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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O SAPATADO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO
PSICOMOTOR INFANTIL
Por: Ana Carolina Nunes da Silva
Orientador
Prof. Maria Esther de Araújo
Co-orientadoraProf. Giselle Boger Brand.
Rio de Janeiro
2014
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O SAPATADO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO
PSICOMOTOR INFANTIL
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Psicomotricidade.
DEDICATÓRIA
.....dedica-se aos alunos que são fonte de
motivação, inspiração e dedicação diária
para trabalho e estudo.
RESUMO
É de comum pensamento que o homem dança desde os primórdios de
sua existência e com o passar do tempo e a evolução humana essas danças
foram se estabelecendo e desenvolvendo padrões específicos para diversas
modalidades, cada qual com sua origem, conceito e carga cultural. Neste
estudo, pesquisaremos sobre o sapateado, uma modalidade de dança com
poucos escritos a respeito e a atrelaremos com conceitos da ciência do
desenvolvimento humano e psicomotricidade. Gerando por fim uma proposta
para o desenvolvimento da atividade com crianças de 3 anos de idade, já que
estas muito se interessam pela atividade que raramente encontramos sendo
oferecidas para este público, com a finalidade de apresentar o sapateado como
ferramenta de estímulo psicomotor para crianças nesta faixa etária.
METODOLOGIA
O instrumento de estudo adotado serão os escritos sobre a ciência do
desenvolvimento humano e psicomotricidade com foco na fase dos 3 anos de
idade, sobre história da dança e do sapateado e estilos de ensino, para isso
utilizaremos MACHADO e SALLES (2003), MARTIN (2011), GALLAHUE e
OZMUN (2003), MELLO (1989), NANNI (2003) entre outros autores que nos
possibilitarão elaborar uma proposta para aulas de sapateado com crianças de
3 anos de idade, o que caracteriza a pesquisa como bibliográfica de natureza
qualitativa pois analisaremos os dados estudados, atores sociais e qualidade
das informações sem métodos ou técnicas estatísticas.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 07
CAPÍTULO I - Origem e desenvolvimento da dança 09
CAPÍTULO II - Psicomotricidade e desenvolvimento humano 14
CAPÍTULO III – Estimulando a psicomotricidade em crianças de 3 anos
através do sapateado 20
CONCLUSÃO 27
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 28
ANEXOS 30
ÍNDICE 31
FOLHA DE AVALIAÇÃO 32
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como foco o sapateado no processo do
desenvolvimento psicomotor infantil, esta modalidade de dança que começou a
se desenvolver na época da revolução industrial foi se modernizando com o
passar dos anos e se popularizou através de filmes e grandes espetáculos
musicais. Hoje a atividade ocupa um grande espaço nos estúdios de dança de
todo o mundo, conquistando cada vez mais praticantes e fãs, dentre estes o
público infantil, que se anima com os sons das chapinhas e descobrem
naturalmente a ludicidade das mesmas. Contudo, poucas academias oferecem
as chamadas turmas de "baby tap" e estas em geral se destinam a alunos a
partir dos 4 anos de idade, já nas escolas a atividade é escassa, como
atividade extracurricular ou não, também podemos constatar uma grande
dificuldade de encontrar escritos voltados para esta atividade com o público
sugerido. Faremos então uma proposta de aula de sapateado para o público na
faixa etária de 3 anos, tendo como ponto de partida a pergunta: Como utilizar o
sapateado para desenvolvimento das estruturas psicomotoras de crianças com
3 anos? Para isso buscaremos nas poucas bibliografias sobre a atividade
utilizando MACHADO e SALLES (2003) e MARTIN (2001) além vivências
praticas para assuntos históricos e técnicos sobre sapateado. Em paralelo
recorreremos a teorias de fases de desenvolvimento humano e motor através
de GALLAHUE e OZMUN (2003) e MELLO (1989), finalizando com uma
proposta para aulas de sapateado direcionada a este publico para este
público.
O tema foi escolhido, a partir da percepção do interesse de crianças na
faixa dos 3 anos de idade pelo sapateado, gerando uma grande ansiedade
para atingir a idade mínima para a prática. Observa-se também grande
evolução na coordenação motora, ritmo, equilíbrio e criatividade após o inicio
das aulas, em contra partida poucos textos acadêmicos e livros para que os
professores possam recorrer ao utilizar a atividade como uma maneira de
desenvolver algumas estruturas psicomotoras.
Com base no objetivo e metodologia proposta o trabalho foi dividido em
três capítulos, além da introdução e das considerações finais:
O primeiro capítulo, fundamentado em publicações de Bergolatto (2007)
e FARO (1988),buscando comentar questões históricas da dança tais como: a
dança e expressão corporal no primórdio da existência humana, em seguida
através de MACHADO e SALLES (2003) e MARTIN (2011) retratarmos um
pouco da história do sapateado, seu surgimento, desenvolvimento e questões
técnicas.
No segundo capítulo foram abordados temas relacionados a ciência
desenvolvimento humano e psicomotricidade, através de bibliografias como
GALLAHUE e OZMUN (2003), DESSEN (2005) que abordam as teorias de
desenvolvimento humano e motor. Em seguida, foram descritos aspectos
conceituais, procedimentais e atitudinais que sustentem o ensino do sapateado
para crianças de 3 anos, explicando a importância do metido para o
desenvolvimento psicomotor.
O terceiro capítulo foi destinado a caracterização da pesquisa que teve
como principal questão discutir possibilidades e entreves a utilização do
sapateado como ferramenta de estimulação psicomotora para crianças de 3
anos. Para isso interligaremos o sapateado com a psicomotricidade e métodos
de ensino, através de NANNI (2003) e FUX que afirma:
O encontro das crianças com a dança libera a energia acumulada devido as nossas expectativas e medos, a nossas impossibilidades e a nossa falta de naturalidade para expressar-nos. Esta linguagem se compreende em qualquer idade, desde os 3 até os 60 anos, ou mas. No entanto, quanto antes se começar esse aprendizado, mais prováveis serão seus bons resultados. (FUX 2003 p.46)
Na seção seguinte, temos as considerações finais, onde foram
analisados os dados expostos nos capítulos anteriores bem como a proposta
de aulas de sapateado para, para que em uma nova pesquisa esta possa ser
aplicada.
CAPÍTULO I
ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA DANÇA
Existem diferentes versões sobre o surgimento da dança, porém é de
comum pensamento, que o homem dança desde os primórdios de sua
existência, sem ignorar outras teorias e registros sobre a evolução da dança,
abordaremos neste capitulo o desenvolvimento da dança como espetáculo e
disciplina a partir da visão Européia.
1.1 - Breve histórico sobre a dança
Na sociedade primitiva, o ser humano não falava e precisava da mímica
e do movimento corporal para se comunicar (artifícios que muitas vezes
usamos até hoje), bem como necessitava utilizar do contato com a natureza e
dos sentidos apurados para entender o seu corpo, já que dependia do mesmo
para sobreviver. Foi nesta época, durante a pré-história que o homem começou
a saltar, lançar, atacar, defender e desenvolveu a caça, a pesca, luta e também
a dança.
Os homens primitivos dançavam em todos os momentos importantes
para a sociedade: nos momentos de colheita, funerais, nascimento e
celebrações de caráter místico, onde simbolizavam o sol, chuva, terra e fogo,
assim levavam suas emoções e sentimentos para a dança. De acordo com
Bergolato (2007, p.73), “a dança é antiga como a própria vida humana. Nasceu
na expressão das emoções primitiva, nas manifestações, na comunhão mística
do homem com a natureza”. Apesar dessas evidências, Faro (1988) considera
o surgimento do ensino da dança, de um ponto de vista europeu, a partir do
ballet clássico, que segundo ele nasceu na Itália, através do “Le Ballet comique
de La Reine” no século XIV, considerado o primeiro balé a ser criado, em 1581.
Ao levar a dança dos salões para os teatros surgiu a imagem do mestre da
dança, composta por artistas mais habilidosos na dança e acrobacias.
(BERGOLATO, op. cit.)
O ensino da dança continuou crescendo durante séculos, ainda
internacionalizado com fortes influencias e grandes pioneiros na França, onde
“o ballet floresceu e abriu horizontes para o ballet clássico” (BERGOLATO,
Idem) e na Rússia, grande contribuinte para o desenvolvimento do ballet. Com
este crescimento, o ensino da dança foi sendo espalhado pelo continente
europeu, e mais tarde pela América do Norte, com aberturas de academias de
dança e assim disseminando cada vez mais e desenvolvendo o conhecimento
na área.
Sendo assim, atualmente não podemos dizer que a dança pertence a
determinado pais ou continente, já que cada um contribuiu de forma
significativa para a mesma. Vale ressaltar que as características das danças
acadêmicas permanecem sendo como em sua origem “harmonia, simetria,
elegância, graciosidade, amplitude dos movimentos e grande domínio físico”
(BERGOLATO, 2007, p.132)
Com embasamento em Bergolato (2007), afirmamos que no inicio do
século XIX, surge na Europa através da dançarina Isadora Duncan a dança
Livre, entendida hoje como moderna e se opondo aos rígidos conceitos do
balé. Esta dança era marcada pelos improvisos e na expressão corporal dos
sentimentos mais íntimos do bailarino. Ainda nesse período, especificamente
nos Estados Unidos, Ruth St, Denis também pregava a inovação, porém com
uma visão (e proposta) mística e espiritual, desta maneira enfrentando a
sociedade materialista daquele momento.
O referido autor cita outros pioneiros da dança moderna, como Rudolf
Laban (1925) e Martha Graham (1926), sendo estes descobertas mais atuais.
Laban apostou em um trabalho da dança através dos movimentos do cotidiano,
levando em conta o fator tempo, espaço e fluência. Graham, por sua vez, teve
uma visão mais técnica e abordou aspectos relacionados à importância do
tronco, respiração, concentração, técnicas de quedas e afins. Bergolato (op. cit,
p. 140) afirma que “Martha Graham criou um vocabulário de expressão
contemporânea para a dança”. E aos poucos a dança acadêmica foi seguindo
novos caminhos, ritmos e estilos que começam a surgir de acordo com a
história e cultura e se oficializaram como modalidades posteriormente. Dentre
estas modalidades está o sapateado, nosso foco de pesquisa, que iremos
investigar no sub-item abaixo.
1.2- A dança no Brasil
Neste item, abordaremos as questões relacionadas a dança como
espetáculo e surgimento das aulas de dança.
A dança no Brasil, de acordo com Faro (1988), sofreu influência da
cultura indígena, negra e européia. Durante todo o século XIX a dança chegava
ao nosso país através de apresentações vindas da França e da Itália, mas os
brasileiros apenas apreciavam a arte, não existia nenhuma escola de dança
que ensinassem as técnicas, nem que abrisse um caminho para a descoberta
da dança nacional, e produções brasileiras.
Essa dinâmica persistiu até que em uma das turnês pelo Brasil, o
“Original Ballet Russe” foi surpreendido com a segunda Guerra e não
conseguiu voltar nem para Europa, nem Estados Unidos. Deste modo, ficaram
em turnê durante seis anos na América Latina, passando por diversas capitais,
onde alguns bailarinos começaram a fundar escolas de dança e disseminar
seus conhecimentos, no Brasil. Entre elas, Maria Olenewa criou sua escola de
dança, e o atual balé do Teatro Municipal do Rio de Janeiro (FARO, 1988,
p.19).
No século seguinte começaram a surgir novas modalidades de dança,
como a dança moderna, jazz e o sapateado, nosso tema central de estudo.
1.3- Breve histórico sobre o sapateado
Embora não existam muitos registros históricos sobre o sapateado,
sabe-se que este começou a se desenvolver na Irlanda, Inglaterra e África
posteriormente se encontrando e misturando nos Estados Unidos, originando o
sapateado norte americano, conhecido como tap dance, estilo que estamos
estudando e mais conhecido em academias e escolas de dança no Brasil.
Segundo MARTIN (2011) e MACHADO (2003). Foi na Irlanda, que as
primeiras manifestações de sapateado apareceram, quando camponeses
batiam os pés no chão duro, com sapatos rudimentares para se aquecer,
depois desenvolviam jogos, desafios e uma nova linguagem corporal de sons e
ritmos com excelência em técnica deram origem ao sapateado Irlandês, que
até hoje mantém sua essência, com braços rígidos ao longo do corpo e corpo
ereto. Já na Inglaterra a atividade surgiu durante a revolução industrial, os
operários utilizavam tamancos de madeira para desenvolver sons e realizavam
competições criativas com os mesmos, em seguida começaram a desenvolver
modelos de sapatos flexíveis e com materiais que passaram a ser refinados
com o tempo, melhorando aos poucos a qualidade do som. Enquanto isso na
Africa, os povos e tribos que tinham a percussão e dança, desta vez com
ritmos mais complexos, com agilidade, flexibilidade e movimentos de costas e
quadris.
No inicio do século XVI, quando milhões de escravos foram
levados aos Estados Unidos, utilizavam a dança e a música como forma de
reafirmar sua identidade enquanto estavam confinados. Como seus
instrumentos percussivos tinham sido proibidos, os Africanos ficaram mais
receptivos ao ritmo e batidas dos pés levada pelos imigrantes ingleses e
irlandeses que juntos de batidas com as mãos davam origem a uma nova
linguagem e musica corporal se tornando entretenimento para os brancos, que
tinham os negros como selvagens, se divertiam com suas manifestações e
posteriormente imitavam-nas em tom de deboches em um formato de
espetáculo que se disseminou pelos teatros.
Com o fim da escravidão, em 1885, o duelo cultural nos Estados
Unidos passou a correr de forma livre e os escravos libertos, juntos de
imigrantes pobres apresentavam suas danças em cortiços e bordéis,
preservando o sapateado informal com muito improviso. Rapidamente o
sapateado tomou conta do circuito teatral preservando sua raiz e também com
grandes espetáculos americanos, a partir de 1927 chegou ao cinema,
marcando os anos 30, 40 e 50 como a época de ouro desta modalidade de
dança, disseminando o sapateado para todo o mundo através de grandes
astros como Fred Astaire e Genne Kelly, onde infelizmente os negros eram
submetidos a papeis de segundo escalão, graças ao tradicional preconceito.
Em 1940, começaram a aparecer novas linguagens corporais e
modalidades de dança nos filmes musicais, fazendo com que o sapateado se
tornasse ultrapassado e caído em esquecimento durante os 20 anos
subseqüentes, o que seria o fim da atividade se não fosse a obstinação dos
antigos praticantes e ao empreendedorismo de produtores ao notar o interesse
de uma nova geração pelo sapateado. Criou-se então um novo conceito para o
Tap dance, onde os movimentos e sons dialogariam com os músicos, porém
embora inovadoras, eram poucas as companhias e o público limitado não seria
suficiente para manter vivo o sapateado, até que em 1996 surgiu Savion
Glover, com todo seu talento que inspiraram jovens, adaptando a atividade ao
cenário atual musical e cultural, fazendo que o sapateado voltasse a crescer
em todo mundo.
No Brasil o sapateado surgiu em são Paulo, durante a segunda Guerra
Mundial, quando o Australiano Philip Ascott começou a ensinar os moradores
do Bairro de Vila Carrão, ganhando aos poucos mais alunos e notoriedade, até
participar de um programa na extinta TV tupi. Outra grande influencia foi o
professor Cid Pais que abriu sua própria escola de dança onde ensinava,
dentre outras modalidades o sapateado, que havia aprendido vendo filmes e
imitando os grandes nomes. Já no Rio de Janeiro o sapateado começou a ser
difundido mais tarde, quando Pat Thibodeaux, que nasceu e cresceu em New
Orleans, berço do sapateado, se casou com um brasileiro e se mudou para a
cidade maravilhosa em 1970, passando a dar aula em diversos colégios até
abrir sua própria academia, em 1980, formando novos e principais difusores
desta arte no Rio de Janeiro. .
1.3.1 - Sapateado e sua técnica
“O Sapateado Americano é um a modalidade de dança que se faz
através de ritmos e sons produzidos por movimentos dos pés com o auxilio de
tapitas de metal aparafusadas nos sapatos.” SANTOS(2008 p. 153)
As supracitadas tapitas de metal serão sempre duas, uma
localizada na parte dianteira dos pés e outra nos calcanhares. Existem diversos
modelos de sapato de sapateado, dos mais tradicionais aos modernos, de
todas as cores e formatos, alguns próprios para iniciantes outros para
profissionais, dos mais macios e flexíveis até os mais pesados, duros com
solas reforçadas, porém sempre terão estas tapitas em sua composição, que
dão a possibilidade de diferentes sons de acordo com diferentes movimentos e
força. Em geral podemos perceber que na pratica as aulas de sapateado
costumam se dar a partir de seqüências formadas por movimentos básicos no
ritmo de uma musica ou contagem.
Encontra-se em anexo um pequeno dicionário com os passos básicos de
sapateado e sua nomenclatura, a fim de facilitar a familiarização do leitor com o
assunto.
CAPÍTULO II –
PSICOMOTRICIDADE E DESENVOLVIMENTO
HUMANO
MELLO (1989) relata que após inúmeros estudos que desenvolveram
uma concepção de que o movimento não pode ter uma visão unicamente
mecânica, mesmo que originalmente a psicomotricidade estivesse vinculada ao
campo da medicina. Atualmente a Psicomotricidade é uma ciência estudada
dentro de um campo multidisciplinas que abrange a Neurofisiologia, Psiquiatria,
Psicologia, Educação, dentre outros que procuram com a especificidade de sua
área compreender a relação do homem, seu corpo, meio físico e sociocultural
pois “Os componentes de ordem cognitiva, afetiva e social acompanham o ato
motor, e é diante de um quadro com essas dimensões que a Psicomotricidade
deve atuar.” MELLO (1989 P.31)
Nossa pesquisa abordará o tema no viés da educação psicomotora, que
vem sendo enfatizada por muitos profissionais que trabalham com o público
infantil em busca de atividades que promovam um desenvolvimento físico,
afetivo e social, visto que a falta das estimulações corretas na infância podem
gerar diversas perturbações psicomotoras no futuro. Parafraseando MORIZOT
apud MELLO (1989, P.35)
Uma atividade através do movimento, visando um desenvolvimento de capacidades básicas- sensoriais, perceptivas e motoras-, propiciando uma organização adequada de atitudes adaptativas, atuando como agente profilático de distúrbios da aprendizagem.
.
Para entender a Psicomotricidade e o desenvolvimento das estruturas
psicomotoras de crianças com 3 anos precisamos recorrer aos estudos sobre o
desenvolvimento humano e motor, que também é considerado uma ciência
multidisciplinar em constante evolução, pois antigamente pensava-se que
crianças possuíam o mesmo intelecto de um adulto. Sem estudos e pesquisas
na área de desenvolvimento, o ser humano era tratado da mesma forma desde
o nascimento até a fase adulta. Com o passar do tempo e grande índice de
mortalidade infantil percebeu-se a carência de um estudo sobre o
desenvolvimento humano e hoje existem diversas teorias sobre a ciência do
desenvolvimento desde o período pré natal até a maior idade. Neste estudo
partiremos do princípio de que o homem se desenvolve de acordo com suas
possibilidades físicas e mentais que são definidas por conta de seu organismo
e vivências, queremos dizer com isso que nosso cognitivo, afetivo e motor
evoluem por fatores internos e naturais, de acordo com a faixa etária, mas
também por fatores externos como ambiente e estimulações.
Para compreendermos melhor o desenvolvimento humano na fase do
público pesquisado, recorreremos aos escritos de GALLAHUE, MELLO e as
teorias de psicologia do desenvolvimento de Jean Piaget, um dos mais
importantes pesquisadores da área que muito contribuiu para a compreensão
desta ciência.
GALLAHUE explica que a teoria de Piaget estuda os estágios de
desenvolvimento cognitivo de acordo com as faixas etárias. MELLO (1989 p.
27) afirma que este estava interessado em compreender a “sucessão de
estágios que precedem o pensamento lógico de um adulto”. Também afirma
que a organização de conteúdos aprendidos ocorreria após a assimilação e
acomodação da nova informação e embora reconhecesse a necessidade de
um professor se opunha aos exageros de estímulos afirmando que:
A cada momento que alguém ensina prematuramente a uma
criança algo que a criança poderia descobrir por conta própria, essa criança está perdendo a oportunidade de exercer a sua criatividade e de compreender totalmente o que foi ensinado. (PIAGET apud MELLO 1989).
Para isso estruturou 4 estágios de desenvolvimento, o primeiro é o
estágio sensório motor que vai do nascimento até 2 anos de idade, seguido do
estágio pré-operacional, abordando crianças de 2 a 7 anos de idade, depois
teremos o período de operações concretas para a fase de 7 a 11 anos e por
último, o período das ações formais.
Este estudo se restringirá no estágio pré-operacional, que estuda as
crianças na fase de desenvolvimento que desejamos compreender. Este
período é marcado principalmente pelo egocentrismo intelectual e pela forte
presença de símbolos.
Segundo POZAS Piaget afirma que crianças aos 3 anos não são
capazes de se colocar no lugar do outro devido ao egocentrismo, que pode ser
classificado como cognitivo, ou seja, ligado a objeto, tempo, espaço,
casualidade e tempo ou social que está relacionado ao aparecimento de
linguagem.
Segundo piaget, a fala egocêntrica da criança é a expressão do egocentrismo de seu pensamento; é o meio termo entre o autismo primitivo de seu pensamento e sua socialização [...] À medida que a
criança cresce, ha um declínio do egocentrismo e uma evolução da socialização POZAS (2013 p.27)
Ainda baseado em POZAS, afirmamos que na infância a ludicidade e
brincadeiras são de extrema importância nas relações, pois as crianças podem
experimentar o mundo real, sendo um aprendizado social com relações e
encontros, viabilizando o desenvolvimento cognitivo da criança e a socialização
entre elas. Ou seja, através da brincadeira a criança pode estimular aspectos
psicomotores funcionais e relacionais.
2.1 Desenvolvimento motor
Movimento é vida. Tudo o que fazemos no trabalho e no lazer envolve movimento. A nossa própria existência depende do movimento de nosso coração, da inalação e exalação de nossos pulmões e de um conjunto de outros processos de movimentos voluntários semi-automáticos e automáticos. Compreender como adquiridos controle motor e coordenação de movimentos é fundamental para compreendermos como vivermos. GALLAHUE e OZMUN (2003 p. 21).
Assim o autor citado inicia seu livro Compreendendo o desenvolvimento
motor, bebes, crianças, adolescentes e adultos. Demonstrando total
importância do estudo da motricidade humana, que abrange o campo de
estudo da fisiologia, biomecânica, aprendizado, controle motor, psicologia do
desenvolvimento e psicologia social.
Até a década de 1980, o interesse pelo desenvolvimento
motor envolvia, sobretudo, a descrição e a catalogação dos dados, com pouca atenção à produção de modelos que levassem a explicações teóricas do comportamento ao longo da vida. GALLAHUE e OZMZUN (2003 p. 66)
A partir da informação acima podemos constatar quão recente são as
explicações e estudos mais aprofundados sobre o desenvolvimento motor
CAETANO (2005 p.6) caracteriza o desenvolvimento motor como um
processo de aprimoramento de funcionalidade dos gestos motores. O ser
humano adquire com os anos a capacidade de controlar os movimentos de
acordo com sua relação com a tarefa exigida, questões biologias e o ambiente,
tornando-se “um processo dinâmico no qual o comportamento motor surge das
diversas restrições que rodeiam o comportamento”.
Segundo BEE e BOYD (2011) estudo de desenvolvimento motor
abrange as atividades de habilidades locomotoras, que se desenvolvem mais
cedo e podemos chamar também de grossas e habilidades manipulativas ou
finas. Entre 2 e 4 anos de idade as grossas são demonstradas na capacidade
de correr facilmente, subir escadas usando um pé por degrau, saltar com os
dois pés e movimento de pedalar, já a fina pode ser notada através de
movimentos como cortar o papel com uma tesoura, pegar com os dedos
pequenos objetos e segurar um lápis.
. GALLAHUE (2003 p.69) apresenta então uma imagem em forma de
ampulheta para explicar as fases de desenvolvimento motor:
A figura acima sugere fases de desenvolvimento de acordo com a faixa
etária do individuo. Podemos perceber assim, que as crianças na aos 3 anos
de idade encontram-se na fase de movimento fundamental, sendo assim este
será o nosso período a ser estudado e nos aprofundaremos no sub-item
abaixo.
2.1.1 - Fase de desenvolvimento fundamental
Essa fase do desenvolvimento motor apresenta um tempo em que as crianças mais novas estão ativamente envolvidas na exploração e experimentação do potencial de movimento de seus corpos. É um tempo de descoberta do mundo de executar uma serie de movimentos de estabilidade, locomoção e manipulação , primeiramente isolados e depois em combinação com outros. GALLAHUE e OZUM (2003 p. 70)
Nesta fase, subdividida em três estágios para melhor avaliação, a
criança começa a desenvolver o controle de seus movimentos perante diversos
estímulos. Ações motoras como correr, saltar, arremessar, equilibrar-se em um
dos pés dentre outras fazem parte destes movimentos que são analisados por
alguns pesquisadores de desenvolvimento como atividades naturais
proveniente da maturação do indivíduo. Gallahue se opõe a este pensamento,
pois o desenvolvimento destas ações está ligado diretamente a oportunidade
da prática, questões externas e ambientais.
O primeiro estágio é o Inicial, é caracterizado por movimentações
restritas ou exageradas, ainda incompletas e com algumas dificuldades
motoras como má coordenação e fluxo rítmico, com pouca estabilidade, as
crianças de 2 a 3 anos encontram-se neste estágio. Já dos 3 aos 5 anos se
enquadram nos estágios elementares emergentes, onde a restrição e exagero
dos movimentos permanecem, porém começam a adquirir maior controle e
sincronização de movimentos temporais e espaciais. O ultimo estágio é o
proficiente onde estão as crianças de 5 a 6 anos, quando podemos observar
uma melhor aquisição de movimentos.
Embora Gallahue apresente também outras imagens que
representam outras tabelas de desenvolvimento motor, levando em
consideração estímulos externos e oportunidade de aprendizados ao longo da
vida, para nossa pesquisa nos aprofundaremos na ampulheta ilustrada acima,
já que estamos estudando-a junto a um estímulo específico.
Observa-se então que é possível iniciar os estímulos do sapateado com
crianças de 3 anos, pois nesta fase elas já estão desenvolvendo, mesmo que
de forma restrita, sua habilidade de locomoção e sustentação, tornando a
atividade uma ferramenta no auxilio do desenvolvimento de estruturas
psicomotoras ainda arcaicas como ritmo, coordenação motora grossa e
equilíbrio, pois através de vivências práticas, podemos afirmar que os
exercícios e passos básicos de sapateado (em anexo), são formados por
movimentos estimulantes de tais estruturas, dentre eles o arraste de alguma
superfície dos pés, transferência de peso, passos e saltos com e sem
transferência de peso que geram sons através de suas tapitas desenvolvendo
também a musicalidade e o ritmo.
CAPÍTULO III –
ESTIMULANDO A PSICOMOTRICIDADE EM
CRIANÇAS DE 3 ANOS ATRAVÉS DO SAPATEADO
Para estruturar uma proposta de aula de sapateado voltada para
crianças de 3 anos, relembraremos e acrescentaremos algumas informações
sobre a fase de desenvolvimento deste publico, paralelamente com as
questões sobre o ensino da dança, delineando assim nossa estratégia para o
ensino da atividade.
Diversos autores surgiram com propostas metodológicas para o ensino
da dança como, por exemplo, Ferreira (2005). A autora defende que a dança
deve ser um sistema de relações sociais, valorizando a cultura nacional e suas
origens, promovendo a concepção cientifica do mundo e buscando trabalhar a
cidadania do aluno. Para isto, ressalta a importância em focar atividades
cotidianas, sentimentos e sensações, além dos aspectos cognitivos vinculados
à criatividade e a psicomotricidade.
Ferreira (op.cit) também salienta que o professor deve abandonar as
técnicas formais de dança, uma vez que tal procedimento estaria voltado para
a valorização da técnica e dos fundamentos necessários para formação de
bailarinos profissionais e relata que a dança tem uma grande importância, por
ser lúdica e não competitiva além de ser democrática e inclusiva por valorizar
as diferenças e o respeito, além de trabalhar todas as estruturas psicomotoras.
Apropriaremos-nos deste pensamento para iniciar nossa pesquisa
quanto ao método para a aula proposta. Como nosso foco são crianças de 3
anos de idade os jogos serão o primeiro passo para a aproximação dos
escritos acima, pois através da brincadeira, relação social e aproximação do
cotidiano, a criança assimilará o conteúdo e desenvolve suas habilidades
motoras, cognitivas e afetivas de forma prazerosa e entusiasmada.
O brincar é uma atividade cotidiana da criança, na qual ela expressa a forma como pensa, ordena e constrói a realidade. Brincar é experimentar o novo. É criar com a experiência adquirida na relação com o mundo e ampliar essa experiência, interiorizando novas ordens e novas inter-relações entre o objeto e sujeitos. POZAS (2013 p.39)
MARATORI (2003) aborda o tema através das concepções de
Vygostsky e Piaget, explicando que para o primeiro citado o lúdico tem enorme
influencia no desenvolvimento infantil, afirmando que é através do jogo que a
criança tem sua curiosidade estimulada e aprende a agir e desenvolver a
autoconfiança, linguagem e poder de concentração e no viés piagetiano o jogo
tem a função de consolidar esquemas já formados e dar equilíbrio emocional a
criança, já que a atividade seria uma simples assimilação funcional e exercício
das ações já adquiridas anteriormente com o prazer gerado pela ludicidade e
domínio das ações.
Na teoria piagetiana, a brincadeira não recebe uma conceituação específica. Ela é entendida como ação assimiladora e participa do
conteúdo da inteligência, como a aprendizagem. ao manifestar uma conduta ludica, a criança demonstra o nível de seus estagios cognitivos e constrói conhecimentos conhecimentos. Para piaget os jogos são basicamente estruturados de acordo com exercício, símbolo ou regra, e caracterizam-se por sua forma típica de assimilação. POZAS (2013 p.41)
Como comentamos no primeiro capítulo, a teoria de Piaget
afirma que a criança entre 2 e 6 anos se encontra na fase pré operatória, na
qual o jogo simbólico é predominante segundo a mesma teoria e “ consiste em
satisfazer o eu por meio de uma transformação real em função dos desejos ”.
(Piaget apud MARATORI 2003). Sendo assim o jogo simbólico tem como
função assimilar a realidade bem como se auto-expressar, realizar sonhos e
fantasias através do faz de conta que para DE QUEIROZ (2006) é a
brincadeira de maior importância para desenvolvimento cognitivo de crianças
entre 3 e 7 anos, pois não é algo real e sim inventado para brincar, logo “a
brincadeira de faz-de-conta está intimamente ligada ao símbolo, uma vez que
por meio dele, a criança representa ações, pessoas ou objetos” (PIAGET apud
DE QUEIROZ 2006, p. 175)
Aliaremos os jogos e brincadeiras com as técnicas da dança, mais
especificamente de sapateado, lembrando que os passos básicos da
modalidade com suas nomenclaturas encontram-se em anexo.
OSSONA (1988 p. 155) diz que é necessário “encarar o ensino
da dança artística como atividade educativa, recreativa e criativa, o que não
pode ser melhor para criança e o adolescente.” e assim começamos a notar o
encaixe com a atividade para os alunos na faixa etária estudada,
demonstrando que o professor deverá mergulhar no universo infantil com
ludicidade e jogos simbólicos, dentro de uma atmosfera dinâmica de
espontaneidade estimulando a criatividade, auto-afirmação, autoconhecimento
e autonomia, além dos aspectos motores como ritmo, coordenação e equilíbrio.
Parafraseando FUX (1983 p. 44) “como as crianças sabem
andar, correr, saltar e jogar, eu lhes sirvo de ponte para que comecem a
expressar-se por meio de seu corpo em relação com a música .” Sendo assim,
devemos aproveitar a vivência e conhecimento corporal do aluno em questão e
então interligá-lo com o conteúdo que desejamos transmitir. Propomos então
que a cada aula o professor reúna os alunos, deixe-os falar sobre seus
sentimentos e pensamentos e a partir daí crie uma história baseada em
símbolos que narre toda a aula, encaixando em alguns momentos os sons e
movimentos que precisam ser estimulado.
FUX (1983 p.39) ainda afirma que “A técnica deve ser flexível e nunca
deve ter um fim em si mesmo; como repetição significa técnica, esta deve
realizar-se a cada dia com um sentido diferente” mostrando-nos a importância
de repetição do movimento aprendido. Sendo assim, em nossas aulas
precisaremos definir os movimentos e exercícios que utilizaremos com as
crianças, dentro das possibilidades motoras das mesmas e repeti-las durante
um bom tempo, até que elas sejam executadas com melhor habilidade, porém
deveremos mudar os meios para chegar até estes movimentos, ou seja, a cada
dia iremos embarcar em uma nova história e aventura que nos levarão aos
mesmos exercícios motores sem deixar de estimular a interação do aluno com
o aluno e professor, gerando momentos harmônicos de afetividade que são de
extrema importância, também por se tratar de uma fase de egocentrismo
intelectual, pois “Os componentes de ordem cognitiva, afetiva e social
acompanham o ato motor, e é diante de um quadro com essas dimensões que
a psicomotricidade deve atuar” (MELLO 1989 p.31). Ressaltamos assim a
importância da interação nesta faixa etária. Parafraseando FERREIRA (2005
p.12) a dança “possibilita que o educando amplie sua capacidade de interação
social fazendo-o conhecer e respeitar a diversidade”. Sendo assim, a atividade
será um meio direto desta interessante socialização entre os praticantes.
3.1 Métodos de ensino para a dança
O método de ensino da dança em geral vem sofrendo enormes
mudanças com o passar do tempo. Podemos considerar as abordagens de
ensino da dança tendo como ponto de partida das rígidas aulas de ballet
clássico do passado, onde professores de dança exigiam, de forma autoritária,
avanços e padrões específicos dos alunos. Quando isto não acontecia, os
alunos sofriam humilhações verbais e até punições físicas (ALVARENGA,
2006). Durante muito tempo a dança como disciplina foi transmitida através
deste tipo metodologia ultrapassada como relatado por Merril Ashley (1984
apud NANNI, 2003):
B. entrou no estúdio de maneira muito formal. Nenhum cumprimento [...]
Balanchine deu uma olhada rápida ao redor e falou suas primeiras palavras
“ninguém sabe ficar em pé” não tínhamos feito nada e já estávamos erradas.
A partir da descrição Ashley, confirmamos o estudo de Nanni (2003) que,
ao fazer uma adaptação dos estilos de ensino de Muska Mosston para a
dança, diagnosticou a utilização do estilo comando nas aulas de dança.
Conforme indicado pelo nome comando, o método está baseado em uma
aprendizagem efetuada através de imitações com situações didáticas
esgotadas e relação formal entre o professor e o aluno e é de comum
pensamento de diversos autores, e educadores, que o ensino da dança carece
de uma abordagem diferenciada das comumente vistas em escolas, academias
e estúdios de dança. Isabel Marques, em seu artigo Metodologia para o ensino
da dança: luxo ou necessidade?, diz que “O ensino da dança na sociedade
contemporânea clama por uma abordagem diferente das que hoje
conhecemos”. (MARQUES, 2004, p. 450).
Após analisar as informações supracitadas elegemos o estilo de
ensino de descoberta orientada como ideal para as nossas aulas de “Baby tap”
para isso, recorremos a adaptação da tabela de estilos de ensino de Muska
Mosston para aulas dança criada por de NANNI (2003) que ao citar os estilos
descoberta orientada e solução de problemas, também descritos por Mosston,
a autora observa que, em ambos, o foco deixa de ser o professor, passando
assim para o aluno e com ênfase nas dimensões cognitivas, afetivas e
psicomotoras, sendo portanto, estilos mais adequados no mundo
contemporâneo.
Nanni (2003), apoiada nos estudos de Mooston, caracteriza o estilo
solução de problemas como o mais alto nível de importância no processo
ensino e aprendizagem. Afirma também que o professor de dança deve levar
em conta não só a visão coletiva da turma, mas também as individualidades de
cada aluno, para isso, devem adaptar as estratégias metodológicas.
Outros autores surgiram com propostas metodológicas para o ensino da
dança na educação física escolar como, por exemplo, Ferreira (2005). Esta
autora defende que a dança ser um sistema de relações sociais, valorizando a
cultura nacional e suas origens, promovendo a concepção cientifica do mundo
e buscando trabalhar a cidadania do aluno. Para isto, ressalta a importância em
focar atividades cotidianas, sentimentos e sensações, além dos aspectos
cognitivos vinculados à criatividade e a psicomotricidade.
3.2 - Proposta para aulas de sapateado
Partindo dos pressupostos comentados neste capítulo sugerimos um
método para as aulas de dança baby tap tendo em vista uma turma com até 5
alunos e com o tempo de aula entre 30 e 40 minutos, dentro de um período de
6 meses, onde elas passariam por três etapas: a primeira seria o aquecimento
de todas as articulações do corpo, principalmente os tornozelos e joelhos.
Iniciando na posição sentada, o professor estimulará o movimento das regiões
em um diálogo com os alunos sugerindo um desenho com os pés, através da
pergunta: O que podemos desenhar com a ponta dos nossos pés no ar? E com
os nossos joelhos? Essas perguntas, além de estimular a imagem corporal e
criatividade, deverão gerar respostas motoras fazendo com que o corpo se
prepare para as atividades que virão a seguir. De acordo estas resposta e
interação dos alunos, passaremos para a segunda etapa da aula, em que o
professor entrará na história imaginada pelos alunos no processo anterior
direcionando-a a movimentos de sapateado que se encaixarão em sua
narrativa. É importante continuar fazendo com que as ações e exercícios sejam
respostas motoras de uma pergunta feita pelo professor, como por exemplo:
Como um soldado atravessaria esta ponte? Que estimularia o exercício
denominado STOMP. Como a mamãe atravessaria esta rua usando o salto
alto? Sugerindo a resposta motora do movimento de nomenclatura TOE ou
Podemos caminhar sem usar a ponta do pé? Fazendo com que as crianças
conheçam o movimento chamado Heel. Também pode-se trabalhar os
movimentos de forma global estimulando diretamente o ritmo e coordenação
através de uma pergunta como: será que conseguimos cantar esta música sem
palavras? Só com nossas mãos e pés? E para finalizar esta etapa da aula o
professor colocaria uma musica sugerida pelos alunos ou até mesmo
desconhecida por todos e deixaria que estes se movimentassem livremente,
descobrindo os sons e movimentos, explorando sua orientação espacial, ritmo,
coordenação motora grossa e equilíbrio. A terceira etapa, a popular volta
calma presente em todos os planos de aula seria composta por uma
brincadeira de interação com o grupo ou conversa livre para aproximação
afetiva dos alunos entre eles e com o professor.
A partir da oitava aula deverá ser colocada uma fita em cada braço do
aluno com cores distintas, escolhidas em comum acordo pelo grupo
simbolizando uma pulseira que ajudará no trabalho de lateralidade e
identificação de cores.
Por volta da vigésima aula será introduzido também números através de
perguntas como: quantas vezes tocamos a ponta dos pés no chão ao
atravessar o castelo do rei? quantos rios pularemos até chegar ao vale
encantado?
Entre o segundo e terceiro mês o professor introduzirá durante as atividades o
nome de cada passo para que aos poucos as crianças possam se familiarizar
com a atividade, estimulando assim também a memória.
Aproximando-se do quinto mês o aluno começará a executar passos
combinados e podendo utilizar as nomenclaturas dos mesmos ou não através
de perguntas como: será que nós conseguimos fazer um TOE e um HEEL?
Aumentando gradativamente a dificuldade, sem perder o encanto e a narrativa
criada todos os dias.
Deste modo ocorrerão estímulos dos aspectos psicomotores relacionais
e funcionais de modo global, desenvolvendo principalmente o equilíbrio, ritmo,
coordenação motora grossa e criatividade.
CONCLUSÃO
Pudemos constatar nas questões históricas que o sapateado é uma
modalidade de dança ainda nova e em fase de descoberta e experimentações
comparada a outras modalidades de dança como o ballet clássico, por
exemplo, provavelmente por isso, ainda um pouco menos disseminada e
comum e com poucos escritos acadêmicos a respeito, tornando assim o
acesso aos alunos com menos de 4 anos se torna escasso, restringindo aos
pequenos que desejam dançar apenas as conhecidas aulas de baby class ou
dança criativa, que são as aulas de preparação ao ballet clássico.
Através de nosso levantamento e analise de dados dos textos estudados
notamos que é possível ensinar o sapateado com o público pretendido e
estimular o desenvolvimento psicomotor da criança através desta atividade,
pois o conteúdo possibilita o desenvolvimento da coordenação motora,
equilíbrio, imagem corporal e espacial, lateralidade, memória, além do exercício
da criatividade. Este conteúdo permite ainda trabalhar com as dimensões
atitudinais, favorecendo a adoção de condutas norteadas pelo respeito com
seu próprio corpo e com o dos companheiros de classe, permitindo assim uma
melhor integração e inclusão entre os mesmos durante as aulas.
Foi observado também a falta de um método específico para a atividade
voltada para o grupo em questão, sendo assim organizamos ao final desta
pesquisa uma proposta de método para aplicação de aulas de sapateado ara o
público de 3 anos de idade, baseado em todas as informações colhidas sobre
desenvolvimento motor e sobre o sapateado. Esta proposta de método de
ensino, e aulas servirá como mais um disseminador da atividade através de
escritos e produção acadêmica e para aplicá-la e em um novo estudo com
turmas de 5 alunos e tempo entre 30 e 40 minutos durante 6 meses, tendo
como finalidade de observar e relatar o desenvolvimento psicomotor do
praticante afim de definir se de fato nossos objetivos foram alcançados.
Podemos concluir então que com o uso de um método diferenciado, o
sapateado é uma ferramenta de estímulos psicomotores para crianças de 3
anos de idade.
Toda forma de expressão de arte e principalmente dança é válida e não
deve ser negada, pois a dança pertencente a qualquer raça, gênero, classe
social, faixa etária, possibilidades ou deficiências físicas, motoras, intelectuais
ou afetivas. Todos podem dançar e qualquer movimento é valido desde que
seja sentido, observado, criado e principalmente, fonte de vivências marcadas
pelo prazer em fazer, sentir e ser.
ANEXO
NOMENCLATURAS DO SAPATEADO
Listamos abaixo, em ordem alfabética, alguns passos de sapateado que podem
ser usados com alunos de 3 anos e suas nomenclaturas retirados do site:
www.unitedtaps.com
Passos básicos:
BALL CHANGE- 2 steps combinados em contratempo e tempo (&1).
BRUSH- Tocar a chapinha da frente para qualquer direção, como uma
escovada.
CLAP- bater palmas.
FLAP- Junção do brush com um step.
HEEL- toque do calcanhar no chão.
HOP- salto nas duas pernas sem transferência de peso.
LEAP- salto em uma perna com transferência de peso.
SCRAPE- arrastar a ponta ou lateral do sapato no chão em qualquer direção.
SCUFF- tocar o calcanhar no chão para frente como o movimento de um
Brush.
SHUFLE- combinação de um brush para frente e um brush para trás.
SLIDE- passo deslizante, com ou sem transferência de peso.
STAMP- Passo com pé inteiro no chão, com transferência de peso.
STEP- passo em meia ponta, com transferência de peso.
STOMP- passo com o pé inteiro no chão, sem transferência de peso.
TAP- toque com a chapinha da frente, sem transferência de peso.
TOE- toque com a chapinha da frente com transferência de peso.
TOE POINT- toque com a ponta do sapato.
BLIOGRAFIA CONSULTADA
ALVARENGA, A. L. O Ensino de Dança em Klauss Vianna e a renovação do pensamento educacional no século XX: uma pedagogia em movimento. In: Anais. VI Congresso Luso-brasileiro de História da Educação, Colubhe 06, Uberlândia: UFU, 2006.
BEE, Helen, BOYD, Denise. A criança em desenvolvimento. Artmed, 2011.
CAETANO, Maria Joana Duarte; SILVEIRA, Carolina Rodrigues Alves; GOBBI, Lilian Teresa Bucken. Desenvolvimento motor de pré-escolares no intervalo de 13 meses. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum, v, 7, n.2, p 05-13, 2005 DE QUEIROZ, Norma Lucia Neris, MACIEL, Diva Albuquerque; BRANCO Angela Uchôa. Brincadeira e desenvolvimento infantil: um olhar sociocultural construtivista. Paidéia, v. 16, n. 34, p. 169-179, 2006. DESSEN, Maria A; COSTA JR, Áderson L. A ciência do desenvolvimento humano: tendências atuais e perspectivas futuras. Artmed, 2005 FARO, Antônio José. A dança no Brasil e seus construtores. Rio de Janeiro: Fundacem, 1988. FERREIRA, Vanja. Dança escolar: um novo ritmo para a educação física escolar, Rio de Janeiro: Sprint, 2005. FUX, Maria. Dança, experiência de vida. Summus Editorial, 1983. GALLAHUE, David L.; OZMUN, John C; GOODWAY, Jacqueline D. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. AMGH, 2003
LOPES, Keila Ferrari, ARAÚJO, Paulo Ferreira. Proposta de ensino de sapateado para crianças surdas. Revista Brasileira de ciência e Movimento, v. 17, n 1. 2009. MACHADO, Amalia & SALLES, Flavio, Tap, a Arte do sapateado. Rio de Janeiro, 2003. MARTIN, Cíntia, TOQUES, Vivendo, Aprendendo e Ensinando o Sapateado. Ed própria, 2011. MARATORI, Patrick Barbosa.Por que utilizar jogos educativos no processo de ensino e aprendizagem. UFRJ. Rio de Janeiro, 2003 MARQUES, Isabel. Metodologia para o ensino de dança: luxo ou necessidade? Lições de dança, Rio de Janeiro, n. 4, p. 135-160, 2004. MELLO, Alexandre Moraes. Psicomotricidade, Educação E jogos Infantis. Ibrasa, 1989. MENDES, Denise C.R. Proposta de ensino de sapateado para pessoas portadoras de deficiência visual. 2001, monografia (Especialização em atividade motora adaptada) – Faculdade de educação física- FEF, Uiversidade Estadual de Campinas, 2001. NANNI, Dionísia. Ensino de dança. Rio de janeiro: Shape, 2003 OSSONA, Paulina. A educação pela dança. Grupo rditorial Summus. 1988. POZAS, Denise. Criança que brinca mais aprende mais. Rio de Janeiro: Senac, 2013 SANTOS, Gabriela Castro dos; SILVEIRA, Luiz Felipe. Força de reação do solo e taxa de aplicação de força no sapateado americano. Salão de iniciação científica (20.:2008 out. 20-34: Porto Alegre, RS). Livro de resumos. Porto Alegre: UFRGS, 2008., 2008.
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
DEDICATÓRIA 3
RESUMO 4
METODOLOGIA 5
SUMÁRIO 6
INTRODUÇÃO 7
CAPÍTULO I
ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA DANÇA 9
• – Breve histórico sobre a dança 9
1.2 – A dança no Brasil 11
1.3 – Breve histórico sobre o sapateado 12
1.3.1 - Sapateado e sua técnica 14
CAPÍTULO II
PSICOMOTRICIDADE E DESENVOLVIMENTO HUMANO 15
2.1 – Desenvolvimento motor 17
2.1.1 - Fase de desenvolvimento fundamental 19
CAPÍTULO III
ESTIMULANDO A PSICOMOTRICIDADE EM CRIANÇAS DE 3 ANOS
ATRAVÉS DO SAPATEADO 21
3.1 – Métodos de ensino da dança 24