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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO
ROBSON ASHTOFFEN
A Informação e o Ser: uma visão ontológica-fenomenológica para a Ciência da Informação.
São Paulo
2011
ROBSON ASHTOFFEN
A Informação e o Ser: uma visão ontológica-fenomenológica para a Ciência da Informação.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Departamento de Biblioteconomia e Documentação da
Universidade de São Paulo (CBD-ECA-USP) para a
obtenção de título para bacharel em Biblioteconomia e
Documentação.
Orientador: Marcos Luiz Mucheroni
São Paulo 2011
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer
meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que
citada a fonte.
Contato: [email protected]
Catalogação publicada pelo próprio autor.
ASHTOFFEN, Robson. A Informação e o Ser: uma visão ontológica-fenomenológica para a Ciência da Informação / Robson Ashtoffen; Marcos Luiz Mucheroni (Orientador). São Paulo, 2011. 107 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Biblioteconomia) - Departamento de Biblioteconomia e Documentação. Escola de Comunicações e Artes. Universidade de São Paulo. 1. Ciência da Informação – Conceito de Informação. 2. Epistemologia da Ciência – crítica a Ciência da Informação. 3. Ciências da Comunicação – Ontologia e Fenomenologia. 4. Chaiss I. Autor. II. Título. III. Orientador.
Nome: ASHTOFFEN, Robson.
Título: A Informação e o Ser: uma visão ontológica-fenomenológica para a
Ciência da Informação.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de
Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo para obtenção do título de Bacharel em
Biblioteconomia e Documentação.
Aprovado em:
Banca Examinadora
Prof. Dr. Martin Grossmann Instituição: CBD-ECA-USP Assinatura: ______________ Prof. Dr. Johanna W. Smit Instituição: CBD-ECA-USP Assinatura: ______________ Prof. Dr. Marcos Luiz Mucheroni Instituição: CBD-ECA-USP Assinatura: ______________
Agradecimentos
Aos meus progenitores, Mãe como guerreira e Pai como mago, que me
afirmaram como ser e transformação, base para que estas linhas de
pensamento fossem escritas.
Aos irmãos que me fazem ser eu na substância do outro e ajudaram-me
na crítica ao que nos rodeia com conversas e vivências, David, Rodrigo Mano
Guiga, Fábio Albuquerque, Guilherme, Messias, Felipe Lima, Darilha, e todos
do Jd. São Luiz e Pq. Santo Antônio; Abraão “EVO” Antunes da Silva, Tomé
“Thor”, Roberto Brizaks, Ana Marysa, Otávio Rossato, João Pedro Quadro
Moraes “JP”, Sônia Barreto, Vagnão Djahdema, Guilherme “raiado”, Mariana
Restani, Mariana Marcondes, Viviane Neves, Turma do noturno de
Biblioteconomia de 2006, Victor Toso e todos de Perus, Marcos Mucheroni,
Andréia, Xis, Rafael E.T., Renata Silva, Nair Kobashi, Johanna Smit, Gilvani
Moletta, entre infinitos outros.
Às bibliotecas da ECA e FFLCH e ao restaurante central do campus
Butantã.
Ao Chaiss.
Não entendo.
Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado.
Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação: quero
entender um pouco.
Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.
Clarice Lispector
Quando a raiz é firme, os ramos florescem.
(Provérbio Chinês)
Resumo
ASHTOFFEN, Robson. A Informação e o Ser: uma visão ontológica-fenomenológica para a Ciência da Informação / Robson Ashtoffen; Marcos Luiz Mucheroni (Orientador). São Paulo, 2011. 107 p. Apresenta-se a partir de uma estrutura dialética uma linha argumentativa crítica, que através do questionamento sobre a natureza do conceito de Informação e da epistemologia da Ciência da Informação propõe-se que somente uma mudança de visão de mundo (Weltanschauung) possibilita uma relação não-instrumentalizada e não-reducionista do conceito de informação. A hipótese deste trabalho através da visão ontológica-fenomenológica e da Etimologia do conceito de Informação postula-se que informar-se é um processo. Pensada ontologicamente permite um caminho para se pensar a posição do ser, do cidadão comum, daquele que informa-se e detém o direito de tal. A partir do pensamento e questões ontológicas de Martin Heidegger o trabalho estende uma crítica ao esquecimento do ser e a operacionalização da vida cotidiana que desvelam a atual crise socioeconômica, cultural e global. A Internet é o ápice tecnológico dessa crise que nos coloca frente ao conceito de Informação e sua impassibilidade de definições em uma mudança de relações sociais culturais, lingüística e ontológica. A crítica a Ciência Moderna revela a incapacidade desse sistema de pensar informação na sociedade atual. Há de se pensar uma nova prática científica considerando o ser, o indivíduo que vive no mundo como parte dele, o ser-no-mundo. Palavras-chave: Informação, Ontologia, Fenomenologia, Ciência da Informação, Epistemologia, Ser.
Sumário
Exórdio
TESE Cap. 1 – Contextualização histórica e as origens da Ciência da Informação...13 1.1 – O Conceito de Informação e o problema epistemológico..............16 Cap. 2 – Principais correntes teóricas da Ciência da Informação.....................24 2.1 – O Paradigma Físico, Social, Cognitivo e outras vertentes.............25 Cap. 3 – As pseudo-definições..........................................................................40 ANTÍTESE Cap. 4 – O conceito de informação ontológica-fenomenológica.......................42 4.1 – Etimologia de Informação – um conceito metafísico......................51 4.2 – Metafísica de Aristóteles – Potência e Ato.....................................54 4.3 – O Meio Elucidativo. A contingência, a língua, a cultura, a moral, a vivência (visão de mundo) e a psiqué (estado psíquico do indivíduo)...............59 4.4 – A fenomenologia de Heidegger e a crítica à objetividade da ciência (ou o Esquecimento do Ser)..............................................................................68 SÍNTESE Cap. 5 – O problema interdisciplinar e considerações para uma construção epistemológica da CI.........................................................................................82 Cap. 6 – Uma outra visão de mundo - A Questão social, cultural e ética da informação. O questionar na práxis...................................................................91
Cap. 7 – Considerações finais – Um novo horizonte na ciência e no pensamento crítico da Informação. As visões de mundo e a possibilidade de transformação pelo ser......................................................................................95 Bibliografia.........................................................................................................98
9
Exórdio. 1
Informação é antes uma questão. A Ciência da Informação tem como
objeto de estudo a Informação, um conceito complexo, que escapa a
definições. Não há um consenso na área nessa Ciência sobre o que é
informação, o que resulta em uma inconsistência epistemológica. É possível
pensar cientificamente a informação? O que pensa sobre informação a C.I.,
além disso, é suficiente a sua abordagem frente aos problemas sociais do
Brasil e do mundo? Ao pensarmos informação é inegável a relação deste
conceito com a sociedade, a cultura, a historicidade e principalmente o ser,
este esquecido pelo positivismo científico e o fazer sistema científico moderno.
A importância de se voltar a questão da informação para aquele que se informa
e relaciona-se com informação é urgente. A posição crítica perante a situação
política, social e estrutural da Ciência da Informação e seu objeto é base neste
trabalho, deste modo, o objetivo é tratar a questão da Informação no sentido do
ser tecendo uma análise crítica do campo teórico da C.I. e da busca por uma
definição de informação. Crítica esta baseada na filosofia e questionamentos
sobre o ser de Martin Heidegger propondo uma visão de mundo ontológica-
fenomenológica diante do conceito de informação levantando questionamentos
sobre a condição social da ciência, da ideologia na sociedade atual e a cultura,
educação e tecnologia.
A estrutura deste trabalho se dá em uma tríade axial dialética, a saber:
Tese, Antítese e Síntese. A razão da estrutura dialética é o ob-jetar para
superar. É uma objeção que se torna meio, para o fim da síntese, assim,
propondo outros caminhos e visões de mundo, sustentado pelas visões
antitetizadas. Não se trata aqui de excluir as teorias da Ciência da Informação,
mas pô-las em oposição a si mesmas e a um outro pensar. É como diria
Platão, “um passeio através das ideias”, Dialektikê em grego, antes de
qualquer acepção hegeliana. Como diz Mário Ferreira dos Santos:
“A dialética, portanto, trabalhando entre trevas e luz, não
poderia ter melhor concretização que na discussão, no discorrer,
1 Começo, início, preparação ou parte do discurso que tem por finalidade preparar o espírito dos ouvintes para ouvir o orador. (BUENO, 1963, v. 3, p.1314).
10
portanto no diálogo. (...) E da oposição, do pôr-se em face do outro (e
posição em grego é thesis, e oposição antithesis), não seria difícil que
surgisse muitas vezes um esclarecimento com-posto de ambas
posições opostas. (e syn-thesis é composição).” (SANTOS, 1956, p.
88-89).
A partir deste método constitui este trabalho crítico perante as teorias e
os estudos sobre o conceito de informação na Ciência da Informação, sob o
eixo dialético que pressupõe em sua essência o diálogo e um esclarecimento
do conceito tão difuso como informação.
A Tese contempla a análise das principais correntes teóricas da Ciência
da Informação no que tange a definição e a natureza do conceito de
informação. A partir de uma exposição das teorias a presente monografia
descreve pontos convergentes e divergentes em relação aos paradigmas
adotados à hipótese deste trabalho. Com o conjunto de divergências e
convergências explanados de modo argumentativo-lógico, a Tese não se limita
somente em uma exposição teorética, vai além em si mesma, construindo as
bases de esclarecimento da hipótese.
Para a seleção de autores e principais teorias foram consultadas as
bases de referência BRAPCI e os autores mais citados na área que pesquisam
e publicam sobre o conceito de Informação, sobre Epistemologia da Informação
e Filosofia da Informação, nas principais revistas científicas online
especializadas em Ciência da Informação, tais quais, Journal of Information
Science, Revista Ciência da Informação (IBICT), Information Research (IR),
Perspectivas em Ciência da Informação, Informação & Sociedade, Encontros
Bibli: revista de Biblioteconomia e Ciência da Informação da UFSC,
DatagramaZero, Social Science Information Studies, Journal of the American
Society for Information Science and Tecnology (JASIST), para citar os
principais. As palavras-chave para a pesquisa a partir dessas bases foram:
Informação, Conceito de Informação, Teoria da Informação, Paradigma Físico,
Cognitivo e Social, Concept of Information, Philosophy of Information,
Information Ethics, Etimologia da Informação, Epistemologia da Ciência da
Informação, Interdisciplinaridade, Correntes teóricas, Information,
Fenomenology, fenomenologia.
11
A partir da ambientação das visões diversas do conceito de informação
formata-se a Antítese, que discorre criticamente sobre as falhas conjecturais,
epistemológicas e filosóficas da Ciência da Informação, moldada na Hipótese
(conceito de Informação Ontológica-Fenomenológica) cuja fundamentação
teórica está na metafísica de Aristóteles e na fenomenologia de Heidegger.
Propõe-se uma outra visão sobre o conceito, identificando o pseudo-problema
da definição de informação como falha epistemológica, pois informação não é
passível de definição como demonstra este eixo Antítese. A questão modifica-
se: ao invés de se pensar “O que é informação?” deve-se indagar “O que é o
conceito de Informação?” sob o aspecto filosófico, crítico e histórico. A
sociedade, o cidadão, a informação pública, o mercado, as contingências, etc,
são fatores que influenciam diretamente no pensar sobre a informação e
constituem a essência do informar-se. Uma mudança de visão de mundo é
necessária para a academia, a política e a ciência e através dessa mudança
viabilizar transformações sociais e culturais sobre o ser-no-mundo, ou seja,
todo aquele que se informa, que conhece e transforma.
A Síntese é o desaguar dos questionamentos numa fundamentação
prática. O que a mudança da visão de mundo influencia no transformar e no
viver deste? O que podemos transformar com uma outra maneira de pensar a
informação? Esta parte final do trabalho não expõe uma conclusão, mas
apontamentos críticos sobre a estrutura científica da C.I., do pensamento e da
prática sob o conceito de informação. Uma transformação na atual estrutura
das ciências é urgente. Informação é um conceito que não objetiva-se e não
restringe aos saberes de uma única ciência. Nesta síntese há uma proposta de
uma C.I. articuladora de áreas do conhecimento que a partir de três eixos
principais; educação, tecnologia e cultura, dialogam diretamente entre si e
questionam-se sobre os problemas sociais e suas ideias sobre a informação na
sociedade e para o indivíduo que detém do direito de informar-se, conhecer e
transformar. Os entraves do sistema político, da ciência no Brasil, e da
estrutura acadêmica dificultam uma proposta de diálogo entre as ciências e,
portanto, de uma mudança no pensamento científico, todavia a crítica
apresentada neste trabalho traz a tona a situação atual da ciência e da
universidade, assim como, a postura da Ciência da Informação em relação a
sociedade e a cultura.
12
A justificativa construiu-se a partir de leituras sobre a Ciência da
Informação e sua situação epistemológica, além da questão de importância
sobre a informação na nossa sociedade, do dever ético de se pensar algo
crítico e não somente reprodutor de pensamentos já sedimentados no meio
acadêmico. As leituras filosóficas, principalmente de Heidegger me aludiram
questionamentos e uma posição crítica perante o reducionismo e a forma
positivista da ciência. A situação socioeconômica do Brasil, as pessoas que
vivem neste país e não enxergam em si uma possibilidade qualquer de
transformação do seu meio, o terrível estado da educação e o esquecimento da
cultura e da existência do ser são justificativas vivas e suficientes para a feitoria
deste trabalho.
13
TESE
Cap. 1 – Contextualização histórica e as origens da Ciência da
Informação.
Nascida sob a categoria de ciência interdisciplinar, a C.I. teve sua
origem em meio à revolução científica do pós-guerra. A publicação do artigo
seminal “As may we think” de Vannevar Bush, um dos líderes no
desenvolvimento militar-industrial dos Estados Unidos causou alvoroço no meio
acadêmico e ecoou de forma que soasse verdadeira a sua preocupação no
tratamento (ou controle) da informação científica peça chave de uma guerra, e
sua melhor compreensão, dados os aprendizados dolorosos das duas grandes
guerras.
Os ecos políticos de suas declarações percorreram a Europa
(claramente os países que participaram das guerras tinham a mesma
preocupação com as tecnologias, a informação e os poderes de decisão) e em
1946, em Londres a Royal Empire Society Scientific Conference fora realizada
para discutir a informação, como mesmo o nome diz, científica. Na Rússia, na
época ainda URSS, criou-se em 1952, vinculado à Academia de Ciências da
Rússia, o VINITI – Vserossiisky Institut Nauchnoi i Tekhnicheskoi, ou, All-Union
Institute for Scientific and Technical Information, (FREIRE, 2006). Podemos,
ironicamente sugerir, que a criação deste instituto na União Soviética e sua
relação com a guerra fria são meras coincidências. No Brasil, tardiamente, pelo
IBICT (Instituto Brasileiro de Informação, Ciência e Tecnologia) a Ciência da
Informação instituiu-se na pesquisa nos anos 70.
Muitos cientistas, principalmente das ciências naturais, interessados nos
assuntos pertinentes à ciência, à informação e à comunicação científica
compareceram à conferência e publicaram resultados. Nos EUA houve também
uma conferência, no estado da Geórgia, chamado Conferences on Training
Science Information Speacialists. Fora uma pequena reunião que não mostrou
sólidos resultados; entre os participantes havia bibliotecários e professores da
própria universidade (BARRETO, 2008).
Paul Otlet, o pai da Documentação, é considerado também por muitos o
pai da C.I. Se compararmos o nascimento dos estudos em informação
14
científica e o pensamento de Otlet, há uma clara divergência. Otlet tinha em
mente a visionária, porém eurocentrista ideia de acesso aos documentos e a
importância do estudo destes. O contexto histórico é dispare. Na Royal Empire
Society Scientific Conference a intenção era de entender a informação e sua
importância nas comunidades científicas criando linhas de pesquisa e
impulsionando a discussão da informação científica para o uso político desta.
Quanto mais se estuda e compreende a informação, mais se manipula a
tecnologia a favor daquele que detém o poder monetário e de investimentos,
esta é a lógica militar. A C.I. nasceu em uma gama de interesses, regiões,
culturas e ideologias2 diferentes; sendo que as interpretações e textos que
discorrem a “História da Ciência da Informação” divergem quanto ao seu
começo. Uns relatam a gênese na biblioteconomia/documentação (com Otlet),
confundindo documentação com informação (visão esta considerada
materialista3) (LE COADIC, 2004), outros remetem ao início da C.I. com as
conferências citadas acima, dos EUA e Europa (SARACEVIC, 1996), porém, o
conceito de informação é pertinente tanto quanto a documentação e
biblioteconomia e tanto a C.I. como uma ciência autônoma, independentemente
de questionamentos quanto a quem detém o nascimento da ciência. É sabido
que esse nascimento é crítico e mantém-se em uma crise de mutagênese, pois
aderiu a si um conceito peculiar, ou não passível de definição, a informação.
Analisemos a citação de Borko que define a meta da C.I.:
“Information science is that discipline that investigates the properties and behavior of information, the forces governing the flow of information, and the means of processing information for optimum accessibility and usability. It is concerned with that body of knowledge relating to the origination, collection, organization, storage, retrieval, interpretation, transmission, transformation, and utilization of information. This includes the investigation of information representations in both natural and artificial systems, the use of codes for efficient message transmission, and the study of information processing devices and techniques such as computers and their programming systems. It is an interdisciplinary science derived from
2 Ideologia – uma questão de contexto discursivo, de relação de poder, sendo direcionada à promoção ou legitimação de uma ideia correspondente a uma visão de mundo, ou crenças situadas em relações vivenciadas. (EAGLETON, 1997).
3 Materialista aqui é retratada como uma visão objetivada do conceito de informação, ou seja, informação como coisa, confundindo-se com o documento, o livro, etc. De nada nos referimos ao Materialismo Histórico ou qualquer doutrina marxista neste ponto.
15
and related to such fields as mathematics, logic, linguistics, psychology, computer technology, operations research, the graphic arts, communications, library science, management, and other similar fields. It has both a pure science component, which inquires into the subject without regard to its application, and an applied science component, which develops services and products.” (BORKO, 1968, p. 3).
A posição de Borko é derivada do pragmatismo, identificado nos termos
“optimum” e “use”, otimizar e usar, respectivamente. Otimizar para satisfazer a
quem? Borko define a C.I. pelo ponto de vista materialista, confere à
informação seu caráter sólido e tangível: “origination, collection, organization,
storage, retrieval, interpretation, transmission, transformation, and utilization of
information.” Não há uma definição clara e consensual do que é informação,
esta só está subentendida como derivada do pensamento de que informação é
documento e pode ser manipulável, estocado, recuperado operacionalmente.
O aspecto mercantilista é desvelado quando abordado pelo autor, “which
develops services and products”. Pergunta-se: produtos para quem? Serviços
para o mercado somente? De quem é o interesse na “organização e
disseminação” da informação? Para quem a C.I. estuda? Wersig e Neveling4
(1975 apud SARACEVIC, 1996, p. 45) apontam a direção desta questão,
“atualmente, transmitir o conhecimento para aqueles que dele necessitam é
uma responsabilidade social, e essa responsabilidade social parece ser o
verdadeiro fundamento da C.I.” Ao se falar em responsabilidade social tocamos
no assunto da ética, da ideologia, da política, pontos críticos, complexos e
importantes para o desenvolvimento de uma ciência e sua razão de ser. O
criticismo tem seu lugar para reconhecer as fendas e tornar mais claro o estado
atual de uma ciência, e embate com as posições ideológicas de grupos e
governos, pois achar fendas pode comprometer o interesse de alguns. A
ingenuidade teórica, ou mesmo pensar numa neutralidade da ciência é
descartada neste trabalho. A crítica está na historicidade, na análise lógico-
argumentativa e em todo decorrer permeado nestas linhas, deste modo, a partir
de uma recorrência histórica podemos melhor compreender as fendas e propor
discussões e caminhos solucionáveis para a nascente C.I.
4 WERSIG, G., NEVELING, U. The phenomena of interest to information science. The Information Scientist. v.9, n.4, 1975.
16
Como dito exatamente no início deste capítulo, a C.I. é uma ciência
interdisciplinar. Nascida no meio de cientistas que pretenderam estudar a base
primária das suas ciências, a informação. As visões de mundo são conflituosas
e criam o debate a quem pertence a C.I., ou se deve bastar-se a si mesma
como autônoma. A interdisciplinaridade é tanto um problema quanto uma
solução; problema quando se pensa uma relação entre ciências e disciplinas
de épocas diferentes com diferentes doutrinas e a dificuldade de se transformar
o sistema acadêmico e científico departamental e especializado, avesso ao
diálogo entre as áreas do saber; e solução, quando se pensa que o termo
informação é pertinente para a Ciência como sistema, e que pensar informação
gera, instantaneamente, uma incursão na psicologia, na filosofia, nas ciências
naturais, na computação, na sociologia, recentemente, nas ciências cognitivas
e neurociências. Informação é um termo peculiar, indefinível, permite diversas
interpretações e definições, ao mesmo tempo em que não se basta em uma
definição única e solucionável para todas as ciências e principalmente a C.I.
1.1 – O Conceito de Informação para a Ciência da Informação e o problema epistemológico.
Toda ciência tem o seu objeto de estudo específico, definido e
objetivado. A Ciência da Informação tem o seu problema conceitual, pois define
e objetiva um conceito não passível de objetivação. Informação, o que é? Deve
ser analisada pela filosofia? É possível que uma ciência consiga objetivá-la? E
como os estudos sobre informação, que a primeira vista aparenta ser um termo
demasiadamente abrangente, podem ser válidos e coerentes à sociedade?
Como a sociedade pensa a informação? Esse é apenas um lapso de questões
que surgem ao nos debruçarmos sobre este complexo conceito, e levando em
consideração a historicidade das ciências, dos estudos filosóficos da Teoria do
Conhecimento, e a comunicação. Não há como deixarmos isolado o termo
informação, da cultura, do indivíduo, do meio, etc. São diversos fatores e
contingências a se considerar, cria-se uma rede complexa e obscura de
pesquisa. A Ciência da Informação desenvolve-se nesse complexo de
conceitos e velamentos teóricos. A fundamentação teórica é dispare e pouco
convergente; as convergências encontradas são fechadas em paradigmas e
17
visões de mundo que não se comunicam com outras formas de pensamento.
Esse conflito teórico, que será abordado no próximo capítulo, é a elucidação da
situação epistemológica da C.I. Há um problema categórico de conceitos,
teorias, pseudoproblemas, demasiada objetivação das concepções científicas.
Os conflitos de uma ciência são acompanhados por interesses,
ideologias, estas atreladas às visões de mundo dos cientistas, as doutrinas de
suas criações, nacionalidades. A neutralidade do discurso científico é uma
falácia, tenhamos isso em mente. Como uma ciência social, a C.I. encontra o
clássico problema do sujeito e objeto. Diferentemente das ciências naturais, as
ciências humanas nascem no mar da complexidade de pensamentos e
permeiam mais questões do que verdades, ou mesmo Leis. O questionar está
no embasamento das ciências, sendo que encontramos uma contradição em
dizer algo sobre uma ciência das questões. Objetivação do homem,
cientificismo, olhar analítico, cartesiano, positivista, etc; todas essas
denominações buscam por verdades, fins e utilidade, porém um conceito que
não se deixa delinear é impalpável, impossível de se experimentar em um
laboratório, ou em modelos de análise, foge desta caixa objetivadora. Ciência
da Informação é antes uma questão, e toda questão emerge conflitos, a não
ser que o interesse ideológico mútuo seja a unificação teórica, mas estamos
longe desta realidade de dubitável concretização.
A questão do conceito de informação e seu problema epistemológico
movimentam as publicações científicas sobre metateorias5. Este é um sinal do
estágio de construção epistemológica da C.I. Se nos referimos a construção,
isto quer dizer que há uma meta, uma teleologia. Especulações sobre uma C.I.
com uma epistemologia única, concreta e produtiva são meros vôos ideais,
como no exemplo do trabalho de Schrader (1983), que identificou mais de 700
definições no contexto da C.I. Há um claro esforço na construção de uma
epistemologia da C.I., porém as divergências ainda apontam para maiores e
contínuos conflitos. A posição de Brookes (1991) mostra a necessidade de uma
unificação teórica, em que esta ciência tenha sua própria visão dos casos
humanos e desenvolva seus próprios princípios e técnicas. Mas como é
5 Metateoria é a discussão teórica frente a teorias e paradigmas de uma ciência, uma discussão sobre as teorias predominantes em uma ciência, pelo viés, ontológico, axiológico, epistemológico, teleológico e ideológico. (TALJA, 2005).
18
possível desenvolver tal ambição se a ciência tem um problema congênito em
sua epistemologia e recorre a conceitos de outras ciências? Como podemos
pensar informação sem uma relação com o conhecimento, comunicação,
política, direitos, ética? Sua junção com outros correlatos de outras áreas é
inevitável. Talvez o que se pode dizer de lúcido em Brookes é a construção de
uma nova visão de mundo, uma concepção própria da C.I., para que então esta
consiga delinear-se, tornar-se clara a si, porém sempre remetendo ao meio e a
rede emaranhada de relações científicas. Não há possibilidade para se pensar
numa ciência estanque, mas sim numa ciência comunicativa e permeadora, ou
seja, uma ciência do conflito de ideias per se.
Há ainda uma confusão entre informação e documentação, onde se
situa a visão materialista da informação. O reducionismo materialista de
considerar ‘documento = informação’ é um facilitador da objetivação dos
conceitos, porém simultaneamente, limitador. Onde está a prova concreta que
informação de fato é documento? O discursar não é informação? O registro é
somente material? E a memória? A oralidade fora banida, assim como o meio e
tempo desta oralidade, do documento e daquele que o gerou? Emergimos aqui
questões que iremos discutir mais a fundo na hipótese, e sua função nesta
primeira parte é gerar os primeiros movimentos de conflito, continuemos.
A importação de teorias da Filosofia, Matemática, Física, Psicologia,
Sociologia geram as principais confusões. Sem uma clareza epistemológica, a
importação de termos e ideias não convencem mesmo maquiadas como
interdisciplinaridade. Utilizar conceitos já consagrados de outras áreas é uma
tarefa que exige cuidado. A etimologia permite compreender o percorrer
histórico de um conceito, sua utilização e concepção pelas ciências e pelas
linhas de pensamento em determinada época. É impossível pensar informação
a partir do zero conceitual e a interpretação deve ser coerente e com a função
de gerar ideias questionadoras, críticas, não somente delimitadoras. Talvez a
necessidade de logo se pensar a prática, as condições do mercado,
condicionem a uma simplificação definidora do conceito de informação. O
conceito de entropia, por exemplo, atribuído originalmente à Física, é utilizado
em larga escala e creditado e definido somente como “caos”, “desordem”, não
19
se consideram as leis da termodinâmica, suas atuais revisões6; e importam o
termo para as ciências humanas, sendo que a Física considera a entropia
como uma teoria física, ou seja, somente aplicável aos cálculos físicos sob o
ponto de vista desta ciência. A integração de termos de outras ciências é
sempre passível de confusões e incoerências lógicas, ou mesmo tautologias. O
que deve ser feito com cuidado e com um estudo acurado é a interpretação
desses termos, que muitas vezes não resultam em sucesso. Ao cruzar as
ciências, a interpretação e as justificativas devem ser claras e coerentes, e não
cheias de definições simplórias e pseudo-definições.
Uma maior atenção ao aspecto semântico da informação causou uma
reconsideração na teoria de Shannon, emergindo o Paradigma Cognitivo da
Informação que considera o significado e não somente o sinal. Significado está
intrínseco à linguagem e esta, por sua vez, ao indivíduo em sociedade. A C.I.
afirma-se uma ciência social de fato, porém de que modo são entendidos,
linguagem, significado e indivíduo social? Resquícios do behaviorismo, do
positivismo e do reducionismo cartesiano ainda perduram nas teorias da C.I.,
tal como visto em (BATES, 2005), sobre o leitor ser informado no ato da leitura,
e então se faz conhecimento neste ato, além de segregar informação em duas
concepções distintas, 1 e 2. Uma materialista: The pattern of organization of
matter and energy”. E outra complementar e semântica: “Some pattern of
organization of matter and energy given meaning by a living being”. São
definições, e a partir destas, Bates constrói sua linha de pensamento sob a
visão de mundo reducionista e mesmo declara, “In this essay, the objective has
been to provide a definition that is usable for the physical, biological and social
meaning of the term” (BATES, 2005, p. 26, grifo nosso). A busca pela definição
é clara, como sublinhamos, sendo que as definições são demasiadamente
gerais, a partir do ponto de vista de diversas áreas, que não necessariamente
convergem quanto ao significado do termo informação.
A objetivação do conceito de informação está diretamente relacionada à
tecnocracia e a situação econômica e social contemporânea. A informação,
mesmo no seu conceito materialista vista pelo interesse econômico e político,
6 Jacob Bekenstein, físico israelense, estudou os buracos negros e postulou em 1973 a Segunda Lei Generalizada da Termodinâmica, reformulando num caso de buracos negros a famosa lei de Rudolf Clausius.
20
por corporações e governos, deve ser controlada, e para tal, é necessário criar
uma ciência que estude métodos eficientes de busca e indexação dessas
informações. O poderio militar tem interesse neste ponto, os governos,
principalmente dos EUA, que investem avultosas quantidades de dinheiro nas
pesquisas tecnológicas, também corroboram para este panorama complexo da
C.I. Nesta crítica colocamos em cheque a razão de existência de uma ciência
social que deveria pensar realmente a sociedade, no idealismo (para alguns,
infelizmente ingênuo) de que a ciência existe para o progresso humano e para
o bem-estar comum. Existe alguma ciência para tal? E o bem-estar de quem é
a meta das ciências? Realmente quer-se democratizar a informação para
todos? Todos os governos desejam investir em pesquisas que expandam a
capacidade de conhecer, de criticar e consequentemente, de transformar? É
importante que não esqueçamos destas questões, para que a crítica vá além
da simples análise de teorias e paradigmas e fundamente-se no ser.
Quanto mais simplificadas, mais comprimidas estiverem as teorias sobre
informação, mais distante estaremos de vislumbrar as possibilidades de
compreender, a partir de outras lentes, como conhecemos o mundo, de que
modo podemos apontar os interesses escusos de pequenos grupos, de
fomentar a crítica e de valorar o que nos afirma como ser, o Outro. As
tecnologias nos permitem visualizar, sentir o mundo de múltiplas maneiras, são
ferramentas na sua materialidade, sendo que em essência são um saber.
Aqueles que manipulam as ferramentas constroem e modificam-nas,
sustentam-se na sociedade que tem poder de consumo. Consumir deriva de
consumar, destruir. O que se usa se descarta. A tecnologia do descartável nos
leva a uma discussão mais profunda e ao questionamento do papel da ciência
na sociedade. Frente a ideologias e a hierarquização do poder do Estado,
situa-se mais uma ciência que é a C.I. Seu papel é importante e discutível, e
como ciência evolui perante o criticismo e a proposição de outros caminhos a
seguir.
Com as novas mídias esse quadro é confrontado com novas
possibilidades nunca antes vistas. A internet e a rede inauguraram um novo
mundo do agir, da participação e da comunicação. Nunca antes na História foi
possível escrever uma opinião sobre qualquer assunto e compartilhar com o
mundo rapidamente. Pode-se criar um blog, comentar, interagir, ler e ser lido,
21
sendo que o tempo nesse processo é condensado e o espaço configurado a
perder as distâncias. Um brasileiro pode reivindicar no seu blog próprio, ter
comentários do Japão, e replicar praticamente no mesmo momento.
Claramente esta revolução das comunicações trouxe uma mudança no viver, e
no agir da sociedade. Porém ainda se mostra como processo, está distante da
sua queda e vê-se nova sua nascente. O que difere de outros processos de
revolução tecnológica é que na Internet acontecem mudanças em curtos
espaços de tempo. A noção cronotópica7 foi completamente transformada, mas
essa realidade não é possível para todos, não em todas as culturas. A
hierarquização, o modelo emissor-receptor de comunicação (no sentido
ontológico) tem sua insuficiência demonstrada na relação inter-subjetiva da
Rede. O centro está por toda parte, por nós de rede, que ao tornarem-se
ativos, produzem em uma interação possível de modo aberto e horizontalizado.
Temos aí um outro caminho proposto que discutiremos melhor em relação ao
conceito de informação no Eixo Síntese deste trabalho.
Mário Ferreira dos Santos foi um filósofo notável, buscou uma própria
forma de pensar, olhando de modo crítico às teorias classicamente estudadas
da filosofia e como ele mesmo diz com uma acidez digna, “confrontando o
espírito colonialista passivo de muitos brasileiros, que não crêem, não admitem
e não toleram que algum de nós tenha a petulância de formular pensamentos
próprios.” (SANTOS, 1956, p. 16). Suas considerações sobre a Teoria do
Conhecimento contribuem para um esclarecimento do pensamento grego e as
raízes do pensamento ocidental sobre o conhecer. Do mesmo modo que o
filósofo, este trabalho não se fecha em nenhuma categoria definidora
geralmente tendenciosa e a posteriori das intenções do autor. É acima de tudo
um fazer crítico concatenando logicamente as ideias que melhor possam
mostrar o quanto é profundo a fenda epistemológica da Ciência da Informação
e o quanto é peculiare o conceito que esta toma de objeto. Para assim,
acharmos outras fendas, ou modificarmos o nosso pensar sobre as fendas
atuais. O criticismo neste trabalho está em primeira vista muito além de
alguma intenção de seguir doutrinariamente categorizações e posições
filosóficas quaisquer.
7 Ou seja, de tempo-espaço.
22
As razões da crise epistemológica de uma ciência, mais complexamente
quando se trata de uma ciência humana, está no divórcio entre a metafísica e a
ciência. Quando, a partir do século XVII e atinge seu ápice no século XX, a
ciência era a detentora da verdade e a poderosa entidade de força e influência
na vida comum, houve um desdém para o pensar filosófico, que mais parecia
anacrônico e não congruente à rapidez da evolução tecnológica, do avanço das
pesquisas. Como a ciência era capaz de mostrar aos nossos olhos sua
intervenção no mundo e a filosofia somente instigava, portanto, a filosofia não
satisfazia a necessidade desta tangiblidade.
O problema maior é a própria Ciência crer nessa cisão e tomá-la como
guia, deste modo, falhas epistemológicas vem a galope. Epistemologia vem do
grego epistasthai, saber como compreender; e analisando sob a égide
científica, a epistemologia é o método, o caminho percorrido pelo conhecer, o
modo de conhecer o objeto estudado. É o elo entre filosofia e ciência.
Ora, para se ater no como conhecer deve-se saber onde se está
pisando, de outro modo, obter a claridade dos conceitos, e aqui surge a
filosofia. O que está além da observação, o que o telescópio e o microscópio
não veem a metafísica questiona. O além do físico é a forma, a ideia, eidos,
retornando aos gregos. E esta forma dá sentido ao objeto, àquilo que vemos,
sentimos e questionamos, portanto. Para ter a sua base, a ciência deve pensar
metafisicamente, compreender, redimensionar as perguntas, como criar seu
caminho, sempre tortuoso, por entre a pluralidade dos conceitos, sua
historicidade e mutabilidade inexoráveis.
Reflitamos sobre uma citação do pensador William James (SANTOS,
1956, p.24):
“Não pergunteis a um geólogo o que é o tempo: isto o ultrapassa; nem a um
profissional da mecânica como são possíveis ações e reações: ele não poderá tratar delas.
Muito tem a fazer um psicólogo sem se ocupar da questão de saber como pode ele e as
consciências que ele estuda conhecerem um mesmo mundo exterior. Há bastantes problemas
que não existem debaixo de certos pontos de vista, os quais, sob outro ponto de vista, são
problemas essenciais, e os quebra-cabeças da metafísica são os problemas mais importantes
que existem para quem quiser penetrar a fundo na íntima constituição do universo visualizado
como um todo.”
23
O que queremos mostrar é a importância de se pensar metafisicamente,
de modo a questionar e não somente definir, pois nem tudo está sob o limitado
poder da definição, e trazer à vista mais horizontes para se pensar as múltiplas
visões de mundo. Questionando os conceitos e suas formas, seu lugar em um
contexto histórico, social e temporal, portanto, podemos ir além da própria
estrutura e dos problemas agregados a esta. O erro de distinguir a metafísica
da ciência trouxe essa deficiência em algumas ciências, delas a Ciência da
Informação. A metafísica, o pensar filosófico sobre os conceitos, e a ciência, o
fazer objetivo sobre os fenômenos e as coisas, relacionam-se dialeticamente
numa construção epistemológica. É preciso sempre realizar a crisis para que
então a visão de mundo sofra seu abalo necessário. Pois é no abalo das
estruturas que se fica evidente o quão forte e duráveis são.
As estruturas são construídas na complexidade das relações sociais, em
um tempo, sob a visão de mundo predominante e não somente na simples
ação humana da subjetividade pura ou mesmo em face do dado, como objeto,
numa suposta objetividade pura. O criticismo aqui empregado deseja
apreender o fenômeno e sua manifestação nessa complexidade de existência.
Pensar a estrutura de uma ciência é pensar na visão de mundo que ela fora
construída e de que modo (a partir das considerações políticas, ideológicas,
sociais e particularidades) ela se molda no tempo, e como pode encontrar
caminhos para um melhor esclarecimento da sua epistemologia. A
compreensão aqui de epistemologia é o caminho do conhecimento, como
tecer, sempre considerando os fatores adversos que se situam na
manifestação entre sujeito e objeto. Neste sentido, SANTOS (1956), cita o que
Lavelle, filósofo francês metafísico, pensa sobre a tarefa da filosofia:
“A filosofia não inventa nada. Ela é em cada um de nós a
consciência do ser e da vida. Ela é esse esforço de reflexão pelo qual
ensaiamos atingir, no fundo de nós mesmos, a fonte de uma
existência, que parece ter-nos sido imposta (...). Ela busca captar a
realidade internamente num ato de viva participação em vez de nos
dar um espetáculo do qual nós mesmos estaríamos ausentes.” (L.
Lavelle “Le moi et son destin” apud SANTOS, 1956, p.31).
24
Objetivar em análises esse aspecto fenomênico seria uma contradição,
por isso há o trabalho crítico, ausente de determinações e condições
objetivadoras, instrumentalizadoras do conceito de informação. Como Lavelle
diz, a filosofia é a consciência crítica da questão presente em todos e
necessária para toda ciência. Não nos referimos, como também Lavelle, à
filosofia como profissão, como cargo acadêmico, mas o ato de filosofar, de
refletir sobre a nossa condição na sociedade e na existência, ou seja, como
seres pensantes dotados de voz ativa e viva, que permite o diálogo e cria
possibilidades de construir e propor novos caminhos para o vislumbramento,
sendo assim, nos fazemos seres presentes na realidade.
Cap. 2 – Principais correntes teóricas da Ciência da Informação.
Como conceito abrangente e peculiar, a informação fora tratada e
descrita de diversas formas teóricas sob múltiplos e conflituosos pontos de
vista. A visão de mundo do pós-guerra era a cientificista permeada pelo
positivismo e pela objetivação. A partir dessas concepções, Shannon e Weaver
construíram a Teoria da Informação, nascida nas ciências naturais. Este
conceito de informação, já agregado com definições de outras áreas, importou-
se à Ciência da Informação, esta ainda em formação e com um entrave
epistemológico, justamente pela pluralidade de interpretações do conceito de
informação. A intenção deste capítulo é explanar sumariamente os principais
paradigmas abordados por alguns autores, (PINHEIRO; SILVA, 2009);
(CAPURRO, HJORLAND, 2007); (TALJA, et. al., 2005); (LE COADIC, 2004),
entre outros, dos quais são divididos em três correntes, o Paradigma Cognitivo,
o Paradigma Físico e o Paradigma Social; criar um retrato crítico de algumas
teorias derivadas desses paradigmas e entre exemplos de outras vertentes que
não agregam-se aos paradigmas principais.
O confrontamento das teorias é permeado pela argumentação crítica e
deste modo discute-se as convergências e divergências entre as teorias e os
paradigmas discutidos. A visão de mundo abordada neste trabalho (que irá ser
explanada por completo na hipótese) é o ponto de partida para a argumentação
crítica, considerando a historicidade da C.I. e a consolidação do positivismo e
behaviorismo na concepção destas teorias.
25
2.1 – O Paradigma Físico, Cognitivo, Social e outras vertentes.
Paradigma Físico
Nascido no bojo das ciências naturais, o paradigma físico tem como seu
precursor o modelo de Shannon e Weaver, que postula uma teoria da
informação baseada na transmissão de sinais no momento em que a discussão
sobre informação estava em alta na cibernética. O texto seminal de Vannevar
Bush, As may we think, trouxe a tona essa questão. Mas em qual ponto de
vista?
Shannon pensava em uma definição de informação e comunicação entre
sistemas cibernéticos, ou seja, programáveis. Escolheu-se um sentido ao
conceito a partir do ponto de vista físico e para esclarecer as dificuldades
teóricas deste paradigma físico às ciências naturais. Como o próprio diz:
“Frequentemente as mensagens têm significado; isto é,
referem-se ou são correlacionadas a algum sistema com certas
entidades físicas ou conceituais. Estes aspectos semânticos da
comunicação são irrelevantes para o problema da engenharia. O
aspecto significante é que a mensagem real é selecionada de um
conjunto de mensagens possíveis.” Shannon8 (1949, apud TENÓRIO,
2003, p. 64).
Justamente o significado, ou nível semântico, do processo informacional
é imprescindível para as ciências humanas. Pensar no processo como input -
output, ou nível sintático, é relevante para as ciências naturais, pois os
conceitos são determinados, definidos com clareza e precisão. A exatidão dos
resultados e medições é parte da visão de mundo destas ciências exatas
(justifica-se o nome) e não cabe fazer uma importação de métodos e conceitos
de uma ciência para outra. Apesar de pensar no mesmo termo, existem as
diferenças de visão de mundo. Uma grande confusão ocorre nas interpretações
de teorias da comunicação e informação, pois basearam-se erroneamente em
Shannon, traduzindo o seu conceito de teoria da informação para as ciências
8 SHANNON, Claude E. The mathematical theory of communication. Urbana/Chicago: University of Illinois Press, 1949.
26
sociais. Não se pensou na epistemologia e nem na discussão filosófica do
termo. Seria até mais apropriado referir-se à Teoria da Informação de Shannon
como uma Teoria dos Sinais, já que se limita a compreender sistemas
cibernéticos, programados. A complexidade e o caos das relações humanas
não se deixam apreender por definições exatas e quantificadoras. Mesmo
assim, Shannon tem sua importância no avanço das pesquisas sobre
comunicação entre computadores, mas sua relevância como teoria restringe-se
à visão técnica. Cabe para as ciências que estudam e criticam o ser humano
em suas relações construir, sob outro ponto de vista, esclarecimentos perante
o peculiar termo, informação, e para tal é necessário mergulhar em um
pensamento ontológico e filosófico.
O pensamento de Carl Weizsäcker se aproxima da nossa hipótese (ver
Eixo Antítese, Cap. 3), porém ainda arraigado no pensamento objetivo e
cientificista. Suas posições teóricas sobre o conceito de informação incorporam
outras linhas de pensamento do paradigma físico (lembremos-nos da sua
origem como físico e filósofo).
Para Weizsäcker, informação porta uma categoria dupla (CAPURRO,
HJORLAND, 2007), “a informação é apenas o que é entendido, [...] e apenas o
que gera informação”. No mesmo método que usamos, o filósofo reflete sobre
o pensamento hilemórfico aristotélico9, relacionando o conceito de informação
com o conceito de forma e tornando clara a sua relação etimológica com sua
concepção conceitual. Weizsäcker parece criar delimitações demais ao
conceito quando diz que informação deve ser uma entidade lingüística e deve
ser unívoca, (CAPURRO, HJORLAND, p. 164, 2007). É clara a sua
desconsideração pela informação analógica, ou seja, dos sentidos, que não
pode ser quantificada, apenas expressa, relatada e sentida. Reduz-se então o
pensamento na lingüística e no seu sistema, ao considerar que a informação
somente se processa pela linguagem e de modo unívoco. Weizsäcker
concentra seu argumento no pensamento fisicista, nega o ontológico e mostra
traços de um materialismo sobre o conceito de informação, e/ou uma leitura do
hilemorfismo aristotélico baseado na forma tangível (corporeidade), tais quais
9 Hilemorfismo deriva do léxico grego, sendo que Hile – matéria, e morfos – forma. Aristóteles baseou sua obra, Física a partir do conceito hilemórfico da realidade, ou seja, que o real é composto por matéria e forma.
27
os filósofos medievais consideraram. Completa Weizsäcker, “a matéria tem
forma, a consciência conhece a forma” (CAPURRO, HJORLAND, 2007.) Mas
de que modo é concebível essa forma? O que o filósofo considera forma? De
que modo interpreta Aristóteles, neste contexto?
Apesar de misturar concepções físicas da informação (termodinâmica,
Teoria da Informação, evolução biológica) com uma interpretação filosófica
nem sempre compatível, o filósofo e físico alemão é coerente, ao afirmar que
não existe nenhum conceito absoluto de informação e que este deve ser
concebido como uma forma que se modifica diacronicamente, além de chamar
atenção à relação entre informação e linguagem - univocidade e plurivocidade
da palavra – porém restrita ao pensamento exato, (1985, apud, CAPURRO,
HJORLAND, 2007, p.165). Desenvolveu também uma Teoria Quântica da
Informação, Ur-theorie, passível de questionamento quanto a sua coerência
lógica e teórica, criada sobre uma visão de mundo objetivista representando o
conteúdo informacional de algo como bit de informação potencial. A forma está
contida nas coisas em potência, todavia, a interpretação do conter é variável.
Pode-se pensar um “conter” metafisicamente, como Aristóteles, e fisicamente
como o paradigma físico diz, sendo mais aceitável deduzir que fisicamente não
podemos ter provas de uma forma interna e potencial dos corpos e seres,
portanto, pensar metafisicamente nos ajuda a questionar o que é a forma, e
não engessá-la numa concepção objetiva somente, mas sim de processo.
A teoria da informação de Brookes (1977), por exemplo, é um claro
absurdo teórico quando postula sua definição K(S) + I, pois quantifica um valor
qualitativo, tal qual suas incógnitas: K (Knowledge) e I (Information) são o ápice
dos reducionismos inconsistentes. Capurro o credita como uma definição
persuasiva e uma citação, aqui refletida, complementa a visão que tem dessas
destas teorias respaldadas nos interesses de status e repercussão no meio
acadêmico,
“A literatura de C.I. é caracterizada pelo caos conceitual. Este
caos conceitual advém de uma variedade de problemas na leitura
conceitual da C.I.: citação a-crítica de definições anteriores, fusão de
teoria e prática, afirmações obsessivas de status, uma visão estreita
da tecnologia, analogias inadequadas, definições circulares e
multiplicidade de noções vagas, contraditórias e, às vezes bizarras
28
quanto à natureza do termo informação.” (SCHRADER, 1983, apud,
CAPURRO, HJORLAND, p.154, 2007).
Diga-se de passagem, que este autor (Brookes) é um dos mais citados
da área, portanto está nesta bibliografia, o que nos mostra falhas claras no
sistema acadêmico de publicações, invadido pela parcialidade e por interesses
de autopromoção, que neste exemplo, obteve seu sucesso.
Paradigma Cognitivo
Um forte nicho da Ciência da Informação atualmente deriva das ciências
cognitivas e seus paradigmas correlatos às teorias que aplica no seu escopo. A
cibernética é o desenvolvimento prático do pensar cognitivo como ciência, que
perpassa a conflituosa situação política da metade do século XX no ápice das
ciências, da quantificação e tecnocracia. Disto nasceram as visões da
cibernética (de origem grega, designa aquilo que é controlável, manejável) que
se dividem em dois momentos, de acordo com (PINHEIRO; SILVA, 2009), a
saber: a primeira cibernética, corrente que postulava a mensurabilidade da
informação e seu processamento, e a visão do processo físico do ato cognitivo,
sendo assim, possível ser reproduzido através de algoritmos matemáticos e de
uma estrutura análoga aos processos físicos do cérebro. O conexionismo e o
cognitivismo pertencem a essa primeira forma da cibernética, em partes
reducionista e mensurável. Pensam os conceitos de informação e
conhecimento de modo objetivo, tendo uma realidade previamente dada, daí o
conceito de dado (datum, plural, data, do latim) pensado como um elemento
que compõe a informação. Assim, para o pensamento cognitivista, o dado é
uma parte do todo que é a informação. Pensando analiticamente, ou
cartesianamente, ao analisarmos as partes, entenderemos o todo. Um claro
reducionismo.
Além disso, o cognitivismo pensa a cognição humana como a
capacidade de “resolver problemas”, de acordo com Dupuy10 (1996 apud
PINHEIRO; SILVA, 2009, p. 246), ou seja, centraliza-se a capacidade cognitiva
10 DUPUY, Jean Pierre. Nas origens das ciências cognitivas. São Paulo: Editora UNESP, 1996.
29
na inteligência, ou intelecto (inter-lec, escolher entre, do latim)11. O cognitivismo
peca ao centralizar o pensar na mente, resquícios de uma interpretação
cartesiana de separação mente-corpo, que também torna o indivíduo passivo e
resignado a sua própria mente e do processo mental, traços behavioristas que
ainda perduram na Ciência da Informação (PINHEIRO; SILVA, 2009). Tal qual
a definição mentalista de (TALJA et. al.):
“The cognitivism viewpoint in IS (Information Science) differs
from cognitivism by laying major emphasis on the way which
knowledge is actively built up by the cognizing subject, that is, by the
individual mind to serve the organisation of internal and external
reality.” (TALJA, et. al, 2005, p.81, grifo nosso).
Como citado acima, “[...] no modo como o conhecimento é ativamente
construído pelo sujeito cognoscente” (tradução livre). Tem-se aqui uma prévia
concepção de conhecimento construído, e resulta uma prévia definição. A
realidade “externa” e “interna” e sua organização são conceitos de realidade já
postos, portanto, unívocos e centrados no ponto de vista cognitivo. O foco na
organização remete a lembranças biblioteconômicas, sendo que muitas vezes,
nessas teorias, faz-se valer essa relação entre a biblioteconomia e a C.I.
Organizar documentos não é o mesmo que organizar informação, já que ao
falarmos “organizar a informação” no mesmo momento é requerida a definição
de informação, ou seja, é uma questão complexa aderir ao conceito de
informação verbos e categorias implícitas no discurso argumentativo.
As múltiplas e impressionantes possibilidades que a máquina oferece
são somente exploráveis com o desenvolvimento e o avanço da tecnologia, da
aptidão de utilizar as máquinas para diversos intuitos. Para tal, um sistema
(Ciência) é requisitado para o manejo e a compreensão de tais máquinas. Por
baixo deste véu que cobre a máquina e a tecnologia estão os interesses
políticos e ideológicos, principalmente dos governos, que juntamente com o
discurso científico e sua comunidade respaldou-se na objetivação e no
reducionismo quantitativo. O ser não era alvo de discussão, não havia razões
11 SANTOS, Mário Ferreira. Teoria do Conhecimento (Gnoseologia e Criteriologia) . 2a. ed. São Paulo: Logos, 1956, p. 70.
30
para se ocupar com questões metafísicas, assim viam os estadistas, cientistas
e a sociedade. Heidegger critica esse ponto, onde era justamente o momento
para se pensar a metafísica, face o esquecimento do ser e a rapidez destrutiva
e alienadora do discurso capitalista.
O cognitivismo supervalorizou a máquina (eis a ideologia e sua
historicidade) e condicionou seus estudos a esse ponto de vista. O pensamento
vigente na C.I., para (PINHEIRO; SILVA, 2009) é o cognitivismo, sendo o
cérebro um processador de informações, e tendo como base epistemológica o
behaviorismo e o positivismo.
A segunda cibernética, datada nos anos 60/70 muda sua perspectiva
para a historicidade do pensar e do ato cognitivo, porém ainda arraigada na
formulação fisicista e tecnológica da primeira. Segundo Venâncio; Borges12
(2006 apud PINHEIRO; SILVA, 2009) “[...] apresenta a realidade como
construída pelo sujeito em interação com o ambiente.”. São expressas,
portanto as teorias construtivistas, tendo Piaget como base teórica, o
Coletivismo, e interacionistas ou construcionistas baseados em Vygotsky,
respectivamente. 13 Não há uma separação entre mente, corpo e sociedade.
Os construtivistas pensam uma interação entre o indivíduo e o meio, e que
progressivamente é construída com o contato entre sujeito e objeto, Eu e o
mundo. Esse modelo teórico foi uma reação ao modelo clássico e
predominante no fim da década de 1970, o Information Transfer Model, ou
Modelo de Transferência de Informação, fortemente ancorado na Teoria da
Comunicação, de emissor, receptor. Trata-se de uma visão materialista da
informação, unidirecional, autoritária, pois pressupunha uma hierarquização
entre o detentor da informação para aquele que não a possui. É comum o uso
de verbos como apropriação, manejo, otimização, que exprimem com clareza
esse ponto de vista unívoco e não tão predominante, porém presente,
especialmente nas publicações brasileiras.
12 VENÂNCIO Ludmila Salomão; BORGES, Mônica Erichsen Nassif. Cognição Situada: fundamentos e relações com a Ciência da Informação. Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci Inf., Florianópolis, n.22, 2º sem. 2006. 13 Alguns teóricos situam essas teorias no paradigma social, outros no cognitivo, mas o que se pode concluir é que as teorias construtivistas, coletivistas e interacionistas nascem no meandro dos dois paradigmas. A divisão paradigmática é passível de críticas, servindo aqui como uma amostragem crítica de alguns pontos de vista e teorias da C.I.
31
A reação buscava dar atenção às complexas interações humanas, como
um construto contínuo, porém o centro da atenção é o indivíduo, numa
metodologia de modelos fixos e quantificadores, esquecendo-se da presença
da ideologia na linguagem e das contingências de uma conversa, por exemplo.
Estas são as principais críticas à visão idealista e bem próxima do cognitivismo,
que o Construcionismo tem como metateoria, e são efetuadas por Hjorland,
Frohmann, Talja, entre outros.
O ponto de vista interacionista, e também coletivista, tem por base a
interação sócio-histórica do indivíduo no meio e pretende analisar o reflexo do
mundo exterior no mundo interior de cada indivíduo num determinado meio.
Daí deriva o paradigma sócio-cognitivo, apoiado na C.I. mais fortemente por
(HJORLAND, 2002). Este paradigma apóia-se no estudo de domínios de
coletivos, grupos de profissionais, ou seja, seleciona pelos seus critérios,
usuários que possuem categorias em comum, tal qual, o grupo dos astrônomos
e sua linguagem própria, os matemáticos, os advogados, ou determinada
classe social, etc. Criar um método de homogeneização de grupos é uma
solução metateórica e metodológica dos construcionistas, sendo assim, o alvo
principal de críticas está na arbitrariedade com que esses modelos e domínios
são traçados. Há um consenso sobre o que seria um domínio especifico?
Todos os astrônomos, matemáticos e advogados utilizam a mesma linguagem
dentro de seus respectivos nichos? E a historicidade desses nichos, a evolução
do pensamento desses domínios? Se não há consideração sobre essas
questões, decerto o método é arbitrário e limitador.
Apesar de divergentes em alguns pontos, as teorias da Segunda
Cibernética convergem para um pensamento histórico-social e não-unilateral. A
teoria de Vygotsky, por exemplo, considera a linguagem e a aprendizagem
como importantes no processo cognitivo, além de não imaginar um sujeito
passivo no ato de conhecer, este é antes um ser social, como já dizia
Aristóteles “O homem é um animal político”, ou zoon politikon, há mais de dois
mil anos. Porém no construcionismo, considera-se a linguagem como fator
importante no processo informacional e esta visão é válida para uma teoria,
mas como esta teoria aborda essa questão? Com modelos quantificadores?
Com um idealismo cognitivista? O Construcionismo tem várias abordagens, e o
pensamento de Piaget fora interpretado de diversas maneiras nessas
32
metateorias. Com a pluralidade de aplicações e usos das teorias as
divergências aparentam-se.
É vista uma evolução conceitual e teórica na Ciência da Informação de
acordo com as autoras que estamos discutindo nesta parte do trabalho. Deste
modo, existem três diferentes paradigmas vigentes na Ciência da Informação, o
Paradigma Físico, o Cognitivo e o Social, ou Sócio-cognitivo. Ora, mas qual a
razão desta separação se é categoricamente errôneo pensar numa ciência
social, o cognitivo abstraindo-se o próprio social. Somos seres, indivíduos com
a faculdade do pensar, do questionar, somos políticos, sociais, pois não há por
que pensar em um humano fora de uma sociedade, e nem um ser cognitivo
fora da relação entre humanos. Seriam especulações hipotéticas e tautológicas
pelo ponto de vista de uma ciência social, ou, por outro lado, como pretende o
cognitivismo, uma intenção de desenvolver as inteligências artificiais criando
uma mente tecnológica e análoga a nossa. O cognitivismo e a Inteligência
Artificial (IA) pensam o homem em relação à máquina e suas potencialidades
de criação, caso contrário à Ciência da Informação, que deve pensar o homem
político, a relação entre os indivíduos numa sociedade, suas situações críticas,
mutáveis, éticas.
“[...] no campo da C.I., a abordagem dominante é o
cognitivismo, cuja tônica está centrada nos estudos de
comportamento de uso e buscas de informação, ou seja, na busca de
uma abordagem orientada para o usuário e não para os sistemas.”
(PINHEIRO; SILVA, 2009, p. 255).
O cognitivismo é abordado na CI do ponto de vista behaviorista, pelo seu
estudo centrado no comportamento, como diz a citação acima, de “usos e
buscas de informação”, porém é deficiente o estudo das conseqüências
sociais, éticas do uso e da busca da informação. A Ciência da Informação se
fecha numa redoma técnica ao concentrar-se apenas nos processos de uso.
Mas como se dá esse uso? Qual de fato é a utilidade da informação? Qual
informação? Podemos realmente generalizar a informação, mesmo sem
conceituá-la historicamente? Estas são questões que ferem o cerne basal da
C.I. e nos incita ao criticismo. Podemos ir além da simples análise objetiva dos
fatos, do uso e da busca. Existe algo além, e de tamanha importância para uma
33
ciência social, que deve considerar a historicidade, a cultura e as variantes não
passíveis de objetivação.
Paradigma Social
Com a predominância das ciências naturais, suas soluções objetivas e o
rápido avanço tecnológico, a questão da informação abordada pela C.I. foi
rodeada de perguntas sobre “onde está o sujeito?”. Não somente o sujeito no
aspecto cognitivo, mas através de uma crítica ao cognitivismo que clamava a
questão social do indivíduo. Todos nós estamos inseridos numa sociedade,
somos cidadãos, existem etnias, formas de sociedades, arcaicas ou modernas,
temos direitos e deveres. O debate social sobre o direito à informação, o
“poder” político da informação veio à luz no meio acadêmico. Emerge o
paradigma social, que abre questões sobre a ideologia, a ética, as relações
políticas e a historicidade.
Teorias derivadas da psicologia, e da biologia, como por exemplo,
Maturana (2001), são adaptadas ao paradigma social da informação. A
linguagem, a cultura são os focos de estudo, além de algumas mesclas entre o
paradigma cognitivo, vide a abordagem sócio-cognitiva de Hjorland.
Realmente é um passo importante para se pensar a informação dentro
de um contexto, e não isolada em questionários e análises modelares. O
construtivismo, como dito acima, encontra algumas raízes no paradigma social,
como também não desconsidera o pensar cognitivo. Diversas teorias surgem a
partir deste ponto de vista descendente da hermenêutica e semiótica, das
ciências sociais (Max Weber). Discussões frente ao caráter ideológico da
informação é um avanço para a C.I., há de fato uma reconfiguração dos
paradigmas, sendo que pouco se sustenta o paradigma cognitivo fechado em
um cognitivismo clássico. O termo “Sociedade da Informação” atiçou os
pesquisadores a discutir sobre o social na informação. A C.I. é por definição
uma ciência social, estuda o indivíduo e seu contexto cultural e social. Seus
objetivos de organizar, coletar, disseminar, armazenar a informação (como dito
pelo ponto de vista materialista da informação) inferem diretamente numa
razão ética e social. Porém, apesar disso, as abordagens diferem.
34
A Teoria Semântica da Informação desenvolvida por Yehoshua Bar-Hillel
e Rudolf Carnap analisa o informar numa estrutura lingüística, através de um
estudo de probabilidades que mede a quantidade de informação em um nível
semântico (FLORIDI, 2011). Teoremas matemáticos (Carnap era um filósofo
defensor do positivismo lógico), uma forte influência de Ludwig Wittgenstein e
do Círculo de Viena trouxeram uma visão quantificadora na análise semântica
da informação, e apesar da abordagem social tida pela teoria, a partir desta
visão de mundo (positivismo lógico), ainda há a objetivação do conceito e da
historicidade desta abordagem social.
Dretske também cria sua Teoria Semântica da Informação, porém
baseia-se na distinção entre o que é informação e significado (CAPURRO,
HJORLAND, 2007). Para Dretske, a informação deve satisfazer condições para
se definir como tal, e nunca é absoluta, “[...] a informação é sempre relativa em
relação ao ‘conhecimento pré-existente do receptor’.” (CAPURRO,
HJORLAND, 2007). Outra definição de Dretske, em Capurro, “Se A detém a
informação de B e B detém a informação de C, então A detém a informação de
C.” (CAPURRO, HJORLAND, 2007, p. 170). Claramente, Drestke exagera no
uso da lógica arbitrariamente definindo informação como coisa, analogamente
com a lógica aristotélica. Tal reducionismo não está somente no paradigma
físico, ou mesmo cognitivo, está presente na visão de mundo dos
pesquisadores e da academia. Uma característica deste paradigma que
estamos dissertando é a sua herança positivista. O positivismo bem recebido
nas ciências sociais, também é a visão de mundo presente na C.I. Atualmente,
este contexto está em mudança, caminha-se para uma visão de mundo não
reducionista, não analítica, em demasiado quantificadora. Apoiar-se em
fórmulas e expressões matemáticas é uma saída frequentemente tomada por
alguns pesquisadores, porém estas decisões somente aumentam o atrito já
desgastado entre as Ciências Naturais e Sociais, não cumprindo o que
pretendem em suas teorias, de clarear os conceitos e relações sobre
Informação.
Os temas chave em sociologia englobam, a princípio, política, economia,
ideologia, tecnologia, cultura (antropologia) e informação. Todos estes termos
estão relacionados numa sociedade, cada qual delineada com a sua
historicidade. Essa visão para a C.I. trouxe um outro método de estudo, e de
35
questões, como por exemplo, o que há entre informação e comunicação?
Como esses dois termos se relacionam? São congruentes? Opostos? Para
Bougnoux, “os conceitos de informação e comunicação são inversamente
relacionados. A comunicação está relacionada à previsibilidade e à
redundância, enquanto a informação, com o novo e o imprevisto.” (CAPURRO,
HJORLAND, 2007, p. 173). Mas o que é imprevisto? O que é o novo? Novo
para quem? O que é novo para um esquimó ou para um irlandês? O que era
novo para um vassalo nascido na Idade Média? As simplificações fazem
nascer questões sobre os termos empregados arbitrariamente e as condições,
a historicidade, esses fatores múltiplos devem ser considerados. Este é mais
um exemplo de pseudo-definição, pois não há uma explanação do que é o
novo, (aliás, outro termo de grande complexidade), e sobre o que é
redundância. Uma informação sempre será algo novo? A definição aqui é
construída a partir do conceito de informação para a realidade, o que se mostra
absurdo. Devemos compreender os fatores determinantes e condicionantes
dos sistemas que permeiam o informar-se, as ideologias, a política, a cultura,
para então construirmos um conceito mais claro de informação. Este método
de fechar o conceito e aplicá-lo arbitrariamente é típico do reducionismo
positivista. Obviamente clareza lhe falta, e continuamos com mais um ponto de
vista e mais uma definição generalista sobre informação.
Fala-se também em Era da Informação, Era do Acesso, Sociedade da
Informação, Sociedade do Conhecimento (MATTELART, 2002), entre outros
termos. Esta discussão é longa e não se restringe somente a C.I. Na
sociologia, Mattelart levanta o problema de imposição ideológica de países
imperialistas e da cultura de massa. Para alguns teóricos da sociologia, e em
concordância com os da C.I. estamos na Era do Boom da Informação, a
informação é mercadoria e poder. Já ouvimos muito falar que conhecimento é
poder, mesmo no senso comum, e com o desenvolvimento das tecnologias da
informação surge a justificativa que modificara esta estrutura social criando
uma confusão de termos, muitas vezes dados como sinônimos, outras vezes
hierarquicamente (dado – informação – conhecimento – e ainda mais absurdo
– sabedoria). Um forte tecnicismo acompanha a C.I. nesse sentido tratando as
tecnologias da informação como centro de pesquisa pautado no ponto de vista
materialista de organizar, coletar, disseminar, armazenar a informação. Porém,
36
como pensar as tecnologias omitindo o percorrer da história e da cultura na
relação entre os povos? A ausência desta criticidade leva a interpretações
ingênuas sobre a situação desta dita “sociedade da informação”, otimismos
dizem sobre a disseminação e democratização da informação, a Era do
Acesso. Desconsiderar os interesses políticos, militares sobre esses estudos é
olhar com uma lente reducionista e simplista para a questão. Até mesmo os
próprios estudos pautados nessas áreas sobre informação e comunicação
estão sob a égide de interesses econômicos e políticos, vide universidades e
governos (juntos discursam a mesma política). O pragmatismo dos EUA, por
exemplo, sua cultura do controle e domínio imperialista não nos permite ignorar
a importância do estudo social, ético e acima de tudo humano.
A partir destes três paradigmas, traçamos resumidamente a situação
teórica da C.I. e suas divergências quanto ao conceito de informação. É claro a
impossibilidade de um consenso sobre o conceito em uma Teoria Geral da
Informação. A visão de mundo da ciência moderna mostra-se enfraquecida
perante o problema conceitual da informação. Outras vertentes, que assumem
um outro eixo de problematização não classificável a paradigmas quaisquer
percorrem seu pensamento com outras ideias oriundas de diversas áreas do
conhecimento. Tomamos como exemplo a interpretação da teoria de Habermas
de Maria Nélida González Gómez e o modelo de Norman Roberts.
Outras vertentes – A interpretação de Habermas e o modelo de
Roberts.
Ir além das propostas paradigmáticas é um traço de evolução crítica de
uma ciência, e esta é a ideia interpretativa de Habermas que Maria Nélida
González Gómez traça em seu texto, “A Informação no pensamento
contemporâneo” (GÓMEZ, 2009) analisando o conceito de informação como
lastro semântico da representação, tomando a discussão para o viés filosófico,
propondo questões além da tríade paradigmática comum à C.I.
Para (GÓMEZ, 2009, p. 185), “Habermas resgata primeiro o conceito de
informação como momento da relação do homem com o mundo.” E cita
Habermas logo em seguida, “[...] as experiências só podem ter conteúdo
informativo porque (e na medida em que) nos surpreendem.” (HABERMAS,
37
1994, apud GÓMEZ, 2009). No percorrer dos argumentos há uma tentativa de
interpretação sob égide da Teoria da Ação Comunicativa ao compreender do
conceito de informação e da sua importância ética no discurso. E quando
pensamos em discurso, pensamos em um diálogo, uma relação nós-outros,
social, portanto. Uma atenção está dada ao que é pouco ou nada abordado na
C.I., as contingências do discurso, das ideologias e interesses políticos. É uma
abordagem que vai além da clássica intenção de definir um conceito com a
visão positivista e determinista, o dito “isto é”, “aquilo é”. Uma ciência não se
baseia somente em definições, mas sim aguça o olhar sobre a técnica e o
pensamento lógico no intuito de melhor objetivar aquilo que lhe ocupa e lhe dá
sentido, no caso da C.I., o conceito de informação, não redutível a argumentos
generalistas e definidores.
Uma importante consideração da autora está nessa passagem que
discorre rapidamente, “[...] dos sistemas de informação, nos quais são
reformuladas regras de transformação da informação em representações, à luz
dos interesses econômicos e dos contextos regulatórios e finalísticos das
organizações.” (GÓMEZ, 2009, p. 197). A Ciência da Informação tem um eixo
fadado aos interesses de organizações, pois essas bem sabem da importância
da ciência da suas informações e das ações delas gerada. A captação
monetária e as taxas de lucro, por exemplo, podem variar para muito ou para
pouco dependendo o quão organizadas estiverem as informações corporativas,
os dados sobre estratégias, o conhecimento empresarial. Dados, conhecimento
e informação são vistos a partir de um sistema mercadológico, analisados e
estudados sob o ponto de vista de interesses que se cruzam, e muitas vezes
estão ocultos, pois não trazem à tona discussões com a ética ou moral. Apenas
têm como meta a sua funcionalidade, para tanto seu contexto finalístico.
O pensamento de Habermas
O postulado filosófico de Habermas diz que através do discurso pode-se
alcançar uma pragmática universal, uma fundamentação dos saberes. Discurso
como foco mediatizado pela linguagem. Porém, Habermas encontra-se numa
emboscada lógica, tal qual o argumento cético, pois ao argumentar que todo
discurso é passível de averiguação, o mesmo discurso encontra-se na cadeira
38
do réu que o próprio discurso de Habermas e Karl-Otto Apel criaram. O que
Habermas toma como defesa e centro do seu pensamento não é a cadeira do
réu, ou o julgamento final, mas sim a inevitabilidade da argumentação na corte
judicial. A importância do pensamento de Habermas e Apel está na atenção
que ambos fomentam para a ética do discurso, ou seja, no proceder político do
discurso, que nas suas manifestações infinitas e incalculáveis, nos aproxima de
questões críticas, ideológicas e nos afasta do pensamento moderno de uma
verdade infalível, ou mesmo de uma razão transcendental, como postulava
Kant.
Um voto de sinceridade mútuo no discursar (isso implica uma
homogeneização de ideias, ou uma tendência ao consenso) é além de
idealista, irreal. É o que Habermas chama de garantia performática, ou garantia
argumentativa, a primeira frente aos objetos, a segunda frente ao argumento
(GÓMEZ, 2009).
Um argumento comum contra essa posição é que o discursar deverá ter
uma decisão, para que a discussão, em algum momento, se interrompa. Caso
contrário, nos achamos num discursar sem fim e sem fundamento, pois não há
meta, não há ação. O agir não está somente no discurso e no ato de discursar,
mas também nas decisões que implicam conseqüências. O que podemos
aprender de Habermas é o olhar mais apurado para o discurso e sua ação, seu
fazer-se discursar perante ideologias, intenções, argumentos retóricos, e como
isso gera conseqüências éticas, morais e na política cívica, por exemplo. Nossa
hipótese se baseia também nessas indagações, porém com uma outra visão de
mundo.
O modelo de Norman Roberts
39
Figura 1 – O modelo de Norman Roberts. (WERSIG, 1985).
Este é o modelo de Norman Roberts, que propõe já no título A search for
information man (Em busca do homem informacional) a sua intenção de
40
construir modelos para compreender o homem que se informa e o seu modo
ativo de informar-se. Seu método é quantitativo, inspirado no conceito de
economic man (homem econômico) das teorias econômicas modernas14. Criar
concepções análogas a outras áreas de pesquisa é sempre perigoso e a
construção de pseudo-definições vem à tona. O que Roberts deseja é uma
atenção maior à pesquisa empírica na Ciência da Informação, principalmente
voltada aos estudos de usuário.
Apesar da complexidade de seu modelo, Roberts, limita-se na
quantificação e do uso de termos como Goal (meta), Cognitive operators
(operadores cognitivos), entre outros, transparecem uma redução extremada
da tomada de decisões a partir de opções binárias.
Ao apontar para a necessidade da investigação das ações informativas
(information actions), Wersig traz à tona a discussão além da “satisfação
informacional”. Existem outras maneiras que não a formal (atendimento e
satisfação), há uma ação nesse processo, sendo uma ação respaldada na
contingência, na imprevisibilidade do complexo contato social. O erro da
Information Actions é construir modelos para aquilo que não pode ser
modelado e importar conceitos e teorias de outras áreas. Este é mais um
retrato de que a Ciência da Informação deve compreender o que é a
interdisciplinaridade além de um simples empréstimo de ideias e fomentar um
pensamento próprio sobre suas concepções de mundo (nem sempre
convergentes), em outras palavras, há necessidade de um filosofar na C.I., um
pensamento crítico perante as visões de mundo abordadas e estudadas nesta
área.
2.2 - As pseudo-definições.
A vasta gama de definições do conceito de informação em C.I.
caracteriza o que podemos chamar de pseudo-definições. Definição é um
recorte analítico de negação àquilo que não está na afirmação, em outras
palavras, definir é afirmar assertivamente o que algo é mesmo em uma
negação. Definir informação seria uma tarefa de objetivá-la por premissas e
14 Cf. WERSIG, 1985.
41
conclusões, ou um conceito central. Informação é..., informação é isto,
informação é tudo aquilo, informação não é isto, aquilo, etc. Como protestamos
ao longo deste trabalho, o conceito de informação não se deixa definir,
portanto, devemos modificar a visão de mundo, além desta maneira categórica
de insistir na objetivação do que é informação. Sendo assim, por que então se
criam diversas definições? O fato é que as definições criadas e teorizadas que
não objetivam o conceito, e podem ser mais facilmente aceitas, pois são
demasiadamente gerais. Aqui cito algumas das definições encontradas no texto
de caráter compilador de (CAPURRO, HJORLAND, 2007), tais quais:
“Informação é qualquer coisa que é de importância na resposta a uma
questão.”
“Informação é informação, não é matéria ou energia.”
“Informação é uma diferença que faz a diferença”
“Informação é o que é capaz de produzir conhecimento e uma vez que o
conhecimento requer verdade, a informação também a requer.”
