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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES10ª VARA DE FAZENDA PÚBLICAViaduto Dona Paulina, 80, 8º andar - sala 807, Centro - CEP 01501-020, Fone: 3242-2333r2031, São Paulo-SP - E-mail: [email protected]ário de Atendimento ao Público: das 12h30min às 19h00min
DECISÃO
Processo Digital nº: 1026868-48.2014.8.26.0053
Classe - Assunto Ação Civil Pública - Anulação
Requerente: 'MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Requerido: SPDM - ASSOCIAÇÃO PAULISTA PARA O DESENVOLVIMENTO DA MEDICINA e outro
Juiz(a) de Direito: Dr(a). Valentino Aparecido de Andrade
Vistos.
Por esta ação civil pública, objetiva o MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO fazer imediatamente suspender
toda a eficácia de contrato de gestão celebrado entre a Secretaria da Saúde do
Estado de São Paulo e a SPDM - Associação Paulista para o
Desenvolvimento da Medicina, contrato firmado no corrente ano e pelo qual
aquela Secretaria transferiu à SPDM a gestão de uma unidade hospitalar,
localizada na rua Helvetia, 55, nesta Capital, obrigando-se a repassar a ela, no
período de cinco anos, cerca de cento e catorze milhões de reais, boa parte
destinada ao custeio de obras de reforma no prédio.
Nesse contexto, acoimando a validez da referida
contratação, sustenta o MINISTÉRIO PÚBLICO que se configura a ofensa ao
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES10ª VARA DE FAZENDA PÚBLICAViaduto Dona Paulina, 80, 8º andar - sala 807, Centro - CEP 01501-020, Fone: 3242-2333r2031, São Paulo-SP - E-mail: [email protected]ário de Atendimento ao Público: das 12h30min às 19h00min
princípio constitucional da impessoalidade, porquanto a SPDM, uma
associação de caráter privado, tem seu conselho de administração presidido
por Ronaldo Laranjeira, que vem a ser também o coordenador do programa
criado e mantido pelo Governo do Estado de São Paulo para "resgatar os
dependentes químicos de drogas, principalmente o "crack", situação que
configuraria uma tratamento "personalista" da Administração em favor
daquela associação privada, por se caracterizar uma "confusão de interesses"
entre a Administração e a SPDM, já que o presidente de seu conselho de
administração é também coordenador daquele programa governamental.
Examinando, em cognição sumária, essa alegação,
nela identifico a presença dos requisitos que autorizam a concessão da medida
liminar de caráter cautelar, nesta ação civil pública.
Com efeito, a prova documental apresentada com a
peça inicial bem demonstra que o senhor RONALDO LARANJEIRA é o
presidente do conselho de administração da SPDM - ASSOCIAÇÃO
PAULISTA PARA O DESENVOLVIMENTO DA MEDICINA, desde
agosto de 2003, cargo que mantém até hoje e que ocupava, pois, ao tempo em
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que o contrato público em questão foi celebrado, a indicar que pode ter
havido ofensa ao princípio constitucional da impessoalidade, em
consequência de favorecimento, seja no acesso a informações prévias, seja na
contratação em si com o Poder Público, à SPDM.
Impessoalidade que é imposta por norma
constitucional ao Poder Público em todos os atos que pratica, designadamente
os de natureza contratual por em geral envolverem o desembolso de quantias
consideráveis dos cofres públicos, e que se configura quando o Poder Público
de algum modo propicia a um determinado particular uma situação mais
favorável e vantajosa, quando, por exemplo, a ele permite o conhecimento
privilegiado de informações, as quais são de importância direta à contratação
com o Poder Público. A jurisprudência, assim tem considerado haver ofensa
ao princípio da impessoalidade quando o Poder Público contrata com uma
entidade particular da qual é integrante agente público que detenha
atribuições funcionais que lhe dêem algum poder privilegiado de
conhecimento, ou mesmo de ação direta com influência sobre a formação do
ato administrativo ou de sua execução, como parece ter ocorrido no caso
presente.
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A ofensa ao princípio da impessoalidade ganha
ainda consistência (examinando-se a questão sob cognição sumária ressalve-
se), se analisarmos as circunstâncias que envolveram a escolha da SPDM para
a contratação, como destaca o MINISTÉRIO PÚBLICO ao referir-se a um
possível acesso privilegiado de informações que lhe foi permitido ter em
razão de contar, em seus quadros, com o senhor RONALDO LARANJEIRA,
coordenador de um programa governamental a cuja consecução o contrato
busca dar meios práticos, com a instalação de uma unidade hospitalar em um
prédio, a ser gerido por ela, SPDM, mediante repasse de consideráveis valores
pelo Poder Público.
Valores que, sublinha o MINISTÉRIO PÚBLICO,
serão destinados em grande parte ao custeio de obras de reforma, obras
contratadas pela SPDM sem licitação e com dinheiro público, já que ela,
SPDM, como contratada, não está obrigada a licitar, nem a se submeter a
controle pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.
Obras de engenharia que a SPDM não poderia
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realizar, se observada a finalidade para a qual fora criada - também enfatiza o
MINISTÉRIO PÚBLICO, e que poderia configurar uma forma oblíqua de a
Administração reformar prédios com dinheiro público, mas sem se submeter
aos sistemas de controle, como, por exemplo, o de licitar e de levar ao
conhecimento do Tribunal de Contas o que gastou, com quem gastou e de que
forma contratou.
Também será de relevo perquirir, em momento
azado, se a delegação a uma entidade privada de um serviço de saúde e
caráter evidente público, como é o de tratar dependentes químicos, é admitida
ou não em nosso Ordenamento Jurídico. A princípio, pode-se dizer que, em
tese, um serviço público que a Lei confere diretamente à Administração sua
realização não pode ser delegado à iniciativa privada, não a sua prestação
direta.
Registre-se que já houve repasse contratual de mais
de sete milhões, o que caracteriza uma situação emergencial, a impor o
controle jurisdicional do dinheiro público, cuja finalidade precípua é a de
garantir a observância aos princípios constitucionais impostos pelo artigo 37
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da Constituição da República de 1988.
Circunstâncias subjacentes à contratação que
configuram a plausibilidade necessária, a compasso com a existência de uma
situação de risco atual e concreto, conforme descrito, a determinar seja
concedida em favor do MINISTÉRIO PÚBLICO a medida liminar nesta
ação civil pública, para fazer imediatamente suspender toda a eficácia do
contrato em questão, de modo que nenhum repasse de valores poderá mais ser
feito, seja pelo Governo do Estado de São Paulo, seja por sua Secretaria da
Saúde, à SPDM.
Com urgência, seja a ré, FAZENDA PÚBLICA DO
ESTADO DE SÃO PAULO, intimada com urgência a dar imediato
cumprimento a esta Decisão, sob as penas da Lei.
De seu conteúdo a corré, SPDM, também deve ser
intimada, para conhecimento.
Citem-se as requeridas.
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Int. O MINISTÉRIO PÚBLICO, pessoalmente.
São Paulo, em 10 de julho de 2014.
VALENTINO APARECIDO DE ANDRADE
JUIZ DE DIREITO
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DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA
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