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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM ESCOLAR EM MENINOS Por: Rosane Regis Vilella Ouverney Orientador Prof. Luiz Claudio Lopes Alves Rio de Janeiro 2003

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … REGIS VILELLA OUVERNEY.pdf · segundo Jean Piajet, por ser, no nosso conceito, quem melhor definiu as diferenças que ocorrem em cada

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DIFICULDADE DE

APRENDIZAGEM

ESCOLAR EM MENINOS

Por: Rosane Regis Vilella Ouverney

Orientador

Prof. Luiz Claudio Lopes Alves

Rio de Janeiro

2003

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DIFICULDADE DE APRENDIZADEM

ESCOLAR EM MENINOS

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para

a conclusão do Curso de Pós-Graduação

“Lato Sensu” em Psicopedagogia.

Por: .Rosane Regis Vilella Ouverney

3

AGRADECIMENTOS

A Deus minha fonte de

inspiração e amor, ao amigo e

companheiro Alexandre, aos

meus filhos, Isaque e Lucas, a

minha querida mãe e irmã

Sheila, pelo carinho e

colaboração.

4

DEDICATÓRIA

Ao Alexandre, meu querido

marido, pelo incentivo e apoio

incondicional. Aos meus filhos

que muito contribuíram na minha

busca em uma nova atividade

profissional.

5

RESUMO

A presente monografia tem por objetivo o estudo das causas mais

conhecidas que possam estar contribuindo para o surgimento da DA entre

os meninos na fase pré-escolar e escolar.

Tal fenômeno não é particularidade das escolas brasileira, isto tem se

observado em vários outros países, inclusive com nível sócio-econômico

mais desenvolvido, tais como: Inglaterra, França, Austrália, só para citar

alguns.

O presente trabalho é de natureza bibliográfica, embora que alicerçado

em pesquisa de campo - estágio e depoimentos de vários professores.

Esta monografia mostra a pais e professores a necessidade do

conhecimento dos fatos que estão provocando o surgimento de uma

geração de meninos cujo desenvolvimento possa estar sendo

comprometido pela inadequação de tratamento recebido tanto no seio

familiar, quanto no escolar.

Ë também um alerta a pais de meninos quanto a necessidade da figura

masculina para o bom aprendizado em “ser menino” em “ser homem”, a

fim de se evitar que continuem a se sentir “estranhos” num mundo que

cada vez mais privilegia o feminino.

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I - Aprendizagem 09

CAPÍTULO II - Fases do Desenvolvimento

Da Cognição 19

CAPÍTULO III - A Família no Desenvolvimento do “EU” 27

CAPÍTULO IV- O que são Dificuldades de Aprendizagem? 37

CAPÍTULO V- DA Mais Freqüentes em Meninos 41

CONCLUSÃO 53

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 55

ANEXOS 57

7

INTRODUÇÃO

Já algum tempo pais e professores têm observado uma grande

diferenciação no amadurecimento entre meninas e meninos. Os meninos

não estão apresentando o mesmo desempenho que as meninas em

muitos aspectos do seu desenvolvimento, tanto afetivo quanto cognitivo.

Ao que parece estamos diante de um fenômeno que se repete em muitos

outros países, e por isso muitos estudos estão sendo feitos tanto do

ponto de vista fisiológico (neurológico) quanto psicológico.

O psicólogo inglês Steve Biddulph, autor do livro Criando Meninos

(Editora Fundamentos, 2002), obra best seller na Ingllaterra, Itália, França

e Austrália, defende a reformulação dos métodos de educação aplicados

aos meninos modernos. Ele afirma que: “os meninos estão mais

abandonados que nunca” na tarefa de se transformar em homens

competentes e felizes e, que seu fracasso escolar deve-se entre outros

fatores, ao desenvolvimento mais lento da coordenação motora fina, o

que seria corrigido com seu ingresso na vida escolar um ano mais tarde.

Sugere ainda, que a ausência do referencial masculino nas escolas, pela

escassez de homens no magistério, contribui para o desenvolvimento das

Dificuldades de Aprendizagem no período escolar.

Alicia Fernández, reforça tal compreenção quando afirma que o

aprendizado não se dá de forma assexuada.

“A aprendizagem, que no bebê vai cumprir a função

que o instinto cumpre no animal, não é um processo

assexuado, como não será assexuado o ensino.” 1

8

1- Fernández, Al., A Mulher Escondida na Professora, São Paulo, Artmed, 2001

Portanto, o bebê aprenderá a ser homem ou mulher, aprenderá como

homem ou como mulher. Aprenderá somente se houver ensinantes que o

ensinem a construir um corpo masculino ou feminino. Vai caminhar

quando articular seu próprio desejo de caminhar com o desejo de seus

ensinantes, de que ele caminhe. E, para que esse processo seja

satisfatório, é preciso que haja a identificação entre o ensinante e o

aprendiz. Quando isto não ocorre começam a surgir os embaraços no

processo de aprendizagem , as DA, de fundo não patológico, mas de

orígem psicológica comportamental.

Para melhor esclarecimento, no capítulo I buscamos identificar o que seja

“Aprender”, e os processos envolvidos nesse ato segundo alguns autores

da área de estudo.

No capítulo II apresentamos as Fases do Desenvolvimento da Cognição,

segundo Jean Piajet, por ser, no nosso conceito, quem melhor definiu as

diferenças que ocorrem em cada fase desse processo. Para nós muito

importante, pois buscamos identificar fatores que possam contribuir, no

período demarcado, para o estudo da nossa pesquisa.

Julgamos porém serem os dados apresentados por Jean Piaget,

insuficientes para satisfazer nossa procura quanto as causas que estejam

levando meninos a terem rendimento diferente das meninas no ambiente

escolar. Por isso no capítulo III dedicamos atenção especial às

investigações no campo social, na família - das diferentes interferências

diretas que esta têm sobre os dois universos do nosso estudo, meninos e

meninas.

No capítulo IV achamos oportuno conceituarmos o que são Dificuldades

de Aprendizagem, a fim de excluir quaisquer dúvidas quando no capítulo

9

V tratamos das dificuldades propriamente ditas, verificadas com maior

incidência entre meninos.

CAPÍTULO I

APRENDIZAGEM

“...O fato essencial de que convém partir é que nenhum conhecimento,

mesmo perceptivo, constitui uma simples cópia do real porque contém um

processo de assimilação a estruturas anteriores.” Jean Piat

Segundo a definição lingüística aprender é:

1. adquirir o conhecimento de; ficar sabendo;

2. guardar na memória;

3. Adquirir experiência; tirar proveito;

4. Instruir-se. 1

Analisando detalhadamente cada definição podemos concluir que:

-Adquirir conhecimento de - parte do princípio de que para se constituir

uma situação de aprendizagem torna-se necessário um ensinante, um

aprendente que estabeleçam uma relação em função de outra relação

envolvendo um terceiro componente: o conhecimento.

Para a escola Piagetiana o conhecimento é um processo de construção

que ocorre sempre num conceito social, onde o grupo desempenha papel

significante quanto à troca do conhecimento e da formação do raciocínio,

dando significação prática aos conteúdos aprendidos;

10

-Ficar sabendo - Implica em conhecer, reconhecer e se utilizar de um

sistema comum de signos e definições.

1- Dicionário da Língua Portuguesa Soares Amora, 2ª Edição, São Paulo, Editora Saraiva1997.

Vigotsky defendeu a intervenção pedagógica partindo do que a criança é

e faz, (Zona de Desenvolvimento Real), em direção ao que ela precisa ser

e fazer (Zona de Desenvolvimento Potencial).

Neste espaço o ensinante desempenha o papel de mediador, provocador

de conflitos, estimulador, engenheiro que construirá a ponte entre o Real

e o Potencial. E, neste processo a fala tem a função primordial de

proporcionar a comunicação, o intercâmbio social, quando o domínio do

significado da palavra no pensamento, fala interior, se une a fala verbal

buscando encontrar respostas às questões. A criança não adquire

primeiro as palavras e depois os significados, este processo se dá

inversamente.

O biólogo Humberto Maturana em sua obra “ Da Biologia À Psicologia”,

afirma que o mecanismo fundamental de interação no operar dos

sistemas sociais humanos é a linguagem. Sendo esta a diferenciadora do

ser humano, surge com o humano no processo social que lhe confere sua

orígem.

“ A conduta primária de coordenação condutal, na

ação sobre o mundo, gerada e aprendida ao longo

da vida dos membros de um sistema social qualquer

como resultado de suas interações nele, é descrita

como conduta lingüística por um observador que vê

cada elemento condutal como uma palavra

descritiva do mundo ao assinalar objetos nele.

Nesse operar social primário, no entanto, não há

objetos para os membros do sistema social, já que

eles somente se movimentam na coordenação

11

condutal da ação que têm devido adquirir (aprender)

ao fazer-se membros dele. No âmbito social

humano, e como resultado das interações que

decorrem entre os membros de uma sociedade

humana, há linguagem quando há recursividade

lingüística, isto é, quando um observador vê como

coordenação condutal sobre a coordenação

condutal.” 2

Se a criança aprende o conhecimento, tem seu comportamento

modificado, e saberá verbalizar tal como o incorporou. Daí a importância

que se deve dar a fala livre do aprendiz antes mesmo da produção do

texto. É muito comum nas salas de aula vermos professores insistindo na

produção escrita do conhecimento transmitido ao aluno - o apego as

práticas onde a repetição, a cópia, é que são importantes. Pudera, pois o

professor precisa do papel para poder mensurar o desenpenho do aluno,

e também comprovar seu êxito como professor, é uma prova documental.

Pensamos o quanto seria enriquecedor se aprendizes pudessem antes de

escrever, expor oralmente cada conteúdo aprendido. O professor poderia

identificar com muito mais eficiência os pontos compreendidos e os que

ficaram falhos na compreensão do aluno. A sala de aula sem dúvida seria

um espaço não para se receber conteúdos, mas acima de tudo de

compreensão e produção.

Através do processo de exposição oral, o ensinante pode avaliar o que de

fato foi, como diria Alicia Fernández, “apreendido”, e se de fato

“apreendido” nunca mais se perderá, fará parte do ser aprendente, da sua

estrutura cognitiva.

Condermarín e Blonquis (1970), segundo António Manuel Pamplona, o

desenvolvimento da linguagem pode ser dividido em cinco estágios inter-

dependentes e seqüenciados., onde cada etapa depende da anterior para

se desenvolver e, seqüenciado, porque obedecem a uma seqüência de

12

desenvolvimento. Qualquer deficiência em uma das seqüências resultará

em distúrbio nas etapas posteriores.

2-Maturama, H., Da Biologia à Psicologia, Artes Médicas, Porto Alegre, 1998.

A primeira etapa do processo do funcionamento verbal é a aquisição do

significado. Primeiramente a criança adquire a noção e a função dos

objetos que fazem parte do seu mundo atribuindo-lhes um significado

social.

No início do processo de interação a criança não só desconhece a

nomeação dos objetos, nem estes despertam qualquer tipo de resposta

emocional, pois não têm quaisquer significados para ela.

“O fato de que o entendimento entre mentes é

impossível sem alguma expressão mediadora, é um

axioma da psicologia científica. Na ausência de um

sistema de signos, lingüísticos ou não, somente o

tipo de comunicação mais primitivo e limitado torna-

se possível. A comunicação por meio de

movimentos expressivos, observada principalmente

entre animais, é mais uma efusão afetiva do que

comunicação. Um ganso amedrontado, pressentindo

subitamente algum perigo, ao alertar o bando inteiro

com seus gritos não está informando aos outros

aquilo que viu, mas antes contagiando-os com seu

medo.

A transmissão racional e intencional de experiência

e pensamento a outros requer um sistema

mediador, cujo o protótipo é a fala humana, oriunda

da necessidade de intercâmbio durante o trabalho....

Assim a verdadeira comunicação humana pressupõe

uma atitude generalizante, que constitui um estágio

avançado do desenvolvimento do significado da

palavra. As formas mais elevadas da comunicação

13

humana somente são possíveis porque o

pensamento do homem reflete uma realidade

conceitualizada.” 3

3- Vygotsky, L.,Pensamento e Linguagem, São Paulo, Martins Fontes, 2000.

A Segunda etapa é a compreensão da palavra falada. Agora os objetos

adquiriram uma significação e são associados aos seus nomes. O nome

“pinico” repetido pela mãe todas as vezes que colocar a criança para

urinar ou defecar no urinol, uma vez que a criança ouça falar em urinar ou

mesmo sentir desejo de fazê-lo, estará desencadeando em resposta ao

estímulo a evocação do objeto. Assim a criança ao ouvir o nome pinico,

que fora repetidas vezes dito por sua mãe diante do objeto, evocará a

imagem do objeto armazenado em sua memória.

A terceira etapa é verbalização da palavra. Embora a criança já tenha se

apoderado do significado dos objetos e a compreensão da palavra

falada, os sons emitidos por ela não se assemelham aos sons emitidos

pelos adultos. É através da comparação que faz entre os sons produzidos

pelos adultos e o seu próprio, que a criança por meio da imitação

desenvolve a fala. O mesmo não acontece com a criança surda, que

geralmente não consegue passar do balbúcio, pois falta-lhe a

comparação que por sua vez a impede de imitar as palavras faladas

pelos adultos.

A Quarta e Quinta etapas são considerados os estágios superiores do

desenvolvimento da linguagem, englobando a compreensão da palavra

impressa (leitura) e a expressão da palavra impressa (escrita).

- Guardar na memória - Trata da aquisição da aprendizagem e a

conservação desta. Se a aprendizagem não é conservada, perde-se toda

ação precedente, pois toda aprendizagem põe em jogo um certo tipo de

memória, isto é, de conservação e manutenção da experiência anterior. A

conservação de experiências passadas é o meio pelo qual se estabelece

a familiaridade com a experiência presente - domínio. Dessa forma a

14

criança não irá buscar novas respostas, tentativas e erros, ela aplica a

resposta já assimilada. A autora Alicia Fernádez, como já mencionamos,

foi muito feliz ao aplicar o termo apreender como ponto máximo do

processo de assimilação do conhecimento, e para isto é fundamental a

conservação que se processa através da memória.

“A memória é a base do raciocínio. Ao “chamar” e

“reclamar” a informação, o cérebro está apto à

combiná-la e à organizá-la. Não se combina o que

não se conserva, daí o papel integrativo da memória,

função indispensável à análise, seleção, conexão,

síntese, formulação e regulação das informações

necessárias à elaboração, planificação e execução

de comportamentos.

A memória armazena e preserva a informação. Só

depois da consolidação (Eysenck) se dá a

compreensão. Só reconhecemos estímulos, depois

desses se encontrarem retidos.” 4

- Adquirir experiência - Identificação de situações já vivenciadas de forma

que o objeto lhe seja familiar.

Sem experiência não tem como haver desenvolvimento, pois é através

dela que se entra em contato com o objeto, o conhecimento. Vygotsky

ressalta a importância da experiência para o desenvolvimento da

linguagem, pois esta está baseada na apropriação individual da

experiência sócio-cultural, transmitida exatamente do adulto para a

criança, através do comportamento verbal simbólico. Piajet ressalta que a

assimilação, um dos mecanismos funcionais pelo qual a criança procura

fazer com que a nova situação, os novos objetos apresentados, a serem

conhecidos, se tornem seus familiares de modo a serem incorporados ao

15

seu organismo sendo disponibilizado para sua adaptação ao meio em que

vive. Mas para ele a assimilação não é um processo bastante, uma vez

4- Fonseca,V., Introdução às Dificuldades de Aprendizagem, 2ª Edição, Porto Alegre,Artes Médicas, 1995

que na incorporação alguns esquemas são modificados ou até mesmo

criados. Para tanto, ocorre a necessidade de um outro mecanismo

funcional em complemento ao primeiro: a acomodação - que vem a ser a

combinação de esquemas ou modificação de esquemas para resolver

problemas que surjam de experiências novas vivenciadas no meio social.

“Nós sustentamos que os processos que geram o

comportamento inteligente são aqueles que

participam no estabelecimento ou ampliação de

qualquer domínio de acoplamento estrutural

ontogênico e aqueles que participam no operar dos

organismos envolvidos em tal domínio.”

Humberto Maturana. 5

Tirar proveito - Utilizar-se do conhecimento para identificação e solução

de problemas.

A medida que a criança vai incorporando o conhecimento, vai sendo

modificada por ele, ela evolui para o que Piajet chamou de inteligência

prática, a manipulação de objetos através de percepção e movimentos

organizados, capazes de executar um tipo de ação em função dos

esquemas formados, ou mesmo de executar novas ações através das

interações desses esquemas. Tais combinações favorecem o

desempenho na resolução de problemas a serem superados;

Instruir-se - Tornar-se apto ao manuseio, a manipulação do conhecimento

adquirido e compreendido.

16

Quando a criança tem uma aprendizagem significativa e não

simplesmente mecânica, implica que também terá incorporado tal

conhecimento, fazendo parte integrante ao seu aprendizado. Assim

poderá fazer uso dela quando estiver diante de outros acontecimentos

5- Maturana, H., Da Biologia à Psicologia, Porto Alegre, Artes Médicas,1998

novos, no sentido de que poderá fazer uso, total ou parcial, desse

conhecimento, quando as circunstâncias o exigirem para situações ou,

resolver problemas, enfrentar situações ou ainda para aprender e integrar

novos conteúdos.

“Educar consiste então em ensinar, no sentido de

mostrar, de estabelecer sinais, de marcar como se

faz o que pode ser feito. Desta forma a criança

aprende a expressar-se, a vestir-se, a escrever, e

também a não sujar, a não se atrasar, a não chorar.

A maneira de fazer o que a educação prescreve, tem

por objetivo a constituição do ser que determinado

grupo social precisa: ser respeituoso, limpo, pontual,

sem afetações, etc. Através da ação desenvolvida e

reprimida o sujeito incorpora uma representação do

mundo, ao qual por sua vez se incorpora e se

sujeita.” 6

Para Piajet a inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo

quando este pode interagir com seu meio social. O bebê nos seus

primeiros dias de nascido já emprega esforço para se comunicar com seu

meio e seu cuidador, em geral a mãe. Exemplo típico é a noção de

“realimentação” , aspecto intrapsíquico das relações, chamado por alguns

autores de “modelagem, que consiste numa série de intercâmbios entre

dois parceiros, a mãe e a criança”. Esta díade quando desfeita terá

deixado suas marcas em ambos os envolvidos. Sendo assim podemos

concluir que a percepção do mundo infantil se dá, basicamente, sob a

influência direta da ótica feminina.

17

6- Paín,S., Diagnóstico e Tratamentos dos Problemas de Aprendizagem, Porto Alegre, Artmed,1992

“Quando se somam vários comportamentos simples,

os padrões de comportamento e reações começam

a adquirir significado. Certos conjuntos de comporta-

mentos da mãe podem ser vistos como único

estímulo, e certos conjuntos de comportamento do

bebê compõem uma resposta. Contextualizados em

fases particulares da interação (e nas reações

emocionais de cada participante), os

comportamentos adquirem matizes de significado.

Uma interação, por exemplo, pode ser dividida em

fases de início, regulação, manutenção e término. O

mesmo comportamento adquire diferentes

significados conforme ocorra em cada um desses

períodos. A interação, portanto, deve ser vista como

um processo dotado de ciclos de engajamento e

dispersão. No interior de cada ciclo, o

comportamento pode ser classificado segundo sua

qualidade – intrusivo, recíproco, empático ou

violador.” 7

Tal relacionamento, mãe e bebê, desencadeia uma influência mútua,

onde ora se molda o outro, ora se é moldado pelo outro. Cada um

armazena uma memória ou uma expectativa do outro, que conforma suas

próprias respostas.

É nessa ambiência que tanto meninas e meninos são iniciados na

aprendizagem, sem que se dê a devida diferenciação quanto ao gênero,

ignorando-se a necessidade do ser aprendiz do espelho a quem ele deve

aprender a refletir.

18

7-Brazelton, T. Berry, As Primeiras Relações, São Paulo, Editora Martins Fontes, 1992.

O universo feminino não sofre ruptura quanto a cumplicidade de gênero

dos seus ensinantes. A menina iniciada no mundo do conhecimento pela

ensinante, a mãe, ao entrar nas fases de desenvolvimento da primeira

infância, brinca de aprender a ser mulher, feminina - brinca com bonecas,

de casinha, de fazer comidinha, e tem como reforço de conduta a figura

materna, exemplo vivo, a sua disposição para quaisquer conferências

comparativas. Quando entra na fase escolar encontra como ensinante

outra figura feminina, a professora, seu universo não sofre qualquer

ruptura de construção - a cumplicidade continua, agora a menina incluirá

nas suas brincadeiras a figura da professora. É muito comum as meninas

após o primeiro dia de aula começarem em casa a brincar com suas

bonecas , ou até mesmo irmãos ou coleguinhas, de escolinha, onde ela

agora não mais é mãe, mas professora.

As exigências de comportamento do novo meio social não são muito

diferentes do já aprendido no meio familiar.

19

CAPÍTULO II

AS FASES DO

DESENVOLVIMENTO

DA COGNIÇÃO

Como já vimos no capítulo anterior, a criança entra no processo de

aprendizagem desde o momento em que nasce, e que isto se dá de forma

acumulativa, interativa, de maneira a capacitá-la a integrar-se ao seu

meio social. O observador poderá facilmente avaliar em que fase do seu

desenvolvimento cognitivo cada criança está, pois esses estágios se

sucedem na mesma ordem para todos os indivíduos.

Essas fases são caracterizadas por estruturas mentais diferentes

construídas pelo próprio sujeito em resposta ao mundo que o cerca.

Piajet descreveu quatro grandes períodos de desenvolvimento, que

julgamos relevante descrever a fim de buscarmos respostas à nossa

pesquisa- “Dificuldades de Aprendizagem Escolar em Meninos”, pois

como já vimos anteriormente a ordem de sucessão das aquisições é

constante e cumulativa. Todas as estruturas constituídas num

determinado tempo - estágios, vão integrar reorganizando-se na

construção das estruturas seguintes, num processo de inter-dependência.

Cada estágio tem que ser entendido, resolvido, enquanto uma estrutura

de conjunto, comportamento ao mesmo tempo um nível de preparação e

finalização inserido num processo de formação que traduz os

mecanismos do pensamento humano, para então somar-se às estruturas

precedentes culminado com o que Piajet conceituou de “assimilação”.

20

Embora que outros estudiosos do campo da psicologia da educação

tenham se utilizado de outra terminologia descritiva do processo de

aprendizagem, não fugiram do princípio da teoria desenvolvida por Piajet.

Piajet ao descrever o desenvolvimento como forma de equilíbrio, dentro

de um sistema denominou-o processo de equilibração.

“Com efeito, ou a extensão é letal para o indivíduo

ou para a espécie, ou então é adaptativa, e a

adaptação é uma equilibração. Ora, esta

equilibração cada vez mais extensa não tendo nada

de comum a moldagem, como a adaptação de um

líquido ao recipiente nem com um simples balanço

de forças, mas supondo um ajuste permanente entre

a acomodação às situações e a assimilação que

conserva o funcionamento, é preciso dizer de novo

que os mecanismos reguladores são inerentes, e

não acrescentados, a estas trocas com um meio

cada vez mais extenso.” 1

Piajet classificou os períodos do desenvolvimento em :

1 - Estágio Sensório-Motor;

2 - Estágio Pré-Operacional;

3 - Estágio das Operações Concretas;

4 - Estágio Operatório Formal;

Nos deteremos nos três primeiros por serem eles os períodos de

observação da nossa proposta de estudo.

21

1- Piaget, J., Biologia e Conhecimento, Petrópolis, Editora Vozes, 2.000

1 - Estágio Sensório-Motor

Compreende o período que vai do nascimento até aproximadamente os 2

anos de idade e, é marcado por extraordinário desenvolvimento mental

- percebe-se claramente “uma conquista” de todo o universo prático,

através das percepções e dos movimentos. Estende-se do nascimento à

aquisição da linguagem. Nesse estágio o reflexo abre passagem para a

ação inteligente pois, a modificação do reflexo implica ação inteligente.

Com o aparecimento da linguagem, as condutas são profundamente

modificadas principalmente no aspecto afetivo e intelectual. A criança

agora, além das ações reais ou materiais já amplamente dominadas por

ela, torna-se capaz de reconstruir suas ações vividas utilizando-se de

narrativas, e de antecipar suas ações futuras pela representação verbal.

Deslocar-se a si mesma e aos objetos no espaço, engatinhar, subir e

descer escadas, empurrar, puxar, encaixar, enfileirar objetos, encher,

esvaziar recipientes, manipular diferentes materiais e texturas, imitar. São

atividades próprias desse estágio. É também o início da sociabilização,

aparição do pensamento propriamente dito, desenvolvimento de

sentimentos interindividuais (simpatia, antipatias, respeito etc.)

2 - Estágio Pré-Operacional

O pensamento representacional, que vai até aos 6-7 anos, a criança se

torna mais competente. Desenvolve a capacidade para usar símbolos em

pensamento e ação, consegue lidar com mais eficiência com conceitos

tais como: idade, tempo, espaço e moralidade. No entanto ainda não

separa completamente o real do irreal, e grande parte do seu pensamento

é egocêntrico, mas é o estágio que marca um grande salto quantitativo do

pensamento da criança, é o anunciador da função simbólica.

22

Seus processos de pensamento são usados agora com o fim de se

encadearem ao real, ao presente, ao concreto. Agora a criança pode

fazer uso dos símbolos para representar objetos, lugares, pessoas. Sua

mente não está mais presa ao aqui e agora - pode projetar-se à frente

para prever o futuro, ou permanecer no que poderia estar acontecendo

em algum lugar do presente.

No estágio sensório-motor, a criança movimentava-se para perseguir

metas concretas. Agora ela ainda age, mas não necessariamente de um

modo motor. Seus processos mentais são ativos, mas também pela

primeira vez reflexivos.

O pensamento da criança pré-operatória é transdutivo. Ela raciocina do

singular para o singular. Seus primeiros conceitos são preconceitos ativos

e concretos, ao invés de esquemáticos e abstratos, eles não permitem à

criança reconhecer identidade estável em circunstâncias que se alterem.

Tendem a centrar, enfocam somente um aspecto de uma situação e

omitem outras, por isso seu pensamento é ilógico.

Ação em vez de abstração. A criança nessa fase pensa e aprende

fazendo correr “seqüências” de realidade em sua mente, como poderia

faze-lo em ação explícita.

3 - Estágio das Operações Concretas.

Dos 7 aos 10-11 anos, que coincidirá com o início da pré-adolescência, o

período é marcado pelo desenvolvimento das operações que Piajet

denominou de concretas, e se caracterizam, em especial, por sua

reversibilidade. Diminuem as formas de pensamento como artificialismo e

aninismo, conseqüências do egocentrismo grosseiro, influenciadas pela

identidade de percepção. Isto porque a presença do mundo objetivo se

impõe cada vez mais solicitando explicações dos fatos organizadas até

23

então, cedem espaço a explicações decorrentes da relação entre os

próprios objetos o que permitirá que a partir de então as transformações

sejam incorporadas de um outro ponto não só nas ações, possibilitanto a

flexibilidade de se voltar ao ponto inicial sem que se esteja modificado

pela ação incorporadora. A criança é capaz de se utilizar dos símbolos de

uma maneira mais sofisticada, para executar operações, ou atividades

mentais, em oposição às atividades físicas que eram a base de seu

pensamento anterior. Torna-se capaz de trabalhar com conceitos de

invariância, reversibilidade, e coordenação de relações; o trabalho mental

a partir do domíniio desses princípios leva a criança a adquirir uma

compreensão de vários agrupamentos. A compreensão se orienta para a

observação real dos acontecimentos concretos do seu meio social.

Quanto mais a criança se aproxima do término dessa fase, 11-12 anos,

tanto maior será o seu poder de concretização individual.

Todo o processo ocorre no plano limitado da organização dos dados

imediatos, referindo-se a classificações, seriações, correspondências, etc.

Não se fala ainda em pensamento abstrato.

Nesses dois últimos estágios do desenvolvimento da criança é que

queremos nos deter, a fim de conjecturarmos possibilidades que

expliquem, ou melhor nos orientem à identificação das causas dos

meninos apresentarem Dificuldades de Aprendizagem Escolar, fenômeno

que, como já dissemos anteriormente, vem ocorrendo em vários outros

países.

Para Steve Biddulph, aos seis anos, quando começa a escolaridade da

criança, os meninos apresentam desenvolvimento mental defasado, em

relação às meninas, em seis a doze meses. Estão com déficit no

desenvolvimento da coordenação motora-fina, que é responsável pela

habilidade de usar os dedos para segurar o lápis, a caneta, ou a tesoura.

Soma-se a isso o desenvolvimento acentuado dos grandes músculos,

24

ficam impulsionados a exercitá-los constantemente, sendo quase que

impossível ficarem quietos em sala de aula.

“Conversando com coordenadores de educação

infantil de escolas do interior da Austrália a grandes

colégios internacionais da Ásia e da Europa, recebi

a mesma mensagem: “Os meninos deveriam esperar

mais um ano” É claro que todas as crianças devem

freqüentar o Jardim da Infância a partir de cerca de

cinco anos, já que precisam da estimulação social e

da amplidão de experiências que a escola dá. E

também porque os pais precisam de descanso! Mas

os meninos deviam ficar mais tempo no Jardim da

Infância - em alguns casos, mais um ano. Para a

maioria, isso implicaria chegar ao ensino

fundamental um ano mais velho do que a menina

sentada na carteira ao lado.... Os meninos se

convencem de que são verdadeiros fracassos, não

conseguem adquirir habilidades importantes

simplesmente porque ainda não estão prontos, e se

desinteressam pelo estudo.

Nos primeiros anos do ensino fundamental, os

meninos, cujos nervos do sistema motor ainda estão

em desenvolvimento, recebem sinais de seu corpo,

que diz: “Mexa-se. Use-me”. Para uma professora

impaciente de primeira série, isso parece mau

comportamento. O menino vê que seu artesanato,

seu desenho e sua escrita não são tão bons quanto

os das meninas e pensa: “Isso não é para mim!”. Ele

conclui que escola é coisa de menina e logo desiste

de aprender, principalmente se não tiver um

professor do sexo masculino.” 2

25

2- Biddulph, S., Criando Meninos, São Paulo, Editora Fundamento, 2002

Embora que a argumentação do autor seja bastante convincente, carece

de outras reflexões que não somente a do aspecto do amadurecimento

dos meninos quando comparados as meninas. Achamos, então,

importante procurar outros fatores que estejam associados ao

desenvolvimento quando ao gênero, visto que do ponto de vista fisiológico

não há distinção de sexo, pelo menos até o momento comprovada. Sendo

assim, enveredamos pela busca desses na variável incontrolável da

equação desse problema: o social.

Piajet costuma ser criticado justamente por não ter levado em conta o

papel dos fatores sociais no desenvolvimento humano. Todavia em seu

livro, Biologia e Conhecimento, Piajet escreveu que a inteligência humana

somente se desenvolve no indivíduo em função de interações sociais, que

são demasiadamente, em geral, negligenciadas.

“Mas o caráter mais notável do conhecimento

humano quanto ao modo de formação, comparado

com as transformações evolutivas do organismo e

as formas de conhecimento acessíveis ao animal, é

sua natureza coletiva tanto quanto individual. O

esboço desse caráter observa-se sem dúvida em

várias espécies animais, em particular no

chimpanzé. Entretanto, a novidade, no homem, é

que a transmissão exterior ou educativa ( ao

contrário da transmissão hereditária ou interna do

instinto ) levou a uma organização tal que pôde

engendrar civilizações.....

O resultado é então, e esta é a última diferença

fundamental que lembramos entre organizações

26

biológicas e cognoscitivas, que as formas mais

gerais do pensamento que podem ser dissociadas

de seus conteúdos, são, por isso mesmo, formas de

troca cognoscitivas ou de regulação interindividual,

ao mesmo tempo em que são tiradas do

funcionamento comum, peculiar a toda organização

viva. Sem dúvida, do ponto de vista psicogenético

estas regulações interindividuais ou sociais ( e não

hereditárias ) constituem um fato novo com relação

ao pensamento individual, que sem elas fica exposto

a todas as deformações egocêntricas, e são

condição necessária para a formação do sujeito

epistêmico descentrado.” 3

Como vimos Piajet não desconsiderou o social – afetivo no

desenvolvimento da criança, e não poderia tê-lo feito, visto ser este

indispensável ao desenvolvimento do ser humano - que é um ser

basicamente social.

27

3- PIAGET, J., BIOLOGIA E CONHECIMENTO, PETRÓPOLIS, EDITORA VOZES, 2.000

CAPÍTULO III

A FAMÍLIA NO

DESENVOLVIMENTO

DO “EU”

O primeiro contato social da criança é fornecedido pela família e

particulamente pela mãe, que geralmente é quem está mais em contato

com ela. Na medida que se sente amada, segura, se desenvolverá de

forma também segura.

A criança precisa ter o consentimento dos pais, ainda que incosciente

para aprender e crescer. Ela sabe o quanto é importante o sucesso

escolar no seu ambiente social. Seus pais, colegas e professores de um

modo direto e indereto estão esperando que tenha bom desempenho nos

estudos, e isso é grande fator de pressão e ansiedade.

O sucesso opõe-se ao fracasso, e este implica num juízo de valor, num

julgamento que deve corresponder a um ideal. Numa sociedade em que

não se admite perdedor, infelicidade, fracasso, fica cada vez mais díficil

de se trabalhar a criança quando esta não corresponde às expectativas.

Cada família tem uma modalidade de aprendizagem(Fernandez, 1991),

que seria a maneira pela qual o grupo familiar se aproxima, ou se afasta,

do saber. Esta modalidade é transmitida de pai para filho, determinando

como as gerações mais novas vão se relacionar com o conhecimento.

Quando os pais são pessoas que não possuem um grau elevado de

escolaridade, torna-se muito mais difícil que seus filhos tenham algum

28

interesse pelos estudos. A criança nunca deseja ser diferente de seus

pais, pelo menos até a adolescência, pois são eles seus heróis.

A modalidade de aprendiz faz parte da história de cada um, ela é pessoal,

mas é na família que vai se constituir, obedecendo à dinâmica imposta

pelo grupo. Quanto mais rígidos forem os padrões, mais chances de se

estabelecer um estado de ansiedade no aprendiz, vindo mesmo a

provocar o surgimento de DA de fundo emocional. Nada é pior para a

criança quando percebe que não correponde ao que seus pais esperam

dela - pensa que por isso pode deixar de ser amada.

Ao longo do Ciclo Vital, o ser humano traz dentro de si muitas famílias: da

infância, da adolescência, da fase adulta, com os filhos e netos e em

todas elas o padrão de aprendizagem familiar é um de seus legados mais

fortes.

A criança pequena não tem quaisquer informações a respeito de si que

não venha primeiro da família. Ela se baseia no que os pais dizem sobre

ela. Se eles passam informações de que é ruim, sem valor, com severas

críticas, ela passará a acreditar nisso e se comportar como tal.

A criança tem grande dificuldade de integrar ou buscar diferentes

julgamento de outros, que não os do seu ambiente familiar, a respeito de

si mesma.

Numa primeira etapa as regras e as normas são obrigações externas, e

por isso não são necessariamente interiorizadas pela criança. Partem dos

adultos, como os pais, e avós e outros que convivem com ela.

A atitude dos pais frente aos filhos é decisiva em sua visão de si mesmo.

Pais autoritários, mesmo que imbuídos de boas intenções, afastam o

diálogo criando um ambiente familiar desfavorável ao amadurecimento

29

emocional da criança, que se sente vigiada, cobrada o tempo todo, sem

espaço para construir uma relação afetiva de confiança mútua. Com isso

passa a nutrir o sentimento de inadequação ao seu ambiente familiar, não

sente que faz parte da família, sua personalidade fica comprometida de

autenticidade.

“A criança criada num clima de aceitação tem

probabilidade de desfrutar de muitas vantagens.

Numa atmosfera de afeição tem oportunidade de

adquiri uma atitude de confiança e fé naqueles que a

educam e em si mesma, e desenvolver um

autoconceito positivo. Ao crescer estará em

melhores condições para desenvolver sua própria

capacidade de se afeiçoar aos outros.

Num clima de afeto e compreensão terá a liberdade

de crescer, de aventurar-se, de tentar e de fracassar

e, então, de tentar novamente, sem ter de ficar

sempre provando o seu valor ou se defender. Terá

mais liberdade para revelar seus temores.

Provavelmente a maior vantagem de ser uma

criança aceita é a de enquanto está crescendo ter

maiores oportunidades para aprender a se aceitar.

Uma criança, ao contrário, cujas falhas são notadas

enquanto seus méritos são ignorados, está

constantemente com medo de fracassar aos olhos

dos outros, podendo desenvolver uma auto-estima

negativa, e ninguém prospera quando se alimenta

com o fracasso.” 1

30

A criança desde muito cedo percebe as contradições das mensagens

analógicas e as digitais (Garbar,2.000),de seu ambiente familiar. É capaz

1- Oliveira, G.C., Leituras de Psicologia para Formação de Professores, Petrópolis, Editora Vozes, 2.000

de sentir se seus pais a desejaram, se a aceitam, com apalavras e

atitudes e é nesse ambiente que construirá e firmará sua individualidade.

Os constructos auto-imagem, imagem corporal, autoconceito e auto

estima, são influenciados diretamente pela família, e estes vão ser

determinantes não só no sucesso ou fracasso escolar da criança, mas

também na sua vida adulta.

A auto-imagem - um dos elementos mais importantes na construção do

sentido de identidade. Ela é um dos determinantes das polarizações

sexuais e do prisma pelo qual o indivíduo vê a realidade que o cerca. A

influência do ambiente familiar é determinante nesse processo. A

dinâmica desse desenvolver é constante, ela se dá ao longo da vida do

indivíduo, mas é na infância que tem fincados seus alicerces.

“A auto-imagem é, pois o retrato ou perfil psicológico

do indivíduo. É a história de vida presente na

memória. São fragmentos de vida feitos de todos os

momentos de alegria, de tristeza, de experiências ou

mesmo de traumas, e que vão sendo incorporados

ao eu do indivíduo.” 2

A criança quando ouve: “você não presta para nada!”, é bonito, é feio,

Inteligente, burro, se utiliza dessas informações a respeito de si mesma,

para construção do seu “eu”.

O auto conceito é outro determinante muito importante do comportamento

da criança, pois o conceito de si mesma é que permite que ela tenha uma

melhor compreensão e percepção do mundo e das pessoas inseridas no

seu contexto social. Significa uma tomada de consciência (Quem sou),

31

um juízo, um posicionamento, uma postura; um autoconhecimento; uma

cognição (eu sou assim).

2- Oliveira, G.C., Leituras de Psicologia para Formação de Professores, Petrópolis, Editora Vozes, 2.000

Em atendimentos à crianças com Dificuldades de Aprendizagem, sempre

percebemos a dificuldade da criança em vencer a fala da família a

respeito de sí. Elas chegam convencidas que são aquilo que seus pais

dizem que são.

“Tia, minha mãe disse que vou repetir de ano, que eu não aprendo!”

Mesmo antes de investirmos em recuperar os conteúdos não assimilados,

exigência dos professores para aprovação, precisamos enquanto

interventores, recuperar a auto-estima dessa criança, propor-lhe uma

nova visão a respeito de si mesma, do seu potencial.

Vencida esta etapa a criança se abre para o conhecimento, e quase

sempre alcança o resultado desejado. Mas é preciso que pais e

professores tenham um nova fala, de incentivo, de credibilidade.

“O indivíduo reorganiza a auto-imagem

permanentemente de acordo com sua forma

particular de perceber a si próprio e o mundo, de

acordo com o contexto social em que vive e interage

e com o ambiente em que exerce suas ações.” 3

Outro aspecto diretamente relacionado com a família e a imagem

corporal - A criança forma gradativamente sua imagem corporal, e seu

corpo é o ponto de referência mais importante nessa construção. É com

ele que irá figurar e interagir socialmente. Sua aparência, sua imagem

corporal, são fundamentais para a figura que faz ante as outras pessoas.

Dependendo dos cuidados e referencias feitas pela família, a criança

desenvolverá sua imagem corporal de forma positiva ou negativa, e isso

32

resultará em sucesso ou fracasso escolar. Esta habilidade, a do

conhecimento adequado do corpo, implica: o conceito de corpo – o

3- Oliveira, G.C., Leituras de Psicologia para Formação de Professores, Petrópolis, Editora Vozes, 2.000

conhecimento consciente e intelectual do corpo e da função de seus

orgãos, o conhecimento de que possui duas mãos, duas pernas, cabeça,

olhos, coração etc; o esquema corporal - conhecimento resultante das

experiências táteis e das demais sensações que provém do corpo - o

esquema corporal regula a postura e o equilíbrio. Desta forma, o conceito

de imagem corporal torna-se indispensável para qualquer tipo de

aprendizagem, pois é através da boa formação deste pré-requisito que a

criança torna seu corpo ponto de referência estável.

“Por meio da limpeza e da higiene, a criança vai

perceber que a vida em sociedade comporta regras,

restrições e respeito aos outros; que se auto-afirmar

ou se conformar às exigências dos outros tem

vantagens e inconvenientes. Ela capta então as

primeiras noções de bem e mal e, na linguagem

infantil, a palavra “caca” é associada à sujeira, à

feiúra e ao vilão, enquanto a palavra “limpo” é

associada ao bom e ao inofensivo.

Essa evolução é acompanhada por um interesse

novo pelo corpo e pelo sexo. Ela percebe a qual dos

sexos pertence. Vai saber se é menino ou menina,

se faz parte de um grupo ou de outro. Uma nova

distinção se estabelece agora entre seu pai e sua

mãe.” 4

É o seu corpo, que servirá de base para a aprendizagem de todos os

conceitos indispensáveis à alfabetização, tais como : em cima, embaixo,

na frente, esquerda, direita, alto, baixo; assim como permitirá o

33

desenvolvimento do equilíbrio corporal e do freio inibitório, capacidade

muito requerida, principalmente dos meninos, na fase da alfabetização.

4- Garbar,C., Theodore,F., Família Mosaico, São Paulo, Editora Augustus, 2.000

“A criança que não consegue desenvolver a imagem

corporal, poderá ter sérios problemas em orientação

espacial e temporal; na aquisição dos conceitos em

cima, em baixo; dentro, fora; esquerdo, direito;

horizontal, vertical, diagonal, etc; no equilíbrio

postural; dificuldades de se locomover num espaço

predeterminado ou escrever obedecendo aos limites

de uma folha.” 5

Quando a família não oferece condições ao bom desenvolvimento

corporal da criança, quando por descuido ou excesso de zelo, mães que

não permitem que as crianças comam sozinhas utilizando os talheres, ou

reage com pânico diante de movimentos que possam expor a criança a

sujeira ou a machucados, faz com que essas crianças se tornem

inseguras quanto a utilização do seu corpo, ou seja tenho mãos mas não

estou autorizado a usá-las, tenho pernas mas devo correr.

As meninas desde cedo aprendem a cuidar da apresentação do seu

corpo, são os enfeites: lacinhos, travessinhas, batons, babados e tantos

outros apetrechos que, mesmo não sendo tão bonita poderá arrancar

frases de elogios.

Já os meninos, não resta muito a não ser os bonés, que mais escondem

do que enfeitam.

É a família quem primeiro ensinará a criança a reconhecer suas

potencialidades e limitações: você é bom nisso, ou você não serve para

fazer isso. É também ela quem ensinará os limites que a criança terá de

34

obedecer para conviver socialmente. Um ambiente familiar em que não

haja ordem, horários a se cumprir: almoço, jantar; banho, estudo; brincar;

dormir etc. não irá favorecer a criança a respeitar as regras do ambiente

escolar.

5- Morais, A. ,Distúrbios da Aprndizagem, São Paulo, Edicon, 1997

Portanto, é na família que a criança internalisa a lei, para então fora dela

aceitar a se submeter as leis sociais.

Noções de autoridade, colaboração, respeito, controle emocional, não se

aprende na escola, vem de casa, da família.

O que tem se observado e que as crianças cada vez mais estão

ingressando na escola sem qualquer noção de limite, de respeito à

autoridade - Há um sentimento generalizado, de querer transgredir, como

se não houvesse utilidade e coerência na lei. Sem dúvida que a televisão

tem contribuído muito para isso, mas cremos que o principal fator está na

desorganização pela qual a família está passando. Disputas internas pelo

poder familiar, falta de tempo dos pais por estarem ocupados demais em

garantir o sustento familiar e por isso, dedicam-se demais ao trabalho em

detrimento do convívio familiar, divórcio, recomposição familiar.

A revista semanal Veja de 17 de março de 1999, apresentou como

matéria de capa “ Os Meus, os Seus, os Nossos”- que tratou de como a

família brasileira tem se transformado pelas separações conjugais, e

como isso tem repercutido na vida da criança e na sociedade de um modo

geral. Divórcios e novos casamentos estão mudando a família brasileira.

Segundo a mesma, um em cada quatro casamentos no Brasil acaba em

separação.

Apresentou, ainda a opinião dos filhos desses pais, e de como se sentem

diante do fato:

Veja- Vocês acham que a separação prejudica o desempenho na escola?

35

Vinicius Calderoni ( 13 anos, 8ª Série, pais que moram juntos)

- Na minha escola é moda ser filho de pais separados. Na maioria dos

casos achei que o desempenho caiu na época da separação.

Andréia- Quando meus pais se separaram, eu chorava muito na escola.

Quando tinha prova, e eu ia mal, chorava também. Aproveitava e chorava

pelos dois motivos. 6

A criança de pais separados além dos desafios comuns ao seu

desenvolvimento, terá de encontrar novos recursos a fim de resolver os

conflitos advindos da nova configuração familiar.

É muito comum em sala de aula, identificarmos crianças que estejam

passando por problemas dessa ordem. Ficam dispersos, não demonstram

interesse pela aula, e os meninos em geral ficam mais agressivos. A

aprendizagem fica seriamente comprometida, sendo necessário, quando

possível, a intervenção de um especialista, que atue em conjunto com a

criança, a família e a escola.

Se para as meninas a separação dos pais é dolorosa, para os meninos é

desastrosa, pois terão outra questão a resolver qual seja a de buscar em

outra figura masculina o seu “herói” a figura da interdição, necessária para

que o menino, segundo Freud, resolva os conflitos causado pelo o que ele

chamou de Complexo de Édipo . Se com os pais juntos, a intensidade da

presença do pai era insuficiente, quando estes se separam, quase

sempre, esta relação fica ainda mais comprometida.

“Por volta dos seis anos de idade, acontece uma

grande mudança nos meninos. É como se, de

repente, alguém apertasse um botão para “ligar” sua

masculinidade. Mesmo aqueles que não assitem

muito à televisão começam a querer brincar com

36

espadas, capas de Super-Homem, lutar e fazer

barulho. Acontece também outro fato realmente

importante que é observado em todas as sociedades

6- Revista Veja nº 1.589, 17 de março de 1999

do mundo: em torno dos seis anos de idade, o

menino parece “se ligar” no pai, padastro ou figura

masculina mais próxima, insistindo em acompanhá-

lo, ver o que ele faz e imitar seu jeito. É como se

quisesse “aprender a ser homem”.

“A súbita mudança de interesse para o pai não

significa que a mãe sai de cena. Em alguns países -

como nos Estados Unidos - a mãe costuma se

afastar um pouco de seus filhos do sexo masculino,

nesta idade, para que fiquem mais “durões”. Era

também a idade que na Inglaterra, as famílias das

classes mais altas mandavam as crianças para o

colégio interno. Mas, conforme dizia Olga Silverstein

em seu livro The Courage to Raise Good Men, isso é

uma bobagem. Os meninos devem saber que

podem contar com a mãe e que não têm que sufocar

seus sentimentos mais ternos. As coisas caminham

melhor quando podem estar perto da mamãe - e do

papai também.” 7

37

7- Biddulph, S., Criando Meninos, São Paulo, Editora Fundamento, 2002

IV

O QUE SÃO DIFICULDADES

DE APRENDIZAGEM?

Para Sara Paín é um sintoma no sentido de que não-aprender não

significa um estado permanente, mas sim uma denúncia de

comportamento que tem como destaque a descompensação, pois o não-

aprender não implica na ausência de aprendizagem, mas uma resposta

inadequada aos padrões estipulados. Daí sua defesa ao diagnóstico

multifatorial como instrumento de assinalar as articulações e

compensações mútuas que tenham contribuído para o quadro total.

Muito se tem ouvido de professores a esse respeito, mas sem nenhuma

base sólida de investigação científica, basta que uma criança não

apresente rendimento satisfatório, muitas vezes avaliações incorretas,

para que se diagnostique DA.

A DA não pode ser utilizada como recurso dos ensinantes às justificativas

para o fracasso escolar, não da forma como vem sendo.

A escola pode humilhar, ameaçar e desencorajar, mais do que reforçar o

eu, libertar ou encorajar a criança. Quando enviamos crianças às escolas

esperamos que aprendam. O que faz a escola tradicionalmente é ensinar

que a ordem é mais importante que o indivíduo, perdendo elas a sua

espontaneidade e curiosidade, submetendo-as muitas vezes a métodos e

correntes pedagógicas que estão na moda.

38

A retratação social dos livros didáticos quase sempre desconsidera a

realidade sócio-econômica da grande maioria do nosso país, não permite

ao aprendiz uma reflexão significativa do conteúdo oferecido pelo

professor e seus livros, pois este em nada tem ligação com sua ambiência

social. Para muitas crianças o que se aprende na escola só tem utilidade

na escola, não lhes serve para mais nada.

Recentemente tivemos em nossas mãos a prova de história da 3ª série do

Ensino Fundamental que muito nos chamou atenção pela resposta de um

aluno da idade de 8 anos:

P. Quem realizou a primeira missa no Brasil?

R. Sei lá.

A resposta denuncia não necessariamente desinteresse ou descaso, do

aluno, mas “O que isto me diz respeito? O que tem a ver comigo?”

Com certeza a aula sobre a realização da primeira missa em solo

brasileiro não conseguiu despertar nenhum interesse ou significação para

este aluno, que segundo informações , tem notas excelentes.

As crianças não podem continuar a serem vítimas de métodos e de

políticas educacionais que não estejam voltadas para a sua realidade, e

isto incluí primordialmente sua condição social. Temos enquanto pessoas

envolvidas com a educação, de desenvolvermos ajustes às condições

internas da criança, o que pressupõe uma atenção investigativa do seu

desenvolvimento biopsicossocial, às exigências das tarefas educacionais,

ou seja, às condições externas da aprendizagem, que inclui professores e

sistema de ensino, devem distinguir também o aprendente quanto ao

gênero.

Dificuldade de Aprendizagem não pode ser tão-somente um rótulo em

moda a ser distribuído aos mais vulneráveis. Ela tem causas e

39

desdobramentos múltiplos, muitos ainda em estudos não concluídos,

exigindo pesquisas em diversos campos do conhecimento, para que se

tenha uma visão mais próxima quanto possível das causas provocadoras

das DA.

Ela pode ter origem orgânica, intelectual/cognitiva e ou emocional,

incluindo-se aí as dificuldades relacionais, ou ainda fatores ambientais (as

possibilidades reais de acesso em quantidade e qualidade, frequência e

abundância dos estímulos que favoreçam à aprendizagem), porém, o que

se percebe, na maioria dos casos é que há um entrelaçamento destes

fatores, responsável pela complexidade da situação.

Portanto DA é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo

de desordens, manifestadas por dificuldades na aquisição e no uso da

audição, da fala, da leitura, da escrita, do raciocínio ou das habilidades

matemáticas.

Problemas de comportamento, percepção e interação social podem

coexistir com problemas orgânicos, mas estes não necesariamnete

desencadeiam a DA. Por isso, tanto nas considerações caso a caso,

como numa casuística mais ampla, encontrar um fio condutor para

explicar a multiplicidade de sintomas é tarefa que exige dedicação à

Investigação.

Pode-se perceber que nunca há uma causa única para o fracasso

escolar, mas uma conjunção de fatores que num determinado momento,

interagem, imobilizando o desenvolvimento do aprendente no sistema

familiar/escolar/social, no qual ele está inserido.

A criança precisa apresentar “maturidade” para aprender a ler e a

escrever - quando falamos em “maturidade” para o aprendizado entende-

se por maturação para a leitura e escrita o momento ideal do

40

desenvolvimento em que cada criança individualmente pode aprender a

ler e a escrever com facilidade - e isto depende de determinantes:

-Fisiológicos: incluem a maturação física e o

crescimento; predomínio cerebral e lateralidade;

maturação neurológica, visual, auditiva e o

funcionamento dos orgãos da fala.

-Ambientais: incluem as experiências sociais

acumuladas pela criança em interação com o meio

ambiente.

-Emocionais: incluem a motivação para aprender,

adaptação e interação ao meio ambiente.

-Intelectuais: integridade da atividade mental; as

atividades perceptivas de discriminação visual e

auditiva, raciocínio, pensamento.

Sabendo-se que a maturação para aprender depende de todos esses

fatores, não se pode esperar que todas as crianças amadureçam ao

chegarem a determinada idade cronológica.

Para Steve Biddulph os meninos amadurecem mais tarde que as meninas

por isso deveriam entrar para a escola também mais tarde que elas.

“Aos seis anos, quando realmente começa a

escolaridade, o desenvolvimento mental dos

meninos está de seis a doze meses atrasado em

relação ao das meninas. Eles são especialmente

pouco desenvolvidos no que chamamos

“coordenação motora fina”, que é a capacidade de

41

usar os dedos e para segurar uma caneta ou

tesoura.” 1

No capítulo seguinte trataremos dos tipo de DA mais freqüentes em

meninos, e que muito têm contribuído para o seu fracasso escolar.

1- Biddulph, S., Criando Meninos, São Paulo, Editora Fundamento, 2002

V

DA MAIS FREQÜENTES

EM MENINOS

1-Disgrafia- A escrita é a última etapa do desenvolvimento do

comportamento verbal a ser adquirida. Seu objetivo principal é o de

registrar os sentimentos, idéias e a história do homem. É também a que

leva mais tempo a ser adquirida pelo indivíduo, quer no aspecto

filogenético, quer no aspecto ontogenético.

Para escrever é necessário que se observem inúmeras estruturas

cognitivas anteriores da hierarquia da linguagem tais como:

1ª- Intenção;

2ª- Formulação de idéias, linguagem internas;

3ª- Chamada das palavras à consciência (fator semântico);

4ª- Colocação das palavras segundo regras gramaticais;

5ª- Codificação sequencial das unidades lingüísticas;

6ª- Mobilização dos símbolos gráficos equivalentes aos símbolos

fonéticos (conversão fonema grafema);

7ª- Chamada dos padrões motores;

8ª- Praxia manual e escrita propriamente dita.

42

LEITURA LEITURA ORAL

DITADO ESCRITA

A escrita antes que possa ser utilizada pela criança como instrumento de

representação oral, passa por estágios que coincidem com o

desenvolvimento geral da criança.

Ajuriaguerra (1977) concluiu que que o grafismo passa por três estágios

de desenvolvimento: o pré-caligráfico, o caligráfico infantil e o pós-

caligráfico:

-pré-caligráfico- dura de 2 a 4 anos entra as idades de 5/6 anos até 8/9

anos de idade.

As características principais neste estágio estão associadas às

dificuldades motrizes, nesta fase a criança ainda não tem completamente

desenvolvida a capacidade de coordenação motora fina, necessária para

a realização dos traçados gráficos.

Intenção Formulação

Rememorização

Sequência Grafomotora

Escrita

Imput Visual Síntese Output motor

Imput Output Auditivo Análise Motor

43

Os traços retos apresentam-se arqueados, tremidos e retocados. As

curvas são pouco ou demasiadamente fechadas, com ângulos, em vez de

serem arredondadas. Não existe controle perfeito da inclinação e da

dimensão das letras. As margens são desordenadas, ausentes ou

irregulares.

A criança emprega grande esforço para reproduzir o grafismo.

Geralmente copia letra por letra, usando o modelo como apoio. Com

pouco tempo escrevendo e a fadiga e o esforço podem desenvolver

movimentos parasitários a nível da mão, pé ou língua. Durante a escrita,

a criança pode ir mexendo os dedos da mão ou colocar a língua no canto

da boca mordendo-a levemente.

-caligráfico infantil- situa-se entre os 8 e 10 anos de idade. Nesta fase, a

criança já domina as principais dificuldades de pegar e manejar os

instrumentos gráficos. A escrita é mais ligeira e regular, podendo

apresentar algumas modificações nas proporções e nas formas das

letras. As linhas são retas e espaçadas, e as margens agora são

distribuídas corretamente.

Neste estágio de desenvolvimento a principal característica é a enorme

semelhança existente entre as letras traçadas e os modelos. A escrita

ainda não apresenta traço pessoal, tende mais para a imitação.

-pós-caligráfica- situa-se dos 11 anos em diante. A criança nessa fase,

devido as atividades escolares, precisa de agilidade ao escrever, com

isso vai modificando a escrita e tornando-a mais pessoal. A forma das

letras vai se transformando, se despindo de detalhes inúteis para o seu

reconhecimento. A escrita passa a ter o toque da personalidade de cada

um.

Como vimos anteriormente, as meninas desde muito cedo desenvolvem

atividades que exercitam as habilidades manuais, por isso acreditamos

44

que seu desenvolvimento psicomotor amadurece mais rapidamente que o

dos meninos, cujas atividades são voltadas para o desenvolmvimento dos

grandes músculos. Assim quando chegam na idade escolar sua

coordenação motora fina não está desenvolvida a contento para o início

da atividade da escrita.

Observamos que além de fatores tais como: coordenação motora fina,

imagem corporal, auto-conceito e adaptação afetiva, os meninos

apresentam um outro obstáculo quanto a sua iniciação na escrtita qual

seja a definição da lateralidade.

Lateralidade: é o uso preferencial de um lado do corpo para a realização

das atividades. Este uso preferencial refere-se ao olho, mão e pé.

Os meninos não são habituados às práticas manuais e quando chegam a

idade escolar precisam iniciar o desenvolvimento da coordenação motora

fina. Soma-se a isso o quase desconhecimento de qual seja a sua

preferência da lateralidade do uso das mãos.

Além dos desafios comuns a todos na fase da alfabetização, os meninos

terão de lidar com mais este obstáculo, o descohecimento de qual seja a

sua predominância lateral.

Durante muitos anos pensou-se que a lateralidade contrariada, cruzada e

a indefinida, pudessem causar por si só, distúrbios de leitura, de

matemática, de fala, mais precisamente gagueira, ou problemas

emocionais. Hoje vários estudos comprovam que a lateralidade é um dos

componentes para que crianças apresentem distúrbios de aprendizagem.

Mas no tocante ao aspecto emocional, não podemos desvincular a

questão da auto-imagem negativa decorrente das dificuldades que tais

crianças apresentam no manuseio do lápis ou da caneta e das

dificuldades de orientação espacial, imprescindível à alfabetização.

45

Em termos de processo de aprendizagem, constata-se que, as

dificuldades que surgem nas crianças com lateralidade contrariada,

cruzada e indefinida, referem-se ao tipo de grafia - às dificuldades de

orientação espacial como as de postura inadequada, incidem diretamente

sobre a produção gráfica da criança, normalmente são mais lentas na

cópia, no ditado e etc.

No passado era muito comum pais e professores forçarem a criança

canhota a fazer uso da mão direita na escrita. Para atingir este objetivo,

os educadores, valiam-se até mesmo de castigos físicos, reprimendas,

amarravam a mão esquerda da criança para obrigá-la a escrever com a

direita. Nesse processo “educativo” inventaram-se aparelhos de couro e

ferro que prendiam a mão esquerda nas costas, e ao mesmo tempo,

deixavam a criança ereta na cadeira.

Não há dúvida que a criança canhota é tão normal quanto a criança

destra, que meninos e meninas são igualmente capazes. O que se

observa é que a falta de condições, do olhar diferenciado, é que geram o

aparecimento das dificuldades. A criança canhota pode apresentar

dificuldades para escrever devido a falta de orientação adequada quanto

a postura de posição do braço, e da mão, de qual seja a melhor posição

do papel e do lápis. Portanto cabe ao educador ser o facilitador dessa

aprendizagem.

Pamplona em Distúrbios da Aprendizagem, relata uma pesquisa realizada

em 1990 com 1088 pessoas (544 Homens e 544 Mulheres), com idade

entre 07 e 85 anos. O resultado foi que os canhotos representaram 8%

deste universo, ou seja entre homens e mulheres 91 são canhotos. A

predominância dos destros é incontestável, tanto de homens quanto de

mulheres. Mas a pesquisa revela que enquanto na população feminina a

porcentagem de destros é de 91% na masculina esta é de 81%, a

percentagem de canhotos fica em 7% e 9%, respectivamente. Assim a

46

pesquisa revela que existe um número maior de canhotos no universo

masculino em relação ao universo feminino.

Tratamento da Disgrafia em canhotos.

Ensinar a criança a postura correta:

-do corpo com relação a cadeira e mesa, ligeiramente inclinada para

frente;

-da mão com relação ao papel, posicionada abaixo da linha para a escrita;

- folha de papel colocada no campo esquerdo e inclinado para a direita.

-Exercícios gráficos, no sentido esquerda-direita, com o objetivo de

automatizar a posição de prensão do lápis e treinar os diferentes traçados

que vão permitir a realização das letras e das palavras.

Há exercícios gráficos de coordenação viso-motora; de noções esquerda

direita; de orientação espacial, que a criança realiza tomando por base

um modelo. Objetivando qua a criança reproduza de forma mais identica

possível.

-uso do instrumento de plástico, trifásico, que auxilia o posicionamento

dos dedos durante a escrita.

2-Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade-

Este transtorno tem um grande impacto na vida da criança e das pessoas

com as quais convive (pais, professores e amigos). Pode levar a

dificuldades emocionais de relacionamento familiar e social, bem como a

DA. Pais e professores sentem-se impotentes diante da atividade

exagerada da criança e sua conduta opositora às mais simples regras.

47

O termo refere-se a um dos distúrbios do comportamento mais observado

na idade pré-escolar e escolar, que é caracterizado pelo excessivo nível

de atividade motora e crônica, déficit de atenção e falta de autocontrole. A

criança não consegue frear os impulsos frente aos estímulos ambientais.

Desta incapacidade inibitória resulta o fato da criança estar sempre em

movimento e não conseguir se concentar por muito tempo em nenhum

ponto. Ao contrário do altista que não consegue “desfocar”, o hiperativo

tem sua atenção dispersa em vários focos.

Os estudos indicam serem os meninos mais vulneráveis ao problema, por

fatores ainda não totalmente identificados. Para o Dr.Saul Cypel,

especialista em neurologia infantil, observa crianças hiperativas, autor do

livro “ A Criança com Déficit de Atenção e Hiperatividade. Para cada

quatro crianças hiperativas uma é menina.

“A cada quatro crianças hiperativas, aparece uma

menina. É uma constatação internacional. Há

algumas hipóteses para tentar explicar isso. Os

meninos, pela própria natureza do sexo, são mais

ativos e inquietos.” 1

Inicialmente foi classificada como distúrbio neurológico, vinculado a uma

lesão cerebral mínina. Como era grande a dificuldade de se objetivar a

existência dessa lesão, mudou-se a conceituação do distúrbio nos anos

60 para síndrome condutal, e considerando a atividade motora excessiva

como sintoma primordial. Nos anos 80, e como resultado de diversos

estudos investigativos, foram levados em consideração os aspectos

cognitivos da definição da síndrome, principalmente o déficit de atenção e

a falta de autocontrole ou impulsividade; considerando-se além disso, que

a atividade motora excessiva é o resultado da falta de concentração e da

mudança contínua de objetivos e metas a que é submetida.

48

O TDAH caracteriza-se por dois grupos de sintomas:

(1) desatenção ;

(2) agitação e impulsividade.

1- Revista Época 4 de junho, 2001

Desatenção- A criança apresenta, há pelo menos seis meses em

ambientes diferentes, 6 dos 9 sintomas:

a) não prestar atenção a detalhes ou cometer erros por descuido;

b) dificuldade de concentração em tarefas e/ou jogos;

c) não prestar atenção no que é dito (estar sempre no mundo da lua);

d) dificuldade de seguir regras e instruções, não concluir o que começa;

e) esquecer compromissos e tarefas rotineiras.

f) ser desorganizado com tarefas e materiais;

g) evitação das atividades que exijam esforço mental;

h) perder coisas importantes (material escolar, brinquedos etc);

i) distrair-se facilmente com coisas que não tem nada a ver com o que

estar fazendo.

.

Hiperatividade/Impulsividade: A criança apresenta, há pelo menos seis

meses em ambientes diferentes, 6 dos 9 sintomas:

a) ficar mexendo as mãos e/ou os pés quando sentado;

b) não parar sentado por muito tempo;

c) pular, correr excessivamente em situações inadequadas, sensação de

inquietude (“bicho carpinteiro”);

d) ser muito barulhento para jogar ou divertir-se;

e) muito agitado (“mil por hora”, “ou foguete”);

f) falar demais;

g) responder às perguntas antes de terem sido terminadas;

h) não esperar a vez;

i) intrometer-se em conversas ou jogos dos outros.

49

Há dois protocolos médicos para o diagnóstico do DDA/DDAH:

1-O DMS-IV (American Psychiatric Association, 1994), 4ª edição, adotado

nos USA. 2

2- O Conjunto de critérios estabelecidos no DMS_IV estão organizados de acordo com a três dimensões do

DDA/DDAH ( desatenção, impulsividade e hiperatividade) embora o DMS_IV as reduza a duas, ao juntar numa

só a hiperatividade e impulsividade)

2- O CID-10 (OMS, 1993) elaborado pela OMS, editado em 1993 e

utilizado por vários países, entre os quais a Inglaterra.

DMS-IV estabelece cinco critérios para diagnóstico:

1- De natureza classificatória- requer a identificação de uma das duas

dimensões estabelecidas - Desatenção e Hiperatividade/Impulsivi-

dade, ou as duas combinadas;

2- Os sintomas devem ter se manifestado antes dos 7 anos de idade;

3- Os sintomas se apresentam em mais de um ambiente;

4- Comprovação de comprometimento do rendimento escolar, social e

ocupacional;

5- Ausencia de diagnóstico de outras enfermidades que justifiquem o comportamento.

As portadoras de DDA/DDAH, são descritas pelos pais e professores

como sendo vivas e fabulosas, nervosas e desatentas, irrequietas e

traquinas, possessivas e coléricas, desarrumadas e desorganizadas,

conflituosas e descontroladas, explorativas e manipuladoras,

irresponsáveis e negativistas, instáveis e impulsivas, etc.

“Na idade pré-escolar, costumam aparecer os

sintomas que já havíamos citado como

característicos do distúrbio (déficit de atenção,

atividade motora excessiva e falta de autocontrole).

Além disso, em alguns casos, podem ocorrer, em

idades anteriores, numerosas e sérias alterações

50

comportamentais, tais como problemas na

alimentação e sono, inquietação excessiva e

episódios de negativismo ou birra.

Na idade escolar, persiste a sintomatologia primária

e começa a manifestar-se uma série de

perturbações secundárias, que afetam sobretudo as

relações interpessoais e a aprendizagem escolar.” 2

Para que se faça o diagnóstico correto é muito importante que os

sintomas sejam mal-adaptativos e inconsistentes com o nível de

desenvolvimento correspondente a faixa etária da criança.

A teoria moderna de entendimento do TDAH tem caminhado em direção a

ser visto como um transtorno de adaptação do que como uma doença

estática. Os sintomas destas crianças colocam-nas em desvantagem em

ambientes onde a focalização da atenção e o controle motor e dos

impulsos são necessários para o adequado funcionamento. Infelizmente

nossas escolas não estão preparadas, em sua maioria, para oferecer à

criança um ambiente onde ela possa se sentir livre e incentivada a

crescer, a desenvolver suas aptidões.

Tratamento da TDAH.

O tratamento começa com o diagnóstico. O simples fato de saber que os

problemas enfrentados desde muito cedo, têm causa diagnosticada já

representa o início do tratamento.

Modernamente, apesar de ser o tratamento psicofarmacológico, se

prefere uma abordagem multimodal, conjugando-se o uso de

medicamentos com psicoterapia - terapias cognitivo-comportamentais, a

fim de que a criança possa estruturar seu meio e aprender a se

administrar e organizar suas tarefas e seu tempo. A decisão do tipo de

51

intervenção deverá sempre ser tomada pelo profissinonal de saúde

mental que estiver atendendo a criança e a família. Entretanto, as

2- Coll,C., Desenvolvimento Psicológico e Educação, Necessidades Educativas Especiais e a Aprendizagem

Escolar, Porto Alegre, Artes Médicas, 1995

evidências científicas apontam no momento para a indicação de

intervenções que tenham por base estratégias cognitivo-

comportamentais, que apresentam uma resposta mais eficaz aos

sintomas deste transtorno. Como vimos, o transtorno vem acompanhado

de outros sintomas de ansiedade, depressão, negativismo etc. Neste caso

é importante contar com o apóio de um profissional que possa lançar mão

de estratégias que priorizem a compreensão das dificuldades da criança e

sua superação tanto no meio familiar quanto no escolar.

“Cerca de 25% a 30% das crianças e adolescentes

com TDAH apresentam problemas secundários ou

associados ao transtorno. Nesses casos, a

intervenção psicopedagógica é fundamental. É

importante ressaltar que a maioria dos adolescentes

com o transtorno são diagnosticados tardiamente.

Logo, já existem lacunas de aprendizagem que

necessitam ser abordadas por meio de um trabalho

de reconstrução das habilidades e conteúdos. Tal

reconstrução deve ser feita por um profissional

especializaado (psicopedagogo ou fonaudiólogo),

pois o tratamento sintomatológico ou de reforço de

conteúdonão resolve as seqüelas de aprendizagem

que ficaram para trás.” 3

Medidas simples podem ajudar com eficácia pais e professores:

- reforço diferencial;

- estímulos e recompensas;

52

- fichas de atividade;

- auto-regulação;

3- Rohde, L.A, Atenção Hiperatividade O que é? Como ajudar?, Porto Alegre, ATMED, 1999

- auto-reforço;

- tempo de reflexão;

- incentivar a oralidade dos problemas;

- priorizar a educação lúdica;

- proporcionar atividades esportivas;

- não enfatizar o fracasso;

- comunicação clara e objetiva.

Muito se tem falado a respeito do que fazer com crianças hiperativas, mas

julgamos que o mais importante seja o diagnóstico preciso e precose. É

com a avaliação correta dos sintomas que se pode auxiliar com eficácia a

criança portadora do TDAH, não com a finalidade de se rotular, mas de

desenvolver meios que facilitem sua vida e seu desenvolvimento.

Para pais lidar com qualquer diagnóstico que enquadre seu filho como

criança problema, ou fora do normal, é um susto difícil de se superar,

ainda mais em se tratanto de meninos. É preciso vencer os obstáculos

com informação e ajuda psicológica.

Cabe a escola uma atenção especial ao problema, visto o crescente

número de criança portadoras do TDAH, que segundo as pesquisas da

Drª Margareth de Mello F. dos Reis (psicóloga clínica, terapeuta sexual e

de casais, mestre em educação, Arte e História da Cultura pela

Universidade Mackenzie-SP), em 1998 já estava na casa de 3% a 5%

das crianças em idade escolar.

O sistema educacional, fluxo do sistema político, mostra-se utilitário,

significativo para uma camada da população, mas conspira contra as

crianças de baixa renda, freqüentadoras das escolas públicas, e dentre

53

elas surge um grupo ou melhor um sub-grupo com menos privilégios

ainda - os portadores de TDAH.

CONCLUSÃO

O sistema educacional, fluxo do sistema político, mostra-se utilitário,

significativo para uma camada da população, mas conspira contra as

crianças de baixa renda, freqüentadoras das escolas públicas, e dentre

elas surge um grupo ou melhor um sub-grupo com menos privilégios

ainda - os meninos portadores de DA.

Meninos que vagueiam pelo universo escolar sem encontrar qualquer

sentido na continuidade naquilo que para muitos é um martírio,

abandonam a escola engordando cada vez mais as estatísticas da

evasão escolar, sem que ninguém lhes pergunte o por quê? ou como

posso ajudar?

Em meio a essa irracionalidade, os educadores, muitas vezes pensados

pelo sistema para serem os verdadeiros facilitadores de seus objetivos,

“acesso ao conhecimento para todos” tornam-se entraves permanentes

da presença histórica de escolarização para crianças. As mínimas

atitudes de um diretor ou professor - poder autoritário e centralizador,

proibições inócuas, desinteresse pelo aluno, aulas desinteressantes,

desrespeito, avaliações inadequadas... - levam crianças a abandonar a

escola muito cedo e nunca mais voltar.

Se para qualquer criança o ambiente escolar é ameaçador, para os

meninos é mais ainda - é inadequado, impróprio quanto a sua natureza,

ineficaz quanto as suas expectativas, violador quanto aos seus impulsos.

54

Na busca de se entender as causas que tem levado a este quadro

deparamo-nos com questões que antecedem o ambiente escolar, a

família. É nela que identificamos a gênese do problema, pois é ela quem

primeiro irá transmitir informações a respeito de quem é, a quem pertence

a criança, para posteriormente lançá-la no contexto social.

Como pudemos ver desde a primeira infância a criança está recebendo e

assimilando informações que irão lhe moldar o ser menina ou menino, e

para que tal construção se processe de forma satisfatória necessita do

meio como facilitador, do modelo a ser seguido, copiado. No caso dos

meninos a ausência da figura masculina nessa aprendizagem tem

provocado desdobramentos que comprometem sua vida escolar.

Se a família não pode vir a escola, a escola pode ir até a família através

de programas simples, de atitudes que facilitem a vivência desse universo

em estudo.

A escola pode, e deve, assumir o papel que lhe é confiado, qual seja de

formar o indivíduo, torná-lo preparado para a vida. E isto não se aplica

somente a expôr conteúdos acadêmicos, mas a promover o

desenvolvimento da criança dentro da visão olística tão defendida pelo

médico, psicólogo francês Henry Wallon - a criança como um todo -

afetividade emoções, movimento e espaço físico se encontram num

mesmo espaço, portanto também inclui-se o gênero.

Enquanto a família persiste vítima da continuidade do modelo herdado, a

escola não poderá eximir-se dessa convocação, sob pena de ver sua

missão cada vez mais impossível de ser alcançada.

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