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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
“O OLHAR PSICOPEDAGÓGICO SOBRE AS DIFICULDADES NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO”
Por Adriana Aparecida Medeiros Brum
Orientador
Profª. Dayse Serra
Rio de Janeiro
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
“O OLHAR PSICOPEDAGÓGICO SOBRE AS DIFICULDADES NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO”
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
conclusão do curso de Pós Graduação Lato Sensu
em Psicopedagogia
Por Adriana Aparecida Medeiros Brum
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, pois sem Ele nada teria feito.
Ao meu esposo Evandro por sua
paciência e pelo seu companheirismo
incondicional e também a minha filha
Letícia, razão da minha luta..
4
DEDICATÓRIA
À minha mãe Maria dos Anjos, ao meu
pai Ruy, a minha irmã Patrícia e ao meu
primo Robson que mesmo distantes, me
apoiaram e incentivaram este meu projeto
de vida.
5
RESUMO
Este trabalho é fruto de uma pesquisa intensa e tem como objetivo rever o
processo de apropriação da linguagem escrita em crianças na fase de
alfabetização. O educador deve apropriar-se de métodos que facilitem a
compreensão da escrita e da sua construção, proporcionando ao educando
momentos de prazer ao descobrir o mundo da leitura. É nesta fase escolar,
que deve ser explorado o universo da criança, buscando assim, o melhor
caminho para construir este saber, a partir do que podem observar e das
reflexões que fazem a esse respeito. Foi buscando este momento de alegria e
não de desconforto para a criança que resolvi me aprofundar neste assunto e
transformar este momento de aprendizagem num momento único para o
educando, propiciando um ambiente de criação, imaginação, de livre
expressão e conscientização. Não existe uma única resposta para as inúmeras
questões que envolvem a aprendizagem e suas limitações, porque cada ser é
único e as realidades são diversificadas.
Enfim, o ser aprendente é único, e assim, o olhar do educador deve ser
diferenciado, ressaltando suas habilidades e competências, a partir deste
olhar, buscar o melhor caminho da aprendizagem.
.
6
METODOLOGIA
Este trabalho trata de uma pesquisa bibliográfica e foi desenvolvido para
encontrar alternativas eficazes que contribuam com a melhoria do
ensino/aprendizagem de todas as crianças, especialmente nas séries iniciais.
Na abordagem desse assunto têm-se considerado o que leva uma criança a ler
e a escrever, destacando o início e o processo da alfabetização para que se
compreenda as melhores estratégias a serem utilizadas com as crianças na
construção da leitura e da escrita. Nesse sentido, esta pesquisa aborda a
construção dos conhecimentos relacionados à alfabetização, tendo como
objetivo proporcionar ao educador algumas reflexões sobre esse processo,
destacando o papel do professor e sua prática pedagógica em relação à
alfabetização do aluno.
Através de estudos bibliográficos, tendo como base os seguintes autores:
Sara Paín, Emília Ferreiro, Claudia M. Mendes Gontijo, Maria Fernandes /
Marco Hailer e Alicia Fernandez, focarei a alfabetização, principalmente o
método tradicional, os prós e contras deste processo e os diversos caminhos
para se obter um resultado satisfatório e o olhar psicopedagógico para buscar
o sujeito cognoscente, aquele que pensa, constrói interpretações e
conhecimentos.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................... 08
CAPÍTULO I - A representação da linguagem...........................................10
1.1 - A escrita e sua evolução ao longo dos tempos...................................10
1.2 – A criança e a descoberta da linguagem..............................................12
CAPÍTULO II - O professor e a construção da linguagem...........................16
2.1 – A aquisição da linguagem escrita.........................................................16 2.2 - Como ensinar a ler e a escrever?........................................................19 2.3 – Como o aluno aprende e como devemos ensina?..............................24 CAPÍTULO III – O psicopedagogo como mediador no processo da
Aprendizagem..............................................................................................26 3.1 – Surgimento da Psicopedagogia – breve histórico...............................26 3.2 – A intervenção nos problemas de aprendizagem.................................28 CONCLUSÃO...........................................................................................33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA................................................................35
ÍNDICE.....................................................................................................36
FOLHA DE AVALIAÇÃO............................................................................37
8
INTRODUÇÃO
Como educadora, venho trabalhando com crianças da classe de alfabetização,
atualmente, 1º ano do Ensino Fundamental. Procurei buscar um tema que me
permitisse compreender melhor as dificuldades existentes nesta fase inicial da
aprendizagem. Decidi, então, me aprofundar e buscar soluções para as
dificuldades no processo de alfabetização, focando a atuação do
psicopedagogo frente a estas dificuldades.
A questão central desta pesquisa é destacar as habilidades e competências
que o educador deve buscar para poder aplicar a melhor metodologia no
processo da construção do saber.
A razão pelo qual escolhi este tema é devido à necessidade de se
compreender o melhor caminho que o educador deve traçar para buscar
melhores resultados na hora de ensinar a ler e a escrever. O processo de
aquisição da leitura e escrita é uma questão amplamente discutida no meio
pedagógico. A importância da alfabetização nas séries iniciais e as dificuldades
que muitos professores encontram na hora de alfabetizar seus alunos, devido
ao despreparo profissional ou da instituição que trabalha.
Portanto, esta pesquisa tem como objetivo promover a realização da
construção da escrita e da leitura num processo de aprendizagem satisfatório,
vivido pela criança de forma prazerosa e plena, independente da metodologia
aplicada.
