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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE TUTELA PENAL DOS DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR Por: Felipe da Silva Ordacgy Orientador Prof. Dr. William Lima Rocha Rio de Janeiro 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

TUTELA PENAL DOS DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

Por: Felipe da Silva Ordacgy

Orientador

Prof. Dr. William Lima Rocha

Rio de Janeiro

2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

TUTELA PENAL DOS DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Direito do Consumidor

Por: Felipe da Silva Ordacgy

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AGRADECIMENTOS

Ao Senhor Jesus Cristo pela

concessão da sabedoria, à Ele toda

honra e toda glória.

Ao corpo docente do Instituto “A vez do

Mestre”; em especial ao Prof. William

Lima Rocha, orientador e amigo.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta obra à minha esposa pelo

apoio, aos meus Pais pela educação que

me transmitiram e pelo exemplo de vida

que nunca vou deixar de seguir.

Àos meus Irmãos que sempre estiveram

presentes, e aos amigos que me

ajudaram a trilhar este percurso.

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RESUMO

O Código de Defesa do Consumidor surgiu como um dos maiores

expoentes na legislação de vanguarda protetora do cidadão, em seu papel de

consumidor, trazendo em seu bojo um conjunto de novos institutos e uma

gama de aplicação nova a institutos já existentes e empregados em legislações

diversas.

A presente obra tem por objetivo precípuo o estudo da tutela penal dada

pelo Estado aos consumidores em seus direitos, previstos no Código de

Defesa do Consumidor, de forma a garantir o respeito e o cumprimento destes

direitos por aqueles mais “favorecidos” na relação de consumo – os

fornecedores – e permitindo, assim, uma igualdade com os consumidores,

parte vulnerável desta relação.

Apesar da extensão do assunto, serão abordados alguns temas, dentre

outros, a história e formação do Direito do Consumidor; a relação de consumo

e as partes que compõem esta relação; e, finalmente, a proteção que o próprio

Estado concedeu ao Direito do Consumidor, além dos instrumentos para

efetivá-los, garantindo assim um exercício pleno destes direitos, tornando-os

real e acessível, e os retirando do perigo de embrenharem-se e esvaziarem-se

numa mera ficção jurídica.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi pautada na busca de conhecimentos e

conceitos atuais e populares, com a proposta de tornar claros o tema, os

problemas dele decorrentes, e suas respectivas soluções, além da aceitação e

participação da sociedade, principalmente através da sua representatividade

pelos órgãos públicos.

Na elaboração deste trabalho, foi feita a leitura e pesquisa de livros

didáticos e artigos sobre o tema, procurando conceituar, esclarecer e solidificar

a matéria em questão, procurando através da coleta de dados, pesquisa

bibliográfica, além da leitura e consulta de jornais e revistas populares, as

soluções e respostas para o tema, cada dia mais presente na mídia e no

cotidiano da sociedade.

Ao final desta obra, é fornecido um material hodierno e dinâmico,

composto por reportagens que mostram realmente as implicações do tema

proposto e seu impacto na sociedade contemporânea, mostrando a

importância e o avanço na luta e defesa dos direitos do consumidor.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - História do Direito do Consumidor 11

CAPÍTULO II - Elementos Básicos da Relação de Consumo 18

CAPÍTULO III - Tutela Penal do Direito do Consumidor 23

CONCLUSÃO 38

ANEXOS 41

ÍNDICE 48

FOLHA DE AVALIAÇÃO 49

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INTRODUÇÃO

Em 15 de março de 1962, o então Presidente John Fitzgerald

Kennedy, 35º presidente americano, enviou ao Congresso uma mensagem

especial sobre a proteção dos interesses dos consumidores, inaugurando a

conceituação dos direitos do consumidor, além de fixar a data de 15 de março

como um marco histórico: o Dia Mundial dos Direitos do Consumidor.

Em sua mensagem enviada ao Congresso americano, John Kennedy

disse: “todos nós somos consumidores, e se não o somos, passamos a ocupar

a posição de fornecedores ou de prestadores de serviço”. Com isso

expressava publicamente uma verdade inerente à sociedade: o direito do

consumidor importa a todos, independentemente de credo, raça ou religião, na

medida em que, diariamente, todo ser humano enquadra-se num pólo da

relação de consumo.

E é exatamente partindo desta idéia, de que todos estão posicionados,

na sociedade, dentro da relação de consumo, que passamos a enxergar que

legislar sobre direito do consumidor e avançar diariamente em seus direitos e

conquistas, é apenas o início do caminho. O verdadeiro veículo que nos

conduz pelo restante da estrada são os mecanismos que tornam eficazes e

plenos o exercício destas garantias e direitos consumeristas.

Imagine um determinado homem que um dia estacionasse o seu carro

em frente a um lindo lago, contendo em seu interior uma infinidade de peixes,

dos mais variados tamanhos e cores. Imagine este mesmo homem sorrindo ao

contemplar uma grande placa, onde em letras garrafais e frescas encontra-se

pintada a seguinte inscrição: “Permitido Pescar”. Agora, imagine aquela grande

face sorridente transformando-se subitamente num rosto triste e inconsolável,

ao constatar que lhe falta a vara de pescar, o anzol e a linha. De que adiantaria

a vontade de pescar e o lago repleto de peixes se, contudo, inexistisse a vara

de pescar com todos os aparatos a ela pertinentes? Um direito sem os

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mecanismos que o tornem eficazes e aplicáveis, demuda-se em letra fria da

lei.

E é daí que começamos a entender o porquê da sublime importância

da garantia dos direitos do consumidor, que se materializa em sua Tutela

Penal.

A Tutela Penal do Direito do Consumidor vai exercer o importante

papel de “equipamento de pescaria”, à disposição e em prol do consumidor, a

fim de garantir ao mesmo o exercício dos seus direitos, mesmo que dentro de

uma relação de consumo desigual, onde o consumidor encontra-se vulnerável

em sua posição com o fornecedor. É esta tutela penal que vai permitir que o

consumidor exerça o seu papel livremente na relação de consumo, e que vai

obrigar o fornecedor a manter esta relação sob a égide de importantes

princípios, como o da Boa-Fé, por exemplo, ou o da Informação adequada.

Esta pequena obra visa, justamente, alcançar este objetivo, de

enveredar pelos meandros do direito do consumidor e sua tutela penal, sem a

qual este direito se tornaria vazio e inócuo.

Introdutoriamente, iniciaremos nossa pequena – contudo não menos

interessante – viagem pelo mundo consumerista através da história do direito

do consumidor, com o fito de nos situarmos e entendermos acerca da

importância de um Direito que remonta séculos, entretanto, que possui uma

atualidade incrivelmente admirável. Afinal, é olhando para o passado que

podemos entender o presente, e é entendendo o presente que podemos

planejar e projetar o futuro, buscando, particularmente não repetirmos os erros

que ficaram para trás.

Na seqüência, faremos uma abordagem didática sobre a relação de

consumo, com a exposição e conceituação das partes que a compõem,

explorando algumas particularidades, tudo com o objetivo de preparar o

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convidado do banquete para o prato principal: a Tutela Penal do Direito do

Consumidor.

Neste último capítulo, que simboliza o fim da estrada, iniciada com a

história do direito do consumidor; desenvolvida e fortalecida com os conceitos

principais da relação de consumo; é que será dissecada a tutela penal do

consumidor, como instrumento de prevenção e repressão aos descalabros dos

mais fortes sobre os mais fracos, dos prepotentes sobre os vulneráveis,

tornando a relação de consumo uma relação de igualdade e boa-fé,

principalmente através da atividade dos órgãos públicos encarregados da

defesa do consumidor.

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CAPÍTULO I

HISTÓRIA DO DIREITO DO CONSUMIDOR

“Conhece-te a ti mesmo.”

Sócrates (470 A.C. – 399 A.C.).

Sócrates pregava como filosofia o conhecimento da própria ignorância

como meio de alcançar sabedoria. E uma destas maneiras, além de olhar para

dentro de si mesmo, a fim de conhecer seus erros e defeitos, era contemplar e

meditar no passado, enxergar suas origens e entender sua história.

Neste capítulo, iremos discorrer sobre a História do Direito do

Consumidor, seu surgimento e sua constante evolução no mundo através do

tempo. Há também de se pôr em relevo o importante papel da Revolução

Industrial neste contexto histórico mundial, juntamente com outros

acontecimentos mundiais que, pela importância, tornaram-se marcos na

História do Direito do Consumidor.

Discorreremos também, de maneira breve, sobre a História do direito

do consumidor no Brasil, surgimento e evolução, alcançando seu ápice no

prolongamento da liberdade consumerista presente na chamada Constituição

Cidadã (Constituição Federal de 1988), com o surgimento do Código de

Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90).

1.1 - Evolução do Direito do Consumidor

O Direito do Consumidor surgiu, principalmente, na metade deste

século, sendo obra relativamente nova na Doutrina e na Legislação, sendo

encontrado nas mais variadas normas, em várias jurisprudências e, acima de

tudo, nos direito consuetudinário dos mais variados países.

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Somente a partir dos anos cinqüenta e sessenta, principalmente nos

países da América e da Europa Ocidental, que se destacaram por serem

pioneiros na criação de Órgãos de defesa do consumidor, é que os

consumidores passaram a ganhar proteção contra os abusos sofridos,

tornando-se uma preocupação social.

Altamiro José dos Santos destaca o Código de Hamurabi (2300 a.C.),

o qual teve origem na Babilônia. Por exemplo, a Lei No 233 rezava que o

arquiteto que viesse a construir uma casa cujas paredes se revelassem

deficientes teria a obrigação de reconstruí-las ou consolida-las às suas

próprias expensas. As conseqüências para desabamentos com vitimas fatais

eram ainda mais severas; o empreiteiro, além de ser obrigado a reparar

totalmente os danos causados ao dono da moradia, poderia ser condenado a

morte se o acidente vitimasse o chefe de família. No caso de falecimento do

filho do empreendedor da obra a pena de morte se aplicaria a algum parente

do responsável técnico pela obra, e assim por diante.

Já existia também, no referido diploma legal, a obrigação legal do

fornecedor na reparação do dano infringido ao consumidor, derivado de um

vício de concepção de um produto. Tais normas ainda disciplinavam as

decisões envolvendo direitos e obrigações de profissionais liberais e

autônomos, estabelecendo sanções de ordem pecuniárias e, nos casos mais

graves, castigos corporais, chegando até mesmo a morte.

De igual modo, a legislação pró-consumidor já existia na Mesopotâmia,

no Egito Antigo e na Índia, no século XIII A.C., onde o sagrado Código de

Manu previa multa e punição, além de ressarcimento dos danos, àqueles que

adulterassem gêneros ou entregassem coisa de espécie inferior àquela

acertada, além da venda de bens de igual natureza por preços diferentes.

No Direito Romano, o vendedor era responsável pelos vícios da coisa,

a não ser que estes fossem por ele ignorados. Entretanto, no Período

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Justiniano, o vendedor era responsável mesmo que desconhecesse o defeito.

No período romano, de forma indireta, diversas leis também protegiam o

consumidor, tais como a Lei Sempcônia, a Lei Clódia e a Lei Aureliana. Eram

leis impostas pela intervenção do Estado no mercado ante as dificuldades de

abastecimento que existiam nessa época em Roma.

Na Grécia Antiga, Aristóteles já se referia as manobras de

especuladores, e explicava que existiam fiscais responsáveis pela fiscalização

da qualidade das mercadorias vendidas, sobretudo o trigo e a cevada, além de

serem responsáveis pela verificação das medidas comerciais praticadas e

pesagem dos produtos. Também existiam leis que obrigavam os comerciantes

a praticarem juros de 1% ao mês ou 12% ao ano.

A França de Luiz XI, no ano de 1481, punia com banho escaldante

aquele que vendesse manteiga com pedra no interior para aumentar o peso,

ou leite com água para aumentar o volume, procurando defender o consumidor

de ardis funestos praticados à época.

Na Suécia, a primeira legislação protetora do consumidor surgiu no

ano de 1910.

Nos EUA, no ano de 1773, em seu período colonial, a História nos

conta do episódio contra o imposto do chá no porto de Boston (Boston Tea

Party), registro de uma manifestação de reação dos consumidores contra as

exigências exorbitantes do produtor inglês.

Miriam de Almeida Souza ainda defende que a própria Revolução

americana de 1776 foi uma revolução do consumidor, já que foi uma revolução

contra o sistema mercantilista de comércio britânico colonial da época, no qual

os consumidores americanos eram obrigados a comprar produtos

manufaturados na Inglaterra, pelos tipos e preços estabelecidos pela

metrópole, que exercia o seu monopólio.

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Em 1906, o norte-americano Upton Sinclair escreveu um romance

chamado The Jungle (A Selva). Este romance retrata de forma dramática o

impacto social do capitalismo industrial no começo do século XX, e

despertou no povo americano o mais vivo interesse pela problemática do

consumidor. Upton Sinclair, um jovem jornalista dotado de idéias socialistas,

no intuito de justificar e fundamentar suas reivindicações proletárias

direcionadas para a melhoria de salários e de condições de trabalho,

disfarçou-se em operário para realizar suas observações na cidade de

Chicago. Sinclair demonstrou, por exemplo, os abusos cometidos pela

indústria da carne, que utilizava o artifício de misturar pedaços de tecido e

pães mofados à carne moída.

The Jungle foi um romance tão chocante e avassalador que logo

sofreu traduções para 17 idiomas, inspirando também a elaboração de duas

leis federais nos EUA, que fortaleceram a fiscalização da pureza da carne, a

Meat Inspection Act e a Pure Food and Drug Act, de 1906.

Ainda nos EUA, no ano de 1914, foi criada a Federal Trade

Commission, com o objetivo de aplicar a lei antitruste e proteger os interesses

do consumidor.

Após a Segunda Guerra Mundial, na década de 50, o surgimento da

mídia, o advento da televisão, da propaganda e do marketing aumentaram a

circulação de informações sobre produtos, com a criação de entidades

privadas de pesquisas sobre qualidades de produtos, cujo objetivo era

auxiliar os consumidores em suas compras. Em 1960 foi criada a

International Organization of Consumers Unions (IOCU) por organizações de

associações de consumeristas de países industrializados como Estados

Unidos, Austrália, Holanda, Reino Unido e Bélgica, sendo a prioridade inicial

da entidade fortalecer a troca de informações entre organizações que

realizavam testes comparativos de produtos. Posteriormente a IOCU passou

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a atuar também em assuntos de ética empresarial, de novas tecnologias, do

meio ambiente, do protecionismo e dos problemas econômicos.

As primeiras legislações protetivas dos direitos dos consumidores

surgiram nos EUA, tendo como marco o pronunciamento de John Kennedy

ao Congresso norte americano em 1962. Kennedy localizou os aspectos

mais importantes na questão de proteção ao consumidor, que iriam desde a

segurança de uso dos bens e serviços até ao direito a preços justos.

Dirigindo-se por meio de uma mensagem especial ao Congresso

Americano, em 1962, Kennedy identificou os pontos mais importantes em

torno da questão, dentre eles:

I – que os bens e serviços colocados no mercado fossem sadios e

seguros para o uso, promovidos e apresentados de uma maneira que

permitisse ao consumidor fazer uma escolha satisfatória;

II – que a voz do consumidor fosse ouvida no processo de tomada de

decisão governamental que detivesse o tipo, a qualidade e o preço de bens

e serviços colocados no mercado;

III – que o consumidor tivesse o direito de ser informado sobre as

condições e serviços;

IV – o direito do consumidor a preços justos.

Seguindo o exemplo de Kennedy, a Comissão de Direitos Humanos

das nações Unidas, na sua 29ª Sessão em 1973, em Genebra, também

reconheceu os princípios e chamou-os de Direitos Fundamentais do

Consumidor, sendo que em 1985, as Nações Unidas, por meio da

Resolução nº 39/248, estabelece objetivos, princípios e normas para que os

governos membros desenvolvam ou reforcem políticas firmes de proteção

ao consumidor. Esta foi, claramente, a primeira vez que, em nível mundial,

houve o reconhecimento e aceitação dos direitos básicos do consumidor.

O Anexo 3 da Resolução mostra quais são os princípios gerais que

serão tomados como padrões mínimos pelos governos:

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I – proteção do consumidor quanto a prejuízos à sua saúde e

segurança;

II – fomento e proteção dos interesses econômicos dos

consumidores;

III – fornecimento das informações adequadas aos consumidores para

capacitá-los a fazer escolhas acertadas, de acordo com as necessidades e

desejos individuais;

IV – educação do consumidor;

V – criação da possibilidade de real ressarcimento ao consumidor;

VI - garantia da liberdade para formar grupos de consumidores e

outros grupos e organizações de relevância e oportunidade, para que estas

organizações possam apresentar seus enfoques nos processos decisórios a

elas referentes.

1.2 – O Direito do Consumidor e a Revolução Industrial

O período da Revolução Industrial é de grande importância para o

desenvolvimento do Direito do Consumidor.

O advento da Revolução Industrial foi responsável pelo crescimento da

chamada produção em massa, onde o intercâmbio do comércio ganhou

proporções despersonalizadas, com a existência de outros intermediários

entre a produção e o consumo. Tal contexto culminou na prática de atos

fraudulentos e abusivos por parte do produtor que precisava escoar sua

produção, sendo necessária a promulgação de leis para controlar o

produtor-fabricante e proteger o consumidor-comprador, já que àquele

preocupava-se mais com a renda obtida do que com a qualidade da

produção ou satisfação do consumidor.

E é justamente a preocupação do produtor em escoar sua produção

irrefreável em massa, desencadeada pelo crescimento e contínuo avanço

da tecnologia, que fez surgir a idéia de “norma social do consumo”, onde

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procurou-se inserir na mente do consumidor a necessidade do mesmo

adquirir produtos que até o momento nunca sentira necessidade de adquirir

em sua vida cotidiana, tudo com o fito de manter o processo produtivo em

funcionamento.

A “norma social de consumo”, assim batizado pelo professor Thierry

Bourgoignie, da Faculdade de Direito da Universidade Católica de Louvain,

na Bélgica, seria o fenômeno pelo qual o consumidor perderia o controle

individual das decisões de consumo, passando a ser parte de uma classe, a

"consommariat", conferindo claramente uma dimensão social ao consumidor

e ao ato de consumir.

1.3 – O Direito do Consumidor no Brasil

No Brasil, já nos tempos do Império se observava uma proteção leve

ao consumidor no Livro V das Ordenações Filipinas. Entretanto, o Direito do

Consumidor no Brasil surgiu entre as décadas de 40 e 60, quando foram

sancionadas diversas leis e decretos federais legislando sobre saúde, proteção

econômica e comunicações. No projeto do Código Civil (nº 634-B, 1975)

encontravam-se disposições a respeito do tema. Dentre todas as legislações,

pode-se citar: a Lei n. 1221/51, denominada Lei de Economia Popular; a Lei

Delegada n. 4/62; a Constituição de 1967 com a emenda n. 1/69, que

consagrou a defesa do consumidor; e a Constituição Federal de 1988, que

apresenta a defesa do consumidor como princípio da ordem econômica (art.

170 C.F.), e no artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

(ADCT), que expressamente determinou a criação do Código de Defesa do

consumidor. A Constituição Federal de 1988, que consagrou a proteção do

consumidor como garantia constitucional e como princípio norteador da

atividade econômica, foi o resultado final e expressivo da evolução do Direito

do Consumidor no Brasil, evidenciando que as relações de consumo foram se

modificando, equilibrando dessa maneira as relações jurídicas entre

consumidores e fornecedores.

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CAPÍTULO II

ELEMENTOS BÁSICOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO

"...todos nós somos consumidores, e

se não o somos, passamos a ocupar a

posição de fornecedores ou de

prestadores de serviço”

John Kennedy (15/03/1962)

Como foi possível constatar, através da História do Direito do

Consumidor, vemos que a relação de consumo é uma relação que remonta a

antiguidade, situando, inicialmente, os seres humanos dentro de um papel,

qual seja o de consumidores ou o de fornecedores.

Entretanto, o mundo, em sua constante e crescente evolução

comercial, superou o conceito de pessoa física, criando uma ficção dentro do

mundo do direito, materializada na figura da pessoa jurídica. Um ente sem

corpo físico, mas dotado de personalidade jurídica, e apto a praticar atos

jurídicos.

E é justamente por conta desta constante evolução comercial e jurídica

que se torna adequada a confecção de um capítulo destinado à definição da

relação de consumo e dos elementos básicos que a constituem. Iniciando com

uma abordagem sobre o movimento consumerista, situaremos cada

personagem em seu devido papel e em sua devida função, quando então

caminharemos para o derradeiro capítulo, o final da estrada, onde o equilíbrio

e a segurança desta relação dependerão de instrumentos eficazes

disponibilizados pelo legislador.

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2.1 – Movimento Consumerista

No decorrer das últimas décadas, um movimento social tem emergido

pra assegurar que a voz do consumidor seja ouvida e suas questões sejam

respondidas. E esse movimento tem sido denominado, em inglês,

consumerism, o qual, traduzido para o neologismo consumerismo, é então

definido como políticas e atividades traçadas para proteger os interesses e

direitos dos consumidores, em suas relações de troca com qualquer tipo de

organização.

É importante evidenciarmos a diferença entre o Consumerismo e o

Consumismo. Este é o ato de consumir produtos ou serviços, muitas vezes,

sem consciência. Neste diapasão, há várias discussões a respeito do tema,

entre elas o tipo de papel que a propaganda e publicidade exercem nas

pessoas, induzindo-as a um consumo artificial e não necessário, fruto do

capitalismo.

Importância significativa, portanto, tem o novo conceito que toma força

com o advento do Código de Defesa do Consumidor, e com todo o

movimento popular que impulsiona a Sociedade: o conceito de

Consumerismo.

O Consumerismo designa este movimento organizado de

consumidores, próprio da chamada sociedade de consumo. Como

fenômeno moderno, poderia ser visto também como os esforços

organizados dos consumidores em busca da reparação, restituição e

solução para a insatisfação que acumularam na aquisição de seu padrão de

vida. E, portanto, não se restringe às organizações com as quais mantenha

relações de negócios, mas tratando-se de um conceito ainda mais amplo,

incluindo hospitais, bibliotecas e mesmo agências governamentais, dentre

outras organizações.

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Em outras palavras, consumerismo pode também ser definido como

uma reação popular contra a negligência burocrática e desrespeito

corporativo em relação aos cidadãos e consumidores.

O chamado movimento consumerista brasileiro surgiu em 1976,

quando o Estado de São Paulo intensificou os estudos para a implantação

do sistema estadual de defesa do consumidor, que resultou na instalação do

Procon, que hoje se denomina Fundação de Proteção ao Consumidor,

órgão da Secretaria de Estado de Justiça. Uma comissão foi especialmente

designada para a elaboração das leis de proteção ao consumidor, após

examinar várias legislações adotadas em vários países, e seguindo a

orientação e as diretrizes da ONU. Tem-se, portanto, que o movimento

consumerista evoluiu rapidamente até a edição do Código de Defesa do

Consumidor. A pesquisa consumerista é uma filosofia de ação e proteção

com a concreta implantação de instrumentos eficazes para alcançar efeitos

práticos em prol do consumidor.

O movimento consumerista proporcionou um diploma legal que

reconhece um globo de direitos individuais e coletivos, direitos sociais,

mediante tutelas adequadas colocadas à disposição dos indivíduos para

obtenção de resultados ou acesso àqueles meios de defesa e proteção.

2.2 - Relação de Consumo

Antes de entrar na seara dos direitos básicos do consumidor, de

grande importância é definir a relação de consumo e as personagens que a

compõem, de uma maneira geral.

Consumidor é considerado todo indivíduo que participa da relação de

consumo adquirindo ou utilizando produto ou serviço como destinatário final.

O artigo 2º do Código de Defesa do Consumidor também contempla a

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pessoa jurídica como consumidor de produtos e serviços, levando-se em

consideração o conceito de destinatário final, embora grandes discussões

existam na doutrina acerca do tema, na medida em que desafia o conceito

da vulnerabilidade do consumidor.

Também é equiparado a consumidor a coletividade de pessoas,

sobretudo indeterminadas e que tenham intervindo em relação de consumo

(Parágrafo único do art. 2º do CDC), além de todas as vítimas do evento,

que são as vítimas do acidente de consumo, como prescrito no art 17 do

CDC. Finalmente, equiparam-se a consumidores todas as pessoas

determináveis ou não, expostas às práticas comerciais ou contratuais

abusivas, conforme previsto no art. 29 do CDC.

Fornecedor, de acordo com o art. 3º do CDC, pode ser pessoa física

ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como entes

despersonalizados que desenvolvem atividades de produção, montagem,

criação, construção, distribuição, exportação, transformação, importação ou

comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Incluem-se neste conceito de fornecedor o Poder Público quando

presta serviço mediante cobrança de preço e os bancos na condição de

fornecedores de serviços, o que inclui o crédito. Já as relações trabalhistas

são excluídas pelo Código de Defesa do Consumidor.

Finalmente, de suma importância é a definição da relação de consumo.

As relações de consumo são relações jurídicas que, por sua vez, produzem

conseqüências no mundo jurídico. Esta relação pressupõe dois pólos de

interesses, que são o consumidor e o fornecedor, e a coisa, objeto desses

mesmos interesses, consubstanciado nos produtos e serviços.

O produto como objeto da relação de consumo é o bem jurídico,

àquele que goza de tutela jurídica, com natureza patrimonial e valor

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econômico. Produto, pela definição do art. 3º, §1º, do CDC, é qualquer bem,

móvel ou imóvel, material ou imaterial.

Já serviço, pela conceituação do art. 3º, §2º, do CDC, é qualquer

atividade fornecida no mercado de consumo mediante remuneração,

inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo

as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

No setor público, os serviços prestados em obediência a uma tarifa se

incluem entre aqueles regulados pela lei de defesa do consumidor, tais

como energia elétrica, água e esgoto. Tais serviços podem ser prestados

diretamente pelo poder público ou por concessionárias. Os demais serviços

públicos mantidos com a cobrança de impostos não constituem relação de

consumo.

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CAPÍTULO III

TUTELA PENAL DO DIREITO DO CONSUMIDOR

“De tanto ver triunfar as nulidades, de

tanto ver prosperar a desonra, de tanto

ver crescer a injustiça, de tanto ver

agigantarem-se os poderes nas mãos

dos maus, o homem chega a desanimar

da virtude, a rir-se da honra, a ter

vergonha de ser honesto.”

Rui Barbosa (17/12/1914).

Thomas Hobbes, autor do célebre livro “O leviatã”, defendeu em vida a

idéia de que o homem, em seu estado natural, procura ultrapassar os seus

semelhantes, na busca não só da satisfação das suas necessidades naturais e

básicas, mas também de seus desejos e vaidades. Hobbes entendia que o

homem, por sua própria natureza, buscava a sujeição do seu semelhante, daí

a sua famosa citação: “Homo homini lupus” (“O homem é o lobo do homem”);

ou “Bellum omnium contra omnes" (“A guerra de todos contra todos”). Seria o

medo, portanto, que iria obrigar os homens a fundarem um estado social e a

autoridade política. Os homens, portanto, se encarregariam de estabelecer a

paz e a segurança.

E é partindo desta idéia, oriunda do século XVII, que iniciamos este

capítulo, estabelecendo um parâmetro da evolução e conquistas dos direitos

consumeristas e sua efetiva aplicação.

Através da edição de uma legislação extremamente avançada – o

Código de Defesa do Consumidor – o Estado estabeleceu em prol do cidadão

diversos direitos quando posicionado em seu papel de consumidor, parte

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vulnerável na relação de consumo. Iniciando na proteção da vida, saúde e

segurança, o Código implementou direitos que passam ainda pela educação,

informação e proteção, dentre outros, e encerram-se na adequada e eficaz

prestação dos serviços públicos, tudo conforme o constante do art. 6º do CDC.

O Estado reconheceu o consumidor como a parte frágil da relação de

consumo, estabelecendo, principalmente, no inciso VII daquele artigo, o

acesso aos órgãos judiciários e administrativos.

Entretanto, mais do que estabelecer direitos, o Estado cercou-os com

uma blindagem, com o fim de proteger as relações de consumo: instituiu no

Código de Defesa do Consumidor um Título dedicado às Infrações Penais. E é

a partir daí, tendo as relações de consumo como seu objeto de proteção, que

as normas incriminadoras do Código já fixam como sujeito ativo do crime o

fornecedor, e como sujeito passivo, vítima, o consumidor, parte mais fraca na

relação de consumo.

Esta tutela penal concedida pelo Estado ao consumidor, visando

proteger as relações de consumo, é que será o principal mecanismo de

prevenção e repressão aos abusos cometidos pelo fornecedor.

Iniciando nos aspectos e conceitos gerais da tutela penal do direito do

consumidor; passando pelas infrações penais no direito consumerista

brasileiro; abordaremos os crimes constantes no Código de Defesa do

Consumidor, além de realizarmos um pertinente estudo acerca do Juizado

Especial Criminal e sua atuação.

3.1 – Aspectos e Conceitos Gerais da Tutela Penal do Direito

do Consumidor

O Direito Penal do Consumidor é classificado como um ramo do Direito

Penal Econômico cuja finalidade é o estudo de toda a forma de proteção

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penal à relação de consumo, como bem jurídico imaterial, supra-individual e

difuso.

O Direito Penal do Consumidor compreende um conjunto de normas

que se desenvolvem em torno das infrações cometidas nas relações de

consumo, protegendo o consumidor nos crimes praticados contra ele,

através dos abusos do poder econômico que atentam contra a ordem

econômica geral.

O Direito Penal do Consumidor tem caráter subsidiário, assim como o

Direito Penal Econômico, pois a sanção penal deve ser aplicada quando

esgotados os outros meios de sanção, já que não se pretende inibir a

produção, pois seria impedir o próprio desenvolvimento.

As normas incriminadoras têm por objetivo uma forma de proteção

imediata e outra mediata. A proteção de forma imediata refere-se à própria

relação de consumo. Já a proteção de forma mediata compreende outros

objetos que são tutelados de forma reflexa, tais como o direito à vida, à

saúde, ao patrimônio, etc.

Podemos dizer que, basicamente, os crimes contra as relações de

consumo afetam um interesse, objeto jurídico, sem afetar um objeto

material, sendo necessário entender que o resultado previsto na figura típica

é, principalmente, um resultado jurídico, resultando numa possível

inexistência de repercussão material.

Na capitulação das infrações penais contra o consumidor, constantes

no Código de Defesa do Consumidor, alguns parâmetros foram fixados:

a) Especialização, que consiste na tipificação de condutas que

dizem respeito à defesa do consumidor dentro das obrigações

fixadas pelo Código de Defesa do Consumidor;

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b) Harmonização delas com as normas já existentes;

c) Punição de comportamentos considerados de tal forma

graves que seriam insuficientes meras sanções

administrativas ou indenizações civis;

d) Prevenção de novos delitos contra as “relações de consumo”

(punitur ut ne pecetur);

e) Efetividade das normas de natureza civil e administrativa do

próprio Código, bem como de outras normas de

proteção/defesa indireta e direta das “relações de consumo”.

Analisando os princípios gerais que regem o Direito Penal, podemos

observar os seguintes princípios específicos constantes no Direito Penal do

Consumidor:

a) Princípio da Integridade ou da Intangibilidade das

Relações de Consumo – é o princípio pelo qual se

estabelece que, através das normas penais do

consumidor, o que se visa é assegurar a integridade

daquela relação, sua seriedade, importância e retidão.

b) Princípio da Informação Veraz, da Informação

Adequada e Séria – é o princípio pelo qual se

estabelece que o fornecedor pode ser apenado

criminalmente pela omissão da informação ao

consumidor. Este princípio é considerado,

praticamente, o mais importante, pois domina os delitos

relativos às infrações de consumo.

c) Princípio da Culpabilidade – é o princípio aplicado ao

Concurso de Pessoas, motivo pelo qual se entende que

o art. 75 do Código de Defesa do Consumidor, que

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mistura responsabilidade objetiva (proscrita no Direito

Penal Moderno) com responsabilidade subjetiva, foi

revogado pelo art. 11, da Lei nº 8.137/90.

No tocante ao Concurso de Pessoas aplica-se o princípio da

culpabilidade, razão pela qual se entende que o art. 75, do Código de

Defesa do Consumidor – que mistura responsabilidade objetiva (proscrita no

Direito Penal Moderno) com responsabilidade subjetiva – foi revogado pelo

art. 11, da Lei nº 8.137/90.

Acerca da responsabilidade da pessoa jurídica, trata-se de assunto

polêmico. Manoel Pedro Pimentel, em sua obra In Legislação penal

especial, diz que o sujeito ativo nos crimes contra as relações de consumo é

qualquer pessoa física, contestando a possibilidade, no estágio atual da

ciência penal, da pessoa jurídica ser capaz da prática de crimes, até por

serem reconhecidas apenas como ficção do Direito Privado. Entretanto,

claro que a responsabilidade penal da pessoa jurídica vai se resolver nas

pessoas dos responsáveis pela mesma, ou seja, pessoas físicas que atuam

em seu nome. Esclarece Manoel Pedro Pimentel que a circunstância das

pessoas jurídicas serem alcançadas por algumas sanções, não as situam

como sujeitos ativos das infrações penais apenadas, na medida em que

seria punição extensiva, onde o Direito Penal pediria, por empréstimo,

sanções que não lhe são próprias e que pertenceriam ao Direito Penal

Privado, em geral, ou ao Direito Administrativo, especialmente. Seriam

sanções acessórias, e não penas ou medidas de segurança como, por

exemplo, o fechamento ou interdição de estabelecimento comercial onde a

infração foi praticada.

Acerca do concurso de crimes, há esta possibilidade, desde que se

tenha em mente que a objetividade jurídica dos crimes contra as relações de

consumo é a própria relação de consumo. Assim, para o concurso de

crimes, principalmente o formal ou ideal, devemos perceber a pluralidade de

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objetos jurídicos lesionados, do contrário poderemos estar diante de um

concurso aparente de normas, a ser resolvido por outros princípios, quais

sejam os da especialidade, da subsidiariedade e da consunção.

Em relação ao tempo do crime aplica-se a teoria da atividade, prevista

no art. 4º, do Código Penal Brasileiro, onde se considera praticado o crime

no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do

resultado.

Já o lugar do crime ou locus comissi delicti, é definido como o lugar em

que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como, onde se

produziu ou deveria produzir-se o resultado, previsto no art. 6º do Código

Penal Brasileiro.

Nos crimes plurilocais ou de distância mínima, o conflito é resolvido

através das regras normais de competência, constantes nos termos do art.

70, caput, do Código de Processo Penal Brasileiro, que diz que "a

competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a

infração". Já em se tratando de crimes de distância máxima, a questão será

resolvida com a observância dos ditames prescritos no art. 7º, do Código

Penal Brasileiro.

A ação penal é, via de regra, pública e incondicionada, porém

observem-se as regras contidas na Lei nº 9.099/95, nas quais vigora o

princípio da oportunidade, em substituição ao princípio da obrigatoriedade.

Os elementos comuns dos crimes contra as relações de consumo são

o sujeito ativo que é o fornecedor; o sujeito passivo, sendo o principal, a

coletividade, e o secundário, o consumidor; o objeto material que é o

produto; o elemento subjetivo que é o dolo de perigo, ou seja, a vontade

livremente dirigida no sentido de expor o objeto jurídico a perigo de dano. É

admitido também o dolo direto e o dolo eventual.

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3.2 – Outros Aspectos sobre as Infrações Penais no Direito

Consumerista Brasileiro

O Código de Defesa do Consumidor reservou um capítulo especial às

infrações administrativas e um título especial às normas de caráter

repressivo, data vênia a posição das legislações estrangeiras que optaram,

em sua expressiva maioria, por considerar o aspecto administrativo das

infrações de consumo em detrimento das sanções de natureza penal.

Tal fato foi originado da necessidade de punir determinados

comportamentos considerados mais graves, onde a mera indenização civil

ou as punições administrativas, face à transgressão de preceitos de

natureza consumerista, seriam ineficazes para a recomposição do

ordenamento jurídico infirmado, o que provocou, então, a inserção de

normas penais no âmbito do CDC.

Não podemos deixar de acrescentar que uma das grandes

características da sanção de natureza penal é a mesma ser dotada de

caráter preventivo, a fim de desestimular o cometimento de infrações ou a

reincidência destas. Some-se a isso o fato de que a lei penal busca, in casu,

a efetividade das normas de natureza civil e administrativa agrupadas no

CDC.

Além disso, o CDC contempla o concurso de outras normas inseridas

nas legislações codificada e extravagante, conferindo ao consumidor a

tranqüilidade de encontrar-se resguardado por uma vasta gama de normas

penais, que direta ou indiretamente desestimulam o fornecedor a transgredir

dentro da relação de consumo, conforme reza o artigo 61 do CDC.

O artigo 61 do CDC permite, portanto, uma interação de todas as

demais normas constantes em outras legislações, que tenham

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correspondência com as alusivas à proteção das relações de consumo, com

as próprias normas previstas no CDC, com o escopo de imprimir efetividade

às regras consumeristas. E esta proteção dada pelo Poder Público é

justamente derivada da hipossuficiência que caracteriza a parte mais frágil

da relação de consumo, o próprio consumidor. E a execução dos preceitos

contidos no CDC pelo Poder Público, na busca da defesa do consumidor,

através da harmonização das relações de consumo, põe em prática a

própria filosofia de ação do código, aplicando a Política Nacional das

Relações de Consumo, dando efetividade às normas consumeristas.

A regra estampada no artigo 61 do CDC é extensão do que preconiza

o constante do artigo 12 da lei substantiva penal, e que externa o Princípio

da Especialidade, dizendo que ”as regras gerais deste Código aplicam-se

aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo

diverso”.

Tendo em vista esse preceito, torna-se clara a idéia de que, não

reservando o CDC qualquer vedação às normas previstas no Código Penal,

os dispositivos desta, contidos na Parte Geral e outros atinentes à Parte

Especial (sendo estes últimos alusivos às relações de consumo), aplicam-se

em concurso com as normas do CDC.

Como exemplos norteadores deste Princípio, temos várias hipóteses

como a prevista na Lei 8.137/90, que define os crimes contra a ordem

tributária, econômica e relações de consumo, particularmente em seu artigo

7o, que dita o elenco de tipos penais referentes a crimes contra as relações

de consumo.

Podemos citar, ainda, como infrações contra as relações de consumo,

dentre outras, aquelas cometidas em detrimento da economia popular (Lei

1521/51), incorporações imobiliárias (Lei 4.591/64, arts. 65 e 66), as

contravenções previstas na lei de locações prediais urbanas (Lei. 8.245/91)

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e loteamentos (Lei 6.766/79). O Professor José Geraldo Brito Filomeno

ainda cita os chamados "crimes do colarinho branco e contra a ordem

financeira", consubstanciados, respectivamente, nas Leis nºs 7.492/86 e

4.595/64; os praticados contra os genericamente considerados "direitos do

consumidor" e "abastecimento de combustíveis" (Leis nºs 8.002/90 e

8.176/91); o novo Código da Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/96); e

muitos outros, fora do Código Penal.

Não devemos esquecer os tipos penais mais comuns constantes do

Código Penal Brasileiro, os quais constantemente são aplicados em

concurso com as infrações penais do CDC: crimes contra a saúde pública

(art. 267 e seguintes), apropriação indébita (art. 168), estelionato (art. 171) e

fraude no comércio (art. 175), dentre outros.

Importante é entendermos que estamos diante de duas situações

diferentes quando falamos da aplicação de normas estatuídas no Código

Penal Brasileiro vigente juntamente com as previstas no CDC.

O princípio da especialidade indica que as normas gerais do Código

penal (normas não incriminadoras, permissivas ou complementares), bem

como aquelas listadas na Parte Especial (em sua maioria regras dotadas de

preceito e sanção), devem ter incidência concorrente ao CDC. As normas

gerais devem ter sua aplicação abalizada em razão do princípio da

especialidade. Já as regras especiais serão aplicadas para atender ao

disposto no artigo 61 do próprio Código do Consumidor. Tal interação acaba

nos dando a visão magnífica de uma avenida de mão dupla, onde as

normas são aplicadas, entre legislações diferentes, ora por regra capitulada

no Código Penal, ora por regra estatuída no CDC, todas com a finalidade de

salvaguardar as relações de consumo. E é para alcançar este objetivo social

que o legislador foi categórico, no artigo 61 do CDC, em contemplar o

concurso das normas repressivas codificadas no CPB, juntamente com

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aquelas previstas na legislação especial, com as regras dispostas no corpo

do CDC.

Vale salientar o desejo do legislador de afastar, de imediato, quaisquer

cogitações acerca de possíveis conflitos aparentes de normas, pois o art. 61

do CDC torna claro a ratio legis no que concerne às normas penais

inseridas no corpo da Lei 8.078/90.

Quanto à importância da inserção das normas de tutela penal no CDC,

temos que estes tipos penais procuram defender os consumidores diante

das obrigações contidas no próprio Código, atendendo à vulnerabilidade do

consumidor e implementando a prática da Política Nacional das Relações de

Consumo, desta forma, defendendo os princípios contidos na legislação

consumerista.

È necessário ter em mente que, mesmo antes da elaboração do CDC,

o Estado já se preocupava com o consumidor e sua frágil e delicada posição

na relação de consumo, já existindo normas repressivas inseridas no CPB,

bem como em leis esparsas, visando proteger a incolumidade física e a vida

do consumidor, além de resguardar as práticas comerciais.

É fato que a ausência da tutela penal do direito do consumidor

estimularia a impunidade, haja vista que as sanções de natureza

administrativa, ou mesmo as indenizações civis, seriam ineficazes à efetiva

proteção do hipossuficiente. A norma penal vista, portanto, dar efetividade

aos preceitos do CDC, em defesa da implementação da Política Nacional

das Relações de Consumo, contemplando o espírito da Lei 8.078/90.

Outro ponto a ser considerado é a defesa do princípio da boa-fé nas

relações de consumo, pois é justamente o temor proveniente da sujeição à

sanção de natureza penal que faz com que o fornecedor proceda de boa-fé,

exercitando, mais uma vez, o caráter preventivo encerrado na norma penal.

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Finalmente, é necessário lembrar que a responsabilidade civil

independe daquela de natureza penal, conforme previsto no Código Civil

Brasileiro, podendo ser promovida a reparação do dano na esfera cível

através do ofendido ou seu representante legal.

3.3 – As Infrações Penais do Código de Defesa do Consumidor

Art. 63 do CDC – Omissão de dizeres ou sinais ostensivos

É crime omissivo puro, com conduta punida por perigo presumido,

bastando a simples omissão para responsabilização do agente. O crime

pode ser culposo ou doloso.

Art. 64 do CDC – Omissão na comunicação às autoridades

competentes

Trata-se de crime contra a falta de medidas preventivas que o

fornecedor é obrigado a adotar, penalizando o mesmo por deixar de realizar

o chamado recall, que é a veiculação da notícia do defeito na mercadoria e

o “chamamento” da mercadoria que está circulando no mercado de volta

para conserto ou troca (vide anexo 4). Não existe a modalidade culposa.

Art. 65 do CDC – Execução de serviços perigosos

Trata da execução de serviço, por parte do fornecedor, que ponha em

risco a integridade física ou a segurança de uma pessoa, contrariando

normas de segurança ou outras determinações da autoridade competente.

Respondem pelo crime o executor do serviço e os diretores da empresa. É

delito formal e de perigo abstrato, na medida em que prescinde de

resultado, tendo como objeto jurídico a proteção da saúde e segurança de

um número indeterminado de pessoas.

Art. 66 do CDC – Falsidade, engano e omissão em informações sobre

produtos e serviços

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Crime doloso ou culposo. É reflexo da previsão do art. 6º, III, do CDC.

Incrimina tanto o fornecedor que produz ou promove a venda, como quem

atende e fornece diretamente o produto ou serviço ao consumidor

(vendedor/balconista).

Art. 67 do CDC – Elaboração ou promoção de publicidade

sabidamente enganosa ou abusiva

O tipo penal incrimina tanto o publicitário responsável como o

fornecedor e o veículo. A idéia de publicidade abusiva está relacionada a

valores da sociedade, não resultando, geralmente, em prejuízo econômico

para o consumidor.

Art. 68 do CDC – Elaboração ou Promoção de publicidade tendenciosa

Trata-se de norma penal extremamente abrangente, vindo a incriminar

praticamente todas as pessoas que conscientemente ou não concorrerem

para a infração. Remete ao Código Brasileiro de Auto-regulamentação

Publicitária, à sua seção que trata exatamente da “Segurança e Acidentes”,

bem como a seus anexos. O dolo é genérico ou eventual, sendo possível a

tentativa.

Art. 69 do CDC – Omissão na organização de dados que dão base à

publicidade

Trata-se de crime omissivo, praticando o crime quem deixa de agir no

sentido de organizar esses dados que dão base à publicidade. É importante

salientar que essa obrigação é exclusivamente do fornecedor e não do

publicitário, conforme art. 36 do CDC. Recomenda-se, entretanto, que por

cautela, a agência ou o publicitário mantenha os briefings que recebe. O

dolo é genérico e independente de qualquer resultado lesivo. Não admite

tentativa por ser crime eminentemente formal ou de mera conduta.

Art. 70 do CDC – Emprego de peças e componentes de reposição

usados

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Trata de delito que vem complementar as figuras delituosas do art. 175

do Código Penal (“fraude no comércio”). Tem como sujeito ativo o prestador

de serviços. Seu elemento subjetivo é o dolo que também podemos chamar

de “dolo de aproveitamento”. Admite-se a tentativa e só ocorrerá exclusão

do crime em caso de autorização do consumidor, mesmo que posterior ao

fato.

Art. 71 do CDC – Meios vexatórios na cobrança de dívidas do

consumidor

Crime muito comum praticado no meio comercial quando da cobrança

de débitos. O tipo visa assegurar o cumprimento efetivo da regra definida

pelo art. 42 do CDC, que trata das Práticas Comerciais. Tem como objeto

jurídico a liberdade, honra, bem como a incolumidade física do consumidor.

O dolo é específico. Tem como sujeito ativo qualquer pessoa que se utilize

de meios vexatórios de cobrança, geralmente o próprio fornecedor, bem

como os responsáveis por agências de cobranças contratadas.

Art. 72 do CDC – Impedimento de acesso a banco de dados

Busca preservar o direito do consumidor em ter ciência de tudo que

consta sobre ele em banco de dados, fichas ou registros, seja de empresas

especializadas no fornecimento de tais informações ou não, sendo

proibidos, entre outros, as cobranças de taxas para o respectivo acesso. É

delito formal ou de mera conduta, sendo inadmissível a tentativa.

Art. 73 do CDC – Omissão na correção de dados incorretos

Tem por escopo o cumprimento efetivo da norma estatuída no art. 43

do CDC, que cuida dos bancos de dados e cadastros de consumidores. É

delito formal e de natureza instantânea com efeito permanente, com sua

consumação se protraindo no tempo até que cesse a permanência nos

meios de armazenamento de informações. Trata-se de delito de perigo, já

que independe de resultado danoso, procurando preservar a dignidade, a

honra e o crédito do consumidor.

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Art. 74 do CDC – Omissão na entrega de termos de garantia

Este dispositivo procura assegurar o direito previsto no art. 50 e seu

parágrafo único do Código de Defesa do Consumidor. É crime de perigo,

formal, independendo de qualquer resultado lesivo ao consumidor. Há a

possibilidade de concurso de agentes por parte do comerciante do produto

que aquiesce à atitude de seu fornecedor, entregando ao consumidor termo

de garantia lacunoso.

3.4 – Juizados Especiais Criminais

Os Juizados Especiais Criminais, previstos no art. 98, I, da CF/88,

foram regulamentados pelas Leis 9.099/95 e 10.259/01, nas esferas

estadual e federal, respectivamente.

A Lei 9.099/95, que se refere ao Juizado Especial no âmbito estadual,

contemplou as denominadas infrações de menor potencial ofensivo – as

contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não

superior a 01 (um) ano, excetuados os casos em que a lei preveja

procedimento especial.

Já a Lei 10.259/01, que instituiu os Juizados Especiais Criminais

Federais, trouxe modificações de suma importância, como as chamadas

medidas despenalizadoras. Estas medidas foram assim denominadas

porquanto possibilitam a resolução do caso penal sem que haja a aplicação

de uma pena (ao menos restritiva de liberdade), e estão previstas

respectivamente nos arts. 74, 76 e 89 da Lei 9.099/95.

As medidas despenalizadoras são a composição civil, a transação

penal e a suspensão condicional, sendo as duas primeiras aplicadas no rito

sumaríssimo e a última com aplicação mesmo pelo juízo comum.

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A composição civil ocasiona a extinção da punibilidade, nos casos de

infrações penais de iniciativa privada ou pública condicionada. A transação

penal, presentes os seus requisitos, permite a aplicação de pena alternativa,

seja ela restritiva ou de multa. E, finalmente, a suspensão condicional do

processo é a paralisação do processo pelo fato do acusado ter assumido o

compromisso de cumprir algumas condições durante certo período,

possibilidade existente nos crimes cuja pena mínima não seja superior a um

ano.

Levando em consideração o apenamento máximo, a totalidade dos

delitos previstos no Código de Defesa do Consumidor – do art. 63 ao 74 –

pode ser contemplada pela transação penal, medida despenalizadora que

vai ensejar a aplicação de pena restritiva de direitos ou multa.

Necessária é uma atuação do Ministério Público e do Judiciário no

sentido de que as penas restritivas aplicadas ao acusado mantenham o

ideário protetivo que se construiu na defesa do consumidor e das relações

de consumo, além da manutenção dos princípios norteadores constantes no

art. 4º do Código de Defesa do Consumidor.

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CONCLUSÃO

O Código de Defesa do Consumidor, notoriamente, é uma legislação

avançada e moderna, que traz consigo uma visão consumerista diferente das

que a precederam e que compunham esparsamente as outras legislações.

Este código, em seu conteúdo, estabeleceu direitos e deveres,

atribuindo responsabilidades e procurando nortear a relação de consumo

através de princípios basilares como o da boa-fé e o da informação, essenciais

à manutenção e equilíbrio da relação consumerista.

Entretanto, o Código não encerrou sua contribuição ao consumerismo

apenas com a criação de direitos e deveres. O Estado, em seu papel

garantidor, criou normas penais hodiernas e eficazes, a fim de assegurar o

exercício daqueles direitos pelos consumidores, antes protegidos de forma

incompleta e já um pouco defasada por normas penais constantes na

legislação penal comum e extravagante.

Com isso, o Estado reafirmou sua proteção às relações de consumo,

não só com o caráter repressivo da norma penal, mas principalmente com o

caráter preventivo da mesma, buscando o ideário de uma relação de consumo

honesta e sincera, baseada na igualdade entre as partes.

Entretanto, para que esta proteção seja efetiva e real, é necessária a

constante fiscalização e atuação dos órgãos do Poder Público, responsáveis

pela execução da Política Nacional das Relações de Consumo, conforme

prescrito no art. 5º do CDC, dentre outros, o Ministério Público, as Delegacias

de Polícia Especializadas no atendimento de consumidores vítimas de

infrações penais de consumo, e o Poder Judiciário, em sua atuação nos

Juizados Especiais de Pequenas Causas, na solução de litígios de consumo –

no caso em questão, especialmente os Juizados Especiais Criminais.

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Neste ponto, ao citar o Juizado Especial Criminal, é extremamente

necessário ressaltar a importância de sua ampliação como freio aos

descalabros praticados pelos fornecedores. Recentemente, acompanhamos na

mídia a instalação dos Juizados Especiais Cíveis em alguns aeroportos do

Brasil (vide anexo 5). Isso implica num grande avanço do judiciário no

combate ao serviço mal prestado e a falta de respeito para com os

consumidores por parte das empresas aéreas. Representa mais do que tudo,

um judiciário preocupado em alcançar o povo e solidarizar-se com seu

sofrimento naquilo que é justo, particularmente pelo momento em que o País

atravessa um grande caos aéreo, agravado pela inoperância de órgãos

públicos e agências reguladoras ligados ao setor. A possibilidade de

composição de conflitos em tempo real, possível através do princípio da

informalidade inerente aos Juizados, é responsável por um cuidado maior por

parte das empresas ligadas ao setor aéreo, e uma diminuição ao desrespeito

com o consumidor.

Entretanto, um avanço maior seria a instituição e ampliação de

Juizados Especiais Criminais nestes mesmos aeroportos, onde muitos

consumidores são vítimas de publicidade enganosa e abusiva, métodos

comerciais coercitivos ou desleais, além da violação do Princípio da

Informação e da Segurança.

A mesma sugestão valeria para as Delegacias Especializadas da

Polícia Civil, que geralmente operam nos aeroportos com as DEAT’s

(Delegacia de Atendimento ao Turista). Necessário se faz a implantação de

DECON’s (Delegacia do Consumidor), a fim de intensificar a repressão contra

os crimes praticados em desfavor do consumidor.

É importante ressalvar, também, o grande avanço da tutela penal

consumerista, encerrada no Código de Defesa do Consumidor, ao

estabelecer em seu art. 61 o Princípio do Harmonização, onde está

preceituado que os crimes previstos no CDC coadunam-se com o Código

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Penal e leis especiais, sem qualquer prejuízo. Os crimes do Código Penal

Brasileiro, juntamente com os previstos em legislações extravagantes,

coabitam com os constantes no CDC, valendo como regra principal o

Princípio da Especialidade, na solução de conflitos de normas.

Finalmente, qualquer mudança social ou comportamental, mesmo que

alicerçada e sedimentada por um conjunto de legislações específicas, por

muitas vezes, repressivas, só começam a acontecer com uma mudança

cultural.

Apesar de toda legislação repressiva, além da ciência da própria

sociedade acerca dos malefícios dos jogos de azar ilegais, é notório que o

chamado “jogo do bicho”, por exemplo, a despeito de fomentar toda uma

contravenção que movimenta o crime organizado no Rio de Janeiro, ainda

existe e com bastante força. Em cada esquina encontramos uma banquinha

pra fazer a famosa “fezinha”, como que parte do cotidiano brasileiro, mesmo

que ilegal. Vemos que a simples vedação legal, com possibilidade de

punição correspondente, não inibe a sua existência.

Da mesma forma, o direito consumerista avançou muito no Brasil.

Principalmente em sua legislação, assegurando aos consumidores direitos

antes não tão protegidos, além de uma relação de igualdade quando de

suas práticas comerciais. Entretanto, apenas com uma mudança cultural, de

conscientização e respeito ao consumidor, é que realmente veremos o País

progredir e avançar a caminho da excelência consumerista. Não pelo medo;

mas pela consciência de que obedecer a Lei e respeitar o próximo nos une

como semelhantes e nos aproxima de Deus.

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 >> INTERNET;

Anexo 2 >> INTERNET; Anexo 3 >> INTERNET; Anexo 4 >> INTERNET; Anexo 5 >> INTERNET.

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ANEXO 1

INTERNET

Decon prende gerente da Domino`s Pizza 19/9/2007 - ASCOM/PCERJ

Policiais da Delegacia do Consumidor (Decon), deram continuidade, nesta quarta-feira (19/09), a operação "Prato Feito", com objetivo de reprimir a comercialização de produtos impróprios ao consumo, em bares e restaurantes.

De acordo com a delegada Andréa Menezes, um gigantesco bunner exposto na fachada da loja situada na Rua Humaitá, 150, naquele bairro, na Zona Sul do Rio, anunciava uma promoção de pizza grande com refrigerante Aquafresh, pelo valor de 33 reais e 90 centavos.

A partir da denúncia de consumidores, os policiais verificaram que todo o estoque do refrigerante, que estava sendo comercializado na promoção do estabelecimento Domino`s Pizza, estava com a data de validade vencida. Além desta ilegalidade, foram inutilizados pela Vigilância Sanitária cerca de três quilos de alimentos para recheios e coberturas de pizzas.

A gerente do estabelecimento, Amanda Cristina Nunes Cardoso, foi presa em flagrante por crime contra o consumidor, cuja pena varia de dois a cinco anos de detenção. Caso pague a fiança, arbitrada pela autoridade policial no valor de 10 mil reais, Amanda responderá o processo em liberdade.

A delegada Andrea Menezes informou, ainda, que a parceria da Polícia Civil com os consumidores, é fundamental para a orientação das investigações desenvolvidas pela Decon.

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ANEXO 2

INTERNET

Delegacia do Consumidor prende gerente do Carrefour por crime contra o consumidor

31/7/2007 - ASCOM/PCERJ

Geovanni Viana Pessoa, 34 anos, gerente do Hipermercado Carrefour de Guadalupe, situado na Avenida Brasil, nº22.693, foi preso em flagrante, nesta terça-feira (31/07), por policiais da Delegacia do Consumidor – Decon - por crime contra o consumidor. A titular da especializada, Andrea Menezes, arbitrou fiança de R$ 7,6 mil a Geovanni por vender produtos fora do prazo de validade. Ele e o chefe dos caixas do estabelecimento também foram autuados por prática abusiva.

A operação foi desencadeada para a investigar denúncias de consumidores, e constatou que o estabelecimento informava nas gôndolas de exposição preço inferior ao cobrado no caixa. A equipe de policiais identificou, por exemplo, que o preço informado do papel higiênico Mili Bianco com quatro unidades custava R$2,79 e ao passar no caixa o consumidor pagava R$2,99.

Durante a ação, os policiais encontraram, na câmara frigorífica e expostos à venda , grande quantidade produtos com a validade vencida, como lingüiças, frios e laticínios. Técnicos da Vigilância Sanitária Municipal e peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli - ICCE – foram acionados pelos agentes e inutilizaram todo o material.

De acordo com a delegada Andrea Menezes, o valor do produto exposto na gôndola deve ser o mesmo do caixa e o consumidor deve estar atento a esse fato. “Geralmente as listas de compras possuem muitos itens o que acaba confundindo o consumidor, que não memoriza todos os preços informados na gôndola, com isso acaba sendo enganado pelo mau comerciante”.

Ainda segundo a delegada, a conduta constitui prática abusiva, ferindo os artigos 31 e 39 - Oferta e Prática Abusiva - do Código de Defesa do Consumidor e serão remetidas cópias do procedimento ao Procon e Núcleo de Defesa do Consumidor do Ministério Público.

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ANEXO 3

INTERNET

DECON apreende produtos vencidos em churrascaria na Barra da Tijuca 18/7/2007 - ASCOM/PCERJ

Em mais uma operação de combate à venda de produtos impróprios para o consumo, policiais da Delegacia do consumidor ( DECON) apreenderam, nesta quarta-feira (18/7), na Churrascaria TOURÃO, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, diversos produtos com a data de validade vencida.

Durante a operação, batizada como "Operação Prato Feito", os policiais encontraram cerca de 30 Kg de alimentos com a validade vencida, no interior da câmara frigorífica da churrascaria, caracterizando crime contra o consumidor.

De acordo com a delegada Andréa Menezes, Um dos donos do estabelecimento, Délcio José Renpel, 40 anos, foi preso no local e levado para a delegacia, onde foi autuado em flagrante e depois liberado mediante pagamento de fiança no valor de 10 mil reais.

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ANEXO 4

INTERNET

estadão.com.br terça-feira, 23 de outubro de 2007, 20:22 | Online

Kibon faz recall do sorvete Cornetto

Choccoco

Embalagem informa erroneamente que o produto não contém glúten; ingrediente é encontrado na casquinha

SÃO PAULO - A Unilever Brasil, dona da marca Kibon, anunciou nesta terça-feira, 23, recall em todo o País do sorvete Cornetto Choccoco por ter informado erroneamente que o produto não contém glúten. O sorvete contém glúten na casquinha. A empresa admitiu o erro e diz que os produtos já distribuídos serão tirados do mercado.

A Kibon informa ainda que o erro nas novas embalagens será corrigido e colocou à disposição do consumidor o atendimento por telefone no 0800 707 99 33.

A Fundação Procon-SP entende que por se tratar de possibilidade de risco à saúde do consumidor, a empresa deve, além de recolher o produto do mercado, divulgar amplamente o ocorrido através da imprensa escrita, rádio e TV, conforme determina a legislação.

O Procon-SP informa ainda que a empresa deverá apresentar os esclarecimentos que se fizerem necessários, conforme determina o Código de Defesa do Consumidor, inclusive com informações claras e precisas sobre os riscos para o consumidor.

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ANEXO 5

INTERNET

Crise aérea Domingo, 21 de outubro de 2007, 05h54 Atualizada às 06h31

Juizados especiais têm 1 passageiro a cada 30 min

Em algumas ocasiões, falta gente para organizar a papelada. O espaço físico, pequeno, às vezes tem de ser improvisado para audiências judiciais. Mas a rotina de trabalho é, a exemplo de alguns vôos, non stop. A cada 30 minutos, um passageiro revoltado com o caos aéreo debruça-se no balcão dos juizados especiais cíveis dos cinco principais aeroportos do país. » SP: juizados recebem 378 reclamações Levantamento feito pelo JB com informações dos tribunais de Justiça dos Estados do Rio e de São Paulo e do Distrito Federal mostra que os primeiros 10 dias de funcionamento dos juizados são a prova de que o apagão aéreo ainda assola os saguões. As empresas que lideram o ranking de reclamações são justamente as que mais oferecem promoções para atrair usuários: a BRA - com 212 queixas registradas - e a Gol - com 204. Semana passada, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) puniu a BRA com a suspensão de suas rotas internacionais depois de a companhia deixar 33 passageiros esperando por mais de 90 horas para decolarem de Recife com destino a Lisboa. Um jato teve de ser fretado para acabar com a agonia do grupo, que havia pagado apenas R$ 932 pela passagem intercontinental. Nos juizados dos aeroportos Tom Jobim e Santos Dumont, no Rio, o percentual de acordos fechados entre empresas e passageiros chega a quase metade dos atendimentos (44,3%). Dos 241 casos analisados, 107 acabaram em conciliação, o que é o objetivo das unidades. "Nosso caráter é o de buscar sempre uma solução para o problema que satisfaça ao passageiro", explicou a juíza Isabela Lobão, do 20º Juizado Especial Cível do Rio, coordenadora do posto do Galeão. Já em São Paulo - centro nervoso da crise aérea - a média de acordos chega a 40%. O Tribunal de Justiça paulista não soube informar o número exato de ocorrências desse tipo nos aeroportos de Congonhas e Guarulhos porque os juizados ainda não possuem estrutura para contabilizar todos os dados. Lá, o total de atendimentos chegou a 378. O Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, é onde passageiros e empresas menos se entendem: dos 183 atendimentos registrados nos 10 primeiros dias de atividade, só 68 terminaram em acordo. Segundo a advogada Daniella Torres, professora do Centro Universitário de Brasília (Uniceub) e uma das coordenadoras da unidade da Justiça no terminal JK, algumas empresas têm postura de não fechar acordos. No caso de Brasília, a Gol é a campeã. "A TAM, por exemplo, tem o mesmo número de vôos e, até agora, mostrou a tendência de optar pela conciliação", conta. Os principais motivos que levam o passageiro a procurar os juizados são os que já viraram marcas registradas da crise aérea: atrasos e cancelamentos de vôos, seguidos da falta de informações. O extravio de bagagem também aparece como uma das causas mais recorrentes. Até mesmo a remarcação de horário de decolagem aparece nas estatísticas das razões para a visita. "Alguns passageiros vêm apenas buscar informações, e sequer chegam a formalizar queixa. Eles querem estar bem informados e saber quais são seus direitos", diz Daniella. Foram 38 casos assim desde a inauguração do juizado, no dia 8, até a quinta-feira passada.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do

anteprojeto, Ada Pellegrini Grinover e outros, 8ª edição revista, ampliada e

atualizada conforme o novo Código Civil – Forense Universitária.

Código de Defesa do Consumidor Comentado, Josué de Oliveira Rios,

Marilena Lazzarini e Vidal Serrano Nunes Junior, Série Cidadania - 2001,

Editora Globo.

LAROSA, Marco Antonio e AYRES, Fernando Arduini. Como Produzir uma

Monografia passo a passo...siga o mapa da mina. Editora: Wak, 5ª Edição -

2005.

Constituição da República Federativa do Brasil. Serie Legislação Brasileira,

Editora Saraiva, 1988.

DA FONSECA, Antonio Cezar Lima. Direito Penal do Consumidor Código De

Defesa Do Consumidor. Editora: Livraria do Advogado Ltda (Porto Alegre).

Edição: 1999.

Direito do Consumidor Sintetizado, José Gonçalo Rodrigues, 1ª edição – 2001.

Geal Editora.

Fundamentos do Direito das relações de Consumo, Antonio Carlos Efing, 2ª

edição revista e atualizada - Juruá Editora.

GUIMARÃES, Sérgio Chastinet Duarte. Tutela Penal do Consumo -

Abordagem dos Aspectos Penais do Código de Defesa do Consumidor.

Editora: Revan

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTOS 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

HISTÓRIA DO DIREITO DO CONSUMIDOR 11

1.1 – Evolução do Direito do Consumidor 11

1.2 – O Direito do Consumidor e a Revolução Industrial 16

1.3 – O Direito do Consumidor no Brasil 17

CAPÍTULO II

ELEMENTOS BÁSICOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO 18

2.1 – Movimento Consumerista 19

2.2 – Relação de Consumo 20

CAPÍTULO III

TUTELA PENAL DO DIREITO DO CONSUMIDOR 23

3.1 – Aspectos e Conceitos Gerais da Tutela

Penal do Direito do Consumidor 24

3.2 – Outros Aspectos sobre as Infrações

Penais no Direito Consumerista Brasileiro 29

3.3 – As Infrações Penais do Código de Defesa

do Consumidor 33

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3.4 – Juizados Especiais Criminais 36

CONCLUSÃO 38

ANEXOS 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 47

ÍNDICE 48

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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