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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A PSICOPEDAGOGIA E A BRINQUEDOTECA
HOSPITALAR
Por: Rafaela Cardoso da Costa
Orientador
Profª. Fabiane Muniz
Rio de Janeiro,2009
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
2
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A PSICOPEDAGOGIA E A BRINQUEDOTECA HOSPITALAR
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em Psicopedagogia.
Por: Rafaela Cardoso da Costa.
Janeiro, 2009
4
Dedicatória
Dedico este estudo monográfico ao meu noivo e aos meus familiares. E também a minha amiga Renata que tanto me
apoiou.
5
Resumo
No que se refere ao processo de ensino-aprendizagem o estudo
apresentado evidencia que o psicopedagogo não poderia ficar de fora do contexto
hospitalar, por se tratar de um profissional com formação interdisciplinar.A
importância de um trabalho multidisciplinar entre os profissionais no hospital
possibilita um ambiente mais agradável e humanizado. Ajudando o sujeito
paciente na sua recuperação, dando-lhe auto-estima e capacidade de sonhar.Este
trabalho tende focalizar a humanização nos hospitais, o trabalho com crianças,
principalmente nas brinquedotecas e o campo de atuação do psicopedagogo
hospitalar.
6
Metodologia
A presente pesquisa caracterizar-se-á como interdisciplinar, na medida em
buscará embasamento teórico em algumas disciplinas das Ciências Humanas, tais
como Pedagogia e Psicologia.
Além de contar com entrevistas com alguns professores que atuam ou
atuaram nos acompanhamentos pedagógicos realizados nos hospitais do Rio de
Janeiro.
Esta monografia teve como referências principais para seu estudo os
seguintes autores: Olívia Porto, Leonarda Feitosa e Sandra Vasconcelos.
7
Sumário
Introdução................................................................................................................8
Capítulo I - Humanização nos hospitais e na saúde...............................................10
1.1 – A psicopedagogia hospitalar..........................................................................12
Capítulo II - Campo de atuação do psicopedagogo em hospitais..........................15
2.1 – Normas de conduta do Psicopedagogo Hospitalar.......................................20
Capítulo III- A criança hospitalizada.......................................................................22
3. 1 – O trabalho com Crianças Hospitalizadas......................................................24
3. 2 - O Espaço Lúdico...........................................................................................29
3. 2.1 – Brinquedoteca............................................................................................31
Considerações finais...............................................................................................37
Fontes de Consulta.................................................................................................39
8
Introdução
Esta monografia tem como seu principal interesse analisar, o trabalho
psicopedagógico em hospitais e os benefícios recebidos pelas crianças que
recebem o acompanhamento escolar nos hospitais, tendo como foco o
funcionamento das brinquedotecas. Além de ressaltar as dificuldades encontradas
por profissionais de educação que atuam na aprendizagem para crianças
hospitalizadas.
A psicopedagogia hospitalar tem como objetivo, acompanhar aprendizagem
de crianças que estão precisando de cuidados hospitalares. Pois, para criança
debilitada, essa troca com um profissional da educação no meio hospitalar é
importantíssimo, pois este tem o cuidado de acompanhar-las em seus vários
momentos, dando lhes apoio, confiança, respeito e dignidade para que ela não
fuja da vida e seja capaz de realizar-se, no sentido de construir algo que antes,
existia, apenas como possibilidade.
O hospital não é como o ambiente escolar, o profissional que irá trabalhar
nesse campo deve ser sensível a certas necessidades e cuidados que terão seus
alunos, dentre dos aspectos patológicos, emocionais (família/criança) e cognitivos.
Aprendizagem requer humanização, e aprender é modificar-se, olhar com
um olhar novo, perceber as informações visuais e cuidar da trilha da conversa. È
sorrir para facilitar a interação e, preocupar-se com o outro mostrando-lhe que ele
é capaz de construir sua aprendizagem em qualquer que seja a fase de sua vida.
O atendimento Pedagógico envolve ações como realizar um programa
escolar e ações de acompanhamento, dando importância na observação até a
evolução do processo de desenvolvimento cognitivo e sociafetivo das crianças.
Este trabalho é de grande valia para criança, pois ela começa a perceber que
mesmo doente, ela também pode brincar, criar e principalmente continuar
interagindo socialmente, e isto acarreta muita das vezes uma facilidade na
recuperação desta criança.
9
Ressaltando assim, mais uma vez a importância da intervenção do
psicopedagogo no acompanhamento da aprendizagem de crianças hospitalizadas,
pois o acompanhamento hospitalar se faz necessário por se ocupar das
operações cognitivas e das operações pedagógicas de agenciamento do
aprender, intervindo nos problemas de aprendizagem. Ele supera o
acompanhamento escolar no hospital por não se ocupar somente pelas questões
e calendários letivos curriculares. Cabe ao professor ter uma boa formação para
poder oportunizar a essas crianças um sentimento de aprendizagem, progresso e
avanço.
Enfim, todo esse processo educacional, no entanto, é regido pela urgência
do bem, pois como diz Rivarol: “O tempo é a margem do rio do espírito. Tudo
passa diante dele e nós pensamos que ele é que passa”.
10
Capítulo I – Humanização nos hospitais e na saúde.
"Não há riqueza maior que a saúde do corpo, nem contentamento maior que a alegria do coração. É melhor a morte do que uma vida amarga e o descanso eterno, mais que uma doença prolongada."(Eclesiástico 30, 16-17)
A palavra hospital teve origem no latim, que significa hóspeda e originou
hospitalis e hospitalium, que significava o lugar onde havia hospedagem, que
abrigavam pessoas, viajantes e desabrigados. No Egito, na Grécia e na Ìndia, a
Medicina era aprendida e repassada para pessoas que se interessavam na arte de
curar. Esses métodos de cura eram encontrados em papiros e eram aplicados e
muitas vezes, eram readaptados através de várias experimentações.
(PORTO,2008)
Passados vários séculos, a Medicina evoluiu nas suas especializações e
com isso avançou no seu modo espetacular do ato de obter cura. Porém, pelo seu
alto grau de intelectualização, tornou muito dos seus profissionais de saúde em
pessoas frias e objetivas.
E muitas vezes só reconhecem o paciente por sua patologia local onde está
alojado e os procedimentos que devem ser realizados entre outras rotinas
hospitalares, esquecendo-se de que seus pacientes são pessoas que possuem
particularidades e sentimentos. Como Leonarda Feitosa bem define:
“A pessoa que está sendo gerada, seja em vida ou
em sua saúde, precisa da capacidade de sonhar do outro,
como bem define BION, da disponibilidade para estar de
acordo com o outro sem as barreiras intelectuais, mas com
um vínculo com as características da emoção”. (FEITOSA,
2001).
11
O respeito a pessoa humana é um dos valores básicos da sociedade
moderna, fundamentando-se no principio de que cada pessoa deve ser vista como
um fim em si mesma e não somente como um meio, princípio freqüentemente
infringindo nas instituições de assistência à saúde (FORTES, 1998,p.13).
A aceitação da dignidade humana, enquanto valor fundamental, faz com
que cada indivíduo seja tratado sempre como um fim em si mesmo, não como um
mero meio para satisfação de interesses do Estado, de terceiros, da ciência, dos
cientistas ou de interesses industriais e comerciais. Desta forma, tem perspectiva
humanista e tende a ver o homem em sua globalidade. Pretende também a
humanização das ações e dos direitos dos cidadãos enquanto usuários destes
serviços.
Todo ser humano, quando na posição de paciente, deve ser tratado em
virtude de suas necessidades de saúde. È portanto, necessário que, tanto no
sistema privado quanto nas instituições públicas, as ações e os serviços de saúde
sejam orientados no sentido de humanizar suas práticas.
O ambiente hospitalar exclui atividades de rotina de qualquer pessoa, seja
ela, criança, adolescente, adulto ou idoso. A singularidade de cada ser humano
fica restrito a números de prontuários, enfermarias e leitos. Pacientes que
precisam de internações de longa duração geralmente ficam deprimidos e seu
sistema imunológico conseqüentemente é afetado e passam por um longo período
de recuperação.
Por isso a importância da humanização nos hospitais, porque através desta
aliança terapêutica é instalado pela capacidade de entender e acolher
afetivamente a demanda da pessoa doente e o ciclo se completa quando o outro
tem a capacidade de acatar e devolver esse sentimento. È uma via de duas
pontas (ida e volta) que engloba o pensar, o sentir, o dizer, o compartilhar com a
pessoa doente, isto é humanizar. E para que a humanização seja a causa
principal nos hospitais, tem que começar principalmente pelos profissionais que
atuam no ambiente hospitalar.
12
No intuito de humanizar as práticas realizadas pelos profissionais de saúde
no hospital, a ASSOCIAÇÂO MÉDICA MUNDIAL criou uma cartilha que se
fundamenta na ampliação do respeito à autonomia e aos direitos dos pacientes no
cotidiano dos serviços de saúde.
• O paciente tem o direito a atendimento humano, atencioso e
respeitoso por parte dos profissionais de saúde.
• O paciente tem direito a ser identificado pelo nome e sobrenome;
não deve ser chamado pelo nome da doença ou do agravo da saúde
ou ainda de forma genérica ou quaisquer outras formas impróprias,
desrespeitosas ou preconceituosas.
• O paciente tem o direito à segurança à segurança e integridade física
nos estabelecimentos de saúde, públicos e privados.
• O paciente tem direito a receber ou recusar assistência psicológica,
social e religiosa
Além destes direitos, destacam-se o ser informado, o de decidir sobre sua
saúde, o direito à reclamação, à privacidade, à confidencialidade das informações
e á associação. Um dos direitos que pode ser utilizado para a garantia dos demais
é direito à associação. Os pacientes têm o direito moral e legal de se associar na
defesa de seus interesses (FORTES, 1998, p.20)
1.1- Psicopedagogia Hospitalar
A Psicopedagogia Hospitalar tem o propósito de tornar esse ambiente
chamado de hospital em um lugar de estada passageira e na medida do possível
tornar este lugar mais agradável até mesmo usando uma forma lúdica, mesmo
para aqueles que se encontram mais debilitados. Pois a Psicopedagogia vem dar
suporte e apoio para aprendizagens e reaprendizagens ao paciente interno,
humanizando e contribuindo para a promoção da Saúde.
13
A humanização não é a solução de todas as patologias nem retira o medo e
a dor dos pacientes e seus familiares, mas quando é presente, a cada instante vai
diluindo esses sentimentos e ajuda a discriminar as reais possibilidades entre o
ideal e o possível.
O ser humano é um ser totalmente social e tem a necessidade do outro
para conviver em sociedade. Essa comunicação se da através de gestos,
palavras, escrita, por trocas de afeto, amor, raiva e todos os sentimentos
pertinentes à espécie humana. Por isso é de suma importância à escuta
psicopedagógica assim, como as visitas de familiares. Pois, ambos estabelecem
uma relação de cuidado e respeito com o outro que está passando por momentos
difíceis, isto é, além de ser estimulante para uns pacientes, pois a família, por
exemplo, compartilha a dor, incentiva na recuperação. Para outros que não
recebem visita é muito triste e muitas das vezes ficam com sentimentos de
solidão, deprimidos e com medo da morte, para estes a escuta psicopedagógica é
de grande valia.
A escuta psicopedagógica deve acontecer sempre, já que leva para seus
pacientes, alegria, sorriso, invade espaço que estão vazios e também tem como
função o escutar, o olhar, o acolhimento, estes elementos são fundamentais para
qualquer pessoa, principalmente para aquelas que estão doentes, já que o ser
humano é movido por emoções e afetos.
A Psicopedagogia Hospitalar tem como proposta de ser interlocutor não só
de crianças, mas também de todos aqueles que passam por internações, sejam
elas curtas, médias e de longas durações, doenças crônicas e de pacientes
terminais, dando para todos as devidas atenções necessárias, apoio, escuta,
comprometimento e carinho, criando nos hospitais um costume em que pessoas
podem e devem ser preocupar umas com as outras. Segundo Boff 2000, só o
cuidado de um para com o outro humaniza verdadeiramente a existência. E o
cuidado é o modo próprio do ser humano, como menciona Boff (S.d.).
Olívia Porto (2008), menciona que a humanização nos hospitais começa
por todos que trabalham nos hospitais e não somente pelos poderes públicos
14
institucionalizados ou pelos responsáveis das instituições, pois os profissionais de
Saúde, têm a força política como cidadãos para modificar esse quadro de frieza e
descaso para aqueles que estão precisando de um pouco mais de atenção. Para
isto, ela cita que a humanização começa:
• Na porta de entrada da unidade, com profissionais cordiais,
esclarecendo e informando as necessidades dos usuários e
encaminhando-os para os setores responsáveis da Unidade de
Saúde;
• Na manutenção das instalações que deverão estar sempre limpas,
obedecendo às normas da Comissão de Infeccção Hospitalar, que
deve estar sempre presente em todos os hospitais sejam públicos ou
privados;
• Na lavanderia e na autoclave que deverão estar sempre em bons
estados de utilização e conservação, garantindo materiais
esterilizados e condições assépticas de roupas de cama, de
Enfermagem, Centro Cirúrgico, entre outras áreas utilizadas, nos
diversos procedimentos hospitalares.
• Nas equipes médicas, de Enfermagem, assistentes sociais,
auxiliares e técnicos de Enfermagem, Nutrição, Psicologia,
Fonoaudiologia, fisioterapeutas e nas demais equipes aqui não
citadas que deverão repensar, reavaliar suas práticas por dinâmicas
com psicopedagogos hospitalares, tendo como objetivo principal
implementar, incrementar, internalizar o processo de
“HUMANIZAÇÂO NO HOSPITAL E NA SAÚDE”. Transformando
uma equipe transdisciplinar, isto é, humanizando a saúde.
O Psicopedagogo tem como principal objetivo de estudo é aprendizagem
humana e tem o dever e competência para desenvolver um trabalho eficaz e
eficiente também nos hospitais, promovendo a humanização através de suas
ações.
15
Capítulo II – Campo de atuação do Psicopedagogo em hospitais.
A Psicopedagogia é uma área de conhecimento e pesquisa na atuação
interdisciplinar voltada para os processos de ensino e aprendizagem. A atuação
da psicopedagogia em hospitais surge para estabelecer uma relação entre
Educação e Saúde .
Este campo de atuação não fica restrito apenas a cuidados de crianças e
adolescentes, mas também para adultos, idosos e portadores de necessidades
especiais, já que todos de uma certa forma passam por novos ciclos de
aprendizagem. Porém, esta presente pesquisa terá seu foco direcionado na
aprendizagem de crianças, que passam longos períodos de internação.
Segundo Porto,
a psicopedagogia vai além da aplicação da psicologia
à pedagogia, pois não pode ser vista sem um caráter
interdisciplinar, que implique a dependência da contribuição
teórica e prática de outras áreas de estudo para se constituir
como tal. Por outro lado, a psicopedagogia não é apenas o
estudo da atividade psíquica da criança e dos princípios que
daí decorrem, visto que ela não se limita à aprendizagem e,
conseqüentemente, inclui quem está aprendendo,
independente de ser criança, adolescente ou adulto. A
psicopedagogia é um campo de atuação que integra saúde
e educação e lida com o conhecimento, sua ampliação, sua
aquisição, suas distorções, suas diferenças e seu
desenvolvimento por meio de múltiplos processos. (PORTO,
2007)
16
O ambiente hospitalar exclui quase sempre a singularidade do ser humano
hospitalizado. Na maioria das vezes, são rotulados por números, leitos,
prontuários, enfermaria etc. Além de ser constituídos como um espaço dos
profissionais de saúde e muitas vezes, torna-se difícil à inserção de profissionais
com o foco na educação. Essa forma de tratar seus pacientes, principalmente
crianças, pode trazer conseqüências como um baixo estima, ou seja,
impossibilitando estas de sonhar com sua recuperação ou com uma
reaproximação com outras crianças.
O psicopedagogo, então, será o mediador para manter aquecido ou
recuperar sentimentos de amor próprio, auto-estima, aceitação, segurança e
valorização da vida do paciente pediátrico. E garantir que o desejo pela
construção da aprendizagem pode acontecer em qualquer ambiente, desde que
tenha integração, comprometimento e amor.
Sendo a Psicopedagogia um campo de atuação em saúde e educação que
lida com o processo de construção do conhecimento, utilizando-se de vários
recursos das áreas do conhecimento, pode-se compreender que o profissional
dessa área atua com um caráter preventivo e/ou remediativo, buscando a melhoria
das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção
da própria aprendizagem de aprendentes e ensinantes.
A psicopedagogia hospitalar tem a sua atuação baseada em crianças que
por motivos de doenças ou traumas físicos deixam seu ambiente social domiciliar
e escolar e passam a conviver sobre os cuidados médicos. E é a partir daí, que a
intervenção psicopedagógica se torna de fundamental importância, a qual será
realizada através de atividades educacionais e lúdicas centradas na
aprendizagem, possibilitando um prognóstico onde o psicopedagogo irá
desenvolver uma escuta apurada e um olhar sistêmico, analisando e assinalando
os fatores que favorecem, intervém ou prejudicam uma boa aprendizagem, assim
como o funcionamento dos processos cognitivo, afetivo, social, autoria de
pensamento, vínculo normal e/ou patológico e modalidade de aprendizagem.
Onde o significante e o significado da avaliação é a observação direta do
17
desempenho da criança, desenvolvido a partir de conceitos que ela já tenha
construído ou que ainda precise aprimorar, construir ou reconstruir (Porto, 2008).
Para o Psicopedagogo Hospitalar fica sendo imprescindível compreender
todo o corpo de uma estrutura hospitalar, por se tratar de uma área relativamente
nova, onde a instituição hospitalar em algumas situações não saberá o que pedir
ao psicopedagogo e cabe a ele mostrar o que pode acrescentar em benefício do
paciente pediátrico e da instituição. O psicopedagogo irá por em ação um
questionamento e reflexão de como se adaptar a este novo ambiente, provido de
regras, normas, valores e função social, o qual o mesmo deverá se conscientizar
de sua identidade profissional e delimitar até onde vai a sua atuação e a de outro
profissional, realizando o devido encaminhamento quando se fazer necessário.
Através do trabalho em equipe pode-se estabelecer um conjunto de forças,
sinergias e multiplicidades de fatores que se interligam nas efetivações de um
objetivo. Então é fundamental, para o psicopedagogo a interação com os outros
profissionais que mantém o contato com a criança internada. Já, que o
psicopedagogo deve saber sobre a patologia da criança e como proceder, a quem
e onde recorrer quando estiver sob seus cuidados. Por isso, também é necessário
ter o conhecimento das dependências e funcionários das unidades. Segundo
Vasconcelos:
O psicopedagogo junto à equipe multidisciplinar
atuará de forma coesa e nunca isoladamente ou
fragmentada, é importante que haja um espaço para que os
conhecimentos de ambos profissionais envolvidos neste
contexto sejam integrados a novas idéias, compartilhados e
ressignificados, conhecer o olhar de cada um contribuirá
para reconhecer as dificuldades pessoais e institucionais
para pôr em ação uma atitude sistemática, contínua e
reflexiva, de maneira a contribuir para que o vínculo entre a
equipe se consolide o mais prazeroso possível, visando um
18
ambiente mais humanizado ao paciente pediátrico. O qual
nos remete a ser um ambiente impessoal, frio, hostil,
assustador, incompreensível e depressivo, vivenciado e
sentido na condição de hospitalizado. (VASCONCELOS,
S.M.F. pág. 7)
Principalmente quando a crianças for portadora de necessidades especiais,
pois o psicopedagogo deve saber mais sobre sua doença, dificuldades e
limitações, para desenvolver um trabalho seguro e eficaz. Neste caso a atuação
do psicopedagogo, também seria focada na aprendizagem, inclusão e integração
deste aluno com o mundo que o rodeia.
Raquel Gontijo (S.d.), atuante na área de psicopedagogia hospitalar,
menciona onde e como a psicopedagogia poderá trabalhar com os indivíduos com
patologias graves como neuroses ou psicose:
“Os pacientes com psicopatologias graves, em
sofrimento mental ou em crise se beneficiam muito dos
atendimentos nas Oficinas. É um espaço onde podem
resgatar seu contato com a realidade, descobrir suas
potencialidades e lidar com seus limites. Através das
atividades propostas o paciente percebe suas possibilidades
de crescer, aprender e conviver em sociedade. Nosso maior
objetivo é a reinserção desse paciente na comunidade onde
vive. A maioria dos nossos pacientes está fora da escola, ou
de alguma forma, excluída dentro dela. Procuramos leva-los
a descobrir novas formas de conviver com outras crianças
e/ou adolescentes, desenvolver o gosto pelo aprender, pelo
fazer bem feito. Durante o processo, aprendem a lidar com
projetos de trabalho, pesquisar, concluir e criticar.
Desenvolvem suas estruturas cognitivas e melhoram sua
auto-estima. [...] A integração ou inclusão do portador de
19
deficiências supõe uma superação dos preconceitos,
metodologias de trabalho e conhecimento científico”.
(GONTIJO, S.d.)
Fica percebido que é direito do paciente saber o motivo que o levou a ficar
internado e a precisar de alguns cuidados. Logicamente que para as crianças este
assunto deve ser tratado e verbalizado de forma simples e até mesmo de forma
lúdica, mas respeitando as singularidades dos pacientes. Pois, a pessoa internada
necessita de respeito, confiança, olhar, tocar e ser tocada, ser escutada, de
honestidade, explicações claras sobre seu diagnóstico, o prognóstico e os
tratamentos possíveis. Segundo Leonarda Feitosa (2001), tais explicações podem
ser refletidas nos resultados positivos do tratamento.
Ausência de explicações para o paciente constitui um fator de ansiedade e
suscita um sentimento de estar num local onde não lhe asseguram integridade
física e moral. Feitosa diz que, estas explicações devem ser dadas com palavras
compreensíveis. Quando necessário, recorrer a recursos visuais como desenhos
ou atlas anatômicos e no final deve saber se a pessoa teve tal entendimento.
Porém, não somente o paciente deve ficar sabendo a sua real situação,
mas também seus familiares, visto que ambos estão passando por momentos
difíceis e angustiosos. É de suma importância os familiares ficarem esclarecidos
sobre a doença, os cuidados, o possível tempo de internação, enfim, de tudo que
a criança está vivenciando.E tanto no esclarecimento feita ao paciente quanto aos
seus familiares fica imprescindível a presença e a atuação do psicopedagogo,
proporcionado ao enfermo e à sua família a devida e carinhosa acolhida. Através
dessa relação, pode-se estabelecer uma confiança de ambos, família/criança com
o psicopedagogo e também proporcionar uma experiência menos traumática
possível nesse processo de hospitalização.
20
2. 1 – Normas de conduta do Psicopedagogo Hospitalar:
De acordo com Porto (2008), todo profissional deve saber as regras e
normas da instituição que trabalha, para assim manter um bom desempenho de
suas funções. E não seria diferente para o psicopedagogo, por isso autora coloca
algumas normas para uma boa atuação dentro do contexto hospitalocêntrico,
sendo elas:
• Observar os setores e a dinâmica hospitalar, isto é, rotinas médicas
da equipe de enfermagem, procedimentos, hora das refeições e
visitas. Não interferir no trabalho do outro profissional e se expor a
opinião o psicopedagogo deve estar atento aos conteúdos teóricos e
não em achismo.
• Anotar todos os setores do hospital (da portaria à direção), usando
sempre sutileza e fazendo vínculos afetivos, pois neste trabalho que
é novo e desconhecido para a comunidade hospitalar, pode-se estar
desenvolvendo um movimento persecutório.
• Dependendo do tipo de hospital, seja geral, especializados em
determinadas patologias, é importante sempre estudar sobre as
doenças ali encontradas. Pois, através deste estudo e o constante
aperfeiçoamento que farão o diferencial na atuação dos profissionais
de psicopedagogia hospitalar.
• É importante ser profissional, ser amigo, compartilhar com as
equipes momentos de vitórias e, também, a dor.
• O psicopedagogo também deve entrar no hospital com um sorriso no
rosto, procurando diluir o clima que costuma ser pesado nestes
ambientes. Distribuir uma energia positiva para todos: funcionários,
pacientes e familiares.
• Ler sempre os prontuários para ver a evolução do quadro e as
recomendações médicas.
21
• Fica de grande importância saber que quem transmite notícias de
doenças e da morte, quando for o caso, é o médico. O
psicopedagogo não deve aceitar esta atribuição, pois esta tarefa é da
equipe médica.
• E, por fim ter ética, pois está sim, é um dos fatores mais importantes
desta profissão e também de qualquer outra.
Porto (2008) diz, que através desses passos mencionados acima o
profissional de psicopedagogia hospitalar terá grande êxito nessa nova
profissão, que é nova, mas de grande valia para aqueles que recebem
seus cuidados.
22
Capítulo III- A criança hospitalizada.
A doença caracteriza-se como uma situação de crise para a criança e a
hospitalização constitui-se para ela uma situação estressante, pois envolve
tratamentos dolorosos, invasivos, além da quebra da rotina de vida e a possível
separação dos pais, familiares e amigos. Trata-se de um local estranho e
ameaçador em função das próprias ondições desse ambiente.
A criança hospitalizada fica sob o cuidado de um grupo técnico que, na maioria
das vezes, não a vê como uma criança com necessidade de brincar, falar,
expressar-se e se limita a cuidar das condições clínicas desse indivíduo. Isso
ocorre porque a prática hospitalar é composta de diagnóstico fisiopatológico, de
exames laboratoriais, de procedimentos de intervenção clínica, deixando de lado a
fala da criança.
A criança não fala de diagnósticos, de exames, de efeitos de prescrição e
sim dos familiares, dos amigos, dos brinquedos, da escola, etc. Quando se refere
aos enfermeiros e médicos, ela nota a atitude desses para com ela e não avalia a
sua competência técnica.
Com tudo isso, o ambiente hospitalar mostra-se impessoal, orientado pela
doença e pelos quadros clínicos, deixando à margem a prática humanizada e
personalizada que se orienta pela saúde e pela produção de vida.
As dimensões biológicas ou psicológicas do adoecimento e da
hospitalização da criança não devem ser as únicas atendidas, uma vez que estas
podem ser tratadas com a aplicação da tecnologia médica, de enfermagem
tradicional, bem como pelo psicodiagnóstico. Já a dimensão vivencial da
experiência de adoecer e ser hospitalizada não pode ser diagnosticada, só pode
ser sentida junto com a criança, quando nos colocamos em seu lugar e nos
permitimos escutar seus processos afetivos e cognitivos. Observando suas
interações, produções, medimos também suas construções.
O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, reunido em
sua vigésima sétima assembléia ordinária e considerando o disposto no art. 3º da
lei 8.242, de 12 de outubro de 1991, aprovou a resolução n.º 41 de 13/12/1995
23
que dispõe os direitos da Criança e do Adolescente hospitalizados. De acordo com
essa resolução, são direitos da criança e do adolescente hospitalizados:
1. Direito e proteção à vida e à saúde, com absoluta prioridade e sem qualquer
discriminação.
2. Direito a ser hospitalizado quando for necessário ao seu tratamento, sem
distinção de classe social, condição econômica, raça ou crença religiosa.
3. Direito a não ser ou permanecer hospitalizado desnecessariamente por
qualquer razão alheia ao melhor tratamento da sua enfermidade.
4. Direito a ser acompanhado por sua mãe, pai ou responsável durante todo o
período de sua hospitalização, bem como receber visitas.
5. Direito a não ser separado de sua mãe ao nascer.
6. Direito a receber aleitamento materno sem restrições.
7. Direito a não sentir dor quando existam meios para evitá-la.
8. Direito a ter conhecimento adequado de sua enfermidade, dos cuidados
terapêuticos e diagnósticos a serem utilizados, do prognóstico, respeitando sua
base cognitiva, além de receber amparo psicológico quando se fizer necessário.
9. Direito a desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para
a saúde, acompanhamento do "curriculum" escolar durante sua permanência
hospitalar.
10. Direito a que seus pais ou responsáveis participem ativamente do seu
diagnóstico, tratamento e prognóstico, recebendo informações sobre os
procedimentos a que será submetido.
11. Direito a receber apoio espiritual e religioso conforme prática de sua família.
12. Direito a não ser objeto de ensaio clínico, provas diagnósticas e terapêuticas
sem o consentimento informado de seus pais ou responsáveis e o seu próprio
quando tiver discernimento para tal.
13. Direito a receber todos os recursos terapêuticos disponíveis para a sua cura,
reabilitação e/ou prevenção secundária e terciária.
24
14. Direito à proteção contra qualquer forma de discriminação, negligência ou
maus tratos.
15. Direito ao respeito a sua integridade física, psíquica e moral.
16. Direito à preservação de sua imagem, identidade, autonomia de valores, dos
espaços e objetos pessoais.
17. Direito a não ser utilizado pelos meios de comunicação sem a expressão
vontade de sues pais ou responsáveis, ou a sua própria vontade, resguardando-se
e ética.
18. Direito à confidência dos seus dados clínicos, bem como direito a tomar
conhecimentos dos mesmos, arquivados na Instituição pelo prazo estipulado em
lei.
19. Direito a ter seus direitos constitucionais e os contidos no Estatuto da Criança
e do Adolescente, respeitados pelos hospitais integralmente.
20. Direito a uma morte digna, junto a seus familiares, quando esgotados todos os
recursos terapêuticos disponíveis.
Estes direitos apesar de serem aprovados pela lei, não garante o exercício
destes, vale a Instituição Hospitalar ter consciência em promover através de seus
procedimentos a efetivação destes direitos.
3. 1 – O trabalho com Crianças Hospitalizadas.
A educação hospitalar representa uma das novas especializações da
educação. Tem como foco dar apoio na educação psicopedagógica para as
crianças que estão internadas, assegurando uma boa recuperação. A
humanização nestes aspectos contribui a promover uma ambiente saudável e
seguro. Nas enfermarias, a família pode ficar mais junto do paciente podendo
participar das diversas intervenções, visto que a duração da hospitalização poderá
ser bastante longa. Um psicopedagogo hospitalar chegando a esse ambiente é
25
imediatamente contagiado por sentimentos de angustias e estranhamentos
(Porto,2008).
A hospitalização, acompanhada ou não de cirurgia, é um universo
constante de angustia para a criança sobre seu futuro e de quanto tempo vai durar
este sofrimento. E muitas vezes, as crianças presenciam a depressão dos pais
que passam por sentimentos de impotência diante da doença de seus filhos, que
ficam sem saber como amenizar o sofrimento e o medo da criança. Isto tudo
implica no estado emocional do paciente, causando um certo desespero e às
vezes até uma revolta do paciente quanto a sua recuperação.
Porto (2008) elucida que para a criança hospitalizada, a grande
preocupação incide sobre o tempo de tratamento a que ela submeterá. È uma
inquietação que aparece antes mesmo de pensar no tipo de intervenção a ser
aplicada e das agressões que o corpo sofrerá.
E pelo lado da equipe médica e dos enfermeiros, a tensão dos prognósticos
indesejáveis e incertos, angústia e irritação dos enfermeiros no contato com
doentes difíceis ou exigentes. Muitas vezes, esta irritação não é percebida pelo
paciente. O ponto de partida para os psicopedagogos é identificar e trabalhar as
relações do paciente com o outro e também do profissional de saúde com seus
pacientes.
E de acordo com Porto (2008), no primeiro momento o psicopedagogo vai
buscar intervir através da afetividade, o que deseja este paciente, identificando
nele o que mais gosta de fazer, buscando assim, caminhos para resgatar a auto–
estima e não deixando entrar em depressão anaclítica, que, neste primeiro
momento, é bastante comum.
O psicopedagogo tem que levar em conta que seu paciente está
vivenciando um mundo totalmente estranho após sua internação, passando por
regras de funcionamento diferentes, vocabulários difíceis, sendo tratados muitas
vezes através de sua patologia. È necessário descobrir um modo de vida com a
equipe, inventar uma prática em relação com a especialidade de
26
PSICOPEDAGOGIA HOSPITALAR, e, acessoriamente, achar prazer neste
trabalho.
“Toda forma de doença, anomalia ou patologia se
constitui como uma ameaça à vida e deve, portanto ser vista
também como uma ameaça de morte. Se pensarmos no dito
popular que nos ensina que, para morrer basta estar vivo,
consideraremos a existência humana como um conjunto de
possibilidades e de impossibilidade relativas ao viver. Isso
revela a perfeita incompreensão humana sobre a vida”
(BOSS, 1981, p.42).
A internação seja ela com ou sem cirurgia, não deixa de ser um ato de
agressão contra a criança, acompanhada pelos seus imaginários que nesta fase
são negativos, pois são constituídos pela dor e por fantasmas. A cirurgia cria dor,
mas a sensação de dor é sentida diferentemente de acordo com a idade do
paciente e de acordo com suas particularidades. Para as crianças menores, por
exemplo: de 0 a 3 anos, os fatores físicos e processos psíquicos são ligados a
impossibilidade que tem o bebê de distinguir entre os estímulos externos e
percepções internas. A vida emocional de bebê é ligada a percepções físicas e à
experiência prazer-desprazer. Nesta fase, a criança é mais dependente da mãe,
então a primeira ruptura dolorosa para esta criança é a separação, além de
sempre estar passando por lugares estranhos e rostos desconhecidos, causando
desconforto e dor.
“... a mãe tomada pelo estado de preocupação materna
primária”, sabe o que seu bebê necessita. Ela lhe dá calor,
alimentos, amor, silêncio obscuridade, prazer, medicamentos,
calma. Tudo isso na hora certa no momento exato. Todo esse
“saber” brota espontaneamente do mais profundo espaço do
seu ser. Nada disso pode ser aprendido. Essa mãe
suficientemente boa não somente cria uma ambiente
27
facilitador ao desenvolvimento do bebê, como ela é esse
ambiente” (WINNICOTT,1997,p.99)
A intervenção psicopedagógica fica mais direcionada às famílias dessas
crianças pequenas, pois através de um trabalho em conjunto a criança possa ficar
com menos rastros na sua memória desta fase tão complicada de suas vidas. Esta
intervenção dar-se-á através de conversas e apoios para estes familiares,
ensinando-os a lidar com esta situação e de como deve ser a recepção deles
quando a criança voltar de algum tratamento penoso, dando-os apoio e confiança.
Além, de estar ajudando também no desabafo daqueles que estão sofrendo por
seus filhos.
Em relação à criança a intervenção leva em conta o estado emocional desta
que pede socorro quando se nega alguma atividade ou quando é agressiva. Pois,
a criança confunde fantasia e realidade e interpreta a ação do cirurgião de acordo
com seu desenvolvimento pulsional e emocional. A expressão “dói” pode implicar
“tenho medo” de estar sozinho, de ser desfigurado, de sofrer.
Para as crianças maiores, a hospitalização vai despertar angustias que são
funções da compreensão da cirurgia ou da internação prolongada. Estas, já
conseguem distinguir a realidade de suas fantasias. Há uma certa angústia
perante a morte ou se vai ser mutilada, deixando-as frágeis e depressivas, com
um baixo estima e sem vontade de fantasiar e sonhar.
Nem sempre toda criança internada tem depressão. Muitas vezes encontra-
se crianças com mutilações severas, sem grandes angústias, como muitas outras,
sensivelmente menos mutilados, pode-se perceber sentimento de revolta, angústia
e desespero. O psicopedagogo deve ter em seu discurso sempre a valorização da
vida e levantar a auto-estima destes mostrando-os que eles têm potencial em
aprender, sonhar e viver. (Vasconcellos, S.d.).
Na maioria das vezes as dificuldades mais encontradas são os sintomas de
inadaptação da criança com seu ambiente. Associado a essas demonstrações
comportamentais encontra-se forte demanda emocional expressada por uma
28
indagação do acompanhante, recusa em permanecer só, pedidos de carinho
físico.
Já as crianças depressivas encontram-se sempre triste e com lágrimas,
retração e recusa de contato, apatia e passividade, expressão de sentimentos de
solidão e abandono, baixa auto-estima. Como conseqüência a criança agrava seu
estado clínico, porque esta síndrome de base são somados em função da idade e
da personalidade, os medos, forte demanda afetiva, demonstrações de desajustes
e todo um conjunto de problemas físicos e psicossomáticos: anorexia, vômitos,
insônia, perda do controle esfincteriano, enurese noturna dores incessantes. Vale
lembrar que nem todas as crianças passam pelos mesmos sintomas já que
passam por tratamentos diferenciados. Depois, o que se percebe é um estado
deprimente anterior à hospitalização reativado.
O trabalho com crianças hospitalizadas leva para um trabalho institucional
em que todos os profissionais são importantes, pois todos têm na sua bagagem
suas especializações e sua imagem profissional. O Psicopedagogo chega para
recordar que o corpo sofrido e machucado do doente abriga um ser capaz de
aprender e de desenvolver suas habilidades e capacidades intelectuais. Além
disso, mostrar que o espaço escola acontece no contato do professor com o
aluno, qualquer que seja a localização, independente de supervisões, diretorias e
coordenações. Independente até de plano de curso.
Vale ressaltar, que o Psicopedagogo na Instituição Hospitalar auxilia a parte
pedagógica de crianças hospitalizadas por curto período e também daquelas onde
as internações são mais longas e outras que estejam sem possibilidades de cura,
garantindo a estas condições para uma sobrevida digna até quando deixar de
existir.
Para isto, há várias maneiras de trabalhar com estas crianças a principal
delas é através da ludicidade. Faz-se necessário então de atividades e espaços
lúdicos que podem ocorrer em brinquedotecas, que será brevemente mencionada
a seguir, respeitando a faixa etária de cada criança.
29
3. 2 - O Espaço Lúdico
As atividades lúdicas faziam parte da vida do ser humano, em especial, da
vida da criança desde o início da humanidade. Os povos da Antigüidade
acreditavam que o desenvolvimento integral do ser humano pressupunha o
brincar. Aristóteles classificou o homem em três aspectos: homo sapiens ( o que
conhece e aprende ), homo faber ( o que faz e produz ) e o homo ludens ( o que
brinca e cria ). Em nenhum momento, ele sobrepujou o outro como mais
importante ou mais significativo, mas os considerava indissolúveis. (Lindquist ,993)
A palavra lúdico de origem latina significa brincar. Nesse ato estão incluídos
os jogos, brinquedos e divertimento que tenham a função de oportunizar a
aprendizagem do indivíduo, a ampliação de seus conhecimentos e saberes do
mundo através do jogo, do brincar.
Infelizmente, a criança quando passa para o ambiente hospitalar, muitas
vezes, fica impossibilitada de brincar. Isto porque o processo de hospitalização
rompe com sua rotina, com seus brinquedos, com seus amigos, com sua alegria e
a expõe a procedimentos hospitalares que são invasivos e dolorosos
(Vasconcelos, S.d.).
O brincar envolve também a socialização do indivíduo e por isso é tão
importante para a criança a brincadeira, o jogo tanto quanto a nutrição e os
cuidados e atendimentos às necessidades vitais. O IPA Brasil (Associação
Brasileira pelo Direito de Brincar) defende o brincar com todas as suas formas. Ele
é encarado como um meio, um direito e um dever.
Como um meio porque proporciona inúmeras possibilidades de
desenvolvimento pessoal, fonte de afeto, de alegria e solidariedade. Como um
direito porque está instituído no artigo 31 da Convenção dos Direitos da ONU que
diz: “Toda criança tem o direito ao descanso e ao lazer, a participar de atividades
de jogos e recreação, apropriadas à sua idade, e a participar livremente da vida e
das artes”. (ONU, 1995).
30
Como um dever para os adultos que respondem pela qualidade de vida de
todas as crianças existentes na comunidade e a elas devem oferecer
oportunidades saudáveis de brincar e de serem crianças para que elas também
façam isso por seus filhos, netos, bisnetos. Para a perpetuação da infância e da
brincadeira, da alegria.
A educação lúdica contribui e influencia na formação da criança,
possibilitando a esses um crescimento sadio, um enriquecimento permanente.
Para Vygotsky (1988 - apud Saltoratto) as experiências lúdicas são meios
que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual, cognitivo e psíquico
das crianças. Assim, preservar e valorizar o brincar é uma maneira de fazer
história e cultura.
Os jogos, brinquedos e brincadeiras são atividades fundamentais da
infância que favorecem a imaginação, a confiança, a curiosidade, a socialização,
desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da criatividade e da
concentração.
De acordo com Vasconcelos (S.d.), as crianças hospitalizadas não
conseguem verbalizar seus desejos e necessidades dentro de um ambiente tão
hostil como o hospital. Freqüentemente, elas ficam inquietas, ansiosas, sofrendo
as conseqüências da doença que elas muitas vezes desconhecem a causa.
Assim parece que despertar o lúdico na criança torna-se um meio de ouvi-la
e conhecê-la em sua dor além de desenvolver nela o desejo por aprender durante
o tempo em que está longe da escola e dos amigos.
Ainda segundo Lindquist (1993), o brinquedo está para a criança como o
trabalho está para o adulto. Encantada com o que faz, ela fica concentrada e
nesse momento é possível desenvolver as habilidades da criança através da
atividade que a divirta.
Estando descontraída e estimulada a realizar tarefas e atividades que lhe
façam bem e feliz, a permanência no hospital será mais fácil e o seu
desenvolvimento e cura serão favorecidos.
31
De acordo com Ceccim e Burg (1997), a criança hospitalizada necessita
que alguém a escute e que o faça de modo diferenciado, pois ela pede para
brincar, ter amigos, buscando amenizar sua experiência de adoecer e ser
hospitalizada.
3. 2.1 - Brinquedoteca
A praticidade dessas brincadeiras pode-se ser desenvolvidas em
brinquedotecas, pois é um espaço dividido em cantos temáticos que permitem às
crianças desenvolverem suas fantasias, de acordo com o Núcleo de Cultura,
Estudos e Pesquisa sobre o Brincar-Laboratório de Brinquedos.
O Brincar faz com que as crianças sonhem, fantasiem e expõem seus
medos, anseios e suas perspectivas de sua vida. Portanto, o Psicopedagogo deve
ficar atento às estas brincadeiras com muita seriedade porque é a partir delas que
ele pode perceber o ponto de partida para uma intervenção, além de proporcionar
uma terapia e momentos de prazer para suas crianças.
Para Olívia Porto (2008), o real valor do brincar e das atividades lúdicas é
percebido intuitivamente, portanto somente as pessoas que não estiverem muito
comprometidas com posições teóricas poderão alcançá-lo. Pois, para ela estar
preso as posições teóricas não significa ignorar todas as outras teorias. Para
transcender o enfoque linear e alcançar a percepção holística dos fatos, é
necessário ser capaz de liberar-se dos conceitos e dos preconceitos adquiridos
anteriormente.
A brincadeira estimula para um processo de criação, um ato de criar. O
brinquedo livre da criança é um exercício de criatividade, é uma forma de
expressão que é também um passo ao novo. Quando a criança está brincando
ela mergulha em um mundo de possibilidades. Neste espaço ela pode recriar e
enfrentar situações por ela vividas no seu cotidiano. É por isso que todas as
crianças precisam usufruir os benefícios emocionais, intelectuais e culturais que
32
as atividades lúdicas proporcionam. Por isto, as atividades lúdicas são
importantíssimas no ambiente hospitalar, pois ajudam a levantar a auto-estima e
dá momentos prazerosos para os pequenos pacientes.
De acordo com Olívia Porto (2008), o ambiente onde deve funcionar a
brinquedoteca deve ser aconchegante, limpo, arrumado ao final de cada sessão. E
para as crianças que não podem sair de seus leitos, as brincadeiras podem ser
feitas no mesmo local onde elas se encontram, sempre observando o esforço, as
limitações do paciente, entre outros agravantes que possam interferir na
recuperação.
Os brinquedos presentes nas brinquedotecas devem ser classificados de
acordo com a faixa etária, a praticidade, as restrições, os tamanhos, enfim, entre
outros aspectos.
De acordo com a classificação de brinquedos seguem para a organização
dos materiais lúdicos no espaço em que vai funcionar a brinquedoteca.
A brinquedoteca surge como uma alternativa aos problemas de vida da
sociedade contemporânea, na qual a falta de espaço e de segurança impede que
as crianças brinquem em locais que antes eram tranqüilas como, por exemplo, nas
ruas. Outro fator é a condição socioeconômica e também pelo fato de que as
crianças estão com pouco contato com outras de sua idade, já que as famílias
tendem a diminuir o número de filhos devido a salários insuficientes e ao
desemprego não permitindo também, à criança o acesso a uma gama variada de
brinquedos e jogos.
Embora todos os métodos de classificação de brinquedos contribuam para
os estudos de brincar infantil, muitas dessas classificações se concentram nos
aspectos sociais, pedagógicos e/ou psicológicos destes materiais. Porém, estes
materiais não possibilitam uma visão global dessa criança. Ainda não há um
brinquedo específico que atenda a esta ou àquela habilidade, para dizer há que
área de desenvolvimento desta criança está sendo bem trabalhada.
De acordo com Classificação do Internacional Council for Children´s Play –
ICCp (Porto, 2008), que fundamentou-se a partir da observação do que acontecia
33
entre a criança e o brinquedo em uma ambiente em que tal situação ocorria,
constatou-se que o brinquedo passa por quatro qualidades básicas, sendo elas:
- Funcionalidade: características inerentes ao brinquedo, incluindo-
se também aquelas ligadas à segurança, à sua adequação à
clientela, ao local e ao modo de utilização.
- Experimentabilidade: relaciona-se ao que a criança pode aprender
ou fazer com o brinquedo, como empilhar, produzir som etc.
- Estrurabilidade: diz respeito a aspectos do desenvolvimento
emocional/afetivo da criança, presentes quando ela, por exemplo,
brinca de médico ou com fantoches, ou usa os bate pinos e faz de
conta que se encontra em uma situação diferenciada, o que
contribui para que experimente os seus sentimentos.
- Relacionalidade: refere-se como o brinquedo media as interações
entre uma criança e as demais, ou entre a criança e os adultos, o
que está ligado às regras sociais.
Estas quatro qualidades estão presentes em cada brinquedo, embora não
estão no mesmo nível. Esta classificação do ICCP também considera
outros aspectos como relevantes para a classificação dos brinquedos, como
por exemplo:
- Faixa estaria: dividida em cinco (0-15 meses, 15-36 meses, 6-12
anos e 12-16 anos).
- Áreas do desenvolvimento da personalidade: sensório-motora
(motricidade global e motricidade fina), inteligência e fatores
sensoriais, afetividade, criatividade e sociabilidade.
- Categorias de brinquedos: para a primeira infância, de descoberta
e compreensão, de descoberta da personalidade, criativos,
esportivos e jogos de sociedade.
Esta classificação inclui, ainda, duas outras classificações:
34
1 – A classificação por famílias de brinquedos:
-para atividades sensório-motoras (objetos de vinil, móbiles, sonoros ou
não, bancada para martelar etc.);
-para atividades físicas (velocípedes, pipas, cordas de pular, etc.);
-para atividades intelectuais (quebra-cabeças, loto, construção, caixas de
experiências, etc.);
-para o desenvolvimento afetivo (bonecas, bichos de pelúcia, acessórios de
beleza, etc);
-para atividades que produzem o mundo técnico (miniatura, pisa para trem
elétrico, objetos transformáveis etc);
-para atividades criativas (adesivos, costura, dobraduras, modelagem,
teatrinho de fantoches etc.);
-para as relações sociais (xadrez, jogo de cartas, mágicas etc.);
2 – A classificação psicológica, através de categorias de valores, como, por
exemplo, analisa a competição, identificação afetiva, auto-afirmação etc. Ou tem
como finalidade analisar as funções educativas, isto é, a organização espaço-
temporal, memória e simbolização da criança.
Segundo Michelet (1992), cada brinquedo é classificado a partir de suas
funções e de sua relação com os interesses e os desenvolvimentos da criança.
Já ESAR de análise e classificação do material lúdico, analisa o potencial
do brinquedo, ou seja, a contribuição psicológica e pedagógica que esse
brinquedo pode levar a criança, tendo como base em um sólido conhecimento das
características do desenvolvimento infantil.
O Sistema ESAR compreende para a analise e a classificação do brinquedo
seis facetas, cada uma dessas facetas vão conter uma série de descritores ou
palavras-chaves que servem para relacionar as habilidades que p brinquedo
encerra (como por exemplo, jogo de exercício ou jogo simbólico). As letras iniciais
35
de cada um dos descritores da primeira faceta deram origem ao nome ESAR que
significa sistema, isto é, ‘E” de exercícios, “S” de simbólico, “A” de acoplagem e
“R” de regras.
A seguir serão mencionadas as seis facetas, conforme o Sistema ESAR:
• Faceta A
Atividades lúdicas através de jogos: simbólicos; de exercício; de
acoplagem; e de regras simples e complexas.
As categorias e a descrição das formas fundamentais do jogo
formuladas por Piaget (1945) são a base teórica desta faceta.
Alguns dos brinquedos que auxiliam os jogos desta faceta são:
brinquedos sonoros; móbiles; bonecas; quebra-cabeças; loto; e dominó.
• Faceta B
Condutas Cognitivas são elas: sensório-motora; simbólica; intuitiva; e
operatória concreta e formal.
• Faceta C
Habilidades funcionais, sendo eles: exploração; imitação;desempenho; e
criação.
• Faceta D
Atividades sociais: individual; coletiva; e variável.
• Faceta E
Habilidades de linguagem: receptiva oral; produtiva oral; receptiva
escrita; e produtiva escrita.
• Faceta F
Na última faceta é o momento de RE_JUNTAR de novo, ou seja,
recompor o que havia sido “quebrado”. È a hora de perceber toda a
trajetória, possibilitando assim, a organização mental das sensações, a
36
re-integração das experiências vividas, mostrando as características e
as qualidades pessoais, arranjadas na obra concretizada.
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Considerações Finais
Toda criança tem o direito de brincar e aprender, por isso o trabalho
psicopedagógico hospitalar também é muito importante, pois acompanha a criança
no seu momento mais debilitado em que seus sonhos e esperanças foram
“retirados” do seu mundo. A Psicopedagogia vai acompanhar o desenvolvimento
cognitivo da criança no processo de aprendizagem, além de levar em conta os
aspectos emocionais e sociais conduzindo a uma possível adaptação “agradável”
nos hospitais.
Para isto, o paciente também deve encontrar o hospital mais humanizado
em que a equipe seja multidisciplinar, pois assim irá contribuir para dar uma
abordagem mais humana e uma visão holística aos processos que envolvam a
recuperação do paciente pediátrico, o qual cada profissional em sua área de
atuação deve saber que está lidando com um ser humano que pensa, sonha,
sente, têm desejos, aptidões, limitações, isto é, tem as suas singularidades como
qualquer outro ser humano e que apenas nesse momento está precisando de uma
atenção maior devida a sua nova realidade. Cada profissional de saúde deve
aceitar a atuação do outro, pois o outro também estará contribuindo para que a
criança tenha um amanhã melhor, celebrando a vida com menos patologias e
mais saúde.
A Psicopedagogia Hospitalar por ser uma área nova sofre com alguns
obstáculos que são colocados para sua própria prática. Cabe enfim, aos seus
profissionais estarem atentos para não haver uma descaracterização no papel
profissional. Pois, existe um espaço de atuação sim, para o psicopedagogo na
instituição hospitalar, desde que o profissional saiba superar os caminhos de
obstáculos que irão passar e que a ação psicopedagógica contribui na
recuperação do paciente, principalmente as crianças. Já que possibilita, a criança
construir um olhar mais informado a respeito de sua doença e das condições de
aprendizagem para adaptação da sua nova realidade. Trabalhando com elas nas
brinquedotecas hospitalares, pois através de atividades lúdicas as crianças
38
(re)aprendem a brincar, sonhar e a ser criança novamente, ajudando-as na
reabilitação da sua saúde.
Enfim, o Psicopedagogo deve estar atento a importância de sua atuação nos
hospitais, buscando sempre dados para melhorias, seja elas, através de curso de
capacitação ou estudos bibliográficos, o importante é estar sempre atualizado para
assim, ajudar na sua atuação como profissional, que é desconhecido e até mesmo
desvalorizado por alguns. Porém, são fascinantes para aqueles que atuam na
área e de extrema importância para as crianças.
39
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