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NÚMERO 14 :: Julho 2011 (TRIMESTRAL) :: 3€ www.jasfarma.com Entrevista DR. ÁLVARO BELEZA, PRESIDENTE DO IPS: «O objectivo principal é fazer mais e melhor, mas com menos recursos» Reportagem Unidade Funcional de Oncologia Médica, Hospital de Nossa Senhora do Rosário UMA APOSTA NA INOVAÇÃO 16 TH CONGRESS OF THE EUROPEAN HEMATOLOGY ASSOCIATION Uma oportunidade de actualização em diversas áreas da Hematologia

Unidade Funcional de Oncologia Médica, Hospital de Nossa Senhora do Rosário

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Uma reportagem da Unidade Funcional de Oncologia Médica do Hospital de Nossa Senhora do Rosário, publicada na edição nº 14 da revista HematOncologia.

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Page 1: Unidade Funcional de Oncologia Médica, Hospital de Nossa Senhora do Rosário

NÚMERO 14 :: Julho 2011 (TRIMESTRAL) :: 3€ www.jasfarma.com

Entrevista

DR. ÁLVARO BELEZA,PRESIDENTE DO IPS:«O objectivo principal é fazer mais e melhor, mas com menos recursos»

Reportagem Unidade Funcional de Oncologia Médica, Hospital de Nossa Senhora do Rosário

UMA APOSTA NA INOVAÇÃO

16TH CONGRESS OF THE EUROPEAN HEMATOLOGY ASSOCIATION

Uma oportunidade de actualização em diversas áreas da Hematologia

Page 2: Unidade Funcional de Oncologia Médica, Hospital de Nossa Senhora do Rosário

A Unidade Funcional de Oncologia Mé-

dica do Hospital de Nossa Senhora do

Rosário, no Barreiro, foi inaugurada

oficialmente em Março de 1994, resultado de

um pré-projecto iniciado na década de 90.

Situada, desde Outubro de 2010, no renovado

5.º piso, a unidade passou, ao longo dos anos,

por várias etapas e localizações dentro do hos-

pital, estando agora num espaço que à partida

se considera definitivo.

Sob a direcção do Dr. Jorge Espírito Santo, des-

de 1996, esta unidade, onde são seguidas não

apenas patologias oncológicas, mas também

hematológicas, tem como principal objectivo

prestar cuidados especializados, e de uma for-

ma apropriada, a este tipo de doente.

Com o passar do tempo, a unidade foi cres-

cendo e o que faz hoje é, de acordo com o seu

director, «incomensuravelmente mais do que

em 1996», podendo afirmar-se que, para além

da inovação, verificou-se também um «grande

crescimento da actividade».

Isto deve-se tanto ao aumento da incidência

do cancro como à evolução terapêutica que,

sendo mais eficaz, permite maiores tempos

de sobrevivência. «Existem, actualmente,

muito mais doentes vivos e livres de doença»,

afirma o oncologista, referindo que, quanto

aos que se encontram com a patologia, «é

possível mantê-los vivos durante muito mais

50®

Unidade Funcional de Oncologia Médica

Uma aposta na inovação: em benefício dos doentes

oncológicos e hematológicos

Situada no 5.º piso desde Outubro de 2010, a Unidade Funcional de Oncologia Médica do Hospital de Nossa Senhora do Rosário,

no Barreiro, tem como principal objectivo prestar cuidados especializados e de uma forma apropriada, tanto a doentes com

patologia oncológica, como hematológica. Apesar dos pacientes permanecerem na estrutura o mínimo tempo possível, o seu

director, Dr. Jorge Espírito Santo, considera que as novas instalações permitem oferecer-lhes um «espaço muito mais digno».

Page 3: Unidade Funcional de Oncologia Médica, Hospital de Nossa Senhora do Rosário

tempo, com o advento das novas formas de

tratamento».

Número de doentes aumenta

a cada ano

Mesmo com o aumento, a cada ano, do núme-

ro de doentes, a Unidade Funcional de Onco-

logia Médica não tem lista de espera. Em 2010

foram registados cerca de 650 novos doentes,

para um total de 12.800 consultas de Oncolo-

gia e Hematologia.

