.
Portanto é nosso dever nos interessarmos por
esta luta do Espírito contra a carne, para apoiarmos a parte que deve ser apoiada, e
destruir a que deve ser despojada.
Paulo fala disto como sendo o dever não
somente dos gálatas, mas de todos os cristãos.
Se é por um andar no Espírito que se vence a cobiça da carne, então devemos nos
empenhar firmemente em não apenas aprender o significado disto, como também o modo correto de praticá-lo.
101
A vida cristã não é uma vida contemplativa,
não é uma mera devoção mística, porque é possível ser isto e estar completamente
distante da verdade revelada.
Antes, é uma vida que deve ser aprendida. É uma prática, é um hábito, é um constante
crescimento na graça e no conhecimento de Jesus.
Por isso, para dissuadir os gálatas das suas
falsas convicções, Paulo argumentou fortemente dizendo que, se é pelos pecados
que os praticantes que os amam e não pretendem deixá-los serão deixados do lado de fora do céu; como podem os cristãos que
ganharam o céu por Jesus Cristo, permanecerem na prática destas mesmas obras pecaminosas?
É, portanto, dever de todos eles purificarem seus corações pela Palavra, mediante o poder
do Espírito.
É somente na Palavra revelada que os cristãos
podem achar segurança para ficarem livres dos erros satânicos, e de juízos errados relativos à verdade.
Veja o que o apóstolo nos ensina sobre a luta
que existe permanentemente entre a carne e o Espírito, e vice- versa:
102
"Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um
ao outro, para que não façais o que quereis." (Gál 5.17).
Observe que ele afirma que a carne e o Espírito
se opõem mutuamente para que não façamos o que seja do nosso querer. O que ele quis dizer com isto?
É que na verdade, tanto a carne quanto o Espírito lutam contra a lei natural da nossa
mente, e contra as disposições da nossa alma, isto é, tanto um quanto o outro, pretendem ter o domínio da nossa vontade e de todo o nosso
ser.
A carne (o princípio operante do pecado em
nossa natureza terrena) pretende nos levar a pecar ainda que não o queiramos; e o Espírito Santo pretende nos santificar e levar-nos a
viver não pelo que é propriamente da nossa vontade, mas por aquilo que é da vontade de Deus. Então, o Espírito não luta contra a carne
para que seja feito o que seja do nosso querer, mas para que a vontade de Deus possa se cumprir em nós.
O Espírito procurará nos levar à cruz, para que
a carne possa ser crucificada com suas paixões e desejos (Gál 5.24).
103
Jesus diz que as Suas palavras são espírito e
vida (João 6.63), isto é, elas não são meras letras, e não devem ser captadas apenas pela
mente como tal, mas deve ser buscada a realidade para a qual elas apontam.
Se em nós, o homem espiritual, o homem
interior está destinado a vencer o pecado, todavia, a carne (nossa natureza terrena) é
fraca, e, portanto, sujeita a ser vencida pelo pecado, de modo que somos ordenados a vigiar e a orar em todo o tempo, para que o
espírito possa prevalecer sobre a carne.
104
XI – A Lei da Liberdade é Manifestada pelo Amor (Gálatas 6)
A palavra grega “paraptoma”, usada por
Paulo e traduzida por “ofensa” em Gál 6.1, é a
mesma palavra usada em várias passagens do Novo Testamento para se referir a “pecados ou faltas”, sendo a mesma palavra usada por
Jesus no Pai Nosso, onde se diz “perdoa as nossas ofensas”.
Então, não significa apenas injúrias, mas todo
tipo de falta que possa ser praticada contra o próximo. Tiago faz o mesmo uso desta palavra,
quando diz que devemos confessar nossas ofensas uns aos outros.
Paulo não estava, portanto, se referindo aqui,
a erros doutrinais, mas a pecados que operam na carne e sujam o coração do cristão. Ele
expõe a maneira como isto deve ser tratado na Igreja: os que são fortes devem levantar o caído com espírito de mansidão.
Esta norma deveria ser seguida particularmente, pelos ministros da Palavra.
Os pastores devem reprovar o caído, mas
quando veem que o caído sente e se entristece por sua condição, devem confortá-lo e
105
cobrirem sua falta com o amor que cobre
multidão de pecados, tanto quanto possam.
Assim como o Espírito Santo é inflexível quanto ao assunto de manter a doutrina da fé,
Ele é também muito misericordioso para com os pecados do homem, contanto que os pecadores se arrependam. Porque Ele não
consola aquele que vive deliberadamente no pecado, apesar de ser um Consolador amoroso e fiel.
A palavra no original grego para o verbo “restaurar” do verso 1 é “katartizo”, que
significa “restaurar como quem liga de novo um osso que foi quebrado”.
Deste modo, o dever do cristão espiritual não
é o de condenar o cristão fraco, mas de restaurá-lo com a paciência e o cuidado com
que um ortopedista cuida de uma fratura.
O espírito de mansidão é o modo correto
determinado pelo apóstolo de fazê-lo. Não com ira e paixão, como aqueles que triunfam sobre a queda de um irmão, mas como aqueles que choram por eles.
Muitas reprovações necessárias perdem sua eficácia, quando são determinadas em ira.
106
Ainda mais um cuidado é colocado pelo
apóstolo, para aqueles que estiverem empenhados no trabalho de restaurar os que
estão caídos. Eles devem olhar por si mesmos, de maneira que não venham também a cair como eles.
Nós também podemos ser tentados e vencidos
pela tentação, e isto nos ajudará a ter em mente, enquanto ajudamos outros, que não
somos melhores do que eles, porque como disse Agostinho, “não há nenhum pecado que uma pessoa cometa, que outra pessoa
também não possa cometer”.
Nós andamos em lugares escorregadios neste
mundo, e, como diz Tiago, tropeçamos em muitas coisas. Daí a advertência de I Cor 10.12:
“Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não
caia”.
Em razão da nossa fraqueza e debilidade
comum, somos orientados a carregar os fardos uns dos outros (verso 2), porque é nisto
que consiste principalmente, a Lei de Cristo relativa ao novo mandamento que Ele deu ao povo de Deus, a saber, que nos amemos uns aos outros assim como Ele nos amou.
Jesus não esmagou a cana quebrada, e nos é imposto o dever de fazer o mesmo, porque foi
107
por amor ao pecador e por ser paciente com a
sua fragilidade que Ele procedeu de tal maneira.
Aqueles que se gloriam no seu conhecimento
das coisas de Deus e não vivem de acordo com esta regra, tal como era o caso dos falsos apóstolos, na verdade nada são, e estão
enganando a si mesmos (v. 3).
Eles se consideram mestres, e não o são; eles
se consideram superiores aos demais pecadores e não o são.
Cada qual deve examinar suas próprias obras
segundo esta regra que foi exposta, e então terá motivo de se gloriar em si mesmo, e não
naquilo que os outros estão fazendo debaixo das suas ordens.
Afinal, cada um dará contas de si mesmo a
Deus, e não será considerado de modo algum no Juízo, como atenuante ou agravante, o
quanto fomos ajudados ou atrapalhados por outros.
Particularmente, o trabalho do ministério
deve ser auto examinado por esta regra, de modo que permaneçamos em dependência e humildade diante de Deus.
108
Não será pela quantidade de louvores que recebemos dos outros que seremos aprovados
por Deus; ao contrário, há um grande perigo nisto, por isso fomos devidamente alertados pelo Senhor.
A carga que cada um levará, respectivamente
referida no verso 5 é uma referência ao julgamento das nossas obras no Tribunal de
Cristo, onde cada um dará contas de si mesmo a Deus.
E, se há tal tempo terrível a ser esperado,
quando Deus julgará a cada um conforme suas obras, isto serve de uma boa razão para
julgarmos a nós mesmos e qual tem sido afinal o nosso trabalho na presença de Deus.
Quanto ao que Paulo diz no verso 6: “E o que é
instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui”, a
determinação deste versículo se faz necessária, porque quando Satanás não pode suprimir a pregação do verdadeiro Evangelho
por força, ele tenta atingir seu propósito golpeando os ministros do Evangelho com pobreza extrema.
Deste modo, a advertência de Paulo de que os
cristãos compartilhem todas as coisas boas com seus pastores e seus mestres, que
109
tenham sido chamados por Deus a servir o evangelho em tempo integral, é certamente
correta.
Do verso 7 até o 10, nós encontramos tanto um
encorajamento, quanto uma séria advertência em relação ao que Paulo havia falado nos versos anteriores. Porque os cristãos devem ser diligentes e se aplicarem seriamente a
todas estas ordenanças, pois elas estão de acordo com o mandamento do Senhor para a Igreja, de modo que estão sujeitos à lei
espiritual da colheita, segundo a semeadura, pois tudo o que semeassem seria o que colheriam. Se bem, colheriam bem; se mal,
colheriam mal, segundo a justa retribuição de Deus. Na semeadura há também um princípio relativo à intensidade, porque o que semeia
pouco colhe pouco, e o que semeia muito colhe muito. Ele aponta para o dia do julgamento das obras dos cristãos, mostrando
que tudo está sendo considerado por Deus para aquele dia de acerto de contas, para imputação de dano, ou distribuição de
recompensa.
Ele lembra que é tanto possível semear na carne, quanto no Espírito.
O cristão deve optar não por semear na carne, mas apenas no Espírito, porque é somente
110
assim que poderá obter o galardão de Deus. Por isso, ele conclui no verso 10 com as seguintes palavras: “Então, enquanto temos
tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé.”.
No verso 11, o apóstolo começa a se despedir
dos gálatas, fazendo suas considerações finais, e para mostrar o zelo que teve em lhes dirigir esta epístola, registrou que foi ele próprio o
seu redator, e que não tinha se valido de qualquer amanuense, como fazia em todas as suas demais epístolas, nas quais fazia questão
de escrever de próprio punho apenas a saudação das mesmas, como um sinal de que eram de sua autoria (II Tes 3.17), para prevenir
falsificações em seu nome.
Quando ele diz neste verso 11: “Vede com que
grandes letras vos escrevi”, a expressão “grandes letras”, certamente não é uma referência ao tamanho das letras, mas à
extensão da epístola, considerando que era muito grande para ele não ter se valido de um amanuense, tendo em vista que era uma tarefa difícil escrever naqueles dias, tanto no
que tange ao uso da tinta, quanto ao tipo de superfície usada para a escrita, sendo em pergaminho ou papiro.
111
Ao falar dos falsos apóstolos e mestres, Paulo fez de si mesmo um contraste com eles,
conforme vemos nos versos 12 a 15, e 17.
Os falsos apóstolos buscavam sua própria glória, ao manipularem os gálatas ao seu bel
prazer, sujeitando-os a fazer a vontade deles, especialmente por constrangê-los a se circuncidarem.
Paulo trazia no seu corpo as marcas das perseguições que havia sofrido por amor a
Cristo (v. 17); porém os falsos apóstolos e mestres, em vez de trazerem marcas no seu corpo faziam estas marcas no corpo dos
outros, como faziam com os gálatas em relação à circuncisão.
Além disso, eram covardes e temiam muito
sofrerem por causa da sua religião, porque ordenavam aos gentios a se circuncidarem
para não serem perseguidos pelos judeus.
Eles haviam se convertido nominalmente ao
cristianismo, não conheciam de fato ao Senhor; o único senhor deles era Satanás, que lhes havia infiltrado como joio na Igreja para inquietarem os verdadeiros cristãos.
Paulo disse ainda neste verso 17, que dali por diante ninguém mais lhe inquietasse.
112
Muitos devem lhe ter aborrecido com questionamentos sobre quem de fato estava
com a verdade, se ele ou os judaizantes. Ele deve ter sido pressionado também pelos gálatas, quanto aos reais motivos que o
levaram a lhes pregar o evangelho, dentre muitas outras questões que não somente denunciavam as dúvidas que estavam levantando, não somente quanto à doutrina
que Paulo lhes pregara, como também quanto ao próprio caráter do apóstolo.
Eles lhe haviam provocado, inquietado,
aborrecido o suficiente, mas tiveram com esta epístola uma resposta bem mais alta do que a
expectativa deles, e, por conseguinte ele lhes disse, em outras palavras: “Não me aborreçam mais daqui em diante com estes
questionamentos. Tudo está respondido. As marcas que trago no corpo por amor ao evangelho são a minha resposta
relativamente ao meu caráter e às intenções com que tenho pregado.”
Enquanto os falsos apóstolos buscavam sua
própria glória com o fim de fazerem ostentação na carne, isto é, para mero exibicionismo pessoal (v. 12, 13), Paulo afirmou
que diferentemente deles, se gloriava somente na cruz de Cristo, porque por ela estava crucificado para o mundo e o mundo
113
para ele. Então, não tinha nenhum motivo
para procurar para si qualquer glória mundana.
A glória pela qual ele aspirava era a celestial,
que se alcança buscando somente glória para o próprio Deus (v. 14).
E, não somente Paulo como todos os cristãos
têm fundas razões para se gloriarem somente na cruz de Cristo, porque foi por causa da Sua
morte que alcançaram toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestes (Ef 1.3).
Como Paulo sabia que aqueles falsos apóstolos
não eram nascidos de novo pelo Espírito, e não eram novas criaturas em Cristo, ele podia
afirmar com toda a segurança que nenhum deles guardava a lei (v. 13) que afirmavam defender com suas práticas cerimoniais e
rituais, porque sabemos que aquele que não é nova criatura não pode de modo algum guardar os mandamentos de Deus da maneira
que convém guardá-los, de forma que se possa dizer que estão Lhe obedecendo verdadeiramente.
Nós já apresentamos anteriormente fartos
argumentos para afirmar a razão desta impossibilidade.
114
Daí Paulo afirmar que “em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude
alguma, mas sim o ser uma nova criatura.” (v. 15).
Tão convicto o apóstolo estava da verdade da
sua doutrina, que afirmou no verso 16: “a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel
de Deus”, isto é, aos gálatas que se submetessem a todos os mandamentos e à doutrina que lhes passou nesta epístola; estes,
e somente estes poderiam contar com a misericórdia e a paz de Deus em suas vidas. E, para não restringir a área de efeito desta
bênção, Paulo a estendeu a todo o Israel de Deus, a saber, sobre toda a Igreja de Cristo de todas as épocas e lugares.
Não há bênção de paz e misericórdia, ou qualquer outra bênção de Deus senão para
aqueles que obedecem a Sua Palavra, especialmente nos aspectos destacados por Paulo nesta epístola.
Para fechar a epístola, Paulo recomendou os gálatas à graça de nosso Senhor Jesus Cristo, e para fixar neles que a graça opera nos cristãos,
forjando, sobretudo as bênçãos espirituais, ele delimita a ação da graça no espírito deles (v. 18), de modo que fossem desestimulados de
115
buscarem as bênçãos de Deus através de práticas carnais de cunho cerimonial e
ritualístico.
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Conclusão
À luz de tudo o que foi escrito só nos resta
dizer: graças a Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem obtivemos a vitória sobre o diabo, o pecado e o mundo, de
maneira que desfrutando da liberdade que Ele nos concede podemos servir e adorar a Deus em espírito e em verdade.
117
ANEXO:
A Epístola de Paulo aos Gálatas
GÁLATAS 1 1 Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por intermédio de homem algum, mas
sim por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos), 2 e todos os irmãos que estão comigo, às
igrejas da Galácia: 3 Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo,
4 o qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de nosso Deus e Pai,
5 a quem seja a glória para todo o sempre. Amém. 6 Estou admirado de que tão depressa estejais
desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho, 7 o qual não é outro; senão que há alguns que
vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. 8 Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que
já vos pregamos, seja anátema. 9 Como antes temos dito, assim agora novamente o digo: Se alguém vos pregar outro
118
evangelho além do que já recebestes, seja anátema.
10 Pois busco eu agora o favor dos homens, ou o favor de Deus? ou procuro agradar aos homens? se estivesse ainda agradando aos
homens, não seria servo de Cristo. 11 Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens;
12 porque não o recebi de homem algum, nem me foi ensinado; mas o recebi por revelação de Jesus Cristo.
13 Pois já ouvistes qual foi outrora o meu procedimento no judaísmo, como sobremaneira perseguia a igreja de Deus e a
assolava, 14 e na minha nação excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente
zeloso das tradições de meus pais. 15 Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me
chamou pela sua graça, 16 revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, não consultei carne
e sangue, 17 nem subi a Jerusalém para estar com os que já antes de mim eram apóstolos, mas parti para a Arábia, e voltei outra vez a Damasco.
18 Depois, passados três anos, subi a Jerusalém para visitar a Cefas, e demorei com ele quinze dias.
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19 Mas não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor.
20 Ora, acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que não minto. 21 Depois fui para as regiões da Síria e da
Cilícia. 22 Não era conhecido de vista das igrejas de Cristo na Judeia; 23 mas somente tinham ouvido dizer: Aquele
que outrora nos perseguia agora prega a fé que antes procurava destruir; 24 e glorificavam a Deus a respeito de mim.
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GÁLATAS 2
1 Depois, passados catorze anos, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também comigo a Tito.
2 E subi devido a uma revelação, e lhes expus o evangelho que prego entre os gentios, mas em particular aos que eram de destaque, para que de algum modo não estivesse correndo ou
não tivesse corrido em vão. 3 Mas nem mesmo Tito, que estava comigo, embora sendo grego, foi constrangido a
circuncidar-se; 4 e isto por causa dos falsos irmãos intrusos, os quais furtivamente entraram a espiar a
nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos escravizar; 5 aos quais nem ainda por uma hora cedemos
em sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós. 6 Ora, daqueles que pareciam ser alguma
coisa (quais outrora tenham sido, nada me importa; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que pareciam ser
alguma coisa, nada me acrescentaram; 7 antes, pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me fora confiado, como a Pedro o da circuncisão
8 (porque aquele que operou a favor de Pedro para o apostolado da circuncisão, operou também a meu favor para com os gentios),
121
9 e quando conheceram a graça que me fora dada, Tiago, Cefas e João, que pareciam ser as
colunas, deram a mim e a Barnabé as destras de comunhão, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão;
10 recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres; o que também procurei fazer com diligência. 11 Quando, porém, Cefas veio a Antioquia,
resisti-lhe na cara, porque era repreensível. 12 Pois antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele comia com os gentios; mas quando
eles chegaram, se foi retirando e se apartava deles, temendo os que eram da circuncisão. 13 E os outros judeus também dissimularam
com ele, de modo que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação. 14 Mas, quando vi que não andavam
retamente conforme a verdade do evangelho, disse a Cefas perante todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como os
judeus, como é que obrigas os gentios a viverem como judeus? 15 Nós, judeus por natureza e não pecadores
dentre os gentios, 16 sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, mas sim, pela fé em Cristo Jesus, temos também crido em
Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não por obras da lei; pois por obras da lei nenhuma carne será justificada.
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17 Mas se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós mesmos também achados
pecadores, é porventura Cristo ministro do pecado? De modo nenhum. 18 Porque, se torno a edificar aquilo que
destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor. 19 Pois eu pela lei morri para a lei, a fim de viver para Deus.
20 Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de
Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim. 21 Não faço nula a graça de Deus; porque, se a
justiça vem mediante a lei, logo Cristo morreu em vão.
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GÁLATAS 3
1 Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou a vós, ante cujos olhos foi representado Jesus Cristo como crucificado?
2 Só isto quero saber de vós: Foi por obras da lei que recebestes o Espírito, ou pelo ouvir com fé? 3 Sois vós tão insensatos? tendo começado
pelo Espírito, é pela carne que agora acabareis? 4 Será que padecestes tantas coisas em vão? Se
é que isso foi em vão. 5 Aquele pois que vos dá o Espírito, e que opera milagres entre vós, acaso o faz pelas obras da
lei, ou pelo ouvir com fé? 6 Assim como Abraão creu a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.
7 Sabei, pois, que os que são da fé, esses são filhos de Abraão. 8 Ora, a Escritura, prevendo que Deus havia de
justificar pela fé os gentios, anunciou previamente a boa nova a Abraão, dizendo: Em ti serão abençoadas todas as nações.
