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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE CURSO DE TERAPIA DE FAMÍLIA ALESSANDRA SANTOS DE ARAUJO CÂNCER DE MAMA - DO IMPACTO DO DIAGNÓSTICO À MASTECTOMIA: A IMPORTÂNCIA DA FAMILIA EM TODO PROCESSO ORIENTADORA: FABIANE MUNIZ RIO DE JANEIRO 2011

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

CURSO DE TERAPIA DE FAMÍLIA

ALESSANDRA SANTOS DE ARAUJO

CÂNCER DE MAMA - DO IMPACTO DO DIAGNÓSTICO À MASTECTOMIA: A IMPORTÂNCIA DA FAMILIA EM TODO

PROCESSO

ORIENTADORA: FABIANE MUNIZ

RIO DE JANEIRO 2011

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

CURSO DE TERAPIA DE FAMÍLIA

ALESSANDRA SANTOS DE ARAUJO

CÂNCER DE MAMA - DO IMPACTO DO DIAGNÓSTICO À MASTECTOMIA: : A IMPORTÂNCIA DA FAMILIA EM

TODO PROCESSO Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como condição prévia para conclusão do Curso de Pós- Graduação “ Latu- Sensu” em Terapia de Família.

RIO DE JANEIRO

2011

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DEDICATÓRIA A minha mãe, sem ela impossível a realização desse sonho.

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AGRADECIMENTOS À DEUS, pelo dom da vida, pela luz nos meus caminhos, pela direção dos meus

passos.

Aos meus Pais, por estarem sempre presentes.

As minhas sobrinhas Júlia e Luisa, pelos momentos de alegria.

Aos meus irmãos, pelo incentivo durante toda elaboração do trabalho. A todos que colaboraram na construção deste trabalho, seja na elaboração das idéias, ou dedicando sua amizade.

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Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança. Thiago de Mello.

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vii

RESUMO

A despeito do avanço das técnicas diagnosticas nos últimos anos que tornaram possível a detecção precoce do câncer de mama, permitindo a realização de modalidades terapêuticas que minimizam a mutilação desse órgão, em muitos, casos, a mastectomia radical ainda é considerada a única alternativa de tratamento para está patologia, tendo em vista que muitas mulheres se deparam com a demora do atendimento no setor publico, com falhas no diagnóstico ou procuram ajuda medica numa fase já avançada da doença. Além da ameaça de morte suscinta pelo câncer, em razão de seu estigma social, a paciente também sofre, muitas vezes, a mutilação da mama que é o símbolo importante de feminilidade, tendo sua imagem corporal modificada, e conseqüentemente sua vida social alterada, pelos sentimentos de vergonha e humilhação pelo corpo deformado. É inquestionável que, com a mastectomia, o corpo vai sofrer um dano irreparável, caracterizando-se como uma castração feminina real, gerando um conflito entre o interesse de preservar essa parte do corpo e a auto-conservação da vida. A possibilidade de sobrevida, então, vai depender da extirpação do tumor, o que implicará, por sua vez, na perda da mama. A opção pela pesquisa bibliográfica se deu em virtude desta modalidade permitir ao pesquisador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla. A pesquisa bibliográfica abrange toda a bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto sobre determinado assunto, eis a razão da nossa opção. Propondo-se a discutir as representações associadas ao adoecer de mulheres com câncer de mama submetidas a mastectomia, tendo em vista que, esse tipo de cirurgia, necessária, mas mutilante, provoca impacto muito grande na vida dessas mulheres, alterando a percepção da auto-imagem. Pela alta incidência do câncer de mama na população feminina e pelo grande número de mulheres que se submetem à mastectomia, fica evidente discutir a importância dos familiares no processo da doença.

Palavras-chave: Neoplasia mamária, Mastectomia, Família.

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SUMÁRIO

Pág.

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8

1 - O IMPACTO DO DIAGNÓSTICO DO “CÂNCER DE MAMA” ................. 10

1.1 Câncer: Desafios e perspectivas na contemporaneidade .................. 10

1.2 Câncer de Mama x Interdisciplinaridade: Uma relação necessária .. 13

1.3 Diagnóstico e tratamento sob a perspectiva do apoio familiar 18

2 - SIGNIFICADOS E REPERCUSSÕES DA MASTECTOMIA ..................... 22

2.1 Gênero e sexualidade .............................................................................. 22

2.2 O significado da Mastectomia para a mulher e suas conseqüentes

alterações físicas e sociais ......................................................................

24

2.3 Repercussões da mastectomia na vida das mulheres com câncer

de mama .....................................................................................................

27

3 - A SAÚDE E O ACOMPANHAMENTO TERAPEUTICO

....................................

29

3.1 Políticas sociais nas ultimas décadas ................................................... 29

3.2 Reforma sanitária e o Sistema Único de Saúde .................................. 31

3.3 A importância do acompanhamento terapêutico para o paciente e

sua família ...............................................................................................

32

CONCLUSÃO .......................................................................................................... 35

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................

37

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INTRODUÇÃO

O câncer foi por muitos anos associados a uma sentença de morte devido a

sua incurabilidade, trazendo assim na vida dos cancerosos grande sofrimento. Ainda

hoje, reagem excluindo-se do meio social, alastrados pelo medo e preconceito, pela

vergonha e por fantasias relacionadas ao tratamento e suas conseqüências.

Principalmente as mulheres portadoras do câncer de mama que são submetidas à

mastectomia, o sentimento e temores de serem discriminados e rejeitados

socialmente por seus familiares e por seu cônjuge, são muito grandes.

A mastectomia traz conseqüências significativas que afetam diariamente todos

os aspectos da vida da mulher, o seio carregado de representações simbólicas

relacionadas à sexualidade, a maternidade na qual a mama exerce função essencial

como fonte de alimento, enfim; o que diz respeito ao ser mulher. As marcas da ferida

cirúrgica e das feridas emocionais causadas pelas modificações corporais, após

mutilações são significativas, que altera sua imagem corporal e o ser mulher,

relacionado à sua identidade feminina.

Ainda, que nos últimos anos técnicas diagnósticas avançadas tornem possível

a detecção precoce desse tumor permitindo a realização de modalidades

terapêuticas menos agressivas e desfigurastes. Em muitos casos, a mastectomia

radical ainda é considerada a única alternativa de tratamento, tendo em vista que

muitas mulheres se deparam com a demora do atendimento no setor público, com

falhas no diagnóstico, ou procuram ajuda médica numa fase já avançada da doença.

