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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO FRENTE OS DESAFIOS DA ESCOLA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA Por: Anderson de Oliveira Theodoro Orientador Profª. Edla Trocoli Rio de Janeiro 2011

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · 2011. 2. 21. · A Comunidade Católica Shalom e aos meus irmãos de Comunidade pelas constantes intercessões e auxílio

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  • UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

    FACULDADE INTEGRADA AVM

    O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO FRENTE OS DESAFIOS DA

    ESCOLA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

    Por: Anderson de Oliveira Theodoro

    Orientador

    Profª. Edla Trocoli

    Rio de Janeiro

    2011

  • 2

    UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

    FACULDADE INTEGRADA AVM

    O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO FRENTE OS DESAFIOS DA

    ESCOLA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

    Apresentação de monografia à Universidade

    Candido Mendes como requisito parcial para

    obtenção do grau de especialista em

    Psicopedagogia.

    Por: Anderson de Oliveira Theodoro

  • 3

    AGRADECIMENTOS

    A Deus que presenteou com o maior

    dom: a vida, que diante de minhas

    limitações e fraquezas me sustenta e

    fortalece e a cada momento me acolhe

    com amor misericordioso, me

    capacitando com suas graças no

    término deste trabalho.

    A Comunidade Católica Shalom e aos

    meus irmãos de Comunidade pelas

    constantes intercessões e auxílio

    através da vida comunitária.

    Aos meus pais Antônio Carlos e Maria

    José, primeiramente pelo sim à

    vontade de Deus em relação a minha

    vida, e também por todo apoio,

    incentivo e auxilio para que eu

    chegasse até este momento.

    A minha irmã Elisangela por todo

    carinho e auxílio em todas as etapas

    da minha vida.

  • 4

    DEDICATÓRIA

    A todos os educadores que vêem na

    Educação uma possibilidade de

    transformação da presente sociedade. De

    maneira especial aos meus professores

    do curso de Pós-Graduação em

    Psicopedagogia, os quais me

    possibilitaram ampliar e re-significar

    minha visão de mundo e da realidade

    educacional

  • 5

    RESUMO

    Este estudo objetivou analisar o papel do psicopedagogo frente os desafios da

    escola na contemporaneidade, diante do desinteresse pelo processo de ensino

    aprendizagem. Tendo como desdobramentos deste objetivo: Caracterizar as

    mudanças na sociedade com o advento da Contemporaneidade segundo

    Bauman; Apresentar a escola na relação da alegria com o obrigatório segundo

    Snyders; Apontar os desafios da sociedade contenporânea que perpassam a

    Educação; analisar os fatores intra e extra-escolares que são responsáveis

    pelo desinteresse pela escola, e abordar de que forma a prática

    psicopedagógica pode contribuir neste contexto de mudanças. Neste sentido,

    toda rigidez de que se reveste em geral a organização e a dinâmica

    pedagógica escolar, assim como o caráter monocultural da cultura escolar,

    precisam ser fortemente questionados. Devem ser enfatizados a dinamicidade,

    flexibilidade, a diversificação, as diferentes leituras de um mesmo fenômeno,

    as diversas formas de expressão, o debate e a construção de uma perspectiva

    crítica plural. Desta forma o desinteresse estaria diretamente relacionado a

    uma série de aspectos associados à ineficiência da prática pedagógica

    desenvolvida, tais como: propostas curriculares problemáticas e metodologia

    que subestimam a capacidade do aluno, cobrança excessiva de postura

    sentada, inadequação da organização do espaço da sala de aula e do tempo

    para a realização das atividades para as crianças, constante uso de sanções e

    ameaças visando ao silêncio da classe, pouco diálogo, etc. Sendo assim o

    psicopedagogo na escola poderá contribuir de forma bastante eficaz na

    relação professor/aluno, orientando esse profissional a avaliar as dificuldades

    escolares que se apresentem, buscando identificar a origem do problema que

    pode concentrar-se no aluno, na família, no meio social, na escola ou na

    própria personalidade do aluno, objetivando re-significar essa aprendizagem

    integral (acadêmica e formativa) facilitando o processo ensino- aprendizagem.

  • 6

    METODOLOGIA

    Para alcançar os objetivos citados, o presente estudo realizou uma

    pesquisa bibliográfica. A partir de uma documentação indireta, com consulta a

    fontes secundárias será realizada uma revisão de literatura em livros,

    periódicos, publicações, monografias, imprensa escrita, sites de origem

    acadêmica, a fim de coletar os dados necessários para esta produção.

    Num primeiro momento, para caracterizar as mudanças na sociedade

    com o advento da Contemporaneidade o presente trabalho teve como

    fundamento à obra ―Modernidade Líquida‖ de Bauman, a qual afirma que a

    modernidade altera as novas formas de convívio humano é compulsiva e

    obsessiva, contínua, irrefreável e sempre incompleta modernização, isso tudo

    em nome da maior produtividade ou da competitividade. Impingindo uma

    desordem social e mudança de valores, promulgando uma mudança de

    pensamento e uma nova consciência do homem. E ainda segundo Bauman

    (2001) é um estágio fluído da modernidade, uma velocidade atordoante da

    circulação, da reciclagem, do envelhecimento, do entulho e da substituição que

    traz lucro hoje – não a durabilidade e confiabilidade.

    Foram utilizados também os estudos de Snyders (1996) para apresentar

    a escola, enfatizando a relação da alegria com o obrigatório, o qual afirma que

    a singularidade de sua escola é transformar os conteúdos escolares a ponto de

    colocar em primeiro plano a obra-prima e a alegria que o aluno pode extrair da

    obra-prima, sedo desta forma uma escola que ambicione confrontar o aluno

    com ass conquistas humanas essenciais, na esperança de que ele alcance

    assim alegrias essenciais.

    Quem duvida que a nossa escola seja lugar de cumprir obrigações? O

    aluno não escolhe nem os seus professores, nem os colegas, nem tampouco

    as modalidades de vida com eles. Não escolhe o que estuda, nem a maneira

  • 7

    pela qual se estuda, os programas e os horários são impostos. É domínio do

    ―dever‖; autoridades nos vigiam para que nos conformemos às ordens1.

    Com a finalidade de apontar os desafios da sociedade contemporânea

    que perpassam a Educação foram utilizadas as pesquisas de Candau (2008)

    onde afirma que vivemos uma época em que a consciência de que o mundo

    passa por transformações profundas é cada dia mais forte. Onde esta

    constatação suscita reações contraditórias, ao mesmo tempo de insegurança e

    medo, potenciadores de apatia e conformismo, como também de novidade e

    esperança, mobilizadores das melhores energias e criatividade para a

    construção de uma escola diferente, mais humana e solidária.

    Os estudos desenvolvidos por Rego (1996) ajudarão a analisar os

    fatores intra e extra-escolares que são responsáveis pelo desinteresse pela

    escola, ao trazer a tona à ineficiência da prática pedagógica desenvolvida, tais

    como: propostas curriculares problemáticas e metodologia que subestimam a

    capacidade do aluno, cobrança excessiva de postura sentada, inadequação da

    organização do espaço da sala de aula e do tempo para a realização das

    atividades à autonomia e às interações os alunos, constante uso de sanções e

    ameaças visando ao silêncio da classe, pouco diálogo, etc. E também

    influências externas como carências culturais, afetivas e sociais, como também

    fatores políticos e econômicos que determinam o modelo de escola atual.

    Deste modo, a pesquisa se fundamentou principalmente nos estudos e

    reflexões que os referidos autores fazem da temática em questão, bem como

    em outros autores que possam auxiliar a compreensão do desafio atual para

    escola frente ao advento da sociedade contemporânea.

    1 SNYDERS, George. Alunos felizes. São Paulo: Paz e Terra, 1996. p. 101

  • 8

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO 09

    CAPÍTULO I - A relação entre Contemporaneidade e Escola 17

    CAPÍTULO II - Os desafios da Contemporaneidade que perpassam a Educação 30 CAPÍTULO III – O Psicopedagogo frente os desafios da Escola na Sociedade Contemporânea 42 CONCLUSÃO 51

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 56

    BIBLIOGRAFIA CITADA 60

    ÍNDICE 63

    FOLHA DE AVALIAÇÃO 65

  • 9

    INTRODUÇÃO

    Segundo Gómez (1996), a função da escola, concebida como

    instituição especificamente configurada para desenvolver o processo de

    socialização das novas gerações aparece puramente conservadora: garantir

    a reprodução social e cultural como requisito para a sobrevivência mesma

    da sociedade.

    Desta forma, a escola por seus conteúdos, por suas formas e por

    seus sistemas de organização, introduz nos alunos paulatinamente as

    idéias, os conhecimentos, as concepções, as disposições e os modos de

    conduta que a sociedade adulta requer. Com isso a escola cumpre a função

    de impor a ideologia dominante na comunidade social mediante um

    processo mais ou menos aberto e explícito de transmissão de idéias e

    comunicação de mensagens, seleção e organização de conteúdos de

    aprendizagem.

    Para Enguita (1990) a escola é uma trama de relações sociais

    materiais que organizam a experiência cotidiana e pessoal do aluno com a

    mesma força ou mais que as relações de produção podem organizar as do

    operário na oficina ou as do pequeno produtor no mercado. Por que então

    olhar o espaço escolar como se nele não houvesse outra coisa em que se

    fixar além das idéias que se transmitem?

    Tal realidade tem reflexo nas diferentes posturas dos alunos

    frente ao processo de ensino-aprendizagem, onde segundo Caldas e

    Hubner (2001), o interesse e prazer em aprender demonstrados pelas

    crianças, parecem diminuir consideravelmente à medida que crescem e

    avançam nos anos escolares, ou seja, com o passar do tempo, esta criança

    vai desanimando-se, desmotivando-se, desinteressando-se e a emocionante

    construção de novos conhecimentos parece tornar-se um pesado fardo.

  • 10

    A percepção do desinteresse existente no cotidiano escolar

    encontra respaldo em vários estudiosos, como Sidman (1995), por exemplo,

    que tem se dedicado a pesquisas sobre o controle aversivo2, um dos fatores

    que agem como determinantes no desinteresse das crianças pela escola.

