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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A MULHER E A CONQUISTA DE UM ESPAÇO: TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO DA MULHER E O MERCADO DE TRABALHO LEIDIANE LEANDRO GOMES Orientador Prof. Flávia Cavalcanti Rio de Janeiro Agosto 2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO DA MULHER E O MERCADO DE TRABALHO Apresentação de monografia ... a educação destinada a elas

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A MULHER E A CONQUISTA DE UM ESPAÇO:

TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO DA MULHER E O MERCADO DE TRABALHO

LEIDIANE LEANDRO GOMES

Orientador

Prof. Flávia Cavalcanti

Rio de Janeiro

Agosto 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A MULHER E A CONQUISTA DE UM ESPAÇO:

TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO DA MULHER E O MERCADO DE TRABALHO

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Pedagogia Empresarial

Por Leidiane Leandro Gomes

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AGRADECIMENTOS

A Deus que me proporcionou mais esta oportunidade.

A todos que acreditaram no meu trabalho, investiram e incentivaram com uma

palavra amiga e um ombro para escutar as minhas preocupações.

Ao meu pai Manoel e as mulheres da minha vida, minha mãe Geralda e minha

irmã Lissandra.

Ao meu noivo Admilson, pela paciência em me ouvir sempre nos momentos de

desespero.

A professora Flavia Cavalcanti pela paciência em me receber no horário que

não era de orientação e pela sua ótima orientação.

Em especial às operárias do Estaleiro Brasfels, pois sem elas este trabalho

não existiria.

A todos o meu muito obrigado!

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DEDICATÓRIA

A todas as mulheres que como eu confiam na

sua capacidade de conquistar mais e novos

espaços.

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RESUMO

O sistema de representações construído historicamente criou e recriou

esteriótipos para a mulher. Seja ela trabalhadora ou não. Limitando seus

espaços de atuação dentro da sociedade, ditando o que deveriam ou não

fazer. Porém, percebemos muitas mudanças em relação à entrada destas

mulheres no mercado de trabalho, apresentando novas perspectivas para elas.

A fábrica é um desses espaços que se abrem às mulheres. Neste trabalho

analisaremos a realidade das operárias de uma indústria naval: seu trabalho,

seus limites e expectativas em relação a este novo campo. Encarando-o

também, como espaço de formação. Trazendo um breve histórico sobre as

mulheres e sua relação com a educação e o trabalho. O acesso às

informações foi feito através de pesquisa bibliográfica sobre o tema e

entrevistas com as operárias da área de solda, elétrica e instrumentação.

Percebemos que a entrada da mulher neste mercado aponta para o

desenvolvimento desta em relação à educação e a profissionalização. No

entanto marcadas pela dupla jornada de trabalho ligada aos filhos e ao marido,

quando é o caso, e ao preconceito tão presente neste processo.

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METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado através de pesquisa bibliográfica, dos quais foram

confeccionados resumos para melhor compreensão do tema. Das leituras que

foram feitas para fundamentação, utilize-me de: Soihet – 2001, de Santos –

1996, Rago – 1985, Louro – 2001, Aranha – 1996 e Carneiro – 1994. Foi

realizada também uma pesquisa de campo, aonde foi realizada uma visita ao

estaleiro Brasfels – mais especificamente no centro de treinamento e Escola

técnica e entrevista as alunas. Esta entrevista foi de suma importância, pois

mostrou como esta sendo o trabalho realizado por esta indústria naval.

Através desta pesquisa bibliográfica e a entrevista foi possível à confecção

deste trabalho.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 8

2. CAPITULO I - Panorama Histórico Sobre as Mulheres: A Construção da

Condição Feminina 11

3. CAPÍTULO II - Mulher E Educação: Expansão das Oportunidades ao

Longo do Século XX 20

4. CAPÍTULO III - Condições de Trabalho: Expectativas e a Realidade da

Mulher Operária 30

5. CONCLUSÃO 37

6. ANEXO 40

7. BIBLIOGRAFIA 42

8. ÍNDICE 43

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INTRODUÇÃO

Nossa sociedade vem passando por grandes mudanças, ocorridas

principalmente nas últimas décadas. Uma nova forma de olhar o mundo, a

diversidade e as transformações tão presentes no cotidiano de todos nós.

Cada vez mais os espaços são ampliados. Avanços e oportunidades

vão surgindo principalmente no mundo do trabalho. Ouvimos falar em

globalização, novas tecnologias, industrialização, mas também em

desemprego e pobreza.

Todos esses processos introduzem mudanças nas relações de trabalho

construídas até hoje. Novas regras são elaboradas. E neste espaço de

construção de relações, que é o mercado de trabalho, estão as relações de

compra e venda de mão - de - obra, empregado e empregador, dominantes e

dominados. E também estão inseridas as relações de gênero, que vêm abrindo

outros campos para as mulheres que vêm ocupando diferentes espaços no

mercado de trabalho.

É importante ressaltarmos que a inserção da mulher no mundo do

trabalho vem sendo acompanhada, ao longo desses anos, por elevado grau de

discriminação, não só no que tange à qualidade das ocupações que têm sido

criadas tanto no setor formal como no informal do mercado de trabalho, mas

principalmente no que se refere à desigualdade salarial entre homens e

mulheres.

Este trabalho tem por objetivo compreender como as mulheres

passaram, através dos tempos, a ocupar espaços de trabalho anteriormente

ocupados apenas por homens, principalmente nas fábricas e analisar a

situação da mulher em Angra dos Reis, trazendo experiências de algumas

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funcionárias do estaleiro Brasfels. Considerando aspectos históricos sobre as

mulheres, a educação destinada a elas e o mercado de trabalho.

O primeiro capítulo apresenta um breve panorama histórico sobre as

mulheres através dos tempos. E como foi a construção dos diferentes

estereótipos dados a mulher em diferentes épocas. Onde Soihet, Rago,

apresentam suas contribuições sobre o tema.

O segundo capítulo aponta aspectos sobre a educação dada ao público

feminino, muitas vezes um ensino diferenciado para homens e mulheres e a

inserção desta no mercado de trabalho. Percorrendo alguns caminhos

traçados pelas mulheres em relação ao trabalho na sociedade capitalista, as

causas, limitações e possibilidades crescentes. Trazendo as discussões de

Aranha, Carneiro Marx, Engels, Muraro e Santos.

O terceiro capítulo apresenta um estudo de caso, a partir da proposta de

análise da situação da mulher em Angra dos Reis. Fazendo um relato sobre a

experiência das funcionárias, especialmente as metalúrgicas, do estaleiro

Brasfels.

Este trabalho foi realizado através de pesquisa no Centro de

Treinamento – Escola Técnica do Brasfels. Que passou a incorporar de

maneira significativa mulheres em seu quadro funcional. Buscando observar as

condições de trabalho destas operárias, sua realidade e expectativas. Através

de entrevistas com as mulheres que atuam na área de solda, elétrica e

instrumentação e coordenação do Centro.

Buscando saber onde estão estas mulheres. Reconhecendo os

diferentes espaços de FORMA - AÇÃO da mulher e de desenvolvimento de

seu trabalho. Estas que cada vez mais demonstram sua capacidade de

conciliar os cuidados com a casa e o trabalho fora dela. Que driblam as

dificuldades para ingressar neste mercado de trabalho, onde a dupla, ou tripla

jornada não as tem intimidado. Há muitas mulheres desempenhando tarefas

fisicamente pesadas, sustentando muitos lares, desenvolvendo sua

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capacidade intelectual e de liderança em diferentes áreas, como a profissional

e política.

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CAPÍTULO I

PANORAMA HISTÓRICO SOBRE AS MULHERES: A

CONSTRUÇÃO DA CONDIÇÃO FEMININA

Para refletir sobre a situação da mulher em nossa sociedade é

necessário pensar o modelo econômico, político e social em que estamos

inseridos. Buscando aprofundar as bases que sustentam as relações de

dominação, reorganizando as estruturas econômicas e sociais, constituindo

valores ideológicos e políticos.

Através dos tempos conhecemos uma história sobre a humanidade

centrada na figura masculina. Durante muito tempo impondo modelos para o

comportamento feminino, que deveria ser de submissão e obediência. “A

filosofia afirmava nas mulheres a inferioridade da razão como um fato

incontestável, cabendo-lhes apenas, cultiva-la na medida necessária ao

cumprimento de seus deveres naturais: obedecer ao marido ser – lhe fiel e

cuidar dos filhos”. (Soihet, 2001, p100). Tendo, a mulher, sua vida controlada

por estes, pai ou marido, que direcionavam suas atividades, vestimentas e até

mesmo sua fala que muitas vezes foi silenciada por julgarem que as mulheres

eram inferiores.

A origem da submissão feminina por muitas vezes foi explicada de

forma biológica, como que por natureza a mulher teria o corpo mais fraco do

que o do homem. “A medicina conferia a essas idéias, durante o século XIX,

respaldo científico assegurando constituírem características femininas as

razões biológicas a fragilidade, o recato, o predomínio das faculdades afetivas

sobre as intelectuais, a subordinação e a vocação maternal”. (idem). Em

oposição ao homem que apresentava como características a força física, a

autoridade e a racionalidade como características natas.

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Enquanto o índio guerreava, caçava e pescava, a índia plantava a mandioca e preparava a bebida ritual. Enquanto o negro trabalhava na mineração, a negra vendia comestíveis e aguardente em seus tabuleiros. Enquanto o médico cuidava dos enfermos as parteiras ajudavam as mulheres a terem seus filhos. Havia plebéias pobres que trabalhavam na roça plantando milho e feijão, fiavam e teciam o algodão que costuravam. (Silva, 2000)1.

Mesmo que primitivamente homens e mulheres desempenhavam

funções relativamente de igual valor, complementando um a atividade do outro.

A causa da situação de inferioridade vivida pelas mulheres foi discutida

durante muitos anos, porém não é somente o fator biológico que vai explicar

esse tratamento de forma diferenciada dado a mulher, que desempenhava e

desempenha atividades tão importantes quanto as dos homens. Os diferentes

papéis dados a homens e mulheres dentro da sociedade passam também por

variações sociais e culturais aceitas ao longo dos anos, que determinaram o

que aconteceria com homens e mulheres.

1.1 As relações familiares

A família era estruturada num regime patriarcal, onde o homem era o

provedor de todas as necessidades. A mulher, filhas e filhos deviam inteira

obediência ao marido e ao pai, encarregado de manter a família dentro dos

1 *Fragmento do texto de Maria Beatriz Nizza da Silva, historiadora e coordenadora do

dicionário da colonização portuguesa no Brasil, publicado no jornal o público de 08/03/2000.

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padrões sociais. A ele competia julgar o certo, o errado e o futuro de seus

filhos, sempre levando em conta a necessidade da família e não a do

indivíduo. Às filhas eram destinados os mesmos caminhos das mães, quando

não, restava-lhes a vida religiosa.

Todos os passos eram dados de forma a preservar e, se possível,

aumentar o patrimônio material e moral da família através da união das

famílias por meio do casamento de seus filhos. Mantendo o equilíbrio social do

padrão de vida levado pelas famílias.

Desde a infância as meninas começavam a ser treinadas para o

casamento, eram conduzidas pelo contexto social a adquirirem

comportamentos, valores e procedimentos de forma a corresponderem aos

papéis sociais construídos historicamente e incorporados ao longo de suas

vidas.

Deveriam saber cuidar dos afazeres domésticos, dos filhos, ter

sensibilidade e delicadeza. “A mulher cabia, agora, atentar para os mínimos

detalhes da vida cotidiana de cada um dos membros da família, vigiar seus

horários, estar a par de todos os pequenos fatos do dia-a-dia prevenir as

emergências e qualquer sinal de doença ou desvio”. (Rago, 1985, p62). De

forma a manter o equilíbrio dentro do espaço familiar. A ela estava reservado o

espaço da casa.

No discurso médico, a mulher poderia ser conduzida por dois caminhos

até a vida doméstica: o instinto natural e o sentimento de responsabilidade na

sociedade. “Enquanto ao homem fica designado a esfera pública, para ela o

espaço privilegiado para a realização de seus talentos, a esfera privada do lar”.

(Rago, 1985, p75) encarnando a esposa, mãe e dona de casa longe da vida

pública.

Porém várias modificações ocorreram, principalmente, na estrutura

familiar com as crescentes exigências, da urbanização e o desenvolvimento

comercial e industrial ocorridas nos principais centros. A presença feminina se

faz necessária no espaço público, nos acontecimentos sociais e sua

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participação ativa no mundo do trabalho. Às mulheres ricas a exigência de uma

boa educação, preocupações estéticas, com a moda, um bom preparo para o

casamento. Às mulheres pobres a utilização de sua força de trabalho nas

indústrias, escritórios, lojas e outros serviços como alternativas possíveis e

necessárias.

A invasão do cenário urbano pelas mulheres, no entanto, não traduz um abrandamento das exigências morais. Ao contrário, quanto mais ela escapa da esfera privada da vida doméstica tanto mais a sociedade burguesa do século XIX lança sobre seus ombros o anátema do pecado, do sentimento de culpa diante do abandono do lar. (Rago, 1985, p.63).

Somente a partir da guerra de 1914 a 1918 começam a desaparecer

muitas das limitações impostas as mulheres, quando estas são chamadas a

desempenhar quase todos os ofícios que antes eram exercidos unicamente

por homens, que agora haviam sido enviados aos campos de batalha. Ao

término da II guerra mundial as mulheres já estavam inseridas no universo

masculino. Por muitos anos a mulher foi inteiramente submissa não só por ser

“fraca” fisicamente, mas principalmente por não participar diretamente da

produção dos bens. Transformações sociais e econômicas que aconteceram

no mundo, e em especial no Brasil, trouxeram para a mulher a oportunidade de

executar atividades lucrativas, antes destinadas somente aos homens.

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1.2 Um pouco da história das mulheres brasileiras

A história da colonização do Brasil é centrada em feitos históricos

liderados por homens desbravadores e empreendedores e onde estavam

nossas mulheres? Índias, negras e brancas?

A ocupação do país na época da colônia se fez de maneira que as

mulheres ficassem em segundo plano nessa história. Sob a organização do

sistema colonial a vida feminina estava restrita ao bom desempenho do

trabalho doméstico e na assistência a família. E ao homem a manutenção da

mulher e dos filhos, como vimos anteriormente.

Na sociedade colonial, mulheres eram vítimas, pertencentes a todas as

raças. Vítimas da violência e assédio de falsos pretendentes, senhores de

engenho e fazendeiros. Elas eram raptadas da casa de seus pais, outras eram

órfãs obrigadas a se casarem com bárbaros desconhecidos. Maridos que

matavam suas esposas e maltratavam-nas, castigando-as sem piedade com

um tratamento como se fossem animais, por uma suspeita de infidelidade.

Eram trancadas em conventos a pedido de seus maridos apoiados pelas

autoridades civis e religiosas, respaldados pela legislação da época. Mas

também surgem as transgressoras, julgadas como especialistas em rituais,

procuradas pela população para fazer curas e benzeduras. E outras que

cuidavam de seus interesses e suas propriedades. Em sua maioria

analfabetas, mas que ajudaram a escrever a história do Brasil.

A igreja, instituição mantenedora do projeto de difusão da importância

do matrimônio impôs as normas de conduta e que estabeleciam as divisões e

incumbências no casamento dentro do sistema patriarcal vivido no país,

apresentando o casamento como sinônimo de segurança e proteção para a

fragilidade feminina, aproximando-a dos padrões estabelecidos socialmente.

Neste período nos referimos a uma mulher ligada a vida doméstica.

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A educação religiosa ministrada na época não incluía as mulheres, mas

pregava a obediência ao pai, ao marido e a religião como preceitos a serem

seguidos. A elas não era permitido ler e escrever. Nas escolas administradas

pela igreja só eram ensinadas técnicas manuais e domésticas. Esta situação

era imposta de forma a manter a dominação, desprovendo-as de

conhecimento que permitisse pensar em igualdade de direitos. Assim viviam

sem contato com o mundo exterior, dedicando sua vida ao lar e a igreja.

A chegada da família real ao Brasil proporcionou a abertura de algumas

escolas religiosas onde as mulheres podiam estudar restritas novamente ao

conhecimento dos trabalhos manuais e domésticos, acrescentando o ensino

de português de Portugal a nível primário.

Com a constituição de 1824 surgiram escolas destinadas à educação da

mulher, acrescentando às atividades manuais, os cânticos e o ensino

brasileiro.

O Brasil colônia seguia as leis portuguesas mesmo após ter se tornado

independente. Durante muitos anos foram criadas leis que controlavam a

conduta feminina, suas ações e obrigações diante da figura do marido. A

primeira forma de legislação brasileira foram as ordenações Filipinas que

vigoraram no Brasil até o ano de 1917. De acordo com as ordenações, o

marido tinha o direito de aplicar castigos físicos a sua companheira, chegando

a tirar-lhe a vida se desconfiasse de adultério. A mulher não era permitida

testemunhar em público e o pátrio poder era exclusividade do marido.

Com a implantação do regime republicano o decreto nº 181 de 24 de

janeiro de 1890 manteve o domínio patriarcal, mas retirou do marido o direito

de impor castigos à mulher e aos filhos.

Pelo código civil de 1916, a mulher casada era considerada

relativamente incapaz. Não poderia sem autorização do marido aceitar ou

repudiar heranças. Continuava em extrema desigualdade, não podendo

realizar nenhuma atividade sem o conhecimento prévio. Também não poderia

exercer uma profissão.

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1.3 Mexe e remexe: o movimento de mulheres nos Brasil

Os movimentos de mulheres vêm resistindo e lutando, considerando a

necessidade de ampliar a ação das mulheres no sentido de diminuir as

desigualdades. Com discussões sobre a dominação patriarcal dada a

sustentação da subordinação feminina e ainda sobre a ocupação do espaço,

divisão social do trabalho, responsabilidade no cuidado com os filhos, trabalho

doméstico, mercado de trabalho, participação política, relação de poder, saúde

e educação. Buscando desconstruir, ao longo do tempo, a sociedade patriarcal

existente que manteve as desigualdades sociais e construir uma sociedade

mais igualitária “(...) onde nós mulheres sejamos diferentes sim, mas com

todos os direitos”. (Santos, 1996, p36).

Iniciado no século XIX, o movimento de mulheres e feministas começa a

apontar para a participação da mulher em diferentes esferas da sociedade.

Com pequenos grupos de feministas em São Paulo até as grandes

conferências organizadas atualmente. Trazendo as mais diferentes discussões

sobre a situação da mulher no Brasil.

Neste século destaque para os movimentos abolicionistas e para

mulheres como Nízia Floresta, Violante Bivar e outras que participaram de toda

essa movimentação dentro da sociedade brasileira. E ainda temos a criação do

partido comunista e o movimento operário.

Algumas datas marcaram o movimento de mulheres no Brasil. Em 1922

Berta Lutz, cria a federação brasileira pelo progresso feminino, primeiro passo

para a conquista do voto feminino. Getúlio Vargas em 1932 promulga o novo

código eleitoral permitindo a mulher o exercício do voto.

Nas décadas de 40 e 50 com o pós-guerra as mulheres se mobilizam

em defesa do monopólio estatal do petróleo. Os movimentos ganham força,

mas perdem seus conteúdos feministas, voltando-se a questões sociais

nacionais mais amplas. Já a partir das décadas de 60 e 70 o conteúdo

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feminista dos movimentos ganha força e novas produções teóricas são

elaboradas, com Simone Beauvoir e Betty Friedman.

Em 1962 o estatuto da mulher casada faz surgir o primeiro marco de

liberação da mulher no Brasil que aboliu a incapacidade feminina, revogando

diversas normas discriminadoras. Permitiu a mulher o livre exercício de uma

profissão, permitindo que se integrasse livremente ao mercado de trabalho

tornando-se economicamente produtiva, aumentando a importância da mulher

nas relações de poder no interior da família.

No ano de 1975 é proclamado, pela ONU, o ano internacional da

mulher. No Brasil, que vive o período da ditadura militar, é formado no Rio de

Janeiro o centro da mulher brasileira - CMB. Em 1977, introduziu-se a lei do

divórcio dando aos cônjuges a oportunidade de por fim ao casamento e

constituir nova família.

Nos anos 80 é criada em São Paulo a primeira delegacia especializada

no atendimento de mulheres. No ano de 1982 é elaborada uma plataforma

feminista apresentada aos candidatos as eleições deste ano, chamada de

alerta feminista. Em 1985 foi aprovada pela câmara federal a criação do CNDM

(Conselho Nacional dos Direitos da Mulher), que contribuiu para a campanha

constituinte do ano de 1988, com a elaboração da carta das mulheres aos

constituintes, chamada de lobby do batom, reivindicando a garantia dos

direitos da mulher.

Durante os anos 90 abrem-se as discussões para possibilitar a melhor

participação da mulher na vida pública, a implantação de uma política de cotas

contribuindo para a inserção feminina nesta esfera política. Em 1994

movimentos e articulação das mulheres brasileiras prepara o documento para

a IV conferência mundial sobre a mulher que aconteceu na China em 1995.

Conferência esta que aprovou o documento que visava a implantação da

plataforma de ação para a igualdade e a paz. O que influenciou no Brasil na

política de cota de 20% de mulheres nas chapas das candidaturas que

viessem a acontecer a partir de então.

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Surgi também em 1990 o estatuto da criança e do adolescente que

consagrou o princípio constitucional da igualdade de condições entre pai e

mãe no dever de sustento, guarda e educação dos filhos. Hoje a mulher

casada tem os mesmos direitos que o marido.

Toda essa repressão despertou, progressivamente, um desejo de

liberdade, de realização pessoal e profissional. E essa revolta enrustida, e esse

anseio por liberdade trouxeram grandes modificações. As mulheres passaram a

lutar por vários tipos de liberdade, como moral, intelectual, social e até mesmo

física. A mulher passou a exigir espaços e direitos e passou a escolher como

seria a sua vida. Enxergamos a criatividade e a inteligência de mulheres que

construíram a sua história, que lutaram por um espaço onde a masculinidade era

superior.

