Uma Longa Obediencia Na Mesma Direcao - Eugene Peterson

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Para Lu e Peter que continuam a ser companheiros na longa obedincia

SumrioHYPERLINK \l "_Toc359343354" PREFCIO155HYPERLINK \l "_Toc359343355" Discipulado156HYPERLINK \l "_Toc359343356" Arrependimento159HYPERLINK \l "_Toc359343357" Providncia163HYPERLINK \l "_Toc359343358" Culto167HYPERLINK \l "_Toc359343359" Servio171HYPERLINK \l "_Toc359343360" Ajuda174HYPERLINK \l "_Toc359343361" Segurana178HYPERLINK \l "_Toc359343362" Alegria182HYPERLINK \l "_Toc359343363" Trabalho185HYPERLINK \l "_Toc359343364" Felicidade188HYPERLINK \l "_Toc359343365" Perseverana191HYPERLINK \l "_Toc359343366" Esperana196HYPERLINK \l "_Toc359343367" Humildade200HYPERLINK \l "_Toc359343368" Obedincia204HYPERLINK \l "_Toc359343369" Comunidade208HYPERLINK \l "_Toc359343370" Bno213HYPERLINK \l "_Toc359343371" Uma Longa Obedincia217

PREFCIOComemorando Vinte Anos de ExistnciaNos vinte anos desde que escrevi este livro, mudanas enormes ocorreram em todas as reas no mundo inteiro e por toda a igreja. Percebo que ouo constantemente e de quase todas as direes que eu corro o risco de me tornar irrelevante se no me mantiver a par dos ltimos avanos em computadores e aparelhos e transporte e mdia. Por esse motivo, ao sentar-me para revisar Uma Longa Obedincia na Mesma Direo para essa edio do vigsimo aniversrio [a primeira em portugus], estava preparado para fazer muitas mudanas.Acontece que no fiz quase nenhuma. Acaba tendo algumas coisas que no mudam. Deus no muda: ele busca e ele salva. E nossa resposta a Deus como se revela em Jesus no muda: ns escutamos e ns seguimos. Ou no seguimos. Quando estamos lidando com o bsico Deus e nossa necessidade de Deus ns estamos no fundamento. Comeamos cada dia no comeo, sem nenhum adorno.Portanto, nesta nova edio, o livro sai praticamente como eu o escrevi no incio. Acrescentei um eplogo, no propsito de reafirmar os modos em que a Bblia e a orao se fundem para dar energia e direo para aqueles de ns que se pe a caminho para seguir Jesus. Alguns nomes clebres foram substitudos por novos (as celebridades mudam bem depressa!), e mudei algumas referncias a atualidades. Mas ficou quase que s nisso. animador perceber mais uma vez que no temos que estudar o mundo em volta ansiosamente para nos manter em dia com Deus e seus modos de agir conosco.A mudana mais aparente foi o uso de uma nova traduo da Bblia, The Message, ["A Mensagem"] na qual venho trabalhando desde a publicao de Uma Longa Obedincia. De fato, os quinze "Cnticos de Subida" [ao Templo, nas Festas] (Sl 120-134) que aqui fornecem o texto para o desenvolvimento do "discipulado numa sociedade instantnea" forneceram o impulso para embarcar na nova traduo. Tudo que pensei a princpio foi traduzir os Salmos para a linguagem idiomtica norte-americana que eu ouvia as pessoas usando nas ruas, nos shoppings e nos jogos de futebol. Eu sabia que seguir Jesus nunca poderia se tornar uma "longa obedincia" sem uma vida de orao cada vez mais profunda, c que os Salmos sempre foram o principal meio pelo qual os cristos aprendiam a orar tudo o que viviam e viver tudo o que oravam, numa continuidade de tempo.Mas as pessoas que eu via em volta no oravam os Salmos. Isso me intrigava; os cristos sempre oraram os Salmos; por que no os meus amigos e vizinhos? Ento percebi que era porque a linguagem, cadenciada, bela e harmnica, parecia estar muito distante da vida diria deles. No entanto, quando esses Salmos foram orados e escritos pelos nossos ancestrais hebreus, eles eram de ritmo to desigual, desarrumado e destoante como qualquer coisa que vivenciamos hoje. Eu queria traduzi-los do seu hebraico original e transmitir a energia crua, desigual, tosca c forte que to caracterstica dessas oraes. Eu queria que as pessoas comeassem a or-los de novo, no que apenas os admirassem de longe; e que assim aprendessem a orar tudo o que vivenciavam e sentiam e pensavam medida que seguiam Jesus, no s aquilo que achavam ser apropriado para orar na igreja.E aconteceu que a consequncia no intencionada de escrever Uma Longa Obedincia na Mesma Direo foi essa nova traduo dos Cnticos de Subida, e depois todos os Salmos e o Novo Testamento (e finalmente a Bblia inteira). A incluso dessa traduo nesta nova edio completa o livro de uma forma que eu no poderia ter previsto h vinte anos. 1DiscipuladoO que o faz pensar que pode apostar corrida contra cavalos?Se voc se esgota nessa corrida a p com homens, o que o jaz pensar que pode competir contra cavalos?JEREMIAS 12.5A coisa essencial "no cu e na terra" . . . que haja uma longa obedincia na mesma direo; assim resulta, e sempre resultou no final, algo que j fez a vida valer a pena.FRIEDRICH NIETZSCHE, BEYOND GOOD AND EVIL [ALM DO BEM E DO MAL]Este mundo no amigo da graa. Uma pessoa que assume um compromisso com Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador no encontra uma multido se formando imediatamente para aplaudir a deciso, nem amigos antigos se reunindo espontaneamente sua volta para dar os parabns e aconselhamento. Comumente nada diretamente hostil, mas h um acmulo de desaprovao e indiferena agnstica que constitui, assim mesmo, uma oposio espantosamente pavorosa.Uma velha tradio classifica as dificuldades que enfrentamos na vida de f nas categorias de mundo, carne e diabo. The Book of Common Prayer (Nova York: Church Pension Fund, 1945), pg. 276. Estamos, na maioria, bem alertados sobre os perigos da carne e das artimanhas do diabo. Suas tentaes tm um formato definvel e mantm uma continuidade histrica. Isso no os torna nem um pouco mais fceis de resistir, mas sim mais fceis de serem reconhecidos.O mundo, contudo, e multiforme: cada gerao tem o mundo com o qual tratar numa forma nova. Mundo uma atmosfera, um estado de esprito. Ams T. Wilder escreve: "O mundo significa mais do que humanidade decada de Deus ...O mundo criado e amado por Deus, e Cristo veio para salv-lo. Mas efmero, sujeito a deteriorao e morte; alm disso, caiu sob o controle do mau, e portanto, caiu para as trevas". Em The Interpreter s Bible, org. George Arthur Buttrick (Nashville: Abingdon, 1952), 12:238. quase to difcil um pecador reconhecer as tentaes do mundo como para o peixe reconhecer impurezas na gua. H uma impresso, um sentimento, de que as coisas no esto certas, de que o ambiente no ntegro, mas exatamente o que escapa anlise. Sabemos que a atmosfera espiritual em que vivemos corri a f, dissipa a esperana e corrompe o amor, mas difcil apontar exatamente para o que est errado.Turistas e PeregrinosUm aspecto de mundo que eu pude identificar como sendo prejudicial para os cristos a presuno de que qualquer coisa que vale a pena pode ser adquirida imediatamente. Achamos que se algo pode ser feito, pode ser feito rpida e eficientemente. Nossos perodos de ateno foram condicionados pelos comerciais de trinta segundos. Nosso senso de realidade foi achatado pelas condensaes de trinta pginas.No difcil num mundo desses conseguir que uma pessoa fique interessada na mensagem do evangelho; terrivelmente difcil sustentar o interesse. Milhes de pessoas, na nossa cultura se decidem a favor de Cristo, mas h uma porcentagem de desgaste terrvel. Muitos afirmam ter nascido de novo, mas a evidncia de um discipulado cristo maduro fraca. Em nosso tipo de cultura, qualquer coisa, at notcia sobre Deus, pode ser vendida se tiver embalagem novinha; mas quando perde a novidade, vai para o lixo. H um grande mercado para a experincia religiosa no nosso mundo; h pouco entusiasmo pela paciente aquisio de virtude, pouca vontade de assinar o contrato de uma longa aprendizagem naquilo que geraes crists anteriores chamavam de santidade.No nosso tempo, a religio foi tomada pela mentalidade de turista. A religio entendida como sendo uma visita a um local atraente quando temos tempo disponvel. Para alguns um passeio semanal igreja; para outros, visitas ocasionais a cultos especiais. Alguns, com inclinao para entretenimento religioso e diverso sagrada, planejam a vida em torno de eventos especiais como retiros, concentraes e conferncias. Vamos para ver uma nova personalidade, ouvir uma nova verdade, obter uma nova experincia e assim de alguma forma ampliar nossa vida que sem alguma novidade seria montona. A vida religiosa definida como a mais recente e a mais nova: Zen, curas de f, potencial humano, parapsicologia, vida de sucesso, coreografia no santurio, Armagedom. Ns tentamos qualquer coisa at que aparea alguma novidade.No sei como tem sido para pastores de outras culturas e dos sculos anteriores, mas estou bem certo que para um pastor numa cultura ocidental no raiar do sculo 21, o aspecto do mundo que torna o trabalho de guiar cristos no caminho da f mais difcil o que Gore Vidal analisou como sendo "a paixo de hoje pelo imediato e o casual". Gore Vidal, Matters of Fact and Fiction (Nova York: Random House, 1977), pg. 86. Todo mundo est com pressa. As pessoas que eu dirijo em culto, entre as quais eu aconselho, visito, oro, prego e ensino, querem atalhos. Querem que eu as ajude a preencher o formulrio que lhes proporcionar crdito instantneo (na eternidade). So impacientes por resultados. Adotaram o estilo de vida de um turista e s querem os pontos altos. Mas o pastor no um guia de turismo. No tenho interesse em contar narraes religiosas apcrifas em e sobre stios sagrados de identificao dbia. A vida crist no consegue amadurecer sob essas condies e essas tais maneiras.Friedrich Nietzsche, que viu essa rea de verdade espiritual pelo menos com grande clareza, escreveu: "A coisa essencial no cu e na terra ... que haja uma longa obedincia na mesma direo; com isso resulta, e sempre resultou no final, algo que fez a vida valera pena". Friedrich Nietzsche, Beyond Good and Evil, trad. Helen Zimmern (Londres: 1907), seo 188. essa "longa obedincia na mesma direo" que o esprito do ambiente do mundo faz tanto para desencorajar.Para reconhecer e resistir correnteza dos caminhos do mundo, h duas designaes bblicas dadas s pessoas de f que so extremamente teis: discpulo e peregrino. Discpulo (mathts) diz que somos pessoas que passamos nossa vida conectados como aprendizes ao nosso mestre, Jesus Cristo. Estamos sempre num relacionamento de crescimento-aprendizado. Um discpulo algum que aprende, mas no no ambiente acadmico de uma sala de aula, e sim no lugar de trabalho de um artfice. No adquirimos informaes sobre Deus, mas sim habilidades na f.Peregrino (parepidmos) nos diz que somos pessoas que passam a vida indo para algum lugar, indo para Deus, e cujo meio para chegar l o caminho, Jesus Cristo. Reconhecemos que "este mundo no meu lar" e samos rumo " casa do Pai". Abrao, que "saiu" nosso arqutipo, nosso modelo. Jesus, em resposta pergunta de Tom "Senhor, no sabemos para onde vais. Como o Senhor espera que conheamos o caminho?" fornece o roteiro: "Eu sou a Estrada, tambm a Verdade, tambm a Vida. Ningum chega ao Pai parte de mim" (Jo 14.5,6). A carta aos Hebreus define nosso programa: "Voc v o que isso significa todos esses pioneiros que abriram a estrada, todos esses veteranos encorajando-nos a seguir em frente com seus aplausos? Significa que melhor seguir em frente. Despojar-nos, comear a correr e nunca desistir! Nada de gordura espiritual extra, nada de pecados parasticos. Conservar os olhos em Jesus, que tanto comeou como terminou essa corrida na qual estamos" (Hb 12.1,2).Um hinrio gastoNo trabalho pastoral de treinamento das pessoas em discipulado e acompanhamento delas em peregrinao, eu descobri, guardadinho no Saltrio Hebreu, um velho hinrio gasto. Usei-o para providenciar continuidade em guiar outros no caminho cristo e em dirigir pessoas de f no esforo consciente e contnuo que evolui em maturidade em Cristo. O velho hinrio chamado, em hebraico, shiray hammaloth Cnticos de Subida. Os hinos so os salmos de nmeros 120 a 134 do livro dos Salmos. Esses quinze salmos provavelmente eram cantados, talvez em sequncia, pelos peregrinos hebreus enquanto subiam para Jerusalm s grandes festas de culto religioso. Topograficamente Jerusalm era a cidade mais alta da Palestina, e por isso todos os que viajavam para l passavam muito do seu tempo subindo. No h documentao independente que prove que os Salmos de Subida [de Romagem (ara) de Peregrinao (arc), de Degraus (kjv, nvi)] foram usados assim; portanto no h nenhum consenso entre os estudiosos de que tenham sido associados com as idas peregrinas a Jerusalm. A associao conjectura, mas no fantasiosa. Os comentadores, tanto judeus quanto cristos, interpretaram-nos dentro dessa estrutura. Mas a ascenso no era s literal, era tambm uma metfora: a viagem a Jerusalm dramatizava uma vida vivida para cima em direo a Deus, uma existncia que avanava de um nvel a outro no amadurecimento que se desenvolvia o que Paulo descreveu como sendo "o alvo, onde Deus est nos acenando para seguirmos adiante para Jesus" (Fp 3.14).Trs vezes por ano os hebreus fiis faziam essa viagem (Ex 23.14-17; 34.22-24). Os hebreus foram um povo cuja salvao foi realizada no xodo, cuja identidade foi definida no Sinai e cuja preservao foi assegurada nos quarenta anos de caminhadas no deserto. Como povo dessa natureza, eles subiam a estrada para Jerusalm regularmente para cultuar. Refrescavam suas memrias a respeito das operaes salvficas de Deus na Festa da Pscoa no comeo do vero; respondiam como comunidade abenoada ao melhor que Deus tinha para eles na Festa de Tabernculos no outono. Eles eram um povo redimido, um povo comandado, um povo abenoado. Essas realidades fundamentais eram pregadas e ensinadas e comemoradas nas festas anuais. Entre uma festa e outra o povo vivia essas realidades no discipulado dirio at que chegasse o tempo de subir cidade serrana novamente, como peregrinos para renovar a aliana.Esse retrato dos hebreus cantando esses quinze salmos quando deixavam sua rotina de discipulado e se encaminhavam dos povoados e vilas, das fazendas e cidades, como peregrinos subindo a Jerusalm j se fixou na imaginao devocional crist. como nosso melhor pano de fundo para entender a vida como uma jornada de f.Sabemos que o nosso Senhor desde menino viajava a Jerusalm para as festas anuais (Lc 2.41,42). Continuamos a nos identificar com os primeiros discpulos que "iam de caminho para Jerusalm. Jesus ia mais frente, e eles o seguiam, perplexos e no pouco temerosos" (Mc 10.32). Tambm ns estamos perplexos e um pouco temerosos, porque h maravilha sobre inesperada maravilha nessa estrada, e h fantasmas temveis para se encontrar. Cantar os quinze salmos uma maneira de expressar a maravilhosa graa e aquietar os temores da ansiedade.No h melhores "cnticos para a estrada" para os que percorrem o caminho da f em Cristo, uma estrada que tem tantas ligaes com o caminho de Israel. Visto que dos itens essenciais do discipulado cristo, muitos (no todos) esto fazendo parte desses cnticos, eles fornecem um meio de lembrarmos quem somos e para onde estamos indo. Eu no busquei produzir exposies eruditas desses salmos e sim oferecer meditaes prticas que usam esses cnticos para estmulo, encorajamento e direo. Se aprendemos a ento-los bem, podem ser uma espcie de vade mecum para o andar dirio de um cristo.Entre temposPaul Tournier, em A Place for You ["Um Lugar para Voc"] descreve a experincia de estar entre entre a hora em que samos de casa e chegamos ao nosso destino; entre a poca em que deixamos a adolescncia e chegamos idade adulta; entre o tempo em que deixamos a dvida e chegamos f. Paul Tournier, A Place for You (Nova York: Harper & Row, 1968), pg. 163. como o momento em que o artista do trapzio solta a barra e est num ponto no meio do espao, pronto para agarrar outro suporte: um tempo de perigo, de expectativa, de incerteza, de excitamento, de estar extraordinariamente vivo.Os cristos reconhecero o quanto esses salmos podem ser cantados entre os tempos: entre o momento de deixar o ambiente do mundo e chegar assembleia do Esprito; entre a hora em que deixamos o pecado e chegamos santidade; entre a hora em que samos de casa na hora do culto no domingo de manh e chegamos igreja com o grupo do povo de Deus; entre a hora em que deixamos as obras da lei e chegamos justificao pela f. So cnticos de transio, breves hinos que fornecem coragem, apoio e direo interior para levar-nos aonde Deus est nos dirigindo em Jesus Cristo.Enquanto isso o mundo sussurra: "Por que se preocupar? H muito para gozar com alegria sem se envolver com tudo isso. O passado um cemitrio deixe-o para l; o futuro um holocausto evite-o. No existe salrio para o discipulado, no existe destino para a peregrinao. Consiga Deus do modo rpido; compre o carisma instantneo". Mas outras vozes falam se no mais encantadoramente, pelo menos mais verdadeiramente. Thomas Szasz, na sua terapia e nos seus escritos, procurou avivar o respeito por aquilo que ele denomina "a mais simples e mais antiga das verdades humanas: a saber, que a vida uma luta rdua e trgica; que aquilo que chamamos de "sanidade mental", o que queremos dizer com "no ser esquizofrnico", tem muito a ver com competncia, ganha ao se lutar por excelncia; com compaixo, ganha duramente ao se confrontar o conflito; e com modstia e pacincia, adquiridas por meio do silncio e do sofrimento". Thomas Szasz, Schizophrenia, the Sacred Symbol of Psychiatry (Garden City, N.J.: Doubleday, 1978), pg. 72. O testemunho dele valida a deciso daqueles que se comprometem a explorar o mundo dos Cnticos de Subida, que procuram tirar sabedoria dessa mina e cant-los para se alegrar.Sem dvida, como Isaas descreveu, esses salmos foram usados dessa maneira pelas multides que diziam: "Venham, subamos o monte do Senhor, vamos Casa do Deus de Jac. Ele nos mostrar o modo em que ele opera para podermos viver da maneira em que somos feitos" (Is 2.3). Tambm so evidncia daquilo que Isaas prometeu quando disse: "Vocs cantaro! Cantaro durante toda uma noite de festa santa; seus coraes rompero em cntico, faro msica como o sonido de flautas em desfile, na sua jornada montanha de Deus, no seu caminho Rocha de Israel" (Is 30.29).Todos aqueles que viajam pela estrada da f requerem ajuda de tempos em tempos Precisamos ser alegrados quando o esprito esmorece; precisamos de direo quando o caminho no est claro. Uma das "pequenas oraes" de Paul Goodman expressa nossas carncias:Na alta via que vai rumo morte pesam os passos, no anseio chegarquela cidade, mas pouca pacincia faz longa essa rota em que tenho de andar. Ensine-me um canto de viagem, Mestre, um cntico para a marcha assimcomo gritvamos, ns, os meninos quando eu era escoteiro mirim. Paul Goodman, Little Prayers and Finite Experience (Nova York: Harper & Row, 1972), pg. 16. Para aqueles que escolhem no mais viver como turistas mas como peregrinos, os Cnticos de Subida combinam toda a alegria de uma cano de viagem com a praticidade de um livro guia de viagem e um mapa. Sua brevidade descrita de modo excelente por William Faulkner. "No so monumentos, e sim pegadas. Um monumento s diz: Pelo menos cheguei at aqui, enquanto uma pegada diz: Foi aqui que eu estive quando eu me movi novamente." William Faulkner, citado nas notas do programa de Sam di Bonaventura a respeito da Sinfonia n 5 de Elie Siegmeister, Concerto da Baltimore Symphony, 5 de maio de 1977. 2Arrependimento"Estou fadado a viver em Meseque"Estou em apuros. Clamo a Deus desesperado por uma resposta:"Livra-me dos mentirosos, Deus!,Sorriem to docemente mas mentem a no mais poder". Sabem o que vem em seguida, vocs enxergam o que est para vir, vocs todos, mentirosos descarados?Setas agudas e brasas vivas sero sua recompensa, listou fadado a viver em Meseque, amaldioado com um lar em Quedar.Minha vida inteira vivida acampando entre vizinhos briguentos.Eu sou inteiramente pela paz; mas no momento em que eu lhes digo isso, eles j vo guerra! SALMO 120Antes que um homem possa fazer as coisas precisa haver coisas que ele no far.MNCIOAs pessoas submersas numa cultura apinhada de mentiras e malcia sentem-se como se estivessem afundando nela: no podem acreditar em nada do que ouvem, nem confiar em ningum que encontram. Esse descontentamento com o mundo como ele ser o preparo para viajar no caminho do discipulado cristo. O descontentamento, acoplado a uma nsia por paz e verdade, pode colocar-nos num caminho peregrino de inteireza em Deus.Uma pessoa precisa estar totalmente aborrecida com o modo em que esto as coisas para encontrar a motivao para partir no caminho cristo. Enquanto pensarmos que a prxima eleio poder eliminar o crime e estabelecer a justia ou que um novo avano cientfico poder salvar o meio ambiente, ou outro aumento de salrio pode nos dar o empurrozinho para sair da ansiedade para uma vida tranquila, no provvel que nos arrisquemos nas rduas incertezas da vida de f. O indivduo tem que estar farto com os modos do mundo antes que ele ou ela adquira um apetite pelo inundo da graa.O Salmo 120 o cntico da pessoa assim, doente com as mentiras e mutilada pelo dio, uma pessoa encolhida de dor a respeito do que se passa no inundo. Mas no um mero berro, uma dor que penetra junto com o desespero e estimula um novo comeo uma viagem a Deus que se torna uma vida de paz.Os quinze Cnticos de Subida descrevem elementos comuns a todos aqueles que se comprometem a viajar no caminho cristo. Este, o primeiro deles, a aguilhoada que os impulsiona a comear. No uma cano linda nada nela e impressionantemente melanclico ou liricamente feliz. dura. dissonante. Mas faz comear as coisas.Mentiras sem erroEstou em apuros a frase inicial. A ltima palavra guerra. No um cntico feliz, mas um cntico franco e necessrio.Os homens esto alinhados um contra o outro. As mulheres altercam violentamente entre si. Somos ensinados a disputar desde o ventre. O mundo est inquieto, sempre louco por uma briga. Ningum parece saber como viver com relacionamentos saudveis. Persistimos em transformar cada comunidade numa seita, cada empreendimento numa guerra. Reconhecemos, em momentos fugidios, que fomos criados para algo diferente e melhor "Sou todo pela paz" mas no h confirmao dessa percepo no nosso ambiente, nenhum incentivo para isso na nossa experincia. "Sou todo pela paz, mas no minuto em que eu lhes digo isso, eles vo guerra!A angstia que comea e conclui o cntico o acordar doloroso para a realidade que no pode mais ser evitada de que mentiram para ns. O mundo, na realidade, no como foi representado para ns. As coisas no esto bem como esto, e em nada melhoram.Contaram-nos a mentira desde que nos podemos lembrar: os seres humanos so basicamente bons e agradveis. Todo mundo nasceu igual e inocente e auto-suficiente. O mundo um lugar agradvel, harmonioso. Nascemos livres. Se carregamos cadeias agora, culpa de algum, e ns podemos corrigir isso apenas com um pouquinho mais de inteligncia ou de esforo ou de tempo.Como conseguimos continuar a crer nisso depois de tantos sculos de evidncia ao contrrio o que difcil compreender, mas nada que fazemos e nada que outra pessoa nos faz parece desencantar-nos do feitio da mentira. Continuamos a esperar que as coisas melhorem de alguma maneira. E quando no melhoram, choramingamos como crianas mal-acostumadas que no conseguem o que querem. Acumulamos ressentimento que se armazena em ira e irrompe em violncia. Convencidos pela mentira que o que estamos vivenciando no e natural, que uma exceo, ns inventamos modos de escapar da influncia do que outras pessoas nos fazem saindo de frias com tanta frequncia quanto possvel. Quando as frias terminam, voltamos novamente ao fluxo das coisas, nossa ingenuidade renovada de que tudo vai acabar bem somente para sermos mais uma vez surpreendidos, machucados, aturdidos quando no acaba. A mentira ("tudo est bem") encobre e perpetua o mal profundo, disfara a violncia, a guerra, a voracidade.A conscientizao crist comea com o reconhecimento dolorido de que aquilo que ns presumimos ser a verdade realmente uma mentira. A orao imediata: "Livra-me dos mentirosos, Deus! Sorriem to docemente, mas mentem a no mais poder". Salva-me das mentiras dos anunciantes que afirmam saber o que eu preciso e o que desejo, das mentiras dos que oferecem entretenimento, que prometem um caminho barato para a alegria, das mentiras dos polticos que fingem instruir-me sobre o poder e a moralidade, das mentiras dos psiclogos que oferecem moldar meu comportamento e meus princpios morais para que eu viva uma vida longa, com felicidade e sucesso, das mentiras dos beatos que "curam superficialmente as feridas deste povo", das mentiras dos moralistas que fingem promover-me posio de capito do meu destino, das mentiras de pastores que "se livram do mandamento de Deus para voc no ser incomodado ao seguiras modas religiosas!" (Mc 7.8). Salva-me da pessoa que me conta sobre a vida e omite Cristo, que sbia quanto aos caminhos do mundo e ignora o mover do Esprito.As mentiras so impecveis. Elas no contm erros. No h distores ou dados falsificados. Mas elas so mentiras assim mesmo, porque elas alegam contar-nos quem somos e omitem tudo sobre a nossa origem em Deus e nosso destino em Deus. Falam-nos sobre o mundo sem nos contar que Deus o fez. Falam-nos sobre nosso corpo sem dizer-nos que ele templo do Esprito Santo. Instruem-nos em amor sem contar-nos sobre o Deus que nos ama e que se deu por ns.Relmpagos iluminando as encruzilhadasA palavra Deus ocorre apenas duas vezes neste salmo, mas a chave do todo. Deus, uma vez admitido na conscincia, enche todo o horizonte. Deus, revelado na sua obra criativa e redentora, expe luz todas as mentiras. No momento em que a palavra Deus pronunciada, a mentira agigantada do mundo exposta vemos a verdade. A verdade a meu respeito que Deus me fez e ele me ama. A verdade sobre aqueles que se sentam ao meu lado que Deus os fez e Deus os ama, e portanto cada um e meu prximo. A verdade sobre o inundo que Deus o governa e o mantm. A verdade sobre o que est errado com o mundo que eu e o prximo sentado ao meu lado pecamos ao recusar deixar Deus ser por ns, sobre ns e em ns. A verdade sobre o que est no centro de nossa vida e de nossa histria que Jesus Cristo foi crucificado na cruz por nossos pecados e levantado do tmulo para nossa salvao e que ns podemos participar em vida nova medida que cremos nele, aceitamos sua misericrdia, respondemos ao seu amor, atendemos aos seus mandamentos.John Baillie escreveu: "Estou certo que o trecho da estrada que mais precisa ser iluminado o ponto em que ela se bifurca". John Baillie, Invitation to Pilgrimage (Nova York: Charles Scribners Sons, 1942), pg. 8. O Deus do salmista um relampejar de raio que ilumina justamente esse tipo de bifurcao. O Salmo 120 a deciso de escolher um caminho em oposio a outro. o ponto crucial que marca a transio de uma nostalgia sonhadora para uma vida melhora uma peregrinao dura de discipulado em f, a mudana de reclamar sobre como as coisas esto ms e ir atrs de todas as coisas boas.Essa deciso falada e cantada em todos os continentes e todas as lnguas. A deciso foi tomada em todo tipo de vida em cada sculo na longa histria da humanidade. A deciso quietamente (e s vezes no to quietamente) anunciada de milhares de plpitos cristos em todo o mundo a cada domingo. A deciso testemunhada por milhes, em lares, fbricas, escolas, empresas, escritrios e campos todos os dias de cada semana. As pessoas que tomam a deciso e se deleitam com ela so as pessoas chamadas crists.Um No que um SimO primeiro passo em direo a Deus um passo de distanciamento das mentiras do mundo. uma renncia s mentiras que nos foram contadas sobre ns mesmos e nossos prximos e nosso universo. "Estou fadado a viver em Meseque, amaldioado com um lar em Quedar. Minha vida inteira vivida acampando entre vizinhos briguentos". Meseque e Quedar so nomes de lugares: Meseque uma tribo longnqua, a milhares de quilmetros da Palestina no sul da Rssia; Quedar uma tribo beduna conhecida como no-civilizada e rude, ao longo das fronteiras de Israel. Representam os estranhos e hostis. Parafraseando, a exclamao : "Eu vivo no meio de valentes e selvagens; este mundo no meu lar, e eu quero sair daqui".A palavra bblica usual que descreve o no que dizemos s mentiras do mundo e o sim que dizemos verdade de Deus arrependimento. sempre e em toda parte a primeira palavra da vida crist. A pregao de Joo Batista era "Arrependam-se, porque est prximo o reino dos cus" (Mt 3.2). A primeira pregao de Jesus foi a mesma: "Arrependam-se, porque est prximo o reino dos cus" (Mt 4.17). Pedro concluiu seu primeiro sermo com "Arrependam-se, e sejam batizados" (At 2.38). No ltimo livro da Bblia a mensagem stima igreja "sejam zelosos e arrependam-se" (Ap 3.19).O arrependimento no uma emoo. No ficar triste pelos prprios pecados. uma deciso. decidir que voc errou ao supor que conseguiria gerir sua prpria vida e ser seu prprio deus; decidir que voc errou ao pensar que voc possua, ou poderia conseguir, a fora, a educao e o treinamento para se arranjar sozinho; decidir que lhe contaram uma poro de mentiras sobre voc mesmo e seus vizinhos e seu mundo. E decidir que Deus em Jesus Cristo est lhe dizendo a verdade. O arrependimento a percepo de que aquilo que Deus quer de voc e que voc quer de Deus no ser alcanado se continuar a fazer as mesmas coisas de sempre, a pensar os mesmos pensamentos de sempre. Arrependimento uma deciso de seguir Jesus Cristo e tornar-se peregrino dele no caminho da paz.Arrependimento a mais prtica de todas as palavras e o mais prtico de todos os atos. um tipo de palavra concreta. Pe a pessoa em contato com a realidade que Deus cria. Elie Wiesel, referindo-se s histrias do Hasidim, diz que nos contos de autoria de Israel de Rizhim um motivo aparece repetidamente: Um viajante perde o caminho na floresta; escuro e ele teme. O perigo esconde-se atrs de cada rvore. Uma tempestade quebra o silncio. O tolo olha para o relmpago, o sbio para a estrada que ali est iluminada sua frente. Elie Wiesel, Souls on Fire (Nova York: Vintage, 1973), pg. 154.Sempre que dizemos no a um modo de vida a que h muito nos acostumamos, h dor. Mas quando o modo de vida realmente um caminho de morte, um caminho de guerra, quanto mais depressa o abandonamos, melhor. H uma condio que por vezes se desenvolve em nosso corpo chamada aderncias partes de nossos rgos internos aderem a outras partes. Essa irregularidade tem de ser corrigida por procedimento cirrgico uma interveno decisria. O procedimento fere, mas os resultados so sadios. Como a Bblia de Jerusalm coloca nos versculos 3,4: "Como ele [Deus] repagar o juramento falso? / de uma lngua desleal/ Com flechas endurecidas de guerra/ sobre carvo em rubra brasa viva!" A sentena seca de Emily Dickinson uma epgrafe: "Renncia a virtude lancinante!As flechas de Deus so juzos lanados para provocar o arrependimento. A dor do juzo evocado contra malfeitores poderia desvi-los de seus modos enganosos e violentos para se unirem ao nosso peregrino no caminho da paz. Qualquer ferimento que nos ponha no caminho da paz, libertando-nos para buscar, em Cristo, a vida eterna vale a pena. a ao que segue a percepo de que a Histria no um beco sem sada, a culpa no um abismo. a descoberta de que h sempre um caminho que leva para fora da aflio um caminho que comea no arrependimento, ou no voltar-se para Deus. Onde quer que encontremos o povo de Deus vivendo em aflio, h sempre algum que fornece essa palavra carregada de esperana, mostrando a realidade de um dia diferente: "Naquele dia, haver uma estrada do Egito at a Assria, os assrios tero livre acesso ao Egito, e os egpcios, Assria. No mais rivais, adoraro juntos os egpcios com os assrios" (Is 19.23). Tudo o que Israel conhecia da Assria era a guerra a viso os mostra em adorao. O arrependimento o agente cataltico para a mudana. O desnimo transformado naquilo que um profeta posterior descreveria como evangelho.Toda a histria de Israel acionada por dois atos desse tipo de rejeio do mundo, que libertaram o povo para uma afirmao de Deus, "a rejeio da Mesopotmia nos dias de Abrao e a rejeio do Egito nos dias de Moiss". Abraham Heschel, The Prophets (Nova York: Harper & Row, 1962), pgs. 71,72. Toda a sabedoria e a fora do mundo antigo estavam na Mesopotmia e no Egito. Mas Israel disse no a eles. A despeito do prestgio, da grandeza alardeada e inconteste, havia algo fundamentalmente discrepante e falso nessas culturas: "Eu sou inteiramente pela paz; mas no momento em que eu lhes digo isso, eles l vo guerra!" O poder mesopotmico e a sabedoria egpcia eram fora e inteligncia divorciadas de Deus, usadas para os fins errados e produzindo todos os resultados errados.As interpretaes modernas da Histria so variaes das mentiras dos mesopotmicos e dos egpcios em que, como o descreve Abraham Heschel, "o homem reina supremo, com as foras da natureza como seus nicos adversrios possveis. O homem est s, livre e fortalecendo-se. Deus ou no existe ou no se interessa. a iniciativa humana que faz a histria, e principalmente pela fora que as constelaes mudam. O homem pode alcanar sua prpria salvao". Ibid., pg. 190.Ento Israel disse no e tornou-se um povo peregrino, escolhendo um caminho de paz e justia atravs de campos de batalha da mentira e da violncia, encontrando um caminho para Deus atravs do labirinto do pecado.Sabemos que Israel, ao dizer aquele no, no voltou miraculosamente para o den e viveu em inocncia primitiva, nem habitou misticamente numa cidade celestial e viveu em xtase sobrenatural. Trabalharam, divertiram-se, sofreram e pecaram no mundo como todos os demais homens fizeram, e como os cristos ainda fazem. Mas agora estavam indo para algum lugar iam para Deus. A verdade de Deus explicava a vida deles, a graa de Deus preenchia a vida deles, o perdo de Deus renovava a vida deles, o amor de Deus abenoava a vida deles. O no os soltava para uma liberdade que era diversa e gloriosa. O juzo de Deus invocado contra os povos de Meseque e Quedar foi, realmente, um convite em palavras duras para que se arrependessem e um pedido para que se unissem na jornada.Entre as pginas mais fascinantes da histria americana h aquelas que contam as histrias dos imigrantes que chegaram costa do continente no sculo 19. Milhares e mais milhares de pessoas, cujas vidas na Europa haviam se tornado ruins e pobres, perseguidas e infelizes, saram de l. Tinham ouvido falar de um lugar onde se podia fazer um novo comeo. Tinham relatos de uma terra em que o ambiente era um desafio em vez de uma opresso. As histrias continuam a ser contadas em muitas famlias, conservando viva a memria do acontecimento que transformou em americano quem era alemo, ou italiano ou escocs.Meu av saiu da Noruega h cem anos no meio de uma fome. Sua esposa e dez filhos ficaram para trs at que ele pudesse retornar para busc-los. Ele chegou em Petersburgo e trabalhou nas usinas siderrgicas por dois anos at ter dinheiro suficiente para voltar e trazer a famlia. Quando veio com ela no ficou em Petersburgo, embora essa cidade tivesse servido bem a seus objetivos da primeira vez; prosseguiu viagem para Montana, arriscando-se numa terra nova, procurando um lugar melhor.Em todas essas histrias de imigrantes h uma mistura de fuga e aventura: a fuga de uma situao infeliz, a aventura de uma situao de vida bem melhor, de estar livre para novas coisas, aberto ao crescimento e criatividade. Todo cristo tem alguma variao sobre esse tema de imigrante para contar."Estou fadado a viver em Meseque, amaldioado com um lar em Quedar. Minha vida inteira vivida acampando entre vizinhos briguentos." Mas no temos que viver mais l. Arrependimento, a primeira palavra na imigrao crist, nos coloca no caminho para a viagem na luz. uma rejeio que tambm uma aceitao, uma partida que se desenvolve numa chegada, um no ao mundo que um sim para Deus. 3Providncia"Deus o guarda de todo e qualquer mal"Elevo os olhos para os montes; minha fora vem dos montes?No, minha fora vem de Deus, que fez cu, e terra, e montes.Ele no deixar que voc tropece, seu Deus da guarda no cair no sono,De modo algum!O Guardio de Israel no cochilar nem dormir.Deus o seu Guardio, hem a seu lado para proteg-lo Cobrindo-o da insolao, protegendo-o de aluamento.Deus o guarda de todo mal, ele guarda a sua prpria vida,Ele o guarda quando voc sai, e quando retorna, ele o guarda agora, ele o guarda sempre.SALMO 121Mas desviar-se da verdade por amor a alguma perspectiva de esperana nossa nunca pode ser sbio, por nfimo que seja o desvio.No o nosso juzo da situao que poder nos mostrar o que sbio, mas s a verdade da Palavra de Deus.Aqui somente est a promessa da fidelidade e ajuda de Deus. Sempre ser verdade que o rumo mais sbio para o discpulo dirigir-se sempre e somente pela Palavra de Deus com toda simplicidade. DIETRICH BONHOEFFERNo momento em que dizemos no ao mundo e sim a Deus, todas as nossas questes so resolvidas, todas as nossas perguntas so respondidas, todos os nossos problemas acabam. Nada pode perturbar a tranquilidade da alma que est em paz com Deus. Nada pode interferir na segurana bendita de que tudo est bem entre mim e meu Salvador. Nada, e ningum, pode atrapalhar o relacionamento prazeroso que foi estabelecido pela f em Jesus Cristo. Ns cristos fazemos parte daquele grupo privilegiado de pessoas que no sofrem acidentes, que no discutem com o cnjuge, que no so mal entendidos por seus pares, cujos filhos no desobedecem a eles.Se quaisquer dessas coisas nos ocorrem uma dvida esmagadora, uma exploso de ira, uma solido desesperada, um acidente que nos coloca no hospital, um bate-boca que nos pe em maus lenis, uma rebeldia que nos pe na defensiva, um mal-entendido em que nos samos mal sinal de que h algo errado no nosso relacionamento com Deus. Isso significa que retiramos, de modo consciente ou inconsciente o sim que dissemos a Deus; e Deus, impaciente com a nossa f volvel, distanciou-se para cuidar de algum que merece mais a ateno dele. essa a sua crena? Se , eu tenho uma notcia incrivelmente boa para voc. Voc est enganado.As vezes, o fato de algum dizer que estamos errados um constrangimento, at uma humilhao. Queremos correr e esconder a cara de vergonha. Mas h ocasies em que descobrir que estamos errados um alvio repentino e imediato, e podemos erguer nossa cabea com esperana. No temos mais que ficar obstinadamente tentando fazer algo que no est funcionando.H poucos anos eu estava no meu quintal com meu aparador de grama virado de lado. Estava tentando tirar a lmina para poder afi-la. Eu estava com a minha maior chave de porca segurando a porca, mas esta no se movia. Peguei um cano de um metro e vinte e posicionei-o em cima do cabo da chave empregando-a como alavanca, com a presso adicional do meu corpo e ela ainda no se moveu. Peguei uma pedra grande e bati no cano. A essa altura eu j comeava a me alterar com meu cortador de grama.Ento, meu vizinho apareceu e disse que j tivera um cortador como o meu e que, se estava bem lembrado, a rosca da porca ia no sentido contrrio. Eu inverti meus esforos e, deu certo, a porca se desenroscou facilmente.Fiquei feliz de descobrir que eu estava errado. Isso me salvou da frustrao e do fracasso. Eu nunca teria conseguido fazer o servio, por mais que tentasse, fazendo-o do meu modo. O Salmo 121 uma voz mansa que nos diz gentil e bondosamente que talvez estejamos errados quanto maneira em que procuramos viver a vida crist; e ento, de modo bem simples, nos mostra a maneira certa. Assim, ele a continuao necessria do salmo anterior, que nos inicia no caminho cristo. Ele deu nomes aos sentimentos confusos e desnorteados de alienao e desconfiana que nos tornaram insatisfeitos e inquietos num caminho de vida que ignora ou rejeita Deus e que nos impulsionaram ao arrependimento que renuncia ao "diabo e a todas as obras dele" e afirma o caminho da f em Jesus Cristo.Mas nem bem nos lanamos, com expectativa e entusiasmo, no rio da f crist, nosso nariz se enche de gua e subimos tona tossindo e engasgados. Nem bem apressamos o passo confiantemente na estrada da f, tropeamos num obstculo e camos na superfcie dura, machucando nossos joelhos e cotovelos. Para muitos, a primeira grande surpresa da vida crist na forma das dificuldades que enfrentamos. Parece que no bem o que tnhamos previsto: espervamos algo bem diferente; tnhamos a mente colocada no den ou na Nova Jerusalm. Despertados rudemente, olhamos em redor buscando socorro, buscando no horizonte algum que nos auxilie: "Elevo os olhos para os montes; ser que minha fora vem dos montes?O Salmo 121 o vizinho que se aproxima e diz que ns comeamos errado, procuramos ajuda no lugar errado. O Salmo 121 dirigido queles de ns que, "desconsiderando Deus, procuram numa distncia tudo em volta e fazem longos e tortuosos rodeios em busca de corretivos para seus problemas". Joo Calvino, Commentary on the Psalms (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1949), 5:63.Consultoria de viajantesTrs possibilidades de mal que os viajantes podem sofrer so mencionadas no salmo. Uma pessoa que viaja a p pode a qualquer momento pisar numa pedra solta e torcer o tornozelo. Uma pessoa a p, exposta por muito tempo a um sol causticante, pode chegar a desmaiar de insolao. E uma pessoa viajando grande distncia a p, sob a presso de fadiga e ansiedade, pode ficar doente emocionalmente, o que era descrito pelos antigos escritores como ficar aluado (ou por ns como luntico). Podemos atualizar a lista de perigos. As provises de lei e ordem podem falhar com facilidade desalentadora: um louco com uma arma na mo, um revlver ou um explosivo pode transformar os planos de viagem computadorizados de trezentos passageiros da aviao numa anarquia instantnea. A doena pode romper as defesas farmacuticas e invadir nosso corpo com dor paralisante e morte. Um acidente de automvel, numa escada ou num campo esportivo pode interromper sem aviso nossos planos elaborados com tanto cuidado. Tomamos precaues aprendendo regras de segurana, usando o cinto de segurana e fazendo aplices de seguro. Mas no podemos garantir segurana.Em referncia a esses perigos o salmo diz: "Ele no deixar que voc tropece ... Deus o seu guardio... cobrindo-o da insolao, protegendo-o de aluamento" Ser que devemos concluir que os cristos nunca torcem o tornozelo, nunca sofrem insolao, nunca tm problemas emocionais? Pelo visto isso. Contudo, conhecemos muitos exemplos ao contrrio. Alguns dos melhores cristos que eu conheo j torceram o tornozelo, desmaiaram, tiveram esgotamento nervoso. Nesse caso, ou eu estou errado (essas pessoas que achei que eram crists no eram e o salmo, portanto, no se aplica a elas) ou o salmo est errado (Deus no faz o que o salmo afirma).Ajuda dos Montes?Mas no se descarta to facilmente nem o salmo nem a nossa experincia. Um salmo que tem tido por tanto tempo uma alta estima entre os cristos deve encerrar uma verdade que confirmada no viver cristo. Voltemos ao salmo: A pessoa iniciada na vida de f cai em problemas, procura em volta o auxlio ("Elevo os olhos para os montes") e faz uma pergunta: "Minha fora vem dos montes?" Quando essa pessoa de f volta os olhos para os montes em busca de ajuda, o que ele, ou ela, vai ver?Um cenrio magnfico, para comear. H algo mais inspirador do que a silhueta de uma cordilheira contra o cu? H alguma parte desta terra que prometa mais em termos de majestade e fora, de firmeza e solidez, do que as montanhas? Mas um hebreu veria algo mais. Durante a poca em que esse salmo foi escrito e cantado, a Palestina estava infestada de culto pago popular. Muito dessa religio era praticado nos altos dos montes. Eram colocados santurios, bosques de rvores eram plantados, a prostituio sagrada de ambos os sexos era providenciada; as pessoas eram atradas aos santurios para se envolverem em atos de culto que aumentassem a fertilidade da terra, fizessem a pessoa sentir-se bem, protegesse a pessoa do mal. Eram oferecidos remdios, protees, feitios e encantamentos contra todos os perigos da estrada. Voc teme o calor do sol? V ao sacerdote do sol e pague pela proteo contra o deus do sol. Teme a influncia maligna da luz da lua? V sacerdotisa da lua e compre um amuleto. Voc assombrado pelos demnios que podem usar qualquer pedregulho debaixo do seu p para faz-lo tropear? V ao santurio e aprenda a frmula mgica para impedir o dano. De onde me vir o socorro? de Baal? do poste-dolo (Aser)? do sacerdote do sol? da sacerdotisa da lua? Johannes Pedersen descreve a situao assim: "O sol e a lua, que significavam tanto para a manuteno da ordem na vida, muitas vezes tornavam-se deuses independentes entre os povos vizinhos ou tornavam-se parte da natureza de outros deuses. J nega expressamente ter beijado sua mo para aqueles seres poderosos ("... se olhei para o sol quando resplandecia, ou para a lua, que caminhava esplendente, e o meu corao se deixou atrair em oculto, e beijos lhe atirei com a mo, tambm isto seria delito a ser punido em julgamento, pois assim eu seria falso ao Deus l de cima"), J 31.27,28. E em uma profecia de julgamento diz-se que Yahweh visitar toda a hoste do cu acima e dos reis na terra, e o sol e a lua sero envergonhados, quando Yahweh reinar em Sio ("A lua se envergonhar, e o sol se confundir quando o Senhor dos Exrcitos reinar no monte Sio e em Jerusalm" Is 24.23). Israel: Its Life and Culture (Londres: Oxford University Press, 1926), pg. 635.Devem ter sido uma turma miservel: imorais, doentes, bbados impostores e fraudulentos, todos eles. As lendas de Baal esto cheias dos contos de suas orgias, a dificuldade de acord-lo de um sono bbado para conseguir sua ateno. Elias escarnecendo dos sacerdotes de Baal ("Ser que ele no dormiu demais e precisa ser despertado?" I Reis 18.27) a evidncia. Mas indignos ou no, prometiam ajuda. Um viajante em apuros ouviria a oferta deles.Essa a espcie de coisa que um hebreu, tendo partido no caminho da f h dois mil e quinhentos anos, teria visto nos montes. o que os discpulos ainda vem. Uma pessoa de f depara com tribulao e grita "Socorro!" Erguemos nossos olhos aos montes, e ofertas de ajuda, instantneas e numerosas, aparecem. "Minha fora vem dos montes?" No. "Minha fora vem de Deus, que fez cu, e terra, e montes.Olhar para os montes em busca de socorro acaba em desapontamento. Apesar de toda sua majestade e beleza, toda sua fora e firmeza silente, eles so apenas montes. E apesar de todas as suas promessas de segurana contra os perigos da estrada, todos os atrativos de seus sacerdotes e sacerdotisas, so, afinal de contas, mentiras. Como Jeremias o expressou: "Na verdade, os outeiros so uma iluso, as orgias nas montanhas" (Jr 3.23-RSV). H numerosos casos, naturalmente, em que os montes e altas montanhas so usados como metfora para a fora e majestade de Deus por exemplo. Salmos 3.4, 24.3, 43.3, 48.1,2. NT Lutero escreveu em alemo. Esta terceira estrofe diz em ingls: "No temeremos, pois Deus determinou que sua verdade triunfasse por meio de ns" (vs 3,4), ["We will not fear, for God hath willed/ His truth to triumph through us"].E assim o Salmo 121 diz no. Rejeita um culto a natureza, uma religio de estrelas e flores, uma religio que aproveita o melhor daquilo que encontra nos montes; em vez disso olha para o Senhor que fez os cus e a terra. A ajuda vem do Criador, no da criao. O Criador est sempre acordado: ele nunca cochila ou dorme. Baal tirava longos cochilos, e uma das tarefas dos sacerdotes era acord-lo quando algum precisava de sua ateno e eles nem sempre tinham xito. O Criador Senhor sobre o tempo: ele o guarda quando voc sai, e quando retorna", seus comeos e seus trminos. Ele est com voc quando voc anda no caminho dele; ele ainda o acompanha quando voc chega ao seu destino. E voc, nesse meio-tempo, no precisa buscar a ajuda suplementar do sol ou da lua. O Criador Senhor sobre todas as foras naturais e sobrenaturais: ele os criou. O sol, a lua e as rochas no tm nenhum poder espiritual. No so capazes de infligir-nos mal: no precisamos temer um ataque sobrenatural de nenhum deles. "Deus o guarda de todo mal."A promessa do salmo e tanto os hebreus como os cristos sempre o leram assim no que nunca iremos dar uma topada com os dedos do p, mas que nenhum ferimento, nenhuma doena, nenhum acidente, nenhuma ansiedade ter poder malfico sobre ns, isto , poder separar-nos dos propsitos de Deus para ns.Nenhuma literatura mais realista e honesta em enfrentar os duros fatos da vida do que a Bblia. Em nenhum momento h a menor sugesto que a vida de f nos isente de dificuldades. O que a Palavra promete a preservao de todo o mal no meio delas. Em cada pgina da Bblia h o reconhecimento de que a f depara com problemas. O sexto pedido da Orao do Senhor "No nos deixe cair em tentao, mas livre-nos do mal". Essa orao respondida todos os dias, s vezes vrias vezes por dia, na vida daqueles que percorrem o caminho da f. So Paulo escreveu: "Nenhuma provao ou tentao que aparea no seu caminho ser mais forte do que as que outros j tiveram de enfrentar. Tudo de que voc precisa lembrar que Deus nunca o desapontar; ele nunca deixar que seja pressionado alm de seu limite; ele sempre estar l para ajud-lo a passar por ela" (1 Co 10.13).Trs vezes o Salmo 121 refere-se a Deus pelo nome pessoal Yahweh, traduzido como Deus. Oito vezes ele descrito como o guardio, ou aquele que guarda. Ele no um executivo impessoal dando ordens l de cima; ele e uma ajuda presente a cada passo do caminho que viajamos. Voc acha que o modo de contar a histria da jornada crist descrever seus problemas e tribulaes? No . dizer o nome e descrever o Deus que nos preserva, acompanha e governa.Toda a gua em todos os oceanos no pode afundar um navio a no ser que entre nele. Nem toda a dificuldade do mundo pode nos machucar a no ser que entre em ns. Essa a promessa do salmo: "Deus o guardar de todo mal". No o demnio na pedra solta, no o ataque feroz do deus do sol, no a influncia da deusa da lua nada disso pode separar voc do chamado e do propsito de Deus. Desde o tempo do seu arrependimento que o tirou de Quedar e Meseque at o tempo de sua glorificao com os santos no cu, voc est seguro: "Deus o guarda de todo mal". Nenhuma das coisas que lhe acontecem, nenhuma das dificuldades que voc encontra tem algum poder para se colocar entre voc e Deus, diluir a graa dele em voc, distrair a vontade dele de voc (ver Rm 8.28,31,32).O nico erro srio que podemos fazer quando vem a doena, quando a ansiedade ameaa chegar, quando o conflito perturba nossos relacionamentos com os outros concluir que Deus se cansou de cuidar de ns e desviou sua ateno para um cristo mais empolgante, ou que Deus se aborreceu de nossa obedincia divagadora e decidiu deixar-nos lutar sozinhos por um tempo, ou que Deus ficou muito ocupado cumprindo uma profecia no Oriente Mdio para ter tempo agora para endireitar o enrosco em que conseguimos nos colocar. Esse o nico erro srio que podemos cometer. o erro que o Salmo 121 evita: o erro de supor que o interesse de Deus por ns oscila de acordo com a nossa temperatura espiritual.O grande perigo do discipulado cristo que ns tenhamos duas religies: um evangelho glorioso e bblico que nos liberta do mundo, que na cruz e na ressurreio de Cristo torna a eternidade viva em ns, um evangelho magnfico de Gnesis, Romanos e Apocalipse; e depois, uma religio de cada dia com que nos arranjamos durante a semana entre a hora de sair do mundo e chegar no cu. Guardamos o evangelho do domingo para as grandes crises da existncia. Para as trivialidades mundanas as horas em que nosso p escorrega numa pedra solta, ou o calor do sol est demais para ns, ou a influncia da lua nos abate usamos a religio de cada dia do livrinho de auto-ajuda, o conselho de um amigo, a coluna de nosso comentarista predileto, a sabedoria alardeada de uma celebridade entrevistada. Praticamos a religio do convincente vendedor do elixir da felicidade. Sabemos que Deus criou o universo e executou nossa salvao eterna. Mas no conseguimos crer que ele se digne a assistir novela das nossas tentaes e tribulaes de cada dia; ento compramos nossos prprios remdios para isso. Pedir que ele trate daquilo que nos perturba diariamente como pedir a um famoso cirurgio que ponha desinfetante num arranho.Mas o Salmo 121 diz que a mesma f que funciona nas grandes coisas funciona nas pequenas coisas. O Deus de Gnesis 1 que das trevas tirou a luz tambm o Deus do dia de hoje que o guarda de todo mal.Companheiro de viagemA vida crist no um retiro solitrio num jardim onde podemos caminhar e conversar com o nosso Senhor sem interrupes, no uma viagem fantstica a uma cidade celestial onde podemos comparar nossas taas e medalhas de ouro com as de outras pessoas da roda de campees. Supor isso, ou esperar isso, virar a porca no sentido contrrio. A vida crist e ir at Deus. Ao ir a Deus os cristos percorrem o mesmo terreno que todos os outros percorrem, respiram o mesmo ar, bebem da mesma gua, fazem compras nas mesmas lojas, leem os mesmos jornais, so cidados sob o mesmo governo, pagam os mesmos preos para alimentos e gasolina, temem os mesmos perigos, esto sujeitos s mesmas presses, sofrem as mesmas aflies, so enterrados no mesmo cho.A diferena que a cada passo que caminhamos, a cada flego que tomamos, sabemos que somos preservados por Deus, sabemos que somos acompanhados por Deus, sabemos que somos governados por Deus; portanto, sejam quais forem as dvidas que suportamos ou os acidentes por que passamos, o Senhor nos guardar de todo mal, ele guardar a nossa prpria vida. Conhecemos a verdade do hino de Lutero:Se nos quisessem devorar Demnios no contados,No nos iriam derrotar.Nem ver-nos assustados.O prncipe do mal,Com seu plano infernal,J condenado est!Vencido cairPor uma s palavra. NT: Trad, para o port, por J. W. Faustini, ["Por Muitos Santos"], em Louvor Perene (Newark NJ, 1972) n. 290.Ns cristos cremos que a vida criada e modelada por Deus e que a vida de f explorar diariamente os meios constantes e incontveis em que a graa e o amor de Deus so vivenciados.O Salmo 121, aprendido cedo e cantado repetidamente no andar com Cristo, define claramente as condies sob as quais vivemos nosso discipulado que, numa palavra, Deus. Uma vez que conseguimos colocar esse salmo no nosso corao ser impossvel supormos de modo pessimista que ser cristo uma batalha sem fim contra foras agourentas que a qualquer momento podem irromper e vencer-nos. A f no uma questo incerta de escapar por acaso dos ataques satnicos. a experincia slida, macia, segura de Deus, que impede todo mal de penetrar dentro de ns, que guarda a nossa vida, que guarda-nos quando samos e quando retornamos, que nos guarda agora, que nos guarda sempre.

4Culto"Vamos Casa de DeusQuando disseram "Vamos casa de Deus", meu corao saltou de alegria.E agora estamos aqui, Jerusalm, dentro dos muros de Jerusalm! Jerusalm, cidade bem-construda, construda como lugar de adorao!A cidade qual as tribos sobem, todas as tribos de Deus sobem para cultuar, Para dar graas ao nome de Deus isso o que significa ser Israel.Tronos para justo juzo esto colocados ali, famosos tronos de Davi. Orem pela paz de Jerusalm! Prosperidade a todos vocs que amam Jerusalm! Habitantes amigos, vivam em harmonia!Forasteiros hostis, guardem distncia!Por amor de minha famlia e amigos,Eu o digo de novo: vivam em paz!Por amor casa de nosso Deus, Deus,Farei o meu melhor pelo senhor. SALMO 122 H algo moralmente repugnante nas teorias ativistas modernas que negam a contemplao e nada reconhecem a no ser a luta. Para eles nem um s momento tem valor em si, mas apenas um meio para o que vem a seguir NICOLAS BERDYAEVUma das aflies do trabalho pastoral a de ouvir, sem fazer careta, todas as desculpas que as pessoas do como motivo de no irem igreja:"Minha me me obrigava quando eu era pequeno.""H hipcritas demais na igreja."" o nico dia que eu tenho para dormir at mais tarde.Houve tempo quando eu respondia a essas declaraes com argumentos simples que as expunham como sendo desculpas bem fracas. Depois notei que no fazia diferena. Se eu mostrava que uma desculpa era inadequada, mais trs apareciam em seu lugar. Ento eu no respondo mais. Eu escuto (bem srio) e vou para casa e oro para que essa pessoa um dia encontre a razo nica e suficiente de ir igreja, que Deus. Eu me ocupo do meu trabalho desejando que aquilo que eu fao e digo seja usado pelo Esprito Santo para criar naquela pessoa uma deciso de adorar a Deus numa comunidade crist.Muitas pessoas fazem isso, sim: decidem adorar a Deus, fiel e devotadamente. um dos atos importantes numa vida de discipulado. E muito mais interessante do que as razes (as desculpas) que as pessoas do para no cultuar a descoberta das razes por que o fazem.O Salmo 122 o cntico de uma pessoa que decide ir igreja e prestar culto a Deus. uma amostra do fenmeno complexo, diverso e mundial de culto que comum a todos os cristos. um excelente exemplo do que acontece quando uma pessoa presta culto.O Salmo 122 o terceiro da sequncia dos Cnticos de Subida. O Salmo 120 o salmo de arrependimento aquele que nos tira de um ambiente de engano e hostilidade e nos coloca no caminho de Deus. O Salmo 121 o salmo de confiana uma demonstrao de como a f resiste aos remdios populares fajutos para as dificuldades e tribulaes e resolutamente confia que Deus far o seu querer e guardar de todo mal em meio dificuldade. O Salmo 122 o salmo de culto uma demonstrao daquilo que as pessoas de f em toda parte sempre fazem: renem-se num certo lugar e adoram ao seu Deus.Um exemplo da mdiaO primeiro versculo pega muitos de surpresa: "Quando disseram Vamos casa de Deus, meu corao saltou de alegria". Mas no devia. O culto a coisa mais popular que os cristos fazem. Muita coisa daquilo que chamamos de comportamento cristo j se tornou parte de nosso sistema legal e est embutido em nossas expectativas sociais, ambas as coisas tendo fortes elementos de coero. Se tirssemos todas as leis da sociedade e eliminssemos todas as consequncias dos atos anti-sociais, no saberamos quantos assassinatos, quantos roubos, quantos perjrios e falsificaes ocorreriam. Mas sabemos que muito daquilo que comumente descrevemos como comportamento cristo no volitivo de modo nenhum imposto por lei.Mas o culto no imposto. Cada pessoa que cultua faz isso porque ele ou ela quer faz-lo. H, certamente, alguma coero temporria crianas e cnjuges que frequentam a igreja porque outra pessoa decidiu que devem. Mas essas coeres tm vida curta, alguns anos no mximo. A maioria da adorao crist voluntria.Um excelente modo de testar os valores das pessoas observar o que ns fazemos quando no temos que fazer nada, como passamos nosso tempo de lazer, o que fazemos com nosso dinheiro extra. Mesmo numa poca em que a frequncia aos cultos no considerada estar em crescimento na Amrica do Norte, os nmeros impressionam. H mais pessoas no culto em qualquer domingo, por exemplo, do que h em todos os jogos de futebol ou campos de golfe ou pescando ou fazendo passeios ecolgicos. O culto o ato mais popular nessa terra.Ento, quando ouvimos o salmista dizer: "Quando disseram 'Vamos casa de Deus, meu corao saltou de alegria", no estamos ouvindo o falso entusiasmo de um propagandista procura de uma audincia maior para o culto; estamos testemunhando o que tpico da maioria dos cristos na maioria dos lugares na maioria das vezes. No uma exceo qual aspiramos; um exemplo da mdia comum.Uma estruturaPor que o fazemos? Por que h tanto culto voluntrio e fiel da parte dos cristos? Por que que nunca achamos uma vida crist sem que haja, por trs em algum lugar, um ato de culto, nunca encontramos comunidades crists sem encontrar tambm o culto cristo? Por que o culto o pano de fundo comum de toda existncia crist, e por que to fiel e voluntariamente praticado? O salmo destaca trs itens: o culto nos d uma estrutura funcional para a vida; o culto supre nossa necessidade de estar em relacionamento com Deus; o culto centra nossa ateno nas decises de Deus.O culto d-nos uma estrutura funcional para a vida. O salmo diz: "Jerusalm, cidade bem-construda, construda como lugar de adorao! A cidade qual as tribos sobem, todas as tribos de Deus sobem a cultuar". Jerusalm, para um hebreu, era o lugar de adorao (s incidentalmente era o centro geogrfico do pas e a sede poltica de autoridade). As grandes festas de culto s quais todo mundo ia pelo menos trs vezes por ano eram realizadas em Jerusalm. Em Jerusalm tudo o que Deus disse era lembrado e celebrado. Quando voc ia a Jerusalm, voc encontrava as grandes realidades fundamentais: Deus o criou, Deus o redimiu, Deus providenciou para voc. Em Jerusalm voce via no ritual e ouvia proclamada na pregao a verdade poderosa que formou a Histria: que Deus perdoa nossos pecados e possibilita vivermos sem culpa e com propsito. Em Jerusalm todos os fragmentos dispersos da experincia, todos os pedacinhos e partes da verdade, do sentimento e da percepo foram ajuntados num nico todo.A verso da Bblia inglesa (kjv) traduz esta sentena assim: "Jerusalm construda como uma cidade que compacta junto". A Coverdale anterior havia traduzido esta ltima frase como "que est em unidade consigo mesma". A prpria cidade uma espcie de metfora arquitetural para aquilo que o culto : Todas as peas de alvenaria se ajustam compactamente, todas as pedras da construo se unem harmoniosamente. No havia pedras soltas, pedaos sobrando, nada de espaos desajeitados nas paredes ou torres. Era bem construda, compactamente, habilmente "em unidade consigo mesma".O que era verdade quanto arquitetura era verdade tambm socialmente, pois a sentena continua: " qual as tribos sobem, todas as tribos de Deus". No culto todas as diferentes tribos funcionavam como um s povo em relacionamento harmnico. No culto, embora cheguemos de lugares diferentes e condies vrias, demonstramos estar atrs das mesmas coisas, dizendo as mesmas coisas, fazendo as mesmas coisas. Com todos os nossos diferentes nveis de inteligncia e prosperidade, de passado e lngua, de rivalidades e ressentimentos, ainda assim no culto reunimo-nos num s todo. Disputas externas e desentendimentos e diferenas perdem a importncia ao se demonstrar a unidade interna daquilo que Deus constri no ato do culto.Quando uma pessoa est confusa e as coisas recusam ajustar-se, s vezes isso anuncia a necessidade de sair do barulho e turbulncia, afastar-se da correria s para "encaixar as peas", ajustar-se situao. Quando ela consegue fazer isso, est tudo l, nada sobra, nada est fora de proporo, tudo se ajusta numa estrutura tratvel.Quando entrei numa casa para uma visita pastoral, a pessoa que eu tinha ido ver estava sentada a uma janela bordando um tecido preso num bastidor oval. Ela disse: "Pastor, enquanto estava esperando o senhor, percebi o que est errado comigo eu no tenho um bastidor para me dar estrutura. Meus sentimentos, meus pensamentos, minhas atividades tudo est solto e mal arrumado. No h limites na minha vida. Nunca sei onde estou. Preciso de uma moldura para minha vida como esta que tenho para o meu bordado".Como conseguimos essa moldura, aquele senso de estrutura slida para que saibamos onde estamos e possamos assim fazer nosso trabalho com facilidade e sem ansiedade? Os cristos vo para o culto. Semana aps semana entramos no lugar construdo compactamente, "para onde as tribos sobem", e obtemos uma definio operacional para a vida: o modo como Deus nos criou, os modos como ele nos dirige. Sabemos onde estamos.Uma ordemOutra razo pela qual os cristos continuam a voltar para cultuar que isso supre nossa necessidade de estar em relacionamento com Deus. O culto o lugar onde obedecemos ordem de louvar a Deus: "Dar graas ao nome de Deus isto que significa ser Israel". Este mandamento de dar graas passa pelo centro de todo o culto cristo. Um decreto. Uma palavra dizendo-nos o que devemos fazer, e que isso que devemos fazer louvar.Quando pecamos e estragamos nossa vida, descobrimos que Deus no vai embora e nos deixa ele entra em nosso problema e nos salva. Isso bom, um exemplo daquilo que a Bblia chama de evangelho. Descobrimos razes e motivaes para viver em f e descobrir que Deus j est nos ajudando a fazer isso e que bom. Louvado seja o Senhor Deus! "Um cristo", escreveu Agostinho, "deve ser um aleluia da cabea aos ps." Essa a realidade. Essa a verdade da nossa vida. Deus nos fez, nos remiu, prov por ns. A resposta natural, honesta, saudvel, lgica para isso louvor a Deus. Quando louvamos estamos funcionando no centro, estamos em contato com a realidade bsica, central do nosso ser.Mas muitas vezes no sentimos vontade e por isso dizemos: "Seria desonesto eu ir a um local de culto e louvara Deus quando no sinto vontade. Eu seria um hipcrita". O salmo diz: Eu no me importo se voc est com vontade ou no: foi decretado (rsv, ingls), "renderem graas ao nome de Deus".Eu pus grande nfase no fato de que os cristos cultuam porque querem, no porque so forados. Mas eu nunca disse que prestamos culto porque sentimos vontade. Os sentimentos so grandes mentirosos. Se os cristos cultuassem somente quando sentem vontade, haveria pouqussimo culto. Os sentimentos so importantes em muitas reas, mas no se pode confiar neles nem um pouco em matria de f. Paul Scherer lacnico a respeito: "A Bblia fala muito pouco sobre como nos sentimos". Paul Scherer, The Word God Sent (Nova York: Harper & Row, 1965), pg. 166Vivemos na poca que um escritor chamou de "idade da sensao". Herbert Hendin, The Age of Sensation (Nova York: W.W. Norton, 1975), pg. 325. Achamos que se no sentimos alguma coisa no pode haver autenticidade em fazer isso. Mas a sabedoria de Deus diz algo diferente: que podemos agir para entrar num novo modo de sentir muito mais depressa do que podemos sentir para entrar num novo modo de agir. O culto um ato que desenvolve sentimentos para com Deus, no um sentimento para com Deus que expresso num ato de culto. Quando obedecemos ordem de louvar a Deus em culto, nossa necessidade essencial, profunda de estar em relacionamento com Deus suprida.Uma Palavra de DeusUma terceira razo para continuarmos a tomar parte em atos de culto regulares que nele nossa ateno est centrada nas decises de Deus. Nosso salmo descreve o culto como sendo o lugar onde "tronos para justo juzo esto colocados... famosos tronos de Davi". A palavra bblica juzo significa "a palavra decisiva pela qual Deus endireita as coisas e as pe certas". Tronos de juzo so os lugares em que essa palavra anunciada. O juzo no s uma palavra sobre coisas, descrevendo-as; uma palavra que faz as coisas, pondo em movimento o amor, aplicando a misericrdia, anulando o mal, ordenando a bondade.Essa palavra de Deus est em toda parte no culto. Na chamada adorao ouvimos a primeira palavra de Deus dirigida a ns; na bno ouvimos a ltima palavra de Deus a ns; nas lies bblicas ouvimos Deus falando aos nossos pais na f; no sermo ouvimos essa palavra explicada para ns; nos hinos, que so, em maior ou menor extenso, parfrases da Bblia, a Palavra de Deus torna nossas oraes inteligveis. Toda vez que cultuamos, nossa mente informada, nossa memria revigorada com os juzos de Deus, ficamos familiarizados com o que Deus diz, o que ele decidiu, os modos como ele est elaborando nossa salvao.Simplesmente no h lugar em que essas coisas possam ser feitas to bem como no culto. Se ficamos em casa a ss e lemos nossa Bblia vamos perder muito, porque nossa leitura ser inconscientemente condicionada pela nossa cultura, limitada por nossa ignorncia, distorcida por preconceitos no notados. No culto somos parte da "grande congregao" em que todos os escritores da Bblia se dirigem a ns, em que os compositores dos hinos usam a msica para expressar verdades que nos tocam no s na mente como tambm no corao, em que o pregador que acaba de viver seis dias de dvida, dor, f e bno com os adoradores fala a verdade da Escritura na linguagem da experincia atual da congregao toda. Queremos ouvir o que Deus diz e o que ele diz a ns: o culto o lugar onde a nossa ateno est centrada nessas palavras pessoais e decisivas de Deus.Paz e seguranaO culto, mesmo para aqueles que so mais constantes e fiis, ocupa s uma pequena percentagem da vida de uma pessoa, uma hora, mais ou menos, por semana. Ser que isso faz diferena para o resto da semana? As palavras finais do Salmo 122 dizem que faz: "Orem pela paz de Jerusalm! Prosperidade a todos vocs que amam Jerusalm! Habitantes amigos, vivam em harmonia! Forasteiros hostis, guardem distncia! Por amor de minha famlia e de meus amigos, eu o digo de novo: vivam em paz! Por amor casa de nosso Deus, Deus, farei o meu melhor pelo senhor". Aqui temos oraes que transbordam os limites da adorao e criam novos relacionamentos na cidade, na sociedade.A primeira palavra, orem, uma transio ao mundo de cada dia. No a palavra comumente usada no culto formal, e sim a palavra hebraica para "pedir". No impropriamente traduzida "orem", pois quando pedimos a Deus ns oramos. Mas o pedir no uma orao formal no santurio; um pedir informal medida que cuidamos dos nossos afazeres entre um domingo e outro. a palavra hebraica que usaramos para pedir um segundo pedao de po se ainda estivssemos com fome, ou para pedir orientao na rua se estivssemos perdidos.O culto no satisfaz nossa fome de Deus d mais apetite. Nossa necessidade de Deus no saciada por tomarmos parte no culto fica mais profunda. Extravasa aquela hora e permeia a semana. A necessidade expressa num desejo de paz e segurana. Nossas necessidades de cada dia so mudadas pelo ato do culto. No mais vivemos de modo imprevidente, lutando avidamente na competio insana para fazer de uma magra existncia o melhor que podemos. Nossas necessidades bsicas de repente tornam-se merecedoras da dignidade de criaturas feitas imagem de Deus: paz e segurana. As palavras shalom e shalv tm um jogo de sons com Jerusalm, yerushalayim, o lugar de culto, de adorao.Shalom, "paz", uma das palavras mais ricas da Bblia. E to impossvel defini-la pelo seu sentido no dicionrio quanto definir uma pessoa pelo nmero do seu RG. Rene todos os aspectos de completude que resultam do fato de a vontade de Deus estar sendo completada em ns. a operao de Deus que, quando completa, libera correntes de gua viva em ns e pulsa com a vida eterna. Toda vez que Jesus curou, perdoou ou chamou algum, temos uma demonstrao de shalom.E shalv, "prosperidade". Nada tem a ver com aplices de seguros ou grandes contas bancrias ou estoques de armas. O sentido da raiz lazer a postura descontrada de algum que sabe que tudo est bem porque Deus est acima de ns, conosco e a favor de ns em Cristo Jesus. E a segurana de estar em casa numa histria que tem no centro uma cruz. a descontrao da pessoa que sabe que cada momento da nossa existncia est disposio de Deus, vivida sob a misericrdia de Deus.O culto d incio a uma participao diria prolongada em paz e prosperidade de modo que compartilhamos em nossa rotina de cada dia o que Deus iniciou e continua em Jesus Cristo.Uma pausa para afiar um instrumentoVivemos numa era pragmtica e hesitamos em fazer qualquer coisa se sua utilidade prtica no pode ser demonstrada. E inevitvel que perguntemos com respeito ao culto, vale a pena? Justifica-se o tempo, a energia e os custos despendidos para reunir os cristos em culto? Veja bem, o ceifeiro num dia de vero, com tanto para cortar antes que o sol se ponha. Ele faz uma pausa no seu trabalho ele um preguioso? Ele apanha sua pedra e comea a pass-la para cima e para baixo na sua foice, fazendo rink-atink, rink-atink, rink-atink. Ser isso uma toada sem sentido ele est desperdiando momentos preciosos? Quanto mais ele poderia ter cortado enquanto ficou tocando essas notas em sua foice! Mas ele est afiando seu instrumento e far muito mais quando novamente der sua fora queles movimentos longos que deitam o feno em filas diante dele. Charles Spurgeon, citado em Helmut Thielicke, Encounter with Spurgeon (Filadlfia: Fortress, 1963), pg. 11.

5Servio"Como servos... Estamos vigiando e aguardando"Olho para o senhor, Deus que habita no cu, olho ao senhor por ajuda,Como servos, alertas aos mandados do mestre, como a serva que atende sua senhora,Estamos vigiando e aguardando, prendendo a respirao, esperando pela sua palavra de misericrdia. Misericrdia, Deus, misericrdia!J fomos chutados por a bastante,Chutados nos dentes por homens ricos complacentes, chutados quando cados por irracionais arrogantes.SALMO 123 Em termos gerais, servir dispor-se, trabalhar e fazer de modo que uma pessoa age, no de acordo com seus prprios propsitos ou planos, mas tendo em vista o propsito de uma outra pessoa e conforme a necessidade, a disposio e o direcionamento de outros. um ato cuja liberdade limitada e determinada pela liberdade do outro, um ato cuja glria se torna cada vez maior na medida em que o realizador no se preocupa com sua prpria glria mas com a glria do outro... um ministerium Verbi divini, que significa, literalmente, "ateno prestimosa do servo Palavra divina".A expresso "servio" pode fazer lembrar o fato de que o conceito neotestamentrio do diakonos originalmente significava: "um copeiro [Ns] temos de servir a alta majestade da Palavra divina, que o prprio Deus como ele fala na sua ao.KARL BARTHA medida que uma pessoa cresce e amadurece no caminho cristo, necessrio que adquira certas habilidades. Uma o servio. uma habilidade to difcil de adquirir e sujeita a tantas incompreenses que necessrio destac-la para ateno especial de tempos em tempos.O Salmo 123 um exemplo de servio. Neste aqui, como acontece com tanta frequncia nos salmos, no somos instrudos sobre o que devemos fazer; ao contrrio, -nos fornecido um exemplo daquilo que feito. O salmo no uma advertncia; um cntico. Num salmo temos a evidncia observvel daquilo que acontece quando uma pessoa de f cuida da questo de crer e amar e seguir a Deus. No temos um livro de regulamentos que definem a ao; o que temos uma foto instantnea de jogadores no meio do jogo. No Salmo 123 observamos aquele aspecto da vida de discipulado que ocorre sob a forma dos prstimos de um servo.Se Deus Deus de alguma forma"Eu olho para o senhor, Deus que habita no cu, olho ao senhor por ajuda." O culto comea com um olhar para cima, para Deus. Deus est sobre ns. Ele est acima de ns. A pessoa de f olha para Deus de baixo para cima, no para ele, e nem de cima para baixo. O servo assume uma posio certa. Se ele ou ela deixa de tomar aquela posio, a receptividade atenciosa aos mandados do mestre ser difcil. fcil pegar a ideia errada, porque quando uma pessoa se torna crist h um novo senso de capacidade confiante e fora assegurada. Alm disso recebemos promessas que nos dizem para ir em frente:Pea, e receber;Procure, e encontrar;Bata, e a porta se abrir (Lc 11.9).Deus se apresenta a ns na histria de Jesus Cristo como um servo: com isso diante de ns fcil assumirmos o papel de mestre e comearmos a dar ordens a ele. Mas Deus no servo para ser chamado para agir quando ns mesmos estamos cansados demais para fazer algo; ele no um especialista para ser chamado quando nos encontramos mal equipados para tratar de um problema especfico da vida. Paul Scherer escreve severamente sobre pessoas que "fazem lobby" nas cortes do Todo-Poderoso atrs de favores especiais, dando tapinhas no brao, amolando-o com pedidos. Deus no um colega a quem pedimos ocasionalmente que venha conversar conosco quando conveniente para ns ou para nossa diverso. Deus no se tornou servo para ns podermos dar-lhe ordens, e sim para que ns pudssemos unir-nos a ele numa vida redentora. frequente demais pensarmos em religio como uma burocracia misteriosamente conduzida qual solicitamos ajuda quando sentimos a necessidade. Vamos a uma seo regional e instrumos o funcionrio (s vezes chamado de pastor) para preencher o nosso pedido para Deus. Ento vamos para casa e aguardamos que Deus seja entregue a ns conforme as especificaes que colocamos. Mas no assim que funciona. E se pensssemos a respeito disso durante dois minutos consecutivos, ns no iramos querer que funcionasse assim. Se Deus Deus mesmo, ele deve saber mais sobre nossas necessidades do que ns sabemos; se Deus Deus mesmo, ele deve estar mais a par da realidade dos nossos pensamentos, das nossas emoes, do nosso corpo do que ns mesmos; se Deus Deus mesmo, ele deve ter uma compreenso melhor das inter-relaes em nossas famlias e comunidades e naes do que ns temos."Deus que habita no cu." Quando a Bblia usa essa frase, o que faz com frequncia, no est dizendo nada sobre geografia ou espao. Os escritores bblicos no eram gegrafos nem astrnomos eram telogos. Eles descrevem com grande exatido o relacionamento entre Deus e pessoas como eu e voc, um relacionamento entre o Criador e a criatura; coordenam nosso conhecimento do Deus que nos ama com nossa experincia de ser amado; contam a histria do Deus que nos conduz atravs de dificuldades e documentam-na com nossa experincia de ser conduzido. No nos apresentado um deus funcional que nos ajudar a sair de enroscadas ou um deus de entretenimento que aliviar as horas de tdio. -nos apresentado o Deus do xodo e da Pscoa, o Deus do Sinai e do Calvrio. Se quisermos entender Deus, precisamos faz-lo sob as condies dele. Se quisermos ver Deus do modo como ele realmente , precisamos olhar para o local de autoridade para a Bblia e para Jesus Cristo.E ser que realmente o desejamos de outra maneira qualquer? Acho que no. Logo passaramos a desprezar um deus que poderamos decifrar como um quebra-cabea ou aprender a usar como uma ferramenta. No, se vale a pena dar nossa ateno a Deus, ele precisa ser um Deus a quem olhamos de baixo para cima um Deus a quem temos de elevar os olhos: "Olho para o senhor, Deus que habita no cu".No momento em que olhamos para Deus de baixo para cima (e no para ele ou de cima para baixo) estamos na postura de servir.Misericrdia, Deus, Misericrdia!Um segundo elemento no servio tem a ver com a nossa expectativa. O que acontece quando elevamos os nossos olhos a Deus em f? H um mistrio impressionante em Deus que nunca podemos penetrar completamente. No podemos definir Deus; no podemos empacotar Deus. Mas isso no significa que nada sabemos sobre Deus. No quer dizer que estamos completamente a ver navios com Deus, nunca sabendo o que esperar, nervosamente agitados o tempo todo, querendo saber o que ele poderia fazer.Sabemos muito bem o que esperar, e o que esperamos a misericrdia. Trs vezes a expectativa pronunciada no Salmo 123. "Estamos vigiando e aguardando, prendendo a respirao, esperando pela sua palavra de misericrdia. Misericrdia, Deus, misericrdia!A convico bsica de um cristo que Deus pretende o bem para ns e que ele conseguir a vontade dele em ns. Ele no nos trata conforme ns merecemos, e sim de acordo com seu plano. Ele no um oficial de polcia fazendo a ronda, vigiando o universo, pronto para descer o cassetete se sairmos da linha ou colocar-nos na cadeia se ficarmos descontrolados. Ele um oleiro trabalhando com o barro de nossa vida, formando e reformando at que, finalmente, ele tenha moldado uma vida redimida, um vaso adequado para o reino."Misericrdia, Deus, misericrdia!": a prece no uma tentativa de conseguir que Deus faa o que ele no estaria disposto a fazer caso contrrio, e sim um estender-nos para aquilo que sabemos que ele faz, uma nsia expressa por receber o que Deus est fazendo em e por ns em Jesus Cristo. Em obedincia ns oramos "Misericrdia!" em vez de "D-nos o que queremos". Oramos "Misericrdia!" e no "Recompense-nos por nossa bondade para que nossos vizinhos reconheam nossa superioridade". Ns oramos "Misericrdia!" e no "Castigue-nos por nossa maldade para que nos sintamos melhor". Ns oramos "Misericrdia!" e no "Seja bom para ns porque temos sido pessoas to boas".Vivemos sob a misericrdia. Deus no nos trata como estranhos forasteiros, dispondo-nos um ao lado do outro para poder avaliar nossa competncia ou nossa utilidade ou nosso valor. Ele governa, guia, ordena, nos ama como crianas cujos destinos ele leva consigo em seu corao.A palavra misericrdia significa que o olhar para cima a Deus nos cus no espera que Deus fique nos cus, mas que desa, entre em nossa condio, para realizar o vasto empreendimento da redeno, para modelar em ns sua salvao eterna. "A raiz significando abaixar-se, inclinar-se, foi conjectura". Walther Zimmerli, "", em Theological Dictionary of the New Testament, org. Gerhard Kittel e Gerhard Friedrich (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1974), 9:377. Servido no uma vaga abstrao na direo geral de Deus, e certamente no um terror amedrontado, encolhido sob o aoite de Deus. Subservincia especfica em sua expectativa e o que ela espera misericrdia.Servio urgenteUm terceiro elemento na vida de servo a urgncia: "Misericrdia. . . J fomos chutados por a bastante,/ Chutados nos dentes por homens ricos complacentes,/ chutados quando cados por irracionais arrogantes". A experincia de servido recorrente atravs da histria. E a experincia nunca foi muito feliz. O salmista viveu numa cultura na qual escravo e servo eram institucionalizados, como tm sido em diferentes pocas na histria do mundo. At onde podemos saber, nunca funcionou muito bem. Poder gera opresso. Os mestres se tornam preguiosos e passam a desprezar aqueles que lhes so subservientes. O grito "J fomos chutados por a bastante, chutados nos dentes... chutados quando cados" acreditvel. O salmo faz parte de uma vasta literatura de clamor, uma nsia por livramento de opresso.Ns vivemos numa escravido semelhante. verdade que temos abolido, nos pases ocidentais, as formas institucionalizadas da escravido e quase eliminado a classe serva, mas a experincia de servido ainda est entre ns e to opressiva como sempre. A liberdade est nos lbios de todo mundo. A liberdade anunciada e celebrada. Mas no muitos sentem ou atuam como livres. A evidncia? Vivemos numa nao de reclamadores e uma sociedade de adidos. Em todo lado para o qual viramos ouvimos queixas: no posso gastar meu dinheiro da maneira que eu quero; no posso gastar meu tempo da forma que quero; no posso ser eu mesmo; estou sob o controle de outros o tempo todo. E em todo lugar encontramos os adidos adidos ao lcool e drogas, aos hbitos compulsivos de trabalho e ao consumismo obsessivo. Trocamos de mestres, continuamos escravizados.O cristo uma pessoa que reconhece que nosso problema verdadeiro no est em alcanar a liberdade, mas em aprender a servir sob um mestre melhor. O cristo reconhece que todo relacionamento que exclui Deus torna-se opressivo. Reconhecendo e percebendo isso, desejamos urgentemente viver sob Deus como mestre.Por tais razes todo servio cristo envolve urgncia. Servido no um casual ficar parado por a esperando por ordens. Nunca sem mtodo; necessidade urgente: "Fala, Senhor, porque teu servo ouve". E o evangelho a boa-nova que as palavras de Deus, ordenando nova vida em ns, j esto em nossos ouvidos; "aqueles que tm ouvidos para ouvir, que ouam".Servio racionalO melhor comentrio do Novo Testamento sobre este salmo est na seo final da carta de Paulo aos Romanos, captulos 12 16. A seo comea com esta sentena: "Ento aqui est o que eu quero que cada um de vocs faa, Deus o ajudando: Pegue sua vida comum de cada dia seu dormir, comer, ir ao trabalho, e caminhar pela vida e coloque-a diante de Deus como uma oferta" (12.1). A nfase do salmo em servio real, fsico (no uma inteno espiritual, no um desejo de ser prestimoso) percebida no convite para apresentarmos nosso dia-a-dia, vida comum. A motivao para o servio (sem coero), sem exigncia, fica clara na frase "Deus os ajudando". No entanto, mais significante a ltima frase to notvel logikn latreian, "coloque diante de Deus como uma oferta", que outra traduo d como "servio racional". Servio, quer dizer, que faz sentido. A palavra latreia quer dizer "servio", o trabalho que a pessoa faz no interesse da comunidade. Mas tambm a base de nossa palavra liturgia, o servio do culto que rendemos a Deus. E precisamente esse servio que lgico, feito com a mente, a razo [servio racional]. O servio que oferecemos a Deus (em adorao) se estende em atos especficos que servem outros. Aprendemos um relacionamento uma atitude para com a vida, uma atitude de servido diante de Deus, e ento somos disponveis para ser de utilidade a outros em atos de servio.O salmo no tem nada em si sobre servir os outros. Concentra-se em ser um servo de Deus. A posio do salmo que se a atitude de ser servo aprendida, atendendo-se a Deus como Senhor, ento servir outras pessoas ir se desenvolver como um modo de vida muito natural. Sero ouvidas ordens para ser hospitaleiros, para mostrar compaixo, para visitar os doentes, para ajudar e para curar (ordens que Paulo rene em Romanos 12 15 e muitos outros lugares) e sero desempenhadas com facilidade e equilbrio. medida que vivemos o que est implicado numa vida de servio, somos munidos constantemente de incentivo e exemplo por Jesus Cristo, que disse: Vocs entendem o que eu lhes fiz? Vocs me chamam de "Mestre", e tm razo nisso. o que eu sou. Ento se eu, o Mestre e Professor, lavei seus ps, vocs devem agora lavar os ps uns dos outros. Eu coloquei um modelo para vocs. O que eu fiz, faam vocs. Estou apenas apontando o bvio. Um servo no avaliado superior a seu mestre; um empregado no d ordens a seu empregador. Se vocs entendem o que eu lhes digo, ajam assim e vivam uma vida abenoada (Jo 13.12-17).A pessoa mais livre da terraO povo de Deus incentivado em toda parte e sempre a trabalhar pela libertao de outros, ajudando-os a ficarem livres de qualquer forma de servido religiosa, econmica, cultural, poltica que o pecado emprega para mirrar ou frustrar ou restringir suas vidas. As promessas e cumprimentos de liberdade so antifonais em toda a Escritura. O tema glorioso tem documentao extensa na vida do povo de Deus. Mas h tambm, tristemente, numerosos casos em nossa sociedade de pessoas que, tendo recebido sua liberdade, tm-na desperdiado, usando-a como "uma desculpa para fazer o que quiserem" (Gl 5.13), terminando numa escravido pior. Pois liberdade a liberdade de viver como pessoas com amor por amor a Deus e ao prximo, no uma licena para agarrar e empurrar. a oportunidade de viver no nosso melhor nvel, "um pouco menor do que Deus" (Sl 8.5 rsv), no como animais desregrados. O trabalho de libertao deve ser acompanhado, portanto, de instruo no uso da liberdade como filhos de Deus que "andam pelo Esprito" (Gl 5.25 rsv; "no Esprito" ara). Aqueles que ostentam a retrica da liberdade mas desprezam a sabedoria do servio no conduzem as pessoas para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus, e sim para uma misria acanhada e cobiosa. medida que o Salmo 123 ora a transio da opresso ("chutados nos dentes por homens ricos complacentes") liberdade (esperando pela sua palavra de misericrdia") a uma nova servido ("como servos, alertas aos mandados do seu mestre"), ele nos coloca no caminho do aprendizado de como usar nossa liberdade mais apropriadamente, sob o senhorio de um Deus misericordioso. As consequncias so todas positivas. At hoje nunca ouvi um servo cristo queixar-se da opressividade de sua servido. Ainda no ouvi uma serva crist rebelar-se contra as restries de seu servio. Um servo cristo a pessoa mais livre da terra. 6Ajuda"Ah, bendito seja Deus! Ele no foi embora e no nos abandonou"Se Deus no tivesse sido por ns todos juntos agora, Israel, cantem forte! Se Deus no tivesse sido por ns quando todos foram contra ns,Teramos sido engolidos vivos pela ira violenta deles,Levados pela enchente de raiva, afogados na torrente;Teramos perdido nossas vidas na gua desenfreada, tempestuosa.Ah, bendito seja Deus!Ele no foi embora e no nos deixou.Ele no nos abandonou indefesos, desamparados como um coelho numa matilha de ces a rosnar. Fugimos voando de suas presas, livres de suas armadilhas, livres como uma ave.Do aperto estamos soltos, j somos livres como um pssaro no vo.O forte nome de Deus nosso auxlio, o mesmo Deus que fez o cu e a terra.SALMO 124Deus quase que intoleravelmente descuidado sobre cruzes e espadas, arenas de luta e patbulos, sobre todos os "males" e todas as "pragas". Seu cuidar no significa que ele entra naquela de estofados!PAUL SCHEREREu estava numa unidade mvel de doao de sangue para doar meu meio litro anual, e uma enfermeira me fez uma srie de perguntas para ver se havia qualquer motivo para desqualificao. A pergunta final da lista era "Seu emprego de risco?" Eu disse: "Sim".Sua rotina ficou interrompida; ela ergueu os olhos para mim, um pouco surpresa, porque eu estava usando uma gola clerical pela qual ela pde me identificar como ministro. Sua hesitao foi s de um momento; ela sorriu, desconsiderou minha resposta e assinalou no em seu questionrio, dizendo: "No quero dizer esse tipo de risco".Eu gostaria de ter podido continuar a conversa, comparando o que ela sups que eu quis dizer com ser de risco com aquilo que eu de fato quis dizer com isso. Mas no eram apropriados o momento e o lugar. Havia uma fila de pessoas aguardando sua vez da agulhada.Mas h horas e lugares apropriados para uma conversa exatamente assim, e uma delas quando os cristos se deparam com o Salmo 124. O Salmo 124 um cntico de perigo e de ajuda. Entre os Cnticos de Subida, cantados pelo povo de Deus no seu caminho da f, esse um que melhor do que qualquer outro descreve o trabalho perigoso de todo discipulado e declara o auxlio que sempre se experimenta vindo da mo de Deus.Um funcionrio do Departamento de Reclamaes da HumanidadeOs primeiros versos do salmo descrevem Deus duas vezes como sendo "por ns". O ltimo verso "O forte nome de Deus nosso auxlio, o mesmo Deus que fez o cu e a terra". Deus por ns. Deus nosso auxlio.Para algumas pessoas, declaraes como essa so bandeiras vermelhas. Provocam desafios. Eu, confiante e seguro no plpito, posso anunciar: "O Senhor por ns... O forte nome de Deus nosso auxlio". Mas basta eu sair do plpito para algum me dizer: "Escute, eu queria que voc tivesse um pouco mais de cuidado com seus pronomes possessivos. Como conseguiu esse nosso? O Senhor Deus pode ser por voc, ele poder ser seu auxlio. Mas ele no o meu. Escute s..." Durante a semana eu ouo casos sobre acontecimentos familiares trgicos e desapontamentos sobre a carreira, junto com rep