9 De modo que os que são da fé são abençoados com o crente Abraão. 10 Pois todos quantos são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque escrito está:
Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.
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11 É evidente que pela lei ninguém é justificado diante de Deus, porque: O justo
viverá da fé; 12 ora, a lei não é da fé, mas: O que fizer estas coisas, por elas viverá.
13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;
14 para que aos gentios viesse a bênção de Abraão em Jesus Cristo, a fim de que nós recebêssemos pela fé a promessa do Espírito.
15 Irmãos, como homem falo. Um testamento, embora de homem, uma vez confirmado, ninguém o anula, nem lhe acrescenta coisa
alguma. 16 Ora, a Abraão e a seu descendente foram feitas as promessas; não diz: E a seus
descendentes, como falando de muitos, mas como de um só: E a teu descendente, que é Cristo.
17 E digo isto: Ao testamento anteriormente confirmado por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não
invalida, de forma a tornar inoperante a promessa. 18 Pois se da lei provém a herança, já não provém mais da promessa; mas Deus, pela
promessa, a deu gratuitamente a Abraão. 19 Logo, para que é a lei? Foi acrescentada por causa das transgressões, até que viesse o
125
descendente a quem a promessa tinha sido feita; e foi ordenada por meio de anjos, pela
mão de um mediador. 20 Ora, o mediador não o é de um só, mas Deus é um só.
21 É a lei, então, contra as promessas de Deus? De modo nenhum; porque, se fosse dada uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei.
22 Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos que creem.
23 Mas, antes que viesse a fé, estávamos guardados debaixo da lei, encerrados para aquela fé que se havia de revelar.
24 De modo que a lei se tornou nosso aio, para nos conduzir a Cristo, a fim de que pela fé fôssemos justificados.
25 Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio. 26 Pois todos sois filhos de Deus pela fé em
Cristo Jesus. 27 Porque todos quantos fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo.
28 Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. 29 E, se sois de Cristo, então sois descendência
de Abraão, e herdeiros conforme a promessa.
126
GÁLATAS 4 1 Ora, digo que por todo o tempo em que o
herdeiro é menino, em nada difere de um servo, ainda que seja senhor de tudo; 2 mas está debaixo de tutores e curadores até o tempo determinado pelo pai.
3 Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos rudimentos do mundo;
4 mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo de lei,
5 para resgatar os que estavam debaixo de lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. 6 E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos
corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai. 7 Portanto já não és mais servo, mas filho; e se
és filho, és também herdeiro por Deus. 8 Outrora, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses;
9 agora, porém, que já conheceis a Deus, ou, melhor, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?
10 Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. 11 Temo a vosso respeito não haja eu trabalhado em vão entre vós.
127
12 Irmãos, rogo-vos que vos torneis como eu,
porque também eu me tornei como vós. Nenhum mal me fizestes; 13 e vós sabeis que por causa de uma
enfermidade da carne vos anunciei o evangelho a primeira vez, 14 e aquilo que na minha carne era para vós uma tentação, não o desprezastes nem o
repelistes, antes me recebestes como a um anjo de Deus, mesmo como a Cristo Jesus. 15 Onde está, pois, aquela vossa satisfação?
Porque vos dou testemunho de que, se possível fora, teríeis arrancado os vossos olhos, e mos teríeis dado.
16 Tornei-me acaso vosso inimigo, porque vos disse a verdade? 17 Eles vos procuram zelosamente não com
bons motivos, mas querem vos excluir, para que zelosamente os procureis a eles. 18 No que é bom, é bom serdes sempre
procurados, e não só quando estou presente convosco. 19 Meus filhinhos, por quem de novo sinto as
dores de parto, até que Cristo seja formado em vós; 20 eu bem quisera estar presente convosco agora, e mudar o tom da minha voz; porque
estou perplexo a vosso respeito. 21 Dizei-me, os que quereis estar debaixo da lei, não ouvis vós a lei?
128
22 Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre.
23 Todavia o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa.
24 O que se entende por alegoria: pois essas mulheres são dois pactos; um do monte Sinai, que dá à luz filhos para a servidão, e que é Agar. 25 Ora, esta Agar é o monte Sinai na Arábia e
corresponde à Jerusalém atual, pois é escrava com seus filhos. 26 Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a
qual é nossa mãe. 27 Pois está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; esforça-te e clama, tu que não estás
de parto; porque mais são os filhos da desolada do que os da que tem marido. 28 Ora vós, irmãos, sois filhos da promessa,
como Isaque. 29 Mas, como naquele tempo o que nasceu segundo a carne perseguia ao que nasceu
segundo o Espírito, assim é também agora. 30 Que diz, porém, a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o
filho da escrava herdará com o filho da livre. 31 Pelo que, irmãos, não somos filhos da escrava, mas da livre.
129
GÁLATAS 5
1 Para a liberdade Cristo nos libertou; permanecei, pois, firmes e não vos dobreis novamente a um jogo de escravidão.
2 Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. 3 E de novo testifico a todo homem que se
deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei. 4 Separados estais de Cristo, vós os que vos
justificais pela lei; da graça decaístes. 5 Nós, entretanto, pelo Espírito aguardamos a esperança da justiça que provém da fé.
6 Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé que opera pelo amor.
7 Corríeis bem; quem vos impediu de obedecer à verdade? 8 Esta persuasão não vem daquele que vos
chama. 9 Um pouco de fermento leveda a massa toda. 10 Confio de vós, no Senhor, que de outro
modo não haveis de pensar; mas aquele que vos perturba, seja quem for, sofrerá a condenação. 11 Eu, porém, irmãos, se é que prego ainda a
circuncisão, por que ainda sou perseguido? Nesse caso o escândalo da cruz estaria aniquilado.
130
12 Quem dera se mutilassem aqueles que vos
andam inquietando. 13 Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Mas não useis da liberdade para dar
ocasião à carne, antes pelo amor servi-vos uns aos outros. 14 Pois toda a lei se cumpre numa só palavra, a saber: Amarás ao teu próximo como a ti
mesmo. 15 Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais uns aos
outros. 16 Digo, porém: Andai pelo Espírito, e não haveis de cumprir a cobiça da carne.
17 Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis.
18 Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei. 19 Ora, as obras da carne são manifestas, as
quais são: a prostituição, a impureza, a lascívia, 20 a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as
contendas, os ciúmes, as iras, as facções, as dissensões, os partidos, 21 as invejas, as bebedices, as orgias, e coisas semelhantes a estas, contra as quais vos
previno, como já antes vos preveni, que os que tais coisas praticam não herdarão o reino de Deus.
131
22 Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a
bondade, a fidelidade. 23 a mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não há lei.
24 E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. 25 Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.
26 Não nos tornemos vangloriosos, provocando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros.
132
GÁLATAS 6
1 Irmãos, se um homem chegar a ser surpreendido em algum delito, vós que sois
espirituais corrigi o tal com espírito de mansidão; e olha por ti mesmo, para que também tu não sejas tentado. 2 Levai as cargas uns dos outros, e assim
cumprireis a lei de Cristo. 3 Pois, se alguém pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo.
4 Mas prove cada um a sua própria obra, e então terá motivo de glória somente em si mesmo, e não em outrem;
5 porque cada qual levará o seu próprio fardo. 6 E o que está sendo instruído na palavra, faça participante em todas as boas coisas aquele
que o instrui. 7 Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear,
isso também ceifará. 8 Porque quem semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas quem semeia no
Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. 9 E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.
10 Então, enquanto temos oportunidade, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé.
11 Vede com que grandes letras vos escrevo
com minha própria mão. 12 Todos os que querem ostentar boa aparência na carne, esses vos obrigam a
circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. 13 Porque nem ainda esses mesmos que se
circuncidam guardam a lei, mas querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne. 14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não
ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.
15 Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão é coisa alguma, mas sim o ser uma nova criatura.
16 E a todos quantos andarem conforme esta norma, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus.
17 Daqui em diante ninguém me moleste; porque eu trago no meu corpo as marcas de Jesus.
18 A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito. Amém.