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U NIVERSI DADE CA NDI DO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” P R OJETO A VEZ DO MESTRE DENUNCIA ÇÃO DA LIDE E SUA OBRIGATORIEDADE Por: Gisela Bueno Santos Orientador Prof. Jean Alves Pereira Alme ida Rio de Janeiro 2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DENUNCIAÇÃO DA LIDE E SUA OBRIGATORIEDADE

Por: Gisela Bueno Santos

Orientador

Prof. Jean Alves Pereira Almeida

Rio de Janeiro

2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DENUNCIAÇÃO DA LIDE E SUA OBRIGATORIEDADE

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito

Processual Civil.

Por: Gisela Bueno Santos.

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AGRADECIMENTOS

A todos que de alguma formam

colaboraram para a elaboração deste

trabalho, aos novos amigos da pós, aos

amigos de todas as horas, à minha

querida irmã Tatiana e ao meu

namorado Luiz Fernando.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia aos meus pais,

Elizabeth e Reynaldo, por todo apoio em

todos os momentos.

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RESUMO

O trabalho aborda de forma sucinta o conceito de partes e intervenção

de terceiros, bem como todas as suas modalidades e algumas controvérsias.

São estudados: oposição, nomeação à autoria, chamamento ao processo,

assistência e recurso de terceiro prejudicado.

De forma mais detalhada é apresentada a denunciação da lide,

conceito, origem histórica, características, natureza, hipóteses de aplicabilidade

e discussão acerca da obrigatoriedade do instituto.

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METODOLOGIA

Para a realização do presente trabalho foi utilizada a metodologia

dogmático-crítica através de estudo eminentemente bibliográfico, mediante

pesquisa em livros, artigos jurídicos e jurisprudência.

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SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO 8

2 – PARTES 9

3 – INTERVENÇÃO DE TERCEIROS 11

3.1 – OPOSIÇÃO 13

3.2 – NOMEAÇÃO À AUTORIA 15

3.3 – CHAMAMENTO AO PROCESSO 17

3.4 – ASSISTÊNCIA 19

3.5 – RECURSO DE TERCEIRO PREJUDICADO 21

4 – DENUNCIAÇÃO DA LIDE 22

4.1 – ORIGEM HISTÓRICA 22

4.2 – CONCEITO, CARACTERÍSTICAS E NATUREZA 24

4.3 – HIPÓTESES DE APLICABILIDADE 35

4.4 – OBRIGATORIEDADE 39

5 – CONCLUSÃO 41

6 – BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

7 – ÍNDICE 44

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1 – INTRODUÇÃOConsiderando-se a complexidade das relações modernas e as

demandas daí decorrentes, temos em nosso ordenamento jurídico a previsão

da chamada intervenção de terceiros.

Após breve explanação sobre o conceito de partes e intervenção de

terceiros, serão colocadas de forma sucinta as modalidades de intervenção de

terceiros existentes hoje no Código de Processo Civil, oposição, nomeação à

autoria, chamamento ao processo, assistência, recurso de terceiro prejudicado

e algumas de suas controvérsias.

O presente trabalho visa apresentar o instituto da denunciação da lide,

uma ação incidental de garantia, objetivando atender ao princípio da economia

processual, uma vez que passa a ação de regresso a integrar o processo de

conhecimento e ao permitir a introdução dos garantes na causa é evitado o

estabelecimento de nova ação em momento posterior, para a perseguição do

direito regressivo. Busca-se estabelecer seu conceito, origem e características

para por fim discutir a controvérsia existente acerca da obrigatoriedade do

mesmo.

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1 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, p. 135.

2 – PARTES

Considerando o conceito tradicional de partes, aquele que pleiteia e

aquele em face de quem se pleiteia a tutela jurisdicional, temos como partes

apenas o autor e o réu. No entanto, este seria na realidade o conceito de

partes da demanda, existindo então um conceito mais amplo para partes do

processo. Segundo Alexandre Câmara:

“devem ser consideradas partes do processo todas

aquelas pessoas que participam do procedimento em

contraditório. Em outras palavras, ao lado do autor e do

réu, que são partes da demanda e também do processo,

outras pessoas podem ingressar na relação processual,

alterando o esquema mínimo (...) que corresponde à

configuração tríplice do processo” 1

O autor adquire a qualidade de parte do processo com a provocação

do exercício da jurisdição, ou seja, pela propositura da demanda; o réu, com a

citação válida; também com a citação, os terceiros intervenientes (casos de

intervenção forçada); outras duas formas de aquisição da qualidade de parte é

pela sucessão e pela intervenção voluntária.

Às partes incumbe auxiliar o juízo no descobrimento da verdade nos

termos do Código de Processo Civil que preceitua em seu artigo 14:

“São deveres das partes e de todos aqueles que de

qualquer forma participam do processo:

I – expor os fatos em juízo conforme a verdade;

II – proceder com lealdade e boa-fé;

III – não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes

de que são destituídas de fundamento;

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10IV – não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou

desnecessários à declaração ou defesa do direito;

V – cumprir com exatidão os provimentos mandamentais

e não criar embaraços à efetivação de provimentos

judiciais, de natureza antecipatória ou final.”

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2 CARNEIRO, Athos Gusmão. Intervenção de Terceiros, p. 64.

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3 – INTERVENÇÃO DE TERCEIROS Para entender o fenômeno da intervenção de terceiros é preciso

primeiramente encontrar o conceito de terceiro. Tal conceito pode ser

encontrado por negação e é puramente processual - É terceiro quem não for

parte no processo. Entende-se, dessa forma, a intervenção de terceiros como o

ingresso no processo de quem não é parte.

O processo pode vir a produzir efeitos sobre a esfera jurídica de

interesses de pessoas estranhas à relação processual, o que justificaria a

chamada intervenção de terceiros. Em outras palavras, só se admite a

intervenção quando o terceiro for juridicamente interessado no processo

pendente. Acerca do tema dispõe Athos Gusmão Carneiro citando Cândido

Rangel Dinamarco:

“Cândido Dinamarco alude àquele terceiro que é sujeito

de uma relação compatível na prática com a decisão

passível de ser pronunciada entre as partes, mas que

dela pode receber um prejuízo de fato; àquele terceiro

sujeito de uma relação na prática incompatível com a

decisão, e assim capaz de ser juridicamente

prejudicado.”2

É possível a alteração subjetiva da relação processual nos casos

expressamente previstos em lei, visando diminuir o número de processos e

evitar resultados contraditórios. O terceiro que intervém passa então a ser parte

do processo, apesar de não ser parte da demanda.