A ampliação desses espaços traz a necessidade de um conhecimento

maior, um maior grau de instrução. Neste contexto cabe analisar como se

processou o ensino destinado as mulheres. E como esta formação vai influenciar

na ocupação dos diferentes espaços alcançados pelas mulheres.

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CAPÍTULO 2

MULHER E EDUCAÇÃO: EXPANSÃO DAS

OPORTUNIDADES AO LONGO DO SÉCULO XX

A escola é um espaço privilegiado para a aquisição de conhecimentos e

mais ainda, para a propagação de valores, culturas e ideologias, pois está

repleta de diversidades que proporcionam a convivência com diferentes

sujeitos do conhecimento. Muitas vezes estes valores reforçam conceitos e

ações que desprezam determinados segmentos da sociedade. Encontrando

reforço em vários outros aspectos do cotidiano.

Segundo Aranha (1996, p93) a reprodução dos estereótipos se dá nos

meios de comunicação de massa (novela, comerciais, filmes, revistas etc.). O

mesmo acontece em relação à religião, à escola, à profissão, às leis e a

literatura, quando difundem velhas formas preconceituosas.

Com o avanço dos movimentos sociais, entre eles o movimento de

mulheres, abre-se à possibilidade de transformação e questionamento das

relações entre homens e mulheres, carregadas de pensamentos e práticas de

dominação.

O conceito de gênero se refere a um sistema de papéis e relações entre

homens e mulheres determinado pelo contexto social, cultural, político e

econômico*2. Se estivermos, num espaço com várias mulheres e apenas um

homem, falamos no masculino, mesmo que seja apenas um. Isso significa que

a palavra homem, além de se referir especificamente à pessoa do sexo

2 Essa é a definição apresentada pela revista/manual gênero e cidadania da redeh - rede de

desenvolvimento humano.

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masculino, engloba também todos os seres humanos. A palavra mulher se

refere apenas à pessoa do sexo feminino.

O sexo biológico é determinado pela natureza, o gênero é construído.

Mulheres e homens possuem diferenças biológicas que são utilizadas

culturalmente para explicar a idéia de sexo frágil mulher e sexo forte homem,

limitando a autonomia e o acesso da mulher às decisões do poder.

A construção dos papéis e das relações de gênero é um processo que

possibilita diferentes oportunidades para homens e mulheres.

As inúmeras diferenças culturais, a tradição construída ao longo do

tempo foram formando um certo padrão de relação entre os gêneros. O papel

do homem é o lugar do poder, da decisão, do dinheiro e da iniciativa e a

mulher o papel associado à casa e ao cuidado da família.

O papel social que a mulher deve desempenhar vai depender de cada

momento e de cada modelo que a sociedade impor, com adaptações de

acordo com as exigências. Muitas vezes isso não acontece e a mulher

continua subordinada ao homem.

As características para as mulheres são: sensível, delicada, amorosa,

intuitiva, todas voltadas para o instinto materno e inferioridade. Sensível e

amorosa, passível e presa fácil às emoções, enquanto o homem é agressivo e

empreendedor. Instinto materno – confinar a mulher no mundo doméstico, e o

homem se volta para rua, para o público.

Mesmo antes de nascer às crianças são padronizadas pelos adultos,

pois se for homem vai ser um profissional bem sucedido e se for mulher, vai

ser muito bonita e afetuosa, quando dividimos as cores rosa para menina e

azul para o menino, quando diziam que meninos não podem brincar de

bonecas e meninas não podem subir em árvores.

Quando ocorre o contrário, os pais ficam muito apreensivos e logo

procuram meios para adequá-los aos padrões. Não podemos fugir a esses

padrões que a sociedade impõe, pois logo serão discriminados.

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Os registros históricos trazem a figura feminina como objeto do prazer,

propriedade, adoração e bruxaria. Porém, no dia-a-dia, tanto as mulheres

como a própria sociedade, vêm tomando consciência do papel da mulher

dentro desta mesma sociedade para além dos discursos já existentes.

Vivemos uma relação de gênero que informa a perspectiva cultural que

envolve significado enraizado. Onde baseam-se os comportamentos

masculinos e femininos. Hoje sabemos dos limites da escola neste processo

de mudança como agente que influencia no comportamento social, mas não

significa nega-la como espaço onde pode ser exercida uma reflexão, uma ação

de mudança, de postura revisando valores e avançando na formação de uma

sociedade igualitária. Com ”uma educação não sexista que há de reconhecer

as pessoas na sua diversidade, não separar tarefas e funções e cuidar da

formação plena e integral do ser humano”. (Aranha, 1996, p97). Através do

desenvolvimento da capacidade crítica, a reflexão e o amadurecimento

pessoal e social. Engajada nesse processo social de libertação e promoção da

mulher desenvolvendo o potencial humano, impedindo que a parcela feminina

da humanidade cresça “mutilada” por não ser vista como atuante no processo

de construção do conhecimento através dos tempos, se libertando de qualquer

tipo de ignorância, discriminação e preconceito.

A mulher por muitos anos teve uma educação diferenciada da educação

dada aos homens. Era educada para servir, o homem era educado para

assumir a posição de senhor todo poderoso. Quando solteira vivia sobre a

dominação do pai ou do irmão mais velho. Ao casar-se, o pai transmitia todos

os seus direitos ao marido, submetendo a mulher à autoridade deste.

No Brasil - colônia a igreja deu início a educação, no entanto, a

instrução ministrada pela igreja não incluía as mulheres. Ela era como um

objeto a ser moldado da maneira que fosse conveniente.

Ainda era vedada a mulher freqüentar escolas masculinas. A proibição

do acesso ao conhecimento às mulheres tinha como motivos o convívio entre

homens e mulheres porque segundo a igreja poderia causar relacionamentos

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espúrios. Outro motivo era que o ensino destinado aos homens era de nível

mais elevado, não podendo as mulheres acompanhar e freqüentar as mesmas

escolas. Somente no século XX foi permitido que as mulheres e homens

estudassem juntos.

A primeira escola profissionalizante foi o curso normal. E o mais

interessante é que as mulheres não tinham acesso, só depois de alguns anos

as mulheres passaram a ter acesso.

As mulheres só começaram a entrar na faculdade em 1881, quando foi

aceita a primeira mulher. Mas eram poucas as que conseguiam entrar e menos

ainda as que conseguiam concluir, pois para se dedicar aos estudos é

necessário tempo, sendo que os padrões que a sociedade colocava para a

época eram que a mulher deveria se dedicar totalmente ao casamento.

Com a proclamação da independência era necessário colocar em

prática o discurso da necessidade de crescimento do país, afastando da

imagem de colônia, atrasado e inculto. A educação fazia-se necessária neste

contexto de modernização, abrindo o combate contra a condição de submissão

em que viviam as mulheres no Brasil reivindicando sua liberação tendo a

educação como instrumento para isto.

Com a criação das escolas de primeiras letras em 1827 as meninas

puderam ter acesso ao nível básico de instrução da época, o único a que

teriam acesso. Havia maior número de escolas para meninos do que para

meninas, escolas e ordens religiosas femininas e masculinas e escolas leigas.

Professores para os meninos e professoras para as meninas, pessoas de

moral impecável. O conhecimento escolar era diferenciado, para os meninos

noções de geometria e para as meninas bordado e costura, em comum

aprendiam a ler, escrever, contar e realizar as quatro operações matemáticas.

O trabalho doméstico era mais importante do que a educação formal

dada nas escolas para as meninas. Muitas eram as concepções e formas de

educação para as mulheres, atravessadas por divisões, diferenças e relações

de hierarquia. O domínio da casa era o destino para que as moças eram

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preparadas. Sua circulação nos espaços públicos só deveria acontecer em

ocasiões especiais, em sua maioria ligadas a atividades religiosas,

representadas como forma de lazer.

O discurso que vinha ganhando força em muitos grupos era que as

mulheres deveriam ser mais educadas do que instruídas, dando enfatizando a

formação moral e de caráter como suficientes. Pois para que tanta instrução,

tantas informações e conhecimento se o seu papel como esposa e mãe

exigiria acima de tudo bons princípios. Portanto a educação da mulher seria

feita para além dela, sem levar em consideração seus anseios ou

necessidades, mas sim a função social a ela atribuída como educadora dos

filhos, formadora dos futuros cidadãos para a concepção republicana da

época.

Os jornais libertários traziam artigos que apontavam a instrução como

arma para a libertação da mulher. As iniciativas anarquistas davam grande

atenção as questões relacionadas à educação da mulher. Mesmo com maiores

reivindicações pela educação feminina representando um grande ganho para

as mulheres, sua educação ainda continuava sendo justificada pelo seu papel

de mãe.

A primeira lei de instrução pública do Brasil datada de 1827 trazia o

seguinte texto:

As mulheres carecem tanto mais de instrução, porquanto são elas que dão a primeira educação aos seus filhos. São elas que fazem os homens bons e maus, são as origens das grandes desordens, como dos grandes bens; os homens moldam a sua conduta aos sentimentos delas.

As últimas décadas do século XIX já começam a apontar para a

necessidade da educação para a mulher ligada a necessidade de

modernização da sociedade, a higienização da família e a construção da

cidadania dos jovens.

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A educação feminina não poderia ser concebida sem uma forte

formação cristã. Permanecendo uma grande influência do catolicismo, com

grande moral religiosa, que mostrava para as mulheres a dicotomia entre Eva e

Maria. Dois modelos diferentes de mulher e a espera de que a vida das

mulheres fosse construída seguindo a imagem de pureza de Maria, símbolo

que apelava para a missão de ser mãe, o ideal de recato e pudor, a aceitação

e o sacrifício, à ação educadora dos filhos e filhas.

Ao percorrer algumas décadas da história das mulheres na sala de aula,

lidou-se com representações, doutrinas e práticas sociais que instituíram

homens e mulheres na sociedade em geral. Observou-se que em alguns

momentos discursos religiosos, científicos, jurídicos e pedagógicos acabaram

por produzir efeitos semelhantes. A criação de modelos e pensamentos sobre

os diferentes tipos humanos.

Se as instituições sociais, entre elas a escola, produziam e reproduziam

tais discursos, é importante destacar que os sujeitos concretos “não cumprem

sempre, nem cumprem literalmente os termos das prescrições de sua

sociedade. Homens e mulheres constroem formas próprias e diversas de suas

identidades, muitas vezes em discordância as proposições sociais de seu

tempo”. (Louro 2001, p478). O que ficam são as representações criadas em

cada época.

Entendendo que a identidade feminina (...).

(...) é um projeto em construção que passa, de um lado, pela desmontagem destes modelos de rainha do lar, do destino inexorável da maternidade e da restrição ao espaço doméstico e familiar e o resgate da potencialidade, abafado ao longo de séculos de domínio da ideologia machista e patriarcal. (Carneiro, 1994, p188).

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Faz-se necessária a construção de uma nova consciência sobre a

condição feminina. Buscando o acesso a diferentes postos de trabalho, de

igualdade salarial e educacional entre homens e mulheres. Através de uma

educação que não reproduza esteriótipos que direcionam atividades para

meninas e atividades para meninos. Que tragam instrumentos pedagógicos

que proponham o mesmo tratamento para mulheres e homens.

2.1 A inserção mulher no mercado de trabalho.

O mundo do trabalho nem sempre foi um território masculino. Desde

que o homem conseguiu ficar de pé e construir suas primeiras ferramentas,

inaugurou assim o mundo do trabalho; e a mulher estava lá. Ela cuidou da

casa e das roças, enquanto ele caçava e guerreava.

Quando a produção era coletiva, destinada a suprir as necessidades

básicas da comunidade, mulheres e homens partilhavam o trabalho. Quando a

revolução industrial substituiu a energia humana pela máquina, a mulher

estava também nas primeiras fábricas. Foi então que surge o capitalismo,

transformando tudo em artigo de compra e venda, em mercadoria, inclusive a

mão-de-obra. E mais uma vez lá estava a mulher disputando espaço no mundo

do trabalho.

A Revolução industrial e os movimentos políticos e sociais fizeram com

que a mulher passasse a ocupar um lugar relativamente independente dentro

da sociedade econômica e social. A consciência de sua posição e capacidades

tem feito com que a mulher lute para conseguir uma atuação mais direta e

assuma o lugar que lhe compete no contexto social. Na segunda metade do

século XX, a força de trabalho feminina expandiu-se de forma expressiva em

várias regiões do mundo.

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A importância das mulheres no processo produtivo não é um fato novo.

No Brasil, por exemplo, sua presença foi marcante nos primórdios da

industrialização, especialmente ligada à indústria têxtil no século XIX. O que há

a destacar no período recente é a intensidade e a diversificação do processo

de entrada das mulheres no mercado de trabalho3. As taxas de participação

feminina se expandem num processo contínuo, sem alteração diante das

diferentes conjunturas econômicas.

Diferentes fatores estão por trás desse fenômeno: o desejo de

desenvolver uma carreira; a necessidade econômica seja em decorrência da

decadência dos rendimentos reais do trabalho, seja para fazer frente aos

novos anseios de consumo, a alteração no padrão de consumo com a

presença de novos produtos, expandindo o consumo familiar, conduziu as

mulheres a trabalhar fora de casa para aumentar a receita doméstica e,

principalmente, as elevadas taxas de desenvolvimento econômico que, no

caso latino-americano, marcaram especialmente as três décadas

subseqüentes ao pós-guerra, trazendo uma expansão do emprego assalariado

regulamentado e que incorporava novos contingentes de trabalhadores,

inclusive as mulheres.

O período que vai do pós-guerra até o final dos anos 60 foi marcado

pelo aumento da produtividade do trabalho e da atividade econômica. Nos

anos 80 e 90, no entanto, esse quadro muda: a estagnação das economias,

acompanhada de altas taxas de inflação, inaugura um período de

desaceleração no ritmo de geração de empregos, especialmente a geração de

empregos assalariados regulamentados. De um período de inclusão de novos

segmentos de trabalhadores no mercado de trabalho urbano, passa-se a um

3 O mundo do trabalho envolve toda atividade realizada com esforço humano, para alcançar os diferentes

objetivos e é nesta esfera que acontecem e são definidos os papéis de homens e mulheres. Já o mercado de

trabalho é onde as pessoas vão buscar oportunidades de emprego, oferecendo sua capacidade de trabalhar,

sua força de trabalho, logo este está incluído no mundo do trabalho.

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processo de exclusão via desemprego e oferta de ocupações fora dos padrões

de proteção legal vigente, sem carteira assinada, trabalho por conta própria.

Mesmo nesse novo contexto, mais adverso, a participação das

mulheres no mundo produtivo não diminuiu. Conduzido por mudanças no

padrão cultural, ou simplesmente pela necessidade de obtenção de renda, o

ingresso das mulheres no mercado de trabalho toma a forma de um processo

definitivo.

No Brasil, o ingresso acentuado de mulheres no mercado de trabalho

permaneceu nos anos 90, apesar da conjuntura de crise vivida pela economia

brasileira e seus reflexos no mercado de trabalho. A taxa de participação

feminina cresceu ao longo da década chegando a 48,95% em 1999, conforme

dados da PNAD-IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio).

Esse processo de mudança do padrão de inserção feminina no mundo

produtivo foi acompanhado de êxito, se considerada a atenção dada à

condição das mulheres e o enorme conjunto de direitos que passaram a

vigorar, pelo menos na lei. Exemplo disso é a constituição de 88 que

incorporou uma pauta de direitos, reivindicada e discutida por um conjunto de

mulheres brasileiras. Num movimento de busca de eqüidade entre homens e

mulheres. Foram questionados estereótipos e conceitos, reivindicaram-se

novos espaços e direitos. Num período de poucas décadas, as mulheres

ultrapassaram os limites do mundo privado, em busca do direito ao trabalho

remunerado e à cidadania.

De fato, a inserção dos indivíduos no mercado de trabalho reproduz as

desigualdades decorrentes da valoração socialmente atribuída a

características ou atributos pessoais naturais - sexo, idade, cor, etnia, ou

adquiridos, como é o caso da escolaridade. Mantendo e recriando

desigualdades entre trabalhadores e trabalhadoras. Com formação qualificada

e polivalência para os homens e formas de empregos atípicos para as

mulheres.

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A feminização e masculinização das tarefas e ocupações estão

legitimadas nos esteriótipos de ser homem ou ser mulher, configurações

sociais e culturalmente construída das identidades feminina e masculina. Na

sociedade industrial, a base dessas configurações está na separação do

público, esfera da produção social, da direção da sociedade de atribuições

masculinas e do privado, o mundo doméstico, esfera feminina, da produção de

valores de uso para o consumo da família.

Utilizando o conceito de gênero como processo histórico de construção

e interdependente das relações sociais de sexo, a existência de trabalho de

homens e trabalho de mulheres, nada mais é do que uma das formas de

expressão da assimetria nas relações sociais entre os sexos, onde se definem

a submissão das mulheres aos homens. Assim a valorização diferenciada

entre a mão - de - obra masculina e a feminina não levando em consideração

os aspectos biológicos de capacidade e atributos naturais, ou então, atributos

adquiridos que justifiquem diferença de tratamento.

Continua, portanto, a se observar a concentração da mão-de-obra

feminina em um conjunto mais restrito de atividades, fortemente feminizadas,

às quais corresponde uma imagem de tarefas de menor qualificação e às quais

são atribuídas remunerações menores.

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CAPÍTULO 3

CONDIÇÕES DE TRABALHO: EXPECTATIVAS E A

REALIDADE DA MULHER OPERÁRIA

A luta pela sobrevivência e o desenvolvimento do capitalismo conduziu a

participação direta da mulher na produção social através da indústria que

acelerou o processo de ascensão social e independência econômica das

operárias, criando novas condições de existência. A necessidade da entrada

da mulher no mercado de trabalho, conseqüentemente sua contribuição

econômica e a possibilidade de desenvolvimento cultural selaram a

independência da mulher diante do quadro que se apresentava.

As mulheres conquistaram muitos espaços e muitos direitos. Vemos

mulheres bem sucedidas trabalhando fora e chefiando famílias, mulheres de

liderança política, de opinião formada buscando igualdade de condições. O

trabalho da mulher, fora de casa, sendo estimulado pela demanda do mercado

e pelo crescimento de sua competência profissional, que decorre em grande

parte da melhoria de condições educacionais, maior possibilidade de estudo e

diversidade de cursos em diferentes áreas de conhecimento que abrem suas

portas ao público feminino. As mulheres cada vez mais demonstram sua

capacidade de conciliar os cuidados da casa com o serviço externo.

As dificuldades para ingressar no mercado de trabalho não têm

intimidado as mulheres (dupla jornada, subemprego). Há mulheres

desempenhando tarefas fisicamente pesadas. E garantindo o sustento de

muitos lares. O desempenho escolar das mulheres tem se revelado mais alto

que dos homens. A capacidade intelectual e de liderança das mulheres, em

atividades profissionais ou políticas, já estão mais do que comprovadas.

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Considerando o mundo do trabalho, levando em conta os diferentes

tipos de trabalho realizado, Santos ressalta que grande parte do trabalho

realizado por mulheres não é contabilizado, como por exemplo, o trabalho

doméstico e o trabalho informal. Destaca o processo de feminização de

algumas profissões, o que ela julga uma desvalorização do trabalho feminino.

Neste ponto acredito que não seja uma desvalorização do trabalho em

si, mas um processo histórico que levou a este fato.

Embora a equiparação entre salários de homens e mulheres de um

mesmo nível educacional ainda seja lenta, vemos traços para que essa

situação seja mudada. Isso vem sendo acelerado pela entrada de mulheres em

profissões que anteriormente eram exclusivamente masculinas. Mesmos após

décadas de luta pelos direitos da mulher, ainda ouvimos falar em mulheres que

sofrem diferentes tipos de violência e nada fazem contra seus agressores.

Muitos fatos mostram que se processa uma mudança e grande evolução

no papel feminino principalmente no que diz respeito ao mercado de trabalho.

A sociedade deve reconhecer que o mundo é ocupado por dois sexos e

não apenas por um. Antes o homem era o único protagonista, a mulher estava

confinada, onde o perfil dela não aparecesse hoje à mulher conquista seu

espaço na sociedade.

Com o desenvolvimento das indústrias e o avanço educacional, a

participação das mulheres nas indústrias aumentou. Mais ao mesmo tempo as

mulheres passaram a fazer uma dupla jornada de trabalho, pois continuaram

fazendo os afazeres domésticos e cuidando dos filhos.

No ano de 2001 o estaleiro Brasfels é aberto com uma perspectiva de

retomar a indústria naval em Angra dos Reis. Assumindo as atividades do

antigo estaleiro Verolme. Há dois anos ele abre suas portas às mulheres, ainda

em caráter experimental, nos curso de solda, elétrica e instrumentista tubista.

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3.1 O centro de treinamento – escola técnica

A experiência de inserção de mulheres no quadro de funcionários, foi

uma experiência que deu certo. Tanto que a partir daí já foram formadas novas

turmas para os diferentes cursos.

O centro de treinamento é a via de acesso das mulheres ao estaleiro,

através dos cursos ministrados. Os requisitos para o ingresso nos cursos são o

ensino fundamental (1º grau) para o curso de solda e o ensino médio (2º grau)

para o curso de elétrica, instrumentação e demais cursos. A primeira turma de

mulheres foi formada por indicação, mas devido a grande procura foi

necessária a realização de um processo de seleção, com a realização de uma

prova obedecendo aos níveis de escolaridade específicos de cada curso. Com

provas de português e matemática. Lembrando que os homens também

passaram por esse mesmo processo de seleção.

Os cursos têm duração média de três meses na escola e depois os

alunos e alunas vão para a prática na obra. Em aproximadamente um ano a

aluna/aluno é qualificada como profissional da área, dependendo para isto da

indicação do encarregado responsável por esta qualificação. Hoje há uma

média de 300 mulheres em treinamento, distribuídas nos diferentes cursos.

Elas são contratadas como ajudantes da área na qual fazem o curso. Entram

às 7 horas e saem às 17:20. Recebem um salário de aproximadamente

R$550,00 por mês, alimentação, plano de saúde e transporte. Tendo garantia

de todos seus direitos trabalhista.

