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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” ANÁLISE DO PLANO DE METAS DE JK COM ENFOQUE NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO LAERCIO CARVALHO DOS SANTOS RIO DE JANEIRO 2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ANÁLISE DO PLANO DE METAS DE JK COM ENFOQUE NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

LAERCIO CARVALHO DOS SANTOS

RIO DE JANEIRO 2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ANÁLISE DO PLANO DE METAS DE JK COM ENFOQUE NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Trabalho monográfico de conclusão de curso apresentado à Universidade Candido Mendes, como requisito parcial para obtenção do título “Lato Sensu” de Pós-Graduação em Gestão Pública.

Professora Orientadora: Maria da Conceição Maggioni Poppe

2008

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AGRADECIMENTOS

À professora Maria Poppe, pelo auxílio na produção da Monografia. À Leninha, pelo incentivo inical. Aos meus pais, José e Olga, meus primeiros professores na Universidade da vida. À minha família de Campinas, pela acolhida que tanto me facilitou a realização desse trabalho.

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DEDICATÓRIA

À minha noiva, Danielle Cristina, pelo amor dedicado, paciência e palavras que tanto me incentivaram, na condução e conclusão desse trabalho.

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RESUMO

O objetivo desse trabalho foi o de pesquisar possíveis composições e

concepções de Planejamento Estratégico, como método de análise de Gestão Pública de

resultados, no cerne e arcabouço do Plano de Metas de JK. O Plano de Metas, elaborado e

executado no Governo de Juscelino Kubitschek (1956-61), foi de extrema importância na

montagem do que hoje chamamos de nosso “parque industrial brasileiro”. Foi um período

caracterizado por um grande desenvolvimento econômico, com taxas de crescimento

superiores à média nacional até então, até porque, o período anterior ao Plano, foi bastante

conservador no que diz respeito ao volume de crédito financeiro, o que veremos no

decorrer do trabalho ora apresentado.

O presente trabalho tem como objetivo também, traçar padrões ou comparações

entre os conceitos desenvolvidos no Planejamento Estratégico com o que fora adotado na

concepção e execução do Plano de Metas. Cabe salientar que, tendo em vista o nível de

conhecimento de planejamento estratégico que ora vingava na administração pública, esses

conceitos eram postos em prática meio que na base da intuição.

Intuição essa que não deixava de levar em consideração alguns fatores

metodológicos muito bem caracterizados no arcabouço do Plano, no planejamento de

longo-prazo ora determinado e na visão de futuro apresentado pelos gestores do Plano e

pela tendência política, cuja linha de desenvolvimento econômico seguia a cartilha

“Keynesiana” que ora vingava, cuja participação do setor público era presença obrigatória

em todas as linhas de pensamento econômico dominantes à época.

O Setor público, por tanto, ditava as normas da economia, das políticas de

desenvolvimento, de crédito, de financiamento, de geração de emprego e de tudo o que era

mais determinante no processo de construção da economia. Essa dependência também será

objeto de estudo do presente trabalho.

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6 Segundo REBOUÇAS DE OLIVEIRA (2002), Planejamento estratégico é o

processo administrativo que proporciona sustentação metodológica para se estabelecer a

melhor direção a ser seguida pela empresa, visando ao otimizado grau de interação com o

ambiente e atuando de forma inovadora e diferenciada.

Baseado nesse conceito e princípio de planejamento estratégico, que enfocamos

o Plano de Metas de JK como princípio de arcabouço teórico e prático de planejamento de

longo-prazo com característica de gestão pública de resultados, medidos pela eficiência e

eficácia do Plano, ao fim de anos de desenvolvimento e integração econômica, como

veremos a seguir.

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METODOLOGIA

O Presente trabalho foi um estudo baseado em pesquisas bibliográficas e

consultas em bibliotecas públicas, tanto no Rio de Janeiro (Centro Cultural Banco do Brasil

e Universidade Federal do Rio de Janeiro) como em uma breve passagem pela cidade de

Campinas (UNICAMP). Teve a finalidade de exercer uma pesquisa teórica com enfoque

em análises históricas comparativas entre o tema relativo ao Plano de Metas de JK e a

teoria de administração pública, conhecida como planejamento estratégico.

O objetivo principal desse tema foi o de abordar aspectos teóricos e práticos

dessa comparação. Em geral, foram pesquisados autores clássicos que comumente faziam

abordagens e estudos sobre o assunto, tais como BRESSER PEREIRA, GUIDO

MANTEGA, CHIAVENNATO, etc.

Após a análise comparativa, fez-se um estudo histórico acerca do Plano de

Metas, apontando aspectos relativos aos alcances de resultados. Em seguida, deram-se as

devidas conclusões acerca dos pontos enumerados nessa análise comparativa.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I

CONCEITOS DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NO PLANO DE

METAS DE JK 11

CAPÍTULO II

GOVERNO JK E O ENFOQUE DESENVOLVIMENTISTA 19

CAPÍTULO III

RESULTADOS ALCANÇADOS COM BASE NO PLANEJAMENTO

ESTRATÉGICO 28

CONCLUSÃO 34

BIBLIOGRAFIA 36

ANEXOS 38

ÍNDICE 40

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INTRODUÇÃO

A característica principal do Plano de Metas de JK foi sua concepção de

planejamento de longo-prazo. Logo, tinha o intuito de planejar e por em prática uma

política de desenvolvimento econômico que constituiu o mais completo e coerente conjunto

de investimentos até então planejados na economia brasileira.

Outra característica importante dessa política econômica, adotada com o Plano

de Metas, e que também será descrita e analisada neste estudo, é a participação efetiva do

setor público em todos os níveis e etapas do processo. O Governo JK, caracterizou-se pelo

integral comprometimento do setor público com uma explícita política de desenvolvimento.

Os diagnósticos e projeções da economia brasileira, empreendidos de forma sistemática

desde o final da Segunda Guerra Mundial, desembocaram na formulação do Plano de

Metas.

A principal fonte inspiradora do Plano era uma corrente de pensamento

“keynesiana” oriunda da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina). Essa

corrente veio a ser mentora teórica do Plano e também será melhor analisada no transcorrer

do presente trabalho.

No capítulo 1, serão identificados e relacionados alguns conceitos básicos de

Planejamento Estratégico, em consonância com o que fora adotado na elaboração e

execução do Plano de Metas.

No capítulo 2, será descrito o Governo JK e o que o levou a adotar um Plano e

uma política de desenvolvimento econômico do porte de um Plano de Metas.

No capítulo 3, serão identificados e relacionados alguns resultados alcançados

baseado na análise de políticas públicas com enfoque no Planejamento Estratégico.

Para concluir, estarei analisando e enfocando a devida importância do Plano no

contexto do desenvolvimento de políticas públicas no País, a partir de fatos concretos

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10 relacionados diretamente à execução do Plano de Metas de JK, bem como seu alinhamento

na criação de uma tradição e direção de linhas e políticas públicas de longo-prazo.

Direcionamento que veio a instituir procedimentos de análise de resultados, bem como de

profundos estudos de contexto baseados na boa gestão pública de recursos.

Não se pode negar a importância do Plano nesse aspecto. Com contribuições

que perduraram por décadas a fim de estabelecer uma conexão entre políticas pública de

longo-prazo e a efetivação do desenvolvimento econômico. Somente algumas décadas

depois, é que se foi dada a importância devida ao período.

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CAPÍTULO I

CONCEITOS DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NO

PLANO DE METAS DE JK

Uma concepção de Planejamento Estratégico, cuja inserção no Plano de Metas

é bastante significativa, é a da elaboração de um Plano visando um planejamento de longo

prazo, com reflexos posteriores e duradouros. Tanto que o enfoque do Plano de Metas de

JK, cujo mote de campanha para sua aceitação era o slogan “cinqüenta anos em cinco”, era

o de fornecer estrutura para um desenvolvimento e crescimento econômico à longo prazo.

Cuja característica e ideal inicial, era a de substituir nossas importações por produtos

nacionais, a chamada “substituição de importações”.

Com a queda nas exportações provocada pela baixa internacional no preço do

café – nosso principal produto exportável, a tendência natural seria a nossa pauta de

importações tornar-se mais rígida, fazendo-se necessário adotar uma política de atração ao

capital estrangeiro a fim de dar continuidade ao processo de substituição de importações.

Os equipamentos importados eram componentes indispensáveis ao tipo de

industrialização que a economia atravessava e que, na ausência de receitas de exportação

disponíveis, a realização completa das importações necessárias residia na obtenção de

financiamentos externos. Por outro lado, para o empresário realizar inversões em atividades

de longa gestação, na ausência de um mercado interno de capitais, esta fórmula

(financiamentos externos) era condição mínima à efetivação do investimento.

Além de estimular a entrada de capital estrangeiro via legislação específica, o

Governo através do BNDE assegurava acesso a créditos do exterior, aos empresários, via a

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12 co-responsabilidade com a liquidação do débito externo assumida por aquela instituição de

crédito.

Este estímulo baseava-se na garantia de acesso à obtenção de financiamento

externo, na concessão de créditos a longo-prazo, com baixa taxa de juros e prolongados

períodos de carência e amortização, ou reservava-se o mercado interno para os novos

setores industriais a instalar. “Estes estímulos conduziam, não apenas à redução no custo de

investimento, como também elevavam substancialmente a rentabilidade das inversões nos

setores prioritários.” (LESSA: 1983, pág. 57)

Segundo BRESSER PEREIRA (1985), graças a esse processo de substituição

de importações que o desenvolvimento industrial brasileiro ocorreu. Era esta aliás, a única

alternativa para o Brasil, dadas as limitações às possibilidades de aumento de nossas

exportações. A industrialização ocorreu aproveitando-se o mercado interno já existente para

produtos industriais importados que eram substituídos por produtos fabricados no país.

Com isso, o coeficiente de importações baixou de 12,6% no período 50-54 para 8,6% no

período 55-61. Ou seja, na medida que crescia a renda, as importações diminuíam na

proporção em que eram substituídas pela produção nacional.

“Os empresários industriais, nesse período, não tinham dificuldades maiores em

decidir em que setor investir, quais produtos importar. A pesquisa de mercado

de que necessitavam já estava pronta. Bastava que examinassem nossa pauta de

importações para saberem onde investir.” (BRESSER PEREIRA: 1985, pág.

53)

Nossa capacidade de importar era muito limitada, por motivos já antes descritos

– queda do preço internacional do café, deterioração dos termos de troca – sendo a causa de

Ter o processo de industrialização brasileira ocorrido fundamentalmente através de um

processo de substituição de importações.

“A partir do fim da Segunda Grande Guerra Mundial até o fim do período que

estamos analisando, foi a incapacidade de aumentarmos nossas exportações o

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13 principal fator limitativo de um aumento de nossa capacidade de importar. A

preços constantes de 53, em 47 exportamos 1.961 mil dólares, em 61

exportamos 1.976 mil dólares. Enquanto nosso Produto Interno Bruto crescia,

em termos reais, 128% nesse período, permaneciam estáveis nossas

exportações.” (BRESSER: 1985, pág. 53)

Daí a necessidade que tínhamos de voltarmos para o mercado interno, a fim de

produzir no Brasil o que não podíamos importar, substituindo as importações. Este

processo resultou em um extraordinário desenvolvimento econômico. “Segundo dados da

Fundação Getúlio Vargas existentes para o período 47-61, tivemos uma taxa média anual

de formação bruta de capital relativamente modesta de 16,6% e uma taxa de investimentos

líquidos (excluída a depreciação) de apenas 11,6%. Não obstante, tivemos durante esse

período uma taxa média anual de crescimento do produto de 5,8, o que significa uma

relação marginal produto-capital de 0,5%. Para cada unidade adicional de capital (excluída

a depreciação) tínhamos meia unidade de crescimento do produto.” ... “Em outras palavras,

o investimento no Brasil foi realizado em setores de rentabilidade maior e mais rápida, nos

quais um investimento relativamente pequeno permitia, seja diretamente, seja através de

economias externas, um grande crescimento do produto.” (BRESSER PEREIRA: 1985,

pág. 55)

O Plano de Metas de JK tinha essa característica marcante, a de prover o país

de insumos industriais necessários para sua independência industrial. O País era

extremamente dependente externamente de provimento industrial, o que não garantia,

necessariamente, seu desenvolvimento econômico, pelo contrário, fazia com que o País

aumentasse seu déficit na balança de pagamentos, o que via de regra significava um alto

grau de subdesenvolvimento econômico.

O arcabouço do Plano era caracterizado por ser um defensor de um ideal

“Keynesiano” de desenvolvimento econômico, o que poderia ser uma contradição com o

conceito de planejamento estratégico, pois esse ideal tinha um viés em que eram visadas

medidas de cunho mais imediatas, defendendo a idéia de ações baseadas em políticas de

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14 desenvolvimento econômico no intuito de prover o país de crescimento de emprego, renda

e riqueza em um curto-prazo. Porém, no caso brasileiro, essas políticas eram semeadas com

estratégias de longo-prazo, como a construção do parque industrial, ou a criação de

Brasília, como centro estratégico e político do país.

O País, até então, era extremamente sub-desenvolvido, dependente, financeira e

industrialmente, de outras matrizes em outros países. O Brasil apenas fornecia insumos aos

países desenvolvidos que nos forneciam o produto pronto e acabados. Com o Plano, a idéia

era a de tornar o país independente, o que facilitaria nosso modelo de gestão estratégica e

de negócios para o futuro. Esse seria um ponto estratégico importante incluído no Plano de

Metas.

Outra questão a ser abordada também, é a cerca de novos paradigmas para os

nossos gestores de políticas públicas. Paradigmas em que o País deixa de ser um mero

executor de políticas de desenvolvimento econômico oriundas do mercado externo, e passa

a ser executor de uma política própria de desenvolvimento e crescimento econômico.

Políticas de emprego e de renda agora dependiam muito mais de nossas ações do que a

políticas de outros países.

Esse ponto seria extremamente importante para o nosso desenvolvimento e

crescimento econômico futuro. Estava aí, constituída nossa matriz de desenvolvimento

econômico.

No Plano de Metas de JK podem ser identificados alguns pontos fortes e fracos

que foram levados em consideração na sua elaboração e execução final. Seriam eles:

Pontos Fracos

- Dependência de endividamento externo para pôr em prática o Plano em sua

plenitude. O que tornaria nossa balança de pagamentos bastante deficitária no curto e médio

- prazos. Fazendo com que, cada vez mais, tivéssemos que tomar emprestado para

equilibrar essa conta.

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15 - Necessidade de deslocamento da capital do Rio para Brasília a fim de

redimensionar o crescimento e desenvolvimento nacional para o interior do país.

Permitindo uma maior desconcentração das metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo.

- Falta de infra-estrutura para atender às necessidades das novas empresas e

indústrias que se instalariam aqui após a execução do Plano. O que implicaria em um risco

para os investimentos das empresas ao apostarem em um país que estaria ainda construindo

essa infra-estrutura sem muitas garantias.

O objetivo do Plano era exatamente o de munir o país dessa necessária infra-

estrutura, como construção de usinas, siderúrgicas, estradas ligando os centros aos portos

para escoamento da produção e fábricas.

- Necessária criação de demanda para suprir a latente carência comercial do

País. Ou seja, para vender era necessários que se criassem nichos de consumidores aptos a

demandar os novos produtos. Essa demanda era inexistente, até então, o que causaria um

risco muito grande de ocorrer inflação de demanda, quando a demanda é maior que a

oferta, cria-se uma necessidade de se aumentar preços a fim de que não faltem produtos nas

prateleiras.

Pontos Fortes

- Boa oferta de insumos primários a fim de fornecer matéria-prima necessária

ao desenvolvimento da indústria nacional. Isso facilitava nosso potencial de infra-estrutura,

fazendo com que nossos insumos fossem mais baratos.

- Vontade política para desenvolver a economia nacional, com tendências

desenvolvimentistas em evidência. Principalmente após a Segunda Guerra Mundial, quando

Planos de desenvolvimento econômico estavam muito em voga. A Europa, por exemplo,

havia se reerguido com a ajuda de planos de desenvolvimento econômicos traçados por

países da coalizão americana pós-Segunda Grande Guerra.

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16 A idéia em voga, era a de que o Estado deveria ser o responsável e indultor

direto do desenvolvimento econômico, tendo, desta forma, participação ativa na economia.

Essa idéia “Keynesiana” dominou o cenário econômico mundial por algumas décadas,

somente passando a perder espaço após as crises de crédito da década de 80, quando se

passou a prevalecer o “consenso de Washington”, onde a necessidade de um Estado

Mínimo, e da moderação dos gastos públicos passou a ser pregado.

Outro conceito de Planejamento Estratégico relacionado ao Plano de Metas

(que pode-se relacionar ao Plano) era o conceito da relação oportunidade x ameça, onde se

deveria ser aproveitada essa oportunidade oferecida à época pelo ambiente favorável aos

planos de desenvolvimento econômico incentivado pelo Estado. “Uma vez que a estratégia

procura adaptar a organização com sucesso a seu ambiente, a base para a formulação da

estratégia é a análise das ameaças e oportunidades do ambiente.” (MAXIMIANO, 1997).

Outra co-relação a se fazer entre Planejamento estratégico e elaboração do

Plano de Metas era com relação a preparar o país para as mudanças tecnológicas que viriam

a ser rotineiras no futuro, e que poderiam mudar a relação de forças e dependências

externas. “Planejar e tomar decisões estratégicas significa tentar assegurar a sobrevivência a

longo-prazo.” (MAXIMIANO, 1997).

“De forma resumida, o planejamento estratégico relaciona-se com objetivos de

longo-prazo e com maneiras e ações para alcançá-los que afetam a empresa como um todo”

(REBOUÇAS DE OLIVEIRA, 2002). Empresa, no campo de estudo do Plano de Metas,

seria a classificação dada ao Estado na concepção das políticas públicas de execução do

Plano.

Traçando um paralelo acerca do Plano com os conceitos de Planejamento

Estratégico temos a seguir, conforme Chiavenato (1985).

Características do Planejamento Estratégico:

- projetado a longo-prazo.

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- voltado para as relações entre a empresa (Governo) e seu ambiente de tarefa e,

por tanto, sujeito à incerteza a respeito dos eventos ambientais.

- envolve a empresa (Governo, no caso da análise do Plano de Metas de JK)

como um todo.

A seguir, temos alguns objetivos do Plano de Metas em consonância com os

conceitos de Planejamento Estratégico, extraído de Chiavenato (1985):

- o lucro (que no caso seria o desenvolvimento econômico do País como retorno

do investimento do Estado).

- expansão da empresa (no Plano de Metas, seria o caso da expansão do parque

industrial nacional, bem como a melhor distribuição do desenvolvimento em todo o

território nacional).

- a segurança (no Plano de Metas, seria a soberania do País, com um maior

crescimento econômico o que nos tornaria menos vulnerável ao mercado externo).

- a autonomia ou independência (conquistada com o implemento de tecnologia

e desenvolvimento de pesquisas nacionais, bem como produção própria de equipamentos

industriais, com linhas de produção totalmente nacionais.

A concepção do Plano levava em consideração principalmente aspectos que

envolviam resultados a longo-prazo, com criação de infra-estrutura necessária ao

desenvolvimento econômico, porém com impacto a curto-prazo no que concerne ao

aumento do nível de emprego e renda do País.

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18 Segundo LESSA (1983), pode-se dividir o Plano de Metas em quatro grandes

grupos de metas de longo-prazo:

1) inversões diretas do Governo no sistema de transporte e

geração de energia;

2) ampliação ou instalação de setores produtores intermediários,

no qual, pela sua significação sobressai a meta siderúrgica;

3) instalação das indústrias produtoras de bens de capital;

4) construção da nova sede administrativa do país.

A principal meta seria a ampliação da capacidade geradora de energia elétrica,

objetivando dar suporte à contínua expansão industrial.

Fazia-se necessário prever a manutenção de uma taxa de crescimento anual da

produção de energia elétrica pelo menos superior a 10% ao ano.” (LESSA: 1983, pág. 30)

As áreas de Energia e Transportes teriam a disposição 71,3% do total de

recursos disponíveis, a cargo quase que integralmente do setor público. Para as indústrias

de base previa-se 22,3% da inversão total, a cargo principalmente do setor privado ou do

financiamento do mesmo por entidades públicas. As metas de educação e alimentação

receberiam 6,4% dos recursos. (dados de “ORENSTEIN e SOCHACZEWSKI: 1989, pág.

177”).

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19

CAPÍTULO II

GOVERNO JK E O ENFOQUE DESENVOLVIMENTISTA

O período que antecedeu ao Plano de Metas, estava caracterizado por diversos

esquemas restritivos de créditos, onde o principal elemento restritivo se localizava nas

tentativas de controle da expansão monetária.

“De outubro de 1954 à maio de 1955 foram os bancos privados obrigados a

recolher aos cofres das autoridades monetárias 50% dos depósitos adicionais do público.”

(LESSA: 1983, pág. 17)

Essa escassez monetária somada à crise da balança de pagamento, provocada

pela baixa cotação internacional do café, acarretava uma redução no nível de atividade

econômica a ponto de afetar ramos industriais recém instalados, além de provocar nas

empresas privadas brasileiras uma “tremenda vulnerabilidade financeira a cortes creditícios

pois direta ou indiretamente quase a totalidade de suas necessidades de capital de giro

provêm de fontes externas bancárias.” (LESSA: 1983, pág. 17)

Porém, ficava claro para os setores industriais nacionais que uma política

contracionista seria extremamente prejudicial. “Estabilidade passa a ser problema

secundário, importa o desenvolvimento e a sustentação da atividade econômica.” ... “Ao

enfatizar, em simultâneo, emprego e crescimento e ao relegar o equilíbrio a segundo plano,

joga a economia na Segunda metade da década, na senda da industrialização vertical.”

(LESSA: 1983, pág. 17)

Sendo assim, a fase de transição se consolidava e abria caminho para a

implementação da política de desenvolvimento industrial que irá dominar o cenário

econômico nacional nos anos finais da década de 50.

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2.1. O Governo JK

Juscelino Kubitschek tomou posse em 31 de janeiro de 1956. Segundo

BRESSER PEREIRA (1985), o Governo JK entrou para a história por ter sido o primeiro a

tomar as rédeas da economia de forma deliberada, tornando efetivo o desenvolvimento

industrial brasileiro. Ainda segundo o autor, já havia sido tentado, no segundo Governo

Vargas, promover o desenvolvimento industrial. Mas foi só com o Governo JK que o

Estado brasileiro se transformou em um instrumento razoavelmente eficiente de

desenvolvimento do país.

Em fins de 1956, o Governo JK formulou um conjunto de objetivos setoriais,

intitulado como Plano de Metas, “... que constituiu a mais sólida decisão consciente em

prol da industrialização da história econômica do país. Estes objetivos iriam servir durante

os próximos cinco anos de norte à política econômica...” (LESSA: 1983, pág. 18)

O Plano priorizava a “... construção dos estágios superiores da pirâmide

industrial verticalmente integrada e do capital social básico de apoio a esta estrutura. Daria

continuidade ao processo de substituição de importações que se vinha desenrolando nos

dois decênios anteriores.” (LESSA: 1983, pág. 19)

BRESSER PEREIRA (1985) apontava três motivos que levaram o Governo JK

a organizar um empreendimento do porte do Plano de Metas:

1) a composição política que o elegeu era definida em linhas gerais como

nacionalistas, industrialistas e intervencionistas moderados;

2) sua personalidade forte e destemida. Soube perceber com raro senso de

oportunidade o momento histórico pelo qual o país passava. Tal personalidade vinha de

encontro ao complexo de inferioridade vigente no país até então.

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21 3) Composição técnica da equipe econômica. Formada por economistas

influenciados pelo pensamento cepalino, que pregava uma intensa industrialização

financiada pelo Estado. Esse grupo de economistas assumiu o controle da economia e

planejou o seu desenvolvimento.

Porém, a política desenvolvimentista do Governo JK, segundo BRESSER

PEREIRA (1985), sofreria limitações impostas por um Estado Nacional-Oligárquico,

extremamente burocrático e de tradição empreguista. Mas, apesar disso tudo, a ação do

Estado foi decisiva na promoção do desenvolvimento econômico do país. O Estado agiu de

forma a ser o estímulo que proporcionou a industrialização, criando condições favoráveis

aos investimentos privados nacionais e estrangeiros.

Segundo SERRA (1981) foi durante o período que se estendeu desde a Segunda

Guerra até o início dos anos 60 que o país caminhou para etapas mais avançadas da

industrialização moderna. Contribuindo para isso uma série de fatores que permitiram tal

processo de industrialização, tais como: base ampla do mercado doméstico em crescimento

desde os anos 30: proteção à indústria doméstica (apoio à substituição de importações);

investimentos estatais no que tange à produção de insumos básicos; entrada maciça de

capital estrangeiro, produzindo bens destinados ao mercado interno; incentivos e subsídios

fiscais, creditícios e cambiais ao capital privado industrial; crescimento da oferta agrícola.

Para SERRA (1981) este período do pós-guerra foi fundamental para fincar no

Brasil uma mentalidade industrializante, redundando na operacionalização de vários

empreendimentos de grande porte realizados pelo Estado, principalmente na produção de

insumos necessários à fabricação de armamentos como “Minério de ferro (Companhia Vale

do Rio Doce), barrilha e Soda cáustica (Companhia Nacional de Alcalis), aço (CSN) e aços

especiais (Acesita).

Outro fator, também decisivo, apontado por BRESSER (1985) no que tange à

criação de condições favorecedoras ao investimento das indústrias privadas foi de aspecto

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22 político. Ou seja, a tranqüilidade por que passou a política nacional no período do Governo

JK possibilitou uma relativa calmaria no setor econômico.

Houve, com isso, um afluxo de capital estrangeiro muito grande no período,

incentivando, de forma direta, por medidas e decretos desde o Governo de transição, que

sucedeu ao suicídio de Getúlio Vargas, como no caso da instrução 113, que será analisada

mais adiante, da SUMOC (Superintendência de Moeda e de Crédito), que chegava ao

exagero de discriminar contra as empresas nacionais em favor das estrangeiras, até de

forma mais efetiva, com grandes incentivos cambiais, tarifários, fiscais e creditícios que

possibilitaram a instalação da indústria automobilística, da indústria naval, da mecânica

pesada, etc...

Porém, BRESSER (1985) afirma que esses investimentos diretos de capitais

estrangeiros não seriam essencialmente necessários e muito menos causa básica do

desenvolvimento industrial. Muito pelo contrário, dependendo das circunstâncias, tais

investimentos poderiam transformar-se em uma causa de subdesenvolvimento. Ou seja, se

eles fossem destinados a atividades de baixo multiplicador de investimento, como

mineração, comércio, agricultura e serviços públicos, além de inexistir fornecedores

nacionais (suprimento de equipamento, peças, produtos semi-acabados), bem como mão-

de-obra especializada, ou se o governo apenas representar uma oligarquia desvinculada do

processo de desenvolvimento industrial, estando a produção destinada apenas à exportação,

havendo uma conjugação desses fatores o investimento estrangeiro teria efeitos negativos.

Mas, para o autor, o caso do Brasil era diferente pois havia escassez de capital e

um certo desenvolvimento econômico já existia, tornando o investimento estrangeiro um

fator positivo.

2.2. A Influência Cepalina

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23 Segundo MANTEGA (1984) o projeto nacional-desenvolvimentista, posto em

prática no país a partir da Segunda metade da década de 50, tinha influência direta da

doutrina keynesiana, opondo-se ao ideário liberal neoclássico.

Segundo esta doutrina, era preciso incrementar a participação do Estado na

economia global, de modo a facilitar o advento da industrialização nacional. Também

baseadas na doutrina keynesiana as receitas desenvolvimentistas da Comissão Econômica

para América Latina (CEPAL) constituíram na espinha dorsal do desenvolvimentismo.

Foi a CEPAL, portanto, que forneceu os principais ingredientes para a

formação da ideologia desenvolvimentista dos anos 50. Tais ingredientes originaram

projetos econômicos desenvolvimentistas, muitos dos quais gestados no ISEB (Instituto

Superior de Estudos Brasileiros). Desses projetos surge o primeiro modelo de economia

política brasileiro, o modelo de substituições de importações.

É importante salientar que a febre desenvolvimentista ocorrida na América

Latina nos anos 50 teve como um dos motivos a necessidade que alguns países latino-

americanos tinham de superar uma imagem de colônias, com economias extremamente

dependentes.

A solução elaborada pela CEPAL e escolhida pelos principais países latino-

americanos para se livrarem desta situação de dependência econômica seria a

implementação de uma política deliberada de desenvolvimento industrial. Tratava-se de

reverter o eixo básico da economia, até então voltada “para fora”, para o desenvolvimento

voltado “para dentro”, ou seja, baseado na industrialização para o mercado interno.

Uma das causas, apontada pela CEPAL, dessa dependência econômica e

conseqüentemente do empobrecimento dos países periféricos em contrapartida ao

enriquecimento dos países do centro, era a deterioração dos termos de troca, ou seja, os

preços das exportações da periferia cresciam mais lentamente do que os preços das

exportações do centro. Isto se devia, essencialmente, à diferença de comportamento da

demanda de produtos primários em relação à demanda de manufaturados e, em segundo

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24 lugar, à diferença entre a situação do mercado de trabalho e da organização sindical no

centro e na periferia.

“A CEPAL acreditava que a demanda de bens manufaturados crescia muito

mais rapidamente do que a demanda de bens primários, devido ao fato de estes últimos

representarem uma proporção decrescente da demanda global à medida que se elevasse a

renda da população. Em outras palavras, uma porção cada vez menor dos acréscimos de

renda dos consumidores do centro seria destinada à alimentação e outros produtos

primários, uma vez que essas famílias já usufruíam (mesmo antes do incremento da renda)

de uma dieta alimentar razoável e, como dizia Adam Smith, não se pode comer mais do que

o volume do estômago.” (MANTEGA: 1984, pág. 37)

Somando-se a isso as medidas protecionistas impostas pelos países

industrializados, limitando o processo dos produtos primários aos seus mercados, o

resultado será uma menor elasticidade-renda da demanda de produtos primários e um

crescimento mais lento dos seus preços.

Quanto à organização sindical, o que ocorria era que os salários no centro eram

mais rígidos, devido à pressão dos sindicatos, o que fazia com que os preços dos

industrializados caíssem menos, enquanto que, na periferia, a baixa organização dos

trabalhadores e a maior oferta de mão-de-obra permitem que os preços dos produtos

primários declinem durante a contração das atividades.

Porém, quanto a esse aspecto, MANTEGA (1984) observa um equívoco, pois

não era a falta de pressão dos sindicatos que faria com que os preços dos produtos

periféricos valorizassem menos. Portanto, não seria por falta de pressão salarial que os

preços das exportações da periferia perderiam terreno para os preços das exportações do

centro, uma vez que há motivos mais importantes para estimular os empresários periféricos,

mas sim por falta de poder de monopólio.

Portanto, para a CEPAL o subdesenvolvimento era caracterizado pela produção

agrário-exportadora, sendo necessária à implementação de uma política de planejamento e

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25 desenvolvimento industrial, com ampla participação do Estado. Política esta que passaria

pela substituição das onerosas importações de produtos industriais.

Como as economias latino-americanas não possuíam capital suficiente para

financiar tal montante de investimento, a CEPAL propunha o recurso ao capital estrangeiro

(ou a poupança externa) como fórmula mais indicada para se aumentar à taxa de

investimentos e, conseqüentemente, a renda nacional, pelo menos até que cada país

atingisse o nível de poupança suficiente prosseguir sozinho.

“A escassez de capital nos países periféricos conduziria não apenas à baixa

produtividade e a pouca renda, como também a um baixo poder de compra da população e

a um mercado limitativo da expansão industrial. Em vista disso, os países de baixa

formação de capital permanecem atados ao círculo vicioso da pobreza.” (MANTEGA:

1984, pág. 50)

A saída, então, seria a implementação de ondas recorrentes de pobreza

industrial, isto é, a ação combinada de vários investimentos ao mesmo tempo. Sendo assim,

no contexto periférico, o Estado torna-se o pivô do desenvolvimento e incumbido de

reverter às tendências estagnacionistas do liberalismo econômico, conforme vinha sendo

prescrito pela CEPAL.

Porém, na medida em que a teoria cepalina foi sendo posta em prática nas

economias latino-americanas, ou seja, industrialização em massa orquestrada pelo Estado e

financiada pelo capital externo, revelava-se, segundo MANTEGA (1984), a pouca

preocupação com os aspectos sociais e políticos, atendendo-se quase que exclusivamente os

aspectos econômicos. A partir daí, a CEPAL passou a repensar suas teses e a se preocupar

mais diretamente com os problemas sociais.

“No caso do Brasil, que seguiria suas principais determinações, verificava-se a

consolidação de uma estrutura econômica capitalista, com capacidade própria de

acumulação, dominada por oligopólios nacionais e estrangeiros, com forte participação

estatal na economia. Já se implantara no país um setor considerável de bens de consumo

final, articulados por uma infra-estrutura de transporte e serviços vários, de modo a

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26 construir uma economia relativamente integrada, bem de acordo com os ditames da

CEPAL.” (MANTEGA: 1984, pág. 43)

Portanto, para a CEPAL só através da industrialização é que se poderia

aumentar a renda nacional e o conseqüente ganho de produtividade. O Estado é quem seria

o responsável pela promoção deste impulso desenvolvimentista, planejando as

modificações necessárias e agindo como centro racionalizador da economia com a

promoção de infra-estrutura para a expansão industrial, bem como intervindo como agente

econômico direto.

Assim, o Estado passaria a oferecer os insumos básicos para que se pudessem

realizar os investimentos necessários à industrialização, incentivando o capital privado a

investir. Este capital tanto poderia ser estrangeiro como nacional, existiam, porém,

restrições impostas ao capital estrangeiro, como a participação em transporte ferroviário,

energia e demais setores de serviços públicos ou de segurança nacional.

Segundo M. MORAES (1980) as inversões em infra-estrutura básica teriam que

ser papel do Estado, pois exigiriam maiores massas de capital, por se tratar de ramos de

mais alta composição orgânica e de tecnologia mais sofisticada, impondo, com isso,

barreiras técnicas e financeiras à entrada de capitais de menor porte, possibilitando a

estruturação monopolíptica do setor. Porém, a dependência da participação relativa do

capital estrangeiro na produção nacional significava uma crescente descapitalização

relativa, que á a parcela da mais-valia, extorquida internamente, não reinvestida e remetida

para o exterior sob a forma de lucros, juros e dividendos.

“Então, do ponto de vista estritamente econômico, a estratégia cepalina deu

certo, com o país centrado num desenvolvimento “para dentro”, baseado no setor industrial

e com razoável capacidade de propulsão. Porém, tudo isso não modificara as condições

sociais do grosso da população, que continuavam iguais ou até pioraram, conforme

começaram a assinalar os estudos da própria CEPAL feitos no início dos anos 60.”

(MANTEGA: 1984, pág. 43)

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27 Essas são algumas idéias que vieram a influenciar a elaboração do Plano de

Metas no começo do Governo JK, visando atingir os objetivos arquitetados por autores

“cepalinos”, numa espécie de obedecimento a uma cartilha cepalina desenvolvimentista.

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28

CAPÍTULO III

RESULTADOS ALCANÇADOS COM BASE NO

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Levando-se em consideração que o planejamento estratégico requer uma

concepção estratégica de longo prazo, o Plano de Metas de JK foi extremamente eficaz no

que concerne políticas públicas de longo prazo. Porém, planejamento estratégico requer o

cumprimento de etapas que visam o cumprimento e direcionamento desse longo prazo.

Conforme avalia REBOUÇAS DE OLIVEIRA (2002), o planejamento

estratégico, de forma isolada, é insuficiente, uma vez que o estabelecimento de objetivos a

longo prazo, bem como seu alcance, resulta numa situação nebulosa, pois não existem

ações mais imediatas que operacionalizem o planejamento estratégico. A falta desses

aspectos é suprida através do desenvolvimento e implantação dos planejamentos táticos e

operacionais de forma integrada.

Portanto, no Plano de Metas, podemos ver de forma cristalina essas etapas bem

desenvolvidas e separadas. Uma estratégica, e outra operacional.

3.1. Resultados operacionais gerais alcançados

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29

Os objetivos relativos ao crescimento da oferta energética foram atingidos, não se

configurando oferta deficiente de energia ao longo do programa. “Os vultosos recursos

exigidos, os longos períodos de maturação e a baixa rentabilidade, levaram o setor público

a uma ampliação de sua importância como produtor no setor energético.” (LESSA: 1983,

pág. 30)

No setor de transporte, o Plano de Metas intensificando o processo de mudança da

estrutura anterior, herdada da fase primário-exportadora, prevendo investimentos no

reequipamento do sistema ferroviário, na ampliação e pavimentação das rodovias e na

melhoria dos portos e modernização da frota comercial.

O plano ferroviário propunha incorporar 440 locomotivas diesel elétricas, 12.000

vagões, aplicar 791.000 ton. de trilhos, 6.770 dormentes, 15 milhões de m3 de pedra de

lastro nas ferrovias de maior densidade de tráfego, construção de 1624 Km de novas vias,

visando interligar os antigos sistemas de apoio às economias de exportação. Porém, devido

a problemas de financiamento, as metas ferroviárias não foram integralmente cumpridas,

principalmente no tocante à aquisição de vagões (apenas 7.052 até 1960) e na reparação da

via permanente (cerca de 80% da meta foi cumprida).

Contrastando com o setor ferroviário, no qual os resultados não foram bons, o setor

rodoviário obteve crescimento significativo em extensão e qualidade. No período 1955/61,

a extensão das rodovias federais e estaduais cresceu 47,7%, e 351% foi o crescimento da

rede pavimentada. O Plano compreendia apenas as rodovias federais, estabelecendo, a

princípio, a construção de 10.000 Km de novas rodovias, melhoramentos em 3.800 Km

bem como pavimentação de 5.000 Km de novas rodovias, melhoramentos em 3.800 Km

bem como pavimentação de 3.000 Km. Em 1957 estes objetivos foram ampliados para

compreender a construção de 12.000 Km e a pavimentação de 5.000 Km, sendo que, em

fins de 1958, o notável êxito do programa permitiu a ampliação da meta de pavimentação

para 5.800 Km. De 1955 a 1961 foram construídos 12.169 Km e pavimentados 7.215 Km

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30 de rodovias federais, atingindo, portanto, os objetivos do Plano com relação às rodovias

federais. (LESSA: 1983, pág. 32)

Esses investimentos estatais em ampliação e pavimentação de rodovias tinham

estreita ligação com a implantação da indústria automobilística no país.

Segundo BRESSER PEREIRA (1985), o surgimento da indústria automobilística

constituiu-se no fato econômico dominante do período, e foi, antes de mais nada, fruto da

política econômica do Governo Federal, exercida através do GEIA (Grupo Executivo da

Indústria Automobilística), por outro lado, foi resultado dos investimentos estrangeiros

estimulados por essa política governamental.

Ainda segundo BRESSER PEREIRA (1985), a importância dessa indústria é

fundamental na explicação do desenvolvimento brasileiro nesse período, não só devido às

economias de divisas que produz, mas especialmente face às economias externas que as

empresas montadora trazem consigo. Partindo da estaca zero em 1955, o Brasil em 1960 já

produzia 133.078 veículos, com índice de nacionalização superior a 90%.

O primeiro quadro, apresentado nos anexos ( vide anexo I ), mostra como foi efetivo

o desenvolvimento da indústria automobilística nesse período.

A taxa média de crescimento industrial nesse período (1956-61) foi de 11% ao ano.

