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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS EM BUSCA D A COMPETÊNCIA – Um Estudo sobre a Seleção de Pessoal baseada em Competências Trabalho de conclusão de curso para a obtenção do título de Especialista em Gestão de Recursos Humanos elaborado pela Aluna Carina Vasconcellos de Oliveira sob orientação da Professora Adélia Araújo Rio de Janeiro, Julho de 2006.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

EM BUSCA DA COMPETÊNCIA

– Um Estudo sobre a Seleção de Pessoal baseada em Competências

Trabalho de conclusão de curso para a

obtenção do título de Especialista em Gestão

de Recursos Humanos elaborado pela Aluna

Carina Vasconcellos de Oliveira sob orientação

da Professora Adélia Araújo

Rio de Janeiro, Julho de 2006.

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RESUMO

Com o surgimento da Globalização e de novas Tecnologias, entramos na Era

da Informação, onde o conhecimento e as informações são acessíveis a todos

em tempo real. O mercado torna-se altamente competitivo e o conhecimento

adquire valor econômico. Surge então o capital intelectual, e uma empresa

destaca-se entre as demais ao ter a capacidade de captar, manter e

desenvolver os profissionais mais qualificados do mercado. Desta forma, cada

vez mais o processo de seleção de pessoal adquire posição estratégica na

organização, que exige a busca da qualificação e atualização constantes.

Faremos no estudo a seguir, uma análise histórica e sobre a posição atual da

área de Recursos Humanos dentro de uma empresa, enfatizando o papel do

Recrutamento e Seleção no primeiro capítulo. Com estas exigências do

mercado competitivo atual, as ferramentas de seleção também devem

acompanhar esta busca pela competência, e veremos no segundo capítulo

alguns conceitos sobre a valorização das competências individuais e

organizacionais, como formas estratégicas para a empresa obter destaque

entre as demais.

Veremos no terceiro capítulo como podemos levantar as competências de um

cargo e identificá-las em uma entrevista comportamental. Por fim, faremos um

estudo de caso, aplicando todos os conhecimentos aqui levantados para

exemplificar uma seleção baseada em competências.

Portanto, a seleção baseada nas competências é uma forma de buscar

profissionais que saibam aplicar os conhecimentos de acordo com as

estratégias da organização, participando ativamente na busca de resultados da

mesma.

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METODOLOGIA

A metodologia deste trabalho é baseada em um levantamento bibliográfico,

discussão de textos, estudo sistemático e elaboração de resenha dos mesmos.

Foi realizado um estudo de caso onde analisamos o processo seletivo de uma

empresa, apresentando seu histórico, cultura e valores, para que pudéssemos

levantar o perfil das competências do cargo de Assistente de Atendimento.

Desta forma, foi possível aplicar e exemplificar todos os conceitos pesquisados

e apresentados neste trabalho, oferecendo uma compreensão melhor sobre o

tema em questão.

A hipótese lançada é de que a Seleção baseada em Competências resulta de

um processo mais preciso, seguro e ético. Desta forma, foram realizados a

pesquisa, reflexão, crítica e análise sobre a questão das competências exigidas

pelas empresas na descrição dos cargos.

Portanto o objeto de estudo é o Processo Seletivo de Profissionais baseado em

competências, onde foi realizada a investigação da importância da seleção de

pessoal baseada na identificação do perfil das competências de um cargo

específico.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................5

I. O PROCESSO SELETIVO DE PESSOAL..........................................8

A Administração de Recursos Humanos Hoje.....................................8

Seleção de Pessoal...........................................................................11

Etapas de uma Seleção Eficaz..........................................................12

II. MODELO DE COMPETÊNCIAS.......................................................15

Competências nas Organizações......................................................15

Conceitos de Competências..............................................................19

III. SELEÇÃO BASEADA EM COMPETÊNCIAS....................................23

Levantamento e Identificação das Competências na Seleção..........23

Entrevistas por Competências...........................................................28

IV. ESTUDO DE CASO............................................................................32

Apresentação da Empresa e sua Cultura...........................................32

Levantamento dos Indicadores e Mapeamento das Competências...34

O Processo Seletivo e a Entrevista por Competências.......................38

CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................40

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................42

ANEXO 1...........................................................................................................43

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INTRODUÇÃO

Os funcionários são elementos fundamentais para a realização dos objetivos

da empresa. Mas, para tanto, a formação de seu quadro funcional, deve dispor

de diversas competências para que responda de maneira eficaz às atividades

que a levam ao seu pleno funcionamento.

Assim, podemos afirmar que cada organização possui uma identidade própria,

um modo de funcionar que a caracteriza e, portanto, os profissionais que

trabalham na mesma devem possuir um conjunto de competências técnicas e

comportamentais que se identifiquem com ela.

Podemos dizer que anteriormente era dada maior importância às

características do cargo ou do trabalho no momento de selecionar um

profissional e que, atualmente as empresas buscam profissionais que “façam

bem” o trabalho, utilizando-se de competências.

Segundo Chiavenato (2000), a Seleção de Pessoal significa uma atividade de

escolha, de classificação e decisão. Seu objetivo é escolher e classificar os

candidatos mais adequados às necessidades do cargo e da organização

(CHIAVENATO, 2000). Selecionar a pessoa certa para o cargo certo é um

processo difícil, que requer do profissional de seleção técnicas eficazes, com

bases éticas e seguras.

Hoje o movimento de valorização das competências está crescendo

consideravelmente no âmbito das organizações empresariais. Segundo

Resende (2000) este fato pode ocorrer por conta do aumento da

competitividade entre os profissionais, que são considerados possuidores de

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6grande valor econômico, como capital humano. Por conseqüência disto, cada

vez mais o mercado exige maior qualificação e desempenho dos mesmos.

Este movimento da competência vem modificando alguns paradigmas dentro

das organizações, que hoje mudou o foco na seleção, no treinamento, na

remuneração e nas avaliações de desempenho dos profissionais (RESENDE,

2000).

Levantar as competências de um cargo e direcionar a seleção de pessoal

baseada nestes critérios favorece o processo e proporcionam maior precisão

na escolha, pois estas indicam não somente um diagnóstico atual, mas

principalmente um prognóstico futuro a respeito das variáveis do

comportamento humano.

É neste sentido que as competências possuem grande importância no

processo seletivo e também são consideradas ferramentas fundamentais em

outras ações estratégicas nas organizações, como a gestão de pessoas, a

avaliação de desempenho, treinamentos, descrição de cargos e salários, etc.

Porém, o objetivo principal do trabalho desenvolvido a seguir será o Processo

Seletivo baseado nas competências.

No primeiro capítulo, será apresentado o processo de seleção de pessoal.

Haverá um breve histórico dos Recursos Humanos a fim de compreendermos o

papel atual do recrutamento e seleção de pessoas em uma organização.

Serão apresentados o conceito de Seleção e as etapas necessárias para que

se possam alcançar resultados satisfatórios.

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7Para que possamos compreender o conceito de competências, no segundo

capítulo serão abordados os principais conceitos e definições, apresentando

seus tipos e relacionando as competências organizacionais e humanas.

Por fim, será analisada a seleção baseada nas competências, prática

necessária e de suma importância na Era da Informação, onde as pessoas

colocam suas competências a serviço da organização, produzindo o chamado

“capital intelectual”. Levantaremos ao final deste trabalho um estudo de caso

na empresa SENAC RIO, exemplificando uma seleção baseada em

competências do cargo de Assistente de atendimento, para assim

compreendermos melhor os conceitos aqui apresentados.

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I. O PROCESSO SELETIVO DE PESSOAL

Para que possamos compreender a situação atual do órgão de RH nas

organizações, é de suma importância analisarmos o processo de seu

desenvolvimento. Este setor, que hoje é visto como uma estratégia

organizacional, não atuou sempre desta forma.