As alunas e alunos promovem festas e encontros, possuem um grupo

de teatro formado por 96% de mulheres. Estas atividades fazem parte da

preocupação e incentivo da coordenação e estar buscando outras alternativas

de aprendizado, através de atividades que visem formar não apenas para o

trabalho, para a obra, mas também para a vida. Durante o DDS (discurso diário

de segurança) aborda sobre temas ligados a qualidade de vida, família, meio

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ambiente e principalmente sobre segurança no trabalho. Trazendo pessoas de

fora do convívio da escola para ministrarem palestras.

A parte de supervisão e coordenação da escola, dentro deste princípio

de não formar apenas para o trabalho, acaba fazendo um trabalho de

orientação psicológica e social, nos referindo aos problemas pessoais e de

comportamento das alunas e alunos.

No que se refere ao trabalho, deixam bem claro que não há diferença de

tratamento entre homens e mulheres. Porém há uma preocupação da empresa

quanto ao tratamento dado às mulheres e também aos homens, visto que a

presença das mulheres despertou curiosidade e incomodo.

3.2 As meninas envolvidas

Elas vêm de toda parte do município, são mães, esposas, noivas,

namoradas. solteiras, casadas. jovens e adultas. Mulheres que deixaram suas

casas, seus filhos, maridos e outras profissões em busca de outros espaços.

Ex-secretárias, professoras, estudantes, universitárias e muitas outras que

deixaram o preconceito de lado e foram em busca de novas oportunidades.

A família é um importante ponto de referência na hora das decisões. E

muitas vezes ela não concorda com o que é decidido. Por conta até das

tradições culturais construídas ao longo da história de cada grupo. Quando

crianças nossos pais sonham com o nosso futuro e um pai dificilmente

imaginaria a sua garotinha, a sua bonequinha usando capacete, botina e

trabalhando em uma oficina de construção de navios. O que piora ainda mais

em se tratando da relação com o marido ou namorado. Reflexo da educação e

dos esteriótipos criados para a mulher. Carregados de preconceitos e

ideologias.

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A vida profissional traz muitos frutos, mas ela também traz alguns

espinhos. Esse novo movimento trouxe algumas mudanças na vida dessas

mulheres. Para a mãe, para a estudante, para a que mora longe do trabalho.

A mãe se sente culpada por deixar seus filhos em casa com parentes ou

na creche quando possível. Tendo que dividir seu tempo de trabalho e sua

atenção e preocupação com seus filhos, a casa e o marido, no caso das

trabalhadoras casadas.

A chegada das mulheres na fábrica incomodou a muita gente. Estar em

uma atividade onde a masculinidade imperava causou muitos tipos de

preconceitos e comentários sobre as mulheres. Principalmente em relação aos

homens. Por conta de todo processo histórico, que vivemos, mais uma vez

vemos a representação dos esteriótipos de mulher, recriados na fábrica.

A estimativa é que no navio de uma população de quatro mil

funcionários, cinqüenta eram mulheres. Uma proporção de diferença bem

significativa. Para elas e para eles era necessária uma nova postura diante do

trabalho e da convivência. Diferentes atitudes diante dos fatos, um novo

vocabulário para eles, que se encaixassem a convivência com elas. E a elas

uma postura mais discreta para que não fossem mal interpretadas com

simpatia exagera.

Fica evidente então a necessidade de se rever algumas atitudes e

comportamentos dentro deste espaço da fábrica para acabar ou pelo menos

diminuir o preconceito existente. Palestras e orientações foram necessárias,

principalmente aos líderes de equipe, mestres e encarregados, na busca de

uma conscientização e aceitação dessas novas personagens no contexto da

fábrica. Para que as piadinhas sobre as mulheres, as gracinhas do tipo oh!

Gostosa, ou então lugar de mulher é no fogão, o assédio e qualquer tipo de

preconceito que viesse a acontecer, não se tornassem algo constrangedor.

No mundo moderno há também a rivalidade, força de competição

capitalista aumentando ainda mais a complexidade na relação homem/mulher.

Elas passaram a ocupar um posto onde eles dominavam. Causando um certo

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medo e dúvida quanto a manutenção da posição de liderança frente aos

postos de trabalho. Devido à competição acirrada causada pela possibilidade

de desemprego.

O trabalho, desde a era primitiva, surgiu como uma reação às

necessidades vitais, em relação direta com a natureza. É uma atividade a qual

o homem faz para atender as suas necessidades, criando produtos e meios

para consegui-las. Atuando sobre os meios de produção, utilizando sua

capacidade física, intelectual, suas habilidades e experiências. No capitalismo

o trabalhador vende sua força de trabalho em troca de um salário.

O trabalho ultrapassa as dimensões do capital. E passa a se considerar

todo tipo de atividade como trabalho. Porém a marca do capitalismo é mais

forte quando se trata de relacionar a trabalho aos bens de consumo.

Neste caso o trabalho vem como forma de suprir as necessidades do

mercado consumidor.

Com o trabalho são construídas práticas e experiências que serão úteis

na formação de cada indivíduo e do coletivo do qual faz parte. Através do

trabalho vão se abrir novos espaços de atuação.

E para nossas operárias o sentimento não é diferente. A busca de

remuneração, de crescimento e de reconhecimento. Como valorização de si

mesma e de seu trabalho.

“Antigamente ninguém pensava: vou lá na Verolme (Atualmente Brasfels) ver se

tem um a vaga para mim. E se pensava era no escritório. É um avanço para a

mulher, porque o homem já tem o seu espaço praticamente todo dominado. Agora

a gente esta invadindo o espaço deles, com tanta capacidade de fazer o que eles

fazem. E com mais perfeição, porque a mulher é mais detalhista. É mais uma força

de trabalho”. (Eletricista)

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“Cada dia a gente aprende um pouco mais”. (Soldadora)

“A intenção é estar sempre crescendo. Se agente está aprendendo e se eles estão nos pagando para depois mostrarmos o nosso trabalho. A gente quer fazer o melhor. E o nosso melhor é crescer”. (Eletricista)

“É uma nova adaptação. Vai ser difícil. Vai continuar existindo preconceito. Mas com o tempo a gente consegue. Do mesmo modo que eles lideram uma equipe de eletricistas, de soldadores de instrumentistas ou que qualquer outra. A gente também tem capacidade para fazer”. (Eletricista)

“Com determinação a gente vai tranqüila”. (Eletricista)

Elas foram o ponta pé inicial neste contexto. Mostrando a sua condição

de mulher enquanto profissional tão capaz quanto o homem nas atividades que

realiza.

Esse processo que levou as mulheres a estes cursos modificou a

paisagem do estaleiro. O discurso faz com que as trabalhadoras e

trabalhadores se envolvam com o seu trabalho e não percebam o que há por

trás de todo aparato técnico apresentado. Que levam a acreditar que cada

trabalhador ou aprendiz é remunerado para somente aprender, mas não

percebem que estão vendendo as suas forças de trabalho a empresa. Que

lucra com a contratação de ajudantes que fazem o serviço de um profissional

qualificado, mas recebem como ajudante.

Conformam as consciências que se mantêm a favor da condição que se

apresenta.

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CONCLUSÃO

A entrada da mulher como sujeito maior na história, começa a

transformar a estrutura da força de trabalho dos países, na prática bem como a

administração do estado e do mercado econômico. Fazendo com que esta

mulher tenha novos posicionamentos diante da nova situação que se

apresenta. A saída da mulher do espaço da casa, do lar e sua entrada no

mercado de trabalho.

Com o desenvolvimento da sociedade capitalista e o surgimento da

indústria, a família que possuía um caráter produtivo, privatizou-se. O local de

trabalho se separa do espaço do lar. O que antes era constituído pelo espaço

privado da casa, um mundo da mulher, de referencias femininas em oposto ao

mundo público tido como espaço masculino, o qual a mulher não estava

preparada para freqüentar. A elas ficaram destinadas as relações familiares

atreladas as forças patriarcais.

Porém os fatos históricos contam que anteriormente as mulheres se

ocupavam dos trabalhos manuais e da educação dos filhos ou então ajudavam

no trabalho no campo, ajudando nas tarefas e cuidando da casa. Isto vai se

tornar um conflito para estas trabalhadoras quando se vê a necessidade da

saída destas mulheres para o trabalho fora do lar. Na medida que há a

necessidade de se conciliar a vida privada com a vida pública, dando conta das

diferentes jornadas de trabalho a serem enfrentadas no dia - a - dia. Quando a

tudo isto se junta a existência de filhos, ainda há a preocupação com a

educação em virtude da falta de uma estrutura que possa fazer o atendimento

social a estas mães trabalhadoras, como creches e escolas que atendam a

toda demanda.Parece claro que a mulher trabalhadora necessita de proteções

específicas contra a exploração capitalista.

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A busca de igualdade entre mulheres e homens é uma luta constante,

mas que implica na reflexão sobre de que forma poderá abrir brechas nessa

equivocada igualdade, vendo até que ponto é possível a mulher abrir mão de

algumas de suas jornadas, sejam elas o trabalho, a família, a maternidade e

tantas outras.

Uma verdadeira igualdade de direitos entra homens e mulheres só

poderá ser verdadeira quando se tiver eliminado a exploração capitalista sobre

ambos e o trabalho doméstico privado seja convertido em público.

Compreendendo que o espaço do lar e as atividades desenvolvidas pela

mulher são contabilizados como trabalho em seu sentido mais amplo de

atividade de transformação da natureza e das pessoas que o realizam. E que é

tão necessário quanto o trabalho realizado pelos homens fora do espaço do

lar. Para tanto é necessário rever a organização desta sociedade existente

possibilitando o encontro entre homens e mulheres como iguais.

O mundo da mulher passou por uma grande transformação. Nos últimos

30 anos, as mulheres conquistaram muito mais liberdade do que ao longo de

toda a sua história. A elevação do seu nível educacional e a redução do

tamanho da família, além das necessidades econômicas de contribuir para o

orçamento doméstico, fizeram da mulher um elemento essencial no

desenvolvimento.

Depois de passar por várias décadas de confrontação com o homem, a

mulher entra numa fase de igualdade crescente. O talento profissional e a

disciplina de trabalho estão transformando as mulheres em sérios concorrentes

dos homens no mercado de trabalho. Isso traz benefícios para as mulheres e

os homens. Ao exaltar a competição profissional, a força de trabalho como um

todo avança na produtividade e na qualidade do trabalho realizado.

Mas, se as conquistas foram de grande importância, há muito para se

conseguir. Muitas das dificuldades. No Brasil, a informalidade, embora mais

alta entre as mulheres, atinge em cheio a maior parte dos homens. A baixa

qualidade do trabalho é um problema de grande maioria dos brasileiros. O

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desemprego, embora mais alto entre as mulheres, atinge uma parcela dos

homens chefes de família. A falta de uma estrutura de atendimento

assistencial com creches e escolas de educação infantil, que possam atender

os filhos das mães trabalhadoras.

Ou seja, a resolução dos problemas pendentes dependerá, em grande

escala, da melhoria das condições do mercado de trabalho como um todo.

Mas, isso dependerá também da continuidade da transformação dos valores.

Para os homens inconformados com essa grande guinada histórica só

resta recomendar: homens de todo o mundo se unam! Preparem – se tanto

quanto as mulheres. Trabalhem tanto quanto elas. Tenham zelo no trabalho.

Compartilhe com as mulheres uma grande parte das responsabilidades que

sempre foram suas também embora nunca tenha percebido. Em uma palavra:

homens de todo o mundo: acordem! As mulheres venceram as barreiras que o

processo histórico que vivemos impôs e passaram a ocupar os diferentes

espaços no mercado de trabalho.

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 >> Questionário de entrevista

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ANEXO 1

QUESTIONÁRIO

1- Nome:

2- Idade:

3- Filhos:

4- Estado civil:

5- Profissão:

6- Local de trabalho:

7- Escolaridade:

8- Tempo de trabalho:

9- Outras profissões que já trabalhou?

10- Como e por que escolheu este trabalho?

11- Descreva seu trabalho:

12- O que a sua função exige?

Quais as suas expectativas em relação ao trabalho?

13- O que significa trabalho para você?

14- Como foi a sua relação com a família em relação aos estudos e ao

trabalho? Houve algum tipo de imposição?

15- Como a sua vida profissional (o seu trabalho) afeta a sua vida fora do

trabalho?

16- Há diferença no tratamento entre homens e mulheres?

17- Existe algum tipo de preconceito?

18- Como outras mulheres vêem o seu trabalho?

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BIBLIOGRAFIA

ARANHA, Maria Lúcia de arruda. Filosofia da educação.

São Paulo: Editora moderna, 1996.

CARNEIRO, Sueli. Identidade Feminina In: SAFFIOTI, Heleieth. MUÑOZ -

VARGAS, Mônica.(orgs.). Mulher Brasileira é Assim. Rio de Janeiro. Rosa dos

Tempos, NIPAS, Unicef, 1994. P187, 188.

LOURO. Guacira Lopes. Mulheres na Sala de Aula In: DEL PRIORE, Marly

(org.). História das Mulheres no Brasil. 5º ed. São Paulo. Contexto, 2001.p 443-

447, 449, 453, 454, 469,478.

SOIHET, Rachel. Sutileza, Ironia e Zombaria: Instrumentos no Descrédito das

Lutas das Mulheres pela Emancipação In: MURARO, Rose Marie. PUPPIN,

Andréa Brandão.(orgs.). Mulher, Gênero e Sociedade. RJ. FAPERJ, 2001. p

100, 102, 103, 106.

SANTOS, Andréa dos. Fala mulher: uma breve abordagem sobre a

subordinação feminina, seus movimentos de resistência e estratégias de

superação. Angra dos reis. Pedagogia – UFF, 1996.

RAGO, Margareth. Do Cabaré ao Lar: a utopia da cidade disciplinar. Brasil

1890 – 1930. 3º ed. RJ. Paz e Terra, 1985. Coleção Estudos Brasileiros.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

PANORAMA HISTORICO SOBRE AS MULHERES: A CONSTRUÇÃO DA

CONDIÇÃO FEMININA 11

1.1 – As relações familiares 12

1.2 – Um pouco da historia das mulheres brasileiras 15

1.3 – Mexe e remexe: o movimento de mulheres no Brasil 17

CAPÍTULO 2

MULHER E EDUCAÇÃO: EXPANSÃO DAS OPORTUNIDADES AO LONGO

DO SÉCULO 20

2.1 – A inserção da mulher no mercado de trabalho 26

CAPÍTULO 3

CONDIÇOES DE TRABALHO: EXPECTATIVAS E A REALIDADE DA

MULHER OPERÁRIA 30

3.1 – O centro de treinamento – escola técnica 32

3.2 – As meninas envolvidas 33

CONCLUSÃO 37

ANEXOS 40

BIBLIOGRAFIA 42

ÍNDICE 43