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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
LICENCIAMENTO AMBIENTAL
Por: Rosangela Lattanzi
Orientador:
Prof. Dr. Willian Lima Rocha
Rio de Janeiro
2009
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
LICENCIAMENTO AMBIENTAL
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como
condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-
Graduação “Lato Sensu” em Direito Ambiental.
Por: . Rosangela Lattanzi
3
AGRADECIMENTOS
ao meu orientador Profº. .Willian Lima
Rocha, pela forma paciente em que
conduzia e orientava o meu trabalho.
Ao Profº. Francisco Carrera pela
didática com que ministrava suas
aulas, tornando-as a cada dia mais
instrutivas e motivadoras.
4
DEDICATÓRIA
a minha família e em especial ao
pequeno Breno que a cada dia nos
enche de alegria.
5
RESUMO
O presente trabalho busca compreender o instrumento mais importante
da Política Nacional do Meio Ambiente: O Licenciamento Ambiental.
Numa visão geral, se pretende demonstrar o que é o Licenciamento
Ambiental e para que serve.
Inicialmente serão abordados como a humanidade historicamente
evoluiu para a conscientização ambiental. Em seguida, será demonstrado
como a reformulação da legislação foi um instrumento importante de proteção
ao meio ambiente.
Com o objetivo de melhor compreender o Licenciamento Ambiental é
feita uma análise de todo o seu procedimento. Definindo conceito, os tipos de
licenças obtidas durante o processo de licenciamento, os passos para sua
obtenção, os prazos de validade de cada licença, a competência e os critérios
para sua definição, os estudos ambientais necessários e por fim como o
licenciamento é importante para a evolução econômica, sendo certo que a
criação de uma Lei Complementar para dirimir conflitos e a estruturação de
todos os níveis dos Poderes da Administração Pública seria a resposta para
que o Licenciamento Ambiental não fosse desestimulante para novos
empreendimentos.
6
METODOLOGIA
A pesquisa foi feita através da leitura de livros, pesquisa bibliográfica, sites da
internet.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - 10
7Fenômenos do ambientalismo:O Movimento Histórico da Transformação Civilizatória. 1. Da Conscientização Ambiental 12 1.1Da formulação da Legislação Ambiental - Dos Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. 15 CAPÍTULO II - 18
Particularidades sobre o Meio Ambiente e o
Licenciamento Ambiental
1.Conceito Normativo 20
CAPÍTULO III – 22
Licenciamento Ambiental e Licença Ambiental
1. Tipos de Licença Ambiental 22
1.1.Das Espécies de Licença Ambiental 23
1.2.Passos para obtenção das Licenças Ambientais 26
1.3 Etapas do procedimento do Licenciamento
Ambiental 27
1.4.Prazo de Validade para cada tipo de Licença 29
CAPÍTULO IV - 31 Da Competência para o Licenciamento Ambiental 1.Distribuição de Competência para o Licenciamento Ambiental 1.1 Critérios para definição de competência: Dominialidade do Recurso Natural ou Abrangência do Impacto 33 CAPÍTULO V - 36 Os Estudos Ambientais para o Licenciamento Ambiental CAPÍTULO VI - 39 Licenciamento Ambiental como Instrumento imprescindível na evolução econômica CONCLUSÃO 42 BIBLIOGRAFIA 45
INTRODUÇÃO
Para proteger o meio ambiente, foi institucionalizado o Licenciamento
Ambiental como medida preventiva e corretiva. Ele é um processo obrigatório,
8definido em lei, representando uma intervenção do Poder Público nas
atividades empresariais.
É o instrumento mais importante da Política Nacional do Meio Ambiente,
pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação,
ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de
recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou
daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental.
É através da licença que o empreendedor inicia o seu contato com o
órgão ambiental e passa a conhecer suas obrigações quanto ao adequado
controle ambiental de sua atividade. O Licenciamento possui uma lista de
restrições ambientais que devem ser seguidas pela empresa.
No Brasil nos últimos anos aumentou muito a discussão sobre o impacto
do processo de Licenciamento ambiental na realização de novos e importantes
investimentos.
O longo caminho do processo de Licenciamento Ambiental
especialmente devido a demora na análise dos pedidos de licença e os
requisitos exagerados da regulamentação ambiental são motivos de
inviabilidade de investimentos.
Neste ponto convém questionar: O licenciamento Ambiental é um
incentivo para os investimentos ou a exigência do licenciamento ambiental
desestimularia atividades empresariais?
Por certo que a criação de uma Lei Complementar a fim de afastar as
dúvidas sobre a competência para licenciar as atividades, bem como a
estruturação de todos os níveis da administração pública federal, estaduais e
municipais, seriam meios pelo qual se estaria diminuindo a demora na
concessão do licenciamento ambiental.
9
CAPÍTULO I
FENÔMEMOS DO AMBIENTALISMO: O MOVIMENTO
HISTÓRICO DA TRANSFORMAÇÃO CIVILIZATÓRIA.
A manifestação a favor do meio ambiente vem assumindo as mais
diversas modalidades. Elas invadem a pesquisa de campo e a análise
laboratorial, fazem-se presentes em associações de bairro e propiciam até
mesmo a formação de partidos políticos específicos. É que o chamado
movimento ecológico se impõe, e cada vez mais, como um problema que se
estende a ponto de atingir as próprias raízes do homem e de sua
sobrevivência. E tudo é medido pela gravidade crescente das conseqüências
daquilo que o homem faz com a natureza e consigo mesmo: freqüentemente, o
resultado chega a tocar a calamidade.
Não foi o aparecimento do homem que introduziu o fator de
transformação na natureza. Sem sombra de dúvida, a vida, já na sua origem,
organizou-se em populações, comunidades e ecossistemas, e estes se
mantêm em contínua evolução, ou seja, desaparecem, constituem-se e se
transformam. Portanto, a vida sempre esteve enfrentando crises. No entanto, a
crise atual tem raiz antrópica e de proporções gigantescas, se comparadas
àquelas crises naturais pré-homínidas e até mesmo pré-industriais.
As sociedades nômades, tribais e algumas civilizadas, em que pese
transformarem a natureza, são também modificadas por ela. Trata-se de
grupos, cuja tecnologia rudimentar não infringe, de modo irreversível, os
processos naturais.
As sociedades “sapiens simples”, onde as tecnologias transgrediram as
regras ecológicas e também romperam, em diferentes níveis, o controle
místico-ideológico de bem natural, geraram crises ambientais.
