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1 UNIVERSIDA DE CANDIDO MENDES PÓS-GRA DUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE DISLEXIA : UM OBSTÁCULO SUPERÁ VEL Por: DELPHINA PIERI Orientador Profa. Dra. Mary Sue Carvalho Pereira Rio de Janeiro 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DISLEXIA: UM OBSTÁCULO SUPERÁVEL

Por: DELPHINA PIERI

Orientador

Profa. Dra. Mary Sue Carvalho Pereira

Rio de Janeiro

2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DISLEXIA: UM OBSTÁCULO SUPERÁVEL

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção de especialização em Orientação

Educacional.

Por: . Delphina Pieri

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AGRADECIMENTOS

A minha professora orientadora Dra.

Mary Sue Carvalho Pereira.

Aos meus amigos Patrícia Campos e

Sidney Campanhole.

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DEDICATÓRIA

Aos meus queridos pais (in

memoriam) que deixaram um

legado maior que as caras

lembranças, o caráter.

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RESUMO

O presente trabalho trata de um breve estudo sobre a questão da

dislexia sob o entrecruzamento da visão neurológica com a psicopedagogica.

Toma-se como base teórica, entre outras, as idéias de D. Marcelli e H.

Gruspum para ótica neurológica e as de G. Oliveira e L. Olivier para o enfoque

psicológico da aprendizagem.

A investigação transcorre estabelecendo tópicos das propostas e

suas conexões, além de imbricar com a questão social implícita na legislação

educacional.

O principal apontamento do trabalho é a necessidade de

esclarecimento para os articuladores da práxis educacional, ou seja, os

professores, para adquirirem maior clareza deste fenômeno que dificulta os

processos de aprendizagem. Portanto, requer uma visão mais atenta sobre as

dificuldades apresentadas pelos cognoscentes e que sejam capazes de

discernir as diversas singularidades que podem caracterizar as situações

“disléxicas”.

Sugere-se, apoiado pela própria legislação educacional, que os

entendimentos sobre a dislexia tem que ser incorporados às propostas

pedagógicas das unidades escolares e não serem delimitadas apenas a ações

de especialistas: psicólogos, fonoaudiólogos, entre outros.

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METODOLOGIA

A presente pesquisa foi desenvolvida a partir de análise bibliográfica,

utilizando apontamentos das obras referenciadas. A leitura teve como meta

principal à definição de terminologias e historicidade envolvida no fenômeno da

dislexia a partir das áreas da: psicologia, psicopedagogia e neuropsicologia.

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SUMÀRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................... 8

CAPÍTULO I ..................................................................................................... 10

DEFININDO A DISLEXIA................................................................................. 10

HISTÓRICO DA DISLEXIA........................................................................... 10

1.1 - Definição de Dislexia ............................................................................ 11

CAPÍTULO II .................................................................................................... 17

EPIDEMIOLOGIA DA DISLEXIA...................................................................... 17

Fatores Predisponentes ............................................................................... 17

2.1. Aspectos Clínicos da Dislexia................................................................ 18

2.2. Curso e Prognóstico .............................................................................. 20

2.3 Atenção aos portadores de dislexia........................................................ 23

CAPÍTULO III ................................................................................................... 25

CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DAS DISLEXIAS PARA GRUNSPUN... 25

CAPÍTULO IV................................................................................................... 29

TRATAMENTO E ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS........................................ 29

CONCLUSÃO .................................................................................................. 38

GLOSSÁRIO.................................................................................................... 39

ANEXOS .......................................................................................................... 40

ANEXO A...................................................................................................... 40

ANEXO B...................................................................................................... 42

ANEXO C ..................................................................................................... 44

ANEXO D - Atividades Culturais.................................................................. 46

REFERÊNCIAS................................................................................................ 47

FOLHA DE AVALALIAÇÃO......................................................................................4 9

INDICE...............................................................................................................50

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INTRODUÇÃO

Escolhemos como objeto de estudo a Dislexia por se tratar de um

problema comum em nossas salas de aula, que é conhecido apenas pelo não

aprendizado da leitura ou pela troca de fonemas (na fala ou na escrita) e que o

portador deve ser encaminhado ao fonoaudiólogo.

Para que nós educadores possamos desenvolver uma metodologia

voltada ao auxílio a estes alunos é necessário que tenhamos um mínimo de

suporte teórico. A partir do conhecimento do professor a respeito dos distúrbios

de aprendizagem e, em especial o nosso tema Dislexia, será possível uma

diagnose inicial e, assim, ter condições de buscar ajuda profissional e meios

para auxiliar os alunos disléxicos, contribuindo para a superação das

dificuldades deste.

Acreditamos que a Dislexia é um obstáculo superável, pois além do

tratamento com profissionais adequados, o professor consciente e preparado

há de planejar estratégias que auxiliem o portador deste distúrbio.

O presente trabalho visa o aprofundamento no assunto Dislexia, uma

vez que muitos alunos apresentam dificuldades no período de alfabetização.

Tais dificuldades relacionadas à leitura e à escrita causam frustrações, levando

o aluno ao desinteresse, à agitação que são, na maioria das vezes,

diagnosticadas pelo professor como indisciplina, hiperatividade ou problema

sócio-cultural. O desconhecimento do assunto leva a aplicação de

metodologias que apresentarão pouco ou nenhum resultado, agravando as

frustrações por parte do aluno e reforçando as rotulações deste junto à

comunidade escolar. Cabe, portanto, entrar em ação o “professor-observador”

e o “professor-pesquisador” para encontrar soluções para a promoção do

desenvolvimento do aprendizado destes alunos em particular.

Buscamos na literatura própria auxílio para diminuirmos as nossas

dúvidas a respeito do assunto e, a partir do embasamento teórico, podermos

melhorar a nossa prática, tornando possível a inclusão e o desenvolvimento

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dos nossos alunos disléxicos livrando-os das frustrações e discriminações as

quais estão expostos devido às suas dificuldades.

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CAPÍTULO I

DEFININDO A DISLEXIA

HISTÓRICO DA DISLEXIA

Segundo os autores Johnson e Myklebust (1983) a primeira

descrição de transtorno equivalente à dislexia data de 1877, ano em que o

médico alemão Adolph Kussmaul, publicou o caso de um paciente que havia

perdido sua capacidade de leitura apesar de conservar a visão, a inteligência

e a linguagem. A este transtorno deu o nome de cegueira verbal ou alexia.

Pouco mais tarde o neurologista inglês, Pringle Morgan, em 1986, reparou a

historia clinica de um menino de 14 anos, que apesar de ser inteligente,

apresentava incapacidade quase absoluta de ler e escrever.

A partir de 1900, Hinshelwood, um cirurgião de Glasgow, se

interessou pelas crianças que não podiam aprender a ler e passou a publicar

artigos sobre pacientes que apresentavam tais problemas. Mas tarde publicou

um livro sobre este assunto e a pesquisar novas pessoas que apresentavam

tais dificuldades. Deste modo pode observar que alguns indivíduos

permaneciam totalmente incapacitados para a leitura, a pesar de múltiplos

esforços. Outros apresentavam melhoras e passaram a adquirir certas

habilidades leitoras, embora com limitações. Para estes últimos propôs o

termo de dislexia congênita, e o termo cegueira verbal deveria ser reservado

para os casos muitos severos sem possibilidade de melhora.

A partir de então a dislexia tem sido tema de permanente debate,

cujo diagnóstico final não parece, todavia se haver encontrado. Em 1928

Orton propôs o nome estrefossimbolia, mas em 1938 trocou-o para dislexia

especifica ou distúrbio especifico de leitura. Posteriormente, em 1940,

Gillingham e Stillman desenvolveram procedimentos para ensinar as crianças

com esse tipo de distúrbio. Hallgren (1950) a denominou dislexia. Porém foi

em 1975 que a World Frederation of Neurology utilizou pela primeira vez o

termo dislexia do desenvolvimento. A definição dada naquele momento foi:

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Um transtorno que se manifesta pela dificuldade para a aprendizagem da leitura apesar de uma educação convencional, uma adequada inteligência e oportunidades sócio-culturais. Depende fundamentalmente das alterações cognitivas cuja Origem freqüentemente é constitucional (CRITCHLEY apud JOHNSON e MYKLEBUST, 1983, p 208)

Esta concepção e denominação são as que prevalecem até o

presente.

1.1 - Definição de Dislexia

A relevância da definição do termo “Dislexia” para educadores é a de

levar a compreensão do que realmente é este distúrbio de forma que

possamos orientar os pais no encaminhamento necessário para o tratamento

e, também, para elaboração de estratégias pedagógicas para a

realfabetização que se fará necessário para os alunos disléxicos.

Ao realizarmos a pesquisa para elaboração deste trabalho,

deparamo-nos com várias vertentes para a definição de Dislexia.

A Dislexia, por definição, é um distúrbio do aprendizado que se

manifesta, inicialmente, pela dificuldade em aprender a leitura e a escrita com

resultados abaixo do esperado em relação à escolarização e no nível de

inteligência normal, não ocorrendo, portanto, no déficit intelectual, na posição

sócio-econômica, por técnicas deficientes de ensino ou lesão cerebral.

