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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A EDUCAÇÃO PSICOMOTORA DOS 3 AOS 6 ANOS E SUA RELAÇÃO COM OS PROCESSOS DE APRENDIZADO Por: Michele Fernandes Martins Orientadora Profª Maria Poppe Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A EDUCAÇÃO PSICOMOTORA DOS 3 AOS 6 ANOS E SUA

RELAÇÃO COM OS PROCESSOS DE APRENDIZADO

Por: Michele Fernandes Martins

Orientadora

Profª Maria Poppe

Rio de Janeiro

2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A EDUCAÇÃO PSICOMOTORA DOS 3 AOS 6 ANOS E SUA

RELAÇÃO COM OS PROCESSOS DE APRENDIZADO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato

Sensu” em Docência do Ensino Superior.

Por: .Michele Fernandes Martins

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AGRADECIMENTOS

.... aos professores do curso de

Psicomotricidade e aos meus colegas

de turma, em especial a Bianca Perez

pelo reencontro e Fabiana Azevedo,

pela força ...

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DEDICATÓRIA

... dedica-se à minha família por me

permitir chegar até aqui, e ao meu

amor, Marcio Eustáquio, por me

encorajar em todos os momentos de

minha vida....

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RESUMO

O desenvolvimento infantil e a aprendizagem passam pelo corpo. Quando

os educadores são bem orientados e fundamentados para a realização de

um ensino de qualidade, a ação educativa pode motivar a criatividade por

parte dos alunos, estes sendo estimulados psicomotoramente a pensar, criar

e agir, e não apenas a reproduzir.

O trabalho tende a relacionar o desenvolvimento psicomotor das crianças

(mais especificamente na faixa etária dos três aos seis anos), ao

aprendizado, proporcionando resultados referentes à interdependência dos

aspectos citados, sendo o segundo o grande facilitador do primeiro.

Baseando-se nas obras que focalizam as atividades aquáticas e a

psicomotricidade, abordamos a relação existente entre uma atividade

inicialmente caracterizada como física, a natação, e a psicomotricidade.

Mostramos de que forma as habilidades psicomotoras tornam-se

necessárias para o aprendizado da natação e para o processo de adaptação

ao meio líquido, sendo desenvolvidas, portanto, em função dessa demanda

corporal.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada no presente estudo foi baseada em pesquisa

bibliográfica, através de consulta às obras relacionadas à psicomotricidade,

mais precisamente ao desenvolvimento infantil, ao processo de

aprendizagem e à natação.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - Desenvolvimento Infantil 12 CAPÍTULO II – Desenvolvimento das Habilidades Psicomotoras 23 CAPÍTULO III – Desenvolvimento psicomotor e Aprendizagem 33 CAPÍTULO IV – Aprendizado da Natação 42 CONCLUSÃO 52 BIBLIOGRAFIA 55 ÍNDICE 57 FOLHA DE AVALIAÇÃO 59

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INTRODUÇÃO

Desde a antigüidade o homem difunde o corpo e a alma, reservando o corpo

para o mundo “real” e a alma para a divindade. Filósofos como Platão fazem

apenas do corpo o lugar de transição da existência no mundo de uma alma imortal.

Descartes acreditava no dualismo entre corpo e alma. Segundo o filósofo, o

corpo é apenas algo extenso, que não pensa. Já a alma (ou seja, o indivíduo como

um todo) é inteiramente distinta do corpo, mas não pode existir sem ele.

Maine de Biran foi o primeiro a descobrir que é na ação do corpo que o eu

adquire consciência de si e do mundo. A partir daí percebe-se que o corpo e a alma

são um só, pois a inteligência é essencialmente prática. O cérebro mecanicamente

imprime ao corpo os movimentos e as atitudes que desempenham o que o espírito

pensa.

A psicomotricidade empenha-se em superar essa oposição: o homem é o

seu corpo e não o homem e o seu corpo. O homem é antes de tudo, um ser

falante e, seu corpo fala por ele. De acordo com a Sociedade Brasileira de

Psicomotricidade, a ciência “Psicomotricidade” tem por objetivo o estudo do homem

por meio do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e

externo.

Nessa pesquisa, será abordada a Educação Psicomotora em função do

desenvolvimento infantil e a aprendizagem. A Educação Psicomotora abrange

todas as aprendizagens da criança, a partir de etapas progressivas e específicas

conforme o desenvolvimento geral de cada indivíduo.

Nesse estudo o corpo será abordado de acordo com a visão psicomotora, o

corpo não sendo apenas um instrumento de ação e de construção, mas também, o

meio concreto e último de comunicação social, daí a sua relevância em qualquer

processo de aprendizagem. De acordo com a estimulação do desenvolvimento

psicomotor, ou seja, das habilidades psicomotoras (coordenação motora global,

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coordenação motora fina, equilíbrio, lateralidade, esquema corporal etc.), a

Educação Psicomotora trabalha todos os aspectos do desenvolvimento motor,

intelectual e sócio-afetivo.

Perguntar-se quando e quanto um indivíduo pode aprender algo é o mesmo que

se perguntar o quanto o seu organismo pode crescer e modificar-se ao longo da

vida.

A aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo

diante de diversas situações, em que é observada uma mudança de

comportamento evidenciada em atitudes voluntárias e autônomas em função da

experiência passada.

O desenvolvimento infantil e a aprendizagem passam, portanto, pelo corpo.

Quando os educadores são bem orientados e fundamentados para a realização de

um ensino de qualidade, a ação educativa pode motivar a criatividade por parte dos

alunos, estes sendo estimulados psicomotoramente a pensar, criar e agir, e não

apenas a reproduzir.

Tudo indica que as origens da natação se confundem com as origens da

Humanidade. Estudos relacionam o homem ao meio líquido por questões de

necessidade ( referentes à alimentação) e por prazer (referentes ao lazer); enfim, o

homem entrou em contato com o meio líquido segundo às circunstâncias às quais

estava submetido.

Tradicionalmente a natação é entendida pela população como um esporte

competitivo, onde os participantes buscam obterem tempos cada vez menores em

função de um treinamento rigoroso e individualizado. Porém, sua abrangência é

bem maior. Na água, há a relação do corpo com o outro, com o objeto e com o

próprio corpo, em que as pessoas de todas as idades são estimuladas para se

desenvolverem, de forma lúdica, conhecendo-se e aceitando-se, ajustando sua

conduta às exigências do meio social.

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Baseando-se nas obras que focalizam as atividades aquáticas e a

psicomotricidade, outras que apenas teorizam a aprendizagem da natação e,

finalmente, as poucas que focalizam a psicomotricidade também como parte

integrante do processo de aprendizado da natação, buscaremos ampliar as

formulações teóricas acerca do estudo da relação natação x desenvolvimento

psicomotor.

A natação, atividade que geralmente é cogitada como meramente física e/ou

recreativa, precisa ser reconhecida, pela sociedade, como uma possível fonte de

aprendizado e desenvolvimento infantil. Ainda que grande parte da sociedade seja

leiga a ponto de ignorar essa questão, muitos educadores pré-conceituam

atividades físicas apenas como atividades de desempenho puramente técnico, sem

compreender sequer os benefícios de sua prática para o aprendizado dito formal,

na escola.

A relevância desse estudo é proporcionar aos professores de um modo geral,

um material bibliográfico relevante para que seus alunos desenvolvam as

habilidades psicomotoras, possibilitando-lhes um maior conhecimento do próprio

corpo, noção básica para qualquer aprendizado que o envolva. Além disso,

objetivamos ampliar os conhecimentos a partir de uma ampla revisão bibliográfica

acerca do problema proposto.

O primeiro capítulo, “Desenvolvimento Infantil”, apresentará as conquistas

maturacionais do organismo nos aspectos psicomotor, sócio-afetivo e cognitivo;

além de citar as principais características das crianças nas idades de 3 aos 6 anos.

O capítulo dois, “Desenvolvimento das Habilidades Psicomotoras”, apresentará

a Educação Psicomotora assim como as principais habilidades psicomotoras a

serem desenvolvidas nos indivíduos.

O terceiro capítulo, “Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem”, abordará

de que forma se dá o processo de aprendizagem, além da relação existente entre o

mesmo e o desenvolvimento psicomotor.

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O quarto capítulo, “Aprendizado da Natação”, apresentará a natação como uma

atividade de estimulação psicomotora, além de comentar brevemente algumas das

principais conquistas no processo de adaptação ao meio líquido das crianças na

faixa etária estudada.

A conclusão aborda, principalmente, as relações entre a educação psicomotora

e os processos de aprendizado, com destaque à prática da natação, que propicia o

desenvolvimento das habilidades psicomotoras.

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CAPÍTULO I

DESENVOLVIMENTO INFANTIL

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Desde a vida intra uterina até a sua senilidade o ser humano sofre

transformações decorrentes das informações oriundas do meio interno e externo.

E é devido ao conjunto dessas informações que se produz um indivíduo com

características próprias (caráter, personalidade, cultura e conhecimento), fazendo-o

um ser único.

O processo de evolução da vida humana é uma grande odisséia de

maturações do sistema fisiológico, anatômico e psicológico, juntamente a

experiências vividas por cada um. Segundo Vygotsky, o desenvolvimento infantil é

um processo de maturação do organismo como um todo, onde a influência do meio

social, suas relações e influências culturais contribuirão para a formação do caráter

individual, ou seja, o que é inato não é suficiente para produzir um indivíduo, suas

características pessoais (valores, modo de agir, conhecimentos etc), dependem da

interação com seu meio ambiente e suas relações com os outros.

