Upload
lykhue
View
212
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Universidade de São Paulo
Faculdade de Saúde Pública
Avaliação das condições higienicossanitárias e análise
de parâmetros microbiológicos, físico-químicos e
sensoriais de filés de Polaca do Alasca (Gadus
chalcogrammus) congelados expostos à venda em
supermercados da Grande São Paulo.
Tarcila Neves Lange
Tese Apresentada ao Programa de Pós -
Graduação em Saúde Pública para
Obtenção do Título de Doutor em Ciências
Área de Concentração: Serviços de Saúde Pública
Orientador: Prof. Dr. Pedro Manuel Leal Germano
São Paulo
2015
Avaliação das condições higienicossanitárias e análise
de parâmetros microbiológicos, físico-químicos e
sensoriais de filés de Polaca do Alasca (Gadus
chalcogrammus) congelados expostos à venda em
supermercados da Grande São Paulo.
Tarcila Neves Lange
Tese Apresentada ao Programa de Pós -
Graduação em Saúde Pública para
Obtenção do Título de Doutor em Ciências
.
Área de Concentração: Serviços de Saúde Pública
Orientador: Prof. Dr. Pedro Manuel Leal Germano
Versão original
São Paulo
2015
É expressamente proibida a comercialização deste documento tanto na
sua forma impressa como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é
permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, desde que
na reprodução figure a identificação do autor, título, instituição e ano da
tese/dissertação.
Dedico essa conquista à todos que, direta ou indiretamente, me apoiaram
nessa jornada.
Agradecimentos
Ao Professor Doutor Pedro Manuel Leal Germano por todo apoio e confiança
durante essa longa jornada. Jamais me esquecerei do querido professor que me
acompanhou fazendo parte da minha vida acadêmica desde a especialização e me
dando inúmeras oportunidades de crescer e amadurecer profissionalmente.
À Professora Doutora Maria Izabel Simões Germano por todas as suas preciosas
contribuições para o aprimoramento desse estudo e por sempre me acolher com tanto
carinho durante todos esses anos.
À Professora Doutora Simone de Carvalho Balian por abrir, tão gentilmente, as
portas do laboratório da FMVZ-USP para que eu pudesse fazer minhas análises e por
suas valiosas considerações para o aprimoramento dessa tese.
Às Doutoras Érika Fabiane Furlan e Rubia Yuri Tomita por sua solicitude em me
receber e me orientar no laboratório do Instituto de Pesca.
A todos os membros da banca Dra Eliana Scarcelli Pinheiro, Dra Elizabeth Torres,
Dra Simone de Carvalho Balian e Dra Vitória Kedy Cornetta por aceitarem fazer
parte desse momento tão ímpar da minha vida acadêmica e por suas essenciais e
pertinentes contribuições.
A toda a equipe técnica dos laboratórios onde realizei minhas pesquisas, em especial,
a Liliana Barbosa e a Sandra Sanches que foram essenciais para que eu pudesse
concluir a pesquisa laboratorial do meu estudo.
À querida amiga Renata Chalhub que dividiu comigo inúmeros momentos difíceis
tornando-os hilários e me ajudando a superá-los com mais leveza e alegria.
À querida amiga Cintia Leci Rodrigues pelas intermináveis conversas que me
estimularam a finalizar essa etapa da minha vida que muitas vezes me parecia
impossível.
À querida amiga e eterna mestre Cirlei Aparecida Zanon pela sua inestimável ajuda e
conselhos.
À querida Sonia Francisca Martins que fez parte de todo esse processo e que sempre
me ajudou a transpor todas as dificuldades que teimavam em surgir.
Ao querido Thiago Alonso por toda a sua paciência e carinho.
Às minhas queridas irmã e sobrinhas por me proporcionarem momentos adoráveis de
descontração.
Aos meus queridos pais pelo amor e apoio de sempre.
Enfim, agradeço a todos os amigos e familiares que dividiram comigo essa aventura
repleta de desafios, inseguranças, questionamentos e realizações que é a conclusão de
uma tese de doutorado.
Lange TN. Avaliação das condições higienicossanitárias e análise de parâmetros
microbiológicos, físico-químicos e sensoriais de filés de Polaca do Alasca (Gadus
chalcogrammus) congelados expostos à venda em supermercados da Grande São
Paulo [tese de doutorado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP; 2015.
Resumo
Introdução - O pescado é amplamente utilizado para a produção de alimentos à base
de matéria-prima de origem animal. Nas últimas décadas, inovações tecnológicas
possibilitaram o aumento na comercialização de pescado na forma de filé congelado,
tornando o controle de temperatura durante a cadeia de produção essencial para a
manutenção da sua qualidade. A importação de pescado, inclusive da Polaca do
Alasca, vem crescendo ano a ano, sendo os supermercados e hipermercados, da
Região Metropolitana de São Paulo, responsáveis por 49,0% de toda a demanda
nacional. Objetivos - Avaliar as condições higienicossanitárias de pescado
congelado e embalado exposto à venda em gôndolas de supermercados da Grande
São Paulo, de acordo com a legislação vigente. Métodos - A pesquisa foi
desenvolvida com base em duas abordagens: estudo de campo e laboratorial. Foram
selecionados 30 supermercados de 4 municípios da região da Grande São Paulo para
aplicação de checklist de avaliação das condições higienicossanitárias do produto e
dos equipamentos de exposição e para a coleta de amostras, no período de 7 a 29 de
setembro de 2013. Foram coletadas 30 amostras, sendo cada amostra constituída por
3 embalagens de 1 kg de filé de Polaca do Alasca congelado de uma mesma marca,
lote, data de fabricação e validade; representando 3 kg por amostra e totalizando 90
kg de produto analisado. Uma parte das amostras, 30 embalagens de 1 kg, foi
acondicionada em caixas isotérmicas com temperatura controlada e encaminhada ao
laboratório da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP para
realização das análises microbiológicas (Staphylococcus coagulase positiva e
Salmonella spp). As demais 60 embalagens de 1k foram encaminhadas, sob as
mesmas condições, ao laboratório do Instituto de Pesca para realização das análises
físico-químicas (pH, N-BVT e N-TMA) e sensoriais (colorimetria e textura).
Resultados - As principais não conformidades encontradas no checklist, em ordem
decrescente, foram: presença de cristais de gelo (100,0%) e temperatura abusiva dos
produtos – acima de - 12°C (100,0%); ausência do carimbo do SIF (83,3%); falta de
veracidade na temperatura indicada no termômetro do equipamento (66,6%) e
presença de restos de alimento no fundo dos equipamentos (50,0%). As análises
físico-químicas para o N-BVT e N-TMA; e, as análises microbiológicas para
pesquisa de Salmonella spp em 25 gramas e contagem de Staphylococcus coagulase
positiva indicaram 100,0% de conformidade com a legislação vigente. A totalidade
das amostras apresentou-se não conforme para o parâmetro pH, com medições que
variaram de 6,86 a 8,57. Nas análises sensoriais encontraram-se valores de firmeza
do filé de 9,02 a 2,52 N, com uma média de 5,3 ± 1,6 N e a colorimetria indicou que
os filés de Polaca do Alasca encontravam-se escurecidos e amarelados. Conclusão –
A aplicação do checklist indicou deficiências na manutenção da temperatura e na
operação das gôndolas de exposição, não proporcionando as condições ideais para a
manutenção do pescado congelado durante o seu armazenamento. Embora os
resultados das análises microbiológicas tenham demonstrado que os produtos
estivessem próprios para o consumo, as análises físico-químicas, em específico os
parâmetros referentes ao pH, não estavam de acordo com os valores determinados
pela legislação vigente.
Descritores: Pescado congelado; Supermercados; Qualidade; Temperatura;
Condições higienicossanitárias; Checklist.
Lange TN. Evaluation of hygienic-sanitary conditions and analysis of
microbiological, chemical and physico-chemical parameters of Walleye Pollock
(Gadus chalcogrammus) frozen fillets exposed for sale in supermarkets of Greater
São Paulo [doctoral thesis]. São Paulo (BR): Faculdade de Saúde Pública da USP;
2015.
Abstract
Introduction – Fish products are widely used for food production based on raw
material of animal origin. In the last decades, technological innovations enabled a
raise in the commercialization of frozen fish fillets that turned the temperature
control throughout the food chain into essential for its quality maintenance. The
import trade of fish products, amongst them the Walleye Pollock, is increasing year
after year, being the supermarkets and hypermarkets of São Paulo’s Metropolitan
Region responsible for 49,0% of all Brazilian imported fish products’ demand.
Objective – To evaluate the hygienic-sanitary conditions of packaged frozen fish
exposed for sale in supermarkets of Greater São Paulo in accordance with legal
regulations. Methodology – This study was based upon two approaches: case study
research and laboratory analysis. It was selected 30 supermarkets of four counties of
the Greater São Paulo region for the evaluation of products’ and equipments’
hygienic-sanitary conditions by the application of a specific checklist and sample
collection, from 7 to 29 September 2013. It was collected 30 samples, which one
comprised of 3 1 kg packages of Walleye Pollock frozen fillets from the same brand,
batch number, manufacturing and expiration date, representing 3 kg by sample and
totaling 90 kg of analyzed product. A share of these samples, 30 - 1 kg packages, was
accommodated and transported in temperature-controlled isothermal box to the
Faculty of Veterinary Medicine and Animal Science of USP laboratory for the
microbiological (Coagulase positive Staphylococci and Salmonella spp) analysis.
The other 60 - 1kg packages were sent, under the same conditions, to the Fishery
Institute for physico-chemical (pH, N-BVT and N-TMA and sensory (colorimetry
and texture) analysis. Results - The non-compliance acts more frequently observed
in the checklist, in descending order, were: presence of ice crystals (100,0%) and
abusive temperature – above - 12°C (100,0%) of the products, absence of SIF
imprint (83,3%); lack of truthfulness in the temperature indicated on the equipment
thermometer (66,6%) and presence of food remains at the bottom of the equipment
(50,0%). The physico-chemical analysis for N-BVT and N-TMA; and, the
microbiological analysis for Salmonella spp/25 g and the coagulase positive
Staphylococci counts indicated 100,0% of compliance with legal regulations. The
totality of the samples were inadequate for the pH parameter, with measurements
ranging from 6,86 to 8,57. The sensory analysis shown values of fillet firmness of
9,02 to 2,52 N, in an average of 5,3 ± 1,6 N and the colorimetry indicated that the
walleye pollock fillets were darkened and yellowish. Conclusion – The checklist
results pointed out to deficiencies in controlling the temperature and freezers
operations and did not offer the ideal conditions to frozen fish’s quality maintenance
throughout its storage. Although the microbiological analysis results showed that the
frozen fish fillets were appropriate for consumption, the physic-chemical analysis,
particularly the pH parameters, were not in accordance with values indicated in the
current regulation.
Keywords: Frozen fish; Supermarkets; Quality; Temperature; Hygienic-sanitary
conditions; Checklist.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 18
1.1 CONTEXTUALIZANDO A PESQUISA........................................................ 18
1.2 PANORAMA ATUAL DO VAREJO DE ALIMENTOS ............................... 23
1.3 A CARNE DE PEIXE ...................................................................................... 26
1.4 A POLACA DO ALASCA .............................................................................. 27
1.5 A INDUSTRIALIZAÇÃO DE PESCADO ..................................................... 30
1.5.1 Fluxograma de Produção de Filé de Peixe Congelado .............................. 31
1.5.2 O Processo de Congelamento .................................................................... 32
1.6 MANUTENÇÃO DE TEMPERATURA DO PRODUTO CONGELADO ... 36
1.7 PARÂMETROS DE QUALIDADE DO PESCADO ...................................... 38
1.7.1 Alterações sensoriais ................................................................................. 38
1.7.2 Alterações físico-químicas ........................................................................ 39
1.7.3 Alterações Microbiológicas ...................................................................... 42
1.8 JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 45
2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 46
3 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................. 47
3.1 METODOLOGIA DE PESQUISA .................................................................. 47
3.2 DEFINIÇÃO DO UNIVERSO E DO OBJETO DE ESTUDO ....................... 48
3.3 FERRAMENTA PARA COLETA DE DADOS ............................................. 51
3.4 APLICAÇÃO DO CHECKLIST E COLETA DE AMOSTRAS .................... 53
3.4.1 Análise do Checklist .................................................................................. 53
3.4.2 Coleta de amostras ..................................................................................... 56
3.5 ANÁLISE LABORATORIAL......................................................................... 58
3.5.1 Análises físico-químicas ............................................................................ 58
3.5.2 Análise microbiológica .............................................................................. 60
3.5.3 Análise sensorial ........................................................................................ 62
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 63
4.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS DO CHECKLIST ....................................... 63
4.1.1 Condição dos equipamentos x cadeia de frio ............................................ 64
4.1.2 Temperatura dos equipamentos ................................................................. 71
4.1.3 Temperatura do pescado congelado exposto à venda ................................ 76
4.1.4 Apresentação do pescado congelado ......................................................... 80
4.1.4.1 Análise da rotulagem .............................................................................. 85
4.2 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ANÁLISES FÍSICO-
QUÍMICAS ............................................................................................................ 97
4.3 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ANÁLISES
MICROBIOLÓGICAS ........................................................................................ 101
4.4 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ANÁLISES SENSORIAIS...... 103
5 CONCLUSÕES ................................................................................................... 108
6 RECOMENDAÇÕES..........................................................................................110
7 REFERÊNCIAS...................................................................................................112
ANEXO....................................................................................................................123
Checklist de verificação das condições higiênico-sanitárias de equipamentos e
de pescado congelado exposto à venda em supermercados
Lista de Figuras, Quadros, Tabelas e Gráficos
Figura 1 – Área de captura da Polaca do Alasca. 28
Figura 2 – Distância, em linha reta, entre o Mar de Bering e a China. 30
Figura 3 – Fluxograma de processamento de filé de peixe congelado. 35
Figura 4 – Municípios da região sudeste da Grande São Paulo. 48
Figura 5 – Comparação entre o padrão de apresentação de filés de 56
Polaca do Alasca congelados e de filés com indício de
descongelamento coletados em supermercados da região
da Grande São Paulo, em setembro de 2013.
Figura 6 - Condições de exposição à venda de filés de Polaca do 57
Alasca congelados encontradas em supermercados da região
da Grande São Paulo, em setembro de 2013.
Figura 7 - Ilha aberta horizontal. 64
Figura 8 – Ilha fechada horizontal. 65
Figura 9 – Ilha fechada vertical. 65
Figura 10 – Equipamento com lâmina de gelo e restos de alimentos 67
encontrado em supermercado da região da Grande
São Paulo, em setembro de 2013.
Figura 11 – Equipamento com excesso de gelo encontrado em 68
supermercado da região da Grande São Paulo,
em setembro de 2013.
Figura 12 – Filés de Polaca do Alasca com cristais de gelo 82
coletados em supermercados da região da Grande
São Paulo, em setembro de 2013.
Figura 13 – Filés de Polaca do Alasca com sinais de descongelamento 83
coletados em supermercados da região da Grande São Paulo,
em setembro de 2013.
Figura 14 – Compactação de Filés de Polaca do Alasca coletados em 83
supermercados da região da Grande São Paulo, em
setembro de 2013.
Figura 15 – Filés de Polaca do Alasca com diferentes níveis de indícios de 84
quebra da cadeia de frio coletados em supermercados da região
da Grande São Paulo, em setembro de 2013.
Figura 16 – Validade e temperatura de conservação doméstica impressas 92
nos rótulos de diferentes marcas de filés de Polaca do Alasca
congelados coletados em supermercados da região da Grande
São Paulo, em setembro de 2013.
Figura 17 - Alterações colorimétricas observadas em filés de Polaca do 108
Alasca congelados coletados em supermercados da região da
Grande São Paulo, em setembro de 2013.
Quadro 1 – Temperatura de inativação de reações químicas e microbiológicas 37
em alimentos.
Quadro 2 – Diferenças de informações sobre temperatura e tempo na 89
conservação doméstica e forma de descongelamento, na
rotulagem dos filés de Polaca do Alasca congelados
coletados em supermercados da Grande São Paulo, em
setembro de 2013.
Quadro 3 – Diferenças de valores encontrados na tabela de informação 94
nutricional de filés de Polaca do Alasca congelado de acordo
com o padrão (P) do NOAA.
Tabela 1 – Surtos de DTAs associados ao consumo de pescado entre 43
1998 e 2004.
Tabela 2 – Variação nas temperaturas aferidas, pelo termômetro a laser 77
e pelo termômetro de espeto, nos filés de Polaca do Alasca
congelados coletados em supermercados da região da Grande
São Paulo, em setembro de 2013.
Tabela 3 - Resultados das análises físico-químicas realizadas em filés de 99
Polaca do Alasca congelados coletados de 30 supermercados,
em setembro de 2013, na região da Grande São Paulo.
Gráfico 1 – Número (n.) de supermercados (sp) existentes nos municípios 50
de Rio Grande da Serra (RGS), Ribeirão Pires (Rib Pires),
Mauá e Diadema X número de supermercados visitados X
quantidade de amostras de pescado congelado coletada.
Gráfico 2 – Principais inadequações, quanto às condições dos equipamentos 70
de congelamento e a manutenção da cadeia de frio, observadas
durante a aplicação do checklist em 30 supermercados da
região da Grande São Paulo, no mês de setembro de 2013.
Gráfico 3 – Temperaturas indicadas nos termômetros de 20 equipamentos 72
de congelamento de supermercados visitados na Grande São Paulo,
durante o mês de setembro de 2013.
Gráfico 4 – Principais não conformidades, relacionadas à identificação dos 88
filés de Polaca do Alasca congelados, coletados em 30
supermercado da Grande São Paulo, em setembro de 2013.
Siglas utilizadas
ABRAS – Associação Brasileira de Supermercados
ADFG – Alaska Department of Fish and Game
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
BHI – Brain Heart Infusion
BPF – Boas Práticas de Fabricação
BVT – Bases Voláteis Totais
CDC – Centers for Disease Control and Prevention
CE – Conselho Europeu
CONEPE – Conselho Nacional de Pesca e Aquicultura
CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
CVS – Centro de Vigilância Sanitária
DIPOA – Departamento Inspeção de Produtos de Origem Animal
DMA – Dimetilamina
DTAs – Doenças Transmitidas por Alimentos
FA – Formaldeído
FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations
FDA – Food and Drug Administration
FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
G – Grama
HAB – Habitante
HCl – Ácido clorídrico
H2S – Gás sulfídrico
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBOPE – Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
IEA – Instituto de Economia Agrícola
IN – Instrução Normativa
INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
Kg - Quilograma
M2 – metro quadrado
MAPA – Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento
MCS – Marine Conservation Society
MPA – Ministério da Pesca e Aquicultura
N – Newton
NACMCF – National Advisory Committee on Microbiological Criteria for Foods
NaOH - Hidróxido de sódio
NH3 – Amônia
NMP – Número Mais Provável
NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration
OMS – Organização Mundial da Saúde
PDV – Ponto de Venda
PH – Potencial Hidrogeniônico
PIB – Produto Interno Bruto
PPM – Partes Por Milhão
PT – Portaria
RDC – Resolução da Diretoria Colegiada
RIISPOA – Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem
Animal
RMSP – Região Metropolitana de São Paulo
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SES – Secretaria do Estado da Saúde
SIF – Serviço de Inspeção Federal
SIVISA – Sistema de Informação em Vigilância Sanitária
SPP – Espécies
SVS – Secretaria de Vigilância em Saúde
TCA – Ácido tricloroacético
TMA – Trimetilamina
TMAO – Óxido de Trimetilamina
TSI – Triple sugar iron
UFC – Unidade Formadora de Colônia
18
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTUALIZANDO A PESQUISA
Com mais de 30 mil espécies conhecidas, o pescado é amplamente utilizado
para a produção de alimentos à base de matéria-prima de origem animal. Cerca de
700 dessas espécies são pescadas comercialmente e são utilizadas para a fabricação
de produtos alimentícios. Peixes e frutos do mar são importantes fontes de proteína
animal, contribuindo com 15,9% de toda a proteína animal ingerida mundialmente
(REHBEIN e OEHLENSCHLAGER, 2009).
Segundo a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO),
o consumo mundial per capita de pescado aumentou de 9,9 kg em 1960 para 11,5 kg
em 1970, 12,6 kg em 1980, 14,4 kg em 1990, 17,0 kg em 2000, 18,4 kg em 2009,
com os últimos dados apontando para 18,6 kg no ano de 2010 (FAO, 2012).
A Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, recomenda um
consumo de 12,0 kg/hab/ano. Segundo dados do Balanço 2013 da Pesca e
Aquicultura, do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), no Brasil em 2013, a
média de consumo de pescado ficou em torno de 17,3 kg/hab/ano, atingindo a essa
meta (MPA, 2013).
Segundo uma previsão feita pelo “The International Food Policy Research
Institute” a demanda mundial por pescado aumentará de 91,3 milhões de toneladas
em 1997 para 127,8 milhões de toneladas em 2020, com uma média de crescimento
anual de 1,4%; e, aumento no consumo per capita de 15,7 kg para 17,1 kg (FENG e
col., 2009).
19
No Brasil, o aumento do consumo de pescado gerou crescimento na sua
demanda e aquecimento na indústria, sobretudo na aquicultura. Em 2011, a criação
de pescado em cativeiro atingiu 628,7 mil toneladas, volume 31,1% maior em
relação ao ano anterior, ficando a produção brasileira total em 1,4 milhão de
toneladas (PORTAL BRASIL, 2013).
Nas últimas décadas, inovações tecnológicas em processos de refrigeração,
fabricação de gelo e em transporte sob temperatura controlada vêm possibilitando a
comercialização de pescado sob outras formas que não só a fresca, aumentando o
consumo de produtos congelados em países em desenvolvimento. Nesses países, no
ano de 2010, o pescado congelado representou 24,1% de todo o pescado consumido
havendo um crescimento de cerca de 6,0% comparado ao ano 2000 (FAO, 2012).
Essa evolução foi acompanhada pelo crescimento da importância do pescado
congelado frente ao fresco. Em 2006, das 110 milhões de toneladas de pescado
produzidas, 54,0% passaram por algum tipo de processamento, sendo a parcela
correspondente ao pescado congelado de cerca de 42,0% do total (VANHAECKE e
col., 2010).
Em países desenvolvidos, uma grande parcela da produção de pescado é
comercializada congelada ou em forma de produtos preparados ou preservados. A
proporção de pescado congelado vem crescendo há décadas, representando 33,2% do
total da produção para consumo em 1970, aumentando para 44,8% em 1990, 49,8%
em 2000 e atingindo 52,1% em 2010 (FAO, 2012).
Segundo dados do Conselho Nacional de Pesca e Aquicultura (CONEPE), a
importação de pescado representada por peixes e produtos congelados, no primeiro
semestre 2014, ficou em torno de 46 mil toneladas contra 34 mil toneladas de peixes
e produtos frescos ou resfriados. A exportação, por sua vez, representou no mesmo
período, mil toneladas de produtos frescos contra 9 mil toneladas de produtos
congelados (CONEPE, 2014).
20
O sucesso desse método de processamento pode ser explicado por sua
eficiência em preservar um produto que, originalmente, é muito perecível. Por outro
lado, torna-se inevitável uma perda progressiva de algumas características intrínsecas
e de qualidade sensorial em produtos que são mantidos muito tempo sob temperatura
de congelamento (VANHAECKE e col., 2010).
Segundo MUTHUKUMARAPPAN e MARELLA (2007), as proteínas
podem sofrer desnaturação propiciando um aspecto mais grosseiro ao alimento, mas
seu valor nutricional não é afetado. Os lipídeos sofrem oxidação, sendo as gorduras
presentes na carne de pescado as que sofrem maior influência. Porém, o
armazenamento sob congelamento não tem um efeito considerável sobre as enzimas
e as vitaminas A, B, D e E. A peroxidase permanece ativa mesmo em temperaturas
extremamente baixas.
No Brasil, a compra da carne de pescado pelo consumidor é reduzida devido
à falta de produtos frescos e com boa aparência no comércio, além do preço elevado
quando comparado a outros produtos cárneos. Por outro lado, a busca por uma vida
mais saudável, vem estimulando o seu consumo (BOMBARDELLI e col., 2005;
SILVA, 2007).
Em um dos poucos estudos existentes sobre o perfil de consumo de pescado
no Brasil, VASCONCELLOS e col. (2013) constataram que os seguintes fatores
estimulam a compra e o consumo de pescado: aquisição do produto em feiras-livres,
aparência, firmeza, apresentação do pescado fresco e do pescado congelado, assim
como, nível educacional e remuneração mensal dos entrevistados. Preço e presença
de espinhas foram apontados como fatores limitantes para a compra.