Historicamente, a tradição judaico-cristã parece ter dado início ao
processo de dessacralização da natureza.
10A consolidação da burguesia, no final do século XI, e a embriogênese
do capitalismo, ao transformarem as atividades mercantilistas, eliminarem mais
alguns pilares de sacralidade da natureza.
Nos séculos XV e XVI o capitalismo comercial demonstra grande vigor,
impulsionando pela ávida demanda de mercadorias.
A revolução científica, no século XVII, institui uma feição mecanicista à
natureza, despojando-a completamente de qualquer vestígio de sacralidade,
seja de concepção teológica, filosófica ou ideológica. Nomes destacados como
Francis Bacon, Isaac Newton e principalmente René Descartes conferem ao
universo uma ótica cibernética, mecanicista onde engrenagens funcionam
harmonicamente.
O sistema econômico, comandado pela alta burguesia, imprime o ritmo
do sistema produtivo, operado pela massa proletariada. O “modus operandi”
deste supersistema considera a natureza como amplas e inesgotáveis reservas
de matéria-prima e energia. Entendem, também, que o sistema natural é
completamente apto e capaz de assimilar e processar todas as formas de
poluição decorrentes das atividades produtivas e urbanas.
No final do milênio, finalmente a humanidade começa a tomar
consciência da crise ambiental. Reconhecidamente a depleção e eliminação de
recursos naturais participam do aumento de probabilidade de riscos globais.
11
1 - Da Conscientização Ambiental
A partir da década de 70 começa um movimento de conscientização da
necessidade de se preservar o Meio Ambiente, como forma de afastar os
riscos de até uma possível extinção humana. Observa-se, que o progresso, o
desenvolvimento tecnológico e industrial, o crescimento populacional e a
urbanização, muitas vezes desordenada, acabam por provocar profundas
alterações aos ecossistemas naturais. Em muitos casos, as interferências que
visam beneficiar o ser humano podem resultar em profundas modificações,
causando sérios prejuízos ao Meio Ambiente. O grande desafio que se coloca
é que se alcance o equilíbrio entre a utilização dos recursos naturais, que
gerarão a energia necessária ou servirão de insumos para o desenvolvimento
tecnológico, o crescimento populacional e a poluição que fatalmente ocorrerá.
Este movimento teve inicio com o Clube de Roma, quando trinta
especialistas de várias áreas da ciência se reuniram em Roma com o objetivo
de discutir a crise e o futuro da humanidade. O resultado deste trabalho foi
publicado em 1972`”The Limits of Growth”, onde se alertava que o crescente
consumo mundial levaria a um limite de crescimento e possivelmente a um
colapso. Neste mesmo ano de 1972 em Estocolmo, Suécia, ocorreu a
Conferencia da ONU sobre o Meio Ambiente, conferindo o direito ao homem
de viver em um ambiente ecologicamente equilibrado e a categoria de Direito
Humano de “terceira geração”, sendo que pela primeira vez a Educação
Ambiental foi reconhecida como elemento vital para a conscientização da crise
ambiental mundial (Rivoir, 1998).
A Década de oitenta foi marcada pela difusão da consciência ambiental
expressa tanto em termos do crescimento das associações ambientais, como
de um maior espaço na mídia. O crescimento da consciência ecológica teve
uma influência direta na formulação da legislação ambiental, afetando
indelevelmente a Constituinte.
12A comissão Mundial sobre o Meio Ambiente, conhecida como Comissão
Brundtland produziu em 1987, o relatório “Our Common Future”, documento
que ressalta a importância da busca do equilíbrio entre desenvolvimento e
preservação dos recursos naturais. Ou seja, a economia global e a ecologia
estão inexoravelmente interligadas. Esta publicação permitiu difundir o conceito
de Desenvolvimento Sustentável (Sustentado), definido como “aquele que
atende as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as
gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”.
Este conceito se apóia em três aspectos principais: crescimento
econômico, equidade social e equilíbrio ecológico. A humanidade tem como
desafio gerenciar o planeta, comprometida com as bases do desenvolvimento
sustentável.
Durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento realizado no Rio de Janeiro em 1992, conhecida como Rio
92, os 170 (cento e setenta) países presentes assumiram o compromisso de
internalizar nas políticas publicas de seus países, as noções de
sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. A agenda 21 surgiu para
tentar organizar através de um documento este processo de transformação, a
partir da definição de alguns temas, como por exemplo, Agricultura
Sustentável, Cidades sustentáveis, Gestão de Recursos Naturais, redução das
Desigualdades Sociais, Ciência e tecnologia para o Desenvolvimento
Sustentável.
A implantação da Agenda pressupõe a conscientização dos cidadãos
sobre o papel ambiental, econômico, social e político. Uma nova Conferência
ocorreu em 2002, em Johanesburgo, África do Sul, denominada de Rio+10. A
plataforma principal dos países latino-americano e caribenho reivindica os
compromissos da Rio 92 especialmente quanto à transferência de recursos e
de tecnologia, à repartição dos benefícios do uso sustentável da
biodiversidade, e à abertura do mercado dos países industrializados para os
13produtos dos países em desenvolvimento. Defendem uma globalização, que
garante um desenvolvimento equitativo, inclusivo e sustentável.
14
1.1 - Da formulação da legislação ambiental – dos instrumentos
da política nacional do meio ambiente.
No Brasil no ano de 1974 foi criada a Secretaria Especial de Meio
Ambiente. Nesse mesmo ano ocorreu a criação de um mecanismo institucional
para tratar das questões ambientais no âmbito das Nações Unidas que é o
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) com sede na
cidade de Nairóbi, Quênia.
Em 1981 nasce a Lei 6.938/81 que define a Política Nacional de Meio
Ambiente, objetivando “a preservação, a melhoria e a recuperação da
qualidade ambiental, visando assegurar condições ao desenvolvimento
socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade da vida humana”.
Entre os objetivos disponíveis para a consecução desse objetivo
encontrasse o licenciamento de atividades potencialmente poluidoras. Para
melhor compreensão da importância do licenciamento, faz-se necessária a
definição do que seja poluição a luz do Art. 3º inciso III da referida Lei,
significa: a degradação da qualidade ambiental que possa resultar em prejuízo
à saúde, ao bem estar da população, às atividades sociais e econômicas, à
biota, às condições estéticas e sanitárias do meio ambiente, bem como o
lançamento de matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos.
Importante ressaltar, que todas as atividades humanas das quais resulte
modificação adversa que possa causar prejuízo imediato ou em conseqüência
das quais exista risco de ocorrência futura estão sujeitas ao controle dos
órgãos competentes, conforme disposto nas normas correspondentes.
Objetivando uma maior integração e coordenação da Política Ambiental
em nível nacional e a compatibilização das atuações federal, estadual e
municipal, a Lei nº 6.938/81 cria o Sistema Nacional de Meio Ambiente –
15CONAMA que passa a ser o órgão responsável pelo estabelecimento de
normas de critérios para o licenciamento ambiental.
Dentro da atuação do CONAMA, vale ressaltar a Resolução 001, que
vem submeter o Licenciamento ambiental de determinadas atividades
modificadoras do nosso meio ambiente à elaboração do EIA/RIMA (Estudo de
Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental), ambos devendo ser
submetidos aos órgãos estaduais competentes ou ao IBAMA, no caso de
atividades de competência federal estabelecida por Lei. Em 1987, o CONAMA
determina que os EIAS E RIMAS sejam discutidos em audiência pública. Esta
exigência só entrou em vigor três anos depois.
A Constituição de 1988 em seu Artigo 225 vem definir os deveres e os
direitos do Poder Público Nacional e ao mesmo tempo o da coletividade, em
relação à conservação do meio ambiente como bem de uso comum.
Representa ainda outro marco na Legislação Ambiental, sendo a primeira no
mundo a prever a avaliação dos impactos ambientais, sendo exigida pelo
Poder Público para a instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente.
A Resolução 237 de 19 de dezembro de 1997 do CONAMA
regulamentou em normas gerais, as competências para o licenciamento nas
esferas, federal, estadual e distrital, as etapas do procedimento de
licenciamento, entre outros fatores a serem observados pelos
empreendimentos passíveis de licenciamento ambiental, conferindo ainda ao
órgão ambiental a competência para a definição de outros estudos ambientais
pertinentes ao processo de licenciamento, em se verificando que o
empreendimento não é potencialmente causador de significativa degradação
ambiental.
A Lei nº 9.605/98 de Crimes ambientais vem complementar este
primeiro instante, elevando à condição de crimes aquelas condutas lesivas ao
meio ambiente, provenientes da não observância da regulamentação afeta ao
licenciamento ambiental.
16
17
CAPÍTULO II
PARTICULARIDADES SOBRE O MEIO AMBIENTE E O
LICENCIAMENTO AMBIENTAL
O meio ambiente é o conjunto de condições naturais influencias e
interações que atuam sobre os organismos ou seres vivos como os animais,
vegetais e os seres humanos, sendo dividido em meio físico como os fatores
abióticos ou não vivos, como luz, água, calor, etc. e meio biológico como os
fatores bióticos ou vivos como plantas e animais.
A poluição deve ser impedida. Deve-se adotar o principio da precaução.
A manutenção da integridade dos ecossistemas da Terra é necessária em uma
abordagem integrada, utilizando, quase sempre, as bacias hidrográficas dos
rios como unidade para o planejamento e controle do uso da terra. Os
ecossistemas naturais devem ser mantidos e os ecossistemas modificados
devem ser usados de maneira sustentável.
A conservação biológica deve ser realizada pelo estabelecimento e
manutenção de áreas protegidas, pela proteção de espécies e estoques
genéticos e por estratégias que combinem o uso econômico e conservação em
grandes áreas.
Para a utilização sustentável dos recursos biológicos, a exploração deve
ser regulada num estudo cuidadoso da existência de cada um e controlada de
forma que qualquer abuso possa ser rapidamente corrigido.
O Poder Público é legitimado como guardião do meio ambiente que é
qualificado como patrimônio público, sendo bem de todos e de ninguém em
particular, na definição de Edis Milaré.
Sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito
inalienável da coletividade, a Constituição Federal promulgou em 05 de
outubro de 1988, um capitulo inteiro dedicado ao meio ambiente, que é o artigo
18225, com os deveres e os direitos do Poder Público Nacional e ao mesmo
tempo o da coletividade em relação à conservação do meio ambiente como
bem de uso comum, definindo no capitulo VI e no §1º, inciso VI a temática da
avaliação do impacto ambiental, exigida pelo poder público para a instalação
de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação
ambiental.
Para proteger o meio ambiente e sendo incumbência do Poder Público
ordenar e controlar as atividades que possam afetar esse equilíbrio foi
institucionalizado o licenciamento ambiental, que atua como medida preventiva
e corretiva.
É o instrumento mais importante da Política Nacional do Meio Ambiente.
Através dele, o Poder Público busca exercer o necessário controle sobre as
atividades humanas que interferem nas condições ambientais.
Importante ressaltar, que todas as atividades humanas das quais resulte
modificação adversa que possa causar prejuízo imediato ou em conseqüência
das quais exista risco de ocorrência futura estão sujeitas ao controle dos
órgãos competentes, conforme disposto nas normas correspondentes, na lição
de Antonio Herman Benjamin.
O Licenciamento é um poderoso mecanismo para incentivar o diálogo
setorial, rompendo com a tendência de ações corretivas e individualizadas ao
adotar uma postura preventiva, mas pró-ativa, com diferentes usuários dos
recursos naturais. É um momento de aplicação da transversalidade, nas
políticas setoriais públicas e privadas que interfaceiam a questão ambiental; e
esta política é por definição, de compartilhamento da responsabilidade para a
conservação ambiental por meio do desenvolvimento sustentável do país.
19
1. - Conceito Normativo:
É na resolução 237 do CONAMA que se encontra o conceito de
Licenciamento Ambiental, senão vejamos:
“procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente
licencia a localização, instalação, ampliação e operação de empreendimentos
e atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas efetiva ou
potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam
causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e
regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.”
Também há previsão nos artigos 10, caput, da Lei 6.938/81 e 17 do
Decreto 99.274, de 6 de junho de 1990, a saber:
“A construção, instalação, ampliação e funcionamento de
estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais,
consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os capazes, sob
qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio
licenciamento por órgão estadual, competente, integrante do Sistema nacional
de Meio Ambiente – SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, em caráter supletivo sem prejuízo de
outras licenças exigíveis”.
Assim temos que o licenciamento é um instrumento que orienta o
empreendedor e previne que sejam consumados investimentos em
empreendimentos causadores de danos ao meio ambiente.
Na simplicidade da definição temos que a licença ambiental é o
documento, com prazo de validade definido, em que o órgão ambiental
estabelece regras, condições, restrições e medidas de controle ambiental a
serem seguidas, entre as principais características avaliadas no processo
podemos ressaltar: o potencial de geração de líquidos poluentes, despejos e
efluentes, resíduos sólidos, emissões atmosféricas, ruídos e potencial de
20riscos de explosões e de incêndios. Ao receber a Licença Ambiental, o
empreendedor assume os compromissos para a manutenção da qualidade
ambiental do local em que se instala.
CAPITULO III
21
LICENCIAMENTO AMBIENTAL e LICENÇA AMBIENTAL
Diversos autores, ao definirem o conceito de licenciamento ambiental,
estabelecem a concessão da licença ambiental como o seu objetivo ou a sua
fase final.
Para Celso Antônio Pacheco Fiorillo, o licenciamento ambiental é o
conjunto de etapas que integra o procedimento administrativo que tem como
objetivo a concessão de licença ambiental.
Segundo Silviana Lúcia Henkes e Jairo Antônio Kohl defendem que o
licenciamento é um procedimento ou um conjunto de atos cujo objetivo final é a
concessão da licença ambiental.
De fato, o licenciamento ambiental deve ser compreendido como o
processo administrativo no decorrer ou ao final do qual a licença ambiental
poderá ou não ser concedida.
1 – Tipos de Licença Ambiental:
A Resolução nº 237/97 do Conselho Nacional do Meio Ambiente –
CONAMA estabelece no seu artigo 8º, os tipos de licenças Ambientais
expedidas pelo Poder Público:
Licença Prévia (LP)
Licença de Instalação (LI)
Licença de Operação (LO)
1.1 – Das Espécies de licença Ambiental
22Licença Prévia: É a primeira etapa do licenciamento, em que o órgão
licenciador avalia a localização, a instalação e a operação, observados os
planos municipais, estaduais ou federais de uso do solo, atestando a sua
viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos para as próximas
fases. É nesta fase que deve ser solicitado, quando for o caso o Estudo do
Impacto Ambiental.
A licença prévia funciona como um alicerce para a edificação de todo o
empreendimento. Nesta etapa, são definidos todos os aspectos referentes ao
controle ambiental da empresa. De início o órgão licenciador determina, se a
área sugerida para a instalação da empresa é tecnicamente adequada. Este
estudo de viabilidade é baseado no Zoneamento Ambiental.
O zoneamento Ambiental é uma delimitação de áreas em que os
municípios são divididos em zonas de características comuns. Com base nesta
divisão, a área prevista no projeto é avaliada. Assim, esta avaliação prévia da
localização do empreendimento é importante para que no futuro não seja
necessária a realocação ou a aplicação de sanções, como multas e interdição
da atividade.
Nesta etapa pode ser requerido estudos ambientais complementares,
quando forem necessários, tais como EIA/RIMA E RCA. O estudo de Impacto
Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental - EIA/RIMA E RCA – É uma
exigência legal, instituída pela Resolução CONAMA 001/86, na implantação de
projetos com significativo impacto ambiental. Consiste em um estudo realizado
no local, mais precisamente no solo, água e ar para verificar se a área contém
algum passivo ambiental além de prever como o meio sócio-econômico-
ambiental será afetado pela implantação do empreendimento. O RCA –
Relatório de Controle Ambiental – é o documento que fornece informações de
caracterização do empreendimento a ser licenciado. Deverá conter: descrição
do empreendimento; do processo de produção; caracterização das emissões
geradas nos diversos setores do empreendimento como ruídos, efluentes
líquidos, efluentes atmosféricos e resíduos sólidos. O órgão ambiental, de
23acordo com a Resolução CONAMA 10/90, pode requerer o RCA sempre que
houver a dispensa do EIA/RIMA.
A Licença Prévia é uma espécie de luz verde para o empreendedor
poder prosseguir na elaboração do projeto e solicitar os financiamentos para o
empreendimento que, sem a Licença prévia, não serão examinados pelos
órgãos financiadores.
Licença de Instalação – LI: Uma vez detalhado o projeto inicial e
definidas as medidas de proteção ambiental, deve ser requerida a licença de
Instalação, cuja concessão autoriza o início da construção do empreendimento
e a instalação dos equipamentos.
A execução do projeto deve ser feita conforme o modelo apresentado.
Qualquer alteração na planta ou nos sistemas instalados deve ser formalmente
enviada ao órgão licenciador para avaliação.
Licença de Operação – LO: A licença de Operação autoriza o
funcionamento do empreendimento. Ela deve ser requerida quando a empresa
estiver edificada e após a verificação da eficácia das medidas de controle
ambiental estabelecidas nas condicionantes das licenças anteriores. Nas
restrições da Licença de Operação, estão determinados os métodos de
controle e as condições de operação, de acordo com o estabelecido nas
licenças anteriores, prévia e de instalação.
A licença de Operação, portanto, deve ser requerida quando o
empreendimento, ou sua ampliação, está instalado e pronto para operar
(licenciamento preventivo) ou para regularizar a situação de atividades em
operação (licenciamento corretivo).
Normalmente, as licenças prévia, de instalação e de operação integram
um processo, são precedidas de estudos de impactos ambientais e outorgadas
em etapas. Importa registrar que as licenças ambientais mais comum são as
três acima citadas, seguindo a Resolução nº 237/97 do Conama, não querendo
24dizer que não existam outras, mas não de menor importância, como é o caso
da Licença de Operação Corretiva (LOC).
Para o licenciamento corretivo (LOC), a formalização do processo
requer a apresentação conjunta de documentos, estudos e projetos previstos
para as fases de licença prévia, licença de instalação e na licença de
operação. Deve-se formalizar o pedido à entidade responsável pelo
licenciamento ambiental, onde se iniciará um processo administrativo que
culminará em visitas técnicas de pessoal desse órgão às usinas, que
juntamente com técnicos daquela empresa, verificarão como está a situação
que envolve o meio ambiente naquele empreendimento, se elaborando dessa
troca de informações, um Plano de Controle Ambiental (PAC).
É um estudo que levará em conta os anos de funcionamento da
empresa, bem como sua relação com o meio ambiente durante todo esse
período. Finalizando, a Resolução do CONAMA impõe que, no caso de
desativação os estabelecimentos ficam obrigados a apresentar um plano de
encerramento de atividades a ser aprovado pelo órgão ambiental competente.
Por fim não podemos deixar de citar a Licença Ambiental Simplificada
que se encontra prevista no parágrafo único do artigo 8º da Resolução do
Conama que poderá estabelecer um procedimento simplificado para as
atividades potencial ou efetivamente poluidoras de menor porte ou de menor
potencial ofensivo.
