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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ADMINISTRAÇÃO RAFAEL FERREIRA DA SILVA Parceria Entre Empresa e Comunidade: Reflexões a Partir das Ações Adotadas Pela Empresa Bela Iaçá em Castanhal Pará BELÉM-PA 2013

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PRÓ-REITORIA DE PÓS … · interações será necessário a criação de uma forte base de relações de confiança entre os envolvidos de modo que a confiança

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ADMINISTRAÇÃO

RAFAEL FERREIRA DA SILVA

Parceria Entre Empresa e Comunidade: Reflexões a Partir das Ações Adotadas

Pela Empresa Bela Iaçá em Castanhal – Pará

BELÉM-PA

2013

RAFAEL FERREIRA DA SILVA

Parceria Entre Empresa e Comunidade: Reflexões a Partir das Ações Adotadas

Pela Empresa Bela Iaçá em Castanhal – Pará

Dissertação apresentada ao programa de

Mestrado em Administração da Universidade da

Amazônia como requisito para obtenção do título

de Mestre em Administração

Orientador: Profa. Dr

a. Ana Maria de

Albuquerque Vasconcellos.

BELÉM-PA

2013

RAFAEL FERREIRA DA SILVA

Dissertação apresentada ao programa de

Mestrado em Administração da Universidade da

Amazônia como requisito para obtenção do título

de Mestre em Administração

Orientador: Profa. Dr

a. Ana Maria de

Albuquerque Vasconcellos

Banca Examinadora:

________________________________

Profª. Drª. Ana Maria Vasconcelos - UNAMA –(ORIENTADORA)

________________________________

Prof. Dr. Milton Cordeiro Farias Filho – PPAD UNAMA (EXAMINADOR INTERNO)

________________________________

Prof. Dr. Josep Vidal – NAEA/UFPA (EXAMINADOR EXTERNO)

Apresentado em: 20/06/2013

Conceito: _______________

BELÉM-PA

2013

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço ao meu amado Deus pela oportunidade e privilégio de ganhar

mais conhecimento por meio deste mestrado, por ter providenciado tudo para que eu

pudesse finalizar mais esta etapa na minha vida e por sempre, mesmo sem eu merecer,

me presentear com bênçãos.

Agradeço também aos meus queridos pais, pelo amor, dedicação, compreensão e

principalmente por terem me proporcionado o estudo e as oportunidades que eles não

tiveram, eu sou grato a Deus por ter me dado pais maravilhosos, sou grato por tudo que

vocês fizeram e fazem por minha vida.

A minha admirável irmã Silmara Ferreira, pela força, zelo, conselhos, companhia,

motivação e incentivo nesta etapa e em toda a minha vida, muito obrigado mana por ter

me motivado a fazer esse mestrado e por dividir comigo os melhores momentos da

minha vida, você é o maior exemplo de educação e de integridade que eu tenho.

Ao Grupo Petruz que é minha segunda família, obrigado por me darem liberdade para

poder me capacitar, por me valorizarem, por financiarem meu crescimento profissional

e principalmente por acreditarem no meu potencial, cada dia que passa me sinto mais

feliz não somente por trabalhar, mas por ser parte deste sonho.

A minha orientadora Profª. Drª. Ana Maria de Albuquerque por toda paciência,

disposição em ajudar e principalmente pelo exemplo de compromisso e ética, isso só faz

reforçar nos seus alunos e nas pessoas que estão ao seu redor a vontade de se tornarem

excelentes acadêmicos assim como ela é.

Não poderia de deixar de agradecer a Universidade da Amazônia (UNAMA) e a todos

os meus professores do programa de Mestrado em Administração, pelo ensinamento,

troca de conhecimento e força durante todos os semestres, em especial ao Prof. Dr.

Milton Cordeiro Farias Filho, por toda ajuda, ensinamento, por ter sido no inicio meu

orientador e por ter acreditado em meu projeto de pesquisa.

Á Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao

Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (PROCAD), que me proporcionaram um

intercambio acadêmico na Escola de Administração de empresas de São Paulo (EAESP)

Fundação Getúlio Vargas (FGV), sou grato pelo curto, mas valiosíssimo tempo que

estudei e pude imergir e conviver academicamente nesse maravilhoso universo do

conhecimento.

Ao meu querido amigo e irmão José Wellington, se não tivesse sido sua indicação e

motivação não teria chegado até aqui, você é um amigo muito valioso.

Aos meus colegas de classe por terem dividido comigo momentos maravilhosos que vão

ficar gravados na minha memoria para sempre, vocês são pessoas preciosos que quero

levar por toda vida.

“Se você não consegue voar, corra; se não

consegue correr, ande; se não consegue andar,

se arraste, mas nunca pare de avançar.”

Martin Luther King Jr.

RESUMO

O objetivo desta dissertação é analisar as ações estabelecidas entre a empresa Bela Iaçá

e as comunidades urbanas e ribeirinhas. Propõe-se verificar se estas ações podem ser

entendidas como relação de cooperação, parceria ou alianças estratégicas. O campo

organizacional tem desenvolvido ao longo do tempo relações que dependendo do tipo,

proximidade e objetivo podem evoluir até parcerias sólidas baseadas em

intersetorialidade e com muitas interações sociais e, neste sentido, acredita-se que as

parcerias tipo Empresa-Comunidades apresentam uma importante alternativa de

fortalecimento destas relações dentro de um cenário colaborativo. Para este estudo

adotou-se a estratégia de estudo de caso único com enfoque qualitativo descritivo. As

evidências empíricas foram coletadas por meio de entrevistas semiestruturadas, análise

de documentos e observação. As entrevistas foram realizadas com os gestores da

empresa e membros das comunidades urbanas e ribeirinhas ligados à empresa. A análise

das ações, constituídas entre a empresa Bela Iaçá e as comunidades, mostrou que as

interações têm sido articuladas informalmente e com pouco planejamento, mas as ações

em si caracterizam a existência de parceria baseadas na relação de confiança mútua,

além disso, os dados mostraram que esta interação tem proporcionado cooperação entre

os atores envolvidos.

Palavras chaves: Cooperação. Intersetorialidade. Relação de Confiança. Empresa.

ABSTRACT

The objective of this dissertation is to analyze the actions between the company called

Bela Iaçá and the urban and riverside communities. It is proposed to verify if the actions

can be understood as a cooperation relationship, partnership or strategic alliances. The

organizational environment has developed through time relationship which depending

on the type, nearness and goal could develop thru solids partnership based in

intersectoriality and with many social interactions, in this regard it is believed that the

partnerships as Company-Community presents an important alternative of strengthening

that relationship in a collaborative scenario. For this study, a strategy of single case

study was used with qualitative descriptive approach. Empirical evidence was collected

thru semi-structural interviews, documents analysis and observation. The interview was

conducted with company managers and urban and riverside community members

connected to the company. The actions analysis, constructed between Bela Iaçá and the

communities, showed that interactions has been coordinated informally with little

planning , but the actions themselves characterizes the presence of a partnership based

on mutual trustee, other than that, the results shows that the interaction has provided

cooperation among involved parts.

Keywords: Cooperation, Intersectoriality, trust relationship, Company.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMBS Associação de Moradores do Bairro da Saudade I

C1 Comunidade 1

C2 Comunidade 2

C3 Comunidade 3

C4 Comunidade 4

MAPA Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

SESI Serviço Social da Indústria

SPE Sociedade de Propósito Específico

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 - Condições e características importantes para a potencialização das virtudes

da cooperação. ................................................................................................................ 29

Quadro 2 - Relação de entrevistados na comunidade urbana ........................................ 50

Quadro 3 - Relação de comunidades ribeirinhas entrevistadas ...................................... 51

Quadro 4 - Ações planejadas, executadas e adotadas entre a empresa e comunidades. 60

Quadro 5 - Variável Formalização ................................................................................ 70

Quadro 6 - Variável Objetivos almejados ..................................................................... 71

Quadro 7 - Variável tempo. ........................................................................................... 74

Quadro 8 - Variável Confiança Segundo a Área de Atuação ........................................ 75

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Relações interorganizacionais tipo empresa-comunidade ............................. 36

Figura 2 - Mapa do estado do Pará com destaque na localização da área estudada. ...... 40

Figura 3 - Localização da comunidade urbana e das comunidades ribeirinhas.............. 44

Figura 4 - Comunidade Ribeirinha Proximidades de Abaetetuba - Ponto de coleta de

frutos. .............................................................................................................................. 47

Figura 5 - Comunidade Ribeirinha Proximidades de Abaetetuba. ................................. 47

Figura 6 - Comunidade Ribeirinha ural Proximidades de Igarapé-Miri. ........................ 48

Figura 7 - Comunidade Ribeirinha Rio Maratauira. ....................................................... 48

Figura 8 - Caracterização da Atuação Social.................................................................. 77

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 14

CAPÍTULO I - CONCEPÇÃO DE PARCERIA ........................................................... 18

1.1 ABORDAGENS SOBRE PARCERIA ................................................................... 18

1.1.1. Tipos de parcerias nas esferas organizacionais .............................................. 19

1.1.2. Parcerias Mercado e Comunidade .................................................................. 22

1.2 PARCERIAS E ALIANÇA ESTRATÉGICA ........................................................ 24

CAPÍTULO II - COOPERAÇÃO E SUAS ARTICULAÇÕES .................................... 28

2.1 RELAÇÃO DE COOPERAÇÃO ENTRE ORGANIZAÇÕES .............................. 28

2.2 PANORAMA DOS MODELOS E REQUISITOS DE COOPERAÇÃO ............... 31

2.3 FATOR CONFIANÇA E OPORTUNISMO NAS RELAÇÕES DE

COOPERAÇÃO ............................................................................................................. 33

CAPÍTULO III - PERCURSO METODOLÓGICO ...................................................... 36

3.1 MÉTODO DA PESQUISA ..................................................................................... 36

3.2 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO ...................................................................... 39

3.2.1 Caracterização da empresa pesquisada .......................................................... 39

3.2.2 Caracterização das comunidades .................................................................... 43

3.2.3 Comunidade urbana ......................................................................................... 44

3.2.4 Comunidade ribeirinha .................................................................................... 46

3.3 INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS .................................................... 48

3.4 CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA A SELEÇÃO DOS SUJEITOS ..................... 49

3.4.1 Critérios adotados para comunidade urbana ................................................ 49

3.4.2 Critérios adotados para comunidade ribeirinhas .......................................... 50

CAPÍTULO IV - AÇÕES CONJUNTAS ESTABELECIDAS ENTRE A EMPRESA E

AS COMUNIDADES .................................................................................................... 52

4.1 REFLETINDO SOBRE A RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE EMPRESA E

COMUNIDADES ........................................................................................................... 52

4.2 REFLEXÕES SOBRE AS AÇÕES ADOTADAS ENTRE AS

ORGANIZAÇÕES ......................................................................................................... 59

4.2.1 Refletindo sobre as ações no entorno urbano ................................................. 62

4.2.2 Refletindo sobre as ações no entorno ribeirinho ............................................ 66

4.3 VARIÁVEIS UTILIZADAS PARA IDENTIFICAÇÃO DAS TENDÊNCIAS DE

PARCERIA OU ALIANÇAS ESTRATÉGICAS E COOPERAÇÃO .......................... 69

4.3.1 Caracterizando a interação social entre empresa e comunidades: .............. 76

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 80

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 84

APÊNDICE 1 - ROTEIRO ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA:

COMUNIDADES URBANA E RIBEIRINHA ............................................................ 89

APÊNDICE 2 - ROTEIRO ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA: EMPRESA /

GESTORES .................................................................................................................... 91

14

INTRODUÇÃO

A presente dissertação se intitula “Parceria entre empresa e comunidade:

reflexões a partir das ações adotadas pela empresa Bela Iaçá em Castanhal – Pará”. O

interesse pelo estudo advém da necessidade de compreender as formas de articulações

entre empresas - que utilizam recursos naturais do espaço amazônico em seus processos

produtivos, e os atores sociais - que estão envolvidos na extração e fornecimento desses

recursos. Pretende-se analisar as configurações das ações estabelecidas entre empresa e

comunidade, mais especificamente, entender as relações empreendidas, se as ações de

interação são configuradas como uma relação de parceria ou se estão mais apropriados

como ações de cooperação. E, ainda, identificar os pontos fortes e as fragilidades destas

interações.

Este estudo envolve a análise de uma empresa que tem se destacado no

processamento de produtos regionais e com forte participação das comunidades

fornecedoras, apresentado um bom desempenho no desenvolvimento econômico

regional nos últimos anos. Sendo assim, este estudo se justifica por apresentar um vasto

campo investigativo, especialmente no que diz respeito à base destas interações, a forma

com que são articuladas e em relação aos resultados que estas práticas podem

proporcionar. Acredita-se que este conjunto de dados poderá constituir um avanço nos

estudos acadêmicos nesta área, já que a organização em questão, ao longo dos últimos

anos, vem ampliando estas relações com a sociedade civil por meio de parcerias

informais com estas comunidades.

A questão central que norteia este estudo consiste em compreender como as

ações constituídas entre uma agroindústria e as comunidades amazônicas estão sendo

articuladas e se os tipos de ações entre os atores envolvidos são permeados por relações

de cooperação, parceria ou aliança estratégica?

Pressupõe-se que para haver uma parceria forte e bem sucedida em suas

interações será necessário a criação de uma forte base de relações de confiança entre os

envolvidos de modo que a confiança desempenhe um papel fundamental nas relações

humanas, independente da natureza da relação, seja de amizade, familiar ou econômica.

Sendo assim, a hipótese deste estudo, é que as parcerias estabelecidas entre a empresa

Bela Iaçá e as comunidades estão sendo exemplos de práticas colaborativas entre

organizações genuinamente regionais com comunidades locais, mas as relações

15

desenvolvidas entre estes atores precisam de maior adequação, a fim de possibilitar a

redução de custos relativos ao processo de inovação e aumentar a rentabilidade tanto

para a empresa como para as comunidades.

O campo organizacional tem desenvolvido ao longo do tempo relações que

dependendo do tipo, proximidade e objetivo podem evoluir até parcerias sólidas e

duradouras e com muitas interações sociais. O cenário contemporâneo das organizações

vem enfrentando desafios que incentivam, de certo modo, a formação de parcerias e

alianças, o que de fato tende a influenciar a necessidade do desenvolvimento de

pesquisa sobre articulações e relacionamentos entre atores da sociedade civil, seja ele

ligado a organização privada ou a comunidade. Neste sentido, as parcerias tipo

Empresa-Comunidades apresentam uma importante alternativa de fortalecimento destas

relações (AVINA, 2005), por proporcionarem múltiplos caminhos com articulações

cooperativas em diversas áreas, especialmente por esse tipo de relação possibilitar a

criação de condições de permearem várias dimensões sociais que só seriam

contempladas dentro de um cenário colaborativo.

De acordo com Noleto (2004), a construção de parcerias é uma abordagem

muito peculiar a cada organização, no que se referem a seus valores, princípios, a sua

missão e visão, além de suas intencionalidades éticas, seu posicionamento junto à

sociedade e a seus objetivos estratégicos. No entanto, as ações coletivas e práticas de

intersetorialidade tornam possíveis o enfrentamento de problemas sociais e intervenções

nas realidades locais (WIMMER; FIGUEIREDO, 2005). Deste modo, a concepção de

parceria abrange uma associação em que a somatória das partes possui

representatividade maior que a soma individual de seus membros, assim a parceria se

caracteriza como um fortalecimento mútuo para o alcance de um determinado fim

comum (NOLETO, 2004). Tanto as organizações privadas quanto as comunidades

necessitam destas interações entre diversos atores da sociedade. Para que se tenha um

fortalecimento entre suas relações é necessário que haja cooperação entre estes atores, o

que de fato irá favorecer o surgimento de benefícios comuns ao interesse de todos.

A concorrência no mercado tem ultrapassado questões relacionadas unicamente

relacionadas ao consumidor, nesta perspectiva a competição tem obtido uma nova

ressignificação na qual as organizações competem não somente na venda de produtos,

mas também na aquisição de matéria-prima e mão-de-obra. O alcance de determinadas

finalidades como lealdade, o ganho de confiança e o fortalecimento de relações podem

16

ser atingidos por meio de alianças colaborativas entre os interessados. Para Lorentziadis

(2002) o homem enquanto ser evoluído e moderno é incapaz de sobreviver sem a

cooperação social entre outros da sua mesma espécie, assim esta mesma visão, segundo

ele, pode ser transportada para a realidade organizacional.

Teodósio (2008) argumenta que as parcerias de implantação de projetos sociais

entre empresa e comunidade, geram ganhos para ambos, as comunidades são

favorecidas devido o suporte empresarial, e as organizações privadas podem acabar se

tornando mais produtivas e competitivas à medida que se aproxima da população local

através de ações conjuntas.

Alves (2007) enfatiza que as organizações com e sem fins lucrativos

reconhecem a existência de benefícios proporcionados pelas parcerias sociais,

principalmente no que se refere à otimização de competências complementares e a

potencializarão dos resultados sociais dos projetos, apesar disso, o autor destaca a

existência de desafios relacionados a esta forma de trabalho, no que diz respeito às

diferenças de culturas organizacionais, valorização, estratégia, linguagem e formas de

atuação dos setores distintos.

As relações intra e interorganizacionais são tendências que vem se consolidando

no processo atual de reestruturação industrial, na lógica do ganho coletivo. As relações

de cooperação são desenvolvidas com intuito de reduzir dificuldades vivenciadas pelas

empresas, oferecendo a possibilidade de disposição de tecnologias, ganho de

conhecimento e recursos, aumento da possibilidade de atuação dos envolvidos e

reduções de custos relativos ao processo de inovação e por sua vez aumentando a

competitividade (OLAVE; AMATO NETO, 2001; TECHIZAWA, 2002).

Reciprocamente organizações privadas precisam das comunidades, seja como

fornecedor de produto/serviço, tecnologia, mão-de-obra ou como articuladores em

relações particulares como é o caso das relações entre a agroindústria no estado do Pará

e as comunidades do entorno urbano e ribeirinho.

O fator confiança é fundamental também para a manutenção de relações de

parcerias e cooperação entre agentes, por desempenhar um papel importante em quase

todas as relações humanas, independente da natureza destas relações (IWAI, 2011;

FEHR, 2009). Uma interação baseada em confiança relacional gera uma interação social

cooperativa entre os agentes como resultado da reciprocidade social e identidade entre

as partes. No entanto, mesmo os relacionamentos cooperativos com elevado grau de

17

coordenação e comprometimento podem ser desarticulados, isso ocorrer pelo fato de

todo os relacionamentos estarem sujeito a comportamentos oportunistas, que podem ser

manifestado por uma das partes. Este tipo de conduta destrói a confiança que é um dos

principais pilares de sustentação dos relacionamentos tanto entre indivíduos como entre

organizações (BEGNIS; ESTIVALETE; PEDROZO, 2007).

Para este estudo adotou-se a estratégia de estudo de caso único, por ser o caso

mais significativo no recorte da investigação, e com enfoque qualitativo descritivo. As

evidências empíricas foram coletadas por meio de entrevistas semiestruturadas, análise

de documentos e observação, sendo as entrevistas realizadas com os gestores da

empresa e com os membros das comunidades urbanas e ribeirinhas que interagem com a

empresa.

A fundamentação teórica sobre o tema foi desenvolvida a partir de pesquisas

bibliográficas, com análise dos conceitos e modelos de parcerias, abordagens

conceituais sobre cooperação entre organizações privadas e organizações da sociedade

civil, em livros que abordam os assuntos relacionados, artigos científicos, teses,

dissertações, revistas especializadas e sites conceituados, os quais estão todos indicados

no fim deste trabalho.

Este trabalho está estruturado em quatro capítulos, sendo que o primeiro

apresenta a concepção de parceria e suas articulações nas esferas organizacionais,

enfatizando as relações entre mercado e comunidade. O segundo capítulo analisa a

cooperação e suas articulações, apresentado as relações existentes entre organizações;

alguns modelos de cooperação existentes; e os fatores confiança e oportunismo em

relações de cooperação. O terceiro capítulo apresenta o percurso metodológico, o

método utilizado na pesquisa, as etapas percorridas, bem como a caracterização do

objeto e a apresentação dos critérios utilizados para a seleção dos entrevistados. O

quarto capítulo analisa as ações estabelecidas entre a empresa e as comunidades e

apresenta algumas reflexões sobre estas interações entre os atores. Por fim, as

considerações finais apresentam os principais resultados obtidos e alguns pontos de

reflexão acerca do caso pesquisado para contribuir em trabalhos futuros.

18

CAPÍTULO I - CONCEPÇÃO DE PARCERIA

1.1 ABORDAGENS SOBRE PARCERIA

O termo parcerias é utilizado em estudos acadêmicos para descrever e

caracterizar variedades de interações, acordos e contratos formais ou informais entre

atores da sociedade civil, sendo que esta variedade de descrições atribui ao termo certa

pluralidade, que pode ser explicada pela existência de várias abordagens utilizadas para

caracterizar as diferentes articulações deste fenômeno organizacional. Algumas destas

abordagens se amparam em perspectivas estratégicas (ARNS et al., 2003; AUSTIN,

2001), outras em busca por interesses individuais (VERSCHOORE; BALESTRIN,

2006), entretanto as parcerias consideradas mais eficientes são aquelas articuladas no

campo da cooperação entre as organizações envolvidas, seja ela do mercado, estado ou

comunidade (TEODÓSIO, 2009).