    Ele também afirma que nos primeiros anos, a maioria dos alunos aprende

    com vontade, os poucos aprendizes relutantes destacam-se dos outros. A

    partir dos graus intermediários, e da escola secundária até a universidade, a

    balança muda, estudantes sem nenhuma vontade predominam.

    George Snyders (1996), em sua pesquisa sobre a alegria na

    escola, encontrou bastante dificuldade para compilar textos literários que

    retratassem esta emoção no ambiente escolar. Segundo o autor, o mais

    desconcertante é o caso dos escritores: a maioria, ao evocar sua juventude,

    nem mesmo concebe que a alegria seja possível na escola. Eles proclamam

    que não só sua experiência de vida, mas até mesmo suas leituras, deram-se

    essencialmente fora da escola, na maior parte das vezes na biblioteca de

    seus pais.

    Moreira (1988) também relata sua tristeza ao descobrir que uma

    criança ao ser indagada sobre o que mais gostava na escola respondeu que

    o melhor acontecia até que a aula começasse. O desencantamento

    caracteriza-se por comportamentos específicos que o alunado desenvolve

    ao longo de sua trajetória estudantil, deste modo percebe-se que ―ausências

    à aula, desculpas esfarrapadas, alegria indisfarçada diante de um feriado

    inesperado, murmúrios de pesar quando uma prova é anunciada, evidente

    alívio ao aproximar-se o fim de semana, são claros indicadores da

    desmotivação‖ (KELLER, 1983, p. 35).

    2 Segundo Sidman (1995), entende-se por controle aversivo à utilização por parte dos professores de ameaças, punições e reforçadores arbitrários, como controladores de ordem no processo de ensino-aprendizagem.

  • 11

    Perrenoud (1995) retrata a situação de alunos com investimento

    mínimo no trabalho escolar, cujo comportamento caracteriza-se por atitudes

    de escárnio, absenteísmo mental, resistência passiva ou de algazarra.

    Ceccon, Oliveira e Oliveira (1993) definem a escola como um lugar onde os

    alunos não se sentem bem, nem à vontade, nem mesmo aqueles que fora

    da escola são faladores, espertos, curiosos e alegres, dentro da escola vão

    ficando calados, passivos e tristes.

    Diante destas realidades é preciso pensar nos possíveis

    determinantes do desinteresse das crianças pelo processo de ensino-

    aprendizagem, que fazem com que essas cada vez mais se desestimulem

    por estar no âmbito escolar. Para Guimarães (2001, p.78), diversos fatores

    intra e extra-escolares podem influenciar na motivação do aluno em sala de

    aula.

    Quem observa um aluno pouco interessado nos conteúdos e

    atividades escolares pode, à primeira vista, atribuir essa falta de motivação

    a fatores emocionais, familiares, econômicos, a características de

    personalidade, preferências por outras situações não ligadas à escola, como

    jogos, cinema, música, entre outros. No entanto, a motivação do aluno e

    suas causas não é um assunto que se limite à família, a ele próprio ou a

    outras condições fora da situação escolar. O que ocorre normalmente é uma

    combinação de fatores, resultando num sistema de interações

    multideterminadas. De maior relevância é o que ocorre dentro da escola e

    da própria classe.

    Segundo Rego (1996), as dinâmicas turbulentas presentes em

    muitas salas de aula (como, por exemplo, elevada incidência de conflitos,

    tensão, agitação e impulsividade motora, dispersão, descontrole emocional,

    falta de interesse, etc.) retratam, entre outros aspectos, os equívocos da

    escola em face das necessidades, interesses e possibilidades do aluno.

  • 12

    Nesta visão, o desinteresse estaria diretamente relacionado a

    uma série de aspectos associados à ineficiência da prática pedagógica

    desenvolvida, tais como: propostas curriculares problemáticas e

    metodologia que subestimam a capacidade do aluno, cobrança excessiva

    da postura sentada, inadequação da organização do espaço da sala de aula

    e do tempo para a realização das atividades para as crianças, constante uso

    de sansões e ameaças visando ao silêncio da classe, pouco diálogo, etc.

    Essa perspectiva aponta, principalmente para as crianças das camadas

    populares, portadoras do maior índice de desinteresse, haja vista as mais

    variadas deficiências e privações sociais agindo de forma a culpabilizar a

    criança e o seu meio social pelo seu desinteresse pela escola.

    Arroyo (2001) ao falar de cultura escolar, reconhece que os

    alunos e os profissionais da escola carregam para esta suas crenças, seus

    valores, suas expectativas e seus comportamentos, sendo estes

    diferenciados devido à diversidade social e cultural dos indivíduos nela

    envolvidos.

    Nesta perspectiva conclui-se que o desinteresse pela escola é

    produzido de variadas formas pelo sistema de ensino, pela cultura escolar e

    pelos fatores sociais, políticos e econômicos que perpassam o interior e

    exterior da escola. Sem dúvida trata-se de uma escola cuja prática está

    permeada por uma ideologia que legitima as desigualdades sociais e étnicas

    e reforça a crença que as crianças pobres são desinteressadas e por isso

    não aprendem. Diante dessas realidades surge uma amplitude de

    questionamentos que conduziram o presente estudo a buscar respostas

    para a seguinte questão: Porque o desinteresse pelo processo de ensino-

    aprendizagem e seus determinantes evidenciam que a Escola enfrenta um

    desafio com o advento da contemporaneidade e de que forma o

    psicopedagogo pode contribuir de forma significativa no atual contexto

    educacional?

  • 13

    Deste modo o objetivo que norteou a presente pesquisa foi

    analisar os desafios da escola na contemporaneidade, frente ao

    desinteresse existente pelo processo de ensino aprendizagem. Tendo como

    desdobramentos deste objetivo: Caracterizar as mudanças na sociedade

    com o advento da Contemporaneidade segundo Bauman; Apresentar a

    escola na relação da alegria com o obrigatório segundo snyders; Apontar os

    desafios da sociedade contemporânea que perpassam a Educação; analisar

    os fatores intra e extra-escolares que são responsáveis pelo desinteresse

    pela escola; e abordar de que forma a prática psicopedagógica pode

    contribuir neste contexto de mudanças.

    A temática do desinteresse pelo processo de ensino-

    aprendizagem como um desafio para a escola na Contemporaneidade do

    desinteresse pelo que é ensinado na escola é o objeto de estudo desta

    pesquisa em virtude de sua relevância e pela necessidade de uma maior

    reflexão no campo educacional sobre esta temática, já que na literatura

    vigente é minúscula a produção de conhecimento a esse respeito.

    No mundo atual segundo Candau (2008), a consciência de que

    estamos vivendo mudanças profundas, que ainda não somos capazes de

    compreender adequadamente, é cada vez mais aguda. Esta realidade

    provoca em muitas pessoas insegurança, incerteza e suscita as mais

    variadas reações, de perplexidade, inquietude, medo, assim como, também,

    de busca e criatividade.

    Deste modo é importante destacar que em abril deste ano foi

    divulgada pela Fundação Getúlio Vargas a pesquisa, ―Equidade, eficiência e

    educação: motivações e metas3‖, tendo grande repercussão a nível nacional

    por apontar o desinteresse dos estudantes pela escola, como o principal

    responsável pelo índice de evasão escolar dos jovens na faixa etária de 15

    a 17 anos e o segundo no índice de evasão das crianças de 7 a 14 anos.

    3 Cf. Jornal O Globo, Rio de Janeiro, p. 13, 05 de abril 2007.

  • 14

    Campos (1997), em seu trabalho sobre o desprazer de ensinar e

    aprender nos dias atuais vem corroborar vários dos aspectos elencados no

    presente trabalho. Sua pesquisa realizada com alunos de sexta, sétima e

    oitava série, pais e professores de uma escola pública de São Paulo, teve

    como objetivo relatar os sentimentos que estes sujeitos nutriam em relação

    à escola. O desinteresse pela aprendizagem escolar permeou as respostas

    dos diferentes sujeitos de forma evidente. Pais consideram a escola

    desinteressante, professores queixam-se do desinteresse dos alunos, e os

    alunos, por sua vez, manifestam claramente o descontentamento com a

    escola acompanhado do desejo de que ela mude.

    Caldas e Hubner (2001) em sua pesquisa sobre o

    desencantamento com o aprender na escola, ao apresentarem uma questão

    sobre a incidência de alunos desinteressados por aprender em sala de aula

    tiveram os seguintes resultados: a resposta ―muitos não gostam de

    aprender‖, apresenta índice zero nas respostas dos alunos do Jardim III à

    quarta série. Na 6ª série 20% dos alunos consideram que ―muitos colegas

    não gostam de aprender‖ e nas respostas dos alunos de 8ª série este índice

    eleva-se para 80%. Diante destes dados elas contataram que à medida que

    as crianças crescem, a escola vai tendo menos habilidades em tornar o

    conhecimento agradável e interessante, dificultando deste modo à presença

    do prazer e alegria no processo de ensino-aprendizagem.

    Druck (2004) no seu estudo referente o ensino de matemática,

    aborda a crise existente no que diz respeito às condições de trabalho dos

    professores, principalmente da rede pública, sendo elas extremamente

    perversas e desmotivantes. Sendo assim alunos e professores sofrem

    carência de motivação para o ensino e aprendizagem de matemática. Para

    Diniz (2003), o distanciamento da matemática escolar com a realidade do

    dia-a-dia pode desmotivar alunos para o processo de ensino-aprendizagem.

    Segundo Arroyo (2001) nas últimas décadas do século passado passou-se

    a pensar a ―cultura do fracasso‖ presente nas instituições escolares,

  • 15

    questionando-se, conseqüentemente a própria instituição. Segundo o autor

    a cultura da exclusão está materializada na organização e na estrutura do

    sistema escolar.

    Diante das realidades apresentadas fica claro que o sistema

    escolar continua tendo grande dificuldade de lidar com as diferenças sócio-

    culturais, naturalizando o fracasso escolar e cristalizando a concepção de

    que as dificuldades de aprendizagem escolar da criança pobre decorrem de

    suas condições de vida. A priorização das atitudes do aluno em sala de aula

    como um elemento chave da avaliação da aprendizagem, sem que os

    conteúdos e atividades sejam questionados revela uma escola cuja principal

    função continua sendo a de domesticar mentes e corpos.

    Nesse sentido, justifica-se este estudo pela real necessidade de

    re-significar o papel da escola e contribuir para que o desinteresse dê lugar

    a alegria e o aprazer aos alunos e educadores envolvidos neste processo.

    Embora as mudanças na Educação pressuponham ações muito amplas,

    dentro e fora do espaço escolar, propõe-se aqui uma reflexão sobre a

    necessidade de reconciliação entre o interesse em aprender e a escola,

    ainda que tenha dado o primeiro passo: evidenciar o desafio da escola na

    sociedade contemporânea.

    Esta pesquisa destina-se, sobretudo aos profissionais e

    estudantes da área de educação, bem como a todos que desejam refletir

    sobre os principais fatores intra e extra-escolares que determinam o

    desinteresse dos alunos pelo que é ensinado na escola de modo a

    despertar a necessidade de re-significação de reprodução social que a

    escola desempenha.

    Tem grande contribuição no âmbito social ao trazer a tona à

    forma como a escola é constituída e de como os conteúdos são tratados, de

  • 16

    forma a não corresponder aos interesses e necessidades das crianças, por

    não levar em conta seu mundo experencial dentre outros fatores.

    Objetiva-se com isso auxiliar na formação do professor reflexivo

    que deve, além de transmitir as crianças os conteúdos historicamente

    produzidos e socialmente necessários, mediar essa apropriação,

    selecionando, em cada momento do processo pedagógico, os conteúdos

    que estão mais próximos da realidade de cada aluno, para com isso

    despertar interesse e motivação pelo processo de ensino-aprendizagem em

    que estão inseridos.

  • 17

    CAPÍTULO I

    A RELAÇÃO ENTRE CONTEMPORANEIDADE E

    ESCOLA

    1.1 - A Contemporaneidade Segundo Bauman

    O advento da Contemporaneidade traz consigo consideráveis transformações no que diz respeito a presente sociedade. Segundo Bauman

    (2001) acontece à passagem de uma modernidade "pesada" e "sólida4" para

    uma modernidade "leve" e "líquida5", infinitamente mais dinâmica, de forma

    que o sólido é aquilo que para outros pensadores, como Weber e Marx, soa

    como algo retrógrado, ultrapassado, rígido, duradouro e previsível em suas

    formas e possibilidades, em muitos de seus aspectos (econômico, social,

    político, etc.).

    Frente a isso, um outro termo usado pelo autor – derretimento – será

    empregado para designar a desintegração desse discurso sólido e fixo já em

    vias de enferrujamento dos compostos institucionalizados. Agora, nessa nova

    modernidade maleável, para Bauman o que vigora é a ascensão de um

    objetivo individual, em declínio dessas instituições, analogamente, sólidas e

    tradicionalistas. Essa mudança de parâmetros teria provocado, então, uma

    quebra dos moldes, as molduras de classe, alguns dos já históricos pontos de

    orientação. Esses padrões já não estigmatizam o indivíduo, pelo contrário,

    seria do indivíduo que partiria, se chocando com os multifacetados novos

    padrões, cada vez mais micros, de convívio social e, por isso, com sucinta

    fluidez, normas que vão e estão se maleando em curtíssimo espaço de tempo.

    4 Conceito definido por Bauman (Cf. BAUMAN, 2001, p. 7-10). 5 Ibid.

  • 18

    A voraz diminuição dos espaços em locomoção física ou sensorial é um

    dos mais claros exemplos do derretimento desses padrões que eram vigentes.

    Atualmente, computadores e telefonia, ambos móveis e portáteis, levam

    consigo a ordem e agenda de qualquer lugar, em ações que podem criar

    reações transformadoras (caóticas) de qualquer espaço para diversas posições

    do globo.

    Desse modo, as idéias tradicionais de revolução e mudança nesta

    sociedade já estão póstumas, pelo fato que o mundo fluído não permite a

    ―tradicionalidade ideológica‖ com suas táticas pré-determinadas e solidificadas.

    Mas esse não é um comportamento escancarado, na verdade, o maior

    problema da atual sociedade está justamente nesta ausência de se

    autoquestionar e se posicionar, ela prefere não tentar se reconhecer e sente-

    se absolvida a cada justificativa em seu senso comum e/ou acadêmico, o que

    causa certa intransigência a novas questões, principalmente se estas tiverem

    força suficiente para por em juízo o modelo vigente. Importante lembrar que

    não se trata de um embrutecimento, muito pelo contrário, esta sociedade é tão

    pitoresca quanto era a caracterização da sociedade do início do século XX,

    todavia, é evolutiva a seu modo, é de forma voraz e a passos cada vez mais

    largos, velozes, opressivos e normalmente destrutivos para a desmontagem,

    remodelagem e reconhecimento de crenças.

    E o individualismo é papel preponderante aqui, pois se trata da

    empregabilidade de funções mutáveis, fluídas no sentido de liberdade de

    roupagens, diferente do conceito libertário do início do século passado. Esses

    indivíduos, controversamente, não têm controle sobre seus destinos e decisões

    e, o que é pior, nem podem culpar um terceiro pelo seu grilhão imaginativo,

    pois a pseudoliberdade é uma ilusão criada como possibilidade de fuga, da

    incapacidade deste, que não ousa extrapolar os paradigmas. Assim, até o

    espaço público têm-se tornado lugar de problemas privados, socialmente trata-

    se de uma involução ímpar pelo fato de que:

  • 19

    O indivíduo de jure não pode se tornar indivíduo de facto sem antes tornar-se cidadão. Não há indivíduos autônomos sem uma sociedade autônoma, e a autonomia da sociedade requer uma autoconstituição deliberada e perpétua, algo que só pode ser uma realização compartilhada de seus membros (BAUMAN, 2001, p. 50).

    Já que era (e assim deveria ser, segundo o autor) a sociedade como elo

    entre os dois lados deste abismo da individualidade (a real e a almejada),

    como na Antiga Atenas com suas ágoras, não acontece atualmente porque os

    ensejos mesmo que parecidos são almejados em um meio incongruente,

    trocando palavras, o que se passa atualmente é uma condição inédita: a esfera

    pública, outrora laica em espaço e impositiva em dogmas, hoje é a remota

    esperança contra a autonomia de jure. É através do tornar público que essa

    liberdade poderia ser de fato, ou seja, tal qual o sentido completo e genuíno do

    termo, o que é hoje, segundo Bauman, de pouca probabilidade. A dimensão

    pública atualmente tem tentado se livrar do poder que havia já há muito tempo

    gerenciado, enquanto o privado se apossa e o desfigura não para extinguí-lo,

    mas para dar forma a seus interesses momentâneos e ininterruptos.

    Essa desordem (no sentido de não se saber o que vem a seguir) vitalícia

    de seus viventes se difere muito da bula fordista, onde o roteiro funcional era,

    via de regra, por toda a vida e estático. Novamente entra em cena o novo

    sentido de ordem, o da fluidez das águas correntes do capital e de seus

    nadadores funcionais, entretanto isso não significa uma evolução, pois não é a

    maioria que rege ou não se afoga nesse deslocamento, ainda mais quando o

    curso deste rio não é calmo nem pré-determinado.

    Conta-nos que essa (falta de) consciência sobre a ininterrupção faz do

    sujeito um ser inacabado seja ele socialmente visto como um derrotado ou

    bem-aventurado. Isto fica claro nas extintas figuras autoritárias rígidas de um

    capitalismo pesado que deu lugar a um número maior e, por isso, uma disputa

    mais acirrada pelo poder, onde os vencedores governam por tempos e

    espaços muito mais reduzidos que outrora. Atuam como conselheiros pelo que

    por eles é almejado, prometido, pregado e feito. Pela resolução de problemas

  • 20

    cada vez mais pessoais e não pelas atitudes tomadas pelo bem (ou mal) do

    grande grupo sem rosto que é a simbolização da coletividade.

    E aí protagoniza o mais evidente e nocivo comportamento desta

    sociedade: o consumo. Propagou-se um comportamento geral de comprar, não

    apenas produtos e serviços, mas o ato de aquisição fica também evidenciado

    na busca e anexação de personas do indivíduo e as pessoas que com este se

    relacionam, seja o empregado, empregador ou até mesmo o par amoroso.

    Logo, esta sociedade é vista e se porta como consumidora, e não mais

    produtora não existindo um limite para a busca da faustosidade momentânea,

    desde que fuja (sendo inexoravelmente capturada) da regra da padronização

    visual e comportamental, para que os itens que simbolizam a ostentação agora

    em pouco, pouquíssimo tempo, se tornem itens de necessidade as próprias

    pessoas que, cada vez mais, deixam de adquirir bens para se entregar, viver

    para eles.

    As relações interpessoais, segundo Bauman, suspiram um saudosismo

    descaracterizado do pré-conceito do termo, ele não se dá pelas inter-relações,

    mas por uma busca da eficácia de mútua vigilância, de saber quem é você no

    limitado universo de sua vizinhança, ressalta-se, homogênea. Criando-se uma

    situação dúbia, pois ao mesmo tempo em que se investe em proteção,

    adicionando formas de expurgar esses novos vilões, há o enclaustramento,

    cada vez mais reducionista, de seus investidores em uma realidade-cela.

    Acabam-se os contatos? Bauman afirma que estas relações foram

    removidas das situações de casualidade e desnutridas de qualquer interação

    afetiva, já que nunca foi tão fácil se relacionar com outrem sem ter o mínimo de

    contato com estes, com discursos preestabelecidos (de aquisição e não de

    interação) e em lugares já determinados, na verdade, denominados pelo autor

    de ―não-lugares‖. Os ―não-lugares‖ são, normalmente, espaços que se presta a

    exercitar a sua indiferença com o ambiente que o cerca. A não sociabilidade e

    civilidade desses espaços não permitem estada por estendido limite de tempo

  • 21

    e nem sensação de se estar ali. Transportes públicos, quartos de hotel, fast-

    foods, etc. se apresentam como lugares domiciliares, mas sem as liberdades

    do lar. Assim como lugares que não interessam, que não valem menção de

    memória, como a miserabilidade de favelas ou a morbidez de cemitérios, estes

    espaços não recebem atenção destas pessoas, mesmo que elas, algumas

    diariamente, façam tal trajeto, até porque:

    O vazio do lugar está no olho de quem vê e nas pernas ou rodas de quem anda. Vazios são os lugares em que não se entra e onde se sentiria perdido e vulnerável, surpreendido e um tanto atemorizado pela presença de humanos. (BAUMAN, 2001, p. 122).

    As regras são claras: conversa-se, negocia-se, cumprimenta-se

    cordialmente, mas sempre evitando maior contato, como dogmatiza essa

    modernidade leve e solta que assim desfigura a, então, relação congruente da

    idéia de espaço-tempo de outrora, como no tempo em que a velocidade

    dependia do esforço humano ou animal, hoje as extensões fisiológicas, que

    abocanham espaços cada vez maiores em cada vez menos tempo, estendem

    distâncias, encurtam o tempo, expandem a expectativa de vida, mas tornam

    todo ato desse tempo de locomoção e vivência numa ação instantânea,

    imediatista, aonde a exaustão e desaparecimento do interesse também vêm

    neste bojo a reboque.

    Toda produção e trabalho, cada vez mais leves, se tornam atitudes

    presenteistas. Com essa instabilidade, onde o abismo de três vertes: entre o

    ideal e o real dos planos de cada um e do senso coletivo, nunca foi tão

    profundo, pois se o trabalho aqui surge como principal esperança do controle

    do presente para, conseguinte, tentativa de controle do futuro, da manutenção

    da ordem de controle deste por vir caótico, há aí a promoção, mesmo que

    involuntária, da exorcização da experiência e das decisões cometidas por

    outros sistemas, segundo seus indiferentes fantasmas antigos que devem ser

    sepultados. Mas estas pessoas líquidas ignoram os novos espectros e seus

    inéditos assombros (da instabilidade em curto prazo, do mal-estar social, da

  • 22

    impessoalidade atual, etc.) que, não desses túmulos, mas surgem na

    escuridão das próprias sombras destes críticos-coveiros das experiências

    passadas.

    E, diferente da visão em pedaços, peças desconexas, remendos

    provenientes da produção mecanicista de montagem, da política estatal do

    bem-estar como podador das anomalias e apostas de longo prazo, impera na

    modernidade líquida o recurso da subjetividade, das idéias ocupando o lugar

    das coisas materiais, afinal, não há nada mais leve e versátil que uma idéia a

    tiracolo. E neste contexto os canais de comunicação se intensificam e ganham

    músculos, o ―noticiário‖ se apresenta como a transmissão da realidade fiel,

    sem partidarismo ou distorção, haja vista que o tempo, bem maior, é escasso e

    esse enxugue se torna supranecessário além do fato de que uma vez figurado

    como prólogo da história a ser contada, o presente é a promessa de um futuro

    promissor, por isso é encarado como deficitário e incompleto.

    Deficitário e, ao mesmo tempo, dinâmico e presente, precisa sê-lo para

    atingir a plenitude futura, esse ritmo não permite o exercício, por exemplo, de

    reflexão das ações individuais ou coletivas, não há tempo a ser ―perdido‖:

    Os mecânicos de automóveis de hoje não são treinados para consertar motores quebrados ou danificados, mas apenas para retirar e jogar fora às peças usadas ou defeituosas e substituí-las por outras novas e seladas, diretamente da prateleira. Eles não têm a menor idéia da estrutura interna das ‗peças sobressalentes‘ (uma expressão que diz tudo), do modo misterioso como funcionam; não consideram esse entendimento e habilidade que o acompanha como sua responsabilidade ou como parte de seu campo de competência. Como na oficina mecânica, assim também na vida em geral: cada ‗peça‘ é ‗sobressalente‘ e substituível, e assim deve ser. Por que gastar tempo com consertos que consomem trabalho, se não é preciso mais que alguns momentos para jogar fora a peça danificada e colocar outra em seu lugar? (BAUMAN, 2001, p. 186).

    Desse modo, a durabilidade é precária ou inexistente nessa realidade.

    Outra marca desse movimento (contínuo) é a extrema falta de confiança, o

  • 23

    medo da perda brusca do que já se conseguiu e/ou do que se está galgando.

    Essa desconfiança não é pecado, pelo Evangelho comunitário (termo de

    Bauman) dessa sociedade o dogma de convivência enaltece um

    discurso/sentimento patriota e suas ―virtudes‖, de benevolência e tolerância

    para com o próximo (a bem da verdade, visto como competidor) e sua carga

    cultural multifacetada enquanto repudia o sentimento nacionalista e sua fama

    de agressão e ódio aos outros, os mesmo competidores vistos como

    responsáveis pelos infortúnios não só da nação, da coletividade, mas como

    tramitáveis obstáculos de objetivos pessoais.

    1.2 - A escola segundo Snyders: obrigatório e alegria

    A Escola enquanto Instituição encontra-se inserida nesta sociedade e

    desta forma acaba por sofrer as conseqüências que o advento da

    Contemporaneidade acarreta, no que se refere a sua estrutura e métodos, ao

    processo de ensino-aprendizagem, e também em relação aos sujeitos nela

    envolvidos. Desta forma ―seria imprudente negar, ou mesmo subestimar, a

    profunda mudança que o advento da ‗modernidade fluida‘ produziu na

    condição humana. O fato de que a estrutura sistêmica seja remota e

    inalcançável, aliado ao estado fluido e não-estruturado do cenário imediato da

    política-vida, muda aquela condição de um modo radical e requer que

    repensemos os velhos conceitos que costumavam cercar suas narrativas‖

    (BAUMAN, 2001, p. 15).

    Nesta perspectiva de mudanças Snyders (1996) aponta a necessidade

    de re-significar o papel e a estrutura do modelo escolar – desafio para escola

    atual – ao relacionar o obrigatório com a alegria na escola.

    Quem duvida que a nossa escola seja lugar de cumprir obrigações? O aluno não escolhe nem os seus professores, nem os colegas, nem tampouco as modalidades de vida com eles. Não escolhe o que se estuda, nem a maneira pela qual

  • 24

    se estuda, os programas e horários são impostos. É o domínio do ―dever‖; autoridades nos vigiam para que nos conformemos às ordens (SNYDERS, 1996, p. 1001).

    Este modelo de escola apresentado pelo autor se contrapõe a nova

    constituição da condição humana presente na sociedade Contemporânea, na

    medida que a partir do obrigatório, do dever, exerce um papel de controle em

    relação aos educandos, onde até ―as cadeiras dos alunos estão voltadas em

    conjunto para o professor; e mesmo que todos se instalem em círculo, o

    professor talvez só tenha dissimulado por um momento a sua tirania6‖.

    Snyders afirma que o obrigatório é objeto das mais diversas lamúrias

    por parte dos alunos, sendo considerado o que mais se opõem à alegria e ao

    interesse pelo processo de ensino-aprendizagem. Neste contexto a escola

    corre o risco de ser pura e simplesmente associada à repressão, a idéia de

    que é feita para ―conter‖ as crianças, para ―domesticá-los‖. O caráter do

    obrigatório na escola apresenta um grande risco, onde os alunos estão

    propícios a adotar condutas do mesmo nível para resistir a tal processo.

    Queixas torrenciais dos alunos: o que eles nos impõem é difícil demais, inutilmente difícil; eles nos impõem isso para que o adulto tenha ocasião de realizar seu desejo de superioridade, sua sede de autoridade sobre os jovens, submetendo-os a vexames e crueldades (...) Como falar de alegria quando nos fazem viver um medo permanente? Medo quando a professora passava em revista cadernos e lousas. Medo de ser obrigado a recitar uma poesia sozinho, em pé, diante da classe inteira – e uma poesia difícil. Medo de ser obrigado a responder ao ser argüido: Encontrarei forças para não gaguejar? Conseguirei no mínimo pensar, preso por aquele olho no qual não se lia nenhuma mansidão? (Snyders, 1996, p. 103).

    O obrigatório desta forma se apresenta como um desafio para a

    Educação atual, sendo um dos fatores de desinteresse pelo que é ensinado na

    escola, justamente por se contrapor à vivência do alunado fora dos muros da

    escola. No entanto tal autor aponta uma outra vertente do obrigatório na

    escola: as alegrias do obrigatório e sua importância na escola.

  • 25

    Neste sentido a obrigação escolar é forçar a... mas é, ao mesmo tempo,

    ajudar a superar certas agitações da alma, hesitações inconsistentes,

    frouxidão nas atitudes e nos desejos, de forma a mostrar aos alunos que

    certas extravagâncias e certos caprichos ―não colam‖. Só importa o que pode

    adquirir um certo peso de realidade, pelo menos de realidade escolar.

    Para Snyders (1996), a obrigação é a chance que cada um tem de

    encaminhar-se para aquilo que ainda não o atraía, onde ainda não fora bem-

    sucedido. O encontro da criança com a arte, cultura, literatura tem muito mais

    chance de ocorrer caso seja imposto pela escola. Resta em seguida a

    seqüência, feliz ou não, desse encontro. Resta também ao aluno tomar

    consciência de que ele não se teria encaminhado para isso

    ―espontaneamente‖.

    No sentido mais global, a obrigação escolar é a esperança de incitar o

    aluno a ir ao máximo de suas forças, ao limite das suas possibilidades, ao

    extremo de si mesmo; transcender o nível habitual e seu desleixo por demais

    sossegado.

    Alegria de enfrentar resistência, de vence-las, pelo menos em parte, de progredir em determinado campo e também alegria de enfrentar a si mesmo e de progredir no autodomínio com a convicção de que, se a luta fosse facultativa, não se teria ido até esse ponto (SNYDERS, 1996, p. 106).

    Desse ponto de vista, Snyders afirma: ―uma primeira tarefa da ‗minha‘

    escola seria fazer evoluir o obrigatório; caberia, em seguida, buscar as

    condições de um progresso rumo a uma autonomia propriamente escolar7‖.

    É importante destacar que está fora de cogitação aceitar todas as

    obrigações existentes no interior da escola. Vale lembrar que algumas são

    devidas à falhas de organização; muitas, à falta de recursos locais, pessoal e

    6 Cf. SNYDERS, 1996, p. 101-102. 7 Cf. SNYDERS, 1996, p. 108.

  • 26

    dinheiro; algumas só se mantêm por sobrevivência; outras se originam do

    desconhecimento das necessidades e demandas das crianças. Pode-se

    mesmo perguntar se não existe algumas que visam rebaixar e humilhar o

    aluno, ao invés de educa-lo. Portanto não se pode considerar a obrigação em

    si mesma como libertadora, porém cada tipo de obrigação deve ser posta em

    questão: naquele caso determinado, determinada obrigação cumpre um papel

    positivo? Na ausência de determinada obrigação, o progresso do aluno correria

    o risco de estagnar?

    Snyders (1996) ainda a firma que sua escola está decidida a introduzir

    as zonas de autonomia que tantas pedagogias hoje exigem – Sociedade

    Contemporânea – no plano da organização, os alunos deveram exprimir suas

    reações, dirão seu ponto de vista, exporão seus próprios problemas;

    aprenderão pouco a pouco a entrar em acordo, a encontrar procedimentos de

    trabalho, não recuaram diante das responsabilidades e das iniciativas a serem

    tomadas, proporão e participarão das decisões. Em relação ao trabalho, trarão

    contribuições das suas próprias experiências.

    Apresenta-se na Contemporaneidade como uma dificuldade essencial o

    fato dos alunos muitas vezes procurarem na escola o mesmo tipo de

    autonomia existente na vida cotidiana ou no lazer, ou seja, a opção, irritando-

    se e desinteressando-se com o processo de ensino-aprendizagem quando isto

    não ocorre.

    Diante disso Snyders aponta que a autonomia na escola não pode

    consistir em fazer, a seu bel-prazer, este ou aquele dever, ou nenhum outro,

    nem optar entre um texto de Vitor Hugo ou uma página de romance policial,

    pois as exigências culturais existem e são elas que determinam o que é

    proposto pela escola.

    A singularidade da ―minha‖ escola é transformar os conteúdos escolares a ponto de colocar em primeiro plano a obra-prima e a alegria que o aluno pode extrair da obra-prima; uma escola

  • 27

    que ambicione confrontar o aluno com as conquistas humanas essenciais, na esperança de que ele alcance assim as alegrias essenciais (SNYDERS, 1996, p. 111).

    A escola como um mundo diferente da vida de seu alunado traz em si os

    riscos de evidente não-alegria, onde se evoca com muita freqüência: risco de

    que a escola se degrade como irreal, artificial, fictícia; girando em torno de si

    mesma, traz o risco de cair na mesmice, rotina, desgaste, sem dúvida ainda

    realidades mais contrárias à alegria.

    Segundo Snyders (1996), origina-se daí o emprego pejorativo do termo

    ―escolar‖ para denunciar o que não tem relação com uma vivência real; leitura

    ―escolar‖, redação ―escolar‖, e também exercícios ―escolares‖, como quando os

    alunos fazem de conta que estão levando ao professor ―respostas‖ para

    informa-lo das coisas que ele, evidentemente, sabia há muito tempo. Deste

    modo à distância entre o escolar e o vivido fora da escola é tão grande que se

    apresenta como um dos desafios da escola – determinante de desinteresse –

    na presente Sociedade Contemporânea.

    A escola aparece desta forma como uma instituição arcaica, onde

    professores (e também os pais) tendem a apresentar as crianças às idéias e

    os livros que lhes agradavam antigamente, quando tinham a mesma idade que

    eles. O círculo fechado da escola parece muito propício a tal passadismo,

    diante do que toda geração reclama o direito à originalidade, de viver a

    novidade do seu mundo e reivindicar ser diferente – e é disso que se espera a

    alegria.

    A Antiguidade segundo Snyders (1996), culmina no reino do latim e no

    elogio do mundo romano; era a ―cultura de uma sociedade individualista,

    patriarcal, agrícola, de economia fechada‖, que aparece ao aluno como

    incapaz de inicia-lo no mundo contemporâneo. A impressão que fica é que se

    espera, desse modo, deter o curso da história.

  • 28

    Diante deste quadro, Snyders elenca sua escola quer pôr em primeiro

    plano a obra-prima, mas também quer tomar como fundamento pedagógico à

    continuidade das culturas enquanto esperança de superar a contradição entre

    a escola como um mundo diferente e o desejo de realidade no escolar.

    ―Minha‖ escola quer e acha possível uma continuidade entre a vivência do aluno, seus valores, gostos, expectativas, os problemas que ele coloca e a cultura que a escola lhe oferece. Continuidade ao mesmo tempo para que os alunos sejam pessoalmente afetados pelo que lhes é ensinado e para que tenham confiança na possibilidade de ter acesso ao que lhes é ensinado (SNYDERS, 1996, p. 139).

    A continuidade8 da vivência dos alunos no processo de ensino-

    aprendizagem, na trajetória escolar apresenta-se como um dos desafios da

    escola no momento presente, onde na grande maioria observa-se uma

    fragmentação, tendo desta forma duas realidades distintas, a vivência do aluno

    fora da escola e outra no interior dela, Snyders afirma que esta continuidade

    pode existir, no entanto não é fácil, há, portanto a necessidade da escola

    promove-la, para que o aluno percorra este trajeto de modo unificado.

    Sendo assim, segundo o autor, cabe a escola estimular a elaboração do

    que o aluno vive e sente; alegria de sentir a complementaridade entre sua

    cultura primeira e a cultura elaborada, entre a alegria da cultura primeira e a

    alegria da cultura elaborada. Desta forma a escola precisa apoiar-se nas

    alegrias já existentes para expandi-las.

    Evidentemente, a imensa maioria do que se aprende na escola pertence

    ao passado. A escola tem que levar a herança, a experiência acumulada; não

    só conservar o passado, mas assumi-lo. No entanto é importante destacar que

    a cultura passada não é somente o peso de uma herança; é também o favor

    de ser aceito por aqueles que, através dos tempos, conseguiram embelezar o

    mundo.

    8 (...) um professor de filosofia evoca o que eu quero chamar de continuidade: completar e ampliar a experiência, o pensamento dos alunos, sem tomar o lugar deles (SNYDERS, 1996, P. 140).

  • 29

    ―Minha‖ escola, apesar de tudo, pretende reservar um amplo espaço para o atual; ela confiará o bastante no presente para transmitir aos alunos confiança em sua época: existe em tudo o que está acontecendo o compreensível, o justificado, o válido e a grandeza – e podemos sem dúvida perceber aí o anúncio de um ―algo mais‖ (SNYDERS, 1996, p. 148).

    Neste sentido Snyders (1996) evidencia que sua escola quer apostar

    que a atração do atual, a convivência com o atual e uma certa conformidade

    das sensibilidades no atual serão poderosos o suficiente para conduzir os

    alunos para além dos obstáculos nascidos na complexidade dos processos,

    dentre eles o processo de ensino-aprendizagem.

  • 30

    CAPÍTULO II

    DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADE QUE

    PERPASSAM A EDUCAÇÃO

    No atual momento histórico, a reflexão sobre que tipo de homem

    estaria afinado com a nova sociedade apresenta questões cruciais para a

    Educação, para o papel da escola e para os professores. É inegável que

    existe consenso de que a principal tarefa da escola é desenvolver nos

    alunos a capacidade de pensar e de tomar decisões, o que significa ir muito

    além do reprodutor de formas e de conhecimentos preestabelecidos e de

    pensamentos lineares, frutos de currículos escolares fechados que, sob a

    força do pensamento cartesiano dominante, predominaram nas escolas dos

    séculos XIX e XX.

    Estudos e debates na área da Educação têm assinalado os

    desafios da escola diante das contradições da sociedade atual, na qual se

    evidenciam avanços científicos e tecnológicos numa velocidade nunca

    antes presente, coabitando com velhas questões ainda não resolvidas:

    miséria social, fome, conflitos bélicos justificados por razões variadas e nem

    sempre aceitáveis, esgotamento dos recursos naturais e degradação cada

    vez maior e sem controle do meio ambiente. A crítica mais pertinente que

    se pode apontar para os sistemas de ensino da atualidade é que ―não

    respondem às contradições e às demandas provocadas pelos processos de

    globalização econômica e de mundialização da cultura‖ (Moreira; Candau,

    2003, p. 156).

    O grande desafio hoje, para as escolas e os educadores, está

    em ter que superar as dificuldades impostas ao sistema escolar, que, além

    de enfrentar as dificuldades produzidas na nova ordem mundial, é, também,

    um novo palco de lutas e de contradições decorrentes da democracia de

    acesso. Esta, ao haver legitimado o direito de todos à Educação, levou para

  • 31

    a escola grupos sociais e culturais antes ausentes desse espaço,

    assumindo um caráter inevitavelmente multicultural (Moreira, 2001; Moreira;

    Candau, 2003). Para a escola, isso implica ter que reconhecer o caráter

    multicultural das sociedades contemporâneas e, portanto, aceitar que é sua

    responsabilidade saber enfrentar as contradições e as demandas

    provocadas por essa nova configuração.

    Na Sociedade atual, segundo Candau (2008), muitas são as

    formas de acesso ao conhecimento, não podendo, portanto atribuir à escola

    a quase exclusividade desta função. O impacto dos meios de comunicação

    de massa e, particularmente, da informática estão revolucionando as

    formas de construir conhecimento. Por outro lado, a cultura escolar está

    impregnada pela perspectiva do ―comum‖, do ―obrigatório‖, do ―aluno

    padrão‖, do ―aqui são todos iguais‖. No entanto as escolas estão cada vez

    mais desafiadas a enfrentar os problemas decorrentes das diferenças e da

    pluralidade cultural, étnica, social, religiosa, etc., dos seus sujeitos e atores.

    Nessa lógica a escola está chamada a ser, nos próximos anos,

    mais do que uma instituição tradicional onde se dá a apropriação do

    conhecimento construído e sim um espaço de diálogo de diferentes

    saberes – científico, social, escolar, etc. – e linguagens. De análise crítica,

    estímulo à capacidade reflexiva e de uma visão plural e histórica do

    conhecimento, da ciência, da tecnologia e das diferentes linguagens.

    Segundo Candau (2008), é no cruzamento, na interação, no

    reconhecimento da dimensão histórica e social do conhecimento que a

    escola está chamada a se situar.

    Neste sentido, toda a rigidez de que se reveste em geral a organização e a dinâmica pedagógica escolar, assim como o caráter monocultural da cultura escolar, precisam ser fortemente questionados. Devem ser enfatizados a dinamicidade, flexibilidade, a diversificação, as diferentes leituras de um mesmo fenômeno, as diversas formas de expressão, o debate e a construção de uma perspectiva crítica plural (CANDAU, 2008, p. 14).

  • 32

    Outro desafio que se apresenta para escola na Sociedade

    Contemporânea se relaciona com a articulação entre igualdade e diferença.

    Candau (2008) aponta que durante muito tempo a cultura escolar se

    configurou a partir da ênfase na questão da igualdade, o que significou, na

    prática, a afirmação da hegemonia da cultura ocidental européia, estando

    deste modo ausentes do currículo escolar e em outras práticas simbólicas

    presentes na escola, culturas originárias do continente, tais como a cultura

    negra e de outros grupos marginalizados de nossa sociedade.

    A garantia do acesso à cidadania também aparece como um

    desafio fundamental. Onde se faz mister que a escola dê a temática uma

    abordagem que concebe a cidadania como uma prática social cotidiana,

    que perpassa os diferentes âmbitos da vida, articula o cotidiano, o

    conjuntural e o estrutural, assim como o local e o global, numa progressiva

    ampliação do seu horizonte, sempre na perspectiva de um projeto diferente

    de sociedade e humanidade.

    A escola assim concebida é um espaço de busca, construção diálogo, e confronto, prazer, desafio, conquista de espaço, descoberta de diferentes possibilidades de expressão e linguagens, aventura, organização cidadã, afirmação da dimensão ética e política de todo processo educativo (CANDAU, 2008, p. 15).

    2.1 – Escola e Cultura (s)

    A relação escola e cultura é uma relação antiga que ganha novos

    contornos no contexto da Sociedade Contemporânea. Segundo Forquim

    (1993) educar é colocar alguém em presença de certos elementos de

    cultura a fim de que esse alguém deles se nutra, os incorpore à sua

    substância e construa sua identidade intelectual e pessoal em função deles.

    A marca de contemporaneidade no debate atual consiste no deslocamento do olhar sobre esta função tanto em termos do

  • 33

    papel por ela desempenhado no bojo das discussões, quanto à significação atribuída aos próprios termos de cultura e de escola (GABRIEL, 2008, p. 18).

    É importante destacar que na atualidade em vista da influência

    das Ciências Sociais no debate educacional – principalmente a sociologia e

    a antropologia – é deixado de lado às discussões travadas por uma teoria

    educacional liberal, ao passo que se emerge uma teoria educacional crítica,

    gerando segundo Gabriel (2008), uma mudança no significado do termo

    cultura, onde ―assiste-se a passagem de uma concepção universal,

    individual, elitista, prescritiva e normativa de cultura difundida pela

    pedagogia clássica à proclamação de uma concepção descritiva, pluralista,

    baseada na perspectiva antropológica e sociológica9‖.

    Desta forma a escola passa a ser vista não somente como local

    de instrução, mas também como ―arena cultural‖ onde se confrontam as

    diferenças sociais, econômicas e culturais num mesmo âmbito escolar. A

    reflexão atual sobre a relação escola e cultura pressupõem a discussão

    acerca das possibilidades e modalidades de diálogo, que são ou devem ser

    estabelecidas, entre os diversos grupos sociais, étnicos, e culturais que

    coexistem em um espaço social de dimensões cada vez mais globais.

    Segundo Gabriel (2008) não basta mais lutar apenas contra as

    desigualdades sociais, mas é preciso também buscar estratégias onde as

    diferenças culturais possam coexistir de forma democrática.

    É importante destacar que a introdução da perspectiva cultural de

    cunho mais antropológico, no debate educativo, não ocorre, todavia, de

    forma neutra ou consensual. Ao contrário segundo Gabriel, ela nos remete

    a um campo minado e tensões, entre as quais o conflito universal/particular,

    ou melhor, universalismo/relativismo, tanto no plano de funcionamento da

    instituição escolar como no plano cognitivo, assume um papel de destaque.

    9 GABRIEL, 2008, p. 18.

  • 34

    A discussão em torno da não neutralidade dos conteúdos escolares que são transmitidos pela escola, da necessidade de buscar estratégias pedagógicas que saibam lidar com a diversidade cultural presente nas salas de aula, ou, até mesmo, da própria função social da escola, são algumas temáticas através das quais é possível a tensão mencionada (GABRIEL, 2008, p. 20).

    Nesta nova perspectiva é um desafio para a escola se ater à

    existência de uma diversidade cultural presente nas salas de aula, sendo,

    portanto, necessário buscar estratégias pedagógicas que saibam lidar com

    esta diversidade existente. Para tal o campo da didática e o campo do

    currículo se apresentam como terrenos bastante fecundos para a reflexão

    sobre escola-cultura, na medida em que ambos incorporam nas suas

    respectivas trajetórias os movimentos e desdobramentos da perspectiva

    cultural evidenciando bem os desafios existentes na presente Sociedade

    Contemporânea.

    Nesse sentido a escola é vista como uma instituição única, com

    os mesmos sentidos e objetivos, tendo como função garantir a todos o

    acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente acumulados pela

    sociedade. Tais conhecimentos, porém, são reduzidos a produtos,

    resultados e conclusões, sem se levar em conta o valor determinante dos

    processos. Materializado nos programas e livros didáticos, o conhecimento

    escolar se torna "objeto", "coisa" a ser transmitida. Ensinar se torna

    transmitir esse conhecimento acumulado e aprender se torna assimilá-lo.

    Como a ênfase é centrada nos resultados da aprendizagem, o que é

    valorizado são as provas e as notas e a finalidade da escola se reduz ao

    "passar de ano".

    Dessa forma, o processo de ensino-aprendizagem ocorre numa

    homogeneidade de ritmos, estratégias e propostas educativas para todos,

    independente da origem social, da idade, das experiências vivenciadas. É

    comum e aparentemente óbvio os professores ministrarem uma aula com

    os mesmos conteúdos, mesmos recursos e ritmos para turmas diferentes.

  • 35

    A diversidade real dos alunos é reduzida a diferenças aprendidas na ótica

    da cognição (bom ou mau aluno, esforçado ou preguiçoso, etc.) ou na do

    comportamento (bom ou mau aluno, obediente ou rebelde, disciplinado ou

    indisciplinado, etc.). A prática escolar, nessa lógica, desconsidera a

    totalidade das dimensões humanas dos sujeitos - alunos, professores e

    funcionários - que dela participam.

    Sob o discurso da democratização da escola, ou mesmo da

    escola única, essa perspectiva homogeneizante expressa uma determinada

    forma de conceber a educação, o ser humano e seus processos formativos,

    ou seja, traduz um projeto político pedagógico que vai informar o conjunto

    das ações educativas, que ocorrem no interior da escola. Expressa uma

    lógica instrumental, que reduz a compreensão da educação e de seus

    processos a uma forma de instrução centrada na transmissão de

    informações. Reduz os sujeitos a alunos, apreendidos, sobretudo pela

    dimensão cognitiva. O conhecimento é visto como produto, sendo

    enfatizados os resultados da aprendizagem e não o processo.

    Essa perspectiva implementa a homogeneidade de conteúdos,

    ritmos e estratégias, e não a diversidade. Explica-se assim a forma como a

    escola organiza seus tempos, espaços e ritmos bem como o seu fracasso.

    Afinal de contas, não podemos esquecer - o que essa lógica esquece - que

    os alunos chegam à escola marcados pela diversidade, reflexo dos

    desenvolvimentos cognitivo, afetivo e social, evidentemente desiguais, em

    virtude da quantidade e qualidade de suas experiências e relações sociais,

    prévias e paralelas à escola. O tratamento uniforme dado pela escola só

    vem consagrar a desigualdade e as injustiças das origens sociais dos

    alunos.

    Nesse sentido, a experiência vivida é matéria prima a partir da

    qual os jovens articulam sua própria cultura, aqui entendida enquanto

    conjunto de crenças, valores, visão de mundo, rede de significados:

  • 36

    expressões simbólicas da inserção dos indivíduos em determinado nível da

    totalidade social, que terminam por definir a própria natureza humana. Em

    outras palavras, os alunos já chegam à escola com um acúmulo de

    experiências vivenciadas em múltiplos espaços, através das quais podem

    elaborar uma cultura própria, uns "óculos" pelo qual vêm, sentem e

    atribuem sentido e significado ao mundo, à realidade onde se inserem. Não

    há, portanto um mundo real, uma realidade única, pré-existente à atividade

    mental humana.

    O mundo real não é um contexto fixo, não é só nem principalmente o universo físico. O mundo que rodeia o desenvolvimento do aluno é hoje, mais do que nunca, uma clara construção social onde as pessoas, objetos, espaços e criações culturais, políticas ou sociais adquirem um sentido peculiar, em virtude das coordenadas sociais e históricas que determinam sua configuração. Há múltiplas realidades como há múltiplas formas de viver e dar sentido a vida (SACRISTAN, 1996, p. 70).

    Tais implicações apresentam-se como desafio para a escola

    atual, desafiando assim os educadores a desenvolverem posturas e

    instrumentos metodológicos que possibilitem o aprimoramento do seu olhar

    sobre o aluno, como "outro", de tal forma que, conhecendo as dimensões

    culturais em que ele é diferente, possam resgatar a diferença como tal e

    não como deficiência. Implica buscar uma compreensão totalizadora desse

    outro, conhecendo "não apenas o mundo cultural do aluno, mas a vida do

    adolescente e do adulto em seu mundo de cultura, examinando as suas

    experiências cotidianas de participação na vida, na cultura e no trabalho10".

    2.2 – Escola, Emancipação e Individualidade

    A Contemporaneidade (modernidade) altera as novas formas de

    convívio humano é a compulsiva e obsessiva, contínua, irrefreável e

    10 BRANDÃO, 1986, p.139.

  • 37

    sempre incompleta modernização, isso tudo em nome da maior

    produtividade ou da competitividade. Impingindo uma desordem social e

    mudança de valores, promulgando uma mudança de pensamento e uma

    nova consciência do homem. E ainda segundo BAUMAN (2001) é um

    estágio fluído da modernidade, uma velocidade atordoante da circulação,

    da reciclagem, do envelhecimento, do entulho e da substituição que traz

    lucro hoje – não a durabilidade e confiabilidade.

    Desta forma emancipação e individualidade são conceitos que

    surgem na presente sociedade contemporânea, gerando um desafio para

    escola atual a qual tem como uma de suas funções o processo de

    socialização. No entanto a centralização do indivíduo em si próprio – marca

    da sociedade Contemporânea – mostra-se como um destes desafios, onde

    segundo Rego (1996) o indivíduo vive como se fosse uma ilha isolada no

    oceano, não tendo o outro como tão necessário à separação do ―eu‖ e do

    ―não eu‖, que possibilita o processo de socialização.

    Neste sentido é importante considerar a contemporaneidade

    como eixo de construção de novos homens e mulheres em relações

    emancipatórias, Gramsci (1982) reforça o papel da escola e das atividades

    dos intelectuais como formadores destes novos grupos de pessoas no

    exercício de suas funções próprias de seres também pensantes e, portanto,

    intelectuais. Esta relação segundo Gramsci (1982) se dá à medida mesmo

    em que reflitamos sobre os homens e mulheres, que a educação desta

    nova sociedade (emancipatória) poderá promover, pois a educação

    significa a luta contra os instintos ligados às funções biológicas

    elementares, o domínio da natureza, buscando criar o homem ―atual‖ à sua

    época.

    A formação desta nova condição humana emancipatória deve

    estar na base de uma educação crítica, comprometida com o tornar

    homens e mulheres ―atuais‖ à sua época, observando o processo de luta

  • 38

    para essa transformação e elevação do biológico ao natural. A

    emancipação aparece como um dos nexos, demonstrando o caráter de

    desafio constante para a construção deste sentido. Por isto, não é possível

    resolvermos problemas deste tempo, com soluções prontas de outros

    contextos, afastando-nos do tempo presente.

    Expressa está a concepção política na idéia de construção de

    novos homens e mulheres, rompendo com o individualismo e com as

    apologias reformistas, propondo a condição humana emancipatória.

    Entendo a condição humana emancipatória nestes limites e neste ponto

    questionar em que medida a educação tem se colocado como alternativa

    para uma participação crítica, um novo fazer educativo, dentro da idéia de

    forjar as condições para o desenvolvimento e fortalecimento da autonomia

    e emancipação humana.

    Neste aspecto, Freire (1987) argumenta contra a concepção

    bancária de educação. Uma educação que não promove a emancipação,

    ao contrário, reduz o ser humano ao ―autômato‖, que constitui a negação de

    sua ontológica vocação de ser mais. Uma concepção de homem como ente

    ―vazio‖ a quem o mundo ―encha‖ de conteúdos, constituído numa

    consciência particularizada, mecanicistamente compartimentada.

    Na concepção ―bancária‖ que estamos criticando, para a qual educação é o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos, não se verifica nem pode verificar-se esta superação. Pelo contrário, refletindo a sociedade opressora, sendo dimensão da ―cultura do silêncio‖ a ―educação‖ ―bancária‖ mantém e estimula a contradição. (FREIRE, 1998, p. 59).

    É importante destacar que Freire (1989) desenvolve uma

    concepção dialógica da educação fundamentada numa compreensão

    problematizadora do ato de conhecer e a intencionalidade de mudar o

    mundo. Freire propõe uma educação que, eliminada a roupagem alienada e

    alienante, consista em uma força de transformação, emancipação e

  • 39

    libertação humana. A sociedade que aí está impõe sua cultura, linguagem,

    sintaxe, semântica, gostos, sonhos, projetos de classe dominante. Como

    exemplo, Freire cita a imposição da escola.

    É por isso que não há verdadeiro bilingüismo, muito menos multilingüismo, fora da multiculturalidade e não há esta como fenômeno espontâneo, mas criado, produzido politicamente, trabalhado, as duras penas, na história... É a criação histórica que implica decisão, vontade política, mobilização, organização de cada grupo cultural com vistas a fins comuns. Que demanda, portanto, uma certa prática educativa coerente com esses objetivos. Que demanda uma nova ética fundada no respeito às diferenças (FREIRE, 1997, p.157).

    Desse modo, o projeto de emancipação humana defendida por

    Freire, contempla a questão do multiculturalismo. O direito e o respeito às

    diferenças constitui um dos aspectos abordados por Freire, principalmente

    nos seus últimos trabalhos. Segundo Freire (1997, p.156), refletir sobre a

    multiculturalidade constitui um tema que demanda uma análise crítica da

    sua constituição. ―A multiculturalidade não se constitui da justaposição de

    culturas, muito menos no poder exacerbado de uma sobre as outras, mas

    na liberdade conquistada, no direito assegurado de mover-se cada cultura

    no respeito uma da outra‖. Assim, numa sociedade com perspectivas de

    emancipação multicultural, o desafio consiste em estabelecer uma análise

    crítica das práticas educativas, com o intuito de não se confundir uma

    justaposição de culturas com o multiculturalismo.

    2.3 – Escola, Trabalho e Família

    Segundo Araújo (2002) a década de 1980, vivenciou, nos países

    de capitalismo avançado, profundas transformações no mundo do trabalho,

    fazendo surgir novos elementos como a tecnologia de ponta, a automação,

    a robótica e a microeletrônica, as quais invadiram o universo do trabalho.

    Como conseqüência dos novos elementos introduzidos no mundo do

  • 40

    trabalho, as formas de inserção na estrutura produtiva também foram

    modificadas, afetando todos os profissionais e requerendo, assim, outras

    habilidades, conhecimentos, atitudes e capacidades para atuarem no

    mundo do trabalho. Dentre esses requisitos, a competência vem se

    configurando como resposta às demandas do mundo do trabalho por um

    tipo de formação mais adequado às transformações no sistema produtivo

    referenciada no conceito de flexibilidade sendo considerada essencial para

    o indivíduo ingressar e/ou permanecer no mundo do trabalho.

    As instituições escolares também sofreram influência das

    transformações ocorridas no mundo do trabalho e, assim, elas acabam

    apresentando um comportamento semelhante ao do mundo da produção,

    até porque a sociedade organiza-se nos moldes do sistema vigente, ou

    seja, na produção da vida material dos indivíduos e nas relações que

    ocorrem entre eles. Como o mundo do trabalho teve que se adaptar com a

    introdução das novas tecnologias, com estrutura de trabalho flexível,

    horizontal, e integrada, marcada pela exigência de profissional polivalente,

    competitivo e coletivo, a escola, consequentemente, tem a sua estrutura

    reorganizada, apresentando estas mesmas características.

    Desta forma apresenta-se mais um entre os muitos desafios que

    a escola enfrenta, pelo fato das mudanças no mundo do trabalho afetarem

    diretamente a capacidade dos sistemas de ensino atenderem às

    necessidades da nova organização do mundo do trabalho, geradas pela

    introdução de novas tecnologias de informação, novos paradigmas

    organizacionais e novas exigências em termos de qualidade de produtos e

    serviços.

    Diante deste quadro, segundo Mclaren (1999), os professores

    devem ampliar a definição de prática pedagógica, para expandi-la de uma

    ênfase limitada e majoritária de técnicas e metodologias. Isto deveria

    habilitar estudantes a entender a prática pedagógica como a configuração

  • 41

    de prática textual, verbal e visual que procura engajar o processo mediante

    o qual pessoas compreendam a si própria e os possíveis caminhos pelos

    quais possam engajar outros e a comunidade.

    Prática Pedagógica representa uma forma implicada de produção

    cultural e criticamente atenta em como o poder e seus mecanismos são

    empregados na construção e organização de conhecimentos , desejos,

    valores e identidades. Neste sentido, a prática pedagógica não é reduzida a

    meramente promover habilidades e técnicas.

    Mais apropriadamente, ela é definida como uma prática cultural

    responsável pela ética e politicamente pelas histórias que produz, as

    reivindicações que faz na memória social e as imagens de futuro que julga

    legitimáveis. Como objeto de crítica e como método de produção cultural, a

    pedagogia recusa-se se esconder atrás de reivindicações de objetividade, e

    trabalha vigilantemente para delinear teoria e prática no interesse de

    expandir as possibilidades para vivências democráticas.

    Também neste contexto, desde meados do século XX,

    especialmente em suas últimas décadas, novas dinâmicas sociais vêm

    afetando, ao mesmo tempo, a instituição familiar e o sistema escolar,

    levando ao aparecimento de novos traços e desenhando novos contornos

    nas relações entre essas duas grandes instâncias de socialização.

    O papel da família na formação do indivíduo é fundamental desde

    os primeiros anos de vida. Na atual contemporaneidade, essa instituição

    passa por mudanças profundas. O contato entre pais ou responsáveis, com

    seus filhos não é mais a mesma devido a crescentes transformações no

    mundo do trabalho. Deste modo aparece como mais um desafio da escola

    à tarefa de suprir a ausência da família no processo de educação e

    transmissão de valores de cada educando.

  • 42

    CAPÍTULO III

    O PSICOPEDAGOGO FRENTE OS DESAFIOS DA

    ESCOLA NA CONTEMPORANEIDADE

    Diante das questões assinaladas, o psicopedagogo tem uma

    importante contribuição no que diz respeito ao processo de aprendizagem na

    escola contemporânea. Sua atuação do na Instituição Escolar visa a fortalecer-

    lhe a identidade, bem como buscar o resgate das raízes dessa instituição, ao

    mesmo tempo em que procura sintonizá-la com a realidade que está sendo

    vivenciada no momento histórico atual, buscando adequar essa escola às reais

    demandas da sociedade. Durante todo o processo educativo, procura investir

    numa concepção de ensino-aprendizagem que:

    Fomente interações interpessoais;

    Incentive os sujeitos da ação educativa a atuarem considerando

    integradamente as bagagens intelectual e moral;

    Estimule a postura transformadora de toda a comunidade educativa

    para, de fato, inovar a prática escolar; contextualizando-a;

    Enfatize o essencial: conceitos e conteúdos estruturantes, com

    significado relevante, de acordo com a demanda em questão;

    Oriente e interaja com o corpo docente no sentido de desenvolver

    mais o raciocínio do aluno, ajudando-o a aprender a pensar e a

    estabelecer relações entre os diversos conteúdos trabalhados;

    Reforce a parceria entre escola e família;

    Lance as bases para a orientação do aluno na construção de seu

    projeto de vida, com clareza de raciocínio e equilíbrio;

    Incentive a implementação de projetos que estimulem a autonomia

    de professores e alunos;

    Atue junto ao corpo docente para que se conscientize de sua

    posição de ―eterno aprendiz‖, de sua importância e envolvimento no

    processo de aprendizagem, com ênfase na avaliação do aluno,

  • 43

    evitando mecanismos menores de seleção, que dirigem apenas ao

    vestibular e não à vida.

    É importante destacar que o psicopedagogo é um profissional da

    educação que realiza sua tarefa pedagógica sem perder a visão terapêutica da

    sua ação. Esse profissional atua na observação de todo contexto educacional,

    não só a parte externa do indivíduo, mas também o seu interior, levando em

    consideração os desejos e anseios da comunidade escolar, principalmente, os

    alunos. Ele possui conhecimento para assessorar as escolas, alertando-as

    para o papel que lhe compete. Essa junção da Pedagogia com a Psicologia

    vem tentar dar suporte para as mudanças de comportamentos e atitudes

    nessas escolas, possibilitando grandes transformações externa e internamente

    de todos os envolvidos na construção do conhecimento.

    3.1 – Orientação ao professor no processo de ensino-

    aprendizagem

    O psicopedagogo na escola poderá contribuir de forma bastante eficaz

    na relação professor/aluno, orientando esse profissional a avaliar as

    dificuldades escolares que se apresentem, buscando identificar a origem do

    problema que pode concentrar-se no aluno, na família, no meio social, na

    escola ou na própria personalidade do aluno, objetivando ressignificar essa

    aprendizagem integral (acadêmica e formativa) facilitando o processo ensino-

    aprendizagem.

    O professor terá condições de aplicar um olhar diferenciado,

    observando o aluno em si, e ele inserido no grupo, trabalhando assim

    possíveis estratégias para estruturar a aquisição de conhecimento do aluno, o

    que trará benefícios em todos os aspectos.

  • 44

    É importante que o psicopedagogo oriente o corpo docente a como

    avaliar de forma global o nível de desenvolvimento dos seus alunos. Propor

    atividades que desafiem todas as áreas e estágios existentes na sala de aula.

    Cabe ao professor explicar a estrutura do trabalho, deixando regras claras,

    organizando o ambiente e dinamizando as ações dos grupos, fazendo

    intervenções e desafios no decorrer das atividades.

    Outro aspecto que pode ser pontuado por este profissional é quanto ao

    procedimento do trabalho docente em sala de aula, com divisão de tarefas o

    que privilegiará as habilidades de cada aluno, promovendo o desenvolvimento

    da auto-estima e a integração das crianças. Essas atividades devem ser

    estimulantes e construtivas como: a leitura, apresentações, exposições,

    escritas, jogos e criações espontâneas.

    Esse professor deverá promover ao final da etapa executada, uma auto-

    avaliação dos grupos e uma avaliação da turma sobre as propostas e

    entendimentos. Este momento de troca é fundamental para que todos os

    envolvidos possam ter acesso aos conhecimentos assimilados pelos colegas.

    Este tipo de ação pedagógica exige muito mais do professor, no

    momento do planejamento, avaliação e intervenção. No entanto, rompe com as

    barreiras de relacionamentos entre adultos e crianças, tanto quanto na relação

    ensino/aprendizagem, sendo uma medida possível e acessível para o

    professor trabalhar com os problemas e diversidades apresentadas na sala de

    aula, com foco preventivo e psicopedagógico. Essa orientação na prática

    pedagógica dará uma nova postura e visão para esse docente, reformulando

    seu papel na transmissão do conhecimento.

    Seu objetivo é compreender, explicitá-lo ou corrigi-lo os problemas

    surgidos dentro do cotidiano escolar. Introduzir novos elementos para o sujeito.

    Essa ação proporcionará ao sujeito aquisição de uma nova visão, levando à

    quebra de um padrão anterior de relacionamento com o que esta a sua volta.

  • 45

    Um dos objetivos primordiais é a intervenção, a fim de colocar-se no

    meio do problema, fazer a mediação entre a criança e seus objetos de

    conhecimento e com o professor reconhecer e oferecer instrumentos para

    facilitar a sua prática pedagógica em torno desses alunos. De acordo com

    OLIVEIRA11, o psicopedagogo vem colaborar ativamente para melhorar as

    condições sociais de seu meio numa participação efetiva. Não apenas criticar e

    enxergar dificuldades, mas realmente procurar ver aspectos positivos, buscar e

    criar condições de multiplicá-los.

    3.2 – Avaliação do aluno no ambiente escolar

    O psicopedagogo na Instituição Escolar tem uma relevante tarefa no

    processo de aprendizagem de cada aluno, contribuindo de forma significativa

    no seu desenvolvimento. Através de um olhar atento e próximo do alunado, tal

    profissional tem condições de avaliar e identificar os obstáculos que se opõe

    ao processo de aprendizagem, desde patologias no processo de aprendizagem

    a questões sócio-afetivas que estejam prejudicando tal processo.

    Desta forma é importante que o psicopedagogo faça observações

    periódicas de cada turma da instituição, realize atendimento com aqueles

    alunos que se percebeu aparente dificuldade, não só de aprendizagem, mas

    de socialização, desenvolvimento afetivo, dentre outros aspectos.

    É importante que esta avaliação/ intervenção realizada por parte do

    psicopedagogo parta sempre da realidade de cada aluno, sendo conduzida de

    forma lúdica e dinâmica com o objetivo de ser um instrumento a contribuir com

    efetividade no processo de ensino aprendizagem de cada estudante.

    11 OLIVEIRA, Vera Barros de. VISÃO ATUAL: O processo de aprendizagem vincula-se necessariamente a fatores biológicos, psicológicos e culturais. Psique especial.

  • 46

    3.3 - Participação ativa na rotina da Instituição Escolar

    Quando se trata de problema de aprendizagem o psicopedagogo deve

    analisar a ordem do problema, seja ele familiar, escolar, do próprio sujeito, da

    sociedade ou de todos estes associados. E para isso é necessário ter

    sensibilidade e um olhar diferenciado para buscar todas as pistas possíveis,

    sejam elas ditas ou ocultas. Fazer uma leitura global do sujeito e avaliar o que

    está por trás do discurso, da intenção, do silêncio.

    O foco do psicopedagogo deve ser a descoberta da causa que impede o

    processo de aprendizagem, o porquê o aluno não aprende e o que está

    dificultando o desenvolvimento de suas potencialidades. Compreender como é

    seu mundo, quais são suas fantasias, seus medos e, consequentemente

    compreender o que significa aprender para este educando. Ter um olhar

    transdisciplinar da queixa trazida da escola ou da família ou pelo próprio sujeito

    e encontrar o real motivo e como esta queixa se desenvolveu.

    Para isso é indispensável que o psicopedagogo atue de forma ativa na

    rotina: montar um planejamento e observar o aluno em todos os espaços

    disponíveis no contexto escolar.

    A investigação do problema deve utilizar uma abordagem interacionista

    com conhecimento em teóricos como Piaget, Wallon, Freud entre outros para

    detectar se ocorre desvio de desenvolvimento conforme a idade do sujeito.

    Sempre fazer anotações sobre as diversos contextos seja nas aulas de

    educação física, artes, aulas com professores distintos, verificar a qualidade de

    interação da criança com seus pares e adultos. Na sala de aula analisar o

    número de alunos e a disposição dos mesmos, a interação entre os mesmos

    no grupo, os padrões de comunicação, a metodologia de ensino, a dinâmica da

    sala de aula, as características do professor: se é muito rígido, brincalhão, etc.

  • 47

    Estabelecer um comparativo de todas essas observações juntamente

    com os relatos de professores e equipe escolar e realizar registros gerais sobre

    linguagem, cognição, sociabilidade, comportamentos em dificuldades

    específicas de aprendizagem, tolerância a frustração, aceitação de regras do

    grupo.

    A finalidade será detectar sintomas e formular hipóteses que vão

    direcionar não só no trabalho, mas também um encaminhamento clínico

    indicado. O que impede o processo de aprendizagem do sujeito pode não ser

    só cognitivo.

    O psicopedagogo que está dentro da escola tem que favorecer os

    alunos e poderá contribuir no esclarecimento de dificuldades de aprendizagem

    que não têm como causa apenas deficiências do aluno. Ele poderá atuar

    preventivamente junto aos professores explicitando sobre habilidades,

    conceitos e princípios para que ocorra a aprendizagem e na reflexão sobre

    currículos e projetos junto à coordenação pedagógica.

    3.4 – Atuação junto a família

    É importante destacar que Psicopedagogia surge a partir da inquietação

    de profissionais focados em prevenir e/ou intervir, no processo de

    aprendizagem humana de forma a solucionar as dificuldades de

    aprendizagem. O processo de aprendizagem humana é um campo de