“Informação é uma construção do observador de uma diferença mental
que faz e/ou encontra uma diferença no mundo externo.”
“A informação é, na verdade, o resultado causal dos componentes
físicos e processos existentes. Além do mais, é um resultado emergente de tais
entidades físicas.”
Tais definições podem ser aceitas, pois categorizam de um modo geral o
que não podemos dizer como falso. Mas podemos contra-argumentar. Definir,
como dito acima, é objetivar, distinguir o que se define daquilo que não está na
definição, o mesmo que dizer que uma parede é verde, é dizer que ela não é
cinza, não é amarelo, não é azul, enfim, é negar tudo aquilo que não fora
afirmado no ato de definir. Tais definições acima citadas fazem justamente o
contrário, ao generalizar, afirmam de modo geral o que é a informação,
falhando em definir de modo objetivo. Essa contrapartida do conceito o destrói
por si, e mostra sua falseabilidade. São, portanto, pseudo-definições.
ANTÍTESE
42
Cap. 3 – O conceito de informação ontológica-fenomenológica.
No eixo TESE, vimos um breve recorte de algumas teorias, posições
ideológicas e teóricas sobre o que é informação. Existem diversas opiniões,
hipóteses sobre o tal conceito, que se mostra inerte às definições. Algumas
definições podem ser refutadas ou parcialmente aceitas, porém mostram-se
insuficientes. Questões sobram frente às definições que simplesmente
recortam um nicho de interesse, geralmente o aplicável, quantificável.
Pensamos em uma abordagem de base filosófica, refletindo já filosoficamente,
atingindo a pergunta feita: O que é informação? Quando muitas respostas
aparecem, e mais se nubla o conceito, ou o reduz é sinal que o problema não
está na resposta e sim na própria questão. Quando perguntamos o que é algo,
remetemos a definir algo. Definir, etimologicamente, definire, dar fim; (ver
TESE – Cap. 2.2) é uma forma de resposta perante uma questão, “o que é
informação?”, por exemplo; e oferece uma determinação máxima, ou seja, não
é preciso ir além da definição ela mesma para se compreender a pergunta e o
objeto da pergunta. Porém a definição tem um limite. Não é possível definir
todas as palavras ou mesmo tentar em algumas possíveis reduzi-las à
determinação máxima. Cremos que informação é um termo não passível de
determinações, e isto nos recorre a explicações, explanações abertas, críticas,
com intuito de aclarar-nos analisando a multiplicidade de suas características e
propriedades com uma meta diferente de dar fim, objetivar o conceito. A partir
disso a pergunta reformula-se: O que é o conceito de Informação?
Conceito é uma representação de um objeto, uma abstração do
pensamento perante algo e sua ideia primária. Tomemos como exemplo
Napoleão Bonaparte: ele foi único e não haverá outro que possa executar as
mesmas ações que fazem dele, no tempo presente, um conceito. E não
podemos negar que temos uma imagem, no mínimo, ofuscada do imperador,
derivada provavelmente do que lemos ou vimos, pois foi um fato existente, real
e então abstraído no imaginário.
Podemos também despojar Napoleão da sua imagem e entendê-lo como
ente puramente lógico no momento que lemos, falamos ou pensamos, esta é a
capacidade de abstração: competência para criar esquemas lógicos, sistemas
e estruturas de compreensão e ordem. Criamos esquemas lógicos, sistemas e
43
estruturas de compreensão, uma ordem, portanto. O conceito é uma maneira
abstrata de se compreender e corresponder à realidade, aos objetos, presentes
ou não; e aos processos, que não vemos, mas são percebidos pelo
pensamento, pois são abstratos em forma cognoscível e concretos em ato
(temporalidade), tal qual o conceito de informação: uma abstração de um
processo, não de um objeto (afirmamos como ser, como presença no tempo).
Neste processo há a participação de sujeito e objeto, portanto não pode ser o
objeto tangível, só pode ser o processo, o movimento, a presença, sempre
aderida à temporalidade.
O conceito é geral e permite posições de visão amplas e diversas, pois
compõe-se de diversas formas. Voltemos ao exemplo de Napoleão; esse não é
apenas um homem nascido na França, mas é também o Napoleão militar,
imperador, revolucionário, o Napoleão de Santa Helena, o Napoleão infante,
etc. (SANTOS, 1955). Essa amplitude de situações vinculadas à vida de
Napoleão, ou às propriedades de um objeto (inserido no tempo, ou seja,
existindo) remarcam a grande possibilidade de ideias e imagens que podemos
ter sobre um conceito. Informação se aproxima dessa característica, que na
sua abstração mostra sua obscuridade lógica para a definição e pede um outro
ponto de vista para refletir sobre o conceito. Propomos neste trabalho uma
hipótese de pensar a Informação pelo ponto de vista crítico-filosófico e deste
modo podemos ir além das quantificações ou significações esparsas. Com o
pensamento filosófico podemos, além de questionar a generalidade da
Informação, compreender sua origem histórica e sua transformação.
Os conceitos transformam-se historicamente e estão ligados à
imaginação, faculdade constituinte inerente ao ser humano. Dessa forma, ao
nos aproximarmos do conceito de informação nos aproximamos também do
ser, pois conhecer está intimamente relacionado com o informar. Esta hipótese
parte da ideia de que informação é um processo entre sujeito e objeto, também
intersubjetiva, considerando o meio, que chamamos de Elucidativo (ver Cap.
3.3). Por ser um processo não podemos apreendê-la, manipulá-la, ou mesmo
quantificá-la. A partir de uma crítica da Visão de Mundo, ou o modo ideológico,
cultural que abordamos os fatos, nossas angústias perante o desconhecido, a
filosofia se manifesta para questionar a prática, o dia a dia, nas pessoas, as
complicações políticas, a realidade de um país.
44
Considerar o ser-no-mundo é raro nas metateorias da Ciência da
Informação, que privilegiam o achado para uma definição clara e sucinta, que
permita otimizar a quantificação e a instrumentalização desta ciência e de seu
conceito agregado. Como uma Ciência Social, a C.I. deve pensar o ser, o
outro, ou mais comumente, as pessoas, o cidadão comum; este que está
cercado de possibilidades de informações e tem direito a tais como cidadão. O
aspecto ontológico-fenomenológico que adotaremos emerge a discussão do
ser e do fenômeno15, a partir da concepção heideggeriana da fenomenologia e
ontologia, e da sua crítica à Ciência, pois desta maneira, analisaremos
criticamente a Ciência da Informação e também seu objeto, a informação.
Ontologia é sumariamente o estudo do ser. A filosofia tem uma longa
história de pensadores que viram o mundo a partir da ontologia, a partir do ser,
da sua razão, do seu logos; e do ôntico, ao ente, ao fato de existir. Ontológico é
o ser-no-mundo, ou seja, entender o ser e suas relações, compreender como
se existe, por que, para quê, etc. Ôntico pode ser empregado como coisa (rei,
de reificar), como um conceito concreto, o ser concreto, denso e amplo.
Ontológico refere-se ao metafísico, como esclarece o filósofo, Mário Ferreira
dos Santos:
O termo ontologia foi cunhado propriamente por Johannes
Clauberg e popularizado por Wolf. Consequentemente se pode dizer
que a próte philosophia de Aristóteles, a philosophia prima dos
escolásticos, a Ontologia, ou a Metafísica Geral, e em algumas vezes
a Metafísica, referem-se à mesma ciência do ser enquanto ser, que é
a Ontologia. (SANTOS, 1959, p. 13).
A metafísica, além do físico, ou ainda transfísico; é a característica prima
da informação, pois se é um processo está além de uma concepção puramente
materialista, ou seja, o conceito de informação não é tão claro quanto o
conceito de cor, ou mesmo um objeto comum, por exemplo, uma cadeira, um
livro. O ser está em processo, pois assim se designa ser, simplesmente é, está
sendo, sempre em movimento, na sua temporalidade. O ser tem
15 Ou processo. Nesta hipótese, sob o ponto de vista ontológico, partirmos da premissa que informação não é somente material, física, e sim metafísica, ligada ao ser, ao processo de comunicação e conhecimento.
45
temporalidade, se manifesta no físico, mas a sua essência está além desta
física. A metafísica não nega a física, mas a completa, com os fenômenos e
conceitos que só podemos ter noção abstraindo, questionando e criticando,
criando uma noção abstrata da complexidade de termos como a informação,
num saber transcendente do físico e do experimental. Entende-se por
complexo o meio em que informação se dá. O sujeito só pode ser devir, existir
de fato, numa relação com o mundo e somente com o mundo o eu se
desenvolve, da mesma maneira que o objeto que só é objeto manifestado em
sua forma para um sujeito, mas não depende do sujeito para ser.
Esta relação com o mundo, o devir e o processo são as bases da
Fenomenologia, a ciência dos fenômenos, nascida com Edmund Husserl (1859
– 1938) que interpretara a obra de Aristóteles no que tange a Física e a
Metafísica, em outras palavras, no processo do conhecer e de como as coisas
são. Como o estagirita diz, Tò ón légetai pollakhõs “O sendo-ser torna-se, de
múltiplos modos, fenômeno”. (HEIDEGGER, 1983, p.24). Em suma, para
Husserl, os objetos possuíam múltiplas formas, manifestáveis de acordo com a
sua potência, tendo em vista a relação entre o sujeito cognoscente e este
objeto, e esta manifestação se dava no fenômeno, tal qual o conceito de
potência e ato aristotélico. Porém, Husserl se ateve às coisas elas mesmas
como um caminho para o saber, o conhecer. Para se compreender informação
pensemos em como ela se dá, ou seja, como ela é em fenômeno, mas não
somente no objeto fenomênico, há também a questão do ser.
A fenomenologia abordada neste trabalho está em concatenação com a
de Heidegger, que trata a fenomenologia como método não determinante de
análise do como, ou seja, como se manifesta a coisa investigada, quais são
suas peculiaridades existenciais, o que assim se mostra em si mesmo,
(DUBOIS, 2004). A lógica da ontologia e fenomenologia de Heidegger está na
hermenêutica, na interpretação das sentenças e na relação do ser com a
linguagem e na intencionalidade do ser. Estes tópicos são cruciais para se
pensar a informação pelo âmbito do ser, por uma ótica ontológica que se presta
ao fenômeno para ampliar a compreensão do como da informação, ou, como a
informação se dá, processa como tal, no ser.16
16 A relação do Ser e a Informação será explanada no capítulo 3.4.
46
O principal tradutor e estudioso da obra heideggeriana, Emmanuel
Carneiro Leão, descreve numa síntese a condição da fenomenologia em
Heidegger e também da sua ontologia no posfácio da edição brasileira de Ser e
Tempo:
“A necessidade de um esquematismo espacial, temporal e
gestual para dizer e compreender todos os modos de ser e agir
mostra à sociedade que a presença fundadora de nossa existência
não se dá na órbita de consciência de um cogito sem mundo, nem na
complementaridade recíproca de sujeito e objeto. Abrange, ao
contrário, todas as peripécias de uma co-presença originária que se
realiza através de uma história de tempos, espaços e gestos, que se
desenvolve num mundo de interesses e explorações, de lutas e
fracassos, de libertação e escravidão.” (HEIDEGGER, 2009, p. 557).
A fenomenologia de Heidegger, como método, se molda a partir da coisa
mesma, isto é, não se acaba como método próprio, imóvel e infalível, tal qual o
cartesiano. O fenômeno é a própria questão e o método para se pensá-lo se dá
nele mesmo. O caminho a se percorrer é a própria questão, que vai se
clareando à medida em que se caminha. Se informação é um processo, um
fenômeno e logo temos que adentrar na sua ação através do questionamento
de como o informar-se se dá. Deste modo escapamos dos estanques
metodológicos de análise positivista, e de qualquer outra universalização
totalizante. Pensar informação, filosofar sobre este conceito, é uma ação
informativa, que através do próprio caminho se descobrem as possibilidades de
caminhar. Nessa pretensão fenomenológica podemos clarear e expandir as
possibilidades de compreender o que é informar-se. Dar sentido ao ser no ato
informativo, imerso e vivo no mundo, em essência, significante.
Como muito se vê nas ideias disseminadas pela Ciência da Informação
e até em algumas linhas de pesquisa em educação, o termo Apropriação do
conhecimento ou da informação (a distinção dos termos muitas vezes não se
mostra para esses pesquisadores) forma uma descrição objetiva e materialista
do ato de conhecer ou de informar-se. Existe uma apropriação daquilo que
vemos, lemos, relacionamos, há um apreender, no sentido de obter, aquela
informação, como se houvesse uma via única do objeto que obtém a
informação como tal, e uma passagem por um canal imaginário até a mente do
47
receptor. Essa visão unilateral e passiva da anacrônica Teoria da Comunicação
quebra a coerência lógica, como no exemplo a citar, “Nosso conhecimento da
árvore nada implica com a árvore que continua sendo ela mesma, conhecida
ou não por nós. Nosso conhecimento não faz parte da árvore, que continua
sendo como é.” (SANTOS, 1956, p. 90). Ou seja, não há uma apropriação
(tornar-se próprio no sentido material), mas há uma abstração, uma
virtualização individual do objeto, que não necessariamente seja própria
daquele que infere sobre o objeto, pode relacionar-se também como um
construto social, um conjunto de indivíduos que compartilham visões
semelhantes. É um pensar individual influenciado por outrem. Em outras
palavras, a nossa compreensão do mundo se dá não somente como uma
apreensão individual isenta de qualquer influência externa. Na sociabilidade, na
língua, no tempo existe uma permuta de compreensões que se modelam e se
relacionam na heterogeneidade do conhecer. Além do que, o termo apropriar
remete a alguém que se apropria, e, portanto, também origina-se de alguém
que tem como própria a informação, em claras palavras, existe aquele que tem
a informação e aquele que não tem; e para se informar, o que não tem
informação deve recorrer ao que possui. Este pensar adere a si uma
hierarquização necessária, uma polarização separatista entre aquele que a tem
com aquele não a tem; talvez este seja um reflexo inconsciente de uma
afirmação da nossa situação socioeconômica mundial.
Nega-se então a possibilidade de informar-se, questionar-se, buscar
cada um a si próprio a sua maneira de aprender lidando com as diferenças e
agindo por si. Como se pode transformar se a informação é dada como
propriedade, algo apropriável? De que modo se pensa em uma
democratização, em acesso à informação a partir deste conceito? Eis a
importância do questionar sobre a visão de mundo adotada.
Considerando o contra-argumento acima explanado reflitamos no ato
valorativo de pensar. Pensamos em um contexto, pensamos dentro de uma
estrutura de linguagem e em visões de mundo que são herdadas pela tradição,
pela família, pela sociedade. Quando incluímos esse eixo no processo
informativo, manifesta-se a condição ideológica, valorativa, a intencionalidade
do discurso, que por sua vez nos leva a uma complexidade social e política,
sendo que todos esses termos mostram-se muito próximos e interdependentes.
48
Forma-se aos nossos olhos a grande malha heterogênea e complexa que o
homem tece e faz parte ao mesmo tempo. Portanto, o ato de conhecer, o
informar-se (inclusive de formular teorias e uma ciência sobre tal) é um ato
político, intencional, social e essencialmente existencial que recusa
reducionismos e objetivações materialistas. É necessário um olhar mais
profundo e aguçado nessas complexas relações intencionais e valorativas, daí
então perceberemos o processo, o “como” deste fenômeno do informar-se que
constrói a si através do outro, sempre em um meio social. Conhecer é uma
relação entre sujeito e objeto, que se opõem dialeticamente, mas não se
negam substancialmente. A separação clássica entre sujeito e objeto é apenas
uma inferência abstrata, um método de análise que a filosofia ocidental pôs a
discutir. Existe uma relação entre sujeito e objeto e isso nos interessa.
Somente podemos inferir sobre os fenômenos, e não os objetos em si, isto é,
alienados do processo ou mesmo por inferências imediatas, pois não podemos
separá-los da nossa percepção.
Kant foi o responsável por uma revolução copernicana na filosofia,
quando postulou a dependência do pensar aos sentidos, ao sujeito, porém o
isolou de certo modo, recebendo críticas pelo seu idealismo e desconsiderar a
materialidade do mundo. Não nos cabe entrar nessas discussões sobre o
Idealismo ou Realismo, ambos pensamentos extremistas que caíram por terra
nas discussões filosóficas17 e se mostraram insuficientes ao tempo. A
pluralidade das verdades se dá no fenômeno quando a coisa (ente) manifesta-
se aos nossos sentidos (não de modo unilateral ou hierárquico), estes
passíveis à pluralidade e à infinitude das interpretações, que vai além de
sabermos onde se forma a realidade. Temos de primeiramente compreender a
relação sujeito-objeto para então abordarmos com mais clareza o conceito
ontológico-fenomenológico de informação.
A Teoria Crítica de Adorno e Max Horkheimer alerta-nos sobre a
condição objetivadora do espírito na sociedade industrial, e do modo de
produção capitalista infiltrado na cultura e nas artes. Em momentos turbulentos
de uma Europa assolada pela mais genocídica guerra da história, o
pensamento crítico seria a única saída válida para transformar a visão de
17 Cf. BERGSON, 1984.
49
mundo e aprofundar as fendas no sistema capitalista, que iria além da análise
da época de Marx; vai ao cerne de questões filosóficas do ser, do homem,
microcosmo, dentro de uma sociedade complexa, e se constroem como tais
dialeticamente.
Nesse contexto, Adorno faz uma reflexão crítica sobre o sujeito e objeto,
sobre a clássica ambigüidade e oposição entre os dois conceitos:
“A ambigüidade não pode ser eliminada simplesmente
mediante uma classificação terminológica. Pois ambas as
significações necessitam-se reciprocamente; mal podemos apreender
uma sem a outra”. (ADORNO, 1995, p. 62).
Nos caminhos permeados pela Teoria do Conhecimento na história da
filosofia sempre houve o grande questionamento da natureza do sujeito e do
objeto. Ob-jeto, aquilo que se opõe ao sujeito e que, por sua vez, pro-jeta, é
entendido como aquilo que está fora da consciência de um indivíduo, assim
assinala-se a concepção clássica. Porém, Adorno atenta-se para a questão
social não considerada em discussões filosóficas da teoria do conhecimento. O
homem é um ser social, o conceito de indivíduo não pode fechar em si mesmo.
Não há indivíduo fora de uma sociedade e a alteridade é uma determinante
para o conceito de homem, ser que se faz, atualiza-se no outro, na sociedade,
e cria deste modo, o movimento complexo entre sujeito e objeto, alvos da
persistente ideia categorizadora e definidora da Teoria do Conhecimento.
Sobre definir, Adorno nos esclarece: “Definir é o mesmo que capturar –
objetividade, mediante o conceito fixado, algo objetivo, não importa o que isto
seja em si. Daí a resistência de sujeito e objeto a se deixarem definir.”
(ADORNO, 1995, p. 62). O mesmo se dá com o conceito de informação, um
conceito peculiar, que foge a qualquer definição reducionista, pois o olhar
objetivador não se identifica com este conceito, sendo que na sua etimologia já
existe como conceito plural, metafísico, e requisitado para os olhos do filosofar
que não se restringe totalmente à visão de mundo objetiva. O pensar filosófico
faz o caminho do questionar à pluralidade conceitual de “Informação”, suas
definições modificadas e reestruturadas pela história construindo uma
epistemologia.
50
Adorno questiona a veracidade dos postulados da Teoria do
Conhecimento sobre a separação sujeito-objeto, e percebe em sua
manifestação os interesses ideológicos dessa cisão, principalmente em Kant,
na sua revolução copernicana da filosofia, onde põe o sujeito à frente dele
mesmo, questionando sua origem como tal e a cognoscência dos objetos, eis o
indivíduo vivente, indivíduo de fato. Há para Adorno, uma íntima relação entre
sujeito e objeto e nessa relação um complexo movimento ideológico, político, e
interesses condicionantes que vão além de qualquer análise restrita à
metafísica. A condição histórica e social do homem é o viés que deve ser
abordado quando se questiona filosoficamente sujeito e objeto. Salienta essa
relação indissociável, Adorno,
“Nenhum dos dois existe sem o outro; o particular só existe
como determinado e, nesta medida, é universal; o universal só existe
como determinação do particular e, nesta medida, é particular. Ambos
são e não são. Este é um dos motivos mais fortes de uma dialética
não-idealista.” (ADORNO, 1995, p. 70).
O sujeito é objeto tanto quanto o objeto é sujeito em níveis variantes,
sempre em movimento e indeterminação. Ao descentrarmos sujeito e objeto
podemos refletir no seu fazer, no ato e relação; e isso nos conduz à
historicidade deste fazer, suas variantes, e nos afasta da ilusão do poder
absoluto da objetividade e da analítica, complementa Adorno,
“Somente a tomada de consciência do social proporciona ao
conhecimento a objetividade que ele perde por descuido enquanto
obedece às forças sociais que o governam, sem refletir sobre elas.
Crítica da sociedade é crítica do conhecimento, e vice-versa.”
(ADORNO, 1995, p. 65).
Uma intenção de crítica à Ciência da Informação e uma investigação
filosófica sobre o conceito de informação que permeia também uma crítica do
conhecimento, pois informação e conhecimento estão intrinsecamente ligados,
pode-se dizer que são semelhantes, em outras palavras, distintos em
concepção, porém idênticos em conceituação. Abordar um conceito
informacional é tomar a consciência imediata de um conceito do conhecer.
51
Informar e conhecer são o mesmo no seu sentido ontológico, porém ao mesmo
tempo, distintos como concepção. Podemos dizer que o ato de informar é um
ato de conhecer, mas não podemos igualar informação e conhecimento; este
último termo vai além da ação, perdura na memória, situa-se na história e na
própria efetivação do ser. Daí uma necessidade de se aproximar o conceito de
Informação com o conceito de Conhecimento, cuja reflexão se estenderia além
da proposta deste trabalho. Mesmo assim, faz-se mister salientar a importância
dessa discussão.
A partir desse pensamento crítico, atual e emergencial construímos os
argumentos da hipótese deste trabalho que sugere um outro olhar perante esse
conceito “que não se deixa definir”.
4.1 – Etimologia de Informação
Para se conhecer um conceito deve-se primeiramente atentar-se à sua
historicidade. As palavras e seus significados são flutuantes, mutantes no
percorrer da história. Buscar a origem da palavra através da etimologia, para o
poeta Cícero, por exemplo, era ter-se à notatio de uma palavra que estava
contida na sua força, vis. A força da palavra está no seu significado que é
interpretável, e as interpretações, por sua vez, conduzem os rumos que
determinada palavra toma registrada em documentos históricos. A intenção
aqui com a etimologia é melhor compreender a palavra Informação, a partir de
fontes como Silveira Bueno, José Pedro Machado, Saraiva e os dicionários de
Oxford, interpretar esse significado pelo ponto de vista fenomenológico e
argumentativo-lógico, criando assim uma base sólida para a construção da
hipótese do presente trabalho. Define, por fim, Silveira Bueno, a etimologia
sinteticamente, “A etimologia é a origem dos vocábulos, cuja força (de
significação), quer em nomes, quer em palavra é desvendada pela
interpretação.” (BUENO, 1963, p. XV).
Informação, em consenso com os dicionários consultados vem do latim,
Informatio, Informatione que significa, “modelar, formar, representar idealmente
[...] formar no espírito”, segundo Machado (1990); de acordo com Saraiva
(1924), “Dar forma, afeiçoar, formar; formar no espírito, delinear, esboçar,
instruir, educar”. Nos dicionários em inglês encontramos a etimologia em
52
Scheller (1835), “a representation, idea, sketch, to frame in the mind”; e
também em Glare (1982), “Sketch (in words), to form in the mind, to form and
idea of (something), imagine.”
Dentre os verbetes é consenso a origem da palavra informação, sendo
que in – dentro, e formatio – deriva de forma, dar forma a algo. É a origem da
palavra que permite diversas interpretações em dependência da visão de
mundo, assim como o termo fora usado nos escolásticos (Idade Média),
diferentemente depois das ideias de Descartes e mais precisamente Kant, que
considerou o sujeito como cognoscente e primordial no processo do conhecer.
No aspecto figurativo, todos os dicionários consultados remetem para “formar
no espírito”, ou algo que se forma no espírito, daí a interpretação de in-formar,
dar a formação no interior, imaginar, ou seja, no intelecto, ou sujeito
cognoscente. O sujeito é, portanto, um conceito chave para se compreender o
conceito de informação, mas ainda mostra limitações, pois esse carrega uma
definição insuficiente, abstrata e idealista de informação. É preciso pensar
como o processo se dá, em que meio e de que forma.
Essas questões vão além da simples definição, nos mostra a magnitude
do conceito e nos clareia a pergunta, o que é informação além do definível? É o
mesmo quando levantamos a questão, como se dá informação? Ela se dá, ela
acontece, se promove, se forma? Veja que o emprego de verbos influencia na
definição, condicionando a ideia da palavra, seu conceito (como explanado no
capítulo 3). Através da nossa interpretação podemos naturalmente dizer que
informação é dar cognoscência a algo, uma ideia, dar forma, enfim. Dar forma
em uma mente pensante, em um sujeito. Mas de que modo? Podemos pensar
além da simples definição que a etimologia nos dá?
Se há um sujeito há um objeto; se pensamos um sujeito cognoscente,
pensamos numa sociedade em que esse sujeito está inserido, no contexto
histórico, na sua linguagem, na sua cultura. Diversos fatores tornam a
discussão mais complexa e a interpretação pode ir além. Do mesmo modo, se
pensamos em forma, pensamos em matéria, no conteúdo desta forma, na
apreensão das coisas, de certa forma, pensamos também sujeito e objeto, e,
além disto, pensamos no processo em sua totalidade na relação entre sujeito e
objeto, matéria e forma. São estas relações que compõe a complexidade da
53
informação e abrange a nossa investigação através do pensamento filosófico e
crítico.
Quantificar a informação é criar enunciados sem um fundamento
ontológico; é destituir do conceito da informação sua essência, pois não é
possível pensarmos o informar-se sem considerarmos o homem que pensa e
seu meio. Os labirintos da mente e do fenomênico não são quantificáveis
ainda. Se, por conseguinte, afirma-se que se pode manipular a informação,
logo, se pode manipular alguma forma de pensamento. 18
Há de se tomar cuidado com definições como “redução de incertezas” e
“informar de modo a surpreender o informado”. Reduzir incertezas implica em
aumentar certezas, que são ilusões, pois não temos certeza de nada, nem
mesmo de uma informação qualquer, não importa sua origem. Ao lermos, ou
ouvirmos uma história, ou argumento, a veracidade da mesma deve ser posta
em discussão, pois o que é verossímil? Mesmo sabendo que o sol nascerá
amanhã, não temos certeza de tal fato para sempre, como o filósofo George
Berkeley postula. Sabemos disso e não há uma redução de incertezas
percebida, nem mesmo algo surpreendente. Nos informamos, porém de
diferentes maneiras, apesar da incerteza sempre habitar o nosso pensamento,
sempre em par com a dúvida, inexorável ao ato de pensar, ou de ser-no-
mundo. Dizer que a informação se dá no surpreendente é tomar que informar-
se é estar à frente de algo novo. O que é então o conceito de novo? Não se
fecharia a uma profunda subjetividade tal conceito? E de que adiantaria sua
discussão se o surpreendente se dá de diferentes maneiras em cada um de
nós? É uma definição vaga, portanto. Mas se aplicarmos esse conceito em um
sistema fechado, num ambiente de conceitos próprios, talvez haja coerência ao
falarmos em certezas, ou incertezas reduzidas, porém somente num contexto
fechado, com termos próprios e forjados a um intuito. Quando nos referimos à
informação no contexto do ser, do social e da vida cotidiana não nos
prendemos a um contexto fechado, hipotético e forjado, mas sim às
contingências do mundo, às imprevisibilidades constantes e ao sempre
questionar, esse último, impulsiona o movimento crítico e nos faz sair de uma
ataraxia ilusória. A Ciência da Informação deve pensar os sistemas abertos e
18 Reditum ad absurdum.
54
complexos (como também o conceito de Rede, Internet), os sistemas humanos
e sua relação com a informação. Abstrair para criações de linguagens próprias,
ou mesmo sistemas funcionalistas retira o trabalho ético de uma ciência que
visa retornar à sociedade pensamentos pertinentes e possibilidades de
transformações sociais.
4.2 – Metafísica de Aristóteles – Potência e Ato.
Figura 2 - Scuola di Atenas de Rafael Sanzio (1509-1510).
Duma maneira geral, como a filosofia investiga a causa dos
sensíveis, é precisamente isto que nós deixamos de lado (nada, pois,
afirmamos da causa, que é o princípio da mutação), e, julgando
explicar a substância dos mesmos [sensíveis], admitimos, na
realidade, a existência de outras substâncias. (ARISTÓTELES, 1979,
p.33).
55
Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) fundamenta seus pensamentos em uma
crítica a seu mestre, Platão, sobre a inteligibilidade das coisas. O poético e
sintético retrato desses dois pensamentos conflituosos é o afresco de Rafael
Sanzio, onde Platão aponta para cima, sugerindo sua teoria gnosiológica, e o
Mundo das Ideias, em contraposição, diametralmente oposta, a Aristóteles, que
aponta para o chão, reclamando a seu mestre o esquecimento das coisas, do
ob-jeto, do real.
Para Aristóteles, existe uma distinção entre a coisa, ou o ente, e a ideia
(ou forma), eidos, porém essa distinção é somente analítica. Ao contrário de
Platão, que imaginava as coisas como derivações do perfeito eidos, Aristóteles
imaginava que as coisas têm forma e matéria (Hilemorfismo). A forma está
contida em todos os entes, juntamente com a sua matéria. Em outras palavras,
a coisa pode vir-a-ser, tem a potência de ter uma forma inteligível, “A causa
material existe, por conseguinte, e, além disso, a forma é realmente algo que
determina essa matéria e que a ela se acrescenta.” (BERGSON, 2005, p.122).
Forma tem o sentido de “tornar-se inteligível”. É a ideia de cadeira, por
exemplo, que está contida no objeto que recebe essa categorização, que se
forma quando nossos sentidos, nossa linguagem, nossa visão de mundo,
entram em contato com a cadeira.
O filósofo distingue na sua Física (conjuntamente na Metafísica), quatro
espécies de causas, a causa material, que corresponde ao objeto como ente, a
causa formal, a forma fenomênica que dá sentido ao objeto, a causa motora,
que atualiza de modo sincrônico e intrínseco forma e matéria, criando assim, o
movimento; e a causa final, ou seja, o objetivo, o fim, o intuito. Heidegger
questiona na sua conferência A questão da técnica (HEIDEGGER, 2007), o
sentido das causas no pensamento grego. Para o filósofo, existe um
comprometimento (Verschulden)19 entre as quatro causas, no sentido em que
estão relacionadas não somente de modo linear, um reagir e efetuar
simplesmente, mas as causas resultam-se entre si. Assim, este
comprometimento nos revela a produção, isto é, como as coisas se dão e que
19 Verschulden é um composição lingüística com base no substantivo Schuld (culpa). A tradução optou por comprometimento para evitar interpretações de sentido moralista, ou legalista. Ao ponto em que Heidegger explica o termo no seu sentido grego de destino. (HEIDEGGER, 2007).
56
uma causa material ou matéria-prima, tomando a prata como exemplo de
Heidegger, tem uma relação de cumplicidade/comprometimento com a causa
formal, como citado no exemplo, a taça de prata. Em outras palavras, para
Heidegger, a prata pode gerar uma fivela, uma colher, e também uma taça de
prata, e seguindo esse raciocínio, a prata que fora moldada para ser uma taça
não é a mesma existencialmente que a da colher; é sim, cúmplice de toda
relação causal. Fato este que une todo o processo numa relação de
interdependência causal. Quando desvendamos os processos causais
desvendamos a produção e o fundamento do produzir, pois não vemos as
causas como fatos intermitentes, recalcados, mas sim uma globalidade no
processo, considerando-os justificados entre si. O destrinchar desta complexa
interpretação em Heidegger se dá no seu questionamento sobre a posição do
ser na técnica e do sentido da relação entre os dois. Abordaremos o
pensamento de Heidegger alguns capítulos à frente.
De acordo com Bergson, “Portanto, as obras da natureza, a causa
motora, o princípio da mudança, e a causa final confundem-se com a causa
formal e só se distinguem dela pelo ponto de vista.” (BERGSON, 2005, p.123).
O movimento das coisas, o crescer, o caos e a ordem que flertam-se no mundo
natural se confunde com a finalidade, pois a causa final é existir, criar o
movimento e mantê-lo perpétuo, assim como a causa formal confunde-se com
o movimento, portanto, se atualiza, somente se torna perceptível, através do
cum crescior, crescer junto, no latim, ou concreto no português.
Bergson exemplifica a ideia central da potência e ato aristotélica,
“(...) a árvore, a planta que provém da semente. A semente é
a matéria, a planta, a forma. Essa forma é o objetivo, o fim que o
desenvolvimento da semente persegue; (...) esse devir tem sua causa
na necessidade de realizar a forma, na necessidade de tornar-se
planta, de modo que é a atração da forma que causa o movimento e
a forma é realmente causa motora, ao mesmo tempo em que causa
final.” (BERGSON, 2005, p.123).
Para que haja uma realização da potencialidade de algo é preciso o
movimento, a passagem do poder vir-a-ser para o devir, o fenômeno. Nesse
movimento que o ente torna-se ser, pois deixa de poder ser algo para sê-lo
57
efetivamente, “é a forma que dá o ser” (BERGSON, 2005, p.125). Nesse
movimento estão as contingências, na causa motora. Este é o momento em
que o ente tem uma relação com o meio e exprime sua existência como tal, ou
seja, como vemos em nossa percepção, na forma. Ele se atualiza em si, mas é
na percepção dessa atualização, na forma com que ele aparece a nós, que
podemos afirmar que há de fato um atualizar.
Pela interpretação bergsoniana de diferença de ponto de vista entre
matéria e potência, Aristóteles não as separa, apenas salienta que pelos
sentidos, ou ponto de vista, é possível ter uma visão analítica e obter, portanto,
mais de uma visão sobre matéria e potência. Distingui-las é possível apenas
nas abstrações, tal qual o próprio Aristóteles utilizou como método para chegar
às suas conclusões, mas não são distinguíveis em essência.
Para Aristóteles, a forma está (em potência) nos objetos, nas coisas, no
ente, pois assim é logicamente permitido haver mais de uma visão, ou
compreensão dos objetos. Eles podem ter múltiplas formas. A prova está no
microscópio, por exemplo, um copo contém água num recipiente no estado
líquido. Quando olho com olhos microscópicos, vejo não mais a forma líquida,
mas sim as moléculas de água, “vejo” H2O, assim como se pode usar uma
“lente quântica” e “ver” os quantas, o interior do núcleo e outro mundo físico
com outras leis mecânicas. A matemática permite, através da sua linguagem,
esta outra visão que experimentalmente já mostra sucesso.
Nossa percepção cognitiva efetiva-se em quatro dimensões (três
dimensões espaciais e uma temporal), um outro ser, hipotético, pode ver o
mundo em 4, 5, 9 dimensões. Como ele veria? E em duas dimensões? A partir
da percepção, como agiria esse ser? Parece aceitável que esse ser agiria
completamente diferente de nós, seres de uma percepção em quatro
dimensões. A forma está em potência no objeto, pois independe de nós para
essencialmente ter a forma, já que pode ser visto em diversas realidades
formais, microscópica, quântica, macroscópica, mítica, etc;
A realidade está em partes no subjetivo e no objetivo, logicamente
falando, é uma relação fenomênica entre ambos que dá a forma, que in-forma.
A visão de mundo determina a forma, o informar. Temos uma limitação
fisiológica, fato que a neurociência estuda, por isso sua importância,
justamente para sabermos o quão longe nosso cérebro pode ir fisicamente,
58
quantas realidades, quantas formas pode se desprender e desenvolver dos
objetos e da realidade que nos mostra, infinita, e obscura.
A nossa interpretação de potência e ato se limita aqui20, no seu cerne
conceitual, apesar de Aristóteles tomar uma posição objetiva da realidade
quando diz que ao considerar matéria e forma intrínsecas a si mesmas, toda
forma tem matéria e toda matéria tem forma, portanto as coisas são inteligíveis.
Mas por qual meio? Pela forma, portanto, considerada primeira perante a
matéria. Deste modo, pode-se ter uma interpretação realista de Aristóteles tal
qual uma interpretação fenomênica. Ficaremos com a fenomênica, com foco no
movimento. Este movimento nos pede atenção ao “como” as coisas se
apresentam a nós, e como as coisas se relacionam e se comportam perante o
sujeito que depende do objeto para ser. Como Aristóteles refletiu sobre a
distinção entre matéria e forma, não há distinção essencial entre sujeito e
objeto, somente analítica. São categorias diferentes e opostas, porém não se
negam, e interdependem-se em essência. Sobre a questão do fenômeno, do
movimento que dá forma (informatio), Aristóteles diz,
“Ora, nós dizemos que o homem vem da criança como o já
gerado, ou o já completo do que se está completando, pois sempre
há um intermédio, como entre o ser e não-ser, o devir, e o que se
está gerando, entre o que é e o que não é.” (ARISTÓTELES, 1979,
p.41).
Nesse intermédio está a contingência, aquilo que a ciência não atinge,
apenas quantifica e abstrai. Apesar de estar além da ciência, o ato, o
movimento de organização das coisas, o ser em sua afirmação de si é crucial
para compreendermos a magnitude do conceito de informação. É o que
chamamos de Meio Elucidativo, cuja complexidade é explícita na linguagem, na
cultura, na diferença. É a partir da diferença do Outro (alteridade) que devemos
refletir o conceito de informação e como a prática desse pensamento se dá na
educação, na epistemologia da C.I., na configuração das bibliotecas, na
20 Apesar da ideia aristotélica das quatro causas não afirmamos aqui que o universo é regido pelo conceito engendrado na causa-efeito. O que exploramos em Aristóteles é a sua visão do fenômeno, de potencialidade da forma como uma maneira de se entender a metafísica e deste modo, questionar o que podemos entender como “informação”. A filosofia das causas se faz necessária para entender o pensamento de Aristóteles, complexo e sistemático.
59
Documentação, que neste caso especial estuda a organização dos
documentos e principalmente para quem organizar. Documentos não existem
sem uma ação, e esta ação é causada por um ser, com direitos e deveres, num
contexto político, numa temporalidade, em uma forma de discurso, em uma
cultura. Abordar esses temas complexos é a meta dos seguintes capítulos.
4.3 – O Meio Elucidativo. A contingência, a língua, a cultura, a moral, a vivência (visão de mundo) e a psiqué (estado psíquico do indivíduo).
Uma linguagem é um sistema particular de signos que serve como meio
de comunicação de ideias ou sentimentos, e todo sistema deve ser
convencionado para permitir uma comunicação não ambígua podendo os
signos convencionados serem sonoros, gráficos, gestuais etc., e percebida
pelos diversos interlocutores. Como o essencial da linguagem é a comunicação
ela refere-se à significação, à Semântica.
Inerente à linguagem, a língua diz respeito à capacidade ou faculdade
de exercitar a comunicação, latente ou em ação, podendo ser um idioma
quando usado por um grupo social ou nação, e refere-se a um conjunto de
palavras e expressões usadas por este grupo, munido de regras próprias e
portanto, portador de uma sintaxe. A significação está na base da língua e da
linguagem. São as significações que se transformam em som na necessidade
de comunicar, desse modo, a língua é o processo em que a significação se faz
no ser-no-mundo e atualiza-se transformando o meio comunicacional. O ser se
faz na sua fala, e portanto, nas significações que ali existem, passíveis de
interpretação (DUBOIS, 2004).
Cada língua é uma visão de mundo em ação, no movimento, viva e
mutável; é também a expressão do entremeio do espírito humano e os ob-
jetos21 e não somente um instrumento de comunicação embasado em uma
linguagem técnica, como pensam as ciências objetivas. A língua técnica serve
à ciência como facilitadora e articuladora das ideias e suas práticas, porém
está determinada pelo saber técnico. O modo da língua está compartilhado
21 No sentido de estar oposto, portanto o outro mesmo sendo sujeito é um objeto para outro sujeito.
60
com as máquinas desenvolvidas. A linguagem objetiva das máquinas, a
linguagem documentária, a língua técnica em geral objetivada na meta da
técnica per se, afirma-se como parte crucial do método científico para a
finalidade útil garantida pela ciência. Para Heidegger, a língua tornou-se
informação, ou seja, técnica; porém o filósofo refere-se à Teoria da Informação
de Shannon, e da cibernética de Weiner, teorias que nascem numa visão de
mundo fisicista.
Weiner e Shannon exploram a língua técnica e sua teoria é restrita aos
sinais; não havia uma intenção humanística ou ontológica nessas teorias, como
visto anteriormente. O conceito de informação fora apropriado a uma área
técnica e faz parte da língua técnica, apesar de ainda manter sua origem
etimológica. A apropriação técnica limita-se a sua definição, que de certo
modo, não desvia da sua origem de formar, dar forma; porém definição é
restritiva ontologicamente. A língua de tradição, como dita por Heidegger
(1995), é a que se mantém polissêmica, viva e mutável e é considerada frente
à língua técnica em uma relação de presença do ser. Questões de
mutabilidade da língua técnica e de tradição merecem uma discussão a parte,
mesmo assim, é possível considerar a diferença e a implicação da viva língua,
mutável e imaginativa na existência do ser-no-mundo e como a C.I. pode
investigar essa relação entre essas duas manifestações da língua.
Na Ciência da Informação, as questões sociais chamam a atenção a si,
apesar de ser uma das abordagens entre um conjunto amplo e não tão bem
delimitado dessa ciência naturalizada técnica. O profissional não lida somente
com a língua técnica, dele exige-se mais, e neste ponto da comunicação
humana, a técnica tem um limite de influência e a relação ser e mundo
apresenta-se ativa no contato com o outro, no projetar de uma profissão à
sociedade, na vivência do profissional, ou no pesquisador ativo na área. Isto
está além da técnica, porém não a exclui. Ela é presente como visão de mundo
e determina os atos e consequentemente o trabalho que este profissional
atende. A importância da linguagem e da compreensão além da visão técnica é
a possibilidade de transformação daquele que se utiliza do serviço.
Podemos pensar num serviço de informação, nas estruturas de bases
para os usuários, na questão prática, técnica e vivencial; todas estão
sustentadas na base da visão de mundo, portanto, cultura e língua, para citar
61
duas fortes realidades determinantes; além do estado psíquico do indivíduo
determinante na expressão e posição deste indivíduo no mundo e na
comunicação com um registro, ou mesmo outra pessoa. A cultura, a língua, a
vivência (a experiência particular de cada um), a psiqué (estado consciente, ou
intencionalidade), a contingência, isto é, as possibilidades de existência de um
processo comunicativo e informativo são fatores condicionantes e correntes no
Meio Elucidativo.
Elucidar vem de esclarecer, tornar lúcido, deriva do latim elucidativus
(BUENO, 1963). Para se tornar elucidado, o meio deve organizar-se de uma
maneira em que estes fatores estejam consoantes no ato de informar-se e
distinguível para aquele que está se comunicando. Na relação comunicativa,
seja entre pessoas, ou numa leitura de análise a um documento, existe uma
conexão cognitiva, uma atenção do indivíduo para aquilo que se estabelece
comunicação. O pensamento se faz atento, intencional, atualizando-se com o
outro e nesse movimento de pensamento, linguagem, cultura e individualidades
existe o ato de informar.
Informar-se é uma palavra que possui um pronome reflexivo “se”,
remete, de acordo com a língua portuguesa, (além de um pronome integrante
do verbo informar), ao sujeito que aplica a ação a si. Não é possível pensar em
um informar-se como uma ação isolada, de si para si; pelo contrário, se
estabelece uma relação fenomênica entre sujeito e objeto, e neste meio é
necessário elucidação. O pensamento faz-se claro por si, isto é, participa do
clarear e este mesmo se faz claro. Informar-se é um processo reflexivo,
essencialmente de pensamento, numa subjetividade e no mesmo sentido,
objetividade. É um movimento contínuo de pensamento e exterioridade, que se
determinam na complexidade não linear e não hierarquizada. A hierarquização
teorética da comunicação, sua efetivação simplificada como fez a Teoria da
Comunicação do Emissor-Receptor, são posturas que demonstram sua
funcionalidade em exemplos reais, por exemplo, nos computadores (como
pensa o paradigma físico), porém mostram-se limitados e abstratos às
contingências de uma conversa ou em relações humanas quaisquer.
Uma horizontalidade é possível nesse processo comunicativo e o ato de
informar-se, se movimenta em sua temporalidade afirmada pelo potencial de
informar, que se atualiza e informa. O potencial de informar, como foi analisado
62
em Aristóteles, se torna ato no Meio Elucidativo, ao ponto que os objetos
tomam forma no espírito, ou vouç em grego, e neste sendo do ser, há o
processo, o movimento, portanto, ação em que se informa; a informação. Logo,
as coisas têm a potencialidade de informar, assim como a semente tem em
potência a árvore e seus frutos, ou seja, existe uma virtualidade. Nesse sentido
podemos pensar a Internet como outra realidade, virtual e não irreal, de
possibilidades técnicas, de compartilhamento de saberes e de relações
humanas, assim como uma possível horizontalização dessas relações. A partir
dessa hipótese, distinguimos o que é registro, ou documento, de informação.
Um livro tem a potencialidade de informar, mas este ato dependerá dos fatores
de linguagem, da cultura, da temporalidade, do sujeito que é informado.
E como se dão esses fatores do Meio Elucidativo? O Meio Elucidativo é
uma potencialidade em si; pode vir a tornar-se quando em contato
comunicativo com aquele capaz de atualizar a forma a partir deste meio, e
subjugado a ele. Pois aquele que se comunica faz parte do meio, ou seja, não
há uma centralização ou polarização comunicativa; há o ser-no-mundo, as
influências históricas, culturais, a língua, o tempo, as contingências e
principalmente a visão de mundo. O Meio Elucidativo não é único, um método,
uma fórmula; é uma possibilidade, é o ambiente real e ontológico em que se dá
o informar-se. A cultura particulariza o meio, cada cultura é única (identidade),
uma unidade de ação, múltipla e diversa, agregada à tradição e mutável como
um organismo vivo, também complexo como tal (diferença). Ainda neste
trabalho não é possível ir adiante com as definições de cultura, outro conceito
que não se deixa definir, por isso permite amplas interpretações, mas
tomaremos neste ponto como fator a ser considerado, e de extrema
importância para aquele que pensa a informação.
O atualizar da informação, o informar-se é basicamente ontológico,
humano, considera-se a sua cultura como base do informar-se, que
determinará como as formas serão interpretadas pelo indivíduo. Com as
particularidades culturais de cada povo, e consequentemente as
particularidades da informação em cada cultura, não se pode objetivar o
conceito de informação a todos como única fórmula aplicável. Esquece-se o
ser, o ente principal deste processo. Este ente está inserido no mundo, e
pertence à humanidade, juntamente com aquilo que lhe torna único, seu
63
espírito. Pelo que vimos da etimologia, formar no espírito é informar-se, e o
espírito pertence a um universo de ser, de vivência, de afirmação existencial de
si. Neste sentido, o informar se dá em cada um, forma-se no pensar, no
processo imaginativo, lógico, em nossas estruturas mentais e também no meio,
no outro. Como diria o poeta Rimbaud “Eu é um outro” (Je est un autre). O
informar-se é uma busca de si em relação com o mundo. Não se informa o
outro, mas se cria um processo em que há possibilidades de informação. Os
objetos têm a potência de tomar diversas formas, como dito no capítulo
anterior, e tudo depende do sujeito que tem contato (comunica-se) com o
objeto, a partir desse contato sujeito e objeto se tornam processo e assim
atualiza-se (potência e ato) o processo informativo. Só podemos pensar em
sujeito e objeto de modo analítico; é uma abstração lógica que facilita o pensar,
mas no sentido real não há essa diferenciação, o contato é uma mescla entre
sujeito e objeto que co-determinam-se no movimento de elucidação. O Meio
Elucidativo se dá nos sistemas, pois é um processo que remete à interação e a
articulação dos fatores determinantes no informar, “[...] os elementos são
constituintes de um todo que se define como estrutura articulada de funções e
disposições interativas.” (ARISTÓTELES, 2009, p.19). Os elementos, de
acordo com Aristóteles, são substâncias e estão fadadas ao acidental, no
sentido de acaso nas suas propriedades, efetivando-se nas suas funções. A
organização do modo funcional da substância é o todo referido na citação, que
se aproxima com a Teoria dos Sistemas, considerando não somente coisas
objetiváveis, mas também sua forma de expressão organizadora, o modo como
se relacionam e se manifestam em conjunto e interdependência. Este é o Meio
Elucidativo, onde as contingências se dão e a organização entre o caos e a
ordem se manifesta no ato de informar.
Imaginemos uma mesa. Ela é um objeto, pois está ob-jetada à
consciência do Eu. Quando isolamos esta mesa numa sala adiabática longe de
qualquer contato com outro objeto, ou algum outro ser, ela ainda manterá,
logicamente, suas características físicas, portanto, aqui excluímos o discurso
idealista de que a realidade está somente na percepção. Existe uma realidade
além de nossa percepção, existe a coisa em-si, mas o nosso foco é o
cognoscível, pois estamos tratando de ontologia, do ser que pensa. Saber se
existe a coisa em-si ou não é um assunto paralelo, o que queremos saber é da
64
temporalidade e da relação viva entre sujeito e objeto. Voltando à mesa, ainda
temos a mesa isolada, e agora pensemos em outra mesa: uma na qual alguém
escreve um texto. A mesa sofre a força gravitacional do peso da pessoa que se
apóia, dos livros que estão por cima, dos possíveis arranhões, ou seja, a
durabilidade é outra em relação ao exemplo da mesa isolada, a temporalidade
do objeto modifica-se. Estar isolado numa sala adiabática é possível para uma
mesa, mas para um ser vivo não, ele morreria em isolamento, pois a condição
de existência de um ser é o outro. Do mesmo modo em que uma mesa isolada
numa sala adiabática perde sua razão de ser, ou seja, a de servir como apoio,
sua instrumentalidade é destituída, pois há a realidade do ser-no-mundo,
condição inexorável ao ser. Os objetos existem em si, mas quando estão em
contato, ou seja, para-si manifestam sua forma e materialidade, manifestam
sua potência de informar. A relação entre sujeito e objeto nunca é isolada e
analítica como pensava Descartes, pelo contrário, ambos são intrínsecos,
inalienáveis. Quando se pensa no sujeito cognoscente, pensa-se no seu objeto
que afirma-se diferença e identidade simultaneamente, ou seja, pensa-se no
outro. Deste modo, cai por terra o pensamento de emissor, o que apropria o
informar, ou conhecer; como também o receptor, aquele ausente do conhecer.
Não existe o que sabe e o que não sabe, existe o mútuo apreender, o mútuo
comunicar-se para conhecer. O outro é indistituível do ser, pois se afirmam
como tais no processo interdependente de existir.
Pensemos agora em outro exemplo elucidativo. Imaginemos uma sala
de aula, e um professor, naturalizado brasileiro, falante do português do Brasil
está explicando justamente essa hipótese que estamos explanando para um
homem, brasileiro, leitor frequente já formado em algum curso de graduação.
Também para um outro brasileiro, idoso, analfabeto que nunca visitou uma
escola. Outro personagem é uma mulher chinesa, não entende nada de
português; e finalmente um jovem alfabetizado que pouco sabe de filosofia, ou
mesmo sobre a Ciência da Informação. É possível conjecturar que o primeiro
aluno possa entender o que o professor diz, já que este está falando a mesma
língua que o aluno, ambos compreendem a conduta de uma sala de aula e um
diálogo comunicacional se estabelece. Alguns destes pontos citados
convergem nas outras pessoas presentes em sala (como a conduta de uma
sala de aula de uma instituição de ensino, que pressupõe-se que todos
65
entendam), outros não. A chinesa não terá nenhuma noção do que o professor
diz. Talvez ela possa ter ouvido alguma palavra em português em algum lugar,
mas o contexto informativo dificilmente se dará, há um limite semântico, ou
seja, de linguagem. Já no analfabeto, acontece o mesmo, porém este entende
o português, exceto a língua técnica que o professor recorre para explicar a
sua hipótese com bases filosóficas. O jovem, mesmo compreendendo alguns
termos, terá dificuldades em compreender alguns conceitos que requerem uma
base de estudos básicos em filosofia. Além do que, se pensarmos no primeiro
homem, o mais apto a, hipoteticamente, estabelecer um conhecer mais
abrangente sobre a fala do professor; com um estado psíquico anormal,
incômodo, etc; sua atenção não está suficientemente apta a compreender o
que o professor diz. O mesmo vale para todos, já que o estado psíquico
(comportamento emocional, estresse, ou mesmo disfunções de saúde) interfere
no compreender, pois não somente se conhece o mundo com a mente, mas
também com o corpo. E consideramos aqui ambos indissociáveis.
O que podemos concluir nesse exemplo que pode se estender por várias
páginas é a contingência de fatores que existem num processo
comunicacional, e que, principalmente, cada um informa-se de uma maneira
particular, e quantificar essa maneira, essa forma, portanto, é impossível.
Teríamos que não somente adentrar na consciência do outro, como também
ser o outro, já que o ser não é somente consciência, é também, a vivência, a
experiência vivencial única de si, o ser-no-mundo. Visto essa impossibilidade
questões surgem. Como podemos pensar o outro no informar? Como ir além
nestes fatores determinantes sobre o conhecer? Uma investigação crítica é
suficiente? Não seria necessário um diálogo com outras áreas de investigação,
e quais as contribuições que essas áreas poderiam trazer para essa linha de
raciocínio? É necessária uma investigação sobre o conhecer, sobre a
comunicação, sobre a cultura, a língua, etc. O informar-se não se restringe a si
como conceito, agrega-se a esses outros conceitos tão complexos e amplos
quanto a informação. No caminho de nossa investigação filosófica e
fenomenológica do conceito de informação muitas questões pairam, e estas
implicam na continuação do caminhar investigativo. A intenção é
compreendermos o quão complexo é o conceito e como o nosso pensamento
66
perante tal sofre as crises do questionar. Continuemos, portanto, a investigar o
compreender e o conhecer, e sua relação com a informação.
Compreender é o aprender mútuo, como afirma Mário Ferreira dos
Santos, “Compreender alguma coisa é cum prehendere, é apreender com, é
captá-la com os co-variantes que se coordenam numa cooperação capaz de
criar uma realidade.” (SANTOS, 1956, p. 52). Aqui se estabelece o
compreender como apreender, ou seja, formar a partir do que percebemos uma
figura (no inglês é mais claro o conceito, figure out) da realidade, é moldar uma
realidade a partir da relação entre consciência e o fenômeno, ou como as
coisas se mostram a nós, estética (αισθητική). E nesse meio existe aquilo que
é elucidativo e o que não é, ou seja, aquilo que é captado claramente ou não
pela percepção individual. Para assimilarmos algo, este algo deve ser
semelhante, deve ter um grau mínimo de homogeneidade com o que
construímos como consciência de si e de outrem. O Meio Elucidativo, nesta
hipótese, é o meio que permite, em graus, a elucidação, o clareamento, ou o
desvelar das coisas, o compreender. Eis uma passagem pelo pensamento de
Heidegger quanto ao termo compreender, “[...] a compreensão de ser não é
meramente um conjunto de categorias acumuladas como uma coleção de
moedas; ela se desenvolve junto com a formação de mundo, com a
transcendência” (HEIDEGGER, 2002, p. 19). Esta transcendência significa
estar através do mundo, na ação e moção de ser, e inevitavelmente nos
deparamos com o mundo e consequentemente com o outro. Este deparar
Heidegger conceitua como um pro-jeto, ou seja, lançar-se a, em que o ser é
projetado, lançado pelo compreender, e assim cria-se seu movimento
expansivo. Compreender é uma possibilidade, um poder-ser, que se dá na
contingência, na existência do caos e da ordem das quais transcende quando
se efetiva a captação dos covariantes (caos) coordenados (ordem), voltemos à
citação no início deste parágrafo, e relacionemos o compreender com o
conhecer que são, por sua vez, conceitos participantes e presentes quando
tratamos de informação.
Conhecer deriva do latim co-gnoscere, que se traduz por gerar junto,
nascer junto. Portanto, todo conhecer é um processo de nascimento, que gera
algo que não havia anteriormente, além de remeter a uma relação no seu
prefixo (co), junto. Todo conhecimento gera-se num processo, numa relação,
67
pois permite o conhecer e o perpetua. A relação entre “formar no espírito” e o
nascer junto como essência do conhecer se dá claramente. Informar-se é
conhecer. E o que gera ontologicamente aquilo que nos deparamos e o que
cria o movimento da geração? A questão, o espantar-se perante aquilo que nos
cruza existencialmente e faz-se, assim, o conhecer com o impulso do
questionar, a dúvida inelutável perante aquilo que se mostra como objeto a
nós, que, por sua vez, dá-se em forma, tendo em vista a capacidade de nosso
aparato cognitivo e perceptivo; não somente pelas características da
consciência no sensível, mas também da existência do ser-no-mundo, sua
concepção histórica, na personalidade única de cada ser. Não podemos ainda
ver ou “ter em mãos” o pensamento, consequentemente é óbvia a
intransponibilidade entre a experiência do próprio ser para a externalização
deste saber, desta experiência. Há somente um relato, uma tradução daquilo
que se pensa em palavras, gestos, ações expressivas. O pensamento é o
mistério que só pode ser alcançado numa relação entre ser e o mundo.
Objetivamente não atingiremos o pensar, é impossível distingui-lo, colocá-lo à
luz da consciência de outrem. Para se ter contato com o pensar do outro
inevitavelmente mistura-se com este outro, ontologicamente. Na comunicação,
que é este contato existencial do pensamento, há então, o eu que se faz outro.
Somos um organismo aberto em comunicação com o mundo, daí o ser-no-
mundo, pois somos essencialmente o mundo como ato.
Compreendendo esta forma de pensamento, podemos concluir que o
pensar é único mostrando-se somente como o maior dos mistérios, e como
cada um é para o mundo, e para o Outro, é uma forma de seu ser. Não
apreendemos esta forma de ser, ou modo de ser do outro, mas também somos
este modo de ser sendo nós mesmos. Uma pessoa, um ser que existe no
mundo, não é por si; está em relação, está em interdependência, está sendo o
outro e a si mesmo constantemente, e assim se configura o ser como tal.
Aquele que nos depara, por assim dizer, um outro, uma pessoa, detém da
capacidade de pensar, de questionar (-se), de informar (-se). O que isso nos
diz política, social e eticamente? E, sobretudo, existencialmente? O que se dá
como processo, no meio que pode vir-a-ser elucidativo, é não só uma questão
gnosiológica, ou de teorias do conhecimento; mas também se fazem surgir
dúvidas sociais, políticas, éticas, culturais. O conhecer está relacionado ao ser
68
essencialmente, e quando enunciamos isto, não se pode ignorar a gama
complexa deste existir e a consideração do outro, que é um ser-no-mundo.
Neste estágio do investigar somos levados a compreender o que é o ser-
no-mundo e como a informação está atrelada ao conhecer. A filosofia de
Heidegger nos conduz a refletir a ciência, a língua, a técnica e o pensamento
de modo que clareie melhor e conclua os intentos desta hipótese que não se
limitam a definir informação, mas ir além através do pensamento crítico.
4.4 – A fenomenologia de Heidegger e a Crítica à objetividade da Ciência (ou o Esquecimento do Ser).
Nos estudos de filosofia na universidade, Heidegger teve contato com a
obra de Husserl, pai da Fenomenologia, que se tornara seu professor e assim
lhe fez compreender um conceito tão nublado para época. Apesar de uma
desavença posterior em que Husserl declarava que seu pupilo havia
desvirtuado suas ideias e compreendido-as erroneamente, Heidegger elucida a
sua compreensão da obra de Husserl, mais precisamente, as Investigações
Lógicas datada de 1900,
“[...] o que para a fenomenologia dos atos conscientes se
realiza como o automostrar-se dos fenômenos é pensado mais
originariamente por Aristóteles e por todo o pensamento e existência
dos gregos como Alétheia, como o desvelamento do que se pre-
senta, seu desocultamento e seu mostrar-se.” (HEIDEGGER, 1983,
p.300).
A fenomenologia levou Heidegger a questionar o ser, ir além da
proposição fenomenológica de Husserl, no Alétheia é que o desvelar; tirar o
véu das coisas e ver o que há além do mistério que a realidade nos mostra;
deriva-se a interpretação desta realidade pelo sujeito, e como os entes se
mostram para nós. Este modo de ser das coisas perante a nossa percepção é
o fenômeno e a forma (eidos) de que Aristóteles trata os objetos. Questionando
o fenômeno, questionamos o sujeito e o objeto, principalmente a essência de
ambos, o ser. Heidegger se ateve a percorrer esse caminho filosófico que vai
além de Husserl, portanto, moldando a si uma fenomenologia própria,
69
questionadora não só dos fenômenos, mas também do ser, ou seja, as
questões essenciais, metafísicas e ontológicas. Heidegger sintetiza seu
pensamento perante a Fenomenologia em um post scriptum, “o essencial para
ela (a Fenomenologia) não consiste em realizar-se como ‘movimento’ filosófico.
Acima da atualidade está a possibilidade. Compreender a Fenomenologia quer
unicamente dizer: captá-la como possibilidade” (HEIDEGGER, 1983, p. 302).
Heidegger não desejava criar uma doutrina, como de praxe na história
da filosofia, mas sim questionar, sobretudo. O que o filósofo entende por
possibilidade está no fenômeno, essência da fenomenologia, cuja manifestação
remete à contingência, a questões não quantificáveis, à valoração, um caminho
epistemológico profundo e destituído das famosas antinomias da filosofia
moderna, como exemplo a dualidade entre sujeito e objeto (como já fora
explicitado anteriormente). Logicamente entre Husserl e Heidegger existe uma
diferença de entendimentos perante a Fenomenologia, isto posto, adotamos a
postura filosófica de Heidegger pela sua crítica à situação da modernidade e
seus questionamentos sobre o ser, sobre o que é de fato um humano, uma
pessoa e os processos vitais e mundanos que essa pessoa está inserida.
Heidegger levanta questões sobre o que somos perante a nós mesmos e o que
nos cerca. Fato importante de se tratar quando pensamos em uma Ciência da
Informação, Documentação, ou mesmo qualquer ciência que tem na sua razão
de existência nada mais do que o sujeito que pensa e questiona, mais
claramente, o indivíduo comum, pois todos nós, filósofos, médicos, lixeiros,
técnicos, crianças, estudantes, etc. pertencemos a esta esfera comum que é o
ser.
“[...] o método fenomenológico visa o redimensionamento da
questão do ser, não uma abstrata teoria do ser, mas uma imediata
proximidade com a práxis humana, como existência e faticidade; a
linguagem [...] é analisada ao nível da historicidade.” (HEIDEGGER,
1983, p.88).
A dimensão do ser, esquecida em nossos dias, omitida pela ciência faz-
se como questionamento primordial no destino da humanidade. Heidegger
entende a fenomenologia como um caminho para compreender o ser
70
considerando a historicidade e a língua principalmente, porém, fenômeno é
aquilo que se mostra, e neste mostrar temos dúvidas. Manifestar-se é o mesmo
que mostrar-se? A fenomenologia trataria os dois igualmente em termos? O
manifestar de uma doença não é ela mesma, são apenas indícios; ou, “o
anunciar-se de algo que não se mostra através de algo que se mostra.
Manifestar-se é um não mostrar-se.” (HEIDEGGER, 2009, p. 68). A partir do
manifestar-se podemos pressupor um mostrar-se e de forma hermenêutica,
interpretar os sinais do fenômeno, a fim de atingir sua essência, desvelá-lo. O
diagnóstico do médico se dá a partir dos indícios, mas não sobre a fonte da
doença, neste sentido, manifestar-se é o que entendemos por linguagem,
enquanto mostrar-se é o modo pelo o qual o ser mostra-se.
A doença mostra suas formas, de modo obscuro muitas vezes, através
destas manifestações que nos induzem a completá-la no seu mostrar. A
fenomenologia é um método que se constrói a partir dos sinais e não se
encontra pronto e aplicável, permite uma interpretação da historicidade do uso
de conceitos, e seu estado no mundo, evita-se assim, uma abstração
doutrinária categórica e impositiva. Pensemos informação sob a crítica,
analisando sua transformação histórica a partir de seu significado etimológico,
seus usos pelas ciências, e podendo assim, propor outra abordagem a partir de
uma mudança de visão de mundo para com a Informação no movimento
contrário ao esquecimento do ser.
O logos (em grego, λόγος) que torna a Fenomenologia uma ciência dos
fenômenos é analisada por Heidegger na sua origem aristotélica. “O λόγος faz
e deixa ver aquilo sobre o que se discorre e o faz para quem fala (medium) e
para todos aqueles que falam uns com os outros.” (HEIDEGGER, 2009, p. 72).
O logos se dá na comunicação, o fazer e deixar ver remete à verdade ou a
falsidade; de um lado, o verdadeiro, deixa-se ver a coisa como ela é, desvela-
se o ente, des-cobrir o ente, portanto. De outro lado, o falso, en-cobrir é colocar
algo na frente do ente tal qual ele é; uma dissimulação, enfim. O λόγος é este
encontro com a coisa, com a verdade grega, ou mesmo a falsidade; este
movimento do saber, através da comunicação com o mundo é o logos, ou seja,
o fundamento em que pode-se afirmar sobre algo da sua manifestação e
fenômeno. Deriva-se daí o ratio, razão, comumente associado à raiz grega do
λόγος.
71
Voltando à Fenomenologia na sua origem formula-se: “Fenomenologia
diz então [...], deixar e fazer ver por si mesmo aquilo que se mostra, tal como
se mostra a partir de si mesmo.” (HEIDEGGER, 2009, p.74). Sendo assim, esta
frase de Heidegger é o mesmo que diz Husserl, “voltar-se para as coisas elas
mesmas”. Porém, a questão do ser ainda se mostra viva e sem resposta. Onde
está o ser na Fenomenologia? Para o filósofo alemão, somente é possível
haver uma ontologia como fenomenologia. O ser em seu desvelamento se dá
através de uma imersão fenomenológica das suas peculiaridades, sendo que
seu encobrimento, dissimulação, só pode vir à tona quando se considera sua
historicidade, quando se constrói o método a partir do objeto interpretando-o,
daí o caráter hermenêutico da filosofia heideggeriana. As investigações de
Heidegger vão muito além, pois seu intuito é compreender o ser em sua
magnitude e, neste trabalho, nosso intuito limita-se em esboçar a relação entre
ser e a informação com o aspecto fenomenológico de análise, deste modo,
construímos uma ontologia da informação. A exposição sobre a fenomenologia
de Heidegger é importante para clarearmos as intenções da hipótese que virão
no eixo Síntese.
Postulamos neste trabalho a indefinição do conceito de informação. Para
compreendê-lo de outra maneira foi necessário recolocar a questão do que é
informação para “o que é o conceito de informação?”, como já esclarecido.
Heidegger constrói o mesmo pensamento em relação ao ser. O modo como foi
entendido pela filosofia trouxe o seu esquecimento pelo simples definir da
ontologia clássica. Informação é um conceito universal, válido para todos os
humanos, todos que pensam, portanto, que conhecem; e isto os afirma como
tais. A questão do ser vai além da informação, dá base a esta e cria uma
relação do conhecer, informar-se; e do ser na sua complexidade de mostrar-se
claramente a nós.
Heidegger entende a informação como um enquadramento objetivista da
linguagem, reduz a experiência vivente a uma forma analítica de compreensão.
Esse enquadrar exclui o ser como tal, sua manifestação sensorial e de
pensamento. O ser-no-mundo não é considerado pela Teoria da Informação,
que se importa com sinais e aquilo que é quantificável. Heidegger, no entanto,
se referia ao que corresponde a clássica Teoria da Informação de Shannon, ou
seja, uma teoria física, baseada em postulados matemáticos, da informação.
72
Na época do filósofo, esta era a principal teoria, não havia um pensar teórico
da informação de tamanha expressão. A condição histórica da crítica marxista
ao capitalismo e o ascender das grandes guerras pode nos explicar melhor
essa postura crítica, adotada não só por Heidegger, mas também por Walter
Benjamin e a Escola de Frankfurt, a qual este último também o pertencia. A
ciência desconsidera aquilo que foge do seu diâmetro, e é a detentora da
verdade. Esse pensamento, instaurado no senso comum, além da própria
comunidade científica, foi diagnosticado pelos pensadores dessa época, como
uma emergência para o deslocar do olhar para o ser. Como o próprio
Heidegger diz:
“(...) the kind of communication which “informs” man uniformly,
that is, gives him the form in which he is fitted into the technological-
calculative universe and gradually abandons ‘natural language’...
Information theory conceives of the natural aspect of language as a
lack of formalization” (HEIDEGGER, 1971, p.132, apud, DAY, 2001).22
Ainda adotamos a postura da Teoria da Informação? Desconsideramos
o sentido, a narração, o fenômeno, a ação, o humano? O que Heidegger
aponta é uma necessidade de superação da visão objetivadora da ciência. É
um diagnóstico, e como tal, um alerta. A Ciência da Informação tem o seu
dever social de pensar além da teoria de sinais de Shannon. Informação é
além, e é possível conceber “informação”, informar-se, pelo ponto de vista
ontológico, considerando a ação e o fenômeno. A própria etimologia da palavra
não impede de pensarmos a partir dessa concepção. É o que sustentamos na
hipótese deste trabalho.
Pelo seu caráter amplo de significações e modificações semânticas pela
história, o conceito de informação nos permite uma interpretação ontológica
viável e transformadora para a ciência que o estuda. Portanto, caracterizamos
informação como um conceito ontológico, metafísico (transfísico), que vai além
da interpretação teorética matemática da informação. A multiplicidade de
22 DAY, R. The modern invention of information: discourse, history and power. Carbondale: Southern Illinois University Press, 2001.
73
acepções nos mostra que o conceito de informação é intangível e incompleto.
Todas as concepções são parcialmente válidas como num caleidoscópio, e
contrariamente são passíveis de antinomias (vide Kant). Funde-se aqui um jogo
de tese e antítese contínuo nas teorias diversas e definições de informação,
sendo que nenhuma delas consegue atingir um consenso, são rasas,
generalistas, universalistas, ou mesmo extremamente particulares em sua
acepção. Porém, o que as caracteriza em sua grande parte é o esquecimento
do ser, uma negação às questões ontológicas.
O problema desse quadro não está somente nas próprias concepções,
mas sim na própria natureza do conceito. Este, portanto, metafísico e imune de
qualquer objetivação. O não-consenso das teorias da informação é somente
um sinal da sua natureza semântica. A definição de informação é um pseudo-
problema e uma postura crítica, ambientada nas questões contemporâneas, e
na visão de mundo adotada é um caminho para reverter esse entrave. A crítica
propõe o movimento e o abalar das posturas ideológicas, com o debate de
outras ideologias e a sugestão de novas. Deste modo, podemos reconhecer as
fendas ocultas do autoritarismo científico, respaldado pela ideologia, interesses
governamentais, no impassível caminhar da história.
Informação e pensamento.
A relação entre informação e pensamento é essencial para entendermos
o conceito de informação. Na representação de ambos, ou manifestação, existe
a identidade entre informação e pensamento no sentido de haver uma
possibilidade de forma inteligível, no significar de algo perante um indivíduo e
esta significação referente ao mundo em que o sujeito existe como tal, na sua
língua, cultura, visão de mundo e expressa em sua subjetividade. Todavia, o
pensar vai além, seu mistério é abissal e é condição de existência para todo
homem. Todo homem é pensador e este pensar não é somente atualizado em
representações, formas. Não há semântica, sintaxe, um sistema harmônico ou
algo derivado, há a essência do ser, a querência do saber, a inquietude do
perguntar-se, a imaginação e essa condição cria o momento das
representações, a formação dos sistemas que nos fazem enxergar o outro e
nos faz humanos. O pensar nos faz essência de nós mesmos; é o que nos
74
diferencia dos outros seres. Somos ser e também nos questionamos, portanto
somos humanos, somos ser-aí, ser-no-mundo; e justamente nesse ponto
encontramos a identidade entre o informar-se e o pensamento, a
representação, a práxis do pensar, onde este se faz em movimento e no
processo se externaliza ao outro. Informar é conhecer e necessita
essencialmente de um pensar, de um tino questionador, da Alethéia, o pavor
perante o desconhecido que nos impulsiona a formar algo no espírito e assim
permitir saciar sua fome, e também continuar a tê-la permitindo o movimento.
Alétheia é traduzida por Heidegger como desvelamento (em alemão,
Unverborgenheit), como o movimento de retirar o véu de algo e descobrir o que
está velado, dissimulado. Esse movimento não é a verdade, mas a ação que
conduz a tal. Baseado nas leituras de Aristóteles, Platão e nos ditos “pré-
socráticos” (Heráclito, Parmênides), Heidegger atinge a reflexão etimológica
sobre o Alethéia onde compara com um círculo a partir de um fragmento de
Parmênides (HEIDEGGER, 1983), pois cada ponto, começo e fim se coincidem
e deste modo é impossível qualquer desvio, deformação ou velamento; vem à
tona a clareza. A representação etimológica de Alétheia deriva de Léthe que
significa ocultar, velar, e a sua negação A-létheia é o próprio desvelar.
Conhecer e desconhecer estão, portanto, na mesma palavra. A ação de
conhecer, de desvelar, questionando-se frente ao oculto (léthe) realiza o
clareamento do ser.
“Alétheia é o próprio enigma, a questão do pensamento. [...]
não poderia dar-se um desvelamento em si, que desvelamento é
sempre desvelamento ‘para alguém’. E com isto estaria provada a
sua subjetivação” (HEIDEGGER, 1983, p. 212,13).
Esta subjetivação é a experiência do pensamento que se dá na
particularidade existencial de cada um, nisto criamos a heterogeneidade do
pensar e a inevitabilidade da diferença. Existir é estar na diferença, ser a
diferença e estar dis-posto a esta. O desvelar de cada indivíduo não é um
processo fechado em si. Dizer “subjetivação” não significa negar objetivação,
muito menos o meio em que existem sujeito e objeto. A subjetivação aqui deve
75
ser compreendida como a experiência23 única de cada um, traduzida pela
linguagem, adaptada pela mundanidade do relato e da narração. O
pensamento como tal é somente concebido àquele que o tem e qualquer
exteriorização deste pensar é uma tradução para a linguagem e se afasta do
seu sentido primeiro. Todo comunicar, falar, informar é uma tradução do
pensamento, uma tentativa de relatar o que se desvela para si. Não há um
conhecer ditado de um para outro, há um desvelar próprio, um informar-se
próprio; pois tal qual o desvelamento que é individual e aberto, o informar-se é
dar forma, tomar forma no espírito, o que nos remete à experiência subjetiva,
isto é, a experiência do espírito só é experienciável para o próprio espírito.
Cada ente é e somente sabe o que é. O pensamento, o questionamento, o
desvelar, conhecer, aprender é inalienável em si, ao mesmo tempo em que
ontologicamente fazem parte do outro, ou seja, é sujeito e objeto na sua
relação, pois o pensamento não é gerado a partir do nada. No sentido que o
ser e sua vivência estão no mundo, também está o pensamento, por
conseguinte. O questionar-se torna a possibilidade de conhecer, de se apelar
ao ente de “ser”, válida. Todo o caminho de questionar-se originário do Arkhé
grego, do espanto perante o mundo desconhecido, é atualizado como
fenômeno e se realiza como processo.
O informar-se corresponde à questão, o páthos (πάθος), a linguagem e
o meio em que esse páthos se mostra, assim como o éthos ήθος, à
subjetividade experienciável de cada ser traduzida numa linguagem. Essa
disposição ao encontro da correspondência é o processo da qual se atualiza a
informação. O desvelamento e o informar se complementam, relacionam-se
como ser-no-mundo. Cada ser presente se faz no movimento do existir,
pensando, questionando-se, e informando-se. Como vimos no capítulo anterior,
informar-se remete (pronome reflexivo) “a si”, aquilo que age e atinge a si
mesmo. Mas uma pergunta surge, atinge a si derivando-se de onde? O
informar está em relação com o mundo, o ser e o ente. Quando nos
informamos, a forma se dá em nós, porém não se fecha em uma redoma em
nossa consciência ou subconsciência; está em nós em ato, em nossas
opiniões, na linguagem, está culturalmente vivo e formado em nós, por isso o
23 Não confundir com o conceito de experiência do Empirismo Clássico.
76
“informar-se sob um ponto de vista”. É a forma que se dá no espírito, e este o
modifica, dá movimento ao espírito, ao pensamento, e exige o questionar. É
importante usar o pronome nós, no sentido de remeter ao mundo, quando nos
referimos à informação, pois a solidão do cogito não é mais tomada como
verdade. Há de se superar o pensamento isolado do cartesianismo e pensar o
“nós”, ao invés da consciência pura. A experiência viva, ainda que mesclada
com o ser e os outros entes, se dá unicamente em cada um de nós, por isso é
um ponto de vista, ou seja, somente uma posição (dentro da interpretação de
espacialidade que este conceito remete) que tem sua unidade de
posicionamento e não de completude, pois um ponto se dá num espaço, e este
é mais abrangente, deste modo, o ponto de vista é por si relativo. Todavia, o
pensamento, fundamento desta experiência viva e do humano, é compreendido
como ao mesmo tempo único em cada ser (pode-se dizer de consciência) e
total para o ser (pode-se dizer a existência do Outro).
Existir é compreender, e no pensamento, em que nasce o questionar,
nos fazemos ser. Informar, conhecer, fazer parte do processo do conhecer a si
e ao outro (ser-no-mundo) é questionar-se, não somente como uma dúvida a
ser sanada, mas o próprio informar-se no seu processo de atualização é o
questionar, daí se deriva a sua essência, não presa a um sujeito, nem mesmo
ao objeto, mas na relação entre o ser e o mundo, no fenômeno, na história24.
A Ciência e a Técnica.
A Ciência da Informação nasceu no bojo das ciências modernas, sob o
prestígio da técnica e a mistificação da ciência. Como uma ciência do espírito,
ou ciência humana, a C.I. também deve deter de uma técnica, um saber, uma
epistemologia, baseada em uma ontologia.
“[...] technè não é um conceito do fazer, mas um conceito do
saber. Technè e também técnica querem dizer que qualquer coisa
está posta (gestellt) no manifesto, acessível e disponível, e é dada
enquanto presente à sua posição (Stand).” (HEIDEGGER, 1995, p.
22).
24 Deve-se entender história dentro da historicidade experimentável do ser.
77
A partir do conceito de saber, a technè exige um desenvolvimento deste
saber, sistematizado e aplicável; há então a ciência como correspondente à
técnica, que constrói numa relação complementar à expansão do conceito de
saber, para um fazer, uma utilidade. O saber desta técnica (ciência), sua
aplicabilidade e possibilidades de expressão são co-determinantes no
conhecer. Heidegger se dirige às ciências naturais, pela objetividade com que
as ciências do cálculo vislumbram a realidade e o seu objeto de estudo, e
também às ciências do espírito, pelo modo como entendem a história do
homem como objeto de estudo, sendo mais complicado retratarmos a
objetividade destas ciências do espírito, ou mesmo como trata a história pelo
ponto de vista científico25.
A ciência moderna se baseia em resultados, pesquisas sob o molde de
um projeto de procedimentos que miram a objetividade para a exploração da
natureza. O rigor e os procedimentos técnicos de exploração configuram o
projeto científico e nesse sentido a natureza se rende, é tomada sob a visão
científica, e por ela dominada e transformada. Tomemos o conceito de
Natureza de modo distinto dos românticos. O sentido aqui tomado é de uma
natureza em que o Homem também faz parte, influencia na sua decorrência
histórica e principalmente no seu ser. A crítica de Heidegger à técnica e à
ciência moderna (há uma clara distinção na obra de Heidegger entre a ciência
antiga aristotélica e a moderna) pode recorrer a opiniões de demonização da
ciência e um niilismo anacrônico, porém o filósofo em vez de diagnosticar a
situação moderna com fatalismos situa o ser diante da técnica, fazendo-o
refletir sobre a interferência do pensar científico em sua própria vida.
Para se pensar a própria ciência deve-se levar as questões numa
proximidade maior ao ser, retirando as questões do seu isolamento metódico e
metrificado. Eis então a necessidade da mudança do modo científico ainda
persistente, o moderno. Dentro das duras estruturas desta ciência com
resquícios positivistas e behavioristas, fomentado pela experimentação e a
exploração sob o respaldo do rigor não se pode pensar no questionamento do
ser, na historicidade e numa efetiva transformação social e de pensamento. A
25 Cf. HEIDEGGER, 2009, § 76.
78
técnica não é simplesmente um instrumento que está dis-posto para o homem,
assim, Heidegger entende technè como uma destinação da história do ser, que
faz parte da sua própria essência. Estamos na idade da ciência, um ápice da
técnica na historicidade do ser que configura o homem em sua existência. O
questionar sobre a técnica e a relação do ser-no-mundo na existência da
ciência como uma diretriz, principalmente, na vida social associam-se a
urgências de uma ciência já nascida interdisciplinar, tal qual a Ciência da
Informação que recusa uma epistemologia pensada nos antigos formatos da
ciência moderna, mesmo com a insistência de tal projeto. Pensar informação é
pensar aquele que se informa e detém esse direito, como cidadão e como ser,
este último por sua vez compreendido na sua historicidade e cultura.
Qual a similaridade conceitual entre a pergunta “Que dia é hoje?”,
seguida, então, da resposta “Sexta-feira”; e a constatação de que um quadrado
tem quatro lados? Para uma resposta objetivista, estes são o mesmo, isto é, se
sanam a necessidade de informação do “usuário” ambos informam. Se a
pergunta “Que dia é hoje?” fosse feita séculos antes do calendário justiniano,
qual seria a resposta? Haveria tal? Aqui se instaura a fragmentação deste
conceito com uma incoerência de fundamento e ausente de temporalidade e
historicidade, limitando-se ao enunciado. A inferência de que informar-se detém
a mesma definição através do tempo é falacioso e nega-se a historicidade e
seu fator cultural. Esses dois pontos formam o pensar ontológico da
informação. Antes da resposta, veritas universal do conceito de informação, há
que se aproximar primeiramente do questionar-se desse termo, em busca do
desvelar na sua historicidade e complexidade de existência.
Heidegger refere-se à ciência moderna na sua essência no Gestell, que
pode ser traduzido como esqueleto, ou armação. Stell, em alemão, significa
pôr, e a ciência põe-se à frente da natureza, moldando-a numa armação
objetivadora, como o próprio Heidegger afirma, “a física [...] nunca pode
renunciar a uma coisa: que a natureza se anuncie em algum modo asseverado,
calculado, e permaneça possível de ser requerida como um sistema de
informações.” (HEIDEGGER, 2007, p. 387). Informação neste texto do filósofo
é atribuída, como explicamos acima, no sentido calculável, como informação
objetiva, precisa, dados e registros com somente uma via de interpretação, a
das regras da ciência exata. No ápice da física moderna (este texto de
79
Heidegger data de novembro de 1953) o conceito de informação era abordado
principalmente pelas ciências exatas (vide Teoria da Informação, Teoria
Matemática da Comunicação de Shannon, ou TMC, de 1948).
A partir desta crítica de Heidegger podemos refletir no eixo Tese deste
trabalho e nos paradigmas que sustentam-se as ciências exatas, mesmo
abordando um foco humano, social. Há uma transposição de visão de mundo,
ou mesmo uma reprodução desta visão objetivadora que arma (Gestell) o
conceito de informação como algo passível de objetivação e manipulável.
Pensar a técnica tendo em vista o ser e o desvelamento a partir das questões
no caminho para a sua essência (isto é, sua decorrência, vivência, seu
desdobrar perante a existência) nos aproxima do reconhecimento do ser, do
descobrimento de nós mesmos como seres históricos e culturais. O olhar
objetivo limita-se a requerer a objetividade da natureza, sendo que somos parte
desta natureza, porém além do objetivado; e é nesta essência que se
desdobra, desvela, se faz atualizada, que reside a complexidade da cultura, da
história e seu caráter substancialmente não-objetável. Há de se pensar a
informação, e conjuntamente a ciência, tendo em vista o ser e sua essência. A
profunda crítica carregada de questões existenciais de Heidegger nos põe
numa posição não somente limitada ao viver, à economia e à cultura, mas
também a quem somos de fato e o que fizemos com a pergunta essencial:
quem somos nós?
Informação é essencialmente o questionar-se. Todo ato de informar-se
remete a uma questão, não se informa sem uma dúvida. É uma busca
particular incutida nos mistérios da mente e do pensar, do ser, portanto.
Informação é antes uma característica existencial, ontológica. Pensar a
informação é debruçar-se sobre o questionar-se, tendo em vista o ôntico, o
histórico, a cultura e o tempo. A essência do informar-se está em cada ente
que transcende no seu ser, de modo que o conceito de ser-aí (HEIDEGGER,
2009) está além do informar-se26, é antes o fundamento deste; portanto, pensar
informação é um pensar de geração, pelo espírito de um tempo. Pensa-se em
educação, o educar de uma sociedade, sua história e cultura. O nosso tempo
deve sempre perguntar-se da essência do saber do informar-se na sua cultura,
26 Questionamento: ou podemos considerar que o informar-se vai além, tal qual o ser-aí? Ter uma dúvida sanada, satisfazer a necessidade do saber é existir?
80
pois a nossa busca pela essência varia, nos diferenciamos, pelo tempo. O
mundo é descoberto, assim como descobrimos a nós mesmos criando
identidade na diferença, dialeticamente. Informação nos remete à relação de
diferença e identidade, portanto, a cultura.
Não há como se pensar informação sem essas considerações, deste
modo, a ciência como entendida hoje é incapaz de objetivar o conceito de
cultura, generalizar dedutivamente com fórmulas e métodos. Através do
questionar sobre a própria ciência, sua relação com o mundo, considerando a
técnica, o conhecimento e o sentido de existir (ser-no-mundo), construímos a
sua epistemologia de acordo com a urgência do ser, do pensamento e da
questão, do direito a informar-se, em uma necessidade ética de uma ciência
que reflita e crie soluções para as questões informacionais (o acesso, as
tecnologias, o confronto de ideias, a crítica e a transformação) numa
sociedade. Se refletirmos sobre informação no Brasil, o faremos considerando
como o brasileiro se informa, e que difere do americano, ou de um imigrante
latino que mora na Europa, etc. Cada ente carrega em si sua história, cultura,
seu tempo. Desconsiderar esses fatos, as peculiaridades de cada nação e
daqueles que a compõem é distanciar-se do ser, justamente o que Heidegger
critica em sua obra Ser e Tempo, o esquecimento do ser.
Está em voga a opinião de que estamos em uma Sociedade da
Informação, a Era da Informação. Mas como se dá esta informação? O que
entendemos por sociedade hoje? O advento tecnológico das redes, da nova
mídia, da Internet trouxe essa discussão à tona e conjuntamente uma definição
obscura do que entende-se por sociedade. Quem está inserido nesta
sociedade, quem pertence a ela? A internet está para todos? Ainda existem
países sem luz elétrica, outras civilizações ainda vivem em culturas antigas
comparadas a ocidental. Eis a sociedade do consumo, pós-moderna, pós-
humana, etc. Inúmeros termos e chavões são utilizados com supostos
fundamentos teóricos ainda muito nublados e controversos. Porém, o que se
abstém é o questionamento desta sociedade em sua essência, e
consequentemente de nós mesmos. O ser ainda esquecido é omitido pela
teoria, baseada em fundamentações exatas e conceitos arbitrários. O
questionar aparentemente cessa com as afirmações empíricas de analistas e
cientistas. Onde está o ser, o homem comum nesta sociedade? Em que ponto
81
pode-se pensar a Internet como um estágio tecnológico de avanço humano? A
informação teve somente seu ápice nesta era contemporânea? Nota-se que a
origem etimológica do conceito transformou-se.
Como visto no capítulo 3.1, informação remete a “formar no espírito”; e
se nos debruçarmos sobre o caminho histórico do conceito vemos que houve
um distanciamento deste “formar no espírito”, consequentemente, um
distanciamento ontológico. O ser fora esquecido pela técnica e pelo seu
caminho trilhado na história que nos leva aos dias de hoje como uma crise do
ser. Heidegger refere-se ao distanciamento da experiência da palavra quando
ela teoricamente surge e nasce, atrelada a uma língua originária; e o
contraponto do seu uso em diferentes épocas e outras línguas, ou seja, a
tradução e a mutabilidade do uso das palavras e seus significados. Os
conceitos são herdados, portanto, da sua origem etimológica e dispostos
perante o tempo e a língua viva, daí a inevitabilidade de acontecer um uso
inadequado entre nossas palavras e nossas experiências, o que levou
Heidegger a crer no esquecimento do ser frente à tecnologia moderna
(HEIDEGGER, 2002). O retorno ao ser reclama uma visão de mundo
ontológica perante o conceito de informação, é justamente o fundamento
essencial deste trabalho, pois deste modo, podemos pensar não somente o
conceito na sua abstrata concepção, mas também, na sua atualização perante
a sociedade, até então definida como “da Informação”.
Onde estamos nesta sociedade? E para onde estamos indo? A Ciência
da Informação é requisitada para pensar essas questões, fomentar o
questionar não isoladamente, mas perante as outras ciências, a academia e a
política das nações. Pensar na existência de uma Ciência da Informação é
questionar um novo modo de se fazer ciência e de se refletir a sociedade, o
agir de cada ente, e principalmente, retirar o véu sobre o ser colocado pelo dito
“avanço” tecnológico e científico. O tempo, em outras palavras, a
temporalidade do ser, urge por um novo meio de se compreender a nós
mesmos, na sociedade, na política, na vida daqueles que detém o direto de
informar-se, pois ainda há um espírito, e, portanto, ainda há um questionar.
Através destes pontos de crítica tecidos nesta Antítese, podemos nortear
um outro pensamento perante o conceito de informação, e imediatamente
vemos que as questões somente multiplicam-se. A complexidade de se pensar
82
informação cria caminhos para questioná-la de diversas maneiras. Esta
Antítese formatou-se como a crisis nos eixos teóricos da Ciência da
Informação, a fim de gerar mais questões perante o ser que informa-se. Não se
definiu informação, porque ainda não se determinou um fim ao conceito. A
discussão não se basta e a intenção ainda é, sobretudo, questionar e identificar
as crisis da Ciência da Informação e sua relação com seu ob-jeto de estudo.
Neste momento tomaremos uma posição crítica perante a prática deste
pensamento antitético, para deste modo, surgir a Síntese que irá clarear os
caminhos que percorremos durante esse constante questionar.
Síntese
Cap. 5 – O problema interdisciplinar e considerações para uma
construção epistemológica da C.I.
É possível pensar a informação pelo ponto de vista da sensação (visão
objetiva), da imagem e da memória? Essas três categorias formam a definição
de ciência para Aristóteles, e aqui nasce o pensar científico com o genótipo de
objetividade, pois trabalha com a sensação engendrada pela memória, a
experiência. Neste ponto temos o retorno ao pensamento de potência e ato e o
conceito aristotélico de ciência, “É preciso, para que a ciência se realize em
ato, que uma nova faculdade intervenha, a inteligência, nous.” (BERGSON,
2005, p.128). A inteligência, a faculdade de conhecer, a intuição, guia e
estrutura, através da linguagem, uma epistemologia, um método de pensar, de
se fazer ciência, objetiva. A partir disso podemos pensar criticamente se é
possível haver uma Ciência da Informação, na sua concepção originária, já que
o conceito de informação é intangível, ao contrário do conceito das ciências
naturais. Informação é um conceito peculiar que não se deixa definir, que
escorrega das mãos objetivas da ciência como uma enguia. Assim se faz
necessário pensar filosoficamente sobre a informação, que nos parece mais
concernente à ontologia do que à objetividade da experimentação.
A historicidade do conceito de informação brilha no olhar filosófico como
uma maneira mais clara de se tratar o peculiar conceito. Sua origem
etimológica se mantém, mas as interpretações do conceito se modificam, daí a
importância da historicidade, pois esta nos abrange os pontos de vista das
83
razões modificadoras do conceito. É necessário um olhar aguçado no
movimento do conceito através de interesses políticos, de ideologias,
utilizações, apropriações, etc.
A Ciência da Informação, para não cair no paradoxo do seu próprio
objeto de estudo, que não se configura nem mesmo etimologicamente como
objetivável, deve não usurpar conceitos, ou arbitrariamente emprestar de
outras disciplinas definições reducionistas, cercadas por ideologias unilaterais;
mas sim pensar seu conceito filosoficamente como a base do fazer social, a
atualização do informar-se numa sociedade, e a partir disto considerar a ética,
as estruturas, o desenvolvimento, os direitos e deveres, a cultura, a questão
política, e uma gama extensa de questões e problemas que justificam a
existência de uma ciência social, e claramente a esta categoria pertence a
Ciência da Informação.
As Ciências do Espírito que se concentram nas questões humanas e
suas peculiaridades em relação à cultura, o homem no mundo, para tanto,
devem basear-se em filosofia para analisar seus conceitos e refletir sobre o
aspecto qualitativo, não propondo posições fechadas em si, exatas e aplicáveis
a uma só particularidade. As particularidades são analisadas e possivelmente
solucionadas com teorias que se baseiam em diversas áreas de atenção,
criando questões, propondo caminhos, considerando as contingências, a
historicidade, sem a meta de quantificar e simplificar esses problemas com
soluções imediatas. Pensar o ser como ponto de partida, buscar na ontologia
esclarecimentos sobre problemas práticos, vivenciais, nos abre uma gama de
propostas muito maiores e participativas, um diálogo científico, deste modo,
interdisciplinar.
A interdisciplinaridade deve ser compreendida a partir do momento
histórico considerado, e também a partir dos meios de produção em que se
encontra a C.I. Inter significa entre, isto é, um diálogo entre disciplinas; como
há também teorizações acerca de transdisciplinariadade, e outras variações,
que muitas vezes condenam o conceito de interdisciplinaridade a uma limitação
etimológica. A grande questão é tomar a interdisciplinaridade como proposta de
uma relação entre as disciplinas, e através de uma epistemologia
interdisciplinar, pensar a prática científica. A ideologia e interesses das
universidades, da indústria e dos governos influenciam diretamente no pensar
84
epistemológico de qualquer ciência. A especialização crescente é um fato
agravante neste momento histórico que vivenciamos.
A C.I. pode-se ser categorizada como uma especialização? Uma Ciência
geral, ou especializada? Informação abrange diversas áreas e o termo
“organização” é de interesse a todas as ciências, pois a comunicação científica,
os saberes desses cientistas, os documentos, publicações, todas as ações de
uma ciência devem estar organizados com fluência para que aja uma
efetivação no seu intuito de pesquisa e investigação. A ciência é um sistema e
sua funcionalidade está posta numa ordenação, em uma forma de governança,
uma realidade geopolítica, um entremeio de ideologias conflitantes. O cenário é
complexo, que exige uma discussão mais apurada, mais extensa.
Interdisciplinaridade é também criticada como modismo, um assunto
fragmentado, nebuloso em suas intenções e praticidade, mas apesar das
opiniões e críticas, é vista a insuficiência das ciências estanques tratadas pelo
método positivista, frente à realidade de ciências instrumentalizadas, moldadas
ante uma racionalidade operatória que responde subjugada às metas
financeiras do mercado empresarial investidor. Este diagnóstico é mais claro
quando nos referimos às ciências exatas, tecnológicas, que garantem avanços
e patentes para a indústria; fato que se complica quando nos referimos às
ciências do espírito, ou sociais. Nesse sentido, a C.I. é revelada como uma
ciência nova inserida inevitavelmente no meio profissionalizante e
instrumentalizador, além de estar nos moldes políticos e ideológicos das
universidades que acompanham com relativo atraso as necessidades sociais e
os imbróglios trazidos com a história. Como dito no eixo inicial deste trabalho
(eixo Tese), a C.I. é uma ciência já nascida interdisciplinar, justamente pelo seu
objeto de investigação. Informação permeia todas as ciências, sejam exatas,
sejam do espírito, seja na educação ou na política governamental. Nada leva a
crer que pensar informação é possível fechando-se numa redoma positivista e
estaque em métodos analíticos e numeráveis, muito menos com linguagens
técnicas que visam resolver as questões práticas e pontuais somente. A
Ciência da Informação deve pensar sobre seu objeto historicamente, pensá-lo
em conjunto a uma ética e tomando como problema essencial, o ser, ou seja,
aquele que se informa e tem o direito de tal.
85
As ciências estão aptas (ideologicamente, ou historicamente) a
dialogarem? E como se dá esse diálogo? Como, em vias protocolais, há de se
fazer, produzir esse diálogo entre cientistas que aparentemente falam
diferentes línguas? Interdisciplinaridade pode ser vista como uma babel de
ciências que pensam um ponto em comum? E se pensam nesse ponto em
comum, os interesses são os mesmos? Ingenuidade seria pensar numa
harmonia de pensamentos e teorias, principalmente de visões de mundo, assim
como (FLORIDI, 2002) toca em um ponto incômodo para as estruturas
acadêmicas e sua política, muitas vezes violenta e segregatória, onde dá o
nome de Scholasticism, que em uma livre tradução remete à Escolasticismo,
ou Academicismo, porém o sentido atribuído por Floridi vai além,
“Scholasticism understood as an intellectual typology rather
than a scholarly category, represents the inborn inertia of a
conceptual system, when not its rampant resistance to innovation. It is
institucionalized philosophy at its worst.” (FLORIDI, 2002, p.127).
O autor refere-se à filosofia e a profissionalizarão desta área do
conhecimento, além da especialização dos experts que se denominam pelo
sufixo “-anos”, os Nietzschenianos, os Kantianos, Hegelianos, etc; e por
situarem-se fechados em seus feudos intelectuais e doutrinas impedem
diálogos mais frutíferos com outras áreas do saber e na própria filosofia
catedrática. O mesmo se aplica às ciências, também vítimas das
especializações e valorização instrumental de uma área científica. O criticismo
e o auto-escrutínio não aderem ao discurso do Scholasticism, este por sua vez,
limita-se no senso intelectual de interesses sedimentados pela política
acadêmica, e por essa razão, a crítica gera conflitos nas discussões
metateóricas. Como diz Floridi, “[...] innovation is always possible, but
scholasticism is historically inevitable.” (FLORIDI, 2002, p. 128), ou seja, ter em
mente como sucedem os movimentos políticos do antro acadêmico nos
esclarece ainda mais a situação epistemológica da C.I., juntamente com as
teorias e linhas de pesquisa derivadas de vários países, e suas correlatas
ideologias e conflitos políticos e históricos.
86
Dialogar resoluções para problemas complexos da sociedade não se dá
de forma harmoniosa, o conflito é iminente. Mas será mesmo que a
universidade e a ciência estão convergindo suas pesquisas para os problemas
sociais? Aqui instaura-se uma crítica à estrutura da universidade e da ciência
juntamente com o contexto histórico pautado em interesses que geralmente
não priorizam os problemas estruturais da sociedade. O estado, os
partidarismos, todos os entraves políticos e ideológicos pautam a existência e a
moção das universidades, da ciência e do mercado, cuja influência no
nascimento e no desenvolvimento de toda ciência é determinante. Isto posto,
uma Ciência da Informação brasileira é necessária, pautada em suas
particularidades políticas, legais, sociais e principalmente culturais. Como uma
ciência social, a C.I. deve pensar nos problemas sociais, é o seu dever ético
para com a sociedade que sustenta e promove a estrutura das universidades,
suas pesquisas e ensino. Mas, além de tudo, há interesse por parte da
universidade em cumprir esse dever ético? O mercado é uma realidade, não
podemos aqui ignorar sua forte influência nas pesquisas e no direcionamento
de interesses da universidade. Existem problemas na sociedade brasileira de
difícil resolução, pois necessitam de um planejamento a longo prazo, um
diálogo mais efetivo com a situação política do país, entre outros entraves.
Estes problemas são claros, estão na educação, no sistema político, no acesso
às tecnologias, no sistema público de saúde, na burocracia, nas universidades,
na administração de municípios e cidades, na cultura e seu incentivo, etc.
Uma questão surge na urgência desses problemas: O que a Ciência da
Informação pode propor, ou contribuir perante tantos imbróglios? Sozinha, com
certeza pouco ou nada, e até podemos estender a pergunta para outras
ciências. Um fazer científico restrito a áreas do conhecimento que se isolam em
suas pesquisas protocoladas, trabalhos de praxe, uma acomodação
reprodutora de publicações que se traduzem em números e classificações nas
organizações de fomento à pesquisa são mais problemas para aquela que
deveria buscar soluções para outros problemas essenciais. A ciência não está
isolada, neutra; uma discussão política e ética é necessária em todas as
instâncias científicas. Quando pensamos em uma epistemologia para a C.I.
estamos nos referindo ao método pelo qual há de se construir uma ciência que
lida com informação, questiona informação na sociedade e propõe novos
87
caminhos para se desobstruir os entraves sociais, que obviamente não surgem
naturalmente; são resultados históricos, conseqüências de ações políticas, de
interesses estatais, partidários, como cansadamente repetimos. Percebemos
que a discussão se amplia para um discurso politizado, portanto crítico, frente à
complexidade de se pensar informação, e a C.I. que pretende estudá-la e
pesquisá-la.
Surge outra pergunta: Mas, para quem? Quem tem interesse nessa
Ciência da Informação? Pensar e pesquisar informação interessa a quem?
Primeiramente temos o mercado, as organizações corporativas e os governos,
já que informação remete a todo saber que permeia uma corporação, suas
intenções, seus documentos, sua história. Organizar, ter maior controle sobre o
que a própria corporação produz é uma estratégia de mercado. Avanços e
otimizações são possíveis com um nível organizacional alto de documentos,
das técnicas, etc. O próprio termo em voga, Sociedade da Informação, remete
um interesse claro de qualquer instituição privada ou mesmo pública, já que
toda organização necessita saber como se dão os processos para melhorar e
efetivar seu avanço. Neste sentido, há uma instrumentalização da ciência,
crítica já explanada no capítulo anterior com a tese de Heidegger, e novamente
pautamos sua tese principal; o ser-no-mundo, onde está? O cidadão comum,
os moradores de rua, a empregada doméstica, ou o pesquisador de
biogenética e funcionário de uma grande multinacional, assim como o
professor, o médico, a mãe, o idoso, tem interesse a informar-se? Tais quais
aqueles que são excluídos da sociedade, também o são da Sociedade da
Informação? Esta questão toca num ponto crítico e essencialmente ético.
Talvez haja a contrapartida de que a Ciência da Informação não necessite e
não deva considerar todas essas questões para si, com o temor de uma
sobrecarga e perda de foco no seu objeto. Há de se concordar em primeira
vista com tal objeção, porém o objeto desta ciência, inevitavelmente, exige ser
compreendido expansivamente, em um aprofundamento substancial e nega
qualquer negligência a esses problemas, pois quando consideramos
informação, estamos perante aquele que conhece e que se informa, ou seja, o
Homem. Omitir tal fato corresponde ao mesmo que destituir o conceito de
Informação de sua essência. Torna-se um conceito vazio, um manto que toma
forma do lugar qualquer que o colocamos.
88
Não pretendemos polarizar a sociedade entre os mercados e governos,
ou o privado e o público. É fato que estão todos na mesma categoria geral; ali
existem pessoas, e são a sociedade, portanto. Mas os interesses e objetivos,
até a percepção da possibilidade de interesse à informação por parte de alguns
é um debate importante e inegável. O controle informacional é um interesse
estratégico, militar, político. Os EUA dominam tecnológica e estruturalmente
este meio, sendo não facilmente refutável a tese de que Vannevar Bush,
diretamente envolvido com o avanço científico militar dos Estados Unidos na
Guerra Fria, se preocupava com a informação científica para uso e controle
militar e governamental. Como a C.I. deve se posicionar perante tal cenário?
Ignorar somente e confundir-se na sua identidade como uma ciência
documentária restrita ao instrumentalizável? Nem mesmo a documentação
pode ignorar aquele que produz os documentos. Documentos derivam de
ações, e estas não são neutras, há de se considerar o ponto de vista ideológico
da criação de documentos e também de seu acesso e método de organização.
Podemos pensar numa construção não só epistemológica, mas também
histórica e crítica de um novo fazer científico, que nega o atual, como antítese,
propondo assim uma interdisciplinaridade efetiva, um diálogo prático entre
outras ciências que se interessem e sejam importantes para se pensar
informação no Brasil e no mundo, em uma interdisciplinaridade conceituada
como algo prático e histórico. Não somente uma instância legal, ou
epistemológica limitada na formalidade do conceito, que falseia o suposto
diálogo entre ciências. Deve haver antes uma proposta geral e uma aceitação
deste diálogo entre a universidade e suas áreas de pesquisa. Esse consenso
de intervenção dialógica é o primeiro passo para uma efetivação entre ciências
que consentem a importância de pensar a informação e trocar saberes para
realizá-los na prática cotidiana, sendo também um passo antropológico.
Primeiramente, pensar a Ciência da Informação não como uma ciência
única que empresta conceitos descontextualizados e postos a radical
simplificação, o que gera teses falhas e incipientes, mas como uma ciência
articuladora interdisciplinar. Articular deriva de unir, juntar, ligar uma coisa a
outra (BUENO, 1963, p. 364), e nesse sentido a informação pelo ponto de vista
de uma nova ciência deve contar com a possibilidade de criar um contato entre
as principais áreas de estudo e pesquisa, a saber:
89
- a educação;
- a tecnologia;
- e a cultura.
Nestes três principais eixos articulados (educação, tecnologia e cultura)
podemos formular uma C.I. que pensa informação além de um simples objeto
de pesquisa básica, a partir da visão de mundo que considera sujeito
cognoscente e o objeto relacional passível de conhecimento, portanto in-
formação, integrados e não isolados. Primeiramente estes três eixos estão
diretamente relacionados e se complementam. Os problemas em educação
são diversos e urgentes, pois pela educação é possível pensarmos e
discutirmos o acesso à informação, não somente restrita a um conceito de
informar, mas além na sua práxis, no transformar. A informação pública,
importante para o cidadão, a capacidade de interpretação dessas informações,
o senso crítico, e também o agir ético são as principais questões da educação.
A tecnologia que traz outras possibilidades de aprendizado, comunicação e
expressão, incluindo a Internet como revolução comunicacional. A cultura,
ponto de importância ontológica, pois a partir desta podemos refletir e repensar
o ser e a nação desvelando mais profundamente os problemas que existem de
possibilidades de acesso a informação, de ensino, do sistema político, das
artes, criatividade, etc.
Tardou-se o tempo de concretizarmos uma ciência que pense o ser; e
pensar informação é essencial, já que, como postulamos neste trabalho em
essência, pensar a informação é pensar quem se informa, é pensar o ser. As
Ciências da Computação, engenharias, a Matemática, robótica entre outras
ciências tecnológicas muito contribuiriam juntas para a resolução destes vários
e epidêmicos problemas sociais, em um diálogo aberto com as áreas de
educação, pedagogia, sociologia, história, geografia, matemática, física, artes,
licenciaturas, enfim. Todas pensando a cultura como meio e fim, como “espaço
dialógico”. A escolha destes três principais eixos também engloba a
biblioteconomia, a documentação, a arquivística e a museologia com seus
saberes técnicos e históricos onde se pode haver uma contribuição mútua
entre as ciências, da qual não encontra possibilidades de concretização através
90
da visão positivista e da estrutura atual da universidade. É necessária uma
mudança estrutural e de visão de mundo.
A C.I. trataria de estudar articuladamente com essas áreas e identificar
quais contribuições o pensar ontológico da informação pode contribuir para os
problemas sociais e para as demandas do mercado. Não podemos
desconsiderar a existência e a exigência social que o mercado manifesta.
Demonizar o mercado está fora de cogitação, seria uma ingenuidade, ou uma
postura demasiadamente parcial; há de se pensar em um profissional com uma
visão de mundo questionadora, consciente da historicidade, da política, da
ideologia, e principalmente crítico. A C.I. também deve pensar seu ensino de
modo articulado, porém não generalista, mas existente em um foco, e este é o
da informação. Porém pensemos informação articuladamente, compreendendo
cultura, educação e tecnologia, a ponto de identificar as necessidades sociais e
contemporâneas sobre informação a partir deste contexto complexo. O
questionamento e o debate são os fomentadores desse avanço de pesquisas
em informação de modo articulado, em um diálogo aberto e prático, contando
com pesquisas e projetos em conjunto com autores das outras áreas. A partir
desta articulação pode-se remodelar ensino, pesquisa e extensão na C.I.
primeiramente, como o jargão das universidades exalta, todavia de modo
concreto.
Contudo, tal proposta aparenta à primeira vista utópica considerando a
complexidade das ruídas estruturas políticas da universidade e do que é
ciência hoje em grande escala. Logicamente neste trabalho apenas esboçamos
um esforço que deve ser completado em um trabalho maior e mais profundo,
todavia aqui mostramos sua fundamentação tendo em vista a realidade social
do Brasil e o contexto global perante o conceito de informação. As
possibilidades de mudança partem de um questionar contínuo da visão de
mundo e consequentemente, da ação daquele que vivencia com o outro, o ser-
no-mundo. Voltando ao pensamento de Aristóteles que abre este capítulo,
dizemos que é plausível existir uma Ciência da Informação, porque há um
nous, a inteligência que realiza a ciência, porém reformulada, não atada ao
conceito grego, ou moderno de ciência. O objeto é a informação, porém objetar
é abstrair, sendo que essa ação limita o agir da ciência, presa a uma visão de
mundo que não mais acompanha as urgências da civilização atual. Quando
91
questionamos o ser-no-mundo frente ao conceito de informação, um novo fazer
científico é exigido, o que não nega a ciência como conceito primário, mas a
supera, assim como o conceito abstrato de sujeito-objeto. A visão de mundo da
ciência moderna, que separa sujeito e objeto está em vias de superação, e
deste modo não nos limitamos a excluir o ser na sua vivência, na sua
complexidade de existir e as contingências que este está fadado a enfrentar.
Para se pensar a C.I. devemos pensar na transformação de visão de mundo, e
como um determina o outro, para então não apenas reproduzirmos a visão de
mundo da ciência moderna que aparenta sua senilidade perante o tempo.
Tomamos uma posição teórica apontando caminhos e identificando as
rachaduras da ciência moderna frente às urgências da temporalidade e da
sociedade vivenciada, acreditando em uma possibilidade de mudança a partir
de uma superação na concepção de mundo, e o fundamento disto é a crítica e
o questionamento, sobretudo educação, e consequentemente, informação. O
próximo capitulo aprofunda este ponto essencial.
Cap. 6 – Uma outra visão de mundo - A Questão social, cultural e
ética da informação. O questionar na práxis.
Como vimos, a complexidade de conceitos conjuntos e fatores de
contingência que abordam a informação e, sobretudo, o informar-se se amplia
ao ponto em que questionamos mais a natureza e a historicidade do conceito
de informação e da existência da Ciência da Informação. Esta complexidade,
na sua universalidade, é sintetizada a partir da palavra alemã Weltanschauung
deriva de, welt – mundo, e Anschauung - visão, intuição. Geralmente traduzida
por visão de mundo, ou visão da vida, e pode ser interpretada como a nossa
posição no mundo e o modus do nosso agir. (HEIDEGGER, 2002).
Regularmente usada na filosofia, este termo sintetiza o ser-no-mundo, isto é, a
visão de mundo premedita a ação de cada ser, é condicionada pela cultura,
pela temporalidade, pelo pensamento que temos em nossa subjetividade e ao
mesmo tempo, mesclada ao objetivo, ao mundo, às relações que mantemos
em sociedade e a cultura como determinante na formação de cada um. A visão
de mundo da ciência atual encontra-se em uma crise, como dito, juntamente
com o conflito de outras visões emergentes. Esta mudança de visão gera o
conflito, e afirma o diálogo. O que propomos é uma substancial mudança de
92
visão de mundo, para então pensarmos como o agir há de se modificar, tal qual
Heidegger, que relê a famosa frase de Marx, “[...] a transformação do mundo,
[...] exige, antes, que o pensamento se transforme, assim como já se oculta
uma modificação do pensamento atrás da aludida exigência.” (HEIDEGGER,
1983, p. 236).
Heidegger refere-se à provocação de Marx na Ideologia Alemã de 1846,
onde este último critica os filósofos de somente interpretar as maneiras do
mundo, sendo que o importante é transformá-lo. A transformação só é possível
com uma mudança de visão de mundo, uma mudança essencial, ou seja,
profunda e cultural. A C.I. está neste momento de mudança, sob um
capitalismo senil, no avanço tecnológico da Internet e na reestruturação das
formas e possibilidades de comunicação e de conhecimento. A tecnologia é um
fenômeno cultural e a Internet nos mostra como essa cultura age, se atualiza,
se transforma e se movimenta na sociedade. Informação permeia a tecnologia
(technè), a cultura, a sociedade, a ética, a educação e o saber principalmente.
O questionamento, a visão crítica, a ética do diálogo e do convívio com o
diferente devem ser levadas em consideração não somente nas teorias de uma
ciência, mas na sua construção epistemológica, na ação e educação de seus
cientistas e profissionais.
É necessário construir uma prática profissional a partir de um ensino e
pesquisa que não consideram primordialmente aquele que detém o
conhecimento, ou a informação; aquele que a controla, mas aquele que pode
alcançá-la a partir da própria reflexão, da busca conjunta, da consideração do
outro. O pesquisador da informação irá relatar e estudar os problemas sociais
sobre a informação, o acesso, a democratização, o uso de novas tecnologias,
pesquisas com novas mídias direcionadas para o serviço público, a educação;
assim como para o profissional do mercado de trabalho que encontra uma
possibilidade de pensar o contexto político e prático em que o mercado se situa
e nos atinge diretamente. No método de ensino, o professor que supostamente
detém o conhecimento e articula todas as informações em si, cai por terra. Há
um diálogo entre professor e aquele que quer aprender, e não mais o aluno; a-
luminum, o sem luz. Analogicamente tal como o usuário da biblioteca, ou de
uma base de dados, é antes um ser, um indivíduo.
93
A Internet permite um compartilhamento de conhecimentos, uma outra
noção de tempo na comunicação de ideias e projetos. Grandes revoltas estão
acontecendo pelo mundo frente a formas de governos impositivos e não
igualitários graças ao impulsionamento das redes sociais (vide as atualíssimas
revoltas árabes na Tunísia e no Egito), das comunidades de compartilhadores
de arquivos e informações. O estágio de comunicação humano avançou
velozmente, e trouxe crises com esta ferocidade de manifestação. Passamos
por uma crise civilizatória e cultural cuja urgência de se repensar uma Ciência
da Informação, ou mesmo a prática daqueles que a pertencem e articulam-se
por ela, é inexorável. Caso não haja o clarear de um outro modo de se pensar
a Ciência da Informação e sua prática, bem como a relação da sociedade com
o saber e com a informação, portanto, de se questionar uma iminente mudança
de Weltanschauung, a C.I. encontrará sua obsolescência prática e teórica, e se
configurará como uma ciência menor, com uma profunda crise de identidade e
metateórica, limitando-se apenas como uma instrumentalização técnica de uso
e descarte em problemas não estruturais, particulares e pontuais.
Esta síntese propõe o caminho de um novo fazer científico de
transformação que requer um processo conflituoso e complexo perante a
realidade política e econômica, principalmente da situação da ciência no Brasil,
no sentido de investimentos e grau de importância dado pelos governos que
administram este país.
O questionar na práxis se dá na articulação entre as ciências que
pensam informação com suas técnicas e saberes, construindo a partir do
diálogo caminhos e proposições que na sociedade encontram sua efetivação
ou negação. Uma diferente relação com o cidadão comum que freqüenta a
instituição ou sistema de informação revela-se essencial para se entender o
quanto as pessoas potencialmente informam-se e o quanto podem saber. Para
tal, a relação aproximada do cidadão e dos serviços de informação deve tornar-
se mais ativa. Este é o grande desafio no pensar da informação, não somente
trancafiarmos numa redoma teórica e definirmos o que é, sendo que o que está
é velado aos nossos olhos. A ciência não promove a verdade, ou aplica na
sociedade um soro das resoluções de problemas, argumenta o epistemólogo
francês, Gilles Gaston Granger,
94
“Por outro lado, a ciência não se propõe de modo algum
resolver as questões que envolvem escolhas de valor. (...) ela deve
contribuir para nos informar e nos esclarecer a respeito desses
problemas, mas absolutamente não seria capaz de resolvê-los. O
erro mais grave sobre esse ponto consistiria em transformar
conhecimentos positivos cientificamente estabelecidos em preceitos
de escolha e de ação.” (GRANGER, 1994, p. 114).
As contingências (éticas, axiológicas, ontológicas, políticas, culturais,
etc) estão no meandro do ser-no-mundo. A pretensão de método e resolução
se dissolve quando consideramos a historicidade. A proposta de soluções,
portanto, se tratamos de proposta tratamos de diálogo, da ciência para a
sociedade remete a um abrir de portas da universidade e da ciência para o
agir, a práxis que questiona e aponta soluções. A ação social, determinada
pelas contingências do existir em sociedade, é feita na relação entre a ciência,
o saber, a educação, e a sociedade com o direito a informar-se e a
democratização autêntica desta política cultural e pública. Porém a realidade é
outra, os interesses mercadológicos e de governos omitem-se ou dissimulam a
questão quanto a uma democratização da informação. O acesso não é
mecânico somente, é permeado por ideologias conflitantes, e nesta guerra, a
força e o velamento são armas para o falseamento desta democratização. Uma
sociedade questionadora, com uma educação pautada no ser-no-mundo, no
reconhecimento do outro, e na busca do saber além de qualquer
hierarquização ou privilégio apropriador é desinteressante para o governo
partidário e de premiações oligárquicas. A realidade socioeconômica mundial
não é homogênea, porém a necessidade de controle informacional a partir do
Estado hierarquizado é transparente (vide EUA, e o mundo Pós-Guerra),
desvelando assim a importante discussão da informação pública e como a
partir de diversas ideologias pô-la em crítica.
Uma epistemologia da Ciência da Informação pensada sob um viés
crítico e transformador, consolidado a partir de uma mudança de Visão de
Mundo pode contribuir para os primeiros passos a uma sociedade democrática
autenticamente, e promover mudanças pelas ciências em articulação. O
pensamento é social, não isolado. Compartilhar informações e saberes é
também promover o avanço tecnológico em vias democráticas, considerando o
95
direito de informar-se da sociedade e a partir disso transformar. Porém, este
discurso distancia-se da rápida concretude; está, portanto, fadado às
contingências históricas, a aceitação desta geração de pesquisadores e
professores que se situam, em sua maioria, nos regimentos da ciência
moderna e positivista. Apesar deste quadro irregular e dissimulado, ideias
perduram e criam fendas nas visões de mundo daqueles que são afetados por
novas formas de pensamento. O questionar é o embasamento, o caminho e o
modo de se caminhar que tem como meta ir além do que já somos. Aquilo que
nos cerca, ou seja, nós mesmos (considerado como o Outro, lembremos de
Rimbaud), é a principal questão que não se encontra estática, ou absoluta; é
movente e incomensurável, e sua relação com a informação e o saber é mais
outra questão que nos fomenta a dialogar e conduzir energias para uma práxis,
através de uma crise na Weltanschauung. Eis o filosofar, o questionar e o
fomentar de ideias que traz outra luz para o momento que vivemos.
Cap. 7 – Considerações finais – Um novo horizonte na ciência e no
pensamento crítico da Informação. As visões de mundo e a possibilidade
de transformação pelo ser.
Ao ponto que atingimos este estágio do trabalho não é possível traçar
notas conclusivas sobre a complexidade do conceito de Informação. A partir
dos eixos dialéticos percorremos criticamente sobre as principais teorias da C.I.
com o objetivo de retratá-las de modo claro para que a antítese surgisse. A
proposta ontológica desse trabalho deriva de um questionamento sobre a
situação da Ciência da Informação, não somente limitada a sua epistemologia
ainda embrionária, cuja meta é aprofundar-se nos questionamentos, apontar
crises que existem no campo científico, como também no político, social e
ético.
A visão heideggeriana abordada não se estabelece como doutrina, muito
menos a de Aristóteles. Atemos-nos aos questionamentos e visões propostas
por esses filósofos mostrando que uma discussão sobre o conceito de
Informação limitado a definições, é insuficiente perante a possibilidade de
transformações que um pensar científico da informação pode trazer para a
sociedade. Atentar-se a culturalidade da Informação é substancial, assim como
96
a educação, tecnologia, ética, etc. A proposta de formação epistemológica da
C.I. neste trabalho formata-se como uma crítica questionadora, contrariamente
a uma concepção fechada em si, pronta como uma receita médica. A Síntese
aqui apresentada é uma nova tese, ainda considerada hipótese, que necessita
maduração e maior aprofundamento, mas de antemão, este é o primeiro passo
de uma possível transformação fundamentada na ontologia filosófica e no
pensamento crítico para a Ciência da Informação.
O esforço empenhado nesta monografia está em propor caminhos,
levantar questões e debates. A satisfação da meta deste trabalho é alcançada
nestas considerações que apresentam as ideias que permeiam a monografia
de modo a causar no leitor mais questionamentos e um convite à ampliação de
sua visão sobre o conceito de informação, ou mesmo sobre ciência.
O informar é um processo que depende do outro, daquele que ob-jeta o
sujeito e também pode ser sujeito, ou além, é uma ação derivada de um
sujeito. Dar forma ao espírito é o conceito primário de informação que ao ser
retomado, nos apresenta uma nova forma de se desvelar o conceito de
informação, ao ponto de reestruturarmos a nossa visão de mundo como uma
possibilidade de transformação. O transformar está fadado à historicidade do
ser, tais quais as ideias deste trabalho, que enfrenta a realidade da ciência no
Brasil, do sistema político atual e da crise do sistema socioeconômico
capitalista. As ideias são sementes, podem vir a ser, e fadadas à latência,
podem ser germinadas sob o ditar da temporalidade e das contingências.
A ideia de transformação social é relacionada ao saber e neste trabalho
a nossa intenção remete-se a relacionar informação ao saber e, portanto,
transformar. Informar-se é um vir a ser da transformação. E transformar
necessita da crise, da crítica, do questionar, o que nos faz humanos e nos
afirma o ser-no-mundo. Esta é a mudança de Visão de Mundo, que nos permite
explorar outras maneiras de vivência e novas possibilidades de existir mais
próximos de um conceito de humanidade, e não fadados ao esquecimento do
ser, ou um distanciamento dissimulado do que somos de fato. A busca é
incessante e este trabalho representa esta necessidade do questionar e do
conflito crítico, que até então, se mostra como a mais lúcida maneira de atingir
o transformar.
98
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