A utilização de práticas de parceria entre organizações (governo, mercado e

sociedade civil), em empreendimentos conjuntos, não é uma prática recente. A literatura

trata de forma abrangente principalmente as parcerias entre os setores públicos e

privados, para o desenvolvimento econômico, no que se refere à realização de obras e

prestações de serviços de interesses coletivos (TEODÓSIO, 2008; SELSKY; PARKER,

2005; GRIMSEY; LEWIS, 2004; CORREIA, 2008). Nos países desenvolvidos esta

prática de transferência ao setor privado empreendimentos e ações antes de

responsabilidade pública, já ocorre há bastante tempo (LODOVICI et al., 1993).

Grimsey e Lewis (2004) enumeram em sua abordagem a participação e as parcerias

privadas nas operações públicas desde os quatro últimos séculos, principalmente por

meio de pedágios em rodovias. Na metade do século XX, a participação privada cede

espaço para a intervenção direta estatal, mais frequentes na Europa e na América Latina,

já na década de 70 tornam-se mais intensas as novas formas de parcerias, mas é na

metade dos anos 90 que são divulgadas diversas formas de parcerias entre estado e

iniciativa privada (CORREIA, 2008; SELSKY; PARKER, 2005).

As parcerias entre organizações, privadas ou entre organizações publicas e

privadas, têm sido compreendidas por algumas empresas não apenas como uma

alternativa para sua sobreviverem no mercado, mas também como uma importante

opção para o aumento de sua competitividade no cenário Global (KLOTZLE, 2002).

19

Independente do tamanho ou do tipo de organização a construção de parcerias

representa um elemento fundamental do desenvolvimento das organizações, auxiliando

sua capacidade de estabelecer relações, influenciando, convencendo, cooperando e

mobilizando outros atores para atingir objetivos institucionais, ampliando assim o

impacto e a sua abrangência de atuação (TACHIZAWA, 2002).

As interações entre atores sociais ligados ao Estado e ao setor privado recebem

diferentes denominações em estudos acadêmicos o que, ao longo do tempo, tem

conferido ao termo uma pluralidade em seu significado, deste modo sendo caracterizado

de várias formas dependendo das articulações.

Tachizawa (2002) e Noleto (2004) chamam de parcerias ou alianças estratégicas

as interações entre organizações do mercado, da sociedade civil ou governamentais

caracterizadas pela somatória de esforços, conhecimentos e recursos. Teodósio (2008)

também emprega a expressão intersetorialidade, para definir as ações coletivas entre

dois, três ou mais setores, que geralmente está fundamentada na interação e

complementariedade entre setores para intervirem em uma determinada realidade local

podendo assim proporcionar melhorias da qualidade de vida da população, os objetivos

almejados neste processo são objetivos comuns aos envolvidos (WIMMER;

FIGUEIREDO, 2005; JUNQUEIRA, 2004).

Algumas abordagens usam a cooperação para explicarem a atuação associada ou

conjunta, baseadas em complementaridade, compartilhamento, troca ou ajuda mútua

entre organizações e com vistas para o desenvolvimento conjunto, porém com objetivos

muitas vezes distintos (OLAVE; AMATO NETO, 2001; ARNS et al., 2003;

SCHOMMER, 2000). Sendo assim estas duas últimas denominações se aproximam da

realidade evidenciada nas relações existentes entre a Agroindústria analisada e as

comunidades envolvidas. Deste modo, este estudo se apoiará nas parcerias baseadas em

intersetorialidade e cooperação, que estão detalhadas no Capítulo II.

1.1.1. Tipos de parcerias nas esferas organizacionais

A ideia de parceria pode acontecer em várias configurações e apresentam

características e peculiaridades que dependem diretamente das partes envolvidas, de

como são construídas e consolidadas, dos objetivos que são almejados e dos diferentes

20

atores envolvidos. Estas parcerias acontecem desde simples empreendimentos até a

criação de políticas e projetos sociais envolvendo duas ou mais organizações, sejam elas

privadas, do Estado e/ou da sociedade civil.

No aspecto de complementação de recursos e competências as parcerias também

podem ser desenhadas de acordo com alguns modelos e formas, estudos acadêmicos

como os de Selsky e Parker (2005), Alves (2007) e Teodósio (2009), apresentam

quatros tipos de parcerias: os que ocorrem entre o setor público e privado, entre público

e organizações sem fins lucrativos, entre organizações privadas e sem fins lucrativos e

as parcerias tri-setoriais envolvendo a interações entre os três setores.

a) Parceria entre o setor público e privado:

As parcerias público-privadas constituem um instrumento interessante para o

desenvolvimento de um país e podem ser aplicáveis em países com diferentes graus de

desenvolvimento econômico e social, diferentes culturas e diferente geografia

(OSORIO; BOM, 2008). Estas parcerias não tendem a se concentrar diretamente em

torno da causa social, mas estão focadas principalmente na infraestrutura e na prestação

de serviços públicos como água e eletricidade, que também representa impotentes

implicações sociais (SELSKY; PARKER, 2005). Na perspectiva do desenvolvimento

local segundo Vasconcellos, Rocha e Vasconcellos (2010) pouca atenção tem sido dada

aos arranjos interorganizacionais para a construção de ações coletivas via parcerias

entre o público e o privado.

b) Parceria entre o setor público e organizações sem fins lucrativos:

Para Teodósio (2008) as organizações da sociedade civil têm se constituído nos

últimos anos, tanto no cenário brasileiro como no internacional, em atores sociais

extremamente relevantes nos processos políticos e econômicos. As organizações da

sociedade civil e suas interações na esfera pública representam uma importante aliança

com finalidade de aproximação da comunidade com os projetos sociais, elaborações de

políticas públicas e ampliação da cidadania. Selsky e Parker (2005) enfatizam que

geralmente este tipo de parceria abrange desde a contratação de serviços públicos a

abordagens de políticas públicas e destacam que aos estudos nessa área também tendem

a se concentrar no desenvolvimento do trabalho e bem-estar do cidadão. E, ainda, este

tipo de parceria pode apresentar várias lacunas por envolver controle e tensão sobre o

21

poder, podendo inclusive despertar frustração e desconfiança em ambos os lados.

Farrington e Bebbington (1993) ressaltam que as interações entre o setor público e as

organizações da sociedade civil podem não ser suficientes para o alcance dos objetivos

e destacaram que as ligações com o setor empresarial pode proporcionar maior alcance

e eficácia da atividade;

c) Parceria entre organizações privadas e sem fins lucrativos:

A parceria entre empresa e comunidade é um tema que tem emergido em face ao

atual cenário brasileiro que aponta a necessidade das organizações constituírem uma

gestão eficaz. O desafio da sustentabilidade não envolve somente a adequada utilização

de recursos financeiros, ela também implica no investimento no desenvolvimento das

pessoas que fazem parte da organização, melhorando a qualidade dos serviços e se

adequando as necessidades da comunidade (NOLETO, 2004).

É comum se encontrar no rol de iniciativas de responsabilidade social desde

ações motivadas pela lógica competitiva dos mercados, até aquelas que têm tentado

promover novas formas de dialogarem com os públicos interessados nas atividades

empresariais (TEODÓSIO, 2008). Este tipo de parceria para Selsky e Parker (2005)

engloba geralmente questões ligadas a causas sociais, se centram na maioria das vezes

em ações ambientais e em iniciativas de desenvolvimento econômico, podendo até em

algumas situações focarem em pontos relacionadas com a saúde, equidade e educação

local. Neste ponto de vista a sociedade civil e as organizações com fins lucrativos estão

se articulando dentro desta lógica de desenvolvimento sustentável, inclusive no que

tange às questões públicas vistas como problemáticas sociais, anteriormente

administradas apenas pelo Estado. O desenvolvimento social pode ser estendido a partir

da atuação de caráter público da sociedade civil, do Estado e das empresas (DOWBOR,

2002). Assim, um setor isolado não é capaz de responder aos desafios que se

apresentam à sociedade atual, deste modo a parceria entre setores leva a resultados mais

satisfatórios (ALVES, 2007);

d) Parceria Intersetoriais ou Tri-setoriais

As organizações não governamentais podem atuar em torno de determinados

movimentos no controle de projetos sociais, como na execução de políticas publicas,

podendo também exercê-los simultaneamente (TEODÓSIO, 2008). As interações entre

22

estes atores sociais simultaneamente, estado, mercado e comunidade, formam a

chamada parceria intersetorial ou parceria tri-setorial (TEODÓSIO, 2010), geralmente

nesta interação se concentram os projetos multissetoriais de maior porte, com

abrangência nacional ou internacional, mas projetos subnacionais são também

articulados neste tipo de parceria (SELSKY; PARKER, 2005). Teodósio (2010) afirma

que este encontro entre Estado, sociedade civil e mercado é marcado por uma alta

complexidade devido às diversas dinâmicas de conflito que podem envolver estes

atores. De acordo coma as pesquisas de Selsky e Parker (2005) os estudos nesta área

mais comumente encontrados tendem a se concentrar no desenvolvimento econômico e

comunitário, serviços sociais, preocupações ambientais e de saúde.

Todas essas interações são um vasto campo de análise e tem sido objeto de

grandes debates acadêmicos, porém dentre estas relações a parceria entre empresa-

comunidade será o objeto central de análise deste estudo se concentrando

principalmente nas articulações adotadas, modelos de cooperação e os pilares que tem

sustentado a ampliação destas relações sociais entre os referidos atores sociais e o setor

privado.

1.1.2. Parcerias Mercado e Comunidade

Tachizawa (2002) define parceria como a denominação dada a certas formas de

cooperação entre organizações indicando uma ação conjunta, motivada pela existência

de interesses e objetivos comuns, na qual cada um aposta e mobiliza os seus recursos

para atingir esses objetivos comuns. Wolff (2001) define parceria como sendo a

organização de organizações que se juntam com um proposito comum e quando esta

parceria é pensada na lógica comunitária pode ser um eficaz e particular veiculo de

mudanças na comunidade, já que ao invés de se concentrar em questões nacionais se

foca em problemas e nas necessidades locais.

As parcerias referem-se à multiplicidade de relações e acordos que podem

acontecer formal ou informalmente entre dois ou mais parceiros com expectativas de

proporcionar benefícios aos envolvidos (MAYERS, 2000). Autores como Teodósio

(2009) reconhecem que as parcerias são processos colaborativos que exploram

decisivamente a perspectiva das mudanças sociais. Neste contexto Chavis (2001),

23

reforça que a parceria envolve o processo de colaboração e acrescenta que esta relação

também implica na criação de relações de confiança, de partilha de conhecimentos e de

liderança em um contexto social.

A dinâmica de interação entre mercado e sociedade na perspectiva de parceria

pode proporcionar aos envolvidos uma serie de benefícios como o desenvolvimento de

novas atividades, além de proporcionar o inicio de novos projetos, abrir frentes de

atuação, fortalecer projetos em andamento, ampliar seu leque de conhecimento, captar

recursos e reduzir a alocação de recursos. Por intermédio das alianças e parcerias, uma

organização pode superar suas lacunas e preencher espaços importantes nos quais não é

tão forte isoladamente (TACHIZAWA, 2012). Mas por outro lado, Arns et al. (2003)

argumenta que a compatibilidade plena desses objetivos pode não ocorrer de imediato,

mas ser descoberta aos poucos, à medida que os parceiros fazem experiências e crescem

juntos.

Arns et al. (2003) ainda destaca que a definição clara do propósito da parceria é

a condição fundamental para obtenção de bons resultados. Já Tachizawa (2002) enfatiza

em seus estudos que existem três condições e forças expressivas que motivam a

obtenção de parcerias entre organizações da sociedade e mercado: a procura de

capacidades à medida que os limites entre as organizações tornam-se indefinidos;

recursos escassos e a intensificação da competição por espaço além da crescente

necessidade de intervenção na problemática social; e a lacuna entre o que a organização

gostaria de realizar e o que, levando em conta a realidade e seus recursos próprios, ela

pode realizar.

Morsello (2004) assegura que embora a concepção de parceria envolvendo

empresa e comunidade, seja elaborada para permitir o beneficio dos dois lados, a falta

de habilidades de uma das partes pode implicar em certa desvantagem para um dos

parceiros. Entretanto, Mayers (2000) aponta que em alguns casos a falta de preparo e

habilidade acontece por parte das comunidades, e deste modo à empresa, que

desenvolvem relações com este grupo social, acaba assumindo o controle da parceria,

mantendo grande parte do poder da relação em suas mãos. Nesta perspectiva a empresa

acaba: impondo restrições ou determinado regras unilateralmente; interferindo em

decisões sobre a distribuição de benefícios e tarefas; e impondo direito de preferencias

ou exclusividade de compra de produtos (MORSELLO,2004).

24

A limitação ou escassez de recursos, como apontado por Tachizawa (2002), é

uma característica que é analisada no capítulo IV desta dissertação, assim como a

cultura de parcerias que foi se resignificando e ganhando novas formas ao longo dos

anos e da trajetória da empresa estudada, a competitividade e a busca por espaço

também se tornam evidentes para a busca de proximidade com as comunidades.

Uma ideia que se sobressai em meio aos estudos acadêmicos atribui às parcerias

os processos colaborativos que exploram decisivamente a perspectiva das mudanças

sociais dos grupos envolvidos (TEODÓSIO, 2009; ALVES 2007). Ornelas e Muniz

(2007) trabalham com a perspectiva de parceria entre iniciativa privada e comunidade

por meio de quatro estágios: o trabalho em rede (Networking); a coordenação; a

cooperação; e a colaboração, enfatizando que trabalhos conjuntos principalmente os

relacionados a redes (Networking) e a coordenação requerem tempo, partilha de

conteúdos e níveis elevados de confiança. Enfim, grande parte dos estudos que tratam

de parcerias entre mercado e comunidade enfatizam que o alcance dos objetivos ocorre

amparado à ideia de cooperação, e que a cooperação é um fator que se destaca

especificamente neste modelo de parceria (TEODÓSIO, 2009; ALVES 2007;

ORNELAS; MUNIZ, 2007; ARNS et al. (2003).

O aumento do interesse por questões sociais de certa forma tem impulsionado e

viabilizado a criação de projetos sociais de cooperação entre mercado e comunidade, na

concepção da gestão social, as parcerias intersetoriais tem levado em consideração as

organizações da sociedade civil e valoriza a sua participação e desenvolvimento da

cidadania de forma a colaborar com e articular soluções intersetoriais (JUNQUEIRA,

2004; FISCHER, 2005).

1.2 PARCERIAS E ALIANÇA ESTRATÉGICA

A preocupação mais estruturada e sistêmica de parcerias e alianças empresariais,

na perspectiva estratégica, é um estudo relativamente novo (VALE; LOPES, 2010), até

o inicio da década de 1990 as alianças entre organizações eram praticamente

desconhecidas no Brasil, em 1998, o tema emergiu em meio ao crescimento da atuação

social das empresas o que impulsionou o surgimento de alianças estratégicas

intersetoriais, neste período era muito comum à ocorrência de alianças entre

organizações privadas e organizações do terceiro setor. Estas interações eram

25

caracterizadas pelo trabalho em conjunto em projetos sociais, porém as empresas que

mantinham estas relações não divulgavam suas praticas e ações que ocorriam entre os

envolvidos na aliança (FISCHER, 2005).

Austin (2001) enfatiza que o século XXI será a era das alianças, de acordo com

seus estudos as alianças e a cooperação entre organizações crescerão em frequência e

em importância estratégica, as transformações que ocorreram no ambiente de negócios

desde as duas últimas décadas passaram a exigir das empresas uma nova postura,

diferentes formas de inserção no mercado e distintos mecanismos de interação e

comunicação, impulsionando com isso o crescimento da formação de alianças

cooperativas entre organizações (VALE; LOPES, 2010).

A formação de alianças estratégicas entre organizações tem sido uma forma de

auxiliar as organizações a enfrentarem as suas dificuldades de mercado e a obterem

melhores resultados. Por isso inúmeras formas de alianças podem ser encontradas na

literatura científica, e isso particularidade pode justificar a falta de uma definição

universalmente aceitas sobre o que de fato estabelece uma aliança estratégica

(ARRUDA; ARRUDA 1997; KLOTZLE, 2002).

As alianças estratégicas foram tipificadas por Klotzle (2002) em quatro grupos

específicos: as que ocorrem em contratos unilaterais, ou seja, as licenças, acordos de

distribuição e contratos de pesquisa e desenvolvimento; as que envolvem participação

acionária minoritária; as Joint-ventures; e as que ocorrem por meio de contratos

bilaterais, ou seja, empreendimentos de pesquisa e desenvolvimento conjunto,

marketing, produção conjunta e empreendimentos avançadas com fornecedores. Assim

o tipo de aliança estratégica a ser escolhido pelos parceiros é também influenciado pelas

características dos recursos possuídos pelas diferentes empresas (KLOTZLE, 2002).

Os conceitos de alianças estratégias e parcerias em alguns estudos são usados

como sinônimos. Segundo Bittencourt e Feuerschutte (2009), é cada vez mais

frequentes a utilização do termo „parceria‟ para designar situações tão diversas, que vão

desde uma relação de cooperação para a realização de um projeto até um mero aporte de

recursos na realização de empreendimentos pontuais, este fato segundo os autores tem

levado a um esvaziamento conceitual do sentido real deste termo (BITTENCOURT;

FEUERSCHUTTE, 2009).

Yoshino e Srinivasa Rangan (1996) consideram que existe uma aliança

estratégica quando as metas conjuntas de duas ou mais empresas que interagem não

26

comprometem sua independência depois da aliança, assim o papel da aliança é fazer

com que as organizações que se relacionam em empreendimentos conjuntos em alguns

casos partilhem benefícios, dividam o controle do desempenho das atividades,

contribuindo desta forma para as áreas estratégicas relacionadas com tecnologia ou

produto. Klotzle (2002) ressalta que as alianças estratégicas são usadas pelas empresas

como forma de trocar ou ganhar acesso aos recursos valiosos da outra empresa que ela

se relaciona, sendo assim o sucesso de uma aliança estratégia depende muito das

articulações de transferência de conhecimentos e habilidades no decorrer da relação

desenvolvida.

Para Noleto (2004) as relações construídas em longo prazo e com valores

compartilhados podem ser classificadas como uma aliança, de acordo com esta

abordagem as alianças remetem a ideia de um pacto duradouro, estável e permanente

com disposição de investimentos em relacionamento. As parcerias são formas de

colaboração que ocorrem em um curto prazo geralmente com ideia de união, associação

e proximidade com um fim específico normalmente um projeto ou uma ação

(NOLETO, 2004).

Para Bittencourt e Feuerschutte (2009) é possível distinguir alianças de parcerias

por meio de algumas variáveis, as mais utilizadas na distinção entre alianças e parcerias

são:

O tempo de duração;

A necessidade ou não de complementaridade técnica, financeira ou operacional;

O grau de identidade entre os parceiros;

O compartilhamento ou não de crenças e valores;

O modo pelo qual o planejamento, os objetivos e os papéis são definidos; e

A dimensão da ação e do impacto do trabalho conjunto.

Jalil (2008) argumenta que o que se espera tanto das alianças como das parcerias

é a obtenção de resultados de maior amplitude e/ou qualidade, em detrimento de ações

isoladas, já que através das alianças estratégicas e/ou parcerias é possível agregar

diferentes recursos, conhecimento e competências, gerando melhores resultados para os

envolvidos.

27

Muitas abordagens divergem em alguns aspectos, mas a maioria converge em

relação às intenções das empresas parceiras em alcançar sucesso, mesmo que a intenção

de cada um seja diferente dependendo de seu campo de atuação. Deste modo enquanto

um parceiro pode visar à internacionalização, o outro pode pretender apenas fornecer

tecnologia, num papel aparentemente mais passivo, mesmo que suas metas sejam

diferentes, a tendência é que se complementem. Estas alianças estratégicas dependendo

do seu tipo podem ou não envolver a participação acionária (ARRUDA; ARRUDA,

1997; HAGEDOORN; NARULA, 1996; KLOTZLE, 2002).

Embora surja como alternativas para buscar melhorias entre os envolvidos, o

processo de gerenciamento de alianças intersetoriais não é um movimento simples e,

além disso, pode não garantir o sucesso da interação, de acordo com (ASHMAN, 2000),

existem alguns desafios que as organizações aliançadas podem enfrentar no

gerenciamento de alianças intersetoriais em empreendimentos sociais, estes desafios são

gerados principalmente pela necessidade de compartilhamento do controle nas decisões;

pela incompatibilidade das diferentes culturas organizacionais; e pela falta de adequação

de ferramentas gerenciais usadas para viabilizarem a fluidez da comunicação e a

consistência das avaliações entre os envolvidos na aliança.

