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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A DIFÍCIL ARTE DE EDUCAR E O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM NO
ENSINO FUNDAMENTAL
GUILHERME FERREIRA
ORIENTADOR: PROF. MESTRE ROBSON MATERKO
RIO DE JANEIRO
AGOSTO / 2001
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A DIFÍCIL ARTE DE EDUCAR E O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM NO
ENSINO FUNDAMENTAL
GUILHERME FERREIRA
Trabalho monográfico apresentado como
requisito parcial para a obtenção do Grau de
Especialista em Psicopedagogia.
RIO DE JANEIRO
AGOSTO / 2001
Agradeço à minha querida esposa,
Hélia, que me encorajou e suportou-me
alterando um pouco o ritmo de vida e até
mesmo renúncia de alguns bens para que eu
pudesse adquirir os livros que me faltavam e
do pouco tempo que eu dispunha.
Agradeço a todos que cooperaram, aos
professores e aos colegas do Curso de
Psicopedagogia que nos apoiaram.
Por fim, a todos que estiveram, de
alguma forma ao meu lado, ora me
incentivando, ora me apontando caminhos.
Aproveitei cada idéia para finalizar esta
monografia. Obrigado.
“A escola não é estática nem intocável.
A forma que ela assume em cada momento
é sempre o resultado precário e provisório
de um movimento permanente de
transformação impulsionado por tensões,
conflitos, esperanças e propostas
alternativas”.
(Cuidado, Escola!)
SSUUMMÁÁRRIIOO
RESUMO................................................................................................................ 5
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 8
1. OS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM NA ESCOLA FUNDAMENTAL...... 10
1.1. COMO SE MANIFESTAM OS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM .............................. 15
1.2. PROBLEMAS FAMILIARES ............................................................................... 18
1.3. O MEDO ...................................................................................................... 20
1.4. A FOBIA ESCOLAR......................................................................................... 22
2. A ATUAÇÃO DOS EDUCADORES................................................................. 25
2.1. ESTRATÉGIAS DE TRABALHO PARA TODOS OS ALUNOS ..................................... 25
2.2. ESTRATÉGIA DE TRABALHO PARA ALUNOS QUE APRESENTAM PROBLEMAS DE
APRENDIZAGEM ................................................................................................... 26
2.3. FACILIDADES ENCONTRADAS ......................................................................... 27
2.4. DIFICULDADES ENCONTRADAS ....................................................................... 27
2.5. O PAPEL DO EDUCADOR É RECONHECER AS DEFICIÊNCIAS E AS EFICIÊNCIAS DO
EDUCANDO ......................................................................................................... 29
3. O PAPEL DA PSICOPEDAGOGIA NA APRENDIZAGEM ............................. 30
CONCLUSÃO ...................................................................................................... 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................... 34
RREESSUUMMOO
O objetivo desse trabalho é oferecer uma análise dos aspectos da
difícil arte de educar, nas diversas fases do ensino fundamental, pondo em prática
os conceitos da Psicopedagogia. A tarefa do professor é ficar atento ao
desenvolvimento e aos possíveis problemas que possam causar distúrbios e
problemas de aprendizagem.
Os fatores que podem causar atraso no processo de aprendizagem são
considerados fundamentais:
• Fatores orgânicos
• Fatores psicológicos
• Fatores ambientais
Ao educador cabe detectar as dificuldades na aprendizagem que
aparecem na sala de aula e fora dela.
Essa postura do professor facilita o encaminhamento da criança a um
especialista que, ao tratá-la tem condição de orientar o professor como lidar com
o aluno.
Quanto aos distúrbios causados pela escola, pelo professor e pela
família, deve-se instalar no setor escolar um profissional, o psicopedagogo, para
atender alunos, familiares e professores.
A família é responsável pela maior parte dos distúrbios na
aprendizagem da criança, afetando o desenvolvimento escolar.
O medo é causado por três fatores: falta de segurança; falta de amor;
proteção. Casos esses sintomas manifestem e persista, ela deve ser
encaminhada a um profissional especializado a fim de proporcioná-la uma
maturação segura.
A fobia poderá levar a criança a uma incapacidade parcial ou total de
freqüentar a escola. Poderá atingir as crianças em todos os níveis sociais e em
todos os graus escolares. Não se pode confundir fobia escolar com temor natural.
As estratégias usadas pelos professores funcionam como uma
provocação ao aluno; o livro texto é apenas um ponto de apoio. A escolha do
material didático deve ser criteriosa, visando facilitar a aprendizagem e reduzir as
dificuldades.
As dificuldades estão nas próprias instituições e também no grande
número de profissionais leigos. Podemos encontrar profissionais especializados
na área que pode ajudar o educando e o educador.
Cabe ao professor ficar atento para detectar os possíveis distúrbios da
aprendizagem, que possa vir entravar a vida escolar da criança.
A Psicopedagogia estuda o processo da aprendizagem,
contextualizando teórico-prática que advêm da Pedagogia e Psicologia.
Sugerindo mudanças qualitativas no ensinar e no aprender, o
especialista em Psicopedagogia pode atuar a nível clínico a institucional, no ato
de ensinar e na ação de aprender.
A Psicopedagogia reconhece que a criança desenvolve no lar e na
escola, onde o aprender é intencional e sistematizado. A Psicopedagogia tem a
função de antecipar situações que possam gerar uma educação frustrante,
atuando na instituição, na consciência dos professores e no desenvolvimento
integral do aluno.
Foi usado nesse trabalho um cuidadoso levantamento bibliográfico do
assunto em apresso; conclui-se que a Psicopedagogia trabalha com o ser na sua
totalidade, respeitando a sua dicotomia, possibilitando o seu desenvolvimento
integral.
Esse assunto merece ser estudado com mais afinco futuramente, pois
as deduções aqui descritas são passíveis de mudanças.
IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO
Por que pe difícil a arte de educar no ensino fundamental?
O objetivo ao escrever esta monografia pe oferecer uma análise
contextualizada dos fatores e aspectos que poderão interferir, causando distúrbios
de aprendizagem no ensino fundamental, as quais despertam a atenção do
profissional, o psicopedagogo.
Procura-se evocar a arte de educar, observando a nova visão que tem
sido eficiente dentro do contexto psicopedagógico e estabelecer relações entre a
arte de educar e a cognição e o modo como o sujeito aprende.
Na palavra aprender exprime o maior segredo da vida: transformando
todas as intenções educativas e reflexão, bem como toda oportunidade de
crescimento em uma ação construtiva e prazerosa. Cada momento de
aprendizagem representa a possibilidade de aprender e conhecer.
Em todos os tempos o processo ensino-aprendizagem foi sempre lento,
devido a fatores externos e internos, que às vezes passam ou fogem ao controle
do professor, por desconhecê-los ou por considerá-los sem importância. No
passado sentiam essas dificuldades, mas não sabiam como resolvê-las. Hoje
existem vários estudos e ensaios no campo da educação, que podem levar a um
fim não completamente satisfatório, mas pode deixar o educador e educando
menos traumatizados e em parte realizados. A Psicopedagogia veio para colocar
a luz no final do túnel. As múltiplas inteligências são realidades que devem ser
observadas. O professor deve estar atento a todo tipo de deficiência e eficiência
no aluno.
9
Os problemas podem ser desde os mais simples até os mais
complexos e nem sempre os detectam sem uma análise da origem do problema,
que pode estar: na família, na escola, no ambiente ou no educador. Os
antecedentes são importantes na Arte de Educar. Nessa nobre missão, envolve
carisma, dom, amor e muita dedicação.
Modelar ser humano, prepará-lo para que seja conforme a proposta
educativa da instituição.
Ensinar não é só que “A” é “A” e que “B” é “B”, mas é o que ele, o
aluno, ou seja o homem do futuro, fará de tudo isso no seu futuro, para ser útil,
beneficiar-se, realizar-se e conduzir-se num mundo em constantes mudanças e a
pós-modernidade.
O verdadeiro educador observa o presente e projeta o futuro. A arte de
educar deve ser prazerosa, a ponto de seus discípulos verem fluir no mestre, o
interesse em produzir nele, o discípulo, a felicidade. Ele o vê como gente, como
ser integral e que procura suprir as necessidades do saber e que trabalha a sua
dicotomia, para torná-lo realizado em sua trajetória.
Na difícil arte de educar, deparamos com a matéria-prima inacabada,
imperfeita, em busca da perfeição. Quando vemos um ser imperfeito, que tende à
perfeição, vindo de uma sociedade também carente e em constantes mudanças,
com deficiências psíquicas, orgânicas e ambientais, diante de situações adversas,
quedam-se importantes para tão nobre missão.
10
11.. OOSS PPRROOBBLLEEMMAASS DDEE AAPPRREENNDDIIZZAAGGEEMM NNAA
EESSCCOOLLAA FFUUNNDDAAMMEENNTTAALL
Os problemas de aprendizagem que podem ocorrer tanto no início
como durante o processo educacional, surgem em situações diferentes para cada
indivíduo, o que requer uma observação e um conhecimento profundo do
educador, no campo em que elas se manifestam. “O ultraespecialista é como a
larva que tem a sua visão do mundo limitada à folha em que vive” (Ramon e
Cajal, 1982, p. 36). Ao tratar da folha precisa-se conhecer a árvore. Faz-se
necessário conhecer a procedência da criança, ela é mais do que matéria-prima,
é parte da própria natureza.
Na versão Bíblica, da Imprensa Bíblica Brasileira da 9a impressão, no
livro de Gênesis (p. 1 e 2).
“Formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente.
Da terra formou, pois, o Senhor Deus todos os animais do campo e todas as aves do céu e os trouxe ao homem, para ver como os chamaria; e tudo que o homem chamou a todo ser vivente, isso foi seu nome” (Bíblia Sagrada, 1993, p. 5-6).
Deus é o oleiro, que molda ao barro o homem. Essa relação da
imagem de Deus, o oleiro, nos torna inteiramente dependentes do Criador. Os
animais também de todas as espécies, dotados de vida, fazem parte do mundo
humano, mas não foram dotados de inteligência, qualidade que nos tornam
diferentes. No ato da criação, para os animais e os elementos da natureza, Deus
ordenou a sua existência. Ao homem, Deus o modelou do pó da terra conforme a
sua imagem e semelhança. Esse ser dotado de inteligência emoções,
11
sentimentos, também está sujeito à natureza da qual é parte. A imagem do oleiro
exprime a inteira dependência do homem em relação ao Criador. Ao deparar com
uma classe, lembre-se, estou diante da semelhança de Deus e devo tratá-lo como
tal.
O papel do educador é reconhecer que o educando já traz consigo,
codificado o potencial que precisa ser desenvolvido. Educar é tirar de dentro do
ser o que lá existe em germe, em potencial. A difícil arte de educar se manifesta
quando vamos trabalhar e desenvolver este ser criado, moldado, à imagem e
semelhança de Deus.
Às vezes a tarefa nos torna difícil porque passamos a depender de
métodos que se julga adequados ao processo educacional, que visa à formação
consciente da pessoa, historicamente situada, promovendo e respeitando valores
educacionais.
As nossas intenções educacionais são, até certo ponto, boas, mas não
basta; faz-se necessário conhecer a estrutura de nossa matéria-prima, sua
procedência. Gouvêa relembra “a idéia de um homem moldado a partir do barro
da terra, de ser esse barro a matéria-prima em que se repousa o segredo do
homem e na qual Deus se espelharia para construir o homem” (Gouvêa, 1984, p.
58-59).
Para desvendar esse segredo que possui fatores desconhecidos e
conhecidos, entra em cena o professor, figura indispensável no processo ensino-
aprendizagem. Os fatores que deparamos no dia a dia de sua missão, que podem
desencadear os distúrbios de aprendizagem. São considerados fundamentais:
• Fatores orgânicos
• Fatores psicológicos
• Fatores ambientais, etc.
É preciso muito amor e o mesmo sentimento que Deus teve ao criá-lo à
sua imagem e semelhança.
12
Alguém disse: “A ostra consegue com toda a sua dor, transformar um
grão de areia numa linda pérola”.
O educador não é um transformador de idéias, mas aquele que cria
condições para que as mudanças ocorram, que podemos chamar aprender.
“Aprendizagem é a progressiva mudança do comportamento que está ligada, de um lado, a sucessivas apresentações de uma apresentação de uma situação e, de outro, a repetidos esforços dos indivíduos para enfrentá-la de maneira eficiente” (Sawrey e Telford).
Aprendizagem é uma mudança progressiva que se dá no campo
sistematizado, nos ambientes culturais e espirituais, abrangendo o ser total,
tornando-o realizável e completo para continuar a aprender (Guilherme Ferreira,
2001).
Das definições de aprendizagem podemos concluir que:
1o. Aprendizagem é mudança de comportamento. Isto é, quando
repetem comportamentos já anteriormente realizados, não está aprendendo. Só
pode haver aprendizagem na proporção que houver uma mudança no
comportamento.
2o. Aprendizagem é mudança de comportamento que resulta da
experiência. Nem todos os nossos comportamentos são aprendidos. Há os que
resultam da maturação ou crescimento do organismo e que não constitui
aprendizagem: respiração, digestão, salivação.
Aprendem continuamente novos comportamentos, adquirem outros e
modificam os que não são adequados para novos valores. Aprendem na escola,
fora dela. Aprende de forma sistematizada, organizada e também aprendem de
forma assistemática.
São três os fatores ligados à aprendizagem:
Situação estimuladora: são vários fatores que provocam os órgãos
dos sentidos da pessoa que aprende, este recebe o nome de ESTÍMULO.
13
Pessoa que aprende: é a pessoa atingida pelo estímulo. Para a
aprendizagem são necessários os órgãos dos sentidos, que recebem a situação
estimuladora e o sistema nervoso central, que interpreta a situação estimuladora
e ordena a ação; e os músculos, que executam a ação.
Resposta: é a ação resultante da estimulação e da atividade nervosa.
A aprendizagem acontece quando a pessoa começa a responder aos estímulos.
Qualquer problema de aprendizagem implica amplo trabalho do
professor junto à família da criança, para analisar situações e levantar
características das dificuldades que estão servindo de empecilho para que o
aluno aprenda.
O professor poderá cometer erros por desconhecer o pensamento
infantil e o estágio em que se encontra o aluno. O professor deve ter uma noção
do que é normal, problemático e anormal no comportamento da criança.
A noção do normal. Para o professor que necessita avaliar um
problema de aprendizagem, é importante estabelecer um critério seguro e
significativo. Nesse aspecto, Mielinik (p.13) formula uma definição que pode ser
adequada quando diz que: “para podermos conceituar o que é normal, devemos
basear-nos no progresso da criança, em sua evolução e desenvolvimento,
comparando-a com suas próprias habilidades e capacidades em épocas
diversas”.
Como o movimento da criança para a liberdade e a autonomia
acontece de maneira gradativa, cabe ao professor reconhecer as características
próprias do comportamento da criança em cada faixa etária.
Problemático ou patológico? Para um bom desenvolvimento da
criança, é preciso um ambiente afetivamente equilibrado, onde ela receba amor
autêntico e possa satisfazer as necessidades próprias do seu estado infantil.
Quando isso não acontece, inicia-se uma luta entre o ambiente em que
a criança vive e suas exigências, o que provavelmente a levará a uma situação de
desequilíbrio, possível geradora do comportamento problemático ou patológico.
14
Segundo Mielnik (1982, p. 85), “a situação problemática abrange
especialmente o relacionamento difícil com o meio e as pessoas”. Na criança, ela
se manifesta no emocional, supersensibilidade, rejeição, sensação de pânico em
determinados momentos, ansiedade, regressão ou infantilização.
O mesmo autor adverte que se essas reações tornam-se freqüentes,
deve se considerar o quadro como tendendo a anormal ou patológico.
Nesse caso, a criança torna-se agressiva, atitudes destruidoras de
maneira compulsiva, medo excessivo de tudo, extrema agitação ou mesmo
ausência de relacionamento pessoal.
O comportamento anormal ou patológico pode ter origem na própria
criança (fator genético) ou no ambiente (fator social).
Para Mielnik eles apresentam com as seguintes características:
• Idade
• Constituição física
• Desenvolvimento
• Ambiente cultural
• Conduta e personalidade dos pais e irmãos
• Tendências internas e defesa psíquica do ego infantil
• Tensões e traumas da vida cotidiana aos quais a criança fica
exposta
• Influências de pressões internas e externas
• Meios de adaptação a essas pressões
• Processos envolvidos na maturação da personalidade da
criança
15
1.1. COMO SE MANIFESTAM OS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM
Os problemas de aprendizagem estão ligados às situações difíceis
enfrentadas pela criança normal e pela criança com um desvio do quadro normal,
mas com expectativa de aprendizagem a longo prazo ou num processo mais
demorado (são alunos multirrepetentes).
Podemos considerar o problema de aprendizagem como um sintoma,
no sentido de o não aprender não figura um quadro permanente, mas ingressa
numa constelação peculiar de comportamentos, nos quais se destaca como sinal
de descompensação (Paz & Paim, 1985, p. 28).
Pela intensidade com que apresentam os sintomas e comportamentos
infantis, pela duração que eles têm na vida escolar e pela participação do lar e da
escola nos processos problemáticos, fica difícil para o professor diferenciar um
distúrbio de um problema de aprendizagem.
Entretanto, estabelecer os limites que separam “problemas” de
aprendizagem dos chamados “distúrbios” de aprendizagem, é uma tarefa muito
complicada que poderá ficar a cargo do especialista na área em que a deficiência
se apresenta.
Ao educador cabe detectar as dificuldades de aprendizagem que
aparecem na sala de aula, gerada pela escola, pela família, principalmente nas
áreas mais carentes e investigar as causas de forma ampla, nos aspectos
orgânicos, neurológicos, mentais, psicológicos, somando à problemática
ambiental em que a criança vive.
Essa postura do professor facilita o encaminhamento da criança a um
especialista que trata a deficiência, tem condições de orientar o professor como
lidar com o aluno em salas normais ou indicar o aluno para uma sala especial.
Entretanto, em geral, a postura é igual à de outros autores que se
dedicam a estudar esse assunto e que usam os termos “problemas” e “distúrbios”
de forma indiscriminada.
16
São vários os fatores que podem desencadear um problema ou
distúrbio de aprendizagem. São considerados principais:
• Fatores orgânicos – alimentação inadequada, saúde física
deficiente.
• Fatores psicológicos – inibição, timidez, fantasia, ansiedade,
angústia, sentimento de rejeição, fora da realidade e falta de
integridade neurológica.
• Fatores ambientais – a educação administrada na família, o grau
de estimulação que a criança recebeu desde os primeiros dias
de vida e a influência dos meios de comunicação, etc.
Muitas crianças são identificadas como portadoras de problemas de
aprendizagem por não conseguirem realizar o que se espera a programação de
ensino. Também podem ficar presas a mecanismos que tentam reproduzir sem
êxito, seja porque talvez saibam mais do que está sendo ensinado pelo professor,
falta-lhes mecanismo para se expressarem. (Carraher, Caderno de Pesquisa no
42, p. 70-86).
Precisamos de uma avaliação muito mais minuciosa e abrangente,
quando o ato de aprender se apresenta como problemático. O professor não deve
esquecer que o aluno é um ser social com cultura, linguagem e valores
específicos aos quais ele deve estar sempre atento, inclusive para evitar que seus
próprios valores não sejam uma barreira que o impeça de auxiliar a criança em
seu processo de aprender. A criança é um ser carente e que precisa ser olhada
como um ser total. Por isso, quando apresenta dificuldades de aprendizagem, ela
precisa ser avaliada em seus vários aspectos. No quadro a seguir, Carrell e
Schwarz relacionam as formas de distúrbios que podem ocorrer no processo de
aprendizagem, de acordo com os seus vários aspectos.
17
Quadro 1 – Distúrbios no processo de aprendizagem
1 – Distúrbios de aprendizagem condicionados pela escola
a) Os causados pelo professor
b) Os causados pela relação professor aluno
c) Os causados pela relação entre os alunos
d) Os causados pelos métodos didáticos
2 – Distúrbios de aprendizagem causados pelo ambiente familiar
3 – Distúrbios de aprendizagem causados por características próprias da
personalidade de cada criança
4 – Distúrbios de aprendizagem causados por dificuldades na educação
Fonte: Coelho e José, 1990, p. 24.
A proposta do sistema educacional brasileiro é oferecer, para cada
criança, a oportunidade de aprender usando tanto quanto a sua capacidade
permitir.
Entretanto, os alunos que apresentam distúrbios na aprendizagem,
poucos são os que têm oportunidades. Eles não conseguem acompanhar o
currículo estabelecido pelas escolas, que por sua vez têm que obedecer
acompanhar as exigências dos órgãos governamentais de educação; esses
alunos fracassam ao longo do processo, são classificados como retardados
mentais, classificados como ou rotulados como alunos fracos e multirrepetentes.
São crianças que precisam de um acompanhamento especializado e são poucos
os sistemas educacionais que podem atendê-los.
Quanto aos distúrbios causados pela escola e pelos professores,
devemos instalar no próprio setor educacional, atendimento psicopedagógico,
18
para atender alunos, familiares e os próprios professores que não tenham essa
formação.
Os professores seriam orientados na adequação do programa, na
elaboração de métodos a serem aplicados e na forma ideal de atender as
crianças que apresentam problemas de aprendizagem.
A educação especial, porém, é uma utopia na realidade brasileira.
Somente as classes sociais abastadas conseguem educar, com um certo grau de
dificuldade, adequadamente uma criança com dificuldades de aprendizagem. Na
escola pública, o professor conta com os seus próprios conhecimentos, e ao
detectar qualquer dos problemas, solicita ajuda junto à família, para que possam
amenizar e ajudar a criança a superar as dificuldades.
1.2. PROBLEMAS FAMILIARES
A família é responsável por uma grande parcela dos distúrbios de
comportamento que refletem no desequilíbrio social e emocional das relações
existentes na família.
A família é a primeira unidade com a qual a criança tem contato social
e é neste contexto que desenvolvem os padrões de socialização e também são
gerados os problemas sociais e comportamentais.
Muitas e variadas famílias existem, entre elas citamos:
• A família, cujo um dos cônjuges assume o lugar de pai ou de
mãe: a criança sente a falta do pai ou da mãe e busca um
referencial nos avós, tios.
• A família pode ser constituída pelos avós que moram juntos: isso
desenvolve na criança uma relação diferente da que ela tem
com os pais, isto gera muitas vezes problemas sérios no que diz
respeito à sua educação; crianças que não conseguem ler são
muito tímidas e retraídas, falam muito baixo ou muito alto, outras
são muito revoltadas e agridem os colegas.
19
• Família em que os cônjuges são de raça e religião diferentes:
provoca na criança controvérsias entre a linguagem, aspectos
físicos e as opiniões são sempre diferentes. São idéias e
opiniões diferentes.
• A família formada por um segundo casamento: exige uma
adaptação muito demorada para que a criança se adapte ao
novo pai ou à nova mãe. Isso desestabiliza a criança
emocionalmente, dificultando a concentração da criança.
Na família existem problemas que afetam direta ou indiretamente a
criança, interferindo no desempenho escolar. Neste caso, um bom relacionamento
entre a escola e a família pode, sem dúvida, ajudar a criança a vencer as
dificuldades.
Os problemas mais comuns existentes na família podem interferir na
aprendizagem e em outros aspectos do desenvolvimento emocional da criança:
Separação dos pais. Pode trazer um desajustamento social muito
grande para a criança, levando-a à agressividade, angústia, depressão,
sentimento de abandono e, nos casos em que ela se sente perdida, dividida e
sem saber se é ou não amada.
Morte. A morte dos pais, dos avós ou de um parente próximo pode
causar grandes conseqüências para a criança, dependendo do grau de
maturidade e das atitudes da família em relação ao fato.
As reações da criança poderão desencadear rapidamente ou
lentamente, dependendo da importância e do grau de ligação sentimental com a
pessoa que agora está ausente. Podem também manifestar das mais variadas
formas: em um dos casos, a criança torna-se irritada, agressiva, intolerante,
insatisfeita (deseja a satisfação imediata); outra torna-se solitária, tímida e às
vezes desinteressada pela vida e outras demasiadamente eufóricas, contando
piadas e vantagens que não são realidades.
20
Superproteção. A superproteção impede a criança de tomar qualquer
iniciativa própria. Pode manifestar atitude desrespeitosa e anti-social, provocada
pelo excesso de liberdade adotado em casa. Isso acontece na maioria das vezes
com criança que é filha única.
No caso da criança que vai pela primeira vez à escola, ela chega e se
retrai, pois se vê num ambiente estranho com crianças iguais a ela, dividindo
atenção e o carinho da professora. Esse desequilíbrio acompanha com freqüência
as crianças até o final do curso fundamental e às vezes no curso médio.
1.3. O MEDO
O medo apresenta uma das emoções normais da vida humana. É um
estado emocional de alerta, que se caracteriza por sensações de desconforto e
ansiedade ante um perigo iminente.
O medo é freqüente em todas as crianças, de todas as idades. Aquele
que protege a criança dos perigos deve ser corretamente treinado.
Dependendo das experiências vividas pela criança e do ambiente que
a cerca, ela pode passar por várias fases de medo, até cria uma verdadeira fobia.
Quadro 2 – Evolução do medo
- Medo biológico
- Medo Psicológico
- Medo condicionado (perda do conteúdo intelectual)
- Ansiedade
- Fobia
Fonte: Coelho e José, 1990, pp. 176-177.
21
Quando muito pequena, a criança assusta-se com facilidade perante
quadros e locais desconhecidos, ruídos; ela teme as situações novas e reage por
meio de sobressaltos, prantos, gritos e agressividade.
Na idade escolar predomina o medo proveniente da própria
imaginação. Ela tem medo de fantasma, ladrões, bruxas, bicho-papão, saci,
pessoas que possam estar escondidas. Tem medo de ao chegar em casa, não
encontrar os pais.
À medida que a criança vai desenvolvendo, começa a perceber o que
realmente teme.
A criança na qual o medo persiste, fazendo com que seu
comportamento se distancie do comportamento das outras crianças, por
apresentar desvio na formação da personalidade; como insegurança, ansiedade e
depressão. Os pais e professores devem estar alertas para detectar tais sintomas
e conduzí-las a um tratamento psicoterápico, com profissionais especializados, a
fim de propiciar à criança uma maturação segura.
O medo é causado por três fatores: falta de segurança. Falta de amor e
falta de proteção.
Não é possível acabar com o medo com uma palavra apenas. Uma
criança apavorada não tem tranqüilidade e não ficará tranqüila simplesmente
porque lhe explicamos que não há motivos para se ter medo.
Um adulto tranqüilo, paciente, seguro, influi no comportamento e
acalma a criança.
Medidas que podem ajudar a controlar o medo:
• Não obrigar a criança a enfrentar o que a amedronta
• Não utilizar o medo como brincadeira para ameaçar a criança
• Ouvir os motivos do medo
22
• Acolher a criança amedrontada
• Desviar a criança do fato que lhe causa medo
• Associar o medo a fatos agradáveis
Nos primeiros dias de aula é natural a criança recear a situação, a
própria escola, os colegas, os funcionários e o professor. Cabe ao professor ficar
atento ao comportamento da criança.
O receio de falhar, de ser reprovada, essas atitudes devem ser
observadas pelo seu professor; o aluno deve sentir-se acompanhado, observado,
valorizado e amado.
A aprendizagem acontece quando a criança sente-se valorizada,
amada e feliz. O professor é um estimulador da inteligência e um agente
orientador da felicidade.
1.4. A FOBIA ESCOLAR
A fobia escolar pode ser a incapacidade total ou parcial de freqüentar a
escola.
Ela ocorre em crianças de todos os níveis sociais, de todos os graus de
escolaridade e em todos os níveis de inteligência. Manifesta-se através da
ansiedade, pânico, náuseas, vômitos, diarréia, dores de cabeça, falta de apetite,
insônia, palidez e febre. A criança pode até chegar à escola e assim que ela
chega começa a sentir esses sintomas e chora.
Não se pode confundir fobia escolar com o temor natural dos primeiros
dias de aula, principalmente na pré-escola. Se tais sintomas persistem, deve o
professor suspeitar de fobia escolar.
Na maioria dos casos, a mudança de escola ou professor não elimina o
problema, pois a fobia escolar não existe pelo medo de ir à escola, mas sim pelo
medo de ser abandonada fora de casa.
23
Esse temor acentua-se quando a mãe, insegura, carente afetivamente
e que precisa da criança para realizar-se emocionalmente, reprime todo o
processo de crescimento de liberdade do filho, prejudicando-o emocionalmente.
Quanto mais nova a criança, mais facilmente se pode tratar e contornar
o problema. Nos adolescentes, em geral só se consegue alguns resultados
através da psicoterapia intensiva.
O resultado de uma criança fóbica se origina de pais ou parentes
próximos superprotetores, que com o seu comportamento estimulam o filho a ficar
em casa, inventar doenças, que podem ser imaginárias. Outras causas são as
experiências desagradáveis vividas pelos alunos; os leva a não gostar da escola;
muitas vezes a criança pode ficar traumatizada por ouvir sempre que é estúpida e
burra.
Os alunos que mostram esses sintomas necessitam de ajuda
especializada dentro e fora da classe.
É de suma importância dialogar com a criança, na busca constante de
compreensão das suas inquietações e desejos, assim como de seus mecanismos
de aprendizagem, pois podemos então “relacionar os diferentes elementos que
pertencem aos sistemas em que se está trabalhando: nossos pensamentos, os
pensamentos das crianças, o diagnóstico, a intervenção, a família e a escola”
(Macedo, 1994, p. 91).
Uma das tarefas do professor é criar uma relação de aceitação entre as
crianças, num clima de harmonia e amizade, tentando descobrir o problema, a fim
de poder ajudar. O professor deverá se organizar:
1. Colocar a criança com problema sentada perto de alunos
comunicativos, que facilmente faz amizade.
2. Programar os trabalhos em equipe, para que haja interação do
aluno.
24
3. Discutir os problemas do aluno com a equipe da escola e obter
cooperação. Encorajar o aluno a dar recados e buscar algo que
precise; ele sentirá valorizado e terá oportunidade de se
comunicar com outros professores.
4. Elogiar o trabalho da criança sempre e exibi-lo para chamar a
atenção sobre seu talento e habilidades.
5. Conservar a auto-estima da criança, atribuindo a ela algumas
tarefas específicas pelas quais é responsável: limpar o quadro,
recolher os trabalhos e outros.
6. Encarregar a criança de levar um objeto a outro colega.
7. A coerência é outro fator que facilita a aprendizagem.
(Guilherme, 2001).
A dificuldade de aprendizagem e comportamental é dificultada pela
comunicação verbal, pois nem sempre essa comunicação verbal chega ao
receptor com o mesmo conteúdo original. Fala-se nas informações passadas
pelos pais e professores, que ao chegar no aluno, eles a recebem sem nenhum
entendimento ou parcialmente.
O acúmulo dessas falhas: nas comunicações, nos relacionamentos
causa inquietação, desinteresse e dificultam a aprendizagem.
As idéias devem ser transmitidas com coerência. Deixar o velho
caderno de cópia e questões ultrapassadas e adotar o novo, mesmo que lhe
custe um pouco mais de esforço e tempo para atualizar-se (Guilherme, 2001).
25
22.. AA AATTUUAAÇÇÃÃOO DDOOSS EEDDUUCCAADDOORREESS
2.1. ESTRATÉGIAS DE TRABALHO PARA TODOS OS ALUNOS
Segundo Beatriz Sroz, nas observações realizadas nas salas de aula e
nas entrevistas, surgiram alguns dados referentes às estratégias de trabalho
utilizadas para todos os alunos. De um lado foram priorizados os dados referentes
às estratégias de ensino mais freqüentemente utilizadas e, de outro, aquelas que
apresentam uma relação mais próxima com os problemas de aprendizagem
apontados pelos professores.
Foram encontrados professores utilizando várias estratégias: cartilhas,
como ponto de apoio. O livro texto, em qualquer das etapas escolares, não deve
ser um fim, mas um instrumento de provocação, que conduz o educando a
habilidades para conclusão de um determinado assunto programático proposto. O
livro texto funciona como um ponto de partida ou apoio, um modelo norteador
para a apresentação e desenvolvimento do conteúdo, sobretudo para os
professores principiantes. O livro texto nunca deve constituir um instrumento
principal, mas provocador e que funciona dentro e fora da escola.
Há professores do Primeiro Segmento utilizam cartilha, outros não
adotam este instrumento.
O material didático para as classes iniciais causa muita dificuldade na
sua escolha e o uso adequado do mesmo.
A escolha do material didático deve ser criteriosa, visando proporcionar
facilitar a aprendizagem dos alunos.
Todo o material didático deve ser direcionado para a autonomia do
aluno, no pensar e no agir.
26
Para que a interação social atue a zona de desenvolvimento proximal,
fazendo com que os processos maturacionais em andamento complementem-se
e forneçam novas bases para novas aprendizagens, é preciso plantar situações
educativas que promovam uma aprendizagem efetiva e prazerosa, levando os
alunos a expor seus conhecimentos, a questionarem e se apropriarem de novos
conhecimentos. Também é necessário orientar a interação social por meio de
regras claras, bem definidas, organizando, integrando, concebendo atividades
bem coordenadas, ajudando os alunos a superarem os entraves que aparecem
ao longo da construção do saber.
2.2. ESTRATÉGIA DE TRABALHO PARA ALUNOS QUE APRESENTAM
PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM
Existem escolas que já trabalham com classes de desdobramento e
classes homogêneas.
Um dos fatores positivos da formação dessas de desdobramento é que
eles recebem um pouco mais de atenção dos professores, a fim de superar a sua
defasagem. É um desafio para o professor ensinar também os alunos candidatos
ao fracasso e esses percebendo que estão recebendo uma atenção especial,
acabam conseguindo obter sucesso. Geralmente nessas classes, o professor tem
que estar atento, pois os alunos mais fracos costumam juntar-se aos mais fortes
e, por ser mais fraco, copia sempre, mas na hora de expor suas idéias não
conseguem. É o caso do aluno que tira boa nota num trabalho de classe e não
consegue numa avaliação, onde ele deverá expor o que aprendeu.
Esse aluno vai sempre aceitar a idéia do outro, e a sua ele não
conseguirá expor, ao passo que se ele fosse colocado com um colega com o
mesmo nível, parecido, haveria uma troca. Se o outro está muito além, não
haverá uma troca, pois o mais fraco só recebe e não cria nada.
As classes homogêneas, para se trabalhar é melhor, mas impede o
aluno de vivenciar outros níveis de conhecimento e que as mais fracas se
beneficiam com o contato com as mais experientes.
27
Além disso, cabe ao professor trabalhar de forma a atender aos dois
grupos, sem caracterizar os mais fracos de deficientes e fracassados. Estes
alunos não são incapazes, só tem uma outra forma mais lenta de chegar ao
mesmo nível dos outros, dependerá da experiência do professor.
Amor, carinho e afeto são as armas que o professor usa para superar
as deficiências de aprendizagem que os alunos apresentam.
Quando um aluno se torna rebelde e perturbador é porque ele não
sabe o que fazer com as suas tarefas. Entra aí a experiência do professor, a fim
de evitar que esse aluno fique com ansiedade. Cabe à escola propiciar ao
professor oportunidade de interação com o conhecimento, que deve ser tão
importante quanto na aprendizagem do aluno.
Uma das estratégias utilizadas pelos professores, quando o aluno
apresenta problema na aprendizagem, é entrar em contato com a família e fazer
com que ela participe das dificuldades da criança, valorize o estudo dos filhos, o
que a escola representa na vida deles e o que pretende com a escolarização dos
filhos. Dessa forma direta afetiva, talvez encontrasse elementos para redirecionar
o trabalho com os alunos. Encaminhar os alunos que apresentarem os problemas
da aprendizagem freqüentes a um profissional para fazer uma anamnese e,
assim, determinar o tratamento adequado.
2.3. FACILIDADES ENCONTRADAS
Hoje uma das facilidades encontradas é poder contar com profissionais
especializados nas diversas áreas consideradas problemas da aprendizagem ou
ligadas a ela: problemas físicos, alimentares, trabalho, vagas nas escolas,
doenças, desnutrição e a pior doença é a falta de visão do futuro, perspectiva de
vida.
2.4. DIFICULDADES ENCONTRADAS
São inúmeros fatores que têm dificultado o trabalho de professores
com alunos com problemas de aprendizagem: falta de formação e
28
desenvolvimento profissional de orientação, de estrutura e condições de
funcionamento das escolas.
A falta de conhecimentos teóricos consistentes é um dos fatores que
leva os professores a encontrarem dificuldades para reformular e “criar”
estratégias de ensino adequadas aos objetivos traçados, fazendo-os procurar
respostas enlatadas para as suas dúvidas. Outro fator é e influência sofrida por
parte do sistema escolar durante anos. Nas escolas públicas, os professores
recebem a programação já elaborada, transformando-os em meros reprodutores
de atividades por outros, destituindo-os do seu saber, reforçando a dicotomia
entre o fazer e o pensar.
Uma outra dificuldade é a grande carência de nosso país no setor
educacional, levando em conta a economia, a política e a extensão territorial, que
coloca o Brasil como um país campeão, com professores leigos, sem formação
adequada para ensinar no ensino fundamental.
A Psicopedagogia sabe que os problemas educacionais e de
aprendizagem, muitas vezes, são decorrentes da organização e da forma de
desenvolvimento social. Os próprios paradigmas seguidos pelo nosso sistema
através da história, têm dificultado as mudanças, ficando só nas críticas. A
Psicopedagogia não desconhece que, a Educação sofrer a determinação da
sociedade, exerce sobre ela parcela de influência, podendo ajudá-la no seu
processo de transformação. “É nesse momento que ela deseja realizar”.
No início deste século, terceiro milênio, a evolução da economia, das
relações internacionais e dos grandes avanços tecnológicos, coloca-nos a
questão do conhecimento como prioritária, porque exige recursos humanos cada
vez mais capacitados e capazes de produzir, criticar, processar, transformar e
comunicar-se. A queda dos grandes impérios totalitários tem contribuído para que
haja algo imprescindível para o ser humano: liberdade e qualidade de vida.
Anseia-se uma sociedade com um padrão de vida melhor, em que os bens e o
conhecimento produzidos pelo desenvolvimento sejam democratizados.
29
Para que ocorra uma ação transformadora, é preciso abrir mão de
posturas educacionais radicais, e abraçar propostas nas quais as denúncias e
críticas ao sistema educacional brasileiro cedam lugar a um trabalho vinculado,
que defina o papel das diferentes ciências em relação à educação e considere o
ser humano total em toda a sua dimensão.
2.5. O PAPEL DO EDUCADOR É RECONHECER AS DEFICIÊNCIAS E
AS EFICIÊNCIAS DO EDUCANDO
Ao educador cabe examinar, acompanhar e avaliar o comportamento
de cada criança, assim como avaliar o resultado da aprendizagem de acordo com
a média do grupo ao qual a criança pertence.
É de competência do professor detectar as possíveis causas dos
distúrbios que podem ser: orgânicos, psicológicos e ambientais.
Uma vez encontrado qualquer um dos distúrbios da criança, o
professor deve se encaminhar junto aos familiares do aluno para tratamento. O
entrosamento família-escola é sempre importante.
Se considerar o ensino como um processo de influência interpessoal, a
interação terá um caráter de solidariedade e co-responsabilidade, preservando-se
o rigor e a seriedade no tratamento dos conteúdos.
O aluno, por sua vez, assumirá uma atitude de aproximação ou
afastamento, conforme se perceber neste contexto, o que influirá fortemente em
sua aprendizagem.
O papel do professor deve ser de mediador entre o aluno, capaz de
conhecer, e a verdade, que pode ser conhecida. A comunicação do professor com
os alunos se realiza em dois níveis: no conhecimento e na visão de mundo. Todo
ensino supõe diálogo, comunicação, cognição e afetividade.
30
33.. OO PPAAPPEELL DDAA PPSSIICCOOPPEEDDAAGGOOGGIIAA NNAA
AAPPRREENNDDIIZZAAGGEEMM
A Psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem a partir de uma
contextualização teórico-prática que advém da Pedagogia e da Psicologia. A
práxis psicopedagógica apresenta propostas educacionais que convidam a
criança a participar ativamente do seu processo de aprendizagem; o que
configura a necessidade de uma mudança qualitativa no ensinar e no aprender. O
aprender vivido de forma mais integrada, propõe um conhecimento experenciado
na totalidade das relações intrínsecas e extrínsecas à aquisição do conhecimento
(Alessandrini, 1996, p. 21).
A partir da década de 80, a Psicopedagogia, em função da eficiência
demonstrada na clínica, tem se estruturado como corpo de conhecimentos e se
transformando em campo de estudos multidisciplinares. Seu objetivo é resgatar
uma visão mais globalizante do processo de aprendizagem e, conseqüentemente,
dos problemas decorrentes desse processo (Scoz, 1992, p. 23).
Especialista em Psicopedagogia pode atuar tanto em nível clínico
quanto institucional, pois propõe compreender a atuar nos vínculos presentes
entre o ato de ensinar e a ação de aprender, assim como nas possíveis barreiras
que impedem seu fluir harmonioso.
É de suma importância dialogar com a criança, em sua busca
constante da compreensão de suas inquietações e desejos, assim como de seus
mecanismos de aprendizagem, pois podemos então “relacionar os diferentes
elementos que pertencem aos sistemas em que se está trabalhando: nossos
pensamentos, das crianças, o diagnóstico, a intervenção, a família e a escola”
(Macedo, 1994, p.91).
31
A Psicopedagogia reconhece que a criança deve desenvolver no lar e
na escola, onde o aprender é intencional e sistematizado.
Quando depara com dificuldade em aprendizagem, e o aluno se depara
com a necessidade de reestruturar a sua maneira de aprender, o novo caminho e
experiência são fundamentais na descoberta do valor, importância e o sentido do
conhecimento. Não para que haja um desempenho qualitativo, mas possa viver
melhor.
A Psicopedagogia tem a função de antecipar situações que possam
gerar uma aprendizagem frustrante, formando e orientando o trabalho do
educador, para que sua função seja prazerosa. Quando ocorre uma parada na
aprendizagem, o psicopedagogo clínico atua na reintegração do aluno no
contexto escolar, possibilitando o resgate do poder de simbolizar, criar e agir
ativamente na construção do conhecimento.
O psicopedagogo pode atuar na instituição, interferindo no conteúdo,
para que torne significativo, dinâmico em uma relação direta com a experiência de
vida do educando. Fagali criou a Psicopedagogia dos conteúdos nas salas de
aulas, que revoluciona a inter-relação professor-aluno. Sua visão aponta que o
trabalho psicopedagógico atua no aluno, sensibilizando-o e estimulando para a
construção dos conteúdos a nível interno, mas elícita fundamentalmente uma
transformação na postura do professor (Fagali, 1993, p.11).
A Psicopedagogia pode também ampliar e desenvolver a consciência
do professor, de modo a desencadear ações educativas completas e integradas
ao sentir seus alunos. A Psicopedagogia surgiu com uma necessidade de
compreender os problemas na aprendizagem, refletindo sobre as questões
relacionadas ao desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo, implícitas nas
situações de aprendizagem (Fagali, 1992, p. 9).
Quando o psicopedagogo se depara com a importância de inferir os
mecanismos de aprendizagem que a criança desenvolveu e que ocorre de forma
inadequada, sendo o processo educacional abrangente, assim como a
necessidade de pesquisar o conhecimento acumulado a partir de outras áreas
32
afins, podendo chegar a uma compreensão desses mecanismos. Isso só será
possível se o profissional da educação tiver acesso a informações das várias
ciências, como a Pedagogia, a Psicologia, a Sociologia e a Psicolingüística, de
forma a atingir um conhecimento profundo, que deve estar vinculado à realidade
educacional brasileira, possibilitando uma visão global do aluno (Scoz, 1992, p.
3).
A Psicopedagogia trabalha com a totalidade do ser, possibilitando ao
educando o seu desenvolvimento integral. Considera-se que também uma forma
dele construir seu conhecimento e seu processo de aprendizagem ao longo de
sua vida.
33
CCOONNCCLLUUSSÃÃOO
Em virtude dos fatos observados, conclui-se que as observações
escolares do dia a dia do professor em sala de aula devem ser feitas por escrito e
de comum acordo com a equipe da escola, conforme um critério com consenso,
cada um dando a sua opinião sobre as características do comportamento que a
criança apresenta, seja ela positiva ou negativa. Se estas características forem
diferentes dos padrões normais, levar em consideração a faixa etária e tentar a
solução junto à família e até mesmo a nível de sala de aula.
Será necessário um encaminhamento só depois de esgotados os
recursos junto à família e da escola. A opinião de um especialista em educação
(psicopedagogo, psicólogo, médico e um orientador educacional) ajudará muito
na tranqüilidade da família e professores sobre o problema detectado.
Há fases em que determinados problemas são de ordem orgânica,
emocional e ambiental, cessando após um acompanhamento especializado. O
trabalho do professor e do profissional não deve conter excesso de mimo e não
permitindo a dependência, mas deve agir com firmeza e segurança; a criança
deve sentir-se amada, envolvida, nunca determinar tarefas que vão além de suas
possibilidades, mas o que ela realmente pode produzir.
Respeitar a criança e, portanto, apontar os seus limites e, ao mesmo
tempo, estimulá-la à criatividade.
Para que haja êxito não há uma receita e sim uma dedicação e amor à
criança com defeito ou não, o que importa é que construa uma ponte para levá-la
a aprender. Um novo olhar é sempre bom.
34
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