O Código de Processo Civil traz um capítulo destinado à intervenção

de terceiros (Livro I, Título II, Capítulo VI). Nele estão elencadas quatro

modalidades: oposição, nomeação à autoria, denunciação da lide e

chamamento ao processo. No entanto, a doutrina majoritária, incluindo autores

como Vicente Greco Filho e Luiz Fux, vem entendendo também ser

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12modalidades de intervenção de terceiros a assistência e o recurso de terceiro

prejudicado. Entende-se que o próprio Código de Processo Civil reconheceu a

natureza de intervenção de terceiros a esses dois institutos quando em seu

artigo 280 dispôs que:

“No procedimento sumário não são admissíveis a ação

declaratória incidental e a intervenção de terceiros, salvo

a assistência, o recurso de terceiro prejudicado e a

intervenção fundada em contrato de seguro.”

Com base na iniciativa, pode-se dividir as modalidades de intervenção

de terceiros em dois grupos: intervenções voluntárias ou espontâneas, quando

o terceiro por sua vontade ingressa no processo, desejando fazer parte da

relação processual, como ocorre na assistência, oposição e no recurso de

terceiro interessado e intervenções forçadas, coactas ou provocadas, quando o

ingresso do terceiro é provocado, requerido por uma das partes originárias (não

é possível a determinação de ofício pelo juiz), como ocorre na nomeação à

autoria, denunciação da lide e chamamento ao processo. São provocados

apenas pelo réu o chamamento ao processo e a nomeação à autoria, podendo

a denunciação da lide ser provocada tanto pelo autor quanto pelo réu.

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3.1 – OPOSIÇÃOA oposição nas palavras de Cândido Dinamarco:

“é a demanda mediante a qual terceiro deduz em juízo

pretensão incompatível com os interesses conflitantes de

autor e réu de um processo cognitivo pendente.”3

Há certa controvérsia acerca da natureza do instituto. Para alguns

autores, como Vicente Greco Filho, Celso Agrícola Barbi e Alexandre Câmara,

a oposição não seria intervenção de terceiros, mas demanda autônoma em que

o opoente é autor, sendo réus em litisconsórcio necessário a partes originárias

da demanda. Outros autores, no entanto, entendem de forma diversa. Para

Athos Gusmão Carneiro, entre outros, há que se distinguir o momento do

oferecimento da oposição. Sendo oferecida antes de iniciada a audiência de

instrução e julgamento, constitui-se intervenção de terceiros; sendo oferecida

após o início da AIJ, antes da prolação da sentença, seria demanda autônoma.

Cândido Dinamarco, representante desta segunda posição, ressalta a distinção

classificando a oposição em duas espécies: oposição interventiva e oposição

autônoma.

Quanto à natureza da oposição, trata-se em regra de ação declaratória

em face do autor originário e condenatória em face do réu também da

demanda originária. No entanto, esta natureza será invertida caso a demanda

originária seja declaratória negativa.

Antes da prolação da sentença pode-se oferecer a oposição a

qualquer tempo. O terceiro, opoente, é autor e deve apresentar sua demanda

através de petição inicial, seguindo para tanto todos os requisitos previstos no

Código de Processo Civil, artigos 282 e 283.

Sendo oferecida a oposição antes da audiência de instrução e

julgamento a mesma será distribuída por dependência ao processo em curso.

Haverá relação de prejudicialidade, cabendo ao juiz julgar primeiro a oposição

e somente depois, a demanda original. Dispõe o artigo 59 do referido código:

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“A oposição, oferecida antes da audiência, será

apensada aos autos principais e correrá simultaneamente

com a ação, sendo ambas julgadas pela mesma

sentença.”

Sendo a oposição oferecida após o início da audiência de instrução e

julgamento os autos não ficarão apensados conforme artigo 60 do Código de

Processo Civil:

“Oferecida depois de iniciada a audiência, seguirá a

oposição o procedimento ordinário, sendo julgada sem

prejuízo da causa principal. Poderá o juiz, todavia,

sobrestar no andamento do processo, por prazo nunca

superior a 90 (noventa) dias, a fim de julgá-la

conjuntamente com a oposição.”

Cria assim o Código de Processo Civil uma hipótese de fixação de

competência do juízo pelo critério funcional. Ou seja, o juízo do processo

original é o competente para a oposição. Neste caso, mesmo que ocorra a

reunião dos processos, não está o juiz obrigado a conhecer primeiro da

oposição uma vez que não há prejudicialidade.

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4 CARNEIRO, Athos Gusmão. Intervenção de Terceiros, p. 92 .

3.2 – NOMEAÇÃO À AUTORIAEsta modalidade de intervenção provocada, onde o terceiro é

convocado a ingressar na relação processual, tem por finalidade corrigir vício

na legitimidade passiva. Ou seja, a nomeação à autoria visa a substituição do

réu parte ilegítima ad causam pelo verdadeiro legitimado, permitindo assim,

com a correção do vício, a continuidade do processo e a apreciação do mérito

da causa.

A nomeação à autoria é admitida estritamente nas hipóteses previstas

nos artigos 62 e 63 do Código de Processo Civil. Trata o artigo 62 de demanda

movida em face do detentor como se este fosse o possuidor ou proprietário de

determinado bem. Athos Gusmão Carneiro critica a redação do referido artigo:

“O Código fala, com certa impropriedade de expressão,

naquele ‘que detiver a coisa em nome alheio’. Entretanto,

a mera detenção é sempre em nome alheio; quem dispõe

de uma coisa em nome próprio é possuidor, e não

detentor. O detentor apresenta-se como mero

instrumento de posse alheia, longa manus do vero

possuidor; é o empregado, o preposto, ‘aquele que,

estando em relação de dependência para com outro,

conserva a posse em nome deste e em cumprimento de

ordens ou instruções suas’ – Código Civil, art. 1.198.”4

O artigo 63 do Código de Processo Civil, por sua vez, trata da

nomeação à autoria em processo iniciado por demanda em que se pretende

receber indenização por dano causado à coisa quando o responsável pelo

prejuízo alegar que o ato lesivo foi praticado a mando de terceiros (por ordem

ou instruções).

Nos dois casos apresentados o réu fará a nomeação à autoria em seu

prazo de resposta. Após suspender o processo, o juiz ouvirá o autor e depois

da concordância deste, o nomeado (será devidamente citado). Para que haja a

substituição do réu -nomeante pelo terceiro – nomeado é necessária a dupla

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16concordância. Caso o autor não concorde com a nomeação o processo seguirá

em relação ao demandado original e, uma vez constada a ilegitimidade

passiva, será o feito extinto sem julgamento do mérito.

Caso o réu não faça a nomeação à autoria e seja devido fazê-lo,

responderá por perdas e danos. Da mesma forma se indicar pessoa diversa da

devida. Como a nomeação à autoria interrompe o prazo para o oferecimento

da resposta, caso não haja a dupla concordância, deverá o juiz conceder ao

demandado novo prazo.

Outra questão que se apresenta é a possibilidade de nomeações

sucessivas, que o nomeado realize nova nomeação à autoria. Tal hipótese não

se revela cabível frente ao sistema vigente. Uma vez ocorrida a alteração do

pólo passivo o nomeado à autoria torna-se réu, passando a ser além de parte

do processo, parte legítima da demanda.

