Upload
dokhue
View
221
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES
JOYCE ARIANE DE SOUZA
Inclusão digital em um país desigual:
muito além da tecnicidade
São Paulo
2014
JOYCE ARIANE DE SOUZA
Inclusão digital em um país desigual:
muito além da tecnicidade
Monografia apresentada ao Departamento de
Relações Públicas, Propaganda e Turismo da
Escola de Comunicações e Artes da Universidade
de São Paulo, em cumprimento às exigências do
Curso de Pós-Graduação Lato Sensu, para
obtenção do título de Especialista em Gestão
Integrada da Comunicação Digital nas
Empresas .
Orientador: Prof. Dr. Mauro Wilton de Sousa
São Paulo
2014
Autorizo a reprodução total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou
eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Souza, Joyce Ariane de
Comunicação digital nas empresas: uma avaliação. Joyce Ariane de Souza:
orientador Prof. Dr. Mauro Wilton de Sousa. - São Paulo, 2014. 47 fls.
Monografia (Especialização Lato Sensu) – Escola de Comunicações e Artes,
Universidade de São Paulo, 2014.
1. Sociedade da Informação. 2. Inclusão digital. 3. Exclusão digital. 4.
Marginalização digital. 5. Tecnologia da informação e da comunicação. 6. Inclusão
social.
Nome: SOUZA, Joyce Ariane de
Título: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade
Monografia apresentada ao Departamento de
Relações Públicas, Propaganda e Turismo da
Escola de Comunicações e Artes da Universidade
de São Paulo, em cumprimento às exigências do
Curso de Especialização Lato Sensu, para
obtenção do título de Especialista em Gestão
Integrada da Comunicação Digital para
Ambientes Corporativos, sob orientação do Prof.
Dr. Mauro Wilton de Sousa.
Aprovado em:
Banca Examinadora
Prof. Instituição:
Julgamento: Assinatura:
Prof. Instituição:
Julgamento: Assinatura:
Prof. Instituição:
Julgamento: Assinatura:
RESUMO
SOUZA, Joyce Ariane de. Inclusão digital em um país desigual: muito além da
tecnicidade. 2014. 47 f. Monografia (Especialização Lato Sensu) – Escola de
Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.
Os últimos 200 anos da história foram marcados pelo surgimento de novas
tecnologias, cuja rápida evolução invadiu todas as esferas da vida humana, transformando
radicalmente o modo de produção empreendido desde o século XX, criando, assim, o que
se denominou Sociedade da Informação. Desenvolvida de maneira díspar entre países
desenvolvidos e em desenvolvimento, as novas tecnologias, que inicialmente pareciam
contrubuir com uma globalização democrática, ampliaram o contexto da desigualdade
social, relacionado diretamente ao não acesso às Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs). Esta monografia estuda as consequências deixadas pela revolução
tecnológica em um país desigual, mais especificamente no Brasil. O estudo apresenta a
mudança do modo capistalista, a estratificação social ocasionada pelo digital e a
importância do entendimento dos termos exclusão e inclusão para o desenvolvimento de
Programas de Inclusão Digital. Apresenta-se uma reflexão crítica do desenvolvimento das
iniciativas públicas de inclusão digital no Brasil, desde o registro dos discursos dos
principais programas até sua eficácia perante os atores marginalizados, de acordo com
conceitos advindos da esfera digital, como dromoaptidão.
Palavras-chave: Sociedade da Informação. Inclusão digital. Exclusão digital.
Marginalização digital. Tecnologia da informação e da comunicação. Inclusão social.
ABSTRACT
SOUZA, Joyce Ariane de. Digital inclusion in an unequal country: beyond the
technicality. 2014. XX f. Monografia (Especialização Lato Sensu) - Escola de
Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.
The last 200 years of history have been marked by the emergence of new
technologies, whose rapid development has invaded all spheres of human life, radically
transforming the mode of production undertaken since the twentieth century, thus creating
what is called Information Society. Developed in a diverse way between developed and
developing countries, new technologies, which initially seemed to contribute with a
democratic globalization, actually expanded the context of social inequality, not directly
related to access to Information and Communication Technologies (ICTs). This
monograph regards the consequences left by the technological revolution in an unequal
country, more specifically in Brazil. In this sense this study introduces the changes of the
capistalism, social stratification caused by the digital and the importance of understanding
the terms exclusion and inclusion for the development of Digital Inclusion Program. It
presents a critical view about the development of public digital inclusion initiatives in
Brazil, from the record of the programs discourse to its real effectiveness against
marginalized actors, according to concepts under digital sphere, as like the concept of
“dromoaptidão” (or dromo-apititude).
Key words: Information Society. Digital inclusion. Digital divide. Digital
marginalization. Information and communication tecnhnology. Social inclusion.
AGRADECIMENTOS
A todos que partilharam comigo os momentos árduos, conflituosos, mas também
muito gratificantes da trajetória dos estudos e da construção desta monografia.
Agradeço, primeiramente, à minha família, que sempre me deu condições
financeiras e emocionais para prosseguir com os estudos, e ao meu namorado, pelo
incentivo incessante na procura de novos conhecimentos e pela paixão com a qual busca
construir um mundo mais igualitário. A vocês, meu amor verdadeiro e único.
À memória do meu amigo e mestre, Dr. Celso Charuri. Minha eterna gratidão.
Aos mestres que, ao longo da minha pequena trajetória acadêmica,
proporcionaram-me leituras, debates e experiências engrandecedoras.
Aos amigos do Digicorp pelo intercâmbio de ideais, reflexões e apoio nos
momentos de desespero na reta final desta monografia.
Aos autores que percorri ao longo da redação deste trabalho. Sem os legados
deixados continuamente pelos senhores(as) não seria possível a conclusão desta
monografia. Meu eterno respeito.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
Ao Prof. Dr. Mauro Wilton de Sousa, por acreditar que eu podia contribuir com
os estudos acerca da inclusão digital no Brasil, pelos encontros e aulas incríveis, que me
proporcionavam ainda mais energia para o estudo e para a escrita desta monografia, e
pelos cafés, regados a reflexões sobre o modo capitalista em que estamos inseridos. Meu
muito obrigada!
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11
1. SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO .............................................................................. 14
1.1 Contexto contemporâneo ........................................................................................ 14
1.2 O paradigma da Sociedade da Informação ............................................................. 15
1.3 Desigualdade social e o pertencimento ................................................................... 18
2. EXCLUSÃO E INCLUSÃO NAS NOVAS TECNOLOGIAS ..................................... 22
2.1 Estratificação social ................................................................................................ 22
2.2 Exclusão e inclusão digital ...................................................................................... 26
3 CENÁRIO DA EXCLUSÃO E INCLUSÃO DIGITAL NO BRASIL ......................... 31
3.1 Exclusão digital no Brasil ....................................................................................... 31
3.2 Inclusão digital no Brasil ........................................................................................ 34
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 39
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 41
11
INTRODUÇÃO
Frente ao contexto das mudanças ocasionadas a partir da revolução tecnológica e
que invadiu todas as esferas da vida humana desde o final dos anos 1980 em todo o
mundo, construiu-se uma sociedade informacional. Este estudo concentra-se na reflexão
sobre a inclusão digital em um país desigual, mais especificamente no Brasil, pelo prisma
da importância do desenvolvimento de programas de inclusão digital com bases que vão
além da tecnicidade, visando minimizar a desigualdade social ampliada pela globalização
digital.
A nova economia é, decerto neste momento, uma economia capitalista. De fato,
pela primeira vez na história, todo o planeta é capitalista ou depende de sua
ligação às redes capitalistas globais. [...] a nova economia tem/terá por base um
surto no crescimento da produtividade resultante da capacidade de se usar a nova
tecnologia da informação para alimentar um sistema de produção fundamentado
nos conhecimentos. [...] Contudo, a nova economia não deixa de ter falhas e
riscos. Sua expansão é muito desigual em todo o planeta [...] afeta a tudo e a
todos, mas é inclusiva e exclusiva ao mesmo tempo; os limites da inclusão
variam em todas as sociedades, dependendo das instituições, das políticas e dos
regulamentos. (CASTELLS, 2013, p. 202-3)
Como descrito acima, nas palavras de Castells (2013), nas últimas décadas,
assistiu-se a uma profunda transformação social, política e econômica. A tecnologia
trouxe uma nova forma de organização em que a informação tornou-se mercadoria, ou
seja, fonte de valor e poder, invertendo a lógica do capitalismo clássico em que o poder
concentrava-se na produção de bens de consumo. Dessa forma, não só o acesso aos
aparatos tecnológicos, mas a troca de conhecimento na rede, ou seja, a inteligência
coletiva1, como denomina Pierre Lévy (2007), possibilitada pela Internet, tornaram-se
fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico e a participação ativa e
democrática dos indivíduos na Sociedade da Informação.
1 “É uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em
uma mobilização das competências [...]. A coordenação das inteligências em tempo real provoca a intervenção de
agenciamentos de comunicação que, além de certo limiar quantitativo, só podem basear-se nas tecnologias digitais da
informação.” (LÉVY, 2007, p. 28-9).
12
A emergência da sociedade da informação recolocou o debate sobre o potencial
das tecnologias para ampliar o desenvolvimento, reduzir os níveis de pobreza,
aumentar a liberdade dos indivíduos e aprimorar a democracia. [...] No Brasil, a
expressão ‘exclusão digital’ passou a caracterizar o fenômeno das barreiras
socioeconômicas, colocadas diante da maioria da população, para uso das
tecnologias da informação, desde o final dos anos 1990. (SILVEIRA, 2011, p.
49).
Ao contextualizar as mudanças ocasionadas pela Sociedade da Informação e o
desenvolvimento de políticas públicas de inclusão digital no Brasil, este trabalho poderá
oferecer subsídios para a avaliação sobre o potencial dos conceitos desses programas e o
que na prática eles exercem para minimizar o quadro de exclusão no país.
Os objetivos desta monografia, portanto, são: 1) Analisar o contexto
contemporâneo da Sociedade da Informação e os impactos causados pela revolução
tecnológica em um país desigual, mais especificamente, o Brasil; 2) Entender as
características da estratificação social ocasionada pela revolução tecnológica e os
conceitos de exclusão/marginalização e inclusão digital; 3) Percorrer e analisar as
indagações críticas sobre as proposições e a práticas de programas públicos de inclusão
digital no Brasil.
Tais objetivos traduzem a questão que permeia o desenvolvimento desta
monografia desde a sua formulação até as considerações finais:
Os programas públicos de inclusão digital no Brasil apresentam potencial
significativo de mudança no cenário da exclusão/marginalização em um país desigual,
especialmente sob os pontos de vista que vão além da tecnicidade e consideram
fundamentais conceitos como velocidade e acesso material e cognitivo às novas
tecnologias da informação e comunicação?
Neste contexto, tecnicidade assume o conceito de histórico de concretização, ou
seja, de aprendizado dos objetos técnicos, como do computador, para que um sujeito seja
incluído digitalmente.
Dessa forma, este trabalho se consolidou em três capítulos:
O Capítulo 1, denominado Sociedade da Informação, aborda as principais
características do contexto contemporâneo e as transformações derivadas da revolução
tecnológica, que afetou direta ou indiretamente a vida de toda a humanidade. Esse capítulo
perpassa aspectos desde a reestrutução do capitalismo até o sentimento de pertencimento
gerado no sujeito que não participa diretamente desse novo quadro político, econômico e
social.
13
No Capítulo 2, Exclusão e inclusão nas novas tecnologias, temas como
estratificação social e exclusão e inclusão digital são conceituados com base em
estudiosos da esfera digital, a fim de obter parâmetros para uma análise crítica do cenário
de políticas públicas de inclusão digital no Brasil.
O Capítulo 3, Cenário da exclusão e inclusão digital no Brasil, traz dados recentes
sobre o acesso às novas tecnologias no país, de acordo com o poder socioeconômico da
população, e analisa a proposição e a prática de alguns programas de inclusão digital
mediante conhecimentos adquiridos ao longo da construção do segundo capítulo.
Por fim, as considerações finais apresentam uma reflexão crítica sobre os
programas de inclusão digital no Brasil e um possível caminho para a melhora das
políticas públicas no âmbito do digital.
Para entender e analisar todo o contexto contemporâneo aqui exposto, este trabalho
adotou o método de pesquisa bibliográfica e realizou uma revisão literária multidisciplinar,
com exposição e análise de conceitos que perpassam a Comunicação, a Sociologia, as
Ciências Sociais e a Filosofia.
14
1. SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
1.1 Contexto contemporâneo
A Sociedade da Informação
2, advinda do avanço tecnológico ocorrido no final
dos anos 1980, é hoje uma realidade inquestionável, seja para os indivíduos
participantes ativamente, seja para os que apenas sofrem com seus efeitos de exclusão
ou marginalização, como denominam alguns autores, como Demo (2007, p. 4) ao
afirmar que: “os que estão fora são parte do mesmo sistema, dentro da mesma unidade
de contrários”.
É notório que essa realidade inquestionável invadiu todas as esferas da vida
humana e está presente tanto em atividades rotineiras, por exemplo, nas formas de
pagamento via cartões, como nos sistemas educacional, político e financeiro.
Com uma rápida evolução global, a informação transformou-se em um bem
maior, modificando a base material de nossas vidas, como descreve Castells (2013, p.
XXIX-XXX):
A revolução tecnológica, com seus dois principais campos inter-relacionados,
as tecnologias de comunicação baseadas em micro-eletrônica e a engenharia
genética, continuou a aumentar de ritmo, transformando a base material de
nossas vidas. As redes se tornaram a forma organizacional predominantemente
de todos os campos da atividade humana. A globalização se intensificou e se
diversificou. As tecnologias de comunicação construíram a virtualidade como
uma dimensão fundamental da nossa realidade.
Essa nova realidade, absorvida de forma diversa no mundo, deixou um vácuo
nas camadas sociais da população, em especial, nos países em desenvolvimento, como é
o caso do Brasil. Tal vácuo consistiu na formação de uma nova estratificação social,
baseada em características advindas da esfera digital, como a velocidade e a
dromoaptidão, conceitos que serão explorados posteriormente.
Nesse contexto, nota-se que a participação e a atuação direta na rede é possível
somente para os indivíduos incluídos, ou seja, para aqueles que detém de poder
econômico para aquisições materiais (como infraestrutura de acesso e computador) e
2 Termo utilizado para definir o contexto contemporâneo vivido, no qual todas as esferas (política, econômica e
social) estão pautadas pela informatização, resultado da revolução tecnológica (CASTELLS, 2013).
15
cognitivas (para estudos constantes com o objetivo de acompanhar a velocidade de
transformação das novas tecnologias da informação e da comunicação).
Enquanto os países desenvolvidos discutem a implementação de tecnologias
móveis de última geração como o iPhone3, muitas nações em desenvolvimento
não possuem sequer uma rede de telecomunicação capaz de garantir o acesso
universal de sua população aos serviços de comunicação de base, muito menos
à Internet. (BALBONI, 2007, p. 1)
É esse cenário, dos excluídos e dos incluídos digitalmente, que este trabalho
pretende indagar, ainda que de forma sucinta, em virtude do escopo de uma monografia
de pós-graduação. Objetiva-se discutir o que tem sido realizado no Brasil para
minimizar o impacto gerado pela revolução tecnológica e pela sua nova forma de
organização em rede, à qual será chamada de âmbito da Sociedade da Informação
(CASTELLS, 2013).
1.2 O paradigma da Sociedade da Informação
A rápida evolução das tecnologias da informação4 – especialmente a
convergência das telecomunicações e da informática – transformou radicalmente o
modo de produção empreendido desde os anos 1980 e criou uma ruptura com os
padrões da sociedade industrial, desenvolvendo um novo modo capitalista de produção.
O capitalismo transformou o mundo e, durante esse processo, se transformou.
[...] esse capitalismo global impõe as metas e os padrões de desenvolvimento,
regula as relações trabalhistas, delimita os marcos simbólicos, desestabiliza as
formas culturais tradicionais, estabelece os critérios de aferição das
performances e constrói hierarquia internacional de privilégios e comando.
(CAZELOTO, 2008, p. 20).
Invadindo globalmente toda a esfera econômica, política e social, a tecnização e
a informatização, presentes no cerne desse novo capitalismo, transformaram o
3 “Segundo Ethevaldo Siqueira (2007), ‘trata-se de um celular sem teclado, com tela gigante, sensível ao toque dos
dedos, câmera digital de 2 megapixels, memória para armazenar até 8 gigabytes de músicas, fotos ou vídeos, acesso à
Internet, capacidade para enviar e receber e-mails e Sistema operacional OSX, entre outros recursos’” (BALBONI,
2007, p. 1). 4 As tecnologias da informação abrangem “o conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, computação
(software e hardware), telecomunicações/radiodifusão e optoeletrônica” (CASTELLS, 2013, p. 49).
16
conhecimento em um bem maior, fonte de valor e poder, o que provocou profundas
alterações na organização do trabalho, com a passagem do modelo taylorista-fordista
para o modelo da especialização flexível5.
No modelo taylorista ou também chamado de organização científica do trabalho,
característico da sociedade industrial, a organização do trabalho se baseava na rígida
repartição de tarefas, na hierarquia de funções entre supervisão humana especializada
(trabalho intelectual) e execução (trabalho manual) e na otimização entre tempo,
produtividade e lucro, este último o centro do modo de produção.
Já no paradigma informacional, surge uma nova organização do trabalho,
centrada na flexibilização dos processos em decorrência da rápida transformação
cultural, tecnológica e institucional vivenciada na economia informacional. Segundo
Cazeloto (2008, p. 28) “uma das transformações mais radicais de nosso tempo seria
justamente o fato de que o trabalho deixou de ser uma centralidade”.
A própria empresa mudou seu modelo organizacional para adaptar-se às
condições de imprevisibilidade introduzidas pela rápida transformação
econômica tecnológica. A principal mudança pode ser caracterizada como a
mudança de burocracias verticais para a empresa horizontal. A empresa
horizontal parece apresentar sete tendências principais: organização em torno
do processo, não da tarefa; hierarquia horizontal; gerenciamento em equipe;
medida do desempenho da equipe; maximização dos contatos com
fornecedores e clientes; informação, treinamento e retreinamento de
funcionários em todos os níveis. (CASTELLS, 2013, p. 20)
Esse novo cenário, no qual todas as atividades humanas se encontram cada vez
mais dependentes das infraestruturas eletrônicas da informação, é conhecido como
sociedade da informação.
Amplamente estudada e debatida nas últimas décadas, essa nova sociedade
mantém como característica intrínseca o conhecimento e a informação, vastamente
difundidos pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Para Castells
(2013), esse processo só ocorre pelo surgimento das estruturas básicas em rede6.
5 Termo adotado por Piore e Sabel para descrever a atual evolução organizacional no trabalho: “é a transição da
produção em massa para a produção flexível” (CASTELLS, 2013, p. 211). 6 “Rede é um conjunto de nós interconectados. Nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta. [...] Redes são
estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se
dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmo códigos de comunicação (por exemplo, valores ou
objetivos de desempenho)” (CASTELLS, 2013, p. 567).
17
A revolução da tecnologia da informação e a reestruturação do capitalismo
introduziram uma nova forma de sociedade, a sociedade em rede. Essa
sociedade é caracterizada pela globalização das atividades econômicas
decisivas do ponto de vista estratégico; por sua forma de organização em
redes; pela flexibilidade e instabilidade de emprego e da individualização da
mão-de-obra. (CASTELLS, 2013, p. 67)
Desenvolvida em primeira instância pelos Estados Unidos, pela necessidade de
alimentar a reestruturação do capitalismo e manter o seu poder na hierarquia
internacional, a revolução tecnológica da informação foi iniciada e impulsionada pelos
Estados em todo o mundo, porém contou também com uma gama de empresários
inovadores, que não poderiam estar a par desse novo sistema e massificaram a
revolução tecnológica, como os que iniciaram e até hoje mantém o Vale do Silício7.
Esse novo contexto global, que avança de forma assustadoramente rápida e
enérgica, possibilita, de acordo com Castells (2013, p. 108-9), a análise de cinco
paradigmas centrais: a informação é matéria-prima; as novas tecnologias penetram em
todas as atividades humanas; a lógica de redes encontra-se presente em qualquer sistema
ou conjunto de relações; a flexibilidade de organização e reorganização de todos os
processos, organizações e instituições existentes na sociedade informacional, e, por fim:
“[...] a crescente convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente
integrado, no qual trajetórias tecnológicas antigas ficam literalmente impossíveis de se
distinguir em separado” (CASTELLS, 2013, p. 109, grifo do autor).
Com tantos atores empenhados na sua revolução, a tecnologia da informação é
até:
[...] genericamente compreendida como uma “ágora” de conhecimento, onde a
informação estaria universalmente disponível. Mais do que isso, uma estrutura
dinâmica em cujas redes a informação flui, potencializando processos
produtivos, a democracia direta e a diversidade cultural. (BALBONI, 2007, p.
8).
Embora a difusão do informacionalismo ocorresse em processos inseparáveis em
escala global e, portanto, devesse acontecer de forma igualitária em todo o mundo, a
lógica do capital não permitiu esse processo e cada sociedade, de acordo com o seu
7 “O Vale do Silício (em inglês: Silicon Valley), na Califórnia, Estados Unidos, é uma região na qual está situado um
conjunto de empresas implantadas a partir da década de 1950 com o objetivo de gerar inovações científicas e
tecnológicas, destacando-se na produção de circuitos eletrônicos, na eletrônica e informática”. VALE DO SILÍCIO.
In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2014. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Vale_do_Sil%C3%ADcio&oldid=39758860>. Acesso em: 1 jul. 2014.
18
processo histórico político, econômico e social, agiu e reagiu de forma distinta à
chegada da sociedade da informação.
Segundo o Information Economy Report 20138, da ONU, o desenvolvimento
igualitário e democrático em relação ao acesso à rede no mundo está longe de ser uma
realidade, em especial quando o assunto é concectividade em banda larga. A média de
penetração em economias desenvolvidas é de 28 assinaturas para cada 100 pessoas, 6
nos países em desenvolvimento e apenas 0,2 nos países menos desenvolvidos.
A realidade apresentada por dados demostra que as revoluções tecnológicas
ocorrem apenas em algumas sociedades e são difundidas em áreas geográficas
relativamente limitadas, de acordo com o poder do capital desenvolvido ao longo da
história. Com isso, há consideráveis segmentos da população que estão desconectados
do novo sistema tecnológico.
A construção social das novas formas dominantes de espaço e tempo
desenvolve uma mata-rede que ignora as funções não essenciais, os grupos
sociais subordinados e os territórios desvalorizados. Com isso, gera-se uma
distância social infinita entre essa meta-rede e a maioria das pessoas,
atividades e locais no mundo. (CASTELLS, 2013, p. 573)
Nota-se, então, que nem a sociedade informacional nem o pós-industrialismo
trouxeram a utopia da emancipação (política, econômica e cultural) por meio do
conhecimento e da informação amplamente disponíveis, o que houve é que modificou-
se o modo de produção capitalista, “como um rearranjo interno que tende a realizar a
recomposição da hegemonia do capital em um cenário de intensas transformações
sociais” (CAZELOTO, 2008, p. 28).
1.3 Desigualdade social e o pertencimento
Mesmo sendo um entusiasta da sociedade da informação e dos frutos advindos da
revolução tecnológica, Castells (2013) reconhece que parcelas significativas da
população mundial não possuem condições cognitivas e econômicas para se conectar a
rede, muito menos de acompanhar a velocidade incessante das atualizações no âmbito da
tecnologia: o que se sabe hoje, amanhã não existe mais.
8 Disponível em Information Economy Report, 2013, UNCTAD, em
<http://unctad.org/en/PublicationsLibrary/ier2013_en.pdf >. Acesso em: 15 maio 2014.
19
Parece haver uma lógica de excluir os agentes da exclusão, de redefinição dos
critérios de valor e significado em um mundo em que há pouco espaço para os
não-iniciados em computadores, para os grupos que consomem menos e para
os territórios não atualizados com a comunicação. Quando a Rede desliga o
Ser, o Ser, individual ou coletivo, constrói seu significado sem a referência
instrumental global: o processo de desconexão torna-se recíproco após a
recusa, pelo excluídos, da lógica unilateral de dominação estrutural e exclusão
social. (CASTELLS, 2013, p. 60)
É notório que há uma lógica no processo de exclusão e, consequentemente, na
ampliação da desigualdade social na esfera da tecnologia. Em um país em
desenvolvimento, como é o caso do Brasil, a desigualdade social, econômica e política é
uma realidade vivenciada e caracterizada pela distribuição de poder e renda ou, ainda,
pela posição ocupada na produção (trabalho), conforme conceito de Karl Marx:
Tratando-se dos proletários, ao contrário, a sua condição de vida, o trabalho, e
com este todas as condições de existência da sociedade atual, converteram-se
para eles em algo fortuito, no qual cada proletário de per si não tinha o menor
controle, e sobretudo nenhuma organização social podia lhe dar tal controle. A
contradição entre a personalidade do proletário individual e sua condição de
vida, tal como lhe é imposto, isto é, o trabalho, revela-se ante si mesmo,
sobretudo porque já se vê sacrificado a partir de sua infância, por não ter
dentro de sua classe as condições que o coloquem em outra situação. (MARX
e ENGELS, 1989, p. 89-90, apud HIRANO, 2002, p. 129)
Nessa lógica, a classe menos favorecida, ou seja, os proletários, não interessa
para a nova sociedade informacional, pois o consumo passa a ser o cerne do seu
desenvolvimento capitalista e a prole não tem poder de consumo, seja de bens materiais
ou de intelectuais.
Para Castells (2013), o novo capitalismo dissolve a coletividade e a existência de
seres individuais impera na sociedade informacional:
[...] em nível mais profundo da nova realidade social, as relações sociais de
produção foram desligadas de sua existência real. O capital tende a fugir em
seu hiperespaço de pura circulação, enquanto os trabalhadores dissolvem sua
entidade coletiva em uma variação infinita de existências individuais. Nas
condições da sociedade em rede, o capital é coordenado globalmente.
20
(CASTELLS, 2013, p. 571-2)
Com a distribuição desigual de recursos relacionados à tecnologia da informação
e da comunicação, no entanto, propaga-se a consolidação das classes sociais, o que
difere do apontado por Castells, já que as classes sociais são definidas por condições
comuns ou como afirma Marx: “Idênticas condições, idênticas antíteses e idênticos
interesses” (MARX e ENGELS, 1989, p. 89-90 apud HIRANO, 2002, p. 129), ou seja,
são seres individuais que, em virtude dessas características, atuam em conjunto e são
tratados por políticas públicas, no âmbito da tecnologia, como grupos que acessam
(incluídos) ou não (excluídos) a rede.
Dessa maneira, o incluído (digitalmente) é caracterizado como um indivíduo de
alta renda e o excluído como um indivíduo de renda baixa, que sofre fortemente o
processo de desigualdade social.
Nesse cenário, a propagação da importância das tecnologias de informação e
comunicação e do compartilhamento do conhecimento na rede, motiva o sentimento de
pertencimento no cidadão excluído.
Admite-se, pois, que não é difícil apontar que a dimensão subjetiva que
motiva o pertencer a um todo é, no caso, o próprio sentimento de
pertencimento, acionado de alguma forma pela necessidade já presente
nesse todo que é buscado como objeto-fim. (SOUSA, 2010, p. 37)
No contexto do informacionalismo, esse objeto-fim pode ser amplamente
caracterizado pela busca por melhorias nas condições sociais vivenciadas pelos menos
privilegiados no novo modelo de produção capitalista, em que a qualificação cognitiva9
e técnica, em especial, em relação às novas tecnologias, proporcionam melhor
posicionamento no mercado de trabalho e, consequentemente, ampliação da renda.
O sentimento de pertencimento ao comum em relação ao digital é caracterizado
no Brasil pelo desenvolvimento de comunidades, que se reúnem em torno de projetos
para compartilhar “essencialmente uma reivindicação por diferença” (SILVERSTONE,
1999 apud SOUSA, 2010, p. 39), consolidando assim o exercício de estar junto
9 “Cognição é o ato ou processo da aquisição do conhecimento que se dá através da percepção, da
atenção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem”. COGNIÇÃO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2014. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Cogni%C3%A7%C3%A3o&oldid=39673551>. Acesso em: 1 jul. 2014.
21
socialmente e disseminando que, apesar da sociedade informacional ser caracterizada
também pelo individualismo, quando se sente a par de um sistema e se encontra um
comum, estes se unem, assim como ocorria na luta de classes.
Se pertencer também é expressão marcante de uma crise de nossa era, é tanto
mais buscado à medida que a sociedade não provê condições de realizá-lo, e
identidade e pertencimento se confundem. [...] Esse caráter efêmero e
transitório que as comunidades podem assumir não invalida o sentimento que
motiva buscá-las, à procura de conexão, de um pertencer e “estar com”, ainda
que com as possíveis características do que Castells denomina de “Mass Self
Communication (intercomunicação individual”, 2006) ou Flichy criticamente
denomina de “comunicação de massa individual” ou “sociedade do
individualismo conectado” (2004). (SOUSA, 2010, p. 40).
Como apresenta Castells (2013, p. 59), as novas tecnologias da informação “não
são simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos.
Usuários e criadores podem tornar-se a mesma coisa”.
Da falta do conhecimento dessas novas tecnologias resulta a exclusão e a
inclusão digital no âmbito socioeconômico de acesso à rede, em que os menos
favorecidos encontram-se impossibilitados de participar e interagir de forma autônoma e
protagonista dos recursos oferecidos por uma sociedade em plena expansão.
22
2. EXCLUSÃO E INCLUSÃO NAS NOVAS TECNOLOGIAS
2.1 Estratificação social
A Sociedade da Informação, como definida no capítulo anterior, apresenta
características únicas, como a dominância da tecnologia na ordem mundial, como
conceitua Eugênio Trivinho10
em sua obra A dromocracia cibercultural, 2007:
[...] a configuração material e a atmosfera simbólica e imaginária
internacionais da era pós-industrial avançada, corresponde à informatização e
virtualização generalizada da vida social, seja no âmbito do trabalho, seja no
do tempo livre – configuração e atmosfera que não reduzem, portanto, ao que
desenrola apenas na interioridade do cyberspace, estando, antes, aquém e além
dessa rede. (TRIVINHO, 2007a, p. 101)
Analisar este cenário, em que o capitalismo surge reestruturado, o cotidiano
informatizado e a ênfase não se concentra mais na produção e sim no consumo, por isso
a flexibilização dos processos e da empresa horizontal, não é tarefa simples, porém
fundamental para entender a exclusão e inclusão digital, além de ampliar a visão de
tecnicidade apresentada como primordial em programas sociais de inclusão digital, que
serão analisados no último capítulo deste trabalho.
Mediante essas análises pretende-se demonstrar que variantes são postas de lado
em detrimento da tecnicidade e do acesso às ferramentas de inclusão, como o
computador e a banda larga. Poucos são os casos em que a cognição e os ganhos pela
interação na rede são estruturados e postos em exaltação e prioridade em políticas
públicas e projetos de inclusão.
Em outras palavras, em que pesem as possibilidades de ganhos sociais
no uso intensivo de ferramentas informáticas, essas “virtualidades”,
normalmente associadas às características intrínsecas do computador,
visto como objeto tecnológico em si, podem se dissipar diante dos usos
concretos de máquinas, sempre presididos por relações hierárquicas e
de poder que lhes são igualmente inerentes. (CAZELOTO, 2008, p.
107)
10 Eugênio Trivinho intitula esse período histórico como Cibercultura. Neste trabalho, o período histórico atual será
denominado como Sociedade da Informação, pois acredita-se que Cibercultura está em “declínio da popularidade na
literatura especializada” (FELINTO, 2011).
23
A hipótese é que características estruturantes da Sociedade da Informação como,
por exemplo, a velocidade, sejam as novas formas de estratificação social junto as
categorias econômicas.
A velocidade está intrinsecamente presente na informatização do cotidiano e
talvez seja a característica mais influente no processo de hierarquização e estratificação
da Sociedade da Informação, pois é ela quem dita as regras nas múltiplas e constantes
interações nas redes.
Desta forma, cabe averiguar que o acesso veloz aos elementos materiais – neste
caso à Internet – e aos simbólicos é uma realidade somente para países desenvolvidos,
como a Coreia do Sul, a Suécia, a Islândia, a Dinamarca, a Finlândia, a Noruega, entre
outros.
Segundo relatório anual da União Internacional de Telecomunicações (UIT) –
Medindo a Sociedade de Informação 201311
– o número de domicílios com acesso à
Internet está aumentando em todas as regiões do mundo, porém as diferenças
hierárquicas persistem: as taxas de acessibilidade ao final de 2013, de acordo com
estimativas da UIT, chegaram a quase 80% no mundo desenvolvido, em comparação
com 28% nos países em desenvolvimento.
Estima-se, ainda, que 1,1 bilhão de domicílios em todo o mundo ainda não estão
conectados à Internet, 90% dos quais estão situados nos países em desenvolvimento.
Os dados mostram que a Sociedade da Informação, amplamente desenvolvida no
final do século XX, criou um ambiente destinado à elite mundial, que se beneficia, com
os poderes políticos, econômicos, sociais e culturais, da atuação em e na rede. Para os
menos favorecidos, a tecnologia e a velocidade, características intrínsecas deste
momento histórico, também são presentes, porém desenvolvendo novas formas de
dominação, pelo que se denominou de digital divide, digital apartheid ou, no Brasil,
exclusão digital.
No período contemporâneo de transição, o interregno glogal, podemos assistir
ao surgimento de uma nova topografia da exploração e de novas hierarquias
econômicas, cujas linhas desenham-se acima e abaixo das fronteiras nacionais.
Estamos vivendo num sistema de apartheid global. Devemos deixar claro, no
entanto, que o apartheid não é apenas um sistema de exclusão, como se as
populações subordinadas fossem simplesmente isoladas, sem valor e
11 Disponível em: Measuring the Information Society Report, 2013, UIT, <http://www.itu.int/en/ITU-
D/Statistics/Pages/publications/mis2013.aspx> . Acesso em: 15 maio 2014.
24
descartáveis. No Império global de hoje, tal como acontecia antes na África do
Sul, a apartheid é um sistema produtivo de inclusão hierárquica que perpetua a
riqueza de poucos graças ao trabalho e à pobreza de muitos. Desse modo, o
corpo político global também é um corpo econômico definido pelas divisões
globais de trabalho e poder. (NEGRI et al., 2005 apud SILVEIRA, 2008, p.
51).
Por meio das transformações ocorridas no período contemporâneo, como “o
declínio da centralidade do trabalho na constituição do sujeito” (CAZELOTO, 2008, p.
110), é possível observar a existência de uma nova estratificação social baseada no
digital, ou seja, no acesso aos recursos necessários para a participação na Sociedade da
Informação e na dromoaptidão.
O conceito de dromoaptidão foi desenvolvido por Trivinho (2007a) pelas
premissas lançadas por Paul Virilio12
em Velocidade e Política (1997). Dromo, do
prefixo grego drómos, expressa a ideia de corrida, andamento, rapidez e aptidão,
segundo o dicionário Michaellis, é “a capacidade natural de adquirir conhecimentos ou
habilidades motoras”13
. Assim, a dromoaptidão pode ser interpretada como a capacidade
material e cognitiva de ser veloz. No âmbito do digital, trata-se do acesso irrestrito às
novas tecnologias, por exemplo, aos computadores de ponta disponíveis no mercado, e
também à capacidade de interação na rede, ou seja, na prática cultural do indivíduo em
ser emissor e receptor no universo das novas TICs.
Indubitavelmente, a “dromoaptidão” é uma capacidade que depende cada vez
mais da destreza no domínio das TIC, que podemos chamar também de
tecnologias da velocidade. Esta capacidade de acompanhar a velocidade das
inovações, de saber utilizar habilmente as últimas ferramentas, de remixar
técnicas distintas, recombinar conteúdos de modo original, só pode ser
realizado pelos incluídos digitais. (SILVEIRA, 2008, p. 59)
Dessa forma, é possível compreender as novas formas de subordinação
existentes na Sociedade da Informação. A capacidade de ser veloz e a aptidão no
ambiente digital abrangem competências econômicas, que em países em
desenvolvimento ficam à cargo da elite, como a aquisição e a troca constante de 12 “Paul Virilio (Paris, França, 1932) é filósofo, urbanista francês, arquiteto, polemista, pesquisador e autor de vários
livros sobre as tecnologias da comunicação”. PAUL VIRILIO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida:
Wikimedia Foundation, 2014. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Paul_Virilio&oldid=37881597>. Acesso em: 01 ago. 2014. 13 Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=aptid%E3o>. Acesso em: 24 ago. 2014.
25
tecnologias e o conhecimento cognitivo e pragmático das linguagens da informática, em
processo de constante mutação.
Na medida em que a distribuição social das senhas infotécnicas, da
dromoaptidão conforme e, portanto, dos acessos, realizada via mercado, é
aleatoriamente desigual – e se, por um par de anos, fosse equitativa, não
resistiria à lógica da reciclagem estrutural – arranjam-se, como princípios seja
de causação, seja de reverberação encadeada, as condições propícias de
produção de uma estratificação sociodromocrática flexível em cujo topo
figura a nova casta dos privilegiados, a elite cibercultural dromoapta, que
opera quase inteiramente no filão virtual do tempo real e já nem toca mais no
solo das zonas urbanas, então convertido em lugar morto de passagem, visto a
partir do automóvel, do helicóptero ou do jato particular; e em cuja parte
interior se confina uma extensa e espessa área povoada por um “proletariado”
historicamente reescalonado, assim converso em “camada social dromoinapta”
pelo modus operandi sistêmico da cibercultura, ordem renovada de seres
descartáveis a cujos cérebros o presente lança a sobrecarga de defasagem
patrocinada pela miséria informática socialmente produzida. (TRIVINHO,
2005, p. 72, grifos do autor)
O acesso aos recursos materiais e cognitivos da Sociedade da Informação é um
privilégio da elite mundial, amplamente desenvolvido e motivado pela resstruturação do
capitalismo. Talvez isso justifique a falta de interesse das populações em destinarem
recursos financeiros para uma inclusão digital mundial ampla e eficiente, em que a
tecnicidade e o mercado de trabalho não sejam pautas únicas e fundamentais.
Não basta simplesmente prover uma infra-estrutura de acesso. É necessário
que ela seja veloz. Do mesmo modo, é fundamental que as pessoas sejam
capacitadas cognitivamente, formadas para realizarem no mesmo ritmo das
elites a busca de suas necessidades e a defesa dos seus direitos. (SILVEIRA,
2008, p. 60)
Entender essa “nova” conjuntura da estratificação social, baseada na velocidade,
no controle ao acesso e no desenvolvimento cognitivo, permite observar com um olhar
mais crítico os conceitos de inclusão e exclusão, bem como os discursos de legitimação
dos programas de inclusão digital realizados no Brasil, abordados a seguir.
26
2.2 Exclusão e inclusão digital
Compreender a exclusão e a inclusão digital se tornou fundamental no contexto
contemporâneo, uma vez que o tema tem sido pauta mundial de políticas públicas,
econômicas, sociais e culturais em decorrência do acelerado processo de evolução da
Sociedade Informacional e de suas consequências.
Conforme analisado anteriormente, a reestruturação do capitalismo, marcada
pela revolução tecnológica ocorrida principalmente no final do século XX, ocasionou
uma nova estratificação social, relacionada ao acesso às novas tecnologias e à
dromoaptidão, mantendo, assim, a hierarquia de poder centralizada em uma elite
mundial.
Com base nesse contexto e na garantia à comunicação, considerada um dos
direitos fundamentais de acordo com o artigo 1914
da Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948, os termos exclusão e inclusão digital entraram em cena na dinâmica
da Sociedade da Informação, na maioria das vezes, por meio da implantação de
programas direcionados à informatização.
No âmbito global, pode-se dizer que o debate iniciou-se com a junção da União
Internacional de Telecomunicações (UIT), da Secretária Geral da ONU e de grandes
corporações para uma reunião de cúpula de chefes de Estado com o propósito de
construir um consenso mundial sobre os caminhos dessa nova sociedade.
A Cúpula da Sociedade da Informação (CMSI – World Summit of Information
Society), como foi nomeada, ocorreu em duas fases: 2003 em Genebra e 2005 em
Tunis. Já no primeiro encontro, desenvolveu-se um plano de ação com compromissos
políticos e sociais e uma declaração de princípios.
A Declaração de Princípios de Genebra aborda os diferentes desafios
enfrentados pelo mundo em rede e propõem a superação da brecha digital
transformando a exclusão em oportunidade para o desenvolvimento de uma Sociedade
da Informação global:
Nós também estamos plenamente conscientes de que os benefícios da
revolução da tecnologia da informação são hoje distribuídos de forma desigual
entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento e dentro das sociedades.
14 O Art. 19 da Declaração Universal dos Direitos do Homem traz: “Todo o homem tem direito à liberdade de opinião
e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir
informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras”. Disponível em:
<http://unicrio.org.br/img/DeclU_D_HumanosVersoInternet.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2014.
27
Estamos totalmente empenhados em transformar esse fosso digital numa
oportunidade para todos, especialmente para aqueles que correm o risco de
ficar para trás e ser ainda mais marginalizados.15
(Declaração de Princípios de
Genebra, 2003, tradução nossa).
A CMSI, diferentemente de outras Cúpulas patrocinadas pelas Nações Unidas,
incluiu o setor privado como ator-chave e, como pontuado por Silveira (2008, p. 2),:
“Sem a participação expressiva de Chefes de Estados, produziu apenas um documento
em que a questão da divisão digital aparece como central, mas nenhuma medida foi
adotada”.
No Brasil a exclusão e a inclusão digital começam a ganhar coro político em
2000, com o lançamento do Livro Verde – Sociedade da Informação no Brasil
(TAKAHASHI, 2000).
É justamente no âmbito dessas iniciativas que se identificam as desigualdades
quanto ao acesso de grandes contingentes populacionais às Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC). Tais desigualdades vêm sendo
denominadas genericamente como digital divide, gap digital, apartheid digital,
infoexclusão, ou exclusão digital, e têm justificado a formulação de numerosas
políticas públicas com a finalidade de minimizá-las. (BONILLA e PRETTO,
2011, p. 24)
No Brasil, todas essas terminologias culminaram no termo exclusão digital. O
termo exclusão já era utilizado no campo das Ciências Sociais para caracterizar a forma
de organização de segmentos da sociedade em relação a sua forma de organização e
seus direitos sociais, políticos e econômicos.
No âmbito do digital, o termo tonou-se um sinal da época, que, marcada pela
revolução tecnológica e pela atuação cada vez mais em rede – após do boom da Internet,
no ano 2000 – nega o acesso e a interação a uma maioria, tornando o que seria um
lugar-comum da Sociedade Informacional em algo excludente e elitista, já que o acesso
está relacionado ao poder financeiro e educacional (DEMO, 2007).
Apesar de exclusão digital refletir a atual realidade social, alguns autores
divergem quanto a sua eficácia. Para Demo (2007, p. 6), o conceito de exclusão:
15 DECLARATION of Principles Building the Information Society, 2003: a global challenge in the new Millennium:
“We are also fully aware that the benefits of the information technology revolution are today unevenly distributed
between the developed and developing countries and within societies. We are fully committed to turning this digital
divide into a digital opportunity for all, particularly for those who risk being left behind and being further
marginalized”. Disponível em: <http://www.itu.int/wsis/docs/geneva/official/dop.html>. Acesso em: 02 jun. 2014.
28
[...] tende a ser estanque: ou fora ou dentro. Como os pesquisadores mais
críticos sugerem, trata-se de percepção equivocada, já que os que estão fora
são parte do mesmo sistema, dentro da mesma unidade de contrários.
Ademais, ao serem os pobres incluídos, o que costuma ocorrer é a inclusão na
margem, ou seja, continuam marginalizados, ainda que um pouco mais dentro
do sistema. [...] Deixa-se de perceber que estar fora é modo de estar dentro,
dialeticamente falando. A produção de pobres não é fortuita, mas própria do
sistema.
Com essa visão, o autor utiliza o termo marginalização para designar as
múltiplas discriminações ocorridas no digital, como a cognitiva.
O mais importante é reconhecer que a marginalização do digital está se
tornando uma das mais drásticas, tanto porque segrega pessoas e sociedades
do usufruto tecnológico, quanto porque agrava a pobreza política: estar
analfabeto não é apenas não saber ler, escrever e contar, é principalmente estar
fora do mundo digital, em especial das oportunidades de saber pensar
mediadas por plataformas informacionais. (DEMO, 2007, p. 7-8)
Já Silveira (2008), para analisar o termo exclusão, observa algumas
considerações feitas por Lévy (1999) ao abordar o tema de modo simplista, ao
contemplar que a exclusão se dá na esfera daqueles que ainda não tiveram acesso a uma
nova tecnologia, sem fazer distinção entre todos os processos inseridos nesta realidade.
Porém, ao mesmo tempo, Silveira destaca lampejos importantes de Lévy ao alertar que
“o excluído está desconectado. Não participa da densidade relacional e cognitiva das
comunidades virtuais e da inteligência coletiva” (LÉVY, 1999, p. 238).
Ao analisar não só Lévy (1999), mas também Warschauer (2006), que reforça
que o termo exclusão digital aponta somente para o processo de tecnicidade e acesso,
Silveira (2008) afirma que o termo até pode parecer simplista, mas que a interpretação
depende do viés do observador. Para o autor o termo:
[...] diz respeito a um processo social e econômico que impede as
pessoas de participarem plenamente de uma ou das várias esferas de
que a sociedade é composta. Mas, dada a complexidade da sociedade,
o termo exclusão assume uma dimensão muito ampla quando se refere
a sociedade do que quando é utilizado referindo-se ao bloqueio do
29
direito de uso autônomo da comunicação em rede. Exclusão social se
dá no mercado de consumo, no mercado de trabalho, na esfera pública,
no cenário dos direitos do cidadão e até aos bloqueis para o acesso ao
ensino público e gratuito. (SILVEIRA, 2008, p. 50)
É essa busca pelo entendimento do período histórico atual, bem como as
consequências deixadas na sociedade, por meio da exclusão gerada pelo apartheid
digital, seja na esfera social e/ou econômica, que surgiram estudos e mapeamentos para
minimizar os impactos e criar programas de inclusão digital.
No entanto, nesse contexto, o que seria inclusão? Assim, como o termo exclusão
se torna amplo e, por vezes, ambíguo na Sociedade da Informação, com a inclusão o
processo não é muito diferente.
O termo incluir, de acordo com o dicionário Michaellis16
, significa: inserir,
introduzir; abranger, compreender. Estas são palavras presentes em planejamentos
públicos e privados de inclusão digital, porém limitadas à maneira tecnocrática, em que
se acredita que somente o acesso já é suficiente para sanar o abismo entre os
marginalizados e a elite dominadora do cenário informacional.
Os programas de inclusão digital que privilegiam apenas o acesso ou a
profissionalização (dimensão de mercado) dos seus usuários deixam de
lado a dimensão da cidadania (direito humano universal à
comunicação) e da capacidade de apropriação e uso autônomo das
tecnologias, se resumindo a apenas mais uma forma de utilizar um
esforço público de sociedades pobres para consumir produtos dos
países centrais ou ainda para reforçar o domínio oligopolista de
grandes grupos transnacionais. (SILVEIRA, 2008, p. 62)
Ao encontro da necessidade de ampliação da temática do termo incluir e da
abordagem realizada pelos programas de inclusão, Lemos e Costa (2005) questionam os
pressupostos, largamente aceitos, denominando-os como dogmas da inclusão digital e
acreditam que somente remetendo a severos questionamentos sobre o contexto atual é
que se pode chegar a uma análise mais assertiva do que vem a ser essa inclusão, que
deve ir além da tecnicidade, ou seja, envolver também a esfera cognitiva:
16 Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=incluir>. Acesso em: 25 ago. 2014.
30
O que será essa Sociedade da Informação? Quem será esse indivíduo
incluído? E o que ele fará em posse dessas novas ferramentas? Pouco
importa. Não há garantias de empregabilidade e a velocidade do
sucateamento tecnológico é enorme. O discurso da inclusão digital
feito dessa forma parece contentar apenas algumas empresas, ONGs e
tecnoutópicos que vão nos vender, sob essa ideologia, mais e mais
brinquedinhos tecnológicos. (LEMOS e COSTA, 2005, p. 6)
Cabe agora analisar até que ponto as ações de inclusão digital no Brasil
potencializam a rigidez dos termos exclusão e inclusão ou potencializam as interações e
as possibilidades dos indivíduos atuarem de forma ativa, participativa, seletiva e
construtora para si e para o ambiente em que estão inseridos.
31
3 CENÁRIO DA EXCLUSÃO E INCLUSÃO DIGITAL NO BRASIL
3.1 Exclusão digital no Brasil
Com fortes investimentos do Governo Federal nos últimos anos em programas
de redução da pobreza, o Brasil passou por profundas transformações sociais, com
redução dos índices de pobreza e crescimento econômico, diminuindo assim as
desigualdades regionais do país, de acordo com o Relatório Territorial Brasil 201317
, da
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)18
.
O relatório destaca que as políticas voltadas a disseminar os benefícios do
crescimento econômico têm sido eficazes na redução da desigualdade social no país,
principalmente em relação ao acesso à educação, o que permite um número reduzido de
desemprego no país, porém alerta que a educação não segue o mesmo ritmo da
economia.
Apesar dos avanços, o relatório aponta que o Brasil apresenta ainda ampla
desigualdade social e ocupa a segunda pior posição no ranking dos 34 países mais
industrializados do mundo.
Em relação aos estudos realizados no país, a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad 2013)19
, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), demonstra que, considerando os rendimentos de todas as fontes de renda
(incluindo, além da renda do trabalho, outras como patrimônios e investimentos), a
distribuição teve tendência decrescente, o que indica melhora na distribuição de renda
no país.
O Índice de Gini, que mede o grau de concentração de uma distribuição, cujo
valor varia de zero (perfeita igualdade) até um (desigualdade máxima) caiu
continuamente, mas em patamares diferentes: ficou estável em 2001 e 2002 – 0,569;
diminuiu para 0,504 em 2012 e, em 2013, voltou aos indicativos de 2011, de 0,505 (ver
17 Disponível em: <http://www.oecd-ilibrary.org/urban-rural-and-regional-development/relatorio-territorial-da-ocde-
brasil_9789264189058-pt>. Acesso em: 01 set. 2014. 18 A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico é um órgão que reúne os 34 países mais
industrializados do mundo e fornece uma plataforma comparativa de políticas económicas, solução de problemas
comuns e coordenação de políticas domésticas e internacionais. Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Económico. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2014. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Organiza%C3%A7%C3%A3o_para_a_Coopera%C3%A7%C3%A3o_e_
Desenvolvimento_Econ%C3%B3mico&oldid=40027236>. Acesso em: 12 set. 2014. 19 IBGE, 2013. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_pesquisa=40>. Acesso em: 18 set.
2014.
32
gráfico a seguir).
Gráfico 1 – Índice de Gini.
Fonte: IBEG 2014
De acordo com a pesquisa, no ano de 2013 os 10% mais pobres receberam, em
média, R$ 235 por mês, valor 3,5% superior ao registrado no ano anterior, e os 10%
mais ricos concentraram 41,2% do total de rendimento de trabalho – ganhando em
média, R$ 6.930, valor 6,4% maior do que em 2012. Motivo pelo qual o Índice Gini
registrou uma estagnação no avanço na distribuição igualitária de renda no Brasil, já que
houve uma ligeira queda de 0,002.
De maneira geral, a renda dos trabalhadores subiu 5,7% acima da inflação de
2012 para 2013, aumentando de R$ 1.590 para R$ 1.681 por mês.
De todas as fontes analisadas, o Amazonas foi o estado que teve o maior
aumento da renda, 12,8%, atingindo R$ 1.455, enquanto o Acre, o Amapá e o Espírito
Santo tiveram queda no rendimento. O Distrito Federal apresenta o maior rendimento
médio, com R$ 3.114, ante R$ 2.083 em São Paulo, o segundo colocado. As menores
médias estão em três estados nordestinos: Ceará (R$ 1.019), Piauí (R$ 1.037) e em
Alagoas (R$ 1.052).
O Índice de Gini mostra, portanto, que apesar dos avanços ocorridos nos últimos
anos, a desigualdade social ainda é o problema mais sério enfrentado pela população
brasileira e que se concentra especialmente nas regiões Nordeste e Norte.
Ao analisar os serviços de telecomunicações existentes no Brasil, é possível
verificar que a exclusão digital acompanha o cenário da exclusão social, ou seja, as
33
populações presentes ou próximas aos centros urbanos, além de contarem com
rendimentos maiores, também contam com mais acesso à infraestrutura de
telecomunicações e aos serviços de Internet, em especial, ao de banda larga,
fundamental no processo de inclusão digital.
Redes mais velozes são preferidas às redes lentas. Não há nenhum
sentido em buscar o contrário. Por isso, a velocidade da conexão é um
elemento crucial nos processos de inclusão digital. Conectar uma
localidade à internet é um passo importante, mas se o acesso for em
banda estreita, dificilmente aquela comunidade poderá acessar recursos
tecnológicos que dependem de uma alta transferência de dados por
segundo. (SILVEIRA, 2011, p. 54)
Segundo os dados da pesquisa TIC Domicílios 201320
, realizada pelo Centro
Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br),
vinculado ao Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI.br) e ao Núcleo de Informação e
Coordenação do Ponto BR (NIC.br), 51% da população – 103,38 milhões de brasileiros
– já acessa à Internet e 49% do total de residências no país possuem computador.
A pesquisa mostra, ainda, que a rede de telefonia móvel está em expansão: 85%
das pessoas com 10 anos de idade ou mais nas clases A, B e C utitilizam esse serviço,
porém nas classes D e E essa proporção diminui para 69%.
O uso da Internet por meio da telefonia móvel se destacou em 2013, duplicando
a porcentagem em relação a 2011, e atingindo 31% dos brasileiros com 10 anos ou
mais, o que representa 52,5 milhões de pessoas em números absolutos.
Apesar de a pesquisa mostrar avanços otimistas e significativos em relação ao
acesso às infraestruturas essenciais para a participação ativa da população na Sociedade
de Informação, ou seja, ao computador e aos serviços de telecomunicações, dados
revelam a persistente desigualdade no âmbito digital: na classe A, a proporção de
domicílios com acesso à Internet é de 98%; na classe B, 80%; na classe C, 39%; e nas
classes D e E, 8%.
A pesquisa também confirma que as desigualdades também se dão na esfera
regional, já que nas áreas urbanas a proporção de domicílios com acesso à Internet é de
20 O estudo foi realizado em mais de 16 mil domicílios brasileiros, entre setembro de 2013 e fevereiro de 2014.
Disponível em: <http://cetic.br/noticia/tic-domicilios-indica-que-31-da-populacao-brasileira-usa-internet-pelo-
telefone-celular/10044>. Acesso em: 03 set. 2014.
34
48%, enquanto nas áreas rurais é de 15%. Esse dado ainda é reafirmado por meio do
Atlas Brasileiro de Telecomunicações 201421
, que demonstra que os serviços de
telecomunicações concentram-se, em especial, nas regiões urbanas, com mais potencial
de consumo de bens materiais e intelectuais.
A TIC Domicílios (2013) registrou, ainda, que 24,2 milhões de domicílios com
renda familiar de até dois salários mínimos ainda estão desprovidos de acesso à Internet,
o que caracteriza a Sociedade da Informação benéfica somente para uma pequena
camada da população, aquela provida de bens materiais, ou seja, a elite.
A construção social das novas formas dominantes de espaço e tempo
desenvolve uma meta-rede que ignora as funções não essenciais, os
grupos sociais subordinados e os territórios desvalorizados. Com isso,
gera-se uma distância social infinita entre essa metarrede e a maioria
das pessoas, atividades e locais no mundo. Não que as pessoas, locais e
atividades desapareçam. Mas seu sentido estrutural deixa de existir,
incluído a lógica invisível da meta-rede em que se produz valor, criam-
se códigos culturais e decide-se o poder. (CASTELLS, 2013, p. 573)
Ao analisar a complexidade de fatores geográficos, sociais e econômicos que
envolvem a desigualdade social e sua relação com a inclusão digital no Brasil, nota-se a
urgência de políticas públicas compensatórias, ou seja, que ampliem a distribuição de
renda no país e criem programas específicos à inclusão digital, em que o acesso a
computadores e a serviços de telecomunicações caminhe junto aos conhecimentos
cognitivos direcionados à esfera digital.
A construção de novas mídias; de um novo sistema de comunicação social no
país, representa uma oportunidade única de redesenhar o pacto de
solidariedade nacional em nome do interesse público, do desenvolvimento
econômico e social de longo prazo e da defesa intransigente da democracia
como valor universal. (SCHWARTZ 2003, apud BALBONI, 2007, p. 25)
3.2 Inclusão digital no Brasil
A preocupação com a inclusão digital no Brasil iniciou-se em 1995, durante o
governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), responsável por privatizar o sistema de
21 Disponível em: <http://issuu.com/telaviva/docs/atlas2014_site>. Acesso em: 01 set. 2014.
35
telecomunicações do país, denominado na época como Telebrás, de acordo com a Lei
Geral de Telecomunicações22
e seu Plano de Metas de Universalização23
, que tinha
como obrigações: “possibilitar o acesso de qualquer pessoa ou instituição a serviço de
telecomunicações, independentemente de sua localização e condição sócio-econômica;
e permitir a utilização das telecomunicações em serviços essenciais de interesse
público”.
No início, a inclusão digital foi caracterizada pela importância do acesso aos
serviços de telecomunicações. Por causa da criação de obrigações para as empresas
privadas que assumiram o lugar da Telebrás, a infraestrutura desenvolvida no país
permitiu a ampliação das redes de telefonia fixa e, posteriormente, da móvel, porém
esse processo não atingiu a sociedade de forma igualitária, ou seja, priorizou algumas
condições geográficas e de renda per capita.
Somente em 2000, o governo de FHC dá um passo significativo em relação à
ampliação do conceito e das ações de inclusão digital e cria o Governo Eletrônico, a
partir do Decreto Presidencial de 03 de abril de 200024
, gerido pelo Comitê Executivo
do Governo Eletrônico (CEGE) com o objetivo de democratizar o acesso às novas TICs
e ampliar o debate e a participação popular na construção das políticas públicas. Dessa
ação, originaram-se os primeiros programas estaduais e municipais de inclusão digital
ainda destinado ao acesso, dentre eles: infocentros do Acessa São Paulo, iniciativa do
governo do Estado de São Paulo, e o Sampa.org, desenvolvido pelo Instituto de
Políticas Públicas Florestan Fernandes.
Apesar das iniciativas de FHC, foi com a chegada de Luís Inácio Lula da Silva
ao Governo Federal que os programas de inclusão digital se multiplicaram,
“principalmente projetos de abertura e manutenção de telecentros, locais de acesso
gratuito à internet” (SILVEIRA, 2011, p. 50).
Em 2003, a inclusão digital – termo que substitui a universalização do acesso
no discurso público nacional – passou a ser anunciada como um dos principais
insumos para o desenvolvimento do país, e ganhou destaque na mídia. A
estratégia de inclusão digital adotada pelo governo federal reúne diversas
22 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9472.htm>. Acesso em: 05 set. 2014. 23Disponível em:
<http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalNivelDois.do?codItemCanal=1277&nomeVisao=Cidad%E3o&nomeCa
nal=Telefonia%20Fixa&nomeItemCanal=Universaliza%E7%E3o>. Acesso em: 05 set. 2014. 24 Disponível em: <http://www.governoeletronico.gov.br/anexos/E15_90Decreto_3_de_abril_de_2000.pdf>.
Acesso em: 13 ago. 2014.
36
iniciativas ministeriais e interministeriais que, com alguma articulação entre
si, obtiveram resultados significativos, mas ainda inexpressivos diante do
tamanho da exclusão brasileira. (BALBONI, 2007, p. 30)
Nesse cenário, novas propostas foram elaboradas em diferentes ministérios que
passaram a compor as iniciativas de inclusão digital, como o Ministério das
Comunicações, o Ministério da Ciência e da Tecnologia, o Ministério da Cultura e o da
Educação, entre outros. Isso engrandeceu as contribuições de cada área com o objetivo
de não priorizar somente o acesso, mas sim a interação cognitiva possibilitada pelas
novas TICs.
Além disso, no final da primeira década do século XXI, com políticas públicas
focadas na melhoria da distribuição de renda no país, houve um aumento na aquisição
de computadores e as comunidades começaram a cobrar dos seus municípios o acesso à
Internet.
Algumas cidades, diante da demanda, iniciaram seus trabalhos para adentrarem
ao programa do Ministério da Cultura, chamado de Cidades Digitais. Mediante um
processo de seleção, a cidade aprovada passa, dentre outras funções, a oferecer pontos
de acesso à internet para uso livre e gratuito em espaço de ampla circulação, como
praças, parques, rodoviárias, entre outros25
.
Além do Cidades Digitais, atualmente o Governo Federal desenvolve, por meio
do Governo Eletrônico, quinze projetos que visam garantir a disseminação e uso das
TICs, o desenvolvimento social, econômico, política e cultural na esfera digital, bem
como a aproximação dos excluídos à nova Sociedade da Informação. São eles: Banda
Larga nas Escolas; Casa Brasil; Centros de Recondicionamento de Computadores
(CRCs); Computadores para Inclusão; Inclusão digital da juventude rural; Oficina para
a Inclusão Digital; Projeto Cidadão Conectado – Computador para Todos; Programa
GESAC; Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais; Programa de
Inclusão Social e Digital; ProInfo Integrado; Redes Digitais da Cidadania; Telecentros;
Territórios Digitais; Um Computador por Aluno.
Alguns desses projetos contam com a articulação entre Governo Federal,
empresas privadas, governos estaduais e municipais, organizações não governamentais
e outras entidades da sociedade civil. Um exemplo é o projeto Computador para Todos,
25 As informações referentes às iniciativas do Governo Federal aqui descritas são frutos de pesquisas no site
<http://www.governoeletronico.gov.br/acoes-e-projetos/inclusao-digital>, bem como nos sites dos respectivos
Ministérios.
37
que conta com uma linha de financiamento para promover a venda de computadores e o
acesso à Internet a preços subsidiários de até R$ 1.400,00 para as classes B e C; outro
projeto é o Programa de Inclusão Digital e Social, que desenvolve espaços de cidadania
e cultura digital em regiões com baixo índice de desenvolvimento humano,
disponibilizando acesso à Internet e à laboratórios para produções multimídias, com
foco no desenvolvimento da comunidade pelas TICs.
Os agentes mais relevantes da chamada política de inclusão digital
podiam ser relatados como: os telecentros públicos, estatais e
comunitários, os pontos de cultura digital, as escolas conectadas, o
reconhecimento das lan houses como atividades de
microempreendedorismo que gerava inclusão, cidades digitais com
nuvens wireless conectando moradores, os programas de
financiamento de computadores para as camadas médias e
pauperizadas da sociedade. Todos eles se concentravam na garantia de
conexão para as pessoas em seus territórios. E o crescimento da
conectividade alertou a sociedade para o garlago da infraestrutura de
telecomunicações, a ausência da banda larga em enormes áreas do
território nacional. (SILVEIRA, 2011, p. 50-1)
Nesse contexto dos serviços de telecomunicação no país e da ampliação de
consciência da sociedade frente à importância do acesso e do conhecimento das TICs
para a melhoria das condições de vida, em 2010, pelo decreto n.º 7.175/201026
, o então
presidente Lula implementa o Plano Nacional de Banda Larga, com o objetivo de
massificar o acesso à internet de banda larga no país, em especial, nas regiões mais
carentes de tecnologia e de chegar a 40 milhões de domicílios conectados à rede de alta
velocidade.
Imediatamente ao anúncio do Plano Nacional de Banda Larga as
operadoras de telefonia passaram a atuar para bloquear qualquer
tentativa do Estado de atuar diretamente na oferta de conexão, ou até
mesmo de implementação de controles mais rígidos de preço e
qualidade. Acusadas de ineptas na construção desta infraestrutura, as
operadoras voltaram sua carga para reverter o plano iniciado por Lula
26 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7175.htm>. Acesso em: 12
set. 2014.
38
em um plano de ampliação dos benefícios econômicos para sua
atividade. (SILVEIRA, 2011, p. 51)
A partir desse quadro social é possível notar que nas últimas décadas o Brasil
desenvolveu diversas políticas públicas visando a diminuição da estratificação social
ocasionada pela revolução tecnológica, porém a maior parte dessas políticas se mostram
pouco impactantes quando analisado o uso pleno das TICs pela população de baixa
renda, a iniciar pelo acesso limitado a infraestruturas e a velocidade com que essa nova
sociedade se reinventa.
O Estado não conseguiu organizar uma política pública coerente e
minimamente articulada que possa ser comparável ao Sistema Único
de Saúde ou à Política Educacional. É perceptível que os líderes
políticos e gestores públicos têm grande dificuldade de entender a
importância da inserção do conjunto das camadas sociais na
comunicação em rede para romper o processo de reprodução da
miséria. (SILVEIRA, 2011, p. 51)
39
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A informatização do cotidiano, ou seja, de todos os processos políticos,
econômicos e sociais advindos da revolução tecnológica e do surgimento da Sociedade
da Informação no final do século XX, colaborou para uma nova estratificação social da
sociedade brasileira, pois contribuiu para a concentração do poder junto à elite, que
representa apenas 10% da população atual.
O poder na era informacional está diretamente relacionado ao acesso e ao
domínio intelectual das novas Tecnologias da Informação e Comunicação. Por isso, os
que possuem capital, tempo e condições sociais prévias – como o conceito de
dromoaptidão apresentou no segundo capítulo – mantém vantagem em relação aos
marginalizados, aqueles que estão aquém do acesso e que dirá do conhecimento e da
interação plena com as novas tecnologias.
O Governo Federal brasileiro implementou diversas políticas públicas focadas
na diminuição dessa nova estratificação social, causada pela revolução tecnológica e
pela reestruturação do capitalismo em torno da informatização.
Apesar de avançar em relação à diminuição da pobreza por meio de programas
de distribuição de renda, o que começa a permitir o acesso a infraestruturas da nova
sociedade, como aquisição de computadores e pacotes de conexão, o Governo Federal
não conseguiu se articular para impedir o descaso das empresas privadas em relação ao
fornecimento de infraestrutura adequada para toda a população e não desenvolveu um
órgão, por exemplo, uma secretaria única destinada destinada ao entendimento amplo
do que é a inclusão digital e o que os sujeitos excluídos necessitam para pertencer a esta
nova organização social, política e econômica.
Com diversos ministérios a frente dos programas de inclusão digital, o objetivo
desses programas ainda permanece na tecnicidade, ou seja, no acesso ao computador, à
Internet e à utilização de serviços básicos, como o pacote Office, voltado,
principalmente, ao mercado de trabalho.
Tendo, ainda, que discutir a qualidade dos serviços ofertados no âmbito das
telecomunicações, os programas de inclusão digital, apesar de apresentarem em seus
discursos a importância das TICs para o desenvolvimento socioeconômico da
sociedade, pouco fazem em relação à ampliação do conhecimento e das possibilidades
que as TICs ofertam para uma sociedade desigual.
Dessa forma, a inclusão digital no Brasil segue os preceitos do capitalismo, que
40
amplia a desigualdade social e prioriza apenas uma classe, a qual pertence o poder que,
no caso da Sociedade da Informação, passou a ser o conhecimento.
Se é verdade que a Internet veio para democratizar o conhecimento, o que se
notou, por meio das análises apresentadas nesta monografia, foi que o Brasil está
distante desta realidade. A Internet pode ser compreendida como um instrumento da
Sociedade Informacional capaz de gerar mais desigualdade social, não só porque o
acesso ao computador e à rede de alta velocidade é restrito, mas porque a maioria da
população não terá condições econômicas e sociais, mesmo depois de incluídas, de
acompanhar a capacidade e a velocidade brutal com que esse sistema se recicla,
conforme aponta a dromoaptidão.
Dessa forma, fica a reflexão acerca da possibilidade real de inclusão digital no
Brasil e o que o Governo Federal poderá construir e implementar, considerando a
velocidade dessa nova sociedade e a necessidade do desenvolvimento de conhecimentos
cognitivos e não somente de acesso para diminuir ou quem sabe eliminar os que estão à
margem da Sociedade da Informação, incluindo a todos.
41
REFERÊNCIAS
ATLAS Brasileiro de Telecomunicação. Disponível em:
<http://issuu.com/telaviva/docs/atlas2014_site>. Acesso em: 01 set. 2014.
ANATEL. Plano de Metas de Universalização. Disponível em:
<http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalNivelDois.do?codItemCanal=1277&nome
Visao=Cidad%E3o&nomeCanal=Telefonia%20Fixa&nomeItemCanal=Universaliza%E
7%E3o>. Acesso em: 05 set. 2014.
BALBONI, Mariana Reis. Por detrás da inclusão digital: uma reflexão sobre o
consumo e a produção de informação em centros públicos de acesso à Internet no
Brasil. 2007. Tese (Doutorado) – Departamento de Jornalismo e Editoração, Escola de
Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
BRASIL. Decreto de 03 de abril de 2000. Diário Oficial da União, 04 de abr. 2000.
Sec. I, p. 4. Disponível em:
<http://www.governoeletronico.gov.br/anexos/E15_90Decreto_3_de_abril_de_2000.pdf
>. Acesso em 13 ago. 2014.
BRASIL. Decreto n.º 7.175, de 12 de maio de 2010. Plano Nacional de Banda Larga.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2010/Decreto/D7175.htm>. Acesso em: 12 set. 2014.
BRASIL. Lei nº 9.472, de 16 junho de 1997. Lei Geral de Telecomunicações.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9472.htm>. Acesso em: 05
set. 2014.
BONILLA, Maria Helena Silveira; PRETTO, Nelson de Luca (Org.). Inclusão digital:
polêmica contemporânea. v. 2. Salvador: EDUFBA, 2011.
CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a
sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
42
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede: Economia, Sociedade e Cultura. v. 1. 6.
ed. São Paulo: Paz e Terra, 2013.
CAZELOTO, Edilson. Inclusão Digital: uma visão crítica. São Paulo: Senac, São
Paulo. 2008.
COGNIÇÃO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation,
2014. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Cogni%C3%A7%C3%A3o&oldid=3967355
1>. Acesso em: 1 jul. 2014.
COSTA, Leonardo Figueiredo. Inclusão digital: conceitos, modelo e semântica.
Trabalho apresentado ao NP Tecnologias da Informação e da Comunicação, do 6°
Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom. 29° Congresso Brasileiro de Ciências
em Comunicação – UnB. Disponível em:
<http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/errata2006/R1485-1.pdf>. Acesso
em: 03 maio 2014.
DECLARAÇÃO Universal dos Direitos do Homem. 1948. Disponível em:
<http://unicrio.org.br/img/DeclU_D_HumanosVersoInternet.pdf>. Acesso em: 25 de
ago. 2014.
DECLARATION of Principles Building the Information Society: a global challenge in
the new Millennium. 12 Dec. 2013. Disponível em:
<http://www.itu.int/wsis/docs/geneva/official/dop.html>. Acesso em: 02 jun. 2014.
DEMO, Pedro. Demo. Marginalização Digital: digital divide. B. Téc. Senac: a R.
Educ. Prof., Rio de Janeiro, v. 33, n.2, maio/ago. 2007.
MICHAELLIS: Dicionário de Português Online. Dromo. Disponível em: <
http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=aptid%E3o>. Acesso em: 24 ago. 2014.
MICHAELLIS: Dicionário de Português Online. Incluir. Disponível em:
43
http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=incluir . Acesso em: 25 ago. 2014.
FELINTO, Erick. Cibercultura: ascensão e declínio de uma palavra quase mágica.
Revista e-Compós, Brasília, v. 14, n. 1, jan./abr. 2011. Disponível em:
<http://www.compos.org.br/seer/index.php/e-compos/article/viewFile/548/511>.
Acesso em: 13 ago. 2014.
HETKOWSKI, Tânia Maria (Org.). Políticas públicas & inclusão digital. Salvador:
EDUFBA, 2008. Disponível em:
<https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ufba/202/1/Politicas%20publicas%20e%20inclu
sao%20digital.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2014.
HIRANO, Sedi. Castas, estamentos e classes sociais: introdução ao pensamento
sociológico de Marx e Weber. 3. ed. rev. Campinas: Unicamp, 2002.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, 2013. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_pesqui
sa=40>. Acesso em: 18 set. 2014.
INFORMATION Economy Report, 2013, UNCTAD, 2013. Disponível em:
<http://unctad.org/en/PublicationsLibrary/ier2013_en.pdf >. Acesso em: 15 maio 2014.
LEMOS, André. Cidades Digitais. Portais, Inclusão e Redes no Brasil. Salvador:
EDUFBA, 2007. Disponível em:
<https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ufba/137/1/Cidade%20digital.pdf>. Acesso em:
01 mar. 2014.
LEMOS, André; COSTA, Leonardo Figueiredo. Um modelo de inclusão digital: o caso
da cidade de Salvador. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la
Información y Comunicación, v. VIII, n. 6, Sep./Dic. 2005. Disponível em:
<http://www2.eptic.com.br/arquivos/Revistas/VII,n.3,2005/AndreLemos-
LeonardoCosta.pdf>. Acesso em: 01 ago. 2014.
44
LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. Tradução
de Luiz Paulo Rouanet. São Paulo: Loyola, 2007. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=N9QHkFT_WC4C&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 05 maio
2014.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
MATOS, Fernando Augusto Mansor de; SANTOS, Bruna Daniela Dias Rochetti.
Sociedade da informação e inclusão digital: uma análise crítica. Liinc em Revista, Rio
de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 117-132, mar., 2009. Disponível em:
<http://www.ibict.br/liinc>. Acesso em: 03 maio 2014.
MEASURING the Information Society Report, UIT, 2013. Disponível em:
<http://www.itu.int/en/ITU-D/Statistics/Pages/publications/mis2013.aspx> . Acesso em:
15 maio 2014.
OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Relatório
Territorial Brasil 2013. Disponível em: <http://www.oecd-ilibrary.org/urban-rural-
and-regional-development/relatorio-territorial-da-ocde-brasil_9789264189058-pt>.
Acesso em: 01 set. 2014.
ORGANIZAÇÃO para a cooperação e desenvolvimento económico. In: WIKIPÉDIA, a
enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2014. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Organiza%C3%A7%C3%A3o_para_a_Coop
era%C3%A7%C3%A3o_e_Desenvolvimento_Econ%C3%B3mico&oldid=40027236>.
Acesso em: 12 set. 2014.
PAUL Virilio. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation,
2014. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Paul_Virilio&oldid=37881597>. Acesso em:
01 ago. 2014.
PLANO de Metas de Universalização. Disponível em:
45
<http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalNivelDois.do?codItemCanal=1277&nome
Visao=Cidad%E3o&nomeCanal=Telefonia%20Fixa&nomeItemCanal=Universaliza%E
7%E3o>: Acesso em: 05 set. 2014.
Programas de Inclusão Digital – Governo Eletrônico. Disponível em:
<http://www.governoeletronico.gov.br/acoes-e-projetos/inclusao-digital>. Acesso em:
03 ago. 2014.
RADAR Social 2006 – IPEA. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/02_renda.pdf>. Acesso em:
01 set. 2014.
SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Exclusão digital: a miséria na era da informação. São
Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005.
SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. A noção de exclusão digital diante das exigências de
uma cibercidadania. In: Políticas públicas e inclusão digital. Salvador: EDUFBA,
2008. v. 1, p. 20-41.
SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Convergência digital, diversidade cultural e esfera
pública. In: Além das redes de colaboração: internet, diversidade cultural e
tecnologias do poder. Salvador: EDUFBA, 2008. v.1, p. 31-50.
SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Para Além da Inclusão Digital: poder comunicacional e
novas assimetrias. In: BONILLA, Maria Helena Silveira; PRETTO, Nelson de Luca
(Org.). Inclusão digital: polêmica contemporânea. v. 2. Salvador: EDUFBA, 2011.
SOUSA, Mauro Wilton de. Bibliografia Comentada: Práticas de recepção mediática: o
pertencer ao comum social. Grupo de Estudos sobre Práticas de Recepção a Produtos
Mediáticos. Revista Novos Olhares, ano 4, número 7, 1º sem. 2001, p. 47-53.
Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/novosolhares/article/view/51348/55415>.
Acesso em: 01 jun. 2014.
SOUSA, Mauro Wilton de. O pertencimento ao comum mediático: a identidade em
46
tempos de transição. Significação: Revista de Cultura Audiovisual, n. 34, p. 31-52,
2010. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/significacao/article/viewFile/68112/70670>. Acesso em: 01
jun. 2014.
SOUSA, Mauro Wilton de. O comum midiático e o pertencimento nas práticas de
recepção em comunicação. Grupo de Estudos sobre Práticas de Recepção a Produtos
Mediáticos. Revista Novos Olhares, ano 4, n. 11, 1º sem. 2003, p. 34-45. Disponível
em: <http://www.revistas.usp.br/novosolhares/article/view/51380>. Acesso em: 01 jun.
2014.
STAROBINAS, Lílian. Paulo Freire e a Emancipação Digital. Redemoinhos, São
Paulo, ano IV, n. 9 – Edição Especial – nov./dez. 2005. Enviado pela autora por e-mail
em 24 jun. 2009.
WARSCHAUER, Mark War. Tecnologia e inclusão social: a exclusão digital em
debate. São Paulo: Senac, 2006.
TAKAHASHI, Tadao (Org.). Sociedade da informação no Brasil: livro verde.
Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000. Disponível em:
<http://www.livrosgratis.com.br/arquivos_livros/ci000005.pdf>. Acesso em: 04 ago.
2014.
TIC Domicílios, 2013. Disponível em: <http://cetic.br/noticia/tic-domicilios-indica-que-
31-da-populacao-brasileira-usa-internet-pelo-telefone-celular/10044>. Acesso em: 03
set. 2014.
TRIVINHO, Eugênio. A Dromocracia Cibercultural: lógica da vida humana na
civilização mediática avançada. São Paulo: Paulus, 2007a.
TRIVINHO, Eugênio. Cibercultura e existência em tempo real. Contribuição para a
crítica do modus operandi de reprodução cultural da civilização mediática avançada.
Revista E-Compós, Brasília, p. 1-17, ago. 2007b. Disponível em:
<http://www.compos.org.br/seer/index.php/e-compos/article/view/151/152>. Acesso
47
em: 01 ago. 2014.
TRIVINHO, Eugênio. Introdução à dromocracia cibercultural: contextualização
sociodromológica da violência invisível da técnica e da civilização mediática avançada.
Revista Famecos, Porto Alegre, n. 28, p. 63-78, dez. 2005. Disponível em:
<http://revistas.univerciencia.org/index.php/famecos/article/viewFile/452/379>. Acesso
em: 01 ago. 2014.
Vale do Silício. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation,
2014. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Vale_do_Sil%C3%ADcio&oldid=39758860
>. Acesso em: 1 jul. 2014.