Até porque é expressivo o número de mulheres que não possuem informações

suficientes sobre a necessidade do auto-exame, ou até mesmo a intimidade com seu

próprio corpo para realizá-lo.

Além disso, as representações sobre o câncer e sua associação com a morte e

a mutilação determinam que muitas mulheres não procurem atendimento, até pelo

medo da confirmação do diagnóstico.

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O impacto do diagnóstico nessas mulheres pode-se torna traumático em

diversas esferas, emocional, social, sexual, espiritual dentre outras, principalmente

as que são submetidas à mastectomia.

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CAPÍTULO I

IMPACTO DO DIAGNÓSTICO DO “CANCÊR DE MAMA”

1.1 Câncer: Desafios e perspectivas na contemporaneidade

O câncer é conhecido desde a Grécia antiga, são quase 2 mil anos de luta

conta esse mal. A cada ano que se passa o homem tem aperfeiçoado técnicas para

o tratamento, mas até hoje não se conhece tudo sobre a doença.

Segundo o Ministério da Saúde o câncer é considerado a segunda causa de

morte mais freqüente no Brasil, perdendo apenas para doenças cardiovasculares.

Tabela 1

Estimativas para o ano 2010 de número de casos novos de câncer, por região.*

Localização Primária Norte Nordeste Centro-

Oeste Sul Sudeste

Mama Feminina 1.350 8.270 2.690 9.310 27.620

Traquéia, Brônquio e Pulmão 1.080 3.950 1.760 7.230 13.610

Estômago 1.300 4.280 1.270 4.090 10.560

Próstata 1.960 11.570 3.430 9.820 25.570

Colo do Útero 1.820 5.050 1.410 3.110 7.040

Cólon e Reto 620 3.040 1.580 6.150 16.720

Esôfago 260 1.530 580 3.040 5.220

Leucemias 560 2.070 650 1.790 4.510

Cavidade Oral 410 2.810 800 2.510 7.590

Pele Melanoma 180 540 250 2.020 2.940

Outras Localizações 5.260 14.780 8.090 28.810 80.960

Subtotal 14.800 57.890 22.510 77.880 202.340

Pele não Melanoma 4.320 31.460 7.830 24.600 45.640

TOTAL 19.120 89.350 30.340 102.480 247.980

* Números arredondados para 10 ou múltiplos de 10

Fonte: MS/INCA - Estimativa 2010, pág. 40.

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Atualmente, dados epidemiológico disponíveis configura o câncer como

problema de saúde publica, além de mudanças de hábitos de vida da população.

Diversos fatores como o aumento das expectativas de vida e os avanços

tecnológicos observados na área da saúde estão diretamente relacionados com o

aumento do risco de desenvolvimento de câncer. (Ministério da Saúde).

Mesmo com todo o avanço da medicina, segundo os autores não é possível à

prevenção absoluta do câncer. As medidas podem ser variadas, como por exemplo,

pode-se falar em uma prevenção primária em alguns casos como não tomar sol em

excesso para prevenir o câncer de pele, tratar o HPV evitando que evolua para um

câncer de útero e realizar o auto-exame da mama. A prevenção secundária é

quando o câncer já existe e consiste em evitar o agravamento. As atitudes

preventivas beneficiam principalmente no sentido de proporcionar uma detecção

precoce que pode auxiliar muito para um bom prognóstico favorável.

Comportamento preventivo, segundo Skaba (2002), se divide em dois grupos.

O primeiro engloba condutas de estilo de vida de uma pessoa incluindo hábitos e

comportamentos que visam promover a saúde e beneficiar o organismo como um

todo: praticar exercícios, ter uma dieta balanceada, por exemplo.

O segundo grupo inclui os comportamentos que visam redução e minimização

de risco, numa perspectiva de prevenção primária ou secundária. São atitudes de

proteção específica, ou diagnóstico e tratamentos precoces para impedir a ação de

fatores considerados ameaçadores à saúde. Envolvem condutas tais como

vacinação e uso de preservativos na relação sexual.

Ao longo dos séculos, o enfretamento do câncer tendeu a exigir que o indivíduo

doente lutasse contra uma serie de constrangimento. Durante as três primeiras

décadas do século XX, um dos constrangimentos se devia a associação entre

câncer e falta de limpeza, do corpo e da alma, feita com freqüência em diversos

manuais de saúde, estudos e artigos higienistas.

Acredita-se que o câncer poderia ser contagioso em ambientes poucos adepto

à limpeza, ou em organismos amantes dos excessos de prazer, temores morais se

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misturavam a receios políticos, tendo em vista a suposição de que o câncer poderia

ser transmitido, aconselha-se “a notificação para o isolamento relativo à desinfecção

seria em caso de morte nas casas de cancerosos” (Santa`Anna, 1997).

A imagem do câncer, nesse contexto não se distinguia muito bem daquela

ligada a outros terrores da época, tais como sífilis, entendida como malignidade

proveniente de atitudes viciosas e da “sujeira” tanto física quanto moral.

No mundo contemporâneo, o câncer possui uma historia repleta de “imagens

de vergonha”, vergonha de ter sido afetado por uma doença, tradicionalmente,

relegada aos bastidores da cultura. Vergonha de abrigar um mal marcado pela

imagem da corrosão do desregramento orgânico ou do castigo divino. Vergonha que

tende a transformar o doente no único responsável por seus sofrimentos (Sant`Anna,

1997).

Dando lugar a novas pesquisas e a valorização de uma consciência dedicada

tanto a auto-ajuda quanto ao auxilio daqueles que adoecem, sua historia revela,

igualmente, a persistência de temores e de expectativas que resistem à passagem

dos anos e as transformações técnico cientificas mais recentes.

A partir dos anos 40, o câncer começa a ganhar espaço na mídia e a ser

considerada uma doença que, se tratada a tempo, poderia ser curada, Quebrar tabu,

romper a vergonha e falar sobre o câncer tornam-se experiência bem-vistas pela

mídia. Falar sobre a doença no rádio e nas revistas, e não apenas nos consultórios

médicos, torna-se uma experiência positiva, pois por meio do relato o paciente

encontra energia para enfrentar o câncer, ainda contribui para a sua prevenção

(Sant`Anna,1997),

Hoje o câncer é entendido como uma doença crônica de modo que, mesmo

quando seu controle obtém sucesso, sabe-se que este exige observação constante

e seguimento prolongado.

