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Universidade de Pernambuco - UPE Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco - FCAP
Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável - GDLS
Francisco das Chagas Dantas
AVALIAÇÃO DE EGRESSOS DO CURSO DE AGENTES DE DESENVOLVIMENTO LOCAL:
estudo de caso no município de Primavera-PE.
Recife - PE
2012
FRANCISCO DAS CHAGAS DANTAS
AVALIAÇÃO DE EGRESSOS DO CURSO DE AGENTES DE DESENVOLVIMENTO LOCAL: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE PRIMAVERA-PE.
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP/UPE, como requisito parcial para obtenção de Título de Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável.
Orientador: Profº Drº Ronaldo Faustino da Silva
Recife - PE
2012
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Leomar Dantas e Dona Lourdes Gomes, que muito fizeram,
sem pedir nada em troca. Para que eu chegasse até aqui, meus sinceros
agradecimentos.
A minha esposa Adriana, meu carinho especial. Companheira de sempre, que
me proporcionou força, ânimo e sabedoria nos momentos de minha vida.
Minhas filhas, Rafaela e Ramires que me ajudaram nesta fase, entenderam e
toleraram minha impaciência nos momentos difíceis desta caminhada.
Aos jovens que passaram pelo SERTA, em especial a turma de Primavera,
que soube caminhar entre os canaviais para desfrutar do cheiro da terra molhada no
campo da sementeira e folhear cadernos, mexer com capim, cuidar dos animais,
preás, coelhos, horta e espaços de saberes e vivências, construindo conhecimentos
e buscando entender que “viver no campo, com dignidade e alegria, precisa de
outras ferramentas pedagógicas e técnicas, de outros saberes – a vivência”.
Os professores e colegas do mestrado. Uma oportunidade de agradecer.
Ao SERTA pelo tempo de vivência, que tanto inspirou idéias e oportunidades
aos jovens e comunidades. Felicidade é sempre estarmos juntos.
Vocês merecem toda a dedicatória deste trabalho. Muito obrigado!
AGRADECIMENTO
Deus, obrigado por tudo! “Sua presença é real em meu viver”.1
Aos que me ajudaram para realização deste sonho: minha família, o SERTA,
colegas do ProRural, jovens, amigos, colaboradores. Minha imensa gratidão pelo
apoio e carinho.
Meu orientador, Professor - Doutor Ronaldo Faustino, homem de Deus e de
paciência singular que suportou minhas queixas, angústias, dificuldades e
inquietudes. Ao mesmo tempo, com sua sabedoria de mestre, orientou minhas
dúvidas e os afazeres do trabalho acadêmico.
Ao professor e maestro do mestrado, Doutor Ivo Pedrosa, soube valorizar
meus passos, paciente e que conduziu com sapiência e eficiência o nosso diálogo.
O Professor Henrique Fernandes, que com seu dinamismo, pôde colaborar
nesta pesquisa.
A Professora e Doutora Marília, meu muito obrigado. Sua colaboração foi
importante na caminhada.
Ao professor Fábio Pedrosa, sua forma humilde de fazermos enxergar, na
busca do ideário convocante, as políticas do desenvolvimento ambiental.
A Professora Niédja, quanta admiração tenho pela sua pessoa.
Dona Célia, a secretária do Mestrado, compreendeu e ajudou sempre nas
dúvidas, as minhas idas e vindas quando necessitava de informações. Esteve
sempre presente.
Aos colegas do Mestrado: Ana Paula, Ana Rosa, Carmem, Claudia, Daniele,
Jacques, José Paulo, Livânia, Luciana, Luz, Maria Helena, Melissa, Nalva, Paulo,
Poliana, Rozângela, Tereza, Wislana.
Ao colaborador Leandro de Primavera, obrigado pela força nos trabalhos.
1 Trecho da música de Padre Reginaldo Manzotti. www.padrereginaldomanzotti.org.br. Acesso em
18.04.2012, 15:23h.
“Em tudo dai graças; porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”.
Tessalonicenses 5:16 -18.
RESUMO
DANTAS, Francisco das Chagas. AVALIAÇÃO DE EGRESSOS DO CURSO DE AGENTES DE DESENVOLVIMENTO LOCAL: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE PRIMAVERA-PE. 2012. 123 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável) - Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, Universidade de Pernambuco, Recife, 2012.
O presente trabalho apresenta o resultado de uma avaliação de egressos do curso de Agentes de Desenvolvimento Local, que envolveu vinte jovens do município de Primavera, estado de Pernambuco, que buscaram as vivências e oportunidades no campo, através da formação pedagógica, cujo objetivo se deu através do Serviço de Tecnologia Alternativa - SERTA. Identifica-se como eixo da formação pedagógica a PEADS – Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável. Na descrição resgatou-se as diversas oportunidades que estes encontraram para tornar o campo, lugar de vida, com olhar sobre suas propriedades e o entorno. Relata a juventude do Brasil rural, e sua relação com o desenvolvimento sustentável e inclusão do tema “juventude” na pauta das políticas públicas locais. O trabalho faz uma análise dos cenários em que as iniciativas estão efetivamente envolvendo esta juventude. Ainda descreve a parcela de participação da agricultura familiar no desenvolvimento sustentável. Como resultado, constata-se que 60% dos jovens do sexo masculino foram selecionados para o curso, prevalecendo os homens a sair de casa. E que 84% do total participam de Associações e movimentos religiosos. Desta feita, dos pesquisados, 95% afirmaram que a formação foi de bom a excelente. O desenvolvimento pessoal, social e profissional dos jovens depois de formados, impulsionou as competências e habilidades para o enfrentamento das diversas situações que afligem o rural brasileiro, pois destes, 93% afirmaram que sua vida melhorou depois do curso. Os jovens puderam ter acesso a uma formação diferenciada. O campo é lugar de oportunidades e vivências para a juventude. Pode-se dizer que estas duas questões têm haver com a percepção do encontro que religa e transforma as realidades, pois 95% dos jovens concluíram que é no campo que se concretizam as oportunidades e vivências e que dele pode-se dizer que é uma questão de qualidade de vida.
Palavras chave: Juventude; Educação do Campo; Desenvolvimento Sustentável; Empreendedorismo.
ABSTRACT
This paper presents the results of an assessment of students who graduated from Local Development Agents, which involved twenty young people of the city of Spring, state of Pernambuco, who sought the experiences and opportunities in the field, through teacher training, aimed occurred through the Serviço de Tecnologia Alternativa - SERTA. He identifies himself as the axis of pedagogical training PEADS – Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável. In describing rescued up the many opportunities that they have found to make the field, instead of living with their properties and look around. Reports the youth of rural Brazil, and its relationship with sustainable development and the topic "youth" on the agenda of local public policies. The paper makes an analysis of scenarios in which the initiatives are effectively involving the youth. Also describes the share of participation of family agriculture in sustainable development. As a result, it was found that 60% of young males were selected for the course, whichever men to leave home. And that 84% of the participating associations and religious movements. This time, of those surveyed, 95% said that the training was good to excellent. The personal, social and professional development of young people after graduation, boosted the skills and abilities to cope with various situations that afflict rural Brazil because 93% of them stated that their life improved after the course. The young people had access to training differently. The field is a place of opportunities and experiences for youth. You could say that these two issues have to do with the perception that the encounter reconnects and transforms the realities, as 95% of young people concluded that it is in the field that materialize the opportunities and experiences and that it can be said that is a question quality of life. Keywords: Youth, field education, Sustainable Development, Entrepreneurship.
ANEXOS
Anexo 1 – Questionário de Pesquisa de Campo – Jovens ..................................... 119
LISTA DE MAPAS
Mapa 1. Localização do IDH – Região de Desenvolvimento Mata Sul-PE. ............... 58 Mapa 2. Localização de Primavera - PE ................................................................... 59 Mapa 3. Localização da microrregião da mata meridional – PE................................ 59 Mapa 4. Localização do município de Primavera na Mata Sul .................................. 60
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Perfil dos consumidores de produtos orgânicos ....................................... 44 Quadro 2. Calendário anual de eventos de Primavera/PE. ....................................... 65
Quadro 3. Demonstrativo da quantidade de adolescentes formados. ....................... 79
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Agricultores Familiares - Renda total (RT) e renda monetária (RM) ......... 34
Tabela 2. População dos municípios da RD Mata Sul .............................................. 60 Tabela 3. Área dos Municípios da Zona da Mata Sul ................................................ 63 Tabela 4. IDH dos municípios. RD Mata Sul. Referência: [1991 e 2000]. ................. 64 Tabela 5. Dados demográficos do Município de Primavera-PE. ............................... 66
LISTA DE FOTOS
Foto 1. Desenvolvimento Pessoal. Os jovens em apresentação teatral .................... 47
Foto 2.Rito de chegança dos jovens participantes da formação no campo da sementeira, Glória do Goitá....................................................................................... 54 Foto 3. Parque industrial da Usina União no município de Primavera ...................... 62 Foto 4. Vista panorâmica da Cachoeira do Urubu-Primavera/PE. ............................ 63 Foto 5. Formação de ADL. Poço da Cruz, Ibimirim,PE. ............................................ 68
Foto 6. Participação dos produtores em capacitações – SERTA. ............................. 70 Foto 7. Visita de alunos em atividades práticas ........................................................ 71 Foto 8. Devolução da pesquisa nas comunidades - PEADS ..................................... 72
Foto 9. Momento de reflexão e avaliação da prática ................................................. 73 Foto 10. Espaço pedagógico no Campo da Sementeira, Glória do Goitá-PE. .......... 73 Foto 11. Imagem da fachada lateral do Campo da Sementeira. ............................... 74 Foto 12. Tecnologias apropriadas - galinheiro por andar com hortas de tonel .......... 75
Foto 13. Tecnologias apropriadas - horta de pneus. ................................................. 75 Foto 14. Atividade pedagógica com presença do educador (Abdalaziz de Moura). .. 76 Foto 15. Aula inaugural dos jovens de Primavera-PE. .............................................. 85 Foto 16. Aula inaugural. Satisfação dos jovens......................................................... 86
Foto 17. Aula inaugural. Rito de passagem, chegada dos jovens. ............................ 86 Foto 18. Manutenção dos espaços pedagógicos ...................................................... 88
Foto 19. Produção pedagógica – Atividades dos gráficos – identidade dos jovens .. 88 Foto 20. Produções das Atividades. Quem sou eu ................................................... 89 Foto 21. Visita à mata – curso formação de jovens. .................................................. 90
Foto 22. Alunos em formação com pesquisa nas feiras - Empreendedorismo. ........ 91 Foto 23. Entrega do veículo caminhão aos jovens e produtores. .............................. 92
Foto 24. Jovens comercializando na feira – Cordeiro, Recife-PE ............................. 93
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1. Idade dos jovens. ...................................................................................... 99 Gráfico 2. Estado Civil dos jovens ........................................................................... 100 Gráfico 3. Sexo dos jovens...................................................................................... 100
Gráfico 4. Escolaridade dos jovens ......................................................................... 101 Gráfico 5. Lugar onde mora atualmente. ................................................................. 101 Gráfico 6. Em que você trabalha e consegue renda ............................................... 102 Gráfico 7. Participa de alguma entidade social ....................................................... 103 Gráfico 8. Envolvimento com as políticas públicas locais ....................................... 103
Gráfico 9. Nível de envolvimento do gestor municipal com as políticas públicas. ... 104
Gráfico 10. Qual nível de envolvimento das ONGs nas Políticas Públicas ............. 105
Gráfico 11. Grau de aceitação das entidades sociais. ............................................ 105 Gráfico 12. Aprendizado no curso do SERTA ......................................................... 106 Gráfico 13. Aceitação da metodologia usada durante o curso. ............................... 106 Gráfico 14. Avaliar sua participação durante o curso .............................................. 107
Gráfico 15. Que nota você daria a você mesmo ..................................................... 107 Gráfico 16. Nota ao curso de ADL ........................................................................... 108
Gráfico 17. Participação na propriedade da família, enquanto ADL ........................ 108 Gráfico 18. Nível de envolvimento nas propriedades dos vizinhos ......................... 109 Gráfico 19. Nível de desenvolvimento de sua propriedade depois do curso. .......... 109
Gráfico 20. Depois do curso no SERTA a qualidade de vida de sua família ........... 110 Gráfico 21. Depois do curso no SERTA sua qualidade de vida. ............................. 110
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ADL – Agente de Desenvolvimento Local
ATER – Assistência Técnica e Extensão Rural
CEBs – Comunidade Eclesiais de Bases
CECAPAS – Centro de Capacitação e Acompanhamento aos Projetos da Seca
CEF – Caixa Econômica Federal
CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social
CNBB – Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil
CONDEPE – Empresa de Desenvolvimento de Pernambuco
CONDRAF – Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável
CONJUVE – Conselho Nacional de Juventude
CTAF – Centro Tecnológico da Agricultura Familiar
CTC – Círculo de Trabalhadores Cristãos
DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra a Seca
ECOORGÂNICA – Cooperativa dos Produtores Orgânicos
EUA – Estados Unidos da América
FAO – Fundo das Nações Unidas para a Agricultura
FIDEM – Fundação de Desenvolvimento de Pernambuco
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
IFOAM - International Federation Organic Agriculture Movement
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário
MEC – Ministério da Educação
NA - Núcleo de Atendimento
ONU – Organização das Nações Unidas
OSCIP – Organização da Sociedade Cívil de Interesse Público
PEADS – Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável
PIB – Produto Interno Bruto
PNCF - Programa Nacional de Crédito Fundiário – PNCF
PROÁLCOOL - Programa Nacional do Álcool
PRONAF - Programa Nacional da Agricultura Familiar
PRONATER - Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária
PTC - Programa Territórios da Cidadania
RM – Renda Monetária
RT – Renda Total
SERTA – Serviço de Tecnologia Alternativa
STTR – Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
TC – Território da Cidadania
UPPO – Unidade Pedagógica de Produção Orgânica
ZM – Zona da Mata
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 18
Objetivo ............................................................................................................ 20
Objetivos específicos ........................................................................................ 20
Estruturação da pesquisa ................................................................................. 20
CAPÍTULO I ...................................................................................................... 27
1. A JUVENTUDE RURAL ................................................................................. 27
1.1 Os acontecimentos marcaram a trajetória da juventude rural ...................... 28
1.2 A Política Nacional de Juventude Rural ....................................................... 29
1.3 A globalização dos mercados na era do desenvolvimento sustentável ........ 31
1.4 As tecnologias e o desenvolvimento sustentável ......................................... 31
1.5 Presença das instituições sociais nas ações de desenvolvimento local ....... 32
1.6 Juventude e agricultura familiar................................................................... 33
1.7 A participação da agricultura familiar na economia nacional ........................ 33
1.8 Estratégia agroecológica, mercado, território e juventude ........................... 36
1.9 A política nacional da juventude do campo .................................................. 41
CAPÍTULO II ..................................................................................................... 47
2. A EDUCAÇÃO DO CAMPO E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ........ 47
2.1 Desenvolvimento Local Sustentável ............................................................ 47
2.2 A educação na perspectiva de autonomia pedagógica ................................ 48
2.3 A educação do campo ................................................................................. 52
2.4 Por uma educação do campo diferenciada .................................................. 52
2.5 Juventude e educação do campo ............................................................... 54
2.6 Os saberes como estratégia para o desenvolvimento sustentável ............... 54
CAPÍTULO III .................................................................................................... 57
3. ONDE VIVEM OS JOVENS DA PESQUISA .................................................. 57
3.1 A Zona da Mata Sul de Pernambuco ........................................................... 57
3.2 Local de realização da pesquisa ................................................................. 58
CAPÍTULO IV ................................................................................................... 67
4. O SERTA E A FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DOS JOVENS ADL ................... 67
4.1 A Proposta pedagógica PEADS .................................................................. 69
4.1.1 Primeira etapa – Pesquisa e diagnóstico participativo .............................. 69
4.1.2 Segunda etapa – aprofundamento ........................................................... 70
4.1.3 Terceira etapa – devolução e plano de ação ............................................ 71
4.1.4 Quarta etapa – Avaliação Processual ....................................................... 72
4.2 Aliança com o Adolescente ........................................................................ 73
4.3 As experiências com iniciativas locais ........................................................ 74
4.4 A equipe de educadores ............................................................................ 76
4.5 Estratégias centradas na aprendizagem ..................................................... 77
Formação de jovens ......................................................................................... 78
4.6 - A Formação Pedagógica do Agente de Desenvolvimento Local ................ 82
5. METODOLOGIA DA PESQUISA .................................................................. 94
5.1 O método “V” epistemológico de Gowin ...................................................... 94
5.2 A abordagem centrada nos jovens .............................................................. 95
5.3 Os instrumentos para coleta de dados ....................................................... 97
5.4 As entrevistas ............................................................................................ 97
5.5 Análise dos dados ...................................................................................... 98
5.6 O universo da pesquisa ............................................................................. 98
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 99
7. CONCLUSÃO ............................................................................................. 112
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 114
18
INTRODUÇÃO
“Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”.
Paulo Freire.
Quando decidi pesquisar o tema, o professor e coordenador do curso do
mestrado em GDLS2, Ivo Pedrosa, falou da preocupação de estudarmos temas que
por ventura não viessem coincidir com as relações individuais dos alunos. Entendi
que a minha prática, com mais de vinte anos de trabalho, não poderia ser inserida
neste cenário, até então. Más, mesmo assim, o professor ainda entendia que outros
colegas professores apresentaram em suas aulas discussões sobre esta
possibilidade de usar os trabalhos na primeira pessoa.
A necessidade da pesquisa se deu neste ato, por força expressiva em
registrar e, está a partir de agora, à disposição da academia e demais interessados
no assunto.
A estruturação teórica discorreu-se sobre os diversos momentos em que
passei enquanto educador dos jovens, no município de Primavera.
Quantos aprendizados foram construídos! A troca foi, apenas, poucos e bons
modos do cotidiano: bom dia, boa tarde, como vai? Quanto tempo! Como está o
senhor? Por onde andas? O que tens feito? Estes modos, que pareciam já ter sido
excluídos do dicionário, foram se firmando na convivência dos jovens e suas
famílias.
Na visão de Worcman (2001, p.15), a história não deve ser pensada apenas
como resgate do passado, mas sim utilizada como marco referencial a partir do qual
as pessoas redescobrem valores e experiências. Reforçam vínculos presentes.
Criam empatia com trajetórias e podem refletir sobre as expectativas dos planos
futuros.
Tive que fazer diversas leituras, dialogar com os jovens, professores,
mergulhar na literatura para alocar os acontecimentos, enxugar as informações e
aprender novamente, com mais vigor, o que os jovens tinham tanto para falar sobre
eles, o SERTA, suas famílias e o futuro.
2 GDLS – Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável.
19
As dinâmicas e rotinas foram sempre inovadas, busca incansável por aulas
sempre bem animadas, com a presença dos pais, de palestrantes, colaboradores,
de dois ou até três educadores por grupos para valorização do aprendizado. Esta
experiência que os jovens puderam receber será sempre um ponto de partida para
suas iniciativas, tanto na vida pessoal como profissional.
ingressei na formação de jovens em 2002, aos 16 anos, quando me foi apresentado um novo mundo. Tive contatos com várias temáticas, entre elas o microcrédito. Os dois anos de formação como ADL foi um período de nova leitura da realidade socioeconômica local. É como se ingressasse num novo mundo de oportunidades, um momento de construção, de significado para sua vida. A formação foi pautada nas nossas experiências de vida, realizamos pesquisas, conhecemos e construímos os desenhos de nossas propriedades, aprendemos o real sentido de ser solidário, realizamos mutirões, estágios, negociamos propostas de melhoria da qualidade de vida das pessoas das comunidades junto aos gestores municipais. Era uma formação com respeito aos nossos saberes.
Entende-se que a dinâmica da formação tomou rumos distintos, quando
entraram em cena os jovens da zona da mata sul. Enquanto se formavam os do
agreste e alguns da mata norte do Estado de Pernambuco, tudo era centrado em
quatro municípios: Feira Nova, Lagoa do Itaenga, Pombos e Glória do Goitá. A
expansão do curso pôde fortalecer o debate que a zona da mata não servia apenas
para produzir cana e receber os investimentos em indústrias. Podia ter outros vieses
para o desenvolvimento, principalmente com a participação da juventude do campo.
O processo formativo de jovens, oriundos da zona rural, de uma região
basicamente canavieira, sem perspectivas para a juventude do campo, poderá ser a
alternativa que estaria faltando para termos um novo cenário com a juventude
coerente de que realmente merece ser.
O que se pode dizer é que o campo precisa de apoio e não de projetos
isolados. Por isso, esta lacuna se fecha quando entendemos que o campo tem outro
sentido:
faz parte do campo um outro olhar nas ciências sociais, no pensamento sobre modelos de desenvolvimento e também no pensamento educacional. Eles mostram que educação do campo nasce, sobretudo, de um olhar a partir do papel do campo em um projeto de desenvolvimento e a partir dos diferentes sujeitos do campo. Um olhar que projeta o campo como espaço de democratização da sociedade brasileira e de inclusão social, e que projeta seus sujeitos como sujeitos de história, e de direitos, como sujeitos coletivos de sua formação enquanto sujeitos sociais, culturais, éticos, políticos
3.
3 Citação da apresentação do livro: por uma educação do campo. Elaborado por ARROYO, Miguel
Gonzalez, CALDART, Roseli Salete, MOLINA, Mônica Castagna. Petrópolis, RJ : Vozes, 2004.
20
Tudo que os jovens afirmaram durante a pesquisa são dados verídicos, das
ações no campo da formação, do dia-a-dia, das vivências e oportunidades de viver
no campo que graças pude conviver e reviver cada momento.
Tomei bastante cuidado na elaboração deste estudo, considerando sempre os
valores e saberes dos cientistas, jovens, educadores, famílias dos jovens, parceiros,
estudiosos, escritores, autores e professores que em suas fontes, fui por vezes,
saciado pelos saberes construído ao longo de anos de dedicação ao conhecimento
sobre o assunto em tese.
Objetivo
Realizar uma avaliação de egressos do curso de Agentes de
Desenvolvimento Local, através do estudo de caso no município de Primavera-PE,
através de diversos olhares, com vários lugares, oportunidades, compreensões que
tornam o ambiente rural interconectado em redes, participando de diálogos,
vivências, rotinas animadas e afirmação da felicidade em viver e morar no campo.
Objetivos específicos
analisar o cotidiano dos jovens e sua atuação frente às Políticas de
Desenvolvimento Local do Município de Primavera;
identificar estratégias de resistência, vivências e oportunidades de viver no
e do campo, na lógica do Desenvolvimento Local Sustentável;
Estruturação da pesquisa
A presente pesquisa está estruturada em seis capítulos. No primeiro capítulo
são apresentadas as questões ligadas à juventude do Brasil Rural, as tendências e
dinâmicas das políticas de desenvolvimento e como a juventude se comporta diante
dos novos cenários.
No segundo capítulo foi abordada a questão da Educação do Campo e o
Desenvolvimento Sustentável. No terceiro abordamos onde vivem os jovens, sujeitos
21
da pesquisa, e quarto capítulo a abordagem teórica do SERTA e a formação
pedagógica dos jovens ADL.
Segue com apresentação da metodologia usada durante a pesquisa, por meio
de abordagem metodológica com leitura bibliográfica, pesquisas de internet e
aplicação de questionário, com posterior sistematização em que se certificou do
cotidiano dos jovens e sua atuação frente às políticas de desenvolvimento local do
município. Identificou estratégias de vivências e oportunidades de viver no campo na
lógica do desenvolvimento local sustentável, bem como atuação dos mesmos em
suas propriedades e vizinhos, como estes estão atuando nas ONGs – Organizações
Não Governamentais e como os gestores os vêem.
O estudo ainda apresenta resultados sistematizados do dados coletados, com
informações, análises e, posteriormente, a conclusão com recomendações e
sugestões sobre o trabalho.
Minha vida, a história dos jovens pesquisados4
Esta dissertação agrega uma experiência vivenciada com vinte jovens
formandos como ADL no município de Primavera, e sempre trago esta pesquisa
para minha vida, pois, desde a juventude, em que resolvi, nos 17 anos, deixar a
Paraíba e conviver com o povo pernambucano, onde pude aprender, de forma
humilde com muita força e esperança, as proezas e saberes deste povo que me
acolheu com muita energia e lealdade.
Não imaginava que minha vida e minha história fossem confundidas com a
dos atores principais desta pesquisa: os jovens de Primavera. Pequeno município da
zona da mata sul de Pernambuco, que tiveram sua trajetória bem ao destino que o
meu, como filho de casal nascido na roça, cheio de saúde, bem humorados, que
mesmo com muita disposição para criar os nove filhos, a terra cedida foi o esteio da
sustentação, no recanto do sertão paraibano.
De formado na Escola Agrotécnica, a aprendiz no CECAPAS5
4 ADL – Agente de Desenvolvimento Local. Jovens formados no SERTA – Serviço de Tecnologia Alternativa.
5 CECAPAS – Centro de Capacitação e Acompanhamento aos Projetos Alternativos da Seca.
22
Quando concluí o curso de Técnico em Agropecuária, na Escola Estadual
Agrotécnica de Catolé do Rocha6, no ano de 1986, no Estado da Paraíba, terra onde
nasci, as chances de um emprego, na época, eram extremamente remotas e não
sabia bem o que iria fazer depois de concluí-lo.
Havia um colega chamado Toinho de Bamam7, que eu conheci na Escola
Agrotécnica com um trabalho ligado à igreja católica de Catolé do Rocha. A
Paróquia tinha um trabalho com grupos de famílias plantando horta em Riacho dos
Cavalos, onde eu morava.
Eram pessoas muito conhecidas: Balbina Aquino, Maria das Dores, Maria de
Nelson, etc. Tinham atuação religiosa, ligadas ao trabalho de evangelização na
comunidade, com jovens e produtores que ali residiam.
Um dia, voltando dos últimos ajustes de notas, de entrega de boletins, de
encerramento do curso, em conversa com Toinho, ele me fez um convite para
participar de um curso sobre agricultura alternativa, na cidade de Pesqueira, no
Estado de Pernambuco.
Eu nunca tinha ouvido falar de “agricultura alternativa”. E foi aí que tudo
começou.
A oportunidade foi ímpar na minha vida. Deste momento em diante, muito dos
diálogos, conversas e exposições teóricas dos professores, colegas de sala, de
amigos da escola, do diretor, do coordenador do curso e, principalmente, de minha
família, foram discorrendo sobre a luz, acendida para meu futuro, e que, muitos,
acredito, não tiveram a felicidade de ter a oportunidade que tive, desde aquele
convite que tornou, acho, meu destino, perto, muito perto mesmo, dos agricultores,
suas famílias e da história que construí ao longo de 23 anos de lutas, curvas,
estradas longas, esburacadas, de altos e baixos, crenças, descrenças e alegrias.
Estas questões aparecem como prova de fogo para nossa vida. Embora com
pouca idade, havia um diálogo com minha família para que eu fosse em busca de
oportunidades. A idéia não era simplesmente viajar, e sim tentar conseguir formas
de melhorar de vida, por causa do curso de técnico em agropecuária, realizado no
5 Com mais de 55 anos, a Escola localiza-se na região do semi-árido, na mesorregião do Sertão Paraibano, na cidade de Catolé do Rocha - PB, situada na comunidade Cajueiro, localidade denominada de Sitio Cajueiro, um imóvel com 102,1 hectares. Acesso em 24 de março de 2012 em: http://www.uepb.edu.br/index.php. 7 Toinho atualmente está morando em João Pessoa, desenvolvendo trabalhos com jovens pela Diocese de João
Pessoa – PB.
23
chamado “cajueiro”, escola que ainda hoje se mantém viva na luta pelo ensino do
rural na Paraíba.
A experiência no Cecapas
A experiência em pesqueira se dava com uma instituição por nome de
CECAPAS – Centro de Capacitação e Acompanhamento aos Projetos Alternativos
da Seca.
Esta instituição pertenceu a Igreja Católica, mais precisamente a Diocese de
Recife, por meio da CNBB, NE-II, cujo Diretor Geral, com o cargo de Secretário
Executivo foi Sr. Enes Paulo Crespo. Fundador e entusiasta desta ideia, cuja missão
era a formação de produtores em técnicas alternativas para que os mesmos
pudessem replicar em suas comunidades.
Moura (2004, p. 24), afirma no seu livro sobre a PEADS que,
a idéia inicial desse Centro de Capacitação foi do Sr. Enes Paulo Crespo, quando então era subsecretário regional da Conferência dos Bispos. Na época, havia um setor de apoio a projetos econômicos na própria Conferência dos Bispos, que inspirava outras instituições públicas e privadas a seguirem o exemplo. A seca prolongada de 1980 a 1983 provocou diversos sujeitos sociais a encontrarem-se numa Conferência Regional em Caucaia, estado do Ceará, em julho de 1983, e a constatação geral era de que os grupos comunitários que recebiam apoio usavam os recursos com as mesmas tecnologias e conhecimentos tradicionais de sempre e voltavam para o mesmo estágio de pobreza. Os apoios financeiros não alcançavam os resultados esperados.
8
Então, cada vez os produtores iam conversando com seus vizinhos, esposas,
amigos, familiares. Estas eram sempre validadas pelos técnicos.
Os trabalhos eram feitos de forma que os agricultores ao chegarem ao
CECAPAS passavam uma semana de capacitação. Diversos eram os cursos:
agricultura alternativa, horticultura, piscicultura, caprinocultura, plantas medicinais,
etc. Tomavam café, almoçavam e jantavam juntos ainda tinham a participação nas
aulas práticas, com acompanhamento técnico de Antonio Roberto Mendes,
Sebastião Alves, Fernando, Abdalaziz de Moura dentre outros.
Havia momentos de reflexão, quando os participantes podiam falar sobre a
experiência, conversar com os técnicos e contarem de suas expectativas e do que
eles estavam planejando ao regressarem aos seus sítios e comunidades.
8 O homem e a seca no Nordeste, seminário sobre a convivência com a seca, CNBB NE II – 1984, Recife-PE.
24
Tive a oportunidade de participar de vários cursos em Pesqueira, através do
Cecapas. No mesmo período, fui convidado para continuar no Centro, pois, ali abrira
uma vaga para estágio.
Nas diversas reuniões sobre tecnologias, quando no regresso ao seio da
família, da comunidade e dos amigos, era lamentável escutar críticas e comentários
do que estes cruzavam com o seu dia a dia.
Que coisa! Como pode não queimar mato, vamos botar fogo, depois que você terminar de fazer esse serviço”. “Agora fulano endoidou, não toca fogo mais no mato”.
Como diz o ditado, “não há mal que não traga um bem”. Isso foi uma gota
d´agua para o Cecapas pensar numa estratégia de visitar os produtores, e com eles,
traçar formas de conversar com os vizinhos sobre o uso das tecnologias.
Não imaginávamos que esta estratégia também serviria, na época, para
desbravar um trabalho de convivência com as famílias. Dos técnicos poderem
conviver de forma espetacular, ter seu dia a dia nos sítios, acordar com o cantar do
galo, do mugido das vacas e ovelhas. Preparar a teoria para viver a pratica e
preparar a prática a serviço da agricultura familiar.
Quantos momentos bons se foram. Apesar de tudo, das experiências que
pude adquirir foram: a leveza, o amor, a caridade e a felicidade de poder conviver
com tantas famílias.
Meu primeiro emprego e minha primeira experiência fora de minha família, de
minha casa, meus irmãos, foi o CECAPAS.
Passei a morar em Gravatá9, no início, com o apoio maciço do pessoal do
Circulo dos Trabalhadores Cristãos de Gravatá, pelo qual tenho lembranças
marcantes. Desde o primeiro dia, quando cheguei para me apresentar aos diretores
e até então, da decisão de onde eu dormiria, para, bem cedo partir para a
comunidade de Palmeiras.
Bem cedo, às 4 da manhã, fui acordado por Sr. Luis, esposo de Dona da Paz,
uma colaboradora e desbravadora da experiência da agricultura alternativa naquele
município. Dormi na casa dela e, bem cedo fui de ônibus para o sítio de Zuca10.
9 Gravatá fica situado no Agreste Setentrional de Pernambuco, distante cerca de 80 km da capital Recife. Na
época quando estive convivendo com as famílias, estava no auge de venda das propriedades rurais por causa do plano Collor. 10
Zuca teve uma expertise na produção de hortaliças, cuidava de uma pequena propriedade na Vila São Severino de Gravatá, no município de Gravatá.
25
Este companheiro era um agricultor que fazia parte dos que já haviam
passado pelas capacitações no CECAPAS, em Pesqueira, e que tinha contribuído
com as informações de replicação das técnicas nas comunidades, juntamente com
Dona Alzira, Anacleto, Cícero de Palmeiras e Mariano.
No encontro com Zuca, pudemos conversar sobre a possibilidade de uma
reunião com a comunidade de Palmeiras onde fui apresentado, daí acertamos a
agenda da semana. Algumas tarefas foram sendo executadas, como visitar algumas
famílias, tomar café na casa dos agricultores, almoçar com outra família e fazer
algumas técnicas como: curvas de nível, composto, enleiramento, faixa de retenção,
cobertura morta e roço para fazer a cobertura verde.
Estes momentos marcaram profundamente minha vida e que trago até hoje
na lembrança. Ali eu me via não como um técnico, e sim como um “companheiro” da
comunidade.
Fomos discutindo forma simples e barata de produzir, de cuidar dos roçados,
de não queimar, de plantar contra as águas, de colher sem uso de veneno. A
experiência serviu para que pudéssemos aumentar o entendimento que os
agricultores tinham sobre a falta de recursos para apoiar e subsidiar a agricultura.
Esta porta de entrada para o trabalho com os agricultores, pode cativar uma
espécie de compromisso com a luta da pequena produção rural. Isto se deu,
sobretudo, ao idealizador do trabalho com as comunidades. Abdalaziz de Moura foi
figura que iluminou, aos olhos de Deus, os caminhos, para que pudéssemos (Eu,
Márcio Praxedes, João Clementino, Joseilton, Bené, Adeildo, Flávio entre outros11)
provar do deleite da vida rural, como outros tantos, que não tiveram a chance e se
“enveredaram” no caminho de outras tantas oportunidades na profissão de técnico
em agropecuária.
O jovem também pode ser educador de outros jovens
No SERTA – Serviço de Tecnologia Alternativa eu pude perceber que estava
nascendo uma instituição para dar sustentação ao trabalho de base realizado pelo
CECAPAS.
11
Estes técnicos se formaram no CECAPAS, todos trazidos de Catolé do Rocha com apoio dos que vinham antes, informavam aos demais e também pelos convites recebidos pelas Paróquias envolvidas no projeto de Tecnologias Alternativas.
26
Construída com esforço e dedicação para alavancar a agricultura alternativa,
que fazia contraponto com o modelo da monocultura a entidade teve suas origens a
partir do trabalho feito anteriormente nos locais que atuávamos pelo Cecapas.
Depois de várias tentativas de estruturação de um trabalho com os
produtores, os recursos vindos da Europa foram encerrando seus contratos e a
equipe resolveu fundar o SERTA no ano de 1989.
Os trabalhos já estavam firmados nas comunidades, dos municípios de
Surubim, Bom Jardim, Orobó, João Alfredo, Gravatá, Chã Grande e Tacaimbó. Daí
fomos caminhando em direção a estes municípios e depois para os da mata sul e
mata norte, onde a instituição dispõe de uma sede e em seguida, o de Ibimirim,
município pernambucano no sertão do Moxotó.
Falarei especificamente no Capítulo IV, item 4 sobre a referida instituição.
Assim, busquei descrever na abertura desta dissertação estas questões para
entendermos que a história dos jovens se confunde com a minha e vice-versa.
27
CAPÍTULO I
1. A JUVENTUDE RURAL
“Quando os problemas se tornam absurdos, os desafios se tornam apaixonantes.”
Dom Helder Câmara.
Para entendimento do estudo apresentado, faz-se necessário compreender o
contexto desta juventude rural. No Estado de Pernambuco, cenário de tantas
batalhas pela terra, pelo pedaço de chão, faz-se necessário, entender a dinâmica da
zona da mata pernambucana, historicamente conquistada sob o comando de Duarte
Coelho, entre 1553 e 1580.
Mesmo com tantas terras desocupadas, somente interessava as várzeas dos
“pequenos rios no solo massapé e as facilidades do transporte fluvial”.
A história da região se confunde com a história das famílias que nela
resistiram, se envaideceram de tantas léguas de terras, se confunde com a vida dos
jovens que ainda resistem a viver no campo, buscando no torrão a forma mais
saudável de viver.
Entre 1933 e 1942, três grandes livros publicados alimentaram a imaginação
dos jovens brasileiros e os estimularam a refletir sobre seu país: Casa-Grande &
Senzala, de Gilberto Freyre12; Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda13 e
Formação do Brasil Contemporâneo14 de Caio Prado Júnior. Sobre a "composição
libérrima" de Casa-Grande & Senzala, atribuindo ao escravo uma importância ímpar
e decisiva na formação do ser mais íntimo brasileiro, e a abordagem da vida sexual
de forma tão franca, disse, ainda, que os pósteros não faziam idéia de sua força
revolucionária e seu impacto libertário.
12
O livro Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freire publicado em 1 de dezembro de 1933, relata os fatos marcantes da época da formação sociocultural do Brasil. Por meio dele, Freyre destaca a importância da casa grande na formação sociocultural brasileira bem como a da senzala que complementaria a primeira. 13
Livro publicado em 1936 pela Editora José Olympio, Raízes do Brasil aborda aspectos centrais da história da cultura brasileira. O texto consiste de uma macro-interpretação do processo de formação da sociedade brasileira. Destaca, sobretudo, a importância do legado cultural da colonização portuguesa do Brasil e a dinâmica dos arranjos e adaptações que marcaram as transferências culturais de Portugal para a sua colônia americana. 14
Lançado em 1942, o livro traz uma obra inusitada que relata em torno dos três séculos do Brasil colônia.
28
Os jovens citados nos livros, com tantos contos, causos, pronúncias, sua
beleza física e potencial padrão de trabalho pesado, apegados ao amor de sua raça,
buscando forças para retornar ao convívio social eqüidistante dos continentes, à
terra deixada para traz, numa nova relação com índios, desusados em tarefas
próprias de trabalho construtivos, meninas abusadas pela força dos senhores de
engenhos, dos coronéis, padrastos, das mães-de-leite, surrateadas como escravas e
como mão-de-obra na casa grande, na senzala, amarradas como animais.
Prevalece vivas e passantes na história estas imagens. Hoje estas imagens
estão no cenário da região, de outra forma. O lugar de pouso desta pesquisa,
resultando nesta dissertação, faz juz à dedicação da memória viva e vivida no
campo, ainda que forçados, resistindo ao rural desordenado, esquecido, voltado
para o agronegócio e ainda despercebido pelos poderes.
1.1 Os acontecimentos marcaram a trajetória da juventude rural
As terras da mata pernambucana, ainda que desmatadas, cortes e
carregamentos de madeiras, produção de cana-de-açúcar, serviram de apoio ao
cultivo e formação das pequenas propriedades rurais, desmembradas dos engenhos
nos fins do século XVI para refúgio dos jovens oprimidos pelo sistema dominante:
índios e negros revoltosos.
Ali passaram as tropas repressoras, as mais diversas de muitos combates
que se travaram. O acordo com Ganga – Zumbi envolvia terras ali situadas.
Pode-se entender que o trabalho e a vida das pessoas da região puderam
configurar em modelos de desenvolvimento avançados na época, todavia os
avanços tecnológicos com a chegada dos engenhos de cana-de-açúcar, embora
relativamente pequenos, intensificaram a produção.
A chegada das estradas de ferro e das usinas provocou reviravolta. Sem
capacidade produtiva para concorrer com as usinas, os engenhos passaram a
fornecer matéria prima ou produzir sua própria vida econômica, como o caso de
aguardente de cana-de-açúcar.
Este cenário tomou conta de toda a região, de solos rasos, ricos em ferro,
produtivos e arrojados, de pessoas trabalhadoras, sem estudo algum, sem
oportunidades e desvalidos de participação no lucro exorbitante dos donos de
usinas, subsidiadas pela economia governamental.
29
Por volta dos anos 1950 o parque das usinas começa a perder terreno para o
sul do Brasil, tecnologicamente em crescente avanço financeiro.
Passaram-se anos, e nas lutas travadas, não tardou para que os movimentos
sociais surgissem com afinco na perspectiva de conquistas sociais significativas,
quase invisíveis aos olhos do poder e dos donos da economia exorbitante na época.
Com a decadência da dinâmica da cana-de-açúcar, o modelo tradicional de
cuidar da terra, explorando de forma desordenada, descontrolada, acabou sendo o
vilão da urbanização desordenada onde famílias deixaram seu torrão para habitarem
em lugares favelados, sem condições sociais nenhuma.
A realidade foi se estendendo por anos e anos. De acordo com Moraes15,
(2004, pág. 20), o caminho poderia ser esse mesmo,
se não fosse o trabalho realizado pelo SERTA – Serviço de Tecnologia Alternativa, quando resolveu selecionar 20 jovens do município de Primavera, na zona da Mata Sul de Pernambuco, para realizar a formação de ADL – Agente de Desenvolvimento Local, onde muda completamente a realidade da vida desses jovens, e dos demais que vieram posteriormente para o curso.
1.2 A Política Nacional de Juventude Rural
Não obstante no contexto de estudar as questões do Desenvolvimento, não
podemos negar a “existência” dessas juventudes. Em Sousa (2003, pág. 56),
as políticas governamentais, quase sempre são dirigidas para combater as questões da pobreza, da marginalidade, e da violência rural ou urbana como se fossem problemas pontuais e isolados. Ainda citando Sousa (2003, p.15), reforça que as Políticas assumem diferentes papéis, tanto no plano econômico, como no plano político.
Seu papel político não tem sido muito analisado, já que essas políticas
governamentais se situam no interior do jogo de forças que conforma um
determinado momento de uma sociedade. Essa mística caótica do Desenvolvimento
tem sido cada vez mais afirmada pelas iniciativas sociais, fortalecidas pela vontade
dos sujeitos nelas assumidas e efetivado os seus com as atitudes legítimas destes
segmentos.
15
O livro intitulado: Princípios Fundamentais da Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável escrito por Abdalaziz de Moura Xavier de Moraes em 2003 retrata aspectos significantes da estratégia pedagógica na formação de jovens, através da PEADS: Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável.
30
Em se tratando de tantas incertezas que o Desenvolvimento, da forma que
vem sendo conduzido pela Política, reforça o descaminho, torna-se concentrador,
autoritário. Segundo Santos (2006 p.34)
as formas como foram traçadas as estratégias de Desenvolvimento para os países pobres, conduziu ao endividamento internacional, à concentração de renda, à centralização de capital, à dependência e à exclusão social.
Os debates e reflexões que dominam a cena política e técnico-científica sobre
modelos e alternativas de desenvolvimento no Brasil são capazes de enfrentar os
desafios e problemas econômicos, sociais e ambientais contemporâneos. Estes
levam à formulação de novas concepções de desenvolvimento (endógeno, humano,
local) entre os quais se destaca a proposta uma das mais evidentes propostas, a de
desenvolvimento sustentável (BUARQUE, 2006, p. 15). Ainda citando Buarque
(2006, p.15)
as imprecisões e ambigüidades que ainda cercam os conceitos, todos os esforços recentes de desenvolvimento tem incorporados, de alguma forma, os postulados de sustentabilidade, procurando assegurar a permanência e a continuidade a médio e longo prazo, dos avanços e melhorias na qualidade de vida na organização econômica, nos novos modelos de educação e na conservação do meio ambiente.
O mundo avançou numa passagem instável e acelerada da velha “ordem
industrial para futura ordem da informação, na qual a única coisa realmente
constante é a mudança”. Essas mudanças demandam novas concepções e
percepções para novos paradigmas, como também tornam viáveis novas propostas
de organização da economia e da sociedade que, no passado recente, não
passavam de utopia.
As novas tecnologias promovem uma significativa economia do conteúdo de
energia e recursos naturais no produto das economias modernas, incluídos,
sobretudo,
processos de reciclagem e reprocessamento de recursos naturais, ao mesmo tempo em que elevam o peso relativo da tecnologia, das informações do conhecimento no valor agregado dos produtos e a importância da qualidade dos recursos humanos e da educação na competitividade. Por ouro lado, a mudança da estrutura produtiva, com a criação de novos produtos e serviços, especialmente as atividades terciárias e quaternárias, permite reduzir o impacto ambiental e as pressões do processo econômico sobre os ecossistemas.
31
De acordo com Armani (2006), Desde o final do regime militar e da
promulgação da Constituição de 1988, verifica-se uma grande ampliação da ação
social autônoma na sociedade civil brasileira,
Pelo menos dois fatores contribuíram para isso: a democratização da política não estão sendo acompanhados da redução da pobreza e das desigualdades sociais, muito pelo contrário, as oportunidades e as necessidades de ações sociais só têm crescido. O segundo fator é a crescente transferência de responsabilidades de parte do Governo Federal para as organizações da sociedade civil no tocante ao enfrentamento da problemática social.
Diante do fato de o Estado buscar novas estratégias de gerenciar seus
programas e ações, e diante da crise e da incapacidade diante das novas demandas
e dos novos desafios, tende-se a registrar-se em todo mundo, uma significativa
expansão do chamado terceiro setor.16 Uma grande quantidade de organizações
não governamentais passa a atuar em múltiplas e diversificadas áreas, desde a
direta prestação de serviços (escolas, unidades de saúde, assistência social e
segmentos desprotegidos da sociedade), até as atividades técnicas de pesquisa, de
estudos, ocupando um papel crescente na sociedade contemporânea.
1.3 A globalização dos mercados na era do desenvolvimento sustentável
A globalização dos mercados tem forçado países como o Brasil a abrirem
seus portos e expor seus produtos, serviços e uma concorrência com produtos e
serviços de outros países, que freqüentemente são bem mais baratos e de melhor
qualidade, devido ao maior avanço tecnológico de nossos concorrentes. Para
competir com eles de igual para igual, nosso país terá de realizar mudanças
profundas na estrutura e no funcionamento da produção e do Estado.
1.4 As tecnologias e o desenvolvimento sustentável
O surgimento de novas tecnologias como a robótica, a telemática e a
informática, que estão mudando inteiramente as feições do mundo do trabalho que
conhecemos ao longo do século XX, são as novas máquinas que já não apenas
16
Instituições de Direito Privado para prestação de serviços públicos, em parte contratadas e financiadas pelo Estado.
32
substituem o esforço muscular dos homens e dos animais e sim, de boa parte das
atividades que antes dependiam do cérebro dos trabalhadores (COSTA, 2001, P.
35).
Ainda afirmando o pensamento de Costa (2002), relata que,
este novo mundo do trabalho está a exigir da escola um novo trabalhador, polivalente, flexível, motivado, criativo, apto à participação e à interação com seus pares na geração de soluções para os problemas do cotidiano na produção de bens e serviços em quantidade cada vez maior, de qualidade cada vez melhor e a um custo cada vez mais reduzido.
Assim, a Educação passa por outros valores, outras vias, além da escola
tradicional de ensinar com o “giz e o lápis”. Os profissionais da educação também
devem incorporar o dinamismo da escola como estratégia de ingresso no mundo
comunitário e social.
1.5 Presença das instituições sociais nas ações de desenvolvimento local
Para atender as demandas identificadas no percurso da responsabilidade do
Estado, as iniciativas estão sendo desenvolvidas por Instituições Sociais,
Organizações Não-Governamentais, entidades de classe, e atualmente estas
iniciativas estão passando também pela rede pública de ensino. Com isso cresce a
cada dia o número de Escolas em parceria com as organizações sociais para
realizarem ações e obtêm recursos por meio de projetos. Mesmo a ação social no
âmbito governamental vem, cada vez mais, sendo projetada e gerenciada por meio
de projetos e programas.
Enquanto não surgirem inovações de âmbito local, de nada valerão longas
listas de objetivos, linhas de ação, propostas de política, formas de gestão.
As experiências mais avançadas indicam claramente que tais inovações
costumam ser impulsionadas pela elaboração de diagnósticos micro/mesorregionais
por organizações de pesquisa, de extensão e de educação popular capazes de
mobilizar e articular cooperativas, associações, enfim, os agentes sociais mais
dinâmicos de cada localidade.
33
1.6 Juventude e agricultura familiar
A agricultura familiar está sendo considerada como um todo complexo de
produção e convivência que reúne no mesmo ambiente e propósito a organização
da família e da economia local.
O conceito de agricultura familiar neste trabalho é o mesmo adotado pelo
Ministério do Desenvolvimento Agrário, que considera três condições simultâneas: a)
a gestão da unidade produtiva é feita pelo próprio produtor; b) a maior parte do
trabalho é executada por membros da família; c) a propriedade dos meios de
produção (embora nem sempre da terra) pertence à família.
As cadeias produtivas da agricultura familiar formam um contexto de relações
econômicas e sociais complexas que transcendem a propriedade e o ambiente rural
propriamente dito e se amplia na relação campo x cidade e nas relações
intersetoriais, uma vez que nos pequenos municípios brasileiros, o ambiente urbano
se completa com o ambiente rural e vice-versa.
Neste sentido, analisar a juventude em sua diversidade, aponta para que os
jovens busquem sua identidade no modo como eles se vêem. A agricultura familiar
sempre inibiu, mas nunca excluiu os jovens do seu lugar. Busca-se entender que os
mesmos tenham explicações sobre o que eles chamam de “jovens”, é que
a condição juvenil não implica, única e exclusivamente, atravessar um período difícil, ainda que passageiro, cuja melhor saída seria a entrada num mundo caracterizado pela hegemonia dos adultos. Ao contrario, as percepções dos jovens indicam que eles gostam de estar nessa condição, não se furtando, portanto, de usufruir de algumas das prerrogativas inerentes a ela(ABRAMOVAY, 2009, p. 40).
No contexto das atividades, perspectivas e dinâmicas trabalhadas por
instituições e movimentos sociais, o autor vê a agricultura familiar como irradiadora
de mecanismo para o desenvolvimento rural e, portanto, para o desenvolvimento do
país.
1.7 A participação da agricultura familiar na economia nacional
Com base nos dados do Censo Agropecuário 95/96 (IBGE), no Projeto
FAO/INCRA17 e de trabalhos divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário
17
INCRA/FAO. Novo retrato da Agricultura Familiar. O Brasil redescoberto. Brasília, 2000.
34
(MDA), dentre outras fontes, estudos já apontavam para uma participação
significativa da agricultura familiar brasileira no conjunto do PIB nacional.
Para o ano de 2003, por exemplo, tinha-se a estimativa de que o PIB das
cadeias produtivas da agricultura familiar alcançou R$ 156,6 bilhões - 10,06% do
PIB nacional – crescendo R$ 13,4 bilhões, ou 9,37% a mais que no ano anterior,
representando um crescimento superior ao crescimento do PIB nacional 18.
Segundo Andrade (2005), pelos dados do cadastro do INCRA de 2003,
observou-se um elevado percentual da contribuição da agricultura familiar para a
produção agrícola e pecuária, quando o segmento passa a responder por grande
parte da produção de alimentos escoados para feiras e supermercados de todo o
país, fato que vinha legitimar a concepção de que a produção proveniente da
agricultura familiar apesar das limitações com que se depara não reside apenas no
abastecimento alimentar da família, ou seja, não é apenas de subsistência.
Trata-se de um segmento com potencial econômico, associado a todo um
potencial socioambiental que vem sendo sinalizado por estudos na área da
agroecologia, com capacidade de obtenção/geração de renda proveniente de sua
inserção nos mercados. Para o período assinalado acima cumpre ressaltar os dados
da tabela que segue:
Tabela 1. Agricultores Familiares - Renda total (RT) e renda monetária (RM)
REGIÃO FAMILIAR PATRONAL
RT/Estab RM/Estab RT/Estab RM/Estab
Nordeste 1.159 696 9.891 8.467
Centro-Oeste 4.074 3.043 33.164 30.779
Norte 2.904 1.935 11.883 9.691
Sudeste 3.824 2.703 18.815 15.847
Sul 5.152 3.315 28.158 23.355
BRASIL 2.717 1.783 19.085 16.400
Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE. Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO
Recentemente, o IBGE, com a colaboração do MDA, divulgou dados
estatísticos oficiais sobre a agricultura familiar. Esses dados foram construídos com
base em variáveis que atendiam aos critérios da Lei da agricultura familiar Nº 11.326
18
Ver: http://www.agroecologia.inf.br/conteudo.php?vidcont=9. Acesso em 24 de outubro de 2010.
35
de 24 de julho de 200619, com algumas mudanças metodológicas significativas face
ao censo 1995/1996 e determinadas variáveis trabalhadas no estudo da
FAO/INCRA20.
As modificações metodológicas apontam para dificuldades de comparação
entre os dos últimos censos, mas não impede que sejam mostrados alguns cenários
interessantes, o que faz França (2009), com base nos dados do Censo Agropecuário
2006.
Para França (2009), o resultado do Censo Agropecuário ilustra uma estrutura
agrária concentrada, com estabelecimentos não familiares – que representam em
torno de 15% do total dos estabelecimentos – ocupando aproximadamente 75% da
área total. Nesse contexto a região Nordeste é apresentada como contendo metade
do total dos estabelecimentos familiares do país. Já no caso de considerar o total de
estabelecimentos situados apenas na região Nordeste é apontado que os
estabelecimentos familiares constituem 89% do total, ocupando apenas 37% de
área.
Não obstante a concentração existente e feitas as ressalvas metodológicas,
França (2009) retrata que
o comparativo da agricultura familiar para os anos de 2006 e 1995/96, mostrando um crescimento da participação da agricultura familiar no total dos estabelecimentos brasileiros em todas as regiões, menos no Sul do país, com aumento da participação do segmento em termos de Valor Bruto da Produção, em especial no Nordeste cuja variação chega a alcançar 9 pontos percentuais (França, 2009, p. 22).
Os aspectos citados apontam para o crescente crescimento da agricultura
familiar e a necessidade de sua valorização e de reconhecimento de sua relevância
como sustentáculo do dinamismo econômico, especialmente no Nordeste. Além
disso, considere-se que, inúmeras pesquisas, tratam de um segmento que responde
pela maioria dos bens alimentares que chegam à mesa do brasileiro – ou seja, que
produz para o mercado interno – responsável também por um percentual maior da
ocupação da mão de obra no campo.
De fato, o cenário aponta novidades no campo, sendo que a busca de uma
perspectiva analítica de valorização do protagonismo dos jovens agricultores
familiares, é o que se tem trabalhado teoricamente por alguns autores como Ploeg et
19
Ver:http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/agri_familiar_2006/familia_censoagro2006.pdf. Acesso em 24 de outubro de 2010. 20
Sobre os diferenciais metodológicos sugerimos: IBGE (2006) e França et al. (2009).
36
al (2004), como uma análise centrada no papel dos atores no processo de
mudanças sociais e mais detidamente no desencadear de um novo ponto de vista
para o desenvolvimento rural.
Para tanto, os dados citados na tabela 1 consideram o processo de
construção e aprimoramento de inovações sociotécnicas desenvolvidas por uma
juventude ligada à agricultora familiar, situados na região da zona da mata sul, em
conjunto com o processo articulado com certos dispositivos coletivos e ações
coordenadas por entidades sindicais, organizações não governamentais, dentre
outras instituições que atuam com formação e capacitação.
1.8 Estratégia agroecológica, mercado, território e juventude
1.8.1 Agroecologia
Na esteira do debate sobre a agricultura familiar, a crise ecológica e as
preocupações no âmbito do desenvolvimento rural, cada vez mais o tema da
agroecologia se sobressai. Isso porque, se de um lado a agroecologia surge no
debate como uma resposta à crise ecológica e às externalidades negativas
ocasionadas pela agricultura “convencional” 21, de outro lado, surge como uma
estratégia para fazer face às condições precárias de produção e de vida e à
“invisibilidade” apresentada por grande parte da população camponesa do Nordeste,
contribuindo para revelar e legitimar as estratégias produtivas já praticadas por
agricultores familiares da região (SABOURIN, 2009).
Em geral, destaca-se que a precariedade sentida pela agricultura familiar
ampliou-se ao longo do processo de intensificação produtiva no campo (idealizada e
posta em prática pelas políticas de “modernização” da agricultura), fato que levou a
um quadro de agravamento das questões produtiva e social onde se definhou as
condições de subsistência das famílias ao longo do tempo.
Acontece que a agricultura convencional e o modelo próprio a ela se por um
lado trouxerem avanços na produtividade abarcada pelo avanço da biotecnologia,
por outro lado, trouxerem problemas relacionados ao enfrentamento da natureza
baseada numa matriz energética não renovável e dependente de insumos externos,
21
Forma de produção intensiva em insumos externos como os agroquímicos de origem industrial.
37
o que vêm levando à exaustão dos recursos naturais e a inserção de resíduos
tóxicos no meio ambiente.
Conforme Alier e Schlupmann (1992), cada vez mais a economia ecológica
deve se perguntar se o preço pago pela sociedade pelos impactos ocasionados pelo
modelo produtivo exposto acima, não tem sido demasiado subestimado.
Nesse meio, o enfoque da agricultura agroecológica vem evidenciar
estratégias de produção e de mobilizações sociais valorizando exatamente os
saberes que os agricultores e os jovens desenvolveram e desenvolvem na sua
busca pela manutenção da atividade, da família e da resistência em morar no
campo.
É uma perspectiva que está associada à incorporação de princípios
ecológicos no manejo dos recursos naturais, bem como à negação da agricultura
convencional.
Para que os jovens do campo possam aprimorar seus conhecimentos e
saberes,
busca-se, envolver na preocupação com a preservação da biodiversidade; com o aproveitamento dos recursos gerados no próprio estabelecimento; com a valorização das inovações de caráter endógeno, das cadeias curtas de comercialização, do “saber fazer” e da produção sem uso de agrotóxicos, dentre outros aspectos. Não se trata de algo pronto, inacabado, mas em processo, ou seja, envolve ciclos contínuos de adaptação e que termina por caracterizar-se como um “movimento em construção de uma forma de se fazer agricultura que reforça saberes e potencialidades locais” (CARVALHO, 2008).
Na Agroecologia, é central o conceito de transição agroecológica, entendida
como um processo gradual e multilinear de mudança, que ocorre através do tempo,
nas formas de manejo dos agroecossistemas, o que na agricultura tem como meta a
passagem de um modelo agroquímico de produção a estilos de agriculturas que
incorporem princípios e tecnologias de base ecológica.
Esta idéia de mudança se refere a um processo sociotécnico de
transformações contínuas, sem ter um momento final determinado. Trata-se de um
processo social, mas que implica na busca da viabilidade econômico-produtiva, com
base nas especificidades de cada agroecossistema e na conservação dos recursos
naturais.
Por isto, quando se fala de agroecologia, está se tratando de uma orientação
cujas contribuições vão muito além de aspectos meramente tecnológicos ou
agronômicos da produção,
38
incorporando dimensões mais amplas e complexas, que incluem tanto variáveis econômicas, sociais e ambientais, como variáveis culturais, políticas e éticas da sustentabilidade. Por esta razão o complexo processo de transição agroecológica não dispensa o progresso técnico e o avanço do conhecimento científico (COSTABEBER, 1998; CAPORAL e COSTABEBER, 2000), nem tampouco a participação do agricultor familiar no mercado.
Sendo assim, a agroecologia se insere como uma perspectiva de
aproveitamento de recursos naturais e de saberes, aliada a um novo processo de
organização da produção e da comercialização.
1.8.2 Agroecologia e mercado
Vale salientar, a exemplo do exposto por Roberts (2009), que os
consumidores estão se tornando mais abastecido com produtos orgânicos em geral,
só que, em muitos casos, constituídos pela oferta de alimentos provenientes de
sistemas que simplesmente ajustaram seus métodos aos padrões aceitos pelo
mercado de orgânicos, visando diferenciais de preços e economias de custos
associadas às escalas do modelo agroindustrial, fato que ilustra apenas uma
estratégia mercadológica incorporada a um mesmo modelo de produção danoso,
deixando-se de lado a preocupação com padrões sustentáveis de produção e com o
tecido social.
A evolução do setor na direção de um modelo convencional “melhorado”, com
foco unicamente nas economias de escala e de baixo custo, exclui os muitos valores
associados à agroecologia e o papel social a ela atribuído, aspecto que será
considerado quando da implantação das atividades referidas na presente proposta.
O que se considera aqui é que a agroecologia está muito além da produção
de alimentos orgânicos, envolvendo dimensões sociais e ambientais do processo,
mas que não exclui, e na verdade requer, a inserção dos atores em mercados locais
e institucionais como estratégia de manutenção das famílias e de promoção do
desenvolvimento rural sob uma nova perspectiva.
De acordo com Abramovay et. al. (2006), os mercados em geral são
resultados de formas específicas de interação social e da capacidade dos atores em
promover ligações dinâmicas de forma a valorizar conhecimentos, tradições, laços
de amizades, confiabilidade, solidariedade... Essas ligações dinâmicas
potencializam a troca de informações entre distintos atores (agricultores, técnicos,
39
pesquisadores, gestores, dentre outros) e podem contribuir para que se multipliquem
conhecimentos e experiências inovadoras e potencializar capacidades territoriais.
1.8.3 Desenvolvimento sustentável e agroecologia
Das hipóteses aqui exibidas, dar-se-á o processo pedagógico para a
agroecologia que se depara com uma trama social permitindo a circulação de idéias,
novidades e experiências, formam-se espaços propícios para se potencializar as
vocações e minimizar as dificuldades regionais, propiciando novas práticas e
processos conectados aos territórios, mas também ao saber e à cultura local, na
medida em que se valoriza uma forma de fazer agricultura não apenas baseada em
sistemas biológicos, mas também em sistemas intensamente sociais, com o
fortalecimento dos vínculos e a centralidade dos atores.
O que caracteriza a agroecologia como uma perspectiva que abrange toda a
heterogeneidade da agricultura e dos espaços rurais, as novas funções que passam
a compor estes espaços e a participação de todos os atores. Nesse meio, inserem-
se questões de gênero e de geração. Reportaremos a seguir, especialmente à
importância da participação dos jovens no processo do desenvolvimento sustentável
e da agroecologia.
1.8.4 Juventude rural e agroecologia
O mundo rural, embora nunca tenha estado ausente, por ser um dos
componentes singulares da sociedade contemporânea, ressurge e, num ritmo
estranho ao costumeiro, tornar-se o foco das tensões dos mais diversos olhares de
atores sociais globais ou locais, adquirindo um brilho que, à medida que não se
colocam em relevo as suas diferentes tonalidades ofusca a visão dos observadores
(STROPASOLAS, 2006, p. 29).
A juventude rural tem assumido um papel importante no contexto das
discussões acerca do rural brasileiro. Das discussões em foco, recentemente foi
realizada a Conferencia Nacional da Juventude Rural que efetivou diversos
elementos das políticas para a juventude do campo.
A questão da formação profissional dos jovens do campo, acesso à primeira
terra, oportunidades de participação nos espaços sociais, atendimento diferenciado
aos jovens que buscam mercados locais de comercialização, oportunidades de
40
viverem e morarem no campo são elementos pautados nos debates e nas
Conferências tanto a nível de Estado como a nível nacional.
Os avanços têm se dado na afirmação das políticas públicas para a juventude
do campo. No Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável –
CONDRAF foi estabelecida a participação efetiva da juventude através da
Resolução nº 66, de 02 de setembro de 2008, que criou o Grupo Temático de
Juventude Rural, do CONDRAF, com a finalidade de fortalecer a articulação entre as
diversas Políticas Públicas, para apoiar a construção do pacto da juventude, dando
um tratamento diferenciado para as propriedades com sistemas agroflorestais, uso
de tecnologias adaptadas às propriedades. Isso tem sido sinônimo de evidências
destas mudanças no modo que os jovens estão buscando par cuidar da terra onde
vivem.
1.8.5 Agricultura familiar e a ATER – Assistência Técnica e Extensão Rural
O Brasil vive um dos mais importantes e marcantes momentos na história da
assistência técnica com a estruturação de novos olhares sobre o meio rural. As
mudanças se afirmam com as lutas, esforços políticos dos movimentos sociais, das
instituições representativas dos trabalhadores e trabalhadoras rurais e por afirmação
das políticas públicas diferenciadas de assistência técnica para os povos do campo.
Aspectos que se fortalecem com a afirmação da Lei nº 12.188, de 11 de
janeiro de 2010, que dispõe sobre o Programa Nacional de Assistência Técnica e
Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária – PRONATER, bem
como com os programas de fortalecimento da agricultura familiar, como: o Programa
Nacional da Agricultura Familiar – PRONAF, o Programa Nacional de Crédito
Fundiário – PNCF, o Programa Territórios da Cidadania, dentre outros. Em conjunto,
surgem ações que vem fortalecendo e oportunizando que as famílias que vivem no
campo possam produzir com qualidade, elaborar formas de comercialização
eficientes e eficazes e tornar as propriedades mais produtivas. Contribuindo para
esse cenário estão os modelos de ATER que visam fortalecer as oportunidades e o
protagonismo dos agricultores.
No entanto, embora todas estas iniciativas estejam evidentes e contribuindo
para mudanças significativas, algumas questões atormentam e põem na contramão
as idéias inovadoras para o crescimento e o desenvolvimento sustentável das
41
regiões do Brasil rural. Como exemplo, podem-se destacar algumas mais
diretamente relacionadas à região da mata sul de Pernambuco, servindo para
justificar que o projeto deve ser visto como uma forma de garantir e fortalecer cada
vez mais modelos de ATER diferenciado.
1.9 A política nacional da juventude do campo
A partir da segunda metade da década de 1990, o tema juventude começou a
ganhar uma projeção e complexidade no espaço público brasileiro. Ao mesmo
tempo em que aumentava a proporção de jovens de 15 a 24 anos no conjunto da
população nacional, eles eram afetados de forma particularmente intensa pelo
aprofundamento das desigualdades econômico-sociais, enfrentando dificuldades das
mais diversas ordens.
A questão dos jovens e da necessidade de implementar políticas sociais
específicas dirigidas ao setor foi ganhando terreno na consideração pública nos
últimos 15 anos.
A maior presença da questão juvenil na agenda pública está relacionada em
primeiro lugar, com a visibilidade que os jovens ganharam nos processos de
democratização ocorridos no final da década de 1980. As aberturas democráticas
tiveram os jovens como principais protagonistas. Por meio de suas participações em
revitalizados movimentos estudantis, partidos políticos e movimentos sociais, os
jovens desempenharam um papel importante em prol do retorno da democracia.
Tratar os jovens como jovens no seu convívio, na vida e na lida. Isso faz
parte do conjunto de elementos que estão sendo descritos pelo anais da CONTAG
em seu documento intitulado: “Propostas para um Plano de Desenvolvimento da
Juventude Rural”. Embora os esforços para consolidação de políticas de juventude,
os municípios brasileiro que acreditam na juventude do campo, estas políticas não
tem apresentado como estratégia de incorporação da mesma como efetivação e
consolidação.
Passam de coisas isoladas, de idéias ainda remotas. Isso é de se esperar,
que estas políticas não passem apenas de “incertezas” para os Jovens.
As perspectivas atuais para as políticas de formação dos jovens no município
de primavera – PE passam pelas mesmas políticas definidas pelo Estado. Deve-se
42
destinar aos jovens do campo instrumentos para que não sejam apenas
reprodutores das condições de suas famílias, se permanecerem no campo, ou
apenas números no contingente de miseráveis que buscam a sobrevivência nas
grandes cidades, caso migrem.
Ainda que distante de ser consolidada com uma estratégia de educação para
o desenvolvimento, existe uma recomendação do CONJUVE que é necessário
trabalhar de forma integrada as diversas dimensões das trajetórias juvenis,
particularmente educação, trabalho, cultura, participação e novas tecnologias.
As vivências juvenis envolvem formação e experimentação e, dependendo da
faixa etária, uma relação singular como escola e o trabalho, sendo que tais
experiências deveriam ser combinadas.
Ainda por cima, as políticas locais estão distantes de serem consolidadas,
sobretudo aquelas estruturais, voltadas para o mundo rural, mulheres e negros.
Em Primavera, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a Prefeitura local são
os órgãos que articulam a participação dos jovens no processo formativo. Os
professores da rede municipal e estadual participam do processo de monitoramento
dos jovens. Embora os jovens participem nas ações comunitárias, as associações
locais respondem por cerca de 80% no processo de articulação do trabalho.
No município não há escola especifica para formação dos jovens. Eles têm
que se desdobrar para participar do curso. A distância percorrida pelos jovens do
município de Primavera até o Campo da Sementeira, no município de Glória do
Goitá fica em torno de 80 km.
A política local é um fator crucial para que os jovens possam avançar no que
eles chamam de participação local. De fato, o que mais prevalece é a dificuldade de
encontrar estratégias de fundamentar a participação destes jovens no processo de
desenvolvimento do município.
1.9.1 Juventude e Agricultura Familiar
Estatísticas nacionais22 comprovam que o mercado nacional de produtos
orgânicos vem crescendo positivamente em 30% ao ano, com uma participação
significativa dos agricultores familiares, distribuídos em 4,1 milhões de
estabelecimentos em todo o país.
22
Revista Arco (2001)
43
O agricultor familiar, muitos sem acesso a crédito e sem reservas para
investir, é um empresário que tem pressa e exige retorno quase imediato dos
projetos econômicos em que se envolve.
Este aspecto, que contribui para que o agricultor seja avesso a riscos, faz
com que se demandem rápidos retornos positivos sobre a renda familiar, para
assegurar que ele e sua família acreditem, aceitem e continuem investindo no novo
campo de produção.
Inicialmente a produção orgânica de hortaliças tem se mostrado capaz de
responder a essas demandas, ao permitir retorno ágil e demandar maior quantidade
de mão-de-obra, afetando positivamente a geração de empregos e contribuindo para
valorizar as atividades da cadeia produtiva da agricultura familiar.
Não obstante, não se pode ficar apenas no campo das hortaliças. Voltando-se
para Pernambuco, tem-se na mata sul uma estratégia para o Estado de Pernambuco
como o polo da agricultura orgânica, a exemplo da produção de derivados de peixes
(peixe fresco, filé de peixe), da criação de aves (galinhas, peru, pato, ganso) –
levando à construção de estratégias de inserção dos agricultores em novos
mercados.
Neste sentido a IFOAM - International Federation Organic Agriculture
Movement, em 1996, introduziu e passou a disseminar a agricultura orgânica como
uma estratégia de justiça social, por reconhecer que suas práticas asseguram
direitos aos trabalhadores rurais e produtores familiares nos seguintes aspectos:
ausência de custos sociais da produção; benefícios ao meio ambiente; maior
potencial em gerar empregos; possibilidade dos trabalhadores se associarem em
cooperativas; fornecimento de oportunidades de educação para as pessoas
envolvidas; e, por fim, controle e erradicação do trabalho infantil nas unidades
orgânicas.
1.9.2 Potencialidades do Mercado de Produtos Orgânicos
Os dados expostos a seguir têm como base o estudo realizado pela
Ecoorgânica23, Cooperativa criada por técnicos e produtores orgânicos formados e
organizados a partir do Centro de Resultados da Agricultura Familiar Orgânica,
Subprojeto integrado ao Projeto “Aliança com o Adolescente”, realizado pelo SERTA
23
Cooperativas de Agricultores Familiares Orgânicos – PE.
44
no período de 2000 a 2004, na Bacia do Goitá. A Ecoorgânica, na qualidade de
parceira do SERTA no Projeto Reforço do Pólo da Agricultura Orgânica,
apresentado ao PROMATA, cedeu o estudo de mercado para fortalecer
teoricamente esta dissertação.
A cadeia produtiva da agricultura orgânica é um conjunto de atividades que, a
cada ano, se fortalece e ganha envergadura no conjunto do setor primário brasileiro.
Além do abastecimento aos mercados locais com participação de agricultores
familiares especialmente em feiras locais agroecológicas, o Brasil exportou 120
milhões de dólares em alimentos com selo verde em 200424.
Esse cenário em parte é possível em virtude da grande área territorial do
Brasil, que o torna naturalmente de grande potencialidade na oferta de alimentos
orgânicos para outros mercados, como o europeu. Atualmente o Brasil ocupa o
segundo lugar em número de propriedades que adotaram a lavoura ecológica
(apresentando um total de 19 mil voltadas para essa atividade), perdendo apenas
para Itália, ficando na frente de países como EUA, Argentina, Austrália e Uruguai25.
Em termos de mercado consumidor, ressalta-se que existe cerca de cinco
milhões de brasileiros caracterizados como sendo potencial consumidor de
alimentos orgânicos, considerando o segmento social tipificado com “classe AA” 26.
Confirmando este dado, pesquisa da rede Carrefour, apresentada na Biofach
América Latina 2004, mostra que em São Paulo o perfil dos consumidores de
produtos orgânicos é como ilustrado no quadro abaixo.
Faixa Etária Escolaridade Renda
41,16% - de 30 a 50 anos 50,26% - possuem curso superior completo
31,53% - acima de R$ 3.000,00 39,73% - acima de 50 anos
Quadro 1. Perfil dos consumidores de produtos orgânicos Fonte: Cooperativa de Produção Orgânica – Ecoorgânica. 2008.
Dentre os possíveis fatores que influenciaram e influenciam o crescimento do
mercado para alimentos provenientes da agricultura de base ecológica pode-se citar:
o fenômeno da vaca louca na Inglaterra que dizimou milhares de animais que
consumiam produtos de origem animal na composição de sua ração;
24
Dados da Apex – Agência de Promoção de Exportadores do Brasil. 25
Dados da Fundation Ecology & Agriculture. 26
Associação dos Produtores e Processadores de grãos.
45
o movimento de busca generalizada por melhoria na qualidade de vida e por uma
alimentação mais saudável, que se formou a partir da ECO Rio 92;
a dependência de insumos externos pela produção de alimentos convencionais,
como os agroquímicos, que são dolarizados e terminam por sofrer oscilações
superiores aos preços dos alimentos no mercado;
a incerteza acerca dos riscos provenientes da produção e do consumo de
alimentos transgênicos (geneticamente modificados), podendo gerar
conseqüências danosas a médio e longo prazos não só aos consumidores como
ao meio ambiente27;
a efervescência dos movimentos sociais que buscam sistemas de produção
sustentáveis, no tempo e no espaço, mediante o manejo e a proteção dos
recursos naturais, sem a utilização de produtos químicos agressivos a saúde
humana e ao meio ambiente;
as indicações médicas para o consumo de produtos orgânicos, devido às
inúmeras doenças causadas paulatinamente pelo consumo diário de agrotóxicos.
1.9.3 Mercado Local para Produtos Orgânicos
Em Pernambuco, destaca-se que o movimento de comercialização de
produtos orgânicos que teve seu início em 1997 e hoje a oferta de pontos de vendas
já abrange cerca de 10% dos municípios. No grande Recife existem 27 feiras
orgânicas. Pequenas propriedades do Sertão, do Agreste e da Zona da Mata optam
pelos orgânicos e abrem cada vez mais espaços nos mais variados nichos de
mercado – entregas domiciliares, feiras livres, restaurantes e alimentação escolar.
No Sertão de Pernambuco, pesquisa da Diaconia28, mostrou que em
Afogados da Ingazeira, distante 420 km da capital, 17 agricultores trabalham
exclusivamente com orgânicos e comercializam na feira orgânica local e que outros
30 produtores estão se preparando para entrar neste segmento.
A respeito das características do mercado consumidor, dados da Ecoorgânica
são ilustrativos do cenário ao indicar que para o município de Vitória de Santo Antão,
27
O que se insere no debate acerca do “princípio de precaução”, referencial que defende ações defensivas de interesses sociais coletivos que envolvam a defesa ao meio ambiente ou a saúde pública, em estados de assimetria de informações ou de incertezas quanto aos riscos, de forma a minimizar impactos negativos gerados pela pressão de interesses econômicos dominantes. Para uma melhor compreensão deste assunto, ver: Hammerschmidt (2002), dentre outros autores. 28
Instituição com trabalhos no sertão de Pernambuco, com feiras orgânicas, e assistência técnica aos produtores locais.
46
82% de seus clientes têm renda entre 7 e 12 salários mínimos, demonstrando ainda
o interesse de segmentos de menor renda, desde que com maior acessibilidade e
preços competitivos.
A estimativa do mercado para produtos orgânicos produzidos pela
Ecoorgânica tomou como base a pesquisa de orçamento familiar do IBGE. Segundo
esta pesquisa, entre os anos de 2002 e 2003 havia 2.115.050 famílias em
Pernambuco, cada família com uma média de 3,84 pessoas e despesa média
mensal com alimentação na ordem de R$ 272,91. Deste total, R$ 222,94 eram
despesas realizadas dentro do domicílio.
Comparando os produtos orgânicos vendidos pela Ecoorgânica com aqueles
existentes na pesquisa do IBGE e somando os gastos familiares com estes itens foi
verificado que cada família gasta, em média, R$ 37,04 por mês com a seguinte
cesta de consumo: legumes, frutas, tubérculos, feijão e farinha. Este montante foi
considerado como o horizonte de gastos possível de ser atingido com os produtos
orgânicos enquanto concorrente no mercado local.
Observamos que a projeção do gasto médio familiar com o predomínio de
produtos hortifrutigranjeiros resulta em mais de R$ 33 milhões por mês para a RMR,
projetando um mercado de cerca de R$ 400 milhões por ano. Há de se ressaltar que
as classes de renda mais baixa, ou seja, menos de 6 salários mínimos, podem não
consumir produtos orgânicos devido ao seu preço mais elevado, neste sentido o
mercado somaria ainda cerca de R$ 11 milhões por mês, projetando um mercado de
R$ 132 milhões por ano, apenas para o consumo familiar de orgânicos.
47
CAPÍTULO II
2. A EDUCAÇÃO DO CAMPO E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
“Seja em você a mudança que quer para o mundo”.
(Gandhi)
2.1 Desenvolvimento Local Sustentável
O século XXI é um tempo de expectativas, de perplexidade e da crise de
concepções e paradigmas, não apenas porque se inicia um novo milênio época de
balanço e de reflexão, época em que o imaginário parece ter um peso maior. Este
período exerce um fascínio muito grande em muitas pessoas, principalmente pela
dimensão de novos paradigmas.
Foto 1. Desenvolvimento Pessoal. Os jovens em apresentação teatral Fonte: Dantas (2009).
Não se pode falar de futuro sem uma dose de cautela, nem perder de vista a
questão do desenvolvimento sustentável como esteio deste cenário.
É com esse cuidado que se justifica conhecer estas perspectivas e reacendê-
las no contexto da teoria e da prática da educação, apoiadas nos educadores e
48
atores que tentam, em meio a essa perplexidade, apesar de tudo, apontar algum
caminho para o futuro, sobretudo no universo da juventude do campo.
A perplexidade e a crise de paradigmas não podem se constituir num álibi
para o imobilismo.
A obra prima de ficção elaborada por Herbert George Wells, com o título: A
guerra dos mundos (1898) relatou a disputa cada vez mais acirrada da “corrida entre
a educação e a catástrofe”. A julgar pelas duas grandes guerras que marcaram a
"História da Humanidade", na primeira metade do século XX, a catástrofe venceu.
No início dos anos 50, dizia-se que só havia uma alternativa: "socialismo ou
barbárie" (Cornelius Castoriadis, 2001),
mas chegou-se ao final do Século com a derrocada do socialismo burocrático de tipo soviético e enfraquecimento da ética socialista. E mais, pela primeira vez na história da humanidade, não por efeito de armas nucleares, mas pelo descontrole da produção industrial, pode-se destruir toda a vida do planeta. Mais do que a solidariedade, estamos vendo crescer a competitividade. Venceu a barbárie, de novo. Qual o papel da educação neste novo contexto político, qual é o papel da educação na era da informação, que perspectivas podemos apontar para a educação nesse início do Terceiro Milênio, para onde vamos?
2.2 A educação na perspectiva de autonomia pedagógica
Deve-se verificar o significado da palavra "perspectiva". A palavra vem do
latim tardio "perspectivus", que deriva de dois verbos: perspecto, que significa "olhar
até o fim, examinar atentamente"; e perspicio, que significa "olhar através, ver bem,
olhar atentamente, examinar com cuidado, reconhecer claramente" (Dicionário
Escolar Latino-Português, de Ernesto Faria). A palavra "perspectiva" é rica de
significações.
Segundo o Dicionário de filosofia, do filósofo italiano Nicola Abbagnano,
perspectiva seria "uma antecipação qualquer do futuro: projeto, esperança, ideal,
ilusão, utopia”. O termo exprime o mesmo conceito de possibilidade, mas de um
ponto de vista mais genérico e que menos compromete, dado que podem aparecer
como perspectivas coisas que não têm suficiente consistência para serem
“possibilidades autênticas".
Enraizada na sociedade de classes escravista da Idade Antiga, a educação
tradicional foi destinada a uma pequena minoria. Teve seu declínio já no movimento
49
renascentista, mas ela sobrevive até hoje, apesar da extensão média da
escolaridade trazida pela educação burguesa.
A educação nova, que surge de forma mais clara a partir da obra de
Rousseau, desenvolveu-se nesses últimos dois séculos e trouxe consigo numerosas
conquistas, sobretudo no campo das ciências da educação e das metodologias de
ensino.
O conceito de "aprender fazendo" de John Dewey são aquisições definitivas
na história da pedagogia, destacando que,
tanto a concepção tradicional de educação quanto a nova, amplamente consolidadas, terão um lugar garantido na educação do futuro. A educação tradicional e a nova têm em comum a concepção da educação como processo de desenvolvimento individual. Todavia, o traço mais original da educação desse século é o deslocamento de enfoque do individual para o social, para o político e para o ideológico.
A pedagogia institucional é um exemplo disso. A experiência de mais de meio
século de educação nos países socialistas também o testemunha. A educação, no
século XXI, tornou-se permanente e social. É verdade, existem ainda muitos
desníveis entre regiões e países, entre o Norte e o Sul, entre países periféricos e
hegemônicos, entre países globalizadores e globalizados. Entretanto, há ideias
universalmente difundidas, entre elas a de que não há idade para se educar, de que
a educação se estende pela vida e que ela não é neutra.
No início da segunda metade do século XX, educadores e políticos
imaginaram uma educação internacionalizada, confiada a uma grande organização,
a UNESCO. Os países altamente desenvolvidos já haviam universalizado o ensino
fundamental e eliminado o analfabetismo. Os sistemas nacionais de educação
trouxeram um grande impulso, desde o século passado, possibilitando numerosos
planos de educação, que diminuíram custos e elevaram os benefícios. A tese de
uma educação internacional já existia deste 1899, quando foi fundado, em Bruxelas,
o Bureau Internacional de Novas Escolas, por iniciativa do educador Adolphe
Ferrière. Como resultado, tem-se hoje uma grande uniformidade nos sistemas de
ensino. Pode-se dizer que hoje todos os sistemas educacionais contam com uma
estrutura básica muito parecida. No final do século XX, o fenômeno da globalização
deu novo impulso à idéia de uma educação igual para todos, agora não como
princípio de justiça social, mas apenas como parâmetro curricular comum.
50
As conseqüências da evolução das novas tecnologias, centradas na
comunicação de massa, na difusão do conhecimento, ainda não se fizeram sentir
plenamente no ensino pelo menos na maioria das nações, mas a aprendizagem a
distância, sobretudo a baseada na Internet, parece ser a grande novidade
educacional neste início de novo milênio.
A educação opera com a linguagem escrita e a nossa cultura atual dominante
vive impregnada por uma nova linguagem, a da televisão e a da informática,
particularmente a linguagem da Internet. A cultura do papel representa talvez o
maior obstáculo ao uso intensivo da Internet, em particular da educação à distância
com base na Internet. Por isso, os jovens que ainda não internalizaram inteiramente
essa cultura adaptam-se com mais facilidade do que os adultos ao uso do
computador.
Entre as novas teorias surgidas nesses últimos anos, despertaram interesse
dos educadores os chamados paradigmas ainda pouco consistentes. A
complexidade está cada vez mais ouvida no debate educacional.
Nesta perspectiva, podem-se incluir as reflexões que criticam a razão
produtivista e a racionalização modernas, propondo uma lógica do vivente. Esses
paradigmas sustentam um princípio unificador do saber, do conhecimento, em torno
do ser humano, valorizando o seu cotidiano, o seu vivido, o pessoal, a singularidade,
o entorno, o acaso e outras categorias como: decisão, projeto, ruído, ambigüidade,
finitude, escolha, síntese, vínculo e totalidade.
Essas seriam algumas das categorias dos paradigmas chamados
holonômicos. Etimologicamente, holos, em grego, significa todo e os novos
paradigmas procuram centrar-se na totalidade.
Mais do que a ideologia, seria a utopia que teria essa força para resgatar a
totalidade do real, totalidade perdida. Para os defensores desses novos paradigmas,
os paradigmas clássicos identificados no positivismo e no marxismo seriam
marcados pela ideologia e lidariam com categorias redutoras da totalidade.
Ao contrário, estes pretendem restaurar a totalidade do sujeito, valorizando a
sua iniciativa e a sua criatividade, valorizando o micro, a complementaridade, a
convergência e a complexidade. Para eles, os paradigmas clássicos sustentam o
sonho milenarista de uma sociedade plena, sem arestas, em que nada perturbaria
um consenso sem fricções. Ao aceitar como fundamento da educação uma
antropologia que concebe o homem como um ser, essencialmente contraditório,
51
pretende manter, sem pretender superar, todos os elementos da complexidade da
vida.
Nisso, sustentam que o imaginário e a utopia são os grandes fatores que a
sociedade recusa a uma ordem que aniquila o desejo, a paixão, o olhar e a escuta.
Os enfoques clássicos, segundo eles, banalizam essas dimensões da vida porque
sobrevalorizam o macro-estrutural, pois,
o sistema educacional, em que tudo é função ou efeito das superestruturas socioeconômicas ou epistêmicas, lingüísticas e psíquicas. Para os novos paradigmas, a história é essencialmente possibilidade, em que o que vale é o imaginário (Gilbert Durand, Cornelius Castoriadis), no projeto. Existem tantos mundos quanto nossa capacidade de imaginar. Para eles, "a imaginação está no poder", como queriam os estudantes em maio de 1968.
O paradigma da educação popular, inspirado originalmente no trabalho de
Paulo Freire nos anos 60, encontrava na conscientização sua categoria
fundamental. A prática e a reflexão sobre a prática levaram a incorporar outra
categoria não menos importante: a da organização. Afinal, não basta estar
consciente, é preciso organizar-se para poder transformar.
Nos últimos anos, os educadores que permaneceram fiéis aos princípios da
educação popular atuaram principalmente em duas direções: na educação pública
popular no espaço conquistado no interior do Estado; e na educação popular
comunitária e na educação ambiental ou sustentável, predominantemente não-
governamentais.
Durante os regimes autoritários da América Latina, a educação popular
manteve sua unidade, combatendo as ditaduras e apresentando projetos
"alternativos". Com as conquistas democráticas, ocorreu com a educação popular
uma grande fragmentação em dois sentidos: de um lado ela ganhou uma nova
vitalidade no interior do Estado, diluindo-se em suas políticas públicas; e, de outro,
continuou como educação não-formal, dispersando-se em milhares de pequenas
experiências. Perdeu em unidade, ganhou em diversidade e conseguiu atravessar
numerosas fronteiras.
Seja qual for a perspectiva que a educação contemporânea tomar, uma
educação voltada para o futuro será sempre uma educação contestadora,
superadora dos limites impostos pelo Estado e pelo mercado, portanto, uma
educação muito mais voltada para a transformação social do que para a transmissão
52
cultural. Por isso, acredita-se que a pedagogia da práxis, como uma pedagogia
transformadora, em suas várias manifestações, pode oferecer um referencial geral
mais seguro do que as pedagogias centradas na transmissão cultural, neste
momento de perplexidade.
2.3 A educação do campo
Refletindo a problemática da educação do campo, estudos, os movimentos
sociais, igrejas, sindicatos, algumas universidades e prefeituras locais começaram a
se lançar na construção de opções diferentes de educação do campo. A maioria
delas centradas numa concepção que parte da realidade rural para a construção de
conhecimentos, pelos professores, pais, alunos, valorizando a cultura local,
incentivando a auto-estima e colocando a escola e a educação formal a serviço do
desenvolvimento local sustentável e includente. De acordo com a autora Francisca
Carneiro Baptista (Baptista, 2003, pág. 20),
tais experiências sempre buscaram criar uma nova educação rural, quer forçando o surgimento de novas leis, quer buscando implementar aspectos da legislação que, embora existentes, eram ignoradas pelas autoridades encarregadas. Isso é uma constatação histórica que não pode ser negada más que nos impulsiona a dar um passo à frente.
2.4 Por uma educação do campo diferenciada
Para tanto, dados do Ministério da Educação, por meio do Instituto Anísio
Teixeira (2007) sobre o desempenho escolar alertam que 72% dos alunos
matriculados nas escolas do campo sofrem de atraso escolar.
Na área urbana, 50% das crianças que freqüentam a escola padecem do
mesmo problema. As estatísticas oficiais denunciam a desigualdade entre educação
do campo e da cidade.
No Brasil, 43% dos adolescentes estão fora da escola no campo. O cálculo da
exclusão consta do documento: Perfil da educação no campo, elaborado pelo INEP -
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Além dos
753.065 jovens de 15 a 17 anos que estão sem estudar, também é questionável a
qualidade da formação dos que conseguem ir à escola.
53
Isso demonstra que mesmo tendo escola, existe um agravamento pela
qualidade do que se ensina para os jovens do campo, como e o que e pra quem
serve o que é ensinado?
Qual perfil do educador da escola do campo e o que faz este jovem na escola.
Evidente que a mesma é separada pelos fortes elementos da cultura tradicionalista
que impera e governa o sistema, onde classes multisseriadas englobam um universo
de 1.751.201 alunos.
Ainda tecendo os dados para uma escola de qualidade que o aprendizado se
volta para intervenção nas políticas de desenvolvimento local sustentável, cerca de
60% dos alunos matriculados em escolas do campo estão cursando o ensino
fundamental de 1ª a 4ª séries. Mesmo tendo uma rede de escolas que representa
em torno de 50% das escolas do País, o campo sofre tais consequências.
Ao todo somam-se 107.432 estabelecimentos, A rede atende 8.267.571
alunos, cobrindo 15% da matrícula nacional em todo país.
Que imagens os jovens rurais tem de si próprios? Que imagens as famílias, a
escola, os adultos têm desses jovens? De acordo com Moura (2003) estas imagens
têm sido o dilema e ao mesmo tempo a grande chance de se vêem partindo para as
mudanças e as oportunidades.
2.4.1 A imagem dos adolescentes pelos gestores do sistema escolar
No sistema Escolar, os jovens são vistos como despesa para transportar,
para mantê-los na sala de aula, e quando abandonam para recomeçar em outro ano,
aumentam mais ainda os custos. Aparecem como sinônimos de desocupados, de
ociosos, de pessoas sem compromisso.
2.4.2 A imagem das famílias
As pessoas, em geral, consideram os adolescentes como despesa para a
família, como um peso familiar, que só consomem, mas não produzem. Quando não,
problemáticos, causadores de preocupação e até dores de cabeça para os pais. Se
ficam em casa, incomodam porque não têm o que fazer, se vão para a rua,
preocupam porque a rua é sinal de ameaça.
54
Foto 2.Rito de chegança dos jovens participantes da formação no campo da sementeira, Glória do Goitá. Fonte: Dantas (2009)
2.5 Juventude e educação do campo
Os jovens olhando-se assim ou sendo olhados, que construção de projeto de
vida podem fazer? Ao invés de problemas, a juventude do campo tem buscado seu
espaço na sociedade, apagando da memória os preconceitos.
De acordo com Moura, (2006, p. 56), faz sentido compreender que jovens têm
papel importante na construção de uma educação do campo que valorize os
conhecimentos do cotidiano para atuação nas circunstâncias comunitárias em que
vivem.
2.6 Os saberes como estratégia para o desenvolvimento sustentável
A perspectiva de contribuição de distintas formas de saber, especialmente do
saber procedente da prática e da interação em comunidade, para o processo de
inovação tecnológica sempre será acompanhada do empirismo dos jovens, seus
familiares e vizinhos que dispunham de conhecimentos já adquiridos ao longo de
anos nos processos produtivos da agricultura familiar.
Nesse contexto, o trabalho de Amin e Cohendet (2004) nos traz algumas
sinalizações teóricas importantes onde,
o conhecimento é visto como um recurso heterogêneo e o processo de inovação como decorrente da interação e do reconhecimento dessa heterogeneidade.Todavia, este é extremamente largo.
55
Os trabalhos feitos por instituições de formação de jovens, para o
desenvolvimento local sustentável, são entendidos como propostas que revelam
questões específicas, no caso dos saberes por meio das práticas e interações
diárias dos atores, ou seja, que trata de um lócus onde os processos de geração,
acumulação e distribuição do conhecimento acontecem pelo funcionamento de
grupos informais de pessoas, influenciados por fatores, como: confiança,
reciprocidade e estratégias de socialização.
Algumas questões se apresentam de forma articulada para o entendimento do
conceito:
Valorização do conhecimento local
A perspectiva de valorização do conhecimento prático, sinalizado aqui a partir
da obra de Amin e Cohendet (2004), pela qual contribuiu para que fossem
desmistificadas analiticamente, a disponibilização participativa de tecnologias
apropriadas à agricultura familiar.
Capacidade de inovação
A questão é que, se de um lado se vê o processo de produção do
conhecimento local (forma como o conhecimento é produzido, transmitido e
reformulado a partir da interação em comunidade), como determinante chave para a
capacidade de inovação, exposto pela abordagem do autor citado acima, de outro
lado, outras contribuições teóricas permitirão nortear a nossa perspectiva analítica e
de trabalho ao introduzir o papel, as características e as potencialidades dos atores
enquanto dotados de poder de agência (posse de habilidades) (MENEZES e
MALAGODI, 2009).
Essa perspectiva passa a estar frequentemente associada à noção de rede e
aos processos coletivos situados no ambiente rural.
Os jovens e suas famílias de agricultores, vistos como principais atores no
processo de desenvolvimento de inovações, também podem figurar como
mediadores, juntamente com técnicos de organizações que atuam no campo da
agricultura familiar, de universidades ou do Estado, na medida em que processos
participativos são criados e potencializados.
56
Esses aspectos permitem introduzir o conceito de “novidades” trazido por
autores, como: Ploeg et al. (2000 e 2004); Ventura e Milone (2004) e Stuiver et al.,
(2004), dentre outros.
Da forma como é trabalhada pelos autores, as novidades diferem do conceito
de inovação trabalhado pelas correntes teóricas em torno da “modernização da
agricultura”, por emergirem da periferia, ou seja, não são produzidas de fora da
agricultura familiar (por instituições), e para elas difundidas.
No entanto, apesar da diferença, os autores destacam que novidades e
inovações podem estar inter-relacionadas e vistas como complementares.
A transição para um novo estilo de desenvolvimento rural, de formação
pedagógica de jovens, pressupõe novas tecnologias, comportamentos, políticas,
repensar da atuação das instituições que atuam em conjunto com a agricultura
familiar e implantações de formas organizativas para acesso ao desenvolvimento
local, ações locais, participação, etc.
Aqui se insere a discussão sobre a importância do mercado para a agricultura
familiar, em especial o que abrange o contexto da agroecologia. Todavia, estes
processos carecem de realinhamentos conceituais, teóricos, sistematizados e
disponibilizados a serviço de outras iniciativas, com a presença marcante de atores
sociais como os jovens rurais.
Embora as tecnologias exijam conhecimentos sistemáticos sobre o uso,
manuseio, operacionalização, os modelos estruturados nas propriedades dos
jovens, inspiram oportunidades de tornar-se fonte de saberes para que outras
famílias, comunidades e vizinhos usem ao seu modo em suas propriedades. Neste
caso, os jovens destacados neste trabalho foram ousados e bastante instigantes no
espaço rural.
57
CAPÍTULO III
3. ONDE VIVEM OS JOVENS DA PESQUISA
“Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova”.
(Mahatma Gandhi)
3.1 A Zona da Mata Sul de Pernambuco
3.1.1 A população
A população territorial residente em 2006, segundo dados do IBGE (2006) era
de 447.699 habitantes, distribuída em uma área geográfica de 4.003,40 Km2 (4,05%
do Estado) com uma densidade demográfica de 109,5 hab/Km2, onde encontra-se a
pesca do litoral, o turismo, a cachoeira do Urubu, os recursos naturais (praias, mata
atlântica, água, fauna), talentos culturais (violeiros, músicos e poetas), e uma grande
riqueza de trabalhos manuais.
Dentre os municípios do território o de menor e maior área é Belém de Maria
(63,8 Km2) e Água Preta (532 Km2), respectivamente.
No entanto, quanto à população, destaca-se Palmares com 54.355 habitantes
e o de menor é Belém de Maria com 9.460 habitantes, e em termos de densidade
demográfica São Benedito do Sul apresenta a menor e Catende, a maior.
Seu histórico, no que se refere à experiência com planejamento participativo
na perspectiva do desenvolvimento local, é abrangente, vai da abordagem rural à
territorial.
Segundo dados do IBGE (2010), a população total do território soma-se em
468.853 habitantes, com uma população rural de 134.707 habitantes (29% da
população da população total), comparada ao ano de 2000 que apresentava
147.725 habitantes residindo na área rural (34% da população total) se observa uma
queda de 5% no decanato.
58
Mapa 1. Localização do IDH – Região de Desenvolvimento Mata Sul-PE. Fonte: CONDEPE/FIDEM (2000).
3.1.2 O território
Os municípios que constituem a Mata Sul são: Água Preta, Amaraji, Barreiros,
Belém de Maria, Bonito, Catende, Cortês, Gameleira, Jaqueira, Joaquim Nabuco,
Maraial, Palmares, Primavera, Ribeirão, Rio Formoso, São Benedito do Sul, São
José da Coroa Grande, Tamandaré e Xexéu (www.condepe.pe.gov.br, 2012).
A distância entre os municípios e a capital varia de 64 a 144 km, sendo o
município de São Benedito do Sul o mais distante da capital Recife. Primavera fica
equidistante de Recife cerca de 77 km, via BR 101 sul.
3.2 Local de realização da pesquisa
No começo era um distrito criado pela Lei Municipal nº 19, de 27 de novembro
de 1913. Integrava o território de Amaraji. Pelo Decreto-Lei Estadual nº 952, de 31
de dezembro de 1943, passou a denominar-se Caracituba.
Tornou-se município autônomo, com a denominação de Primavera, em face
da Lei Estadual nº 4.984, de 20 de dezembro de 1963, data de criação do município,
59
que deu à sede o predicamento de cidade. O município foi instalado em 02 de março
de 1964.
Mapa 2. Localização de Primavera - PE Fonte: Dipveil em: http://maps.google.com. Acesso em: 10 de jan.2012.
Mapa 3. Localização da microrregião da mata meridional – PE Fonte: CONDEPE/FIDEM (2000).
Situado na zona da mata pernambucana, na Mesorregião Mata atlântica
pernambucana, Microrregião Mata Meridional, Primavera se destaca por está perto
de duas situações econômicas: a Usina União em seu próprio município e o
60
complexo de Suape, no município de Ipojuca, que faz parte da Região de
Desenvolvimento Mata Sul.
Mapa 4. Localização do município de Primavera na Mata Sul Fonte: PROMATA - Estado de Pernambuco.
3.2.1 A população
Em 2009 a população era de 12.364 habitantes, pois, mesmo sendo ainda um
dos municípios pequenos do interior pernambucano, seu destaque se dá na
produção de cana-de-açúcar, nas belezas naturais como a Cachoeira do Urubu e
outras pequenas cachoeiras formadas ao longo do Rio Ipojuca e na agricultura
familiar.
Tabela 2. População dos municípios da RD Mata Sul
Municípios 2009
População
Água Preta 30.792
Amaraji 20.509
Altinho 22.427
Barreiros 43.911
Belém de Maria 9.703
Catende 35.251
Chã Grande 17.924
Cortês 11.712
Escada 62.604
61
Gameleira 27.823
Jaqueira 12.642
Joaquim Nabuco 16.498
Maraial 12.303
Palmares 58.819
Primavera 12.364
Quipapá 25.603
Ribeirão 39.317
Rio Formoso 21.815
São Benedito do Sul 10.838
São José da Coroa Grande 18.555
Sirinhaém 38.610
Tamandaré 18.999
Vitória de Santo Antão 126.399
Xexéu 14.887
TOTAL 710.305
Fonte: CONDEPE - FIDEM
3.2.2 O enfoque econômico de Primavera
Em Primavera a feira livre acontece aos sábados, começando pela madruga e
indo até às cinco horas da tarde. Encontra-se no local, a gastronomia de pratos
tradicionais, que de uma forma ou de outra, são degustados pelos visitantes,
feirantes e comerciários locais.
Os recursos ambientais, a dimensão sócio-demográficas da população, a
qualidade econômica, com sua potência fundiária na produção de cana-de-açúcar
com uma usina de álcool e açúcar, os cenários da população, o capital social do
município leva o mesmo a um patamar econômico favorável e ao mesmo tempo
reprimido aos problemas habitacionais, falta de terra, etc.
A Usina União e Indústria, situada no município de Primavera, encerrou a
safra 2008/09 no final de março com a moagem de 880 mil toneladas de cana, ante
as 777,7 mil toneladas do ciclo passado. Para a próxima safra, que começa no início
do segundo semestre do ano 2010, a unidade estima moer 900 mil toneladas. Com
o volume processado este ano, a unidade produziu cerca de 1,63 milhão de sacos
de açúcar, dos quais 600 mil dos tipos VHP e Cristal destinados ao mercado
externo. Os outros 1,03 milhão de sacos ficaram no mercado interno.
A produção desta safra supera em 92 mil sacas o volume fabricado em
2007/08.
62
Foto 3. Parque industrial da Usina União no município de Primavera Fonte: arquivo do autor (2010).
3.2.3 Turismo, água e muitas belezas naturais em Primavera
Um cenário que enche os olhos para quem visita. Conhecida como terra da
Cachoeira do Urubu, de bicas e corredeiras, do Rio Ipojuca que passa lento, no
verão, e as vezes assombra em períodos chuvosos.
Pontos de atração para quem visita o município, de trechos de mata, árvores
e plantios de cana-de-açúcar.
O nome de batismo do município, entretanto, foi inspirado num antigo
engenho do século XIX, que levava o mesmo nome: Primavera.
A casa grande e a Capela São José, construídas em 1939, ficam de portas
abertas durante o dia. Uma curiosidade é que resta apenas um único vagão do trem
que fazia o trajeto de 218 quilômetros, transportando a cana das plantações para as
usinas da região.
O Parque Ecoturístico conta com uma infraestrutura de bares, restaurantes,
piscinas, toboágua, salão de eventos e área de camping.
Primavera está nos melhores roteiros de turismo de aventura do Estado de
Pernambuco. No Parque pode-se mergulhar nas piscinas naturais oferecidas pelas
cachoeiras do Banho da Zezé e Poço da Mata.
No parque está também a Pedra das Tabocas, que é um grande afloramento
granítico de 50 metros de altura dividido em duas partes pelo Rio Ipojuca. Os locais
consideram a paisagem o grande cartão-postal de Primavera.
A cachoeira do Urubu tem um significado econômico para a região porque
sempre vira palco de eventos, banhos nos finais de semana, visitas de estudantes,
63
professores, pesquisadores e turistas. Está incluída na rota do turismo de todas as
agencias de turismo de Pernambuco, sendo oferecido um cardápio variado de
refeições, alimentação da própria região com sabores como a galinha de cabidela,
bode assado, porco assado e farofa de milho com macaxeira frita.
Foto 4. Vista panorâmica da Cachoeira do Urubu-Primavera/PE. Fonte: Dantas (2010).
3.2.4 Área geográfica de Primavera
Tabela 3. Área dos Municípios da Zona da Mata Sul
Número Município
2001
Área (Km²)
0 Total 5.140,94
1 Água Preta 543,158
2 Amaraji 234,78
3 Barreiros 233,37
4 Belém de Maria 69,465
5 Catende 206,923
6 Chã Grande 70,192
7 Cortês 101,332
8 Escada 347,197
9 Gameleira 257,716
10 Jaqueira 89,096
11 Joaquim Nabuco 121,884
12 Maraial 196,246
13 Palmares 336,838
14 Pombos 207,656
15 Primavera 109,942
64
16 Quixaba 209,964
17 Ribeirão 287,987
18 Rio Formoso 239,814
19 São Benedito do Sul 156,782
20 São José da Coroa Grande 69,196
21 Sirinhaém 378,79
22 Tamandaré 190,017
23 Vitória de Santo Antão 371,796
24 Xexéu 110,803
Fonte: CONDEPE/FIDEM. Banco de Dados do Estado. Disponível em http//www.condepe.pe.gov.br. Acesso em: 30 jan.2011.
Apesar de ser um município demograficamente menor, destaca-se pelo seu
crescimento econômico que se alastrou no enriquecimento econômico, com geração
de oportunidades de emprego, pela chegada da usina.
3.2.5 IDH – Índice de Desenvolvimento Humano. Altos e baixos na região
Tabela 4. IDH dos municípios. RD Mata Sul. Referência: [1991 e 2000].
Municípios
1991 2000
IDHM IDHM-L IDHM-E IDHM-R IDHM IDHM-L IDHM-E IDHM-R
Amaraji 0,495 0,587 0,445 0,454 0,617 0,688 0,662 0,502
Barreiros 0,583 0,609 0,595 0,544 0,635 0,65 0,724 0,53
Belém de Maria 0,493 0,541 0,474 0,463 0,59 0,627 0,658 0,484
Catende 0,532 0,573 0,545 0,479 0,644 0,687 0,696 0,548
Chã Grande 0,486 0,505 0,439 0,513 0,612 0,652 0,652 0,533
Cortês 0,466 0,479 0,468 0,452 0,582 0,572 0,682 0,492
Escada 0,541 0,573 0,579 0,471 0,645 0,687 0,713 0,534
Gameleira 0,482 0,53 0,462 0,455 0,59 0,627 0,648 0,496
Jaqueira 0,476 0,53 0,43 0,468 0,588 0,619 0,674 0,47
Joaquim Nabuco 0,494 0,541 0,486 0,456 0,613 0,679 0,656 0,505
Maraial 0,474 0,597 0,367 0,459 0,564 0,607 0,628 0,458
Palmares 0,558 0,573 0,566 0,534 0,653 0,631 0,738 0,591
Pombos 0,516 0,592 0,456 0,5 0,641 0,705 0,665 0,553
Primavera 0,495 0,537 0,5 0,447 0,632 0,679 0,704 0,514
Quixaba 0,487 0,557 0,494 0,409 0,581 0,613 0,686 0,445
Ribeirão 0,562 0,652 0,53 0,503 0,658 0,719 0,694 0,56
Rio Formoso 0,516 0,579 0,524 0,446 0,621 0,66 0,695 0,508
São Benedito do Sul 0,404 0,461 0,317 0,435 0,549 0,598 0,597 0,452
São José da Coroa Grande
0,498 0,527 0,5 0,467 0,628 0,652 0,696 0,537
Sirinhaém 0,5 0,579 0,49 0,431 0,633 0,707 0,674 0,517
Tamandaré 0,496 0,559 0,488 0,442 0,596 0,627 0,649 0,513
65
Vitória de Santo Antão 0,577 0,585 0,603 0,544 0,663 0,692 0,714 0,584
Xexéu 0,435 0,487 0,398 0,42 0,561 0,584 0,628 0,47
Fonte: PNUD/Fundação João Pinheiro. Nota: Componentes do IDH-M: IDHM-E, para Educação; IDHM-L, para Longevidade (ou Saúde) e IDHM-R, para Renda.
O município de Primavera apresentou em 1991, o IDH numa proporção bem
abaixo do atual, com item de 0.495 contra 0.632, bem mais elevado em 10 anos.
3.2.6 Festas tradicionais, alegria e divertimento
As festividades do município já fazem parte do calendário de eventos da
região e do Estado. Destacam-se: o carnaval, semana santa, festa do trabalhador,
comemorada no dia 10 de maio, festa das mães, festa de Santo Antônio, São João e
São Pedro, festa dos pais, desfile cívico, festa das crianças, festa de Santo Antonio,
20 de dezembro emancipação política e 25 de dezembro que se comemora o natal.
Quadro 2. Calendário anual de eventos de Primavera/PE. Fonte:Site da Prefeitura Municipal de Primavera. Disponível em: www.primavera.pe.gpv.br/festaseeventos. Acesso em: 20 de jan. 2010.
66
3.2.7 População local
Tabela 5. Dados demográficos do Município de Primavera-PE.
População Área Bioma
12.364 habitantes 109.94 km2 Mata Atlântica
Fonte: IBGE, dados básicos dos municípios de Pernambuco, 2009.
A população de Primavera cresceu nos últimos 10 anos. Estimativa que
anima as pessoas para continuarem morando no lugar, mesmo com dificuldades e
ameaças de viverem em cidades perto da região metropolitana. Recife está a
aproximadamente 85 km. Primavera fica ainda numa distancia do Complexo de
Suape em torno de 56 km, com estradas adequadas para tráfego de veículos, tanto
de passeio como de transporte de cargas e passageiros.
67
CAPÍTULO IV
4. O SERTA E A FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DOS JOVENS ADL
“É graça divina começar bem. Graça maior é persistir na caminhada. Mas, graça das graças é não desistir nunca.”
(Dom Hélder Câmara)
O SERTA – Serviço de Tecnologia Alternativa é uma organização não
governamental, fundada em 03 de agosto de 1989, com sede no Açude Engenheiro
Dr. Francisco Saboya s/n, povoado Poço da Cruz, Ibimirim, Pernambuco. A segunda
sede fica no Campo da Sementeira em Glória do Goitá.
Mapa 05: Atuação do Serviço de Tecnologia Alternativa-SERTA em Pernambuco Fonte: Relatório de atividades Projeto Desenvolver o Território II. 2008, p. 16.
A instituição é de natureza jurídica OSCIP29 – Organização da Sociedade Civil
de Interesse Público nos termos da Lei 9.790 de 23 de março de 1999, consta no
processo do Ministério da Justiça n.o 08015005963/2002-12, conforme despacho do
Secretário Nacional da Justiça na data de 03 de maio de 2002, publicada no Diário
Oficial da União em 08 de maio de 2002.
29
Embora a organização tenha natureza jurídica OSCIP, tem-se a dimensão do trabalho social, buscando sempre, apoiar a formação de jovens, professores, etc.
68
Foto 5. Formação de ADL. Poço da Cruz, Ibimirim,PE. Fonte: arquivo pessoal do autor
É uma entidade com registro no CNAS – Conselho Nacional de Assistência
Social pelo processo de n.o 44.006.003.535/1997-27 que está em efetivo e contínuo
funcionamento nos 3 (três) anos anteriores ao presente cumprindo com suas
finalidades estatutárias.
Fundada por um grupo de agricultores, técnicos e educadores que
participavam do CECAPAS – Centro de Capacitação e Acompanhamento aos
Projetos Alternativos, motivados pela necessidade de dispor de um espaço próprio
de trabalho e atuação que superasse os impasses que a Igreja Católica do
Nordeste, as Comunidades Eclesiais de Base, o movimento sindical rural e o
cooperativismo enfrentavam na época.
Nos seus primeiros anos, ficou conhecido como o “grupo do mutirão”. Não
tinha sede e seus técnicos costumavam morar nas comunidades rurais, procurando
desenvolver uma metodologia própria que promovesse o meio ambiente, a melhoria
da propriedade e da renda e o uso de tecnologias apropriadas, juntamente com o
trabalho voltado para a catequese e a cidadania.
O foco sempre foi o desenvolvimento e reconhecimento da importância da
agricultura familiar.
69
4.1 A Proposta pedagógica PEADS
Ao longo dos seus vinte anos de atividades, na perspectiva da justiça e da
inclusão social, desenvolveu a metodologia PEADS30 – Proposta Educacional de
Apoio ao Desenvolvimento Sustentável, hoje, reconhecida pelos impactos positivos
na capacitação, mobilização e organização de atores sociais emergentes e
comprometidos com o desenvolvimento do campo e o fortalecimento da
agroecologia.
A metodologia vem sendo aplicada em diversas situações, com realidades
produtivas distintas, trabalhando em sistemas formais e não formais de educação
sempre na perspectiva da mobilização social e da construção das bases
tecnológicas e sociais que o desenvolvimento sustentável requer.
Ela está divida em 4 etapas: pesquisa, desdobramento, ação e reflexão. A
seguir podemos conhecê-las com mais detalhes:
4.1.1 Primeira etapa – Pesquisa e diagnóstico participativo
Parte do desejo, da vocação, dos primeiros conhecimentos que as pessoas,
comunidades já detêm ou que podem gerar, a partir de pesquisas, de
levantamentos, de diagnósticos, da identificação de pessoas, grupos, espaços,
situações e ambientes. O Educador/a leva sempre em conta o conhecimento, a
experiência e a vivência do educando antes de construir novos conhecimentos e
conteúdos.
As dinâmicas e técnicas usadas para essa etapa são pesquisa, através de
diversas formas: aplicação de questionários, censos (ambiental, agropecuário,
populacional), entrevistas, observação participante, trabalho de equipe, consulta
bibliográfica, formulação de perguntas.
Os produtos são a identificação dos grupos interessados em uma ação, um
projeto, um programa. São eleitos critérios iniciais de seleção, identificação de
possíveis parceiros, de recursos necessários, dos limites, das potencialidades e
possibilidades.
30
A PEADS – Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável. Proposta inspirada no trabalho desenvolvido pelo SERTA ao longo de seus 20 anos de formação de sujeitos sociais.
70
Foto 6. Participação dos produtores em capacitações – SERTA. Fonte: arquivo de fotos Serta, 2010
4.1.2 Segunda etapa – aprofundamento
Corresponde à análise dos dados levantados na primeira etapa. É o
aprofundamento e desdobramento dos conhecimentos prévios, elevando para outro
patamar o nível inicial dos conhecimentos.
Os dados são organizados, sistematizados, aprofundados com outros
autores, técnicos, gente da comunidade. Poderão ser realizadas novas pesquisas,
com estudo de viabilidade das ações e proposições. Na escola, além disso, as
professoras desdobram os conhecimentos das disciplinas escolares - redação,
gramática, matemática, história, geografia, etc. No ensino profissional e curso
técnico, o professor/a faz o mesmo com as disciplinas do curso.
As dinâmicas e técnicas são inúmeras: leituras especializadas, trabalho em
grupo, exposições, plenárias, novas pesquisas, oficinas de trabalho, estágios,
estudos especializados, consultas na internet, relatórios, construção de cenários e
hipóteses.
Os produtos mais comuns são a montagem dos próprios planos de atividades
individuais e coletivas, articulação dos parceiros, negociação coletiva, relatório das
pesquisas com quadros, planilhas, gráficos, planejamento participativo e os
trabalhos escolares.
71
Foto 7. Visita de alunos em atividades práticas Fonte: arquivo Serta (2010).
4.1.3 Terceira etapa – devolução e plano de ação
É a implantação e execução do projeto, da aplicação dos recursos
mobilizados. Na escola, corresponde ao momento em que os alunos convidam os
pais para uma reunião e apresentam o resultado dos conhecimentos produzidos.
Provoca nos participantes uma ação concreta para resolver os problemas
identificados, no novo conhecimento construído pela escola. No ensino profissional e
técnico, o professor com os alunos convoca as famílias ou outros grupos
interessados e envolvidos com os alunos para apresentar aos mesmos o que foram
capazes de construir e apreender.
As dinâmicas e técnicas também são diversas, que variam muito de acordo
com o nível dos projetos e o público. São preparados reuniões e encontros dos
envolvidos, são elaborados relatórios, são desenvolvidas propostas de
comunicação.
Os produtos são a implantação e execução dos projetos e planos de ação.
72
Foto 8. Devolução da pesquisa nas comunidades - PEADS Fonte: arquivo Serta, 2010
4.1.4 Quarta etapa – Avaliação Processual
Corresponde aos momentos avaliativos, através de auto-avaliação e hétero-
avaliação, envolvendo todos os atores participantes dos processos e temas
estudados. São avaliadas as aprendizagens, os educadores/técnicos, as dinâmicas,
os procedimentos, os acordos de convivência.
As dinâmicas e técnicas são variadas: análise dos resultados, dos impactos,
das aprendizagens, reuniões de avaliação, trabalho de grupo e plenárias, testes de
verificação, relatórios, práticas aplicadas nas propriedades e nos negócios.
Os produtos são o replanejamento, correção de prazos, de custos, de
responsabilidades, de programas de ação, de eleição de outro eixo temático para
uma nova rodada.
73
Foto 9. Momento de reflexão e avaliação da prática Fonte: arquivo SERTA, 2010.
4.2 Aliança com o Adolescente
A realização do Projeto Aliança com o Adolescente, na microrregião da Bacia
do Goitá31, além de ampliar o escopo da atuação, teve como resultado adicional o
aperfeiçoamento da qualidade da sua intervenção pedagógica e social,
transformando a PEADS em um importante itinerário pedagógico da educação para
o Desenvolvimento Local.
Foto 10. Espaço pedagógico no Campo da Sementeira, Glória do Goitá-PE. Fonte: Dantas (2009)
31 Os municípios de Feira Nova, Lagoa de Itaenga, Pombos e Glória do Goitá situam-se na Bacia do Goitá, distantes em torno de 65 a 80 km do Recife,
constituída pelos municípios produtores de farinha, onde havia em 1999 forte incidência de trabalho infantil.
74
4.3 As experiências com iniciativas locais
O desenvolvimento do projeto Aliança com o Adolescente resultou em
diversas ações, que depois se transformaram em exemplos seguidos pelos jovens e
apoiados por parceiros e colaboradores:
4.3.1 Ecoorgânica – Cooperativa de Produtores Orgânicos
A experiência acumulada no campo da agricultura familiar orgânica
possibilitou a formação da Ecoorgânica, cooperativa de produtores orgânicos, com
sede em Vitória de Santo Antão, envolvendo 120 produtores em atividades de
capacitação, apoio à produção, beneficiamento e comercialização.
Foto 11. Imagem da fachada lateral do Campo da Sementeira. Fonte: arquivo pessoal (2008)
A Fundação Kellogg reconheceu a entidade como integrasse da Rede Latina
Americana dos Centros de Ecotecnologia – Rede LAC, composta por 14 instituições,
voltadas para a segurança alimentar, o combate à fome e o desenvolvimento
sustentável.
4.3.2 UPPO – Unidade Pedagógica de Produção Orgânica
Neste âmbito a referência é unidade pedagógica de produção orgânica –
UPPO, instalada no Campo da Sementeira, espaço demonstrativo de ecotecnologias
integradas em uma propriedade de 15 hectares, sob a ótica da permacultura.
75
O espaço é constituído de 15 hectares – utilizados na implantação de
inovações tecnológicas permitindo que o jovem se aproprie de inovações e técnicas
de plantio, irrigação manejo de animais e preservação do meio ambiente a partir de
seus princípios que podem ajudar no cotidiano de sua propriedade e de sua
comunidade.
A unidade dispõe de experimentos demonstrativos que se integram numa
visão da permacultura, envolvendo plantas de pequeno e grande porte, animais
diversos, pequenas construções, tecnologias apropriadas, biofertilizantes, agricultura
urbana, sementeiras, etc.
Foto 12. Tecnologias apropriadas - galinheiro por andar com hortas de tonel Fonte: arquivo pessoal
Foto 13. Tecnologias apropriadas - horta de pneus. Fonte: arquivo pessoal (2009)
Nesta mesma dimensão, foi conquistado o 2º lugar do Prêmio Itaú Unicef
2003 Educação & Participação, que teve como tema “Muitos Lugares para
76
Aprender”, destacando-se dentre 1.834 projetos concorrentes que desenvolvem
Ações Complementares à Escola, no Brasil.
Durante seu estado de desenvolvimento das ações, estratégias e
oportunidades, o SERTA ainda estruturou o CTAF – Centro Tecnológico da
Agricultura Familiar.
A dinâmica do CTAF se desenvolveu em dois campus: Campo da
Sementeira, em Glória do Goitá, e no Poço da Cruz, nas antigas instalações do
DNOCS, em Ibimirim, sertão do Moxotó pernambucano.
A perspectiva sempre foi para integração de estratégias de sustentabilidade e
melhor cumprimento da missão para promover o desenvolvimento local e
sustentável. O Centro Tecnológico da Agricultura Familiar se articula através de
convênios de cooperação técnica.
4.4 A equipe de educadores
A equipe de educadores composta por profissionais comprometidos com o
processo de desenvolvimento sustentável. Por muitos anos, fiz parte desta
magnífica equipe. Momentos importantes como na figura a seguir, demonstra o
quanto os educadores tem afeto aos educandos.
Foto 14. Atividade pedagógica com presença do educador (Abdalaziz de Moura). Fonte: Dantas (2010).
77
4.5 Estratégias centradas na aprendizagem32
O Serta parte do pressuposto que para melhor acontecer a construção do
conhecimento é necessário o contato direto com a realidade, com a situação
problema e com as aprendizagens que são as ferramentas de resolução. A mudança
da realidade provocada pelo uso das aprendizagens é de fundamental importância.
Ela mostra que, além do conceito, os jovens partiram para o procedimento,
resolvendo e transformando a realidade onde residem e atuam em suas
circunstâncias.
A aprendizagem é um processo que acontece, independentemente da
situação que se esteja vivenciando. Logo, em muitas oportunidades, o indivíduo está
aprendendo e que na medida em que aprende, seu comportamento é modificado.
A verdadeira aprendizagem ocorre dentro do eu, do próprio ser. É preciso que
aquilo que o educador ensina, mexa com seu interior, que o transforme, que o
modifique.
Por isso, aprender não é simplesmente repetir uma leitura feita, responder
textualmente algumas questões em uma prova escrita ou mesmo memorizar regras.
É muito mais que isto, é conhecer, aplicar, analisar e até julgar.
Para o Serta é mais importante o aprender do que o ensinar, embora que o
processo do ensino e da aprendizagem não se separa, é intricado, mas as
facilidades e atenções são mais dedicadas ao aprender. Há um esforço de procurar
sempre identificar os estilos de aprendizagem dos jovens, acreditando que cada
indivíduo tem seu estilo próprio de aprender e cabe ao educador atender aos mais
variados estilos de aprendizagem. Com isto o nível de aprendizagem aumenta
consideravelmente. Estas interfaces favoreceram para que a instituição construísse
suas estratégias de atuação, baseando-se nos tópicos:
Missão do Serta
32
Relatório parcial de execução de atividades. (segunda parcela). Projeto de Capacitação de Agentes Empreendedores da Agricultura Familiar. Contrato de Repasse: 267801-29/2008 MDA/CAIXA/SERTA. Glória do Goitá, janeiro de 2010.
78
Formar jovens, educadores e produtores familiares para atuar na
transformação das suas circunstâncias e na promoção do desenvolvimento
sustentável do campo.
Visão de futuro
Ser referência na formação de jovens, educadores e produtores familiares,
influenciando na proposição de políticas públicas para o desenvolvimento do campo.
Valores conquistados
Cooperação, solidariedade, transparência, entusiasmo, respeito à
diversidade, ética, afetividade, compromisso, crença nas pessoas, respeito a
preservação da natureza e do meio ambiente.
Áreas de atuação
formação de jovens do campo;
formação de produtores/as familiares
formação de educadores/as (professor, monitor, coordenador pedagógico)
desenvolvimento territorial
Objetivos do SERTA
Formação de jovens
Desenvolver a formação de jovens, educadores e agricultores através da
PEADS, com ênfase na formação profissional dos jovens para fortalecer a sua
capacidade de atuação nas suas circunstâncias e do desenvolvimento territorial.
Estas ações se baseiam em fatores importantes no decorrer da formação.
A seguir, o quadro demonstra o número de adolescentes formados como ADL
Agentes de Desenvolvimento Local, Agentes da Arte e Cultura (ADAC), com apoio
da aliança como o adolescente, bem como os jovens ADAC e demais cursos que
eles puderam estudar no Campo da Sementeira:
79
Quadro: jovens estudantes no SERTA
Fonte: SERTA, 2008.
Formação de educadores
qualificar a escola do campo na produção e difusão de conhecimentos e atitudes
que contribuam para a cidadania.
formar educadores que contribuam na efetivação das políticas públicas de
educação do campo.
incorporar a metodologia PEADS na política educacional dos territórios onde o
SERTA atua.
Formação de famílias agricultoras
desenvolver e difundir tecnologias alternativas nas propriedades das famílias
agricultoras.
promover a formação e o acompanhamento de famílias agricultoras, com ênfase
na produção orgânica.
Desenvolvimento territorial
mobilizar atores sociais para promoção da gestão democrática como estratégia
de desenvolvimento territorial;
articular e capacitar outros atores estratégicos do território para participar na
promoção do seu desenvolvimento sustentável.
Princípios que norteiam o trabalho da instituição SERTA
Homem e natureza, relação harmoniosa
Cursos Glória de Goitá Pombos Lagoa do
Itaenga Feira Nova Total
ADL 81 71 82 71 305
ADAC 31 21 27 24 103
Teatro 20 0 28 20 68
Percussão 08 0 12 0 20
Total geral 140 92 149 115 496
Quadro 3. Demonstrativo da quantidade de adolescentes formados.
80
O homem é um elemento da natureza. Um elemento aprimorado, bem dotado.
A natureza passou milhões de anos para formar o homem. Primeiro formou a terra,
as águas, as plantas, os animais e por último formou o homem com uma inteligência
especial. O homem evoluiu muito e pensou que não fazia parte da natureza, que
podia dominá-la de qualquer jeito, negar suas leis que demoraram milhões de anos
para serem formadas.
Esta relação se completa na medida em que o homem passa a fazer parte da
natureza, com suas relações de conexões, se colocando a favor da mesma e em
defesa de suas leis e princípios.
O Desenvolvimento Sustentável é Possível
Os bens necessários para uma vida humana e digna são possíveis de se
estender a todas as pessoas e grupos humanos. Se não chegou ainda para todo
mundo, não é porque seja impossível chegar, mas por conta de outros motivos. Tem
muitas razões de ordem histórica, social econômica, cultural, política e ideológica,
que impede chegar a este ideal. O desenvolvimento se faz com a participação das
pessoas.
Desenvolvimento e participação democrática
A democracia, neste sentido, não está destinada nem a candidato, nem
eleitor. Precisa apenas ser um cidadão consciente. É a democracia que se realiza
sempre quando as pessoas participam da construção da mesma nos diversos
sentidos de participação.
O conhecimento na compreensão do mundo
Entender que para uma nova relação com a natureza, deve-se buscar um
novo tipo de desenvolvimento e uma forma diferente de democracia, um
conhecimento novo, não descartar os conhecimentos tradicionais aprendidos nas
famílias, nas escolas e universidades.
Paradigmas que desafiam a prática
81
Mesmo diante dos desafios, a dimensão parece ser arraigada de desafios.
Para entender esta questão, Moraes (2006, pág.35) encontrou uma forma inusitada
de comparar a nova e a velha forma conceber estes paradigmas, quando afirma
que,
diante de tantas questões em evidências sobre crenças e valores para um novo olhar sobre o desenvolvimento sustentável, entender aquilo que o Serta faz, na dimensão da produção orgânica e permacultura, parece tratar-se de uso de técnicas de manejo baratas, adaptadas ao meio ambiente, usadas por agricultores que tem muita mão-de-obra e pouca terra, ou de alternativas para gerar renda. Falar do processo formativo dos adolescentes pode parecer coisa de introdução de arte, cultura, aulas com oficinas, coisas que os jovens gostam de fazer. E falar da Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável (PEADS) pode parecer introdução de pesquisa na escola ou de nova didática para facilitar o ensino.
Paradigma filosófico
Toda ação supõe valores, que são opções éticas, filosóficas e fazem parte da
concepção pedagógica que se trabalha. De acordo com Mendes (2009),
fazemos capacitação, construímos conhecimentos, usamos tecnologias de produção e manejo orgânico, desenvolvemos técnicas de aprendizagem. Porém, a grande pergunta que nos preocupa não é o que as pessoas aprenderam a fazer com as capacitações, conhecimentos, tecnologias, e sim em que as pessoas passaram a acreditar a partir das nossas capacitações, conhecimentos e tecnologias. Vejamos os exemplos. Sobre o educando da escola fundamental, interessa-nos saber em que ele passou a acreditar a partir da PEADS.
Paradigma econômico
O paradigma em que o SERTA se inspira repensa a ocupação e o uso dos
solos e as técnicas de manejo, por conta da filosofia que desenvolve, por conta dos
valores em que acredita, por conta da forma como usa a ciência. Os solos das
propriedades tendem cada ano a estar melhorado, enriquecido, diversificado e
intensamente usado em cada palmo de terra.
Paradigma político
82
É outra dimensão que para entender, é necessário pensar outro paradigma.
Gerir um município significa administrar recursos para atender aos paradigmas
vigentes. São necessidades, numa sucessão organizada de ações.
4.6 - A Formação Pedagógica do Agente de Desenvolvimento Local
O curso se dá através da agricultura familiar orgânica, por meio da
permacultura, disseminando-se sua metodologia de assistência técnica e extensão
rural, com os jovens.
A proposta é que cada jovem ponha suporte à produção, formação e gestão
de mais uma família no seu Núcleo de Atendimento - NA, criando a ambiência de
organização e logística para viabilizar o processo produtivo comunitário.
Para a operacionalização desses modelos de desenvolvimento o perfil de
ADL tem se mostrado um elemento fundamental. O ADL tem sido procurado por
Prefeituras, Instituições públicas e privadas, Movimentos Sociais e Populares, Ong,
projetos, Cooperativas e Empresas Privadas.
O interesse é para atuar nas mobilizações sociais dos territórios, para
desenvolver a agricultura de forma profissional, para difundir as tecnologias
amigáveis com o meio ambiente, oferecer assistência técnica aos produtores rurais,
encaminhar trabalhos e programas sociais, educativos, comunitários. Das três
primeiras turmas já formadas, encontramos jovens em seu próprio negócio e
empreendimento ou prestando serviço em instituição privada ou pública.
O jovem formado tem se mobilizado para a construção, implantação e
controle social das políticas públicas de juventude, liderando iniciativas a nível local
até nacional, participando de redes, mobilizando artistas e artesãos.
Através da informática com os valores que cultivam, disseminam o uso das
tecnologias de informação na perspectiva de ferramenta para o desenvolvimento
local. É, portanto, um perfil dentro das novas oportunidades de mercado.
Por isso, a proposta é de formar e qualificar profissionais através do ensino
técnico de nível médio com competências, valores, conhecimentos e habilidades
necessárias para o desempenho eficiente e eficaz na área de Agropecuária para
atuarem como técnico em agropecuária com ênfase na agricultura familiar e
desenvolvimento local.
83
A questão em discussão partiu da ideia de transformar o curso
profissionalizante, que pudesse favorecer o conhecimento técnico e pedagógico dos
alunos para os mesmos se desenvolverem, através de suas competências e
habilidades, no fortalecimento da agricultura familiar, através de ações integradas de
Educação Profissional, assistência técnica, inovação tecnológica e do estímulo ao
empreendedorismo.
Outro fator importante é que os jovens possam desenvolver os aprendizados
para a vida profissional, difundir tecnologias e estratégias inovadoras de produção,
gestão e capacitação, sustentáveis e apropriadas, apoiando a agricultura familiar de
bases tecnológicas compatíveis.
O Técnico em agropecuária é o mesmo ADL. Um profissional habilitado para
atuar no âmbito pessoal, social, tecnológico e produtivo junto às comunidades e
municípios, em atividades de gestão, planejamento, assistência técnica e extensão
rural, orientando os projetos e processos produtivos.
Diante das oportunidades surgidas no cotidiano do técnico, o mesmo deverá
desenvolver as seguintes habilidades:
saber trabalhar em equipe com espírito crítico, além de se expressar e se
relacionar com pessoas e instituições;
atuar na mobilização das comunidades, municípios e territórios;
planejar, preparar e executar eventos públicos;
conduzir e liderar de forma participativa, encontros, reuniões, assembléias e
iniciativas do meio local;
exercer papel de facilitador de conflitos e de tomada de decisão nas
organizações locais;
realizar pesquisas e diagnósticos participativos nas comunidades, analisando o
contexto sócio-ambiental e econômico;
sistematizar e socializar informações junto aos atores das comunidades;
planejar intervenções participativas que envolvam instituições e/ou segmentos da
sociedade com foco no desenvolvimento da agricultura familiar;
saber difundir tecnologias, processos formativos e estratégias inovadoras de
produção, organização, gestão e capacitação, apropriadas e apropriáveis,
apoiando a agricultura familiar;
84
avaliar e comparar os modelos de agricultura convencional/tradicional, com a
alternativa ecológica, diferenciando de forma crítica os conceitos de maximização
lucrativa e otimização produtiva;
acompanhar e monitorar ações protagonistas desenvolvidas no campo do
empreendedorismo social e produtivo;
articular, mobilizar recursos e parcerias visando o desenvolvimento comunitário e
a formação de novos atores sociais;
orientar a formação de associações e cooperativas de produção;
elaborar planos de negócios simplificados e empreender negócios.
Destaca-se como estratégia para o processo formativo dos jovens, numa
lógica pedagógica que segue:
Seminário de Sensibilização e Mobilização
Os municípios são visitados pelas equipes de educadores e técnicos que em
duplas, fazem as articulações junto às entidades parceiras, associação de
agricultores familiares, gestores municipais, empresas, cooperativas e outras
entidades para convocação dos jovens candidatos a vagas no curso.
São realizadas visitas de articulação nos municípios, para apresentação do
processo formativo, critérios e perfil de entrada dos jovens e ainda a apresentação
das datas dos encontros de seleção, através de seminários, por município.
Seleção dos Jovens
Cada dupla de educadores, juntamente com os representantes das entidades
parceiras nos municípios, agendam uma data para que as associações, sindicatos
apresentem as indicações dos jovens.
O número de jovens por município não pode ultrapassar de 15 pessoas. E
cada associação participante pode indicar até cinco jovens para ser selecionado. Os
jovens que são forem selecionados podem fazer parte do acompanhamento dos
jovens selecionados, não sendo frustrada a sua participação.
85
No processo seletivo os jovens preenchem um formulário com os dados e
perguntas sobre a vida pessoal, familiar e envolvimento com a comunidade.
Aula inaugural
Este dia, denominado aula inaugural, os jovens chegam cedo ao Serta campo
da Sementeira, em Glória do Goitá ou no Poço da Cruz em Ibimirim. São convidados
representantes das entidades que apoiaram o processo formativo: empresas
privadas, Bancos, Órgãos do Governo, Prefeituras locais, educadores, Gestores,
Igrejas, Associações, Sindicatos e os próprios jovens selecionados.
A acolhida destes leva a relembrar o quanto é importante ser bem recebido. É
no momento da chegada que se deve deixar perceptível o quanto à presença das
pessoas é importante em qualquer momento, seja chegando de uma viagem, ser
para participar de um fórum, congresso e mais ainda para um momento tão especial
e único que é a formação de tantos jovens imbuídos de vários talentos, usando-os
na perspectiva de mudar seu entorno.
Foto 15. Aula inaugural dos jovens de Primavera-PE. Fonte: arquivo pessoal do autor (2009)
A chegada ao campo da sementeira é alegre, com expectativas, ansiedades.
Destaca-se nas falas dos jovens que,
se espera uma possível experiência pra toda vida. O mais importante é que iremos poder ajudar a nossa região. Ao enxergar o meio em que vivemos, de um modo vantajoso e produtivo. E é com este projeto que iremos
86
enxergar pessoas necessitadas, no intuito de reconhecimento para que possamos repassar o que viemos aprender” (Edvania Benicio, Orobó).
Mais em frente, os próprios jovens buscam destacar seus sonhos,
afirmando uma coragem onde,
“com estas aprendizagens iremos desenvolver uma agricultura rica e saudável e também ofereceremos para as pessoas um projeto de vida mais sustentável”. (Danielle Plácido, Vicência).
Foto 16. Aula inaugural. Satisfação dos jovens. Fonte: arquivo pessoal (2009).
Foto 17. Aula inaugural. Rito de passagem, chegada dos jovens. Fonte: arquivo pessoal (2009).
As etapas da formação pedagógica dos jovens
O processo formativo se constitui de várias etapas. Uma não desmerece a
outra. A formação se dá entre 16 e 18 meses, com aulas presenciais e nos
87
municípios, considerando que cada município constrói sua dinâmica de atividades,
horários, datas, etc.
Desenvolvimento pessoal e social
Acontece através de oficinas de auto-estima onde o indivíduo busca aprimorar
suas atitudes, valores e habilidades pessoais, que se tornam aptos para o saber ser,
conviver, aprender e produzir.
Os conteúdos permeiam uma estratégia de formação que não atrapalha o
aluno em participar de outras modalidades. Somando estes conhecimentos com os
adquiridos nos demais módulos, os jovens projetam suas ambições de futuro,
amparados por conhecimentos sobre si mesmos e sobre a realidade em que estão
inseridos.
ser Jovem: esta é base da formação do Agente de Desenvolvimento Local. Na primeira etapa, os conteúdos seguem ilustrando os conhecimentos temáticos que os jovens adquirem ao longo dos três primeiros módulos propostos no projeto capacitação de jovens para o desenvolvimento territorial: identidades em formação e Desenvolvimento Pessoal; Escala de Desenvolvimento Humano: autoestima, autoconceito, autoconfiança”. (Relatório Projeto MDA, Formação de Agentes Empreendedores. 2009. P. 34)
Temas como o jovem como sujeito de direitos, direitos humanos, ECA e LDB,
Constituição Federal, Movimentos Sociais, relação entre o Público e Privado, Projeto
de Vida e Visão de Futuro, sexo, sexualidade e relações afetivas, informática básica
são alguns dos itens abordados neste módulo.
88
Foto 18. Manutenção dos espaços pedagógicos Fonte: arquivo pessoal (2010)
Este é o momento em que o jovem trabalha o conhecimento sobre si mesmo,
como suas competências podem ajudar no seu crescimento e no crescimento dos
demais envolvidos nos processos de aprendizado, sejam pessoas ou comunidades.
As atividades são articuladas com diversas outras. Cada uma é recheada de
dinâmicas, brincadeiras, momentos de descontração e alegria. Os jovens, nesse
momento, passam a se conhecer e conhecer os demais, os amigos.
Foto 19. Produção pedagógica – Atividades dos gráficos – identidade dos jovens Fonte: Diponível em:www.serta.org.br . Acesso em: 20 mar. de 2009.
89
Foto 20. Produções das Atividades. Quem sou eu Fonte: Disponível em: www.serta.org.br . Acesso em 20 març. 2009.
Desenvolvimento tecnológico e agricultura familiar
O itinerário curricular está embasado na escala de desenvolvimento humano
(identidade, auto estima, auto conceito, auto confiança, visão de futuro, projeto de
vida, sexualidade, gênero, métodos contraceptivos DST, gravidez na adolescência).
Concepção de Mundo com a visita à mata, visita às UPPO - Unidade Pedagógica
Produtiva Orgânica, laboratórios vivos de inovação e pesquisa de tecnologias
acessíveis, viáveis e que respeitem o meio ambiente.
As capacitações básicas em agricultura familiar iniciaram-se com a visita a
mata e o estudo do ecossistema preservado, construindo com os jovens os
princípios e as inter-relações existentes entre cada elemento que o compõe a
mesma.
Visita à mata e/ou caatinga
O itinerário curricular iniciou a Concepção de Mundo com a visita a mata que
teve o objetivo de transmitir princípios da agricultura orgânica, criar novos valores,
oferecer instrumentos que possibilitem tomar posicionamentos em relação às
questões do meio ambiente e fazer com que os ADL tenham uma visão holística da
realidade.
90
Foto 21. Visita à mata – curso formação de jovens. Fonte: Disponível em: www.serta.org.br . Acesso em: 20 març. 2011.
Curso de adubação
Este tipo de tecnologia chama muita atenção dos jovens, pois na propriedade
os pais costumam queimar toda riqueza ou potência existente nas propriedades
causando cada vez mais dependência dos recursos externos. E que é viável
economicamente a utilização de técnicas alternativas de produção de adubos e de
conservação de solo.
Conservação do Solo
O processo se dá com a prática, realizando e construindo um equipamento
chamado pé-de-galinha, que pode ser construído com recursos existentes na própria
propriedade após construir o pé-de-galinha será a vez de traçar a curva de nível que
é uma prática de conservação do solo.
Aula de pedologia
Os trabalhos se iniciaram com a pergunta aos jovens sobre pedologia. Após
este questionamento acontecem as colocações relacionadas com o estudo do solo.
Corta-se uma barreira para verificar o perfil interno do solo, observando-se as
diferentes colorações do solo, pedindo para os jovens diferenciarem e enumerarem
quantas camadas existem.
Controle de Pragas e Doenças
91
Acontece um comentário sobre o início em grande escala das pragas e
doenças em áreas de cultivo agrícola e em seguida pergunta-se aos jovens quais as
pragas e doenças e qual o controle feito em sua propriedade.
Curso de Desenho Predial
Este momento da formação permite o jovem dar asas a sua imaginação e
projetar livremente como gostaria que sua propriedade estivesse no futuro próximo.
Aguçar a criatividade do ADL neste momento é de fundamental importância para o
passo seguinte. Levá-lo a uma reflexão de como ele poderá identificar e elaborar
estratégias para alcançar seus objetivos.
Módulo de empreendedorismo e negócios
Este módulo tem como objetivo proporcionar os instrumentos de
empreendedorismo e negócio com intuito de provocar uma visão de gestão da
propriedade em seus meios de produção. A preocupação sempre busca em
desenvolver o tema com foco nas atividades produtivas na propriedade como um
todo e não apenas uma única atividade produtiva. Permeia todo o processo no
decorrer do curso.
A motivação de sensibilizar os jovens sobre a importância de empreender as
potencialidades locais da propriedade na perspectiva da agricultura familiar orgânica
é uma estratégia de tornar os jovens envolvidos com o tema empreendedorismo.
Foto 22. Alunos em formação com pesquisa nas feiras - Empreendedorismo. Fonte: arquivo do autor (2009)
92
Participação das famílias na formação dos jovens
Dentre as atividades, destacam-se a relação construída com as famílias dos
jovens. O trabalho ocorre no âmbito de acompanhamento e capacitação in loco. As
propriedades das famílias são visitadas pelos educadores e jovens em formação.
Durante o curso, o envolvimento se dá no acompanhamento técnico (pelos
jovens e educadores) na capacitação em tecnologias alternativas de produção,
melhoramento da produção agrícola, ingresso na composição das feiras em Recife e
municípios do interior.
Resultados obtidos com a formação dos jovens
Os desdobramentos acontecem nos municípios participantes do curso. Alguns
exemplos são citados a seguir:
As Feiras da Juventude em diversas localidades
O objetivo principal da feira é promover a venda dos produtos das famílias
envolvidas no processo formativo. Daí oportunizar a geração de emprego e renda
com valorização do produtor. Algumas feiras funcionam no Parque de Exposição de
Animais do Cordeiro, outras no Tribunal de Justiça, no Fórum de Recife e na Escola
Fazer Crescer.
São espaços de comercialização dos produtos orgânicos sem agrotóxicos e
aditivos químicos, produzidos por jovens agricultores familiares.
Foto 23. Entrega do veículo caminhão aos jovens e produtores. Fonte: Disponível em: www.serta.org.br . Acesso em: 20 abril 2010.
93
A comercialização na Feira da Juventude teve início no dia 22 de dezembro
de 2006. Com incentivo do Serta, juntamente com os técnicos educadores. A feira
beneficiou jovens que participaram do Projeto Desenvolver o Território, financiado
pela Petrobras e Consórcio Social da Juventude Rural da Aliança com Jovens -
Glória do Goitá, AMA-Gravatá - (Associação dos Amigos do Meio Ambiente de
Gravatá e o IPA - Instituto de Pesquisa Agropecuária).
Foto 24. Jovens comercializando na feira – Cordeiro, Recife-PE Fonte: Disponível em: WWW.serta.org.br . Acesso em: 20 abril 2010.
94
5. METODOLOGIA DA PESQUISA
“Ou você se compromete com o objetivo da vitória, ou não”.
(Ayrton Senna)
Segundo Hunt (1991), a metodologia cientifica consiste nas regras e
procedimentos nas quais a ciência baseia a aceitação ou rejeição de seu corpo de
conhecimento, incluindo hipóteses, leis e teorias. Assim é a lógica da justificação
(HUNT, 1991, p. 21), ou seja, é a lógica usada para aceitar ou rejeitar hipóteses, leis
e teorias.
Para efeito da evolução da metodologia usada nesta dissertação, considera-
se de relevância singular, de acordo com Gowin (apud MOREIRA, 1990) onde se
disponibilizou no seu pensamento a estrutura conhecida na literatura como o “V”
epistemológico de Gowin, pelo fato de que o esquema proposto pelo autor ter
formatado a letra “V”, como veremos.
5.1 O método “V” epistemológico de Gowin
Fonte: Manual de trabalhos acadêmicos de Carlos Serra Negra. 2009, p. 90.
Para Gowin (apud MOREIRA, 1990) a pesquisa científica estabelece
conexões específicas entres os fenômenos que estão sendo investigados, os
Domínio
Conceitual
Domínio
metodológico
Questão Básica
(Pergunta = problema)
Filosofia, Teoria, Princípios, sistemas
conceituais, Conceitos
Interação Resultados, Transformações, dados,
Registros
Eventos ou Objetos
(Fenômenos)
95
registros desses fenômenos, suas transformações e arcabouço teórico escolhido
para interpretar o que está sendo observado.
De acordo com Acevedo (2006, p. 15), a pesquisa é o plano lógico das etapas da
dissertação necessária para chegarmos à resposta central da questão inicial do estudo, ou
seja,
o projeto de pesquisa pode ser definido como um esquema de pesquisa que apresenta (1) qual a pergunta da investigação; (2) qual o arcabouço teórico em que se insere a investigação e quais são os estudos anteriores que constituem o pano de fundo da mesma; (3) quais os dados serão estudados, como esses dados serão coletados e como serão analisados (método da investigação).
Neste contexto faz saber que a metodologia já fora testada para consolidação
de resultados. Do ponto de vista estruturador do trabalho, a metodologia usada foi a
pesquisa exploratória.
De forma representativa no contingente de 20 jovens ADL – Agentes de
Desenvolvimento Local, formados no SERTA- Serviço de Tecnologia Alternativa, no
município de Primavera, Estado de Pernambuco, com abordagem exploratória, com
dados quantitativos e qualitativos.
Houve coleta de dados através de informações secundárias em sites do
IBGE, CONDEPE FIDEM, MDA. Outro aspecto foi a elaboração do questionário
quantificando os dados mais evidentes da situação atual dos 20 jovens participantes
da pesquisa.
5.2 A abordagem centrada nos jovens
Mesmo sendo uma oportunidade de ficar mais perto dos entrevistados, foi
dada ênfase ao trabalho de diálogos proveitosos com os jovens nas residências de
suas famílias. A certeza dos fatos se deu com a informação de cada um jovem que
participou do contato com o pesquisador.
Isso foi levado em conta porque marcou os momentos de vivências do
cotidiano dos jovens em suas propriedades durante as entrevistas.
De acordo com Oliveira (2003, p. 56) a utilização de métodos em pesquisa,
em sentido genérico significa,
96
a escolha de procedimentos sistemáticos para a descrição e explicação de fenômenos. Esses procedimentos implicam em dois tipos de abordagem: a abordagem quantitativa e a abordagem qualitativa. Sendo que ambos se relacionam, em se tratando de fatores e fenômenos.
Portanto, as abordagens de pesquisa utilizadas nesta pesquisa trataram de
exercitar métodos quantitativos e qualitativos como uma abordagem específica no
tratamento dos dados coletados, sendo o primeiro voltado para dados mensuráveis
através da utilização de recursos e técnicas estatísticas e o método qualitativo mais
enfatizado no âmbito social, caracterizado pela abordagem complexa relacionada ao
problema sociopolítico, econômico, cultural, educacional, e peculiaridades não
qualificáveis.
Ainda afirmando que ambos foram tão juntos e dependentes que geraram
informações mais sistematizadas, tanto de um lado como do outro no resultado final
do estudo.
No contexto, a abordagem se deu de forma, inicialmente quantitativa. Para
tanto, a sistemática se deu da seguinte forma:
a) coleta de dados através de estudos teóricos e literatura existente;
b) elaboração de questionários quantificando os dados mais evidentes da
situação atual dos 20 jovens;
c) coleta dos dados junto aos jovens;
d) reuniões para apresentar a sistematização dos dados juntos aos jovens e
familiares;
e) estruturação dos dados coletados através de planilhas em programa de
Excel, onde foram formatados os dados para o estudo de comparações e
analises.
Em se tratando da abordagem qualitativa foram analisados fatores
significativos para contextualização do problema bem como entendê-los do ponto de
vista aleatório e em profundidade. A participação dos jovens em grupos sociais, a
relação com os vizinhos e qualidade de vida foram sistematizados para dar
mensuração de características de cada jovem participante.
97
A abordagem se deu através de leitura da complexidade do problema e
hipótese. Foram considerados dois elementos distintos, porém articulados entre si,
como descreve a seguir:
a) entender as razões pelas quais os jovens se sentem participantes do
processo de construção das políticas públicas do município de Primavera, no
estado de Pernambuco;
b) sistematizar dos dados quantitativos e qualitativos que servirão de base nos
espaços de discussão das políticas públicas de juventude do município.
5.3 Os instrumentos para coleta de dados
Na tentativa de obter dados bastante satisfatórios, foi considerado, de acordo
com Oliveira (2003, p. 60) o questionário composto por perguntas e escalas que
foram apresentadas aos entrevistados.
Nesta pesquisa foram usados dois instrumentos:
a) questionário com perguntas quantitativas e qualitativas;
b) participação da comunidade nas reuniões com os jovens durante as
entrevistas;
5.4 As entrevistas
Essa fase iniciou com a aplicação dos instrumentos. Em Nohara (2006, p. 70),
estes instrumentos foram sistematizados como veremos no capítulo VII, item sete.
As entrevistas foram feitas seguindo a ordem de um plano de aplicação de vinte
questionários, mesmo sendo flexível por causa do cotidiano dos jovens e suas
famílias.
Nas entrevistas aconteciam diálogos com os jovens no sentido de deixar o
entrevistado sem dúvidas sobre o entendimento e assimilação das perguntas, bem
como saber se as mesmas ajudariam no processo de aprendizagem.
98
5.5 Análise dos dados
Os dados foram coletados por uma dinâmica de métodos de revisão
documental, com ênfase nas informações do município, de órgãos estaduais, e
leitura teórica através de artigos e textos elaborados pelo SERTA.
5.6 O universo da pesquisa
O trabalho aconteceu com vinte jovens do município de Primavera,
Pernambuco, alunos formados no curso de ADL – Agente de Desenvolvimento
Local, através do SERTA – Serviço de Tecnologia Alternativa.
Pode-se obter uma representação significativa para a análise dos dados
coletados na estratégia de abordagem do resultado do estudo como ferramenta para
subsidiar os gestores locais nas políticas municipais de juventude, identificação de
oportunidades e geração de renda através de suas propriedades.
99
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para Holliday (2006, p. 29), a sistematização dos dados situa-se no caminho
intermediário entre a descrição e a teoria. A tendência a contar de forma sistemática
as experiências vividas, a encaixar processos originais em esquemas rígidos
preestabelecidos.
Gráfico 1. Idade dos jovens. Fonte: elaborado pelo autor (2011).
O gráfico acima mostra que os jovens ingressaram no curso com idade entre
16 e 18 anos. Após o processo formativo, estes se encontram, em sua maioria, com
a idade entre 21 e 25 anos, num total de 60% dos entrevistados. Dos 100%, apenas
20% tem entre 15 e 20 anos, e 20% jovens com idade mais avançada, significando
que estes puderam progredir na vida, mesmo com idade considerada adulta.
Entender o que Moraes (2004, p. 20) enfatiza sobre a participação dos jovens
é afirmar esta realidade dos dados. A realidade é que os jovens não ficam no campo
com idade avançada. Geralmente os pais não perguntam pelo futuro dos jovens.
Deixam esta decisão com eles. Pela família, geralmente são convidados a cuidar da
roça, dos animais, dos negócios de vendas de produtos, etc. Portanto, esta idade do
jovem que vem estudar no SERTA, para o processo formativo possibilitou que a
juventude identificasse uma oportunidade para continuar no campo, estudando,
principalmente seu meio.
100
Gráfico 2. Estado Civil dos jovens Fonte: elaborado pelo autor (2011).
No gráfico acima, os casados representam 40% do total entrevistados.
Mesmo depois do curso, a maioria continua solteira, dando um total de 60%, que
ainda não resolveram se estruturar para casar. Mesmo que, nas visitas, comum se
fazia encontrar um ou outro que estava namorando.
Gráfico 3. Sexo dos jovens
Fonte: elaborado pelo autor (2011).
Para tanto, os jovens que frequentam o curso, com mostra o gráfico 03, foram
os de sexo masculino, com destaque para aqueles que puderam concluir. Eles
somam 60% do total dos jovens entrevistados. Na formação, pudemos identificar
que tanto os meninos como as meninas tiveram a mesma participação nas
atividades de campo, encaram a questão das tarefas da mesma forma. O que afirma
Costa (2002, p. 32), o novo mundo do trabalho está a exigir um novo trabalhador,
polivalente, flexível, motivado, criativo, apto à participação e à interação com seus
pares na geração de soluções.
Mesmo sendo as meninas, um total de 40%, como citado acima, estas se
passaram por guerreiras, pois, geralmente as meninas não são identificadas para
101
cuidar das propriedades Geralmente são professoras ou outra coisa, inclusive na
cidade.
Gráfico 4. Escolaridade dos jovens Fonte: elaborado pelo autor (2011).
No tocante à escolaridade dos jovens, ainda soma um total de 50% que
concluíram o ensino médio. Do total destes, 15% estão concluindo o ensino médio,
20% com curso profissionalizante completo. Durante a entrevista, alguns já disseram
que estão trabalhando devido o curso profissionalizante.
Em Abramovay (2009, p.40), relata no item 1.6 deste trabalho, que a condição
juvenil não implica única e exclusivamente atravessar um período difícil, ainda que
passageiro, cuja melhor saída seria a entrada num mundo caracterizado pela
educação e a formação escolar.
Ainda têm-se disparidades porque do total de 100%, 15% ainda não
concluíram o ensino fundamental completo.
Gráfico 5. Lugar onde mora atualmente. Fonte: elaborado pelo autor (2011).
102
Os jovens geralmente moram na cidade. Cerca de 60% têm casa própria, que
é um elemento fundamental para destacar a relação de qualidade de vida que os
mesmos enfrentam no dia a dia. Nas visitas às residências dos jovens, pode-se
observar uma casa arrumada, geralmente cuidada com sua participação, zelo, amor
pelo espaço de moradia. 40% destes moram na zona rural e que dispõem de
recursos próprios para alimentação e terra para produzir.
Compreender esta questão como um elemento que merece ser debatido pela
direção da instituição. Todavia, o curso tem sido voltado para jovens que moram no
campo e não na cidade. Este fato aconteceu porque no município de Primavera as
famílias migraram para a cidade em busca de local para morar porque os engenhos
de cana-de-açúcar foram transformados exclusivamente para o plantio da cana,
eliminando os imóveis restantes.
Gráfico 6. Em que você trabalha e consegue renda Fonte: elaborado pelo autor (2011).
A pergunta que surge, como estratégia é para saber da importância do curso
que os jovens realizaram é onde estes estão trabalhando. Embora, nesta fase da
vida, apareça 37% de jovens ainda assalariados, trabalhando na cana-de-açúcar, ou
outro serviço, perto de suas propriedades. Destes, 26% não fazem nada mesmo.
Nem sequer ajudam no cotidiano de suas propriedades, contra 26% que trabalham
ajudando os pais na propriedade ou parcela de assentamentos.
É preciso entender que o mundo rural embora nunca tenha sido ausente por
ser um dos componentes singulares da sociedade contemporânea, ressurge, num
ritmo estranho ao costumeiro, sendo atualmente o foco das atenções. A produção
rural ainda está atrelada ao assalariado.
103
Gráfico 7. Participa de alguma entidade social Fonte: elaborado pelo autor (2011).
Dentre as atividades da vida social, os grupos religiosos somam 44% e o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais, 24% de participação na vida social das
instituições. Juntos, estes dois somam 68% de toda participação. Um destaque é
que a participação junto as entidades (Ong) reduz a 4%, destacando que o
município de Primavera não tem nenhum trabalho de ONGs com os jovens.
As associções comunitárias, por sua vez, trazem uma participação de 20% do
total de jovens, considerção importante para a vida social dos jovens. Isto porque na
geralmente o trabalho fica sempre com a igreja ou o Sindicato.
O trabalho aqui apresentado relata no item 1.10 da importancia do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais e as igrejas para a mobilização dos jovens durante o
processo seletivo do curso de ADL. A escola também é o local de maior
concentração de encontro dos jovens. Ela sempre foi palco dos encontros para
reuniões, comunicados, avisos, recados durante o curso.
Gráfico 8. Envolvimento com as políticas públicas locais Fonte: elaborado pelo autor (2011).
104
Apesar de os jovens receberem o módulo de desenvolvimento social, na
formação de ADL – Agente de Desenvolvimento Local, os mesmos participaram
pouco da vida política do seu município, somando 40% que as vezes, tem
envolvimento com estas politicas. Nunca intensamente aparece como referência de
0%, cenário que deixa uma preocupação sobre as conquistas no embate do debate.
A questão em tese reforça que a formação de politicas públicas em uma
perspectiva de/para/com os jovens pode colaborar nesse sentido, à medida que com
tal perspectiva se advoga tanto a importância do Estado, do reconhecimento de que
várias juventudes, quanto a idéia de que há que ter os jovens como agentes quer da
elaboração, quer do acompanhamento e controle das políticas públicas direcionadas
para os jovens, o que pede investimento para formação participativa e no poder
elaborar/controlar políticas, além de conjugar a importância de políticas universais
que considerem singularidade nessa geração (CASTRO e ABRAMOVAY, 2002 e
UNESCO, 2004).
Gráfico 9. Nível de envolvimento do gestor municipal com as políticas públicas. Fonte: elaborado pelo autor (2011).
O envolvimento do gestor com as politicas de desenvolvimento sustentável
tem deixado uma preocupação. Significa que os jovens acham que “às vezes” os
gestores se envolvem, somando nunca, 30% e pouco, 15%, deixa uma margem de
quase 50% do total que os jovens reclamam desta ausência no debate das politicas
públicas.
105
Gráfico 10. Qual nível de envolvimento das ONGs nas Políticas Públicas
Fonte: elaborado pelo autor (2011).
Observa-se o gráfico acima, pode-se constatar que as ONGs não
representam de maneira participativa o trabalho com as políticas públicas. O item
2.4 descreve que a qualidade na educação é um fator que favorece ter uma escola
que favoreça o aprendizado para intervenção nas políticas de desenvolvimento local
sustentável. Portanto, de acordo com as informações encontradas em Moraes
(2004, p. 37) a participação das entidades não governamentais fazem a diferença no
processo pedagógico porque busca priorizar os processos a partir da realidade dos
alunos.
Gráfico 11. Grau de aceitação das entidades sociais. Fonte: elaborado pelo autor (2011).
As entidades que representam no município as ações de trabalhos sociais
são escassos. Destas, apenas 5% consideram a participação dos jovens excelente,
enquanto satisfatório com 50% e regular com 45%, somam um total de 95% que não
106
tem uma opinião positiva, afirmativa. Sempre com alguma dificuldade de aceitar tal
afirmação.
Gráfico 12. Aprendizado no curso do SERTA Fonte: elaborado pelo autor (2011).
Configura-se que o aprendizado obtido durante o curso foi comprovado 65%
de bom. E excelente, somando um total de 30%. Deficiente e ruim não aparecem,
enquanto que regular, apenas 5% do total.
Isso tem sido reforçado por meio das informações das famílias (item 5.2 e
5.2.1) descreve Acevedo (2006, p. 15) que a aprendizagem passa por um processo
de teste e reteste metodológico. A metodologia, assim, já tem uma consolidação
num intinerário que vem sendo propagado através dos diversos cursos,
capacitações e oficinas realizadas com públicos diferentes.
Gráfico 13. Aceitação da metodologia usada durante o curso. Fonte: elaborado pelo autor (2011).
A metodologia usada refere-se à PEADS e é uma obra pedagógica que os
jovens gostaram de estudar através dela. Do total, 65% afirmaram se a metodologia
bom e 35% disseram execelente.
107
Gráfico 14. Avaliar sua participação durante o curso Fonte: elaborado pelo auor (2011).
Os jovens consideram entre boa e excelente um total de 95% sua
participação no curso. Mesmo com uma carga de hora/aula considerada normal,
para cumprimento do curso, Do toal que afirmaram entre bom, um total de 45% e
excelente, 50%, firma-se a frase usada pelos ADL que “uma vez ADL sempre ADL”.
Gráfico 15. Que nota você daria a você mesmo Fonte: elaborado pelo autor (2011).
Os jovens se consideram pessoas de boa participação, com notas entre 75%
bom, excelente 25% para um universo de 100% dos jovens entrevistados. Eles se
dizem não ter notas como ruim e nem deficiente. Prova que comportamento,
participação, motivação e alegria foram itens que pesaram durante o próprio olhar do
jovem sobre ele mesmo.
108
Gráfico 16. Nota ao curso de ADL Fonte: elaborado pelo autor (2011).
Assim como no gráfico anterior, os alunos pesquisados tiveram apreço ao
curso de ADL, com um total de 55% excelente, para 45% de bom. Significa que eles
mesmos aprovaram o curso, que por sua vez, vem com notas elevadas em outras
pesquisas, estudos e avaliações externas.
Gráfico 17. Participação na propriedade da família, enquanto ADL Fonte: elaborado pelo autor (2011).
Quando se trata de participação, os jovens afiraram num total de 65% que
participaram das atividades nas propriedades. Um dado importante é que, do total,
ainda restam 15% que pouco participam. Este dado é importante porque ainda
encontra-se 5% dos jovens que nunca participaram dos trabalhos nas propriedades.
109
Gráfico 18. Nível de envolvimento nas propriedades dos vizinhos Fonte: elaborado pelo autor (2011).
Observa-se no gráfico acima, o destaque de 35% dos jovens entrevistados
que poucos se envolveram nas propriedades dos vizinhos. Com isso, têm-se a
duvida da participação e envolvimento. Ao mesmo tempo em que 30% dos jovens se
envolveram. Fato que esclarece ainda mais a distância destes com seus vizinhos,
deixando uma lacuna na participação dos mesmos para difundir seus aprendizados,
em muitos casos ficando apenas com ele e a família.
Gráfico 19. Nível de desenvolvimento de sua propriedade depois do curso. Fonte: elaborado pelo autor (2011).
A propriedade melhorou consideravelmente, com um total de 90% dos jovens
que afirmaram, esta informação. Com isso, 10% dos entrevistados disseram que
continua do mesmo jeito que estava antes. Carece entender, que alguns não tinham
propriedades, certo que destes, nenhum afirmou que piorou sua propriedade.
O curso pode proporcionar aos jovens a possibilidade de entender a
propriedade. Elas se constituem de olhares diferentes. Com os elementos externos
(preço, marketing, venda) os agricultores seguem em passos sitematizados com a
produção. As propriedades foram estudadas pelos jovens através do curso de ADL.
110
Estres aprenderam cálculos de valores aos produtos, elaboraram textos de vendas,
aprimoraram a agregação de valor aos produtos, discutiram mercados, vantagens e
desvantagens do escoamento da produção, formas de embalagens e depreciação.
Estes itens geralmente em cursos aplicados nas escolas técnicas ficam fora dos
conteúdos disciplinares,
Gráfico 20. Depois do curso no SERTA a qualidade de vida de sua família Fonte: elaborado pelo autor (2011).
O que chamamos de qualidade de vida33, destaca-se, a partir do conceito da
ONU – Organização das Nações Unidas. A afirmação dos jovens que 95% das
familias melhoraram a qualidade de vida, e apenas 5% disseram que continuam do
mesmo jeito é o resultado positivo de como este tendem a afirmar que o curso
mudou o rumo da história das familias dos jovens que passam a cuidar melhor de
suas propriedades, dos animais, ter uma renda mais apurada da produção, etc.
Gráfico 21. Depois do curso no SERTA sua qualidade de vida. Fonte: elaborado pelo autor (2011).
33
Qualidade de vida é o método usado para medir as condições de vida de um ser humano . Envolve o bem físico, mental, psicológico e emocional, além de relacionamentos sociais, como família e amigos e também a saúde, educação, poder de compra e outras circunstâncias da vida. Não deve ser confundida com padrão de vida, uma medida que quantifica a qualidade e quantidade de bens e serviços disponíveis. Acesso em 26 de março de 2012, as 21:47h: http://pt.wikipedia.org/wiki/Qualidade_de_vida
111
Assim como a situação das famílias, os jovens também foram otimistas no
aspecto da qualidade de vida. 95% afirmaram que a qualidade de vida dos mesmos
melhorou. Enquanto que 5% afirmam que continua do mesmo jeito que antes.
Fazendo um contra-ponto aos argumentos de Carvalho (2008), pode-se
descrever que os dados apresentados pelo autor deste trabalho é um estudo
qualitativo também, uma vez que a dimenssão da agricultura e da forma de viver dos
jovens, a busca pela qualidade de vida revela que existe uma preocupação com a
preservação da biodibversidade, com aproveitamento de recursos existentes para
então baratear os custos, valorização de inovações de carater endógeno, das
cadeias de comercialização, do “saber fazer”. Não se trata, porém, de uma
educação acabada em si.
Entendendo Freire, em Pedagogia da Autonomia (1996, p. 68), o melhor
ponto de partida é conhecer as diferentes dimensões que caracterizam a essência
da prática, o que pode tornar o homem mais seguro no seu próprio desempenho.
Por isso, a formação pode proporcionar aos jovens sua capacidade no aprender,
ensinar, e entender que o processo pedagógico através do curso, tornou os jovens
capazes de entender que aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo,
muito mais rico do que meramente repetição.
Que aprender é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz
sem abertura ao risco e à aventura do espírito.
112
7. CONCLUSÃO
Este trabalho apresenta, como conclusão, o resultado da avaliação da
formação pedagógica de vinte jovens Agentes de Desenvolvimento Local – ADL,
através do SERTA – Serviço de Tecnologia Alternativa.
Constatou-se que a experiência vivenciada identificou formas dos jovens
atuarem como protagonistas de sua própria história, com autoestima elevada,
participando efetivamente das políticas públicas, no resgate da identidade, porém,
com a necessidade de firmar intervenções em projetos que pudessem desenvolver
estratégias de geração de renda, de mercados alternativos, e inseri-los na
participação da renda de sua família.
A educação do campo foi o eixo norteador para que a formação dos jovens
tornasse o diferencial na vida, com a prática pedagógica voltada para sua realidade.
Do total entrevistado, 95% afirmaram ter tido uma formação eficiente para sua vida
profissional e pessoal.
Tomando como base a educação do campo na perspectiva de uma
autonomia pedagógica, percebeu-se que além da formação, os jovens puderam se
organizar para melhorar a produção, venda dos produtos, realização de pequenos
negócios e ajudar seus vizinhos com a implantação de tecnologias em suas
propriedades, realizar mutirões, reuniões, etc. Com isto, os dados apresentam em
35% do que estes colaboraram com os vizinhos a cuidarem de tecnologias, cabendo
a familiar incentivar sua participação. Isso porque 90% conseguiram afirmar que
depois do curso suas propriedades melhoraram e que ainda soma um total de 65%
que participaram de atividades em suas propriedades.
A formação que o SERTA desenvolveu através da Metodologia PEADS
proporcionou aos jovens um entendimento sobre as vivências e oportunidades que o
campo oferece de maneira equilibrada, com o envolvimento da família na busca de
melhorar cada vez mais a produção e consequentemente sua renda.
Constatou-se que a terra é um fator importante para que os mesmos possam
planejar sua propriedade, como aprenderam durante o curso. Entender que ela é um
fator necessário na autonomia das famílias. Cerca de 60% dos jovens tem casa
própria e moram na cidade. A cana-de-açúcar é a lavoura que ocupa a maior parte
113
das terras da região e isso carece de uma política agrária eficiente que coloque a
serviço dos jovens, a terra, um bem à serviço de todos.
O campo é lugar de oportunidades e vivências para a juventude. Pode-se
dizer que estas duas questões têm a ver com a beleza e percepção súbita do
encontro que religa e transforma as realidades, pois 95% dos jovens concluíram que
as oportunidades e vivências no campo é uma questão de qualidade de vida para os
mesmos.
114
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119
ANEXOS
Anexo 1 – Questionário de Pesquisa de Campo – Jovens
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO-UPE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUCO
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL – GDLS
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO
AGENTE DE DESENVOLVIMENTO LOCAL - ADL
DATA: __________/___________/____________ LOCALIDADE: Tolerância QUESTIONÁRIO N0 _________ 1 - VIDA PESSOAL 1.1 - Qual sua idade? ( ) Entre 15 – 20 anos ( ) Entre 21 e 26 anos ( ) Entre 27 e 32 anos 1.2 - Qual seu estado civil ( ) Casado (a) ( ) Solteiro (a) ( ) Solteiro/noivo(a) ( ) Divorciado (a) ( ) outros: ____________ 1.3 - Qual sua escolaridade ( ) Ensino Fundamental completo 5ª a 8ª série ( ) 5ª a 8ª série ( ) Ensino médio completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio profissionalizante – completo ( ) Ensino médio profissionalizante – incompleto ( ) Ensino superior completo ( ) Ensino superior incompleto 1.4 - Atualmente você está morando onde? ( ) Na zona rural/engenho/parcela ( ) Na Cidade ( ) Casa própria ( ) Casa alugada ( ) Na zona rural e na cidade 1.5 – Em que você trabalha e consegue gerar renda? ( ) Trabalhando com os meus pais na propriedade/parcela da família ( ) Trabalho sozinho na propriedade ( ) Assalariado com trabalho na cidade ( ) Assalariado trabalhando fora da cidade
Os dados serão utilizados para pesquisa e elaboração da Dissertação do Mestrado Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável da FCAP – Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco através da UPE – Universidade de Pernambuco. Não é necessária a sua identificação.
Responsável: Francisco das Chagas Dantas, mestrando em GDLS. FCAP/UPE.
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( ) Autônomo conta própria do tipo: ________________________ ( ) outros. Quais: ___________________________________________ ( ) Não faz nada de trabalho/emprego. 2 – ENVOLVIMENTO NAS POÍTICAS PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL 2.1. Você participa de alguma entidade social, qual? ( ) Sindicato dos Trabalhadores Rurais ( ) Associação comunitária ( ) Grupo religioso ( ) Clube esportivo ( ) ONG’s ( ) outros: ____________________ ( ) não tenho nenhuma participação em entidade social 2.2 - Qual seu nível de envolvimento com as políticas públicas de desenvolvimento local do município de Primavera? ( ) Muito intensamente ( ) Sempre ( ) pouco ( ) as vezes ( ) nunca 2.3 - Qual o nível de envolvimento do gestor local com as Políticas Públicas de Desenvolvimento Local do município de Primavera? ( ) Muito intensamente ( ) Sempre ( ) pouco ( ) as vezes ( ) nunca 2.4 - Qual o nível de envolvimento das entidades não governamentais locais com as Políticas Públicas de Desenvolvimento Local do município de Primavera? ( ) Muito intensamente ( ) Sempre ( ) pouco ( ) as vezes ( ) nunca 2.5 - Qual o grau de aceitação dos dirigentes das entidades sociais locais sobre sua participação nas mesmas? ( ) Excelente ( ) Satisfatório ( ) Regular ( ) Ruim 3 - FORMAÇÃO PROFISSIONAL COMO ADL – AGENTE DE DESENVOLVIMENTO LOCAL 3.1 - Como você avalia o seu aprendizado no curso de ADL no SERTA? ( ) Excelente ( ) Satisfatório ( ) Regular ( ) Ruim 3.2 - A metodologia utilizada pelo SERTA para formação de ADL, você avalia como? ( ) Excelente ( ) Satisfatório ( ) Regular ( ) Ruim 3.3 - Sua participação durante o curso foi? ( ) Excelente ( ) Satisfatório ( ) Regular ( ) Ruim 3.4 – Que nota você daria a você mesmo durante o curso? ( ) Excelente 8,0 a 10,0 ( ) Satisfatório 6,0 – 8,0 ( ) Regular 4,0 a 6,0
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( ) Ruim 0,0 a 4,0 3.5 – Qual a nota do curso? ( ) Excelente 8,0 a 10,0 ( ) Satisfatório 6,0 – 8,0 ( ) Regular 4,0 a 6,0 ( ) Ruim 0,0 a 4,0 4 - ATIVIDADE NAS PROPRIEDADES E FAMÍLIA 4.1 - Sua atual participação na propriedade da família, enquanto ADL, tem sido? ( ) Muito intensamente ( ) Sempre ( ) pouco ( ) as vezes ( ) nunca 4.2 – Seu nível de envolvimento nas propriedades dos visinhos, enquanto ADL, tem sido? ( ) Muito intensamente ( ) Sempre ( ) pouco ( ) as vezes ( ) nunca 4.3 – Depois do curso no SERTA, sua propriedade? ( ) Melhorou ( ) Piorou ( ) Continua do jeito que estava antes do curso 4.4 – Depois do curso no SERTA, a qualidade de vida de sua família? ( ) Melhorou ( ) Piorou ( ) Continua do jeito que estava antes do curso Começamos a plantar verduras, ganhamos um Kit PAIS. Estou satisfeito. 4.5 – E sua qualidade de vida, depois do curso? ( ) Melhorou ( ) Piorou ( ) Continua do jeito que estava antes do curso