Os termos “alexia”, “dislexia do desenvolvimento”, “cegueira verbal” e

“incapacidade especifica para leitura” tem sido usados, de modo variado, como

referência a uma interferência significativa no desenvolvimento da capacidade

de leitura que não pode ser explicada por uma inteligência inadequada ou por

uma educação deficiente. A maioria dos médicos usa o termo “alexia para

referir-se às incapacidades de leitura de qualquer gravidade que resultam de

lesões cerebrais, enquanto usam ” dislexia “ para designar uma incapacidade

inata para aprender a ler.Psicólogo e educadores, por outro lado, usam a

“alexia” de acordo com suas derivações lingüística para referir-se a uma

incapacidade total para aprender a ler.

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Rutter e Yule (1974 apud PASTURA, 2005) limitam suas definições

ao problema apresentado, a falha de leitura. Salientam uma diferença entre

retardo geral da leitura - tal retardo é um aspecto da capacidade de leitura

geralmente deficiente e relacionada a um baixo QI, e o retardo específico de

leitura, no qual a deficiência de leitura é determinada por uma equação de

regressão baseada em contagem de testes de leitura, idade e QI, relacionando

o grau de deficiência de uma criança com as estimativas da freqüência

esperada de diferentes graus de deficiência. Rutter e Yule usam a definição

para descrever o relato específico de leitura em uma série de cinco estudos

epidemiológicos de dificuldades de leitura na população geral de ilha de Wight

e no interior de Londres.

As diversas definições concordam que na dislexia do

desenvolvimento há uma discrepância entre o desempenho da leitura real da

criança e o desenvolvimento esperado, dada sua idade e inteligência. A

divergência está relacionada ao grau de especificidade.

Para Olivier, distúrbios como disgrafia, disortografia, desordem do

déficit de atenção (DDA), Limitrofia, Dislalia possuem sintomas semelhantes

aos da Dislexia, porém este distúrbio é mais complexo do que aqueles

relacionados.

O que acontece com o disléxico é que, na maioria dos casos não identifica sinais gráficos/ letras ou qualquer código que caracterize um texto. Portanto, ele não troca letras porque seu cérebro sequer identifica o que seja letra. Se inverter letras e sílabas é simplesmente por nem saber o que são e não como se insiste em divulgar porque “troque letras”. (OLIVIER, 2003 p. 16)

Olivier define a Dislexia como:

Um distúrbio independente de causas intelectuais, emocionais ou culturais, apresenta dificuldades acentuadas no processo de leitura e escrita, podem apresentar alterações(na predominância) nos hemisférios celebrais [...] E pode também apresentar alterações em alguns cromossomos. Suas causas também podem ser acidentais como uma anoxia AVC. [...] (OLIVIER, 2003 p.20).

Ainda de acordo com Olivier existem, no mínimo, três tipos de

Dislexia:

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1- Dislexia Congênita ou Inata: É a Dislexia que nasce com o

indivíduo. Pode ter as mais variadas causas e tem

características próprias como, por exemplo, uma comprovada

alteração hemisférica cerebral onde os hemisférios encontram-

se invertidos ou em igualdade ou até por alteração de alguns

cromossomos.

2- Dislexia Adquirida: É a Dislexia que vem através de um acidente

qualquer. Como exemplo, termos “Anoxia Perinatal” , Anoxia1

por afogamento, Acidente Vascular Cerebral (o popular

Derrame) e outros acidentes/distúrbios que podem causar uma

Dislexia Adquirida.

3- Dislexia Ocasional: É a Dislexia causada por fatores externos e

que aparece ocasionalmente. Pode ser causado por

esgotamento do Sistema Nervoso/ Estresse excesso de

atividades e, em alguns casos, considerados raros por TPM

e/ou hipertensão.

Existe também uma espécie de quarto tipo que, Olivier classifica

como características disléxicas, ou seja quando o indivíduo apresenta algumas

destas características, mas que isoladas nada significam ou podem ser

causadas por outros distúrbios, às vezes bem simples de curar.

Olivier cita como uma das causas mais divulgadas para a Dislexia, as

alterações nos cromossomos 6 e 15. Tais alterações caracterizam-se como

distúrbio, porém este pode ser causado também por células fora do lugar,

células com funções diferentes ou má formação na organização dos neurônios.

Tal citação de Olivier é respaldada na afirmação do neurologista norte-

americano Albert M. Galaburda, que foi posta de lado, pois se levantou a

hipótese da alteração dos hemisférios.

Outra causa citada por Olivier é o distúrbio hereditário e incurável

sem causas intelectuais, emocionais ou culturais. Há uma alteração no lobo

1 Anoxia é a diminuição ou ausência de oxigenação no cérebro

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temporal direito que é maior do que o esquerdo, já que o normal é o contrario.

Porém, para Olivier esta definição tem falhas já que a predominância da

inversão está mais para o onde o esquerdo está mais inibido e o direito mais

tenso, e não para o tamanho como é tão divulgado. Assim, as alterações que

envolvem o lobo temporal esquerdo causam disfunção nas habilidades verbais

enquanto as lesões no lobo temporal direito provocam déficits perceptivos e

não verbais. Nos indivíduos destros, lesões no lobo esquerdo podem causar

disfasia (dificuldade na compreensão e/ou expressão da linguagem) e outros

distúrbios, já a lesão no lobo direito, raramente deixará algum distúrbio como

seqüela. Indivíduos canhotos possuem a área de linguagem no hemisfério

esquerdo, porém uma lesão no hemisfério direito poderá ter como

conseqüência, disfasia.

Ainda como uma das causas para a Dislexia, Olivier cita os fatores

orgânicos tais como anoxia (perinatal, por afogamento etc) que, para a autora,

é a principal causa, não só para a dislexia como para outros distúrbios de

aprendizagem.

Marcelli (1998, p 96) define Dislexia: “Observam-se confusões de

grafemas cuja correspondência próxima (a-ã, s-ch, u-o) ou cuja forma é

próxima (p/q, d/b), inversões (or-ro,cri-cir), omissões (bar-ba, prato-pato) ou

ainda adições, subtrações” .

Para Marcelli a essa Dislexia, associam-se as dificuldades

ortográficas denominadas dislexia-disortografia, que ainda afirma não podemos

falar em dislexia antes dos sete anos e sete anos e meio, pois dessa idade

erros similares são banais por sua freqüência.

De acordo com Silva (1997), os disléxicos demonstram dificuldade

freqüente em distinguir sons parecidos como p/b, f/v, m/n, g/x. Outra

dificuldade, segundo a autora está relacionada á formação das letras e suas

colocação espacial, tais como b/p, q/p, m/w, u/n, o que provavelmente significa

estar a área occiopitopariental comprometida. Esta área é responsável pela

organização dos símbolos gráficos no espaço.

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Para a autora, é importante observar que durante o processo de

alfabetização essas trocas sonoras e gráficas são extremamente normais, dada

a contextualização do espaço-temporal/som-grafia, que pauta a nossa escrita.

Segundo Marcelli são associados à Dislexia alguns distúrbios sem

que possam ser consideradas as únicas origens desta. Distúrbios como da

lateralização, ou seja, o sinistrismo e, da má lateralização tanto visual quanto

auditiva, distúrbios da organização têmporo-espacial: as confusões entre letras

de formas idênticas, mas invertidas no espaço (p/q , b/d) e as dificuldades em

compreender o ritmo espontâneo da frase dando origem a uma hipótese

baseada nos erros freqüente na orientação direita - esquerda.

Marcelli postula que numerosos fatores são tidos como a origem

desse distúrbio que se situa em um cruzamento da maturação individual e

social da criança. O córtex cerebral, o patrimônio genético, o equilíbrio afetivo,

os erros pedagógicos são, assim alternadamente responsabilizados. Assim,

para a autora, os fatores genéticos, cerebral, perceptivo, psicoafetivo, sócio-

cultural, inteligência e pedagogia associados, seriam a origem da causa da

dislexia.

Segundo a CID-102, Dislexia é um comprometimento específico e

significativo no desenvolvimento das habilidades de leitura, o qual não é

unicamente justificado por idade mental, problemas de acuidade visual ou

escolaridade inadequada.

Para Grunspun (2003), a habilidade de compreensão da leitura, o

reconhecimento das palavras, a habilidade de leitura oral e o desempenho de

tarefas que requerem leitura podem estar todas afetadas.

Para Oliveira (2004), a criança disléxica tem dificuldade em

compreender o que está escrito e de escrever o que está pensando,

conseqüentemente pode perturbar a mensagem que recebeu ou que expressa.

Quanto tenta expressar-se no papel de maneira incorreta, o que torna difícil

para o leitor compreender a sua as suas idéias.

2 CID-10 refere-se à Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, volume 10, publicada pela Organização Mundial de Saúde - OMS.

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Segundo a autora, a Dislexia não tem apenas um problema de leitura

mas também um problema de escrita.

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CAPÍTULO II

EPIDEMIOLOGIA DA DISLEXIA

Fatores Predisponentes

Casos de alexia podem ser resultados de lesões do lobo occipital

esquerdo, resultando em cegueira funcional no campo visual direito ou de uma

lesão do esplêndido do corpo caloso que bloqueia a transmissão de informação

visual desde o hemisfério direito intacto para as áreas de linguagem do

hemisfério esquerdo. Num caso de alexia, uma tomografia computadorizada

revelou que a região tempoparietal posterior do hemisfério esquerdo. Tem sido

sugerido que as alexias pode dividir-se em três categorias: anterior, central e

posterior.

Para Marcelli, existem dois tipos de fatores a serem levados em

conta:

Fatores associados

Fatores etiológicos

No primeiro item a autora assinala algumas associações,

ressaltando, porém, que não são esses a única origem do distúrbio. Assim,

temos destacados dentre os fatores associados:

a) o atraso de linguagem, que é um antecedente freqüente,

considerado por alguns uma constante e que é revelado pelas

dificuldades suplementares próprios da leitura;

b) o distúrbio de lateralização, como sinistrismo e sobretudo a má

lateralização, tanto visual quanto auditiva, tidas por Horton como a

origem da dislexia;

c) Os distúrbios da organização têmporo-espacial, que trata das

confusões entre as letras de forma idênticas mas invertidas no

espaço, tais como p/q, b/d e as dificuldades no entendimento o ritmo

das frases. As perturbações na organização de espaço e tempo

seriam próprias das crianças disléxicas.

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Quanto aos fatores etiológicos são citados diversos deles:

a) os fatores genéticos são citados pela predominância mais

freqüente em meninos do que em meninas, pelo caso de

antecedentes familiares e entre gêmeos homozigóticos;

b) sofrimento cerebral, tais como casos de gravidez e parto difícil,

prematuridade, reanimação neonatal;

c) os distúrbios perceptivos: neste caso é levada em conta,

particularmente, a visão uma vez que “a integração dos grafemas

para chegar à compreensão simbólica da linguagem lida não poderia

se reduzir à simples percepção sensorial.”

d) o equilíbrio psicoafetivo, uma vez que crianças disléxicas

apresentam, muitas vezes, um comportamento de tipo impulsivo, o

que os leva a compreender a dislexia como uma manifestação de

distúrbios comportamentais;

e) o meio sócio-cultural, cuja associação é mais difícil, uma vez que

depende da relação pai-filho, diferentes culturas e outros;

f) a inteligência, onde se percebe que crianças leves ou

medianamente débeis têm dificuldades no aprendizado da leitura;

g) a pedagogia, cujos itens a serem levados em conta, além da

relação professor-aluno, são a afetividade, o entusiasmo e a

confiança do profissional em si e no seu trabalho.

2.1. Aspectos Clínicos da Dislexia

Para Olivier, podem se resumir os sintomas de acordo com

intensidade e como:

Singular: apresenta desde a primeira infância um certo atraso no

desenvolvimento da fala e da linguagem e/ou desenvolvimento

visual, além de ter dificuldades em aprender canções, versinhos,

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pequenas histórias ou imediato esquecimento após ouvi-las e

problemas de coordenação motora;

Comum: apresenta problemas nos processos de linguagem

(articulação, memória verbal a curto e longo prazo) bem como

problemas de lateralidade (confusão entre o lado esquerdo e direito)

que podem caracterizar não só a dislexia como outros distúrbios;

Específica: caracteriza-se pelo baixo desempenho na

compreensão da leitura, dificuldade ou ausência de alfabetização

não identificação das letras, diferenças no movimento dos alhos

durante a leitura ou tentativa de leitura. Geralmente caracteriza a

Dislexia Congênita ou inata;

Relativa: problemas com atenção e problemas viso espaciais,

mais comuns na dislexia ocasional ou a outros distúrbios.

De acordo com Diagnostic a Statistical Manual of Mental Disorders,

da American Psychiatric Association são três os aspectos clínicos da

Dislexia:

Aspectos Essenciais: são as dificuldades no desenvolvimento da

leitura: leitura oral deficiente, erro na leitura de fonemas, omissões e

adições de palavras.

Aspectos Associados: a saber, pronúncia e escrita deficientes;

erros de pronúncia bizarros, transposição de letras e inversões;

composições pobremente formuladas-disgrafia; linguagem oral

deficiente: dificuldade na discriminação de sons, problemas com

seqüências de palavras, dissomia, gramática moderadamente

deficiente; problemas de compreensão da linguagem oral e escrita;

anomalia quanto a preferência mão-olho e discriminação direita-

esquerda prejudicada; problemas motores: desajeitamento, dispraxia;

problemas comportamentais: impulsividade, curtos períodos de

atenção, imaturidade; agnosia do dedo (menos comum).

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Outros aspectos; variabilidade na eficiência cognitiva; aversão à

leitura e à escrita.

Este último aspecto não é citado como aspecto clínico no MDE-III,

mas pode estar presente.

2.2. Curso e Prognóstico

Monroe (1958) desenvolveu há mais de 40 anos uma ótima bateria

de aptidão e desde então uma quantidade de instrumentos de prognóstico tem

sido desenvolvida.

É importante que seja observada a reação do indivíduo diante do

processo de alfabetização, no que diz respeito a articulação, a pronúncia, as

dificuldades para aprender o nome das letras ou cores, falta de memória para

lembrar de coisas simples tais como endereço e data de aniversário, a falta de

concentração em aulas teóricas e a preferência pelas aulas que estimulem a

criatividade, se faz inversões de letras sem conseguir identificá-las como se

todas fossem iguais.

Após a observação a primeira providência é o encaminhamento ao

Psicopedagogo que é o profissional adequado para analisar o paciente nos

aspectos físico/orgânico, psicológico/mental e fatores ambientais/externos,

para que possa diagnosticar a existência de um distúrbio.

O acompanhamento do paciente poderá ser multidisciplinar,

envolvendo profissionais de diversas especialidades.

Ressaltamos a importância de que professor e pais estejam atentos

para que o indivíduo com características disléxicas sejam encaminhados o

quanto antes para avaliação psicopedagogia, para assim obter os melhores

resultados.

2.3. COMO IDENTIFICAR A DISLEXIA

A Dislexia apresenta traços que permitem seus diagnósticos.

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Os sinais na fase pré-escolar:

Fraco desenvolvimento da atenção;

Imaturidade;

Isolamento;

Atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem;

Atraso no desenvolvimento visual;

Dificuldade de aprender rimas e canções;

Falta de coordenação motora fina e grossa;

Dificuldade de realizar quebra-cabeças;

Falta de interesse por livros e impressos.

Sinais na idade escolar.

Dificuldade na aquisição e desenvolvimento das habilidades

Lingüísticas;

Dificuldades em aprender seqüências diárias;

Dificuldades com analise e síntese dos sons de uma palavra;

Pobre reconhecimento de rima e aliteração;

Desatenção e dispersão;

Dificuldade na coordenação motora fina, desenhos e pinturas;

Dificuldade na coordenação motora grossa – desengonçado em

atividades físicas;

Desorganização geral no trabalho escolar;

Dificuldades visuais;

Dificuldade na lateralidade;

Dificuldade na linguagem e fala – vocabulário pobre, sentenças curtas e

imaturas, sentenças longas e vagas;

Dificuldade de memória de curto termo, instruções – dígitos – tabuadas

– fonemas;

Problemas de conduta: é muito retraído ou muito expansivo;

Propenso a depressão;

Dificuldade de realizar cópias de livros ou da lousa;

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Dificuldade na leitura e na matemática.

Na leitura oral há dois tipos de problemas ligados à discriminação

visual: a criança pode apresentar um defeito na visão (corrigível com uso de

lente) ou uma incapacidade para diferenciar, interpretar ou recordar palavras,

devido a uma disfunção do sistema nervoso central. Entre as dificuldades de

discriminação visual destacamos:

Confusão de letras ou palavras semelhantes como bola e bala. A criança

não nota detalhes, não consegue ver configurações gerais.

Dificuldade de ritmo da leitura. A criança percebe a palavra somente

quando é mostrada lentamente.

Apresenta reversão. Apresenta a palavra bebo, a criança lê “dedo”, troca

o b pelo d .

Apresenta inversão. A palavra pouco é lida como “ponco”, troca o u pelo

n.

Dificuldade em seguir seqüências visuais como baú, é lida como “ubá”,

pois não consegue organizar sílabas ou letras, errando a ordem de

soletração.

Dificuldade de ler da esquerda para à direita.

Adiciona palavras que não estão no texto.

Também, omite palavras ou frases inteiras.

Repete palavras, linhas e parágrafos.

Substitui palavras alterando o sentido da frase.

Agrega letras às palavras. Ex: “carderno”.

A dificuldade de discriminação auditiva, ou seja, a dificuldade em

discriminar os sons, fica evidente, sobretudo aqueles que estão acusticamente

muito próximos uns dos outros e que, por terem os pontos de articulação quase

iguais, levam a criança a confundir os fonemas, como em “vaca” e “faca”.

A dificuldade na leitura silenciosa, conseqüente da dislexia,

apresenta os seguintes índices:

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Lentidão para ler, pois fica dispersa.

Apresenta leitura sub-vocal (cochichada), através da emissão ou

não de sons.

Necessita de apontar as palavras com lápis, régua ou dedo.

Perda da linha durante a leitura, chegando a ocorrer saltos de

linhas.

Repetição da mesma palavra ou frase várias vezes.

2.4 Atenção aos portadores de dislexia

È importante lembrar que nem toda a demora no aprendizado é

sintoma de dislexia, problemas emocionais podem acarretar quadros

parecidos. Os estudantes com distúrbios de aprendizagem não são

“manipuladores” procurando uma saída mais fácil, ao contrário, eles precisam

de um trabalho árduo para dominar o que outras pessoas acham simples. Para

evitar diagnósticos errados, a criança deve ser examinada por especialistas. Só

eles poderão identificar a causa da dificuldade e desmascarar uma falsa

dislexia. Por isso, é preciso que os professores sejam preparados, para

perceber os primeiros sinais do suposto problema.

Segundo Fonseca (1995) os disléxicos precisam de tratamento

especializado tanto quanto outros deficientes na área de linguagem, mas

precisam, e muito, do auxilio do professor. O sucesso na reeducação de um

disléxico está baseado numa terapia multi-sensorial (aprender pelo uso dos

sentidos), combinando sempre a visão, a audição e o tato para ajudá-lo a ler e

a soletrar corretamente as palavras.

O dislexo precisa olhar e ouvir atentamente, aplicar atenção aos

movimentos da mão quando escrever e prestar atenção aos movimentos da

boca quando fala. Assim sendo, a criança que apresenta dislexia associará a

forma escrita de uma letra tanto com seu som, como os movimentos das mãos,

para escrevê-la. O aprendizado pode ser feito de forma sistemática e

cumulativa as particularidades de cada um.

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Atualmente, há um certo discurso generalizado que condiciona o uso

de métodos fonéticos (ou fônicos) aos alunos portadores de dislexia. Estes

métodos dão prioridade aos procedimentos fonéticos, pois envolvem os sons

da fala - fonema e sua representação gráfica - grafemas, estabelecendo a

correspondência entre eles, ou seja, a representação grafema-fonema. Um

método fonético dá ao aluno a oportunidade de aprender que a linguagem pode

ser segmentada em sentenças – palavras – sílabas - letras. O aluno também

tem a oportunidade de aprender a discernir e articular as palavras, sílabas e

letras. Quando estimuladas a leitura oral como realimento de todo o processo

de aprendizagem de leitura e escrita, são valorizadas a compreensão e a

interpretação do texto e as habilidades de correção, clareza, velocidade e

expressão na leitura. O mesmo para a escrita, acrescentando naturalmente o

estimulo à produção de textos.

O mesmo autor enfatiza que nos Estados Unidos, o método fônico

Orton-Gillinghan é amplamente utilizado na re-educação de crianças disléxicas.

Entretanto, é importante ressaltar que não há um único método que seja

adequado para todas as crianças, pois cada uma é uma e aprende de acordo

com suas características individuais.

O mais importante não é tarde para derrotar a dislexia. Para ensinar

dislexos a ler e a processar informações com mais eficiência, é necessário que

se utilize o mais eficiente método de terapia: atenção, carinho e muito amor.

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CAPÍTULO III

CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DAS DISLEXIAS

PARA GRUNSPUN

Em nosso trabalho temos exposto as diferentes vertentes no que

concerne a Dislexia. Como temos visto, há autores que consideram a Dislexia

como um distúrbio único, de características semelhantes a outros distúrbios,

mas sem relação entre eles. Outros autores consideram esta relação definindo

como dislexia também a Disortografia, a Discalculia, a Dislalia.Concordam

quanto às causas, na maioria das vezes.

Neste capítulo abordaremos a visão de Grunspun sobre Dislexia.

Haim Grunspun é médico Psiquiatra e Professor de Psiquiatria da

Infância da PUC de São Paulo. É também: psicólogo clínico, diretor da Clínica

Psicológica do Instituto “Sedes Sapientiae” de São Paulo (1954-1994), bacharel

em Direito e ex-consultor do Juizado de Menores do Estado de São Paulo.

Para Grunspun (2003) a Dislexia não é um distúrbio único. Antes,

fala em Dislexias. Segundo ele, as Dislexias são resultado de fatores causais,

sendo consideradas como síndrome de características do desenvolvimento

psicomotor, as características sensoriais, características neurológicas e

destacamos como importantes os sintomas de desajustamento emocional e

social que acompanham as dislexias do desenvolvimento.

Segundo o autor, há quadros clínicos específicos das dislexias como

o Distúrbio Específico de Soletrar. Neste caso, a criança não é capaz de

soletrar a palavra, mesmo que reconheça as letras, omite letras ou palavras,

inverte as letras e, algumas vezes, tenta ler de trás para diante. A dificuldade

na escrita muitas vezes acompanha o quadro e, em casos mais leves, pode

haver somente trocas de letras como “p” pelo “b”, “p” pelo “q” e “b” pelo “d”.

Pode também não reconhecer a separação nas sílabas ou inverte as sílabas

dentro da palavra. A dificuldade de soletrar compromete também o

desenvolvimento da escrita.

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Para o autor há ainda o Distúrbio Específico da Escrita – Disgrafia –

Disortografia. Segundo ele, quando a Disgrafia é isolada, a criança lê

perfeitamente, mas não consegue copiar, não consegue fazer ditado por não

ter o modelo à sua frente. Nos casos mais leves ocorre a inversão das letras e,

às vezes, escreve de trás pra frente ou em imagem especular. Podem também

apresentar distúrbios de linguagem e de coordenação motora, onde o caso

mais freqüente na disgrafia isolada é o sinistrismo – uso da mão esquerda, ou

o sinistrismo contrariado – onde a criança é forçada a escrever com a mão

direita.

Sobre o Distúrbio Específico das Habilidades Aritméticas –

Discalculia, o autor define como dificuldade específica da aritmética e que se

apresenta de duas maneiras: dificuldade para escrever ou ler números, ainda

que haja facilidade para realizar cálculos abstratos, mentalmente. Esta é o que

ele define como desaritmética. A outra dificuldade se refere especificamente

aos cálculos, é a Discalculia.

As crianças com essas dificuldades tendem a ter habilidades

audioperceptivas e verbais dentro da faixa normal, porém as habilidades

visuoespaciais e visuoperceptivas comprometidas contrastando, desta forma,

com as crianças com distúrbio de leitura.

Para Grunspun, algumas crianças te problemas sociais, emocionais

e comportamentais associados e que merecem tratamento, independente dos

programas terapêuticos para as dislexias.

Os erros em habilidades podem ser por:

Omissões, substituições, distorções ou adições de palavras ou

parte de palavras.

Baixa velocidade de leitura.

Falas partidas, hesitações longas, “perda de lugar” no texto e

fraseologia incorreta.

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Inversões de palavras dentro da sentença ou de letras dentro de

palavras. Podemos também encontrar dificuldades para a

compreensão da leitura ou de seu conteúdo.

Uma incapacidade de lembrar fatos já lidos.

Incapacidade de tirar conclusões ou de interferências sobre a

matéria já lida.

Uso de conhecimento geral como informação de fundo, em vez

de informações de uma história em particular para responder

questões sobre uma história lida.

Dificuldades em soletrar.

Erros fonéticos com comprometimento na análise fonológica.

Resumindo:

O desempenho da criança ao soletrar deve estar

significativamente abaixo do nível esperado com base na sua idade.

A criança não é capaz de soletrar a palavra, mesmo que

reconheça as letras.

Troca as sílabas, substitui letras, omite letras ou palavras, inverte

letras e, algumas vezes, tenta ler de trás para diante.

Observam-se distúrbios psicomotores, por falta de coordenação,

como também distúrbios de atenção e hiperatividade.

Nos quadros mais leves pode haver troca de letras como p/b, p/q,

b/d.

A dificuldade de soletrar compromete também o desenvolvimento

da escrita.

Algumas vezes escreve de trás para frente ou em imagem

especular, só sendo decifrada a escrita quando colocada à frente do

espelho.

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O mais freqüente na disgrafia isolada é o sinistrismo.

No tocante às dificuldades aritméticas, que são variadas, mas podem

Incluir.

Falha em entender os conceitos subjacentes a certas operações

aritméticas.

Falta de entendimento de termos ou sinais matemáticos.

Falha em reconhecer símbolos numéricos.

Dificuldade em entender quais números são relevantes ao

problema aritmético em consideração.

Dificuldade em alinhar números apropriadamente.

Dificuldade em inserir pontos decimais ou símbolos durante

cálculos.

Organização espacial precária para cálculos aritméticos.

Incapacidade de aprender satisfatoriamente a tabuada.

As dificuldades aritméticas, ao contrário das outras dislexias,

ocorrem com maior freqüências no sexo feminino.

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CAPÍTULO IV

TRATAMENTO E ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS

Como temos observado nos capítulos anteriores, a Dislexia é um

distúrbio multifacetado, com características próprias, com causas associadas

ou não. Portanto, o tratamento deverá ser multidisciplinar envolvendo

Psicopedagogos, Neurologistas, Psiquiatras, Fonoaudiólogos, enfim os

profissionais adequados a cada caso, em trabalho conjunto. O que se percebe,

porém, é uma “guerra de vaidades” pois psicopedagogos e fonoaudiólogos

desejam mostrar que estão aptos a tratar este ou outros distúrbios de forma

isolada (OLIVIER, 2003).