Receios antigos relativos à mutilação, à solidão e ao abandono familiar não

cessam de emergir no decorrer do tratamento (quimioterapia, radioterapia e

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hormônioterapia), ou no decorrer de exames e cirurgias quando o corpo é inúmeras

vezes, manipulado, vasculhado e diagnosticado,

Inicialmente, depois de um diagnostico de câncer os pacientes se preocupam

primordialmente com a questão da sobrevivência, posteriormente alguns se

preocupam com as habilidades necessárias para tolerar os tratamentos prescritos

(Sant`Anna,1997).

Figura 1

Fonte: MS/INCA - Estimativa 2010, pág. 39.

1.2 Câncer de Mama x Interdisciplinaridade: Uma relação necessária

Estudos apontam que o câncer de mama é a segunda causa de mortalidade

por neoplasia entre mulheres, perdendo apenas para neoplasia de pulmão. Alguns

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fatores contribuem significativamente para o surgimento da doença, o histórico

familiar de câncer de mama apresenta-se como fator de risco, assim como mulheres

que tiveram primeira gestação de termo após os trinta anos de idade ou que nunca

engravidaram, mulheres que tiveram a menarca antes dos doze anos ou que

continuam a menstruar após os cinqüenta anos. Fatores como tabagismo, ingestão

de álcool e dieta rica em gorduras também contribuem em menor grau. A idade é o

maior fator de risco (Gimenez, 1997).

Tabela 2

Estimativas para o ano 2010 das taxas brutas de incidência por 100.000 e de número de casos novos por câncer, em mulheres, segundo localização primária.*

Localização Primária Neoplasia maligna

Estimativa dos Casos Novos Estado Capital

Casos Taxa Bruta Casos Taxa

Bruta Mama Feminina 7.470 88,30 4.010 114,23

Colo do Útero 2.080 24,54 810 23,21

Cólon e Reto 2.130 25,23 1.270 36,26

Traquéia, Brônquio e Pulmão 1.220 14,45 660 18,85

Estômago 810 9,60 380 10,82

Leucemias 430 5,13 230 6,48

Cavidade Oral 480 5,73 220 6,42

Pele Melanoma 180 2,12 110 3,05

Esôfago 270 3,14 90 2,45

Outras Localizações 9.780 115,59 5.150 146,62

Subtotal 24.850 293,70 12.930 368,12

Pele não Melanoma 5.550 65,60 2.660 75,71

Todas as Neoplasias 30.400 359,30 15.590 443,87

* Números arredondados para 10 ou múltiplos de 10

Fonte: MS/INCA - Estimativa 2010 p. 44.

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O ministério da saúde adverte muitos são os fatores de risco considerados,

porém, muitas mulheres não o apresentavam e tiveram câncer de mama. Sendo

assim, todas as mulheres correm o risco de desenvolvê-lo.

Apesar de ser considerado como um câncer de relativamente bom prognostico,

se diagnosticado e tratado oportunamente, as taxas de mortalidade continuam

elevadas, provavelmente porque a doença ainda seja diagnosticada em estágios

avançados. Quando mais cedo se detecta uma doença melhor o se prognostico, por

tanto, o tempo é fator importante nesse processo, pois quanto maior o tempo

transcorrido entre o inicio de uma doença e o e seu diagnostico pior o seu

prognostico e mais danoso o tratamento (Ministério da Saúde, 2008).

O câncer de mama feminina, ao ser diagnosticado em estágio avançado, acaba

gerando tratamentos muitas vazes mutilantes, o que causa maior sofrimento a

mulher.

Figura 2

Fonte: MS/INCA – Estimativa 2010, p. 79.

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Segundo Skaba (2002) “no universo simbólico, a mama é o elemento

fundamental capaz de concentrar papeis da identidade feminina, como sexualidade -

incluída ai a sensualidade sendo os seios objeto de prazer e desejo, e a

feminilidade, diante da possibilidade exclusiva concebida à mulher do ato da

amamentação”.

Figura 3

A MAMA

Fonte: http://www.jorgebiazus.com.br/asmamas.htm

Segundo Villanova Biazús (2006), a mama pode ser definida como sendo:

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“É constituída de tecido adiposo, tecido conjuntivo e tecido glandular, o qual é composto de pequenos ductos com ramificações ligando pequenas bolsas em forma de cachos, chamados lóbulos onde é produzido o leite. Um conjunto de lóbulos ligados a um mesmo sistema de ductos coletores que se juntam em um ducto terminal que se exterioriza na papila é chamado de lobo mamário. A mama normal é composta por um conjunto de 15 a 20 lobos que se exteriorizam pelo mamilo. A mama possui uma rica rede vascular e linfática para sua nutrição e drenagem”.

Portanto, sendo a mama feminina, representativa de todo esse universo, onde

se concentram papeis da identidade feminina, como a sexualidade e a maternidade,

a perda da mama compromete todo esse universo trazendo dor e sofrimento, com

tudo, se dá à importância e a necessidade da atuação da equipe interdisciplinar na

melhoria da qualidade de vida dessas pacientes.

Através da interação interdisciplinar, há a possibilidade da discursão ou do

dialogo, onde os pontos de vistas confrontam-se se constroem novos saberes,

clareando assim as idéias a partir do momento em que temos com quem discuti- las.

Segundo Fazenda (1995) isso possibilita certa identificação entre o vivido e o

estudado, permitindo a abertura de novos campos de conhecimento e a novas

descobertas, seu objetivo de intervenção é a realidade social, implicando que os

especialistas devem esta abertos para ultrapassarem seus próprios limites e

trabalhar com as contribuições de outros profissionais para que ocorra uma mutua

relação entre e as partes interessadas.

Diante desse contexto Gavião (2000) afirma, que se entende atualmente que o

que se pretende hoje, em relação à saúde, não seria de competência de um único

profissional, mas tarefa interdisciplinar, profissionais de áreas diversas

representantes de varias ciências, agrega- se em equipes de saúde tendo como

objetivo comuns: estudar as interações psicossociais e encontrar métodos

adequados que propiciem uma pratica integradora, tendo como enfoque a totalidade

dos aspectos inter-relacionado com a saúde e a doença.

Minayo (1996) aborda o tema, trazendo uma literatura da interdisciplinaridade

em que explícita a inclusão dos determinantes históricos, econômicos, culturais e

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fundamentos ético-políticos, em que segundo a autora servem de elementos

construtivos da totalidade onde o sujeito - profissional de saúde, não pode ser visto

como único responsável pela construção e desconstrução de uma prática

interdisciplinar.

Sendo assim, os profissionais se deparam com seus próprios limites e

encontram nos colegas de outras formações subsídios para a compreensão e

atendimento do caso em questão. No entanto, tal atitude não é uma conduta padrão,

podendo variar conforme a tradição profissional, a característica do grupo de

trabalho e o tipo de intervenção Na verdade, o trabalho em equipe traz novos

desafios, exigindo competências e habilidades para o trabalho em grupo e para a

justificação clara e objetiva de procedimentos técnicos pertencentes à dada

especialidade (Gavião, 2000).

1.3 Diagnóstico e tratamento sob a perspectiva do apoio familiar

Atualmente, com o advento da mamografia e de outras técnicas diagnósticas

mais modernas, torna-se possível a detecção precoce do câncer de mama,

permitindo a realizações de modalidades terapêuticas menos agressivas e

desfigurastes (tratamento conservador), e o respectivo aumento de taxa de

sobrevida.

O Ministério da Saúde chama atenção para a importância da realização do

diagnóstico precoce exige que as mulheres realizem o auto-exame. Procurando

prontamente a ajuda medica, mas normalmente encontram diferentes obstáculos a

superar, como a falta de informação correta e adequada, demora do atendimento no

setor público, falhas no diagnóstico, dentre outros. E de se considerar também os

elementos subjetivos associados à representação sobre o câncer e seu tratamento,

que induzem muitas delas a não procurar atendimento, pelo medo da morte e do

sofrimento.

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Estudando as repercussões do adoecimento e do tratamento em mulheres

acometidas pelo câncer de mama, podemos também detectar que a falta de acesso

aos serviços de assistências á saúde não se caracteriza como o único impedimento

para a procura de ajuda médica, a possibilidade de um diagnóstico confirmado da

doença também é um obstáculo.

Assim, pode inferir que ao contato com a possibilidade de vir a desenvolver uma neoplasia é sentida como uma realidade extremamente dolorosa e ameaçadora, que sucinta atitudes de evitação de distanciamento como forma de se evitar o sofrimento resultante. É como se elas procurassem não pensar sobre o assunto, acreditando estarem, assim a salvo das inquietações e emoções geradas pela aceitação da possibilidade de um dia se verem afetadas pela enfermidade. Essa evitação é tão intensa que assume um caráter de autentica negação da realidade por parte dessas mulheres, que se observa antes mesmo que a realidade temida seja objetivada e confirmada pelos laudos diagnósticos (Colturado, 1996).

Wanderley (2002) afirma que a negação é um mecanismo de defesa muito

utilizado nas doenças crônicas. Em estudo realizado com mulheres portadoras de

câncer de mama, em diferentes fases do tratamento, verifica-se que algumas

mulheres, mesmo tendo sido submetidas à cirurgia ou a tratamentos

complementares, evitam confrontar se com a realidade da doença.

Não é sem razão que diante desse contexto o câncer de mama vem

apresentado como um problema de saúde publica e, apesar da mastectomia ter

indicações somente para tumores avançados. Em razão da demora da realização do

diagnostico, seguida da remota possibilidade de cura, as cirurgias mutiladoras tem

se tornado a única alternativa terapêutica. Aproximadamente 60 % a 70% dos casos

de câncer de mama no Brasil são diagnosticados em estagio avançado.

Wanderley (2002) adverte ainda, para a necessidade de se levar em conta

àquilo que as mulheres pensam e falam para se obter uma maior eficácia nas

campanhas preventivas. O medo do câncer e da mutilação, podendo levar à

negação e a rejeição da possibilidade da doença, retardam, muitas vezes o

diagnóstico, diminuindo as chances de respostas terapêuticas.

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O diagnóstico de câncer de mama e seu tratamento são considerados por

diversos autores como um trauma considerável para a maioria das mulheres, a

crença na incurabilidade do câncer e a possibilidade da perda do órgão que é

símbolo da feminilidade levam a mulher a se deparar com a situação extremamente

dolorosa e assustadora. Apesar dos avanços obtidos no conhecimento e tratamento

do câncer, alguns autores enfatizam que a população ainda o considera como uma

doença fatal, vergonhosa, impossível de ser prevenida e que causa danos

irreparáveis, para eles o câncer de torna ainda mais doloroso e fatal devido às

metáforas e mitos difundido ao longo da historia.

Esse estigma social gera ansiedade, incerteza do prognostico e expectativas

de sofrimento, morte e mutilação, alem de marginalizar o paciente, contribuindo para

a manutenção de sentimentos pessimistas sobre a doença e dificultando, muitas

vezes a adesão do tratamento. Os significados atribuídos ao câncer afetam a

maneira como a mulher percebe sua doença e as respostas das outras pessoas com

relação à sua nova condição.

Dentro desse contexto apresenta-se um ponto relevante, refere-se ao papel da

família junto as pacientes acometidas pelo câncer de mama.

A doença crônica não afeta só o individuo infermo trazendo modificações em sua

funcionalidade orgânica, psíquica e social, como também aqueles que fazem parte

do seu ciclo de relações principalmente familiar.

Em todo processo hospitalar geralmente a família se faz presente e nesse momento

percebe –se a importância de seu apoio, porque o câncer não se constitui como

uma questão isolada do individuo, mas compreende toda a rede de relacionamento

principalmente a familiar em geral no decorrer de todo processo. O paciente

necessita da presença da família, bem como do contexto social, econômico e político

na qual está inserida. Uma vez que percebemos que a família constitui –se como

principal responsável pelos cuidados, além de recuperar a história e informações

sobre o paciente e sua estrutura familiar.

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Wolff apud Bergamasso e Ângelo (2001), relata que a família foi identificada como

rede de suporte social da mulher mastectomizada, antes, durante e depois da

intervenção cirúrgica, configurando –se, portanto, como elemento importante e

presente durante a experiência da doença.

Por outro lado, a família muitas vezes, por não possuir os devidos conhecimentos

sobre a doença e seu tratamento acabam criando vários estigmas que dificultam a

relação familiar / paciente. A família acaba isolando ou fazendo com que a própria

paciente se isole. Em alguns casos devido ao fato de acharem que possam “pegar” o

câncer se mantiverem contato com a pessoa que está doente, ou pelo fato do que,

as outras pessoas da sociedade podem falar se souberem que um membro da sua

família esta “com essa doença”.

Outro agravante é quando as mulheres possuem sentimentos variados a respeito da

imagem de sua feminilidade e de seu corpo após a mastectomia, muitas delas

sentem –se envergonhadas , mutiladas e sexualmente repulsivas, temem ser

rejeitadas pelo companheiro e julgam ter perdidos seu poder de atração; evitam

relações sexuais, numa tentativa de postergar a rejeição. Algumas se afastam e

sofrem em seu isolamento.

Arán et Al, afirmam que a percepção que cada individuo tem do próprio corpo, ou

seja, sua auto- imagem, é fundamental para o relacionamento com o outro. E pelo

fato da mastectomia alterar a auto- imagem, refletindo- se de forma negativa na

identidade feminina, seu relacionamento com o parceiro tende a mudar, visto que a

mulher vai perceber- se e sentir- se diminuída na sua feminilidade, principalmente

numa sociedade que valoriza o seio como um símbolo sexual importante, a partir

disso, a paciente pode sentir- se estranha, manifestar sentimentos de vergonha,

embaraço, ter dificuldade de se relacionar não só com o companheiro, mas também

com os filhos e amigos.

Ao se pensar a pratica sexual das mulheres mastectomizada, considerando a

sexualidade a partir de um enfoque mais amplo, percebe- se que é possível que

outros arranjos sexuais sejam inventados, mesmo com a falta da mama e a imagem

corporal alterada. Sua sexualidade deve se pensada em ralação a questão de ordem

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física, psicológica e do relacionamento. A maneira como a masctetcomia vai ser

vivida pela mulher estará referida a sua historia pessoal, ao seus recursos internos,

dentre outros, utilizados para compreender, organizar e integrar as experiências

vividas com seus desejos afetivos e sexuais.

CAPÍTULO II

SIGNIFICADOS E REPERCUSSÕES DA MASTECTOMIA

2.1 Gênero e sexualidade

De acordo com Suarez et all (1999), a sexualidade é parte integrante do ser

humano desde seu nascimento. Esta relacionada aos prazeres e sensações

possíveis de serem experimentados pelo individuo através das manifestações do

corpo.

A sexualidade sofreu através da história, toda a sorte de controle por interesses

diversos, negada ou incentivada, a igreja, o Estado e o poder econômico sempre se

valeram deste meio profundo do relacionamento humano (onde a afetividade e

prazer formam a base motivacional) para dominar, corromper, atemorizar ou lucrar.

Na segunda metade do século XX, a sexualidade das mulheres foi tirada da

sombra que confundia com procriação e também pela moral da sociedade judaico-

cristã, onde o patriarcalismo não lhe permitia expressão fora dos estreitos limites da

vida reprodutiva. Foi a partir dos anos 60 que a sexualidade feminina tornou-se

visível e audível através dos movimentos das mulheres. As conquistas sociais, que

permitiram as mulheres desfrutarem de liberdades sociais, são resultantes de vários

processos de lutas e rupturas desencadeadas com o tempo (Ribeiro, 1993).

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Ainda de acordo com Ribeiro, a sexualidade é um conceito complexo que

pressupõe dimensões biológicas fundamentadas nas diferenças anatômicas entre

homens e mulheres, dimensões fisiológicas relativas ao funcionamento físico-

químico do aparelho reprodutor, dimensões que se traduzem por manifestações do

inconsciente e dimensões socais correspondentes ao desempenho de papeis

sexuais socialmente definidos. Portanto, para falar em sexualidade, é necessário

tratá-la toda sua amplitude e diversidade de seu conceito.

Não se discutir a sexualidade deslocada da questão do gênero, pois “a

categoria analítica gênero possibilita a busca dos significados das representações

tanto do feminino quanto do masculino, inserido-se nos seus contextos sociais”.

(Ribeiro, 1993).

De acordo com Scortt (1991) “o gênero é elemento construtivo de relações

sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos” e também como “uma

forma primeira de significar relações de poder”; gênero como construção social de

significados perpassando o mercado de trabalho, o ensino, a escola o sindicato, isso

significa que a questão de gênero está presente em todas as esferas da sociedade.

Dentro desse contexto, percebemos que uma doença maligna. Mas

precisamente o câncer de mama, interfere na sexualidade, na história orgânica,

emocional e social de uma mulher.

Dessa forma, entendemos como Teixeira (2001) que o impacto social da

mastectomia tende a ser profundo, a perda de uma parte tão impregnada de valores

estéticos e maternais gera cicatrizes profundas na vida da mulher. Os efeitos são

devastadores na imagem corporal e na confiança sexual. O medo de ser rejeitada

pelo parceiro, o sentimento de não ser mais atraente nem feminina, a baixa auto-

estima, o constrangimento frente as suas relações sociais, são sentimentos muito

presentes nas mulheres que vivem ou viveram o dilema da perda da mama devido

ao câncer.

Entendemos que a questão da sexualidade feminina está muito alem da

retirada da mama. É possível transformar a vivencia da perda da mama em mais um

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campo para o resgate da potencialidade da sexualidade da mulher que é em geral

sublimada pela mastectomia. Resgatar esta sexualidade compreendendo significado

sócio-cultural dado ao corpo, responsável pela imagem que temos de nós mesmos,

e que nos leva muitas vezes a negar nossa capacidade de saber e determinar o

nosso tempo certo para fazer as coisas. Esse entendimento poderia ter impacto na

qualidade de vida das mulheres.

2.2 O significado da Mastectomia para a mulher e suas conseqüentes

alterações físicas e sociais

De acordo com Duarte e Andrade (2003), o impacto da amputação da mama

sobrepõe-se ao impacto do diagnóstico, expectativa da mutilação pode desencadear

reações emocionais tão intensas a ponto de serem comparadas ás fantasias de

morte.

A preocupação central da mulher e de sua família após receber o diagnóstico

de câncer de mama é a sobrevivência, surgindo em seguida à preocupação com o

tratamento e as condições econômicas para realizá-lo.

Para Bergamasco e Ângelo (2001), a mulher acredita que a remoção cirúrgica

do tumor traz segurança, com isso, minimizando sua preocupação com a doença.

Essas autoras sustentam que, para as paciente, livrar-se do tumor significa colocar

limites à doença, dessa forma, remover-se do corpo ema enfermidade que impõe

incertezas, sofrimentos, e muda seus hábitos de vida e o convívio social.

Em estudos sobre as alterações decorrentes do câncer de mama, percebeu-se

que, após a mastectomia, as mulheres, sentiam-se agradecidas por permanecerem

vivas, mas relevam sentimentos ambivalentes, na medida em que, pra sobreviver,

tiveram que perder a mama, ter sua imagem corporal modificada e sua identidade

com mulher questionada.

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O que importava para a maioria dessas pacientes era se submeter à

mastectomia, pois priorizam manter a vida em detrimento até mesmo da sua

qualidade, não se permitindo, inclusive vivenciar os sentimentos referentes á perda

do seio. Bergamasco e Ângelo (2001) advertiram para a possibilidade de essas

pacientes estarem se utilizando de um mecanismo de defesa – a negação, não se

deparando com o sofrimento gerado pela perda de um órgão tão valorizado.

Segundo aos autores aos poucos é que o instinto de vida vai dando lugar a uma

aceitação da possibilidade da perda da mama.

A perda da mama poderá produzir alterações significativas nos níveis mental e

comportamental. A mulher poderá sentir-se incapacitada para amar e se amada, de

desejar e de ser sensual, sentindo sua perda como uma castração.

Figura 3

Após mastectomia do lado direito

Fonte: http://www.cancerdemama.com.br/cui/cuirec0.htm#Mastectomia

A mulher poderá sentir a perda da mama como algo humilhante, sendo privada,

ainda do seu referencial de feminilidade, obrigando-a enfrentar um processo de luto

desse órgão.

Nesse sentido, a mulher terá a auto-estima alterada, o que interferirá em sua

autoconfiança. A mulher, então, vai se sentir diminuída na sua feminilidade,

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atratividade e sexualidade, sendo, muitas vezes, a perda da mama relacionada à

perda da aparência da mulher. Assim a mastectomia, além de ocasionar uma serie

de complicações físicas, provoca na paciente em sentimento de mutilação e perda,

sendo considerada com um procedimento agressivo.

A mastectomia, além de comprometer a auto-imagem e a auto-estima da

mulher, trazendo conseqüências para sua vida social, também interferirá na

capacidade de amamentação e, conseqüentemente, na maternidade. A partir de

Freud, pode se perceber o quanto à maternidade é importante, no sentido de ajudar

a mulher a ser reconhecer enquanto tal.

Toda intervenção cirúrgica apresenta implicações mais ou menos intensas

representando, em geral, sempre uma ameaça à paciente. Em se tratando da

mastectomia, em razão da valorização cultural da mama, tal intervenção torna-se

uma catástrofe existencial.

Novais e Vilhena (2003), disseram que a feiúra é, atualmente, uma das formas

mas presentes de exclusão social feminina, sendo a beleza representada como um

dever cultural. Por ser a imagem da mulher e do feminino, na sociedade moderna,

associada à beleza e juventude, existe cada vez menos tolerância pra os desvios

estéticos socialmente estabelecidos. Para ser inserida no grupo social, a mulher

precisa ter o corpo na moda, devendo se preocupar constantemente com os

cuidados físicos, como forma de estar preparada pra enfrentar os julgamentos e

expectativas sociais.

Nesse sentido, pode-se considerar a mastectomia como um paradigma da

feiúra, podendo, inclusive, influenciar na maneira como a paciente vai conviver com

seu corpo e com o seu companheiro, estabelecendo vínculos saudáveis ou se

excluindo. A percepção que cada individuo tem de seu próprio corpo, vale dizer, sua

auto-imagem, é fundamental pra o relacionamento com a sociedade.

Existe atualmente uma tendência para a realização de cirurgias menos radicais

devido á preocupação com a qualidade no pós-operatório. Foram consistentes no

fato de que pacientes submetidas a tratamentos conservadores se sentem menos

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mutiladas, preservam melhor sua imagem corporal, mostram-se mais satisfeitas com

suas estéticas, são sexualmente menos inibidas e se reintegram mais rapidamente

ás suas atividades cotidianas, tendo, conseqüentemente, uma melhor qualidade de

vida.

Nas cirurgias mais extensas, a insatisfação cm a aparência do corpo, com a

cicatriz e com o próprio seio costuma ser bem maior do que a encontrada em

pacientes que fizeram cirurgia parcial, pelo medo de não se sentirem mais atraente

sexualmente e pela sensação de diminuição da feminilidade.

É relevante esclarecer, no entanto, que toda cirurgia, mesmo que não seja

mutilante altera a imagem corporal do paciente. E, de acordo com Bartilotti (2002),

embora o tratamento cirúrgico para a neoplasia de mama não se restrinja somente a

mastectomia radical, existindo outras possibilidades menos mutiladoras -

dependendo do estagio da doença - visando inclusive à reconstrução da mama, está

modalidade terapêutica não deve ser considerada um sofrimento para a maioria das

pacientes.

Estudos sobre repercussões biopsicossociais do câncer de mama revelou que

as pacientes que optam por cirurgias conservadoras estão mais sensíveis à

agressão, à sua auto-imagem, apóiam sua auto-estima na presença da mamas e

acreditam ter grande dificuldade de se adaptarem à mastectomia. Já as pacientes

que optam pela mastectomia considera a presença da mama doente como uma

parte má que deve ser removida. No tocante ao temor da recidiva local, alterações

no trabalho segurança em relação ao futuro, comportamento da família e alterações

na vida sexual.

2.3 Repercussões da Mastectomia na vida das mulheres com câncer de mama

Lopes e Costa (1998), a partir da pratica clinica com mulheres com câncer de

mama, constataram que muitas das pacientes atendidas apresentavam

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comprometimento da sua sexualidade, nas diversas fases do tratamento, no

decorrer do tratamento, a reação emocional ao impacto do conhecimento da doença,

o receio da sua evolução a expectativa de sofrimento e a agressão dos atos

terapêuticos agem diretamente em cada mulher, levando-a à da auto-estima, que a

influenciará de maneira negativa na recuperação emocional, sexual e social.

A ameaça da doença faz com que a feminilidade seja vivida com angustia e

rejeição, sendo objeto de deslocamento de todas as fantasias auto-destrutivas,

masoquistas e de auto desvalorização, ainda segundo os autores, quando a mama

sofre uma mutilação, a auto imagem pode alterar-se, obrigando a mulher a se

apropriar de um novo referencial de corpo, acarretando nas pacientes sentimentos

de inferioridade e medo de serem rejeitadas socialmente.

Diante desse contexto Quintana (1999) afirma que imagem corporal se constrói

a partir das representações que o individuo constrói de seu corpo biológico. Sendo

assim, as modificações corporais decorrentes da mastectomia vão acarretar

alterações nessa imagem corporal. Essa mesma autora diz:

“(... a aceitação de uma intervenção cirúrgica não depende somente da modificação da anatomia do sujeito, mas do fato de colocar em jogo a modificação da imagem que o mesmo possui de seu próprio corpo e com a qual é, por vezes, muito mais difícil lidar”.

Quanto maior for a importância que a mulher confere às suas mamas, maior

será o sentimento de perda após a cirurgia. Por negarem sua nova condição física,

estão sujeitas a manifesta graves situações de crise, uma vez que a mama é parte

integrante da feminilidade e de seu sentimento materno.

Em razão disso, a mastectomia representa uma ferida simbólica, que parece

funcionar com um sinal ou marca de destruição ou destrutibilidade.

Para Albernaz (2003), o ativo envolvimento da família, em especial do cônjuge,

deve ser estimulado, na medida em que diante da doença, a paciente tende a se

infantilizar, buscando no seio familiar se mais encorajador apoio. Após a

mastectomia, a mulher terá sua auto-imagem alterada, o que interferirá na sua auto-

confiança e auto estima. A mulher tende a se sentir diminuída na sua feminilidade,

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atratividade e sexualidade, sendo importante a presença do companheiro, familiares

bem como os amigos e colegas na sua reestruturação de sua integridade.

CAPÍTULO III

A SAÚDE E A ATUAÇÃO

3.1 Políticas sociais nas últimas décadas

Nos anos 80, a sociedade brasileira. Ao mesmo tempo em que vivenciou um

processo de democratização política superando o regime ditatorial instaurado em 64,

experimentou uma profunda e prolongada crise econômica que se reflete até e os

dias atuais.

Nesse período, ressalta-se o processo constituinte e a promulgação da

Constituição de 1988, que representou, no plano jurídico, a promessa de afirmação

e extensão dos direitos sociais, em nosso País, frente à grave Crise e desigualdades

sociais existentes.

Nesse contexto, destaca-se o capitulo “Da Ordem Social”, que é para o Serviço

Social e a classe trabalhadora

de vital importância, por trata-se de um conjunto de princípios e artigos que, se

efetivamente respeitados podem contribuir para redução das desigualdades sociais,

pois tem como base o primado do trabalho e como objetivo o bem estar social e a

justiça social (CRESS, 2006).

Dentro das políticas de proteção social, a constituição instituiu a Seguridade

Social, como “o conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da

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sociedade, destinados assegurar os direitos relativos à Saúde, à previdência e à

assistência” (Mota, 1996).

A previdência foi instituída como sistema de proteção ao trabalhador e sua

família mantido pela contribuição individual do trabalhador e de toda sociedade, com

caráter de redistribuição de renda e sob a garantia do Estado.

Sendo a Previdência de cunho contributivo, a ela tem direito os que

contribuem. Para a camada da sociedade desprovida desse direito foi instituída a

Assistência Social.

De acordo com a Constituição, a Assistência social é política pública, dever do

Estado e direito do cidadão que dela necessite. Isto significa dizer que o Estado

reconhece a existência de uma enorme faixa da população em estado de pobreza

absoluta e/ou relativa e que o cidadão, mais diretamente atingido por esta situação.

Tem direito a uma vida digna e o Estado tem o dever de garantir o desenvolvimento

de ações, programas e serviços assistência social previstos em lei, aos quais, os

cidadãos brasileiros no pleno uso de seus direitos possam utilizar. Outro aspecto

importante é salientado por Escorel (1989), que considera a saúde um componente

fundamental da democracia e da cidadania, tanto por ser determinada por um

conjunto de direitos.

No artigo 3º da Constituição Federal o conceito de Saúde é definido conforme a

seguir:

”Saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer, e o acesso aos bens e serviços essenciais: os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País”

A saúde é item de relevância pública, o que assegura a participação do

Ministério Público na fiscalização do cumprimento das leis. O artigo 196 da

constituição Federal de 1988, define que:

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A Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário ás ações e serviço para sua promoção, proteção e recuperação.

Com vistas a assegurar esse direito, medidas forma implantadas a partir da

descentralização da saúde, através de um sistema único e universal.

3.2 Reforma sanitária e o Sistema Único de Saúde

Na década de 90 as alterações ocorridas na sociedade brasileira, bem como os

grandes projetos societários em disputa tiveram repercussão nas diversas áreas das

políticas sociais. Na saúde, entre outros, destaca-se o Projeto de Reforma Sanitária,

construído na década de 80 e inscrito na Constituição Brasileira de 1988 e o Projeto

de Saúde Privatista, hegemônico na segunda metade da década de 90 (Bravo e

Matos, 2001).

No projeto Privatista, a tarefa do Estado consiste em garantir um mínimo aos

que não põem pagar, ficando para o setor privado o atendimento dos que tem

acesso ao mercado. O projeto Saúde articulado ao mercado ou ao modelo médico

assistencial privatista esta pautado na política de ajuste neoliberal, que tem como

principais tendências: a contenção de gastos com a racionalização da oferta, a

descentralização com isenção de responsabilidade do poder central e a focalização

(Bravo, Matos, 2001).

O projeto de Reforma Sanitária apresentou como uma de suas estratégias o

Sistema Único (SUS), fruto de lutas e mobilização dos profissionais de saúde,

articulados ao movimento popular. Sua preocupação central é assegurar que o

Estado atue em função da sociedade, com uma concepção de Estado democrático e

de direito, responsável pelas políticas sociais e conseqüentemente pela saúde

(idem).

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O SUS trás como princípios: universalidade de acesso; integralidade da

assistência; igualdade na assistência à saúde; participação da comunidade;

descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera (IDEC,

2008).

O SUS é um sistema formado por varias instituições dos três níveis de governo

(União, Estados e Municípios) e pelo setor privado, com o qual são feitos contratos e

convênios pra a realização de serviços e ações, como se fosse um mesmo corpo.

Assim o serviço privado um hospital, por exemplo, quando é contratado pelo SUS

deve atuar como se fosse publico (IDEC, 2008).

3.3 -A importância do acompanhamento terapêutico para o paciente

Oncológico e sua família.