25
1.2 – Passos para a obtenção das licenças ambientais:
1. Identificação do tipo de licença ambiental a ser requerida;
2. Identificação do órgão a quem solicitar a licença;
3. Solicitação de requerimento e cadastro industrial disponibilizado pelo órgão
licenciador. identifica a fase e, conseqüentemente, o tipo de licença, que será
requerida, é necessário procurar o órgão licenciador e solicitar os formulários
de requerimento adequados;
4. Coleta de dados e documentos. Conforme o tamanho da empresa, a
tipologia e a fase do licenciamento, poderá haver diferenciação em relação aos
documentos e procedimentos exigidos.
5. Preenchimento do cadastro de atividade industrial. O cadastro de atividade
industrial é um documento com informações da empresa que descreve a sua
atividade contendo endereço, produto fabricado, fontes de abastecimento de
água, efluentes gerados, destino de resíduo e produtos estocados. Outros
documentos tais como o levantamento de plantas e a descrição dos processos
industriais deverão ser anexados ao cadastro de atividade industrial.
6. Requerimento da Licença – Abertura de processo. Preenchido o cadastro
industrial e anexados os devidos documentos, deve-se procurar o órgão
licenciador para a abertura do processo de licenciamento ambiental.
7. Publicação da abertura de processo. Quando da abertura do processo, o
empreendedor deverá promover uma publicação em jornal de circulação e no
Diário Oficial do Rio de Janeiro. Depois de realizada a publicação, no prazo de
30 dias deverá ser protocolado um ofício com as publicações junto ao órgão
licenciador.
26
1.3 - Etapas do Procedimento do Licenciamento Ambiental:
Em síntese, a primeira etapa o órgão ambiental definirá os documentos,
projetos e estudos ambientais pertinentes e necessários ao início do processo
de licenciamento de acordo com a licença a ser requerida. Neste caso
comparecendo o empreendedor pessoalmente ou através de notificação, deve-
se dar aquiescência àquele dos documentos necessários a instrução do
processo, concedendo-lhe um prazo para apresentação destes, que deverá ser
razoável, tendo em vista a necessidade de realização de alguns estudos.
Segundo a Resolução nº 237/97 os documentos e estudos necessários
ao procedimento do licenciamento ambiental, são a certidão da Prefeitura
Municipal, declarando que o local e o tipo de empreendimento ou atividade
estão em conformidade com a legislação aplicável ao uso do solo e, quando
for o caso, a autorização para supressão de vegetação.
A outorga para o uso da água; os estudos necessários ao processo de
licenciamento deverão ser realizados por profissionais legalmente habilitados,
às expensas do empreendedor.
Numa terceira etapa, o órgão ambiental deverá avaliar os documentos,
projetos e estudos, realizando as vistorias técnicas, quando necessárias. Após
esta avaliação, deve solicitar esclarecimentos e complementações. Embora a
Resolução diga que tais pedidos devam ser feitos uma única vez, permite a
reiteração do mesmo, caso não tenham sido satisfatórios.
A Resolução nº 237/97, no § 2º do artigo 10 permite novo pedido de
complementação pelo órgão ambiental, se verificada a necessidade e
mediante decisão motivada, com participação do empreendedor, nos casos de
exigência da realização do Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de
Impacto Ambiental EIA/RIMA e da audiência pública, em que tais
procedimentos não tenham sido satisfatórios.
27 Numa penúltima fase o órgão ambiental deverá emitir parecer técnico
conclusivo, motivando as razões que levaram a sua decisão e de parecer
jurídico, quando couber.
Por fim, define-se o deferimento ou não do pedido de licença, dando-se
a devida publicidade.
28
1.4 – Prazo de validade para cada tipo de licença:
O licenciamento ambiental deve ser prévio, conforme expressa
disposição do artigo 10 da Lei nº 6.938/81, isto é, anterior a construção,
instalação, ampliação ou funcionamento.
As licenças ambientais possuem prazos distintos quanto a sua validade
e que são assim determinados:
O prazo de validade da Licença Prévia deverá ser no mínimo, o estabelecido
no cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos relativos ao
empreendimento ou atividade, não podendo ser superior a 5 (cinco) anos.
O prazo de validade da Licença de Instalação deverá ser no mínimo, o
estabelecido pelo cronograma de instalação do empreendimento ou atividade,
não podendo ser superior a 6 (seis) anos.
O prazo de validade da Licença de Operação deverá considerar os planos de
controle ambiental e será de, no mínimo, 4 (quatro) anos, e, no máximo, 10
(dez) anos.
A licença prévia e a licença de Instalação poderão ter seus prazos de
validades prorrogados, desde que não ultrapassem os prazos máximos
estabelecidos acima.
Os órgãos ambientais poderão estabelecer prazos de validade
específicos para a Licença de Operação de empreendimentos ou atividades
que, por sua natureza e peculiaridades, estejam sujeitas a encerramentos ou
modificações em prazos inferiores.
A renovação da Licença de Operação deve ser requerida pelo
empreendedor com antecedência mínima de 120 dias da expiração de seu
prazo de validade, prevendo o § 4º do artigo 18 da norma do Conama que a
licença vincenda fica automaticamente prorrogada até a manifestação definitiva do órgão ambiental competente. Assim, protocolizado o pedido de
29renovação da licença no prazo estabelecido, mesmo que sejam feitas
exigências complementares, a autorização para a operação mantém sua
eficácia até sua renovação ou indeferimento do pedido.
30
CAPITULO IV
DA COMPETÊNCIA PARA O LICENCIAMENTO
AMBIENTAL
1 - Distribuição de competência para o Licenciamento
Ambiental
No Estado do Rio de Janeiro, atuam os três órgãos ambientais ao lado
com diferentes responsabilidades nas esferas Federal, Estadual e Municipal.
Na esfera federal o IBAMA é o responsável pelo licenciamento de
empreendimentos e atividades com significativo impacto ambiental de âmbito
nacional ou regional, a saber:
• localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país
limítrofe; no mar territorial; na plataforma continental; na zona
econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de
conservação do domínio da União;
• em dois ou mais Estados;
• cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do
País ou de um ou mais Estados;
• destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar,
armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que
utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações,
mediante parecer da Comissão nacional de Energia Nuclear – CNEN;
• bases ou empreendimentos militares, quanto couber, observada a
legislação específica.
31 Aos órgãos ambientais estaduais e do Distrito Federal, a Lei Federal
6.938/81 atribuiu a competência de licenciar os empreendimentos localizados
ou desenvolvidos em:
• em mais de um Município ou em unidades de conservação de
domínio estadual ou do Distrito Federal;
• nas florestas e demais formas de vegetação natural de
preservação permanente relacionadas no artigo 2º da Lei nº
4.771/65, e em todas as que assim forem consideradas por
normas federais, estaduais ou municipais;
• cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites
territoriais de um ou mais Municípios;
• delegados pela União, por instrumento legal ou convênio.
Compete aos Municípios o licenciamento ambiental de
empreendimentos e atividades com impactos ambientais locais, bem como
daquelas cujas competências forem delegadas pelo Estado por instrumento
legal ou convênio.
32
1.1 – Critérios para a definição de competência: dominialidade
do recurso natural ou abrangência do impacto:
A questão da competência e dos critérios utilizados são um dos fatores
de dificuldades sem levar em consideração uma confusa regulamentação
dentro do SISNAMA, que tem inúmeras fragilidades de ordem estrutural e em
uma outra ponta do sistema, constituem uma realidade ambígua que são as
normas estabelecidas pelo CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente –
e que tem a companhia de outros setores, com edições e publicações de
circulares, portarias e resoluções cuja eficácia e efetividade são frágeis, sem
abordarmos ainda o fato de que a sua validade é sempre questionável por
praticamente todos os envolvidos nesta seara.
Dentro deste contexto tornou-se comum o embargo de atividades
licenciadas por um integrante do SISNAMA, por outro órgão que se entende
competente para tanto, como também em áreas de competência claramente
demarcadas por normas que permanecem em pleno vigor após a Constituição
de 1988.
Neste sentido se sobrepõe o entendimento de Vladimir Passos de
Freitas ao afirmar que:
“Há – é inegável – disputa de poder entre os órgãos ambientais, fazendo com que, normalmente, mais de um atribua a si mesmo competência legislativa e /+material. Há, também, uma controvérsia histórica que jamais desaparecerá: o poder central está distante e desconhece os problemas locais; o poder local está mais próximo dos fatos, porém é influenciado e envolvido nos seus próprios interesses”.
A falta de Lei Complementar conforme previsto no artigo 23 da
Constituição Federal, para definir de quem é a competência para o
licenciamento ambiental é o que vem acirrando as disputas entre os poderes.
As próprias normas são contraditórias. Algumas utilizam a localização do
empreendimento ou da atividade como critério para definir a competência,
outras a abrangência de seu impacto. A Resolução do Conama nº 237/97
utiliza vários critérios, ao mesmo tempo.
33 Celso Antonio Pacheco Fiorillo, comentando o domíno dos bens
estabelecido pela Constituição, ensina:
Dessa forma, temos que a Constituição Federal, ao outorgar o domínio de alguns bens à União ou aos Estados, não nos permite concluir que tenha atribuído a eles a titularidade de bens ambientais. Significa dizer tão somente que a União ou o Estado (dependendo do bem), serão seus gestores, de forma que toda vez que alguém quiser explorar algum doa aludidos bens deverá ser autorizado pelo respectivo ente federado, porquanto este será o ente responsável pela “administração” do bem e pelo dever de prezar pela sua preservação.
Contrapondo-se a esta corrente Patrícia Azevedo da Silveira entende
que:
“a atribuição de competência deve, na verdade, transcender a interpretação gramatical ou a definição tipológica apresentada pelo legislador e atender ao peso do interesse predominante (nacional, regional ou local), somado à possibilidade de execução”.
A corrente doutrinária mais difundida defende a tese que a competência
para o licenciamento decorre da preponderância dos interesses ambientais
envolvidos.
A competência para o licenciamento ambiental é, certamente, um dos
assuntos mais palpitantes do direito ambiental brasileiro, pois a falta de precisa
regulamentação permite diferentes interpretações e aplicações, visto como se
encontra a situação dos seus limites nas esferas federal, estadual e municipal,
tanto no que concernem as atribuições de poder de polícia, como na ação
fiscalizadora.
Aqui temos uma situação inusitada ao vermos no cotidiano a prática da
lavratura de autos de infração, consignando multas que são embasadas na
discricionariedade do agente fiscalizador, as quais podem atingir valores
exorbitantes, sem que haja o procedimento normal que é a notificação, a
retificação ou complemento de documentos.
Em cada caso, no entanto, até que se estabeleça, definitivamente e de
forma insofismável, o papel de cada integrante do SISNAMA no licenciamento
ambiental, os casos de conflito devem ser analisados a luz das disposições
34constitucionais, da legislação ordinária existente, da analogia, dos princípios
gerais do direito e da jurisprudência já firmada pelo poder Judiciário como
define o Profº. Terence Dornelles Trennepohl em sua obra Licenciamento
Ambiental, 2008.
35
CAPITULO V
OS ESTUDOS AMBIENTAIS PARA O LICENCIAMENTO
Um ponto importante encontrado dentro da Política Nacional do Meio
Ambiente em que envolve o Licenciamento Ambiental, é o Estudo de Impacto
Ambiental que é regulamentado rela Resolução do Conama 001/86,
representando um corolário de informações, análises e propostas destinadas a
nortear a decisão da autoridade competente sobre a concordância ou não do
Poder Público com a atividade que se pretende desenvolver ou o
empreendimento que se buscar implantar.
Conforme a exigência da norma, os estudos ambientais devem ser
apresentados ao órgão licenciador acompanhados dos projetos e demais
documentos exigidos. Este, por sua vez, analisa, os estudos e realiza as
vistorias que julgar necessárias, solicitando, se for o caso, esclarecimentos
satisfatórios. Depois disso, não sendo exigível a audiência pública para o
licenciamento, o órgão ambiental competente emite parecer técnico e, quando
for o caso, parecer jurídico, conclusivos, deferindo ou indeferindo o pedido de
licença.
Importante ressaltar que a Resolução nº 9/87 do Conama, estabelece,
no seu artigo 2º, que a audiência pública com a finalidade de expor aos
interessados o conteúdo do EIA/RIMA, poderá ser exigida pelo órgão
licenciado ou por entidade civil, pelo Ministério Público ou por requerimento
subscrito por 50 (cinqüenta) ou mais cidadãos.
Torna-se também necessário evidenciar que o EIA/RIMA não se destina
a tornar possível o licenciamento ambiental, isto é, sua finalidade não é
justificar o empreendimento em face da legislação ou das exigências dos
órgãos ambientais.
O EIA deve contemplar todas as alternativas tecnológicas e de
localização do projeto, confrontando-o com a hipótese de sua não execução.
36É preciso que sejam demonstradas e analisadas, todas as alternativas
tecnológicas do projeto em questão.
Necessário ainda que o EIA inclua-se um diagnóstico ambiental da área
de influência e de estudos sobre o meio sócio-econômico - uso e ocupação do
solo, da água, de relações de dependências da sociedade local, dos recursos
ambientais e a potencial utilização no futuro destes recursos disponíveis, além
de contemplar as medidas mitigadoras e/ou compensatórias dos danos, que se
prevê.
Infelizmente, o que se tem visto em muitas oportunidades são estudos
ambientais que mais parecem defesas prévias do empreendimento contras as
normas ambientais, inclusive mediante a omissão de dados e informações
relevantes com a finalidade de conseguir as licenças ambientais. Diante dessa
prática, muito mais comum do que se imagina, os órgãos ambientais muitas
vezes não conseguem cumprir a liturgia dos prazos imposta pelo artigo 10 da
Resolução Conama 237/97, restando-lhes a pecha de entravar o progresso e o
desenvolvimento.
Na prática, o que ocorre são muitas idas e vindas, de pedidos de
esclarecimentos por parte dos órgãos ambientais e de pedidos de
reconsideração por parte dos empreendedores, de justificativas e de
alterações pontuais nos projetos, de adequações das obras ou
empreendimentos e de exigências sem previsão legal para a concessão das
licenças. Resumindo, muitos processos de licenciamento ambiental se afastam
da sistemática estabelecida e dos objetivos primários das normas aplicáveis,
chegando a merecer mais importância as medidas compensatórias propostas
pelo empreendedor que as medidas de minoração dos impactos sobre o meio
ambiente buscados pela legislação.
No caso do RIMA (Relatório de Impacto Ambiental), constitui-se por
assim dizer em um resumo do EIA, redigido em linguagem mais acessível ao
público leigo, possibilitando-se desta forma, o conhecimento e a avaliação do
projeto em análise e as suas implicações e conseqüências, sendo, portanto
37acessível ao público envolvido neste processo, permanecendo as cópias
sempre à disposição de todos os interessados, fazendo com que participação
da comunidade seja uma das mais marcantes e importantes características do
EIA, proporcionando-se acesso aos dados deste estudo como pela realização
das audiências públicas.
Destaca-se nesta Resolução o artigo 11: “Respeitado o sigilo industrial,
assim solicitado e demonstrado pelo interessado, o RIMA será acessível ao
público”.
38
CAPITULO VI
LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO
IMPRESCINDÍVEL NA EVOLUÇÃO ECONÔMICA
O Licenciamento Ambiental é o instrumento fundamental para a
execução da cidadania e para a democracia. Sob esta ótica, necessário
abordamos com ênfase as questões pertinentes a toda problemática que vem
à tona no bojo do processo de Licenciamento Ambiental, como é reconhecido
por todas as correntes doutrinárias e pelos grandes mestres como instrumento
imprescindível na evolução econômica do Estado Brasileiro e nas relações
internacionais que envolvem o capital externo.
E quais são estão essas questões senão a falta de transparência, de
otimização e eficácia na aplicação e na condução deste processo.
A discussão está focada na aplicação da legislação ambiental
brasileira e não na modernidade dessa nossa legislação.
O atual Sistema Nacional do Meio Ambiente em vigor em nosso Brasil
está diante da burocracia crescente e do exacerbado conflito, envolvendo
todos os órgãos ambientais, com conseqüências nefastas para os
empreendimentos econômicos e emperrando de vez o nosso sistema de
licenciamento ambiental, vital para a sociedade como um todo; causando no
investidor de boa fé, de boa índole, com visão de negócios avançada e que
busca justamente neste sistema a caracterização de sua vontade expressa de
seguir os trâmites legais vigentes, proporcionando uma sensação e um clima
de instabilidade generalizado, que corrobora para prejuízos econômicos,
sociais, ambientais e espaciais com dimensões desastrosas para o País.
Na opinião do eminente Prof.º Paulo Nogueira Neto, (2005), a lei
brasileira é boa, bastante aperfeiçoada e está funcionando relativamente bem
em vários lugares, como em São Paulo. O nosso grande desafio, hoje, está em
39partes da Amazônia, como Pará e Rondônia, onde a bandidagem, anda solta e
não obedece a lei nenhuma. A impunidade é total, absoluta, faço parte do
Conama e do Consema (SP). Não me lembro de eles terem aprovado alguma
medida que sacrificasse o desenvolvimento industrial.
Fernando Almeida, Presidente Executivo do Conselho Empresarial para
o Desenvolvimento Sustentável (2005), entende que a demora, de meses, até
anos, que as empresas enfrentam na espera por uma licença, com a excessiva
burocratização do processo de licenciamento ambiental, que resultaria em
demora e até desistência de novos empreendimentos.
Na visão do Ministro do Superior Tribunal de Justiça Herman Benjamin,
(apud FIORI, Ana Maria, 2005) um dos autores da Lei dos Crimes contra o
Meio Ambiente, “a falta de respeito às exigências de licenciamento ambiental é
que impede o desenvolvimento brasileiro. A empresa, quando não se licencia
adequadamente, cria para si um ambiente de insegurança jurídica. Ao mesmo
tempo, estabelece um clima de concorrência desleal com outras empresas”. E
vai mais além: “O Brasil não tem tradição jurídica de licenciamento ambiental e
existe um grupo minoritário de empresas que eu chamo de viúvas de Cubatão.
Elas imaginam que o país vive na década de 70, quando licenciamento
ambiental ou não era exigido ou era para inglês ver”.
Já o Professor José Goldemberg, entende que:
que a legislação brasileira é de Primeiro Mundo e o grau de exigência que é feito para o licenciamento ambiental é muito grande. Isso coloca uma enorme pressão sobre os grupos que quiseram fazer empreendimentos, porque eles precisam contratar consultores de Primeiro Mundo.
Morosidade é o item que mais preocupa os empresários. O
licenciamento ambiental tem três fases e a cada informação complementar
solicitada há suspensão do processo. A Confederação Nacional da Indústria
(CNI), em 2007 elaborou um levantamento para saber quais são os principais
entraves enfrentados pelos empreendedores na hora de se adequar às normas
40ambientais. O estudo aponta que: 64,5% se deve na demora na análise dos
pedidos: 54,6% nos custos dos investimentos necessários para atender às
exigências feitas pelo órgão ambiental; 46,3% nos custos de preparação de
estudos e projetos para apresentar ao órgão ambiental e 44,1% na dificuldade
de identificar e atender aos critérios técnicos exigidos.
E não são apenas os empresários que sofrem, a população também,
porque deixam de se beneficiar como por exemplo com a construção de um
novo hospital. Como é fácil de supor, quanto maior o empreendimento maior é
a dificuldade para a obtenção da licença ambiental. Hoje em dia muitas
instituições financeiras começaram a responder solidariamente a ações por
danos ambientais e com isso cresceram as exigências para a concessão de
crédito.
Quando o licenciamento ambiental ocorre dentro das condições e
prazos legais, não há que se falar em controle jurisdicional da atividade do
órgão administrativo, uma vez que os administrados, sejam empreendedores,
sejam pessoas interessadas, foram amplamente atendidas. O problema surge
à medida que anomalias ocorrem dentro do processo de licenciamento, ou
simplesmente quando ele não ocorre. Em sendo um procedimento
administrativo, o licenciamento se sujeita indubitavelmente a regras formais
procedimentais.
CONCLUSÃO
O desenvolvimento das sociedades humanas na Terra é marcado por
interações mais ou menos fortes com o ambiente. Os impactos negativos
41sobre o meio, advindos dessas interações foram absorvidas ao longo do tempo
e de maneira geral, sem problemas maiores.
A magnitude desses impactos, originados da ação de populações
pequenas e do uso de tecnologias pouco intensivas, tanto no consumo de
recursos quanto na geração de resíduos, era baixa.
A partir do século XX a capacidade do ambiente de absorver os
impactos tornou-se insuficiente não só em escala local, mas também em
escalas regional e global. Os problemas ambientais daí decorrentes passaram
a exigir das sociedades humanas um ordenamento de suas ações procurando
buscar um equilíbrio entre a satisfação de suas necessidades e a capacidade
do planeta de sustenta vida, em todos os níveis.
Os impactos ambientais, oriundos de mau uso do solo, extração
excessiva de determinado recurso, desflorestamento, contaminação de corpos
d’água, geração de resíduos e outras práticas existem desde a Antiguidade.
Na verdade, desde o homem primitivo, pois, a partir do tempo em que
se dá a chamada revolução agrícola e o homem deixa de ser caçador e
coletor, suas ações sobre o meio perdem um caráter estritamente individual e
biológico e passam a compor um conjunto de ações “sociais”. O potencial de
impactar que tem a sociedade da qual o homem faz parte é maior do que a
soma dos impactos individuais de cada homem caçador/coletor, o qual difere
pouco de outros mamíferos.
Esse potencial de impactar o meio de cada sociedade é função das
tecnologias disponíveis por aquela sociedade. As sociedades primitivas, na
Antiguidade e na Idade Média não dispunham de meios tecnológicos para
causar impactos profundos. Com o Advento dos tempos modernos, pode-se
observar significativas mudanças. Os problemas ambientais passaram então a
ser objeto de estudo reflexão e ações.
A preocupação com o meio ambiente e a sua proteção foi se tornando
cada vez mais constante até a completa conscientização da humanidade da
necessidade da busca de mecanismos jurídicos para a adequada proteção
ambiental.
42A legislação se aprimorou com a intenção de cobrir as omissões
passadas e com a finalidade de se preservar a qualidade do meio ambiente e
do equilíbrio ecológico foi criada a Política nacional do Meio Ambiente.
Dentro desta Política se encontra um dos mais importantes
instrumentos: o Licenciamento Ambiental. Por meio dele, a administração
pública busca exercer o necessário controle sobre as atividades humanas que
interferem nas condições ambientais.
O Licenciamento Ambiental é um poderoso mecanismo para incentivar o
diálogo setorial, rompendo com a tendência de ações corretivas e
individualizadas ao adotar uma postura preventiva, mas pró-ativa, com
diferentes usuários dos recursos naturais. Óbvio afirmar que o licenciamento é
um palco de conflitos, tendo de um lado a visão pública e de outro a do
empreendedor e, é nesta zona de turbulência que exige a prudência na
condução do processo de licenciamento.
O mercado cada vez mais exige empresas licenciadas e que cumpram a
legislação ambiental. Além disso, os órgãos de financiamento e de incentivos
governamentais, como o BNDS, condicionam a aprovação dos projetos à
apresentação da licença ambiental.
No entanto, os processos de pedidos de licença ambiental se arrastam e
o custo elevado para atender às exigências ambientais tem atrasado
investimentos que poderiam impulsionar o desenvolvimento. Seria o
Licenciamento Ambiental um incentivo para investimento ou a exigência do
Licenciamento Ambiental desestimularia atividades empresariais?
O Licenciamento Ambiental é o sustentáculo do desenvolvimento
econômico social, sendo desta forma e por esta análise um instrumento de
viabilização dos investimentos em todos os setores de nossa economia, quer
sejam pela iniciativa privada ou em parceria público-privadas, abrindo o leque
de opções ao crescimento sustentável.
43 A incerteza para obtenção de uma licença representaria uma incerteza
adicional para realizar um determinado investimento, no entanto para proteger
melhor o meio ambiente é justificável rigor na concessão das licenças, sem,
contudo que haja uma burocracia tão prolongada. Para tanto é necessário que
atitudes sejam implementadas em caráter emergencial, com solidez, como a
criação de uma Lei Complementar a fim de afastar as dúvidas sobre a
competência para licenciar as atividades, bem como estruturação de todos os
níveis da administração pública federal, estadual e municipal, através de
convênios que delegassem as competências para a otimização deste processo
imprescindível ao crescimento e ao desenvolvimento sustentável, que é o
licenciamento ambiental, proporcionando as condições necessárias para estas
realizações, dentre elas a constituição de um quadro independente de
consultores, os quais produziriam através da elaboração de um trabalho sério,
sem vínculos diretos com os órgãos públicos ou empresários, com base
técnica e científica, em uma análise do momento e para o futuro das diversas
situações e perspectivas; inclusive prevendo os efeitos e as causas
circunstanciais, os entornos gerais e específicos; além de considerarem como
um todo o complexo processo de sua elaboração; vislumbrando nesta análise
os espaços destinados as populações, ao lazer, a preservação, a implantação
de projetos sociais, ambientais, profissionais, de inclusões, respeitando-se
assim as culturas, patrimônios e outras importantes variáveis e, minimizando
possíveis impactos ambientes negativos.
BIBLIOGRAFIA
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Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. CANOTILHO, José Joaquim Gomes
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