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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
VULNERABILIDADE SOCIAL DAS FAMÍLIAS E POPULAÇÃO EM
SITUAÇÃO DE RUA
Por: Fernanda Dall`Agnol
Orientador (a)
Professora Fabiane Muniz
Rio de Janeiro
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
VULNERABILIDADE SOCIAL DAS FAMÍLIAS E POPULAÇÃO EM
SITUAÇÃO DE RUA
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Terapia de
Família
Por: Fernanda Dall`Agnol
3
AGRADECIMENTOS
Aos usuários que confiaram no meu trabalho e que compartilharam momentos
significativos de suas vidas no decorrer dos atendimentos.
As minhas amigas psicólogas, Aline Tavares e Carla Soares, que durante a
convivência diária proporcionaram momentos de reflexão e também de muitas
alegrias.
A minha coordenadora, Diane Arrais, que além de amiga, me faz perceber a
importância do trabalho com a população em situação de rua, através do
respeito e da delicadeza com o outro.
A todos da equipe do CREAS - Niterói que me ajudaram a vivenciar de forma
afetuosa esta profissão.
Aos colegas do curso de Terapia de Família, em especial Luciana Nunes, que
no decorrer das aulas dividiu suas experiências e me serviu de estímulo para
continuar na vida acadêmica.
4
DEDICATÓRIA
A minha mãe, Luisa, pelo encorajamento e
por acreditar sempre na minha capacidade.
Ao meu irmão, Júnior, pela insistência para
que eu finalizasse este trabalho.
Meu pai, que não teve a oportunidade de
vivenciar mais esta etapa da minha vida
profissional.
Dedico o que tenho de mais precioso.
5
RESUMO
O modelo econômico adotado no país expõe as famílias ao
desemprego, a pobreza, a exclusão social e a muitas vezes propicia o
rompimento dos laços afetivos entre seus membros.
Este cenário contribui para formação de indivíduos em situação de rua,
expressando o limite da sobrevivência e da desigualdade social.
O trabalho em questão irá retratar este tema de forma a analisar o
público que se encontra na rua, contemplando o contexto social que o
impulsiona, tendo como referência a importância da família e do Estado neste
processo.
6
METODOLOGIA
Para construção deste trabalho foi realizada pesquisa bibliográfica com
base no tema proposto, através da utilização de livros especializados no
assunto, periódicos, artigos, revistas, leis e decretos, além de consultas
eletrônicas em sites pertinentes.
Vale ressaltar que também foram utilizados elementos através da
observação participante durante a experiência de trabalho como assistente
social no CREAS Niterói – tendo como referência os atendimentos realizados
no Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Família, Pobreza e Vulnerabilidade Social 10
CAPÍTULO II - População em Situação de Rua 16
CAPÍTULO III – Niterói e os Excluídos 27
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA 39
ÍNDICE 43
FOLHA DE AVALIAÇÃO 44
8
INTRODUÇÃO
O quadro de pobreza e miséria no Brasil sofre influências do cenário
econômico e político adotado na nossa sociedade. Este contexto atinge
principalmente as famílias pobres, onde a expressão das desigualdades
abrange de forma mais cruel.
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a vulnerabilidade
da família pobre que, desassistida pelas políticas públicas, se vê
impossibilitada de responder as necessidades básicas de alguns membros,
podendo ocasionar o rompimento dos vínculos e saída destes para rua.
O interesse no assunto apresentado surge através da experiência como
assistente social no ano de 2009, no CREAS (Centro de Referência
Especializado da Assistência Social) no município de Niterói, em especial no
trabalho desenvolvido no Serviço Especializado para Pessoas em Situação de
Rua e Abordagem Social.
A atividade exercida durante este período trouxe inquietações sobre a
identificação deste público, contexto que os impulsiona a ficar em situação de
rua e a contribuição da família e do Estado na formação destes usuários.
No primeiro capítulo será abordada a questão das famílias pobres, que
desassistidas pelo poder público acabam propiciando um espaço para
privação, instabilidade, dissolução dos membros e esgarçamento dos vínculos
familiares.
Num segundo momento, a análise será feita com a intenção de
identificar os indivíduos que estão em situação de rua, em especial os adultos,
retratando com base na observação de diversos autores e buscando as razões
que levam muitos a ficarem nesta condição.
Ilustrar os discursos expostos é o objetivo do terceiro capítulo, em que
terá como pano de fundo a experiência obtida no município de Niterói referente
aos atendimentos realizados aos indivíduos em situação de rua.
Retratar este tema torna-se de extrema relevância tendo como base um
grande crescimento da população nas ruas, e o recente reconhecimento do
poder público através da aprovação da Política Nacional para População em
9
Situação de Rua (2009), proporcionando a ampliação do debate tão necessária
no meio acadêmico e na sociedade.
Vale ressaltar que a existência de indivíduos em situação de rua é o
retrato da desigualdade social, em que os indivíduos estão no limite da
pobreza e da sobrevivência, sendo estes, resultado do processo econômico,
político e social, extremamente excludente das políticas públicas que não
contribui para potencialidade das famílias e dos indivíduos.
10
CAPÍTULO I
FAMILIA, POBREZA E VULNERABILIDADE SOCIAL
A família é um espaço indispensável para garantia da sobrevivência e
da proteção integral dos filhos e demais membros. Sabe-se que nela são
propiciados os aportes afetivos e acima de tudo as bases necessárias ao
desenvolvimento do bem estar dos seus componentes.
Conforme Sarti, a família é o lugar onde se ouvem as primeiras falas,
com as quais se constrói a auto – imagem do mundo exterior. A autora afirma
que:
“É fundamentalmente um lugar de aquisição de
linguagem, em que a família define seu caráter social.
Nela, aprende-se a falar e, por meio da linguagem, a
ordenar e dar sentido às experiências vividas. A família,
seja como for composta, vivida e organizada, é o filtro
através do qual se começa a ver e significar o mundo.
Esse processo que se inicia ao nascer estende-se ao
longo de toda a vida, a partir dos diferentes lugares que
se ocupa na família” (SARTI, 2004).
Segundo a legislação brasileira a família é reconhecida como lugar
essencial e privilegiado para o desenvolvimento integral dos indivíduos, já que
segundo a constituição Federal através do artigo 226, a família é à base da
sociedade.
Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, na
qual são transmitidos os valores éticos e morais, e aonde se aprofundam os
laços de solidariedade.
Segundo Gomes & Pereira (2003) a família é um espaço de
convivência e relacionamento afetivo e social onde valores, atitudes e padrões
11
de comportamento se reproduzem e se transformam em uma perspectiva de
construção de uma vida pautada na felicidade.
A família pode ser definida como um núcleo de pessoas que convivem
em determinado lugar, durante um lapso de tempo mais ou menos longo e que
sejam unidas ou não, por laços consangüíneos.
Segundo Mioto (1997), ela tem como tarefa primordial com o cuidado e
a proteção de seus membros, e se encontra dialeticamente articulado com a
estrutura social em que está inserido.
O conceito de família historicamente tem passado por mudanças
ocorridas nas formas de organização social e tem trazido uma grande
flexibilidade ao conceito de instituição familiar, não se tratando mais de
conceber um modelo ideal de família, mas sim de ultrapassar a ênfase na
estrutura familiar para dar enfoque na capacidade da família, em uma
diversidade de arranjos.
A família neste sentido, não é a soma de indivíduos, mas um conjunto
vivo, contraditório e cambiante de pessoas com sua própria individualidade e
personalidade. Conforme Bruchini (1981) cria e recria realidades, visões de
mundo e apropriações da moral hegemônica, funcionando tanto como local de
crescimento e florescimento de realizações individuais quanto, espaço
opressor de individualidades.
Partindo-se do pressuposto de que o convívio familiar é em princípio o
lócus ideal ao desenvolvimento psicossocial do indivíduo, é importante
considerar também que a família constitui-se como um sistema aberto vivo em
constante transformação, no qual se originam sentimentos contraditórios e
dificuldades.
No que tange as famílias mais pobres, percebe-se que os valores
possuem significados diferenciados:
“A família não é apenas o elo afetivo mais forte dos
pobres, o núcleo da sua sobrevivência material e
espiritual, o instrumento através do qual viabilizam seu
modo de vida, mas é o próprio substrato de sua
12
identidade social. Sua importância não é funcional, seu
valor não é meramente instrumental, mas se refere à sua
identidade de ser social e constitui o parâmetro simbólico
que estrutura sua explicação do mundo” (SARTI, 2006).
Segundo a autora, a família se define pelos significantes que criam os
elos de sentido nas relações, sem os quais essas relações se esfacelam,
precisamente pela perda, ou inexistência de sentido.
1.1 – Famílias Pobres
Quando falamos de famílias pobres utilizamos a referência de Yasbez
(2003), na qual afirma que são aqueles que, de modo temporário ou
permanente, não tem acesso a mínimos de bens e recursos sendo, portanto,
excluídos em graus diferenciados da riqueza social.
O termo exclusão social tem sentido temporal e espacial:
“um grupo social está excluído segundo determinado
espaço geográfico ou em relação à estrutura e conjuntura
econômica e social do país a que pertence” (GOMES
&PEREIRA, 2003).
Segundo as autoras acima citadas, as transformações ocorridas na
política econômica da nossa sociedade produziram profundas mudanças na
vida econômica, social e cultural da população, gerando altos índices de
desigualdade social.
“Como reflexo dessa estrutura de poder, acentuam-se as
desigualdades sociais e de renda das famílias, afetando
as suas condições de sobrevivência e minando as
expectativas de superação desse estado de pobreza,
13
reforçando sua submissão aos serviços públicos
existentes. As desigualdades de renda impõem sacrifícios
e renúncias para toda a família” (GOMES & PEREIRA,
2003).
A situação de vulnerabilidade social da família pobre se encontra
diretamente ligada à miséria estrutural, agravada pela crise econômica que
lança o homem ou a mulher ao desemprego ou subemprego.
De acordo com Gomes (2005), a injustiça social dificulta o convívio
saudável da família, favorecendo o desequilíbrio das relações e a degradação
familiar.
“As conseqüências da crise econômica a que está sujeita
a família pobre propiciam a ida dos sujeitos para rua, e na
medida em que as articulações neste espaço se
fortalecem, o retorno ao convívio sócio familiar torna-se
muito distante” (GOMES, 2005)
Segundo a autora, quando a casa deixa de ser um espaço de
proteção para ser um espaço de conflito, a superação desta situação se dá de
forma fragmentada, uma vez que esta família não dispõe de redes de apoio
para o enfrentamento das adversidades, resultando assim, na desestruturação.
A exemplo disto, Petrini (2003) afirma que à medida que a família
encontra dificuldades para cumprir plenamente suas tarefas básicas de
socialização e de amparo / serviços aos seus membros, criam–se situações de
vulnerabilidade.
Neste sentido, a vida familiar para ser tornar efetiva e eficaz depende
de condições para sua sustentação e manutenção de seus vínculos. Com base
neste conceito, o cenário socioeconômico é o fator que mais influencia na
formação da família.
14
As famílias em situações de vulnerabilidade social são a expressão da
disparidade econômica e da desigualdade social. A influência da crise
econômica sobre as famílias pobres propicia o esgarçamento dos vínculos
familiares, por conseqüência da miserabilidade a que estão sujeitas,
fomentando a formação de indivíduos em situação de rua.
“Em condições sociais de escassez, de privação e de falta
de perspectivas, as possibilidades de amar, de construir e
de respeitar o outro ficam ameaçadas. Na medida em que
a vida à qual está submetido não trata enquanto homem,
suas respostas tendem à rudez da sua mera defesa da
sobrevivência” (VICENTE, 1994 APUD GOMES, 2003).
O empobrecimento, a frustração por não cumprir o papel de provedor e
dar suporte aos membros que se encontram fora do mercado e trabalho, impõe
sacrifícios, renúncias, a destruturação e muitas vezes a cisão do eixo familiar,
promovendo a exclusão social, abandono e fragilidade, propiciando aos
membros muitas vezes vivenciar a rua como saída.
“Entre as famílias pobres, as ameaças sempre foram
mais presentes e o desemprego muito mais constante;
(...) A rua passa a ser o espaço em que, paulatina e
crescentemente, ganha visibilidade social uma grande
gama de excluídos; homens em idade adulta e produtiva,
velhos e crianças” (GUIMARÃES & ALMEIDA, 2005).
Com base no que foi apresentado, observa-se que o modelo
econômico adotado no país expõe as famílias ao desemprego, a pobreza, a
exclusão social e a muitas vezes facilita o rompimento dos laços afetivos entre
seus membros.
15
A família como um elemento construído socialmente e que potencializa
a capacidade de formação dos indivíduos, deve possuir meios pra garantir a
manutenção saudável entre os membros.
É responsabilidade do Estado fomentar políticas públicas direcionadas
a tal segmento, viabilizando o acesso a bens e serviços em sua totalidade,
atuando de forma estimuladora e enviando esforços para o restabelecimento
de laços familiares e sociais fragilizados.
Desta maneira o poder público deve agir de forma a controlar e regular
as inúmeras violências físicas, psíquicas e simbólicas que podem acontecer
dentro do seio familiar, como a saída dos indivíduos para rua, expressão
limítrofe da pobreza.
16
CAPÍTULO II
POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
“Quando não se tem mais nada
Não se perde nada Escudo ou espada
Pode ser o que se for, livre do temor” (Nando Reis/ Arnaldo Antunes - Mantra)
A expressão “população em situação de rua” é utilizada para enfatizar o
aspecto processual da passagem pela rua como um momento da biografia
individual e não como um estado permanente dos indivíduos que não possuem
moradia fixa, e que acabam por habitar transitoriamente diversos logradouros
públicos, albergues ou pensões.
Contextualizar o sujeito na expressão mais cruel da questão social, que
é sobreviver na rua traz conjuntamente o debate sobre a pobreza e a
desigualdade social, tendo em vista que se trata de um problema de ordem
estrutural e não um fenômeno isolado.
Historicamente a pobreza está intimamente ligada ao surgimento da
população em situação de rua. De acordo com Cardoso (2009) o
desabrigamento de alguma maneira sempre existiu na história da humanidade,
mas ao longo da história, por conta das mudanças da organização da
sociedade e dos processos de transformação do mundo do trabalho, a questão
do desabrigo toma uma proporção ainda maior.
A pobreza leva os sujeitos a viverem numa forma abaixo das condições
mínimas para a sobrevivência com dignidade,
“A pobreza é um face do descarte de mão de obra barata
(...) uma população sobrante, gente que tornou não
empregável, parcelas crescentes de trabalhadores que
não encontra um lugar reconhecido na sociedade, que
transitam à margem do trabalho e das formas de troca
socialmente reconhecidas” (YASBECK, 2001).
17
De forma a complementar este conceito, utilizaremos a análise de Marx
ao descrever o surgimento da população em situação de rua:
“(...) Os expulsos pela dissolução dos séquitos feudais e
pela intermitente e violenta expropriação da base
fundiária, esse proletariado livre como os pássaros, não
podia ser absorvido pela manufatura nascente com a
mesma velocidade com que foi posto no mundo. Por outro
lado, os que foram bruscamente arrancados de seu modo
costumeiro de vida não conseguiam enquadrar-se de
maneira igualmente súbita na disciplina da nova
condição. Eles se convertem em massas de esmoleiros,
assaltantes, vagabundos, em parte por predisposição e
na maioria dos casos por força das circunstâncias (...)”
(MARX, 1988).
2.1 Quem São?
Segundo a Política Nacional para Inclusão Social da População em
Situação de Rua, datada em maio de 2008, as pessoas se relacionam com a
rua, segundo parâmetros temporais e identidários diferenciados. Em comum,
possuem a característica de estabelecer no espaço público seu palco de
relações privadas.
A existência de indivíduos em situação de rua é a expressão máxima da
desigualdade social brasileira, e insere-se na lógica do sistema capitalista do
trabalho assalariado, cuja pobreza extrema está presente no seu
funcionamento.
Este fenômeno está inserido na nossa sociedade desde a formação das
primeiras cidades (Carvalho, 2002), a existência de pessoas em situação de
rua, traz na própria denominação “rua” a marca do estigma a que estão
18
submetidas. Sua presença incomoda e desconcerta quem busca ver nas ruas
a tranqüilidade dos conjuntos habitacionais em circulação restrita de pessoas.
A população em situação de rua encerra em si o trinômio expresso pelo
termo exclusão: expulsão, desenraizamento e privação. Segundo a análise de
cientistas sociais como Castel (1998), a exclusão social relaciona-se com
situação extrema de ruptura de relações familiares e afetivas, além da ruptura
total ou parcial com o mercado de trabalho e de não participação social afetiva.
Assim as pessoas em situação de rua podem se caracterizar como vítimas de
processos sociais, políticos e econômicos excludentes.
Com base na Política Nacional voltada pra este grupo de excluídos, são
diversas as características das pessoas que estão nas ruas: imigrantes,
desempregados, egressos do sistema penitenciário e psiquiátrico, entre outros,
que constituem uma enorme camada da população.
Ressalta-se ainda a presença dos “trecheiros”, pessoas que transitam
de uma cidade a outra (na maioria das vezes, caminhando a pé pelas
estradas, pedindo carona ou se deslocando com passes de viagem concedidos
por entidades assistenciais).
O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome utiliza a
definição como:
“Grupo populacional heterogêneo, caracterizado por sua
condição de pobreza extrema, pela interrupção ou
fragilidade dos vínculos familiares e pela falta de moradia
convencional regular. São pessoas compelidas a habitar
logradouros públicos (ruas, praças, cemitérios, etc) áreas
degradadas (galpões e prédios abandonados, ruínas, etc)
e, ocasionalmente, utilizar abrigos e albergues para
pernoitar.”
Utilizando deste conceito, durante o ano de 2007, uma pesquisa
nacional censitária foi desenvolvida pelo Ministério do Desenvolvimento Social
19
e Combate a Fome, na qual identificou dados relevantes, ajudando a
desmistificar estereótipos direcionados a este grupo.
Pode–se observar que a população em situação de rua é
predominantemente masculina, 82%, mais da metade das pessoas
entrevistadas se encontram na faixa etária entre 25 e 44 anos.
Os níveis de renda são baixos, mas sendo que 74% dos entrevistados
sabem ler e escrever. A maioria da população pesquisada afirmou que
costuma dormir na rua e dentre os principais motivos pelos quais essas
pessoas passaram a sair de suas residências se referem às desavenças com
pai/ mãe/ irmãos, desemprego, problemas de alcoolismo e / ou drogas.
A população em situação de rua é composta em grande parte por
trabalhadores: 70,9% exercem alguma atividade remunerada como catadores,
flanelinha, construção civil, limpeza e carregador/ estivador. Apenas 15,7%
pedem dinheiro como principal meio para sobrevivência.
O que mais chama atenção é que de 100 pessoas em situação de rua,
71 trabalham e 52 tem pelo menos um parente na cidade onde vivem. Destes
34% mantêm contato com a família. Isso retrata que a população que está em
situação de rua possui familiares, mas por motivos que vão além da
subjetividade, não mantém vínculos com seus familiares.
Estes dados são importantes para desfazer os preconceitos difundidos
que a população em situação de rua é composta por “mendigos” e “pedintes”
que não possuem família. Vale ressaltar também que a maioria tem profissão,
ainda que não a estejam exercendo no momento.
Mesmo com os processos de inclusão de políticas públicas e
reconhecimento e inclusão desta camada da população, este movimento ainda
é muito recente.
Idéias estigmatizantes e preconceituosas do tipo “Vai trabalhar
vagabundo!”, são frases ainda freqüentemente ouvidas pelas pessoas em
situação de rua, a qual denota o quanto elas estão expostas, podendo ser
consideradas como pessoas fracassadas, malsucedidas, pois não
aproveitaram as oportunidades que a vida lhe proporcionou.
20
Alguns apologistas neoliberais chegam a apontar que essas pessoas
não conseguem emprego porque são desqualificadas profissionalmente, como
se houvesse empregos disponíveis a todos os que são “qualificados”.
A relação que se estabelece entre situação de rua e trabalho é bem
mais complexa e seria um reducionismo simplista acusar estes indivíduos
nesta condição como únicos responsáveis pelas suas mazelas, na qual não
gostariam de usufruir do trabalho em busca de seu avanço social.
Vale ressaltar que a categoria trabalho tem um importante significado
que não se restringe a emprego, assalariamento, representa uma ação de
desenvolvimento dos indivíduos.
“O trabalho constitui-se como categoria intermediária que
possibilita o salto ontológico das formas pré-humanas
para o ser social. Ele está no centro do processo de
humanização” (ANTUNES, 2002).
Seguindo este pensamento Felipe (2008) afirma que para o homem o
trabalho lhe atribui uma finalidade, um papel a ser desempenhado. A relação
que compreende a formação de si e o do mundo que está ao seu redor gera
sentimentos de potencialidades e realizações pessoais que afetam diretamente
a sua auto-estima.
Diante do exposto, o trabalhador que na maioria dos casos está em
situação de rua e desempregado, permanece à procura de trabalho e de
preferência formal e regular. Entretanto, diante das mínimas possibilidades
oferecidas no mercado de trabalho, a pessoa em situação de rua passa a
desenvolver uma série de atividades laborais, como coletar matérias
recicláveis, carregar caminhões, guardar carros, encartar jornais, mendigar e
realizar diversos outros bicos.
Para Escorel (1999), em qualquer das atividades realizadas nas ruas, os
rendimentos obtidos não atrelam as condições presentes de vida, tendo em
vista o que se ganha se gasta de imediato. Por vezes, a tarefa é realizada
21
apenas durante um tempo necessário para se obter uma refeição ou pagar
hospedagem numa pensão barata.
Ou seja, estes exemplos retratam que a precarização das relações de
trabalho não apenas atuam como motivo de “rualização”, mas principalmente,
favorece a manutenção continua da situação de rua, pois os trabalhos
realizados por essas pessoas não possibilitam sua saída das ruas.
Segundo Di Flora (1987), a população em situação de rua é
estigmatizada, pois escancara as contradições básicas do modo capitalista de
produção: é este grupo de testemunhas vivas de que a exploração e a
desigualdade estão no cerne deste modo de produção.
Conforme a autora é comum a “culpabilização” destes indivíduos por
suas condições através do olhar da sociedade. São diversos os discursos que
sugerem rótulos a este segmento.
A exemplo disso, em função de um pensamento radical e do
“psicologismo”, a causa é individualizante e quando uma pessoa está sem
emprego formal é rotulada como “anormal ou desviante”, ou seja, a culpa da
ausência de trabalho recai sobre a própria vítima.
Muitos se utilizam do discurso psiquiátrico, rotulando este grupo como
desviantes sociais, loucos ou doentes mentais. Este conceito difundido no
senso comum sugere que a mendicância pode ser considerada como produto
dos distúrbios de personalidade, doenças mentais ou psicopatia.
O discurso psiquiátrico retrata a patologia como sinônimo de
anormalidade em contraposição aos indivíduos considerados normais. A
distinção das pessoas em situação de rua como anormais, traz e si a
comparação como uma moralidade vista como forma legítima de vida na
sociedade. Assim o estranhamento passa a ser objeto de estranhamento e
repulsa.
Conforme Mattos & Ferreira (2004) é comum na sociedade associar a
população em situação de rua como indivíduos, sujos mal trapilhos e aparência
sórdida, e quando se utiliza destes conceitos, utiliza-se do discurso higienista,
na qual o estigma do morador de rua está associado à sujeira que deve ser
jogada para “debaixo do tapete”.
22
Aliado a este conceito está a grande demanda dos cidadãos em solicitar
a “remoção” destes indivíduos perto das residências. Na qual, segundo Sposati
(2005), realiza-se um trabalho com base no “modelo filantrópico higiênico” em
que a orientação do trabalho é segregar, esconder, higienizar.
Junto aos discursos acima citados está o discurso “criminológico” que
entende esta população como perigosa, na qual se trata da associação da
pobreza com a violência e a delinqüência, o que contribui para uma imagem
das pessoas em situação de rua como “socialmente ameaçadores e
criminosos em potencial”
Por fim, Mattos & Ferreira, (2004) cita o discurso religioso, em que
relacionam as pessoas em situação de rua como aquelas dignas de piedade,
em que esta situação passa a ser vista como uma condição de “regeneração
da alma”. Esta visão contribui a práticas puramente assistencialistas e
paliativas, que, provavelmente tende a manter a situação pré – existente.
Em contraposição aos discursos citados, estudos nesta área
demonstram que a grande maioria dos sujeitos que estão em situação de rua,
não compartilham destes atributos, vide a Política Nacional de Inclusão a
População em Situação de Rua.
É de suma importância fugir do pensamento de culpabilização individual
das pessoas que estão em situação de rua, pois segundo Stofels (1977) esta
representação está permeada pela pobreza e é vista como uma contingência
da natureza humana.
Tal fato traz conseqüências para vários setores da vida destes
indivíduos, como: sentimento de vergonha e humilhação que o faz se afastar
do contato com familiares, tendência ao isolamento ou formação de grupos
que lhe confiem uma identidade estável.
A autora Di Flora (1987) analisa que existe um aspecto que faz com que
o cidadão em situação de rua não se sinta completamente humano, firmando
que a “pressão da estrutura social e econômica, ao determinar o ingresso do
indivíduo nesta categoria, o condiciona à formação de uma nova identidade: a
de mendigo socialmente estigmatizado e entendido através da deterioração do
ser humano.
23
“(...) é triste as pessoas passam de ônibus – pessoal de
carro não olha muito - e ficam olhando e pensam: rapaz
novo, em fila de albergue, tomando sopa... é vagabundo!
Eles analisam assim. Pensam que amanhã a gente vai
sair e vai roubar. Todo pessoal de albergue é injustiçado.
Pensam que é ladrão, maconheiro, estuprador. A gente
fica condenado. Quando a gente vê, tem sempre umas
pessoas olhando. Por dentro, agente fica magoado.
(Trecho do livro de NASSER, 1996).
2.2 Razões de ida para Rua
Como aponta Silva (2006), são comumente enumeradas várias espécies
de fatores motivadores da existência de pessoas em situação de rua, tais
como fatores estruturais (ausência de moradia, inexistência de trabalho e
renda, mudanças econômicas e institucionais de forte impacto social, fatores
biográficos (alcoolismos, drogadição) rompimentos dos vínculos familiares,
doenças mentais, perda de todos os bens, além de desastres de massa e/ ou
naturais (enchentes, incêndios, terremoto, etc.)
Ainda segundo a autora, está claro que se trata de um fenômeno
multifacetado que não pode ser explicado desde uma perspectiva unívoca e/
ou casual. São múltiplas as causas de se ir para rua, assim como são múltiplas
as realidades da população em situação de rua.
“(...) pode-se dizer que o fenômeno população em
situação de rua vincula-se à estrutura da sociedade
capitalista e possui uma multiplicidade de fatores de
natureza imediata que o determinam. Na
contemporaneidade, constitui uma expressão radical da
questão social, localiza-se nos grandes centros urbanos,
24
sendo que as pessoas por ele atingidas são
estigmatizadas e enfrentam preconceito como marca do
grau de dignidade e valor moral atribuído pela sociedade.
É um fenômeno que tem características gerais, porém
possui particularidades vinculadas ao território em que se
manifesta. No Brasil, essas particularidades são bem
definidas. Há uma tendência à naturalização do
fenômeno, que no país se faz acompanhada de quase
inexistência de dados e informações científicas sobre o
mesmo e da inexistência de políticas públicas para
enfrentá-lo" (SILVA, 2006).
Mais especificamente quando se busca as razões de ida e permanência
na rua, entre diversos autores que se dedicam a análise das pessoas
rualizadas é consensual a importância da família e do trabalho,
Um ponto de destaque quando se discute a relação do trabalho com rua
é que se deve articular a saídas ruas não somente a conquista de uma
ocupação estável deve-se discutir também a situação de vulnerabilidade do
eixo socioafetivo familiar.
O álcool também faz parte dos principais fatores da rualização e da
permanência dos indivíduos em situação de rua, pois segundo Vieira (1995), o
uso desta substância serve como elemento social dos grupos de rua,
possibilitando ao indivíduo “integrar” uma rede tênue e efêmera de vínculos
afetivos que se encontram fragmentados.
No que tange a intinerância destes grupos, Magni (1994) denomina esta
população como “nômades urbanos”, por estarem em mobilidades constantes
e acessando diversos lugares conforme suas necessidades, trabalhos
sazonais, rompimento dos vínculos familiares, possibilidade de inserção em
relações formais e regulares de trabalho, procura de melhores condições de
vida.
Apesar da grande importância atribuída a educação e à qualificação
profissional, segundo Mattos (2008), não existem elementos ainda que
25
comprovem o discurso que a elevação da escolaridade seja decisiva para a
melhoria de rendimentos, ou, mesmo que venha a garantir emprego e
conseqüente saída das ruas.
Segundo Mattos & Ferreira (2004), a ausência de contatos constantes
com o núcleo familiar, como base de sustentação material e afetiva, leva a
pessoas em situação de rua a necessitar de um grupo de pertencimento.
Se as relações com os funcionários dos serviços públicos são,
normalmente, permeadas pelo assistencialismo, que reduz a pessoa em
situação de rua a objeto de políticas públicas, as relações com demais
cidadãos estão permeadas por representações sociais dessas pessoas como
“loucas”, “sujas”, “vagabundas” e “coitadinhas”.
Com base nestes autores percebe-se que o grande ponto norteador
para permanência destes indivíduos nas ruas é vulnerabilidade sociofammilar,
na qual a o processo de rualização está extremamente ligado a ruptura com a
família e com o trabalho, caracterizados pela descontinuidade dos suportes
anteriores com a atual situação.
Com o ingresso no mundo da rua, o indivíduo vivencia, portanto uma
ruptura, mais ou menos abrupta, dos alicerces que mantinham sua identidade
anterior. A necessidade de viver nas ruas leva os indivíduos a desenvolver
estratégias de sobrevivência, o que gradativamente, torna menores as chances
da saída das ruas.
Nota-se através de pesquisas, que não obtendo êxito, o indivíduo
desenvolve a crença que suas tentativas serem inócuas para modificar sua
história e a convicção de que os acontecimentos de sua vida são frutos de
forças extrínsecas a elas, sobre as quais não possuem o menor controle.
Quando não se tem condições de projetar e construir perspectivas na
realidade material, os indivíduos tendem a se prender em um eterno presente,
sem possibilidades de emancipação pessoal.
“A rua é, essencialmente, lugar de perdas. Perde-se a
casa das lembranças, deixando, quando não um vazio de
história, uma pobreza de vida/ perdem-se os espaços de
26
intimidade, os espaços de solidão, a vivência do silêncio,
sendo jogado num mar barulhento (...) O ser protetor, a
maternidade da casa, é perdido. Perdem-se hábitos só
possíveis no movimento de habitar... a casa, lugar dos
valores de intimidade. O sujeito é expropriado”
(FERREIRA, 2001).
Conforme esta autora o indivíduo busca na rua um ponto de fuga de
alguma situação insuportável experimentada em casa, pois é consentido na
rua realizar o “deslocamento” da cena traumática, pois na rua, procura-se o
que não se tem.
Para tentarmos elaborarmos estratégias de saída das ruas é
necessários fugir das visões historicamente estigmtizantes da sociedade civil, e
também do Estado sobre a população em situação de rua, tendo como hábito
restringir-se às pulsões assistencialistas, paternalistas, autoritárias e de
“higienização social”.
Essas perspectivas não dão conta do complexo processo de reinserção
destas pessoas nas lógicas da família, do trabalho, da moradia, da saúde e
das outras tantas esferas de que lhe perpassam.
Desta forma a rua não pode ser vista como lugar de circulação entre
espaços privados, mas como espaço produtor de realidades. Estar na rua é
ocupá-la, não como violação de espaço limpo e vazio.
É preciso desconstruir a bipolaridade entre normal e anormal colocada
para pessoas em situação de rua, considerando a produção e reprodução de
identidades sociais construídas dentro das famílias.
27
CAPÍTULO III
NITERÓI E OS EXCLUIDOS
A Política de Assistência Social do município de Niterói está intimamente
atrelada às transformações na Constituição Brasileira em 1988, em que trouxe
mudanças nos direitos e deveres do poder público e da sociedade civil.
Em vista a legitimar a função do Estado, o avanço na política social foi
quando o Congresso Nacional aprovou em 1993 a Lei Orgânica da Assistência
Social (LOAS), que regulamentou os artigos 203 e 204 da Constituição
Federal, reconhecendo a Assistência Social como política pública, direito do
cidadão e dever do Estado, além de garantir a universalização dos direitos
sociais.
Posteriormente, a LOAS recebeu alteração para a inclusão da
obrigatoriedade de formulação de programas de amparo à população em
situação de rua, por meio da Lei n 11.258/05, de 30 de dezembro de 2005.
De acordo com a nova legislação, o poder público municipal passou a
ter a tarefa de manter serviços e programas de atenção à população de rua,
garantindo padrões básicos de dignidade e não – violência na concretização de
mínimos sociais e dos direitos de cidadania a esse segmento social.
Conjuntamente com a aprovação da nova Política Nacional de
Assistência Social – PNAS e da Norma Operacional Básica – NOB, o Ministério
de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), desenvolveu o Sistema
Único de Assistência Social – SUAS, conforme deliberação IV Conferência
Nacional de Assistência Social, realizada em 2003.
Inserida na PNAS está o CREAS – Centro de Referência Especializado
de Assistência Social que se constitui numa entidade pública estatal, de
prestação de serviços especializados e continuados a indivíduos e famílias
com seus direitos violados.
28
Nesta perspectiva está inserido o Serviço Especializado para Pessoas
em Situação de Rua em Niterói que se iniciou em fevereiro do ano de 2009,
quando o CREAS – Niterói assumiu como função tal atendimento.
O trabalho foi desenvolvido com vistas a implementar a Política Nacional
de Assistência Social (PNAS) que prevê o atendimento realizado pelo CREAS
tendo como público os segmentos que estão sujeitos a maiores graus de riscos
sociais, como a população em situação de rua.
3.1 Serviço Especializado para Pessoas em Situação
de Rua
Compreendendo tal política este setor tem como prioridade um
atendimento que possibilite um novo projeto de vida para os usuários, visando
criar condições para adquirem suas referências na sociedade enquanto
sujeitos de direitos, descartando antes do abrigamento iniciativas de
reeinserção familiar e/ ou autonomia dos sujeitos.
O público alvo deste setor são jovens, adultos, idosos (as) e famílias que
utilizam as ruas como espaço de moradia e / ou sobrevivência. São oriundos
do município de Niterói e / ou outros e que perderam ou estão com os vínculos
familiares fragilizados necessitando de atendimento e/ ou abrigamento.
São atendidos através de demanda espontânea, trazidos pela
Abordagem Social e/ ou encaminhados por outros setores da assistência
social, saúde, secretaria de direitos humanos, etc.
Dentre os usuários atendidos estão: adultos desempregados,
“trecheiros” (pessoas que viajam pelo país em busca de emprego, não
possuindo uma residência fixa), pacientes psiquiátricos, pessoas com
envolvimento com o tráfico de drogas, segmentos com os vínculos familiares
fragilizados ou rompidos, dependentes químicos de álcool e/ ou drogas, etc.
29
Estes dados serão mais bem exemplificados através da pesquisa que foi
elaborada no final do ano de 2009 e que será exposto no decorrer deste
trabalho.
A equipe atualmente é composta por profissionais de serviço social,
psicologia, pedagogia, além de educadores sociais, motorista e auxiliar
administrativo.
Dentre os serviços prestados estão:
- Orientação psicossocial, sensibilização, atendimento humanizado e de
caráter educativo conforme as diretrizes da Política Nacional de Assistência
Social.
- Acolhimento através de uma escuta atenta aos usuários, contribuindo
para o seu empoderamento e construção de sua autonomia.
- Contato com os familiares na perspectiva de sensibilizá-los em relação
às demandas dos usuários, no sentido de fortalecer os vínculos familiares e
possível reinserção.
- Encaminhamentos para atendimento médicos, retirada de documentos,
atendimentos psiquiátricos, acompanhamento nos casos de dependência
química, orientação previdenciária junto ao INSS, entre outros.
- Pernoite/ abrigamento na Casa da Cidadania Florestan Fernandes
quando descartada as possibilidades de reinserção familiar e / ou autonomia
do usuário.
- Custeio de passagens para outros municípios ou estados em que foi
realizada entrevista social e quando possível confirmação de dados com os
familiares que irão recebê-lo.
- Contato com Centros de Recuperação para dependentes químicos
para aqueles usuários que solicitarem tal atendimento.
- Custeio de documentos nos quais não é possível a retirada de isenção
via defensoria pública ou órgão da secretária de assistência social.
- Referenciamento para atendimento médico de caráter ambulatorial ou
emergencial.
- Fornecimento de declaração que está em situação de rua e
fornecimento do endereço institucional para utilização como referência, com
30
vistas a garantir o atendimento deste usuário em outros equipamentos, pois
sua condição não pode impossibilitá-lo de ter seus direitos garantidos.
- Referenciar serviços de atendimento a população em situação de rua
em outros municípios, no sentido de articular ações e promover melhor
atendimento.
- Encaminhamento para serviços de atenção básica da assistência
social, para possível cadastramento em cursos profissionalizantes e programas
sociais como o bolsa Família.
- Fornecimento de banho e alimentação
- Articulação com empresas com vistas a oferecer vagas de emprego
conforme as experiências profissionais do público atendido.
Vale destacar que todos os serviços acima expressos são viabilizados
após avaliação da equipe técnica e de acordo com o perfil específico e
disponibilidade estrutural e orçamentária do referido setor.
3.2- Perfil da População em Situação de Rua de Niterói
No ano de 2009 foram realizados mais de 500 atendimentos, quase na
sua totalidade com ficha de atendimento e retorno ao equipamento pelo ao
menos uma vez dos usuários. Os atendimentos são realizados numa sala
exclusiva para atendimento em que é oferecido um serviço de acolhimento e
atendimento psicossocial.
Dentre os serviços prestados neste ano, foi elaborada uma pesquisa
sobre o perfil do público atendido através de uma análise quantitativa das
fichas de atendimentos e das respostas direcionadas por estes usuários.
Com base nos argumentos de PEREIRA (2007) para superar desafios e
pensar em propostas eficazes é necessário conhecer essa população:
“Somente após saber quem e quais são seus sonhos,
seus desejos, expectativas, de onde vem e para onde
vão. Ao compreender quais as suas necessidades sociais
31
desses grupos é que podemos avaliar as estratégias de
enfrentamento e satisfação dessas necessidades. Sendo
que apenas haverá provisão mínima se houver
necessidades básicas a satisfazer” (PEREIRA, 2007).
Confirmando os dados fornecidos pela Política Nacional de População
em Situação de Rua, observamos informações semelhantes quanto ao perfil
da população, o que legitima o trabalho desenvolvido e a forma pela qual são
direcionados os atendimentos, compreendendo os indivíduos na sua totalidade
e reconhecendo sua historicidade.
Observa-se que dos atendimentos realizados, a maioria são homens na
faixa etária produtiva, oriundos do município de Niterói e/ ou outros do Estado
do Rio de Janeiro, como também de outros estados do país.
GÊNERO
FAIXA ETÁRIA
32
PROCEDÊNCIA
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PERÍODO EM QUE ESTÁ EM SITUAÇÃO DE RUA
No que tange ao período de permanência na rua, neste muncípio
existe uma epecificidade, há uma grande parcela de indíviduos que está há
menos de 01 ano em situação de rua. Muitos há menos de 1 semana ou pela
primeira vez nesta condição, havendo a possibilidade de ficar em situação de
rua devido a desemprego e/ou falta de dinheiro para pagar a residência,
solicitando o abrigamento ou por conta de conflitos familiares o desejo de ficar
em abrigos.
33
PRINCIPAL MOTIVO DE IDA PARA RUA
Dentre as razões de ida para rua, os dados reforçam as referências
apresentadas nos capítulos anterioes. A categoria família e vulnerabilidade
socioeconomica devido ao desemprego são fatores potencializantes para
saída destes indivíduos.
CONFLITOS FAMILIARES/ DECEPÇÃO AMOROSA 42,62% PROBLEMAS COM TRÁFICO DE DROGAS 5,08% DEPENDÊNCIA QUÍMICA 4,36% DESEMPREGO / BUSCA DE EMPREGO 32,69% TRANSTORNO MENTAL 2,66% ARTESANATO 0,97% FALECIMENTO DE ALGUÉM DA FAMILIA 3,63% LIBERDADE APÓS PRISÃO 1,21% CONHECER O MUNDO 0,97% ASSALTO/ PERDA DOS PERTENCES 1,21% ALZEHMIER 0,73% PERDA DE MORADIA 0,97% PROCURAR DOCUMENTOS E / OU FAMILIARES 2,91%
34
LOCAL QUE GOSTARIA DE IR
Quando questionados sobre o local que gostariam de ir caso saíssem das
ruas, existem opiniões diferenciadas, mas que retratam o considerável
interesse de retorno familiar, autonomia econômica e a falta de perspectiva de
alguns devido o tempo permanência na rua.
ESCOLARIDADE E EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
Somente 9% são analfabetos, dos quais dentre os restantes estão pessoas
com ingresso no ensino médio é até nivel superior.No que se refere a
experiência profissional são inúmeras as profissões retratas, mas o destaque
maior são as ligadas à construção cvivil e auxiliar de serviços gerais.
35
DEMANDAS ENCAMINHAMENTOS
A demanda maior é para o abrigamento por parte dos usuários o que ressalta
o desejo de muitos de sair das ruas. Já as solicitações de passagem merecem
destaque por estarem intimamente ligadas ao retorno familiar e a busca de
melhores condições de trabalho e emprego em novas cidades.
36
USO DE DROGAS Dos atendimentos realizados, 23% indicaram o uso excessivo de alcool e
10,5% indicaram o uso abusivo de drogas. Estes reforça a análise apontada no
capítulo anterior em que destaque o alcool como um dos principais fatores de
permanência dos indíviduos na rua.
37
CONCLUSÃO
Diante do que foi exposto, torna-se de grande importância ressaltar a
necessidade de investimento em políticas sociais que tenham como público
alvo as famílias em situação de vulnerabilidade social, pois o reconhecimento
das mesmas como objeto de políticas atende objetivos prioritários ao
desenvolvimento humano.
A ausência de políticas efetivamente de proteção social as famílias
pauperizadas é conseqüência da retração do Estado, no qual convoca a
família como responsável pelas dificuldades, sem possibilitar condições para
sua sobrevivência.
O Estado deve atuar em políticas de caráter universalista que
reconheçam a família como sujeito de direitos, capaz de potencializar as ações
propostas. Ele deve garantir a proteção social como um direito de cidadania,
assistindo as famílias pobres a uma condição de cidadã dentro da sociedade,
para que elas possam exercer seu papel agregador, fortalecendo seus vínculos
familiares e concretizando sua participação no desenvolvimento dos indivíduos.
Se faz necessário ressaltar a urgência da mudança de paradigma em
relação à implementação de programas sociais mais conseqüentes e que
visualizem a família não descontextualizando seus membros.
Quando se pensa em políticas públicas eficazes é indiscutível o
destaque na prevenção das questões sociais da família, não apenas em
relação à renda, mas também em relação ao acesso a bens e serviços, sendo
ela a potencializadora das ações e dando condições de manutenção dos
vínculos sociais e afetivos.
Diante dos dados apontados é possível afirmar que a situação de
esgarçamento dos vínculos familiares resulta da miserabilidade a que estão
sujeitas as famílias, senda esta a condição essencial para saída dos indivíduos
do seu seio familiar.
É necessário pensar em ações de atenção as famílias em sua
totalidade, principalmente para que se evite a situação extrema da
sobrevivência que é a experiência de ficar na rua. Investir em políticas voltadas
38
para relações intra - familiares e necessidades econômicas das famílias e
investir em políticas de atenção a população em situação de rua.
Quando se fala em especial a este segmento, torna-se relevante
pensar na possibilidade de ingresso destes, em relações de produção
solidárias que possam auxiliar na constituição de um grupo de pertencimento
na qual os indivíduos possam constituir sua identidade em uma estrutura mais
estável de relações de confiança mútua, de forma a permitir trocas afetivas de
valorização dos membros envolvidos, através de possíveis cooperativas ou
trabalhos desenvolvidos utilizando grupos de reflexão e/ ou terapias
comunitárias.
É de grande importância compreender o modo de vida destes sujeitos,
permitindo olhar suas potencialidades, como indivíduos capazes de
transformações, para que conjuntamente possamos exigir políticas
descentralizadas, respeitando a realidade.
É imprescindível ter em mente que o sistema de desigualdade e má
distribuição de renda destroem não só as famílias, mas toda a sociedade. A
questão fundamental para transformação deste quadro é a necessidade de
promoção e apoio às famílias vulneráveis através das políticas sociais.
O reconhecimento das capacidades da família constitui fator decisivo
para atingir objetivos prioritários de desenvolvimento humano, tais como a
minimização da pobreza, o acesso à educação saúde, alimentação, moradia
entre outros.
Compreender a significação de família, a partir das representações
sociais apresentadas nas falas dos sujeitos, significa avançar com um olhar
mais abrangente, em que é necessário ir além dos limites que o problema
aparenta impor compreendidos no contexto social.
39
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43
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
FAMÍLIA, POBREZA E VULNERABILIDADE SOCIAL 11
1.1 – Famílias Pobres 12
CAPÍTULO II
POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA 16
2.1 – Quem São? 17
2.2- Razões de ida para Rua 23
CAPÍTULO III
NITERÓI E OS EXCLUÍDOS 27
3.1- Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua 28
3.2- Perfil da População em Situação de Rua de Niterói 30
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA 39
ÍNDICE 43
44
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: