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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO VICTOR MARCELO ROJAS SANTANDER Elaboração de um Objeto para Aprendizagem - OPA: Aplicações na Matemática Financeira “Capitalização, Financiamento e Desvalorização”. São Paulo 2010

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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO

VICTOR MARCELO ROJAS SANTANDER

Elaboração de um Objeto para Aprendizagem - OPA:

Aplicações na Matemática Financeira

“Capitalização, Financiamento e Desvalorização”.

São Paulo

2010

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VICTOR MARCELO ROJAS SANTANDER

MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Elaboração de um Objeto para Aprendizagem - OPA:

Aplicações na Matemática Financeira

“Capitalização, Financiamento e Desvalorização”.

São Paulo

2010

Dissertação apresentada à banca examinadora da Universidade Bandeirante de São Paulo -

UNIBAN, como exigência parcial para obtenção do título de

Mestre em Educação Matemática,

sob a orientação da

Profª. Dra. Janete Bolite Frant.

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R645e Rojas-Santander, Victor Marcelo

Elaboração de um Objeto de Aprendizagem – OPA: Aplicações na Matemática Financeira “Capitalização, Financiamento e Des- valorização”. / Victor Marcelo Rojas Santander – São Paulo : [s.n.], 2010.

112f.; il. ; 30 cm.+ 1 CD-ROM

Dissertação de Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática, Universidade Bandeirante de São Paulo,

Curso de Educação Matemática. Orientadora: Profª Drª . Janete Bolite Frant.

1. Semiótica 2. Progressões geométricas 3. Matemática financeira 4.Aprendizagem - matemática - I. Título.

CDD: 372.7

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Banca Examinadora

UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO

VICTOR MARCELO ROJAS SANTANDER

Elaboração de um Objeto Para Aprendizagem – OPA

Aplicações na Matemática Financeira

“Capitalização, Financiamento e Desvalorização”

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de MESTRE EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, na Universidade Bandeirante de São Paulo – UNIBAN, à seguinte banca examinadora:

UNIBAN

SÃO PAULO

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Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Tese por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos. Assinatura: __________________________________

Local e Data: __________________________________

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Dedico este trabalho a todos os meus familiares desde meus avós até os meus netos, pela paciência, perseverança carinho e compreensão, elementos necessários que me permitem colaborar com este grão de areia e assim poder retribuir a carinhosa acolhida que sempre tive aqui no Brasil.

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AGRADECIMENTOS

Agradezco a mi familia chilena, Chelita (mamá), Loreto y Carlos (mis hermanos),

Carlitos, Paulita, Danielita y Javierita (mis sobrinos) y a mis sobrinos nietos,

porque siempre pensaron en mi bienestar y de los míos. A Toquito (papá),

abuelitos, tíos, Tachito y Luchín (primos) que desde arriba vigilan por nosotros.

Aos Professores Doutores Tânia Maria Mendonça Campos, pelo grande espírito

incentivador, Ruy Pietropaolo e toda a equipe de professores desse magnífico

Programa de Pós-Graduação pelos ensinamentos que foram, são e serão úteis na

vida profissional.

Às Professoras Doutoras Janete Bolite Frant, pelo trabalho de orientação e a

confiança que depositou em mim no desenvolvimento desta dissertação, Monica

Karrer, pelas valiosas informações prestadas e Rosana Giaretta Sguerra Miskulin

pela grande colaboração durante as Bancas de Qualificação e Defesa.

Aos colegas, amigos e companheiros até nos momentos de apuros do Programa

de Pós-Graduação, com quem tive o prazer de conviver, e em especial àqueles

que participaram nesta pesquisa.

Aos funcionários do Programa de Pós-Graduação, que sempre foram prestativos

e atenciosos para comigo.

Aos meus amigos Antonio Paschoal de Caroli e Alberto Schiesari, que sempre

estiveram presentes nos momentos da minha vida.

À minha família, Cynthia (esposa), Ana Paula, Ana Cláudia e Eduardo, Victor

Marcelo e Andrea, Júlio César e Cláudia (filhos e cônjuges), e meus maravilhosos

netos Rachel, Sarah e Marcelo Miguel, pelo amor, compreensão, paciência e

tolerância que sempre tiveram.

A todos meu Muito Obrigado.

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Sumário

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................ x

LISTA DE GRÁFICOS .................................................................................... xi

LISTA DE QUADROS .....................................................................................xii

LISTA DE TABELAS .....................................................................................xiv

RESUMO .......................................................................................................xv

ABSTRACT...................................................................................................xvi

INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1

Capítulo 1 – Fundamentação Teórico-Metodológica ...................................... 8

1.1. Teoria dos Registros de Representação Semiótica ........................ 8

1.2. Design Instrucional e Construtivismo ............................................20

1.3. Impacto da Tecnologia no Processo de Ensino e Aprendizagem ..23

1.4. Metodologia do Design-based research .........................................25

Capítulo 2 – Objetos Para Aprendizagem ......................................................29

2.1. De Objetos de Aprendizagem para Objetos Para Aprendizagem ...30

2.2. Elaboração do OPA ........................................................................34

2.2.1. Funcionalidades Esperadas ...........................................................37

Capítulo 3 – Fase Preparatória ......................................................................41

3.1. Análise dos Livros Didáticos .........................................................42

3.1.1. Matemática – Dante – Volume Único ..............................................43

3.1.2. Kátia Stocco Smole et al. Matemática ............................................47

3.1.3. Márcio Cintra Goulart - Matemática ................................................47

3.2. Análise de Dissertações e Livros Didáticos Especializados ..........50

3.2.1. Análise das Dissertações ...............................................................50

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3.2.2. Análise de Livros Didáticos Especializados...................................54

3.3. Análise do Caderno do Professor ..................................................55

3.4. As Entrevistas e as Atividades.......................................................65

3.5. Elaboração da 1ª Versão do OPA ...................................................78

Capítulo 4 – Fase Implementação .................................................................87

4.1. A Atividade Avaliativa da 1ª Versão do OPA ..................................88

4.2. A Versão Final do OPA...................................................................99

Capítulo 5 – Considerações Finais.............................................................. 103

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................ 110

ANEXO I – Termo de Consentimento .......................................................... 113

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x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa Conceitual da Fundamentação Teórica - Metodológica....................... 8

Figura 2 - Esquema de Organização Semiótica e do Funcionamento das

Representações Gráficas. ................................................................................. 16

Figura 3 - Mapa Conceitual dos Aspectos do Objeto Para Aprendizagem .................. 29

Figura 4 - Mapa Conceitual da Fase Preparatória ........................................................... 41

Figura 5 - Registros utilizados na 2ª Atividade para o Montante ................................... 75

Figura 6 - Representação gráfica de uma Capitalização ................................................ 76

Figura 7 - Associação das parcelas com os termos da P.G. .......................................... 76

Figura 8 - Associação de P2 a P6 com os termos da P.G. .............................................. 77

Figura 9 - Procedimento sugerido com calculadora simples .......................................... 79

Figura 10 - Mapa Conceitual da Fase Implementação .................................................... 87

Figura 11 - 1ª Tela de Visualização para Financiamento - Juros Compostos ............. 89

Figura 12 – Resposta do Grupo “A” - 1ª Tela de Visualização ...................................... 90

Figura 13 - Tela para o Cálculo do Valor das Parcelas Financiamento a Juros

Compostos ......................................................................................................... 90

Figura 14 – Resposta do Grupo “A” - Tela para o Cálculo das Parcelas ..................... 91

Figura 15 - Resposta do Grupo “B” - Tela para o Cálculo das Parcelas ...................... 92

Figura 16 - Área do Valor da Geladeira ............................................................................. 93

Figura 17 - Tela Reduzida do Cálculo do Valor das Parcelas Financiamento a Juros

Compostos ......................................................................................................... 94

Figura 18 – Resposta de ordem geral – Grupo A............................................................. 94

Figura 19 - Resposta de ordem geral – Grupo B.............................................................. 95

Figura 20 - Resposta de ordem geral – Grupo C ............................................................. 95

Figura 21 – Menu Principal da 1ª Proposta do OPA ........................................................ 96

Figura 22 – Menu Principal da versão final ....................................................................... 99

Figura 23 - Tela de Visualização para Financiamento - Juros Compostos ................ 100

Figura 24 – Áreas laterais da Tela de Visualização. ...................................................... 100

Figura 25 - Tela para o Cálculo do Valor das Parcelas Financiamento...................... 101

Figura 26 – Área de cálculo preenchida .......................................................................... 102

Figura 27 – Área de ajuda preenchida ............................................................................. 102

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xi

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Representação de uma Sequência Uniforme Diferida – p. 116 ................. 54

Gráfico 2 - Registro gráfico proposto para o problema no 4 ........................................... 61

Gráfico 3 - Correspondência das parcelas aos termos da P.G...................................... 62

Gráfico 4 - Representação Gráfica do problema analisado ............................................ 64

Gráfico 5 - Representação Gráfica do VP x VF ................................................................ 70

Gráfico 6 - Representação Gráfica da evolução do VP................................................... 71

Gráfico 7 - Representação Gráfica do 1o termo da PG ................................................... 71

Gráfico 8 - Representação Gráfica do 2o termo da PG ................................................... 72

Gráfico 9 - Representação Gráfica da PG ......................................................................... 72

Gráfico 10 - Comparação entre Juros Simples e Juros Compostos ............................. 79

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xii

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Processo de produção dos módulos e objetos de aprendizagem ............. 35

Quadro 2 - Interface do OPA ............................................................................................... 38

Quadro 3 - Resumo das noções de Matemática Financeira - Dante ............................ 43

Quadro 4 – Exemplo no 1 Vunesp ....................................................................................... 43

Quadro 5 - Exemplo no 3....................................................................................................... 44

Quadro 6 - Fórmula do Montante a Juros Compostos...................................................... 45

Quadro 7 - Juros e Funções ................................................................................................. 45

Quadro 8 - Juros Simples - Montante em função do tempo............................................. 46

Quadro 9 - Juros Compostos - Montante em função do tempo ..................................... 46

Quadro 10 - Resumo da Unidade 6: - Sequência, P.A. e P.G. - Smole ....................... 47

Quadro 11 - Resumo das Noções básicas de Matemática Financeira - Goulart ........ 47

Quadro 12 - Juros Simples – Juros em função do tempo ................................................ 48

Quadro 13 - Juros Simples - Montante em função do tempo .......................................... 48

Quadro 14 - Uso da calculadora financeira HP 12C ........................................................ 49

Quadro 15 - Análise da Atividade 2 – Juros Simples Financiamento .......................... 51

Quadro 16 - Análise da Atividade 5 – Juros Simples Capitalização (p. 71) ................. 51

Quadro 17 - Análise da Atividade 12 – Juros Compostos Capitalização ..................... 52

Quadro 18 - Resultados verificados.................................................................................... 53

Quadro 19 - Comparativo da Evolução de um Capital .................................................... 56

Quadro 20 - Tabela de Capitalização – Juros Simples ................................................... 57

Quadro 21 - Tabela de Capitalização – Juros Compostos ............................................. 57

Quadro 22 - Parcela associada ao tempo ......................................................................... 58

Quadro 23 - 1º Aspecto gerador de dúvidas ..................................................................... 60

Quadro 24 - 2º Aspecto gerador de dúvidas ..................................................................... 60

Quadro 25 - Enunciado e Solução problema no 4 ............................................................ 60

Quadro 26 - Representação tabular de um registro de tabelas ..................................... 64

Quadro 27 - Primeira Questão da Primeira Atividade ...................................................... 67

Quadro 28 - Segunda Questão da Primeira Atividade .................................................... 68

Quadro 29 - Terceira Questão da Primeira Atividade ...................................................... 69

Quadro 30 – Enunciado de uma operação de Financiamento ....................................... 70

Quadro 31 - Enunciado do problema no 5 ......................................................................... 75

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xiii

Quadro 32 - Mudança para o período n = 0 ...................................................................... 77

Quadro 33 - Primeira questão da 1ª Atividade.................................................................. 78

Quadro 34 – Evolução dos Capitais - Juros Simples e Juros Compostos ................... 79

Quadro 35 - Resposta do grupo 1 folha 1.......................................................................... 80

Quadro 36 - Resposta do grupo 1 folha 2.......................................................................... 81

Quadro 37 - Resposta do grupo 2 folha 1.......................................................................... 81

Quadro 38 - Resposta do grupo 2 folha 2.......................................................................... 81

Quadro 39 - Resposta do grupo 2 folha 3.......................................................................... 82

Quadro 40 - Resposta do grupo 2 folha 4.......................................................................... 82

Quadro 41 - Problema enfatizando o uso do fator de atualização de Capitais ........... 83

Quadro 42 - Resposta do Problema 1 da Atividade 2 do grupo 1 folha 1 .................... 83

Quadro 43 - Resposta do Problema 1 da Atividade 2 do grupo 1 folha 2 .................... 84

Quadro 44 - Resposta do Problema 1 da Atividade 2 do grupo 2 folha 1 .................... 84

Quadro 45 - Resposta do Problema 1 da Atividade 2 do grupo 2 folha 2 .................... 84

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xiv

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tipos e funções de representações ................................................................. 10

Tabela 2 - Classificação dos Registros Mobilizáveis na Atividade Matemática .......... 12

Tabela 3 - Exemplo de análise da Congruência da atividade de Conversão .............. 15

Tabela 4 - Classificação dos Registros de Representação Semiótica.......................... 18

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xv

RESUMO

O objetivo desta pesquisa é construir um Objeto Para Aprendizagem1- OPA a respeito das operações financeiras de Capitalização, Financiamento e Desvalorização, por meio de investigação e análise de processos envolvidos na elaboração de atividades educacionais referentes às progressões aritméticas e geométricas, aplicadas à Matemática Financeira para o Ensino Médio. Este estudo abrange o design deste OPA levantando os aspectos que podem favorecer o

processo de ensino e aprendizagem.

A fundamentação teórica se baseia na Teoria dos Registros de Representação Semiótica (RRS) de DUVAL (1995, 2000, 2003, 2006). Exploramos as representações dos registros semióticos e suas conversões sobre o objeto matemático de operações financeiras cotidianas, sob uma perspectiva construtivista para o design instrucional segundo ARCAVI (2000), e com um enfoque tecnológico

de BOLITE FRANT et al (2003); buscamos destacar as potencialidades didáticas e pedagógicas que esses objetos oferecem. A metodologia utilizada foi a de Design Experiment (COBB et al., 2003) que é caracterizada por ser pragmática e teórica, iterativa, trazendo ainda a possibilidade que os experimentos realizados conduzam ao desenvolvimento de teorias.

O trabalho foi organizado em duas fases. A “Fase Preparatória” foi composta pela revisão bibliográfica dos livros didáticos do catálogo do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio PNLEM/2009, Caderno do Professor de Matemática (2009) da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, dissertações e livros didáticos especializados em Matemática Financeira, entrevistas, e análise das atividades do objeto matemático em estudo com professores/alunos do Mestrado Acadêmico em Educação Matemática, atuantes no Ensino Médio e em Universidades. Estas ações nos levaram a elaborar um design que permitiu a

transposição informática das representações dos registros semióticos, e a desenvolver a 1ª versão do Objeto Para Aprendizagem – OPA.

A segunda fase deste estudo, que designamos como “Fase de Implementação”, foi composta pelo ciclo de interações com os professores/alunos participantes da pesquisa através de atividades exploratórias com as representações semióticas incorporadas no OPA, objetivando depurar suas funcionalidades até a construção de sua versão final.

Como resultado oferecemos uma versão do Objeto Para Aprendizagem intitulada “Capitalização, Financiamento e Desvalorização”, e referências às suas potencialidades de uso.

Palavras-Chave: Registros de Representação Semiótica. Objetos Para Aprendiza-

gem. Noções de Matemática Financeira. Capitalização, Financiamento e Desvalori-zação. Uso das Progressões Geométricas e Aritméticas em Matemática Financeira.

1 Financiado parcialmente pelo projeto Learning Object Virtual Enviroment Mathematics Education

/Tidia Ae/Fapesp Projeto # 05/60655-4

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xvi

ABSTRACT

The objective of this research is to build an Object For Learning – OPA about the financial operations of Capitalization, Financing and Devaluation, by means of investigation and analysis of the processes involved in carrying out educational activities on arithmetic and geometric progressions applied to financial mathematics for high school. This study covers the design of this OPA including the aspects that can facilitate the process of teaching and learning.

The theoretical framework is based on the Theory of the Semiotic Representation Registers (RRS) of Duval (1995, 2000, 2003, 2006). We explore the representations of semiotic registers and their conversions on the mathematical object of daily financial transactions, under a constructivist approach to instructional design as per Arcavi (2000), with a focus on technology of Bolite Frant et al (2003), we highlight the didactic and pedagogical potential these objects offer.

The methodology used was the Design Experiment (COBB et al., 2003) which is characterized by being pragmatic and theoretical, iterative, bringing the possibility that the experiments lead to the development of theories.

The work was organized in two phases. A "Preparatory Phase" was composed by bibliographic review of textbooks from the catalog of the National Book Program for High School PNLEM/2009, Professor Notebook of Mathematics (2009) of the Education Department of the State of São Paulo, dissertations and textbooks specialized in Financial Mathematics, interviews, and analysis of the activities of the mathematical object studied with teachers / students of Academic Master in Mathematics Education, acting in high school and universities. These actions have led us to build a design that allowed the implementation of the computational transposition of semiotic representations, and thus to develop the 1st version of Object For Learning - OPA.

The second phase of this study we call the "Implementation Phase", was composed by the cycle of interactions with teachers / students participating in the survey through exploratory activities with the semiotic representations incorporated into the OPA, in order to debug the features until its final version.

As a result we offer a version of Object For Learning entitled "Capitalization, Financing and Devaluation" and references to its potential use.

Keywords: Registers of Semiotic Representation. Learning Object. Basics of Finan-

cial Mathematics. Capitalization, Financing and Devaluation. Use of Arithmetic and Geometric Progressions.

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1

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais somos constantemente bombardeados com informações a

respeito de conceitos de Matemática Financeira nas diferentes mídias, como por

exemplo, “para começar a pagar daqui a 90 dias”, “em 10 vezes sem juros” e assim

por diante. Informações que requerem conhecimento básico desses conceitos.

Deste modo, para que nossos alunos exerçam seus direitos de cidadãos é

importante que aprendam na escola como interpretar estes conceitos.

As tecnologias digitais exigem novas habilidades para interpretar,

compreender e expressar o nosso dia-a-dia; várias são as pesquisas acerca da

utilização de softwares educacionais na sala de aula, que reforçam o uso deste tipo

de recurso como potencializador do processo de ensino e aprendizagem,

proporcionando estratégias didáticas e atividades mais ricas e variadas. Segundo

Wiley (2000), as inovações tecnológicas atuam como um agente de mudanças que

afetam paradigmas, provocam novos designs e formas de desenvolvimento dos

materiais educacionais.

Segundo Bolite Frant et al (2003), a tecnologia pode ser vista como prótese.

Os autores caracterizam esta prótese como algo que vai além de reparar um objeto

perdido ou faltante; assim, um sujeito cognoscente munido de uma prótese poderá

fazer coisas que não faria sem ela; não apenas de forma mais rápida, mas

principalmente de maneira diferente. Citam como exemplo o caso do cego, para o

qual é difícil dizer onde se localiza o tato: na sua mão, nos dedos ou na bengala. A

bengala oferece uma percepção que auxilia a falta de visão, mas é distinta da

própria visão e complementa o próprio tato.

Desta forma, o objetivo desta pesquisa é investigar e analisar os processos

envolvidos na elaboração de atividades educacionais a respeito de Aplicações à

Matemática Financeira, além de evidenciar diversas formas de registros semióticos

de conceitos matemáticos usados nesse campo de conhecimento, a partir da

tecnologia, e sua influência no trabalho e na forma de pensar dos professores.

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2

Nesse sentido, ela transcende as ideias de Wiley a respeito de objetos de

aprendizagem, ampliando os princípios instrucionais associados ao construtivismo

de Arcavi e as ferramentas propostas por DiSessa, como será detalhado a posteriori.

Explora as transformações dos Registros de Representações Semiótica de

DUVAL para adequá-las na transposição informática de questões relativas à

Matemática Financeira abordadas no 1º bimestre da 1ª série do Ensino Médio. A

ideia é a convergência de todos esses recursos para a construção de um objeto

digital educacional que designamos por Objeto Para Aprendizagem – OPA -

intitulado “Capitalização, Financiamento e Desvalorização”, evidenciando as

potencialidades didáticas e pedagógicas desses objetos.

O objetivo inicial da pesquisa, até meados do 1º semestre de 2009, era

investigar e analisar os processos envolvidos no design de atividades educacionais,

também com o intuito de desenvolver um objeto digital educacional de conteúdo

matemático relacionado à questão do infinito.

Ao avançar na pesquisa bibliográfica foram encontrados diversos tópicos

onde o conceito de infinito apareceu como parte integrante dos textos do ensino

médio; um deles foi no estudo das sequências, particularmente aquelas conhecidas

como progressões aritméticas (PA) e progressões geométricas (PG).

Aprofundando a pesquisa relativa a progressões aritméticas e geométricas foi

encontrado o Caderno do Professor de Matemática da Secretaria de Educação do

Estado de São Paulo - Ensino Médio - 1ª Série - Volume 1 – 2009, que doravante

passa a ser citado como o “Caderno do Professor”. Essa obra é distribuída para toda

a rede estadual de escolas de ensino fundamental (ciclo 2) e médio. Nela são

abordadas quatro situações de aprendizagem (ibid. p. 9-10), a saber:

1. Conjuntos numéricos; regularidades numéricas e/ou geométricas;

2. Progressões aritméticas ou progressões geométricas;

3. Soma dos termos de uma PA ou de uma PG finita; aplicações à

Matemática Financeira;

4. Limite da soma dos infinitos termos de uma PG infinita.

Na situação de aprendizagem 3 etapa 2 (ibid. p. 43-50), para o tópico de

aplicações à Matemática Financeira, são introduzidos os seguintes tópicos:

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3

1 Conceitos financeiros envolvidos em processos de capitalização e

financiamento;

2 Cálculos para as parcelas e valores de resgate ou empréstimos.

Ressaltamos que a contextualização utilizada apresenta enunciados de

situações cotidianas de financiamento, poupança com o cálculo das parcelas, ou

vice-versa, que são resolvidos pela soma de um número finito de termos de uma PA

ou de uma PG.

Na análise efetuada neste conteúdo verificamos que o procedimento de

cálculo para os parâmetros das operações financeiras, ou seja, o algoritmo utilizado,

dispensava o uso de tabelas e/ou fórmulas financeiras mais rebuscadas, o que

propicia um material didático adequado às competências e habilidades dos alunos

da 1ª série do Ensino Médio. Verificamos também que para o cálculo dos

parâmetros nas operações de financiamento, alguns dos exemplos propostos

apresentavam distorções que podem acarretar futuros problemas para o aprendiz na

compreensão de conceitos da matemática financeira.

Sendo assim, vi criada a oportunidade para mudar o objeto matemático da

pesquisa e também poder contribuir para melhoria da Situação de Aprendizagem na

aplicação à Matemática Financeira.

A motivação pessoal decorre da prática docente desta disciplina como

professor universitário por mais de 30 anos, quando houve a constatação das

dificuldades dos alunos referentes tanto à interpretação dos enunciados quanto à

compreensão dos conceitos matemáticos nas operações financeiras.

Além disso, minha experiência profissional no mercado corporativo, na área

de informática, sempre me incentivou a usar recursos tecnológicos cabíveis e

disponíveis da época em sala de aula, tais como calculadoras, microcomputadores,

softwares, redes e plataforma voltada para Ensino a Distância “TelEduc”; este

casamento avaliza e reforça a minha confiança do uso desses recursos no processo

de ensino e aprendizagem para objetos matemáticos.

Nessa linha, os primeiros passos desta investigação foram à procura de

bibliografias, softwares educacionais e sites específicos que tratassem do cálculo de

montante ou de parcelas, recorrendo à soma dos termos finitos de uma progressão

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aritmética ou geométrica; procuramos também em livros didáticos especializados em

matemática financeira para cursos universitários.

Dada a escassez de material digital e bibliográfico com esta especificidade,

vimos reforçada a necessidade de elaborar um objeto para aprendizagem que

permitisse a manipulação e a visualização dos parâmetros financeiros, objetivando

facilitar o entendimento dos conceitos envolvidos, utilizando o computador.

Buscamos compreender os processos matemáticos sob a ótica da teoria dos

Registros de Representação Semiótica, para utilizá-los na elaboração do objeto para

aprendizagem. Segundo Duval (2006) são as transformações dessas

representações semióticas que são importantes para o discernimento e apreensão

conceitual de um objeto ou para a compreensão de uma inferência, e não as

próprias representações. Desta forma a interação dos professores de matemática

pesquisados é analisada prioritariamente segundo essa teoria.

Convém lembrar que a formulação das perguntas que orientaram a pesquisa

passou por diversas reavaliações. Sempre houve o cuidado e a preocupação de

tornar as perguntas o mais explicitas possíveis, para ressaltar o aspecto principal da

pesquisa dentro do contexto das potencialidades didáticas e pedagógicas dos

objetos de aprendizagem; do foco dado ao ensino de matemática financeira no

ensino médio; do como é feito o ensino de matemática; das inter-relações entre os

processos de ensino e aprendizagem da matemática financeira e a tecnologia; e das

possibilidades da tecnologia no ensino da matemática financeira.

Em concordância com o objetivo desta pesquisa, que é investigar e analisar

os processos envolvidos no design de atividades educacionais e as interações dos

professores pesquisados, e objetivando colher subsídios para o desenvolvimento do

OPA, as perguntas formuladas foram as que destacam as potencialidades didáticas

e pedagógicas de objetos para aprendizagem no ensino da Matemática Financeira.

a) Qual a abordagem metodológica e recursos tecnológicos utilizados em sala

de aula pelos professores pesquisados quando ensinam noções de

Matemática Financeira?

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b) 1 - Que aspectos do OPA podem favorecer no processo de ensino e

aprendizagem de noções de Matemática Financeira?

2 - Como os professores desenvolveram diferentes registros semióticos ao

interagir com o OPA?

Investigar essas questões significou pesquisar a importância dos registros de

representações semióticas, nos aspectos de visualização, interpretação e

compreensão de conceitos matemáticos, especificamente progressões aritméticas e

geométricas atreladas a parâmetros financeiros.

No processo de definição da questão investigativa surgem outras questões,

concernentes ao conhecimento de Matemática Financeira pelo professor do Ensino

Médio. Segundo Farias (2007, p. 3) “é de fundamental importância que o professor

adquira um conhecimento profundo acerca do conhecimento matemático, pois o tipo

de compreensão a ser desenvolvida não se refere à memorização de fórmulas e à

execução de procedimentos”. Em nosso caso a forma de ensinar deve privilegiar o

entendimento da relação entre as operações financeiras nas diversas modalidades e

os conceitos de PA e PG associados à linha do tempo, notadamente o nexo entre as

parcelas e os termos das progressões.

Como o objetivo principal é a elaboração de um objeto digital de acordo com o

até aqui estabelecido, a transposição informática a ser desenvolvida no Objeto para

Aprendizagem “Capitalização, Financiamento e Desvalorização” está alicerçada nas

atividades de aprendizagem propostas no Caderno do Professor e fundamentada na

Teoria de Registros de Representações Semióticas.

Sendo assim, no capítulo 1 intitulado “Fundamentação Teórica -

Metodológica”, apresentamos os pressupostos teóricos de DUVAL (1995, 2000,

2003, 2006) a respeito dos registros de representação semiótica que representam o

principal referencial teórico desta pesquisa. No processo de ensino e aprendizagem

dos conceitos matemáticos, DUVAL (2003) busca compreender as dificuldades que

muitos alunos têm na compreensão das matemáticas, como é a sua natureza e onde

se encontram. Para responder a essas questões não se pode fazer uma análise tão

somente do ponto de vista matemático e epistemológico, é necessário também do

ponto vista cognitivo, pois “o objetivo do ensino da matemática [...] é contribuir para

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o desenvolvimento geral da capacidade de raciocínio, de análise e de visualização

(ibid. p.11)”.

Nesse sentido, a aprendizagem das matemáticas constitui, por um lado, um

campo de estudo privilegiado para análise das atividades cognitivas fundamentais,

como a conceptualização, o raciocínio, a resolução de problemas e a compreensão

de textos; por outro lado, considera que essas atividades cognitivas requerem a

utilização de sistemas de expressão e de representação além da língua natural ou

das imagens, como várias escritas para os números, notações simbólicas para os

objetos, figuras geométricas, representações em perspectivas, diagramas,

esquemas e outros. O autor também ressalta a importância das propriedades

específicas de cada registro e a conversão de uma representação de um tipo de

registro para outra representação de outro tipo de registro distinto, como, por

exemplo, de língua natural escrita para a representação simbólica algébrica.

Além disso, neste capítulo será descrita a perspectiva construtivista para o

desenho instrucional segundo Arcavi (2000). Como reforço teórico para utilização de

tecnologia em sala de aula, é utilizado Bolite Frant (2001). Observar também que a

estreita relação e afinidade dos objetivos deste trabalho com a metodologia do

Design Experiment, Cobb et al (2003), levou à sua adoção.

No capítulo seguinte observamos os padrões da Rede Interativa Virtual de

Educação2 (RIVED), adotada pela Secretaria de Educação à Distância – SEED /

MEC para a produção de conteúdos pedagógicos digitais, designados por Objetos

de Aprendizagem (OA), que tem por objetivo melhorar o processo de ensino e

aprendizagem das disciplinas da educação básica e a formação cidadã do aluno.

Desta forma, as preocupações e equipes envolvidas nas fases do desenvolvimento

preconizadas por esta metodologia servem de base para a caracterização e

elaboração do software educacional que chamamos de Objeto Para Aprendizagem.

Com o objetivo de analisar os registros semióticos, as conversões realizadas

e as relações entre os diversos registros de representação semiótica, referentes ao

conteúdo de matemática que norteia este estudo, no terceiro capítulo é feita revisão

bibliográfica nos livros didáticos do catálogo do Programa Nacional do Livro para o

Ensino Médio PNLEM/2009 e no Caderno do Professor. Também foi feita pesquisa

2 Um projeto de colaboração Internacional na América Latina DEIED/SEED/MEC

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em sites de entidades nacionais, dissertações, teses, textos, objetos de

aprendizagem, webquest e outros, relativos à Matemática Financeira.

No mesmo capítulo (Fase Preparatória) e no quarto (Fase Implementação),

são abordados a metodologia utilizada, os procedimentos metodológicos de coleta

de dados, as entrevistas e depoimentos. Foram incorporados tanto uma descrição

das atividades realizadas quanto um comparativo entre as evidências obtidas e os

resultados das pesquisas, objetivando a construção do OPA. A Análise dos Dados

das atividades exploratório-investigativas, observações e entrevistas de cada fase,

foi fundamentada sob a ótica da teoria dos registros de representação semiótica.

Resumidamente, as análises obtidas nas pesquisas com os professores

participantes apontaram que estes não possuem uma apreensão satisfatória das

diversas representações, nem o domínio da coordenação entre os diversos registros

apresentados. Diante desta situação, reforçamos a perspectiva de elaboração de um

objeto para aprendizagem voltado para o ensino das noções de Matemática

Financeira, abrangendo um trabalho de exploração dos diversos registros, das

possíveis conversões, com ênfase na manipulação de registro gráfico.

Para concluir, são apresentadas as Considerações Finais, e as Referências

Bibliográficas adotadas.

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Capítulo 1 – Fundamentação Teórico-Metodológica

Neste capítulo apresentamos a fundamentação teórica desta pesquisa. Para

dar suporte ao nosso problema utilizaremos os registros de representação semiótica

segundo Duval, articulando-os com as ideias de Arcavi sobre Design Instrucional e

Construtivismo, e a noção de tecnologia como prótese de Bolite Frant, conforme

Figura 1. E por fim apresentamos a metodologia escolhida de Design Research.

Figura 1 - Mapa Conceitual da Fundamentação Teórica - Metodológica

1.1. Teoria dos Registros de Representação Semiótica

Este trabalho não pretende descrever a complexidade do funcionamento

cognitivo da compreensão em matemática que esta teoria nos apresenta, mas sim

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analisar e destacar alguns pressupostos teóricos de Raymond DUVAL (1995, 2000,

2003, 2006) e suas implicações no processo de ensino e aprendizagem para os

conceitos específicos de Matemática Financeira, objeto dessa pesquisa. Essa

abordagem torna-se necessária na medida em que os registros de representação

semióticos impactam na construção do Objeto Para Aprendizagem.

Diferentemente das outras ciências tais como a astronomia, por exemplo,

onde há a possibilidade de observar seus objetos de estudo através de instrumentos

como o telescópio, na Matemática é essencial a utilização de vários sistemas

semióticos de expressão e representação, além da língua natural ou das imagens.

DUVAL trata da importância das representações dos objetos matemáticos no

processo ensino-aprendizagem, as quais podem ser simbólicas, notações

algébricas, escritas na língua natural, gráficos, figuras geométricas e outros registros

que possibilitam a comunicação entre os sujeitos e as atividades cognitivas do

pensamento, que representam a base de sua teoria. Para o autor, a maneira

matemática de raciocinar e de visualizar está diretamente relacionada ao uso das

representações semióticas, e à forma de comunicação em Matemática está baseada

nessas representações.

DUVAL aborda a noção de representação recorrendo à oposição

consciente/não consciente e externo-interna; tal caracterização é encontrada nos

trabalhos dos seguintes autores: Le Ny, 1985; Paivo, 1986; Larkin et Simon, 1987

(apud DUVAL 1995, p. 40). A oposição consciente/não consciente é a oposição

entre o que aparece a um sujeito, o que ele nota, e o que lhe escapa

completamente, o que ele não pode notar.

Nesse sentido DUVAL (ibid, p.40-43) define que a consciência se caracteriza

pela intenção do sujeito quando “qualquer coisa” passar a ter a condição de objeto,

desde que exista a intenção de efetuar este propósito. A ponte entre o estado de

não consciente ao consciente é um processo de objetivação para o sujeito que toma

consciência, a descoberta pelo próprio sujeito. As representações conscientes têm

um caráter intencional, essencial do ponto de vista cognitivo para a significação do

sujeito, e completam a função de objetivação. É através da significação que se faz a

apreensão perceptiva ou conceitual de um objeto. Sendo assim, a significação é a

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condição necessária de objetivação para o sujeito, isto é, da possibilidade de tomar

consciência.

A oposição externo-interna é a oposição entre o visível e/ou observável e

aquilo que não o é, seja de um indivíduo, de um organismo ou de um sistema. As

representações "externas" são representações semióticas que podem ser

produzidas por um sujeito ou por um sistema, e se efetuam através da

operacionalização de um sistema semiótico. DUVAL (1995, p.42) cita como

contraexemplo a expressão das emoções que se percebem nas faces, as define

como sintomas e não se caracterizam como representações externas. As

representações externas exercem a função de comunicação e duas funções

cognitivas: de objetivação e de tratamento. Por outro lado, uma representação

interna pode ser consciente ou não consciente, e uma representação consciente

pode ser, ou não, exteriorizada. No quadro seguinte são apresentados os três tipos

de representações.

Tabela 1 - Tipos e funções de representações

Interna Externa

Consciente Mental

Função de Objetivação

Semiótica Função de Objetivação Função de Expressão

Função de Tratamento Intencional

Não-Consciente Computacional

Função de Tratamento automático ou quase instantâneo.

Fonte: SEMIÓSIS E PENSAMENTO HUMANO, 1995, p.43

Segundo Santaella (1983, p.7) o nome semiótica vem da raiz grega semeion,

que quer dizer signo. "Semiótica, portanto, é a ciência dos signos, é a ciência de

toda e qualquer linguagem." (ibid, p.13) "A Semiótica é a ciência que tem por objeto

de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o

exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção de

significação e de sentido.".

Segundo DUVAL (2003, p.13) é suficiente observar a história do

desenvolvimento da matemática para constatar que o desenvolvimento das

representações semióticas constitui a essência para a evolução do pensamento

matemático, e esta evolução se deve a duas razões fundamentais. Primeiramente,

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existe o fato de que as possibilidades de tratamento matemático dependem do

sistema de representação utilizado. Ele cita como exemplo as operações de cálculo

com o sistema de numeração decimal, que apesar de oferecer mais possibilidade

que o sistema grego ou romano de numeração, somente um terço dos alunos no

início do collège (11–12 anos) parecem ter compreendido o funcionamento do

sistema decimal, de acordo com as pesquisas realizadas na França pelo Ministério

de Educação (1992, 1997 apud DUVAL 2003, p.13).

A seguir existe a grande variedade de representações semióticas utilizadas

em matemática citadas anteriormente. Para o autor dessa teoria o uso de sistemas

semióticos de representação e expressão é essencial na aprendizagem da

Matemática. Nesse sentido, para DUVAL, o uso de sistemas semióticos ultrapassa o

domínio das matemáticas e sua aprendizagem. Passa a ser a própria natureza do

funcionamento cognitivo do pensamento humano em suas atividades de apreensão

conceitual, de raciocínio ou de compreensão de enunciados, que na aprendizagem

das matemáticas sobressai das outras aprendizagens. Dois aspectos devem ser

observados: - não se pode ter compreensão em matemática se não se diferencia o

objeto da sua representação, porque um mesmo objeto pode ter várias

representações. “É o objeto representado que importa não as suas diversas

representações semióticas possíveis” (Deledicq 1979 apud DUVAL 1995, p. 14); - o

segundo argumento é mais global e psicológico, e diz respeito às representações

mentais, quer dizer, a totalidade de imagens e de conceituações que o sujeito pode

construir sobre o objeto matemático. Para DUVAL as representações semióticas tais

como fórmula algébrica, gráficos e outros, parecem ser o meio de que o sujeito

dispõe para expressar suas representações mentais; sendo assim, elas seriam

subordinadas às representações mentais e exerceriam somente a função de

comunicação.

Segundo DUVAL (2006, p. 3) a mobilização de pelo menos dois registros de

representação ou a possibilidade de mudar em qualquer momento de um para o

outro é a principal característica da atividade matemática, ou seja, a coordenação de

dois registros.

A tabela 2 contém a classificação dos registros mobilizáveis na atividade

Matemática, classificados como multifuncionais ou monofuncionais com relação à

sua natureza, e suas representações podem ser discursivas ou não discursivas. Os

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Registros Multifuncionais são aqueles usados na função de comunicação como

tratamento, mas não são algoritmizáveis; como exemplos temos a língua natural,

deduções válidas a partir de definição ou de teoremas, apreensão operatória e não

somente perceptiva, dentre outros. Os Registros Monofuncionais têm tratamento

específico e são algoritmizáveis; como exemplos temos os sistemas numéricos, as

notações algébricas, os gráficos cartesianos, dentre outros.

Tabela 2 - Classificação dos Registros Mobilizáveis na Atividade Matemática

Representação

Discursiva

Representação

Não - Discursiva

REGISTROS MULTIFUNCIONAIS

Os tratamentos não são algoritmizáveis

Língua natural Associações verbais (conceituais)

Formas de raciocinar: - argumentação a partir de

observações, de crenças, ....; - dedução válida a partir de

definição ou de teoremas.

Figuras geométricas planas ou em perspectiva (configurações em dimen- são 0, 1, 2 ou 3 ) - apreensão operatória e não

somente perceptiva; - construção com instrumentos.

REGISTROS MONOFUNCIONAIS

Os tratamentos são algoritmizáveis

Sistemas de escritas - numéricas (binária, decimal,

fracionária); - algébricas; - simbólicas (línguas formais).

Cálculo

Gráficos cartesianos. - mudança de sistema de

coordenadas; - interpolação, extrapolação.

Fonte: DUVAL, 2003, p.14

Sendo assim, o pesquisador defende que, para o entendimento matemático, é importante estabelecer a coordenação entre pelo menos dois registros, em que um é multifuncional e o outro monofuncional, afirmando que “...se nós considerarmos os níveis mais avançados de ensino, a predominância de registros discursivos monofuncionais tende a aumentar” (DUVAL, 2000,

p.66 apud Karrer, 2006, p.22).

No processo de aprendizagem de um domínio específico de matemática o

autor parte da asseveração resumida na afirmação: não há noésis sem semiósis.

Chama de semiósis a apreensão ou produção de uma representação semiótica, e

noésis os atos cognitivos como a apreensão conceitual de um objeto, a identificação

de uma diferença ou a compreensão de uma inferência. Sendo assim, o

desenvolvimento das representações mentais efetua-se como uma interiorização

das representações semióticas, não se contrapondo a elas, e nem podendo ser visto

como domínio diferente.

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A identificação de vários sistemas semióticos que representam um mesmo

objeto aumenta a capacidade cognitiva dos sujeitos, e em seguida as suas

representações mentais (Beneviste,1974; Bresson, 1987, apud DUVAL, 2003).

Duval define os registros de representação semiótica ou sistemas semióticos como

produções constituídas com a utilização de signos pertencentes a um sistema de

representação, os quais têm suas próprias dificuldades de significância e de

funcionamento. Por outro lado, para um sistema semiótico ser um registro de

representação tem que englobar as atividades cognitivas de formação, de

tratamento e de conversão.

As atividades cognitivas de formação ou de identificação de um registro

semiótico específico requerem que se saiba qual é o objeto matemático

referenciado, e o conhecimento das regras de conformidade ou de funcionamento

próprias do sistema semiótico utilizado, ou seja: - ser uma representação que possa

ser identificada pelo sujeito, determinada por um enunciado compreensivo numa

língua específica, num gráfico, numa figura geométrica, numa expressão simbólica e

outros, equivalente a um programa computacional que obedece e respeita as regras

já estabelecidas, não cabendo ao programador criá-las, mas utilizá-las para

reconhecer as representações.

São dois os tipos de transformações de representação semiótica, a atividade

cognitiva de tratamento e de conversão, que são muito diferentes; por isso, quando

elaboramos uma atividade matemática com uma resolução de problema ou quando

analisamos a produção dos alunos devemos ter especial cuidado para distinguir uma

da outra.

A atividade cognitiva de tratamento ocorre quando podemos modificar a

representação do objeto dentro de um mesmo registro, ou seja, uma transformação

interna a um registro, o qual possui regras próprias a cada registro. A atividade

cognitiva de conversão se caracteriza quando mudamos o sistema, conservando a

referência do mesmo objeto.

Segundo DUVAL (2003, p.16), do ponto de vista matemático, a conversão

não exerce nenhum papel essencial nos processos de justificação ou prova, pois se

procura utilizar o melhor registro de representação nos quais os tratamentos a ser

efetuados sejam mais econômicos, mais potentes, ou para obter um registro

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servindo de suporte ou de guia aos tratamentos que se efetuam no outro registro.

Mas, do ponto de vista cognitivo, a conversão constitui uma atividade de

transformação representacional fundamental, que conduz aos mecanismos

subjacentes à compreensão. Ele nos alerta que a conversão não é operação simples

que pode ser descrita como uma associação preestabelecida entre nomes e figuras

como em geometria, ou reduzida a uma codificação; isso é uma visão superficial do

ponto de vista teórico e da aprendizagem. Na conversão entre gráficos e funções,

tem que se levar em conta as variáveis cognitivas próprias dos gráficos como

inclinação, concavidade, intersecções, dentre outros, e das funções como os

coeficientes, valores escalares; caso contrário há uma leitura pontual não permitindo

uma apreensão global e qualitativa. Portanto, para Duval (ibid, p. 17) "a conversão

das representações, quaisquer que sejam os registros considerados, é irredutível a

um tratamento".

A atividade cognitiva de conversão realiza uma transformação da

representação que requer a percepção da diferença entre representante e

representado, uma vez que é uma transformação externa ao registro da

representação de partida, que reorganiza os elementos significantes num outro

registro de chegada. Um dos dois fenômenos característicos diz respeito ao nível de

proximidade ou afastamento entre os registros de partida e chegada, e às variações

de congruência e não congruência, definidos por DUVAL (1995, p.18) a partir de três

fatores, quais sejam:

- Correspondência semântica na compreensão das unidades de significado à

conversão nos dois registros;

- Unicidade semântica para que cada unidade significante do registro de

partida corresponda a apenas uma unidade significante no registro de

chegada;

- Conservação da ordem em que aparecem as unidades de significado em

cada um dos registros de representação.

Se um desses fatores não é verificado, as conversões são classificadas como

não congruentes. Vários são os fatores que delimitam as situações intermediárias de

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congruência ou não congruência de uma conversão, e estão diretamente

correlacionadas às variações de sucesso ou fracasso nas operações de conversão.

A seguir, um exemplo de variação de congruência ou não congruência de

uma conversão.

Tabela 3 - Exemplo de análise da Congruência da atividade de Conversão

Correspondência

semântica das unidades

de significação.

A unicidade semântica terminal.

Conservação da ordem

das unidades. O conjunto de pontos cuja

ordenada é superior à abscissa. y > x

Sim

Sim

Sim

O conjunto de pontos que tem

uma abscissa positiva.

x > 0

Não

“Maior que zero” é uma perífrase ( um só signifi-cado para várias pala-

vras)

Sim

Sim

O conjunto de pontos cuja abscissa e cuja ordenada têm o

mesmo sinal. xy > 0

O produto da abscissa e da ordenada é maior que zero.

Não

Não

Não Globalização

descritiva. (dois casos)

Fonte: DUVAL, 2003, p. 14

Se acontecer que a conversão seja congruente em um sentido e não

congruente no outro sentido, caracteriza-se o segundo fenômeno, denominado

fenômeno da heterogeneidade dos dois sentidos de conversão, pois a

reversibilidade dos registros de partida e chegada, apesar de possível, não é tão

óbvia.

A coordenação entre representações ressaltando sistemas semióticos diferentes não tem nada de espontâneo. Sua colocação não resulta automaticamente de aprendizagem clássicas muito diretamente centradas sobre conteúdos de ensino. Um trabalho de aprendizagem específico centrado sobre a diversidade de sistemas de representação, sobre a utilização de suas possibilidades próprias, sobre sua comparação por

colocar correspondência e sobre suas “traduções” mútuas uma dentro da outra, parece necessário para favorecê-la. [...] Não tem simplesmente sucesso, mas modificações de produções. Esse salto qualitativo no desenvolvimento das competências e das performances aparece ligado à coordenação de sistemas semióticos nos alunos. A compreensão conceitual, a diferenciação e o domínio de diferentes

formas de raciocínio, as interpretações hermenêuticas e heurísticas dos enunciados são intimamente ligadas à mobilização e à articulação quase imediata de muitos registros de representação semiótica. A conversão de representações depende desta coordenação. (DUVAL, 1995, p.19)

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O esquema de organização semiótica e do funcionamento das

representações gráficas, a seguir, apresentado por DUVAL (ibid, p.18) servirá como

base à nossa pesquisa, uma vez que pretendemos utilizá-los como sendo um dos

registros de representação na transposição informática. Acreditamos que esses

registros de representação gráfica permitirão visualizar melhor o enunciado do

problema, proposto no registro da língua natural, para posteriormente usar outros

registros no processo de cálculo na resolução de problemas.

Figura 2 - Esquema de Organização Semiótica e do Funcionamento das Representações Gráficas.

Fonte: DUVAL, 2003, p.18

A organização semiótica do exemplo apresentado torna possíveis três tipos

de transformações, uma atividade de tratamento que diz respeito às operações

internas ao(s) gráfico(s) e dois tipos de atividade de conversão com o registro

simbólico. Observe que as ligações “A e A’ ” dão uma visão pontual do(s) gráfico(s)

e somente a coordenação “B” permite uma apreensão global qualitativa. Como

atividade cognitiva esse exemplo é um dos casos mais elementares, pelo fato dos

dois registros serem monofuncionais. Quando um dos registros é multifuncional, no

caso da língua natural, a organização semiótica se torna mais difícil, tanto pela

compreensão do enunciado como do conjunto complexo de operações para

designar os objetos.

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De acordo com o exposto, Duval formula o paradoxo para a compreensão em

matemática e destaca que tal problema não ocorre em outros domínios de

conhecimento científico, ao menos em etapas menos avançadas:

Como podemos “não” confundir um objeto e sua representação se não temos acesso a esse objeto a não ser por meio de sua representação? [...]

A dificuldade se deve ao fato de que o objeto representado não pode ser identificado como o conteúdo da representação que o torna acessível. Frege (1971, pp. 89 e 102 e 103), distinguindo, para os signos matemáticos, a significação e a denotação, insistiu sobre essa diferença, como condição para o progresso dos conhecimentos. (ibid, p.21)

Frege (1978, apud Karrer 2006, p. 14) introduz a distinção da “significação e a

denotação” como “sentido e referência” para as expressões singulares. Enquanto a

“referência” é o objeto por ele designado, no “sentido” está introduzido um valor

cognitivo, e é aquilo no qual está contido o modo em que o objeto é dado pelo nome.

Cita como exemplo, as expressões “4” e “8/2” que têm a mesma referência, mas

expressam diferentes sentidos, ou seja, diferentes modos de conceber o mesmo

número. É a diferenciação entre a significação e a denotação ou a referência e o

sentido respectivamente, que segundo Duval (2003, p. 22) é o ponto decisivo,

raramente observado, para responder ao paradoxo para a compreensão em

matemática: “o conteúdo de uma representação depende mais do registro de

representação do que o objeto representado”. Pelo fato de que em razão da

passagem de um registro a outro, não se trata de tão somente mudar a forma de

fazer o tratamento, há necessidade de explicitar as propriedades do novo registro ou

dar uma visão diferente do mesmo objeto; portanto não terão o mesmo conteúdo,

sendo assim, passa a ser a mobilização desses registros a base que dará as

condições à compreensão em Matemática.

A atividade cognitiva do exemplo anterior realiza uma transformação da

representação que requer a percepção da diferença entre representante e

representado, uma vez que é uma transformação externa à representação do

registro de partida, que reorganiza os elementos significantes numa outra

representação de registro de chegada.

É apresentada na tabela 4 a classificação dos tipos de registros que

pretendemos utilizar para a análise e o design do nosso estudo.

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Tabela 4 - Classificação dos Registros de Representação Semiótica

TIPO DE REGISTRO REPRESENTAÇÕES (Exemplos)

Registro da língua natural

Representação da língua natural em emprego comum

Uma geladeira cujo preço à vista é de R$ 1.500,00 será financiada em seis parcelas mensais fixas. Se os juros compostos cobrados no financiamento dessa geladeira são de 3% ao mês, qual o valor da parcela mensal?

Registro gráfico

Representação gráfica

Registro simbólico

Representação simbólico-algébrica

Vf = Vp ( 1 + i )n

Registro numérico Representação fracionária

Registro de Tabelas

Representação tabular

Segundo Pavlopoulou3 um ensino sobre os vetores da Geometria Analítica

deve contemplar explicitamente a coordenação de três registros de representação,

da escrita simbólica, de tabelas e do gráfico. As diferentes representações do

mesmo objeto devem constituir uma abordagem para a conceptualização do objeto

matemático, e na conceptualização a conversão desempenha um papel essencial.

Essa abordagem proposta para chegar à conceptualização de um objeto segue o

3 Tradução do autor da dissertação.

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modelo cognitivo da representação, proposto por DUVAL em sua conferência

“Semiósis e Noésis” em 1992 (DUVAL, 1992, p.15 apud Pavlopoulou, 1994, p.40).

Acreditamos também, que essa estrutura da representação em função da

conceptualização adaptada ao nosso objeto matemático permitirá facilitar a

conceptualização tanto dos conceitos financeiros como do processo de cálculo dos

valores monetários.

Para DUVAL (1995, p. 80), a importância da diversificação dos registros de

representação semiótica para o funcionamento do pensamento é explicada pelas

diferenças de custo ou de limitação dos registros para a função de tratamento, e

pelas facilidades existentes nos registros para a função comunicação.

Em efeito, um registro pode permitir efetuar certos tratamentos de uma maneira muito mais econômica e mais possante que outro registro. Pelo cálculo, numérico ou algébrico, a escritura decimal dos números e as notações literais constituem um registro incrivelmente mais econômico e mais possante que a linguagem natural (Condillac, 1981). Da mesma

maneira, o recurso a registros analógicos (figuras, esquemas, diagramas...) pode igualmente se revelar mais simples e mais possante que o recurso a registros de linguagem (texto descritivo, lista de fórmulas ou de relações...) para a resolução de problemas físicos ou geométricos. Porque as figuras e os esquemas permitem representar a totalidade das relações entre os elementos, constituindo um objeto ou uma situação (Bresson, 1987, p. 940-

943; Larkin e Simon, 1987 apud DUVAL, 1995, p.80-81)

A conversão constitui uma variável cognitiva importante em didática ao

facilitar a aprendizagem ou oferecer procedimentos de interpretação. A questão

colocada por DUVAL é “a atividade conceitual implica na atividade semiótica ou é

independente desta?”. A resposta comumente adotada considera que não depende,

por três razões:

A primeira diz respeito à diversidade de registros de representação, mas se

opta por aquele que é o mais econômico ou mais potente;

A segunda diz respeito ao funcionamento do pensamento que parece

mobilizar um só registro de cada vez. O reconhecimento de muitos

registros justifica-se apenas nas situações onde uma mudança de registro

se confirma necessária, para questões de custo de tratamento.

A terceira diz respeito à estrutura da representação ligando o representante

ao representado; a compreensão de uma representação no registro

determinado implica diretamente na compreensão do conteúdo conceitual

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representado, sobretudo quando o registro de representação é a língua

natural.

Dessa forma a relação entre a atividade semiótica e a atividade conceitual

pode ser considerada de dois pontos de vista: quando a mudança de registro

pressupõe uma coordenação de registro, então a atividade conceitual não pode ser

isolada da atividade semiótica; e quando a mudança de registro se revela econômica

e/ou potente no tratamento das representações; neste caso. “Pode-se, então,

manter a independência e a prioridade da atividade conceitual sobre a atividade

semiótica. Este ponto de vista, que privilegia a função de expressão, é um modelo

essencialmente linguístico. É o modelo mais frequentemente retido.” (Duval, 1995, p.

83).

Dadas as características do objeto matemático da nossa pesquisa, que requer

mudanças de registros para efetuar as contas, facilitar a compreensão, fazer a

organização semiótica focando a transposição informática, a ênfase será nas

atividades de conversão e de coordenação entre representações, por aparentar ser

um dos aspectos críticos do nosso estudo. Sendo assim, acreditamos que a escolha

cuidadosa, especificamente, no trabalho de conversão permitirá ao aluno o contato

com o objeto matemático de diversas formas, favorecendo a coordenação entre

representações de registros distintos.

1.2. Design Instrucional e Construtivismo

A adoção para uma perspectiva de um “Design Instrucional e Construtivismo”

está baseada em Arcavi (2000) que sugere alguns princípios básicos que levem em

conta a capacidade do aluno de raciocinar, de construir significados, de

compreender uma ideia ou um conceito, de conectar o significado desta ideia com o

significado de outra ideia em outro campo do conhecimento. E também preconiza

um planejamento do ensino de matemática onde o aprendiz possa usar sua

experiência prévia e o senso comum, que seja a formulação de uma argumentação,

uma ideia, uma conexão entre conceitos e uma tradução entre diferentes

representações, dentre outras.

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Sendo assim, a perspectiva que utilizaremos é focada na observação

sistemática das atitudes dos professores participantes durante a resolução de

situações. Objetivando mudanças nas estruturas cognitivas dos participantes

propomos a utilização da Teoria dos Registros de Representação Semióticos, para

promover um processo de construção e reconstrução progressivo de ideias e

concepções sobre os conceitos financeiros, tais como, taxa de juros, fator de

atualização, capital, financiamento, parcelas e outros. Nossa proposta de mudança

nas estruturas cognitivas de cada participante da pesquisa, não objetiva findar as

existentes, e sim acrescentá-las através de novos registros semióticos que permitam

proporcionar outra visualização do mesmo objeto matemático, e assim, ter uma nova

compreensão desses conceitos financeiros.

Na postura instrucional clássica, a preocupação fundamental com as

atividades é baseada na decomposição lógica do domínio matemático especifico

(Gagné 1979, apud Arcavi 2000). Esta decomposição estabelece conexões

hierárquicas ordenadas pelo grau de dificuldade do conhecimento, por proposições

gerais e destrezas de cálculos, cuja soma total descreveria o que significa ser

competente no domínio matemático especificado. Este procedimento demarcaria o

planejamento que serviria à elaboração de sequências de exercícios e problemas a

ser percorrido ordenadamente. A postura instrucionista caracteriza-se, portanto,

em ser um treinamento, o que leva os aprendizes a um desempenho competente,

mas sem gerar explicitamente compreensão e significado do aprendizado. Além

disso, a decomposição lógica e objetiva que exclui a possibilidade de acesso ao

conhecimento ou aos domínios de consenso se baseia em experiências subjetivas

e/ou negociações intersubjetivas dos significados.

No entanto, adotaremos algumas premissas adicionais à postura instrucional

clássica, como: - atuar para que o aprendiz comece a gerar suas próprias

perguntas; - fazer o uso do Objeto Para Aprendizagem cujo domínio matemático é

específico, não significa necessariamente que enfatizaremos procedimentos

algorítmicos, mas, sobretudo, estratégias de pensamento; - e propor aos alunos

modelos de práticas de trabalho como as que atuam profissionais no campo

(Schoenfeld 1992b, apud Arcavi, 2000); na opinião de Arcavi, “essa estruturação é

fundamental para o que entendemos por planejamento de ensino”.

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Provavelmente qualquer vertente do construtivismo está de acordo com a seguinte afirmação: o objetivo da educação em Matemática é que o aluno gere e construa significados. Mas o que significa compreender Matemática? Bishop (1985), entre outros, sustenta que em Matemática compreender uma ideia (ou uma expressão, ou um conceito) é conectar o significado desta

ideia com o significado de outra ideia em Matemática ou ainda em outro campo do conhecimento. Bettencourt (1991), Schoenfeld (1992b), e outros acrescentaram que compreender implica também em inserir essas ideias e inserir-se numa determinada comunidade com suas práticas, seus instrumentos de pensamento, suas crenças, seus modos de discurso e ação (ARCAVI, 2000, p. 88)

Se adotadas as implicações acima num planejamento do ensino de

matemática, passaremos a ter a postura construtivista preconizada. A

atividade ou o problema a ser planejado tem que promover a construção

desse tipo de compreensão e estimular interações similares às que

ocor rer iam numa comunidade de especialistas.

Um primeiro princípio para eleição de problemas apropriados descartaria a

mera análise lógica, que focaliza o tipo e o número de operações a aplicar

na resolução de um problema. A partir desse ponto de vista, muitos

problemas podem ser similares, e sem dúvida seu potencial educativo é

radicalmente diferente. A eleição de um problema deveria levar em conta:

- que o aprendiz possa usar sua experiência prévia, e que haja

um convite implícito para aplicar o senso comum;

- que seja possível resolver o problema de mais de uma maneira

para gerar um diálogo, que conduza à conexão de formas diferentes

de pensar;

- que se chegue à resposta, não apenas através de aplicações

mecânicas de algum procedimento de cálculo;

- que o problema leve à elaboração de novas perguntas, isto é,

que a solução do mesmo desperte a curiosidade e o aluno, por si

próprio, em grupo ou com a ajuda do professor, abra a possibilidade

de seguir explorando a situação;

- que nem sempre haja uma única resposta ao problema;

- que a resposta não seja sempre o resultado de uma operação,

mas seja a formulação de uma argumentação, uma comparação, uma

ideia, uma conexão entre conceitos, uma tradução entre diferentes

representações;

- que o problema convide o aluno a rever uma ideia, um conceito

ou uma operação numa nova representação, para tratar de isolar, na

medida do possível, o conceito e separá-lo de suas representações

típicas ou usuais;

- que haja problemas da vida real, para os quais o uso de

ferramentas matemáticas ajude a compreender melhor os fenômenos

que nos rodeiam;

- que haja micromundos planejados por experts para que o aluno

que trabalhe neles seja quem decida e reformule que tipo de problema

irá resolver. (ibid. p. 89)

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1.3. Impacto da Tecnologia no Processo de Ensino e Aprendizagem

Segundo Bolite Frant et al (2003) a tecnologia é vista como prótese que gera

novos textos e pode, portanto, permitir através da linguagem (oral, gestual, escrita,

pictórica) a constituição de objetos matemáticos. Para os autores, entretanto a

prótese permite um fazer diferente do fazer sem a prótese; aponta como exemplo o

caso do cego, no qual é difícil dizer onde se localiza seu tato, nos dedos ou na

bengala. Aponta também que a utilização da tecnologia em sala de aula de

matemática, pode ser vista como uma ferramenta facilitadora do processo de

aprendizagem, mas esta ideia pode trazer implícita uma noção simplista de que o

computador faz a ligação direta entre o sujeito cognoscente e o que deve ser

“aprendido”, o conhecimento. Esta visão, segundo os autores, não é ruim nem boa,

mas nem sempre dá conta da aprendizagem, observando-se, em geral, que a

ferramenta é construída por outro que não o sujeito cognoscente. Poderíamos

pensar na calculadora como ferramenta auxiliar e facilitadora no fazer operações

aritméticas, mas os alunos nem sempre sabem utilizá-la para calcular, por exemplo,

10% a mais de um determinado valor.

Esta citação torna-se crucial e passa a ser um dos pontos de alerta, uma vez

que na matemática financeira a relação entre duas grandezas atreladas ao tempo, é

a ferramenta inicial à introdução de todos os aspectos conceituais desta disciplina,

aplicável nas capitalizações, financiamentos e nos outros tópicos. Um exemplo

típico: se o capital inicial for aplicado por um mês a uma taxa de juros de 8% ao

mês, qual o montante? Como teremos um acréscimo de 8%, o fator de atualização

de capitais é “1,08”, isto é, multiplicaremos esse fator pelo capital inicial para obter o

montante, comparado com o exemplo anterior dos autores, em nosso caso há ainda

mais operações a serem realizadas, uma vez que temos que calcular os 8% do

capital inicial e somá-lo a ele mesmo, daí o fator de atualização de capitais ser

“1,08”, que serve de base para novas correções.

Nesta pesquisa será adotada a ideia de Bolite Frant (2003), segundo a qual

um sujeito cognoscente munido de uma prótese poderá fazer coisas que não faria

sem ela, de forma diferente.

Na análise do impacto da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem,

Balachef e Kaput (1996, apud Karrer, 2006) ampliam a noção de transposição

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didática de Chevallard4 com um novo foco para a transposição informática; segundo

os autores, o projeto para um software educacional requer decisões como as

escolhas de uma estrutura de conhecimento e de representação, dos algoritmos a

serem aplicados, ou da origem para a descrição dos objetos, aspectos

contemplados em nosso trabalho no processo de transposição informática, cujas

consequências no conhecimento são tão cruciais como as da já conhecida

transposição didática.

Outro conceito importante que ajuda a pensar na elaboração do OPA é o de

micromundo matemático; nesse sentido, Karrer (2006) assinala que através do

micromundo os alunos podem explorar problemas, elaborar novas construções e

evoluir de acordo com a ampliação do seu conhecimento. Isto se deve ao fato de

que a resposta dada pelo micromundo é fruto direto das ações e decisões tomadas

pelo usuário, resultando num vasto e rico conjunto de experiências. Ressalta, porém,

que só a interação com a máquina não é suficiente para garantir que a

aprendizagem matemática ocorra. Neste contexto, a análise e a compreensão das

interpretações do estudante frente à resolução de um problema matemático são

necessárias.

NOSS e HOYLES (1996) ressaltam que os softwares de ensino de

Matemática que trazem aplicações novas e promovem novas formas de expressão

matemática, além de apresentar mais vantagens pedagógicas, oferecem ao aluno

novas formas de pensamento no processo de aprendizagem de conceitos

matemáticos, comparados com os softwares que reproduzem o conhecimento

presente nos livros. Assim, um software educacional não deve apenas ser um

simulador, deve estabelecer um ambiente favorável à expressão de ideias num

processo de aprendizagem.

Observar que apesar de algumas referências serem de 1996, são validas até

os dias de hoje, mais de uma década depois, pois vão além de considerações

técnicas.

4 CHEVALLARD, Y. La transposition didactique. Editions la Pensée Sauvage: Grenoble,1985

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1.4. Metodologia do Design-based research

Cabe inicialmente dar uma definição ao termo “design” uma vez que segundo

Drisostes (2005, p. 62) não tem uma tradução ao português. “O design envolve

atividades como planejar, delinear, desenhar, esboçar, projetar, esquematizar, criar,

inventar e executar”. O design é um “banco de prova” por isso envolve ciclos, onde

se levantam conjecturas, se implementa uma primeira versão, faz-se uma análise

parcial, levantam-se outras conjecturas que são novamente testadas. A atividade de

design na procura de uma solução, deve passar por ciclos de idas e vindas de

discussões com os envolvidos, utilizar heurísticas de como usar os recursos de

forma diferente, saber aproveitar-se do inesperado, usar vários níveis de descrição

do problema.

A nossa pesquisa que se caracteriza pelo desenvolvimento de software

educacional, mas objetivando diminuir as prováveis complicações na transposição

informática do Objeto Para Aprendizagem, precisa reunir alguns quesitos

fundamentais como: análise e reanálise dos processos de ensino e aprendizagem

do objeto matemático, definição e redefinição dos elementos críticos significantes no

domínio matemático, ter liberdade para sistematizar as opiniões recebidas e poder

pô-las em prática objetivando buscar novas opiniões. Nesse sentido, o Design

Experiment decorrente dessa metodologia se adequa às condições na elaboração

do OPA.

Segundo COBB et al. (2003), a característica pragmática e teórica, aspecto

central desta metodologia, possibilita que os experimentos realizados conduzam ao

desenvolvimento de teorias, permite explicar a teoria desenvolvida, seu

funcionamento, sua adaptabilidade a novas situações, e através das iterações dos

componentes e/ou participantes da pesquisa redesenhar novas hipóteses. Não tão

somente preocupados com “como funciona” como também com a busca das ideias-

chave do processo de aprendizagem em domínios específicos. Essa ênfase nas

teorias reflete no sentido de que as explicações e entendimentos inerentes perfazem

o processo gerador ou o ponto de partida essencial à melhoria da qualidade do

ensino. O resultado é um melhor entendimento da ecologia da aprendizagem; os

autores utilizam essa metáfora para enfatizar que os contextos desenhados são

concebidos como uma iteração de sistemas acima de uma lista de atividades ou de

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fatores que influenciam o processo de aprendizagem. Elementos típicos de uma

ecologia de aprendizagem dizem respeito às tarefas ou problemas sobre os quais os

aprendizes são questionados, ao tipo de discurso para o qual são provocados, às

regras de participação estabelecidas, às ferramentas e materiais fornecidos, e à

prática do professor para orquestrar estes elementos.

Tentando uma definição para o conceito de “Crosscutting Features” utilizado

pelos autores desta metodologia, fomos buscá-la na engenharia de software,

partindo da estrutura Orientada a Objetos que deve ser entendida como uma

unidade conceitual isolada; surge como um paradigma o conceito de “crosscutting”

ou “transversalidade”, para promover a modularização efetiva das características

que estão espalhadas e entrelaçadas em um sistema, isto é, as chamadas

características transversais na estrutura Orientada a Aspectos. As características do

conceito de “Crosscutting Features”, são as cinco a seguir, conforme identificadas

por seus autores:

A primeira característica transversal desta teoria consiste em desenvolver

uma classe de teorias acerca do processo de aprendizagem e dos meios

que são projetados para suportar essa aprendizagem. Segundo COBB et

al. (2003) interpretam processos da aprendizagem em geral para abranger

o que normalmente é pensado como conhecimento, mas também a

evolução da aprendizagem-relevante para as práticas sociais e as

construções mentais simples que servem de exemplificação na descrição

de uma teoria. Cabe lembrar que os meios para suportar a aprendizagem

englobam as capacidades e limitações dos artefatos materiais, práticas

pedagógicas, políticas normativas e instrumentais.

No caso do desenvolvimento de uma experiência de professores em

atividade, a equipe de pesquisa pode-se concentrar simultaneamente sobre as

normas e práticas, raciocínio didático e prática instrucional dos professores

participantes em um determinado domínio de conteúdo. Um desafio que se coloca

nesses casos é, portanto, o de coordenar os vários níveis de análise.

A natureza altamente intervencionista é a segunda característica

transversal relevante deste tipo de metodologia. Os estudos de Design

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Experiments são tipicamente “test-bed5” plataforma de experimentação de

desenvolvimento de projetos com proteções a riscos, objetivando investigar

a possibilidade de melhorias educacionais através de novas formas de

aprendizagem. Para isto, na elaboração do design devem-se distinguir os

elementos centrais objeto da pesquisa dos pré-requisitos e dos

subjacentes. Nessa linha, o objetivo central da nossa pesquisa é o uso da

soma finita dos termos das progressões e como cada termo está associado

ao(s) parâmetro(s) na resolução de problemas cotidianos de operações

financeiras nas diferentes modalidades.

Além disso, na busca de novas formas específicas de aprendizagem, o

pesquisador está mais focado em encontrar fatores que contribuem para o

aparecimento destas novas formas e tomar consciência de suas inter-relações.

Neste sentido, o OPA permite visualizar e relacionar a mudança no valor monetário

procurado quando da alteração nos outros parâmetros como taxa de juros,

quantidade de parcelas sucessivas, data do início do pagamento da 1ª parcela,

dentre outros.

A terceira característica transversal forma-se a partir das anteriores, e

caracteriza-se pelas fases “prospectiva” e “reflexiva” familiares dos

cientistas empíricos, com as quais se cria as condições para o

desenvolvimento de teorias, as quais devem ser objeto de testes de

condições de erro. No lado prospectivo o design é implantado como um

processo de aprendizado hipotetizado o que requer ter sempre em mente

os níveis de controle e a contínua vigilância; e, não menos importante, criar

situações de contingência que possam surgir no desenvolvimento do

sistema. No lado reflexivo, criam-se conjecturas que devem ser testadas

em vários níveis. O projeto inicial é uma conjectura sobre os significados

que sustentam essa forma particular de aprendizagem, a qual será testada.

Durante a condução do estudo do experimento, conjecturas mais

especializadas são elaboradas e testadas; no caso de conjecturas

refutadas, alternativas podem ser criadas e testadas.

5 Traduzimos como “banco de provas”.

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Juntos, os aspectos prospectivos e reflexivos do Design Experiments

resultam na quarta característica transversal; num design iterativo,

conjecturas são geradas, talvez refutadas, novas conjecturas são

elaboradas e testadas, novo ciclo e assim sucessivamente.

As raízes pragmáticas compõem a quinta característica transversal desta

metodologia; sendo assim, as teorias desenvolvidas são moderadas pelo

domínio específico do processo de aprendizagem, por serem responsáveis

pela atividade de design e devem fazer um trabalho real.

A adoção desta metodologia no que diz respeito às características

transversais, e à forma como conduzimos a nossa pesquisa, nos leva a optar por

duas fases, uma preparatória no sentido de explorar as ideias, objetivando a sua

materialização, e outra de implementação, também para explorar as ideias, mas com

um Objeto Para Aprendizagem materializado. Iniciamos com a revisão bibliográfica,

pesquisas em sites educacionais que contém softwares ou material referente ao

tópico de Matemática Financeira; entretanto, dada a sua especificidade optamos por

incluí-la nesta dissertação em um capítulo próprio.