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3.3 – CHAMAMENTO AO PROCESSO

Diretamente ligado às situações de garantia simples, o chamamento

ao processo é cabível em casos de coobrigação, onde mais de uma pessoa se

apresentam responsáveis pelo cumprimento de uma prestação perante

terceiros, podendo ser exigida a integralidade da obrigação de qualquer uma.

Aquele que for chamado ao pagamento integral da dívida pode se voltar contra

os demais coobrigados através do chamamento ao processo.

As hipóteses em que é possível o chamamento ao processo estão no

Código de Processo Civil, artigo 77. A primeira, contida no inciso I, trata do

fiador que demandado pode chamar ao processo o devedor principal. Em regra

o fiador não é devedor solidário, podendo exigir, caso o devedor disponha de

bens, que a execução do crédito recaia primeiramente sobre o patrimônio

deste. No entanto, para que se possa alegar o benefício de ordem na execução

é preciso que conste do título executivo o devedor principal, por isso a

importância no caso do chamamento ao processo.

O inciso II do já mencionado artigo 77 traz a hipótese de co-fiadores,

uma vez que entre eles existe a solidariedade. Já o inciso III do mesmo artigo

trata dos devedores solidários. A redação do dispositivo gera certa controvérsia

ao determinar o chamamento “de todos os devedores solidários”. Alguns

autores, como Moacyr Amaral Santos, interpretando literalmente a norma,

entendem que o chamamento ao processo neste caso deva ser de todos os

devedores, não cabendo ao chamante escolher. Entretento, posicionamento

diverso apresenta como argumentação o princípio segundo o qual “quem pode

o mais, pode o menos”. Ou seja, se é possível o chamamento de todos,

também é possível o chamamento de alguns.

O chamamento ao processo, cabível nos casos anteriormente

mencionados, tem como conseqüência a ampliação subjetiva da relação

processual. É formado um litisconsórcio passivo unitário (para a doutrina

majoritária) entre chamante e chamados. Alexandre Câmara critica o instituto,

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5 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, p. 185.

18alegando ter sido o mesmo criado para favorecer o devedor, retirando do

credor a vantagem garantida pela solidariedade passiva. Nas palavras do

autor:

“A escolha de um dos devedores permite ao credor ter a

segurança de um processo mais rápido (afinal haverá

apenas um demandado) e mais barato (com menos

despesas processuais, em razão de não se ter formado

um litisconsórcio que, afinal de contas, era facultativo).

Este processo mais rápido e mais barato, ou em outros

termos, este processo mais efetivo, torna-se

praticamente impossível, quando se permite ao devedor

demandado chamar ao processo todos os demais,

forçando-se assim o credor a demandar também em face

daqueles que não pretendia ver incluídos no processo”.5

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3.4 – ASSISTÊNCIA

A assistência se caracteriza pelo ingresso do terceiro – assistente na

relação processual, visando auxiliar uma das partes originárias – assistido. Da

leitura do artigo 50 do Código de Processo Civil podemos depreender os

pressupostos de admissibilidade da assistência, causa pendente e interesse

jurídico do terceiro. Art. 50:

“Pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas, o

terceiro, que tiver interesse jurídico em que a sentença

seja favorável a uma delas, poderá intervir no processo

para assisti-la”.

Há duas espécies de assistência, conforme o tipo de interesse jurídico

do terceiro. A assistência simples ou adesiva caracteriza-se por ser o terceiro

sujeito de relação jurídica diversa da deduzida no processo, mas subordinada a

ela. O assistente recebe tratamento diverso do dispensado ao litisconsorte,

atua como auxiliar da parte principal, podendo exercer os mesmos poderes do

assistido e sujeitando-se aos mesmos ônus, conforme artigo 52 do Código de

Processo Civil.

A segunda espécie de assistência é a qualificada ou litisconsorcial.

Determina o artigo 54 do Código de Processo Civil:

“Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente,

toda vez que a sentença houver de influir na relação

jurídica entre ele e o adversário do assistido”.

Tem-se neste caso uma relação jurídica plúrima, onde o terceiro

interveniente na realidade também é titular da relação jurídica deduzida no

processo. A redação do artigo 54 trata então o assistente qualificado como

litisconsorte o que leva à divergência doutrinária.

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20Alguns autores entendem ser o assistente qualificado verdadeiro

litisconsorte por força de lei, já para outros, o terceiro interveniente neste caso

seria mero assistente. O terceiro não adquire a posição de autor ou de réu,

continuando a ser terceiro. Apenas torna-se parte do processo, podendo

exercer as mesmas faculdades outorgadas aos litisconsortes.

De acordo com a redação do artigo 55 do Código de Processo Civil,

uma vez transitada em julgado sentença que pôs fim à ação principal em que

interveio o assistente, o mesmo não poderá trazer a questão em processo

posterior. Salvo se comprovar que o assistido não atuou de forma correta e

idônea, e tendo o assistente recebido o processo em situação em que não lhe

era mais possível produzir provas ou desconhecia provas ou alegações

omitidas pelo assistido.

Este dispositivo gera controvérsia quanto ao alcance de sua

aplicabilidade. Para alguns autores seria aplicável em qualquer caso de

assistência, uma vez que a lei não fez qualquer distinção. Para outros, no

entanto, apenas quanto à assistência simples, ficando o assistente qualificado

sujeito à coisa julgada. Outra questão acerca da mesma norma diz respeito à

coisa julgada em si. Alguns autores defendem não tratar o artigo 55 de coisa

julgada propriamente dita, mas sim da chamada eficácia da assistência ou

eficácia da intervenção. Desta forma, trataria o artigo da eficácia preclusiva da

coisa julgada.

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6 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, p. 189.

3.5 – RECURSO DE TERCEIRO PREJUDICADO

Trata esta modalidade de intervenção espontânea de recurso

interposto por terceiro. O terceiro prejudicado pode interpor qualquer dos

recursos de que dispõem as partes, com os mesmos prazos. A grande questão

aqui é a delimitação da figura do terceiro que pode recorrer, quem seria o

terceiro prejudicado.

Segundo Alexandre Câmara:

“Pode-se, assim, definir o terceiro legitimado a recorrer

como aquele que poderia ter intervindo no processo, mas

não o fez antes da decisão, pretendendo fazê-lo agora

com o fim de atacar o provimento judicial que lhe acarreta

prejuízo”.6

Há doutrinadores entendendo que o terceiro que poderia ser opoente

na demanda principal não está legitimado a interpor recurso nesta modalidade

de intervenção de terceiros. Entretanto, outra corrente entende não existir tal

restrição. Bastando para o recurso a comprovação de interesse jurídico na

causa e prejuízo acarretado pela decisão.

Outra controvérsia diz respeito à posição de alguns autores que

entendem ser este recurso de terceiro prejudicado uma assistência em grau

recursal. Combatendo este entendimento, outros alegam que tal definição

esvaziaria a própria assistência, uma vez que o artigo 50 do Código de

Processo Civil autoriza a assistência em qualquer grau de jurisdição. Outro

argumento trazido por esta corrente diz respeito à própria natureza da

assistência, onde o assistente intervém para auxiliar uma das partes, o que não

necessariamente ocorre no recurso de terceiro prejudicado.

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4 – DENUNCIAÇÃO DA LIDEEsta modalidade de intervenção de terceiros é alvo de inúmeras

controvérsias e está regulada em nosso ordenamento pátrio no Código de

Processo Civil, do artigo 70 ao 76.

4.1 – ORIGEM HISTÓRICAExistia no Direito Romano instituto semelhante chamado denunciatio

litis, diretamente ligado ao instituto da evicção. Sua maior utilização prática se

dava para permitir ao adquirente de um bem, que se voltasse contra aquele de

quem o havia adquirido, caso sofresse a perda do mesmo em razão de

sentença que reconhecesse direito anterior à sua aquisição. Têm-se sinais de

similaridade do instituto com os existentes nos antigos Direito Germânico e

Direito Francês.

Cândido Rangel Dinamarco aborda o assunto com propriedade:

“Entre os povos germânicos invasores do Império

Romano havia o procedimento que se chamava

intertiatio, de cunho misto civil-criminal: perdida a posse

de coisa móvel, cumpria ao dono procurá-la até encontrá-

la e descobrir quem era o detentor, citando-o em juízo.

Poderia o réu, então, assumir uma dessas três atitudes:

a) restituir a coisa ao reivindicante; b) negar o domínio

deste; c) alegar havê-la adquirido de terceiro, indicando o

nome deste e apresentando-o em juízo dentro de certo

prazo. Ao contrário do que sucedia no direito romano,

onde o denunciado poderia omitir-se se quisesse, as

implicações penais do instituto germânico exigiam que

ele comparecesse obrigatoriamente. Também por conta

dessas implicações, só o réu poderia chamar terceiro ao

processo (não o autor), porque essa era uma forma

mediante a qual ele se defendia de uma possível

imposição de pena. Outra característica do instituto, tal

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7 DINAMARCO, Cândido Rangel. Intervenção de terceiros, p. 133.

como configurado entre os germânicos, era a restituição

do preço: a advocatio ad warrantum continha em si uma

verdadeira e própria ação de garantia, para compelir o

vendedor a restituir o prelo que lhe havia sido pago pela

coisa litigiosa “.7

A matéria foi regulada de forma uniforme no antigo Direito Português

pelas Ordenações Afonsinas, Manoelinas e Filipinas. Podiam-se encontrar

algumas influências do Direito Germânico, como a possibilidade exclusiva do

réu denunciar à lide e a alusão ao furto praticado pelo réu. Da mesma forma

havia características do Direito Romano, como a separação entre a ação

reivindicatória e a ação de garantia e a inexistência do dever ou ônus do

alienante denunciado intervir no processo.

Nosso Código de Processo Civil de 1939 trouxe a mesma

denominação dada no Direito Português, chamamento à autoria. Excluía-se o

denunciante para que em seu lugar ingressasse o denunciado, não se

configurando ação de garantia. A convocação do terceiro não caracterizava

uma ação regressiva no mesmo processo, mas tão somente uma sucessão

subjetiva. A finalidade do instituto tem sido ampliada pelos ordenamentos

processuais modernos, não ficando mais adstrito às limitações originárias

relacionadas à evicção e às ações reais a ela relativas.

O atual Código de Processo Civil, de 1973, modificou não só o modo

de proceder do instituto, como também sua nomenclatura. Temos então sua

configuração atual, Denunciação da Lide, contendo verdadeira demanda

incidental de garantia, formulando-se pretensão em face de terceiro convocado

a ingressar no processo.

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4.2 – CONCEITO, CARACTERÍSTICAS E NATUREZA

A denunciação da lide é uma forma de intervenção de terceiros

provocada por uma das partes da demanda original que pretende dar notícia

a terceiro da pendência da lide, com a finalidade de antecipar a ação

regressiva que teria contra o terceiro garante, caso venha a sucumbir na

causa principal, em que se encontra controvertido o seu direito.

Trata-se então de uma ação regressiva in simutaneus processus,

uma vez que o terceiro, que passa a ser denominado denunciado, é garante

do denunciante, tendo com este relação jurídica da qual decorre a

responsabilidade de indenizar o garantido, em virtude da perda de seu

direito.

Há que se salientar o caráter de prejudicialidade da ação principal

em relação à ação regressiva instaurada in simultaneus processus. Sendo o

denunciante vitorioso na ação principal, deve ficar a ação regressiva

necessariamente prejudicada. Sendo assim, a pretensão do litisdenunciante

perante o litisdenunciado tem caráter eventual, pois só será este condenado

a ressarcir, caso haja aquele sucumbido na ação principal.

Com a denunciação o processo se amplia objetiva e

subjetivamente. A ampliação subjetiva se deve ao ingresso do denunciado,

que irá litigar juntamente com o denunciante, autor ou réu. Já a ampliação

objetiva ocorre com a inserção da demanda do denunciante contra o

denunciado, de indenização por perdas e danos.

Como na denunciação da lide o terceiro além de figurar como réu

na ação de regresso, intervém na ação principal, há certa controvérsia

quanto à posição ocupada nesta ação principal pelo terceiro interveniente,

se assistente simples, assistente qualificado (posição de Cândido Rangel

Dinamarco) ou litisconsorte.

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25Para alguns autores, como Ovídio Baptista, partindo da origem

romana do instituto, há duplo propósito na denunciação da lide, sendo o

primeiro provocar o ingresso do alienante na causa sustentada pelo

adquirente contra terceiro, a fim de que lhe preste assistência e defenda a

coisa por ele transferida ao denunciante. O segundo propósito consiste em

permitir que no mesmo processo principal o denunciado responda pela

indenização porventura devida ao adquirente.

Nas palavras de Alexandre Câmara:

“correta é a posição de Nelson Nery Júnior,

anteriormente referida, para quem a relação entre

litisdenunciante e litisdenunciado é sempre de

assistência simples. O litisdenunciado não se torna,

com a denunciação da lide, parte da demanda principal,

o que faz concluir que, em não sendo ele autor nem

réu, não pode ser considerado litisconsorte. A

denunciação da lide é verdadeira demanda incidental,

cujo julgamento fica condicionado à sucumbência do

litisdenunciante na demanda principal. Por esta razão,

tem o litisdenunciado interesse jurídico na vitória do

litisdenunciante na demanda principal, podendo assim

atuar como assistente. Assistente simples, diga-se

desde logo, haja vista ser ele sujeito de relação jurídica

diversa da deduzida no processo, a relação de garantia,

o que não permite seja ele considerado assistente

litisconsorcial.

Assim é que cabe ao litisdenunciado assistir o

litisdenunciante, a fim de auxiliar este a obter sentença

favorável na demanda principal. Ao mesmo tempo em

que envida esforços para auxiliar o litisdenunciante a

vencer a demanda principal, cabe ao litisdenunciado, na

qualidade de réu da demanda incidental de garantia,

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26

8 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, p. 182.

contestá-la, sob pena de revelia. É de se notar que as

duas atividades devem ser exercidas ao mesmo tempo,

em obediência ao princípio da eventualidade.”8

Carnelutti define o assistente como sujeito da ação, como parte

adesiva ou acessória, embora não seja sujeito da lide. A assistência aqui

tratada é a assistência simples, que se caracteriza pelo fato do terceiro

ingressar no processo objetivando auxiliar uma das partes, por ter interesse

jurídico em sua vitória.

O assistente simples, apesar de não ser pare na demanda, tem

poderes em apoio à atividade do assistido. Poderá requerer provas, formular

quesitos para vistorias, exames periciais e avaliações, recorrer e contra-

arrazoar recursos, fazer impugnações orais e quesitar testemunhas, bem

como impugná-las, ou até ser testemunha. Da mesma maneira, dispõe do

poder de desistir da intervenção, independentemente do consentimento das

partes.

Há limites, no entanto. Não pode o assistente praticar atos que o

assistido já tenha perdido o direito de fazer, nem assumir atitude que esteja

em oposição à conduta do assistido. Sendo assim é vedado ao assistido

desistir da ação, reconhecer o pedido, confessar, suscitar incompetência,

reconvir, ingressar com ação declaratória incidental ou modificar o objeto do

litígio. Ou seja, o assistente recebe a causa no estado em que se encontra,

de forma que as preclusões já ocorridas contra o assistido se estendem a

ele.

Há alguns aspectos que identificam a figura do denunciado com a

do assistente simples. Um deles é o fato do denunciado não possuir direito

ou relação jurídica com a parte contrária ao denunciante, ficando seu

interesse restrito à vitória do mesmo. Outro aspecto, já abordado, é a origem

romana dos institutos.

No entanto, a doutrina vem entendendo majoritariamente, que o

denunciado é na realidade litisconsorte do denunciante na ação principal.

Tal litisconsórcio será eventual tendo em vista que a pretensão manifestada

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27em face do litisdenunciado só será apreciada se improcedente a ação

principal. Este posicionamento segue expressamente as normas dos artigos

74 e 75, I do Código de Processo Civil que preceituam:

“Art. 74. Feita a denunciação pelo autor, o denunciado,

comparecendo, assumirá a posição de litisconsorte do

denunciante e poderá aditar a petição inicial,

procedendo-se em seguida à citação do réu.

Art. 75. Feita a denunciação pelo réu:

I – se o denunciado a aceitar e contestar o pedido, o

processo prosseguirá entre o autor de um lado, e de

outro, como litisconsortes, o denunciante e o

denunciado”.

O litisconsórcio caracteriza-se pela reunião de duas ou mais

pessoas assumindo conjuntamente a posição de autor ou de réu. Conforme

a redação do art. 46, do Código de Processo Civil:

“Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo

processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando:

I – entre elas houver comunhão de direitos ou de

obrigações relativamente à lide;

II – os direitos ou as obrigações derivarem do mesmo

fundamento de fato ou de direito;

III – entre as causas houver conexão pelo objeto ou

pela causa de pedir;

IV – ocorrer afinidade de questões por um ponto comum

de fato ou de direito”.

São os litisconsortes titulares de direitos, ou devedores de

obrigações, constantes da demanda principal. Estão, portanto, diretamente

ligados à lide por ter direito ou obrigação próprios em litígio. Há, na opinião

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28de Vicente Greco Filho comunhão de direitos ou obrigações quando duas ou

mais pessoas possuem o mesmo bem jurídico ou quando estas têm o dever

da mesma prestação. Trata-se aqui de um único direito com mais de um

titular ou de uma única obrigação sobre a qual mais de uma pessoa seja

devedora, não sendo evidentemente direitos ou obrigações idênticos.

Há conexidade objetiva nas hipóteses dos incisos II e III do artigo

46, quando for comum o objeto (pedido) ou a causa de pedir. Levando o

pedido mediato e os fatos à conexão, não será analisada a necessidade de

o provimento jurisdicional pleiteado ser o mesmo.

De acordo com este posicionamento o inciso IV do referido artigo

enseja a formação do litisconsórcio uma vez que há uma ligação entre as

demandas, existindo ponto comum de fato ou de direito, que se

expressando pelo elemento abstrato da causa de pedir, dá origem a

questões afins. Também se dá tal ligação quando duas ou mais pessoas

alegam um único fato base.

Baseando-se em qualquer dos incisos do artigo 46 do Código de

Processo Civil, o litisconsorte terá relação jurídica ou direito seu colocado

em causa, formulará pedido, ou haverá pedido feito contra si. Desenvolve

então sua atividade de acordo com o que julgar mais conveniente para

alcançar uma decisão favorável ao seu pedido.

A atividade do litisconsorte foi protegida pelo Código de Processo

Civil, de forma a assegurar que a conduta de um dos litisconsortes não

interferisse na do outro, seja para beneficiá-lo ou prejudicá-lo de algum

modo. Assim, o litisconsorte não será atingido pela preclusão do outro. Os

litisconsortes são então considerados como partes distintas das demais,

devendo cada litisconsorte visando obter resultados processuais favoráveis,

exercer suas atividades autonomamente, independentemente da atividade

de seu companheiro de litígio.

Traz o art. 48 do Código de Processo Civil a seguinte redação:

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29“Salvo disposição em contrário, os litisconsortes serão

considerados, em suas relações com a parte adversa,

como litigantes distintos; os atos e as omissões de um

não prejudicarão nem beneficiarão os outros”.

Poderia-se, conforme entendimento já mencionado e com base no

próprio artigo 48, concluir que no ordenamento jurídico brasileiro a atividade

de um litisconsorte não acarreta benefício ou prejuízo para os demais. Ou

seja, a atividade de um não produz efeitos jurídicos na posição do outro. Tal

assertiva, ao fazer uma comparação entre o instituto do litisconsórcio e a

posição do denunciado na ação principal, intensifica as críticas ao

entendimento da doutrina majoritária, que afirma ser o denunciado

litisconsorte do denunciante na ação principal.

Tais críticas apresentam os seguintes fundamentos: não se

configura um dos requisitos essenciais do litisconsórcio, o denunciado não

apresenta na demanda relação jurídica ou direito seu com a parte contrária

ao denunciante. Apesar de haver interesse do litisdenunciado na vitória do

litisdenunciante, uma vez que em sendo vitorioso o denunciante não há que

se falar em ação regressiva, não há relação litigiosa entre o litisdenunciado

e a parte adversária do litisdenunciante.

Outro argumento diz respeito a não formulação de pedido por parte

do litisdenunciado, que também não tem pedido feito contra si. Sendo que

uma parte legítima da demanda formula sim pedido ou tem um formulado

contra ela. Conforme mencionado anteriormente o litisdenunciado não tem

pretensão própria contra o adversário do denunciante, assim como o

adversário do denunciante não tem pretensão de direito material formulada

na ação principal contra o denunciado.

Como último argumento neste sentido, temos o fato de ser o

litisconsorte autônomo para desenvolver suas atividades no processo

conforme julgue mais conveniente para alcançar uma decisão da lide

favorável ao seu pedido, sem que isso possa influir na relação processual

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30

9CARNEIRO, Athos Gusmão. Intervenção de Terceiros, p. 98 .10 JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil, p. 117.

entre a parte adversa e os demais litisconsortes. Contudo, na relação

existente entre denunciante e denunciado não há tal independência, uma

vez que não existe relação processual entre o denunciado e a parte adversa

do denunciante, mas apenas com o próprio denunciante, na via regressiva

eventual.

Apesar de conter nova demanda, a denunciação da lide não dá

ensejo a novo processo. Esta modalidade de intervenção de terceiros se

desenvolverá no mesmo processo da demanda principal. Nas palavras de

Athos Gusmão Carneiro:

“Teremos, pois, ‘no mesmo processo’, duas ações, duas

relações jurídicas processuais. Mas um só processo, uma

só instrução, uma mesma sentença para ambas as

ações, a ação principal e a ação de denunciação da lide.

É fenômeno ‘típico do processo de conhecimento, ao

qual se confina sua admissibilidade’”.9

Complementa este entendimento Humberto Theodoro Júnior:

“Num só ato judicial, duas condenações serão proferidas:

uma contra o denunciante e em favor do outro

demandante; e outra contra o denunciado, em favor do

denunciante, desde de que este tenha saído vencido na

ação principal e que tenha ficado provada a

responsabilidade do primeiro.

Dar-se-á ensejo, portanto, a duas execuções forçadas,

caso não se observe o cumprimento voluntário do

julgado”.10

O artigo 71 do Código de Processo Civil dispõe sobre o momento em

que deve ser requerida a denunciação da lide:

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31

11 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, p. 175.

“A citação do denunciado será requerida, juntamente

com a do réu, se o denunciante for autor; e, no prazo

para contestar, se o denunciante for réu”.

Pela leitura do referido artigo pode-se concluir que o autor que

pretende efetuar a denunciação da lide o deve fazer na inicial, de forma que

seja o denunciado citado no mesmo momento em que o réu o será. Já o réu,

deverá denunciar no prazo da contestação (a lei não define que deve ser no

corpo da contestação, podendo então ser apresentada em petição distinta).

Uma observação importante é que o réu optando por contestar e

apresentar a denunciação em petições diversas, não poderá oferecer a

contestação primeiro, sob pena de ocorrer a preclusão consumativa,

considerando-se encerrado o prazo para a prática do ato. Ou seja, não é

possível que se ofereça a denunciação da lide após a contestação.

Trata o artigo 72 da suspensão do processo:

“Ordenada a citação, ficará suspenso o processo.

§1° A citação do alienante, do proprietário, do possuidor

indireto ou do responsável pela indenização far-se-á:

a) quando residir na mesma comarca, dentro de 10

(dez) dias;

b) quando residir em outra comarca, ou em lugar

incerto, dentro de 30 (trinta) dias.

§2° Não se procedendo à citação no prazo marcado, a

ação prosseguirá unicamente em relação ao

denunciante”.

A suspensão a que se refere a lei tem como finalidade impedir o

desenvolvimento do procedimento enquanto não ocorra a citação do

litisdenunciado. Trata-se então de suspensão imprópria, uma vez que o

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32processo não fica inteiramente parado. Suspendem-se apenas os atos

relacionados com a ação principal, enquanto é providenciada a citação do

denunciado.

A lei estabelece ainda prazos para a citação, dez dias caso o

denunciado resida na mesma comarca e trinta dias, caso resida em comarca

distinta. Uma vez que não seja realizada a citação dentro dos prazos previstos,

a denunciação da lide será tida como inexistente. No entanto, se ficar

comprovado que a extrapolação do prazo deu-se por culpa exclusiva do serviço

judiciário ou força maior, sem culpa ou desídia do denunciante, é certo que

este não poderá arcar com o prejuízo.

O artigo 73 dispõe a respeito da denunciação sucessiva:

“Para os fins do disposto no art. 70, o denunciado, por

sua vez, intimará do litígio o alienante, o proprietário, o

possuidor indireto ou o responsável pela indenização e,

assim, sucessivamente, observando-se, quanto aos

prazos, o disposto no artigo antecedente”.

Entende a doutrina majoritária que o artigo é autorizador de

denunciações sucessivas, permitindo que o denunciado traga para o processo

quem guardar com ele relação de garantia. Onde está escrito intimação,

entretanto, deve ser lido citação. Há posicionamento em contrário, defendendo

a interpretação do artigo como autorização apenas para que se comunique a

quem tenha relação de garantia a existência do processo.

Outra questão discutida em sede doutrinária é a natureza da sentença

que decide a denunciação da lide, tendo em vista a redação do artigo 76 do

Código de Processo Civil:

“A sentença, que julgar procedente a ação, declarará,

conforme o caso, o direito do evicto, ou a

responsabilidade por perdas e danos, valendo como

título executivo.”

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … BUENO SANTOS.pdf · uma ação incidental de garantia, objetivando atender ao princípio da economia processual, uma vez que passa

33Apesar de constar do mencionado artigo a expressão “declarará”,

levando a crer que a sentença seria declaratória, hoje o entendimento

predominante é no sentido de ser a sentença condenatória, uma vez que o

próprio artigo menciona que a sentença terá validade como título executivo,

característica das sentenças condenatórias, conforme se depreende da leitura

do artigo 584, I do Código de Processo Civil:

“São títulos executivos judiciais:

I – a sentença condenatória proferida no processo civil”.

Corrente minoritária entende que não há empecilhos para que uma

sentença meramente declaratória ganhe por força de lei eficácia executiva.

Sendo exatamente este o caso.

Não é possível esquecer que por ser a denunciação da lide demanda

incidental de garantia, seu julgamento fica condicionado à sucumbência do

denunciante na demanda principal. Desta forma, não há que se falar em

condenação do denunciado diretamente em favor da parte contrária ao

denunciante. Uma sentença neste sentido seria extra petita e

conseqüentemente nula.

Após demonstração da discussão acerca da natureza da sentença,

cumpre tratar da coisa julgada. Esta questão está intimamente ligada à

discussão sobre ser ou não o denunciado um litisconsorte, uma vez que

sendo assim considerado, o denunciado será parte, que é atingida pela

coisa julgada. No entanto, sendo o denunciado considerado assistente

sofrerá os efeitos da intervenção, pois, assim, manterá a posição de terceiro

interessado.

Sendo certo que o estudo da coisa julgada demandaria uma

pesquisa mais profunda e entendendo a coisa julgada como forma de

atribuir à sentença a estabilidade protetora necessária à segurança jurídica,

conferindo a ela caráter de imutabilidade, temos a certeza de seu caráter

inter partes. Ou seja, não atingindo terceiros não integrantes do processo.

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34Há, no entanto, terceiros juridicamente interessados que são

atingidos pela coisa julgada, desde que tenham participado da relação

processual e terceiros que recebem efeitos ditos reflexos da sentença, sobre

uma relação jurídica da qual são titulares.

Os terceiros sujeitos aos efeitos reflexos da sentença são aqueles

que podem intervir como assistente simples e assim o fazem. Cabe ressaltar

que não sendo intimados regularmente da existência do litígio, ou não

ingressando espontaneamente nele, não serão atingidos pelos efeitos da

sentença.

O efeito de intervenção está previsto no art. 55 do Código de

Processo Civil:

“Transitada em julgado a sentença, na causa em que

interveio o assistente, este não poderá, em processo

posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e

provar que:

I – pelo estado em que recebera o processo ou pelas

declarações e atos do assistido, fora impedido de

produzir provas suscetíveis de influir na sentença;

II – desconhecia a existência de alegações ou de

provas, de que o assistido, por dolo ou culpa, não se

valeu.”

O fenômeno do efeito de intervenção está restrito à intervenção de

terceiros, mormente ao instituto da assistência simples e tem como resultado

prático a impossibilidade do juiz, na demanda de regresso entre o assistido

e o assistente, reapreciar os fundamentos jurídicos, bem como os fatos

aceitos pelo juiz da ação em que a intervenção teve lugar.

Para se saber, então, a quais efeitos estará sujeito o denunciado

cumpre primeiramente decidir qual a natureza de sua posição na causa, se

litisconsorte, sujeito à coisa julgada ou se assistente simples, sujeito à

aplicação do artigo 55 do Código de Processo Civil.

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35

11 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, p. 175.

4.3 – HIPÓTESES DE APLICABILIDADE

Os casos em que a denunciação da lide é cabível estão previstos no

artigo 70 do Código de Processo Civil:

“A denunciação da lide é obrigatória:

I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a

coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que

esta possa exercer o direito que da evicção Ihe resulta;

II - ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por

força de obrigação ou direito, em casos como o do

usufrutuário, do credor pignoratício, do locatário, o réu,

citado em nome próprio, exerça a posse direta da coisa

demandada ;

III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato,

a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder

a demanda”.

O inciso I do supra citado artigo trata da hipótese mais comum de

aplicação do instituto da denunciação da lide. Aqui a denunciação é oferecida

por quem vê questionado em um processo seu direito de propriedade sobre

determinado bem, que lhe foi transferido anteriormente por terceiro.

A denunciação é feita ao alienante, para que caso não seja

reconhecido o direito do denunciante, também fique regulada a relação entre

este e o denunciado, definindo-se a existência ou não dos direitos decorrentes

da evicção. Cumpre lembrar que a evicção, conforme definição de Alexandre

Câmara

“ocorre quando o adquirente de um bem vem a perdê-lo

em virtude de sentença judicial que reconhece a outrem

direito anterior sobre ela”.11

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36

Por definição a evicção traz a responsabilidade do alienante sempre

que a coisa seja perdida através de uma sentença judicial que reconheça em

favor de um terceiro algum direito sobre a mesma. No entanto, a jurisprudência

moderna tem entendido que a evicção pode ocorrer não só em virtude de

sentença judicial, como também em decorrência de apreensão por autoridade

policial, conforme REsp nº 51.875, REsp nº 19.391, REsp nº 58.232.

O inciso II do artigo 70 traz a segunda hipótese, permitindo ao

possuidor direto fazer a denunciação da lide ao possuidor indireto para que, em

sendo vencido o denunciante, a sentença defina também a responsabilidade do

denunciado. Entende a doutrina que o rol apresentado pelo inciso é meramente

exemplificativo.

Existe certa controvérsia quanto a possibilidade de ser o autor

denunciante com base neste inciso II. Para alguns autores, como Alexandre

Câmara e Frederico Marques, seria perfeitamente possível. Entretanto, a

doutrina majoritária entende de forma diversa, podendo neste caso apenas ser

denunciante o réu.

A hipótese aqui tratada diz respeito ao possuidor e se diferencia

claramente do disposto no artigo 62 do Código de Processo Civil, que prevê

nomeação à autoria a ser feita pelo detentor. No caso em tela não há

ilegitimidade do pólo passivo, portanto não se trata de nomeação à autoria e

sim de denunciação da lide. O possuidor direto é legitimado e apenas pretende

exercer seu direito de regresso perante o possuidor indireto no mesmo

processo.

Trata, por sua vez, o inciso III do artigo 70 da última possibilidade de

cabimento da denunciação da lide. Há duas correntes para o entendimento

deste inciso, uma restritiva e a outra extensiva.

Para se compreender a divergência existente é preciso primeiro tratar

dos tipos de garantia existentes. Há dois tipos de garantia:

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37

12 JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil, p. 113.

“a garantia própria, que decorre da transmissão de um

direito (como no caso da evicção), e a garantia imprópria,

que não é verdadeiramente uma garantia, mas em

verdade trata-se de responsabilidade de ressarcir dano,

responsabilidade esta que decorre de quaisquer outros

títulos (como a culpa aquiliana, o inadimplemento

contratual, a convenção).”12

Para a primeira corrente, restritiva, defendida por Vicente Greco Filho,

somente seria permitida a denunciação da lide nos casos de garantia própria,

em que o direito de regresso da parte perante terceiros decorra da transmissão

de um direito.

Já a segunda corrente, extensiva, entendendo de modo diverso,

defende a possibilidade de haver denunciação da lide também nos casos de

garantia imprópria, uma vez que a lei não faz qualquer distinção.

Outra questão que se apresenta é a possibilidade de o Estado se valer

da denunciação da lide para em um só processo efetuar sua ação de regresso

face ao seu agente causador do dano. Para quem defende a interpretação

restritiva do inciso III, admitindo a denunciação da lide apenas nos casos de

garantia própria, não seria possível. Outro argumento é ter o Estado

responsabilidade objetiva, não sendo possível trazer ao mesmo processo o

elemento culpa, necessário para que haja o direito regressivo em face do

agente.

Por outro lado, os defensores da teoria extensiva têm admitido. Eis o

posicionamento de Humberto Theodoro Júnior:

“quando se exercita a denunciação, promove-se um

cúmulo sucessivo de duas ações, pois a denunciação da

lide faz surgir uma ação secundária e conexa entre

denunciante e denunciado, que impõe julgamento

simultâneo com a ação principal’.

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13CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, p. 177.14 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, p. 177.

Existindo o direito regressivo a ser resguardado pelo réu,

a instauração do procedimento incidental da denunciação

em nada altera a posição do autor na ação principal. Se

seu direito de indenização é objetivo, continua com esse

caráter perante o Estado-réu. Se o direito regressivo

contra o funcionário depende da culpa do servidor que

praticou o ato lesivo, ao denunciante é que incumbirá o

ônus da prova da culpa, durante a instrução normal do

processo. O autor da ação principal não sofrerá agravo

nenhum em seu ônus e deveres processuais. O direito

regressivo do Estado é que restará condicionado ao fato

da culpa do servidor e só será acolhido se tal restar

evidenciado na instrução”.13

Em posição isolada Alexandre Câmara apresenta uma terceira

posição:

“A denunciação da lide é inadequada nos casos em que

entre o demandado e o terceiro há solidariedade. (...) o

fato de o Estado, civilmente responsável, ter direito de

regresso em face de seu agente que tenha causado o

dano, não exclui a responsabilidade deste perante o

lesado, a qual decorre do art. 159 do Código Civil. Assim

sendo, nada impediria que se formasse um litisconsórcio

(facultativo, obviamente) entre a pessoa jurídica de direito

público e seu servidor (o que já foi admitido pelo

Supremo Tribunal Federal)”.14

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4.4 – OBRIGATORIEDADE

O caput do artigo 70 do Código de Processo Civil traz expressamente

o conceito de obrigatoriedade da denunciação da lide sendo verificadas as

hipóteses dos incisos. Entretanto, tal redação vem gerando controvérsias.

Para alguns autores, como Marcos Afonso Borges, uma vez obrigatória

a denunciação da lide, sua não realização pela parte acarretaria o perecimento

do direito de regresso. Ou seja, não utilizando o instituto da denunciação da

lide quando se deveria, por ser obrigatória sua utilização, não mais poderia ser

exercido o direito de regresso, nem por demanda autônoma.

Para uma segunda corrente, defendida por Rubens Costa, apesar de o

artigo trazer o termo “obrigatória”, este não teria maiores conseqüências

práticas. Caso não seja feita a denunciação da lide ainda assim seria possível

o exercício posterior do direito de regresso por demanda autônoma.

Outros autores, como Athos Gusmão Carneiro, trazem para cá a

distinção entre garantia própria e garantia imprópria e entendem que nos casos

em que haja garantia própria haveria a perda do direito de regresso caso não

fosse efetuada a denunciação da lide. Entendem ainda que em se tratando de

garantia imprópria não mais seria exigida a denunciação da lide, podendo

haver posterior exercício do direito de regresso em demanda autônoma.

Uma quarta corrente, defendida por Vicente Greco Filho, considera

que há perda do direito de regresso quando não se realiza a denunciação da

lide nas hipóteses do inciso I do artigo 70. Já nos casos previstos nos incisos II

e III do mesmo artigo, haveria mera preclusão. Não seria possível exercer o

direito de regresso no mesmo processo, podendo, todavia, ser exercido em

demanda autônoma.

Para Humberto Theodoro Junior a obrigatoriedade prevista no artigo

70 deveria decorrer do direito material e não estar prevista na lei processual:

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15 JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil, p. 114.

“Sobre a obrigatoriedade da denunciação da lide, é digna

de acolhida a lição de Pedro Soares Muñoz, para quem,

na dúvida, devem prevalecer as regras de direito

material. Assim, merece subsistir o ensinamento de

Lopes da Costa, segundo o qual ‘quando à denúncia a lei

substantiva atribuir direitos materiais (o caso da evicção

por exemplo) é ela obrigatória. Se apenas se visa ao

efeito processual de estender a coisa julgada ao

denunciado, é ela facultativa’ (para o denunciante). Para i

denunciado, porém, os efeitos inerentes à intervenção

são sempre obrigatórios.”15

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5 – CONCLUSÃO

O instituto da denunciação da lide, espécie provocada de intervenção

de terceiros, mostra-se fundamental para a economia processual, pois permite

que mediante apenas uma instrução e por uma única sentença sejam julgadas

duas causas em um só processo.

Esta modalidade de intervenção de terceiros, que pode ser proposta

tanto pelo autor quanto pelo réu, é admitida apenas no processo de

conhecimento e constitui ação de regresso antecipada em face de quem o

denunciante possua direito de regresso ou de indenização caso seja derrotado.

Será sempre prejudicial em relação ao resultado da primeira demanda.

O grande questionamento acerca do tema diz respeito a

obrigatoriedade da denunciação da lide, prevista no caput do artigo 70 do

Código de Processo Civil, uma vez que há várias correntes doutrinárias sobre o

assunto que se mostra de enorme importância prática.

O presente trabalho abordou a controvérsia de forma detalhada,

apresentando as correntes existentes e os autores que a defendem sem,

contudo, pretender esgotar o tema. Para uma das correntes a denunciação da

lide é obrigatória; para outra o direito regressivo pode ser exercido

independentemente da denunciação; uma terceira traz o conceito de garantia

própria, entendendo somente ser obrigatória a denunciação da lide nesses

casos; para outro grupo, só haveria a perda do direito de regresso nos casos

do inciso I do artigo 70.

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6 – BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, volume I. 6ª

ed. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2001

CARNEIRO, Athos Gusmão. Intervenção de Terceiros. 15ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2003.

DINAMARCO, Cândido Rangel. Intervenção de Terceiros. 3ª ed. São Paulo:

Malheiros Editores, 2002.

JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil, volume I. 34ª

ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000.

http://www.tex.pro.br/wwwroot/curso/sujeitosdoprocesso/denunciacaodalide.htm

16:54 em 08/01/06

http://www.ufsm.br/direito/artigos/processo-civil/denunciado.htm

16:55 em 08/01/2006

http://www.sintese.com/noticia_integra.asp?id=12072

17:07 em 08/01/06

http://www.justilex.com.br/JustilexPortal/UltimasNoticias.asp?id=1521

17:13 em 08/01/2006

http://www.gentevidaeconsumo.org.br/dir_consumidor/belinda/aspectos_polemicos.htm

17:18 em 08/01/06

http://www.migalhas.com.br/mostra_noticia.aspx?cod=19713

17:20 em 08/1/06

http://www.prolegis.com.br/artigos/PROLEGIS-87.htm

17:29 em 08/01/06

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43http://www.tex.pro.br/wwwroot/02de2005/denunciacaodalide_felipejakobsonlerrer.htm

17:32 em 08/1/06

http://www.psj.com.br/apostilas/PROLEGIS%20003.htm

17:38 em 08/01/06

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7 – ÍNDICE

1 – INTRODUÇÃO 8

2 – PARTES 9

3 – INTERVENÇÃO DE TERCEIROS 11

3.1 – OPOSIÇÃO 13

3.2 – NOMEAÇÃO À AUTORIA 15

3.3 – CHAMAMENTO AO PROCESSO 17

3.4 – ASSISTÊNCIA 19

3.5 – RECURSO DE TERCEIRO PREJUDICADO 21

4 – DENUNCIAÇÃO DA LIDE 22

4.1 – ORIGEM HISTÓRICA 22

4.2 – CONCEITO, CARACTERÍSTICAS E NATUREZA 24

4.3 – HIPÓTESES DE APLICABILIDADE 35

4.4 – OBRIGATORIEDADE 39

5 – CONCLUSÃO 41

6 – BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

7 – ÍNDICE 44

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