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Universidade de Lisboa
Faculdade de Farmácia
O PARADIGMA DA INFEÇÃO POR PLASMODIUM FALCIPARUM EM
MULHERES GRÁVIDAS SEROPOSITIVAS PARA HIV: A PREVENÇÃO DA
TRANSMISSÃO VERTICAL E A INFEÇÃO CONGÉNITA
Catarina Rafaela Jacinto Alves
Relatório de estágio orientado pela Professora Doutora Quirina dos Santos Costa e
coorientado pela Doutora Isabel Moutinho e pela Doutora Teresa Porta Nova
Mestrado em Análises Clínicas
2017
Parte I
IX Mestrado Análises Clínicas Parte I
Catarina Alves Prefácio
v
Prefácio
Sabendo que as áreas da Biologia e Química eram as que mais me suscitavam
interesse, licenciei-me no curso de Bioquímica pela Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa, que me deu bases nas mais variadas áreas da Ciência. Ao longo
dos três anos ganhei experiência laboratorial nos campos da Bioquímica e Química
analítica, Biologia celular e Microbiologia, bem como conhecimentos teóricos noutras
áreas como a Imunologia, Biologia molecular e Enzimologia. Como o plano de estudos
não engloba um estágio final curricular, decidi procurar estágios voluntários de modo a
ter um contacto direto com o mundo profissional, que me permitiram adquirir uma visão
mais real da área em que pretendia trabalhar, nomeadamente no Instituto Nacional de
Saúde Dr. Ricardo Jorge, onde ganhei bastante interesse na área da saúde. Desta forma,
ingressei no mestrado em Análises Clínicas da Faculdade de Farmácia da Universidade
de Lisboa, cujo plano curricular é convidativo e enriquecedor, apresentando o que
necessito para complementar os meus conhecimentos e mais tarde trabalhar na área que
gosto e com que me identifico. O presente relatório diz respeito ao estágio curricular
realizado no âmbito do mestrado.
Quanto à organização, o presente relatório encontra-se dividido em quatro partes:
na Parte I apresentam-se o prefácio, o resumo em português e inglês, índices e lista de
abreviaturas; na Parte II expõe-se o relatório de estágio, em que é feito um resumo dos
locais de estágio, expondo os conhecimentos adquiridos nos mesmos, para as valências
de Pré-Analítica, Bioquímica, Microbiologia e Genética. A parte III diz respeito à
monografia, desenvolvida no âmbito da valência de Microbiologia, com o título “O
paradigma da infeção por Plasmodium falciparum em mulheres grávidas seropositivas
para HIV: a prevenção da transmissão vertical e a infeção congénita”. Por último, na Parte
IV, apresentam-se as conclusões e perspetivas futuras.
Este relatório está de acordo com o disposto no Artigo 37.º do Regulamento Geral
do Ciclo de Estudos conducente ao Grau de Mestre da FFULisboa, nº 134/2016, DR, 2.ª
série — N.º 26, de 8 de fevereiro de 2016.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte I
Catarina Alves Resumo
vi
Resumo
O estágio descrito neste relatório integra o plano de estudos do Mestrado em Análises
Clínicas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Foi realizado no
Laboratório de Patologia Clínica do Hospital da Luz relativamente às áreas de Pré-
Analítica, Microbiologia e Bioquímica. A valência de Genética foi desenvolvida no
Laboratório GenoMed – Diagnósticos de Medicina Molecular.
Este relatório de estágio resume a experiência e conhecimento adquiridos ao longo
de cerca de seis meses e expõe quais os produtos biológicos necessários à execução dos
respetivos parâmetros analíticos, bem como metodologias aplicadas aos mesmos. Refere
ainda como o Controlo de Qualidade Interno foi implementado e como a Avaliação
Externa da Qualidade foi interpretada nas várias áreas de estudo.
A realização e duração total do estágio permitiu-me não só colocar em prática os
conhecimentos obtidos nas unidades curriculares do mestrado, como realizar novas
aprendizagens fundamentais para a prática profissional.
Neste documento é também apresentada uma revisão bibliográfica acerca do tema:
o paradigma da infeção por Plasmodium falciparum em mulheres grávidas seropositivas
para HIV: a prevenção da transmissão vertical e a infeção congénita.
Palavras-chave: Pré-Analítica; Microbiologia; Bioquímica, Genética, Qualidade
IX Mestrado Análises Clínicas Parte I
Catarina Alves Abstract
vii
Abstract
The internship described in this report integrates the study plan of the Masters in
Clinical Analysis by the Faculty of Pharmacy of the University of Lisbon. It was carried
out in the Laboratory of Clinical Pathology of Hospital da Luz with respect to the areas
of Pre-Analytical, Microbiology and Biochemistry. The Genetic valence was developed
in GenoMed – Diagnostics of Molecular Medicine.
This internship report summarizes the experience and knowledge acquired over
six months. It refers to the biological products needed to implement the respective
analytical parameters, as well as the applied methodologies. It refers also to how the
Internal Quality Control was implemented and how the External Quality Assessment was
interpreted in the various areas of study.
The execution and total duration of the internship has allowed me to not only put
into practice the knowledge obtained in the Master’s degree units, but also to obtain new
learning of great importance to the professional practice.
In this document is also presented a bibliographic reviw on the theme: The
paradigm of Plasmodium falciparum infection in HIV-positive pregnant women:
prevention of vertical transmission and congenital infection.
Keywords: Pre-Analytical, Microbiology, Biochemistry, Genetic, Quality
IX Mestrado Análises Clínicas Parte I
Catarina Alves Agradecimentos
viii
Agradecimentos
Inicialmente, agradeço a todos os docentes e convidados pelos conhecimentos
fornecidos ao longo do Mestrado em Análises Clínicas.
Expresso o meu especial agradecimento à Professora Doutora Quirina dos Santos
Costa pela sua orientação, disponibilidade, apoio e atenção dispensada.
Agradeço à Dra. Teresa Porta Nova pela oportunidade de realização do estágio na
GenoMed e aos técnicos das várias secções do laboratório, por tudo o que me ensinaram
e deram a conhecer. Da mesma forma, agradeço à Dra. Isabel Moutinho e aos
responsáveis e técnicos das várias áreas do laboratório de Patologia Clínica do Hospital
da Luz, por todo o apoio e contribuição para que o estágio resultasse numa excelente
experiência a nível de formação e pessoal.
Não podia deixar de agradecer à minha família e amigos por todo o carinho,
conselhos e apoio incondicional, com especial agradecimento aos meus pais por todo o
esforço que fizeram para que pudesse concluir os meus estudos. Sem vocês, nada disto
seria possível. Um grande Obrigado!
Catarina Alves Parte I
IX Mestrado Análises Clínicas Lista de Abreviaturas
ix
Lista de Abreviaturas
Parte II
Relatório de Estágio
ABL1 –Abelson murine leucemia viral oncogene homolog 1
ADA – Associação Americana de Diabetes (do inglês, American Diabetes Association)
ADN – Ácido desoxirribonucleico
ADNc – Ácido desoxirribonucleico complementar
ADP – Difosfato de adenosina
AE – Tampão de eluição
AEQ – Avaliação Externa da Qualidade
AgHBs - Antigénio de superfície do vírus da Hepatite B
AGJ - Anomalia da Glicemia de Jejum
AL – Tampão de lise
ALP – Fosfatase alcalina
ALT – Alanina aminotransferase
ARN – Ácido ribonucleico
AST – Aspartato aminotransferase
ATL – Tampão de lise tecidular
ATP – Trifosfato de adenosina
BCR – Breakpoint cluster region gene
BE – Excesso de bases
BHI - Caldo Coração – Cérebro
BNP - Péptido natriurético cerebral
BRAF – v-Raf murine sarcoma viral oncogene homolog B
Ca2+ - Ião cálcio
CAM – Gelose Campylosel
Cl- - Ião cloro
CLED – Gelose Cistina Lactose Deficiente em Eletrólitos
CK – Creatina quinase
CK-MB – Isoenzima MB da creatina quinase
CNA - Gelose Columbia ANC + 5% de sangue de carneiro
Catarina Alves Parte I
IX Mestrado Análises Clínicas Lista de Abreviaturas
x
CO2 – Dióxido de carbono
CPNPC - Carcinomas de pulmão de não pequenas células
CPPC - Carcinomas de pulmão de pequenas células
CQI – Controlo de Qualidade Interno
DAPI - 4,6-diamidino-2-fenilindol
DGF – Doenças Genéticas e Farmacogenética
DGS – Direção-Geral da Saúde
DMG – Diabetes mellitus gestacional
DMSO – Dimetilsulfóxido
dNTP –Desoxirribonucleótidos trifosfato
ddNTPs – Didesoxirribonucleótidos trifosfato
DRM – Doença residual mínima
DTT – Ditiotreitol
EAM – Enfarte agudo do miocárdio
EDTA – Ácido etilenodiaminotetracético
EGFR – Epidermal growth factor receptor gene
EIA – Ensaio imunoenzimático (do inglês, enzyme immunoassay)
ELFA – Ensaio enzimático fluorescente (do inglês, enzyme linked fluorescent assay)
EMN - Rede Europeia do Mieloma (do inglês, European Myeloma Network)
EMQN - Rede Europeia de Qualidade Genética Molecular (European Molecular
Genetics Quality Network)
Fem – Força eletromotriz
FISH – Hibridação in situ de fluorescência (do inglês, fluorescence in situ hybridization)
GGT – γ-glutamil transferase
GHEP-ISFG - Grupo de Línguas Espanhola e Portuguesa da Sociedade Internacional de
Genética Forense
GN – Gram negativo(s)
GP – Gram positivo(s)
GS – Gelose Columbia + 5% de sangue de Carneiro
H2S – Sulfeto de hidrogénio
HAE2 - Gelose Chocolate Haemophilus 2
HBV – Vírus da hepatite B (do inglês, hepatitis B virus)
hCG - Gonadotropina coriónica humana
HCO3- - Ião bicarbonato
Catarina Alves Parte I
IX Mestrado Análises Clínicas Lista de Abreviaturas
xi
HDL – Lipoproteína(s) de alta densidade (do inglês, high density lipoprotein)
HEKT – Gelose Hektoen
HFE – Proteína da Hemocromatose Hereditária
HH – Hemocromatose Hereditária
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana (do inglês, Human Immunodeficiency Virus)
HK - Hexoquinase
HM – Módulo de imunoensaio heterogéneo
HRP-II – Proteína rica em histidina II (do inglês, histidine rich protein II)
IgG – Imunoglobulina G
IgM – Imunoglobulina M
iMM - Instituto de Medicina Molecular
IMT – Tecnologia do Multisensor Integrado (do inglês, Integrated Multisensor
Technology)
iQM – Controlo de Qualidade inteligente (do inglês, intelligent Quality Management)
ISCN - Sistema Internacional de Nomenclatura Citogenética Humana (do inglês,
International System for Human Cytogenetic Nomenclature)
ISO – Organização Internacional de Normalização (do inglês, International Organization
for Standardization)
K+ - Ião potássio
KCl – Cloreto de potássio
KRAS – Kirsten rat sarcoma viral oncogene homolog
Lac - Lactose
LBA – Lavado bronco-alveolar
LCR – Líquido cefalorraquidiano
LDH – Lactato desidrogenase
LLA – Leucemia Linfocítica Aguda
LMC – Leucemia Mielóide Crónica
LOCI – Módulo de imunoensaios homogéneos de alta sensibilidade
MAP –Proteínas ativadas por mitogénios (do inglês, Mitogen Activated Protein)
MCK - Gelose MacConkey
MgCl2 – Cloreto de magnésio
MRSA - Staphylococcus aureus meticilina-resistentes (do inglês, methicillin-resistant
Staphylococcus aureus)
MS - Manitol Salgado (gelose Chapman 2)
Catarina Alves Parte I
IX Mestrado Análises Clínicas Lista de Abreviaturas
xii
Na+ - Ião sódio
NAD - Nicotinamida adenina dinucleótido
NADH – Forma reduzida de nicotinamida adenina dinucleótido
NADPH - Forma reduzida de fosfato nicotinamida adenina dinucleótido
NCEP – ATP III – Programa Nacional de Educação sobre o Colesterol – Painel de
Tratamento de Adultos III (do inglês, National Cholesterol Education Program Adult
Treatment Panel III)
UK - NEQAS – Serviço Nacional de Avaliação Externa da Qualidade do Reino Unido
(do inglês, The United Kingdom National External Quality Assessment Service)
NS1 – Glicoproteína não estrutural 1
NT-proBNP - N-terminal pro-péptido natriurético cerebral
PBD – PBS + octilfenoxipolietoxietanol
PBS –Tampão fosfato-salino
ρCO2 - Pressão parcial de dióxido de carbono
PCR – Reação em cadeia da polimerase (do inglês, polymerase chain reaction)
pH – Potencial de hidrogénio
Ph – Cromossoma Filadélfia
pLDH – Lactato desidrogenase de Plasmodium
PNAEQ - Programa Nacional de Avaliação Externa da Qualidade
ρO2 – Pressão parcial de oxigénio
PTGO – Prova de tolerância à glicose oral
PVX - Gelose Chocolate + PolyViteX
QCMD – Controlo de Qualidade para o Diagnóstico Molecular (do inglês, Quality
Control for Molecular Diagnosis)
RAS – Vírus do Sarcoma de Rato
RCLB –Tampão de lise de eritrócitos
RMM – Resposta Molecular Major
RN – Recém-nascido(s)
RQ-PCR – Reação em cadeia da polimerase em tempo real (do inglês, real time
polymerase chain reaction)
RSV – Vírus sincicial respiratório (do inglês, Respiratory Syncytial Virus)
RT-PCR – Reação em cadeia da polimerase com transcriptase reversa (do inglês, reverse
transcriptase polymerase chain reaction)
SCS – Gelose Schaedler + 5% de sangue de carneiro
Catarina Alves Parte I
IX Mestrado Análises Clínicas Lista de Abreviaturas
xiii
SIDA - Síndrome da imunodeficiência adquirida
SNC – Sistema nervoso central
SSC - Citrato sódio salino
T3 - Tiroxina
T4 - Triiodotironina
TA – Temperatura ambiente
Taq – Polimerase de ADN termo-estável
TBE – Tris-Borato-EDT
tcdB - Gene que codifica a toxina B de Clostridium difficile
TCO2 - Dióxido de carbono total
TDG - Tolerância diminuída à glicose
TE – Tris-EDTA
TFG – Taxa de filtração glomerular
TKI – Inibidor de tirosina quinase
TOOD - Caldo Todd-Hewitt + antibióticos
TPA - 12-O-tetradecanoilforbol-13-acetato
TSA – Teste(s) de suscetibilidade aos antibióticos
TSH – Hormona estimulante da tiróide
UFC – Unidades formadoras de colónias
UV – Ultravioleta
VCA - Gelose Chocolate PolyViteX VCAT3
VP6 – Proteína viral 6
VRE – Enterococcus spp. vancomicina-resistentes (do inglês, vancomycin-resistant
Enterococcus)
WHO – Organização Mundial de Saúde (do inglês, World Health Organization)
Catarina Alves Parte I
IX Mestrado Análises Clínicas Lista de Abreviaturas
xiv
Parte III
O paradigma da infeção por Plasmodium falciparum em mulheres grávidas seropositivas
para HIV: a prevenção da transmissão vertical e a infeção congénita
AMA – Antigénio de membrana apical
ACT – Terapia combinada com artemisina (do inglês, artemisinin-based combination
therapy)
ARN – Ácido ribonucleico
ART – Terapia antirretroviral (do inglês, antiretroviral therapy)
CCR5 – Recetor de quimiocinas tipo 5
CDC - Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (do inglês, Centers for Disease
Control and Prevention)
CSA – Sulfato de condroitina A
CTX – Cotrimoxazole
DDT - Diclorodifeniltricloroetano
EBA – Antigénio de ligação ao eritrócito
GPI – Glicosilfosfatidilinositol
HAART - Terapia antirretroviral altamente ativa (do inglês, highly active antiretroviral
therapy)
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana (do inglês, Human Immunodeficiency Virus)
IL – Interleucina
INF-γ – Interferão gama
IPT – Tratamento preventivo intermitente (do inglês, intermittent preventive treatment)
IPTp – Tratamento preventivo intermitente na gravidez (do inglês, intermittent preventive
treatment in pregnancy)
IRS – Pulverização residual intra-domiciliária (do inglês, indoor residual spraying)
ITNs – Redes tratadas com inseticidas (do inglês, insecticide-treated bednet)
LIF – Fator inibidor de leucemia (do inglês, leukemia inhibitory factor)
MIP - Proteína inflamatória de macrófagos (do inglês, macrophage inflammatory protein)
MSP - Proteína da superfície do merozoito (do inglês, merozoite surface protein)
(NANP)5 – 5 repetições da sequência de aminoácidos da proteína circunsporozoíta
NRTIs - Inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleótidos (do inglês, nucleoside
reverse transcriptase inhibitors)
Catarina Alves Parte I
IX Mestrado Análises Clínicas Lista de Abreviaturas
xv
NNRTIs - Inibidores da transcriptase reversa não análogos de nucleótidos (do inglês, non
-nucleoside reverse transcriptase inhibitors)
PCR – Reação em cadeia da polimerase (do inglês, polimerase chain reaction)
PIs – Inibidores de protease (do inglês, protease inhibitors)
RANTES – Ligando do receptor de quimiocinas 5 (do inglês, Regulated on activation,
normal T cell expressed and secreted)
RAP - Proteína associada a róptrias (do inglês, rhoptry associated protein)
RDTs – Testes de diagnóstico rápido (do inglês, rapid diagnostic tests)
SIDA – Síndrome da imunodeficiência adquirida
SP – Sulfadoxina-pirimetamina
TDF - Tenofovir disoproxil fumarato
TNF-α – Fator de necrose tumoral alfa
VSAs – Antigénios variantes de superfície (do inglês, variant surface antigens)
WHO – Organização Mundial de Saúde (do inglês, World Health Organization)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte I
Catarina Alves Índice Geral
xvi
Índice Geral
Parte I……………………………………………………………………..……iii
Prefácio ................................................................................................................. v
Resumo ................................................................................................................. vi
Abstract ............................................................................................................... vii
Agradecimentos ................................................................................................. viii
Lista de Abreviaturas .......................................................................................... ix
Índice Geral ........................................................................................................ xvi
Índice de Figuras ............................................................................................... xx
Índice de Tabelas ............................................................................................. xxii
Parte II…………………………………………………………………………..1
Relatório de Estágio…………………………………………………………….3
1.Introdução ......................................................................................................... 3
2.Fase Pré-Analítica ............................................................................................ 5
2.1.Procedimentos de colheita ...................................................................... 6
2.2.Triagem ................................................................................................. 10
2.3.Conservação das amostras .................................................................... 11
Gestão de Resíduos ............................................................................................ 13
3.Bioquímica ...................................................................................................... 14
3.1.Equipamentos ....................................................................................... 14
3.2.Metabolismo dos hidratos de carbono .................................................. 19
3.3.Metabolismo dos lípidos ....................................................................... 22
3.4.Proteínas ............................................................................................... 26
3.5.Resposta inflamatória ........................................................................... 27
3.6.Função renal .......................................................................................... 28
3.7.Função hepática .................................................................................... 34
IX Mestrado Análises Clínicas Parte I
Catarina Alves Índice Geral
xvii
3.8.Função pancreática e gastrointestinal ................................................... 41
3.9.Função cardíaca .................................................................................... 43
3.10.Função tiroideia .................................................................................. 49
3.11.Fármacos ............................................................................................. 50
3.12.Aparelho reprodutor ............................................................................ 57
3.13.Metabolismo ósseo e mineral ............................................................. 60
3.14.Equilíbrio ácido-base .......................................................................... 64
3.15.Equilíbrio hidro-eletrolítico ................................................................ 66
3.16.Sistema nervoso central ...................................................................... 68
3.17.Controlo de Qualidade em Bioquímica Clínica .................................. 70
4.Microbiologia .................................................................................................. 72
4.1.Equipamentos ....................................................................................... 72
4.2.Bacteriologia ............................................................................................ 74
4.2.1.Exame direto ...................................................................................... 75
4.2.2.Exame cultural ................................................................................... 76
4.2.3.Geradores de atmosfera e caixas de incubação .................................. 79
4.2.4.Procedimentos para diagnóstico bacteriológico ................................ 80
4.2.5.Identificação de bactérias .................................................................. 94
4.2.6.Testes de suscetibilidade aos antibióticos ........................................ 104
4.3.Micologia ............................................................................................... 105
4.3.1.Meios de cultura .............................................................................. 106
4.3.2.Procedimentos para diagnóstico micológico ................................... 107
4.3.3.Identificação de fungos e leveduras ................................................. 109
4.4.Parasitologia .......................................................................................... 111
4.4.1Procedimentos para diagnóstico parasitológico ................................ 112
4.5.Virologia ................................................................................................ 115
4.5.1.Procedimentos para diagnóstico virológico ..................................... 116
4.6.Controlo de Qualidade em Microbiologia .......................................... 122
5.Genética ......................................................................................................... 124
5.1.Doenças Genéticas ................................................................................ 124
5.1.1Métodos ............................................................................................ 125
IX Mestrado Análises Clínicas Parte I
Catarina Alves Índice Geral
xviii
5.1.2.Análise e relatório ............................................................................ 130
5.1.3.Exemplo de aplicação ...................................................................... 130
5.2.Citogenética ........................................................................................... 131
5.2.1.Métodos ........................................................................................... 132
5.2.2.Exemplo de aplicação ...................................................................... 139
5.3.Hemato-oncologia - Biologia Molecular ............................................. 140
5.3.1.Leucemia Mielóide Crónica ............................................................ 140
5.3.2.Métodos ........................................................................................... 141
5.4.Tumores Sólidos .................................................................................... 145
5.4.1.Cancro do pulmão ............................................................................ 146
5.4.2.Métodos ........................................................................................... 149
5.5.Controlo de Qualidade em Genética ................................................... 150
6.Bibliografia ................................................................................................... 152
Parte III……………………………………………………………………….161
O paradigma da infeção por Plasmodium falciparum em mulheres grávidas
seropositivas para HIV: a prevenção da transmissão vertical e a infeção
congénita……………………………………………………………………...163
Resumo …………………………………………………..……….……….….163
Abstract…………………………………………………..……….………..….164
Objetivos …………………………………………………..……….…...…….165
Material e Métodos……………………………………………..………….….166
1.Introdução…………………………………………………………….…….167
2.Epidemiologia da Coinfeção……………………………….……………….170
3. Interações entre Malária e HIV na Gravidez………………………………173
3.1.Impacto do HIV na malária durante a gravidez……..……………………..173
3.2.Impacto da malária maternal no HIV…………………..…………………..176
3.3.Efeito da malária na transmissão vertical do HIV……………………..…...178
4.Implicações da Coinfeção na Mãe e no Recém-nascido……………..…..…181
5.Importância do Diagnóstico….………….………………….……………....183
6.Tratamento……………………………………………………..…….……..186
6.1.Tratamento da malária na gravidez…………………………..……………186
IX Mestrado Análises Clínicas Parte I
Catarina Alves Índice Geral
xix
6.2.Tratamento do HIV na gravidez…………………...…….………….………187
6.3.Anemia…………………………………………………………..……………189
7.Prevenção…………………………………………………………………...191
7.1.Tratamento preventivo intermitente…………………..……………...……191
7.2.Profilaxia com cotrimoxazole………………………………………………..193
7.3.Controlo do vetor…………………………..……………………..………….193
7.4.Estratégias de prevenção………………………..…………………………...196
8.Interações entre Fármacos e Efeitos Adversos………………………...…...199
9.Conclusão……………………………………………………………….…..201
10.Bibliografia……………………………………...………………………...203
Parte IV………………………………………………………….………...….211
Conclusões e Perspetivas Futuras…………………………………….……..213
IX Mestrado Análises Clínicas Parte I
Catarina Alves Índice de Figuras
xx
Índice de Figuras
Parte II
Relatório de Estágio
Figura 1. GEM Premier 3000……………………………………………...…..……....14
Figura 2. Dimension® Integrated Chemistry System…………………………..…...….16
Figura 3. Clinitek Atlas® com manipulador de amostras tipo carrossel………….……17
Figura 4. Aparelho VIDAS®…………………………………………………..…...…..18
Figura 5. Equipamento VITEK®2………………………………………………......….72
Figura 6. Equipamento BacT/ALERT® 3D………………………………………..…...73
Figura 7. Equipamento GenomEra CDX™ system………………………………..…..74
Figura 8. Esquema da sementeira das urinas………………………………………..….79
Figura 9. Eletroferograma do exão 2 do gene HFE. A troca de uma citosina por uma
guanina na posição 187 do exão 2 (c.187C˃G), leva a troca do aminoácido histidina pelo
aspartato no codão 63 (H63D)…………………………………………………………131
Figura 10. Exemplo de cariograma do sexo feminino (46,XX) com bandeamento
Giemsa………………………………………………………………………………...133
Figura 11. (Esquerda) FISH de interfase com sonda para o BCR-ABL1, que mostra dois
sinais verdes e dois vermelhos numa célula normal. (Direita) FISH de interfase, em que
a sonda para o BCR-ABL1 mostra a fusão com sinal amarelo numa célula com Ph
positivo………………………………………………………………………………..139
Figura 12. Gel de agarose para pesquisa do transcrito de fusão BCR-ABL1. Os poços 1-
3 correspondem a um controlo, para verificar se o ADNc amplificou. Os dois primeiros
são controlos positivos e o terceiro é um controlo negativo, sem ADNc. Os poços 4 e 10
correspondem ao marcador de massas moleculares. Os poços 5- 9 pesquisam o p190 e
correspondem a duas amostras, dois controlos positivos para o p190 e um controlo
negativo, respetivamente. Os poços 11-15 pesquisam o p210 e correspondem a duas
amostras, dois controlos positivos para o p210 e um negativo, respetivamente. A amostra
no poço 12 é positiva para o transcrito mais comum
(p210)…………………………………………………………………………….……143
IX Mestrado Análises Clínicas Parte I
Catarina Alves Índice de Figuras
xxi
Parte III
O paradigma da infeção por Plasmodium falciparum em mulheres grávidas seropositivas
para HIV: a prevenção da transmissão vertical e a infeção congénita
Figura 1. Gametócito e trofozoítos de P. falciparum num esfregaço de sangue……..167
Figura 2. Mosquito do género Anopheles. ……………………………………………167
Figura 3. Imagem de microscopia eletrónica da libertação de novas partículas víricas de
HIV a partir de linfócitos humanos em cultura (in vitro). ………………..…………..168
Figura 4. Distribuição mundial da malária. Países endémicos em 2016 (azul), países
endémicos em 2000, não endémicos em 2016 (verde).……………………………….170
Figura 5. Prevalência mundial do HIV entre os 15-49 anos em 2016…………………171
Figura 6. Modelo hipotético da ação da malária na transmissão vertical do HIV……..180
Figura 7. Esfregaço de sangue de um indivíduo com malária. O exame microscópico
revela a presença de trofozoítos de Plasmodium falciparum (setas) que infetam alguns
dos glóbulos vermelhos intracelularmente…………………………………………….184
Figura 8. Teste rápido de diagnóstico da malária…………………………………….184
Figura 9. Proporção da população em risco protegida por IRS ou ITNs na África
subsariana. Dados entre 2010-2015……………………………………………………194
Figura 10. Suscetibilidade a inseticidas por vetores da malária reportada entre 2010-
2015. Resistências confirmadas (vermelho), possíveis resistências (amarelo),
suscetibilidade (vede)……………………………………………………………...….196
Figura 11. Uma enfermeira explica o uso de ITNs a mães locais numa área endémica de
malária………………………………………………………………………………...197
IX Mestrado Análises Clínicas Parte I
Catarina Alves Índice de Tabelas
xxii
Índice de Tabelas
Parte II
Relatório de Estágio
Tabela 1. Classes de resíduos, segundo o Despacho nº242/96…………………………13
Tabela 2. Parâmetros determinados no exame físico-químico da urina tipo II e respetivo
significado clínico………………………………………………………………………33
Tabela 3. Elementos avaliados no exame microscópico da urina tipo II e respetivo
significado clínico………………………………………………………………………34
Tabela 4. Conjunto de parâmetros que definem o estado ácido-base……………..……65
Tabela 5. Intervalos de referência dos parâmetros ácido-base……………………..…..66
Tabela 6(a). Calibração e Controlo de Qualidade Interno dos equipamentos usados na
Bioquímica……………………………………………………………………………...70
Tabela 6(b). Calibração e Controlo de Qualidade Interno dos equipamentos usados na
Bioquímica………………………………………………………………………….…..71
Tabela 7. Meios de cultura sólidos não seletivos……………………………………….76
Tabela 8(a). Meios de cultura sólidos seletivos……………………………………...…77
Tabela 8(b). Parte II - Meios de cultura sólidos seletivos………………………………78
Tabela 9. Meios líquidos de enriquecimento…………………………………………...78
Tabela 10. Tipos de atmosferas para cultura microbiológica…………………………..79
Tabela 11(a). Cartas VITEK e antibióticos testados…………………………………..104
Tabela 11(b). Cartas VITEK e antibióticos testados…………………………………..105
Tabela 12. Características dos meios de cultura usados na Micologia………………..107
Tabela 13. Localizações das micoses mais frequentes………………………………..109
Tabela 14. Parasitas possíveis de observação em amostras de fezes………………….113
IX Mestrado Análises Clínicas Parte I
Catarina Alves Índice de Tabelas
xxiii
Parte III
O paradigma da infeção por Plasmodium falciparum em mulheres grávidas seropositivas
para HIV: a prevenção da transmissão vertical e a infeção congénita
Tabela 1. Recomendações para o tratamento de malária……………………………..186
Tabela 2. Recomendações da WHO para o tratamento de HIV na gravidez…………..188
Tabela 3(a). Fases clínicas do HIV em adultos e adolescentes segundo a WHO.…….188
Tabela 3(b). Fases clínicas do HIV em adultos e adolescentes segundo a WHO.…….189
Parte II
Universidade de Lisboa
Faculdade de Farmácia
RELATÓRIO DE ESTÁGIO
Catarina Rafaela Jacinto Alves
Orientado pela Doutora Isabel Moutinho e pela Doutora Teresa Porta Nova
Mestrado em Análises Clínicas
2017
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
Catarina Alves Introdução
3
1.Introdução
O estágio descrito neste relatório faz parte do plano de estudos do Mestrado em
Análises Clínicas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa e foi realizado
no Laboratório de Patologia Clínica do Hospital da Luz em Lisboa para seguintes
valências: Pré-Analítica, Microbiologia e Bioquímica, orientado pela Dra. Isabel
Moutinho e no Laboratório GenoMed – Diagnósticos de Medicina Molecular, para a
valência de Genética, orientado pela Dra. Teresa Porta Nova.
A Luz Saúde foi criada em 2000 e é um dos maiores grupos de prestação de
cuidados de saúde no mercado português. O Grupo presta serviços através de várias
unidades de saúde, na qual se insere o Hospital da Luz Lisboa. Em 2006, a General Lab
Portugal iniciou o seu percurso de gestão de laboratórios hospitalares, sendo o primeiro
parceiro o Grupo Espírito Santo Saúde, através do outsourcing do Serviço de Patologia
Clínica do Hospital da Luz. Este serviço tem como missão diagnosticar de forma rápida
e eficaz, no respeito pela individualidade do doente, através de práticas de excelência e
inovação. (1)
A GenoMed é uma spin-off do Instituto de Medicina Molecular (iMM), localizado
na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, no campus do Centro Hospitalar
Lisboa Norte, que realiza prestação de serviços na área da Medicina Molecular e além
disso, investigação e desenvolvimento. A prestação de serviços inclui ainda testes não
clínicos, como a investigação biológica de paternidade e estudos de ancestralidade e
genealogia. (2) O estágio decorreu nas duas unidades e em todas as áreas com a duração
de 22 dias úteis.
Ambos os laboratórios adotaram um Sistema de Gestão da Qualidade, no qual são
aplicados e cumpridos os requisitos da Norma 9001 da Organização Internacional de
Normalização (ISO, do inglês, International Organization for Standardization), Normas
para o Laboratório Clínico da Ordem dos Farmacêuticos e do Manual de Boas Práticas
Laboratoriais.
Neste relatório faço um resumo da experiência e conhecimento adquiridos nas
diversas áreas, ao longo de cerca de sete meses, 1080 horas, divididas da seguinte forma:
110 horas na Fase Pré-Analítica, 446 horas na Microbiologia, 348 horas na Bioquímica e
176 horas na Genética.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
Catarina Alves Introdução
4
Os objetivos da realização do estágio passam por promover a integração no meio
profissional, aplicando os conhecimentos adquiridos ao longo do mestrado e desenvolver
capacidades como organização, trabalho em equipa e capacidade crítica. Este relatório
descreve a metodologia utilizada em cada área, o controlo de qualidade e os parâmetros
analisados, bem como o seu significado clínico e a identificação dos produtos biológicos
necessários à sua execução.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
Catarina Alves Fase Pré-Analítica
5
2.Fase Pré-Analítica
A fase pré-analítica engloba as seguintes fases: pedido da análise pelo médico,
preparação do paciente, identificação do mesmo, colheita da amostra biológica, triagem,
armazenamento e transporte. É a fase mais importante do processo analítico, pois também
é aquela em que ocorrem mais erros. São fontes comuns de erro na fase pré-analítica as
prescrições ilegíveis, má preparação do utente, amostras inadequadas, erros na
identificação de utentes ou na introdução de dados e erros na colheita, transporte, triagem
e armazenamento das amostras. Devem ser estabelecidos pelo laboratório métodos
efetivos para monitorizar e controlar estas variáveis. (3)
Nesta valência aprendi a diferenciar e identificar os contentores a colher, para os
diferentes produtos biológicos, verificar e identificar os tubos a colher com os respetivos
códigos de barras antes da colheita, bem como conferir a prescrição médica com a
inscrição do utente e envio das amostras para a triagem.
Os resultados dos exames dependem de uma análise correta, que passa desde
início por uma correta identificação da amostra. As amostras devem ser identificadas nos
recipientes que as contêm e nunca na tampa. Deve também ser colocado o nome do utente,
nº do processo, nº tubo ou código de barras, o serviço, tipo de produto biológico e data e
hora da colheita. (3,4)
A preparação do doente permite minimizar os fatores biológicos controláveis que
possam variar os analitos, nomeadamente o jejum (não realizado altera os valores de
glicose, triglicéridos, colesterol), postura, exercício, variação circadiana e influência de
certos estimulantes como a cafeína, nicotina ou álcool. É importante fornecer informações
ao utente, quando aplicável, para que a colheita seja feita com conformidade e verificar,
aquando da colheita, se estas indicações foram cumpridas. Caso o utente entregue
produtos, é necessário verificar que estes foram bem colhidos (exemplo: urina de 24h) e
conservados. (3,4)
Deve ser questionado, ou adicionado ao processo, informação sobre terapêutica
antimicrobiana em curso ou administrada nos dias anteriores à colheita, medicação que
possa interferir em análises como anticoagulantes, o estado imunológico do doente
(transplantado, imunodeprimido), presença de material protésico, nomeadamente
catéteres e algálias e local anatómico da colheita. (3,4)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
Catarina Alves Fase Pré-Analítica
6
Indiscutivelmente, o transporte e conservação das amostras são de igual
importância. (3,4)
2.1.Procedimentos de colheita
2.1.1.Aparelho urogenital
Urina
A amostra ideal para realização da análise de urina tipo II é a primeira urina da
manhã, que deve ser realizada em jejum, de modo a poderem ser detetadas substâncias
que poderão não estar presentes numa amostra aleatória. A urina para diagnóstico
microbiológico não necessita de jejum. A colheita deve ser feita após limpeza da zona
(sem antisséticos), desprezar o primeiro jato e colher 10-20 ml para recipiente estéril.
Nunca colher urina de arrastadeiras, urinol ou saco de algália. No caso do doente
algaliado, o procedimento passa por clampar a algália durante 10-15 minutos, desinfetar
a zona a puncionar (borracha do tubo coletor) e colocar a urina aspirada com seringa num
recipiente estéril. Nas crianças é aplicado um saco coletor estéril, após lavagem da zona
com soro fisiológico. Caso após 30 minutos ainda não tiver urinado, troca-se o saco. De
seguida, transfere-se a urina para recipiente estéril. No caso das urinas a tempo
determinado, durante 24h fazer toda a urina para um frasco de 24h. Começar na segunda
urina da manhã e terminar na primeira urina do dia seguinte. O transporte deverá ser
imediato ou até 2h à temperatura ambiente (TA). Se não for possível, refrigerar 2-8ºC até
24h. (4)
Exsudado vaginal e cervical
Para a realização desta colheita, a mulher não deve estar menstruada e deve evitar
colocar cremes vaginais no dia e no dia anterior e não efetuar irrigações vaginais nas 24h
que precedem a colheita. Após introdução do espéculo, com a mulher em posição
ginecológica, deve colher-se o exsudado da mucosa vaginal com 3 zaragatoas. A primeira
zaragatoa é introduzida em meio de transporte com carvão. As outras duas, introduzidas
em tubos sem meio de transporte. O transporte deve ser imediato ou a TA até 2h. Nunca
refrigerar. No caso do exsudado cervical, são colhidas secreções no canal
endocervical, com 2 zaragatoas secas que se introduzem cerca de 1cm no canal cervical,
com movimentos rotativos. A primeira zaragatoa é introduzida em meio de transporte
com carvão. A segunda num tubo sem meio de transporte. O transporte deve ser imediato
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
Catarina Alves Fase Pré-Analítica
7
ou a TA até 2h (até 6h no caso de pesquisa de Mycoplasma hominis e Ureaplasma
urealyticum). (4)
Exsudado uretral
A colheita deve ser feita idealmente antes da primeira micção. Se não for possível,
2-4h após a última micção. A uretra é pressionada de modo a estimular a descarga
purulenta e são introduzidas duas zaragatoas finas e flexíveis de alumínio na uretra. A
colheita do exsudado é realizada com movimentos rotativos. A primeira zaragatoa é
colocada em meio com carvão e a segunda colocada em tubo seco. O transporte deve ser
imediato ou a TA até 2h (até 6h no caso de pesquisa de Mycoplasma hominis e
Ureaplasma urealyticum). (4)
2.1.2.Aparelho circulatório
Hemoculturas
Para a colheita de hemoculturas, após desinfetar a rolha de borracha do frasco de
hemocultura e a pele no local da punção com álcool a 70% e solução iodada, colhe-se
sangue de uma veia proximal periférica e introduz-se o sangue nos frascos. Faz-se
inversão dos frascos para misturar o sangue com o meio de cultura. Para os recém-
nascidos (RN) e crianças colhe-se sangue para frasco de aerobiose. Nos adultos, uma
hemocultura corresponde à colheita de sangue, para inoculação de um par de frascos
aeróbio/anaeróbio. Devem ser colhidas duas a três hemoculturas em 24h, com intervalo
de 1h, de locais de punção diferentes. O transporte deve ser imediato. Se não for possível,
conservar a TA até 2h. Nunca refrigerar. (4)
Sangue por punção venosa
A colheita realizada mais frequentemente é a punção venosa. O uso de sistemas
baseados em tubo de extração a vácuo para colheita de sangue, tornam mais fácil a
colheita de múltiplas amostras com uma única punção venosa, para além de reduzirem o
risco de exposição direta ao sangue. (5)
Após identificação do utente, faz-se a preparação do material necessário à punção:
luvas, algodão, álcool etílico a 70%, garrote, tubos etiquetados e adaptador para colheita
por vácuo, seringa ou butterfly. Os tubos mais usados são os de tampa amarela
(bioquímica), que possui um gel ativador da coagulação e de onde se obtém soro; tampa
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
Catarina Alves Fase Pré-Analítica
8
roxa (hematologia), tubo que contem anticoagulante ácido etilenodiaminotetracético
(EDTA) para se obter sangue total; e tampa de cor azul (coagulação), com anticoagulante
(citrato de sódio). Dependendo das análises a efetuar, pode ser necessário que o paciente
esteja em jejum ou não.
O procedimento de colheita por punção venosa é o seguinte: após aplicação do
garrote, selecionar a veia a puncionar. Desinfetar com algodão embebido em álcool,
associar a agulha ao adaptador e fazer a punção, adicionando os tubos um a um ao
adaptador sendo que a ordem correta de colheita de sangue em vácuo é: tubo de
coagulação, seguido de tubo de bioquímica e por fim de EDTA. Homogeneizar os tubos.
Desgarrotar quando o sangue começa a fluir, tendo o cuidado de não deixar o garrote mais
do que 30 segundos. Retirar a agulha e descartar. Pedir ao utente que faça pressão sobre
o local da punção com algodão e aplicar um penso rápido. Os tubos são levados para a
sala de triagem logo de seguida. (4,5)
2.1.3.Aparelho digestivo
Fezes
Evitando o contacto com a urina, é transferida uma pequena porção de fezes para
recipiente esterilizado de boca larga limpo e seco. Colher três amostras em dias
consecutivos, se possível. O transporte deve ser imediato. Se não for possível, refrigerar
a 2-8ºC, até 2h para coprocultura ou até 72h para exame parasitológico ou pesquisa de
antigénios bacterianos, parasitários e virais nas fezes. Para pesquisa de toxina do
Clostridium difficille (apenas em fezes diarreicas), refrigerar no máximo até 24h. (4)
2.1.4.Aparelho respiratório
Exsudado nasal
A colheita de exsudado nasal é feita através da inserção de uma zaragatoa estéril
nas fossas nasais (pode ser seca ou humedecida com soro fisiológico), rodando contra a
mucosa nasal. Com a mesma zaragatoa, repetir para a outra narina. Colocar a zaragatoa
em meio de transporte. O transporte deve ser imediato. Se não for possível manter as
amostras a TA até 2h. (4)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
Catarina Alves Fase Pré-Analítica
9
Exsudado orofaríngeo
Deve pedir-se ao doente para respirar fundo com a boca aberta e passar a zaragatoa
nas áreas de exsudação, membranas ou locais de evidente inflamação e nas criptas
amigdalinas, evitando tocar nas paredes laterais da boca. Tocar e rodar a zaragatoa nas
amígdalas e na parte posterior da faringe, se não se observar pús ou inflamação. Colocar
a zaragatoa em tubo com meio de transporte. O transporte deve ser imediato. Se não for
possível manter as amostras a TA até 2h. (4)
Expetoração/ Secreções brônquicas/ Aspirado brônquico
A colheita de expetoração, secreções brônquicas e aspirado brônquico deve ser
realizada sob vigilância do médico, do terapeuta ou enfermeiro e deve ser,
preferivelmente, colhida a primeira amostra da manhã em jejum, após higiene da boca. É
importante que o utente saiba que a colheita é de expetoração profunda e não de saliva
(neste caso, a amostra é desprezada). Recolher a amostra para recipiente estéril, evitando
contacto com a superfície exterior. O transporte é imediato. Se não for possível, refrigerar
(2 a 8ºC) até 24h. (4)
2.1.5.Pele e tecidos
Exsudado purulento superficial e aspirados subcutâneos
É necessário referir o local da colheita. Primeiramente é feita a limpeza do local
com soro fisiológico estéril. Separam-se os bordos da lesão (usando luvas) e removem-se
os exsudados superficiais e/ou tecidos desvitalizados. Faz-se a colheita do material
purulento ou exsudado da profundidade da ferida por aspiração com agulha e seringa ou
colhe-se com zaragatoa previamente humedecida com soro fisiológico estéril e é colocada
em tubo com meio de transporte. O transporte é imediato. Se não for possível manter a
TA até 2h. (4)
Exsudados oculares e auriculares
Para o exsudado ocular, é introduzida uma zaragatoa ao longo da conjuntiva, na
parte interna da pálpebra inferior e colhido assim o exsudado da mucosa oral. É colhida
uma zaragatoa para cada olho e colocada em meio de transporte (no RN, zaragatoa com
carvão para pesquisa de Neisseria gonorrhoeae). A colheita deve ser realizada antes da
aplicação de antibióticos, colírios, ou outros produtos. O exsudado auricular deve ser
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
Catarina Alves Fase Pré-Analítica
10
colhido ao nível do canal auditivo externo com zaragatoa colocada em meio de transporte.
A amostra deve ser transportada de imediato, ou mantida a TA até 2h. (4)
Pele e tecidos adjacentes para exame micológico
É feita a limpeza do local com soro fisiológico estéril. São recolhidos pedaços de
unha que apresentem lesão, ou é feita raspagem das zonas internas da lesão e por baixo
do leito ungueal. No caso do cabelo, com pinça são arrancados vários cabelos e raspadas
escamas da periferia da lesão. Para a colheita de pele (escama cutânea): com um bisturi
raspar o bordo da lesão e recolher as escamas cutâneas. Passar por toda a zona lesada com
zaragatoa humedecida e enviar sem meio de transporte. A amostra é colocada em
contentor estéril, devidamente identificado, com indicação do produto e localização e
deve ser enviada até 24h a TA. (4)
Para pesquisa de dermatófitos, aquando da colheita é preenchido um inquérito que
questiona o utente sobre a sua etnia, local de lesão, se teve contacto com animais ou
pessoas com lesões semelhantes e se está a tomar terapêutica antifúngica.
2.2.Triagem
Na área da triagem, são recebidas as amostras vindas das diversas unidades de
saúde do hospital, bem como de outros laboratórios do grupo.
O laboratório possui um sistema informático, Appolo. Esta rede informática
engloba todas as áreas. Todas as amostras que entram no laboratório são identificadas
através de etiquetas de código de barras, coladas nos tubos /recipientes e posteriormente
registadas no sistema informático Appolo. É também realizado um registo em papel,
dando-se entrada dos produtos nas folhas de receção de amostras, bem como indicação
das amostras em falta e é conferido se o produto colhido corresponde às análises pedidas.
A triagem engloba a receção das amostras, o processamento e a distribuição pelas
diversas áreas analíticas. (3)
O processamento das amostras passa pela centrifugação dos tubos, quando
aplicável. Os tubos de bioquímica, para obtenção de soro, são centrifugados a 3600-
3800rpm, durante 7-10 minutos. O coágulo deve estar totalmente formado antes da
centrifugação, para prevenir o aparecimento de fibrina nas amostras de soro. O tempo de
coagulação pode aumentar devido a terapêutica trombolítica ou anticoagulante.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
Catarina Alves Fase Pré-Analítica
11
As urinas são centrifugadas a 1500 rpm, 5 minutos. Para as urinas de 24h insere-
se o volume no sistema e reparte-se para contentores mais pequenos que são depois
enviados para o laboratório central.
Dos produtos recolhidos na área das colheitas (externos) apenas são realizadas
análises a produtos marcados como “urgentes”, os outros são enviados para a central, bem
como produtos do internamento e da urgência que tenham pedidas análises que o
laboratório não realiza.
É também responsabilidade da triagem fazer a rejeição de amostras, caso se
verifique que não estão conformes, de acordo com o manual de colheitas. As amostras
hemolisadas, em que ocorre rutura da membrana dos eritrócitos que libertam o seu
conteúdo para o plasma, podem originar de colheita mal executada ou agitação brusca e
alteram alguns resultados analíticos, como o lactato desidrogenase ou o potássio,
resultando numa amostra não representativa do estado do paciente. Amostras com
formação de coágulo (rede de fibrina que captura os elementos celulares do sangue),
devido a má homogeneização ou colheita difícil, podem entupir os equipamentos e
interferir nos resultados analíticos. Os critérios de rejeição definidos pelo Laboratório de
Patologia Clínica são os seguintes: amostras mal identificadas ou não identificadas;
amostras sem prescrição em papel ou/ e informática; colheitas que não obedeçam às
condições referidas no manual de colheitas; amostras cujo contentor esteja danificado,
conspurcado ou a extravasar produto biológico; pedidos de anaeróbios de amostras que
estiveram em contacto com o oxigénio ou que foram transportados em recipiente sem
meio de transporte adequado; produtos entregues com seringa e agulha (retirar a agulha
e fechar a seringa). (4)
2.3.Conservação das amostras
As amostras de plasma e soro podem ser refrigeradas a uma temperatura entre 2 –
8 °C durante alguns dias. Para conservar durante um período de tempo superior, as
amostras podem ser congeladas a uma temperatura de -20 °C ou inferior (até -70ºC). É
de evitar a congelação e descongelação repetidas. O tempo de armazenamento ocorre pelo
menos até à impressão do boletim de análises completo.
As alíquotas de urinas tipo II são conservadas refrigeradas durante 24h a 2-8ºC.
No caso de urinas para pesquisa de drogas de abuso são congeladas durante dois meses,
se positivas, caso contrário, refrigeradas até 4 dias.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
Catarina Alves Fase Pré-Analítica
12
Relativamente ao líquido cefalorraquidiano (LCR) para exame bioquímico, as
amostras conservadas a 2-8ºC permanecem estáveis durante quatro dias. Após esse
tempo, o LCR é congelado até 2 meses, se existir quantidade suficiente.
Produtos para exame microbiológico, exceto LCR e hemoculturas, são guardados
até validação, refrigerados a 2-8ºC.
LCR e hemoculturas para exame microbiológico são guardados na estufa a 37ºC,
até validação.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
Catarina Alves Gestão de Resíduos
13
Gestão de Resíduos
A classificação dos resíduos encontra-se na tabela 1, de acordo com o Despacho
nº242/96 de 5 de Julho. (6)
Tabela 1. Classes de resíduos, segundo o Despacho nº242/96. Adaptado de (6).
Classes de resíduos Descrição
Grupo I - Resíduos equiparados a urbanos Não têm exigências especiais, são
resíduos provenientes de serviços gerais.
Grupo II - Resíduos hospitalares não
perigosos
Material não contaminado e sem vestígios
de sangue ou reagentes.
Grupo III - Resíduos com risco biológico Resíduos contaminados ou em que há
suspeita de contaminação provenientes de
salas de colheitas e salas de trabalho:
algodões com sangue, luvas, meios de
cultura, entre outros.
Grupo IV - Resíduos com elevado risco
biológico
Resíduos constituídos por materiais
cortantes ou perfurantes provenientes das
salas de colheitas e salas de trabalho,
nomeadamente agulhas e vidros.
Os resíduos do grupo I e II são eliminados para sacos pretos e colocados em
contentores de lixo comum. Os resíduos do grupo III são eliminados em contentores
revestidos por sacos brancos. Duas vezes por dia, os sacos são fechados e colocados num
contentor de resíduos do grupo III, recolhidos por pessoal autorizado. Os resíduos do
grupo IV são colocados diretamente em contentores de plástico específicos para o efeito,
devidamente identificados. Quando o conteúdo do contentor chega ao nível assinalado,
este é fechado e colocado num contentor de resíduos do grupo IV, que será depois
recolhido por empresa certificada na gestão de resíduos.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
Catarina Alves Bioquímica
14
3.Bioquímica
A Bioquímica Clínica é uma das várias secções pertencentes à fase analítica, que
permite a determinação de variados parâmetros no soro, plasma, urina ou outros líquidos
biológicos, através de técnicas químicas, imunológicas e cinéticas, contribuindo para o
diagnóstico e monitorização de processos patológicos. É importante referir que os
parâmetros referidos neste capítulo são apenas aqueles determinados no laboratório em
que o estágio foi realizado.
3.1.Equipamentos
3.1.1GEM Premier 3000 – Gasimetrias
Trata-se de um equipamento (figura 1) que mede uma variedade de parâmetros
em sangue total heparinizado. Mede potencial de hidrogénio (pH), pressão parcial de
dióxido de carbono (ρCO2), ião sódio (Na+), ião potássio (K+) e ião cálcio (Ca2+) usando
sensores potenciométricos. (7) Para além destes, mede uma série de outros parâmetros
derivados dos referidos anteriormente, como é o caso do ião bicarbonato (HCO3-).
Figura 1. GEM Premier 3000. Adaptado de (8)
Os métodos potenciométricos medem a força eletromotriz (fem) de células
galvânicas, em que o potencial de um dos componentes do par eletrolítico é tomado como
resposta às concentrações de espécies iónicas presentes em solução. As condições
analíticas são controladas para que a fem dependa apenas da espécie iónica em estudo.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
Catarina Alves Bioquímica
15
Consiste num método eletroquímico em que é medida a diferença de potencial elétrico
entre dois elétrodos em condições estáticas (sem passagem de corrente). É feita a medição
do potencial de um elétrodo indicador, o de interesse (cátodo) em relação a um elétrodo
de referência (ânodo), através de um potenciómetro. (9)
Através de um elétrodo amperimétrico mede também pressão parcial de oxigénio
(ρO2), glucose e lactato. (7) A amperometria é uma técnica eletroquímica em que ambos
os elétrodos estão ligados a uma fonte de tensão externa. Esta corrente é aplicada ao
elétrodo de medição, que faz com que as moléculas do analito em estudo sejam atraídas
para esse elétrodo, dando origem a uma reação química. A corrente da célula
eletroquímica é medida e é proporcional à concentração de analito presente na amostra.
(9)
O aparelho tem cartuchos com todos os componentes necessários para operar, que
inclui sensores, soluções, bolsa de descarte e agulha de aspiração. Para além disto,
apresenta um sistema de Controlo de Qualidade inteligente (iQM™, do inglês, intelligent
Quality Management) de modo a garantir que produz resultados fiáveis sem necessidade
de intervenções pelo usuário. (7) O modo de funcionamento é muito simples: após leitura
do código de barras, a amostra é aspirada da seringa pelo aparelho e os resultados vão
automaticamente para o software.
3.1.2.Dimension® Integrated Chemistry System
O laboratório usa um sistema de diagnóstico in vitro (figura 1) que mede uma
variedade de analitos nos fluidos humanos. O aparelho usa um sistema de cartuchos de
reagentes para operar e é constituído por quatro módulos: espetrofotometria, módulo de
imunoensaio heterogéneo (HM) módulo QuickLyte® para testar eletrólitos e o módulo
de imunoensaios homogéneos de alta sensibilidade (LOCI®). Utiliza técnicas de
espetrofotometria, turbidimetria, imunoturbidimetria, quimioluminescência e tecnologia
multisensor seletiva de iões para aplicações químicas e imunoquímicas de uso clínico em
urina, plasma, soro e LCR. (10)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
Catarina Alves Bioquímica
16
Figura 2. Dimension® Integrated Chemistry System. Adaptado de (11).
A espetrofotometria é definida como uma medida da intensidade da luz a um
determinado comprimento de onda e baseia-se na capacidade de absorção da radiação. As
reações enzimáticas, de oxidação-redução ou colorimétricas, que provoquem uma
alteração na absorvância podem ser detetadas por espetrofotometria. (9)
Os imunoensaios baseiam-se na reação entre um antigénio e um anticorpo
específico para esse antigénio. O módulo HM realiza imunoensaios enzimáticos,
baseados no princípio de sandwich. LOCI® é um módulo automatizado de imunoensaios
associado à tecnologia quimioluminescente. (10)
A turbidimetria mede a luz dispersa, em que o aumento da turvação, causada pela
presença de partículas em suspensão, causa uma alteração na intensidade da radiação
incidente. Assim, a concentração do analito presente na amostra em estudo é tanto maior
quanto menor for a quantidade de luz medida. Pode ser utilizada associada a uma reação
de imunoprecipitação (imunoturbidimetria), medindo a quantidade de luz que consegue
atravessar a amostra na presença de imunocomplexos. (9)
As medições dos eletrólitos utilizam a Tecnologia do Multisensor Integrado (IMT, do
inglês, Integrated Multisensor Technology) de deteção indireta das amostras -
QuikLYTE® - para desenvolver um potencial elétrico proporcional à atividade de cada
ião específico presente na amostra. Os elétrodos estão incorporados no QuikLYTE®
Integrated Multisensor e são seletivos para os iões de sódio, potássio e cloreto. No
multisensor, é também incorporado um elétrodo de referência. Depois de uma amostra
ser posicionada no sensor, os iões estabelecem um equilíbrio com a superfície do elétrodo.
É gerado um potencial que é proporcional ao logaritmo da atividade da substância a
analisar na amostra. O potencial elétrico gerado numa amostra é comparado com o
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
Catarina Alves Bioquímica
17
potencial elétrico gerado numa solução padrão e é calculada a concentração dos iões
pretendidos. (12)
O sistema alerta para os índices de hemólise (pode ocorrer elevação de alguns
resultados analíticos como o potássio, magnésio, lactato desidrogenase e podem ocorrer
interferências analíticas devido à cor da hemoglobina), icterícia (tonalidade amarelada do
soro ou plasma devido à bilirrubina, que pode levar à alteração de alguns resultados
analíticos) e lipémia (leva à turvação do soro e pode interferir nas técnicas analíticas como
a turbidimetria).
As amostras são colocadas no suporte e o equipamento lê o código de barras e
processa os testes de modo aleatório. Não é necessário pré-tratamento de reagentes ou da
amostra. Os resultados são impressos automaticamente pela impressora acoplada ao
aparelho e também enviadas para o sistema de validação do laboratório.
3.1.3.Clinitek Atlas®
O equipamento Clinitek Atlas® (figura 3) é um espetrofotómetro de dispersão que
mede a luz refletida para realizar análise química e física da urina. Cada embalagem de
reagente contem um rolo de tiras de reagente com zonas reativas independentes,
impregnadas com substâncias químicas, que analisam os seguintes parâmetros: glicose,
bilirrubina, cetona (ácido acetilacético), sangue oculto, pH, proteínas, urobilinogénio,
leucócitos e nitritos. O equipamento analisa por espetrofotometria de refletância, a
comprimentos definidos, a cor e intensidade da luz refletida por uma zona reativa após a
reação. (13)
Figura 3. Clinitek Atlas® com manipulador de amostras tipo carrossel. Adaptado de (14).
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18
A determinação da gravidade específica da amostra faz-se através do método do
índice de refração, em que é determinado o grau de desvio de um feixe de luz que
atravessa a solução (índice de refração), proporcional à concentração dos solutos da
amostra. A clareza é determinada através da medição da transmissão e dispersão da luz
que passa através da amostra. (13)
O scanner de código de barras lê as etiquetas e cada uma é lida no momento em
que a amostra no tubo é analisada.
3.1.4.VIDAS®
É um imunoanalisador automático (figura 4) composto por um módulo analítico
com cinco secções e com seis posições em cada uma, que permite a realização de diversos
testes e parâmetros em simultâneo.
Figura 4. Aparelho VIDAS®. Adaptado de (15).
Funciona da seguinte forma: após identificação do doente através da leitura do
código de barras, é inserido na posição da secção escolhida, o cone (fase sólida da reação,
sensibilizado com antigénios ou anticorpos) e a barrete de reagente, ao qual se adiciona o
soro a testar.
A tecnologia utilizada, que é adaptável a uma ampla gama de ensaios, combina
o método ensaio imunoenzimático (EIA, do inglês, enzyme immunoassay) com uma
leitura final de fluorescência: tecnologia conhecida como ELFA (do inglês, enzyme linked
fluorescent assay). Inicialmente, os anticorpos/antigénios presentes no soro ligam-se aos
anticorpos/antigénios fixados no cone. Após uma etapa de lavagem, o conjugado fixa-se
aos anticorpos/antigénios específicos presentes no cone, seguido de outra etapa de
lavagem que elimina o conjugado não fixado. Na etapa final, a enzima do conjugado
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19
catalisa a reação de hidrólise de um substrato, resultando na emissão de fluorescência,
proporcional à quantidade analito presente na amostra. (16)
3.2.Metabolismo dos hidratos de carbono
Glicose
A fonte principal de energia do organismo, glicose, é originada através do
metabolismo dos glícidos. Nas células, a glicose é metabolizada para produzir trifosfato
de adenosina (ATP) e fornecer intermediários metabólicos que são necessários em vários
processos biossintéticos. Vários sistemas no organismo permitem que independentemente
da quantidade de glicose ingerida, a concentração se mantenha constante, não existindo
situações de carência ou excesso não compatíveis com a vida. No entanto, situações de
desequilíbrio ocorrem quando estes mecanismos falham. A patologia mais preocupante
originada do metabolismo dos hidratos de carbono é a diabetes mellitus, sendo a glicémia
o parâmetro fundamental do diagnóstico e monitorização. Esta doença metabólica causa
hiperglicemia, poliúria, polidipsia e polifagia e pode dar origem a complicações como
nefropatia e neuropatia. Outro desequilíbrio na concentração de glicose pode originar
hipoglicémia, caracterizada por baixas concentrações sanguíneas de glicose. (17)
A concentração de glicose no sangue varia entre limites estreitos e depende de
vários fatores, nomeadamente o estado físico, jejum, medicação. A glicose é filtrada pelos
glomérulos e quase totalmente reabsorvida pelos túbulos renais. Quando a sua
concentração atinge o limiar renal, aparece na urina. A glicosúria é também um parâmetro
importante, na medida em que em condições fisiológicas normais, a glicose não é
excretada na urina. (17)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro, plasma, urina e LCR.
Interferentes: a amostra hemolisada pode diminuir o resultado. Por outro lado, a lipémia
e bilirrubina não conjugada podem aumentar o resultado. Alguns medicamentos também
podem alterar o valor de glicose. A glicólise diminui os níveis séricos de glicose entre 5
a 7% por hora em sangue normal coagulado não centrifugado, à temperatura ambiente.
(18)
Método: ensaio enzimático
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20
A determinação é realizada através do método da hexoquinase (HK). A
absorvância devida à forma reduzida de nicotinamida adenina dinucleótido (NADH), que
é proporcional à quantidade de glicose na amostra, é determinada utilizando uma técnica
bicromática de ponto final (340 e 383nm). (18)
HK
Glicose + ATP → Glicose-6-fosfato + ADP
Mg2+
Glicose-6-fosfato desidrogenase
Glicose-6-fosfato + NAD+ → 6-fosfogliconato + NADH + H+
Legenda: hexoquinase (HK); trifosfato de adenosina (ATP); difosfato de adenosina
(ADP); ião magnésio (Mg2+); nicotinamida adenina dinucleótido (NAD+); nicotinamida
adenina dinucleótido reduzido (NADH); ião hidrogénio (H+)
Valores de referência:
Soro: 74 – 106 mg/dL
LCR: 40 – 70 mg/dL
Urina, aleatória: 1 – 15 mg/dL
Valores críticos: valores de glicémia em idade superior a um ano ≤55 mg/dL ou ≥500
mg/dL ou em idade inferior a um ano ≤30mg/dL ou ≥200 mg/dL e um valor de < 40
mg/dlL no LCR, são comunicados de imediato ao médico.
A Associação Americana de Diabetes (ADA, do inglês, American Diabetes
Association) recomenda os seguintes critérios para o diagnóstico de diabetes: (19)
1. Sintomas de diabetes e glicose aleatória ≥ 200 mg/dL
OU
2. Glicose em jejum ≥ 126 mg/dL
3. Valores de prova de tolerância à glicose oral (PTGO) às 2h ≥ 200 mg/dL
Um parâmetro positivo não é suficiente, sendo necessário repetição do mesmo
para confirmação. Indivíduos que apresentem valores de glicose aumentados, mas não
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21
superior ao valor de referência são incluídos noutra categoria que apresenta risco elevado
para diabetes e doenças cardiovasculares futuras, segundo a norma da DGS (Direção-
Geral da Saúde) (20):
a) Anomalia da Glicemia de Jejum (AGJ): glicemia de jejum ≥ 110 e < 126 mg/dl
b) Tolerância Diminuída à Glicose (TDG): glicémia às 2 horas na PTGO ≥ 140 e <
200 mg/dl.
A glicose também pode ser determinada em sangue arterial (sangue total
heparinizado) no equipamento GEM Premier 3000, com os seguintes valores de
referência: 60 – 95 mg/dL (7)
PTGO
A prova de tolerância à glicose oral avalia a clearance da glucose em circulação
após uma sobrecarga (administração oral de glucose) de 75gr de glucose anidra. A
medição de glicose é realizada às 0h, 1h e 2h após ingestão. É realizada para deteção de
diabetes mellitus gestacional (DMG) e para detetar a tolerância diminuída à glicose.
Apesar de ser mais sensível que a determinação da glicose em jejum, a prova é afetada
por vários fatores que resulta em pobre reprodutibilidade do teste. A prova deve ser
realizada novamente para confirmação de resultados anormais. (17)
Segundo a norma da DGS esta prova deve ser realizada a todas as grávidas,
excluindo aquelas a quem tenha sido previamente diagnosticada DMG ou provável
diabetes prévia. (21)
O diagnóstico de DMG faz-se quando um ou mais valores forem iguais ou
superiores aos valores de referência:
• Em jejum (mínimo 8h, máximo 14h) ≥92 mg/dL
• Na primeira hora ≥180 mg/dL
• Na segunda hora ≥153 mg/dL
A prova deve ser feita sem dieta restritiva, com atividade física regular nos três
dias anteriores e durante a prova, o paciente deve manter-se em repouso.
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22
Lactato
O lactato, um intermediário no metabolismo dos hidratos de carbono, existe no
músculo esquelético, cérebro e eritrócitos. Cerca de 30% do lactato formado é utilizado
no fígado, principalmente para a produção da glicose, através da gliconeogénese. (7,17)
Privação severa de oxigénio nos tecidos devido a choque, descompensação
cardíaca, problemas hematológicos e insuficiência pulmonar, problemas hepáticos, entre
outras condições clínicas, leva a acidose láctica, associada com um aumento significativo
do lactato no sangue. (7)
Equipamento: GEM Premier 3000
Amostra: sangue arterial heparinizado
Método: amperometria
Valores de referência: 5 – 20 mg/dL
3.3.Metabolismo dos lípidos
Colesterol total
Cerca de 90% do colesterol endógeno é sintetizado no fígado e intestino e as
células e órgãos necessitam deste colesterol que lhes chega através das lipoproteínas.
Após a sua síntese, o colesterol é transportado no sangue, 2/3 sob a forma de éster e 1/3
na forma livre, pelas lipoproteínas. A sua determinação é muito importante, na medida
em que o colesterol total (livre e esterificado) está associado ao desenvolvimento de
doenças cardiovasculares, uma das principais causas de morte, através da sua deposição
nas paredes do endotélio vascular, formando placas de ateroma que podem originar um
enfarte agudo do miocárdio (EAM). (9)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro, plasma
Interferentes: oxalato de potássio, fluoreto de sódio e heparina de lítio podem diminuir os
resultados de colesterol total, bem como bilirrubina conjugada e não conjugada e uma
amostra hemolisada. (22)
Método: ensaio enzimático
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23
O produto final da reação é um cromóforo que absorve a 540nm, cuja
concentração é proporcional à concentração de colesterol total. (22)
CE
Ésteres de colesterol → Colesterol + Ácidos gordos
CO
Colesterol + O2
→ Colest-4-eno-3-ona + H2O2
HPO
2 H2O2 + DEA-HCI/AAP → 4 H2O + DEA-HCI/AAP oxidada
Legenda: esterase do colesterol (CE); oxidase do colesterol (CO); oxigénio(O2); peróxido
de hidrogénio (H2O2); peroxidase de rábano silvestre (HPO); N,N-dietilanilina-HCl/4-
aminoantipirina (DEA-HCl/AAP); oxigénio (O2); peróxido de hidrogénio (H2O2); água
(H2O)
Valores de referência:
Segundo o Painel de Tratamento de Adultos III do Programa Nacional de Educação sobre
o Colesterol (NCEP – ATP III, do inglês, National Cholesterol Education Program Adult
Treatment Panel III) (22,23):
• Desejável <200 mg/dL
• Acima da média 200 – 239 mg/dL
• Elevado ≥240 mg/dL
Triglicéridos
São os ésteres do glicerol mais prevalentes da dieta e encontrados em
predominância no plasma. São hidrolisados a glicerol e ácidos gordos pelas lípases e
após absorção, são ressintetizados ao combinar-se com o colesterol e apolipoproteína B48
para formar as quilomicras. (9)
As medições obtidas são utilizadas no diagnóstico e tratamento de distúrbios
cardiovasculares, endócrinos, doenças do metabolismo dos lípidos, doentes com nefrose,
obstrução hepática. (24)
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24
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro, plasma
Interferentes: devido à lipólise natural, podem existir pequenas quantidades de glicerol
livre em amostras de sangue. O glicerol livre pode também sofrer aumentos devido a
stress ou doença. Uma amostra hemolisada e bilirrubina não conjugada aumentam o valor
dos triglicéridos. (24)
Método: ensaio enzimático
A concentração do produto final da reação, quinoneimina é proporcional à
quantidade de glicerol e percursores, e é medida através de medições de absorvância
utilizando uma técnica bicromática de ponto final (510, 700nm). (24)
LPL
Triglicéridos → Glicerol + Ácidos gordos
GK
Glicerol + ATP
→ Glicerol-3-fosfato + ADP
GPO
Glicerol-3-fosfato + O2 → Fosfato de Di-hidroxiacetona + H2O2
POD
2H2O2 + Aminoantipirina + 4-Clorofenol → Quinoneimina + HCl + 4H2O
Legenda: lipoproteína lípase (LPL); glicerol quinase (GK); trifosfato de adenosina (ATP);
difosfato de adenosina (ADP); glicerol-3-fosfato-oxidase (GPO); oxigénio (O2); peróxido
de hidrogénio (H2O2); peroxidase (POD); ácido clorídrico (HCl); água (H2O);
Valores de referência:
Quatro categorias foram estabelecidas pelo NCEP – ATP III (23,24):
• Normal < 150 mg/dL
• Acima da linha limite 150 – 199 mg/dL
• Elevada 200 – 499 mg/dL
• Muito alta ≥ 500 mg/dL
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25
Colesterol ligado a lipoproteínas de alta densidade
O papel do processo do transporte inverso do colesterol, mediado pelas
lipoproteínas de alta densidade (HDL, do inglês, high density lipoprotein) é remover
colesterol em excesso de células e tecidos periféricos e transportá-lo para o fígado, onde
é metabolizado. Deste modo, as HDL assistem na homeostase do colesterol, pelo que os
doentes com baixos níveis desta lipoproteína, apresentam risco aumentado de doença
cardiovascular. (9,25)
A determinação do colesterol ligado a HDL pode ser usada como ajuda no
diagnóstico de patologias hepáticas, renais e na avaliação do risco de aterosclerose e
doença cardiovascular. (25)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro, plasma (heparina de lítio ou sódio)
Interferentes: situações de função hepática anormal podem afetar o metabolismo lipídico
pelo que o resultado do colesterol ligado a HDL pode ser significativamente diferente.
(25)
Método: ensaio enzimático
O produto final colorido é medido utilizando uma técnica bicromática de ponto
final (600/700nm) e as suas medições são diretamente proporcionais à concentração
sérica de colesterol ligado a HDL. (25)
Sulfato de dextrano, Sulfato de magnésio
HDL, LDL,VLDL, Quilomicra → LDL não reativa, VLDL, Quilomicra
+ Ésteres de Colesterol HDL
PEG – colesterol esterase
Ésteres de colesterol HDL + H2O → Colesterol HDL + Ácido Carboxílico
PEG – colesterol oxidase
Colesterol HDL + O2 → ∆4 Colestenona + H2O2
Peroxidase
2 H2O2 + 4-aminoantipirina + HSDA → Desenvolvimento de cor + 5 H2O
+ H+ + H2O
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26
Legenda: lipoproteínas de alta densidade (HDL); lipoproteínas de baixa densidade (LDL);
lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL); polietileno glicol (PEG); água (H2O);
oxigénio (O2); peróxido de hidrogénio (H2O2); N-(2-hidroxi-3-sulfopropil)-3.5-
dimetoxianilina sódica (HSDA); ião hidrogénio (H+)
Valores de referência:
O NCEP-ATP III fornece as seguintes classificações das concentrações de
colesterol ligado a HDL (23,25):
• Colesterol ligado a HDL < 40 mg/dL - Colesterol ligado às HDL baixo
• Colesterol ligado a HDL≥ 60 mg/dL - Colesterol ligado às HDL alto
3.4.Proteínas
Proteína Total
Parâmetro analítico que avalia no seu conjunto as proteínas do soro ou plasma. As
medições de proteína total são utilizadas no diagnóstico e tratamento de uma variedade
de doenças que envolvem o fígado, o rim ou a medula óssea, assim como perturbações
metabólicas ou nutricionais. (26)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro, plasma heparinizado
Interferentes: dextrano, imunoglobulina G e hemólise da amostra, podem aumentar o
resultado da proteína total. A bilirrubina não conjugada pode diminuir o resultado e a
lipémia pode também interferir. (26)
Método: ensaio cinético
O sistema usa o método do biureto. O complexo proteico de cobre (II) azul
formado é proporcional à concentração de proteína total na amostra, medido com uma
técnica bicromática de ponto final (540, 700nm). (26)
Hidroxilo (OH-)
Ião cobre (Cu++) + Complexo → proteína (absorve a 540 nm)
Valores de referência: 6.4 – 8.2 g/dL no soro.
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27
Um intervalo de referência para o plasma seria 0.3 g/dL superior devido à presença
de fibrinogénio no plasma. (26)
3.5.Resposta inflamatória
Proteína C reativa
A proteína C reativa é uma proteína de fase aguda sintetizada no fígado. Durante
uma infeção grave, a síntese hepática de proteínas é alterada e a síntese desta proteína é
aumentada, sendo útil a sua determinação para deteção de infeções e distúrbios
inflamatórios. Apesar da sua função ser incerta, sabe-se que desempenha um papel na
inflamação tecidual. (27)
As concentrações de proteína C reativa no plasma aumentam bastante após afeção
do miocárdio, stress, trauma, infeção, inflamação, cirurgia ou proliferação neoplásica. O
aumento ocorre após 6-12 horas do início destas patologias e a concentração pode chegar
a 2000 vezes o valor normal. (9)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma (heparina de lítio)
Interferentes: não utilizar plasma com EDTA. Anticorpos heterofílicos em amostras de
doentes, podem reagir nos imunoensaios e produzir resultados falsos. Hemoglobina e
bilirrubina não conjugada podem aumentar os resultados. A lipémia também pode
influenciar os resultados. (28)
Método: imunoensaio turbidimétrico
Na presença de proteína C na amostra, partículas revestidas com anticorpos contra
esta proteína agregam-se e ocorre um aumento de turvação, que é medido e proporcional
à concentração de proteína C reativa. (28)
Proteína C + AbPR → Agregado (absorve a 340 nm)
Legenda: partículas revestidas com anticorpos contra a proteína C reactiva (AbPR)
Valores de referência: aproximadamente 0.3 mg/dL. (28)
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28
3.6.Função renal
Creatinina
A creatinina é sintetizada endogenamente nos rins, fígado e pâncreas e libertada
nos fluidos corporais a um ritmo constante. A sua concentração no plasma é mantida entre
limites estreitos predominantemente pela filtração glomerular. Não é reabsorvida pelos
túbulos renais, e apenas uma pequena quantidade é secretada pelos túbulos. As medições
de creatinina no plasma e a sua clearance renal são usadas como indicadores de
diagnóstico da função renal e de patologias como glomerulonefrite aguda, insuficiência
renal aguda, insuficiência renal crónica, falência renal e obstrução renal em que ocorre
diminuição da taxa de filtração glomerular (TFG). (9)
A TFG é um índice da função renal, que avalia a filtração dos rins, e que pode ser
determinada através da clearance da creatinina. (29)
Clearance (mL/min) = Creatinina Urinária (mg/L)
Creatinina Plasmática (mg/L) × diurese (mL/min)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro, plasma (heparina de lítio) e urina
Interferentes: no soro e plasma as substâncias que podem interferir com os resultados são
as seguintes: acetona, bilirrubina não conjugada, cefalotina, glicose, lipémia, piruvato,
triglicéridos. Na urina, ácido ascórbico. (29)
Método: ensaio cinético
O método da creatinina usa uma modificação da reação cinética de Jaffe. O
aumento da absorvância devido à formação do cromóforo a 510nm, medida utilizando
uma técnica cinética bicromática (510, 600nm) é diretamente proporcional à
concentração de creatinina na amostra. (29)
NaOH
Creatinina + Picrato → Cromóforo vermelho (absorve a 510 nm)
Legenda: hidróxido de sódio (NaOH)
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29
Valores de referência:
Soro e plasma:
Homens: 0.70 – 1.30 mg/dL
Mulheres: 0.55 – 1.02 mg/dL
Urina:
Homens: 0.95 – 2.49 g/24 h
Mulheres: 0.60 – 1.80 g/24 h
Ácido úrico
No humano, o ácido úrico é o maior produto do catabolismo das purinas,
adenosina e guanosina. É formado endogenamente e também consumido na dieta. O
tratamento renal do ácido úrico envolve quatro passos: filtração glomerular, reabsorção
no túbulo proximal, secreção no lúmen e reabsorção no túbulo distal. A excreção renal
de ácido úrico é cerca de 6 a 12% da quantidade filtrada. Esta determinação é útil no
diagnóstico de gota e patologias renais. No entanto, esta utilidade é diminuída devido à
existência de fatores não renais que influenciam a concentração plasmática de ácido úrico.
(9)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro, plasma e urina
Interferentes: as colheitas de urina de 24 horas devem ser efetuadas em recipientes com
hidróxido de sódio (para evitar a precipitação de urato). A xantina diminui o resultado,
bem como o formaldeído (formalina). A lipémia também interfere no resultado (30)
Método: ensaio enzimático
O método do ácido úrico usa uma modificação do método da uricase. O
desaparecimento de ácido úrico leva a uma alteração de absorvância, medida utilizando
uma técnica cinética bicromática (293, 700nm). (30)
Uricase
Ácido úrico + 2H2O + O2
→ Alantoína + H2O2 + CO2
(absorve a 293 nm) (não absorvente a 293 nm)
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30
Legenda: água (H2O); oxigénio (O2); peróxido de hidrogénio (H2O2); dióxido de carbono
(CO2)
Valores de referência:
Soro:
Mulher 2.6 – 6.0 mg/dL
Homem 3.5 – 7.2 mg/dL
Urina
150 – 990 mg/24h
Azoto ureico
A ureia constitui o principal produto metabólico com azoto resultante do
catabolismo das proteínas nos humanos. Mais de 90% da ureia é excretada pelos rins. Ela
não é reabsorvida nem excretada pelos túbulos, mas é filtrada livremente pelo glomérulo.
A doença renal está associada com acumulação de ureia no sangue. Um aumento na
concentração de ureia no plasma, acompanhado de falência renal, caracteriza o estado
azotémico (urémico), que poderá ter origem pré-renal, renal ou pós-renal. (9)
A determinação do azoto ureico, em conjunto com a determinação de creatinina
em soro ou plasma, ajuda na discriminação entre a azotémia pré-renal e pós-renal. (31)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro, plasma e urina
Interferentes: este método reage quantitativamente com iões de amónio. (31)
Método: ensaio enzimático
O desaparecimento de NADH na reação, leva a uma alteração de absorvância,
proporcional à concentração do analito, medida utilizando uma técnica cinética
bicromática (340, 383nm). (31)
Urease
Ureia + H2O
→ 2NH3 + CO2
GLDH
NH3 + α-KG + NADH → L-glutamato + NAD
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31
Legenda: água (H2O); amoníaco (NH3); dióxido de carbono (CO2); α- cetoglutarato (α-
KG); glutamato desidrogenase (GLDH); nicotinamida adenina dinucleótido reduzido
(NADH); nicotinamida adenina dinucleótido (NAD)
Valores de referência:
Soro: 7 – 18 mg/dL
Urina: 7 – 20 g/24hr
Proteína urinária
A determinação quantitativa do conteúdo proteico na urina é utilizada no
diagnóstico e tratamento de doenças renais. Proteinúria é definida como a presença
excessiva de proteínas na urina, que pode ocorrer tanto nos vários tipos de doença renal,
como após exercício intenso ou desidratação. Proteinúria ocorre com permeabilidade
glomerular aumentada (proteinúria glomerular), em que a proteína urinária é
maioritariamente a albumina e reabsorção tubular defeituosa (proteinúria tubular), em que
as proteínas urinarias são maioritariamente proteínas de baixo peso molecular. Pode
também ocorrer, menos comumente, concentração aumentada no plasma de alguma
proteína anormal de baixo peso molecular ou secreção anormal de proteína no trato
urinário (proteinúria pós-renal). (9)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: urina
Interferentes: as amostras que contêm amicacina, gentamicina, canamicina e tobramicina
provocam um falso aumento dos resultados. (32)
Método: ensaio cinético
É utilizada uma adaptação do método do vermelho de pirogalol-molibdato. A
absorvância a 600nm do complexo formado é diretamente proporcional à concentração
de proteína na amostra. (32)
PR-MO + proteína → complexo PR-MO-proteína
(absorve a 600nm)
Legenda: vermelho de pirogalol-molibdato (PR-MO)
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32
Valores de referência: < 11.9 mg/dL, < 149.1 mg/dia
Exame sumário da urina
Este exame é indispensável na avaliação da função renal global. A amostra usada
deve ser a primeira urina da manhã e deve ser analisada até 2h após colheita, caso
contrário deverá ser refrigerada. Em alternativa poderá ser usada uma amostra colhida
aleatoriamente, com retenção urinária de pelo menos 4h, para evitar falsos resultados
diminuídos.
O exame à urina é o primeiro passo a realizar na suspeita de deterioração da função
renal. No laboratório, a urina é examinada visual, química e microscopicamente. A
aparência da urina pode ajudar nalgumas determinações, nomeadamente a turvação, que
poderá ser de origem patológica ou não. (9)
A avaliação química e física é semi-quantitativa, está automatizada e é realizada
no equipamento Clinitek Atlas®. A observação do sedimento urinário é realizada ao
microscópio, para visualização dos elementos figurados e avaliação semi-quantitativa.
Exame Físico-Químico
Equipamento: Clinitek Atlas®
Cada embalagem de reagente contem um rolo de tiras de reagente que analisam
os seguintes parâmetros: glicose, bilirrubina, cetona (ácido acetilacético), sangue oculto,
pH, proteínas, urobilinogénio, leucócitos e nitritos. O significado clínico dos respetivos
parâmetros encontra-se na tabela 2. Também são feitas as determinações da gravidade
específica e clareza da amostra. O aparelho apresenta os resultados de forma semi-
quantitativa. (13)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
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33
Tabela 2. Parâmetros determinados no exame físico-químico da urina tipo II e respetivo
significado clínico. Adaptado de (9).
Parâmetro Significado clínico
Glicose Glicosúria – poderá significar diabetes mellitus ou doença
renal.
Bilirrubina Presença de bilirrubina conjugada na urina que não existe em
condições normais. Pode ocorrer devido a elevados níveis de
bilirrubina na circulação sistémica que são excretados,
problemas hepáticos.
Cetona São produtos do catabolismo lipídico. A presença de corpos
cetónicos pode indicar diabetes descontrolada (cetoacidose),
jejum prolongado.
Sangue oculto Resultado positivo poderá ser devido à presença de glóbulos
vermelhos, hemoglobina ou mioglobina. Alterações a nível
renal, urinário, contaminação menstrual.
pH O pH varia consoante a dieta e fármacos. Um valor normal
situa-se entre os 5,5 e 6,0. Uma alteração pode significar
infeção do trato-urinário, dietas ricas em proteínas ou
vegetarianas, medicação.
Proteínas Importante na avaliação da função de filtração glomerular. A
presença de proteínas na urina poderá ser indicativo de lesão
renal ou outras patologias. A urina poderá apresentar-se
espumosa.
Urobilinogénio Produto de excreção avaliado com a bilirrubina, sendo um
produto resultante dos processos de redução da bilirrubina.
Valores elevados (>1,0mg/dL) poderão indicar doença
hepática.
Leucócitos Maioritariamente associado a infeção do trato urinário.
Nitritos Resultado positivo indica possível infeção por bactérias
redutoras de nitratos.
Gravidade específica Medida das substâncias químicas dissolvidas na urina,
dependente do poder de excreção e concentração dos rins. As
amostras aleatórias apresentam valores entre 1,015 – 1,025
dependendo do grau de hidratação.
Clareza A urina não patológica é clara. Urina turva indica presença de
material celular excessivo ou pode ser devida a medicação ou
alimentação.
Exame microscópico do sedimento
O exame microscópico do sedimento só é efetuado quando o seu resultado permite
acrescentar valor clínico face à idade (exemplo: crianças) e à história clínica do doente,
ou para confirmação, quando algum parâmetro do exame físico-químico está alterado.
Permite identificar e caraterizar os elementos figurados clinicamente
significativos: células epiteliais, leucócitos, eritrócitos, cilindros, cristais. O seu
significado clínico encontra-se descrito na tabela 3. É também avaliada a presença de
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34
bactérias e elementos leveduriformes. A bacteriúria pode surgir devido a contaminação
fecal, vaginal e uretral ou devido a problemas patológicos como infeções urinárias. Como
alguns parâmetros não apresentam significado clínico e outros são considerados normais
a não ser que estejam presentes em quantidades elevadas, é realizada uma semi-
quantificação de acordo com a seguinte escala: raros (0-5 elementos); alguns (5-10
elementos); muitos (>10 elementos).
A observação semi-quantitativa é realizada no microscópio ótico na objetiva 40x.
Tabela 3. Elementos avaliados no exame microscópico da urina tipo II e respetivo
significado clínico. Adaptado de (9).
Elementos Significado clínico
Células
epiteliais
Refletem a descamação normal das células, a não ser que presentes
num número elevado ou morfologicamente alteradas. A presença de
células tubulares renais é indicativa de patologia renal.
Eritrócitos Podem estar presentes em casos de doenças renais e do trato urinário
ou apenas devido a condições fisiológicas normais, como
contaminação menstrual.
Leucócitos Presentes nas doenças renais e do trato urinário ou em condições
fisiológicas normais, em baixas quantidades.
Cilindros Aglomerados de proteínas Tamm-Horsfall presentes na urina na
forma solúvel, que em situação de estase urinária, precipitam. No
geral são patológicos e indicam doença renal.
Cristais Podem apresentar, ou não, significado clínico. São formados por
precipitações dos sais da urina por alterações na concentração, na
temperatura e no pH da urina.
3.7.Função hepática
Enzimas hepáticas
Os testes da função hepática incluem a determinação de substâncias que são
libertadas como resultado da ocorrência de dano tecidular, como as enzimas cujas
determinações são comumente utilizadas no diagnóstico de doença hepática que incluem
a aspartato aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina
(ALP) e γ-glutamil transferase (GGT). A determinação das enzimas hepáticas é muito
útil na deteção de lesões hepatocelulares que causam necrose celular, e na diferenciação
de patologias de origem funcional de patologias de origem obstrutiva. (9)
ALT e GGT estão presentes em vários tecidos, mas a sua concentração plasmática
reflete primariamente um fígado danificado. AST é encontrada no fígado, músculo e
eritrócitos. Por sua vez, a ALP existe em variados tecidos, mas normalmente reflete
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35
problemas no fígado e nos ossos. ALP e GGT são úteis como marcadores de lesão
obstrutiva. Além disso, a interpretação das duas em conjunto é útil na distinção entre
doenças do esqueleto ou hepatobiliares. (9) As determinações de fosfatase alcalina são
úteis no diagnóstico de patologias ósseas, hepáticas, da paratiróide e intestinais. (33) A
GGT é uma enzima não específica da doença hepática, com aumento induzido por
medicamentos. Em pacientes com hábitos de alcoolismo, foram relatados níveis elevados
de γ-glutamil transferase. (34) Por outro lado, AST e ALT apresentam duas isoenzimas –
citosol e mitocondrial. Em dano celular moderado é a citosólica a mais elevada. Em dano
celular elevado, apresentam-se as duas aumentadas no plasma. No caso da ALT, a
mitocondrial é uma fração mínima, pelo que apenas a citosólica aparece no soro. Estas
enzimas são libertadas pelo tecido hepático danificado e a sua atividade aumenta no
plasma rapidamente. A razão entre as duas (AST/ALT) é usada para avaliar a extensão
das lesões. (9) Os níveis de AST podem apresentar-se elevados mesmo antes do
aparecimento clínico da icterícia, em doenças hepáticas, nomeadamente hepatites,
necrose, cirrose. (9,35) As determinações de ALT são utilizadas no diagnóstico e
tratamento de hepáticas e cardíacas. (36)
Aspartato aminotransferase
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: a hemólise eleva falsamente os resultados de AST. A lipémia também
poderá interferir. (35)
Método: ensaio enzimático
A conversão de NADH em nicotinamida adenina dinucleótido (NAD) origina uma
alteração da absorvância que é diretamente proporcional à atividade da AST e é medida
utilizando uma técnica cinética bicromática (340, 700 nm). (35)
AST, pH 7.8
L-aspartato + ɑ-cetoglutarato → L-glutamato + oxaloacetato
MDH
Oxalacetato + NADH → Malato + NAD
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36
Legenda: aspartato aminotransferase (AST); malato desidrogenase (MDH); nicotinamida
adenina dinucleótido reduzido (NADH); nicotinamida adenina dinucleótido (NAD)
Valores de referência: 15 – 37 U/L
Alanina aminotransferase
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma (heparina de lítio)
Interferentes: a bilirrubina não conjugada e conjugada reduz os resultados. Os
triglicéridos e a lipémia também podem interferir. (36)
Método: ensaio enzimático
A conversão de NADH em NAD origina uma alteração da absorvância que é
diretamente proporcional à atividade da ALT e é medida utilizando uma técnica cinética
bicromática (340, 700 nm). (36)
ALT, pH 7.4, tampão
L-alanina + ɑ-KG → L-glutamato + piruvato
LDH
Piruvato + NADH (H+) → Lactato + NAD+
Legenda: alanina aminotransferase (ALT); α-cetoglutarato (ɑ-KG); lactato desidrogenase
(LDH); nicotinamida adenina dinucleótido reduzido (NADH); nicotinamida adenina
dinucleótido (NAD)
Valores de referência:
Mulheres: 14 – 59 U/L
Homens: 16 – 63 U/L
Fosfatase alcalina
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma (heparina de lítio)
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37
Interferentes: triglicéridos e lipémia poderão interferir no resultado. (33)
Método: ensaio enzimático
Este método responde a todas as isoenzimas de ALP. A variação da absorvância
a 405nm originada pela reação e medida com uma técnica de cinética bicromática (405,
510nm), é proporcional à atividade da enzima. (33)
ALP, pH 10.25, Mg/Zn
p-NPP + AMP → p-NP + AMP+ PO4
Legenda: fosfatase alcalina (ALP); magnésio (Mg); zinco (Zn); p-nitrofenilfosfato (p-
NPP); 2-amino-2-metil-1-propanol (AMP); p-nitrofenol (p-NP); fosfato (PO4)
Valores de referência: 46 – 116 U/L
γ-glutamil transferase
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: os triglicéridos diminuem o resultado. A hemólise e a bilirrubina não
conjugada poderão interferir na determinação. (34)
Método: ensaio enzimático
O produto da reação, 5-amino- 2-nitrobenzoato, absorve a 405nm e a medida é
proporcional à atividade da GGT, utilizando uma técnica de cinética bicromática (405,
600nm). (34)
γ-glutamil-3-carboxi-4-nitranilida + glicilglicina → L- γ-glutamil-glicilglicina +
5-amino-2-nitrobenzoato
Valores de referência:
Mulheres 5 – 55 U/L
Homens 15 – 85 U/L
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38
Bilirrubina direta (conjugada)
A bilirrubina, principal constituinte da bílis, é uma das principais substâncias
excretadas pelo fígado. Como a bilirrubina é insolúvel no plasma, esta é transportada para
o fígado ligada à albumina (bilirrubina não conjugada), onde vai ser conjugada com o
ácido glucorónico tornando-a hidrossolúvel (bilirrubina direta), sendo depois eliminada
pela bílis. (9)
A bilirrubina direta testa a capacidade do fígado para a conjugação e excreção de
bilirrubina. Este valor aumenta em obstruções hepáticas, cirrose, hepatite e ajuda no
diagnóstico de problemas metabólicos e hematológicos. (9,37)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: a bilirrubina é fotossensível. A hemólise pode diminuir os resultados.
Várias substâncias podem interferir com o resultado, nomeadamente: albumina, ácido
ascórbico, colesterol, hemoglobina, lipémia, proteína total e algumas drogas. (37)
Método: ensaio cinético
O cromóforo vermelho absorve a 540nm e é medido utilizando uma técnica
bicromática de ponto final (540, 700nm). (37)
Bilirrubina conjugada + Ácido sulfanílico diazotado → Cromóforo vermelho
(absorve a 540nm)
Valores de referência: 0.0 – 0.2 mg/dL
Bilirrubina total
O aumento da concentração de bilirrubina total deve-se quer a um aumento da
bilirrubina não conjugada, aumento da bilirrubina conjugada ou de ambas.
As determinações de bilirrubina direta são utilizadas no diagnóstico e tratamento
de problemas hepáticos, hemolíticos, hematológicos e metabólicos, incluindo hepatite e
doença da vesícula biliar. (38)
A determinação da bilirrubina indireta (não conjugada) é realizada pela diferença
entre a bilirrubina total e a bilirrubina direta.
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39
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: a bilirrubina é fotossensível. Lipémia e algumas drogas podem interferir
com o resultado. (38)
Método: ensaio cinético
O cromóforo formado absorve a 540nm e a medição é feita usando a técnica
bicromática de ponto final (540, 700nm). (38)
Bilirrubina solubilizada + Acido sulfanílico diazotado → Cromóforo vermelho
(absorve a 540nm)
Valores de referência: 0.2 – 1.0 mg/dL
Valores ≥18 mg/dL em RN são considerados críticos e comunicados ao médico de
imediato.
Amónia
Em condições normais, enzimas hepáticas metabolizam a amónia em ureia. Várias
doenças provocam um aumento na concentração de amónia (hiperamonémia). (9,39)
As causas mais comuns de hiperamonémia são doença hepática avançada e falha
renal. Doença severa do fígado ou doença crónica (como ocorre em hepatites fulminantes
e cirrose hepática, respetivamente), leva a uma deficiência do metabolismo da amónia.
Síndrome de Reye, uma desordem do sistema nervoso central (SNC) com disfunção
hepática associada, origina também hipernamonémia. (9,39)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: plasma (heparina de lítio ou EDTA)
Interferentes: não utilizar amostras hemolisadas. A bilirrubina não conjugada diminui os
resultados. O dextrano e a hemoglobina aumentam os resultados. A lipémia também
poderá alterar a determinação. (39)
Método: ensaio enzimático
A oxidação do cofator diminui a absorvância, que é proporcional à concentração
de amónia e é monitorizada a 340/700nm. (39)
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40
GLDH
ɑ-cetoglutarato + NH4+ + cofator reduzido
→ L-glutamato + cofator + H2O
Legenda: glutamato desidrogenase (GLDH); amónia (NH4+); água (H2O)
Valores de referência: 19 – 54 μg/dL
Albumina
A albumina é sintetizada pelo fígado e é a proteína de maior concentração no
plasma. É usada como proteína de transporte e de ligação para o cálcio, os ácidos gordos,
a bilirrubina, as hormonas, as vitaminas e fármacos. (40)
Esta determinação encontra-se diminuída na doença hepática, resultando de
concentrações de imunoglobulinas aumentadas, perda para o espaço extravascular e
inibição direta da síntese por toxinas e álcool. O fígado é capaz de sintetizar elevadas
quantidades desta proteína até o dano hepático ser severo, com aproximadamente perda
de 95% de função. Valores diminuídos podem resultar de doença renal, que deixa escapar
a albumina para a urina, má nutrição ou por uma dieta pobre em proteínas. (9,40)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: a heparina de lítio reduz o resultado. Tubos de colheita com oxalato de
potássio e fluoreto de sódio diminuem os resultados de albumina em 10%.
A lipémia também pode interferir no resultado. (40)
Método: ensaio cinético
O método da albumina é uma adaptação do método púrpura de bromocresol. A
interferência da lipémia é diminuída através de um branqueamento de múltiplos
comprimentos de onda. A quantidade do complexo formado é diretamente proporcional
à concentração de albumina e é medida utilizando uma técnica policromática de ponto
final (600, 540, 700nm). (40)
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41
pH 4.9
Albumina + Corante púrpura de → Complexo Albumina-Corante púrpura
bromocresol de bromocresol
(não absorvente a 600 nm) (absorve a 600 nm)
Valores de referência: 3.4 – 5.0 g/dL
3.8.Função pancreática e gastrointestinal
Amilase
A amilase pancreática é uma das enzimas excretadas pelo pâncreas. A atividade
da amilase no sangue e urina é fisiologicamente e constantemente baixa, no entanto,
aumenta bastante em casos de pancreatite aguda e inflamação das glândulas salivares,
podendo também ser utilizada no diagnóstico de carcinoma do pâncreas e outras lesões
pancreáticas. No entanto, apesar de ser uma determinação sensível, a amilase não é
específica da doença pancreática, apresentando-se elevada noutros casos como em
síndromes abdominais agudos sem lesão pancreática, pelo que é sugerido a realização do
doseamento combinado de amilase e lipase, de modo a aumentar a especificidade da
determinação. (9)
O método para a dosagem da amilase referido a seguir reage às isoenzimas
pancreáticas e salivares. (41)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro, plasma e urina
Interferentes: os tubos de colheita de sangue com EDTA, citrato e oxalato inibem a
atividade da amilase. A amilase urinária é instável em urina ácida. A hemoglobina
diminui os resultados. A proteína total aumenta os resultados. A lipémia pode interferir.
(41)
Método: ensaio enzimático
A absorvância devida à formação de 2-cloro-4-nitrofenol é medida utilizando uma
técnica de cinética bicromática (405, 577nm). (41)
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42
Amilase
CNPG3 → CNP + CNPG2 + G3 + glicose
Legenda: 2-cloro-4-nitrofenil-a-D-maltotriósido (CNPG3); 2-cloro-4-nitrofenol (CNP);
2-cloro-4-nitrofenil-α-D-maltósido (CNPG2); maltotriose (G3)
Valores de referência:
Soro:25 – 115 U/L
Urina: 59 – 401 U/24h
Um intervalo de referência para a urina em U/L não tem em consideração o
volume da amostra ou a eficiência renal. Colheitas de urina em 24h são utilizadas para
expressar o intervalo de referência para a urina em U/24h.
U/24h = Amilase urinária (U/L)
1000 x mL urina /24h
Lipase
A lipase pancreática degrada os triglicéridos da dieta em glicerol e ácidos gordos
e é outro exemplo de enzima excretada pelo pâncreas. A maioria da atividade desta
enzima no soro deriva do pâncreas, mas uma parte é também secretada pela mucosa
gástrica e intestinal. (42)
As medições de lipase pancreática usadas no diagnóstico de pancreatite aguda são
mais específicas que as medições de amilase. A lipase pancreática pode também
encontrar-se aumentada em doenças do trato biliar, como colecistite; obstrução do ducto
pancreático devido a cálculos ou carcinoma do pâncreas. (9)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: o EDTA, o oxalato de potássio, o fluoreto de sódio e o citrato de sódio
inibem os resultados da lipase. A contaminação bacteriana da amostra pode aumentar
os valores da lipase. (42)
Método: ensaio enzimático
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43
A taxa de produção de metilresorufina, proporcional à atividade de lipase,
é medida por uma reação bicromática a 577 e 700nm. (42)
Lipase, pH alcalino
Éster de 1,2-O-dilauril-rac-glicerol-3-ácido → 1,2-O-dilauril-rac-glicerol
glutárico-(6’-metilresorufina) + éster de ácido glutárico 6’-
metilresorufina (instável) + água
1,2-O-dilauril-rac-glicerol + éster de ácido → ácido glutárico + metilresorufina
glutárico-6’-metilresorufina (instável) (absorve a 577 nm)
Valores de referência: 73 – 393 U/L
3.9.Função cardíaca
Marcadores cardíacos
A avaliação e monitorização da função cardíaca é muito importante na deteção
das doenças cardiovasculares. O EAM está associado à falta de oxigénio no miocárdio
por insuficiência circulatória coronária. A recomendação Organização Mundial de Saúde
(WHO, do inglês, World Health Organization) para o diagnóstico de EAM baseia-se na
presença de dois dos seguintes critérios: dor pré-cordial, alterações eletrocardiográficas e
anomalias das enzimas/ marcadores cardíacos. (43)
A necrose celular causada pelo enfarte leva à libertação de enzimas na circulação,
pelo que analiticamente ocorre elevação da creatina quinase (CK), da isoenzima MB da
creatina quinase (CK-MB), lactato desidrogenase (LDH), troponinas e mioglobina. (44)
A CK é uma das principais enzimas do perfil cardíaco e existe no tecido muscular
esquelético e cardíaco e no cérebro. Possui 3 isoenzimas, sendo que a CK-MB é específica
do miocárdio. (9) A CK apresenta-se elevada noutras situações, para além do EAM,
nomeadamente lesões do tecido muscular ou após exercício físico intenso. (45) No caso
do enfarte agudo do miocárdio, tem um pico entre as 12 e 24h e regressa ao normal após
três ou quatro dias. A isoenzima CK-MB, atinge o pico entre as 12 e 20h e retorna à
normalidade após dois a três dias. (44) A massa de CK-MB constitui o marcador
bioquímico de eleição para o perioperatório de enfarte do miocárdio durante as primeiras
48 horas após o início da dor. As suas determinações são usadas também para avaliar a
extensão do EAM e subsequente reenfarte. Pode ser utilizado um índice relativo (CK-
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44
MB/CK) para diferenciar as elevações de CK-MB devidas a lesão do músculo esquelético
ou devidas a EAM. (46)
A LDH apresenta baixa especificidade por se situar em vários tecidos, tendo
pouco valor de diagnóstico.(9) Uma pequena lesão nos tecidos pode provocar um
aumento na sua atividade, o que a torna útil no diagnóstico e monitorização de estados de
doença nos quais a renovação dos tecidos é acelerada, como em doenças do fígado, do
músculo cardíaco, dos músculos esqueléticos, dos rins e eritrócito. (47) No entanto, é
importante no diagnóstico do enfarte tardio, pois aumenta mais tardiamente e a sua
normalização é mais lenta. Tem o seu pico entre 24-48h após o EAM, normalizando após
o sétimo dia. (44)
A mioglobina é o marcador que se eleva mais rapidamente, entre 1 a 4 horas após
o início do enfarte, permanece elevada 6 a 7 horas e retorna à normalidade ao fim de 24h.
Devido ao seu baixo peso molecular e localização, é libertada mais precocemente para a
circulação do que os restantes marcadores de necrose. No entanto, é uma proteína
libertada na lesão de qualquer tecido. (44,48)
A troponina é o complexo da proteína reguladora contrátil do músculo estriado.
Este complexo é constituído por três componentes distintos, sendo um deles a troponina
I. (49) A troponina I tem um pico entre as 12 e 48h e volta a normalidade após cinco a
catorze dias. Dos marcadores específicos referidos, este é considerado o mais específico
e mantem-se elevado até duas semanas após o episódio. (44)
CK
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: as amostras muito hemolisadas não devem ser utilizadas. (45)
Método: ensaio enzimático
A taxa de formação da forma reduzida de fosfato nicotinamida adenina
dinucleótido (NADPH) é diretamente proporcional à atividade de CK na amostra e é
medida bicromaticamente a 340 e 540nm. (45)
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45
CK, Mg++, NAC, EDTA
Fosfato de creatina + ADP → Creatina + ATP
HK, Mg++
ATP + Glicose → ADP + Glicose-6-fosfato
Glicose-6-fosfato desidrogenase
Glicose-6-fosfato + NADP+ → 6-Fosfogliconolactona + NADPH + (H+)
Legenda: creatina quinase (CK); ião magnésio (Mg++); N-Acetilcisteína (NAC); ácido
etilenodiaminotetracético (EDTA); difosfato de adenosina (ADP); trifosfato de adenosina
(ATP); hexoquinase (HK); fosfato de nicotinamida adenina dinucleótido (NADP+);
fosfato de nicotinamida adenina dinucleótido reduzido (NADPH); ião hidrogénio (H+)
Intervalo de referência:
Homens: 39 – 308 U/L
Mulheres: 26 – 192 U/L
CK-MB massa
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System – módulo HM
Amostra: soro e plasma
Interferentes: anticorpos heterofílicos potencialmente presentes nas amostras de doentes
podem reagir com os imunoensaios. Não deve ser usado sangue colhido na presença de
oxalato que pode provocar agregação das partículas de crómio. (46)
Método: imunoensaio enzimático em sandwich
Durante incubação da amostra com partículas de dióxido de crómio revestidas
com anticorpos monoclonais específicos e reagente conjugado (anticorpos monoclonais
específicos para a isoenzima CK-MB marcados com ß-galactosidase), forma-se uma
sandwich partícula/CK-MB/conjugado. A hidrólise de um substrato cromogéneo
combinado com a ß-galactosidase ligada à sandwich, liberta um cromóforo. A
concentração de CK-MB presente na amostra do doente é diretamente proporcional à taxa
de alteração de cor devido à formação do cromóforo. (46)
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46
Cr02-Ab-CK-MB-F(ab')2 – β-gal
ß-d-galactopiranósido vermelho de clorofenol → Cromóforo (absorve a 577nm)
(não absorvente a 577nm)
Valores de referência: os níveis de CK-MB em indivíduos normais são baixos a
indetetáveis. 0 – 3.6 ng/mL
Lactato desidrogenase
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: devem ser efetuadas colheitas com cuidado para evitar a hemólise, visto
que a abundância de lactato desidrogenase nos glóbulos vermelhos pode contaminar essas
amostras. A dopamina aumenta os resultados. (47)
Método: ensaio enzimático
A atividade da lactato desidrogenase é medida através de uma reação cinética
a 340/700nm, que é proporcional à quantidade de lactato desidrogenase na amostra. (47)
LDH , pH 9.4
L–lactato + NAD+ → Piruvato + H+ + NADH
Legenda: lactato desidrogenase (LDH); nicotinamida adenina dinucleótido (NAD+); ião
hidrogénio (H+); forma reduzida de nicotinamida adenina dinucleótido (NADH)
Valores de referência:
Homens: 85 – 227 U/L
Mulheres: 81 – 234 U/L
Mioglobina
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System - módulo HM
Amostra: soro e plasma heparinizado
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47
Interferentes: anticorpos heterofílicos potencialmente presentes nas amostras de doentes
podem reagir com os imunoensaios. Não deve ser usado sangue colhido na presença de
oxalato, que pode provocar agregação das partículas de crómio. (48)
Método: imunoensaio enzimático em sandwich
Durante incubação da amostra com partículas de dióxido de crómio revestidas
com anticorpos monoclonais específicos e reagente conjugado (anticorpos monoclonais
específicos para a mioglobina marcados com ß-galactosidase), forma-se uma sandwich
partícula/mioglobina/conjugado. A hidrólise de um substrato cromogéneo combinado
com a ß-galactosidase ligada à sandwich, liberta um cromóforo. A concentração de
mioglobina na amostra do doente é diretamente proporcional à taxa de alteração de cor
devido à formação do cromóforo. (48)
CrO2-Ab-mioglobina-F(ab')2- β-gal
ß-d-galactopiranósido vermelho de clorofenol → cromóforo
(não absorvente a 577nm) (absorve a 577nm)
Valores de referência:
Homem 16 – 96 ng/mL
Mulher 9 – 82 ng/mL
Troponina I cardíaca
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System – módulo LOCI®
Amostra: soro e plasma (heparina de sódio ou de lítio).
Interferentes: anticorpos heterofílicos potencialmente presentes nas amostras de doentes
podem reagir com os imunoensaios. (49)
Método: imunoensaio quimioluminescente em sandwich
Um reagente em forma de esfera (Sensibeads) é revestido com estreptavidina,
contendo um corante fotossensibilizante. Um segundo reagente em forma de esfera
(Chemibeads) é revestido com um anticorpo monoclonal anti-troponina I cardíaca e
corante quimioluminescente.
A amostra é incubada com o segundo reagente e um anticoropo monoclonal anti-
troponina I biotinilado, formando uma sandwich esfera – amostra – anticorpo biotinilado.
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48
De seguida é adicionado o primeiro reagente que se liga à biotina para formar
imunocomplexos de pares de esferas. Ocorre uma reação quimioluminescente, após
iluminação do complexo a 680nm e o sinal resultante, medido a 612nm é diretamente
proporcional à concentração de Troponina I na amostra. (49)
Valores de referência: 0.000 – 0.056 ng/mL
Valores ≥0.5 ng/mL são considerados críticos e comunicados ao médico de imediato.
N-terminal pro-péptido natriurético cerebral
Foi comprovada a importância dos péptidos natriuréticos no controlo do
funcionamento do sistema cardiovascular. Em indivíduos com disfunção no ventrículo
esquerdo, as concentrações séricas e plasmáticas de péptido natriurético cerebral (BNP)
aumentam, assim como as concentrações da pro-hormona biologicamente inactiva,
proBNP, que é segregada pelo ventrículo esquerdo do coração e dissociada em BNP
fisiologicamente ativa e no fragmento N-terminal NT-proBNP. (50)
BNP tem uma multiplicidade de funções cardíacas e é libertado como uma
hormona contra-regulatória em resposta a stress cardíaco. O NT-proBNP apresenta níveis
elevados em doentes com doença cardiovascular. (9)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System - módulo LOCI®
Amostra: soro e plasma
Interferentes: amostras de doentes com anticorpos heterofílicos que reagem nos
imunoensaios. Em amostras de doentes com enfartes agudos do miocárdio e doentes
submetidos a diálise renal as concentrações de péptidos natriuréticos podem ser elevadas.
(50)
Método: imunoensaio quimioluminescente em sandwich
Um reagente em forma de esfera (Sensibeads) é revestido com estreptavidina,
contendo um corante fotossensível. Um segundo reagente em forma de esfera
(Chemibeads) é revestido com um anticorpo monoclonal específico para o NT-proBNP e
corante quimioluminescente.
A amostra é incubada com o segundo reagente e um anticoropo monoclonal
biotinilado que reconhece um epítopo localizado na parte N-terminal do proBNP,
formando uma sandwich esfera – NP-proBNP – anticorpo biotinilado. De seguida é
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49
adicionado o primeiro reagente que se liga à biotina para formar imunocomplexos. Ocorre
uma reação quimioluminescente, após iluminação do complexo a 680nm e o sinal
resultante, medido a 612nm, é diretamente proporcional à concentração de NT-proBNP
na amostra. (50)
Valores de referência:
Doentes < 75 anos: 125 pg/mL
Doentes ≥ 75 anos: 450 pg/mL
3.10.Função tiroideia
Hormona estimulante da tiróide (TSH)
A TSH é uma glicoproteína produzida pelas células tirotróficas da hipófise
anterior e apresenta um ritmo circadiano que atinge o máximo durante as primeiras horas
da manhã. (51) Esta hormona regula a síntese das hormonas tiroideias tiroxina (T3) e
triiodotironina (T4) pelas células foliculares da tiróide e estimula o transporte de iodo.
(44)
Esta determinação é uma ajuda no diagnóstico das doenças da tiróide e da hipófise.
No geral, os níveis séricos desta hormona estão suprimidos no hipertiroidismo. No
hipotiroidismo, o doseamento da TSH ajuda no diagnóstico diferencial do hipotiroidismo
primário, onde os níveis estão aumentados, do hipotiroidismo secundário e terciário. (44)
Equipamento: VIDAS®
Amostra: 200 µL soro ou plasma (heparina de lítio)
Interferentes: o EDTA pode diminuir os valores medidos. (51)
Método: ELFA
A barrete tem 10 poços, em que o primeiro poço corresponde à introdução da
amostra, o último poço é uma cuvete que permite a leitura e os poços intermédios contém
os reagentes necessários à reação. O aparelho realiza o procedimento de modo
automático, colhendo a amostra para o poço que contem o anticorpo anti-TSH marcado
com fosfatase alcalina (conjugado). A amostra/conjugado é aspirada e depois dispensada
várias vezes no interior do cone (previamente sensibilizado com imunoglobulinas
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50
monoclonais anti-TSH). Isto permite que o antigénio se ligue às imunoglobulinas fixadas
no cone e também ao conjugado, formando-se uma sandwich. Na etapa final, a enzima
do conjugado catalisa a formação do substrato dispensado no cone (4-metil-umbeliferil
fosfato) num produto (4-metil-umbeliferona), cuja fluorescência emitida é medida a
450nm e é proporcional à quantidade de antigénio presente na amostra. (51)
Valores de referência:
Eutiróide: 0,25 – 5 µlU/ml
Hipertiróide: < 0,15 µlU/ml
Hipotiróide: >7 µlU/ml
3.11.Fármacos
Os ensaios dos níveis plasmáticos dos fármacos a seguir descritos são úteis de
modo a estabelecer as dosagens apropriadas e avaliar possíveis efeitos colaterais tóxicos.
Carbamazepina
A carbamazepina é um fármaco anticonvulsivo útil no controlo de determinados
tipos de epilepsia. (52)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: a lipémia poderá interferir no resultado. (52)
Método: imunoensaio turbidimétrico
A taxa de agregação é diminuída quando a carbamazepina na amostra compete
com as partículas pelo anticorpo. Esta taxa é inversamente proporcional à concentração
de carbamazepina na amostra e é medida utilizando leituras turbidimétricas bicromáticas
a 340nm e 700nm. (52)
Carbamazepina + PR + Ab → Complexo PR-Ab + Carbamazepina-Ab
(difunde luz a 340 nm)
Legenda: conjugado de partícula sintética-carbamazepina (PR); anticorpo monoclonal
específico da carbamazepina (Ab)
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51
Intervalo terapêutico: o intervalo mais apropriado para cada doente deverá ser
determinado pelo médico. No entanto, concentrações superiores a 15.0 µg/mL são
frequentemente associadas a sintomas de toxicidade.
Gentamicina
A gentamicina possui um amplo espectro de atividade antibiótica e é eficaz contra
bactérias aeróbias Gram-negativas (GN). (53)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: a lipémia pode interferir na determinação.
Método: imunoensaio turbidimétrico
A taxa de agregação é diminuída quando a gentamicina na amostra compete com
as partículas pelo anticorpo. Esta taxa é inversamente proporcional à concentração de
gentamicina na amostra e é medida utilizando leituras turbidimétricas bicromáticas a
340nm e 700nm. (53)
Gentamicina + PR + Ab → Complexo PR-Ab + Gentamicina-Ab
(difunde luz a 340 nm)
Legenda: conjugado de partícula sintética-gentamicina (PR); anticorpo monoclonal
específico da gentamicina (Ab)
Intervalo terapêutico: O intervalo mais apropriado para cada doente deverá ser
determinado pelo médico. Concentrações mínimas superiores a 2 µg/mL durante períodos
superiores a 10 dias foram associadas a toxicidade.
Fenobarbital
O fenobarbital pode ser utilizado em situações de convulsões causadas pela
desabituação do álcool ou barbitúricos e em situações de convulsões epiléticas
generalizadas e focais. (54)
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52
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: a lipémia pode interferir no resultado. (54)
Método: imunoensaio turbidimétrico
A taxa de agregação é diminuída quando o fenobarbital na amostra compete com
as partículas pelo anticorpo. Esta taxa é inversamente proporcional à concentração de
fenobarbital na amostra e é medida utilizando leituras turbidimétricas bicromáticas a
340nm e 700nm. (54)
Fenobarbital + PR + Ab → Complexo PR-Ab + Fenobarbital-Ab
(difunde luz a 340 nm)
Legenda: conjugado de partícula sintética-fenobarbital (PR); anticorpo monoclonal
específico do fenobarbital (Ab)
Intervalo terapêutico: o intervalo mais apropriado para cada doente deverá ser
determinado pelo médico, sendo que as concentrações terapêuticas de fenobarbital variam
significativamente, dependendo de cada doente. Concentrações superiores a 50.0 µg/mL
estão associadas a toxicidade.
Fenitoína
A fenitoína é eficaz em perturbações convulsivas, algumas crises epilépticas e
ocasionalmente no tratamento de arritmias cardíacas. (55)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: amostras lipémicas podem interferir nos resultados. (55)
Método: imunoensaio turbidimétrico
A taxa de agregação é diminuída quando a fenitoína na amostra compete com as
partículas pelo anticorpo. Esta taxa é inversamente proporcional à concentração de
fenitoína na amostra e é medida utilizando leituras turbidimétricas bicromáticas a 340nm
e 700nm. (55)
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53
Fenitoína + PR + Ab → Complexo PR-Ab + Fenitoína-Ab
(difunde luz a 340 nm)
Legenda: conjugado de partícula sintética-fenitoína (PR); anticorpo monoclonal
específico da fenitoína (Ab)
Intervalo terapêutico: o intervalo mais apropriado para cada doente deverá ser
determinado pelo médico. As concentrações superiores a 30.0 µg/mL são frequentemente
associadas a sintomas de toxicidade.
Teofilina
A teofilina é uma xantina metilada, estruturalmente relacionada com as purinas e
o ácido úrico. É principalmente utilizada no tratamento da asma e outras patologias
pulmonares. A semivida biológica da teofilina é cerca de 8-9 horas na maioria dos adultos,
mas substancialmente prolongada na presença de doença hepática e/ou descompensação
cardíaca. (56)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: em doentes urémicos é detetável um metabolito da teofilina, o ácido 1,3-
dimetil-úrico, que aumenta os valores da teofilina. A lipémia é outro interferente. (56)
Método: imunoensaio turbidimétrico
A taxa de agregação é diminuída quando a teofilina na amostra compete com as
partículas pelo anticorpo. A taxa de agregação, proporcional à quantidade de teofilina, é
medida utilizando uma cinética turbidimétrica a 340 nm. (56)
Teofilina + PR + Ab → Complexo PR-Ab + Teofilina-Ab
(difunde luz a 340 nm)
Legenda: conjugado de partícula sintética-teofilina (PR); anticorpo monoclonal
específico da teofilina (Ab)
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54
Intervalo terapêutico: o intervalo mais apropriado para cada doente deverá ser
determinado pelo médico Concentrações superiores a 20.0 µg/mL são frequentemente
associadas a toxicidade.
Ácido valpróico
O ácido valpróico é um anticonvulsivo, que pode ser usado isoladamente ou em
conjunto com outros fármacos no tratamento de crises e convulsões. (57)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: amostras lipémicas são interferentes. (57)
Método: imunoensaio turbidimétrico
A taxa de agregação é diminuída quando o ácido valpróico na amostra compete
com as partículas pelo anticorpo. Esta taxa é inversamente proporcional à concentração
de ácido valpróico na amostra e é medida utilizando leituras turbidimétricas bicromáticas
a 340nm e 700nm. (57)
Ácido valpróico + PR + Ab → Complexo PR-Ab + Ácido Valpróico-Ab
(difunde luz a 340 nm)
Legenda: conjugado de partícula sintética-ácido valpróico (PR); anticorpo monoclonal
específico do ácido valpróico (Ab)
Intervalo terapêutico: as concentrações terapêuticas de ácido valpróico variam
significativamente, dependendo de cada doente, por isso, deve ser o médico a estabelecer
quais as concentrações mais adequadas a cada doente.
Vancomicina
A vancomicina é um antibiótico, que atualmente está limitado ao tratamento de
infeções nos quais outros antibióticos não são eficazes. É ativo contra a maioria das
bactérias Gram-positivas (GP). (58)
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55
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: a lipémia constitui um interferente nos resultados analíticos da
vancomicina. (58)
Método: imunoensaio turbidimétrico
A taxa de agregação é diminuída quando a vancomicina na amostra compete com
as partículas pelo anticorpo. Esta taxa é inversamente proporcional à concentração de
vancomicina na amostra e é medida utilizando leituras turbidimétricas bicromáticas a
340nm e 700nm. (58)
Vancomicina + PR + Ab → Complexo PR-Ab + Vancomicina-Ab
(difunde luz a 340 nm)
Legenda: conjugado de partícula sintética-vancomicina (PR); anticorpo monoclonal
específico da vancomicina (Ab)
Intervalo terapêutico: existe uma grande disparidade entre os intervalos terapêuticos da
vancomicina. Deve ser o médico a determinar qual o intervalo terapêutico de vancomicina
mais apropriado para cada doente.
Digoxina
É um glicosídeo cardíaco, é utilizado como agente antiarrítmico. Pode ser
administrada individualmente ou em conjunto com outros fármacos, no tratamento de
problemas cardíacos. (59)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: fatores endógenos imunoreativos semelhantes à digoxina, presentes no soro
e no plasma de algumas pessoas, nomeadamente doentes com insuficiência renal e
hepática que aumentam os resultados. (59)
Método: imunoensaio enzimático
São utilizadas partículas magnéticas revestidas com um análogo da digoxina que
separam espécies anticorpo-enzima livres e ligadas à digoxina. O método encontra-se
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56
otimizado para a medição da atividade da ß-galactosidase que catalisa a hidrólise de um
composto em vermelho de clorofenol. A variação de absorvância medida a 577, devido
ao aumento de vermelho de clorofenol é proporcional à atividade da enzima, que por sua
vez é proporcional à digoxina na amostra, e é medida utilizando uma técnica bicromática
(577, 700nm). (59)
Digoxina-F(ab')2-β-gal
CPRG (não absorvente a 577nm) → vermelho de clorofenol (absorve a 577nm)
Legenda: clorofenol-ß-D-galactopiranósido (CPRG)
Intervalo terapêutico: concentrações superiores a 2.00 ng/mL estão associadas a
toxicidade. O médico deverá indicar o intervalo terapêutico mais apropriado.
Teste para Drogas de Abuso em Um Só Passo
Consiste num teste rápido imunocromatográfico. As drogas, caso presentes na
urina, competem contra o respetivo conjugado da droga, em locais de ligação ao anticorpo
específico. (60)
Amostra: urina aleatória
Procedimento: são colocadas três gotas de urina no dispositivo de teste da droga a testar
e o resultado é lido passado 3-5 minutos. Se a amostra tiver precipitado, deve ser
centrifugada antes da realização do teste.
Se a droga estiver presente, aparece uma linha visível na zona da linha de teste,
devido às partículas revestidas de anticorpo, que são capturadas pelo conjugado da droga
imobilizado. No caso da amostra ser negativa para a droga em estudo, aparecerá uma
linha colorida na zona de controlo para garantir que o volume da amostra foi apropriado
e que a absorção da membrana ocorreu.
Barbitúricos depressivos
São agentes depressivos do sistema nervoso central. São usados terapeuticamente
como sedativos, hipnóticos e antiepiléticos. Uso crónico leva a tolerância e dependência
física. O teste produz um resultado positivo quando excedem 300ng/mL na urina. (60)
Benzodiazepinas
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57
São prescritas no tratamento sintomático de ansiedade e alterações do sono.
Substituem os barbitúricos porque são mais seguros e eficazes. São também usadas no
tratamento da alteração da concentração e abstinência a do álcool. Há risco de
dependência física destas drogas, se forem tomadas regularmente. O teste produz um
resultado positivo quando excedem 300ng/mL na urina. (60)
Cocaína
É um estimulador do sistema nervoso central e um anestésico local. Inicialmente
origina energia extrema e gradualmente, sensibilidade excessiva, tremores e espasmos,
podendo mesmo originar inconsciência. O teste deteta o principal metabolito da cocaína,
benzoilecgonina, que pode ser detetado entre 24h-48h após a toma de cocaína. O teste
produz um resultado positivo quando o metabolito excede 300ng/mL na urina. (60)
Opiáceos
Opiáceo refere-se a qualquer droga derivada da papoila, nomeadamente morfina
e drogas semi-sintéticas como a heroína. Os recetores opióides são importantes na
regulação da dor, atuando sobre o SNC. O teste produz um resultado positivo quando o
metabolito excede 300ng/mL na urina. (60)
Anfetaminas
São quimicamente relacionadas com as catecolaminas do corpo humano:
epinefrina e norepinefrina. As anfetaminas pertencem a uma classe de potentes agentes
simpatomiméticos com aplicações terapêuticas. É uma droga estimulante do SNC, que
induz euforia, aumento de energia, aumento de pressão arterial, entre outros sintomas, em
doses elevadas. O teste produz um resultado positivo quando o metabolito excede
1000ng/mL na urina. (60)
Marijuana
Quando administrada, produz efeitos eufóricos, batimentos cardíacos rápidos,
desorientação, entre outros. O seu uso prolongado pode estar associado a distúrbios
comportamentais. O teste produz um resultado positivo quando o principal metabolito
excretado na urina excede 50ng/mL. (60)
3.12.Aparelho reprodutor
Gonadotropina Coriónica Humana
A gonadotropina coriónica humana (hCG) é uma glicoproteína produzida pela
placenta, após a implantação de um óvulo fertilizado na parede uterina. A hCG é
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58
composta por duas subunidades não idênticas, α e β, ligadas entre si de forma não
covalente. Após a conceção, esta hormona aumenta a sua concentração no soro, tornando-
se um marcador para confirmação e monitorização da gravidez. (61) A hormona mantém
o corpo lúteo por um período de 8 a 10 semanas, até que a placenta tenha desenvolvido
completamente sua capacidade de produzir progesterona, nessa altura, os níveis caem.
(27)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System - módulo HM
Amostra: soro e plasma
Interferentes: não deve ser usado sangue colhido na presença de oxalato porque pode
provocar agregação das partículas de crómio. Níveis elevados desta hormona estão
associados a algumas patologias como a doença trofoblástica. Anticorpos heterofílicos
potencialmente presentes nas amostras de doentes podem reagir com os imunoensaios.
(61)
Método: imunoensaio enzimático, baseado no princípio de sandwich
Durante incubação da amostra com partículas de dióxido de crómio revestidas
com anticorpos monoclonais específicos e reagente conjugado (anticorpos monoclonais
específicos para a hCG marcados com ß-galactosidase), forma-se uma sandwich
partícula/hCG/conjugado. A hidrólise de um substrato cromogéneo combinado com a ß-
galactosidase ligada à sandwich, liberta um cromóforo (vermelho de clorofenol). A
concentração de hCG na amostra do doente é diretamente proporcional à taxa de alteração
de cor devido à formação do cromóforo. (61)
CrO2-Ab-hCG-F(ab')2-β-gal
CPRG (não absorvente a 577nm) → vermelho de clorofenol (absorve a 577nm)
Legenda: clorofenol-ß-D-galactopiranósido (CPRG)
Valores de referência:
Mulher não grávida com idades entre 22-87: 0 – 6 IU/L .
Níveis baixos de hCG >25 IU/L podem ser indicativos de uma fase inicial de
gravidez, mas os resultados devem sempre ser avaliados no contexto da situação clínica.
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59
A concentração de hCG duplica a cada dois dias, aproximadamente, aumentando
rapidamente durante as primeiras semanas de gravidez. (61)
No laboratório, está também disponível um teste rápido para a determinação
qualitativa desta hormona em urina, para deteção da gravidez numa fase inicial. O teste
consiste numa técnica de imunoensaio cromatográfico. A linha de teste usa uma
combinação de anticorpos, incluindo um anticorpo monoclonal anti-hCG, para deteção
de níveis da hormona. O ensaio é realizado adicionando três gotas de amostra de urina ao
poço da amostra do dispositivo de teste e o resultado é lido 3-4 minutos depois. A amostra
migra por ação capilar ao longo da membrana para reagir com o conjugado colorido, e
um resultado positivo origina uma linha colorida na região de teste da membrana. Para
servir de controlo, aparece sempre uma linha colorida na região de controlo do dispositivo
de teste. Podem ocorrer falsos positivos e falsos negativos. (62)
Espermograma
Esta análise requer marcação prévia e serve para analisar a qualidade do esperma
do paciente, a partir de uma amostra colhida segundo os procedimentos referidos a seguir.
O espermograma é útil no estudo da fertilidade masculina e na monitorização no contexto
pós-vasectomia. Para a realização deste exame o laboratório segue as normas do manual
da WHO, de 2010. (63)
A colheita é efetuada por masturbação, de preferência de manhã. É necessária
abstinência sexual nos 3 a 5 dias anteriores ao exame. Para seguimento pós-vasectomia,
a colheita deverá ser efetuada apenas após 16 semanas do procedimento cirúrgico e pelo
menos 24 ejaculações. A colheita deverá ser efetuada com ausência de febre nos últimos
3 meses. Após desinfeção das mãos e glande, faz-se a colheita para recipiente estéril. Tem
de ser entregue no laboratório num período máximo de 30 minutos após a recolha do
esperma e este ser transportado à temperatura corporal. (4) Aquando da entrega é
preenchido um inquérito que questiona a razão da realização do exame, dias de
abstinência, se entrega a colheita completa do ejaculado e se teve febre nos últimos 3
meses.
Quando a amostra entra no laboratório, esta é colocada na estufa a 37ºC durante
30-60 minutos. Após esse tempo, é retirado da estufa e é realizado um estudo da amostra.
É realizado uma análise macroscópica que engloba as seguintes determinações:
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60
• Volume - deverá ser superior a 1,5 mL;
• Aspeto - opalescente ou límpido (baixa concentração de espermatozóides);
• Cheiro - suis generis ou fétido;
• pH - deverá estar compreendido entre 7,2 e 7,8;
• Cor - esbranquiçada, amarelada (contaminação por urina, medicação),
acastanhada (presença de eritrócitos);
• Viscosidade da amostra - normal ou aumentada;
• Liquefação - completa, incompleta ou tardia aos 60 minutos.
Envolve também uma avaliação microscópica em ampliação 400x, com lâminas
colocadas na estufa a 37ºC, durante 30 minutos a 1h. São analisados os seguintes
parâmetros:
• Mobilidade - contagem de pelo menos 200 espermatozóides, em que é
atribuído um grau de mobilidade de 0 a 4: grau I (imóveis), grau II (não
progressivos), grau III (progressivos lentos), grau IV (progressivos
rápidos); valor de referência: progressivos móveis de grau III+IV >32%;
• Morfologia dos espermatozóides - cabeça, forma intermédia, restos
citoplasmáticos, cauda; valor de referência >4% formas normais;
• Vitalidade – são avaliados pelo menos 200 espermatozóides em que é feita
a distinção entre os imóveis e os mortos. A percentagem de mortos não
deve ultrapassar a dos imóveis. É reportada a percentagem de vivos (valor
de referência >58%).
É possível calcular o número total de espermatozóides no ejaculado, utilizando a
concentração (valor de referência >15x106/mL) dos espermatozóides e volume total da
amostra (total de espermatozóides no ejaculado = concentração x volume total amostra).
A contagem é realizada em câmara de Neubauer, utilizando uma diluição baixa com água
destilada. É também possível avaliar a presença de elementos celulares, como leucócitos
e células epiteliais, que poderão indicar dano testicular ou infeção. (63)
3.13.Metabolismo ósseo e mineral
Cálcio
No sangue, aproximadamente 50% do cálcio plasmático encontra-se na forma
livre, 40% encontra-se ligado às proteínas e 10% na forma de complexo iónico. A maioria
do cálcio ligado às proteínas encontra-se associado à albumina. Várias funções
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61
fisiológicas dependem do cálcio intracelular, incluindo a contração muscular, secreção
hormonal, metabolismo do glicogénio e divisão celular. O cálcio extracelular é
importante entre outros, para a mineralização óssea e coagulação sanguínea. (9,64)
A hipocalcémia pode ser devida à redução do cálcio ligado à albumina ou da
fração livre, sendo a hipoalbuminémia a causa mais comum da diminuição de cálcio.
Outras causas são a insuficiência renal, hipoparatiroidismo, défice de vitamina D e
diminuição da concentração de magnésio. Causas de hipercalcémia são absorção
intestinal, retenção renal e reabsorção esqueletal aumentadas; excesso de vitamina D,
hiperparatiroidismo e neoplasias ósseas. (9)
A determinação do cálcio é útil no diagnóstico e tratamento de doença da
paratiróide, doenças ósseas e doenças renais crónicas. (64)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro, plasma e urina
Interferentes: no caso das amostras urinárias de 24 horas, a colheita deve ser realizada
num recipiente com ácido clorídrico. A bilirrubina não conjugada, a presença de EDTA
e oxalato de potássio diminuem o valor do cálcio. A interferência devida ao magnésio é
insignificante relativamente aos níveis de magnésio normalmente encontrados em soro
humano. (64)
Método: ensaio cinético
A medição do complexo púrpura formado, que é proporcional à concentração de
cálcio, é através de uma técnica bicromática de ponto final (577, 540nm). Os iões de
magnésio são removidos da reação através da formação de complexos com 8-quinolinol.
(64)
Ca++ + OCPC → Complexo Ca-OCPC
pH 9.7 (absorve a 577 nm)
Mg++ + 8-quinolinol → Quinolinato de magnésio
(não absorvente a 577 nm)
Legenda: ião cálcio (Ca++); o-cresolftaleína complexona (OCPC); ião magnésio (Mg++ )
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62
Valores de referência:
Soro: 8.5 – 10.1 mg/dL
Urina:14 42 – 353 mg/24 hr
No soro, valores ≤6,0 ou ≥13 mg/dL são considerados críticos e comunicados ao
médico de imediato.
Cálcio ionizado
O cálcio ionizado é útil na avaliação do cálcio livre e no metabolismo do cálcio,
na medida em que pacientes com baixa concentração de albumina sérica, terão valores de
cálcio total baixos, mas poderão ter níveis normais de cálcio ionizado. (7)
Equipamento: GEM Premier 3000
Amostra: sangue arterial heparinizado
Método: potenciometria
Valor de referência: 4.6 – 5.4 mg/dL
Magnésio
É o quarto catião mais abundante no corpo humano. Nas células, a maioria do
magnésio está ligado a proteínas e moléculas carregadas negativamente, como o ATP. É
um cofator para muitas enzimas que participam em processos como a glicólise e síntese
de hidratos de carbono e lípidos. A deficiência de magnésio (hipomagnesémia) está
associada com perdas intestinais, perdas urinárias devido a problemas nos rins devido ao
alcoolismo e diabetes mellitus, entre outros. Excreção aumentada de cálcio e sódio
também diminuem os níveis de potássio, a nível renal. Hipermagnesémia é comum devido
à toma excessiva de medicação contendo magnésio e nas insuficiências renais onde há
diminuição da excreção sua excreção. (9)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro, plasma heparinizado e urina
Interferentes: no caso das amostras urinárias de 24 horas, a colheita deve ser realizada
num recipiente com ácido clorídrico. O uso de EDTA diminui o resultado. Por outro lado,
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as amostras hemolisadas, bilirrubina não conjugada e lipémia aumentam os resultados.
(65)
Método: ensaio cinético
A medição do complexo formado, que é proporcional à concentração de
magnésio, é feita através de uma técnica bicromática de ponto final (600, 510nm). Os iões
de cálcio são removidos da reação através da formação de complexos entre o cálcio e o
agente quelante. (65)
Mg++ + MTB → Complexo Mg-MTB
(absorve a 600 nm)
Ca++ + Ba-EGTA → Complexo
(não absorvente a 600 nm)
Legenda: ião magnésio (Mg++); azul de metiltimol (MTB); ião cálcio (Ca++); sal de bário
do ácido etilenobis (oxietilenonitrilo) tetracético (Ba-EGTA)
Valores de referência:
Soro: 1.8 – 2.4 mg/dL
Urina: 24 – 255 mg/24h
Valores <1.0 e >4.9 mg/dL são considerados críticos, pelo que o médico deve ser
avisado de imediato.
Fósforo
O fósforo encontra-se distribuído por todo o organismo, sendo parte constituinte
de várias moléculas e a maioria do fosfato no soro existe na forma inorgânica.
Aproximadamente 10% do fósforo no soro está ligado às proteínas, 35% encontra-se
complexado com sódio, cálcio e magnésio, e o restante, está na forma livre (55%).Os
fosfatos são muito importantes para a produção de energia, função muscular e nervosa e
crescimento ósseo. Hipofosfatémia pode ocorrer devido a perdas intracelulares, perda
renal, absorção intestinal reduzida. Algumas das causas de perda de fosfatos são
raquitismo, osteomalacia e hiperparatiroidismo. A hiperfosfatémia é normalmente
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64
secundária à incapacidade dos rins de excretar fósforo, mas também pode ocorrer devido
a condições como o hipoparatiroidismo ou ingestão em excesso. (9)
A determinação de fósforo (inorgânico) é útil no diagnóstico e tratamento de
doença óssea, da paratiróide e renal. (66)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: soro e plasma
Interferentes: no caso das amostras urinárias de 24 horas, a colheita deve ser realizada
num recipiente com ácido clorídrico, para evitar a precipitação de complexos de fosfato.
Amostras lipémicas e hemolisadas, bem como a albumina, aumentam os resultados. (66)
Método: ensaio cinético
O fosfato inorgânico reage com molibdato de amónio e o complexo formado é
medido a 340 nm. (66)
(NH4)2MoO4 + fosfato inorgânico → complexo de fosfomolibdato
pH 1.1
Legenda: molibdato de amónio ((NH4)2MoO4)
Valores de referência:
Soro e plasma: 2.6 – 4.7 mg/dL
Urina: 0.4 – 1.3 g/24h
3.14.Equilíbrio ácido-base
Gasimetria arterial
Equipamento: GEM Premier 3000
Amostra: sangue total heparinizado
Interferências: caso a amostra demore muito tempo a ser utilizada, pode ocorrer
contaminação com o ar ou alterações metabólicas. (7)
A gasimetria é um teste essencial para a avaliação de doenças cardio-respiratórias.
Permite a determinação de causas de acidose/alcalose metabólicas/respiratória. O pH e
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65
gases são importantes de forma a ajudar a determinar o estado ácido-base, a eficiência
dos pulmões nas trocas gasosas e ajustar a terapia de oxigénio. (7)
Alcalose e acidose são estados patológicos que levam a alcalémia (pH >7.45) ou
acidémia (pH <7.35) respetivamente. O pH sanguíneo tem que ser devidamente
controlado, de modo a minimizar flutuações, para que as funções celulares ocorram em
condições normais. Este controlo é realizado pelo sistema respiratório (com ação rápida),
sistema renal (atuação lenta) e sistemas tampão, nomeadamente o sistema
bicarbonato/ácido carbónico, que é o mais importante sistema tampão do plasma. (7,9)
A maioria das desordens metabólicas desenvolvem-se lentamente. Os pulmões
são a forma mais eficiente de regulação, sendo que a tensão de CO2 pode ser alterada
rapidamente, através de alterações na ventilação. Apesar da resposta respiratória ser
imediata, pode ser necessário algum tempo para que a resposta se torne máxima. Os rins
também respondem a alterações no estado ácido-base, sendo que em caso de acidose, a
excreção de ácidos é aumentada e base conservada. No caso de alcalose, ocorre o oposto.
No entanto, a ação renal é mais lenta, demorando várias horas para alterar a quantidade
de bicarbonato a ser excretada, por exemplo. (7,9) Alguns parâmetros que definem o
estado ácido-base encontram-se na tabela 4 e os respetivos valores de referência na tabela
5.
Tabela 4. Conjunto de parâmetros que definem o estado ácido-base. Adaptado de (7,9).
Parâmetros
pH Indica o estado de acidez ou basicidade.
ρO2 Pressão parcial de oxigénio. Indica a qualidade das trocas de oxigénio.
HCO3- Ião bicarbonato. Segundo maior anião do compartimento extracelular.
A maioria do dióxido de carbono está presente nesta forma. Constituinte
do sistema bicarbonato/ácido carbónico.
ρCO2 Pressão parcial de CO2.Reflexo da função respiratória.
BE BE (excesso de bases) é um parâmetro que aproxima a quantidade de
ácido ou base necessária para atingir um valor de pH normal.
TCO2 TCO2 (dióxido de carbono total) indica a concentração total (livre e
ligado) de CO2 no plasma.
Situações clínicas associadas:
Acidose respiratória: causada por condições que diminuam a eliminação de CO2
pelos pulmões. Problemas respiratórios como doenças pulmonares obstrutivas, obesidade
extrema, que originem hipoventilação. (9)
pH ↓ ρCO2 ↑ HCO3- normal (aumenta como resposta compensatória)
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66
Alcalose respiratória: a causa básica desta situação é a eliminação em excesso de
ácido pela via respiratória. Problemas respiratórios com perda excessiva de CO2, como
hipoxia, desordens pulmonares, hiperventilação induzida. (9)
pH ↑ ρCO2 ↓ HCO3- normal (diminui como resposta compensatória)
Acidose metabólica: pode ocorrer divido a produção de ácidos orgânicos que
excedem a taxa de eliminação (acidose diabética), perda excessiva de bicarbonato devida
excreção renal aumentada, diarreias. (9)
pH ↓ ρCO2 Normal (diminui como resposta compensatória) HCO3- ↓
Alcalose metabólica: ocorre quando base em excesso é adicionada, quando a
eliminação de bases diminui ou quando a excreção e ácidos está aumentada, originados
por problemas como vómito prolongado, excesso de mineralocorticóides ou fibrose
cística. (9)
pH ↑ ρCO2 Normal (aumenta como resposta compensatória) HCO3- ↑
Tabela 5. Intervalos de referência dos parâmetros ácido-base. Adaptado de (7).
Parâmetros Intervalos de Referência
pH 7.35 – 7.45
ρCO2 35 – 48 mmHg
HCO3- 18 – 23 mmol/L
ρO2 83-108 mmHg
TCO2 22 a 29 mmol/L
BE (-2) – 3 mmol/L
3.15.Equilíbrio hidro-eletrolítico
Iões Sódio (Na+), Potássio (K+) e Cloro (Cl –)
Os eletrólitos afetam a maioria dos processos metabólicos das células.
Anormalidades do estado ácido-base sanguíneo está sempre acompanhado por alterações
nas concentrações dos eletrólitos, especialmente em distúrbios metabólicos. Os iões de
hidrogénio não podem acumular sem acumulação de aniões, ou sem troca de catiões.
Deste modo, as concentrações de eletrólitos são normalmente medidas junto com as
determinações de pH e gases sanguíneos. (9)
O sódio é o principal catião do líquido extracelular. É crítico para a manutenção
da distribuição de água e pressão osmótica nos tecidos. O sódio tem um limiar renal, a
partir do qual é excretado na urina (110- 130 mmol/L). Se a sua concentração sérica
estiver diminuída, é reabsorvido pelos túbulos renais. Desordens na homeostase do sódio
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67
podem ocorrer devido a perda, ganho ou retenção de sódio ou água. Um valor de sódio
acima do normal (hipernatrémia) pode ocorrer devido suor excessivo, desidratação,
doença renal, doença hormonal. Exemplos de causas de hiponatrémia são retenção de
água devido a secreção inadequada de hormona antidiurética e diarreia excessiva. (7,9)
O potássio é o principal catião intracelular. Atua em conjunto com o sódio para
manter o equilíbrio da água. Os rins excretam 80-90% do potássio ingerido, mesmo se
existir em pouca quantidade no soro, pois não existe limiar renal. Alterações na
homeostase do potássio tem consequências graves, na medida em que a sua diminuição
origina irritabilidade e fraqueza muscular, bem como paralisia. O seu aumento pode
originar efeitos cardíacos graves, bem como confusão mental. Hipocalémia pode ocorrer
devido a vómitos e diarreia, doença renal, alcalose. Hipercalémia ocorre em doença renal
aguda, obstrução renal, cetoacidose diabética. (7,9)
O cloro é o anião mais abundante no fluido extracelular, tendo como principais
funções a manutenção da osmolalidade, do volume sanguíneo e da neutralidade elétrica.
Flutuações no soro ou plasma tem poucas consequências clinicas, mas servem como
indicação de distúrbios na homeostase ácido-base e fluidos. Hipoclorémia ocorre, por
exemplo, devido a perda intestinal de bicarbonato, insuficiência adrenal, nefropatias.
Causas de hiperclorémia são desidratação, acidose tubular renal, insuficiência renal. Os
cloretos urinários são importantes na avaliação do tratamento da alcalose metabólica com
Cl-. (9)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System - módulo QuikLYTE®
Amostra: soro e plasma heparinizado e urina
Interferentes: amostras hemolisadas e o uso de citrato altera os resultados (diminui o
sódio, diminui o potássio e aumenta o cloreto). (12)
Método: potenciometria indireta
A amostra é posicionada no sensor e é gerado um potencial elétrico, proporcional
ao logaritmo da atividade de cada ião especifico presente na amostra. O potencial elétrico
gerado é comparado com uma solução padrão e é feito um cálculo das concentrações dos
iões. (12)
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68
Valores de referência:
Soro/plasma (mmol/L) :
Na+: 136-145
K+: 3.5-5.1
Cl-: 98 – 107
Urina (mmol/24h):
Na+ : 40-220
K+: 25-125
Cl-: 98 – 110-250
No soro, valores de potássio ≤2,5 ou ≥6,0 mmol/L (exceto em amostras
hemolisadas) e sódio ≤125 ou ≥160 mmol/L são considerados críticos e o médico é
avisado de imediato.
As concentrações dos iões sódio e potássio também podem ser determinadas em
sangue arterial heparinizado, através de sensores potenciométricos, no aparelho GEM
Premier 3000. Os valores de referência são os seguintes: (7)
Na+: 136 – 145 mmol/L
K+: 3.4 – 4.5 mmol/L
3.16.Sistema nervoso central
Proteína do líquido cefalorraquidiano
A determinação do conteúdo proteico no líquido cefalorraquidiano é útil no
diagnóstico e tratamento de doenças do sistema nervoso central. Normalmente, proteínas
de baixa massa molecular predominam no LCR, tal como a albumina e transferrina.
O aumento da permeabilidade da barreira sangue-LCR às proteínas plasmáticas
poderá ser devido a pressão intracranial elevada originada de tumores cerebrais,
hemorragias ou trauma, meningite viral, encefalite, entre outras. (9,32)
Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System
Amostra: LCR
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69
Interferentes: as amostras que contêm amicacina, gentamicina, canamicina e tobramicina
provocam um falso aumento dos resultados. A presença de sangue na amostra indica
contaminação com proteínas plasmáticas, invalidando o resultado. (32)
Método: o método é o mesmo já descrito para a proteína urinária. A amostra de LCR deve
ser centrifugada a 1500 rpm, 5 minutos antes de ser colocada no aparelho.
Valores de referência: 15 – 45 mg/dL
Valores superiores a 50mg/dL são considerados críticos e comunicados ao médico
de imediato.
Exame citoquímico do LCR
O exame citoquímico do LCR é útil no diagnóstico de patologias neurológicas
variadas, incluindo tumores, distúrbios imunes e doenças infeciosas. (67,68)
No laboratório, o exame do LCR é realizado tendo em conta os seguintes
parâmetros: aspeto, coloração, proteínas, glucose e leucócitos.
O aspeto e coloração são avaliados antes e após centrifugação. Um LCR não
patológico é límpido e incolor. A coloração do LCR pode significar presença de
hemoglobina, bilirrubina, proteínas, entre outros. Presença de turvação pode ser devida a
presença de células sanguíneas, microrganismos ou taxas elevadas de proteínas ou
lípidos. (67)
As proteínas e a glucose são avaliadas no equipamento, Dimension® Integrated
Chemistry System. Vários distúrbios neurológicos estão associados ao aumento de
proteínas no LCR, como já foi referido. Os níveis de glicose variam com a concentração
plasmática e com a taxa de metabolismo do LCR. Nas meningites por fungos ou
bacterianas ocorre consumo de glucose. (68)
A contagem diferencial de leucócitos, caso existentes, é fundamental para
identificar as linhagens celulares presentes e estabelecer uma terapêutica adequada, sendo
que deverá ser feita após coloração. (67,68)
A determinação do número de leucócitos é feita antes da centrifugação, em câmara
de Neubauer, após colocação num tubo 100µl de amostra e 100µl de reagente (solução
de Turk) durante 5 minutos, para ocorrer destruição dos eritrócitos.
No caso de um LCR patológico, o médico é notificado de imediato.
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70
3.17.Controlo de Qualidade em Bioquímica Clínica
Controlo de Qualidade Interno (CQI)
O laboratório adotou o Sistema de Gestão da Qualidade (ISO 9001), Normas da
Ordem dos Farmacêuticos e Manual de Boas Práticas Laboratoriais.
O CQI avalia os métodos usados, através da análise de amostras controlo (com
valores conhecidos) com o objetivo de garantir a reprodutibilidade dos resultados, a
precisão das medições, monitorizar o estado do equipamento e reagentes. O CQI é
efetuado com base na construção de cartas de controlo, para os diferentes níveis de
controlo dos parâmetros, sendo que, para poder proceder à validação de um parâmetro
analisado, é necessário ter o controlo aceitável, de acordo com as regras de Westgard e
as necessidades do laboratório. Se os ensaios não cumprem com as regras definidas, o
programa produz alertas e neste caso é necessário proceder à identificação do problema
que pode ter a ver com lotes de reagentes, amostras degradadas, manutenção do
equipamento em falta, entre outros. (9,69)
O laboratório faz a monitorização do CQI através do programa Unity™, em que
avalia a performance de cada analito medido, com o objetivo de centralizar a informação
num único programa, para o qual todos os equipamentos exportam os dados. A calibração
e CQI dos equipamentos usados na Bioquímica encontram-se descritos na tabela 6.
Tabela 6(a). Calibração e CQI dos equipamentos usados na Bioquímica.
Equipamentos Calibração Controlo de Qualidade
Interno
GEM Premier 3000 Tem calibrações
automáticas, através do
sistema iQM™.
Quando se reinicializa um
analito desseleccionado
deve correr-se 2 níveis de
soluções de controlo.
Quando se muda o
cartucho passam-se 4
níveis. Tirando isso,
quando o equipamento
pede.
Clinitek ATLAS® Calibração com quatro
frascos de solução de
calibração quando se
introduz um novo rolo de
reagente e quando o
equipamento dá erro.
Há tiras de controlo
negativo e positivo para
todos os parâmetros,
passados todos os dias de
manhã.
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71
Tabela 6(b). Calibração e CQI dos equipamentos usados na Bioquímica.
Avaliação Externa da Qualidade (AEQ)
A avaliação externa da qualidade avalia o desempenho dos sistemas analíticos de
um laboratório, por meio de programas interlaboratoriais realizados por uma entidade
externa. Ao participar nestes programas, o laboratório pretende assegurar que os
resultados que obtém para os diversos parâmetros analisados se aproximam do valor real,
através de comparação entre os laboratórios e promove a confiança nos resultados por
parte de todas as partes interessadas, nomeadamente pessoal do laboratório, utentes e
clínicos. (9,70)
O laboratório participa em programas de AEQ, nomeadamente o Esquema
internacional de Avaliação da Qualidade da Randox (RIQAS, do inglês, Randox
International Quality Assessment Scheme) e Programa Nacional de Avaliação Externa da
Qualidade (PNAEQ).
A execução dos ensaios é feita, sempre que possível, logo após receção das
amostras de modo a cumprir os requisitos de estabilidade e está sujeita aos mesmos
critérios de execução das amostras de rotina. Normalmente os resultados obtidos são
enviados por e-mail ou submetidos no site. Qualquer resultado inaceitável deve ser
investigado e as medições corretivas documentadas. (70)
Equipamentos Calibração Controlo de Qualidade
Interno
Dimension® Integrated
Chemistry System
Quando o lote de reagente
muda, quando a data de
calibração expira, quando
se adiciona um novo
método e quando a
lâmpada é mudada, para
alguns métodos
dependentes da luz.
System check diário. Todos
os dias, 1 nível de controlo
de manhã e outro diferente
no fim do turno.
Nas urinas, todos os dias 1
nível no inicio do dia.
São passados 3 níveis de
controlo após calibração.
VIDAS® Quando se muda o lote,
quando a validade expira.
Controlo semanal para
cada reagente (1 nível) e
quando há calibração.
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Catarina Alves Microbiologia
72
4.Microbiologia
Sendo a Microbiologia uma área bastante vasta, os procedimentos, testes e
parâmetros a seguir referidos foram divididos de acordo com as seguintes áreas:
Bacteriologia, Micologia, Parasitologia e Virologia, sendo que o laboratório foca o
diagnóstico na área da Bacteriologia, pelo que as restantes áreas estão pouco
aprofundadas neste relatório.
É importante referir que as atividades realizadas nesta área requerem o uso de uma
Câmara de Segurança Biológica Classe II, que assegura a manutenção de ar na zona de
trabalho, protegendo o operador, o produto a analisar e o ambiente envolvente.
4.1.Equipamentos
4.1.1.VITEK®2
O VITEK®2 é um aparelho que realiza identificação de microrganismos e testes
de suscetibilidade aos antibióticos (TSA) in vitro, através de cartas VITEK (figura 5). O
sistema realiza uma combinação de reações químicas nas cartas de identificação, que
permite identificar o organismo em estudo. As cartas para TSA têm uma combinação de
fármacos para grupos de microrganismos, nomeadamente GP e GN. Após análise, as
estirpes são identificadas como sensíveis, intermédias ou resistentes. (71)
Figura 5. Equipamento VITEK®2. Adaptado de (71)
O TSA deve ser realizado para qualquer microrganismo que seja responsável por
um processo infecioso e em que seja necessária a toma de antibiótico, principalmente
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73
quando a espécie em estudo é capaz de exibir resistência aos antimicrobianos utilizados
mais frequentemente. No caso das Pseudomonas, a carta é diferente da dos outros GP,
porque são bactérias produtoras de β-lactamases e já são resistentes a quase todos os β-
lactâmicos. (72)
Para a leitura das cartas é necessário realizar suspensões das colónias (com um
determinado valor da escala de MacFarland) em tubos colocados num suporte próprio,
que é depois colocado no aparelho.
4.1.2.BacT/ALERT® 3D
Aparelho utilizado para detetar a presença de microrganismos no sangue e fluidos
corporais estéreis. Os microrganismos metabolizam os substratos existentes no meio de
cultura, e se existir produção de CO2, a cor do fundo do frasco de hemocultura muda para
um tom mais claro. Caso a cor não se altere após 5 dias, a amostra é considerada negativa.
Caso positive, é realizada sementeira em meios de cultura apropriados.
Após leitura do código de barras, os frascos de hemocultura são colocados no
equipamento (figura 6), que contem quatro “gavetas” incubadoras, com capacidade de
incubação de 240 frascos de hemocultura. (73)
Figura 6.Equipamento BacT/ALERT® 3D. Adaptado de (73)
4.1.3.GenomEra CDX™ system
É um equipamento para testes rotineiros de ADN (ácido desoxirribonucleico) que
realiza testes de PCR (reação em cadeia da polimerase, do inglês, polymerase chain
reaction) em 50 minutos (figura 7). Não há necessidade de manipular reagentes de PCR
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74
pois todos os reagentes estão incorporados nos chips de teste. O analisador lê
automaticamente os códigos de barras no inicio da análise. (74)
Figura 7. Equipamento GenomEra CDX™ system. Adaptado de (74).
No laboratório, o aparelho é utilizado para diagnosticar a presença de Clostridium
difficile toxinogénico em amostras de fezes.
Clostridium difficile é uma bactéria GP anaeróbia, formadora de esporos. Os
sintomas provocados pela bactéria são devido a duas toxinas, A e B. Este teste deteta de
forma rápida e específica o gene tcdB (gene que codifica a toxina B de Clostridium
difficile). (75)
4.2.Bacteriologia
As bactérias são organismos procariotas e unicelulares, que se reproduzem por
divisão assexuada. A parede celular bacteriana existe em duas formas: parede espessa
(GP) ou fina (GN) de peptidoglicano. Nas GN, a camada fina de peptidoglicano tem
sobreposta uma membrana externa. As bactérias têm 4 formas principais: redondas
(cocos), que se podem apresentar como única célula ou como aglomerados; alongadas
(bacilos), também como célula individual ou em cadeia; encurvadas (vibrião) ou
espiraladas. A relação entre a bactéria e o hospedeiro pode ocorrer como contaminação
ou colonização, devida a presença transitória ou contínua, respetivamente das bactérias
na superfície do organismo, sem invasão dos tecidos, ou pode ocorrer infeção, que implica
a colonização, multiplicação e invasão dos tecidos associada ou não a uma alteração do
estado normal do organismo. A maioria das bactérias não são sempre patogénicas,
estabelecendo doença sob circunstâncias bem definidas. A capacidade do laboratório no
diagnóstico das infeções está dependente das técnicas usadas, da qualidade da amostra
analisada, bem como dos meios de transporte da mesma até ao laboratório. (72,76)
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75
4.2.1.Exame direto
Permite verificar a presença de elementos celulares e microrganismos. A amostra
é observada ao microscópio, após colocação da amostra entre lâmina e lamela. Este exame
pode ser realizado a fresco (observação em 40x) ou através do uso de corantes. Avalia
aspetos microscópicos, incluindo tamanho, forma e permite verificar as características
morfológicas através da afinidade para os corantes. (72,76)
Coloração pelo método de Gram
Gram é um método de coloração de microrganismos que ajuda no diagnóstico
rápido e presuntivo de uma doença infeciosa e consiste numa coloração diferencial que
separa os principais grupos de bactérias. (76,77)
Após fixação da lâmina com metanol, a amostra é exposta durante um minuto à
solução Violeta de Cristal, seguido de um minuto em solução Lugol, que forma complexo
com o anterior, devido à sua composição em iodo. O complexo iodo-violeta assim
formado é eliminado, durante a descoloração pelo álcool-acetona durante alguns
segundos, apenas para os GN, em função da composição química da parede (fina camada
de peptidoglicano). O último reagente, safranina, age como corante de contraste e atua
durante um minuto. Os GN coram de rosa/vermelho, os GP que não foram descorados
ficam violeta/roxo. Entre cada reagente, a lâmina deve ser passada por água. A sua
observação deverá ser feita na objetiva de 10x, para avaliar a qualidade geral da coloração
e presença de células. Os microrganismos devem ser observados em objetiva de 100x,
com óleo de imersão. (72,76,77)
Coloração pelo método de Kinyoun
Esta coloração é utilizada para identificar a presença de micobactérias ou outros
organismos álcool-ácido resistentes em amostras clínicas. Estas bactérias têm cadeias de
lípidos (ácidos micólicos) na sua parede, que as torna muito hidrofóbicas e lhes confere
impermeabilidade ao violeta de cristal e outros corantes básicos. (76)
Após fixação da lâmina com metanol, a fucsina fenicada é o primeiro reagente a
ser utilizado, que atua durante 5 minutos. É um corante vermelho que contem fenol e que
solubiliza os lípidos, de modo a ajudar o corante a penetrar nas células. De seguida é
usado um descolorante (álcool-acetona) durante 2 minutos. Apenas as bactérias álcool-
ácido resistentes coram de vermelho, pois o corante não é eliminado mesmo com
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76
solventes álcool-ácidos. As outras bactérias ficam descoloradas, pois libertam o corante.
Estas últimas, são tratadas com azul de metileno, durante 2 minutos, corando de azul.
Entre cada reagente, a lâmina deve ser passada por água. A observação é realizada em
objetiva de 100x, com óleo de imersão. (72,76)
4.2.2.Exame cultural
A biologia das bactérias, a resposta imune do paciente à infeção, o local da infeção
e a qualidade dos meios de cultura utilizados influenciam o sucesso do exame cultural.
Os meios de cultura podem ser seletivos, não seletivos e diferenciais. Os meios seletivos
selecionam o tipo de bactéria a isolar, de acordo com as suas exigências nutricionais,
impedindo o desenvolvimento de outras bactérias e microrganismos. Os meios
diferenciais possibilitam a distinção entre bactérias, através de substâncias que alteram a
morfologia ou coloração das colónias, permitindo uma diferenciação presuntiva. São
também utilizados meios de enriquecimento, geralmente líquidos, com o objetivo de
enriquecer o conteúdo bacteriano da amostra. A sementeira deve ser realizada do meio
mais seletivo, para o menos seletivo. (72,76)
Os meios de cultura usados no laboratório de bacteriologia e respetivas
características, encontram-se em nas tabelas seguintes (tabelas 7,8 e 9).
Tabela 7. Meios de cultura sólidos não seletivos. Adaptado de (72,76).
Meio de cultura Características
CLED (Cistina-
Lactose -
Deficiente de
Electrólitos)
Meio diferencial usado para diferenciar microrganismos urinários
que fermentam a lactose (lac). Colónias lac(+) são amarelas.
Usado para cocos GP e bacilos GN, sendo que também podem
crescer leveduras. Além disso, limita a invasão por Proteus spp.,
devido à deficiência de eletrólitos.
Gelose Columbia
+ 5% de sangue de
Carneiro (GS)
Meio que facilita o crescimento de microrganismos exigentes e é
também usada para isolar organismos anaeróbios. O sangue
permite distinguir bactérias hemolíticas e não hemolíticas.
Gelose Schaedler
+ 5% de sangue de
carneiro (SCS)
Meio destinado à pesquisa de bactérias anaeróbias (estritas e
facultativas).
Gelose Chocolate
+ PolyViteX
(PVX)
Meio não seletivo obtido a partir da gelose Columbia, pelo
aquecimento da mistura com sangue (hemólise dos eritrócitos).
Crescimento de estirpes exigentes pertencentes aos géneros
Neisseria spp e Haemophilus spp. e Streptococcus pneumoniae.
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77
Tabela 8(a). Meios de cultura sólidos seletivos. Adaptado de (72,76).
Meio de cultura Características
Gelose Chocolate
PolyViteX
VCAT3 (VCA)
Meio seletivo com antibióticos e antifúngicos na sua composição,
que permite o isolamento de Neisseria gonorrhoeae e Neisseria
meningitidis
Gelose
MacConkey
(MCK)
Meio seletivo e diferencial para isolamento de bacilos GN. É
observada a fermentação da lactose – colónias rosas ou vermelhas,
por vezes contornadas por um halo de sais biliares. As colónias lac
(-) são beges ou incolores. A seletividade em relação às GP é
conseguida pelos sais biliares e pelo cristal violeta.
Gelose Hektoen
(HEKT)
Meio diferencial para pesquisa de Salmonella spp. e Shigella spp.
nas fezes. Os sais biliares inibem os GP. Os microrganismos que
produzem sulfeto de hidrogénio (H2S) (a maioria das Salmonella)
originam colónias com centro negro. Os que fermentam um dos
açúcares presentes no meio originam colónias amarelas ou
amarelas-salmão, os que não fermentam, verdes ou azuis-
esverdeadas (Salmonella spp. e Shigella spp.)
Gelose Chapman
2 (MS)
Meio manitol salgado, destina-se ao isolamento seletivo de
Staphylococcus spp, que podem crescer na presença de
concentrações elevadas de sais como o cloreto de sódio. Os
microrganismos que fermentam o manitol originam colónias
amarelas por acidificação do meio (identificação presuntiva de
S.aureus).
Gelose
Campylosel
(CAM)
Meio seletivo com antifúngicos e antibióticos, para o isolamento
dos Campylobacter intestinais (C.jejuni e C.coli). Colónias,
achatadas, acinzentadas e irregulares, que crescem em atmosfera
de microaerofilia.
Gelose Chocolate
Haemophilus 2
(HAE2)
Isolamento seletivo de Haemophilus spp. Contém uma base
nutritiva, à qual são associados antibióticos e antifúngicos que
inibem a maioria das bactérias GP e leveduras.
Gelose Granada™
(GRAN)
Meio seletivo cromogénico usado na identificação de
Streptococus agalactiae nas mulheres grávidas e recém-nascidos.
Observação de colónias laranja, que se deve ao próprio pigmento
do microrganismo.
Gelose Columbia
ANC + 5% de
sangue de
carneiro (CNA)
Isolamento das bactérias exigentes. Contem ácido nalidíxico e
colistina, que inibem o crescimento das Enterobacteriaceae e
Pseudomonas spp., pelo que a maioria das GN são inibidas,
tornando o meio seletivo para GP. Deteção das hemólises devido
à presença do sangue de carneiro.
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78
Tabela 8(b). Meios de cultura sólidos seletivos. Adaptado de (72,76).
Meio de cultura Características
Gelose
chromID®MRSA
SMART (MRSA)
Meio cromogénico destinado à pesquisa de estirpes de S.aureus
resistentes à meticilina (colónias rosa a vermelho). A mistura
seletiva permite inibir a maioria das bactérias GN e GP não
pertencentes ao género Staphylococcus, bem como leveduras e
bolores.
Gelose
chromID™ VRE
(VRE)
Meio cromogénico seletivo, destinado à deteção de Enterococcus
faecium e E.faecalis, nos doentes de risco que apresentam uma
resistência adquirida à vancomicina, bem como a distinção entre
os dois. E.faecium apresenta colónias violeta (estirpes produtoras
de β-galactosidase. E.faecalis apresenta colónias verdes (estirpes
produtoras de α-glucosidase).
Tabela 9. Meios líquidos de enriquecimento. Adaptado de (72,76).
Meio de cultura Características
Caldo Coração –
Cérebro (BHI)
Caldo de enriquecimento, crescimento de microrganismos
exigentes.
Caldo Todd-
Hewitt +
Antibióticos
(TODD)
Caldo de enriquecimento seletivo para a deteção de estreptococos
do grupo B na mulher grávida. Após enriquecimento, deve ser
repicado em meios destinados à deteção dos estreptococos.
Caldo Selenito Caldo de enriquecimento para Salmonella spp. a partir das fezes.
O selenito de sódio inibe a maioria das Enterobacteriaceae,
incluindo algumas estirpes de Shigella spp. Após o
enriquecimento, deve ser repicado em meios destinados à deteção
da Salmonella spp. (Hektoen)
Meio seletivo para
Trichomonas
Meio rico em nutrientes que oferece as condições de crescimento
ideais para Trichomonas vaginalis.
Todas as placas semeadas devem estar devidamente identificadas no verso com o
nome e número do doente, tipo de produto e data da sementeira.
Todos os produtos à exceção das urinas são semeados dividindo a placa em quatro
quadrantes: é realizado o inóculo no primeiro quadrante e de seguida preenchem-se os
restantes três quadrantes com a ansa de plástico descartável. Nas urinas, é utilizada uma
ansa de 10µl, que é mergulhada na urina e a gota é depositada na placa. É feita uma estria
vertical e depois 8-10 estrias horizontais começando onde a gota foi depositada (figura
8).
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79
Figura 8. Esquema da sementeira das urinas.
4.2.3.Geradores de atmosfera e caixas de incubação
Nalguns casos, como por exemplo, na incubação de gelose Schaedler + 5% de
sangue de carneiro (SCS), é necessário utilizar saquetas que produzem atmosfera
adequada ao crescimento dos microrganismos que crescem na gelose. Os geradores
utilizados, GENbox, permitem obter as diferentes atmosferas necessárias para a cultura
de microrganismos patogénicos em laboratório (tabela 10). As concentrações de
compostos gasosos obtidos nas caixas, são ajustados pelas quantidades de compostos
químicos que absorvem o oxigénio e libertam o dióxido de carbono contido em cada
saqueta. (78)
Tabela 10. Tipos de atmosferas para cultura microbiológica. Adaptado de (78).
Anaerobiose Microaerofilia Atmosfera de
CO2
Concentração de
Oxigénio
<0,1% após 2.5h De 6,2% a 13,2%
após 1h
Indisponível
Concentração em
dióxido de carbono
>15% após 24h De 2,5% a 9,5% após
24h
De 3,5% a 9,0%
após 24h
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80
4.2.4.Procedimentos para diagnóstico bacteriológico
4.2.4.1Aparelho urogenital
Urina
A amostra a ser utilizada é a urina do jato médio. As bactérias potencialmente
patogénicas colonizam a uretra, pelo que o primeiro jato de urina deve ser descartado.
(76) Também pode ser analisada amostra de punção supra-púbica, tubo de algália ou saco
coletor pediátrico.
Procedimento
É colocada amostra num tubo de centrifuga, e após centrifugação durante 5
minutos a 1500 rpm, é feita observação do sedimento urinário, colocando uma gota entre
lâmina e lamela. A observação é feita com objetiva 40x. O exame corado pode ser
realizado se solicitado.
Através de uma ansa calibrada de 1µL é realizada sementeira em gelose Cistina
Lactose Deficiente em Eletrólitos (CLED), com incubação a 37ºC, 18-24h em aerobiose.
Valorização dos resultados
As infeções urinárias mais comuns são pielonefrites (infeção do parênquima renal)
e cistites (infeção das vias urinárias baixas), sendo que as infeções agudas do aparelho
urinário são geralmente causadas por flora saprófita que invade por via ascendente através
da uretra. Vários fatores podem contribuir para a infeção das vias urinárias,
nomeadamente a suscetibilidade do hospedeiro devida a diabetes, gravidez, estase ou
obstrução urinária, doenças sexualmente transmissíveis, entre outros. O organismo mais
comumente associado a estas infeções, é a Escherichia coli, apesar de outros
microrganismos também poderem ser responsáveis, nomeadamente Pseudomonas spp.,
Staphylococcus aureus e Enterococcus spp. (72,76)
Na valorização dos resultados, deve ter-se em conta o método pelo qual a urina
foi colhida, o tipo de doente, idade, entre outros parâmetros. A observação do sedimento
é muito importante, sendo que a leucocitúria constitui o principal marcador da infeção.
(72)
São avaliados em vários campos a presença de eritrócitos (apenas mencionados se
vistos), leucócitos e células, com os seguintes níveis:
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81
0-5 Raras
5-10 Algumas
>10 Muitas
No exame cultural é feita a observação das placas e efetuada a valorização das
amostras de acordo com o número de células epiteliais, de leucócitos e com a contagem
de colónias:
<104UFC/ml
104 UFC/ml –105UFC/ml
>105 UFC/ml
Valores superiores a 105 são sempre valorizados, valores entre 104 –105 são
valorizados de acordo com o sedimento: no caso de culturas mistas, faz-se ou não o estudo
das colónias, dependendo do número de leucócitos e células e do tipo de amostra. Em
culturas polimicrobianas com alguns ou muitos leucócitos, aconselha-se repetição de
colheita, se clinicamente justificável. No caso das crianças, o exame bacteriológico da
urina pode originar resultados falsamente positivos, devido à urina colhida por saco
coletor. Se necessário, pede-se nova colheita, para confirmação de resultados. No caso de
placa negativa com muitos leucócitos, realiza-se coloração do sedimento por Gram para
verificar a presença de bactérias, caso positivo, volta-se a semear a placa. A presença de
células indica colonização/contaminação, por outro lado, a presença de leucócitos indica
infeção. Qualquer desenvolvimento bacteriano em cultura pura, que não seja resultante
de contaminação pela flora comensal, de amostras colhidas por punção supra-púbica, são
valorizados. A estirpe valorizada é isolada em cultura pura para posterior identificação e
TSA.
Exsudado vaginal
Procedimento
Com a zaragatoa colocada em meio de transporte com carvão:
o É semeado gelose Columbia + 5% de sangue de carneiro (GS) – Incubação
a 37ºC, aerobiose, 48h, observação diária (OD)
o É semeado gelose Chocolate PolyViteX VCAT3 (VCA) – Incubação a
37ºC, 5% CO2, 72h, OD
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82
Com a zaragatoa seca é realizado um esfregaço e este é corado por Gram.
Valorização dos resultados
Os agentes bacteriológicos mais comumente pesquisados nas secreções vaginais
são Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis, Gardnerella vaginalis, Mycoplasma
hominis e Ureaplasma urealyticum. Nas mulheres, estas infeções podem causar secreções
mucosas e ulcerações, desconforto, dor e ardor e inserem-se em duas categorias
principais: infeções por organismos patogénicos de transmissão sexual, nomeadamente
Neisseria gonorrhoeae (visíveis no Gram como diplococos GN e com crescimento no
VCA) e Chlamydia trachomatis (causadoras de uretrite) e infeções por microrganismos
endógenos, que se tornam patogénicos devido a desequilíbrio da fora saprófita, como a
vaginose provocada por Gardnerella vaginalis que se apresenta no Gram como células
epiteliais com “pontinhos” e ausência de bacilos de Doderlein. (72,79)
Streptococcus agalactiae, colonizam a mucosa genito-urinária, e provocam
infeções urinárias na mulher grávida e meningite no recém-nascido pelo que são
valorizados em mulher em idade fértil, quando isolados da GS. (72)
No esfregaço corado por Gram valorizam-se células epiteliais (observação de
muitas células significa que o esfregaço foi bem feito), bacilos de Doderlein (observados
em mulheres em idade fértil) e leucócitos, segundo os níveis:
0-5 Raras
5-10 Algumas
>10 Muitas
A estirpe valorizada, em função do exame direto corado e do crescimento em
cultura, é isolada para posterior identificação e TSA.
Exsudado uretral
Procedimento
Com a zaragatoa colocada em meio de transporte com carvão:
o É semeado VCA – Incubação a 37ºC, 5%CO2, 72h, OD
Com a zaragatoa seca é realizado um esfregaço e este é corado por Gram.
Valorização dos resultados
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83
À semelhança da mulher, os agentes Neisseria gonorrhoeae (visíveis no Gram
como diplococos GN e com crescimento em VCA), Chlamydia trachomatis, Mycoplasma
hominis e Ureaplasma urealyticum, são responsáveis por causar infeções genitais, sendo
que os dois primeiros originam a maioria dos casos de uretrite nos homens. Nos homens,
a infeção pode causar secreção uretral, dor na micção e inchaço doloroso. (79)
A estirpe valorizada é isolada, identificada e é realizado o TSA.
Rastreio de Streptococcus agalactiae na gravidez
Os S.agalactiae colonizam a mucosa genito-urinária e são responsáveis por
infeções graves no recém-nascido (meningite) e septicémia neonatal, pelo que a sua
deteção é muito importante para a prevenção e tratamento da infeção. Grávidas
colonizadas fazem antibiótico. (72,76)
A amostra a analisar consiste numa zaragatoa vaginal e numa zaragatoa retal, sem
meio de transporte.
Procedimento
As duas zaragatoas são colocadas em caldo Todd-Hewitt + antibióticos (TODD)
com antibióticos na estufa a 37ºC. Após 18-24h, é feita passagem para meio Granada
anaerobiose e incubado a 18-24h.
Valorização dos resultados
São inspecionadas as colónias sugestivas (laranjas) no meio Granada. Se
estiverem presentes, é necessário reisolamento para gelose Columbia ANC + 5% de
sangue de carneiro (CNA) pois não se faz TSA do meio cromogéneo.
Teste rápido para pesquisa de Clamydia trachomatis
A Clamydia trachomatis é uma das maiores causas de infeção transmitida
sexualmente. A transmissão vertical da bactéria tem complicações graves no recém-
nascido, nomeadamente conjuntivite e pneumonia. A maioria das infeções na mulher são
assintomáticas, mas podem ser sintomáticas e originam cervicite, endometrite e uretrite,
entre outras manifestações clínicas. No homem, muitos casos de uretrite e epididimite são
causados por Clamydia trachomatis e cerca de 25% das infeções no homem são
assintomáticas, sendo que os pacientes assintomáticos constituem um problema para a
disseminação da doença. É utilizado um dispositivo de teste rápido imunocromatográfico
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para deteção qualitativa do antigénio da bactéria em amostras de esfregaços vaginal,
uretral e urina masculina. (76,79,80)
Procedimento
A amostra é adicionada a um tubo contendo dois reagentes. No caso de ser uma
zaragatoa, esta é introduzida e rodada contra a parede. São colocadas três gotas no
dispositivo de teste.
O teste contem o anticorpo específico do antigénio da bactéria a revestir a região
da linha de teste e partículas revestidas com o anticorpo. Durante o teste, a solução do
antigénio extraído reage com as partículas e a mistura migra para reagir com o anticorpo
sobre a membrana na linha de teste. Após 10 minutos é lido o resultado, que será positivo
quando aparecem duas linhas coloridas, uma no controlo e outra na região da linha de
teste. (80)
Teste para pesquisa de micoplasmas urogenitais
O trato genital é colonizado com espécies de Mycoplasma spp. e Ureaplasma spp.
M. hominis pode causar pielonefrite, febre pós-parto e infeções sistémicas em pacientes
imunocomprometidos. U. urealyticum pode causar uretrite, pielonefrite e aborto
espontâneo ou parto prematuro. No entanto, a deteção de micoplasmas no trato genital
não é necessariamente equivalente a infeção, devendo ser tida em conta a situação clínica
do paciente. (76)
Este kit permite a identificação de Ureaplasma urealyticum e Mycoplasma
hominis em amostras endocervicais e uretrais colhidas com zaragatoa, urinas e sémen e
baseia-se em propriedades metabólicas especificas das espécies e resistências. No caso
do U. urealyticum, testa a hidrólise da ureia e resistência à lincomicina e no M. hominis,
a hidrólise da arginina e resistência à eritromicina. (81)
Procedimento
Regenera-se um meio de cultura do kit com o meio de transporte inoculado e
adiciona-se esta mistura aos poços do teste que correspondem a um controlo de
crescimento, identificação de U. urealyticum, identificação de M. hominis, teste de
resistência à lincomicina e teste de resistência à eritromicina. É adicionada parafina aos
poços e o teste é colocado na estufa a 37ºC durante pelo menos 24h. O crescimento destas
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85
espécies é visualizado por mudança de cor do indicador de pH de amarelo-laranja para
vermelho ou rosa (alcalino). (81)
4.2.4.2.Aparelho circulatório
Hemoculturas
Uma hemocultura corresponde a sangue colhido por punção venosa de veia
periférica, para dois frascos de hemocultura, um de aerobiose e outro de anaerobiose.
Procedimento
O frasco é conservado em estufa a 37ºC ou à TA até ser colocado no bacT/ALERT
(permanece neste equipamento durante 5 dias), até um máximo de 2h. No caso do
resultado dado pelo equipamento ser positivo, com uma agulha na tampa do frasco, são
colocadas duas gotas em lâmina (corada posteriormente por Gram) e duas gotas no meio
de cultura (GS), com incubação a 37ºC durante 24h. Este passo é sempre repetido ao 5º
dia, caso o frasco tenha positivado antes, independentemente do resultado obtido na
primeira passagem. Se for o frasco de anaerobiose que positivou, para além da GS, é
semeado SCS, com incubação a 37ºC, aerobiose, 24h.
Valorização dos resultados
As doenças infeciosas podem decorrer com bacterémia transitória, intermitente
(infeções localizadas) ou persistente (infeções intravasculares como endocardite).
Septicémia corresponde a bacterémia acompanhada de um estado infecioso grave,
condicionada por descargas massivas e repetidas de bactérias no sangue. Como o sangue
é um produto biológico estéril, o isolamento de um microrganismo a partir de uma
hemocultura é quase sempre valorizado. (72,76,79)
Os bacilos GN entéricos são as causas mais comuns de choque sético, apesar de
poder ocorrer devido a uma gama ampla de microorganismos. Endocardite pode ocorrer
devida a Streptococcus viridans, Enterococcus spp e Staphylococcus aureus, sendo que
este último é o agente mais comum de miocardite e pericardite. (76,79)
O fator mais importante que determina o sucesso deste teste é o volume de sangue
colhido, porque a concentração dos microrganismos é baixa na maioria das bacterémias,
principalmente se o doente está a tomar antibiótico. A colheita não deve ser efetuada no
pico febril e a assepsia da pele do paciente é importante, para não ocorrer contaminação
com bactérias que colonizam a pele, como Staphylococcus coagulase negativos, pelo que
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estes podem contaminar o sangue, se a hemocultura não for colhida em condições de
assepsia. (72,76)
Podem ocorrer falsos positivos no aparelho, pelo que apenas se dá um resultado
positivo quando se verifica também crescimento na placa e bactérias no Gram. No
esfregaço corado por Gram, os Staphylococcus apresentam-se de cor roxa/azulada (são
GN) e em “cacho”. Faz-se um teste da coagulase para distinguir entre Staphylococcus
aureus ou Staphylococcus coagulase negativos (presentes à superfície da pele). Estes
últimos apenas são valorizados se presentes nos quatro frascos de hemocultura (2 pares),
caso contrário, indicam contaminação. Caso seja observada qualquer outra bactéria no
esfregaço, o médico é logo notificado. A estirpe valorizada é isolada e procede-se à
identificação e TSA de uma das placas.
Cateteres vasculares
Normalmente o cateter vem a acompanhar a hemocultura e pretende-se avaliar
a possibilidade deste ser responsável por um quadro de bacterémia. (72)
Procedimento
O cateter é colocado na superfície de uma placa de GS e com o auxílio de uma
pinça esterilizada, é rodado na superfície do meio, de modo a que a ponta passe por todo
o meio de cultura. A incubação é feita a 37ºC, 48h, em aerobiose.
Valorização dos resultados
Se apenas o primeiro frasco de hemocultura (colhido antes da retirada do cateter)
e o cateter estiverem positivos, significa que o cateter estava infetado.
Se o crescimento for superior a 15 colónias de apenas um tipo, é valorizado e
identificado com realização de TSA. Apenas não se valorizam contaminantes da pele,
como S. coagulase negativos, a não ser que as quatro hemoculturas que o acompanham
sejam positivas para esta bactéria. Não se valoriza quando estão presentes mais do que
dois tipos diferentes de colónias.
4.2.4.3.Aparelho digestivo
Fezes
Procedimento
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A amostra é semeada nos seguintes meios:
o gelose MacConkey (MCK): incubação a 37ºC, 48h, aerobiose
o gelose Hektoen (HEKT): incubação a 37ºC, 48h, aerobiose
o gelose Campylosel (CAM): incubação a 37ºC, 5 dias, microaerofilia
o Caldo Selenito: Incubação a 37ºC, 18-24h, aerobiose – Após 24h de
incubação, são efetuadas subculturas do meio de selenito para HEKT
(caldo Selenito é meio de enriquecimento de Salmonella)
Valorização dos resultados
Uma grande variedade de bactérias pode causar infeções gastrointestinais, que têm
uma alta incidência na população em geral, principalmente em crianças e idosos. (67)
Os agentes bacteriológicos mais comuns causadores de gastroenterite são
Salmonella spp., Shigella spp., Campylobacter spp., E. coli, Vibrio cholerae e Bacillus
cereus. Staphylococcus aureus e Bacillus cereus são responsáveis por intoxicações
alimentares. (76)
Muitas bactérias patogénicas e não patogénicas estão presentes nas fezes, pelo que
os antecedentes epidemiológicos, presença de sinais e sintomas clínicos e o tipo de
diarreia, são fatores que devem orientar na pesquisa do agente. Pode ocorrer diarreia
aquosa devido a enterotoxinas de bactérias como Escherichia coli enterotoxigénica ou as
fezes podem apresentar-se sangrentas e mucoides devido a bactérias invasivas como
Shigella spp. (72,76,79)
No meio MCK são valorizadas colónias que não fermentam a lactose (incolores),
que poderão ser Shigella ou Salmonella. No meio HEKT é valorizada a presença de
colónias azuis esverdeadas (não fermentam os açúcares presentes no meio) e colónias
com centro negro (bactérias que produzem sulfeto de hidrogénio), que identifica
presuntivamente Shigella e Salmonella. No meio CAM, a presença de colónias achatadas,
pequenas, acinzentadas que crescem em atmosfera de microaerofilia, identifica
Campylobacter intestinais (C.jejuni e C.coli).
A estirpe valorizada é isolada para posterior identificação e TSA.
Teste sangue oculto fecal
Na secção de microbiologia é também realizado um teste rápido
imunocromatográfico para pesquisa de sangue oculto fecal, que ajuda ao diagnostico de
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doenças gastrointestinais que não apresentam sintomas visíveis, como colites ou cancro
do cólon.
Procedimento
Desenroscar e retirar o bastão da recolha da amostra e mergulhar o bastão em seis
lugares diferentes na amostra de fezes. Em seguida, colocar o bastão no dispositivo da
amostra e enroscar. Agitar, quebrar a ponta e colocar 3 gotas da amostra na cassete.
A amostra irá reagir com a membrana na região da linha de teste, que é coberta
com anticorpo anti-hemoglobina. A mistura migra cromatograficamente, por cima da
membrana, para reagir com o anticorpo, gerando uma linha colorida. (82)
Teste rápido C. Difficile
Este teste rápido consiste num ensaio imunoenzimático para a deteção simultânea
do antigénio glutamato desidrogenase e das toxinas A e B do Clostridium difficile, em
amostras de fezes. (83)
Este agente constitui uma causa significativa de doença gastrointestinal e apesar
de poder ser cultivado em cultura, a maneira mais específica para diagnosticar a infeção
é através da deteção de toxinas responsáveis pela doença. Muitos casos das formas mais
leves de doença gastrointestinal e a maioria dos casos de colite pseudo-membranosa são
causadas por estirpes toxinogénicas desta bactéria. (76,83)
As estirpes toxinogénicas produzem as duas toxinas, ou apenas a toxina B. O
glutamato desidrogenase é um bom marcador pois é produzido em grandes quantidades
por todas as estirpes. (83)
Procedimento:
É adicionada amostra ao tubo com os reagentes (diluente e conjugado composto
por anticorpos da enzima e das toxinas com peroxidase de rábano) com incubação durante
15 minutos à temperatura ambiente. Durante este tempo, a glutamato desidrogenase ou
toxinas na amostra ligam-se aos conjugados e ocorre migração para uma membrana onde
são capturados pelos anticorpos imobilizados na linha de teste. Uma linha na janela do
antigénio significa que bactéria está presente na amostra e as linhas na área das toxinas
indica se a estirpe é toxinogénica. Para validação do resultado, é necessário a visualização
da linha também na janela do controlo. (83)
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4.2.4.4.Aparelho respiratório
As infeções das vias respiratórias são muito frequentes, mas nem sempre são de
origem bacteriana. O aparelho respiratório superior apresenta uma flora bacteriana
comensal abundante, constituída por aeróbios e anaeróbios. Vários agentes patogénicos
como S.pneumoniae podem estar presentes e ser isolados como flora transitória ou em
pequeno número. (72)
Exsudado faríngeo
Procedimento
A sementeira é realizada em GS e a placa colocada na estufa a 37ºC, em atmosfera
com CO2, com observação às 24h e 48h.
Valorização dos resultados
O agente bacteriológico causador principal de faringite bacteriana é o
Streptococcus pyogenes (S. β-hemolítico do grupo A), mas outras bactérias podem causar
faringite, nomeadamente Neisseria gonorrhoeae, Corynebacterium diphtheriae e
Mycoplasma pneumoniae, que normalmente necessitam de técnicas ou meios especiais
para o seu isolamento. (72,76,79)
A estirpe valorizada é isolada para posterior identificação e TSA.
Expetoração /Secreções brônquicas/LBA
Procedimento
Para exame direto é selecionada uma porção purulenta da amostra e são realizados
dois esfregaços, em que um é corado por Gram e outro por Kinyoun (no caso do LBA, a
amostra deve ser centrifugada durante 15minutos a 1500 rpm e usado o sedimento). O
primeiro deve ser observado ao microscópio em objetiva de 10x, de modo a avaliar a
qualidade da amostra em cerca de 10 campos, tendo em conta a presença de células
epiteliais da orofaringe e leucócitos. Este procedimento normalmente não é necessário no
LBA.
Para exame cultural, devem ser semeados os seguintes meios:
o GS – Incubação a 37ºC, 5%CO2, 48h;
o gelose Chocolate Haemophilus 2 (HAE2) - Incubação a 37ºC, 5%CO2,
48h;
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o MCK - Incubação a 37ºC, 48h.
Valorização dos resultados
As amostras do trato respiratório inferior devem ser analisadas
microscopicamente, pois pode ocorrer contaminação por bactérias das vias aéreas
superiores. (76)
O exame bacteriológico de secreções respiratórias purulentas deve ser sempre
realizado em casos de bronquite aguda. Os agentes bacterianos mais comuns que causam
bronquite são a Moraxella catarrhalis, Haemophilus influenzae e Streptococcus
pneumoniae. Os agentes mais comuns de pneumonia são Streptococcus pneumoniae,
Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae. (76,79)
No caso da expetoração e secreções brônquicas é feita primeiramente a verificação
da qualidade da amostra, através do exame direto corado por Gram (na objetiva de 10x).
Uma má amostra (maioritariamente saliva) é caracterizada por várias células epiteliais
(>10/campo) e bactérias diferentes. Neste caso, é uma amostra conspurcada, e sugere-se
repetição de colheita, independentemente do que se encontrar. A presença de leucócitos
é a favor de infeção bacteriana e um tipo de bactéria em predomínio na cultura deve ser
isolada e identificada. Na lâmina corada por Kinyoun é avaliada a presença de bacilos
álcool-resistentes, nomeadamente Mycobacterium.
A valorização do crescimento bacteriano é realizada em função da história clínica
do doente, dos exames corados e do crescimento em cultura. A estirpe valorizada é isolada
em cultura pura, para posterior identificação e TSA.
4.2.4.5.Líquidos orgânicos
LCR
Procedimento
A amostra é centrifugada 15 minutos a 2000rpm. O sedimento é utilizado para
preparar dois esfregaços, um corado por Gram e outro por Kinyoun e semear:
o GS – Incubação a 37ºC, 5%CO2, 72h, com observação diária,
o gelose Chocolate + PolyViteX (PVX) – Incubação a 37ºC, 5%CO2, 72h,
com observação diária,
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91
o caldo Coração-Cérebro (BHI) – Incubação a 37ºC, 72h, aerobiose, com
observação diária. Caso apresente turvação, fazer passagem para meio
sólido (GS).
Valorização dos resultados
Normalmente, o LCR para diagnóstico microbiológico, é analisado quando há
desconfiança de meningite ou encefalite, sendo que esta última é principalmente
provocada por agentes virais. Os principais agentes de meningite bacteriana são
Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae e Neisseria meningitidis. Outros
agentes como Streptococcus do grupo B e Listeria monocytogenes são também
comumente observados. A meningite bacteriana não tratada é geralmente fatal, pelo que
o diagnóstico e determinação do agente bacteriano é urgente. Geralmente, bactérias
aeróbias causam esta infeção, mas se existir um abcesso cerebral o agente etiológico pode
ser uma bactéria anaeróbia. (76,79)
Na valorização dos resultados, deve ter-se em conta o exame citoquímico, se é
patológico ou não, nomeadamente a presença de leucócitos. Todas as bactérias presentes
no meio de cultura devem ser identificadas, sendo que o LCR é um líquido estéril, com
posterior realização de TSA. A observação de esfregaço corado é importante, e qualquer
resultado positivo deve ser comunicado ao médico imediatamente.
Outros líquidos orgânicos (pleurais, ascíticos, pericárdicos, sinoviais, bílis)
Procedimento
Os líquidos límpidos devem ser concentrados por centrifugação (15 minutos a
1500 rpm) e as amostras purulentas podem ser inoculadas diretamente nos meios de
cultura. Do sedimento preparar dois esfregaços, corados por Gram e Kinyoun e semear:
o GS – Incubação a 37ºC, aerobiose, 48h, com observação diária;
o MCK (líquido ascítico ou bílis) – Incubação a 37ºC, aerobiose, 48h, com
observação diária;
o BHI – Incubação a 37ºC, aerobiose, 48h, com observação diária (passagem
para os meios sólidos se apresentar turvação),
o PVX (líquido pleural) – Incubação a 37ºC, 5%CO2, 48h.
Se o produto for enviado em meio de transporte adequado para anaeróbios, deve
ser feito exame cultural, com sementeira em SCS e incubação a 37ºC, em anaerobiose, 5
dias, com observação de 48/48h.
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O produto poderá também ser enviado em frasco de hemocultura, mas este deve
ser acompanhado de outra amostra colhida para recipiente esterilizado seco, com tampa
de rosca ou em meio de transporte próprio, de modo a poder ser realizado o exame direto.
Do frasco de hemocultura, são feitas passagens às 48h:
o GS – Incubação a 37ºC, aerobiose, 48h, OD;
o MCK (líquido ascítico ou bílis) – Incubação a 37ºC, aerobiose, 48h, OD;
o VCA e HAE2 (líquido auricular) – Incubação a 37ºC, 5% CO2, 48h, OD;
o HAE2 (liquido pleural) - Incubação a 37ºC, 5% CO2, 48h, OD.
Valorização dos resultados
Uma variedade de fluidos, normalmente estéreis, podem ser colhidos para a
cultura bacteriológica. Tal como no LCR, estes líquidos são estéreis, pelo que quaisquer
microrganismos encontrados devem ser estudados e comunicado ao médico de imediato.
Muitos microrganismos estão associados a infeções nestes locais, incluindo misturas
polimicrobianas de organismos aeróbios e anaeróbios, pelo que a coloração é útil para
identificar os organismos responsáveis pela infeção. (72,76)
A estirpe valorizada é isolada em cultura pura, para posterior identificação e TSA.
4.2.4.6.Pele e tecidos
Exsudado purulento
Procedimento
No caso de amostra colhida com seringa, faz-se exame direto corado com Gram e
Kinyoun.
Para amostra colhida com seringa e amostra em zaragatoa são semeados:
o GS -Incubação a 37ºC, 48h, aerobiose;
o Manitol Salgado (gelose Chapman 2) (MS) - Incubação a 37ºC, 48h,
aerobiose;
o MCK - Incubação a 37ºC, 48h, aerobiose
o BHI - Incubação a 37ºC, 48h, aerobiose, OD e com passagem para CNA,
MCK e MS se apresentar turvação.
o SCS – Incubação a 37ºC, 5 dias, anaerobiose (se for solicitado exame
cultural de anaeróbios)
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93
Valorização dos resultados
Da amostra colhida em zaragatoa não se faz exame direto, porque é difícil obter
uma amostra representativa sem contaminação por organismos colonizadores da
superfície, nomeadamente Staphylococcus coagulase negativos. (76)
Muitos são os agentes bacterianos que podem ser detetados em infeções da pele e
tecido celular subcutâneo, nomeadamente Enterobacteriaceae, Enterococcus spp,
Staphylococcus aureus, entre outros. (72) Como existem muitos organismos envolvidos
na formação de exsudados purulentos, é importante ter em conta o local da infeção, a
história clinica, o tipo de infeção e o tipo de colheita. (72,76)
A estirpe valorizada é isolada em cultura pura, para posterior identificação e TSA.
Exsudado auricular ou ocular
Procedimento
São semeados:
o Os meios anteriores (exsudado purulento);
o HAE2 – Incubação a 37ºC, 5%CO2, 48h;
o Recém-nascido: acrescentar VCA com incubação a 37ºC, 5% CO2, 48h.
Valorização dos resultados
O canal auditivo externo reflete os microrganismos existentes na pele. As infeções
do ouvido externo são normalmente causadas por P.aeruginosa ou S.aureus. Infeções do
ouvido médio são normalmente causadas por S.pneumoniae, H.influenzae (com
crescimento no meio HAE2) e M.catarrhalis. (76)
Os agentes mais comuns de infeção da conjuntiva ocular são S. aureus,
S.pneumoniae, H.influenzae, P. aeruginosa, que causam infeções externas como
conjuntivite ou querarite, infeções das estruturas internas (endoftalmite) e infeções do
sistema lacrimal. No recém-nascido, Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae
(com crescimento no VCA) são agentes de conjuntivite. (72,76)
A estirpe valorizada é isolada em cultura pura, para posterior identificação e TSA.
4.2.4.7.Estudos de colonização
Quando doentes entram no hospital para ser internados, mas nos últimos três
meses tiveram contacto com instituições de saúde, é realizado um estudo para verificar
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se estão colonizados com microrganismos multirresistentes, que são uma preocupação
para os cuidados de saúde, sendo responsáveis por infeções nosocomiais. A deteção de
portadores destas bactérias é importante para a prevenção e seguimento epidemiológico
destas infeções. (76,79)
Para este teste são colhidas duas zaragatoas, uma de exsudado nasal e outra de
exsudado perianal, colocadas em meio de transporte.
Procedimento
A zaragatoa nasal é semeada em meio cromogénico MRSA (Staphylococcus
aureus meticilina-resistentes, do inglês, methicillin-resistant Staphylococcus aureus) e as
zaragatoas perianais são semeadas em MRSA, meio cromogénico VRE (Enterococcus
spp. vancomicina-resistentes, do inglês, vancomycin-resistant Enterococcus) e MCK,
com incubação a 37ºC em aerobiose, durante 48h.
Valorização dos resultados
Para pesquisa das estripes MRSA são valorizadas as colónias rosa; em caso de
dúvida, efetua-se o teste da coagulase para confirmar a identificação de S.aureus. No meio
VRE são valorizadas as colónias roxas (Enterococcus faecium) e colónias verdes
(Enterococcus faecalis), que apresentam resistência adquirida à vancomicina. No MCK,
é valorizada a presença de Acinetobacter spp multirresistentes (colónias beges ou
incolores que não fermentam a lactose). Neste caso, a estirpe valorizada é isolada em
cultura pura para posterior identificação e TSA. (76,79)
4.2.5.Identificação de bactérias
Teste da Catalase
A catalase é uma enzima que catalisa a formação de água e oxigénio, a partir de
peróxido de hidrogénio. A presença ou ausência da atividade desta enzima é um teste
usado para subdividir os vários géneros de cocos GP. A presença da enzima pode ser
verificada através da colocação de uma gota de peróxido de hidrogénio em cima de uma
colónia e observar a formação de bolhas de ar. (72,76)
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Teste da Coagulase
É uma enzima produzida principalmente pelo S.aureus. (72,76) Este teste é usado
na identificação presuntiva desta espécie, diferenciando-a das outras espécies não
produtoras de coagulase, a partir de colónias isoladas.
No laboratório é utilizado um kit, em que o precipitado formado pela junção do
reagente com a colónia, indica a presença da enzima.
Teste da Oxidase
As bactérias que produzem esta enzima apresentam um sistema de transporte de
eletrões e as enzimas atuam como elo final na cadeia de respiração aeróbia transferindo
eletrões para o oxigénio. É utilizado para diferenciar o género Neisseria (oxidase positivo)
de outros cocos GN e para distinguir a família das Enterobacteriáceas (oxidase negativo)
de outros bacilos GN. (72,76) É utilizado um corante que substitui o oxigénio como
aceitador artificial de eletrões, colocado sobre as colónias, que desenvolvem uma cor
azulada caso tenham a atividade da enzima.
Teste da Optoquina
Esta substância inibe o crescimento de Streptococcus pneumoniae. A estirpe em
estudo é inoculada numa placa com meio agar sangue e um disco saturado com optoquina,
colocado no centro do inóculo. Após incubação, durante cerca de 18h, verifica-se a
presença de um halo de inibição do crescimento bacteriano ao redor do disco. (72,76)
4.2.5.1.Identificação de cocos GP
Staphylococcus spp.
São cocos GP que se apresentam normalmente em cacho/tétradas, mas podem
também aparecer como células únicas, pares ou cadeias curtas. São catalase positivos. A
maioria dos Staphylococcus são imóveis, anaeróbios facultativos. Estas bactérias estão
presentes na pele e membranas mucosas e são importantes patogéneos na medida em que
causam um amplo espectro de doenças sistémicas, da pele, intoxicações alimentares,
tecidos, trato urinário e infeções oportunistas. Os Staphylococcus crescem rapidamente
em meios não seletivos com sangue de carneiro, apresentando colónias grandes e lisas e
brilhantes, com cor entre o branco e o amarelo, produzindo hemólise; os meios seletivos
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como o manitol-salgado, podem ser usados para isolar S.aureus (a espécie fermenta o
manitol, mas não a maioria das outras espécies). (72,76,79)
As estirpes MRSA produzem infeções graves em pacientes hospitalizados e são
identificados no laboratório através do uso de um meio cromogéneo específico
(valorização de colónias rosa).
O teste da coagulase é usado para distinguir e identificar a espécie S.aureus
(coagulase positivo) dos Staphylococcus coagulase negativos. Estes últimos são
identificados através de cartas VITEK para Gram positivos (carta GP).
Streptococcus spp.
Apresentam-se aos pares ou em cadeiras. A maioria das espécies é anaeróbia
facultativa e algumas só crescem em atmosfera enriquecida de CO2. São catalase
negativos, o que os distingue do género Staphylococcus. (72,76,79)
A identificação das espécies dentro deste género é complicada, pelo que se
utilizam as propriedades serológicas-Grupos de Lancefield- que diferencia as estirpes de
Streptococcus β-hemolíticos, padrões de hemólise e propriedades bioquímicas. A maioria
dos β-hemolíticos e algumas espécies α-hemolíticas possuem antigénios específicos, que
podem ser identificados por ensaios imunológicos como o Streptococcus pyogenes (grupo
A), causador de faringite e amigadalite bacteriana. Este género é responsável por casos
de faringite, infeções da pele, síndrome do choque tóxico estreptocócico, pneumonia,
doença neonatal, meningite, entre outras. S. pneumoniae são diplococos Gram positivos
com aspeto lanceolado, que podem ser identificados através da prova da optoquina
sensível ou através da deteção de antigénio. No exame corado por Gram, a presença de
GP aos pares e cadeias em associação com leucócitos é um achado importante. Em
cultura, o seu crescimento é ótimo em agar sangue, em que são observadas colónias
transparentes ou translúcidas, lisas, com formação de hemólise. (72,76,79)
É utilizado um meio cromogéneo são utilizados para a deteção de S.agalactiae
(Grupo B), que não necessita de carta para identificação.
Teste rápido para S.pneumonia
Consiste num teste imunocromatográfico para a deteção do antigénio de S.
pneumoniae na urina de pacientes com pneumonia e LCR de pacientes com meningite.
(84) A doença pneumocócica ocorre quando a bactéria que coloniza a nasofaringe e
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orofaringe se espalha para os pulmões, seios paranasais, orelha ou meninges. S.
pneumoniae constitui a causa principal de pneumonia adquirida na comunidade, tendo
uma taxa de mortalidade elevada, dependendo da idade e outras infeções associadas. A
meningite provocada por esta bactéria, leva a danos cerebrais permanentes ou morte e
pode ocorrer ou não, como complicação. (76,84)
Uma zaragatoa molhada na amostra de urina ou LCR é inserida no cartão de
teste, ao qual se adiciona um reagente. De seguida o cartão é fechado, de modo a colocar
a amostra em contacto com a tira de teste. O antigénio presente na amostra reage com o
conjugado e estes complexos são capturados pelo anticorpo imobilizado na tira teste,
originando a formação de uma linha nesta zona. O resultado é lido após 15 minutos,
através da presença ou ausência da linha de teste. A linha controlo deverá ser observada,
para validar o resultado. (84)
Teste rápido para Streptococcus do grupo A
Realiza a deteção qualitativa de antigénios de Streptococcus β-hemolíticos do
grupo A, em zaragatoas faríngeas, que são a causa principal de infeções do trato
respiratório superior, como amigdalite e faringite. (76,85)
O antigénio é extraído da zaragatoa usando os reagentes do kit e esta solução é
adicionada ao poço de amostragem da cassete. O antigénio reage com o conjugado para
formar complexos, que se deslocam cromatograficamente através da membrana em
direção ao anticorpo imobilizado na linha de teste. Caso o antigénio esteja presente,
forma-se uma sanduíche (anticorpo/antigénio/conjugado) e é visível uma linha colorida.
Deve também ser visível uma linha de controlo para se poder validar o resultado. (85)
Enterococcus spp.
São cocos GP dispostos em cadeias curtas ou aos pares, com morfologia idêntica
aos S.pneumoniae. Uma forma de os distinguir é utilizando o teste da optoquina
(S.pneumoniae é sensível, os enterococos são resistentes). São catalase negativos e
crescem tanto em aerobiose como em anaerobiose. Crescem em meios comuns e não
seletivos, nomeadamente no meio com agar sangue de carneiro, apresentando colónias
com α, β ou ausência de hemólise, de cor branca ou acinzentada. São responsáveis por
bacterémia, endocardite, infeções do trato urinário e feridas, assim como infeções
nosocomiais. Algumas estirpes apresentam já resistência múltipla aos antibióticos
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(vancomicina). Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium são as espécies mais
importantes e mais frequentemente isoladas, colonizadoras do trato intestinal que se
podem disseminar para outras superfícies mucosas. (72,76,79)
No laboratório é utilizado um meio cromogéneo seletivo, destinado à deteção de
Enterococcus faecium e E.faecalis nos doentes de risco que apresentam uma resistência
adquirida à vancomicina. E.faecium apresenta colónias violeta e E.faecalis apresenta
colónias verdes. A identificação das colónias isoladas em meios não cromogéneos é
realizada através de cartas VITEK para Gram positivos (carta GP).
4.2.5.2.Identificação de bacilos GN
Enterobacteriáceas
A família das Enterobacteriáceas é composta por dezenas de géneros de bacilos
GN. A maioria destes organismos são ubiquitários, habitando no aparelho gastrointestinal
humano e de outros animais e no meio ambiente. São responsáveis por bacterémias,
infeções do trato urinário e gastrointestinais, entre outras patologias e estão associados a
infeções nosocomiais. Os membros desta família podem ser ou não, móveis com flagelo
ou produtores de esporos. No exame direto apresentam-se como cocobacilos ou bacilos
retos, com extremidades arredondadas. Podem ser anaeróbios ou aeróbios facultativos.
São catalase positiva e oxidase negativa e podem crescer numa variedade e meios
seletivos e não seletivos. As características das colónias em diferentes meios são usadas
para distinguir membros da família. Por exemplo, Escherichia e Klebsiella são
fermementadoras da lactose, visível pela mudança de cor no meio agar MCK, ao contrário
de Proteus, Salmonella, Shigella e Yersinia (colónias incolores). (72,76,79)
Nas cropoculturas são usados meios seletivos, como o meio Hektoen que permite
pesquisar Salmonella e Shigella. A identificação das colónias isoladas destas bactérias
realiza-se através das cartas VITEK GN.
Caso o género Salmonella spp. seja identificado, é feito um teste de aglutinação
com soro polivalente para fazer a distinção entre “Typhi” e “não-Typhi” e é
posteriormente enviado para o laboratório central para identificação do serotipo.
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Campylobacter
O género Campylobacter consiste em bacilos GN pequenos, móveis, em forma de
“S”. São catalase e oxidase positivos. A maioria das espécies necessitam de atmosfera
reduzida de oxigénio (microaerofilia) e a cultura requer o uso de um meio seletivo com
vários dias de incubação. As espécies mais comumente isoladas são Campylobacter jejuni
e Campylobacter coli, responsáveis por gastroenterites e septicémias. (76,79)
No laboratório, é utilizado o meio CAM. Neste meio, as colónias são não
hemolíticas, achatadas, acinzentadas e irregulares. Caso estas colónias estejam presentes,
é realizado um esfregaço corado com fucsina durante 10 segundos, para observação das
formas espiraladas. A identificação das colónias através do sistema automatizado não é
realizada no laboratório; caso se verifique crescimento de colónias características, a placa
é enviada para o laboratório central.
Pseudomonas spp.
Organismos oportunistas, associados a infeções nosocomiais, em que a
P.aeruginosa é a espécie mais importante. São bacilos GN, pequenos, oxidase positivo,
normalmente dispostos aos pares, não fermentadores da lactose. São aeróbios com
necessidades nutricionais simples, crescendo em meios usuais como CLED, agar sangue
e MCK. A sua morfologia em colónia, pigmentação, odor, tamanho, e alguns testes
bioquímicos como a oxidase são suficientes para a sua identificação preliminar.
Provocam patologias como infeções do trato respiratório, urinário, pele e tecidos, ouvido
e olhos, assim como bacterémia e endocardite e são resistentes a muitos antibióticos
(produtoras de β-lactamases). (72,76,79)
A identificação das colónias isoladas realiza-se através das cartas VITEK GN.
Vibrio spp.
Bacilos GN com morfologia curva, anaeróbios facultativos, fermentadores. Ao
contrário das Enterobacteriáceas, são oxidase positivos. A espécie mais importante que
causa doença em humanos é o Vibrio cholerae, que origina gastroenterite e bacterémia.
São diagnosticados através da microscopia e cultura de fezes, podendo crescer numa
variedade de meios simples como agar sangue e MCK (não fermentadores da lactose).
(72,76,79)
As colónias isoladas são identificadas no sistema VITEK.
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4.2.5.3.Identificação de cocobacilos GN
Haemophilus spp.
São bacilos GN pequenos ou cocobacilos, anaeróbios facultativos. As espécies
deste género fazem parte da flora habitual do aparelho respiratório superior humano e dos
animais. A maior parte necessita de exigências nutricionais fastidiosas. Haemophilus
influenzae, a espécie mais comum, é responsável por quadros de meningite, epiglotite,
pericardite e pneumonia principalmente em crianças. Podem ser identificados em
microscopia e a cultura é realizada em agar chocolate. Podem ter reação variável nos
testes da oxidase e catalase. (72,76,79)
A sua identificação é feita através de um Api-NH.
Moraxella spp.
Agente mais comum é a Moraxella catarrhalis, que causa infeções pulmonares
na comunidade, estando também descritos casos de endocardite e meningite. São
diplococos GN, aeróbios, oxidade e catalase positivos. O seu isolamento faz-se em gelose
chocolate em atmosfera de CO2. A maioria dos isolados produz β-lactamases e são
resistentes às penicilinas. (72,79)
A sua identificação é feita através de um Api-NH.
Neisseria spp.
São diplococos GN, fastidiosos, em pares ou cadeias curtas. Crescem melhor em
atmosfera suplementada com CO2 (capnofilia). São oxalase e catalase positivas. O género
Neisseria é composto por várias espécies, sendo duas delas organismos patogénicos
estritos em humanos, Neisseria gonorrhoeae e Neisseria meningitidis, A primeira é
responsável por uma doença transmitida sexualmente (gonorreia) e a segunda é a segunda
maior causadora de meningite em adultos, sendo este género responsável também por
outro tipo de patologias, nomeadamente conjuntivite, faringite, uretrite. A coloração de
Gram assiste no diagnóstico, mas a cultura é sensível e específica. Estas espécies crescem
em agar chocolate ou meios seletivos com o VCA. (72,76,79)
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API®NH
Corresponde a um sistema padronizado para identificação de Neisseria,
Haemophilus e Moraxella catarrhalis. Estas bactérias apresentam exigências nutritivas e
são cultivadas em gelose chocolate em atmosfera enriquecida em CO2.
A galeria de identificação é composta por microtubos, que efetuam testes de
identificação (reações enzimáticas ou fermentações de açúcares). Durante o período de
incubação, ocorrem mudanças de cor espontâneas ou que são reveladas através da adição
de reagentes. (86)
Procedimento
É necessário um inóculo ajustado a 4 de McFarland, pelo que se efetua uma
suspensão com as colónias a estudar. A partir da suspensão, enchem-se os poços da
galeria de identificação e é adicionada parafina aos poços indicados. A galeria é fechada
numa caixa e incubada a 37ºC em aerobiose. Para observar os resultados, é necessário ler
as reações espontâneas, em que pode ser necessário adicionar reagentes. Através da
atribuição de (+) ou (-), consoante as cores obtidas em cada reação, obtém-se um perfil
numérico, que corresponde a uma identificação na lista do folheto informativo. (Ex: o
perfil numérico 1001 corresponde a Neisseria gonorrhoeae). (86)
Acinetobacter spp.
Grupo de bacilos GN, aeróbios estritos, oxidase positiva, não fermentativos, que
como as Pseudomonas, utilizam carbohidratos, álcoois e aminoácidos como fontes de
energia. Acinetobacter baumanni é a espécie mais comum e são responsáveis por infeções
nosocomiais (infeções urinárias, respiratórias, bacterémia, feridas e tecidos). No Gram
apresentam-se como cocobacilos. Crescem em meios culturais como MCK e GS.
(72,76,79)
As colónias isoladas são identificadas usando cartas VITEK.
Género Legionella
Bacilos GN finos ou cocobacilos curtos, pleomórficos. São nutricionalmente
fastidiosos e são difíceis de corar por Gram. Causam infeções hospitalares e são
responsáveis pela doença dos legionários (pneumonia severa) e febre de Pontiac
(semelhante à gripe). O teste de diagnostico de escolha requer o uso de meios de cultura
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com L-cisteína e sais de ferro. Os imunoensaios são utilizados para detetar antigénios
específicos do sorotipo 1 de Legionella excretados na urina de pacientes infetados.
(76,79)
Teste rápido para Legionella
Teste rápido imunocromatográfico para a deteção qualitativa do antigénio de
Legionella pneumophila (serogrupo 1), em urina de pacientes com sintomas de
pneumonia. Esta patologia é caracterizada por pneumonia grave com quadro febril, que
pode ser fatal. (76,87)
O procedimento passa por molhar uma zaragatoa na amostra de urina e inseri-la
no cartão de teste. É adicionado um reagente e o cartão é fechado, de modo a colocar a
amostra em contacto com a tira de teste com os anticorpos. O resultado é interpretado
após 15 minutos, através da presença ou ausência das linhas de teste. A linha de controlo
também deverá ser observada. (87)
Género Brucella
Composto por organismos zoonóticos que ocasionalmente causam doença em
seres humanos. São cocobacilos GN muito pequenos, oxidase positivos, aeróbios, que
requerem incubação prolongada, podendo crescer em meios de cultura enriquecidos com
sangue. A brucelose pode ser difícil diagnosticar porque tem sintomas iniciais não
específicos e pode progredir para envolvimento sistémico (trato gastrointestinal, ossos,
articulações, trato respiratório e outros órgãos). A serologia é utilizada para confirmação
do diagnóstico. (72,76)
No laboratório, é utilizado um teste de aglutinação em carta (Antigénio Rosa
Bengala) para a confirmação serológica do género Brucella em amostras de soro. Num
dos círculos de uma carta, é colocado antigénio homogeneizado e amostra a testar,
misturando e agitando a carta durante 4 minutos. No caso de uma reação positiva, é
verificada aglutinação, indicando a presença de anticorpos específicos no soro testado.
(88)
4.2.5.4.Identificação de bacilos GP
Género Clostridium
São organismos ubiquitários e fazem farte da flora gastrointestinal. A maioria é
saprófita, mas alguns provocam patologias como diarreias, colite, tétano, septicémias.
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São bacilos GP grandes, móveis ou não, produtores ou não de toxinas. As espécies mais
isoladas são C.perfringens e C.difficile, causadores de patologias gastrointestinais. Estes
organismos podem ser identificados microscopicamente e crescem rapidamente em meios
de cultura usuais. (76,79)
No laboratório está disponível um teste rápido que consiste num ensaio
imunoenzimático para a deteção simultânea do antigénio glutamato desidrogenase (para
avaliar a presença da bactéria) e das toxinas A e B do Clostridium difficile em amostras
de fezes. (83)
Caso este teste tenha um resultado duvidoso, é utilizado o aparelho GenomEra
CDX™ system, que realiza um teste de PCR para identificar a presença de Clostridium
difficile toxinogénico numa amostra de fezes. Este teste deteta de forma rápida e
específica o gene tcdB, que codifica a toxina B. (75)
Género Bacillus
São bacilos GP, longos e finos, isolados ou em cadeia. São aeróbios e anaeróbios
facultativos, formadores de esporos e toxinas. O Bacillus cereus é a espécie mais isolada,
que provoca gastroenterites, infeções oculares, sepsis e doença pulmonar. Estas espécies
crescem rapidamente e são facilmente detetadas pela coloração de Gram. (76,79)
Género Listeria
A espécie mais comum é a L.monocytogenes, presentes na flora intestinal do
homem e na flora comensal de outros animais e no ambiente. São bacilos GP, móveis à
temperatura ambiente, anaeróbios facultativos, que podem ocorrer isolados, em pares ou
em cadeia curta. São catalase positiva. A microsocopia não é sensível, pois podem ser
confundidos com S. pneumoniae e Enterococcus. Quando cultivado em placa de agar
sangue de carneiro apresenta β-hemólise fraca. Esta espécie é causadora de meningite,
doenças neonatais e sépsis. Causa infeções mais frequentemente na mulher grávida,
recém-nascidos e imunocomprometidos. (72,76,79)
4.2.5.5.Género Mycobacterium
Este género consiste em bacilos aeróbios, imóveis, não formadores de esporos.
São bactérias muito fastidiosas e crescem muito lentamente, sendo a cultura ainda o
método de referência para o diagnóstico de infeções provocadas por este organismo. M.
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tuberculosis será a espécie patogénica mais conhecida, responsável não só, mas
principalmente por infeção pulmonar grave. A parede celular é rica em lípidos, o que
torna a superfície hidrofóbica e a micobactéria resistente a várias colorações comuns de
laboratório, como Gram. (76,79)
Para a pesquisa deste género de bactérias é realizado exame direto corado com
Kinyon, em que as amostras podem ser variadas (expetoração, urina, LBA, etc.).
Amostras com pedido de exame cultural são enviadas para fora.
4.2.6.Testes de suscetibilidade aos antibióticos
São utilizadas cartas diferentes de TSA para:
• Staphylococcus spp.
• Enterococcus spp. e Streptococcus agalactiae
• Streptococcus spp.
• Bacilos GN
• Bacilos GN nas urinas
• Pseudomonas spp.
Os antibióticos testados em cada carta VITEK encontram-se na tabela 11.
Tabela 11(a). Cartas VITEK e antibióticos testados.
Staphylococcus
spp
AST-P648
Ácido fusídico, Eritromicina, Fosfomicina, Gentamicina, Linezolida,
Oxacilina, Tigeciclina, Rifampicina, Teicoplanina, Tetraciclina,
Daptomicina, Trimetoprim-sulfametoxazol, Vancomicina,
Benzilpenicilina, Cefoxitina Screen, Levofloxacina, Clindamicina,
Moxifloxacina, Mupirocina, Nitrofurantoína
Enterococcus
spp;
Streptococcus
agalactiae
AST-P586
Clindamicina, Eritromicina, Gentamicina 500, Imipenemo,
Levofloxacina, Linezolida, Moxifloxacina, Nitrofurantoína,
Quinopristina-dalfopristina, Estreptomicina 1000, Teicoplanina,
Tetraciclina, Trimetoprim-sulfametoxazol, Vancomicina,
Amipicilina/Sulbactam, Ampicilina, Benzilpenicilina, Cefuroxime,
Tigeciclina
Streptococcus
pneumoniae;
Streptococcus
pyogenes;
outros
Streptococcus
AST-ST01
Ampicilina, Benzilpenicilina, Cefotaxima, Ceftriaxona, Clindamicina,
Eritromicina, Levofloxacilina, Linezolide, Tetraciclina, Trimetoprim-
sulfametoxazol, Vancomicina, Resistência induzida à Clindamicina
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Tabela 11(b). Cartas VITEK e antibióticos testados.
Bacilos GN
fermentativos
(outros
produtos)
AST-N355
Amoxicilina-ácido clavulânico, Ampicilina, Cefalotina, Ciprofloxacina,
Gentamicina, Nitrofurantoína, Tobramicina, Amicacina, Cefotaxima,
Ceftazidima, Cefuroxima, Levofloxacina, Meropenem, Ertapenem,
Trimetoprim-sulfametoxazol, Piperacilina/tazobactam, ESBL
Bacilos GN
fermentativos
(urinas)
AST-359
Amicacina, Amoxicilina-ácido clavulânico, Ampicilina, Cefalotina,
Cefepime, Cefotaxima, Cefoxitina, Ceftazidima, Cefuroxima,
Ciprofloxacina, Ertapenem, Fosfomicina, Gentamicina, Imipenem, Ácido
Nalidixico, Nitrofurantoína, Tobramicina, Trimetoprim-sulfametoxazol,
ESBL
Pseudomonas AST-N222
Amicacina, Aztreonam, Cefepima, Ceftazidima, Ciprofloxacina,
Gentamicina, Imipenem, Pefloxacina, Piperacilina, Piperacilina-
tazobactam, Ticarcilina, Ticarcilina-Ácido clavulânico, Trimetoprim-
sulfametoxazol, Colistina, Meropenem, Rifampicina, Tobramicina,
Minociclina
No caso dos géneros Haemophilus, Moraxella e Neisseria, as colónias isoladas
são enviadas para o laboratório central para se proceder à realização de um antibiograma.
O TSA de organismos anaeróbios também não é realizado no laboratório.
4.3.Micologia
A micologia representa um grupo diversificado de organismos, cujo papel
principal é degradar a matéria orgânica. Os fungos podem ser saprófitas, simbiontes,
comensais e parasitas. São organismos eucariotas com parede celular rígida, unicelulares
ou pluricelulares. Nas últimas décadas têm crescido em importância clínica, sendo
responsáveis por patologias humanas, com especial importância nos
imunocomprometidos ou hospitalizados. O espectro das doenças fúngicas abrange desde
infeções cutâneas superficiais, a processos altamente invasivos associados a patogéneos
sistémicos clássicos e oportunistas. (76,79)
A taxonomia clássica dos fungos baseia-se na morfologia e no modo de produção
de esporos. Da maneira mais simples e baseada na morfologia, podem dividir-se em
leveduras ou fungos filamentosos. As leveduras são normalmente unicelulares, dividem-
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se por gemulação e as células-filhas podem alongar-se e produzir pseudo-hifas. No meio
de cultura produzem colónias arredondadas e mucóides. Os fungos filamentosos são
multicelulares e são formados por hifas, que podem ser septadas ou cenocíticas. As
colónias formadas por estes fungos são normalmente filamentosas ou algodoadas. Muitos
fungos clinicamente importantes são dimórficos, podendo existir na forma de levedura
ou fungo filamentoso. (76,77,79)
No geral as infeções fúngicas dividem-se nas seguintes categorias: as infeções
sistémicas normalmente começam no trato respiratório e disseminam para outros órgãos.
As micoses subcutâneas são frequentemente secundárias a trauma cutâneo e raramente
disseminam. As micoses superficiais estão confinadas às camadas ceratinosas da pele,
unhas e cabelo. Existem ainda as micoses oportunistas, normalmente em pacientes
imunocomprometidos. (76,77,79)
O tipo de micose e amostra biológica podem ajudar no diagnóstico porque existem
localizações preferenciais dos fungos e, assim, pode-se orientar a pesquisa para
determinado género ou espécie. (76,79)
4.3.1.Meios de cultura
Os meios de cultura para diagnóstico micológico devem permitir o crescimento
da maioria dos fungos de interesse clinico, inibindo a flora bacteriana. O meio não
seletivo permite o crescimento de leveduras e fungos filamentosos que crescem
rapidamente, como também os fungos mais exigentes de crescimento mais lento. Os
fungos crescem em muitos meios utilizados para bactérias, mas normalmente, o
crescimento é mais lento e um meio mais enriquecido, como o agar Sabouraud é
recomendado. (76)
Os meios de cultura usados na Micologia e as suas características estão
representados na tabela 12.
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Tabela 12. Características dos meios de cultura usados na Micologia. (76)
Meios de cultura Caraterísticas
Gelose Sabouraud Meio não seletivo para isolamento de
fungos. Incubação a 30ºC. Peptonas e
glucose, bem como o pH ligeiramente
ácido, favorece o seu desenvolvimento.
Gelose Sabouraud Cloranfenicol 2 Meio seletivo para cultura de fungos em
amostras polimicrobianas. Cloranfenicol
inibe o crescimento bacteriano.
Gelose Sabouraud Cloranfenicol
Actidiona
Cultura seletiva de dermatófitos.
Cloranfenicol inibe o crescimento
bacteriano. Actidiona inibe algumas
espécies de leveduras e fungos
filamentosos.
4.3.2.Procedimentos para diagnóstico micológico
4.3.2.1. Exame direto
O exame microscópico é importante no diagnóstico micológico, numa situação de
emergência e quando os agentes infeciosos não podem ser cultivados. A deteção
microscópica das leveduras ou hifas pode ser efetuada em menos de uma hora. Nalguns
casos, o fungo pode mesmo ser identificado desta forma devido à sua morfologia distinta.
Deste modo, a observação do fungo na amostra tem grande valor diagnóstico porque
demonstra a invasão do fungo no tecido e permite uma resposta rápida para que seja
determinada a melhor terapia para o doente. No laboratório são utilizadas as preparações
coradas usadas na bacteriologia, nomeadamente a coloração de Gram. No caso das
colheitas das mucosas (digestivas, genitais), amostras de expetoração e urinas, esta
coloração é suficiente para deteção das leveduras. Quando se tratam de amostras mais
profundas, onde as leveduras e filamentos podem ser raros, os elementos fúngicos são
mais difíceis de detetar e o Gram pode não ser suficiente. (76,79)
Dependendo da amostra em que foi também pedido exame micológico, esta pode
ter uma lâmina Gram associada ao exame bacteriológico. Neste caso, caso se verifique a
presença de fungos na lâmina, como por exemplo, a presença de leveduras no exsudado
vaginal, deve ser indicado na folha de trabalho. O mesmo acontece para o exame a fresco
do sedimento urinário.
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108
4.3.2.2.Exame cultural
A obtenção do fungo em cultura é o procedimento de eleição pois permite
diagnosticar a micose, mesmo que o exame direto seja negativo, e caso seja positivo,
confirma esse resultado. Ainda que a aparência morfológica de uma Candida possa levar
ao diagnóstico do tipo de infeção, a espécie atual do fungo permanece desconhecida sem
realização de cultura. (76,79)
Para além do exame bacteriológico (mais comum no laboratório), o pedido médico
pode incluir diagnóstico micológico. Neste caso, é realizada sementeira em meio
Sabouraud, com incubação a 30ºC durante 48h- 5 dias (dependendo se a amostra é mais
ou menos profunda) em aerobiose, com observação diária.
A sementeira realiza-se da mesma forma que a sementeira dos meios para cultura
bacteriana. No caso do LBA e LCR, a amostra deve ser centrifugada e o sedimento usado
para a inoculação do meio. Os fragmentos de unhas devem ser cortados em pedaços antes
da sementeira. No caso de se verificar crescimento de leveduras no exame bacteriológico
em meio CLED, estas devem ser repicadas para Sabouraud, para posterior identificação.
Na análise das hemoculturas, o procedimento é idêntico ao da bacteriologia, sendo
que o aparelho BacT/ALERT 3D também faz deteção de fungos. As Candidas só crescem
no frasco de aerobiose. Os líquidos límpidos devem ser concentrados por centrifugação,
enquanto as amostras purulentas podem ser inoculadas diretamente no meio de cultura.
Líquidos orgânicos estéreis como líquido pleural, ascítico, pericárdico, sinovial, bílis
também podem ser enviados em frasco de hemocultura e este caso, é feita passagem para
Sabouraud após 48h de incubação do aparelho e é realizado um exame corado com Gram.
Exame cultural para pesquisa de dermatófitos
O termo dermatofitose refere-se a doenças causadas por quaisquer das várias
espécies de fungos filamentosos taxonomicamente relacionados com os géneros
Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton. Estes fungos são conhecidos como
dermatófitos. Todos têm a capacidade de invadir a pele, pelos ou unhas. Nas infeções da
pele, os dermatófitos invadem só a camada exterior. As várias formas de dermatofitose
são classificadas de acordo com o local anatómico e são comumente chamadas de “tinha”
(por exemplo, tinha dor couro cabeludo). (76,79)
Para este exame são colhidos cabelos, unhas, escamas de pele, consoante a
situação clínica e colhidos de acordo com os procedimentos referidos no início deste
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relatório e é realizada uma sementeira em dois meios de cultura em tubo: Sabouraud com
clorofenicol e Sabouraud com clorofenicol e actidiona. A incubação é feita até 30 dias, a
30ºC, em atmosfera de aerobiose, com visualização semanal. Se ocorrer crescimento,
procede-se à identificação. Estes meios são em tubo, pelo que a sementeira é feita
utilizando uma ansa que é molhada na superfície do meio, de seguida, com a ansa molhada
são adicionados pedaços da amostra a analisar na rampa do meio de cultura. As tampas
não devem ficar completamente fechadas pois os fungos são organismos aeróbios.
Micoses mais frequentes
A localização das micoses mais frequentes e alguns organismos relacionados
encontram-se na tabela 13.
Tabela 13. Localizações das micoses mais frequentes. Adaptado de (76).
4.3.3.Identificação de fungos e leveduras
Os meios Sabouraud com crescimento são enviados para o laboratório central,
após isolamento das colónias, porque o laboratório não possui cartas VITEK ou outros
meios para identificar estes microrganismos. Desta forma, a identificação dos fungos e
leveduras, bem como procedimentos posteriores como suscetibilidade a antifúngicos são
realizados no laboratório central do grupo.
Muitas vezes é difícil identificar o género e espécie, pelo que nestes casos,
identificar o grupo de fungos (levedura, dermatófitos, zigomicete…) é suficiente. É
Dermatófitos H.
capsulatum
P.
brasiliensis
S.
schenckii
Aspergillus
spp.
Candida
spp.
C.
neoformans Zigomicetes
Trato
urinário X X X X
Mucosas X X X
Sangue X X X X X X X
Trato
respiratório X X X X X X
LCR X X X X
Pele e unhas X X
Pelo X
Olho X X X X
Ouvido X X X
Tecido
subcutâneo X X X X
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importante referir que o isolamento de um fungo em cultura não significa que ele é o
agente da infeção (Candida spp. na flora normal ou Aspergillus spp. no meio ambiente).
No entanto, em casos específicos como pacientes imunodeprimidos, micose cutânea,
amostras com exame microscópico positivo, devem ser valorizados. (76,79)
Identificação de Leveduras
A morfologia das leveduras não apresenta muita diversidade, o que não ajuda por
si só à sua identificação. As leveduras aparecem nos meios padrão de isolamento como
colónias lisas, mais ou menos cremosas ou mucóides, a maioria de cor branca. O exame
microscópico permite a observação de elementos unicelulares, redondos ou ovais, com
gemulação. Certas características macroscópicas, sobretudo o pigmento, permitem, por
vezes, orientar a identificação para o género (Rhodotorula) ou espécie. Se a levedura
apresenta pseudohifas, é sugestivo do género Candida. No entanto, na maioria dos casos
é necessário e importante recorrer a outros testes como perfis de assimilação de fontes de
carbono ou presença de certas enzimas para confirmar a identificação. As colónias de
leveduras obtidas só devem ser identificadas quando estiverem em cultura pura. (76,77)
Devem ser identificadas todas as leveduras isoladas quando presentes em amostras
de doentes de alto risco ou em não imunocomprometidos quando as colheitas provêm de
locais fechados ou normalmente estéreis, ou quando se identifica um fungo num local
pouco comum. (76)
As principais leveduras de interesse clínico são Candida spp., Malassezia furfur,
Rhodotorula rubra, Trichosporon spp., Cryptococcus neoformans e Saccharomyces
cerevisiae. (76,79)
Identificação de Fungos Filamentosos
Macroscopicamente, são fáceis de reconhecer face às leveduras, devido ao seu
aspeto penugento, associado ao desenvolvimento aéreo do micélio. Fatores como a
origem da colheita, tempo de crescimento das colónias, aspeto e coloração, características
microscópicas e provas bioquímicas permitem orientar a identificação, sendo que poderá
tratar-se de um bolor, um dermatófito ou um fungo dimórfico. Os fungos devem ser
identificados dependendo do contexto clínico, da colheita e da abundância de colónias. À
semelhança das leveduras, devem ser sempre valorizados em doentes imunodeprimidos
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e imunocompetentes em colheitas mais internas. Muitos são os fungos de interesse
clínico, com especial interesse para Aspergillus spp. e zigomicetes.
No caso dos dermatófitos devem ser sempre identificados, pois são sempre
parasitas, pelo que mesmo isolado em pequena quantidade, será a causa das lesões
observadas. Como já foi referido, os dermatófitos são fungos filamentosos pertencentes
aos géneros Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton. (76,79)
Por outro lado, os fungos dimórficos, fungos filamentosos que podem, sob
determinadas condições, assumir forma de levedura, normalmente possuem uma
repartição geográfica particular, sendo pouco frequentes na Europa. Normalmente, o
isolamento destes fungos deve-se a pesquisa dirigida, devido a uma desconfiança do
clínico. Estes fungos são de cultivo muito lento. A identificação é feita pela comprovação
do dimorfismo e pelo aspeto microscópico característico de cada fase. Os fungos
dimórficos de principal interesse são Blastomyces dermatitidis, Histoplasma capsulatum,
Paracoccidioides brasiliensis, Coccidioides immitis, Sporotrix schenkii e Penicillium
marneffei. (76,79)
4.4.Parasitologia
A parasitologia médica inclui o estudo de três grandes grupos: protozoários,
helmintas e artrópodes que atuam como vetores de vários agentes patogénicos. Os
parasitas podem ser obrigatórios (não sobrevivem fora do hospedeiro), facultativos,
acidentais (como a ingestão acidental de larvas). Podem causar ou não danos no
hospedeiro. Os parasitas são quase todos exógenos, pelo que a entrada no hospedeiro
ocorre através de ingestão ou penetração nas barreiras anatómicas. (76,79)
As doenças parasitárias constituem problemas para a saúde humana (por exemplo,
cerca de 30% da população mundial está infetada com Ascaris lumbricoides),
principalmente com o aumento de outras patologias como a síndrome da
imunodeficiência adquirida (SIDA). Particularmente em áreas com más práticas de
higiene, os parasitas estão entre as maiores causas de doença e morte. Pessoas que vivem
em países desenvolvidos podem adquirir estas doenças viajando para países de risco.
(76,77,79)
Estes organismos normalmente passam por vários estadios de desenvolvimento
durante a vida, que envolve mudanças não só na estrutura, mas também na composição
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bioquímica e antigénica. Muitas infeções parasitárias são transmitidas pelos animais
(infeções zoonóticas), em que a doença humana pode ou não assemelhar-se à doença
causada no animal e podem passar de condições assintomáticas para patologias
potencialmente fatais. Deste modo, a compreensão das caraterísticas da infeção
parasitária (faixa geográfica, epidemiologia, ciclo de vida, doença clínica) e o uso de
procedimentos diagnósticos adequados, tornam-se muito importantes, bem como
reconhecer as limitações da informação fornecida ao médico. O exame direto do material
clínico é usualmente o melhor método para o diagnóstico parasitológico, mas outros
métodos como a serologia ou biologia molecular também podem ser utilizados.
(76,77,79)
4.4.1Procedimentos para diagnóstico parasitológico
4.4.1.1.Aparelho genital
Um dos agentes etiológicos das secreções vaginais é a Trichomonas vaginalis, que
provoca doença urogenital comum em mulheres. Nos homens, é geralmente
assintomática. Nas mulheres pode provocar vaginite, descargas com mau odor, pequenas
lesões e micção dolorosa. Este parasita é um protozoário flagelado com uma única forma
de trofozoíto, que se divide por fissão binária no trato urogenital, podendo ser transmitido
de pessoa para pessoa. (76,79)
Para a pesquisa deste parasita é utilizada uma colheita de exsudado vaginal com
zaragatoa seca colocado em meio de enriquecimento seletivo para Trichomonas, que
consiste num meio líquido rico em nutrientes que oferece as condições de crescimento
ideais para o parasita. Este meio é colocado na estufa a 37ºC e após 48h, é realizado
exame a fresco.
4.4.1.2.Aparelho gastrointestinal
No laboratório é comum a pesquisa de parasitas nas fezes. Normalmente, são
colhidas três amostras de fezes em dias diferentes, de modo a aumentar a probabilidade
de encontrar o parasita. Os protozoários intestinais podem ser flagelados (Giardia
lamblia), ciliados (Balantidium coli), amibas ou coccídeos. Em todos estes podem
observar-se quistos ou trofozoítos. Os helmintas intestinais podem ser tremátodos
(observação de ovos), nemátodos (observação de ovos ou larva no caso de Strongyloides
stercoralis) ou céstodos (observação de ovos ou proglótis de Taenia). (76,77)
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113
É utilizado um kit, em que se recolhe uma pequena amostra de fezes para um tubo
em que é adicionado reagente. O tubo contem um sistema de filtro integrado, que realiza
a separação dos parasitas. A mistura é centrifugada 5 minutos a 1500g, e obtém-se o
concentrado de parasitas que é suspendido em solução salina fisiológica. (89)
Para a realização do diagnóstico, são colocadas duas gotas de concentrado de fezes
por lâmina. É também realizado exame a fresco da amostra utilizando soro fisiológico.
Na tabela 14 encontram-se os parasitas possíveis de identificação em amostras de fezes.
Durante o estágio, nenhum parasita foi observado.
Tabela 14. Parasitas possíveis de observação em amostras de fezes. Adaptado de (76).
Protozoários intestinais flagelados Giardia lamblia
Protozoários intestinais ciliados Balantidium coli
Protozoários intestinais: Amibas Entamoeba histolytica
Entamoeba coli
Iodamoeba butschlii
Protozoários intestinais: Coccídeos Cryptosporidium parvum
Cyclospora cayetanensis
Enterocytozoon bieneusi
Isospora belli
Helmintas intestinais: Tremátodos Fasciola hepática
Schistosoma japonicum
Schistosoma mansoni
Schistosoma haematobium
Helmintas intestinais: Nemátodos Ascaris lumbricoides
Trichuris trichiura
Enterobius vermicularis
Ancilostomídeo
Necator americanus
Strongyloides stercoralis
Helmintas intestinais: Céstodos Hymenolepis nana
Hymenolepis diminuta
Taenia sp
Diphyllobotrium latum
Pesquisa de Giardia lamblia
É utilizado um teste rápido de diagnóstico para a deteção de Giardia lamblia em
fezes. A multiplicação de trofozoítos ocorre por fissão binária no intestino e os quistos
formados são excretados nas fezes. A ingestão dos quistos resulta em infeção. É um
protozoário intestinal mais comumente responsável por provocar diarreia severa,
particularmente em imunodeprimidos. (76,79,90)
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114
Procedimento
O teste consiste numa membrana de nitrocelulose, com anticorpo dirigido contra
o parasita intestinal. A especificidade do teste é assegurada pelo uso de um anticorpo
especifico para um antigénio da Giardia que é conjugado com ouro coloidal, colocado
numa membrana. A amostra é diluída num tubo com uma solução do kit e homogeneizada
para ficar em suspensão. Coloca-se a tira-teste no tubo e o resultado é lido ao fim de 15
minutos. Se a amostra contem o antigénio da Giardia, o complexo conjugado – antigénio
migra e liga-se ao anticorpo presente na membrana, aparecendo uma linha colorida na
zona de teste. De modo a validar o teste, uma linha na região do controlo também deve
ser visualizada. (90)
4.4.1.3.Malária
A malária é uma doença potencialmente fatal causada por parasitas protozoários
do género Plasmodium transmitidos entre humanos através da picada de um mosquito
Anopheles infetado. Existem quatro parasitas que podem provocar malária (P.falciparum,
P.vivax, P.ovale e P.malariae). Nos humanos, os parasitas, na forma de esporozoítos,
migram para o fígado, onde amadurecem e são libertados noutra forma (merozoítos), que
invade os glóbulos vermelhos. É uma doença grave, começando por apresentar sintomas
de febre, calafrios, dores, fraqueza e podendo evoluir para anemia grave, insuficiência
renal, falência de órgãos e alteração de consciência. (76,79)
No laboratório é utilizado um teste rápido para deteção da proteína rica em
histidina II (HRP-II do inglês, histidine rich protein II) de P.falciparum e lactato
desidrogenase de Plasmodium (pLDH), de P.vivax em sangue total, para diagnóstico
diferencial. A HRP-II é uma proteína localizada na superfície da membrana do eritrócito
infetado. A LDH é a enzima final na via glicolítica do parasita. (91)
Procedimento
A tira-teste consiste numa membrana, pré-revestida com anticorpos monoclonais.
Um dos dois tipos de anticorpos monoclonais é específico para o HRP-II do P.falciparum
e o outro para a lactato desidrogenase do Plasmodium vivax, que originam duas linhas
separadas. (91)
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São adicionados 5µL de sangue ao poço da amostra do dispositivo de teste e
adicionado diluente ao poço de diluente do dispositivo. Após 15 minutos procede-se à
leitura do resultado. É necessária a visualização da linha controle para se poder validar o
resultado. No caso de se visualizarem duas bandas, o resultado é positivo para a banda
específica do tipo de Plasmodium; caso de visualizem 3 bandas, significa infeção mista.
(91)
4.5.Virologia
Os vírus são a causa mais comum de doença humana, tanto em países
desenvolvidos como em não desenvolvidos. São pequenos e incapazes de se multiplicar
fora de uma célula hospedeira. O virião (partícula viral) é composto por apenas um tipo
de ácido nucleico revestido por proteínas (cápside), que protegem o ácido nucleico e
permitem a ligação do virão à membrana da célula hospedeira. Se é envolvida por
glicoproteínas e uma membrana lipídica, estamos então na presença de um vírus com
invólucro. Na superfície da cápside, os vírus apresentam proteínas antigénicas
específicas que são essenciais para a infecciosidade e especificidade do vírus. A partir
do momento em que o genoma viral penetra na célula hospedeira, esta é usada pelo vírus
para as suas exigências energéticas e replicação. (76,77,79)
Os vírus causam doença quando atravessam as barreiras naturais, escapam ao
sistema imune e matam as células de tecidos importantes ou desencadeiam uma resposta
imune grave. Alguns vírus podem estabelecer infeções silenciosas das células, mas no
geral, a sua multiplicação causa danos ou morte, sendo que tanto fatores do vírus (estirpe,
tamanho do inóculo) como do hospedeiro (estado de saúde geral) podem interferir na
gravidade da infeção. O conhecimento das propriedades e dos mecanismos patogénicos
do vírus (entrada, disseminação e saída do hospedeiro) é crítico para o correto diagnóstico
e tratamento da doença. Métodos de diagnóstico usando reagentes com anticorpos e
técnicas de biologia molecular, tornam o diagnóstico viral mais fácil e rápido, sendo que
a história do paciente e sintomas são a primeira dica no diagnóstico de uma infeção viral.
(76,77,79)
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4.5.1.Procedimentos para diagnóstico virológico
4.5.1.1.Aparelho gastrointestinal
Rotavírus
Vírus de ARN (ácido ribonucleico) entérico que provoca diarreia e gastroenterite
em humanos, sendo a principal causa de gastroenterite em crianças com menos de cinco
anos. É transmitido pela via fecal-oral e é altamente contagioso, com um período de
incubação de 2-3 dias. Os Rotavírus do grupo A são os principais agentes patogénicos
em humanos e animais e infetam a maioria das pessoas pelo terceiro ano de vida. VP6
(proteína viral 6) é uma proteína da cápside do vírus. (76,79)
Procedimento
É utilizado um teste rápido em amostras de fezes que consiste numa membrana
com partículas de ouro coloidal sensibilizada com anticorpos dirigidos contra o vírus. A
especificidade do teste é devida a um anticorpo monoclonal dirigido contra proteínas VP6
do vírus que é conjugado com as partículas de ouro, e este conjugado é colocado numa
membrana. (92)
Quando a tira-teste é colocada na suspensão fecal (fezes diluídas em diluente do
kit), os conjugados solubilizados migram com a amostra por difusão passiva e ficam em
contacto com o anticorpo na membrana que origina uma linha vermelha após 10 minutos.
A linha de controlo também deverá ser visível de modo a confirmar que o teste foi bem
realizado. (92)
Adenovírus
O Adenovírus é um vírus de ADN que representa a segunda causa principal de
gastroenterite viral em crianças com menos de dois anos. Podem ser divididos em grupos
de A a F, sendo que o grupo F é o mais envolvido na gastroenterite pediátrica. A infeção
ocorre predominantemente pela via fecal-oral e o vírus infeta as células epiteliais do
sistema gastrointestinal. O período de incubação dura entre 5-8 dias. (76,79) É utilizado
um teste rápido de diagnostico de gastroenterite por Adenovírus em amostras de fezes. O
método e procedimento utilizado são idênticos aos referidos para o diagnóstico de
gastroenterite por Rotavírus. A especificidade deste teste é conseguida pelo uso de
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anticorpos monoclonais dirigidos contra proteínas especificas do Adenovírus humano.
(93)
Norovírus
Os Norovírus incluem os vírus do tipo Norwalk, e outros pequenos vírus que
causam gastroenterite, provocando diarreia aguda e vómitos. Não possuem invólucro e
são vírus de ARN. Tal como o Rotavírus e Adenovírus, a sua transmissão ocorre por via
fecal-oral. Os vírus crescem no intestino, causando lesões na mucosa intestinal e
libertados nas fezes. O período de incubação dura cerca de 12-48h. A infeção por
Norovírus ocorre em todo o mundo, sendo mais comum em crianças mais velhas e
adultos. (76,79)
No laboratório, o diagnóstico é feito através de um teste rápido
imunocromatográfico para deteção qualitativa de Norovírus em fezes. (94)
Procedimento
Este teste é baseado em anticorpos monoclonais, que permite detetar antigénios
em amostras de fezes de forma rápida. Os reagentes do kit e a amostra são adicionados a
um tubo de ensaio. A mistura é agitada e deixada a sedimentar, de modo a se poder
adicionar cerca de 150µL do sobrenadante ao dispositivo de teste. A leitura do resultado
é feita após 15 minutos. O vírus estará presente caso se verifique a existência da banda
do teste e do controlo, para garantir confiança no resultado. A intensidade da cor depende
da quantidade de antigénio presente na amostra. (94)
4.5.1.2.Aparelho respiratório
Adenovírus
É realizado um teste rápido de diagnóstico para a deteção de Adenovírus
respiratório em secreções nasofaríngeas.
O alvo principal dos Adenovírus é o trato respiratório, pelo que são responsáveis,
entre outras, por patologias no trato respiratório e infetam maioritariamente crianças. A
infeção ocorre pela inalação de aerossóis e por contato direto, originado uma forte
resposta imunitária, podendo ser fatal em pacientes imunocomprometidos. (76,79)
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Procedimento
O teste é baseado numa membrana com partículas de ouro coloidal com anticorpos
dirigidos contra o vírus. Quando a amostra entra em contacto com a tira-teste, o conjugado
(anticorpo monoclonal dirigido contra antigénios do vírus/partículas de ouro) migra com
a amostra e entram em contacto com o anticorpo anti-Adenovírus adsorvido na membrana
de nitrocelulose da tira-teste. Se a amostra contem o vírus, será visível uma banda na tira.
Uma banda controlo também deverá ser visível para validar o teste. (95)
Influenza A+B
O vírus Influenza provoca uma infeção viral aguda e altamente contagiosa do trato
respiratório. Há três tipos de vírus Influenza. O tipo A é o mais prevalente e associado a
epidemias mais graves. O tipo B produz patologias geralmente menos graves. Os vírus
desta família têm um genoma de ARN segmentado e possuem invólucro. A transmissão
do vírus dá-se por via aérea, através de aerossóis, e o vírus multiplica-se nas mucosas do
aparelho respiratório causando inflamação celular e originando síndrome febril, garganta
dorida, mialgias, tosse entre outros sintomas que duram cerca de 5 dias. Complicações
podem originar pneumonia.(76,79)
Para o diagnóstico diferencial dos tipos A e B do vírus é usado um teste rápido
para deteção qualitativa dos antigénios dos vírus Influenza tipo A e tipo B em amostras
nasais ou nasofaríngeas. Os antigénios podem ser detetados por imunoensaio, que utiliza
anticorpos monoclonais específicos para os antigénios do vírus. (96)
Procedimento
A amostra é colocada num tubo com reagente e as partículas do vírus expõem as
nucleoproteínas internas. Depois, é colocada a tira teste dentro do tubo, com a qual as
nucleoproteínas vão reagir. Caso a amostra contenha antigénios do vírus, uma linha irá
aparecer na tira teste, correspondente ao tipo de vírus, juntamente com a linha de controlo,
de modo a confirmar que o teste foi realizado corretamente. (96)
Vírus Sincicial Respiratório
É utilizado um teste rápido que consiste num imunoensaio cromatográfico para
deteção qualitativa do Vírus Sincicial Respiratório (RSV, do inglês, Respiratory Syncytial
Virus) em aspirados nasofaríngeos.
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O RSV como o nome indica, infeta células do trato respiratório e dissemina-se
localmente. A sua transmissão dá-se por inalação de aerossóis. É o vírus mais comum em
bebés e crianças pequenas. Provoca sintomas idênticos aos da constipação comum, mas
também pode provocar infeções graves ou ser fatal. (76,79)
Procedimento
O teste é imobilizado com anticorpos monoclonais específicos. É adicionada
solução tampão e amostra ao tubo de ensaio. Após homogeneizar e repousar 10 minutos,
insere-se a tira-teste imobilizada com anticorpos no tubo de ensaio e o resultado é lido
passado 15 minutos. Se a amostra contem o vírus, será visível uma banda na tira. Uma
banda controlo também deverá ser visível para validar o teste. (97)
4.5.1.3.Mononucleose infeciosa
A mononucleose infeciosa é causada pelo vírus Epstein-Barr, que pertence à
família dos vírus Herpes, vírus grandes de ADN com invólucro. É transmitido através da
saliva e os sintomas incluem febre, dores de garganta, faringite e inflamação das glândulas
linfáticas e linfocitose atípica nos jovens e adultos; nas crianças a doença normalmente é
assintomática ou ligeira. (76,79)
No laboratório é utilizado um teste rápido de imunoensaio que deteta a presença
de anticorpos heterófilos - classe IgM (imunoglobulina M), presentes na maioria dos
casos de mononucleose infeciosa aguda. A amostra utilizada é sangue total, soro ou
plasma. (98)
Procedimento
O antigénio é imobilizado na região da linha de teste e a amostra reage com
partículas revestidas de antigénio. Esta mistura migra cromatograficamente e interage
com o antigénio imobilizado. Caso a amostra contenha anticorpos heterófilos, aparece
uma linha colorida na região da linha de teste. Aparece também uma linha colorida que
serve de controlo. (98)
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120
4.5.1.4.Dengue
Dengue é uma doença tropical infeciosa causada pelo Vírus da Dengue, um
arbovírus do género Flavivírus (vírus de ARN). O Vírus da Dengue é transmitido por
mosquitos do género Aedes. Existem quatro serotipos do vírus (1-4). No geral, a infeção
é subclínica. Se o paciente é infetado duas vezes com um serotipo diferente, ocorre doença
severa. O indivíduo hospedeiro deste vírus, tem manifestações cutâneas e febre; mais
grave se for febre hemorrágica por Dengue. (76,79)
A glicoproteína não estrutural 1 (NS1) é uma glicoproteína presente no soro dos
pacientes em altas concentrações. No caso do resultado ser positivo para o antigénio IgM
indica que a infeção é primária. Se o anticorpo detetado for IgG (imunoglobulina G)
indica infeção secundária. No caso de serem os dois detetados, é uma indicação de infeção
tardia primária ou infeção secundária precoce. (99)
Procedimento
É realizado um teste que consiste num ensaio imunocromatográfico que deteta o
antigénio NS1 do vírus e deteta e diferencia os anticorpos IgM e IgG em soro, plasma ou
sangue total em dois dispositivos de teste isolados. Para isso, a amostra é adicionada nos
poços respetivos dos dispositivos de teste e o resultado é lido passado 15 minutos. A
presença de duas linhas (teste e controlo) nas janelas de resultados indicam positividade
do teste. (99)
4.5.1.5.Vírus da Imunodeficiência Humana
Os Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) são retrovírus de ARN, com
envelope, transmitidos principalmente por via sexual, parental, perinatal e
transplacentária, que podem causar SIDA. Existem duas espécies de HIV que infetam
humanos: HIV-1 e HIV-2. O tropismo deste vírus para as células T CD4+ é determinante
para a patogénese do vírus, que compromete o funcionamento do sistema imunitário. No
período inicial da infeção, o paciente pode manifestar sintomas de fase aguda,
nomeadamente febre, suores, mialgias, dores de garganta, lingadenopatias, náuseas,
diarreias e erupções cutâneas, seguindo-se um longo período de latência clínica, em que
normalmente ocorrem infeções oportunistas. (76,79)
É utilizado um teste automatizado, de rastreio, baseado na deteção combinada de
uma proteína estrutural (antigénio p24) do HIV-1 e das imunoglobulinas totais anti-HIV-
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1 e anti-HIV-2, que permite reduzir a janela serológica (intervalo de tempo entre a
contaminação e o diagnóstico da infeção). (100)
Amostra: soro ou plasma (heparina de lítio ou EDTA).
Equipamento: VIDAS®
Método: ensaio imunoenzimático com deteção final em fluorescência
Primeiramente, a amostra e o anticorpo anti-p24 presentes na barrete são aspirados
para dentro do cone, o vírus é lisado e os antigénios são libertados e ligam-se aos
anticorpos anti-p24 fixados no cone. Simultaneamente, os anticorpos anti-HIV 1 e 2 vão
fixar-se à glicoproteína 160 de HIV-1 e péptidos específicos de HIV-1 e HIV-2 presentes
na parte inferior do cone. Uma segunda incubação com antigénios presentes na barrete é
efetuada na parte inferior do cone, e estes antigénios fixam-se aos anticorpos anti-HIV
presentes.
Uma terceira incubação com estreptavidina marcada com fosfatase alcalina é
efetuada na totalidade do cone, que se fixa aos anticorpos anti-p24 e aos antigénios.
O substrato (4-metil-umbeliferil fosfato) é inicialmente incubado na parte inferior
do cone, e é feita uma primeira leitura de fluorescência a 450nm. A intensidade da
fluorescência é proporcional à presença de anticorpos anti-HIV. De seguida, o substrato
é incubado na totalidade do cone e é efetuada uma segunda leitura que é proporcional à
concentração de antigénio p24 do HIV-1 presente na amostra. (100)
Valores de referência:
Negativo: valor <0,25 (para a deteção antigénio e anticorpo)
Positivo: valor ≥0,25 (para a deteção antigénio ou anticorpo)
4.5.1.6.Hepatite B
O Vírus da Hepatite B (HBV, do inglês, hepatitis B virus) pertence a uma família
de vírus com tropismo para as células do fígado. São vírus de ADN com invólucro. A
infeção por este vírus pode conduzir a uma hepatite aguda ou crónica. A hepatite aguda
pode ser assintomática ou apresentar sintomas de gravidade variável que podem conduzir
a hepatite fulminante. O vírus pode ser transmitido por via parenteral, perinatal e sexual.
Os marcadores serológicos são essenciais para a determinação do estadio da doença.
(76,79)
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O antigénio de superfície do HBV (AgHBs) aparece vários dias a semanas, após
uma exposição ao vírus e pode persistir vários meses. A presença deste antigénio durante
mais de 6 meses define serologicamente a infeção crónica. (101)
Amostra: soro ou plasma (heparina de lítio)
Equipamento: VIDAS®
Método: ensaio imunoenzimático com deteção final em fluorescência
Este teste permite a deteção qualitativa do antigénio de superfície do HBV. O
antigénio da amostra liga-se simultaneamente ao anticorpo monoclonal fixado no cone e
ao anticorpo conjugado com biotina. Este complexo é colocado em contacto com a
estreptavidina conjugada com fosfatase alcalina, que se liga à biotina. Na etapa final, o
substrato (4-metil-umbeliferil fosfato) é dispensado pelo cone e a enzima do conjugado
catalisa a reação de hidrólise num produto que emite fluorescência a 450nm. O valor
medido é proporcional à concentração do antigénio na amostra. (101)
Valores de referência:
Negativo: <0,10
Positivo: ≥0,10
4.6.Controlo de Qualidade em Microbiologia
Controlo de Qualidade Interno
O conceito de Qualidade em Microbiologia deve ser encarado como parte do
conceito mais vasto da Qualidade dos Serviços de Saúde, com o objetivo de fornecer
resultados válidos, que assistam ao estabelecimento do diagnóstico pelo clínico. As
práticas de trabalho e equipamentos utilizados devem ser monitorizadas continuamente.
Todos os equipamentos, incluindo estufas e frigoríficos devem ter programas de
manutenção e funcionar corretamente. No entanto, ao contrário de outras áreas analíticas,
não é necessária a monitorização diária de todos os reagentes, meios de cultura e técnicas
usados.(72)
No laboratório, todas as semanas são feitos reisolamentos de estirpes definidas
(estirpes de referência) em GS: E.coli, E.faecalis, S.aureus, P.aeruginosa, K.
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pneumoniae, S. pneumoniae. Estes reisolamentos são utilizados para fazer identificação
(uma estirpe GN e outra GP uma vez por mês) e TSA (todas as semanas) no VITEK.
O laboratório de microbiologia deve recusar a requisição de exames que não
permitam obter resultados clinicamente fiáveis, como por exemplo, amostras de
expetoração para cultura de anaeróbios. Por outro lado, a qualidade das amostras colhidas
é de extrema importância para a qualidade dos resultados obtidos, pelo que se devem
seguir as normas do manual de colheitas e na mesma ordem de ideias, o manual de
procedimentos, devidamente atualizado, para diminuir a possibilidade de ocorrência de
erros e melhorar a qualidade dos resultados obtidos. (72)
Avaliação Externa da Qualidade
Consiste na avaliação do desempenho do laboratório por terceiros através da
análise dos resultados obtidos em amostras “fictícias”, que devem ser analisadas como
todas as outras amostras que entram no laboratório de microbiologia. O laboratório
participa nestas atividades através de diversas entidades externas, nomeadamente do
Serviço Nacional de Avaliação Externa da Qualidade do Reino Unido (UK-NEQAS, do
inglês, United Kingdom National External Quality Assessment Service), da qual recebe
amostras mensalmente.
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5.Genética
A GenoMed organiza-se em duas grandes unidades: Doenças Genéticas e
Farmacogenética (DGF) e Oncologia, sendo que esta última está dividida nas áreas de
Biologia Molecular, Citogenética e Tumores Sólidos. O laboratório processa pedidos de
todo o país, recebendo diferentes tipos de amostras biológicas enviadas por inúmeras
entidades de saúde ou fazendo diretamente a colheita ao utente nas suas instalações, por
exemplo de amostras como sangue periférico por punção venosa, sangue capilar em
“blood stain card” ou esfregaços bucais em zaragatoas.
Assim que recebidas as amostras para diagnóstico molecular, estas são sujeitas a
triagem pela secretária clínica, que possui informação acerca dos critérios de rejeição de
amostras definidos pelo laboratório, nomeadamente no que se refere ao tipo de amostra,
condições em que é entregue, correta identificação do utente ou ausência da
documentação exigida (por exemplo, requisição com pedido, termo de responsabilidade
ou consentimento informado, quando aplicável). Todas estas informações são
disponibilizadas aos clínicos através do documento controlado “Manual de Colheitas”,
que se encontra disponível para consulta, por exemplo, no website institucional da
GenoMed, assim como as requisições das diferentes áreas.
A confidencialidade dos dados dos doentes é assegurada pela sua codificação,
através da atribuição de um número de caso à amostra, sequencial, seguido das iniciais
do seu nome.
5.1.Doenças Genéticas
As mutações podem ocorrer em grande escala, envolvendo anomalias
cromossómicas, ou em pequena escala (doenças monogénicas ou mendelianas), que
podem ser agrupadas em substituições de bases, deleções ou inserções. Podem ocorrer
nas células germinativas em que o indivíduo afetado poderá transmitir a mutação à
descendência ou nas células somáticas, que estão na origem de certos cancros e não são
transmitidas à descendência. A taxa de mutação no organismo humano é baixa, pelo que
a maioria da variação alélica é herdada e não o resultado de mutações de novo. (102)
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Na área das Doenças Genéticas são diagnosticadas patologias com origem em
mutações germinais.
Os procedimentos aqui descritos são aqueles com que tive contacto, sendo apenas
uma pequena parte de todos os procedimentos e técnicas realizadas tanto nas Doenças
Genéticas, como na Biologia Molecular, Citogenética e Tumores Sólidos.
A marcha geral realiza-se da seguinte forma:
5.1.1Métodos
5.1.1.1Extração ADN genómico
A amostra de partida é sangue periférico obtido por punção venosa, em tubo com
EDTA, pois a heparina interfere com a reação em cadeia da polimerase. Todo o
procedimento é realizado na câmara de segurança biológica de classe II.
Os glóbulos vermelhos são lisados com uma solução hipotónica, tampão de lise
de eritrócitos (RCLB) e os tubos colocados em gelo durante cerca de 20 minutos. Após
centrifugação obtêm-se os leucócitos (precipitado branco). Despreza-se o sobrenadante e
adiciona-se Solução de Lise Celular para lisar os leucócitos. Adiciona-se solução de
precipitação de proteínas e realiza-se nova centrifugação, da qual se obtém um precipitado
castanho composto pelas proteínas. O sobrenadante obtido é transferido para novos tubos
contendo isopropanol, nos quais, após inversão, se observa a formação de um “novelo”
de ADN. É adicionado etanol a 70% de modo a lavar o ADN e é realizada nova
centrifugação. Após secagem do ADN, este é ressuspendido em tampão Tris-EDTA (TE),
com volume dependente da quantidade de ADN obtido, de modo a hidratar.
Extração do ácido nucleico
PCR EletroforesePurificação dos
produtos de PCR
Sequenciação Sanger
Análise dos resultados
Relatório
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5.1.1.2.Quantificação de ADN
Os ácidos nucleicos absorvem radiação ultravioleta (UV), entre os 220nm e os
320nm, devido às duplas ligações conjugadas nos anéis heterocíclicos das bases azotadas,
sendo o pico de absorção máxima aos 260nm. (9,103)
É utilizado um espectrofotómetro - NanoDrop® - que permite realizar a
quantificação, a partir de pequenos volumes de amostra (1µl).
Primeiramente, é adicionado 1µl do branco (TE), sendo que o valor obtido deverá
estar entre os -0,5 e 0,5 ng/µl. Aplicam-se as amostras a quantificar, e no fim é lido o
branco novamente.
São também realizadas medições aos 230nm e 280nm, de modo a obter as
seguintes razões:
𝑅1 =𝐴𝑏𝑠𝑜𝑟𝑣â𝑛𝑐𝑖𝑎 260𝑛𝑚
𝐴𝑏𝑠𝑜𝑟𝑣â𝑛𝑐𝑖𝑎 280 𝑛𝑚 ≈ 1.8 𝑅2 =
𝐴𝑏𝑠𝑜𝑟𝑣â𝑛𝑐𝑖𝑎 260𝑛𝑚
𝐴𝑏𝑠𝑜𝑟𝑣â𝑛𝑐𝑖𝑎 230𝑛𝑚 ≈ 1.8 – 2.2
Estes valores oferecem indicações acerca da pureza do ADN e caso sejam
diferentes do esperado, poderá significar que a amostra está contaminada com proteínas
ou outros contaminantes que absorvam próximo do comprimento de onda medido.
(9,103) Após quantificação, as amostras são armazenadas a +4ºC.
5.1.1.3Reação em cadeia da polimerase
A técnica de PCR consiste numa reação que amplifica determinada região do
ADN que se pretende estudar. Para que esta ocorra são necessários primers de ADN
desenhados especificamente para a região de interesse, bem como o molde de ADN,
tampão, magnésio (necessário para o eficaz funcionamento da polimerase),
desoxirribonucleótidos trifosfato (dNTPs) e a enzima polimerase de ADN. (104)
Inicialmente, a sequência conhecida é usada para desenhar dois oligonucleótidos
sintéticos de ADN, complementares a cada uma das cadeias da dupla hélice de ADN e
situados em lados opostos da região a ser amplificada (primers). Estes oligonucleótidos
determinam as extremidades do fragmento a amplificar. A reação é catalisada por uma
polimerase de ADN termo-estável (Taq) e consiste em ciclos repetidos de diferentes fases,
a diferentes temperaturas. Após uma desnaturação inicial (95-96ºC), segue-se a
desnaturação da cadeia molde de ADN (94-96ºC). A desnaturação permite que os primers
hibridem com as suas sequências complementares na fase de annealing, cuja temperatura
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depende dos primers usados. Segue-se uma fase de extensão a 72ºC em que atua a
polimerase de ADN, terminando com um passo de extensão final (72ºC). (9,104,105)
A amplificação origina um aumento exponencial de cadeias formadas, sendo que
a quantidade da sequência alvo duplica a cada ciclo. É usado um termociclador, aparelho
que realiza os ciclos de temperaturas necessários para a realização da reação, variando a
temperatura de forma rigorosa. São realizados, normalmente, 35 ciclos.
Algumas variáveis podem interferir na reação de PCR, nomeadamente o número
de ciclos, a temperatura, o tempo que dura cada ciclo, bem como os primers usados, a sua
especificidade e tamanho. Compostos como a heparina, fenol também inibem a reação.
A temperatura de annealing deve ser otimizada: se for muito elevada, os primers não se
irão ligar ao ADN e se for muito baixa, poderão ocorrer ligações inespecíficas. No caso
de se observarem produtos inespecíficos da reação, podem ser usados adjuvantes,
desnaturantes e outros reagentes, nomeadamente dimetilsulfóxido (DMSO), glicerol,
formamida. Estes compostos podem estabilizar a polimerase e aumentar a especificidade
das ligações dos primers. (104)
Procedimento:
São identificados tubos de acordo com o número de amostras a estudar, bem como
os respetivos controlos negativos.
Prepara-se a mistura de PCR - água, tampão, dNTPs, cloreto de magnésio
(MgCl2), primers, Taq polimerase - para o número de amostras a estudar e para cada exão
e reparte-se pelos tubos. Adiciona-se o ADN ao tubo da amostra e ao do controlo negativo
adiciona-se água. Colocam-se as amostras no termociclador com o programa definido.
Depois da amplificação por PCR, corre-se um gel de agarose, de modo a observar
a qualidade da amostra ou armazena-se a +4ºC.
5.1.1.4.Eletroforese em gel de agarose
Esta técnica é usada de modo a avaliar a qualidade dos produtos de PCR e baseia-
se na separação dos fragmentos de ADN de acordo com a sua massa molecular, quando
sujeitos a corrente elétrica. Sendo que estes estão carregados negativamente, ocorre
migração do polo negativo para o polo positivo. (9,104)
O tampão usado é Tris-Borato-EDTA (TBE) 0.5X que separa fragmentos de ADN
entre 100pb e 1kb. Para preparar o gel, a agarose é misturada com solução tampão (TBE).
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Após fundir, é adicionado Gel Red ou Green Safe Premium, corantes que emitem
fluorescência quando ligados ao ácido nucleico e expostos ao UV, de modo a que o ADN
possa ser visualizado.
Após adição de Gel loading dye blue 6X, as amostras e controlos respetivos, são
aplicadas nos poços do gel, não esquecendo o marcador de bandas moleculares, de modo
a verificar o tamanho dos fragmentos.
O gel é visualizado num transiluminador de luz UV e é tirada uma fotografia aos
resultados, que é colada na folha de trabalho.
Como foi referido anteriormente, a eletroforese permite avaliar a qualidade do
produto amplificado por PCR e caso se verifique a presença de várias bandas indica
inespecificidade da reação. A presença de uma banda no controlo negativo indica
contaminação.
Alguns aspetos podem interferir na boa resolução do gel, nomeadamente o corante
utilizado (Gel Red é mais sensível, mas a resolução não é tão boa, pode usar-se quando a
concentração de amostras é baixa. O Green Safe é o mais usado, menos sensível), a
concentração de tampão e gel, voltagem e a quantidade de ADN aplicada, sendo que estes
parâmetros devem ser otimizados.
5.1.1.5.Purificação dos produtos de PCR
A purificação dos produtos de PCR é necessária para remover componentes da
reação que possam interferir com a sequenciação, como primers ou dNTPs em excesso.
Os produtos são colocados numa placa de purificação de 96 poços com membrana,
à qual é aplicada uma bomba de vácuo, com o objetivo de separar os fragmentos
amplificados da solução. Após todo o líquido atravessar as membranas, é feita
ressuspensão com água nuclease free e a placa é colocada em agitação. Os produtos são
recuperados para novos poços e armazenados a +4ºC.
Sequenciação de Sanger
O método usado para determinar as sequências nucleotídicas é a sequenciação
pelo método de terminação em cadeia, ou sequenciação de Sanger. Parte-se dos produtos
de ADN genómico amplificados por PCR, previamente purificados.
São sintetizadas cadeias a partir do fragmento de ADN em estudo, pela polimerase
de ADN, que incorpora nucleótidos terminadores de cadeia, didesoxirribonucleótidos
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129
trifosfato (ddNTPs), marcados com fluorocromos diferentes, que ao contrário dos dNTPs,
não possuem o grupo 3’-OH, pelo que quando são incorporados terminam a cadeia. Cada
reação de sequenciação é feita para cada primer, num tubo e origina moléculas de ADN
de tamanho variável, cada uma terminando numa base diferente com fluorescência
diferente. Tal como na reação de PCR, ocorrem ciclos de desnaturação, hibridação e
extensão; no entanto, é utilizado um único primer. (9,102,104)
Faz-se a mistura com os reagentes necessários à reação e distribui-se pelos
microtubos devidamente identificados, aos quais se adiciona o produto de PCR respetivo,
previamente purificado, um com o primer forward e outro com o primer reverse. Os
produtos são colocados no termociclador com um programa pré-definido e depois devem
ser armazenados a -20ºC ou purificados antes de serem colocados no sequenciador
automático.
A purificação pode ser feita pelo método de vácuo (mais rápido) ou por
etanol/acetato de sódio (mais eficiente). Na primeira, os produtos são colocados numa
placa de purificação de 96 poços com membrana, à qual é aplicada bomba de vácuo.
Como tampão de lavagem é utilizado TE e após duas lavagens o produto é ressuspendido
em EDTA e transferido para placa de sequenciação. Na segunda, é adicionada uma
mistura de reagentes (etanol, acetato de sódio e água) a cada reação de sequenciação. A
placa é selada e após 15 minutos, é centrifugada e as amostras ressuspendidas em etanol
70%. Após centrifugações, seca-se os produtos e armazenam-se a -20ºC (pode adicionar-
se formamida) ou parte-se para sequenciação. A formamida é um agente desnaturante,
mas pode interferir na reação de sequenciação, na medida em que altera o sinal de
fluorescência devido à sua capacidade de absorver água do ar e originar outros produtos,
criando picos extra de guanina nas sequências obtidas.
Após purificação, as amostras são colocadas no sequenciador automático, que
consiste num sistema de eletroforese capilar, que realiza a separação dos fragmentos e
num detetor de fluorescência. Neste tipo de eletroforese, o capilar é o suporte sólido que
contém a fase estacionária (polímero) que permite a separação. As cadeias de ADN
formadas passam através de um capilar migrando do cátodo para o ânodo devido a uma
diferença de potencial que é gerada pelo aparelho. A sequência do fragmento é
determinada e registada num electroferograma. Uma quantidade elevada de ADN pode
originar “ruído de fundo” no electroferograma e em contrapartida, pouca quantidade de
amostra pode não ser detetada, originando baixo sinal de fluorescência. (9)
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130
5.1.2.Análise e relatório
A sequência do fragmento de ADN de interesse é determinada e comparada com
a sua sequência de referência, sendo de extrema importância conhecer bem o gene com
que se está a trabalhar. Geralmente a sequência é analisada nos dois sentidos, o que
aumenta a exatidão da sequenciação. Usando programas informáticos de comparação, é
possível identificar diferenças entre as sequências. O Sequencher (106) identifica tudo o
que está diferente da sequência original. Através da consulta de várias bases de dados
(107–109) pesquisa-se acerca do significado da variante encontrada que poderá ser
patogénica, se já conhecida e descrita como tal, de significado desconhecido ou uma
alteração nova. Todas as variantes já descritas como benigna ou provavelmente benigna,
não são reportadas.
5.1.3.Exemplo de aplicação
A Hemocromatose hereditária (HH) é uma doença autossómica recessiva
caracterizada pelo aumento da absorção intestinal de ferro, que resulta na sua acumulação
no organismo. A classificação da HH depende de fatores como causa genética e idade de
início da doença. A HH do tipo 1 é a mais comum, inicia na vida adulta e está associada
ao gene que codifica a proteína da Hemocromatose Hereditária (HFE) (110,111). A
função da proteína codificada por este gene, expressa nos enterócitos e hepatócitos, terá
como função o controlo do ferro no organismo, regulando a sua absorção, transporte e
armazenamento, mas ainda não se conhece totalmente este mecanismo. (110) Mutações
neste gene prejudicam o controlo da absorção de ferro na digestão, bem como a
distribuição deste para outras partes do corpo, que se acumula em tecidos e órgãos. (111)
O teste genético molecular para a hemocromatose hereditária ajuda no diagnóstico
da patologia ou prevenção do risco da sua existência. A presença de mutação no gene
HFE indica a existência de alteração genética relacionada à HH e maior predisposição ao
desenvolvimento do fenótipo da doença. (112)
A maioria dos pacientes são homozigóticos para a mutação missense C282Y no
exão 4 do gene HFE, que leva a substituição do aminoácido cisteína por uma tirosina na
posição 282. Para além desta, outras mutações foram identificadas e estudadas,
nomeadamente a mutação H63D (histidina substituído por aspartato na posição 63), no
exão 2 do gene HFE (figura 9).
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Figura 9. Eletroferograma do exão 2 do gene HFE. A troca de uma citosina por uma
guanina na posição 187 do exão 2 (c.187C˃G), leva a troca do aminoácido histidina pelo
aspartato no codão 63 (H63D).
Esta normalmente não está associada à sobrecarga de ferro, a não ser que a C282Y
esteja também presente (heterozigóticos compostos). Os homozigóticos para C282Y têm
maior risco de sobrecarga de ferro do que os heterozigóticos compostos. (113,114)
5.2.Citogenética
Na área da citogenética é feita a pesquisa de anomalias adquiridas, em contexto
tumoral, através do estudo dos cromossomas. Estas anomalias também podem ser
estudadas na biologia molecular (descrito no capítulo seguinte), sendo que são usadas
diferentes técnicas com diferentes sensibilidades.
A citogenética auxilia no diagnóstico, prognóstico e escolha da terapêutica, em
que determinadas anomalias são candidatas a determinado fármaco e na monitorização
de resposta à terapêutica. (115)
Muitas anomalias cromossómicas causam alterações nas funções das células e do
organismo. A maioria destas anomalias decorre de alterações no número ou posição dos
genes. Nalguns casos, as anomalias resultam da quebra dos cromossomas, alterando a sua
estrutura, o que pode levar a alterações funcionais dos genes. No caso dos rearranjos
cromossómicos, podem originar vários eventos; uma parte do cromossoma pode ser
eliminado, originando uma deleção; pode ser duplicado; podem ocorrer alterações na
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132
orientação dos cromossomas, ou um segmento pode ser inserido noutro cromossoma,
criando uma translocação. (102,116)
Na citogenética convencional é realizada uma análise da totalidade do cariótipo.
A análise do cariótipo é uma técnica menos específica, mas com pouca sensibilidade, na
medida em que apenas se analisam 20 ou 30 células em cada amostra, e as células
necessitam de estar em divisão. As células estudadas podem ser células normais e não
clones malignos, ou podem estar presentes anomalias não visíveis pelo cariótipo. Para
além destas limitações, a citogenética convencional é uma técnica dispendiosa, na medida
em que ocupa muito tempo ao operador. (115)
Algumas alterações citogenéticas não são detetáveis pela citogenética
convencional. Na citogenética molecular é utilizada a técnica de hibridação in situ de
fluorescência (FISH, do inglês, fluorescence in situ hybridization).
Esta é uma técnica mais sensível que o estudo do cariótipo, na medida em que são
analisadas cerca de 200 células, contrariamente às 20 células analisadas no estudo do
cariótipo e uma técnica mais específica uma vez que são se procura uma anomalia
específica. Em contrapartida, o custo dos reagentes utilizados é elevado e ocorre
deterioração das sondas após alguns meses. (115,117)
As amostras usadas na citogenética são sangue medular, sangue periférico
(amostra de menor qualidade) ou parafinas (no caso de tumor sólido).
5.2.1.Métodos
5.2.1.1.Citogenética convencional - estudo do cariótipo
Os cariogramas são preparados usando procedimentos padronizados de coloração
que revelam características estruturais em cada cromossoma. Na figura 10 observa-se um
exemplo de cariograma do sexo feminino, com bandeamento Giemsa, o mesmo utilizado
no laboratório. (116)
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Figura 10. Exemplo de cariograma do sexo feminino (46,XX) com bandeamento
Giemsa. Adaptado de (116).
Das várias fases que constituem a mitose, é na metafase que os cromossomas
atingem o máximo de condensação e o centrómero e os dois cromatídeos são visíveis ao
microscópio ótico, sendo nesta altura que a citogenética clássica é aplicada. Cada
cromossoma tem um padrão de bandas distinto e vão pesquisar-se alterações nesses
padrões. Estas alterações podem ser razoavelmente fáceis de identificar, nomeadamente
alterações no número de cromossomas; ou mais difíceis, como alterações estruturais.
(102)
No caso dos mielomas, é difícil as células entrarem em divisão celular, pelo que
o operador pode facilmente identificar um cariótipo normal por não estar a ver as células
alvo. (115)
Os procedimentos para o estudo do cariótipo passam pela cultura das células,
colheita das metafases, espalhamento e coloração para posterior observação
microscópica. O tipo de cultura a utilizar depende do diagnóstico e devem ser
estabelecidas culturas múltiplas de modo a maximizar a probabilidade de obter células
anormais em divisão. As células da linhagem mieloide normalmente necessitam de menos
tempo em cultura do que a linhagem linfoide para obter maior rendimento. Alguns
compostos podem ser adicionados às culturas, de modo a induzir a divisão celular, como
a fitohemaglutinina à linhagem T ou o 12-O-tetradecanoilforbol-13-acetato (TPA) à
linhagem B. (115)
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134
Cultura de células
A amostra utilizada é sangue medular em heparina, que é colocada em meio
completo com antibióticos e nutrientes. Após centrifugação, são retirados os leucócitos
para as diferentes culturas, adicionados os respetivos mitogénios de acordo com a
patologia a estudar e estas são colocadas na estufa com atmosfera de CO2 a 37ºC e
ambiente húmido.
Após o período de incubação é adicionado colcemid, composto que trava a divisão
em metafase, sendo que o tempo até à sua adição também depende do diagnóstico. A ação
prolongada da colcemid na cultura é citotóxica. Adicionada logo, aumenta a
probabilidade de encontrar o clone anormal, mas piora a morfologia dos cromossomas.
Adicionando após 24h, a morfologia dos cromossomas é melhor, mas poderão existir
menos metafases. (115)
Colheita das metafases
Os tubos retirados da estufa são centrifugados e é adicionado cloreto de potássio
(KCl, solução hipotónica) que origina um choque osmótico para promover a libertação
das metáfases quando o sedimento é espalhado. É adicionado fixador (metanol e acido
acético 3:1) e os tubos são guardados no congelador.
Espalhamento
O espalhamento dos cromossomas é afetado pela temperatura e humidade. Para
cada cultura fazem-se sempre duas lâminas. Após centrifugação dos tubos, é adicionado
fixador para obter a densidade celular adequada. Com pipeta de Pasteur, deixa-se cair
algumas gotas de sedimento celular nas lâminas previamente identificadas e mergulhadas
em água de modo a formar um filme aquoso. Imediatamente a seguir, é adicionada uma
gota de fixador e as lâminas são colocadas a secar verticalmente e de seguida, na estufa a
60ºC para envelhecerem durante cerca de 3 dias.
Coloração
Inicialmente, são realizados dois testes com tripsina para testar as lâminas antes
da coloração final, de modo a otimizar o tempo de tripsina. Esta enzima permite que haja
bandeamento dos cromossomas para haver ligação do corante.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
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135
Para isso, as lâminas são retiradas da estufa e mergulhadas individualmente na
solução de trabalho de tripsina e logo de seguida mergulhadas na solução de metanol para
inativar a ação da enzima. De modo a corar o material genético, é utilizada solução de
trabalho de Leishman. Após secagem das lâminas, estas são montadas com lamela,
usando Entellan como meio de montagem. As preparações são observadas num
microscópio ótico de campo claro com uma ampliação de 1000x.
5.2.1.2.Interpretação do cariótipo
A análise do cariótipo requer muita experiência e alerta. É tão fácil detetar uma
anomalia simples, como é falhar a identificação de uma anomalia mais subtil. É utilizado
um software que captura imagem da metafase e permite trabalhar a imagem (apagar o
lixo e alterar a orientação dos cromossomas) de modo a obter o cariograma. Cada
cromossoma é identificado pelo operador, a partir dos seus padrões de bandas.
Na interpretação do cariótipo obtido, é tido em conta o número de cromossomas
de cada célula, a composição dos cromossomas sexuais e a identificação de anomalias
cromossómicas, se existentes. Em cada amostra são analisadas pelo menos 20 metafases
na pesquisa de anomalias. Em diagnóstico inicial, se for encontrada anomalia, basta ver
10 metafases. No caso de ser uma amostra de follow-up, para monitorizar resposta a
terapêutica, devem ser sempre analisadas 20 metafases na pesquisa da presença ou
ausência de anomalias. Nas anomalias clonais, basta identificar 2 cromossomas com a
mesma anomalia estrutural ou ganho do mesmo cromossoma; ou 3 metafases com perda
do mesmo cromossoma.
No relatório final, o cariótipo obtido é reportado de acordo com a nomenclatura
do Sistema Internacional de Nomenclatura Citogenética Humana (ISCN, do inglês,
International System for Human Cytogenetic Nomenclature), que permite que as
anomalias reportadas sejam reconhecidas em qualquer laboratório.
É importante referir que a observação de um cariótipo normal não significa a
ausência de um clone maligno, sendo que este pode estar presentes em níveis demasiado
baixos.
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136
5.2.1.3.Separação de células mononucleadas
Este procedimento consiste no isolamento das células mononucleadas de sangue
periférico ou sangue medular para uso posterior nas técnicas de FISH normal (fixação
com metanol /ácido acético) e FISH de mieloma (fixação com metanol /acetona). O
gradiente que separa o sangue consoante a densidade das células é o gradiente Ficoll.
Procedimento
Após identificação dos tubos necessários, pipeta-se solução de gradiente. O
volume da amostra é diluído com tampão fosfato-salino (PBS) (sangue: igual volume de
PBS, medula: dobro do volume de PBS) e transfere-se sobre a solução de gradiente com
posterior centrifugação.
O anel de células mononucleadas formado é removido e transferido para novo
tubo, onde ocorre a lavagem das células com PBS. De seguida, o pellet é ressuspendido
em fixador. Para FISH normal, o fixador usado é metanol/ácido acético 3:1. Para FISH
mieloma, o fixador usado é metanol/acetona 1:1. Os tubos são guardados a -20ºC.
5.2.1.4.Citogenética molecular - FISH
A citogenética molecular permite localizar sequencias especificas de ADN no
cromossoma através do uso de sondas fluorescentes. A análise é feita em núcleos
interfásicos (100-200 núcleos) e é realizada uma interpretação dos padrões de hibridação.
(115)
A técnica de FISH tem diferentes procedimentos consoante a amostra de partida
é sangue/medula ou parafina. A parafina é a amostra utilizada quando se estuda um tumor
sólido. É também realizado de diferente forma para os mielomas múltiplos, porque a
infiltração celular é muito reduzida. As células do mieloma dividem-se mais lentamente
em comparação com as outras células presentes e há dificuldade em encontrar metafases
devido ao baixo índice mitótico do clone anormal, pelo que o cariótipo não é indicado
para o diagnóstico. A marcação citoplasmática permite selecionar as células alvo,
plasmócitos, e é nesses que se contam os sinais de hibridação. (115)
O procedimento geral da técnica de FISH passa pela separação das células, que
são fixadas e espalhadas em lâmina, seguido de um passo de desnaturação que permite
que possam ocorrer novas ligações durante a hibridação.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
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137
Existem vários tipos de sondas comerciais usadas na área da citogenética
molecular, que correspondem a fragmentos de ADN de uma região de interesse marcados
com fluorocromo. As sondas usadas dependem da patologia a estudar e podem identificar
o cromossoma inteiro, partes do cromossoma, centrómeros, genes e podem ser usadas
combinações de sondas de modo a melhor investigar a anomalia. (117)
1. FISH
Parte-se do procedimento de separação de células mononucleadas para FISH
normal. Após descongelar os tubos, a concentração celular é ajustada com fixador
(metanol/ácido acético 3:1). O sedimento é espalhado numa lâmina identificada com nº
da amostra, sonda a usar, data e deixado secar. As lâminas são colocadas na estufa a 37ºC
para envelhecerem. Após este tempo, é pipetada mistura de hibridação na região da
lâmina a hibridar. Após colocação da lamela e selagem com cola de borracha, é realizada
uma desnaturação a 72ºC e as lâminas são colocadas na estufa a 37ºC durante a noite, em
câmara húmida.
2. FISH mielomas – marcação por imunofluorescência
Parte-se do procedimento de separação de células mononucleadas para FISH
mieloma. Após descongelar os tubos, a concentração celular é ajustada com fixador
(metanol/acetona 1:1). O sedimento é espalhado numa lâmina identificada com o número
da amostra, sonda a usar e data. A lâmina é observada num microscópio de contraste de
fase e, se necessário, a concentração celular é ajustada. Depois da secagem das lâminas,
estas são lavadas com PBS e é adicionado o anticorpo primário (anticorpo anti-λ +
anticorpo anti-k + tampão diluição de anticorpos). Após incubação em câmara húmida,
as lâminas são lavadas com solução de PBS 1X + octilfenoxipolietoxietanol (PBD) e é
adicionada solução de anticorpo secundário (anticorpo anti-IgG + tampão diluição de
anticorpos). É realizada nova lavagem com PBD e as lâminas são fixadas em solução de
paraformaldeído a 2%. Após lavagem com PBS, são permeabilizadas em fixador e
deixadas a secar. Por fim, é aplicado o volume de mistura de hibridação necessário na
região a hibridar. Após colocação da lamela e selagem com cola de borracha, é realizada
uma desnaturação com temperatura variável, consoante as sondas utilizadas e as lâminas
são colocadas na estufa durante a noite em câmara húmida a 37ºC.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
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138
É sempre realizada uma lâmina teste para aferir as condições da marcação, para
otimizar a quantidade de permeabilização necessária para a sonda entrar, mas para não
destruir a célula e saber se a marcação é suficiente. Para o estudo do mieloma, pela
citogenética molecular, são utilizados painéis de sete sondas que estudam as sete
anomalias principais que permitem caracterizar o mieloma.
3. FISH parafinas
3.1. Extração de núcleos de cortes de parafinas
Os cortes de parafinas são colocados em tubos resistentes ao xileno, corretamente
identificados, aos quais é adicionado xileno (degrada a parafina). Os tubos são
centrifugados e os sedimentos ressuspendidos em xileno. De seguida, são realizadas
várias lavagens com etanol absoluto e etanol a 96%, é adicionada água destilada de modo
a diluir a amostra e após nova centrifugação, o sedimento é ressuspendido em PBS. É
adicionada solução de incubação ao sedimento (PBS + protease) e os tubos são colocados
em banho-maria a 37ºC, com agitação manual de 10 em 10 minutos. No fim da digestão,
deverá observar-se um sedimento turvo com poucos fragmentos visíveis. De modo a
bloquear a ação da protease, quando os tubos são retirados do banho é adicionado PBS
gelado. Após centrifugação, é adicionado fixador e os tubos são armazenados a -20ºC.
3.2. FISH em núcleos extraídos de cortes de parafina
Após descongelar os tubos, a concentração celular é ajustada com fixador
(metanol/ácido acético 3:1). O sedimento é espalhado numa lâmina identificada com o
número da amostra, sonda a usar e data. A lâmina é lavada com citrato de sódio salino
(SSC) e PBS, é colocada em pepsina ácida e depois desidratada numa série de álcoois. A
mistura de hibridação é aplicada na região da lâmina a hibridar. Após colocação da lamela
e secagem com cola de borracha, é realizada a desnaturação. As lâminas são colocadas
na estufa durante a noite.
Lavagem e observação das lâminas de FISH
Após remoção da cola e lamela, é feita uma lavagem das lâminas (SSC,
octilfenoxipolietoxietanol) para retirar o excesso de sonda, tudo o que não hibridou e
lixos. De seguida, antes da colocação da lamela, é adicionada solução de vectashield com
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139
4,6-diamidino-2-fenilindol (DAPI), que marca os núcleos a azul na área hibridada. Este
procedimento é idêntico para o FISH normal e parafinas.
No caso dos mielomas, é utilizada solução sem DAPI, porque a marcação dos
plasmócitos é realizada de forma mais específica, com anticorpos. As lâminas são
guardadas a 4ºC até à sua observação em microscópio de fluorescência em sala escura.
A eficiência da hibridação pode variar ao longo da amostra a visualizar, pelo que
se deve escolher uma área espaçada de células, pouco ruído de fundo e sinais de
fluorescência visíveis. Utilizando uma objetiva de 100x, deve fazer-se a análise da área
escolhida e registar o padrão de hibridação em cada núcleo observado.
A análise é confirmada por um segundo operador e é feita a interpretação dos
padrões de hibridação registados. A informação pode ser descrita usando o sistema de
nomenclatura do ISCN.
5.2.2.Exemplo de aplicação
A citogenética pode ser utilizada, por exemplo, no estudo da Leucemia Mielóide
Crónica (LMC). Nesta patologia, em mais de 90% dos casos, ocorre uma translocação
t(9;22)(q34.1;q11), conhecida como translocação de Filadélfia. Nos casos em que não se
detete esta translocação por cariótipo ou por FISH, o diagnóstico pode ser auxiliado por
métodos moleculares, por serem mais sensíveis. (115)
O gene de fusão BCR-ABL1 (do inglês, Breakpoint cluster region - Abelson
murine leucemia viral oncogene homolog 1) pode ser detetado por citogenética
molecular, usando sondas de cor diferente para os dois genes, o que permite a visualização
da fusão (figura 11).
Figura 11. (Esquerda) FISH de interfase com sonda para o BCR-ABL1, que mostra dois
sinais verdes e dois vermelhos numa célula normal. (Direita) FISH de interfase, em que
a sonda para o BCR-ABL1 mostra a fusão com sinal amarelo numa célula com Ph
(cromossoma Filadélfia) positivo. Adaptado de (117).
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140
Num paciente com possível diagnóstico de LMC, se as primeiras 20 células todas
mostram a fusão BCR-ABL1, não é necessária uma análise mais profunda para confirmar
o diagnóstico. No entanto, analisar mais células pode detetar a presença de uma outra
anormalidade secundária que tenha significado clinico. (115,117)
5.3.Hemato-oncologia - Biologia Molecular
A biologia molecular e a citogenética são complementares. A citogenética
convencional permite a visualização do genoma no seu todo, mas a biologia molecular é
mais específica e sensível estudando o genoma ao nível do gene ou parte deste. Além
disso, algumas alterações podem não ser visíveis através da citogenética; uma leucemia
pode ter cariótipo normal, mas ter alterações a nível molecular, por exemplo. (115)
Muitas destas técnicas já foram referidas nas Doenças Genéticas, sendo que a
Hemato-Oncologia – Biologia Molecular, pesquisa mutações somáticas em contexto
tumoral, que não estão presentes em todas as células, ao contrário das mutações
hereditárias.
Devido ao número elevado de procedimentos e técnicas usados na Hemato-
Oncologia - Biologia Molecular, o estágio nesta área focou-se nos procedimentos
utilizados para o estudo da Leucemia Mielóide Crónica.
5.3.1.Leucemia Mielóide Crónica
A LMC é uma doença mieloproliferativa e foi a primeira leucemia associada a um
rearranjo cromossómico específico, o cromossoma Filadélfia (Ph). O Ph resulta da
translocação recíproca entre os braços longos dos cromossomas 9 e 22, transpondo o
segmento 3' do gene ABL1 para o segmento 5' do gene BCR. O gene resultante (BCR-
ABL1) é transcrito e traduzido em proteínas quiméricas com atividade de tirosina-quinase
aumentada, de tamanhos variados, consoante os pontos de quebra nos respetivos genes.
A proteína formada pode ter 210 kDa (p210, mais comum) ou 190 kDa (p190, mais
comum em pacientes com Leucemia Linfocítica Aguda (LLA)). (118,119)
O desenvolvimento de fármacos inibidores de tirosina quinase (Imatinib, por
exemplo) veio modificar o tratamento desta patologia, sendo que a resposta ao tratamento
é avaliada através da normalização dos valores hematológicos no sangue periférico, pela
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
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141
análise citogenética de metafases Ph-positivas e pela resposta molecular descrita neste
capítulo. (118,120)
Normalmente, a LMC inicia-se na fase crónica, podendo após alguns anos
transformar-se numa fase aguda ou fase blástica, caraterizada pelo aumento do número
de blastos circulantes no sangue periférico e medula óssea. (119)
5.3.2.Métodos
5.3.2.1.Separação de células mononucleadas e/ou granulócitos
Este procedimento consiste no isolamento das células mononucleadas e/ou
granulócitos, de sangue periférico ou sangue medular. A primeira parte do procedimento
é idêntico ao realizado na citogenética. No entanto, na biologia molecular, as células não
são fixadas, mas armazenadas em TriZol ou pellet de células seco.
Após identificação dos tubos necessários, pipeta-se solução de gradiente. O
volume da amostra é diluído com PBS e transferido sobre a solução de gradiente com
posterior centrifugação.
O procedimento seguinte varia consoante o tipo celular que se pretende obter. Os
linfócitos, monócitos e macrófagos formam um anel separado dos granulócitos e
eritrócitos que se apresentam na zona inferior do tubo. Para obter as células
mononucleadas, o anel formado é removido e transferido para novo tubo, onde ocorre
lavagem das células com PBS. No caso do precipitado apresentar a cor vermelha, é
ressuspendido em RCLB incubado a 4ºC, durante 20 minutos, promovendo a lise as
células e centrifugado. Por outro lado, se os granulócitos forem necessários ao estudo a
realizar, ao sedimento vermelho formado na parte inferior do tubo aquando da
centrifugação adiciona-se RCLB, com incubação a 4ºC, centrifugação e posterior
lavagem com tampão PBS. Após lavagem das células lisadas, o sobrenadante é removido
e faz-se uma estimativa do número de células presente no precipitado celular. Esta
estimativa é necessária para ressuspender as células num volume adequado de tampão
PBS, sendo que cada ml de suspensão celular deve ter a concentração celular adequada
ao tipo de extração a efetuar: para extração de ARN 5x106 a 10x106 células/ml e para
extração de ADN até 5x106 células/ml. O número de células obtido é avaliado e registado.
Para a extração de ARN, o pellet de células é lisado e preservado com solução de
TriZol, que conserva o ácido nucleico. Armazenar a amostra a -80ºC ou prosseguir para
extração.Para extração de ADN armazenar em pellet seco a -80ºC ou seguir para extração.
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142
5.3.2.2.Extração de ARN total com o reagente TriZol
Partindo do procedimento anterior, são identificados novos tubos eppendorf por
amostra e é adicionado clorofórmio, para o ARN se soltar do TriZol. Após incubação à
temperatura ambiente e centrifugação, a fase aquosa é transferida para tubos com
isopropanol, que agrega o ARN. O precipitado obtido por centrifugação é lavado com
etanol a 75%, centrifugado e o pellet de ARN após secar é ressuspendido em água
RNAse-free e incubado a 56ºC, durante 10 minutos, para ocorrer hidratação. Prossegue-
se para quantificação ou armazenamento a -80ºC.
A quantificação é realizada no NanoDrop® e é utilizada água RNAse-free como
branco da amostra. A avaliação da qualidade da extração é feita através da medição da
absorvância a 260nm e 280nm. A razão entre as absorvâncias a 260nm e 280nm
(Absorvância 260/Absorvância 280) deverá originar valores entre 1,8 e 2,0 para o ARN
e permite avaliar a presença de contaminantes. (103)
5.3.2.3.Síntese de (ADNc) a partir de ARN total
Para a análise do ARN é necessário converter este ácido nucleico em ADN
complementar (ADNc), através da ação da transcriptase reversa. Este método é vantajoso
na medida em que o ARN não contém os intrões que o ADN possui, sendo amplificada
uma zona mais pequena. (104,105)
Para a síntese de ADN complementar, parte-se de 100-200 ng/µL de ARN. Antes
de juntar os reagentes necessários à reação: transcriptase reversa, ditiotreitol (DTT),
inibidor RNAses, dNTPs, tampão, oligonucleótidos random (de sequencia aleatória que
atuam como primers), o ARN é desnaturado no termociclador, de modo a quebrar as
ligações. Depois a mix é adicionada e a reação prossegue no termociclador com o
programa definido para o efeito.
5.3.2.4.Pesquisa e caracterização do transcrito de fusão BCR-
ABL1
De modo a confirmar o diagnóstico de LMC, é feita a pesquisa e caraterização do
transcrito de fusão BCR-ABL1 por reação em cadeia da polimerase com transcriptase
reversa (RT-PCR, do inglês, reverse transcriptase polymerase chain reaction).
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143
Para verificar a presença de transcrito, os produtos de PCR são analisados por
eletroforese em gel de agarose. O transcrito é o marcador molecular da doença e a
identificação do tipo de transcrito presente é feita pela pesquisa dos principais pontos de
quebra associados à t(9;22), sendo que os transcritos que originam a proteína p190 estão
mais associados às LLAs e a p210 às LMCs. (118,119)
A figura 12 representa um gel de agarose, com uma amostra positiva para o
transcrito mais comum (p210).
Figura 12. Gel de agarose para pesquisa do transcrito de fusão BCR-ABL1. Os
poços 1-3 correspondem a um controlo, para verificar se o ADNc amplificou. Os dois
primeiros são controlos positivos e o terceiro é um controlo negativo, sem ADNc. Os
poços 4 e 10 correspondem ao marcador de massas moleculares. Os poços 5- 9 pesquisam
o p190 e correspondem a duas amostras, dois controlos positivos para o p190 e um
controlo negativo, respetivamente. Os poços 11-15 pesquisam o p210 e correspondem a
duas amostras, dois controlos positivos para o p210 e um negativo, respetivamente. A
amostra no poço 12 é positiva para o transcrito mais comum (p210).
5.3.2.5.Quantificação de transcritos de fusão t(9;22) BCR-ABL1
(p210)
Saber o número de transcritos é importante para determinar como o doente está a
responder à terapêutica. É também importante na monitorização da doença residual
mínima (DRM), presença de células leucémicas residuais sem evidência clínica de doença
e deve ser feita de 3 em 3 meses, até se atingir e confirmar a resposta molecular major
(RMM). (118,120)
1 2 3 4 5 6 7
8 9 10
0
11 12
2
13 14 15
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144
A resposta molecular é avaliada de acordo com a escala internacional, como a
razão entre o número de transcritos BCR-ABL1 e ABL1 (gene controlo) e é expressa numa
escala logarítmica através de 5 níveis de resposta. Uma expressão BCR-ABL1 ≤0,1%
corresponde à resposta molecular major. Esta resposta molecular é traduzida numa
resposta à terapêutica. (120)
A determinação número de transcritos é feita por reação em cadeia da polimerase
em tempo real (RT-PCR, do inglês, real time polymerase chain reaction) que associa a
metodologia de PCR a um sistema de deteção e quantificação de fluorescência produzida
durante os ciclos de amplificação. É um método quantitativo em que a quantidade de
fluorescência é proporcional à quantidade de transcrito. (9,118)
O sistema utilizado usa sondas Taqman, que contêm um fluorocromo numa
extremidade e um Quencher na outra extremidade que absorve essa fluorescência.
Enquanto ocorre a reação, a polimerase sintetiza novas cadeias a partir dos primers e cliva
as sondas correspondentes, aumentando o sinal fluorescente. (118)
A partir de certo número de ciclos, a reação atinge uma intensidade de
fluorescência detetada pelo aparelho. Quanto maior a quantidade de ADNc presente,
maior a fluorescência emitida e menor o número de ciclos necessários para atingir esta
fase. O ciclo em que a amostra atinge este nível designa-se por Cycle Threshold.
Procedimento
É utilizada uma placa de 96 poços, em que metade da placa corresponde ao ABL
e a outra metade ao transcrito de fusão, como se fossem realizados ensaios isolados, sendo
utilizadas duas mix. São adicionados a todos os tubos os reagentes necessários à reação:
primers, água, reagente que normaliza a fluorescência, sondas, Taq polimerase, tampão.
Consoante o tubo é adicionado ainda amostra de ADNc, calibrador ou controlo. São
também utilizadas amostras com concentrações conhecidas que ocorrem na reação ao
mesmo tempo e nas mesmas condições da amostra, de modo a construir uma reta de
calibração que permita calcular a quantidade de transcritos.
5.3.2.6.Pesquisa de mutações no gene BCR-ABL
Apesar do sucesso dos inibidores de tirosina quinase no tratamento da LMC,
nalguns casos ocorre resistência ao tratamento ou mesmo recaída da doença,
particularmente em doentes em fase acelerada ou fase blástica. Nestas alturas, ou quando
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145
se pretende mudar de terapêutica, é feita a pesquisa de mutações que possam originar
resistência a esses fármacos, sendo que o mecanismo mais frequente da reativação da
atividade quinase do gene é o aparecimento de mutações pontuais no domínio quinase
ABL do gene de fusão, como é o exemplo da mutação T315I, que resulta da substituição
de uma treonina por uma interleucina na posição 315 da proteína. (119,120)
A metodologia utilizada é RT-PCR Nested e sequenciação direta bidirecional. O
RT-PCR Nested consiste em duas reações. Usando um par de primers externos numa
primeira reação (um primer desenhado para o gene ABL e outro para o BCR), obtém-se
um produto que será utilizado numa segunda reação, em que se utilizam primers mais
internos (a região de interesse é o domínio ABL do transcrito). Este processo permite
aumentar tanto a sensibilidade, como a especificidade da reação de amplificação e é útil
na amplificação de pequenas quantidades de material. (104)
Após a reação de PCR, os produtos são analisados em gel de agarose, purificados
e sequenciados através do método de Sanger. Estes procedimentos são idênticos aos
referidos para as Doenças Genéticas.
5.4.Tumores Sólidos
Os tumores ou neoplasias sólidas são caraterizados por um crescimento anormal
de células de um tecido, que normalmente não contêm áreas líquidas. Podem ser benignos
ou malignos (cancerosos).(121) Usualmente, estes tumores apresentam vantagem
proliferativa e resistência à apoptose adquiridas devido a uma mutação inicial ou driver
mutation. Ocorre mistura de células normais e células do tumor, em que normalmente
apenas um dos alelos se encontra mutado. (102,122)
Nesta área é realizada a caracterização molecular de alguns tumores sólidos, para
os quais existem marcadores moleculares com relevância clínica, quer de predição de
resposta à terapêutica quer de prognóstico. Alguns destes marcadores poderão ser
transversais a diferentes patologias, no entanto o significado para a decisão terapêutica
poderá ser diferente. À semelhança da área de Hemato-Oncologia - Biologia Molecular,
o foco do relatório nesta área é dirigido a uma patologia específica, o cancro do pulmão.
A maior parte das amostras processadas é tecido tumoral fixado em formaldeído
tamponado e embebido em parafina. São necessários cerca de 5 a 10 cortes de parafina
com 10µm, dependendo da quantidade de células neoplásicas presentes na amostra,
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146
podendo esta ser peça cirúrgica ou biópsia. As amostras são caracterizadas por um
anatomopatologista que determina, entre outros parâmetros, a percentagem de infiltração
tumoral, permitindo ajustar os procedimentos realizados posteriormente, tal como a
metodologia utilizada.
5.4.1.Cancro do pulmão
Mundialmente, o cancro do pulmão é a principal causa de morte por cancro. É
composto por dois subtipos histológicos, os carcinomas de pulmão de não pequenas
células (CPNPC) e os carcinomas de pulmão de pequenas células (CPPC). O CPNPC é o
subtipo mais prevalente, dividindo-se em adenocarcinomas, carcinomas de células
escamosas ou carcinomas de grandes células, e sendo responsável por 85% dos cancros
do pulmão, onde o tabagismo representa uma das principais causas. Salienta-se, no
entanto, que a prevalência deste tipo de cancro tem vindo a aumentar em não fumadores.
(123–125)
Os CPNPC podem ser caracterizados a nível molecular por mutações recorrentes
que ocorrem em oncogenes, EGFR, BRAF e KRAS (do inglês, Epidermal growth factor
receptor, v-Raf murine sarcoma viral oncogene homolog B e Kirsten rat sarcoma viral
oncogene homolog, respetivamente), entre outros. O acompanhamento do doente envolve
estudos moleculares, quer a nível do diagnóstico, quer do prognóstico, seleção da terapia
mais adequada ao doente e deteção de recaídas atempadamente. A gestão do doente com
CPNPC pressupõe a correta caracterização dos genes, pois existem terapias dirigidas que
apenas estão disponíveis em determinado contexto molecular. Foram desenvolvidos
inibidores de tirosina quinase (TKIs), que adiam a progressão da doença. (124,125)
No entanto, durante o tratamento destes doentes, o tumor poderá adquirir
mutações de resistência aos efeitos dos fármacos que limitam a eficácia da quimioterapia.
Assume-se geralmente que os tumores que são misturas heterogéneas de células sensíveis
e resistentes à quimioterapia podem responder inicialmente ao tratamento, mas depois
surgem recaídas, com a predominância das células resistentes. Deste modo, é fundamental
a análise mutacional dos genes em questão. (121)
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147
5.4.1.1.Pesquisa de mutações no gene EGFR (exões 18,19,20 e 21)
O gene EGFR codifica o recetor do fator de crescimento epidérmico
representando o principal alvo terapêutico em CPNPC. Este receptor encontra-se
frequentemente sobre-expresso na maioria dos CPNPC devido à presença de mutações
ativadoras que resultam no crescimento do tumor, maior proliferação celular, proteção
em relação à apoptose e aumento da capacidade de metastização. A presença de
determinadas mutações ativadoras neste gene é preditiva de resposta aos TKIs (gefitinib,
erlotinib e afatinib), fármacos que inibem o sinal proliferativo e anti-apoptótico
produzido. (123)
No CPNPC, estão descritas diferentes mutações somáticas no domínio quinase do
gene EGFR, que abrange os exões 18, 19, 20 e 21 e aumentam a atividade do recetor
EGFR. (123,125)
As mutações mais frequentes são deleções no exão 19 e a mutação pontual L858R
no exão 21, sendo que a primeira ocorre com uma frequência de aproximadamente 48%
em tumores do pulmão mutados no EFGR. A mutação L858R corresponde a uma
substituição de uma leucina por uma arginina no codão 858 do EGFR e ocorre com uma
frequência de aproximadamente 43% nos tumores do pulmão com EGFR mutado.
(123,125)
O codão 861 corresponde a outro hotspot do exão 21, apesar de ocorrer com muito
menos frequência (cerca de 2%), em que uma leucina é substituída por glutamina
(L861Q). No exão 18, a mutação G719A resulta da substituição de uma glicina por uma
alanina (frequência de 2-3%). (125)
No entanto, nem todas as mutações no domínio de tirosina quinase conferem
sensibilidade do recetor aos TKIs. Na maioria dos casos, as mutações no exão 20, que
incluem inserções, estão associadas com resistência primária a estes fármacos, em
particular na presença da mutação T790M, que será descrita mais à frente. (123,125)
5.4.1.2.Pesquisa de mutações no gene BRAF
Já foi referido que as vias de sinalização associadas ao EGFR estão envolvidas na
proliferação celular. BRAF pertence a uma família de proteínas quinases que são
mediadores centrais na cascata de sinalização MAP (proteína ativada por mitogénios, do
inglês, Mitogen Activated Protein) na qual são observadas com alguma frequência
mutações nos genes que codificam para esta via, estando envolvidas em muitos processos
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
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148
celulares, incluindo proliferação celular, diferenciação e regulação transcricional. A
presença de mutações no gene BRAF traduz-se na ativação constitutiva da via e são
observadas em 1-3% dos CPNPC. (123,125)
A maioria dos casos BRAF mutados apresenta a mutação V600E no exão 15, onde
a valina é substituída pelo ácido glutâmico. A pesquisa desta mutação é necessária para
determinar se o paciente é elegível para terapia direcionada com inibidores do BRAF,
constituindo uma alternativa quando as terapias anti-EGFR não são uma opção. (125)
5.4.1.3.Pesquisa de mutações no gene KRAS
As proteínas ‘Vírus do Sarcoma de Rato’ (RAS) são mediadores centrais a jusante
da sinalização do EGFR e como tal, são críticas para a proliferação, sobrevivência e
diferenciação celular. (125)
Aproximadamente 15-25% dos pacientes com adenocarcinoma do pulmão têm o
gene KRAS mutado. Na maioria dos casos, correspondem a mutações missense que
introduzem uma substituição de aminoácido nos codões 12 e 13 (exão 2) e codão 61 (exão
3). O resultado destas mutações é ativação constitutiva das vias de sinalização KRAS.
(123,125)
Tal como no caso anterior, a deteção destas mutações em pacientes com tumor no
pulmão constitui uma ferramenta para selecionar os pacientes com maior probabilidade
de não responder aos fármacos disponíveis, sendo que, as mutações no gene KRAS
diminuem a sensibilidade aos TKIs. Atualmente, não existem terapias direcionadas para
KRAS disponíveis. (123,125)
5.4.1.4.Progressão após terapêutica com TKIs em 1ªlinha
A mutação T790M no exão 20 do gene EGFR, que resulta na troca de uma
treonina por uma metionina na posição 790, para além de conferir resistência primária
aos TKIs, surge como mutação de resistência adquirida em cerca de 50% dos tumores
mutados no gene EGFR em diagnóstico inicial, após tratamento com TKIs (erlotinib,
gefitinib ou afatinib) como primeira linha terapêutica. Normalmente, esta mutação é
pesquisada quando deixa de existir resposta à terapêutica, para determinar elegibilidade
para outro tipo de terapêutica. (123,125)
Para pesquisar esta mutação, a GenoMed está a testar o conceito de biópsia
líquida, em que se trabalha com ADN das células tumorais presente no sangue periférico.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
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149
Ao contrário de biópsias de tecido tumoral, a biópsia líquida apresenta risco mínimo para
o paciente, sendo um método minimamente invasivo. O laboratório está na fase de
implementação deste teste.
5.4.2.Métodos
5.4.2.1.Extração de ADN
É utilizado um kit que permite a extração em coluna de ADN total de pellet seco,
sangue total, tecido fresco ou conservado em parafna.
Neste caso, a amostra de partida é parafina e o processo de desparafinação é
realizado através da incubação da amostra com xileno, para dissolver a parafina e
recuperar os tecidos. Os restos de xileno são eliminados através de lavagens com etanol
absoluto. De seguida, a amostra é incubada com enzima (proteinase K) que digere os
tecidos na presença de tampão tampão de lise tecidular (ATL) em banho seco a 56ºC
durante a noite. Após a primeira incubação, se já não existir tecido por digerir, adicionar
tampão de lise (AL) e incubar durante 1h a 90ºC no banho seco. Se a amostra for escassa
podem ser adicionados carriers de ADN (caudas poli-A que se agregam ao ADN para o
tornar mais compacto). É adicionado etanol que precipita o ADN, de modo a que este
fique adsorvido numa membrana sílica-gel da coluna durante a centrifugação. São
adicionadas duas solução-tampão de lavagem de modo a remover quaisquer
contaminantes e impurezas. De seguida, o ADN é eluído com tampão de eluição (AE).
A quantificação da amostra é feita no NanoDrop®.
5.4.2.2.Sequenciação ou PCR em tempo real
A deteção das mutações referidas anteriormente pode ser realizada por PCR e
Sequenciação de Sanger ou por PCR em tempo real, sendo que a escolha da técnica a usar
depende da qualidade da amostra e da percentagem de células neoplásicas presentes na
amostra.
Na primeira, ocorre amplificação dos exões seguida de sequenciação a partir de
ADN extraído de tecido tumoral, segundo procedimentos já descritos neste trabalho. A
purificação do produto de PCR é realizada por vácuo e a purificação dos produtos para
sequenciação é através do método de etanol/acetato de sódio. Utilizando esta técnica é
possível detetar a maioria das mutações somáticas se a percentagem de células mutadas
for superior a 20 ou 30 % da totalidade das células da amostra. É o método recomendado
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
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150
porque permite a identificação de mutações conhecidas ou não descritas em toda a região
codificante testada.
A técnica de PCR em tempo real é realizada num equipamento, Idylla™ da
Biocartis, que permite a deteção das mutações mais frequentes, designados por hotspots.
É a melhor opção quando as amostras têm baixa infiltração tumoral (até ao mínimo de
10% de células tumorais) e/ou baixo conteúdo celular. Este aparelho totalmente
automatizado, realiza a extração e genotipagem dos genes pretendidos. A amostra é
colocada num cartucho e o procedimento demora apenas duas horas. No entanto, não
deteta mutações raras na população do cancro do pulmão, só mutações com uma
frequência >1%. (126)
5.5.Controlo de Qualidade em Genética
Controlo de Qualidade Interno
A GenoMed é um laboratório certificado pela norma ISO 9001. A política de
gestão do laboratório tem como principais objetivos a melhoria contínua da qualidade dos
serviços prestados e a promoção da satisfação do cliente. Para garantir a sua concretização
aposta numa estratégia de garantia da qualidade, nomeadamente através de
procedimentos de CQI e da participação em programas de avaliação externa da qualidade,
realizados por entidades apropriadas. Todo o trabalho desenvolvido tem ainda por base
guidelines e recomendações emitidas por instituições internacionais prestigiadas e de
referência nas respetivas áreas, tais como Best practice guidelines – Rede Europeia de
Qualidade Genética Molecular (EMQN, do inglês, European Molecular Genetics Quality
Network) ou Cytogenetic Guidelines and Quality Assurance – EuroGentest.
Com vista ao controlo da qualidade, os procedimentos encontram-se
implementados em pontos-chave ao longo de todo o processo, desde a fase pré-analítica,
passando pela fase analítica e finalmente pós-analítica.
Todos os laboratórios necessitam de ter implementado um sistema que garanta
que os resultados obtidos são fiáveis, que passa primeiramente por garantir que uma
amostra é atribuída ao paciente certo. Deste modo, e para garantir uma menor taxa de
erro devido ao operador, todos os procedimentos de identificação de amostras e tubos de
ensaio são confirmados por um segundo operador, bem como alguns procedimentos
realizados na citogenética como a avaliação das lâminas de FISH. O sucesso ou fracasso
IX Mestrado Análises Clínicas Parte II
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151
das técnicas utilizadas também depende da qualidade dos reagentes em uso. É essencial
manter registos dos lotes usados, meios de cultura e reagentes, bem como a data em que
foram colocados a uso ou preparados. Também é mantido um registo da pessoa
responsável pelo processamento da amostra e procedimentos posteriores.
Todas as técnicas são otimizadas, de modo a garantir resultados reprodutíveis e
fiáveis e são realizados tratamentos estatísticos dos resultados, de modo a identificar
possíveis erros e verificar se há capacidade de melhoria, sendo que qualquer mudança na
taxa de sucesso das técnicas, deve ser estudada prontamente.
Avaliação Externa da Qualidade
Relativamente à AEQ, a GenoMed participa em programas promovidos por várias
entidades: Controlo de Qualidade para o Diagnóstico Molecular (QCMD do inglês,
Quality Control for Molecular Diagnosis), EMQN, Rede Europeia do Mieloma (EMN,
do inglês, European Myeloma Network), UK-NEQAS e GHEP-ISFG (Grupo de Línguas
Espanhola e Portuguesa da Sociedade Internacional de Genética Forense). Os resultados
obtidos na prestação de serviços são desta forma validados ao mais alto nível e
internacionalmente e o conhecimento daí obtido é incorporado no trabalho desenvolvido
na GenoMed, permitindo uma actualização e inovação constante.
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Parte III
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Resumo
163
Resumo
O paradigma da infeção por Plasmodium falciparum em mulheres grávidas
seropositivas para HIV: a prevenção da transmissão vertical e a infeção congénita
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o impacto da interação entre
Plasmodium falciparum e Vírus da Imunodeficiência Humana é mais aparente em áreas
com epidemia generalizada deste vírus e transmissão estável de malária. Cerca de um
milhão de grávidas anualmente sofrem complicações devido à coinfeção entre malária e
Vírus da Imunodeficiência Humana, sendo particularmente importante na África
subsariana. A coinfeção está associada a morbidez da mãe e do recém-nascido, parto
prematuro, baixo peso ao nascer, atraso no crescimento intrauterino e mortalidade pós-
natal. O estudo da infeção placentária pelo Plasmodium falciparum na gravidez apresenta
resultados conflitantes em que o parasita poderá ou não exercer um efeito protetor
relativamente à transmissão vertical do Vírus da Imunodeficiência Humana.
A Organização Mundial de Saúde recomenda o uso de tratamento preventivo
intermitente e redes tratadas com inseticidas a todas as mulheres grávidas em áreas de
transmissão de Plasmodium falciparum, bem como testes para diagnóstico do vírus e
terapêutica antirretroviral, se indicado. No entanto, a eficácia dos fármacos poderá ser
reduzida, estando dependente da resposta imunológica do hospedeiro, que é alterada com
a coinfeção e, as interações entre antirretrovirais e antimaláricos são um dilema na
profilaxia e tratamento das duas patologias. Além disso, a redução da coinfeção e
vigilância de efeitos adversos nas mulheres grávidas depende do acesso e qualidade dos
serviços de saúde das localidades.
Na presente monografia é feita uma revisão acerca das interações entre os dois
agentes de infeção na mulher grávida, referindo fármacos e estratégias utilizados na
prevenção da transmissão da coinfeção.
Palavras-chave: Plasmodium falciparum, Malária, Vírus da Imunodeficiência Humana,
Coinfeção, Gravidez.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Abstract
164
Abstract
The paradigm of Plasmodium falciparum infection in HIV-positive pregnant women:
prevention of vertical transmission and congenital infection
According to the World Health Organization, the impact of the interaction
between Plasmodium falciparum and Human Immunodeficiency Virus is mainly
observable in areas of generalised epidemics of this virus and stable transmission of
malaria.
Annually, about a million pregnant women suffer from complications due to the
coinfection of malaria and Human Immunodeficiency Virus, which is particularly crucial
in Sub-Saharan Africa. The coinfection is associated with the mother and the newborn
morbidity, delay in the intrauterine growth, premature labor, decrease in the newborn’s
weight and postnatal mortality. The study of the Plasmodium falciparum placental
infection reveals conflicting results since the parasite may or may not have a protective
effect on the vertical transmission of the Human Immunodeficiency Virus.
The World Health Organization recommends the use of intermittent preventive
treatment and insecticide treated nets to all pregnant women in areas of possible
transmission of Plasmodium falciparum, moreover, Immunodeficiency Virus tests and
anti-retroviral therapy if required. Nevertheless, the efficacy of drugs may be reduced
depending on the host’s immune response, which is altered with the coinfection.
Moreover, the interaction between antiretroviral and antimalarial drugs are a serious
problem in the prophylaxis and treatment of both pathologies. In addition, the reduction
of the coinfection and surveillance of adverse effects in pregnant women depends on the
free access and quality of local health services.
In the present monography, a review is made taking into account the interactions
between these two agents in pregnant women, specifying the antiviral and antimalarial
drugs and strategies needed to control and prevent the transmission of this coinfection.
Keywords: Plasmodium falciparum, Malaria, Human Immunodeficiency Virus,
Coinfection, Pregnancy.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Objetivos
165
Objetivos
O objetivo da presente monografia passa por analisar a situação da coinfeção por
Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV, do inglês, Human Immunodeficiency Virus) e
Plasmodium falciparum no contexto da gravidez e compreender o efeito do parasita na
transmissão vertical do vírus. Pretende-se também indicar de que forma a infeção
congénita pode ser prevenida, revendo abordagens e fármacos utilizados para este efeito.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Material e Métodos
166
Material e Métodos
Para a elaboração desta monografia foi realizada uma consulta de páginas na
internet e foram analisados e interpretados vários artigos científicos originais e de revisão,
publicados entre 1991 e 2017.
A pesquisa bibliográfica foi realizada no período compreendido entre Janeiro e
Outubro de 2017. Como fontes de pesquisa foram utilizados a plataforma Pubmed
(www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/) e as páginas de internet do Centro de Controlo e
Prevenção de Doenças (CDC, do inglês, Centers for Disease Control and Prevention)
(www.cdc.gov) e Organização Mundial de Saúde (WHO, do inglês, World Health
Organization) (http://www.who.int/en/). Para iniciar a procura bibliográfica foram
utilizadas as seguintes palavras-chave: Malária, Plasmodium falciparum, HIV,
Coinfeção, Gravidez, Revisão.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Introdução
167
1.Introdução
A coinfeção entre o Plasmodium falciparum e Vírus da Imunodeficiência Humana
(HIV) é prevalente em zonas onde estes dois gigantes se sobrepõem. Isto é
particularmente relevante na África subsariana, onde a malária é endémica e a infeção por
HIV afeta até 40% das mulheres grávidas. (1,2)
Estas mulheres estão particularmente vulneráveis às consequências da infeção
causada pelo parasita mais predominante e letal causador de malária, Plasmodium
falciparum (figura1), transmitido por mosquitos fêmea do género Anopheles (figura 2).
(3)
A infeção aguda originada pelos estadios do parasita no sangue causam febres,
arrepios de frio (malária não complicada), podendo em casos mais graves comprometer
o cérebro e outros órgãos e levar à morte (malária severa ou complicada). Mulheres que
desenvolveram imunidade contra o parasita tendem a perde-la aquando da gravidez e a
patologia torna-se grave, não só para a mãe, como para o feto e recém-nascido. A malária
associada à gravidez pode resultar em aborto, anemia e baixo peso ao nascer, originado
por restrição no crescimento intrauterino e parto prematuro. (4–6)
Figura 1. Gametócito e trofozoítos de Figura 2. Mosquito do género
P. falciparum num esfregaço de sangue. Anopheles. Adaptado de (4).
Adaptado de (5).
Por sua vez, infeção com o HIV resulta na depleção de linfócitos TCD4+, células
preferenciais para a replicação do vírus, o que torna os indivíduos infetados vulneráveis
a infeções oportunistas (figura 3). (8,9)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Introdução
168
A coinfeção com HIV é a principal causa de morte entre as mulheres em idade
reprodutiva. Em 2013, 54% das gravidezes de mulheres em países de baixo e médio
rendimento não foram testadas para o HIV, algo necessário à prevenção, cuidados e
tratamento da infeção. (10)
No caso da mulher grávida, a carga viral materna é o melhor fator preditivo de
transmissão perinatal do HIV. Existe uma relação diretamente proporcional entre maiores
cargas virais e o maior risco de transmissão, apesar de esta poder ocorrer com quaisquer
valores de carga viral detetáveis pelas técnicas de diagnóstico presentemente
disponíveis.(11)
As mulheres grávidas seropositivas para HIV estão mais suscetíveis a
complicações, tais como: partos prematuros, limitação do crescimento uterino,
desenvolvimento de anemia severa, morte fetal intrauterina (e consequente aborto) e taxa
de mortalidade materna e neonatal superiores, quando comparadas com mulheres não
infetadas com este vírus. (12)
Figura 3. Imagem de microscopia eletrónica da libertação de novas partículas víricas de
HIV a partir de linfócitos humanos em cultura (in vitro). Adaptado de (13).
Na grávida, a coinfeção entre P. falciparum e HIV está associada a elevada
morbidez da mãe e da criança. (8) Existe também um risco aumentado de ocorrência de
parto prematuro, baixo peso ao nascer e atraso no crescimento intrauterino. (14–17)
Foi sugerido que a infeção pelo HIV em grávidas aumenta o risco de infeções
placentárias, periféricas e do cordão umbilical, para além de originar aumento na
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Introdução
169
densidade parasitária, mortalidade pós-natal e morte maternal como resultado de infeções
severas e frequentes devidas à malária. (1,16,18) Contudo, ainda não é certo se a
suscetibilidade aumentada ao parasita é originada pelo impacto do HIV na imunidade
humoral e celular em relação à malária ou se é devido à imunossupressão originada
exclusivamente pelo vírus. (16)
Por outro lado, a parasitémia nas grávidas estará associada a um aumento das
cargas virais do HIV e este valor poderá ter impacto nas taxas de transmissão e na sua
transmissão vertical. (5,14) A Organização Mundial de Saúde (WHO) estima que na
África subsariana, no ano de 2003, pelo menos 440 000 mulheres foram infetadas com
Plasmodium falciparum na gravidez devido a estarem previamente infetadas com
HIV.(17)
Uma fraca resposta ao tratamento da infeção por Plasmodium falciparum durante
a gravidez e a práticas profiláticas podem ser atribuídas à presença da infeção por HIV.
(17) Os efeitos do tratamento da malária em grávidas infetadas com HIV são uma
preocupação, devido à alteração da imunidade induzida pelo vírus que pode afetar a
resposta ao tratamento antimalárico padrão. (19) Além disso, existem dados
contraditórios sobre o efeito da terapêutica antirretroviral (ART, do inglês, antiretroviral
therapy) no resultado da gravidez (11,12) e o tratamento e prevenção da coinfeção é um
desafio devido à potencial interação entre os diferentes fármacos. (20,21)
É também preocupante o facto das mulheres que vivem nos países designados de
subdesenvolvidos, onde a coinfeção é prevalente, se apresentarem tardiamente para
cuidados pré-natais, o que torna difícil a aplicação de serviços preventivos. (22) É
necessário que as abordagens dos cuidados de saúde nestes países sejam direcionadas
para o aconselhamento destas mulheres, para o diagnóstico correto e para a melhoria dos
serviços prevenção como controlo vetorial através, por exemplo, do uso de redes tratadas
com inseticidas (ITNs, do inglês, insecticide-treated bednets), profilaxia com
antimaláricos, bem como acesso a tratamentos de modo a prevenir as elevadas taxas de
mortalidade e morbidade associadas à coinfeção e à transmissão vertical do vírus.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Epidemiologia da Coinfeção
170
2.Epidemiologia da Coinfeção
A transmissão de malária ocorre em áreas tropicais e subtropicais, onde o vetor da
sua transmissão sobrevive e se multiplica e, onde o parasita pode completar o seu ciclo
no mosquito. (4) Além disso, é dependente de fatores climáticos (humidade e
temperatura), de fatores inerentes ao parasita, ao vetor e ao hospedeiro humano. (23)
Os efeitos e complicações da infeção por Plasmodium falciparum na gravidez são
também dependentes da carga parasitária aquando da transmissão de malária e assim, da
imunidade pré-existente, adquirida pela mulher grávida. Neste sentido, em locais
instáveis de transmissão, onde esta é pouco frequente, a imunidade não é adquirida, pelo
que a malária causa manifestações de infeção aguda febril, que podem levar à morte e à
perda do feto. Por outro lado, em locais onde a taxa de transmissão é estável e elevada,
as grávidas são normalmente assintomáticas, apesar da malária placentária originar
normalmente algumas complicações, tais como alteração do peso ao nascer que, por sua
vez originam risco aumentado de mortalidade. (3,15,20)
No início de 2016, a malária foi considerada endémica em 91 países, diminuindo
dos 108 existentes no ano 2000 (figura 4). No entanto, esta infeção continua a ter um
efeito devastador na vida e saúde das pessoas, particularmente na África subsariana. (24)
Figura 4. Distribuição mundial da malária. Países endémicos em 2016 (azul), países
endémicos em 2000, não endémicos em 2016 (verde). Adaptado de (24).
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Epidemiologia da Coinfeção
171
Segundo a WHO, estima-se que mundialmente 0,8% das pessoas entre os 15 e 49
anos são seropositivos para HIV (figura 5). A África subsariana é a área mais afetada,
com aproximadamente 1 em cada 24 adultos (4,2%) a viverem com HIV e tornando-se
cerca de dois terços, mundialmente. (25)
Existem dois tipos de Vírus da Imunodeficiência Humana, o HIV-1 e o HIV-2,
sendo o primeiro responsável pela maioria dos casos de SIDA. O HIV-2 apresenta o seu
epicentro na África Ocidental e comparativamente ao HIV-1, é menos transmissível e está
associado a uma menor carga viral plasmática e taxa de progressão mais baixa. Para além
disso, a escolha da terapêutica antirretroviral difere nos dois tipos, o que revela clara
importância na diferenciação entre HIV-1 e HIV-2. (17,26)
A transmissão vertical do HIV pode ocorrer em qualquer altura na gravidez,
durante o parto ou amamentação. No entanto, se a mulher fizer terapêutica antirretroviral
na fase inicial na gravidez, o risco de transmissão vertical pode ser reduzido quase na
totalidade. Segundo uma estimativa do CDC em 2006, aproximadamente 8,500 mulheres
infetadas dão à luz anualmente e, entre 1994 e 2010, foram prevenidos cerca de 21,000
casos de transmissão vertical. (9)
Figura 5. Prevalência mundial do HIV entre os 15-49 anos em 2016. Adaptado de (25).
A distribuição geográfica das duas patologias difere: a malária é mais comum em
áreas rurais, atingindo mais facilmente mulheres grávidas e crianças. Em contraste, as
taxas de HIV são geralmente mais elevadas em áreas urbanas e entre jovens adultos. (20)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Epidemiologia da Coinfeção
172
No entanto, a análise das figuras 4 e 5 revelam uma clara sobreposição entre as
áreas mais afetadas por HIV e malária. A prevalência da coinfeção é mais elevada na
África subsariana, existindo também no Sudoeste Asiático, América Latina e Caraíbas,
sendo o impacto das interações mais aparente em áreas com epidemia generalizada do
vírus e transmissão estável de malária. No entanto, esta distribuição varia a nível local e
regional, mesmo em países com alta prevalência de ambas as infeções. Na América
Latina, Caraíbas, Belize, El Salvador, Honduras, Guiana e Brasil ocorrem sobreposições
de infeção por P. falciparum e HIV. Por outro lado, os países do Sudoeste Asiático, como
Myanmar e Tailândia, apresentam epidemia generalizada de HIV, mas a distribuição de
malária é heterogénea. Dada a sobreposição das áreas de ocorrência e a resultante
coinfeção, a interação entre as duas patologias terá grandes implicações, estimando-se,
por exemplo, que um bilião de pessoas no Sudoeste Asiático estando exposto a malária,
pequenas sobreposições entre malária e HIV nessas zonas terão um elevado impacto na
saúde pública. (17)
Na África subsariana, anualmente cerca de um milhão de grávidas sofrem
complicações devido à coinfeção entre malária e HIV. (27) Segundo a WHO, em 11 dos
43 países da África subsariana endémicos para malária, nomeadamente Moçambique,
Malawi e Uganda, pelo menos 10% das mulheres grávidas que realizam consultas pré-
natais estão infetadas com HIV. (17)
As infeções por HIV e malária interagem em diferentes áreas geográficas, tendo
como resultado efeitos na transmissão, manifestações clínicas, resposta a fármacos de
prevenção e tratamento.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Interações entre Malária e HIV na gravidez
173
3.Interações entre Malária e HIV na Gravidez
3.1.Impacto do HIV na malária durante a gravidez
Tem sido descrito que o HIV está associado a um aumento na prevalência da
infeção por Plasmodium falciparum na gravidez. (28,29) Um estudo em Ruanda refere
que a presença do HIV (mas não o título de células T CD4+) está relacionado com risco
aumentado de desenvolver malária. (30)
No geral, a informação sobre o impacto do HIV na mulher com malária indica que
a infeção pelo vírus prejudica a habilidade da grávida de controlar a infeção pelo parasita.
Alguns estudos revelam que as mulheres grávidas infetadas com HIV estão em maior
risco de sofrerem infeções placentárias e periféricas pelo P. falciparum, relativamente a
grávidas seronegativas para este vírus. (1,16,18)
A infeção pelo HIV aumenta complicações da infeção causada pelo parasita e
origina um maior risco de evolução do quadro clínico de malária nas grávidas.
(3,15,17,18) O quadro clínico de malária é definido como febre documentada ou um
historial de febre, na presença de parasitémia detetada pela análise microscópica do
esfregaço de sangue. (31)
Nas mulheres seronegativas para HIV, ocorre o desenvolvimento de imunidade
adquirida à malária. No entanto, esta imunidade poderá estar comprometida em grávidas
seropositivas, resultando numa menor capacidade de limitar a infeção pelo P.
falciparum.(15–17,32) Isto poderá explicar a razão pela qual o risco referido
anteriormente ser mais marcado em mulheres com gravidezes múltiplas, pois
independentemente do número de gravidezes, as mulheres continuam suscetíveis à
infeção pelo parasita. (1,15–17) Por outro lado, a suscetibilidade aumentada nestas
mulheres poderá ser também devido a uma exposição mais longa ao vírus, originando
uma maior imunodeficiência.(1,16,31)
Em mulheres coinfetadas também se verificam aumentos nas densidades
parasitárias do cordão umbilical, placenta e sangue periférico, em comparação com
grávidas não infetadas com HIV, o que explica os riscos aumentados (anemia, baixo peso
ao nascer) nestas mulheres, mais uma vez, evidenciados em mulheres com mais do que
duas gravidezes. (1,5,16,31) No entanto, outros estudos mais antigos referem não existir
relação entre a infeção por HIV e parasitémia em mulheres grávidas. (5,33)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Interações entre Malária e HIV na Gravidez
174
Um estudo realizado em Malawi com mulheres entre o segundo trimestre de
gravidez e o parto, concluiu que em primigrávidas, não houve diferença entre a taxa de
parasitémia entre mulheres com e sem a presença de HIV. No entanto, em mulheres com
mais do que duas gravidezes e, com infeção pelo HIV, o risco de parasitémia é duas vezes
superior aquelas que são seronegativas e é constante ao longo da gravidez. Estes dados
podem significar que o vírus altera a proteção adquirida pelas mulheres anteriormente
descrita. Os autores referem que os dados obtidos para a primeira gravidez podem ser
devidos a comportamentos preventivos superiores em primigrávidas. (34) Segundo
Verhoeff et al, nas grávidas infetadas com HIV que não tomaram medicação contra a
malária, a prevalência da parasitémia aumentou desde o início da gravidez até ao
momento do parto e, que nesta altura, mesmo as que receberam duas doses de
antiparasitários apresentavam parasitémia elevada. (28)
O aumento da parasitémia na placenta pode ser devida à ação do vírus em diversos
locais, originando baixos títulos de anticorpos ou através da infeção de macrófagos que
ficam impedidos de fagocitar eritrócitos infetados na placenta. (5) Este impedimento (de
realizar a fagocitose dos eritrócitos infetados) pode explicar porque é que as populações
de macrófagos se alteram durante a coinfeção na gravidez. (16)
A imunidade humoral contra a malária na gravidez é mediada através da aquisição
de anticorpos contra antigénios expressos na superfície de eritrócitos infetados. A infeção
placentária pela malária pode ocorrer quando as grávidas são infetadas por parasitas que
produzem antigénios variantes de superfície (VSAs, do inglês, variant surface antigens)
na superfície dos eritrócitos infetados, que possuem afinidade para recetores nas células
placentárias, nomeadamente o recetor sulfato de condroitina A (CSA). (34) Estes
anticorpos encontram-se em menor número em grávidas coinfetadas, sendo mais notado
naquelas com contagens mais baixas de células T CD4+. (1,35) Segundo Jaworowski et
al., a função de opsonização dos anticorpos anti-VSA na clearance dos eritrócitos
infetados terá um papel mais importante do que o bloqueio de adesão do parasita ao
recetor. No entanto, a infeção pelo vírus em mulheres grávidas não foi associada à menor
atividade de opsonização. (35) O contrário é demonstrado por Keen et al, usando ensaios
de citometria de fluxo, em que mulheres grávidas infetadas com HIV apresentam níveis
mais baixos de atividade de opsonização do que as seronegativas. (36) O mesmo é
observado nos estudos em grávidas coinfetadas em Malawi e no Quénia. No entanto,
apesar de as mulheres infetadas com o HIV apresentarem níveis de atividade de
opsonização mais baixos no plasma (níveis mais baixos associados a imunodeficiência),
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Interações entre Malária e HIV na gravidez
175
não detinham uma diminuição da inibição de ligação ao recetor pelos eritrócitos infetados.
(5) Deste modo, a possibilidade do vírus afetar este mecanismo de clearance dos
eritrócitos infetados, aumenta a suscetibilidade da grávida à infeção pelo Plasmodium
falciparum.
Um dos antigénios mais referidos é o antigénio variante de superfície VAR2CSA,
um antigénio de superfície do eritrócito infetado que permite a ligação à placenta através
do CSA. Esta adesão dos eritrócitos infetados ao recetor na placenta é bloqueada pelos
anticorpos anti-VAR2CSA. (5,16) A função destes anticorpos é assistir na eliminação dos
parasitas, através da opsonização dos eritrócitos infetados para posterior fagocitose pelos
macrófagos. (5) Alguns estudos indicam que mulheres infetadas com o HIV têm títulos
mais baixos destes anticorpos, contribuindo para o elevado número de parasitas ao nível
da placenta. (5,16) Além disso, esta diminuição estará relacionada com o grau de
imunodeficiência (associado ao número de células T CD4+). (5)
Ayisi JG et al. avaliaram o efeito da infeção por HIV nas respostas dos anticorpos
contra P. falciparum em sangue maternal e do cordão umbilical e, determinaram que o
vírus diminuiu a resposta humoral contra a proteína da superfície do merozoito-2 (MSP,
do inglês, merozoite surface protein) no sangue maternal e de um antigénio
imunodominante que consiste em 5 repetições da sequência de aminoácidos da proteína
circunsporozoíta, (NANP)5, cujos anticorpos anti-NANP impedem os esporozoítos de P.
Falciparum de infetar as células do fígado, no sangue maternal e cordão. Não foram
observadas as mesmas respostas diminuídas para os anticorpos contra MSP-1, antigénio
de ligação ao eritrócito 175 (EBA-175), MSP-3, e proteína associada a róptrias 1 (RAP-
1 do inglês, rhoptry associated protein). O autor refere que período assintomático da
infeção pelo HIV não afeta os títulos de anticorpos contra antigénios da malária em
mulheres grávidas. (37)
Mount A M. et al. estudaram o efeito da imunossupressão causada pelo HIV nas
respostas de anticorpos ao VSA associados à gravidez e a dois antigénios do merozoíto
com papéis na invasão dos eritrócitos, MSP-1e antigénio de membrana apical 1 (AMA-
1) e concluíram que o HIV bloqueia a capacidade das grávidas de criar respostas de
anticorpos contra estes antigénios. No caso do VSA, foi feita uma associação direta com
o numero de células T CD4+ e inversa com a carga viral do HIV. (38)
Deste modo, o HIV terá um papel importante na imunidade mediada por
anticorpos contra a malária na grávida. Não se conhece a causa, mas sendo que afeta as
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Interações entre Malária e HIV na Gravidez
176
respostas de alguns anticorpos contra antigénios da malária, mas não todos, não será
devida a uma alteração geral na resposta humoral em relação à malária.
Para além de inibir a fagocitose, o HIV atua alterando a estimulação de secreção
de citocinas, contribuindo para diminuir a proteção contra a malária placentária. Sendo o
P. falciparum um parasita intracelular, a sua eliminação requer respostas imunológicas
celulares que envolvam macrófagos. Os níveis de interferão-gama (INF-γ), uma citocina
com papel protetor de ativação de macrófagos para eliminar parasitas da malária, estão
reduzidos em mulheres coinfetadas, relativamente a seronegativas, sugerindo que o HIV
reduz a produção desta citocina. Para além disso, esta redução na produção de INF-γ está
associada ao número de células T CD4+. (1,16,29)
Outras citocinas, nomeadamente a IL (interleucina) -12 (reguladora do INF-γ)
também se encontra em níveis mais baixos. (1,16,31) No entanto, outro estudo indica que
a IL-18, outra citocina reguladora do INF-γ, não tem os seus níveis alterados pela
presença de HIV. (1,31) Estes dados indicam que o processo pelo qual o vírus infere na
patologia parasitária pode passar pela desregulação de citocinas, bloqueando a resposta
imunológica contra a malária placentária.
3.2.Impacto da malária maternal no HIV
Existe disponível pouca informação acerca do impacto da infeção por P.
falciparum na ação do HIV durante a gravidez.
Um estudo antigo em grávidas em Ruanda indica que a infeção pela malária
poderá facilitar a infeção pelo HIV, pois o vírus replica-se mais facilmente em linfócitos
estimulados pelos antigénios da malária.(33)
Resumidamente, estudos realizados em mulheres grávidas indicam que a
parasitémia periférica está associada a um aumento na carga viral periférica do HIV e que
a malária placentária está associada a um aumento nas concentrações de ácido
ribonucleico (ARN) do vírus na placenta e no sangue periférico, sendo mais ou menos
evidente, tendo em conta a densidade parasitária na placenta. (1,14–16,20,31,32) Estes
níveis serão independentes da contagem de células CD4+ e do grau de imunossupressão.
(15,17,31) O aumento da carga viral plasmática do HIV, originada pela infeção por P.
falciparum é parcialmente reversível com aplicação de tratamento antimalárico em
mulheres grávidas. (17)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Interações entre Malária e HIV na gravidez
177
Segundo Franke MF et al, a parasitémia está associada ao aumento de carga viral
em gestantes infetadas com HIV, no entanto, o estudo não encontrou uma forte associação
entre a parasitémia e a progressão da patologia viral, apesar desta progressão ser superior
em indivíduos mais imunodeprimidos e com menor parasitémia. (39)
Segundo Ivan E. e seus colegas, em grávidas infetadas com HIV, a presença de
malária não está associada a baixos títulos de células TCD4+. (30) No entanto, o oposto é
observado por num estudo que caracterizou os padrões de citocinas na coinfeção na
gravidez, indicando que a presença da infeção pelo parasita está associada a baixas
contagens de células T CD4+ por parte dos sujeitos de teste. (40)
Outros estudos não encontram nenhuma associação entre os efeitos da infeção por
P. falciparum na carga viral de HIV e na progressão da patologia. (1,15,16)
Um ensaio realizado in vitro revelou que a ligação de uma adesina recombinante
do parasita ao recetor CSA em células humanas placentárias aumentou a replicação do
HIV nessas células, possivelmente devido a estimulação com fator de necrose tumoral
alfa (TNF-α). (14)
O aumento de antigénios do parasita na placenta, resultam em expressões
inflamatórias aumentadas de monócitos e macrófagos, que por sua vez, aumentam a
expressão de citocinas como o TNF-α. (31,40) Além disso, foi demonstrada uma indução
da produção de TNF-α por trofoblastos, quando estes são ativados por um antigénio de
P.falciparum. Foi também referido que o pigmento da malária (hemozoína) aumenta a
produção da citocina por células mononucleares em mulheres infetadas com HIV,
aumentando a replicação do vírus. Um outro mecanismo envolve o
glicosilfosfatidilinositol (GPI), a âncora de antigénios de merozoítos ligados
covalentemente, como MSP-1 e MSP-2, que também podem induzir a produção da
citocina pelos macrófagos. (41)
O TNF-α está envolvido na transmissão viral transplacentária e a replicação do
HIV é mediada por esta citocina (40)
Em contradição, o parasita induz também a expressão de IL-10 (citocina que
regula negativamente a resposta inflamatória na gravidez), suprimindo a resposta
inflamatória e desta forma, reduz a carga viral do HIV e consequentemente a replicação
do vírus. (40)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Interações entre Malária e HIV na Gravidez
178
3.3.Efeito da malária na transmissão vertical do HIV
Observações por parte de vários autores têm implicado a malária como potencial
fator de risco na transmissão vertical do HIV. Um estudo realizado em Uganda em
mulheres seropositivas revela taxas de 40% de transmissão vertical do HIV em mães com
malária placentária e 15,4% em mães sem malária placentária. (1) No Gâmbia, onde a
transmissão de malária ocorre quase exclusivamente na estação chuvosa, as taxas de
transmissão vertical do HIV-1 e HIV-2 que foram 14,8% e 1,7%, respetivamente, subiram
para 29,4% e 7,1%, respetivamente, durante a estação chuvosa, altura em que transmissão
de malária ocorre quase exclusivamente. No entanto, a possibilidade de atribuição deste
aumento à malária não foi comprovado, sendo que as parasitémia nas mães não foram
avaliadas. (42) Um estudo realizado no Quénia, com o objetivo de avaliar a transmissão
perinatal do HIV, numa área endémica de malária, revelou que 20% das crianças nascidas
de mães seropositivas ficaram infetadas pelo HIV pelos quatro meses de idade. No
entanto, as mulheres com malária placentária tinham taxas mais baixas de transmissão,
comparativamente aquelas sem malária placentária. Por outro lado, mulheres com
elevadas densidades parasitárias apresentavam taxas elevadas de transmissão. No entanto,
apenas foram estudadas mulheres infetadas com o HIV, e consideradas saudáveis, sem
síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA) ou patologias crónicas, que poderiam
estar medicadas com fármacos antimaláricos. (2)
Um ensaio clinico realizado em Malawi, Zâmbia e Tanzânia não associou a
malária placentária à transmissão vertical do HIV, apesar de as grávidas com menor
numero de células T CD4+ e maiores cargas virais plasmáticas terem maior risco de
transmissão vertical do HIV. (43)
Deste modo, a observação de que a malária placentária aumenta o risco de
transmissão vertical do HIV não é certa, existindo resultados contraditórios indicando não
existir nenhuma associação (31,44), ou mesmo indicando que a malária diminui o risco
de transmissão do vírus da mãe para o feto. (17) As diferenças no número de células T
CD4+, cargas virais e estado imunológico da mãe, podem explicar a discrepância nos
resultados.
Para além do aumento das concentrações do vírus, encontrados em mães
coinfetadas, é possível que as células fetais expostas ao P. falciparum estejam num estado
elevado de ativação, sendo mais permissivas à replicação do vírus. (16) Além disso, um
aumento na carga viral na placenta, devido à presença dos parasitas, poderá estar
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Interações entre Malária e HIV na gravidez
179
associado com excreção aumentada do vírus no trato genital, aumentando desta forma o
risco de transmissão vertical do HIV. (44)
Também tem sido referida uma associação entre a malária placentária e um
aumento na expressão dos recetores de quimiocinas tipo 5 (CCR5), co-recetor da entrada
viral, em macrófagos na placenta, indicando que a infeção pelo parasita na placenta pode
levar a um aumento da transmissão vertical do HIV. (14,15,18,20,21,42) Segundo Ter
Kuile e colaboradores, a expressão deste co-recetor está naturalmente aumentada em
macrófagos placentários e células fetais. (31) O mesmo é reportado num estudo que
comparou a expressão de CCR5 em grávidas com e sem malária placentária, que refere
que citocinas pro-inflamatórias presentes na placenta devido à malária poderão induzir a
expressão deste recetor indiretamente (42)
Foi referido que a infeção pelo Plasmodium falciparum provoca alterações nos
padrões de citocinas inflamatórias na placenta e que também interferem com a
transmissão vertical (16). Este parasita aumenta a produção de citocinas pelos linfócitos
ativados (IL-6 e TNF-α) que estimulam a replicação do HIV. (14)
Por outro lado, foi também relatado que a malária poderá favorecer produção de
INF-γ, diminuindo a replicação do vírus. (2,14) Além disso, os antigénios da malária
podem induzir a produção de fator inibidor de leucemia (LIF, do inglês, leukemia
inhibitory factor), que é um inibidor da replicação do vírus. (1,14) Este fator está
aumentado em placentas de mulheres que não transmitem o HIV. (2)
Em mulheres com imunossupressão devida ao HIV foram descritas diminuições
na produção de INF-γ e aumento na expressão de TNF-α. (16) Em grávidas
imunocomprometidas, com níveis baixos ou não de T CD4+, a capacidade de criar uma
resposta protetora à infeção pelo Plasmodium falciparum na placenta é reduzida, pelo que
a infeção pode favorecer o aumento de certas citocinas como o TNF-α, aumentando a
replicação do HIV. (1)
Em mulheres com HIV imunocompetentes, existe um aumento na produção de
certas quimiocinas: proteína inflamatória de macrófagos-1 (MIP, do inglês, macrophage
inflammatory protein) e ligando do recetor de quimiocinas 5 (RANTES, do inglês,
Regulated on activation, normal T cell expressed and secreted), que inibem a entrada do
vírus nas células, bloqueando a ligação do vírus ao CCR5, pois possuem o mesmo recetor
e atuam competitivamente. (1,14,16,31) Nestas mulheres, os títulos de células T CD4+
são normais e quando infetadas com malária, são capazes de criar respostas imunológicas
protetoras. (1)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Interações entre Malária e HIV na Gravidez
180
Risco Proteção
Imunocompetência
↑ MIP-1
↑ RANTES
↑ INF-γ
↑ LIF
↓ Replicação HIV
Imunossupressão
↑ TNF-α
↓ INF-γ
↑ IL-6
↑ CCR5
↑ Replicação HIV
Deste modo, artigos contraditórios referem que as alterações no padrão de
citocinas são devidas a variações na imunocompetência maternal, que estando
imunocomprometidas devido à gravidez terão menor capacidade de respostas
imunológicas protetoras, logo maiores cargas parasitárias e virais, estando diretamente
associado a um maior risco de transmissão vertical. (14) Segundo Ayisi e seus colegas, a
ação da malária na transmissão vertical do vírus poderá ser de proteção ou de aumento do
risco dependendo da parasitémia na placenta e da cronicidade da patologia, bem como
outros fatores da infeção placentária. (41)
No entanto, existem estudos que não revelam uma associação causal direta entre
a malária e a transmissão do HIV indicando, por exemplo, que a malária placentária
danifica a integridade da placenta, devido à resposta inflamatória à infeção, e assim
aumenta o risco de transmissão vertical, ou que pode existir uma alteração na estrutura da
placenta, que permite a mistura de sangue materno e fetal. (14)
Podemos observar na figura 6 um modelo hipotético da ação da malária na
transmissão vertical do HIV.
Transmissão vertical do HIV
Figura 6. Modelo hipotético da ação da malária na transmissão vertical do HIV.
Grávidas com malária
placentária infetadas com HIV
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Implicações da Coinfeção na Mãe e no Recém-nascido
181
4.Implicações da Coinfeção na Mãe e no Recém-nascido
A coinfeção entre P. falciparum e HIV está associada não só a elevada morbidez
da mãe e da criança, como também ao risco aumentado de ocorrência de parto prematuro,
baixo peso ao nascer e atraso no crescimento intrauterino. (14–17) Além disso, a
exposição do feto a ambas as patologias, malária placentária e HIV, poderá aumentar o
risco de mortalidade pós-natal, relativamente à exposição apenas ao HIV. (15,29,31,45)
A infeção pelo HIV em grávidas pode originar infeções severas e frequentes
devidas à presença do P. falciparum, que resultam em risco aumentado de mortalidade
pós-natal e morte maternal, sendo mais comum em mulheres com gravidezes múltiplas,
provavelmente devido a alterações nos mecanismos imunológicos de memória e maior
imunossupressão originada por uma infeção por HIV mais duradoura. (1,16)
As crianças que nascem de mães com ambas as patologias apresentam risco
aumentado de desenvolver anemia, aumentando o risco de mortalidade pós-natal. (41)
Sendo que o HIV e malária são duas causas conhecidas de anemia maternal, não é de
estranhar que a combinação das duas infeções origine efeitos prejudiciais nas
concentrações de hemoglobina maternal, existindo um risco aumentado de
desenvolvimento de anemia severa. (14,15,17,31,45) Estudos realizados no Quénia e em
Malawi indicam que as mulheres com a dupla infeção apresentam maior risco de anemia
severa quando comparadas com as infeções isoladas, provavelmente devido às elevadas
densidades parasitárias e maior duração da infeção. (31) Segundo Orish et al, que realizou
um estudo acerca do efeito da coinfeção no aumento do risco de anemia em grávidas no
Gana, estas mulheres apresentam duas vezes mais risco de anemia do que aquelas com
apenas uma das patologias. (46) O mesmo é observado numa análise em mulheres
grávidas coinfetadas na Nigéria, em que os autores demonstram uma associação entre a
coinfeção e uma diminuição nos níveis de hemoglobina. (47)
A infeção pelo HIV na placenta pode interferir na capacidade de transferência de
anticorpos protetores da malária da mãe para o feto, nomeadamente anticorpos contra
(NANP)5, MSP-3, AMA-1 e VSA. (31) Segundo Ayisi et al, o vírus afeta a transferência
de mãe para filho de anticorpos contra alguns antigénios da malária, nomeadamente MSP-
2 e (NANP)5. Contudo, a transferência de anticorpos contra EBA-175 era superior. Além
disso, os autores referem que a transferência de anticorpos não é afetada quando a infeção
pelo HIV é assintomática. (37) Outro estudo indica que o vírus afeta a transferência de
EBA-175, MSP-1, AMA-1 e que a transferência dos anticorpos contra a malária da mãe
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Implicações da Coinfeção na Mãe e no Recém-nascido
182
para o feto poderá não estar associado a proteção, mas a um risco aumentado de incidência
da malária no primeiro ano de vida. (48) Deste modo, não é claro qual o papel do HIV na
transferência vertical de anticorpos da classe G e na capacidade de proteção do recém-
nascido à malária.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Importância do Diagnóstico
183
5. Importância do Diagnóstico
Em indivíduos infetados pelo HIV, basear o diagnóstico de malária apenas nos
episódios de febre, que podem ser devidos a uma ampla gama de infeções, pode induzir
o técnico de saúde à recomendação de cuidados inadequados em indivíduos infetados
pelo HIV, pelo que o diagnóstico parasitológico é de extrema importância,
particularmente em áreas com elevada prevalência de HIV. (17) O diagnóstico clínico,
não necessitando de nenhum equipamento especial e não sendo caro, poderá apresentar-
se como a única opção em áreas onde faltam instalações laboratoriais como na África
subsariana, apesar de estar bem estabelecido que um diagnóstico baseado apenas em
critérios clínicos não é confiável por várias razões. (6) Desta forma, a todos os casos de
suspeita de malária deve ser realizado diagnóstico parasitológico. Os dois métodos
rotineiramente utilizados são exame microscópico ou testes de diagnóstico rápido (RDTs,
do inglês, rapid diagnostic tests) imunocromatográficos (figuras 7 e 8, respetivamente).
(24,49) Em quase todos os casos de malária sintomática, o exame de esfregaços de sangue
por microscopia ótica bem realizado, revela parasitas da malária. Os RDTs detetam
antigénios ou enzimas específicas do parasita, sendo que estes últimos deverão ser usados
se a microscopia não estiver prontamente disponível. Por outro lado, os RDTs podem ser
úteis em indivíduos infetados que receberam tratamento antimalárico incompleto e em
que os esfregaços de sangue podem ser falsamente negativos, o que é provável se o
indivíduo recebeu uma dose recente de um derivado de artemisina. (49) Uneke et al.
estudou a prevalência de malária na gravidez na África subsariana, e revelou ser um
desafio, isto porque a prevalência de malária em grávidas nesta região difere muito, de
acordo com os critérios de diagnóstico usados. Nesta área, o gold standard do diagnóstico
é a clínica e o exame microscópico do esfregaço de sangue, apresentando-se os RDTs
como excelente alternativa no diagnóstico rápido de malária na gravidez, que sendo
tratada de imediato, reduz a mortalidade e incidência de efeitos graves no feto. No
entanto, apresentam desvantagens: uma delas é a possibilidade de apresentarem resultado
positivo até duas semanas após o tratamento, tornando-se confusa a relação com falha no
tratamento ou resistência aos fármacos. Técnicas moleculares de reação em cadeia da
polimerase (PCR, do inglês, polimerase chain reaction) podem ser também usadas no
diagnóstico da infeção, apesar do seu uso na África subsariana ser irrealista. (6)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Importância do Diagnóstico
184
Figura 7. Esfregaço de sangue de um indivíduo com malária. O exame
microscópico revela a presença de trofozoítos de Plasmodium falciparum (setas) que
infetam alguns dos glóbulos vermelhos intracelularmente. Adaptado de (50).
Figura 8. Teste rápido de diagnóstico da malária. Adaptado de (51)
O diagnóstico correto nas áreas endémicas de malária é particularmente
importante nos grupos populacionais mais vulneráveis, tais como as grávidas e
populações não imunizadas, em que a malária por P. falciparum pode ser potencialmente
fatal. Além disso, o diagnóstico reduz o tratamento desnecessário com medicamentos
antimaláricos, que também limita a propagação das resistências. No entanto, em
indivíduos infetados com suspeita de malária grave e altos grupos de risco,
nomeadamente grávidas coinfetadas com HIV, a ausência ou atraso no diagnóstico não
deve atrasar o início do tratamento antimalárico. (49)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Importância do Diagnóstico
185
Todas as mulheres grávidas devem ser testadas para o HIV na medida em que se
a mulher fizer terapêutica antirretroviral precocemente no período de gravidez, o risco de
transmissão vertical pode ser reduzido. Uma variedade de testes está disponível no
mercado. Os testes de ácidos nucleicos que pesquisam o vírus no sangue são caros e não
usados rotineiramente no screening de indivíduos infetados. Os testes de serologia
pesquisam anticorpos e antigénios do vírus. Existem também disponíveis testes rápidos
de pesquisa de anticorpos, com resultados prontos em cerca de 30 minutos ou menos.
(9,11) A sensibilidade e especificidade do teste rápido são próximas de 100%, enquanto
o valor preditivo positivo depende da prevalência da patologia na população em geral
testada. Em populações onde a prevalência do HIV é elevada, será notado um maior valor
preditivo positivo. (11)
Segundo a WHO, a cobertura global dos testes e aconselhamento de HIV
permanece insatisfatoriamente baixa. Pesquisas demográficas e de saúde realizadas em
12 países com prevalência na África subsariana, indicam que as mulheres na população
em geral que foram testados para o HIV e receberam os resultados foi de 10%. Além
disso, dados recolhidos em 2015 indicaram que na África subsariana, a percentagem de
mulheres grávidas que realizou um teste de HIV foi 9%, contra 46% na América Latina
e Caraíbas e 75% na Europa Oriental e Ásia Central, indicando uma menor cobertura de
testes em países com maior número estimado de mulheres infetadas com HIV. (52) Estes
dados são preocupantes na medida em que os testes são essenciais para identificar as
mulheres que poderão beneficiar de forma imediata do tratamento ou intervenções para
prevenir a transmissão vertical aos filhos.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Tratamento
186
6.Tratamento
6.1.Tratamento da Malária na Gravidez
Os efeitos do tratamento da malária em grávidas infetadas com HIV são uma
preocupação, na medida em que a imunidade é alterada pelo vírus e pode afetar a resposta
ao tratamento antimalárico padrão. (19) O tratamento da malária tem como objetivo
principal minimizar a transmissão da infeção e maximizar a probabilidade de cura clínica
e parasitológica com elevada rapidez, pelo que os regimes de dosagem devem ter
concentrações efetivas de fármacos antimaláricos e serem aplicados por tempo suficiente
de modo a curar a infeção em todas as populações alvo. (49)
Atualmente, o tratamento de malária utiliza terapêutica combinada com artemisina
(ACT, do inglês, artemisinin-based combination therapy) (49,53). Segundo as
recomendações da WHO (tabela 1), o tratamento de malária não complicada em grávidas
(exceto grávidas no primeiro trimestre) deve utilizar ACT durante 3 dias. No caso das
grávidas no primeiro trimestre, deve ser utilizado quinina + clindamicina durante 7 dias.
Em indivíduos coinfetados com HIV, deve ser evitado artesunato + sulfadoxina-
pirimetamina (SP), se estiverem a ser tratados com cotrimoxazole (CTX) e evitar
artesunato + amodiaquina, se estiverem a ser tratados com efavirenz ou zidovudina. (49)
Tabela 1. Recomendações para o tratamento de malária. Adaptado de (49)
Malária não complicada
Regimes de ACT para o tratamento
de malária não complicada em
grávidas no segundo e terceiro
trimestres
• Artesunato + amodiaquina
• Artesunato + mefloquina
• Artemeter + lumefantrina
• Dihidroartemisina + piperaquina
• Artesunato + SP
Grávidas no primeiro trimestre
• Quinina + clindamicina
Grávidas coinfetadas com HIV • Evitar artesunato + SP, caso tratados
com CTX
• Evitar artesunato + amodiaquina, caso
tratados com efavirenz ou zidovudina
Malária complicada
Grávidas em todos os trimestres • Artesunato intravenoso ou
intramuscular
• Artemeter como alternativa
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Tratamento
187
O tratamento de malária severa para grávidas em todos os trimestres passa pela
utilização de artesunato intravenoso ou intramuscular (como alternativa usar artemeter)
durante pelo menos 24h até que possam tolerar medicação oral. A partir do momento em
que mulher grávida recebe pelo menos 24h de terapêutica parentérica, se puder tolerar a
terapêutica sob a forma oral, o tratamento deve ser completado com 3 dias de ACT. (49)
6.2.Tratamento do HIV na gravidez
A WHO recomenda a realização de testes de HIV e terapêutica antirretroviral, se
indicado, a todas as mulheres grávidas em áreas estáveis de transmissão de Plasmodium
falciparum. (27) No entanto, existem dados contraditórios sobre o efeito da ART no
resultado da gravidez, apesar do consenso indicar o seu benefício na prevenção da
transmissão vertical. (11,12) Segundo Dadhwal e seus colegas, mulheres grávidas
infetadas com HIV e a tomar ART têm uma incidência diminuída de nascimento
prematuro e restrição de crescimento intrauterino. (12)
Os antirretrovirais existem em cinco categorias: inibidores da transcriptase
reversa análogos de nucleótidos (NRTIs, do inglês, nucleoside reverse transcriptase
inhibitors), inibidores da transcriptase reversa não análogos de nucleótidos (NNRTIs, do
inglês, non-nucleoside reverse transcriptase inhibitors), inibidores de protease viral (PIs,
do inglês, protease inhibitors), inibidores da integrasse e inibidores de entrada
(enfuvirtide, antagonistas do co-recetor CCR5). (16,21) O tratamento padrão consiste
numa combinação de pelo menos três fármacos, antigamente chamada de terapêutica
antirretroviral altamente ativa (HAART, do inglês, highly active antiretroviral therapy),
que suprime a replicação do HIV e reduz a probabilidade de resistências. (53,54)
A ART de primeira linha deve conter um NNRTI (nevirapina ou efavirenz) e
dois NRTIs, um dos quais deve ser lamivudina ou emtricitabina e o outro zidovudina ou
TDF (tenofovir disoproxil fumarato). Os PIs estão incluídos em terapêuticas de segunda
linha. (17,18,55)
As recomendações da WHO para o tratamento de HIV na gravidez (tabela 2)
permitem que o tratamento seja iniciado o mais precocemente possível, de forma a
melhorar a saúde maternal e do feto e, a evitar a transmissão vertical do HIV. Estas
recomendações dependem da contagem de linfócitos T CD4+ das mulheres grávidas e da
sua fase clínica (tabela 3). (55)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Tratamento
188
Tabela 2. Recomendações da WHO para o tratamento de HIV na gravidez. Adaptado de
(55).
Grávidas com HIV e
contagem de células ≤ 350
células/mm3
Iniciar ART, independentemente dos sintomas clínicos.
Grávidas com HIV e
estadio clínico 1 ou 2
Testar a contagem de células T CD4+, para determinar se
necessitam de iniciar tratamento com antirretrovirais ou
profilaxia antirretroviral para prevenção da transmissão
vertical.
Grávidas com estadio
clínico 3 ou 4
Iniciar ART, independentemente do número de células T
CD4+.
Nas mulheres elegíveis para tratamento ART
▪ Zidovudina + lamivudina + efavirenz ou
▪ Zidovudina + lamivudina+ Nevirapina ou
▪ TDF + lamivudina (ou emtricitabina) + nevirapina ou
▪ TDF + lamivudina (ou emtricitabina) + efavirenz
Tabela 3(a). Fases clínicas do HIV em adultos e adolescentes segundo a WHO.
Adaptado de (55).
Estadio clínico 1 Assintomático, linfadenopatia generalizada persistente.
Estadio clinico 2
Perda de peso inexplicável moderada, infeções recorrentes do trato
respiratório, família Herpesviridae, Varicella zoster, queilite angular,
ulcerações orais recorrentes, erupções pruriginosas papulares,
dermatite seborreica, micoses nas unhas.
Estadio clinico 3
Perda de peso severa inexplicada, diarreia crónica inexplicada por mais
de 1 mês, febre persistente inexplicada, candidíase oral persistente,
leucoplasia pilosa oral, tuberculose pulmonar, infeções bacterianas
graves, estomatite ulcerativa necrosante aguda, gengivite ou
periodontite, anemia inexplicável (abaixo de 8 g/dL), neutropenia
(abaixo de 0,5x109/L) e/ou trombocitopenia crónica (abaixo de
50x109/L).
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Tratamento
189
Tabela 3(b). Fases clínicas do HIV em adultos e adolescentes segundo a WHO.
Adaptado de (55).
Estadio clinico 4
Síndrome de desperdício de HIV (síndrome de Wasting), pneumonia
bacteriana grave recorrente, pneumonia por Pneumocystis jiroveci,
infeção crónica pelo herpes simples, candidíase esofágica, de traqueia,
brônquios ou pulmões, tuberculose extrapulmonar, sarcoma de Kaposi,
infeção por citomegalovírus, toxoplasmose do sistema nervoso central,
encefalopatia de HIV, criptococose extrapulmonar incluindo
meningite, infeção por micobactérias não tuberculosa disseminada,
leucoencefalopatia multifocal progressiva, criptosporidiose e
isosporíase crónica, micose disseminada, septicemia recorrente,
linfoma, carcinoma cervical invasivo, leishmaniose disseminada
atípica, nefropatia sintomática ou cardiomiopatia associada ao HIV.
O regime preferencial é zidovudina + lamivudina + nevirapina, tendo fácil
acessibilidade, baixo custo e já apresentar experiência no seu uso. (55)
A nevirapina é o NNRTI preferido no primeiro trimestre de gravidez, apesar de
existir alguma informação acerca da sua hepatotoxicidade maternal. (11,55) O efavirenz,
por sua vez, pode ser usado no segundo e terceiro trimestres de gravidez, mas é mais caro
e menos acessível que a nevirapina. O seu uso é contraindicado no primeiro trimestre pois
nesta altura da gravidez tem toxicidade associada ao sistema nervoso central e erupções
cutâneas.(55)
6.3. Anemia
O tratamento da anemia na coinfeção é complicado devido ao HIV. Mulheres
grávidas infetadas com HIV estão em maior risco de anemia devido à possível supressão
da eritropoiese por infeções oportunistas e pelo HIV em si. (27) Além disso, o ferro é
importante nas funções imunológicas, mas é também necessário em enzimas envolvidas
na replicação do HIV, podendo mesmo estimular a sua replicação. Alguns estudos
mostram que os suplementos de ferro e a inadequada quelação do excesso de ferro estão
associados à progressão do vírus. (31) Isto é importante na medida em que um efeito
prejudicial da suplementação com ferro na infeção por HIV terá implicações graves no
tratamento antenatal.
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Tratamento
190
A anemia não necessita de ser grave para ser um risco na gravidez. Os parasitas
podem estar presentes na placenta e contribuir para a anemia materna mesmo na ausência
de parasitémia periférica documentada. Desta forma, segundo a WHO, as mulheres
grávidas com anemia grave numa área endémica de malária, devem ser tratadas com um
fármaco antimalárico eficaz, com ou sem parasitémia periférica ou antecedente de
febre.(3)
Por outro lado, estando as mulheres grávidas em risco elevado de anemia, a sua
prevenção e tratamento é de extrema importância de modo a minimizar potenciais
transfusões de sangue, o qual poderá não estar adequadamente rastreado para o HIV.
(14,31)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Prevenção
191
7.Prevenção
7.1.Tratamento preventivo intermitente
Se as mulheres com malária placentária e infetadas com HIV estão em risco
aumentado de transmitir o vírus aos filhos, a prevenção da malária durante a gravidez é
uma prioridade urgente e premente.
A todas as mulheres grávidas em áreas estáveis de transmissão de Plasmodium
falciparum, é recomendado tratamento preventivo intermitente (IPT, do inglês,
intermittent preventive treatment) na gravidez (IPTp, do inglês, intermittent preventive
treatment in pregnancy). (3,27,56) O IPT resulta na administração de uma dose de um
fármaco antimalárico num intervalo de gestação definido, com o objetivo de reduzir o
risco de malária placentária. SP (Sulfadoxina-pirimetamina) é o fármaco antimalárico de
preferência para o tratamento preventivo intermitente, pois apresenta baixo custo, é de
fácil administração e não é considerado perigoso após o primeiro trimestre de gravidez.
(27) O uso de SP tem demonstrado diminuir o risco de parasitémia periférica e placentária
e diminuir os riscos associados à gravidez na mãe e no bebé como anemia maternal e
baixo peso ao nascer. (19)
A WHO recomenda o uso de IPTp com SP a todas as mulheres grávidas como
cuidado pré-natal em zonas endémicas de malária em África, com a primeira dose a ser
administrada no segundo trimestre de gravidez e as doses seguintes administradas com
pelo menos um mês de intervalo, com o objetivo de atingir pelo menos três doses. (49,57)
Alguns estudos indicam uma fraca resposta à medicação por parte das mulheres
coinfetadas. (16,20,45,53) Isto ocorre provavelmente devido aos níveis elevados de
parasitémia placentária e periférica originados pelo HIV. (16,20) Além disso, foi referido
que durante a gravidez, a infeção pelo vírus interfere com a imunidade do hospedeiro à
malária e a resposta à medicação estará depende da imunidade do hospedeiro. (15,16)
Deste modo, doses mais frequentes de IPT serão necessárias em mulheres
seropositivas para HIV, para reduzir o risco de malária placentária, relativamente às
grávidas não infetadas com HIV. (16,20,27,56) Foi indicado que uma administração
mensal pode melhorar a eficácia de SP na malária placentária em mulheres com HIV.(19)
Outros autores referem que duas doses de SP poderão ser eficazes em áreas com baixa
prevalência de HIV, mas que deve ser aplicada uma administração mensal em gravidezes
mais avançadas e em áreas de alta prevalência do vírus. (15) Numa revisão sistemática de
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Prevenção
192
ensaios realizados em várias áreas endémicas em África, incluindo Quénia e Malawi,
entre 1996 e 2008, revelou que três ou mais doses, em comparação com apenas duas doses
de SP, tem efeitos positivos no peso dos recém-nascidos, na redução da parasitémia
placentária em cerca de 50% e da parasitémia maternal em cerca de 33%. (49)
No entanto, já existem resistências a este fármaco. (58) Um estudo indica que
mulheres coinfetadas, com imunidade fragilizada contra a malária, apresentam maior
número de parasitas com marcadores moleculares de resistência ao SP, após IPT com SP,
relativamente às não infetadas com HIV. (16) Algumas conclusões de um estudo na
Nigéria indicam que a taxa de resistência a fármacos antimaláricas é superior em mulheres
grávidas coinfetadas do que em mulheres grávidas apenas com malária, sugerindo que a
infeção por HIV aumenta o risco de resistência. No entanto, o número de sujeitos de teste
era muito reduzido neste ensaio. (47)
Por outro lado, Naniche e seus colegas estudaram o impacto do tratamento
preventivo intermitente na prevenção da transmissão vertical em Moçambique e
concluíram que o uso de duas doses em mulheres que usam redes com inseticidas
diminuiu a parasitémia periférica e placentária, mas não teve impacto na diminuição do
risco de transmissão vertical de HIV. (59) Este resultado é consistente com as observações
anteriores de que a malária placentária poderá ter um efeito protetor na transmissão
vertical do HIV e que deste modo, o tratamento, diminuindo a malária placentária,
diminui o efeito protetor na transmissão vertical do vírus.
A cloroquina é um outro fármaco antimalárico usado na gravidez nos países
Africanos. É também de baixo custo e de fácil administração, mas apresenta já
resistências marcadas. (56,58) Além disso, a presença do HIV origina uma fraca resposta
a este fármaco. (17,31)
Por fim, um estudo conduzido por Serra-Casas e colegas revela que o IPTp com
SP em mulheres infetadas com HIV tem efeito na redução de anticorpos contra a malária
(VSA, AMA-1), mas o mesmo não acontece em mulheres não infetadas pelo vírus.
Provavelmente porque o fármaco resulta na diminuição da exposição a antigénios da
malária e devido à imunossupressão do HIV. No entanto, a redução de anticorpos não foi
associada a risco aumentado de morbidade e problemas associados em crianças em
recém-nascidos, pelo que os autores sugerem que outros mecanismos existam para
proteger mãe e filho contra os efeitos adversos. (60)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Prevenção
193
7.2.Profilaxia com cotrimoxazole
É também recomendada para prevenção de infeções oportunistas, profilaxia diária
com CTX, independentemente do título de células T CD4+ das grávidas. Este fármaco é
benéfico a todas as mulheres infetadas com HIV, para prevenir infeções oportunistas,
reduzindo a incidência de malária em indivíduos seropositivos para HIV. (16,55,57) Mas
o uso de SP não é recomendado a mulheres que tomam cotrimoxazole, devido às
interações entre estes fármacos. (16,53,57,58) O seu uso está recomendado como
alternativa a IPT com SP em mulheres imunocomprometidas com HIV, ou quando
existem resistências ao SP. (27,53)
Foi referido que o uso generalizado deste fármaco pode acelerar o
desenvolvimento de resistências do parasita a SP. (31) Deste modo, a eficácia do seu uso
deve ser monitorizada relativamente à aplicação do tratamento preventivo intermitente
nos programas de controle de HIV e malária.
O uso de CTX mostrou que apresenta propriedades contra a malária, apesar de
ainda não existir informação acerca da sua eficácia na prevenção da malária em mulheres
grávidas. (19,41)
7.3.Controlo do Vetor
O controlo vetorial é a principal maneira de prevenir e reduzir a transmissão da
malária. A WHO recomenda o controlo efetivo de vetores da malária como proteção para
todas as pessoas em risco de adquirir a patologia, através do uso de redes tratadas com
inseticidas e pulverização residual intra-domiciliária (IRS, do inglês, indoor residual
spraying). (23,24)
A proporção da população na África subsariana protegida relativamente ao
vetor de transmissão foi estimada em 57% em 2015, comparativamente a 37% (figura 9)
em 2010 e ultrapassou 80% em três países em 2015: Cabo Verde, Zâmbia e Zimbabué.
(24)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Prevenção
194
Figura 9. Proporção da população em risco protegida por IRS ou ITNs na África
subsariana. Dados entre 2010-2015. Adaptado de (24).
A todas as mulheres grávidas em áreas estáveis de transmissão de Plasmodium
falciparum, a WHO recomenda o uso de ITNs. (49) Esta é a segunda forma de
intervenção, a seguir ao tratamento preventivo intermitente, para a prevenção da infeção
pelo Plasmodium falciparum e passa pela utilização de redes tratadas com inseticidas, nas
áreas endémicas de malária que repelem ou matam os vetores, reduzindo assim o seu
contacto com os humanos. Devido ao seu efeito protetor, as redes estão a ser indicadas
para o seu uso em países africanos.(3)
Um estudo revela que o uso de redes tratadas com inseticidas origina um efeito
protetor de 41,6% em primigrávidas e a associação entre o uso destas redes e o tratamento
preventivo com SP origina um efeito protetor de 55,8%. No entanto, muitas famílias na
África subsariana poderão não ter acesso as estas redes, pois são caras e não totalmente
subsidiadas. (27)
Segundo Boene et al, as redes são a escolha preferencial de prevenção, no entanto,
poucas mulheres estão conscientes das consequências da malária na gravidez,
especialmente no recém-nascido. (61)
A distribuição destas redes com altos níveis de cobertura na comunidade é um
desafio e as estratégias aplicadas localmente deverão ser mais bem-sucedidas,
nomeadamente indicações acerca dos seus efeitos como barreira protetora colocadas em
clinicas pré-natais em zonas endémicas e outras instalações de cuidados de saúde. (3)
As estratégias de controlo do vetor de transmissão evoluíram a partir da descoberta
do diclorodifeniltricloroetano (DDT) como inseticida, que até aos anos 70 levou a uma
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Prevenção
195
redução dramática na transmissão de malária em vários locais do mundo. No entanto, o
aparecimento de resistências levou à ressurgência da patologia. (62)
Nos anos 80, os piretróides, uma nova classe de inseticidas, começaram a ser
utilizados na IRS. A sua introdução nas ITNs ganhou um impacto elevado, diminuindo a
abundância das populações de mosquitos do género Anopheles e consequentemente,
reduzindo a mortalidade e morbidade associada à malária nos países africanos.
Infelizmente, nos últimos anos, surgiram resistências dos mosquitos a esta classe de
inseticidas em vários países. (23,24,62) Em áreas endémicas de malária na África
subsariana e na Índia estão a causar algumas preocupações neste sentido, devido aos
elevados níveis de transmissão da malária e aos relatórios generalizados de indicação de
resistência aos inseticidas. (23) Outros grupos de inseticidas utilizados para o controlo
vetorial são os organofosfatos, organoclorados e carbamatos. Estas classes, juntamente
com os piretróides visam recetores do sistema nervoso do mosquito ou inibem enzimas
envolvidos na transmissão de impulsos nervosos, causando a paralisia e morte dos
mosquitos. (62)
O desenvolvimento de redes com dois inseticidas diferentes poderá apresentar
uma oportunidade para amenizar a propagação das resistências. (23) Um estudo da WHO,
apresentado na figura 10, revela a elevada resistência a várias classes de inseticidas pelos
vetores da malária, com os pontos a vermelho a indicar resistências confirmadas. (63)
Caso a maioria das casas em áreas específicas de malária sejam pulverizadas
com inseticidas, a IRS é uma maneira rápida de redução da transmissão de malária. A
pulverização interna é eficaz por 3 a 6 meses, dependendo da formulação do inseticida
utilizado e do tipo de superfície em que é pulverizada. O uso rotatório de diferentes
classes de inseticidas para IRS é recomendado de forma a gerir as resistências aos
inseticidas. (23)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Prevenção
196
Figura 10. Suscetibilidade a inseticidas por vetores da malária reportada entre 2010-
2015. Resistências confirmadas (vermelho), possíveis resistências (amarelo),
suscetibilidade (vede). Adaptado de (63).
7.4.Estratégias de prevenção
Apesar destas patologias serem duas das causas principais de mortalidade e
morbidade nos países africanos, o acesso a tratamento e serviços de prevenção e
aconselhamento é fraco.
Em Uganda, apenas 16,6% das mulheres tem acesso a tratamento preventivo
intermitente na gravidez e 11,3% dormem com redes tratadas com inseticidas. Da mesma
forma, 28% das mulheres grávidas recebem aconselhamento acerca do vírus e 6%
realizam testes ao HIV. (64) Num estudo em Malawi, 90% das mulheres grávidas têm
informação acerca da recomendação do tratamento preventivo intermitente, mas apenas
36% o receberam. Da mesma forma, no Quénia, apenas 5% das grávidas entrevistadas
receberam IPT apesar da maioria ter consciência das suas vantagens. (22)
Estudos em Uganda revelam que apesar de as pessoas terem consciência da
existência de tratamentos e serviços de prevenção, o acesso a estes serviços não é fácil,
maioritariamente devido a custos elevados, longa distância até aos serviços de saúde e
pouco apoio por parte de familiares e conhecidos. (64) Além disso, as mulheres podem
ter conhecimento acerca do SP, mas como um medicamento que cura a malária e não
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Prevenção
197
como uso preventivo durante a gravidez, pelo que o treino dos profissionais de saúde em
como aconselhar estas mulheres é muito importante. (22)
Existindo algum progresso neste sentido, a maioria dos países em
desenvolvimento já apresenta cuidados para as mulheres grávidas infetadas com HIV,
que incluem acesso a fármacos antirretrovirais, profilaxia com cotrimoxazol e
aconselhamento. Existem também junções de programas de prevenção de transmissão
vertical do vírus e programas de controle da malária, que se foca nestas mulheres serem
tratadas com redes com inseticidas. (56) No entanto, apesar do regime de IPT ter sido
implementado nalguns países, as mulheres apresentam-se tardiamente para os cuidados
pré-natais e desta forma, a aplicação do tratamento preventivo intermitente tem sido fraca.
(22)
Segundo K.Singh et al, que avaliou em 2014 o HIV e malária como causas
importantes de mortalidade maternal em Moçambique (área endémica de malária), refere
que poucas mulheres nesta região têm acesso a IPTp ou ITNs, bem como ao acesso a
instalações de saúde aquando do parto e, em muitas províncias mais mulheres são
aconselhadas acerca do HIV do que sofrem intervenções acerca do IPTp ou ITNs (figura
11). (65)
Figura 11. Uma enfermeira explica o uso de ITNs a mulheres grávidas locais numa área
endémica de malária. Adaptado de (27).
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Prevenção
198
É, portanto, necessário que os cuidados de saúde nestes países com fraca cobertura
por parte dos media e abordagens globais, se foquem: na prevenção de grávidas que vivem
infetadas com o Vírus da Imunodeficiência Humana, com possibilidade de se coinfetarem
com o Plasmodium falciparum (malária) e desta forma piorar a sua situação e a do recém-
nascido; oferecendo uma maior gama de serviços e estratégias de prevenção, que incluam
maximizar a saúde, realização de testes de rastreio, ter acesso a terapêuticas e prevenir
infeções como a malária, através do uso de terapêutica preventiva e redes com inseticidas.
(3,52) É também de extrema importância que os serviços de saúde tenham em conta as
preocupações acerca da sobrecarga de prestadores de cuidados pré-natais e apostem na
sua formação, de modo a que possam melhor aconselhar os indivíduos (co)infetados. (61)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Interações entre Fármacos e Efeitos Adversos
199
8.Interações entre Fármacos e Efeitos Adversos
O tratamento e prevenção da coinfeção é um desafio devido à potencial interação
entre os fármacos.
O uso de fármacos antirretrovirais apresenta implicações no controlo da infeção
pela malária, na medida em que estes medicamentos poderão apresentar efeitos no P.
falciparum e alterações no sistema imunológico. (20,21) A associação de ART aos
antimaláricos poderá causar toxicidade imprevista ou a redução da exposição aos
fármacos, criando risco de falha no tratamento e seleção e parasitas resistentes. (19)
Os NNRTIs têm sido associados a uma diminuição na incidência da malária, mas
poderá ser devido a alterações no sistema imunitário e não devido à existência de
atividade antimalárica especifica. (20) A diminuição na incidência de malária é mais
notada quando os NNRTIs são associados ao CTX. (16) A maioria dos inibidores de
protease tem atividade antimalárica, no entanto, ainda não foi demonstrado impacto
clínico na malária e tendo um preço elevado, não são comumente usados em áreas
endémicas de malária. (20)
Por outro lado, o tratamento antimalárico também pode afetar a farmacocinética
dos medicamentos usados na ART, no entanto, será menos preocupante, uma vez que a
terapêutica antimalárica é de curta duração. (19) Fármacos antimaláricos podem ter
atividade anti-HIV direta, nomeadamente a cloroquina. (17,20,21,31) Esta foi proposta
como componente útil na terapêutica combinada com antirretrovirais, particularmente na
prevenção da transmissão vertical do vírus, devido ao seu efeito na redução de produção
de novos viriões maduros e porque se acumulam em células do leite materno. No entanto,
as resistências elevadas da cloroquina são já um problema a considerar. (21)
Já foi referido que a infeção pelo HIV diminui a eficácia do IPTp com SP e que a
profilaxia com CTX tem sido recomendada pela WHO para prevenir infeções
oportunistas em grávidas que vivem com HIV. A sua associação origina aumento de
toxicidade e efeitos adversos. (21,27) Felizmente, o CTX tem sido referido como redutor
da prevalência de malária placentária em mulheres gravidas com HIV. (21)
Para além das interações entre os fármacos, a sua toxicidade complica a gestão
conjunta dos casos de coinfeção. Por exemplo, a zidovudina tem como efeito colateral a
anemia, o que é uma preocupação óbvia nestes casos. (20) O período de maior risco de
anemia associado à malária coincide com o risco elevado de anemia associado ao uso de
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Interações entre Fármacos e Efeitos Adversos
200
zidovudina e com o parto, aumentando a vulnerabilidade da mulher a hemorragias. Além
disso, a administração de SP e zidovudina tem sido associada com aumento de
mortalidade em coinfetados em ensaios clínicos, particularmente em indivíduos com
anemia. (27) A coadministração de cotrimoxazol e lamivudina são outro exemplo, que
resulta na diminuição da depuração da lamivudina. (31) Artesunato + amodiaquina estão
associados a neutropenia severa, particularmente em indivíduos coinfetados com HIV,
especialmente aqueles a tomar zidovudina e ou cotrimoxazole. (49) Ambos SP e
nevirapina podem causar falha hepática fatal e toxicidade associada a reações cutâneas.
Caso a mulher grávida apresente algum destes efeitos, o clínico não saberá qual dos
fármacos é responsável, pelo que terá que descontinuar os dois. (27) Interações entre
NNRTIs e derivados de artemisina também têm sido descritas, por exemplo, a toma de
nevirapina ou efavirenz poderá reduzir as concentrações de artemeter ou lumefantrina,
aumentando o risco de falha no tratamento. (18)
Várias são as possíveis interações entre os fármacos utilizados na coinfeção e os
seus efeitos dependem do tipo de fármaco e das combinações usadas, que são
influenciadas pela farmacocinética e farmacodinâmica características de cada um. (20,27)
O estudo dos riscos da coadministração de derivados de artemisina e antirretrovirais é
muito indispensável devido à importância da terapêutica combinada baseada em
artemisina no tratamento da malária na gravidez. As artemisinas não parecem apresentar
importante toxicidade quando coadministradas com antirretrovirais, no entanto, mais
estudos nesta área são necessários. (27)
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Conclusão
201
9.Conclusão
Dada a sobreposição das áreas de ocorrência de malária e infeção por HIV, a
interação entre as duas patologias tem grandes implicações para a saúde pública, sendo
que os dois microrganismos interagem em diversas áreas, com efeitos na transmissão, na
clínica e na resposta a fármacos utilizados nas suas profilaxias e tratamentos.
Apesar da informação obtida sugerir que o HIV aumenta os efeitos adversos da
malária, nomeadamente favorecendo cargas parasitárias superiores, malária grave e
infeções placentárias, os mecanismos pelos quais isto acontece ainda não estão bem
estabelecidos. Mais estudos são também necessários para estudar o efeito da malária na
infeção por HIV, existindo ainda dúvidas acerca do seu efeito na severidade da patologia
e transmissão vertical do vírus.
Os resultados conflitantes sobre as interações entre os dois agentes refletem a
relação complexa entre as respostas imunológicas maternais à malária, que podem ter um
efeito protetor ou aumentar o risco de transmissão vertical e, esta situação pode depender
do grau de imunossupressão induzida pelo HIV, da gravidade da infeção por Plasmodium
falciparum e deste modo, afetar a imunidade celular e mediada por anticorpos. A infeção
placentária está diretamente relacionada com a transmissão vertical do HIV e o seu
impacto na transmissão do vírus da mãe para o filho poderá depender de um balanço entre
as citocinas que inibem a entrada do vírus e aquelas que favorecem a sua replicação. É
necessário avaliar este impacto tendo em consideração o estado biológico da mãe,
nomeadamente a contagem de células T CD4+ e o subtipo de HIV.
Por outro lado, a prevenção da transmissão vertical é difícil por várias razões,
nomeadamente os efeitos que a malária tem no vírus e a parca percentagem de mulheres
que são testadas para o HIV em áreas endémicas de malária. Para além disso, a eficácia
da profilaxia com SP é reduzida em grávidas coinfetadas, provavelmente porque o efeito
dos fármacos está dependente da resposta imunológica do hospedeiro. Sendo que o SP
não pode ser administrado com cotrimoxazole, devido a reações entre os dois, é
necessário estudar a eficácia de outros fármacos em grávidas coinfetadas, principalmente
pelo surgimento de resistências aos medicamentos utilizados atualmente.
É também importante realizar o estudo das interações entre os antimaláricos e
antirretrovirais usados na prevenção e tratamento, colocando ênfase nos seus efeitos
adversos e tratamento da coinfeção nas mulheres grávidas. Desta forma, são necessários
IX Mestrado Análises Clínicas Parte III
Catarina Alves Conclusão
202
mais estudos que analisem a farmacocinética e farmacodinâmica destas interações, como
por exemplo, programas para mulheres grávidas que devem incorporar os sistemas de
vigilância para efeitos adversos.
A redução da coinfeção e efeitos adversos nas mulheres grávidas depende do
acesso e qualidade dos serviços de saúde das localidades. A comunidade, a mobilização
social e os serviços de saúde, devem produzir mudanças no comportamento da população
afetada, através do uso dos meios de comunicação disponíveis e adequados ao efeito, com
ênfase no aconselhamento destas mulheres acerca do controlo do vetor de transmissão da
malária, através do uso de ITNs, profilaxia com antimaláricos e testes de rastreio para
HIV.
É também importante referir que os programas de vigilância atuais e os estudos
realizados acerca da coinfeção, não relatam o subtipo de infeção pelo HIV. É
particularmente importante, sendo a infeção por HIV-2 mais prevalente em áreas onde a
malária é endémica, apresentando diferenças em termos de fármacos a utilizar no seu
tratamento e podendo apresentar diferenças na epidemiologia da coinfeção.
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Parte IV
IX Mestrado Análises Clínicas Parte IV
Catarina Alves Conclusões e Perspetivas Futuras
213
Conclusões e Perspetivas Futuras
Através do estágio efetuado no Laboratório de Patologia Clínica do Hospital da
Luz, adquiri conhecimentos acerca das condições de colheitas exigidas para obter os
diferentes produtos biológicos, o seu transporte e armazenamento. Aprendi a identificar
quais os produtos necessários à execução de cada parâmetro analítico, bem como executar
as metodologias aplicados aos mesmos.
Por outro lado, o estágio realizado no GenoMed possibilitou-me a observação das
diferenças entre as técnicas de diagnóstico de rotina relativamente às técnicas aplicadas
ao diagnóstico genético e molecular, mais complexas e demoradas, apesar da curta
duração do estágio não permitir uma abordagem muito profunda destas técnicas.
Para além disso, aprendi como interpretar o Controlo de Qualidade Interno e
Avaliação Externa da Qualidade.
Considero que os objetivos da realização do estágio, que passam por adquirir a
capacidade de trabalhar em equipas multidisciplinares, bem como promover a integração
no meio profissional, aplicando os conhecimentos adquiridos ao longo do mestrado,
foram cumpridos. Estes conhecimentos foram também úteis no desenvolvimento da
monografia apresentada neste trabalho. A realização e duração total deste estágio
permitiu-me não só colocar em prática os conhecimentos obtidos nas unidades
curriculares do mestrado, como realizar novas aprendizagens fundamentais para a prática
profissional, nomeadamente a organização das atividades diárias do laboratório, pelo que
considero ter sido uma mais valia para a minha formação pessoal e para o meu futuro na
profissão.