A conscientização destes profissionais auxiliaria muito o diagnóstico

e eventual tratamento. De acordo com Olivier, o papel do Psicopedagogo,

comparado à Medicina, o do Clínico Geral, ou seja, deve avaliar inicialmente

tratando o que é distúrbio de aprendizagem encaminhando o paciente a outros

profissionais na medida que haja necessidade de tratamento.

Olivier cita também alguns medicamentos dos mais usados no

tratamento de distúrbios de aprendizagem, a saber:

DMAE que tem sido testado com sucesso como estimulante

cerebral, auxiliar no tratamento de dificuldades de leitura/escrita,

falhas de memória, etc. Possui baixa toxicidade e é considerado

natural, não sendo aconselhável, porém em casos de epilepsia.

SULBUTIAMINA é um derivado da vitamina B1 e que reduz o

cansaço físico e mental, sendo indicado no tratamento de

dificuldades de aprendizagem.

FOSFADITIL-COLINA, melhora a memória, o sono e os

processos de aprendizagem.

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PIRACETAM, é usado no tratamento de distúrbios da atenção,

distúrbio de concentração, distúrbios de comportamento (em

crianças) e outros.

A autora cita também equipamentos sofisticados que prometem

reverter os distúrbios, como por exemplo, o Brainwave-I e o TMS.

O primeiro foi criado em 1994 na Suíça e que é utilizado no Brasil e

em mais 13 países. Trata-se de um aparelho completamente computadorizado

que combina eletroencefalograma espectral digital e um dispositivo óptico-

acústico, que avalia o funcionamento do cérebro através da análise dinâmica

do órgão. Assim, enquanto o paciente lê, fala ou realiza alguma atividade que

estimule o cérebro é realizado o exame diagnóstico.

Para diferenciar uma patologia da outra é feita uma estimulação

visual ou auditiva que demonstra em qual área do cérebro existe a disfunção,

seu nível, freqüência e intensidade. Obtendo-se os percentuais de cada função

testada será possível dar-se o diagnóstico da disfunção e estimula-la com

objetivos de recuperação. Este aparelho mostra-se eficaz, pois pode identificar

com mais precisão lesões funcionais, como alguns casos de perda de memória

e de falta de oxigenação no cérebro, do que exames como tomografias

eletrencefalografias. Portanto, pode ser eficiente no tratamento de distúrbios de

aprendizagem causados por anoxia.

O outro aparelho, o TMS (Transcranial Magnetic Stimulation), foi

criado na Inglaterra há 15 anos e é usado no Brasil há três anos. Literalmente

traduzido o seu nome temos Estimulação Magnética Transcraniana, o que

significa que através dele pode-se detectar a inversão hemisférica e, através de

estímulos de baixa freqüência, pode-se ativar ou inibir áreas de acordo com

suas necessidades.

Tal método consiste em atingir o cérebro sobre o córtex Prefrontal

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Dorsolateral (esquerdo e direito) através de pulsos magnéticos numa fraca

corrente elétricos capazes de provocar alterações nas atividades das células

nervosas.

Além do tratamento médico em aconselhável, segundo Olivier, que o

disléxico, seja de que tipo for, pratique esportes que desenvolvam sua

coordenação motora, raciocínio, agilidade, etc. A autora cita a natação como

um dos melhores, seguido dos jogos com bola (futebol, vôlei, etc). Outra

atividade que é benéfica ao disléxico é a atividade artística, destacando o balé

clássico e o teatro.

Concomitante ao tratamento há de se reformular o processo de

alfabetização do paciente.

Para Marcelli a reeducação é indispensável. Para ele, ante de se

engajar a criança em uma terapia deve se considerar o caráter primitivo ou

reativo das dificuldades dela. A terapia deverá ser levada em consideração

quando for diagnosticado um distúrbio de personalidade.

Se a Dislexia se inscreve no quadro de um distúrbio profundo da personalidade, com uma atitude de oposição mais ou menos vigorosa, a toda aquisição nova, sobretudo escolar, imagina-se que a reeducação vai rapidamente esbarrar no sintoma, sendo desejável então uma terapêutica mais global. (MARCELLI, 1998 p. 98)

Marcelli, contudo, na maioria das vezes, considera a reeducação

indispensável, sendo essencial à aceitação por parte da criança e que esta seja

estimulada pelo profissional consultado, o re-educador, e também pelos pais. O

método utilizado está mais em função de reeducação do que da criança. A

autora destaca os métodos fundamentados na leitura de Borel-Maisonny que

se baseia na fonética: gestos simbólicos procuram provocar a associação

sinais escritos-sons, assim como, os métodos fundamentados nas idéias sobre

a escrita proposta por Chassagny. Esses métodos utilizam séries (palavras que

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se encadeiam por suas formas ou sentidos) e nos quais a criança se auto

corrige (ex.: “ratu”: a criança é convidada a escrever gato, depois pato, sapo,

mato e, por fim, rato).”

Ainda, segundo o autor, na maioria dos casos a reeducação

apresenta diminuição ou supressão da dificuldade entre 6 a 24 meses. Porém

de 10 a 15% das crianças apresentas pouco ou nenhum progresso devendo

então, ser considerada a pedagogia especial que apele o menos possível à

leitura e à escrita.

O autor ressalta a importância do papel da escola em uma idade, que

ele considera crítica para a criança.

De acordo com Grunspun (2003 p.337), a Dislexia diagnosticada é

caso individual e requer assistência completa: “O processo fundamental para o

tratamento das dislexias é o psicopedagógico, isto é, técnicas pedagógicas

orientadas por Psicologia Clínica, visando a personalidade da criança.”

Para Grunspun, a psicopedagogia é o método eletivo que, na maioria

dos casos, deve estar associado a outros tratamentos de acordo com o

diagnóstico do caso. Como por exemplo uma terapêutica multidisciplinar,

envolvendo psicoterapia, exercícios psicomotores, tratamento fonoaudiológico,

ginástica com treinamento esportivo e medicamentos.

Cita os métodos lúdicos e a descrição de Axline (1984) sobre a

terapia não diretiva como ajuda para o disléxico, tanto para sua compreensão

como para sua terapia. Também ressalta que, de acordo com Bills, em todos

os casos em que se evidencia distúrbio emocional é aconselhada à

psicoterapia individual ou em grupo.

Os exercícios específicos aplicados por fonoaudiólogos são

aconselháveis quando existem outros distúrbios relacionados como

fonológicos, psicomotores, de atenção com/sem hiperatividade. Além do

trabalho específico em fonoaudiologia, terapeuta ocupacional, o técnico

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esportivo, o terapeuta de psicomotricidade e o psicólogo clínico também

deverão lançar mão de atividades especificas. Porém, de acordo com o autor,

por ser o tratamento multidisciplinar muito oneroso, opta-se pelo trabalho

centralizado em um ou dois terapeutas o que não leva a um resultado

satisfatório. Na realidade trata-se o distúrbio e não portador deste.

A psicopedagogica busca adaptar a leitura e a escrita clássicas, ao

diagnóstico individual, através de duas formas fundamentais: o analítico e o

global, introduzidos por Decroly3 que parte do complexo (palavra, frase) chega-

se aos elementos simples ou os sintéticos, introduzidos por Montessori4, que

partem das letras ou no máximo fonemas sem significação para chegar ao

complexo.

Existe ainda uma terceira opção, a mista, que une as duas opções

anteriores com ênfase aos exercícios preparatórios motores, sensoriais e

exercícios preparatórios gráficos de escrita e leitura.

Os exercícios propostos para o desenvolvimento motor utilizam

diversos recursos tais como modelagem em barro e gesso, colagem,

construção com cubos, os exercícios psicomotores abordam orientação,

direção, posição, peso, dimensão e forma.

Exercícios gráficos inicialmente com desenhos livres utilizando

materiais diversos (dedo, pincel, caneta, etc), desenho decorativo, exercícios

utilizando régua, inclusive, a cobertura de letras e números e trabalhos com

letras e junções utilizando computador com programas especiais que auxiliam

nesta fase.

Para a leitura podem adotar técnicas auditivas utilizando sílabas e

fonemas que unidos formam palavras.

O autor cita também o tratamento medicamentoso de acordo com o

relato de Sigmund Freud e seus colaboradores, com administração de

3 Ovide Decroly foi médico e educador belga que defendia a idéia de que as crianças apreendem o mundo com base em uma visão do todo

4 Maria Montessori, médica italiana, em oposição aos métodos tradicionais de sua época, propôs uma visão da aprendizagem que respeitava as necessidades e os mecanismos evolutivos do desenvolvimento da criança.

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cloropromazina em crianças disléxicas cujos resultados foram bons. Tal

tratamento é realizado em conjunto com a correção psicopedagógica. Esta

associação traz resultados bem mais satisfatórios do que o tratamento

medicamentoso isolado ou a ausência dele.

Embora o tratamento seja essencial os autores concordam no que

diz respeito ao papel do professor e sua importância. Na assessoria ao aluno

disléxico é primordial o estímulo do professor que deve evitar situações de

constrangimento. Assim, o professor deverá se dedicar ao máximo a este aluno

portador de Dislexia, incentivando a sua criatividade. Para tal, este profissional

deverá planejar atividades estimulantes para todos os alunos. (Olivier, 2003).

Não podemos nos esquecer que a legislação prevê apoio para o

aluno disléxico. A LDB 9.394/96, no seu artigo 12 diz que:

Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:I – elaborar e executar sua Proposta Pedagógica [...]V – prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento.

Sabemos que nem as escolas nem os professores estão

devidamente preparados para a heterogeneidade e, em especial, para o

atendimento aos alunos que necessitam de mais atenção. Porém, existe a

mobilização séria de profissionais da educação que buscam meios para o

atendimento a estes alunos (OLIVIER, 2003).

O artigo 23 da mesma LDB, diz:

[...] a educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios que ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.

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Este artigo cria uma riqueza de possibilidades ilimitada, pois permite

que cada escola, de fato, organize um projeto pedagógico específico de forma

a construir uma identidade escolar (CARNEIRO, 2004, p. 91), o que contribui

para a elaboração de estratégias próprias para os alunos com dificuldades de

aprendizagem.

O artigo 24, inciso V, diz: “A verificação do rendimento escolar

observará os seguintes critérios: avaliação contínua e cumulativa; prevalência

dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do

período.”

Este inciso vem completar o artigo 23, uma vez que a ação

pedagógica não é estanque. A partir da avaliação é que se caminha e se

buscam estratégias para melhor atender às necessidades dos alunos.

Sabemos, porém, que são medidas a serem concretizadas em longo

prazo, pois depende da infra-estrutura das escolas e do preparo dos

profissionais da Educação.

Citamos ainda a Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 (ECA) que no seu

artigo 53, incisos I, II e III diz:

A criança e adolescente têm o direito à educação visando o pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:I - igualdade de condições para acesso e permanência na escola;II - direito de ser respeitado por seus educadores;III -direito de contestar critérios avaliativos podendo recorrer às instâncias escolares superiores.

Acreditamos que o artigo não necessita de comentários, pois está

explicita a necessidade de que escolas e profissionais da educação se

organizem de forma a tender aos alunos com dificuldades de aprendizagem,

que a escola seja integradora e inclusiva, aberta à diversidade dos alunos.

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Para que isto aconteça, conforme propõe o PNE – Plano Nacional de

Educação, é necessário que haja um esforço pela valorização e permanência

das classes regulares dos alunos que apresentem dificuldades comuns de

aprendizagem, de problemas de dispersão da atenção ou de disciplina, dando-

lhes maior apoio pedagógico em suas próprias classes e não os separando.

No que diz respeito às estratégias pedagógicas é primordial que os

professores tenham conhecimento dobre os distúrbios de aprendizagem e, no

nosso caso em especial, sobre o que é Dislexia, seus fatores, sintomas,

tratamento, pois deste modo à comunicação deste com os profissionais

envolvidos no tratamento estará aberto possibilitando da troca de experiências

e informações.

Também é necessário que o estabelecimento de procedimento para

auxílio do aluno disléxico.

Ele deve ser tratado com naturalidade, pois caso contrário recai-se

na discriminação.

O professor deve ser claro, objetivo, utilizando uma linguagem clara

quando falar com o aluno. Deve também olhar diretamente para ele, pois

favorece a comunicação.

O aluno deve estar próximo ao professor e à lousa pois permite o

diálogo, facilita o acompanhamento, cria vínculos.

A observação discreta do entendimento do conteúdo é muito

importante. Caso o aluno não tenha entendido é necessária uma nova

explicação e, até, utilizando novos recursos.

O professor deve certificar-se se as instruções para determinadas

tarefas foram compreendidas.

Verificar se ele fez as anotações da lousa de forma correta, não o

submetendo a pressões de tempo ou competição com os demais alunos.

A integração do aluno é um fator essencial para o desenvolvimento

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do aluno disléxico. O professor deve contribuir para inserção do disléxico na

classe. Ele tem muito a oferecer aos colegas e estes a ele.

A escola deve ajudá-lo a resgatar a sua dignidade, fortalecer o seu

ego e (re) construir sua auto-estima.

Deve-se sugerir “dicas”, “atalhos”, associações que o ajudem a

lembrar-se de, a executar tarefas ou resolver problemas.

Pode-se, também, lançar mão de recursos como gravador e a

informática.

Permitir, sugerir e estimular o uso de outras linguagens.

No quesito avaliação é necessário que se dê a este aluno a opção de

fazer prova oral ou atividade que utiliza diferentes expressões e linguagens. Ao

fazer a avaliação através da leitura e da escrita é necessário que se tome

certos cuidados tais como:

evitar textos muito longos;

oferecer uma folha de prova limpa, sem rasuras, sem riscos ou

sinais que possam confundir o leitor;

utilizar linguagens claras, objetivas, com termos conhecidos;

enunciados curtos e objetivos;

ler a prova em voz alta para certificar-se que todos entenderam o

que foi perguntado, se compreenderam os que se espera que

seja feito (o que; como).

Vale lembrar que a avaliação escrita não deve ser o único

instrumento para a verificação do nível de aprendizagem do aluno. A Avaliação

deve ser cumulativa e, aí se inclui também a participação do aluno o seu

desenvolvimento no decorrer das aulas.

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CONCLUSÃO

Ao iniciarmos o estudo sobre Dislexia pretendemos buscar uma

definição do que é este distúrbio, seus sintomas, causas, como tratar e que

metodologias utilizar para melhorar o desenvolvimento do aluno disléxico.

Quando nos aprofundamos no assunto observamos que os vários

autores têm sua visão, discordando em alguns itens e concordando em outros.

Alguns defendem que há uma associação entre Dislexia e outros distúrbios do

aprendizado, outros a vêem como um distúrbio com sintomas parecidos com

outros distúrbios, porém com características e causas próprias. Concordam

que deve haver um esforço conjunto, uma interação entre os profissionais da

área de saúde e educadores para a elaboração de estratégias que promovam a

superação dos obstáculos ao aprendizado destes alunos.

Porém, a discussão sobre o atendimento ao aluno disléxico não

acontece somente em nível das escolas e dos consultórios dos especialistas.

Está também em nível macro, a partir da legislação que garante apoio aos

alunos com dificuldades de aprendizagem, no que estão incluídos os

disléxicos.

Os sistemas de ensino deverão elaborar instrumentos de forma a

proceder às ações de inclusão dos alunos com dificuldades – que no nosso

caso lemos disléxicos, promovendo a capacitação dos seus profissionais e

gerando recursos para possibilitar o atendimento aos portadores de dislexia

inclusive.

Por sua vez, os estabelecimentos de ensino (sejam públicos ou

privados) deverão buscar meios para facilitar a aprendizagem de seus alunos

com dificuldades, seja na sua estrutura física seja no preparo e no apoio da

equipe técnica-pedagógica aos professores como também na elaboração de

seus Projetos Político-Pedagógicos.

Portanto, a ação se dá em todos os níveis e a Dislexia é sim uma

dificuldade superável.

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GLOSSÁRIO

ANOXIA – é uma palavra utilizada para vários eventos médicos, significa a

diminuição ou insuficiência de oxigenação do sangue para suprir as exigências

metabólicas de um organismo humano vivo, especialmente no cérebro.

ANOXIA PERINATAL - a diminuição da oxigenação no cérebro na hora do

parto.

DISFASIA - transtorno raro da evolução da linguagem. Trata-se de crianças

que apresentam um transtorno da integração da linguagem uma insuficiência

sensorial ou fonatória que podem, embora com dificuldade, comunicar-se

verbalmente e cujo nível mental é considerado normal.

DISGRAFIA - é uma inabilidade ou atraso no desenvolvimento da Linguagem

Escrita, especialmente da escrita cursiva (...), as letras podem ser mal

grafadas, borradas ou incompletas, com tendência à escrita em letra de forma.

DISLALIA - é um transtorno da articulação dos fonemas (sons que compõem a

palavra).

DISORTOGRAFIA – incapacidade de transcrever corretamente a linguagem

oral, pode haver trocas ortográficas e confusão de letras.

LIMITROFIA - a palavra é uma adaptação do termo LIMÍTROFE (relativo à

fronteira de uma região) que, no nosso caso, refere-se a uma alteração de

comunicação entre as regiões cerebrais (hemisférios cerebrais esquerdo e

direito).

PSICOPEDAGOGIA- é um campo de conhecimento e atuação em Saúde e

Educação que lida com o processo de aprendizagem humana, seus padrões

normais e patológicos, considerando a influência do meio – família, escola e

sociedade – no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios.

SINISTRISMO – canhotismo, preferência da mão esquerda nas funções

complementares ou de apoio.

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ANEXOS

ANEXO A

(...) A construção de política pública de educação para todos

O que vem se verificando na legislação nacional e do estado de São Paulo após 1988, é a reiteração do princípio do atendimento dos alunos com necessidades educacionais especiais preferencialmente na rede regular de ensino e, pelo menos em tese, a preservação do continuum de serviços especiais, paralelos ou integrados ao ensino comum.

Todavia, pelos dados já expostos no início deste artigo, sua oferta, tanto em quantidade como em qualidade, é insuficiente para atender aos seus direitos de acesso e permanência no ensino. O que deve reger o planejamento de políticas públicas de educação “é o compromisso de viabilização de uma educação de qualidade, como direito da população, que impõe aos sistemas escolares a organização de uma diversidade de recursos educacionais.” (Sousa e Prieto, 2002: 124)

Para que a inclusão social e escolar seja construída, Aranha (2001) “adota como objetivo primordial de curto prazo, a intervenção junto às diferentes instâncias que contextualizam a vida desse sujeito na comunidade, no sentido de nelas promover os ajustes (físicos, materiais, humanos, sociais, legais, etc.) que se mostrem necessários para que a pessoa com deficiência possa imediatamente adquirir condições de acesso ao espaço comum da vida na sociedade.”

Mas, para tal, as mudanças exigem a participação de diferentes segmentos envolvidos na realização dos objetivos educacionais maiores: universalizar o acesso e garantir a permanência dos alunos pelo investimento na melhoria da qualidade de ensino. Tomando como referência os alunos com necessidades educacionais especiais, algumas propostas podem nortear as ações do poder público, das unidades escolares e dos professores.

Ações no âmbito dos sistemas de ensino [11]

1. Os sistemas de ensino devem construir instrumentos que possam identificar e caracterizar com clareza e precisão sua população escolar, bem como aquela que ainda não teve acesso à escola, de tal forma que essas informações possam evidenciar suas reais necessidades educacionais especiais, permitindo elaborar planejamento educacional capaz de atendê-las.

2. O planejamento de ações para atender às necessidades educacionais da população deve partir do levantamento de dados sobre a estrutura e as condições de funcionamento da rede escolar: o número, o tamanho e a localização das escolas públicas, seus contornos e seus diferentes entornos e conhecer suas condições físicas e materiais; o número e a composição das turmas. É preciso mapear os recursos educacionais especiais existentes na localidade, identificando e caracterizando a natureza de seu atendimento e procedendo a avaliação dos mesmos.

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3. As ações dos sistemas públicos de ensino deverão pautar-se em conhecimento sobre: a situação funcional dos seus profissionais; sua formação acadêmica e se tiveram alguma formação em educação especial; as concepções de ensino/aprendizagem que adotam; as representações sociais que têm sobre alunos com necessidades educacionais especiais.

Tal conjunto de informações deve ser base para a organização de propostas de intervenção, que devem prever formação continuada para todos os profissionais ligados direta ou indiretamente a atividades de ensino, que garantam a construção de conhecimentos sobre características do desenvolvimento e aprendizagem de alunos com necessidades educacionais especiais, métodos e adaptações curriculares, possíveis ou necessárias, bem como a utilização de materiais e equipamentos específicos, dentre outros.

Considerando as necessidades dos alunos, dos profissionais, das escolas, das redes de ensino e da comunidade, é preciso garantir a provisão de recursos educacionais especiais, bem como de equipamentos, materiais e profissionais para atuarem nesses espaços de ensino.

O aprimoramento das políticas públicas no campo social depende de que elas sejam submetidas a acompanhamento e avaliação sistemáticas, caso contrário, a atuação poderá ficar restrita ao terreno de suposições que sujeitam as políticas à fragilidade e descontinuidade. É preciso responder as seguintes questões: as ações dos sistemas de ensino se configuram como uma política de atendimento ou uma mera prestação de serviços? O atendimento proposto tem garantido a aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais ou tem somente propiciado seu convívio social?

Ações no âmbito das unidades escolares e as responsabilidades dos professores

Uma das principais tarefas das unidades escolares é a construção de espaços para a participação de todos os segmentos envolvidos direta ou indiretamente nas atividades de ensino. Entre outras tarefas, esta participação deve garantir a elaboração, execução e avaliação do projeto pedagógico da escola em consonância com princípios e objetivos maiores da educação, previstos em legislação nacional. Neste projeto, a educação para todos deve prever o atendimento à diversidade de necessidades e características da demanda escolar. Corroborando tal premissa, para Sousa e Prieto (2002: 124),

“O princípio norteador é a crença na possibilidade de desenvolvimento do ser humano, tratando-se as diferenças individuais como fatores condicionantes do processo de escolarização que precisam ser consideradas quando se tem o compromisso de educação para todos.”

Por fim, o que se espera conquistar é uma educação de qualidade, que garanta a permanência de todos na escola com a apropriação/produção de conhecimento, que possibilite sua participação na sociedade.

http://www.pedagobrasil.com.br/pedagogia/politicaspublicasdeinclusao.htm

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ANEXO B

::. Como trabalhar com alunos portadores de grandes dificuldades deaprendizagem

Janete Leony VitorinoLicenciada em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC. Pós graduada em Psicopedagogia pela Universidade do Sul de Santa Catarina, UNISUL. Professora da Faculdade de Educação de Joinville - FEJ em cursos de Pós-Graduação ministrando a disciplina Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem Infantil.Email: [email protected].

Alguns de nossos alunos possuem dificuldades que ultrapassam as possibilidades comuns de aprendizagem.Esses alunos, muitas vezes exige do trabalho da escola e dos professores algumas medidas excepcionais.Pode-se considerar como exemplo destas medidas: Classe especializada em atender este tipo de alunado, um apoio pedagógico extra classe ou as práticas de apoio psicopedagógico, integrada à sala de aula.Para tanto o ideal seria um trabalho voltado para a consciência de equipe, para então, encontrar recursos para atender estes alunos, sem em momento algum excluí-lo de sua integração, evitando-se assim, à exclusão.Tratando-se das competências, percebe-se que os professores deverão com o tempo, apropriar-se de uma parte dos saberes dos professores de apoio especializado, mesmo que nem todos exerçam esta função permanentemente.Isso tudo pressupõe não só competências mais precisas em didática e em educação, mas também capacidades relacionais que permitam enfrentar sem desestabilizar e nem desencorajar o professor.Segundo Perrenoud, 2000, p.61: "Analisando a cultura profissional dos professores de apoio experientes, suas competências, representações, atitudes, saberes, obtém-se a seguinte listagem de habilidades que um professor que se propõe realizar este trabalho deve representar".- Saber observar a criança na situação, com ou sem instrumentos.- Dominar um procedimento clínico (observar, agir, corrigir, etc.)- Saber construir situações didáticas sob medida (mais a partir do aluno do que do programa).- Saber negociar/explicitar um contrato didático personalizado.- Praticar uma abordagem sistêmica.- Estar acostumado à idéia de supervisão, estar consciente dos riscos que se corre e se faz correr em uma relação de atendimento.- Respeitar um código explícito de deontologia mais do que apelar para o amor pelas crianças e para o senso comum.- Estar familiarizado com uma abordagem ampla da pessoa, da comunicação, observação, intervenção e da regulação.- Ter domínio teórico e prático dos aspectos afetivos e relacionais da aprendizagem e possuir cultura psicanalítica básica.- Saber que, muitas vezes, é necessário abandonar o registro propriamente pedagógico para compreender e agir de modo eficaz. - Saber levar em conta mais os ritmos dos indivíduos do que os calendários das

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- Saber levar em conta mais os ritmos dos indivíduos do que os calendários das instituições.- Estar convencido de que os indivíduos são todos diferentes e o que funciona para um não funcionará necessariamente para outro.- Fazer uma reflexão específica sobre o fracasso escolar, as diferenças pessoais e culturais.- Dispor de boas bases teóricas em psicologia social do desenvolvimento e da aprendizagem.- Participar de uma cultura que se encaminhe para uma forte profissionalização, um domínio da mudança.- Ter o hábito de considerar as dinâmicas e as resistências familiares e de tratar com os pais como pessoas complexas, mais do que como responsáveis legais de um aluno.

Esta listagem de competências e habilidades não deseja em momento algum transformar professores em "psicoterapeutas". "Essas habilidades enfatizam não só um atendimento mais individualizado, um método mais clínico, com instrumentos conceituais deferentes daqueles mobilizados para gerir um grupo" (Perrenoud, 1991).

Referência BibliográficaPERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar; trad. Patrícia Chittoni Ranos - Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

http://www.pedagobrasil.com.br/pedagogia/pedagogia.htm

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ANEXO C

O ENFOQUE PSICOPEDAGÓGICO DAS CRIANÇAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS

Vicente Martins

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) trouxe importantes avanços para a Educação Especial: a gratuidade do atendimento especializado para portadores de necessidades educacionais especiais e o reconhecimento de que a escolar é um lócus de atuação psicopedagógico.O primeiro avanço diz respeito ao princípio da gratuidade do atendimento educacional para os educandos com necessidades educacionais especiais, o que deixa claro, de logo, que a oferta do atendimento especializado, no âmbito da rede oficial de ensino, não pode ser cobrada. O segundo avanço vem da LDB reconhecer que as pessoas em idade escolar são consideradas “educandos com necessidades especiais”, o que pressupõe um enfoque pedagógico, ou mais, precisamente, um enfoque psicopedagógico, em se tratando do atendimento educacional. A escola deve, pois, atuar, psicopedagogicamente, na remediação das dificuldades de aprendizagem escolar.São novos, para educação escolar, os tempos pós-LDB. Uma criança com necessidade educacional especial, em idade escolar (de 0 a 17 anos, de acordo com os níveis e subníveis de educação básica), deve ser atendida na própria escola, e acompanhada por profissionais de ensino, sejam crianças com necessidades educacionais derivadas de limitações orgânicas (cega, por exemplo) e por limitações cognitivas (disléxicas - dificuldades específicas de leitura, déficit de atenção, por exemplo). Esse enfoque é novo e estritamente educacional ou psicopedagógico.Olhar as crianças dentro de um prisma psicopedagógico é um paradigma realmente hodierno em se tratando de história da pedagogia escolar no Brasil.Nem sempre foi assim no meio escolar. Antes, o enfoque era clínico, patológico e a criança, em geral, rotulada de deficiente. Uma conseqüência maléfica dessa ótica clínico-patológica, por exemplo, foi a dos pais deixarem de matricular as crianças porque os próprios médicos alegavam e admitiam, em, diagnóstico clínico, que elas, as crianças, não poderiam aprender em salas regulares, ou seja, em interação com outros coleginhas da mesma idade, ditos normais. Sabemos hoje que esse olhar clínico e reducionista sobre as dificuldades de aprendizagem é falacioso e falso e resulta não poucas vezes de uma atitude preconceituosa da sociedade ou de uma medicina social com relação aos especiais. O enfoque psicopedagógico das crianças especiais diz assim: as crianças podem aprender e suas inteligências são múltiplas. Uma criança com Síndrome de Down pode aprender, claro, no ritmo dele, o que não significa necessariamente chegar à Universidade, mas não impede também, doutra sorte, o aprendizado de temas acadêmicos e complexos do conhecimento.Quanto à idade no período de educação formal, vale grifar que pais e educadores devem estar atentos às crianças na faixa ideal escolar (de 7 a 14, para o ensino fundamental) ou (de 15 a 17, para o ensino médio) ou para educação infantil, com crianças de zero a seis anos. O atraso escolar de, pelo menos, dois anos, deve ser um índice de dificuldade de aprendizagem a ser considerado pelos agentes educacionais.Dizendo de outra forma: uma criança pode estar com 7 anos na primeira série e apresentar dificuldades de leitura e escrita, com síndromes como dislexia e deve, por isso mesmo, receber, desde cedo, apoio ou atendimento da escola ou das políticas públicas de inclusão escolar. Antes, uma criança era considerada com

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necessidade especial quando resultava de um diagnóstico clínico, o que acabava por gerar um rótulo tipo "deficiente" ou "burro" pelos coleginhas ou mesmo por docentes desinformados sobre a realidade psicopedagógico do aluno. A LDB, ao incluir as pessoas com necessidades especiais à escola, diz para todos nós que elas podem aprender, claro, no ritmo delas, de acordo com suas possibilidades físicas e cognitivas. Como educadores, não podemos avaliar, por exemplo, uma criança especial e uma criança dita normal, com os mesmos parâmetros de rigor, o que não significa, claro, negligenciar ou chegar a um nível de indigência de ensino. É o princípio de tolerância que deve prevalecer no momento da avaliação daqueles que tem um ritmo de aprendizagem diferente. São, pois, as crianças, jovens e adultos com NES, diferentes e normais, e não incapacitados e anormais.Insisto em dizer, sobre o acompanhamento de crianças com necessidades educacionais especiais, que a faixa etária é um indicador importante a considerar. Por exemplo, uma criança está com 9 anos na primeira série, e, após se fazer um diagnóstico negativo (não tem limitação orgânica, visão ou audição, tem boa escola, e mesmo assim não consegue aprender) indica ser uma criança com necessidade educacional especial e que merece, por parte da escola, um atendimento especializado, do material didático à intervenção docente. Nesse caso, falamos em atraso escolar e que merece, assim, uma remediação no interior da escola. Um atraso escolar pode, dentro de umas perspectivas sociais, pedagógicas ou sociais, resultar de reprovação ou repetência, evasão, entre outros. Do outro lado, a perspectiva psicopedagógico pode advir de dificuldades de aprendizagem na leitura, escrita, ortografia, matemática (não consegue desenvolver as habilidades de cálculo e de memória) e nesse caso podemos enquadrá-la (o termo é pesado) como um educando com necessidade educacional especial e que merece todos os suportes de apoio e de inclusão psicopedagógico.

Publicado em 04/05/2005 12:36:00

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ANEXO D - Atividades Culturais

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REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS

AXLINE, Virginia. Ludoterapia. Belo Horizonte: Interlivros, 1984.

CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: leitura crítica compreensiva: artigo a artigo.11ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

FONSECA, V. Dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995

GRUNSPUN, Haim. Distúrbios neuróticos da criança: psicopatologia e psicodinâmica 5ed. São Paulo: Atheneu, 2003

JOHNSON, D.J.: MYKLEBUST, H.R. Distúrbios de aprendizagem: princípios e práticas educacionais. São Paulo, Pioneira, 1983.

MARCELLI, D. Manual de Psicopatologia da Infância de Ajuriguerra. RAMOS, Patrícia Chitoni (tradução). 5ed. Porto Alegre: ArtMed, 1998

MONROE, Paul. A História da Educação. São Paulo: Nacional, 1958.

OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psicopedagógico.9ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

OLIVIER, Lou. Distúrbio de Aprendizagem/ comportamento: verdades que Ninguém publicou. São Paulo: Scortecci, 2003.

SILVA, M. Aprendizagem e problemas. São Paulo: Ícone, 1997

MEIOS ELETRÔNICOS

ANOXIA: Falta de Oxigenação que pode ser prevenida. Disponível em: <http://boasaude.uol.com.br/abt. >. Acesso em: 29.11.2006.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diretrizes e Bases da Educação. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/ L9394.htm> . Acesso em: 01.11.2006.

BRASIL. LEI Nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www010.dataprev.gov.br/sislex/

paginas/33/1990/8069.htm>. Acesso em: 27.12.2006.

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DISGRAFIA. Disponível em: <http://www.dislexia.com.br>. Acesso em:15.12.2006.

OLIVIER, Lou Anoxia Perinatal. Gerando Dislexia. Disgrafia e outras dificuldades significativas de aprendizagem da escrita. Disponível em: <http://www.riototal.com.br/saude/saude003.htm>. Acesso em: 17.12.2006.

PASTURA, G. M. C; MATTOS, P; ARAÚJO A. P. Q. C. Desempenho escolar e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. In Revista de Psiquiatria Clínica. vol.32 no.6 São Paulo Nov./Dec. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-60832005000600003 &script =sci_rttext&tlng=pt>. Acesso em: 05.12.2006

PROBLEMAS de Leitura e Escrita. Disponível em: <http://www.jornalviva.com.br/edicoes/viva>. Acesso em: 30.11.2006.

SIQUEIRA, Cacilda Silva. Dislalia “defeito” dos sons da fala. Disponível em: <http://www.espacofonoaudiologia.com.br/dislalia>. Acesso em: 30.11.2006.

SCHROEDER, M. M. et MECKING, M L M. Pedagogia e Psicopedagogia.Disponível em: <http:// www.pedagobrasil.com.br/artigosanteriores/ peda_psico.htm>. Acesso em: 20.12.2006

VOCÊ sabe o que é Limitrofia? Disponível em: <http://paginasterra.com.br/ negocios/savoini/cisne/cisne.htm>. Acesso em: 23.12.2006.

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

Título da Monografia: Dislexia: Um obstáculo superável

Autor: Delphina Pieri

Data da entrega: 27 de janeiro de 2007

Avaliado por: Conceito:

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO............................................................................................2

AGRADECIMENTOS .........................................................................................3

DEDICATÓRIA ...................................................................................................4

RESUMO ............................................................................................................5

METODOLOGIA .................................................................................................6

SUMÁRIO ...........................................................................................................7

INTRODUÇÃO................................................................................................... 8

CAPÍTULO I ..................................................................................................... 10

DEFININDO A DISLEXIA................................................................................. 10

HISTÓRICO DA DISLEXIA........................................................................... 10

1.1 - Definição de Dislexia ............................................................................ 11

CAPÍTULO II .................................................................................................... 17

EPIDEMIOLOGIA DA DISLEXIA...................................................................... 17

Fatores Predisponentes ............................................................................... 17

2.1. Aspectos Clínicos da Dislexia................................................................ 18

2.2. Curso e Prognóstico .............................................................................. 20

2.3 Atenção aos portadores de dislexia........................................................ 23

CAPÍTULO III ................................................................................................... 25

CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DAS DISLEXIAS PARA GRUNSPUN... 25

CAPÍTULO IV................................................................................................... 29

TRATAMENTO E ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS........................................ 29

CONCLUSÃO .................................................................................................. 38

GLOSSÁRIO.................................................................................................... 39

ANEXOS .......................................................................................................... 40

ANEXO A...................................................................................................... 40

ANEXO B...................................................................................................... 42

ANEXO C ..................................................................................................... 44

ANEXO D - Atividades Culturais.................................................................. 46

REFERÊNCIAS................................................................................................ 47

FOLHA DE AVALIAÇÃO.............................................................................................49

INDICE.............................................................................................................. 50