A participação das importações na oferta de equipamentos era de 52,7% em 1949 e passou

a ser de 32,8% em 1958. (BRESSER PEREIRA: 1985, pág. 50)

Terminado esse período, já se podia afirmar que o Brasil era auto-suficiente quanto

à importação de bens de consumo leves e pesados, além de ter feito enormes progressos no

campo da indústria de base e de equipamentos industriais. Esse período foi o da

consolidação da Revolução Industrial brasileira (BRESSER PEREIRA, 1985). A partir

desse momento, o desenvolvimento econômico brasileiro, embora continuasse sujeito às

crises próprias dos sistemas neocapitalistas, já se teria tornado automático, necessário e

independente. Automático porque, havendo-se consolidado no Brasil um sistema de base

capitalista (em substituição a um sistema econômico de base tradicional), o reinvestimento

dos lucros em busca de mais lucros se institucionalizara. Necessário porque, havendo esse

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31 desenvolvimento capitalista tomado a forma de um amplo crescimento industrial (e não

meramente comercial), o reinvestimento tornava-se não só interessante, mas uma

necessidade do próprio sistema, uma condição de sobrevivência das empresas em um

regime de concorrência e desenvolvimento tecnológico. Independente porque a produção

dos equipamentos necessários ao prosseguimento do desenvolvimento industrial já estava

sendo feita em sua maior parte no próprio Brasil.

Com relação ao transporte marítimo, o Plano de Metas previa investimentos no

aumento da frota mercante e na ampliação/modernização dos portos. Desse ponto de vista o

programa alcançou êxito, principalmente no que toca ao reaparelhamento e aquisição de

equipamentos de dragagem. Contudo, os resultados, em termos de movimento portuário,

foram bastante insatisfatórios.

No transporte aeroviário, a meta compreendia o reequipamento do material de vôo,

a expansão de uma adequada infra-estrutura de vôo e o estabelecimento da indústria

aeronáutica. Apenas neste último ponto o programa não obteve êxito, permanecendo

incipiente a indústria de material aeronáutico.

A meta relativa ao setor de bens intermediários englobava tanto a expansão de

atividades já existentes no país, como a instalação de novos e importantes segmentos para

integração do parque industrial. Cabendo destaque à siderurgia e à indústria de cimento.

No setor siderúrgico, um importante passo foi dado ainda durante a 2° Grande

Guerra quando da construção da Usina de Volta Redonda pelo Governo Federal.

“Em 1955 a capacidade produtora da indústria montava a 1.200.000 ton. de aço

bruto em lingotes, suprindo, aproximadamente, 80% do mercado nacional. O Plano

visava expandi-la para 2.300.000 ton., em 1960, e iniciar obras que permitissem

atingir 3.500.000 ton. em 1965. O objetivo não era propriamente a auto-suficiência,

mas sim garantir o suprimento necessário para fazer frente ao crescimento da

economia, sem onerar o balanço de pagamentos. Tanto assim, que o montante

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32 absoluto das importações ainda crescem um pouco ao longo do período.” (LESSA:

1983, pág. 36)

A indústria de cimento produzia em 1955 aproximadamente 2,7 milhões de

toneladas. O Plano de Metas determinava a expansão da capacidade produtora para 5

milhões de toneladas em 1960, objetivando não apenas fazer face ao crescimento da

demanda, mas ainda a total independência do suprimento externo.

O objetivo foi plenamente alcançado, pois em 1951, a produção de cimento Portland

comum (1.000 ton.) era de 1.441, passando para 5.039 em 1962. Já o volume de importação

era de 982 em 1954 e em 1961 foi de zero. (LESSA: 1983, pág. 37)

“Os demais setores produtores de insumos, contemplados pelo Plano, foram os de

metais não-ferrosos, álcalis, celulose e papel de imprensa, borracha e

fertilizantes.”(LESSA: 1983, pág. 37)

O principal problema relacionado aos metais não-ferrosos era o escasso

conhecimento do subsolo nacional, o que impedia a quantificação de metas a serem

atingidas, sendo impossível prescindir-se do comércio externo. O segundo quadro,

apresentado nos anexos ( vide anexo II ), resume os resultados obtidos no período

correspondente ao Plano de Metas.

Com relação a papel e celulose, as facilidades concedidas ao papel de imprensa

importado impossibilitou alcançar a meta de produção pretendida – 130.000 ton. em 1960.

A produção efetiva neste ano foi de 60.000 ton.. Já a celulose obteve êxito, pois se previa

260.000 ton. em 1960 e atingiu-se 210.300 ton., passando a 298.300 ton. em 1962.

3.2. Estatização da Economia como resultado de longo-prazo

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33 Segundo BRESSER PEREIRA (1985), foi inevitável a estatização da economia, não

no sentido de domínio completo da economia pelo Estado, não no sentido de abolição da

propriedade privada dos bens de produção (isso seria socialismo), mas de participação

crescente do Governo no produto e no investimento nacional. Em face das modificações

estruturais ocorridas na economia, um aumento rápido de urbanização e crescimento das

indústrias pesadas, era perfeitamente natural que os investimentos infra-estruturais

aumentassem em termos relativos, exigindo-se maior esforço do Governo, tanto na

prestação de serviços como no processo de formação de capital e maior participação do

setor público no dispêndio total, à semelhança do que ocorre com todos os países em rápida

industrialização. Em 1947 a participação do setor público no dispêndio total era de 17,1%,

passando para 25,9% em 1960. (BRESSER PEREIRA: 1985, pág. 56)

Cada vez mais passava a caber ao Governo não só a definição da política econômica

a ser seguida, através do processo de planejamento econômico, como também a própria

execução dessa política através de grandes investimentos na indústria de base, nos

transportes, na energia, no desenvolvimento regional, na exploração de recursos naturais e

na educação. (BRESSER PEREIRA: 1985, pág. 57)

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CONCLUSÃO

O Plano de Metas de JK foi um precursor das atividades estratégicas de

planejamento no Brasil. Mesmo de modo intuitivo, os gestores responsáveis por seu

planejamento e elaboração viam, no longo-prazo, um caminho natural para o projeto de

desenvolvimento econômico de uma nação. Por tanto, a forma como conhecemos hoje os

programas e metas do governo brasileiro (PPA), tiveram, no Plano de Metas, sua pedra

fundamental.

Evidentemente, o enfoque principal do Plano de Metas de JK foi o de preparar

o país para o que viria a se chamar “milagre econômico brasileiro”. Transformando o país

de um mero comprador de produtos importados industrializados, para um fornecedor de

insumos industriais mundiais.

Essa retórica industrializante perdurou por décadas a fio, transformando o país

em um mega tomador de recursos financeiros internacionais, a fim de suprir as demandas

por investimentos nas áreas cujo desenvolvimento econômico perduraria até princípios da

década de 80. Essa política desenvolvimentista, faria de nossa nação, uma das mais

endividadas do mundo.

Por tanto, essa prática de gestão, cujo enfoque era o planejamento a longo-

prazo, com princípios de eficiência e eficácia, teria, no Plano de Metas de JK, seu primeiro

teste de fogo, dando ênfase ao o que os gestores público pretendiam como política de

planejamento e pretensões econômicas para o nosso futuro como nação organizada.

Estavam ali alicerçados todos os empreendimentos necessários para o que se convencionou

chamar de “cinqüenta anos em cinco” o maior projeto de desenvolvimento econômico que

o país já presenciou. Ou seja, desenvolvimento em massa, a fim de tirar o atraso econômico

e social que o país atravessava perante as principais nações desenvolvidas no mundo.

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35 Tal desenvolvimento, podia ser verificado ao se avaliar a criação do Parque

Industrial, o maior da América Latina, o que possibilitou crescimentos industriais

constantes durante um bom período de tempo.

No período 1957/61, por exemplo, cresceu 7,9 % ao ano, contra 5,2 % ao ano

no qüinqüênio precedente. Resultado esse de uma industrialização vertical com ênfase nos

setores produtores de bens e de insumos básicos.

Contudo, o enunciar destes aspectos não significa que a industrialização

acelerada tenha conduzido o país à configuração de economia desenvolvida. Pelo

contrário, na medida em que uma homogeneidade relativa de situações é atributo específico

de país desenvolvido, a evolução parece ter acentudado os desníveis preexistentes na

economia. O setor primário, por exemplo, se manteve à parte do progresso econômico, o

que acentuou os desníveis setoriais, regionais e sociais.

Em 1959, a renda “per capita” do mais rico Estado da região nordeste consistia

em 30 % da renda média de São Paulo, pólo dinâmico. No mesmo ano, enquanto a renda

por habitante do Estado da Guanabara, o mais rico do país, foi superior em 76 % à daquele

Estado, a do Piauí, unidade mais pobre, atingia apenas 16,2 %. (LESSA: 1983, PÁG. 73).

O fato é que, apesar do vertiginoso crescimento industrial, os empregos

industriais no decênio 50/60 cresceram a taxas inferiores à da expansão demográfica (29 %

contra 37,2 %). Tal comportamento, aliado à expulsão do campo e atração metropolitana de

populações rurais, conduziu à formação do setor terciário ocioso, onde se deposita parcela

importante da população urbana brasileira.

Em suma, muito do que se planejou estrategicamente, intuitivamente ou não,

muito do que se pretendeu como fator de desenvolvimento econômico, não atingiu em um

todo os resultados pretendidos. Porém, ficou a lição de que se planejando pode-se chegar a

resultados melhores do que sem planejamento algum. Metodologicamente ou não. Ou seja,

o Plano atingiu parte de seus objetivos – crescimento industrial, mas deixou a desejar em

inúmeros outros aspectos, principalmente no que diz respeito à melhoria da qualidade de

vida e melhoria da distribuição de renda.

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BIBLIOGRAFIA

FISCHMANN, Adalberto, RIBEIRO DE ALMEIDA, Martinho Isnard. Planejamento

Estratégico na Prática. São Paulo. Editora Atlas - 1990.

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Científica à Competitividade em Economia Globalizada. S. Paulo. Editora Atlas S.A. –

1997.

REBOUÇAS DE OLIVEIRA, Djalma Pinho. Planejamento Estratégico, Conceitos,

Metodologia, Práticas. Editora Atlas. 17ª Edição revista e ampliada. São Paulo – 2002.

CHIAVENATO, Idalberto. Administração. Teoria, Processo e Prática. Editora Mc Graw –

Hill. São Paulo. 1985.

BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. Estado e Subdesenvolvimento Industrializado. Editora

brasiliense, 1977. São Paulo – SP.

_______________________. Desenvolvimento e Crise no Brasil (1930 – 1983). 14° Ed.

Editora brasiliense, 1985. São Paulo – SP.

KALECKI, Michael. Crescimento e Ciclo das Economias Capitalistas. São Paulo,

HUCITEC, 1977. (Coleção economia e planejamento. Serie teoria contemporânea).

LESSA, Carlos. Quinze Anos de Política Econômica. 4° Ed. Editora brasiliense, 1983.

(Tese de Mestrado/FGV). Rio de Janeiro – RJ.

MANTEGA, Guido, MORAES, Maria. Acumulação Monopolista e Crises no Brasil.

Editora Paz e Terra, 1980. Petrópolis – RJ.

MANTEGA, Guido. A Economia Política Brasileira. Editora Vozes, 1984. Petrópolis – RJ.

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37 MELLO, João Manuel Cardoso de. O Capitalismo Tardio. 3° Ed. Editora brasiliense, 1984.

São Paulo – SP.

ORENSTEIN, L., SOCHACZEWSKI, A. C., ABREU, M. P. (org.). A Ordem do

Progresso: cem anos de política econômica republicana 1889 – 1989. 2° Ed. Editora

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Capitalista no Brasil. Ensaios sobre a crise. Vol. 1. Editora brasiliense, 1982. Campinas –

SP.

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ANEXOS

ANEXO I

Variação da produção por setor industrial (1955-61)

Tipo de Indústria %

Ind. de Material de Transporte + 700%

Ind. Química + 106%

Ind. de Máquinas-Ferramentas + 125%

Ind. Metalúrgica + 78%

Fonte: Conjuntura Econômica, CEPAL, Serviço de Estatística da Produção. – In BRESSER PEREIRA: 1985, pág. 50.

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ANEXO II

Produção Nacional (ton.) Metais não-ferrosos

Ano Alumínio Chumbo Cobre Estanho Níquel

1955 1.664 4.027 399 1.203 39

1956 6.278 4.543 1.349 1.568 59

1957 8.837 7.046 1.960 1.423 68

1958 9.190 4.635 1.500 1.527 72

1959 15.187 5.526 1.800 1.530 89

1960 16.573 9.976 1.212 2.330 95

1961 18.467 12.527 1.659 - 95

Fonte: Anuário Estatístico do Brasil. Relatório do Período 1956/60 – Conselho de Desenvolvimento. – In LESSA: 1983, pág. 38.

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · A principal fonte inspiradora do Plano era uma corrente de pensamento “keynesiana” oriunda da CEPAL (Comissão Econômica

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ÍNDICE

RESUMO 5

METODOLOGIA 7

SUMÁRIO 8

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I

CONCEITOS DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NO PLANO DE

METAS DE JK 11

CAPÍTULO II

GOVERNO JK E O ENFOQUE DESENVOLVIMENTISTA 19

2.1.– O Governo JK 20

2.2.– A Influência Cepalina 22

CAPÍTULO III

RESULTADOS ALCANÇADOS COM BASE NO PLANEJAMENTO

ESTRATÉGICO 28

3.1. – Resultados operacionais gerais alcançados 28

3.2. – Estatização da Economia como resultado de longo-prazo 32

CONCLUSÃO 34

BIBLIOGRAFIA 36

ANEXOS 38

Anexo I 38

Anexo II 39

ÍNDICE 40