O terapeuta atuante na área oncológica visa manter o bem-estar psicológico do

paciente, identificando e compreendendo os fatores emocionais que intervêm na sua

saúde. Outros objetivos do trabalho desse profissional são prevenir e reduzir os

sintomas emocionais e físicos causados pelo câncer e seus tratamentos, levar o

paciente a compreender significado da experiência do adoecer, possibilitando assim

re-significações desse processo. Em sua atuação, o terapeuta deve estar atento

também aos distúrbios psicopatológicos, como depressão e ansiedade graves.

Sua prática é exercida em todas as etapas do tratamento, como dito anteriormente,

habilitando o paciente a confrontar-se com o diagnóstico e com as dificuldades dos

tratamentos decorrentes, ajudando-o a desenvolver estratégias adaptativas para

enfrentar assim situações estressantes.

Os objetivos do trabalho terapêutico serão alcançados na medida em que esse

profissional vai compreendendo o que está envolvido na queixa do paciente,

buscando sempre uma visão ampla do que está se passando naquele momento não

escolhido da vida dele.

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Num espaço de acolhimento e escuta o terapeuta deve sempre trabalhar com a

realidade. Quanto mais informado o paciente estiver de sua doença, maior será a

sua capacidade de enfrentar o adoecer e mais confiança terá na equipe. Pacientes

bem informados reagem melhor ao tratamento. Dessa forma, o terapeuta deve

preocupar-se em falar numa linguagem acessível ao paciente e sempre checar se as

informações e orientações dadas pela equipe foram efetivamente compreendidas.

Segundo Ferreira, os temas que mais preocupam os pacientes com câncer e que

devem ser focos das intervenções psicoterápicas são: sensação de falta de controle

sobre a própria existência, temor da solidão e da própria morte, sentimento de

impotência e fracasso e temor dos efeitos adversos do tratamento oncológico.

A atuação do terapeuta não se restringe só ao paciente oncológico. É imprescindível

incluir a família no atendimento, já que são personagens fundamentais no auxílio

aos pacientes para o enfrentamento da doença.

Na medida em que tenha suporte, a família pode se tornar aliada permanente não

só do paciente, como também da própria equipe de saúde.

Pesquisa realizada por Bergamasco e Ângelo afirma que a família, com sua ajuda

material e emocional, é considerada pelas mulheres com câncer de mama como

sendo um apoio fundamental para darem continuidade ao tratamento.

Para Simpson et al.24 o suporte social também é um fator importante na prevenção

e alívio da depressão e ansiedade nos pacientes com câncer. Neste artigo, esses

autores citam uma pesquisa com pacientes com câncer de mama mostrando que a

ansiedade e a depressão,t rês meses após a cirurgia, estão relacionadas com o grau

de suporte dos membros da família e do cirurgião.

Atuando junto à família, o terapeuta deve buscar reforçar os vínculos afetivos entre

família e paciente, facilitando um diálogo verdadeiro, capacitando-os acompartilhar

experiências e emoções. A participação dos familiares nas decisões, junto ao

paciente, constitui outro fator que deve ser estimulado pelo terapeuta.

É importante mencionar que o esse trabalho deve ser feito numa rede de contatos,

ou seja, não trabalhar sozinho e sim com a equipe de saúde. A interação entre todos

os profissionais envolvidos no tratamento do câncer de mama é fundamental para a

conquista de um bom resultado, já que a atuação passa a ser global, envolvendo

todos os aspectos implicados no adoecimento. O terapeuta deve estar atento aos

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focos de conflitos dentro da equipe de saúde, impedindo ruídos que possam surgir

nessa comunicação, pois é a partir da relação desses profissionais que todas as

demais relações podem viabilizar-se ou se comprometerem.

Para que a atuação do terapeuta junto à equipe e ao paciente se desenvolva

satisfatoriamente, é necessário que esse profissional tenha informações básicas

sobre o câncer, além dos tratamentos e sintomas que resultam dos mesmos. É

importante para o terapeuta saber distinguir sintomas emocionais dos sintomas

decorrentes das questões orgânicas. O conhecimento básico das questões médicas

referentes ao câncer de mama, como, por exemplo, os estágios da doença e

prognósticos associados a esses, contribui para que o terapeuta possa definir a

abordagem que irá utilizar com o paciente.

CONCLUSÃO

O levantamento da literatura especializada nos faz compreender o quanto a o

câncer de mama e a mastectomia compromete a vida emocional e social da mulher.

O câncer, pelo impacto que gera na vida da mulher comprometendo sua auto-

estima, propiciando sentimentos de menos valia, interferindo, assim, nos aspectos

relacionados à identidade de mulher. Por sua Vez, a mastectomia, tratamento

radical, porém necessário, vem reforçar esse sentimento de estranheza, ao modificar

a auto-imagem corporal da mulher, causando dificuldades para uma auto-aceitação

e, conseqüentemente, fazendo aflorar sentimentos de vergonha, inibição e

constrangimento.

As alterações no corpo das pacientes, seguidas da alteração da imagem

corporal, implicam também em transformações afetivas, refletindo na forma como

passarão a perceber a si mesmas e na forma como vivenciarão as diversas

situações cotidianas.

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A vida social da paciente mastectomizada passa a ser confrontada, exigindo

uma capacidade de enfrentamento e elaboração de nova condição. A aceitação e o

apoio da família, amigos, etc, mostram se aspectos fundamentais. Novos arranjos na

sua vida social posem ser criados, permitindo que a mulher passa a retomar a vida

de forma satisfatória, mesmo tendo seu corpo modificado pela doença e tratamento,

e sentindo-se ameaçada pela recorrência da doença.

Apesar dos já mencionados entraves relacionados à saúde do Brasil, as falhas

no diagnóstico, o medo um diagnóstico afirmativo da doença, o diagnóstico precoce,

uma vez confirmado, a maioria das mulheres acometidas por câncer de mama viverá

com sua doença por muitos anos. Com esse aumento de sobrevida, é fundamental

que os profissionais compreendam a experiência de se viver com câncer de mama,

reconhecendo as implicações não só físicas, mas emocionas e sóciais que o

diagnóstico e o tratamento trazem para a vida da mulher e de seus familiares no

sentido de ajudá-los no enfrentamento dessas situações.

A atuação dos familiares é de suma importância , a fim de que tanto os

aspectos físicos quanto os sociais sejam considerados no processo do adoecer;

cada paciente exigirá uma tática especifica, dependendo de suas condições

adaptativas. Seus contextos culturais, biológicos, sociais e psicológicos devem ser

considerados.

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

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