De acordo com os dados do Instituto de Economia Agrícola do Estado de São
Paulo (IEA), a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) constitui o maior centro
consumidor de pescado do país, sendo o mercado paulista responsável por 49,0% de
toda a importação de pescado para o Brasil. Os supermercados e hipermercados são
importantes pontos de venda no comércio varejista (MIURA e col., 2012).
21
O mercado varejista brasileiro faturou, no ano de 2011, o equivalente a R$
223 bilhões, sendo que o setor supermercadista faturou, só no Estado de São Paulo,
R$ 54,7 bilhões. Esse setor tem crescido muito nos últimos anos, tornando o
supermercado um dos principais locais de comercialização de alimentos,
respondendo por 22,8% de todo varejo no país (SUPERHIPER, 2011).
Segundo o site Newtrade, especializado em comércio atacadista e varejista de
alimentos, o aumento na carga horária de trabalho das pessoas associado ao
crescimento da participação feminina no mercado de trabalho impulsionaram o
crescimento da venda de produtos congelados, chegando a representar cerca de
50,0% do total de vendas de produtos perecíveis e 30,0% do faturamento dos
supermercados (NEWTRADE, 2010).
Os produtos perecíveis, tais como as carnes bovina, de aves e de pescado, têm
uma significativa participação, não só nas vendas de uma loja de supermercado, mas
também na percepção que o cliente desenvolve sobre a mesma. O estilo de vida
moderno fez com que a procura pela praticidade oferecida por produtos frescos,
resfriados e congelados e, sobretudo, saudáveis e nutritivos, alavancassem a venda de
perecíveis, tornando esses produtos indispensáveis no sortimento do varejo de
alimentos (NEWTRADE, 2010).
De acordo com a pesquisa nacional da Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo e do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (FIESP/IBOPE),
realizada durante o ano de 2010, sobre o perfil do consumo de alimentos no Brasil, a
conveniência e a praticidade são as principais prioridades que induzem o consumidor
a optar por alimentos congelados ou semiprontos, além da confiabilidade
proporcionada pela industrialização desses produtos (FIESP, 2011).
A compra de freezers domésticos acoplados aos refrigeradores e de fornos de
micro-ondas está diretamente relacionada ao aumento na venda de produtos
congelados. Esses alimentos são considerados pelos consumidores como produtos de
22
alta qualidade e frescor, principalmente no setor de frutas, hortaliças e carnes.
(FELLOWS, 2006).
Por outro lado, para que a qualidade desses alimentos seja preservada faz-se
necessário o monitoramento de sua temperatura, especialmente daqueles produtos
altamente perecíveis, como o pescado. Esse produto, quando comercializado na
forma congelada, apresenta um longo prazo de validade proporcionando um maior
período de exposição à venda e consequente suscetibilidade às possíveis variações de
temperatura (LUNDÉN e col., 2014).
Portanto, uma boa gestão logística do setor de produtos resfriados e
congelados é necessária para produzir melhores resultados operacionais, reduzir
custos e tornar os investimentos mais efetivos e os procedimentos mais eficazes
(KAMAGIAN e col., 2004).
O grande desafio das seções de refrigerados e congelados é a manutenção da
qualidade dos alimentos. O emprego de baixas temperaturas na conservação de
alimentos é amplamente utilizado, porém é considerado um procedimento de alto
custo, uma vez que os produtos devem ser mantidos sob temperatura controlada,
desde sua produção até seu consumo, requerendo instalações específicas para esse
fim (GAVA e col., 2009).
O armazenamento em baixas temperaturas visa diminuir as perdas e o
desperdício de alimentos, mantendo as suas características sensoriais e permitindo
um maior controle da sua perecibilidade. O congelamento reduz, consideravelmente,
a ação dos micro-organismos, as reações enzimáticas e físico-químicas (INMETRO,
2005; TINGMAN e col., 2010). Para o pescado, o controle da temperatura é
essencial para a manutenção da sua qualidade e representa um grande obstáculo a ser
ultrapassado pelo varejo de alimentos (LIKAR e JEVSNIK, 2006).
23
1.2 PANORAMA ATUAL DO VAREJO DE ALIMENTOS
O comércio varejista é aquele responsável pela intermediação entre a
indústria e o consumidor final, por meio da negociação e venda de produtos e
serviços de uso pessoal ou familiar, que atendam às necessidades de seus clientes
(CERIBELI, 2011).
O comércio varejista de alimentos é predominantemente realizado na forma
de autosserviço, ou seja, os produtos são disponibilizados de maneira acessível e
atraente ao cliente e são escolhidos sem a influência de vendedores. Esses produtos
são acondicionados em carrinhos ou cestas de compras pelo próprio comprador,
sendo direcionados aos check-outs, na saída do estabelecimento, para o registro e
conferência das suas compras nos pontos de venda (PDVs) (CLEMENTE, 2003).
O varejo alimentício pode ser classificado, segundo as suas características
mercadológicas, nos seguintes formatos e tipos de lojas:
Minimercados: estabelecimentos com linha de produtos de mercearia
oferecidos aos clientes no formato de autosserviço, além da venda de frios,
laticínios e bazar. Possuem área de 50 a 100 metros quadrados (m2), um
check-out e, em sua maioria, são localizados na periferia das cidades
(CLEMENTE, 2003; CERIBELI, 2011).
Lojas de conveniência: estabelecimentos localizados em postos de gasolina,
com área de 50 a 250 m2. Comercializam produtos de mercearia, frios,
laticínios, bazar e lanches. Trabalham com expediente prolongado e com
preços mais elevados que os demais formatos (CLEMENTE, 2003;
CERIBELI, 2011).
Supermercados compactos: estabelecimentos com área de 300 a 700 m2,
possuindo de dois a seis check-outs. Possuem linha completa de produtos,
porém com pouca variedade, comercializando produtos de mercearia,
24
hortifruti, carnes, frios, laticínios e bazar (CLEMENTE, 2003; CERIBELI,
2011).
Supermercados convencionais: estabelecimentos de porte médio, com área de
700 m2 a 2,5 mil m2 e boa variedade de produtos, possuindo de sete a 29
check-outs. Chegam a comercializar 9 mil itens e possuem seção de peixaria
(CLEMENTE, 2003; CERIBELI, 2011).
Superlojas: estabelecimentos com linha completa de produtos alimentícios e
venda de demais produtos não alimentícios, possuindo mais de 29 check-outs
e com área de cerca de 4 mil m2. Possuem um sortimento de cerca de 14 mil
itens entre mercearia, hortifruti, carnes, aves, frios, laticínios, peixaria,
padaria, bazar, têxtil e eletrônicos (CLEMENTE, 2003; CERIBELI, 2011).
Hipermercados: estabelecimentos com cerca de 10 mil m2, com grande
variedade de produtos alimentícios e não alimentícios, geralmente localizados
em grandes cidades. Possuem as mesmas seções que uma superloja, mas
chegam a comercializar 45 mil itens (CLEMENTE, 2003; CERIBELLI,
2011).
Clubes atacadistas: grandes lojas que realizam tanto a venda no varejo para o
consumidor final, quanto a venda no atacado para comerciantes e operadores
de restaurantes e outros estabelecimentos alimentícios (CLEMENTE, 2003;
CERIBELI, 2011).
Percebe-se que, aos poucos, os supermercados de bairro vêm ganhando
importância e crescendo em número de metros quadrados três vezes mais do que as
grandes lojas, contrapondo a previsão de analistas de que pequenas lojas de
vizinhança não resistiriam à concorrência dos hipermercados (GUEDES, 2008).
Os consumidores estão, cada vez mais, optando por compras menores com
maior frequência e agilidade, estimulando a venda em supermercados em detrimento
dos hipermercados (SUPERHIPER, 2011; VALOR ECONÔMICO, 2011). Os
supermercados apresentam, como uma de suas principais características, a
25
assiduidade do consumidor devido à sua proximidade, bom atendimento, rapidez e
diversidade de produtos oferecidos (GUEDES, 2008).
Atualmente, há uma tendência de redução da área de vendas no varejo de
alimentos, os hipermercados estão passando de 10 mil m2 para 6 mil m2, sendo
considerada a área ideal para um supermercado entre 800 m2 e 1,6 mil m2. Na
Europa, há o crescimento de lojas com superfícies que variam de 50 m2 a 270 m2 e
que são conhecidas com Urban Stores, lojas de conveniência, mercearias em
autosserviço, supermercados de conveniência ou lojas de proximidade
(SUPERHIPER, 2011).
No Brasil, essas lojas de conveniência são conhecidas como hard-discount e
possuem um sortimento limitado, área com cerca de 400 m2, preços de 10,0% a
15,0% mais baratos, mão de obra reduzida e pouquíssimo serviço, atraindo os
consumidores. Pode se verificar que, o segmento do pequeno varejo tem se
estruturado e qualificado, e, vem se destacando em crescimento em relação aos
demais segmentos (VAROTTO, 2006).
Segundo dados do ranking ABRAS-Nielsen (Associação Brasileira de
Supermercados) 2011 (ano-base 2010), no ano de 2010 houve um aumento de 3,6%
no número de lojas de supermercados, totalizando mais de 81 mil estabelecimentos
distribuídos por todo o território nacional e representando, em termos de
faturamento, 6,0% da riqueza nacional (SUPERHIPER, 2011).
Somente na RMSP existem 1373 redes de supermercados com um total de
2126 lojas que estão aptas para a comercialização de pescado resfriado ou congelado.
Estima-se que houve um aumento do consumo de pescado nessa região de 6,5 mil
toneladas em 1998 para 86 mil em 2010, sendo que dessas, cerca de 41,3 mil
toneladas, foram adquiridas em supermercados (NEIVA e col., 2010).
26
1.3 A CARNE DE PEIXE
Carne de peixe é o nome dado à musculatura corporal do peixe
correspondente a toda sua extensão, da cabeça à cauda. A proporção de músculo
comestível, em relação ao peso corpóreo total, varia entre 40,0% a 65,0%,
dependendo da espécie, idade e estado fisiológico do peixe (REHBEIN e
OEHLENSCHLAGER, 2009).
Com relação à composição nutricional, a carne de peixe é semelhante a dos
demais animais de sangue quente, exceto nos níveis de selênio e iodo que estão
presentes em maior quantidade; e, menor proporção de tecido conjuntivo. A proteína
da carne de peixe é rica em aminoácidos essenciais de alto valor biológico que são
altamente digestíveis. A quantidade de proteína é geralmente constante,
diferentemente da gordura que oscila em quantidade e composição de ácidos graxos,
conforme a maturidade e o estado nutricional dos peixes (REHBEIN e
OEHLENSCHLAGER, 2009).
O conteúdo de vitaminas da carne de peixes varia conforme a espécie, de
acordo com a idade, tamanho, sexo, dieta, estado de saúde e localização geográfica
de captura ou criação. O fígado do peixe é rico em vitaminas lipossolúveis A, D, E e
K, estando estas presentes em maior quantidade nos músculos vermelhos do que nos
brancos. Dentre as vitaminas hidrossolúveis, a maioria dos peixes apresenta uma
quantidade muito pequena de vitamina C e vitamina B1; e, moderada de vitamina B2.
De forma geral, quanto mais gordura houver no peixe maior será a quantidade de
vitaminas, sendo a carne de peixe uma rica fonte de vitaminas D e B12 (REHBEIN e
OEHLENSCHLAGER, 2009).
Vale lembrar que, a vitamina B1 só é aproveitada no consumo de peixes
muito frescos, uma vez que a enzima tiaminase, presente em sua musculatura, inicia
a transformação dessa vitamina em pirimidina e tiazol, logo após o abate. Os peixes
27
possuem, ainda, grande quantidade de fósforo e iodo (peixes de água salgada) e
pouca quantidade de cálcio e ferro (GERMANO e GERMANO, 2013).
A carne de peixe é de fácil digestibilidade, por possuir uma quantidade
mínima de tecido conjuntivo; tem alto nível proteico; e, baixo teor de gordura.
Apesar dessas qualidades, o peixe é um produto altamente suscetível à deterioração
microbiana devido à elevada atividade de água, alto teor de gorduras oxidáveis e pH
próximo da neutralidade (SILVA, 2007).
Os benefícios da ingestão da carne de peixe, rica em ácidos graxos poli-
insaturados, são a redução do risco de doença coronariana, da hipertensão arterial, de
doenças inflamatórias, da asma e de desordens do sistema imunológico
(SALDANHA e BRAGAGNOLO, 2008).
1.4 A POLACA DO ALASCA
Segundo determinação do Ofício n° 455/2011 do MPA, a partir de janeiro de
2012, a Theragra chalcogramma passou a ser denominada comercialmente, no
Brasil, como Polaca do Alasca (MPA, 2011). Recentemente, o nome científico da
Polaca do Alasca foi alterado de Theragra chalcogramma para Gadus
chalcogrammus. Essa adaptação se deu após intenso estudo genético que indicou que
a Polaca do Alasca pertence à linhagem do bacalhau, sendo sua genética intimamente
relacionada à genética do Gadus morhua. Esta mudança foi reconhecida pela edição,
do ano de 2013, do American Fisheries Commom And Scientific Names of Fishes, o
padrão seguido pelo National Marine Fisheries Services Scientific Publication Office
(NOAA, 2014).
A Polaca do Alasca tem um crescimento rápido, estando sexualmente madura
em 3 a 4 anos. Possui uma alta fecundidade ou capacidade reprodutiva, sendo a
28
fêmea capaz de produzir mais de 2 milhões de ovos no período de algumas semanas.
A desova ocorre no início da primavera, entre fevereiro e abril. Esse peixe pode
atingir até 90 cm e viver de 15 a 17 anos, porém a idade de sobrevivência mais típica
é de 5 a 6 anos (NOAA, 2014).
A Polaca do Alasca é encontrada tanto em águas temperadas quanto em águas
mais frias do Pacífico Norte. Sua área de captura encontra-se ilustrada na figura 1. É
a espécie mais abundantemente encontrada no Mar de Bering, que é uma extensão
marítima no extremo norte do Oceano Pacífico, que possui mais de 2 milhões de km2
de área. É limitado ao norte, pelo Alasca e Estreito de Bering; a noroeste, pela
Sibéria; e, ao sul, pela Península do Alasca e Ilhas Aleutas (ADFG, 2014).
Figura 1 – Área de captura da Polaca do Alasca.
Extraído de: ADFG, 2014.
Dados da Marine Conservation Society (MCS) mostraram que nessa região a
pesca da Polaca do Alasca chega a atingir 3 milhões de toneladas ao ano, sendo os
Estados Unidos da América, a Rússia, o Japão e a Coreia os maiores fornecedores
29
deste pescado para o resto do mundo. No período de 1965 a 2012, a média da pesca
anual de Polaca do Alasca, no leste do Mar de Bering, foi de cerca de 1,1 milhão de
toneladas (MCS, 2012; BULATOV, 2014).
Com relação à sua sazonalidade, as melhores épocas para a pesca da Polaca
estão entre janeiro e abril; julho; setembro e dezembro. É um peixe semidemersal,
sendo encontrado tanto próximo à superfície como em profundidades que variam de
500 a 900 metros. Em inglês é conhecida como walleye pollock devido aos seus
grandes olhos (NOAA, 2014; ADFG, 2014).
Há 40 anos, a Polaca do Alasca representa um importante papel na indústria
pesqueira. A história da sua pesca, em larga escala, data de 1960, sendo o primeiro
local explorado, o leste do Mar de Bering. A maior quantidade de Polaca do Alasca
capturada foi registrada em 1980 com 7 milhões de toneladas, tornando-a uma das
espécies mais pescadas do mundo. Entre 2000 e 2009, uma queda nesse volume de
captura da Polaca do Alasca foi observado, atingindo em cerca de 2,8 toneladas.
Apesar disso, a espécie permanece como a segunda mais representativa na indústria
pesqueira mundial (BULATOV, 2014).
No Brasil, a importação de pescado, dentre eles a Polaca do Alasca, vem
crescendo ano a ano. Os últimos dados do CONEPE, de julho de 2014, mostraram
que, no ano de 2013, o país que mais exportou pescado para o Brasil foi a China com
93,4 mil toneladas, seguida pelo Chile com 81,8 mil toneladas e pelo Vietnã com
54,7 mil toneladas. A China, apesar de não ter barcos de captura, recebe o pescado de
vários países, pois proporciona, em seu território, a produção em larga escala com
baixo custo de mão de obra, tornando-se um grande polo processador de pescado
conhecido mundialmente.
A figura 2 mostra a distância entre o Mar de Bering, local de intensa captura
de Polaca do Alasca, e a China, local de seu processamento.
30
Figura 2 – Distância, em linha reta, entre o Mar de Bering e a China.
Adaptado de: Adaptado de: Google, 2014.
1.5 A INDUSTRIALIZAÇÃO DE PESCADO
Segundo o artigo 438 do Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de
Produtos de Origem Animal (RIISPOA), de 1952, do MAPA (Ministério da
Agricultura Pecuária e Abastecimento) a denominação “Pescado” se refere aos
peixes, crustáceos, moluscos, anfíbios, quelônios e mamíferos de água doce ou
salgada, usados na alimentação humana (BRASIL, 1952).
O pescado pode ser comercializado fresco, resfriado ou congelado. Segundo
os artigos 439 e 440 do RIISPOA, o pescado fresco é aquele consumido sem ter
sofrido qualquer processo de conservação, a não ser a ação do gelo. O pescado
resfriado é aquele devidamente acondicionado em gelo e mantido em temperatura
entre − 0,5°C a − 2,0°C. O pescado congelado é aquele tratado por processos
5.000 km
31
adequados de congelamento, em temperatura não superior a − 25,0°C e que é
mantido em câmara frigorífica a uma temperatura de − 15,0°C (BRASIL, 1952).
1.5.1 Fluxograma de Produção de Filé de Peixe Congelado
Os peixes chegam refrigerados ou congelados à indústria. Durante a recepção
são feitas análises químicas e sensoriais, como também a verificação da temperatura
para garantir o recebimento de uma matéria-prima adequada ao processo. Os peixes
são, então, lavados.
Posteriormente, são selecionados por tamanho, classificados por espécie e
armazenados em câmaras com temperaturas de − 18,0ºC. A evisceração deve ser
feita segundo as características de cada espécie. Em geral, um dos métodos utilizados
é a incisão em toda superfície abdominal, tendo-se cuidado para não cortar o trato
intestinal, o que obrigaria a uma lavagem mais cuidadosa. Ao preparar qualquer
espécie, também, é aconselhável eliminar as brânquias. Depois de eviscerados,
extraídas as brânquias e escamas (se isso for necessário), procedem-se aos cortes,
que são variados e dependem do produto que se queira obter e do tamanho do peixe.
Os peixes são novamente lavados com água clorada (5 ppm) para eliminar sangue,
restos de vísceras e escamas (SOUZA, 2002).
A filetagem deverá ser realizada em ambiente, preferencialmente, refrigerado
e climatizado, sendo essa técnica utilizada em peixes que não apresentam espinhos
em forma de “Y” na musculatura, o que dificultaria o processo (BOMBARDELLI e
col., 2005).
Após realizar a filetagem, faz-se a inspeção sanitária. A fábrica deverá estar
equipada com mesas apropriadas para detecção de espinhas e parasitas (candling
table). Após a inspeção, os peixes sofrem ação de baixas temperaturas no
congelamento, no glazeamento e na estocagem (SEBRAE, 2002).
32
1.5.2 O Processo de Congelamento
Um dos maiores grupos comercializados sob congelamento é o dos filés de
peixe e frutos do mar. O congelamento consiste em reduzir a temperatura de um
produto abaixo do seu ponto de congelamento, proporcionando uma mudança de
estado na água do alimento, transformando-a em cristais de gelo (FELLOWS, 2006).
Durante o congelamento, o calor de um alimento é removido, para diminuir
sua temperatura, até o ponto de congelamento. Esse calor, conhecido como carga
calorífica do alimento, é determinante para a escolha correta de um equipamento de
refrigeração e congelamento. O ponto de congelamento dos alimentos é mais baixo
do que o da água pura, variando entre 0,0ºC e − 4,0ºC. No caso do pescado, por
exemplo, o conteúdo de água varia de 65,0% a 81,0% e seu ponto de congelamento é
− 0,5ºC (FELLOWS, 2006; GAVA e col., 2009).
Os alimentos contêm uma série de substâncias orgânicas e inorgânicas que
estão ligadas intimamente à água, essa chamada de água ligada, que não sofre
congelamento mesmo em temperaturas baixíssimas. No processo de congelamento
industrial, uma proporção de água permanece líquida; essa quantidade varia
conforme o tipo e a composição do alimento, e, da temperatura de estocagem. Em
pescado estocado a − 20,0 ºC, a porcentagem de água congelada é de 91,0%
(FELLOWS, 2006; GAVA e col., 2009).
A formação do gelo ocorre através do processo de cristalização, que é
composto por duas fases: a nucleação e a formação de cristais. A nucleação nos
alimentos ocorre de forma heterogênea, com a associação de moléculas, que formam
uma pequena partícula estável e ordenada, que serve de base para a formação dos
cristais de gelo. Essa formação ocorre a uma temperatura inferior ao ponto em que se
inicia o congelamento, fenômeno conhecido como super-resfriamento (GAVA e col.,
2009).
33
Quanto mais rapidamente a temperatura é reduzida maior é a velocidade de
formação de núcleos. No congelamento rápido, a nucleação ocorre de maneira
intensa levando à formação de vários núcleos e de cristais pequenos e arredondados,
dentro e fora das células, simultaneamente, provocando pouco deslocamento de água
e causando uma alteração estrutural mínima nos tecidos (GAVA e col., 2009).
O pescado pode ser congelado sob as mais variadas formas: inteiro,
eviscerado, filetado e embalado. O congelamento deve ser feito em câmaras à
temperatura de − 35,0°C a − 40,0°C; e, a estocagem posterior, entre − 15,0°C e −
18,0°C. Pode-se, ainda, ser feito o glazeamento que consiste na formação de uma
camada de gelo na superfície do produto congelado, por imersão ou aspersão com
água fria, com a finalidade de manter o produto hidratado, durante a estocagem e
diminuir o contato entre o oxigênio do ar e a carne (GONÇALVES, 2004).
Com o emprego do glazeamento, há um retardo na oxidação do produto,
durante o processo de congelamento e armazenamento, impedindo o ressecamento e
a desidratação de sua superfície, conhecido como freezer burn, e evitando a perda de
qualidade do produto (VANHAECKE e col., 2010).
O glazeamento é tipicamente aplicado na medida de 4,0% a 10,0%,
dependendo do produto, apesar de níveis de 2,0% a 20,0% também já terem sido
relatados. Em casos extremos, já foram observados de 25,0% a 40,0% de
glazeamento, em alguns pescados (VANHAECKE e col., 2010; GONÇALVES,
2011).
Segundo o Ofício Circular n° 26, de 19 de agosto de 2010, do MAPA, a
quantidade máxima de glazeamento permitida no pescado congelado é de 20,0%.
Adicionalmente, a Nota Técnica n° 19/2009, do Departamento de Proteção e Defesa
do Consumidor do Ministério da Justiça, determina que para a obtenção do peso
líquido a ser declarado na rotulagem, deve ser determinada previamente a quantidade
(percentual) de água que formou a película protetora sobre a superfície do pescado,
34
descontando-se o peso do produto congelado glazeado (MAPA, 2010; BRASIL,
2009).
A operação de congelamento não deve propiciar alteração no valor nutritivo
do pescado; para tanto, a lavagem, o corte e o branqueamento que o precedem devem
seguir rigorosamente os critérios e preceitos das boas práticas de fabricação (BPF).
No armazenamento sob congelamento, por sua vez, a proteção fornecida pela
embalagem previne a destruição de muitos nutrientes e a oxidação de gorduras que
podem produzir odor de ranço (GAVA e col., 2009; FELLOWS, 2006).
Quanto menor for a temperatura empregada, maior será a retenção dos
nutrientes e menor será a taxa de alterações microbiológicas e/ou bioquímicas.
Porém, se ocorrerem constantes processos de congelamento e descongelamento dos
produtos isso poderá ocasionar a desnaturação de algumas proteínas. As variações de
temperatura, durante o armazenamento, podem afetar a qualidade do produto pela
mudança física nos cristais de gelo, recristalização e sublimação, ocasionando,
também, alterações físicas (GAVA e col., 2009; FELLOWS, 2006).
A figura 3 mostra esquematicamente o fluxograma de produção do filé de
pescado congelado.
35
Figura 3 - Fluxograma de processamento de filé de peixe congelado.
Extraído de: GONÇALVES, 2011.
Inspeção e comercialização
Captura
Acondicionamento em gelo
Desembarque e inspeção sanitária
Pesagem
Escamagem
Lavagem
Filetagem
Lavagem do filé
Toilete
Lavagem
Congelamento a – 35,0°C
Glazeamento
Classificação e embalagem
Estocagem – 15,0°C
36
1.6 MANUTENÇÃO DE TEMPERATURA DO PRODUTO CONGELADO
A manutenção do binômio tempo x temperatura, durante todos os estágios da
produção e na cadeia de distribuição de alimentos, é enfatizada como fator
determinante para as BPFs na indústria e para a qualidade sensorial e sanitária do
pescado. A confiança nos controles e procedimentos, garantindo a segurança dos
produtos alimentícios refrigerados e congelados, deve ser prioritária para todos os
envolvidos na fabricação, comércio, logística e distribuição dos alimentos
(OLAFSDOTTIR e col., 2006; GALARZ e col., 2010).
Estudos sobre o monitoramento da temperatura dos alimentos durante a
cadeia de frio mostraram abuso da temperatura em pelo menos 2ºC acima do
recomendado em alguns elos, tais como: exposição em equipamentos comerciais de
refrigeração (7,0%), transporte do alimento pelo consumidor após a compra (60,0%)
e refrigeração doméstica (40,0%) (LAGUERRE e col., 2012; 2014).
As empresas alimentícias brasileiras estão implementando novos e modernos
sistemas de gerenciamento da cadeia frio que, por si só, não são suficientes para
garantir a qualidade dos alimentos. A ponta da cadeia de distribuição, representada
pelas redes de varejo, deve assegurar que a temperatura dos equipamentos e dos
produtos esteja adequada até a sua venda (INMETRO, 2005).
Segundo GEIGES (1996), a temperatura de armazenamento de − 18,0°C,
preconizada para a maioria dos produtos congelados, dificilmente, é mantida em toda
a cadeia de produção e distribuição. No comércio varejista, sensíveis alterações na
temperatura do produto podem ocorrer durante o recebimento, o abastecimento, o
armazenamento e a exposição dos produtos à venda, comprometendo sua qualidade.
Nos veículos que transportam os alimentos até os supermercados são
utilizados refrigeradores com ventilação forçada que são projetados apenas para
manter a temperatura do alimento e não para resfriá-lo. Sendo assim, é essencial que
37
o alimento seja carregado nos veículos de transporte na temperatura ideal para sua
conservação. Outro sistema utilizado em caminhões de transporte é o de placas
eutéticas, conhecidas como termogel, onde soluções salinas são congeladas, sob
temperaturas de − 3,0°C a − 21,0°C, para absorção de calor do compartimento
(FELLOWS, 2006).
Flutuações na temperatura podem ocorrer devido a eventos imprevistos, como
um atraso no transporte, por exemplo. Em tais situações, a qualidade do pescado
poderá ser comprometida pela degradação ocasionada por reações físico-químicas e
pelo crescimento microbiológico deflagrado pelo aumento e variação da temperatura
(OLAFSDOTTIR e col., 2006).
Existem dificuldades substanciais para a manutenção da temperatura dos
alimentos no interior de um veículo refrigerado devido à distribuição do ar frio.
Estudos mostraram variações de até 5,0ºC nos alimentos transportados devido à
distribuição desigual do ar refrigerado, à frequência de aberturas das portas do
veículo e à vedação insuficiente do veículo, permitindo a entrada do calor
(LAGUERRE e col., 2014).
GAVA e col. (2009), entretanto, lembraram que, apesar dessas dificuldades, a
correta utilização do frio inibe as reações enzimáticas, inclusive os processos
metabólicos comuns da matéria-prima e a atividade microbiana. No quadro 1 são
citados exemplos das temperaturas necessárias para inativação de algumas dessas
reações.
Quadro 1 – Temperatura de inativação de reações químicas e microbiológicas em
alimentos.
Temperatura em °C Reações
0,0 Crescimento e atividade de bactérias causadoras de
intoxicações alimentares
− 8,0 Multiplicação de bactérias
− 10,0 Multiplicação de leveduras
− 12,0 Multiplicação de bolores
− 18,0 Reações químicas
Extraído de: Adaptado de GAVA e col., 2009.
38
O congelamento é um excelente método de preservação das características
sensoriais do pescado armazenado durante longos períodos (CARECHE e col.,
1999). O grande desafio dos produtores é adquirir um produto de qualidade do
fornecedor e, que essa seja mantida em toda a cadeia de distribuição, até o
consumidor final. Para tanto, é necessário que o pescado seja armazenado em
equipamentos que permitam a sua permanência em temperaturas baixas o suficiente
para prevenir o crescimento de micro-organismos e a sua deterioração.
1.7 PARÂMETROS DE QUALIDADE DO PESCADO
A contaminação do pescado pode ocorrer de inúmeras maneiras desde seu
habitat natural. Fatores como qualidade da água, sazonalidade, temperatura, presença
de poluentes e condições de captura, armazenamento, manipulação e conservação
influenciam diretamente na sua microbiota (GONÇALVES, 2011).
O pH próximo da neutralidade, a elevada atividade de água nos tecidos, o alto
teor de nutrientes, nas guelras e no trato intestinal, dos peixes podem ser utilizados
por micro-organismos para sua sobrevivência e multiplicação. Essa atividade
metabólica da microbiota, associada à rápida ação de enzimas e ao elevado teor de
lipídeos insaturados, tornam a carne de pescado altamente suscetível à autólise, à
atividade bacteriana e à oxidação (SOARES e col., 1998).
1.7.1 Alterações sensoriais
A absorção de substâncias presentes na água, no ambiente aquático e nos
ingredientes de rações de má qualidade, pode provocar alteração no sabor do
pescado. Esse processo conhecido como “off-flavor”, geralmente, está relacionado
39
com a presença de duas substâncias: a geosmina e o metil-isoborneol que são
responsáveis pelo gosto de terra e mofo na carne de peixes (BOMBARDELLI e col.,
2005).
Há substâncias que alteram a coloração da carne do pescado, a qual tem forte
apelo comercial na decisão de compra do consumidor. A coloração pode apresentar
variações de acordo com a absorção de carotenóides que são ingeridos a partir de
micro-algas e micro-crustáceos, ou por meio de suplementação alimentar de
pigmentos carotenóides sintéticos ou naturais (BOMBARDELLI e col., 2005).
A deposição de gordura na carne e nas vísceras pode variar segundo a relação
energia-proteína, obtida através do balanceamento da ração e de outras estratégias de
manejo alimentar, utilizadas nos sistemas de criação. A oxidação de gorduras pode
ocorrer durante o armazenamento e provocar alterações no aroma, no sabor e na
coloração do pescado (BOMBARDELLI e col., 2005; SENAC, 2001).
1.7.2 Alterações físico-químicas
A formação de compostos nitrogenados em pescado refrigerado ocorre pela
deterioração desencadeada por ações enzimáticas e bacterianas. Os compostos de
maior ocorrência são: dimetilamina (DMA), trimetilamina (TMA), amônia (NH3),
putrescina, cadaverina e espermidina. Outros componentes, ainda, podem ser gerados
a partir deste processo, tais como: o gás sulfídrico (H2S), metil e etil mercaptanas,
diacetil, acetaldeído e indol (GONÇALVES, 2011).
O óxido de trimetilamina (TMAO) é um componente de osmoregulação em
muitos peixes marinhos que é biosintetizado pelos animais ou é formado pela
ingestão excessiva de fitoplâncton. O TMAO pode ser reduzido em TMA que é uma
40
amina volátil que apresenta odor forte e desagradável que é característico de peixes
em processo de deterioração (HUSS, 1995; ANDRADE, 2006).
A TMA é formada pela degradação não enzimática ocasionada pela ação de
enzimas bacterianas. As bactérias mais frequentemente envolvidas na sua formação
são Alteromonas, Photobacterium, Vibrio, Shewanella putrefaciens, Aeromonas e
enterobactérias (HUSS, 1995).
Como a concentração de TMA está diretamente relacionada com o estágio de
deterioração microbiana do pescado, esta é considerada um indicador da qualidade
desta matéria-prima. Para controle e monitoramento, o MAPA estabeleceu o limite
aceitável de TMA na porção muscular do pescado como 4 mg de nitrogênio de
TMA/100g de amostra (MAPA, 1997).
Além disso, a partir da degradação do TMAO por enzimas autolíticas pode
ocorrer a formação de formaldeído (FA) e DMA. O FA pode causar desnaturação e
agregação de proteínas miofibrilares, resultando em mudanças irreversíveis de
textura, tornando a carne do pescado mais firme e ressecada. Como a formação da
DMA ocorre durante o armazenamento congelado, esta pode ser usada como um
índice de deterioração do pescado congelado (BARROSO e col., 1998a; CARECHE
e col., 2002; 1999).
A produção de NH3 ocorre pela desaminação oxidativa da creatina e da
decomposição de aminoácidos decorrente da desaminação, da óxido-redução entre
pares de aminoácidos e da degradação anaeróbica. Todas essas reações se iniciam
assim que o pescado é capturado. Altos níveis de NH3 são produzidos por bactérias
urease positivas, tais como: Proteus, Morganella, Moraxella e Flavobacterium
(GONÇALVES, 2011; ANDRADE, 2006).
O teor de nitrogênio de bases voláteis totais (N-BVT) é limitado pela
legislação brasileira a 30 mg de nitrogênio por 100 g de pescado, excluindo-se os
eslamobrônquicos (MAPA, 1997).
41
A histamina é uma amina biogênica formada a partir da ação enzimática da
histidina descarboxilase, produzida por alguns micro-organismos, que causa a
degradação do aminoácido histidina levando a formação da histamina (GOZZI e col.,
2011). A não volatilidade da histamina confere ao pescado uma toxicidade, mesmo
antes deste ser considerado deteriorado ou sensorialmente inaceitável, causando
quadros graves de intoxicação alimentar (SOARES e col., 1998).
Segundo dados levantados por LEITÃO e col. (1997), a histamina pode ser
produzida na presença de algumas espécies de enterobactérias como Morganella
morganii, Klebsiella, Hqfnia, Escherichia e por espécies dos gêneros Vibrio,
Clostridium, Lactobacillus e Photobacterium. Os autores, ainda, ressaltaram que a
ocorrência de histamina é restrita ao pescado de origem marinha, mais comumente,
naqueles provenientes de águas frias e/ou temperadas, e, que valores 100mg/100g de
histamina podem causar quadros graves de intoxicação.
A concentração de histamina deve ser determinada pelo impacto que
representa para a inocuidade do produto e para a saúde humana. No Brasil, o
regulamento técnico de identidade e qualidade do peixe fresco estabeleceu o limite
de 100 ppm (10mg/100g) de histamina na musculatura de peixes das famílias
Scombridae, Scomberesocidae, Clupeidae, Coriphaenidae e Pomatomidae (MAPA,
1997).
A comissão de regulamentação da Comunidade Europeia estabeleceu, através
da CE (Conselho Europeu) n° 2073/2005, como nível máximo de 100 ppm de
histamina para espécies ricas em histidina. O Food and Drug Administration (FDA),
por sua vez, estabeleceu como nível máximo 50 ppm (GOZZI e col., 2011).
Com relação ao pH, a legislação brasileira considera impróprio para o
consumo o pescado que apresentar pH da carne externa superior ou igual a 6,8 e,
para a carne interna, pH igual ou superior a 6,5. O pescado é considerado um
alimento de baixa acidez, sendo que o aumento do pH ocorre geralmente devido à
atividade microbiana e ao aumento de compostos alcalinos, à decomposição de
42
aminoácidos e da ureia, e, à desaminação oxidativa da cretina, indicando a
deterioração do pescado (GONÇALVES, 2011; ANDRADE, 2006).
Com a decomposição muscular da carne do pescado ocorre também a
liberação de enxofre que, em meio ácido, transforma-se em H2S. Por constituir um
indicador do frescor da carne de pescado, o RIISPOA determina que a reação de gás
sulfídrico seja negativa para peixes frescos (BRASIL, 1952).
1.7.3 Alterações Microbiológicas
O pescado é um alimento altamente perecível por suas características
fisiológicas e composição química. Deteriora-se por autólise, pela oxidação e pela
atividade microbiana, demandando cuidados com a sua manipulação desde a captura
até a chegada à mesa do consumidor (SOARES e col., 2011; 2012). Se os controles
não forem realizados adequadamente, o pescado pode ser comercializado e
consumido com uma qualidade microbiológica muito inferior à desejada, tornando-se
um importante veículo na transmissão de DTAs (SOARES e col., 2011; 2012;
GATTI JÚNIOR e col., 2014).
Patógenos como Vibrio spp, Salmonella spp, Staphylococcus aureus, Bacillus
cereus, Escherichia coli, Clostridium perfringens, Listeria monocytogenes,
Aeromonas spp. e Shigella spp. podem ser associados à carne de pescado. Esses
micro-organismos podem contaminar o produto durante a cadeia de produção e
manterem-se viáveis até o consumo do produto final (GATTI JÚNIOR e col., 2014).
Dados do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) indicaram que
5,2% dos casos de DTAs, entre os anos de 1998 e 2004, foram decorrentes do
consumo da carne de peixe contaminada, conforme demonstrado na tabela 1
(NACMCF, 2008).
43
Tabela 1 – Surtos de DTAs associados ao consumo de pescado entre 1998 e 2004.
Número de Surtos (total do número de casos)
Agente etiológico Crustáceos Peixes Moluscos Frutos do
mar
Bacillus cereus 1 (118) 1 (3)
Campylobacter jejuni 2 (140) 1 (2)
Clostridium botulinum 3 (8)
Clostridium perfringens 1 (204)
Escherichia coli 1 (12) 1 (41)
Plesiomonas shigelloides 1 (5)
Salmonella spp 10 (214) 14 (852) 2 (13)
Shigella sonneli 1 (2) 1 (47) 2 (6)
Staphylococcus aureus 1 (3)
Vibrio cholerae 1(6) 3 (8)
Vibrio parahaemolyticus 9 (142) 13 (507) 2 (16)
Desconhecido 119 (921) 207 (1287) 108 (661) 23 (123)
Extraído de: Adaptado de NACMCF, 2008
No Brasil, dados da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) mostraram que,
no período de 2000 a 2013, 39,8% dos surtos de DTAs ocorreram na região sudeste
sendo o pescado considerado o veículo em 85 casos (MS/SVS, 2013).
O pescado, por ser pecilotérmico, permite o crescimento de bactérias em
variadas temperaturas. As áreas com maior carga microbiana do pescado são:
intestino, guelras e superfície corporal. Nesses locais, pode-se encontrar
Pseudomonas spp, Moraxella spp, Acinetobacter spp, Shewanella spp,
Flavobacterium spp, Vibrio spp, Bacillus spp, Sarcina spp, Serratia spp, Clostridium
spp, Alcaligenes spp. Nos peixes de água doce, pode-se encontrar, também,
Corinebacterium spp, Lactobacillus spp, Streptococcus spp e Aeromonas spp
(SENAC, 2001; GONÇALVES, 2011).
GERMANO e GERMANO (2013) citam como contaminantes bacterianos
Klebsiela spp, Citrobacter spp, Enterobacter spp, enterococos e coliformes fecais.
Esses micro-organismos podem ser encontrados em peixes frescos, congelados,
44
frutos do mar e produtos industrializados, muitas vezes, em decorrência de água de
má qualidade utilizada para fabricação de gelo e para a conservação do pescado, após
o processo de captura.
Segundo SANTOS (2010), dentre as principais bactérias relacionadas ao
consumo de pescado podemos destacar aquelas associadas ao seu ambiente aquático
(Vibrio parahaemolyticus, V. cholerae, V. vulnificus, Listeria spp, Clostridium
botulinum, entre outros) e aquelas advindas de contaminação pela manipulação
(Salmonella spp, Shigella, Escherichia coli e Staphylococcus aureus). Porém, o autor
ressaltou que, através da sua revisão bibliográfica, com dados de 1983 a 2010, raros
casos de surtos de DTAs, ocasionados por Vibrio ou por intoxicação pelas toxinas
botulínica e estafilocócica, tiveram a carne de pescado como veículo confirmado.
Em pescado congelado, as bactérias psicrotróficas causam deterioração do
produto por meio de processos proteolíticos. Em um estudo realizado por SANTOS e
col. (2008), com carne de pescado congelado, foram encontradas contagens dessas
bactérias em valores que variaram de 104 a 106 UFC (unidades formadoras de
colônia) por grama de produto, comprovando a importância desses micro-organismos
em produtos congelados.
O pescado congelado apresenta uma contagem microbiana menos expressiva
do que o pescado fresco. Entretanto, Pseudomonas e Enterococcus, novamente
bactérias psicrotróficas, com crescimento ótimo entre 20,0°C e 30,0°C, e com
capacidade de crescer em temperatura de refrigeração, também podem causar
deterioração do produto (GONÇALVES, 2011).
Durante o processo de produção pode ocorrer a contaminação da matéria-
prima por agentes bacterianos, mais comumente por Escherichia coli, enterococos e
estafilococos. Esta pode ser proveniente de inadequações nas operações industriais,
tais como: contaminação cruzada de facas, mãos de manipuladores e equipamentos
insuficientemente higienizados; e, falhas no processo de lavagem do pescado com
solução clorada (GONÇALVES, 2011).
45
A RDC n° 12, de 02 de janeiro de 2001 da ANVISA – Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, que instituiu o regulamento técnico sobre parâmetros
microbiológicos para alimentos, estabelece os seguintes limites para pescado
congelado: ausência de Salmonella em 25 gramas e contagem de Staphylococcus
coagulase positiva entre 5 x 102 a 103 UFC/g. Não há limite estabelecido para
contagem de bactérias psicrotróficas (MS/ANVISA, 2001).
De uma forma geral, para que os benefícios da carne do pescado sejam
aproveitados, é necessário que fatores de qualidade em termos de saúde pública e
ausência de riscos à saúde de consumidor sejam garantidos. Torna-se essencial que
ferramentas de avaliação do frescor do pescado, como análises sensoriais, físico-
químicas e microbiológicas sejam empregadas durante todo o seu período de
comercialização (SOARES e GONÇALVES, 2012a).
1.8 JUSTIFICATIVA
O presente estudo levou em consideração a ascensão do segmento
supermercadista como um dos grandes fornecedores de alimentos à população,
inclusive de alimentos congelados. Ressalta-se que, a manutenção da qualidade dos
produtos perecíveis congelados, apresenta uma relação diretamente proporcional
entre velocidade de ocorrência de reações químicas, bioquímicas, sensoriais e
microbiológicas; e, variações de temperatura.
A pesquisa baseou-se na hipótese de que o possível aumento da temperatura
do pescado congelado, durante a sua exposição à venda em gôndolas de
supermercados, constitui um dos fatores que podem causar a multiplicação de micro-
organismos acima do permitido por lei, perda da qualidade físico-química e sensorial
do produto, tornando-se impróprio para o consumo.
46
Partiu-se do principio de que os produtos foram recebidos pelos
supermercados respeitando todos os critérios de tempo e temperatura regulamentados
pelas legislações sanitárias. Ressalta-se, entretanto, a possibilidade de fatores
intervenientes virem a causar alterações nos parâmetros analisados.
2 OBJETIVOS
Objetivo geral: Avaliar as condições higienicossanitárias de pescado congelado e
embalado exposto à venda em gôndolas de supermercados da Grande São Paulo, de
acordo com a legislação vigente.
Objetivos específicos:
1 Identificar as condições higienicossanitárias dos equipamentos e do pescado
congelado e embalado exposto à venda por meio de aplicação de checklist específico;
2 Pesquisar em laboratório, na carne do pescado com sinais de descongelamento, as
alterações físico-químicas (pH, N-BVT e TMA), microbiológicas (Staphylococcus
coagulase positiva e Salmonella spp) e sensoriais (colorimetria e textura);
3 Correlacionar os resultados obtidos com o possível risco à saúde advindo do
consumo de carne de pescado congelado com sinais de descongelamento.
47
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 METODOLOGIA DE PESQUISA
A pesquisa foi desenvolvida com base em duas abordagens: estudo de campo
e laboratorial. O método empregado foi o dedutivo que consiste na elaboração de
hipóteses com a posterior coleta de dados para teste dessas conjeturas. Instituiu-se
como variável independente a temperatura do pescado congelado exposto à venda; e,
variáveis dependentes, o crescimento microbiológico, as alterações físico-químicas e
as alterações sensoriais (VOLPATO, 2007).
Baseando-se na metodologia de BEHRENS e col. (2010), esse estudo utilizou
uma abordagem qualitativa para identificar os elementos-chave que poderiam
influenciar na qualidade higienicossanitária do pescado congelado. Por se tratar de
uma pesquisa exploratória, optou-se por não utilizar um modelo de avaliação
estatística dos dados e análise dos resultados, uma vez que a intenção não foi testar
uma perspectiva teórica particular, mas pesquisar sobre uma área pouco estudada no
Brasil.
A pesquisa não apresentou conflitos éticos, uma vez que, as informações e as
amostras foram coletadas por meio da técnica de observador oculto, sem que os
supermercados ou marcas comerciais dos filés de pescado congelados fossem
identificados.
48
3.2 DEFINIÇÃO DO UNIVERSO E DO OBJETO DE ESTUDO
Segundo a Lei Complementar n° 1.139, de 16 de junho de 2011, a Região
Metropolitana de São Paulo é composta pelos seguintes municípios: Arujá, Barueri,
Biritiba-Mirim, Caieiras, Cajamar, Carapicuíba, Cotia, Diadema, Embu, Embu-
Guaçu, Ferraz de Vasconcelos, Francisco Morato, Franco da Rocha, Guararema,
Guarulhos, Itapecerica da Serra, Itapevi, Itaquaquecetuba, Jandira, Juquitiba,
Mairiporã, Mauá, Mogi das Cruzes, Osasco, Pirapora do Bom Jesus, Poá, Ribeirão
Pires, Rio Grande da Serra, Salesópolis, Santa Isabel, Santana de Parnaíba, Santo
André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, São Lourenço da Serra, São
Paulo, Suzano, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista (SÃO PAULO, 2011a).
A região sudeste da Grande São Paulo perfaz em torno de 841 km2 e é
composta pelos municípios de Diadema, Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra,
Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul. A figura 4 destaca a
distribuição geográfica dos municípios da região sudeste da Grande São Paulo (SÃO
PAULO, 2011a).
Figura 4 – Municípios da região sudeste da Grande São Paulo.
Extraído de: Eletrosvip, 2012.
49
Segundo dados do último censo do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - realizado em 2010, somente a população da região sudeste da Grande
São Paulo atingiu cerca de 2,5 milhões de habitantes. Conforme a avaliação da taxa
de crescimento do produto interno bruto (PIB), cinco dos sete municípios desta
região estão classificados entre os 100 mais ricos municípios do Brasil (IBGE, 2011).
Para selecionar a amostra utilizou-se como critérios os índices
socioeconômicos publicados pelo IBGE (2011), baseando-se nos dados do PIB e nos
dados econômico-empregatícios, do Grande ABC. Esses dados apontaram os
municípios de Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires, Mauá e Diadema,
respectivamente, como os mais pobres dessa região. A péssima distribuição de renda,
o analfabetismo e o baixo grau de escolaridade, assim como as condições precárias
de habitação e ambiente, têm um importante papel nas condições de vida e saúde da
população dessas localidades, tornando-as mais vulneráveis a eventos adversos à sua
saúde (BUSS, 2000).
Segundo dados do Sistema de Informação em Vigilância Sanitária - SIVISA
(2012), o universo da pesquisa constituiu-se por 299 supermercados distribuídos
pelos sete municípios da região do Grande ABC. Nos quatro municípios
selecionados para a pesquisa, por sua vez, existem 97 supermercados cadastrados que
são distribuídos da seguinte forma: 8 em Rio Grande da Serra, 13 em Ribeirão Pires,
29 em Diadema e 47 em Mauá. O gráfico 1 mostra a proporção de locais visitados e
quantidade de amostras coletadas por município.
50
Gráfico 1 – Número (n°) de supermercados (sp) existentes nos municípios de Rio
Grande da Serra (RGS), Ribeirão Pires (Rib Pires), Mauá e Diadema X número de
supermercados visitados X quantidade de amostras de pescado congelado coletada.
8
13
47
29
8
13
47
20
0
5
13 12
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
RGS Rib Pires Mauá Diadema
n° sp existentes n° sp visitados n° de amostras
Foram visitados 88 (90,7%) supermercados nesses quatro municípios, no
período de 7 a 29 de setembro de 2013, sendo selecionados 30 (30,9%) para a coleta
de amostras. Os critérios para a ordem de coleta foram: o índice de pobreza dos
municípios, iniciando-se pelos supermercados do município mais pobre para o menos
pobre, e a presença de pescado congelado embalado com sinais de descongelamento
em exposição à venda. As coletas iniciaram-se por Rio Grande da Serra, seguiram
para Ribeirão Pires e Mauá, sendo 100% dos supermercados desses municípios
visitados; e, finalizaram-se em Diadema, onde 20 (68,9%) supermercados foram
visitados, de forma a completar as 30 amostras de filé de pescado congelado desta
pesquisa.
O objeto de estudo foi o filé de Polaca do Alasca congelado, uma espécie de
peixe originário da China, que apresentou um crescimento de praticamente 10 vezes
na sua importação nos últimos quatro anos. A desoneração de impostos existente
para a entrada de produtos provenientes desse país aumentou exponencialmente a
oferta dos filés de Polaca do Alasca congelados nas gôndolas dos supermercados a
51
preços muito acessíveis, estimulando seu consumo e tornando-se uma preocupação
para as autoridades de Saúde Pública (CONEPE, 2014).
Todos os locais que possuíam o filé de Polaca do Alasca congelado exposto à
venda, com sinais de descongelamento, foram analisados in loco mediante aplicação
de um checklist elaborado pela pesquisadora para a avaliação das condições
higienicossanitárias do produto e do equipamento, conforme documento em anexo.
3.3 FERRAMENTA PARA COLETA DE DADOS
O checklist é tipicamente composto por uma lista de itens ou critérios que são
dispostos de uma forma sistemática, permitindo que seu aplicador confira,
individualmente, a presença ou ausência, dos principais critérios que estão sendo
avaliados em uma determinada situação, proporcionando uma estrutura de avaliação
e diagnóstico (HALES e PRONOVOST, 2006).
Para a pesquisa foi utilizado um checklist composto por 32 itens distribuídos
em dois blocos: o primeiro, que permitiu a avaliação das condições do equipamento,
e o segundo, que avaliou as condições do produto. As variáveis de avaliação foram
elaboradas com embasamento nas seguintes legislações vigentes:
CVS n° 5, de 19 de abril de 2013, do Centro de Vigilância Sanitária da
Secretaria de Estado da Saúde que estabelece o regulamento técnico sobre
boas práticas para estabelecimentos comerciais de alimentos e para serviços
de alimentação, e o roteiro de inspeção (CVS/SES, 2013);
RDC n° 216, de 15 de setembro de 2004, da ANVISA que dispõe sobre o
regulamento técnico de boas práticas para serviços de alimentação
(MS/ANVISA, 2004);
52
RDC n° 275, de 21 de outubro de 2002, da ANVISA dispõe sobre o
regulamento técnico de procedimentos operacionais padronizados aplicados
aos estabelecimentos produtos/industrializadores de alimentos e a lista de
verificação das boas práticas de fabricação em estabelecimentos
produtores/industrializadores de alimentos (MS/ANVISA, 2002b).
Instrução Normativa (IN) n° 22, de 24 de novembro de 2005 do MAPA que
estabelece o regulamento técnico para rotulagem de produtos de origem
animal embalados (MAPA, 2005);
RDC n° 259, de 20 de setembro de 2002 da ANVISA, que estabelece o
regulamento técnico sobre rotulagem de alimentos embalados (MS/ANVISA,
2002a).
As variáveis foram julgadas segundo o critério dicotômico dos marcadores S
(atende à legislação) e N (não atende à legislação).
O checklist foi elaborado, tendo como referencial teórico para a construção do
bloco 1, os critérios contidos nos artigos 31, 33, 34 e 82 da CVS n° 5/2013, nos
artigos 4.1.15, 4.1.17, 4.7.3 e 4.10.3 da RDC n° 216/2004 e nos itens 2.1.3, 2.1.4 e
2.1.5 da RDC n° 275/2002 (CVS/SES, 2013; MS/ANVISA, 2004, MS/ANVISA,
2002b)
O bloco 1 permitiu a avaliação das principais condições dos equipamentos de
congelamento que poderiam interferir na qualidade do pescado congelado. Sendo
elas: tipo de equipamento (ilha aberta, ilha fechada horizontal, ilha fechada vertical);
estado de conservação (presença de pontos de ferrugem ou descascamento; condição
de tampas, borrachas de vedação e puxadores); capacidade de abastecimento
(respeito ao limite de carga); manutenção da temperatura (presença de termômetro,
espessura da camada de gelo, indícios de condensação); e, limpeza e organização
(presença de gelo no fundo do equipamento, limpeza de prateleiras e tampas,
armazenamento em condições que não propiciem a contaminação cruzada).
53
Para a elaboração do bloco 2 foram utilizados parâmetros da IN n° 22/2005 e
da RDC n° 259/2002 (MAPA, 2005; MS/ANVISA, 2002a). Neste bloco, pôde-se
avaliar as condições do produto, tais como: embalagem (integridade, presença de
cristais de gelo); rotulagem (descrição do produto, registro no órgão competente,
modo de conservação, data de fabricação, validade, entre outros); características
sensoriais (consistência e formato); e, temperatura do produto.
Foi realizado um pré-teste do instrumento em três supermercados (10,0% da
amostra), no período de 2 a 4 de setembro de 2013, para detectar possíveis
complementações das informações ou alterações de dados e para minimizar
quaisquer dificuldades na aplicação ou preenchimento do checklist. Estes três
supermercados foram novamente visitados após adequação do instrumento.
3.4 APLICAÇÃO DO CHECKLIST E COLETA DE AMOSTRAS
Uma vez realizadas as adequações no instrumento, aplicou-se o checklist in
loco nos supermercados, no momento da visita para avaliação das condições dos
equipamentos, da exposição do pescado congelado e da coleta da amostra. As visitas
ocorreram durante todos os finais de semana do mês de setembro de 2013, iniciando-
se no dia 7 e finalizando no dia 29 de setembro de 2013.
3.4.1 Análise do Checklist
O bloco 1 do checklist abordou questões relativas ao equipamento, sendo
possível observar, analisar e preencher todas as suas variáveis, no momento da
coleta.
54
A partir do preenchimento do checklist, os dados obtidos foram avaliados
individualmente, tabulados e confrontados com os padrões higienicossanitários
vigentes.
Os seguintes critérios relativos ao equipamento e à exposição dos pescados
foram observados:
1.1 - Ausência de pontos de ferrugem ou descascamento
1.2 - Tampas livres de rachaduras
1.3 - Trilhos das tampas limpos
1.4 - Tampas limpas
1.5 - Puxadores intactos
1.6 - Borrachas de vedação em bom estado de conservação
1.7 - Termômetro visível ao consumidor
1.8 - A temperatura está dentro do preconizado? Qual a temperatura?
1.9 - Camada de gelo maior do que 1 centímetro
1.10 - Ausência de pontos de condensação
1.11 - Ausência de lâmina de gelo no fundo do equipamento ou entre os produtos
1.12 - Ausência de restos de alimentos no fundo do equipamento
1.13 - Produtos dispostos respeitando o limite de carga
1.14 - Armazenamento adequado evitando a contaminação cruzada
Para avaliação do bloco 2, referente ao pescado congelado, seguiu-se os
parâmetros da IN n° 22/2005 e da RDC n° 259/2002. A análise foi feita englobando
as exigências contidas nessas duas normativas, totalizando 18 quesitos a serem
observados:
2.1 - Embalagem íntegra
2.2 - Ausência de cristais de gelo
2.3 - Produto distante da tampa/porta do equipamento
2.4 - Formato do produto preservado
55
2.5 - Consistência adequada
2.6 - Denominação de venda do produto
2.7 - Conteúdo líquido
2.8 - Identificação de origem
2.9 - Nome e razão social e endereço do estabelecimento
2.10 - Nome e razão social e endereço do importador, no caso de produtos
importados
2.11 - Carimbo oficial da Inspeção Federal
2.12 - CNPJ
2.13 - Conservação do produto
2.14 - Marca comercial do produto
2.15 - Identificação do lote
2.16 - Data de fabricação
2.17 - Prazo de validade
2.18 - Indicação da expressão: Registro no Ministério da Agricultura SIF/DIPOA sob
n°___/____.
Os itens 2.6 a 2.14 e 2.18 foram avaliados com maior detalhamento, em um
segundo momento, por serem informações mais complexas e que demandaram mais
tempo e maior atenção na sua verificação. Vale ressaltar que, os itens 2.9 e 2.10
foram avaliados somente segundo o critério de atendimento ou não à legislação
vigente, não sendo, em nenhum momento do estudo, identificados os
estabelecimentos produtores ou importadores do pescado congelado.
Um campo foi criado exclusivamente para a avaliação da temperatura do
produto. Essa aferição foi feita assim que as amostras de pescado foram
acondicionadas na caixa isotérmica de transporte, já na área do estacionamento dos
supermercados. Para medir a temperatura dos produtos foi utilizado um termômetro
do tipo digital infravermelho com mira a laser, marca Instrutherm, modelo TI – 550,
para a aferição da temperatura da superfície do produto. Outro termômetro digital
portátil de espeto, marca Instrutherm, modelo TE – 300, foi posicionado entre as
56
embalagens do pescado com o intuito de aferir uma temperatura mais precisa do
produto.
3.4.2 Coleta de amostras
Seguindo as diretrizes da RDC n° 12/2001, as amostras foram coletadas em
suas embalagens originais não violadas, observando-se a quantidade mínima de 200g
por unidade amostral (MS/ANVISA, 2001). Foram coletadas amostras de pescado
congelado embalado que apresentavam os seguintes indícios de descongelamento:
consistência amolecida, compactação ou deformação de filés e presença de gelo no
interior de suas embalagens, conforme mostrado na figura 5. Priorizou-se as amostras
que estavam mais próximas da superfície da gôndola de exposição, um exemplo está
demonstrado na figura 6.
Figura 5 – Comparação entre o padrão de apresentação de filés de Polaca do Alasca
congelados e de filés com indício de descongelamento coletados em supermercados
da região da Grande São Paulo, em setembro de 2013.
Nota: (1) – Presença de gelo no interior da embalagem
1
1
57
Figura 6 – Condições de exposição à venda de filés de Polaca do Alasca congelados
encontradas em supermercados da região da Grande São Paulo, em setembro de
2013.
Notas: (1) – Produtos expostos próximos ao limite de carga (2) – Filés compactados e com cristais de gelo
De cada estabelecimento foram coletadas três embalagens de 1 kg de filé de
Polaca do Alasca, sendo duas embalagens de 1 kg para as análises físico-químicas e
sensoriais, e, uma embalagem de 1 kg para as análises microbiológicas; totalizando
90 quilos do produto. Cada conjunto de três unidades por amostra apresentava a
mesma marca, data de fabricação, data de validade e lote.
Essas amostras foram levadas aos laboratórios em uma caixa de transporte
com placas de termogel e monitoramento da temperatura, por meio de um
termômetro afixado na mesma. As amostras foram identificadas com as seguintes
informações: data, hora da coleta, temperatura no momento da coleta e transporte,
motivo da coleta, finalidade e tipo de análise, condições da mesma no ponto de
coleta e outros dados que poderiam auxiliar as atividades analíticas.
2
1
58
3.5 ANÁLISE LABORATORIAL
As análises físico-químicas e sensoriais foram realizadas no Instituto de Pesca
da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado de São Paulo e,
as análises microbiológicas, no laboratório de microbiologia de alimentos da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo,
durante todo o mês de setembro de 2013.
3.5.1 Análises físico-químicas
As amostras foram submetidas às análises físico-químicas para determinação
de pH, do nitrogênio das bases voláteis totais (teor de amônia e aminas) e da TMA.
As bases voláteis totais são produzidas pela ação enzimática ou bacteriana na
carne do pescado. A amônia e as aminas voláteis foram quantificadas por volumetria
de neutralização, após destilação por arraste de vapor, em meio levemente alcalino.
A metodologia utilizada para a determinação de nitrogênio das bases voláteis
totais (N-BVT) e TMA baseou-se na Portaria (Pt) nº 01, de 7 de outubro de 1981, do
MAPA que aprovou os métodos analíticos de controle de produtos de origem animal
e ingredientes, constituindo-se em métodos microbiológicos e métodos físicos e
químicos (MAPA, 1981).
Pesou-se cerca de 50 gramas da amostra, desglazeada e triturada, em béquer
de 500 ml. Adicionou-se 150 ml de solução de ácido tricloroacético (TCA) a 5,0%;
foi transferido para béquer de 1000 ml e homogeneizado por 1 minuto. A amostra foi
filtrada para proveta de 250 ml até a obtenção de aproximadamente 50 ml de extrato
límpido, retirando-se com pipeta volumétrica uma alíquota de 5 ml que foi
59
transferido para um tubo de micro digestão. Acoplou-se o tubo ao aparelho de
destilação.
Para a destilação adicionou-se 5 ml de NaOH 2M através do copo dosador e
destilou-se aproximadamente o volume de 50 ml que foi recebido em Erlenmeyer
graduado contendo 5 ml de HCl 0,01N e 10 gotas do indicador ácido rosólico.
Titulou-se o destilado com NaOH 0,01N até a viragem da coloração amarelo claro
para rósea pálida.
A quantificação de TMA foi realizada adicionando-se 1 ml de solução de
formaldeído (16,0%) para cada 10 ml do líquido destilado após a primeira titulação
no Erlenmeyer. Titulou-se o ácido liberado, equivalente à TMA, com solução de
NaOH 0,01N até a viragem de incolor para a coloração rosa. Registrou-se o volume
em ml da solução de NaOH 0,01N gasto na segunda titulação que é correspondente
ao volume em ml do ácido liberado.
O pH foi determinado segundo o método eletrométrico, por meio do uso de
phmetro da marca Quimis, modelo Q400AS, série 12070052 utilizando-se a
metodologia proposta pelas normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz (SÃO
PAULO, 1985).
Como não há regulamentação específica com a definição de parâmetros para
pescado congelado, seguiu-se o RIISPOA e a Portaria n° 185, de 13 de maio de
1997, do MAPA que instituiu o regulamento técnico de identidade e qualidade de
peixe fresco (inteiro e eviscerado). Considerou-se impróprio para o consumo, o
pescado com teor de BVT ou igual a 30 mg N/100 g e pH da carne superior ou igual
a 6,8 (BRASIL, 1952; MAPA, 1997).
60
3.5.2 Análise microbiológica
Para análise microbiológica foram pesquisados Staphylococcus coagulase
positiva/grama e Salmonella spp/25 gramas, conforme instruções da RDC n°
12/2001 para pescado congelado.
A metodologia utilizada como referência foi a IN n° 62 da Secretaria de
Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, de 26 de agosto de 2003. Essa IN
dispõe sobre os métodos analíticos oficiais para análises microbiológicas para
controle de produtos de origem animal e água (MAPA, 2003).
Para a pesquisa de Staphylococcus coagulase positiva, de cada embalagem de
1 kg de filé de Polaca do Alasca, foram porcionados e pesados 25 gramas de pescado
coletados de vários pontos do produto, os quais foram colocados em sacos plásticos
para Stomacher devidamente identificados com o número da amostra. Adicionou-se
225 ml de água peptonada tamponada 0,1% e homogeneizou-se, obtendo-se a
diluição 10-1.
Em capela de fluxo laminar fez-se a diluição seriada até 10-5 em tubos
contendo 9 ml de água peptonada tamponada 0,1%. Em placas de Petri, identificadas
com o número das amostras e com as respectivas potências das diluições, foram
inoculados 0,1 ml de cada tubo, sobre a superfície do Ágar Baird Parker.
Com o auxílio de uma alça de Drigalski foi espalhado o inoculo por toda a
superfície do meio, até sua completa absorção. O procedimento foi feito em
duplicata.
As placas foram incubadas invertidas a 37,0°C por 48 horas. Após esse
período, as placas foram retiradas da estufa, sendo selecionadas aquelas que
continham entre 20 a 200 colônias. Contou-se as colônias típicas (negras brilhantes
com anel opaco, rodeadas por halo claro, transparente e destacado sobre a opacidade
61
do meio) e as atípicas (acinzentadas ou negras brilhantes, sem halo ou com apenas 1
dos halos).
Selecionou-se 5 colônias (3 típicas e 2 atípicas), semeou-se em tubos
contendo BHI que ficaram incubados a 37,0°C por 24 horas. Transferiu-se 0,3 ml de
cada tubo de cultivo para tubos contendo 0,3 ml de plasma de coelho e para tubos
com 0,3 ml de BHI, incubando-se por mais 6 horas a mesma temperatura para a
realização da prova da coagulase.
Seguiu-se os critérios de formação de coágulos contidos na IN 62/2003,
considerando positiva a reações dos tipos 3+ e 4+. As reações duvidosas 1+ e 2+
foram repicadas para um tubo com ágar nutriente que foram incubados a 37°C por 24
horas para a realização dos testes complementares.
Fez-se a prova da catalase e o esfregaço para coloração de Gram. As amostras
nas quais as placas apresentaram cocos Gram positivos seguiram para a pesquisa de
termonuclease.
Foram feitos orifícios eqüidistantes com cerca de 2 mm de diâmetro no ágar
azul de toluidina – DNA. Colocou-se os tubos das culturas, mantidos em caldo BHI,
em banho-maria fervente por 15 minutos. Deixou-se esfriar e preencheu-se
completamente um orifício para cada cultivo a ser analisado. As placas foram
incubadas a 37ºC por 4 horas. O aparecimento, ao redor dos orifícios, de um halo
rosa no ágar azul de toluidina é indicativo de reação positiva para termonuclease.
Para a detecção de Salmonella spp., de cada embalagem de 1 kg de filé de
Polaca do Alasca, foram porcionados e pesados 25 gramas de pescado coletados de
vários pontos do produto, os quais foram colocados em sacos plásticos para
Stomacher devidamente identificados com o número da amostra. Para o pré-
enriquecimento, adicionou-se 225 ml de água peptonada tamponada 1,0% e
homogeneizou-se, obtendo-se a diluição 10-1 que ficou incubada a 37°C por 24
horas.
62
O enriquecimento seletivo foi feito com 1 ml de inoculo em 10 ml de caldo
Rappaport Vassiliadis e 0,1 ml de inoculo em 10 ml de caldo selenito cistina. Os
tubos foram imersos em banho-maria a 41,0°C por 24 horas.
Para o isolamento e seleção da Salmonella spp. utilizou-se o plaqueamento
seletivo em ágar Rambach e ágar verde brilhante. Com o auxílio de uma alça de
platina as placas de Petri com ágar Rambach foram plaqueadas por esgotamento, de
tal forma que, numa metade do ágar plaqueou-se a amostra proveniente do caldo
selenito cistina e na outra, a do Rappaport Vassiliadis. Repetiu-se o mesmo
procedimento para a placa contendo o ágar verde brilhante. Essas placas foram
incubadas invertidas em estufa a 37,0°C por 24 horas.
Foram selecionadas de 3 a 10 colônias suspeitas por amostra que foram
inoculadas no ágar TSI por meio de picada profunda e estriamento na superfície
inclinada do bisel. Incubou-se a 37°C por 24 horas.
3.5.3 Análise sensorial
A avaliação sensorial é definida como uma disciplina científica usada para
evocar, medir, analisar e interpretar características dos alimentos através do emprego
dos sentidos da visão, olfato, audição, tato e paladar. Mudanças nas características
sensoriais ocorrem com alteração da aparência, odor, sabor e textura do pescado
quando este inicia o processo de deterioração (OLAFSDOTTIR e col., 1997).
A determinação colorimétrica foi realizada em três filés por pacote com
auxilio de um colorímetro portátil CR-400 (Konica Minolta, Japão), configurado
para realizar três disparos de flashes sequenciais utilizando o iluminante D-65. A
medição foi realizada nas regiões ventral anterior, central e dorsal posterior do filé,
63
respectivamente, e os valores médios expressos em coordenadas CIELab, sendo L* -
valor ventral anterior; a* - valor central; e b* - valor dorsal posterior.
Para a análise da textura foi utilizado o texturômetro TA Plus (LLOYD,
Alemanha), com sonda cilíndrica de acrílico de 8 mm de diâmetro, célula de carga de
100 Newtons (N) e velocidade de 2mm.seg.-1. Foram utilizados três filés por pacote,
os quais tinham a porção dorsal medial superior cortada em porções de 5 cm x 5 cm,
onde realizava-se uma compressão de 60,0%. A força necessária para esta
deformação, expressa em N, indicou a firmeza do filé.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS DO CHECKLIST
Para uma melhor exposição e análise dos dados obtidos a partir da aplicação
do checklist, os resultados foram divididos em tópicos conforme segue: condições
dos equipamentos versus cadeia de frio; temperatura dos equipamentos; temperatura
do pescado congelado exposto à venda; apresentação do pescado congelado; e,
análise da rotulagem.
Os dados obtidos foram comparados com as legislações sanitárias vigentes e
com recentes publicações técnico-científicas da área de segurança dos alimentos.
64
4.1.1 Condição dos equipamentos x cadeia de frio
Os equipamentos de refrigeração podem ser distinguidos em dois formatos:
vertical e horizontal, sendo que ambos podem ser utilizados para alimentos
refrigerados e congelados. Para economizar energia, os equipamentos dotados de
portas estão sendo cada vez mais utilizados nos comércios (LAGUERRE e col.,
2014).
Dos 30 supermercados avaliados, 20 (66,7%) possuíam equipamento de
congelamento conhecido como ilha aberta horizontal (figura 7), 6 (20,0%) ilha
fechada horizontal (figura 8) e 4 (13,3%) ilha fechada vertical (figura 9).
Figura 7: Ilha aberta horizontal.
Extraído de: Szklll, 2012.
65
Figura 8: Ilha fechada horizontal.
Extraído de: Globalanca, 2014.
Figura 9: Ilha fechada vertical.
Extraído de: Dicas e receitas, 2014.
Os equipamentos de exposição abertos são um desafio para a manutenção do
frio. Seu design associado a instrumentos deficientes de monitoramento da
temperatura, como termômetros instalados nos equipamentos que não refletem a sua
66
real temperatura, são fatores relevantes e que dificultam a manutenção da qualidade
do produto em exposição (LUNDÉN e col., 2014).
Como na maioria dos supermercados visitados, os filés de pescado congelado
encontravam-se dispostos à venda nesse tipo de equipamento, onde estes podem
sofrer flutuações de temperatura, a preocupação sobre a sua qualidade e segurança
tornou-se premente. LIKAR e JEVSNIK (2006) complementam afirmando que, os
equipamentos abertos, onde os produtos são encontrados cobertos por gotas de água,
devido ao descongelamento, costumam gerar desconfiança nos consumidores sobre a
sua qualidade.
Por outro lado, os comerciantes se defendem alegando existir dificuldades no
armazenamento e exposição dos produtos congelados, em decorrência da falta de
espaço e da necessidade da exposição dos produtos, de uma forma atrativa aos
clientes. Essas práticas, tão comumente encontradas no varejo de alimentos, muitas
vezes, não são condizentes com as exigências sanitárias para a manutenção da
temperatura e segurança do alimento (LIKAR e JEVSNIK, 2006).
No estudo realizado por LIKAR e JEVSNIK (2006), em supermercados da
Eslovênia, avaliaram-se as condições de armazenamento e exposição de diferentes
produtos perecíveis. As seguintes deficiências foram detectadas: equipamentos com
tampas abertas, exposição de produtos sob luz artificial propiciando o aquecimento
dos alimentos e abastecimento excessivo, acima da capacidade de carga do
equipamento.
Deficiências semelhantes foram observadas neste estudo. Ao analisar os
equipamentos através dos dados obtidos com o checklist, constatou-se que, 3
equipamentos (10,0%) apresentavam pontos de descascamento ou ferrugem, 1
(3,3%) apresentava rachadura na tampa, 1 (3,3%) estava com o puxador quebrado e 1
(3,3%) estava com a borracha de vedação em mau estado de conservação.
67
Problemas de vedação podem tornar o sistema de refrigeração incapaz de
conter a carga de calor, elevando a temperatura do produto a níveis que podem
comprometer a sua segurança. A temperatura dos produtos expostos em
equipamentos de refrigeração com essas inadequações pode oscilar de – 1,0 a 16,0ºC.
Essa variação gera preocupações aos fabricantes quanto à definição da uma vida de
prateleira dos produtos perecíveis refrigerados que não venha a causar riscos à saúde
dos consumidores (EVANS e col., 2007).
Dentre outras características analisadas nos equipamentos, a camada de gelo
se encontrava maior do que 1 centímetro em 11 (36,6%) dos equipamentos, 1 (3,3%)
apresentava pontos de condensação e 15 (50,0%) tinham restos de alimentos de
alimentos no fundo do equipamento. As figuras 10 e 11 demonstram esses aspectos.
Figura 10 – Equipamento com lâmina de gelo e restos de alimentos encontrado em
supermercado da região da Grande São Paulo, em setembro de 2013.
Notas: (1) – Lâmina de gelo. (2) – Restos de alimentos.
2
1
68
Figura 11 – Equipamento com excesso de gelo encontrado em supermercado da
região da Grande São Paulo, em setembro de 2013.
Notas: (1) – Acúmulo de gelo. (2) – Produtos dispostos propiciando contaminação cruzada.
Em 10 (33,3%) equipamentos pôde-se observar que os produtos estavam
dispostos acima do limite de carga e, em 5 (16,6%), os produtos estavam dispostos
de forma que propiciava a contaminação cruzada (figura 11).
LAGUERRE e col. (2012) estudaram a influência de diferentes temperaturas
ambientais (16,0°C, 20,0°C e 26,0°C) sobre os alimentos dispostos em equipamentos
de refrigeração do tipo ilha vertical aberta. Os autores constataram que, os alimentos
localizados na parte mais superficial do equipamento, ou seja, mais próximos ao
limite de carga, sofreram um impacto significante na elevação da temperatura devido
à infiltração do ar ambiental mais quente.
A ação da corrente de ar (velocidade do ar, média de troca de ar entre
diferentes áreas do equipamento e infiltração de ar) e das condições ambientais
(temperatura e umidade do ar) dentro do equipamento de refrigeração são fatores
1
2
69
determinantes para a qualidade do produto (LAGUERRE e col., 2012, 2014; DURET
e col., 2014).
Ressalta-se a importância de manter os alimentos expostos dentro dos limites
de abastecimento estabelecidos pelos fabricantes dos equipamentos de refrigeração.
A qualidade do alimento pode variar de acordo com a sua posição no interior do
equipamento sofrendo diferentes influências do calor, da ventilação e das zonas de
umidade (LAGUERRE e col., 2012, 2014; DURET e col., 2014).
As regulamentações federal e estadual não contemplam com muita
especificidade as questões levantadas. Porém, utilizamos como parâmetro a Portaria
n° 2619 do município de São Paulo, de 06 de dezembro de 2011, que regulamenta
que a espessura do gelo formado nas paredes e evaporadores dos equipamentos de
refrigeração não deve ultrapassar 1,0 centímetro, o abastecimento deve respeitar o
limite de carga do equipamento e os produtos devem estar dispostos de maneira a
evitar a contaminação cruzada (SÃO PAULO, 2011b).
Contaminação cruzada é uma inadequação muito séria em qualquer
estabelecimento de alimento. Superfícies desgastadas e em más condições de higiene
e limpeza aumentam a probabilidade de ocorrência de contaminação cruzada, sendo
um importante ponto de controle e de fiscalização pela vigilância sanitária
(LUNDÉN, 2013).
O gráfico 2 ressalta as inadequações higienicossanitárias mais frequentemente
encontradas, durante a aplicação do checklist para avaliação das condições dos
equipamentos de refrigeração, dos 30 supermercados visitados na Grande São Paulo.
70
Gráfico 2 – Principais inadequações, quanto às condições dos equipamentos de
congelamento e a manutenção da cadeia de frio, observadas durante a aplicação do
checklist em 30 supermercados da região da Grande São Paulo, no mês de setembro
de 2013.
0
5
10
15
20
25
30
Camada de
Gelo
Restos de
Alimentos
Limite de
Carga
Contaminação
Cruzada
Su
perm
erc
ad
os
Conformidade
Não Conformidade
O equipamento de exposição é considerado um dos pontos fracos da cadeia
de produtos congelados, pois há uma relação inversamente proporcional entre as
formas nas quais os produtos são expostos à venda ao consumidor e a necessidade de
sua adequada preservação. Para que sua venda seja realizada, o pescado congelado
deve estar visível e de fácil acesso aos clientes, porém tais práticas promovem a
flutuação de sua temperatura causando perda de qualidade. O ideal seria manter o
produto distante de quaisquer fontes de calor, mas isso significa mantê-lo fora da
vista dos clientes (GONÇALVES, 2011).
Para que esses expositores mantenham a temperatura dos produtos
eficazmente é necessário que se respeite o limite de carregamento e, no caso de ilhas
com portas, que as mesmas permaneçam fechadas. Enquanto as portas encontram-se
abertas ocorre a infiltração de ar quente. Logo que a mesma é fechada, a umidade do
ar de entrada tende a condensar na parte interna da porta de vidro levando a formação
71
de gotículas de água e de uma lâmina de gelo nas paredes e no fundo do equipamento
que tende a aumentar com a repetição dessa prática (GONÇALVES, 2011).
A presença de uma camada excessiva de gelo no interior dos equipamentos
fechados interfere na troca de frio entre suas paredes e os produtos comprometendo a
temperatura de exposição dos produtos. Nos equipamentos do tipo ilha aberta, a
manutenção do frio é mais comprometida pelo abastecimento acima do limite
recomendado, o que dificulta a circulação do ar frio entre os produtos
excessivamente empilhados no seu interior.
4.1.2 Temperatura dos equipamentos
Para produtos altamente perecíveis, como os congelados, o controle da
temperatura e a habilidade de mantê-la de acordo com as indicações do fabricante e
com os padrões legais vigentes, é essencial (LIKAR e JEVSNIK, 2006; EVANS e
col., 2007).
A RDC n° 275/2002 regulamenta que os equipamentos de refrigeração e
congelamento possuam um medidor de temperatura em local apropriado e em
adequado funcionamento. Já a Pt nº 2619/2011, no seu item 9.18 regulamenta que
“os expositores de alimentos resfriados e congelados devem indicar, de forma
facilmente visível ao consumidor, a temperatura do ar interior do expositor,
observadas as normas técnicas oficiais vigentes” (MS/ANVISA, 2002b; SÃO
PAULO, 2011b).
Complementarmente, a Lei nº 8078, de 11 de setembro de 1990, que institui o
Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo nº 31 regulamenta que “a oferta e
apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras,
precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades,
quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros
72
dados, bem como informações sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança
dos consumidores” (BRASIL, 1990).
Diferentemente do exigido pelas regulamentações, em 10 (33,3%)
supermercados avaliados nessa pesquisa, os equipamentos não apresentavam
termômetros visíveis ao consumidor. Os outros 20 (66,7%) equipamentos que
possuíam termômetro apresentavam temperaturas que variaram de – 11,0ºC a –
40,0ºC, com uma média de – 20,0ºC. O gráfico 3 mostra as temperaturas indicadas
pelos termômetros dos equipamentos destes 20 supermercados.
Gráfico 3 – Temperaturas indicadas nos termômetros de 20 equipamentos de
congelamento de supermercados visitados na Grande São Paulo, durante o mês de
setembro de 2013.
-45
-40
-35
-30
-25
-20
-15
-10
-5
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Tem
per
atu
ra [
ºC]
Equipamentos
É importante ressaltar que essas temperaturas não necessariamente refletem a
real temperatura dos equipamentos. No estudo realizado por LAGUERRE e col.
(2014), analisou-se a influência da variabilidade nas condições operacionais ou no
design do equipamento nas temperaturas de carga constatando-se que,
independentemente do tipo do equipamento, as temperaturas aferidas foram
sensivelmente mais altas do que aquelas demonstradas nos termostatos.
73
A temperatura do equipamento é especialmente importante para o
armazenamento de produtos altamente perecíveis e para aqueles alimentos que são
mais frequentemente envolvidos em casos de DTAs. Um exemplo de produto
sensível à variação de temperatura é o peixe processado a vácuo que, é comumente
contaminado por Listeria monocytogenes, e, relacionado a casos de listeriose na
Finlândia (LUNDÉN e col., 2014).
LAGUERRE e col. (2014) corroboram essa informação ao afirmarem que o
controle de tempo x temperatura durante a cadeia de frio é o fator que tem maior
influência na contaminação do produto final por Listeria monocytogenes. Os mesmos
autores questionaram os reais efeitos de alguns fatores da cadeia de distribuição na
estabilidade de produtos perecíveis e a forma de controle mais eficaz para manter o
produto dentro do estabelecido como ideal para o consumo.
A partir do que foi observado nos supermercados visitados, pôde-se inferir
que, uma maneira eficaz para o monitoramento da temperatura do pescado
congelado, seria a manutenção e calibração dos termômetros dos equipamentos, de
forma a garantir a maior fidedignidade possível, entre a temperatura indicada no
termômetro e a real temperatura do equipamento.
Segundo a RDC nº 216/2004, no seu item 4.10.3, “os equipamentos
necessários à exposição ou distribuição de alimentos preparados sob temperaturas
controladas, devem ser devidamente dimensionados, e estar em adequado estado de
higiene, conservação e funcionamento. A temperatura desses equipamentos deve ser
regularmente monitorada”. A RDC n° 275/2002, por sua vez, indica apenas que
devem existir planilhas de registro dessa temperatura (MS/ANVISA, 2004,
MS/ANVISA, 2002b).
Para o controle de temperatura é necessário que, o funcionário responsável
por esse procedimento, conheça as temperaturas preconizadas para a conservação dos
produtos e que esse monitoramento seja realizado com uma frequência adequada. É
importante lembrar que, a temperatura do equipamento e do produto, não
74
necessariamente são as mesmas. Estudos mostram que essa temperatura geralmente é
extrapolada e, que dependendo da sua magnitude e de sua duração, há um sério
comprometimento na segurança do produto (LUNDÉN e col., 2014).
MORELLI e col. (2012) fizeram um estudo, em 20 comércios de Paris, com o
monitoramento da temperatura de 99 produtos expostos à venda e de seus
equipamentos de exposição sob refrigeração, durante um período de 24 horas. O
objetivo foi identificar os principais fatores que influenciaram na variação dessas
temperaturas. Os elementos-chave apontados foram separados em 2 grandes grupos:
equipamento de refrigeração e boas práticas operacionais.
No primeiro grupo, três elementos foram apontados como responsáveis pela
variação na temperatura: equipamentos com temperatura alta na saída de ar frio
(>7,0ºC); temperatura alta do ar de retorno, mesmo apresentando temperatura correta
na saída; e, equipamentos com áreas de pouca circulação de ar (MORELLI e col.,
2012).
No segundo grupo, mais cinco elementos-chave foram apontados: saída de ar
obstruída por produtos; abastecimento de produtos com temperatura elevada
(>7,0ºC); temperatura de operação do equipamento inadequada; intervenção manual
da temperatura pelo funcionário, durante o período de venda; e, ciclos de degelo
inadequados (MORELLI e col., 2012).
Apesar da metodologia utilizada nesse estudo impossibilitar a verificação de
procedimentos operacionais de verificação de temperatura, calibração de
termômetros e critérios de degelo dos equipamentos, foi possível observar alguns
indícios do não cumprimento aos requisitos básicos para a manutenção da
temperatura.
Pôde-se citar como exemplo as informações contidas no gráfico 3 que
mostraram, por um lado, termômetros indicando – 11,0ºC, temperatura acima do
preconizado por lei; e, por outro lado, termômetros indicando – 40,0ºC, o que
75
possivelmente poderia ser atribuído a uma falha do instrumento, por congelamento
do seu sensor, uma vez que essa temperatura é dificilmente atingida por
equipamentos comerciais.
O objetivo do armazenamento congelado do pescado é prolongar sua vida de
prateleira limitando a atividade enzimática e microbiana que provoca a sua
deterioração. Para tanto, é recomendada a faixa de temperatura de – 18,0°C a –
30,0°C, lembrando que, mesmo respeitando-se esses limites, não é possível manter a
qualidade do produto indefinidamente. A ação microbiana cessa abaixo de
aproximadamente – 10,0°C, mas as reações químicas que levam a alterações
irreversíveis no odor, sabor e aparência, continuam lentamente (GONÇALVES,
2011).
Reafirma-se então que as flutuações na temperatura de armazenamento
interferem na qualidade e vida de prateleira do pescado. Além disso, ORDÓNEZ
(2005) complementa que o pescado magro, de baixo conteúdo lipídico, normalmente
não rancifica, mas ocorrem processos similares ao da oxidação que podem provocar
odores e sabores anômalos no produto.
Portanto, flutuações de grande amplitude na temperatura (≥ 3,0°C) de
armazenamento do pescado congelado propiciam a ocorrência de reações químicas e
bioquímicas deletérias. Sendo assim, essa temperatura deve ser cuidadosamente
controlada para limitar tais reações, além de prevenir a formação indesejada de
cristais de gelo que podem comprometer a qualidade sensorial do pescado (SMITH e
HUI, 2004).
76
4.1.3 Temperatura do pescado congelado exposto à venda
Ao medir a temperatura dos pescados congelados expostos à venda, nos 30
supermercados pesquisados, constatou-se que houve uma variação das temperaturas
aferidas com o termômetro a laser, sendo a temperatura mínima aferida de – 12,0ºC e
a máxima de 10,0ºC. As aferições feitas com o termômetro de espeto também
apresentaram grande variação, sendo medidas temperaturas que variaram entre 0,0ºC
e – 12,0ºC.
Vale ressaltar que o termômetro de espeto apresenta uma precisão de ± 1,0°C
em temperaturas entre – 20,0°C e 120,0°C e de ± 2,0°C em temperaturas abaixo de –
20,0°C e superiores a 120,0°C. O termômetro a laser possui uma precisão de ± 3,0°C
na faixa de temperatura de – 50,0°C a 0,0°C.
A verificação da temperatura das 30 amostras de pescado congelado
demonstrou valores muito discrepantes entre os produtos aferidos com os
termômetros de espeto e a laser apresentando diferença numa faixa entre 0,3°C a
18,5°C.
Foi possível observar que somente a amostra 12 aproximou-se da temperatura
mínima ideal exigida em ambas as medições, atingindo – 12,0°C e − 11,8°C,
respectivamente, estando todas as demais fora do preconizado.
A tabela 2 mostra os valores obtidos a partir da aferição de temperatura de
cada amostra com o termômetro a laser e de espeto.
77
Tabela 2 – Variação nas temperaturas aferidas, pelo termômetro a laser e pelo
termômetro de espeto, nos filés de Polaca do Alasca congelados coletados em
supermercados da região da Grande São Paulo, em setembro de 2013.
Amostra Laser (°C) Espeto (°C) Variação (°C)
1 -4,5 -10,4 5,9
2 6,0 -1,8 7,8
3 5,0 -1,7 6,7
4 3,0 -2,4 5,4
5 1,5 -4,3 5,8
6 1,0 -5,0 6,0
7 7,0 -6,0 13,0
8 5,0 -5,9 10,9
9 0,0 -3,4 3,4
10 3,0 -0,3 3,3
11 -3,5 -8,0 5,5
12 -12,0 -11,8 0,2
13 -3,0 -8,0 5,0
14 0,0 -5,7 5,7
15 -11,0 -6,0 5,0
16 -7,0 -6,7 0,3
17 10,0 -8,5 18,5
18 1,5 -7,7 9,2
19 1,0 -6,9 7,9
20 3,0 -5,4 8,4
21 5,0 -3,5 8,5
22 0,0 -4,0 4,0
23 0,0 -3,8 3,8
24 -1,0 -3,3 4,3
25 0,0 -2,7 2,7
26 0,0 -9,3 9,3
27 1,0 -4,8 5,8
28 0,0 -5,3 5,3
29 -1,0 -6,1 7,1
30 3,0 -5,0 8,0
78
Na pesquisa realizada por LIKAR e JEVSNIK (2006), em supermercados da
Eslovênia, foram verificadas as temperaturas de 1688 produtos perecíveis. Variações
foram observadas a partir da comparação das medições de temperatura feitas pelo
termômetro do equipamento, por um termômetro portátil e pela temperatura aferida
na superfície do produto.
No estudo supracitado foram aferidas as temperaturas do sorvete que deve ser
mantido, conforme indicação do fabricante, a pelo menos – 18,0ºC. Foram analisadas
29 amostras de sorvete, em supermercados de pequeno porte (SPP); 49 amostras, em
supermercados de médio porte (SMP); e, 79 em supermercados de grande porte
(SGP).
As temperaturas obtidas nos termômetros dos equipamentos foram
respectivamente: – 20,5ºC nos SPP, – 21,0ºC nos SMP e – 18,0ºC nos SGP; as
temperaturas aferidas dos equipamentos, pelo termômetro portátil, foram – 16,3ºC
nos SPP, – 18,7ºC nos SMP e – 19,6ºC nos SGP; e, as temperaturas da superfície do
produto, medidas com o termômetro infravermelho, foram – 16,5ºC nos SPP, –
15,7ºC nos SMP e – 13,3ºC nos SGP. Ao comparar os três resultados foi possível
notar uma variação de 4,0ºC a 6,0ºC entre as temperaturas aferidas pelos diferentes
instrumentos (LIKAR e JEVSNIK, 2006).
Em um dos raros estudos sobre a comparação da utilização dos dois tipos de
termômetro para a verificação da temperatura dos alimentos no Brasil,
STRASBURG e col. (2012) também encontraram variações importantes. Ao fazer as
aferições das temperaturas de preparações quentes em dois restaurantes de Porto
Alegre/RS, os autores constataram uma média de diferença, entre os dois tipos de
instrumentos, superior a 20,0°C. A média do percentual de variação indicou que as
aferições com o termômetro a laser foram, no mínimo, 25,0% inferiores aos valores
encontrados com o termômetro de espeto.
Tais diferenças na obtenção da temperatura dos alimentos podem ter como
justificativa o fato de o termômetro de espeto ser geralmente utilizado para aferir a
79
temperatura do centro geométrico do produto, sendo necessário o contato direto do
instrumento com o alimento, minimizando possíveis interferências externas na
aferição. Enquanto que o termômetro a laser é utilizado para aferir a emissão de
energia advinda da superfície do alimento através do reflexo de ondas de radiação
infravermelha, podendo sofrer influência de fatores, tais como: tamanho do alvo x
sistema de mira x resolução ótica, emissividade da superfície a ser medida e distância
a ser mantida entre o alvo e o instrumento.
É importante destacar que as regulamentações sanitárias não especificam o
tipo de termômetro que deve ser utilizado para a aferição da temperatura dos
produtos em supermercados. Fica a critério do responsável técnico a definição do
tipo de instrumento mais adequado para o controle e monitoramento da temperatura
dos equipamentos e produtos sob sua responsabilidade.
No Estado de São Paulo, a CVS nº 5/2013 determina variados parâmetros de
temperatura para produtos congelados conforme o tempo e a temperatura de
armazenamento. Os produtos devem ser mantidos de acordo com os seguintes
critérios: temperatura determinada pelo fabricante; de 0,0ºC a – 5,0ºC por 10 dias; de
– 6,0ºC a – 10,0ºC por 20 dias; de – 11,0ºC a – 18,0ºC por 30 dias; ou, ainda, em
temperaturas inferiores a – 18,0ºC por 90 dias (CVS/SES, 2013).
Vale ressaltar que, em produtos expostos à venda em supermercados,
diferentemente de serviços de alimentação, a identificação e o controle da data de
abastecimento dos produtos são muito complexos. O recebimento e abastecimento
dos produtos são realizados diariamente, por diversos funcionários ou repositores
terceirizados, comprometendo essas operações mencionadas. Desta forma, costuma–
se utilizar como padrão para exposição de produtos congelados a faixa de
temperatura entre – 12,0°C e – 18,0°C, independentemente do período de
armazenamento.
80
No estudo realizado por LUNDÉN e col. (2014) foram avaliadas a extensão e
a magnitude das não conformidades relacionadas à temperatura, em 32 comércios
varejistas de alimentos da Finlândia. Foram mensuradas as temperaturas de 84
produtos, por um período de 24 horas, com monitoramento a cada 15 minutos.
Violações da temperatura foram observadas em 42 (50,0%) produtos, sendo que 15
(17,9%) excederam sua temperatura em mais de 3ºC por mais de 30 minutos.
A temperatura indicada pelo termômetro do equipamento também foi
avaliada e comparada com a medida por um termômetro portátil. Os resultados
obtidos demonstraram que as temperaturas diferiram entre 1,4ºC e 2,0ºC, nas
diferentes formas de medição. A maior discrepância entre as temperaturas, do
termômetro do equipamento e a medida no momento pelos pesquisadores, foi de
6,0ºC. Diante dos resultados, os autores afirmaram que não se pode estabelecer uma
relação confiável entre a temperatura apresentada no termômetro dos equipamentos e
sua real temperatura (LUNDÉN e col., 2014).
Pôde-se afirmar que foram observadas variações importantes nas
temperaturas aferidas no pescado congelado, por ambos os termômetros. Tais
discrepâncias evidenciaram as deficiências existentes nos atuais métodos de controle
de temperatura e as dificuldades existentes para assegurar a manutenção da qualidade
dos produtos armazenados sob temperatura controlada em supermercados.
4.1.4 Apresentação do pescado congelado
Com relação aos produtos coletados, todos se encontravam dispostos com a
embalagem íntegra, porém a mesma totalidade apresentava cristais de gelo no
interior da embalagem. Em 12 (40,0%) das 30 amostras coletadas que estavam
expostas à venda na parte superior do equipamento, 8 (26,6%) apresentavam alguma
alteração digna de nota no formato do filé e 6 (20,0%) na sua consistência.
81
Tais alterações podem ser atribuídas aos procedimentos operacionais que
ocorrem no comércio varejista de alimentos, uma vez que, frequentemente a
temperatura requerida para a manutenção da qualidade do alimento não é atingida
pelo equipamento (LUNDÉN e col., 2014). Outros fatores como abastecimento
excessivo e manipulação displicente dos produtos pelos clientes, deixando-os
expostos a temperaturas abusivas, também podem comprometer as suas
características iniciais.
No congelamento de alimentos, a temperatura é geralmente reduzida para um
valor abaixo da temperatura inicial de congelamento. Nesse processo, a faixa de
temperatura, que varia entre 0,0ºC e – 5,0ºC, é conhecida com uma zona crítica, pois
o tempo que um alimento leva para ultrapassa-la determina o número e o tamanho
dos cristais de gelo que se formarão (MUTHUKUMARAPPAN e MARELLA,
2007).
Quanto mais tempo o alimento permanecer nessa faixa de temperatura, maior
será a migração de moléculas de água para o núcleo das células com a consequente
formação de cristais de gelo, em menor número e de maior tamanho. Cristais de gelo
maiores danificam a parede celular prejudicando a estrutura do alimento e causando
perda de qualidade do produto congelado (MUTHUKUMARAPPAN e MARELLA,
2007).
Durante o armazenamento, a taxa de formação de cristais de gelo maiores em
detrimento dos menores depende da estabilidade da manutenção da temperatura. Os
cristais de gelo pequenos, que são formados no congelamento rápido, são mais
instáveis a altas temperaturas, podendo a água migrar para cristais extracelulares, que
são maiores, diminuindo a quantidade de água que pode ser reabsorvida pelas
miofibrilas quando o produto for descongelado (SANCHEZ-ALONSO e col., 2014).
Os dados da tabela 2 mostraram que as temperaturas de 14 amostras, aferidas
com termômetro de espeto, e, as temperaturas de 27 amostras, aferidas com o
termômetro a laser, encontravam-se nessa zona crítica de 0,0ºC a – 5,0ºC. Esses
82
dados, correlacionados com a possível variação de temperatura durante o
armazenamento destes produtos, poderiam explicar a presença de cristais de gelo
constatada nas 30 (100,0%) amostras coletadas.
MUTHUKUMARAPPAN e MARELLA (2007) enfatizam que para manter o
produto com a sua qualidade inicial é necessário controlar a formação dos cristais de
gelo durante o congelamento e prevenir recristalização durante o armazenamento. As
figuras 12, 13, 14 e 15 mostram produtos com indícios de perda de qualidade.
Figura 12 – Filés de Polaca do Alasca com cristais de gelo coletados em
supermercados da região da Grande São Paulo, em setembro de 2013.
Nota: (1) – Cristais de gelo.
1
83
Figura 13 – Filés de Polaca do Alasca com sinais de descongelamento coletados em
supermercados da região da Grande São Paulo, em setembro de 2013.
Nota: (1) – Filés descongelados.
Figura 14 – Compactação de Filés de Polaca do Alasca coletados em supermercados
da região da Grande São Paulo, em setembro de 2013.
Nota: (1) – Filés compactados.
1
1
1
84
Figura 15 – Filés de Polaca do Alasca com diferentes níveis de indícios de quebra da
cadeia de frio coletados em supermercados da região da Grande São Paulo, em
setembro de 2013.
Notas: (1) – Filés compactados e com cristais de gelo. (2) – Cristais de gelo.
Em uma pesquisa realizada em Pequim, com consumidores de pescado,
constatou-se que há uma falta de conhecimento associada à qualidade e segurança
deste produto. A maioria dos respondentes afirmou ter conhecimento da qualidade
nutricional e benefícios advindos do consumo de pescado, mas desconhecer sobre
seu processamento, produção e correto armazenamento. Dos 286 consumidores
entrevistados, 126 (44,0 %) afirmaram não ter conhecimento sobre a temperatura
ideal de armazenamento dos produtos e sua forma ideal de apresentação (FENG e
col., 2009).
Durante as visitas aos supermercados, pôde-se observar essa falta de
conhecimento dos consumidores, que selecionavam para sua compra as embalagens
de filés de peixe congelado que apresentavam deformações, cristais de gelo e outros
sinais de descongelamento.
1
2 2
85
Na pesquisa realizada por LIKAR e JEVSNIK (2006), 217 consumidores
foram questionados sobre as condições de armazenamento dos produtos refrigerados
no comércio varejista. Quando questionados se os produtos são armazenados de
acordo com as recomendações dos fabricantes, mais da metade dos consumidores
acreditavam que os requisitos eram seguidos e que, por isso, não checavam as
condições dos equipamentos. A maioria também afirmou não ler os rótulos dos
produtos e, cerca de 30,0% dos entrevistados, afirmaram nunca checar a data de
validade dos produtos por confiar no comerciante e no local de compra.
4.1.4.1 Análise da rotulagem
No Brasil, a RDC n° 259/2002 e a IN nº 22/2005 determinam que os produtos
apresentem obrigatoriamente na sua rotulagem, as seguintes informações:
denominação de venda; conteúdo líquido; identificação de origem; nome ou razão
social e endereço do estabelecimento; nome ou razão social do importador, se o
produto for importado; carimbo oficial da inspeção federal; categoria do
estabelecimento, de acordo com a classificação oficial quando do registro do mesmo
no DIPOA; CNPJ; conservação do produto; marca comercial do produto;
identificação do lote; data de fabricação; prazo de validade; composição do produto;
indicação da expressão: Registro no Ministério da Agricultura SIF/DIPOA (Serviço
de Inspeção Federal/ Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal) sob
nº___/___/___; e, instruções sobre o preparo e uso do produto, quando necessário
(MS/ANVISA, 2002a; MAPA, 2005).
Ao analisar a rotulagem dos filés de Polaca do Alasca congelados constatou-
se que, 30 (100,0%) amostras apresentavam a denominação de venda do produto no
painel principal. As formas de apresentação observadas foram: “Filé de Peixe
Congelado” ou “Filé de Polaca do Alasca Congelado”, 15 (50,0%) amostras ainda
continham o nome científico Theragra chalcogramma. A indicação de logotipo, ou
86
qualquer outro tipo de informação, que indicasse a marca comercial do produto
estava ausente em 5 (16,6%) amostras.
A totalidade dos rótulos continha a informação referente ao conteúdo líquido
de 1 kg, sendo que em apenas 1 (3,3%) amostra o fabricante utilizou a apresentação
numérica 01kg. Segundo a Nota Técnica nº19/2009, a informação do peso líquido ao
consumidor deve seguir a conceituação do Codex Alimentarius, indicando o peso do
pescado antes do processo de glazeamento, não sendo recomendada a inclusão de
outras informações relativas ao peso na embalagem (BRASIL, 2009).
Com relação ao peso líquido, ainda existem duas Portarias do Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – INMETRO. A mais antiga é a Pt
n° 157, de 19 de agosto de 2002, que aprovou um regulamento técnico metrológico
estabelecendo a forma de apresentar o conteúdo líquido dos produtos pré-medidos. A
mais recente é a Pt n° 38, de 11 de fevereiro de 2010, que definiu a metodologia a ser
utilizada na determinação do peso líquido de pescado, molusco e crustáceos
glazeados.
Todos os rótulos identificaram a China como o local de origem do produto,
sendo que 21 (70,0%) amostras indicaram ser originárias, mais especificamente, da
cidade portuária de Dalian, ao sul da Província de Liaoning e continham todas as
informações referentes ao produtor. As demais 9 (30,0%) amostras não apresentavam
informações relativas ao nome, à razão social e à identificação do estabelecimento
produtor do filé de Polaca do Alasca congelado.
O governo chinês, quando o país sediou os jogos olímpicos de 2008,
respondeu às pressões internacionais e emitiu leis e regulamentações para assegurar a
qualidade dos seus pescados durante toda a cadeia de produção (FENG e col., 2009).
A falta de indicação do estabelecimento produtor, constatada em algumas
embalagens de filés de Polaca do Alasca, põe em xeque essa informação, uma vez
que a rastreabilidade do produto é considerada essencial para o eficaz monitoramento
e controle de qualidade do alimento.
87
Na União Europeia está em vigor a CE n°104/2000 que regulamenta que o
pescado deve apresentar em seu rótulo a designação comercial da espécie, o método
de produção e a área de captura. Esses países, para poderem comercializar entre si,
ainda devem ter implementados programas de segurança, qualidade e rastreabilidade
dos produtos, como regulamentado na CE n° 178/2002 e na CE n°882/2004
(PIENIAK e col., 2011).
Complementando, na Espanha está em vigor o Decreto nº 121, de 23 de
janeiro de 2004, que estabelece, em concordância com a regulamentação europeia,
que as seguintes informações devem estar disponíveis no rótulo do pescado:
denominação comercial, área de pesca ou criação, o método de captura (alto mar ou
cultivo) e a apresentação do produto (eviscerado, sem cabeça, filetado, etc). Em um
levantamento feito na Espanha constatou-se que apenas 10,5% das peixarias e 71,0%
dos supermercados comercializavam produtos que apresentavam todas as
informações requeridas (CLARET e col., 2012).
As 30 (100,0%) amostras analisadas continham as informações referentes ao
nome, razão social, endereço e CNPJ do importador, identificação de lote, data de
fabricação e data de validade. Apesar de a totalidade das amostras apresentarem em
sua rotulagem o número de registro no MAPA, em 25 (83,3%) destas não constava
da embalagem o carimbo da inspeção federal, estando em desacordo com a IN n°
22/2005.
A falta de identificação de origem para matérias-primas animais foi
considerada motivo para autuação, pelas autoridades da Finlândia, em 21 (12,7%)
dos 166 processos administrativos abertos, em comércios de alimentos, no período de
2008 a 2011. A marca de identificação dos produtos que, no caso do Brasil seria o
carimbo do SIF, é muito importante para sua rastreabilidade, permitindo verificar se
os mesmos são provenientes de estabelecimentos devidamente inspecionados
(LUNDÉN, 2013).
88
O gráfico 4 mostra resumidamente as principais não conformidades,
relacionadas à identificação dos filés de Polaca do Alasca congelados, encontradas
nos rótulos de suas embalagens.
Gráfico 4 - Principais não conformidades, relacionadas à identificação dos filés de
Polaca do Alasca congelados, coletados em 30 supermercados da Grande São Paulo,
em setembro de 2013.
0
5
10
15
20
25
30
Marca Comercial Informação do
Produtor
Informação do
Importador
Carimbo do SIF
Am
ost
ras
Não Conformidade
Os dados demonstrados no gráfico indicaram que, mesmo com a
intensificação da fiscalização de fronteiras, com a modificação do certificado
sanitário internacional que está em vigor desde janeiro de 2014, o pescado importado
continua entrando no país sem o cumprimento total das exigências dos órgãos
regulamentadores.
No estudo de LUNDÉN (2013) foram levantadas as principais não
conformidades higienicossanitárias, passíveis de alguma medida administrativa pelos
órgãos de fiscalização. As não conformidades mais comumente observadas, nos
comércios de alimentos da Finlândia, foram falhas na rotulagem dos produtos,
seguida por temperaturas abusivas de exposição de produtos, falta de verificação de
procedimentos e qualidade deficiente dos produtos expostos à venda.
89
LIKAR e JEVSNIK (2006) citam que todos os produtos alimentícios devem
ser comercializados em sua embalagem original, a qual deve estar íntegra e conter
informações claras e objetivas em seu rótulo, inclusive informações sobre condições
de armazenamento e instruções de uso.
Com relação à conservação do produto, a totalidade das amostras continha os
parâmetros sobre temperatura e tempo de conservação doméstica. Das 30 amostras,
apenas 4 (13,3%) não continham os critérios de descongelamento do produto. Foi
possível observar que não existe um padrão de exposição para essas informações
entre as diferentes marcas de filés de Polaca do Alasca congelados, conforme
exposto no quadro 2.
Quadro 2: Diferenças de informações sobre temperatura e tempo na conservação
doméstica e forma de descongelamento, na rotulagem dos filés de Polaca do Alasca
congelados coletados de supermercados da Grande São Paulo, em setembro de 2013.
Conservação Descongelamento − 18ºC – vide validade
− 12ºC a – 8ºC – 2 meses
4ºC a 8ºC – 12 horas
Água a 20ºC por 30 minutos ou 5ºC por 6 horas
Não usar micro-ondas
− 18ºC – 18 meses
− 4ºC – 15 dias
4ºC – 24 horas
Sem informação
− 18ºC – 12 meses
− 4ºC – 15 dias
4ºC – 24 horas
Descongelar a 4ºC ou micro-ondas por 12 minutos
− 18ºC – vide validade
− 12ºC a – 8ºC – 6 meses
4ºC a 8ºC – 5 dias
Descongelar a 7ºC por 12 horas
− 18ºC – 18 meses
− 4ºC – 3 dias
4ºC – 24 horas
Descongelar a 4ºC por 12 horas ou imersão em água
fria por 2 horas
− 18ºC – 12 meses
− 4ºC – 3 dias
4ºC – 24 horas (1 dia)
Descongelar a 4ºC por 12 horas ou imersão em água
fria por 2 horas
− 18ºC a − 12ºC – 24 meses
− 6ºC a − 8ºC – 1 semana
4ºC a 6ºC – 24 horas
Sem informação
− 18ºC – 24 meses
− 4ºC – 15 dias
4ºC – 24 horas
Descongelar em geladeira por 6 horas ou em micro-
ondas
− 18ºC – 24 meses
− 4ºC – 3dias
4ºC – 24 horas
Descongelar em geladeira por 12 horas ou imersão em
água fria por 2 horas
90
Com exceção das duas últimas linhas apresentadas no quadro 2, que indicam
que o produto deve ser descongelado em geladeira, as demais não abordam a questão
do descongelamento de uma forma clara para o consumidor. Deve-se levar em
consideração que a maioria da população desconhece os parâmetros de temperatura
de um refrigerador doméstico.
Nos estudos realizados por JOSHI e col. (2010), LIKAR e JEVSNIK (2006) e
OVCA e JEVSNIK (2009) constatou-se que 72,9% dos indianos, 55,2% dos
eslovenos e 76,0% dos suecos entrevistados desconheciam a temperatura de seus
refrigerados domésticos.
A falta de clareza das informações sobre descongelamento dos filés de Polaca
do Alasca aliado à falta de conhecimento dos consumidores sobre o correto
procedimento gera uma preocupação. Acredita-se que o descongelamento do pescado
seja realizado sem o devido controle de temperatura, aumentando a sua duração e,
consequentemente, o risco de contaminação por micro-organismos patogênicos e
deteriorantes.
Ao realizar o descongelamento do alimento, há uma rápida elevação inicial da
temperatura e, durante esse período, qualquer dano celular causado pelo
congelamento lento ou recristalização, alterações constatadas nos filés de Polaca do
Alasca, resulta na perda por gotejamento de constituintes celulares, inclusive
nutrientes. Estes se constituem em substratos para enzimas e crescimento microbiano
podendo comprometer a qualidade do pescado a ser consumido (FELLOWS, 2006).
No estudo de BEHRENS e col. (2010) avaliou-se a visão do consumidor
sobre segurança dos alimentos e atitude de compra em supermercados do município
de São Paulo. Constatou-se que os consumidores possuem uma relativa percepção do
risco associado especificamente aos produtos de origem animal, mas subestimam os
riscos advindos de contaminações químicas e microbiológicas dos alimentos,
principalmente aquelas de origem domiciliar. Os entrevistados afirmaram ainda que,
91
a responsabilidade pela segurança dos alimentos é prioritariamente das redes de
supermercados.
A RDC n° 259/2002 e a IN nº 22/2005 regulamentam que o prazo de validade
dos produtos pode ser indicado de acordo com a sua temperatura de conservação,
conforme os seguintes critérios: validade a − 18ºC (freezer):...; validade a − 4ºC
(congelador):...; e, validade a 4ºC (refrigerador):...(MS/ANVISA, 2002a; MAPA,
2005).
De acordo com essas diretrizes, constatou-se que 21 (70,0%) amostras
estavam dentro do preconizado, entretanto, apresentando grandes discrepâncias entre
os prazos de validade e as temperaturas apontadas para a conservação doméstica de
diferentes marcas comerciais de filés de pescado congelado.
De acordo com os dados de GONÇALVES (2011), um peixe magro como a
Polaca do Alasca, pode apresentar 9 meses de vida de prateleira a – 18°C, 12 meses a
– 24°C e 24 meses a – 30°C. A figura 16 a seguir demonstra que esses critérios não
são seguidos nos rótulos de Polaca do Alasca congelados. Como se pode observar, as
principais temperaturas de conservação doméstica observadas foram: − 18ºC de 12 a
24 meses; − 4ºC de 3 a 15 dias; 4ºC de 12 horas a 5 dias.
92
Figura 16 – Validade e temperatura de conservação doméstica impressas nos rótulos
de diferentes marcas de filés de Polaca do Alasca congelados coletados em
supermercados da região da Grande São Paulo, em setembro de 2013.
Essa falta de clareza nas informações ressalta a importância das afirmações de
PIENIAK e col. (2011) de que os consumidores demandam por rótulos confiáveis,
que contenham as informações necessárias de forma acessível, em local visível e
com linguagem de fácil compreensão.
Vale lembrar que, uma rotulagem inadequada pode representar um grande
risco para saúde do consumidor. O excesso de informação nos rótulos, por exemplo,
93
pode gerar um efeito contrário ao desejado, causando a indiferença do consumidor
quanto às informações apresentadas e erros de interpretação (LUNDÉN, 2013;
PIENIAK e col., 2011).
O rótulo deve apresentar informações referentes à validade, sendo que a
venda, após a expiração da data, é proibida. A data de validade deve ser respeitada,
conforme as indicações do fabricante, para que seja garantida a qualidade e
segurança do produto (LIKAR e JEVSNIK, 2006).
A validade impressa nas embalagens estava disposta da seguinte maneira: 16
(53,3%) amostras apresentaram 2 anos de validade, 8 (26,6%) amostras com 18
meses de validade e 6 (20,0%) amostras com 12 meses de validade.
De acordo com FELLOWS (2006) existe uma falta de informações precisas
sobre a vida de prateleira de alimentos congelados havendo diferentes definições
sobre o tema. Uma delas determina que a vida de prateleira, na estocagem congelada,
deve preservar as características intrínsecas do produto. Outra definição descreve a
vida de prateleira como o tempo pelo qual o produto pode ser estocado e continuar
sendo aceitável para o consumidor.
Dentre as principais causas de perda de vida de prateleira estão as flutuações
de temperatura durante o armazenamento e o tipo de embalagem utilizada, além de
outros fatores como tipo de matéria-prima, tratamentos prévios ao congelamento e
condições de processamento. Vale ressaltar que as flutuações de temperatura têm
efeito cumulativo na qualidade do alimento (FELLOWS, 2006).
Outra diferença observada nas rotulagens foi com relação à obrigatoriedade
da informação referente ao glúten, estando 4 (13,3%) amostras em não conformidade
com essa orientação. De acordo com a Lei n° 10674, de 16 de maio de 2003, todos os
alimentos industrializados devem conter em seu rótulo, obrigatoriamente, as
inscrições contém glúten ou não contém glúten (BRASIL, 2003).
94
Apenas 3 (10,0%) amostras apontaram o uso de estabilizantes. Porém, a RDC
n° 259/2002 exclui os alimentos com único ingrediente, como o pescado, da
exigência de apresentar uma lista de ingredientes em seu rótulo, não havendo a
obrigatoriedade da declaração do uso de aditivos alimentares (MS/ANVISA, 2002a).
CÂMARA e col.(2008) realizaram um levantamento dos estudos realizados
sobre rotulagem geral de alimentos no Brasil, entre os anos de 1987 e 2004.
Contrariando o levantamento feito neste estudo, os dados obtidos pelos autores
demonstraram que as inadequações, mais comumente encontradas foram a ausência
de informações sobre o número do lote, a data de fabricação, o prazo de validade, a
especificação dos corantes adicionados intencionalmente e a informação sobre o
glúten.
O quadro 3 foi elaborado para facilitar a visualização e a compreensão das
discrepâncias observadas na tabela de informação nutricional. Para cada uma das 10
variações encontradas, foi atribuída uma letra do alfabeto (A a J). Os valores
observados foram comparados ao estabelecido pelo NOAA.
Quadro 3: Diferenças de valores encontrados na tabela de informação nutricional de
filés de Polaca do Alasca congelado de acordo com o padrão (P) do NOAA.
P A B C D E F G H I J
Porção (g) 100 110 100 100 100 100 100 60 60 60 30
Valor calórico
(Kcal) 81 93 76 90 93 90 81 125 54 54 46
CH1 (g) 0 0 0 0 0 0 0,4 0 0 0 0
Proteína (g) 17 15 17 21 15 21 17 7 12 13 7
G. total2 (g) 0,8 0,8 0,7 1 0,8 1 0,8 11 0,6 0,6 0,6
G. sat.3 (g) 0,1 0,2 0 0 0,2 0 0,2 4 0 0 1
G. trans4 (g) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Fibra (g) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Sódio (mg) 99 44 80 95 44 95 99 209 102 102 85
Extraído de: Adaptado de NOAA, 2014.
Notas: (1) Carboidrato (2) Gordura total (3) Gordura saturada (4) Gordura trans
95
A porção considerada em 1 (3,3%) amostra foi de 110 gramas, 30 gramas em
1 (3,3%) outra amostra e de 60 gramas em outras 5 (16,6%) amostras, sendo que as
demais 23 (76,6%) amostras consideravam a porção de 100 gramas. Além da
gramatura, as amostras apresentaram diferenças entre as indicações dos nutrientes e
do valor calórico.
Destaca-se no quadro 3, as quantidades apontadas na variação G apresentando
valores excessivos de sódio, gordura total, gordura saturada e um alto valor calórico
numa porção de 60 g quando comparados aos considerados como padrão para uma
porção de 100 g. O único componente deficitário por porção foi a proteína com
7g/60g contrapondo os 17g/100g padronizados.
Foi possível constatar que não há um padrão para a composição da tabela
nutricional, talvez devido à exclusão de sua obrigatoriedade instituída pela RDC n°
360, de 23 de dezembro de 2003, da ANVISA. Essa regulamentação tornou a
rotulagem nutricional obrigatória em uma série de produtos, mas não se aplica a
carnes in natura, refrigeradas ou congeladas (MS/ANVISA, 2003).
De qualquer forma, acredita-se que, uma vez que todos os rótulos
apresentaram essas informações, as mesmas deveriam ter uma padronização mínima
e ser regulada pelos órgãos de normatização. Casos como o supracitado da variação
G, por exemplo, onde o conteúdo de sódio representa o dobro do considerado como
padrão e, ainda, em uma amostra menor do que a padrão, gera uma preocupação para
os profissionais da área da saúde. Lembrando que, o valor diário de referência para
ingestão de sal é de 2400 mg, ou seja, o consumo de 60 g de filé de Polaca do Alasca
da variação G representa quase 10,0% de todo sal que deveria ser consumido em um
único dia (MS/ANVISA, 2003).
No estudo de CÂMARA e col. (2008), avaliou-se o cumprimento dos dizeres
dos rótulos à legislação específica vigente, sendo obtidos altos índices de
inadequação. A principal não conformidade observada foi a discrepância entre os
valores apontados na tabela de informação nutricional e a real constituição dos
96
produtos. A ANVISA estabeleceu uma tolerância de 20,0% com relação aos valores
de nutrientes declarados nos rótulos, o que segundo os autores, desrespeita o Código
de Defesa do Consumidor, pois implica em afirmar que os consumidores não têm
acesso à quantidade exata dos nutrientes dos alimentos.
A pesquisa nacional FIESP/IBOPE, sobre o perfil do consumo de alimentos
no Brasil, indicou que os consumidores leem as informações contidas nos rótulos dos
produtos, nas seguintes proporções: 52,0% calorias, 39,0% gorduras, 29,0%
colesterol, 27,0% açúcar, 25,0% proteína, 22,0% carboidratos, 22,0% conservantes,
10,0% glúten e 8,0% sódio (FIESP, 2011).
Em um estudo realizado com frequentadores de supermercados, concluiu-se
que 61,0% dos entrevistados liam os rótulos dos produtos que compravam, mas esses
dados referiam-se apenas àqueles com problemas de saúde ou de classe social mais
elevada. Tal fato pode ser atribuído à falta de clareza das informações contidas nos
rótulos e que levam a dificuldades de compreensão. Talvez por isso, a influência da
rotulagem nutricional sobre o consumidor ainda seja incipiente na decisão de compra
e no consumo dos alimentos (CÂMARA e col., 2008).
Apesar de existir um vasto conjunto de normas e regulamentações sobre a
rotulagem geral de alimentos no Brasil, a inexistência de uma normativa específica
para pescado congelado abriu precedentes para as inadequações encontradas nos
rótulos dos filés de Polaca do Alasca congelados. CÂMARA e col. (2008)
complementam que a correta e efetiva aplicação da rotulagem de alimentos, pela
indústria e pelo comércio, deve ser fiscalizada para que seus benefícios à saúde
sejam mais palpáveis para o consumidor.
Os dados referentes à rotulagem do pescado pesquisado mostraram-se
confusos e inexatos. O rótulo é o primeiro contato do consumidor com o produto,
sendo essencial que todas as informações estejam dispostas de forma clara e
ostensiva para sua verificação no momento da compra. Mesmo a Polaca do Alasca
97
sendo um produto importado, é necessário o cumprimento das exigências contidas
nas regulamentações do MAPA e da ANVISA.
4.2 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ANÁLISES FÍSICO-
QUÍMICAS
Os métodos físico-químicos são aqueles que permitem quantificar a formação
de compostos de degradação do pescado, indicando o seu grau de conservação pela
determinação do pH, de bases voláteis totais e de trimetilamina, entre outros.
Durante o processo de congelamento, armazenamento e descongelamento, o
músculo do pescado pode sofrer desnaturação proteica e oxidação lipídica,
decorrentes de inúmeras causas. A degradação enzimática do óxido de trimetilamina,
constituinte natural do pescado, em dimetilamina e formaldeído, acelera a
desnaturação de proteínas, uma vez que o formaldeído interage com as proteínas do
tecido muscular, causando uma aceleração na deterioração do produto (KAROUI e
col., 2006; SALDANHA e BRAGAGNOLO, 2008; BADII e HOWELL, 2002).
Segundo o RIISPOA, consideram-se os limites aceitáveis para a carne de
pescado: pH de 6,5 para a carne interna, pH de 6,8 para a carne externa, valores
inferiores a 30 mg N-BVT/100g e 4 mg N-TMA/100g (BRASIL, 1952).
As BVT representam o conjunto das bases nitrogenadas que são normalmente
encontradas no pescado em deterioração. A medição do nitrogênio das BVT
possibilita estimar, objetivamente, a qualidade do produto. Alguns estudos apontam
que o limite de 30 mg/100g não é adequado para todos os tipos de peixe. Existem
espécies de peixe que apresentam níveis de N-BVT acima do permitido, mas que
apontam condições favoráveis ao consumo, assim como outras que apresentam níveis
98
dentro do permitido pela legislação, mas que oferecem condições desfavoráveis para
o consumo (SOARES e GONÇALVES, 2012b; SOARES e col., 1998).
Da mesma maneira que o N-BVT, o pH também apresenta variações entre as
espécies e, quando analisado isoladamente, não é considerado um parâmetro seguro
para avaliar o frescor do peixe, não refletindo a qualidade do alimento (SOARES e
GONÇALVES, 2012b; PÉREZ e col., 2014).
Ao determinar os teores de N-BVT e de TMA nas 30 amostras de filés de
Polaca do Alasca congelados obteve-se 100,0% de conformidade com a legislação
vigente, apresentando uma detecção média de 5,75 N-BVT mg/100g.
FARIAS e FREITAS (2011) pesquisaram os parâmetros físico-químicos de
pescado processado por indústrias paraenses, no período de maio de 2005 a janeiro
de 2006, chegando aos mesmos resultados de 100,0% de conformidade nas 54
amostras de pescado congelado analisadas para N-BVT. Por outro lado, SOARES e
col. (1998) obtiveram resultados bem diferentes, com a constatação de teores de 62,7
N-BVT mg/100g em peixes gadóides congelados.
Segundo OGAWA e MAIA (1999), o teor de N-BVT de 5 a 10 mg/100g de
carne indica que o peixe se encontra em estado de frescor ótimo. Segundo esse
critério, poderíamos inferir que todos os filés de Polaca do Alasca congelados
encontravam-se em excelente estado de frescor.
Os resultados das análises físico-químicas de pH, N-BVT e TMA, realizadas
nas 30 amostras de filés de Polaca do Alasca, estão dispostos na tabela 3.
99
Tabela 3 - Resultados das análises físico-químicas realizadas em filés de Polaca do
Alasca congelados coletados de 30 supermercados, em setembro de 2013, na região
da Grande São Paulo.
Notas: (1) Potencial hidrogeniônico
(2) Nitrogênio das bases voláteis totais
(3) Trimetilamina
Amostra pH 1 N-BVT2 mg/100g TMA3/100g
1 7,63 4,26 ausência
2 7,15 6,38 ausência
3 7,60 3,19 ausência
4 6,86 3,90 ausência
5 7,53 3,90 ausência
6 7,58 4,97 ausência
7 7,78 5,67 ausência
8 7,05 6,74 ausência
9 7,46 4,61 ausência
10 7,16 3,55 ausência
11 7,10 4,97 ausência
12 8,08 5,32 ausência
13 7,45 5,32 ausência
14 7,70 4,26 ausência
15 8,57 4,26 ausência
16 7,48 6,74 ausência
17 7,45 7,09 ausência
18 7,33 4,97 ausência
19 7,28 4,61 ausência
20 7,78 3,90 ausência
21 7,25 8,87 ausência
22 8,08 4,26 ausência
23 7,29 3,55 ausência
24 7,80 2,48 ausência
25 7,41 2,48 ausência
26 7,23 7,80 ausência
27 6,95 6,38 ausência
28 6,91 3,90 ausência
29 7,95 4,97 ausência
30 7,06 5,32 ausência
100
Conforme demonstrado na tabela 3, pôde-se constatar que as 30 (100%)
amostras apresentaram valor de pH acima do permitido pela legislação, com valores
que variaram de 6,86 a 8,57.
Na pesquisa realizada por SOARES e col. (1998) foi determinado o pH de
120 amostras de filé de peixe congelado, coletadas no mercado consumidor de Belo
Horizonte, Minas Gerais. Diferentemente dos valores obtidos nos filés de Polaca do
Alasca congelados, os autores obtiveram como resultado de suas amostras um pH
médio de 6,11 para os peixes da família gadóide. FARIAS e FREITAS (2011)
também encontraram bons índices, com 87,0% de conformidade na determinação do
pH das 54 amostras de pescado congelado analisadas.
Corroborando os dados desta pesquisa, o estudo realizado por PÉREZ e col.
(2014), com a determinação de pH de 257 amostras de pescado marinho,
comercializado na Baixada Santista – SP, constatou que 132 (51,3%) amostras
apresentaram pH acima de 6,8, indicando a existência de condições favoráveis para a
sobrevivência e desenvolvimento de micro-organismos.
A variação de pH em produtos de pescado pode ser influenciada por uma
série de fatores, como resistência à captura, decomposição de aminoácidos e ureia,
espécie do pescado, tipo e carga microbiana, métodos de captura, manuseio,
armazenamento e uso excessivo de polifosfatos, após a filetagem (SOARES e col.,
1998; FARIAS e FREITAS, 2011).
101
4.3 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ANÁLISES
MICROBIOLÓGICAS
A partir das análises microbiológicas realizadas nesta pesquisa pudemos
constatar que 100% das amostras encontravam-se de acordo com os padrões
estabelecidos pela RDC n° 12/2001, com contagem de Staphylococcus coagulase
positiva menor do que 103 UFC/g e ausência de Salmonella spp em 25 gramas.
Os resultados obtidos foram corroborados pelos de SOARES e col. (2011)
que analisaram 50 amostras de pescado congelado de diversas marcas
comercializadas no município de Botucatu – São Paulo, constatando-se que 100,0%
das amostras apresentaram contagens menores que 102 UFC/g para Staphylococcus
coagulase positiva. Os autores presumiram que, os resultados obtidos se justificam
no fato do Staphylococcus não ser considerado um bom competidor frente a outras
bactérias inerentes ao pescado e mais adaptadas a produtos crus.
FARIAS e FREITAS (2008) realizaram um estudo, no período de maio de
2005 a janeiro de 2006, sobre a qualidade microbiológica de pescado beneficiado por
indústrias paraenses. Foram feitas análises microbiológicas para detecção de
Salmonella spp e contagem de Staphylococcus aureus. A amostragem compôs-se de
51 peixes eviscerados congelados, 54 filés de peixe congelados, 9 peixes em posta
congelados, 2 peixes inteiros congelados, 4 peixes eviscerados frescos, 3 caudas de
lagosta congeladas e 10 camarões sem cabeça congelados, totalizando 133 amostras.
Com relação à contagem de Staphylococcus aureus, 50 (98,0%) amostras de
peixe eviscerado congelado e 53 (98,1%) amostras de filé de peixe congelado
atenderam ao padrão estabelecido pela legislação federal. Assim como os dados
obtidos por este estudo, nenhuma cepa de Staphylococcus aureus detectada era
coagulase positiva.
102
Na pesquisa de GATTI JÚNIOR e col. (2014) foram analisadas 90 amostras
de tilápia, sendo 40 amostras de peixes inteiros e 50 amostras de filé de peixe fresco
coletados de 10 supermercados, de 6 cidades da região noroeste de São Paulo. Foram
quantificados coliformes, Staphylococcus coagulase positiva e pesquisada a presença
de Salmonella spp. Constatou-se a presença de Sthaphylococcus coagulase positiva
em apenas 2 (2,2%) amostras de filé de tilápia com contagens de 102 UFC/g e 103
UFC/g, respectivamente.
Nas pesquisas realizadas por POPOVIC e col. (2010), com 120 amostras de
pescado congelado, coletadas randomicamente, dos maiores supermercados da
Croácia; e, por RIBEIRO e col. (2009) com a coleta de 62 amostras de pescado
congelado provenientes de indústrias do Estado do Rio de Janeiro, constatou-se a
presença de Staphylococcus aureus, também, com uma contagem menor de 102
UFC/g em 100% das amostras.
Ao pesquisarem a presença de Salmonella spp, diversos autores encontraram
resultados idênticos aos obtidos neste estudo, com 100,0% das análises em
conformidade com a legislação vigente. Vale lembrar que, o gênero Salmonella não é
reconhecido como parte da microbiota natural de ambientes aquáticos, ainda que haja
relatos de certos sorotipos serem parte integrante da microbiota endógena de
ambientes aquáticos tropicais (SOARES e col. 2011; FARIAS e FREITAS, 2008;
GATTI JÚNIOR e col., 2014; POPOVIC e col., 2010; RIBEIRO e col., 2009).
Em um dos poucos estudos existentes sobre a viabilidade bacteriana em
peixes congelados, citado no artigo de EVANS e col. (2004) apud Brady e
Vinitnantharat (1990), os autores encontraram bactérias Gram negativas,
patogênicas, viáveis em bagres (Ictalurus punctatus) mantidos sob congelamento a –
20,0ºC por mais de 20 dias. Culturas viáveis de Streptococcus agalactiae foram
recuperadas a partir de tecidos infectados, tanto naturalmente quanto
experimentalmente, em temperaturas de – 70,0ºC por 9 meses e 5 meses,
respectivamente, após aplicação de técnica de enriquecimento.
103
No estudo dos mesmos autores, realizou-se um experimento sobre a
viabilidade de várias espécies de bactérias Gram negativas, em peixe congelado a –
20,0ºC, e, constatou-se baixo tempo de vida de Aeromonas hydrophila comparada a
outras aeromonas.
Contrapondo essa informação, MUTHUKUMARAPPAN e MARELLA
(2007) afirmam que micro-organismos patogênicos não conseguem se multiplicar em
temperaturas abaixo de 5ºC, variando essa suscetibilidade de espécie para espécie.
Os autores citam que células vegetativas de leveduras, bolores e bactérias Gram
negativas são destruídas, enquanto bactérias Gram positivas e esporos de bolores,
não são afetados pelas baixas temperaturas.
Vale ressaltar que a análise microbiológica de um alimento é utilizada para
avaliar a sua segurança presumível. SOARES e col. (2012) ressaltam que esses tipos
de testes possuem limitações como ferramentas de controle de qualidade de pescado,
pois suas análises e resultados são demorados, além de existirem dificuldades para
amostragem, definição de métodos analíticos e uso de micro-organismos indicadores.
4.4 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ANÁLISES SENSORIAIS
Segundo SANTOS (2011), as tabelas de avaliação sensorial e classificação de
pescado, comumente utilizadas nos estudos brasileiros, não são espécies-específicas
e não são nacionais. As características sensoriais para pescado fresco próprio para o
consumo estão descritas no RIISPOA.
A IN nº 25/2011 do MAPA instituiu os métodos analíticos oficiais físico-
químicos para controle de pescado e seus derivados. Segundo essa normativa, na
avaliação sensorial de filé de peixe resfriado ou congelado, o produto deve
apresentar-se com todo o frescor da matéria-prima convenientemente conservada
(MAPA, 2011).
104
O filé de peixe congelado deve, ainda, estar isento de toda e qualquer
evidência de decomposição, manchas por hematomas, coloração distinta à normal
para a espécie considerada, incisões ou rupturas. Deve, também, possuir coloração,
consistência e odor inerentes à espécie analisada (MAPA, 2011).
Neste estudo foi realizada a análise da textura dos filés de Polaca do Alasca
congelados, realizando-se uma compressão de 60,0% de forma que, a força
necessária para esta deformação, indicasse a firmeza do filé.
Os valores de firmeza do filé obtidos variaram de 9,02 a 2,52 N, em média foi
de 5,3 ± 1,6 N, valor bem abaixo do encontrado por ROTABAKK e col. (2014) para
espécie do mesmo gênero, 24,1 ± 5,2 N para o bacalhau (G. mohua) in natura.
Durante o processo de congelamento e armazenamento congelado, o músculo
do peixe pode sofrer uma série de mudanças, como a desnaturação e agregação das
proteínas miofibrilares (BARROSO e col., 1998b; BADII e HOWELL, 2002). Isto
resulta em alteração das propriedades funcionais das proteínas musculares, como a
perda de capacidade de retenção de água, suculência e modificações indesejáveis na
textura, resultando em um produto duro, seco e fibroso com aumento da força de
cisalhamento ou tensão de corte (SANCHEZ-ALONSO e col., 2014).
Essas alterações, induzidas pelo armazenamento sob congelamento, são
acompanhadas por modificação na morfologia das fibras, assim como desnaturação e
agregação de proteínas musculares. Para as espécies gadóides, a alteração na textura
e a perda da capacidade de retenção de água pelo descongelamento são um sério
problema (SANCHEZ-ALONSO e col., 2014; KAROUI e col., 2006).
A perda de peso do pescado é outra questão relevante relacionada ao
congelamento e ao armazenamento que afeta, não somente parâmetros de qualidade
do produto como cor e aspecto; mas, também, acarreta perdas econômicas para os
produtos que são vendidos por peso (MUTHUKUMARAPPAN e MARELLA,
2007).
105
A presença de cristais de gelo e a intensa exsudação de água ao
descongelamento, além de causar alterações sensoriais, podem comprometer a
imagem do produto perante o consumidor, uma vez que esse pode sentir-se
ludibriado pela grande diferença entre o peso líquido apresentado na embalagem e o
volume final obtido.
A partir de denúncias de consumidores, o Governo do Estado do Rio de
Janeiro realizou, em dezembro de 2014, uma investigação sobre fraudes na
comercialização de peixes congelados, dentre eles a Polaca do Alasca. Constatou-se
uma diferença entre o peso bruto e o peso líquido desses produtos numa faixa de
25,0% a 44,0%, valores acima dos 20,0% de glazeamento permitido por lei (RIO DE
JANEIRO, 2014).
O Ministério Público do Estado de Santa Catarina e o INMETRO realizaram,
em 2009 e 2010, levantamentos para verificar irregularidades na quantidade de gelo
na venda de pescado congelado. Essas operações, que ficaram conhecidas como
Operação Alasca e Operação Esquimó, constataram níveis de glazeamento acima do
permitido em 11 de 14 amostras analisadas (JUSBRASIL, 2011).
Apesar de não ter sido objetivo desta pesquisa avaliar a perda de peso líquido
dos filés de pescado ao descongelamento, vale ressaltar que a exsudação de água dos
filés de Polaca do Alasca foi intensa durante o processo de descongelamento para
preparo das amostras.
De acordo com COLLA e PRENTICE-HERNÁNDEZ (2003), o
congelamento lento e a oscilação de temperatura contribuem à formação de grandes
cristais de gelo, ocasionando a ruptura das membranas celulares, com consequente
forte exsudação no descongelamento e perda de nutrientes
(MUTHUKUMARAPPAN e MARELLA, 2007).
O dano celular no músculo do peixe pode ocorrer devido ao processo de
conversão da água em gelo durante a cristalização, quando o volume de água
106
presente no alimento aumenta cerca de 13,0%, em temperaturas abaixo de zero. Esse
aumento é influenciado pela umidade do produto, temperatura de congelamento e
pela presença de espaço intracelular (MUTHUKUMARAPPAN e MARELLA, 2007;
SANCHEZ-ALONSO e col., 2014).
A maioria das amostras apresentava sinais de descongelamento, ainda na
embalagem íntegra, como filés grudados e presença de cristais de gelo dentro da
embalagem, sinais estes que indicam deficiência na cadeia do frio e fator que deve
ter contribuído para a reduzida firmeza nos filés, como resultado da ruptura das
membranas celulares.
Outra análise realizada foi a determinação colorimétrica, com medições nas
regiões ventral anterior (L*), central (a*) e dorsal posterior do filé (b*). Os valores
de L*, a*, b* médios variaram de 51,21 a 68,94; - 3,49 a 3,19 e - 1,88 a 19,7,
respectivamente. Os valores de L∗ e b∗ diferiram dos encontrados por ROTABAKK e
col. (2014) para Gadus mohua cultivado (83,03 e 14,52, respectivamente), mas para
a∗ (– 3,01), os valores foram próximos.
Os valores de L* indicaram que os filés de Polaca do Alasca apresentavam-se
escurecidos, quando comparados aos do bacalhau, podendo ser resultado da queima
pelo frio com a formação de regiões amarronzadas na superfície do pescado
(MUTHUKUMARAPPAN e MARELLA, 2007). Os valores de b*, em média de
6,17, indicaram que os filés apresentavam-se amarelados. A figura 17 ilustra as
alterações mencionadas.
107
Figura 17 – Alterações colorimétricas observadas em filés de Polaca do Alasca
congelados coletados em supermercados da região da Grande São Paulo, em
setembro de 2013.
Pôde-se constatar que, mesmo com a inexistência de padrões oficiais de
comparação, os filés de Polaca do Alasca apresentaram-se com firmeza reduzida e
alteração de coloração, quando comparados ao bacalhau. É importante ressaltar que,
todas as amostras apresentaram intensa exsudação de água e sinais de
recongelamento.
108
5 CONCLUSÕES
As principais não conformidades encontradas no checklist relacionadas aos
equipamentos, em ordem decrescente, foram: falta de veracidade na temperatura
indicada no termômetro (66,6%), presença de restos de alimento no fundo do
equipamento (50,0%), excesso de gelo (36,6%), produtos abastecidos acima do
limite de carga (33,3%), falta de termômetro (33,3%) e situação propícia à
contaminação cruzada (16,6%).
Com relação ao pescado congelado exposto à venda, as principais não
conformidades, em ordem decrescente, foram: presença de cristais de gelo (100,0%),
temperatura abusiva – acima de - 12ºC (100,0%), alteração no formato do filé
(26,6%) e alteração de consistência (20,0%). E, no que concerne à rotulagem:
ausência do carimbo do SIF (83,3%), falta de informação sobre o importador
(30,0%), falta de informação sobre o produtor (30,0%) e ausência de indicação de
marca comercial (16,6%). Observou-se, ainda, uma falta de padronização na
apresentação dos valores dos componentes da tabela de informação nutricional
desses produtos.
As análises físico-químicas indicaram 100,0% de conformidade com a
legislação vigente para N-BVT e para N-TMA. Os níveis de 5,75 N-BVT mg/100g e
a ausência de N-TMA indicaram que as amostras de filés de Polaca do Alasca não
apresentavam indícios de deterioração.
A totalidade das amostras apresentou-se não conforme para o parâmetro pH,
com medições que variaram de 6,86 a 8,57, indicando a existência de condições
favoráveis para a sobrevivência e desenvolvimento de micro-organismos.
As análises microbiológicas realizadas, pesquisa de Salmonella spp em 25
gramas e contagem de Staphylococcus coagulase positiva, apresentaram 100,0% de
109
conformidade com os padrões legais, com a ausência em 25 gramas e contagem
menor de 103 UFC/g, respectivamente.
Nas análises sensoriais encontraram-se valores de firmeza do filé de 9,02 a
2,52 N, com uma média de 5,3 ± 1,6 N e a colorimetria indicou que as amostras de
filés de Polaca do Alasca encontravam-se escurecidos e amarelados em comparação
ao bacalhau. Pôde-se afirmar que, os filés de Polaca do Alasca apresentaram-se com
perda de algumas de suas características sensoriais iniciais pela diminuição de
firmeza e alteração de cor.
Concluiu-se que os resultados do checklist aplicado para verificação das
condições dos equipamentos e da exposição do pescado congelado à venda, nas
gôndolas de congelamento, de 30 supermercados da região da Grande São Paulo,
apontaram deficiências na manutenção da temperatura e na operação das gôndolas de
exposição, não proporcionando as condições ideais para a manutenção do pescado
congelado durante o seu armazenamento.
Embora os resultados das análises microbiológicas tenham demonstrado que
os produtos estivessem próprios para o consumo, as análises físico-químicas, em
específico os parâmetros referentes ao pH, não estavam de acordo com os valores
determinados pela legislação vigente. No entanto, a referida legislação trata apenas
de pescado fresco, devendo ser julgada a sua aplicabilidade ao pescado congelado,
não existindo, até o momento, parâmetros oficiais estabelecidos especificamente para
este produto.
110
6 RECOMENDAÇÕES
A carência de informações sobre a qualidade higienicossanitária de alimentos
congelados detectada nessa pesquisa, pode servir para que os órgãos reguladores
conscientizem-se da necessidade iminente da elaboração de normativas e
regulamentações específicas para este tipo de produto.
Com o crescimento exponencial da importação de pescado congelado para o
mercado brasileiro e sua intensa comercialização pelas grandes redes de
supermercados torna-se essencial a padronização de normas também para o comércio
internacional com a obrigatoriedade da implantação de ferramentas que permitam a
rastreabilidade e monitoramento da qualidade desse pescado.
A verificação do cumprimento das boas práticas de manipulação, das formas
de armazenamento e exposição à venda de produtos congelados deveria ser mais
criteriosa, pelos agentes da Vigilância Sanitária, exigindo que os estabelecimentos
sigam as diretrizes para manutenção da qualidade dos produtos, principalmente, com
o acompanhamento pormenorizado da sua temperatura.
Campanhas de educação sanitária, com enfoque na conscientização do
consumidor, sobre as características sensoriais ideais de um produto congelado, a
faixa de temperatura em que deve ser mantido e a sua correta forma de exposição à
venda, poderia minimizar as inadequações cometidas pelos supermercados. Um
consumidor bem informado pode atuar como uma ferramenta no controle de
qualidade de estabelecimentos comerciais.
O aprofundamento no estudo de novos processos tecnológicos, como a
aplicação de proteínas e glicoproteínas antifreeze em alimentos congelados, que
reduzem o tamanho dos cristais de gelo formados no processo de congelamento e a
111
perda de água no descongelamento, poderiam diminuir os efeitos adversos das
variações de temperatura durante o transporte e a exposição à venda dos produtos.
Outros estudos deveriam ser realizados para avaliar a viabilidade bacteriana
em produtos congelados permitindo o conhecimento da microflora patogênica
existente nesse substrato, assim como o aprofundamento na pesquisa de alterações
nos parâmetros físico-químicos decorrentes do armazenamento do pescado sob
congelamento. Esses dados poderiam ser utilizados como ferramentas para aprimorar
a legislação vigente com a implementação de padrões microbiológicos e físico-
químicos específicos para pescado congelado.
112
7 REFERÊNCIAS
ADFG – Alaska Department of Fish and Game [homepage na internet]. c2014.
[acesso em 17 jan 2014]. Disponível em:
http://www.adfg.alaska.gov/index.cfm?adfg=walleyepollock.main.
Andrade PF. Prazo de vida comercial do atum (Thunnus atlanticus) armazenado sob
refrigeração [dissertação de mestrado]. Niterói: Universidade Federal Fluminense;
2006.
Badii F, Howell NK. Changes in the texture and strucutre of cod and haddock fillets
during frozen storage. Food Hydrocoll. 2002,16:313-319.
Barroso M, Careche M, Barrios L, Borderias AJ. Frozen hake fillets quality as
related to texture and viscosity by mechanical methods. J Food Sci.1998a,63(5).
Barroso M, Careche M, Borderias AJ. Quality control of frozen fish using
rheological techniques. Trends Food Sci Technol.1998b,9:223-229.
Behrens JH, Barcellos MN, Frewer LJ, Nunes TP, Franco BDGM, Destro MT et al.
Consumer purchase habits and views on food safety: A Brazilian study. Food
Control.2010,21:963:969.
Bombardelli RA, Syperreck MA, Sanches EA. Situação atual e perspectivas para o
consumo, processamento e agregação de valor ao pescado. Arq Cien Vet Zool.
2005,8(2):181-195.
Brasil. Ministério da Justiça. Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor.
Nota Técnica n° 19 de 2009. Dispõe sobre a comercialização de pescado congelado.
Disponível em:
http://www.anvisa.gov.br/alimentos/informes/nota_tecnica_pescado%20oficial.pdf
Brasil. Presidência da República. Lei 10674, de 16 de maio de 2003. Obriga a que os
produtos alimentícios comercializados informem sobre a presença de glúten, como
medida preventiva e de controle da doença celíaca. D.O.U. - Diário Oficial da União;
Poder Executivo, de 19 de maio de 2003.
Brasil. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC.
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – INMETRO.
Portaria n° 30, de 11 de fevereiro de 2010. Regulamento técnico metrológico que
define a metodologia ser utilizada na determinação do peso líquido de pescado,
molusco e crustáceos glaciados.
Brasil. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC.
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – INMETRO.
113
Portaria n° 157, de 19 de agosto de 2002. Regulamento técnico metrológico que
estabelece a forma de expressar o conteúdo líquido nos produtos pré-medidos.
Brasil. Lei nº 8078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do
consumidor e dá outras providências. Disponível em:
http://www.consumidorbrasil.com.br.
Brasil. Decreto nº 30691, de 29 de março de 1952. Aprova o novo regulamento de
inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Diário Oficial da
União. Brasília, 07 jul. 1952. Seção1, p. 10785.
Bulatov OA. Walleye pollock: global overview. Fish Sci.2014,80:109-116.
Buss PM. Promoção da saúde e qualidade de vida. Ciência e Saúde Coletiva.
2000,5(1):163:177.
Câmara MCC, Marinho CLC, Guilam MC, Braga AMCB. A produção acadêmica
sobre a rotulagem de alimentos no Brasil. Rev Panam Salud Publica.2008,23(1):52-
58.
Careche M, Del Mazo ML, Fernández-Martín F. Extractability and thermal stability
of frozen hake (Merluccius merluccius) fillets stored at -10 and – 30°C. J Sci Food
Agric. 2002,82:1791:1799.
Careche M, Herrero AM, Rodriguez-Casado A, Del Mazo ML, Carmona P.
Structural changes of Hake (Merluccius merluccius L.) fillets: effects of freezing and
frozen storage. J Agric Food Chem. 1999,47:952-959.
Ceribeli HB. Experiências de consumo e satisfação dos clientes no setor
supermercadista: um estudo no interior de São Paulo [dissertação de mestrado].
Ribeirão Preto: Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP;
2011.
Claret A, Guerrero L, Agurre E, Rincón L, Hernández MD, Martínez I et al.
Consumers preferences for sea fish using conjoint analysis: Exploratory study of the
importance of country of origin, obtaining method, storage conditions and
purchasing price. Food Qual Prefer.2012, 26:259-266.
Clemente ES. A garantia da segurança dos alimentos perecíveis no setor
supermercadista [tese de doutorado]. Campinas: Faculdade de Engenharia de
Alimentos da Universidade Estadual de Campinas; 2003.
Colla LM, Prentice-Hernández C. Congelamento e descongelamento: sua influência
sobre os alimentos.Vetor.2003,13:53-66.
114
CONEPE – Conselho Nacional de Pesca e Aquicultura. Estatísticas: Balança
comercial de pescado até julho 2014. Brasília; c2014.[acesso em 26 out 2014].
Disponível em: http://www.conepe.org.br/index.php/estatisticas
CVS/SES - Centro de Vigilância Sanitária. Secretaria Estadual de Saúde. Portaria –
CVS nº 5, de 09 de abril de 2013. Aprova o regulamento técnico sobre boas práticas
para estabelecimentos comerciais de alimentos e para serviços de alimentação, e o
roteiro de inspeção, anexo. Disponível em: http://www.cvs.saude.sp.gov.br.
Dicas de Receita [homepage da internet]. São Paulo; c2014. [acesso em 07 jul 2014].
Disponível em: http://dicasereceitas.com/wp-content/uploads/2009/02/freezer.jpg
Duret S, Hoang HM, Flick D, Laguerre O. Experimental characterization of airflow,
heat and mass transfer in a cold room filled with food products. Int J Refrig.
2014,46:17-25.
Eletrosvip [homepage na internet]. São Paulo; c2012. [acesso em 23 fev 2012].
Disponível em: http://www.eletrosvip.com.br/content/9-grande-sao-paulo.
Evans JA, Scarcelli S, Swain MVL. Temperature and energy performance of
refrigerated retail display and commercial catering cabinets under test conditions. Int
J Refrig.2007,30:398-408.
Evans JJ, Wiedenmayer AA, Klesius PH, Shoemaker CA. Survival of Streptococcus
agalactiae from frozen fish following natural and experimental
infections.Aquaculture.2004,233:15-21.
FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação [homepage
na internet]. The state of world fisheries and aquaculture 2012. Roma; c2012. [acesso
em 31 mai 2013]. Disponível em: http://www.fao.org/docrep/016/i2727e/i2727e.pdf
Farias MCA, Freitas JA. Qualidade microbiológica de pescado beneficiado em
indústrias paraenses. Rev Inst Adolfo Lutz. 2008,67(2):113-117.
Farias MCA, Freitas JA. Avaliação sensorial e físico-química de pescado processado.
Rev Inst Adolfo Lutz. 2011,70(2):175:179.
Fellows, PJ. Tecnologia do processamento de alimentos: princípios e práticas. Porto
Alegre: Artmed, 2006.
Feng W, Jian Z, Weisong M, Zetian F, Xiaoshuan Z. Consumers’ perception toward
quality and safety of fishery products, Beijing, China. Food Control.
2009,20:918:922.
Fiesp – Federação da Indústrias do Estado de São Paulo [homepage da internet]. São
Paulo; c2011. [acesso em 22 jul 2014]. Disponível em:
115
http://www.fiesp.com.br/noticias/consumidor-brasileiro-busca-alimentos-praticos-e-
rapidos-aponta-pesquisa-da-fiesp-e-ibope/.
Galarz LA, Fonseca GG, Prentice-Hernandez C. Crescimento microbiano em
produtos à base de peito de frango durante simulação da cadeia de abastecimento.
Cienc Tecnol Aliment.2010,30(4):870-877.
Gatti Júnior P, Assunção AWA, Baldin JC, Amaral LA. Microbiological quality of
whole and filleted shelf-tilapia. Aquaculture.2014,433:196-200.
Gava AJ, Silva CAB, Frias JRG. Tecnologia de alimentos: princípios e aplicações.
São Paulo: Nobel, 2009.
Geiges O. Microbial processes in frozen food. Adv Space Res.1996,18(12):109-118.
Germano PML, Germano MIS. Higiene e vigilância sanitária dos alimentos. São
Paulo: Manole, 2013.
Globalança [homepage da internet]. São Paulo; c2014. [acesso em 07 jul 2014].
Disponível em: http://www.globalanca.com.br/produtos.php?cat=8&pg=3
Gonçalves AA. Tecnologia do pescado: ciência, tecnologia, inovação e legislação.
São Paulo: Atheneu, 2011.
Gonçalves AA. Aproveitamento integral da Tilápia no processamento. Rio Grande
do Sul: Unisinos, 2004.
Gozzi MS, Piacente ML, Cruces V, Díaz EG. Influencia de la temperatura
conservación sobre la formación de histamina en caballa (Scomber japonicus). Inf
Tecnol. 2011; 22(6):53-62.
Guedes GJPB. Segurança alimentar e controle de qualidade: um estudo da
implantação do Programa Alimentos Seguros em supermercados de bairro
[dissertação de mestrado]. Rio Grande do Norte: UFRN; 2008.
Hales BM, Pronovost PJ. The checklist – a tool for error management and
performance improvement. J Crit Care. 2006;21:231-235.
Huss HH. Quality and quality changes in fresh fish. FAO Fisheries Technical Paper:
Rome; 1995.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [homepage na internet]. Censo
demográfico 2010. São Paulo; c2011. [acesso em 23 fev 2012]. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/resultados_dou/defaul
t_resultados_dou.shtm
116
INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia [homepage
na internet]; c2005. [acesso em 22 jan 2012]. Disponível em:
www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/freezeres.asp.
Joshi R, Banwet DK, Shankar R. Consumer link in cold chain: Indian scenario. Food
Control. 2010,21:1137:1142.
JUSBRASIL [homepage da internet]; c2011. [acesso em 20 jan 2015]. Disponível
em: http://mp-sc.jusbrasil.com.br/noticias/2316670/operacao-esquimo-comprova-
novamente-excesso-de-gelo-no-pescado-congelado
Kamagian E, Tomé KA, Conceição PM, Silva PB. A gestão de produtos congelados
e resfriados e seu impacto nos resultados operacionais dos supermercados. Jovens
Pesquisadores. 2004,1(1):22-31.
Karoui R, Thomas E, Dufour E. Utilisation of a rapid technique based on front-face
fluorescence spectroscopy for differentiating between fresh and frozen-thawed fish
fillets. Food Res Int.2006,39:349-355.
Laguerre O, Duret S, Hoang HM, Flick D. Using simplified models of cold chain
equipment to assess the influence of operating conditions and equipment design on
cold chain performance. Int J Refrig.2014,47:120-133.
Laguerre O, Hoang MH, Flick D. Heat transfer modelling in a refrigerated display
cabinet: The influence of operating conditions. J Food Eng.2012,108:352-364.
Leitão MFF, Rios DPFA, Guimarães JGL, Baldini VLS, Pinto CSRM. Alterações
químicas e microbiológicas em Pacu (Piaractus mesopotamicus) armazenado sob
refrigeração. Cienc Tecnol Aliment.1997,17(2):160-166.
Likar K, Jevsnik M. Cold chain maintaining in food trade. Food
Control.2006,17(2):108-113.
Lundén J. Reasons for using enforcement measures in food premises in Finland.
Food Control.2013,31:84-89.
Lundén J, Vanhanen V, Myllymaki T, Laamanen E, Kotilainen K, Hemminki K.
Temperature control efficacy of retail refrigeration equipment. Food
Control.2014,45:109-114.
MAPA – Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução normativa
nº 25, de 02 de junho de 2011. Aprova os métodos analíticos oficiais físico-químicos
para o controle de pescados e seus derivados. Disponível em:
http://www3.servicos.ms.gov.br/iagro_ged/pdf/1734_GED.pdf.
117
MAPA - Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Ofício Circular
GA/DIPOA n° 26, de 19 de agosto de 2010. Dispõe sobre o limite máximo de
glaciamento em pescados congelados.
MAPA – Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução normativa
nº 22, de 24 de novembro de 2005. Aprova o regulamento técnico para rotulagem de
produtos de origem animal embalado. Disponível em:
http://www.cidasc.sc.gov.br/inspecao/files/2012/08/instru%C3%A7%C3%A3o-
normativa-22_2005.pdf
MAPA – Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa
SDA nº 62, de 26 de agosto de 2003. Dispõe sobre os métodos analíticos oficiais
para análises microbiológicas para controle de produtos de origem animal e água.
Disponível em: http://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=75773.
MAPA- Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Portaria nº 185, de 13
de maio de 1997. Aprova o regulamento técnico de identidade e qualidade de peixe
fresco (inteiro e eviscerado). Diário Oficial da União. 19 mai 1997;Seção1.
MAPA – Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Portaria nº 01, de 07
de outubro de 1981. Aprova os métodos analíticos de controle de produtos de origem
animal e ingredientes, constituindo-se em métodos microbiológicos e métodos físicos
e químicos. Disponível em: http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-
consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=18098.
MCS – Marine Conservation Society [homepage na internet]. Escócia; c2012.
[acesso em 17 jan 2014]. Disponível em: http://www.fishonline.org/fish/alaska-
pollock-walleye-pollock-27.
Miura M, Cerqueira MAS, Maruyama LS. Importações e exportações de pescado do
Estado de São Paulo entre os anos de 2000 e 2009. Análises e indicadores do
agronegócio.2012,7(6).
Morelli E, Noel V, Rosset P, Poumeyrol G. Performance and conditions of use of
refrigerated display cabinets among producer/vendors of foodstuffs. Food
Control.2012,26:363-368.
MPA – Ministério da Pesca e Aquicultura. Ofício nº 455/2011. Determina que a
partir de 1º de janeiro de 2012, o nome comercial da espécie Theragra
calchogramma deve ser alterado para Polaca do Alasca, a nominação anteriormente
utilizada Merluza do Alasca deverá ser substituída.
MPA - Ministério da Pesca e Aquicultura. Balanço 2013 – Pesca e Aquicultura.
Disponível em: http://www.mpa.gov.br/images/Docs/Publicidade/Cartilha-
Balan%C3%A7o-2013-Minist%C3%A9rio-Pesca-Aquicultura.pdf
118
MS/ANVISA - Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Resolução - RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004. Regulamento técnico de boas
práticas para serviços de alimentação. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br
MS/ANVISA – Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Resolução – RDC n°360, de 23 de dezembro de 2003. Regulamento técnico sobre
rotulagem nutricional de alimentos embalados, tornando obrigatória a rotulagem
nutricional. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br
MS/ANVISA - Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Resolução - RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002a. Regulamento técnico sobre
rotulagem de alimentos embalados. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br
MS/ANVISA - Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Resolução - RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002b. Regulamento técnico de
procedimentos operacionais padronizados aplicados aos estabelecimentos produtores
de alimentos. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br
MS/ANVISA - Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Resolução – RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001. Regulamento técnico sobre
padrões microbiológicos para alimentos. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br.
MS/SVS – Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigilância
epidemiológica das doenças transmitidas por alimentos – abril 2013.
Muthukumarappan K, Marella C. Food freezing technology. Estados Unidos: Myer
Kutz, 2007. Handbook of farm, dairy and food machinery.
NACMCF. Response to the questions posed by the Food and Drug Administration
and National Marine Fisheries Services regarding determination of cooking
parameters for safe seafood for consumers. J Food Prot.2008,71(6):1287-1308.
Neiva CRP, Cerqueira MAS, Miura M, Furlan EF, Machado TM, Lemos Neto MJ. O
mercado de pescado em São Paulo. In: IV Simcope – Simpósio de Controle de
Qualidade do Pescado; 2010; Santos, BR.
Newtrade [homepage na internet]. São Paulo; c2010. [acesso em 07 out 2010].
Disponível em: http://www.newtrade.com.br/pages.php?id=33&user=99.
NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration [homepage na internet];
c2014. [acesso em 17 jan 2014]. Disponível em:
http://www.afsc.noaa.gov/species/pollock.php
Ogawa NBP, Maia EL. Manual de pesca: ciência e tecnologia do pescado. São
Paulo: Varela, 1999.
119
Olafsdottir G, Lauzon HL, Martinsdottir E, Kristbergsson K. Influence of storage
temperature on microbial spoilage characteristics of haddock fillets
(Melanogrammus aeglefinus) evaluated by multivariate quality prediction. Int J Food
Microbiol.2006:112-125.
Olafsdottir G, Martinsdbttir E, Oehlenschbger J, Dalgaard P, Jensen B, Undeland I et
al. Methods to evaluate fish freshness in research and industry. Trends Food Sci
Technol.1997,8:258-265.
Ordónez JA. Tecnologia de alimentos. Porto Alegre: Artmed, 2005.
Ovca A, Jevsnik M. Maintaining a cold chain from purchase to the home at home:
consumers opinions. Food Control. 2009,20(2):167-172.
Pérez ACA, Machado TM, Neiva CRP, Furlan EF, Lemos Neto MJ, Tomita RY et
al. Evaluation of seafood quality market in Baixada Santista/SP. Bol Inst
Pesca.2014,40(2):167-177.
Pieniak Z, Kolodziejczyk M, Kowrygo B, Verbeke. Consumption patterns and
labeling of fish and fihery products in Poland after the EU accession. Food
Control.2011,22:843-850.
Popovic NT, Skukan AB, Dzidara P, Coz-Rakovac R, Strunkjak-Perovic I,
Kozacinski L et al. Microbiological quality of marketed fresh and frozen seafood
caught off the Adriatic coast of Croatia.Vet Med (Praha).2010,55(5):233-241.
Portal Brasil [homepage na internet]; c2013. [acesso em 17 jan 2015]. Disponível
em: http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2013/10/consumo-de-pescado-
no-brasil-aumenta-23-7-em-dois-anos
Regulamento (CE) n.º 882/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de
Abril de 2004. Estabelece controles oficiais realizados para assegurar a verificação
do cumprimento da legislação relativa aos alimentos para animais e aos gêneros
alimentícios e das normas relativas à saúde e ao bem-estar dos animais.
Regulamento (CE) n.º 178/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 28 de
Janeiro de 2002. Determina os princípios e normas gerais da legislação alimentar,
cria a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos e estabelece
procedimentos em matéria de segurança dos gêneros alimentícios.
Regulamento (CE) N.º 104/2000 do Conselho, de 17 de dezembro de 1999.
Estabelece a organização comum de mercado no setor dos produtos da pesca e da
aquicultura.
Rehbein H, Oehlenschlager J. Fishery products: quality, safety and authenticity.
Reino Unido: Blackwell Publishing, 2009.
120
Ribeiro AMLS, Oliveira GM, Ferreira VM, Pereira MMD, Silva PPO. Avaliação
microbiológica da qualidade de pescado processado, importado no estado do Rio de
Janeiro. R Bras Ci Vet.2009,16(3):109-112
Rio de Janeiro (Estado). Polícia Civil. Investigação apura fraude na comercialização
de peixes congelados. 2014. Disponível em:
http://www.policiacivil.rj.gov.br/exibir.asp?id=19851
Rotabakk BT, Bleie H, Stien LH, Roth B. Effect of blood removal protocol and
superchilling on quality parameters of prerigor filleted farmed Atlantic Cod (Gadus
morhua). J Food Sci.2014,79(5):881-886.
Saldanha T, Bragagnolo N. Relation between types of packaging, frozen storage and
grilling on cholesterol and fatty acids oxidation in Atlantic hake fillets (Merluccius
hubbsi).Food Chemistr.2008,106:619-627.
Sanchez-Alonso I, Moreno P, Careche M. Low field nuclear magnetic resonance
(LF-NMR) relaxometry I hake (Merluccius merluccius, L.) muscle after different
freezing and storage conditions. Food Chemistr.2014,153:250-257.
Santos APB. Índices químicos, sensoriais e microbiológicos para avaliação do
frescor de pescada amarela (Cynoscium acoupa) armazenada em gelo [dissertação de
mestrado]. Pirassununga: Universidade de São Paulo; 2011.
Santos CAML. Doenças transmitidas por pescado no Brasil. Rev Bras Med Vet.
2010,32(4):234-241.
Santos TM, Martins RT, Santos WLM, Martins NE. Inspeção visual e avaliações
bacteriológica e físico-química da carne de piramutaba (Brachyplatistoma vaillanti)
congelada. Arq Bras Med Vet Zootec.2008,60(6):1538-45.
São Paulo. Lei complementar n° 1139, de 16 de junho de 2011a. Reorganiza a região
metropolitana da grande São Paulo, cria o respectivo Conselho de Desenvolvimento
e dá providências correlatas. Disponível em:
http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei%20complementar/2011/lei%20co
mplementar%20n.1.139,%20de%2016.06.2011.htm
São Paulo. Secretaria Municipal de Saúde. Portaria nº 2619, de 6 de dezembro de
2011b. Aprova o regulamento de boas práticas e de controle de condições sanitárias e
técnicas das atividades relacionadas à importação, exportação, extração, produção,
manipulação, beneficiamento, acondicionamento, transporte, armazenamento,
distribuição, embalagem e reembalagem, fracionamento, comercialização e uso de
alimentos – incluindo águas minerais, águas de fontes e bebidas, aditivos e
embalagens para alimentos. Disponível em:
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/chamadas/portaria_2619_1
323696514.pdf
121
São Paulo. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz. Métodos químicos e físicos
para análise de alimentos. Secretaria da Saúde: São Paulo, 1985.
SEBRAE [homepage na internet]. Espírito Santo; c2002. [acesso em 12 fev 2012].
Disponível em:
http://vix.sebraees.com.br/arquivos/biblioteca/Industria%20do%20Pescado.pdf
SENAC. Guia de elaboração do plano APPCC. Rio de Janeiro (RJ), 2001.
Silva ML. Pesquisa de Aeromanas spp., Vibrio spp. e da qualidade sanitária de
peixes comercializados na cidade de São Paulo [dissertação de mestrado]. São Paulo:
Faculdade de Saúde Publica da USP; 2007.
SIVISA – Sistema de Informação em Vigilância Sanitária. Levantamento do número
de estabelecimentos cadastrados sob o CNAE 4711-3-02, nos municípios do Grande
ABC, no ano de 2012.
Smith JS, Hui YH. Food processing: principles and applications. Iowa: Blackwell
Publishing, 2004.
Soares KMP, Gonçalves AA. Aplicação do método do índice de qualidade (MIQ)
para o estudo da vida útil de filés de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) sem
pele, armazenados em gelo. Cienc Agr. 2012a,33(6):2289-2300.
Soares KMP, Gonçalves AA. Qualidade e segurança do pescado. Rev Inst Adolfo
Lutz. 2012b,71(1):1-10.
Soares KMP, Gonçalves AA, Souza LB, Silva JBA. Pesquisa de Staphylococcus
aureus em tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) armazenada em gelo. Acta
Veterinaria Brasilica. 2012,6(3):239-242.
Soares VM, Pereira JG, Izidoro TB, Martins OA, Pinto JPAN, Biondi GF. Qualidade
microbiológica de filés de peixe congelados distribuídos na cidade de Botucatu – SP.
Cient Ciênc Biol Saúde. 2011,13(2):85-8.
Soares VFM, Vale SR, Junqueira RG, Glória MBA. Teores de histamina e qualidade
físico-química e sensorial de filé de peixe congelado. Cienc Tecnol Alim.1998,18(4).
Souza MLR. Comparação de seis métodos de filetagem, em relação ao rendimento
de filé e subprodutos do processamento de Tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus).
Rev Bras Zootec.2002,3(31).
Strasburg VJ, Borba CM, Behs G, Venzke JG. Variação de temperaturas de
alimentos quentes observadas com diferentes tipos de termômetros. In: Salão de
Ensino – UFRGS; 2012; Porto Alegre, BR.
122
Superhiper [homepage na internet]. Revista eletrônica da Associação Brasileira de
Supermercados. São Paulo; c2011. [acesso em 10 jan 2012]. Disponível em:
http://www.abras.cpm.br/superhiper.
Szklll [homepage da internet]. China; c2012. [acesso em 07 jul 2014]. Disponível
em: http://www.szklll.com/Products.aspx?CGID=2
Tingman W, Jian Z, Xiaoshuan Z. Fish product quality evaluation based on
temperature monitoring in cold chain. Afr J Biotec. 2010,9(37):6146:6151.
Valor Econômico [homepage na internet]. c2011. [acesso em 10 jan 2012].
Disponível em: http://br.nielsen.com/pubs/documents/Retail_Highlights_Dez11.pdf
Vanhaecke L, Verbeke W, De Brabander HF. Glazing of frozen fish: analytical and
economic challenges. Anal Chim Acta. 2010,672(1-2):40-44.
Varotto LF. História do varejo. Ponto de Vista. 2006,5(1):86-90.
Volpato G. Ciência da filosofia à publicação. São Paulo: Scripta, 2007.
Vasconcellos JP, Vasconcellos AS, Pinheiro SR, Oliveira THN, Ribeiro NAS,
Martins CN et al. Individual determinants of fish choosing in open-air street markets
from Santo André, SP/Brazil. Appetite. 2013,68(1):105-111.
WHO/FAO. Code of practice for fish and fishery products. Roma, 2012. Disponível
em:ftp://ftp.fao.org/codex/publications/Booklets/Practice_code_fish/CCFFP_2012_E
N.pdf
123
Anexo – Checklist de verificação das condições higienicossanitárias de
equipamentos e de pescado congelado exposto à venda em supermercados
Supermercado n° _____
Data da coleta _____/_____/_____
Hora da coleta _____/_____/_____
Temperatura ambiental _____°C
Bloco 1 – Equipamentos
Modelo do equipamento: Ilha aberta ( ) Ilha fechada horizontal ( ) Ilha fechada vertical ( )
N° Itens avaliados S N
1.1 Ausência de pontos de ferrugem ou descascamento
1.2 Tampas livres de rachaduras
1.3 Trilhos das tampas limpos
1.4 Tampas limpas
1.5 Puxadores intactos
1.6 Borrachas de vedação em bom estado de conservação
1.7 Termômetro visível ao consumidor
1.8 Essa temperatura está dentro do preconizado. Qual temperatura?
_____°C
1.9 Camada de gelo menor do que 1 cm
1.10 Ausência de pontos de condensação
1.11 Ausência de lâmina de gelo no fundo equipamento ou entre os
produtos
1.12 Ausência de restos de alimentos no fundo do equipamento
1.13 Produtos dispostos respeitando o limite de carga
1.14 Armazenamento adequado evitando a contaminação cruzada
124
Bloco 2 – Pescado congelado
N° Itens avaliados S N
2.1 Embalagem íntegra
2.2 Ausência de cristais de gelo
2.3 Produto distante da tampa do equipamento
2.4 Formato do produto preservado
2.5 Consistência adequada
2.6 Denominação de venda do produto
2.7 Conteúdo líquido
2.8 Identificação de origem
2.9 Nome, razão social e identificação do estabelecimento
2.10 Nome, razão social e endereço do importador, em caso de produtos
importados
2.11 Carimbo oficial da Inspeção Federal
2.12 CNPJ
2.13 Conservação do produto
2.14 Marca comercial do produto
2.15 Identificação do lote
2.16 Data de fabricação
2.17 Data de validade
2.18 Registro no Ministério da Agricultura
Temperatura do produto: laser _____°C espeto _____°C
Observações: __________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
125