Na visão dos vários autores estudados (Piaget, Wall1on, citados por

Velasco,1994), a criança chega aos três anos com o andar mais firme, vencendo

obstáculos, subindo e descendo degraus, movimentos mais eficazes e direcionados

para os seus desejos, com uma organização de emoções, e uma linguagem ainda

em desenvolvimento. Porém “o desenvolvimento humano vem sofrendo variados

estudos e classificações. Contudo, ela tem algo em comum: a divisão geralmente é

diferenciada entre os aspectos motor, cognitivo (intelectual) e sócio-afetivo (sócio-

emocional)”. (VELASCO, 1994, p.33)

1.1 - Desenvolvimento Psicomotor.

“O movimento, que, segundo os conhecimentos atuais, ultrapassa o ato

mecânico e o próprio indivíduo, sendo a base das posturas e posicionamentos

diante da vida”. (LEVY, apud FERREIRA, 2000, p. 164)

O movimento é visto por muitos autores como facilitador dos

desenvolvimentos: cognitivo e afetivo-social, pois o movimento está presente em

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todos os períodos de nossa vida. Quando nascemos reagimos através de reflexos

aos estímulos do mundo, a sucção, a preensão, a marcha e outros recursos

motores são utilizados pela criança, nos primeiros meses de vida, para se

comunicar com o mundo novo que está a sua volta. Então, o movimento é o

mediador inato da criança com o mundo exterior, facilitando e proporcionando

maior desenvolvimento cognitivo, afetivo e social, simultaneamente com o

desenvolvimento motor (desenvolvimento psicomotor).

O desenvolvimento psicomotor, portanto, não é restrito ao ato motor

(possibilidade neurológica) por si só, mas também em suas relações com o meio

ambiente ,fazendo o indivíduo interagir com os aspectos afetivo, social e cognitivo,

proporcionando o desenvolvimento global e simultâneo do mesmo.

Todo o organismo da criança é controlado e relacionado às informações

recebidas pelo Sistema Nervoso. Essas informações são provenientes de

estímulos externos, gerando uma resposta. Dessa forma, quanto mais ricos forem

esses estímulos, maior será o desenvolvimento humano. Pois, como afirma

BUENO (1998), não é importante somente executar, mas também saber o

significado do ato realizado, como podemos observar em sua afirmativa: “O

movimento é o principal elemento no crescimento e no desenvolvimento da criança.

Toda ação está pertinente a um movimento e todo ato motor tem uma ação e um

significado”.(p.17) O autor continua sua afirmativa acrescentando: “Partindo do

princípio de que nem todo movimento é consciente e o que sentimos se reflete

muitas vezes nas nossas ações sem que percebamos tais mudanças, esse

também é um ato psicomotor”. ( p.18)

O desenvolvimento maturacional da criança (ossos e músculos), está

estritamente ligado às suas habilidades motoras, mas isso tudo também está

sujeito a influências e modificações que o meio social e cultural pode proporcionar

a esse processo de desenvolvimento.

A primeira característica presente no processo do desenvolvimento motor de

grande importância é a ação dos reflexos. Dos 0 aos 2 anos a criança é

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extremamente dependente dos reflexos primários (mamar, preensão etc.) que

progressivamente são inibidos pelo SNC , enquanto outras habilidades voluntárias

se desenvolvem (andar, trepar etc.) (Bonacella, 1987).

No processo de evolução motora a criança adquire habilidades ao longo do

seu crescimento. Sua primeira grande aquisição é o andar, uma fonte de maior

liberdade de movimentos, tornando-se menos dependente dos adultos que a

cercam. Ao chegar aos seus 3 anos, segundo LE BOULCH:

“seus deslocamentos não são mais problemas, o

equilíbrio está assegurado, a coordenação braços-

pernas tem se adquirido e a motricidade é

perfeitamente rítmica. (...) Bebe sem derramar o

líquido, agarra a colher e o garfo entre o polegar e o

indicador. Deve ter adquirido um bom controle

esfincteriano e começa a se vestir só”.(1992, p.164)

A partir do momento em que a criança adquire maturidade (conseqüente do

amadurecimento neuromuscular) suficiente para ter independência de

movimentação, passa a descobrir a si e ao que a cerca, através da atividade

motora. A partir dos 3 anos surge uma fase de muita movimentação, a criança pula,

corre, salta compulsivamente, é onde ocorre um grande desenvolvimento das

habilidades motoras fundamentais. E é também nessa fase que os dados

proprioceptivos e vestibulares começam a ser integrados.

Segundo o mesmo autor, a criança até completar seis anos apresenta

dificuldade para acompanhar objetos pela imprecisão dos movimentos oculares.

Aliado a isto, a baixa capacidade de atenção seletiva (dificuldade de concentração)

presente até essa idade, causa uma inabilidade em, por exemplo, interceptar uma

bola em movimento. A maturidade visual deve estar desenvolvida.

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As relações de troca com o outro e com o meio ambiente, em que cada um

constrói sua individualidade, vai favorecer de forma significativa o processo de

desenvolvimento psicomotor.

Para Wallon, entre os três e os seis anos há o estágio do personalismo, que

se caracteriza pela tomada de consciência do eu, sua afirmação e utilização. Nesse

período, as aquisições mais importantes são a tomada de consciência do próprio

corpo e a afirmação da dominância lateral, ou seja, orientação espacial.

1.2 - Desenvolvimento Sócio-Afetivo.

“O afeto é a própria pulsão interna do indivíduo, matiza a motivação e

envolve todas as relações do sujeito com os outros, com o meio e consigo mesmo”.

(LEVY, apud FERREIRA, 2000, p. 16)

O bebê humano é totalmente dependente das pessoas que o cercam, para

atenderem às suas necessidades básicas (locomoção, alimentação, higiene etc) e

afetivas, criando assim, grandes laços de afetividade com os adultos que lhe

proporcionam experiências agradáveis. Daí a importância da qualidade de seu

convívio social, pois os adultos são os mediadores da sua relação com o mundo,

fazendo-o interagir com o meio social e cultural.

Segundo Wallon a emoção é a raiz da ação:

“sendo ela (a emoção) o fator de organização e o

meio de comunicação com o mundo. (...) Vygotsky,

com sua visão interacionista e social, acredita que o

sujeito evolui na interação com o social, em que o

papel do outro é fundamental para seu

desenvolvimento. Lapierre e Aucouturier (...) dão

ênfase a vivência do movimento espontâneo , em que

os fatores emocionais devem ser levados em conta na

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decodificação do comportamento ali expresso, em

interação direta com o profissional”.(citado por

BUENO,1998, p.27)

A criança começa a conhecer a si mesma através das relações com o

objeto. Ao mesmo tempo, a conscientização da sua personalidade é efetivada pelo

conhecimento pelo outro (socialização), sendo o movimento a primeira estrutura de

relação com o meio, com os objetos e os outros, a primeira forma de expressão da

emoção e do comportamento.

De acordo com a fase pré-operacional de Piaget, a criança de 3 a 6 anos

está iniciando mais concretamente seu relacionamento afetivo e social, fase em

que começa a freqüentar a pré-escola e associar suas brincadeiras, inicialmente

sozinha e depois de forma paralela até a forma de duplas e trios, em que cada uma

ainda concentra sua atenção em sua própria atividade. A grande evolução social,

nessa fase, consiste em brincar em grupo envolvendo atividades cooperativas. É

nesse período que a função simbólica está em evidência, os objetos têm vida e

estão presentes dentro de todo um contexto fantasioso, e as situações reais

confundem-se com a realidade. Ao final, começa a separação entre o real e o

imaginário.

Um dos maiores erros da psicologia tradicional é querer separar o intelecto

(cognitivo) do afetivo, dissociando um ser humano que se desenvolve na sua

totalidade e plenitude e não em processos individualizados e autônomos. Para

Vygotsky essa separação não existe, sendo os desejos, as motivações, os

interesses e os impulsos a origem do pensamento, este que por sua vez, exerce

influência sobre o aspecto afetivo-volitivo.

1.3 - Desenvolvimento Cognitivo.

“O intelecto que encerra a gênese e todas as qualidades da inteligência e do

pensamento; seu desenvolvimento depende do movimento para se estabelecer,

desenvolver-se e operar”. (LEVY, apud FERREIRA, 2000, p. 165)

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Jean Piaget centrou seu trabalho na compreensão da inteligência,

caracterizando o movimento como fator de grande importância na formação da

mesma.

Ainda centrando o estudo do aspecto cognitivo em Piaget, percebemos que

o desenvolvimento evolui de acordo com a relação recíproca entre meio ambiente e

indivíduo, e que essa relação funcional entre corpo e alma se processa pelo

movimento. Somente a partir do momento em que agimos sobre algo, podemos

conhecê-lo, caracterizando as “operações”, termo utilizado pelo autor para se referir

aos processos mentais do indivíduo, presente nos estágios de desenvolvimento

cognitivo do mesmo.

Os períodos ou estágios de desenvolvimento, segundo Piaget, são divididos

em: sensório- motor, pré-operacional, operações concretas e operações formais.

Abordaremos de forma mais consistente o segundo estágio, pois compreende a

faixa etária a ser estudada (3 a 6 anos).

Sensório-motor (0 - 2 anos): inclui desde os primeiros reflexos até o

momento em que esses tornam-se movimentos menos automáticos, pela interação

do bebê com o mundo externo. Há a construção do universo da criança através de

diferentes experiências vividas, caracterizando sua inteligência como sensório-

motora.

Pré-operacional: dos 2 aos 7 anos há o desenvolvimento pré-operacional,

em que se inicia o processo de linguagem mais expressivo e compreensivo. Nesse

estágio a criança é capaz de elaborar uma linguagem ou um pensamento sem

necessariamente vivenciá-lo naquele momento. Porém, esse pensamento ainda é

bastante inflexível, pois a criança não consegue associar situações e sim sobrepor

percepções.

Inicia-se a interiorização de esquemas de ação e representação, em que a

criança começa a organizá-los, mas sem perceber o que organizou no sentido

inverso; o que Piaget denomina irreversibilidade do pensamento. O raciocínio

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transdutivo caracteriza o comportamento de ligar dois fatos não relacionados,

supondo que um é a causa do outro.

O egocentrismo continua presente, já que a criança caracteriza tudo que

acontece como sendo consequência de suas ações, ignorado o ponto de vista do

outro.

Operações concretas (7-11 anos): evolução cognitiva, pensamento mais

objetivo, capacidade de resolver contas matemáticas de soma, subtração e

multiplicação, e utilização de experiências anteriores para um princípio geral.

Operações formais (acima de 12 anos): raciocínio hipotético, capacidade de

combinações e busca de respostas de forma sistemática e organização de idéias.

1.4 - Características gerais das crianças nas idades estudadas

(de 3 a 6 anos)

1.4.1 - Crianças de aproximadamente 3 anos.

A criança de 3 anos tem como atividade principal o brincar, que ajuda no

conhecimento de si e de todos que estão a sua volta, pois é através da brincadeira

que a criança aprende naturalmente.

As características Psicomotoras da criança de 3 anos envolvem o pular, o

equilibrar e a lateralidade. Ela alterna os pés ao subir uma escada; anda nas

pontas dos pés; equilibra-se momentaneamente sobre um pé; caminha sobre um

círculo traçado no chão; salta do último degrau; pula com os dois pés; desce

escada descansando dois pés em cada degrau; recebe a bola com os braços

estendidos e a lateralidade está se definindo.

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No desenvolvimento sócio-afetivo a criança gosta de se envolver com outras

crianças e as vezes brinca isoladamente e costuma ter amigos imaginários. Gosta

de rotina e sente-se segura em ambientes limitados, surgindo alguns sentimentos

de medo. Geralmente é rebelde e autoritária, começando a se libertar da

dependência dos pais e já tem adquirido hábitos higiênicos.

Já no campo do cognitivo, a criança reconhece nome, sexo e idade, além de

possuir os conceitos de tamanho e de número (1 e 2), sendo capaz de classificar,

identificar e comparar. Gosta muito de rabiscar e só mantém atenção por 15 a 20

minutos.

1.4.2 - Crianças de aproximadamente 4 anos.

A criança de 4 anos possui características Psicomotoras mais

aperfeiçoadas, em relação a correr, saltar e equilibrar-se. Domina a corrida, pula

num pé só, salta para frente, parado ou correndo, salta sobre um e outro pé,

equilibra-se por mais de oito segundos, alterna os pés ao descer uma escada, além

de ser capaz de realizar movimentos isolados do corpo. Já possui a mão preferida

(dominância da lateralidade) e nos jogos já maneja a bola com movimentos de

cotovelos (flexionados ou estendidos).

No desenvolvimento sócio-afetivo, a criança já começa a formar grupos

(socialização), percebendo também que o combate físico não é a melhor forma de

resolver conflitos. A fantasia ainda é muito presente, sente-se mais independente e

gosta de aventuras, porém sente medo de escuro. Seu comportamento é instável,

gosta de ordenar, mas não gosta de obedecer.

No desenvolvimento cognitivo a criança de 4 anos, compreende três ordens,

já entendendo as mais complexas. Seleciona objetos com movimentos de pinça

(motricidade fina mais apurada), separando também objetos pela textura e forma. A

noção de tempo começa a aparecer, noções de longe, perto dentro, fora e lado já

estão internalizadas. O grafismo ainda não possui conteúdo definido, conhece

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algumas cores e descrimina sons pela intensidade. Sua concentração se mantém

por períodos mais longos.

1.4.3 - Crianças de aproximadamente 5 anos.

Suas funções psicomotoras estão um pouco mais apuradas, o equilíbrio, o

esquema corporal e a orientação espaço-temporal são as funções que se

encontram em grande fase de desenvolvimento. As passagens de uma posição

para outra são realizadas sem perder o equilíbrio salta e saltita num pé só e

alternando, anda para trás nas pontas dos pés ou sobre os calcanhares, consegue

ficar nas pontas dos pés por vários segundos. Possui domínio dos grandes

músculos e está em desenvolvimento dos pequenos músculos, salta e pega a bola

sem ajuda.

No campo sócio-afetivo a criança de 5 anos gosta muito de ajudar,

protegendo as crianças menores e cooperando mais. Começa a substituir a

fantasia pela realidade, controlando bem suas emoções. Está gradativamente

alcançando sua independência, assumindo responsabilidades, apesar de ainda

precisar ser constantemente lembrada dos compromissos que assumiu.

Cognitivamente aprecia histórias mais realistas, faz perguntas mais sérias,

desejando informações. Discrimina palavras que começam com mesmo som.

Desenvolveu atenção para estímulos mais distantes e o raciocínio e a associação

de idéias e das generalizações também estão em grande desenvolvimento. As

noções de tamanho, distância e posição já estão completamente dominadas.

1.4.4 - Crianças aproximadamente de 6 anos

Nesta fase a criança tem suas características psicomotoras muito bem

desenvolvidas. Equilibra-se muito bem nas pontas dos pés e de olhos fechados,

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caminha com segurança sobre a barra de equilíbrio. Possui um ritmo normal e uma

grande precisão de movimento.

No campo sócio-afetivo suas relações em grupo são cada vez maiores, são

raros os conflitos. A socialização está em evidência, precisa ser aceito pelo grupo

(meninos gostam de mostrar sua força e meninas dão valor à estética). Gosta de

demonstrar sua independência e sente-se superior a crianças mais novas.

No cognitivo é o período de alfabetização, tem uma boa capacidade de

argumentação e de julgamento. A imaginação está presente, mas sabe diferenciar

a fantasia da realidade. Interessa-se em aprender coisas novas e em saber as

notícias atuais.

O desenvolvimento da personalidade da criança ocorre paralelamente a uma

progressiva tomada de consciência de seu corpo, de seu ser, de suas

possibilidades de agir e transformar o mundo à sua volta. Dessa forma, à medida

que a criança conhece bem o seu corpo e este a obedece, funcionando não só

para movimentar-se, mas também para agir, tem total domínio do mesmo,

sentindo-se bem consigo mesma e com o mundo ao seu redor.

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CAPÍTULO II

DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES

PSICOMOTORAS

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De acordo com a estimulação do desenvolvimento psicomotor, ou seja, das

habilidades psicomotoras, a Educação Psicomotora trabalha todos os aspectos do

desenvolvimento motor, intelectual e sócio-afetivo. De acordo com VAYER e PICQ,

citados por BUENO:

“a consciência do corpo, o domínio do equilíbrio, o

controle e mais tarde a eficácia das diversas

coordenações gerais e segmentares, a organização do

esquema corporal, a orientação no espaço e,

finalmente, melhores possibilidades de adaptação ao

mundo exterior são os principais objetivos da

educação psicomotriz”. (1998, p.84)

Para LE BOULCH (1992, p.148), " a Educação Psicomotora deve ser

considerada como uma educação de base na escola elementar, ponto de partida

de todas as aprendizagens pré-escolares e escolares ".

" A Educação Psicomotora se realiza na escola, na família e no meio social

com a participação dos educadores, dos pais e dos professores em geral

(professores de natação, de judô, balé, dança, magistério etc.) ". (BUENO, 1998,

p.84)

É necessário, portanto, descrever as principais características dos conceitos

psicomotores, como as citadas anteriormente.

2.1 - Esquema Corporal.

Segundo DAMASCENO (1997, p.53), o indivíduo toma consciência de si

mesmo, de seus segmentos corporais e de sua projeção no espaço desde bebê, ao

exercitar os órgãos dos sentidos e as sensações proprioceptivas que surgem dos

seus movimentos espontâneos e naturais alcançando, mais tarde, a elaboração

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mental do gesto a ser realizado na execução de uma ação. Posteriormente, o

esquema corporal dará condição para a execução do ato motor voluntário.

De acordo com BUENO, o esquema corporal é um dos conceitos

psicomotores funcionais estruturais (aliado ao tônus, à postura e à respiração), que

estão entre a estrutura física e o desenvolvimento, sendo fundamentais para o

desenvolvimento das crianças. Esse conceito engloba o conhecimento das partes

do corpo e quando bem integrado implica na percepção e no controle do próprio

corpo, num equilíbrio postural econômico, numa lateralidade bem definida, na

independência dos segmentos em relação ao tronco e uns em relação aos outros,

no controle e equilíbrio das pulsões ou inibições estreitamente associadas ao

esquema corporal e ao controle da respiração.

O esquema corporal não é algo fixo ou imutável, tem uma evolução

progressiva que relaciona sua situação espacial (pelas referências perceptivas

recebidas do exterior) à realização do gesto (pelas intenções motoras). Ele é o

resultado das experiências do corpo desde o nascimento e é uma característica

importantíssima para a formação da personalidade.

A criança se descobre inicialmente pela sua atividade global ou instintiva,

reconhece-se diferente do outro, dos objetos, do tempo, do espaço; e depois pela

atividade diferenciada e intencional, que lhe permitem descobrir o mundo que a

rodeia, construindo uma consciência corporal, das partes do corpo e seus

respectivos movimentos e funções que reafirmam sua existência no mundo. O

esquema corporal é, portanto, a nível consciente.

2.2 - Imagem Corporal.

“ É a imagem do nosso próprio corpo que formamos em nosso espírito; por

outras palavras, o modo como o nosso corpo se apresenta a nós mesmos”.

(COSTE, 1992, p.18) “É a impressão que a pessoa tem de si mesma (baixa, alta,

gorda etc.)” (BUENO, 1998, p.57) “è a representação mental que o indivíduo tem de

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seu próprio corpo construída por intermédio de sua experiência subjetiva”.

(HURTADO, citado por LEVY, p. 171)

Em relação à imagem corporal, esta é a impressão que temos de nós

mesmos, ou seja, se nos sentimos baixos, altos, gordos etc. Segundo a autora

anteriormente citada, esse conceito corresponde à intuição que a criança tem de

seu corpo em relação ao espaço dos objetos e das pessoas durante a ação

psicomotora. A imagem corporal é inconsciente e é resultado do “desenvolvimento

das sensações e percepções relativas ao seu próprio corpo integradas aos seus

sentimentos”. (LEVY,apud FERREIRA, 2000, p.165) Assim, a cada experiência de

nosso corpo com o objeto ou com o outro no espaço a criança renova sua imagem

corporal.

2.3 – Equilíbrio.

É a base de toda a coordenação dinâmica global. É indispensável para que

ocorra a coordenação dos movimentos dos vários segmentos corporais.

Essa habilidade psicomotora pode ser desenvolvida sob o aspecto estático

ou dinâmico. O primeiro exige muita concentração e seu controle é importantíssimo

para uma aprendizagem futura. O domínio do equilíbrio implica no controle da

postura, em movimentos de sustentar-se em diferentes situações.

O equilíbrio dinâmico relaciona-se com as funções tônico-motoras, com os

membros e órgãos sensoriais e motores. Quando qualquer parte do corpo se move,

o centro de gravidade também se move, fazendo com que o indivíduo se

reequilibre. Dessa forma, quando o corpo está em movimento, maior a dificuldade

para se atingir gestos harmoniosos, como demonstra BUENO:

“Percebe-se que uma criança ou indivíduo com

equilíbrio debilitado geralmente se mostra angustiado

na execução dos movimentos coordenados e sua

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leitura do movimento é incorreta e precária,

apresentando muitas vezes uma atenção

reservada”.(1998, p.56)

O equilíbrio relaciona-se diretamente ao sistema vestibular, órgão sensorial

responsável pela recepção das sensações de desequilíbrio ou equilíbrio e posterior

manutenção do mesmo.

2.4 - Organização Espacial.

"É a tomada de consciência da situação das coisas entre si. É a possibilidade

para a pessoa, de organizar-se perante o mundo que a cerca, de organizar as coisas

entre si, de colocá-las em um lugar, de movimentá-las. É ter a noção de direção e de

distância em integração". (BUENO, 1998, p.63).

Piaget, no estudo da evolução do espaço na criança, destacou que após os

primeiros anos de vida, em que o espaço é limitado ao campo visual e às

possibilidades motoras do bebê, a criança começa a andar, ampliando-se seu espaço

de ação e multiplicando-se suas possibilidades de experiência, aprendendo a deslocar-

se no espaço, captando distâncias e tendo seu corpo como referência. Ao final dos

dois anos, há a noção de um espaço geral, caracterizando as relações dos objetos

entre si e o próprio corpo. Nesse momento observa-se que o desenvolvimento tem

estreita relação com a inteligência sensório-motora, já que a elaboração do espaço

deve-se essencialmente à coordenação dos movimentos.

Ao agir, a criança estabelece pouco a pouco os conceitos de forma, dimensões,

relações de separação, ordem e continuidade entre elementos. Entre os 3 e 7 anos,

atenta para as noções de orientação (direita/esquerda, acima/abaixo, frente/atrás),

situação (dentro/fora), tamanho (grande/pequeno, alto/baixo) e direção (aqui/ali, desde,

até).

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Se orientar espacialmente é orientar-se no mundo, tendo como referência o

"EU" e depois os objetos e as pessoas (estáticos ou em movimento). Dessa forma,

a noção espacial é essencial para a consciência desse "EU", para a afirmação da

sua identidade no mundo.

2.5 - Organização Temporal.

Através de uma organização temporal, podemos nos situar em função dos

acontecimentos passados, presentes e futuros; em função da duração dos

acontecimentos, como hora, minuto, dias da semana, meses, ano; etc.

Como é uma noção abstrata, a noção de tempo é difícil de ser adquirida

pelas crianças. Está ligada à noção de espaço, “assim, situamos o presente, o

passado e o futuro em relação ao antes e ao depois e avaliamos o movimento no

tempo, distinguindo o rápido do lento, o sucessivo do simultâneo”. (BUENO, 1998,

p.65)

A criança situa sua ação e suas rotinas em ciclos de

vigília-sono, antes-depois, manhã-terde-noite, ontem-

hoje-amanhã. As relações temporais somente existem

pelas conexões que a criança estabelece mentalmente

entre suas atividades. Para a compreensão do tempo

é fundamental a ação da memória, que desempenha

um papel importantíssimo nesse processo”.

2.6 – Ritmo.

“O ritmo é força criadora que está presente em todas as atividades humanas

e se manifesta em todos os fenômenos da natureza”. (BUENO, 1998, p.66) Em

cada indivíduo se estabelece um ritmo próprio, apresentado em seu jeito de ser, de

agir, de dançar, de cantar, de escrever.

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A expressão rítmica facilita a exploração de outras formas de consciência

corporal. Na abordagem profissional, cremos que atentar para o ritmo de cada

indivíduo é atentar para o seu eu. É o processo rítmico de cada indivíduo que

determina seu desenvolvimento ou suas alterações”. (BUENO, 1998, p.67)

2.7 – Lateralidade.

É o elemento fundamental de orientação do mundo exterior. Através do

desenvolvimento da lateralidade, o indivíduo reconhece a existência de dois lados

nos objetos, nas pessoas e em si mesmo, e relaciona-se mais facilmente com as

coisas que o cerca.

ÂNTICO (citada por VELASCO), pesquisadora da área, apresenta que a

lateralidade é definida a partir de uma maturação neurológica:

“aos três anos há a dominância lateral inata; dos

quatro aos cinco anos, há a consciência do eixo

corporal, ou seja, os dois lados; aos seis anos, a

visualização de direita e esquerda em si próprio; aos

sete anos a projeção no espaço e aos oito anos a

projeção no outro. Se acima de nove anos essa

vivência não ocorrer, poderemos considerar que estar

havendo, provavelmente, um distúrbio de lateralidade”.

(1994, p.40)

Por meio de experiências em que a criança direciona movimentos a objetos

situados em um dos lados, ela irá aprender que para alcançá-los, precisa realizar

um movimento para tal lado e desenvolve o conceito de um objeto situado daquele

lado, direito ou esquerdo e internaliza o termo.

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Paulatinamente, a criança transpõe as imagens dos objetos e a existência

de dois lados, o direito e o esquerdo, interiorizados, para o próprio corpo,

realizando movimentos fragmentados com apenas um segmento corporal, por

exemplo, de forma consciente.

A dominância lateral, que não deve ser confundida com lateralidade, é a

dominância de um lado do corpo em relação a outro. Assim, um lado do corpo

passa a ser utilizado com maior desembaraço, apresentando maior funcionalidade

para o indivíduo.

2.8 – Tônus.

O tônus é a resistência de um músculo à distensão; refere-se à firmeza, à

palpação e está presente tanto nos músculos em movimento quanto em repouso.

Um músculo hipertônico tem maior resistência à distensão, já o hipotônico é o

inverso, apresenta flacidez.

“O desenvolvimento do tônus é uma condição básica para a aquisição de

movimentos manuais coordenados, ou seja, para uma boa coordenação viso-

manual”. (BUENO, 1998, p.54)

Esse conceito psicomotor é também um canal de comunicação presente em

nosso corpo. Através do mesmo, temos a capacidade de nos comunicarmos com o

mundo de forma não verbal, representada por uma linguagem corporal. A

necessidade da comunicação está relacionada ao aspecto emocional dos

indivíduos.

De acordo com LEVY (apud FERREIRA, 2000, p. 169), segundo a

abordagem psicomotora, “toda atitude tônica tem uma ressonância a nível afetivo e

conjuntamente todo o estado emocional implica um comportamento tônico”. Dessa

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forma, a cada modificação do tônus são geradas reações que se repercutem sobre

todo o corpo e vice-versa.

Esse diálogo tônico-emocional pode ser percebido como resultado de

vivências emocionais e afetivas, agradáveis ou desagradáveis, ao gerar sensações

de prazer ou desprazer, de realização ou frustração. Segundo AJURIAGUERRA:

“só com a vivência corporal de situações psicomotoras

e relacionais o indivíduo terá condições de moldar o

seu tônus, oscilando entre a hipertonia, normalidade e

hipotonia, moldando-se às situações e fortalecendo-se

com isso para as situações cotidianas futuras”.

2.9 - Coordenação Motora.

A coordenação motora pode ser dividida em dois conceitos, coordenação

motora global e coordenação fina.

A primeira refere-se à realização de movimentos amplos de forma

econômica e controlada. Bem desenvolvida, permite a mobilização de diferentes

grupamentos musculares ao mesmo tempo, de forma harmônica, havendo o

domínio corporal no tempo e no espaço. “Os movimentos solicitam grupos

musculares diferentes, aprimorando os comandos nervosos e refinando as

sensações e percepções visual, auditiva, cinestésica, tátil e, principalmente,

proprioceptiva”. (VELASCO, 1994, p.32).

A coordenação motora fina depende da maturação neurológica. Permite

movimentos segmentares, de extremidades, refinados e mais elaborados. Pode ser

dividida em óculo-motora (processo automático do corpo para a ação; óculo-global

e óculo manual), motora fina (envolve pequenos músculos e a habilidade de

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manipulação de objetos muito pequenos) e músculofacial (envolve os músculos do

rosto, fundamentais na estruturação da fala) .

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CAPÍTULO III

DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E

APRENDIZAGEM

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3.1 – Aprendizagem.

Nos estudos atuais é dada cada vez mais importância ao desenvolvimento

psicomotor como facilitador nos processos de aprendizagem, voltado para a

sistematização de certos conteúdos curriculares, mais especificamente os que se

relacionam à alfabetização. Conforme Nascimento: o desenvolvimento psicomotor

apresenta “dupla função, preventiva e terapêutica, levando em consideração que

em torno da ação psicomotora giram as possibilidades de atuação, através do

corpo, sobre o psiquismo e as funções instrumentais da adaptação ao meio”.

(NASCIMENTO, 1999, p.13)

3.1.1 - Mas o que significa aprender?

“A aprendizagem deve ser compreendida como a integração, pelo indivíduo,

de meios de ação cada vez mais elaborados e cada vez mais eficientes para

afirmar sua personalidade e para agir sobre o meio”. (VAYER, 1985, p.25)

“A construção do conhecimento não é algo adquirido de fora para dentro.

Depende das ações sensório-motoras que, coordenadas, ativam, organizam e

estruturam o sistema nervoso do organismo humano. Ao agir sobre o mundo a

criança aprende a controlá-lo”. (THOMPSON apud FERREIRA, 2000, p.45)

O desenvolvimento pode ser visto como uma seqüência de mudanças ao

longo da vida, no que se refere ao sistema neurológico e físico, e a todos os

comportamentos sociais e afetivos dos indivíduos. A eficácia no desenvolvimento

cognitivo, afetivo e motor abrem, portanto, caminho para a aprendizagem.

Dessa forma, para que ocorra o aprendizado, a criança precisa vivenciar

diversas situações que irão lhe fornecer experiências necessárias ao seu

desenvolvimento e a possíveis mudanças de comportamento diante de uma

situação-problema.

Para que a criança aprenda, “convém que certas condições sejam

realizadas: é preciso que a criança tenha o desejo de agir; é preciso que as

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pesquisas ou experiências tenham um significado; é preciso sobretudo que o

indivíduo seja sujeito de sua ação, isto é, de sua aprendizagem”. (VAYER, 1985,

p.26)

Agir já é pensar, conhecer. Agindo de forma autônoma, a criança terá a

capacidade de aprender. Somente o prazer de agir levará ao prazer de pensar,

favorecendo o primeiro, estaremos possibilitando o segundo.

De acordo com a fase de desenvolvimento em que se encontra o indivíduo e

das experiências motoras vividas por ele, o mesmo elaborará, progressivamente as

estruturas cada vez mais organizadas mentalmente, que darão origem às formas

superiores de raciocínio.

Como o pensamento manifesta-se na motricidade, podemos dizer que

quanto maior a pobreza de movimentos e de experiências motoras realizadas,

maior será a limitação na capacidade perceptiva da criança e, conseqüentemente,

de seu aprendizado.

A maturação do sistema nervoso, que se inicia na vida intra-uterina,

continua a ocorrer após o nascimento e tem estreita ligação com a evolução do

controle postural e do auto-controle motor. O processo maturacional vai do simples

para o complexo, do movimento reflexo para o movimento voluntário. “O processo

maturacional pode ser dividido em sistemas de estimulação, integração e resposta”.

(THOMPSON apud FERREIRA, 2000, p.45) O primeiro coleta as informações

ambientais através dos órgãos sensoriais, e transmite tais informações para o

sistema de integração. Este, por sus vez, identifica, seleciona, integra, armazena e

usa as informações recebidas. É responsável pela percepção, memória, intelecto,

formulação das atividades motoras e consciência. O sistema de resposta é

externalizar os movimentos musculares.

A principal preocupação de Jean Piaget, dirigiu-se à elaboração de uma

teoria que explicasse de que forma o conhecimento é construído, ou seja, de que

forma o organismo conhece o mundo. Concluiu, entre outras questões, que a partir

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do desenvolvimento do conhecimento, há a “produção de estruturas lógicas que

possibilitam ao indivíduo atuar sobre o mundo de formas casa vez mais flexíveis e

complexas”. (RAPPAPORT, 1981, P.52)

“Aprendizagem e vivência não podem se dissociar. Quanto mais intensas

forem as vivências, e maior for a afetividade nessas relações, maiores serão as

adaptações e as aquisições da criança”. (THOMPSON apud FERREIRA, 2000,

p.46)

A criança, ao amadurecer física e psicologicamente, estará construindo a

sua inteligência, desenvolvimento este controlado pelo sistema maturacional.

Segundo PIAGET, “a criança é que irá construir seu crescimento mental (...) a

criança é vista como agente de seu próprio desenvolvimento”. (RAPPAPORT,

1981, P.64) Assim, o desenvolvimento para PIAGET, segue determinadas fases,

períodos ou estágios, como exemplificados no primeiro capítulo do presente

estudo.

Não podemos diferenciar a aprendizagem motora da aprendizagem no

sentido genérico. “Na perspectiva desenvolvimentista, a finalidade buscada é a

adaptação do indivíduo a seu meio”. (THOMPSON apud FERREIRA, 2000, p.47)

Para que sejam atingidos a adaptação e conseqüentemente, o equilíbrio, dois

conceitos são fundamentais: assimilação e acomodação. O primeiro é “a

incorporação dos dados da experiência do próprio sujeito”. (VELASCO, 1994, p.56).

Acomodação é “caracteriza as modificações da estrutura do indivíduo em função

das modificações do meio”. (THOMPSON apud FERREIRA, 2000, p.47)

A aprendizagem, do ponto de vista da psicomotricidade, deve ressaltar como

aspectos mais relevantes: “a relação do sujeito com a experiência, por um lado as

sucessivas aproximações e ajustes de comportamento, e por outro as consecutivas

representações mentais dos comportamentos produzidos, que resultarão em

conceitos automatizados”. (THOMPSON apud FERREIRA, 2000, p.47/48)

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Como profissionais do movimento, temos a capacidade de perceber e

interpretar externamente sinais que indicam a qualidade do estado funcional e

neurológico da criança, identificando estados de imaturidade ou de atraso no seu

desenvolvimento neuropsicomotor. Percebemos crianças que esbarram nos

objetos, atropelam constantemente pessoas, deixando cair tudo etc. Na escola,

apresenta pouca habilidade motora durante jogos e brincadeiras, além de

apresentarem dificuldades na leitura e na matemática. Essas crianças não

desenvolveram harmoniosamente as capacidades psicomotoras de base.

Como os processos referentes ao desenvolvimento psicomotor não são

fenômenos separáveis, o desenvolvimento dos aspectos psicomotores, do

desenvolvimento cognitivo e da linguagem devem ser abordados em seu conjunto.

A seguir, faremos uma relação entre os principais conceitos psicomotores,

apresentados no Capítulo 2 e a aprendizagem.

3.2 - Aspectos Psicomotores Relacionados à

Aprendizagem.

O corpo é o ponto de referência que o ser humano possui para conhecer o

mundo e agir sobre ele. Esse ponto de referência servirá de base para o

desenvolvimento cognitivo e para a aprendizagem de conceitos importantes para

uma boa alfabetização como, por exemplo, os conceitos de espaço (embaixo, em

cima, ao lado etc.); que primeiramente são visualizados através de seu corpo e só

depois consegue visualizá-los nos objetos.

Uma criança que possui domínio corporal e conhece bem o seu próprio

corpo, tanto suas habilidades e como suas limitações, poderá utilizá-lo para

alcançar um maior poder cognitivo. Uma boa estruturação do esquema corporal,

portanto,“contribui diretamente à adaptação do sujeito no espaço e no tempo,

contribuindo para uma disposição corporal mais adequada para a realização de

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diferentes atividades”. (DEFONTAINE, citado por DAMASCENO, 1997, p.54). da

mesma forma, um esquema corporal mal definido, traduz-se em lacunas no

desenvolvimento infantil, como enumera LE BOULCH (citado por DAMASCENO,

1972, p.149): déficit da percepção (estrutura espaço-temporal); da motricidade

(incoordenação nas atividades); da relação com o outro (insegurança – incidência

no plano emocional).

Os fatores psicomotores, tais como: tonicidade, lateralidade e equilíbrio;

contribuem para a construção da noção do corpo pela criança, que elabora todas

as suas experiências, organiza a sua personalidade e torna-se capaz de aprender.

Assim, a criança evolui à medida que adquire mais conscientização e mais

conhecimento do seu corpo.

O aprender corporal envolve o conhecimento do próprio corpo, com a sua

realidade exterior, ou seja, são dados proprioceptivos e exteroceptivos interagindo

e provocando mudanças de comportamento corporal.

A noção do corpo, no estudo abordado, avalia sua representação psicológica

e linguística e suas relações com o potencial de aprendizagem. O desenvolvimento

da aprendizagem e consequentemente da personalidade, é essencialmente

dependente da noção que a criança tem de seu corpo, pois além de envolver um

processo perceptivo e polissensorial, retém atitudes afetivas vividas e

experimentadas de forma significativa.

FONSECA (1995, p.199) afirma que:

“o potencial de aprendizagem sofre a intervenção da

noção do corpo quando o indivíduo recebe a

informação de forma consciente. Neste momento o

cérebro é capaz de programar os movimentos de

forma ergonômica, ao exigir uma atualização da

consciência corporal (...) a noção do corpo se constrói

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com base numa aprendizagem motora superiormente

integrada e conscientizada”.

A vivência e a experimentação de múltiplas formas de equilíbrio são

importantes para todo desenvolvimento mental. Conforme PIAGET (citado por

ALVES 2003, p. 22), “o equilíbrio é uma resposta do sujeito frente a estímulos

externos ou internos. A criança desenvolve-se intelectualmente por estar em

constante adaptação: de um estado de equilíbrio ao desequilíbrio após o qual

alcança um novo equilíbrio”.

Ao estabilizar-se, o corpo possibilita a abertura de canais apropriados às

aprendizagens cotidianas. Atenção e concentração não bastam, é necessário ter

uma estruturação emocional, afetiva e corporal para o equilíbrio estático e o

dinâmico.

Sobre a organização espacial, a consciência do espaço é uma preparação

para o aprendizado futuro de geografia e geometria e uma boa visão do universo.

“Aprender a localização de um objeto no espaço não é fácil (...) assim podemos

compreender a dificuldade de uma criança em idade escolar para lidar com todas

essas informações e conceitos espaciais”. (BUENO, 1998, p.63)

No aspecto cognitivo, a noção espacial é o primeiro passo para alcançar a

abstração, ou seja, o pensamento abstrato, e também está ligado às funções da

memória. Assim, o espaço não é somente o deslocamento, mas também constitui

parte de nosso pensamento, no qual se inserem dados da experiência. “A carência

espacial pode comprometer a aprendizagem da leitura (percepção óculo-motora,

lateralidade, motricidade ocular e sucessão e progressão de letras orientadas)”.

(BUENO, 1998, p.64)

Para a compreensão do tempo, é fundamental a ação da memória sensorial

até o concreto. A memória retém lembranças de maneira espetacular. Assim,

aprendizado dos conceitos temporais deve-se a exercícios psicomotores

relacionados ao espaço e a memória sensorial inserida no mesmo.

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Uma criança com alterações na organização temporal não consegue se

organizar quanto ao uso do tempo, demorando a realizar atividades simples; não

consegue associar o gesto à palavra na leitura; não percebe o que demora, o que

vai depressa ou quando há uma parada. Quando estimulada psicomotoramente na

pré-escola, a criança poderá desenvolver as noções de ritmo e tempo, realizando,

posteriormente, uma escrita com a pontuação adequada.

Situada no espaço e no tempo, a criança determina o seu próprio ritmo e

consegue equilibrar os processos de assimilação e acomodação, para um

aprendizado harmonioso.

“O indivíduo que consegue desenvolver um ritmo

próprio aumenta seu poder de concentração e facilita

sua capacidade de aprendizagem. Indo mais a fundo e

aprimorando o ritmo próprio do indivíduo, estaremos

desenvolvendo sua própria individualidade”. (BUENO,

1998, p.66)

“Para uma criança aprender a ler, é necessário que possua domínio do

ritmo, uma sucessão de sons no tempo, uma memorização auditiva, uma

diferenciação de sons”. (THOMPSON apud FERREIRA, 1998, p.51) Há uma

grande relação entre ritmo e organização temporal e o aprendizado da leitura, de

forma que a habilidade rítmica pode evitar a formação de uma leitura lenta e

silabada ou até dificuldades na entonação e pontuação que se dá à leitura de um

texto.

Quando a criança chega aos sete anos de idade e não tem uma lateralidade

definida, ela normalmente está ligada a transtornos espaço-temporais e da função

simbólica, gerando atrasos e distúrbios de linguagem. O aprendizado da escrita

também poderá se prejudicado.

A comunicação não verbal poderá representar-se nas crianças através do

tônus, dos atos, do olhar, do sorriso, do desenho e da escrita. Comunicar é se abrir

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ao mundo dos outros e do conhecimento. Se a criança não se comunicar não

poderá aprender, porque estará limitando seu poder de ação e aprendizado,

conseqüentemente. Tendo prazer em se comunicar, terá prazer em agir, em

transformar, em existir.

Nós, profissionais do “ensinar”, precisamos aprender a decifrar, nas

crianças, posturas, olhares, comportamentos e a realizar a leitura corporal expressa

através do tônus, para melhor compreendê-las e transmiti-las segurança afetiva

necessária à eficácia de seu desenvolvimento cognitivo.

Desenvolvendo-se a coordenação motora global, a criança apresentará,

segundo VELASCO (1994,p.32): “movimentos solicitando grupamentos musculares

diferentes, aprimorando os comandos nervosos e refinando as sensações e

percepções visual, auditiva, cinestésica, tátil e, principalmente, proprioceptiva”.

Através da coordenação motora fina poderá desenvolver-se a atenção, o

raciocínio e a concentração, necessários a qualquer aprendizado consciente.

Percebemos que para qualquer tipo de aprendizagem o caminho a ser

percorrido envolve transformações inovadoras, que objetiva a evolução do ser

como um todo. A seguir será abordado um aprendizado específico, o aprendizado

da natação.

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CAPÍTULO IV

APRENDIZADO DA NATAÇÃO

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Ao nascer a criança sai da temperatura do corpo materno, banhada no

líquido amniótico, entra em um mundo desconhecido, que não está mais em

harmonia com as sensações internas e é apresentado a outras sensações como o

contato das mãos, dos objetos, da temperatura e da luz que fazem parte do meio

externo. A criança busca reencontrar esse calor, procurando o complemento da

mãe. Quando os estímulos referentes ao meio líquido são positivos, serão

armazenados em seu subconsciente a idéia de prazer e de satisfação por estar na

água. Essa é a principal importância da natação para os bebês.

4.1 – O processo do aprendizado da natação.

A natação é considerada um desporto estruturado e regulamentado, onde

seus praticantes buscam tempos cada vez menores. Porém, não é mais admissível

a natação permanecer reduzida a um conceito puramente mecanicista, a partir do

qual sua prática busca exclusivamente tempos cada vez mais imediatos. Dessa

forma, em nosso estudo, a importância da natação está ligada a inúmeras vivências

corporais necessárias ao aprendizado da natação e ao desenvolvimento

psicomotor, proporcionando o desenvolvimento do indivíduo como um todo. Então,

abordaremos a natação como uma fonte de aprendizado, alegria e

desenvolvimento infantil.

Segundo Bueno (1998), “a água é o maior brinquedo existente na terra” e

para LEWIN (citado por Bueno, 1998, p.119) a natação é “um desporto que

constitui uma fonte de recreação, de alegria de viver e de saúde, para pessoas de

todas as idades”.

A riqueza das atividades que podem ser realizadas na água para o

aprendizado da natação, baseadas no fato do corpo ser o principal instrumento de

ação, que deve ser dominado pela criança, foi o que despertou o interesse pelo

estudo da conscientização e do conhecimento cada vez mais profundo do corpo.

Essas atividades podem ser muito ricas ao englobarem como objetivo algumas das

habilidades psicomotoras como: esquema corporal, imagem corporal, tônus,

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coordenação espacial e temporal, ritmo, lateralidade, equilíbrio e coordenação

motora.

A aprendizagem da natação deve ser dividida em fases. O primeiro passo é

a adaptação e total segurança da criança dentro d’água, de forma a deixá-la

totalmente ambientada ao meio líquido.

O segundo passo deve promover o enriquecimento adaptativo às

provenientes do meio aquático. Aprender a nadar não é sinônimo de aprender uma

só técnica, mas antes de tudo, apresentar segurança e autonomia no meio líquido.

O terceiro passo implica em integrar o sensorial e a consciência do próprio

corpo, ou seja, capacitar à criança a realizar movimentos e deslocamentos

aquáticos coordenativos e construtivos através da descoberta orientada, em que

cada criança, estimulada pelo professor, descobre a melhor forma de deslocar-se.

Em síntese, a primeira finalidade de qualquer processo de aprendizagem

como o da natação, é promover ao cérebro a capacidade de aprender a aprender,

levando-se em conta o desenvolvimento psicomotor.

4.2 – As novas sensações no meio líquido.

As situações de aprendizagem na prática da natação permitem à criança

vivenciar noções perceptivas em diferentes posturas (tanto de ações como das

diferentes partes do corpo, quanto de ações globais de expressão corporal), e

organização espacial na exploração do espaço aquático (com o próprio corpo no

mesmo lugar, em deslocamento, em trajetos diferentes, em pequena e grande

profundidade, no espaço próximo, longe etc.).

A equilibração horizontal desencadeia um conjunto de informações

vestibulares que podem alterar ou moldar a imagem do corpo, cujas sensações

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proprioceptivas se enriquecem ou se perturbam, em termos do limite do “eu” e do

“não-eu”.

“Permanecer ou estar na água é, sobre o ponto de

vista sensorial e psicomotor, amplamente diferente do

que estar situado ou posicionado em terra, daí a

especificidade da reaprendizagem postural e motora, a

expansão e a ampliação do repertório psicomotor da

criança nadadora”. (VELASCO, 1994, p.45)

Para a aprendizagem na água, devem ser observadas as condições de

segurança, prazer e conforto, ou seja, deve se constatar processos neurológicos e

conseqüentemente psicológicos (como o medo) que estejam na base de qualquer

desenvolvimento de uma função adaptativa.

“Em termos neurofuncionais, a aprendizagem da

natação deve reger-se pelos mesmos processos

cerebrais que presidem a qualquer tipo de

aprendizagem, primeiro as emoções e depois as

adaptações, o que em analogia pressupõe a

maturação das estruturas límbicas e néocorticais”.

(VELASCO 1994*, p. 52)

As emoções normalmente estão associadas à insegurança da criança no

meio líquido, relacionado às diferenças sensoriais desse meio para o terrestre, e ao

processo de adaptação em que o ambiente ao redor da piscina é totalmente

diferente do seu cotidiano; à questão da socialização também com as pessoas que

a cerca, por serem a princípio estranhas.

“os canais sensoriais solicitados na natação,

permitem ao indivíduo captar os estímulos do

ambiente e definir a posição do corpo no espaço, a

posição dos segmentos em relação a ele, o grau de

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tensão muscular, o equilíbrio, além de fornecer

informações sobre certas necessidades do corpo”.

VELASCO (1994*, p.70)

As diversas sensações experimentadas corporalmente na água, distintas

das integradas em terra e no ar, convergem ao cérebro, e este comunica ao corpo

o que deve fazer. Os sentidos dão informações ao cérebro sobre a água, e, sobre

as suas condições envolvidas, e paralelamente sobre as ações que emergem do

corpo quando interage com ela. Como afirma DAMASCENO (1997, p.37):

“A todo o momento na água, o cérebro recebe

informações decorrentes de todo o corpo: olhos,

ouvidos, pele, músculos, etc., que devem ser

organizadas para ocorrer um resultado seguro, não

havendo assim, uma desorganização que poderia

produzir um comportamento aquático inadequado”.

4.3 - As habilidades psicomotoras na água.

Velasco (1994) aborda a natação como um valioso recurso ao favorecimento

das funções psicomotoras. Damasceno (1997) também apresenta a natação num

enfoque psicomotor, mais precisamente na formação do esquema corporal como

peça “sine qua non” à construção do ato voluntário.

A natação deve garantir o desenvolvimento equilibrado da personalidade do

indivíduo, oferecendo-lhe os meios para que ele adquira autonomia para alcançar

seus objetivos. Esses meios correspondem a procedimentos pedagógicos criativos,

principalmente sob a forma de jogos, proporcionando o inter-relacionamento entre o

prazer e a técnica, facultando comportamentos inteligentes de interação entre o

indivíduo e o meio líquido.

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“Resultados de estudos sobre o desenvolvimento

humano vêm evidenciando grande relação entre a

evolução das coordenações sensório-motoras, gestos

e formação do esquema corporal com a organização

das estruturas mentais, como também com a

maturação emocional e social e, enfim, com o

desenvolvimento de toda personalidade infantil”.

(DAMASCENO, 1997, p.19)

Assim, o movimento e o desenvolvimento cognitivo não são duas realidades,

assim como a natação e a psicomotricidade, pois podem estar interrelacionadas e

confundidas como aspectos indissociáveis de uma só realidade.

O desenvolvimento dos movimentos na natação, quando encarados sob o

aspecto psicomotor, não se limitam à soma de contrações musculares, pois

contribuem para a tomada de consciência.

Já que, na natação, a criança utiliza o movimento para relacionar-se com o

meio líquido, e esse movimento “passa pelo corpo”, ela tende a se conscientizar de

seus movimentos e suas possibilidades na água. No meio líquido, essa relação

indivíduo – meio, torna-se amplamente enriquecedora, à medida que são

experimentadas diferentes formas de movimentos, resultantes das sensações

recebidas, ampliando o acervo corporal desse indivíduo.

Atividades que contribuam para o desenvolvimento das habilidades

psicomotoras da criança devem ser realizadas nas aulas de natação a fim de

permitir à criança explorar o meio sem inibir sua criatividade e construindo sua

personalidade.

A utilização da psicomotricidade para o aprendizado da natação, com vistas

ao desenvolvimento das habilidades psicomotoras, deve ocorrer em função global

da criança, ou seja, dirigindo-se à personalidade de cada uma, já que apresenta

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características próprias de comportamento na água, como: autonomia,

dependência, confiança, insegurança, etc.

É importante frisar-se que sem o desenvolvimento da estruturação do

esquema corporal, coordenação, orientação espaço-temporal etc., torna-se mais

demorada a aquisição de qualquer habilidade aquática, ou seja, do aprendizado da

natação.

Como a consciência corporal é alcançada pela percepção do mundo

exterior, a consciência do mundo exterior acontece através do corpo, e a natação,

ao atuar sobre o sistema sensório-perceptivo, contribui de forma decisiva, na

estruturação do esquema corporal.

“A percepção e o controle do corpo na água envolvem

um equilíbrio postural econômico, uma lateralidade

bem definida” para a realização dos movimentos de

pernas e braços “e no controle e equilíbrio do corpo

associados ao esquema corporal e ao controle da

respiração”. (DAMASCENO, 1997, p.32)

A natação, pelo incremento da capacidade equilibratória estática e dinâmica,

e também pelo desenvolvimento da imagem corporal nas primeiras etapas do

desenvolvimento infantil possibilita diversas associações importantes ao posterior

desenvolvimento das habilidades, favorecendo conseqüentemente a estruturação

de comportamentos inteligentes na criança.

4.4 - A adaptação ao meio líquido.

No processo inicial de adaptação ao meio líquido, segundo VELASCO

(1994*, p.51): “O professor deve mediar as experiências sensoriais (vestibular, tátil,

cinestésica, proprioceptiva, visual, auditiva, etc.) de exploração do meio aquático,

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construindo o processo de conscientização corporal e autonomia diante de novas

situações na água”.

O processo de adaptação às características da água está relacionado a um

comportamento aquático. Ocorrendo essa aquisição de novas informações

sensoriais, o cérebro da criança deve organizá-las num comportamento motor e

numa experiência integrada.

No processo de adaptação dos indivíduos ao meio líquido torna-se

necessário destacar atividades voltadas para o conhecimento e o domínio do

corpo, dos segmentos que o formam, das possibilidades de movimento com que

podem realizar, de suas limitações no espaço, etc.

A seguir, abordaremos, brevemente, as principais conquistas no processo de

adaptação ao meio líquido dos 3 aos 6 anos referentes à imersão, à respiração,

aos saltos e mergulhos, à flutuação e aos deslocamentos na água.

4.4.1 – Imersão.

As crianças em torno de 3 anos começam a sentir segurança ao realizar a

imersão voluntariamente, apesar de precisarem de auxílio, para se reequilibrarem

numa plataforma após mergulharem. Quando estão começando o processo de

adaptação nessa fase, a insegurança pode ser grande, pois antes de tudo precisam

se ambientar com o meio e as pessoas que o freqüentam (responsável distante).

O prazer da imersão em diferentes profundidades é alcançado juntamente

com a segurança e independência que as crianças apresentam para realizá-la,

quando apresentam um maior controle respiratório resultante de experiências

anteriores vividas na água.

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4.4.2 – Respiração.

Inicialmente as crianças são estimuladas a realizar as "bolhinhas" durante

seus deslocamentos e imersões, e a ter um motivo a realizá-las (espantar o peixe),

mas ainda não a coordenam com seus movimentos.

Em torno dos 4 ou 5 anos, a coordenação da respiração aos demais

movimentos do corpo acontece de forma mais natural, nessa fase, quando a

criança já vivenciou, anteriormente, situações de segurança e já está ambientada

ao meio.

4.4.3 - Saltos e mergulhos.

As crianças, na faixa etária dos 3 anos, ainda estão adquirindo condições

para entrarem na piscina de forma autônoma, necessitando ainda de apoio para

saltarem de pé da borda e ficarem de pé após a conseqüente imersão.

Experimentando saltos variados, as crianças em torno dos 4 anos ao serem

envolvidas ludicamente, podem imitar animais e vivenciar diferentes situações,

alterando a posição inicial dos saltos, superando pouco a pouco suas limitações.

Sentindo-se seguras e capazes, esboçam o mergulho da borda com auxílio ou não

do professor.

Uma criança inadaptada ao meio, geralmente buscará auxílio para saltar e

não sentirá segurança para mergulhar da borda, até mesmo com auxílio.

4.4.4 – Flutuação.

Conquistando maior autonomia no meio líquido, as crianças estão cada vez

mais autônomas, passando a requerer menor auxílio para utilizar materiais

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flutuadores e experimentarem posições antes desconfortáveis, pois o relaxamento

diante da flutuação é cada vez maior.

Crianças de 3 anos que iniciam a adaptação ao meio líquido nesse período,

sem ter passado pela turminha de bebês, com suas mães, tendem a recusar o

apoio de materiais, inicialmente; mas ao serem envolvidas ludicamente e sentindo-

se seguras, passarão a experimentar novas situações.

Relaxadas e adaptadas ao meio, as crianças experimentam diferentes

posições na água (vertical / decúbito ventral / decúbito dorsal) e flutuam

estaticamente cada vez mais, assim como em movimento, a medida que passam a

dominar mais seu corpo na superfície da água.

4.4.5 – Deslocamentos.

Equilibrando-se numa plataforma e tornando-se menos dependentes no

meio líquido, as crianças sentem-se mais seguras para dominar o meio, sendo

necessário fazê-las perceber até onde podem ir (suas limitações) além de suas

conquistas.

Aos 5 ou 6 anos, controlando cada vez mais a respiração e realizando

movimentos de pernas e braços, as crianças passam a realizar deslocamentos em

maiores distâncias e de forma mais independente.

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CONCLUSÃO

A aprendizagem passa pelo corpo, se processa pelo corpo e atua sobre o

corpo. Como o movimento é um agente facilitador dos desenvolvimentos cognitivo

e sócio-afetivo, jamais poderemos dissociar a aprendizagem, que está relacionada

ao desenvolvimento cognitivo, do corpo, assim como a Psicomotricidade não

dissocia o cognitivo do motor e o corpo da alma.

O movimento é um direito inato de todos os seres vivos, é a primeira forma de

ação e relação com o mundo. Através das relações com o objeto a criança começa

a se conhecer e a ter consciência de sua personalidade através do contato com o

outro, com a diferença e a semelhança. É importante ressaltar que toda essa

relação se expressa pelo movimento que carrega uma carga de emoção e

demonstra a individualidade através dos comportamentos, afirmando a

personalidade de cada criança.

A emoção é a raiz da ação, ou seja, todo movimento tem um caráter afetivo

voltado para a realização dos desejos e interesses dos indivíduos. Assim, o agir de

forma autônoma e inteligente deve ser permitido à criança, para que a mesma

tenha a oportunidade de vivenciar o movimento espontâneo, agindo com emoção,

ampliando suas descobertas.

É agindo, construindo, destruindo, recriando, sentindo e interagindo que a

criança vai progressivamente se descobrindo e descobrindo o mundo a sua volta.

Ao agir e transformar o mundo, a criança vai organizando suas percepções e

consequentemente adquirindo novos conhecimentos, enriquecendo a área

cognitiva. Através da possibilidade da comunicação com o outro e com o meio, a

criança tem a possibilidade de aprender, já que essa troca de informações favorece

o processo de desenvolvimento psicomotor e consequentemente, o aprendizado

propriamente dito.

A criança só estará motivada a aprender se estiver envolvida emocionalmente

com a situação de aprendizado. Como a Neurobiologia afirma, a cada nova

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emoção construímos uma nova sinapse nos neurônios, ampliando nossa

capacidade cognitiva. Daí a importância de um olhar psicomotor, do lúdico e de

atividades motivantes nos processos de aprendizado, como ocorre na natação.

A faixa etária estudada corresponde a um dos principais períodos de

conhecimento do mundo após o nascimento. Até os dois anos, a criança conhece

inicialmente a si e à mãe e aos poucos passa a conhecer o mundo à distância. Aos

dois anos, de modo geral, as crianças já apresentam independência para

locomoverem-se, alimentarem-se, brincar, ir ao banheiro, etc.; algumas começam

até a freqüentar a pré-escola. A partir daí, através do movimento autônomo, esses

pequenos indivíduos têm cada vez maior capacidade de comunicarem-se e

conhecer o mundo através do movimento. A importância da socialização com

outras crianças nessa fase da vida, em que as mesmas iniciam mais

concretamente o relacionamento afetivo e social.

Sabendo-se que o desenvolvimento cognitivo evolui à medida que se amplia a

relação entre os indivíduos e o meio, sendo essa relação processada pelo

movimento; nas aulas de natação, assim como na pré-escola, as crianças devem

relacionar-se com as outras, sendo a socialização uma das conquista a ser

alcançada no processo de aprendizado.

O aprendizado varia de acordo com a fase de desenvolvimento em que a

criança se encontra. A estimulação para o aprendizado, portanto, deve ocorrer de

forma adequada para cada faixa etária. Ao desenvolver-se e evoluir, a criança

afirma cada vez mais sua personalidade, evidenciando sua individualidade. Como

seus gostos e interesses se modificam, as crianças demonstram, ao crescer e

desenvolver-se, necessidades diferentes, precisando de diferentes artifícios para

serem motivadas a aprender.

“Educar o indivíduo para o jogo corporal é resgatar

seu prazer no movimento livre, espontâneo,

conduzindo-o da pouca ou nenhuma noção que

tem de si mesmo para além dos gestos

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aprendidos e reproduzidos, ou seja, para gestos

com significado, com expressão criativa e com

consciência emocionada dessa expressão.”

(Guedes; citado por Bueno, 1998,p.54)

Finalizando, mostraremos um esquema apresentado por Velasco, 1994*, p.

87:

Aprendizagem só pode ocorrer se não houver

Bloqueios físicos, motores e / ou emocionais

Comprometendo e até impedindo o bom

Desempenho, na criança, do seu

Esquema corporal. Este é responsável pela

Facilidade na realização de

Grande parte de suas funções. Outro fator é que os

Hemisférios corporais e cerebrais devem estar

Íntegros, neurologicamente, agindo

Juntos para a definição da

Lateralidade. Esta só acontecerá quando a

Maturação física, motora, emocional e

Neurológica estiverem definidas,

Ocorrendo, na maioria das crianças,

Por volta de sete anos.

Querer implica o poder e o saber

Realizar algo que já foi assimilado.

Simplificar essa realização deve ser a

Técnica utilizada pelo profissional responsável,

Unindo a ela sua emoção e seu prazer

Vivido junto ao ser com quem trabalha.

Xerocar atitudes de outros é falta de criatividade e

Zelo pelo seu crescimento pessoal e profissional com a

psicomotricidade.

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BIBLIOGRAFIA

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

(DESENVOLVIMENTO INFANTIL) 12

1.1 – Desenvolvimento Psicomotor 13

1.2 – Desenvolvimento Sócio-Afetivo 16

1.3 – Desenvolvimento Cognitivo 17

1.4 - Características gerais das crianças nas idades estudadas (de 3 a 6

anos) 19

1.4.1 - Crianças de aproximadamente 3 anos 19

1.4.2 - Crianças de aproximadamente 4 anos 20

1.4.3 - Crianças de aproximadamente 5 anos 21

1.4.4 - Crianças de aproximadamente 6 anos 21

CAPÍTULO II

(DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES PSICOMOTORAS) 23

2.1 – Esquema Corporal 24

2.2 – Imagem Corporal 25

2.3 – Equilíbrio 26

2.4 – Organização Espacial 27

2.5 – Organização Temporal 28

2.6 – Ritmo 28

2.7 – Lateralidade 29

2.8 – Tônus 30

2.9 – Coordenação Motora 31

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CAPÍTULO III

(DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E APRENDIZAGEM) 33

3.1 – Aprendizagem 34

3.1.1 – Mas o que significa aprender? 34

3.2 – Aspectos Psicomotores Relacionados à aprendizagem 37

CAPÍTULO IV

(APRENDIZADO DA NATAÇÃO) 42

4.1 – O processo de aprendizado da natação 43

4.2 – As novas sensações no meio líquido 44

4.3 – As habilidades psicomotoras na água 46

4.4 – A adaptação ao meio líquido 48

4.4.1 – Imersão 49

4.4.2 – Respiração 50

4.4.3 – Saltos e Mergulhos 50

4.4.4 – Flutuação 50

4.4.5 – Deslocamentos 51

CONCLUSÃO 52

BIBLIOGRAFIA 55

ÍNDICE 57

FOLHA DE AVALIAÇÃO 59

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: A Educação Psicomotora dos 3 aos 6 anos e sua

relação com os processos de aprendizado.

Autor: Michele Fernandes Martins

Data da entrega: 05/04/04

Avaliado por: Conceito:

Avaliado por: Conceito:

Avaliado por: Conceito:

Conceito Final: