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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA SOFRIMENTO DO TRABALHADOR E SÍNDROME DE BURNOUT- QUALQUER SEMELHANÇA NÃO É MERA COINSCIDÊNCIA Por: Elida Barroso Guimarães Albacete Orientador Prof. Vinícius Callegari Niterói 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · defendida por eles, principalmente nos ensinamentos de Christophe Dejours, que ao longo de trinta anos publicou importantes trabalhos

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

SOFRIMENTO DO TRABALHADOR E SÍNDROME DE BURNOUT-

QUALQUER SEMELHANÇA NÃO É MERA COINSCIDÊNCIA

Por: Elida Barroso Guimarães Albacete

Orientador

Prof. Vinícius Callegari

Niterói

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

SOFRIMENTO DO TRABALHADOR E SÍNDROME DE BURNOUT-

QUALQUER SEMELHANÇA NÃO É MERA COINSCIDÊNCIA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Gestão de Recursos

Humanos

Por: Elida B. Guimarães Albacete

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha família pelo apoio,

incentivo e compreensão nas minhas

ausências.

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DEDICATÓRIA

A Deus, que é o suporte de tudo o que

eu tenho e sou. Ao meu marido Djan e

meu filho Davi, que são os meus

maiores amores, meus melhores

amigos e minhas grandes inspirações

para prosseguir.

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RESUMO

O sofrimento no trabalho não é assunto recente na literatura das

disciplinas que estudam sua evolução ao longo do tempo. Desde o surgimento,

o seu significado sempre esteve ligado à tortura e dor até que, nas últimas

décadas, relacionou-se ao que conhecemos atualmente como a aplicação das

forças e faculdades humanas para alcançar um determinado fim.

Desta forma, buscamos aqui fazer uma reflexão crítica baseada num

apanhado histórico e amparada nos estudos de Christophe Dejours ao longo

de trinta anos de trabalho, passando pelos modelos de trabalho adotados a

partir da Revolução Industrial, por Taylor e sua “administração científica” as

primeiras descobertas a respeito da psicopatologia do trabalho, sua evolução

para a psicodinâmica do trabalho, até chegarmos às modernas “avaliações de

desempenho” e mais recentemente à Síndrome de Burnout, patologia

relacionada ao mundo do trabalho e que tem, dentre outros fatores críticos

associados, origem na pouca autonomia no desempenho profissional,

sentimento de desqualificação e problemas de relacionamento com as chefias.

Palavras- chave: Sofrimento no trabalho, psicopatologia, Síndrome de Burnout.

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METODOLOGIA

O material de estudo desta monografia foi adquirido através de

pesquisa bibliográfica e de trabalhos e textos acadêmicos publicados na

internet, além da observação de campo, pelo convívio com profissionais cujas

profissões exigem que se lide diretamente com os usuários atendidos por seus

serviços.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Um breve histórico do sofrimento no trabalho 11

CAPÍTULO II - Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho 23

CAPÍTULO III - A Síndrome de Burnout 32

CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

ÍNDICE 49

FOLHA DE AVALIAÇÃO 50

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INTRODUÇÃO

Este trabalho teve por objetivo fazer uma reflexão crítica da história do

sofrimento do trabalhador ao longo dos anos. O sofrimento de que tratamos

nestas linhas não se refere apenas ao aspecto físico, relativo ao corpo do

trabalhador, mas principalmente ao sofrimento psíquico a que foram

submetidos em nome da necessidade urgente de produção sem que se

levasse em conta as necessidades humanas, através da violência dos modelos

administrativos, como se via na época da revolução das indústrias, até os

atuais modelos de gestão corporativos, geradores de estresse, depressão e

mais recentemente da Síndrome de Burnout. Esta patologia, que iremos tentar

desvendar, se relaciona exclusivamente ao mundo do trabalho, acomete

profissionais dos quais se exige contato pessoal e direto com usuários

atendidos e tem como origem, entre outros fatores desencadeantes, aspectos

muito semelhantes aos encontrados nos modelos antigos de produção, como

pouca autonomia de trabalho, inadequação às condições organizacionais,

sentimento de desqualificação e problemas de relacionamento com as chefias.

A questão a qual esta pesquisa tenta responder é se o trabalho,

principal meio de sobrevivência de milhões de trabalhadores, precisa ser

considerado sempre como patogênico e estar aprisionado necessariamente à

equação saúde-doença. A hipótese formulada ao problema acima é que ao

contrário, caso exista a premissa de se levar primeiramente em conta as

necessidades humanas do trabalhador; ao invés de se buscar apenas o

aumento dos lucros a qualquer preço; o trabalho também possa ser

considerado como um produtor de benefícios, de satisfação e orgulho e numa

perspectiva mais contemporânea, de realização pessoal à medida que já se

sabe que ele possui um poder estruturante, tanto para a saúde mental quanto

para a saúde física do ser humano. E por fim, o tema proposto se justifica ao

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fazer uma relação com as dificuldades vivenciadas ao longo da história pelo

mundo do trabalho e o adoecimento físico e mental em suas mais diferentes

formas de manifestação.

Através da crítica abordada nesta pesquisa, busca-se provocar os

profissionais de recursos humanos a repensarem as práticas de trabalho em

suas organizações e nos contextos no qual estão inseridos. Além disso,

objetiva-se que esta reflexão favoreça a criação de políticas mais humanas de

recursos humanos que levem em conta não apenas os aspectos ergonômicos

do trabalho, mas também a preocupação com a saúde mental dos

empregados. Pretende-se também despertar a consciência de profissionais da

área e gestores de pessoas a fim de que tenham um olhar mais atento às

questões humanas e que possam transformar o trabalho, no campo de ação

que lhes for possível, num meio de alcançar o prazer e o equilíbrio, sem que se

exclua a preocupação com a lucratividade.

Esta pesquisa foi realizada através de apanhado histórico que

considerou os operários da produção de fábricas a partir da Revolução

Industrial, em meados do séc. XVIII, que atingiu toda a Europa.

Posteriormente, a pesquisa aborda a realidade contemporânea de

trabalhadores de fábricas na França e na China e finalmente, engloba

profissionais de serviços ligados às profissões que interagem diretamente com

outras pessoas, primeiramente nos Estados Unidos e em todos os outros

países do mundo. Para o levantamento do conteúdo, utilizamos como

pressuposto teórico a abordagem da psicodinâmica de Christofer Dejours,

através de suas obras, como A loucura do Trabalho e Psicodinâmica do

trabalho, além de outros autores que são referência na área, como Codo, e

pesquisa virtual através de publicações na internet.

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No primeiro capítulo, faremos uma passagem pelo século XVIII, pela

substituição gradativa do trabalho artesanal pela mecanização, pelo

surgimento da burguesia, das fábricas, a introdução dos métodos científicos de

administração e controle de pessoal da época, até a desapropriação do know-

how do trabalhador, a destruição da coletividade operária e suas

consequências inevitáveis em seus corpos e mentes. No segundo capítulo,

descobriremos que o mesmo trabalho, fonte de doenças e produtor de loucura

e alienação, também pode ser gerador de equilíbrio e prazer, desde que

observadas as condições necessárias ao ser humano para o seu

desenvolvimento. Nele, acompanharemos a evolução da pesquisa de

Christophe Dejours desde a psicopatologia até a psicodinâmica do trabalho.

Por fim, no terceiro capítulo, iremos abordar os aspectos da Síndrome de

Burnout, patologia descoberta recentemente que acomete especificamente

profissionais que lidam com profissões das quais se exige contato pessoal com

usuários e na qual se observam aspectos desencadeantes bastante

semelhantes aos encontrados nas indústrias do século XVIII.

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CAPITULO I- UM BREVE HISTÓRICO

DO SOFRIMENTO NO TRABALHO

Se o homem é roubado no seu próprio trabalho, é roubado de si mesmo, perde- se quando deveria se identificar, desconhece a si mesmo quando deveria de reconhecer, destrói-se quando deveria estar se construindo. (Codo, 2003).

A idéia de que o trabalho produz sofrimento na vida das pessoas não é

recente. Christophe Dejours, Elisabeth Abdoucheli e Christian Jayet, entre

outros autores, destacaram-se ao estudar o impacto do trabalho na vida dos

indivíduos e as estratégias defensivas individuais e coletivas que

desenvolveram contra este sofrimento. Este trabalho se baseia na teoria

defendida por eles, principalmente nos ensinamentos de Christophe Dejours,

que ao longo de trinta anos publicou importantes trabalhos sobre a

psicopatologia do trabalho, evoluindo mais tarde para a psicodinâmica do

trabalho. Entretanto, torna-se uma tarefa ingrata falar de sofrimento no

trabalho sem traçar um paralelo com a história da administração e do próprio

capitalismo.

A estrutura do modelo capitalista teve início no séc. XIII, com a

desestruturação do sistema feudal e a proliferação de profundas reformas na

forma de produção e nas relações de trabalho. A busca incessante por

colônias levou o Estado à exploração visando o enriquecimento. Este

enriquecimento levou ao crescimento da burguesia (detentora dos meios de

produção), que passou a desafiar a realeza, levando à crise do poder

absolutista. Por outro lado também se verificou o crescimento da população, o

que acabou gerando maior demanda por mercadorias. Este movimento no séc.

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XV foi chamado de capitalismo comercial, com a consolidação de grandes

potências e práticas mercantilistas. Esta política expansionista permitiu o

contato com novos povos e novas perspectivas comerciais foram sendo

consolidadas. O golpe derradeiro veio com a revolução francesa e inglesa. Mas

o símbolo mais indelével de paradigma produtivo, que acabou por criar um

novo conceito de administração com base nas transformações trazidas pelo

capitalismo, foi a revolução na indústria. A origem da primeira revolução

industrial foi em meados do séc.XVIII na Inglaterra, com o início do uso

intensivo da mão de obra assalariada. A referência tecnológica foi a invenção

da máquina a vapor por James Watt, em 1776, trazendo modificações

sensíveis à estrutura social e comercial da época.

Com este fenômeno, iniciou-se a substituição gradativa do trabalho

artesanal pela mecanização, catalisando o aumento dos ganhos e ao acúmulo

do capital. Ao mesmo tempo em que se consolidava cada vez mais o

capitalismo, algumas consequências já se podiam notar do ponto de vista do

trabalhador, particularmente no que diz respeito ás condições de vidas dos

operários, que em alguns casos eram precárias, convivendo com ambientes

insalubres e ausência de higiene. Este período foi chamado por Dejours de

“Miséria Operária.” Segundo MERLO e LAPIS (2007) dois aspectos deste

movimento social merecem ser destacados: as alterações na qualificação do

trabalhador, que passou lentamente a ser expropriado do seu saber- fazer, e

suas estratégias de resistência como forma de combate às condições de

trabalho a que era submetido, que incluíam desde sabotagem até

absenteísmo. Além disso, é também importante mencionar o incremento

gradativo da própria divisão do trabalho, que no séc. XIX passaria por um

processo maior de sofisticação.

O século XIX foi, sem dúvida nenhuma, o principal período do

desenvolvimento do capitalismo industrial, caracterizado pelo crescimento da

produção, êxodo rural e pela concentração de novas populações urbanas.

Segundo Dejours (1992), alguns elementos marcantes podem ser retidos,

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como a duração do trabalho, que atinge 12, 14 ou até 16 horas por dia, o

emprego de crianças na produção industrial, algumas vezes a partir dos três

anos de idade, os baixos salários que não conseguem garantir ao menos o

estritamente necessário, o desemprego que põe em risco a sobrevivência da

família, a redução das moradias a um pardieiro, a falta de higiene,

promiscuidade, esgotamento físico, acidentes de trabalho, subalimentação. A

luta pela saúde, nesta época, se traduzia na própria luta pela sobrevivência:

“viver, para o operário, é não morrer.”

“O capitalismo desenvolvido nos fins do séc.XVIII socializou um primeiro objeto que foi o corpo enquanto força de produção, força de trabalho. O controle da sociedade sobre os indivíduos não se opera apenas pela consciência ou pela sociologia, mas começa no corpo, com o corpo. Foi no biológico, no corporal que, antes de tudo, investiu a sociedade capitalista.”. (Foucault, 2008).

Foi o século das lutas operárias. As necessidades da produção

geravam concentrações operárias, advindas das novas relações sociais.

Surgiram as câmaras sindicais, associações, federações nacionais e partidos

políticos que traziam para o movimento operário uma dimensão significativa.

Dentre tantas reivindicações, podemos dizer que eram dois os objetivos

principais: o direito à vida (ou à sobrevivência) e a liberdade de organização.

Entre um projeto de lei e uma votação era preciso esperar dez, às vezes vinte

anos: treze anos para o projeto de lei sobre a redução do tempo de trabalho

das mulheres e crianças (1879-1892), onze anos para a lei sobre higiene e

segurança (1882-1893), vinte e sete anos para o repouso semanal (1879-

1906).

Da primeira guerra mundial ao ano de 1968, o movimento operário

adquiriu bases sólidas e atingiu a dimensão de uma força política cada vez

mais crescente, onde se destacava a proteção à saúde e na qual o corpo era a

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principal preocupação, tendo como foco a prevenção dos corpos dos

acidentes, as doenças profissionais e intoxicações por produtos industriais, os

cuidados e tratamentos convenientes.

Ao fim da segunda Revolução Industrial, surgiram novas idéias de

otimização e organização do trabalho. Um dos principais teóricos desta época

foi o sociólogo Max Weber (1864-1920), que notou que a burocracia rotinizava

o processo de administração da mesma forma que a máquina robotizava a

produção. Esta robotização dos aspectos do trabalho eram pontos principais

de preocupação do trabalho de Weber, uma vez que a burocracia era definida

por ele como tudo o que leva à velocidade, regularidade, confiabilidade,

eficiência obtidas através da divisão de tarefas, da supervisão hierárquica, de

regras e regulamentação detalhada, promovendo certa desumanização e

inibindo a espontaneidade (MORGAN, 1998). Por outro lado, novas formas de

pensar a administração iriam surgir se contrapondo diretamente à preocupação

burocrática de Weber. As duas principais escolas neste sentido foram a

abordagem clássica de Henri Fayol (1841-1925) e a Administração Científica

de Frederick Taylor (1856-1915).

A teoria clássica da administração estava relacionada à busca da

eficiência e ao foco na estrutura das organizações. Fayol pregava a

organização com um todo, através de processo de planejamento e controles

bem divididos, com divisão do trabalho e cadeias de comando. Sua fundação

deu origem às formas de trabalho conhecidas até hoje como modelo

mecanicista que ainda hoje serve de bases para um grande número de

empresas. No entanto, ao mesmo tempo, ajuda a promover certa

desumanização tanto psicológica quanto social na organização. Seu

pressuposto era de que uma vez afinada a engenharia, os trabalhadores se

encaixariam no processo. Foi também nesse período que surgiu o sistema

taylorista, outra vertente mecanicista e de controle comportamental. A

realidade deste momento histórico teve a oportunidade de ser retratada

brilhantemente no cinema através da obra prima “tempos modernos”, que

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perpetuou de forma crítica e bem humorada essa sociedade capitalista da

época. Taylor, ao separar radicalmente o trabalho manual do trabalho

intelectual, neutralizou a atividade mental dos operários e trouxe repercussões

não apenas no corpo, mas agora também sobre a saúde mental do

trabalhador, numa tentativa de desumanizar o ser humano. Foram exigidas

novas performances até então desconhecidas, como exigências fisiológicas e

de tempo e ritmo de trabalho, fazendo com que o corpo se tornasse o principal

ponto de impacto dos prejuízos do trabalho, já que estava fragilizado pela

privação do seu protetor natural, o aparelho mental.

A organização científica do trabalho deu outro grande salto a partir

deste momento com o norte americano Henri Ford (1863-1947), que através

do seu famoso modelo T, introduziu o que veio a ser conhecido como uma

linha de montagem. Neste formato de processo produtivo, as peças passavam

na frente dos trabalhadores, os quais apenas assumiam seus postos na linha

de produção, aumentando ainda mais a fragmentação das operações.

Conforme ressalta Codo (2003) “(..) a moribunda linha de montagem fordista

ilustra o fato de que o processo de divisão do trabalho pode bloquear,

interceptar o sentido do trabalho, tornando inatingível seu significado”.

O movimento operário permanecia na tentativa de obter melhorias da

condição saúde-trabalho, enquanto a guerra favorecia as iniciativas em favor

da proteção de uma mão de obra desfalcada pelas necessidades do front. Os

principais progressos cristalizavam-se em torno da jornada de trabalho, da

medicina do trabalho e da indenização das anomalias contraídas no trabalho.

Em 1916, Albert Thomas reduz a jornada de trabalho para oito horas diárias e

constata o efeito paradoxal desta medida sobre a produção, que aumenta. São

criados ambulatórios de fábricas a fim de tratar os acidentes de trabalho.

Algumas empresas começam a organizar os exames pré-admissionais e de

controle e progressivamente, as bases de uma medicina de trabalho são

lançadas. Porém, é sobretudo no final da guerra que são votadas leis

concernentes à indenização das doenças e aos cuidados com os doentes. Em

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1936 é votada a semana de 40 horas de trabalho, e obtêm-se outras

conquistas, como as férias pagas, o direito à livre adesão aos sindicatos e o

direito à greve. A última onda de medidas sociais relativas à saúde dos

trabalhadores data da Segunda Guerra Mundial, de onde surgem novas

esperanças, com a institucionalização da medicina do trabalho (1946), da

Previdência Social (1945) e dos Comitês de Higiene e Segurança (1947)

DEJOURS, 2004.

Durante todo este período, que começa em 1944, o movimento

operário continua a desenvolver sua ação para melhoria das condições de vida

(jornada de trabalho, férias, aposentadorias, salários), mas simultaneamente,

se destaca uma frente própria, concernente à saúde. As palavras de ordem

neste domínio concernem à prevenção de acidentes, a luta contra as doenças,

aos direitos aos cuidados médicos, isto é, à saúde do corpo. Pode-se dizer que

este segundo período da história da saúde dos trabalhadores caracteriza-se

pela revelação do corpo como ponto de impacto da exploração. Ou seja, a

preocupação era indevidamente limitada, pois considerava o alvo da

exploração o corpo e somente o corpo. Porém, este ponto de vista precisa ser

revisado, porque é limitante, como se os mecanismos invisíveis da exploração

exigissem, para serem evidenciados, uma demonstração dos seus efeitos

visíveis no corpo. Precisamos rever, hoje, o ponto de vista segundo o qual a

exploração teria como alvo diretamente o corpo, uma vez que as condições

nocivas de trabalho não atingiram somente a ele, mas também ao aparelho

mental.

No terceiro período, após 1968, o sofrimento psíquico já começa a

surgir como novo material, trazendo uma ampliação da problemática tradicional

das questões de saúde que, apesar de já aparecerem no discurso operário,

permanecem praticamente não analisadas. Os novos modelos de tarefas, cada

vez mais numerosos nas novas indústrias, como as de processo, nucleares e

no setor terciário, já não exigiam graves cargas físicas, mas cargas intelectuais

e psicosensoriais de trabalho, fazendo os operários se confrontarem com

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novas condições de trabalho e descobrirem sofrimentos insuspeitos,

preparando o terreno para a preocupação com a saúde mental.

A sociedade industrial falhava em sua capacidade de trazer a

felicidade, desembocando numa série de contestações da maneira de ver a

vida, que veio a ser conhecida como a “crise da civilização”. O comportamento

produtivo estereotipado, o sistema hierárquico, as relações de poder, entre

outros modelos trazidos pela organização do trabalho desencadeavam o

sofrimento mental, causado pela anulação do comportamento livre e da

manifestação dos desejos do sujeito. Por outro lado, o avanço das práticas

psicoterapêuticas e da psiquiatria, das prisões e instituições e do uso abusivo

das drogas expressavam as dificuldades existenciais vividas pelos sujeitos. O

operário vivia numa organização tão rígida que se via controlado, igualmente,

dentro e fora do trabalho. Conforme salienta Dejours (1992), “existe a

possibilidade do homem despersonalizado no trabalho não permanecer

despersonalizado em casa?” Em seu tempo livre, fora do trabalho, o

trabalhador também se via impedido de organizar seu lazer de acordo com

seus desejos e necessidades fisiológicas, devido aos custos financeiros das

atividades fora do trabalho (esportes, cultura, formação profissional). Desta

forma, o homem inteiro ficaria condicionado ao comportamento produtivo pela

organização do trabalho, sofrendo assim, mesmo em seu tempo livre, de uma

contaminação involuntária. Desta forma, o tempo dentro e fora do trabalho

formaria um continuum dificilmente dissociável, tornando o operário o próprio

artesão do seu sofrimento.

A OCT desapropriou o saber operário e amordaçou sua liberdade de

organização, de reorganização ou de adaptação do trabalho, trazendo uma

grave dimensão psicológica e psicoeconômica, uma vez que ela diz respeito à

integridade do aparelho psíquico e, mais além, à saúde do corpo através do

processo de “somatização”. De acordo com Santos (1993), no modelo de

Taylor, apesar de bastante lógico do ponto de vista técnico, não eram

conhecidos os efeitos da fadiga e os aspectos humanos, psicológicos e

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fisiológicos, das condições de trabalho. Taylor reduziu o homem a gestos e

movimentos, comparado- o a uma máquina, sem capacidade de desenvolver

atividades mentais. A literatura da época mostra que, na linha de produção, os

operários eram, por vezes, separados uns dos outros e colocados em posição

contrária fazendo com que, ultrapassado pelas cadências, aquele que

atrasasse acabava atrapalhando os que estavam atrás dele na corrente dos

gestos produtivos. Além de tudo, Taylor também usava a estratégia da

verificação. Segundo ele, o trabalhador perdia muito tempo e dinheiro da

produção com a “vadiagem no local de trabalho”. Então, a fim de saber se o

seu modo operatório estava sendo devidamente respeitado e executado no

tempo limitado, criou uma forma de regular cada sequência, cada movimento

na sua forma e ritmo, dividindo o modo operatório complexo em gestos mais

simples e fáceis de controlar por unidades do que o processo no seu conjunto.

Ao vigiar cada passo do trabalhador, porém, ele ignorou que o descanso era

igualmente uma etapa fundamental do trabalho, pois era através dele que

agiam as operações de regulagem do binômio homem- trabalho, assegurando

a continuidade da tarefa e a proteção da vida mental do trabalhador.

Uma vez conseguida a desapropriação do know-how, uma vez desmantelada a coletividade operária, uma vez quebrada a livre adaptação da organização do trabalho às necessidades do organismo, uma vez realizada a toda poderosa vigilância, não restam senão corpos isolados e dóceis, desprovidos de toda iniciativa”. (Dejours, 1992).

Nenhum operário de base foi poupado da rigidez inatingível do novo

modelo, das exigências temporais, do controle e anonimato das relações de

trabalho, dos intercâmbios, da chantagem dos prêmios, da aceleração das

cadências e do fracionamento máximo da organização do trabalho, que faziam

padecer um corpo instrumentalizado de massa, despossuído do seu aparelho

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intelectual e de seu aparelho mental. Não havia tarefas coletivas no trabalho

taylorizado, assim como há na construção civil. Da mesma forma, não havia

mais lugar para as defesas coletivas. Assim, a coletividade operária

desenvolveu respostas defensivas fortemente personalizadas, estratégias

utilizadas como mecanismos para minimizar e transformar o sofrimento no

trabalho. As defesas individuais são resultantes da composição entre o

sofrimento e a luta individual e coletiva contra ele. Conforme ressalta

LANCMAN; SZNELWAR (2004), se as defesas não são eficazes, podem

impedir a tomada de consciência das relações de exploração do trabalhador

levando ao triângulo do sofrimento/defesa/alienação, criando um ciclo vicioso e

a crise de identidade. Estas estratégias defensivas podem ser positivas ou

negativas, como por exemplo, atitudes de desprezo em relação ao risco

existente no trabalho ou a atribuição de um valor simbólico para o sofrimento

(o trabalhador domina o perigo e não vice-versa). Outros exemplos que podem

ser observados são a minimização da importância do sofrimento; as práticas

de alcoolização, a racionalização, o individualismo; a passividade; o

desenvolvimento de atividades físicas e a atenção à espiritualidade; entre

outros. Constata-se que a realidade dos riscos no trabalho taylorizado não foi

tanto o trabalho em sim, mas a violência que esta organização do trabalho

exerceu sobre o funcionamento mental. A divisão e separação dos homens foi

o verdadeiro resultado da dimensão psicológica causada pela falta de sentido

e desconhecimento das tarefas individuais e coletivas. A exigência da

uniformização do trabalho indicava a direção que a observação psicopatológica

tomaria a partir daquele momento: privilegiar o que havia de comum e de

coletivo na vivência ao invés de se ater ao que separava os indivíduos. Ao nos

debruçarmos sobre as conseqüências da OCT sobre o aparelho mental,

constatamos que é no funcionamento físico que aparecem as desordens

ignoradas pelo autor do sistema. Não há mais o balisador, amortecedor do

aparelho psíquico atuando como intermediário entre a organização do trabalho

e o aparelho mental. O know-how, a atividade psíquica e intelectual do operário

eram completamente desprezadas pela organização científica do trabalho.

Este é material de estudo da psicopatologia do trabalho: a vivência e o

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sofrimento do trabalhador, dotado de uma história personalizada e a

organização do trabalho, portadora de uma injunção despersonalizante.

A idéia é treinar os operários, um após o outro, sob a condução de um professor competente, para que executem seu trabalho seguindo novos métodos, até que eles apliquem, de uma maneira contínua e habitual, uma maneira científica de trabalhar (método que foi idealizado por outra pessoa). (Taylor apud Dejours, 1992).

Em se tratando da carga psíquica, o perigo principal é o da

subutilização ou o da repressão das aptidões psíquicas, fantasiosas ou

psicomotoras, que ocasionam uma retenção de energia pulsional ("tensão

nervosa"). O bem-estar psíquico não provém da ausência de funcionamento,

mas, ao contrário, de um livre funcionamento em relação ao conteúdo da

tarefa. Se o trabalho favorece esse livre funcionamento, ele será fator de

equilíbrio; se ele se opõe, será fator de sofrimento e de doença. (DEJOURS,

DESSORS E DESRLAUX, 1994). Desta forma, o sofrimento seria, numa

primeira abordagem, o campo de separação entre a saúde da doença. Dejours

aponta, na vivência operária, alguns sofrimentos que levam à vivência

depressiva, como a insatisfação, a ansiedade e a indignidade operária, pela

vergonha de ser robotizado, de parecer sujo, de não ter mais imaginação ou

inteligência, de sentir-se despersonalizado. A auto- imagem do trabalhador

também é prejudicada pela insignificância da tarefa, pela falta de qualificação e

de finalidade do próprio trabalho, além da falta de dignidade que este trabalho,

sem investimento material ou afetivo, traria para a família e grupo social.

É a certeza de que o nível atingido de insatisfação com esta

organização rígida e imutável do trabalho não pode mais diminuir que marca o

começo do sofrimento. Quando o trabalhador já usou o máximo de suas

faculdades intelectuais, psicoafetivas, de aprendizagem e de adaptação e

ainda assim se vê impossibilitado de mudar de tarefa, ele sofre. O sofrimento

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também aumenta quanto mais rígida for a organização, quanto mais acentuado

for a divisão da tarefa e quanto menos for o seu conteúdo significativo. Até

mesmo as más condições de trabalho são, no conjunto, menos temíveis. Não

são tanto as exigências mentais ou psíquicas do trabalho que fazem surgir o

sofrimento.

Ao estudaremos a insatisfação com o trabalho relacionado ao

conteúdo ergonômico da tarefa, podemos chegar à conclusão que ela não

corresponde só ao conteúdo significativo do trabalho nem ao seu conteúdo

simbólico, mas que existe, paralelamente na profissão, uma satisfação com o

exercício do corpo, no sentido físico e nervoso. Essa insatisfação é

primeiramente no corpo, e não no aparelho mental. Ao contrário, a insatisfação

em relação ao conteúdo significativo da tarefa tem como ponto de impacto,

antes de tudo, o aparelho mental, ao contrário do sofrimento resultante do

conteúdo ergonômico da tarefa. Apesar disso, o sofrimento mental resultante

de uma frustração ao nível do conteúdo significativo da tarefa pode,

igualmente, levar a doenças somáticas. Assim, entendemos que o

componente da insatisfação no trabalho até então desconhecido, o que resulta

na inadequação da relação homem-conteúdo ergonômico do trabalho é a

geradora de toda uma problemática na relação saúde- trabalho, não apenas de

numerosos sofrimentos somáticos de determinismo físico direto, mas também

de outras doenças do corpo mediatizadas por algo que atinge o aparelho

mental. Ainda que haja o alívio pela correção ergonômica, este é facilmente

recuperado pela organização do trabalho, uma vez que o alívio da carga de

trabalho permitiria a intensificação da produtividade, fazendo com que o que foi

ganho de um lado fosse perdido de outro. Podemos afirmar, assim, que a

intervenção ergonômica não atinge a situação de trabalho em profundidade,

pois ela permanece aquém da organização do trabalho. Concluímos, portanto,

que para o operário que trabalha com peças, por exemplo, a correção

ergonômica poderia ser totalmente irrisória diante da enormidade das

exigências organizacionais, tais como salários, prêmios, bonificações,

conteúdo da tarefa, e trabalho repetitivo.

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CAPÍTULO 2- DA PSICOPATOLOGIA À

PSICODINÂMICA DO TRABALHO

[...] antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a natureza... Ele põe em movimento as forças naturais à sua corporeidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para sua própria vida. (Marx, 1998).

Como vimos nos capítulo anterior, o trabalhador sofre pela divisão do

trabalho que os conduz a uma ignorância do sentido de seus trabalhos e dos

destinos de sua tarefa. Além disso, as cargas de trabalho física ou

psicossensomotora ocasionam desordens no corpo, equivalentes às doenças

diretamente infligidas ao organismo pelas condições de trabalho. Christophe

Dejours, a princípio, concentrou-se no estudo das dinâmicas que, em situações

de trabalho, conduziam hora ao prazer, ora ao sofrimento e os seus diferentes

desdobramentos, inclusive àqueles que terminavam por causar uma patologia

mental ou psicossomática. Ao longo do tempo, as fronteiras dos estudos de

saúde/doenças foram sendo superadas, ampliando seu entendimento e

transformando o que seria a psicopatologia do trabalho numa psicodinâmica do

trabalho. Mais do que estudar doenças mentais específicas relacionadas à

profissão ou a situações de trabalho, a psicodinâmica do trabalho envolve uma

dinâmica mais abrangente no que se refere à gênese e às transformações do

sofrimento mental vinculadas à organização do trabalho.

A fadiga e o abuso de bebidas alcoólicas tem sido objeto de atenção

dos estudos dejourianos, uma vez que se configuram em estratégias

defensivas coletivas em certas vivências profissionais. Outro ponto tem sido a

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forma como a luta contra o sofrimento ocorre ao mesmo tempo coletiva e

individualmente, conduzindo ao ocultamento, à identificação do sofrimento (sob

a forma de patologia) ou ao enfretamento efetivo de dinâmicas causais

localizadas nas situações de trabalho. O que Dejours nos propõe, em seus

estudos, é um convite para pensarmos uma realidade que não é mais aquela

compartimentada das ciências contidas em cubículos isolados, mas uma

ciência transdiciplinar, a “ciência com consciência”, conforme defende Edgar

Morin apud Seligmann-Silva, 1994. Desta forma, podemos dizer que o desafio

da Psicodinâmica do Trabalho seria o de superar a atual distância existente

entre organização prescrita e organização real do trabalho, levando em conta

todos os perigos que esta distância atualmente representa, tanto para a saúde,

quanto para a segurança e a qualidade do que é produzido.

Ao tratarmos de carga psíquica no trabalho, devemos ter em mente

que não é possível quantificar essa vivência pois ela é, antes que qualquer

coisa, qualitativa e portanto, subjetiva, assim como são o prazer, a satisfação e

a agressividade. Embora subjetiva, ela não pode ser relegada a uma simples

classificação de fantasmas ou quantidades negligenciáveis, pois tem muitos

efeitos concretos e reais. Sendo impossível quantificar a carga psíquica,

Dejours propôs um modelo, denominado abordagem econômica do

funcionamento psíquico. De acordo com a clínica médica, o trabalhador que é

submetido às excitações provenientes do exterior (de origem psicossensorial)

ou do interior (excitações instintivas ou pulsionais) dispõe de muitas vias de

descarga de descarga pra sua energia. Porém, quando acumulada, esta

excitação, origina uma vivência de tensão, que é a tensão psíquica, ou

nervosa. Esquematicamente, consideram-se quatro vias de descarga, das

quais trabalharemos apenas com três: a via psíquica, a via motora e a via

visceral. A quarta via, a psicossensorial, não será aqui considerada.

Segundo Marty (1976), uma hierarquia é organizada durante o

desenvolvimento da personalidade, que permite à via motora cobrir

progressivamente e suplantar a via visceral e, no topo do edifício, a via

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psíquica, dos fantasmas e do sonho. Conforme a flexibilidade dos mecanismos

de defesa e o grau de evolução da personalidade, distinguem-se, em clínica,

os que serviriam de vias psicomotoras e viscerais (as neuroses de caráter e de

comportamento) e os que servem principalmente de via mental (as psicoses e

neuroses clássicas).

Aplicando esses pilares ao contexto do trabalho, Dejours, Dessors e

Desrlaux (1994) defendem que surgem três fatos: o primeiro, diz que

organismo do trabalhador não é um motor humano, uma vez que é submetido

permanentemente a excitações exteriores e interiores. O segundo, que o

trabalhador não chega ao seu trabalho como uma máquina nova. Ele tem uma

história pessoal, que se concretiza por uma certa qualidade de suas

aspirações, de seus desejos, de suas motivações e de suas necessidades

psicológicas, que integram sua história passada. Isto confere a cada indivíduo,

características únicas e pessoais. Por fim, o terceiro, em que o trabalhador, em

razão de sua história, dispõe de vias de descarga preferenciais que não são as

mesmas para todos e que participam na formação daquilo que se chama

estrutura da personalidade. Posto isso, chegamos a conclusão de que nem

todas as tarefas que afetam um trabalhador oferecem uma canalização

apropriada a sua energia psíquica, às atividades psíquicas fantasmáticas ou

psicomotoras que fossem suficientes, o que resultaria numa retenção de

energia pulsional, constituindo finalmente na carga psíquica de trabalho. Esta

questão fundamental resumiria toda a problemática da relação entre o

aparelho psíquico e o trabalho. O trabalho torna-se perigoso para o aparelho

psíquico quando ele se opõe à sua livre atividade. Não significa dizer que a

ausência de funcionamento produz bem estar, mas ao contrário, o que o

produz é o livre funcionamento, articulado junto ao conteúdo da tarefa,

expresso, por sua vez, na própria tarefa e revigorado por ela. Em termos de

economia psíquica, o prazer do trabalhador resulta da descarga de energia

psíquica que a tarefa autoriza, o que corresponde a uma diminuição de carga

psíquica do trabalho. Assim, entendemos que, se um trabalho diminui a carga

psíquica, ele é equilibrante, se ele se opõe a essa diminuição, ele é fatigante.

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Não havendo espaço a atividade fantasmática, estando a via de descarga

psíquica fechada, a energia psíquica ficaria acumulada, tornando-se fonte de

tensão e desprazer. A carga psíquica cresceria até culminar numa fadiga que

evoluiria até chegar numa patologia. Ao contrário, um trabalho que é livremente

escolhido e organizado oferece, geralmente, vias de descarga mais adequadas

às necessidades. O trabalho se tornaria uma fonte de relaxamento, onde uma

vez a tarefa terminada, o trabalhador se sentiria melhor do que antes de

começá-la. Este é o caso dos artistas, pesquisadores e cirurgiões, por

exemplo, quando estão satisfeitos com seus trabalhos. Esta “descarga

psíquica” reverte em proveito da homeostasia e poderíamos denominá-lo como

“trabalho equilibrante”.

Nos últimos anos, temos assistido estarrecidos a exemplos

contemporâneos de uma das faces mais cruéis do mercado de trabalho,

reflexo de uma carga psíquica insuportável e de um desequilíbrio levadas ao

extremo. Divulgadas por jornais, redes sociais e por diferentes emissoras de

televisão, os casos de suicídios de empregados em fábricas como a Renault e

a Peugeot Citröen, montadoras de veículos e da Foxconn, fabricante do iPad e

do iPhone da Apple na China, atingiram repercussão mundial. No caso da

Renault, num período de cinco meses entre os anos de 2006 e 2007, três

trabalhadores puseram fim às próprias vidas. O primeiro teria se jogado do

quinto andar do prédio, três meses depois, outro se afogou de propósito e o

último pôs fim à própria vida em casa, deixando um bilhete onde culpava as

condições de trabalho na Renault como causa de seu sofrimento insuportável.

Num dos casos, o Tribunal de Apelação de Versalhes, onde o caso foi julgado,

definiu a postura da Renault como “imperdoável”. Foi comprovado que Antonio

B., que era engenheiro da computação e tinha 39 anos na época, passou por

estresse intenso e perdeu oito quilos, até decidir acabar com a própria vida em

decorrência das pressões e da alta carga de trabalho. Ele acabou cometendo

suicídio dentro do prédio do Technocentre de Guyancourt, um moderno centro

de pesquisa da Renault. A justiça considerou que a montadora tinha

consciência das más condições de trabalho vividas pelo funcionário e teria sido

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negligente quanto a isso. Segundo denúncia do sindicato que os representa, a

culpa seria das recentes reestruturações na empresa, uma vez que ela estaria

sofrendo pela baixa nos lucros e aumento no preço dos materiais. Outro fator

significativo foi a eleição do brasileiro Carlos Ghosn como o novo presidente da

sede da empresa, na França, a partir do ano de 2005.

Conhecido por alguns críticos como cost killer (“matador de custos”), Carlos

Ghosn impôs à empresa um ambicioso plano de aumento de produção, com

reduções radicais de custos e metas fixadas até o ano de 2009. Estas metas

incluiriam incentivo à competividade, precarização e tercerização, aumento das

jornadas, assédio moral, cortes de direitos e renda, além, é claro, das

constantes ameaças à perda do emprego, culminando em um aumento

absurdo da pressão sobre os empregados. Neste mesmo prédio trabalham

cerca de 8.400 pessoas que vivenciam as mesmas frustrações e a mesma

rotina desgastante. Como proposta, representantes dos trabalhadores

sugerem várias medidas que deveriam ser adotadas imediatamente como a

oferta de cursos para gerenciamento o estresse e a ampliação de reuniões

para humanizar as relações de trabalho.

Ainda no ano de 2007, numa fábrica do grupo automobilístico PSA

Peugeot Citröen, em Mulhouse, na França, ocorreram outras seis mortes,

grande parte de trabalhadores da seção de ferragens da fábrica de Mulhouse.

Um dos casos que ganhou notoriedade foi do operário de 55 anos, pai de três

filhos e funcionário da empresa há vinte e nove anos, que numa tentativa

desesperada de pôr fim ao seu sofrimento, decidiu tirar a própria vida,

enforcando-se.

Na gigante taiwanês Foxconn, maior fabricante mundial de

equipamentos eletrônicos para grande parte das multinacionais tecnológicas

como Sony, Nokia, Dell, Nintendo e Apple, a história não foi diferente: num

intervalo de dois anos, cinco trabalhadores abriram mão da própria vida, quatro

deles na própria fábrica, onde apenas um sobreviveu. Destacou-se o caso da

jovem de apenas 20 anos, Li Rongying que segundo informações das

autoridades, teria se lançado do quarto andar do prédio. A companhia emprega

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1,2 milhão de pessoas, das quais 1 milhão trabalham em fábricas chinesas,

onde as condições de trabalho vêm sendo questionadas desde devido à onda

de suicídios de jovens funcionários. Como medida reparadora, a Foxconn

resolveu instalar redes de proteção em volta dos prédios de Shenzhen. Pelo

menos 13 funcionários da Foxconn morreram em 2011 em aparentes suicídios,

pelos quais ativistas culpam as más condições de trabalho. Um dos motivos

apontados na onda de suicídios seriam a ameaça de demissões em massa

nas fábricas da China, onde seriam inseridos cerca de 1 milhão de robôs nas

linhas de montagem nos próximos três anos.

Infelizmente, estes não são os únicos casos nos quais trabalhadores

abrem mão de viver, devido às pressões extremas vivenciadas no ambiente de

trabalho, que conduzem ao estresse, depressão e desespero. Também

poderíamos citar os casos da France Telecom, da estatal de energia EDF e do

próprio Exército dos EUA, onde, segundo dados recentes, perdem-se mais

homens em suicídios do que em combate. Esta nefasta seqüência de mortes

relacionadas ao universo do trabalho tem chamado a atenção da imprensa

mundial, apesar de se saber que a França abriga um dos maiores índices de

suicídios no mundo. É notório que existe algo em comum entre todos estes

trabalhadores para chegarem a atitudes tão desesperadas, algo diferente no

cenário do trabalho que ocasionasse tamanha intensidade de manifestação.

Os clínicos de psiquiatria e psicologia, conforme entrevista cedida por Dejours

à revista eletrônica Público Digital (fevereiro de 2012), o que mudou nas

empresas foi a organização do trabalho, principalmente no que diz respeito à

três ítens: a introdução de novos métodos de avaliação do trabalho, em

particular a avaliação individual do desempenho; a introdução de técnicas

ligadas à chamada “qualidade total”; e o outsourcing, ou terceirização de mão

de obra, que tornou o trabalho mais precário. De acordo com o estudioso, o

suicídio seria uma mensagem brutal, a pior que se poderia imaginar, uma vez

que as vítimas não ganhariam nada com o próprio suicídio, evidenciando,

realmente, que se trata de uma situação limítrofe de desespero e

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desesperança. Esta mensagem brutal seria dirigida à toda a comunidade de

trabalho, aos colegas, ao gestores, subalternos e à empresa.

Desrlaux, Dessors e Dejours, defendem que, colocando-se as

organizações face a face com o equilíbrio psíquico de seus colaboradores, se

descobriria aquelas que são consideradas “perigosas” e as que não o são. As

perigosas são aquelas que atacam e destroem o desejo dos trabalhadores,

provocando neles doenças físicas e mentais, como no caso do trabalho

repetitivo exercido sob pressão de tempo onde não há, absolutamente, lugar

para a atividade fantasiosa e a via de descarga psíquica está fechada. A

energia psíquica se acumula, transformando-se em fonte de tensão e

desprazer, até que surja a fadiga, depois a astenia e, a seguir, a patologia. As

que não perigosas seriam as organizações que são favoráveis à saúde,

aquelas que oferecem um campo de ação, no qual o trabalhador é capaz de

concretizar suas aspirações, imaginação e desejo. Em geral, esta situação é

possível quando o trabalho é livremente escolhido e quando a organização do

trabalho é suficientemente flexível para que o trabalhador possa organizá-lo e

adaptá-lo a seus desejos e necessidades. É o caso daqueles profissionais que

lidam o ofício do artesanato, por exemplo, onde o trabalhador é livre para sua

própria organização. É desejável, portanto, que o trabalho fatigante seja

transformado em um trabalho equilibrante. Para que isso aconteça, é

necessário flexibilizar a organização do trabalho de maneira a deixar ao

trabalhador uma maior liberdade para organizar seu modo operatório e para

encontrar os gestos que serão capazes de lhe dar prazer, isto é, uma

distensão ou uma diminuição da carga psíquica de trabalho.

Entendemos, desta forma, que a carga psíquica do trabalho resultaria

do confronto entre a vontade do empregador e o desejo do empregado. Se a

organização do trabalho é autoritária e não oferece uma saída apropriada à

energia pulsional, conduz a um aumento da carga psíquica. Ou seja, ela

aumenta a medida em que a liberdade de organização diminui, sendo um

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grande regulador da carga total de trabalho. Uma vez rebaixada a tensão, a

descarga da energia pulsional dá origem ao prazer, isto é, ao alívio da carga

psíquica de trabalho. Ao contrário, quando não há mais arranjo possível da

organização do trabalho pelo trabalhador, quando a relação do trabalhador

com a organização do trabalho é bloqueada, abre-se o caminho para o

sofrimento. A energia pulsional que não acha descarga no exercício do

trabalho se acumula no aparelho psíquico, ocasionando um sentimento de

desprazer e tensão, os quais, segundo a clínica, não fica ali por muito tempo e,

tendo sido esgotadas as capacidades de contenção, elas são transbordadas

para o corpo, nele desencadeando perturbações intensas que são as

testemunhas da angústia ou da onda de agressividade. Assim, a fadiga

assume uma tradução somática. Neste ponto, se uma interrupção do trabalho

não vier interromper a evolução do processo, ou seja, se nenhuma modificação

da organização do trabalho intervém, então a fadiga desencadeia a patologia.

Por fim, conclui-se que duas modalidades são possíveis de acontecer em

função da estrutura mental: a descompensação psiconeurótica ou a

descompensação somática. No caso de uma estrutura psicótica, a sobrecarga

psíquica produzirá um delírio e no caso de uma estrutura neurótica, produzirá

uma depressão, uma doença somática ou no caso de uma desorganização

mental, produzirá uma doença somática. Os autores ressaltam, também, que

não há uma solução geral para diminuir a carga psíquica do trabalho e que, no

caso da organização do trabalho não ser capaz de fornecer a liberalidade

necessária, a pessoa deve encarar uma re-orientação profissional que leve em

conta suas aptidões e necessidades de economia somática.

Diante de tudo o que foi posto, a conclusão a qual os principais autores

da área chegaram, finalmente, foi de que os seus estudos não trouxeram o que

eles pretendiam: o destaque da doença mental caracterizada. Ao invés disso, o

que se verificou foram sujeitos que, apesar das pressões que enfrentavam,

conseguiam evitar a doença e a loucura, levando os estudiosos à conclusão

que os problemas psíquicos conduziam menos à aparição de doenças mentais

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clássicas e mais a uma fragilização que favorecia o surgimento de doenças do

corpo. Assim, admite-se que, no conflito do social-privado, o privado resiste

vigorosamente e em geral as pressões do trabalho são incapazes, por si só, de

fazer emergir uma psicopatologia de massa. A interposição do indivíduo se

interpõe entre as pressões do trabalho e a doença mental, sendo capaz de

compreender sua situação, assim como de reagir a ela e defender-se. As

reações de defesa, por sua vez, são fortemente singularizadas em função do

passado, da história e da estrutura de personalidade de cada sujeito.

Desta forma, o objeto de estudo em psicopatologia do trabalho foi

redefinido para o estudo do sofrimento no trabalho. Sofrimento este, agora,

considerado como compatível com a normalidade e com a salvaguarda do

equilíbrio psíquico, embora implique toda uma série de procedimentos de

regulação. Assim, ele passa a ser concebido como a vivência subjetiva

intermediária entre doença mental descompensada e o conforto (ou bem estar)

psíquico, este último considerado de difícil compreensão e que conduzirá,

como tempo, à proposta de um novo enfoque da saúde, conforme afirma

Dejours, 1994. Este enfoque tem como objeto de estudo um campo

psicopatológico não ocupado pela loucura, mas sim pela normalidade, ainda

que ela não implique uma ausência de sofrimento. E o sofrimento, por sua vez,

não exclui o prazer. Isso demonstra que a instrumentação metodológica e

teórica precisava ser consideravelmente revista, apoiando-se sobre o que

poderia ser denominado como a psicopatologia da normalidade.

Finalmente, podemos dizer que o modelo médico psiquiátrico que

atribui ao trabalho a responsabilidade das desordens causadas à saúde do

homem e ao seu organismo é bastante sumário. O trabalho não deve ser

considerado sempre como patogênico, mas também como um produtor de

benefícios, a medida que ele teria um poder “estruturante” tanto em face da

saúde mental quanto da saúde física. Atualmente, se admite que o trabalho

não deve mais ser reduzido apenas às pressões físicas, químicas, biológicas

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ou mesmo psicossensoriais e cognitivas do posto de trabalho. É preciso que se

considere a dimensão organizacional, isto é, a divisão das tarefas e as

relações de produção, as relações sociais e aí sim procurar articular um

modelo de funcionamento psíquico, que arranje um lugar teórico específico

para a interface singular-coletivo.

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CAPÍTULO 3- A SÍNDROME DE BURNOUT

Poucos de nós compartilham a idéia de que as emoções e os afetos dão uma tonalidade especial à existência humana e devem exercer um papel importante na sobrevivência da espécie, na construção histórica, no ajustamento social e no desenvolvimento da pessoa. (Zanelli; Borges-Andrade; Bastos, 2004)

Conforme vimos nos capítulo anteriores, o sofrimento psíquico, a falta

de ajustamento à tarefa e ou ao conteúdo ergonômico do trabalho e, mais

recentemente, a inadequação à empresa, às condições organizacionais e ao

ambiente de trabalho se traduzem por resultados no corpo e na saúde psíquica

dos indivíduos. Estas condições, juntas, são fundamentais para que a

Síndrome de Burnout se desenvolva, embora já se reconheça atualmente que

sua manifestação depende em grande parte da reação individual de cada

pessoa frente aos problemas que surgem na rotina profissional. Segundo Codo

(1999), o “Burnout” compromete, em nível prático e emocional, tanto a

empresa quanto o trabalhador e quanto mais carga mental for envolvida no

trabalho, maiores serão as chances do trabalhador apresentar esta síndrome.

Burnout significa, literalmente, “estar esgotado” ou “queimado até o

fim”. A “erosão psicológica” característica do que veio a ser mais bem definido

como uma síndrome é associada à imagem de uma chama que se reduz às

cinzas (MASLACH, 2009). Ela foi identificada em 1974, nos Estados Unidos,

pelo pesquisador Freunderberger, a partir da observação de desgaste no

humor e na motivação de voluntários jovens e idealistas que trabalhavam em

uma clínica para pacientes dependentes de substâncias psicoativas na cidade

de Nova Iorque, tendo sido considerada como um mal característico de

profissões de ajuda e serviços humanos, conforme aponta Vidal (1993):

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“aquelas profissões que consistem principalmente em oferecer serviços

humanos diretos e de grande relevância para o usuário”. No Brasil, segundo o

decreto 3.048 de 6 de maio de 1999, que versa sobre agentes patogênicos

causadores de doenças ocupacionais, a Síndrome de Burnout está classificada

junto aos Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados com o

Trabalho, manifestando-se com a sensação de estar acabado. Neste caso a

Síndrome de Burnout aparece como sinônimo de Síndrome de Esgotamento

Profissional ou Estafa profissional.

A caracterização da Burnout é complexa e podemos dizemos que

ainda não se tem um consenso único entre os estudiosos do tema. Porém, a

opinião mais utilizada tem sido a abordagem de Maslach et al, o qual designa

Burnout como sendo composta por três dimensões: exaustão emocional,

despersonalização e baixa realização profissional – formando o que é

conhecido como modelo multidimensional (MASLACH, 2009). A exaustão

emocional, componente pessoal da síndrome, é representada por uma

sensação de desânimo, fraqueza e falta de energia (esgotamento) aliada ao

sentimento de incapacidade de lidar com as atividades rotineiras da prática

laboral (CASTILLO RAMÍREZ, 2001; TELLES; PIMENTA, 2009). Podem estar

presentes outros sintomas psíquicos – como irritabilidade, raiva, impaciência,

desesperança e depressão – e somáticos – como cefaléia, mialgia, náuseas e

distúrbios do sono. A baixa do sistema imune consequente desses sintomas

pode predispor o indivíduo a doenças infecciosas, especialmente de etiologia

viral (CASTILLO RAMÍREZ, 2001; TRIGO; TENG; HALLAK, 2007).

Assim, podemos afirmar que a Síndrome de Burnout seria o resultado

da combinação entre as características individuais do paciente com as

condições do ambiente ou do trabalho, o qual geraria excessivos e

prolongados momentos de estresse no trabalho (Piscweb, 2009). Ela diz

respeito a um tipo de estresse ocupacional e institucional com predileção para

profissionais que necessitam manter um contato emocional direto e constante

com os usuários daquele determinado serviço, com destaque para os

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trabalhadores das áreas da saúde, da assistência social, das religiões,

educação e segurança pública, dentre outras (MASLACH, 2009). É justamente

esta forma de contato (característica destas profissões, nas quais, sendo

comum a presença constante de situações de sofrimento, geram-se relações

permeadas por dó, medo, frustração e outras formas de tensão entre o

profissional e o assistido) que predispõe à exposição crônica a situações de

estresse interpessoal (VASCONCELLOS; COSTA-VAL, 2008). Esta

predisposição fica ainda mais evidente quando fica se avaliarmos que estas

mesmas profissões são embasadas em filosofias humanísticas, sob as quais

os profissionais (e suas expectativas) são formados, mas que frequentemente

se contrapõem à realidade da prática do serviço (TELLES; PIMENTA, 2009).

A Síndrome de Burnout atua como um distúrbio psíquico de caráter

depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso, descrito por

Herbert J. Freudenberger (1974) como "(^) um estado de esgotamento físico

e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional". Desta forma,

a pessoa é levada a uma exaustão física e psíquica, caracterizada pela

exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo e até mesmo depressão,

que vem acompanhada de falta de realização profissional e da sensação de

que todos os objetivos profissionais a que o indivíduo se propôs falharam.

Conduz também a uma insensibilidade com quase tudo e todos e a uma

indiferença e frieza generalizadas na realização das tarefas profissionais

diárias e a níveis de absentismo elevados. Resulta de uma exposição

prolongada a níveis de stress elevados, para os quais o individuo não encontra

as estratégias de confronto adequadas. Esse enfrentamento é definido por

França e Rodrigues (1997), como sendo o “conjunto de esforços que uma

pessoa desenvolve para manejar ou lidar com as solicitações externas ou

internas, que são avaliadas por ela como excessivas ou acima de suas

possibilidades”. Hoje em dia já se sabe que Burnout é uma das conseqüências

mais marcantes do estresse profissional, sendo considerado um quadro

psicológico cada vez mais frequente nos pedidos de ajuda terapêutica. A

doença seria o resultado de fatores múltiplos que devem ser considerados de

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risco, nos quais estão envolvidas questões relacionadas ao próprio indivíduo,

ao ambiente de trabalho e até mesmo à estrutura social que o ampara

(CASTILLO RAMÍREZ, 2001; MURTA, 2005; TRIGO; TENG; HALLAK, 2007)

levando a uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato

direto, excessivo e estressante com o trabalho. Uma vez portadora da doença,

a pessoa perde a maior parte do interesse em relação ao às suas atividades,

fazendo com que ele pareça sem importância e inútil. Entre os fatores

aparentemente associados ao desenvolvimento da síndrome está a pouca

autonomia no desempenho profissional, problemas de relacionamento com as

chefias, com colegas ou clientes, conflito entre trabalho e família, sentimento

de desqualificação e falta de cooperação da equipe. A doença parece estar

mais propícia, também, a indivíduos que reúnem algumas características

específicas, mesmo sem antecedentes psicopatológicos. Segundo Edelwich e

Brodsky (1980), estas características de personalidade serão uma decisão a

considerar em relação à intensidade e freqüência de sentimentos de altruísmo

e idealismo acentuados pela forma em que uma parte importante destes

profissionais aborda sua profissão. Assim, eles mesmos poderiam facilitar o

processo de “queimar-se”. O idealismo e os sentimentos altruístas os levariam

a implicar-se excessivamente nos problemas dos usuários e acabariam por

tomar em uma direção pessoal para solução dos próprios problemas. O próprio

indivíduo aceita o sentimento de culpa por suas falhas, e até mesmo pelas

falhas alheias, o qual resultará em baixos sentimentos de realização pessoal

no trabalho. De acordo com a Revista Psiq. Clinica, vol.34, essas pessoas

agrupam o seguinte padrão de geral de personalidade: são indivíduos

competitivos, esforçados, impacientes, com excesso de necessidade em ter o

controle da situação e dificuldade de tolerância às frustrações. Quanto ao

envolvimento, são pessoas empáticas e agradáveis, sensíveis e humanas, com

alta dedicação profissional, altruístas, obsessivas, entusiasmadas.

Pessimistas, costumam destacar aspectos negativos, suspeitam sempre do

insucesso. Perfeccionistas, são centralizadoras, têm dificuldade em delegar

tarefas ou trabalhar em grupo; sofrem por antecipação, são muito exigentes

consigo mesmas e com os outros, intolerantes quanto aos erros e insatisfeitas

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com os resultados. Por possuírem grande expectativa profissional, também

têm grandes chances de se decepcionar. Tendem à passividade, colocam-se

sempre na defensiva, evitam lidar frente a frente com dificuldades. Em relação

ao nível educacional, geralmente são propensas as pessoas com maior nível

educacional, e aquelas que não possuem situação civil estável, como as

solteiras, viúvas ou divorciadas. Também deve ser considerado o amparo

familiar e social do qual esta pessoa dispõe, bem como outras questões

sociais e culturais que, influenciando seu pensar e agir, possam predispô-lo a

comportamentos de risco. Segundo Codo (1999), essas relações sociais são

fundamentais a qualquer trabalhador, uma vez que, ter um suporte social no

trabalho aumenta a possibilidade do indivíduo ser capaz de enfrentar situações

estressantes. Se, por outro lado, estas relações forem tensas, conflituosas e

prolongadas, o sentimento de “burnout” pode aumentar. Entende-se, assim,

que a forma como o indivíduo responde ou enfrenta estas situações de risco

influenciam no surgimento ou não da síndrome, bem como no modo pelo qual

ela irá se manifestar (MURTA, 2005). Por meio desses conhecimentos, é

possível compreender porque a simples presença do estresse ocupacional não

é sinônimo de desenvolvimento da Síndrome de Burnout, no aspecto holístico

de sua definição (CAMELO; ANGERAMI, 2004; SCHWARTZMANN, 2004).

De acordo com Lautert (1997), a instalação da Síndrome de Burnout

ocorreria de maneira lenta e gradual, acometendo progressivamente o

indivíduo. Codo (1993) explica que a síndrome possui três fases, que podem

ser diferenciadas da seguintes forma: na primeira, denominada de exaustão

emocional, percebe-se um sentimento de total esgotamento, as forças se

acabam e tudo perde o sentido de ser. Na segunda fase, chamada de

despersonalização, evidenciam-se sentimentos e atitudes negativas, de

cinismo às pessoas (clientes/usuários) e a relação torna-se coisificada. A

terceira e última fase é chamada de falta de envolvimento pessoal no trabalho,

pois o indivíduo manifesta sentimentos de falta de realização pessoal

relacionada ao trabalho, o que conseqüentemente afeta sua habilidade para

realizá-lo. Alvarez Galego e Fernandez Rios (1991) distinguem três momentos

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para a manifestação da síndrome: no primeiro momento, as demandas de

trabalho são maiores que os recursos materiais e humanos, o que gera um

estresse laboral no indivíduo. Neste momento, nota-se uma sobrecarga de

trabalho, tanto qualitativa quanto quantitativa. No segundo momento,

evidencia-se um esforço do indivíduo em adaptar-se e produzir uma resposta

emocional ao desajuste percebido, de onde surgem sinais de fadiga, tensão,

irritabilidade e até mesmo, ansiedade. Assim, essa etapa exige uma adaptação

psicológica do sujeito, a qual reflete no seu trabalho, reduzindo o seu interesse

e a responsabilidade pela sua função. E, finalmente, no terceiro e último

momento, ocorre o enfrentamento defensivo, ou seja, o sujeito produz uma

troca de atitudes e condutas com a finalidade de defender-se das tensões

experimentadas, ocasionado comportamentos de distanciamento emocional,

retirada, cinismo e rigidez. Apesar disso, precisamos considerar que a

síndrome é um processo, e portanto, esses momentos não irão se apresentar

de forma clara e distinta entre uma etapa ou momento para o outro, conforme

aponta Delgado et al. (1993) e Belcastro, Gold e Hays (1983). De acordo com

eles, não é possível determinar com exatidão nem a seqüência, nem os

correlatos das diferentes fases implicadas no desenvolvimento de Burnout.

É importante lembrar também, que a Síndrome de Burnout é uma

doença necessariamente relacionada com o mundo do trabalho e que teria

como fatores críticos, entre outros a eles associados, pouca autonomia no

desempenho profissional, problemas de relacionamento com as chefias, com

colegas ou clientes, conflito entre trabalho e família, sentimento de

desqualificação e falta de cooperação da equipe. Alguns autores defendem

que ela seria diferente do estresse porque este seria um esgotamento pessoal

com interferência na vida do sujeito e não necessariamente na sua vida de

trabalho enquanto que Burnout envolveria atitudes e condutas negativas com

relação aos usuários, clientes, organização e trabalho. Outros autores, no

entanto, julgam que ela seria a consequência mais depressiva desencadeada

pelo trabalho, apontada como o resultado do estresse emocional incrementado

na interação com outras pessoas. Na área da saúde, o Burnout assume

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características ainda mais extensas, pois, uma vez que acomete um

profissional responsável pela saúde de outro ser humano, pode, por

consequência, atingir indiretamente a saúde deste último também (LINZER et

al., 2005; FIGUEIREDO et al., 2009). Por esta peculiaridade, vem sendo dada

uma crescente atenção à relação entre Burnout e trabalhadores da saúde, aos

aspectos do trabalho em saúde que contribuem para o seu desenvolvimento e

às consequências desse estresse crônico sobre a saúde do profissional, a

qualidade do seu atendimento e sobre a saúde de seus pacientes (LINZER et

al., 2005). Recentemente, portanto, já se admite que Burnout tem sido

observado em diversos profissionais que interagem de forma ativa com

pessoas, que cuidam e ou solucionam problemas de outras pessoas e que

obedecem a técnicas e métodos mais exigentes, fazendo parte de

organizações de trabalho submetidas a avaliações e àqueles cujas tarefas

relacionam-se a ocupações de outras áreas como consequência do processo

de focalização do atendimento no cliente (MASLACH, 2009). Exemplo destes

profissionais seriam: profissionais de recursos humanos, de educação,

tecnologia da informação, engenharia, produção, vendas, marketing e

finanças; entre outros. Segundo Figueroa; Veliz-Caquias (1992) neste grupo

ainda se encontram os terapeutas ocupacionais, psicoterapeutas e outros

relacionados à saúde mental.

As consequências da Síndrome na vida dos indivíduos acometidos

também são diversas e multifacetadas, sendo importante que se conheça seus

efeitos. De acordo com Castilho Ramírez (2001) e Trigo: Teng: Hallak (2007)

elas também podem ser observadas em três esferas, entrelaçando-se com os

sintomas descritos para a síndrome: podem surgir manifestações somáticas,

tais como cefaléias, dores osteomusculares, distúrbios gastrointestinais,

cardiovasculares (incluindo risco aumentado para infarto agudo do miocárdio) e

do sono, disfunções sexuais e menstruais associadas, como mencionado, a

uma maior predisposição a infecções, decorrente da baixa do sistema imune; e

psíquicas, a citar distúrbios de atenção, concentração e memória, labilidade

emocional, baixa auto-estima, predisposição ao consumo de drogas (lícitas e

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ilícitas) e ao suicídio, dentre outras. Também observa- se aumento do número

de absenteísmos ao trabalho, associado a uma queda da qualidade dos

serviços prestados pelo indivíduo esgotado, podendo trazer prejuízos

mensuráveis à instituição para a qual este trabalha. É importante lembrar que o

sujeito esgotado pouco se empolga, se esforça ou estimula sua criatividade.

Há negligência, imprudência, mau atendimento e outros erros

(SCHWARTZMANN, 2004; TRIGO; TENG; HALLAK, 2007). Os mesmo erros,

por conseguinte, atingem a instituição e refletem-se também em seus clientes

(CAMELO; ANGERAMI, 2004). Outra preocupação que deve ser levada em

conta é que este mau atendimento pode refletir sobre a saúde psíquica do

usuário e colocá-lo em risco, como é o caso, por exemplo, dos erros médicos.

Quanto ao tratamento, existem várias formas de prevenção de

Burnout, França e Rodrigues (1997) apontam algumas delas, que seriam:

aumentar a variedade de rotinas a fim de se evitar a monotonia; prevenir o

excesso de horas extras; dar melhor suporte social às pessoas; melhorar as

condições sociais e físicas de trabalho; e investir no aperfeiçoamento

profissional e pessoal dos trabalhadores. Phillips (1984) acredita que a primeira

medida para evitá-la é conhecer suas manifestações. Existem, porém, outras

formas de prevenção que podem ser agrupadas em três categorias: estratégias

individuais, estratégias grupais e estratégicas organizacionais. As estratégias

individuais referem-se à formação e capacitação profissional, ou seja, tornar-se

sempre competente no trabalho, estabelecer parâmetros, objetivos, participar

de programas de combate ao stress, entre outros. As estratégias grupais

consistem em buscar o apoio grupal (SHINN E MORCH, 1983) e finalmente as

estratégias organizacionais referem-se em relacionar as estratégias individuais

e grupais para que estas sejam eficazes no contexto organizacional.

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CONCLUSÃO

A exploração do sofrimento pela organização do trabalho é um tema

extenso, divide opiniões e infelizmente ainda não recebeu o destaque

necessário nos cursos de formação de profissionais da área de humanas.

Talvez porque não interesse aos detentores dos meios de produção, ou talvez

porque ele não crie doenças mentais, psicoses ou neuroses específicas do

trabalho. Apesar disso, qual de nós já não pôde se deparar com depoimentos

de colegas que se dizem insatisfeitos, desgastados, ou “estressados” com

seus empregos, com as empresas em que trabalham ou com o tipo de tarefa

que desenvolvem?

De acordo com os estudos apresentados pelos autores aqui citados,

esta insatisfação não se refere apenas ao aspecto físico, relativo ao corpo do

trabalhador, mas principalmente ao aspecto mental. O sofrimento psíquico

surge como conseqüência das violências do mercado de trabalho e da sua

necessidade urgente de produção, quando não se consideram as

necessidades humanas do trabalhador. De fato, o trabalho que produz

sofrimento é causador de insatisfação e adoecimento, tanto na esfera física

como na esfera mental e psicológica. Diferente do que muitos podem pensar, a

fadiga não está relacionada necessariamente a uma excessiva carga física de

trabalho e não há necessidade de se ter um desempenho físico excessivo para

justificar a sensação de fadiga. O que se defende atualmente é que a fadiga é

simultaneamente psíquica e somática.

Conforme pudemos observar, o tipo de trabalho que produz sofrimento é

aquele no qual o trabalhador é alienado, não possui controle sobre seu próprio

trabalho, ou então quando a atividade a ser realizada está desconectada de

suas vivências, experiências e iniciativas como pessoa. Assim, ele se torna

uma ameaça ao equilíbrio, à liberdade e à dignidade do indivíduo. Quanto mais

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rígida for essa organização do trabalho, mais ela será produtora de alienação e

menos ela facilitará as estruturações favoráveis à economia psicossomática

individual.

A Síndrome de Burnout é um dos diversos exemplos de patologia que

poderíamos citar. Classificada junto aos Transtornos Mentais e do

Comportamento Relacionados com o Trabalho, já se sabe atualmente que ela

é uma doença intimamente relacionada ao mundo do trabalho e que encontra,

entre seus fatores desencadeantes, muitas afinidades com os mesmos fatores

desencadeantes de sofrimento do operário das indústrias do Séc.XVIII, como

pouca autonomia profissional, inadequação às condições organizacionais,

sentimento de desqualificação, falta de apoio da equipe e problemas de

relacionamento com os superiores.

Por fim, concluímos que o trabalho não é gerador apenas de doenças,

ele também pode ser fonte de satisfação, prazer e equilíbrio para o

trabalhador. O trabalho considerado “equilibrante” é aquele que oferece um

campo de ação no qual o trabalhador seja capaz de pôr em prática suas

aspirações, imaginação e seus desejos, quando o trabalho é livremente

escolhido e quando a organização do trabalho é suficientemente flexível para

que o trabalhador possa organizar seu trabalho e adaptá-lo aos seus desejos e

necessidades. Encontrando os gestos que serão capazes de lhe dar prazer, a

carga psíquica de trabalho é diminuída.

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49

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I- Breve histórico do sofrimento no trabalho 11

CAPÍTULO II - Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho 23

CAPÍTULO III - A Síndrome de Burnout 32

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 49

ÍNDICE 50

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FOLHA DA AVALIAÇÃO