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UNIVERSIDADE DE LISBOA
INSTITUTO DE EDUCACcedilAtildeO
2016
DOUTORAMENTO EM EDUCACcedilAtildeO
Formaccedilatildeo de Professores
O DESENVOLVIMENTO DA COMPETEcircNCIA RELACIONAL E DE GESTAtildeO DE SALA DE AULAEM CONTEXTOS DE SUPERVISAtildeO
UM ESTUDO COM PROFESSORES-ESTAGIAacuteRIOS NO 1ordm CICLO DO ENSINO BAacuteSICO
Maria do Ceacuteu Ribeiro
Tese orientada pela Professora Doutora Isabel Maria Pimenta Freireespecialmente elaborada para a obtenccedilatildeo do grau de doutor
UNIVERSIDADE DE LISBOA
INSTITUTO DE EDUCACcedilAtildeO
O DESENVOLVIMENTO DA COMPETEcircNCIA RELACIONAL E DE GESTAtildeO DE SALA DE AULA EM CONTEXTOS DE SUPERVISAtildeO UM ESTUDO COM
PROFESSORES-ESTAGIAacuteRIOS NO 1ordm CICLO DO ENSINO BAacuteSICO
Maria do Ceacuteu Ribeiro
Orientadora Professora Doutora Isabel Maria Pimenta Freire Tese especialmente elaborada para a obtenccedilatildeo do grau de Doutor em Educaccedilatildeo aacuterea de Especializaccedilatildeo de Formaccedilatildeo de Professores
O Juacuteri
Presidente Doutora Ana Paula Viana Caetano Professora Associada do Instituto de Educaccedilatildeo da Universidade de Lisboa
Vogais Doutora Maria Assunccedilatildeo Flores Fernandes Professora Associada com Agregaccedilatildeo do Instituto de Educaccedilatildeo da Universidade do Minho
Doutor Joseacute Antoacutenio Reis do Espiacuterito Santo Professor Adjunto Aposentado da Escola Superior de Educaccedilatildeo do Instituto Politeacutecnico de Beja
Doutora Maria Teresa de Lemos Correia Cordeiro Estrela Professora Catedraacutetica Jubilada da Faculdade de Psicologia e de Ciecircncias da Educaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Doutora Ana Margarida Vieira da Veiga Simatildeo Professora Associada com Agregaccedilatildeo da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa
Doutora Ana Paula Viana Caetano Professora Associada do Instituto de Educaccedilatildeo da Universidade de Lisboa
Doutora Isabel Maria Pimenta Henriques Freire Professora Associada do Instituto de Educaccedilatildeo da Universidade de Lisboa orientadora Doutora Maria Joatildeo Mogarro Professora Associada do Instituto de Educaccedilatildeo da Universidade de Lisboa
2016
i
Aos meus pais e aos meus filhos
pela sua presenccedila nas minhas ausecircncias
ii
iii
AGRADECIMENTOS
(hellip) sempre eacute preciso saber quando uma etapa chega ao final
Se insistirmos em permanecer nela mais que o tempo necessaacuteriohellip
Perdemos a alegria e o sentido das outas etapas que precisamos viver (hellip)
Fernando Pessoa
Esta etapa inesqueciacutevel aacuterdua intensa longa e muitas vezes solitaacuteria chega ao fim Como
afirma Fernando Pessoa eacute preciso perceber quando uma etapa chega ao fim para natildeo perdermos
a alegria de outras etapas reconhecendo as imensas virtualidades da etapa que agora finda
A sua concretizaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com o apoio de muitas pessoas que de uma forma ou de
outra deram o seu contributo para a sua realizaccedilatildeo Deixo aqui um simples gesto de
reconhecimento gratidatildeo e o meu apreccedilo pela presenccedila das mesmas neste percurso
Agrave Professora Doutora Isabel Freire orientadora desta tese e a luz que iluminou o meu percurso
com o seu saber as suas criacuteticas e sugestotildees muito pertinentes proacuteprias do rigor cientiacutefico a
que me habituou Agradeccedilo ainda a partilha desses saberes e da vasta experiecircncia
imprescindiacuteveis para que se chegasse ateacute aqui
Aos professores estagiaacuterios e agraves professores cooperantes que se disponibilizaram sem
hesitaccedilatildeo para colaborar nesta investigaccedilatildeo e que se mostraram sempre muito disponiacuteveis e
cordiais ao longo de todo o processo
Agrave mestre Celeste Morais pelo apoio disponibilidade e profissionalismo no tratamento dos
dados estatiacutesticos
Agrave minha famiacutelia sempre muito compreensiva com as minhas ausecircncias em particular aos meus
pais e aos meus filhos achando que esse poderia ser o seu contributo para me dar alento e levar
o barco a bom porto
Aos meus amigos pelos incentivos manifestados pela compreensatildeo nas minhas ausecircncias e
pela preocupaccedilatildeo permanente em saber se poderiam ser uacuteteis em algumas das minhas tarefas
pessoais para me deixarem tempo livre para a produccedilatildeo do meu texto
Aos colegas da Escola Superior de Educaccedilatildeo e em particular aos que integram o Departamento
de Supervisatildeo da Praacutetica Pedagoacutegica bem como agrave direccedilatildeo de ESEB pelo incentivo e alento
nos momentos de maior cansaccedilohellipOBRIGADA POR TUDO
iv
v
Resumo
Esta investigaccedilatildeo decorre da constataccedilatildeo evidenciada por muacuteltiplos estudos nacionais e internacionais de que os professores quando iniciam a sua atividade profissional sentem com frequecircncia relevantes dificuldades em lidar com os problemas disciplinares na sala de aula Esta constataccedilatildeo desafia quer os investigadores quer os formadores das instituiccedilotildees de formaccedilatildeo inicial de professores ao questionamento das praacuteticas de formaccedilatildeo designadamente dos processos de supervisatildeo e praacutetica pedagoacutegica Foi neste quadro que se desenhou esta investigaccedilatildeo optando-se pelo campo da formaccedilatildeo inicial de professores e tomando como objeto de estudo o desenvolvimento da competecircncia relacional e de gestatildeo de sala de aula e sua relaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo da indisciplina O estudo teve a participaccedilatildeo de dezoito estudantes do 4ordmano da licenciatura em 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico (curso preacute-Bolonha) Metodologicamente optou-se pela estrateacutegia da Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo que constituiu simultaneamente uma estrateacutegia de investigaccedilatildeo e de formaccedilatildeo Assim partindo do diagnoacutestico inicial das perspetivas expectativas e sentimentos dos dezoito formandos relativamente agrave formaccedilatildeo o estudo desenvolveu-se ao longo de trecircs ciclos sucessivos de investigaccedilatildeo-accedilatildeo partindo em cada um deles do diagnoacutestico para a accedilatildeo e a reflexatildeo reinvestindo os resultados de cada ciclo no ciclo seguinte Todo este processo foi desenvolvido num quadro de supervisatildeo alargada e colaborativa entre a supervisora da instituiccedilatildeo formadora do ensino superior (e simultaneamente investigadora principal) e as professoras cooperantes das escolas parceiras do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico A observaccedilatildeo mormente a auto-observaccedilatildeo dos professores estagiaacuterios participantes foi o foco principal do processo participado de investigaccedilatildeo-accedilatildeo Os dados foram recolhidos utilizando diversas fontes e instrumentos Contudo um instrumento de observaccedilatildeo de accedilotildees atitudes e competecircncias de gestatildeo de aula de relaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com os alunos (utilizado de forma sistemaacutetica pelos formandos e formadoras) foi o cerne do processo investigativo e formativo A anaacutelise dos dados destas observaccedilotildees cruzada com dados de outras fontes foi sendo mobilizada nas reflexotildees quer em seminaacuterio alargado quer nos contextos de estaacutegio O diagnoacutestico inicial evidenciou as perspetivas dos professores estagiaacuterios em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo anterior os receios e sentimentos em relaccedilatildeo ao estaacutegio bem como as suas perspetivas acerca da (in)disciplina Os dados recolhidos nos diferentes ciclos de investigaccedilatildeo-accedilatildeo centram-se essencialmente nas praacuteticas educativas dos professores estagiaacuterios nas escolas do 1ordm Ciclo Os dados apontam para uma evoluccedilatildeo positiva na maioria accedilotildees educativas que foram objeto de observaccedilatildeo relacionadas com o desenvolvimento da competecircncia relacional e de gestatildeo de sala de aula No entanto apesar das mudanccedilas as perceccedilotildees globais sobre a disciplina e a indisciplina natildeo sofreram mudanccedilas estatisticamente significativas
Palavras-chave Formaccedilatildeo Inicial de Professores 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico Supervisatildeo Competecircncia Relacional Gestatildeo de Sala de Aula Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo
vi
vii
Abstract
This research work derives from the acknowledgment revealed by multiple national and international studies that when teachers start their professional activity they often feel significant difficulties in handling discipline issues inside the classroom Such acknowledgement challenges both researchers and teacher trainers to question training practices namely the supervision and pedagogical practice processes It was within this context that we outlined this research work focusing on the field of initial teacher education and taking as our research subject the development of the relational and classroom management competence as well as its relationship with indiscipline prevention The study relied on the participation of eighteen students in the 4th year of the bachelor degree in Primary Education (pre-Bologne degree course) As far as methodology is concerned the study followed the Action Research strategy as it represents simultaneously a strategy of research and of training Thus starting from an initial diagnostic of the eighteen traineesrsquo perspectives expectations and feelings regarding their training the study was developed throughout three successive action research cycles each of which started from a diagnostic phase towards action and reflection The results of each cycle were then reinvested into the following one The whole process was developed within a framework of extensive and collaborative monitoring between the supervisor from the higher education training institution (who was simultaneously the main researcher) and the cooperating teachers from the primary education partner schools The main focus of the action research participatory process was observation particularly the self-observation by the participating trainee teachers The data was collected by using several sources and tools However the core of the research and training process consisted of a tool (used systematically both by trainees and trainers) of observation of actions attitudes and skills regarding classroom management rapport and communication with pupils The analysis of the data resulting from these observations crossed with other data sources was continuously conducted through reflection within both wider seminars and smaller traineeship contexts The primary diagnostic revealed the trainee teachersrsquo perspectives regarding their previous training as well as their fears and feelings regarding the traineeship and their perspectives on (in)discipline The data collected in the different action research cycles focuses essentially on the trainee teachersrsquo educational practices in primary schools The data point to a positive development in most educational activities that were subject of observation related to the development of relational competence and classroom management However despite the changes the global perceptions about discipline and indiscipline have not been statistically significant changes Keywords Initial Teacher Education Primary Education Supervision Relational Competence Classroom Management Action Research
viii
ix
IacuteNDICE GERAL
AGRADECIMENTOShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellipiii
RESUMOhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip v
ABSTRACThelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellipvii
IacuteNDICE DE QUADROShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellipxiv
IacuteNDICE DE TABELAS helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellipv
IacuteNDICE DE FIGURAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip xiv
IacuteNDICE DE ANEXOS (ANEXOS EM CD ROM)helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellipxvi
INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip1
PARTE I ndash ENQUADRAMENTO TEOacuteRICOhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip7
CAPITULO I ndash FORMACcedilAtildeO INICIAL DE PROFESSORES ORIENTACcedilOtildeES E
PERSPETIVAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 9
1 Breve Enquadramento Histoacuterico da Formaccedilatildeo Inicial de Professoreshelliphelliphelliphelliphelliphellip11
2 Paradigmas e Modelos de Formaccedilatildeo de Professoreshelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip20
3 Formaccedilatildeo Inicial de Professores e Desenho Curricularhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip25
4 De Aluno a Professorhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip34
CAPIacuteTULO II - CENAacuteRIOS E CONTEXTOS DE SUPERVISAtildeO EM FORMACcedilAtildeO
INICIAL DE PROFESSOREShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip41
1 Supervisatildeo Pedagoacutegica Um Conceito em (Re)Construccedilatildeohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip43
2 Dos Cenaacuterios de Inspiraccedilatildeo Psicoloacutegica aos Cenaacuterios Ecoloacutegicos e Dialoacutegicoshelliphelliphellip45
3 A Supervisatildeo Pedagoacutegica como Praacutetica Reflexiva e Promotora da Reflexividadehelliphellip52
31 Reflexividade e Contextos Colaborativoshelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip53
32 A Estrateacutegia da Investigaccedilatildeo-AccedilatildeoFormaccedilatildeohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip57
CAPITULO III - COMPETEcircNCIA E DIMENSOtildeES DA COMPETEcircNCIA DOCENTE
NO MICROCONTEXTO DA SALA DE AULAhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip61
x
1 O Conceito de Competecircncia E Formaccedilatildeo de Professores Do Treino de Skills agrave
Situacionalidade da Competecircnciahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip63
2 Sala de Aula ndash A Especificidade de um Contextohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip74
3 Dimensatildeo Relacional da Competecircncia Docentehelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip84
31 Influecircncia Fontes de Influecircncia do Professorhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip86
32 Disciplina na Aula Normas e Regrashelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 89
33 Gestatildeo de Conflitoshelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip93
34 Dimensatildeo Eacutetica e Emocional da Competecircncia Docentehelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip95
35 Dimensatildeo Teacutecnica da Competecircncia Docente helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip101
PARTE II ndash ESTUDO EMPIRICO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip107
CAPITULO I ndash METODOLOGIA DO ESTUDOhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip109
1 Problemaacutetica e Objetivos do Estudo helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip111
2 Opccedilotildees Metodoloacutegicas helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip113
21Paradigma Soacutecio-Criacutetico Sua Implicaccedilatildeo na InvestigaccedilatildeoAccedilatildeo helliphelliphelliphelliphelliphelliphellip114
22 Desenho da Investigaccedilatildeo helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip121
3 Teacutecnica e Instrumentos de Recolha de Dadoshelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip124
31Teacutencicas e Instrumentos de Inqueacuteritohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip125
311 Questionaacuterioshelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip125
32Teacutecnicas e Instrumentos de Observaccedilatildeohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip128
321 Observaccedilatildeo Participante helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip128
322 Observaccedilatildeo em Sala de Aula como Estrateacutegia de Formaccedilatildeo de Professoreshelliphellip130
323 Observaccedilatildeo Sistemaacutetica em Sala de Aulahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip131
4 Teacutecnicas de Anaacutelise de Dados helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip134
41 Teacutecnica de Anaacutelise de Conteuacutedo helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip134
42 Teacutecnica de Anaacutelise Estatiacutestica helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip136
CAPITULO II ndash CONTEXTUALIZACcedilAtildeO DO ESTUDO E PARTICIPANTEShelliphellip139
xi
1 Escola Superior de Educaccedilatildeo de Braganccedilahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip141
2 Escolas Cooperantes do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip150
3 Participanteshelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip152
CAPITULO III ndash O ESTUDO DE INVESTIGACcedilAtildeO ndash ACcedilAtildeO Contributos de um
Processo de Supervisatildeo para o Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo
de Sala de Aula helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip155
1 Objetivos e Organizaccedilatildeo dos Ciclos de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip157
2 Apresentaccedilatildeo do Projeto e Criaccedilatildeo de Sinergias helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip158
3 Diagnoacutestico Inicial helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip164
31Perspetivas Acerca da Formaccedilatildeo Anteriorhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip165
32 Sentimentos em Relaccedilatildeo ao Estaacutegio helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip168
33 Expetativas em Relaccedilatildeo ao Estaacutegiohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip171
34 Perspetivas Acerca da Relaccedilatildeo Pedagoacutegicahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip172
35 Perspetivas Acerca da Indisciplina helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip174
4 Siacutentese Identificaccedilatildeo de Problemas e Necessidades de Formaccedilatildeohelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip181
5 1ordm CICLO DE INVESTIGACcedilAtildeOACcedilAtildeOhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip184
51 Objetivos helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip184
52 Accedilatildeo Pedagoacutegica em Seminaacuteriohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip186
53 Observaccedilatildeo e Accedilatildeo em Contexto de Sala de Aulahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip191
54 Reflexatildeo na Accedilatildeo e Sobre a Accedilatildeo helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip192
55 Siacutentesehelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 217
6 2ordm CICLO DE INVESTIGACcedilAtildeO-ACcedilAtildeOhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip219
61 Objetivos helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip220
62 Accedilatildeo Pedagoacutegica em Seminaacuteriohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip220
63 Reflexatildeo na Accedilatildeo e Sobre a Accedilatildeo helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip224
64 Siacutentese helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip246
7 3ordm Ciclo de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip249
xii
71 Objetivos helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip249
72 Reflexatildeo na Accedilatildeo e Sobre a Accedilatildeohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip250
73 Accedilatildeo e Observaccedilatildeo em Sala de Aula helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 253
74 Siacutentese helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip283
8 Interpretaccedilatildeo e Problematizaccedilatildeo dos Processos e dos Resultadoshelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip286
Consideraccedilotildees Finaishelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip294
Bibliografiahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip302
xiii
IacuteNDICE DE QUADROS
Quadro 1 - Supervisatildeo e conceitos conexos helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip44
Quadro 2 - Criteacuterios para descrever e avaliar os programas baseados no desenvolvimento de
competecircnciashelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip68
Quadro 3 - Siacutentese do Conceito de Competecircncia helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip71
Quadro 4 - Distribuiccedilatildeo das disciplinas com componente praacutetica por ano curricular hellip144
Quadro 5 Caraterizaccedilatildeo do grupo (professores estagiaacuterios) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip152
Quadro 6 Caraterizaccedilatildeo do grupo (professores cooperantes) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip153
Quadro 7 Apresentaccedilatildeo Sumaacuteria do Projeto helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip163
Quadro 8 Perspetivas Acerca da Formaccedilatildeo Anteriorhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip165
Quadro 9 Sentimentos em Relaccedilatildeo ao Estaacutegio helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip168
Quadro 10 Expetativas em Relaccedilatildeo ao Estaacutegio helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip171
Quadro11 Perspetivas Acerca da Relaccedilatildeo Pedagoacutegicahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip173
Quadro 12 Grau de gravidade atribuiacuteda aos comportamentos de indisciplina dos alunos em
sala de aulahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip175
Quadro 13 Grau de eficaacutecia dos comportamentos do professor na prevenccedilatildeo da indisciplinahellip 179
IacuteNDICE DE FIGURAS Figura 1 Siacutentese dos paradigmas de formaccedilatildeo de professores e suas dimensotildeeshelliphelliphelliphelliphellip21
Figura 2 Referencial de competecircncias profissionais helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip66
Figura 3 Arquitetura da competecircncia ldquoem cascatardquohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip73
Figura 4 Estrutura das tarefas acadeacutemicashelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip80
Figura 5 Desenho de Investigaccedilatildeohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip121
Figura 6 Organizaccedilatildeo do Praacutetica Pedagoacutegica (Estaacutegio) durante um ano letivo helliphelliphelliphelliphellip147
Figura 7 - Cronograma Anual das Intervenccedilotildees helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip159
xiv
INDIacuteCE DE TABELAS
Tabela 1 Preparaccedilatildeo e Planificaccedilatildeo segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas
e resultados do teste de independecircncia)helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip196
Tabela 2 Iniacutecio de Aula segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados
do teste de independecircncia) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip199
Tabela 3 Desenvolvimento da Aula - Perguntas e Explicaccedilotildees segundo o observador no 1ordm momento de
observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip200
Tabela 4 Desenvolvimento da Aula - Vigilacircncia segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo
(frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 201
Tabela 5 Desenvolvimento da Aula - Atividades e Conteuacutedos segundo o observador no 1ordm momento de
observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip203
Tabela 6 Desenvolvimento da Aula - Manutenccedilatildeo do Ritmo da Aula segundo o observador no 1ordm momento de
observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircnciahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip204
Tabela 7 Final da Aula segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados
do teste de independecircncia) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip205
Tabela 8 Regras e Rotinas segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e
resultados do teste de independecircncia) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip207
Tabela 9 Reforccedilo do Comportamento Adequado segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo
(frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip208
Tabela 10 Puniccedilatildeo no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de
independecircncia)helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip209
Tabela 11 Gestatildeo de Conflitos com registos do 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados
do teste de independecircncia) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip210
Tabela 12 Relaccedilotildees Pessoais segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e
resultados do teste de independecircncia) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip212
Tabela 13 Comunicaccedilatildeo natildeo-verbal segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta
e resultado do teste de independecircncia helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip213
Tabela 14 Preparaccedilatildeo e Planificaccedilatildeo segundo o observador nos 1ordm e 2ordm momentos de observaccedilatildeo frequecircncia
absoluta e resultado do teste de independecircncia helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip224
Tabela 15 Iniacutecio de Aula segundo o observador nos 1ordm e 2ordm momentos de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e
resultado do teste de independecircncia helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip226
Tabela16 Desenvolvimento da Aula-Perguntas e Explicaccedilotildees segundo o observador nos 1ordm e 2ordm momentos de
observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de independecircnciahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip227
xv
Tabela 17 Desenvolvimento da Aula - Vigilacircncia segundo o observador nos 1ordm e 2ordm momento de observaccedilatildeo
frequecircncia absoluta e resultado do teste de independecircnciahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip229
Tabela 18 Desenvolvimento da Aula - Atividades e Conteuacutedos segundo o observador nos 1ordm e 2ordm momento de
observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de independecircncia helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip231
Tabela 19 Desenvolvimento da Aula - Manutenccedilatildeo do Ritmo segundo o observador nos 1ordm e 2ordm momento de
observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de independecircnciahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip232
Tabela 20 Final da Aula segundo o observador nos 1ordm e 2ordm momento de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e
resultado do teste de independecircncia helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip234
Tabela 21 Regras e Rotinas nos 1ordm e 2ordm momento de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de
independecircncia helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip236
Tabela 22 Reforccedilo do Comportamento Adequado nos 1ordm e 2ordm momento de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e
resultado do teste de independecircncia helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip238
Tabela 23 Puniccedilatildeo nos 1ordm e 2ordm momento de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de
independecircncia helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip239
Tabela 24 Gestatildeo de Conflitos nos 1ordm e 2ordm momento de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de
independecircncia helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip240
Tabela 25 Relaccedilotildees Pessoais nos 1ordm e 2ordm momento de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de
independecircncia helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip242
Tabela 26 Comunicaccedilatildeo natildeo-verbal nos 1ordm e 2ordm momento de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do
teste de independecircncia helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip244
Tabela 27 Preparaccedilatildeo e Planificaccedilatildeo segundo o observador nos 1ordm 2ordm e 3ordm momentos de observaccedilatildeo
frequecircncia absoluta e resultado do teste de independecircnciahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip253
Tabela 28 Iniacutecio de Aula segundo o observador nos 1ordm 2ordm e 3ordm momentos de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta
e resultado do teste de independecircncia helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip256
Tabela 29 Desenvolvimento da Aula segundo o observador nos 1ordm 2ordm e 3ordm momentos de observaccedilatildeo frequecircncia
absoluta e resultado do teste de independecircncia helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip258
Tabela 30 Desenvolvimento da Aula - Vigilacircncia segundo o observador nos 1ordm 2ordm e 3ordm momentos de
observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de independecircnciahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip260
Tabela 31 Desenvolvimento da Aula - Atividades e Conteuacutedos segundo o observador nos 1ordm 2ordm e 3ordm momentos
de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de independecircnciahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip261
Tabela 32 Desenvolvimento da Aula ndash Manutenccedilatildeo do Ritmo da Aula segundo o observador nos 1ordm 2ordm e 3ordm
momentos de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de independecircncia helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip264
Tabela 33 Final da Aula segundo o observador nos 1ordm 2ordm e 3ordm momentos de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta
e resultado do teste de independecircnciahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip266
xvi
Tabela 34 Regras e Rotinas segundo o observador nos 1ordm 2ordm e 3ordm momentos de observaccedilatildeo frequecircncia
absoluta e resultado do teste de independecircnciahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip269
Tabela 35 Reforccedilo do Comportamento Adequado segundo o observador nos 1ordm 2ordm e 3ordm momentos de
observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de independecircnciahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 272
Tabela 36 Puniccedilatildeo segundo o observador nos 1ordm 2ordm e 3ordm momentos de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e
resultado do teste de independecircnciahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip273
Tabela 37 Gestatildeo de Conflitos segundo o observador nos 1ordm 2ordm e 3ordm momentos de observaccedilatildeo frequecircncia
absoluta e resultado do teste de independecircnciahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip275
Tabela 38 Relaccedilotildees Pessoais segundo o observador no 1ordm 2ordm e 3ordm momentos de observaccedilatildeo frequecircncia
absoluta e resultado do teste de independecircnciahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip277
Tabela 39 Postura Voz Contacto Visual Expressatildeo Facial Gestos Posiccedilatildeo e Movimento segundo o
observador no 1ordm 2ordm e 3ordm momentos de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de
independecircnciahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip280
IacuteNDICE DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Itens fraturantescomportamentos de indisciplina com respostas fraturantes helliphelliphelliphelliphellip176
Graacutefico 2 Causas de indisciplina associadas ao professorhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip178
IacuteNDICE DE ANEXOS
Anexo 1 Perspetivas dos professores estagiaacuterios acerca da formaccedilatildeo (Q1) helliphelliphelliphelliphelliphellip125
Anexo 2 Conceccedilotildees dos Formandos acerca da (in)disciplina (Q2)helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip127
Anexo 3 Notas de Campo (Exemplo)helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip129
Anexo 4 Instrumento de Reflexatildeo e Orientaccedilatildeo da Praacutetica (IROP) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip132
Anexo 5 Ficha de Avaliaccedilatildeo de Desempenho da Praacutetica Pedagoacutegicahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip148
Anexo 6 Tabela de Anaacutelise de Conteuacutedohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip165
Anexo 7 Eficaacutecia atribuiacuteda agraves accedilotildees disciplinares dos professores helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip178
Anexo 8 Quadro com nuacutemero de observaccedilotildees por estagiaacuteriohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip178
Anexo 9 Anaacutelise comparativa dos dados helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 291
Anexo 10 Tabela com os resultados do teste de Kolmogorov-Smirnovhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip293
xvii
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
1
INTRODUCcedilAtildeO
A formaccedilatildeo inicial de professores eacute da competecircncia das instituiccedilotildees de ensino superior
agraves quais segundo Garcia (1999) satildeo atribuiacutedas trecircs funccedilotildees baacutesicas para que a formaccedilatildeo se
desenvolva por forma a dar resposta agraves exigecircncias da escola e dos cidadatildeos que a integram
Assim sendo a escola de formaccedilatildeo inicial deve i) adequar a formaccedilatildeo e a praacutetica pedagoacutegica
de modo a assegurar uma preparaccedilatildeo consistente adaptada ao niacutevel de ensino para o qual se
concretiza a formaccedilatildeo ii) controlo da certificaccedilatildeo para a exercer a profissatildeo e iii) agir
promovendo a mudanccedila e a inovaccedilatildeo no sistema educativo formando cidadatildeos capazes de
operacionalizar os princiacutepios e os valores eacuteticos e socializadores pelos quais a sociedade se
rege e onde a escola estaacute inserida
Neste enquadramento a formaccedilatildeo inicial constitui-se como uma etapa importante no
processo de aprender a ensinar porque natildeo soacute promove e possibilita a construccedilatildeo do
conhecimento profissional mas tambeacutem favorece o desenvolvimento de capacidades
disposiccedilotildees e atitudes com o objetivo de preparar os formandos para a realizaccedilatildeo eficaz da sua
accedilatildeo educativa em sala de aula Factos que ldquotecircm levado a um crescente interesse em relaccedilatildeo agrave
ideia de um conhecimento base para o ensino Este conhecimento tem procurado responder agrave
necessidade de uma maior compreensatildeo da praacutetica na formaccedilatildeo de professoresrdquo (Loughran
2009 p 171) A componente praacutetica realizada em contexto de sala de aula constitui-se como
um espaccedilo de especial significado para o professor estagiaacuterio porque adquire a sua primeira
experiecircncia profissional observando e intervindo (Walkington 2005 Montero 2005 Ruiacutez
2006 Cornu 2008 Molina 2011 Jacinto amp Sanches 2002 Galveias 2008 Leitatildeo 2009)
Assim sendo eacute expectaacutevel que o estudante futuro professor desenvolva um conjunto
de competecircncias e destrezas que lhe permitam exercer a sua accedilatildeo docente e sobretudo que
desenvolva uma atitude reflexiva face agraves suas praacuteticas fundamentada nas dimensotildees teacutecnica
dialeacutetica deliberativa e transpessoal (Day 2004) Teacutecnica no sentido em que orienta a praacutetica
usando a reflexatildeo para melhorar a eficiecircncia da implementaccedilatildeo dos curriacuteculos dialeacutetica como
forma de transformar reconstruir a praacutetica de acordo com conceitos de justiccedila social e
1 As referecircncias bibliograacuteficas e formataccedilatildeo de texto seguem as normas APA 2015 disponiacuteveis em httpsjfborgeswordpresscom20150218normas-apa-2015
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
2
emancipaccedilatildeo deliberativa como forma de fazer uma escolha entre vaacuterias perspetivas e praacuteticas
e transpessoal enfatizando o autodesenvolvimento e as relaccedilotildees entre si e o grupo
A reflexividade que enfatizamos neste estudo inclui todas estas dimensotildees orienta-se
para o desenvolvimento do conhecimento profissional dos princiacutepios eacuteticos e morais das
competecircncias emocionais e relacionais entre outras que se evidenciam na pessoa do professor
Logo ldquoo professor eacute acima de tudo uma pessoa Uma pessoa que pensa sente e age O aluno
eacute acima de tudo uma pessoa Uma pessoa que pensa sente e age As pessoas satildeo como
diamantes lapidam-se mutuamenterdquo (Fernandes 2008 p 11) Eacute deste lapidar que falamos
quando nos referimos agrave reflexividade na e sobre a accedilatildeo pois onde haacute professores haacute alunos que
fazem parte da essecircncia de um processo de um sistema de ensino e aprendizagem permanente
e dinacircmico Como referem Sprinthall e Sprinthall (1993) ldquoa qualidade da relaccedilatildeo interpessoal
entre o professor e os alunos tem de facto um impacto em muitas facetas da interacccedilatildeo na sala
de aula e em relaccedilatildeo ao grau de aprendizagem do alunordquo (p 324)
A passagem de aluno a professor eacute um periacuteodo privilegiado para a iniciaccedilatildeo agrave praacutetica
profissional Este processo estaacute organizado num modelo integrado de formaccedilatildeo que organiza
os seus planos de estudos tendo por base uma componente teoacuterica e uma componente praacutetica
que deve estar ligada agraves escolas onde os futuros professores iratildeo exercer as suas praacuteticas
educativas
Enquanto formadores tambeacutem consideramos esta componente muito importante daiacute o
nosso interesse em desenvolver as nossas investigaccedilotildees de mestrado e doutoramento ligadas a
esta dimensatildeo do curriacuteculo de formaccedilatildeo Procuramos ser reflexivos sobre o trabalho que
desenvolvemos e nessas muacuteltiplas reflexotildees e nos resultados a que chegamos no final da nossa
dissertaccedilatildeo de mestrado sentimos que a pesquisa realizada no acircmbito do doutoramento teria
que ser desenvolvida nesta aacuterea temaacutetica - formaccedilatildeo inicial de professores e praacutetica pedagoacutegica
A imersatildeo na praacutetica pedagoacutegica configura-se como um momento chave da formaccedilatildeo
do futuro professor pelas experiecircncias e vivecircncias que proporciona e pela singularidade do
momento que permite uma transiccedilatildeo mais suave com esta passagem de aluno a professor com
um trabalho de proximidade dos supervisores (Roldatildeo Hamido amp Galveias 2005) Acrescem
ainda as inuacutemeras reflexotildees que se vatildeo fazendo enquanto supervisoras sobre as vivecircncias
acadeacutemicas dos nossos alunos apontando novos caminhos que nos levam a reconhecer
necessidades de formaccedilatildeo e tambeacutem nos permitiram identificar o percurso que viemos a seguir
nesta investigaccedilatildeo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
3
Assim sendo inserido neste vaiveacutem que a relaccedilatildeo teoria e praacutetica pressupotildee elegemos
a Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo como metodologia do estudo a qual no dizer de Kemmis (1988) se
define como uma forma de investigaccedilatildeo autorreflexiva evidenciando problemas fazendo
planos de accedilatildeo avaliando e criando condiccedilotildees de mudanccedila decorrentes dessa avaliaccedilatildeo Aleacutem
disso permite o envolvimento de todos os participantes que se sentem comprometidos com a
aprendizagem com o desenvolvimento de competecircncias e com o efeito das suas proacuteprias accedilotildees
estrateacutegicas e metodoloacutegicas
A pesquisa na formaccedilatildeo e no trabalho docente tem sido objeto de estudo e tem integrado
as reformas educacionais em todo o mundo Eacute dada especial ecircnfase aos modelos de formaccedilatildeo
que tecircm a investigaccedilatildeo como elemento fulcral que estabelece a ligaccedilatildeo entre dois ldquomundosrdquo
as instituiccedilotildees de formaccedilatildeo e as escolas baacutesicas e secundaacuterias tendo como paradigma de
investigaccedilatildeo a investigaccedilatildeo-accedilatildeo (Pereira amp Zeichner 2008a Estrela A amp Estrela MT
2001 Caetano 2003 Nunes 2007 Cadoacuterio 2011 Santos 2013 Sobral 2014 Pacheco 2015
Feio 2015)
Uma das grandes preocupaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave escola desde os seus primoacuterdios ateacute agrave
atualidade satildeo as relaccedilotildees que se estabelecem no seu interior Como afirma Perrenoud
(2002a) ldquoA escola somos noacutesrdquo (p 13) A escola de formaccedilatildeo inicial natildeo se pode desligar das
escolas onde o futuro professor vai iniciar a sua praacutetica pedagoacutegica que na nossa opiniatildeo eacute o
cerne do processo de formaccedilatildeo Decidimos pois enveredar por um conhecimento mais
profundo dessa realidade orientando a nossa pesquisa para a formaccedilatildeo e para o
desenvolvimento da competecircncia dos professores estagiaacuterios
O presente estudo integrou-se no acircmbito da praacutetica pedagoacutegica do desenvolvimento da
competecircncia relacional e de gestatildeo de sala de aula Ser professor competente na sociedade
actual natildeo eacute soacute estar preparado cientificamente em relaccedilatildeo aos conhecimentos programaacuteticos
e aos meacutetodos de ensino aprendizagem mas tambeacutem saber criar um clima de sala de aula
positivo onde a relaccedilatildeo de respeito muacutetuo faccedila parte integral do quadro relacional desse espaccedilo
de interaccedilatildeo Neste sentido eacute importante que se saiba encarar as situaccedilotildees problema vendo
nestas oportunidades educativas para o desenvolvimento social moral e eacutetico de todos os que
integram o espaccedilo educativo A eficaacutecia do professor estaacute sobretudo na capacidade de gerir a
relaccedilatildeo pedagoacutegica no contexto da sala de aula no conhecimento acadeacutemico e institucional
(Tschannen-Moran amp Hoy 2002 Gencer amp Cakiroglu 2007 Cheung 2008)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Neste estudo o modo como o professor faz a gestatildeo da aula tanto ao niacutevel dos processos
de aprendizagem como dos comportamentos e afetos foi uma preocupaccedilatildeo de todos os
participantes no decorrer do processo de supervisatildeoreflexiva
Metodologicamente este estudo de investigaccedilatildeo-accedilatildeo integra-se num quadro de
abordagens mistas no paradigma socio-criacutetico tambeacutem designado de emancipatoacuterio
(Coutinho 2011) Ao distanciar-se dos paradigmas positivista e interpretativo pelo excessivo
objetivismo e neutralidade do primeiro e pela propensatildeo para a subjetividade do segundo o
paradigma socio-criacutetico seguindo os princiacutepios filosoacuteficos de Habermas (1988) traz a intenccedilatildeo
de mudanccedila e de emancipaccedilatildeo do ser humano
Assente nesta metodologia assumimos como objeto de estudo o desenvolvimento da
competecircncia relacional e de gestatildeo de sala de aula de professores estagiaacuterios do 1ordm Ciclo do
Ensino Baacutesico cuja investigaccedilatildeo orientamos tendo por base a seguinte questatildeoproblema
Quais satildeo os contributos de um processo de supervisatildeo reflexiva apoiado num esquema
de investigaccedilatildeo-accedilatildeo para o desenvolvimento da competecircncia relacional e de gestatildeo de sala de
aula de professores estagiaacuterios do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico
Deste modo a investigaccedilatildeo orientou-se segundo um conjunto de questotildees mais
especiacuteficas
i) Como eacute que os processos formativos promovem o desenvolvimento da competecircncia
relacional e de gestatildeo de sala de aula em professores estagiaacuterios do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico
ii) Que relaccedilatildeo estabelecem entre estas dimensotildees e a prevenccedilatildeo da indisciplina
iii) Que mudanccedilas se observam nas praacuteticas e nas conceccedilotildees dos professores estagiaacuterios
acerca da dimensatildeo relacional do ensino decorrentes de um processo de supervisatildeo apoiado
num esquema de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo
Decorrentes destas questotildees formulaacutemos um conjunto de objetivos que nortearam o
nosso estudo que seguidamente se explicitam
Promover o desenvolvimento da competecircncia relacional e de gestatildeo de sala de aula
em professores estagiaacuterios do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico
Evidenciar a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento da competecircncia relacional e de gestatildeo
de sala de aula e a prevenccedilatildeo da (in)disciplina
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
5
Identificar mudanccedilas ao niacutevel da competecircncia relacional e de gestatildeo de sala de aula
experienciadas por professores estagiaacuterios num processo de formaccedilatildeo supervisionada apoiado
num esquema de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo
Este trabalho que se insere no acircmbito da tese de doutoramento sobre o Desenvolvimento
da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo estaacute
estruturado em duas partes que por sua vez integram diversos pontos
Assim sendo a Parte I enquadramento teoacuterico da problemaacutetica organiza-se em trecircs
capiacutetulos No capiacutetulo I intitulado formaccedilatildeo inicial de professores orientaccedilotildees e perspetivas
comeccedilamos por fazer um breve enquadramento histoacuterico da formaccedilatildeo inicial de professores
bem como uma apresentaccedilatildeo dos paradigmas e modelos de formaccedilatildeo dos mesmos que
consideramos relevantes para o nosso estudo Segue-se uma anaacutelise do enquadramento
legislativo da formaccedilatildeo inicial em Portugal a sua evoluccedilatildeo mais recente agrave luz do denominado
Processo de Bolonha contendo as respetivas ligaccedilotildees aos desenvolvimentos dos planos de
formaccedilatildeo O capiacutetulo termina com a abordagem da passagem de aluno a professor considerada
como sendo um momento de sentimentos contraditoacuterios onde se integram as representaccedilotildees
do que eacute ser-se professor e a realidade vivenciada
No capiacutetulo II cenaacuterios e contextos de supervisatildeo em formaccedilatildeo inicial de professores
orientamo-nos para o papel da supervisatildeo pedagoacutegica no desenvolvimento profissional dos
futuros professores enquadrando-a nos estudos mais gerais acerca de supervisatildeo Assim sendo
iniciamos com uma breve discussatildeo a partir do conceito de supervisatildeo a que se segue a
apresentaccedilatildeo dos vaacuterios cenaacuterios e contextos em que esta se insere Analisamos ainda a
supervisatildeo pedagoacutegica enquanto accedilatildeo formadora promotora da praacutetica reflexiva e da
reflexividade designadamente enquadrada na praacutetica da investigaccedilatildeo-accedilatildeo colaborativa
No capiacutetulo III dimensotildees da competecircncia docente no contexto de sala de aula
comeccedilamos por abordar a evoluccedilatildeo do conceito de competecircncia e as dimensotildees da competecircncia
docente no microcontexto de sala de aula Para tal observamos em sala de aula as carateriacutesticas
da especificidade desse contexto De seguida abordamos ainda a dimensatildeo relacional da
competecircncia docente que subdividimos num conjunto de subpontos que consideramos serem
muito pertinentes como fundamentaccedilatildeo teoacuterica deste estudo e que iratildeo dar sustentabilidade ao
estudo empiacuterico que apresentamos na Parte II
A parte II estudo empiacuterico tambeacutem se organiza em 3 capiacutetulos No capiacutetulo I apresenta-
se a metodologia do estudo dando ecircnfase agrave problemaacutetica e objetivos do estudo a que se seguem
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
6
as opccedilotildees metodoloacutegicas o desenho de investigaccedilatildeo as teacutecnicas e instrumentos de recolha e
de anaacutelise de dados
No capiacutetulo II apresentamos a contextualizaccedilatildeo do estudo e participantes refererindo
que este estudo de investigaccedilatildeo-accedilatildeo se contextualiza na formaccedilatildeo inicial de professores numa
escola superior de educaccedilatildeo situada no Norte de Portugal e duas escolas parceiras do 1ordm Ciclo
do Ensino Baacutesico Os participantes no estudo foram dezoito estagiaacuterios seis professoras
cooperantes (professores titulares das turmas que recebem os professores estagiaacuterios) e a
supervisora que assumiu simultaneamente o papel de investigadora e orientadora do processo
de investigaccedilatildeo-accedilatildeo O regulamento da praacutetica pedagoacutegica apresentava orientaccedilotildees no sentido
de que os professores estagiaacuterios deveriam organizar-se em grupos de trecircs sendo estes
recebidos pelas correspondentes seis professoras cooperantes
No capiacutetulo III dedicado ao estudo de investigaccedilatildeo-accedilatildeo apoacutes a apresentaccedilatildeo dos
objetivos e a organizaccedilatildeo desta parte do trabalho fazemos referecircncia ao modo como o projeto
foi dado a conhecer aos participantes e as dinacircmicas que suscitou na fase inicial Segue-se a
apresentaccedilatildeo do diagnoacutestico inicial ou seja das perspetivas expectativas e sentimentos dos
formandos acerca da formaccedilatildeo e da relaccedilatildeo pedagoacutegica na fase inicial do estudo terminando
com uma siacutentese e identificaccedilatildeo de problemas e necessidades de formaccedilatildeo Seguidamente
procede-se agrave apresentaccedilatildeo dos 1ordm 2ordm e 3ordm Ciclos de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Apoacutes a referida
apresentaccedilatildeo referimos os principais contributos para a avaliaccedilatildeo de todo o processo formativo
e por fim interpretaccedilatildeo e problematizaccedilatildeo dos processos e dos resultados e as consideraccedilotildees
finais
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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PARTE I
ENQUADRAMENTO TEOacuteRICO
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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CAPITULO I
FORMACcedilAtildeO INICIAL DE PROFESSORES ORIENTACcedilOtildeES E
PERSPETIVAS
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Os professores natildeo podem ser formados (passivamente) Eles formam-se (activamente) Eacute portanto vital que participem activamente na tomada de decisotildees sobre o sentido e os processos da sua proacutepria aprendizagem (Day 2001 p17)
1 Breve Enquadramento Histoacuterico da Formaccedilatildeo Inicial de
Professores
A questatildeo da formaccedilatildeo de professores tem sofrido mutaccedilotildees ao longo do tempo
ocupando ldquogrande extensatildeo no conjunto das poliacuteticas e dos discursos educativos que
acompanharam as muitas transformaccedilotildees sofridas pelo sistema educativo portuguecircsrdquo (Lopes
Pereira Ferreira Ribeiro amp Coelho 2007 p 30) Ao abordarmos esta temaacutetica temos
consciecircncia da diversidade que ela encerra jaacute que esta pode ser analisada de vaacuterias vertentes
e de acordo com a formaccedilatildeo de professores dos vaacuterios graus de ensino Assim sendo iremos
focar-nos na formaccedilatildeo para o 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico (1ordm CEB) pelo facto de a nossa
investigaccedilatildeo centrar aiacute a sua atenccedilatildeo
Como contextualizaccedilatildeo histoacuterica da formaccedilatildeo inicial de professores iniciaremos este
breve percurso na 1ordf Repuacuteblica Com a implantaccedilatildeo da Repuacuteblica verifica-se a construccedilatildeo de
uma nova poliacutetica pois os ldquoideais republicanos seriam mais facilmente aceites se a escola
assumisse um papel activo de politizaccedilatildeordquo (Pereira 2008b p 102) repercutindo-se (jaacute que os
movimentos satildeo simultacircneos) nas tendecircncias que se tinham vindo a verificar inseridas no
movimento da ldquoEscola Novardquo e que jaacute se adivinhavam no final do periacuteodo monaacuterquico Em
1911 surge ldquouma remodelaccedilatildeo ampla e global em todo o ensino desde os niacuteveis mais baixos
ateacute ao superiorrdquo (Baptista 2004 p 113)
Merece referecircncia pelo seu conteuacutedo de vanguarda a intenccedilatildeo de reforma do ensino
primaacuterio apresentada a 29 de marccedilo de 1911 que de acordo com Carvalho (2001) era
(hellip)um documento notabiliacutessimo que se fosse aplicado nos colocaria ao niacutevel dos paiacuteses mais avanccedilados no domiacutenio da instruccedilatildeo Este documento mostra natildeo soacute como os seus redactores tinham plena consciecircncia das necessidades daquele grau de ensino mas tambeacutem como estavam a par da pedagogia mais progressiva da sua eacutepoca (p 665)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
12
Foi designada de ldquoreforma de sonho em que se programa o que seria bom ver realizado
sem se atender agrave situaccedilatildeo real do paiacutesrdquo (Carvalho 2001 p 666) ou seja aos escassos recursos
existentes humanos materiais e logiacutesticos Esta reforma incluiacutea um plano de estudos com
quatro anos dos quais faziam parte os conteuacutedos literaacuterios cientiacuteficos e pedagoacutegicos artiacutesticos
No entanto a reforma natildeo se concretizou Contudo em 1916 iniciou-se uma
remodelaccedilatildeo do parque escolar ao niacutevel de infra-estruturas fiacutesicas e progressivamente
verificaram-se tambeacutem melhorias na formaccedilatildeo no vencimento e no estatuto dos professores
Com a entrada em vigor da Lei Nordm 233 de 7 de junho de 1914 regulamentada a 10 de
fevereiro de 1916 criaram-se trecircs escolas normais primaacuterias uma em Lisboa que iniciou
funccedilotildees de imediato e as do Porto e Coimbra que abriram no ano letivo 1919-1920 Todavia
o governo poderia criar outras escolas normais congeacuteneres a requerimento das juntas gerais do
distrito tendo como condiccedilatildeo que estas corporaccedilotildees assumissem as despesas de instalaccedilatildeo e
material escolar ficando apenas a cargo do Estado o vencimento dos professores e do pessoal
auxiliar (Baptista 2004)
Segue-se uma remodelaccedilatildeo nas escolas normais primaacuterias fundamentada no Decreto
Nordm 6137 de 29 de setembro de 1919 orientada para uma vontade de acompanhar o movimento
cientiacutefico que se verificava em torno da educaccedilatildeo no estrangeiro e que conferia ao professor
um estatuto social e profissional traduzido num melhor vencimento e mais formaccedilatildeo Neste
sentido passou a exigir-se aos candidatos a professores em vez do simples exame de instruccedilatildeo
primaacuteria a idade miacutenima de 16 anos e maacutexima de 25 anos e que de acordo com Baptista
(2004) teriam que satisfazer uma das seguintes condiccedilotildees
a) Aprovaccedilatildeo no exame final do curso das escolas primaacuterias superiores (8 anos de escolaridade)
b) Aprovaccedilatildeo no exame do curso geral dos liceus (2ordf secccedilatildeo) um percurso com 10 anos de escolaridade e
c) Aprovaccedilatildeo no exame de admissatildeo agraves escolas normais desde que se apresentassem habilitados com o diploma do curso primaacuterio geral ou seu equivalente (p 114)
Apoacutes a sua admissatildeo os candidatos a professores teriam no seu plano de estudos com
a duraccedilatildeo de trecircs anos a niacutevel teoacuterico disciplinas de caraacutecter literaacuterio cientiacutefico e pedagoacutegico
e a niacutevel praacutetico trabalhos manuais e modelaccedilatildeo muacutesica e canto coral jardinagem lavores e
economia domeacutestica Acresce a esta formaccedilatildeo a praacutetica pedagoacutegica designada de praacutetica de
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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ensino primaacuterio nas escolas anexas2 agraves escolas de formaccedilatildeo com o objetivo de profissionalizar
os seus alunos
A praacutetica de ensino na escola anexa consolidava-se em grupos de trecircs alunos futuros
professores tendo a seu cargo rotativamente um grupo de crianccedilas durante um certo periacuteodo
de tempo Estes trecircs alunos assumiam tambeacutem rotativamente o papel de monitor ajudante e
observador No final apoacutes o teacutermino destas praacuteticas a cada um dos alunos finalistas era
entregue a titularidade de uma turma durante trecircs dias consecutivos por semana com
assistecircncias dos professores da escola de formaccedilatildeo e sob orientaccedilatildeo diaacuteria dos professores das
escolas anexas Estes professores no final de cada dia de trabalho faziam uma reflexatildeo sobre
os trabalhos desenvolvidos em sala de aula (Baptista 2004) Como forma de enriquecimento e
diversificaccedilatildeo da formaccedilatildeo mesmo natildeo estando contemplado no regulamento do Ensino
Primaacuterio Normal de 29 de setembro de 1919 era permitido ao aluno mestre observar situaccedilotildees
educativas em meio urbano e em meio rural onde assistiam agraves diferentes atividades em
contexto educativo sem no entanto fazerem intervenccedilatildeo como faziam nas escolas anexas Estas
observaccedilotildees eram acompanhadas pelo professor de pedagogia (Pintassilgo Mogarro amp
Henriques 2010)
No entanto para que a praacutetica de ensino se tornasse mais eficaz seria necessaacuteria a
coordenaccedilatildeo de um profissional que fosse o elo de ligaccedilatildeo entre a escola de formaccedilatildeo e a
escola anexa de preferecircncia com experiecircncia de ensino no ensino primaacuterio pelo facto de ldquoos
modelos teoacutericos natildeo encontrarem na praacutetica um encaixe perfeito cabendo ao praacutetico atraveacutes
da anaacutelise de situaccedilotildees educativas fazer adaptaccedilotildees ou ateacute (re)inventar modos de fazerrdquo
(Baptista 2004 p 132) e esse conhecimento permitir uma colaboraccedilatildeo mais eficaz
Em jeito de parecircnteses neste percurso devemos ainda destacar o Projeto de Lei
apresentado ao Parlamento em 1923 pelo ministro Joatildeo Camoesas que entre outras medidas
previa jaacute naquela eacutepoca a formaccedilatildeo superior dos professores do ensino primaacuterio e dos
educadores de infacircncia facto que soacute veio a consolidar-se em 1998
Sendo este periacuteodo (Repuacuteblica 1910-1926) um periacuteodo feacutertil em inovaccedilatildeo e
experimentaccedilatildeo pedagoacutegica onde se auguravam bons indiacutecios para o futuro da educaccedilatildeo3 este
2Designam-se por escolas anexas escolas especiacuteficas onde os alunos mestres das escolas normais superiores faziam a sua praacutetica pedagoacutegica 3 Esta ideia baseava-se na ldquocrenccedila de que o desenvolvimento dependia da renovaccedilatildeo das mentalidades conduziria a que educaccedilatildeo ocupasse ideologicamente um lugar muito importante Agrave escola cabia formar natildeo apenas o cidadatildeo consciente da democracia moderna mas tambeacutem o operaacuterio qualificado necessaacuterio agrave industrializaccedilatildeo (hellip) e agrave detecccedilatildeo de meacuterito intelectualrdquo (Batista 2004 p133)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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foi passageiro pois seguiu-se um outro (Estado Novo 1926-1974) de ideias conservadoras
alicerccediladas num aparelho de doutrinaccedilatildeo que utilizava a Escola e a Igreja para legitimaccedilatildeo
inculcaccedilatildeo e controlo social Neste periacuteodo a escola era vista como espaccedilo de formaccedilatildeo de
consciecircncias alicerccedilada na trilogia nacional Deus-Paacutetria-Famiacutelia (Noacutevoa 1987) e cujos sinais
evidenciavam um projeto de formaccedilatildeo de professores de estagnaccedilatildeo e retrocesso4
O ano de 1930 ficou marcado pela extinccedilatildeo das escolas normais superiores encerrando
simbolicamente um ciclo decisivo na histoacuteria da formaccedilatildeo de professores (Noacutevoa 1992) Estas
modificaccedilotildees ldquointroduzidas no iniacutecio da deacutecada de 30 e que se mantiveram ateacute ao iniacutecio da
deacutecada de 70 seguiram o curso normal das alteraccedilotildees do Estado Novordquo (Pacheco 1995a p
74)
A poliacutetica educativa do regime do Estado Novo baseava-se em dois eixos fundamentais
que asseguravam a sua estrutura a reduccedilatildeo do niacutevel de ensino com a diminuiccedilatildeo dos anos de
escolaridade obrigatoacuteria que passou para trecircs anos a simplificaccedilatildeo das aprendizagens e dos
conteuacutedos escolares e a centralizaccedilatildeo autoritaacuteria Reforccedila-se ainda a inspeccedilatildeo o controlo
moral e ideoloacutegico tanto na formaccedilatildeo de base como no estaacutegio onde ldquose fixavam normas
reguladoras dessas praacuteticas dos alunos mestres evitando deste modo desvios que pudessem
pocircr em causa o regimerdquo (Baptista 2004 p 144)
A praacutetica pedagoacutegica passava a fazer-se num circuito fechado das escolas de aplicaccedilatildeo
fechando-se agrave discussatildeo agrave reflexatildeo e agrave pesquisa dado que o ensino era essencialmente teoacuterico
Tendo em conta que existiam muitos opositores a este modelo adeptos do modelo republicano
em 1936 o governo suspende a matriacutecula nas escolas do magisteacuterio primaacuterio alegando excesso
de professores No entanto e porque essa natildeo era a realidade o governo resolve colmatar essa
dificuldade atraveacutes da difusatildeo dos postos escolares5 regidos por regentes escolares a quem
ldquonatildeo se exigia qualquer habilitaccedilatildeo a natildeo ser a comprovaccedilatildeo da necessaacuteria idoneidade moral
e intelectualrdquo (Baptista 2004 p 141)
Estas mudanccedilas nas poliacuteticas educativas e de formaccedilatildeo de professores representam
claramente um retrocesso no tempo porque em 1901 jaacute natildeo se podia exercer a profissatildeo de
professor sem ser detentor do curso de uma escola normal primaacuteria cujo ingresso se regia pelo
4 Os governos da ditadura eram defensores de uma instruccedilatildeo miacutenima do ler escrever e contar 5 O posto escolar era a escola embrionaacuteria da escola elementar em que o ldquoposto escolar seraacute a escola aconchegada da terra pequenina onde outra maior se tornaria desproporcionada ao mesmo tempo que pelo desperdiacutecio inimiga da restante terra portuguesardquo (Decreto-lei Nordm 27 279 de 24 de novembro de 1936 in Batista 2004)
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rigor atraveacutes de um exame de admissatildeo de cultura especiacutefica e estaacutegios nas quatro classes a
que se seguia um interrogatoacuterio sobre o plano de cada liccedilatildeo (Carvalho 2001)
A falta de investimento na educaccedilatildeo neste periacuteodo conduz o paiacutes a um panorama
desolador apresentando no iniacutecio da deacutecada de 60 a taxa de analfabetismo mais elevada da
Europa Tentando debelar esse desinvestimento a ldquo16 de Janeiro de 1971 Veiga Simatildeo
apresentou ao paiacutes dois projectos de Reforma intitulados Projecto do Sistema Escolar e
Linhas Gerais de Reforma do Ensino Superior (Carvalho 2001 p 808) Apoacutes discussatildeo
puacuteblica deram origem agrave lei ldquoque aprovou as bases a que deveria obedecer a reforma do sistema
educativo publicada em 25 de Julho de 1973rdquo (Carvalho 2001 p 809) De entre as inovaccedilotildees
que se pretenderam introduzir destacamos a extensatildeo da escolaridade obrigatoacuteria de seis para
oito anos sendo quatro anos para o ensino primaacuterio e quatro anos para o ensino preparatoacuterio
No ensino superior as Universidades deveriam assegurar cursos de longa duraccedilatildeo e os
Institutos Politeacutecnicos deveriam ministrar cursos de curta duraccedilatildeo orientados para uma
formaccedilatildeo profissional imediata e de acircmbito regional (Carvalho 2001)
Na opiniatildeo de Veiga Simatildeo o ensino superior era o que carecia de maior reforma
afirmando que o mesmo tinha atingido o ponto de rutura Com esta reforma Veiga Simatildeo
previa a sua total desagregaccedilatildeo (Teodoro 2004)
A Revoluccedilatildeo de Abril trouxe mudanccedilas significativas neste campo que abalaram
inevitavelmente a estrutura cristalizada da formaccedilatildeo de professores do ensino primaacuterio do
regime fascista tornando-se a base de projetos de formaccedilatildeo de professores dos nossos dias
sendo ldquoas Escolas do Magisteacuterio Primaacuterio as instituiccedilotildees educativas que sofreram
transformaccedilotildees mais profundas na sequecircncia da revoluccedilatildeo de 1974rdquo (Noacutevoa 1992 p 61)
Era necessaacuterio renovar as estruturas escolares e de formaccedilatildeo para que o ensino passasse
a ser visto como uma forccedila nuclear de realizaccedilatildeo e de libertaccedilatildeo de um povo Esta renovaccedilatildeo
implicava ldquoa necessidade de uma raacutepida adaptaccedilatildeo das escolas do magisteacuterio primaacuterio ao
imperativo da democratizaccedilatildeo da sociedade portuguesardquo (Baptista 2004 p 161) A entrada em
vigor do novo regime impunha uma raacutepida adaptaccedilatildeo das estruturas das escolas do magisteacuterio
primaacuterio e com o Despacho de 30 de outubro 1974 entra em vigor um novo curriacuteculo de
formaccedilatildeo Assim vatildeo-se fazendo reajustes ateacute agrave publicaccedilatildeo em 1978 de um novo plano de
estudos liberto de paixotildees ideoloacutegicas O curso passa a ter a duraccedilatildeo de trecircs anos sendo o 3ordm
ano de Praacutetica Pedagoacutegica Supervisionada de modo a debelar lacunas na qualidade dos
estaacutegios que se vinham praticando A este estaacutegio precedia um periacuteodo de sensibilizaccedilatildeo agrave
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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praacutetica pedagoacutegicaobservaccedilatildeo (cinco horas semanaisanuais) no 1ordm Ano No 2ordm Ano num
periacuteodo igual ao referenciado para o 1ordm Ano teriam a intervenccedilatildeo pedagoacutegica progressiva
Todo o curriacuteculo se direcionava para a formaccedilatildeo do professor como agente de mudanccedila nas
mais variadas aacutereas de intervenccedilatildeo acadeacutemica cultural e social
Foram-se fazendo reajustes sucessivos ateacute agrave extinccedilatildeo das Escolas do Magisteacuterio
Primaacuterio Decreto-Lei nordm 10186 de 17 de maio Este decreto estabelecia ldquoum esquema
programaacutetico da extinccedilatildeo das escolas normais de educadores de infacircncia e das escolas do
magisteacuterio primaacuteriordquo prescrito no seu artigo 8ordm O mesmo decreto refere ainda
a transferecircncia de afetaccedilatildeo do patrimoacutenio que lhes estaacute adstrito e demais serviccedilos bem como os direitos e obrigaccedilotildees de que forem titulares para outros serviccedilos do Estado com preferecircncia para a correspondente escola superior de educaccedilatildeo ou centro integrado de formaccedilatildeo de professores [existente na aacuterea de extinccedilatildeo] (artigo 8ordm Decreto-Lei nordm 10186 de 17 de maio)
Para dar continuidade agrave formaccedilatildeo de professores existia jaacute naquela data a rede do
ensino superior politeacutecnico onde se integraram as Escolas Superiores de Educaccedilatildeo Estas
foram criadas pelo Decreto-lei Nordm 513 ndash L179 de 27 de dezembro ndash DR Nordm 297 I Seacuterie
No decorrer da deacutecada de oitenta com a entrada em funcionamento dos cursos de
formaccedilatildeo inicial de professores nas Escolas Superiores de Educaccedilatildeo (ESE) e nos Centros
Integrados de Formaccedilatildeo de Professores (CIFOPs) nas Universidades estas instituiccedilotildees tinham
a funcionar cursos de formaccedilatildeo de professores de 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico com a duraccedilatildeo de
trecircs anos e a atribuiccedilatildeo do grau de Bacharel Ainda nesta deacutecada mais concretamente em
outubro de 1986 eacute publicada a Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) aprovada em
plenaacuterio realizado a 24 de julho de 1986 na Assembleia da Repuacuteblica Estaacutevamos pois perante
uma ampla reforma do sistema educativo portuguecircs com o iniacutecio da atividade da chamada
Comissatildeo de Reforma do Sistema Educativo (CRSE) composta e nomeada pelo Governo
Constitucional na altura em funccedilotildees e cujos trabalhos se iniciaram apoacutes a tomada de posse
em marccedilo de 1986 Com esta lei pretendia-se estruturar o ldquosistema escolar e evitar a tomada de
medidas avulsas por vezes incoerentes ou contraditoacuterias pelos sucessivos governos bem
como para proporcionar um quadro estaacutevel que viabilizasse uma reforma global e articulada
do sistema educativordquo (Campos 1989 p 22)
Este documento LBSE veio ainda introduzir mudanccedilas no panorama educativo
nacional pois i) determina uma escolaridade baacutesica obrigatoacuteria de nove anos estrutura o
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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ensino baacutesico em trecircs ciclos com objetivos especiacuteficos ii) estabelece os objetivos gerais para
a educaccedilatildeo preacute-escolar baacutesica e secundaacuteria iii) enuncia os objetivos do ensino superior iv)
regulariza a educaccedilatildeo de adultos e a alfabetizaccedilatildeo v) valoriza o ensino agrave distacircncia vi) incentiva
a criaccedilatildeo de escolas portuguesas em paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa vii) engloba a
educaccedilatildeo extra-escolar de forma a perspetivar a educaccedilatildeo permanente viii) dedica atenccedilatildeo ao
apoio educativo estabelecendo medidas de apoio e complemento educativo ix) elabora os
princiacutepios para se proceder ao planeamento da rede escolar bem como os princiacutepios a que se
deve obedecer no que respeita agrave administraccedilatildeo e gestatildeo do sistema educativo a niacutevel central
x) estabelece que a formaccedilatildeo contiacutenua de professores e educadores seja um complemento da
formaccedilatildeo inicial xi) enuncia criteacuterios gerais que sejam contemplados para progressatildeo da
carreira docente xii) estabelece normas relativas agrave organizaccedilatildeo e desenvolvimento curricular
xiii) organiza o ensino secundaacuterio com a duraccedilatildeo de trecircs anos tendo como meta a preparaccedilatildeo
para a vida ativa ou para o ensino superior e ixv) estabelece que a formaccedilatildeo de todos os
educadores e professores deve ser de niacutevel superiorlicenciatura (Decreto-Lei Nordm 4686 de
outubro)
De referir a consagraccedilatildeo da formaccedilatildeo inicial a niacutevel superior para os educadores e
professores de todos os niacuteveis de ensino e algumas finalidades associadas a essa formaccedilatildeo a
saber
a) proporcionar aos educadores e professores de todos os niacuteveis de ensino a informaccedilatildeo os meacutetodos e as teacutecnicas cientiacuteficas e pedagoacutegicas de base bem como a formaccedilatildeo pessoal e social adequada ao exerciacutecio da funccedilatildeo docente b) proporcionar uma formaccedilatildeo integrada quer no plano da preparaccedilatildeo cientifico-pedagoacutegica quer no da articulaccedilatildeo teoacuterico-praacutetica c) procurar uma formaccedilatildeo que em referecircncia agrave realidade social estimule uma atitude simultaneamente criacutetica e atuante d) proporcionar uma formaccedilatildeo que favoreccedila e estimule a inovaccedilatildeo e a investigaccedilatildeo nomeadamente em relaccedilatildeo com a atividade educativa e) proporcionar uma formaccedilatildeo participada que conduza a uma praacutetica reflexiva e continuada de autoformaccedilatildeo e autoaprendizagem e f) proporcionar uma formaccedilatildeo contiacutenua que complemente e atualize a formaccedilatildeo inicial numa perspetiva de educaccedilatildeo permanente (LBSE de 1986 capiacutetulo 4ordm)
Estamos perante uma lei ambiciosa que impulsiona as escolas de formaccedilatildeo inicial a
configurarem a sua formaccedilatildeo em funccedilatildeo das exigecircncias contemporacircneas dos profissionais de
educaccedilatildeo designadamente os professores do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico
Neste contexto tornou-se importante reforccedilar a reorganizaccedilatildeo da formaccedilatildeo inicial de
professores sobretudo a dos Professores do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico (1ordm CEB) que teve
ldquoalteraccedilotildees profundas decorrentes essencialmente da sua integraccedilatildeo no Ensino Superior e da
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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sua passagem do niacutevel de graduaccedilatildeo de bacharelato ao de licenciaturardquo (Lopes Pereira
Ferreira Ribeiro amp Coelho 2007 p 30)
Contudo era necessaacuterio inovar e progredir envolvendo todos os agentes do sistema
educativo dando particular destaque aos professores Perspetivando essa melhoria foi criado
o Instituto Nacional de Acreditaccedilatildeo e Formaccedilatildeo de Professores (INAFOP) pelo Decreto-lei nordm
29098 de 17 de setembro oacutergatildeo entretanto extinto que para aleacutem da acreditaccedilatildeo dos cursos
de formaccedilatildeo inicial de educadores de infacircncia e professores do ensino baacutesico e secundaacuterio
tinha ainda como funccedilatildeo
promover a niacutevel nacional a reflexatildeo a informaccedilatildeo e o debate sobre a qualidade da formaccedilatildeo inicial de professores e fazer recomendaccedilotildees agraves instituiccedilotildees de formaccedilatildeo inicial e ao governo bem como realizar estudos elaborar propostas e emitir pareceres no domiacutenio da formaccedilatildeo inicial de professores (Campos 2002b p 7)
A profissatildeo de professor eacute uma profissatildeo cheia de especificidades pelo que a sua
formaccedilatildeo tambeacutem deve ser diferente da formaccedilatildeo para outras profissotildees Algumas dessas
especificidades advecircm das particularidades intriacutensecas agrave proacutepria profissatildeo das poliacuteticas
educativas ou das especificidades de cada paiacutes Em Portugal Formosinho (2009) aponta cinco
aspetos que poderatildeo diferenciar a formaccedilatildeo de professores da formaccedilatildeo para outras profissotildees
Satildeo eles
i) a docecircncia eacute uma profissatildeo que se aprende desde que se entra na escola atraveacutes da observaccedilatildeo que os alunos fazem aos seus professores Esta observaccedilatildeo permite estabelecer paracircmetros de comparaccedilatildeo entre professores avaliar a coerecircncia entre o que se diz e o que se faz Noutras profissotildees soacute se passa por esta etapa no estaacutegio ii) ldquomenos instacircncias de regulaccedilatildeo externas que noutras profissotildees pois natildeo existe uma ordem profissional que regule o acesso agrave profissatildeo que produza um coacutedigo deontoloacutegico iii) existe uma poliacutetica especiacutefica e detalhada para a educaccedilatildeo escolar que se carateriza por uma forte intervenccedilatildeo do governo nas poliacuteticas educativas e formativas iv) a maioria dos professores eacute recrutada e colocada pelo Estado e por uacuteltimo v) as instituiccedilotildees de formaccedilatildeo concedem a titulaccedilatildeo acadeacutemica o grau profissional a licenccedila individual para ensinar e a classificaccedilatildeo profissional (pp 95 - 97)
Todas estas especificidades natildeo soacute datildeo o seu contributo para a unicidade da profissatildeo
mas tambeacutem para que a componente formativa seja um foco de atenccedilatildeo especialmente a
formaccedilatildeo inicial de professores Neste sentido na deacutecada de noventa surgiram grandes
progressos em que os cursos de bacharelato ldquoforam extintos e substituiacutedos por cursos de
licenciatura com a duraccedilatildeo de quatro anos num processo que reflecte a valorizaccedilatildeo social e
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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profissional do professorado primaacuterio num contexto de redefiniccedilatildeo das hierarquias tradicionais
no seio da profissatildeo docenterdquo (Afonso amp Canaacuterio 2002 p 16)
Esta redefiniccedilatildeo pressupocircs ldquoo reconhecimento do caraacutecter deste ciclo [1ordm Ciclo do
Ensino Baacutesico] para toda a escolaridade e da consequente necessidade de um intensivo
investimento investigativo e reflexivo por parte das instituiccedilotildees do ensino superiorrdquo (Afonso
amp Canaacuterio 2002 p 32) Este pressuposto tem por base a ideia de que estas instituiccedilotildees
formam profissionais cujo trabalho futuro se caracteriza pela monodocecircncia que requer uma
integraccedilatildeo centrada na produccedilatildeo de ldquosaberes que fundamentem praacuteticas integradoras e
multidisciplinares congruentes com um ensino centrado no conhecimento aprofundado dos
processos de aprendizagem nestes niacuteveis etaacuteriosrdquo (Afonso amp Canaacuterio opcit p 32)
Estas praacuteticas sugerem que se encontrem e classifiquem ldquodiferentes estruturas de
racionalidade relativamente agrave escola ao curriacuteculo agrave inovaccedilatildeo e ao ensino (hellip) e agrave formaccedilatildeo
de professores como campo do conhecimentordquo (Garcia 1999 p 30)
Contudo no segundo lustro da primeira deacutecada do seacuteculo XXI por forccedila de dinacircmicas
transnacionais justificadas com o aprofundamento da uniatildeo europeia e com a competitividade
deste espaccedilo econoacutemico e poliacutetico surge a reforma do ensino superior designada de Processo
de Bolonha que redesenhou um novo modelo de formaccedilatildeo de professores do ensino natildeo
superior Esta formaccedilatildeo encontra-se estruturada em dois ciclos o 1ordm ciclo diz respeito a um
processo de formaccedilatildeo de trecircs anos e o 2ordm ciclo diz respeito a um processo de formaccedilatildeo cuja
duraccedilatildeo pode variar entre um a dois anos Neste uacuteltimo ciclo os formandos adquirem a
profissionalizaccedilatildeo numa aacuterea de formaccedilatildeo especiacutefica saindo com o grau de mestre Apesar dos
esforccedilos envidados para promover a qualidade da formaccedilatildeo para a docecircncia estatildeo ainda por
apurar as consequecircncias deste novo modelo de formaccedilatildeo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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2 Paradigmas e Modelos de Formaccedilatildeo de Professores
A conceccedilatildeo e anaacutelise da formaccedilatildeo inicial de professores podem beneficiar da existecircncia
de modelos orientadores apoiados em princiacutepios educativos e de formaccedilatildeo e enquadrados
naturalmente em paradigmas6 do conhecimento
No entanto as designaccedilotildees satildeo diversas e justificam-se ldquoem parte pela diversidade de
criteacuterios de classificaccedilatildeo assumidos e que garantam homogeneidade coerecircncia e exaustividade
da categorizaccedilatildeordquo (Estrela MT 2002 p 20) Alguns autores falam de ldquoparadigmasrdquo de
formaccedilatildeo de professores (Zeichner 1983 Schoumln 1983 Liston amp Zeichner 1991) outros de
modelos (Estrela MT 2002 Ferry 1983) outros de ldquoperspectivas teoacutericasrdquo (Angulo 1990)
de ldquoorientaccedilotildeesrdquo (Feiman-Nemser 1990) e de programas (Houston amp Newman 1982
Shulman 1987) Maria Teresa Estrela (2002) adopta o conceito de modelo definindo-o como
ldquouma representaccedilatildeo simplificada de variaacuteveis do real visando fins puramente descritivos e natildeo
normativosrdquo (p 20) A mesma autora partilha a ideia de que ldquonatildeo haacute modelos puros que
contenham caracteriacutesticas mutuamente exclusivas mas que se definem pela orientaccedilatildeo
dominante e pelas relaccedilotildees hieraacuterquicas que se estabelecem entre os vaacuterios componentes da
formaccedilatildeordquo (Estrela 2002 p 20)
Procederemos agrave anaacutelise da tipologia de paradigmas proposta por Zeichner (1983) pelo
seu contributo inicial dado agrave investigaccedilatildeo sobre este tema Este autor alicerccedilou muitos dos
estudos que a este se seguiram Tomamos a sua proposta como referecircncia estabelecendo
algumas comparaccedilotildees com os modelos apresentados por M T Estrela (2002) Outras
investigaccedilotildees portuguesas de referecircncia a antecederam tais como Bidarra (1996) e Damiatildeo
(2001) Contudo seguiremos as propostas de Zeihner (1983) e M T Estrela (2002)
Partindo de uma matriz de anaacutelise que assenta nas crenccedilas e pressupostos sobre a
natureza da escola do ensino do papel dos professores e consequentemente da sua formaccedilatildeo
Zeichner (1983) propotildee quatro paradigmas de formaccedilatildeo de professores paradigma tradicional
paradigma condutistacomportamentalista paradigma personalista e paradigma orientado para
a pesquisareflexivo (figura 1)
6Paradigma Matriz de crenccedilas e princiacutepios acerca da natureza e objetivos da escola e da sua formaccedilatildeo que origina formas especiacuteficas de formaccedilatildeo de professores (Zeichner 1983)
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Figura 1 Siacutentese dos paradigmas de formaccedilatildeo de professores e suas dimensotildees (Adaptado por Garcia 1999 p 31 de Zeichner 1993)
Esta anaacutelise segue duas orientaccedilotildees i) uma que se orienta na perspetiva e na ideia de
que os contextos educativos satildeo bastante estaacuteveis e controlaacuteveis e a formaccedilatildeo deve preparar os
docentes no domiacutenio teacutecnico para garantir eficaacutecia na regulaccedilatildeo desses contextos ii) outra que
se apoia numa visatildeo holiacutestica complexa e portanto incerta dos ambientes educativos e que
consequentemente advogam a necessidade de preparar os professores para responder aos
desafios que essa incerteza e complexidade impotildeem
Cada um destes paradigmas estaacute ancorado numa tradiccedilatildeo cientiacutefica e epistemoloacutegica
definida e nesse sentido em termos concetuais podemos dizer que cada um deles espelha uma
visatildeo do mundo e do conhecimento em particular Por isso cada um deles foi dominante em
determinado momento histoacuterico mas no entanto natildeo podem ser encarados de forma estanque
Nesta anaacutelise que fazemos a seguir apoiamo-nos na tipologia de Zeichner (1993) na forma
como equacionamos o ensino e a formaccedilatildeo de professores
Paradigma tradicional - a principal preocupaccedilatildeo incide numa formaccedilatildeo soacutelida em
relaccedilatildeo ao conhecimento dos conteuacutedos a ensinar complementada pela aprendizagem feita em
contexto de sala de aula (praacutetica pedagoacutegica) a partir da observaccedilatildeo e da experimentaccedilatildeo
(Zeichner 1983) Como referem Zeichner e Liston (1987) ldquoesta tradiccedilatildeo da formaccedilatildeo de
professores acentua o papel do professor enquanto acadeacutemico e especialista da mateacuteria
escolarrdquo (p 24) Este paradigma daacute ecircnfase ao saber-fazer agrave experiecircncia encarando o processo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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de aprendizagem construiacutedo sobretudo atraveacutes do meacutetodo do ensaio-erro que poderaacute ser
atenuado atraveacutes do contacto com os professores mais experientes Os estudantes futuros
professores satildeo vistos como recetores passivos na seleccedilatildeo dos conteuacutedos que serviratildeo de base
aos programas de formaccedilatildeo
Para MT Estrela (2002) neste paradigma o futuro professor eacute visto como objecto de
formaccedilatildeo Por isso a autora faz a analogia com ldquomodelos do tipo corporativo em que os
meandros praacuteticos da profissatildeo satildeo apreendidos junto de um professor experiente (hellip) com
um modelo acadeacutemico assente na transmissatildeo do conhecimento das disciplinas de ensino e no
pressuposto que basta saber para saber ensinarrdquo (Estrela M T 2002 p 20) No entanto esta
perspetiva eacute de difiacutecil sustentaccedilatildeo apoacutes a investigaccedilatildeo apresentada por Shulman (1987) em
que se evidencia o conhecimento pedagoacutegico do conteuacutedo pela sua acessibilidade aos outros
Paradigma condutistacomportamentalista ndash a formaccedilatildeo baseia-se num conjunto de
teacutecnicas que o professor deve adquirir e saber aplicar porque existe uma relaccedilatildeo direta entre
as atitudes e comportamentos do professor e a aprendizagem do aluno razatildeo pela qual se torna
necessaacuterio ldquoclarificar os objetivos e organizar programas que ensinem o professor a comportar-
se nas mais variadas e estandardizadas situaccedilotildees de ensino e aprendizagem (Pacheco 1999
p 59) O sucesso do professor eacute medido pelo sucesso dessas teacutecnicas e pelo seu desempenho
A este respeito Pacheco e Flores (1999) referem que aqui prevalece a preparaccedilatildeo para o
domiacutenio de uma atividade contextualizada surgindo o conceito de formaccedilatildeo associado agrave noccedilatildeo
de treino (de saberes de destrezas e competecircncias)
Paradigma personalista ndash apresenta-se como um paradigma de formaccedilatildeo
personalizada pois solicita a participaccedilatildeo ativa do formando e individualiza as situaccedilotildees de
formaccedilatildeo tendo em conta as suas necessidades e preocupaccedilotildees no momento da elaboraccedilatildeo dos
programas de formaccedilatildeo Como afirmam Zeichner e Liston (1987) eacute a ldquoordem de
desenvolvimento do aluno que fornece as bases para a determinaccedilatildeo do que deve ser ensinado
tanto aos alunos das escolas como aos seus professoresrdquo (p 7) salvaguardando sempre os
interesses dos alunos aquando da decisatildeo do que deve ou natildeo ser ensinado Assim sendo o
ensino ultrapassa o acircmbito da conduta para ser analisado nas vertentes social afetiva cognitiva
e moral permitindo ao futuro-professor um desenvolvimento individual nas vaacuterias situaccedilotildees
didaacuteticas e pedagoacutegicas que envolvem o processo de aprender a ensinar e de ensinar
MT Estrela (2002) sublinha que neste modelo a autora apelida-o de ldquoo futuro
professor como sujeito activo da sua formaccedilatildeordquo ao contraacuterio do anterior constitui ldquoa principal
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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fonte de definiccedilatildeo dos objectivos que o curriacuteculo deve atingirrdquo (Estrela M T 2002 p 22)
Assim sendo trabalha-se em regime de curriacuteculo aberto em permanente (re)construccedilatildeo
Paradigma orientado para a pesquisareflexatildeo ndash Os programas de formaccedilatildeo de
professores que se enquadram neste paradigma datildeo prioridade ldquoao desenvolvimento de
pesquisas sobre o ensino e sobre os contextos nos quais este se processardquo (Zeichner 1983 p
8) Contudo as competecircncias teacutecnicas de ensino continuam a ter o seu papel importante Aqui
consideradas natildeo como um fim a atingir como se propotildee no paradigma
condutistacomportamentalista mas como um meio para que o professor se torne um agente
ativo na sua formaccedilatildeo e na forma de contornar os desafios e constrangimentos que teraacute que
enfrentar na sala de aula e na escola
De facto essas competecircncias hatildeo-de permitir diagnosticar e resolver os problemas que
diagnosticam produzir metodicamente instrumentos de intervenccedilatildeo explicitar os fundamentos
dessa mesma intervenccedilatildeo refletir sobre os processos e avaliar com regularidade os efeitos das
alteraccedilotildees introduzidas permitindo integrar este processo na designada metodologia de
Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo
Lattore (2004) integra a Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo num quadro em que os participantes estatildeo
diretamente envolvidos no processo de investigaccedilatildeo aceitam a responsabilidade de refletir
sobre as suas proacuteprias praacuteticas diagnosticam situaccedilotildees problemaacuteticas e implementam accedilotildees
que se direcionem para a mudanccedila
Diferentes autores (Maximo-Esteves 2008 Elliott 2010 Noffke amp Someck 2010)
enunciam os contributos de Dewey Kurt Lewin Stenhouse Kemmis e Carr neste tipo de
investigaccedilatildeo em educaccedilatildeo e sobre a importacircncia da reflexatildeo na profissatildeo docente e como
orientaccedilatildeo prioritaacuteria da formaccedilatildeo de professores
Esta metodologia inclui a accedilatildeo (ou mudanccedila) e a investigaccedilatildeo (ou compreensatildeo) num
processo ciacuteclico assumindo-se como um projeto que obedece a etapas que se concretizam em
trecircs momentos
1) ldquodiagnoacutestico das realidades da situaccedilatildeordquo (hellip) 2) ldquoformulaccedilatildeo de poliacuteticas gerais para orientaccedilatildeo da accedilatildeo de que se deduzem
poliacuteticas mais especiacuteficas a serem implementadas na situaccedilatildeo experimental (hellip) 3) ldquoestudo da mudanccedila que contribui para a ciecircncia do comportamento
compreensatildeo das condiccedilotildees em que certos processos tecircm tendecircncia a ocorrerrdquo (Silva 2002 p 25)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
24
Por conseguinte a experiecircncia eacute aqui entendida como
a forma privilegiada de produccedilatildeo de conhecimento (hellip) em que a importacircncia atribuiacuteda agrave mudanccedila em grupo decorre (hellip) da decisatildeo que liga a motivaccedilatildeo e a accedilatildeo e ao mesmo tempo parece ter um efeito cristalizador que eacute devido em parte agrave tendecircncia do indiviacuteduo em se fixar na sua decisatildeo e em parte agrave participaccedilatildeo num grupo (Silva 2002 p 23-24)
Deste modo a construccedilatildeo de um olhar pessoal pode ligar-se a uma visatildeo partilhada
onde a ldquodiversidade de visotildees e de necessidades permite a diferenciaccedilatildeo de metas individuais
e de subgrupos (hellip) onde as conexotildees satildeo potencialmente favorecedoras do desenvolvimento
da capacidade dos indiviacuteduos das escolas e da proacutepria sociedade em lidar com a mudanccedilardquo
(Caetano 2003 p 37)
Sabendo que a metodologia de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo alimenta uma relaccedilatildeo simbioacutetica com
a educaccedilatildeo e que valoriza sobretudo a praacutetica importa salientar que no pensamento sobre a
praacutetica estaacute sempre impliacutecito o conceito de reflexatildeo que eacute muito importante para a compreensatildeo
dessa simbiose (Schoumln 1992) De acordo com Schoumln (1992) pode-se ainda fazer referecircncia
aos conceitos ldquoreflexatildeo na acccedilatildeordquo ldquoreflexatildeo sobre a acccedilatildeordquo e ldquoreflexatildeo sobre a reflexatildeo na
acccedilatildeordquo
Esta linha de pensamento foi tambeacutem problematizada por Carr e Kemmis (1988)
quando se referem agrave investigaccedilatildeo-accedilatildeo como uma ldquoforma de indagaccedilatildeo auto-reflexiva
empreendida pelos participantes em situaccedilotildees sociais de modo a melhorar a racionalidade e a
justiccedila das suas praacuteticas o entendimento das mesmas e as situaccedilotildees dentro das quais se
inseremrdquo (p 174) Esta forma de indagaccedilatildeo sistemaacutetica autorreflexiva e colaborativa remete-
nos para modos de investigaccedilatildeo sobre a accedilatildeo que potenciam a autoformaccedilatildeo dos seus
participantes e a construccedilatildeo de um saber de cariz emancipatoacuterio que soacute uma praxis criacutetica
permite porque eacute informada e comprometida com uma accedilatildeo social transformadora
Como afirma Zeichner (1983) eacute objetivo deste paradigma pesquisareflexatildeo fomentar
no futuro professor uma atitude reflexiva que o ajude a ldquoexaminar aspectos morais eacuteticos e
poliacuteticos bem como instrumentais que estatildeo impliacutecitos no pensamento e na praacutetica do seu dia-
a-diardquo (p 9) enquanto docente para que possa corresponder agraves exigecircncias que lhe satildeo impostas
pela sua accedilatildeo pedagoacutegica
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Independentemente do modelo de formaccedilatildeo de professor este estaacute diretamente
relacionado com os marcos soacutecio-histoacutericos da sociedade em que se insere e a sua conceccedilatildeo
inculcada de marcos teoacutericos e de pressupostos de uma determinada eacutepoca
Pacheco (2000) defende ainda que a formaccedilatildeo de professores depende de uma
determinada conceccedilatildeo de curriacuteculo de ensino e de escola mas tambeacutem da forma como se
entende a sua formaccedilatildeo num dado momento Esta busca incessante e as especulaccedilotildees sobre a
natureza do conhecimento e dos saberes ligados agrave educaccedilatildeo e agrave formaccedilatildeo bem como as relaccedilotildees
reciacuteprocas as mudanccedilas evidenciam novas formaccedilotildees e novas praacuteticas que se refletiratildeo nos
curriacuteculos e nos contextos como veremos no ponto seguinte
3 Formaccedilatildeo Inicial de Professores e Desenho Curricular
O campo da formaccedilatildeo inicial de professores e do curriacuteculo encerra em si uma
complexidade tal que necessita de ser compreendida tambeacutem agrave luz da legislaccedilatildeo que tem vindo
a ser publicada nas uacuteltimas deacutecadas Impera assim tecer algumas consideraccedilotildees sobre este
percurso iniciado com a Lei de Bases do Sistema Educativo Portuguecircs (LBSE) - Lei nordm 4686
de 24 de julho alterada pela Lei nordm 11597 de 19 de setembro e ainda pela Lei nordm 492005 de
30 de agosto de 2005 nos artigos 11ordm 12ordm 13ordm 31ordm e 59ordm
A Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) constituiu a principal referecircncia para o
funcionamento das escolas dos diferentes niacuteveis de ensino e para a formaccedilatildeo de professores O
artigo 1ordm refere-se agrave Lei como ldquoquadro geral ao sistema educativordquo (LBSE 1986) marcando
um momento importante para o sistema educativo portuguecircs
No artigo 30ordm do capiacutetulo IV satildeo apontados os princiacutepios gerais sobre a formaccedilatildeo de
educadores e professores nos seguintes aspetos
a) formaccedilatildeo inicial de niacutevel superior proporcionando aos educadores e professores de todos os niacuteveis de educaccedilatildeo e ensino a formaccedilatildeo os meacutetodos e as teacutecnicas cientiacuteficas e pedagoacutegicas de base bem como a formaccedilatildeo pessoal adequadas ao exerciacutecio da funccedilatildeo (hellip) d) formaccedilatildeo integrada quer no plano da preparaccedilatildeo cientiacutefico-pedagoacutegica quer no da articulaccedilatildeo teoacuterico-praacutetica e) formaccedilatildeo assente em praacuteticas metodoloacutegicas [] f) formaccedilatildeo que em referecircncia agrave realidade social estimule uma atitude simultaneamente
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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criacutetica e actuante g) formaccedilatildeo que favoreccedila e estimule a inovaccedilatildeo e a investigaccedilatildeo [] h) formaccedilatildeo participada que conduza a uma praacutetica reflexiva e continuada de auto-informaccedilatildeo e auto-aprendizagem
Diante dos princiacutepios de formaccedilatildeo haacute aspetos comuns a qualquer niacutevel de ensino
independentemente do niacutevel de atuaccedilatildeo assim como tambeacutem existem as especificidades que
devem ter em conta os objetivos e particularidades de determinados niacuteveis de atuaccedilatildeo
Outro documento legislativo se seguiu agrave Lei de Bases do Sistema Educativo o Decreto-
Lei nordm 34489 de 11 de outubro que aponta para a formaccedilatildeo de ldquoEducadores de Infacircncia
Professores do Ensino Baacutesico e Professores do Ensino Secundaacuteriordquo De acordo com este a
formaccedilatildeo dos professores do Ensino Baacutesico diversifica-se nas seguintes modalidades
professores do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico professores do 2ordm Ciclo do Ensino Baacutesico e
professores do 3ordm Ciclo do Ensino Baacutesico
Este Decreto-Lei aprova o ordenamento juriacutedico da formaccedilatildeo dos Educadores de
Infacircncia e dos professores dos Ensinos Baacutesico e Secundaacuterio e define o perfil dos Educadores
de Infacircncia e dos professores dos Ensinos Baacutesico e Secundaacuterio tomando como base o
referencial da Lei de Bases do Sistema Educativo No Artigo 3ordm o Decreto-Lei nordm 34489
apresenta alguns aspetos jaacute mencionados na Lei nordm 4686 no artigo 30ordm nordm 1 referindo-se agrave
formaccedilatildeo nos seguintes termos
a) A formaccedilatildeo inicial eacute de niacutevel superior [] b) A formaccedilatildeo contiacutenua deve na sequecircncia da preparaccedilatildeo inicial promover o desenvolvimento profissional permanente dos educadores e professores designadamente numa perspectiva de auto-aprendizagem c) A formaccedilatildeo deve garantir a integraccedilatildeo tanto de aspectos cientiacuteficos e pedagoacutegicos como dos componentes teoria e praacutetica e promover aprendizagem das diferentes funccedilotildees adequadas agraves exigecircncias da carreira docente d) A formaccedilatildeo deve ser flexiacutevel permitindo a conversatildeo e mobilidade dos docentes e) A formaccedilatildeo deve assentar em praacuteticas metodoloacutegicas afins das que os educandos e professores vierem a utilizar no exerciacutecio da funccedilatildeo docente f) A formaccedilatildeo deve favorecer praacuteticas de anaacutelise criacutetica investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo pedagoacutegica assim como o envolvimento construtivo com o meio
A aliacutenea c) direciona a formaccedilatildeo do professor natildeo somente para uma dimensatildeo
acadeacutemica mas simultaneamente integra e valoriza a praacutetica pedagoacutegica Esta deve ser a ponte
entre a instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo inicial e a escola Essa formaccedilatildeo vem contribuir para o
desenvolvimento do educador e professor capaz de interagir com a realidade atual entendendo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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o perfil de uma sociedade paradigmaacutetica capaz de usar a reflexibilidade de ser criacutetico
inovador e investigador
O artigo 7ordm do capiacutetulo II da LBSE define-se a formaccedilatildeo inicial de educadores de
infacircncia e de professores dos ensinos baacutesico e secundaacuterio conferindo qualificaccedilatildeo profissional
para a docecircncia No mesmo artigo satildeo mencionados tambeacutem os objetivos da formaccedilatildeo inicial
Esses permeiam o social o cientiacutefico o tecnoloacutegico o pedagoacutegico as competecircncias a criacutetica
a inovaccedilatildeo e a investigaccedilatildeo pedagoacutegica
No capiacutetulo II artigo 8ordm da LBSE eacute apontada a obtenccedilatildeo da qualificaccedilatildeo profissional
de Educadores de infacircncia e professores dos Ensinos Baacutesico e Secundaacuterio A qualificaccedilatildeo
profissional eacute promovida atraveacutes de ldquocursos especiacuteficos de formaccedilatildeo inicial pelas Instituiccedilotildees
de Ensino Superior que disponham de unidades de formaccedilatildeo proacuteprias para o efeitordquo
A formaccedilatildeo de professores do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico surge no artigo 11ordm do
capiacutetulo II da LBSE e eacute ldquorealizada em escolas superiores de educaccedilatildeo ou em universidades
com unidades de formaccedilatildeo proacuteprias que para efeito conferem o grau de bacharelado em
Ensinordquo
No entanto embora natildeo se defenda a duraccedilatildeo do curso como garantia de qualidade do
mesmo pois muitos satildeo os fatores que influenciam o professor na sua accedilatildeo Trazemos aqui as
palavras de Pacheco (2000) que transmitem a preocupaccedilatildeo com evoluccedilatildeo desta dimensatildeo dos
cursos de formaccedilatildeo
O Conselho Nacional de Educaccedilatildeo propotildee substituir os diplomas de bacharel e licenciado por um diploma de estudos superiores e o Conselho Nacional de Reitores Portugueses avanccedila com a soluccedilatildeo de acabar com o diploma de bacharel mantendo o diploma de licenciatura com a duraccedilatildeo de quatro anos dentro de um sistema de banda larga isto eacute que permite diversas saiacutedas profissionais Eacute evidente que a questatildeo dos graus se coloca em funccedilatildeo da natureza de ensino das instituiccedilotildees de ensino superior Faz sentido ter apenas um ciclo de graduaccedilatildeo conferente do grau de licenciado desde que o ensino superior natildeo caminhe no sentido da profissionalizaccedilatildeo por intermeacutedio de cursos de curta duraccedilatildeo anteriormente coincidentes com o grau de bacharel (Pacheco 2000 p 28)
A opccedilatildeo tomada foi a do grau de licenciatura ou seja quatro anos e no maacuteximo cinco
anos O grupo de trabalho Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP)
propocircs a curto prazo que ldquose tomem as medidas necessaacuterias para que os cursos de Educadores
de Infacircncia e de professores do 1ordm e do 2ordm ciclo do Ensino Baacutesico sejam organizados ao niacutevel
de licenciaturardquo Neste contexto no Decreto-Lei nordm 25598 de 11 de agosto foram definidas
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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pelo Governo as condiccedilotildees em que os Educadores de Infacircncia e Professores do Ensino Baacutesico
e Secundaacuterio titulares de um grau de bacharel ou equivalente podiam adquirir o grau
acadeacutemico de licenciado ldquoOs educadores de infacircncia e os professores do ensino baacutesico e
secundaacuterio adquirem a qualificaccedilatildeo profissional atraveacutes de cursos superiores organizados de
acordo com as necessidades do desempenho profissional no respetivo niacutevel de educaccedilatildeo e
ensinordquo
As mudanccedilas introduzidas nas orientaccedilotildees e na organizaccedilatildeo dos curriacuteculos de formaccedilatildeo
de professores do ensino natildeo superior foram sendo acompanhadas pela definiccedilatildeo do perfil
geral de desempenho
Neste sentido lecirc-se no Decreto-Lei nordm 19499 no artigo 8ordm ldquoo perfil geral de
desempenho do educador e do professorrdquo (INAFOP 1999 p 2) que surge na sequecircncia do
Decreto-Lei Nordm 34489 de 11 de outubro e que mais tarde daacute origem ao Decreto-Lei Nordm
2402001 de 30 de agosto
o perfil de desempenho do educador de infacircncia e dos professores dos ensinos baacutesico e secundaacuterio enuncia referenciais comuns agrave actividade dos docentes de todos os niacuteveis de ensino evidenciando exigecircncias para a organizaccedilatildeo dos projectos da respectiva formaccedilatildeo e para o reconhecimento de habilitaccedilotildees profissionais docentes Para legitimar este processo o Decreto-lei Nordm 24001 apresenta e relaciona quatro
dimensotildees que definem o perfil geral de desempenho profissional do educador de infacircncia e
dos professores dos ensinos baacutesico e secundaacuterio a saber
- A dimensatildeo profissional social e eacutetica refere-se agrave promoccedilatildeo de aprendizagens
fundamentando a praacutetica profissional num saber especiacutefico resultante da produccedilatildeo e uso de
saberes integrados em funccedilatildeo de accedilotildees concretas da mesma praacutetica social e eticamente situada
Apela-se para a formaccedilatildeo de um profissional capaz de mobilizar os seus recursos pessoais e
profissionais onde se realce a vertente deontoloacutegica das funccedilotildees docentes e a sua capacidade
para responder agraves solicitaccedilotildees da sociedade Pretende-se assim fomentar a autonomia do aluno
e a sua plena inclusatildeo na sociedade O respeito pelas diferenccedilas culturais sociais eacutetnicas e
pessoais eacute outro objetivo da formaccedilatildeo que assume uma dimensatildeo ciacutevica e relacional a qual se
refletiraacute na praacutetica docente em aprendizagens socializadoras
- A dimensatildeo do desenvolvimento do ensino e da aprendizagem visa a promoccedilatildeo de
aprendizagens no quadro de uma relaccedilatildeo pedagoacutegica de qualidade articulando os
conhecimentos com criteacuterios de rigor cientiacutefico e metodoloacutegico Refere-se concretamente agrave
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
29
promoccedilatildeo de aprendizagens ativas significativas diversificadas e integradas que garantam o
direito ao sucesso escolar
- A dimensatildeo de participaccedilatildeo na escola e de relaccedilatildeo com a comunidade em que o
professor exerce a sua atividade profissional de forma integrada no acircmbito das diferentes
dimensotildees da escola e no contexto da comunidade em que se insere Releva-se a importacircncia
da intervenccedilatildeo social e da participaccedilatildeo do professor na comunidade a sua relaccedilatildeo com a escola
e com as famiacutelias para uma boa operacionalizaccedilatildeo do projeto educativo de escola e do projeto
curricular de turma
- Por fim a dimensatildeo de desenvolvimento profissional ao longo da vida aponta para uma
formaccedilatildeo integrada na praacutetica profissional construindo-a a partir das necessidades e vivecircncias
do professor A reflexatildeo sobre a praacutetica pedagoacutegica a investigaccedilatildeo e a cooperaccedilatildeo entre pares
eacute importante para perspetivar a construccedilatildeo da profissatildeo
No que diz respeito agrave estrutura curricular dos cursos de formaccedilatildeo inicial de educadores
de infacircncia e dos professores dos diferentes ciclos de ensino natildeo superior no processo preacute-
Bolonha o artigo 15ordm do Decreto-Lei nordm 34489 faz referecircncia agrave existecircncia de trecircs componentes
fundamentais
a) Uma componente de formaccedilatildeo pessoal social cultural cientiacutefica tecnoloacutegica
teacutecnica ou artiacutestica ajustada agrave futura docecircncia b) Uma componente de ciecircncias de
educaccedilatildeo c) Uma componente de Praacutetica Pedagoacutegica orientada pela instituiccedilatildeo
formadora com a colaboraccedilatildeo do estabelecimento de ensino em que essa praacutetica eacute
realizada
Os artigos 16ordm e 17ordm fazem referecircncia agrave Praacutetica Pedagoacutegica e agraves suas modalidades A
Praacutetica Pedagoacutegica visa proporcionar ao futuro educador e professor a observaccedilatildeo
observacircncia de situaccedilotildees educativas reais aleacutem de utilizar meacutetodos de observaccedilatildeo
colaboraccedilatildeo reflexatildeo entre teoria e praacutetica intervenccedilatildeo e anaacutelise A Praacutetica Pedagoacutegica eacute
tambeacutem abordada na Deliberaccedilatildeo nordm 14882000 de 11 de dezembro de 2000 que contempla
as atividades de iniciaccedilatildeo agrave praacutetica profissional Estas surgem numa perspetiva de progressatildeo
profissional dos formandos como futuros docentes de modo a construiacuterem uma postura criacutetica
e reflexiva face ao desempenho profissional Caracteriza-se tambeacutem como uma atividade que
ao longo do curso possibilitaraacute experiecircncias diversificadas aos professores estagiaacuterios no
acircmbito do contacto com escolas e outras instituiccedilotildees de diferentes realidades
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
30
Mais ainda concretiza-se ao longo do curso por um aumento progressivo da
responsabilidade dos proacuteprios professores pelas atividades educativas De acordo com a
Portaria nordm 33688 de 28 de maio a Praacutetica Pedagoacutegica inicia-se com a observaccedilatildeo anaacutelise de
situaccedilotildees educacionais seguindo-se a cooperaccedilatildeo a intervenccedilatildeo e por fim a responsabilidade
para a docecircncia que comummente se designa de estaacutegio Este por sua vez promove
experiecircncias de planificaccedilatildeo ensino e avaliaccedilatildeo
A formaccedilatildeo inicial de professores eacute da competecircncia das Escolas Superiores de Educaccedilatildeo
e das Universidades e tem como funccedilatildeo iniciar um longo percurso formativo dos alunos
futuros-professores que aiacute fizerem o seu ingresso Estas instituiccedilotildees seguindo as orientaccedilotildees
gerais do Ministeacuterio da Ciecircncia e do Ensino Superior referenciados na introduccedilatildeo foram
construindo os respetivos curriacuteculos de formaccedilatildeo Os curriacuteculos dos cursos de formaccedilatildeo de
professores ministrados nas instituiccedilotildees de ensino superior devem ter como base uma matriz
para formar estes profissionais valorizando estes saberes numa dialeacutetica teoria ndash praacutetica em
que a componente praacutetica profissional assume um papel fundamental A este respeito Gimeno
(1982) refere que ldquoos autecircnticos curriacuteculos de formaccedilatildeo de professores satildeo os que estabelecem
a ligaccedilatildeo entre teoria e praacutetica quer dizer entre a vida e o curriacuteculo entre as praacuteticas e os cursos
teoacutericos Os programas devem por isso conter conteuacutedos que sejam passiacuteveis de transferir e
articular com a praacutetica realrdquo (p 96)
Os planos curriculares dos cursos superiores satildeo da responsabilidade das instituiccedilotildees
que ministram os proacuteprios cursos pois eacute-lhes concedida autonomia para o fazer No entanto
no Decreto-Lei nordm 34489 de 11 de outubro eacute clarificado que nos curriacuteculos de formaccedilatildeo
devem constar as seguintes componentes Componente de formaccedilatildeo pedagoacutegica e cientiacutefica no
domiacutenio da docecircncia Componente de formaccedilatildeo pedagoacutegica e didaacutetica Componente de praacutetica
pedagoacutegica Componente de formaccedilatildeo social e cultural Estas componentes gerais do curriacuteculo
satildeo conducentes a um sistema idecircntico em todo o mundo pretendendo assim conduzir a
alguma uniformidade no sistema natildeo soacute nacional como internacional Esta uniformidade
pretende evitar grandes divergecircncias em termos de formaccedilatildeo baacutesica que a acontecerem
prejudicariam a sua mobilidade como cidadatildeos
Na sequecircncia do designado processo de Bolonha tecircm vindo a ser publicados
normativos e que datildeo corpo agrave estrutura curricular da formaccedilatildeo designadamente o Decreto-Lei
nordm 432007 de 22 de fevereiro O regime juriacutedico da habilitaccedilatildeo profissional para a docecircncia
na educaccedilatildeo preacute-escolar e nos ensinos baacutesico e secundaacuterio aprovado por este Decreto-Lei
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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surge na sequecircncia da reorganizaccedilatildeo do sistema de graus e diplomas do ensino superior operado
pelo Decreto-Lei nordm 742006 de 24 de marccedilo Aquele regime posteriormente complementado
pelo Decreto-Lei nordm 2202009 de 8 de setembro e pela Portaria nordm 11892010 de 17 de
novembro entretanto revogado pelo Decreto-Lei nordm 792014 de 14 de maio substituiu os
modelos de formaccedilatildeo entatildeo em vigor por um modelo sequencial organizado em dois ciclos
de estudos
Reconhece-se que ao primeiro ciclo a licenciatura cabe assegurar a formaccedilatildeo de base
na aacuterea da docecircncia Ao segundo ciclo mestrado cabe assegurar um complemento dessa
formaccedilatildeo que reforce e aprofunde a formaccedilatildeo acadeacutemica incidindo sobre os conhecimentos
necessaacuterios agrave docecircncia nas aacutereas de conteuacutedo e nas disciplinas abrangidas pelo grupo de
recrutamento para que visa preparar Cabe igualmente ao segundo ciclo assegurar a formaccedilatildeo
educacional geral a formaccedilatildeo nas didaacuteticas especiacuteficas da aacuterea da docecircncia a formaccedilatildeo nas
aacutereas cultural social e eacutetica e a iniciaccedilatildeo agrave praacutetica profissional que culmina com a praacutetica
supervisionada (Decreto-Lei nordm 792014 de 14 de maio)
Esta reorganizaccedilatildeo teve como principal objetivo uniformizar os cursos a niacutevel dos
paiacuteses da Uniatildeo Europeia a fim de facilitar a mobilidade docente A reorganizaccedilatildeo curricular
visa ainda contribuir para a promoccedilatildeo de um modelo formativo centrado na aprendizagem dos
estudantes e na promoccedilatildeo da sua responsabilizaccedilatildeo e autonomia progressivas Em relaccedilatildeo agrave
duraccedilatildeo dos cursos natildeo se verificaram mudanccedilas substanciais uma vez que as licenciaturas
(preacute-Bolonha) tinham a duraccedilatildeo de quatro anos e os mestrados integrados (poacutes-Bolonha)
mantiveram tendencialmente o mesmo nuacutemero de anos (oito a dez semestres)
Tal como nos cursos anteriores ao processo de Bolonha tambeacutem naqueles que lhe satildeo
posteriores estaacute legislada a distribuiccedilatildeo dos tempos e a sua organizaccedilatildeo ao longo dos cursos
em que se atribuem tempos miacutenimos para cada aacuterea de formaccedilatildeo Assim no Artigo 13ordm
Decreto-Lei nordm 792014 apresenta-se a estrutura curricular do ciclo de estudos conducente ao
grau de licenciado em Educaccedilatildeo Baacutesica com um nuacutemero de creacuteditos de 180 distribuiacutedos pelas
seguintes componentes de formaccedilatildeo a) Aacuterea de docecircncia miacutenimo de 125 b) Aacuterea educacional
geral miacutenimo de 15 c) Didaacuteticas especiacuteficas miacutenimo de 15 d) Iniciaccedilatildeo agrave praacutetica profissional
miacutenimo de 15 Os creacuteditos relativos agrave componente de formaccedilatildeo na aacuterea de docecircncia satildeo no
miacutenimo os seguintes a) Portuguecircs 30 b) Matemaacutetica 30 c) Ciecircncias Naturais e Histoacuteria e
Geografia de Portugal 30 d) Expressotildees 30
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Salienta-se ainda que no Artigo 14ordm do referido decreto apresentam-se as estruturas
curriculares dos ciclos de estudos conducentes ao grau de mestre nos domiacutenios da Educaccedilatildeo
Preacute -Escolar 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico e 2ordm Ciclo do Ensino Baacutesico Com efeito e porque
este se centra no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico referenciamos apenas o nuacutemero de creacuteditos do
ciclo de estudos conducente ao grau de mestre na especialidade de Ensino do 1ordm Ciclo do
Ensino Baacutesico que eacute de 90 creacuteditos distribuiacutedos pelas seguintes componentes de formaccedilatildeo a)
Aacuterea de docecircncia miacutenimo de 18 b) Aacuterea Educacional Geral miacutenimo de 6 c) Didaacuteticas
Especiacuteficas miacutenimo de 21 d) Praacutetica de Ensino Supervisionada miacutenimo de 32
Quer em preacute-Bolonha quer em poacutes-Bolonha os curriacuteculos de formaccedilatildeo
seguiramseguem as normas curriculares de caraacuteter geral emanadas pelo Ministeacuterio da Ciecircncia
e do Ensino Superior No entanto as instituiccedilotildees de formaccedilatildeo organizam os seus curriacuteculos
autonomamente selecionando os conteuacutedos a lecionar de acordo com os objetivos dos seus
programas de formaccedilatildeo O desenvolvimento das vaacuterias dimensotildees contempladas nos conteuacutedos
do curriacuteculo de formaccedilatildeo inicial (dimensotildees do conhecimento destrezas competecircncias e
atitudes) eacute considerado como fundamental para o desempenho eficaz da profissatildeo docente
Todas estas dimensotildees tecircm vindo a ser adaptadas agraves sucessivas reformas na perspetiva
organizativa e curricular visando a melhoria deste processo de aprender a ensinar
O processo de aprender a ensinar pretende favorecer o desenvolvimento de
competecircncias destrezas e atitudes capazes de preparar para a realizaccedilatildeo eficaz das tarefas
educativas (Gonzaacutelez 1995) quando o formando vier a estar imerso na praacutetica pedagoacutegica
Procura-se que o contacto com essa praacutetica acompanhe a formaccedilatildeo uma vez que o formando
eacute um indiviacuteduo em desenvolvimento portador de uma determinada maturidade psicoloacutegica
que evolui agrave medida que vai analisando e processando as suas vivecircncias em sala de aula
Com a transformaccedilatildeo da estrutura dos ciclos de estudos do ensino superior no contexto
do Processo de Bolonha a profissionalizaccedilatildeo acontece apenas com o niacutevel de formaccedilatildeo de
mestrado o que demonstra o esforccedilo de elevaccedilatildeo do niacutevel de qualificaccedilatildeo do corpo docente
com vista a reforccedilar a qualidade da sua preparaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do respetivo estatuto soacutecio-
profissional Neste sentido a titularidade da habilitaccedilatildeo profissional para a docecircncia
generalista na Educaccedilatildeo Preacute-Escolar e nos 1ordm e 2ordm Ciclos do Ensino Baacutesico eacute conferida a
quem concluiu um mestrado em ensino num destes domiacutenios Reconhece-se que ao primeiro
ciclo a licenciatura cabe assegurar a formaccedilatildeo de base na aacuterea da docecircncia E salienta-se que
ao segundo ciclo o mestrado cabe assegurar um complemento dessa formaccedilatildeo que reforce e
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
33
aprofunde a formaccedilatildeo acadeacutemica incidindo sobre os conhecimentos necessaacuterios agrave docecircncia
nas aacutereas de conteuacutedo e nas disciplinas abrangidas pelo grupo de recrutamento que visa
preparar
Cabe igualmente ao segundo ciclo assegurar a formaccedilatildeo educacional geral a formaccedilatildeo
nas Didaacuteticas Especiacuteficas da aacuterea da docecircncia a formaccedilatildeo nas aacutereas cultural social e eacutetica e a
iniciaccedilatildeo agrave praacutetica profissional que culmina com a Praacutetica de Ensino Supervisionada
Sendo a Praacutetica de Ensino Supervisionada a aacuterea agrave qual se atribui maior nuacutemero de
creacuteditos esta eacute reconhecida em termos legais como uma componente significativa para a
formaccedilatildeo de professores Esta unidade curricular correspondente a um estaacutegio de natureza
profissional no niacutevel ou niacuteveis de ensino para o qual ou quais estaacute a formar com aprovaccedilatildeo no
ato puacuteblico de defesa do relatoacuterio da unidade curricular relativa agrave Praacutetica de Ensino
Supervisionada Por isso proporciona aos formandos experiecircncias de planificaccedilatildeo ensino e
avaliaccedilatildeo de acordo com as competecircncias atribuiacutedas ao docente dentro e fora da sala de aula
Podemos afirmar que o profissional da Educaccedilatildeo depara-se com um objetivo comum a
todos a funccedilatildeo de ensinar Essa funccedilatildeo natildeo deve ser empobrecida se apoiada na investigaccedilatildeo
reflexatildeo compromisso eacutetico social cientiacutefico e tecnoloacutegico
A natureza do conhecimento profissional e o processo de aprender a ensinar centra-se
no formando mas tambeacutem na praacutetica desses formadores de professores Flores e Simatildeo (2009)
sintetizando a ideia de Loughran referem o papel dos formadores de professores com
incidecircncia no que o autor designa de ldquomodelaccedilatildeo e que implica a tomada de consciecircncia dos
aspectos visiacuteveis e invisiacuteveis na experiecircncia pedagoacutegica e que podem influenciar a
compreensatildeo que o aluno tem da praacuteticardquo (p 9)
Importa ainda pensar o ldquocurriacuteculo na sua relaccedilatildeo com as situaccedilotildees reais e implica que
nas escolas ocorram dinacircmicas de reflexatildeo e posterior decisatildeo sobre o que ensinar como
ensinar porquecirc ensinar e tudo em funccedilatildeo do para quecirc ensinar e fazer aprenderrdquo (Martins amp
Leite 2011 p 83) Neste entendimento pede-se aos professores da formaccedilatildeo inicial que
imprimam uma dinacircmica ativa na execuccedilatildeo desse curriacuteculo e no desenvolvimento das
competecircncias que se pretendem patentear numa reflexatildeo constante na e sobre a accedilatildeo onde se
evidenciem
as metas da formaccedilatildeo de professores e dos meios para as alcanccedilar Idealmente uma orientaccedilatildeo conceptual inclui uma concepccedilatildeo do ensino e da aprendizagem e uma teoria acerca do aprender a ensinar Estas concepccedilotildees deveriam orientar as actividades
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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praacuteticas da formaccedilatildeo de professores tais como a planificaccedilatildeo do programa o desenvolvimento dos cursos o ensino supervisatildeo e avaliaccedilatildeo (Garcia 1999 p 31)
Estas orientaccedilotildees conceptuais natildeo se excluem mutuamente pois elas coexistem em
diferentes desenhos curriculares enriquecendo-os complementando-os e evidenciando os
contributos para a formaccedilatildeo dos que a elas se vinculam
4 De Aluno a Professor
Ser professor tornar-se professor eacute um passo muito importante para quem sempre foi
aluno Eacute um periacuteodo de grande relevacircncia pois corresponde agrave aquisiccedilatildeo de competecircncias
cientiacuteficas teacutecnicas pedagoacutegicas e sociais que permitam ao futuro professor iniciar a sua
profissatildeo com o sucesso desejado
No entanto esta entrada na profissatildeo docente eacute por vezes difiacutecil pois temem a falta
de adequaccedilatildeo dos seus modos de pensar e agir com os dos seus pares e quando professores
estagiaacuterios com os modos de pensar e agir dos seus professores supervisores O papel do
supervisor seraacute o de criar uma boa relaccedilatildeo pedagoacutegica entre os formandos e enquanto
profissional com ldquoexperiecircncia e com conhecimentos muitos claros e refletidos sobre as
situaccedilotildeesrdquo (Alarcatildeo amp Tavares 2010 p 65) pode tambeacutem na funccedilatildeo de mediador atenuar este
choque com a realidade
Os estudos de Veenman (1984) indicam-no como ldquochoque da transiccedilatildeordquo o corte entre
os ideais criados na formaccedilatildeo inicial e as diferenccedilas encontradas no dia-a-dia numa sala de
aula problemas tambeacutem identificados nos estudos de Marcelo (1988) Destacam-se ainda
outros estudos de investigaccedilatildeo nacional e internacional que datildeo especial enfase aos problemas
e necessidades de formaccedilatildeo sentidas pelos professores principiantes a niacutevel internacional
Fuller (1974) Vonk (1983) Zeichner e Tabachnik (1985) Bulloug (1989) e a niacutevel nacional
os trabalhos de Pacheco (1995a) Alves (2001) Flores (2000) e Ribeiro (2010)
As exigecircncias da sociedade atual e a complexidade constante da vida em sala de aula
acentuam as incertezas e a instabilidade da entrada na carreira e dos momentos de transiccedilatildeo A
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
35
formaccedilatildeo de professores tem um papel fulcral na atribuiccedilatildeo de qualificaccedilotildees profissionais
integradoras do domiacutenio cientiacutefico cultural e pedagoacutegico (Jacinto 2004) com a
correspondente transposiccedilatildeo para a praacutetica docente
De acordo com Marcelo (1994) as instituiccedilotildees de formaccedilatildeo inicial de professores
devem cumprir trecircs funccedilotildees essenciais Por um lado preparar o professor para o
desenvolvimento de competecircncias das funccedilotildees que lhe satildeo atribuiacutedas Tecircm tambeacutem a
responsabilidade de certificar essa formaccedilatildeo garantindo perante o sistema educativo e perante
a sociedade o controlo e a permissatildeo do exerciacutecio das funccedilotildees docentes Acresce ainda agraves
instituiccedilotildees formadoras a funccedilatildeo de formarem professores que sejam agentes de mudanccedila no
sistema educativo estando a qualidade do ensino e dos resultados de aprendizagem
estreitamente articulada com a qualidade da formaccedilatildeo dos professores
Esta visatildeo da funccedilatildeo docente e das tarefas que se pretende venham a desenvolver iraacute
traduzir-se numa determinada conceccedilatildeo de desempenho profissional enquadrada num desenho
de perfil de competecircncias uacuteteis e indispensaacuteveis para o sucesso desse desempenho (Esteves
2006)
A compreensatildeo do pensamento do professor a sua progressiva aproximaccedilatildeo ao
processo reflexivo e a valorizaccedilatildeo do professor como agente ativo do processo ensino
aprendizagem permitem reconhecer a possibilidade de desenvolvimento de um paradigma
eficaz e que legitima a integraccedilatildeo da teoria e praacutetica no seu desenvolvimento profissional
(Zeichner 1993)
A reflexividade muito importante na vida de um aspirante a professor apresenta-se
como uma pedra basilar no processo de aprender a ensinar constituindo-se como etapa
ldquodireccionada para favorecer e desenvolver as capacidades disposiccedilotildees e atitudes dos
professores com o fim de os preparar para a realizaccedilatildeo eficaz da sua tarefardquo (Gonzaacutelez 1995
p 216) Refere-se ainda a centralidade das intenccedilotildees da formaccedilatildeo para a vertente social e
pessoal do professor e do aluno reservando-lhe um lugar de relevo numa consequente criaccedilatildeo
de atitudes de haacutebitos positivos de relaccedilatildeo e de cooperaccedilatildeo
Eacute importante o desenvolvimento global de formando enquanto ser humano e social mas
tambeacutem deve ter reflexos positivos na relaccedilatildeo pedagoacutegica Neste sentido pressupotildee-se a
existecircncia de um modelo onde os diferentes aspetos da conduta humana se articulam entre si
e onde as ldquoestruturas baacutesicas da pessoa [aluno e professor] permitam que a mesma adopte uma
determinada postura interpretativa e de realizaccedilatildeordquo (Sanches amp Ruiz 1988 p 9) entendidas
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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como geradoras mediadoras das diversas dimensotildees da aprendizagem inteletual social moral
e eacutetica
Pretende-se assim uma formaccedilatildeo profissional qualificada que promova a autonomia
que implique os formandos na mobilizaccedilatildeo de conhecimento no desenvolvimento de
competecircncias que lhe permitam fazer face agraves muacuteltiplas situaccedilotildees educativas que iratildeo vivenciar
A Praacutetica Pedagoacutegica enquanto parte integrante desse processo formativo e de acordo
com a Portaria nordm 33688 de 28 de maio do DR-I Seacuterie N 124 e Decreto-Lei Nordm 344 de 11
de outubro visa integrar o futuro professor no exerciacutecio da atividade docente em contexto de
sala de aula Neste processo o formando seraacute apoiado por um conjunto de referenciais gerais
de reflexatildeo e investigaccedilatildeo sob orientaccedilatildeo do supervisor e cooperante permitindo que o
conhecimento conceptual adquirido e a transposiccedilatildeo para a sala de aula possibilitem ao
formando gradualmente assumir a responsabilidade pela docecircncia
O ano curricular de estaacutegio eacute ldquogenericamente caracterizado como um ano de grande
conflitualidade ambiguidade e incerteza a niacutevel soacutecio-profissional relacional e
epistemoloacutegicordquo (Moreira et al 2006 p 45) O seu valor formativo eacute potenciado pela
variedade e riqueza de experiecircncias realizadas especialmente se forem orientadas para uma
atitude interventiva inovadora e investigativa (Ribeiro 2010) Satildeo conhecidas e surgem em
evidecircncia nestes estudos as transformaccedilotildees que ocorrem no acircmbito da praacutetica a niacutevel pessoal
reconhecendo igualmente o contributo das didaacuteticas e das metodologias neste processo de
formaccedilatildeo Estamos pois perante um processo de desenvolvimento humano em que o pessoal
e o profissional enquadrado em referenciais teoacutericos se entrecruzam permitindo uma melhor
compreensatildeo dos movimentos de autotransformaccedilatildeo nesta ldquojanela que se abre para o mundo
da profissatildeo e faz emergir novas representaccedilotildees de si e do trabalho profissional que vai iniciar-
serdquo (Alarcatildeo amp Roldatildeo 2009 p 17)
Estamos assim perante uma dinacircmica que adveacutem de uma Praacutetica Pedagoacutegica que
apresenta
caracteriacutesticas de uma praacutetica de terreno em que o futuro professor perante situaccedilotildees reais aprende a responder agraves exigecircncias sociais e educativas do exerciacutecio da profissatildeo natildeo dentro de uma perspectiva meramente aplicativa mas dentro de uma perspectiva compreensiva face agrave complexidade e singularidade do acto educativo (Baptista 2003 p 84)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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A Praacutetica Pedagoacutegica apresenta-se num modelo integrado de formaccedilatildeo numa
perspetiva diacroacutenica (aluno estagiaacuterio) como uma experiecircncia unificadora fundamental nos
contextos de formaccedilatildeo de professores Eacute um periacuteodo em que os formandos tecircm a possibilidade
de explorar e integrar em contexto de sala de aula o que aprenderam ao longo do curso
A formaccedilatildeo natildeo eacute um momento isolado na vida das pessoas situa-se face ao seu passado
e ao seu presente pessoal e profissional tendo em atenccedilatildeo o seu futuro Estas fronteiras sendo
imprecisas satildeo difiacuteceis de delinear porque o sistema educativo natildeo eacute estaacutetico evolui auto-
regula-se auto-organiza-se auto complexifica-se reage agraves mudanccedilas As novas matrizes
tentam adaptar-se procuram desenvolver novas competecircncias profissionais dos futuros
professores direcionadas para o desenvolvimento global da pessoa e natildeo apenas na aquisiccedilatildeo
de determinados saberes especiacuteficos (Pires 2000)
Aleacutem disso tornar-se professor implica pois envolver-se num processo de formaccedilatildeo
que procure
promover a dupla competecircncia ou seja as competecircncias do tipo teacutecnico (saber desenvolver actuaccedilotildees caracteriacutesticas do espaccedilo profissional) e uma espeacutecie de meta-competecircncia (capacidade de analisar e valorar o proacuteprio trabalho e de introduzir na acccedilatildeo os reajustes necessaacuterios (Zabala amp Arnau 2007 p 13)
Esta envolvecircncia permitiraacute ao formando desenvolver a capacidade de autorregular a sua
accedilatildeo e a sua proacutepria aprendizagem atraveacutes de uma anaacutelise criacutetica centrada nas suas praacuteticas e
na avaliaccedilatildeo das mesmas Saacute-Chaves (2000) sublinha que este processo de aprendizagem e
desenvolvimento requer contextos favoraacuteveis ou seja que a formaccedilatildeo se processe ldquono interior
de sistemas ecologicamente estruturados dinacircmicos e interactivosrdquo (p 20) criando ambientes
interativos favoraacuteveis agrave construccedilatildeo por parte do formando do seu proacuteprio conhecimento da
reflexividade e do sentido criacutetico
Em suma trata-se de um processo que contribue para ajudar o formando a refletir sobre
as suas praacuteticas considerando a sua singularidade complexidade e incerteza estimulando uma
reflexatildeo metoacutedica aprofundada que inclua a produccedilatildeo de ldquoinstrumentos [de registo] para a
intervenccedilatildeo explicitar os fundamentos e avaliar sistematicamente os seus efeitosrdquo (Baptista
2003 p 87)
A iniciaccedilatildeo agrave praacutetica eacute uma reflexatildeo consistente tendo por base os referenciais teoacutericos
e a experiecircncia ainda que escassa poderaacute constituir-se numa base soacutelida e muito uacutetil da sua
formaccedilatildeo ao longo da vida em contexto educativo agrave medida que vai assumindo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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progressivamente a sua condiccedilatildeo de professor Eacute pois um momento que assenta em
experiecircncias planeadas diretas guiadas e inclusivamente cliacutenicas enquadradas na participaccedilatildeo
ativa na turma Nesta fase como nas restantes eacute fundamental um bom processo supervisivo
para que atraveacutes da participaccedilatildeo em processos de colaboraccedilatildeo entre todos os intervenientes
(professores ndash formandos supervisor e professor cooperante) se interiorize a sua importacircncia
se esclareccedila claramente o que se pretende dessas praacuteticas e se utilizem os meios disponiacuteveis
potencializadores da mudanccedila
Nesta fase a accedilatildeo supervisiva tem um papel crucial na orientaccedilatildeo acompanhamento e
ajuda aos futuros professores colaborando na organizaccedilatildeo desenvolvimento e
consciencializaccedilatildeo da praacutetica pedagoacutegica Eacute reconhecido o papel do supervisor neste processo
pois ldquoo supervisor eacute a chave do ecircxito da pessoa que aprende e o eixo para a melhoria da
profissatildeo docenterdquo (Hackley cit por Peacuterez 1988 p 87)
Nesta fase da formaccedilatildeo inicial o olhar do professor estagiaacuterio sobre a praacutetica
pedagoacutegica em sala de aula comeccedila por ser ingeacutenuo e incipiente porque o conhecimento que
tem sobre a sua accedilatildeo adveacutem apenas da representaccedilatildeo de si enquanto alunos Este vai-se
alicerccedilando agrave medida que vai adquirindo conhecimentos teoacutericopraacuteticos relacionados com as
vaacuterias componentes de formaccedilatildeo transpondo-as depois para a sala de aula com o status de
professor-estagiaacuterio Que percurso se faz ateacute aqui chegar Que contexto seraacute este Que atores
envolvem esse processo
Assim sendo poderemos considerar o processo de formaccedilatildeo como uma dinacircmica que
vai interligando a construccedilatildeo do eu pessoal e do eu profissional Este percurso designado por
Carrolo (1997) como ldquotrajectoacuterias pessoais e profissionaisrdquo (p 41) permite inferir uma grande
diversidade de itineraacuterios determinados pela pessoalidade do processo e pelas caracteriacutesticas
uacutenicas de cada contexto de formaccedilatildeo
Esta abordagem faz eco da tomada de consciecircncia sobre a imprevisibilidade do percurso
de cada formando e sobre a ldquoimprevisibilidade dos contextos de actuaccedilatildeo profissional que
trouxe agrave luz do dia a riqueza epistemoloacutegica da praacuteticardquo (Alarcatildeo 2001a pp 16-17) a conceccedilatildeo
do saber profissional inerente agrave capacidade de saber agir em accedilatildeo em que se consolida ao
articular o saber concetual com a praacutetica em contexto
A questatildeo central na formaccedilatildeo inicial de professores adveacutem da revalorizaccedilatildeo do
potencial formativo das praacuteticas nos contextos educativos devendo estas assegurar as
condiccedilotildees de aprendizagem e garantir os respetivos padrotildees de qualidade A existecircncia de
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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adequados contextos de supervisatildeo requer encontros entre professor supervisor professor
cooperante e professor estagiaacuterio A comunicaccedilatildeo assente num diaacutelogo aberto entre todos os
que envolvem a construccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo eacute fulcral nestes encontros
Eacute expectaacutevel que o conhecimento profissional do professor cooperante se fundamente
no conhecimento teoacuterico-praacutetico adquirido na formaccedilatildeo inicial nas oportunidades de formaccedilatildeo
contiacutenua e no conhecimento contextual sendo a preparaccedilatildeo especiacutefica para formar futuros
professores na maioria dos casos inexistente O professor estagiaacuterio inicia a sua praacutetica
profissional atraveacutes da observaccedilatildeo de desempenho destes professores (Zeichner 1993) vendo-
os como modelos A acreditar no processo da homologia formativa referenciada por
Formosinho (2001) em que afirma que ldquoensinamos como fomos ensinados e que as rupturas
a esses niacuteveis satildeo lentas e dolorosasrdquo (p 55) eacute prioritaacuterio pensar na qualidade destas praacuteticas
formativas pelo seu duplo impacto quer nos alunos quer no professor estagiaacuterio Este facto
importante natildeo se deve dissociar do conhecimento profissional do supervisor e dos
cooperantes que tem um papel importante de interaccedilatildeo e valoraccedilatildeo da formaccedilatildeo em contexto
Neste entendimento eacute nosso objetivo falar de contextos de supervisatildeo como espaccedilos
formativos inovadores promotores de mudanccedila em que a supervisatildeo se integra como uma
colaboraccedilatildeo ativa uma pesquisa cooperada e uma experimentaccedilatildeo refletida que permita
responder ao problema ou problemas identificados Posto isto o que se entende por supervisatildeo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Capiacutetulo II
CENAacuteRIOS E CONTEXTOS DE SUPERVISAtildeO EM FORMACcedilAtildeO
INICIAL DE PROFESSORES
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Eacute assim necessaacuterio escolher limitar-nos ao essencial Mas o que eacute o essencial Eacute por certo uma seacuterie de competecircncias de alto niacutevel taxonoacutemico que preparam para colocar e resolver problemas complexos Estes satildeo com efeito demasiado diversificados e variaacuteveis para que possamos ter esperanccedilas de dar aos professores principiantes uma panoacuteplia de soluccedilotildees preconcebidas (hellip) Eacute evidente que o professor principiante deveria dominar suficientemente os gestos profissionais para se sentir agrave vontade numa sala de aula e consequentemente ser capaz de progredir e aprender Ningueacutem aprende a nadar pelos livros Mas podemos considerar uma formaccedilatildeo que ensine uma forma ortodoxa de nadar e uma soacute e uma soacute que prepare a pessoa a sentir-se bem dentro de aacutegua a respirar a deslocar-se livremente a abrir os olhos a divertir-se Eacute a partir de uma formaccedilatildeo deste tipo que cada um saberaacute construir o seu proacuteprio meacutetodo de ensinarrdquo (Perrenoud 1993 p 148)
1 Supervisatildeo Pedagoacutegica Um Conceito em (Re)Construccedilatildeo
A palavra supervisatildeo aglutina os vocaacutebulos ldquosuperrdquo e ldquovisatildeordquo que no entendimento de
Stones (1984) identifica um supervisor como algueacutem com super-visatildeo Recorrentemente na
literatura encontramos o termo associado a vaacuterios domiacutenios de accedilatildeo supervisatildeo financeira
supervisatildeo institucional supervisatildeo cliacutenica supervisatildeo da investigaccedilatildeo supervisatildeo da
formaccedilatildeo supervisatildeo curricular supervisatildeo pedagoacutegica supervisatildeo de professores (Alarcatildeo amp
Canha 2013)
No caso da supervisatildeo pedagoacutegica o supervisor surge na figura de um professor com
visatildeo apurada para perceber o que se passa na sala de aula com introvisatildeo para perceber o
significado desses acontecimentos com antevisatildeo para ver o que poderia estar a acontecer e
com retrovisatildeo para ver o que deveria ter acontecido e natildeo aconteceu Em siacutentese isto revela-
nos que a supervisatildeo eacute uma accedilatildeo envolta de muita complexidade mas que tal como muitos
outros conceitos eacute um conceito evolutivo assente num devir histoacuterico que nos permite
perceber que este se foi alterando conforme as circunstacircncias histoacutericas sociais e educativas
Para melhor compreender o conceito de supervisatildeo nos diferentes domiacutenios de accedilatildeo
que enunciamos anteriormente Alarcatildeo amp Canha (2013) construiacuteram uma siacutentese dos
conceitos conexos ao conceito de supervisatildeo como eacute possiacutevel observar no quadro nordm 1
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Quadro 1 Supervisatildeo e conceitos conexos
Conceito Descriccedilatildeo Elementos-chave
Formaccedilatildeo
Termo polisseacutemico tem no seu eacutetimo a ideia de configurar dar forma Refere-se a condiccedilotildees atividades e resultados de aprendizagem e de desenvolvimento Durante um tempo associado a situaccedilotildees profissionais e com caraacuteter especializado tem hoje um sentido mais lato compreendendo modalidades formais natildeo formais e informais concretizadas em espaccedilos e tempos variados num processo continuado ao longo da vida
Aprendizagem construccedilatildeo
configuraccedilatildeo desenvolvimento
(re)construccedilatildeo de conhecimentos
capacidades e competecircncias
continuidade
Coaching Apoio pessoal e comprometido no sentido de ajudar as pessoas a atingirem o seu melhor e a serem bem-sucedidas configurado numa ideia de entre coach e pessoa em desenvolvimento
Ajuda pessoal otimizaccedilatildeo de potencialidades comprometimento (com a pessoa e com as metas) autonomizaccedilatildeo
Gestatildeoadministraccedilatildeo Gestatildeo surge muitas vezes como sinoacutenimo de administraccedilatildeo Processo de organizaccedilatildeo de situaccedilotildees e recursos de modo eficiente implicando tomadas de decisatildeo planeamento e controlo
Direccedilatildeo organizaccedilatildeo controlo eficiecircncia
Coordenaccedilatildeo Processo de conseguir uma sincronia entre um conjunto de elementos materiais e humanos necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo da atividade no sentido de garantir um todo sisteacutemico orientado para objetivos comuns
Articulaccedilatildeo concatenaccedilatildeo integraccedilatildeo organizaccedilatildeo conjunta (em funccedilatildeo de um todo)
Lideranccedila Capacidade pessoal de motivar influenciar e guiar pessoas e grupos numa determinada direccedilatildeo
Influecircncia pessoal visatildeo convicccedilatildeo chefia capacidade de mobilizaccedilatildeo
Mediaccedilatildeo
Processo em que um intermediaacuterio neutro atua como facilitador da capacidade de comunicaccedilatildeo e regulador do entendimento entre partes em conflito ou em dificuldade Hoje utiliza-se num sentido mais amplo por exemplo como regulador da coesatildeo social mas tambeacutem como facilitador da aprendizagem
Intermediaacuterio facilitador resoluccedilatildeo de conflitos regulaccedilatildeo para a coesatildeo social prevalecircncia do poder de decisatildeo das pessoas envolvidas estiacutemulo do desenvolvimento
Monitorizaccedilatildeo Acompanhamento sistemaacutetico de processos e programas baseado na observaccedilatildeo e recolha de dados visando determinado fim
Vigilacircncia continuada verificaccedilatildeo acompanhamento
Regulaccedilatildeo Processo de controlo da accedilatildeo e sua reorientaccedilatildeo no caso de desvios na direccedilatildeo pretendida
Controlo conformidade estabilizaccedilatildeo (aproximaccedilatildeo a um referente)
Inspeccedilatildeofiscalizaccedilatildeo Atividade que tem como funccedilatildeo verificar o cumprimento de normas estabelecidas e atuar punitiva ou preventivamente Embora o sentido dos dois termos seja muito semelhante a fiscalizaccedilatildeo aparece normalmente associada ao fisco ou a obras
Verificaccedilatildeo vistoria cumprimento de leisnormas participaccedilatildeo de infraccedilotildees entidade exterior
Avaliaccedilatildeo Processo de atribuiccedilatildeo de um valor baseado na recolha de dados na comparaccedilatildeo e na interpretaccedilatildeo
Comparaccedilatildeo interpretaccedilatildeo atribuiccedilatildeo de valor
Fonte Alarcatildeo amp Canha (2013 p 18)
Este quadro vem revelar que o conceito de supervisatildeo dependendo do domiacutenio de
atuaccedilatildeo eacute entendido sob designaccedilotildees diferentes Apesar de aparentemente diferentes
concorrem para a construccedilatildeo de um conceito de supervisatildeo que evidencia o aspeto formativo
visto e direcionado para o desenvolvimento pessoal dos formandos visando tambeacutem o seu
desenvolvimento profissional e o seu sucesso Os processos de planeamento de decisatildeo e
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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controle acabam por se encontrar sempre presentes qualquer que seja o domiacutenio ou aacuterea de
intervenccedilatildeo
Tendo em conta que estamos perante um conceito evolutivo como jaacute o afirmamos
anteriormente que se (re) constroacutei ao longo do tempo dependendo dos cenaacuterios onde as
praacuteticas de supervisatildeo decorrem importa pois fazer referecircncia a Alarcatildeo amp Tavares (2010)
Estes autores elencaram um conjunto de nove cenaacuterios de supervisatildeo agrupando-os de acordo
com o modus faciendi da praacutetica de supervisatildeo que integram e os seus fundamentos
epistemoloacutegicos como veremos a seguir
2 Dos Cenaacuterios de Inspiraccedilatildeo Psicoloacutegica aos Cenaacuterios Ecoloacutegicos e Dialoacutegicos
Neste ponto propomo-nos tecer algumas consideraccedilotildees sobre as vaacuterias facetas que tecircm
tomado as praacuteticas e os fundamentos da supervisatildeo apoiando-nos nos nove cenaacuterios definidos
por Alarcatildeo e Tavares (2010) Estes cenaacuterios natildeo podem ser olhados de modo isolado e
estanque mas sim contendo elementos que coexistem ao longo dos mesmos e como tal devem
ser entendidos e compreendidos na sua transversalidade
Cenaacuterio de imitaccedilatildeo artesanal
Neste cenaacuterio reconhece-se a autoridade do mestre e a imutabilidade do saber
colocando os formandos a praticar com o mestre o modelo o bom professor o experiente
como praacutetico Deste modo o mestre transmitia a sua arte ao neoacutefito cujo modelo deveria ser
seguido por imitaccedilatildeo Perpetuava-se ldquoo modelo do artiacutefice medieval que teria que ser moldado
pelo artesatildeo e ser atraveacutes dele socializadordquo (Alarcatildeo amp Tavares 2010 p 17) ou seja o
professor titular da turma que recebia o formando
No entanto a raacutepida expansatildeo da formaccedilatildeo de professores e as consequentes exigecircncias
de um maior nuacutemero de supervisores e cooperantes assim como o raacutepido desenvolvimento que
se fez sentir em vaacuterios domiacutenios do saber entre eles a Educaccedilatildeo com solicitaccedilotildees de
conhecimentos interdisciplinares e transdisciplinares fez surgir outros cenaacuterios
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Cenaacuterio de aprendizagem por descoberta guiada
Este cenaacuterio eacute sustentado na teoria pragmaacutetica de Jonh Dewey segundo a qual a
aprendizagem resulta de uma relaccedilatildeo constante entre a accedilatildeo e a reflexatildeo mediados pela tomada
de consciecircncia o que segundo o autor se consegue atraveacutes da participaccedilatildeo em projetos de
pesquisa que estimulam a curiosidade do aprendente A educaccedilatildeo deve portanto ser um
processo o mais real possiacutevel o mais proacuteximo das vivecircncias do ser humano no seu processo
natural de vida
Na perspetiva de Dewey (1974) a pesquisareflexatildeo parte de uma situaccedilatildeo
problemaacutetica considerada como primeiro momento indagaccedilatildeo composto por dois sub-
momentos em que se sugere uma soluccedilatildeo agrave qual se segue um desenvolvimento a que Dewey
designa de intelectualizaccedilatildeo do problema Segue-se um terceiro momento designado de
observaccedilatildeo e experiecircncia em que se tenta testar as hipoacuteteses de soluccedilatildeo anteriormente
equacionadas e caso se revele inadequaccedilatildeo segue-se um quarto momento que consiste numa
reelaboraccedilatildeo intelectual partindo depois para a verificaccedilatildeo (Alarcatildeo 2005)
Aqui o que importa sublinhar eacute a ideia de que para Dewey (1974) a formaccedilatildeo de
professores tinha como objetivo fazer do professor um sujeito capaz de observar intuir e
refletir
Cenaacuterio comportamentalista
Neste cenaacuterio era importante que os formandos percebessem que a eficaacutecia de uma
estrateacutegia num determinado contexto poderia ter efeitos completamente diversos noutro
contexto ao qual acresce uma
multidireccionalidade de preocupaccedilotildees com que o formando se depara naquele
momento da sua formaccedilatildeo e que tecircm a ver com o conteuacutedo a ensinar o modo como
ensinaacute-lo a maneira de disciplinar os alunos o gosto de agradar ao orientador o medo
de desconhecer as regras da escola (Alarcatildeo amp Tavares 2010 p 21)
No sentido de controlar estas variaacuteveis os investigadores que se integram nesta
perspetiva comportamentalista preocupam-se com a identificaccedilatildeo das competecircncias baacutesicas
para um eficaz desenvolvimento docente defendendo a ideia de que o treino destas
competecircncias em situaccedilotildees de formaccedilatildeo eacute essencial Surge assim a perspetiva de microensino
muito divulgada especialmente nos anos 70 nos Estados Unidos Esta mesma perspetiva eacute
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
47
igualmente integrada no conceito de supervisatildeo da eacutepoca que incorpora a supervisatildeo dos
processos de ensino de aprendizagem e de avaliaccedilatildeo dessas teacutecnicas
Cenaacuterio pessoalista
Este cenaacuterio considera a importacircncia do desenvolvimento do professor como pessoa
ideia partilhada por vaacuterios autores tais como Combs (1974) Fuller (1974) Glassberg e
Sprinthall (1980) e Sprinthall e Thies-Sprinthall (1983) Neste sentido Combs (1974) propotildee
uma supervisatildeo do tipo humanista baseada no autoconhecimento e no autodesenvolvimento
Fuller (1974) direciona mais as suas sugestotildees para uma supervisatildeo que procure dar resposta
agraves necessidades e preocupaccedilotildees dos formandos Glassberg e Sprinthall (1980) apelam mais a
uma supervisatildeo que tenha em conta a estrutura cognitiva do formando o grau de maturidade
psicoloacutegica e o seu estaacutedio de desenvolvimento Aliaacutes os estudos de Hunt e Joyce (1967) jaacute
confirmavam existir uma relaccedilatildeo entre o grau de desenvolvimento dos professores e a sua
atuaccedilatildeo pedagoacutegica verificando que os professores com um niacutevel conceptual mais elevado
diversificavam mais os modelos de ensino e teriam uma maior capacidade de adaptar a
planificaccedilatildeo agraves necessidades dos alunos
No entanto em Portugal num estudo realizado por Ralha Simotildees (1995) verificou-se
que o desenvolvimento pessoal natildeo segue lado a lado com o desenvolvimento profissional e
que eacute possiacutevel que um formando com menor grau de desenvolvimento pessoal apresente uma
competecircncia profissional adequada Neste sentido eacute importante criar condiccedilotildees na formaccedilatildeo
inicial atraveacutes do processo supervisivo para o desenvolvimento pessoal e profissional do
formando
A importacircncia da relaccedilatildeo entre estas duas dimensotildees do desenvolvimento leva-nos agrave
necessidade de um aprofundamento da supervisatildeo reflexiva pois requer uma anaacutelise conjunta
das praacuteticas e que simultaneamente se desenvolva uma ldquoaprendizagem desenvolvimentista
humanista e socioconstrutivistardquo (Alarcatildeo amp Tavares 2010 p 37)
Cenaacuterio de supervisatildeo cliacutenica
Neste cenaacuterio a ecircnfase estaacute na criaccedilatildeo de uma relaccedilatildeo direta de colaboraccedilatildeo entre
supervisor e formando e entre este e os seus colegas orientada para o aperfeiccediloamento e
melhoria da sua praacutetica pedagoacutegica Angulo-Rasco (1999) refere-se ao envolvimento do
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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professorformando na anaacutelise da sua proacutepria praacutetica sendo que esta deveria ser sempre objeto
de uma reflexatildeo que conduzisse agrave sua transformaccedilatildeo O objetivo principal eacute melhorar a sua
praacutetica de ensino na sala de aula de forma ldquocliacutenicardquo procedendo-se a uma anaacutelise conjunta da
mesma pelo supervisor e pelo formando (Alarcatildeo amp Tavares 2010)
No entanto como refere Stones (1984) esta transformaccedilatildeo natildeo seraacute possiacutevel se natildeo for
dada especial atenccedilatildeo ao desenvolvimento do professor como pessoa Este eacute tambeacutem um
cenaacuterio personalista que se cruza com as ideias de Combs (1974) baseadas no auto-
conhecimento e no auto-desenvolvimento fortemente influenciado pela psicologia cognitiva
Tal como o anterior este modelo assenta em perspetivas da psicologia cognitiva e da
psicoterapia personalista e portanto apoia-se numa preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento
pessoal do formando do seu Eu em confronto com o Outro Assenta ainda na preocupaccedilatildeo do
supervisor com o formando (caring) na resposta agraves suas necessidades e preocupaccedilotildees (Estrela
MT 2002) Exige uma relaccedilatildeo aberta e transparente num ambiente de empatia compreensatildeo
afeto aceitaccedilatildeo e abertura que permita explorar os seus proacuteprios pensamentos e sentimentos e
de tomar as decisotildees por si proacuteprio
Cenaacuterio psicopedagoacutegico
Neste cenaacuterio Stones (1984) evidencia uma teoria de ensino baseada num
corpo de conhecimentos derivados da psicologia de desenvolvimento e da aprendizagem e de essa teoria ser comum a dois mundos que se relacionam a) o mundo da relaccedilatildeo ensinoaprendizagem que se estabelece entre o supervisor e o professor-estagiaacuterio e b) o mundo da relaccedilatildeo de ensinoaprendizagem que existe entre o professor-estagiaacuterio e os seus alunos (Alarcatildeo amp Tavares 2010 pp 28-29)
Assim de acordo com Stones (1984) o objetivo da supervisatildeo pedagoacutegica eacute ensinar o
professor a ensinar Ou seja tal como o professor-estagiaacuterio ensina os seus alunos tambeacutem o
supervisor tem essa missatildeo proporcionando o desenvolvimento de competecircncias e capacidades
aos formandos atraveacutes da criaccedilatildeo de situaccedilotildees que promovam a aplicaccedilatildeo do conhecimento na
praacutetica em contextos diferenciados
Stones (1984) toma como ponto de partida a ideia de ldquoteaching skill ou seja a ideia de
que o professor eacute algueacutem que adquiriu uma competecircncia geral constituiacuteda por uma seacuterie de
skills (competecircncias) subordinadasrdquo (Alarcatildeo amp Tavares 2010 p 30) tendo como fim uacuteltimo
a melhoria da sua praacutetica pedagoacutegica
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Este cenaacuterio veio dar uma nova ecircnfase ao modelo de supervisatildeo designado de cenaacuterio
de supervisatildeo cliacutenica proposto por Cogan Goldhamer e Anderson nos anos 50 do seacutec XX
como sublinham Alarcatildeo e Tavares (2010)
Cenaacuterio ecoloacutegico
Este cenaacuterio evidencia as dinacircmicas existentes entre o desenvolvimento pessoal e
profissional e as mutaccedilotildees constantes nos contextos onde parte destas acontecem Como
referem Alarcatildeo amp Tavares (2010) trata-se de um cenaacuterio de supervisatildeo na qual a atuaccedilatildeo eacute
focada nas ldquorelaccedilotildees dinacircmicas reciacuteprocas e sinergeacuteticas de uma rede muacuteltipla de relaccedilotildees de
intercontextualidade com niacuteveis de influecircncia diversificadosrdquo (p 37) Este cenaacuterio supervisivo
pretende ainda incutir nos formandos a motivaccedilatildeo para lidar com situaccedilotildees novas
diversificadas em diferentes contextos o que lhe permitiraacute agir na diversidade de situaccedilotildees e
ateacute de pessoas alargando o seu leque de atividades de papeacuteis e de relaccedilotildees interpessoais muito
importantes para o seu desenvolvimento pessoal e profissional
Neste cenaacuterio o processo formativo e o desenvolvimento pessoal surgem associados agrave
socializaccedilatildeo Sendo esta caracteriacutestica da proacutepria natureza humana alia-se agrave especificidade dos
contextos nos quais se pretende ldquodesenvolver actividades que permitam descobrir manter ou
alterar as propriedades desse ambiente ecoloacutegicordquo (Bronfenbrenner 1992 p 42)
Na perspetiva deste autor os contextos e as relaccedilotildees entre eles assumem uma especial
importacircncia pois o meio onde os formandos se inserem exerce sobre si uma accedilatildeo direta bem
como sobre as variaacuteveis que dele fazem parte fatores igualmente valorizados no cenaacuterio de
supervisatildeo dialoacutegico
Cenaacuterio dialoacutegico
Neste cenaacuterio existem caracteriacutesticas que se evidenciam das quais destacamos a
importacircncia da linguagem do diaacutelogo criacutetico e do diaacutelogo reflexivo como sendo muito
importantes ldquona construccedilatildeo da cultura e do conhecimento proacuteprio dos professores como
profissionais e na desocultaccedilatildeo das circunstacircncias contextuais escolares e sociais que
influenciam o exerciacutecio da profissatildeordquo (Alarcatildeo amp Tavares 2010 p 40)
Aleacutem disso eacute importante vivenciar os desafios com ecircnfase e revelar os
constrangimentos nos espaccedilos reflexivos designados para o efeito onde a abordagem das
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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praacuteticas eacute bilateral Aqui apresentam-se os pontos de vista dos formandos e dos supervisores
analisam-se os discursos dos formandos em situaccedilotildees de praacutetica pedagoacutegica a planificaccedilatildeo
as metodologias a relaccedilatildeo pedagoacutegica a postura e as teorias em uso
Esta abordagem ldquodialogante e contextualizadora situa-se na linha de consciencializaccedilatildeo
do colectivo identitaacuterio dos professores e natildeo numa concepccedilatildeo hierarquizada do supervisor em
busca do que estaacute a necessitar de correcccedilatildeo na actuaccedilatildeo do professorrdquo (Alarcatildeo amp Tavares
2010 p 40) Isto porque o desenvolvimento profissional do formando soacute acontece se existir
um pensamento reflexivo partilhado Esta ideia foi jaacute avanccedilada por Alarcatildeo (2009) ao afirmar
que a supervisatildeo do seculo XXI teraacute essencialmente duas caracteriacutesticas uma a que chamamos
de democraticidade e outra a segunda de lideranccedila com visatildeo
Democraticidade porque eacute uma supervisatildeo baseada na colaboraccedilatildeo entre os professores em decisotildees participadas e na praacutetica reflexiva visando profissionais auto-dirigidos ou (hellip) autoacutenomos (hellip) e uma lideranccedila com visatildeo que promova os valores da democraticidade e desenvolva programas de supervisatildeo com impactohellipCom efeito a supervisatildeo tem que ter impacto na melhoria do ensino e da aprendizagem (p 120)
O supervisor tal como o formando eacute um adulto em desenvolvimento quer a niacutevel
profissional quer pessoal Assim como haacute vaacuterios modelos de supervisatildeo tambeacutem haacute vaacuterias
teorias de desenvolvimento humano No entanto eacute nosso intento centrarmo-nos no modelo
ecoloacutegico de desenvolvimento humano proposto por Bronfrebrenner (1992) que nos permitiraacute
centrar na compreensatildeo da teoria do desenvolvimento humano no tipo de interaccedilotildees que daiacute
advecircm Este modelo permite-nos compreender as dinacircmicas sociais provenientes das
interaccedilotildees dos seus atores em contexto de supervisatildeo Visa promover o desenvolvimento do
formando em formaccedilatildeo inicial e ldquosobretudo a dinacircmica do processo sinergeacutetico de interaccedilatildeo
sujeito-mundo na riqueza da sua intercontextualidade e no seu potencial de desenvolvimentordquo
(Alarcatildeo amp Saacute- Chaves 1994 p 204)
O ambiente ecoloacutegico de formaccedilatildeo supervisionada eacute preponderante nesta entrada em
novos contextos com o formando a assumir novos papeacuteis (ex responsaacutevel pela lecionaccedilatildeo na
turma atribuiacuteda durante um determinado periacuteodo) analisando esta passagem de aluno a
professor como sendo um momento muito importante no percurso formativo de um
profissional do ensino
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Em jeito de siacutentese parece-nos oportuno referenciar os 10 princiacutepios apontados por
Alarcatildeo amp Saacute-Chaves (1994) que iratildeo dar rumo ao olhar interpretativo dos atores e que
permitiratildeo o seu desenvolvimento em contexto de supervisatildeo Satildeo eles
i) princiacutepio da continuidade da formaccedilatildeo (permitiraacute ao aluno vivenciar situaccedilotildees reais
relacionadas com a sua profissatildeo)
ii) princiacutepio da atividade de natureza molar (envolvimento do formando em projetos
atividades accedilatildeo reflexatildeo o que o leva a interagir com a comunidade educativa)
iii) princiacutepio da transiccedilatildeo ecoloacutegica com a assunccedilatildeo de novos papeacuteis (primeiro um olhar como
observadores depois assumem a lecionaccedilatildeo de forma supervisionada com crescente
envolvimento e responsabilizaccedilatildeo)
iv) princiacutepio da evoluccedilatildeo de natureza didaacutetica (desenvolvimento gradual de competecircncias e
consequente responsabilizaccedilatildeo)
v) princiacutepio da experiecircnciaccedilatildeo em contextos diversificados (a interaccedilatildeo com todos os
intervenientes no processo educativo no contexto de estaacutegio deve ser vista como uma mais-
valia para a formaccedilatildeo)
vi) princiacutepio da relaccedilatildeo interpessoal (ter consciecircncia que a accedilatildeo dos outros o envolvimento a
comunicaccedilatildeo pode ser propulsor de desenvolvimento embora sabendo que para que tal
aconteccedila exige-se tempo e acompanhamento proacuteximo dos profissionais que lhe estatildeo mais
proacuteximos cooperante e supervisor)
vii) princiacutepio da relaccedilatildeo intercontextual (atraveacutes do estaacutegio estabelece-se uma rede de
contactos entre vaacuterias realidades sendo importante o papel do cooperante e supervisor neste
olhar sobre obstaacuteculos reais desse misto de ldquomundosrdquo que vai encontrando e que o influenciam
como pessoa e como profissional)
viii) princiacutepio da organizaccedilatildeo conceptual (em que o estagiaacuterio teraacute que se organizar na
reestruturaccedilatildeo da sua capacidade de perceber e analisar os factos num diaacutelogo permanente com
a accedilatildeo com a sua base concetual e com os seus professores cooperante e supervisor)
ix) princiacutepio da consciencializaccedilatildeo (assenta essencialmente na matriz conceptual e interativa
entre o estagiaacuterio e o meio conjugada com momentos de reflexatildeo na e sobre a accedilatildeo) e por fim
o
x) princiacutepio da influecircncia inovadora (levando o estagiaacuterio a perceber que a inovaccedilatildeo natildeo surge
do nada sendo necessaacuteria uma perceccedilatildeo clara da realidade que o envolve e ter presente o desejo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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de accedilatildeo para querer mudar manter ou ateacute descobrir propriedade que caracteriza o ambiente
ecoloacutegico onde estaacute inserido)
Estes princiacutepios integram as atuais tendecircncias da formaccedilatildeo de professores que se
situam no modelo de formaccedilatildeo dominante que eacute o de ensino reflexivo (cenaacuterio reflexivo)
como veremos no ponto que se segue
3 Supervisatildeo Pedagoacutegica como Praacutetica Reflexiva e Promotora de
Reflexividade
Esta perspetiva apoia-se no paradigma de formaccedilatildeo orientado para a pesquisa
reflexivo atraacutes apresentado e na perspetiva de supervisatildeo de aprendizagem pela descoberta
guiada ao mesmo tempo que integra os contributos de muitas outras perspetivas de supervisatildeo
que acabaacutemos de apresentar Trata-se portanto de uma visatildeo multifacetada e talvez holiacutestica
da supervisatildeo que pretende responder aos desafios da complexidade crescente da educaccedilatildeo e
da formaccedilatildeo
O interesse demonstrado adveacutem da consciencializaccedilatildeo das responsabilidades que o
professor como profissional tem vindo a assumir e das dificuldades que por vezes as
instituiccedilotildees de formaccedilatildeo tecircm de enfrentar Estas instituiccedilotildees satildeo responsaacuteveis por formar
profissionais de elevada qualidade que respondam agraves solicitaccedilotildees da sociedade atual
construindo uma visatildeo criacutetica da mesma sem contudo deixarem cair a esperanccedila na construccedilatildeo
de um mundo melhor para todos em que o papel dos professores eacute fulcral Retomando as
palavras de Alarcatildeo (2005) ldquoperscruta-se a mensagem indiciadora de que um possiacutevel novo
paradigma se esconde por detraacutes da praacutetica da reflexatildeo atitude que nos relanccedila para os valores
do humanordquo (p 12)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
53
31 Reflexividade e Contextos Colaborativos
A supervisatildeo na formaccedilatildeo inicial de professores passou por vaacuterios desenvolvimentos
nos uacuteltimos anos ganhando ldquouma dimensatildeo colaborativa auto-reflexiva e autoformativa agrave
medida que os professores comeccedilaram a adquirir confianccedila na relevacircncia do seu conhecimento
profissional e na capacidade de fazerem ouvir a sua voz como investigadores da sua proacutepria
praacuteticardquo (Alarcatildeo amp Roldatildeo 2009 p 15)
Este envolvimento caracteriacutestico de uma escola reflexiva (Alarcatildeo 2001a 2001b amp
Alarcatildeo 2002a) requer profissionais dotados de uma
inteligecircncia pedagoacutegica multidimensional estrateacutegica e de capacidade reflexiva auto-reguladora (hellip) [em que] o saber profissional especiacutefico dos professores natildeo pode ser compreendido se o desligarmos da funccedilatildeo social dos professores [isto porque estes satildeo vistos] como algueacutem a quem a sociedade confia a tarefa de criar contextos de desenvolvimento humano que envolvam o educando na multiplicidade e interactividade das suas dimensotildees cognitiva afectiva psicomotora linguiacutestica relacional comunicacional eacutetica (Alarcatildeo amp Roldatildeo 2009 p 16)
A praacutetica pedagoacutegica em contextos de supervisatildeo permite ao formando agir num
processo de vai-vem entre o envolvimento e o distanciamento levando-o a refletir sobre as
suas praacuteticas de forma a apropriar-se das experiecircncias em que participa e do conhecimento que
delas retira Saber de experiecircncia consciencializado e teorizado que permita ao futuro
professor
a) Analisar situaccedilotildees escolares concretas em contextos educativos especiacuteficos e b) Reflectir sistematicamente (individual ou grupalmente) sobre a sua acccedilatildeo educativa observada ou vivenciada com uma atitude investigativa equacionando o seu proacuteprio desenvolvimento profissional (Baptista 2003 p 88)
Pretende-se assim uma dimensatildeo episteacutemica das praacuteticas onde o formando desenvolva
um conjunto coerente de competecircncias atitudes e conhecimentos potenciador do seu
desenvolvimento afetivo social relacional e cognitivo
Este desenvolvimento tem em conta ldquomodelos de ensino cujas componentes e suas
inter-relaccedilotildees pudessem ser estudadas e analisadas na praacutetica de ensinordquo (Alarcatildeo amp Tavares
2010 p 18) O modelo de ensino que predomina eacute o de ensino reflexivo ancorado nos
paradigmas de matriz construtivista e ecoloacutegica reconhecendo o papel ativo e dinacircmico do
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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sujeito na construccedilatildeo do seu proacuteprio conhecimento e desenvolvimento profissional (Clark amp
Yinger 1979 Schoumln 1983 1987 Alarcatildeo 1996 Alarcatildeo e Saacute-Chaves 1994 1996 Vieira
1993 2006)
No entanto e num sentido lato essa reflexividade tem lugar na accedilatildeo e sobre a accedilatildeo com
vista agrave sua melhoria considerando a ldquosala de aula [como] um laboratoacuterio [e] cada professor
um membro da comunidade cientiacuteficardquo (Stenhouse 1975 p 142) Neste contexto laboratorial
de formaccedilatildeo inicial o supervisor e o professor cooperante assumem entre outros papeacuteis o de
observadores Aqui o seu trabalho surge sistematizado colaborando com o formando criando
condiccedilotildees que o levam agrave estruturaccedilatildeo do pensamento a construir e a melhorar as habilidade
baacutesicas de raciocinar sobre o sentido da sua accedilatildeo explorando alternativas que o levem agrave
tomada de consciecircncia de que eacute ldquosujeito reflexivo racional que toma decisotildees emite juiacutezos
tem crenccedilas e gera rotinas proacuteprias do seu desenvolvimento profissionalrdquo (Marcelo 1987 p
16)
Neste pensar e agir o processo de supervisatildeo caracterizar-se-aacute por uma relaccedilatildeo aberta
entre o formador e o formando relaccedilatildeo essa de natureza substantiva que se constitui num
corpo de saberes que se (trans)acionam e onde as ldquoimagens da formaccedilatildeo e da pedagogia (hellip)
encontram limites de variabilidade nos princiacutepios e nos valores de uma educaccedilatildeo
transformadora encontrando nelas os pilares da sua arquitetura que simultaneamente abrem e
fecham possibilidades de construccedilatildeordquo (Vieira 2006 in prefaacutecio p 9) e de renovaccedilatildeo de
saberes
Com base nestes pressupostos focalizados na e sobre a accedilatildeo a reflexatildeo em contexto de
supervisatildeo assume alguns princiacutepios evidenciados por Vieira (1993) Satildeo eles
a) Princiacutepio de enfoque no sujeito
b) Princiacutepio de enfoque nos processos de formaccedilatildeo
c) Princiacutepio da problematizaccedilatildeo do saber
d) Princiacutepio da integraccedilatildeo teoria-praacutetica
e) Princiacutepio da introspeccedilatildeo metacognitiva
Estes princiacutepios pretendem evidenciar uma abordagem de formaccedilatildeo e de
desenvolvimento profissional que se apoia em processos de diaacutelogo e partilha dos saberes dos
vaacuterios intervenientes no processo supervisivo que incluem as crenccedilas atitudes e valores Como
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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afirma a autora trata-se de um ldquosistema apreciativo modelizador das suas praacuteticas educativas
Da interacccedilatildeo entre o saber (documentalteoacuterico e experiencial) e o ciclo praacuteticareflexatildeo
resulta a reconstruccedilatildeo das suas teorias subjectivas e o desenvolvimento da sua competecircncia
profissionalrdquo (Vieira 1993 p 26)
Estes encontros de reflexatildeo deveratildeo assim constituir-se como tempos e espaccedilos
privilegiados de interaccedilatildeo social onde atraveacutes da colaboraccedilatildeo do outro cada qual procure
reequacionar os conhecimentos adquiridos e apropriar-se de outros que lhe permitiratildeo resolver
alguns problemas que dificilmente conseguiria resolver sem apoio especializado
Nesta linha de pensamento a supervisatildeo assume pois particular importacircncia na medida
em que se
trata de uma praacutetica acompanhada interactiva colaborativa e reflexiva que tem como objectivo contribuir para desenvolver no candidato a professor o quadro de valores de atitudes de conhecimento bem como as capacidades e as competecircncias que lhe permitam enfrentar com progressivo sucesso as condiccedilotildees uacutenicas de cada acto educativo (Saacute-Chaves 1994 p 150) Na verdade para analisar e interpretar a praacutetica pedagoacutegica eacute necessaacuterio suscitar
questionamento sobre conhecimentos preacutevios e permitir a aquisiccedilatildeo de novos conhecimentos
desencadeados pela reflexatildeo sobre a praacutetica Para tal seraacute importante valorizar os conteuacutedos
das vaacuterias disciplinas do curriacuteculo e aplicaacute-los em contexto educativo construindo assim uma
visatildeo inter e transdisciplinar do conhecimento
Neste percurso todos os professores envolvidos no processo formativo (formandos
supervisores e supervisores-cooperantes) ldquosatildeo convidados a levar a cabo a tarefa da reflexatildeo
de forma a transcender a praacutetica educativa comum assumindo no processo niacuteveis
diferenciados de responsabilidaderdquo (Schoumln 1992 p 284) Foi assim que nos estudos de Schoumln
nos quais desenvolveu o seu practium reflexivos muitos formandos aprenderam a estabelecer
um diaacutelogo com as suas experiecircncias de aula e a compreender que podiam usar este diaacutelogo
para orientar e controlar a sua aprendizagem
Esta praacutetica eacute igualmente caracterizada pela partilha e trocas reciacuteprocas orquestradas
ldquoa muitas vozes onde cada um aprende a escutar o outro com uma maior atenccedilatildeo e valoraccedilatildeo
criacuteticardquo (Schoumln 1992 pp 284-285) permitindo uma formaccedilatildeo interativa-reflexiva baseada
numa aprendizagem experienciada onde a partilha de dificuldades e preocupaccedilotildees permitiraacute
uma construccedilatildeo colaborativa de saberes
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
56
Esta abordagem da formaccedilatildeo concebe assim um ldquoconhecimento profissional
contextualizado e sistematizado numa permanente dinacircmica interactiva entre a acccedilatildeo o
pensamento e a reflexatildeordquo (Alarcatildeo 2001b p 17) Schoumln em Educating the Reflective
Pratitioner (1987) sintetiza este pensamento pedagoacutegico defendendo uma formaccedilatildeo com uma
forte componente reflexiva a partir de situaccedilotildees praacuteticas reais permitindo ao formando sentir-
se capaz de enfrentar as situaccedilotildees sempre novas e diferentes com que se vai deparar em sala
de aula e ldquotomar as decisotildees apropriadas nas zonas de indefiniccedilatildeo que a caracterizamrdquo (Alarcatildeo
2005 p 11)
Para compreender a formaccedilatildeo destes profissionais seraacute necessaacuterio irromper na
compreensatildeo da sua proacutepria atividade profissional onde o saber-fazer soacutelido teoacuterico e praacutetico
criativo e inteligente permitiraacute que a sua praxis se desenvolva em cenaacuterios instaacuteveis e
complexos que exigem uma capacidade de reflexatildeo constante e que seja consentacircnea com a
realidade vivenciada (Alarcatildeo 2005)
Schoumln salienta ainda o valor epistemoloacutegico de uma praacutetica inteligente e refletida
desafiando os profissionais envolvidos por um lado a aplicarem rotinas de regras conhecidas
atraveacutes de processos mentais heuriacutesticos corretos Por outro a darem respostas a questotildees e
problemaacuteticas novas inventando novos saberes e novas teacutecnicas produzidas no aqui e agora
dando espaccedilo agrave criaccedilatildeo do conhecimento contextualizado Alarcatildeo (2005) acrescenta que estes
profissionais devem ldquoalinhar-se ao lado dos conhecimentos declarativo e processual
desenvolvidos por uma epistemologia cientiacutefica e teacutecnicardquo (p 17)
Eacute importante que o formando reflita sobre a sua accedilatildeo pois o conhecimento profissional
implica um ldquoconhecimento situado na accedilatildeo holiacutestico criativo pessoal construiacutedo um
conhecimento que depende entre outras coisas da capacidade do profissional para apreciar o
valor das suas decisotildees e as consequecircncias que delas decorremrdquo (Alarcatildeo 2005 pp18-19)
encarando esses momentos como privileacutegios para poder desenvolver competecircncias e testar a
sua proacutepria capacidade de pensar e de agir
Esta fase a que Dewey chamou de reelaboraccedilatildeo mental da ideia envolve todos os
elementos do processo que ocuparam o pensamento e que eacute muito importante na ligaccedilatildeo dos
elementos desconexos na sua anaacutelise e na eficaacutecia desta atividade reflexiva
Consciente do papel do formador de professores nesta fase de desenvolvimento
profissional do futuro professor e da importacircncia de uma atitude reflexiva face agrave sua praacutetica
este deve promover a colaboraccedilatildeo no seio dos grupos de formandos entre estes e os
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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formadores e entre os formandos com vista ao desenvolvimento de atitudes e competecircncias
e de uma cultura profissional do formando assente na colaboraccedilatildeo
Esta dimensatildeo da formaccedilatildeo bem como da atividade profissional de professores e de
formadores constitui em nosso entender um dos preacute-requisitos essenciais para um novo
conceito de desenvolvimento profissional aqui entendido como ldquoprocesso que pode ser
individual ou coletivo mas que se deve contextualizar no local de trabalho do docente mdash a
escola mdash e que contribui para o desenvolvimento das suas competecircncias profissionais atraveacutes
de experiecircncias de diferente iacutendole tanto formais como informaisrdquo (Marcelo 2009 p 10)
Estas praacuteticas colaborativas assentes num processo de supervisatildeoreflexivo enquadrado num
dispositivo com caracteriacutesticas de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo baseiam-se no construtivismo
atendendo que o sujeito aprende de uma forma ativa implicando-se nas tarefas concretas de
ensino avaliaccedilatildeo observaccedilatildeo e reflexatildeo
32 A Estrateacutegia de Investigaccedilatildeo-AccedilatildeoFormaccedilatildeo
Apesar de jaacute o termos dito anteriormente sublinhamos que o ano de estaacutegio eacute um ano
em que o formando muitas vezes pela primeira vez se confronta com as suas dificuldades
mas eacute tambeacutem um ano onde acompanhado pelos seus supervisores e outros agentes
educativos tem a oportunidade de desenvolver as suas capacidades e aprender a ultrapassar
essas dificuldades Neste processo pretende-se proporcionar oportunidades de reflexatildeo e de
accedilatildeo sem que se desenvolva no futuro professor uma atitude de compromisso como agente de
mudanccedila com os propoacutesitos morais do ensino de modo a que adquira e desenvolva
ldquoconhecimentos competecircncias e inteligecircncia emocional essenciais ao pensamento
profissionalrdquo (Day 1999 p 4) Como forma de potenciar esse desenvolvimento o autor refere
ainda como metodologia o recurso a processos de supervisatildeoformaccedilatildeo enquadrados num
processo de investigaccedilatildeo-formaccedilatildeo (dado o campo em que se desenvolve) visando elevar esse
valor formativo e direcionando-o para a investigaccedilatildeo e para um questionamento autorreflexivo
sistemaacutetico e colaborativo que eacute extensivo a todos os participantes incluindo naturalmente os
formadores
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Este modo de pensar e de agir em formaccedilatildeo surge em crescendo com uma busca
sistemaacutetica de compreensatildeo e melhoria das praacuteticas atraveacutes da anaacutelise dos problemas e da
procura de soluccedilotildees (Alonso 2004 Elliot 1976 1990 1991 Gimeno Sacristaacuten amp Peacuterez
Gomes 1995 Zeichner 2000) sempre associado agrave ideia de colaboraccedilatildeo e ao espiacuterito de
comunidade reflexiva
No entanto estas potencialidades da investigaccedilatildeo-accedilatildeo quer como metodologia de
investigaccedilatildeo quer como metodologia de formaccedilatildeo satildeo reconhecidas permitindo um estudo
sistemaacutetico das praacuteticas nos contextos de ocorrecircncia bem como uma construccedilatildeo de saberes
construiacutedos por essa via e que satildeo reinvestidos na praacutetica (Alonso 1998 2000 2004 Alonso
et al 2002 Moreira 2005 Cortesatildeo amp Stoer 1995 Freiman-Nemser 1990 Vieira 2003
Caetano 2004)
E dando ecircnfase a estas referecircncias Caetano (2004) afirma que
num sentido amplo a investigaccedilatildeo-acccedilatildeo pode ser entendida como um dispositivo de vaiveacutem entre investigaccedilatildeo e acccedilatildeo pelo que os saberes construiacutedos sobre e na acccedilatildeo satildeo reinvestidos nessa acccedilatildeo sendo necessaacuterio que em contexto educativo seja feita com a participaccedilatildeo (maior ou menor) dos professores (p 48)
Este facto eacute subscrito por Ponte (2002) ao referir-se agrave investigaccedilatildeo-accedilatildeo como um
instrumento concetual de grandes potencialidades nos processos de crescimento dos
professores quando a formaccedilatildeo facilita uma certa distacircnciaproximidade (cognitiva afetiva e
ideoloacutegica) entre processos internos de construccedilatildeo do conhecimento do professor e a
indagaccedilatildeo sistemaacutetica da praacutetica na situaccedilatildeo de formaccedilatildeo
A indagaccedilatildeo sistemaacutetica da praacutetica assente na reflexatildeo criacutetica visando a transformaccedilatildeo
apresenta-se como um processo que privilegia a construccedilatildeo do conhecimento a autoformaccedilatildeo
e sobretudo a melhoria das suas praacuteticas bem como uma melhoria da sua relaccedilatildeo com os pares
e a comunidade educativa favorecido pela autoconfianccedila que o formando vai adquirindo e do
significado que os pares atribuem agraves suas accedilotildees potenciando a transformaccedilatildeo das praacuteticas
caracterizada por Saacute-Chaves (2003) como a epistemologia praxeoloacutegica Esta
conceptualizaccedilatildeo na opiniatildeo de Imbernoacuten (2002) daacute ecircnfase agrave reflexatildeo criacutetica cooperada
orientada para as transformaccedilotildees educativas que influenciam a accedilatildeo do professor pois na
opiniatildeo do autor
A Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo eacute um potente procedimento para a formaccedilatildeo de professores graccedilas
agrave sua accedilatildeo cooperativa que implica um trabalho em equipa mediante o qual o professorado
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
59
orienta corrige e avalia os seus problemas e toma decisotildees para melhorar analisar e questionar
a praacutetica educativa No entanto noacutes natildeo queremos vecirc-la unicamente como um processo de
melhorar a praacutetica educativa mas tambeacutem de criaccedilatildeo de atitude e uma auto-consciecircncia da
realidade educativa e social e uma capacidade de tomar decisotildees para melhorar Um
ldquoinstrumento intelectual que permita analisar e interpretar a realidade educativa e social (hellip)
dentro de um marco de poliacutetica de colaboraccedilatildeo (auto)perfeiccedilatildeo dos professores e
(auto)formaccedilatildeo em novas habilidades meacutetodos e potencialidades analiacuteticas e motivar e
aprofundar a sua consciecircncia social e profissional assumindo alternativas adicionais de
renovaccedilatildeordquo (opcit p 61)
Nesta linha de pensamento Alarcatildeo (2002) caracteriza a investigaccedilatildeo-accedilatildeo como um
modelo de aprendizagem experiencial e reflexiva que visa a compreensatildeo de um problema
atraveacutes da observaccedilatildeo reflexiva e da organizaccedilatildeo de planos de supervisatildeoformaccedilatildeo para os
resolver Para tal a autora aponta a atitude o discurso e a praacutetica da investigaccedilatildeo-accedilatildeo-
formaccedilatildeo no contexto de uma escola reflexiva em desenvolvimento e aprendizagem como
caracteriacutesticas que os atores do processo devem assumir atraveacutes de uma i) integraccedilatildeo
sistemaacutetica contribuindo para o desenvolvimento global da escola ii) caraacutecter colaborativo
desencorajador de atitudes individualistas e fechadas iii) natureza praacutetica contextualizada e
iv) formaccedilatildeo pela reflexatildeo situada na acccedilatildeordquo (Alarcatildeo 2002 p 230)
Recorremos a Mcniff amp Whitehead (2003) que trazem um siacutentese elucidativa das
dimensotildees desta estrateacutegia de formaccedilatildeo
- A dimensatildeo ontoloacutegica que evidencia a pluralidade de valores dos diferentes atores
do processo de investigaccedilatildeoreflexiva apelando agrave justiccedila social aliada agrave transformaccedilatildeo da accedilatildeo
pessoal
- A dimensatildeo epistemoloacutegica remete-nos para a consciencializaccedilatildeo de que o
conhecimento natildeo eacute completo nem estaacutetico orientando-nos para a necessidade de um
constante desenvolvimento pela via do acesso a novos conhecimentos que se traduziratildeo na
resposta agrave complexidade das situaccedilotildees educativas e por fim
- A dimensatildeo metodoloacutegica que poderaacute passar pela gestatildeo de conflitos caso eles surjam
entre os vaacuterios intervenientes no processo de Investigaccedilatildeo AccedilatildeoFormaccedilatildeo refletindo-se na
busca permanente de consensos responsaacuteveis onde existe lugar para a flexibilidade de
pensamento e de accedilatildeo Pretende ainda uma accedilatildeo educativa interativa onde se desenvolve um
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
60
trabalho de equipa onde o desenvolvimento da competecircncia relacional seja efetivo e os valores
da interaccedilatildeo sejam uma constante nesta reflexatildeo grupal
Estas dimensotildees remetem para a complexidade da Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo e que adveacutem da
natureza dos seus objetivos ldquoque se inscrevem em diversos patamares agir e investigar na
acccedilatildeo para a transformar formar na acccedilatildeo transformando-a investigara transformaccedilatildeo para
reconstruir o conhecimento praxeoloacuteligordquo (Maacuteximo-Esteves 2008 p 11) Esta complexidade
remete-nos natildeo soacute para a ldquocomplexidade da investigaccedilatildeo-accedilatildeo como (hellip) tambeacutem para a
integraccedilatildeo do papel educacional do professor com o papel de investigador (hellip) e que adveacutem
da aproximaccedilatildeo do subjetivo do praacutetico e do investigador do observador e do observadordquo
(Idem)
No acircmbito educativo promover a mudanccedila atraveacutes da Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo pode
considerar-se um processo emancipatoacuterio relevante na medida em que age perante situaccedilotildees
concretas contextualizadas propotildee respostas para os problemas identificados investe-as na
praacutetica e avalia os resultados o impacto da accedilatildeo e redesenhar de novos ciclos para a procura
de soluccedilotildees algo que eacute sempre visto como uma mais-valia para as praacuteticas em anaacutelise
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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CAPITULO III
DIMENSOtildeES DA COMPETEcircNCIA DOCENTE NO MICROCONTEXTO
DE SALA DE AULA
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Nos uacuteltimos anos temos vindo a tomar consciecircncia de que o professor eacute a
chave da mudanccedila educativa para a melhoria da escola (hellip) Eacute aquilo que os
professores pensam aquilo em que crecircem e aquilo que fazem ao niacutevel da sala
de aula que define o tipo de aprendizagem feita pelos jovens (hellip) Do mesmo
modo que as suas carreiras as suas esperanccedilas e sonhos oportunidades e
aspiraccedilotildees ou a sua frustraccedilatildeo tambeacutem satildeo importantes para o seu
empenhamento entusiasmo e moral (Hargreaves 1998 IX)
1 Conceito de Competecircncia e Formaccedilatildeo de Professores Do Treino de
Skills agrave Situacionalidade da Competecircncia
O conceito de competecircncia em educaccedilatildeo eacute um conceito polisseacutemico quer ele seja visto
numa perspetiva sincroacutenica considerando a sua definiccedilatildeo num mesmo tempo e espaccedilos
diversos quer seja visto numa perspetiva histoacuterica focado nos diferentes sentidos que lhe foram
atribuiacutedos ao longo dos tempos
Embora o conceito mude de sentido consoante o domiacutenio onde eacute utilizado neste
momento pretendemos focar-nos no conceito de competecircncia relacionado com a competecircncia
docente abordado nas Ciecircncias de Educaccedilatildeo De forma muito breve baseados nos estudos de
Joyce (1975) referimos a entrada do conceito de competecircncia no campo educativo que se
apresenta nos Estados Unidos na deacutecada de 60 Esta eacute uma eacutepoca em que a formaccedilatildeo de
professores do ensino primaacuterio se implementa com programas de estudos sugeridos pelo
United States Office of Education (USOE) programas estes baseados em competecircncias (Skills)
apresentados sob a forma de comportamentos observaacuteveis
Nestes programas as competecircncias satildeo designadas por rotinas comportamentais Os
programas de formaccedilatildeo de professores satildeo assim definidos tendo por base comportamentos
observaacuteveis de iacutendole diversa oralidade escrita e comportamentos natildeo-verbais Swanchek e
Campbell (1981 cit por Esteves 2009) definem as caracteriacutesticas dos programas PCBTE
(PerfomanceCompetency Based Teacher Education) nos seguintes aspetos ldquoi) a
especificaccedilatildeo precisa das competecircncias ou comportamentos a serem apreendidos ii) a
modularizaccedilatildeo da instruccedilatildeo iii) a avaliaccedilatildeo e o feedback iv) a personalizaccedilatildeo [e a] v) a
experiecircncia de campordquo (p 39)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Referimos tambeacutem o trabalho de Paquay Perrenoud Altet e Charlier (1998) que
definem competecircncia profissional ldquocomo um conjunto diversificado de saberes profissionais
de esquemas de accedilatildeo e atitudes mobilizados no desempenho da profissatildeordquo (p15) Estes autores
integram as dimensotildees cognitiva afetiva sensitiva e praacutetica e apresentam uma dupla
perspetiva (teacutecnica e didaacutetica) na preparaccedilatildeo dos conteuacutedos fazem ainda referecircncia a uma
perspetiva relacional pedagoacutegica e social na adaptaccedilatildeo das interaccedilotildees em contexto
Por sua vez Roldatildeo (2003a) refere-se agrave competecircncia como o ldquosaber que se traduz na
capacidade efectiva de utilizaccedilatildeo e manejo ndash intelectual verbal ou praacuteticordquo (p 20) Jonnaert
(2012) apoiado na perspetiva socio-construtivista refere que ser competente eacute saber mobilizar
coordenar uma seacuterie de recursos tratar com sucesso tarefas diferentes verificar a pertinecircncia
social dos resultados dessas accedilotildees que devem ser construiacutedas situadas reflexivas e
temporariamente viaacuteveis
Em Portugal o conceito de competecircncia assume-se no campo educacional nos anos 90
do seacuteculo XX relacionado ldquocom a aprendizagem dos alunos a formaccedilatildeo de professores e a
formaccedilatildeo profissional em geralrdquo (Esteves 2009 p 38) O seu reconhecimento nos diferentes
campos natildeo passa apenas pela identificaccedilatildeo de situaccedilotildees-problema e pela sua resoluccedilatildeo mas
tambeacutem pelo domiacutenio dos saberes da capacidade de mobilizaccedilatildeo desses saberes em diferentes
situaccedilotildees e ateacute pelo domiacutenio das orientaccedilotildees eacuteticas em cada momento Esta mobilizaccedilatildeo de
recursos realizada de forma pertinente criativa recorrendo a muacuteltiplos recursos cognitivos
valores atitudes esquemas de perceccedilatildeo e de raciociacutenio permite o desenvolvimento de
competecircncias em accedilatildeo de forma contextualizada Muitos destes saberes satildeo construiacutedos no
decorrer da praacutetica Portanto satildeo ldquoos designados saberes da experiecircnciardquo integrados na
componente praacutetica da formaccedilatildeo inicial (praacutetica pedagoacutegica) desenvolvendo os recursos
baacutesicos para que os formandos possam atuar em contexto sala de aula e noutros contextos
(Perrenoud 2002)
Satildeo vaacuterios os autores (Le Boterf 1994 2000 2005 2007 Perrenoud 1999 2000 2001
2002 Altet 2001 Zabala amp Arnau 2007 Esteves 2009 Mesquita 2011 Joannert 2012) que
tecircm dedicado especial atenccedilatildeo agraves questotildees da(s) competecircncia(s) em Ciecircncias da Educaccedilatildeo
Assim sendo parece-nos importante desconstruir o conceito de competecircncia usado no singular
e o conceito de competecircncias usado no plural Na opiniatildeo de Esteves (2009) estes distinguem-
se da seguinte forma
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
65
A competecircncia remete para a qualidade que separa profissionais competentes de profissionais incompetentes (hellip) Nesta acepccedilatildeo competecircncia eacute tomada como um traccedilo global inerente agrave acccedilatildeo do individuo ou do grupo profissional traccedilo sobre o qual eacute possiacutevel emitir um juiacutezo de valorrdquo (hellip) as competecircncias o conceito remete para um certo nuacutemero de traccedilos particularizaacuteveis evidenciados na acccedilatildeo que podem ser observados e descritos sem que necessariamente se lhes tenha que atribuir um valor (pp 38-39)
Como eacute que o professor constroacutei as suas competecircncias pessoais e profissionais Como
se desenvolvem Quais as mais importantes no desempenho docente Podem as competecircncias
ser avaliadas Se sim como
Levy-Leboyer (1996) refere-se agrave competecircncia como um saber em accedilatildeo associado agrave
experiecircncia assumindo algumas carateriacutesticas a saber i) adaptabilidade - um professor
competente eacute aquele que num determinado domiacutenio enfrenta eficazmente uma situaccedilatildeo
inesperada ii) uma competecircncia eacute sempre singular e pertence exclusivamente ao individuo
exprime-se na adequaccedilatildeo da sua accedilatildeo a uma situaccedilatildeo iii) eacute difiacutecil saber como se constroacutei a
competecircncia se eacute inferida pela accedilatildeo da pessoaprofessor ou pela atividade realizada com ecircxito
(Minet Parlier amp De Witte 1994) Na perspetiva de Le Boterf (1997) eacute associada ao saber em
accedilatildeo ao saber gerir uma situaccedilatildeo complexa com sucesso Nunca se ldquovecircrdquo uma competecircncia
apenas se observam os seus efeitos e iv) a ecircnfase recai natildeo tanto na posse de saberes saber-
fazer ou teacutecnicas mas mais na capacidade de mobilizar e conjugar respondendo eficazmente
a novas situaccedilotildees pelo que a competecircncia soacute pode ser compreendida em referecircncia ao sujeito
e ao contexto no qual esta se situa Esta orientaccedilatildeo conceptual de competecircncias remete-nos
para um referencial de competecircncias profissionais consideradas necessaacuterias para exercer a
profissatildeo
O ldquosaber cientifico constroacutei-se com base em paradigmas isto eacute em nuacutecleos de
princiacutepios e hipoacuteteses fundamentais que determinam tal e qual o modo de abordagem de uma
realidaderdquo (Paquay amp Wagner 2001 p 135) e que se refletem na accedilatildeo e na questatildeo colocada
anteriormente Como se constroem as competecircncias profissionais
Logo essas competecircncias assentam nos saberes saber-fazer saber-ser e saber-saber
pois tornam-se no referencial profissional do professor Segundo Paquay e Wagner (2001)
organizam-se ainda em seis paradigmas qualificativos do professor
i) O Professor culto aquele que domina os saberes ii) Um teacutecnico que adquiriu sistematicamente os saberes-fazer teacutecnicos
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
66
iii) Um praacutetico artesatildeo que adquiriu no proacuteprio terreno esquemas de accedilatildeo contextualizados iv) Um praacutetico reflexivo que construiu para si um ldquosaber da experiecircnciardquo sistemaacutetico e comunicaacutevel mais ou menos teorizado v) Um ator social envolvido em projetos colectivos e consciente dos desafios antropossociais das praacuteticas quotidianas e vi) Uma pessoa em relaccedilatildeo a si mesma e em desenvolvimento (Paquay amp Wagner 2001 p 136)
Assim de acordo com o paradigma adoptado diferem os modos de accedilatildeo que incluem
objetivos-chave e estrateacutegias prioritaacuterias de formaccedilatildeo de professores que devem ser abordados
na formaccedilatildeo inicial e que iremos apresentar na figura 2
Figura 2 Referencial de competecircncias profissionais (Fonte Adaptado de Paquay ampWagner 2001 p 137)
Esta visatildeo multidimensional da accedilatildeo do professor apontada no referencial de
competecircncias profissionais corresponde a ldquodimensotildees reconhecidas como importantes e
constitutivas do profissionalismo do professorrdquo (Paquay amp Wagner 2001 p 136) contrariando
um pouco a visatildeo tradicional do ensino baseada na ideia do professor como transmissor de
saberes disciplinares Esta natureza multidisciplinar do conhecimento do professor baseada nas
sete dimensotildees propostas por Shulman (1987) caracteriza o conhecimento praacutetico na profissatildeo
docente
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
67
i) Conhecimento do conteuacutedo que se refere aos conteuacutedos estruturas e toacutepicos a ensinar ii) Conhecimento do curriculum que se refere ao domiacutenio especiacutefico do programa e materiais que servem como ferramentas de trabalho dos professores iii) Conhecimento pedagoacutegico geral que se refere ao domiacutenio dos princiacutepios geneacutericos subjacentes agrave organizaccedilatildeo e gestatildeo de classe mas que natildeo satildeo exclusivos de uma disciplina e transcendem a dimensatildeo conteuacutedo iv) Conhecimento dos fins objetivos e valores educacionais e dos fundamentos filosoacuteficos e histoacutericos v) Conhecimento dos aprendentes e das suas caracteriacutesticas que diz respeito agrave consideraccedilatildeo da individualidade de cada aprendente nas suas muacuteltiplas dimensotildees e do caraacutecter desta vi) Conhecimento pedagoacutegico do conteuacutedo que se caracteriza como uma especial amaacutelgama de ciecircncia e pedagogia capaz de tomar cada conteuacutedo compreensiacutevel pelos aprendentes quer atraveacutes da sua desconstruccedilatildeo quer atraveacutes do conhecimento e controlo de todas as outras dimensotildees como variaacuteveis no processo de ensino-aprendizagem e que eacute exclusivo dos professores e vii) conhecimento dos contextos que remete para as dimensotildees que vatildeo da especificidade da sala de aula e da escola agrave natureza particular das comunidades e das culturas (p 12)
Shulman (1987) salienta ainda que para agir profissionalmente em situaccedilotildees
complexas o professor recorre a esta multidimensionalidade dos diferentes saberes
profissionais baseando-se igualmente na reflexatildeo na e sobre a accedilatildeo (a que tambeacutem se refere
Shoumln 2000) tornando-se uma competecircncia necessaacuteria na praacutetica profissional docente Para
este saber agir eacute igualmente condiccedilatildeo base que o professor tenha plena consciecircncia dos seus
conhecimentos capacidades saberes emoccedilotildees valores e atitudes que ditaratildeo a diferenccedila na
sua passagem agrave accedilatildeo em contexto Le Boterf (2000) refere ainda que a competecircncia se
manifesta na junccedilatildeo de trecircs fatores essenciais o saber agir que pressupotildee saber mobilizar e
combinar recursos o querer agir intrinsecamente ligado ao fator motivaccedilatildeo do profissional e
o poder agir refletindo-se em accedilatildeo imediata
Assim sendo que tipo de competecircncias seraacute importante integrar num plano de formaccedilatildeo
de professores para que os formandos adquiram uma formaccedilatildeo de qualidade que os prepar
para responder adequadamente agraves solicitaccedilotildees que os diferentes contextos educativos onde
iratildeo atuar lhes colocam Intentando numa resposta adequada a esta questatildeo jaacute na deacutecada de
70 do seacuteculo passado as autoridades governamentais americanas disponibilizaram um plano
de formaccedilatildeo de professores baseado em comportamentos observaacuteveis (Burke Hansen
Houston amp Johnson 1975) com criteacuterios validados mais tarde e que estariam de acordo com
o National Consortium of Competency Based Education Centres Neste programa enfatiza-se
o papel de cada um dos intervenientes no processo formativo formando formador instituiccedilatildeo
de formaccedilatildeo e investigador De seguida apresentamos de forma esquemaacutetica os criteacuterios que
descrevem e avaliam os programas baseados no desenvolvimento de competecircncias e que ainda
hoje podem ser muito uacuteteis como orientaccedilatildeo de anaacutelise e de planificaccedilatildeo da formaccedilatildeo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Quadro 2 Criteacuterios para descrever e avaliar os programas baseados no desenvolvimento de competecircncias
Especificaccedilotildees das Competecircncias
1 As competecircncias baseiam-se numa anaacutelise do papel ou papeacuteis profissionais eou numa formaccedilatildeo teoacuterica das responsabilidades profissionais
2 As afirmaccedilotildees sobre as competecircncias descrevem resultados esperados da performance de funccedilotildees relacionadas com a profissatildeo ou aqueles conhecimentos skills e atitudes que se considera serem essenciais para a performance dessas funccedilotildees
3 As definiccedilotildees das competecircncias facilitam uma avaliaccedilatildeo referida ao criteacuterio 4 As competecircncias satildeo tomadas como preditores potenciais de eficaacutecia profissional e satildeo sujeitas a
procedimentos de validaccedilatildeo contiacutenua 5 As competecircncias satildeo especificadas e tornadas puacuteblicas antes da instruccedilatildeo 6 Os formandos que completam programas de formaccedilatildeo baseados nas competecircncias mostram uma
vasta gama de perfis de competecircncias
Instruccedilatildeo
7 O plano de instruccedilatildeo deriva e estaacute articulado com competecircncias especiacuteficas 8 A Instruccedilatildeo que suporta o desenvolvimento de uma competecircncia estaacute organizada em unidades com
uma extensatildeo tal que possa ser gerida 9 A instruccedilatildeo eacute organizada e concretizada de modo a acomodar o estilo de aprendizagem do formando
a sua preferecircncia por uma dada sequecircncia o ritmo e as necessidades detectadas 10 A progressatildeo do formando eacute decidida apoacutes ter demonstrado uma competecircncia 11 A extensatildeo do progresso do formando eacute dada a conhecer a este ao longo do programa 12 As especificaccedilotildees da instruccedilatildeo satildeo revistas e modificadas com base nos dados do feedback
Avaliaccedilatildeo
13 As medidas de uma competecircncia estatildeo validamente relacionadas com a definiccedilatildeo dessa competecircncia 14 As medidas de uma competecircncia satildeo especiacuteficas realistas sensiacuteveis a flutuaccedilotildees 15 As medidas de uma competecircncia descriminam com base em padrotildees (standards) o cenaacuterio para a
demonstraccedilatildeo das competecircncias 16 Os dados proporcionados pela mediccedilatildeo das competecircncias satildeo utilizaacuteveis e uacuteteis para a tomada de
decisotildees 17 As medidas e os padrotildees das competecircncias satildeo especificados e tornados puacuteblicos antes do processo
de instruccedilatildeo
Governo e Gestatildeo
18 Satildeo produzidas declaraccedilotildees poliacuteticas escritas para orientar em termos gerais a estrutura o conteuacutedo a operacionalizaccedilatildeo e a base de recursos do programa
19 As funccedilotildees responsabilidades procedimentos e mecanismos de gestatildeo satildeo definidos claramente e tornados expliacutecitos
Programa Global
20 O pessoal docente associado ao programa tem a intenccedilatildeo de modelar as atitudes e os comportamentos desejados da parte dos estudantes do curso
21 Satildeo tomadas medidas para orientaccedilatildeo avaliaccedilatildeo aperfeiccediloamento e recompensa do pessoal docente 22 A investigaccedilatildeo e as atividades de disseminaccedilatildeo satildeo parte integrante de todo o programa de instruccedilatildeo 23 Eacute necessaacuteria flexibilidade institucional em relaccedilatildeo a todos os aspectos do programa 24 O programa eacute planeado e operacionalizado como um sistema completamente unificado e integrado
Fonte Burke Hansen Houston e Johnson (1975 cit por Burke 1989 pp 13-14)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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O reconhecimento da explanaccedilatildeo do autor deve-se ao facto de ser possiacutevel sintetizar o
conceito de competecircncia com a explicitaccedilatildeo clara dos diferentes desempenhos evidenciando
ainda a alienaccedilatildeo da performance da competecircncia ao conhecimento subjacente agrave funccedilatildeo a
desempenhar facto que se patenteou a partir da deacutecada de 80 em que se evidenciou um
conjunto de competecircncias geneacutericas como explicaccedilatildeo para o sucesso dos profissionais com
niacutevel excelente Essas competecircncias surgiram tendo por base um estudo identificado por
Byatsis (1982) realizado com 2000 gestores com 41 profissotildees diferentes a partir do qual se
desenhou o perfil do profissional competente a saber i) preocupar-se com o impacto do seu
desempenho ii) usar diagnoacutestico de conceitos iii) orientar-se para a eficiecircncia iv) ser pro-
ativo v) concetualizar vi) ser autoconfiante vii) realizar apresentaccedilotildees orais viii) praticar a
gestatildeo de processos grupais ix) praticar um poder socializado x) ter objetividade percetiva
xi) ter autocontrolo e xii) ter energia e adaptabilidade em todas as situaccedilotildees que requerem a
sua intervenccedilatildeo (Esteves 2009) No entanto e porque falamos de formaccedilatildeo de professores era
importante perceber se estes estavam presentes nos programas de formaccedilatildeo
Perrenoud (2000) referindo-se a um estudo realizado com professores de Genebra
identificou dez competecircncias essenciais para classificar um professor como competente de
entre as quais destacamos as seguintes pela relevacircncia que tecircm para este estudo
i) Organizar e coordenar situaccedilotildees de aprendizagem que se subdividem em
competecircncias especiacuteficas conhecer os conteuacutedos a serem lecionados trabalhar a partir das
representaccedilotildees dos alunos conhecer possiacuteveis entraves para a aprendizagem planificar
sequecircncias didaacuteticas aliciantes e envolver os alunos em projetos de pesquisa
ii) Administrar a progressatildeo das aprendizagens administrar situaccedilotildees problema e
ajustaacute-las ao niacutevel dos alunos adquirir uma visatildeo longitudinal dos objetivos a atingir
estabelecer relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica no decurso do processo de ensino e aprendizagem
observar e avaliar os alunos em situaccedilotildees de aprendizagem numa oacutetica e abordagem formativa
e avaliar periodicamente as progressotildees por forma a que estas se reflitam na(s)
planificaccedilatildeo(otildees) seguinte(s)
iii) Conceber mostrar e evidenciar evoluccedilatildeo nos dispositivos de diferenciaccedilatildeo suscitar
motivaccedilatildeo para aprender explicitar a sua relaccedilatildeo com o saber e dar sentido agraves aprendizagens
desenvolvendo no aluno a sua capacidade de autoavaliaccedilatildeo instituir um conselho de alunos
negociar com eles as regras e fazer alguns contratos caso se justifiquem
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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iv) Envolver os alunos nas suas aprendizagens e no seu trabalho suscitar o desejo de
aprender explicitar a relaccedilatildeo com o saber o sentido do trabalho escolar e desenvolver na
crianccedila a capacidade de auto-avaliaccedilatildeo instituir um conselho de alunos e negociar com eles
diversos tipos de regras e de contratos e oferecer atividades opcionais
v) Trabalhar em equipa elaborar projetos em equipa com representaccedilotildees comuns a
todos os membros enfrentar e analisar em conjunto situaccedilotildees complexas em contexto de
praacutetica profissional e administrar conflitos interpessoais
vi) Enfrentar os deveres e os dilemas eacuteticos da profissatildeo prevenir a violecircncia na escola
e fora dela lutar contra os preconceitos e as discriminaccedilotildees sexuais eacutetnicas e sociais participar
da criaccedilatildeo de regras de vida comum referentes agrave disciplina na escola agraves sanccedilotildees e agrave apreciaccedilatildeo
da conduta analisar a relaccedilatildeo pedagoacutegica a autoridade e a comunicaccedilatildeo em aula desenvolver
o senso de responsabilidade a solidariedade e o sentimento de justiccedila
vii) Utilizar tecnologias ao serviccedilo do ensino informaacutetica na escola utilizada como um
meio de ensino utilizar editores de texto explorar as potencialidades didaacuteticas dos programas
utilizar as ferramentas multimiacutedia no ensino e desenvolver competecircncias fundamentadas numa
cultura tecnoloacutegica
O sentido pedagoacutegico das competecircncias e a subdivisatildeo em competecircncias especiacuteficas
surgem sempre fortemente associados
Por outro lado a abordagem de Joannert (2012) evidencia a importacircncia dos aspetos
cognitivos uma vez que ser competente eacute essencialmente pocircr em accedilatildeo um conjunto de
habilidades de conhecimentos e de capacidades que vatildeo ter impacto sobre a tarefa a executar
Seguindo a loacutegica deste debate teoacuterico e falando de programas de formaccedilatildeo eacute necessaacuterio
identificar a pertinecircncia e o tipo de competecircncias a desenvolver em programas de formaccedilatildeo de
professores Neste contexto levanta-se a questatildeo de como se configura a importacircncia de
determinadas competecircncias para justificar a sua integraccedilatildeo no plano de formaccedilatildeo A resposta
surge associada agrave importacircncia de analisar as situaccedilotildees em que essas competecircncias seratildeo
desenvolvidas Joannert (2012) ldquochega agrave conclusatildeo de que natildeo existe nenhum procedimento
de validaccedilatildeo experimental de competecircncias No melhor dos casos o investigador pode dizer a
frequecircncia com que observou esta ou aquela competecircncia em situaccedilatildeordquo (p 43)
Existe poreacutem uma certeza a competecircncia diz respeito agrave pessoa que eacute ou natildeo eacute
competente pois ldquoeacute uma excelecircncia que reconhecemos no outrordquo e tambeacutem que cada um se
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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reconhece ou natildeo em si (Rey 2002 p 25) Boterf (2007) realccedila ainda que essa abordagem
pessoalizada ldquopermite reencontrar o sujeito portador de competecircncias (hellip) pois as
competecircncias nada satildeo sem as pessoasrdquo (p 11) Acresce a esta certeza o pensamento infundado
de que seria uma moda de intelectuais transpondo esta terminologia para o mundo educacional
Aliaacutes Zabala e Arnau (2007) acreditam que a introduccedilatildeo do conceito de competecircncia em
educaccedilatildeo pretendia natildeo soacute ultrapassar as limitaccedilotildees do ensino tradicional baseado na
aprendizagem memoriacutestica e reprodutora mas tambeacutem responder agraves mudanccedilas efetuadas no
ensino superior por solicitaccedilatildeo de uma convergecircncia europeia bem como a necessidade de
perceber a verdadeira funcionalidade das aprendizagens e da sua relaccedilatildeo teoriapraacutetica e
finalmente perceber as respostas da escola agraves exigecircncias sociais da sociedade contemporacircnea
Tendo por base o mapa conceptual sobre o conceito de competecircncia aqui exposto
consideramos pertinente a elaboraccedilatildeo de um quadro siacutentese (quadro 3) evidenciando as
premissas de alguns dos autores que estudaacutemos assumindo como referecircncia as quatro
premissas inventariadas por Jonnaert (2012) i) um conjunto de recursos ii) que o sujeito pode
mobilizar iii) para lidar com uma situaccedilatildeo iv) com sucesso
Quadro 3 Siacutentese do Conceito de Competecircncia
Uma competecircncia
Faz referecircncia a um conjunto de
recursos
Que o sujeito pode mobilizar
Para lidar com uma situaccedilatildeo Com sucesso
D` Hainaut (1988)
Os saberes o saber fazer e o saber ser
Sem precisatildeo Identificando o tratamento para o problema
Exercendo adequadamente um papel uma funccedilatildeo ou uma atividade
Gillet (1991)
Um sistema de conhecimentos concetuais e processuais
Esses conhecimentos satildeo mobilizados em esquemas operatoacuterios
Onde identifica uma tarefa problema e procura a sua resoluccedilatildeo
Uma accedilatildeo eficaz
Perrenoud
(1999) De recursos Esses recursos satildeo mobilizaacuteveis
Um tipo definido de situaccedilotildees Agir eficazmente
Jonnaert (2012) As capacidades Selecionadas e coordenadas
De acordo com a pertinecircncia das situaccedilotildees
De forma a responder a tarefas diferentes com sucesso sendo situadas reflexivas e temporariamente viaacuteveis
Fonte Adaptado de Jonnaert (2012 p 47)
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Ser competente passa entatildeo pela capacidade de identificar um conjunto de recursos
que o profissional mobiliza para resolver uma situaccedilatildeo-problema com sucesso em contexto
Apoiados em Perrenoud (1999) identificamos a competecircncia tendo em conta trecircs
caracteriacutesticas capacidade de tomar decisotildees capacidade de mobilizar recursos e agir
construir saberes coordenar e articular esquemas de accedilatildeo ou de pensamento Uma boa situaccedilatildeo-
problema leva o profissional a mobilizar todos os recursos (afetivos cognitivos relacionais
conceptuais e processuais) com vista agrave resoluccedilatildeo do problema O conceito de cooperaccedilatildeo e
intervenccedilatildeo na resoluccedilatildeo de um determinado problema ilustra muito bem essa questatildeo
Tal como refere Esteves (2002) a ldquomobilizaccedilatildeo de recursos tem a ver com as
circunstacircncias com o desejo ou com o propoacutesitordquo (p 123) tendo subjacente sempre a
componente eacutetica cientiacutefica e motivacional integradas nas quatro dimensotildees da competecircncia
docente de que falaremos a seguir
Como vimos o conceito de competecircncia remete para um conjunto de recursos que se
mobilizam para a intervenccedilatildeo em situaccedilotildees reais em que participamos Recursos esses de
natureza cognitiva volitiva e afetiva que se interligam de maneiras diversas conforme as
situaccedilotildees
O estudo e a formaccedilatildeo da competecircncia eacute na sua essecircncia um campo complexo A sua
mobilizaccedilatildeo no quotidiano profissional eacute tambeacutem um campo de elevada complexidade
Falamos de uma ldquorede operatoacuteria na medida em que cada recurso articulado com outro recurso
permite otimizar a utilizaccedilatildeo de conjuntos de recursos mobilizados Em corolaacuterio um recurso
mobilizado natildeo pode em caso algum inibir outro recursordquo (Jonnaert 2012 p 87) isto porque
a complementaridade dos recursos e a sua otimizaccedilatildeo reciacuteproca satildeo determinantes para o
sucesso da accedilatildeo Esta articulaccedilatildeo em cascata (figura 3) apresentada na paacutegina seguinte
mobiliza-se pela articulaccedilatildeo dos diferentes saberesrecursos coerentes e compatiacuteveis entre si
de acordo com as finalidades a atingir
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Figura 3 Arquitetura da Competecircncia ldquoem cascatardquo (Fonte Jonnaert 2012 p 86)
A mobilizaccedilatildeo das componentes da competecircncia eacute feita em situaccedilatildeo e em interaccedilatildeo com
outros recursos e estrateacutegias utilizados para ultrapassar obstaacuteculos que possam surgir A
complexidade deste processo analisa-se e resolve-se em situaccedilatildeo com as dinacircmicas que lhe
satildeo inerentes Esta eacute mutaacutevel e evolui no decurso da accedilatildeo do sujeito Mais ainda o sujeito age
em funccedilatildeo da representaccedilatildeo7 que construiu sobre a situaccedilatildeo (Joannert 2012) Quando falamos
da profissatildeo docente e do desenvolvimento de competecircncia no decurso da formaccedilatildeo teremos
de analisar as diferentes tendecircncias e perspetivas sabendo que a
Formaccedilatildeo de professores eacute a aacuterea de conhecimentos investigaccedilatildeo e de propostas teoacutericas e praacuteticas que no acircmbito da Didaacutectica e da Organizaccedilatildeo Escolar estuda o processo atraveacutes do qual os professores em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio ndash se implicam individualmente ou em equipa em experiecircncias de aprendizagem atraveacutes das quais adquirem ou melhoram os seus conhecimentos competecircncias ou disposiccedilotildees e que lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino do curriacuteculo e da escola com o objectivo de melhorar a qualidade da educaccedilatildeo que os alunos recebem (Garcia 1999 p 26)
Este saber referenciado por Garcia (1999) apresenta-se como um conjunto de
competecircncias mas com uma diferenccedila de conotaccedilatildeo pois sempre que pensamos ldquonum saberrdquo
associamos a um objeto social presente em livros publicaccedilotildees e pensamentos coletivos que
constituem as suas partes No entanto falar do saber enquanto competecircncia ldquoevoca natildeo soacute a
operacionalidade do saber como a sua aquisiccedilatildeo por parte do sujeito evidenciando uma
7 Modelo pessoal de organizaccedilatildeo dos conhecimentos relativamente a uma situaccedilatildeo particular Confrontado com uma situaccedilatildeo-problema um sujeito aborda-a sempre em funccedilatildeo da sua proacutepria representaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo (Joannert 2008)
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qualidade que lhe eacute intriacutensecardquo (Rey Carette DeFrance amp Kahn 2005 p 34) Assim ao
promover a aquisiccedilatildeo de competecircncias o processo formativo desenvolve no professor a
capacidade de agir tomando consciecircncia dos fins da sua accedilatildeo
Na verdade o processo de desenvolvimento da competecircncia traduz uma efetiva
transformaccedilatildeo envolvendo a ligaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica valendo-se de recursos
cognitivos (conhecimento teacutecnicas habilidades) que tem que ter um caraacuteter aplicativo (saber
aplicar combinar transferir em situaccedilotildees concretas e com finalidade bem delineada) caraacuteter
contextualizado (a accedilatildeo desenvolve-se num determinado espaccedilo e tempo) caraacuteter reconstrutivo
(as competecircncias fazem sentido numa relaccedilatildeo permanente com a inovaccedilatildeo) e um caraacuteter
interativo (a aquisiccedilatildeo e desenvolvimento da competecircncia soacute acontece em interaccedilatildeo com as
pessoas e num dado contexto) (Cano 2005)
2 Sala de Aula ndash A Especificidade do Contexto
A sala de aula eacute um espaccedilo muito proacuteprio onde se vivenciam ambientes de
aprendizagem visando o sucesso educativo Para que os ambientes sejam produtivos eacute
necessaacuterio que alunos e professores estejam motivados desenvolvam atitudes positivas em
relaccedilatildeo a si e ao grupo-turma existam estruturas e processos para satisfazer as suas necessidades
e as do professor e se crie um ambiente em que os alunos adquiram ldquoas competecircncias de grupo
e interpessoais necessaacuterias agrave realizaccedilatildeo das exigecircncias escolares e grupais da turmardquo (Arends
2001 p 110) Dada a especificidade deste contexto o autor sugere uma observaccedilatildeo abrangente
que permita interpretar o que eacute observado tendo em conta o clima de sala de aula e a
especificidade das situaccedilotildees que ocorrem em tais contextos
Caracteriacutesticas da Vida em Sala de Aula
Segundo Doyle (1986) a sala de aula enquanto ldquosistema ecoloacutegicordquo apresenta
algumas caracteriacutesticas que moldam o comportamento refletindo-se no tipo de interaccedilotildees que
dele decorrem e que passamos a referenciar
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- Multidimensionalidade evidenciada pelas inuacutemeras situaccedilotildees que ocorrem no espaccedilo
sala de aula e que reflete as muacuteltiplas funccedilotildees a desempenhar por parte do professor
- Simultaneidade referindo-se agrave multiplicidade de acontecimentos paralelos e em relaccedilatildeo
aos quais o professor deve estar preparado para dar resposta
- Contiguidade manifesta a rapidez com que os acontecimentos se sucedem na sala de
aula e o tipo de interaccedilotildees que daiacute decorrem obrigando a tomar muitas decisotildees e num curto
espaccedilo de tempo
- Imprevisibilidade eacute de facto um dos pontos mais criacuteticos na sala de aula e com a qual
nem todos os professores lidam com tranquilidade Natildeo eacute possiacutevel prever todos os
acontecimentos de uma aula Existem muitas interrupccedilotildees muitas solicitaccedilotildees que por vezes
perturbam e podem causar algum descontrole
- Visibilidade sendo a sala de aula um local puacuteblico eacute de esperar que especialmente as
accedilotildees do professor sejam alvo de observaccedilatildeo preferencial por parte dos alunos Como jaacute
afirmamos anteriormente o tipo de interaccedilatildeo decorrente na sala de aula pode ser influenciado
por este tipo de observaccedilatildeo Esta pode conduzir agrave simpatia ao reconhecimento de capacidades
de vaacuteria ordem para o exerciacutecio de funccedilotildees de onde decorrem interaccedilotildees positivas ou
negativas que conduziratildeo a comportamentos assertivos ou disruptivos
- Historicidade caracteriza-se pelo facto de alunos e professores estarem juntos durante
semanas meses ou ateacute anos o que lhes permite um acumular de experiecircncias rotinas e normas
A observaccedilatildeo destas ldquosignificaccedilotildees partilhadasrdquo (Delamont 1987 p 42) poderaacute ser de grande
importacircncia para o que poderaacute surgir a seguir Daiacute a importacircncia dos ldquoprimeiros encontrosrdquo
que poderatildeo ser decisivos para o resto do ano uma vez que eacute aiacute que se podem moldar muitas
das atitudes e comportamentos determinantes da forma como iraacute decorrer o ano letivo
Por sua vez Amado (2001 p 78) apresenta mais duas caracteriacutesticas da sala de aula
que poderatildeo influenciar igualmente os intervenientes no processo educativo
- Obrigatoriedade de presenccedila os alunos pelas caracteriacutesticas da escolaridade
obrigatoacuteria satildeo obrigados a frequentar a escola sem que isso por vezes seja feito por vontade
proacutepria
- Imposiccedilatildeo dos curriacuteculos formais contempla-se a imposiccedilatildeo que se faz aos alunos no
cumprimento de um curriacuteculo sem ter em conta a especificidade do grupo e do contexto
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Estas caracteriacutesticas podem ser interpretadas como constrangimentos para os alunos e
para a gestatildeo que os professores tecircm de fazer das turmas mas eles satildeo acima de tudo o que
caracteriza a vida escolar na sua essecircncia e como tal tecircm de ser apreendidas e compreendidas
pelos professores
A Turma - Espaccedilo Relacional
A turma funciona como um sistema grupal e social No espaccedilo social de uma turma
cria-se uma grande variedade de relaccedilotildees luta pela lideranccedila geram-se grupos informais
determinados pelas razotildees de vizinhanccedila ou por afinidades vaacuterias criaccedilatildeo de interesses
comuns rivalidades entre pequenos grupos fenoacutemenos proacuteprios dos pequenos grupos Assim
sendo eacute fundamental estabelecer logo no iniacutecio do ano letivo e por iniciativa do professor
algumas regras de comportamento que devem ser negociadas e aceites por todos Isto
atendendo a que ldquoA emergecircncia de normas de conduta eacute um aspeto importante da vida dos
grupos pois ao criarem as condiccedilotildees de funcionamento harmonioso do grupo submetem a
vontade particular agrave vontade geral e criam sentimentos de solidariedade e de pertenccedila (Estrela
1998 p 55)
Ora neste sentido o professor enquanto liacuteder deve ser firme quanto agrave disciplina razatildeo
pela qual deve estabelecer em parceria com os alunos da turma as regras baacutesicas que compotildeem
um conjunto de valores que sejam capazes de estabelecer relaccedilotildees interpessoais de respeito
pelo outro que levem a accedilotildees de solidariedade que sensibilizem o aluno para a importacircncia de
reforccedilarem os comportamentos adequados socialmente e que apontem e sancionem de forma
apropriada e justa os comportamentos natildeo desejaacuteveis O professor precisa conquistar a
confianccedila e o respeito da turma para se tornar o seu legiacutetimo organizador e deste modo
evidenciar o caraacuteter formativo das regras (Postic 2008)
Eacute importante conhecer a dinacircmica da aula quer na relaccedilatildeo que o professor estabelece
com os seus alunos quer na relaccedilatildeo que estes estabelecem com o professor e entre si Sabemos
que a turma se assume como um grupo com todas as caracteriacutesticas do grupo com a
pluralidade das pessoas com conhecimento e relacionamento muacutetuo entre os seus membros
com objetivos e normas comuns mas com diferenciaccedilatildeo de poderes e papeacuteis Um dos aspetos
fundamentais do grupo eacute a sua coesatildeo que representa a totalidade das forccedilas que levam os seus
membros a interagir bem como a solidariedade a satisfaccedilatildeo e bem-estar Contudo o clima
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relacional que daiacute adveacutem tambeacutem favorece a cooperaccedilatildeo e o ambiente cooperativo propiacutecios
ao ecircxito das atividades que se pretendem desenvolver em contexto acadeacutemico (Oliveira 2007)
O estudo de Getzels e Thelen referenciado por Arends (2001) permitiu enunciar
algumas das principais caracteriacutesticas do grupo-turma i) um grupo que se forma com
objectivos muito proacuteximos como o de aprender e ii) um grupo criado administrativamente e
a cujos membros se exige que constituam um todo Os grupos que compotildeem as turmas
arrastam consigo caracteriacutesticas especiacuteficas desse contexto O referido estudo evidenciou os
comportamentos da turma como o resultado da interaccedilatildeo entre os alunos e o professor em que
cada uma das partes influencia a outra parte
Neste universo de interaccedilotildees os alunos e os professores agem em funccedilatildeo das suas
crenccedilas e personalidades entre outros fatores (Amado 2001) A natureza das interaccedilotildees eacute
determinada pelo que pensa cada um dos atores em relaccedilatildeo aos outros pela situaccedilatildeo em que
estatildeo envolvidos e ainda pelo que estaacute a acontecer nesse preciso momento no contexto em
que se inserem
Perante as caracteriacutesticas do ambiente de sala de aula que expusemos anteriormente
bem como as relaccedilotildees que se estabelecem entre os atores do processo de ensino-aprendizagem
eacute fundamental que o professor reuacutena um conjunto de competecircncias que lhe permita gerir a
diversidade comportamental e atingir uma eficaz gestatildeo da sala de aula No entanto eacute ilusoacuterio
pensar a relaccedilatildeo pedagoacutegica restringindo-a ao aluno e ao professor No grupo-turma existe
um conjunto de outros fatores que agem sobre a mesma As expetativas os juiacutezos muacutetuos satildeo
determinantes nessa relaccedilatildeo
O grupo turma eacute um grupo de interaccedilatildeo directa porque os seus membros exercem influecircncia uns sobre os outros e porque quanto agraves normas que aiacute se desenvolvem ele exerce uma accedilatildeo sobre elas eacute um grupo de trabalho organizado com vista a determinado objectivo (hellip) eacute um grupo formal jaacute que os seus membros foram designados para constituiacuterem um grupo e natildeo se escolheram (Postic 2008 p134)
Este estaacute organizado para funcionar perante as regras previamente estabelecidas eacute
composto por um grupo de alunos e por um professor que nunca seraacute um membro integrado
mas um membro agrave parte da globalidade do grupo turma No entanto a turma natildeo existiraacute sem
a sua presenccedila o professor Eacute um paradoxo porque natildeo sendo um membro integrado o grupo
natildeo funciona como turma sem a sua presenccedila permanecendo caracterizado pela sua funccedilatildeo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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institucional mesmo que esta se diversifique de acordo com as suas opccedilotildees pedagoacutegicas
(Jardim 2010)
Estamos pois perante uma estrutura mais formal da accedilatildeo pedagoacutegica em que se espera
que o professor assuma o papel de liacuteder formal procurando corresponder agraves expetativas dos
alunos negociando com o grupo as normas baseadas em valores muacutetuos que permitam a
coesatildeo do grupo enquanto grupo-turma desenvolvendo competecircncias de cidadania
designadamente competecircncias cognitivas eacuteticas e sociais (Sanches Veiga Sousa amp
Pintassilgo 2007)
A coesatildeo traduz-se nas relaccedilotildees afetivas que cada um tem em relaccedilatildeo ao grupo e que o
manteacutem unido manifestando-se na partilha diaacuteria de ldquovivecircncias e valores resultando na
construccedilatildeo coletiva de juiacutezos comuns sobre as pessoas (em especial sobre os colegas e sobre
os professores) sobre a exigecircncias e constrangimentos da vida escolarrdquo (Estrela MT amp
Amado 2002 p 198 -199)
Outro facto igualmente importante satildeo as expectativas ou seja o que os alunos e
professores esperam dos comportamentos de uns e outros em determinadas circunstacircncias A
questatildeo das expetativas no seio de uma turma deve ser vista em vaacuterias direccedilotildees de entre as
quais destacamos as expetativas reciprocas entre alunos e professores o desempenho
acadeacutemico e comportamental da turma as normas do grupo papeiacutes e estatutos e cada membro
no grupo e as representaccedilotildees dos professores em relaccedilatildeo agrave turma (Estrela MT amp Amado
2002) e que se reflete no poder e lideranccedila que o professor exerce sobre o grupo Como referem
os autores a
questatildeo de lideranccedila da turma pode ser encarada quer como qualidade do professor (dependente do seu estatuto ou pelo menos com uma marca assimeacutetrica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo discente) quer enquanto capacidade de certos alunos em influenciarem os colegas no sentido de se movimentarem para determinadas praacuteticas e objetivos (Estrela MT amp Amado 2002 p 213)
Outro fator importante eacute a forma como o professor estrutura e sequencializa os
conteuacutedos nas suas aulas sendo que uma planificaccedilatildeo adequada ao grupo turma evidencia uma
correlaccedilatildeo com um ensino eficaz direcionada para o envolvimento dos seus alunos nas tarefas
e para o sucesso de accedilatildeo educativa
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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A Planificaccedilatildeo a Accedilatildeo em Contexto Educativo e Avaliaccedilatildeo
Em sala de aula as relaccedilotildees que se embelecem entre professores e alunos e estes entre
si satildeo mediadas pelo saber (Estrela MT 2004) Trata-se de uma relaccedilatildeo pautada pela
intencionalidade de proporcionar um ambiente favoraacutevel agrave aquisiccedilatildeo de novos valores
Estamos portanto num contexto de aprendizagem formal estruturado no espaccedilo e no
tempo no qual cabe ao professor desempenhar os papeacuteis de organizador facilitador e avaliador
dessas aprendizagens Neste sentido a relaccedilatildeo pedagoacutegica contextualiza-se tambeacutem num
processo sequencial que envolva planificaccedilatildeo interaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo combinando cogniccedilatildeo
accedilatildeo e feedbacks constantes
A planificaccedilatildeo e a tomada de decisatildeo satildeo vitais para o ensino e interagem com todas as
funccedilotildees do professor A toacutenica desta perspetiva eacute colocada nas metas e nos objetivos como
sendo vitais num processo sequencial e soacute depois se selecionam os procedimentos
metodoloacutegicos e as atividades especificas tendo em vista as finalidades desejadas
Assim sendo poderemos questionar Como eacute que os professores abordam esta questatildeo
da planificaccedilatildeo Doyle (1986) afirma que nos seus estudos sobre a temaacutetica encontrou trecircs
tipos de categorias para esta resposta os professores que planificavam para satisfazer as suas
necessidades pessoais pois diminuiacutea-lhes a ansiedade e a incerteza os que planificavam para
organizar o processo de ensino e de aprendizagem tendo em conta os objetivos a alcanccedilar e
saber que materiais teriam que preparar para a concretizaccedilatildeo das atividades bem como para
organizar o tempo em contexto educativo e os professores que planificavam para saber qual a
melhor forma de organizar os alunos como iniciar as atividades que se coadunem com pontos
de referecircncia para a avaliaccedilatildeo
Ora qualquer que seja o caminho a seguir sabemos que planificar natildeo significa predizer
o futuro nem adivinhar o que iraacute acontecer no processo de ensino-aprendizagem mas sim
tornar o futuro concretizaacutevel face agraves condiccedilotildees do presente Trata-se de acreditar que eacute possiacutevel
(e desejaacutevel) otimizar os efeitos da aprendizagem de guiar o desenvolvimento dos alunos
aumentando a probabilidade de ocorrecircncia dos resultados desejados pela organizaccedilatildeo das
condiccedilotildees que garantam a sua consecuccedilatildeo De acordo com Amado (2001) a estruturaccedilatildeo das
tarefas acadeacutemicas subdivide-se em trecircs fases i) fase de programaccedilatildeo ii) fase de realizaccedilatildeo e
iii) fase de avaliaccedilatildeo conforme se pode observar na figura 4
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Figura 4 Estrutura das tarefas acadeacutemicas (Fonte Amado 2001 paacuteg 362)
Nesta conformidade pode dizer-se que existem vaacuterios niacuteveis hierarquizados de
responsabilidadedecisatildeo na organizaccedilatildeo do ensino que vatildeo determinar diferentes niacuteveis de
planificaccedilatildeo (Macro Meso e Micro) e consequentemente diferentes graustipos de
planificaccedilatildeo (planeamento a longo prazo a meacutedio prazo e a curto prazo)
Concretamente em relaccedilatildeo a este estudo importa focar o niacutevel micro Eacute a este niacutevel que
o professor tem a funccedilatildeo de adaptar a organizaccedilatildeo e as metas curriculares agraves caracteriacutesticas
especiacuteficas e concretas dos grupos de alunos que lhe satildeo confiados Contudo a planificaccedilatildeo estaacute
para aleacutem desta componente meramente teacutecnica uma vez que esta estaacute intimamente ligada agrave
avaliaccedilatildeo e agrave sua operacionalizaccedilatildeo o que implica a mobilizaccedilatildeo de competecircncias natildeo soacute de
natureza teacutecnica como emocional e eacutetica
Na fase de diagnoacutestico o professor identifica interessesdificuldades dos alunos seleciona
os conteuacutedos a lecionar e procura recolher o maacuteximo de dados sobre o grupo com o qual vai
trabalhar e para o qual iraacute planificar bem como os recursos disponiacuteveis Outro fator a ter em
conta nesta fase eacute a questatildeo da motivaccedilatildeo dos alunos A motivaccedilatildeodesmotivaccedilatildeo dos alunos
constitui uma das principais preocupaccedilotildees dos professores dos pais e dos poliacuteticos A niacutevel
poliacutetico algumas reformas do sistema educativo apresentam como um dos principais objetivos
a motivaccedilatildeo a aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos o mesmo acontece
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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a niacutevel familiar [uma vez que] os pais queixam-se cada vez mais do baixo valor atribuiacutedo pelos filhos agrave escola os proacuteprios alunos tecircm consciecircncia de que os resultados escolares dependem da sua motivaccedilatildeo para as tarefas escolares a niacutevel escolar os professores manifestam uma cada vez maior preocupaccedilatildeo com a falta de interesse por parte dos alunos nas tarefas escolares o que se traduz pelo baixo rendimento escolar e pelos comportamentos de indisciplina (Jesus 2003 p 31)
Na fase de realizaccedilatildeoconcretizaccedilatildeo da planificaccedilatildeo o estilo de comunicaccedilatildeo do
professor encaminha-nos para uma dupla atenccedilatildeo aos problemas de descodificaccedilatildeo pois
segundo Bourdieu (1982) ldquohaacute poucas actividades consistindo tatildeo exclusivamente como no
caso do ensino na manipulaccedilatildeo das palavrasrdquo (p 20) com o devido reconhecimento para a
enorme perda de informaccedilatildeo transmitida na aula O professor deve ainda recorrer a um ritmo
equilibrado de comunicaccedilatildeo todavia pela assimetria que se verifica nas competecircncias
comunicativas eacute imprescindiacutevel que o professor transmita a informaccedilatildeo a um ritmo adequado
agraves capacidades dos recetores (alunos) Para a aprendizagem do aluno eacute muito importante que o
professor defina objetivos a atingir e o que significa ter sucesso em relaccedilatildeo a esses objetivos
contudo a ldquoinvestigaccedilatildeo estabelece uma relaccedilatildeo estreita entre a capacidade do professor para
ser claro e especiacutefico e a aprendizagem dos alunosrdquo (Lopes amp Silva 2010 p 37) pensamento
reforccedilado por Hattie (2009) que sublinha a clareza do professor como uma caracteriacutestica do
ensino que mostra ter consistentemente um impacto importante no sucesso dos alunos
A questatildeo da avaliaccedilatildeo eacute igualmente fulcral na estrutura das tarefas acadeacutemicas
justificada por uma
avaliaccedilatildeo constante estimuladora e justa Nesta linha admira-se e aprova-se o professor que expressa optimismo nas capacidades dos seus alunos que lhes daacute o feeddback com solicitaccedilotildees verbais e natildeo-verbais (hellip) equitativamente distribuiacutedas e que presta o apoio individual indispensaacutevel a cada um reconhecendo capacidades ritmos e possibilidades de sucesso diferenciados (Amado 2001 p 363)
Note-se que educar consiste sempre numa orientaccedilatildeo para a mudanccedila que aconteceraacute
com ritmos diferentes dependendo dos proacuteprios ritmos de aprendizagem dos alunos e das
caracteriacutesticas individuais dos mesmos
A avaliaccedilatildeo dessas mudanccedilas embora sempre imbuiacuteda de subjetividade pode tornar-
se mais clara a partir da definiccedilatildeo de criteacuterios e do conhecimento de procedimentos
estruturados No plano comportamental a avaliaccedilatildeo dos comportamentos depende muito do
que o professor espera que ocorra e do padratildeo de desempenho que o professor tem como
aceitaacutevel daiacute a necessidade de um padratildeo de regras e rotinas bem definidas na sala de aula
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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para que o aluno saiba com exatidatildeo por que padrotildees de comportamento se deve reger A
anaacutelise dos comportamentos dos alunos eacute um fator crucial para as tomadas de decisatildeo do
professor em sala de aula na medida em que eacute fundamental compreender os pensamentos os
sentimentos e as accedilotildees dos alunos bem como as influecircncias destes aspetos na atuaccedilatildeo
pedagoacutegica do professor uma vez que estes podem ou natildeo determinar mudanccedila na sua praacutetica
pedagoacutegica
Arends (2001) veio comprovar que ldquoos professores em iniacutecio de carreira que
conseguem fazer boas planificaccedilotildees constatam que natildeo precisam de se armar em poliacutecias
porque as suas aulas se caracterizam por um encadeamento harmonioso de ideias actividades
e interacccedilotildeesrdquo (p 44) Eacute atraveacutes deste processo que o curriacuteculo eacute transformado sofrendo
acrescentos supressotildees e interpretaccedilotildees que daratildeo ritmo sequecircncia e ecircnfase ao trabalho do
professor Ora nas salas do 1ordm Ciclo de Ensino Baacutesico onde se verifica a monodocecircncia este
cuidado em planificar reveste-se de uma maior complexidade Aqui o fator gestatildeo do tempo eacute
muito importante uma vez que o professor lida com um curriacuteculo que contempla vaacuterias aacutereas
do conhecimento o que exige uma grande organizaccedilatildeo e capacidade de decidir o modo como
o gerir A dificuldade em lidar com esta complexidade agudiza-se ainda mais quando se trata
do professor em estaacutegio ou mesmo professores principiantes
Um estudo apresentado por (Arends 2001) ldquocomparou a planificaccedilatildeo e as
competecircncias executivas de aulas de professores experientes e professores inexperientesrdquo (p
50) O autor verificou que os professores experientes planificavam as aulas em menos tempo
tendo em vista futuras adaptaccedilotildees a fazer no decurso da aula O estudo realccedila ainda que os
professores experientes recorriam muito a instrumentos de verificaccedilatildeo da compreensatildeo dos
alunos Por isso mostravam igualmente muita firmeza no cumprimento das regras e uma
estrutura interna da liccedilatildeo altamente eficaz caracterizada por uma movimentaccedilatildeo fluiacuteda de um
tipo de atividade para o outro o que lhes permitia manter um niacutevel razoaacutevel em termos de
motivaccedilatildeo e consequentemente de controlo disciplinar
Em siacutentese planificar eacute gerir o curriacuteculo de modo a potenciar as aprendizagens dos
alunos e proporcionar o desenvolvimento das suas capacidades Mais ainda planificar seraacute a
forma como registamos um conjunto de conhecimentos e ideias sobre os conteuacutedos a abordar
e que serviratildeo de suporte concetual e de justificaccedilatildeo para as decisotildees do professor sempre com
um propoacutesito direcionados para uma meta traccedilando objetivos que nos indicam a direccedilatildeo a
seguir Este processo obedece a previsotildees que se relacionam com o processo a seguir e que
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
83
concretiza em procedimentos metodoloacutegicos que incluem conteuacutedos a trabalhar tarefas a
realizar sequecircncia de atividades e avaliaccedilatildeo do processo Numa primeira fase abordamos a
componente mais racional e numa segunda abordamos mais os eixos condutores da accedilatildeo onde
vou que percurso fazer para chegar e como sei se atingi os objetivos a que me propus
Estes processos mobilizam todo este conjunto de competecircncias teacutecnico-pedagoacutegicas
relacionadas com uma boa ldquoestruturaccedilatildeo das tarefas acadeacutemicasrdquo que eacute condiccedilatildeo fundamental
para a aprendizagem e para a construccedilatildeo da disciplina na sala de aula (Amado 2001 p 318)
Esta estruturaccedilatildeo relaciona-se com os aspetos didaacuteticos da praacutetica do professor sendo
fundamental para o sucesso da sua accedilatildeo Mas ainda segundo o autor
ao domiacutenio da estruturaccedilatildeo das tarefas acadeacutemicas (i) haacute que acrescentar outros dois aspectos muito importantes para a prevenccedilatildeo da indisciplina a saber (ii) a vertente relacional da praacutetica docente (domiacutenio que se prende essencialmente com os estilos de autoridade do professor e o modo como ele gere os poderes dele e dos alunos no interior da aula) e a (iii) eacutetica da gestatildeo pedagoacutegica (que tem a ver sobretudo com os valores docentes e o modo como os faz passar junto dos alunos bem como com a preocupaccedilatildeo pela accedilatildeo justa e pelo cuidado e compreensatildeo relativamente aos alunos) (p 365)
A vertente relacional incluindo a eacutetica da gestatildeo pedagoacutegica eacute fundamental para
fomentar um ldquoclima de abertura que se caracterize pela responsabilizaccedilatildeo de todos os
protagonistas na aulardquo (Amado 2000 p 10)
A praacutetica pedagoacutegica eacute sobretudo uma arte que exige talento e criatividade implica
conhecimento cientiacutefico teacutecnicas metodologias processos e competecircncias constantemente a
ser analisados e integrados nas reflexotildees com o objetivo de aliar estas componentes
pedagoacutegicas agrave relaccedilatildeo singular que se estabelece no desenvolvimento de uma aula (Lopes amp
Silva 2010)
A aprendizagem acontece quando um ser eacute modificado pela accedilatildeo de aprender algo ou
seja na accedilatildeo de aprender alguma coisa constroacutei o conhecimento que faz sentido para o seu
proprietaacuterio (Damaacutesio 2000) Para que este conhecimento se concretize entre muito outros
fatores temos a questatildeo da comunicaccedilatildeo [evita-se uma linguagem demasiado difiacutecil e ambiacutegua]
sendo que comunicar natildeo eacute mais do que trocar ideias sentimentos e experiecircncias entre as
pessoas que conhecem o significado daquilo que se diz e se faz (Fachada 2003) Deve ter-se
em conta o estilo de comunicaccedilatildeo do professor devendo este preocupar-se com os problemas
de descodificaccedilatildeo com o devido reconhecimento para a enorme perda de informaccedilatildeo que pode
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
84
acontecer ao longo da aula Outro fator importante eacute o ritmo equilibrado da comunicaccedilatildeo Dada
a assimetria nas competecircncias comunicativas eacute imprescindiacutevel que o professor transmita a
informaccedilatildeo a um ritmo adequado agraves capacidades dos recetores (alunos) No entanto estes
fatores por si soacute natildeo satildeo garantia de um ambiente disciplinado e de sucesso do processo de
ensino e aprendizagem A atenccedilatildeo deve ser permanente e de accedilatildeo imediata para que se possa
manter um clima de respeito em sala de aula apelando com frequecircncia agraves qualidades
relacionais do professor
3 Dimensatildeo Relacional da Competecircncia Docente
A dimensatildeo relacional da competecircncia docente estrutura-se a partir das experiecircncias
relacionais que fazem parte da histoacuteria de vida de cada professor A funcionalidade
dinamismo eficiecircncia e interatividade com que esta se desenvolve seratildeo as ldquotraves mestresrdquo
da construccedilatildeo de uma relaccedilatildeo que se pretende construtiva No entanto as idiossincrasias e as
perspetivas do professor acerca do que eacute educar bem como a sua filosofia de educaccedilatildeo tecircm de
ser tidos em conta O seu estilo de lideranccedila a motivaccedilatildeo que tecircm para a profissatildeo satildeo aspetos
decisivos para a construccedilatildeo de uma relaccedilatildeo motivadora A qualidade da accedilatildeo do professor estaacute
intimamente associada natildeo soacute com a sua competecircncia cientiacutefica e didaacutectica mas tambeacutem com
a sua capacidade relacional
Uma boa relaccedilatildeo pedagoacutegica propicia o desenvolvimento da autonomia do aluno Os
alunos valorizam as suas exigecircncias e competecircncia profissional que se manifesta no domiacutenio
dos conteuacutedos nas metodologias empregues e na forma como lida com as diferenccedilas
individuais (Vieira 2000)
Assim sendo espera-se que o professor faccedila uma gestatildeo adequada destas relaccedilotildees e do
poder na aula orientada pelos seguintes aspetos (Amado 2003)
i) Regras de sala de aula O professor Lidera a aula negociando regras (poucas simples claras positivas e fundamentais sensibilizando os alunos para a sua utilidade na organizaccedilatildeo do trabalho e das relaccedilotildees Manifesta firmeza na exigecircncia do cumprimento das regras (mas tambeacutem a capacidade de diaacutelogo abertura agrave sua redefiniccedilatildeo e toleracircncia)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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ii) O clima de sala de aula O professor Faz-se respeitar comeccedilando por respeitar compreender o aluno confere responsabilidade aos alunos na gestatildeo da classe consultando a opiniatildeo e atribuindo tarefas Promove o conhecimento muacutetuo e a amizade entre os alunos Manifesta disponibilidade (e simpatia) para com os alunos mesmo em temas e problemas que natildeo satildeo do plano curricular) iii) A actuaccedilatildeo face aos problemas disciplinares O professor Usa teacutecnicas adequadas de prevenccedilatildeo (regras clima diaacutelogo persuasivo) Usa teacutecnicas adequadas (e crediacuteveis) de correccedilatildeo (persuasatildeo firmeza e imposiccedilatildeo coerecircncia e adequaccedilatildeo de medidas pondo em causa mais os comportamentos do que as pessoas) Castiga quando e se necessaacuterio (mas de modo razoaacutevel adequado e consistente)
iv) A eacutetica da actuaccedilatildeo pedagoacutegica (aspecto intimamente ligado com a dimensatildeo emocional e eacutetica da competecircncia docente O professor Procura respeitar o aluno (p 1029)
A escola eacute o espaccedilo onde estas relaccedilotildees se estabelecem Um ambiente facilitador da
aprendizagem pressupotildee uma atmosfera e um meio que favoreccedila a qualidade das relaccedilotildees
interpessoais Como referem Sprinthall e Sprinthall (1993) ldquoa qualidade da relaccedilatildeo
interpessoal entre o professor e os alunos tem de facto um impacto em muitas facetas da
interacccedilatildeo na sala de aula e em relaccedilatildeo ao grau de aprendizagem real dos alunosrdquo (p 324)
Acontece com frequecircncia os alunos ldquomediremrdquo ateacute onde o professor os deixa prosseguir
surgindo deste modo como observadores participantes Agrave medida que o tempo vai passando
professor e alunos vatildeo-se conhecendo e a dinacircmica das interaccedilotildees vai-se consolidando
Com efeito esta vivecircncia deveraacute levar o professor ao longo do seu desenvolvimento
profissional (desde a fase de estagiaacuterio agrave situaccedilatildeo de veterano) a adquirir competecircncias de
observaccedilatildeo e de atuaccedilatildeo que privilegiem a promoccedilatildeo de um ambiente produtivo e de bem-estar
que previna comportamentos disruptivos Neste trajeto de desenvolvimento profissional do
professor a dimensatildeo emocional a par da relacional natildeo deve por isso ser descurada Jaacute natildeo
estamos perante uma escola castradora dos afetos e promotora de uma formaccedilatildeo tecnicista dos
professores Estamos sim perante uma escola que deve ter em atenccedilatildeo as inter-relaccedilotildees
pessoais que se estabelecem entre os demais intervenientes educativos e como tal o ensino
natildeo se pode alhear das questotildees da emocionalidade que aiacute se travam
Na verdade as situaccedilotildees de ensino satildeo permeaacuteveis agraves emoccedilotildees e sentimentos que o
professor experiencia na sua relaccedilatildeo com os alunos (Freire Bahia MT Estrela amp Amaral
2012) As experiecircncias relacionais que o professor vive no seio da escola e particularmente
na sala de aula proporcionam-lhe oportunidades de desenvolvimento de competecircncias do foro
emocional que o vatildeo preparando para exercer a responsabilidade que lhe cabe de contribuir
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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para a formaccedilatildeo dos seus alunos no acircmbito do desenvolvimento cognitivo soacutecio-afetivo e
psicomotor
Apesar de serem parcos os estudos que tecircm em conta a anaacutelise da dimensatildeo emocional
da docecircncia a literatura da especialidade remete-nos para a ideia de que ldquoo desenvolvimento
destas competecircncias pessoais e sociais aumenta a resiliecircncia e contribui para uma maior auto-
estima e bem-estar do professor o que se reflete no ambiente relacional e consequentemente
no bem-estar e nas aprendizagens dos alunosrdquo (Freire et al 2012 p 166)
31 Influecircncia Fontes de Influecircncia do Professor
O centro da escola satildeo os alunos Mais importante que o ato de ensinar eacute o ato de
aprender No entanto o ensino e a aprendizagem satildeo inseparaacuteveis tal como satildeo inseparaacuteveis
os dois agentes principais da educaccedilatildeo escolar o aluno e o professor (Oliveira 2007) O
professor vale tanto mais por aquilo que eacute do que por aquilo que sabe ou sabe ensinar pois
para aleacutem dos conhecimentos cientiacuteficos (saber) e didaacutetico-pedagoacutegicos (saber ensinar) de que
deve estar munido importa a proacutepria pessoa do professor (saber ser) e o seu comportamento e
atitudes na sala de aula as suas expetativas o seu autoconceito e outras variaacuteveis
sociocognitivas da sua personalidade capazes de fazer ser os alunos (Idem)
O poder ou influecircncia do professor baseia-se fundamentalmente no carisma ndash
habilidade para atrair e influenciar as pessoas com a sua personalidade no domiacutenio ndash
capacidade para controlar uma situaccedilatildeo no poder intelectual ndash conhecimento e domiacutenio dos
conteuacutedos a lecionar e no poder dos recursos ndash habilidade para organizar todos os aspetos das
atividades dos alunos sendo que estes poderes devem estar associados a uma gestatildeo de sala de
aula onde a eficaacutecia seja o termo dominante
Relacionado com as funccedilotildees do professor indexamos as suas caracteriacutesticas pessoais
pois o professor deve ser competente a todos os niacuteveis ndash saber saber ensinar e saber fazer
aprender saber ser e saber fazer ser com uma forte componente motivacional mais
concretamente ao niacutevel emocional e relacional Amado e Freire (2009) denotam uma forte
relaccedilatildeo entre a componente emocionalrelacional e a eficaacutecia da sua accedilatildeo em contexto Em
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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sequecircncia e tendo em conta esta relaccedilatildeo os autores supracitados sintetizaram a informaccedilatildeo
analisada e categorizaram os professores por grupos tendo como criteacuterios a componente
emocional e relacional que jaacute evidenciaacutemos
Assim sendo a categorizaccedilatildeo organizou-se do seguinte modo 1) liacuteder autoritaacuterio onde
soacute ele define os objetivos e meacutetodos de trabalho aplica reforccedilos (elogios ou castigos) de acordo
com os seus criteacuterios pessoais Com esta organizaccedilatildeo os alunos teratildeo uma boa organizaccedilatildeo de
trabalho na presenccedila do professor mas uma grande quebra na sua ausecircncia evoluindo para
comportamentos dominadores e agressivos sempre na tentativa de conquistar apenas o apreccedilo
do professor 2) liacuteder democraacutetico cuja atitude se pauta pelo compromisso com os seus alunos
na marcaccedilatildeo dos seus objetivos e dos meacutetodos de trabalho com reforccedilos permanentes aos seus
atos Por consequecircncia esta relaccedilatildeo traz um bom rendimento escolar na presenccedila e ausecircncia
do professor com satisfaccedilatildeo pessoal pelo desempenho elogios muacutetuos criatividade e
espontaneidade e toleracircncia e 3) liacuteder natildeo intervencionista pautada por uma atitude passiva
por parte do professor sem delinear objetivos nem meacutetodos e onde a ausecircncia de reforccedilos estaacute
muito presente Isto repercute-se num baixo rendimento escolar abandono do trabalho na
presenccedila e ausecircncia do professor e perturbaccedilatildeoindisciplina em sala de aula (Oliveira 2007)
Caldeira (2011) sublinha a importacircncia da modelaccedilatildeo do comportamento neste diaacutelogo
do professor com o aluno no acircmbito da gestatildeo de contingecircncias Apoia-se nos estudos de
Connolly Dowd Criste Nelson e Tobias (1995) e de Emerson (1995) com a apresentaccedilatildeo do
modelo ldquodesignado de Cinco Cs da gestatildeo do comportamento em sala de aula Satildeo eles 1
Clareza (Clarity) 2 Consequecircncias (Consequences) 3 Consistecircncia (Consistency) 4 Carinho
(Caring) e 5 Capacidade de mudanccedila (Change) rdquo (p 120) Especificando 1) todos os alunos
devem saber exatamente o que eacute um comportamento aceitaacutevel e natildeo aceitaacutevel em sala de aula
2) A gestatildeo de comportamentos eacute uma tarefa delicada entre as consequecircncias positivas para os
comportamentos aceitaacuteveis e as consequecircncias negativas para os comportamentos inaceitaacuteveis
pelo que eacute necessaacuterio muito sentido de equiliacutebrio e justiccedila 3) os professores devem ser
consistentes e natildeo deixar margem para duacutevidas quando o aluno age de forma aceitaacutevel devem
tornar esse ato puacuteblico 4) eacute muito importante os professores gostarem dos seus alunos o
carinho e o afeto torna as relaccedilotildees saudaacuteveis e confiaacuteveis e 5) Procurar um ambiente onde se
promove a aprendizagem e onde se procura que os problemas de comportamento sejam
reduzidos ao miacutenimo (Caldeira 2011)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Eacute importante que o professor se consciencialize que influencia o comportamento dos
alunos com o seu proacuteprio comportamento de accedilatildeo natildeo de discurso devendo pois estar atentos
ao modo como atuam em sala de aula onde estatildeo constantemente a ser observados pelos seus
alunos (Postic 2008)
Outro aspeto fundamental nesta dimensatildeo relacional do professor em relaccedilatildeo ao aluno
eacute a forma como este faz a gestatildeo de poderes no grupo turma A investigaccedilatildeo mostra que os
alunos esperam que os professores atuem com autoridade dentro da sala de aula (Freire 1990
Maya 2000 Amado 2001 Carita 2002) autoridade que se apoia num conjunto de fontes de
influecircncia como veremos adiante Esta gestatildeo adequada identifica-se num professor que sabe
liderar a turma criando um sistema de regras necessaacuterias ao trabalho e agrave relaccedilatildeo que se
implementam com a firmeza necessaacuteria sem nunca cair no autoritarismo nem no
permissivismo valoriza ainda o professor que evita as injusticcedilas na interaccedilatildeo [reconhece o
princiacutepio da reciprocidade] e quando castiga tem em conta o comportamento e natildeo a pessoa
(Dubet 1999 Amado 2000b)
Ora sabemos de antematildeo que a gestatildeo de sala de aula passa pela gestatildeo de vaacuterias
dimensotildees de intervenccedilatildeo profissional nomeadamente a do clima da sala de aula Neste
sentido Bullough (1989) identifica diferentes dimensotildees que interligadas poderatildeo fomentar
o aparecimento de um clima favoraacutevel de sala de aula Satildeo elas i) personalidade do professor
ii) formaccedilatildeo relacionada com a profissatildeo docente iii) autoridade inerente agrave profissatildeo de
professor de liacuteder do grupo-turma iv) capacidade de accedilatildeo perante situaccedilotildees problemaacuteticas v)
saber usar o preacutemio como recompensa O autor considera que as dimensotildees i) e ii) satildeo
marcantes na aprendizagem cognitiva e afetiva do aluno enquanto as dimensotildees iii) iv) e v)
poderatildeo ajudar o professor a ganhar o controlo Este autor sublinha ainda que a capacidade
de accedilatildeo perante situaccedilotildees problemaacuteticas (aliacutenea iv) estaacute intimamente relacionada com o
crescimento do docente e com o desenvolvimento da competecircncia relacional competecircncias
que se desenvolvem com a praacutetica docente
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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32 Disciplina na Aula Normas e Regras
O conceito de disciplina estaacute diretamente relacionado com o de indisciplina Este uacuteltimo
define-se pela negaccedilatildeo ou privaccedilatildeo do anterior As regras existentes postulam-se num
determinado meio tempo e espaccedilo especiacutefico mas todos se ldquoinscrevem num fundo eacutetico de
caraacutecter social que eacute resultante de uma certa mundividecircncia concorrendo para a harmonia
socialrdquo (Estrela MT 1998 p 17)
Ao abordarmos a problemaacutetica da disciplina verificamos que a existecircncia de problemas
disciplinares dependeraacute ateacute certo ponto da definiccedilatildeo da boa disciplina dos valores do
professor e das representaccedilotildees que o professor tem sobre comportamentos indisciplinados
(Estrela 1998 Rego amp Caldeira 1998) Considera-se fundamental a valorizaccedilatildeo do trabalho
do professor (Kounin 1977 Wei Williams Chen amp Chang 2010) a criaccedilatildeo de dinacircmicas de
sala de aula que apontem para metodologias de trabalho colaborativo organizado atraveacutes de
um conjunto de estrateacutegias de induccedilatildeo de comportamentos adequados ao contexto
Nesta medida quando falamos do desenvolvimento profissional do professor da sua
forma de atuaccedilatildeo da necessidade de organizaccedilatildeo das situaccedilotildees da aula de forma a gerir as
atividades a desenvolver com os alunos estamos a ldquodar expressatildeo a um conjunto de atitudes
relacionais de tal modo que se afastem ou anulem os factores de perturbaccedilatildeo ou desviordquo
(Amado 2000c p 9) Os estudos de Good e Brophy (1984 cits por Carita amp Fernandes 2002)
tambeacutem demonstraram que ldquoa conduta dos professores designados de eficazes natildeo reside tanto
no modo como resolvem os problemas de indisciplina mas no modo como previnem o
surgimento dos mesmos ao mesmo tempo que desenvolvem a autonomia e autocontrolo interno
dos alunosrdquo (p 77) e os envolvem no trabalho a realizar
No entanto existem fatores externos natildeo controlaacuteveis pelo professor que influenciam
a relaccedilatildeo pedagoacutegica e que podem ser a causa suficiente para a explicaccedilatildeo de determinados
comportamentos a saber
- Fatores individuais de entre os quais ldquosalientamos os que decorrem da experiecircncia de
interacccedilotildees traumatizantes na histoacuteria de vida do aluno e fortemente determinantes do
seu desinteresserdquo (Amado amp Freire 2009 p 100) i) autoconceito que na opiniatildeo dos
autores decorre de duas dimensotildees uma relativa agraves crenccedilas e percepccedilotildees sobre si
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
90
identidade relacionada com um conjunto de percepccedilotildees que o aluno tem de si mesmo e
a outra relacionada com a avaliaccedilatildeo que o aluno faz de si proacuteprio auto-estima
(qualidades atributos capacidades limites valores ii) insucesso escolar associado agraves
consequecircncias negativas em termos pessoais e que natildeo se dissocia do autoconceito com
repercussotildees negativas nas relaccedilotildees interpessoais iii) projeto de vida (jovens
problemaacuteticos por norma identificam-se com projetos de vida que natildeo se coadunam
com as propostas e exigecircncias da escola) iv) distuacuterbios de comportamento e
hiperatividade que influenciam negativamente e constituem um forte desafio para o
professor v) dificuldades de aprendizagem a presenccedila de grupos heterogeacuteneos eacute uma
realidade e traz problemas de auto-regulaccedilatildeo de comportamentos na atenccedilatildeo na
perceccedilatildeo e na interaccedilatildeo social
- Fatores familiares como fortemente influenciadores da relaccedilatildeo que o aluno estabelece
com o professor e colegas
- Fatores sociais resultantes de relaccedilotildees familiares problemaacuteticas e que por inerecircncia satildeo
viacutetimas de poliacuteticas sociais desastrosas e promotoras de exclusatildeo (Amado amp Freire
2009)
Segundo Bullough (1989) devemos ter em conta um conjunto de atitudes e de
comportamentos fundamentais para prevenir entatildeo alguns comportamentos desviantes Entre
eles destacamos i) a planificaccedilatildeo que deve ser feita com antecedecircncia adequando
estrateacutegiasatividades ao tipo de alunos a que se destina ii) preocupar-se com o que fazer e
como fazer iii) adequar as atividades a desenvolver ao dia e agraves diferentes horas do dia iv) usar
o corpo e a voz em benefiacutecio do controle disciplinar deslocando-se no espaccedilo e usar uma voz
firme e adequada a cada momento da sua accedilatildeo v) variar as estrateacutegiasatividades e vi) deixar
transparecer a sua forte motivaccedilatildeo para o exerciacutecio da sua profissatildeo fatores que se evidenciam
nas diferentes dimensotildees da competecircncia docente
A valorizaccedilatildeo do papel do professor na prevenccedilatildeo da indisciplina estaacute hoje muito
presente em vaacuterias investigaccedilotildees Numa perspetiva pedagoacutegica encontra-se presente nos
estudos de Estrela (1988) e Amado amp Freire (2009) numa perspetiva do classroom
management em Kounin (1977) Emmer (1985) Cangelosi (1997) Evertson amp Weinstein
(2006) e Tauber (2007) e numa perspetiva do professor eficaz em Doyle (1986) e Muijs amp
Renolds (2005) Esta uacuteltima perspetiva distingue os professores eficazes dos natildeo eficazes
atraveacutes do modo ldquocomo conseguem manter as condiccedilotildees susceptiacuteveis de natildeo permitir a
ocorrecircncia de comportamentos que perturbem o sucesso pedagoacutegicordquo (Espirito-Santo 2002 p
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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8) Os trabalhos de Kounin (1977) referem-se aos atos de perturbaccedilatildeo da aula quando se
verifica o natildeo envolvimento do aluno na tarefa a executar
As observaccedilotildees deste autor (Kounin) realizadas com o apoio da filmagem em aulas de
vaacuterias escolas do ensino primaacuterio levaram-no a concluir a existecircncia de relaccedilotildees diretas entre
a disciplina ou indisciplina na aula e as estrateacutegias de organizaccedilatildeo e gestatildeo da aula utilizadas
pelo professor De entre essas estrateacutegias destacou i) as que conferem agrave aula um ritmo
adequado e a suavidade da transiccedilatildeo entre tarefas ii) as que se traduzem na capacidade que o
professor possui de comunicar agrave turma que sabe o que se estaacute a passar na sala mesmo sem estar
a observar diretamente as vaacuterias situaccedilotildees da aula iii) as que se traduzem na capacidade do
professor estar atento a vaacuterias situaccedilotildees em simultacircneo iv) as que promovem a diversificaccedilatildeo
de estiacutemulos oferecidos agrave turma e v) as que se traduzem na capacidade de manter o grupo em
tarefas comuns ao mesmo tempo que atribuem ao aluno responsabilidades individuais
O trabalho de Kounin (1997 cit por Estrela MT 1998 amp Amado 2001) para aleacutem
de outros aspetos chama a atenccedilatildeo para a necessidade de o professor se munir natildeo soacute das
competecircncias relacionais como de uma tecnologia proacutepria do seu trabalho
Como jaacute o dissemos o professor eacute acima de tudo uma pessoa que pensa age e que se
relaciona Em espaccedilo sala de aula o professor e os alunos criam situaccedilotildees ricas em interaccedilotildees
muacutetuas vivenciando-se uma grande diversidade de estrateacutegias e de atitudes tendo em conta as
especificidades desse espaccedilo e desse tempo No entanto agraves estrateacutegias do professor opotildeem-se
as contra-estrateacutegias dos alunos e no geral estas estrateacutegias interativas pretendem ldquoencontrar
meios de definir a situaccedilatildeo de estabelecer os paracircmetros de acccedilatildeo futura e de prevenir a
perturbaccedilatildeordquo (Amado 2001 p 365) e de onde emergem padrotildees de comportamento e de
interaccedilatildeo mais ou menos estabelecidos para o futuro
Para Arends (1995) e Estrela (1997) o desenvolvimento da autodisciplina deve ser o
objetivo de qualquer estrateacutegia que pretende gerir a disciplina dos alunos Regra geral os
alunos valorizam aquele professor que sabe liderar a turma impondo as regras necessaacuterias ao
trabalho e agrave relaccedilatildeo impondo a ordem com a firmeza necessaacuteria sem cair nem no autoritarismo
nem no permissivismo valorizam ainda ldquoo professor que evita as injusticcedilas na interaccedilatildeo trata
corretamente o aluno reconhecendo um princiacutepio de reciprocidade nas relaccedilotildees natildeo persegue
ningueacutem e mesmo quando castiga tem em conta o comportamento e natildeo a pessoa do aluno usa
da medida justa e natildeo erra o alvordquo (Amado 2003 p 1028)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
92
No que diz respeito agrave definiccedilatildeo de regras estas nem sempre satildeo muito bem aceites pelos
alunos No entanto satildeo necessaacuterias ao bom ambiente em sala de aula Embora possam
intencionalmente ser alvo de negociaccedilatildeo devem ter por base o bom senso A sua aplicaccedilatildeo
deveraacute conduzir ao estabelecimento de rotinas diaacuterias e um ldquoum enquadramento comum de
apoio agraves crianccedilas agrave medida que eles perseguem os seus interesses e se envolvem em diversas
actividades de resoluccedilatildeo de problemasrdquo (Hohmann amp Weikart 2009 p 224) Estas regras e
rotinas surgem indubitavelmente ligadas agrave competecircncia relacional do professor e ao modo
como gere atitudes comportamentos espaccedilos e conteuacutedos
O aluno surge deste modo como uma espeacutecie de observador participante para
estabelecer as bases da futura interaccedilatildeo ou para testar as capacidades do professor no sentido
de saber se o professor eacute capaz de definir claramente as regras e de as fazer cumprir Este teste
feito pelo aluno natildeo consiste propriamente num ato subversivo e disruptivo mas antes num
meio de procurar a clareza e a evidecircncia da situaccedilatildeo Isto porque os alunos procuram saber se
o professor consegue manter a ordem se eacute capaz de sorrir isto eacute se tem sentido de humor e se
eacute capaz de os compreender Esta definiccedilatildeo da situaccedilatildeo natildeo passa de imediato pela
comunicaccedilatildeo formal das regras mas por toda uma postura inicial (competecircncia relacional) que
mostra que tem autoridade e laquoemiteraquo firmeza e experiecircncia Eacute aqui que o aluno tipifica o
professor fazendo juiacutezos avaliativos afetivos (gostarnatildeo gostar) moral (bom ou mau)
relacional (fixe severo impostor) e instrumental (competenteincompetente) (Amado 2001
Woods 1999 Caetano 1993 Delamont 1987) Nesta fase inicial muitos alunos
experimentam ou testam os professores para ver como eles reagem e fazem-no utilizando
diversos processos alguns deles de caraacuteter particular fazendo perguntas ou respondendo de
forma desadequada sem ser comentando e conversando clandestinamente fazendo rir os
colegas com laquobocasraquo resistindo ou opondo-se a certas exigecircncias ou ateacute fazendo ruiacutedos
Como resposta a todas estas solicitaccedilotildees a legislaccedilatildeo mostra-nos um perfil docente
multidimensional (Decreto-Lei Nordm 2402001 de 30 de agosto) considerando o professor um
agente educativo dinacircmico que em colaboraccedilatildeo com todos os intervenientes no processo
educativo possa desenvolver tarefas de organizaccedilatildeo e praacutetica docente de mediaccedilatildeo inovaccedilatildeo
gestatildeo avaliaccedilatildeo orientaccedilatildeo e investigaccedilatildeo assente nas dimensotildees da competecircncia docente
aqui referenciadas
No contexto de sala de aula a ldquodinacircmica da turma natildeo eacute um fenoacutemeno isolado e
independente ela tem uma expressatildeo que resulta de um jogo interacional complexo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
93
estabelecido entre trecircs lados do triacircngulo (nem sempre equilaacutetero) rdquo (Amado amp Freire 2009
p 24) Satildeo eles cada aluno com as suas particularidades o contexto social criado pela turma e
o professor no modo como concretiza as diversas dimensotildees da sua competecircncia (dimensatildeo
relacional cientiacutefica teacutecnica pessoal e cliacutenica) e que se refletem tambeacutem no modo como o
professor gere estes reforccedilos como a turma os acata e o aluno os aceita (Amado amp Freire
2009)
Os alunos que constituem uma turma satildeo todos diferentes entre si pelas caracteriacutesticas
da sua personalidade pelo trajeto realizado pelas competecircncias e habilidades que
desenvolveram e pelo modo como interpretam as situaccedilotildees vivenciadas O reconhecimento
destas particularidades eacute muito importante pois as interaccedilotildees que se estabelecem em sala de
aula tecircm a ldquomarcardquo dessas especificidades No entanto embora o professor seja um agente
socializador faccedila um esforccedilo para controlar a turma e tenha consciecircncia que a sua base eacute
relacional nem sempre estas interaccedilotildees se estabelecem de forma cordial e poderatildeo instalar-se
situaccedilotildees de conflito onde a sabotagem interativa toma lugar e normalmente eacute designada de
problemas de disciplina (Amado 2001) Quando esgotadas todas as negociaccedilotildees para resolver
esses problemas o professor poderaacute ter que recorrer agrave puniccedilatildeo que seraacute sempre o recurso do
fracasso das fases anteriores (prevenir remediar) mediando o conflito de forma cordial e justa
3 3 Gestatildeo de Conflitos
Hoje em dia poucas satildeo as situaccedilotildees tarefas ou profissotildees que natildeo envolvam relaccedilotildees
interpessoais Diariamente encontramo-nos em contacto com outras pessoas nas mais variadas
situaccedilotildees do quotidiano Assim as relaccedilotildees estabelecidas com os outros satildeo essenciais agrave nossa
vida enquanto seres humanos e como membros de uma sociedade No campo educacional natildeo
eacute diferente pois as relaccedilotildees que aiacute se estabelecem satildeo fundamentais para o sucesso educativo
sendo a sala de aula o espaccedilo privilegiado onde essas interaccedilotildees se concretizam De acordo
com Delors (1999) a educaccedilatildeo deve ter em conta quatro pilares essenciais na construccedilatildeo do
conhecimento de cada individuo Tal como enuncia o autor os quatro pilares merecem a
mesma atenccedilatildeo ldquoa fim de que a educaccedilatildeo apareccedila como uma experiecircncia global a levar a cabo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
94
ao longo de toda a vida no plano cognitivo e praacutetico para o individuo enquanto pessoa e
membro da sociedaderdquo (p 78)
Assim o primeiro pilar que se intitula de aprender a conhecer relaciona-se com a
necessidade do ser humano adquirir os ldquoinstrumentos de compreensatildeordquo que lhe permitem
conhecer o mundo agrave sua volta Por sua vez o segundo pilar aprender a fazer no que concerne
agrave necessidade de adquirir competecircncias que permitam ao ser humano trabalhar em equipa em
diferentes situaccedilotildees e contextos o terceiro pilar diz respeito a aprender a viver com os outros
uma vez que o ser humano se encontra integrado numa sociedade e conviver com os outros
torna-se uma necessidade primordial o uacuteltimo pilar aprender a ser engloba os trecircs pilares
precedentes na medida em que ldquoa educaccedilatildeo deve contribuir para o desenvolvimento total da
pessoardquo (Delors 1999 p 85) construindo o sentido de autonomia e reflexatildeo sobre si
responsabilidade e iniciativa A necessidade de mencionar os quatro pilares da educaccedilatildeo
relaciona-se especificamente com a natureza do terceiro pilar e da importacircncia que este tem na
gestatildeo de conflitos A fim de voltar a focar a atenccedilatildeo neste terceiro pilar apresentado por
Delors (1999) este aponta no sentido que ldquodesenvolver [uma] atitude de empatia na escola eacute
muito uacutetil para os comportamentos sociais ao longo de toda a vidardquo (p 84) encontrando-se
esta atitude relacionada com a capacidade do ser humano se colocar no lugar dos outros
compreendendo deste modo as suas reaccedilotildees diluindo a possibilidade de conflito
Em sala de aula na relaccedilatildeo pedagoacutegica o conflito estaacute presente pois aiacute estatildeo presentes
alunos e professores que interagem entre si ldquoO conflito em si nem eacute bom nem eacute mau eacute natural
na convivecircncia humana o modo como lidamos com ele eacute que pode ser positivo ou negativordquo
(Freire 2011 p 44) No entanto as diferentes fontes documentais ligadas agrave literatura
educacional fazem recorrentemente referecircncia agrave visatildeo negativa do conflito Contudo e
parafraseando Freire (2011) ldquoconflito natildeo eacute sinoacutenimo de violecircncia pois esta eacute apenas uma das
formas possiacuteveis de resposta ao conflitordquo (p 44) Numa posiccedilatildeo de anaacutelise entendemos por
conflito como sendo uma incompatibilidade entre duas ou mais pessoas Todavia tambeacutem
devemos ver o conflito num enfoque mais construtivo em que este eacute visto como um fenoacutemeno
social multidimensional que eacute parte integrante do ser humano essencial para a transformaccedilatildeo
social Este quando equilibrado em termos de partes por norma natildeo causa problemas Natildeo
obstante em situaccedilotildees de abuso de poder no caso de uma relaccedilatildeo assimeacutetrica pode desencadear
situaccedilotildees de violecircncia ldquoO conflito tambeacutem natildeo pode confundir-se com indisciplina porque
esta se define a partir da ordem estabelecida das regras e das normas definidas para uma
determinada situaccedilatildeo pedagoacutegicardquo (Freire 2011 p 45) Contudo pode acontecer que situaccedilotildees
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
95
de indisciplina possam vir a gerar conflitos e aqui a accedilatildeo e criatividade do professor eacute
fundamental assumindo o papel de liacutedermediador apoiado nas diferentes teorias e modelos
de interpretaccedilatildeo das relaccedilotildees interpessoais e de desenvolvimento humano
Um dos papeacuteis fundamentais e indispensaacuteveis do grupo eacute a lideranccedila naturalmente
assumida pelo professor e repartida pelos alunos embora sempre sob a supervisatildeo do professor
A lideranccedila do professor depende muito da sua personalidade ou idiossincrasia dos diversos
papeacuteis que assume podendo ser um liacuteder mais ou menos normativo pessoal ou transacional
Esta capacidade de lideranccedila reflete-se ainda no modo como gere os conflitos na sala de aula
a dinacircmica que imprime no grupo conforme as estrateacutegias de organizaccedilatildeo e gestatildeo do grupo
tendo em conta os objetivos a atingir a maturidade do grupo o nuacutemero de alunos a dimensatildeo
da sala entre outros fatores (York-Barr amp Duke 2004) Poreacutem se eacute verdade que o liacuteder modela
o grupo tambeacutem eacute verdade que o grupo modela o liacuteder O melhor professor com alunos
ldquodifiacuteceisrdquo devido a fatores vaacuterios teraacute dificuldade em liderar obrigando-o permanentemente
a uma procura de equiliacutebrio relacional o que lhe causa cansaccedilo e desgaste repercutindo-se na
sua atividade pedagoacutegica No decorrer da sua carreira o professor estabelece interaccedilotildees com
os seus alunos alicerccedilando-as de forma a desenvolver a sua capacidade de lidar eficazmente
com estes constrangimentos (Nias 2001)
34 Dimensatildeo Eacutetica e Emocional da Competecircncia Docente
A diversidade dos alunos nos grupos turma eacute por demais evidente em todos os niacuteveis
de ensino Em cada turma haacute alunos com niacuteveis de desenvolvimento diferentes ritmos de
aprendizagem padrotildees de comportamento e origens culturais diversas Tal como cada aluno
tambeacutem a turma apresenta as suas idiossincrasias natildeo soacute ao niacutevel de aprendizagem como ao
niacutevel de atitudes comportamentos ritmos de trabalho marcaccedilatildeo de territoacuterios delineados pelas
partes no cumprimento ou incumprimento de regras Em suma a sala de aula seraacute aquilo que
Dubet (1996 cit por Amado amp Freire 2002 p 8) designa por um ldquouniverso de alianccedilas e de
conflitosrdquo Cada aluno eacute um soacute pelo que eacute importante o professor identificar as particularidades
que cada aluno em si encerra tentando entrar no seu mundo sem o invadir adaptando
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
96
estrateacutegias tirando partido desse conhecimento para a organizaccedilatildeo da sala de aula orientando
as suas atividades de uma forma motivadora e dinacircmica de acordo com os interesses do aluno
da turma proveniecircncia social e cultural dos alunos
A capacidade de observaccedilatildeo anaacutelise e reflexatildeo acerca da existecircncia destas
idiossincrasias parece-nos ser em termos operacionais muito importante para que se possa
gerir o nosso e o seu ldquosentirrdquo nas relaccedilotildees proacuteximas que se vatildeo criando Reconhecemos
igualmente a sua relaccedilatildeo com ldquoo tipo de representaccedilotildees perspectivas e expectativas que os
professores elaboram acerca dos seus alunos e turmas com o esforccedilo que investem na
compreensatildeo dos seus problemas ao mesmo tempo que procuram relacionaacute-los objectivamente
com seus backgroundsrdquo (Amado 2003 p 1030) Este conhecimento sobre os alunos surge
como elemento facilitador da organizaccedilatildeo e dinacircmica da aula pois leva o professor ateacute um
conhecimento que se reporta para aleacutem do que se vecirc na aula permitindo-lhe uma maior eficaacutecia
na organizaccedilatildeo das suas atividades e estrateacutegias especiacuteficas para os alunos em causa
A identificaccedilatildeo de uma articulaccedilatildeo forte entre o conhecimento do
alunoaccedilatildeointenccedilatildeocomportamentofim pode ser resultado dessa seleccedilatildeo fundamentada
minimizando problemas alargando o leque de soluccedilotildees disponiacuteveis para todos os participantes
no processo educativo (Brandatildeo 1999) Os professores precisam de ser adaptativos porque
enfrentam constantes situaccedilotildees de mudanccedila tendo em conta o nuacutemero de situaccedilotildees que
ocorrem em cada momento Essa accedilatildeo tem que se basear em prioridades coerentes bem
definidas em que os alunos percebam os procedimentos sem ambiguidades
Esta capacidade relacional identifica-se na forma como o professor consegue gerir com
inteligecircncia emocional e flexibilidade as situaccedilotildees com que se depara por mais difiacuteceis e
inesperadas que possam parecer Uma grande ajuda para que isto aconteccedila eacute o professor
conhecer bem os seus alunos confiar no seu potencial e estimular o seu desenvolvimento
cognitivo (Jesus 2005)
Baseadas neste pressuposto do conhecimento individualizado de cada aluno o
professor procura ajuizar essas mudanccedilas em funccedilatildeo da sua exequibilidade do confronto da
teoria com a praacutetica da eacutetica do sucesso jaacute obtido em situaccedilotildees similares assumindo as suas
decisotildees exclusivamente para aqueles alunos e para aquele contexto sem generalizaccedilotildees
(Hargreaves 2001) Estes princiacutepios muito presentes nas praacuteticas dos docentes trazem
impliacutecitos reflexos louvaacuteveis a niacutevel organizativo pelo facto de eles condicionarem de forma
positiva a accedilatildeo de cada professor na sua praacutetica pedagoacutegica perante ldquoaquelardquo turma e ldquoaquelerdquo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
97
aluno reconhecendo e procurando lidar adequadamente com os fatores menos visiacuteveis do seu
insucesso desinteresse e indisciplina (Amado 2003) Eacute pois neste contexto atual de mudanccedilas
sociais educativas e ateacute relacionais que o papel do professor surge como agente fulcral
adaptando-se a esta dinacircmica de renovaccedilatildeo permanente adotando novos meios adequados agraves
circunstacircncias de cada momento onde o esforccedilo do professor passa entre outras funccedilotildees por
iniciar ou reforccedilar as novas geraccedilotildees com saberes acadeacutemicos alicerccedilados e tambeacutem pela
cultura de valores que se tecircm vindo a diluir neste mundo freneacutetico do qual esta geraccedilatildeo de
jovens faz parte
A profissatildeo docente eacute complexa e delicada No entanto temos que reconhecer que essa
complexidade tem vindo a aumentar como resultado das diversas transformaccedilotildees que se
verificaram nas ldquosociedades industrializadas e que estiveram na origem da globalizaccedilatildeo e da
sociedade de informaccedilatildeordquo (Estrela 2010 p 6)
Os professores trabalham com puacuteblicos cada vez mais heterogeacuteneos tendo pois que
fazer o ponto de equiliacutebrio entre as famiacutelias e a sala de aula funccedilatildeo esta aliada agrave missatildeo de
vincular agrave escola natildeo soacute os que estatildeo laacute por convicccedilatildeo como os que estatildeo laacute por obrigaccedilatildeo Esta
hostilidade transforma o trabalho do professor numa accedilatildeo
fortemente emocional que pode ter tanto de estimulante como de frustrante mas que torna o professor particularmente vulneraacutevel agraves situaccedilotildees instaacuteveis da vida escolar e aos juiacutezos de valores dos outros sobretudo se ele natildeo tiver controlo emocional e natildeo estiver bem seguro dos seus proacuteprios valores e princiacutepios eacuteticos de conduta profissional (Estrela 2010 pp 6-7)
Esta nossa convicccedilatildeo e a certeza de que o professor tem que se integrar num sistema
dinacircmico e auto-regulado que lhe permita lidar com o conhecido o desconhecido e com o
imprevisto baseado em padrotildees de desempenho sustentaacuteveis orientou a nossa accedilatildeo com os
formandos para as grandes aacutereas que apresentamos e autores de referecircncia que as referem Em
todos os momentos a paixatildeo pelo ensino (Day 2004) as emoccedilotildees (Estrela 2010) a lideranccedila
sustentaacutevel (Hargreaves amp Fink 2007) a supervisatildeo (Alarcatildeo amp Roldatildeo 2009 Alarcatildeo amp
Tavares 2010) entre outras temaacuteticas fizeram parte integrante deste percurso do qual
apresentamos a sua anaacutelise e interpretaccedilatildeo mais adiante
Tem sido afirmado ao longo deste trabalho que as relaccedilotildees que se estabelecem em sala
de aula satildeo muito importantes para o (in)sucesso do processo de ensino e aprendizagem A
temaacutetica das emoccedilotildees e da afetividade aliada agrave competecircncia relacional na relaccedilatildeo pedagoacutegica
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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faratildeo com que o professor se empenhe enquanto ensina e simultaneamente cative a turma
como um liacuteder respeitado e respeitador Deste modo os alunos na situaccedilatildeo de um bom ensino
estatildeo felizes satisfeitos e motivados Perante a situaccedilatildeo de mau ensino mostram tristeza e
desmotivaccedilatildeo pelo que os meacutetodos o estilo de comunicaccedilatildeo a postura do professor que
envolve um conjunto de caracteriacutesticas relacionais seratildeo as bases responsaacuteveis pelo
desenvolvimento de sentimentos negativos ou positivos nos alunos indexado ao ldquoa) estilo de
relaccedilatildeo sustentado pelo professor b) agraves caracteriacutesticas pessoais do professor e suas atitudes e
valores e ao c) modo como controla e regula o comportamento discenterdquo (Amado Freire
Carvalho amp Andreacute 2009 p 81)
Os professores intervenientes diretos na accedilatildeo apresentam uma visatildeo de proximidade
com a mesma diferente dos restantes intervenientes valorizando o caraacuteter interativo e
interpessoal do desempenho De acordo com Formosinho Machado amp Oliveira-Formosinho
(2010) ldquoNas profissotildees de desenvolvimento humano o desempenho profissional eacute interactivo
isto eacute o trabalho com pessoas eacute feito atraveacutes da interacccedilatildeo com essas mesmas pessoas sendo
essa interacccedilatildeo o meio e parte do proacuteprio conteuacutedo de desempenhordquo (p 14) sendo seu apanaacutegio
manter ldquoos alunos ativamente envolvidos em atividades produtivasrdquo A accedilatildeo de formandos que
trabalham com pessoas deve estar envolta em motivaccedilatildeo afeto e emoccedilatildeo e inteligecircncia sendo
consequecircncia de (in)sucesso da intervenccedilatildeo a conjugaccedilatildeo destes fatores componente pessoal
e componente profissional (saberes proacuteprios da profissatildeo) O ldquosucesso depende do
envolvimento das proacuteprias pessoas no processo e sobretudo da interacccedilatildeo entre essas duas
componentes do desempenhordquo (Idem) e do ritmo a que a aula se desenrola
Tambeacutem este envolvimento apela agrave dimensatildeo afetiva da relaccedilatildeo professoraluno Esta
ganha uma nova dimensatildeo porque estamos a vivenciar situaccedilotildees educativas com professores-
estagiaacuteriosformandosprofessores principiantes uma vez que estes estatildeo a tactear esta
realidade envoltos em inseguranccedila e outros medos
Pelas marcas profundas que este periacuteodo deixa no percurso de um professor pelos
ldquosentimentos contraacuterios que oscilam entre o desejo de realizaccedilatildeo e a alegria pelas pequenas
vitoacuterias do dia-a-diardquo (Estrela MT 2010 p 23) compete ao supervisor dar respostas ativas
criativas e assertivas dando oportunidade ao formando de se afirmar refletindo sobre as
situaccedilotildees vivenciadas e observadas Este processo permite associar o processo investigativo agrave
praacutexis pois ldquoeste pressupotildee um pensamento criador na produccedilatildeo e natildeo apenas na transmissatildeo
de ideias e procedimentos A atividade educativa tem nesse sentido como fundamento a
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
99
compreensatildeo das relaccedilotildees humanas na investigaccedilatildeo de problemas e constituiccedilatildeo e valores
eacuteticos rdquo (Pinheiro 2012 p 92)
Esta postura permite ao formando a interiorizaccedilatildeo do processo formativo como algo
vivo que se constroacutei e reconstroacutei nas suas proacuteprias accedilotildees na compreensatildeo das situaccedilotildees
vivenciadas e da sua pesquisa e que mais tarde seratildeo vistas natildeo com distanciamento e
impossibilidade de concretizaccedilatildeo em sala de aula mas como mote de anaacutelise e reflexatildeo para
outras vivecircncias pedagoacutegicas A investigaccedilatildeo na accedilatildeo baseada na reflexatildeo e auto-reflexatildeo
permite a prevalecircncia do aspeto formativo na accedilatildeo como facilitador e agente de mudanccedila em
detrimento do seu papel apenas teoacuterico e concetual Permite ainda uma forma de pensamento
instrumental sobre os meacutetodos e estrateacutegias utilizadas para melhorar as praacuteticas educativas e
que natildeo seria possiacutevel se os formandos natildeo tivessem este espaccedilo de questionamento para
equacionar modificaccedilotildees e exercitarem a sua autonomia (Pinheiro 2012)
Neste processo de aquisiccedilatildeo de autonomia realccedilamos entre outros aspetos o conjunto
de valores atitudes e comportamentos caracteriacutesticos da escola assim como a importacircncia das
relaccedilotildees que se estabelecem e que contribuem de forma substancial para a sua socializaccedilatildeo Na
opiniatildeo de Nascimento (2007) ldquoa importacircncia do papel dos alunos e da escola na socializaccedilatildeo
do professorrdquo (p 60) proporciona momentos de ecircxito ainda maiores quando o formando ganha
mais experiecircncia e passa a demonstrar preocupaccedilatildeo com eles com a sua aprendizagem e com
os seus comportamentos sobretudo no momento em que o reforccedilo do comportamento
adequado eacute justo proporcionando momentos de integraccedilatildeo com influecircncia direta nas accedilotildees do
aluno
Eacute o professor enquanto pessoa que faz muitas vezes a diferenccedila na relaccedilatildeo com os seus
alunos Para lidar com situaccedilotildees difiacuteceis satildeo feitas muitas exigecircncias ao professor que
dependem muito da sua proacutepria formaccedilatildeo pessoal dos seus valores dos seus princiacutepios eacuteticos
e deontoloacutegicos da sua capacidade de resistecircncia mas tambeacutem do seu otimismo da sua
capacidade de compreender o outro do seu desejo e empenho na ajuda e no cuidado daqueles
que apesar dos comportamentos por vezes natildeo serem os mais desejados se revelam mais
fracos e necessitados
Neste sentido a docecircncia assenta num conjunto articulado de saberes de saber-fazer e
de atitudes (Estrela M T 2010) Um ideal de serviccedilo que se consubstancia no exerciacutecio eacutetico
da profissatildeo baseado no eu pessoal do professor que se refletiraacute na relaccedilatildeo pessoal que
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
100
estabelece com os seus alunos No seio desta relaccedilatildeo reconhecer o aluno como pessoa eacute um
marco significativo Este eacute
um reconhecimento fundado numa eacutetica da autonomia da solidariedade e do respeito pelos projectos pelos saberes pelas aptidotildees pelos direitos do outro um reconhecimento simultaneamente praacutetico e traduzido numa Relaccedilatildeo Pedagoacutegica que impulsione cada um dos intervenientes (professor e aluno) a ir aleacutem do superficial e aparente no outro aprofundando continuamente o conhecimento reciacuteproco e o crescimento de ambos (Amado 2003 p 1032)
O professor deve assim consciencializar-se desta dinacircmica de renovaccedilatildeo permanente
dotando-se de meios adequados agraves circunstacircncias onde as competecircncias emocionais e eacuteticas
estejam cada vez mais presentes
Sublinhamos que ldquoo ensino eacute uma actividade essencialmente relacional e as emoccedilotildees
premeiam as relaccedilotildees humanasrdquo (Freire Bahia Estrela M T amp Amaral 2011 p 43) e por
isso centramos aqui o nosso campo de accedilatildeo procurando mudanccedilas nas accedilotildees dos formandos e
no processo baseando-nos na interpretaccedilatildeo sisteacutemica dos dados recolhidos na anaacutelise do
processo e no contributo das temaacuteticas abordadas em contexto seminaacuterio Somos da opiniatildeo
de que a pesquisa na e sobre a accedilatildeo constitui-se como uma aprendizagem ativa de significados
e a sua avaliaccedilatildeo permite planificar novas accedilotildees tendo como base os dados recolhidos a
reflexatildeo realizada sobre os mesmos e o enquadramento teoacuterico caso se justifique (Pinheiro
2012 Caetano 2004) contribuindo assim para que as suas expetativas em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo
correspondam ao que se pretende
Sabendo que os cursos via ensino causam sempre algum desconforto porque se
vivenciam dias difiacuteceis nesta aacuterea eacute necessaacuterio focos de interesse que os motivem e os faccedilam
sentir realizados em contexto educativo Foi essa postura que encontramos no grupo com o
qual organizamos o nosso estudo No entanto parece-nos ser de interesse referenciar
igualmente o estudo realizado por Flores (2012) acerca das expetativas dos formandos face agrave
sua formaccedilatildeo De entre as expetativas dos formandos destaca-se a colaboraccedilatildeo no processo
ensino-aprendizagem dos alunos (984) aprender a melhorar os resultados dos alunos
(982) aprender a preparar os alunos a viver numa sociedade democraacutetica (935) aqui
muito presente a questatildeo dos princiacutepios dos valores da eacutetica da deontologia das relaccedilotildees
humanas e da paixatildeo pelo ensino Os professores com paixatildeo pelo ensino comprometem-se
demonstram entusiasmo e muita energia intelectual e emocional no seu trabalho tanto com as
crianccedilas como com os jovens e adultos Os professores apaixonados pelo ensino tecircm
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
101
consciecircncia do desafio que enfrentam nos amplos contextos sociais em que ensinam tecircm um
sentido de identidade claro e acreditam que fazem a diferenccedila (Day 2004)
Este tipo de professores procura dar resposta agraves exigecircncias agraves expetativas sociais e agraves
necessidades crescentes que os alunos impotildeem Para tal seraacute necessaacuterio operar mudanccedilas no
pensamento e na accedilatildeo que influenciam a ldquocogniccedilatildeo e [a]emoccedilatildeo ambas as dimensotildees natildeo
observaacuteveis no ensino mas fortemente afetadas pelas crenccedilas que os professores possuemrdquo
(Freire Bahia Estrela M T amp Amaral 2012b p 1)
35 Dimensatildeo Teacutecnica da Competecircncia Docente
Atendendo a que a praacutetica pedagoacutegica se concretiza em contexto institucional com as
normas e valores inerentes a esse contexto eacute necessaacuterio que esta se desenvolva em espiacuterito de
colegialidade facilitando as relaccedilotildees as diferenccedilas que permitem um sentido de
individualidade e uma reinterpretaccedilatildeo dos diferentes papeacuteis de forma a facilitar a relaccedilatildeo
interpessoal entre os vaacuterios intervenientes no processo educativo (Estrela M T 2010)
Esta dimensatildeo da competecircncia docente encontra-se ancorada no modo como o
professor organiza as suas atividades acadeacutemicas tendo como preocupaccedilotildees dominantes (i) as
metodologias empregues (ii) a planificaccedilatildeo (iii) a gestatildeo da comunicaccedilatildeo e (iv) a organizaccedilatildeo
de atividades que lhe permitam motivar os alunos sem descurar a componente avaliativa
tambeacutem importante no processo de ensino-aprendizagem Para que esta dimensatildeo da
competecircncia docente seja colocada em praacutetica de forma eficaz exige-se ao professor uma
soacutelida formaccedilatildeo cientiacutefica (conhecimento dos conteuacutedos a ensinar) e pedagoacutegica (Amado
2003)
Estes aspetos aqui referenciados aplicados num paradigma de processoproduto fazem
a diferenccedila entre professores ldquoeficazesrdquo e ldquonatildeo eficazesrdquo em termos de exerciacutecio da atividade
docente existindo uma relaccedilatildeo direta entre essas diferenccedilas e a problemaacutetica da indisciplina
em sala de aula Nesta dimensatildeo faz sentido falar de praacuteticas e posturas do professor na correta
gestatildeo didaacutetica e curricular da sala de aula
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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Assim de acordo com Doyle (1986) por gestatildeo da sala de aula entende-se o conjunto
de estrateacutegiasatividades desenvolvidas em sala de aula que permitam o desenvolvimento de
forma eficaz do processo de ensino aprendizagem Eacute neste acircmbito que Arends (2001) define
o conceito de gestatildeo da sala de aula como as estrateacutegias utilizadas pelos professores para
organizar e estruturar as suas atividades com o objetivo de maximizar a cooperaccedilatildeo e o
envolvimento dos alunos e de diminuir o comportamento disruptivo A diversidade cultural
com a qual os professores tecircm que lidar em sala de aula exige capacidades e competecircncias
acrescidas por parte do professor na gestatildeo de sala de aula mobilizando natildeo soacute saberes da
ordem do saber e do saber fazer como do saber ser com os outros
A questatildeo central que envolve o trabalho de Kounin trabalho de referecircncia sempre que
se fala de gestatildeo da sala de aula eacute ldquose seraacute possiacutevel prever o comportamento dos alunos a partir
do que o professor fazrdquo (Kounin 1977 cit por Santos 1999 p 15) O comportamento dos
alunos eacute em parte dependente do que faz o professor As estrateacutegias do management que
segundo Kounin satildeo fundamentais na aula para a prevenccedilatildeo da indisciplina prendem-se com
o facto de o professor saber ou natildeo implementar suavidade e ritmo no decurso das atividades
da aula e na transiccedilatildeo entre elas saber demonstrar aos seus alunos que sabe o que se passa na
sala de aula saber responder a mais do que uma situaccedilatildeo em simultacircneo e saber manter o
interesse da turma nas vaacuterias atividades e diversificar atividades conteuacutedos capacidades e as
organizaccedilotildees grupais da turma Integrada ainda nesta gestatildeo o professor deve organizar
atividades de ensino com meacutetodos adequados e ativos traduzindo domiacutenio das situaccedilotildees
planificaccedilatildeo organizaccedilatildeo e clareza de comunicaccedilatildeo (Amado 2000)
Comunicaccedilatildeo Pedagoacutegica
Outro ponto importante tem a ver com as competecircncias comunicacionais na aula De
acordo com M T Estrela (1998) ldquotodo o acto pedagoacutegico eacute essencialmente um acto de
comunicaccedilatildeo visando induzir a aprendizagem de um saberrdquo (p 57) A comunicaccedilatildeo ocupa
assim o cerne do processo pedagoacutegico implicando ldquoa criaccedilatildeo de condiccedilotildees favoraacuteveis (hellip)
que possam tornar eficaz todo o processordquo Para que se compreenda o processo de ensino-
aprendizagem eacute necessaacuterio compreender o processo de comunicaccedilatildeo e como ele se conduz de
forma sintonizada com os interesses dos alunos (Antatildeo 2001)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
103
Eacute necessaacuterio frisar a existecircncia de problemas de descodificaccedilatildeo pois sintetizando
Bourdieu Passerron e Saint-Martin (1892) haacute poucas atividades consistindo tatildeo
exclusivamente como no caso do ensino na manipulaccedilatildeo das palavras com o devido
reconhecimento para a enorme perda de informaccedilatildeo transmitida na aula Importante
referenciar igualmente a existecircncia de um ritmo equilibrado da comunicaccedilatildeo dada a assimetria
nas competecircncias comunicativas eacute imprescindiacutevel que o professor transmita a informaccedilatildeo a
um ritmo adequado agraves capacidades dos recetores (alunos) A linguagem do professor natildeo deve
pois ser ldquoformalizada abstracta e sem imagens Pelo contraacuterio deve revelar-se simples
coloquial rica em imagens e em comparaccedilotildeesrdquo (Antatildeo 2001 p 22) de forma a tornar a
mensagem acessiacutevel e clara8 para os alunos
Antatildeo (2001) reforccedila ainda a ideia de que ensinar natildeo eacute soacute transmitir conhecimentos
eacute ldquofazer pensar eacute estimular o aluno para a identificaccedilatildeo de problemas ajudando-o a criar novos
haacutebitos de pensamento e acccedilatildeordquo conduzindo ldquoo aluno agrave problematizaccedilatildeo e ao raciociacuteniordquo (p
15) O professor deve ser um bom comunicador e criar empatia com os seus alunos Soacute assim
a comunicaccedilatildeo existiraacute de facto verificando-se a dita comunicaccedilatildeo nos dois sentidos sendo de
considerar que ldquoa bilateralidade da comunicaccedilatildeo na aula eacute natildeo apenas aconselhaacutevel mas
sobretudo indispensaacutevelrdquo (Antatildeo 2001 p 15)
A atividade desenvolvida pelo professor no grupo-turma exige-lhe entatildeo uma
comunicaccedilatildeo eficaz para que possa atingir os objetivos propostos Contudo esta eficaacutecia do
ato de comunicar nem sempre eacute a desejaacutevel ateacute porque o professor se encontra perante uma
grande diversidade de alunos com diferentes niacuteveis intelectuais e com diferentes representaccedilotildees
das camadas sociais o que nem sempre facilita a passagem da sua mensagem
Esta interaccedilatildeo embora com um caraacuteter cientiacutefico especiacutefico integra-se num ato social
comunicacional sendo a comunicaccedilatildeo um coacutedigo chave para uma gestatildeo de sala de aula eficaz
Ainda que os autores apontem este modelo ligado agrave aacuterea empresarial o modelo de Lasswell
aplica-se por inteiro agrave sala de aula onde a comunicaccedilatildeo estaacute em permanecircncia e eacute fundamental
para o sucesso ou natildeo das relaccedilotildees que aiacute se estabelecem
Os autores McQuail amp Windahl (2003) referem-se a Harold D Lasswell um cientista
poliacutetico americano que em 1948 comeccedilou um artigo com aquela que eacute talvez a mais famosa
8 Em que consiste a clareza de discurso do professor Lopes e Silva (2010) define ldquoclareza do discurso do professor como organizaccedilatildeo explicaccedilatildeo exemplificaccedilatildeo e praacutetica guiada e avaliaccedilatildeo da aprendizagem do alunordquo (p 37)
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expressatildeo de investigaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e passo a citar ldquoUma maneira coacutemoda de
descrever um acto de comunicaccedilatildeo eacute responder agraves seguintes perguntas Quem Diz o quecirc A
quem Como Com que objectivosrdquo (p 112) O impacto desta expressatildeo deu nome ao
respetivo modelo a que os autores Caetano e Rasquilha (2007) se referem da seguinte forma
Quem ndash O emissor ndash A comunicaccedilatildeo seraacute tanto mais inteligiacutevel quanto mais clara for a
qualidade ou capacidade do papel do emissor enquanto comunicador pois o papel que ele
assume clarifica a comunicaccedilatildeo
Diz o quecirc A mensagem eacute aquilo que liga o emissor ao recetor Lasswell recomenda
cuidado na escolha das palavras na organizaccedilatildeo das frases agrave razatildeo por que se emite
determinada mensagem e a sua significaccedilatildeo as palavras e as frases devem ser claras para natildeo
levar a interpretaccedilotildees erradas
A quem - Ao(s) recetor(es) ndash estes autores referem que haacute quem defenda que o grau
de importacircncia do emissor perante o recetor no processo de comunicaccedilatildeo humana eacute crucial
Como - Atraveacutes de que canal ndash a escolha do meio adequado pode por vezes garantir
o ecircxito ou provocar o fracasso do processo de comunicaccedilatildeo A comunicaccedilatildeo frente a frente eacute
um meio muito utilizado ldquoAo repreender identifico o aluno em faltardquo
Com que objetivos ndash Quais os efeitos ndash a finalidade da comunicaccedilatildeo deve ser evidente
para precaver interferecircncias distorccedilotildees e mal-entendidos
Por conseguinte haacute preocupaccedilatildeo com o resultado praacutetico da comunicaccedilatildeo com o seu
controlo e com a avaliaccedilatildeo de resultados pois o elemento principal na praacutetica da comunicaccedilatildeo
eacute a descodificaccedilatildeo e envolvimento do emissor e do recetor na mensagem a transmitir No
entanto eacute sabido que existe uma ldquodivisatildeo entre o lado da norma versus o lado da transgressatildeo
(hellip) designados de alunos problemardquo (Estrela T 1998 p 42) e que por vezes eacute difiacutecil gerir
porque o(s) aluno(s) com comportamentos disruptivos perdem prestiacutegio perante os colegas
natildeo trabalham desmotivam satildeo barulhentos recusam cumprir regras (Nascimento 2007)
Como forma de gerir os conflitos que daqui advecircm solicita-se ao professor que desenvolva
competecircncias essencialmente relacionais fundamentadas ldquoem cooperaccedilatildeo empatia
assertividade suporte social auto-estima e auto-realizaccedilatildeordquo (Jardim 2010 p 297)
desenvolvendo atitudes positivas de desempenho e de relacionamento bem como aptidotildees para
executar as tarefas
Esta praacutetica tem subjacente um discurso claro e objetivo em que a comunicaccedilatildeo eacute vista
como a troca de ideias e experiecircncias num processo interativo e pluridimensional sem
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
105
esquecer que cada aluno eacute um aluno com as suas especificidades Subjacente aos requisitos de
uma comunicaccedilatildeo estimulante o professor deve ter a noccedilatildeo do que eacute fundamental e do que eacute
acessoacuterio deve ampliar a capacidade de pensar dos seus alunos e desenvolver habilidades para
observar relacionar estruturar analisar justificar sintetizar correlacionar inferir
desenvolvendo competecircncias que o tornaratildeo um cidadatildeo ativo reflexivo e criacutetico pronto para
enfrentar a complexidade da vida e do mundo que o rodeia
Em siacutentese as dimensotildees das competecircncias docentes operacionalizam-se num espaccedilo
complexo ldquoque envolve conhecimentos e competecircncias teacutecnicas tecnologias diversas mas
tambeacutem cuidados modos de ser e de pensar de cada um dos intervenientes na sala de aula - o
que ainda se torna mais complexo se tivermos em conta a natureza psicossocial do grupo turma
a relaccedilatildeo do que se passa na aula com o clima e cultura da escola e com aspectos determinantes
da comunidade envolventerdquo (Amado amp Freire 2010 p 311) Todo este processo se complica
quando falamos de professores estagiaacuterios ou professores em iniacutecio de carreira Colocados
assim entre um pensar e um agir contraditoacuterios estes professores em vez de atingirem um
determinado grau de emancipaccedilatildeo e maturidade poderatildeo vivenciar alguma experiecircncia
susceptiacutevel de provocar o dito choque de realidade que eacute visto como o corte que se daacute entre os
ideais criados durante a formaccedilatildeo inicial e a realidade do dia a dia numa sala de aula
Assim eacute desejaacutevel que o periacuteodo da formaccedilatildeo inicial aqui designado por estaacutegio
(contacto real com a escola de forma algo autoacutenoma e simultaneamente supervisionada) seja
um momento privilegiado para apoiar os formandos no sentido de antecipar toda esta
problemaacutetica de inserccedilatildeo na carreira O modo como decorre o processo de supervisatildeo poderaacute
ajudar os professores-estagiaacuterios a desenvolver a sua competecircncia relacional e de gestatildeo da sala
de aula com vista agrave assunccedilatildeo de uma atitude preventiva e proacute-ativa face agrave indisciplina eacute um
dos focos desta investigaccedilatildeo Aleacutem disso tomaremos como linha orientadora um modelo de
supervisatildeo reflexivo enquadrando-o num dispositivo com caracteriacutesticas de investigaccedilatildeo-accedilatildeo
que se constitua ldquocomo uma forma de lidar com o relativismo das respostas possiacuteveis mas ao
mesmo tempo de integrar a contradiccedilatildeo e a incerteza e que se concetualiza nas caracteriacutesticas
do modelo de formaccedilatildeo reflexivo apresentado por Shoumln (1983) Saacute-Chaves (2000) Alarcatildeo
(1996) entre outros
Este modelo de supervisatildeo constitui-se como um processo de desenvolvimento das
competecircncias profissionais construiacutedo a partir do diaacutelogo constante entre a teoria e a praacutetica
diaacutelogo este que tem como referentes significativos a praacutetica educativa e as conceccedilotildees teoacutericas
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
106
que lhe estatildeo subjacentes levando os seus protagonistas a fazer da sua praacutetica um campo de
reflexatildeo onde se estrutura e fundamenta a accedilatildeo Procurou-se apoiar os professores-estagiaacuterios
num processo de desenvolvimento tornando-os cada vez mais capazes de lidar com incertezas
Pretendeu-se projetar uma imagem do supervisor como fonte de efetiva ajuda e apoio com vista
ao desenvolvimento pessoal e profissional do futuro professor Algueacutem que cria condiccedilotildees de
procura de significados de e para as suas atitudes e opccedilotildees levando-o a identificar problemas
a planificar accedilotildees num processo que enquadra o saber do formando e do formador mas
igualmente suscita duacutevidas e incertezas de um e de outro (Alarcatildeo 1996) Este processo iraacute
decorrer em contexto de formaccedilatildeo inicial de professores
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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PARTE II
ESTUDO EMPIacuteRICO
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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CAPITULO I
METODOLOGIA DO ESTUDO
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
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1 Problemaacutetica e Objetivos do Estudo
As vivecircncias pessoais e profissionais foram-nos conduzindo neste estudo que agora
apresentamos Quando em 2000 iniciaacutemos a atividade docente na Escola Superior de Educaccedilatildeo
do Instituto Politeacutecnico de Braganccedila no Departamento de Supervisatildeo da Pratica Pedagoacutegica
Educadores de Infacircncia e Professores do 1ordm Ciclo percebemos quase de imediato que os
formandosfuturos professores em formaccedilatildeo inicial nomeadamente em contextos de
supervisatildeo evidenciavam fragilidades em alguns aspetos da relaccedilatildeo pedagoacutegica com maior
incidecircncia na organizaccedilatildeo e gestatildeo de sala de aula e controle disciplinar Como formadoras e
investigadoras mobilizamos todas as oportunidades no sentido de melhorar a sua integraccedilatildeo
em contexto educativo e atenuar o choque com a realidade
Na investigaccedilatildeo apresentada em livro da dissertaccedilatildeo de mestrado (Ribeiro 2010)
procuramos saber como os formandosfuturos professores lidavam com a indisciplina em
contexto de estaacutegio e conhecer as suas perspetivas acerca do contributo da formaccedilatildeo inicial
para lidarem com esta dimensatildeo do seu desempenho profissional
Nos relatos obtidos atraveacutes de entrevista evidencia-se a falta de formaccedilatildeo e as grandes
dificuldades dos professores estagiaacuterios para lidar com estas questotildees da relaccedilatildeo pedagoacutegica
o que nos motivou a iniciar este novo percurso investigativo
Existem estudos que revelam a enorme importacircncia que os professores atribuem a esta
fase da sua formaccedilatildeo muitas vezes apontando-a como a uacutenica e efetiva experiecircncia de
formaccedilatildeo (Galvatildeo amp Reis 2002) Pode no entanto ser um periacuteodo de grandes contradiccedilotildees
anguacutestias e perplexidades como sublinham Vieira Moreira Barbosa Paiva e Fernandes
(2006) ao dizerem que se trata de ldquoum ano de grande conflitualidade ambiguidade e incerteza
a niacutevel socioprofissional relacional e epistemoloacutegico (hellip) mas pode tambeacutem ser um periacuteodo
de elevado valor formativo pelas riquezas de aprendizagens realizadasrdquo (p 45)
Neste sentido falta pesquisa nesta linha de investigaccedilatildeo sobre os professores-
estagiaacuterios o que nos parece ser uma lacuna importante que deve ser colmatada Nesta primeira
fase de imersatildeo na profissatildeo o conhecimento do modo como os professores vivem a dimensatildeo
emocional e relacional na relaccedilatildeo precoce que estabelecem com os alunos e o contexto escolar
em geral que pode ser muito relevante no quadro formativo por reforccedilar uma abordagem mais
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
112
humanista e personalizada da formaccedilatildeo que estaacute intimamente ligada ao desenvolvimento de
competecircncias noutras dimensotildees da atividade docente como sejam as competecircncias cientiacuteficas
e pedagoacutegicas da competecircncia docente considerada no sentido mais global
Deste modo perspetivamos a escola como unidade organizacional com enorme
potencial de mudanccedila e reconhecemos a importacircncia do desenvolvimento de culturas de
colaboraccedilatildeo entre as escolas e as instituiccedilotildees formadoras de ensino superior entre professores
e investigadores (Caetano 2003)
Assim sendo foi nosso propoacutesito realizar uma investigaccedilatildeo apoiada num esquema de
Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo cujo objetivo era o desenvolvimento da competecircncia relacional e de gestatildeo
de sala de aula dos futuros professores em contextos de supervisatildeo visando uma atitude
preventiva face agrave indisciplina
Por conseguinte partimos da seguinte questatildeoproblema - Quais satildeo os contributos de
um processo de supervisatildeo reflexiva apoiado num esquema de investigaccedilatildeo-accedilatildeo para o
desenvolvimento da competecircncia relacional e de gestatildeo de sala de aula de professores
estagiaacuterios do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico
Esta questatildeo geral desdobrou-se num conjunto de questotildees mais especiacuteficas e que
orientaram o desenvolvimento das diferentes etapas do estudo
i) Como eacute que os processos formativos promovem o desenvolvimento da competecircncia
relacional e de gestatildeo de sala de aula em professores estagiaacuterios do 1ordm ciclo do ensino baacutesico
ii) Que relaccedilotildees se estabelecem entre o desenvolvimento destas competecircncias e a
prevenccedilatildeo da indisciplina
iii) Que mudanccedilas se observam nas praacuteticas e nas conceccedilotildees destes futuros professores
acerca da dimensatildeo relacional do ensino decorrentes de um processo de supervisatildeo apoiado
num esquema de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo
Decorrentes destas questotildees formulaacutemos um conjunto de objetivos que nortearam o
nosso estudo e que seguidamente se explicitam
Promover o desenvolvimento da competecircncia relacional e de gestatildeo de sala de aula
em professores estagiaacuterios do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico
Evidenciar a relaccedilatildeo entre o desenvolvimento da competecircncia relacional e de gestatildeo
de sala de aula e a prevenccedilatildeo da (in)disciplina
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
113
Identificar mudanccedilas ao niacutevel da competecircncia relacional e de gestatildeo de sala de aula
experienciadas por professores estagiaacuterios num processo de formaccedilatildeo supervisionada apoiado
num esquema de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo
No sentido de dar resposta a estas questotildees e com o objetivo de alcanccedilar as metas
delineadas desenvolvemos no ano letivo 20092010 um trabalho empiacuterico com estudantes do
4ordm ano de Licenciatura em 1ordm Ciclo Ensino Baacutesico (uacuteltimo ano de funcionamento preacute-
Bolonha) integrado na disciplina de Praacutetica Pedagoacutegica III (PPIII) e Seminaacuterio Interdisciplinar
de Praacutetica Pedagoacutegica (SIPP)
2 Opccedilotildees Metodoloacutegicas
Definido o objeto de estudo o desenvolvimento da competecircncia relacional e de gestatildeo
da sala de aula de professores estagiaacuterios do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico eacute apresentada a
abordagem teoacuterica segue-se a escolha da metodologia Damos ecircnfase aos propoacutesitos
metodoloacutegicos defendidos por Estrela A amp Esteves (1989) em que a componente
investigativa na formaccedilatildeo inicial deve ser considerada um ldquoprocesso de formaccedilatildeo de
professores (hellip) [baseado] na utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo como estrateacutegia de formaccedilatildeo [com o
objetivo] de criar uma atitude cientiacutefica no professor em formaccedilatildeordquo (p 97)
A opccedilatildeo por uma determinada metodologia tem por base a procura e o ajustamento entre
a problemaacutetica os procedimentos ao longo do percurso e a interpretaccedilatildeo dos resultados O que
realmente influi na escolha do meacutetodo eacute o posicionamento do investigador relativamente ao
paradigma investigativo bem como o enquadramento teoacuterico e epistemoloacutegico que rege a
investigaccedilatildeo Em siacutentese a decisatildeo tomada estaacute diretamente ligada agrave forma como se perspetiva
a realidade e as suas implicaccedilotildees para as questotildees epistemoloacutegicas
Equacionados todos estes aspetos embora se reconheccedila que vaacuterios fatores podem ser
determinantes para a escolha do paradigma de investigaccedilatildeo o mais importante parece ser a
coerecircncia e a interaccedilatildeo permanente entre o modelo teoacuterico de referecircncia e as estrateacutegias
metodoloacutegicas que constituem as dimensotildees fulcrais do processo investigativo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
114
Na nossa investigaccedilatildeo optaacutemos pelo estudo das dinacircmicas formativas vividas por uma
turma de estudantes do 4ordm ano do curso de licenciatura em 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico em
contexto de seminaacuterio de supervisatildeo e em contexto de salas de aula do 1ordm Ciclo do Ensino
Baacutesico Assim pretendemos envolver estes estudantes bem como toda a equipa de supervisatildeo
implicando-os nos processos de transformaccedilatildeo das suas conceccedilotildees e praacuteticas pedagoacutegicas
Neste sentido adotaacutemos a Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo como estrateacutegia formativa e de investigaccedilatildeo
Seguidamente apresentamos a fundamentaccedilatildeo desta estrateacutegia de investigaccedilatildeo e paradigma em
que se enquadra
21 Paradigma Soacutecio-Criacutetico e Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo
Os objetos de estudo em Ciecircncias de Educaccedilatildeo geralmente satildeo complexos e neste
acircmbito a perspetiva positivista baseada na abordagem hipoteacutetico-dedutiva apoiada em
anaacutelises quantitativas tem sido identificada como redutora para a anaacutelise intrincada que esses
objetos de estudo requerem A linearidade dessa perspetiva bem como as suas finalidades
traduzidas na seleccedilatildeo de dados objetivos mediacuteveis regulares tem colocado em questatildeo
estudos que envolvam processos humanos e sociais pela sua abrangecircncia e dinacircmica
contrapondo-lhes as abordagens interpretativa criacutetica e complexa que permitem uma melhoria
na compreensatildeo das accedilotildees dos sujeitos das dinacircmicas em que participam e sua relaccedilatildeo com os
contextos
De acordo com Valles (1997) o paradigma eleito deve guiar o investigador nos aspetos
ontoloacutegicos epistemoloacutegicos e metodoloacutegicos opiniatildeo igualmente partilhada por Guba e
Lincoln (1994) Embora constituam campos de anaacutelise distintos os autores consideram estes
aspetos intrinsecamente relacionados As questotildees ontoloacutegicas relacionam-se com a forma
como se analisa a realidade e o que eacute possiacutevel saber sobre essa mesma realidade As questotildees
epistemoloacutegicas analisam a natureza da relaccedilatildeo entre o que jaacute se sabe e o que se pode vir a
saber e problematizam estes saberes numa base de objetividade versus subjetividade As
questotildees metodoloacutegicas permitem discutir as teacutecnicas e os procedimentos de forma a conduzir
a investigaccedilatildeo e chegar aos resultadosaos dados que se acreditam ser possiacutevel obter
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
115
A investigaccedilatildeo qualitativainterpretativa tem subjacentes trecircs grandes linhas
orientadoras que as diferenciam de outras metodologias A saber a compreensatildeo do objeto em
estudo centrando-se na anaacutelise e observaccedilatildeo dos factos o papel adotado pelo investigador
responsaacutevel na interpretaccedilatildeo desses dados e o viacutenculo ao objeto que o investigador reporta
para a construccedilatildeo do novo conhecimento (Stake 1995) Acrescem ainda pelas caracteriacutesticas
da investigaccedilatildeo qualitativa o facto de ser importante aprofundar e desenvolver conhecimento
relacionado com uma dada situaccedilatildeo pois assume-se que se sabe muito pouco sobre o objeto de
estudo Neste sentido a investigaccedilatildeo qualitativa e tal como a definem Bogdan e Biklen (1994)
integra cinco caracteriacutesticas que a diferenciam de outros paradigmas Satildeo elas i) a fonte direta
dos dados eacute o ambiente natural sendo o investigador o principal instrumento permanecendo
durante um periacuteodo de tempo consideraacutevel no local onde realiza a recolha de dados escola ou
outro local ii) a principal preocupaccedilatildeo eacute a descriccedilatildeo dos dados onde os escritos da investigaccedilatildeo
contecircm registos realizados em contexto iii) grande preocupaccedilatildeo com o processo e menor
preocupaccedilatildeo com o produto final iv) por norma os dados satildeo analisados de forma indutiva v)
e o significado dos dados recolhidos eacute de vital importacircncia para a investigaccedilatildeo
A educaccedilatildeo e todo o meio que a envolve (professores alunos escolahellip) eacute um campo
de accedilatildeo privilegiado para os estudos qualitativos numa tentativa de estudar a realidade
educativa em contexto real tentando retirar-lhe sentido e interpretar os fenoacutemenos de acordo
com os significados que cada interveniente lhe atribui (Rodriacuteguez-Goacutemez Flores amp Garcia
1996) A investigaccedilatildeo qualitativa admite que a realidade eacute subjetiva e holiacutestica dando uma
maior ecircnfase agrave compreensatildeo que passaraacute por uma visatildeo pluralista da realidade de acordo com
a interpretaccedilatildeo participante nessa realidade Esta interpretaccedilatildeo sugere uma anaacutelise do modo de
pensar do outro mas natildeo um pensamento igual ao outro pois existem entre outros fatores
valores que os diferenciam e que aqui exercem a sua influecircncia
A abordagem qualitativa surge em investigaccedilotildees que se orientam para a descoberta com
grande abertura por parte das linhas orientadoras da investigaccedilatildeo onde a componente teoacuterica
eacute revisitada a todo o momento podendo surgir a necessidade de a reformular agrave medida que o
estudo empiacuterico decorre Todo o processo visa a compreensatildeo a anaacutelise e a discussatildeo da
realidade dos sujeitos intervenientes no estudo Tal facto leva os investigadores que optam pela
abordagem qualitativa em educaccedilatildeo a questionar os sujeitos da investigaccedilatildeo com o objetivo
de perceber ldquoaquilo que eles experimentam o modo como eles interpretam as suas experiecircncias
(hellip) numa espeacutecie de diaacutelogo entre os investigadores e os respetivos sujeitos rdquo (Bogdan amp
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
116
Biklen 1994 p 51) privilegiando o processo procurando compreender o significado que cada
um lhe atribui
A perspetiva interpretativa melhora a compreensatildeo das realidades complexas ao
permitir um melhor entendimento dos significados atribuiacutedos pelos sujeitos agraves accedilotildees num
determinado contexto Atraveacutes desta abordagem pretende-se interpretar em vez de medir e
procura-se compreender a realidade tal como ela se apresenta experienciada pelos sujeitos
envolvidos a partir do que pensam e como agem de acordo com os seus valores atitudes
haacutebitos representaccedilotildees opiniotildees e crenccedilas Essa realidade vivenciada na praacutetica pedagoacutegica
torna-se ainda mais complexa porque a
escola eacute um terreno propiacutecio a gerar incertezas anseios problemas conflitos comunicacionais e toda uma seacuterie de situaccedilotildees dinacircmicas decorrentes da acccedilatildeo humana que pela actividade daqueles que se envolvem arduamente nesse espaccedilo de intensa vida acabam sempre por brotar para a esfera social o que de melhor se pode extrair de um ambiente pleno de diaacutelogos e sonhos onde a vontade de mudar pulsa a cada momento (Coutinho Sousa Dias Bessa Ferreira ampVieira 2009 p 356)
Assim concebemos o presente estudo no sentido primeiro de criar um espaccedilo propiacutecio
agrave compreensatildeo da complexidade dos fenoacutemenos que cruzam as experiecircncias educativas vividas
nas escolas e as experiecircncias formativas vividas em contexto de formaccedilatildeo inicial de
professores Pretende-se que os professores estagiaacuterios envoltos de uma cultura de colaboraccedilatildeo
(professores estagiaacuterios cooperante e supervisor) tenham oportunidade de viver o seu caminho
formativo como um efetivo processo de desenvolvimento profissional
Afirmar que todas as investigaccedilotildees assentam num paradigma eacute algo recorrente em
estudos desta natureza No entanto eacute imprescindiacutevel enunciaacute-lo Tal como refere Patton (1980)
os paradigmas satildeo formas de desmantelar a complexidade do mundo real e formas diferentes
de ver o mundo O paradigma fenomenoloacutegico-interpretativo a partir de meados dos anos 80
do seacuteculo XX traz novas perspetivas agrave investigaccedilatildeo social (Amado 2013) Abriram-se de
forma progressiva ldquoas portas a uma grande variedade de fundamentaccedilotildees teoacutericas (hellip) mas
tambeacutem se abriram como natildeo podia deixar de ser as portas a novos paradigmas de que haacute a
salientar o soacutecio-criacuteticordquo (Amado 2013 p 50)
O paradigma soacutecio-criacutetico distancia-se do paradigma positivista e interpretativo
respetivamente pelo excessivo objetivismo e neutralidade do primeiro e pela propensatildeo para a
subjetividade do segundo O paradigma soacutecio-critico traz para o campo de investigaccedilatildeo praacuteticas
reais conceccedilotildees ideoloacutegicas e valorativas que permitem determinar o conhecimento e a
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
117
mudanccedila que possa advir dessa investigaccedilatildeo Este paradigma faz incidir em si a intenccedilatildeo de
mudanccedila procurando abolir qualquer ideologia que condicione o acesso ao conhecimento e agrave
transformaccedilatildeo da realidade vivenciada em contexto educativo (Stenhouse 1983) Eacute uma
perspetiva dinacircmica na forma como encara a realidade contextual tem uma grande
interatividade social muito proacutexima do mundo real a praacutetica pedagoacutegica muito participativa
reflexiva transformadora tornando-se num verdadeiro esteio que apoia muitos investigadores
neste espaccedilo de sala de aula e natildeo soacute
Estamos perante um contexto teoacuterico interventivo e transformador que surge no campo
da investigaccedilatildeo educativa como uma metodologia capaz de ldquoproporcionar uma acccedilatildeo mais
profiacutecua e consequente na medida em que se centra na reflexatildeo critica por um lado e na atitude
operacional de praacuteticas que acabam por ser o ponto de partida para a emergecircncia de possiacuteveis
teoriasrdquo (Coutinho Sousa Dias Bessa Ferreira ampVieira 2009 p 357)
Eacute no cerne deste paradigma mais interventivo e transformador que surgem no campo
de investigaccedilatildeo educativa metodologias centradas na reflexatildeo critica na transformaccedilatildeo da
praacutetica pedagoacutegica Este pensar e agir deu origem a uma metodologia que remonta agrave deacutecada de
40 do seacuteculo XX atraveacutes do artigo de Kurt Lewin ldquoAction Research and Minority Problemsrdquo
que rapidamente fez expandir a designaccedilatildeo ldquoInvestigaccedilatildeo-Acccedilatildeordquo Esta designaccedilatildeo remonta ao
seacuteculo XX sendo K Lewin o seu grande impulsionador (Maacuteximo-Esteves 2008)
De entre as definiccedilotildees mais referidas na literatura surge a de John Elliot que
desenvolveu o seu trabalho em Inglaterra com forte impacto junto dos professores focando a
investigaccedilatildeo-accedilatildeo no desenvolvimento curricular ldquoPodemos definir a investigaccedilatildeo accedilatildeo como
o estudo de uma situaccedilatildeo social no sentido de melhorar a qualidade da accedilatildeo que nela decorrerdquo
(Elliot 1991 p 69) Subjacente a esta definiccedilatildeo ampla surgem duas linhas de accedilatildeo uma que
remete para a melhoria da qualidade do que acontece em determinado momento e outra que
nos direciona para a necessidade de investigar essa situaccedilatildeo Esta accedilatildeo remete-nos para o
ldquoconceito de desenvolvimento pessoal e profissional para o qual se requer a compreensatildeo dos
ambientes e das acccedilotildees cuja mudanccedila se deseja mediante a praacutetica de investigaccedilatildeo dos
mesmosrdquo (Maacuteximo-Esteves 2008 p 18) Eacute neste sentido que se olha para a investigaccedilatildeo-accedilatildeo
como uma metodologia de investigaccedilatildeo que deve colaborar e apoiar os professores para que
eles possam lidar com os desafios e problemas da praacutetica e para adotarem as inovaccedilotildees de
forma refletida e fundamentada Com esta postura os professores natildeo soacute contribuem para
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
118
melhorar o trabalho nas escolas onde exercem a sua accedilatildeo pedagoacutegica como tambeacutem ampliam
o seu conhecimento e a sua competecircncia profissional atraveacutes da investigaccedilatildeo que realizam
Para Kemmis e McTaggart (1988) ldquoa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo eacute uma forma de indagaccedilatildeo
introspectiva colectiva empreendida por participantes em situaccedilotildees sociais [e educacionais]
com o objetivo de melhorar a racionalidade e a justiccedila das suas praacuteticas sociais ou educativas
com a compreensatildeo dessas praacuteticas e das situaccedilotildees em que estas tecircm lugarrdquo (p 9) O autor
Peacuterez Serrano (1990) refere-se agrave Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo como um processo circular de
questionamento e anaacutelise da realidade em que os problemas vivenciados em contexto
assumidos na perspetiva de quem os vivencia consubstanciam uma reflexatildeo e uma atuaccedilatildeo
sobre os mesmos por forma a introduzir melhoriasmudanccedilas implicando neste processo os
que vivenciam essa realidade convertendo-se em co-autores da investigaccedilatildeo A essa natureza
praxeoloacutegica seraacute necessaacuterio acrescentar o seu caraacuteter situacional a que se alia o caraacuteter ciacuteclico
que permite agrave investigaccedilatildeo-accedilatildeo aplicar um conjunto de auto-correccedilotildees e mudanccedilas aliadas agrave
constante renovaccedilatildeo da investigaccedilatildeo e da accedilatildeo implicando que este seja um processo aberto e
em evoluccedilatildeo
Em siacutentese as diferentes aceccedilotildees apontam para objetivos comuns introduzir mudanccedilas
nos sujeitos implicados na praacutetica educativa no questionamento da mesma e nos valores eacuteticos
e deontoloacutegicos que as integram durante o processo e quando tornam puacuteblicos os resultados
das investigaccedilotildees que dai adveacutem
Contudo para colocar em praacutetica esta metodologia existem diferentes modalidades que
apresentam objetivos diversos e papeacuteis distintos para o investigador e a sua relaccedilatildeo com os
participantes Carr e Kemmis (1988) apresentam a sua perspetiva para as diferentes
modalidades i) Investigaccedilatildeo-accedilatildeo teacutecnica com o investigador a assumir o papel de perito
exterior ao processo com uma relaccedilatildeo assimeacutetrica com os participantes Satildeo investigadas
questotildees externas sem que os interesses e motivaccedilotildees dos participantes sejam tidos em conta
ii) Investigaccedilatildeo-accedilatildeo praacutetica em que o investigador promove a participaccedilatildeo o envolvimento
a auto-reflexatildeo em que todos os participantes cooperam para o mesmo objetivo diluindo
assimetrias e promovendo a compreensatildeo do processo iii) investigaccedilatildeo-accedilatildeo emancipatoacuteria
integra dinacircmicas colaborativas e reflexatildeo criticapolitica sempre numa perspetiva hetero-
reflexiva
Referimos ainda as modalidades ldquoInvestigaccedilatildeo-para-a-acccedilatildeo desencadeada por
algueacutem que tem necessidade de obter informaccedilotildees sobre uma situaccedilatildeoproblemas com o
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
119
objetivo de agir sobre a mesmardquo (Amado amp Cardoso 2013 p 191) Investigaccedilatildeo-napela-
accedilatildeo que eacute um ldquoprocedimento de grande complexidade (hellip) devido agrave multidirecionalidade e
coexistecircncia dos seus objetivos (hellip) produccedilatildeo de conhecimento (objetivos de investigaccedilatildeo)
para a introduccedilatildeo de mudanccedilas (objetivos de inovaccedilatildeo) e de formaccedilatildeo de competecircncias nos
participantes (objetivos de formaccedilatildeo)rdquo (Amado amp Cardoso 2013 p 191)
Esta modalidade Investigaccedilatildeo-napela-accedilatildeo assume um cunho colaborativo e
participativo com a colaboraccedilatildeo e articulaccedilatildeo entre o investigador e os participantes no estudo
em que todos se consideram membros da mesma comunidade reconhecendo mais-valias em
especial nesta relaccedilatildeo teoriapraacutetica (Amado amp Cardoso 2013)
Iniciar um processo de colaboraccedilatildeo e de participaccedilatildeo com estas caracteriacutesticas exige
decisotildees refletidas profundas e epistemologicamente complexas porque entre outros
desenvolvimentos no processo ldquoacarreta um modo de conceber os sujeitos investigados por
mais diferentes que eles sejam em idade etnia sexo capacidades intelectuais estilos de vida
etc como sujeitos ativos produtores de conhecimento e como uma ldquovozrdquo a ser ouvida tatildeo
legitimamente como a dos investigadoresrdquo (Amado amp Cardoso 2013 p 191)
Tal como referimos foi nosso propoacutesito acompanhar um grupo de professores de ora
em diante assumindo a dupla designaccedilatildeo de professores-estagiaacuterios ou formandos em contexto
de praacutetica pedagoacutegica (estaacutegio) de formaccedilatildeo inicial (Bogdan amp Biklen 1994 Yin 2005 Stake
2007) tendo sempre por base os registos de todos os colaboradores e a sua interpretaccedilatildeo num
processo dialeacutetico (Denzin amp Linclon 2006) onde se investiga se interpretam accedilotildees
envolvendo
interpretaccedilotildees de interpretaccedilotildees ndash a dupla hermenecircutica em accedilatildeo (hellip) A interpretaccedilatildeo da parte depende da do todo mas o todo depende das partes Esta interacccedilatildeo da interpretaccedilatildeo todaparte eacute designada de ciacuterculo hermenecircutico da interpretaccedilatildeo A produccedilatildeo do conhecimento eacute assim concebida como um processo circular interactivo e em espiral (Coutinho 2011 p16)
Privilegia-se a transformaccedilatildeo dos sujeitos e o estudo desses processos de transformaccedilatildeo
levados a efeito atraveacutes das praacuteticas desenvolvidas em contexto de supervisatildeo
As consideraccedilotildees eacuteticas e o rigor estiveram sempre presentes na nossa investigaccedilatildeo
procurando seguir as premissas estipuladas pelas caracteriacutesticas do estudo revestindo-nos de
todos os cuidados que envolvem relaccedilotildees humanas incluindo os momentos em que fizemos a
recolha anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
120
Contudo do ponto de vista epistemoloacutegico a Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo implica o
investigador sendo esta orientada total ou parcialmente pelos proacuteprios sujeitos da investigaccedilatildeo
correndo o risco de distorcer os dados pelo grande envolvimento no processo de investigaccedilatildeo
(Amado amp Cardoso 2013) A este propoacutesito os autores referem que ldquona medida em que mais
participa mais provaacutevel eacute que emocionalmente se implique com consequente prejuiacutezo da
necessaacuteria objectividaderdquo (Amado amp Cardoso 2013 citando Simotildees 1990 p 46)
Todavia Estrela M T (2005) no VIII Congresso da Sociedade Portuguesa de Ciecircncias
de Educaccedilatildeo refere numa siacutentese realizada sobre o ldquoestado de arterdquo relacionado com o conceito
de investigaccedilatildeo que este se situa num continuum entre o conceito tradicional de investigaccedilatildeo
cientiacutefica ligada a uma questatildeo problematizando-a com base na teoria recolha e anaacutelise de
dados e conclusotildees e a investigaccedilatildeo cientiacutefica como resposta a um problema onde se integra o
conceito e Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Ou seja no qual se procura a resposta a um problema praacutetico
com ou sem enquadramento teoacuterico porque este emerge da praacutetica Assim sendo evidencia-se
um continuum com diferentes relaccedilotildees entre a teoria e a praacutetica de distanciamento e
envolvimento na accedilatildeo Em relaccedilatildeo agrave validaccedilatildeo dos dados M T Estrela reitera ainda que poderaacute
passar pela publicaccedilatildeo de artigos cientiacuteficos entre outros formatos como por exemplo a
apresentaccedilatildeo de resultados que possam ser utilizados pelos pares ou ateacute replicarem os estudos
como forma e validaccedilatildeo o conhecimento alcanccedilado
Estes e outros aspetos sobre os quais se tem refletido sobre esta metodologia tecircm-se
revelado importantes para lhe dar sustentabilidade e credibilidade cientiacutefica sendo hoje uma
metodologia implementada no mundo da investigaccedilatildeo educacional permitindo conhecer este
mundo fascinante que eacute a escola em espaccedilo real onde estatildeo as pessoas (alunos os professores
e outros membros da comunidade educativa) que faz com que este espaccedilo seja de uma riqueza
extrema para a produccedilatildeo do conhecimento designadamente a partir dos contextos de sala de
aula laboratoacuterio de anaacutelise por excelecircncia do que eacute ser professor
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
121
22 Desenho da Investigaccedilatildeo
Selecionado o grupo de participantes e os contextos de accedilatildeo que apresentaremos com
mais detalhe no capiacutetulo seguinte procuraacutemos delinear um processo investigativo que em
termos gerais explicitamos no desenho da investigaccedilatildeo que se apresenta na figura 5 e que se
desenvolve em quatro etapas
Figura 5 Desenho de Investigaccedilatildeo (Adaptado de Kemmis e Mc Taggart 1988)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
122
Esta investigaccedilatildeo integrada num processo de investigaccedilatildeo-accedilatildeo organizada por ciclos ndash
diagnoacutestico definiccedilatildeo de estrateacutegias reflexatildeo sobre a accedilatildeo e de novo reequacionamento de
estrateacutegias reflexatildeo sobre a accedilatildeo num total de 3 ciclos de IA Estes basearam-se num fluxo
entre o que se passa no contexto escola de 1ordm CEB seminaacuterio de supervisatildeo e no contexto
equipa (formandos supervisora e cooperantes) que se consubstancia em processos de
aprendizagem e de mudanccedila operacionalizaacutevel em contexto educativo (Peacuterez Serrano 1990)
Este processo focou-se principalmente na planificaccedilatildeo da accedilatildeo e na anaacutelise dos resultados ndash
um movimento contiacutenuo e ciacuteclico entre a accedilatildeo e a reflexatildeo um vaiveacutem entre a investigaccedilatildeo a
accedilatildeo e a reflexatildeo que se complementam (Latorre 2004) Em suma foi um processo de
interrogaccedilatildeo permanente sobre o sentido de tudo o que se faz sobre o sentido das accedilotildees
produzidas no contexto em que satildeo realizadas possibilitando encontrar soluccedilotildees capazes de
ultrapassar obstaacuteculos
Tendo como base o desenho de investigaccedilatildeo que apresentamos na figura 5 delineamos
os diferentes momentos que integraram o processo de investigaccedilatildeo-accedilatildeo com o qual se
identifica o estudo
A partir do diagnoacutestico e direcionados para o foco da investigaccedilatildeo - o desenvolvimento
da competecircncia relacional e de gestatildeo de sala de aula em contextos de supervisatildeo trazemos
aqui o discurso de Caetano (2003) que tatildeo bem traduz o sentido e o modo de fazer do nosso
estudo com o qual pretendemos
colocar as pessoas em situaccedilatildeo que as leve a interagirem entre si e a implicarem-se em processos orientados para a melhoria ndash pressupondo a possibilidade dessa mudanccedila a sua responsabilidade nesse desenvolvimento (de alunos e professores) (hellip) dialogando e afinando visotildees comuns com base em relaccedilotildees de abertura e respeito muacutetuo e empreendendo processos e auto-avaliaccedilatildeo e auto-revisatildeo (Caetano 2003 p 23)
Recordamos que no ano letivo de 20092010 apoacutes a distribuiccedilatildeo de serviccedilo de
departamento foi-me confiado um grupo de 18 estudantes do 4ordm ano do curso de licenciatura
em 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico no acircmbito da sua praacutetica pedagoacutegica sendo portanto
simultaneamente formadora e investigadora em todo o processo
Assim sendo em 28 de setembro de 2009 apresentaacutemos o nosso projeto ao grupo de
professores estagiaacuterios no seminaacuterio de supervisatildeo Por esta razatildeo procuraacutemos criar um
ambiente de envolvecircncia que suscitasse a motivaccedilatildeo intriacutenseca levando os estudantes a integraacute-
lo como um projeto de todos e para todos
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
123
Seguiu-se um processo de recolha de dados previamente delineado pela
investigadoraformadora que constituiu a fase Diagnoacutestico Inicial Para o efeito foram
aplicados dois questionaacuterios um questionaacuterio de questotildees abertas atraveacutes do qual recolhemos
dados que nos permitiram conhecer as expetativas e os sentimentos dos estudantes face agrave
praacutetica pedagoacutegica em contexto de formaccedilatildeo de ora em diante designada de estaacutegio Os
discursos foram submetidos a anaacutelise de conteuacutedo que nesta fase do estudo permitiram
recolher dados importantes para um maior conhecimento do grupo Aplicou-se ainda um
questionaacuterio de escala de Likert com o qual pretendemos compreender as conceccedilotildees dos
formandos sobre a (in)disciplina na aula
Com base nas diversas fontes que foram objeto de reflexatildeo no grupo traccedilaacutemos um plano
de accedilatildeo para o 1ordm Ciclo de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Este plano aplicou-se agraves accedilotildees a levar a efeito
por todos os colaboradores no estudo e concretizaram-se em seminaacuterio na ESEB e nas
respetivas escolas do 1ordm CEB onde se realizava a accedilatildeo dos professores estagiaacuterios professores
cooperantes e supervisorainvestigadora Por conseguinte foi um trabalho de partilha e
colaboraccedilatildeo conjunta onde o grupo se mobilizou para o mesmo objetivo - desenvolver a
competecircncia relacional e de gestatildeo de sala de aula
De acordo com as orientaccedilotildees traccediladas no plano geral do seminaacuterio foi desenvolvido
todo um trabalho conjunto de planificaccedilatildeo das intervenccedilotildees pedagoacutegicas semana a semana de
organizaccedilatildeo de apresentaccedilotildees e debates temaacuteticos Realizaacutemos ainda reflexotildees coletivas sobre
as praacuteticas dos professores-estagiaacuterios com especial enfoque nas dimensotildees relacionais e de
gestatildeo de sala de aula
No decorrer destas observaccedilotildees realizadas em diferentes momentos fizemos registos
sob a forma de notas de campo e registos de conversas informais que pudessem ser um
contributo para a accedilatildeo educativa No final do ciclo cada participante (formando ou formador)
respondeu aos itens do Instrumento de Reflexatildeo e Orientaccedilatildeo da Praacutetica (IROP) (Amado amp
Freire 2009) o que constitui um momento de auto-reflexatildeo para os formandos e de heacutetero-
observaccedilatildeo para as cooperantes e supervisora Estes dados vieram tambeacutem a ser analisados
enquanto dados de investigaccedilatildeo Congregando todas estas fontes de observaccedilatildeo formandos e
formadores desenvolveram formas de reflexatildeo sobre a accedilatildeo tendo como linhas orientadoras os
objetivos traccedilados para este ciclo delineando novo plano de accedilatildeo 2ordm Ciclo de Investigaccedilatildeo-
Accedilatildeo Este seguiu uma planificaccedilatildeo similar agrave que concretizaacutemos no periacuteodo anterior incidindo
sobre apresentaccedilatildeo de temaacuteticas consideradas pertinentes pelo grupo tendo em conta a fase
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
124
em que se encontravam de intervenccedilatildeo plena Findo este ciclo tal como no anterior formandos
e formadores procederam ao registo da observaccedilatildeo atraveacutes do Instrumento de Reflexatildeo e
Orientaccedilatildeo da Praacutetica (IROP)
Seguem-se os procedimentos similares ao ciclo anterior com anaacutelise dos dados e
planificaccedilatildeo da accedilatildeo correspondente ao 3ordm e uacuteltimo Ciclo de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Durante este
periacuteodo o debate a accedilatildeo a discussatildeo de temaacuteticas emergentes da praacutetica pedagoacutegica a anaacutelise
de textos foram accedilotildees que integraram o plano e a sua concretizaccedilatildeo Findo este ciclo formandos
e formadores procederam ao registo de observaccedilotildees atraveacutes do Instrumento de Registo e
Orientaccedilatildeo da Praacutetica (IROP)
Estas observaccedilotildees seguiam o propoacutesito de olhar a escola nos seus contextos ecoloacutegicos
e naturais tendo como intento a investigaccedilatildeo deliberada e orientada para a soluccedilatildeo das
situaccedilotildees problema e para o grupo de formandos
Todo este processo de investigaccedilatildeo accedilatildeo participada no terreno foi acompanhado por
um esquema de investigaccedilatildeo da investigadora principal com o sentido de tornar
compreensiacutevel as mudanccedilas operadas no grupo e na ligaccedilatildeo aos processos formativos
Foi feita a triangulaccedilatildeo dos dados obtidos a partir das diversas fontes nos trecircs
momentos do processo cruzando-os com o enquadramento teoacuterico do estudo por forma a
garantir a fiabilidade e validaccedilatildeo dos resultados a compreensatildeo foi objeto de estudo e novas
pistas de investigaccedilatildeo neste acircmbito
3 Teacutecnicas e Instrumentos de Recolha de Dados
A estrateacutegia de investigaccedilatildeo selecionada a Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo orienta-nos para a
escolha de uma abordagem metodoloacutegica mista ou seja foram utilizadas teacutecnicas e
instrumentos de natureza qualitativa e quantitativa
A intenccedilatildeo foi a de poder registar e descrever o processo naturalizando-o e por outro
lado desenhar um plano que permitisse estabelecer comparaccedilotildees no sentido de avaliar as
mudanccedilas que se foram operando ao longo do mesmo Assim para aleacutem das notas de campo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
125
inerentes a um processo continuado de observaccedilatildeo participante foram utilizados questionaacuterios
diversos e instrumentos de observaccedilatildeo sistemaacutetica que passamos a apresentar
31Teacutencicas e Instrumentos de Inqueacuterito
311Questionaacuterios
Na fase inicial do nosso estudo como jaacute foi dito aplicamos um questionaacuterio de
respostas abertas a fim de conhecer as perspetivas dos estudantes acerca da formaccedilatildeo
Aplicamos tambeacutem um outro questionaacuterio de escala para compreender as representaccedilotildees dos
formandos acerca da (in)disciplina Este uacuteltimo foi aplicado novamente no final da
investigaccedilatildeo
Perspetivas dos professores estagiaacuterios acerca da formaccedilatildeo (Q1)
O uso de questionaacuterios abertos pode ser de grande utilidade numa investigaccedilatildeo Esta
teacutecnica permite a livre expressatildeo dos respondentes ldquoainda que o questionaacuterio contemple alguns
itens orientadores A partir da anaacutelise das respostas torna-se possiacutevel detetar as perceccedilotildees
experiecircncia subjetiva e representaccedilotildees dos respondentes acerca do tema em apreccedilordquo (Amado
2013 p 271) Este tipo de questionaacuterios satildeo instrumentos de recolha de dados de grande valor
heuriacutestico pela amplitude da informaccedilatildeo recolhida Consideraacutemo-lo especialmente uacutetil
embora o ideal seria fazer entrevistas contudo dado o nuacutemero elevado de formandos e a
urgecircncia que a accedilatildeo impotildee investigadora e formandos natildeo dispunham de tempo nem
facilidade para as efetuar
Dado o interesse em conhecer as perspetivas dos professores-estagiaacuterios em relaccedilatildeo ao
estaacutegio (Praacutetica Pedagoacutegica Supervisionada) que iria decorrer no ano letivo em curso
20092010 elaboraacutemos este questionaacuterio de questotildees abertas - Perspetivas dos professores
estagiaacuterios em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo (Anexo 1) organizado em quatro temas
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
126
Para o tema A - Perspetivas acerca a formaccedilatildeo elaboramos um conjunto de questotildees
que nos permitissem conhecer as perspetivas dos formandos em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo adquirida
no 1ordm 2ordm e 3ordm ano da licenciatura
Para o tema B ndash Saberes e competecircncias as questotildees elaboradas pretendiam conhecer
as perceccedilotildees dos formandos sobre saberes adquiridos e as competecircncias desenvolvidas ateacute ao
momento ou seja iniacutecio do 4ordm ano
No tema C direcionaacutemos as questotildees no sentido de conhecer os sentimentos dos
formandos em relaccedilatildeo ao estaacutegio
Com as questotildees do tema D pretendemos conhecer as perspetivas dos formandos acerca
da relaccedilatildeo pedagoacutegica Este questionaacuterio foi aplicado em situaccedilatildeo de seminaacuterio de supervisatildeo
depois ter sido apresentada a organizaccedilatildeo da praacutetica pedagoacutegica e o projeto de doutoramento
Todo o processo formativo foi envolto em diaacutelogo partilha envolvimento e este sentir foi
percecionado pela supervisora neste momento em que escreveram as respostas neste
questionaacuterio Os professores-estagiaacuterios foram sempre muito assiacuteduos no estaacutegio e no
seminaacuterio De referir uma particularidade tiacutenhamos dois formandos trabalhadores estudantes
que pediam sempre dispensa agrave segunda-feira ao abrigo da legislaccedilatildeo do trabalhador-estudante9
dia de seminaacuterio e de estaacutegio Logo responderam os 18 formandos que participaram em toda
a pesquisa Por isso aplicamos ainda um outro questionaacuterio (Q2)
Conceccedilotildees dos formandos acerca da (in)disciplina (Q2)
Com o intuito de compreender as representaccedilotildees dos formandos acerca da indisciplina
e das praacuteticas de disciplinaccedilatildeo dos professores selecionaacutemos o questionaacuterio de Freire (1990)
Trata-se de um questionaacuterio de respostas fechadas com utilizaccedilatildeo da escala de Likert Este
constituiacutedo por trecircs blocos (B1 B2 B3) O B1 correspondente a uma lista de comportamentos
de alunos em sala de aula em que o professor estagiaacuterio assinala o grau de gravidade que
atribui a cada um dos comportamentos listados Seguem a escala Nada Grave (NG) Pouco
Grave (PG) Grave (G) e Muito Grave (MG) O Bloco 2 corresponde a uma lista de
comportamentos em que o formando regista a importacircncia que lhe atribui como causa da
indisciplina na sala de aula Seguem a escala Nada Importante (NI) Pouco Importante (PI)
9 Lei nordm 72009 de 12 de fevereiro artigo 90ordm
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
127
Importante (I) e Muito Importante (MI) O Bloco 3 corresponde a uma lista de comportamentos
em que os formandos registaram o grau de eficaacutecia que atribui a cada um dos comportamentos
do professor com vista agrave criaccedilatildeo de um ambiente de disciplina em sala de aula Seguem a
escala Nada Eficaz (NE) Pouco Eficaz (PE) Eficaz (E) e Muito Eficaz (ME)
Este questionaacuterio eacute constituiacutedo por uma escala de gravidade de comportamentos de
indisciplina com vinte e dois itens com uma escala de importacircncia atribuiacuteda agrave indisciplina com
dez itens e uma escala de eficaacutecia das accedilotildees do professor na prevenccedilatildeo da indisciplina com
dezassete itens
Dado o espaccedilo temporal entre a construccedilatildeo deste questionaacuterio e o presente e tambeacutem
porque foi concebido e validado para aplicar nos 2ordm e 3ordm Ciclo do Ensino Baacutesico e o presente
estudo se concretizar em contextos de 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico procedemos agrave adaptaccedilatildeo do
mesmo
Assim sendo na escala de gravidade de comportamentos de indisciplina com vinte e
dois itens mantivemos os itens da anterior e acrescentamos quatro itens Na escala de
importacircncia atribuiacuteda agrave indisciplina mantivemos igualmente os itens e acrescentamos nove
itens Na escala de eficaacutecia das accedilotildees do professor na prevenccedilatildeo da indisciplina mantiveram-
se os itens e acrescentamos seis itens Os itens que correspondem agraves alteraccedilotildees estatildeo
assinalados a letra cursiva no (Anexo 2)
O questionaacuterio inicial (Freire 1990) foi validado ou seja testado na sua fidelidade
poder discriminativo e validade de conteuacutedo O questionaacuterio adaptado natildeo foi sujeito a
processos de validade pois trata-se de um instrumento com o qual pretendemos recolher a
informaccedilatildeo junto dos mesmos sujeitos em dois momentos diferentes do processo de pesquisa
Dai a nossa preocupaccedilatildeo ser a de garantir a validade de conteuacutedo e a utilizaccedilatildeo dos mesmos
nas duas aplicaccedilotildees
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
128
32Teacutecnicas e Instrumentos de Observaccedilatildeo
321 Observaccedilatildeo Participante
Quando falamos de observaccedilatildeo participante o(s) observador(es) participam de algum
modo na vida do grupo a ser estudado Eacute uma teacutecnica muito utilizada para observaccedilatildeo de
grupos em formaccedilatildeo A observaccedilatildeo participante implica necessariamente um processo mais
ou menos longo para fazer a pesquisa O tempo eacute tambeacutem um preacute-requisito para os estudos que
envolvem o comportamento e a accedilatildeo de grupos para se compreender a evoluccedilatildeo do
comportamento de pessoas e de grupos eacute necessaacuterio observaacute-los por um longo periacuteodo e natildeo
num uacutenico momento (Valladares 2007)
A observaccedilatildeo participante supotildee a interaccedilatildeo entre o grupo As informaccedilotildees que o
investigador obteacutem as respostas que satildeo dadas agraves suas indagaccedilotildees dependeratildeo do seu
comportamento e das relaccedilotildees que se desenvolvem com o grupo em estudo Como tal exige-se
auto-anaacutelise e a perceccedilatildeo de que todos os ldquoatoresrdquo integram o grupo em estudo num espiacuterito
de entreajuda e colaboraccedilatildeo na melhoria da accedilatildeo educativa Esta implica saber ouvir escutar
ver fazer uso de todos os sentidos Eacute preciso aprender quando perguntar e quando natildeo
perguntar assim como que perguntas fazer na hora certa Enveredar por uma rotina de trabalho
eacute fundamental Os participantes devem perceber que as rotinas satildeo importantes e que o trabalho
de observador participante exige dedicaccedilatildeo e empenho Mediante notas manutenccedilatildeo do diaacuterio
de campo (field notes) e instrumentos de auto e hetero-registo de observaccedilatildeo os colaboradores
autodisciplinam-se a observar e anotar sistematicamente A sua presenccedila constante contribui
por sua vez para gerar confianccedila na populaccedilatildeo estudada (Valladares 2007)
Assim consideramos que a observaccedilatildeo participante se distingue da observaccedilatildeo
informal ou melhor da observaccedilatildeo comum Essa distinccedilatildeo ocorre na medida em que pressupotildee
a integraccedilatildeo do investigador no grupo investigado fazendo parte ativa do grupo A observaccedilatildeo
participante eacute uma teacutecnica de investigaccedilatildeo que pretende compreender num meio
socialacadeacutemico um fenoacutemeno e que lhe permite integrar-se nas atividadesvivecircncias das
pessoas que nele vivem
Em siacutentese a observaccedilatildeo participante permitiu-nos tomar ldquoconhecimento directo dos
fenoacutemenos tal como eles acontecem num determinado contextordquo (Maacuteximo-Esteves 2008 p
87) A mesma autora refere ainda que a observaccedilatildeo participante possibilita ldquocompreender os
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
129
contextos as pessoas que nele se movimentam e as suas interacccedilotildeesrdquo (p 87) Esta teacutecnica de
recolha de dados permitiu-nos observar determinados comportamentosatitudes relacionados
com as interaccedilotildees e organizaccedilatildeo e gestatildeo de sala de aula desenvolvimento da competecircncia
relacional e envolvimento nas accedilotildees educativas
Assim esta teacutecnica mostrou-se adequada na medida em que desempenhamos
simultaneamente o papel de participantes e de investigadores Assim todas as observaccedilotildees
que realizamos e posteriormente todos os registos que efetuamos dessas mesmas observaccedilotildees
tornaram-se cruciais para a concretizaccedilatildeo da metodologia do estudo sendo esta parte integrante
deste projeto Os contextos onde realizaacutemos as observaccedilotildees e os seminaacuterios eram
considerados espaccedilos formativos dinacircmicos pelo que o registo de dados sob a forma de notas
de campo foi para noacutes muito importante permitindo relatar dinacircmicas interaccedilotildees e perspetivas
dos participantes
As notas de campo satildeo registos feitos pelo investigador no decorrer de uma
investigaccedilatildeo e por norma apresentam descriccedilotildees lugares acontecimentos atividades
conversas ldquoEm adiccedilatildeo e como parte dessas notas o investigador registaraacute ideias estrateacutegias
reflexotildees e palpites bem como os padrotildees que dai emergem (hellip) relato escrito daquilo que o
investigador ouve vecirc experiencia e pensa no decurso da recolha e refletindo sobre os dados
de um estudo qualitativordquo (Bogdan amp Biklen 1994 p 150) Estudos de natureza qualitativa
utilizam muito as notas de campo como formas de ampliar os seus registos Estas poderatildeo ser
mais ou menos detalhadas mas devem ser precisas e por vezes extensas
As notas de campo (Anexo 3) descrevem acontecimentos ocorridos quer em Seminaacuterio
na ESE quer nas situaccedilotildees mais ou menos formais vividas nas escolas onde os estaacutegios
decorreram com a participaccedilatildeo dos diferentes participantes (professores estagiaacuterios
professoras cooperantes e supervisora) Procuraacutemos que estas notas fossem bastante realistas
pontuando-as de diaacutelogos entre os participantes nos acontecimentos na sua dimensatildeo
descritiva e incorporando uma parte reflexiva As notas de campo foram fundamentais para
perceber a dinacircmica da proacutepria Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo associadas a outros instrumentos de recolha
de dados
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
130
322 Observaccedilatildeo em Sala de Aula uma Estrateacutegia de Formaccedilatildeo de Professores
A observaccedilatildeo integrada numa pedagogia cientiacutefica eacute o mote para iniciar este ponto
porque consideramos que a observaccedilatildeo eacute um dos instrumentos mais poderosos da investigaccedilatildeo
e da formaccedilatildeo em educaccedilatildeo A sala de aula eacute um campo de observaccedilotildees quer enquanto espaccedilo
de circulaccedilatildeo de olhares (observando o comportamento dos alunos e dos professores) quer
enquanto espaccedilo de observaccedilatildeo de interaccedilotildees e de praacuteticas pedagoacutegicas
A palavra ldquoobservaccedilatildeordquo eacute mais do que uma palavra ela eacute uma emergecircncia histoacuterica da
escola (Arieacutes 1988 Sacristan 2003) marcada constitutivamente por um intenso olhar sobre o
outro que se inscrevem na relaccedilatildeo pedagoacutegica Sobre este aspeto faz sentido referenciar os
trabalhos de Foucault (1983) que mostram como a constituiccedilatildeo do modelo escolar se faz sob
o signo de uma observaccedilatildeo que controla e de um controlo que observa
As ciecircncias sociais e humanas procuraram valorizar a observaccedilatildeo e esta surge como
umas das teacutecnicas de recolha de dados sobre o ensino e sobre os atores implicados A
observaccedilatildeo surge assim como um dispositivo teacutecnico ao serviccedilo da investigaccedilatildeo e tambeacutem da
avaliaccedilatildeo num quadro de auto e hetero-observaccedilatildeo Observar constitui-se assim como um
trabalho de anaacutelise e interpretaccedilatildeo numa
espeacutecie de paradigma hermenecircutico da observaccedilatildeo (hellip) natildeo soacute pela dimensatildeo da
subjetividade que possui como tambeacutem pelo facto de implicar um permanente processo
de mediaccedilatildeo interaccedilatildeo e dialogia entre o observado e o observador e se quisermos ir
mais longe no jogo de espelhos diriacuteamos entre um observador que se observa e observa
o observador (Machado Alves amp Gonccedilalves 2011 p 8)
A observaccedilatildeo como estrateacutegia de formaccedilatildeo de professores tem sido uma estrateacutegia
privilegiada pois atribui-lhe um papel fundamental no processo de modificaccedilatildeo de
comportamentos e de atitudes do professor em formaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo desta estrateacutegia tem duas
formas importantes que a podem distinguir a) observaccedilatildeo sobre o futuro professor e b)
observaccedilatildeo feita pelo futuro professor
No que se refere agrave observaccedilatildeo sobre o futuro professor esta pode ser feita de forma
espontacircnea ou utilizando registos previamente elaborados estruturando assim a observaccedilatildeo
seguindo criteacuterios definidos com grau de objetividade que se considerem aceitaacuteveis Neste tipo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
131
de registos por norma haacute um grande ldquoenvolvimento afetivo e emocional de quem a fez
[refletindo-se num] feedback que se pretende seja objetivo orientado para aspectos especiacuteficos
e neutro do ponto de vista afectivordquo (Estrela A 2003 p 56)
No que se refere agrave observaccedilatildeo feita pelo futuro professor a situaccedilatildeo eacute mais complexa
ainda mais quando se trata de registo por auto-observaccedilatildeo A observaccedilatildeo espontacircnea que o
professor estagiaacuterio fazia das aulas observadas passou a ser neste projeto um registo
estruturado e sistemaacutetico de auto-observaccedilatildeo Para isso foi utilizada uma grelha de registo num
clima formativo de proximidade entre formandos professoras cooperantes e professora
supervisora
Jaacute remonta agrave deacutecada de 70 a publicaccedilatildeo de Flandres (1976) que refere que ldquoquando os
alunos-professores tecircm oportunidade de estudar ponderadamente o seu proacuteprio comportamento
de ensino e tecircm oportunidades de uma praacutetica que eacute seguida de anaacutelises adequadas haacute muitas
probabilidades de eles mudarem ou de mudarem os seus patterns de comportamento de ensinordquo
(p 170) Neste sentido o objetivo prioritaacuterio da formaccedilatildeo inicial seraacute incentivar o professor
principiante a pocircr questotildees acerca da sua proacutepria accedilatildeo pedagoacutegica referindo sobre ela e
reconstruindo-a a partir dessa reflexatildeo elaborar projetos de resposta para as questotildees que se
colocam e que carecem de resposta para uma praacutetica pedagoacutegica eficaz Como observar Tal
como refere (Estrela A 2003) a delimitaccedilatildeo do campo de observaccedilatildeo determinaratildeo a
estrateacutegia a seguir
323 Observaccedilatildeo Sistemaacutetica em Sala de Aula
A observaccedilatildeo designa-se de sistemaacutetica quando ldquoeacute posta em relevo a coerecircncia dos
processos e dos resultados obtidosrdquo (Estrela A 2003 p 40)
A observaccedilatildeo sistemaacutetica eacute guiada por um objetivo definido algo que se deseja
saberperceber Esta eacute feita repetidas vezes ateacute que se tenham suficientes evidecircncias para
perceber a accedilatildeo O observador deve dispor de um instrumento de registo de observaccedilotildees
orientado para a recolha de dados susceptivel de tratamento quantitativo Estes dados
fundamentam-se essencialmente por sistemas de sinais quando os comportamentos satildeo objeto
de um soacute registo e sistemas de categorias quando estes satildeo registados sempre que ocorrem
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
132
No entanto a observaccedilatildeo pode ser sistemaacutetica sem recorrer a sistemas de sinais e de
categorias e nesta situaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo ldquonatildeo eacute dada pela teacutecnica ou pelo instrumento mas
sim pela definiccedilatildeo de uma estrutura de coerecircncia intriacutenseca dos entre os processos e os
resultados obtidosrdquo (Estrela A 2003 p 40)
Nesta investigaccedilatildeo todos os participantes satildeo observadores e utilizam o mesmo
instrumento de registo de observaccedilatildeo (Instrumentos de Reflexatildeo e Orientaccedilatildeo da Praacutetica) em
trecircs momentos Os professores estagiaacuterios fazem registo por auto-observaccedilatildeo os professores
cooperantes e supervisora fazem registo por hetero-observaccedilatildeo das aulas dos professores
estagiaacuterios
A observaccedilatildeo de aulas em contexto formativo deve conceber-se como um referencial
integrado num projeto de construccedilatildeo coletiva de sentido Este propoacutesito seraacute alcanccedilado
articulando as trecircs vertentes inerentes agrave Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo - a teacutecnica a praacutetica e a postura
emancipatoacuteria potenciadora de autonomia em que os atores agentes de mudanccedila atraveacutes do
potenciar da reflexividade critica se orientaram para essa mudanccedila A assunccedilatildeo deste niacutevel de
reflexividade requer a articulaccedilatildeo das trecircs dimensotildees acima referidas
A observaccedilatildeo de aulas integra-se igualmente numa estrateacutegia avaliativa Esta adquire
significado com a anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados fornecidos pelos instrumentos da
observaccedilatildeo permitindo dar respostas eficazes aos problemas que vatildeo surgindo num sistema
integrado e holiacutestico de melhoria das praacuteticas educativas As observaccedilotildees de aulas os seus
registos as suas anaacutelises reflexivas poderatildeo ser integradas numa estrateacutegia de formaccedilatildeo e
monotorizaccedilatildeo da Praacutetica Pedagoacutegica fundamentada em referentes internos e simultaneamente
manter uma ligaccedilatildeo comunicacional com todos os intervenientes no processo formativo que
alicerce a integraccedilatildeo e a mudanccedila num procedimento ciacuteclico de anaacutelise interpretaccedilatildeo
planificaccedilatildeo accedilatildeo (Gonccedilalves 2006)
Instrumento de Reflexatildeo e Orientaccedilatildeo da Praacutetica (IROP)
Neste estudo a principal fonte de recolha de dados realizou-se atraveacutes da auto e hetero-
observaccedilatildeo num processo colaborativo entre formandos e formadores O principal instrumento
de registo das observaccedilotildees utilizado foi o designado Instrumento de Reflexatildeo e Orientaccedilatildeo da
Praacutetica de ora em diante designado de [IROP] (Amado amp Freire 2009 p 172) (Anexo 4)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
133
Este instrumento de observaccedilatildeoreflexatildeo constitui uma check-list de competecircncias e
procedimentos de gestatildeo de sala de aula com uso de uma escala de 3 pontos referentes agrave
ocorrecircncia dos mesmos (SimNatildeoAgraves vezes) Os itens organizam-se por supercategorias
(Organizaccedilatildeo e Gestatildeo da Aula Conduccedilatildeo de Alunos e Comunicaccedilatildeo Natildeo Verbal)
A supercategoria ldquoOrganizaccedilatildeo e Gestatildeo de Salardquo organiza-se em categorias e
subcategorias Esta supercategoria segue as vaacuterias fases de uma aula e subdivide-se na
categoria 1 PreparaccedilatildeoPlanificaccedilatildeo categoria 2 Iniacutecio da Aula categoria 3 Desenvolvimento
da Aula subcategoria 31 Perguntas e Explicaccedilotildees subcategoria 32 Vigilacircncia subcategoria
33 Atividades e Conteuacutedos subcategoria 34 Manutenccedilatildeo do Ritmo da Aula e categoria 4
Final da Aula cujos registos pretendem dar resposta agrave seguinte questatildeo ldquoEnquanto
professor(a) seraacute que estabeleccedilo um bom clima na sala de aula e ajudo os meus alunos a ter
comportamentos adequadosrdquo (Amado amp Freire 2009 p 179)
A supercategoria ldquoConduccedilatildeo de Alunosrdquo organiza-se em categorias 1 Regras e Rotinas
2 Reforccedilo do Comportamento Adequado 3 Puniccedilatildeo 4 Gestatildeo de Conflitos e 5 Relaccedilotildees
Interpessoais Atraveacutes dos dados recolhidos nesta supercategoria pretendiacuteamos refletir sobre
eles com o objetivo de reduzir ldquoas possibilidades de ocorrerem situaccedilotildees perturbadoras da
relaccedilatildeo pedagoacutegica e do ambiente de trabalho na aula se se agir logo de iniacutecio com autoridaderdquo
(Amado amp Freire 2009 p 184)
A supercategoria ldquoComunicaccedilatildeo Natildeo Verbalrdquo organiza-se em categorias 1 Postura 2
Voz 3 Contacto Visual 4Expressatildeo Facial 5 Gestos e 6 Posiccedilatildeo e Movimento Sobre os
dados recolhidos nesta supercategoria pretendiacuteamos refletir sobre as ldquomensagens natildeo verbais
[que] satildeo uma parte poderosa da comunicaccedilatildeo O comportamento natildeo-verbal pode afectar a
atenccedilatildeo e o interesse comunicar ansiedade ou confianccedila mostrar status e autoridaderdquo (Amado
amp Freire 2009 p 188)
O instrumento de recolha de dados foi apresentado aos estudantes em seminaacuterio e
discutido o sentido da sua utilizaccedilatildeo no processo formativo e investigativo Apoacutes cada registo
era feita a apresentaccedilatildeo sumaacuteria dos dados em espaccedilo Seminaacuterio desenvolviam-se reflexotildees
coletivas sobre o desempenho dos professores estagiaacuterios com base na anaacutelise e nas
interpretaccedilotildees dos dados de observaccedilatildeo e das dinacircmicas das turmas que lhes estavam
associadas
Os registos efetuados atraveacutes de IROP concretizaram-se na recolha de dados referente
ao 1ordm Ciclo de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo (semana de 14 a 18122009) 2ordm Ciclo de Investigaccedilatildeo-
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
134
Accedilatildeo (semana de 8 a 100210) e 3ordm Ciclo e Investigaccedilatildeo-AccedilatildeoAvaliaccedilatildeo (semana de 3 a
7510)
Apoacutes a recolha de dados a cada momento procedemos agrave respetiva anaacutelise e
interpretaccedilatildeo dos mesmos
4 Teacutecnicas de Anaacutelise de Dados
Como teacutecnicas de anaacutelise de dados no questionaacuterio de respostas abertas foram objeto
de anaacutelise conteuacutedo (Q1) (Bardin 2008) No questionaacuterio de questotildees fechadas (Q2)
aplicado no iniacutecio e final de processo de investigaccedilatildeo os dados foram analisados atraveacutes do
programa estatiacutestico SPSS versatildeo 20 (Maroco 2010) A mesma teacutecnica de anaacutelise de dados
foi aplicada aos registos de auto e heacutetero-observaccedilatildeo Instrumento de Registo e Observaccedilatildeo
da Praacutetica (IROP) cujos dados foram recolhidos e analisados no decurso dos trecircs ciclos de
Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo
41Teacutecnica de Anaacutelise de Conteuacutedo
Com o objetivo de analisarmos os dados que emergiram do questionaacuterio enveredamos pela
anaacutelise de conteuacutedo com a respetiva categorizaccedilatildeo Assim sendo torna-se pertinente darmos a
conhecer que
a anaacutelise de conteuacutedo eacute o processo de busca e de organizaccedilatildeo sistemaacuteticas de transcriccedilotildees de texto de notas de campo e de outros materiais que foram sendo acumulados com o objetivo de aumentar a sua proacutepria compreensatildeo desses mesmos materiais e de lhes permitir apresentar aos outros aquilo que encontrou (Bodgan amp Biklen 1994 p 205) A importacircncia da anaacutelise dos dados tornou-se evidente ao longo de toda a investigaccedilatildeo No
entanto consideramos pertinente mencionar que ldquoo conhecimento construiacutedo atraveacutes da
interpretaccedilatildeo dos dados em torno da questatildeo inicial natildeo eacute exclusivo nem generalizaacutevelrdquo (Maacuteximo-
Esteves 2008 p 104) Assim sendo eacute importante compreendermos que a validade dos resultados
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
135
da investigaccedilatildeo existe unicamente nos contextos onde desenvolvemos a nossa praacutetica educativa
Para aleacutem disso permitiu-nos apenas observar e tirar as devidas ilaccedilotildees com os intervenientes da
praacutetica pedagoacutegica no tempo disponibilizado para tal
A anaacutelise dos dados recolhidos no questionaacuterio de questotildees abertas enquanto forma de
conhecer ldquoPerspetivas dos professores estagiaacuterios em relaccedilatildeo ao estaacutegiordquo foi realizada atraveacutes
da codificaccedilatildeo do texto e posteriormente organizado em categorias Deste modo tivemos em
consideraccedilatildeo Bardin (2008) que nos refere que as teacutecnicas de anaacutelise de conteuacutedo utilizam
procedimentos cuidadosos e sofisticados procurando essencialmente identificar categorias e
unidades de anaacutelise refletindo ambas a natureza do documento analisado em relaccedilatildeo ao
propoacutesito da investigaccedilatildeo Entende-se por categorias as classes ou agrupamentos de unidades
de conteuacutedo organizadas em conformidade com as caracteriacutesticas comuns dessas unidades
No entanto antes de chegarmos agrave elaboraccedilatildeo das categorias e indicadores realizando
uma leitura ldquoflutuanterdquo das respostas em anaacutelise No decorrer desta fase foram emergindo
algumas possiacuteveis categorizaccedilotildees No entanto consideramos pertinente mencionar que as
categorias e o seu processo de anaacutelise natildeo foram encarados como inalteraacuteveis na medida que
interpretar eacute ldquoum processo complexo de vai e vem multifacetado e que eacute entendido pelos
teoacutericos sob vaacuterios prismasrdquo (Maacuteximo-Esteves 2008 p 103) Bodgan amp Biklen (1994)
reforccedilam a ideia referindo que as categorias ldquopodem ser modificadas podem-se desenvolver
novas categorias e as categorias anteriores podem ser abandonadasrdquo (p 233) No entender de
Bardin (2008) ldquonatildeo existe um pronto-a-vestir em anaacutelise de conteuacutedo mas somente algumas
regras de base por vezes transponiacuteveisrdquo assim eacute necessaacuterio ter em consideraccedilatildeo o estudo que
se pretende realizar (p 31) Refere-se ainda que esta tem uma funccedilatildeo heuriacutestica pois
enriquece a tentativa exploratoacuteria aumenta a propensatildeo para a descoberta
A anaacutelise de conteuacutedo eacute uma teacutecnica que pretende classificar descrever sistematizar e
ateacute quantificar as categorias de significado inscritas em corpo documental Um dos aspetos
mais relevantes que a anaacutelise de conteuacutedo permite eacute o facto de podermos ir mais aleacutem da
anaacutelise objetiva e rigorosa do conteuacutedo dos documentos e fazermos a sua interpretaccedilatildeo atraveacutes
de inferecircncias de acordo com as concetualizaccedilotildees teoacutericas do proacuteprio investigador mas tendo
sempre em conta o contexto de produccedilatildeo de tais documentos (Amado 2000a)
Os dados recolhidos atraveacutes do questionaacuterio de questotildees abertas foram submetidos a uma
anaacutelise de natureza qualitativa Comeccedilaacutemos por fazer uma leitura flutuante que na opiniatildeo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
136
de Bardin (2008) ldquoconsiste em estabelecer contacto com os documentos analisar e conhecer
o texto deixando-se invadir por impressotildees e orientaccedilotildeesrdquo (p 96)
A partir da leitura flutuante passaacutemos a diversas e sucessivas leituras no intuito de
identificarmos os temas expressos nas respostas dos inquiridos identificando com a precisatildeo
possiacutevel as passagens do texto relativas a cada tema De seguida passaacutemos a uma fase de
laquodesmembramento do textoraquo em unidades coincidentes com cada tema (unidades de registo
temaacuteticas) Realizada esta tarefa prosseguimos com a fase de reagrupamento das unidades
desta vez em funccedilatildeo da sua proximidade semacircntica proximidade essa que foi tambeacutem o ponto
de partida para a elaboraccedilatildeo das categorias e suas subdivisotildees loacutegicas ndash os indicadores Esta
fase ganhou expressatildeo numa matriz que procurou ser uma espeacutecie de puzzle com que demos
nova ordem e nova loacutegica aos dados de cada questionaacuterio
O processo de categorizaccedilatildeo regeu-se pelas regras da exclusividade muacutetua
homogeneidade pertinecircncia objetividade fidelidade e pela produtividade das categorias
inventariadas e classificadas pois soacute assim nos puderam dar elementos profiacutecuos em
inferecircncias cuja organizaccedilatildeo se refletiu nas respetivas grelhas de anaacutelise (Bardin 2008)
Conscientes de que esta teacutecnica obedece a criteacuterios rigorosos e exaustivos que na
opiniatildeo de Bardin (2008) deve retirar ateacute agrave exaustatildeo toda a informaccedilatildeo contida no texto
relacionada com o tema em estudo resolvemos apresentar nas nossas tabelas unidades de
registo integradas em unidades de contexto ldquocujas dimensotildees (superiores agraves da unidade de
registo) satildeo oacutetimas para que se possa compreender a significaccedilatildeo exata da unidade de registordquo
(Bardin 2008 p 107) inseridas nas vaacuterias categorias precedidas dos respetivos indicadores
como se poderaacute ver na apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados no capiacutetulo seguinte A
apresentaccedilatildeo dos resultados das anaacutelises no corpo do presente texto integra quadros que datildeo
conta do tratamento analiacutetico dos respetivos discursos dos participantes no estudo
42Teacutecnica de Anaacutelise Estatiacutestica
Numa investigaccedilatildeo os dados precisam de ser organizados e analisados Entre as teacutecnicas
de anaacutelise de dados a estatiacutestica foi uma das teacutecnicas aplicadas neste estudo Por norma
associamos a anaacutelise estatiacutestica com a investigaccedilatildeo quantitativa porque na investigaccedilatildeo
qualitativa a recolha e anaacutelise de dados eacute ldquoum processo contiacutenuo integrado na sequecircncia da
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
137
investigaccedilatildeo de forte cariz indutivo resultando como produto final uma descriccedilatildeo ou seja
palavrasrdquo (hellip) A estatiacutestica pode ser apropriada em certas etapas da anaacutelise de dados em
investigaccedilatildeo qualitativa mas natildeo eacute a parte central do processo como acontece na metodologia
quantitativardquo (Coutinho 2011 p 131)
A funccedilatildeo da anaacutelise estatiacutestica eacute transformar os dados em informaccedilatildeo uacutetil para a
compreensatildeo do objeto de estudo Embora os conceitos estatiacutesticos tenham por detraacutes caacutelculos
matemaacuteticos complexos com o auxiacutelio de programas estatiacutesticos para o efeito essa
complexidade dilui-se libertando-nos tempo para nos centrarmos no que eacute verdadeiramente
importante ldquoa loacutegica da anaacutelise ou seja as razotildees que nos devem levar a escolher uma dada
teacutecnica ou teste estatiacutestico e natildeo outra(o) com todas as suas implicaccedilotildees e riscosrdquo (Coutinho
2011 p 131) Esta permanente atitude criacutetica do investigador bem como os desafios dilemas
e constrangimentos que vai vivenciando permitiraacute uma maturidade cientiacutefica ao investigador
importante num processo desta natureza
Qualquer que seja a natureza dos dados estes devem ser descritos e organizados de
forma clara identificar o que eacute tiacutepico e atiacutepico evidenciar diferenccedilasrelaccedilotildeespadrotildees e
fundamentalmente devem dar resposta agrave questatildeo problema Atraveacutes da estatiacutestica descritiva
poderaacute fazecirc-lo tentando descobrir significaccedilotildees ocultas ser capaz de descodificar os resultados
do estudo para a comunidade cientiacutefica restrita e erudita que satildeo os seus pares e ao puacuteblico em
geral (Coutinho 2011) A opiniatildeo de Coutinho veio assim reforccedilar a opiniatildeo de Wiersma
(1995) que nos referia agrave eacutepoca que as estatiacutesticas descritivas permitiam obter uma primeira
leitura dos dados bem como a forma e estrutura de distribuiccedilatildeo
Dada a natureza dos dados (escala de Likert [Q2] e variaacutevel nominal com trecircs opccedilotildees
de resposta [IROP]) a anaacutelise dos mesmos foi realizada atraveacutes do programa SPSS (versatildeo 20)
O programa estatiacutestico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) eacute um
programa informaacutetico de anaacutelise de dados que nos permite realizar caacutelculos estatiacutesticos
complexos e visualizar os seus resultados de forma clara Eacute reconhecido como um bom auxiliar
para um investigador em Ciecircncias Sociais e Humanas que tenha procedido a uma recolha de
dados quantitativos em que o objetivo e anaacutelise eacute descrever e relacionar o que se aplica aos
registos das observaccedilotildees realizadas nos 3 ciclos de recolha de dados (IROP)
Deste modo foram igualmente analisados atraveacutes do programa estatiacutestico SPSS
(versatildeo 20) procurando interpretar e evidenciar dados descritivos e inferenciais identificando-
se como um instrumento de recolha de dados de respostas alternativas nas escalas de avaliaccedilatildeo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
138
(Sim Natildeo Agraves Vezes) Partimos da premissa que a participaccedilatildeo dos formandos num processo
de supervisatildeo de tipo ecoloacutegico apoiado num esquema de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo produziria
mudanccedilas nas competecircncias relacionais e de gestatildeo de sala de aula Nesse sentido analisando
as tabelas de frequecircncias absolutas dos registos dos observadores nos trecircs ciclos do processo
aplicaacutemos o teste exato de Fisher
Satildeo apresentadas para cada subescala tabelas de frequecircncias absolutas em funccedilatildeo do
observador progredindo momento a momento De forma a perceber a relaccedilatildeo entre os
resultados obtidos para cada accedilatildeo de cada grupo em cada momento e o registo do participante
no estudo que observa recorre-se ao teste exato de Fisher que eacute um teste alternativo ao teste
do Qui-Quadrado de independecircncia Isto eacute quando as condiccedilotildees do teste do Qui-quadrado natildeo
satildeo verificadas (amostras de grande dimensatildeo frequecircncias esperadas superiores a 1 e no
maacuteximo 20 das frequecircncias esperadas inferiores a 5) recorre-se ao teste exato de Fisher para
testar os resultados Analogamente para perceber a relaccedilatildeo entre os resultados obtidos para
cada item de cada grupo de cada observador e o momento de observaccedilatildeo
Porque as accedilotildees educativas soacute fazem sentido quando envolvem pessoas e estatildeo
devidamente contextualizadas esse seraacute o item que apresentaremos no ponto seguinte
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
139
CAPITULO II
CONTEXTUALIZACcedilAtildeO DO ESTUDO E PARTICIPANTES
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
140
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
141
1 Escola Superior de Educaccedilatildeo de Braganccedila
Como temos vindo a referir o nosso estudo realizou-se no campo da formaccedilatildeo inicial
de professores do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico concretamente na Escola Superior de Educaccedilatildeo
de Braganccedila de ora em diante designada de (ESEB) Foi este o cenaacuterio principal do estudo que
se desenvolveu em dois contextos principais o seminaacuterio e as escolas do 1ordm Ciclo do Ensino
Baacutesico parceiras da ESEB
A Escola Superior de Educaccedilatildeo (ESE) foi criada pelo Decreto-Lei nordm 513-T79 de 26
de dezembro de 1979 e surgiu da extinccedilatildeo da Escola Normal Superior de Educadores de
Infacircncia e Escola do Magisteacuterio Primaacuterio Estaacute integrada no Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
(IPB) O Instituto Politeacutecnico de Braganccedila eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica de ensino superior Eacute
constituiacutedo por cinco escolas quatro em Braganccedila e uma em Mirandela Satildeo elas Escola
Superior Agraacuteria de Braganccedila (ESA) Escola Superior de Tecnologia e Gestatildeo de Braganccedila
(ESTIG) Escola Superior de Comunicaccedilatildeo Administraccedilatildeo e Turismo de Mirandela (EsACT)
Escola Superior de Sauacutede de Braganccedila e Escola Superior de Educaccedilatildeo de Braganccedila (ESSA)
Geograficamente Braganccedila sede de distrito situa-se no nordeste transmontano limitado a
norte e a leste com Espanha a sul com o distrito da Guarda e com o distrito de Viseu e a oeste
com o Distrito de Vila Real Braganccedila segundo os censos de 2011 tem cerca de 35500
habitantes
A ESEB fica situada no extremo sul da cidade integrada no campus do IPB Segundo
dados de 20142015 o IPB tinha 6290 estudantes dos quais 1451 integram a ESEB No ano
letivo 20092010 ano de recolha de dados para este estudo o IPB tinha 7121 estudantes dos
quais 1578 frequentavam a ESEB No geral a proveniecircncia dos estudantes eacute da regiatildeo e litoral
Norte de Portugal e ilhas Jaacute o dissemos o projeto desenvolveu-se com os estudantes do curso
de Licenciatura em 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico preacute-Bolonha - 20092010 Neste ano letivo o nordm
de alunos neste curso eacute de 35 com os seguintes distritos de proveniecircncia Estrangeiro (dois)10
Braga (quatro) Braganccedila (seis) Guarda (dois) Leiria (um) Porto (onze) Viana do Castelo
(um) Vila Real (sete) Ilha Graciosa (Accedilores) um
10 Considera-se estrangeiro o estudante que viveu fora de Portugal e que no momento da matricula natildeo tem residecircncia fixa em Portugal
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
142
A ESEB rege-se pela Lei nordm 622007 de 10 de setembro e pelos Estatutos do Instituto
Politeacutecnico de Braganccedila publicados pelo Despacho Normativo nordm 622008 (DR nordm236 2ordf
Seacuterie de 05 de dezembro) A sua oferta formativa no ano letivo 1516 organiza-se de acordo
com o Decreto-Lei nordm 792014 de 14 de maio por mestrados em ensino e mestrados natildeo ensino
licenciaturas poacutes-graduaccedilotildees e Cursos Teacutecnicos Superiores Profissionais (CTeSPs) Mestrados
em ensino (Educaccedilatildeo Preacute-Escolar Educaccedilatildeo Preacute-Escolar e Ensino do 1ordm Ciclo do Ensino
Baacutesico Ensino de Educaccedilatildeo Musical no Ensino Baacutesico Ensino da Leitura e da Escrita Ensino
das Ciecircncias Ensino de Inglecircs no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico Ensino de Portuguecircs e Inglecircs no
2ordm Ciclo do Ensino Baacutesico Ensino do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico e de Matemaacutetica e Ciecircncias
Naturais no 2ordm Ciclo do Ensino Baacutesico Ensino do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico e de Portuguecircs
e Histoacuteria e Geografia de Portugal no 2ordm Ciclo do Ensino Baacutesico) por mestrados natildeo ensino
(Educaccedilatildeo Social Exerciacutecio e Sauacutede TIC na Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo e Traduccedilatildeo) O ciclo de
estudos conducente ao grau de mestre tem 90 a 120 creacuteditos e uma duraccedilatildeo normal
compreendida entre trecircs e quatro semestres curriculares de trabalho dos alunos O ciclo de
estudos conducente ao grau de mestre integra a) um curso de especializaccedilatildeo constituiacutedo por
um conjunto organizado de unidades curriculares denominado curso de mestrado a que
corresponde um miacutenimo de 50 do total dos creacuteditos do ciclo de estudos b) uma dissertaccedilatildeo
de natureza cientiacutefica ou um trabalho de projeto originais e especialmente realizados para este
fim ou um estaacutegio de natureza profissional objeto de relatoacuterio final consoante os objetivos
especiacuteficos visados nos termos que sejam fixados pelas respetivas normas regulamentares a
que corresponde um miacutenimo de 35 do total dos creacuteditos do ciclo de estudos
As licenciaturas Animaccedilatildeo e Produccedilatildeo Artiacutestica Arte e Design Desporto Educaccedilatildeo
Ambiental Educaccedilatildeo Baacutesica Educaccedilatildeo Social Liacutenguas Estrangeiras Inglecircs e Espanhol
Liacutenguas para Relaccedilotildees Internacionais Muacutesica Relaccedilotildees Lusoacutefonas e Liacutengua Portuguesa O
ciclo de estudos conducente ao grau de licenciado tem 180 creacuteditos e uma duraccedilatildeo normal de
seis semestres curriculares de trabalho dos alunos
As poacutes-graduaccedilotildees Complemento de Formaccedilatildeo Superior em Ensino do Inglecircs no 1ordm
Ciclo do Ensino Baacutesico Formaccedilatildeo EspecializadaPoacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Especial
Domiacutenio Emocional e da Personalidade Liacutengua e Cultura Portuguesas Liacutengua Literatura e
Cultura Espanholas A duraccedilatildeo da poacutes-graduaccedilatildeo eacute divulgada aquando da publicitaccedilatildeo
Os Cursos Teacutecnicos Superiores Profissionais (CTeSPs) Acompanhamento de Crianccedilas
e Jovens Desenvolvimento de Produtos Multimeacutedia Educaccedilatildeo Ambiental Ilustraccedilatildeo e Arte
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
143
Graacutefica Produccedilatildeo nas Artes do Espectaacuteculo Secretariado e Liacutenguas e Serviccedilo Social e
Desenvolvimento Comunitaacuterio Os Cursos Teacutecnicos Superiores Profissionais (CTeSPs) satildeo
cursos superiores de curta duraccedilatildeo (short-cycle higher education) e conferem um Diploma de
Teacutecnico Superior Profissional Satildeo classificados como cursos de niacutevel 5 do EQF (Quadro
Europeu de Qualificaccedilotildees) e QNQ (Quadro Nacional de Qualificaccedilotildees) e de niacutevel 5 do ISCED
2011 (Classificaccedilatildeo Internacional Normalizada da Educaccedilatildeo) Um CTeSP tem 120 creacuteditos
(ECTS) e uma duraccedilatildeo de dois anos curriculares de trabalho dos alunos O plano de formaccedilatildeo
de um CTeSP integra as componentes de formaccedilatildeo geral e cientiacutefica de formaccedilatildeo teacutecnica e de
formaccedilatildeo em contexto de trabalho Os titulares de um Diploma de Teacutecnico Superior
Profissional podem prosseguir os estudos de licenciatura
A Escola Superior de Educaccedilatildeo sob o ponto de vista organizativo estaacute subdividida ao
niacutevel cientiacutefico e funcional nos seguintes oacutergatildeos a) Um oacutergatildeo de natureza executiva o
Director b) Um oacutergatildeo de natureza teacutecnico - cientiacutefica o Conselho Teacutecnico-Cientiacutefico c) Um
oacutergatildeo de natureza pedagoacutegica o Conselho Pedagoacutegico que inclui estruturas de coordenaccedilatildeo
dos ciclos de estudos designadamente as Comissotildees de Curso e Directores de Curso d) Oacutergatildeos
de coordenaccedilatildeo cientiacutefico-pedagoacutegica designados por Departamentos e) Um oacutergatildeo de
natureza consultiva o Conselho Permanente
Enquanto Centro de Investigaccedilatildeo Pedagoacutegica a ESEB eacute essencialmente uma Escola de
formaccedilatildeo de professores Como Escola de Formaccedilatildeo Inicial a ESEB forma professores com
niacutevel superior para a docecircncia em Educaccedilatildeo Preacute-escolar 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico e 2ordm Ciclo
do Ensino Baacutesico Mas tambeacutem forma profissionais nos campos artiacutestico do desporto e lazer
e traduccedilatildeo Enquanto Escola de Formaccedilatildeo Permanente assegura a atualizaccedilatildeo cientiacutefica e
pedagoacutegica dos professores de todo o distrito dos diferentes niacuteveis de ensino
Curso de Licenciatura em 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico
O foco deste estudo como tem sido dito centra-se no curso de licenciatura 1ordm Ciclo do
Ensino Baacutesico ndash com a duraccedilatildeo de quatro anos (preacute-Bolonha) oficializado pela Portaria nordm
413-E98 de 17 de julho alterada pela portaria nordm 680 ndash C98 de 31 de agosto ao abrigo dos
artigos 13 e 31 da Lei nordm 4686 de 14 de outubro e alterado pela Portaria nordm 25799 de 9 de
abril
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
144
Este curso forma professores profissionalizados para as escolas do 1ordm Ciclo do Ensino
Baacutesico No final da formaccedilatildeo possuem habilitaccedilatildeo proacutepria para concorrer aos quadros das
escolas puacuteblicas e privadas integrando a carreira docente sem que sejam exigidos outros
requisitos acadeacutemicos ou profissionais A designaccedilatildeo de habilitaccedilatildeo proacutepria deve-se ao facto
de estes profissionais de ensino terem no seu plano curricular o estaacutegio integrado facto que
acontece de forma progressiva e cumulativa combinando espaccedilos teoacutericos e praacuteticos
O curso inclui o estaacutegio que decorre numa escola do 1ordm CEB (15 horas semanais
(segunda-feira terccedila-feira e quarta-feira) mais 130min de reflexatildeo em articulaccedilatildeo com o
Seminaacuterio Interdisciplinar de Praacutetica Pedagoacutegica (SIPP) que se realiza na ESEB
Assim sendo e apoiando-nos em Baptista (2003) e na anaacutelise e reflexatildeo que a autora
faz sobre o curriacuteculo da ESEB sintetizamos esta componente da formaccedilatildeo praacutetica pedagoacutegica
tendo em conta os seguintes objetivos i) possibilitar o contacto com a realidade profissional
ii) organizar e reorganizar os referenciais teoacutericos apreendidos ao longo do curso atribuindo
sentido e significado a conceitos e conteuacutedos estudados iii) compreender as situaccedilotildees
educativas numa dialeacutetica de confrontaccedilatildeo criando conhecimentos novos a partir da accedilatildeo iv)
saber ser e saber estar em contextos educativos e v) valorizar a necessidade de uma formaccedilatildeo
atualizada e renovada Na ESEB estes objetivos concretizam-se em Unidades Curriculares de
natureza transdisciplinar que integram o curso Praacutetica Pedagoacutegica I Praacutetica Pedagoacutegica II e
Praacutetica Pedagoacutegica III
Estas unidades curriculares concretizam-se atraveacutes de atividades diferenciadas ao longo
do curso em periacuteodos (etapas) de duraccedilatildeo crescente e de responsabilizaccedilatildeo progressiva
incidindo nas seguintes dimensotildees observaccedilatildeo ndash anaacutelise cooperaccedilatildeo e intervenccedilatildeo e
responsabilizaccedilatildeo pela docecircncia (Baptista 2003) Neste acircmbito estas trecircs dimensotildees surgem
organizadas em trecircs unidades curriculares anuais integradas respetivamente no 2ordm 3ordm e 4ordm
ano sendo-lhes atribuiacutedos tempos diferenciados como se pode ver no quadro nordm 4
Quadro 4
Distribuiccedilatildeo das disciplinas com componente praacutetica por ano curricular Ano do curso 2ordm Ano 3ordm Ano 4ordm Ano Unidades Curriculares
Praacutetica Pedagoacutegica I
Praacutetica Pedagoacutegica II
Praacutetica Pedagoacutegica III
Seminaacuterio Interdisciplinar de Praacutetica Pedagoacutegica
Nordm de horas semanais 2 3 15 2
Fonte (Baptista 2003 p 96)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
145
Fazendo uma anaacutelise da carga horaacuteria global referente agrave praacutetica pedagoacutegica organizada
de forma sequencial percebe-se a importacircncia atribuiacuteda ao trinoacutemio teoria-praacutetica-teoria que
se desenha numa relaccedilatildeo permanente A iniciaccedilatildeo agrave praacutetica profissional apresenta-se de uma
forma transversal mobilizando e integrando saberes adquiridos nas diferentes componentes de
formaccedilatildeo articulando os diferentes saberes adquiridos nas atividades de formaccedilatildeo como forma
de desenvolvimento profissional no seu todo
Assim no 2ordm ano a praacutetica pedagoacutegica em contexto escolar proporciona momentos de
observaccedilatildeo registo e anaacutelise de dados precedidos de formaccedilatildeo teoacuterico-praacutetica no domiacutenio das
teacutecnicas de observaccedilatildeo e instrumentos de registo dessa observaccedilatildeo O desenvolvimento destas
competecircncias permite aos formandos caracterizar os contextos educativos a sala de aula e o
grupo turma Permite ainda uma anaacutelise das metodologias pedagoacutegicas e didaacuteticas observadas
em contexto educativo pois durante um ano letivo estatildeo 2 horas por semana a observar aulas
no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico dos professores titulares de turma que se disponibilizam para
receber os estudantes do 2ordm ano (professores cooperantes)
No 3ordm ano retomam-se as atividades de observaccedilatildeo em sala de turmas de diferentes
anos de escolaridade onde desenvolvem as primeiras atividades de cooperaccedilatildeointervenccedilatildeo em
contexto sala da aula Estas satildeo apoiadas pelo professor cooperante pelo supervisor da ESEB
e sempre que necessaacuterio em colaboraccedilatildeo com os colegas que integram o grupo de estaacutegio
pois trata-se apenas de iniciaccedilatildeo natildeo assumindo a responsabilidade da turma pelo que natildeo se
considera estaacutegio apenas cooperaccedilatildeointervenccedilatildeo Estas accedilotildees de cooperaccedilatildeointervenccedilatildeo satildeo
analisadas e refletidas agrave luz das teorias e conceitos educativos
No 4ordm ano da licenciatura tal como nos anos anteriores organizam-se em grupos de 3
professores estagiaacuterios As atividades de estaacutegio nas escolas do 1ordm Ciclo iniciam-se com um
periacuteodo de observaccedilatildeo caracterizaccedilatildeo do contexto e do grupo e gradualmente cada formando
assume o processo educativo da turma que integra trecircs dias por semana (15 horas letivas)
durante um ano letivo Como satildeo grupos de 3 professores estagiaacuterios cada estagiaacuterio assume
uma semana sendo que os colegas estatildeo na sala observando e colaborando com o(a) colega
com a professora cooperante e pontualmente com a supervisora que se desloca agraves salas de
aula Esta atuaccedilatildeo responsabilizada eacute um momento de grande significado na construccedilatildeo de um
saber contextualizado e no desenvolvimento profissional do futuro professor a partir da sua
proacutepria praacutetica educativa Neste espaccedilo pretende-se que os formandos aprendam a mobilizar
articuladamente diferentes modelos de intervenccedilatildeo diferentes saberes e a desenvolver
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
146
projetos em funccedilatildeo dos contextos sociais e escolares nomeadamente das crianccedilas que
constituem as turmas onde vivenciam estas primeiras experiecircncias profissionais efetivas Estes
processos formativos satildeo concebidos planificados e desenvolvidos numa loacutegica de
Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo na modalidade praacutetica
O desenvolvimento de competecircncias pedagoacutegicas e em especial das competecircncias de
investigaccedilatildeo constitui um complexo e articulado processo em que o Seminaacuterio Interdisciplinar
de Praacutetica Pedagoacutegica (SIPP) desempenha um papel charneira Este eacute um espaccedilo de conceccedilatildeo
anaacutelise e reflexatildeo sobre as praacuteticas desenvolvidas em contexto de estaacutegio supervisionado que
parte das vivecircncias do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico e se desenha em torno das questotildees-problema
que adveacutem da praacutetica A inclusatildeo de Seminaacuterio Interdisciplinar de Praacutetica Pedagoacutegica no plano
de estudos da licenciatura em Ensino Baacutesico -1ordm Ciclo resulta da necessidade de investigaccedilatildeo
sobre as problemaacuteticas emergentes da praacutetica da reflexatildeo sobre as mesmas e da necessidade
de conceber planos coerentes capazes de dar resposta agraves mesmas
Este modelo de intervenccedilatildeo assente numa loacutegica de projeto de accedilatildeo-reflexatildeo-
intervenccedilatildeo assume concetualmente e processualmente pressupostos de uma formaccedilatildeo
reflexiva de desenvolvimento das dimensotildees estruturantes da competecircncia profissional na
formaccedilatildeo inicial de professores
Assim sendo com o objetivo de passar a escrito a operacionalizaccedilatildeo desta dinacircmica
organizaccedilatildeo do estaacutegio organizamos e apresentamos um esquema que na nossa opiniatildeo eacute
elucidativo da dinacircmica do estaacutegio Este esquema realizado por noacutes apresenta os trecircs
momentos diferentes devidamente articulados e sincronizados entre todos os intervenientes
neste processo formativo como se pode ver na paacutegina seguinte na Figura 6
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
147
Figura 6 Organizaccedilatildeo da Praacutetica Pedagoacutegica (Estaacutegio) durante um ano letivo
No 1ordm momento em Seminaacuterio Interdisciplinar de Praacutetica Pedagoacutegica (SIPP) que
decorre na ESEB todas as semanas com a duraccedilatildeo de duas horas estatildeo presentes todos os
grupos de estaacutegio que estatildeo a ser supervisionados pelos supervisores da ESEB Se a turma tiver
mais que um supervisor o que acontece todos os anos letivos pontualmente poderatildeo partilhar
este espaccedilo em grande grupo mas no geral operacionaliza-se apenas com os grupos de estaacutegio
e respetivo supervisor Este espaccedilo tem uma organizaccedilatildeo muito flexiacutevel pois natildeo tem
programa Aqui realizam-se accedilotildees muito variadas tais como auto e heteroreflexatildeo intra e
intergrupos de estaacutegio sobre a praacutetica pedagoacutegica apresentaccedilatildeodiscussatildeo de temaacuteticas
propostas quer pelos formandos individualmente ou por grupos ou pelo supervisor Realiza-
se ainda a planificaccedilatildeo das atividades pedagoacutegicas relativas agrave semana seguinte (estruturaccedilatildeo
procedimentos metodoloacutegicos seleccedilatildeo de materiais adequados agraves atividade a concretizar e
elaboraccedilatildeo de grelhas de registo de observaccedilatildeoavaliaccedilatildeo)
O SIPP eacute muito importante pois o seu contributo potencia o desenvolvimento de
competecircncias fundamentais agrave estruturaccedilatildeo do pensamento pedagoacutegico autoacutenomo agrave
estruturaccedilatildeo da planificaccedilatildeo onde os formandos por norma se aplicam e se automotivam logo
toda a laboraccedilatildeo neste espaccedilo envolve temaacuteticas problemas suscitados pela praxis e para os
quais eacute importante encontrar soluccedilotildees teoricamente fundamentadas e novas compreensotildees
para situaccedilotildees singulares vivenciadas em contexto de supervisatildeo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
148
O 2ordm momento praacutetica pedagoacutegica em contexto de supervisatildeo sala de aula do 1ordm Ciclo
de Ensino Baacutesico realiza-se agraves segundas terccedilas e quartas-feiras com a duraccedilatildeo de 15h 5hdia
Cada formando assume a lecionaccedilatildeo da semana rotativamente Nos restantes dias estatildeo na sala
de aula como observadores participantes colaborando quando solicitados em presenccedila do
professor cooperante e do supervisor quando presente
O 3ordm momento deste ciclo inclui a reflexatildeo sobre as praacuteticas nos centros de estaacutegio
(contexto de 1ordm CEB) As reflexotildees ocorrem agraves quartas-feiras uacuteltimo dia de aula da semana
apoacutes o teacuterminus da componente letiva e tem a duraccedilatildeo de 1 hora Tal como os restantes
momentos este eacute igualmente muito importante pois eacute um espaccedilo onde os formandos refletem
teorizam e avaliam as suas praacuteticas com especial incidecircncia na semana em curso Os
formandos descrevem e fundamentam as suas praacuteticas agrave luz do quadro teoacuterico de referecircncia
proveniente da sua formaccedilatildeo inicial confrontando com a reflexatildeo dos seus pares da professora
cooperante e a professora supervisora quando presente Esta reflexatildeo faz-se sempre a partir
da grelha de avaliaccedilatildeo que conteacutem os criteacuterios sobre os quais a Praacutetica Pedagoacutegica estava ser
avaliada (Anexo 5) na semana em que ocorrem registos O confronto com os problemas
emergentes eacute intencional pois este processo reciacuteproco entre o formando e as situaccedilotildees-
problema a anaacutelise do seu desempenho e das conceccedilotildees concordantes ou discordantes dos pais
e dos professores cooperante e supervisor podem induzir pela dissonacircncia cognitiva que
geram confirmaccedilotildees ou reorganizaccedilotildees das suas accedilotildees em contexto educativo Este processo
tem subjacente a reflexatildeo o questionamento o contexto os atores e as dimensotildees da
competecircncia docente competecircncias sociais e relacionais fatores muito importantes para uma
praacutetica pedagoacutegica eficaz
Apresentada a dinacircmica e organizaccedilatildeo em que se integraram os formandos estaremos
em condiccedilotildees de referenciar dados esclarecedores sobre a organizaccedilatildeo desta componente
empiacuterica
Protocolos com Instituiccedilotildees Cooperantes
Eacute necessaacuterio que exista um viacutenculo entre a escola de formaccedilatildeo inicial e os centros de
estaacutegio Este viacutenculo estabelece-se entre duas entidades assinando protocolos de colaboraccedilatildeo
de acordo com a portaria 33688 de 28 de maio Esta portaria salvaguarda o projeto
educacional e de formaccedilatildeo inicial de educadores de infacircncia e de professores de 1ordm e 2ordm Ciclo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
149
do Ensino Baacutesico em que cada instituiccedilatildeo formadora tem o direito e o dever de assumir e de
responsavelmente prosseguir com a correta articulaccedilatildeo pedagoacutegica e administrativa entre as
instituiccedilotildees formadoras e os estabelecimentos de ensino onde a praacutetica pedagoacutegica se realiza
Refere-se ainda agrave clareza dos princiacutepios a que deve obedecer o recrutamento dos professores
titulares das turmas e a escolha das escolas onde se realiza a praacutetica pedagoacutegica
Nestes termos a referida portaria aponta os percursos a seguir para a assinatura dos
protocolos A saber i) local de realizaccedilatildeo - compete agrave instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo a escolha das
escolas em que se realizaraacute a praacutetica pedagoacutegica obtida que seja a sua anuecircncia ii) a escolha
poderaacute recair em escolas puacuteblicas dependentes ou natildeo do Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e em escolas
particulares ou cooperativas tendo em conta os seguintes criteacuterios
a) adequaccedilatildeo da escola agraves necessidades da realizaccedilatildeo da praacutetica pedagoacutegica
viabilizando a concretizaccedilatildeo do projeto educativo da instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo
b) disponibilidade da escola e
c) distacircncia entre a escola e a instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo
A escolha concretizar-se-aacute atraveacutes de um protocolo de colaboraccedilatildeo entre a instituiccedilatildeo
de formaccedilatildeo e a escola Seratildeo competentes para firmar esse protocolo os oacutergatildeos de gestatildeo da
instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo e a escola ou agrupamento em causa
Da assinatura desse protocolo satildeo permitidas atividades de praacutetica pedagoacutegica que
incluem a sua preparaccedilatildeo execuccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de acordo com uma programaccedilatildeo acordada
entre os docentes da instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo e os docentes da escola e quando necessaacuterio com
os oacutergatildeos de gestatildeo desta Este permite ainda a livre circulaccedilatildeo de professores e alunos da
instituiccedilatildeo nas instalaccedilotildees da escola incluindo a entrada dos supervisores nas salas do
decurso das atividades escolares ou nas reuniotildees para fins pedagoacutegicos Inclui igualmente a
autorizaccedilatildeo para registo de som e imagem das atividades escolares a consulta de registos
administrativos realizaccedilatildeo de atividades de ensino quer por professores quer por alunos da
instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo e ainda a participaccedilatildeo dos professores cooperantes nas accedilotildees do
programa de atividades da praacutetica pedagoacutegica organizadas pela instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo e para
as quais sejam convidados De referir a questatildeo do sigilo pois os alunos e docentes da
instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo que no acircmbito das atividades da praacutetica pedagoacutegica tomem
conhecimento de informaccedilotildees de natureza confidencial ou reservada ficaratildeo obrigados a manter
sigilo sobre as mesmas
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
150
Expostas as regras eacute importante referir que os protocolos assinados com as escolas do
1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico no ano a que se refere o estudo 20092010 eram todas escolas
pertenccedila da rede de ensino puacuteblico
Apoacutes estas formalidades a instituiccedilatildeo formadora contacta individualmente cada titular
de turma uma vez que embora o protocolo esteja assinado com a escolaagrupamento cada
professor pode decidir autonomamente se aceita ou natildeo colaborar com a escola de formaccedilatildeo
inicial Posteriormente a esta confirmaccedilatildeo o Departamento de Supervisatildeo da Praacutetica
Pedagoacutegica recebe a listagem das escolas e dos nomes dos professores cooperantes que
aceitaram colaborar com a ESEB
2 Escolas Cooperantes do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico
A nossa investigaccedilatildeo desenvolveu-se nas Escolas do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico
designadas de EB1 de Oeste e EB1 de Leste11 que pertencem ao mesmo agrupamento No
entanto apesar da sua proximidade funcionam em dois edifiacutecios diferentes As duas escolas
situam-se em zonas residenciais
Relativamente ao espaccedilo fiacutesico a EB1 de Oeste tem apenas um piso com quatro salas
de aula uma sala de professores e uma biblioteca A escola dispotildee ainda de instalaccedilotildees
sanitaacuterias para os meninos e para as meninas separadas e ainda uma casa de banho para os
adultos Todos os espaccedilos tinham boa iluminaccedilatildeo natural e artificial aquecimento central aacutegua
canalizada e saneamento baacutesico O horaacuterio de funcionamento da instituiccedilatildeo estava
compreendido entre as 830 e as 1800 sendo o horaacuterio da componente letiva das 900 agraves 1215
e das 1345 agraves 1730 O horaacuterio da professora titular era das 900 as 1215 e das 1400 agraves 1545
horaacuterio igualmente atribuiacutedo aos professores estagiaacuterios O horaacuterio da componente letiva extra
era preenchido pelas atividades extracurriculares (inglecircs muacutesica e expressotildees (plaacutestica e fiacutesico-
motora)
11 A identificaccedilatildeo EB1 de Oeste e EB1 de Leste satildeo fictiacutecias
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
151
Quanto aos recursos pedagoacutegicos a escola estaacute bem apetrechada com livros revistas
brochuras impressora fotocopiadora material informaacutetico e audiovisual diverso
(computadores com ligaccedilatildeo agrave internet videoprojector e televisores)
O corpo docente da EB1 de Oeste eacute variaacutevel concurso apoacutes concurso devido agrave
mobilidade do corpo docente A escola contava no ano letivo de 20092010 com 4 docentes
com componente letiva uma docente para o ensino especial uma docente nos apoios
educativos Como outros recursos humanos identificamos 3 auxiliares de accedilatildeo educativa
Quanto ao corpo discente a escola contava com 52 alunos organizados por turma e ano de
escolaridade Na turma do 1ordm ano de escolaridade 12 alunos na turma A e B do 2ordm ano 16 e
12 alunos respetivamente e na turma de 3ordm ano 12 alunos
A Escola EB1 de Leste no que se refere ao seu espaccedilo fiacutesico este edifiacutecio tem apenas
um piso com duas salas de aula e uma sala de professores A escola dispotildee ainda de
instalaccedilotildees sanitaacuterias para os meninos e para as meninas separadas e ainda uma casa de banho
para os adultos Todos os espaccedilos tinham boa iluminaccedilatildeo natural e artificial aquecimento
central aacutegua canalizada e saneamento baacutesico O horaacuterio de funcionamento da instituiccedilatildeo estava
compreendido entre as 830 e as 1800 sendo o horaacuterio da componente letiva das 900 agraves 1215
e das 1345 agraves 1730 O horaacuterio da professora titular era das 900 as 1215 e das 1400 agraves 1545
horaacuterio igualmente atribuiacutedo aos professores estagiaacuterios O horaacuterio da componente letiva extra
era preenchido pelas atividades extracurriculares (inglecircs muacutesica e expressotildees (plaacutestica e fiacutesico-
motora)
Os espaccedilos exteriores quer da EB1 de Oeste quer da EB1 de Leste satildeo bastante amplos
com muros altos e portotildees o que permite aos alunos nesta faixa etaacuteria 6-10 anos de idade
brincar em seguranccedila sob vigilacircncia dos adultos e auxiliares de accedilatildeo educativa
Quanto aos recursos pedagoacutegicos a escola estava bem apetrechada com impressora
fotocopiadora material informaacutetico e audiovisual diverso (computadores com ligaccedilatildeo agrave
internet videoprojector e televisores) Conveacutem salientar que esta escola natildeo tem biblioteca
O corpo docente da EB1 de Leste eacute variaacutevel concurso apoacutes concurso devido agrave
mobilidade do corpo docente A escola contava no ano letivo de 20092010 com duas docentes
com componente letiva uma docente para o ensino especial uma docente nos apoios
educativos Como outros recursos humanos 1 auxiliar de accedilatildeo educativa Quanto ao corpo
discente a escola contava com 33 alunos integrados numa turma do 3ordm ano de escolaridade
com 17 alunos e noutra turma do 4ordm ano de escolaridade com 16 alunos
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
152
Os professores cooperantes tecircm entre zero anos e 12 anos de cooperaccedilatildeo como se pode
verificar no quadro 5 onde apresentamos a sua caracterizaccedilatildeo A professora que cooperava
pela primeira vez foi colocada apoacutes a distribuiccedilatildeo dos estagiaacuterios porque a professora titular
se aposentou a 1 de outubro do ano letivo de 20092010 No entanto foi previamente abordada
para saber se aceitava colaborar com a ESEB recebendo professores estagiaacuterios e aceitou
3 Participantes
O grupo do 4ordm ano da Licenciatura em Ensino Baacutesico - 1ordm Ciclo no ano letivo
20092010 na disciplina de Praacutetica Pedagoacutegica III (estaacutegio) era composto por 32 formandos
Agrave supervisora investigadora foram-lhe atribuiacutedos 18 formandos e os restantes foram atribuiacutedos
a outra colega
Em seguida apresenta-se a caracterizaccedilatildeo do grupo dos professores estagiaacuterios dos
professores cooperantes e da supervisora
Quadro 5 Caracterizaccedilatildeo do grupo (professores estagiaacuterios) Professores estagiaacuterios
E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8 E9 E10 E11 E12 E13 E14 E15 E16 E17 E18
Sexo F M F M F F F F F F F F F F M F F F Idade 21 30 24 29 26 24 28 22 23 22 29 21 28 24 23 23 22 24
Da anaacutelise do quadro anterior verificamos que dos 18 professores estagiaacuterios
designados de (E1 E2hellip) 15 satildeo do sexo feminino e 3 do sexo masculino Tecircm idades
compreendidas entre os 21 e os 30 anos As fichas com os dados pessoais dos participantes
encontram-se nos arquivos pessoais da investigadora
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
153
Quadro 6 Caracterizaccedilatildeo do grupo (professores-cooperantes) Professoras cooperantes
C1 C2 C3 C4 C5 C6
Habilitaccedilotildees acadeacutemicas Licenciatura Licenciatura Licenciatura Licenciatura Licenciatura Licenciatura
Habilitaccedilatildeo profissional
Magisteacuterio Primaacuterio + Complemento de Formaccedilatildeo no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico
Magisteacuterio Primaacuterio + Professores do Ensino Baacutesico Variante de Matemaacutetica e Ciecircncias
Magisteacuterio Primaacuterio + Complemento de Formaccedilatildeo no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico
Magisteacuterio Primaacuterio + Complemento de Formaccedilatildeo no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico
Magisteacuterio Primaacuterio + Complemento de Formaccedilatildeo
Magisteacuterio Primaacuterio + Complemento de Formaccedilatildeo na aacuterea de Animaccedilatildeo Sociocultural
Formaccedilatildeo contiacutenua mais relevante
Matemaacutetica e Ciecircncias
Novos Instrumentos no Ensino da Liacutengua Materna
Novos Instrumentos no Ensino da Liacutengua Materna
Programa de Formaccedilatildeo de Ensino do Portuguecircs (PNEP) Novos Programas de Matemaacutetica
Aacuterea das TIC
Anos de experiecircncia profissional
32 25 32 33 24 32
Anos de experiecircncia como professora cooperante
7 0 1 12 4 1
Cargo que desempenha
Coordenadora de estabelecimento
Coordenadora de Conselho de Docentes
Professora Titular Presidente do Conselho Escolar Coordenadora de Escola
Professora Titular Presidente do Conselho Escolar e Coordenadora de Estabelecimento
Coordenadora de Escola
Professora Titular Coordenadora de Estabelecimento Presidente do Conselho Escolar
Da anaacutelise ao quadro 6 verificamos que os 6 professores cooperantes tecircm como
habilitaccedilatildeo acadeacutemica licenciatura e apresentam formaccedilatildeo relevante na aacuterea da Matemaacutetica e
Ciecircncias Novos Instrumentos no Ensino da Liacutengua Materna Portuguecircs e na aacuterea das
Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TIC) Os anos de experiecircncia profissional
enquadram-se entre os 24 e os 32 anos de serviccedilo Em relaccedilatildeo aos anos de experiecircncia como
professora cooperante temos uma docente que estaacute a cooperar com a ESE pela primeira vez
porque por motivos de mobilidade e embora tenha 25 anos de serviccedilo soacute no ano letivo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
154
20092010 foi colocada em Braganccedila A cooperante C6 em final de carreira 32 anos de
serviccedilo tambeacutem soacute estaacute cooperar com a ESE desde 20082009 pelos mesmos motivos
De entre os cargos desempenhados referimos que os 6 professores cooperantes tecircm
cargos de coordenaccedilatildeo Foi um grupo muito motivado para colaborar no nosso projeto ficando
muitas vezes para depois da sua hora de trabalho porque a reflexatildeo com os professores
estagiaacuterios se prolongava ou era necessaacuterio apresentar os resultados referentes aos ciclos de
estudos
Em relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da supervisora esta tem como habilitaccedilotildees acadeacutemicas
Mestrado eacute professora do Ensino Superior desde 2000 Tem vinte e dois anos de experiecircncia
profissional Eacute professora na ESE no Departamento de Supervisatildeo da Praacutetica Pedagoacutegica
Educadores de Infacircncia e Professores do 1ordm Ciclo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
155
CAPITULO III
O ESTUDO DE INVESTIGACcedilAtildeO ndash ACcedilAtildeO Contributos de um Processo de
Supervisatildeo para o Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de
Aula
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
156
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
157
1 Objetivos e Organizaccedilatildeo dos Ciclos de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo
Nos pontos seguintes iremos debruccedilar-nos sobre a apresentaccedilatildeo do projeto de
Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo as diferentes fases que o integram Diagnoacutestico inicial 1ordm Ciclo 2ordm Ciclo
e 3ordm Ciclo de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo e por fim a anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados e respetiva
triangulaccedilatildeo Os objetivos que delineamos para esta fase de intervenccedilatildeo satildeo os seguintes
Desenvolver a reflexividade nos professores-estagiaacuterios de forma a estimular uma
atitude reflexiva face agrave sua praacutetica pedagoacutegica
Promover o autoconhecimento do professor-estagiaacuterio e a tomada e consciecircncia de si
proacuteprio em accedilatildeo
Promover o desenvolvimento da competecircncia relacional e de gestatildeo de sala de aula
integrando-o num processo de desenvolvimento profissional dos professores ndash estagiaacuterios
De acordo com a organizaccedilatildeo das unidades curriculares Praacutetica Pedagoacutegica III e
Seminaacuterio Interdisciplinar de Praacutetica Pedagoacutegica todos os participantes do estudo (professores-
estagiaacuterios professores cooperantes e supervisorainvestigadora) se organizaram num processo
formativo apoiado em processos de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo seguindo a seguinte dinacircmica O
estudo empiacuterico organizou-se por ciclos Diagnoacutestico Inicial 1ordm Ciclo de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo
2ordm Ciclo de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo 3ordm Ciclo de Investigaccedilatildeo-AccedilatildeoAvaliaccedilatildeo do processo
Os ciclos organizam-se por Diagnoacutestico SeminaacuterioAnaacutelise de dados (Siacutentese) 1ordm
Ciclo de IA SeminaacuterioPlanificaccedilatildeo da accedilatildeo Observaccedilatildeo de aulas no 1ordm CEB Reflexatildeo sobre
as praacuteticas Recolha de dados SeminaacuterioAnaacutelise reflexiva sobre os dados (Siacutentese) no 2ordm
Ciclo de IA idem o 1ordm Ciclo de IA No 3ordm Ciclo seguimos as etapas de 1ordm e 2ordm Ciclos de
IA No entanto no final deste 3ordm Ciclo de IA realizamos uma avaliaccedilatildeo do processo
Terminamos com a triangulaccedilatildeo de dados
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
158
2 Apresentaccedilatildeo do Projeto e Criaccedilatildeo de Sinergias
Apoacutes a concretizaccedilatildeo desta distribuiccedilatildeo no Seminaacuterio Interdisciplinar de Praacutetica
Pedagoacutegica identificamos os contextos de supervisatildeo sem os relacionar com o respetivo
professor supervisor ou professor cooperante Solicitamos ainda ao grupo que formassem
grupos de trecircs Esta tarefa foi de faacutecil concretizaccedilatildeo pois os formandos jaacute conheciam os
procedimentos e antecipadamente agruparam-se com criteacuterios que eles proacuteprios definiram A
informaccedilatildeo apresentada pelas supervisoras apenas referia as escolas que viriam a ser os
contextos de estaacutegio e o ano de escolaridade das respetivas turmas Dado que os formandos jaacute
tinham vivenciado situaccedilotildees de observaccedilatildeo e de cooperaccedilatildeointervenccedilatildeo pedagoacutegica nos dois
anos anteriores era desejaacutevel que diversificassem os anos de escolaridade pois consideramos
que a diversidade eacute uma mais-valia no processo formativo Apoacutes a conclusatildeo desta accedilatildeo
apresentaacutemos os supervisores que integravam respetivamente cada contexto de estaacutegio bem
como o professor titular da turma cooperante Uma das supervisoras ficou com 18 formandos
e a outra supervisora com 14
Por motivos burocraacuteticos e organizacionais a Escola Superior de Educaccedilatildeo necessitou
de duas semanas aproximadamente para organizar todo o processo que possibilitou a ida dos
professores-estagiaacuterios para os contextos de estaacutegio daiacute que o periacuteodo de iniacutecio da Praacutetica
Pedagoacutegica III tenha acontecido apenas em outubro
Nesse periacuteodo durante duas semanas em SIPP agora apenas com os 18 formandos ou
professores-estagiaacuterios assumimos as duas designaccedilotildees para o mesmo significado que iriam
ser supervisionados pela supervisorainvestigadora apresentamos em traccedilos gerais a
organizaccedilatildeo de Praacutetica Pedagoacutegica III (PPIII) e a organizaccedilatildeo do Seminaacuterio Interdisciplinar de
Praacutetica Pedagoacutegica (SIIP)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
159
No momento seguinte apresentamos o cronograma correspondente a esta organizaccedilatildeo
(Figura 7)
Semestre I - 21 de setembro de 2009 a 15 de janeiro de 2010
Set SIPP SIPP
21 28
Out EB1 (1ordm contacto)
Obs SIPP
Obs SIPP
Coop SIPP
6 1213 19 20 26 27
Nov Coop EB1
SIPP
PPIII
SIPP
Reflexatildeo EB1
PPIII
SIPP
Reflexatildeo EB1
PPIII
SIPP
Reflexatildeo EB1
PPIII
SIPP 23 9 10 10 16 17 17 23 24 24 30
Dez PPIII
SIPP
PPIII
SIPP
Reflexatildeo EB1
7 14 15 15
Jan PPIII
SIPP
PPIII
SIPP
PPIII
SIPP
Reflexatildeo EB1
4 5 5 11 12 12
Semestre II - 8 de fevereiro a 28 de maio de 2010
Fev PPIII
SIPP
Reflexatildeo EB1
PPIII
SIPP
Reflexatildeo EB1
8 9 10 10 22 23 24 24
Mar PPIII
SIPP
Reflexatildeo EB1
PPIII SIPP
Reflexatildeo EB1
PPIII SIPP
Reflexatildeo EB1
PPIII SIPP
Reflexatildeo EB1
1 2 3 3 8 9 10 10 15 16 17 17 22 23 24 24
Abr PPIII
SIPP
Reflexatildeo EB1
PPIII SIPP
Reflexatildeo EB1
PPIII SIPP
Reflexatildeo EB1
12 13 14 14 19 20 21 21 26 27 28 28
Mai PPIII
SIPP
Reflexatildeo PPIII
SIPP
Reflexatildeo PPIII
SIPP
Reflexatildeo PPIII
SIPP
Reflexatildeo
3 4 5 5 10 11 12 12 17 18 19 19 24 25 26 26
Figura 7 - Cronograma Anual das Intervenccedilotildees
Apoacutes a apresentaccedilatildeo do cronograma eis que chegou o momento de os formandos terem
conhecimento do projeto que a supervisora pretendia levar a efeito nesse ano letivo Foi
apresentada e discutida a organizaccedilatildeo do processo formativo A professora e investigadora
apresentou aos estudantes a proposta de articulaccedilatildeo da formaccedilatildeo com a investigaccedilatildeo tendo
sido clarificados os objetivos da investigaccedilatildeo e o papel a desempenhar pelos participantes de
modo a obter dos estudantes um consentimento informado
A Praacutetica Pedagoacutegica eacute um momento privilegiado de aplicaccedilatildeo de conhecimentos
capacidades competecircncias e atitudes ao contexto real das situaccedilotildees concretas de sala de aula
da escola e da comunidade escolar Neste contexto e num quadro de parceria estabelecida entre
instituiccedilotildees de ensino superior e as escolas que recebem os formandos estas assumem especial
SIPP Datas assinaladas a negrito e sublinhadas Horaacuterio 1700 -1900
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
160
relevacircncia bem como os professores titulares das turmas que recebem os formandos
designados de professores cooperantes Assim e nos termos do artigo 19ordm do Decreto -Lei nordm
432007 ponto 4 de 22 de fevereiro o professor cooperante deve possuir competecircncias
adequadas agraves funccedilotildees a desempenhar sendo dada preferecircncia aos professores que sejam
portadores de formaccedilatildeo especializada em supervisatildeo pedagoacutegica e formaccedilatildeo de formadores ou
experiecircncia profissional de supervisatildeo Neste sentido dado que os professores cooperantes
desempenham a funccedilatildeo de orientaccedilatildeo e supervisatildeo pedagoacutegica devem cumprir o disposto no
estatuto da Carreira dos Educadores de Infacircncia e dos Professores dos Ensinos Baacutesico e
Secundaacuterio (ECD)12 e terem pelo menos 5 anos de serviccedilo efetivo O professor-cooperante eacute
um profissional de ensino com grande influecircncia nos professores-estagiaacuterios muito importante
na formaccedilatildeo inicial de professores (Beck amp Kosnik 2000) Eacute igualmente reconhecido o seu
papel no desenvolvimento pessoal e profissional dos formandos bem como no
desenvolvimento das suas competecircncias e atitudes em relaccedilatildeo agrave profissatildeo docente (Alarcatildeo amp
Tavares 2010 Saacute-Chaves 2000 Slick 1998 Wallace 1991)
Assim sendo eacute desejaacutevel que seja um professor experiente competente aberto
dialogante com um profundo conhecimento da escola Deve ter uma boa preparaccedilatildeo para o seu
trabalho de orientador aspetos nem sempre faacuteceis de concretizar pela grande mobilidade
docente e pelo nuacutemero de protocolos a estabelecer para dar resposta a todos os formandos a
colocar em contexto de praacutetica pedagoacutegica Isto porque a par dos ganhos resultantes para os
formandos existem tambeacutem evidecircncias de mais-valias para o professor cooperante de entre
as quais destacamos as aprendizagens decorrentes do contacto com os formandos a
cumplicidade que se estabelece inclusive com o supervisor da escola de formaccedilatildeo inicial Estes
factos evidenciam-se nos estudos (Alarcatildeo amp Tavares 2010 Esteves 2006 Bullough 2005
Branquinho 2004 Beck e Kosnik 2000)
De referir que os professores cooperantes tecircm dupla tarefa porque aqui o ensino eacute
generalista com um uacutenico titular e o facto de ser cooperante natildeo lhe confere qualquer reduccedilatildeo
de horaacuterio facto que os compensaria pelo dispecircndio de tempo para integrar as funccedilotildees
pedagoacutegicas e supervisivas A accedilatildeo do professor acompanha diariamente a atividade
pedagoacutegica das 900 agraves 1630 em sala de aula supervisionando as aulas lecionadas pelos
formandos
12Artigo 2ordm do Estatuto da Carreira Docente (ECD) - Para efeitos de aplicaccedilatildeo do presente Estatuto considera-se pessoal docente aquele que eacute portador de qualificaccedilatildeo profissional certificada pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo para o desempenho de funccedilotildees de educaccedilatildeo ou de ensino com caraacuteter permanente sequencial e sistemaacutetico
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
161
Como contrapartidas a ESEB daacute prioridade absoluta no acesso agrave formaccedilatildeo contiacutenua
lecionada nesta escola de formaccedilatildeo inicial frequecircncia gratuita em jornadas conferecircncias
eventos cientiacuteficos organizada na ESEB ou outros eventos organizados e que sejam uma mais-
valia para a sua formaccedilatildeo profissional
De acordo com o protocolo supra referenciado ao professor cooperante compete o
acompanhamento sistemaacutetico dos formandos em articulaccedilatildeo com o professor supervisor da
ESEB fazendo reflexotildees regulares em contexto de supervisatildeo tomando como linhas
orientadoras a ficha de avaliaccedilatildeo de desempenho que partilhamos no iniacutecio do ano letivo e que
seraacute um dos documentos base para avaliaccedilatildeo do trabalho realizado pelo professor estagiaacuterio
em contexto de supervisatildeo e particularmente neste ano letivo os registos de observaccedilatildeo
aplicados neste estudo como instrumentos de recolha de dados Nestas reflexotildees iniciais quer
na ESEB quer depois no decorrer do ano letivo orientamos a nossa accedilatildeo para uma supervisatildeo
reflexiva tendo subjacente os registos supracitados realizados em contexto de supervisatildeo
temaacuteticas emergentes reflexotildees individuais e coletivas bem como um questionaacuterio de questotildees
abertas e um questionaacuterio de questotildees fechadas
Este projeto foi integrado no acircmbito da vida profissional da investigadora supervisora
da praacutetica pedagoacutegica O estudo foi realizado com 18 dos 32 estudantes do 4ordm Ano o curso de
licenciatura em Ensino Baacutesico ndash 1ordm Ciclo que constituiacuteram com a supervisorainvestigadora
uma das turmas de Seminaacuterio Interdisciplinar da Praacutetica Pedagoacutegica e de Praacutetica pedagoacutegica
III Foram ainda envolvidas no processo seis professoras cooperantes
Como dissemos no ponto 3 do capiacutetulo II participantes no estudo os formandos tiveram
conhecimento do projeto no seminaacuterio de 28092009 logo apoacutes lhe ter sido informado a
organizaccedilatildeo da Praacutetica Pedagoacutegica III e respetivo cronograma Iniciamos este diaacutelogo
procurando conhecer as suas motivaccedilotildees para o estaacutegio as preocupaccedilotildees os medos mas
tambeacutem as expetativas Percebemos que tiacutenhamos formandos mais apreensivos outros mais
confiantes mas no geral o que mais os preocupava era a organizaccedilatildeo e gestatildeo de sala de aula
o controlo do grupo e preocupaccedilatildeo com o facto de natildeo ser aceite pelo grupo Refletimos sobre
estas questotildees e fomos orientando o diaacutelogo para o objeto de estudo deste projeto
Desenvolvimento da competecircncia relacional e de gestatildeo de sala de aula e sua relaccedilatildeo com a
prevenccedilatildeo da indisciplina e apresentamos o projeto com enfase e muita motivaccedilatildeo Percebemos
o seu entusiasmo no clima de seminaacuterio que estaacutevamos a observar Foi apresentada e discutida
a organizaccedilatildeo do processo formativo A professora e investigadora apresentou aos estudantes
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
162
a proposta de articulaccedilatildeo da formaccedilatildeo com a investigaccedilatildeo tendo sido clarificados os objectivos
da investigaccedilatildeo e o papel a desempenhar pelos participantes de modo a obter dos estudantes
um consentimento informado
Questionamos o grupo se pretendia mais algum esclarecimento e informaacutemos que nos
iriamos ausentar da sala por cinco minutos para permitir que trocassem impressotildees sem
constrangimentos Ao entrar novamente na sala percebemos de imediato o entusiasmo
dizendo-nos que natildeo soacute aceitavam colaborar no estudo como consideravam que poderia ser
uma mais-valia acrescida agrave sua formaccedilatildeo
Ainda que de forma informal os professores cooperantes jaacute tinham conhecimento do
projeto que pretendiacuteamos desenvolver mas era necessaacuterio a sua apresentaccedilatildeo formal com
destaque para a metodologia de um processo de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo metodologia de recolha de
anaacutelise e recolha de dados e instrumentos de recolha de dados Assim sendo no dia destinado
agrave 1ordf reflexatildeo em contexto de 1ordm CEB 61009 convidamos os formandos e os seis cooperantes
a integrar o espaccedilo de reflexatildeo para podermos apresentar formalmente o nosso projeto Os
formandos jaacute o conheciam o convite teve por objeto que todos ficassem com informaccedilatildeo ao
mesmo niacutevel e tambeacutem para que o grupo percebesse a importacircncia do espirito de grupo e de
colaboraccedilatildeo entre todos e caso surgissem duacutevidas seriam sempre esclarecidas ao grupo A
unanimidade de informaccedilatildeo entre o grupo formandos cooperantes e supervisorainvestigadora
era importante Os cooperantes formandos mostraram sempre muita disponibilidade e espiacuterito
colaborativo A siacutentese que apresentados quer em seminaacuterio quer na reflexatildeo eacute a que
referimos no quadro 7 na paacutegina seguinte
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
163
Quadro7 Apresentaccedilatildeo Sumaacuteria do Projeto
DADOS DO 1ordm CEB
ESE
CICLO IA DATA
Iniacutecio do ano letivo 200910 Apresentaccedilatildeo do professor e dos formandos Apresentaccedilatildeo do projeto Diagnoacutestico Inicial (Q1 e Q2) Organizaccedilatildeo dos grupos de estaacutegio (3 por salaturma) Seminaacuterio Interdisciplinar de Praacutetica Pedagoacutegica (SIPP) Periodicidade Semanal Duraccedilatildeo 2 horas
Dia
gnoacutes
tico
Sete
mbr
o
Iniacutecio do ano letivo 200910
Apresentaccedilatildeo dos formandos nas turmas do 1ordm CEB Periacuteodo de observaccedilatildeo em sala de aula (3 semanas) Intervenccedilatildeo Pedagoacutegica individual (2 intervenccedilotildees) Reflexatildeo semanal (formandos cooperante e pontualmente supervisor) Auto-observaccedilatildeo pelos formandos Hetero-observaccedilatildeo pelo cooperante e supervisor_- Instrumento de Reflexatildeo Observaccedilatildeo Praacutetica
Seminaacuterio IPP com abordagem agraves temaacuteticas identificadas na fase de diagnoacutestico Desenvolvimento de competecircncias de observaccedilatildeo Outras temaacuteticas emergentes da reflexatildeo sobre a accedilatildeo Planificaccedilatildeo da accedilatildeo Reflexatildeo sobre a accedilatildeo 1
ordm Cic
lo I
A
Dez
embr
o
Intervenccedilatildeo Pedagoacutegica individual (5 intervenccedilotildees) Reflexatildeo semanal (formandos cooperante e pontualmente supervisor) Auto-observaccedilatildeo pelos formandos Hetero-observaccedilatildeo pelo cooperante e supervisor
Seminaacuterio IPP com a anaacutelise dos dados de observaccedilatildeo Reflexatildeo conjunta sobre os dados Identificaccedilatildeo de necessidades e desejos de formaccedilatildeo Debate e discussatildeo com o apoio de textos e outros dispositivos (PPT) Planificaccedilatildeo da accedilatildeo Reflexatildeo sobre a accedilatildeo
2ordm C
iclo
IA
Feve
reiro
Intervenccedilatildeo Pedagoacutegica individual (5 intervenccedilotildees) Reflexatildeo semanal (formandos cooperante e pontualmente supervisor) Auto-observaccedilatildeo pelos formandos Hetero-observaccedilatildeo pelo cooperante e
supervisor
Seminaacuterio IPP com a anaacutelise dos dados de observaccedilatildeo Reflexatildeo conjunta sobre os dados Identificaccedilatildeo de necessidades e desejos de formaccedilatildeo Debate e discussatildeo com o apoio de textos e outros dispositivos (PWP) Planificaccedilatildeo da accedilatildeo Reflexatildeo sobre a accedilatildeo Avaliaccedilatildeo do percurso formativo com nova
aplicaccedilatildeo de questionaacuterio
3ordm C
iclo
IA
Mai
o
O espiacuterito colaborativo foi evidenciado pois se por um lado este primeiro choque com
a realidade adensa receios e sentimentos de inseguranccedila tambeacutem eacute certo que o questionamento
das conceccedilotildees iniciais cria condiccedilotildees para aceder a um conjunto de aprendizagens intensas
marcadas pela construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo de um reportoacuterio de atitudes saberes e destrezas
essenciais para o exerciacutecio da profissatildeo e para o desenvolvimento profissional Trata-se pois
de um processo recursivo no qual o estudante-professor parte das conceccedilotildees crenccedilas e
destrezas iniciais que o confronto com a realidade o leva a reequacionar e fazendo-o acede a
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
164
outro patamar de conhecimento e de destreza profissional recriando condiccedilotildees para construir
novas conceccedilotildees novas crenccedilas novas atitudes e tambeacutem novas destrezas profissionais As
condiccedilotildees e as circunstacircncias em que decorre a formaccedilatildeo satildeo peccedilas chave para que este
processo se realize de forma harmoniosa e dinacircmica
3 Diagnoacutestico Inicial
Apoacutes a fase de organizaccedilatildeo do grupo e de reconhecimento muacutetuo bem como da
planificaccedilatildeo do plano de formaccedilatildeo a meacutedio e longo prazo demos iniacutecio ao processo de
investigaccedilatildeo e formaccedilatildeo o que exigia a realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico inicial que nos permitisse
compreender melhor as conceccedilotildees dos alunos acerca da formaccedilatildeo e tambeacutem da relaccedilatildeo
pedagoacutegica Nesse sentido estabelecemos os seguintes objetivos para esta fase do processo
Conhecer as perspetivas dos professores-estagiaacuterios em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo inicial que lhes
foi proporcionada designadamente as competecircncias que desenvolveram
Conhecer os sentimentos e receios dos professores-estagiaacuterios em relaccedilatildeo ao estaacutegio
Conhecer as representaccedilotildees dos professores-estagiaacuterios em relaccedilatildeo agrave indisciplina em sala de
aula
Identificar necessidades de formaccedilatildeo relacionados com o desenvolvimento da competecircncia
relacional e a sua relaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo da indisciplina
Os formandos tecircm atraacutes de si histoacuterias de vida familiares sociais e formativas que lhes
permitem posicionar-se face agraves temaacuteticas com um pensamento muito proacuteprio Para alicerccedilar
esse conhecimento nesta fase de diagnoacutestico quisemos conhecer as expetativas os sentimentos
dos formandos face a este ano de Praacutetica Pedagoacutegica bem como as representaccedilotildees dos
formandos acerca da indisciplina utilizando respetivamente os questionaacuterios Q1 e Q2 como
referimos no capiacutetulo da metodologia (p 109)
Os dados de Q2 foram analisados segundo as subescalas que constituem o questionaacuterio
atraveacutes de teacutecnicas descritivas da anaacutelise estatiacutestica designadamente anaacutelise de frequecircncias
Meacutedia Desvio Padratildeo e Mediana
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
165
Os dados recolhidos atraveacutes de Q1 foram sujeitos a anaacutelise de conteuacutedo sendo
organizados em quatro temas (Perspetivas acerca da formaccedilatildeo anterior Sentimentos em relaccedilatildeo
ao estaacutegio Expectativas em relaccedilatildeo ao estaacutegio e Perspetivas acerca da relaccedilatildeo pedagoacutegica) e
cada um deles em categorias e indicadores (Anexo 6)
31 Perspetivas Acerca da Formaccedilatildeo Anterior
No quadro 8 podemos observar que o discurso sobre a formaccedilatildeo proporcionada ateacute ao
momento do diagnoacutestico organiza-se em torno da relaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica e dos saberes
e competecircncias que sentem como adquiridas Contudo tambeacutem se observa que muitos mais
estudantes refletem sobre a primeira dimensatildeo do que aqueles que o fazem sobre a segunda o
que nos parece ser natural uma vez que nesta fase da formaccedilatildeo eacute um exerciacutecio complicado
para estes futuros professores discorrer sobre as suas competecircncias
Quadro 8
Perspetivas Acerca da Formaccedilatildeo Anterior
Categorias Indicadores Estagiaacuterios
Relaccedilatildeo teoria-praacutetica
Peso excessivo da teoria E6 E12 E13
Importacircncia das estrateacutegias de observaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo E1 E2 E6 E8 E11 E12 E13 E15 E16
Destaque de algumas disciplinas E1 E10 E14 Diversidade de experiecircncias E4 E5 E6
Saberes e Competecircncias Adquiridas
Os saberes teoacutericos E1 E3 E8
Saberes contextuais E6 E7
Competecircncias de diagnoacutestico E2
Competecircncias pessoais e sociais E1 E8
Relaccedilatildeo teoriapraacutetica
Na apreciaccedilatildeo que fazem sobre esta dimensatildeo da formaccedilatildeo o aspeto mais sublinhado eacute
a Importacircncia das Estrateacutegias de Observaccedilatildeo e Cooperaccedilatildeo indicador que nove professores-
estagiaacuterios referem (918)
Na opiniatildeo dos professores-estagiaacuterios existe um peso excessivo da teoria como
podemos ilustrar nestes fragmentos de discurso (hellip) Foram proporcionados [conhecimentos]
a niacutevel mais teoacuterico porque a praacutetica eacute muito pouca (hellip) (E12) A formaccedilatildeo que tenho recebido
ao longo do curso foi mais ao niacutevel teoacuterico a niacutevel da praacutetica temos muito pouco tempo (E13)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
166
Merece ainda destaque a relevacircncia que trecircs destes formandos datildeo a algumas disciplinas para
a sua formaccedilatildeo as disciplinas de metodologia e sem duacutevida o acompanhamento na Praacutetica
Pedagoacutegica (E10) bem como a referecircncia agrave ideia de desenvolver competecircncias na [sua]
formaccedilatildeo acadeacutemica a niacutevel da Pedagogia e Psicologia (E1) e para a disciplina de matemaacutetica
foram as mais pertinentes (E14)
Esta passagem de aluno a professor implica assim um outro desempenho que se inicia
com a observaccedilatildeo e progressivamente leva o professor-estagiaacuterio a assumir o papel de
professor A observaccedilatildeo encontra-se inserida num conjunto de sistemas que correspondem a
diferentes estruturaccedilotildees de estrateacutegias consoante o objeto em anaacutelise Inicia-se por uma
observaccedilatildeo naturalista realizada em contexto sala de aula e recreio pretendendo-se um
conhecimento do aluno em diferentes contextos uma observaccedilatildeo da accedilatildeo educativa do
professor cooperante e um conhecimento real do funcionamento dos contextos educativos De
acordo com um professor-estagiaacuterio os trabalhos observados e feitos no terreno satildeo os mais
construtivos (E2) mas tambeacutem a observaccedilatildeo de aulas hellipe cooperaccedilatildeo com a professora titular
(E6) facto tambeacutem reforccedilado pela seguinte afirmaccedilatildeo Observar numa escola do 1ordm Ciclo e
ter estado a interagir com os alunos (E12) Pretende-se que esta observaccedilatildeo integrada ao longo
do curso venha a permitir uma praacutetica pedagoacutegica contextualizada no momento de assumir a
turma como professor estagiaacuterio
A Importacircncia das Estrateacutegias de Observaccedilatildeo e Cooperaccedilatildeo levaraacute o professor-
estagiaacuterio a () ter a noccedilatildeo do que consiste a observaccedilatildeo intervenccedilatildeo (hellip) (E11) Isto porque
as aulas teoacutericas complementadas com o estaacutegio nas escolas satildeo muito importantes para a
formaccedilatildeo do futuro estagiaacuterio (E1) sendo que (hellip) os trabalhos observados e feitos no
ldquoterrenordquo satildeo os mais construtivos (E2) Um dos formandos sublinha o desenvolvimento de
competecircncias linguiacutesticas competecircncias linguiacutesticas mas muito teoacutericas pouco praacuteticas (E6)
A accedilatildeo em contexto escolar pela anaacutelise dos discursos resultantes da observaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo
embora em modo exploratoacuterio dizem-nos que todo o processo foi importante principalmente
as aulas de estaacutegio de observaccedilatildeo que foram o primeiro impacto com a realidade que seraacute a
minha futura profissatildeo (E16) sublinhando que o mais importante foi (hellip) conviver com os
alunos porque eacute no ldquoterrenordquo e na accedilatildeo que nos surgem as duacutevidas (E15)
A diversidade de experiecircncias jaacute o referenciaacutemos na metodologia enriquece a
formaccedilatildeo facto evidenciado nos seguintes relatos ter estagiado em contextos diferentes (E5)
(hellip) mais importantehellipfoi o facto de estagiar em contextos variados (E4) e poder lidar com
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
167
diferentes situaccedilotildees que ocorrem na sala de aula (E6) Embora nos seus relatos os formandos
falem em ldquoter estagiadordquo e ldquoestagiarrdquo os formandos apenas fizeram cooperaccedilatildeointervenccedilatildeo
em colaboraccedilatildeo com o professor cooperante Os formandos assumem a turma apenas no 4ordm
ano do curso de licenciatura Este plano de formaccedilatildeo de progressiva aproximaccedilatildeo agrave praacutetica
profissional procura natildeo desligar a teoria da praacutetica e introduz progressivamente o professor
estagiaacuterio no ambiente das aulas pois sabemos que num determinado momento eacute necessaacuterio
trocar o laboratoacuterio de aprendizagem na escola de formaccedilatildeo inicial pelo contacto real com as
salas de aula do 1ordm CEB
Saberes e competecircncias adquiridas
O desenvolvimento de competecircncias profissionais nesta fase momento que antecede
o estaacutegio estaacute presente no discurso dos professores-estagiaacuterios mas natildeo com muita ecircnfase
(apenas 7 dos 18 membros do grupo se lhe referem) pois as preocupaccedilotildees e a procura de
soluccedilotildees evidencia-se em accedilatildeo fase crucial para o desenvolvimento de competecircncias
Assim a referecircncia aos saberes teoacutericos surge desta forma no discurso de E1
competecircncias a niacutevel dos conteuacutedos a lecionar em todas as aacutereas disciplinares (E1) Enquanto
outros dois membros do grupo de formaccedilatildeo sublinham os saberes contextuais o contacto com
as crianccedilas do 1ordm Ciclo foi importante (E6) bem como o conhecimento do espaccedilo escolar
(E7) Para E2 satildeo de realccedilar as Competecircncias de Diagnoacutestico ao referir como eacute importante
para si o conhecimento preacutevio dos alunos com baixo rendimento escolar alto rendimento
escolar alunos de diferentes estratos sociais alunos com diferentes motivaccedilotildees para aprender
Se bem que tenhamos incluiacutedo esta informaccedilatildeo neste tema dada a sua unidade de contexto
este discurso levanta-nos alguns problemas dado que o formando natildeo estava claramente a
referir-se ao uso de processos de diagnoacutestico Aspetos como este foram mobilizados nas fases
de formaccedilatildeo seguinte neste caso para uma reflexatildeo sobre as expectativas acerca dos alunos e
a importacircncia dos meios de diagnoacutestico e de uma visatildeo reflexiva criacutetica e mutaacutevel sobre as
representaccedilotildees acerca dos alunos
Dois destes formandos parecem estar algo conscientes do reflexo da formaccedilatildeo inicial
no desenvolvimento de competecircncias pessoais e sociais tatildeo importantes para o desempenho
profissional do professor quando um deles refere a formaccedilatildeo despertou em mim alguma
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
168
sensibilidade para com os alunos (E1) e outro o professor tem de conseguir lidar com cada
aluno em particular porque cada aluno eacute um alunopessoa (E8)
Em siacutentese os estudantes em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo anterior valorizam as estrateacutegias de
observaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo que concretizam respetivamente no 2ordm e 3ordm ano da licenciatura
Valorizam a relaccedilatildeo teoria praacutetica e algumas unidades curriculares do curriacuteculo de formaccedilatildeo
tais como matemaacutetica as metodologias pedagogia e psicologia
Nesta fase iniacutecio de um ano letivo em que a Praacutetica Pedagoacutegica III (estaacutegio) assume
grande preocupaccedilatildeo para os professores-estagiaacuterios quisemos conhecer os sentimentos dos
estagiaacuterios em relaccedilatildeo ao estaacutegio
32 Sentimentos em Relaccedilatildeo ao Estaacutegio
Ao analisarmos os seus discursos percebemos diferentes modos de sentir que
procuramos organizar em dois nuacutecleos de sentido Um em que o discurso dos professores-
estagiaacuterios se direcionava para a confianccedila em relaccedilatildeo ao estaacutegio Neste identificamos 4
categorias Outro orientado para os receios onde identificamos igualmente 4 categorias Estes
dados bem como os indicadores que lhe correspondem seratildeo apresentados no quadro abaixo
Quadro 9 Sentimentos em Relaccedilatildeo ao Estaacutegio
Categorias Indicadores Estagiaacuterios
Conf
ianccedil
a
Confianccedila em geral Estaacute confiante E1 E5 E10 E11
Confianccedila em relaccedilatildeo a si proacuteprio Sente-se com vocaccedilatildeo e amor agraves crianccedilas E1
Sente-se motivado E6
Confianccedila em relaccedilatildeo aos colegas Grupo coeso E1 E7 Confianccedila em relaccedilatildeo aos formadores Ajuda nas dificuldades E9
Rece
ios e
Inse
gura
nccedila
Receios em relaccedilatildeo agrave escola Dificuldade em ser aceite E3 E4 E7 E9 E10 E14
E16 E17 Problemas organizacionais E6 Falta de recursos E7 E8 E19 E11 E12 E13
Receios em relaccedilatildeo aos alunos
Dificuldades a niacutevel relacional E3 E11 E12 E13 Ineficaacutecia nas estrateacutegias E2 E6 Ineficaacutecia na resoluccedilatildeo de problemas E4 Dificuldade em prevenir a indisciplina E3 Dificuldade em lidar com indisciplina (1ordm2ordm)
E1E2 E4 E5 E6 E7 E9 E10 E12 E13 E14 E15
Receios em relaccedilatildeo agrave professora cooperante Natildeo identificaccedilatildeo E7
Inseguranccedila em relaccedilatildeo a si proacuteprio Medo de falhar E5 E15 Falta de competecircncia E15 E16 E18
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
169
Neste contexto de transiccedilatildeo entre a observaccedilatildeocooperaccedilatildeo entre a escola superior de
educaccedilatildeo e a escola entre a teoria e a praacutetica o professor-estagiaacuterio confronta-se com a
complexidade das situaccedilotildees educativas e com a necessidade e o desafio de a partir do
conhecimento cientiacutefico adquirido ateacute ali construir o seu conhecimento profissional Este
processo natildeo ocorre sem dificuldades tensotildees e muitas vezes conflitos Tambeacutem eacute certo que
nesta fase tatildeo importante da sua formaccedilatildeo o professor-estagiaacuterio vivencia conflitos de natureza
interpessoal e interinstitucional13 que se traduzem em sentimentos em relaccedilatildeo ao estaacutegio e que
nos relatos dos professores-estagiaacuterios se agruparam em categorias designadas de Confianccedila
Receios e Inseguranccedila
Confianccedila
De entre os 18 estagiaacuterios apenas 9 manifestaram algum tipo de confianccedila como
ilustramos nos seguintes exemplos Natildeo tenho receios (E1) em geral Em relaccedilatildeo agrave escola natildeo
tenho receios pois ateacute agora sempre fomos bem recebidos (E5) em relaccedilatildeo ao aluno Soacute um
grande amor agrave crianccedila vocaciona um Educador [professor] (E1) em relaccedilatildeo a si proacuteprio as
unidades de registo que se destacam satildeo vontade imensa que tenho em aprender com eles
(E6) sentem-se confiantes Em relaccedilatildeo a conhecimentos adquiridos planificaccedilotildees (hellip) (E10)
e Sinto-me confiante e capaz (E11)
Apenas 2 professores-estagiaacuterios se sentem confiantes em relaccedilatildeo ao grupo de estaacutegio
Tenho um grupo de estaacutegio muito homogeacuteneo e trabalhador (E7) e um estagiaacuterio em relaccedilatildeo
aos professores formadores ter uma boa professora cooperante e supervisora que me ajudam
a ultrapassar as dificuldades [sobretudo a niacutevel pedagoacutegico e relacional] (E13)
Receios
Apesar desta confianccedila a anaacutelise de conteuacutedo realizada aponta para um nuacutemero
significativo de receios apresentando 9 indicadores e 36 unidades de registo reorganizadas em
3 categorias Satildeo elas Receios em relaccedilatildeo agrave escola Receios em relaccedilatildeo agrave professora cooperante
13 Por exemplo conflitos que projetam uma divergecircncia entre conceccedilotildees acerca da formaccedilatildeo por parte das instituiccedilotildees do ensino superior e as da escola onde realiza o estaacutegio
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
170
e Receios em relaccedilatildeo aos alunos De referir que todos manifestaram receios agrave exceccedilatildeo de E18
que apenas manifestou inseguranccedila em relaccedilatildeo a si proacuteprio Eacute nesta uacuteltima categoria que
encontramos quer uma maior diversidade de indicadores quer uma maior quantidade de
sujeitos a expressar os seus receios Satildeo os indicadores receio de dificuldades a niacutevel relacional
e receio de dificuldades em prevenir e lidar com a indisciplina que acolhem o discurso de um
maior nuacutemero de professores-estagiaacuterios (N=17) Dado que as dificuldades relacionais e a
indisciplina satildeo duas dimensotildees muito proacuteximas e ateacute muitas vezes coincidentes podemos
dizer que se trata de uma dimensatildeo da praacutetica docente que leva a alguma inseguranccedila dos jovens
estagiaacuterios
Ainda na relaccedilatildeo com os alunos alguns dos respondentes manifestam o receio de ter
dificuldades a niacutevel da eficaacutecia do ensino demonstrando uma perspetiva muito restrita de
eficaacutecia dado que aparentemente se apoia quase em exclusivo na eficaacutecia da
exposiccedilatildeoexplicaccedilatildeo Apenas um estagiaacuterio se refere agrave diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica
Quanto aos receios em relaccedilatildeo agrave escola satildeo expressos receios de ter dificuldade em ser
aceite e receios em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo e agrave logiacutestica da escola Quanto aos primeiros eacute
expresso o medo de natildeo ser bem recebida (E3) e de natildeo ser bem aceite [pela comunidade
escolar] (E9E14 E16 E17)
Quanto aos receios em relaccedilatildeo agrave professora cooperante apenas um estagiaacuterio se lhe
refere de forma lacoacutenica e contida receio do contacto com a professora titular (E7)
Inseguranccedila
Natildeo podemos deixar de considerar tambeacutem uma visatildeo de conjunto das respostas dos
sujeitos (E5 E15 E16 E18) dado que analisando os receios manifestos verificamos que
projetam inseguranccedila e falta de confianccedila em si proacuteprio designadamente nas relaccedilotildees com os
alunos receando que natildeo nos consigamos entender pela minha maneira de interagir (E8)
receio que natildeo consiga fazer com que eles se interessem estejam atentos (E5) e ainda receios
relacionados com a competecircncia receio a leccionar a aacuterea de matemaacutetica (E15) e receio que
os alunos se apercebam que natildeo domino determinada mateacuteria (E15)
A par destes receios em trecircs unidades de registo faz-se referecircncia agrave dimensatildeo cientiacutefica
e didaacutetica da competecircncia docente [receio lecionar] a aacuterea de matemaacutetica (E15) Receio que
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
171
os alunos se apercebam que natildeo domino determinada mateacuteriardquo (E16) [receio] natildeo transmitir
o conteuacutedo corretamente (hellip) (E18)
Em siacutentese neste tema ldquoSentimentos em relaccedilatildeo ao estaacutegiordquo os professores-estagiaacuterios
manifestaram uma confianccedila muito contida Apresentam alguns receios em relaccedilatildeo ao
acolhimento e agrave projeccedilatildeo da sua imagem na escola e mesmo em relaccedilatildeo aos aspetos
organizacionais e logiacutesticos que podem impedir o desenvolvimento de boas praacuteticas
pedagoacutegicas Revelam sentir receio de eventuais dificuldades na prevenccedilatildeo e na gestatildeo da
indisciplina No entanto apesar destes receios o que seraacute que os professores-estagiaacuterios
esperam do processo de formaccedilatildeo e o que esperam vir a aprender
33 Expetativas em Relaccedilatildeo ao Estaacutegio
As expetativas dos formandos em relaccedilatildeo ao estaacutegio (Quadro 10) estatildeo sempre envoltas
de alguma incerteza porque o desempenho do professor-estagiaacuterio iraacute ter incidecircncia direta no
processo ensino-aprendizagem da turma com que iratildeo estagiar e tambeacutem porque este
desempenho tem de ser reconhecido pelo seu supervisor e cooperante No entanto este
tambeacutem poderaacute ser um ano de desenvolvimento de competecircncias inigualaacutevel a outro ano de
formaccedilatildeo O estagiaacuterio durante um ano letivo estaacute inserido numa turma onde trecircs dias por
semana assume o papel de professor orientado por um supervisor e um professor cooperante
Nesta escola de formaccedilatildeo existe recetividade para a criatividade dos estagiaacuterios permitindo o
crescimento singular de cada um como pessoa e como futuro profissional
Quadro 10 Expetativas em Relaccedilatildeo ao Estaacutegio
Categorias Indicadores Estagiaacuterios
O que esperam do processo de formaccedilatildeo
Sentimento de ldquomissatildeo cumpridardquo E2E3E6E7E10E11 Tranquilidade E4E5E10E12E13E14E15 E16 Diversidade e riqueza de experiecircncias E1 E4 E5 Boas relaccedilotildees humanas E6E7E8E9 E11E13E14 E15 E17 Apoio dos alunos E5 E13 Aprender com o professor cooperante E1 E13
O que esperam aprender
Com os colegas E1 E2 E14 Metodologias de ensino E1E4E12E18 Desenvolver competecircncias profissionais E3E7E11 E13E14E15E16E17 Desenvolver competecircncias pessoais E11 Adquirir conhecimentos E5E6E10 E15 Importacircncia da praacutetica E14
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
172
Relativamente agraves expetativas que os professores-estagiaacuterios enunciam surgem duas
categorias ldquoO que esperam do processo de formaccedilatildeordquo e ldquoO que esperam aprenderrdquo O que
desde logo se destaca eacute o predomiacutenio da 1ordf categoria que embora com o mesmo nuacutemero de
indicadores que a 2ordf categoria (N=6) apresenta 31 unidades de registo e a 2ordf categoria 21 Os
dados parecem indiciar que os professores estagiaacuterios tecircm expetativas elevadas em relaccedilatildeo ao
processo de formaccedilatildeo esperando que este processo os conduza a uma boa formaccedilatildeo
profissional com sentimento de missatildeo cumprida Gostaria sem duacutevida de chegar ao final e
sentir que cumpri o meu dever enquanto professor (E2) Esperam quase todos um ambiente
tranquilo Gostaria que o meu ano de estaacutegio corresse bem e sem problemas (E12) Ainda a
respeito das condiccedilotildees de desenvolvimento do processo as relaccedilotildees humanas parecem ser o
aspeto mais valorizado revelando a importacircncia que os professores-estagiaacuterios lhe atribuem
no processo de formaccedilatildeo e no processo educativo Implicitamente revelam compreensatildeo da
complexidade das interaccedilotildees humanas que a docecircncia comporta e que se manifesta entre outras
formas atraveacutes da relaccedilatildeo pedagoacutegica que se constroacutei em sala de aula categoria que
identificamos no discurso dos professores-estagiaacuterios Esta categoria apresenta 9 indicadores
de entre os quais destacamos [Valorizo a] existecircncia de uma boa relaccedilatildeo com os alunos (E6)
Bom entendimento tanto com a turma como com as professoras cooperante e supervisora (E8)
e [Valorizo] o lado afetivo estabelecido entre alunosestagiaacuterios (E7)
Em relaccedilatildeo agrave categoria ldquoO que esperam aprenderrdquo o indicador ldquoDesenvolver
competecircncias profissionaisrdquo surge claramente em destaque com oito unidades de registo em
vinte e uma Ser um professor competente a todos os niacuteveis (E3) Espero poder vir a retirar do
meu estaacutegio as competecircncias baacutesicas para mais tarde ser capaz de enfrentar uma sala de aula
sozinha sem receios e com seguranccedilardquo (E7) Segue-se as ldquoMetodologias de ensinordquo Espero
vir a aprender mais meacutetodos e estrateacutegias para poder transmitir de uma forma mais eficaz os
conceitos aos alunos (E4) e a aquisiccedilatildeo de conhecimentos Tudo o que for possiacutevel uma vez
que a praacutetica eacute realmente importante na formaccedilatildeo de professores (E15) [Aprender] a dominar
melhor alguns conteuacutedos [do 1ordm CEB] (E10) com o mesmo nuacutemero de unidades de registo (4)
De referir o facto de o indicador ldquoa importacircncia da praacuteticardquo ser apenas referido por um
professor-estagiaacuterio como se pode ver na afirmaccedilatildeo seguinte Na formaccedilatildeo aprendemos o
baacutesico e soacute a praacutetica nos vai ajudar [a ser bons profissionais] (E14) Um outro professor-
estagiaacuterio refere-se ao desenvolvimento de competecircncias pessoais esperando [Desenvolver]
comportamentos que me levem longe (hellip) como pessoa (E11)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
173
34 Perspetivas Acerca da Relaccedilatildeo Pedagoacutegica
Conhecer o modo como os professores perspetivam a relaccedilatildeo pedagoacutegica no iniacutecio do
processo formativo revestiu-se de enorme importacircncia para o processo dado que foi sobre
essas mesmas perspetivas que o mesmo assentou
Todos os estagiaacuterios se manifestaram acerca deste toacutepico embora alguns tenham sido
muito informativos e outros muito parcos
Quadro11
Perspetivas Acerca da Relaccedilatildeo Pedagoacutegica
Categorias Indicadores Estagiaacuterios Visatildeo sisteacutemica da relaccedilatildeo pedagoacutegica Charneira entre muacuteltiplos sistemas E2 E6E10E18
Relaccedilatildeo pedagoacutegica como garante do sucesso das aprendizagens
Cria condiccedilotildeesambiente de aprendizagem E4 E5 E7 E8 E9 E12 E13 E16 17
Perfil do professor ideal
Professor transmissor de conhecimentos E2 E4 E5 E6 E15
Professor proacuteximoafetivo E1 E3 E5 E7 E14 E15 E17 Professor que eacute respeitadoreconhecido E5
Professor como modelo E12 E16 E17 Professor agente de desenvolvimentoconstrutor E2 E3 E9 E11
Professor investigadorreflexivo E2 Professor competente E3 E16 E18
Quatro estagiaacuterios revelaram visatildeo sisteacutemica da relaccedilatildeo pedagoacutegica considerando-a
como ldquocharneira entre muacuteltiplos sistemasrdquo como podemos observar nesta afirmaccedilatildeo A relaccedilatildeo
pedagoacutegica eacute muito importante porque tal como indica a expressatildeo relaccedilatildeo pedagoacutegica haacute
uma relaccedilatildeo que envolve os alunos os professores pais E isso eacute a base para todo o sistema
educativo funcionar (E2) facto reforccedilado por um outro professor-estagiaacuterio Bastante
importante pois soacute assim a comunidade escolar obteraacute resultados (E6)
Grande parte dos dezoito professores estagiaacuterios revelam no seu discurso o
reconhecimento da relaccedilatildeo pedagoacutegica como garante do sucesso das aprendizagens como
bem ilustram estes excertos Sem uma boa relaccedilatildeo pedagoacutegica natildeo haacute uma boa aprendizagem
dos alunos (E5) Ora desta [boa] relaccedilatildeo iraacute resultar bom rendimento escolar (E7)
Muito importante uma vez que desta vatildeo depender todo o funcionamento da sala de
aula (hellip) mas tambeacutem a niacutevel de aprendizagem (E8)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
174
Contudo a anaacutelise do discurso destes formandos revela uma enorme incidecircncia na
caracterizaccedilatildeo do que vecircem como o perfil do professor ideal com sete indicadores sendo que
apenas quatro formandos natildeo se referem a este aspeto Um professor deve ser um profissional
que transmite conhecimentos tal como referem estes professores-estagiaacuterios Ser professor eacute
ser algueacutem que transmite conhecimentos (E2) mas tambeacutem um profissional que os alunos
respeitam Gostaria de vir a ser um professor respeitado pelos alunos (E5)
A distribuiccedilatildeo do discurso por estes indicadores como pode ver-se no quadro 11
evidencia claramente a importacircncia que atribuem ao professor que cria uma relaccedilatildeo proacutexima
e afetiva (7 em 18 formandos) Ser professor eacute desempenhar todo o tipo de serhellipser matildee
psicoacutelogo amiga confidentehellipe acima de tudo ldquoum exemplordquo para todos os alunos (E1) (hellip)
e ainda um profissional investigador reflexivo (hellip) algueacutem que precisa (hellip) de refletir sobre
o que fez faz e iraacute fazer (E2) Este aspeto eacute secundado pela valorizaccedilatildeo que atribuem ao papel
do professor como transmissor de conhecimento (5 em 18 formandos) Realce-se ainda que
trecircs formandos sublinham a importacircncia do professor competente em termos geneacutericos e
provavelmente fruto do equiliacutebrio entre as muacuteltiplas dimensotildees que o professor tem que gerir
na sua praacutetica quotidiana tal como referem Gostaria de ser um professor completo
considerando sempre que o meu conhecimento e a minha formaccedilatildeo estatildeo em constante
mudanccedila (E3) e (hellip) conseguir ultrapassar todas as dificuldades do meu percurso (E16)
35 Perspetivas Acerca da Indisciplina
A recolha de dados complementa-se em fontes diversas Assim sendo foi nosso
propoacutesito conhecer tambeacutem as perspetivas dos professores estagiaacuterios sobre a disciplina e a
indisciplina em sala de aula designadamente a gravidade que eacute atribuiacuteda agrave indisciplina a
importacircncia das causas e a eficaacutecia atribuiacuteda a um conjunto de accedilotildees do professor com vista agrave
criaccedilatildeo de um ambiente de disciplina em sala de aula
Gravidade atribuiacuteda aos comportamentos de indisciplina dos alunos em sala de aula
No quadro seguinte apresenta-se uma lista de comportamentos de alunos em sala de
aula Os formandos que assinalaram grau de gravidade que atribuiacuteam a cada um dos
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
175
comportamentos listados cujos coacutedigos satildeo os seguintes NG - nada grave PG - pouco grave
G - grave MG- muito grave
Quadro 12
Grau de gravidade atribuiacutedo aos comportamentos de indisciplina dos alunos em sala de aula
Item Frequecircncia absoluta (n) Medidas estatiacutesticas NG PG G MG M DP Me
Natildeo deixar que os colegas ponham duacutevidas ao professor 0 2 14 2 300 049 300 Repetir baixo tudo o que o professor diz 0 3 12 3 300 059 300 Fazer desenhos obscenos 2 0 4 12 344 098 400 Picar um colega com um objeto 0 2 4 12 356 070 400 Interromper o professor com questotildees fora do assunto da aula 1 8 7 2 256 078 250
Insultar o professor 0 2 0 16 378 065 400 Faltar agraves aulas sem razatildeo 2 9 0 7 317 092 300 Natildeo estar atento e pedir continuamente ao prof para repetir 0 1 13 4 317 051 300
Natildeo trabalhar nas aulas 0 0 12 6 333 049 300 Demonstrar satisfaccedilatildeo ao ser punido 0 0 4 14 378 043 400 Atirar papeacuteis para o chatildeo 0 4 11 3 294 064 300 Fazer rir os colegas 0 6 12 0 267 049 300 Circular pela sala de aula 1 8 9 0 244 062 250 Insultar os colegas 0 2 6 10 344 070 400 Atirar papeacuteis ou outros objetos pelo ar 0 4 13 1 283 051 300 Balanccedilar-se continuamente na cadeira 0 6 12 0 267 049 300 Natildeo trazer o material escolar necessaacuterio 0 5 13 0 272 046 300 Realizar jogos interativos com outros colegas 1 4 10 3 283 079 300 Entrar na sala sem pedir autorizaccedilatildeo 2 12 4 0 211 058 200 Contar piadas ao colega do lado 1 5 10 2 272 075 300 Brincar ou jogar com telemoacuteveis 2 0 13 3 294 080 300 Sair da sala sem autorizaccedilatildeo 2 2 10 4 289 090 300 Danificar materiais de outras pessoasvandalizar 1 1 5 11 344 086 400 Agredir os colegas 2 0 2 14 356 098 400 Agredir o professor 2 0 0 16 367 097 400
NG - Nada Grave PG - Pouco Grave G - Grave MG - Muito Grave M - Meacutedia DP - Desvio padratildeo Me ndash Mediana
Ao analisarmos o quadro percebemos que existiam um conjunto de itens aos quais os
formandos atribuiacuteam maior gravidade Assim destacam-se os itens referentes a
comportamentos que traduzem accedilatildeo de violecircncia contra outrem (agredir o professor insultar
o professor e agredir os colegas) Satildeo os comportamentos de agressatildeo ao professor aqueles a
que eacute atribuiacuteda maior gravidade (16 formandos atribuiacuteram-lhe muita gravidade) Poreacutem
existem dois formandos no grupo que consideram estes comportamentos de agressatildeo ao
professor como nada graves Contudo o grupo na sua maioria atribui tambeacutem um niacutevel de
gravidade bastante elevado ao item que remete para comportamentos de violecircncia sobre os
colegas (Agredir os colegas) (MG=14 G=2) Tambeacutem neste caso dois formandos consideram
que estes comportamentos natildeo tecircm nenhuma gravidade
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
176
Estes dados traduzem com certeza algumas divergecircncias relevantes nos referenciais
educativos e eacuteticos do grupo de formandos que foram objeto de reflexatildeo nas sessotildees coletivas
de supervisatildeo e seminaacuterio
Ao item Demonstra satisfaccedilatildeo ao ser punido que remete para a situaccedilatildeo de conflito e
tensatildeo emocional na relaccedilatildeo pedagoacutegica tambeacutem foi atribuiacutedo um elevado niacutevel de gravidade
Dos 18 formandos 14 consideram este comportamento muito grave e 4 consideram-no grave
o que sugere um elevado niacutevel de concordacircncia no grupo
Todavia existem itens cujas respostas do grupo poderemos dizer que satildeo fraturantes
em que as opiniotildees dos professores-estagiaacuterios mostram claramente olhares muito diferentes
em relaccedilatildeo agrave gravidade dos comportamentos de indisciplina em sala de aula
Graacutefico 1 Itens fraturantescomportamentos de indisciplina com respostas fraturantes
De entre esses itens fraturantes salientamos interromper o professor com questotildees fora
do assunto da aula em que 9 formandos assinalaram na escala como sendo Nada Grave e
Grave (NG=1 PG=8) e 9 formandos assinalaram como sendo Grave e Muito Grave (G=7
MG=2) O item circular pela sala de aula foi referido como sendo Nada Grave e Pouco Grave
por 9 formandos (NG=1 PG=8) e tambeacutem 9 formandos assinalaram como sendo Grave (G=9)
natildeo trazer material escolar necessaacuterio foi considerado por 13 formandos como sendo Grave e
0
2
4
6
8
10
12
14
interrompero professor
comquestotildeesfora do
assunto daaula
circular pelasala de aula
natildeo trazermaterialescolar
necessaacuterio
faltar agravesaulas sem
razatildeo
Nada Grave (NG) Pouco Grave (PG) Grave (G) Muito Grave (MG)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
177
Pouco Grave (N=5) Por fim evidenciamos o comportamento faltar agraves aulas sem razatildeo com
11 professores estagiaacuterios a considerar que esta situaccedilatildeo eacute Pouco Grave e Nada Grave (NG=2
PG=9) 7 formandos em 18 consideram-no Muito Grave Relativamente a este uacuteltimo item
consideramos a enorme pertinecircncia de uma reflexatildeo no grupo sobre as referecircncias eacuteticas e
deontoloacutegicas dos formandos dado que iratildeo ser professores de crianccedilas muito pequenas com
as quais eacute necessaacuterio ter uma atitude muito consistente e consciente de cuidado e supervisatildeo
Em siacutentese existe um forte consenso em torno das perspetivas acerca de
comportamentos violentos agredir o professor insultar o professor e agredir os colegas de
entre outros se bem que aparentemente dois formandos se afastem claramente das perspetivas
do grupo
Existe tambeacutem consenso em torno da natildeo necessidade de permissatildeo do professor para
entrada na aula o que talvez traduza uma visatildeo aberta da relaccedilatildeo pedagoacutegica que dispensa
determinadas prorrogativas de poder e que eacute consensual no grupo
Parece ser em torno de comportamentos mais focados no trabalho pedagoacutegico
(interromper o professor faltar agraves aulas sem razatildeo circular pela sala de aula natildeo trazer
material escolar necessaacuterio) que se observam algumas ldquofraturasrdquo mais salientes no grupo Este
e os outros aspetos jaacute focados foram objeto de reflexatildeo no grupo na fase seguinte
Causas da Indisciplina na Sala de Aula
Na categoria ldquoImportacircncia atribuiacuteda agraves causas de indisciplinardquo iremos analisar as
representaccedilotildees dos professores-estagiaacuterios acerca da importacircncia atribuiacuteda agraves causas da
indisciplina factos que analisaremos no graacutefico 3 que a seguir apresentamos
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
178
Graacutefico 2 Causas de indisciplina associadas ao professor
Assim apoacutes a anaacutelise dos dados na totalidade como apresentamos no Anexo 8
percebemos o destaque das respostas do grupo de formandos que evidenciam uma importacircncia
muito relevante agraves causas da indisciplina associadas ao professor como revela a anaacutelise do
graacutefico 2 De entre os 6 itens a que mais de metade do grupo atribui Muita Importacircncia (MI)
4 satildeo relativos ao desempenho do professor - Falta de firmeza dos professores (N=10) Falta
de preparaccedilatildeo pedagoacutegica dos professores (N=14) Falta de autoridade dos professores
(N=12) Ausecircncia de uma relaccedilatildeo baseada no respeito pelo outro (N=10) Outro item diz
respeito aos alunos Falta de respeito dos alunos pelos professores (N=13) e outro aos pais -
Falta de valores morais eacuteticos por parte dos pais (N=12)
A distribuiccedilatildeo das respostas a estes itens revela ainda se atendermos aos indicadores
estatiacutesticos da tabela em Anexo 7 uma forte tendecircncia para salientar as perspetivas acerca da
indisciplina no grupo de formandos com maior ecircnfase nos itens relativos agrave preparaccedilatildeo
pedagoacutegica dos professores e ao exerciacutecio da autoridade
Em siacutentese evidencia-se que o grupo de formandos parece estar consciente do papel do
professor na forma como ldquoregulardquo a relaccedilatildeo pedagoacutegica em sala de aula a forma como exerce
a autoridade e a forma como gere as relaccedilotildees e organiza as atividades pedagoacutegicas
0
2
4
6
8
10
12
14
Falta defirmeza dosprofessores
Falta depreparaccedilatildeopedagoacutegica
dosprofessores
Falta deautoridade
dosprofessores
Ausecircnciade umarelaccedilatildeo
baseada norespeito
pelo outro
(NA) Nada Importante (PI) Pouco Importante (I) Importante (MI) Muito Importante
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
179
Eficaacutecia atribuiacuteda agraves accedilotildees disciplinares dos professores
A eficaacutecia dos professores eacute um pressuposto que a mudanccedila educativa promove o
sucesso dos alunos e a melhoria da qualidade das aprendizagens por admitir que os professores
altamente eficazes podem ter um efeito enriquecedor no dia-a-dia dos alunos e por
consequecircncia alunos mais envolvidos na tarefa menos perturbadores
Ao analisarmos as representaccedilotildees dos formandos sobre a eficaacutecia da accedilatildeo disciplinar
docente pretendiacuteamos tambeacutem conhecer o modo como interpretam esta dimensatildeo da praacutetica
pedagoacutegica Contrariamente agraves dimensotildees anteriores em que evidenciamos por graacuteficos as
accedilotildees de destaque nesta categoria optamos por apresentar o quadro na sua totalidade porque a
leituraanaacutelise do mesmo na nossa opiniatildeo deve ser feita numa perspetiva conjunta
Quadro 13
Grau de eficaacutecia dos comportamentos do professor na prevenccedilatildeo da indisciplina
Item Frequecircncia relativa () Medidas estatiacutesticas
NE PE E ME M DP Me Dizer muito claramente aos alunos como devem comportar-se 0 3 9 6 317 071 300 Mudar de lugar os alunos que perturbam 0 2 14 2 300 049 300 Conversar com os alunos acerca do comportamento 0 2 10 6 322 065 300 Dar a entender aos alunos que quem manda eacute o professor 0 0 13 5 328 046 300 Olhar fixamente os alunos que se portam mal 0 5 9 4 294 073 300 Dar liccedilotildees de moral e bom comportamento 0 8 10 0 256 051 300 Repreender diretamente um aluno que se porte mal 0 1 14 3 311 047 300 Ameaccedilar com castigo 0 9 8 1 256 062 250 Conversar com o aluno perturbador no final da aula 0 4 10 4 300 069 300 Variar a maneira de ensinar 0 1 11 6 328 057 300 Repreender a turma no geral sem indicar quem se porta mal 1 6 9 2 267 077 300 Contactar diretamente os pais dos alunos que se portam mal 0 3 9 6 317 071 300 Usar como criteacuterio de avaliaccedilatildeo o comportamento 1 5 11 1 267 069 300 Pocircr um aluno que se porta mal de castigo ao fundo da sala 0 14 4 0 222 043 200 Fazer os alunos reparar os atos cometidos 0 3 11 4 306 064 300 Conversar com o coordenador da escola acerca dos alunos perturbadores 0 10 8 0 244 051 200 Enviar os alunos perturbadores ao coordenador de escola 0 9 8 1 256 062 250 Elogiar um aluno que melhore o comportamento 0 1 12 5 322 055 300 Repreender todo o comportamento violento 0 0 11 7 339 050 300 Promover atitudes de cordialidadecooperaccedilatildeo entre os alunos 0 0 14 4 322 043 300 Valorizar o trabalho do aluno 0 0 8 10 356 051 400 Responsabilizar os alunos pelos atos 0 0 7 11 361 050 400 Monitorizar o trabalho dos alunos 0 1 10 7 333 059 300
NE - Nada Eficaz PE - Pouco Eficaz E - Eficaz ME - Muito Eficaz M - Meacutedia DP - Desvio padratildeo Me ndash Mediana
Ao contraacuterio das dimensotildees da indisciplina analisadas anteriormente nesta vertente da
accedilatildeo do professor as opiniotildees dos professores-estagiaacuterios parecem ser menos seguras Se
olharmos para as frequecircncias do ponto 4 da escala (Muito Eficaz) verificamos que apenas 2
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
180
itens apresentam uma frequecircncia superior a metade do nuacutemero de formandos Valorizar o
trabalho do aluno (N=10) e Responsabilizar os alunos pelos atos (N=11) No entanto
consideramos pertinente referenciar o item Promover atitudes de cordialidadecooperaccedilatildeo
entre os alunos com 14 formandos a afirmarem como sendo uma accedilatildeo eficaz na prevenccedilatildeo da
indisciplina Esta evidecircncia e o facto de em qualquer destes itens a maioria dos formandos
atribuir Eficaacutecia e Muita Eficaacutecia a estas accedilotildees evidencia uma perspetiva humanista da relaccedilatildeo
pedagoacutegica14 enraizada neste grupo de formandos
Todavia os itens que mereceram maior concordacircncia foram os seguintes Mudar de
lugar os alunos que perturbam (PE=2 E=14 ME=2) e Repreender diretamente um aluno que
se porte mal (PE=1 E=14 ME=3)
De entre as accedilotildees consideradas menos eficazes destacamos Pocircr um aluno que se porta
mal de castigo ao fundo da sala (N=14) Conversar com o coordenador da escola acerca dos
alunos perturbadores (N=10) De salientar que o grupo parece ter consciecircncia da falta de
eficaacutecia do castigo designadamente quando implica colocar o aluno em situaccedilatildeo de exclusatildeo
do grupo-turma e tambeacutem do recurso agrave autoridade externa
Contudo a perspetiva do grupo de professores-estagiaacuterios no que respeita agrave ineficaacutecia
do uso do castigo e no recurso agrave autoridade externa agrave sala de aula identifica-se como accedilatildeo
fraturante no grupo Enviar os alunos perturbadores ao coordenador de escola (PE=9 E=8 e
ME=1) ameaccedilar com castigo (PE=9 E=8 e ME=1) e dar liccedilotildees de moral e bom
comportamento (PE=8 e E=10) Estas accedilotildees natildeo satildeo nada consensuais no grupo uma vez que
cerca de metade dos seus membros as consideram eficazes (E) e quase metade pouco eficazes
(PE) Satildeo dados que suscitam a necessidade de debate e reflexatildeo no grupo cruzando com as
teorias do campo da psicologia e os estudos sobre eacutetica e educaccedilatildeo
Em siacutentese os professores-estagiaacuterios consideram a valorizaccedilatildeo do trabalho do aluno
bem como a sua responsabilizaccedilatildeo pelos atos cometidos como fundamentais na eficaacutecia da
manutenccedilatildeo de comportamentos de disciplina em sala de aula A promoccedilatildeo da cordialidade
14 Modelo humanista de Gordon (1989 1990) referenciado por Veiga Pavlovic Musitu amp Linhares (2011) ldquoum dos melhores operacionalizadores da perspectiva humanista aplicada agrave prevenccedilatildeo e resoluccedilatildeo da indisciplina nas escolas (hellip) assenta em pressupostos centrados na pessoa (hellip) [na sua] capacidade natural para o crescimento (hellip) que lhe permite resolver os seus proacuteprios problemas e auto-orientar-se (hellip) A actuaccedilatildeo do professor deve pois ter como objectivo o desenvolvimento de um auto-conceito positivordquo (p 23)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
181
entre os alunos merece igualmente destaque bem como a repreensatildeo direta ao aluno que se
portou mal O grupo releva ainda uma visatildeo bastante evidente da ineficaacutecia do castigo da
ameaccedila e dos discursos moralistas bem como do recurso a fontes de autoridade externas agrave
relaccedilatildeo pedagoacutegica
4 Siacutentese Identificaccedilatildeo de Problemas e Necessidades de Formaccedilatildeo
Nesta fase de diagnoacutestico procuraacutemos descrever e analisar os dados recolhidos com o
propoacutesito de perceber a imagem que o grupo tinha da sua formaccedilatildeo ateacute ao momento as suas
expetativas e sentimentos em relaccedilatildeo ao estaacutegio as suas representaccedilotildees acerca da relaccedilatildeo
pedagoacutegica designadamente da indisciplina
Formaccedilatildeo anterior Embora valorizem as experiecircncias de aproximaccedilatildeo ao terreno e ao
desenvolvimento de competecircncias de observaccedilatildeo nota-se alguma ecircnfase no ldquopeso excessivo
da teoriardquo
Sentimentos em relaccedilatildeo ao estaacutegio A expressatildeo de sentimentos de confianccedila restringe-
se a uma minoria que parece confiar sobretudo em si proacuteprio Os receios atravessam como eacute
natural todo o grupo Salientamos os receios a niacutevel das relaccedilotildees humanas que se traduzem
no receio de ter dificuldades em ser aceite na escola do 1ordm Ciclo e ter dificuldades na relaccedilatildeo
com os alunos com especial destaque para o confronto com situaccedilotildees de indisciplina Este
aspeto do diagnoacutestico veio reforccedilar de forma muito clara a pertinecircncia deste projeto no
processo formativo deste grupo
No momento em que o grupo explicita as suas expetativas relativas ao processo
formativo satildeo as relaccedilotildees humanas e a criaccedilatildeo de um ambiente de ldquotranquilidaderdquo o que mais
sobressai Quanto ao que esperam aprender eacute interessante notar que a maior parte se refere ao
desenvolvimento de competecircncias
Relaccedilatildeo Pedagoacutegica Para aleacutem de enquanto grupo apresentarem uma visatildeo da relaccedilatildeo
pedagoacutegica complexa e fulcral para o sucesso dos alunos estes formandos revelam de forma
bastante evidente adesatildeo a uma relaccedilatildeo pedagoacutegica baseada na proximidade e no afeto Eacute
interessante notar que na definiccedilatildeo do perfil do professor ideal nenhum refere a vertente
pedagoacutegica do desempenho docente
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
182
(In)disciplina No grupo em geral eacute atribuiacuteda uma enorme gravidade embora se tenha
de registar que dois elementos natildeo atribuem qualquer gravidade agrave violecircncia quer sobre o
professor quer sobre as crianccedilas Existe um conjunto de comportamentos de indisciplina cuja
valorizaccedilatildeo divide o grupo que suscitam uma necessidade de reflexatildeo e debate no grupo ao
longo do processo formativo
No que respeita agrave atribuiccedilatildeo causal da indisciplina eacute importante realccedilar a relevacircncia
que o grupo atribui ao professor na emergecircncia da indisciplina na aula designadamente no que
se refere agrave competecircncia pedagoacutegica
Em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo disciplinar do professor a perspetiva do grupo vem reforccedilar a sua
visatildeo de relaccedilatildeo pedagoacutegica numa visatildeo humanista que coloca a valorizaccedilatildeo a
responsabilizaccedilatildeo e criaccedilatildeo de ambientes de cordialidade no centro da accedilatildeo do professor O
grupo revela ainda uma rejeiccedilatildeo da ameaccedila do castigo dos discursos moralistas e do recurso
agrave autoridade externa para lidar com a indisciplina denotando uma clara consciecircncia do que natildeo
quer
Com base neste retrato do grupo que foi devolvido poderemos dizer que se trata de um
grupo de formandos com uma certa sintonia em relaccedilatildeo agraves convicccedilotildees mais profundas sobre o
que eacute ser educador (o foco eacute a construccedilatildeo de uma relaccedilatildeo afetivaproacutexima) sobre o que eacute educar
(rejeiccedilatildeo da violecircnciavalorizaccedilatildeo do aluno) mas tambeacutem na convicccedilatildeo de que o professor tem
um papel principal na prevenccedilatildeo da indisciplina atraveacutes do exerciacutecio da autoridade e da sua
pedagogia
Os dados analisados revelam poreacutem algumas fraturas no pensamento do grupo acerca
desta problemaacutetica que exige um exerciacutecio de reflexatildeo coletiva e de autoconhecimento que seraacute
o fio condutor dos processos de InvestigaccedilatildeoAccedilatildeo que se seguem
Os dados que apoiaram este diagnoacutestico inicial sendo do foro do pensamento exigem
um confronto construtivo e dialeacutetico com a accedilatildeo individual e do coletivo que seraacute objeto
primordial do processo de supervisatildeo que todos envolveraacute
Tratando-se de um grupo de jovens estudantes no final da sua formaccedilatildeo inicial eacute
necessaacuterio que os contactos de supervisatildeo da praacutetica pedagoacutegica constituam espaccedilos
propiciadores de processos de desconstruccedilatildeo e anaacutelise dos seus referenciais educativos eacuteticos
e culturais Processos esses que permitam complexificar a sua visatildeo da relaccedilatildeo pedagoacutegica e
construir uma praxis que verdadeiramente conecte a teoria com a praacutetica como tanto desejam
dando-lhes a seguranccedila que ambicionam
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
183
Assim face ao retrato do grupo impunha-se empreender um processo formativo e de
investigaccedilatildeo que respondesse a questotildees deste tipo
- Como transpor para a praacutetica pedagoacutegica a visatildeo educativa apoiada na teoria que o
grupo em geral parece deter
- Como alargar as suas conceccedilotildees sobre a relaccedilatildeo pedagoacutegica desenvolvendo assim a
sua competecircncia relacional
- Que impacto poderaacute ter no desenvolvimento da competecircncia relacional e de gestatildeo de
sala de aula um processo sistemaacutetico de observaccedilatildeo num contexto de supervisatildeo
- Como se articulam os processos de auto e heacutetero-observaccedilatildeo em contexto de
supervisatildeo
- Que reflexos pode ter a reflexatildeo sobre o que cada um vecirc de si proacuteprio e a imagem que
lhe trazem as supervisoras no desenvolvimento da competecircncia relacional do formando
Este questionamento ajudou a traccedilar um conjunto de objetivos de formaccedilatildeo orientados
para a persecuccedilatildeo da grande meta que se pretende alcanccedilar e desenvolver na competecircncia
relacional e de gestatildeo de sala de aula destes formandos
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
184
5 1ordm CICLO DE INVESTIGACcedilAtildeOACcedilAtildeO
A estrateacutegia de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo eacute proacutepria da indagaccedilatildeo integrada numa cultura de
colaboraccedilatildeo na qual os participantes satildeo todos investigadores e aprendem continuamente e
investigam conjuntamente a praacutetica pedagoacutegica promovendo a construccedilatildeo social do
conhecimento sobre as mudanccedilas que ocorrem durante o processo de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo
51 Objetivos
Para este ciclo delineamos os seguintes objetivos
- Desenvolver a competecircncia relacional e de gestatildeo de sala de aula dos professores-
estagiaacuterios atraveacutes da auto e hetero-anaacutelise de situaccedilotildees educativas
- Promover o autoconhecimento do professor estagiaacuterio e a tomada de consciecircncia de
si proacuteprio em accedilatildeo
- Desenvolver a reflexividade nos professores-estagiaacuterios de forma a estimular o
desenvolvimento de uma atitude criacutetica interventiva inovadora e investigativa face agrave sua
praacutetica pedagoacutegica
- Criar um ambiente de colaboraccedilatildeo entre todos os participantes (formandos e
formadores) de modo a desenvolver o potencial coletivo e de cada um dos seus membros
Assim sendo foi nosso intento desenvolver o processo de forma articulada
direcionando o trabalho de seminaacuterio para as necessidades identificadas e accedilatildeo educativa e
formativa nas escolas de 1ordm CEB A reflexatildeo sobre as aulas observadas em seminaacuterio com os
formandos e no 1ordm CEB com os formandos e respetivos professores cooperantes foi central
em todo este processo
De referir que os professores estagiaacuterios foram colocados em duas escolas EB1 de
Leste com duas turmas e EB1 de Oeste com quatro turmas Jaacute o dissemos estes organizaram-
se em grupos de trecircs estagiaacuterios apresentaram-se as turmas protocoladas com os
correspondentes anos de escolaridade dos alunos e por grupo decidiram onde pretendiam
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
185
realizar o seu estaacutegio sendo que o criteacuterio base era selecionar uma turma e ano de escolaridade
diferente do local onde tinham feito a observaccedilatildeo Por conseguinte organizaram-se da seguinte
forma seis professores estagiaacuterios na EB1 de Leste (2 turmas) e doze na EB1 de Oeste (4
turmas) As respetivas professoras cooperantes foram informadas pela supervisora da
identificaccedilatildeo do grupo que iriam receber na sua sala entregando uma pasta a cada professora
cooperante com as folhas de presenccedila do grupo o regulamento de estaacutegio da ESEB o
cronograma das intervenccedilotildees e reflexotildees e a ficha de avaliaccedilatildeo de desempenho Este ciclo
decorre da semana de 6 outubro de 2009 agrave semana de 14 de dezembro de 2009 (semana de
recolha de dados decorrentes das observaccedilotildees realizadas neste periacuteodo) De 6 de outubro a 3
de novembro os formandos observam e cooperam15 com o professor cooperante e a 9 de
novembro assumem a turma um dia por semana cada um dos formandos No 1ordm semestre os
formandos permanecem na EB1 dois dias por semana (5hdia mais 130 de reflexatildeo por
semana) No segundo semestre trecircs dias por semana (5hdia mais 130 de reflexatildeo por
semana)
Em relaccedilatildeo agrave reflexatildeo nas EB1 a professora cooperante fazia a reflexatildeo semanal no
periacuteodo designado no cronograma com o seu grupo A professora supervisora todas as
semanas estava presente num desses grupos O criteacuterio para a sua presenccedila uma vez que tinha
seis grupos a realizar a reflexatildeo agrave mesma hora era estar presente no grupo onde tinha realizado
mais observaccedilotildees Como eram seis grupos apenas de seis em seis semanas repetiria o grupo
Nos trecircs momentos de devoluccedilatildeo dos dados de cada ciclo de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo este periacuteodo
de reflexatildeo realizava-se em grande grupo16 No final de cada Ciclo de recolha de dados
devolvemos os resultados por escola dois grupos de 3 formandos na escola de Leste e quatro
grupos de 3 planeado fazer esta reflexatildeo em grande grupo os 18 estagiaacuterios e respetivos
professores cooperantes Devido agraves especificidades de cada grupo e cada contexto optamos pela
metodologia de devoluccedilatildeo de dados e reflexatildeo por EB1
O registo atraveacutes do Instrumento de Reflexatildeo e Observaccedilatildeo da Praacutetica (IROP) pelos
formandos cooperantes e supervisora neste 1ordm Ciclo de recolha de dados realizou-se na
15 Entende-se por cooperaccedilatildeo o formando planificar uma aacuterea por dia (liacutengua portuguesa matemaacutetica estudo do meio ou expressotildees) e durante o periacuteodo de tempo destinado a essa aacuterea assume a sua lecionccedilatildeo sempre com a supervisatildeo muito proacutexima do professor cooperante A planificccedilatildeo eacute realizada pelo formando de acordo com a(s) temaacutetica(s) que a professora cooperante designa Esta eacute orientada e coordenada pela supervisora da ESEB com conhecimento agrave professora cooperante a quem seratildeo entregues as planificaccedilotildees dois dias antes da praacutetica pedagoacutegica cooperada A professora cooperante poderaacute dar sugestotildees de melhoria pois eacute titular de turma e conhece muito bem as especificidades do grupo 16Em grande grupo (EB1 de Leste e EB1 de Oeste)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
186
semana de 14 de dezembro Nesta fase todos os formandos tinham lecionado dois dias
completos de aulas individuais
52 Accedilatildeo Pedagoacutegica em Seminaacuterio
Assim sendo seguindo a loacutegica dos procedimentos cientiacuteficos da IA envolveram-se
todos os colaboradores nas diferentes fases de desenvolvimento do projeto As
temaacuteticastoacutepicos a abordar no seminaacuterio foram identificadas a partir do diagnoacutestico inicial e
com a participaccedilatildeo ativa dos professores estagiaacuterios Esta pesquisa participante pretendeu
promover o envolvimento dos professores estagiaacuterios na sua proacutepria formaccedilatildeo na construccedilatildeo
de um ideaacuterio que prioriza o coletivo a participaccedilatildeo e a construccedilatildeo do conhecimento a partir
das suas proacuteprias praacuteticas letivas
No entanto e como este seminaacuterio decorreu em simultacircneo com a praacutetica pedagoacutegica
nas escolas do 1ordm Ciclo surgiram momentos em que o seminaacuterio cumpriu tambeacutem a funccedilatildeo de
espaccedilo de reflexatildeo na e sobre a accedilatildeo sendo esta entrecruzada com as problemaacuteticas
identificadas na fase de diagnoacutestico Trabalhaacutemos sobre um eixo praacutetico-reflexivo associando
as teorias agrave accedilatildeo docente apresentaccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de textos ou simplesmente
diaacutelogos
As temaacuteticas abordadas no seminaacuterio foram as seguintes Princiacutepios gerais da formaccedilatildeo
Investigaccedilatildeo-Reflexatildeo-Accedilatildeo Teoria e Praacuteticas de Observaccedilatildeo (o papel do professor enquanto
observadorinvestigador da sua proacutepria praacutetica) Potencialidades da Praacutetica Pedagoacutegica
(aprendizagens diversidade de experiecircncias desenvolvimento de competecircncias) Reflexatildeo
sobre sentimentos em relaccedilatildeo ao estaacutegioexpetativas (anaacutelise numa perspetiva pedagoacutegica) A
planificaccedilatildeo Porquecirc Planificar Como planificar Que itens integrar e porquecirc Um olhar sobre
a Relaccedilatildeo Pedagoacutegica em contexto de Praacutetica Pedagoacutegica Organizaccedilatildeo e gestatildeo de sala de aula
e sua relaccedilatildeo com prevenccedilatildeo da indisciplina A eficaacutecia da accedilatildeo do professor e prevenccedilatildeo da
indisciplina que relaccedilatildeo O estilo de ensino e a disciplinaccedilatildeo em professores principiantes ndash
como gerir Competecircncias emocionais e relacionais na profissatildeo docente
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
187
Com base nestas temaacuteticas planificaacutemos a accedilatildeo em espaccedilo seminaacuterio tendo sempre
presente o envolvimento da supervisorainvestigadora dos formandos e dos professores
cooperantes que realizavam as reflexotildees em contextos de 1ordm CEB
Na escola do 1ordm Ciclo cada pequeno nuacutecleo de formandos com a respetiva professora
cooperante iam planificando o processo de progressiva responsabilizaccedilatildeo daqueles no
desenvolvimento da praacutetica pedagoacutegica Durante 2 dias por semana no 1ordm semestre e 3 dias
por semana no 2ordm semestre cada um deles ldquoera o professor da turmardquo com a supervisatildeo da
professora cooperante e da professora supervisora Como eacute natural muitos formandos iam
transmitindo alguma preocupaccedilatildeo e ansiedade Satildeo momentos muito importantes de reflexatildeo
sobre si proacuteprio de superaccedilatildeo de receios e mesmo de duacutevidas e anguacutestias face agrave decisatildeo de ser
professor(a) Mas satildeo tambeacutem momentos que reforccedilam a decisatildeo muitas vezes tomada haacute
muito tempo e de forma pouco consistente como parece ser no caso do E11 que assim se
manifesta no seu portefoacutelio
Ao chegar a esta etapa da minha vida e da minha formaccedilatildeo acadeacutemica depois de
refletir um pouco acho pertinente fazer esta pergunta a mim proacutepria Porquecirc ser
professora Automaticamente a minha mente leva-me de volta agrave minha infacircncia agrave
escola onde aprendi a ler e a escrever ao poacute do giz e ateacute aos castigos da professora
Desde cedo e nas minhas brincadeiras de crianccedila rdquobrincava aos professoresrdquo mas no
que diz respeito agrave escola primaacuteria e agrave professora primaacuteria e claro aos castigos (hellip) e
caacute estou eu no papel de ldquoprofessorardquo tal como desejava em crianccedila no regresso a casa
depois de mais um castigo da professora (hellip) Eu crianccedila irrequieta e conversadora
(hellip) quando eu menos esperava laacute vinha mais um castigo e amuada no regresso a casa
pensava (hellip) quando eu fosse grande iria ser professora e se tivesse a sorte de apanhar
pela frente algum neto da professora como meu aluno seria a vinganccedila (E11 in
portfoacutelio reflexivo p 13)
Este seminaacuterio sobre observaccedilatildeo foi precedido de uma reflexatildeo individual Esta e
outras produccedilotildees textuais ficaram arquivadas em dossiecirc e posteriormente analisadas na sala de
aula da ESE A supervisora tinha a preocupaccedilatildeo de as ler e sempre que se justificava davam
consistecircncia agrave reflexatildeo oral complementando com leitura de pequenos trechos No final estes
documentos integraram o portefoacutelio reflexivo dos formandos
Neste ponto os formandos estiveram muito ativos sobretudo quando abordamos as
formas de observaccedilatildeo e os instrumentos de registo de observaccedilatildeo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
188
Nos diaacutelogos que ocorreram no seminaacuterio percebemos que os receios identificados na
fase de diagnoacutestico se concretizavam pois os formandos estavam na fase de caracterizar a
respetiva turma do 1ordm Ciclo a observar e cooperar e na semana seguinte iriam fazer a primeira
intervenccedilatildeo A perceccedilatildeo que tivemos desse sentir relata-se na nota de campo que apresentamos
a seguir
Estas reflexotildees iniciais foram-se alicerccedilando com a praacutetica de observaccedilatildeo em contexto
de 1ordm Ciclo pois os formandos consideraram que
(hellip) a observaccedilatildeo foi para mim muito uacutetil para a leitura dos diferentes comportamentos
e formas de estar observaacuteveis num grupo multicultural e comportamental como eacute evidenciado
nesta sala de aula (E5 in portfoacutelio reflexivo p 20)
E tambeacutem com uma praacutetica reflexiva pois
A observaccedilatildeo eacute uma accedilatildeo altamente reflexiva quando o olhar estaacute dirigido para ver
(hellip) Natildeo eacute um olhar vago agrave espera de descobertas mas sim um olhar focado para
detectar diagnosticar o saber e o natildeo saber perceber a realidade para ver detalhes
atitude dificuldades (hellip) eacute o ponto de partida para o desenvolvimento profissional do
professor e aperfeiccediloamento da sua praacutetica pedagoacutegica Assume um papel fulcral no
processo ensino-aprendizagem e permite caracterizar a situaccedilatildeo educativa que o
professor enfrenta a cada momento (E7 in portfoacutelio reflexivo p 19)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
189
Os instrumentos de registo de observaccedilatildeo tiveram igualmente o seu apontamento neste
espaccedilo Nesta fase optaacutemos por complementar com uma parte mais praacutetica Os formandos
organizaram-se por grupos de estaacutegio selecionaram um instrumento de registo de observaccedilatildeo
fizeram os seus registos recordando uma situaccedilatildeo observada em contexto sala de aula e
apresentaram ao grupo
Findo este periacuteodo dedicado especialmente agrave observaccedilatildeo seguiu-se a planificaccedilatildeo da
accedilatildeo porque a intervenccedilatildeo individual aconteceria jaacute no momento seguinte Recorremos sempre
ao diaacutelogo analisando exemplos praacuteticos jaacute vividos e observados Jaacute dissemos que as
planificaccedilotildees dos seminaacuterios foram pensadas em grande grupo em seminaacuterio ponto de partida
para o trabalho individual de cada formando Pontualmente fizeram-se adaptaccedilotildees porque
surgiram situaccedilotildees praacuteticas que exigiam ser analisadas em seminaacuterio
A planificaccedilatildeo natildeo se apresentava como um assunto novo para o grupo pois os
professores-estagiaacuterios jaacute tinham contactado com a praacutetica de um modelo de planificaccedilatildeo no
ano letivo anterior Tendo como apoio um conjunto de diapositivos apresentaacutemos os itens que
pretendiacuteamos integrar nas planificaccedilotildees explicaacutemos o porquecirc e elaboraacutemos em grande grupo
uma planificaccedilatildeo onde integraacutemos duas aacutereas (liacutengua portuguesa e estudo do meio)
Questionamos os formandos sobre os itens que integraacutemos nas planificaccedilotildees pedimos que
refletissem sobre eles e dissemos-lhes que poderiam dar sugestotildees porque o plano apresentado
era flexiacutevel e claro a sua estrutura poderia ser alterada Os procedimentos a partir deste
momento foram os seguintes na primeira parte de seminaacuterio tiacutenhamos reflexatildeo sobre as
praacuteticas a apresentaccedilatildeodiscussatildeo de uma temaacutetica apresentada pela supervisora ou por um
grupo de formandos de acordo com o plano de accedilatildeo elaborado e na terceira parte teriacuteamos a
planificaccedilatildeo da accedilatildeo Este trabalho realizou-se sempre com os respetivos grupos de estaacutegio A
supervisora circulava pela sala e dava apoio individualizado aos grupos refletindo com os
formandos ao niacutevel dos conteuacutedos procedimentos metodoloacutegicos eou outras necessidades
Apoacutes este trabalho inicial os formandos terminavam a tarefa em casa tendo esta que
estar concluiacuteda dois dias depois (quarta-feira) Enviavam por e-mail para a supervisora a
planificaccedilatildeo da semana seguinte Esta era analisada corrigida e devolvida aos formandos Na
sexta-feira todas as planificaccedilotildees da semana seguinte teriam que ser entregues aos professores
cooperantes bem como um exemplar dos materiaisrecursos a utilizar nas respetivas aulas De
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
190
realccedilar que todos os formandos cumpriam estes tempos agrave exceccedilatildeo de um como se refere na
nota de campo de 23 de novembro
Os formandos assumiram estes procedimentos e o cumprimento de tempos como algo
que lhes transmitia seguranccedila porque sabiam que quer a planificaccedilatildeo quer os materiais seriam
sempre vistos e analisados pelas profissionais que os supervisionavam e segundo eles sentiam-
se mais seguros e confiantes em relaccedilatildeo ao seu desempenho como podemos observar na
seguinte afirmaccedilatildeo
Assim temos a certeza que quer as planificaccedilotildees quer os materiais natildeo tecircm lacunas
que possam prejudicar os alunos e a nossa imagem junto deles (E1)
Nota de campo 23 de novembro de 2009
Estas preocupaccedilotildees estatildeo imbuiacutedas de receios proacuteprios do momento em que os
professores-estagiaacuterios se encontram O professor supervisor e o professor cooperante tecircm um
papel determinante na diluiccedilatildeo desses receios tendo por base a ideia de que a epistemologia
da praacutetica se baseie na assunccedilatildeo da escola como comunidade reflexiva e aprendente capaz de
criar para todos os que nela trabalham (incluindo os que nela estagiam) condiccedilotildees de
desenvolvimento de competecircncias e de aprendizagem
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
191
53 Observaccedilatildeo e Accedilatildeo em Contexto de Sala de Aula
Como temos vindo a referir a observaccedilatildeo constitui um elemento central do processo
formativo que se pretende desenvolver
As principais fontes de registo de dados de observaccedilatildeo foram os protocolos de
Observaccedilatildeo (Instrumento de Registo e Observaccedilatildeo das Praacuteticas) e a ficha de Avaliaccedilatildeo de
Desempenho documentos com os quais os formandos e cooperantes tiveram contacto na
primeira reuniatildeo de iniacutecio do ano letivo na fase de apresentaccedilatildeo da organizaccedilatildeo da Praacutetica
Pedagoacutegica e do nosso projeto de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo As normas da Praacutetica Pedagoacutegica III
referem que o supervisor deve realizar no miacutenimo trecircs observaccedilotildees por professor-estagiaacuterio
As observaccedilotildees devem iniciar-se apoacutes a segunda aula lecionada individualmente Partindo das
normas orientadoras da Praacutetica Pedagoacutegica a inclusatildeo dos processos de observaccedilatildeo mais
direcionados para o foro do nosso estudo exigiu alguns ajustamentos a fim de que as duas
dimensotildees da observaccedilatildeo fossem contempladas sem qualquer prejuiacutezo Por norma a
supervisora faz trecircs observaccedilotildees por formando com a duraccedilatildeo de 130min cada No entanto
durante este ano letivo 20092010 tivemos que nos organizar de forma diferente pois iriacuteamos
fazer registo de observaccedilatildeo na semana de 14 de dezembro pelo que as nossas observaccedilotildees
neste periacuteodo foram de menor duraccedilatildeo (45 minutos) para que na data de registo de observaccedilatildeo
da praacutetica pedagoacutegica todos os professores-estagiaacuterios tivessem sido observados pelo menos
uma vez Relembramos que tiacutenhamos 18 estagiaacuterios que lecionavam respetivamente dois dias
e trecircs dias por semana ao longo dos 1ordm e 2ordm semestres nas escolas de 1ordm CEB No decorrer
do ano letivo a supervisorainvestigadora realizou entre trecircs e seis observaccedilotildees por formando
com a duraccedilatildeo de 130min cada (Anexo 8)
Este primeiro ciclo de recolha de dados em contexto de Praacutetica Pedagoacutegica refere-se
aos registos de observaccedilatildeo das aulas lecionadas pelos professores-estagiaacuterios Estas aulas
foram sempre observadas pelo professor cooperante e pelos colegas de estaacutegio (grupos de trecircs
formandos que rotativamente assumiam a lecionaccedilatildeo) e pontualmente pela supervisora
Optou-se assim pelo foco na auto-observaccedilatildeo (do professor estagiaacuterio) cruzada com a hetero-
observaccedilatildeo das professoras cooperantes e supervisora tendo em conta os trecircs principais temas
de IROP Satildeo eles Organizaccedilatildeo e Gestatildeo da Aula Conduccedilatildeo de Alunos e Comunicaccedilatildeo Natildeo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
192
Verbal Os dados foram analisados e apresentados tendo por base as tabelas que abaixo
apresentamos
A supervisatildeo apoiada em processos de observaccedilatildeo estava envolvida em bases de
trabalho colaborativo autoreflexivo permitindo que os professores estagiaacuterios comeccedilassem a
adquirir confianccedila no seu desempenho profissional e na capacidade de fazerem ouvir a sua voz
como investigadores da sua proacutepria praacutetica no sentido de construiacuterem um saber cientiacutefico e
social inerente agrave sua proacutepria funccedilatildeo como docentes e como pessoas pois natildeo eacute possiacutevel nem
desejaacutevel que ambas se separem (Alarcatildeo amp Roldatildeo 2008)
54 Reflexatildeo na Accedilatildeo e Sobre a Accedilatildeo
Esta preocupaccedilatildeo permanente de integraccedilatildeo da componente reflexiva esteve sempre
presente em todos os seminaacuterios valorizando-se o conceito de escola do curriacuteculo das relaccedilotildees
interpessoais como meio de fomentar e apoiar contextos de formaccedilatildeo que se traduzam na
melhoria da escola das competecircncias que aiacute se desenvolvem e que se iratildeo repercutir no
desenvolvimento profissional de todos os agentes educativos
A reflexatildeo realizava-se na ESEB e EB1 Estes eram os contextos onde desde o iniacutecio
do ano letivo todas as semanas se concretizava a reflexatildeo No seminaacuterio os primeiros 45
minutos da aula estavam sempre planificados para a reflexatildeo poacutes-accedilatildeo mas esse periacuteodo
poderia ser maior ou menor de acordo com as necessidades observadas Como supervisora
sempre valorizamos muito esta componente de reflexatildeo pois a reflexatildeo associada agrave supervisatildeo
constitui-se como uma revalorizaccedilatildeo do conceito de escola como coletivo pensante em que as
competecircncias supervisivas (teacutecnicas e humanas) satildeo necessaacuterias como valorizaccedilatildeo da formaccedilatildeo
e da promoccedilatildeo de mudanccedilas que fundamentem a accedilatildeo do professor estagiaacuterio Percebemos no
diagnoacutestico e nas reflexotildees em seminaacuterio que a componente reflexiva sobre as praacuteticas era
ponto que os preocupava muito como se vecirc por este exemplo de nota de campo
Eu sinto que natildeo me consigo posicionar criticamente face as minhas praacuteticas pois jaacute
me aconteceu vaacuterias vezes eu estar a falar pensando que estava a refletir sobre a accedilatildeo
em contexto de 1ordm Ciclo e a professora dizer-me que eu estou apenas a descrever natildeo
a refletir (E11)
Nota de campo de 14 de dezembro de 2009
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
193
Pelo exposto e pela importacircncia que atribuiacuteamos agrave reflexatildeo a partir de situaccedilotildees de
Praacutetica Pedagoacutegica desenvolvemos um diaacutelogo reflexivo sobre essas preocupaccedilotildees e anseios
A partir de textos de Alarcatildeo (1996 2001) retiramos duas citaccedilotildees elucidativas que
apresentamos em PPT PowerPoint que nos permitiram articular o discurso reflexivo sobre as
praacuteticas Esta reflexatildeo pretendia basear-se em saberes reconfigurados a partir da interaccedilatildeo dos
saberes adquiridos e constituiacutedos como os saberes emergentes resultantes da anaacutelise de
situaccedilotildees praacuteticas Aqui achaacutemos oportuno sugerir a leitura de Saacute-Chaves (2002) em que a
autora refere essa complexidade e imprevisibilidade da accedilatildeo praacutetica que soacute eacute identificada no
momento em que a accedilatildeo decorre e que exige um exerciacutecio reflexivo e dialeacutetico entre o que jaacute
vivenciou e o desconhecido sabendo que cada momento eacute sempre uacutenico Referimos ainda
baseados no texto de Perrenoud (2005) que ensinar eacute de facto agir na urgecircncia decidir na
incerteza pois ldquocada acto isolado mobiliza a sua proacutepria competecircncia que natildeo se parece com
nenhuma outra (hellip) citando a imagem de que nunca nos banhamos duas vezes no mesmo riordquo
(p 170) Terminamos refletindo com base nesta citaccedilatildeo
Quando o professor reflete sobre a sua praacutetica percebe que estaacute caminhando na corda bamba correndo constantemente o risco de perder o equiliacutebrio (hellip) sendo obrigado a
- aceitar a ambiguidade e a complexidade dos fenoacutemenos da comunicaccedilatildeo - reconhecer em seu proacuteprio funcionamento o que regularmente gera mal-entendidos ou
disfunccedilotildees - clarificar as suas intenccedilotildees e mecanismos essenciais nas diversas situaccedilotildees - aprender com a experiecircncia levando em conta os erros de estrateacutegia e os limites ndash provisoriamente ndash intransponiacuteveis da influecircncia do professor - associar os alunos agrave anaacutelise de comunicaccedilatildeo e globalmente a uma ldquometareflexatildeordquo sobre o sentido dos saberes e do trabalho escolares - trabalhar tais questotildees junto com a equipa pedagoacutegica e desse modo transferir aprendizagens do mundo da cooperaccedilatildeo entre adultos para o mundo da relaccedilatildeo pedagoacutegica ou vice-versa (Perrenoud 2005 p 23)
Esta reflexatildeo em seminaacuterio onde enfatizaacutemos a questatildeo da equipa pedagoacutegica de que
falava Perrenoud bem como as leituras sugeridas pensamos ter sido uma oportunidade
inigualaacutevel para despertar nos formandos o sentido da colaboraccedilatildeo entre eles cooperante e
supervisora na praacutetica profissional incluindo no presente contexto de iniciaccedilatildeo Natildeo sabiacuteamos
como seria a seguir mas o entusiasmo e envolvimento neste seminaacuterio foi significativo
O debate era uma estrateacutegia recorrente porque percebemos que os formandos se
envolviam mais do que na escrita individualizada
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
194
Durante a semana de recolha de dados referente ao 1ordm ciclo de IA (semana de 14 de
dezembro) a supervisora deslocou-se agraves escolas do 1ordm CEB para uma reflexatildeo de grande
grupo constituiacutedo por 18 professores-estagiaacuterios 6 professores cooperantes e supervisora ndash a
reflexatildeo bimestral Esta reflexatildeo tinha como objetivo dialogar e refletir sobre o percurso
realizado pelo grupo de professores-estagiaacuterios em cada turma ateacute ao momento A
periodicidade bimestral destes encontros de reflexatildeo de grande grupo permitiu-nos perceber
a dinacircmica do grupo no seu todo que se complementou com as reflexotildees por grupo de estaacutegio
com a respetiva professora cooperante
Neste momento passamos agrave reflexatildeo uma conversa sem muitos formalismos pois a
criaccedilatildeo de um ambiente entre pares era fundamental para a fluecircncia de discurso Foram ouvidas
as professoras cooperantes que no geral se referiram aos formandos como
Alunos empenhados envolvidos preocupados em desenvolver competecircncias que
permitam gerir o espaccedilo sala de aula de forma eficaz (C4)
Nota de campo de 15 de dezembro de 2009
Como sugerido seguiram a ficha de Avaliaccedilatildeo de Desempenho e no que se refere agrave
dimensatildeo de Desenvolvimento do ensino e da aprendizagem que integra quatro sub-itens
(Organizaccedilatildeo do Ambiente Educativo Planificaccedilatildeo Relaccedilatildeo e Accedilatildeo Educativa e Avaliaccedilatildeo)
a cooperante C4 afirmou
Os estagiaacuterios apresentam algumas dificuldades neste acircmbito mas as sugestotildees de
leituras dadas pela Ceacuteu o trabalho desenvolvido em seminaacuterio e as reflexotildees aqui
no final das aulas ou seja este trabalho conjunto permitiratildeo ultrapassar estes
obstaacuteculos (C4)
Nota de campo de 15 dezembro de 2009
Tomou a palavra a professora cooperante C2 que referiu a situaccedilatildeo do professor-
estagiaacuterio que estaacute desmotivado natildeo cumpre os prazos de entrega dos documentos e afirma de
forma recorrente que
Estaacute a tirar o curso porque natildeo tem outra opccedilatildeo Tem uma boa relaccedilatildeo com os alunos
mas a sua desmotivaccedilatildeo estaacute a preocupar-me e esta a orientar a minha accedilatildeo para um
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
195
acompanhamento de proximidade na semana que antecede intervenccedilatildeo para que
tenha a planificaccedilatildeo e materiais supervisionados atempadamente A Ceacuteu faz o mesmo
pois conversamos muitas vezes (C2)
A professora cooperante ao fazer esta referecircncia em grande grupo sabia que natildeo
estava a cometer nenhuma inconfidecircncia pois o formando em causa relacionava-se
muito bem com os colegas e todos sabiam o que se passava tentando tambeacutem eles
ajudaacute-lo a ultrapassar os seus problemas de desmotivaccedilatildeo (S)
Nota de campo de 15 de dezembro de 2009
Em relaccedilatildeo agrave componente Participaccedilatildeo na Escola e Relaccedilatildeo com a Comunidade foi
dito que
Os estagiaacuterios ainda estatildeo numa fase inicial mas estiveram muito envolvidos na
preparaccedilatildeo da festa de Natal com as crianccedilas festa esta que tambeacutem teve a
participaccedilatildeo dos pais Os professores estagiaacuterios integraram toda a organizaccedilatildeo e
receberam os pais dos alunos com muito agrado (C4)
Nota de campo de 15 de dezembro de 2009
A componente Dimensatildeo de Desenvolvimento Profissional Social e Eacutetico embora se
evidencie num ou outro momento nesta fase os professores cooperantes referiram que ainda
natildeo tinham dados consistentes que lhe permitissem ter opiniatildeo formada
A supervisora colocou-se mais numa atitude de observadora pois natildeo teria muitos
elementos novos a acrescentar a esta reflexatildeo uma vez que tinha realizado apenas uma
observaccedilatildeo de 45 minutos por formando No entanto teceu algumas consideraccedilotildees baseando-
se nas dinacircmicas do seminaacuterio Nesta fase assumira o papel de colaboradora ouvinte dos
professores estagiaacuterios e cooperantes que estavam diariamente em contexto sala de aula e
tentou perceber que contributo poderia dar para ultrapassar as problemaacuteticas identificadas
Contudo devemos referir que as problemaacuteticas identificadas foram igualmente registadas nas
observaccedilotildees realizadas assumindo que precisaria fazer mais observaccedilotildees para se integrar nos
contextos e para que o seu contributo fosse mais especiacutefico e personalizado
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
196
Como estava decidido conjuntamente em fase inicial foi nesta reuniatildeo que se fez o
primeiro registo de observaccedilatildeo com o IROP Assim no final da reuniatildeo a
supervisorainvestigadora solicitou que cada formando respetivas cooperantes e ela proacutepria
deveriam concentrar-se na praacutetica de cada formando e registar o que observaram do seu
desempenho relativamente aos diferentes itens deste instrumento de observaccedilatildeo
Em siacutentese no que se refere agrave organizaccedilatildeo dos tempos de seminaacuterio entre a devoluccedilatildeo
dos dados de diagnoacutestico e a recolha de dados e devoluccedilatildeo de resultados do 1ordm Ciclo de
InvestigaccedilatildeoAccedilatildeo as metodologias implementadas e as atividades basearam-se em
apresentaccedilotildees de PowerPoint diaacutelogos leitura de textos siacutenteses realizadas pelos formandos
e apresentaccedilatildeodiscussatildeo em grande grupo e reflexotildees Na EB1 fizemos reflexotildees por grupo
de estaacutegio e uma reflexatildeo em grande grupo
Como referimos no capiacutetulo da metodologia os dados foram analisados em funccedilatildeo do
observador (formando cooperante e supervisorainvestigadora) e do momento de observaccedilatildeo
(1ordm Momento 2ordm Momento e 3ordm Momento) Satildeo apresentadas para cada subescala do
instrumento de reflexatildeo e orientaccedilatildeo da praacutetica tabelas de frequecircncias absolutas em funccedilatildeo do
observador progredindo momento a momento
Estas anaacutelises foram apresentadas e discutidas com os professores-estagiaacuterios em
espaccedilo seminaacuterio e em grande grupo e com professores estagiaacuterios e cooperantes na reflexatildeo
semanal na EB1 Nesta apresentaccedilatildeointeraccedilatildeo fizeram-se registos sob a forma de notas de
campo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
197
Organizaccedilatildeo e Gestatildeo da Aula
Preparaccedilatildeo e Planificaccedilatildeo
Na tabela 1 encontram-se as frequecircncias dos registos de observaccedilatildeo de cada tipo de
observador no 1ordm momento (semana de 14 a 181209) assim como os resultados do teste de
Fisher
Tabela 1 Preparaccedilatildeo e Planificaccedilatildeo segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia)
Preparaccedilatildeo e Planificaccedilatildeo Formandos Cooperantes Supervisor
Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Programo atividades variadas que exijam capacidades e constituam um desafio
1 8 9 3 3 12 4 5 9 0346
Sou capaz de antecipar dificuldades potenciais e reagir apropriadamente
1 17 0 3 15 0 5 13 0 0259
Presto atenccedilatildeo agraves expetativas dos alunos 0 13 5 3 2 13 4 9 5 0001
Seleciono atividades em harmonia com os objetivos que se propotildeem atingir
0 7 11 3 0 15 3 5 10 0010
Organizo a sala de aula de maneira a criar uma atmosfera propiciatoacuteria a um bom clima de sala de aula
0 11 7 3 3 12 4 7 7 0025
Verifico se os materiais e aparelhos estatildeo prontos a serem usados e em boas condiccedilotildees
2 5 11 3 12 3 5 13 0 0000
Marco trabalhos de casa com regularidade
12 5 1 9 9 0 10 8 0 0472
Vp ndash valor de prova do teste exato de Fisher - Significacircncia a 5 - Significacircncia a 1
Pela anaacutelise do tabela 1 verifica-se que relativamente agraves accedilotildees Presto atenccedilatildeo agraves
expetativas dos alunos Seleciono atividades em harmonia com os objetivos que se propotildeem
atingir Organizo a sala de aula de maneira a criar uma atmosfera propiciatoacuteria a um bom
clima de sala de aula e Verifico se os materiais e aparelhos estatildeo prontos a serem usados e
em boas condiccedilotildees os resultados obtidos estatildeo associados ao observador Estes resultados
foram objeto de reflexatildeo no 1ordm seminaacuterio de janeiro Exemplificamos aqui algumas reflexotildees
dos professores estagiaacuterios que registamos em notas de campo
No 1ordm ciclo essa questatildeo das expetativas dos alunos natildeo me parece que seja muito tida
em conta pelo menos ateacute agora natildeo foi dai essa maioria (1318) na coluna (agraves vezes)
(E7)
Nota de campo de 4 de janeiro de 2010
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
198
Eu preocupo-me em relaccedilatildeo agraves expetativas dos meus alunos mas nesta fase ainda
tenho outras preocupaccedilotildees dominantes com a questatildeo dos objetivos da organizaccedilatildeo
e gestatildeo de sala e aula cumprimento dos tempos evitando prolongar as atividades e
a verificaccedilatildeo dos materiais porque ainda natildeo me sinto segura para improvisar se
um dos materiais natildeo funciona (E11)
Nota de campo de 4 de janeiro de 2010
Apenas para a accedilatildeo Verifico se os materiais e aparelhos estatildeo prontos a serem usados
e em boas condiccedilotildees as observaccedilotildees dos formandos se distinguem dos restantes intervenientes
sendo a posiccedilatildeo do formando mais favoraacutevel pois eacute uma accedilatildeo da sua responsabilidade como
lhe eacute requerido quer pelo supervisor quer pelo cooperante
Devemos ainda referenciar a accedilatildeo Sou capaz de antecipar dificuldades potenciais e
reagir apropriadamente que se posiciona na escala (agraves vezes) (1718-formandos 1518 -
cooperantes e 1318 - supervisorainvestigadora) com proximidade de opiniatildeo entre os
colaboradores e concordacircncia quase total entre todos A capacidade de antecipar potenciais
dificuldades eacute uma competecircncia que se adquire em accedilatildeo com a experiecircncia com a seguranccedila
das previsotildees quer comportamentais quer ao niacutevel do conteuacutedo Recordamos que
sensibilizaacutemos os formandos para natildeo repetirem contextos nem niacuteveis de escolaridade onde
jaacute tivessem realizado observaccedilatildeocooperaccedilatildeo justificando que a diversidade de contextos e de
observaccedilatildeocooperaccedilatildeointervenccedilatildeo em diferentes anos de escolaridade e contextos seria uma
mais-valia para a sua formaccedilatildeo Assim sendo o desconhecimento do grupo do contexto e dos
conteuacutedos leva os formandos a colocar-se numa posiccedilatildeo ambiacutegua da escala (agraves vezes) talvez
por sentirem que nesta fase ainda natildeo seraacute faacutecil antecipar dificuldades potenciais e reagir
apropriadamente pois a imprevisibilidade caracteriacutestica da sala de aula surge aqui como uma
condicionante e simultaneamente como um impulso agrave reflexatildeo que o processo de auto-
observaccedilatildeo proporciona Por outro lado trata-se de uma dimensatildeo de desempenho difiacutecil de
observar exteriormente daiacute justificar-se pensamos o posicionamento idecircntico das respostas
das formadoras (maioritariamente na posiccedilatildeo agraves vezes) o que se compreende melhor dado o
momento inicial do processo de observaccedilatildeoformaccedilatildeo
Todavia a capacidade de antecipaccedilatildeo deve ser uma competecircncia a desenvolver
particularmente no ato de planificar A preocupaccedilatildeo com o que se vai fazer nomeadamente
com a diversidade de estrateacutegias adequaccedilatildeo das atividades aos momentos do dia envolvimento
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
199
dos alunos na tarefa deve traduzir-se numa antevisatildeo cuidadosa do iniacutecio desenvolvimento e
final da aula considerando as expetativas e os interesses da turma
Tambeacutem estes aspetos foram objeto de reflexatildeo em janeiro considerando as dinacircmicas
observadas e vivenciadas atenuando assim o fator surpresa sempre muito presente na relaccedilatildeo
pedagoacutegica
Iniacutecio da Aula
Na tabela 2 encontram-se as frequecircncias observadas da avaliaccedilatildeo realizada por cada
indiviacuteduo no 1ordm momento para a categoria Iniacutecio da Aula
Tabela 2 Iniacutecio de Aula segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia)
Iniacutecio da Aula Formandos Cooperantes Supervisor
Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Chego pontualmente agrave aula 0 0 18 3 0 15 1 2 15 0084
Faccedilo com que os alunos cheguem pontualmente agraves aulas
3 9 6 3 0 15 3 2 13 0002
Supervisiono a entrada dos alunos na aula
1 12 5 3 8 7 3 10 5 0699
Sempre que marco trabalho de casa asseguro de que os alunos o fizeram e esclareccedilo duacutevidas
9 6 2 9 6 3 9 6 3 0999
Iniacutecio a aula de maneira interessante e motivadora
0 9 9 3 9 6 3 7 8 0402
Vp ndash valor de prova do teste exato de Fisher - Significacircncia a 5 - Significacircncia a 1
Pela anaacutelise da tabela 2 verifica-se que apenas para a accedilatildeo Faccedilo com que os alunos
cheguem pontualmente agraves aulas os resultados obtidos estatildeo estatisticamente associados ao
observador Eacute a opiniatildeo do formando que se distingue das restantes com os cooperantes e
supervisora mais otimistas e os formandos com distribuiccedilatildeo diacutespar entre o (natildeo) (agraves vezes) e
(sim) Contudo quando dialogamos com os formandos sobre este posicionamento eles
relataram dificuldades em ultrapassar esta situaccedilatildeo o que nem sempre eacute observaacutevel quer pelo
cooperante que pela supervisora
Sim este eacute um procedimento da nossa responsabilidade e sabemos que se natildeo
cumprirmos desorganiza todo o nosso trabalho em sala de aula facto que tem sido
referenciado quer nos nossos seminaacuterios quer nas reflexotildees que temos vindo a fazer
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
200
com a professora cooperante Temos 2 alunos que nos chegam regularmente
atrasados e por norma natildeo iniciamos a aula sem eles chegarem mas altera logo a
organizaccedilatildeo do nosso trabalho Falaacutemos com os alunos natildeo resultou tivemos que
falar com os pais mas natildeo tivemos muito sucesso (E8) Nota de campo de 4 de janeiro de 2010
Natildeo queremos deixar de sublinhar o facto de as formadoras (cooperantes e supervisora)
terem observado que trecircs formandos natildeo satildeo pontuais e tambeacutem parece natildeo zelarem pela
pontualidade das crianccedilas embora nenhum tenha reconhecido em si essas dificuldades
Nas salas de aula bem como nos diferentes contextos onde interagem grupos de
pessoas a organizaccedilatildeo da accedilatildeo a comunicaccedilatildeo a interaccedilatildeo satildeo requisitos baacutesicos para o
processo ensino-aprendizagem e a prevenccedilatildeo de potenciais comportamentos disruptivos factos
que acontecem no desenvolvimento da aula
Apesar das diferenccedilas entre observadores natildeo se revelarem significativas eacute de sublinhar
tambeacutem a aparente dificuldade em iniciar a aula de forma motivadora por parte de trecircs
professores estagiaacuterios segundo a observaccedilatildeo dos formadores porque nenhum deles reconhece
em si essa dificuldade
Desenvolvimento da Aula - Perguntas e Explicaccedilotildees
Na tabela 3 encontram-se as frequecircncias observadas da avaliaccedilatildeo realizada por cada
observador no 1ordm momento para a categoria Desenvolvimento da Aula - Perguntas e
Explicaccedilotildees
Tabela 3 Desenvolvimento da Aula - Perguntas e Explicaccedilotildees segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia)
Perguntas e Explicaccedilotildees Formandos Cooperantes Supervisor
Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Evito uma linguagem demasiado difiacutecil e ambiacutegua
2 5 11 3 6 9 4 10 4 0208
Quando dou explicaccedilotildees para o coletivo faccedilo perguntas breves para verificar o niacutevel de receccedilatildeo dos alunos
0 10 8 3 8 7 6 11 1 0008
Faccedilo ligaccedilatildeo entre a nova informaccedilatildeo e a informaccedilatildeo jaacute adquirida pelos alunos
2 10 6 3 9 6 6 9 3 0497
Faccedilo perguntas breves para manter os alunos focados no conteuacutedo da aula
0 11 7 3 8 7 4 13 1 0021
Vp ndash valor de prova do teste exato de Fisher - Significacircncia a 5 - Significacircncia a 1
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
201
Pela anaacutelise da tabela 3 verifica-se que relativamente agraves accedilotildees Quando dou explicaccedilotildees
para o coletivo faccedilo perguntas breves para verificar o niacutevel de receccedilatildeo dos alunos e Faccedilo
perguntas breves para manter os alunos focados no conteuacutedo da aula os resultados obtidos
estatildeo estatisticamente associados ao observador Oito formandos dizem que (sim) que colocam
questotildees e fazem perguntas e dez afirmam que o fazem (agraves vezes) Na realidade as observaccedilotildees
realizadas satildeo consideravelmente distintas entre observadores No entanto um facto que
evidenciaacutemos em seminaacuterio quando falaacutemos da eficaacutecia do ensino eacute a importacircncia do
envolvimento do aluno na tarefa e a relaccedilatildeo direta entre este envolvimento e o seu rendimento
escolar Este facto requer por parte do professor uma vigilacircncia permanente bem como a
necessidade de mostrar aos alunos que visualiza tudo o que se passa em sala de aula
Percebe-se pelos dados alguma dificuldade no uso de linguagem acessiacutevel aos alunos
reconhecida de modo particular por dois professores estagiaacuterios
Desenvolvimento da Aula ndash Vigilacircncia
Na tabela 4 encontram-se as frequecircncias observadas no 1ordm momento para a categoria
Desenvolvimento da Aula ndash Vigilacircncia
Tabela 4 Desenvolvimento da Aula - Vigilacircncia segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia)
Vigilacircncia Formandos Cooperantes Supervisor
Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Tento ter sempre visibilidade de toda a turma
1 11 6 3 9 6 3 14 1 0156
Dou a entender agrave turma que sei o que cada aluno estaacute a fazer em cada momento
1 11 6 3 9 6 4 13 1 0144
Tento desenvolver a capacidade de prestar atenccedilatildeo a mais do que uma situaccedilatildeo ao mesmo tempo
0 14 4 3 13 2 3 14 1 0286
Paro rapidamente o comportamento perturbador com o miacutenimo de interferecircncia na aula
1 15 2 3 13 2 5 13 0 0277
Vp ndash valor de prova do teste exato de Fisher - Significacircncia a 5 - Significacircncia a 1
Pela anaacutelise da tabela 4 verifica-se que relativamente agraves accedilotildees de vigilacircncia os registos
apresentados satildeo estatisticamente idecircnticos entre os observadores com mais proximidade na
resposta ldquosimrdquo entre formandos e cooperantes Note-se que a supervisora nesta fase tinha
efetuado apenas uma observaccedilatildeo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
202
O meu olhar sobre a turma estaacute cada vez mais abrangente mas sinto que ainda tenho
que desenvolver mais essa competecircncia pois nem sempre eacute faacutecil operacionalizar todos
estes itens embora os considere muitiacutessimo importantes na organizaccedilatildeo e gestatildeo de
sala de aula e ateacute na prevenccedilatildeo de comportamentos menos adequados Na minha opiniatildeo
o professor tem que estar muito atento agrave turma e evitar momentos ldquomortosrdquo e sempre
que detetamos algo de anormal devemos sanar logo o problema sem mais rodeios Jaacute
cheguei a essa conclusatildeo mas nem sempre eacute faacutecil (E3)
Nota de campo de 4 de janeiro de 2010
Baseados em Muijs e Renolds (2005) autores do texto Effective Teaching Evidence
and Practice abordamos a temaacutetica ldquoA eficaacutecia da accedilatildeo do professor e prevenccedilatildeo da
indisciplina que relaccedilatildeo O estilo de ensino e a disciplinaccedilatildeo em professores principiantes ndash
como gerirrdquo Este foi um conteuacutedo que muito motivou os formandos e em reflexatildeo conjunta
percebemos que natildeo se estaria a refletir na accedilatildeo porque tinha sido abordado apenas no
seminaacuterio que antecedeu a recolha de dados Aliaacutes dois grupos de estaacutegio (seis formandos)
pediram referecircncias bibliograacuteficas para eles proacuteprios porque tinham turmas um pouco mais
difiacuteceis e gostariam de investigar mais sobre este tema Pretendiam apresentar a siacutentese dessas
leituras ao grupo pois a partilha e motivaccedilatildeo para a pesquisa e documentaccedilatildeo sobre as praacuteticas
educativas estava a evidenciar-se cada vez mais no grupo
Desenvolvimento da Aula - Atividades e Conteuacutedos
O professor que orienta a sua accedilatildeo para o desenvolvimento das competecircncias apontadas
na tabela 4 estaraacute a orientar a sua atividade em sala de aula com base numa planificaccedilatildeo onde
se tem em conta a conduta dos alunos o ritmo de trabalho e as exigecircncias acadeacutemicas
Na tabela 5 encontram-se as frequecircncias observadas da avaliaccedilatildeo realizada por cada
indiviacuteduo no 1ordm momento para a categoria Desenvolvimento da Aula - Atividades e Conteuacutedos
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
203
Tabela 5 Desenvolvimento da Aula - Atividades e Conteuacutedos segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia)
Atividades e Conteuacutedos Formandos Cooperantes Supervisor
Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Adequo e apresentaccedilatildeo dos conteuacutedos e tarefas agraves idades capacidades e caracteriacutesticas culturais dos alunos
2 9 6 2 2 14 2 9 7 0035
Realizo com os alunos atividades variadas e relevantes e utilizo diferentes meacutetodos de ensino
2 10 6 3 7 8 4 5 9 0597
Organizo atividades nas quais a maioria dos alunos possa ter sucesso a maior parte das vezes sem deixar de providenciar uma gradaccedilatildeo de dificuldades que os leva a progredir
0 10 8 2 10 6 3 13 2 0110
Se a aula estaacute programada para um trabalho coletivo dirijo-me principalmente para a turma no seu todo
0 8 10 0 10 8 0 9 9 0941
Mostro entusiasmo pelo que ensino 1 6 11 1 2 15 2 2 14 0433
Mantenho os alunos ativamente envolvidos em atividades produtivas
0 14 4 2 12 4 1 17 0 0079
Na turma que me estaacute confiada os alunos realizam com regularidade trabalho cooperativo nas aulas
2 9 7 0 12 6 1 9 8 0678
Dou feedback aos alunos pelo seu desempenho com regularidade
1 12 5 3 9 6 5 12 1 0132
Vp ndash valor de prova do teste exato de Fisher - Significacircncia a 5 - Significacircncia a 1
Pela anaacutelise da tabela 5 verifica-se que apenas para a accedilatildeo Adequo e apresentaccedilatildeo dos
conteuacutedos e tarefas agraves idades capacidades e caracteriacutesticas culturais dos alunos as
observaccedilotildees realizadas estatildeo estatisticamente associadas ao interveniente Verifica-se maior
proximidade de registo entre formando e supervisor A observaccedilatildeo realizada pelo cooperante eacute
mais favoraacutevel que as restantes Verifica-se que segundo a observaccedilatildeo de todos dois
professores estagiaacuterios parecem evidenciar seacuterias dificuldades na adequaccedilatildeo dos conteuacutedos e
tarefas agraves caracteriacutesticas dos alunos
Esta temaacutetica foi abordada nos seminaacuterios aquando da apresentaccedilatildeo das dimensotildees da
competecircncia docente particularmente em relaccedilatildeo ao modo como o professor estrutura as
tarefas acadeacutemicas Este trabalho teve o sentido de ajudar os formandos a tomar consciecircncia
da necessidade de diagnosticar os interesses as dificuldades dos alunos e responder de forma
adequada Ao planificar e ao por em accedilatildeo a planificaccedilatildeo o professor estuda formas de se fazer
entender (comunicaccedilatildeo estrateacutegica) procura variar e inovar ser exigente no cumprimento das
tarefas percebendo as expetativas dos alunos manifestando expetativas positivas acerca dos
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
204
alunos e da turma Recorre ainda ao luacutedico mantendo um ritmo equilibrado de accedilatildeo num
ambiente de sala de ideal para estimular as crianccedilas e potenciar a vontade de aprender
Desenvolvimento da Aula - Manutenccedilatildeo do Ritmo da Aula
Na tabela 6 encontram-se as frequecircncias observadas da avaliaccedilatildeo realizada por cada
indiviacuteduo no 1ordm momento para a categoria Desenvolvimento da Aula - Manutenccedilatildeo do Ritmo
da Aula
Tabela 6 Desenvolvimento da Aula - Manutenccedilatildeo do Ritmo da Aula segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia)
Manutenccedilatildeo do ritmo da aula Formandos Cooperantes Supervisor
Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Faccedilo transiccedilotildees suaves entre atividades certificando- me que todos os alunos concluiacuteram a anterior e dou instruccedilotildees claras agrave turma acerca da atividade seguinte
2 6 10 3 11 4 7 9 2 0030
Evito tempos mortos entre diferentes atividades
3 11 4 3 10 5 3 15 0 0161
Planifico tarefas alternativas para os alunos que acabam mais cedo os seus trabalhos
3 12 3 12 3 3 13 5 0 0001
Tento ter um discurso fluente evito momentos de abrandamentos do ritmo da aula
1 12 5 2 14 2 5 13 0 0075
Vp ndash valor de prova do teste exato de Fisher - Significacircncia a 5 - Significacircncia a 1
No que concerne agrave anaacutelise da tabela 6 verifica-se que para as accedilotildees Faccedilo transiccedilotildees
suaves entre atividades certificando-se que todos os alunos concluiacuteram a anterior e dou
instruccedilotildees claras agrave turma acerca da atividade seguinte e Planifico tarefas alternativas para os
alunos que acabam mais cedo os seus trabalhos as observaccedilotildees realizadas estatildeo
estatisticamente associadas ao observador Relativamente agrave praacutetica das transiccedilotildees suaves as
diferenccedilas satildeo tatildeo evidentes entre as auto e heacutetero-observaccedilotildees o que nos levou a questionar
se os formandos teriam compreendido efetivamente o uso desta teacutecnica o que foi objeto de
reflexatildeo posterior
Em relaccedilatildeo agraves transiccedilotildees parece-nos oportuno mencionar as investigaccedilotildees de Gump
(1982) e Doyle (1986) ao referirem que ocorrem aproximadamente 31 transiccedilotildees importantes
por dia nas salas de aula do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico ocupando 15 do tempo da aula pelo
que natildeo eacute tarefa faacutecil dadas as imensas solicitaccedilotildees recebidas pelo professor em sala de aula
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
205
A planificaccedilatildeo eacute fundamental para gerir as transiccedilotildees porque a planificaccedilatildeo permite a antevisatildeo
da aula e uma transiccedilatildeo pensada e estruturada em funccedilatildeo da turma a que se destina Contudo
a implementaccedilatildeo da planificaccedilatildeo em situaccedilotildees de interaccedilatildeo com as crianccedilas exige capacidade
de monotorizaccedilatildeo flexibilidade e feedback constantes de modo a responder adequadamente
aos ritmos e necessidades das turmas dai tratar-se de uma competecircncia que envolve muita
complexidade
Contudo algo se evidencia nesta fase Os formandos ainda natildeo assumiram que a
preparaccedilatildeo de tarefas extra para alunos que satildeo mais raacutepidos a concretizar as accedilotildees seria uma
mais-valia na organizaccedilatildeo e gestatildeo de sala de aula
Final da Aula
O final da aula eacute tambeacutem um tempo que pode ser envolto de alguma instabilidade ou
porque o professor natildeo geriu o tempo de forma adequada aos conteuacutedos a transmitir natildeo
concluindo a tarefa ou concluindo apressadamente dado que o tempo escasseia ou porque eacute
necessaacuterio arrumar materiais que utilizaram nas atividades ou ateacute marcar trabalhos de casa A
importacircncia atribuiacuteda a este momento eacute igualmente crucial na concretizaccedilatildeo de um ensino
eficaz
Na tabela 7 encontram-se as frequecircncias observadas da avaliaccedilatildeo realizada por cada
indiviacuteduo no 1ordm momento para a categoria Final da Aula
Tabela 7 Final da Aula segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia)
Final da aula Formandos Cooperantes Supervisor
Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo
Agraves vezes
Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Vp
Tento terminar a aula um pouco antes do horaacuterio de saiacuteda
6 7 5 4 14 0 5 13 0 0019
Faccedilo com os alunos o sumaacuterio dos principais toacutepicos de aula
12 4 2 9 5 4 10 5 3 0896
Dou instruccedilotildees claras para o trabalho de casa ou para a preparaccedilatildeo da aula seguinte
12 5 1 9 6 3 12 5 1 0741
Faccedilo uma breve prospetiva do que seraacute a proacutexima aula criando entusiasmo pelo que se segue
11 7 0 12 3 3 12 6 0 0162
Faccedilo com que os alunos guardem os materiais de maneira clama e ordeira
0 7 11 2 4 12 3 10 5 0057
Supervisiono a saiacuteda dos alunos 3 9 6 2 4 12 2 12 4 0052
Vp ndash valor de prova do teste exato de Fisher - Significacircncia a 5 - Significacircncia a 1
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
206
Pela anaacutelise da tabela 7 verifica-se que relativamente agrave accedilatildeo Tento terminar a aula um
pouco antes do horaacuterio de saiacuteda as observaccedilotildees registadas estatildeo estatisticamente associadas
ao observador sendo o formando a apresentar resultados diferentes dos restantes observadores
ou seja existem cinco formandos que consideram ter terminado a aula um pouco antes (com
calma) e as formadoras natildeo o observaram Acresce que seis formandos consideram natildeo o ter
feito de todo
Relativamente agraves restantes accedilotildees desta categoria natildeo foi identificada relaccedilatildeo
significativa com o interveniente
A ecircnfase que aqui se destaca relativa a este momento da aula em relaccedilatildeo aos
formandos deve-se ao facto de eles assumirem a turma nos dias em que lecionam e jaacute terem
sido sensibilizados quer pela professora cooperante quer pela supervisora sobre todas as fases
da aula De referir que os seminaacuterios e as reflexotildees com a professora supervisora e cooperante
eram orientadas por estes instrumentos de reflexatildeo sobre a praacutetica e em relaccedilatildeo a esta fase
final da aula foi-lhes sugerido i) o aluno no final tivesse tempo suficiente para completar as
tarefas finais por exemplo recolher livros trabalhos ou arrumar outros materiais ii)
informarrelembrar que soacute podem sair quando o professor disser e iii) estabelecer rotinas
Recordando Ruiz (2005) nesta idade eacute necessaacuterio uma certa regularidade na organizaccedilatildeo do
tempo e da accedilatildeo porque as crianccedilas comeccedilam a orientar-se em relaccedilatildeo a determinadas situaccedilotildees
que se repetem a cada dia As atividades sucedem-se normalmente na mesma ordem e isso faz
com que as crianccedilas se sintam seguras confiantes e organizadas factos que seratildeo analisados
tambeacutem agrave luz do registo e observaccedilatildeo conduccedilatildeo de alunos
Conduccedilatildeo de Alunos
A Conduccedilatildeo de Alunos encontra-se subdividida em cinco categorias onde se evidencia
que o professor para aleacutem do conhecimento cientiacutefico e didaacutetico o professor deve munir-se de
competecircncias relacionais
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
207
Regras e Rotinas
Na tabela 8 encontram-se as frequecircncias das observaccedilotildees realizadas por cada
observador no 1ordm momento para a categoria Regras e Rotinas
Tabela 8 Regras e Rotinas segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia)
Regras e Rotinas Formandos Cooperantes Supervisora
Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Conheccedilo e mostro que conheccedilo as regras e rotinas habituais da aula e da escola
4 4 10 3 0 15 2 6 10 0071
Clarifico com os alunos um conjunto de regras baacutesicas para o funcionamento da turma e explico as consequecircncias agrave infraccedilatildeo das mesmas
3 9 5 3 6 9 3 13 2 0126
Defino as regras pela positiva 2 14 2 3 6 9 5 7 6 0043
Mostro-me firme em relaccedilatildeo ao cumprimento dessas regras
5 10 3 3 11 4 4 14 0 0281
Estabeleccedilo as regras em harmonia com os meus princiacutepios educativos e com os objetivos que pretendo atingir
0 12 6 3 5 10 4 10 4 0036
Face aos desvios evoco frequentemente as regras 2 9 7 3 3 12 3 6 9 0321
Pela anaacutelise da tabela 8 verifica-se que relativamente ao item Defino as regras pela
positiva catorze dos formandos afirmaram que soacute o fazem (agraves vezes) enquanto para as
cooperantes e para a supervisora satildeo seis e sete formandos respetivamente que o fazem (agraves
vezes) Na realidade a perceccedilatildeo da supervisora e das cooperantes apresenta-se distribuiacuteda pelos
trecircs itens da escala nominal com tendecircncia para a predominacircncia do (sim) nas cooperantes
mais um vez com uma visatildeo mais otimista que a supervisora e os formandos Assim sendo os
resultados obtidos estatildeo significativamente associados (dependentes) do observador
O ensino eacute uma atividade essencialmente relacional e o facto de definir as regras pela
positiva favorece a criaccedilatildeo de ambientes de cordialidade permitindo desenvolver um ldquotrabalho
emocional que exige uma regulaccedilatildeo emocional em ordem agrave manutenccedilatildeo da conformidade com
os padrotildees normativos e agrave percepccedilatildeo e expressatildeo de emoccedilotildees pedagogicamente desejaacuteveisrdquo
(Freire Bahia Estrela T amp Amaral 2011 p 3) O ato educativo em si solicita ao professor
uma visatildeo otimista em relaccedilatildeo aos alunos e uma inteira confianccedila no desenvolvimento das
diferentes competecircncias pelo que o item Estabeleccedilo as regras em harmonia com os meus
princiacutepios educativos e com os objetivos que pretendo atingir se orienta nesse sentido No
entanto o registo feito pelos formandos aproxima-se mais da observaccedilatildeo realizada pela
supervisora do que da observaccedilatildeo feita pelas cooperantes Para as cooperantes a maioria dos
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
208
formandos (N=10) tem esse cuidado Verifica-se para um niacutevel de significacircncia de 5 que
existe evidecircncia estatiacutestica suficiente para afirmar que os resultados obtidos estatildeo
significativamente associados (dependentes) ao observador Seraacute assim necessaacuterio favorecer
toda uma cultura de grupo num estilo de relaccedilatildeo sustentada pelo professor em que se
evidenciam as suas caracteriacutesticas pessoais e relacionais percebendo que a gestatildeo dos
comportamentos eacute fundamental basta que para tal o professor defina um ldquoconjunto de regras
claras negociadas e que comprometem os actores no seu cumprimento Fazer cumprir as regras
implica a adopccedilatildeo de estrateacutegias que se revelaratildeo mais ou menos eficazes consoante os
professores e a imagem que eles passam de si e dos seus alunosrdquo (Amado Freire Carvalho amp
Andreacute 2009 p 82)
Assinale-se a dificuldade em observar este item quer para o proacuteprio quer para os
formadores dado tratar-se de algo que cruza a accedilatildeo com a cogniccedilatildeo e a eacutetica Esta dificuldade
era neste momento reforccedilada pelo facto de se estar no iniacutecio do processo formativo De realccedilar
ainda o facto de cinco formandos terem observado dificuldades ao niacutevel da assertividade e soacute
trecircs se sentirem confortaacuteveis a esse niacutevel
Reforccedilo do Comportamento Adequado
Na tabela 9 encontram-se as frequecircncias registadas nas observaccedilotildees realizadas por cada
observador no 1ordm momento para o grupo Reforccedilo do Comportamento Adequado
Tabela 9 Reforccedilo do Comportamento Adequado segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia)
Reforccedilo do comportamento adequado Formandos Cooperantes Supervisor
Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Dou reforccedilo imediatamente a seguir a comportamento desejado
0 14 4 1 8 9 5 7 6 0024
Reforccedilo os comportamentos adequados com a frequecircncia apropriada
2 9 7 1 11 6 5 11 2 0203
Quando recompenso algum aluno pelo seu comportamento tenho o cuidado de escolher recompensas apropriadas agrave situaccedilatildeo e ao aluno em causa
4 7 7 1 2 15 2 14 2 0000
Quando recompenso ou reforccedilo o comportamento de um aluno explicito a razatildeo do estiacutemulo
3 6 9 1 2 15 2 10 6 0025
Vp ndash valor de prova do teste exato de Fisher - Significacircncia a 5 - Significacircncia a 1
Pela anaacutelise da tabela 9 verifica-se para os itens Dou reforccedilo imediatamente a seguir
a comportamento desejado quando recompenso algum aluno pelo seu comportamento tenho
o cuidado de escolher recompensas apropriadas agrave situaccedilatildeo e ao aluno em causa e Quando
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
209
recompenso ou reforccedilo o comportamento de um formando explicito a razatildeo do estiacutemulo que
existe evidecircncia estatiacutestica suficiente para afirmar que os resultados obtidos estatildeo
significativamente associados ao observador De outro modo podemos verificar que natildeo eacute
visiacutevel a concordacircncia nas opiniotildees dos observadores nestas accedilotildees Trata-se de um aspeto da
gestatildeo de comportamentos ndash o reforccedilo que revela importantes diferenccedilas nas observaccedilotildees pelo
que deveraacute ser objeto de reflexatildeo no desenvolvimento do processo formativo
Os alunos que constituem uma turma satildeo todos diferentes entre si pelas caracteriacutesticas
da sua personalidade pelo trajeto realizado pelas competecircncias e habilidades que
desenvolveram pelo modo como interpretam as situaccedilotildees vivenciadas O reconhecimento
destas particularidades eacute muito importante pois as interaccedilotildees que se estabelecem em sala de
aula tecircm a ldquomarcardquo dessas especificidades No entanto embora o professor seja um agente
socializador e faccedila um esforccedilo para controlar a turma nem sempre estas interaccedilotildees se
estabelecem de forma cordial e poderatildeo instalar-se situaccedilotildees de conflito designadas de
problemas de disciplina Quando esgotadas todas as negociaccedilotildees para resolver esses
problemas o professor poderaacute ter que recorrer agrave puniccedilatildeo que seraacute sempre o recurso do fracasso
das fases anteriores (prevenir remediar)
Puniccedilatildeo
Na tabela 10 encontram-se as frequecircncias registadas nas observaccedilotildees realizadas por
cada observador no 1ordm momento para a categoria Puniccedilatildeo
Tabela 10 Puniccedilatildeo no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia)
Puniccedilatildeo Formandos Cooperantes Supervisora
Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Soacute castigo quando natildeo tenho alternativa 1 9 8 1 0 17 1 0 17 0000 Ao repreender identifico o formando em falta 0 8 10 1 3 14 1 2 15 0109
Quando repreendo ou castigo faccedilo-o de uma maneira clara e firme 1 13 4 1 10 7 3 12 3 0507
Focalizo a puniccedilatildeo no comportamento incorreto e natildeo na pessoa 1 6 11 1 2 15 2 1 15 0221
Aplico o castigo imediatamente a seguir agrave falta 2 14 2 1 5 12 1 9 8 0006
Tento ser consistente 0 9 9 1 10 7 1 11 6 0817 Ao repreender dou maior ecircnfase ao comportamento positivo esperado do que aos comportamentos negativos ocorridos
2 10 6 1 8 9 4 10 4 0405
Tento ajustar o castigo agrave falta 1 9 8 1 7 10 2 12 4 0311 Quando repreendo ou castigo falo num tom que sugere autoridade e induz acordo
0 11 7 1 12 5 2 14 2 0272
Vp ndash valor de prova do teste exato de Fisher - Significacircncia a 5 - Significacircncia a 1
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
210
Pela anaacutelise da tabela 10 verifica-se que relativamente agraves accedilotildees Soacute castigo quando natildeo
tenho alternativa e Aplico o castigo imediatamente a seguir agrave falta os resultados obtidos estatildeo
significativamente associados aos observadores Na realidade observa-se que na accedilatildeo Soacute
castigo quando natildeo tenho alternativa o observador formando apresenta uma opiniatildeo
discordante dos restantes observadores Os dados parecem revelar uma posiccedilatildeo auto-critica por
parte dos formandos visto que apenas oito consideram castigar soacute quando natildeo se tem
alternativa enquanto as formadoras consideram que dezassete o fazem Idecircntica situaccedilatildeo em
relaccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos castigos imediatamente a seguir agrave falta
Gestatildeo de conflitos
Na tabela 11 encontram-se as frequecircncias registadas nas observaccedilotildees realizadas por
cada observador no 1ordm momento para a categoria Gestatildeo de Conflitos
Tabela 11 Gestatildeo de Conflitos com registos do 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia)
Gestatildeo de Conflitos Formandos Cooperantes Supervisora
Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Mantenho o controlo da conversa 1 17 0 0 3 15 0 13 5 0000
Mantenho a calma controlo a irritaccedilatildeo 1 11 6 0 3 15 2 3 13 0005
Estou consciente das respostas emocionais do aluno
1 9 8 1 10 7 2 14 2 0174
Ajudo a identificar o problema e a encontrar soluccedilotildees para o ultrapassar em vez de censurar
1 9 8 1 2 15 2 3 13 0056
Critico o acto natildeo a pessoa 0 8 10 1 1 16 1 1 16 0007
Mostro-me seguro e confiante 1 10 7 1 13 4 4 12 2 0231
Evito o sarcasmo e a ridicularizaccedilatildeo do aluno
0 5 13 1 1 16 1 0 17 0047
Evito ameaccedilas e intimidaccedilotildees 0 9 9 1 3 14 1 3 14 0085
Utilizo o confronto de forma positiva 0 10 8 1 1 16 1 3 14 0005
Vp ndash valor de prova do teste exato de Fisher - Significacircncia a 5 - Significacircncia a 1
Pela anaacutelise da tabela 11 verifica-se que relativamente agraves accedilotildees Mantenho o controlo
da conversa Mantenho a calma controlo a irritaccedilatildeo Critico o acto natildeo a pessoa Evito o
sarcasmo e a ridicularizaccedilatildeo do formando e Utilizo o confronto de forma positiva os
resultados obtidos estatildeo significativamente associados aos observadores Relativamente agraves
accedilotildees Mantenho o controlo da conversa e Mantenho a calma controlo a irritaccedilatildeo verifica-se
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
211
disparidade de opiniotildees entre todos os intervenientes sendo o cooperante o que expressa uma
observaccedilatildeo mais otimista Quanto agraves restantes accedilotildees eacute possiacutevel concluir que as observaccedilotildees do
formando se distinguem consideravelmente dos restantes observadores Tambeacutem aqui os
formandos revelam de um modo geral uma observaccedilatildeo mais criacutetica das suas accedilotildees e atitudes
do que as formadoras o que pode ser visto como esperado por alguns destes itens serem de
difiacutecil observaccedilatildeo externa especialmente por se estar no iniacutecio da formaccedilatildeo
O formando e restantes observadores sabem que esta gestatildeo eacute complexa pois agrave
estrateacutegia intencional de controlo e de gestatildeo do conflito contrapotildeem-se as de contra-gestatildeo
dos alunos porque estes ldquoempenham-se em contra-estrateacutegias ligadas aos seus proacuteprios
interesses na situaccedilatildeo de sala de aula e usam expedientes para limitar a natureza e extensatildeo do
controlo do professorrdquo (Denscombe 1985 p 86) o que leva a que o professor tenha que
trabalhar muitas vezes em condiccedilotildees adversas na organizaccedilatildeo e gestatildeo das tarefas em sala de
aula Acresce a relaccedilatildeo estrateacutegica que os alunos estabelecem com as regras que supostamente
gerem a sua participaccedilatildeo e o seu trabalho Nem sempre fazem o que lhes eacute pedido tentando
com sucesso desigual negociar ou alterar as regras Este facto tem que ser gerido com muita
afetividade pois esta questatildeo da relaccedilatildeo pedagoacutegica exige comunicaccedilatildeo e gestos adequados
que permitam envolver o aluno na mensagem17 que se pretende transmitir Este deve fazecirc-lo
abolindo as bases coercivas e legiacutetimas do poder substituindo-as pela intenccedilatildeo de alcanccedilar na
sua praacutetica docente um conjunto de objetivos de caraacuteter afetivo que fortaleccedilam as relaccedilotildees
pessoais entre alunos e professor atraveacutes dos laccedilos que se vatildeo criando
Relaccedilotildees Pessoais
Na tabela 12 encontram-se as frequecircncias observadas da observaccedilatildeo realizada por cada
indiviacuteduo no 1ordm momento para a categoria Relaccedilotildees Pessoais
17ldquoO modo como o professor exerce esse controlo eacute determinante para o (in)sucesso da relaccedilatildeo pedagoacutegicardquo (Amado Freire Carvalho amp Andreacute 2009 p 79-80)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
212
Tabela 12 Relaccedilotildees Pessoais segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo (frequecircncias absolutas e resultados do teste de independecircncia)
Relaccedilotildees Pessoais Formandos Cooperantes Supervisora
Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Tento ser consistente e justo 0 3 15 1 1 16 1 3 14 0780
Mostro interesse pelos alunos como pessoas
0 4 14 1 1 16 2 0 16 0118
Sou acessiacutevel e tento estar disponiacutevel 0 7 11 1 1 16 1 3 14 0082
Crio um clima na sala de aula onde o aluno demonstre respeito pelo trabalho colegas e professor
0 9 9 1 8 9 2 8 8 0874
Exprima sem receios os seus sentimentos
1 9 8 1 10 7 1 11 6 0985
Possa participar nos processos de decisatildeo
1 11 6 1 7 10 3 10 5 0388
Desenvolva a autodisciplina 1 10 7 1 8 9 2 14 2 0106
Tome consciecircncia das suas necessidades e interesses
1 8 9 1 7 10 4 12 2 0030
Aprenda a monitorizar as suas necessidades
0 11 7 1 8 9 4 11 3 0072
Vp ndash valor de prova do teste exato de Fisher - Significacircncia a 5 - Significacircncia a 1
Pela anaacutelise da tabela 12 verifica-se que relativamente agrave accedilatildeo Crio um clima na sala
de aula onde o aluno tome consciecircncia das suas necessidades e interesses os resultados
obtidos estatildeo significativamente associados aos observadores sendo o supervisor quem
expressa opiniatildeo consideravelmente distinta dos restantes Para as restantes accedilotildees as
observaccedilotildees realizadas natildeo apresentam associaccedilatildeo significativa em funccedilatildeo dos observadores
ou seja as opiniotildees satildeo estatisticamente idecircnticas entre observadores para cada accedilatildeo
Seraacute no entanto de notar que para as professores cooperantes existe um formando em
cada item que natildeo revela estas capacidades relacionais e para a supervisora vaacuterios natildeo as
revelam enquanto na sua maior parte estas capacidades satildeo auto-reconhecidas pelos
formandos Seraacute uma dimensatildeo a trabalhar com consistecircncia ao longo dos ciclos que se
seguiratildeo
Tem sido afirmado ao longo deste trabalho que as relaccedilotildees que se estabelecem em sala
de aula satildeo muito importantes para o sucesso do processo ensino-aprendizagem A temaacutetica
das emoccedilotildees da afetividade aliada agrave competecircncia relacional na relaccedilatildeo pedagoacutegica faratildeo com
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
213
que o professor se empenhe enquanto ensina e simultaneamente cative a turma como um liacuteder
respeitado e respeitador18 o que se iraacute refletir na sua postura perante a turma
Comunicaccedilatildeo Natildeo Verbal
Na tabela 13 encontram-se as frequecircncias registadas nas observaccedilotildees por cada
observador no 1ordm momento (semana de 14 a 181209) nesta supercategoria
Tabela 13 Comunicaccedilatildeo natildeo-verbal segundo o observador no 1ordm momento de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de independecircncia
Postura Formandos Cooperantes Supervisor
Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Adoto uma postura descontraiacuteda 4 10 4 3 9 6 6 8 4 0823
Adoto uma postura de alerta mas confiante
4 10 4 5 12 1 7 10 1 0501
Voz Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Uso um tom e volume apropriado 3 9 6 2 9 7 5 12 1 0146
Pratico a projeccedilatildeo de voz 6 9 3 4 8 6 8 10 0 0098
Contacto Visual Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Procuro regularmente com o olhar toda a classe
0 8 10 1 6 11 2 10 6 0320
Estabeleccedilo contacto visual com toda a turma
0 14 4 1 6 11 1 12 5 0040
Controlo o contacto visual 5 10 3 3 11 4 3 14 1 0559
Expressatildeo Facial Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Utilizo uma expressatildeo de acordo com o contexto do discurso
2 10 6 2 10 6 4 12 2 0455
Gestos Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Uso gestos para dar ecircnfase ao discurso 3 9 6 3 9 6 4 13 1 0240
Coordeno os gestos com o discurso 4 10 4 3 3 12 5 12 1 0001
Vario e tento usar os gestos com uma frequecircncia apropriada
4 11 3 3 7 8 5 13 0 0022
18O estudo de Carvalho (2007) realizado com alunos de 5ordm 7ordm e 9ordmanos de escolaridade eacute elucidativo desse sentir dos alunos no decorrer do processo ensino-aprendizagem A autora refere-se aos estados emocionais dos alunos classificando-os em duas categorias ldquoNa situaccedilatildeo de bom ensino mostram Felicidade Satisfaccedilatildeo Orgulho Confianccedila Auto-estima e Motivaccedilatildeo Na situaccedilatildeo de mau ensino mostram Infelicidade Insatisfaccedilatildeo Tristeza Culpa Desacircnimo Revolta Impaciecircncia Medo Aborrecimento e Desmotivaccedilatildeordquo (Carvalho 2007 p163) pelo que os meacutetodos o estilo de comunicaccedilatildeo a postura do professor que envolve um conjunto de caracteriacutesticas relacionais seratildeo as bases responsaacuteveis pelo desenvolvimento de sentimentos negativos ou positivos nos alunos indexado ao ldquoa) estilo de relaccedilatildeo sustentado pelo professor b) agraves carateriacutesticas pessoais do professor e suas atitudes e valores e ao c) modo como controla e regula o comportamento discente (Amado Freire Carvalho amp Andreacute 2009 p 81)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
214
Posiccedilatildeo e Movimento Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Vp
Seleciono uma posiccedilatildeo apropriada quando me dirijo agrave turma coletivamente
1 13 4 1 4 13 3 10 5 0009
Controlo o uso que os alunos fazem do seu proacuteprio territoacuterio e as suas deslocaccedilotildees
2 13 3 1 16 1 4 13 1 0485
Uso o espaccediloterritoacuterio do aluno para apoiar recompensar ou controlar o seu comportamento
0 13 5 1 16 1 3 14 1 0109
Movimento-me com frequecircncia por toda a sala
2 7 9 3 12 3 3 13 2 0104
Vp ndash valor de prova do teste exato de Fisher - Significacircncia a 5 - Significacircncia a 1
Pela anaacutelise da tabela 13 verifica-se que relativamente agrave Postura e Voz nas accedilotildees
consideradas os resultados obtidos satildeo idecircnticos entre os observadores embora na accedilatildeo
Pratico a projeccedilatildeo de voz o cooperante manifeste opiniatildeo mais favoraacutevel Registe-se o elevado
nuacutemero de formandos (N=6) que auto-observam dificuldades a este niacutevel sendo que apenas
trecircs se sentem confortaacuteveis
Este tem sido um item muito discutido nas nossas reflexotildees porque natildeo adequamos o
tom de voz aos diferentes momentos do discurso Jaacute melhoramos A nossa professora
cooperante na nossa opiniatildeo faacute-lo muito bem pois quando quer evidenciar informaccedilatildeo
muda o tom de voz e toda a turma fica atenta O meu colega tambeacutem eu e a minha
colega temos evoluiacutedo bastante mas ainda temos que melhorar muito mas a nossa
professora cooperante estaacute sempre a incentivar-nos (E5)
Noacutes no grupo sentimos o mesmo Estamos muito empenhados nessa evoluccedilatildeo porque
percebemos que essa teacutecnica resulta muito bem na nossa turma O professor natildeo pode
gritar porque se o fizer a confusatildeo instala-se mas tambeacutem natildeo pode falar baixinho
porque os alunos comeccedilam todos a falar uns com os outros E tambeacutem natildeo pode ser
sempre o mesmo tom Temos que ir adequando a nossa turma eacute especial em
comportamento (E13)
Nota de campo de 11 de janeiro de 2010
O mesmo acontece com a accedilatildeo Estabeleccedilo contacto visual com toda a turma em que
observaccedilotildees registadas estatildeo estatisticamente associadas ao observador Eacute visiacutevel que o
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
215
cooperante se distingue dos restantes observadores Saliente-se que as formadoras reconhecem
dificuldades sistemaacuteticas a este niacutevel num dos formandos
Em relaccedilatildeo agrave Expressatildeo Facial verifica-se que relativamente agrave accedilatildeo Utilizo uma
expressatildeo de acordo com o contexto do discurso a observaccedilatildeo realizada pelo formando eacute igual
agrave observaccedilatildeo realizada pelo cooperante No entanto embora o registo da supervisora seja
diferente este eacute relativamente proacuteximo (agraves vezes) sendo respetivamente para formando e
professoras cooperantes (N=10) e supervisora (N=12)
Em relaccedilatildeo aos Gestos verifica-se que relativamente agraves accedilotildees Coordeno os gestos com
o discurso e Vario e tento usar os gestos com uma frequecircncia apropriada as observaccedilotildees
realizadas estatildeo estatisticamente associadas ao observador Registe-se que eacute o cooperante que
apresenta observaccedilotildees distintas dos restantes observadores Nesta dimensatildeo da comunicaccedilatildeo
(os gestos) verifica-se uma forte dissintonia entre formadoras (professoras cooperantes e
supervisora) particularmente nestes dois itens de observaccedilatildeo (o que queremos observar) Trata-
se de uma dimensatildeo muito relevante da comunicaccedilatildeo pedagoacutegica que importa ser objeto de
reflexatildeo que proporciona uma efetiva competecircncia desde o iniacutecio da formaccedilatildeo do futuro
professor como refere esta formanda
Noacutes pensamos sempre que eacute um dos aspetos que temos que melhorar a nossa
supervisora tambeacutem e a nossa cooperante embora tambeacutem pense como noacutes como jaacute
conversamos qualquer evoluccedilatildeo positiva dita-a como bem cotada porque noacutes somos
estagiaacuterios e inexperientes (E9)
Nota de campo de 11 de janeiro de 2010
Tudo isto eacute reforccedilado pelas observaccedilotildees de todos que revelam uma necessidade de
grande investimento nesta dimensatildeo comunicaccedilatildeo e de valor idecircntico em relaccedilatildeo agrave postura
Em relaccedilatildeo agrave categoria Posiccedilatildeo e Movimento verifica-se que relativamente agrave accedilatildeo
Seleciono uma posiccedilatildeo apropriada quando me dirijo agrave turma coletivamente as observaccedilotildees
realizadas estatildeo estatisticamente associadas ao observador Continua a ser o cooperante que se
distingue dos restantes intervenientes
O estilo de comunicaccedilatildeo do professor eacute uma chave fundamental para o sucesso de
gestatildeo de sala de aula eficaz fundamentando-se em relaccedilotildees positivas e reforccediladas por um
estilo de comunicaccedilatildeo assertivo e bidirecional As crianccedilas trabalham mais e melhor quando
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
216
gostam dos adultos com quem se relacionam quer estabeleccedilam relaccedilotildees de respeito muacutetuo e
de confianccedila quer gerem automotivaccedilatildeo num maior envolvimento nas tarefas por isso
previnem comportamentos disruptivos
Assim sendo eacute importante que o professor procure conhecer a individualidade de cada
crianccedila demostrando que se preocupa com ela com o seu futuro e com o seu sucesso pondo
em praacutetica estrateacutegias comunicacionais consideradas importantes para alcanccedilar estes objetivos
de entre as quais se destacam i) comunicar com entusiasmo e motivaccedilatildeo ii) evitar o uso de
linguagem abstrata (mensagens com duplo sentido metaacuteforas ou trocadilhos) iii) mostrar
empatia em relaccedilatildeo aos alunos com mais dificuldade iv) expressar-se com frases curtas e
objetivas v) chamar agrave atenccedilatildeo dos alunos antes de ensinar conteuacutedos-chave movimentando-
se pela turma para que os alunos percebam que o professor estaacute atento a todos os pormenores
vi) manter o sentido de humor e mudar o tom de voz consoante a mensagem a transmitir vii)
permitir momentos de aproximaccedilatildeo e de contacto visual com os alunos e viii) privilegiar
diaacutelogos ricos e assertivos que permitam ao aluno aumentar o seu vocabulaacuterio explicando-lhes
o significado das novas expressotildees e contextualizando-as em ambientes familiares para os
alunos (Oliveira 2007) Em suma estrateacutegias que valorizem a relaccedilatildeo que se estabelece com
os alunos que promovam a auto-regulaccedilatildeo das aprendizagens o sucesso acadeacutemico dos alunos
sugerindo a importacircncia do seu manuseio autoacutenomo e competente aos formandos que estatildeo a
iniciar a sua Praacutetica Pedagoacutegica Fez-se uma anaacutelise das necessidades dos formandos nas aacutereas
que integram o estudo e iniciou-se um novo ciclo de supervisatildeo reflexiva Seguiu-se mais um
ciclo de seminaacuterios onde se abordaram as temaacuteticas que daqui emergiram bem como outras
que decorreram do processo reflexivo
De entre as evidecircncias estatiacutesticas apresentadas anteriormente destacamos a
proximidade de pensamento entre o formando e a supervisora apresentando-se os dados
referentes agraves professoras cooperantes em geral mais ldquootimistasrdquo A inferecircncia que adveacutem desta
leitura eacute reconhecida pelos formandos
Eacute perfeitamente normal pois noacutes estamos em formaccedilatildeo temos o nosso pensamento
mais proacuteximo dos professores da ESEB e tambeacutem porque jaacute tivemos vaacuterios
seminaacuteriosreflexotildees onde fomos alertados para os procedimentos a adoptar na sala
de aula referentes agrave conduccedilatildeo de alunos postura em sala e aula e
preparaccedilatildeoplanificaccedilatildeo Sabemos que temos ainda um longo caminho a percorrer dai
parecer na anaacutelise que estamos pessimistas (E1)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
217
No entanto tambeacutem achamos que existe uma grande diferenccedila entre o observar com
eacute o caso da professora e da professora cooperante e o agir o nosso agir como
professores estagiaacuterios Acresce a tudo isso eu saber que estou a ser observada para
ser avaliada Tenho que ter um sentido criacutetico apurado e querer melhorar sempre mais
seguindo as orientaccedilotildees da professora supervisora e da professora cooperante porque
satildeo professores muito experientes e que me ajudaratildeo a progredir (E5)
Nota de campo de 11 de janeiro de 2010
De referir que na reflexatildeo de 12 de janeiro realizada na EB1 estes dados foram
partilhados com as professoras cooperantes Os professores-estagiaacuterios tambeacutem estiveram
presentes e sempre que o grupo de professoras cooperantes professores-estagiaacuterios ou
supervisorainvestigadora achavam oportuno interagiacuteamos colocavam-se questotildees e emitiam-
se opiniotildees De entre os dados apresentados as professoras cooperantes evidenciaram o seu
lado mais ldquootimistardquo no processo formativo referindo que o professor-estagiaacuterio estava no
iniacutecio do ano letivo e teria que desenvolver competecircncias no decorrer do processo formativo
Referiram ainda que o 2ordm semestre (que decorreu de fevereiro a maio) era decisivo para a sua
formaccedilatildeo porque nesse espaccedilo temporal jaacute conheciam bem as turmas os contextos e como tal
reuniam todas as condiccedilotildees para desenvolver competecircncias pessoais sociais e profissionais
que lhes permitissem terminar o ano letivo e a sua formaccedilatildeo com sucesso
55 Siacutentese
Ao pensarmos fazer uma siacutentese sobre os dados analisados neste primeiro ciclo de
investigaccedilatildeo accedilatildeo natildeo poderemos ter a ambiccedilatildeo de conseguir escrever no nosso texto todos os
problemas ou necessidades de formaccedilatildeo que se evidenciam na praacutetica pedagoacutegica A
supervisatildeo tem um papel preponderante nesta fase em que os formandos vivenciam
ldquoexperiecircncias uacutenicas pois eacute nesta fase em que o contacto direto com as crianccedilas aumenta que
vivenciamos sensaccedilotildees irrepetiacuteveis medo inseguranccedila alegria excitaccedilatildeohellipenfim uma
amaacutelgama de sentimentos que nos fazem amadurecer enquanto futuras professoras (E17 in
portfoacutelio pag 25 - reflexatildeo de 7 de janeiro de 2010)
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
218
No entanto consideramos pertinente referenciar que os saberes em Ciecircncias de
Educaccedilatildeo natildeo se podem prescrever diretamente na accedilatildeo em situaccedilotildees de ensino em sala de
aula A sua complexidade obriga o professor a julgar e a tomar decisotildees em situaccedilotildees
singulares onde se exige a aplicaccedilatildeo de regras e outros procedimentos Exige tambeacutem
reflexatildeo na e sobre a accedilatildeo O professor constroacutei muito do seu saber em accedilatildeo o que significa
que para resolver muitos dos seus problemas da praacutetica recorra aos saberes empiacutericos sem
descurar os saberes teoacutericos completando-se No entanto de entre os dados analisados e de
acordo com o que reconhecemos importante para nos posicionarmos face agraves temaacuteticas
abordadas e agraves que consideramos determinantes na preparaccedilatildeo e desenvolvimentos do 2ordm Ciclo
de InvestigaccedilatildeoAccedilatildeo apresentamos as seguintes
Organizaccedilatildeo e gestatildeo de sala de aula pois a maioria dos itens ainda se centram na
coluna nominal (agraves vezes)
Continuar a orientar os formandos no sentido do diaacutelogo dirigido como
apresentaccedilatildeodebate sobre temas orientados para a comunicaccedilatildeo em sala de aula
Continuar a metodologia de trabalho de anaacutelise e interpretaccedilatildeo de textos com especial
incidecircncia no desenvolvimento da competecircncia relacional gestatildeo de sala de aula
Metodologias de ensino seraacute outro item a debater em seminaacuterio porque nas atividades
e conteuacutedos nos formandos e supervisora a tendecircncia eacute globalmente para a coluna central com
situaccedilotildees pontuais de aproximaccedilatildeo entre cooperante e supervisor Seraacute dedicada particular
atenccedilatildeo agrave relaccedilatildeo entre as atividades de aprendizagem e os interesses necessidades e ritmos
das crianccedilas
Na manutenccedilatildeo e ritmo da aula verifica-se uma visatildeo muito ldquootimistardquo do formando
que natildeo eacute confirmada nem pelo cooperante nem pela supervisora Eacute necessaacuterio refletir sobre
estes itens que nos parecem fundamentais para o sucesso educativo motivaccedilatildeo dos alunos e
prevenccedilatildeo da indisciplina O mesmo se passa com a organizaccedilatildeo do final da aula Em geral
existe uma tendecircncia para aproximaccedilatildeo do cooperante e supervisor e uma visatildeo ldquootimistardquo do
formando
No que diz respeito agrave conduccedilatildeo de alunos os formandos comeccedilam a revelar dados
evolutivos contidos em relaccedilatildeo ao diagnoacutestico ultrapassando alguns medos e anseios de
forma moderada Relativamente agraves regras e rotinas reforccedilo do comportamento adequado
puniccedilatildeo gestatildeo de conflitos relaccedilotildees pessoais verificamos que na globalidade os formandos
mostram preocupaccedilatildeo com a sua accedilatildeo embora ainda muito inseguros porque pela anaacutelise que
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
219
fazemos das accedilotildees a maioria das opiniotildees dos formandos centra-se na coluna do meio ldquoagraves
vezesrdquo Assim sendo nos seminaacuterios seguintes uma das estrateacutegias a seguir eacute centralizarmo-
nos nessas accedilotildees para que o professor-estagiaacuterio promova o seu autoconhecimento e a tomada
de consciecircncia da sua accedilatildeo como contributo para o seu desenvolvimento profissional
Finalmente e no que diz respeito agrave Comunicaccedilatildeo natildeo verbal igualmente relevante para
o desenvolvimento da competecircncia relacional denota-se pelos dados analisados a
centralidade ou seja com os registos centrados no nuacutecleo (agraves vezes) pelo que seraacute um tema a
dar continuidade nos seminaacuterios seguintes
Pelo exposto e aplicando a estrateacutegia utilizada apoacutes a fase de diagnoacutestico em
colaboraccedilatildeo com os professores estagiaacuterios delineaacutemos as temaacuteticas que iriamos abordar no
ciclo seguinte 2ordm Ciclo de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo
6 2ordm CICLO DE INVESTIGACcedilAtildeO-ACcedilAtildeO
No 2ordm ciclo de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo os procedimentos metodoloacutegicos da
supervisorainvestigadora seguiram um processo de continuidade do ciclo anterior
Continuamos com a interaccedilatildeo reflexiva triaacutedica (investigadora formandos cooperantes) num
momento em que os formandos jaacute tinham adquirido maior estabilidade maior domiacutenio da accedilatildeo
alicerccedilando os conteuacutedos especiacuteficos da sua aacuterea de conhecimento para que seja compreensiacutevel
pelos seus alunos em termos de linguagem e sistematizaccedilatildeo de acordo com o seu niacutevel de
maturidade e escolaridade A organizaccedilatildeo pedagoacutegica e a relaccedilatildeo interpessoal que lhe estaacute
subjacente estabelecem em termos de aprendizagem bases soacutelidas consolidadas Estas
permitem ao professor uma formaccedilatildeo pedagoacutegica e epistemoloacutegica importante alicerccedilada na
construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico acadeacutemico e do conteuacutedo escolar que se reflete na
seguranccedila que se transmite aos seus alunos e na proacutepria relaccedilatildeo pedagoacutegica que se estaacute
estabelece na criaccedilatildeo de viacutenculos seguranccedila e consistecircncia na e para a accedilatildeo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
220
61 Objetivos
No que se refere aos objetivos traccedilados para este 2ordm ciclo de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo eacute
oportuno afirmar que os objetivos traccedilados para o 1ordm Ciclo de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo continuam a
fazer sentido No entanto julgamos oportuno inserir dois objetivos mais especiacuteficos baseados
na siacutentese que apresentamos para os dados referentes ao 1ordm Ciclo de IA
Assim sendo para o 2ordm Ciclo de IA delineamos os seguintes objetivos
- Desenvolver processos de interaccedilatildeo de colaboraccedilatildeo e de formaccedilatildeo neste ciclo de
InvestigaccedilatildeoAccedilatildeo
- Promover uma organizaccedilatildeo e gestatildeo de sala de aula eficaz
- Promover o autoconhecimento orientado para o desenvolvimento profissional pela
procura de estrateacutegias de resoluccedilatildeo de problemas
- Orientar os formandos no sentido do diaacutelogo dirigido e da comunicaccedilatildeo eficaz em
espaccedilo sala de aula
- Promover praacuteticas eficazes onde se evidenciem o desenvolvimento da competecircncia
relacional e de gestatildeo de sala de aula e a sua relaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo da indisciplina
Para dar resposta a estes objectivos organizamos o nosso plano de accedilatildeo quer em
contexto de seminaacuterio quer no 1ordm CEB As temaacuteticas aqui apresentadas decorrem das
necessidades identificadas no 1ordm ciclo de IA pelos colaboradores (formandos cooperantes e
supervisorainvestigadora)
62 Accedilatildeo Pedagoacutegica em Seminaacuterio
Privilegiando o papel da supervisatildeo como accedilatildeo facilitadora e mobilizadora do papel de
cada um dos colaboradores as temaacuteticas identificadas foram as seguintes O papel da
supervisatildeo na promoccedilatildeo do autoconhecimento e na tomada de consciecircncia em accedilatildeo A relaccedilatildeo
pedagoacutegica regras e rotinas reforccedilo do comportamento adequado puniccedilatildeo gestatildeo de
conflitos relaccedilotildees pessoais O modelo comunicacional ecleacutetico baseado em diferentes
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
221
competecircncias comunicacionais sua relaccedilatildeo com a competecircncia relacional e prevenccedilatildeo de
indisciplina
No decurso dos seminaacuterios refletimos conjuntamente sobre estas temaacuteticas
estabelecendo diaacutelogos sobre os desafios os constrangimentos as inseguranccedilas os receios e
ateacute as particularidades vivenciadas em momentos especiacuteficos Esta partilha realizou-se em
grande grupo ateacute porque a supervisorainvestigadora logo no iniacutecio sensibilizou para as
vantagens da partilha de ideias em grande grupo e natildeo pareceram existir inibiccedilotildees No entanto
pontualmente surgiram situaccedilotildees de partilha mais individualizada com a
supervisorainvestigadora Essa situaccedilatildeo acontecia quando trabalhavam em grupo e a
supervisora circulava pelos grupos ao longo da sessatildeo ou no final do seminaacuterio
Nesta fase (janeiro2010) os receios e constrangimentos iam-se diluindo dando lugar
a uma confianccedila ainda que contida na capacidade de cada um tornar a sua accedilatildeo eficaz com as
crianccedilas em sala de aula como se pode ver pelo excerto da reflexatildeo inserida no portfoacutelio de
E1
Estando eu agora numa fase mais avanccedilada a da intervenccedilatildeo [plena] tenho que dar
o meu melhor Tenho que planificar as aulas utilizando estrateacutegias com as quais me
identifico e mais importante que isso se adequacutee agrave turma onde estou a estagiar (hellip)
sempre me preocupei com estrateacutegias de motivaccedilatildeo e muitas vezes peccedilo sugestotildees agrave
professora cooperante e agrave supervisora (E1) (Portfoacutelio Reflexivo p 59-60)
E continua
Em relaccedilatildeo agrave minha postura nas intervenccedilotildees educativas comparativamente com as
aulas iniciais mudei bastante sinto-me mais segura confiante e calma No iniacutecio
estava bastante nervosa pois era um contexto novo e natildeo sabia como lidar com a
turma (E1) (Portfoacutelio Reflexivo p 63)
Ao longo deste seminaacuterio foram trabalhadas questotildees como a importacircncia da
articulaccedilatildeo entre os diferentes conteuacutedos e sua relaccedilatildeo com a motivaccedilatildeo e o envolvimento dos
alunos Os dados de observaccedilatildeo do ciclo anterior levaram tambeacutem a uma atenccedilatildeo particular
sobre a comunicaccedilatildeo e as relaccedilotildees pessoais no sentido da criaccedilatildeo de um clima de sala de aula
empaacutetico e securizante
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
222
A propoacutesito interpela (E3)
A ansiedade e os nervos apoderam-se de mim pois eu penso para mim Seraacute que vou
conseguir lecionar os conteuacutedos Seraacute que vou motivar os alunos Seraacute que vou
conseguir alcanccedilar os objetivos propostos
Nota de campo de 22 de fevereiro de 2010
E continua (E7)
Eu tambeacutem me sentia tal como a colega no entanto em relaccedilatildeo agrave minha postura nas
intervenccedilotildees educativas comparativamente com as aulas iniciais mudei bastante
sinto-me mais segura confiante e calma No iniacutecio estava bastante nervosa pois era
um contexto novo e natildeo sabia como lidar com a turma
Nota de campo de 22 de fevereiro de 2010
Pelas observaccedilotildees que faziacuteamos semanalmente nas EB1 e pelas abordagens que os
formandos faziam em seminaacuterio de reflexatildeo consideramos pertinente abordar alguns aspetos
da relaccedilatildeo pedagoacutegica regras e rotinas reforccedilo do comportamento adequado puniccedilatildeo gestatildeo
de conflitos e relaccedilotildees pessoais Os temas abordados foram como dissemos uma resposta agraves
necessidades identificadas nas fases anteriores e recursivamente de forma articulada com as
vivecircncias na praacutetica pedagoacutegica Salientamos ainda que nas reflexotildees semanais onde
estivemos presentes e na reflexatildeo bimestral do mecircs de fevereiro com as professoras cooperantes
estabeleceu-se um diaacutelogo sobre os temas a abordar em seminaacuterio
De realccedilar a melhoria significativa em termos de integraccedilatildeo envolvimento e motivaccedilatildeo
do formando E15 que no 1ordm trimestre e nas primeiras reflexotildees se mostrou desinteressado e
desmotivado pelas razotildees apontadas anteriormente Ao seu ritmo foi-se integrando e quer a
supervisora quer a cooperante quer os colegas fizeram questatildeo de evidenciar essas melhorias
quer nas reflexotildees de pequeno grupo quer na reflexatildeo bimensal de grande grupo Estas
referecircncias em grande grupo foram na nossa opiniatildeo muito importantes para que o grupo
percebesse a diferenccedila e E15 se motivasse ainda mais para que o seu estaacutegio natildeo soacute natildeo
prejudicasse o grupo de alunos agrave sua responsabilidade mas tambeacutem fosse considerado um
momento de aprendizagem marcante para o seu futuro
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
223
Agora sim percebemos o quanto eacute importante a negociaccedilatildeo das regras mas mais
importante eacute fazecirc-las cumprir numa relaccedilatildeo aberta confiaacutevel e responsaacutevel Eu
responsabilizo os meus alunos pelos atos menos bons mas evidencio muito mais o
reforccedilo do comportamento adequado Tem um impacto completamente diferente Outra
particularidade que destaco na minha praacutetica eacute negociaccedilatildeo da regra pela positiva
Falamos disso haacute alguns seminaacuterios atraacutes implementaacutemos eu e as minhas colegas e
estamos a ter resultados fantaacutesticos No iniacutecio tivemos alguma dificuldade no controlo
da turma pois para trabalharmos bem tinha que ser na presenccedila da professora
cooperante logo que saiacutea por qualquer motivo instalava-se logo a conversa agora
natildeo sentimos que resultou mesmo e natildeo tivemos que nos impor pelo castigo Pensamos
que o diaacutelogo e a nossa postura foram decisivos (E8) (In Portfoacutelio reflexatildeo mensal de
fevereiro de 2010)
Outro tema abordado foi a comunicaccedilatildeo em sala de aula a sua relaccedilatildeo com a
competecircncia relacional e a prevenccedilatildeo de indisciplina Aqui destacamos o papel da
comunicaccedilatildeo na sala de aula onde evidenciamos o modelo comunicacional ecleacutetico
apresentado por Veiga (2007) e respetivas categorias avaliativa de orientaccedilatildeo interpretativa
tranquilizadora exploratoacuteria e empaacutetica Sugeriu-se aos seis grupos que elegessem uma
categoria e tendo por base um documento em PowerPoint onde apresentaacutevamos a siacutentese de
cada uma organizou-se uma mesa redonda na qual cada grupo ldquodefendeurdquo os proacutes e os contras
de cada categoria na sua oacutetica Apoacutes este debate ainda se abordou o modelo humanista de
Gordon (1989) onde referenciamos os i) obstaacuteculos aos comportamentos adequados ii)
intervenccedilatildeo nos comportamentos inadequados e iii) uma breve abordagem ao modelo
transacional (Brunet 1995) Tencionaacutevamos voltar a estes temas pois o interesse e motivaccedilatildeo
dos formandos assim o justificavam Neste momento como jaacute tinha decorrido a recolha de
dados correspondentes ao 2ordm ciclo e tendo sido jaacute realizada a sua anaacutelise reunimos condiccedilotildees
para a apresentar
Neste segundo momento grande parte da atividade em seminaacuterio e em reflexatildeo e em
situaccedilatildeo de reflexatildeo nas escolas do 1ordm CEB direcionam-se para a anaacutelise de situaccedilotildees de praacutetica
supervisiva Esta atividade reflexiva integrou temaacuteticas especiacuteficas direcionadas para o nosso
estudo tais como planificaccedilatildeo comunicaccedilatildeo em sala de aula organizaccedilatildeo e gestatildeo de sala de
aula questotildees eacuteticas relacionais e afetivas e sua relaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo da indisciplina
A perspetiva de supervisatildeo em que nos apoiamos baseou-se na consistecircncia dos
conhecimentos cientiacuteficos a transmitir na sequecircncia dos conteuacutedos na organizaccedilatildeo e gestatildeo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
224
de sala de aula no envolvimento dos alunos na tarefa e nas questotildees relacionais Por
conseguinte esteve presente em todos os seminaacuterios e nas reflexotildees nos locais de estaacutegio A
questatildeo da socializaccedilatildeo e a forma como o formando se relaciona com a comunidade educativa
e em especial com os seus alunos foram tambeacutem aspetos fulcrais Tomamos como influecircncia
os estudos de Marcelo (1988) que identificou os problemas com os quais o professor neoacutefito
se defronta numa perspetiva de socializaccedilatildeo ecoloacutegica e que nos permite perceber e analisar a
evoluccedilatildeo do desenvolvimento profissional dos professores centrados nos seus
comportamentos e na especificidade dos problemas dos professores principiantes
Para uma melhor compreensatildeo dessa evoluccedilatildeo apresentamos e analisamos os dados
recolhidos na semana de 22 a 24 de fevereiro de 2010 atraveacutes do Instrumento de Reflexatildeo e
Observaccedilatildeo da Praacutetica (IROP) cujos registos agrave semelhanccedila do 1ordm ciclo de IA foram realizados
pelos formandos cooperantes e supervisora
Tal como no primeiro ciclo esta anaacutelise foi apresentada e dialogada em seminaacuterio com
os professores estagiaacuterios e na reflexatildeo semanal na EB1 com a presenccedila de todos os
colaboradores no estudo
63 Reflexatildeo na Accedilatildeo e Sobre a Accedilatildeo
Organizaccedilatildeo e Gestatildeo da Aula
Preparaccedilatildeo e Planificaccedilatildeo
Na tabela 14 encontram-se as frequecircncias registadas nas observaccedilotildees realizadas por
cada observador nos 1ordm e 2ordm momento para a categoria Preparaccedilatildeo e Planificaccedilatildeo assim como
os resultados do teste de Fisher mas apenas para o 2ordm momento No entanto e sempre que os
dados evidenciem relevacircncias comparativas faremos essa leitura Pelas caracteriacutesticas do nosso
estudo InvestigaccedilatildeoAccedilatildeo e tendo em conta a utilizaccedilatildeo do mesmo instrumento de recolha de
dados nos trecircs ciclos optamos por esta apresentaccedilatildeo porque permitiraacute perceber a evoluccedilatildeo ou
natildeo nos diferentes itens
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
225
Tabela 14 Preparaccedilatildeo e Planificaccedilatildeo segundo o observador nos 1ordm e 2ordm momentos de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de independecircncia
Preparaccedilatildeo e Planificaccedilatildeo Momento
Formando Cooperante Supervisor Vp Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim
Programo atividades variadas que exijam capacidades e constituam um desafio
1ordm M 1 8 9 3 3 12 4 5 9 --
2ordm M 0 9 9 1 2 15 1 3 14 0044
Sou capaz de antecipar dificuldades potenciais e reagir apropriadamente
1ordm M 1 17 0 3 15 0 5 13 0 --
2ordm M 1 16 1 3 12 3 3 15 0 0341
Presto atenccedilatildeo agraves expetativas dos alunos
1ordm M 0 13 5 3 2 13 4 9 5 -- 2ordm M 0 5 13 1 3 14 1 4 13 0943
Seleciono atividades em harmonia com os objetivos que se propotildeem atingir
1ordm M 0 7 11 3 0 15 3 5 10 --
2ordm M 0 8 10 1 2 15 2 1 15 0021
Organizo a sala de aula de maneira a criar uma atmosfera propiciatoacuteria a um bom clima de sala de aula
1ordm M 0 11 7 3 3 12 4 7 7 --
2ordm M 0 11 7 0 6 12 1 7 10 0244
Verifico se os materiais e aparelhos estatildeo prontos a serem usados e em boas condiccedilotildees
1ordm M 2 5 11 3 12 3 5 13 0 --
2ordm M 0 5 13 0 10 8 3 13 2 0001
Marco trabalhos de casa com regularidade
1ordm M 12 5 1 9 9 0 10 8 0 -- 2ordm M 10 6 2 6 6 6 8 6 4 0588
Vp ndash valor de prova do teste exato de Fisher - Significacircncia a 5 - Significacircncia a 1
Na anaacutelise da tabela 14 verifica-se que relativamente agraves accedilotildees Programo atividades
variadas que exijam capacidades e constituam um desafio Seleciono atividades em harmonia
com os objetivos que se propotildeem atingir e Verifico se os materiais e aparelhos estatildeo prontos
a serem usados e em boas condiccedilotildees os registos observacionais estatildeo estatisticamente
associados ao observador Para todas as accedilotildees eacute possiacutevel verificar que o registo dos formandos
se distancia do das formadoras Estas trecircs accedilotildees dos professores estagiaacuterios tambeacutem apresentam
significativas diferenccedilas nas observaccedilotildees feitas pelos formandos e formadoras parecendo que
os formandos continuam a revelar uma visatildeo autocritica do seu desempenho a este niacutevel
particularmente quando comparamos as suas observaccedilotildees com as dos professores cooperantes
No item Presto atenccedilatildeo agraves expetativas dos alunos regista-se uma evidente melhoria nos
registos dos formandos relativamente ao 1ordm Ciclo de Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo de certo modo
secundada pelos registos da supervisora Estes temas tecircm sido objeto de reflexatildeo em seminaacuterio
e valorizado pelos formandos
Acho fundamental comeccedilar por refletir sobre a tarefa de planificar uma aula uma vez
que esse eacute o ponto inicial e fundamental para colocar em praacutetica uma aula (hellip) a tarefa
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
226
de planificar uma aula passa por inuacutemeras fases sendo tambeacutem inuacutemeros os aspectos
a ter em conta aquando da sua realizaccedilatildeo No entanto considero que nem sempre eacute
faacutecil coordenar todos esses aspectos como diferenccedilas a niacutevel intelectual entre os
alunos diferenccedilas comportamentais gestatildeo de tempo das actividades etc (E17 in
portfoacutelio reflexivo p 11)
Planificar eacute uma competecircncia especiacutefica fundamental dos professores que permite
configurar atraveacutes de um documento escrito mas natildeo acabado organizar um conjunto
de ideias e conhecimentos atividades nas quais nos baseamos para estruturar o
processo de ensinoaprendizagem (E3 in portfoacutelio reflexivo p 27)
Iniacutecio de Aula
Na tabela 15 encontram-se as frequecircncias registadas nas observaccedilotildees realizadas por
cada observador no 1ordm e 2ordm momento para a categoria Iniacutecio de Aula
Tabela 15 Iniacutecio de Aula segundo o observador nos 1ordm e 2ordm momentos de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de independecircncia
Iniacutecio da Aula Momento Formando Cooperante Supervisor
Vp Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim
Chego pontualmente agrave aula
1ordm M 0 0 18 3 0 15 1 2 15 -- 2ordm M 0 0 18 0 0 18 1 1 15 0099
Faccedilo com que os alunos cheguem pontualmente agraves aulas
1ordm M 3 9 6 3 0 15 3 2 13 --
2ordm M 3 10 5 3 0 15 3 0 15 0000
Supervisiono a entrada dos alunos na aula
1ordm M 1 12 5 3 8 7 3 10 5 --
2ordm M 0 11 7 1 2 15 1 3 14 0005
Sempre que marco trabalho de casa asseguro de que os alunos o fizeram e esclareccedilo duacutevidas
1ordm M 9 6 2 9 6 3 9 6 3 --
2ordm M 6 4 7 8 1 9 8 2 8 0696
Iniacutecio a aula de maneira interessante e motivadora
1ordm M 0 9 9 3 9 6 3 7 8 -- 2ordm M 0 4 14 2 3 13 2 4 12 0718
Vp ndash valor de prova do teste exato de Fisher - Significacircncia a 5 - Significacircncia a 1
De acordo com a anaacutelise da tabela 15 verifica-se que relativamente agraves accedilotildees Faccedilo com
que os alunos cheguem pontualmente agraves aulas e Supervisiono a entrada dos alunos na aula
as observaccedilotildees registadas estatildeo significativamente associadas ao observador De referir que
em ambas as accedilotildees o cooperante e o supervisor expressam registos de accedilatildeo muito proacuteximos e
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
227
mais favoraacuteveis sendo o formando que mais se distancia da opiniatildeo dos restantes observadores
Nota-se contudo uma melhoria reconhecida por todos na pontualidade dos formandos e na
supervisatildeo da entrada dos alunos na aula Tambeacutem parece bastante evidente a melhoria no
cuidado com a motivaccedilatildeo no iniacutecio da aula Aliaacutes para todas as accedilotildees eacute evidente a evoluccedilatildeo
positiva do 1ordm para o 2ordm momento de registo
A nossa aposta numa epistemologia da praacutetica apoiada numa visatildeo da escola como
comunidade reflexiva e aprendente capaz de criar para todos os que nela trabalham alunos
professores e formadores condiccedilotildees de desenvolvimento e de aprendizagem que favoreccedilam a
interiorizaccedilatildeo de regras facilitadoras da socializaccedilatildeo
Este momento de iniacutecio da aula deve basear-se em estrateacutegias organizacionais eficazes
e intenccedilotildees deliberadas que envolvam a responsabilizaccedilatildeo do aluno que os levem a perceber a
organizaccedilatildeo desse espaccedilo em que por norma colabora quando estimulado e motivado para
tal A praacutetica pedagoacutegica eacute sobretudo uma arte que exige talento e criatividade implica
conhecimento cientiacutefico teacutecnicas metodologias processos competecircncias constantemente a
ser analisados e integrados nas reflexotildees com o objetivo de aliar estas componentes
pedagoacutegicas agrave relaccedilatildeo singular que se estabelece no desenvolvimento de uma aula
Desenvolvimento da Aula - Perguntas e Explicaccedilotildees
Na tabela 16 encontram-se as frequecircncias registadas das observaccedilotildees realizadas por
cada observador nos 1ordm e 2ordm momentos para a categoria Desenvolvimento da Aula - Perguntas
e Explicaccedilotildees assim como os resultados do teste de Fisher apenas para o 2ordm momento
Tabela16 Desenvolvimento da Aula-Perguntas e Explicaccedilotildees segundo o observador nos 1ordm e 2ordm momentos de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de independecircncia
Perguntas e Explicaccedilotildees Momento Formando Cooperante Supervisor
Vp Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim
Evito uma linguagem demasiado difiacutecil e ambiacutegua
1ordm M 2 5 11 3 6 9 4 10 4 --
2ordm M 0 8 10 2 6 10 1 10 7 0460
Quando dou explicaccedilotildees para o coletivo faccedilo perguntas breves para verificar o niacutevel de receccedilatildeo dos alunos
1ordm M 0 10 8 3 8 7 6 11 1 --
2ordm M 0 6 12 1 2 15 1 8 9 0115
Faccedilo ligaccedilatildeo entre a nova informaccedilatildeo e a informaccedilatildeo jaacute adquirida pelos alunos
1ordm M 2 10 6 3 9 6 6 9 3 --
2ordm M 2 10 6 1 9 8 2 12 4 0725
1ordm M 0 11 7 3 8 7 4 13 1 --
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
228
Faccedilo perguntas breves para manter os alunos focados no conteuacutedo da aula
2ordm M 0 7 11 1 7 10 2 11 5 0196
Vp ndash valor de prova do teste exato de Fisher - Significacircncia a 5 - Significacircncia a 1
Pela anaacutelise da tabela 16 constata-se que neste segundo momento de observaccedilatildeo os
registos satildeo estatisticamente idecircnticos entre os observadores verificando-se assim uma maior
consonacircncia entre os observadores do que no 1ordm momento Os dois formandos que
reconheciam dificuldades constantes no uso da linguagem acessiacutevel agraves crianccedilas jaacute natildeo o
consideram ou seja a maior parte dos formandos (1018) dizem usar sempre linguagem
acessiacutevel Contudo as formadoras natildeo tecircm a mesma visatildeo pois continuam a registar que dois
formandos (no caso das professoras cooperantes) e um formando (para a supervisora) natildeo
detecircm essa capacidade
Quanto agrave ligaccedilatildeo necessaacuteria entre informaccedilatildeo nova e conhecimentos jaacute adquiridos pelos
alunos natildeo se nota qualquer mudanccedila nos registos de auto-observaccedilatildeo dos formandos embora
os formadores tenham registado melhorias Conclui-se que de modo geral houve evoluccedilatildeo
positiva do desempenho dos professores estagiaacuterios do primeiro para o segundo momento para
todos os intervenientes
Esta evoluccedilatildeo parece ser o reflexo dos temas abordados em seminaacuterio com uma forte
componente reflexiva e que nos permite olhar para o conceito de accedilatildeo pedagoacutegica como
intervenccedilatildeo que concomitantemente se direciona para o desenvolvimento pessoal e social e
para o caraacuteter funcional processual e relacional da mesma O diaacutelogo com os formandos
evidenciou envolvimento e motivaccedilatildeo percebendo o quatildeo eacute importante esta interaccedilatildeo teoria-
praacutetica com recurso agrave reflexatildeo preacute inter e poacutes accedilatildeo
Estas especificidades desenvolvidas em contexto de praacutetica pedagoacutegica permitem
identificar accedilotildees de natureza processual interpessoal e interativa de matriz relacional Estas
apelam a conhecimentos preacutevios do tipo declarativo e proposicional fundamentam as opccedilotildees
estrateacutegicas de natureza didaacutetica (na relaccedilatildeo professor-aluno) de natureza avaliativa (na
relaccedilatildeo apropriativa do aluno face ao conhecimento) e de natureza supervisiva (na regulaccedilatildeo
da construccedilatildeo partilhada dos saberes profissionais de professores) mais experientes
Nesta accedilatildeo Quando dou explicaccedilotildees para o coletivo faccedilo perguntas breves para
verificar o niacutevel de receccedilatildeo dos alunos o espaccedilo pedagoacutegico partilhado deve ser valorizado
como dimensatildeo de interaccedilatildeo prolongada promovendo a motivaccedilatildeo Eacute importante que o grupo
de formandos reconheccedila o interesse formativo o modo de aprendizagem centrado na resoluccedilatildeo
O Desenvolvimento da Competecircncia Relacional e de Gestatildeo de Sala de Aula em Contextos de Supervisatildeo
229
de problemas emergentes da praacutetica na autonomia decidindo em cada momento o que fazer
E ainda que seja capaz de direcionar a sua accedilatildeo para compreender melhor a praacutetica e agir em
conformidade Isto porque a aprendizagem acontece quando um ser eacute modificado pela accedilatildeo de
aprender algo ou seja na ldquoacccedilatildeo de aprender alguma coisa constroacutei-se um filme no ceacuterebro o
sentido da existecircncia de um proprietaacuterio e espectador para esse filmerdquo (Damaacutesio 2000 p 30)
Para que este filme se concretize entre muitos outros fatores temos a questatildeo da
comunicaccedilatildeo Evito uma linguagem demasiado difiacutecil e ambiacutegua sendo que comunicar eacute mais
do que trocar ideias sentimentos e experiecircncias entre as pessoas que conhecem o significado
daquilo que se diz e se faz (Fachada 2003) No caso da comunicaccedilatildeo pedagoacutegica trata-se
tambeacutem de induzir aprendizagens nos alunos Devem ter-se em conta os coacutedigos linguiacutesticos
do aluno preocupando-se o professor com os problemas de descodificaccedilatildeo pois segundo
Bourdieu Passerron e Saint-Martin (1982) ldquohaacute poucas actividades consistindo tatildeo
exclusivamente como no caso do ensino na manipulaccedilatildeo das palavrasrdquo (p 20)
Outro fator importante eacute o ritmo equilibrado da comunicaccedilatildeo Dada a assimetria nas
competecircncias comunicativas eacute imprescindiacutevel que o professor transmita a informaccedilatildeo a um
ritmo adequado agraves capacidades dos alunos
Desenvolvimento da Aula - Vigilacircncia
A vigilacircncia permanente do professor que se traduz na movimentaccedilatildeo em sala de aula
na sua capacidade de observaccedilatildeo e de controlo eacute uma competecircncia que pretendemos
desenvolver neste grupo e cujos resultados ateacute este 2ordm momento analisaremos no quadro
seguinte
Na tabela 17 encontram-se as frequecircncias registadas nas observaccedilotildees realizadas por
cada observador nos 1ordm e 2ordm momento para a categoria Desenvolvimento da Aula ndash Vigilacircncia
Tabela 17 Desenvolvimento da Aula - Vigilacircncia segundo o observador nos 1ordm e 2ordm momento de observaccedilatildeo frequecircncia absoluta e resultado do teste de independecircncia
Vigilacircncia Momento Formando Cooperante Supervisor
Vp Natildeo Agraves vezes Sim Natildeo Agraves
vezes Sim Natildeo Agraves vezes Sim
Tento ter sempre visibilidade de toda a turma
1ordm M 1 11 6 3 9 6 3 14 1 --
2ordm M 0 5 13 1 6 11 1 8 9 0671
Dou a entender agrave turma que sei o que cada aluno estaacute a fazer em cada momento
1ordm M 1 11 6 3 9 6 4 13 1 --
2ordm M 1 6 11 2 3 13 2 11 5 0043
1ordm M 0 14 4 3 13 2 3 14 1 --