Através deste trabalho estarei me aprofundando nas questões relativas a este
tema, tornando o meu trabalho, junto às crianças, mais consciente e com o
olhar diferenciado.
9
Atualmente, a investigação sobre as questões da alfabetização tem girado em
torno de uma pergunta: como se deve ensinar a ler e a escrever? É partindo
desta pergunta que mostrarei na minha pesquisa, como o psicopedagogo vem
contribuir para que a postura do educador seja repensada e modificada.
Através desse olhar psicopedagógico proponho elaborar reflexões sobre os
métodos utilizados na construção do saber e os resultados adquiridos através
dos mesmos.
Acredito que, através dos estudos feitos para a construção desta pesquisa,
estarei contribuindo para o crescimento e desenvolvimento profissional, como
também com o progresso da classe para educação no âmbito escolar.
10
CAPÍTULO I
A REPRESENTAÇÃO DA LINGUAGEM
“A Educação deve propiciar ao corpo e à alma toda a perfeição e a beleza que podem ter”.
Sócrates
A escrita e sua evolução ao longo dos tempos
A escrita vem a surgir, inicialmente, com as necessidades humanas de
desenvolvimento no mundo antigo, caracterizada pelos diversos elementos da
civilização e acompanhada dos elementos artísticos do governo, do comércio, da
agricultura e dos transportes. A escrita, propriamente dita, surge com a necessidade
do homem de expressar seus sentimentos por meio de signos, e, que estes possam
ser compreensíveis às ideias de outros homens sobre a formação de sua civilização
escrita. Os primeiros registros que se conhecem em relação à escrita foram
encontrados na Suméria por volta de 3.150 e 3.000 a.C.
Devido a necessidade de transportar as mercadorias e para que não houvesse
confusão entre os nomes das mesmas, criaram então, novos códigos de escrita.
Onde passava de escrita logográfica para cuneiforme, passando assim, a
representar os sons desses nomes.
A escrita cuneiforme, inicialmente, tratava-se de um sistema pictográfico que
gradualmente se transformou em um conjunto de sinais silábicos e fonéticos
onde eram empregados centenas de diferentes sinais. Desse sistema de
escrita, no entanto, não se derivou nenhum alfabeto.
11
Segundo Barbosa (1994), com o sistema de fonetização abre-se enormemente
os horizontes para os registros escritos. Passa a ser possível expressar todas as
formas lingüísticas, até as mais abstratas, por meio de símbolos escritos.
Surge uma alteração significativa nas convenções do sistema representativo. A
formalização da escrita exigiu não só o estabelecimento das regras, como
também a aprendizagem efetiva das formas e princípios da escrita.
Os princípios escritos sumérios se expandiram ao oriente e o sistema de escrita
cuneiforme foi adaptado por outros povos aos seus idiomas, diz que a mais
antiga inscrição hebraica que se conhece era também de caráter cuneiformes.
Por volta de 3.000 a.C. os hieróglifos egípcios alcançaram sua forma definitiva,
compreendendo vinte e quatro sinais para as consoantes.
A escrita possibilitou novos modos de ver e mostrar a realidade. A partir dela,
forma surgindo novas formas de expressão, novos modos de pensamento,
enfim ela possibilitou novas estratégias cognitivas. Com um instrumento cultural,
criado pelo homem, ela foi responsável por transformações que se operaram
neste homem, e consequentemente, no seu mundo.
Foi então, a partir da representação da escrita silábica, que antes era
desenhada para representar os sentimentos humanos dos povos semíticos
ocidentais, que os gregos criaram o alfabeto, este ao longo dos tempos vem
transformando seus sinais gráficos chamados de letras aos idiomas que irão
se adequando às necessidades de cada civilização que irá utilizá-la.
12
Podemos perceber que a construção da escrita surgiu pela necessidade do
indivíduo de se comunicar e também dizemos que está relacionada, em
grande parte, à economia e agilidade na representação sobre os códigos
lingüísticos visíveis, que constitui um sistema de comunicação.
A escrita é mais conservadora que a língua falada e tem um poder restritivo
sobre o desenvolvimento natural de um idioma. A forma como usamos o
idioma na escrita é mais antiga, rígida e convencional do que a forma como
usamos esse mesmo idioma na fala cotidiana.
Para Ferreiro (1985) a invenção da escrita foi um processo histórico de
construção de um sistema de representação, não um processo de codificação.
Uma vez construído pode-se pensar que o sistema de representação é
apreendido pelos novos usuários como um sistema de codificação.
Diga-se que a escrita é uma das invenções que mais sofreram e sofrem
mudanças de acordo com as necessidades de cada civilização e época.
Embora as crianças em idade escolar inicial tendam a ter dificuldades em
relacionar os códigos da linguagem oral e a representação da linguagem
escrita, elas utilizarão o seu meio social como base para a iniciação desse
processo.
A criança e a descoberta da linguagem
Antes de aprender uma língua, uma criança aprende por suas próprias
experiências a desenvolver conceitos sobre as coisas ao seu redor.
13
A integração de suas percepções com seus movimentos é a base para o
entendimento do significado das coisas, até mais ou menos dois anos de
idade. Esta base senso motora é o alicerce no qual a linguagem será apoiada.
A criança associa a palavra à imagem que tem do ser.
• cachorro: "bicho peludo que faz um barulho engraçado"
• bola: "brinquedo que pula quando se joga”
As crianças continuam descrevendo o mundo por meio de experiências mesmo
depois que a linguagem se desenvolve. Uma criança de sete anos ainda tem
as ações como parte central de sua estrutura conceitual, e chega mesmo a
descrever coisas comuns pelas ações na qual fazem parte.
• "A cadeira é pra sentar."
A linguagem começa a se desenvolver sobre a base senso motora quando os
primeiros rótulos simbólicos são associados a conceitos, primeiramente aos
já entendidos através de experiências anteriores, como familiares e
brinquedos. As ações também passam a ser rotuladas, o que pode ser
percebido quando a criança conversa consigo mesma.
No momento em que a criança começa a usar rótulos simbólicos, ela começa a
organizar conceitualmente e lentamente passa das ações para as palavras, em
vez de manipular conceitos, são manipuladas as palavras que representam
estes conceitos. Eventualmente uma estrutura conceitual baseada apenas no
significado de ações torna-se insuficiente. A partir de um mesmo rótulo
podem ser trabalhados diferentes tipos de leitura, levando o indivíduo a criação
de um padrão específico de generalização e diferenciação na estrutura
conceitual em desenvolvimento.
14Uma criança começa a usar o desenho quando a linguagem falada já
progrediu. No início, ela desenha de memória, mesmo que o objeto esteja a
sua frente, ela não desenha o que vê, mas o que conhece.
Durante o seu desenvolvimento, há um momento em que ela percebe que
alguns traços podem representar ou significar algo, embora ela ainda não os
perceba como um símbolo, mas como algo que contém elementos que
lembram o objeto. Depois os desenhos vão se tornando linguagem escrita real,
em que a representação de relações e significados individuais vai se
convertendo em sinais simbólicos abstratos. O desenho acompanha a frase e
a fala permeia o desenho, o que é essencial e decisivo para o desenvolvimento
da escrita.
A criança, através do desenho, é estimulada a desenvolver a sua escrita, pois
percebe que o que ela fala pode ser reproduzido por letras, palavras e frases.
Este momento de deslocamento do “desenhar objetos” para o de “desenhar a
fala” é difícil de especificar, mas sabe-se que a aquisição da linguagem escrita
começa neste momento e é a partir desse momento que a criança começará a
despertar seu interesse pela construção da escrita.
Segundo Emília Ferreiro (1985), a escrita pode ser concebida de duas formas
muito diferentes: como representação da linguagem ou como um código de
transcrição gráfica das unidades sonoras.
15A construção de qualquer sistema de representação envolve um processo de
diferenciação dos elementos e relações reconhecidas no objeto a ser
apresentado. A representação pode não ser uma realidade do que está sendo
observado, não existe uma predeterminação. Uma determinada representação
não é igual a realidade que ela representa.
A representação da linguagem como um código tende a sistemas alternativos
baseados em uma representação já formada e existente. Então, podemos dizer
que a diferença entre as duas construções da linguagem é que no caso da
codificação, os elementos já estão predeterminados, e no caso da criação de
uma representação, nem os elementos nem as relações estão predeterminados.
Ferreiro (1985) defende também que a construção do conhecimento da leitura e
da escrita tem uma lógica individual, embora aberta à interação social, na escola
ou fora dela. No processo, cada criança passa por etapas, com avanços e
recuos, até se apossar do código linguístico e dominá-lo. O tempo necessário
para a criança transpor cada uma das etapas é muito variável.
Para a autora, a criança escreve tal como acredita, sua produção é espontânea
e deve ser interpretada para poder ser avaliada e aprender a lê-las, é um longo
processo de aprendizagem que requer uma teoria definida. Se pensarmos que a
criança aprende só quando é submetida a um ensino sistemático, não
poderemos enxergá-la como um ser aprendente.
Devemos pensar que a criança não precisa de permissão para começar a
aprender, ela é um ser que busca saber algo. Esse saber deve ser valorizado
para ser explorado e ampliado.
16
CAPÍTULO II
O PROFESSOR E A CONSTRUÇÃO DA LINGUAGEM
ESCRITA
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua produção ou a sua construção”.
Paulo Freire
A aquisição da leitura e da escrita
Há quase três décadas, Emilia Ferreiro tem marcado de forma decisiva a
história da alfabetização no Brasil. Seus questionamentos ajudam educadores
e teóricos a deslocar o eixo das discussões a respeito de "como se ensina a ler
e a escrever", ou seja, da escolha do melhor método e da melhor cartilha para
a possibilidade de pensar "como se aprende a ler e escrever".
A pesquisadora argentina ganhou prestígio por desenvolver, com seus
colaboradores, uma pesquisa empírica que lhe permitiu formular a teoria sobre
a psicogênese da língua escrita, sendo conhecida em vários países, entre eles,
o Brasil. Sua atuação profissional revela compromisso político e inquietação
com o analfabetismo e com a busca de soluções para modificar a realidade da
educação nos países da América Latina, especialmente em relação ao
fracasso na alfabetização, que afeta em sua maioria as crianças das classes
menos favorecidas. Em 1974, em parceria com Ana Teberosky, Susana
Fernándes, Ana Maria Kaufman, Alicia Lenzi e Liliana Tolchinsky, Ferreiro
iniciou um trabalho experimental com 30 crianças de uma escola na periferia
de Buenos Aires, com o objetivo de descobrir quais as suas concepções a
respeito da escrita. Era o começo da pesquisa sobre a psicogênese da língua
escrita.
17Segundo Ferreiro (1985), as crianças possuem capacidades cognitivas (de
desenvolver raciocínios) e lingüísticas (de desenvolver concepções sobre o
sistema de escrita), e as utilizam para entender o mecanismo de
funcionamento da língua escrita no processo de aprendizagem da leitura e da
escrita.
Nesse processo de aprendizado, as crianças constroem o conhecimento, por
meio de uma elaboração pessoal que se dá por sucessão de etapas, cada uma
delas representando um estágio. Assim, a interpretação do processo é
explicada do ponto de vista das crianças que aprendem, levando-se em
consideração o conhecimento específico que possuem antes de iniciar a
aprendizagem escolar. Na opinião de Ferreiro, a escrita não representa apenas
um traço ou marca, mas sim "um objeto substituto". Partindo desse
conhecimento, as crianças seguem uma linha de evolução regular até a
aquisição da língua escrita. Foram os estudos sobre o que seria a psicogênese
da linguagem escrita de Ferreiro e Teberosky (1985) que lançaram uma nova
luz sobre as tentativas de descrever as etapas pelas quais a criança passa
durante o processo da aquisição. Segundo as autoras, a criança, durante o
período de contato com os sinais gráficos, vai evoluindo gradativamente. Essa
evolução foi caracterizada em quatro grandes níveis: pré-silábico, silábico,
silábico-alfabético e alfabético.
No nível pré-silábico, observaram a presença de produções gráficas em que
não existe correspondência entre a grafia e o som.. A criança não se utiliza de
uma palavra escrita para simbolizar graficamente um objeto.
18Já o nível silábico se delimita quando a criança percebe que é possível
representar graficamente a linguagem oral. Ela faz, então, várias tentativas
para estabelecer uma relação entre a produção oral e a produção gráfica, entre
o som e a grafia. E começa, com essas tentativas, a relacionar o que escreve
com as sílabas das palavras faladas que deseja representar. Entretanto, com
seu conhecimento prévio sobre o material escrito, utiliza-se de letras que
podem não representar os respectivos sons. A criança passa, então, a conviver
com esses dois tipos de correspondência entre a grafia e o som, adentrando
assim no nível silábico-alfabético. E começa também a vivenciar um conflito, já
que é capaz agora de perceber que existe uma representação gráfica
correspondente a cada som (percebe a relação entre grafema e fonema). Ela
vai reformulando sua hipótese anterior, silábica, que lhe parece insuficiente, e
vai alternando sua produção entre essa e a alfabética propriamente dita.
Com suas tentativas e reformulações, ela evolui para o nível alfabético, que se
estabelece mais firmemente sobre sua percepção da relação entre a grafia e o
som. Ela já consegue aceitar que a sílaba é composta de letras que devem ser
representadas distintamente, e se torna capaz de perceber outras
características da comunicação gráfica, tais como as diferenças entre letras,
sílabas, palavras e frases, ainda que ela falhe nessas representações.
Pode-se dizer que a leitura e a escrita já não podem ser encaradas meramente
como atos de codificação e decodificação, de identificação de palavras. Elas
envolvem uma gama de outros processos que propiciam a aquisição desse
"novo" código pela criança, mas que está inserida num contexto mais amplo de
aquisições de linguagem que perdura até a fase adulta. E é nesse sentido que
aprender a ler e a escrever implica a constante construção de significado
dessas atividades.
19 “O caminho desde o objeto até a criança e desta
até o objeto passa por outra pessoa”.
Vygotsky
Como ensinar a ler e a escrever?
A pergunta acima deixa bem claro uma dúvida para nós educadores. Qual será
o melhor método para ensinar a ler e a escrever? Como conseguirei propor ao
meu aluno, de maneira prazerosa, a aquisição da leitura e da escrita? Em que
consiste a alfabetização? Neste capítulo abordaremos alguns estudos de
pesquisadores da área que buscam esclarecer as dúvidas mais comuns entre
os educadores das séries iniciais.
A alfabetização consiste no aprendizado do alfabeto e de sua utilização como
código de comunicação. De um modo mais abrangente, a alfabetização é
definida como um processo no qual o indivíduo constrói a gramática e em suas
variações. Esse processo não se resume apenas na aquisição dessas
habilidades mecânicas (codificação e decodificação) do ato de ler, mas na
capacidade de interpretar, compreender, criticar, resignificar e produzir
conhecimento.Todas essas capacidades só serão concretizadas se os alunos
tiverem acesso a todos os tipos de portadores de textos. O aluno precisa
encontrar os usos sociais da leitura e da escrita. A alfabetização envolve
também o desenvolvimento de novas formas de compreensão e uso da
linguagem de uma maneira geral. A alfabetização de um indivíduo promove
sua socialização, já que possibilita o estabelecimento de novos tipos de trocas
simbólicas com outros indivíduos, acesso a bens culturais e a facilidades
oferecidas pelas instituições sociais. A alfabetização é um fator propulsor do
exercício consciente da cidadania e do desenvolvimento da sociedade como
um todo.
20O aprendizado da leitura é um momento importante na educação, que começa
na alfabetização e se estende por toda educação básica. Consiste em garantir
que o aluno, consiga ler e compreender textos, em todo e qualquer nível de
complexidade. Depois da fase inicial de alfabetização, faz-se necessária a
prática da leitura e da interpretação de textos. Uma vez alfabetizado, é possível
o indivíduo ampliar seu nível de leitura e de letramento, de forma a tornar-se
um sujeito autônomo e consciente. Por outro lado, a alfabetização por si só
não assegura o desenvolvimento do cidadão, ele precisa se desenvolver e
procurar ampliar sempre os seus conhecimentos.
A alfabetização formal é iniciada no primeiro e segundo anos do ensino
básico. A partir daí considera-se que o aluno já é um leitor e está pronto para
ampliar e construir o seu saber, começa-se então, um período de interpretação
de textos, proporcionando-lhe um desenvolvimento cognitivo amplo e
satisfatório. O aluno começa a ter uma certa independência e autonomia na
construção de saber.
Existem várias formas de se alfabetizar e cada uma delas destaca um aspecto
diferente no aprendizado. A alfabetização pode ser dividida em duas grandes
categorias: Métodos predominantes sintéticos e Métodos predominantes
analíticos.
1)Os métodos predominantes sintéticos são os métodos que partem das partes
para se chegar ao todo:
21Os métodos alfabéticos, também conhecidos como silábicos, ainda é um dos
mais conhecidos e utilizados no Brasil. Nesse método, aprende-se primeiro as
letras do alfabeto, em seguida a formar sílabas e com elas as palavras. A partir
desse momento, a criança começa a ler frases curtas, indo para orações e vai
desenvolvendo a sua capacidade de ler gradativamente até poder ler um livro
sozinha.
O Método da silabação, também chamado de Método Paulo Freire – foi criado
para alfabetizar adultos, é o método de alfabetização pela conscientização.
Não basta saber ler que A babá é boa. É preciso compreender e interpretar as
possíveis ações da babá. Por que ela é considerada uma boa babá? Nesse
método, a meu ver, a criança aprende a trabalhar mais a interpretação de
textos. O que para a educação atual, é o mais adequado.
O processo proposto por Paulo Freire é de que o educador conheça o
universo vocabular dos alunos. Através de conversas informais, o educador
observa os vocábulos mais usados por eles e assim seleciona as palavras que
servirão de base para as lições. Depois de composto o universo das palavras
geradoras, passa-se ao processo de exercitá-las com a participação do grupo.
O passo seguinte é a formação de palavras novas. Usando as famílias
silábicas já conhecidas, o grupo pode começar a formar novas palavras.
O Método Fônico é um método de alfabetização que dá ênfase ao ensino dos
sons das letras, partindo das relações, sons-letras, mais simples para as mais
complexas e depois fazendo as combinações necessárias. Assim, espera-se
que dessa forma, a criança consiga ler toda e qualquer palavra. Este método
nasceu como uma crítica ao método da soletração ou alfabético, é indicado
para crianças mais jovens, podendo ser introduzido logo no início da
alfabetização.
22
Com esse método, por exemplo, ao se ensinar os fonemas /u/ /a/ /o/ /t/ e /p/,
usando um alfabeto móvel as crianças podem formar palavras como: pata,
pato, tato, tatu, tapa, topo, etc; depois disso elas são incentivadas a pronunciar
o som de cada letra uma por uma e em seguida combina-os para gerar a
pronúncia da palavra. Assim, a criança constrói a pronuncia por si própria.
Muitas das correspondências som-letra, incluindo consoantes e vogais e
dígrafos, podem ser ensinados num espaço de poucos meses (de quatro a
seis meses), logo no início do seu primeiro ano letivo. Isso significa que as
crianças poderão ler muitas das palavras desconhecidas que elas mesmas
encontram nos textos, sem o auxilio do professor para tal. Os especialistas
dizem que este método alfabetiza crianças, em média, no período de quatro a
seis meses. Este é o método mais recomendado nas diretrizes curriculares de
países que utilizam a linguagem alfabética, como: Estados Unidos, Inglaterra,
França e Dinamarca.
2)O Método global, também conhecido como método analítico é o oposto do
método sintético, ele vem questionando dois argumentos dessa teoria. Um que
diz respeito à maneira como o sentido é deixado de lado e outro que supunha
que a criança não reconheceria uma palavra sem antes reconhecer sua
unidade mínima.
Pode-se afirmar que a principal característica que diferencia o método sintético
do analítico é o ponto de partida. Ou seja, enquanto o primeiro parte do menor
componente para o maior, como por exemplo trabalhar com palavras chaves, o
outro parte de um dado maior para unidades menores, como por exemplo
podendo explorar a aquisição da leitura a partir de textos, poesias, etc.
23O método analítico se decompõe em:
*Palavração: diz respeito ao estudo de palavras, sem decompô-las,
imediatamente em sílabas, assim, quando as crianças conhecem
determinadas palavras, é proposto que componham pequenos textos;
*Sentenciação: formam-se as orações de acordo com os interesses
dominantes da sala. Depois de exposta uma oração, essa vai ser decomposta
em palavras, depois em sílabas;
*Conto: a ideia fundamental aqui é fazer com que a criança entenda que ler é
descobrir o que está escrito. Da mesma maneira que as modalidades
anteriores, pretendia-se decompor pequenas histórias em partes cada vez
menores: orações, expressões, palavras e sílabas.
Como vimos, são vários os métodos que podem ser utilizados na
alfabetização. Mas mesmo assim, são feitas indagações, como por exemplo:
Que método utilizar na alfabetização para obter melhores resultados?
Com base nos materiais pesquisados, considero que não existe o método
mais adequado para o sucesso de uma verdadeira alfabetização, não é o
método a ser escolhido e sim, a realização desta alfabetização, trazendo para
a sala de aula a realidade do aluno e o conhecimento já adquirido por ele.
Cabe ao professor, olhar, analisar, explicar e intervir sobre os processos que
ocorrem com e nas crianças ao longo do seu desenvolvimento.
24Assim, se o professor conhece o seu aluno e suas habilidades, se ele possui
um olhar diferenciado, ele perceberá que cada criança tem um ritmo de
aprendizagem, uns aprendem com mais facilidade e outros podem demorar
mais um pouco. Às vezes, sendo necessário recorrer a um método diferente
daquele que já está sendo utilizado. Esta sensibilidade deve estar presente no
dia a dia do professor para que o mesmo consiga alcançar com sucesso os
seus ideais junto a sua turma.