Segundo Finnigan (1974), o recrutamento e seleção de profissionais eram

realizados pelos antigos “gerentes de linha”, responsáveis pelo staff de seu

departamento. A maior preocupação era com a contenção de custos, tudo em

nome do que era mais econômico para a empresa. Assim, a seleção era

voltada para ter eficiência na rentabilidade da companhia, sendo baseada no

Manual de Cargos, que descrevia a execução do futuro empregado.

A administração de pessoal era então representada pelo departamento pessoal

e, de forma gradativa, observamos seu desenvolvimento para a atual Gestão

de Pessoas, onde os recursos humanos hoje passam a integrar as estratégias

de negócios da empresa (FAISSAL, 2005).

A Administração de Recursos Humanos Hoje

De acordo com Chiavenato (2004), a Administração de Recursos Humanos nas

organizações passou por diversas modificações ao longo do século XX. Assim,

este autor classifica três Eras: a Industrialização Clássica, onde as pessoas

eram vistas como peças de uma maquinaria e o poder era totalmente

centralizado (CHIAVENATO, 2004: 34); a Industrialização Neoclássica em que

ocorre uma certa valorização do funcionário, mas a ênfase ainda está nos

objetivos do dirigente ( op.cit. :36); e a Era da Informação, onde a globalização

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9gera grande influência no mercado de trabalho e o profissional é visto como

capital e grande parceiro da organização ( op.cit. : 37)

A Era da Industrialização Clássica se caracteriza pelas relações industriais nas

empresas, originadas da Revolução Industrial e que predomina até meados de

1950 (op. cit. : 34). As estruturas são centralizadoras e inflexíveis, com ênfase

nas regras e controles de seus empregados. As pessoas são vistas como parte

de uma grande engrenagem, e assim deveriam ser responsáveis pelo seu

funcionamento. Quando não o desempenhavam, eram facilmente substituídas.

Segundo Chiavenato (2004), nesta Era surgem os antigos Departamentos de

Pessoal, que possuem como principal objetivo fazer cumprir e respeitar as leis

trabalhistas. O RH é centralizador e burocrático, atendo-se a atividades

operacionais e administrativas. Seu objetivo é vigiar o cumprimento das normas

e regras estipuladas, possuindo um papel coercivo e punitivo.

Logo após a Segunda Guerra Mundial, observa-se um esforço e uma

necessidade de revitalização e renovação da cultura organizacional

predominante para que haja sucesso na grande competição que se instaura. A

corrida econômica inicia-se com a Guerra Fria e os países buscam novidades,

mudanças, inovações para que possam conquistar uma posição de destaque

no mercado mundial.

Assim, “o velho modelo burocrático e funcional, centralizador e piramidal

utilizado para formatar as estruturas organizacionais tornou-se rígido e

vagaroso demais para acompanhar as mudanças e transformações do

ambiente” (CHIAVENATO, 2004: 36). Surgem, portanto, novas teorias e formas

de gerir uma organização, como a visão sistêmica e multidisciplinar (op.cit.,

2004).

Surge a Era da Industrialização Neoclássica, onde observamos o surgimento

da Administração dos Recursos Humanos de uma empresa, onde os

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10funcionários eram considerados como recursos fundamentais para o

desenvolvimento da organização. O RH é departamentalizado e responsável

pela administração das pessoas, atraindo-as e mantendo-as na organização.

Durante todo este processo econômico mundial, tivemos uma grande e rápida

mudança que atingiu não somente os negócios, mas a cultura e a sociedade

em geral. Houve uma evolução da era industrial para a era do conhecimento,

pois com a globalização, a sociedade possui acesso à informação, podendo

dominar assuntos, assim como desenvolvê-los Surge a Era da Informação,

onde as principais características são as mudanças, a rapidez e o acesso à

informação global.

Segundo Chiavenato (2004), com a informação acessível a todos e em tempo

real, as organizações precisam criar oportunidades e destacarem-se no

mercado altamente competitivo e inteligente. Assim, o conhecimento torna-se

capital e “mais importante que dinheiro é o conhecimento, como usá-lo e

aplicá-lo de forma rentável” (CHIAVENATO, 2004: 38).

A Administração de Recursos Humanos passa a ter uma nova nomenclatura e

abordagem, surgindo a Gestão de Pessoas. Nesta nova concepção,

Chiavenato (2004) afirma que as pessoas deixam de ser máquinas ou

recursos, dando importância às suas inteligências, personalidade,

conhecimento, habilidades, competências e percepções singulares. Tornam-se

assim, parceiros da organização. A informação é compartilhada e promovida

pelas organizações, que se preocupam em criar um time cada vez mais

competente e com grande diferencial, orientado para os resultados da

empresa.

Com isto, hoje observamos uma grande mudança na ação dos Recursos

Humanos das empresas, que possuem grande responsabilidade no bom

andamento de uma empresa, privando pelo recrutamento, seleção,

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11acompanhamento, valorização e capacitação de um grande valor capital: o

humano.

Seleção de Pessoal

A seleção de profissionais para um determinado trabalho ou atividade é uma

investigação e prática que teve início a partir de interesses militares, que

buscavam identificar o perfil do soldado eficaz.

Segundo Santos (1976) a seleção de pessoal sistematizada e com bases

psicológicas começou na Universidade Harvard – EUA, com Hugo Münsterberg

em 1910. Em 1917 foram aplicados testes psicotécnicos em recrutas

americanos e logo após surgiram as primeiras instituições de orientação e

seleção profissional em todo o mundo.

Santos (1976) afirma que no Brasil nosso pioneiro foi o Engenheiro Roberto

Mange, professor a Escola Politécnica da USP e diretor do Centro Ferroviário

de Ensino e Seleção Profissional, primeira instituição do gênero no Brasil.

O conceito de Seleção, segundo Santos (1976), é o processo de escolha dos

melhores elementos a participar de uma atividade na empresa. Os melhores

não seriam os de avaliação elevada, mas adequada à função específica, sendo

então necessário avaliar as necessidades do cargo.

Com as grandes e rápidas mudanças nas formas de gerir uma empresa, temos

como conseqüência, a atuação do processo de recrutamento e seleção de

pessoal com grande valor, “à medida que identifica e provê, interna e

externamente, as competências individuais necessárias ao alcance das

estratégias organizacionais” (FAISSAL, 2005 : 29).

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A seleção, portanto, pode ser definida como o momento de decisão e de

“busca, dentre os vários candidatos recrutados, aqueles que são mais

adequados aos cargos existentes na organização, visando manter ou aumentar

a eficiência e o desempenho de pessoal, bem como a eficácia da organização”

(CHIAVENATO, 2004: 131).

Weiss (1992) afirma que a contratação pró-ativa é prever possíveis problemas

e evitá-los através do conhecimento do que você precisa e deseja e contratar

pessoas que se enquadrem neste contexto. Sendo assim, é necessário

analisar a equipe, a cultura, o estilo de gestão. Tentar agregar, somar e

balancear com os defeitos e o que as pessoas da equipe precisam desenvolver

(WEISS, 1992 : 13)

Além destas preocupações, vejamos o que é necessário para buscarmos o

sucesso na seleção de pessoal.

Etapas de uma Seleção Eficaz

Para que o setor de recrutamento e seleção possa iniciar o processo seletivo, é

fundamental que, antes de qualquer ação, a vaga seja oficialmente aberta.

Para isto, cada empresa possui seus próprios procedimentos, mas o mais

utilizado é o documento chamado de Requisição de Pessoal ou “RP”, onde o

gerente o emite para solicitar que uma pessoa ocupe um determinado cargo

vacante (CHIAVENATO, 2004 : 137).

Com a vaga oficialmente aberta, o processo seletivo deve ser fundamentado

nas informações sobre o cargo a ser preenchido e nas competências

desejadas pela organização (op.cit : 131). Para isto, o selecionador deve

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13levantar e descrever o perfil do cargo desejado, realizando uma análise do

cargo e atividades, levando em conta as especialidades e habilidades

específicas para desempenhar a função (WEISS, 1992 : 22).

Antes de realizar a seleção em si, é necessário atrair as pessoas que estejam

de acordo com o perfil levantado, realizando a divulgação e o recrutamento de

pessoal. Existem diversas formas de recrutar pessoas e Faissal (2005)

denomina como “meios de atração, todos os veículos utilizados pelas

empresas para divulgar suas vagas dentro ou fora da organização” (FAISSAL,

2005:73).

Atrair pessoas hoje é uma via de mão dupla, onde não é só a empresa que

escolhe o melhor candidato (op.cit., 2005). A competitividade das empresas

está não apenas em seus produtos, como antigamente, mas em seu quadro de

capital humano. Assim, profissionais que são qualificados também possuem

uma posição de escolher a melhor empresa para se trabalhar. Faissal (2005)

afirma que então, cabe a empresa ser atrativa e saber como reter o profissional

que contratou.

Portanto, além do recrutamento ser importante pelo fato de chamar e atrair as

pessoas para o processo seletivo, se esta etapa não é realizada

satisfatoriamente, sem buscar pessoas que estejam realmente dentro do perfil

desejado ou próximo dele, o processo não terá sucesso.

Concluída a atração, inicia-se a etapa da triagem. Esta pode ser realizada

através de análise de currículos ou de entrevistas, para que se possa verificar

se as pessoas recrutadas apresentam os requisitos necessários.

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14Segundo Faissal (2005), a avaliação dos candidatos inclui diversas técnicas e

desenvolve-se na seguinte seqüência: Aplicação de Testes (de conhecimentos

técnicos e/ou psicológicos); Aplicação de Dinâmicas de Grupo; Entrevista com

o Selecionador; Entrevista com o Solicitante da Vaga (op.cit., 2005: 93)

Não será aprofundada cada etapa neste momento, visto que o objetivo é

realizarmos uma análise de como seria o processo seletivo baseado no perfil

das competências e como iremos identificá-las nestas avaliações.

De acordo com Chiavenato (2004), a escolha final é sempre de

responsabilidade do órgão requisitante e o RH terá a função de assessoria na

seleção, de Staff. Assim, a equipe de seleção é responsável por executar o

processo de recrutamento, realizar dinâmicas de grupo e as entrevistas de

triagem, aplicar testes psicológicos e técnicos, etc., desenvolvendo as

melhores técnicas de seleção para o cargo.

Neste sentido, o selecionador executa todo o processo e envia seu parecer

para o gestor. Se necessário, o RH assessora a área solicitante para

entrevistar candidatos, treinando e preparando os gerentes para desempenhar

esta técnica.

Em muitas organizações os gerentes contratam pessoas por razões impróprias.

Sem preparo e técnica, baseiam-se na “química pessoal” ou na própria

imagem. Buscam pessoas que falam como eles, parecem-se com eles e

pensam do mesmo modo, contratando reflexos de si mesmos ao invés de

identificarem as qualidades do candidato e pessoas que possam agregar

valores e diferenças à equipe (WEISS, 1992 : 13). Desta forma, observamos a

importância da seleção baseada nas competências do indivíduo, uma forma

ética e segura de selecionar pessoal.

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II. MODELO DE COMPETÊNCIAS

Observamos no capítulo anterior que muitas mudanças ocorreram dentro das

organizações devido a vários fatores, como o surgimento dos avanços

tecnológicos, gerando a globalização e o início da Era da Informação. Com isto,

atualmente as empresas correm contra o tempo para obterem a constante

atualização e uma posição de destaque neste mercado tão competitivo.

Esta competitividade entre as organizações é complexa, pois não se dá através

de fórmulas e sistemas que podem ser copiados pela concorrência, mas pelo

desenvolvimento estratégico que mantém a posição da empresa no mercado

(FAISSAL, 2005).

A estratégia da organização envolve os seus objetivos frente ao mercado, as

ferramentas, tecnologia e produtos que ela utiliza para alcançá-los, a sua visão,

missão, valores e sua cultura. Segundo Faissal (2005) é através da formulação

de sua estratégia que as competências são determinadas e assim serão

definidas as competências humanas, já que as pessoas que serão

responsáveis a pôr tudo em prática.

Veremos a seguir a definição de competência e como as mesmas surgem

como fator diferenciador entre as empresas, onde o capital humano é

responsável pelo sucesso e destaque no mercado das mesmas.

Conceitos de Competências

O conceito de competência teve aplicação a princípio na Europa, a partir dos

anos 70 e no Brasil, a “questão das competências” começa a ser pensada a

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16partir dos anos 90, nas organizações empresariais e no mundo acadêmico.

(FAISSAL, 2005).

Este conjunto vem de instâncias como: formação geral, formação profissional,

experiências de trabalho e social. Dessa forma, o novo mercado de trabalho

busca uma qualificação real do trabalhador, mais centrada ao "saber ser" que

ao "saber fazer".

A definição comumente utilizada entre profissionais de Recursos Humanos

para competência seria um “conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes

que afetam a maior parte do trabalho de uma pessoa, e que se relacionam com

o desempenho do trabalho; a competência pode ser mensurada, quando

comparada a padrões estabelecidos e desenvolvida por meio de treinamento”

(FLEURY, 2004 : 27 cita Parry, 1996).

Segundo Fleury (2004) este conceito ainda fundamenta-se nos princípios do

taylorismo-fordismo, onde a competência está associada à execução da tarefa.

Em 1973, McClelland amplia o conceito, associando-o como um talento do

indivíduo em sua prática, portanto às capacidades da pessoa (FLEURY, 2004).

Esta concepção de competência no sentido de “saber fazer” e da mesma ser

avaliada apenas na situação profissional também é alvo de crítica de Zarifian

(2001), que também amplia o conceito de competência. Segundo Zarifian

(2001), não podemos avaliar apenas o indivíduo em “sua” situação de trabalho,

pois a empresa não é apenas seu local de produção. A atividade exercida é

adquirida e praticada no social e pode ser observada em diversas situações da

vida cotidiana da pessoa.

Le Boterf (1994) afirma que a competência é uma combinatória própria do

sujeito e tentar controlá-la mecanicamente seria uma ilusão, já que entre os

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17recursos e a competência operacionalizada se desenvolve o campo das

conjugações no qual se insere a subjetividade do profissional.

A competência exige autonomia de ação que permite o engajamento voluntário

e consciente do trabalhador e pode, assim, diferenciar a competência de um

trabalho taylorizado. Zarifian (2001) afirma que a competência é do individuo,

portanto é inalienável, mas sua emergência e desenvolvimento depende da

organização e da rede de atores.

A definição de competência para Zarifian (2001) implica na tomada de iniciativa

do indivíduo e a capacidade de assumir responsabilidades diante de situações

profissionais com as quais se depara, apoiando-se em conhecimentos

adquiridos e os transformando na medida em que aumenta a diversidade das

situações.

Assim, quanto mais aumentam a complexidade das situações, os

conhecimentos adquiridos se transformam e a situação profissional se torna

cada vez mais mutável, complexo e imprevisível. Portanto, as competências

mobilizam sempre conhecimentos pré-existentes de experiências anteriores do

indivíduo, mas este deve saber transformá-las, adaptá-las e criar novas formas

de ação e conhecimento (ZARIFIAN, 2001).

Esta seria a grande diferença entre conhecimento e competência. A

competência implica a utilização e transformação do mesmo diante situações

novas, inesperadas. Rabaglio (2001) afirma que podemos te conhecimentos e

nunca termos colocado em prática, não termos habilidades, experiência.

A atitude do indivíduo está intimamente ligada à competência, da forma como

colocar em prática seu conhecimento. Assim, o êxito das ações deve remeter a

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18interdependência entre as competências e os conhecimentos, mobilizada por

diferentes fontes e atores. (ZARIFIAN, 2001: 68)

De acordo com as afirmações dos conceitos acima, podemos dizer que a

competência envolve vivência, análise crítica e antecipação ou expectação.