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Capítulo 2 – Objetos Para Aprendizagem

Neste capítulo buscamos os aspectos relevantes dos softwares educacionais

e conteúdos pedagógicos digitais, nas organizações nacionais e internacionais que

fizeram uma padronização desses objetos como nas teorias especializadas,

objetivando compreender suas características, atributos, processo de produção

dentre outros.

Não pretendemos criar um padrão para o Objeto Para Aprendizagem, e sim

usufruir dos aspectos relevantes dessas teorias e dos objetos existentes, que nos

dias de hoje são amplamente utilizados e em constante crescimento, mantidos por

entidades nacionais especializadas em repositórios; para desta forma, poder

caracterizá-lo dentro de nossas condições de viabilidade.

Figura 3 - Mapa Conceitual dos Aspectos do Objeto Para Aprendizagem

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2.1. De Objetos de Aprendizagem para Objetos Para Aprendizagem

Uma primeira abordagem aos Objetos de Aprendizagem inicia-se na Ciência

da Computação baseada no paradigma de “Orientação a Objeto”, valorizando a

criação de componentes, denominados objetos, que podem ser reutilizados em

múltiplos contextos (Dahl & Nygaard, 1966, apud Wiley 2000). Este conceito surge

da possibilidade de minimizar os custos para elaborar um sistema, principalmente

com os custos de manutenção corretiva responsáveis por uma grande fatia do custo

total.

Segundo Wiley (2000), a ideia fundamental dos objetos de aprendizagem é

que podem ser construídos como pequenos componentes instrucionais passíveis de

ser reusados em diferentes contextos de aprendizagem e entendidos como

entidades digitais disponíveis na Internet, podendo ser acessados simultaneamente

por qualquer número de pessoas.

Existe uma gama de olhares para os Objetos de Aprendizagem, a saber:

David Merrill que usa o termo “Objetos de Conhecimentos” (Merrill, Li, and

Jones, 1991, apud Wiley 2000);

O projeto ARIADNE - “Alliance of Remote Instructional Authoring and

Distribution Networks for Europe” - (ARIADNE, 2000), usa o termo

“documento pedagógico”;

O projeto ESCOT (ESCOT 2000, apud Wiley 2000) se refere a

“Componentes de Softwares Educacionais de Amanhã”;

O projeto “Recursos Educacionais de Multimídia para Aprendizagem e

Ensino On-Line” utiliza o termo “materiais de aprendizagem on- line” -

MERLOT 2000;

A Apple Intercâmbio de Aprendizagem simplesmente se refere como

“recurso” (ALI 2000, apud Wiley 2000).

Segundo Assis (2005) não há uma única definição para um objeto de

aprendizagem, mas apesar de diversas definições existem características

semelhantes. De acordo com as visões de (WILEY 2000, GIBBONS et al 2000,

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LONGMIRE 2000, MERRILL 1998, apud Assis 2005), os principais atributos de um

objeto de aprendizagem, são:

Interatividade ou interação;

Granularidade, no sentido de poder ser agrupado com conjuntos maiores

de conteúdos, incluindo estruturas tradicionais de cursos;

Reusabilidade, como capacidade de ser usado e reusado em diferentes

contextos, diferentes propósitos, não exclusivamente para o qual foi

concebido;

Interoperabilidade, para funcionar em diferentes plataformas;

Conceituação do conteúdo que se pretende abordar, ao utilizá-lo como

ferramenta em um processo de aprendizagem;

Identificação por Metadados, permitindo a localização por mecanismos de

busca padronizados.

No Brasil, o programa RIVED (Rede Interativa Virtual de Educação 6) da

Secretaria de Educação a Distância – SEED / MEC, propõe que objeto de

aprendizagem é qualquer recurso que possa ser reutilizado para dar suporte ao

aprendizado, e tem por objetivo a produção de conteúdos pedagógicos digitais,

buscando melhorar a aprendizagem das disciplinas da educação básica e a

formação cidadã do aluno. Defende que a principal ideia dos OA’s é "quebrar" o

conteúdo educacional disciplinar em pequenos trechos que podem ser reutilizados

em vários ambientes de aprendizagem.

A seguir, fazemos uma breve caracterização dos objetos educacionais em

entidades nacionais com esse tipo de recursos disponível, e ressaltamos a

diversidade de padrões e softwares utilizados:

1. CINTED – UFRGS –– Projeto CESTA - Coletânea de Entidades de Suporte

ao uso de Tecnologia na Aprendizagem - idealizado com vistas a

sistematizar e organizar o registro dos “objetos educacionais”,

padronização IEEE (1484.12.1 Standard for Learning Object Metadata),

desenvolvidos pela equipe da Pós-Graduação de Informática na Educação

6 http://rived.mec.gov.br

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e do CINTED - Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias na Educação

da UFRGS, para cursos de capacitação em Gerência de Redes,

Videoconferência e na Pós-Graduação Lato-sensu Informática na

Educação. http://www.cinted.ufrgs.br/; (último acesso em 15 de outubro

2010).

2. LABVIRT – USP - Laboratório Didático Virtual da Universidade de São

Paulo - USP, coordenado pela Faculdade de Educação. Nele se encontram

simulações feitas pela equipe do LabVirt a partir de roteiros de alunos de

ensino médio das escolas da rede pública; links para simulações e sites

interessantes encontrados na Internet; exemplos de projetos na seção

"projetos educacionais" e respostas de especialistas para questões

enviadas através do site. http://www.labvirt.fe.usp.br/; (último acesso em 15

de outubro 2010).

3. MEC - Portal do Professor - Coleção de recursos multimídia publicados

para todos os níveis de ensino e em diversos formatos.

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html/. Todos os recursos publicados

no Portal do Professor podem ser copiados e distribuídos, armazenados no

Banco Internacional de Objetos Educacionais. Este Repositório possui

objetos educacionais de acesso público, em vários formatos e para todos

os níveis de ensino. Nesse momento o Banco possui 11.114 objetos

publicados, 3.022 sendo avaliados ou aguardando autorização dos autores

para a publicação e um total de 1.710.066 visitas de 163 países

http://objetoseducacionais.mec.gov.br/; (último acesso em 15 de outubro

2010).

4. LUME - Repositório Digital da UFRGS - Tem por objetivo reunir, preservar,

divulgar e garantir o acesso confiável e permanente aos documentos

acadêmicos, científicos, artísticos e administrativos gerados na

Universidade. O Lume usa o DSpace, software livre desenvolvido pelo MIT

e HP, compatível com o protocolo de Arquivos Abertos (OAI), permitindo

que os documentos sejam facilmente recuperados por serviços de busca

disponíveis na internet. Utiliza também o Manakin, que é uma interface

amigável do DSpace baseada em XML e desenvolvida pela Universidade

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33

Texas A&M. Os metadados utilizados para descrição dos documentos

digitais seguem o padrão Dublin Core e o sistema CNRI Handle é usado

para designar identificadores permanentes para cada documento

disponível no Repositório. http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/12730;

(último acesso em 15 de outubro 2010).

5. PROATIVA – UFC - Grupo de Pesquisa e Produção de Ambientes

Interativos e Objetos de Aprendizagem - teve início em 2001 com o projeto

álgebra interativa; o grupo conta com a participação de alunos das mais

diversas áreas e tem por objetivo desenvolver objetos de aprendizagem

(atividades multimídia, interativas, na forma de animações e simulações

que têm a ideia de quebrar o conteúdo educacional disciplinar em

pequenos trechos que podem ser reutilizados em vários ambientes de

aprendizagem), bem como realizar pesquisas sobre a utilização desses

objetos na escola, como forma de melhorar o aprendizado dos conteúdos

escolares. http://www.proativa.vdl.ufc.br/oa.php; (último acesso em 15 de

outubro 2010).

DiSessa7 em 1987 já introduzia, explicava e advogava um novo gênero de

software educacional, o conjunto de Ferramentas Abertas, que, segundo ele, “[...]

envolve um grande número de pequenas unidades ao invés de aplicações

educacionais convencionais. As unidades devem ser altamente modificáveis,

expandíveis e combináveis entre si.”. Apesar de aparentar uma redundância quando

se refere ao conjunto de Ferramentas Abertas, no sentido que a ferramenta já

denota um grau de abertura, ele quer enfatizar que o conjunto de ferramentas nunca

poderá ser acabado e completo, sempre poderá ser substituído ou adicionado.

Sendo assim, o foco é que os componentes do conjunto tenham uma boa sinergia

entre eles, sejam interconectáveis e combináveis com outros conjuntos. Portanto, o

conjunto de ferramentas abertas deve ser flexível e pequeno, que cresce e pode

continuar a crescer se restrições; assim, tanto os professores como os alunos

poderão ser envolvidos nas alterações, inclusões ou substituições do conjunto de

ferramentas abertas para adequá-las ao seu contexto. Esta propriedade pode ajudar

7 Open toolsets: New ends and new means in learning mathematics and science with computers.

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com a tarefa crítica dos professores de apropriação de tecnologia, e passar a fazer

parte de sua prática profissional no cotidiano.

A visão tecnológica de DiSessa dos conjuntos de ferramentas abertas está

baseada em poder elaborar um novo aplicativo a partir dos recursos fornecidos por

várias aplicações existentes, portanto, têm que ser compatíveis com os atuais

sistemas computacionais e não podem ser aplicações porque tendem a ser grandes

e complexas.

Em relação à parte técnica do design, o Learning Technology Standards

Committee (LTSC) do Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE)

promoveu um padrão (LTSC, 2000a) para garantir a interoperabilidade entre as

universidades, corporações e outra organizações ao redor do mundo. O projeto

ARIADNE, com o mesmo objetivo, foi instituído na Europa.

Atualmente existem no mundo computacional alguns movimentos

relacionados a esse assunto tais como: o padrão OLE (Object Linking and

Embedding) da empresa Microsoft Corporation; o padrão "applet" utilizados em

aplicações de rede, da linguagem de programação Java da empresa Sun

Microsystems, é um software aplicativo com funções especificas que roda em uma

página de um navegador de rede. Nesse sentido, DiSessa, Abelson e Ploger, em

1991, concebem um software, intitulado de “Boxer” -

http://www.soe.berkeley.edu/boxer/index.html , com uma linguagem de programação

simples, na Universidade da Califórnia.

Como a entidade digital predominante no Brasil são os Objetos de

Aprendizagem, com seus padrões definidos através da Secretaria de Educação à

Distância do Ministério de Educação, e como nossa entidade digital foi construída

sob os alicerces de funções modulares, para permitir seu uso seletivo e/ou

combinado, poder ser agrupada com conjuntos maiores de conteúdos em estruturas

convencionais de cursos, ser uma ferramenta aberta orientada aos professores de

fácil operação, modificação e/ou expansão, objetivando contribuir para o processo

de ensino e aprendizagem de noções cotidianas de operações financeiras, optamos

por designá-la como Objeto Para Aprendizagem – OPA, para diferenciá-lo dos OA’s.

2.2. Elaboração do OPA

Tecnicamente foi necessário tomar como base alguns dos padrões

anteriormente referenciados para a elaboração do OPA; nessa linha optamos pelo

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modelo do programa do RIVED adaptado à situação deste estudo nas fases de

Design e Desenvolvimento do processo de produção de objetos de aprendizagem.

O Quadro 1 apresenta as fases, as preocupações e equipes envolvidas no

desenvolvimento de objetos de aprendizagem, com base nos padrões da RIVED.

Esses objetos de aprendizagem são programas que podem ser simulações, jogos ou

animações. É importante observar a quantidade de profissionais envolvidos nas

diferentes especializações nas várias fases dos processos de design,

desenvolvimento e produção dos objetos de aprendizagem. Inicia-se com a

participação dos especialistas das áreas disciplinares que selecionam o tópico, a

seguir a equipe pedagógica define os objetivos educacionais para estabelecer o que

se espera que os alunos aprendam. No próximo passo o designer instrucional

interage com os especialistas buscando a sequência instrucional, para elaborar uma

primeira documentação intitulada General Design.

Quadro 1 - Processo de produção dos módulos e objetos de aprendizagem

Fonte: FASES DE DESIGN E DESENVOLVIMENTO - RIVED

Fase 1 – Os especialistas das áreas disciplinares consultam o mapeamento de conteúdos e selecionam o tópico do novo

módulo. A equipe pedagógica define os

objetivos educacionais e elabora as respectivas estratégias educacionais. O designer instrucional interage com os

especialistas a fim de guiar sobre a sequência instrucional e o nível cognitivo requerido nas atividades. Os objetivos e as atividades são descritas no documento

intitulado General Design (GD).

Fase 2 – O documento, General Design elaborado é submetido às outras equipes

para obter críticas e feedback. A revisão do GD pelas demais equipes consiste em comentários sobre: a) o design do programa e a abordagem pedagógica; b) questões

referentes ao uso apropriado da tecnologia;

c) sugestões para diferentes atividades ou mídia; d) chamar a atenção para materiais similares existentes; e) adequação do

módulo às variadas audiências

Fase 3 – Os especialistas de conteúdo revisam o design original após receber feedback das outras

equipes. Passam a descrever as especificações para cada objeto de

aprendizagem, na forma de scripts e roteiros de tela, para o grupo de

técnicos desenvolver os produtos desejados.

Fase 4 – O grupo de técnicos produz os objetos de aprendizagem. Durante esta fase, os especialistas de conteúdo, o designer instrucional, e

os técnicos interagem bastante para evitar erros.

Fase 5 – Os especialistas em

conteúdo criam os guias do professor para cada objeto de aprendizagem.

Fase 6 – Os objetos de aprendizagem são organizados nos módulos e publicados na Web.

Design

Instrucional

General Design

dos módulos

Interação

das Equipes

Script e

Storyboard

s

Produção de

objetos para

Aprendizagem

Guia do

Professor

Módulos

Web

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Como esta metodologia trata de processos produtivos em série, este

documento é repassado às outras equipes para críticas e comentários quanto à

abordagem pedagógica, ao uso apropriado da tecnologia, às audiências, aos

materiais similares, design do programa e outros. Neste instante, forma-se uma

equipe para descrever as especificações na forma de scripts indicando roteiros de

telas, como exemplo referente a uma tela: “T 1 – um ícone de uma operação

financeira na parte superior da tela para exibir os hiperlinks explicativos”. Ela é

encaminhada para o grupo de informática responsável pelo desenvolvimento do

objeto de aprendizagem. Após os testes de funcionalidade, os especialistas em

conteúdo elaboram os guias dos professores e organizam os módulos para

publicação na Web. Lembramos que em nosso trabalho os módulos para a

publicação na Web não serão contemplados.

Ressaltamos que procuramos aproveitar o produto do trabalho da equipe de

profissionais da Secretaria da Educação para manter os objetivos educacionais

definidos no Caderno do Professor. Desta forma, analisamos o trabalho da referida

equipe relacionados ao tema central deste estudo, qual seja, os aspectos do OPA

que podem favorecer no processo de ensino e aprendizado de noções de

Matemática Financeira.

No entanto, apesar das potencialidades previstas para os OA, pesquisas

apontam que poucos professores poderiam fazer qualquer tipo de atualização e/ou

modificação nos objetos de aprendizagem, a seguir:

Sobre o primeiro contato e a frequência de utilização de recursos tecnológicos durante sua formação, os três professores entrevistados

descreveram unanimemente que durante a graduação, não tiveram nenhum contato marcante ou relevante, em suas opiniões. Entretanto, o Professor 1 e o Professor 2 comentaram que no Mestrado Profissional que cursam, existem diversas disciplinas relacionadas ao uso de tecnologia no ensino da Matemática e que por isso, o contato deles com recursos tecnológicos se tornou bem mais frequente (ASSIS, 2005, p. 97).

Dessa forma, o desenvolvimento do OPA teria que utilizar uma linguagem de

programação simples e conhecida, que permitisse aos futuros usuários poder

realizar qualquer tipo de customização e inclusão de novas funcionalidades;

portanto, optamos por desenvolver o OPA em uma planilha eletrônica onde foram

aproveitadas as potencialidades de suas funções básicas, que acopladas ao

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software de nossa autoria permite visualizar de forma dinâmica as alterações que

ocorrem quando da mudança de um de seus parâmetros, a saber:

Pela habilidade para realizar várias operações sejam matemáticas,

financeiras, estatísticas, dentre outras;

Por ter recursos próprios de busca de textos, de classificação, de

referencia, de comparação, dentre outros;

Por ter recurso gráfico com resposta quase que instantânea às alterações,

em nosso caso modificações nos parâmetros financeiros, e assim poder

visualizá-las, permitindo a análise comportamental.

Por ter recurso de linguagem de programação “Visual Basic” e de Macros

que geram o mesmo código de programação.

Dentro das poucas opções existentes, mas com grande divulgação e de

conhecimento dos professores de Matemática, a opção foi pela planilha eletrônica

“Excel” da Microsoft Corporation.

2.2.1. Funcionalidades Esperadas

Juntando nossa experiência em sala de aula desta disciplina e no mercado

corporativo elaboramos as funcionalidades que serviram como proposta inicial ao

design a ser elaborado.

Em função disso, segue a relação de funcionalidades do software:

Permitir a manipulação de dados que representem qualitativa e

quantitativamente as variáveis usadas em fórmulas da Matemática

Financeira;

Permitir a exibição e apresentação de processos e resultados, de forma

estática e dinâmica, com recursos destinados à facilitação da

aprendizagem, como por exemplo, o uso de movimento e o

estabelecimento de associação entre os objetos envolvidos em um

processo;

Permitir a intervenção do usuário para controlar aspectos da apresentação

(por exemplo, avanço, retrocesso), que possam, no que se refere ao

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educador, enriquecer os recursos didático-pedagógicos dos quais se utiliza

em paralelo ao OPA e, do lado do aluno, possibilitar compatibilidade com

seu ritmo de raciocínio, reflexão e compreensão;

E, por fim, mas não menos importante, efetuar os cálculos de maneira

correta e apropriada, recebendo informações do usuário e apresentando os

resultados.

A interface básica com o usuário apresenta o aspecto a seguir:

Quadro 2 - Interface do OPA

Em relação à área de exibição de dados, temos que:

É a área da tela em que são exibidas as informações numéricas que

compõem o problema (capital, prestação, taxa de juros, etc.).

Além disso, o usuário poderá informar a modalidade de cálculo (juros

simples, compostos), as operações financeiras (capitalização,

financiamento ou desvalorização), e indicar o tipo de variação que os

parâmetros devem ter (discreta ou contínua).

No que se refere à área de exibição de linha de tempo e períodos:

Nesta área são exibidas as linhas do tempo e a linha dos períodos

envolvidos na operação, sobrepondo-se, e podendo ser ajustados, de

forma contínua (via controles deslizantes) pelo usuário, a fim de

acompanhar de forma dinâmica o que acontece quando da variação dos

parâmetros financeiros envolvidos.

Observar que a linha de tempo e a linha indicativa dos períodos constituem

objetos fundamentais, pois, por meio deles podem-se relacionar diversas

variáveis, observando sua associação.

Área de exibição de dados

(variáveis e constantes do problema)

Área de exibição

de linha do tempo e períodos

Área de exibição de gráficos

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A respeito da área de exibição de gráficos:

Aqui o usuário irá visualizar a variação dos parâmetros associados aos

valores envolvidos. Além disso, haverá opção para visualização de

calendário (que também poderá ser usado para entrada de dados). Este

último é ferramenta importante para destacar e confrontar as variáveis de

tempo que indicam os períodos em que os atores da operação financeira

estão em crédito, débito ou em nenhuma dessas situações.

Nossa proposta é que o OPA seja desenvolvido com estrutura modular e

parametrizada, que se caracterize pela sua interatividade, aspectos que objetivam

permitir que pessoas com diferentes perfis cognitivos possam apreender os

conceitos e aplicações da Matemática Financeira, e possam aplicá-los nas mais

diversas questões cotidianas. Como exemplo dessa pretendida flexibilidade,

podemos citar:

Permitir a conceptualização das operações financeiras de forma dinâmica e

com diferentes tipos de representações;

A exibição opcional dos cálculos envolvidos num financiamento ou numa

aplicação financeira, em complementação à simples exibição de

resultados, o que ocorre, por exemplo, com o uso de calculadoras

financeiras;

Facilidade de o usuário visualizar a interferência de cada parâmetro no

comportamento geral, por exemplo, dado um valor de financiamento, possa

ver o crescimento das parcelas com o aumento da taxa de juros;

Permitir a correta associação entre os elementos matemáticos,

notadamente os termos de PA e de PG e sua variação no tempo;

Focado no domínio matemático específico: “Capitalização, Financiamento e

Desvalorização”, podendo ser integrado com outros tópicos do conteúdo

matemático, como por exemplo Funções, dando significado em um

contexto cotidiano;

Um objeto com o qual o professor que o utilize se sinta confortável, em nosso

caso, o OPA: - pretende auxiliar o professor em sua prática pedagógica; - e ser

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capaz de suscitar nos alunos uma experiência pedagógica significativa nas noções

de Matemática Financeira, alinhada com as operações financeiras do cotidiano.

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Capítulo 3 – Fase Preparatória

Iniciamos a “Fase Preparatória” com a revisão bibliográfica que tem por

objetivo analisar de que modo a Matemática Financeira é apresentada nos livros

didáticos. A análise é feita numa perspectiva dos sistemas de representação

semióticos, para as seguintes fontes: livros didáticos do catálogo do Programa

Nacional do Livro para o Ensino Médio PNLEM/2009, livros didáticos para o ensino

superior, dissertações e teses, sites de entidades nacionais, objetos de

aprendizagem outros, e, inclusive o Caderno do Professor. Passa pelo design inicial,

tendo como base as entrevistas e as primeiras atividades, para, em seguida,

desenvolver a primeira versão do Objeto Para Aprendizagem - OPA.

Figura 4 - Mapa Conceitual da Fase Preparatória

Classificamos esta etapa da pesquisa como a fase mais crítica dentro do

estudo, merecedora de foco específico e de cuidados especiais no sentido do que

“pinçar” das leituras, das análises efetuadas, da fundamentação teórico-

metodológica, procurando entender a compreensão dos professores pesquisados no

processo de elaboração das suas atividades educacionais para a Matemática

Financeira, concordamos que todos esses aspectos nos ajudaram a balizar, mas

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essas preocupações tornavam-se necessárias porque passávamos a materializar o

conjunto de ideias, pois nosso propósito era e é a elaboração de um software

educacional, e impreterivelmente íamos ao encontro da etapa de “Transposição

Informática” do nosso design.

Observar que especificamente em relação ao Caderno do Professor, fizemos

uma análise mais aprofundada, por se tratar do material didático que proporciona

nossa referência para efetuar a transposição informática que constituiu o OPA.

Procuramos preservar o trabalho realizado pela equipe pedagógica que produziu o

Caderno do Professor, bem como a estratégia por ele utilizada.

Cabe lembrar que as questões referentes aos livros didáticos a seguir,

também estão presentes nas demais atividades desta Revisão Bibliográfica com

suas devidas adaptações.

3.1. Análise dos Livros Didáticos

Iniciamos analisando os livros didáticos do catálogo do Programa Nacional do

Livro para o Ensino Médio PNLEM/2009. Dada a importância do tema, levantamos

as seguintes questões:

1. De que modo a Matemática Financeira é apresentada nesses livros

didáticos?

2. Quais registros semióticos são mobilizados pelos autores na

apresentação da Matemática Financeira?

3. A coordenação dos registros de representação é explorada pelos

autores na apresentação da Matemática Financeira?

4. Exploram a visualização dos conceitos financeiros atrelados a linha do

tempo?

5. Se sim, quais são os conceitos financeiros explorados?

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3.1.1. Matemática – Dante – Volume Único

Quadro 3 - Resumo das noções de Matemática Financeira - Dante

Capítulo 27: - “Noções de Matemática Financeira”

Na introdução é destacada a resolução de problemas de ordem financeira, como cálculo de prestações, pagamentos de impostos, rendimento de poupança e outros; a seguir, são tratados os Números proporcionais, Porcentagens (fator de atualização, aumentos e descontos sucessivos), Termos financeiros (capital, tempo e taxa de juros), Juros simples, Juros compostos (fórmulas), Juros e funções (equivalência de capitais).