Como o aluno aprende e como devemos ensinar
Essa deve ser a questão fundamental para o professor no seu dia a dia na sala
de aula. Pensar os processos do aprender e do ensinar. “Aprender é construir
significados”. Não está se negando a importância da aprendizagem mecânica
que pode e deve ocorrer em certas situações.
Se aprender é construir significados, ensinar é mediar essa construção, ou
seja, o papel do professor no processo da aprendizagem do aluno é de
mediador e ou gestor. Por isso, sua função é organizar o contexto para facilitar
a aprendizagem, lembrando que o processo de ensino está profundamente
relacionado à visão epistemológica do professor, isto é, da concepção que se
propõe a apresentar aos alunos para que dele se apropriem.
25O papel do professor no processo de ensinar, é éntão, de gestor, daquele que
organiza as melhores condições para que o aluno tenha uma aprendizagem
significativa de conteúdos relevantes. O gestor tem a tríplice dimensão: a de
planejador, de executor e de avaliador da aprendizagem. Planeja sua atividade
docente em função de sua opção epistemológica. Executa seu planejamento
com um constante olhar sobre as respostas que os alunos dão a cada
momento do processo, para redirecionar, quando necessário, suas ações no
sentido da melhor aprendizagem. O professor deve estar atento a cada sinal
de aprovação ou dúvida emitido pelos alunos para gerir o processo de ensino
de forma dinâmica em resposta às manifestações de sinais de aprendizagem
ou dificuldades.
26
CAPÍTULO III
O PSICOPEDAGOGO COMO MEDIADOR NO
PROCESSO DA APRENDIZAGEM
Surgimento da Psicopedagogia - breve histórico
A Psicopedagogia surgiu na Europa, em meados do século XIX, mas
precisamente na França, onde a Medicina, a Psicologia e a Psicanálise,
começaram a se preocupar com uma alternativa para intervir os problemas de
aprendizagens e suas possíveis prevenções e correções, segundo Bossa
(2000,p.37).
Entendemos que a Psicopedagogia é o campo do saber que se constrói a
partir de dois saberes e práticas: a pedagogia e a psicologia. A psicopedagogia
vem para contribuir com uma ampla visão e reflexão sobre o processo de
aprendizagem e as possíveis alterações encontradas neste processo.
Assim sendo a psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor
compreensão do processo de aprendizagem e se tornou uma área de estudo
específica que busca conhecimento entre outros campos e cria seu próprio
objeto de estudo (Bossa, 2000, p. 23).
Com a visão de uma formação independente, porém complementar, destas
duas áreas, o Brasil recebeu contribuições, para o desenvolvimento da área
psicopedagógica, de vários profissionais argentinos, entre eles destaco o
professor argentino Jorge Visca. Ele foi o criador da Epistemologia
Convergente, linha teórica que propõe um trabalho com a aprendizagem,
utilizando a integração de três linhas da Psicologia: A Psicogenética de Piaget,
a psicanalítica de Freud e a Psicologia Social de Pichon.
27De acordo com Visca (1991), a Psicopedagogia foi inicialmente uma ação
subsidiada da Medicina e da Psicologia, perfilando-se posteriormente como um
conhecimento independente e complementar, possuída de um objeto de
estudo, denominado de processo de aprendizagem, e de recursos
diagnósticos, corretores e preventivos próprios.
A Psicopedagogia surgiu no Brasil devido a observação sobre o grande
número de crianças com fracasso escolar, onde a psicologia e a pedagogia,
isoladamente, não davam conta de resolver tais fracassos. Chegou na década
de 70, cujas dificuldades de aprendizagem nesta época eram associadas a
uma disfunção neurológica, denominada de disfunção cerebral mínima (DCM)
que virou moda neste período, servindo para camuflar problemas sócio-
pedagógicos (Id. Ibid., 2000, p. 48-49). A Psicopedagogia surge no Brasil com
a influência da Argentina, devido a localização geográfica e à presença de
psicopedagogos argentinos ministrando cursos e desenvolvendo atividades no
nosso país.
Os psicopedagogos argentinos, apresentam um olhar diferenciado da
Psicopedagogia no Brasil. São aplicados testes de uso corrente, os
instrumentos empregados são mais variados, recorrendo o psicopedagogo
argentino, em geral, a provas de inteligência, provas de nível de pensamento;
avaliação do nível pedagógico; avaliação perceptomotora; testes projetivos;
testes psicomotores; hora do jogo psicopedagógico” (Id. Ibid., 2000, p. 42). No
Brasil os primeiros cursos e experiências psicopedagógicas surgem por volta
de 1970. Na década de 80 é criada a Associação Brasileira de
Psicopedagogia (ABPp).
O desafio da Psicopedagogia no Brasil é ver concluído o processo de
regulamentação da profissão e ampliar seu espaço de atendimento
28
A intervenção nos problemas de aprendizagem
“O sujeito que não aprende não realiza nenhuma das funções sociais
da educação, acusando, sem dúvida, o fracasso da mesma, mas sucumbindo e esse fracasso”.
Sara Paín
O processo de aprendizagem pode ser definido através do modo como os
seres humanos adquirem novos conhecimentos, desenvolvem competências e
mudam o comportamento. Porém a complexidade desse processo dificilmente
pode ser explicada num todo. Por outro lado, qualquer definição está,
invariavelmente, impregnada de pressupostos político-ideológicos,
relacionados com a visão de homem, sociedade e saber.