Entretanto, autores como Klotzle (2002) enfatizam que a capacidade gerencial é

um fator que exerce muita influência na escolha de uma potencial organização parceira

para uma aliança estratégica, já que a aliança estratégica pode ser caracterizada como

uma ação gerencial que é valorizada na relação entre organizações. Assim as alianças

podem ser vistas em abordagens tanto de forma positiva no que se refere

complementariedade da capacidade gerencial (KLOTZLE, 2002), como também de

forma negativa no que se refere aos desafios enfrentados devido as diferenças em

termos de culturas organizacionais e ausência de práticas adequadas de gerenciamento

entre as empresas envolvidas (ASHMAN, 2000).

28

CAPÍTULO II - COOPERAÇÃO E SUAS ARTICULAÇÕES

Este capítulo tem o objetivo de explanar as diversas formas, modelos e

articulações adotadas nas interações de cooperação, e por fim abordar os fatores

confiança e oportunismos nas relações de cooperação.

2.1 RELAÇÃO DE COOPERAÇÃO ENTRE ORGANIZAÇÕES

A cooperação entre duas esferas da sociedade civil é a questão central deste

trabalho e esta discussão é largamente estudada na literatura onde possui distintas

interpretações. Lorentziadis (2002) enfatiza que este tema é apresentado em

investigações científicas com vários sentidos, ora como parcerias, ora como alianças

estratégicas, colaboração, ajuda, trabalho em equipe, entre outros. Para Smith et al.

(2005) cooperação é como um crescimento com proveitos contíguos, no seu estudo este

autor afirma que a maior parte das definições de cooperação focam o processo pelo qual

os indivíduos, grupos e organizações avançam juntos, interagem e formam relações

psicológicas com vistas a obter ganhos ou benefícios mútuos.

Argyle (1991) define a cooperação como um agir conjunto e de forma

coordenada no trabalho, lazer, ou em relações sociais, ele defende que a cooperação

ocorre na busca por atingir objetivos partilhados, desfrutando de uma atividade ou

atitudes conjuntas ou simplesmente no desenvolvimento do aprofundamento de uma

relação. Por proporcionar esta atitude conjunta e a busca por atingir objetivos

partilhados as relações interorganizacionais entre a agroindústria e a comunidade

estudada podem ser compreendidas como relações de cooperação, já que esta

compreensão se aproxima a realidade verificada nas relações existentes entre as esferas

envolvidas (empresa e comunidade urbana e ribeirinha).

Muitas teorias identificam as precondições para a existência de cooperação,

como: a teoria da dependência de recursos, microeconomias, administração estratégica e

ecologia social, do mesmo modo outras teorias dão explicação sobre o processo de

colaboração e sobre afinidades entre dirigentes e seus ambientes como no caso da

Teoria Política, Economia Institucional, Institucional e Negociação, (OLAVE; AMATO

NETO, 2001).

29

Santos (1999) explica o conceito de cooperação em um contexto organizacional,

segundo ele a cooperação é a realização deliberada de ações, por parte de vários

indivíduos de forma coordenada, para o prosseguimento de finalidades que

compatibilizam interesses de todos.

É inevitável o sentido positivo que o termo denota, bem como a ideia de

surgimento de resultados positivos no tocante aos modelos bem estruturados de

cooperação, mas de acordo com Schommer (1999) para que esses possíveis benefícios

sejam alcançados, são necessárias algumas condições, e nesta perspectiva Schommer

(1999) elaborou um quadro com as principais abordagens relacionadas às condições e

características que potencializam os benefícios das relações de cooperação, sejam elas

através de redes, alianças ou parcerias cooperativas, o quando 1 apresenta estas

condições e características:

Quadro 1 - Condições e características importantes para a potencialização das virtudes

da cooperação. Fonte - Schommer (1999).

CONDIÇÕES E CARACTERÍSTICAS IMPORTANTES PARA A POTENCIALIZAÇÃO DAS

VIRTUDES DA COOPERAÇÃO

• Desejo de cooperar;

• Necessidade de competências específicas;

• Clara compreensão das diferentes funções e capacidades dos parceiros;

• Necessidade de recursos financeiros e divisão de riscos;

• Entender a cooperação como um processo e não como um evento;

• Metas claras e comuns baseadas no benefício mútuo;

• Objetivos concretos e específicos, com marcas a serem alcançadas;

• Conhecimento técnico de procedimentos e processos de tomada de decisão, resolução

de conflitos e avaliação;

• Comunicação aberta e transparente;

• Cultura de confiança entre os parceiros;

• Compartilhar de valores;

• Níveis de poder de decisão semelhantes;

• Integração de fins e de significados

• Comprometimento das partes para realizar o que foi acordado

30

A cooperação pode ser tanto um processo como um arranjo institucional, como

processo é interativo e envolve diferentes partes que dominam a observação de um

problema, que pode ser analisado por distintos ângulos proporcionando a exploração de

suas diferenças por meio de visões limitadas, podendo usar divisão de papeis, normas e

estruturas, para a solução deste, porém com uma configuração construtiva (GRAY;

WOOD, 1991). A cooperação também pode ser uma instituição, um arranjo de concreto

entre dois ou mais conjuntos de atores que cria algo novo fora das fronteiras já

existentes em cada organização (SOWA, 2008), a cooperação entre instituições também

serve para criar padrões acordados de ações e normas compartilhadas entre os órgãos

que trabalham juntos (SCOTT, 1995).

As organizações sustentáveis baseiam suas práticas e premissas gerenciais de

modo a atender prioritariamente os critérios economicamente viáveis, se mantendo

competitivas no mercado, com ética, responsabilidades social, transparência e

governança corporativa, produzindo de maneira a não agredir o meio ambiente e

contribuindo com o desenvolvimento social da região e do país que atuam. Deste modo

se faz necessário a realização de ações, por parte destas organizações, que promovam a

qualidade de vida e o bem estar de todos os envolvidos em suas atividades (LEAL,

2009).

Na cooperação as pessoas acreditam que seus objetivos estão positivamente

correlacionados, como afirma Lorentziadis (2002), ou seja, cada individuo consegue

alcançar seu objetivo a medida que os demais alcançam os seus. No entanto, o sucesso

individual ocorre em conjunto, se fazendo necessário o apoio mútuo por ações efetivas

que desenvolvam a divisão de trabalho, sentimentos positivos, flexibilidade e promoção

da interação entre as pessoas para que se tenha forte relacionamento e trabalho

produtivo, criando novas relações entre empresas, entre empresas e trabalhadores e

entre empresas e instituições (LORENTZIADIS, 2002; OLAVE; AMATO NETO,

2001).

A cooperação deve assumir um caráter igualitário nas relações se diferindo

assim da ajuda ou do altruísmo em que um é receptor da ajuda proporcionada pelo

outro, em outras palavras, a cooperação se baseia na reciprocidade de benefícios para

todos os intervenientes, em um conjunto de objetivos positivos envolvendo finalidades,

recursos, meios etc. de todos os envolvidos, relativos a uma realização concreta

(SANTOS, 1999).

31

A cooperação surge então no intuito de redefinir as ações organizacionais e gerar

um conjunto de melhores resultados que consigam atender de forma positiva todas as

esferas envolvidas, superando suas lacunas e preenchendo espaços importantes nos

quais a organização não é tão forte (SANTOS, 1999; TACHIZAWA, 2012).

2.2 PANORAMA DOS MODELOS E REQUISITOS DE COOPERAÇÃO

A intensificação de relações de cooperação entre atores da sociedade civil

acontece seguindo alguns modelos e tendências, segundo Arns et al. (2003) a

sobrevivência das instituições está relacionada a sua visão, assim quem não tiver uma

visão que extrapole os seus muros estará fadada ao fracasso, para isso as organizações

devem estar atentas aos parceiros que possam ajuda-las a alcançar seus resultados.

Nesta perspectiva, o surgimento de cooperação gera uma alternativa para o crescimento

da organização e serve como meio desta alcançar os resultados de foram mais amplas e

eficazes, além disso, pode tomar várias formas e dinâmicas diferentes, trazendo uma

infinidade de compensações positivas (ARNS et al., 2003).

Na busca por diferenciais estratégicos muitas organizações desenvolvem

parcerias e adotam processos de cooperação, de acordo com os estudos de Vale e Lopes

(2010) as parcerias podem ser articuladas em vários contextos: seja no contexto de

grupo industrial, caracterizada pela reunião de empresas associadas a um determinado

grupo; em aglomerações regionais de empresas, caracterizadas por clusters produtivos;

ou no contexto de uma cadeia produtiva, caracterizada pela constituição de relações

entre empresas e fornecedores. Em relação a este último contexto o autor complementa

e reforça que as organizações em alguns casos, devido à necessidade de produção, são

levadas a investir em alternativas intermediarias como o estabelecimento de parcerias

com fornecedores (VALE; LOPES, 2010).

O fato é que toda e qualquer organização atual se move num ambiente em que

estão presentes outras organizações, instituições, grupos e indivíduos, com os quais

estabelece relações de várias naturezas: de contrato ou mercado, de subordinação

politica ou legal, de serviços com o seu público-alvo, de cooperação e de concorrência

(TACHIZAWA, 2012).

Existem várias abordagens sobre cooperação, quando esta ocorre entre empresas

estão relacionadas principalmente com o ganho de força e posicionamento dominante

32

junto ao mercado, nesta lógica as empresas se organizaram para competirem no

mercado local, regional ou global, estas alianças podem ocorrer em vários outros tipos

possíveis como: Multi-organizacionais de Serviços ou Consorcio, joint venture e

Alianças de Parceria entre stakeholders (ALVES et al., 2010; OLAVE; AMATO

NETO, 2001).

Na década de 1970 se consolidou a pratica de cooperação em redes de empresas

denominada redes de cooperação, esta prática é caracterizada por uma associação de

empresas por afinidade de natureza informal muito comum entre pequenas e médias

empresas de seguimentos distintos e geralmente sem laços financeiros entre si. É

estruturado por meio de coordenação e cooperação organizada, sendo muito comum a

formação de centrais de compras de itens comuns entre as empresas da rede, o objetivo

da aproximação é o ganho de força, compartilhamento de recursos, diminuição de

custos e investimentos e a redução de riscos e incertezas presentes no mercado

globalizado (ALVES et al., 2010; OLAVE; AMATO NETO, 2001; VERSCHOORE;

BALESTRIN, 2006).

Verschoore e Balestrin (2006) apresentam uma síntese de ganhos competitivos

das empresas que se apropriam do modelo de redes de cooperação, dentre elas destacam

as relações sociais, segundo eles o grande ganho da cooperação também está no

aprofundamento das relações entre os indivíduos, no crescimento do sentimento de

família que pode ser proporcionado devido estas interações e a evolução das relações do

grupo para além daquelas puramente relacionadas a aspectos econômicos, mas por outro

lato aponta que as relações sociais também podem revelar comportamentos oportunistas

quando indivíduos agem em seu próprio interesse desprezando os interesses coletivos.

Arns et al. (2003) argumenta que as organizações precisam pensar

estrategicamente para delinearem suas formas de cooperação, já que os grupos podem

se unir para produzir confiança, conhecimento, recursos financeiros ou poder político

suficientes para que possam ser eficazes. A mesma articulação e logica de cooperação que

ocorre entre organizações do mercado se aplicam facilmente ás parcerias entre empresa

e comunidade. As redes de cooperação caracterizam-se como um grupo de produtores

que colaboram entre si com finalidade de atingirem objetivos comuns através de

relações horizontais, constituído ou não uma nova entidade representativa do grupo

(ALVES et al., 2010).

33

Para se revelar as verdadeiras intencionalidades das relações de parceria

cooperativas é importante verificar alguns requisitos essenciais tanto no que diz respeito

ao nascimento como no que diz respeito ao desenvolvimento e sobrevivências desta

cooperação, os requisitos geralmente se relacionam com a cultura da confiança, cultura

da competência e a cultura da tecnologia da informação (CORREA, 1999). Nas relações

de cooperação o fortalecimento do fator confiança entre os parceiros faz com que o

nível de interação física seja maior e este fator exerce um papel decisivo para o sucesso

na formação de uma parceria empresarial, assim sendo este se destaca como um fator

fundamental nas interações que envolvem organizações privadas e sociedade civil

(CORREA, 1999).

2.3 FATOR CONFIANÇA E OPORTUNISMO NAS RELAÇÕES DE

COOPERAÇÃO

Relação existente entre atores sociais seja da sociedade civil seja da inciativa

privada, se sustentam baseados em fatores que determinam o nível de parceria, a

cooperação e a durabilidade das relações entre os atores, além disso, estes fatores

tendem a fortificar ou não estas relações, este estudo ressaltará os fatores confiança e o

movimento contrário a ela, que é o oportunismo (AMATO NETO, 2000; ALVES et al.,

2010) entre as relações existentes entre a organização e as comunidades.

As relações de cooperação entre grupos organizados contribuem positivamente

para criação de um ambiente de confiança e pode ser considerado com isso um processo

benéfico ao desenvolvimento local (CANDIL et al., 2007; JARA, 1999). Apesar disso,

um ponto importante que também deve ser observado é a tendência de alguns

indivíduos envolvidos nas relações de cooperação em buscarem seus próprios objetivos

(ALVES et al., 2010).

Autores como Cunha (2000) destacam que o conceito de confiança vem sendo

comumente considerado em discussões sobre o desenvolvimento, muito embora ele

esteja presente em abordagens que têm outras preocupações. O fator confiança ganha

destaque por ser considerado um instrumento vital para a realização de parcerias mais

flexíveis e eficientes (CUNHA; MELO, 2006), Grandori e Soda (1995) reforçam esta

ideia e argumentam que o fator confiança, de um modo geral, é um dos fatores mais

34

importantes e frequentemente mencionados nas interações cooperativas entre

organizações.

Por outro lado, Alves et al. (2010) considera que com o estabelecimento de

interações um fator importante é a reciprocidade entre os parceiros, pois a ausência

deste fator favorece o surgimento de comportamentos oportunistas. As organizações

envolvidas em relações de cooperação devem, de acordo com Tálamo e Carvalho

(2010), estabelecer meios ou instrumentos legais que previnam a ocorrência de falhas na

construção da confiança, de modo a prevenir a ocorrência de oportunismo entre os

integrantes. Na busca por vantagens competitiva as organizações envolvidas devem

estar atentas a estes possíveis comportamentos oportunistas por parte de um dos

integrantes (ALVES et al, 2010).

As partes envolvidas na parceria podem buscam objetivos específicos, Begnis,

Estivalete e Pedrozo (2007), argumentam que na busca por objetivos particulares, seria

comum a identificação, tanto por parte de indivíduos como por parte das organizações,

de comportamentos oportunistas, desta forma os envolvidos em relacionamentos

interorganizacionais possuem uma preocupação constante com este tipo de

comportamento entre seus parceiros. O que as partes devem estar atentas é quanto à

violação da confiança existente, já que para Iwai (2011) efeitos negativos podem ser

nocivos a relação e podem causar fortes impactos nas interações futuras entre agentes,

por outro lado o mesmo autor enfatiza que sempre que os agentes entendem que o

potencial de ganho é maior com ações cooperativas eles optam por agir de acordo com

as ações de cooperação.

As cadeias produtivas são formadas por meio de diversas relações técnicas,

econômicas, sociais e políticas, nas quais o grau de comprometimento entre seus

componentes determina sua estrutura e cooperação (BEGNIS; ESTIVALETE;

PEDROZO, 2007). O convívio harmônico deste conjunto de relações só se faz possível

se forem baseados no fator confiança. Qualquer que seja a relação e interação existente

seja ela contratual ou não, exigirá a presença de um elemento mínimo de credibilidade

para que esta relação seja efetiva (BEGNIS; ESTIVALETE; PEDROZO, 2007).

Sato (2003) ressalta em seu estudo que a confiança é um tipo de relação que se

constrói, nesta perspectiva a autora aborda a existência de dois tipos de confiança que

decorrem em meio à convivência, experiência de cooperação e ao tempo, a primeira

relação de confiança é baseada no tipo de confiança que surge em uma relação pessoal e

35

a segunda relação de confiança é a que se forma ao longo de uma relação profissional,

Tálamo e Carvalho (2010) destacam que quanto maior é o laço existente entre os

envolvidos maior é o nível de confiança.

Assim a melhor alternativa em parcerias que visam o desenvolvimento das

partes envolvidas esta pautado na confiança (CANDIL et al., 2007), uma vez que, um

relacionamento de sucesso é construído e sustentado pelo comprometimento e

principalmente pela confiança entre as partes envolvida (MORGAN; HUNT,1994). Sato

(2003) ressalta que um ambiente em que há confiança, o medo ou temor em agir ou em

realizar atividades conjuntas, em função das incertezas e consequências futuras, acabam

diminuindo, assim a confiança facilita inclusive as relações de trabalho internamente e

as relações com fornecedores externamente. Estas relações foram analisadas neste

estudo de caso, já que a parceria entre empresa e comunidade favorece a análise

empírica durante a coleta dos dados dos objetivos de cada parte envolvida em ambos os

fatores confiança e oportunismo.

36

CAPÍTULO III - PERCURSO METODOLÓGICO

3.1 MÉTODO DA PESQUISA

O método adotado para esta investigação foi o estudo de caso, que segundo Yin

(2005) consiste na verificação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo

dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e

o contexto não estão claramente definidos. Esta metodologia apresenta a oportunidades

de responder a questões comuns do cotidiano, pois se depara com situações

tecnicamente únicas em que haverá mais variáveis de interesse do que pontos de dados

(YIN, 2005, p. 33).

Adotou-se neste estudo a estratégia de caso único, a partir da empresa Bela Iaçá.

De acordo com Yin (2005), em se tratando de um caso único o pesquisador tem acesso a

uma situação previamente inacessível à observação cientifica, o que reforça o valor do

estudo já que a informação descritiva por si só será reveladora. Este estudo de caso foi

conduzido por meio de uma pesquisa de campo que se concentrou nas relações

existentes entre os grupos sociais relevantes: empresa (Bela Iaçá) e comunidades

(urbana e ribeirinha), focando nas ações desenvolvidas, nas relações e nas articulações

que estão envolvidas nestas interações, conforme a figura1.

Figura 1 - Relações interorganizacionais tipo empresa-comunidade Fonte - Autor (2013)

37

Vale ressaltar que o estudo de caso se atém nas ações desenvolvidas entre a

empresa Bela Iaçá e as comunidades as quais tem desenvolvido e mantido relações, em

alguns casos, que vem sendo constituídos ao longo de mais de suas décadas. Este objeto

de pesquisa foi escolhido para análise do estudo de caso, por envolver uma organização

que desenvolve determinadas ações com as comunidades do seu entorno, e sendo assim,

contribuiria na interpretação dos tipos de ações envolvidas.

Para isso a pesquisa dividiu-se em quatro grandes etapas:

Etapa 1 - Seleção da empresa: a empresa foi selecionada por ser, de acordo com

o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento - MAPA, a principal

agroindústria de processamento de polpas de frutas da mesorregião metropolitana

de Belém, e por esta empresa desenvolver ações e relações com as comunidades

do seu entorno urbano e ribeirinha.

Etapa 2 - Levantamento de informações: durante os meses de novembro de

2012 a fevereiro de 2013 ocorreram visitas para o levantamento de informações

iniciais com os representantes da organização e comunidade. As visitas

aconteceram primeiramente na empresa Bela Iaçá e posteriormente na

comunidade urbana, mais precisamente na comunidade representada pelo bairro

da Saudade I localizada na área urbana da cidade de Castanhal, e por último nas

comunidades localizadas na zona ribeirinha dos municípios de Igarapé-Miri e

Abaetetuba. Nesta etapa ainda foram analisados alguns documentos tais como:

relatório de sustentabilidade do grupo e atas de reuniões, que comprovassem o

que se estava falando.

Etapa 3 - Entrevistas: Durante a primeira visita a Bela Iaçá, foram selecionadas

juntamente com o representante da empresa as pessoas que seriam entrevistadas,

dentre este grupo foram selecionadas e priorizados os diretores e gestores que

possuíam grau de interação com as comunidades, tais como: Sócio Diretor;

Diretor operacional; Gerente de compra de frutos e Sócia fundadora. Os

entrevistados apresentaram o perfil das comunidades (entorno urbana e ribeirinha)

e a atual relação existente entre a empresa e estas comunidades, além disso, os

gestores auxiliaram na identificação e seleção dos sujeitos representantes das

38

comunidades (urbana e ribeirinha) que deveriam ser entrevistados. As entrevistas

com estes sujeitos aconteceram durante as visitas nas comunidades, foi priorizado

nesta seleção alguns agentes da Comunidade urbana tais como: Integrantes da

Associação do bairro; Agente voluntária da comunidade; Moradora; Assistente

social SESI. Na comunidade ribeirinha formam selecionados: representantes das

três comunidades ribeirinhas de Abaetetuba e um representantes da comunidade

de Igarapé-Miri. O critério utilizado foi à análise das respostas obtidas no

levantamento das informações e os descritos no item 3.4.1 deste capítulo. Foram

priorizadas as respostas que apresentavam coerência e integridade com a realidade

observada. As entrevistas semiestruturadas aconteceram “in loco” entre os meses

de dezembro de 2012 e fevereiro de 2013. Estas seguiram a lógica de discussão

orientada, tendo como base os objetivos da pesquisa.