«Se fizermos a comparação destes dados com

os de há cinco anos, pode verificar-se que a

actividade assistencial realizada neste espaço

era exactamente metade. Foi uma grande pro-

gressão», refere.

Como consequência desta subida, quer o nú-

mero de doentes, quer o de tratamentos tem

também aumentado. Contudo, o número de

sessões em Hospital de Dia tem crescido de

forma muito menos pronunciada, uma vez que

existe, actualmente, um conjunto de doenças

possíveis de tratar com medicação oral. Desta

forma, no ano passado, foram efectuadas 9 mil

sessões em Hospital de Dia.

No que diz respeito ao internamento, e por-

que estas são especialidades essencialmente

ambulatórias, os doentes devem permanecer

internados o mínimo tempo possível.

Nas 11 camas deste espaço, que se situa ainda

nas antigas instalações, foram internados cer-

ca de 350 doentes, tendo uma taxa de ocupa-

ção de 85% e uma demora média de oito dias.

«Acolhemos muitos doentes para tratamento

paliativo, o que prolonga um pouco os inter-

namentos», indica.

A hospitalização, regra geral, é reservada para

as complicações, quer da doença, quer da te-

rapêutica, para as patologias que estão em

fase de progressão e, ainda, para a execução

de terapêuticas que não podem ser feitas em

Hospital de Dia.

Pode afirmar-se que os tipos de cancro que re-

querem mais frequentemente o internamento

são os da mama, do cólon, do estômago, do

pulmão e da próstata, bem como as neopla-

sias hematológicas, sobretudo os linfomas e os

mielomas.

Um espaço «mais digno»

Espaçosas, luminosas e pintadas de salmão,

as novas instalações ocupadas pela unidade

permitem oferecer, tanto aos doentes, como a

quem nelas trabalha, um «espaço muito mais

digno».

O novo piso, destinado à área de ambulatório,

é mais extenso que o anterior e permite ter

uma nova disposição do espaço, assim como

condições completamente diferentes. Tudo

«para benefício dos doentes, em primeiro lu-

gar, mas também para melhorar as condições

de trabalho dos profissionais».

«O actual Hospital de Dia nada tem a ver com

o anterior», exclama, contando que, além de

amplo, tem mais quatro postos de tratamento.

Existem agora à disposição dos doentes 12 ca-

deirões e três camas, num total de 15 postos.

Com as novas condições, a unidade consegue,

com mais facilidade, acomodar as consultas

das diferentes valências, que não são apenas

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Dr. Jorge Espírito Santo

®

Page 4: Unidade Funcional de Oncologia Médica, Hospital de Nossa Senhora do Rosário

a Oncologia e a Hematologia, mas também a

Nutrição, a Consulta da Dor, a Psicologia e o

apoio social.

«Tentamos agilizar tudo ao máximo, para que

os doentes estejam na Unidade o mínimo

tempo possível e, finalmente, temos gabine-

tes suficientes para acomodar tudo aquilo que

gostaríamos de ter desde o início», observa o

Dr. Jorge Espírito Santo.

A área de Ambulatório funciona de segunda a

sexta-feira, entre as 08.00h e as 20.00h. A par dos

procedimentos em Hospital de Dia e das consul-

tas externas, os doentes, seguidos na unidade

podem recorrer a uma consulta não programa-

da, sempre que sintam que estão com algum

problema ou tenham uma questão a colocar.

Doentes hematológicos integrados na

unidade

No que respeita ao quadro de profissionais de

saúde, o Dr. Jorge Espírito Santo indica que,

no momento, existem cinco oncologistas, um

hematologista e dois pneumologistas que se

deslocam à Unidade duas vezes por semana.

Conta, ainda, com nove enfermeiros, quatro

auxiliares de acção médica, duas anestesistas

(que realizam a Consulta da Dor Crónica) e cin-

co funcionárias administrativas.

Ao ser questionado, mais especificamente,

acerca do tratamento dos doentes hematoló-

gicos dentro da unidade, o director responde

que considera que «estes pacientes devem es-

tar integrados num serviço de Oncologia que

seja capaz de lhes prestar os cuidados de que

necessitam». E acrescenta: «Esse é o espírito

que existe aqui.»

Quanto ao facto de haver apenas um hemato-

logista na Unidade – o Dr. Ricardo Costa –, o

Dr. Jorge Espírito Santo nota que, para já, não

se justifica pedir a contratação de um novo

especialista, afirmando que a sua presença é,

sem dúvida, uma mais-valia para a unidade e

para os doentes hematológicos a que ela re-

correm.

Hematologia de um para muitos

O único hematologista da unidade e também

do hospital trabalha no espaço entre três a

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Dr. Ricardo Marques da Costa

Page 5: Unidade Funcional de Oncologia Médica, Hospital de Nossa Senhora do Rosário

quatro vezes por semana. A colaborar com a

equipa desde 2005, o Dr. Ricardo Marques da

Costa vê todos os doentes hematológicos da

instituição e considera que o tempo de consul-

tas que efectua é sufi ciente, uma vez não exis-

tir lista de espera.

«Comecei por vir uma vez por semana e te-

nho vindo a aumentar a quantidade de horas

à medida que o número de doentes vai tam-

bém subindo». Há cada vez mais doentes com

patologia, tendo-se registado, no passado ano,

184 novos casos só para a Hematologia e um

valor acumulado, em 2010, superior a 1600

consultas.

A principal causa de envio de doentes à Con-

sulta de Hematologia é a gamapatia monoclo-

nal. Todavia, os maiores motivos de «consumo»

de consulta e de tratamentos são os linfomas,

muitas anemias e algumas leucemias crónicas.

«Apesar de estar englobado numa unidade de

Oncologia, tenho liberdade para fazer toda a

Hematologia e não apenas a Oncológica. É isso

que faço e que gosto de fazer», explica.

Por outro lado, há um par de patologias que

o Dr. Ricardo Marques da Costa sistematica-

mente não trata, nomeadamente «as leuce-

mias agudas em doentes que precisam de

tratamento agressivo com intuito curativo e as

coagu lopatias graves, que podem necessitar

de tratamento urgente».

«Sou o único hematologista do Hospital, não

estou na instituição todos os dias e considero

que estas situações devem ser tratadas num

ambiente que disponha de um especialista em

Hematologia 24 horas por dia», fundamenta

o médico, acrescentando que, por não ser o

caso, prefere «enjeitar essa responsabilidade

e continuar a proporcionar a esses doentes o

melhor tratamento possível, todavia, noutra

instituição».

Doentes tratados segundo o estado da arte

Em termos estritamente hematológicos, os

doentes que recorrem à Unidade Funcional

de Oncologia são tratados de acordo com «o

estado da arte». Os protocolos seguidos são,

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Unidade de Gestão Integrada da Doença Oncológica

Tendo em conta o peso do doente onco-

lógico no hospital, a instituição criou, re-

centemente, uma estrutura denominada

Unidade de Gestão Integrada da Doença

Oncológica.

«Esta estrutura é mais própria dos hospi-

tais especializados do que dos gerais», ex-

plica o Dr. Jorge Espírito Santo, desenvol-

vendo que o objectivo é «tentar criar uma

estrutura própria individualizada para os

doentes com patologias malignas».

Isto envolve, naturalmente, todos os servi-

ços que têm actividade nesta área: a On-

cologia, a Radioterapia e a Cirurgia Geral.

«Estes são os serviços “residentes”, porém,

todos os que contribuem para o diagnós-

tico e tratamento da doença oncológica

também participam.

«Para já, é uma estrutura de carácter depar-

tamental, de um novo tipo que estamos a

tentar desenvolver e implementar. Depois

de ultrapassadas as primeiras e naturais di-

fi culdades, veremos se se consegue obter

o benefício que esperávamos quando foi

pensada», termina.

Page 6: Unidade Funcional de Oncologia Médica, Hospital de Nossa Senhora do Rosário

segundo o Dr. Ricardo Marques da Costa, «os

últimos recomendados e estabelecidos por

organismos de idoneidade científica credível

e provada».

E afirma: «Actualmente, no âmbito da Hemato-

logia e, mais especificamente, da Hematonco-

logia, são utilizados os melhores e mais eficazes

protocolos, sem restrições», sublinhando que

o facto de haver, dentro do hospital, um servi-

ço de Radioterapia «é uma vantagem enorme

em relação a outros serviços de Hematologia e

a outros hospitais».

Quando questionado acerca das taxas de su-

cesso, o hematologista responde que a unida-

de está, neste momento, a efectuar essa ava-

liação. «O eventual sucesso das unidades de

Oncologia está agora muito em discussão. Es-

tamos nesta altura a avaliar os nossos doentes,

a colocá-los numa base de dados, para poder-

mos tirar conclusões e verificar se nos encon-

tramos em conformidade com as referências

da literatura ou não», explica, presumindo que

para «a maior parte das doenças a unidade

está de acordo com aquilo que é hábito ver em

trabalhos internacionais para cada uma das

patologias, em termos de sobrevida».

Casos difíceis discutidos com especialistas

de outras entidades

No que diz respeito às principais dificuldades

sentidas no tratamento dos seus doentes, e uma

vez que está integrado numa unidade de Onco-

logia, o Dr. Ricardo Marques da Costa afirma que

o seu único obstáculo se prende com o facto de

ser o único hematologista do espaço e não ter

com quem discutir os casos mais complicados.

«Quando me vejo perante uma situação difícil,

quando tenho dúvidas e a literatura não as re-

solve, tenho de me socorrer dos meus colegas

de outras instituições, no entanto, esse diálogo

nem sempre é tão presente, actual e imediato

quanto eu gostava», observa.

E acrescenta: «Contudo, estou muito bem se-

cundado pelos oncologistas, que tratavam

doentes hematológicos antes de eu cá chegar,

que sabem, também, de Hematologia e que,

obviamente, me ajudam.»

Além disso, todos os serviços ditos de apoio

«funcionam muito bem», sobretudo, a Anato-

mia Patológica, o Laboratório de Análises Clí-

nicas, a Imagiologia e a Radioterapia.

Em relação à sua actividade como hematolo-

gista e às eventuais limitações, no que diz res-

peito à «capacidade de prescrição e de trata-

mento dos doentes, de dispor de uma unidade

de Cuidados Intensivos ou de Internamento»,

o especialista afirma não ter qualquer dificul-

dade nesse âmbito.

E sublinha: «Devo louvar o chefe (Dr. Jorge Es-

pírito Santo), porque me dá inteira liberdade

para prescrever aquele que considero ser o tra-

tamento adequado para o doente que tenho

em mãos. Não há qualquer obstáculo em tratar

os meus doentes da melhor forma possível.»

Espaço dispõe de óptimas condições

Considerando-se um indivíduo exigente, o he-

matologista afirma não conhecer nenhum ou-

tro sítio «com tão boas condições» para tratar

doentes hematológicos como a Unidade Fun-

cional de Oncologia.

Actualmente, pensa-se implementar no espaço

um sistema de gestão de qualidade, com vista

à certificação. «Existe alguma falta de entro-

samento entre os vários grupos profissionais

que trabalham nesta unidade. Não está tudo

tão alinhado e normalizado, como eu – que

sou também auditor de Qualidade no âmbito

da Saúde – gosto de ver e de participar» men-

ciona, referindo que, com a implementação do

Sistema de Gestão de Qualidade, «poderiam

burilar-se algumas ligações, o que certamente

melhoraria o desempenho da unidade».

Para terminar, o hematologista afirma que gos-

ta muito de trabalhar no espaço, que se sente

«acarinhado» e não tem qualquer dificuldade

em «fazer valer» os seus argumentos.

«Não tenho dificuldade em marcar qualquer

exame complementar de diagnóstico para os

meus doentes. Apesar de haver lista de espera,

consigo fazer com que os meus doentes não

fiquem parados nessas listas», fundamenta.

E conclui: «Tenho total compreensão dos meus

colegas e corre tudo muito bem.»

Actualmente, pensa-se implementar no espaço um sistema de gestão de qualidade, com vista à certificação.

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