O momento de aprendizagem da criança deve ser prazeroso e agradável. A
criança precisa de estímulos para construir o saber de modo satisfatório, esses
estímulos devem ser proporcionados pela escola, pelo professor e pela família.
Os mesmos devem estar atentos e com um olhar direcionado a aprendizagem
da criança para que qualquer desvio possa ser feita a intervenção adequada.
Segundo Sara Paín (1985, p. 29) para uma boa aprendizagem é necessário
verificar se o sujeito se alimenta corretamente, em quantidade e qualidade,
pois o déficit alimentar crônico produz uma distrofia generalizada que abrange
sensivelmente a capacidade de aprender. Também são fatores importantes as
condições de abrigo e de conforto para o sono, para o aproveitamento maior
de experiências. Tais perturbações podem ter como conseqüências problemas
cognitivos mais ou menos graves, mas que não configuram por si sós um
problema de aprendizagem. Quando o organismo apresenta uma boa
equilibração, o sujeito defende o exercício cognitivo e encontra outros
caminhos que não afetem seu desenvolvimento intelectual.
29Percebemos que para alcançar com êxito uma aprendizagem de qualidade,
vários fatores estão envolvidos e quando um desses fatores deixa a desejar, o
sujeito pode apresentar um sintoma de déficit de aprendizagem, ou seja, não
assimila ou não acomoda bem um determinado assunto. Neste momento o
professor, a escola e também a família precisam ter uma sensibilidade maior
para perceberem este sujeito e partir para uma avaliação com um profissional
qualificado, para que o mesmo procure investigar o que está acontecendo.
A partir desse momento o psicopedagogo entra em ação e será ele quem
deverá diagnosticar os sintomas apresentados por este sujeito. Ele tem a
função de observar e avaliar qual a verdadeira necessidade da escola e
atender aos seus anseios, bem como verificar, junto ao Projeto Político-
Pedagógico, como a escola conduz o processo ensino-aprendizagem, como
garante o sucesso de seus alunos e como a família exerce o seu papel de
parceira nesse processo. Assim, o psicopedagogo poderá avaliar cada caso
com um olhar individual e avaliar o ambiente que cerca esse sujeito.
Para Fernández (1991), no primeiro momento da relação com o paciente, o
profissional deve “escutar-olhar” e nada mais. Escutar não quer dizer só ficar
em silêncio e olhar não é só ficar com os olhos abertos, escutar é entre
receber e olhar é interessar-se, entre outros. O escutar e o olhar do terapeuta
vai permitir ao paciente falar e ser reconhecido, e ao terapeuta compreender a
mensagem.
Sabemos que a escola é responsável por grande parte da formação do ser
humano e que está cada vez mais preocupada com os alunos que têm
dificuldades de aprendizagem, não sabe mais o que fazer com as crianças que
não aprendem de acordo com o processo considerado normal e não possuem
uma política de intervenção capaz de contribuir para a superação dos
problemas de aprendizagem.
30Assim sendo, o trabalho do psicopedagogo na instituição escolar, vem
ganhando cada vez mais espaço, oferecendo às famílias e a escola um
trabalho de caráter preventivo no sentido de procurar criar competências e
habilidades para solução dos problemas do sujeito e do meio que ele vive,
dando assistência aos professores e a outros profissionais da instituição
escolar para melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem, bem
como para prevenção dos problemas de aprendizagem.
Alicia Fernández (1991, p.133), afirma que “Nós, como psicopedagogos,
buscaremos as idéias inconscientes sobre o aprender, relacionando-as com a
operação particular que constitui o sintoma”.
Um psicopedagogo deve se especializar em aprendizagem e compreendê-la
como um processo que se dá no interior de cada um e é decorrente das
interações e das relações desse sujeito com os grupos aos quais pertence,
com as instituições das quais faz parte, com a comunidade e com a cultura
local e globalizada.
Segundo Bossa (1994 p.23), cabe ao psicopedagogo perceber eventuais
perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da
comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações
metodológicas de acordo com as características e particularidades dos
indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já que no caráter
assistencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela
elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas
educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores
possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades
individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem.
31Vimos que a família também é um fator muito importante na vida do sujeito e
cabe ao psicopedagogo intervir junto a família das crianças que apresentam
dificuldades na aprendizagem, por meio, por exemplo, de uma entrevista e de
uma anamnese para tomar conhecimento de informações sobre a sua vida
orgânica, cognitiva, emocional e social.
O que a família pensa, seus anseios, seus objetivos e expectativas com
relação ao desenvolvimento de seu filho também são de grande importância
para o psicopedagogo chegar a um diagnóstico.
Para sara Paín (1985, p. 73), uma vez concluído o diagnóstico e vista a
capacidade de mobilização do paciente e do grupo familiar, é necessário
determinar que tratamento é mais conveniente para o problema colocado.
Diremos que, em geral, o tratamento psicopedagógico é o mais indicado no
caso de tratar-se de um transtorno na aprendizagem.
Vale lembrar o que diz Bossa (1994, p.74): O diagnóstico psicopedagógico é
um processo, um contínuo sempre revisável, onde a intervenção do
psicopedagogo inicia, segundo vimos afirmando, numa atitude investigadora,
até a intervenção. É preciso observar que esta atitude investigadora, de fato,
prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo de
observação ou acompanhamento da evolução do sujeito.
32“Uma tarefa primordial no diagnóstico é resgatar o amor. Em geral,
os terapeutas tendem a carregar nas tintas sobre o desamor, sobre o que falta, e poucas vezes se evidencia o que se tem e onde o amor é resgatável. Sem dúvida, isto é o que nos
importa no caminho da cura”. Sara Paín
Ao final do diagnóstico psicopedagógico, o terapeuta já deve ter formado uma
visão global do paciente e sua contextualização na família, na escola e no
meio social em que vive para poder atuar e colaborar com os sintomas
existentes.
33
CONCLUSÃO
Ao final desta pesquisa, chego então, as considerações finais de que as
dificuldades relacionadas à aprendizagem podem surgir a partir de qualquer
método aplicado, desde o mais tradicional até o mais moderno e diferenciado.
Na verdade, o que vai fazer a diferença é como este método será aplicado pelo
professor e como a equipe técnico-pedagógica estará frente a este
profissional. Qual o apoio que ele estará recebendo? E o que ele estará
propondo para deixar suas aulas mais alegres e efetivas? Qual o caminho que
ele estará buscando para obter um resultado satisfatório? Como o ambiente
escolar é preparado para receber a criança?
Não poderia deixar de falar sobre a importância que a família tem na vida
escolar da criança. Sabemos que uma criança só aprende se ela tem o desejo
de aprender. E para isso é importante que os pais contribuam para que ela
tenha esse desejo. Existe um desejo por parte da família quando a criança é
colocada na escola, pois da criança é cobrado que seja bem-sucedida. Porém,
quando esse desejo não se realiza como esperado, surgem, a frustração e a
raiva, que acabam colocando a criança num plano de menos valia, surgindo,
daí, as dificuldades na aprendizagem.
Com as mudanças que ocorrem com a alfabetização no Brasil, percebo que
ela é um tema muito discutido e desafiador para os profissionais da área,
devido às dificuldades de aprendizagem ainda encontradas nas séries iniciais.
A leitura e a escrita não são mais vistas como um processo de codificação e
decodificação simplesmente. Elas, atualmente, envolvem um conjunto de
processos que propiciam a aquisição e construção do saber pela criança,
transformando-as em seres que buscam uma maior interpretação do mundo.
34
Como professora, venho atuando com crianças nas séries iniciais e buscando
sempre a melhor forma de desempenhar satisfatoriamente o meu papel em
sala de aula.
Neste longo percurso de leitura e pesquisa, várias questões me chamaram a
atenção e me fizeram entender melhor como deve ser a postura do professor
frente aos seus alunos. O mundo está evoluindo e nós devemos evoluir com
ele. Devemos formar seres pensantes e questionadores.
Aprender a ler e a escrever deve ser um momento de alegria para a criança e o
professor, como mediador, deve ter um “olhar diferenciado, principalmente
nesta etapa escolar. E quando perceber algo diferente no processo de
aprendizagem do sujeito, ele deverá fazer as avaliações devidas e encaminhar
a um profissional qualificado. Assim, “o problema” poderá ser investigado e
posteriormente esclarecido.
Creio que minha pesquisa irá contribuir para que outros profissionais e
estudantes pensem na educação como um desafio que deve ser conquistado a
cada momento que estamos frente a uma sala de aula, frente a seres que
estão prontos para descobrirem um novo mundo, o mundo da leitura e da
imaginação.
A minha pesquisa não acaba aqui. Mas procurei deixar nela, algumas
contribuições através da leitura feita e da minha experiência profissional.
Acredito que a construção do saber estará sempre movimentando o mundo e
abrindo novos horizontes na esperança de uma qualidade de vida melhor.
35
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
BOSSA, Nádia. Dificuldades de Aprendizagem: O que são? Como tratá-las?
Porto Alegre: Arte Médicas, 2000.
BARBOSA, Juvêncio José. Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1994 –
2ª edição. Ver – (coleção magistério. 2º grau. Série formação do professor; v.
16).
FERNANDEZ, Alícia. A Inteligencia Aprisionada. Porto Alegre: Artmed, 1991.
FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre Alfabetização. São Paulo: Cortez, 1985.
FREIRE, Paulo. Política e Educação. São Paulo: Cortez, 1993. – (coleção
questões da nossa época; v.23)
GONTIJO, Claudia Maria. Alfabetização: A criança e a Linguagem escrita. 2ª
edição. São Paulo: Autores Associados LTDA, 2007.
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: Aprendizado e Desenvolvimento: Um
processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1997. – (pensamento e ação no
magistério)
PAÍN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem.
tradução de Ana Maria Netto Machado. Porto Alegre: Artmed, 1985.
36
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A representação da Linguagem 10
1.1 – A escrita e sua evolução ao longo dos tempos 10
1.2 – A criança e a descoberta da linguagem 12
CAPÍTULO II
O professor e a construção da linguagem escrita 16
2.1 – A aquisição da leitura e da escrita 16
2.2 – Como ensinar a ler e a escrever? 19
2.3 – Como o aluno aprende e como devemos ensinar 24
CAPÍTULO III
O psicopedagogo como mediador no processo da 26
Aprendizagem
3.1 – Surgimento da Psicopedagogia – breve histórico 26
3.2 – A intervenção nos problemas de aprendizagem 28
CONCLUSÃO 33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 35
ÍNDICE 36
FOLHA DE AVALIAÇÃO 37
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes – Instituto A vez do
Mestre
Título da Monografia: “ O olhar psicopedagógico sobre as dificuldades no
processo de alfabetização”
Autor: Adriana Aparecida Medeiros Brum
Data da entrega: 11/01/2011
Avaliado por: Dayse Serra Conceito: