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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
MEIO AMBIENTE DO TRABALHO - ASPECTOS RELEVANTES
Professor: Francisco Carrera
Orientador
Professor Dr. William Rocha
Rio de Janeiro
2009
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
MEIO AMBIENTE DO TRABALHO – ASPECTOS RELEVANTES
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-
Graduação “Lato Sensu” em Docência do Ensino Superior, Meio Ambiente.
Por: Iara Marzol Montandon
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, por estar sempre na minha vida, me
concedendo mais essa oportunidade de
aprendizado. Academicamente, agradeço ao
Professor Francisco Carrera pelo seu
entusiasmo e dedicação e ao Professor
William Rocha pelas suas valorosas
orientações. Ao meu filho, Guilherme Marzol
Montandon Saraiva, pelo apoio incondicional
que dedica a todas as minhas empreitadas e
ao companheiro, Newton Hasselmann
Damasceno Vieira, eterna fonte de estímulo.
4
DEDICATÓRIA
Em memória do meu pai, que foi um
exemplo vivo da submissão ao trabalho
degradante que lhe trouxe seqüelas para
o resto da vida.
5
RESUMO
O Meio Ambiente do Trabalho e seus aspectos relevantes, procura situar o
leitor sobre a preocupação do homem moderno com o meio ambiente em geral
e, em especial, com o meio ambiente do trabalho, demonstrando o quanto é
importante um ambiente de trabalho saudável não só para o trabalhador como
para toda a sociedade. Aliás, essa ciência jurídica foi criada a partir das
reivindicações dos trabalhadores por melhores condições de trabalho, como
forma de saúde e higidez do próprio trabalhador. Não obstante, contarmos com
um manancial jurídico dos mais avançados do mundo em questões ambientais,
inserido na própria Constituição Federal, a realidade cotidiana de muitos
trabalhadores é que estes continuam laborando sob condições insalubres,
perigosas ou penosas e o índice de acidentes de trabalho no Brasil é um dos
mais altos do mundo. O presente trabalho procura, ainda, apontar as soluções
necessárias a cada dia, visando evitar essa nefasta estatística, que só se
efetivarão quando as atividades que têm um caráter nocivo à saúde do
trabalhador forem vistas como um problema de saúde pública e houver a
implementação de condições adequadas de trabalho, com a eliminação dos
riscos ao trabalhador. As reparações financeiras, sem dúvida, significaram um
grande avanço e os princípios do Direito Ambiental incorporados ao meio
ambiente do trabalho também mereceram destaque. No entanto, há muito
ainda a se fazer, buscando-se uma atitude mais efetiva do Estado, quer seja na
fiscalização das condições de trabalho de determinado empreendimento, ou na
aplicação das multas devidas e interdição da atividade, bem como da própria
sociedade, visando prevenir e reparar os danos à saúde do trabalhador.
6
METODOLOGIA
O processo de produção do presente trabalho foi elaborado a partir da leitura
de livros específicos sobre o tema, além da consulta à Constituição Federal de
1988, à Consolidação das Leis do Trabalho, às Normas Regulamentadoras
expedidas pelo Ministério do Trabalho e das Convenções da Organização
Internacional do Trabalho sobre o tema, ratificadas pelo Brasil, diplomas-legais
e jurisprudência, além da leitura de Jornais e Revistas, além da participação
em Seminário sobre o Meio Ambiente do Trabalho, promovido pela Escola de
Magistratura do Trabalho do Rio de Janeiro, nos dias 07 e 08 de Maio de 2009.
7
SUMÁRIO
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTOS 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I – MEIO AMBIENTE, DEFINIÇÃO,
EVOLUÇÃO E CLASSIFICAÇÃO
1 – Definição 12
1.1 – Evolução do Direito Ambiental 13
1.2 – Classificação 16
CAPÍTULO II – REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E SUA
INTERFERÊNCIA NO HOMEM 19
CAPÍTULO III – A QUESTÃO AMBIENTAL
NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA – CONSTITUIÇÃO,
DIREITOS HUMANOS E MEIO AMBIENTE 22
CAPÍTULO IV – DIREITO DO TRABALHO E
MEIO AMBIENTE 26
CAPÍTULO V – O ASPECTO PROTETIVO
DA LEGISLAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
DO TRABALHO 29
8
CAPÍTULO VI – OS PRÍNCIPIOS DO DIREITO
AMBIENTAL GERAL E SUA RELAÇÃO COM
O DIREITO AMBIENTAL DO TRABALHO 40
CAPÍTULO VII – MEIO AMBIENTE DO TRABALHO
E SAÚDE DO TRABALHADOR NO DIREITO
COMPARADO 50
CAPÍTULO VIII – A REPARAÇÃO DE DANOS AO
TRABALHADOR NO MEIO AMBIENTE DE
TRABALHO 55
CONCLUSÃO 75
BIBLIOGRAFIA 77
FOLHA DE AVALIAÇÃO 78
9
INTRODUÇÃO:
Antes de falarmos sobre o Meio Ambiente do Trabalho e o interesse que o
tema representa para a sociedade em geral, impende enveredarmos para o
conceito de meio ambiente e o amparo constitucional da matéria. O art. 225, da
CRFB/88 afirma que o meio ambiente é bem de uso comum do povo e traz à
baila diversas questões acerca da efetividade de sua proteção. Senão vejamos:
“Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
O Direito Ambiental é um típico direito de terceira geração, que atinge a
titularidade coletiva, que assiste, de modo subjetivamente indeterminado, a
todo o gênero humano, circunstância essa que justifica a especial obrigação –
que é própria do Estado e à da coletividade – de defendê-lo e de preservá-lo
em benefício das presentes e futuras gerações, evitando-se, desse modo, que
irrompam no seio da comunhão social, os graves conflitos marcados pelo
desrespeito ao dever de solidariedade na proteção da integridade desse bem
essencial de uso comum de todos quantos compõem o grupo social, como diz
Celso Laffer, in A reconstrução dos direitos humanos, págs. 131/132, 1988.
Define-se o Meio Ambiente do Trabalho como “o conjunto das condições,
leis, influências e integrações de ordem física, química e biológica, que
permite, abriga e rege a vida das pessoas nas relações de trabalho”. É,
entre outras palavras, o complexo de fatores físicos, químicos ou biológicos
que atuam sobre o trabalho humano, em todas as suas formas. Mas, ao
contrário do que se pode supor, não se restringe tão-somente à figura do
empregado, embora este, devido à evolução do direito do trabalho seja aquele
que mais obteve proteção, seja sob o condão estatal, seja através da
intervenção das negociações coletivas. O seu objeto é a proteção ao meio
ambiente onde o trabalho humano é prestado, qualquer que seja a condição do
10
seu exercício. Também devem estar amparados por esta proteção, os
trabalhadores autônomos, avulsos, eventuais, temporários etc.
No sistema jurídico pátrio, a segurança e a medicina do trabalho constituem
apenas um segmento do direito ambiental. Referem-se, tão-só, aos aspectos
relacionados ao contato direto com agentes lesivos à saúde do trabalhador
subordinado, ou seja, do empregado no âmbito do estabelecimento do
empregador, e, desde que haja previsão expressa em quadros previamente
elaborados.
O art. 7º, no inciso XXII, da CRFB/88 aponta para os riscos inerentes ao
trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança, o inciso XIII,
estabelece jornada de 6 horas para os turnos ininterruptos de revezamento,
além do inciso XVIII estipular adicional de remuneração para atividades
penosas, insalubres e perigosas. Na seção reservada à saúde, o texto
constitucional no art. 200, VIII assevera: “Ao sistema único de saúde
compete, além de outras atribuições, nos termos da lei – VIII – Colaborar
com a proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho”.
Além da Constituição Federal promulgada em 1988 e da Consolidação das Leis
do Trabalho, o ordenamento jurídico pátrio abriga diversas Leis que protegem o
meio ambiente do trabalho, neste diapasão merecem destaque a Lei nº
6.938/81, com as alterações das Leis nºs 7.804/89 e 8.028/90, principalmente
em seus arts. 4º e 14, que tratam da degradação do meio ambiente do
trabalho, resultante de atividades que prejudicam a saúde, a segurança, e o
bem-estar dos trabalhadores e que impõe ao poluidor a obrigação de recuperar
e/ou indenizar os danos causados, independentemente da existência de culpa,
isto nada mais é que a responsabilidade objetiva que permeia o Direito
Ambiental.
Outros diplomas legais também protegem o trabalhador, tais como a Lei nº
8.080/90, que criou o plano nacional de saúde, que tutela o meio ambiente no
trabalho, com as atribuições específicas do SUS. Igualmente relevantes as Leis
nº 8.212 e 8.213/91, regulamentadas pelo Decreto nº 3.048/99, mais
11
especificamente o art. 19 parágrafo 3º da Lei nº 8.213/91 que estabelece que é
“dever da empresa prestar informações pormenorizadas sobre os riscos
da operação a executar e do produto a manipular”.
Pode-se dizer que as CIPAs, comissões internas de prevenção de acidentes,
tendo sua estrutura paritária e garantindo estabilidade a seus representantes
também significam um avanço na proteção aos direitos do trabalhador a um
meio ambiente saudável.
No Direito Internacional, encontramos a Convenção nº 148 da Organização
Internacional do Trabalho – OIT, que o Brasil é signatário, cuida dos riscos
profissionais no local de trabalho decorrentes de contaminação do ar, do
ruído e vibrações, que tem como princípio fundamental a eliminação do
atentado à saúde, e não apenas sua neutralização.
Pode-se afirmar, no entanto, que a legislação infra-constitucional, incluindo-se
a CLT e a Portaria nº 3.214/78 não protegem de maneira eficaz o meio
ambiente do trabalho, eis que os adicionais de insalubridade e periculosidade,
por exemplo, representam valores ínfimos que não compensam os riscos do
trabalhador desenvolver o seu labor em ambiente insalubre ou perigoso.
Além dos limites de tolerância previstos na Portaria nº 3.214/78 que podem ser
tidos como inconstitucionais e a valorização excessiva emprestada aos EPIs,
eis que segundo uma parte da doutrina, a utilização dos equipamentos
individuais não tem o condão de corrigir as deficiências ambientais existentes,
nem sequer elimina a ação dos agentes insalubres no organismo do
trabalhador.
A sociedade em geral precisa estar atenta a essa nova tendência desse direito
de terceira geração, visando, como diz MANCUSO para uma noção de
“habitat laboral”, o ambiente de trabalho deve ser encarado como fator de
qualidade de vida do trabalhador lato sensu, a partir de uma concepção
12
mais ampla que atrai tudo que envolve e condiciona, direta e
indiretamente, o local onde o ser humano busca sua realização
profissional e econômica, na busca do equilíbrio com o ecossistema.”
13
CAPÍTULO I
MEIO AMBIENTE - DEFINIÇÃO, EVOLUÇÃO E
CLASSIFICAÇÃO:
1 – Definição:
A expressão “meio ambiente” pode ser definida como conjunto de condições,
leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite,
abriga e rege a vida em todas as suas formas, de acordo com a Lei nº
6.938/81, art. 3º, inciso I, que implantou a Política Nacional do Meio Ambiente.
Renomados autores assim definiram o meio ambiente, segundo Édis Milaré:
“A visão holística do meio ambiente leva-nos à consideração de seu caráter
social, uma vez definido constitucionalmente como bem de uso comum do
povo, caráter ao mesmo tempo histórico, porquanto o ambiente resulta das
relações do ser humano com o mundo natural no decorrer do tempo. Esta visão
faz-nos incluir no conceito de ambiente, além dos ecossistemas naturais, as
sucessivas criações do espírito humano que se traduzem nas suas múltiplas
obras. Por isso, as modernas políticas ambientais consideram relevante
ocupar-se do patrimônio cultural, expresso em realizações significativas que
caracterizam de maneira particular, os assentamentos humanos e as
paisagens de seu entorno (MILARÉ, 2000, p. 201)
Na concepção de José Joaquim Gomes Canotilho (1991, p. 290) “ ambiente
traduz-se como ambiance, ou seja, como um “mundo humanamente construído
e conformado” consistente em tudo o que está presente na natureza, seja ou
não decorrente da ação humana.
14
1.1 – A Evolução do Direito Ambiental
A preocupação com a questão ambiental ocorreu quase dois séculos após a
Revolução Industrial que, como veremos mais adiante intensificou a agressão
ao meio ambiente.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 não contemplou o
Direito Ambiental como direito humano fundamental, compreensível por sinal, à
medida que não havia ainda naquela época, uma percepção da gravidade do
problema de negligenciarmos o meio ambiente, predominando a noção de que
os recursos naturais eram inesgotáveis e o desenvolvimento econômico tinha
supremacia sobre qualquer outro.
No final dos anos 60, porém, o Relatório do Clube de Roma anunciava a
necessidade de se reconhecer, internacionalmente, os limites impostos pelos
recursos naturais para o crescimento indefinido da economia e da população.
Já havia um movimento ambientalista internacional apontando para um esforço
em grande escala em favor da proteção à natureza.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em
Estocolmo, na Suécia, entre os dias 5 e 16 de junho de 1972, foi reflexo dessa
tendência de internacionalização dos direitos humanos e demonstra a
historicidade dessa evolução. Os principais resultados concretos do encontro
constituíram na Declaração sobre o Ambiente Humano, ou Declaração de
Estocolmo, que instituiu uma declaração de princípios de comportamento e
responsabilidade que deveriam governar as decisões relacionadas a questões
ambientais, expressando a convicção de que “tanto as gerações presentes
como as futuras, tenham reconhecidos como direitos fundamentais, a vida num
ambiente sadio e não degradado.”
A Conferência de Estocolmo serviu para conscientizar os países sobre a
importância de se promover a limpeza do ar nos grandes centros urbanos, a
15
limpeza dos rios nas bacias hidrográficas mais povoadas e o combate à
poluição marinha. Ainda em decorrência da Conferência de Estocolmo, a ONU
criou um organismo denominado Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente – PNUMA, sediado em Nairóbi, Quênia, mas durante os primeiros
anos da ONU a questão ambiental ainda era negligenciada. No entanto, desde
a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano
(Estocolmo/1972) a segurança ecológica passou a ser a quarta preocupação
principal das Nações Unidas, após os temas da paz, os direitos humanos e o
desenvolvimento equitativo. Por conseguinte, a Conferência de Estocolmo
introduziu, pela primeira vez, na agenda internacional, a preocupação com o
crescimento econômico em detrimento do meio ambiente. Foi neste evento,
que se debateu a constatação de que o crescimento econômico, do modo
tradicional como estava sendo empreendido, levaria ao esgotamento completo
dos recursos naturais, pondo em risco a vida no planeta. Por isso, é
considerada um divisor de águas na questão ambiental, pois despertou a
consciência ecológica mundial.
Em 1980, o PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
publicou um documento intitulado “Uma estratégia mundial para a
conservação” reafirmando a visão crítica do modelo de desenvolvimento
adotado pelos países industrializados.
A ONU percebeu que a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente Humano em 1972, levou os países em desenvolvimento e os
industrializados a traçarem em conjunto, os “direitos” da família humana a um
meio ambiente saudável e produtivo, mas houve um retrocesso quanto às
preocupações sociais e os cientistas chamavam a atenção para problemas
urgentes e complexos ligados à própria sobrevivência da raça humana(planeta
em processo de aquecimento, ameaças à camada de ozônio da terra, desertos
que devoram terras de cultivo).
16
Restava inconteste que a degradação ambiental não estava afeta somente aos
países ricos, mas também tornou-se uma questão de suma importância, dada a
sua questão de sobrevivência, para os países em desenvolvimento.
Em dezembro de 1983, o secretário-geral das Nações Unidas, afirma a
Presidente da Comissão, Gro Harlem Brundtland, pediu à Comissão Mundial
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento que preparasse um relatório, que
mais adiante foi denominado relatório Brundtland, com propostas para propor
estratégias ambientais de longo prazo para obter um desenvolvimento
sustentável por volta do ano 2000, e, daí em diante, recomendar maneiras para
que a preocupação com o meio ambiente se traduza em maior cooperação
entre os países em desenvolvimento e entre países em estágios de
desenvolvimento econômico e social e leve à consecução de objetivos comuns
e interligados, que considerem as inter-relações de pessoas, recursos, meio
ambiente e desenvolvimento; considerar meios e maneiras pelas quais a
comunidade internacional possa lidar mais eficazmente com as preocupações
de cunho ambiental; ajudar a definir noções comuns relativas a questões
ambientais de longo prazo e os esforços necessários para tratar com êxito os
problemas da proteção e da melhoria do meio ambiente, uma agenda de longo
prazo a ser posta em prática nos próximos decênios, e os objetivos a que
aspira a comunidade mundial.
A partir daí, passou-se a perseguir um modelo de desenvolvimento com um
comprometimento com a preservação da vida, a CNUMAD/UNCED –
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
produziu importantes documentos, a Agenda 21, a Declaração do Rio, a
Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas, o Convênio sobre a
Diversidade Biológica e a Convenção sobre Mudanças Climáticas. Impende
mencionar a Carta da Terra, outro importante documento relacionado ao meio
ambiente e que foi originado pelo Fórum Global 92, do qual participaram 10 mil
organizações não-governamentais. A Declaração do Rio reafirma o contido na
Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
17
Humano, adotada em Estocolmo em 1972, buscando uma nova consciência
sobre a questão ambiental no planeta, criando uma parceria a nível mundial
com a criação de políticas de cooperação entre os Estados, respeitando os
interesses de cada um e protegendo a integridade do meio ambiente.
A Carta da Terra foi aprovada em 14 de março de 2000 pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO para ser
divulgado no mundo. Atualmente este documento encontra-se em análise na
ONU para, após sua aprovação, tem valor idêntico à Declaração dos Direitos
Humanos, no que diz respeito à sustentabilidade, à equidade e à justiça. É na
verdade, um código de ética universal!
Em 2002, mais especificamente de 26 de agosto a 4 de setembro, em
Johanesburgo, na África do Sul, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
Sustentável, com a participação de 190 países, discutiu a implantação e os
resultados da Rio 92. Na Declaração Política firmada pelos países participantes
houve uma clara intenção de minimizar as diferenças existentes entre ricos e
pobres do planeta, além de temas de relevante interesse para a população
global: erradicação da pobreza, mudança dos padrões de consumo e
produção, recursos naturais, globalização, saúde, situação de pequenas ilhas e
desenvolvimento da África. No entanto, a cúpula foi tratada pelos jornalistas e
ambientalistas do mundo como uma experiência frustrante, tendo em vista os
resultados decepcionantes advindos desse encontro, não obstante, alguns
resultados positivos advieram da Cúpula, tais como: a injeção de 2,9 bilhões de
dólares no Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF), o anúncio de países
como China, Rússia e Canadá de que ratificariam o Protocolo de Kyoto, além
da criação de um Fundo Internacional de Solidariedade, com o fim de erradicar
a pobreza e promover o desenvolvimento social e humano nos países em
desenvolvimento. Por conta desses fatores, pode-se afirmar que a Rio 92 e a
Rio + 10 significaram um marco importante para a proteção internacional do
meio ambiente e da qualidade de vida na terra.
18
1.2 – Classificação:
O meio ambiente é regido por princípios, diretrizes e objetivos específicos,
como decorre da Política Nacional do Meio Ambiente. A doutrina firmou
entendimento de que, apesar de seu caráter unitário, o meio ambiente pode ser
classificado em quatro aspectos: natural, artificial, cultural e do trabalho. Não se
pode afastar a idéia de que o Direito Ambiental tem como objeto tutelar a vida
saudável, de modo que a sua classificação visa apenas identificar o aspecto do
meio ambiente em que valores maiores foram ou estão sendo aviltados.
1.2.1 – Meio ambiente natural ou físico
O meio ambiente natural ou físico é constituído pelo solo, água, flora e fauna,
representando o equilíbrio dinâmico entre os seres vivos na terra e o meio em
que vivem. O Direito Ambiental foi guindado à sede constitucional e a Lei
Maior, em seu art. 225, parágrafo 1º, incisos I e VII preconizou que incumbe ao
Poder Público preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e
promover o manejo das espécies e ecossistemas, bem como preservar a fauna
e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua
função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam animais à
crueldade.
1.2.2 – Meio ambiente artificial
O meio ambiente artificial é o espaço urbano habitável, constituído pelo
conjunto de edificações feitas pelo homem, estando ligado ao conceito de
cidade, não excluindo os espaços rurais artificiais criados pelo homem.
Incluindo aí, também os espaços fechados e equipamentos públicos. A
CRFB/88 também destinou tratamento especial a esta classificação, em seus
artigos 5º, XXIII, 21, XX, 182 e 225, e seus principais valores são a sadia
qualidade de vida e a dignidade da pessoa humana.
19
1.2.3 – Meio ambiente cultural
O meio ambiente cultural se refere à história, formação e cultura de um povo.
Também mereceu atenção especial em nossa Lei Maior, em seu art. 216 que
menciona que constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores
da sociedade brasileira. Incluem-se neles as formas de expressão, os modos
de criar, fazer e viver, as criações científicas, artísticas e tecnológicas, as
obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais.
1.2.4 – Meio ambiente do trabalho
Na visão de Celso Antonio Pacheco Fiorillo, meio ambiente do trabalho é:
“... o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, sejam
remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na
ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos
trabalhadores, independente da condição que ostentem (homens ou mulheres,
maiores ou menores de idade, celetistas, servidores públicos, autônomos etc)”
(FIORILLO, 2004, p. 22-23)
Pode-se afirmar que o meio ambiente do trabalho adequado e seguro é um dos
mais importantes e fundamentais direitos do cidadão trabalhador, e também
mereceu destaque no Texto Constitucional, em seu art. 225, caput, eis que a
definição de meio ambiente envolve todo cidadão e, a de meio ambiente do
trabalho, todo trabalhador que desempenha alguma atividade, remunerada ou
não, independente de sexo, idade, celetista ou servidor público, autônomo ou
avulso, isto é, de qualquer espécie, todos devem receber a mesma proteção,
ou seja, de um meio ambiente do trabalho adequado e seguro e, acima de tudo
necessário à sadia qualidade de vida. Impende salientar que o meio ambiente
20
do trabalho adequado e seguro é um dos mais importantes e fundamentais
direitos do cidadão trabalhador, à medida que, quando é desrespeitado,
provoca agressão a toda sociedade, pois cabe a esta pagar a conta da
Previdência Social.
21
CAPÍTULO II
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - A DEGRADAÇÃO
AMBIENTAL E SUA INTERFERÊNCIA NO HOMEM:
Ao fazer uma reflexão sobre a degradação ambiental, mesmo que de forma
perfunctória, pode-se dizer que historicamente, o agravamento da situação
ambiental no planeta deu-se no final do século XVIII, após a Revolução
Industrial. Ocorreu sim, a melhoria das condições de vida na sociedade,
verificada a partir desta época, contribuindo para o crescimento populacional, o
qual gerou a necessidade de investimentos em novas técnicas de produção,
visando atender à demanda, esta cada vez mais ávida por bens e serviços.
Este conjunto de fatores resultou na intensificação da exploração dos recursos
naturais e, consequentemente, no aumento da produção de resíduos
poluentes.
Ocorre que o desenvolvimento verificado não se fez com o controle e
planejamento devidos, acarretando mais problemas do que soluções. A partir
da década de 70 o mundo voltou-se para os problemas ambientais, receoso
das conseqüências catastróficas do descaso verificado durante séculos e
imaginou-se que com o fenômeno da globalização os problemas mundiais
seriam solucionados, por conta disso, vários compromissos foram assumidos
por diversas nações, visando à preservação do meio ambiente, no entanto, na
prática, a globalização não conseguiu o seu objetivo e consegue apenas
globalizar desigualdade social, desemprego crescente e estrutural, poluição,
esgotamento de recursos naturais e desastres ecológicos. Diante desses
dados, pode-se afirmar com precisão que as condições físicas do meio
ambiente têm sido agravadas de forma alarmante em função da ação do
homem. Os rios, lagoas, praias, atualmente poluídos, eram a pouco mais de
uma década, opção de lazer e fonte de renda de toda uma geração.
22
O Rio Tietê é um exemplo vivo dessa degradação e de como os atos
perpetrados pelo homem com relação à natureza podem prejudicá-lo. Há
notícia de realização de competição de remo e natação no rio mais extenso do
Estado de São Paulo, além do registro de várias famílias que dali tiravam o seu
sustento. A partir do momento que o Rio Tietê transformou-se com suas águas
negras, densas e malcheirosas, num dos rios mais poluídos do mundo, ele
afastou o homem do seu lazer e do seu trabalho, interferindo no sustento
daqueles que precisavam dele para sobreviver de forma digna.
Pode-se afirmar, sob o aspecto econômico, que a degradação do meio
ambiente está intimamente relacionada ao modelo de desenvolvimento
adotado pelo sistema capitalista, fundado na lei da oferta e da procura de
produtos e serviços. O modelo capitalista inseriu na sociedade durante todos
esses anos valores ligados ao consumismo e ao individualismo, não vendo o
meio ambiente como sinônimo de vida e de forma coletiva, mas concebendo-o
apenas como meio de adquirir bens materiais, para obtenção do lucro imediato.
Infere-se pelos acontecimentos mais recentes que a questão ambiental ainda
carece de um distanciamento da filosofia capitalista que prega a anti-ecologia,
pois esta postura tem obstado a adoção de posturas compatíveis ao
desenvolvimento sustentável da sociedade planetária, eis que o interesse das
grandes potências é diametralmente oposto a iniciativas que lhe tragam
prejuízos econômicos, ainda que em prol do bem geral. Podemos citar a
exploração dos recursos naturais de forma desmedida e sem que sejam
apresentados projetos concretos para renovação das fontes energéticas,
reciclagem de produtos e diminuição da carga de agentes poluentes
despejados indiscriminadamente na água, no solo e no ar.
O exemplo mais emblemático dessa assertiva foi observado pelo lobby das
grandes empresas americanas que impediu a adesão dos EUA ao protocolo de
Kyoto, um acordo internacional assinado por 178 países para controlar as
emissões de carbono, responsáveis diretas pelo aumento da temperatura do
23
Planeta. Os EUA não aceitaram estabelecer compromisso no sentido de
minimizar a taxa de dióxido de carbono em 5,2% até 2012, eis que seria
prejudicial ao crescimento econômico daquele país.
Este fato reveste-se de uma preocupação mais exacerbada, à medida que
estamos falando do país que mais emite dióxido de carbono do mundo,
produzindo duas vezes mais emissões que a Alemanha e dez vezes mais do
que a China, sem demonstrar a menor preocupação a nível global.
No Brasil, verificamos a existência de uma preocupação crescente da
sociedade com a preservação ambiental, registrando-se o surgimento de várias
Organizações de defesa do meio ambiente e a evolução na legislação
ambiental, atualmente considerada uma das mais avançadas do mundo, mas
sócio-ambientalmente o Brasil ainda comete inúmeros equívocos, eis que
populações tradicionais são atingidas pela violência de projetos de
“desenvolvimento” que não levam em conta suas necessidades e aspirações.
Nos grandes centros urbanos verifica-se uma enorme injustiça ambiental,
sendo aos pobres reservados os espaços mais degradados ou perigosos,
verificando-se construções em cima de antigos lixões ou em encostas. Dados
recolhidos em arquivos de jornais diários mostram que doenças associadas à
falta de saneamento básico mataram no Brasil, em 1998, mais do que todos os
homicídios daquele ano na região metropolitana de São Paulo. Pouco depois
que o lixão de Lauzane Paulista, na zona norte de São Paulo, foi aterrado,
diversas casas construídas naquela área explodiram. O local recebia lixo
industrial há mais de vinte anos. Poucos meses após a explosão, o terreno –
uma propriedade privada – passou a abrigar um supermercado do Grupo
Bergamini. Na avenida Zaki Narchi, uma favela construída em cima de onde
funcionou o aterro Carandiru já sofreu quatro incêndios que terminaram com
mortes, destruição e desabrigados, segundo laudo expedido pela Universidade
de São Paulo (USP), as trágicas ocorrências teriam sido produzidas pelo
acúmulo de metano, um dos principais gases decorrentes da decomposição do
24
lixo doméstico, altamente inflamável (Folha de São Paulo, 9 dez. 2001). Esta
degradação passa a ser um fenômeno chamado de polinização, isto é, que
afeta outros países, mas é muito mais sentido em países pobres, onde a
fiscalização é deficiente, a qualidade educacional da população é precária, a
miséria é acentuada e a impunidade é latente. Esta conjuntura facilita a prática
de crimes contra o meio ambiente cometidos em sua maioria, por indústrias
multinacionais, que fogem do controle rígido de seus países de origem e se
instalam em países subdesenvolvidos e exercem suas atividades sem maiores
problemas, prejudicando o meio ambiente em geral, e, sem sombra de dúvida,
sem se preocupar com o ambiente de trabalho dos seus empregados.
25
CAPÍTULO III
A QUESTÃO AMBIENTAL NA LEGISLAÇÃO
BRASILEIRA - CONSTITUIÇÃO, DIREITOS HUMANOS E
MEIO AMBIENTE:
O Brasil conta com um manancial jurídico riquíssimo concernente ao uso e à
conservação dos bens ambientais, ao combate à poluição e à proteção da vida
e da saúde. Alguns autores chegam a apontar o Regimento do Pau Brasil,
datado de 12 de dezembro de 1605, como marco histórico da criação da
legislação brasileira em matéria ambiental. Já havia uma preocupação acerca
da extinção do pau-brasil e o que isso significaria, pois era matéria-prima
utilizada para a confecção de diversos bens, visava proteger a madeira como
produto. O descumprimento da lei era punido até mesmo com a morte, mas
não havia, porém, uma preocupação com o meio ambiente e, sim, uma
preocupação de ordem econômica, mercantilista. Note-se que até a década de
70 o arcabouço de regras sobre a questão ambiental apresentava-se inserido
em diplomas legais de forma setorial, como o Código de Águas e o Código
Florestal, também com uma predominância da visão econômica da época. Com
a reunião de Estocolmo, ocorrida em 1972, que marcou a mobilização
internacional acerca da questão do meio ambiente, o Brasil evoluiu
legislativamente, e já em 1975, editou o decreto-lei nº 1.413, de 14/08/75 que
impôs às indústrias que se instalassem no território nacional a adoção de
medidas, indicadas pelos órgãos governamentais competentes, para prevenir
ou corrigir os inconvenientes e prejuízos causados pela poluição e
contaminação do meio ambiente. Em 1981 foi editada a Lei nº 6.938/81 que
instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente com objetivo da preservação,
melhoria e recuperação da qualidade ambiental. A edição de tal diploma
representou um marco, pois reconheceu o meio ambiente como bem em si e
estipulou a responsabilidade objetiva para apuração dos danos ambientais, ou
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seja, basta existir o nexo causal entre o dano e o causador do dano para que
haja o dever de indenizar, conforme aponta o art. 14 parágrafo 1º, da Lei nº
6.938/81. Ressalte-se que, além da evolução legislativa verificou-se no
tratamento do meio ambiente, a criação de órgãos de controle ambiental na
esfera federal, tais como a criação do IBAMA e do IBDF e, em âmbito estadual,
a FEEMA.
Com a promulgação da CRFB/88 foram verificadas extensas referências à
questão ambiental e, não só, a ela dedicando um capítulo inteiro, despontando
como uma das mais avançadas do mundo pelos ambientalistas. A nossa Lei
Maior inspirou-se nos modelos espanhol e português, editados em seguida à
redemocratização da Península Ibérica, mas a nossa CRFB/88 superou ambos
os Diplomas Legais desses países, consagrando-se como mais abrangente e
radical, a chamada “Constituição Cidadã”. A Lei Maior efetuou a repartição das
competências em matéria ambiental entre a União, os Estados e os municípios,
de maneira a dar maior eficiência ao combate à poluição e a defesa do meio
ambiente, sistematizou o tratamento jurídico da matéria, estabelecendo, além
das competências privativas, competência comum para o combate à poluição,
conforme dispõe o art. 23, inciso VI e concorrente para legislar sobre florestas,
caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos
naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição, consoante o art.
24, inciso VI. O art. 225, com seis parágrafos também inaugurou a repartição
das competências ambientais e municipalizou a questão ambiental, enfocando
as matérias de interesse local, o que significa um grande avanço, eis que o
tratamento local dos problemas de ordem ambiental constitui a forma mais
adequada de garantir uma efetiva proteção ao meio ambiente.
Impende salientar que não menos numerosas são as disposições relativas à
promoção da dignidade da pessoa humana. É clara a referência constitucional
à promoção dos direitos humanos e ao meio ambiente, apontando para um
mesmo dispositivo constitucional. Vale mencionar que a proteção do meio
ambiente e do patrimônio histórico e cultural são elevados à condição de
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direitos fundamentais, como por exemplo, quando em seu art. 5º, inciso LXXIII
oferece a todos os cidadãos a garantia constitucional da ação popular para a
promoção desses valores. O próprio caput do art. 225 representa um pálio
evidente do vínculo indissolúvel entre a sadia qualidade de vida e o meio
ambiente, ecologicamente equilibrado. Levando-se em consideração que o
direito à saúde é um direito social, conforme guindado no art. 6º, do Texto
Constitucional chega-se à conclusão de que Direitos Humanos e Meio
Ambiente são questões que se encontram entrelaçadas.
O direito de todos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado eclode
como um direito individual, apontado como garantia fundamental, mas também
como um direito social, assim, pode-se afirmar que além de um direito de
terceira geração é também de primeira e segunda gerações.
Frise-se que é o Texto Maior que determina, por exemplo, a obrigatoriedade da
realização de estudos prévios de impacto ambiental antes do início de obras e
atividades que possam ser potencialmente causadoras de significativa
degradação do meio ambiente, além de exigir a publicidade desses estudos.
Somente o fato desses temas constarem do bojo do Diploma Constitucional já
é fato relevante, pois não se tem notícia de que outros países tenham adotado
postura idêntica ou, pelo menos, similar.
O advento da Lei nº 7.347/85 que introduziu a Ação Civil Pública representa um
instrumento ágil e que não encontra similar em outros sistemas jurídicos. A
Ação Civil Pública é destinada a facilitar a defesa, pela sociedade organizada,
de direitos difusos ameaçados, nestes incluindo-se o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado. Note-se que nesta ação aplica-se a legitimação
processual extraordinária, que pode ser exercida pela associação civil, pelo
Ministério Público, pela União, Estados e Municípios e seus entes de
administração indireta. “Atento às mudanças realizadas pelo legislador
ordinário” ensina Marcelo Buzaglo Dantas, “o próprio constituinte de 1988 fez
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incluir no texto da atual Carta Magna, previsão expressa da ação civil pública e
do inquérito civil, ambos a cargo do Ministério Público (art. 129, III), sem excluir
a legitimação, para a primeira, de outros entes (parágrafo 1º , do referido
dispositivo) DANTAS, Marcelo Buzaglo “Reflexos da Nova Reforma do CPC na
Ação Civil Pública Ambiental”. In Aspectos Processuais do Direito Ambiental.
LEITE, José Rubens Morato & DANTAS, Marcelo Buzaglo (orgs). Rio de
Janeiro. Forense Universitária 2003, p. 202.
É de importância relevante o papel conferido ao Ministério Público na defesa do
meio ambiente, utilizando-se de instrumentos tais como o inquérito civil e a
ação civil pública, requisitando informações e ajuizando ações criminais, dando
efetividade ao enorme contexto jurídico pátrio. Tarefa notabilizada não só pelos
Promotores de Justiça estaduais e dos Procuradores da República, mas
também pelos Procuradores do Trabalho, na tutela da vida e da saúde dos
trabalhadores em seu meio ambiente do trabalho.
29
CAPÍTULO IV
DIREITO DO TRABALHO E MEIO AMBIENTE :
O meio ambiente do trabalho adequado e seguro tem sua importância
assegurada, como já vimos anteriormente, devido a divulgação, principalmente,
nos últimos anos, que mostram, mesmo que de forma “maquiada” os números
de acidentes do trabalho e de doenças ocupacionais - profissionais e do
trabalho – ainda preocupantes no nosso país, destacando-se entre estas a
surdez profissional, a LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivos), doenças
da coluna, silicose e intoxicação por chumbo e por manuseio de agrotóxicos na
agricultura.
O Estado, por meio do Ministério do Trabalho e Emprego e de outros órgãos
governamentais, é responsável pelo estabelecimento de normas de segurança,
higiene e medicina do trabalho (Portaria nº 3.214/78) e pela fiscalização do seu
cumprimento. Mas, não obstante existam normas legais a respeito do assunto,
na prática se vê muito pouco o seu cumprimento, haja vista as estatísticas de
acidentes, porque se, de um lado, existe a visão tacanha e perversa de parte
do empresariado, de outro, as multas aplicadas administrativamente pelos
órgãos fiscalizadores são insuficientes para forçar os responsáveis a manter
ambientes de trabalho seguros e salubres. Além de que, políticas de proteção
coletiva são mais difíceis de se verificar, sendo insuficientes a simples
distribuição de EPI’s.
Verifica-se, que o papel do Estado na esfera administrativa não está sendo
cumprido a contento, o que obriga o trabalhador a procurar a tutela
jurisdicional, eis que o direito a um meio ambiente de trabalho seguro e
adequado é um dos primeiros a constituir o conteúdo do contrato de trabalho,
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seja de forma individual seja de índole coletiva, através das entidades sindicais,
Ministério Público e demais entidades autorizadas pela Legislação (CRFB/88,
arts. 8º, III, 127 e 129 e Lei nº 7.347/85).
A prevenção dos acidentes de trabalho também foi prestigiado pelo Texto
Constitucional, em seu art. 7º, inciso XXII – é direito do trabalhador urbano e
rural, a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de
saúde, higiene e segurança) e, substancialmente, as novas atribuições do
Ministério Público (CRFB/88, art. 127 e SS), outras importantes ações, tais
como: as Ações Civis Públicas, passaram a ser ajuizadas com o objetivo de se
obrigar o empregador a cumprir as normas de segurança e higiene e prevenir,
efetivamente, o meio ambiente do trabalho dos riscos à saúde do trabalhador.
Neste contexto, resta claro que se prioriza a prevenção em detrimento das
reparações individuais, que, por mais vantajosas que possam parecer, jamais
conseguiram ressarcir de maneira efetiva os prejuízos decorrentes dos
acidentes de trabalho que atingem os trabalhadores em várias esferas, seja no
aspecto humano, social e econômico, sem contar que também atingem as
empresas financeiramente, e o próprio Estado.
1.1 - Natureza Jurídica do Meio Ambiente do Trabalho:
O meio ambiente do trabalho adequado e seguro é um direito fundamental do
cidadão trabalhador. Pode-se afirmar que não se trata de um direito trabalhista,
tão-somente, atrelado a um contrato de trabalho, ele é abrangente, à medida
que cuida da salvaguarda da saúde e da segurança do trabalhador no
ambiente em que desenvolve suas atividades.
Pelo que se depreende do Texto Constitucional, a proteção do meio ambiente
do trabalho está vinculada diretamente à saúde do trabalhador enquanto
cidadão, eis que se trata de um direito de todos, a ser instrumentalizado pelas
normas gerais que enfocam a proteção dos interesses difusos e coletivos. O
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Direito do Trabalho procura regular as relações diretas entre empregado e
empregador. Vale mencionar o posicionamento de Guilherme José Purvin de
Figueiredo, que assim se manifesta sobre o inciso XXII do art. 7º da CRFB/88
que confere o direito “à redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de
normas de saúde, higiene e segurança”, tem caráter nitidamente ambiental e
sanitário. Destarte, normas de saúde, higiene e segurança não são normas de
direito privado atreladas a um contrato individual de trabalho, são normas
abrangentes, mas que, o integram.
Conclui-se que o Direito Ambiental do Trabalho constitui direito difuso
fundamental atrelado às normas sanitárias e de saúde do trabalhador,
conforme aponta o art. 196, do Texto Constitucional. Desta forma, é
incontestável que merece a proteção dos Poderes Públicos e da sociedade
organizada. A sua natureza é difusa, porque as conseqüências decorrentes de
sua degradação refletem em toda a sociedade, pois cada um pagará, de certa
forma, pelos trabalhadores acidentados.
1.2 - Bem ambiental no Direito do Trabalho:
No Direito do Trabalho, o bem ambiental envolve a vida do trabalhador como
pessoa e integrante da sociedade, devendo ser preservado por meio da
implementação de adequadas condições de trabalho, higiene e medicina do
trabalho. Incumbe ao empregador a obrigação de preservar e proteger o meio
ambiente laboral e, ao Estado e à sociedade, fazer valer a incolumidade desse
bem. A Constituição Federal de 1988 estabelece em seus arts.1º e 170, como
fundamentos do Estado Democrático de Direito e da ordem econômica os
valores sociais do trabalho, a dignidade da pessoa humana e o respeito ao
meio ambiente. A CRFB/88 em seu art. 225 $ 3º e a legislação infra-
constitucional: art. 14, $ 1º, da Lei nº 6.938/81 impõe a obrigação de reparar
em todos os aspectos, seja administrativos, penais, civis e trabalhistas, o
desrespeito a esse bem. Essa responsabilidade é de natureza objetiva.
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CAPÍTULO V
O ASPECTO PROTETIVO DA LEGISLAÇÃO DO MEIO
AMBIENTE DO TRABALHO:
Pode-se afirmar que a tutela jurídica do meio ambiente do trabalho possui duas
dimensões: uma mediata ou geral, que se encontra inserida no art. 225, da
CRFB/88 e outra, imediata e específica, prevista no art. 196, caput, e usque art.
200, principalmente o inciso VIII, complementado pelos incisos XIII e XIV (limite
de jornada de trabalho); XV (descanso semanal remunerado); XVII (férias);
XVIII (licença-gestante); XXII (redução dos riscos inerentes ao trabalho, por
meio de normas de saúde, higiene e segurança) e XXXIII (proteção ao trabalho
do menor), todos do art. 7º da Lei Maior, que resplandecem o direito à saúde
do trabalhador, através de um meio ambiente do trabalho saudável. Frise-se
que o Brasil tem uma das legislações mais avançadas do mundo. A
Constituição Federal promulgada em 1988, como já vimos, contém um
regramento bastante extenso e rico e que foi seguido por várias Constituições
estaduais. A Lei nº 6.938/81, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente,
foi a precursora desse arcabouço legal, considerado um dos mais respeitados
do mundo.A Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT, em seu capítulo V,
trata da segurança, higiene e medicina do trabalho, alterado em 1977, pela Lei
nº 6.514 e também pela Portaria nº 3.214/78, além das várias Normas
Regulamentadoras, das convenções coletivas de trabalho, de sentenças
normativas proferidas pela Justiça Laboral nos Dissídios Coletivos de Trabalho
e Convenções da OIT, além de leis esparsas, que cuidam dos crimes
ambientais.
Na CRFB/88, o direito à vida é estampado em letras de fogo e o art. 225
preconiza uma vida com qualidade e isso se dirige também ao trabalhador que
deverá ter um trabalho decente e em condições seguras e salubres.
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O art. 1º do Texto Constitucional tem como fundamentos da República
Federativa do Brasil e do Estado Democrático de Direito, a cidadania, a
dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho.
O art. 170 também prega que a ordem econômica deve fundar-se na
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa e tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observado como
princípio a defesa do meio ambiente. Infere-se que o legislador constitucional,
procurou compatibilizar a livre iniciativa para o desenvolvimento econômico,
sem esquecer o respeito à dignidade humana no trabalho, isto é, a
sustentabilidade que deve servir de respaldo a esse desenvolvimento. Para
alguns autores, o respeito ao meio ambiente do trabalho é o “novo direito da
personalidade”.
O art. 6º, da Carta Magna, também aborda como direitos sociais, a educação, a
saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados e a moradia.
O art. 225, do mesmo diploma legal, abriga disposições importantes e
princípios do direito ambiental, tais como o da prevenção, da educação e do
poluidor-pagador, e que apontam para o desenvolvimento do meio ambiente e
de qualquer trabalho que trate do meio ambiente em quaisquer dos seus
aspectos.
Também há que se fazer referência ao art. 7º, da CRFB/88 que preconiza que
são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social, tais como: jornada de seis horas para o
trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação
coletiva (inciso XIV) e a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de
normas de saúde, higiene e segurança (inciso XXII). Resta claro que o
legislador constitucional elevou a saúde do trabalhador e sua proteção a um
patamar da mais alta importância. O art. 10, inciso II, letra a), do Ato das
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Disposições Constitucionais Transitórias, veda a dispensa arbitrária ou sem
justa causa do empregado eleito para o cargo de direção de Comissão Interna
de Prevenção de Acidentes – CIPA, desde o registro de sua candidatura até
um ano após o final de seu mandato. Verifica-se a importância dessas
comissões na proteção do trabalhador e do próprio meio ambiente do trabalho,
garantindo-se a seus representantes e suplentes a estabilidade provisória no
emprego.
O art. 196 da Lei Maior, afirma que a saúde é direito de todos e dever do
Estado, garantindo-se tais direitos, mediante políticas sociais e econômicas
que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos. O art. 200 do
mesmo diploma legal, em seus incisos II e VIII apontam que ao Sistema Único
de Saúde – SUS, além de outras atribuições, nos termos da lei, cabe executar
a ações de vigilância sanitária e epidemiologia, bem como as de saúde do
trabalhador e colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do
trabalho.
A importância do meio ambiente do trabalho não pára por aí, outros
permissivos constitucionais estampam sua grandeza no contexto do meio
ambiente. No que concerne aos aspectos reparatórios, o pálio constitucional
abriga o art. 7º, inciso XXVIII, como direito do trabalhador, o seguro contra
acidentes do trabalho, a cargo do empregador e a percepção de indenização a
que este está obrigado, quando houver dolo ou culpa, sedimentado em súmula
nº 229, do STF, independente das reparações a cargo da Previdência Social e
o que estipula o art. 186, do novel Código Civilista.
No inciso XXIII, do art. 7º encontra-se assegurado na CRFB/88 a reparação
pelo trabalho penoso, insalubre e perigoso, mediante o pagamento de
adicionais de remuneração.
O art. 5º, da Carta Magna, em seus incisos V e X, assegura o direito de
resposta proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral
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ou à imagem e que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação.
O dano moral também foi inscrito em letras de fogo na Lei Maior, afastando
qualquer dúvida sobre a competência para julgamento da Justiça Laboral e
sobre as ações de acidentes de trabalho. O art. 114, assim menciona: Compete
à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos
os entes de direito público externo e da administração
pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios;
II as ações que envolvam exercício do direito de greve;
III as ações sobre representação sindical, entre sindicatos,
entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e
empregadores;
IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas
data , quando o ato questionado envolver matéria sujeita à
sua jurisdição;
V os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição
trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o ;
36
VI as ações de indenização por dano moral ou patrimonial,
decorrentes da relação de trabalho;
VII as ações relativas às penalidades administrativas
impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização
das relações de trabalho;
VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais
previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos legais,
decorrentes das sentenças que proferir;
IX outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho,
na forma da lei.
§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação
coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de
comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza
econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o
conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de
proteção ao trabalho, bem como as convencionadas
anteriormente.
§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com
possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério
Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo,
competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito." (NR)
A esse respeito, elucidativa é a lição magistral Arnaldo Sussekind, in
Instituições de direito do trabalho, vol. I, 16ª Ed., pág 200, in verbis: “(...)
visando ao amparo do trabalhador como ser humano e a prevalência dos
princípios de justiça social, mediante limitação da autonomia da vontade, o
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Direito do Trabalho se constitui, em grande parte, de preceitos de ordem
pública(...)”
Afigura-se ainda como de ordem pública, ante o fato de o Direito do Trabalho
estar erigido constitucionalmente à categoria de Direitos Sociais, consoante se
infere dos artigos 6º e 203, III, da Constituição Federal, sendo inclusive tido
como fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1º, inciso IV).
Ademais, a inteligência da norma constitucional permite firmar a diretriz de que
o Direito do Trabalho possui status de princípio basilar da Ordem Econômica.
1.1 - A proteção do Meio Ambiente do Trabalho nas
Constituições Estaduais:
A proteção do meio ambiente do trabalho, a exemplo da CRFB/88 mereceu
relevo nas constituições estaduais, a exemplo do que foi promulgou o Estado
de São Paulo, nos arts. 191 e 229, parágrafo 2º, também a do Estado do
Amazonas previu tal proteção em seu art. 229 em seu parágrafo 2º, do Pará
nos arts. 269 e incisos I, III e IV e 270 e inciso XIV, da Bahia, art. 218 e de
Rondônia, no art. 244, inciso III. Dentre os textos constitucionais acima
mencionados, releva-se que as Constituições de Rondônia, em seu art. 244,
inciso III e de São Paulo, em seu art. 229, parágrafo 2º, asseguram ao
trabalhador o direito de recusa ao trabalho, sem nenhum prejuízo salarial e de
outros direitos, no caso de risco grave ou iminente, até a eliminação total desse
risco, assegurado no caso de Rondônia o direito de permanecer no emprego.
1.2 - A proteção do Meio Ambiente do Trabalho na Legislação
Infraconstitucional:
A Lei nº 6.938/81, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente, embora
não mencione expressamente em seu contexto o meio ambiente do trabalho
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como bem a ser protegido, tal entendimento ressalta cristalino, à medida que
esse diploma legal prega que a degradação do meio ambiente prejudica a
saúde, a segurança e o bem-estar da população, logo, infere-se que a
degradação do meio ambiente prejudicará ou colocará em risco a saúde, a vida
e a integridade física do trabalhador. Desta forma, no conceito estampado do
art. 3º desta Lei, resta implícito, inegavelmente, o meio ambiente do trabalho.
A Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, conta com várias disposições
relacionadas à Segurança e Medicina do Trabalho, entre essas, pode-se
mencionar: Art. 4º: considera como tempo de serviço efetivo o período em que
o empregado esteja à disposição do empregador com efeitos no limite da
jornada e concessões de repousos; Art. 60: exigências de cunho administrativo
para a prorrogação de jornada nas atividades insalubres; Art. 66, 71 e 72: fixam
os períodos de descanso inter e intra-jornada; Art. 73, parágrafo 1º: hora
noturna reduzida; Art. 129 usque 141: asseguram o direito às férias; Art. 253:
Intervalo intra-jornada especial para os trabalhadores; Art: 253: Intervalo intra-
jornada especial para os trabalhadores; Art. 297 usque 301: normas protetivas
aos trabalhadores em minas de subsolo; Art. 390 parágrafo único: proteção do
trabalho da mulher. Arts. 405 usque 409: normas de proteção ao trabalho do
menor; Art. 483, a: Permite a rescisão indireta do contrato de trabalho pelo
empregado quando lhe forem exigidos serviços superiores às suas forças.
Ainda no texto celetista, em seu capítulo V, que trata da segurança e medicina
do trabalho, também recepcionado pela CRFB/88. O art. 156 do texto
consolidado trata da competência das Delegacias Regionais do Trabalho sobre
orientação, fiscalização, adoção de medidas de proteção ao meio ambiente do
trabalho e aplicação de penalidades no caso de descumprimento das normas
atinentes. O art. 157, também de grande importância, determina que cabe às
empresas a obrigação de cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e
medicina do trabalho, fornecendo equipamentos necessários e orientando os
trabalhadores. Também o art. 158 merece menção, pois obriga os empregados
a cumprirem as normas ambientais laborais, seguindo as orientações da
39
empresa, sob pena de incorrerem em ato faltoso punível proporcionalmente à
sua gravidade. O art. 160 estabelece a obrigatoriedade da inspeção prévia nos
estabelecimentos, antes do seu funcionamento, prevendo dos agravos à saúde
do trabalhador. O art. 161 estabelece que o Delegado Regional do Trabalho,
ante a existência de risco grave e iminente para o trabalhador, interditar
estabelecimento, setor de serviço, máquina ou equipamento ou embargar obra,
o que representa um dos mais eficazes remédios de prevenção do meio
ambiente e de eliminação de risco de vida para os trabalhadores. O art. 184
dispõe sobre a necessidade de as máquinas e equipamentos que ofereçam
perigo para os trabalhadores devem conter dispositivos de proteção, impondo a
responsabilidade solidária pelo cumprimento dessa obrigação ao fabricante, ao
importador, ao vendedor, ao locador e ao usuário.
Pelo art. 200 foi delegado ao Ministério do Trabalho a elaboração de normas
gerais e específicas sobre segurança, medicina e higiene no trabalho, a
Portaria 3.214/77 contendo várias NRs – Normas Regulamentadoras, foi fruto
dessa preocupação com relação ao meio ambiente do trabalho. Essas NRs
passaram a ser elaboradas e revisadas de forma tripartite, com a participação
do governo, dos trabalhadores e dos empregadores. E são as seguintes as
NRs por assunto: NR-1 – Disposições gerais; NR-2 – Inspeção prévia; NR-3
Embargo ou interdição; NR-4 – Serviços Especializados em Engenharia de
Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT); NR-5 Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes (CIPA); NR-6 – Equipamentos de Proteção Individual
(EPI); NR-7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO);
NR-8 – Edificações; NR-9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
(PPRA); NR-10 – Instalações e serviços em eletricidade (essa NR está sendo
alterada); NR-11 – Transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de
materiais; NR-12 – Máquinas e Equipamentos; NR-13 – Caldeiras e vasos de
pressão; NR-14 – Fornos; NR-15 – Atividades e operações insalubres; NR-16 –
Atividades e operações perigosas; NR-17 – Ergonomia; NR-18 – Condições e
Meio Ambiente do Trabalho na Indústria de Construção; NR-19 – Explosivos;
NR-20 – Líquidos, combustíveis e inflamáveis; NR-21 – Trabalho a céu aberto;
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NR-22 – Trabalhos subterrâneos; NR-23 – Proteção contra incêndios; NR-24 –
Condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho; NR-25 – Resíduos
industriais; NR-26 – Sinalização de segurança; NR-27 – Registro de
Profissional do Técnico de Segurança do Trabalho no Ministério do Trabalho;
NR-28 – Fiscalização e penalidades; NR-29 – Segurança e saúde no trabalho
portuário; NR-30 – Segurança e saúde no trabalho aquaviário; NR-31 –
Segurança e saúde no trabalho na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração
florestal e aqüicultura; NR-32 – Segurança e saúde no trabalho em
estabelecimentos de saúde; NR-33 – Segurança e saúde nos trabalhos em
espaços confinados; NRR-1 – Disposições gerais; NRR2 – Serviços
Especializados em Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural – SEPATR;
NRR-3 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural –
CIPATR; NRR-4 – Equipamentos de Proteção Individual – EPI; NRR-5 –
Produtos químicos.
O art. 201 fixa os valores das multas a ser aplicadas pelos Auditores Fiscais do
Ministério do Trabalho e Emprego, pelas infrações às normas de segurança e
medicina do trabalho, o que tem gerado melhorias expressivas no meio
ambiente do trabalho, tendo em vista a efetivação desses instrumentos e o
papel do Ministério Público do Trabalho.
1.3 - Breves comentários a respeito da importância de algumas
NRs:
A NR-9 trata da Prevenção de Riscos Ambientais. A superfície dos pulmões é
de 100 m2, o que equivale a mais ou menos 2.000 Km, destarte a capacidade
de absorção dos pulmões é muito grande, por isso, há uma grande
preocupação com o ar das categorias que lidam com a poluição atmosférica. O
petroleiro está sujeito além das doenças pulmonares, às de origem mental,
devido ao confinamento, às qualidades de trabalho, sendo que o próprio
ambiente de trabalho já é insalubre, como o trabalho no pré-sal, por exemplo.
41
Vale frisar sobre a importância da NR-29, que como vimos, trata da segurança
e saúde no trabalho portuário, esta norma decorre da necessidade de tutela
especial para um determinado setor do mundo laboral, diante de todos os
potenciais danos e riscos à saúde trazidos pelos fatores específicos dessa
atividade, tais como contato com agentes nocivos à saúde e cargas perigosas,
além do risco iminente de lesão grave decorrente do volume de cargas que é
manipulado. A implantação dessa norma, já representou um avanço, eis que
impõe responsabilidades aos operadores portuários, ao OGMO e à Autoridade
Portuária, o que vem ocorrendo de modo paulatino nos portos brasileiros, tendo
em vista uma cultura sindicalista, muitas vezes, contrária aos interesses dos
próprios trabalhadores. Antes da Lei nº 8.630/93 não havia estatística segura
acerca dos acidentes de trabalho ocorridos na área portuária, tendo em vista o
sistema falho de escalação dos trabalhadores e a ausência de qualquer
controle de acesso aos portos, a utilização de trabalhadores não escalados que
laboravam no lugar de outros, comprando, por assim dizer, oportunidade de
trabalho, todos esses fatores prejudicavam o controle da utilização de EPIs –
Equipamento de Proteção Individual, por exemplo, além da ausência de
formação profissional. A realidade do trabalho portuário é extremamente
penosa, eis que os trabalhadores permanecem expostos às intempéries do
calor excessivo ou às baixas temperaturas de porões frigoríficos, além do
desgaste físico que é enorme e a responsabilidade com esse tipo de atividade.
Não menos importante para o meio ambiente do trabalho foi a Portaria nº 9, de
30/03/2007 que aprova o Anexo II, da NR-17, que trata do Trabalho em Tele-
atendimento, pois até 2003 não havia conhecimento dos prejuízos desse tipo
de atividade, a Recomendação Técnica DSST nº 01, de 23/03/2005 foi o
embrião da Portaria nº 9. Em 2005 já havia 555.000 empregos diretos na área
de tele-atendimento e foi quando o Ministério do Trabalho deparou-se com a
realidade desses trabalhadores que começaram a apresentar DORT, distúrbios
vocais, auditivos, stress, problemas de coluna. Algumas medidas começaram a
ser adotadas, visando evitar esses problemas, quais sejam, evitar trabalho aos
domingos e feriados, as horas-extras devem ser evitadas, devendo ser feitas
42
somente quando ocorrer necessidade imperiosa de serviço ou força maior,
respeito às 6 horas de trabalho ou 36 horas semanais, com intervalo de 20
minutos para lanche, de acordo com o preconiza o art. 71, parágrafo primeiro
da CLT. Pausas para prevenir sobrecarga psíquica, muscular, estática de
pescoço, ombros, dorso e membros superiores, dois períodos de 10 minutos de
pausa após primeiros e antes dos últimos sessenta minutos de trabalho, com
registro eletrônico dessas pausas, água potável próxima e irrestrita, permissão
para pausa logo após atendimento com ameaças, abuso verbal, agressões
verbais ou, simplesmente, um contato verbal desgastante.
1.4 - A proteção do Meio Ambiente do Trabalho nas
Convenções da OIT – Organização Internacional do Trabalho:
A OIT ao longo de vários anos têm expedido várias Convenções Internacionais
e muitas delas ratificadas pelo Brasil. No que concerne à saúde, segurança e
medicina do trabalho e ao meio ambiente do trabalho, podemos citar: 12 (Sobre
indenização por acidente de trabalho, ratificada em 1957); 16(Sobre o exame
médico das crianças – trabalho marítimo, ratificada em 1936); 19(Sobre a
igualdade de tratamento nos acidentes de trabalho, ratificada em 1957);
42(Sobre doenças profissionais, ratificada em 1936); 45 (Sobre trabalho
subterrâneo de mulheres, ratificada em 1938); 81 (Sobre a inspeção do
trabalho, ratificada em 1989); 113 (Sobre o exame médico dos pescadores,
ratificada em 1965); 115 (Proteção contra radiações ionizantes, ratificada em
1967); 136 (Proteção contra riscos de intoxicação pelo benzeno, ratificada em
1994); 139 (Prevenção e controle de riscos profissionais causados pelas
substâncias ou agentes cancerígenos, ratificada em 1991); 148 (Proteção dos
trabalhadores contra os riscos profissionais devido à contaminação do ar, ao
ruído e às vibrações no local de trabalho, ratificada em 1983); 152 (Segurança
e higiene nos trabalhos portuários, ratificada em 1991) 155 (Segurança e saúde
do trabalhador e do meio ambiente do trabalho em geral, em todas as áreas de
atividade econômica, ratificada em 1993); 159 (Reabilitação profissional e
43
emprego de pessoas deficientes, ratificada em 1991); 161 (Estabelece
diretrizes para orientar os serviços de saúde e segurança no trabalho, ratificada
em 1991) e 162 (Utilização do asbesto com segurança, ratificada em 1991);
164 (Sobre proteção da saúde e a assistência médica aos trabalhadores
marítimos, ratificada em 1998); 167 (Sobre saúde e segurança na construção,
ratificada em 2007); 170 (Sobre produtos químicos, ratificada em 1998); 176
(Sobre segurança e saúde nas minas, ratificada em 2007).
1.5 - A proteção do Meio Ambiente do Trabalho sob o Aspecto
Penal:
Na esteira dessa proteção legal, cabe ressaltar vários diplomas legais, na
esfera penal que trataram do meio ambiente do trabalho. O primeiro deles, foi o
Código Penal Brasileiro, em seu art. 132, que criminaliza o ato de exposição do
trabalhador a perigo direto e iminente . Cabe mencionar os arts. 250 e 259 que
tratam de crimes de perigo comum e também os arts. 121 e 129, quando do ato
resultar a morte ou lesão corporal do trabalhador vitimado. A Lei nº 6.938/81
numa visão protecionista, mais especificamente, em seu art. 15, define como
crime a conduta do poluidor que expõe a perigo a incolumidade humana,
animal ou vegetal, ou que torne mais grave a situação de perigo já existente. A
Lei nº 9.605/98, que trata dos crimes ambientais, estabelece em seu art. 3º
sanções penais e administrativas pelos crimes causados ao meio ambiente,
além de criminalizar também as pessoas jurídicas, sem excluir a
responsabilidade das pessoas físicas. A Lei nº 8.213/91, em seu parágrafo 2º
do art. 19, dispõe sobre a contravenção penal, que deve ser aplicada quando
há falta de cumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho, o
que abrange todas as Normas Regulamentadoras – NRs.
Releva salientar o papel das negociações coletivas de trabalho na busca de
implementação de ambientes de trabalho sadios e seguros. Também os
Dissídios Coletivos de Trabalho instaurados perante os Tribunais Trabalhistas,
44
procurando melhores condições ambientais do trabalho ou visando à
interpretação das normas já existentes, contribuem para que o Brasil seja
considerado um dos países mais avançados do mundo em relação à proteção
legal da saúde e qualidade de vida do trabalhador.
45
CAPÍTULO VI
OS PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL GERAL E
SUA RELAÇÃO COM O DIREITO AMBIENTAL DO
TRABALHO:
1.1 - Princípio da prevenção:
Prevenção significa adoção de medidas tendentes a evitar riscos ao meio
ambiente e ao ser humano. O princípio da prevenção é considerado um
megaprincípio ambiental e tem seu fundamento no princípio nº 15 da
Declaração do Rio de Janeiro de 1992 sobre meio ambiente e
desenvolvimento. O princípio da prevenção encontra-se estampado em letras
de fogo no art. 225, da CRFB/88, quando assevera que incumbe ao Poder
Público e à coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente
equilibrado para as presentes e futuras gerações. No aspecto natural, por
exemplo, a degradação do meio ambiente pode atingir diretamente ou
indiretamente o ser humano, enquanto no meio ambiente do trabalho é o
homem trabalhador atingido direta e imediatamente pelos danos ambientais e
indiretamente toda a sociedade paga pelos danos causados a este trabalhador,
como já vimos anteriormente. Destarte, é preciso que se dê a importância
necessária a este direito constitucional expressamente previsto no art. 7º,
inciso XXII, que estabelece como direito do trabalhador urbano e rural a
redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene
e segurança.
Na aplicação deste princípio no âmbito trabalhista, deve-se levar em conta a
educação ambiental a cargo do Estado, mas também das empresas, nos locais
de trabalho, orientando os trabalhadores sobre os riscos ambientais e
fornecendo-lhes os equipamentos adequados de proteção, como menciona a
CLT no art. 157, podendo, inclusive, depois de bem orientar os trabalhadores
46
sobre os riscos ambientais, puni-los pela recusa em observar as normas de
segurança e medicina do trabalho (art. 158, da CLT). Tal princípio também
ensejou a necessidade de punição adequada do poluidor nos aspectos
administrativos, penais e civis, neste último, observando-se o seu poder
econômico. Ao revés, é importante ressaltar que a legislação pátria concede
incentivos fiscais e outros às atividades em que os empreendedores levem em
conta a prevenção do meio ambiente do trabalho, como, a diminuição das
contribuições do Seguro de Acidente de Trabalho – SAT, previstas na Lei nº
8.212/91, em seu art. 22.
É de se ressaltar a promulgação da Lei nº 10.666/03, que em seu art. 10 reduz
em até 50% ou aumentar, em até 100%, os valores dessas contribuições ,
conforme o desempenho da empresa quanto aos riscos ambientais, disposição
dependente de regulamentação.
1.2 - Princípio da Precaução:
Precaução significa cuidado, cautela. Este princípio se constitui em norteador
das políticas ambientais, à medida que estipula uma conduta que visa evitar os
riscos e a ocorrência de danos ambientais. O fundamento legal deste princípio
reside no art. 4º, incisos I e IV, da Lei nº 6.938/81, também foi inserido no art.
225, $ 1º, inciso V, da CRFB/88, bem como na Lei nº 9.605/98, art. 54,
parágrafo 3º.
O princípio da precaução é a garantia contra os riscos potenciais que, de
acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda
identificados. Na ausência da certeza de um risco de um dano sério ou
irreversível requer a implementação de medidas que possam evitar possível
dano. No caso do direito ambiental do trabalho, como os danos à saúde são
quase sempre irreversíveis, o bom senso sinaliza que quem deve ser protegido
é a pessoa, em prol de qualquer atividade econômica, devendo-se, se for o
caso, interditar a empresa com a suspensão daquela atividade econômica,
47
como todas aquelas medidas dispostas no capítulo do Texto Celetista. Por
conseguinte, não precisa haver a certeza absoluta acerca dos riscos daquela
atividade para o meio ambiente ou a saúde do trabalhador, basta, tão-somente,
que o dano seja irreversível e irreparável para que se determine a adoção de
medidas efetivas de prevenção, mesmo que haja dúvida, eis que a proteção à
vida se sobrepõe a qualquer aspecto econômico. É de se ressaltar que o
princípio da precaução impõe a inversão do ônus da prova em favor do meio
ambiente, porque a incerteza científica milita em favor do meio ambiente e da
sociedade, assim, o provável autor do dano é quem deve demonstrar que sua
atividade não ocasionará dano ao meio ambiente, assim, o fundamento legal é
o próprio Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 6º, inciso VI, que exige
apenas a verossimilhança das alegações iniciais ou comprovação de
hipossuficiência do titular do direito tutelado violado ou ameaçado de lesão.
1.3 - Princípio do Desenvolvimento Sustentável:
O desenvolvimento sustentável é a política de desenvolvimento que leva em
consideração a livre iniciativa, mas sem esquecer as outras políticas
desenvolvimentistas sob o aspecto social, destarte, deve haver uma
consonância entre as políticas de desenvolvimento social, cultural, humano e
de proteção ao meio ambiente (CRFB/88, art. 170). O desenvolvimento
econômico é aspiração de todos os povos, mas já é certo que não há lugar
para um desenvolvimento de modo desenfreado, é preciso que haja um
equilíbrio, entre o desenvolvimento econômico e os demais para o bem da
sociedade. A aplicação deste princípio no direito ambiental do trabalho ressalta
de maneira cristalina, quando combinamos o caput do art. 225, da CRFB/88,
quando é assegurado a todos um meio ambiente equilibrado, o art. 1º, da
CRFB/88 estabelece como fundamentos da República Federativa do Brasil e
do Estado Democrático de Direito entre outros, a dignidade da pessoa
humana e os valores sociais do trabalho. O art. 170, da Lei Maior, que
cuida da ordem econômica, fundado na valorização do trabalho humano e na
livre iniciativa, assegura a todos existência digna, observados os princípios da
48
defesa do meio ambiente e do pleno emprego. Infere-se que o caráter
analítico da nossa Carta Magna, já demonstra essa harmonização entre o
aspecto econômico e o meio ambiente, destarte, passaram a convergir
objetivando a comunhão das políticas de desenvolvimento econômico, social,
cultural e de proteção ambiental. Mas apesar do texto constitucional apontar
para essa preocupação, o enfoque econômico ainda representa um peso forte
em qualquer nação e é por causa desse apelo dominante, que no que cinge ao
meio ambiente do trabalho, tem que haver ainda o intervencionismo do Estado,
tendo em vista o número de acidentes e doenças ocupacionais registrados pela
Previdência Social. Destarte, torna-se urgente a necessidade de
implementação de políticas de desenvolvimento sustentável e que seja uma
prioridade o binômio: emprego com dignidade e qualidade de vida para os
trabalhadores. Faz-se necessária também uma reavaliação das práticas
neoflexibilizantes que contribuem para o subemprego e para a precariedade do
trabalho humano, que provocam acidentes de trabalho, afastam o trabalhador,
quando este não morre em decorrência de tais acidentes, e, por via de
conseqüência, afetam sobremaneira a sociedade e sua economia.
1.4 - Princípio do Poluidor-Pagador:
Pode-se afirmar que a responsabilidade é a conseqüência decorrente do não
cumprimento de uma obrigação, portanto, quando alguém compromete-se
perante outrem a uma conduta, seja negativa ou positiva e não cumpre, estará
obrigado a arcar com as conseqüências de seu ato, salvo exceções, que a
própria Lei enumera, tais como: caso fortuito ou força maior, além de outros
elencados no Diploma Legal. A responsabilidade, em suma, decorre de relação
contratual ou extracontratual, tendo como elemento basilar o dever de
indenizar, destarte, o princípio mais importante é o da equidade entre os ônus e
dos encargos sociais.
Duas teorias ressaltam a responsabilidade civil, quais sejam: a subjetiva e a
objetiva, na primeira, a vítima tem que provar a existência de nexo entre o dano
49
e a atividade danosa e, principalmente a culpa do agente. Na segunda, ao
revés, basta a existência de dano, e do nexo de causalidade.
A novel legislação civilista em seu art. 927 e seu parágrafo único assim dispõe:
“ Art. 927 – Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo. Parágrafo Único – Haverá obrigação de reparar o
dano, independentemente de culpa , nos casos especificados em Lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, riscos para os direitos de outrem.
Destarte, a previsão no ordenamento jurídico brasileiro da reparação da lesão
ambiental com fulcro na responsabilidade objetiva resultou de uma progressiva
evolução, cristalizando-se pela edição de vários diplomas legais que alçaram a
responsabilidade civil para a reparação do dano ambiental. Por via de
conseqüência, surgiu tal tipo de responsabilidade no Decreto nº 79.347/77 que
promulgou a Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil por Danos
Causados por Poluição por Óleo, de 1969. Mais adiante, verificou-se a edição
da Lei nº 6.453/77, em seu art. 4º, caput, que estampou a responsabilidade
objetiva nos danos causados por atividade nuclear. Mais adiante, foi
promulgada a Lei nº 6.938/81, que em seu art. 14, parágrafo primeiro ressalta a
responsabilidade objetiva, representando um verdadeiro marco no avanço ao
combate a devastação do meio ambiente, eis que o ponto nodal é a ocorrência
do resultado prejudicial ao homem e ao meio ambiente. A constitucionalização
da questão ambiental, preconizada no permissivo legal 225, e o princípio do
poluidor-pagador, estampado no parágrafo terceiro, do mesmo artigo da Lei
Maior, reafirmou o caráter objetivo destaresponsabilização, que passa a ter três
órbitas de reparação do dano ambiental: civil, penal e administrativa, senão
vejamos: “ Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida – Parágrafo
Terceiro: as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
50
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados (...)”
Ressalta nítida, portanto, a tese de concordância entre os Diplomas Legais
acima elencados no que concerne à responsabilidade objetiva aos danos ao
meio ambiente. Tal preocupação legislativa teve um objetivo, eis que, na
maioria das vezes, o dano ambiental atinge proporções irreparáveis, o que
inviabilizaria que o autor da denúncia tivesse que munir-se dos meios de prova
contra o infrator para comprovar a conduta lesiva, seria praticamente
impossível obter uma decisão favorável ao seu pleito, eis que os elementos de
prova, nestes casos, são praticamente impossíveis.
Como se observou acima, o implemento da reparação ambiental se dá na
aplicação das normas de responsabilidade civil, atuando na tutela e controle da
propriedade. A responsabilidade civil se baseia na apuração de prejuízo a
terceiro, ensejando pedido de reparação ao dano causado, visando a
recomposição da situação anterior ou mediante uma indenização, isto é,
impõe-se ao infrator a obrigação de indenizar ou reparar o prejuízo causado
por sua conduta ou atividade.
Ressalte-se que no aspecto ambiental, a responsabilização de pessoa física ou
jurídica, de direito público ou privado, será feita sempre que suas condutas ou
atividades causarem qualquer lesão ao meio ambiente. O direito a um meio
ambiente sadio e equilibrado, conforme aponta o Texto Constitucional, não
pode ser individualizado. Desse modo, a responsabilidade civil objetiva ínsita
na legislação brasileira, tem como escopo a existência de dano, e o nexo de
causalidade com a fonte poluidora ou degradadora.
O agente que explora a atividade poluidora deverá, por conseguinte, redobrar
os seus cuidados com as possíveis conseqüências de suas atividades,
incluindo-se aí, seguro de responsabilidade civil de sua empresa para
51
ressarcimento de danos ambientais ocasionados por eventuais casos fortuitos
ou de força maior, eis que estes não eximem da obrigação de indenizar.
1.5 - O Principio do Poluidor-Pagador ou Principio da
Responsabilidade:
Para alguns autores, o princípio do poluidor-pagador é chamado de princípio da
responsabilidade, eis que temem que a nomenclatura poluidor- pagador possa
provocar um entendimento equivocado de um princípio tão importante. O
vocábulo “responsabilidade”, em suma, emprestaria o caráter sancionatório de
tal princípio, imputando ao empresário a responsabilidade objetiva e financeira
para a proteção do meio ambiente. Em suma, ao contrário do que muitos
imaginam, este Princípio do Poluidor-Pagador tem como mote evitar o dano
ambiental e não permitir que alguém polua o meio ambiente mediante o
pagamento de certa quantia em espécie, eis que o meio ambiente é de valor
inestimável, sendo impossível calcular o seu “quantum” para a sociedade que
dele ora usufrui e para as gerações futuras. Este princípio demonstra o caráter
preventivo, indenizatório, reparatório e busca fazer com que os recursos
naturais sejam utilizados de modo mais racional e sem causar prejuízos ao
meio ambiente, que significa o desenvolvimento sustentável.
Isso não significa dizer, que como há o pagamento, pode-se despejar esgoto
sem tratamento num rio, e nem que se possa praticar qualquer outra infração
às leis ambientais. Frise-se que o princípio consiste na máxima de que aquele
que poluir irá pagar pelos danos causados, mas nunca que, à medida que
pagar poderá poluir! Não se pode tentar contornar a maneira de reparar o
dano, estabelecendo o ato poluidor como ato lícito, como se alguém pudesse
afirmar que polui porque paga por isso. O ponto nodal desse princípio é o de
evitar que o dano ecológico fique sem reparação. Destarte, são questões
diametralmente diferentes!
52
Foi a inserção deste Princípio no território brasileiro que proporcionou a
cristalização da teoria do risco – proveito, acarretando enormes mudanças na
teoria da responsabilidade civil, proporcionando a responsabilização. Em suma,
este instituto do ordenamento jurídico pátrio obriga o poluidor a indenizar e(ou)
reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros prejudicados pela
atividade poluidora, existindo ou não a culpa do poluidor, consoante dá
respaldo a legislação. Gize-se que a responsabilidade objetiva abrange não só
as grandes corporações, mas também os Estados, que atualmente são os
maiores poluidores do meio ambiente e que dificilmente têm suas
responsabilidades comprovadas.
1.6 - A Responsabilidade de reparar – Solidariedade Passiva do
Poluidor Pagador e Solidariedade Ativa da Sociedade:
Como já mencionado, o dever de indenizar surge quando determinado agente
pratica ato lesivo ao meio ambiente, causando-lhe dano. Observando-se,
porém, a existência de mais de um responsável, todos eles, responderão
solidariamente, consoante ensina no art. 1518, do Código Civil, “art. 1518 – Os
bens do responsável pela ofensa ou violação de direito de outrem ficam
sujeitos à reparação do dano causado, e, se tiver mais de um autor à ofensa,
todos responderão solidariamente pela reparação”. Na seara ambiental, a
reparação pode ser exigida de todos e de qualquer um dos responsáveis,
segundo o princípio da solidariedade. Como ensina o festejado autor: Jorge
Alex Nunes Athias: “uma das maiores dificuldades que se pode ter em ações
relativas ao meio ambiente é exatamente determinar de quem partiu
efetivamente a emissão que provocou o dano ambiental, máxime quando isso
ocorre em grandes complexos industriais onde o número de empresas em
atividade é elevado. Não seria razoável que, por não se poder estabelecer com
precisão a qual deles cabe a responsabilização isolada, se permitisse que o
meio ambiente restasse indene”.
Impende salientar que será facultada àquele que pagar pela integralidade do
dano, ação de regresso contra os co-responsáveis, pela via de
53
responsabilização subjetiva, onde se poderá discutir a parcela de
responsabilidade pertinente a cada um, no caso da solidariedade passiva.
O princípio do poluidor-pagador, ora abordado, também caracteriza-se pela
solidariedade social, à medida que trata-se de um direito pertencente à toda
sociedade. Assim sendo, toda pretensão que se apure em Juízo, requerendo
uma reparação por dano causado ao meio ambiente será difusa, visto que
trata-se de direito cujo objeto é indivisível, pois que os seus titulares são
indetermináveis e ligados por circunstâncias de fato, que têm legitimidade para
agir, através dos meios legais.
1.7 - A Adoção do Princípio do Poluidor-Pagador no Campo do
Direito Ambiental do Trabalho:
Impende ressaltar que o acolhimento da responsabilidade reveste-se pelo
simples risco da atividade empresarial, sem se questionar sobre a culpa ou não
do agente, da ilicitude ou ilegalidade do ato.
No que pertine, à prioridade da reparação específica do dano, registre-se que a
reparação compreende duas formas: o retorno ao estado anterior (CRFB/88,
art. 225, parágrafo 2º) e a reparação/compensação em dinheiro de forma
sucessiva, primeiro, buscando-se a recomposição do dano e, somente na
impossibilidade, fixando-se uma compensação indenizatória. Essa indenização
é genérica pelo dano já causado ou simplesmente compensatória, em não
sendo possível a sua recomposição, mas não exclui a possibilidade de
reparação também pelos danos individuais causados a terceiros.
Tem-se como exemplo: um dano ao meio ambiente do trabalho, que deverá ser
recomposto e indenizado genericamente, sem se excluir o direito de o
trabalhador lesado ir a juízo pleitear a reparação concreta do dano ao seu
patrimônio material e/ou moral. É o caso de uma empresa poluidora do meio
54
ambiente do trabalho por altos índices de ruído bem acima dos permitidos pela
legislação e que, em conseqüência, causa a surdez de vários trabalhadores.
Neste caso, poderá haver uma ação coletiva ajuizada pelo Sindicato da
Categoria ou pelo Ministério Público do Trabalho, a fim de buscar a prevenção
do meio ambiente com a eliminação do ruído excessivo e uma indenização
genérica por dano causado ao meio ambiente, eis que é impossível um retorno
ao estado anterior, por inteiro, isto é, a adequação do meio ambiente vai
ocorrer somente a partir daquela ação, pelo que os danos anteriormente
ocasionados, deverão em nome do princípio do poluidor pagador, ser
reparados integralmente. Além disso, os trabalhadores submetidos àquele
ambiente insalubre poderão pleitear indenização individual pelo pagamento de
adicional de insalubridade e, caso tenham perda auditiva, buscar ainda
indenizações por danos material e moral. Por conseguinte, resta translúcido
que o alcance do princípio do poluidor-pagador tem como finalidade precípua a
de encarecer o custo para o poluidor, a fim de que este adote medidas de
índole preventiva, afastando as situações de risco que causem danos à saúde
do trabalhador. Vejamos abaixo a decisão exarada pelo TRT da 10ª Região,
que trata sob o assunto em lume:
“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO MORAL. TRABALHO EM CONDIÇÕES
ANÁLOGAS Á DE ESCRAVO. Além de justa a reparação do dano moral
requerida, bem como da procedência das verbas rescisórias trabalhistas
indicadas em conseqüência do aludido dano, também justificadora da extinção
das relações empregatícias, torna-se impostergável um indispensável e
inadiável “Basta”! À intolerável e nefasta ofensa social e retorno urgente à
decência das relações humanas de trabalho. Torna-se, portanto, urgente a
extirpação desse cancro do trabalho forçado análogo à condição de escravo
que infeccionou as relações normais de trabalho, sob condições repulsivas da
prestação de serviços tão ofensivas à reputação do cidadão brasileiro com
negativa imagem do país, perante o mundo civilizado.” (Processo TRT 10ª
55
Região. RO nº 00073-202-811-10-00-6, 2ª Turma. Relator Juiz José Ribamar
O. Lima Júnior, julgado em 7.5.2003).”
Cediço concluir que o princípio do poluidor-pagador atrelado à
responsabilidade civil objetiva, pode servir como mecanismo de suma
importância à proteção ambiental, eis que impõe ao poluidor tornar sua
atividade adequada ao meio ambiente, pois, caso contrário, aquele que tiver
sua conduta afastada desta máxima, será responsabilizado
independentemente da existência de culpa. Aos Estados, induz avaliar a
importância econômica da degradação ambiental, das políticas econômicas
que visem ao subemprego, flexibilizando demais os direitos mais básicos do
trabalhador, trazendo malefícios para este e, por via de conseqüência, impondo
esse pagamento à sociedade.
1.8 - Princípio da Participação:
O art. 225, da CRFB/88 impõe ao Poder Público e à toda a sociedade
preservar e proteger o meio ambiente. Destarte, essa obrigação não cabe tão-
somente ao Estado, nem tampouco somente à sociedade, mas constitui-se
tarefa de ambos, portanto, devem convergir para estabelecer parceria e unir
esforços, visando o bem comum preconizado no permissivo legal acima citado.
No que se refere ao meio ambiente do trabalho, a fiscalização está afeta ao
Estado, através do Ministério do Trabalho e Emprego, encarregado não
somente de elaborar normas de prevenção e melhoria dos ambientes do
trabalho, como estabelece o art. 156, do Texto Celetista, mas também no
sentido de orientar trabalhadores e empregadores quanto ao cumprimento
dessas normas e fiscalizá-las, impondo sanções administrativas pelo seu
descumprimento. Essas sanções vão desde a aplicação de multas pecuniárias
previstas no art. 201 da CLT até a interdição do estabelecimento, setores de
serviços, maquinários e equipamentos ou embargo de obras, todos previstos
em lei (art. 161 CLT).
56
Cabe ao Sistema Único de Saúde – SUS a tarefa de executar as ações de
vigilância sanitária e epidemológica, bem como as de saúde do trabalhador e
colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho,
conforme dispõe o art. 200, incisos II e VIII, da CRFB/88. Essa tarefa deve ser
executada em conjunto e harmonia com o Ministério do Trabalho e Emprego,
com os Centros de Referência de Saúde do Trabalhador e outros órgãos
incumbidos da tutela ambiental do trabalho. Aos sindicatos, como legitimados
representantes das categorias obreiras, cabe a defesa dos direitos e interesses
coletivos ou individuais daqueles trabalhadores, inclusive em questões judiciais
e administrativas, conforme estampado em letras de fogo na CRFB/88, em seu
art. 8º, inciso III, o que inclui o meio ambiente do trabalho. Não pode-se
esquecer do papel importante das CIPAs – Comissões Internas de Prevenção
de Acidentes, cujos representantes eleitos pelos trabalhadores têm garantia de
emprego para bem cumprirem o seu papel (ADCT, art. 10, inciso II, letra a).
No aspecto judicial, assegura a lei nº 7.347/85, em seu art. 5º c/c o art. 129,
parágrafo 1º da Lei Maior, a co-legitimação ativa da União, Estado, Distrito
Federal, Municípios e demais órgãos públicos da Administração direta, do
Ministério Público e das sociedades civis para a defesa dos interesses
metaindividuais e, entre eles, inclui-se o meio ambiente do trabalho.
Apesar de todo o manancial legislativo e de instrumentalização do meio
ambiente, o Brasil ainda é detentor de triste recorde de acidentes do trabalho, o
que, mais uma vez, impõe uma ação conjunta, de forma tripartite entre Estado
(representado pelos mais diversos órgãos públicos), empregadores e
empregados numa verdadeira força-tarefa participativa na busca por melhores
condições de trabalho.
Decorrem ainda do princípio da participação, a informação e educação
ambiental, como assegura o inciso VI do parágrafo 1º, do art. 225, da
Constituição, cuja efetividade desse direito se dará através da promoção de
57
educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública
para preservação do meio ambiente. Cabe aos órgãos públicos, em todas as
esferas de poder e governo dar educação ambiental ao povo, em todos os seus
aspectos, incutindo no homem comum a idéia de um meio ambiente equilibrado
como sendo um direito natural e que a sua degradação atingirá toda a
sociedade.
1.8 - Princípio da Ubicuidade:
Para se ter uma noção do que é um meio ambiente equilibrado, é preciso
associá-lo aos demais setores da sociedade, exigindo uma cooperação de
forma global e solidária de todos os povos. Registre-se que a degradação do
meio ambiente na floresta amazônica vai afetar ao meio ambiente de forma
geral, trazendo conseqüências danosas para o mundo, tendo reflexos nos
lugares mais longínquos do planeta.
Quando nos referimos ao meio ambiente do trabalho, também não é diferente,
pois não se está se atendo àquele local de trabalho estritamente, mas às
condições de trabalho e de vida fora do trabalho, como conseqüência de uma
sadia qualidade de vida que se almeja para o ser humano, quando se fala em
meio ambiente do trabalho é importante pensarmos nas conseqüências de um
acidente de trabalho ou doença profissional que atingem o trabalhador, mas
este como ser humano, é preciso pensar nas conseqüências financeiras,
sociais e humanas para a vítima, mas também para a empresa e para toda a
sociedade, a qual em última instância, como já vimos sobejamente neste
trabalho, arca pelas mazelas sociais em todos os seus graus e as pectos.
Por conseguinte, a responsabilidade pela adequação e manutenção dos
ambientes de trabalho salubres e seguros é de todos e de cada um ao mesmo
tempo.
58
CAPÍTULO VII
MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E SAÚDE DO
TRABALHADOR NO DIREITO COMPARADO:
1.1 - Estados Unidos da América
A Lei mais importante sobre o meio ambiente do trabalho nos Estados Unidos é
a The Occupational Safety and Health Act of 1970 (OSH Act) Public Law nº 91-
596, é a Lei que trata da Proteção de Riscos e da Saúde de 1970 (Lei da OSH)
Lei Pública nº 91.596.
Esta lei atinge a todos os trabalhadores e sua proteção atinge os 50 Estados
americanos, o Distrito de Columbia, Porto Rico e outros territórios americanos.
A proteção é fornecida ou diretamente pela Administração de Proteção de
Riscos e da Saúde (Occupational Safety anda Health Administration – OSHA)
Federal ou por um plano Estadual de saúde e segurança no trabalho aprovado
pela OSHA. Empregados dos serviços dos correios também estão protegidos.
A Lei define o empregador como “qualquer pessoa envolvida em um negócio
envolvendo comércio que haja empregados, mas não inclui Estados Unidos ou
qualquer estado ou subdivisão política de um estado”. Desta forma, conclui-se
que a Lei se aplica a empregadores e empregados em áreas variadas, como
manufaturas, construção, trabalhos no porto/costa, agricultura, direito e
medicina, caridade e ajuda em desastres, trabalho organizado e educação
privada. Estão excluídas da proteção legal, aqueles que são empregados de si
mesmo, fazendas que empregam somente membros próximos da família do
fazendeiro, indústrias nas quais outra agência federal, operando sob a
autoridade de outras leis federais, regulam as condições de trabalho. Essa
categoria inclui a maioria das condições de trabalho na mineração, fabricação
59
de energia nuclear e armas nucleares e muitos outros aspectos das indústrias
de transporte, além de empregados do Estado e governos locais, a não ser que
estejam em um dos Estados com um plano de saúde e segurança aprovado
pela OSHA.
Esta lei reveste-se de um aspecto importante, à medida que concede aos
empregados vários direitos, entre eles, está o direito de reclamar à OSHA
sobre as condições de segurança e saúde em seu ambiente de trabalho e têm
suas identidade mantidas em sigilo perante os empregadores. Além de poder
contestar a quantidade de tempo em que a OSHA permite corrigir as violações
dos critérios e podem participar das inspeções da OSHA nos locais de trabalho.
Empregados dos setores privados que exercitam seus direitos sob a OSHA
podem ser protegidos contra represálias de empregadores, como descritas na
Seção 11 (c) da Lei da OSHA. Empregados devem notificar a OSHA dentro de
30 dias contando do dia que souberam da ação discriminatória alegada. A
OSHA investigará e se concordar que houve discriminação, pedirá ao
empregado para restituir qualquer benefício perdido ao empregado afetado. Se
necessário, a OSHA poderá levar o empregador ao Judiciário, ficando o
empregado, nesses casos, a isenção de custas judiciais.
1.2 - Argentina:
A Constituição da Nação Argentina de 1º de Maio de 1853 passou por sete
reformas e a última ocorreu em 22 de Agosto de 1994 e trata nos artigos 14,
28, 41 e 75 das garantias e direitos dos trabalhadores, além de leis esparsas,
tais como: A Lei nº 19.587, de 21.04.72, que trata da Higiene e Seguridade no
Trabalho. O Código do Trabalho Argentino, estipula em seu art. 89 que o
empregador implementará ações de formação profissional e/ou capacitação
com a participação dos trabalhadores e com assistência dos organismos
competentes do Estado. Frise-se que nesta formação/capacitação profissional
estão incluídas as questões atinentes aos riscos do trabalho. No Título IX o
tema da Duração do Trabalho e Descanso Semanal (arts. 196 a 207). A Lei nº
60
11.544, de 12.9.1929 trata do Regime Legal da Jornada de Trabalho, dispõe
que a duração do trabalho não poderá exceder de oito horas diárias e quarenta
e oito semanais para toda pessoa ocupada por conta alheia, seja empregador
público ou privado, ainda que não estejam sujeitos a lucro. A Ley de Contrato
de Trabajo determina que, entre uma jornada e outra, deve mediar uma pausa
de 12 (doze) horas. O art. 200 prevê redução para o trabalho noturno,
entendido como o realizado entre as 21 horas de um dia e as 6 horas do dia
seguinte. Quando se alternem horas diurnas com noturnas reduzir-se-á
proporcionalmente a jornada em 8 (oito) minutos a cada hora noturna
trabalhada, ou se pagará os 8 (oito) minutos de excesso como tempo
suplementar. O art. 216 diz que, em nenhum caso, se podem aplicar as
exceções no tocante à Jornada de Trabalho, horas-extras e ao repouso
semanal aos trabalhadores menores de 16 anos. Importante salientar a
promulgação da Lei da Flexibilização do Trabalho para as Pequenas e Médias
Empresas – Pymes.
A Pymes sancionada em 15 de março de 1995, se aplica às empresas de até
40 empregados, hoje responsáveis por 60% dos empregos na Argentina e
estabelece que o período de experiência, até então inexistente na legislação
portenha, passa a ser de 180 dias, prorrogável por acordo ou convenção
coletiva. Nesse período, as empresas passarão a recolher menos encargos
sociais. O 13º salário que era pago em duas parcelas, passou a ser pago
mensalmente, na base de 8,33% da remuneração, sem encargos sociais. A
indenização relativa à dispensa, que era equivalente a um salário por ano de
trabalho até o máximo de três salários, passou a ser de meio salário,
mantendo-se o mesmo teto. Quanto a jornada de trabalho, que era de oito
diárias e 48 semanais passou para até 12 horas diárias, desde que a média
semanal se mantenha em 8 horas diárias.
1.3 - Portugal:
61
A Constituição da República Portuguesa de 1976 já passou por 7 (sete)
revisões, a última em 2005. Os arts. 58 a 62 inseridos no Capítulo I, do Título
III, Parte I, dispõem sobre os direitos e deveres econômicos. O art. 58 enumera
o direito ao trabalho, o art. 59 dispõe sobre o direito dos trabalhadores. O
Código do Trabalho Português , instituído pela Lei nº 99/03, de 27 de agosto,
dispõe sobre Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho (Capítulo IV, do Título
II, arts. 272 a 280).
Os demais artigos referentes à matéria cuidam das obrigações, informação,
consulta, formação e os representantes dos trabalhadores, dos serviços de
segurança, higiene e saúde no trabalho e sobre a inspeção geral do trabalho.
1.4 - Alemanha:
A Constituição da República Federativa da Alemanha (GG – Grundgesetz) foi
promulgada em 23 de maio de 1949. A antiga República Democrática da
Alemanha dela tomou parte, em 3 de outubro de 1990, após a queda do muro
de Berlim e a abertura do portão de Brandemburgo.
O texto constitucional possui 146 artigos e em seus artigos 74, $$ 20 e 24,
prevê a competência concorrente entre a União e os Estados para legislar
sobre direito ambiental de um modo geral. O direito ambiental alemão surgiu há
centenas de anos e pode-se citar o “direito da água”, surgindo outros após a
criação da União Européia, nos primeiros 70 anos do século XX.
Atualmente, a legislação ambiental alemã é formada basicamente por um
Código, que é dividido em atos legislativos específicos, como se fossem
capítulos, cada qual tratando de um determinado assunto, como proteção da
natureza, proteção da arte, proteção da água, do solo, do clima, do ar, da
energia, proteção de florestas, regramento sobre energia elétrica, regramento
sobre dejetos, emissão de gases, energia atômica, produtos químicos e
poluição sonora.
62
O “Ato da Avaliação de Impactos Ambientais” publicado em 12 de fevereiro de
1990, e emendado em 18 de agosto de 1997, é formado por 20 artigos, que
tratam basicamente sobre a sua finalidade, definição de avaliação de impactos
ambientais, áreas de aplicação, provisões estatutárias, espaço provável de
exame, autoridades competentes para tal, da participação do público, da
proteção de segredos e dados, dos impactos ambientais e do estudo do
impacto ambiental e do procedimento de estudo de impacto ambiental. O art. 2º
deste instrumento descreve que a avaliação dos impactos ambientais
representa uma parte integral dos procedimentos aplicados por autoridades
quando da aprovação de projetos. A avaliação do impacto ambiental
compreende, para o caput deste art. 2º a descrição, avaliação e identificação
de efeitos de um projeto sobre seres humanos, o que pode levar a uma
interpretação de forma extensiva que inclua a possibilidade de EIA
(Umwellverträglichkeitsprüfung – UVP) no direito alemão em meio ambiente do
trabalho, assim como animais, plantas, água, solo, ar, clima e paisagem,
incluindo interação individual que possa ocorrer, além de recursos materiais e
bens culturais. As avaliações de impacto ambiental são produzidas com a
avaliação do público em geral. Se há uma decisão para a aprovação do projeto,
as avaliações individuais realizadas nesse procedimento estarão compiladas
para fornecer uma avaliação total de todos os impactos ambientais, inclusive
suas interações.
Pelo que se infere, de todas as legislações verificadas neste capítulo,
nenhuma, salvo o Código de Trabalho Português, trata da questão do meio
ambiente do trabalho e, nem tampouco faz qualquer co-relação com o impacto
ambiental causado pela atividade humana produtiva. O Brasil, ao revés, está
mais evoluído em termos de legislação, conforme se verificou no decorrer
deste trabalho, mais especificamente quando se trata dos capítulos da CLT
destinados a essas matérias.
63
CAPÍTULO VIII
A REPARAÇÃO DOS DANOS AO TRABALHADOR NO
MEIO AMBIENTE DO TRABALHO:
1.1 - Conceito de Dano: O vocábulo Dano, vem do latim damnum, e significa
um malefício ou ofensa que uma pessoa causa a outra, ocasionando um
prejuízo ao seu patrimônio. O dano, na verdade, assume uma amplitude muito
mais abrangente, pois significa, que além de causar uma diminuição de um
patrimônio material, ou ofensa de um bem juridicamente protegido, como o
dano moral, que envolve a liberdade, a intimidade, a imagem e a honra das
pessoas, individual ou coletivamente consideradas. Destarte, há que se
reconhecer que o dano é a ofensa a um patrimônio material ou moral protegido
pelo Direito, suscetíveis de valoração econômica .O dano ambiental, constitui-
se num instituto novo e uma definição de dano nesta seara do direito ainda é
difícil de ser dimensionada, é na verdade, uma lesão causada por ação
humana, culposa ou não ao meio ambiente e, nesta definição, pode-se inferir
que o meio ambiente do trabalho também se inclui nesta definição. Aqui, como
no Direito Ambiental de uma forma geral, independe se houve ou não intenção,
a responsabilidade é objetiva e tanto faz se o ato é lícito ou ilícito, está fundado
no risco da atividade, como preconiza o art. 225, $ 3º da CRFB/88, o que
interessa é a existência de dano real ou iminente, considerado este último
como uma ameaça a direito protegido, de acordo com o art. 5º, inciso XXXV. É
importante notar que qualquer dano ao meio ambiente, atinge um universo de
seres: animais, vegetais, por isso o seu caráter difuso, provocam danos
patrimoniais (materiais) e extra-patrimoniais (morais), coletivos e individuais.
Os danos patrimoniais são passíveis de reconstituição ou recuperação do
ambiente agredido e, caso não seja isso possível, caberá a compensação
pecuniária.
64
1.2 - Dano moral individual e Coletivo: O dano moral ambiental pode ser
individual, quando atingir o patrimônio moral de uma determinada pessoa, bem
como o coletivo, neste caso, quando são violados os bens da personalidade de
um determinado grupo.
A CRFB/88 em seu art. 5º, incisos V e X c/c art. 186 do Código Civil assegurou
esta proteção ao dano moral individual quando há violação à intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando, por via de
conseqüência, a devida indenização. No entanto, no que concerne ao Dano
Moral Coletivo, ainda pairam muitas dúvidas, à medida que não há um conceito
legal definindo o tema, nem tampouco, a doutrina já se posicionou de forma
uníssona sobre o conceito, pode-se porém, partindo do conceito do dano moral
individual afirmar que o dano moral coletivo é a violação transindividual dos
direitos da personalidade, é a lesão ao direito da coletividade.
A nossa legislação abriga a responsabilização por danos patrimoniais e morais,
causados ao meio ambiente e ao consumidor, à ordem urbanística, aos bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e a qualquer
outro interesse difuso ou coletivo, e pode-se citar entre eles, a Lei nº 7.347/85.
Também o CDC em seu art. 6º, incisos VI e VII assegura de maneira
inequívoca a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos.
É certo que, até mesmo a pessoa jurídica está sujeita à ofensa moral e tem sua
proteção legal estampada nos Diplomas Legais, o dano moral coletivo, atinge o
direito de personalidade de caráter difuso, que tem como marcante a união de
determinadas pessoas, a comunhão de interesses difusos e a indivisibilidade
dos direitos e interesses violados, à medida que quando ocorre um dano
envolvendo esses atores, atinge-se não só a um grupo pequeno, específico,
mas a toda coletividade de forma indiscriminada, tornando-se difuso, ocorrendo
nos casos de danos ambientais, uma magnitude de incalculáveis proporções.
65
Destarte, é preciso que o fato reverta-se numa causa que provoque repulsa,
intolerância social, sensação de indignação ou opressão da coletividade, que o
dano seja irreversível ou de difícil reparação e que esta lesão provoque
conseqüências danosas para a coletividade, tais como: rompimento do seu
equilíbrio social, cultural e patrimonial, afetando o sentimento de respeito que a
sociedade tem por determinados valores.
Fundamentação Jurídica: O art. 5º, da CRFB/88 em seus incisos V e X, como
visto acima, “asseguram o direito de resposta proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem” e o inciso X, dispõe que
“são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação”.
Por sua vez, o art. 186 do Código Civil de 2002 menciona que “aquele que, por
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito a causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
No que se refere ao dano moral coletivo, a legislação o abriga através da Lei nº
7.347/85, que no seu art. 1º e incisos dispõe: “Regem-se pelas disposições
desta lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por
danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente, ao consumidor, à
ordem urbanística, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico; a qualquer outro interesse difuso ou coletivo; por
infração da ordem econômica e da economia popular.
Também o art. 6º, incisos VI e VII da Lei nº 8.078/90, Código de Proteção e
Defesa do Consumidor, estipulam como direitos básicos do Consumidor: “ A
efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos (inciso VI), além de resguardar “ o acesso aos órgãos
judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou reparação de danos
patrimoniais ou morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção
jurídica, administrativa e técnica aos necessitados.”(inciso VII). Vale lembrar
66
que a Lei nº 8.069/90), mais conhecida como ECA, em seus arts. 3º, 5º e 17 c/c
o art. 201, incisos V, VI e IX, também dispõe acerca das reparações de âmbito
moral coletivo, além de outros diplomas legais.
1.3 - Dano moral no âmbito trabalhista: A esfera trabalhista é terreno fértil
para ocorrência de dano moral, seja individual ou coletivo. As ocorrências de
dano moral coletivo neste ramo do direito são inúmeras, quase que diariamente
nos deparamos com a televisão apresentando a ocorrência de trabalhadores
na condição análoga a de escravos, como os bóias-frias, por exemplo, além do
trabalho infantil, à discriminação da mulher, do negro, do deficiente físico etc.
1.4 - Dano ambiental moral no âmbito trabalhista: Constata-se esse tipo de
dano moral ambiental, com a simples contaminação do ambiente do trabalho e,
por via de conseqüência, dos trabalhadores, por um determinado produto
utilizado no ramo da atividade, minas de carvão, por exemplo. Numa segunda
hipótese, a contaminação ocorre no ambiente de trabalho e dos trabalhadores,
como o dos bóias-frias, que laboram em situações penosas, exaustivas ao
extremo. Na primeira situação, os trabalhadores podem vir a contrair câncer,
além de outras doenças de origem respiratória, o que ocasionará a morte
prematura de muitos desses trabalhadores e, na segunda hipótese, várias
doenças, entre elas os problemas de coluna, podendo ficar com seqüelas para
o resto de suas vidas, inclusive os impossibilitando de andar.
O Judiciário trabalhista já demonstrou, através de seus julgados, que está
sensível com estas questões e utiliza o seu poder jurisdicional para fazer com
que os responsáveis reparem os danos morais coletivos ao meio ambiente.
Senão vejamos decisão prolatada pelo TRT da 8ª Região:
EMENTA: “DANO MORAL COLETIVO: Uma vez configurado que a ré violou
direito transindividual de ordem coletiva, infringindo normas de ordem pública
que regem a saúde, segurança, higiene e meio ambiente do trabalho, é devida
a indenização por dano moral coletivo, pois tal atitude da ré abala o sentimento
67
de dignidade, falta de apreço e consideração, tendo reflexos na coletividade e
causando grandes prejuízos à sociedade” (Ac. TRT da 8ª Região, 1ª Turma –
RO 5309/2002; Relator: Juiz Luis Ribeiro, julgado em 17/12/2002; DO/PA de
19/02/02, CAD.3.p.1).
Transcrevemos decisão proferida neste sentido pelo Tribunal Superior do
Trabalho: EMENTA: “DANO MORAL COLETIVO. REPARAÇÃO.
POSSIBILIDADE. AÇÃO CIVIL PÚBLICA VISANDO OBRIGAÇÃO NEGATIVA.
ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA. RESCISÃO DE
CONTRATO ATRAVÉS DE ACORDOS HOMOLOGADOS NA JUSTIÇA. LIDE
SIMULADA. Resta delineado nos autos que a postura da empresa em proceder
ao desligamento dos empregados com mais de um ano de serviço, através de
acordos homologados na justiça, atenta contra a dignidade da justiça. A ação
civil pública buscou reverter o comportamento da empresa, na prática de lides
simuladas, com o fim de prevenir lesão a direitos sociais indisponíveis dos
trabalhadores. Incontroverso o uso da justiça do trabalho como órgão
homologador de acordos, verifica-se lesão à ordem jurídica , a possibilitar a
aplicação da multa em razão do dano já causado à coletividade. Houve o
arbitramento de multa de R$ 1.000,00 por descumprimento das obrigações
negativas determinadas na ação civil pública: abster-se de encaminhar os
empregados à Justiça do Trabalho com a finalidade de obter homologação de
rescisões contratuais, sem real conflito entre as partes. Tal cominação não
impede que o dano moral coletivo inflingido em face da prática lesiva da
homologação de acordos trabalhistas, utilizando-se do aparato judiciário com
fim fraudulento, seja reparado, com multa a ser revertida ao Fundo de Amparo
ao Trabalhador, pelos danos decorrentes da conduta da empresa. Recurso de
revista conhecido e provido para restabelecer a sentença que condenou a
empresa a pagar o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) a título de
indenização a ser revertida ao FAT (PROC. TST-RR nº 1156/2004-004-03—00-
9. Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, DJ, de 1º.11.06)
68
1.5 - Legitimação Ativa: É bom ressaltar que a Ação Civil Pública não é
instrumento exclusivo do Ministério Público, havendo outros legitimados, entre
eles o Sindicato da categoria obreira, consoante disposto no art. 129, $ 1º, da
CRFB/88. A lei nº 7.347/85, em seu art. 5º lista todas os legitimados a propor a
Ação Civil Pública (Principal), bem como a cautelar, com exceção do MP todos
os demais têm que demonstrar esse interesse. No que concerne à Defensoria
Pública, sua legitimidade para agir em nome próprio com o fim de propor Ação
Civil Pública está sendo questionada perante o STF :
I – Ministério Público;
II – Defensoria Pública;
III – União, Estados, Distrito Federal e os Municípios;
IV – Autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V – Associação que reúna os seguintes requisitos:
a) Esteja constituída há, pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) Inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Na forma do parágrafo 1º, o Ministério Público, se não intervier no processo
como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei, ou seja, o “Parque”
sempre fará parte da Ação Civil Pública, quer como parte (órgão agente), quer
como fiscal da lei (órgão interveniente), pena de nulidade da decisão a ser
proferida.
69
É possível, segundo o parágrafo 2º da Lei, o ingresso do Poder Público e de
outras associações habilitarem-se como litisconsortes de qualquer das partes.
Também são admitidos na condição de litisconsortes facultativos os Ministérios
Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses
e direitos de que trata a Lei nº 7.347/85, em seu $ 5º.
Frise-se que numa mesma ação coletiva pode-se pedir reparações por danos
coletivos, difusos e individuais homogêneos. Porém, em sendo pleiteadas
apenas as duas primeiras, e, se procedentes os pedidos, as vítimas individuais
do dano poderão proceder à liquidação e execução das indenizações
individuais, mediante certidão de trânsito em julgado da decisão, consoante
preconiza o $ 3º do art. 103, do Código Consumeirista.
1.6 - Legitimação passiva: Pertencem à categoria dos legitimados passivos
nas ações coletivas por danos ao meio ambiente e à saúde do trabalhador
todos aqueles que causarem lesões aos interesses difusos, coletivos e
individuais homogêneos na esfera ambiental laboral ou que ameacem de lesão
tais direitos ou interesses (CRFB/88, art. 5º, inciso XXXV), quer sejam pessoas
física ou jurídica de direito público ou privado, neste último caso, na qualidade
de empregadores ou tomadores de serviços.
É importante citar que, além da responsabilidade direta, de natureza objetiva,
respondem solidariamente todos aqueles que, pela sua atividade, causarem
danos ao meio ambiente e à saúde do trabalhador ou potencializarem a criação
de riscos para este. A responsabilidade solidária abrange, no âmbito do direito
do trabalho, os danos ambientais ao trabalhador, as seguintes situações:
a) dos grupos de empresas ($ 2º do art. 2º, da CLT);
b) das terceirizações de atividades e serviços;
70
c) das intermediações da mão-de-obra;
d) Poder Público (art. 225, da CRFB/88 e Lei nº 6.938/81)
O Estado também responderá quando se omitir de um dever legal de evitar a
ocorrência de um dano, deixando de exercer o poder de polícia, que é inerente
à sua função. Neste caso, porém, a responsabilidade é subjetiva, devendo-se
comprovar a culpa do Estado na ausência de um serviço ou de seu mau
funcionamento (art. 225 c/c art 155 e 200, incisos II e III, da CLT e Portaria nº
3.214).
1.7 - Competência para Julgamento: Atualmente quando a iniciativa da
defesa do meio ambiente do trabalho e da saúde do trabalhador decorre do
Parquet, o procedimento é o seguinte: instauram-se os Procedimentos
Preparatórios e Inquéritos Civis, realizando-se após as Audiências Públicas e,
não obtendo êxito, ajuízam-se as Ações Civis Públicas, com as
recomendações à Justiça do Trabalho do que deve ser feito a título de
prevenção e reparação daquele meio ambiente do trabalho.
Antes da EC nº 45/04 havia dúvida sobre a competência para o julgamento dos
litígios dessa natureza, ou seja, era discutível a competência da Justiça do
Trabalho para apreciar as ações coletivas sobre prevenção ambiental e demais
questões decorrentes das relações de trabalho. Na época, o TST e o STF
decidiram a favor dessa Justiça Laboral. Abaixo, transcrevemos decisão
exarada pelo Egrégio Tribunal Superior do Trabalho:
EMENTA: “A JUSTIÇA DO TRABALHO. COMPETÊNCIA. Tratando-se da
defesa de interesses coletivos e difusos no âmbito das relações laborais, a
competência para apreciar a Ação Civil Pública é da Justiça do Trabalho, nos
termos do art. 114, da CRFB/88, que estabelece idoneidade a esse ramo do
judiciário para a apreciação, não somente dos dissídios individuais e coletivos
entre trabalhadores e empregadores, mas também de outras controvérsias
71
decorrentes da relação de trabalho.” (Processo nº TST-RR-402.469/97.1,
acórdão, 5ª Turma. Rel. designado Min. Thaumaturgo Cortizo, DJU, de 7.8.98).
A EC 45/2004 que alterou o art. 114, da CRFB/88 ampliou a competência
dessa Justiça Especializada afastando, assim, qualquer eiva de dúvida sobre a
legitimação ativa para levar à apreciação do Judiciário Laboral todas as
questões que digam respeito aos riscos à saúde do trabalhador em geral, com
exceção dos servidores públicos estatutários, enquanto perdurar a liminar
concedida na ADIn de nº 3.395 proposta.
Em suma, todos aqueles entes que compõem a rede produtiva e beneficiária
do trabalho deverão responder solidariamente pelos prejuízos causados ao
meio ambiente do trabalho e à saúde do trabalhador, como decorre das
disposições do art. 225, caput, da CRFB/88 c/c arts. 932, inciso III, 933 e 942,
parágrafo único, do Código Civil.
Responsabilidade Civil por Danos Morais e Materiais no Meio
Ambiente do Trabalho:
Já vimos, anteriormente, a definição de dano e quando trata-se de danos
patrimoniais o mesmo pode ser valorado economicamente, enquanto que o
dano moral não pode tem valoração econômica, ficando ao alvedrio do Juiz
estipular o valor indenizatório, se convencido de que aquele que reclama
realmente, sofreu este tipo de dano e as conseqüências decorrentes. No caso
do dano ao meio ambiente do trabalho, diferentemente do que ocorre quando
há um dano ambiental, em que o ambiente deverá ser recuperado e, na
impossibilidade, caberá a percepção de um quantum indenizatório, o que se
requer, é a adequação dos locais de trabalho mediante a eliminação dos riscos
à saúde, à integridade física e psíquica dos trabalhadores. Desta forma, a
adoção de medidas coletivas e individuais específicas, de forma a eliminar os
riscos presentes e a prevenção dos mesmos para o futuro, se fazem
72
imperativas. No caso do meio ambiente do trabalho a situação reveste-se de
maior gravidade, eis que os prejuízos à saúde do trabalhador representam um
dano, na maioria das vezes, sem possibilidade de reconstituição, à medida que
já ocorreu o acidente de trabalho ou a doença ocupacional, muitas vezes
camuflada no organismo do obreiro que somente mais adiante vai mostrar os
sintomas, quando já é tarde para o tratamento específico do problema.
Destarte, o trabalhador poderá nesses casos, buscar a reparação por meio de
uma indenização individual por danos emergentes, seja material, moral e
estético e de lucros cessantes, ou seja, aquilo que deixou de ganhar, em razão
da lesão à saúde e integridade física e psíquica. Além disso, ainda cabe a
indenização por dano coletivo nas situações de ofensas que atinjam aquela
coletividade de trabalhadores, nos seus valores essenciais e fundamentais, tais
como a dignidade coletiva desses trabalhadores.
Natureza Jurídica da Responsabilidade Civil por Danos ao Meio
Ambiente do Trabalho:
A natureza jurídica da responsabilidade civil por danos ao meio ambiente do
trabalho e à saúde do trabalhador tem natureza jurídica tríplice, ou seja, de
reparação, de sanção e pedagógica para os atuais e para aqueles que possam
vir a ser degradadores. Destarte, no âmbito do meio ambiente do trabalho, não
importa se o ato perpetrado é lícito ou ilícito, se a atividade é legal ou ilegal, o
que ressurge como objeto principal a ser avaliado é se aquela atividade que
constitui um efeito danoso, pode vir a trazer prejuízos ao trabalhador e, caso
isso ocorra, impõe a norma jurídica que o causador do dano deverá arcar com
os prejuízos decorrentes daquele ato, respondendo independentemente de
culpa ou da intenção de causar prejuízo ao meio ambiente do trabalho.
73
Destinatário das indenizações:
No Direito do Trabalho, os recursos provenientes das indenizações por danos
coletivos ao meio ambiente do trabalho são revertidos, na maioria das vezes,
ao Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT. Esse fundo foi criado pela Lei nº
7.998/90 e tem por finalidade principal custear o Programa de Seguro-
Desemprego, o pagamento do Abono Salarial (PIS) e financiar programas de
desenvolvimento econômico e social voltados para o interesse dos
trabalhadores, além da realização de convênios com sindicatos de
trabalhadores para qualificação e requalificação profissional de trabalhadores e
de categorias que, pelo avanço tecnológico precisam readaptar a mão-de-obra.
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CONCLUSÃO:
Quando nos deparamos com o art. 225, da Lei Maior que assevera: “Todos
têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações” nos conscientizamos que é necessário mudar
o padrão de desenvolvimento desenfreado iniciado na Revolução Industrial e
nos permitir almejar um modelo que conjugue a sustentabilidade, o respeito ao
meio ambiente e a preocupação não só com as presentes, mas também com
as futuras gerações. O Brasil tem uma das mais ricas legislações acerca da
questão ambiental, principalmente na área do meio ambiente do trabalho e sua
proteção tem um amparo tão extenso, que vai da seara constitucional às
Convenções Internacionais, além do arcabouço contido nas normas
reguladoras do Ministério do Trabalho. No entanto, ainda registramos os mais
altos índices de acidentes do trabalho com mortes e invalidez permanente.
Destarte, impõe-se, além do arcabouço legal, investir mais em políticas
públicas, respeitar os diplomas legais já existentes e fiscalizar o seu
cumprimento. Um grande avanço foi a adoção do princípio do poluidor-
pagador no âmbito do meio ambiente do trabalho, ou seja, o acolhimento da
responsabilidade reveste-se pelo simples risco da atividade empresarial, sem
se questionar sobre a culpa ou não do agente, da ilicitude ou ilegalidade do ato.
No que pertine à prioridade da reparação específica do dano, registre-se que a
reparação compreende duas formas: o retorno ao estado anterior e a
reparação/compensação em dinheiro de forma sucessiva, primeiro, buscando-
se a recomposição do dano e, somente na impossibilidade, fixando-se uma
compensação indenizatória. Essa indenização é genérica pelo dano já causado
ou simplesmente compensatória, em não sendo possível a sua recomposição.
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Mas ainda estamos longe de ter um ambiente do trabalho sem riscos à saúde
do trabalhador, o próprio art. 160, da Consolidação das Leis do Trabalho que
dispõe : “ Nenhum estabelecimento poderá iniciar suas atividades sem prévia
inspeção e aprovação das respectivas instalações pela autoridade regional
competente em matéria de segurança e medicina do trabalho” não conta com
uma efetiva aplicação e, muitas vezes, os estabelecimentos iniciam suas
atividades sem ter passado pelo crivo dos fiscais do trabalho e, na ocorrência
de um acidente ao trabalhador, é que as autoridades se dão conta da ausência
do Estado nesse tipo de fiscalização.
Não resta balda de dúvidas que faltam profissionais competentes para efetivar
o cumprimento do permissivo legal e, no que concerne ao meio ambiente do
trabalho, o artigo do Texto Consolidado omite-se no que se refere à questão
ambiental do trabalho, que, entre tantas, ressalta-se a prevenção da Síndrome
do Edifício Doente, por exemplo, que preza pela qualidade do ar interior em
ambientes climatizados artificialmente, de uso público e coletivo, cujo
desequilíbrio poderá causar danos à saúde dos seus ocupantes, conforme
estipula a Resolução RE nº 09, da Anvisa, mas que carece de efetiva aplicação
e fiscalização.
Como vimos, o Brasil conta com uma das legislações mais avançadas do
mundo na questão ambiental do trabalho, o seu manto protetor é abrangente,
mas padece de uma maior efetivação em sua aplicabilidade e uma fiscalização
eficiente. Somente após tomarmos medidas efetivas e aplicarmos a lei em sua
plenitude, poderemos ter, como identifica o grande jurista português José
Joaquim Gomes Canotilho, um Estado ambiental de direito, que representaria o
estágio mais avançado do Estado democrático de direito.
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Editora e ano)
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