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Uma visão ericksoniana da cura no transe hipnótico Milton Erickson acreditava que o estado de transe é um estado de aprendizado ativo num nível inconsciente, ou seja um estado onde o aprendizado acontece sem a interferência da mente consciente. O transe hipnótico é, portanto, uma condição onde os preconceitos habituais e distrações da consciência são minimizados, de modo que um novo aprendizado possa ocorrer de forma mais eficiente. Ernest Rossi, um dos discípulos de Milton Erickson e um dos grandes nomes da hipnoterapia atual, observa que este ponto de vista é totalmente consistente com o que se sabe hoje sobre o processo criativo em geral, em que se reconhece que a consciência é apenas uma estação de recepção para as novas combinações do processo criativo, que de fato ocorrem em um nível inconsciente. Essa visão é também consistente com as abordagens iniciais da hipnoterapia usadas por Liebeault, Bernheim e Braid, que às vezes colocavam pacientes em transe por um período de tempo e depois os "acordavam" sem fazer nenhum tipo de sugestão direta sobre a terapia, e a cura acontecia mesmo assim. Pode-se inferir que a atmosfera de cura que envolvia esses processos, juntamente com o sistema de crenças daquela época, funcionavam como sugestões indiretas e não- verbais para colocar em movimento, dentro de seus pacientes, processos criativos autônomos que efetuavam a "cura".

Uma visão ericksoniana da cura no transe hipnótico

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Uma visão ericksoniana da cura no transe hipnótico

Milton Erickson acreditava que o estado de transe é um estado de aprendizado ativo num nível inconsciente, ou seja um estado onde o aprendizado acontece sem a interferência da mente consciente. O transe hipnótico é, portanto, uma condição onde os preconceitos habituais e distrações da consciência são minimizados, de modo que um novo aprendizado possa ocorrer de forma mais eficiente.

Ernest Rossi, um dos discípulos de Milton Erickson e um dos grandes nomes da hipnoterapia atual, observa que este ponto de vista é totalmente consistente com o que se sabe hoje sobre o processo criativo em geral, em que se reconhece que a consciência é apenas uma estação de recepção para as novas combinações do processo criativo, que de fato ocorrem em um nível inconsciente.

Essa visão é também consistente com as abordagens iniciais da hipnoterapia usadas por Liebeault, Bernheim e Braid, que às vezes colocavam pacientes em transe por um período de tempo e depois os "acordavam" sem fazer nenhum tipo de sugestão direta sobre a terapia, e a cura acontecia mesmo assim. Pode-se inferir que a atmosfera de cura que envolvia esses processos, juntamente com o sistema de crenças daquela época, funcionavam como sugestões indiretas e não-verbais para colocar em movimento, dentro de seus pacientes, processos criativos autônomos que efetuavam a "cura".

Para Erickson um paciente é um paciente por causa de processos mentais equivocados e perspectivas limitadas de referência. Em sua terapia ele procura continuamente romper estas limitações rígidas para iniciar um estado de fluxo mental que pode liberar o potencial criativo do paciente. Portanto, as técnicas da abordagem ericksoniana tem como um dos principais objetivos despotencializar as limitações da mente consciente no sentido de facilitar a solução de problemas e a criatividade.

Ernest Rossi diz que o homem do século 20 é "aleijado" por um sistema materialista de crenças excessivamente racionalistas que tendem a rebaixar o funcionamento desses processos terapêuticos autônomos. Segundo ele, o homem moderno tem uma consciência arrogante que acredita que pode resolver e realizar tudo em um nível consciente e voluntário. São justamente estes esforços voluntários que freqüentemente

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ficam no caminho dos processos de cura natural.

É para lidar com esses esforços equivocados da mente consciente que Milton Erickson desenvolveu abordagens indiretas, que ocupam a mente consciente do paciente enquanto a mente inconsciente tem a oportunidade de criar novas soluções e estratégias para lidar com a vida. Todo o processo de indução de transe ericksoniano é projetado para relaxar os modelos rígidos da consciência habitual e permitir novos aprendizados internos, gerados pela mente inconsciente, e assim chegar no objetivo terapêutico.

"...e minha voz irá contigo e se transformará na voz da chuva e do vento..." (Milton H. Erickson)

Milton H. Erickson

O Dr. Milton H. Erickson foi um psiquiatra americano que se tornou conhecido por

um trabalho inédito, o de associar a hipnose às psicoterapias.

Criou uma nova abordagem de tratamento, que é a Terapia Estratégica (hoje mais

comumente denominada de Terapia Ericksoniana) em que trabalhava em cima do

sintoma do paciente através de induções hipnóticas naturalistas, na forma em que a

pessoa criava o problema a si mesma. Ao longo de sua carreira, obteve excelentes

resultados no tratamento de casos diversos como depressões, fobias, problemas

sexuais, doenças psicossomáticas e outros.

A abordagem Ericksoniana

A Terapia Ericksoniana é uma forma de terapia breve, voltada para a solução e

promoção das mudanças baseadas nas necessidades do paciente. É uma abordagem

ativa, onde o terapeuta identifica as disfunções e planeja as intervenções para atingir

os objetivos estabelecidos com o paciente. É voltada para solução dos problemas

apresentados, focada no presente e orientada para o futuro. É uma abordagem

naturalística, onde o terapeuta utiliza e focaliza as habilidades e potenciais naturais de

cada um. Essas habilidades e potenciais são individuais e por isso são respeitados e

tratados como únicos. Daí ela se constitui como uma terapia diferente para cada

indivíduo. Nada é imposto. As experiências pessoais são evocadas e guiadas com o

objetivo de serem expandidas para que o cliente encontre, por si mesmo, a solução.

Uma das técnicas utilizadas com bastante êxito é a hipnose ericksoniana, que consiste

em um transe natural, facilitando a modificação dos padrões psicológicos inadaptados.

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Essa forma de atuar terapêutico foi desenvolvida a partir dos estudos da hipnose e das

observações dos efeitos terapêuticos obtidos. O Dr. Erickson passou a utilizar os

comandos hipnóticos sem a indução formal. Durante a sessão ele falava sobre diversos

assuntos relacionados ao paciente e ia captando a atenção para que se desenvolvesse um

transe leve e utilizava esses momentos para passar as informações relevantes. Dessa

forma a terapia se tornava mais eficaz.

Apesar de ser considerada uma terapia breve, o tempo de duração do processo

terapêutico varia de acordo com o paciente e o problema apresentado, que pode ser de

algumas sessões a meses de trabalho.

A terapia no consultório

Normalmente a terapia é realizada no consultório com sessões semanais e duração de 50

min. A primeira sessão tem a finalidade de colher dados e conhecer a necessidade do

cliente, mas mesmo na primeira sessão já podem ser trabalhadas algumas questões. Nas

sessões subsequentes se dá continuidade ao processo, trabalhando as questões

apresentadas anteriormente ou as trazidas naquele momento.

A Abordagem Ericksoniana é repleta de estratégias para auxiliar na promoção das

mudanças e dentre elas destaca-se a hipnose. Nas sessões, a hipnose pode ser realizada

de modo formal ou como exposto acima, de modo natural.

Embora possa haver emoções durante a sessão, na maioria das vezes o cliente sai de

modo leve e sentindo-se mais capaz.

Algumas considerações

Pela sua versatilidade é a abordagem que norteia meu pensamento na psicoterapia.

Posso dizer que minha maneira de pensar a terapia é pautada nos princípios que regem

esta abordagem. Costumava dizer nas aulas que ministrava no Curso de Formação em

Hipnose e Terapia Ericksoniana que, à medida que trabalhamos nesta abordagem,

vamos incorporando sua filosofia e ficando cada vez mais fácil planejar as etapas que

compõem a psicoterapia.

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Artigo

A Psicoterapia Ericksoniana: uma abordagem breve e estratégica

Cada um tem dentro de si tudo o que precisa para ser feliz. Milton Erickson

Psicoterapia é um tipo de tratamento psicológico executado por profissionais qualificados que auxiliarão as pessoas com suas dificuldades. Para o terapeuta ainda é importante os aspectos éticos da profissão, assim como a privacidade e o sigilo em relação aos problemas psicológicos da pessoa.

O Psicoterapeuta Ericksoniano utiliza os ensinamentos de Milton Hyland Erickson, Médico Psiquiatra e Mestre em Psicologia, que nasceu em Nevada, nos Estados Unidos, em 1901 e faleceu em 1980 em Phoenix, Arizona. Milton Erickson, durante sua juventude passou por muitos problemas de saúde e dores físicas por causa da poliomielite, ele usava a hipnose para o controle e manejo de sua dor crônica, com isso, conseguiu desenvolver diversas técnicas para seu próprio tratamento. Após algum tempo, aperfeiçoou ainda mais a técnica, reformulou conceitos até encontrar seu próprio modelo e método de realizar psicoterapia, voltada não para o problema, mas para a solução. Erickson tornou-se conhecido como o pai das abordagens estratégicas breves para a psicoterapia.

Na Psicoterapia Ericksoniana o cliente é atendido a partir de suas próprias características, do seu próprio funcionamento específico e particular.

Uma das ferramentas que pode ser utilizada na abordagem ericksoniana é a hipnose, não a hipnose tradicional, autoritária, em que o hipnotizador tem o poder e o sujeito é submetido às sugestões diretas deste, utilizando o mesmo procedimento para todos os pacientes que tiverem problemas iguais. Na hipnose ericksoniana, há um procedimento individualizado, conforme as particularidades de cada indivíduo, que ajuda a pessoa a entrar em contato com ela mesma, internamente, em que o hipnoterapeuta facilita o processo de conhecimento de si. é importante ressaltar que a pessoa não será hipnotizada se não quiser.

Como cita Jeffrey Zeig (ROBLES, 2005): ?[...] a Hipnose é uma maneira de embrulhar idéias como se fossem presentes. é uma forma de pegar as idéias, embrulhá-las como presente e apresentá-la ao paciente de forma bem atrativa, como algo muito valioso, para ajudá-la a fazer brotar as potencialidades que estão escondidas. Todas as pessoas têm forças e recursos que desconhecem e o trabalho do terapeuta consiste em apresentar ao paciente idéias que lhe ajudem a chegar a algumas dessas potencialidades por si mesmo?.

A aplicação da hipnose ajuda no conforto do sofrimento humano, há relatos de casos onde a anestesia foi substituída eficazmente pelo uso da hipnose, reduzindo e impedindo o aparecimento da dor, assim também suavizando e eliminando traumas que possivelmente não seriam resolvidos de outras maneiras.

Enfim, a indução hipnótica serve para produzir um estado alternativo de consciência, ou de atenção e percepção, ?no qual, os pacientes podem reassociar e reorganizar suas complexidades internas e utilizar suas próprias capacidades de uma maneira coerente

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com a sua experiência de vida. A hipnose não transforma a pessoa, nem altera sua experiência de vida. Serve para possibilita-la a aprender mais sobre si mesma e a expressar-se mais adequadamente? (ERICKSON, ROSSI, 1979).

REFERêNCIAS:ERICKSON, Milton Hyland; ROSSI, Ernest Lawrence. Hypnotherapy. an Exploratory Casebook. New York: Irvington, 1979.ROBLES, Teresa. Terapia Feita Sob Medida: um seminário ericksoniano com Jeffrey K. Zeigh. Tradução Adriana Mancini Machado e Eliete do Carmo Alves Pinto. Belo Horizonte: Diamente, 2005. Enviado por: Dr(a). Anne Patrícia Barreto de Santana , Psicologia