No referido capítulo 27 o Fator de Atualização é definido pelo autor como a

razão entre dois valores de uma grandeza em tempos diferentes. Citamos alguns

exemplos apresentados no livro didático para realizar nossa análise.

Quadro 4 – Exemplo no 1 Vunesp

Se a taxa de inflação de janeiro é de 6% e a de fevereiro é de 5%, então a taxa de

inflação no bimestre janeiro/fevereiro é de:

a) 11% b) 11,1% c) 11,2% d) 11,3% e) 11,4%

Solução f1 = 1 + 0,06 = 1,06 f2 = 1 + 0,05 = 1,05

facumulado = 1,06 1,05 = 1,113 = 11,3%

Fonte: DANTE, p. 335

Neste caso, a conversão é de um registro da linguagem natural como registro

de partida para um registro simbólico algébrico como registro de chegada onde se

faz o tratamento para o cálculo do percentual acumulado.

O exemplo apresentado dá como resultado o fator acumulado igual a 11,3%,

para isto foi necessário transformar o percentual de inflação correspondente a cada

mês em fatores de atualização de capitais do tipo ( 1 + i ), realizar a operação de

multiplicação entre eles, e voltar para valor acumulado em percentual. Este fator

acumulado pode ser utilizado para fazer uma desvalorização ou uma correção da

moeda. Portanto, focando o aluno, torna-se necessário uma representação que

permita visualizar o ponto de partida e de chegada das taxas apresentadas e como

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influenciam no valor do dinheiro no mesmo período. Nossa sugestão é uma

representação gráfica que mostre se o dinheiro se equipara ou se desvaloriza com

respeito à data imediatamente anterior a esse período de inflação.

Quadro 5 - Exemplo no 3

A tabela abaixo mostra a variação do preço do dólar durante uma semana

qualquer, em termos percentuais. No valor acumulado desses 5 dias, o que

aconteceu com o preço do dólar? (subiu? caiu? quanto por cento?)

Sugestão do livro: → Precisamos compor as 5 variações para poder emitir um

julgamento. Para isso, precisamos dos fatores de atualização de cada variação.

Tabela - Variação do dólar - Dante

Dia Variação Fator de Atualização

2ª feira -2,35% f1 = 1 – 0,0235 = 0,9765

3ª feira 1,37% f2 = 1 + 0,0137 = 1,0137

4ª feira 1,05% f3 = 1 + 0,0105 = 1,0105

5ª feira -0,13% f4 = 1 – 0,0013 = 0,9987

6ª feira 0,21% f5 = 1 + 0,0021 = 1,0021

facumulado = f1 f2 f3 f4 f5

facumulado = 1,00107

“O dólar teve uma pequena alta de 0,107 %”

Fonte: DANTE, p. 335

Neste caso, há várias conversões; o autor inicia com um registro da

linguagem natural para um registro de tabela composto por colunas e linhas. Na

referida tabela a 1ª coluna representa a escala do tempo em dias-calendário, e cada

linha após o rótulo representa um dia da semana. A 2ª coluna representa a variação

diária do preço do dólar em termos percentuais, e em cada linha o percentual

correspondente. A tabela ao lado representa a conversão para uma representação

simbólica algébrica, ou seja, o fator de atualização de cada variação/dia para efetuar

a operação de multiplicação dos fatores (tratamento), e em seguida retirar o valor 1

do fator de atualização (1 + i ) para obter a variação percentual solicitada

(tratamento).

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Quadro 6 - Fórmula do Montante a Juros Compostos

A dedução da fórmula do

Montante a Juros Compostos está

representada numa tabela onde:

1ª col. : períodos;

2ª col. : valor do montante* no

início de cada período;

3ª col. : valor dos juros de cada

período;

4ª col. : é a dedução da fórmula;

Fonte: DANTE, p. 338

Neste ponto, minha experiência em sala de aula mostrou que este

procedimento algébrico, para a dedução da fórmula, era entendido por um número

reduzido de alunos. Nesse sentido, acreditamos que uma representação gráfica antes

da representação tabular, que permita visualizar o crescimento do fator de

atualização, e como influencia no valor do dinheiro para períodos distintos, e

posteriormente fazer a generalização, em nossa opinião, poderá facilitar a

compreensão pelo aluno.

Quadro 7 - Juros e Funções

Fonte: DANTE, p. 339

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Quadro 8 - Juros Simples - Montante em função do tempo

Fonte: DANTE, p. 339

Quadro 9 - Juros Compostos - Montante em função do tempo

Fonte: DANTE, p. 340

Nos Quadros acima de nos 7,8 e 9, o autor inicia com um registro da língua

natural; a seguir um registro simbólico com uma representação simbólica algébrica

onde estão as fórmulas correspondentes, continua com um registro de tabela, onde

se quantificam os valores dos Juros o do Montante, de acordo com o tipo de taxa de

juros; e termina com um registro gráfico onde se representa a função especificada

em função do tempo. Efetua-se a coordenação de quatro registros, mobilizando três

registros monofuncionais, sendo dois discursivos (tabular e algébrico) e um

multifuncional discursivo (língua natural).

Complementando as respostas das questões colocadas no início do capítulo,

ressaltamos que:

Quanto ao Fator de Atualização definido como a razão entre dois valores de

uma grandeza em tempos diferentes com um registro de partida e descrito

como (1 + i ) como registro de chegada, será bastante utilizado pelo OPA por

se tratar de um conceito básico e primordial do objeto matemático, mas será

acrescentado de um registro gráfico, que sirva de suporte para visualizar a

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escala do tempo onde estão situados os valores ou os referidos capitais, por

isso está designado de “Fator de Atualização de Capitais”;

Quanto à dedução da fórmula do Montante a Juros Compostos referente ao

Quadro 6, nosso design vai em sentido contrário ao apresentado, uma vez

que não pretendemos recorrer às fórmulas financeiras como ponto de

partida para realizar os cálculos dos parâmetros financeiros, e sim, utilizar

representações gráficas para chegar em elas se necessário for.

3.1.2. Kátia Stocco Smole et al. Matemática

Quadro 10 - Resumo da Unidade 6: - Sequência, P.A. e P.G. - Smole

Matemática Ensino Médio

Unidade 6: - “Sequência, P.A. e P.G.”

O livro não faz referência à Matemática Financeira.

3.1.3. Márcio Cintra Goulart - Matemática

Quadro 11 - Resumo das Noções básicas de Matemática Financeira - Goulart

“Matemática Financeira”

“Na vida, como cidadão, você é objeto e agente, possivelmente, dos efeitos das implicações da Matemática Financeira” e finaliza “O conhecimento pensado, construído, dessas noções básicas de Matemática Financeira pode orientar o posicionamento e a tomada de decisões pessoais”.

Os itens abordados são: Porcentagens, Juros simples (capital, montante), Juros compostos e o uso da Calculadora financeira HP 12C.

Não há referência ao cálculo de prestações.

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O autor, no tópico de Juros Simples, utilizando o registro da língua natural,

além de dar a definição, também esclarece os outros conceitos financeiros tais

como, capital inicial, valor principal, taxa de juros ao período, observando a

compatibilidade entre a taxa e o período; cita como exemplo a taxa semestral,

considerando t o número de semestres, e obtém a seguinte representação gráfica do

registro de chegada, que indica o comportamento dos Juros em função do tempo:

Quadro 12 - Juros Simples – Juros em função do tempo

Fonte: GOULART p. 257

Para o tópico do Montante, de acordo com a figura a seguir, a abordagem do

autor começa com uma definição de Montante como registro de partida em língua

natural; em seguida faz uma conversão para um registro de passagem algébrico, e o

registro de chegada é uma conversão para a representação gráfica do Montante em

função do tempo.

Quadro 13 - Juros Simples - Montante em função do tempo

Fonte: GOULART p. 257

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No tópico Juros Compostos, em poucas etapas o autor chega à fórmula do

Montante; em seguida explica a operação da HP 12C para o cálculo, considerando

diversas variáveis, conforme indicado a seguir.

Quadro 14 - Uso da calculadora financeira HP 12C

Fonte: GOULART p. 261

Quanto ao uso de calculadoras específicas como a apresentada pelo autor –

HP 12C, pelo seu alto custo e especificidade para o aluno de Ensino Médio é mais

difícil de ser contemplada. No entanto as usuais calculadoras científicas ou aquelas

que possuem as operações básicas, nelas incluímos as simulações nos celulares,

as incentivamos para fazer a comprovação dos resultados do OPA, e assim o sujeito

poder analisar a transação comercial numa situação da vida real. Fazendo um

comparativo com o OPA, nesse sentido, o usuário indicará o termo inicial e final da

progressão numa das telas, e o cálculo será feito pelo software, permitindo ao

usuário dedicar mais tempo para refletir, explorar o problema e elaborar novas

construções.

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50

3.2. Análise de Dissertações e Livros Didáticos Especializados

A análise das dissertações e livros didáticos especializados também se

reporta de forma semelhante às questões levantadas no item anterior deste estudo,

a seguir:

1. De que modo a Matemática Financeira é apresentada?

2. Quais registros semióticos são mobilizados pelos autores na

apresentação da Matemática Financeira?

3. A coordenação dos registros de representação é explorada pelos

autores na apresentação da Matemática Financeira?

4. Exploram a visualização dos conceitos financeiros atrelados à linha do

tempo, quais?

5. Que aspectos relevantes são citados pelos autores no contorno da

Matemática Financeira?

3.2.1. Análise das Dissertações

Dissertação de Nelson Dias Leme

A dissertação de Nelson Dias Leme (2007) intitulada “O Ensino-

Aprendizagem de Matemática Financeira utilizando ferramentas computacionais:

uma abordagem construcionista” elabora um experimento de ensino envolvendo os

alunos na construção de suas próprias fórmulas, usando planilhas para o cálculo de

juros e montantes nas modalidades de juros simples e compostos.

Os quadros a seguir apresentam a proposta de trabalho, utilizando planilhas

eletrônicas, para resolver alguns dos principais problemas inerentes a certas

movimentações financeiras.

Esta atividade é uma primeira tentativa de levar o aluno-aprendiz a utilizar as

operações básicas da aritmética e de suas propriedades estruturais, indicando as

células onde os cálculos dos Juros e Montante deveriam ser efetuados. A tarefa do

aluno é usar a Barra de fórmulas e efetuar os cálculos nas células correspondentes.

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Quadro 15 - Análise da Atividade 2 – Juros Simples Financiamento

Fonte: DISSERTAÇÃO 2007, LEME, p. 67

Nesta Atividade tem-se uma capitalização de R$ 5.000,00, no regime de juros

simples, por cinco meses, a uma taxa de juros de 2% ao mês. Pede-se o cálculo dos

juros e do montante ao final do primeiro mês (1° período). A intenção é levar o

aprendiz a construir noções, formar conceitos próprios, calculando o juro mês a mês.

Quadro 16 - Análise da Atividade 5 – Juros Simples Capitalização (p. 71)

Fonte: DISSERTAÇÃO 2007, LEME, p. 71

Nesta atividade de no12 é solicitado o cálculo dos juros, mês a mês de uma

capitalização a juros compostos, o aluno aprendiz deverá calcular os juros e

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adicionar ao saldo anterior para obter o saldo atual ou montante correspondente, e

assim, deduzir a Fórmula do Montante.

Quadro 17 - Análise da Atividade 12 – Juros Compostos Capitalização

Fonte: DISSERTAÇÃO 2007, LEME, p. 137

Segundo Leme (2007), o principal objetivo desta proposta de trabalho,

utilizando planilhas eletrônicas, é suprir uma lacuna pela inexistência de material

didático voltado para o nível de ensino abordado, de acordo com a constatação a

partir da análise de diversos livros didáticos.

Quanto ao uso da planilha eletrônica, as atividades iniciam no sentido de dar

desenvoltura ao aluno-aprendiz nesta ferramenta para chegar às deduções das

diferentes fórmulas financeiras, diferentemente da nossa proposta de trabalho que

faz uso das planilhas eletrônicas para aproveitar os recursos gráficos e aptidão que

elas possuem para efetuar cálculos.

Dissertação de Pedro Lopes Nascimento

O trabalho de Pedro Lopes Nascimento (2004) em sua dissertação intitulada

“A formação do aluno e a visão do professor do Ensino Médio em relação à

Matemática Financeira”, procurou investigar a formação de 80 alunos cursando ou

egressos do Ensino Médio em relação à Matemática Financeira e a visão do

professor dessa etapa da escolaridade a respeito desse tópico. Ele constata que o

discurso dos alunos, de certa forma já incorporado à fala dos professores, destaca

que o aluno do Ensino Médio, de modo geral, não recebe informação nem formação

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suficiente, relativamente à Matemática Financeira, que lhes permita resolver

problemas, mesmo os que envolvem conceitos ou procedimentos elementares.

Ele considera esse fato preocupante dada a importância que Matemática

Financeira tem para qualquer cidadão e constatou que as dificuldades são muito

grandes tanto em relação aos aspectos conceituais que envolvem a noção de

proporcionalidade e, em particular, a porcentagem, como em relação aos aspectos

procedimentais que envolvem interpretação de uma resposta ou a estimativa de um

resultado. Este fato pode ser visto no quadro seguinte do resumo que ele faz dos

resultados.

Quadro 18 - Resultados verificados

Fonte: DISSERTAÇÃO 2004, NASCIMENTO, p. 69

Para Nascimento, as dificuldades reveladas podem ser atribuídas aos

professores, pela ausência desse tópico no seu planejamento; constata, também,

um desencontro na opinião dos professores de Matemática, que consideram a

Matemática Financeira como um tema importante para a formação dos alunos, mas

por um motivo qualquer não a ensinam em sala de aula.

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3.2.2. Análise de Livros Didáticos Especializados

Apresentamos o Livro Didático de Hazzan e Pompeu

especializado em Matemática Financeira como o

representante dos demais livros utilizados nesta disciplina

para fazer nossa análise, uma vez que, além de

consagrado no mercado por vários anos, se caracteriza

pela excelência do conteúdo e a competência dos autores,

por outro lado, e em nossa opinião é bastante

representativo dos demais pelos aspectos de

conceptualização e nos procedimentos de cálculos de

operações financeiras.

O item escolhido para nossa análise diz respeito as “Sequências Uniformes

Diferidas”; os autores conceituam este tópico como um financiamento com parcelas

fixas que iniciam com o pagamento da 1ª parcela distante da data do ato da

transação comercial, para isto, tem como registro de partida a língua natural; a

seguir um registro gráfico que permite visualizar este tipo de sequência de forma

generalizada:

Gráfico 1 - Representação de uma Sequência Uniforme Diferida – p. 116

Fonte: MATEMÁTICA FINANCEIRA, S. HAZZAN E NICOLAU POMPEO, p. 116

E termina com registro simbólico com o procedimento de cálculo para o Valor

Atual, a seguir:

1º ) Calculamos o capital único equivalente à sequência na data m (Vm). Para

isso, basta notar que:

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2º ) Calculamos o capital V (na data 0) equivalente a Vm. Isto é:

Tendo em conta que

, segue-se que:

Diferentemente da abordagem deste livro didático para este tópico em

análise, como para os demais, onde o registro de chegada é um registro simbólico

com uma representação simbólica algébrica para acomodar as fórmulas, que por

sua vez estão baseadas em tabelas financeiras. Nosso OPA pretende ter como foco

o registro gráfico onde o aluno possa visualizar as mudanças dos parâmetros

financeiros através de um clique na tela, e o opcionalmente os cálculos detalhados

de forma simultânea.

3.3. Análise do Caderno do Professor

Como dito anteriormente, a análise efetuada nas aplicações à matemática

financeira do “Caderno do Professor” recebe um aprofundamento devido a ser o

referencial adotado e é a partir desta análise que são estipuladas as premissas

iniciais relativas aos aspectos de representação semiótica, de procedimento de

cálculo e de conceituação das operações financeiras na elaboração do OPA.

O Caderno do Professor começa definindo a operação financeira de

capitalização como um “crescimento de um capital, a uma taxa constante de juros

simples, caracteriza-se por envolver uma série de termos que formam uma

progressão aritmética. Por outro lado, no cálculo do crescimento de um capital a

uma taxa constante de juros compostos, aparece uma progressão geométrica” (ibid,

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p. 43). Utiliza-se de uma tabela comparativa entre juros simples e compostos a uma

taxa de juros de 5% ao mês, a seguir:

Quadro 19 - Comparativo da Evolução de um Capital

Fonte: CADERNO DO PROFESSOR, p. 43

A tabela apresenta na 1ª coluna os tempos dos eventos do crescimento de

capital, inicia com a data da transação da operação financeira de capitalização como

“Inicial”, e segue com sua evolução para o 1º mês como “Depois de um mês”, e

assim sucessivamente. As 2ª e 3ª colunas correspondem aos termos das

progressões a uma taxa de 5% a.m. (ao mês), multiplicados pelo capital inicial

aplicado, para os casos de juros simples e compostos, respectivamente. Este

sistema semiótico permite visualizar a correspondência de cada termo das

progressões com o respectivo período; cada termo das progressões é o próprio

conceito do “fator de atualização de capitais”, dado por “(1 + in) ou (1 + i )n ” para

Juros Simples ou Compostos respectivamente, que indica o crescimento ou

evolução do capital inicial designado por “C”.

Sendo assim, para a capitalização com uma única parcela podemos observar

que dentro do registro de tabelas as células descritivas tanto na horizontal como na

vertical utilizam-se da língua natural escrita como “Evolução do capital a juros

compostos” e “Depois de dois meses” respectivamente, o que facilita visualizar e

compreender o registro simbólico correspondente, que para este exemplo equivale a

“1,10 ∙ C ou 1,052 ∙ C”. Se o aprendiz se propõe a efetuar a conta apresentada

poderá verificar qual dos Juros oferece uma melhor rentabilidade.

Em seguida são apresentadas duas tabelas comparativas de uma

capitalização a juros simples e compostos, supondo uma aplicação mensal durante

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8 meses de uma quantia fixa de R$ 200,00 à taxa de juros de 5% ao mês, conforme

apresentado a seguir:

Quadro 20 - Tabela de Capitalização – Juros Simples

Fonte: CADERNO DO PROFESSOR, p. 44

Quadro 21 - Tabela de Capitalização – Juros Compostos

Fonte: CADERNO DO PROFESSOR, p. 45

Ao fazer o comparativo entre as evoluções de capitais aplicados

mensalmente, aparece o primeiro aspecto gerador de dúvida, as células descritivas

da 1ª linha horizontal designada por “Mês” não discriminam se as parcelas são

depositadas no início ou no fim do período; esta duvida é dirimida quando o aprendiz

deduz, porque no final da linha aparece uma célula designada por “Final”, e na

coluna correspondente há um acréscimo do capital com respeito à anterior

designada por “8º”. Nossa sugestão é atrelar as parcelas à linha do tempo em linhas

separadas, a seguir:

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Quadro 22 - Parcela associada ao tempo

Após o (mês)

Início 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º

Parcela 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª Final Valor

C A P I T A

L

200 200 ∙ 1,05 200 ∙ 1,10 200 ∙ 1,15 200 ∙ 1,20 200 ∙ 1,25 200 ∙ 1,30 200 ∙ 1,35 200 ∙ 1,40 280

200 200 ∙ 1,05 200 ∙ 1,10 200 ∙ 1,15 200 ∙ 1,20 200 ∙ 1,25 200 ∙ 1,30 200 ∙ 1,35 270

200 200 ∙ 1,05 200 ∙ 1,10 200 ∙ 1,15 200 ∙ 1,20 200 ∙ 1,25 200 ∙ 1,30 260

200 200 ∙ 1,05 200 ∙ 1,10 200 ∙ 1,15 200 ∙ 1,20 200 ∙ 1,25 250

200 200 ∙ 1,05 200 ∙ 1,10 200 ∙ 1,15 200 ∙ 1,20 240

200 200 ∙ 1,05 200 ∙ 1,10 200 ∙ 1,15 230

200 200 ∙ 1,05 200 ∙ 1,10 220

200 200 ∙ 1,05 210

Total 1.960

Para o cálculo do valor acumulado a juros simples o autor utiliza a fórmula a

seguir:

E para o cálculo do valor acumulado a juros compostos

Fazendo 1,058 = 1,48

Desta forma, os autores concluíram com um comparativo dos resultados

obtidos por ambas as operações financeiras de capitalização, realçando que o

processo a juros compostos conduz a valor final maior.

Ainda na etapa 2 da Situação de Aprendizagem 3 – Soma dos Termos de

uma PA ou de uma PG Finita; Aplicações na Matemática Financeira – o Caderno do

Professor propõe:

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Outra aplicação importante das somas das progressões diz respeito ao cálculo da parcela fixa de um financiamento a taxa constante de juros. De fato, trata-se de um problema inverso ao que foi analisado há pouco8, isto é, conhece-se o montante final e deseja-se calcular a parcela mensal do investimento, (ibid, p. 46).

Para tanto, o “Caderno do Professor” explica as duas situações descritas a

seguir:

1º) Com taxa de juros simples

Como o financiamento parcelado com juros simples não é uma prática de

mercado, para contextualizar esta modalidade haveria necessidade de entender a

mesma situação, mas com uma única parcela. Esta modalidade é chamada de

desconto, e é utilizada para resgatar títulos, podendo ser “por fora” (também

denominada bancária), onde a taxa é aplicada ao valor de face do título, ou “por

dentro”, na qual a taxa é aplicada ao valor de resgate. Após este entendimento

teríamos que optar qual destas duas modalidades seria utilizada para compor a

sequência progressiva, dos termos da progressão atrelada ao tempo.

Dada a complexidade conceitual de um financiamento a juros simples tanto do

ponto de vista financeiro como do matemático, é fora de propósito para alunos do

Ensino Médio, visto que sua base conceitual matemática não dá suporte para o

entendimento adequado. Portanto não será contemplada neste trabalho.

2º) Com taxa de juros compostos

Diferentemente do financiamento citado anteriormente, esta operação

financeira é a prática comum de mercado. O processo de cálculo explica a resolução

baseado num financiamento de R$ 10.000,00, corrigido de acordo com a quantidade

de meses do financiamento, isto é, se a taxa de juros é 5% ao mês, e o prazo do

financiamento é de 24 meses, o fator de correção será de 1,0524, e a soma dos

termos da progressão geométrica (1,05 + 1,052 + 1,053 + ......+ 1,0524) é usada para

fazer o cálculo da parcela.

8 Saldo final de uma capitalização a taxa de juros simples e compostos.

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Na análise que o Caderno do Professor faz deste tipo de financiamento,

enfatiza dois aspectos geradores de dúvidas:

Quadro 23 - 1º Aspecto gerador de dúvidas

Refere-se à necessidade de corrigir o valor financiado de acordo com o

exemplo acima, multiplicando-o pelo fator de correção de “1,0524 ”, pois o bem

financiado será considerado quitado quando a última parcela for paga.

Fonte: CADERNO DO PROFESSOR, p. 47 Quadro 24 - 2º Aspecto gerador de dúvidas

“A segunda dúvida que costuma ocorrer refere-se à necessidade de calcular o valor futuro de cada parcela que vai sendo pago, o que conduz ao cálculo da soma da PG. É comum os alunos fazerem, equivocadamente, a simples divisão do resultado

do produto 10000 • 1,0524 para determinar o valor de cada parcela. O professor deve chamar a atenção dos alunos para o fato de que as parcelas não são todas pagas ao final do financiamento, mas sim em tempos diferentes, e que, por isso mesmo, o valor futuro de uma parcela não é igual ao da outra.”

Exemplificando este aspecto gerador de dúvidas, o valor da parcela corresponderia a:

o que é errado.

Fonte: CADERNO DO PROFESSOR, p. 47

A análise de operações de financiamento é feita tendo como base o problema

de no 4 da página 49, por ser um procedimento padrão. Para isto apresentamos o

enunciado e a solução proposta pelo caderno no quadro abaixo.

Quadro 25 - Enunciado e Solução problema no 4

Uma geladeira cujo preço à vista é de R$ 1.500,00 será financiada em seis

parcelas mensais fixas. Se os juros compostos cobrados no financiamento dessa

geladeira são de 3% ao mês, qual o valor da parcela mensal? (Dado: 1,036 = 1,19)

Solução proposta

O valor futuro da geladeira, em seis meses, será igual a 1.500 ∙ 1,036 = 1.500 ∙

1,19 = 1.785. A soma das parcelas fixas, a 3% de juros compostos ao mês, recai

em: , onde P é o valor da

parcela fixa mensal. Como S = 1.785,00, tem-se:

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1.785

1.785

Fonte: CADERNO DO PROFESSOR, p. 49

Nossa análise é feita em etapas objetivando especificar as representações

utilizadas em cada passo.

O caderno diz: O valor futuro da geladeira, em seis meses, será igual a

Uma definição simples de Matemática Financeira é a matemática que trata o

valor do dinheiro no tempo; então ao corrigir o valor da geladeira em “1,036” o

Caderno do Professor optou pela data do final do financiamento para fazer a

igualdade matemática entre o valor da geladeira e as seis prestações, a taxa de

juros na modalidade de juros compostos. Ressaltamos que não significa que a

geladeira irá custar esse valor após seis meses, esse valor é o valor corrigido da

mesma para efeito de cálculo.

Como elemento facilitador da aprendizagem do significado do valor corrigido

(e não futuro – como consta no “Caderno do Professor”, cujo conceito é diverso), da

geladeira, sugerimos, via OPA, a utilização de um sistema semiótico de registro

gráfico com a visualização da escala do tempo para representar os seis meses, sem

a data calendário, e sim como quantidade de períodos (de zero “0” a seis “6”).

Gráfico 2 - Registro gráfico proposto para o problema no 4

O valor corrigido (e não futuro)

corrigido da geladeira, em seis meses,

será igual a

Este registro permite visualizar a data da transação comercial no momento “0”

(zero) no eixo que representa o tempo, dito de outra forma corresponde ao 1º dia do

1º mês. Por outro lado, também representa a data onde é feita a equivalência entre o

valor da geladeira e as seis parcelas, que corresponde ao último dia do 6º mês.

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O caderno diz: A soma das parcelas fixas, a 3% de juros compostos ao mês,

recai em: , onde P é o valor da

parcela fixa mensal.

Como S = 1.785,00, tem-se:

1.785

1.785

Neste caso a conversão indicada é de um registro da linguagem natural para

um registro simbólico algébrico que contém o registro numérico da progressão

geométrica; por sua vez, esse registro numérico tem uma atividade de tratamento

operatória, para obter o resultado da soma de cada termo da progressão, e a seguir

outra atividade de tratamento operatória para calcular o valor da parcela. Como a

data do pagamento da 1ª parcela não foi explicitada no enunciado do problema, se

no ato da transação comercial ou no final do 1º mês (pagamento antecipado ou

postecipado), é necessário descobrir a correspondência de cada termo da P.G. com

a posição de cada parcela na linha (eixo) do tempo. Para isso, utilizaremos o mesmo

registro gráfico, primeiramente focando o valor da geladeira corrigido (R$ 1.785,00)

em “6”, e a seguir fazer a correspondência de cada parcela, designadas de P1 para a

1ª parcela, e assim sucessivamente até P6 que representa a 6ª parcela e última.

Observe que na representação gráfica abaixo, P6 sofre uma correção para se

posicionar em “6”, onde o valor da geladeira corrigido se encontra, portanto, o termo

da P.G. correspondente é “1,03”. Para P4 são necessárias “3” correções, portanto, o

termo da P.G. é “1,033”, assim para P1 → “1, 036”, P2 → “1, 035”, P3 → “1, 034” e P5

→ “1, 032”.

Gráfico 3 - Correspondência das parcelas aos termos da P.G.

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Na abordagem dos financiamentos não há nenhuma referência a respeito de

qual é a data de pagamento da primeira prestação, ou seja, se é antecipada ou

postecipada. O enunciado em análise apresenta sempre o caso de pagamento

antecipado, modalidade obtida pela associação dos termos da PG utilizada,

considerando-o como única forma de cálculo das prestações. Em outras palavras, a

data de pagamento da primeira prestação não é colocada como dado variável para o

cálculo das prestações. A matemática financeira contempla o fato de o primeiro

pagamento ser antecipado (quando se paga a primeira parcela no ato do

financiamento ou da transação comercial, o que equivale a dizer no início do

primeiro período), ou postecipado (pagar a primeira parcela, por exemplo, 30 dias

após a data de financiamento ou da transação comercial, o que equivale a dizer no

final do primeiro período). Para os dois casos as calculadoras e os programas

financeiros destacam essa situação utilizando os conceitos “Begin” ou “End”, pois

isso implica mudança de valores de prestação, e principalmente de prazos de

liquidação do financiamento. A Matemática Financeira usa essa data como variável

para os cálculos nos casos de início de pagamento diferido, pois há situações como:

“pague a primeira prestação daqui a 60, 90, 120... dias”, ou “após o recebimento do

13º salário”.

Parece-nos que para os alunos do Ensino Médio, foco do objeto Matemático

do nosso estudo, esta associação está fora do propósito, sobretudo, numa iniciação

a Matemática Financeira, portanto nosso OPA sempre contemplará a data do 1º

pagamento.

Resultados de exponenciações são apresentados (e usados nos cálculos)

com duas casas decimais. Essa prática está em desacordo com o que o mercado

financeiro utiliza e aceita; normalmente os números exponenciados são obtidos e

trabalhados com pelo menos quatro casas decimais, ou mais, dependendo da ordem

de grandeza dos valores envolvidos no cálculo.

A comprovar tal procedimento, as calculadoras financeiras ou planilhas

eletrônicas, ao efetuar tais cálculos, fazem-no com o máximo de casas decimais

possíveis para sua arquitetura, exibindo conforme configurado pelo usuário, a fim de

obter o máximo possível de precisão. Observar ainda que o Caderno do Professor

julga fundamental que os alunos disponham de calculadora para o aprendizado e

prática da matéria.

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Observamos que se utilizássemos a representação tabular de um registro de

tabelas, usada como recurso semiótico do “Caderno do Professor”, para interpretar a

sequência dos termos da PG no sentido de identificar quando ocorre o pagamento

da 1a parcela, sua construção seria complexa.

.

Quadro 26 - Representação tabular de um registro de tabelas

Por outro lado, a representação ou as representações que utilizaremos no OPA

têm que ser de construção simples e dinâmicas, sendo assim poderemos visualizar

o deslocamento do pagamento das parcelas de acordo com o contrato de

financiamento.

Gráfico 4 - Representação Gráfica do problema analisado

A representação gráfica acima é utilizada comumente pelos livros específicos

de Matemática Financeira, pois permite visualizar também o fluxo de caixa de

acordo com o sentido da seta.

Na análise da revisão bibliográfica encontramos no Caderno do Professor

uma das premissas fundamentais para nosso objeto matemático, e ressaltamos que

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o conjunto de atividades realizadas está de acordo com a “Orientação Geral Sobre

Os Cadernos”, subitem “Conteúdos básicos do bimestre” que propõe:

[...] problemas clássicos de cálculos de juros e de montantes envolvidos em processos de capitalização ou amortização componham o contexto possível para o tratamento da soma de um número finito de termos de uma PA ou de uma PG (Caderno do Professor, 2009, p. 9)

A proposição de recorrer à soma de um número finito de termos de uma

Progressão Aritmética e/ou Geométrica para o cálculo de parâmetros financeiros é o

principal aspecto diferenciador dos livros didáticos, textos e dissertações publicadas;

esta orientação é plausível de ser seguida, e o Objeto Para Aprendizagem - OPA -

terá como referência a sequência didática e o conteúdo programático do Caderno do

Professor.

Como já dito, a Matemática Financeira é a matemática que trata do valor do

dinheiro no tempo; sendo assim, uma das principais características do OPA é

permitir a visualização desta característica e fazer corresponder cada termo da

progressão aritmética e/ou geométrica com o procedimento de resolução de

problema adotado. Lembramos que o procedimento de cálculo do caderno do

professor para financiamentos contempla o pagamento da 1ª parcela somente no ato

da aquisição, mas não nos casos em que a 1ª parcela deve ser paga “daqui a 90

dias” ou “no Carnaval”, etc., como ocorre com freqüência nas divulgações feitas

pelos meios de comunicação.

Como a questão fundamental é “Que aspectos do OPA podem favorecer no

processo de ensino e aprendizado de noções de Matemática Financeira?”, a

pesquisa foi focada buscando encontrar e favorecer os aspectos principais dos

conceitos financeiros e matemáticos, e verificar dentro das modalidades financeiras

do objeto matemático “Capitalização, Financiamento e Desvalorização” quais os

aspectos, representações semióticas e conversões de registros provocadores de

visíveis perturbações nos participantes que poderiam ser compensadas pelas

funcionalidades do OPA.

3.4. As Entrevistas e as Atividades

Os pressupostos estabelecidos para as entrevistas eram no sentido de que

fosse semi estruturada, pois me permitiria fazer questionamentos de acordo com a

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explanação dos professores entrevistados, e por outro lado, que eles atendessem as

premissas a seguir:

Que o professor usasse como instrumento pedagógico o Caderno do

Professor, uma vez que o foco da pesquisa está baseado na situação de

aprendizagem das aplicações à Matemática Financeira, assim poderia

questionar os aspectos levantados na análise do Caderno do Professor;

Que o professor tivesse ministrado o conteúdo “Números e Sequências” no

1º bimestre da 1ª série do ensino médio no ano de 2009, uma vez que no

ano anterior (2008) não constavam as aplicações à matemática financeira.

Assim se poderia verificar a abordagem por eles adotada, para isto, qualquer

problema com respeito a financiamento poderia ser utilizado.

Dentre os professores que foram contatados, poucos atendiam as premissas

acima, principalmente, porque não lecionavam as aplicações de matemática

financeira por uma questão de tempo, a carga horária prevista não era suficiente

durante o ano letivo, ou deixava este tópico para lecionar nas últimas aulas

utilizando-se das funções linear, exponencial e logarítmica.

Desta forma, dos professores que concordaram em serem entrevistados,

somente duas professoras cumpriam com os requisitos fixados, lecionam na mesma

escola da zona sul da cidade de São Paulo no bairro do Campo Belo. As entrevistas

foram realizadas em separado em uma sala de aula, sem alunos, no local de

trabalho dos professores e fora do horário de funcionamento da escola. A data das

entrevistas foi no dia 19 de maio de 2009, e cada entrevista demorou em torno de 30

minutos.

No intuito de não contaminar as explicações dos professores entrevistados, o

enunciado do problema de financiamento utilizado foi apresentado numa folha do

tipo A4. Tanto o professor 1 como o professor 2 expuseram a resolução do mesmo

modo como exposto no Caderno do Professor, sem observarem que esta situação

se aplica somente aos casos em que o pagamento da 1ª parcela seja efetuado no

ato da compra, aspecto não especificado pelo Caderno do Professor o que ao nosso

modo de ver compromete a resolução do problema.

Apesar do questionamento quanto à utilização de somente duas casas

decimais, a resposta dos sujeitos pesquisados é no sentido de que não podemos

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complicar as contas para os alunos. Quanto às provocações efetuadas para que as

professoras reconsiderassem os casos em que o pagamento da 1ª parcela pode ser

efetuado de forma postergada, não houve nenhum comentário adicional que

modificasse sua interpretação da resolução do problema. Sendo assim as

professoras reforçam suas explicações recomendando o procedimento de cálculo do

caderno para as operações de financiamento e de capitalização.

Três dias depois, no dia 22 de maio de 2009 iniciamos a primeira atividade

com nove (9) alunos professores da Pós Graduação do Mestrado Acadêmico em

Educação Matemática de uma universidade particular situada em São Paulo Capital,

professores atuantes no Ensino Fundamental e Médio tanto da rede pública e

particular como em universidades. O local utilizado foi uma das salas de aula da Pós

Graduação, aparelhada com recursos tecnológicos de última geração e realizado em

duas sessões de duas horas aulas cada, dentro da disciplina de Seminário de

Pesquisa.

Na sessão inicial da atividade, o experimento buscava avaliar as dificuldades

encontradas pelos colegas nas operações financeiras, desenvolvido por meio de

fichas que exigiram não somente a resolução do problema, como também o

levantamento dos elementos significantes e a abordagem da solução; houve

concordância em que o trabalho fosse desenvolvido em duplas de livre escolha.

Na segunda sessão foi feita uma apresentação, pelo autor desta pesquisa,

das operações financeiras e dos recursos tecnológicos utilizados. Assim, ao

revisarmos as questões da sessão anterior, criou-se uma interação entre todos os

participantes da atividade gerando novas propostas.

Quadro 27 - Primeira Questão da Primeira Atividade

Nessa dinâmica, da 1ª questão da atividade,

“Se você tivesse que fazer um empréstimo, o

faria a taxas constantes de juros simples ou

juros compostos?”, são sugeridos elementos

que devem ser observados na elaboração do

protótipo, tais como: Resposta:

- buscar as diferenças entre uma PA e uma

PG (Lima, 1997);

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- como isso poderá ou não trazer vantagens e os termos de negociação e

pagamento;

- Analisar graficamente as variações de cada progressão e como o estudante

poderia utilizar na Matemática Financeira

Quadro 28 - Segunda Questão da Primeira Atividade

O enunciado deste problema “Um comprador

mal-intencionado da empresa “alpha”

pretende fazer uma falcatrua numa compra

no valor de R$ 130.000,00. Pede para

superfaturar essa compra em 25%, e para

não ficar tão evidente, pede para fazer um

desconto de 20%. Calcule quanto ele

pretende ficar?”, Resposta:

Mostrar como o mercado/Empresas fazem

para burlar o Fisco. De que formas isso

poderá ocorrer.

As vantagens e desvantagens dessas

operações.

Cálculo de porcentagens, onde não será feito a operação aritmética ou geométrica.

Este problema traz um componente forte da relação que existe entre uma

valorização com o desconto correspondente em termos percentuais, ou seja, uma

valorização de 25% deixa o fator de acumulação de capitais ( 1 + i ) igual a ( 1 +

0,25) ou 1,25. Como o desconto é de 20% este fator é ( 1 – i ) é igual a ( 1 - 0,20 )

ou 0,80, ao efetuar o produto de 1,25 • 0,80 = 1, voltamos à situação original

independente do valor do capital. De outra forma, se o objeto “A” é maior que “B” em

25%, “B” corresponde a 80% de “A” ou 20% a menos. Este conceito serve para

evidenciar a ida e volta de um capital (valor presente e valor futuro). As sugestões

apresentadas fogem do escopo de PA e PG, não tendo uma aplicabilidade imediata

no OPA.

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Quadro 29 - Terceira Questão da Primeira Atividade

O Problema 3 “Uma geladeira cujo preço

à vista é de R$ 1.500,00 será financiada

em seis parcelas mensais fixas. Se os

juros compostos cobrados no

financiamento dessa geladeira são de

3% ao mês (a.m.), qual o valor da

parcela mensal? (Fonte: Caderno do Professor)

Resposta

-Introdução dos conceitos de PG,

-demonstração da linha do tempo,

-comparação entre a compra a prazo e à vista. -Vantagem desvantagem.

- Necessidade da compra, possibilidade de investimento, o custo de oportunidade.

Observe que a data da 1ª parcela não é explicitada, pode ser (0, 30, 60,...)

dias a posteriori em relação à data da compra da geladeira, na medida em que

aumenta esta diferença maior é o valor da parcela, daí a importância deste

parâmetro, modificando também a sequência dos termos da PG para o cálculo da

mensalidade. A sugestão da dupla 1 de professores é de “Introdução dos conceitos

de PG demonstração da linha do tempo” para essa observação.

Independente da exiguidade do tempo para esta atividade, verificamos a

dificuldade dos professores participantes em relacionar cada termo da progressão

com a parcela correspondente na linha do tempo.

A partir dos resultados das interações dos professores iniciamos a elaboração

do design com foco inicial exclusivamente para uma situação de financiamento com

taxa de juros compostos, atrelando cada termo da progressão geométrica à parcela

correspondente (incluindo seu sub-índice para identificar a localização no tempo da

1ª, 2ª, 3ª, .... parcela ) na linha do tempo. Para isto, fizemos uso da análise realizada

do problema de no 4 da página 49 por ser um procedimento padrão utilizado pelo

Caderno do Professor. Nossa proposta é apresentar um registro gráfico que suporte

a visualização dos termos da P.G., a seguir:

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Quadro 30 – Enunciado de uma operação de Financiamento

Enunciado: “Uma geladeira cujo preço à vista é de R$ 1.500,00 será financiada

em seis parcelas mensais fixas. Se os juros compostos cobrados no

financiamento dessa geladeira são de 3% ao mês (a.m.), qual o valor da

parcela mensal?”

Resolução: (Dado: 1,036 = 1,19) O valor futuro da geladeira, em seis meses,

será igual 1.500 • 1,036 = 1.500 • 1,19 = 1.785.

As soma das parcelas fixas, a 3% de juros compostos ao mês, recai em:

, onde P é o valor da

parcela fixa mensal. Como S = 1785, tem-se:

Fonte: CADERNO DO PROFESSOR, p. 49

A resolução pretendida será apresentada passo a passo de forma a elucidar

esta situação de financiamento:

O valor futuro da geladeira, em seis meses, será igual 1.500 • 1,036 = 1.500 •

1,19 = 1.785

Gráfico 5 - Representação Gráfica do VP x VF

A representação gráfica acima representa o procedimento utilizado no

Caderno do Professor para deslocar, em seis meses, o valor atual (VP) da geladeira

de R$ 1.500,00, para o valor futuro (VF), que se converte em R$ 1.785,00. Este

procedimento de deslocar o valor da geladeira é realizado para efetuar a soma das

prestações numa mesma data, neste caso seis meses após a transação comercial.

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Gráfico 6 - Representação Gráfica da evolução do VP

O fator de atualização é de 1,19, o que corresponde a uma taxa de juros

compostos de 3% a.m nos seis meses; tem-se então:

Dado 1,036 = 1,19 O valor futuro é 1.500 • 1,19 = 1.785.

A soma das parcelas fixas, a 3% de juros compostos ao mês, recai em:

, onde P é o valor da

parcela fixa mensal.

O procedimento adotado é levar todos os valores para o sexto mês; para tal,

também são somadas as parcelas do financiamento nesse mês. Como o 1º termo da

PG é igual a “1,03”, tem-se que o acréscimo ou correção de 3% em um mês, a

parcela que sofre menos correções uma vez que a equivalência é no 6º mês,

corresponde à 6ª parcela ou P6, a seguir:

Gráfico 7 - Representação Gráfica do 1o termo da PG

O 2º termo da PG é igual a “1,032”; significa que temos dois acréscimos ou

duas correções de 3%, como a taxa de juros para esta situação é a.m. (ao mês)

corresponde a dois meses, portanto trata-se da 5ª parcela. O fato do 2º termo da PG

estar elevado ao quadrado (igual a “1,032”) é por ser juros compostos, i.e., os juros

incidem na situação anterior, a seguir:

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Gráfico 8 - Representação Gráfica do 2o termo da PG

Consequentemente, a interpretação de

, será:

Gráfico 9 - Representação Gráfica da PG

Observe que a data do pagamento da primeira parcela do financiamento

coincide com a data da transação comercial, parcela P1 localizada em “0”; então

tem-se um financiamento com modalidade antecipada (begin) ou “1 + 5” prestações.

Como a 1ª parcela é paga no ato da compra, pode-se entender que o financiamento

refere-se ao valor da mercadoria menos o valor da 1ª parcela e esta transação será

liquidada em cinco meses.

Desta forma, quando a data não está explícita, o mercado financeiro

pressupõe que a transação será realizada de forma postecipada, no final do 1º

período; caso contrário explicita-se como “1 + 5” prestações para esta situação, ou,

se tiver um prazo maior, seria daqui a, por exemplo, 60, 90 ou 120 dias. Esta

correspondência dinâmica dos termos da PG com as parcelas do financiamento é

outro aspecto a ser destacado, pois se o pagamento da 1º parcela é a 30 dias da

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data da transação, a última parcela P6 se sobrepõe no tempo com o valor da

geladeira corrigido, portanto deslocando a sequência de termos da PG.

Cabe lembrar que a sequência instrucional do caderno do professor para a

operação de financiamento parte de uma representação na língua natural escrita

para uma representação simbólico-algébrica de forma direta; em nosso modo de ver,

este procedimento sugestionou os professores pesquisados, pois somente

procuraram raciocinar com representações simbólico-algébricas, evidenciando a

dificuldade em achar novas representações.

Sendo assim, nossa proposta para o OPA com foco no domínio matemático

específico “Capitalização, Financiamento e Desvalorização”, é caracterizá-lo pela

sua “interatividade”, isto é, os usuários poderão interagir com o OPA mudando com

facilidade, por exemplo, o valor da operação financeira e visualizar o comportamento

dos demais parâmetros. Ressaltamos novamente que procuramos aproveitar o

produto do trabalho da equipe de profissionais da Secretaria da Educação para

manter os objetivos educacionais definidos no Caderno do Professor.

Assim, acrescentamos no OPA registros gráficos e de tabelas dos conceitos

de valor do dinheiro através do tempo, do comportamento da taxa de juros nas

modalidades de juros simples e compostos, de uma operação de financiamento, de

capitalização e de desvalorização. Para isto fizemos uso da escala do tempo

associada à data calendário e períodos, que por sua vez fica relacionado com os

valores de resgate ou aplicação e as parcelas correspondentes, podendo assim

diferenciar os valores procurados de acordo com a quantidade e início das parcelas.

Complementamos esta fase de design com os comentários dos professores

pesquisados (oriundos de suas experiências na elaboração de atividades

educacionais) que ressaltam os aspectos de visualização e dinamismo com valores

não rebuscados como taxas de juros (1% a.m., 5% a.m., 10% a.m.) e

financiamentos/aplicações/parcelas de (R$ 50,00, R$ 100,00, R$ 500,00) das

operações financeiras.

O passo seguinte é a atividade realizada no dia 21 de agosto de 2009 com

oito (8) alunos professores da Pós Graduação do Mestrado Acadêmico em

Educação Matemática de uma universidade particular situada em São Paulo Capital,

dos quais 6 participaram da 1ª atividade, professores atuantes no Ensino

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Fundamental e Médio tanto da rede pública e particular como em universidades. O

local utilizado foi uma das salas de aula da Pós Graduação, aparelhada com

recursos tecnológicos de última geração e realizado em duas sessões de duas horas

aulas cada, dentro da disciplina de Seminário de Pesquisa.

O objetivo da atividade referenciada no parágrafo anterior foi avaliar se as

representações gráficas do nosso 1º esboço do design auxiliariam os professores

pesquisados a construir uma nova forma de compreensão deste objeto Matemático.

Para isto, foram apresentadas as representações gráficas anteriormente descritas

da operação de financiamento e de uma operação de capitalização. Para isto, e de

acordo com as sugestões obtidas, todos os parâmetros circundavam em torno à

linha do tempo, por isso: - a linha do tempo podia representar maior ou menor

número de períodos, consequentemente alterando os termos da sequência da

progressão; - a linha do tempo podia ficar atrelada à data do calendário, o que

permitia visualizar a correspondência entre o valor no período e esta data; - a linha

do tempo podia avançar ou retroceder junto com a data calendário.

Iniciamos com uma capitalização fazendo uma comparação entre o

comportamento com taxa de juros simples e juros compostos, utilizando o mesmo

valor do capital para as duas situações, e com a mesma taxa de juros ao mês. Para

continuar com uma operação de financiamento a partir do resgate desta

capitalização de forma a provocar a mudança de períodos.

Na apresentação dos tipos de registros semióticos utilizados nesta atividade

(fig. 7), citamos que as fórmulas para a resolução de problemas não serão um

registro intermediário do OPA, uma vez que a idéia é utilizar outros registros que

estão presentes na apresentação por ser um pedido generalizado da parte dos

professores, por isso, a colocação de uma escrita simbólica contendo as fórmulas

entre o registro da língua natural e o registro gráfico. Um aspecto a ser destacado na

representação gráfica destas capitalizações, é que todo início de uma operação

financeira deve começar com a data igual a zero que corresponde ao início do

período, isto é, para “n = 0”, assim as fórmulas obedecem à igualdade do M

(montante) com o C (capital).

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Figura 5 - Registros utilizados na 2ª Atividade para o Montante

A similaridade das cores para os parâmetros financeiros tanto na língua

natural como na escrita simbólica foi o ponto alto para os participantes da pesquisa.

Outro aspecto a ser destacado é a correspondência dos termos da sequência

da progressão geométrica com as parcelas das prestações do financiamento. Para

isto, utilizamos o enunciado do quadro seguinte.

Quadro 31 - Enunciado do problema no 5

Julia guardou, mensalmente, R$ 200,00 em um banco que remunerou seu

dinheiro à base de 4% ao mês de juros compostos. Ao final de oito meses de

aplicação, Julia usou o dinheiro que havia guardado para dar de entrada em um

pacote de viagem, que custava, à vista, R$ 5 000,00. O saldo devedor Julia

pretende financiar em cinco vezes, em parcelas iguais e fixas, à taxa de 2% ao mês.

(Dados 1,048 ≈ 1,37; 1,025 ≈ 1,10.):

a) Quanto Julia deu de entrada no pacote de viagem?

b) Qual o valor da parcela mensal fixa do financiamento do saldo do pacote

de viagem?

Fonte: CADERNO DO PROFESSOR, p. 49

Sendo assim, apresentamos na figura seguinte o registro gráfico das parcelas

da capitalização, atreladas à data atual (da época) e aos “n” períodos

correspondentes. Na parte superior encontra-se a sequência dos termos da PG que

serão associados às parcelas.

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Figura 6 - Representação gráfica de uma Capitalização

Fonte: CADERNO DO PROFESSOR, p. 49

Como o resgate será em 21 de abril, a parcela do mês anterior passa a ter 1

correção, ou seja, a parcela de março é igual a R$ 200,00 • (1,04) = R$ 208,00. Na

figura a seguir já foi feito o deslocamento desta parcela com o acréscimo para o

local da soma, e a seta aponta para o termo correspondente da P.G.

Figura 7 - Associação das parcelas com os termos da P.G.

Fonte: CADERNO DO PROFESSOR, p. 49

E assim sucessivamente para as demais parcelas, de acordo com a figura

seguinte; neste caso, visualizamos o deslocamento de cinco parcelas, de P2 a P6,

para o local da soma, atreladas aos termos da P.G.

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Figura 8 - Associação de P2 a P6 com os termos da P.G.

Fonte: CADERNO DO PROFESSOR, p. 49

Obtido o resgate que corresponde a R$ 1.924,00, calcula-se o valor a

financiar, sendo que para efeito de cálculo há necessidade da mudança dos

períodos. Agora evidenciamos a mudança para o período n = 0, início do

financiamento.

Quadro 32 - Mudança para o período n = 0

Fonte: CADERNO DO PROFESSOR, p. 49

Reconhecemos que esta atividade em termos de interação não foi produtiva

por ter-se transformado praticamente em uma aula, devido aos poucos comentários

dos pesquisados no sentido de aportar com suas contribuições para fortalecer o

design, mas por outro lado, percebemos que os participantes tiveram uma boa

compreensão da nossa proposta, uma vez que a associação dos termos das

progressões geométricas com as parcelas das operações financeiras de

capitalização e de financiamento ficou entendida. Este comportamento, de certa

forma, estava previsto na medida em que pretendemos contribuir com outra visão,

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fortemente apoiada nos registros gráficos atrelados aos termos das progressões,

para a resolução de problemas com operações financeiras.

3.5. Elaboração da 1ª Versão do OPA

Para a elaboração da 1ª versão do OPA foram realizadas duas atividades nos

dias 02 e 16 de outubro de 2009 respectivamente, com alunos da Pós Graduação do

Mestrado Acadêmico em Educação Matemática, professores atuantes no Ensino

Fundamental e Médio tanto da rede pública e particular como em universidades, de

uma universidade particular situada em São Paulo Capital.

Na 1ª atividade contamos com a participação de nove (9) professores

pesquisados, e na 2ª atividade contamos com a participação de dez (10)

participantes; a metodologia adotada foi de realizá-las em duas sessões de duas

horas aulas cada atividade, dentro da disciplina de Seminário de Pesquisa. Por sua

vez cada sessão foi dividida em duas partes, sendo a primeira parte para trabalhar

em grupo na resolução da atividade proposta e a segunda parte para apresentação

do trabalho efetuado. Desta forma, os participantes optaram por se dividir em dois e

três grupos de trabalhos, respectivamente.

A seguir, apresentamos os aspectos mais representativos das duas

atividades. Na primeira atividade foi colocada uma situação problema de

Capitalização, e solicitamos descrever detalhadamente a abordagem que adotaria

em sala de aula, conforme o quadro a seguir:

Quadro 33 - Primeira questão da 1ª Atividade

“O gerente do Banco Standard, no dia de hoje, me ofereceu duas alternativas

de capitalização caso deposite os R$ 60.000,00 por seis meses, a seguir: - Uma

taxa de 4,0% ao mês a juros simples; ou - uma taxa de 3,7% ao mês a juros

compostos”.

Citamos os aspectos relevantes a serem observados pelos professores

pesquisados, - primeiramente a evolução dos capitais através do tempo; - o uso da

escala do tempo seja horizontal ou vertical, em registro gráfico ou de tabela; - o fator

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de atualização que permite corrigir o capital inicial período a período tanto nos juros

simples quanto compostos.

Apresentamos a seguir alguns exemplos das representações que serviram de

base para realizar nossa análise:

Quadro 34 – Evolução dos Capitais - Juros Simples e Juros Compostos

Gráfico 10 - Comparação entre Juros Simples e Juros Compostos

Como o procedimento de cálculo dos parâmetros utilizado pelo Caderno do

Professor, que é nosso referencial, faz uso das quatro operações básicas e os

temos das progressões sem expoente negativo, podemos recorrer às calculadoras

simples comumente chamadas de calculadoras de R$ 1,99, que disponibilizamos

aos participantes para efetuar os cálculos; a figura a seguir apresenta um

procedimento com este tipo de recurso.

Figura 9 - Procedimento sugerido com calculadora simples

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Para estas atividades reformulamos as perguntas fundamentais do nosso

objeto matemático para nortear nossa análise:

1. De que modo a Matemática Financeira é abordada pelos professores

pesquisados simulando uma situação de aula?

2. Quais registros semióticos são mobilizados pelos professores

pesquisados na apresentação da Matemática Financeira?

3. A coordenação dos registros de representação é explorada pelos

professores pesquisados na apresentação da Matemática Financeira?

4. Exploram a visualização dos conceitos financeiros atrelados à linha do

tempo?

5. Se sim, quais são os conceitos financeiros explorados?

A seguir, apresentamos material escrito (respostas) pelos professores

pesquisados para efeito de análise.

Quadro 35 - Resposta do grupo 1 folha 1

Juros Simples : Linear

Composto : Exponencial.

Definir as diferenças entre as duas formas de capitalização e sua simbologia.

M = montante / C = capital

i = taxa de juros / t = tempo

j = Juros* / Porcentagem * Quando tratado isoladamente.

Deduzir as fórmulas apresentado e demonstrando seus conceitos básicos.

Exemplificar situações mais simples antes de

atacar o problema.

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Quadro 36 - Resposta do grupo 1 folha 2

Ex: Um capital de R$ 100, 00 aplicado por um mês, a uma taxa de 1% resultará em qual montante ao final do período? Demonstra as variáveis do problema: C= 100 – i = 1% (ou 0,01) – m = ? Porque 1% = 0,01 => demonstrar a origem da

razão aos estudantes. 100 + 100 (0,001) => 101 => R$ 101,00 Utilizar este exemplo (juros simp.) para períodos de tempos diferentes. Analogamente, demonstrar o problema utilizando juros compostos, para os mesmos

períodos trabalhados anteriormente. M = 100 + 100 (0,01) M1= 100(1+0,01) M2= 100(1+0,01) + 100(1+0,01)0,01 M2= 100(1+0,01) (1+0,01)=> M2= 100(1+0,01)

2

Mm= 100(1+0,01)m

C = 100 0,01 = 1% = i Taxa

m = t (tempo)

M = montante.

Conceitualizar o problema e analisar as duas formas de capitalização para que os estudantes possam formar suas próprias conjecturas e conclusões.

Quadro 37 - Resposta do grupo 2 folha 1

Capitalização simples: Sobre o valor inicial

2400 2400 60000 2400 1440 2400 2400

2400

60000• 0,04 = 2400

60000 + 14400 74400

Quadro 38 - Resposta do grupo 2 folha 2

Capitalização composta

→ sobre o valor anterior

→ juro sobre juro

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Quadro 39 - Resposta do grupo 2 folha 3

Hoje: 60000

1º mês: 60000•0,037=2220 60000 + 2220 = 62220

2º mês: 62220•0,037=2302

6220 + 2302,14 = 64522,14

3º mês: 64522,14•0,037=2387,32 64522,14 + 2387,32 = 66909,46

4º mês: 66909,46•0,037=2475,65

66909,46 + 2475,65= 69385,41

Quadro 40 - Resposta do grupo 2 folha 4

5º mês: 69385,41•0,037=2567,25 69385,41 + 2567,25 = 71952,36

6º mês: 71952,36•0,037=2662,24

71952,36 + 2662,24 = 74614,60 M = 74614,60 Capitalização composta

A abordagem adotada pelos grupos se caracteriza pela utilização do registro

simbólico com uma representação simbólico-algébrica, onde se encontra a fórmula

ou é deduzida para a solução da atividade. Outro aspecto importante a ser

destacado diz respeito à observação dos participantes do registro numérico com

representações numéricas “descomplicadas” tanto para os capitais como para as

taxa de juros, mesmo que se faça uso de calculadoras cuja função é facilitar as

contas.

Para a atividade do dia 16 de outubro de 2009, um de seus propósitos se

refere ao tratamento dado pelos pesquisados para o fator de atualização de capitais;

este fato se prende à característica deste fator, que quando utilizado em operações

financeiras com parcelas fixas em operações de capitalização e financiamento, se

transforma em um dos termos da progressão geométrica ou aritmética a ser somado

para o cálculo do montante ou das parcelas.

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Quadro 41 - Problema enfatizando o uso do fator de atualização de Capitais

De acordo com a figura, pede-se: descrever detalhadamente a abordagem que

adotaria em sala de aula para o cálculo dos montantes?

Observar que a forma como é apresentada a atividade força a uma análise

gráfica; isto se deve ao fato de que o design neste momento, apesar de não ser o

definitivo ou aquele que seria adotado, já apontava para ser um software com

característica de registros gráficos.

A relação feita na atividade entre 450 e 600, que é igual a 0,75, serve para

observar que esta relação (isto é, o fator de atualização de capitais) é idêntica em

situações de juros compostos, pois se trata de multiplicar ou dividir pela mesma

relação para chegar a um montante a partir do outro. Diferentemente das situações

com juros simples, a ida para um montante não é igual à volta, ou seja, como na

relação está embutida a taxa de juros, o percentual depende do montante de

referência.

Quadro 42 - Resposta do Problema 1 da Atividade 2 do grupo 1 folha 1

Na situação de JS. encontramos que

houve um aumento de 75,00 por período

M3 = 450 + 75 = 525 M5 = 600 + 75

= 675 e M0 = 450 – 2• 75 = 300

Em JC. como o fator de atualização esta

sendo multiplicado duas vezes, extraí-

mos a raiz quadrada para encontrar este

por período. Encontrado este fator exe-

cutamos sucessivas multip. e div. Para

chegar aos termos desejados

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Quadro 43 - Resposta do Problema 1 da Atividade 2 do grupo 1 folha 2

A partir do ponto 2, verificar a fator de aumento para se chegar em 4 600/450 = 1,33... => JS. = 33%

M3 em JS => (450• 0,33/2) + 450

74,25 M = 524,25 em M3 Obs: Existe uma diferença nas parcelas da PA. Quando calculado o problema com a calculadora. Em JS. M0 =300 M5 em JS = 675 M3 em JC = 519,61 M5 em JC = 692,81 M0 em JC = 337,49

Quadro 44 - Resposta do Problema 1 da Atividade 2 do grupo 2 folha 1

Objetivo do Professor? Resolver do menor p/maior e vice-versa? 450 x2 = 600 x2 = 600/450 =1,333 = 60/45 = 12/9 = 4/3

x = 1, 154 =

M3 = 519,61

600 x2 = 450 M5 = 692,82 x2 = 450/600 =3/4 M0 = 337,50

x =

M3 = 519,61

Quadro 45 - Resposta do Problema 1 da Atividade 2 do grupo 2 folha 2

Representação gráfica da resposta.

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Destacamos algumas respostas para análise: os professores do grupo 1

(quadro 41) escrevem “Em JC. como o fator de atualização esta sendo multiplicado

duas vezes, extraímos a raiz quadrada para encontrar este por período. Encontrado

este fator executamos sucessivas multip. e div. Para chegar aos termos desejados”.

O grupo verificou a facilidade para achar os montantes 1º achar a relação por

período e 2º basta multiplicar o dividir. Este pensamento matemático aplicado a

vários pequenos montantes (ou seja, as parcelas) é a idéia fundamental a ser

seguida pelo design para o cálculo dos parâmetros financeiro associado a um

registro gráfico para efeito de visualização.

Os professores do grupo 1 (quadro 42) escrevem: “Obs: Existe uma diferença

nas parcelas da PA. quando calculado o problema com a calculadora.”. Nossa

interpretação desta frase parece seguir a referência que fizemos dos juros simples

“Diferentemente das situações com juros simples, a ida para um montante não é

igual volta, ou seja, como na relação está embutida a taxa de juros, o percentual

depende do montante de referência.”.

Os professores do grupo 2 (quadro 43) escrevem: “Objetivo do Professor?

Resolver do menor p/maior e vice-versa”. A partir daí são feitos os cálculos para a

relação de

e para a relação inversa

; neste caso não é

necessário dividir para ir de um montante para o outro, basta multiplicar pela relação

correspondente, outra forma de raciocínio para obter o mesmo resultado.

Os professores do grupo 2 (quadro 44) fazem uma representação gráfica da

situação, destacando que dentro do período referenciado ( 2 e 4) o crescimento dos

Juros Simples passa a ser maior que dos Juros Compostos, aspecto tratado pela

Matemática Financeira para períodos não inteiros, onde se faz a diferença do

montante pela convenção linear ou exponencial.

O objetivo deste trabalho até este ponto da pesquisa foi envolver os alunos

professores interessados em participar do desenvolvimento de um software

educacional, aportando suas críticas, ideias e resolução de atividades dentre outros

aspectos; do nosso lado, como desde o início, o projeto pedagógico do Caderno do

Professor para o objeto matemático em estudo é nosso referencial, para tanto,

fazemos a transposição informática incluindo registros semióticos para visualizarção

dos acontecimentos quando das mudanças de parâmetros, e assim, utilizar o

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processo de cálculo do próprio Caderno do Professor. Por sua vez, os registros

transpostos pretendem substituir aos registros simbólicos com representações do

tipo simbólico-algébricos comumente utilizados nas práticas pedagógicas. Esta

substituição busca aportar com uma forma diferente de pensar matematicamente,

que ajudem ao sujeito na construção do seu conhecimento e que torne mais simples

a resolução de problemas cotidianos.

Sendo assim, faremos uma breve apresentação da 1ª versão do OPA usando

as telas do próprio módulo, dando ênfase ao objeto Matemático em estudo e com

uma síntese dos subprodutos que o acompanham.

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Capítulo 4 – Fase Implementação

A segunda fase objetiva construir a versão final do OPA, partindo da 1ª versão

do OPA, e das atividades realizadas com professores/alunos de um programa de

Mestrado Acadêmico em Educação Matemática.

Figura 10 - Mapa Conceitual da Fase Implementação

A 1ª versão do OPA passa por um novo ciclo de críticas e comentários

objetivando elaborar a versão final deste estudo, buscando uma forma diferente de

pensar matematicamente, que ajude ao sujeito na construção do seu conhecimento,

tornando mais simples a resolução de problemas cotidianos, e quebrando um pouco

a idéia de resolução de problemas somente com utilização de fórmulas.

Cabe ressaltar que nos dias de hoje não faz mais sentido focar apenas na

aplicação de fórmulas, já que existem planilhas eletrônicas que se encarregam do

trabalho de cálculos, permitindo que o foco do sujeito possa ser direcionado em

atividades de observação e análise dos registros gráficos e numéricos.

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4.1. A Atividade Avaliativa da 1ª Versão do OPA

Iniciamos a atividade com sete (7) professores/alunos da Pós Graduação do

Mestrado Acadêmico em Educação Matemática de uma Universidade particular

situada em São Paulo Capital. São professores atuantes no Ensino Fundamental e

Médio da rede pública e particular e em Universidades. O local utilizado foi uma sala

de aula aparelhada com recursos tecnológicos de última geração, e foram realizadas

duas sessões de duas horas aulas cada; os professores participantes da pesquisa

optaram por realizar a atividade em três grupos que designamos por Grupos “A”, “B”

e “C”.

Na sessão inicial da atividade, foi feita uma apresentação sucinta da primeira

versão do OPA, mostrando seus recursos. O procedimento adotado teve como

premissa a exibição de duas telas para cada transação financeira: a primeira para a

especificação dos parâmetros da transação, e a segunda para o cálculo dos valores

monetários nela envolvidos.

Sendo assim, a primeira tela permite a modificação e a visualização dinâmica

das alterações realizadas. A partir do instante em que os valores ficam

estabelecidos o usuário se dirige à segunda tela para selecionar os termos

correspondentes da progressão para que, consequentemente, o cálculo seja

efetuado.

Concentramo-nos em um problema de financiamento com os seguintes

parâmetros: V.F. = 1.500,00; taxa a.m. = 3,50%; parcelas (n) = 6; pagamento da 1ª

parcela em 120 dias. Para tal, utiliza-se inicialmente a tela “Visualização para

financiamento a juros compostos”, na qual são informados os parâmetros citados

(Fig.11):

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Figura 11 - 1ª Tela de Visualização para Financiamento - Juros Compostos

Para iniciar, objetivando avaliar a visualização do comportamento do valor da

parcela, pedi que modificassem os parâmetros da operação financeira como:

número de parcelas fixas; taxa de juros%; e data do pagamento da 1ª parcela;

permanecendo fixo o valor do financiamento. No processo de fazer uma avaliação

geral solicitei a colaboração dos professores para tecerem seus comentários a

respeito dos seguintes quatro aspectos:

1. forma como o conteúdo foi percebido;

2. compreensão e à conexão entre os componentes das operações

financeiras;

3. representações semióticas do OPA para a apreensão do conteúdo

apresentado;

4. outros aspectos.

Apresentamos na Figura 12 uma das respostas, que destacamos pelo

conteúdo da mensagem, que diz: “Mágico – como foi calculado?”; obviamente este

tipo de colocação nos conduz a mostrar o processo de cálculo utilizado pelo OPA,

que será analisado posteriormente, e também no item 4.2 “A Versão Final do OPA”,

onde poderá ser visualizado o layout definitivo da tela.

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Figura 12 – Resposta do Grupo “A” - 1ª Tela de Visualização

Na segunda sessão, utilizando a “Tela para o Cálculo do Valor das Parcelas -

Financiamento a Juros Compostos” (Fig.13), foi solicitado aos professores que

realizassem o cálculo do valor da parcela utilizando a régua de cálculo do OPA, para

as alternativas: a) na data da transação financeira e; b) na data após um ano da

mesma. Cabe lembrar que ambos os resultados devem ser iguais, devido ao

conceito de equivalência, que diz que os cálculos referentes a qualquer período,

para obter o valor das parcelas ou o valor do financiamento, devem resultar em

valores iguais, desde que seja obedecido o fator de atualização de capitais (termos

das progressões) para cada parcela e para o financiamento.

Figura 13 - Tela para o Cálculo do Valor das Parcelas Financiamento a Juros Compostos

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Observar que as telas do OPA exibem a representação da linha do tempo

para permitir a associação entre a data da transação e os períodos. Considerando o

exemplo em que a data da transação comercial tenha sido 06/11, o próximo período,

indicado na linha do tempo, é 06/12, correspondente a um período, independente da

quantidade de dias. É raciocínio análogo ao cotidiano, quando se indaga qual o dia

de vencimento das prestações mensais de um empréstimo.

Primeiramente apresentamos as respostas dos grupos “A” e “B” (Fig.14-15)

com sua transcrição para tecer nossa análise de aspectos específicos, e

posteriormente fazer uma análise geral da atividade.

Figura 14 – Resposta do Grupo “A” - Tela para o Cálculo das Parcelas

Transcrição (da esquerda para direita e de cima para baixo): - Qual é o

problema - Isso não é bem valor da geladeira é o valor projetado de preço original

imaginando que o dinheiro continua crescendo com a mesma taxa - O que é este

valor – É o preço original imaginando que o dinheiro com a linha crescendo com a

mesma taxa. - O que acho que ainda não entendo é como calcular as parcelas é

porque ....até agora posso fazer usando a PG, mas será que meu pensamento é

apenas procedimental – Essa relação tem que ser mais clara.

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Figura 15 - Resposta do Grupo “B” - Tela para o Cálculo das Parcelas

A transcrição segue a própria numeração dada pelo grupo “B”: - 1. Relacionar

régua com parcelas; - 2. Daqui a 12 meses o valor da geladeira é 2.266,60. Vou

pagar em 6 parcelas iguais a partir do 4º mês. Quanto vale cada parcela?; - 3.

Explicitar a fórmula matemática: P•1,0358 + P•1,0357 + P•1,0356 + P•1,0355 +

P•1,0354 + P•1,0353 = 2.266,60.

Uma observação importante foi relativa à alternativa “b”, em que foi solicitado

aos professores para que realizassem o cálculo do valor da parcela na data após 1

ano da transação comercial. O objetivo era avaliar o grau de dificuldade ou de

facilidade da compreensão dos professores participantes para o conceito de

equivalência. De nossa parte, para efetuar essa equivalência em qualquer período

diferente das datas da transação financeira, foi feita a opção pelo período de um ano

após a data desta transação, diferentemente do Caderno do Professor, que opta

pela equivalência ao final da transação financeira. As respostas indicam que tal

conceito (equivalência) é um ponto crítico para o entendimento e resolução das

situações-problema.

A área da tela anterior referente ao valor da geladeira (Fig.16) é uma área de

ajuda opcional onde é apresentado o cálculo com o valor da mesma a ser utilizado

na equivalência; procuramos fazer a transposição informática seguindo textualmente

a forma como o Caderno do Professor apresenta esta situação.

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Figura 16 - Área do Valor da Geladeira

Ficou evidente que o conceito de equivalência é um elemento perturbador na

medida em que as respostas dos grupos procuram conceituar esse valor, a saber:

Resposta do grupo A: “Isso não é bem valor da geladeira é o valor projetado de

preço original imaginando que o dinheiro continua crescendo com a mesma taxa - O

que é este valor – É o preço original imaginando que o dinheiro com a linha

crescendo com a mesma taxa”. Resposta do grupo B: “Daqui a 12 meses o valor da

geladeira é 2.266,60”.

Como se trata do período onde se faz a equivalência, lembramos que a

alternativa “a” desta atividade solicitava o cálculo da parcela na data da transação

financeira. Na oportunidade fomos questionados como foi calculado o “valor mágico”

que aparece na tela; explicamos que é realizado levando as parcelas ao encontro do

valor do financiamento na linha do tempo, significando que os termos da progressão

geométrica (fator de atualização de capitais) são registros numéricos com

representação exponencial negativa, ou uma operação de divisão, ou o inverso de

(1+i) com expoente positivo.

A explicação foi tão consistente que o questionamento versou no sentido de

qual é a representação numérica mais adequada para esta situação; devido a este

fato, optamos por ter uma única forma para o processo de cálculo, qual seja, a data

da transação comercial, a mesma utilizada pelo OPA em suas representações

gráficas. Lembrar que esta opção nos afasta do procedimento do Caderno do

Professor.

Na Figura 17 reapresentamos de forma reduzida a “Tela para o Cálculo do

Valor das Parcelas Financiamento a Juros Compostos (Fig.11)”, que serve para

exemplificar a alternativa “a” da atividade. Para isto, de acordo com a representação

gráfica basta selecionar a régua de cálculo nas posições “-4” e “-9”; o OPA destaca

os termos da progressão em números decimais com 4 casas decimais que passam

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a ser somados, cálculo necessário para obter o valor da parcela ou do

financiamento.

Figura 17 - Tela Reduzida do Cálculo do Valor das Parcelas Financiamento a Juros Compostos

Apresentamos nas Figuras 18, 19 e 20 as respostas de ordem geral dos

grupos:

Figura 18 – Resposta de ordem geral – Grupo A

Transcrição Sugestão Incluir na tela a representação algébrica (p/ fazer

a conexão entre a régua, o gráfico e a PG)

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Figura 19 - Resposta de ordem geral – Grupo B

Transcrição É preciso deixar + claro: 2 Os dados do problema e o que está sendo pedido, 3 O cálculo matemático para se chegar ao valor das parcelas 1 Relacionar Régua e Gráficos

Figura 20 - Resposta de ordem geral – Grupo C

Transcrição Sugestão: Aparecer na tela as operações que

estão sendo realizadas.

Victor: Você tem toda razão na Matemática Financeira não é ne-

cessário o uso de fórmulas. Basta PG e/ou função exponencial.

A análise das respostas foi realizada segundo a preocupação inicial para esta

atividade quanto aos quatro aspectos anteriormente citados:

Aspecto 1 - A forma como o conteúdo foi percebido.

O aspecto dinâmico da “Tela de Visualização para Financiamento - Juros

Compostos”, que permite mudar os parâmetros da operação financeira, e visualizar

na representação gráfica as mudanças que ocorrem, foi avaliado pelos participantes

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como um recurso importante no processo de ensino e aprendizado, principalmente

pelas abordagens que podem ser utilizadas; exemplificando: manter fixo o valor do

financiamento, a quantidade de parcelas e a data do 1º pagamento, para visualizar o

aumento do valor das parcelas quando se aumenta a taxa de juros ao mês.

Entretanto ficou claro que há necessidade de incluir outras representações

que permitam visualizar o processo de cálculo; para isto, acrescentamos duas áreas

na tela de visualização, com exibição opcional de dados relativos à transação

financeira em questão, a critério do usuário. Uma das áreas é uma tabela com os

valores dos termos da progressão de acordo com a situação proposta e soma deles;

a outra contém o cálculo executado. Estas áreas serão apresentadas e descritas no

item 4.2 “A versão final do OPA”.

Aspecto 2 - A compreensão e a conexão entre os componentes das

operações financeiras.

Estes aspectos foram abordados por meio das seguintes questões: “Qual o

problema”, “É preciso deixar mais claro os dados do problema e o que está sendo

pedido”, “É preciso deixar + claro”.

A análise das respostas foi efetuada em duas vertentes:

1. O menu principal do OPA apresentado na figura seguinte (Fig. 21), que

conduz o usuário a uma operação de financiamento, tem uma nomenclatura

para especialista da área financeira, uma vez que está citado “Parcelas

Diferidas”, e também contém muitos subprodutos que nos pareciam

adequados para complementar os conceitos de noções financeiras, mas na

realidade terminaram confundindo os professores participantes da pesquisa, a

saber:

Figura 21 – Menu Principal da 1ª Proposta do OPA

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Este fato evidencia que devemos eliminar os subprodutos inseridos e elaborar

uma tela de menu que conduza os usuários a aspectos específicos, como

cálculo das parcelas mensais de um financiamento.

2. A “Tela para o Cálculo do Valor das Parcelas Financiamento a Juros

Compostos (Fig. 12)”, também contém muita informação, o que desvia a

atenção do usuário do propósito a realizar, que é selecionar os termos das

progressões para realizar o cálculo solicitado.

Esta tela foi redesenhada com três áreas bem definidas; a primeira traz a

representação gráfica e os dados da operação financeira estabelecida; a

seguir a régua para selecionar os termos da progressão; e a última com a

representação simbólico-algébrica do cálculo, caso o usuário precisar da

ajuda do OPA.

O redesenho vem ao encontro das solicitações dos participantes no sentido

de: “Incluir na tela a representação algébrica (p/ fazer a conexão entre a

régua, o gráfico e a PG)”, “Aparecer na tela as operações que estão sendo

realizadas”, “Explicitar a fórmula matemática: P•1,0358 + P•1,0357 + P•1,0356

+ P•1,0355 + P•1,0354 + P•1,0353 = 2.266,60”, “O cálculo matemático para

se chegar ao valor das parcelas”, “ Relacionar Régua e Gráficos”.

Aspecto 3 - As representações semióticas do OPA para a apreensão do

conteúdo apresentado.

Desde o início desta pesquisa uma das principais preocupações foi de

esclarecer o conceito de equivalência.

A partir do instante em que foi detectada a dificuldade de resposta adequada

para a alternativa “b”, referente à solicitação da equivalência para um ano após a

transação comercial, quando foi abandonada a idéia de realizar o cálculo de

equivalência em qualquer período, nossa preocupação foi associar o registro de

partida cuja representação é a língua natural em emprego comum, com o registro de

chegada cuja representação gráfica deve caracterizar perfeitamente a operação

financeira em questão, isto é, a quantidade de parcelas mensais e a data de início

do pagamento da 1ª parcela.

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Sendo assim, esta representação gráfica passa a ser o registro de partida, e é

através desta representação que realizamos a associação de cada termo da

progressão onde está embutida a taxa de juros, com os deslocamentos que as

parcelas têm que efetuar para ir ao encontro do valor financiado ou do valor de

resgate. Desta forma, o registro de chegada é um registro numérico que permite

fazer a atividade de tratamento para a realização do cálculo do valor monetário

solicitado.

Aspecto 4 - Outros

Nossa questão de pesquisa é “Que aspectos do OPA podem favorecer no

processo de ensino e aprendizagem de noções de Matemática Financeira?”.

Uma das premissas para a elaboração do OPA, incluída no design inicial, foi

que o OPA deveria ajudar aos usuários a pensar matematicamente de forma

diferente, realçar a simplicidade das progressões aritmética ou geométrica em

relação às fórmulas mais rebuscadas usadas nos livros didáticos especializados, e

quebrar um pouco a idéia de resolução de problemas através de fórmulas ou

procedimentos.

A frase “Victor: Você tem toda razão; na Matemática Financeira não é

necessário o uso de fórmulas. Basta PG e/ou função exponencial” – Figura 20, pode

ser entendida como o atingimento de tal premissa do OPA.

Outra frase - “O que acho que ainda não entendo é como calcular as parcelas

é porque ....até agora posso fazer usando a PG, mas será que meu pensamento é

apenas procedimental” – Figura 14, apresenta uma reflexão que inequivocamente

indica intenção de mudança de estrutura de pensamento.

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4.2. A Versão Final do OPA

A versão final do OPA foi elaborada em concordância com os pressupostos

estabelecidos, baseados na fundamentação teórico–metodológica, na revisão

bibliográfica e na análise das atividades efetuadas; se concentra exclusivamente nas

operações financeiras com a utilização das progressões aritméticas ou geométricas.

Para isto foram retirados os módulos adicionais que buscavam dar subsídio a outros

aspectos da matemática financeira.

A interface de entrada do OPA, ou Menu Principal, da versão final (Fig.22),

permite o acesso para as operações de Capitalização, Financiamento e

Desvalorização e Valorização de forma separada, e trata especificamente cada

cálculo, ou seja, se precisamos conhecer o valor monetário do montante numa

operação financeira de capitalização existe uma entrada para este processo, e

assim sucessivamente para os outros cálculos, a seguir:

Figura 22 – Menu Principal da versão final

Dando sequência à apresentação das telas, usaremos o mesmo exemplo

utilizado nas atividades anteriores, a saber: V.F. = 1.500,00; taxa a.m. = 3,50%;

parcelas (n) = 6; pagamento da 1ª parcela em 120 dias. Pede-se para calcular o

valor monetário de cada parcela. Lembramos que cada processo manteve as duas

telas originais, uma para definição e visualização dos parâmetros especificados e a

outra para realização do cálculo solicitado. Dessa forma, apresentamos na Figura 23

a Tela de Visualização e de Modificação para esta operação financeira.

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Figura 23 - Tela de Visualização para Financiamento - Juros Compostos

Com respeito à 1ª Versão do OPA foram modificados os seguintes

parâmetros: - número de parcelas de 6 para 12; - diminuída a taxa de juros de 20%

para 10%, - e o valor financiado máximo passou a ser R$ 5.000,00. Estas alterações

foram efetuadas para que os valores pudessem contemplar aqueles usados nas

situações problema do Caderno do Professor. Ressaltamos que estas alterações

são facilmente customizadas se necessário.

Figura 24 – Áreas laterais da Tela de Visualização.

A figura ao lado mostra as áreas laterais

preenchidas da “Tela de Visualização”. Observe

que cada termo da progressão está atrelado à

parcela correspondente com o valor da soma

respectiva; este valor é utilizado para efetuar o

cálculo. A outra área apresenta o cálculo do valor

monetário da parcela, solicitado para esta

operação de financiamento. O acionamento

dessas áreas fica a critério do usuário.

A tela para efetuar o cálculo da parcela pelo usuário (Fig. 25) ficou dividida

em três áreas, a saber:

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Figura 25 - Tela para o Cálculo do Valor das Parcelas Financiamento

i. Apresenta o espelho da representação gráfica, a taxa de juros a.m., e o valor

monetário da parcela que foi calculado pelo OPA na situação do problema

proposto;

ii. A área de cálculo onde o usuário faz o cálculo solicitado através da régua.

Observe que os termos apresentados estão associados a valores negativos

que correspondem às correções que as parcelas sofrem quando vão ao

encontro do valor financiado. A partir do momento que o usuário seleciona a

régua, o OPA apresenta a soma dos termos selecionados, e se quiser pode

acionar o cálculo do valor da parcela;

iii. A área de ajuda.

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Figura 26 – Área de cálculo preenchida

Figura 27 – Área de ajuda preenchida

Buscando atender aos colegas professores participantes desta pesquisa em

relação às solicitações de relacionar os objetos e apresentar a equação algébrica do

cálculo, entre outras, as Figuras 26 e 27 acima sintetizam a transposição informática

que utilizamos para atendê-los.

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Capítulo 5 – Considerações Finais

A essência da pesquisa

Nosso propósito ao iniciar este trabalho era investigar e analisar os processos

envolvidos na elaboração de atividades educacionais a respeito de Aplicações à

Matemática Financeira, além de evidenciar diversas formas de registros semióticos

de conceitos matemáticos usados nesse campo de conhecimento, a partir da

tecnologia, e sua influência no trabalho e na forma de pensar dos professores.

A exploração das transformações dos Registros de Representações

Semiótica associada à transposição informática possibilitou a formalização e criação

de um software educacional que designamos por Objeto para Aprendizagem – OPA

- intitulado “Capitalização, Financiamento e Desvalorização”.

A escolha pela Teoria dos Registros de Representação Semiótica como

nosso referencial teórico nos permitiu utilizá-la como ferramenta de análise para

investigar quais e como são utilizados os registros semióticos nas aplicações à

Matemática Financeira pelos professores participantes do estudo, nos livros

didáticos de Matemática para o Ensino Médio, nos livros especializados para o 3º

grau, nos objetos educacionais, dentre outros. Permitiu também a análise e

avaliação da atividade de coordenação dos registros semióticos.

Dentre os trabalhos encontrados referentes ao processo de ensino e

aprendizagem da Matemática Financeira, os quais não foram numerosos, o Caderno

do Professor de Matemática do 1º bimestre para a 1ª série do Ensino Médio da

Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (2009) foi o que mais nos chamou

a atenção e nos inspirou a elaborar este trabalho, com o objetivo de buscar

alternativas de ensino que pudessem oferecer níveis de compreensão adequados

para o público a quem o curso era destinado.

O referido material embasava a explanação dos conceitos de Matemática

Financeira com base na utilização de Progressões Aritméticas e Geométricas,

diferentemente dos livros didáticos mais tradicionais (representados pelo livro de

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Hazzan e Pompeu, conforme análise do item 3.2.2), nos quais a abordagem de

ensino não é baseada nas progressões e sim em cálculos de maior complexidade.

Como procedimento metodológico, optamos inicialmente por entrevistas semi-

estruturadas e atividades que se caracterizaram por serem abertas o suficiente,

objetivando analisar o uso dado às progressões nas operações financeiras. Para

isto, utilizamos como referência os problemas padrões, principalmente os de

financiamento do Caderno de Professor, por ser uma operação financeira frequente

no cotidiano, apresentar maior complexidade, e uma variedade de situações como

diferentes taxa de juros, número de parcelas, pagamento da 1ª parcela em 30, 60 ou

90 dias, dentre outras.

As entrevistas foram realizadas separadamente com duas professoras da

rede pública atuantes no Ensino Médio que tinham ministrado recentemente este

tópico em sala de aula, e as atividades foram aplicadas a professores/alunos do

Mestrado Acadêmico em Educação Matemática de uma Universidade particular da

cidade de São Paulo, na disciplina de Seminários de Pesquisa, os quais atuam tanto

no Ensino Fundamental e Médio como na rede pública e particular. O fato de estes

participantes serem alunos da disciplina de Seminário de Pesquisa facilitou nosso

contato com os mesmos nesta fase e nas posteriores de nossa investigação; eles se

mostraram prestativos, com vontade em colaborar com o trabalho, ficaram

disponíveis para responder com maiores detalhes aspectos das atividades em

horários diferentes da disciplina de Seminários de Pesquisa, o que foi de grande

valia para a elaboração do nosso trabalho.

A opção por questões abertas foi intencional, com o intuito de permitir

abordagens mais abertas nas respostas a essas questões. Citamos como exemplo a

1ª questão da 1ª atividade, onde solicitávamos descrever detalhadamente a

abordagem que adotaria em sala de aula, no caso do problema de capitalização

exposto. De modo geral, observamos uma forte tendência ao uso de fórmulas

financeiras ou da dedução das mesmas; quanto à comparação da evolução do

capital entre a modalidade de juros simples e compostos, também ficou evidente que

o tratamento dado foi de forma isolada para cada modalidade e no final dos cálculos

fazer a comparação ou deixar o aluno perceber esta evolução, o uso de números

descomplicados e apresentação das fórmulas correspondentes.

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A partir das contribuições dos professores, e da análise de como são

utilizados os registros semióticos nos livros didáticos, tendo como foco a estratégia

adotada pelo Caderno do Professor, foi efetuado um processo cíclico de construção

e reconstrução de design do OPA.

Optou-se por segmentar o objeto matemático da pesquisa para permitir

interação mais produtiva com os professores participantes da pesquisa e facilitar a

análise das respostas obtidas em relação aos resultados esperados. Isto conduziu à

redução do escopo inicial, para viabilizar foco nas questões mais críticas.

Exemplificando, uma tela com dados relativos a conceitos complementares de

Matemática Financeira (Menu principal da primeira versão do OPA) foi eliminada.

Além disso, algumas funcionalidades foram acrescidas, como a associação da linha

do tempo à data calendário, que por sua vez é atrelada à disposição das parcelas de

acordo com o início do pagamento. A visualização das alterações é reproduzida de

forma instantânea. Esse processo participativo de desenvolvimento faz crer que o

produto resultante possa trazer contribuição para a tarefa do docente.

Nossa proposta de utilizar no OPA a soma dos termos de uma progressão

para o cálculo de valores monetários, aspecto pouco explorado nos livros didáticos,

principalmente no que diz respeito ao aspecto dinâmico, vai ao encontro da idéia de

Bolite Frant (2003), no sentido de que a utilização da tecnologia em sala de aula de

Matemática pode ser vista como uma ferramenta facilitadora do processo de

aprendizagem, segundo a qual um sujeito cognoscente munido de uma prótese

poderá fazer coisas que não faria sem ela, de forma diferente.

A fase designada como “Fase Preparatória” teve seu objetivo atingido com o

desenvolvimento da 1ª versão do Objeto Para Aprendizagem - OPA. Ele pronto, foi

possível passar ao início da fase seguinte, de experimentações com registros

semióticos diferenciados, requeridas para a continuidade do estudo.

Concluída esta etapa, e seguindo o mesmo procedimento da anterior no que

diz respeito ao processo cíclico de construção e reconstrução a partir das

contribuições dos professores, demos início à próxima etapa, que designamos como

“Fase de Implementação”, que se caracterizou por atividades com a utilização da 1ª

versão do OPA. O foco era avaliar se a transposição informática realizada e se as

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telas apresentadas pelo OPA traziam consigo aspectos que favorecessem o

processo de ensino e aprendizagem.

Um dos aspectos considerados foi o procedimento de cálculo do Caderno do

Professor levando o valor do bem objeto da operação financeira para a data de

vencimento da última prestação, para efetuar a equivalência com as parcelas; este

procedimento teve que ser retirado do OPA, pois deixou os professores pesquisados

confusos, motivo pelo qual optamos por utilizar um único processo de cálculo, no

qual o valor das parcelas a serem pagas vai ao encontro do valor financiamento,

para efetuar a equivalência. Consequentemente, os termos correspondentes às

parcelas na progressão geométrica têm expoente negativo. Este fato também é

refletido no OPA, uma vez que na tela de cálculo os termos da progressão são

valores com expoentes negativos.

Conclusões

Inicialmente, em relação às questões colocadas como objeto da pesquisa,

temos que:

A - Qual a abordagem metodológica e recursos tecnológicos utilizados em

sala de aula pelos professores pesquisados quando ensinam noções de Matemática

Financeira?

A pesquisa efetuada antes do desenvolvimento do OPA mostrou que os

professores utilizam abordagem clássica para o tema Matemática Financeira, qual

seja, o uso de fórmulas e sua aplicação para o entendimento pelos alunos dos

diversos conceitos necessários para a compreensão dos problemas e decorrente

solução. Os professores fazem uso de tabelas, para passar o conceito, por exemplo,

de crescimento do montante de capitalização. Quanto aos recursos tecnológicos,

utilizam: quadro-negro, lápis, papel, calculadora.

Nossa pesquisa detectou a importância da visualização dos conceitos e

objetos de ensino; mais do que isso, da interação visual como ferramenta cognitiva.

Neste aspecto, constatamos que os professores, em sala de aula, usam abordagem

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com visualização baseada em tabelas, diagramas, setas indicativas do fluxo

monetário. A interação visual é limitada aos recursos tecnológicos utilizados.

Isso nos incentivou a refletir na possibilidade de o OPA dispor de recursos

que pudessem explorar os aspectos de visualização e interação como fatores

básicos de operação; estes recursos foram incorporados desde a primeira versão.

Outra característica agregada ao OPA foi a dinâmica e rapidez de apresentação dos

vários registros semióticos, que permite ao aprendiz exercitar diversas alternativas

em pequeno espaço de tempo, trazendo possibilidades mais ricas do despertar do

conhecimento; isso foi possível devido ao uso da tecnologia informática disponível.

B1 - Que aspectos do OPA podem favorecer no processo de ensino e

aprendizagem de noções de Matemática Financeira?

- Visualização das relações entre os parâmetros financeiros, e visualização

simultânea de diversos registros semióticos de conceitos e objetos matemáticos

sendo estudados. No que se refere à visualização do atrelamento das parcelas com

cada termo da progressão, a falta deste aspecto foi uma das principais questões

detectadas que nos motivou a elaborar esse objeto. A interação permitida pelo OPA,

por meio da qual se pode alterar qualquer parâmetro, facilita e agiliza o processo de

cálculo e visualização de resultados de uma operação financeira, permitindo

diversidade e rapidez em simulações de alternativas de valores e parâmetros, o que

traz novas perspectivas ao ensino e à aprendizagem.

- O fato de o OPA evidenciar as diversas formas de registros de conceitos

matemáticos e seu impacto na forma de pensar dos professores, devido ao processo

interativo que caracteriza o OPA. Nesse aspecto, o OPA possibilita o entendimento

dos objetos matemáticos por meio de diversas representações semióticas, de forma

integrada, o que permite a compreensão conceitual mais ampla dos conceitos e de

como eles estão interligados.

- Apresentação de mudanças de estado dos parâmetros de forma dinâmica,

permitindo compreensão de como tais mudanças evoluem. A apresentação estática

de eventos que possuem dinamismo é fator limitante do processo de cognição. À

medida que as mudanças de estado de uma sequência de eventos podem ser

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visualizadas, a compreensão do processo como um todo ocorre de forma a

colaborar com o processo cognitivo, ou seja, a utilização de uma sequência de

registros semióticos, na linha do tempo, com velocidade adequada, é ferramenta útil

para o ensino e aprendizagem. O OPA, com os recursos de apresentação de que

dispõe, permite a exploração da exibição da sequência com as características

citadas.

- Exploração das relações dos diversos registros semióticos, de forma

seletiva. O OPA possibilita a interação com o usuário, para fins de escolha de

informações para exibição ou não, conforme sua preferência de momento, o que

permite o ensaio e experimentação de diversos caminhos e alternativas, na tentativa

de obter compreensão e solução dos problemas. Além disso, a apresentação de

registros semióticos relativos aos resultados/solução dos problemas e de sua forma

de obtenção, traz reforço significativo para a sua compreensão. Isso também

permite a validação de resultados obtidos anteriormente, em tentativas nas quais o

usuário havia optado pela não exibição de registros semióticos.

B2 - Como os professores desenvolveram diferentes registros semióticos ao

interagir com o OPA?

O contexto de interatividade do OPA permitiu que os professores, ao serem

serem apresentados a um registro semiótico, pudessem obter feedback de seu nível

de compreensão; caso necessário algum complemento ou alguma alternativa com

maior clareza, eles dispunham de recursos interativos para exercitar no mesmo

instante, de forma a criar um fluxo de eventos que o conduzissem a efetivo

aprendizado e exploração de resultados de diversas características de abordagem

da matéria.

Aliado ao manuseio simples e dinâmico, e por dispor de recursos

operacionais inéditos, acima citados, para o ensino e aprendizagem de Matemática

Financeira, o OPA pode ser amplamente utilizado pelos professores da rede

estadual, por exemplo como ferramenta complementar e auxiliar do Caderno do

Professor.

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Além disso, o OPA pode ser integrado a outros tópicos do conteúdo

matemático, como por exemplo Funções, dando novo significado e novas

abordagens ao tema, vinculando-o ao contexto cotidiano e enriquecendo a

compreensão de suas aplicações práticas.

Ser aprendiz podendo contar com o OPA como ferramenta permite o foco nas

questões essenciais, conceituais e importantes da Matemática Financeira.

Ser aprendiz na elaboração de um objeto para aprendizagem através da

metodologia do design, além das reflexões e aprendizados, trouxe uma mudança de

postura na construção de atividades educacionais utilizando a informática e as

opiniões dos colegas professores participantes da pesquisa.

Tendo em vista os resultados já obtidos junto àqueles que tiveram

participação em atividades com o OPA, relacionados ao despertar de novos

caminhos de ensino e aprendizagem, sugerimos novas pesquisas envolvendo um

maior número de professores, para identificar novas possibilidades práticas

decorrentes do uso do OPA, e também novos pontos que possam ser ajustados

para que o referido despertar possa ser catalisado.

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ANEXO I – Termo de Consentimento

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