Etapa 4 - Análise dos dados: Os discursos foram analisados e destes foram

retirados os trechos que puderam enriquecer a análise proposta pelo trabalho, bem

como as que possibilitaram a elucidação do foco deste estudo que são as

articulações de parcerias existentes e suas ações. Utilizou-se a comparação entre

as falas dos entrevistados para confrontar os tipos de ações da empresa nas

comunidades urbanas e ribeirinhas, para analisar as características e o papel dos

atores envolvidos nesta interação, objetivando entender as configurações dessa

ações. Além disso, foram levadas informações provenientes das observações e das

conversas livres que ocorreram entre os agentes envolvidos e durante a etapa de

entrevistas.

O resultado deste tipo de estudo baseia-se em várias fontes de evidência, com

dados que precisam convergir em um formato de triângulo, beneficiando-se do

desenvolvimento prévio de proposições teóricas para a coleta e análise de dados (YIN,

2005, p. 33). Neste sentido, o estudo de caso único parte do princípio de que as lições

que se aprendem desses casos fornecem muitas informações sobre as experiências (YIN,

2005 p. 62).

Assim sendo, o que se buscou enfatizar nesta pesquisa foram às relações

firmadas entre a Bela Iaçá e as comunidades urbana e ribeirinha, com a intenção de

investigar a capacidade da teoria de antecipar os resultados verificados, além de analisar

39

se as ações desenvolvidas entre estes atores e suas articulações podem ser

compreendidas como relações de cooperação ou se estão mais apropriados como

relações de parceria.

3.2 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO

O objeto deste estudo é a interação entre a agroindústria Bela Iaçá, e as

comunidades do seu entorno local representadas por agentes comunitários, moradores e

pela assolação do bairro da Saudade I localizado no município de Castanhal e as

comunidades ribeirinhas de Igarapé-Miri e Abaetetuba, representadas respectivamente

por agentes comunitários e pelas associações comunitárias ribeirinhas.

3.2.1 Caracterização da empresa pesquisada

A Bela Iaçá é uma agroindústria de processamento de polpas de frutas, com duas

plantas industriais situadas na mesorregião metropolitana de Belém, no município de

Castanhal, no nordeste do Estado do Pará, uma planta no estado do Amapá e outra no

estado do Nordeste. A Bela Iaçá é uma empresa familiar e estabelecida com capital

nacional, possui uma média de 300 empregados somando todas as plantas industriais,

sendo que 260 são referentes as plantas industriais de Castanhal. De acordo com o

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Serviço Brasileiro de Apoio à

Micro e Pequena Empresa (SEBRAE), a empresa é de médio porte já que possui o

número de funcionários entre 100 e 499 funcionários.

A família fundadora da empresa chegou ao estado do Pará na década de 1980,

advindos do estado da Paraíba devido uma crise financeira familiar. A primeira

atividade que a família desenvolveu quando chegou ao estado do Pará foi à atividade de

frete de cargas e transporte de frutos, principalmente do fruto açaí que era consumido

em sua maioria no mercado local principalmente no entorno de Belém.

40

Figura 2 - Mapa do estado do Pará com destaque na localização da área estudada. Fonte - Google Mapas adaptação Autor (2013)

Ao longo do tempo e devido o transporte e comercialização do Açaí, a família

desenvolveu um grande trabalho com os coletores que forneciam frutos de Igarapé-Miri,

Abaetetuba e Cametá e com coletores do estado do Maranhão. Por muitos anos os

fundadores se dedicaram a comercialização do fruto tanto no mercado Ver-o-Peso como

em agroindústrias do nordeste paraense, e em batedores artesanais das cidades de Santa

Isabel, Vigia, Castanhal, Santa Maria, Capanema, Salinas, Bragança, Paragominas,

Irituia e Mãe do Rio.

Uma das agroindústrias processadora de açaí que a família mantinha relações

comerciais, a agroindústria Polpará, acabou não conseguindo quitar seus débitos

referentes à compra de fruto com a família, esta situação fez com que a família tivesse

acesso a sua primeira planta industrial de processamento de açaí, por meio de um

contrato informal entre a família, até então fornecedora e transportadora de frutos, e a

proprietária da Polpará, este contrato deu direito a uma sociedade informal em parte da

agroindústria como forma de pagamento da divida existente.

“[...] a gente alugou uma fábrica chamada Polpará em Belém ela foi fruto de

uma dívida que essa fábrica tinha com a Babá [Sócia Fundadora] (grifo

meu) [...] a Babá vendia fruto e a dona da fábrica não pagou [...] e uma forma

dela pagar foi ela arrendar a fábrica pra gente e nos assumimos a fábrica [...]

nós batemos uma safra toda lá de 2003 a 2004, lá apareceram muito clientes

na época nós divulgamos um açaí muito bom a marca tava muito “quebrada”,

nós usamos a marca dela [...]” Sócio diretor, (2012).

41

A família desenvolveu bons relacionamentos com os clientes da Polpará e em

pouco tempo conseguiu elevar o faturamento da empresa, mesmo assim dois anos

depois em 2005 a proprietária da Polpará rompeu a sociedade com a família, e neste

mesmo ano, o principal cliente da Polpará, sabendo que houve o rompimento do

contrato informal entre a família e a referida agroindústria, resolveu ajudar a família

através do adiantamento de pagamento de produto.

O adiantamento serviria para família montar uma pequena estrutura para atender

este cliente e garantir que a mesma quantia seria devolvida em forma de produto na

época da safra. O valor pago como adiantamento serviu para a compra do terreno e

financiou parte da construção da agroindústria que levou o nome de Bela Iaçá aqui

denominada como Unidade industrial 1 que atualmente está localizada no município de

Castanhal:

“De 2004 para 2005 o Léo teve contato diretamente com agente [...] disse:

façam o orçamento de dois túneis não façam câmaras que eu vou arrumar o

dinheiro antecipado para vocês [...] e ai passeando aqui por Castanhal vi esse

terreno, eu visualizei e planejei a fábrica nesse terreno ai o dinheiro que o

Léo mandou agente comprou o terreno sem ele saber e ai agente arrumou

dinheiro para construir a fábrica, com empréstimos de pessoa física de

amigos. Construímos em 2005 aqui, nós compramos o terreno em março de

2005 e em setembro nós estávamos produzindo [...].” Sócio Diretor, (2012).

Um ano depois a empresa dobrou sua capacidade de produção e iniciou suas

atividades de exportação. Entre os anos 2006 e 2007 a organização iniciou as atividades

de distribuição no nordeste do Brasil, o município de Maracanaú no Ceará foi onde

sediou a primeira filial do grupo. Até então, a empresa só processava Açaí, mas no ano

de 2008 iniciou-se o processamento de outras frutas, estas foram implantadas devido à

sazonalidade do açaí. Vale ressaltar que antes de 2008 a empresa fazia demissões em

massa no período entressafra a inserção destes novos produtos possibilitaria a

manutenção de um quadro funcional durante todo ano.

Em 2009 a empresa adquiriu a Unidade Industrial 2 localizada em Castanhal e a

Unidade Industrial 3 localizada no município de Santana no estado do Amapá. Na época

a empresa estava crescendo e já não conseguia em uma única unidade atender todo

mercado, antes da negociação a empresa firmou algumas parcerias com outras fábricas

menores com objetivo de terceirizar o volume que a Unidade Industrial 1 não estava

conseguindo atender. O mesmo cliente que financiou a compra da Unidade Industrial 1

42

intermediou a negociação da compra da Unidade Industrial 2 e 3, mais uma vez este

cliente confiou ao grupo um adiantamento financeiro:

"Até 2009 a Bela Ishia ficou antecipando dinheiro a última vez que ela

antecipou foi 1 milhão de reais para comprar a Tropnat. A compra da Tropnat

foi uma guerra grande entre os sócios, quem ofereceu foi o Léo da Bela Ishia,

porque o Sr. Claudio, o proprietário da fábrica que estava sendo vendida,

ofereceu para o Leo [...] 1 milhão de reais seria a entrada que o Claudio

precisava para resolver algumas pendencias financeiras que ele tinha." Sócio

Diretor (2012).

"[...] nós tínhamos a mesma conclusão que temos, hoje nós temos mais venda

do que capacidade de produção, então um exemplo a Bela Iaçá não conseguia

mais vender e atender todo o mercado nacional e nós não tínhamos mais

como crescer aqui nesse lugar ai apareceu essa oportunidade." Sócio Diretor

(2012).

Com o crescimento das atividades o volume de contratações e o volume de

compra de matérias primas e insumos cresceu substancialmente, e ao longo desta

trajetória a empresa sempre procurou interagir e desenvolver um bom relacionamento

com seu entorno local, seus clientes e com os coletores fornecedores de matéria prima

das unidades industriais. Assim a Bela Iaçá vem construindo ao longo dos anos relações

informais com estes atores da sociedade Civil (seu entorno local, vizinhança e

moradores dos arredores e com seus fornecedores de frutos localizados na zona

ribeirinha).

Em 2010 a empresa passou por um processo de reestruturação administrativa,

motivados por uma consultoria em gestão empresarial, a qual teve o papel de estruturar

o seu negocio, missão e visão. Após esta etapa o conceito de cooperação passou a ser

incorporada a visão de futuro da organização e ao seu planejamento estratégico. Sua

missão é: oferecer alimentos, ingredientes e biomassas viabilizando saúde, sabor e

energia, se propondo a: ser referencia mundial em alimentos, ingredientes e biomassa,

com sustentabilidade perpetuando gerações (visão).

No final de 2011 a empresa Amazon Dreams, uma micro empresa incubada,

formada por pesquisadores e ex-alunos do curso de engenharia de alimentos da

Universidade do Federal do Pará, apresentou uma proposta de joint venture 1 para a

1 Joint Vencture se refere a um processo de negociação entre duas ou mais partes para a realização de um

empreendimento comum, através da criação de um novo organismo, correspondendo assim a qualquer

tipo de associação entre capitais físicos, ou jurídicos, entre empresas privadas ou governamentais

(DAHAB et al., 1994)

43

Bela Iaçá, a joint venture seria unicamente na produção e na comercialização de 3

produtos provenientes do açaí. Como a principal atividade e experiência da equipe da

Amazon Dreams era em pesquisa, desenvolvimento e inovação e pelo fato deles estarem

localizados no prédio da área de incubadoras de empresas da universidade, a empresa

acabou não estruturando seu departamento de produção e seu departamento comercial,

assim a Bela Iaçá contribuiria na parte de processamento e comercialização e a Amazon

Derams ficariam com a parte de Pesquisa e desenvolvimento e transferência de

tecnologia.

A ideia da joint venture nasceu após um contrato de terceirização feito pela

Amazon Dreams com a Bela Iaçá, depois de algumas reuniões de definições e

estruturação desta interação as duas empresas vieram a efetivar a relação por meio de

um contrato de Sociedade de Propósito Específico – SPE, que só veio a ser assinado no

final de 2012.

Atualmente a empresa atua no mercado local, nacional e internacional,

comercializa e distribui polpas de: acerola, abacaxi, bacuri, camu-camu, cupuaçu, caju,

graviola, goiaba, maracujá, manga, muruci e taperabá, além da bebida açaí, que é

processada em maior volume e comercializada em dois seguimentos de mercado, o

mercado industrial e o mercado atacadista. O Açaí e seus derivados representam

aproximadamente 90% do volume de produção anula e todas as frutas somadas

representam aproximadamente 10% do volume total da produção anual da

agroindústria.

Além do açaí e das polpas de frutas a empresa nos últimos anos tem

comercializado os resíduos provenientes do processamento de frutas, estes são

comercializados em forma de biomassa (caroço do açaí) ou matéria-prima para

processamento de óleos e outros produtos alimentícios (sementes provenientes do

processamento de frutas: cupuaçu, maracujá, bacuri).

3.2.2 Caracterização das comunidades

As comunidades estudadas serão tratadas distintamente como comunidades

urbanas e comunidades ribeirinhas, por estarem inseridas em diferentes contextos

sociais, culturais, econômicos e ambientais/naturais, as comunidades foram estudadas

de forma isolada conforme suas características e suas relações com a organização.

44

Figura 3 - Localização da comunidade urbana e das comunidades ribeirinhas. Fonte - Google Mapas adaptação Autor (2013).

A comunidade urbana está distintamente representada neste estudo pela

população urbana do entorno da organização, que se encontra instalada no bairro da

Saudade I no município de Castanhal. A comunidade ribeirinha está distintamente

representada pelos coletores ribeirinhos de quatro comunidades localizadas nos

municípios de Abaetetuba e Igarapé-Miri.

3.2.3 Comunidade urbana

Fazem parte deste grupo os moradores das proximidades, os agentes

comunitários, a assistente social do SESI, os moradores que trabalham voluntariamente

em projetos de cultura, esporte e lazer, a associação dos moradores, grande parte dos

funcionários da empresa que residem no bairro, os membros das famílias dos

funcionários e os membros da sociedade civil circunvizinha à organização. Esta

população é caracterizada por seu modo de vida urbano, por suas relações de trabalho,

por suas relações profissionais, de emprego, geração de renda e mão-de-obra.

As principais relações existentes entre as comunidades urbanas e a empresa

estão relacionadas ao fornecimento de mão-de-obra, estas relações ocorrem

informalmente por meio dos funcionários e seus familiares, de acordo com as

entrevistas e a observação empírica, dos 260 empregados da agroindústria

45

aproximadamente 60% deles são moradores do bairro da Saudade I. O bairro da

Saudade I é um dos bairros mais antigos da cidade, possui fácil acesso por ser cortado

pela Rodovia federal BR 316, rodovia que dar acesso a várias cidades do país e a capital

do Estado do Pará, facilitando assim a recepção de matérias vindos das proximidades e

o escoamento de produtos acabados.

Os moradores do entorno da fábrica são representados por uma associação de

moradores organizada por alguns líderes comunitários e por pessoas que trabalham

voluntariamente em projetos comunitários. A Associação de Moradores do Bairro da

Saudade I- AMBS, antiga Associação Comunitária Nossa Senhora do Perpétuo Socorro,

foi fundada em meados de 1994, é composta por doze integrantes dentre eles um

presidente, um vice-presidente, dois tesoureiros, um secretário, dois fiscais e dois

agentes da comunidade, todos moradores do bairro.

A sede da associação incialmente era uma creche financiada pela prefeitura

municipal, alguns anos depois a creche fechou e no mesmo local o Serviço Nacional de

Aprendizagem Rural (SENAR) com apoio da prefeitura passu a ministrar cursos

voltados para a população, algumas industrias da cidade ajudaram pontualmente

algumas atividades da associação, mas o principal mantenedor até hoje é a prefeitura

municipal de Castanhal.

A nova gestão da associação foi empossada há aproximadamente 2 anos, desde

então os representantes não estão se reunindo regularmente e é considerada pela

população e pelos integrantes da associação de bairro uma gestão pouco atuante:

"Nos não se reúne regularmente porque os pessoal some tudo o presidente

mesmo some fica trabalhando e esquece [...] com a nova gestão passou-se a

ter mais falhas a associação esta praticamente desativada por falta de

interesse de correr atrás de novos cursos, porque antigamente existiam cursos

aqui patrocinados pela prefeitura, porque a presidente corria atrás de recursos

e este não vai atrás." Integrantes da Associação de bairro, (2013).

Outro órgão que, de certa forma, representa a comunidade e mantem ralações

formais com a empresa estudada é o Serviço Social da Indústria (SESI). A sede do SESI

também esta localizada no entorno da organização, esta instituição promove

regularmente ações sociais relacionadas á saúde, esporte, lazer e educação, as ações

sociais acontecem geralmente em cooperação com algumas indústrias, o objetivo desta

proximidade é a obter de recursos necessários para o atendimento a comunidades, de

46

acordo com o SESI o publico destas ações é aproximadamente dez mil pessoas

moradoras do bairro e das proximidades.

Desde 2010 a empresa formalizou sua relação com o SESI através de um

contrato, e desde então ambas vem desenvolvendo ações que são promovidas na

comunidade, beneficiando tanto a população do entorno, como os moradores,

funcionários e seus familiares.

3.2.4 Comunidade ribeirinha

As comunidades ribeirinhas estão representadas neste estudo por coletores que

fazem parte das populações do campo concentrada geralmente em regiões ribeirinhas

das ilhas do nordeste do estado do Pará localizada nas proximidades de Belém.

Representam este grupo os municípios de Igarapé-Miri, Abaetetuba, Acará, Marajó e

Cametá. Fazem parte deste grupo os moradores destas ilhas, os coletores e seus

familiares, as associações ribeirinhas, líderes comunitários e representantes da

agricultura familiar.

Estas comunidades são caracterizadas por seu modo de vida rural, por sua

interação com os atributos da natureza, florestas, rios e por suas atividades agrícolas

geralmente relacionadas à comercialização e fornecimento de frutas regionais. O

extrativismo é a principal atividade destas comunidades e esta pratica é passada de

geração para geração. Apesar da sazonalidade, a coleta e comercialização de frutos, em

especial a do açaí, representam a principal fonte de sustento destas comunidades.

A principal relação existente entre as comunidades ribeirinhas e a empresa está

relacionada ao fornecimento de frutas, em especial o Açaí, de acordo com as

informações obtidas nas entrevistas, aproximadamente 90% do volume de produção

anual da Bela Iaçá é representado pelos produtos derivados do Açaí. Assim a

agroindústria em questão, para garantir a fidelidade no fornecimento de matéria prima,

mantem tanto relações informais como relações formais com as comunidades do campo,

neste último caso a formalização é representadas por contatos de fornecimento de fruto

e comprometimento em relação a comprar total da produção de frutos. As transações

acontecem regularmente e são realizados diretamente com as associações ou com

vendedores individuais, que são considerados os líderes da comunidade.

47

Três comunidades ribeirinhas do município de Abaetetuba e uma do município

de Igarapé-Miri foram selecionadas para esta pesquisa. As comunidades de Abaetetuba

estão localizadas as margens do Rio Maratauira e a comunidade de Igarapé-Miri está

localizada na Ilha de Meruu. Estas comunidades se organizam em associações ou

grupos que geralmente são representados por um líder comunitário. Os líderes

comunitários tem o papel de representar as famílias e/ou indivíduos das comunidades

em negociações, contratos e em iniciativas como parcerias ou alianças estratégicas. As

quatro associações contam com aproximadamente seiscentas famílias, destas a

Comunidade 1 - C1 e Comunidade 2 - C2 contam com o numero aproximado de

duzentas famílias cada, a Comunidade 3 - C3 cento e cinquenta e na Comunidade 4 - C4

quarenta famílias.

Figura 4 - Comunidade Ribeirinha Proximidades de Abaetetuba - Ponto de coleta de

frutos. Fonte - Autor (2013)

Figura 5 - Comunidade Ribeirinha Proximidades de Abaetetuba. Fonte - Autor (2013)

48

Figura 6 - Comunidade Ribeirinha Proximidades de Igarapé-Miri. Fonte - Autor (2013)

Figura 7 - Comunidade Ribeirinha Rio Maratauira. Fonte - Autor (2013)

Duas das comunidades iniciaram seu relacionamento e interação com a Bela Iaçá

ao longo de muitos anos e por meio de seus líderes comunitários, estas relações foram

construídas desde o período em que os fundadores da empresa trabalhavam somente

com a compra e transporte de frutos. A inserção da comunidade ribeirinha neste

processo surgiu de acordo com o aumento da demanda da compra do fruto

impulsionado pelo crescimento deste mercado.

3.3 INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS

Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas (ver modelo

em apêndice 1 e apêndice 2), com vários atores envolvidos nas interações entre a

empresa e as comunidades, para que os objetivos da pesquisa pudessem ser alcançados.

Durante as entrevistas, levou-se em consideração o nível de instrução do entrevistado e

49

o nível de suas respostas. As evidências de um estudo de caso podem vir de várias

fontes distintas (YIN, 2005). Yin (2005) enumera seis fontes: a documentação, registro

em arquivo, entrevistas, observação direta, observação e artefatos físicos.

Além de entrevistas, observaram-se evidências documentais tais como:

contratos, relatórios de responsabilidade social, registros que comprovem as parcerias,

registros arquivados.

Utilizou-se, também, a coleta de dados a partir das informações obtidas por meio

de conversas livres e informais com as pessoas ligadas ao evento estudado ou a pessoas

que possuem relação direta com a empresa. Além disso, as observações durante as

entrevistas nas comunidades possibilitaram a revelação de dados não identificados nas

entrevistas. Isto certamente corrobora para o entendimento de que as informações

podem ser geradas em um tipo de observação que não faça uso de um roteiro prévio de

pontos, locais e tempo de observação (DANNA; MATOS, 1986). Todos os dados

obtidos foram posteriormente analisados e discutidos qualitativamente.

3.4 CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA A SELEÇÃO DOS SUJEITOS

Este trabalho analisou as ações constituídas entre a agroindústria de

processamento de Polpas Bela Iaçá e as comunidades urbanas e ribeirinhas e para isso

foi necessário identificar e diferenciar os dois tipos de comunidades a serem estudada, a

saber: comunidade urbana e comunidade ribeirinha.

Para cada tipo de comunidade foram adotados critérios diferenciados, levando-se

em consideração as peculiaridades de cada grupo, já que o pressuposto de parceria e os

objetivos de cada uma destas comunidades apresentarem contextos sociais, econômicas,

culturais e ambientais com realidades diferenciadas.

3.4.1 Critérios adotados para comunidade urbana

Para comunidade urbana foi delineado o entorno local da empresa que estar

representado neste estudo pelos moradores, agentes da comunidade e pela Associação

de Moradores do Bairro da Saudade I - AMBS.

Para a escolha dos entrevistados levou-se em consideração alguns critérios

como: o grau de envolvimento com a comunidade, o conhecimento das necessidades

50

dos moradores do entorno e o grau de influência destas pessoas na comunidade, além

disso, os relatos obtidos nas primeiras entrevistas, que ocorreram na empresa com os

gestores, acabaram indicando alguns destes entrevistados.

Foram selecionados cinco entrevistados, dentre eles estão: dois integrantes da

associação do bairro, Sendo que um é representante e outro tesoureiro; uma moradora

que conduz voluntariamente alguns projetos ligados a esporte e cultura; uma moradora

antiga do bairro e a assistente social do SESI. O quadro 02 apresenta a identificação dos

entrevistados o seu papel na comunidade e a sua importância para pesquisa.

CRITÉRIOS ADOTADOS PARA SELEÇÃO DOS ENTREVISTADOS

Entrevistado Papel e envolvimento com a

comunidade Importância para pesquisa

Integrante da Associação do

bairro 1

Representa a associação de

moradores do Bairro da Saudade I.

Faz parte da atual gestão da

AMBS, e representa a

comunidade.

Integrante da Associação do

bairro 2

Tesoureira da associação de

moradores e vice-presidente

representante da associação.

Faz parte da atual gestão da

AMBS, e representa a

comunidade.

Agente da comunidade Trabalha voluntariamente em

projetos ligados a esporte e cultura

com crianças e adolescentes.

Conhece as dificuldades e

necessidades enfrentadas pela

comunidade e seu marido e filho

trabalham na empresa.

Moradora Moradora do bairro a mais de 25

anos.

Participou da associação dos

moradores nas gestões antigas.

Assistente social SESI Trabalha no SESI de Castanhal na

promoção de ações sociais na

cidade.

Fomenta ações sociais voltadas

para comunidade e desenvolve

parcerias com indústrias.

Quadro 2 - Relação de entrevistados na Comunidade Urbana Fonte - Autor (2013)

3.4.2 Critérios adotados para comunidade ribeirinhas

Representam este grupo, as comunidades ribeirinhas formadas por coletores da

agricultura familiar. Foram selecionadas, de um universo de trinta comunidades

ribeirinhas e de mais de duas mil famílias inseridos na agricultura familiar, quatro

comunidades que representam aproximadamente seiscentas famílias. Este subgrupo

51

encontra-se inserido em um contexto rural e estão localizadas nas proximidades dos

municípios de Abaetetuba e Igarapé-Miri.

Dois critérios foram levados em consideração para a escolha destas

comunidades, em primeiro lugar a representatividade do volume de fornecimento de

matérias primas, as quatro comunidades selecionadas somadas representam mais de

50% do fornecimento de frutos da empresa, porém as comunidades C1 e C2 são

consideradas as maiores fornecedoras de fruto da empresa, conforme o quadro 3,

enquanto que a C3 é considerada um fornecedor mediano e a C4 um fornecedor

pequeno.

O segundo critério adotado foi o tempo que as comunidades se relacionam

comercialmente com a agroindústria, dois fornecedores se relacionam a mais de 20 anos

com a empresa, em relação aos outros um comercializa frutos a 7 anos e o outro a 3

anos.

CRITÉRIOS ADOTADOS PARA SELEÇÃO DAS COMUNIDADES

Comunidade Região

Numero

aproximado

de famílias

Quantidade de

latas fornecidas

no ano de 2012

Tempo

(em ano)

Representante

comunitário

C1 Abaetetuba 200 197.476 + de 20 Dario Rodrigues

C2 Abaetetuba 200 127.950 + de 20 Antônio Viegas

C3 Abaetetuba 150 95.550 3 João de Deus

C4 Igarapé-Miri 40 44.119 7 Aristeu Matos

Quadro 3 - Relação de comunidades ribeirinhas entrevistadas Fonte - Autor (2013)

Para a pesquisa a diversidade entre as comunidades, em relação à quantidade de

fornecimento de fruto e ao tempo que estas comunidades se relacionam com a

agroindústria, favoreceu a intenção do estudo, já que se buscou evidenciar os diferentes

pontos de vista dos quatro subgrupos - comunidade C1, C2, C3 e C4, além de analisar

as possíveis dissensões em relação às opiniões sobre parceria, cooperação e confiança

em relação às ações desenvolvidas entre a empresa e essas comunidades.

52

CAPÍTULO IV - AÇÕES CONJUNTAS ESTABELECIDAS ENTRE A

EMPRESA E AS COMUNIDADES

Este capítulo inicialmente apresentará algumas reflexões sobre as formas de

interações construídas entre a empresa e a comunidade, com o intuito de analisar as

formas dessa interação nas comunidades ribeirinhas e urbana. Em seguida seleciona

algumas variáveis utilizadas para identificar se os tipos de ações resultantes se

configuram em cooperação, parcerias ou alianças estratégicas. E, por fim, sintetiza as

formas de interação classificando o tipo de relação existente entre as unidades sócias

envolvidas.

4.1 REFLETINDO SOBRE A RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE EMPRESA E

COMUNIDADES

Qualquer organização para sobreviver depende de interações com outras, sejam

do mesmo setor ou de setores diferentes (SCHOMMER, 1999), assim não basta apenas

que as empresas formulem estratégias para gerar riqueza, mas é necessário que os

gestores se perguntem como querem que as organizações alcancem os seus propósitos e

a resposta estar no equilíbrio dos interesses dos diversos grupos que a afetam ou que por

elas são afetadas (TEIXEIRA; DOMÊNICO, 2008). No caso analisado nesta

dissertação, o foco recai nas estratégias de interação da empresa Bela Iaçá com as

comunidades que fornecem insumos necessários ao desenvolvimento da agroindústria.

A contextualização conceitual apresentados no debate teórico dos capítulos 1 e 2

desta pesquisa e a coleta de dados empíricos, obtidos durante as entrevistas,

possibilitaram a análise das relações existentes entre a empresa e as comunidades.

De acordo com a coleta de dados às interações colaborativas entre o setor

privado e a comunidade urbana e ribeirinha, não apresenta percepções predominantes

aos dois tipos interações (empresa-comunidade urbana e empresa-comunidade

ribeirinha), podem ser consideradas em alguns casos de interesses divergentes, porém

dependendo de sua lógica e concepção também podem ser considerados de interesse

convergentes ou comuns. Esta desarmonia acontece, devido à percepção da interação

ser vista de forma diferente, tanto por parte da empresa como por parte das

comunidades. Esta diferença entre os níveis de interações com o meio urbano em

53

relação ao meio ribeirinho pode ser notada nos trechos das entrevistas com os gestores

da agroindústria, a seguir:

“Hoje a relação é mais forte no entorno rural até porque é uma questão

cultural dos fundadores da empresa e tem raízes muito fortes na parte rural,

então isso gera um relacionamento que até hoje se tem e é muito forte, mas

isso não quer dizer que vai continuar sendo o único mais forte, porque a

empresa vai crescendo [...] vai atingindo novos rumos, novos laços de

relacionamento com a comunidade da vizinhança e esse cenário pode ser que

mude em questão de pouco tempo [...].” Diretor Operacional da Empresa

(2013).

A forte relação da empresa com o meio ribeirinho, descrita pelo diretor

operacional no trecho acima, demonstra que a relação de confiança é muito forte e está

presente na interação envolvendo estas duas unidades sociais e esta mesma percepção

foi reforçada pela gerente de compras de matéria-prima, no trecho baixo. Em relação à

comunidade do entorno local, a reação existente é relativamente nova e por isso, as

conexões entre empresa e sua vizinhança não apresentam a presença forte do fator

confiança.

“[...] com as pessoas daqui do entorno seria mais em relação à oportunidade

de trabalho que isso cada vez mais cresce devido à questão do

desenvolvimento da empresa os produtos o tipo de empreendimento que ela

esta focada [...] em relação aos ribeirinhos, nós temos também, em questão da

compra dos frutos, essa é uma parceria forte que nós temos com eles que já

vem há bastante tempo e gera uma certa confiança [...] a empresa tem um

conceito muito bom na parte da compra da matéria prima [...] eu acredito que

a empresa desenvolve essa relação pela questão comercial também, certo, e a

empresa também se preocupa com o bem estar do dos fornecedores, a

empresa então não olha somente para o fornecedor como um agente

comercial, ou seja, uma pessoa que vende o fruto, mas também como um ser

humano que se tiver passando problema ela ajuda [...].” Gerente de compras

de matéria-prima da Empresa (2013)

Esta mesma percepção foi observada na comunidade local, quando a visão da

empresa é comparada a visão dos moradores, alguns atores (da comunidade urbana) não

têm claro os benefícios que estas relações podem proporcionar ao seu meio social. A

população local acredita que deveria haver maior aproximação entre a empresa e a

comunidade, através de um projeto social que incorporasse a vizinhança e seus filhos,

devido à falta de divulgação de acordo com a visão da associação de moradores do

entorno, a fábrica não desenvolve ações que beneficiam a população.

54

“[...] no porte da empresa que ela tem eu acho que a Bela Iaçá deixa a

desejar, porque deveria ter um projeto voltado para comunidade para ele

rodar próximo dela, fazer um curso, que seja. Ensinar as crianças em algum

projeto, pegar um projeto que já tá e apoiar esse projeto, entendeu? Ver lá

com seus olhos, ver lá o projeto como é feito, por quem é feito, então

trabalhar em cima do projeto ou criar seu próprio projeto dentro da

comunidade, porque local já tem as associação [...].” Associação de

moradores (2013).

Os agentes da comunidade que estão mais próximos da empresa divergem em

parte desta percepção, eles percebem algumas ações, apesar de considerarem que

poderia ser feito muito mais pela comunidade:

"[...] hoje tanto a empresa como a comunidade um tão afastado do outro,

acho que a comunidade precisa chegar mais próxima da empresa e a empresa

mais próxima da comunidade [...] e eu vejo que a empresa pode trazer muito

mais benefícios para comunidade além de só o emprego, para os filhos dos

colaboradores, para os vizinhos dos colaboradores, um projeto seria muito

bom [...]." Moradora (2013).

Nota-se no relato dos moradores e lideranças, uma forte relação de dependência

com a empresa. A preocupação de continuidade das ações é manifestada por parte dos

moradores, até mesmo porque já existem outras experiências de agroindústria que se

instalaram em regiões próximas, que incentivaram o aumento da produção e por algum

motivo, a empresa deixou de comprar tais produtos deixando as comunidades em

situações difíceis.

“[...] a fábrica quer ajudar a comunidade ela vê que precisa ajudar, e já tá

ajudando, né, por mais que os projeto que ela fez foi informal aqueles que já

participaram alguns do arredor falam [...] e se um dia acontecer da empresa

fechar a comunidade vai sentir muito por isso [...].” Agente da comunidade

(2013).

Outro aspecto observado nas entrevistas foi à visão que a comunidade urbana

tinha, em relação à empresa, no período de sua fundação em 2005 na cidade de

Castanhal. Naquele período a empresa não foi bem aceita pela comunidade e não era

vista como bons olhos pela população do entorno, pois no inicio se verificou alguns

impactos negativos, mais especificamente com relação aos resíduos da produção do

açaí, que escoavam pelo esgoto público e causava mau cheiro.

55

“No começo as pessoas viam a empresa como uma coisa que estava fazendo

mal por causa dos resíduos que escorriam na vala [...] então a comunidade

veio e falou e resolveram este problema [...].” Agente da comunidade (2013).

De acordo com os entrevistados, com passar dos anos esta visão mudou. A visão

dos moradores quanto à situação atual é mais otimista, em relação às ações que a

empresa tem desenvolvido na comunidade. A população identifica que houve melhorias

no entorno local, ao longo deste tempo, principalmente no que refere as condições de

emprego e renda:

“[...] hoje a comunidade consegue ver a fábrica com bons olhos porque eu

conheço pessoas que hoje falam Lene meu filho trabalha lá [...] aqui por perto

antes tinha muitas pessoas desempregadas e é um benefício que a fábrica

trouxe foi o emprego para as pessoas daqui [...] hoje eu vejo que não era nada

daquilo que agente pensava, era uma coisa boa, uma coisa que trouxe para

dentro da comunidade coisas boas [...].” Agente da comunidade (2013).

Em relação à visão das comunidades ribeirinhas, os ribeirinhos partilham de

ideias muito semelhantes sobre as suas relações com a empresa. Esta percepção pode ser

justificada pela longa interação existente entre os fundadores da empresa e alguns

coletores, em alguns casos esta relação foi construída ao longo de muitos anos e o nível

das ações existentes entre eles ressaltam aspectos de cooperação e confiança. Nas

relações que envolvem cooperação o fortalecimento do fator confiança entre os

envolvidos aumenta o nível de interação, e este fator exerce um papel decisivo para o

sucesso na formação de uma parceria (CORREA, 1999). Esta ideia pode ser identificada

na fala de alguns representantes comunitários:

“Já temos uma facha de vinte anos que nos conhecemo, agente vendia no

Ver-o-Peso para eles [...] eu me lembro benzinho, desde a primeira vez, o

açaí que eu vendi foi cem latas para Babá [Sócia Fundadora] (grifo meu)

[...] e quatro latas para o Uberlândio [atual sócio diretor] (grifo meu) bater

na maquina dele, e hoje eu vendo seis mil lata, daquelas cem se transformou

hoje em seis mil [...] pra mim existe uma diferença entre trabalhar com a Bela

Iaçá do que para outra indústria, as outra indústria num dá as vezes eles num

trato bem agente tem uns que são brabo, aqui com eles não [...] agente vendia

quase tudo para ela lá na feira, eu gosto de trabalhar com eles porque é pra

todo tempo, né, e as outras fábricas assim, quando nos precisa deles eles num

tão pra ajudar nos, e a empresa todo tempo é, é parceira, ela não deixa o açaí

na pedra. O que agente põe a fábrica leva [...].” Representante comunitário -

C1 (2013)

56

A relação de confiança entre a agroindústria e os moradores da comunidade C1 e

C2, é resultante de um relacionamento do passado, desde o tempo em que a

comercialização do fruto do açaí era realizada na feira do Ver-o-Peso, localizada no

centro de Belém, as margens da Baia do Guajará. Nesta localidade era comercializada

toda a produção da área ribeirinha e a atividade principal da família, nesta época, estava

relacionada à compra e distribuição do fruto nas agroindústrias da época e pequenos

processadores do nordeste paraense.

“Eu já conheço eles há uns 22 anos, 23 ano, eu vendia açaí pra eles lá no Ver-

o-Peso, no tempo de antes agente num levava açaí pra aqui, agente levava pra

eles lá no Ver-o-Peso [...] agente vendia cem, cento e cinquenta, chegou a

vender até quatrocentas latas. Naquela época, era com o pai dela da Baba, ai

nos fomos tendo informação quem era, que num era, ai primeiro eu trabalhei

na fábrica do Dr. Rogerio ai num deu certo e nos fumo pra lá [...] eu já vendi

pras outras indústrias, mas pouco, mas trabalhar com a Bela Iaçá é melhor,

porque, sobre honestidade, pagamento, essas coisa tudo, hoje tu vende pra lá

ai tu fica tranquilo, sabe que vai receber [...] eu e a minha comunidade agente

confia neles lá, nunca ficaro devendo, eles confio na gente também [...].”

Representante comunitário - C2 (2013)

Tanto os membros da comunidade C1 como dos membros da comunidade C2,

ressaltam a sua preferencia em trabalhar com a empresa Bela Iaçá. Sato (2003) explica a

importância da existência de confiança em relações entre empresa e fornecedores, já que

a presença desta variável diminui o medo ou temor em agir ou em realizar atividades

conjuntas, e em função disso as incertezas e preocupações em relação a consequências

futuras, acabam diminuindo. Para Correa (1999) a confiança se destaca como fator

fundamental nas interações que envolvem organizações privadas e sociedade civil.

A relação comercial existente entre a empresa e as comunidades C3 e C4 é

recente, porém a cultura existente entre os fornecedores mais antigos acabou sendo

disseminada para estas novas comunidades (C3 e C4), conforme pode ser observado no

trecho abaixo:

“Pra fábrica eu forneço ai faz três anos né, antes eu trabalhava com açaí

batendo, vendendo, eu comecei com a Bela Iaçá e tô com a Bela Iaçá até

hoje, nunca vendi pra outra não [...] quando eu tava querendo trabalhar com

açaí eu investiguei umas quantas fábrica ai eu rodei, o Dário [Representante

da C1] (grifo meu) na época trabalhava, trabalha ainda até hoje e há uns

quantos anos lá com a Bela, ele falou muito bem né, ai foi à fábrica que eu

comecei, ai eu fui e vi é por aqui que eu quero ir [...] muita gente falava aqui

que a Bela Iaçá é gente certo né, pago direito, agora tem aquilo né, sobre da

concorrência, muitas vez quando a outra fábrica quer açaí põe preço, põe

mais oportunidade pro cara, né?, As vez tão querendo açaí eles ponho

dinheiro eles ponho preço, mas muitas vez aconteceu de eu ter açaí e botari

57

peço e eu num vender, eu pensava assim se eu comecei numa fábrica, eu num

vô trocar de preço desviar açaí pra uma outra fábrica, tô sendo errado né, eu

tô dexando de ter compromisso com a fábrica que tem compromisso comigo,

ai desde a data que eu comecei a trabalhar cum açaí a fábrica foi ela [...].”

Representante comunitário - C3 (2013)

Outro fator que se destacou foi à reciprocidade entre a comunidade C3 e a

empresa, o entrevistado considera que a empresa tem compromisso com eles e por isso

eles devem ter compromisso com a empresa. Alves et al. (2010) considera que com o

estabelecimento de interações um fator importante é a reciprocidade entre os parceiros,

pois a ausência deste fator favorece o surgimento de comportamentos oportunistas.

Pôde-se notar que a mesma percepção de confiança e reciprocidade existe entre e a

comunidades C3 e a empresa, se repete em relação a comunidade C4, mesmo sendo

recentes as interações entre estes atores. Estes aspectos podem ser percebidos nos

trechos abaixo:

“Nos já trabalhamos aqui com a Bela açaí uns sete anos, e no início eu

sempre tinha vendido açaí pras outra fábrica de Inhangapi, só que não deu

muito bem, dai nos paramo, por que as pessoas indicaro, falava que essa

fábrica a Bela Iaçá era assim, ai agente veio conversamo com eles e fizemos

o primeiro negocio, ai deu tudo certo e até hoje, né? Ai eles estão comprando

toda a nossa produção [...] nós estamos com a Bela Iaçá, não queremo vender

para outros, porque nos percebemos que com ela todo mundo sai ganhando

[...].” Representante comunitário - C4 (2013)

A reflexão sobre as relações existentes entre os dois grupos empresa e

comunidade urbana e empresa e comunidade ribeirinha, tanto por meio das entrevistas

quanto por meio das observações, possibilitaram o entendimento de que cada tipo de

relações entre estes atores apresentam, articulações e percepções diferenciadas por cada

grupo estudado.

Alguns moradores do entorno local têm conhecimento das ações desenvolvidas

na sua comunidade, todavia em alguns casos não as interpretam da mesma forma que a

empresa, isso pode ser justificado pelo fato da comunidade e a empresa não estarem

pensando juntas em relação ao desenvolvimento de ações.

Além disso, a comunidade pensa de acordo com sua logica urbana, suas

necessidades e aspirações relacionadas ao lazer, esporte, cultura e por outro lado a

empresa pensa de acordo com sua logica comercial, que almeja lucro, produtividade,

capacitações e contratações. Embora estejam em posições diferentes ambos estão

58

interessados nos benefícios que o envolvimento pode proporcionar, de acordo com sua

lógica e racionalidade.

Mesmo assim, a comunidade local tem notado que a empresa Bela Iaçá coopera

com os moradores do entorno. Parte da comunidade urbana entende que a empresa tem

gerado emprego para muitas pessoas da vizinhança e assim acabam se sentindo

incorporados nas ações da empresa, contudo fica claro o desejo, da comunidade local,

de fortalecer suas relações com a empresa através de ações como projetos comunitários

que possibilitem estender e envolver todos os seus familiares e vizinhos.

Em relação às comunidades ribeirinhas, as declarações dos entrevistados

elucidaram a existência da percepção de cooperação entre a empresa e os ribeirinhos,

esta correlação se justifica, em parte, pela cultura que foi construída ao longo de mais de

vinte anos, por meio das relações comerciais desenvolvidas com os fornecedores desde

a comercialização do fruto na feira do Ver-o-Peso. Esta relação apresenta forte relação

de confiança entre a empresa e as comunidades ribeirinhas. O fator confiança, aqui

mencionado, será analisado e explanado como uma das variáveis do item 4.3 deste

capítulo.

Esta cultura acabou sendo reforçada e perpetuada pela relação de confiança

presente entre a comunidade e a empresa, mesmo nas relações recentes envolvendo a

Bela Iaçá as comunidades C3 e C4. Simioni (2009) enfatizam que o alicerce para a

construção de um relacionamento de sucesso se sustenta no comprometimento e na

confiança existente entre os envolvidos.

Observa-se na fala dos gestores da empresa que as ideias sobre a interação com

as comunidades são bem diferenciadas quanto às ações na área urbana e as ações da

área ribeirinha, sendo que a principal divergência esta relacionada à forma pela qual a

empresa se aproxima das comunidades, o tipo de contato e as intencionalidades, as

quais estão destacadas a seguir sobre o meio urbano:

“[...] o que levou a empresa e se aproximar, na raiz está relacionado a valores,

de nossos desejos, de nos relacionar bem com as pessoas e consequentemente

vão aparecendo outras necessidades como oportunidades de melhorias, de

novos colaboradores [...].” Diretor Operacional da Empresa (2013).

De acordo com a percepção de alguns gestores da empresa, a Bela Iaçá pode

desenvolver atividades que promovam melhorias aos seus funcionários como educação,

59

capacitação, emprego e renda, sua lógica de interação com seu entorno busca captar

pessoas do bairro que possam usufruir destes benefícios.

No meio ribeirinho, devido à concorrência as ações buscam reforçar a confiança,

a fidelidade e a estabilidade da relação, Vale e Lopes (2010) reforçam que por causa da

necessidade de produção, as organizações são levadas a investir em interações com

fornecedores, Isatto e Formoso (1999) garantem que a aproximação e o

desenvolvimento de parcerias entre empresa e fornecedor, podem contribuir com a

competitividade. A fala dos representantes da agroindústria mostra que a empresa

atualmente tem sido levada a se aproximar mais dos seus fornecedores, por conta da

concorrência:

“Existe muita disputa no fornecimento, os fornecedores eles não são muitos,

nós não temos muitos fornecedores, visto que a quantidade de indústrias

neste ramo é muito grande [...] nós proporcionamos segurança, estabilidade e

a fidelidade da compra com as comunidades que nós nos relacionamos, talvez

não uma segurança de preço, porque preço é uma coisa que varia de acordo

com o mercado e agente não tem como mudar o mercado, agente faz um

planejamento de compra e tenta adequar ao que agente planejou com eles

[...].” Diretor Operacional da Empresa (2013).

“A concorrência muitas vezes é freada por ações que ocorrem antes da safra,

e essa questão da empresa se manter firme com fornecedor, fiel em

pagamentos se mantem em dias com os fornecedores. Então, isso gera uma

credibilidade muito grande para ele.” Gerente de compras de matéria-prima

da Empresa (2013).

Questões relacionadas à competitividade fazem com que atividades de

colaboração com outras empresas sejam levadas em consideração (KLOTZLE, 2002).

Assim, o desenvolvimento de ações conjuntas e a utilização de atividades de interação

entre organizações é a maneira encontrada pelas empresas não só para sobreviverem no

mercado, como também para aumentarem a sua competitividade.

4.2 REFLEXÕES SOBRE AS AÇÕES ADOTADAS ENTRE AS ORGANIZAÇÕES

Para se compreender que tipo de interações estão sendo desenvolvidas entre os

atores estudados, após a análise das relações entre empresa e as comunidades (urbana e

ribeirinha), foram selecionadas as ações planejadas e as ações que foram ou estão sendo

desenvolvidas em conjunto, tanto com o meio urbano como com o meio ribeirinho.

60

Quadro 4 - Ações planejadas, executadas e adotadas entre a empresa e comunidades. Fonte - pesquisa de campo Autor (2013)

As parcerias entre organizações constituem o arranjo adotado com mais

frequência para que as organizações executem suas ações, e muitas dessas de cunho

social, tanto em interação com organizações da sociedade civil como com o estado

(FISCHER, 2005). O quadro 4 foi elaborado à partir dos dados coletados nas entrevistas

em cada grupo especifico, assim sendo, constituiu-se uma síntese das ações planejadas,

adotadas e executadas entre a empresa e as comunidade urbanas e ribeirinhas. Esta

AÇÕES PLANEJADAS, EXECUTADAS E ADOTADAS ENTRE A EMPRESA E

AS COMUNIDADES

COMUNIDADES URBANAS COMUNIDADES RIBEIRINHAS

Financiamento de cursos de artesanato

para comunidade;

Palestra de preparação para o mercado

de trabalho e recrutamento e seleção de

moradores do bairro durante ação

social;

Ações sociais em parceria com SESI;

Vacinação contra gripe na empresa;

Aplicação de flúor e palestra sobre

higiene bucal na empresa;

Apoio a projeto esporte e cidadania;

Doação de mudas de açaí para famílias

do bairro;

Doação de computadores para

associações comunitárias;

Adiantamento financeiro para

fornecedores durante a entressafra;

Ajuda financeira para auxiliar abertura

de estradas;

Ajuda financeira para auxiliar na

construção de sedes de associações;

Ajuda financeira para construção de

portos para descarregamento de frutos;

Treinamento em relação a questões

financeiras e abertura de contas em

Bancos.

Financiamento de certificação orgânica

de algumas áreas;

Ajuda em tratamento de saúdes (ação

pontual);

Treinamentos em Boas Práticas

Agrícolas.

Doação de cestas básicas.

61

síntese possibilitou a elaboração do quadro, facilitando assim a visualização e a análise

destas ações.

Em um primeiro momento, a maior parte dos entrevistados, tanto das

comunidades urbanas como das comunidades ribeirinhas, não identificaram as ações

que foram executadas pela organização e que favoreceram as comunidades. Isso pode se

justificar devido às ações estarem sendo pensadas e articuladas somente por parte da

Bela Iaçá e de acordo com suas necessidades e intencionalidades, sem considerar o que

as comunidades de fato necessitam e esperam da organização. O discurso do diretor

operacional da empresa mostra que as ações executadas ocorreram de forma natural e

que o planejamento de ações futuras vem sendo articulado internamente na organização,

ele identifica que as comunidades urbanas possuem pouco conhecimento sobre as ações

desenvolvidas, mas acredita que eles enxergam a empresa com bons olhos:

“Hoje as ações adotadas entre a agroindústria pode-se dizer que aconteceram

de um modo natural, mas o planejamento ele vem acontecendo para ser

executados nos próximos meses pode-se dizer assim [...] nos estamos

planejando projetos que estejam mais focalizados a nossa vizinhança, eu

acredito que existe pouco conhecimento da comunidade vizinha em relação

às ações, mas a imagem que fica e aquela da ajuda, é aquela do carinho e

aquela da preocupação, e essa imagem gera um retorno muito bom no que diz

respeito à visão da empresa pela comunidade [...].” Diretor Operacional da

Empresa (2013)

Não fica claro a presença da comunidade no plano de novas ações, de acordo

com as entrevistas é nítido o envolvimento e centralização apenas da empresa na etapa

de planejamento, de tal modo que a condução dos projetos acaba favorecendo muito

mais as intencionalidades da empresa do que as intencionalidades das comunidades. Os

trechos abaixo demonstram esta centralidade:

“[...] nós temos um projeto de trazer os vizinhos através dos colaboradores

agente pretende montar um centro de instrução dentro da Bela Iaçá, isso

ainda não está sendo executado, mas já está em projeto que é a pare de

educação, tipo português, matemática , educação financeira, até arte, enfim,

alguma coisa ou outra voltada ao conhecimento profissional [...] é uma

questão de cultura de filosofia, isso não é encarado internamente como uma

estratégia, isso se tornou algo de tamanha importância as parcerias, mas não

por conta de uma estratégia ou alguma oportunidade que tenha em vista e sim

por uma questão cultural mesmo, e um valor que existe na empresa.” Diretor

Operacional da Empresa (2013).

62

“Já tivemos ideias como a criação de uma fundação chamada São Pedro, já

pensamos em montar um projeto voltado à educação para comunidade tanto

no campo como na cidade, já pensamos em doar computadores para as

comunidades, e até já fizemos isso, muita coisa já foi pensada neste sentido.”

Diretor Presidente (2013).

Para que haja o alinhamento dos interesses dos membros da interação é

necessário, de acordo com Pereira e Pedrozo (2005), que não haja equivalência de

interesses próprios dos indivíduos, mas sim a constatação da necessidade comum de um

grupo de pessoas, indivíduos ou comunidade, necessidades estas que só podem ser

atendidas por meio de ações conjuntas. Nota-se que o planejamento da Bela Iaçá

envolve ações de educação, doação de materiais didáticos e até a criação de uma

fundação. Assim sendo, a empresa tem assumido o controle da relação e o controle

sobre a promoção dos novos projetos, sem visitar as necessidades das comunidades,

mesmo que estes projetos estejam beneficiando as comunidades, uma interação precisa

que as duas partes em conjunto estejam conversando e pensando juntas em relação aos

projetos.

4.2.1 Refletindo sobre as ações no entorno urbano

A relação existente entre a empresa e sua vizinhança acontece informalmente há

aproximadamente sete anos, mas tem se intensificado mais nos últimos três anos por

conta de um contrato que a empresa firmou com o SESI, neste período percebe-se que a

comunidade urbana não tem apresentado para Bela Iaçá suas propostas de projetos. De

acordo com os entrevistos os moradores acabam ficando muito distante da empresa, este

distanciamento tem gerando inconformismo na comunidade urbana, e esta insatisfação,

não esta sendo percebidas pela organização.

Como a relação entre empresa e comunidade urbana é recente não existe uma

articulação efetiva por parte da comunidade, nota-se que o grupo do entorno, mesmo

que involuntariamente, acaba esperando que a empresa sozinha decida o que é melhor

para comunidade e quais projetos devem ser aplicado na vizinhança:

63

“[...] o que falta é a comunidade falar o que ela quer o projeto que ela precisa,

a população passe o que a comunidade precisa e o que a empresa precisa da

comunidade para que ela possa ajudar. Por exemplo, se eu tenho um quintal e

nele eu planto, e se cada quintal couber 30 pezinho de açaí na minha

comunidade quantos pés eu vou ter? Quantas caixinha de açaí eu vou coletar?

Assim agente podia se organizar e vender lá par eles.” Moradora, (2013).

A falta de organização da comunidade urbana é percebida por alguns moradores,

e isso tem feito com que as oportunidades que são geradas pela empresa situada no

bairro não sejam exploradas pela comunidade, deste modo comunidade e empresa

seguem desalinhadas em relação as suas intencionalidades. Alguns agentes da

comunidade notam que a Bela Iaçá tem intenção de melhorar como empresa e de

auxiliar o seu entorno através das ações desenvolvidas:

“Geralmente quando agente quer ajudar alguém é porque agente sente

necessidade de melhora, então para gente ter essa necessidade de melhorar

agente procura fazer boas ações, então eu vejo que a Bela Iaçá não quer

apenas criar aquele vinculo passageiro ela quer criar um vinculo para ficar,

então ela tá procurando é buscar recursos, doando computadores, para

pessoas que precisam ser educadas, mas que também ela possa visar que é na

sua comunidade tem muitas pessoas que precisa, então ela vai ser como uma

mãe e prender a dividir o que ela tem com todos a sua volta, porque uma mãe

não escolhe o filho que ela vai dar o presente ela divide.” Agente da

comunidade (2013).

A associação do bairro seria um ator chave na relação com a empresa, mas o que

se pode notar pela fala dos representantes do bairro, é que a associação esta distante da

Bela Iaçá, este distanciamento é refletido pela pouca interação por parte do restante dos

moradores da vizinhança e o pouco envolvimento nos projetos que são articulados entre

a empresa e o SESI. De acordo com um dos integrantes a associação de bairro procura

raramente a empresa, e segundo ele o responsável por este quadro é a atual gestão da

associação:

“A associação de bairro nunca procura a fábrica nem para conseguir emprego

nem nada, que eu saiba, ela só vai lá para fazer reclamação [...] essa nova

gestão tem muitas falhas, a outra presidente corria atrás e esse novo não vai,

nos queremos ate fazer outra chapa para ver se agente consegue reverter esse

quadro [...].” Integrantes da Associação de bairro 1 (2013).

Outro associado ressalta que a comunidade tem pouco contato com a empresa, e

destaca que isso acontece porque a empresa não tem dado a atenção que a comunidade

64

merece, assim muitos moradores acabam nem sabendo direito como são desenvolvidas

as atividades da empresa.

“A fábrica em si é bom, mas o que eles têm que dar é mais atenção a

comunidade, agente poderia marcar uma visita, a comunidade pouco conhece

o que é feito na fábrica, saber como funciona o processo, todo o processo

operacional da fabricação da polpa, ter essa interação com a comunidade,

porque muita gente passa na frente e nem sabe que não vendo só açaí ali, nos

nem sabemos que existe vários outros tipos de polpa que trabalham ai [...] o

que agente queria era uns produtos aqui pra gente fazer uma brincadeira para

as criança [...].” Integrantes da Associação de bairro 2 (2013).

A relação no meio urbano existente entre a empresa e o SESI é a única que pode

ser considerada formalizada, nesta interação a maior parte das iniciativas foram

articuladas pelo SESI e apoiadas pela empresa. A condução da relação e a centralidade

das ações se concentram no SESI. A empresa, por sua vez, apoia financiando parte das

ações voltadas aos seus trabalhadores, seus familiares e para aos membros da

comunidade, deste modo à população do entorno acaba tendo pouca visibilidade em

relação a quem esta por trás das ações, se a empresa ou o SESI.

O SESI é uma instituição nacional, sua base regional esta desenvolvendo ao

longo dos últimos anos algumas ações em conjunto com a Bela Iaçá, a assistente social

do SESI identifica a existência de uma boa relação com a empresa, quando compara sua

relação com outras empresas do município, e identifica que a empresa tem auxiliado no

desenvolvimento de algumas ações voluntarias, que beneficiam diretamente a população

do seu entorno:

“Eu sinto que a empresa não fecha as portas como acontece com outras

empresas contribuintes, que fecham as portas para o SESI [...] o nosso

trabalho é ir buscar na empresa parcerias, e verificar a possibilidade da

empresa esta contribuindo para o SESI, para que nós possamos esta ofertando

os nosso produtos, de ação cidadania, de responsabilidade social, saúde, lazer

e educação que são os pilares no qual agente trabalha desenvolvendo estas

ações [...] a Bela Iaçá contribui com isso e é um grande parceira do SESI.”

Assistente social SESI, (2013).

Por outro lado, a comunidade acredita que este mesmo nível de ações poderiam

ser mais eficientes se fossem articuladas diretamente com a Associação de Moradores

do Bairro da Saudade I, sem incluir o SESI, e assim envolveria mais a população:

65

O que eu acho que precisa, é que as ações que ela faz junto ao SESI venha à

tona para nos da comunidade saiba que foi a Bela Iaçá que fez [...] os mesmo

projetos que é feito lá no SESI, pode ser feito aqui, num domingo, chama,

bota um cartaz aqui, o trabalhador que quiser ajudar ir lá e fazer uma boa

ação no domingo seria muito bom, porque ia explicar para comunidade o que

eles devem fazer, que eles vão ganhar [...] o que falta é a comunidade falar o

que ela quer, o projeto que ela precisa, a população passe o que a comunidade

precisa e o que a empresa precisa da comunidade para que ela possa ajudar

[...]." Agente da comunidade (2013)

Apesar do desenvolvimento de algumas ações isoladas observou-se, durante as

entrevistas, o exemplo de uma ação na qual a comunidade instigou a empresa a articular

junto e a prefeitura, o diretor presidente, ilustrou esta ação:

“[...] quando agente instalou a fábrica aqui, as ruas não eram pavimentadas e

não tinha esgoto nessa rua aqui do lado, os moradores aqui de perto vieram

reclamar da água que saia da fábrica e nos sabíamos que aquele era um

impacto que estava sendo gerado pela fábrica, ai nos procuramos o secretário

de obras da época e doamos parte do material, a tubulação de concreto e eles

entraram com o cimento e a mão-de-obra, hoje o esgoto foi todo feito aqui do

lado [...].” Diretor Presidente (2012).

As transformações sociais que ocorrem no cotidiano cedem lugar para conflitos

e lacunas que englobam a concepção de que mercados, sociedade civil e Estado podem

conviver harmonicamente (TEODÓSIO, 2010). De acordo com uma agente da

comunidade, as ações teriam mais força se conseguissem juntar em um mesmo projeto

empresa, Estado e comunidade:

“Se tivesse uma parceria Bela Iaçá, comunidade e prefeitura essa solução

teria sido muito melhor, porque a Bela Iaçá entrava com x, no projeto x a

prefeitura com x e a comunidade com x, por quê? Porque como se diz na

linguagem da comunidade o mutirão é muito bom, quando três quer mais vai

conseguir, ou um mesmo se quiser consegue [...].” Agente da comunidade

(2013).

Essa mesma percepção é apoiada por Teodósio (2008) e de acordo com seus

estudos as parcerias intersetoriais representam para muitos uma tentativa de criação de

um novo campo, marcado pela cooperação entre atores do Estado, da esfera pública e do

mercado. Fischer (2005) reforça que este modelo não pode ser entendido como uma

solução única, mas como uma forma de trabalho que deve estar associada a outras

medidas que possam contribuir com a transformação social. Se o intuito da interação for

66

gerar impacto social efetivo as alianças intersetoriais nesta perspectiva, propiciam o

fortalecimento institucional, propagam conceitos de cidadania responsável e viabilizam

projetos e programas sociais específicos (FICHER, 2005).

4.2.2 Refletindo sobre as ações nas áreas ribeirinhas

Como já mencionado anteriormente, a proximidade existente entre a empresa e os

ribeirinhos existe a mais de duas décadas, porém depois que a família fundou a empresa

e iniciou suas atividades agroindustriais esta interação se intensificou. As ações que

estão sendo adotadas atualmente e as que estão planejadas entre a empresa e

comunidades do meio ribeirinho se conectam a atual logica comercial do mercado o

qual a empresa Bela Iaçá esta inserida: falta de padrões de qualidade no fornecimento

dos frutos, concorrência pela compra de matéria-prima entre outros aspectos ligados a

este seguimento especificamente.

“A Bela Iaçá tem levado ajuda a comunidade em relação a treinamentos, e os

cuidados que eles precisam ter com os frutos, o conhecimento que eles têm

empírico, somente, não consegue trazer [...] tem que ter um conhecimento

mais técnico e eles jamais teriam acesso a isso se não tivesse alguém que

levasse este conhecimento até eles [...] a certificação orgânica é uma

iniciativa da Bela Iaçá, por uma necessidade de mercado, mas que acaba

beneficiando quem fornece, porque, é porque contempla uma serie de

exigências uma serie de treinamentos, uma serie de instruções para que este

produto seja considerado orgânico e essa matéria prima seja enquadrada

enquanto orgânico, vendido até com um valor diferenciado mais caro pelo

fornecedor [...].” Diretor Operacional (2012).

Ações como certificação de áreas em relação à produção orgânica, treinamentos

de boas práticas agrícolas acontecem para cumprir requisitos de certificações

impulsionadas pelas exigências dos clientes. De acordo com a coleta de dados às ações

são promovidas por iniciativa da empresa, como descrito na fala acima do diretor

operacional e nos trechos abaixo dos representantes da comunidade C2 e C4:

“[...] dero treinamento eles foro lá, sobre o lixo, como era pra cuidar do sítio,

já viero foi várias pessoas lá, já viero fazer treinamento de como melhorar a

limpeza do fruto, certificação do orgânico [...] a fábrica fez isso aqui por

conta dela e fez no papai também, nesses pessoal aqui de perto tem uns que

ela fez [...] outra coisa que ele já dero foi computador aqui, outras coisa pra

mim nunca dero, só se foi pros outros pessoal [...].” Representante

comunitário - C2 (2013).

67

“Eles que decidiro e a fábrica pago pra alguém ir lá e certificar agente como

orgânico [...] nos estamo cadastrado agora como orgânico, nos temos selo,

nosso açaí é registrado como açaí orgânico e anualmente vem umas pessoas

lá da qualidade para ver isso [...].” Representante comunitário - C4 (2013).

A procura no mercado por produtos de qualidade e a busca por esta qualidade,

fizeram com que a empresa desenvolvesse estas ações voltadas a certificação de áreas e

investisse em treinamentos dos coletores. Para Morsello (2004) a capacitação para a

produção, o suporte administrativo, o desenvolvimento de novas habilidades e o auxilio

no estabelecimento de controle de qualidade são subsídios habitualmente fornecidos

pelas empresas e podem ser considerados como um ponto benéfico para as

comunidades.

Pôde-se notar novamente que a centralidade da relação é concentrada na

empresa e com pouca ou nenhuma influência das comunidades ribeirinhas. Porém, de

acordo com a gerente de compras de matéria-prima quando as comunidades buscam

apoio ou ajuda na empresa, esta por sua vez não se nega a ajudar. A empresa geralmente

fornece o que é solicitado, seja ajuda financeira, material ou equipamentos que possam

auxiliar na melhoria das condições de trabalho e fornecimento de fruto:

“Tem associações assim que nós ajudamos de uma forma mais afetiva, por

exemplo, como são grupos de associados então eles tem o poder maior e a

questão da qualidade dos frutos deles também, se organizam melhor, então

agente ajuda ali [...] geralmente damos em dinheiro a ajuda, porque ai eles

acabam comprando o material que eles precisam [...] mas também já tivemos

doações de matérias como computadores, eles mandam um oficio para agente

ou um documento, tipo um comunicado dizendo que eles precisam de um

valor tal para construir um porto, ou quando agente vai lá agente já programa

e autoriza o que pode ser feito que agente vai ajudar. Para gerar estrutura para

eles trabalharem melhor [...].” Gerente de compras de matéria-prima da

Empresa (2013).

Em relação às ações adotadas em nível coletivo nas comunidades ribeirinhas -

C1, C2, C3 e C4, a empresa já apoiou financeiramente projetos de construção de centros

comunitários, construção de porto de descarregamento de fruto e abertura de estradas,

nesta ações o apoio financeiro oferecido pela empresa é reconhecido somente pelos

líderes das comunidades. Os coletores ribeirinhos, muitas vezes, nem sabem que a Bela

Iaçá tem apoiado determinados empreendimentos, isso acontece devido à falta de

formalização e divulgação das ações para a comunidade ribeirinha, uma vez que as

68

ações são articuladas somente entre os representantes das comunidades e a empresa,

sem envolver os moradores das comunidades.

De acordo com as entrevistas e as observações a realidade das comunidades

aponta para um conjunto de necessidades que não são priorizadas durante o

planejamento das ações adotadas pela agroindústria, de modo que estas necessidades

não têm sido levadas em consideração no que se referem a ações futuras, alguns

coletores acham que a empresa e os líderes comunitários se beneficiam por conta do

esforço deles e isso provoca certa insatisfação no grupo de coletores. Esta percepção

pode ser notada na comunidade C3:

“Tem muita família que sabe pra onde tá indo o açaí, outras não, mas eles

acho que a Bela Iaçá e nós, os que representa eles, ganha muito dinheiro em

cima deles [...] a fábrica num se nega a adiantar dinheiro pra nós trabalhar,

pra melhorar o lado nosso dos ribeirinho, esse negocio de porto né [...] mas

pro pessoal os ribeirinho, eles num vê assim, pra eles é melhor chegar lá com

dinheiro e esse é o maior beneficio, porque eles já pego aquele dinheiro e

paga os apanhado, já venho pra beira pra fazer as compra, compra as comida,

pagar a gente que trabalha no mato que limpa, assim [...].” Representante

comunitário - C3 (2013).

Os moradores da comunidade C4 esperam que a empresa faça doações de

equipamentos de proteção individual e utensílios que os auxiliem na colheita, mas de

acordo com o representante da comunidade os coletores não apresentam esta

necessidade para empresa, apesar de acreditarem que a mesma não iria se negar a ajudar

a comunidade:

“O que agente espera, era se tivesse um meio de conseguir um vasilhame

para colocar o fruto seria muito bom, porque tem um custo muito alto isso.

Tamo também com problema de bota, lima, facão, agente espera que ele nos

ajude com esses material [...] a comunidade espera que a empresa ajude ela a

trabalhar doando bota, recipiente para coletar o açaí, e material seria ótimo

pra gente [...] Eu acredito que se agente chegar com esse projeto ele iriam

ajudar porque agente manda uma produção muito boa para fábrica [...].”

Representante comunitário - C4 (2013).

Em síntese as atividades conjuntas realizadas entre a empresa e as comunidades

ribeirinhas, buscam atender as necessidades da empresa, enquanto que as necessidades

dos moradores no primeiro momento acabam não sendo visitadas, durante a elaboração

dos projetos. A falta de contato entre as comunidades e a empresa é uma fragilidade

observada nesta relação, por isso as comunidades acabam não explorando todos os

69

benefícios que a empresa pode proporcionar. De acordo com o que foi mencionado nas

entrevistas, analisado e observado nas visitas, esta fragilidade acontece por pelo menos

quatro motivos: pelo fato da maior parte do contato ser realizado diretamente com a

família dos representantes comunitários sem envolverem as demais famílias da

comunidade; pela ausência de outros coletores em reuniões colegiadas; pela falta de

levantamento das necessidades dos moradores por parte da empresa; e pela falta de um

projeto formalizado que contemple o direcionamento e o acompanhamento do uso

desejado dos recursos doados.

4.3 VARIÁVEIS UTILIZADAS PARA IDENTIFICAÇÃO DAS TENDÊNCIAS DE

PARCERIA OU ALIANÇAS ESTRATÉGICAS E COOPERAÇÃO

Embora exista ampla heterogeneidade na atuação das empresas em relação a

ações adotadas em parcerias com diferentes atores sociais sejam advindo do mercado,

Estado ou da comunidade, algumas variáveis podem identificar as intencionalidades

destas ações, além de auxiliarem na identificação do tipo de interação: Cooperação,

parceria ou aliança estratégica.

A literatura reconhece diferentes formas de ações conjuntas conforme

explanado nos capítulos 1 e 2 deste trabalho. Para reflexão sobre as ações entre a

empresa e as comunidades foram selecionadas algumas variáveis, como: a formalização,

os objetivos almejados por cada parte envolvida; o tempo de duração das interações e a

cultura de relações de confiança entre os parceiros.

A primeira variável analisada foi a formalização. O quadro 5 apresenta o trecho

das entrevistas segundo a área de atuação - comunidade urbana ou ribeirinha,

possibilitando a visualização de várias percepções e a análise sistêmica da variável em

questão.

70

Variável Área de atuação Trecho da Entrevista

Formalização

Urbana “[...] não são todas mais algumas delas são formalizadas, mas a

grande maioria pode-se considerar como não formalizada [...].‟ Diretor Operacional da Empresa (2013).

Urbana

“[...] existe um contrato formalizado entre a empresa e o SESI,

é feito um cadastro com os dados da empresa com todas

aquelas informações que são necessárias e nos temos isso tudo

aqui em uma pasta [...].” Assistente social SESI (2013).

Ribeirinha “[...] agente não recebeu nenhum contrato de formalização do

fornecimento, tudo acontece na base da palavra [...].”

Representante comunitário - C1 (2013).

Ribeirinha “[...] nossa relação é assim, a gente trabalhando pega o açaí

mete pra lá, tudo certo pela palavra [...].” Representante

comunitário - C2 (2013)

Ribeirinha

“[...] essas ações muitas delas são verbalizadas e a fábrica

cumpre com a parte dela eles passam um documento, mas não

um contrato [...].” Gerente de compras de matéria-prima da

Empresa (2013).

Ribeirinha

“[...] não é formalizado nossa relação com eles, o que existe é

um compromisso, um compromisso de fidelidade que eles têm

que não deixa de ter suas alterações, uns menos e outros mais,

essa é uma das situações que eu vejo, o comprometimento, e

depois que eles se comprometem é vergonhoso para eles dizer

não [...].” Sócio Diretor (2012).

Quadro 5 - Variável Formalização Fonte - Autor (2013)

Em relação à formalização, os gestores da empresa afirmam que a maioria de

suas interações são centralizadas na empresa e acontecem sem formalização, à única

exceção é a relação existente entre a empresa e o SESI. Para Alves et al (2010) existe

cooperação entre organizações tanto formalmente por meio de reuniões administrativas,

reuniões de negócios, quanto informalmente nas negociações em parceria.

De acordo com Klotzle (2002) as alianças estratégicas podem ocorrem por meio

de contratos bilaterais e dentro deste modelo encontra-se, entre outros, as parcerias

avançadas com fornecedores. O relacionamento de parceira pode ser estruturado com

base em vários fatores como a formalidade, a adaptividade, o compromisso com

recursos ou com a dependência de cada empresa em relação à outra, quando estas

parcerias apresentam uma estrutura formal, a maior parte dos pontos do acordo se

ampara em contratos e é conduzida por processos escritos e regras formais (ARRUDA;

ARRUDA, 1997).

A mesma análise aconteceu com a variável objetivos almejados, o quadro 6

apresenta os trechos das entrevistas que estão correlacionados com o objetivo da

empresa e o objetivo de cada grupo de acordo com sua área de atuação urbana ou

ribeirinha.

71

Variável Área de atuação Trecho da Entrevista

Objetivos

almejados

Urbana

“Necessariamente agente tenta fazer com que as pessoas

tenham uma qualidade de vida um pouco melhor e os nossos

colaboradores tenham um pouco mais de conhecimento e seus

familiares, para que agente possa ter um quadro de

colaboradores um pouco mais capacitados [...].” Diretor

Operacional da Empresa (2013).

Urbana

“[...]A comunidade ver as oportunidades que a fábrica pode

exercer no redor da fábrica, é, de dar emprego e uma garantia

de renda melhor para as pessoas que estavam desempregadas e

que para eles é bom [...] um projeto seria muito bom para as

crianças [...]antes eu já fiz muitos trabalhos de esporte e danças

folclóricas aqui tudo voluntario[...]a Bela Iaçá tinha que fazer

um projeto com isso, para divulgar na comunidade [...].”

Agente da comunidade (2013).

Urbana “Com as pessoas daqui seria mais em relação à oportunidade de

trabalho [...].” Gerente de compras de matéria-prima da

Empresa (2013).

Ribeirinha

“Com relação à comunidade rural é lógico que nenhum

investimento, nenhuma disponibilização de recursos vai ser de

uma forma a não se esperar um retorno, lógico que agente

espera um retorno[...]então se agente for tratar o fornecedor só

ele lá e eu cá eu corro o risco muito grande de ser tratado da

mesma forma [...] então a nossa ideia é que esta parceria tenha

um retorno também na hora dele decidir para quem ele vai

fornecer como para quem que trata ele melhor, quem tem

pensado no bem estar da família dele, quem que pensa na

elevação do conhecimento dele, então esse é um grande retorno

que a empresa pode esperar deles [...].” Diretor Operacional da

Empresa (2013).

Ribeirinha

“A empresa espera com isso manter a parceria, porque como o

mercado da compra do fruto é muito concorrido, isso é, por

mais que eles vendam o açaí para outras pessoas ou para outras

empresas, mas eles sempre tem o compromisso de colocar para

agente, eles nos colocam sempre em primeiro e os demais eles

podem até acertar, mas em segundo, entendeu. Então agente

mantem essa fidelidade com eles e isso já garante [...].” Gerente

de compras de matéria-prima da Empresa (2013).

Ribeirinha

“[...] eu gosto de trabalhar com eles porque é pra todo tempo,

né, e as outras fábricas assim, quando nos precisa deles eles

num tão pra ajudar nós, e a empresa todo tempo é, é parceira,

ela não deixa o açaí na pedra. O que agente põe a fábrica leva

[...].” Representante comunitário - C1 (2013).

Ribeirinha

“[...] eu acho que nossa relação com a fábrica ainda vai durar

uns quantos tempo, e nos queremo isso, porque eu já tenho

todos esses ano trabalhando e até agora graças a Deus deu tudo

certo [...].” Representante comunitário - C2 (2013).

Ribeirinha

“A partir do momento que agente começou e dos tempo que

tem do lado de nos agente ver que esta indo de vento em polpa,

mas até o exato momento esta sendo uma ótima parceria [...]

nós estamos com a Bela Iaçá, não queremos vender para

outros, porque nos percebemos que com ela todo mundo sai

ganhando [...].” Representante comunitário - C4 (2013).

Quadro 6 - Variável Objetivos almejados Fonte - Autor (2013)

72

Os dados do quadro 6 evidenciam dois objetivos claros que são almejados pela

empresa. De acordo com as entrevistas realizadas na comunidade urbana, a

aproximação da Bela Iaçá com os moradores está relacionada com a necessidade de

captação de profissionais especializados nas atividades da empresa, assim o que se

busca com esta relação é uma fonte de mão-de-obra. Este fato é explicado pela carência

de profissionais qualificados no setor. Atualmente 23% das agroindústrias de

processamento do fruto açaí do estado do Pará estão localizadas na cidade de Castanhal

(SOUZA, 2011), deste modo estas agroindústrias concorrem, de acordo com o que foi

observado nos períodos da safra, entre outras coisas por mão-de-obra qualificada.

Analisando as resposta dos representantes do entorno urbano, nota-se que

embora a população entenda que a relação com a empresa Bela Iaçá pode proporcionar

oportunidades em relação à geração de emprego e renda para comunidade, os moradores

acreditam que poderiam se beneficiam ainda mais com esta oportunidade, os dados

revelam que a comunidade urbana não tem definido claramente os objetivos almejados

na interação com a agroindústria, o que se observou foi o interesse em projetos de

esporte ou em projetos voltados ao lazer, assim pode-se afirmara que não existe

efetivamente o encontro dos objetivos da comunidade urbana com os objetivos da

empresa.

Quando a comunidade não possui preparo e habilidades a empresa assume o

controle das ações desenvolvidas, mantendo grande parte do poder da relação em suas

mãos (MAYERS, 2000). Neste caso a indefinição dos objetivos por parte da

comunidade do bairro da Saudade I faz com que a empresa Bela Iaçá assuma o controle

da relação, usufrua mais de benefícios do que a própria comunidade e atenda aos

objetivos almejados na interação.

O segundo objetivo almejado pela empresa está relacionado às comunidades

ribeirinhas, o mercado de polpas e em especial o de açaí tem crescido muito nos últimos

anos. De acordo com as informações dos gestores da empresa, este crescimento tem

gerado muita concorrência entre as empresas do mesmo seguimento, em relação à

compra de matéria-prima e a necessidade do fornecimento do fruto, nos períodos da

safra - entre os meses de agosto a janeiro. A concorrência na compra de frutos

representa uma das principais fragilidades deste mercado.

De acordo com a pesquisa de campo, pôde-se notar que mesmo antes deste

crescimento do mercado as relações existentes entre a empresa e o meio ribeirinho

73

foram construídas ao longo de muitos anos, e sua força pode ser comprovada até os dias

de hoje. Atualmente a empresa articula esta relação com as comunidades com objetivo

de obter fidelidade e continuidade no fornecimento de frutas por parte dos coletores.

Em relação às comunidades ribeirinhas, os objetivos que este grupo almeja é

garantir a fidelidade da venda de toda sua produção de safra, assim sendo pode-se dizer

que os objetivos entre a empresa e a comunidade ribeirinha se encontram, pois ambos

estão relacionados com fidelidade comercial. Deste modo, a empresa busca a fidelidade

do fornecimento e os coletores, a fidelidade da venda de toda a sua produção anual. O

bom relacionamento da empresa com as comunidades locais e a sociedade como um

todo e a interação direta entre empresa e comunidade podem reduzir riscos tanto para

empresa como para as comunidades, principalmente no que ser refere à garantia do

acesso a recursos naturais (MAYERS, 2000).

Os alvos almejados no processo de parcerias entre organizações de acordo com

Wimmer e Figueiredo, (2005) e Junqueira (2004) é o desejo de atingir objetivos que

sejam comuns entre os envolvidos. Tachizawa (2002) defende a ideia de que a parceria

é uma forma de cooperação entre organizações indicando uma ação conjunta, motivada

pela existência de interesses e objetivos comuns, na qual cada um aposta e mobiliza os

seus recursos para atingir esses objetivos, ampliando assim o seu impacto e a sua

abrangência de atuação (TACHIZAWA, 2002). Por outro lado, Argyle (1991) enfatiza

que as ações de cooperação podem ser vistas como uma forma de agir conjunta e

coordenadamente e que ocorrem na busca por atingir objetivos partilhados, desfrutando

de uma atividade ou atitudes conjuntas ou simplesmente desenvolvendo o

aprofundamento de uma relação.

Para a empresa seus objetivos estão claramente definidos tanto na interação

urbana como na ribeirinha, de modo que esforços são gerados para o desenvolvimento

de trabalhos direcionados ao alcance destes objetivos. Isso de certa forma tem

impulsionado a cooperação tanto com as comunidades urbanas, como com as

comunidades ribeirinhas, mesmo que involuntariamente, para o atendimento destes

objetivos. Pode-se notar que em relação aos objetivos alguns deles naturalmente se

encontram como no caso da empresa e o meio ribeirinho, e outros naturalmente

divergem como no caso da relação da empresa com o entorno local.

A terceira variável analisada foi o tempo. O quadro 7 apresenta o trecho das

entrevistas que estão relacionados a esta variável.

74

Variável Área de atuação Trecho da Entrevista

Tempo

Urbana “Nos conhece ai a fábrica desde quando começo, tem uns sete

ou é seis anos já [...].” Integrantes da Associação de bairro 1

(2013).

Urbana

“Têm uns cinco anos que eu conheci a empresa, por causa da

menina que trabalha no RH, mas têm uns dois anos que agente

começou a trabalhar junto [...] depois de tentar com o RH, foi

os donos que vieram aqui [...].” Assistente social SESI (2013).

Ribeirinha “Já temos uma facha de vinte anos que nos conhecemo, agente

vendia no Ver-o-Peso para ela [...].” Representante comunitário

- C1 (2013).

Ribeirinha

“Eu já conheço eles há uns 22 anos, 23 ano, eu vendia açaí pra

eles lá no Ver-o-Peso, no tempo de antes agente num levava

açaí pra aqui, agente levava pra eles lá no Ver-o-Peso [...].”

Representante comunitário - C2 (2013).

Ribeirinha

“Pra fábrica eu forneço ai faz três anos né, antes eu trabalhava

com açaí batendo, vendendo, eu comecei com a Bela Iaçá e tô

com a Bela Iaçá até hoje, nunca vendi pra outra não [...].”

Representante comunitário - C3 (2013).

Ribeirinha “Nos já trabalha aqui com a Bela Açaí uns sete anos [...].”

Representante comunitário - C1 (2013).

Ribeirinha

“Todas as pessoas sabem que a Bela veio do Paraíba do Açaí,

que era meu pai, todos eles sabe por que como meu pai vendia

muito fruto lá pelo Ver-o-Peso, na época ele já era muito

conhecido nos ribeirinhos inteiro [...].” Sócio Diretor, (2012).

Quadro 7 - Variável tempo. Fonte - Autor (2013)

Em relação a variável tempo, as entrevistas mostraram que existem diferenças

entre as relações da empresa quando comparamos o meio urbano e o ribeirinho. No

entorno urbano a interação existente é relativamente nova, o que pode justifica as

fragilidades das relações entre empresa e seu entorno. Relações que ocorrem em um

curto prazo articuladas com a ideia de união, associação e proximidade com um fim

específico, podem ser classificadas como parcerias ou formas de colaboração

(NOLETO, 2000).

Em relação aos fornecedores ribeirinhos esta relação acontece há bastante

tempo, devido à primeira atividade da família que fundou a empresa estar relacionada

com a compra e distribuição de açaí em algumas cidades do nordeste do estado do Pará.

Para Noleto (2000) relações que compartilham valores e são construídas em longo prazo

com a ideia de pacto duradouro, estável e permanente podem ser classificadas como

alianças estratégicas.

A proximidade com os coletores de açaí foi construída ao longo do muitos anos

de interação entre a empresa e os ribeirinhos e isso, de certa forma, justifica a forte

relação de cooperação e confiança existente entre a empresa e a comunidade ribeirinha,

75

Corrêa (1999) enfatiza que a relação de cooperação é fortificada pela cultura de

confiança que pode ser construída ao longo de uma relação profissional, quanto maior o

tempo da relação maior é a possibilidade de desenvolver entre os parceiros níveis

elevados de confiança (SATO, 2003; TÁLAMO; CARVALHO, 2010).

A última variável analisada foi e a cultura de confiança entre os parceiros, o

quadro 8 apresenta os trechos das entrevistas que estão relacionados a esta variável

tanto na comunidade urbana como na ribeirinha. Na análise das entrevistas

identificaram-se aspectos que reforçaram a percepção de uma cultura de confiança

existente entre a empresa e as comunidades, como pode ser notado pelas declarações

dos entrevistados.

Variável Área de atuação Trecho da Entrevista

Confiança

Urbana /

Ribeirinha

“[...] as pessoas de fora acreditam muito na Bela Iaçá, porque esse é

um dos nossos valores a confiança [...] é uma questão de cultura de

filosofia, isso não é encarado internamente como uma estratégia, isso é

uma questão cultural mesmo, é um valor que existe na empresa [...].”

Diretor Operacional da Empresa (2013).

Urbana /

Ribeirinha

“[...] a relação da empresa com a comunidade é muito boa, de uma

credibilidade fenomenal, que desde o meu pai já tinha essa

credibilidade e confiança [...] meu pai quando ele negociava por mais

que ele tivesse prejuízo, não importava o tamanho do prejuízo, ele

horava [...] então isso foi enraizado e até hoje agente colhe bons frutos

com isso [...].” Sócio Diretor (2012).

Ribeirinha

“[...] a confiança na fábrica é muito grande e a comunidade pra quem

falar aqui que vai vender pra Bela, vende na hora, porque ela já tem

uns quantos anos de trabalho e trabalha direito, eles sabe que ela vai

pagar [...].” Representante comunitário - C1

Ribeirinha

“[...] eu e a minha comunidade agente confia neles lá, nunca ficaram

devendo, eles confio na gente também [...] nos num se preocupa, lá

agente fica confiante, eu pelo mesmo, agente trabalha pra lá e num se

preocupa, e o único ano que eu trabalhei eles põe até antes meu

dinheiro, e graças a Deus tá dando tudo certo [...].” Representante

comunitário - C2 (2013).

Ribeirinha

“[...] a fábrica Bela Iaçá São Pedro são gente certa né [...] não tem

nome falado na praça como seje ruim de negocio né [...] eles tenho o

compromisso né como eu falei [...].” Representante comunitário - C3

(2013).

Ribeirinha

"[...] nos lá da comunidade ver a Bela Iaçá como um parceiro [...] eu

acho que é porque nos já tem todo esse trabalho e nos já tem a todos

esses ano, já existe uma confiança né, entre o produtor e o fabricante

[...].” Representante comunitário - C4 (2013).

Ribeirinha

“[...] A empresa que tem um conceito muito bom na parte da compra

da matéria prima, da honestidade do compromisso que ela tem em

manter todas as despesas tudo quitada, né, por mais que naquele

momento ela não possa, ela não tenha, mas ela faz questão de se

manter integra em relação aos fornecedores que, então isso é um ponto

muito positivo que nos temos, junto aos fornecedores [...] as

comunidades confiam com certeza na empresa [...].” Gerente de

compras de matéria-prima da Empresa (2013).

Quadro 8 - Variável Confiança Segundo a Área de Atuação Fonte - Autor (2013)

76

Na análise das entrevistas identificou-se que a maioria das ações existentes entre

os grupos (empresa - comunidade urbana e empresa - comunidade ribeirinha) são

relações não formalizadas. O cenário apresentado no quando 8, evidencia a presença e a

importância de uma relação pautada em confiança, porém, esta variável pôde ser notada

com maior evidência nas comunidades ribeirinhas. As relações existentes no passado

possibilitam a perpetuação desta cultura, mesmo que não haja formalização, o nível

elevado de confiança tem sustentado as relações existentes entre a empresa e estas

unidades sociais.

Independente da natureza da relação, a confiança figura como um fator

fundamental nas relações humanas (IWAI, 2011). Corrêa (1999) enfatiza que nas

relações de cooperação o fortalecimento do fator confiança entre os parceiros faz com

que o nível de interação física seja maior exercendo um papel decisivo para o sucesso

na formação de uma parceria empresarial. Sendo assim, o nível elevado de confiança é

um dos aspectos de maior importância e, mais frequentemente, mencionado em uma

interação cooperativa entre organizações. De acordo com essas abordagens as partes

cooperam mais ou menos de acordo com as relações de confiança desenvolvidas na

parceria. Analisando as declarações dos entrevistados, o que pode ser notado é que as

interações que apresentam maior grau de afinidade e cooperação são aquelas que

destacam a importância do fator confiança.

A declaração dos representantes das comunidades Ribeirinhas, mesmo os da

comunidade C3 e da comunidade C4 que iniciaram sua relação com a empresa há

menos tempo, identificam a existência de confiança na interação com a empresa. A

cultura de confiança é tão forte que tem permeado tanto as antigas como as novas

interações da empresa Bela Iaçá.

4.3.1 Caracterizando a interação social entre empresa e comunidades:

A figura 8 sintetiza e caracteriza os tipos de interações social entre a empresa e

as comunidades pesquisadas. Procurou-se neste quadro resumir principalmente os

objetivos e as ações desenvolvidas em conjunto entre os atores envolvidos, facilitando

assim a análise das interações por meio do cruzamento destas informações. Deste modo,

77

o cruzamento e análise das informações possibilitaram a classificação das interações em

relação de cooperação, parceria ou aliança estratégica.

Figura 8 - Caracterização da Atuação Social Fonte - Autor (2013)

Como pode ser visto na figura 8, analisando a interação entre empresa e

comunidade urbana, os objetivos almejados pela empresa estão claros em relação aos

trabalhos que ela está desempenhando junto à comunidade, e deste modo, mesmo

informalmente, a empresa pesquisada tem conseguido desenvolver ações para alcançar

seus objetivos. Neste sentido a comunidade, mesmo involuntariamente, tem de certo

modo cooperado para que a empresa alcance seus objetivos. O apoio que a empresa tem

dado em ações relacionadas à educação, capacitação e esporte, mesmo sem um contrato

78

formal ou um projeto estruturado, também tem cooperado com a população local.

Embora esse tipo de cooperação seja considerado positivo, a população avalia que a

organização poderia fazer mais pela comunidade.

Mesmo assim, pode-se dizer que a relação existente entre a empresa e a

comunidade urbana é uma relação de cooperação. Quando duas ou mais organizações

interagem com objetivos distintos e estes objetivos são mutuamente alcançados, esta

relação é caracterizada como uma relação de cooperação (ARGYLE, 1991;

LORENTZIADIS, 2002; OLAVE; AMATO NETO, 2001). Para ser considerada uma

parceria os envolvidos devem comungar e compatibilizar dos mesmos objetivos, a

compatibilidade plena dos objetivos pode não ocorrer de imediato, ela pode ser

descoberta aos poucos, à medida que os parceiros fazem experiências e crescem juntos

(ARNS et al., 2003).

Em se tratando da interação entre empresa e comunidade ribeirinha, observa-se

que os objetivos de ambos se encontram. Neste caso a síntese dos objetivos revela que

tanto a empresa quanto os ribeirinhos desejam continuidade e fidelidade nas suas

relações comerciais.

Por parte da empresa, a fidelidade se reflete na compra de frutos, devido à

concorrência com outras empresas. Já por parte dos coletores, a fidelidade que se espera

esta relacionada à garantia de venda total dos frutos, pois de acordo com os coletores,

antes de trabalharem com a Bela Iaçá, as outras agroindústrias processadoras de frutas

da região, não honravam com os compromissos de compra de frutos, e isso ocasionava

grandes prejuízos para os coletores, já que em alguns casos os ribeirinhos tiveram que

descartar o seu excedente da produção.

“Tem fábrica que tem um limite né, mas aqui agente vai embarcar e dá duas

mil né? Ai tem fábrica que diz: eu só quero mil e quinhentos, ai deixa agente

na mão, e agente tinha que dar um jeito, jogar fora, porque aqui num tem um

limite [...] ai essa a Bela Iaçá, não. Se fosse duas mil, três mil, ia num ficava,

num deixava. Com ela, num tem esse negocio essa preocupação de ficar [...]

as vez agente desce os cacho tudinho das arvore né? Ai vão debulhar e, por

exemplo, faz uma base de dar cinco rasa e vai debulha e dá quinze, porque é

cacho graúdo né, agente tem que levar, agente num vai deixar. Ai essa fábrica

fica e tem umas fábrica que num quere ficar mas a Bela Iaçá fica cum tudo,

eu já cheguei a mudar muito e dizer: meu patrão eu tô com tantas latas a

mais, ai eles diz: vamos dar um jeito de buscar.” Representante comunitário -

C2 (2013).

79

Quando dois ou mais atores se juntam, formal ou informalmente, com intuito de

se fortalecerem mutuamente para alcançarem objetivos individuais e um determinado

fim comum (MAYERS, 2000; NOLETO, 2004), esta interação pode ser considerada

uma parceria. As parcerias são processos colaborativos que podem explorar a

perspectiva de mudanças sociais (TEODÓSIO, 2009), esta dinâmica proporciona aos

envolvidos inúmeros benefícios desde o fortalecimento de projetos em andamento, até o

desenvolvimento de novas atividades. Por meio de parcerias as organizações podem

superar suas lacunas e preencher espaços importantes nos quais não são tão fortes

isoladamente (TACHIZAWA, 2012).

Assim, a proximidade entre a empresa e as comunidades do campo pode ser

caracterizada como uma parceria informal, já que ambos almejam continuidade e

fidelidade da relação comercial. Além disso, pode-se notar a existência de cooperação

entre as partes e esta relação tem sido sustentada pela forte lealdade existente entre os

parceiros. A relação de confiança foi uma das variáveis que mais se destacou nesta

investigação, e, como já foi mencionado, a justificativa está ligada ao processo de

cooperação que foi construído ao longo de muitos anos entre os fundadores da empresa

e os coletores ribeirinhos.

80

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Retomando ao foco deste estudo que é a compreensão das formas de articulações

entre empresas em suas múltiplas relações de interações com os atores sociais

envolvidos na extração e fornecimento dos recursos naturais utilizados no processo

produtivo da empresa, apresentam-se neste momento os principais resultados obtidos, as

vantagens e limitações do estudo, além de algumas sugestões para novas pesquisas na

área.

Embora várias abordagens teóricas tenham sido trabalhadas ao longo da pesquisa,

ressalta-se aqui a relação de cooperação que a análise da intersetorialidade entre

empresa e comunidades estão envolvidas, mas além da cooperação o estudo também

destaca a presença de parceria que tem sido sustentadas pela relação de confiança entre

as unidades sócias envolvidas.

Isto posto, e atendendo ao objetivo deste estudo que consiste em analisar as

configurações das ações estabelecidas entre empresa e comunidade, mais

especificamente, as relações empreendidas, os resultados mostram que as ações

desenvolvidas entre a agroindústria de processamento de polpas Bela Iaçá e as

comunidades urbanas e ribeirinhas têm sido articuladas informalmente e com pouco

planejamento, mas as ações em si têm caracterizado a existência de parceria. Este fato

tem se reforçado pela lógica que a relação se constituiu, por estar baseada em confiança

mútua e pelo fato dos objetivos almejados mesmo que tenham sido pensados

separadamente se encontram e convergem para um fim comum, neste último caso

principalmente notado nas relações entre a empresa e as comunidades ribeirinhas, além

disso, os dados têm mostrado que esta interação tem proporcionado cooperação entre os

atores envolvidos.

Com relação à identificação das relações intersetoriais entre empresa e

comunidades, se estão mais apropriados como ações de cooperação, parceria o aliança

estratégica, compreende-se que as ações existentes entre a empresa e a comunidade

urbana, especificamente podem ser caracterizadas como uma relação de cooperação, já

que cada parte coopera para que ambas atinjam objetivos distintos, esta relação pode no

futuro evolui até uma parceria ou aliança estratégica. Em relação às interações e ações

desenvolvidas entre a empresa e as comunidades ribeirinhas, especificamente, nota-se a

81

relação de parceria e cooperação, já que ambos desenvolvem esta relação ao longo de

muitos anos e comungam de objetivos comuns.

No Pará, existem poucos exemplos de práticas colaborativas entre organizações

genuinamente regionais com comunidades locais. Entretanto, é possível perceber, neste

estudo, que podem ser encontrados a nível local diferentes estágios e estratégias de

parceria e cooperação dependendo do grupo ou subgrupo envolvido, para o alcance de

diferentes objetivos organizacionais.

A particularidade do seguimento agroindustrial relacionado com a sazonalidade na

produção de frutos, em especial o açaí, é um dos pontos que pode revelar o porquê do

desenvolvimento destas relações entre empresa e comunidades. O fator confiança, na

lógica da cultura extrativista, pode ser articulado como uma forma de pensar estratégica,

já que as relações articuladas pelas empesas geralmente são motivadas por interesses

estratégicos.

Os dados também mostram a realidade competitiva do mercado agroindustrial no

estado do Pará como outro ponto que pode justificar estas interações, as empresas deste

seguimento competem principalmente por mão-de-obra e por matéria-prima.

Esta realidade competitiva motiva o surgimento de uma postura diferencia por

parte das empresas que desejam se manter estáveis no mercado, assim a proximidade e

o desenvolvimento de ações entre os atores envolvidos neste processo ocorrem para

reforçar o relacionamento e a reciprocidade de cooperação entre eles.

Diante dos resultados apontados acima, observa-se algumas vantagens e

limitações na análise das relações intersetoriais existentes entre empresa e comunidade.

Em relação às vantagens, destacam-se principalmente dois aspectos: a cultura de

cooperação que foi construída historicamente há mais de vinte anos, pelas relações entre

os fundadores da empresa e seus fornecedores, e a relação de confiança que figura como

um elemento característico deste estudo, este fator pode ser notado tanto em relações

formais como em relações informais em interações antigas ou recentes. No entanto,

também se apontam algumas limitações. Verifica-se que a organização não consegue

desenvolver e usar esse histórico nas relações sociais que envolvem a comunidade do

seu entorno, nos fazendo entender que atores cooperam mais ou menos de acordo com

as relações de confiança desenvolvidas na parceria. O recorte do relacionamento entre

empresa e o entorno urbana, não apresenta as mesmas bases da relação com os

ribeirinhos, apesar de apresentar características de cooperação, a relação de confiança

82

mútua não se estabelece com pequenas interações o tempo da relação tem uma grande

inferência sobre esta base.

Outra limitação identificada na relação com as comunidades urbanas é que os

moradores do entorno, mesmo os que estão mais próximos da empresa e que já se

relacionaram por meio de alguma ação, não se sentem próximos o suficiente a ponto de

chegarem até a empresa e articularem alguma parceria, projeto ou ações, eles de acordo

com as entrevistas acabam se distanciando da empresa e este distanciamento gera

inconformismo por parte da comunidade.

Existem também algumas desconexões entre o que a empresa entende que é

melhor para comunidade e o que a comunidade espera da empresa, enquanto por um

lado à empresa planeja desenvolver ações voltadas a capacitação e qualificação da mão-

de-obra da comunidade os moradores esperam projetos voltados ao esporte e lazer, isso

demostra claramente que os dois atores não sentam para pensar e articular as ações com

vistas a obterem objetivos comuns.

Neste sentido, os moradores muitas vezes não se reúnem para pensar nos

problemas sociais vivenciados pela comunidade e, desta forma, não elaboram

estratégias e propostas para apresentarem para as organizações de seu entorno. Os

integrantes das comunidades, tanto urbana como ribeirinha, acabam esperando a

iniciativa da empresa, a empresa por sua vez, possui metas que apesar de pouco

planejadas são transformadas em ações que muitas vezes não representa a real

necessidade da comunidade.

De acordo com as interações colaborativas entre o setor privado e as

comunidades, a pesquisa pode gerar três grandes pontos de reflexão que podem resultar

em estudos no futuro.

O primeiro ponto de reflexão está no campo da liderança e centralidade da

relação. A parceria envolve o processo de colaboração que implica na criação de

relações de confiança, de partilha de conhecimentos e de liderança em um contexto

social (CHAVIS, 2001). Quando a empresa assume a liderança das ações de cooperação

e parceria, esta centralidade não repercute positivamente para a relação, já que a

comunidade neste caso não consegue identificar a parceria existente, assim uma parceria

centralizada em um dos parceiros é uma parceria que não se fortalece, a comunidade

não reconhece a empresa como parceira e as ações acabam não tendo muita força e

repercussão.

83

O segundo ponto está relacionada à formalidade e informalidade nas relações

entre parceiros. Um relacionamento de sucesso é construído e sustentado não somente

pelo comprometimento, mas principalmente pela confiança entre as partes envolvida

(MORGAN; HUNT,1994). A relação baseada em confiança mútua entre os parceiros,

mesmo que seja informal, os dados apresentados no trabalho mostram que ela pode ser

efetiva, quando acontecem conectadas a uma base de confiança entre os atores

envolvidos, assim mesmo que não haja a formalidade de papeis, documentos e contratos

a confiança reconfigura este cenário e torna esta relação efetiva.

A terceira reflexão esta relacionada às parcerias intersetoriais e a inclusão do

Estado nesta lógica de parceria e cooperação. Um setor isolado não é capaz de

responder aos desafios que se apresentam à sociedade atual, deste modo à parceria entre

setores leva a resultados mais satisfatórios (ALVES, 2007). As ações de parceria e

cooperação quando envolvem apenas empresa e comunidade deixam algumas lacunas

que podem ser fortificadas com a presença do poder público. Assim, para que sejam

mais efetivas estas parcerias precisam envolver a presença dos três setores. Deste modo

se faz necessário à junção em um projeto com a contribuição do Estado, mercado e

comunidade, de modo que todos estabeleçam e entendam seu papel no projeto e os

objetivos que estão sendo almejados tanto individuais como comuns aos três atores

envolvidos.

84

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89

APÊNDICE 1 - ROTEIRO ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA:

COMUNIDADES URBANA E RIBEIRINHA

Nome completo do entrevistado:

Identificação da comunidade e cargo do entrevistado:

1. Fale um pouco sobre seu envolvimento na comunidade.

2. Sua comunidade tem proximidade ou mantem interações com alguma empresa?

Na sua opinião, qual o principal motivo do envolvimento com a empresa?

3. Há quanto tempo existe este envolvimento?

4. Como aconteceu o primeiro contato com a empresa?

5. Conte um pouco da sua trajetória com a empresa (pessoa e comunitária)

6. Existe alguma ação que foi desenvolvida entre sua comunidade e a empresa? (se

sim continuar)

7. A ação foi/é formalizada através de algum contrato ou documento que comprove

esta relação?

8. Fale sobre esta(s) ação(ões).

9. De quem é a iniciativa em relação a essas ações?

10. Na sua opinião, o que levou a empresa a se aproximar da comunidade?

11. O que sua comunidade espera da empresa?

12. O que você enquanto morador espera da empresa?

13. Sua comunidade entende que estas ações são estabelecidas entre a empresa e a

comunidade? Eles reconhecem o papel de cada lado na relação?

14. Qual é o objetivo da sua comunidade com esta relação?

15. Existe alguma exigência e obrigatoriedade que condicione o desenvolvimento

destas ações?

16. Na sua visão qual a finalidade da empresa em desenvolver estas relações com a

sua comunidade?

17. Esta empresa proporciona/proporcionou algum beneficio para sua comunidade?

18. Existe diferença entre a relação estabelecida entre a sua comunidade e a Bela

Iaçá quando compradas com a relação entre a sua comunidade e outras empresas

do seguimento? Se existe que diferença é estas?

90

19. Como você julga a relação entre a empresa e a sua comunidade, positiva ou

negativa? Por quê?

20. Para você estas ações caracterizam uma parceria ou é uma relação de cooperação

entre a empresa e a sua comunidade? Por quê?

21. Sua comunidade e você confiam na empresa Bela Iaçá?

91

APÊNDICE 2 - ROTEIRO ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA: EMPRESA /

GESTORES

Nome completo do entrevistado:

Cargo do entrevistado:

1. Fale um pouco sobre como a empresa foi fundada.

2. Qual sua opinião falando pela empresa em relação ao envolvimento com a

comunidade?

3. A empresa tem proximidade ou mantem interações com alguma comunidade?

4. Existe alguma ação desenvolvida entre a empresa e a comunidade do entorno

(vizinhança, bairro).

5. Existe alguma ação desenvolvida entre a empresa e as comunidades localizadas

no meio ribeirinha?

6. Quais as comunidades ribeirinhas que vocês se relacionam?

7. Quem por meio de quem (órgão, pessoa, líder, agente comunitário) estas

relações iniciaram?

8. Na sua opinião, qual o principal motivo do envolvimento da sua empresa com a

comunidade ?

9. Há quanto tempo existe este envolvimento?

10. Como aconteceu o primeiro contato com a comunidade? Conte um pouco da

trajetória da empresa com a comunidade.

11. Que ações podem ser citadas em relação a interação com as comunidades

(urbana e ribeirinha)? Fale sobre esta(s) ação(ões).

12. Estas ações são formalizadas através de algum contrato ou documento?

13. Quem propõe as ações vocês (empresa) ou eles (comunidades)?

14. Na sua opinião, o que levou a empresa a se aproximar da comunidade?

15. O que a empresa espera da comunidade?

16. O que você enquanto funcionário espera da comunidade?

17. Você acredita que a comunidade entende que estas ações são estabelecidas entre

a empresa e a comunidade? Eles reconhecem o papel de cada lado na relação?

18. Qual é o objetivo da empresa nesta relação?

92

19. Na sua visão qual a finalidade da comunidade em desenvolver estas relações

com a sua empresa?

20. Sua empresa proporciona/proporcionou algum beneficio para a comunidade?

21. A comunidade proporciona/proporcionou algum beneficio para a empresa?

22. Como você julga a relação entre a empresa e as comunidades, positiva ou

negativa? Por quê?

23. Para você estas ações podem ser caracterizadas como parceria ou são relações de

cooperação entre a empresa e a sua comunidade? Por quê?

24. A empresa confia nas comunidades?