Segundo Resende,

“Competência é a transformação de conhecimentos,

aptidões, habilidades, interesse, vontade, etc. em

resultados práticos. Ter conhecimento e experiência e

não saber aplicá-los em favor de um objetivo, de uma

necessidade, de um compromisso, significa não ser

competente. Portanto, a competência é resultante da

combinação de conhecimentos com comportamentos.

Conhecimentos que incluem formação, treinamento,

experiência, autodesenvolvimento. Comportamento que

engloba habilidades, interesse, vontade”

(RESENDE, 2000 : 32)

Assim, ser competente está associado ao conhecimento adquirido mais à

iniciativa e motivação de colocá-lo em prática, principalmente em situações

imprevistas e novas, usando da criatividade nas ações. Complementamos com

mais uma definição de competência: é “ter conhecimentos, habilidades e

atitudes compatíveis, com o desempenho de uma atividade e ser capaz de

colocar esse potencial em prática sempre que for necessário.”(RABAGLIO,

2001: 2)

Para Fleury (2004) a mudança no conceito de competência deu-se por

transformações no mundo do trabalho, que com a globalização e demais

mudanças, exige hoje uma maior participação do indivíduo nas decisões e

ações da organização.

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19De acordo com uma interpretação de Fleury (2004), a competência não seria

um conhecimento específico adquirido e assim fundamenta sua afirmação com

o conceito de Le Boterf (1994), que afirma que a competência é resultado de

aprendizados sociais e comunicacionais, adquiridas da formação da pessoa,

sua educação e sua experiência profissional. A seguir veremos como a

competência é desenvolvida nas organizações.

Competências nas Organizações

Constatamos que devido à valorização do capital humano nas organizações, as

competências estão inseridas em uma posição estratégica da empresa, sendo

seu grande diferencial neste atual mercado competitivo.

Segundo Faissal (2005) as competências no contexto organizacional já haviam

sido abordadas por McClelland em 1973 e em 2002 Mills procura sistematizar

estes conceitos propondo vários níveis de competências existentes em uma

organização, que seriam as competências essenciais, distintivas,

organizacionais e individuais (FLEURY, 2004: 34).

As estratégias organizacionais são compostas por competências que as

mantém em seu segmento e fatores que as destacam das demais perante o

mercado e clientes (FAISSAL, 2005). Estas competências que geram os

recursos em produtos e serviços diferenciados no mercado seriam as

competências essenciais definidas por Prahalad e Hamel em 1990 (FLEURY,

2001).

Portanto, as competências essenciais seriam o ponto central na estratégia de

mercado da empresa, o que a faz permanecer e se estabelecer em

determinada área de atuação. Já as competências e atividades distintivas são

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20o que proporciona a vantagem competitiva e faz com que os clientes diferencie

a empresa entre as demais no mesmo mercado.

Com a estratégia competitiva definida, a empresa determina suas

competências essenciais do negócio, que seriam as competências

organizacionais. Estas estariam associadas às atividades meios e fins da

empresa, às estratégias, às atividades da organização como um todo, como

em suas áreas e funções (FLEURY, 2004: 35).

Faissal (2005) dá um exemplo em que ilustra as competências organizacionais

associadas à estratégia da empresa, esclarecendo melhor este conceito. Por

exemplo, quando uma empresa tem em sua estratégia a orientação para os

clientes, as competências que ela deve desenvolver é a preocupação pela

satisfação dos clientes, a capacidade de antecipação dos necessidades dos

clientes, flexibilidade e análise de conseqüências (FAISSAL, 2005 : 52).

Por fim, definidas as competências organizacionais, a empresa determina as

competências de cada função, de cada indivíduo que assumirá a

responsabilidade de pô-las em prática. Vimos nas definições sobre o conceito

de competência que o indivíduo é responsável em aplicar seus conhecimentos

em situações novas, imprevistas, utilizando-se assim de pró-atividade e

iniciativa, participando ativamente e gerando resultados para a empresa.

O conceito de competência não estaria associado à ação, mas ao

desenvolvimento dos conhecimentos dentro de uma ação, onde o profissional

gera o saber agir; saber mobilizar; saber transferir; saber aprender; saber se

comunicar; saber se engajar; ter visão estratégica; assumir responsabilidades,

que agreguem valor social ao individuo e econômico para a empresa (FLEURY,

2004 : 30).

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21Fleury (2004) categoriza as competências individuais em três grandes blocos,

envolvendo a relação do profissional com toda a empresa. Seriam as

competências de negócio, técnico-profissionais e sociais.

As competências de negócio são as que estão relacionadas ao conhecimento e

compreensão do indivíduo ao ambiente interno e externo da empresa,

identificando potenciais e desafios ao negócio da empresa. As competências

técnicas é a capacidade do indivíduo em adquirir informações e conhecimentos

técnicos referidos à sua área de atuação, buscando sempre o auto-

desenvolvimento, atualização e o emprego das mesmas nos resultados da

empresa.

Por último, as competências sociais seriam as comportamentais, necessárias

para o bom relacionamento interpessoal entre os demais membros da

organização. Um exemplo seria a comunicação, habilidade de comunicar-se

com clareza e objetividade, facilitando a troca de informações e o trabalho em

equipe.

Segundo Dutra (2004 :24), na relação entre pessoas e organizações existe “um

processo contínuo de troca de competências”. A empresa transfere

conhecimentos de que dispõe e que lhe trazem vantagens competitivas e seus

funcionários utilizam esses conhecimentos e são convidados a agregar valores

com suas competências individuais, havendo uma troca contínua onde ambos

saem vantajosos.

Este intercâmbio de competências implica na dinâmica entre duas categorias

de competências: as organizacionais e as individuais. Utilizando o exemplo

citado anteriormente de que a competência organizacional seria a capacidade

de antecipação às necessidades dos clientes, associamos esta competência à

uma individual, do profissional que lida diretamente com o cliente, que precisa

desempenhar a competência pró-atividade e foco no cliente. Este, portanto,

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22teria a capacidade de antecipar-se às demandas revelando comportamento

produtivo e a capacidade de desenvolver trabalhos em parceria com o cliente,

identificando sua real necessidade e oferecendo soluções eficazes.

No próximo capítulo abordaremos como podemos identificar estas

competências de um profissional em seu processo de seleção.

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23

III. SELEÇÃO BASEADA EM COMPETÊNCIAS

Observamos no capítulo anterior que a formulação das competências

organizacionais é necessária para determinar as competências humanas, que

quando colocadas em prática com eficácia, proporciona à organização o

alcance de seus objetivos.

As competências humanas, quando avaliadas no contexto profissional,

pressupõem a sua aplicação com o objetivo de atingir um resultado associado

à uma estratégia estabelecida pela empresa.

De acordo com Dutra (2002) o profissional é responsável para agregar valores

e resultados à empresa, “entregando-se” de forma a trocar conhecimentos e

sucessos. Para atingir tal objetivo, é preciso que o mesmo possua e

desenvolva suas competências individuais.

Veremos a seguir como mapear as competências de um cargo específico e

identificá-las em um processo seletivo.

Levantamento e Identificação das Competências na Seleção

Como vimos no primeiro capítulo, para que o processo seletivo tenha sucesso,

é necessário o conhecimento sobre os requisitos desejados do cargo. Quanto

mais informações e detalhes sobre o cargo, teremos maior êxito no momento

de escolha do candidato final.

Porém, segundo Faissal (2005), os processos seletivos mais convencionais

analisam somente a descrição do cargo. Atualmente, com as transformações

do ambiente organizacional e no mercado cada vez mais competitivo, para

realizar o mapeamento das competências é necessária uma análise mais

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24profunda de toda a organização, “considerando sua estratégia competitiva, as

competências essenciais e básicas que garantem a efetivação dessa estratégia

organizacional, até chegarmos às competências profissionais dos empregados”

(FAISSAL, 2005 : 88).

Portanto utilizar o modelo de seleção por competências não é tão simples

assim, e segundo Faissal (2005) o selecionador deve escolher as técnicas de

avaliação pertinentes ao que necessita selecionar, alinhando os procedimentos

com a estratégia da organização (op.cit., 2005: 47).

Antigamente se o profissional era tecnicamente competente, já era adequado

para ocupar o cargo da empresa. Portando, somente as competências técnicas

do indivíduo bastavam para serem avaliadas em um processo de seleção

(RABAGLIO, 2001).

Um exemplo dado por Rabaglio (2001:5) é o cargo de Analista de Contas a

Pagar, onde os pré-requisitos são a Formação em Contabilidade, Economia ou

Administração (Conhecimentos) e domínio de Excel, pacote Office e

Matemática Financeira (Habilidades). As Atitudes e as competências

comportamentais não seriam tão importantes quanto à parte técnica.

Com estas atuais mudanças nas organizações, o indivíduo deixa de ser apenas

um recurso humano e passa a ser um impulsionador inteligente, “que ativa os

recursos da organização possibilitando que ela seja competitiva” (FAISSAL,

2005 : 61).

Segundo Rabaglio (2001) para realizar uma seleção por competências é

necessário realizar um mapeamento das competências para cada cargo da

organização com foco nas estratégias e competências organizacionais. Assim,

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25para a realizar este mapeamento, o primeiro passo é estabelecer uma parceria

com a área requisitante, buscando assim os indicadores de competências do

cargo (RABAGLIO, 2001 : 8). A autora define alguns indicadores, descritos a

seguir:

“a. Requisitos técnicos e culturais do cargo;

b. Descrição do cargo (cada item, frase ou

verbo de ação é um precioso indicador de

várias competências técnicas e

comportamentais.);

c. Principais desafios do cargo;

d. Projetos a serem desenvolvidos pelo cargo;

e. Maiores erros cometidos pelo cargo;

f. Situações críticas administradas pelo cargo;

g. Características dos principais clientes

internos do cargo;

h. Características dos fornecedores internos

do cargo;

i. Cultura da equipe;

j.Cultura da liderança;

k. Missão, visão, valores da área requisitante;

l. Cultura da empresa;

m. Outras informações específicas do cargo.”

(RABAGLIO, 2005 : 9)

Com os indicadores, definimos quais conhecimentos, habilidades e atitudes

são necessários para o cargo em questão. Um exemplo seria o desafio

proposto pelo cargo de atender reclamações de clientes. Isto indicaria que a

pessoa deve ter o conhecimento técnico de negociação de conflitos, a

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26habilidade de já ter tido a experiência no trato com pessoas difíceis e a atitude

de boa comunicação interpessoal e empatia (RABAGLIO, 2005 : 10). Segundo

a autora com a definição das competências necessárias, formamos grupos de

competências similares para assim facilitar a identificação das mesmas. (Idem,

2005:15).

Após identificar todas as competências, é importante definir o que cada

competência ou cada grupo de competência significa, descrevendo o que

determinado conjunto de comportamentos seria importante para o cargo em

questão, “levando em conta a situação que necessita dos comportamentos

para sua eficácia” (Idem, 2005: 25). Após esta definição as competências são

selecionadas e determinadas junto com a área requisitante.

Faissal (2005) realiza uma análise e afirma que algumas características são

muito mais solicitadas pelas empresas do que outras e que assim, é possível

criar um conjunto básico de competências específicas para determinados

grupos de atribuições. O autor refere-se a Kosminsky (2001) no quadro a

seguir:

Características Requisitadas Descrição

IntelectuaisEntendimento, lógica de argumentação - síntese e dialética, capacidade de correlacionar fatores e problemas multidimensionais e inteligência prática.

FuncionaisHabilidades essenciais ao domínio da função exercida, capacidade de expansão do conhecimento para outras áreas de problema, reconhecimento de oportunidades e atualização profissional.

OrganizacionaisCapacidade de atender, definir e adaptar prioridades, resolver problemas, capacidade de implementação, confiabilidade e postura construtiva em relação a mudanças.

ProdutivasAdministração do tempo, foco, follow up sobre iniciativas anteriores, desempenho, resistência ao stress e capacidade de operar em situações críticas, vitalidade e estabilidade emocional.

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Gerenciais Liderança, capacidade de persuadir, integrar e formar equipes, além de contribuir para o desenvolvimento de outros.

SociaisFranqueza, interesse sincero em desenvolver-se, capacidade de lidar com a rejeição, resposta a críticas, solidariedade e capacidade de estabelecer interesse e obter respostas.

Relacionais Capacidade de comunicação, diplomacia e tato, capacidde de inspirar outros, carisma e autoridade.

Julgamento

Capacidade de distinguir o que é ou não relevante, antecipar tendências e desdobramentos, possuir um sexto sentido negocial, reconhecer competências e "ler as entrelinhas", bem como ajustar ações à relevância do fato gerador.

Iniciativa

Orientação à ação e aos resultados, capacidade de influência no processo de decisão, motivação, força de vontade, tenacidade e perseverança,aceitação de desafios (ponderada pela avaliação dos riscos) e procura permanente por novas ou melhores alternativas.

Fonte : FAISSAL, 2005 : 63 e 64

Portanto as competências individuais são os conhecimentos, habilidades e

atitudes de um profissional, dentro de uma estratégia organizacional. Assim,

identificamos os recursos pessoais (conhecimentos, habilidades e atitudes), os

recursos incorporados (qualificação, experiências em eventos, redes de

Relações sociais; redes de informação) e os recursos organizacionais

(autonomia, integração, comunicação) do indivíduo durante o processo de

seleção.

Faissal (2005) levanta uma questão muito importante: “as competências

identificadas no candidato, durante o processo seletivo, serão efetivamente

utilizadas por ele, em consonância com seus interesses e os da organização,

pelo tempo que for preciso e nas ocasiões necessárias?” (FAISSAL , 2005 : 50)

Por este motivo é necessário aplicarmos uma ferramenta eficaz onde

possamos ter mais segurança na escolha do candidato adequado à vaga em

aberto.

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28Entrevistas por Competências

A entrevista é o instrumento mais utilizado para decidir sobre a contratação de

um profissional. São perguntas realizadas com o objetivo de levantar

informações a respeito do indivíduo. Existem diversos tipos de entrevistas e

Faissal (2005) descreve cada uma delas: Entrevista Técnica, Psicológica,

Tradicional, Situacional e Comportamental.

A Entrevista Técnica tem como objetivo coletar informações sobre o

conhecimento técnico do indivíduo em determinada área (FAISSAL, 2005: 126)

e geralmente é realizada entre as últimas etapas do processo seletivo, pelo

gestor ou responsável da área requisitante.

A Entrevista Psicológica possui como foco principal levantar características

sobre a personalidade e vida pessoal do candidato para assim “compor um

perfil psicológico e analisar se tal perfil está adequado ao perfil de

competências que se está procurando” (idem, 2005: 127). Deve ser realizada

por Psicólogos, que segundo pesquisa realizada por Faissal em 2002

compõem 66% dos profissionais responsáveis pelos processos seletivos (idem

2005: 127).

Nas Entrevistas Tradicionais são utilizadas perguntas abertas, geralmente

indutivas, onde o profissional pode manipular os resultados e responder o que

achar adequado para sair-se bem no processo seletivo (idem 2005: 129).

Segundo Rabaglio (2001: 65) as perguntas indutivas entregam para o

candidato a melhor resposta e não trazem contribuições significativas para a

coleta de informações.

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29As Entrevistas Situacionais são muito similares às entrevistas tradicionais e

também levam o profissional a manipular os dados. São perguntas hipotéticas,

onde são criadas situações de trabalho que poderá ou não vir a ser realizado

pelo candidato. Segundo Rabaglio (2001: 65) o candidato pode ensaiar as

respostas destas perguntas e, além disso, ele não viveu esta situação para dar

respostas verdadeiras sobre o que faria de fato. Assim, também não é o tipo de

entrevista mais adequada para que a seleção obtenha sucesso na escolha.

A Entrevista Comportamental seria a baseada nas Competências definidas

para o cargo. Elas são realizadas através de exemplos de comportamentos

passados realmente vividos pelo candidato e são a maneira mais eficaz de

prever o comportamento futuro do mesmo (FAISSAL, 2005). O entrevistador irá

formular perguntas onde o candidato irá descrever situações concretas, que

possam ser identificadas as competências que se pretende analisar (idem,

2005).

Rabaglio afirma que “todas as pessoas são capazes de falar sobre

acontecimentos passados e exemplificar a sua atuação, o que permite ao

entrevistador fazer perguntas estratégicas para a observação de

comportamentos específicos do Perfil do cargo” (RABAGLIO, 2001: 67).

Segundo Rabaglio (2001) todas as perguntas são elaboradas com

antecedência, baseadas no mapeamento de competências realizado

anteriormente. Estas perguntas são estratégicas e cada uma delas deve estar

associada a uma situação similar ao da competência ou grupo de competência

desejado.

A autora descreve algumas técnicas da entrevista comportamental:

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“Investigação do comportamento passado

do candidato;

É planejada com base no perfil de

competências;

É uma entrevista personalizada;

É uma entrevista do tipo estruturada e

situacional, já que há o planejamento de

uma estrutura específica para cada

processo seletivo;

Usam-se perguntas abertas específicas;

Perguntas com verbos de ação no

passado;

Todas as perguntas são planejadas para

obter do candidato respostas que tenham

com clareza o seu contexto, a sua ação e o

resultado obtido.”

(RABAGLIO, 2001 : 34 e 35).

O entrevistador tem papel fundamental e deve saber perguntar e ouvir o

candidato com precisão. Ele não pode aceitar declarações vazias, sem

precisão e que forneçam informações incompletas, onde não é possível

observar tais comportamentos específicos. “Toda resposta incompleta gera a

necessidade de uma pergunta complementar” (idem, 2001 : 40).

O candidato deve dizer exatamente o contexto da situação (onde e quando o

fato ocorreu), a ação que realizou durante a situação, descrevendo que

atitudes tomou e qual foi o resultado e o desfecho do fato ocorrido. Rabaglio

(2001: 37) define que a declaração do candidato, para estar completa, deve

conter o CAR: Contexto, Ação e Resultado.

Page 31: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … VASCONCELLOS DE OLIVEIRA.pdf · levantar o perfil das competências do cargo de ... que requer do profissional de ... Haverá um

31Portanto, pesquisas indicam que as entrevistas tradicionais, baseadas em

hipóteses e adotadas pelas empresas durante muitos anos, são geralmente

determinadas pela intuição do entrevistador, pois não geram informações

verdadeiras e significativas. Desta forma, elas não garantem o sucesso da

seleção e geram muitos erros no processo decisório. A grande vantagem da

Seleção baseada em Competências “é o fato de que a mesma não é baseada

em intuições e sim em fatos concretos e mensuráveis, numa metodologia

consistente, testada e comprovada pelo mercado empresarial.” (RABAGLIO,

2001:31).

Veremos agora a aplicação destes conceitos em um exemplo de seleção

baseada em competências em uma organização.

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IV. ESTUDO DE CASO1

Como referido anteriormente, para determinar um perfil do cargo desejado é

necessário conhecer a cultura e estratégia da empresa, para assim

determinarmos as competências organizacionais e por fim as desejadas pelo

cargo a ser preenchido.

Veremos a seguir a apresentação da empresa em questão, Serviço Nacional

de Aprendizagem Comercial do Rio de Janeiro, o SENAC RIO.

Apresentação da empresa e sua cultura

A empresa estudada, o Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

foi criada pelo Decreto-Lei nº 8.621, de 10 de janeiro de 1946. Esses

dispositivos legais atribuíram à Confederação Nacional do Comércio o encargo

de organizá-lo e administrá-lo, a partir de objetivos, estrutura e funcionamento

gerais neles estabelecidos. O Senac foi organizado nacionalmente com uma

Administração Nacional e com Administrações Regionais estaduais autônomas,

estrutura que até hoje persiste.

O objetivo primeiro da Instituição era o de promover a aprendizagem comercial

metódica para o menor aprendiz, bem como cursos práticos para os

empregados adultos do comércio. Com a evolução da realidade social,

1 As informações sobre o SENAC RIO apresentadas neste capítulo foram retiradas do material institucional virtual interno, localizado do sistema Datasul, na Educação Corporativa. Demais conhecimentos foram adquiridos durante a atuação da autora deste trabalho na área de RH da referida empresa.

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33econômica e cultural e com o desenvolvimento organizacional interno, a ação

institucional passou a manifestar-se de formas diversas.

Em compasso com essas mudanças, outras atividades educacionais, serviços

e produtos, além dos cursos convencionais, foram gradativamente sendo

oferecidas, tais como seminários, oficinas, mostras, desfiles, concursos,

certificações, programas a distância, assessorias, consultorias, livros e vídeos.

Em decorrência, os valores e as práticas da organização têm evoluído dos

modelos de serviço público, de ensino escolar regular e de cunho

assistencialista para os de administração privada, de educação permanente e

de entidade do terceiro setor.

Hoje o Senac Rio é uma entidade, privada e não-lucrativa, que cria condições

para que pessoas e organizações vivam e empreendam na emergente

sociedade do conhecimento. Essa caracterização, que integra a missão e a

visão institucionais, é implementada por uma estratégia mercadológica

inovadora, de ampliação do conjunto de segmentos clientes e de diversificação

de serviços e produtos, que vão além das ações convencionais de educação

profissional e que flexibilizam a separação rígida entre trabalho, educação,

lazer e cultura.

O Senac Rio atua hoje nas seguintes áreas de conhecimento: Administração e

Desenvolvimento Empresarial; Tecnologia e Gestão Educacional; Terceiro

Setor; Cultura; Comunicação; Idiomas; Moda; Beleza; Design; Saúde; Meio

Ambiente; Informática; Telecomunicações; Turismo e Hotelaria; Gastronomia;

Entretenimento e Esportes; e Atividades com Animais.

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Para essas áreas são desenvolvidos serviços e produtos variados, tais como:

cursos em níveis diversos de educação, seminários, congressos, campanhas,

encontros, oficinas, exposições, desfiles, concursos, certificações, treinamentos

customizados e in company, programas a distância, assessorias, consultorias,

livros, CD-ROM, vídeos e softwares.

A organização SENAC RIO possui 50 unidades em 31 municípios do Rio de

Janeiro, dos quais 6 são Centros Regionais, além de 13 Centros

Especializados, Editora, Posto Escola e Restaurantes.

O cargo a ser analisado é o de Assistente de Atendimento, existente em todas

as unidades da empresa. Faremos um levantamento dos indicadores das

competências, a primeira etapa a ser realizada em um processo seletivo por

competências, segundo Rabaglio (2001).

Levantamento dos Indicadores e Mapeamento das Competências

Rabaglio (2001) afirma que com os indicadores, definimos quais conhecimentos,

habilidades e atitudes são necessários para o cargo em questão. Como vimos

no capítulo anterior, a autora define algumas formas de levantar tais indicadores

e nos basearemos em alguns deles a seguir.

Como observamos acima, o SENAC RIO possui diversas unidades no estado do

Rio de Janeiro. Nelas são oferecidos diversos tipos de programações voltadas a

capacitação profissional. O cargo analisado de Assistente de Atendimento é

responsável pelo atendimento aos clientes que chegam às unidades do SENAC

RIO, prestando informações e envolvendo diversas atividades administrativas.

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35Segundo o plano de cargos e salários do SENAC RIO, as atividades do cargo

resumem-se à:

Realizar tarefas administrativas,operacionais e de suporte correlatas às

especificidades da área;

Colaborar com a Gerência nas tarefas de administração e execução dos

projetos da área;

Realizar e receber ligações telefônicas, inclusive prestando informações;

Redigir textos; elaborar propostas, organizar e montar eventos de

natureza múltipla;

Digitação de textos e documentos diversos;

Dar suporte aos projetos desenvolvidos na unidade/setor;

Providenciar assinaturas cabíveis em documentos;

Conferir a documentação enviada pelas unidades subordinadas;

Realizar lançamentos no sistema DATASUL;

Elaborar planilhas diversas;

Receber e expedir documentos;

Organização e manutenção de arquivos físicos e eletrônicos;

Atender à chefia imediata;

Atualizar cadastros diversos;

Atender público externo e interno.

Para desempenhar tais tarefas, o perfil exigido não possui preferência de sexo;

a idade desejada é de 21 anos a 40 anos; a Escolaridade mínima é o Nível

Médio Completo. O profissional deve possuir conhecimentos de informática

(Word/ Excell/ Internet), apresentar boa digitação, comunicação oral e escrita.

É exigida experiência mínima de um ano em cargo similar, com atendimento

aos clientes.

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36Os principais desafios do cargo estão no trato social com os clientes externos e

internos (funcionários), assim como a organização de suas atividades e a

possível realização de negociação e vendas durante o atendimento ao público.

Os maiores erros cometidos e dificuldades enfrentadas pelo profissional seriam

problemas no relacionamento interpessoal; ao negociar e atender o cliente; a

comunicação oral e escrita, não conseguindo fazer entender-se com os demais;

a organização de arquivos; envio de documentos para outras unidades; falta de

comprometimento, responsabilidade e assiduidade.

Através de uma análise de sua trajetória, observamos que o SENAC RIO trata-

se de uma empresa onde há valores e culturas ainda muito arraigadas de um

serviço público, onde até 1993 os funcionários eram selecionados através de

concurso. Apesar de ser uma organização em processo de modernização e

atualização, onde sua visão é de buscar a autonomia e seu desenvolvimento de

auto-sustentabilidade, observamos ainda alguns valores que possuem

resistência a esta mudança.

A hierarquia ainda é muito forte e as relações entre funcionários e chefias são

amistosas e muito respeitosas. As informações devem ser passadas respeitando

o organograma e as decisões são realizadas entre a alta cúpula. Dentro deste

cenário, observamos muitos fatores ocorrendo, como a busca de otimizar e

modernizar processos, a geração de conhecimento e a chamada para a

participação dos colaboradores.

Tendo em vista estas informações, podemos mapear algumas competências

interessantes para o profissional que assumirá o cargo de Assistente de

Atendimento. Segundo Rabaglio (2001) é importante definirmos o significado de

cada competência para assim determinar junto com a área requisitante quais

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37serão as competências desejadas para a função em questão. Veremos a seguir

as selecionadas através dos indicadores levantados acima.

Comunicação Capacidade de transmitir, expressar e compreender as mais

diversas informações de forma clara, objetiva e sem distorções.

Disciplina Acatar normas e procedimentos adotados pela empresa e sua área de trabalho.

Empatia/ Simpatia Saber colocar-se no lugar do outro. Relacionar-se com simpatia.

Flexibilidade Capacidade de adaptar atitudes e comportamentos, estando predisposto a receber e aceitar reformulações.

Foco no clienteCapacidade de desenvolver trabalhos em parceria com o cliente, identificando sua real necessidade e oferecendo

soluções eficazes.

Iniciativa Habilidade para agir de forma independente e pró-ativa.

Pró-Atividade Capacidade de antecipar – se às demandas revelando comportamento produtivo.

Planejamento/ Organização

Capacidade de estruturar dados e informações, traçando metas e procedimentos para alcançar objetivos definidos

Resistência à Rotina Capacidade de desempenhar tarefas repetitivas por um tempo prolongado sem perder a qualidade

Responsabilidade Senso de dever sem a necessidade de controle externo

Tolerância/ Paciência Respeito a Personalidade do outro, sem ser indulgente e nem autoritário

Trabalho em Equipe

Capacidade de manter-se acessível e disponível, demonstrando interesse em somar esforços junto aos demais, num clima de interdependência e confiança mútua, tendo em

vista os objetivos grupais.

Estas foram as competências necessárias para que um profissional que assuma

a vaga de Assistente de Atendimento possa desempenhar suas atividades com

sucesso, alcançando a qualidade dos processos estratégicos da empresa.

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38Veremos agora como podemos realizar a identificação das mesmas no

candidato durante a seleção.

O Processo Seletivo e a Entrevista por Competências

No SENAC RIO, o primeiro procedimento para realizar um processo de seleção

é a criação de uma Requisição de Pessoal, um documento oficial que justifica a

abertura da vaga e informa o cargo e seu nível, a gerência subordinada e a

unidade a ser alocada. Este documento é assinado pelo Gerente da Unidade,

pelas Superintendências e pelo Presidente. Quando está devidamente

autorizada, a Requisição é enviada para o Recursos Humanos, na Coordenação

de Recrutamento e Seleção.

O profissional de seleção faz contato com a Unidade para identificar junto ao

requisitante o perfil esperado e assim confirma as competências desejadas.

Com o perfil técnico e comportamental definido, a primeira etapa da seleção,

como vimos durante este estudo, é atrair candidatos qualificados.

Todo o processo seletivo no SENAC RIO é arquivado e possui todo um

procedimento específico, portanto tudo deve ser devidamente justificado e

documentado, inclusive a atração de pessoal. Geralmente esta é realizada

através de divulgações em sites de currículos online, jornais locais ou

internamente nas unidades. Após a atração é realizada a triagem dos currículos

recebidos, onde identificaremos o perfil técnico: a escolaridade, conhecimentos

e a experiência dos candidatos.

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39É realizada uma convocação para ser realizada uma entrevista coletiva, ou em

alguns cargos uma dinâmica de grupo. No caso do cargo de Assistente de

Atendimento a entrevista coletiva é uma forma de selecionar candidatos para a

próxima etapa, que é a entrevista individual baseada em competências.

A entrevista é realizada em um ambiente seguro, sem possibilidade de

interrupções e barulho. Segundo Faissal (2005) é muito importante que haja um

ambiente adequado e que o entrevistador esteja cuidadosamente preparado, ou

seja, com a leitura prévia das informações do currículo do candidato e com uma

“lista de perguntas específicas relacionadas às competências que serão

avaliadas” (FAISSAL, 2005 : 132). O formulário de perguntas utilizado pelo

SENAC RIO para a realização das entrevistas por competências do cargo em

questão, está no Anexo 1 deste trabalho.

A entrevista baseada em competências nos traz situações concretas em que o

profissional teve que tomar alguma atitude, aplicando algum conhecimento pré-

estabelecido, transformando em resultados. Sendo positivo ou negativo, este

indica como a pessoa reage a tal situação ou como reagiria de uma próxima

vez, quando o candidato identifica de forma espontânea o que aprendeu em

determinado momento.

Este instrumento é muito eficaz e hoje é uma das formas mais utilizadas de se

conhecer as competências de um candidato. Faissal (2005) afirma que nenhum

procedimento deve ser utilizado isoladamente em um processo de seleção, e

que, para conhecermos melhor um candidato, nada melhor que aplicarmos

várias formas de avaliação, como testes de personalidade, técnicos, dinâmicas

de grupo,etc. Inclusive as Competências podem ser identificadas de diversas

outras formas, como as dinâmicas de grupo e jogos de competências.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No final da década de 80, Semler (1988) já alertava sobre a dificuldade na

mudança de paradigmas dos gestores e afirma que é fundamental “Mudar a

Mentalidade e Implantar Novos Conceitos”. Este autor também mencionou

sobre a década de 30, onde os funcionários eram meras peças de um sistema,

que estão bem representados no filme Tempos Modernos de Charles Chaplin.

Hoje observamos a grande mudança do papel dos funcionários, que hoje são

colaboradores, participativos e possuem grande importância na aplicação e

desenvolvimento de conhecimento dentro da organização. Ele sai da posição

passiva, deixando de ser parte de uma engrenagem e passa a atuar

ativamente no alcance dos objetivos da empresa.

Com estas mudanças corporativas, observamos também a mudança em

diversas áreas da organização, inclusive o Recursos Humanos, que passa a ter

papel estratégico e passa a ser chamado de Gestão de pessoas, onde é

responsável pelo capital intelectual, captando, retendo e desenvolvendo os

profissionais que movem a empresa.

A competitividade das empresas encontra-se hoje em seu capital humano, em

quem obtém os melhores profissionais do mercado e assim as melhores idéias,

atitudes e por conseqüência, os melhores resultados. Isto faz com que os

profissionais se vejam na situação de escolherem qual empresa eles querem

trabalhar. Quais que irão oferecer as melhores condições de trabalho,

oportunidade de desenvolvimento e crescimento, trabalhos motivadores e que

promovam uma troca, agregando novos conhecimentos e valores. Desta forma

a seleção de pessoal passa a ter maiores dificuldades ao atrair, selecionar e

escolher o profissional ideal para a vaga em questão.

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Observamos neste estudo que um profissional pode ter um conhecimento

considerável e excelente, porém, se não souber aplica-lo e transferi-lo aos

demais, não será competente o bastante. A competência, segundo Zarifian

(2001) seria a capacidade do indivíduo em transformar um conhecimento

diante situações diversas, aplicando informações adquiridas anteriormente em

novas formas de ação e conhecimento. Para isto, o indivíduo deve ter iniciativa,

motivação e tomada de responsabilidade, onde assume as conseqüências de

seus atos em prol de um resultado.

Para que o profissional possa aplicar e desenvolver suas competências, a

organização deve fornecer oportunidades e autonomia para atuar de forma pró-

ativa. Dutra(2004) afirma que o indivíduo e a organização estabelecem uma

relação de troca de competências, onde ambos saem vantajosos, agregando

valores e novos conhecimentos, gerando a aprendizagem organizacional.

Para identificar se um indivíduo possui conhecimento, habilidade e a atitude de

colocá-los em prática, apresentamos a ferramenta utilizada nos processos de

seleção que possui a técnica mais segura para a tomada de decisão final do

candidato. A entrevista baseada em competências possui uma metodologia

consistente, onde obtém informações reais do indivíduo em suas ações no

trabalho ou em outras atitudes. Suas respostas contêm a Situação, a Atitude

tomada e o Resultado obtido, onde podemos prever atitudes futuras através de

um comportamento passado.

Portanto, através desta análise sobre o mercado atual e o objetivo das

organizações, encontramos uma ferramenta de seleção mais eficaz e

adequada ao que as grandes empresas buscam hoje: a competência.

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BIBLIOGRAFIA

CHIAVENATO, Idalberto (2004) “Gestão de Pessoas: e o novo papel dos

recursos humanos nas organizações” Rio de Janeiro, Elsevier.

DUTRA, Joel S. (2002) “Gestão de Pessoas: modelo, processos tendências e

perspectivas” São Paulo: Atlas.

FAISSAL, Reinaldo (organizador) (2005) “Atração e Seleção de Pessoas” Rio

de Janeiro, Editora FGV.

FINNIGAN,John; tradução Ricardo Castaldi (1973) “A Pessoa Certa no Lugar

Certo” São Paulo, Difusão Européia do Livro.

FLEURY, Afonso e FLEURY, Maria Tereza Leme (2004) “Estratégias

Empresariais e Formação de Competências: um quebra-cabeça caleidoscópico

da indústria brasileira” 3ª ed. São Paulo, Ed. Atlas.

LE BOTERF, G. (1994) “De la Compétence” Paris, Les Éditions d’ Organisation

RESENDE, Enio (2000) “O Livro das Competências : desenvolvimento das

competências: a melhor auto-ajudo para pessoas, organizações e sociedade”

Rio de Janeiro, Qualitymark Ed.

SANTOS, Oswaldo de Barros (1976) “Psicologia Aplicada à Orientação e

Seleção Profissional” São Paulo, Ed. Pioneira.

SEMLER, Ricardo (1988) “Virando a Própria Mesa” São Paulo, Best Seller.

SENAC RIO, Material Institucional Virtual, disponível no sistema interno

Datasul para os seus colaboradores, na Educação Corporativa. Rio de Janeiro.

WEISS, Donald H. ; tradução Ibraíma Dafonte (1992) “Entrevista de Seleção :

como conduzi-la com êxito” São Paulo, Nobel.

ZARIFIAN, Philippe (2001) “Objetivo Competência – Por uma nova lógica” São

Paulo, Editora Atlas S.A.

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ANEXO 1

Assistente - Recepção

Pré-Requisitos:

Sexo: indiferente

Idade: indiferente

Escolaridade: Nível Médio Completo

Experiência: 1 ano em cargo similar

Atividades funcionais do cargo:

Realizar tarefas administrativas,operacionais e de suporte correlatas às

especificidades da área;

Colaborar com a Gerência nas tarefas de administração e execução dos

projetos da área; .Realizar e receber ligações telefônicas, inclusive

prestando informações;

Dar suporte aos centros especializados e Unidades Operacionais;

Redigir textos; elaborar propostas, organizar e montar eventos de

natureza múltipla; .Digitação de textos e documentos diversos;

Dar suporte aos projetos desenvolvidos na unidade/setor;

Providenciar assinaturas cabíveis em documentos;

Providenciar cronograma de férias;

Conferir a documentação enviada pelas unidades subordinadas;

Prestar todo o suporte administrativo e operacional demandado pelos

trabalhos da unidade/setor;

Realizar lançamentos no sistema DATASUL;

Elaborar planilhas diversas;

Receber e expedir documentos;

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Organização e manutenção de arquivos físicos e eletrônicos;

Dar suporte operacional para parametrização / melhorias do sistema

DATASUL;

Atender à chefia imediata;

Atualizar cadastros diversos;

Atender público externo e interno.

Conhecimentos desejados:

Experiência com atendimento a clientes

Boa postura profissional

Conhecimento de informática (Word/ Excell/ Internet)

Boa Digitação/ Comunicação oral e escrita

Perfil de Competências:

1. Comunicação

2. Empatia

3. Flexibilidade

4. Foco no cliente

5. Iniciativa

6. Organização

7. Pró-Atividade

8. Resistência à rotina

9. Tolerância/Paciência

Roteiro de Entrevistas por Competências para o cargo de Assistente

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Como você sabe que uma pessoa entendeu exatamente o que você

disse a ela? Comente um caso. Qual foi o desfecho? (Comunicação)

Comente uma situação em que você deu uma grande contribuição para

um problema de um cliente. Como agiu? Qual foi o resultado? (Empatia)

Dê um exemplo de uma situação onde todo o seu cronograma tenha

sido perturbado por algum imprevisto. Qual era seu trabalho? Como se

replanejou? Qual foi o resultado? (organização/flexibilidade)

Procure se lembrar de uma situação em que tenha atendido um cliente

problemático quem teve que lidar em um emprego. Como reverteu a

situação? Qual foi o resultado? (Foco no Cliente)

Dê um exemplo de uma situação onde teve de resolver algum problema

de outra área / pessoa sem que tivesse sido solicitado. O que você fez?

Qual foi o resultado? (Iniciativa)

Conte uma situação onde você tenha identificado um problema antes de

sua ocorrência. O que você fez para que ele não se tornasse um

problema grave no futuro? Qual foi o resultado? (Pró-Atividade)

Quando teve que fazer uma atividade muito desinteressante, o que fez?

Como agiu? Qual foi o Resultado? (Resistência à rotina)

Conte-me de uma situação onde teve que aguardar o resultado do

trabalho de uma outra pessoa para efetuar o seu. (Tolerância/Paciência)