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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS MARÍLIA MARINHO SOARES POLÍTICA DE DEFESA BRASILEIRA PARA O ATLÂNTICO SUL: O OCEANO COMO UM ESPAÇO ESTRATÉGICO RIO DE JANEIRO 2017

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO … · PROAREA – Programa de Prospecção e Exploração de Recursos Minerais da Área Internacional do Atlântico Sul e Equatorial PROARQUIPELAGO

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

MARÍLIA MARINHO SOARES

POLÍTICA DE DEFESA BRASILEIRA PARA O ATLÂNTICO SUL:

O OCEANO COMO UM ESPAÇO ESTRATÉGICO

RIO DE JANEIRO

2017

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MARÍLIA MARINHO SOARES

Política de Defesa Brasileira para o Atlântico Sul:

O oceano como um espaço estratégico

Relatório final, apresentado a Universidade do

Estado do Rio de Janeiro como parte das

exigências para a obtenção do título de

Bacharel no Curso de Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Cláudio de Carvalho Silveira

Rio de Janeiro

2017

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MARÍLIA MARINHO SOARES

Política de Defesa Brasileira para o Atlântico Sul:

O oceano como um espaço estratégico

Relatório final, apresentado a Universidade do

Estado do Rio de Janeiro como parte das

exigências para a obtenção do título de

Bacharel no Curso de Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Cláudio de Carvalho Silveira

Local, __27__ de julho de 2017.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Prof. Claudio de Carvalho Silveira

________________________________________

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus por ter me dado saúde, força, alegria e determinação

para seguir e superar todas as dificuldades encontradas ao longo desses anos. À Universidade

do Estado do Rio de Janeiro e a todos os meus professores, sou grata por viabilizarem a minha

formação como bacharel em Relações Internacionais. Em especial, sou grata ao meu

orientador, o professor Cláudio de Carvalho Silveira, pela orientação e por toda atenção ao

meu trabalho de conclusão de curso.

A toda minha família pelo apoio cedido em todos esses anos de graduação. Aos meus

pais, pelo carinho, pelo amor e por todo incentivo durante essa trajetória. Agradeço, em

especial, a minha irmã Amanda, por ser um grande exemplo de força e determinação. Aos

meus tios e avós, por partilharem comigo mais uma vitória. À secretária da minha casa, por

me proporcionar momentos de descontração em meio a toda tensão.

As minhas grandes amigas, Isadora, Luana, Lorena e Fernanda, por partilharem toda

minhas alegrias e angústias. Agradeço por vocês terem sempre acreditado em mim e na minha

capacidade em ser bem sucedida em todas as coisas dessa vida. Aos meus colegas de classe,

deixo meu sincero sorriso de alegria por termos compartilhado inúmeros momentos juntos,

dando-me a certeza de não estar sozinha nessa caminhada.

Obrigada a todos que partilharam comigo momentos, fazendo com que esse trajeto até

minha formação fosse mais leve. Mais um ciclo da minha vida se encerrou e essa vitória

pertence a todos nós.

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RESUMO

Até o final do século XX e o início do século XXI, o Atlântico Sul não ocupava um lugar de

destaque na dinâmica das relações internacionais. No entanto, as diversas mudanças ocorridas

no sistema internacional no pós-Guerra Fria somadas a atenção mundial para as diversas

potencialidades do Atlântico Sul refletiram na inclusão desse espaço na agenda política

internacional. Visto como uma rota alternativa de comunicação, uma importante via marítima

comercial e uma enorme fonte de riquezas, o Atlântico Sul se tornou uma região cobiçada

tanto por Estados ao seu entorno como por potências extrarregionais. O Brasil, então, detentor

de uma enorme extensão territorial margeada por esse oceano, começou a fazer frente a esses

novos desafios. Diante da crescente importância estratégica dessas águas, pode-se dizer que a

política externa brasileira têm se utilizado de diversas táticas, sobretudo, as de soft power

como forma de consolidar seu interesse na região e defendê-la de potenciais ameaças. Sendo

assim, considerou-se interessante analisar como os líderes brasileiros, Fernando Henrique

Cardoso, Lula da Silva e Dilma Rousseff, a partir da percepção do Atlântico Sul como um

espaço estratégico e de projeção do poder, conduziram a política de defesa brasileira para essa

região.

Palavras-chave: Atlântico Sul, Brasil, Política Externa, Defesa, Estratégia.

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ABSTRACT

Until the end of the 20th century and the beginning of the 21st century, the South Atlantic did

not occupy a prominent place in the dynamics of international relations. However, the great

changes in the post-Cold War international system combined with worldwide attention to the

diverse potentialities of the South Atlantic reflected in the inclusion of this space in the

international political agenda. Seen as an alternative communications route, an important

commercial sea route and a huge source of natural resource, the South Atlantic has become a

region coveted both by surroundings states and by extra-regional powers. Brazil, with a huge

territorial extension bordered by this ocean, began to face these new challenges. Given the

growing strategic importance of these waters, it can be said that Brazilian foreign policy has

been used various tactics, especially soft power, as a way to consolidate its interest in the

region and defend it against potential threats. Therefore, it was considered interesting to

analyze how the Brazilian leaders, Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva and Dilma

Rousseff, from the perception of the South Atlantic as a strategic space and power projection,

led the Brazilian defense policy for this area.

Keywords: South Atlantic, Brazil, Foreign Policy, Defense, Strategy.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estrutura Dorsal Meso-Atlântica ............................................................................. 26

Figura 2 – Amazônia Azul ....................................................................................................... 28

Figura 3 – Recursos Minerais na Amazônia Azul .................................................................... 32

Figura 4 - Mercado Brasileiro de Agronegócio ........................................................................ 35

Figura 5 - Limites marítimos .................................................................................................... 39

Figura 6 - Direito do Estado sobre os espaços marítimos ........................................................ 41

Figura 7 - Limites Marítimos Brasileiros ................................................................................. 45

Figura 8 - Triângulos Estratégicos............................................................................................ 48

Figura 9 - Presença de Potências Extrarregionais no Atlântico Sul ......................................... 49

Figura 10 - Entorno Estratégico................................................................................................ 60

Figura 11 - Cooperação em defesa Brasil-África ..................................................................... 62

Figura 12 - Espaço marítimo de jurisdição brasileira ............................................................... 92

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Reservas e produção dos principais países petrolíferos da América do Sul e da

África. ....................................................................................................................................... 30

Tabela 2 – Importações chinesas .............................................................................................. 34

Tabela 3 – Comércio Chinês no Atlântico Sul (2011).............................................................. 56

Tabela 4 - Comércio Intrabloco e Extrabloco .......................................................................... 64

Tabela 5 - Viagens de Lula da Silva para América do Sul ....................................................... 80

Tabela 6 - Viagens de Dilma Rousseff para América do Sul ................................................... 80

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Distribuição Anual de Projetos de Cooperação Técnica nos Governos Lula da

Silva e Dilma Rousseff ............................................................................................................. 81

Gráfico 2 - Projetos de Cooperação em defesa no continente africano .................................... 93

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Cooperação em defesa - exercícios militares 2010/2011 ....................................... 99

Quadro 2 - Comparação Política de defesa e Atlântico Sul como espaço estratégico ........... 102

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABC – Agência Brasileira de Cooperação

ALCA – Área de Livre Comércio das Américas

ANP – Agência Nacional de Petróleo

ASA – Cúpula América do Sul-África

LBDN – Livro Branco de Defesa Nacional

CASA – Comunidade Sul-Americana de Nações

CEDEAO – Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental

CDS – Conselho de Defesa Sul-Americano

CELAC – Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos

CNUDM – Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar

CIJ – Corte Internacional de Justiça

CIRM – Comissão Interministerial para os Recursos do Mar

CLPC – Comissão de Limites da Plataforma Continental

CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

END – Estratégia Nacional de Defesa

IBAS – Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul

MERCOSUL – Mercado Comum do Sul

MRE – Ministério das Relações Exteriores

OMC – Organização Mundial do Comércio

ONU – Organização das Nações Unidas

OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte

OTAS – Organização do Tratado do Atlântico Sul

PDN – Política de Defesa Nacional

PND – Política Nacional de Defesa

PNRN – Política Nacional para os Recursos do Mar

PROAREA – Programa de Prospecção e Exploração de Recursos Minerais da Área

Internacional do Atlântico Sul e Equatorial

PROARQUIPELAGO – Programa Arquipélago de São Pedro de São Paulo

PROCAP – Programa de Capacitação Tecnológica em Águas Profundas

PROTRINDADE – Programa de Pesquisas Científicas na Ilha da Trindade

REMPLAC – Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental

Jurídica Brasileira

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REVIZEE – Programa de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona

Econômica Exclusiva

SADC - Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral

SisGAAz - Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul

SIPAM – Sistema de Proteção da Amazônia

SIPRI – Sistema de Promoção de Investimentos e Transferência de Tecnologia para Empresas

SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia

TIAR – Tratado Interamericano de Assistência Recíproca

TNP – Tratado de Não-Proliferação Nuclear

TSC-BR – Programa Train-Sea-Coast Brasil

UNASUL – União de Nações Sul-americanas

ZEE – Zona Econômica Exclusiva

ZOPACAS – Zona de Paz e Cooperação do Atlântico-Sul

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SUMÁRIO

1. INTRUDUÇÃO ............................................................................................................... 15

1.1. Problema de Pesquisa .............................................................................................. 15

1.2. Justificativa do Estudo ............................................................................................ 16

1.3. Marco Teórico .......................................................................................................... 17

1.4. Contribuições para o Tema ..................................................................................... 20

1.5. Hipótese e Metodologia da Pesquisa ...................................................................... 22

1.6. Sistematização .......................................................................................................... 23

2. CAPÍTULO I: A GEOGRAFIA E AS POTENCIALIDADES DO ATLÂNTICO

SUL .......................................................................................................................................... 25

2.1. A geografia e a geologia ............................................................................................... 25

2.2. Recursos energéticos .................................................................................................... 27

2.3. Via comercial e de comunicação ................................................................................. 32

2.4. Histórico, Princípios e Delimitações do Direito do Mar ........................................... 35

2.5. O Brasil e o Direito do Mar ......................................................................................... 43

3. CAPÍTULO II: CONFLUÊNCIA E DIVERGÊNCIA DE INTERESSES NO

ATLÂNTICO SUL ................................................................................................................. 46

3.1. Atlântico Sul como Espaço Estratégico ..................................................................... 46

3.2. Atuação e esforços extrarregionais no Atlântico Sul ................................................ 49

3.2.1. Os Estados Unidos no Atlântico Sul ....................................................................... 50

3.2.2. O Reino Unido no Atlântico Sul ............................................................................. 53

3.2.3. A França no Atlântico Sul ....................................................................................... 54

3.2.4. A China no Atlântico Sul ........................................................................................ 55

3.3. Atuação e esforços brasileiros no Atlântico Sul ........................................................ 57

4. CAPÍTULO III: POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA E A DEFESA PARA O

ATLÂNTICO SUL ................................................................................................................. 67

4.1. Política Externa nos governos Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva e Dilma

Rousseff ................................................................................................................................ 67

4.1.1. O governo Fernando Henrique Cardoso.................................................................. 69

4.1.2. O governo Lula da Silva ......................................................................................... 73

4.1.3. O governo Dilma Rousseff ...................................................................................... 77

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4.2. Política de Defesa nos governos Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva e

Dilma Rousseff .................................................................................................................... 81

4.2.1. Política de Defesa no governo Fernando Henrique Cardoso .................................. 83

4.2.2. Política de Defesa no governo Lula da Silva .......................................................... 85

4.2.3. Política de Defesa no governo Dilma Rousseff ...................................................... 89

4.3. Análise Comparativa das Políticas de Defesa nos governos Fernando Henrique

Cardoso, Lula da Silva e Dilma Rousseff ......................................................................... 95

5. CONCLUSÃO ................................................................................................................... 105

6. BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................. 107

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1. INTRUDUÇÃO

O objetivo desse estudo é analisar a gradativa inserção do Atlântico Sul nas Políticas

de Defesa e de Segurança brasileiras, partindo da percepção de que essa área marítima seria

estratégica para o país. Serão analisados os períodos de mandato dos presidentes Fernando

Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef, evidenciando os projetos

implementados por esses governos a fim de defender os interesses brasileiros nesse mar.

1.1. Problema de Pesquisa

Tanto para o Mundo quanto para o Brasil, os anos 1990 foram marcantes para os

rumos da política e dinâmica internacionais. O colapso da União Soviética e o fim da Guerra

Fria deram início a uma nova ordem internacional multipolar, caracterizada pela emergência

de novas potências, consolidação da democracia, da globalização e do capitalismo. O

esfacelamento de um dos polos de poder reorganizou a distribuição de capacidades, assim

como redefiniu as ideologias disseminadas no mundo. No entanto, o fim de uma ordem

bipolar proliferou dúvidas sobre qual caminho racional a se seguir, pois não tinham uma

ameaça a qual combater ou uma política específica a ser adotada. Sendo assim, a década de 90

passa a apresentar o mundo sobre uma lógica de polaridades indefinidas, ou seja,

[...] evoluímos de uma situação de polaridades definidas (a Guerra Fria), para outra

em que as polaridades pareciam ser desimportantes diante da capacidade de valores

racionalmente e universalmente aceitos, para alcançarmos uma última, em que as

polaridades estão indefinidas. Ou melhor: conhecemos os polos de poder, tanto

político quanto econômico; o que não sabemos é como vão evoluir (se os polos

econômicos ganharão dimensão política e estratégica) e de que maneira vão lidar

com suas relações mútuas (FONSECA Jr.; LAFER, 1997, p.61-62).

Pode-se dizer que as mudanças na ordem sistêmica produziram efeitos internos no

Brasil. Desse modo, destaca-se que a postura brasileira frente à Defesa Nacional e às Forças

Armadas teve uma mudança em 1996, quando foi lançado a Política de Defesa Nacional1

(PDN). Desde então, o Brasil têm se esforçado constantemente em estabelecer diretrizes de

segurança e de defesa, produzindo documentos que funcionem como um instrumento gerador

de confiança, tanto na região da América do Sul quanto no continente e no sistema

internacional.

1Documento que estabelece os objetivos e as diretrizes do país para a defesa nacional, com envolvimento do

setor militar e civil. Foi revisado em 2005 e em 2012, rebatizado de Política Nacional de Defesa.

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No decorrer desse estudo, entende-se segurança como uma condição que permite o

país preservar sua soberania e integridade territorial, seguindo seus interesses nacionais. De

acordo com a PND, “a segurança, em linhas gerais, é a condição em que o Estado, a sociedade

ou os indivíduos se sentem livres de riscos, pressões ou ameaças, inclusive de necessidades

extremas” (BRASIL, 2012b, p.15).

Gradualmente, o campo da segurança passou a compreender os campos da política, do

ambiente, da cultura, etc. No entanto, esse trabalho irá abordar o campo da segurança sob a

lógica do Estado. Logo, a segurança deve ser vista sob um ângulo de confrontação entre

Estados; o mesmo deve se sentir livre de pressões ou ameaças. Já por defesa nacional,

compreende-se um conjunto de ações e medidas do Estado para defender seu território,

soberania e seus interesses nacionais, sob uma ótica militar (BRASIL, 2012b). Sendo assim, a

política de segurança e defesa de um país nada mais é do que uma política pública voltada

para a garantia da preservação do país e de seus objetivos.

No caso, destaca-se que é de interesse brasileiro dirigir uma política de segurança e

defesa para o Atlântico Sul uma vez que o mesmo possui uma gigantesca importância

estratégica para o país. Cabe mencionar que se define, segundo Therezinha de Castro2, o

Atlântico Sul como

Espaço marítimo compreendido entre: três frentes continentais, América, África e

Antártica; e três corredores, o do norte – constituído pela zona de estrangulamento

Natal-Dakar – e dois no sul – respectivamente entre a Antártica e as frentes

continentais americana/africana, comandada pelo Estreito de Drake e Passagem do

Cabo. É assim considerado o mais internacional dos oceanos (CASTRO, 1999,

p.19).

Tanto como via de comunicação como uma área rica em recursos naturais e

energéticos, o Atlântico Sul têm atraído, gradativamente, olhares de potências extrarregionais

para o entorno estratégico, sendo necessário, de acordo com autoridades brasileiras, uma

posição assertiva e dissuasória do Brasil com o intuito de garantir a preservação de seus

interesses na zona e soberania sobre as águas sul-atlânticas. Desse modo, esse projeto tem

como objetivo responder a seguinte pergunta: Como variou a percepção do Atlântico Sul

como espaço estratégico pelas políticas de segurança e defesa brasileiras a partir da década de

1990?

1.2. Justificativa do Estudo

2Historiadora, geógrafa e pesquisadora que se destacou no campo da Geopolítica no Brasil.

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Vale salientar que o ambiente físico é um elemento essencial para se compreender as

relações políticas e até mesmo as relações internacionais. A partir disso, destaca-se que os

oceanos exerceram papel fundamental na história das civilizações não só na dimensão de

comunicação, como também importante fonte de recursos minerais e energéticos. Essa

importância só tende a crescer na medida em que novas pesquisas e tecnologias surgem e

viabilizam novas explorações.

Desse modo, é essencial para o país estudar e analisar as políticas de defesa e

segurança para essa área marítima a fim de assegurar seus interesses econômicos, estratégicos

e políticos. Primeiramente, para o país, essa região funciona como via de transporte de

commodities3, como fonte de exploração de petróleo e demais riquezas e até um meio para sua

projeção marítima internacional. Como se percebe no fragmento abaixo:

Atualmente, cerca de 95% do comércio exterior do Brasil transita por rotas

marítimas que passam pelo Atlântico Sul. Além disso, as descobertas recentes de

reservas offshore e as perspectivas de exploração do petróleo no pré-sal elevam a

preocupação com a segurança destes recursos e rotas, alçando a proteção de tais

recursos ao mesmo grau de prioridade que a Amazônia, conforme mencionado em

discurso da presidente Dilma Rousseff em 2011 (ABDENUR; NETO, 2014, p. 221).

Além disso, pelo fato de esse ser um tema que afeta a própria segurança do país,

demonstra que é um assunto que precisa estar em constante análise dada sua complexidade e

as mudanças ocorridas ao longo do tempo.

Esse projeto também é relevante para os estudos de Relações Internacionais. A

pesquisa irá contribuir para a área de estudos de segurança e defesa. Será necessário entender

um fenômeno que passou a entrar na agenda internacional, compreender como mudou a

percepção dos líderes sobre o Atlântico Sul e as consequentes políticas de defesa para região,

abrangendo pesquisas a respeito de uma construção de identidade sul-americana, de

complexos regionais de segurança4, de projetos de cooperação militar, de Soft Power

5 à luz de

teorias como o realismo neoclássico, por exemplo.

1.3. Marco Teórico

3 Termo que designa produtos cuja demanda não se influencia por questões de qualidade, fornecedores ou

marcas. A grande maioria das commodities são produtos extraídos da terra e que possuem preço universal. 4 A teoria dos CRS causou grande impacto, ao trazer a análise do nível regional para os estudos de segurança,

fazendo um diálogo entre teorias construtivista e o realismo ofensivo. Segundo Regions and Powers, de Buzan e

Waever (2003), os problemas de segurança estão mais associados à região, ainda que continuem sofrendo a

interferência do sistema internacional.Contudo, o que está ameaçado não é a região, mas sim o próprio Estado

naquela zona. A análise é regional porque a ameaça incide sobre aqueles atores dentro do âmbito regional

BUZAN; WAEVER, 2003). 5Nesse trabalho, será utilizado o conceito de Soft Power descrito na obra The Means to Success in World Politics

do ano de 2004 de Joseph Nye.

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Ao longo de décadas, o realismo se impõe como teoria dominante tanto nos estudos de

Relações Internacionais como nos Estudos de Segurança. Pode-se dizer que por mais que,

atualmente, existam realismos diversos, algumas premissas podem ser consideradas comuns a

todos os teóricos realistas: a centralidade do Estado, sua necessidade de sobreviver no sistema

internacional, a necessidade de obter poder para garantir tal sobrevivência, a anarquia

internacional e o conceito de autoajuda6.

No entanto, para entender a variação da percepção do Atlântico Sul como um espaço

estratégico pela Política de Defesa Brasileira, a partir da década de 1990, o arcabouço teórico

que servirá de base para essa análise será o realismo neoclássico. Entende-se que os principais

conceitos dessa teoria culminam numa melhor análise para esse problema de pesquisa.

Como se sabe, o realismo neoclássico, uma combinação das teorias do realismo

clássico com o neorrealismo, sustenta que as ações de um Estado no sistema internacional

podem ser explicadas por variáveis sistêmicas, por variáveis cognitivas – como a percepção –

bem como por variáveis domésticas (como as instituições e os atores sociais dentro da

sociedade que afetam o poder e a liberdade de ação dos tomadores de decisão na política

externa). Como comenta o autor Schweller:

states assess and adapt to changes in their external environment partly as a result of

their peculiar domestic structures and political situations. More specifically,

complex domestic political processes act as transmission belts that channel, mediate,

and (re)direct policy outputs in response to external forces (primarily changes in

relative power). Hence states often react differently to similar systemic pressures

and opportunities, and their responses may be less motivated by systemic level

factors than domestic ones. (SCHWELLER, 2006, p.6 apud WILLIAMS 2008, p.

26).

Segundo Guideon Rose (1998), a forma como o Estado conduz sua política externa

depende do seu lugar no sistema internacional e da sua capacidade de poder material relativo,

ou seja, o que o Estado pode conseguir e agir perante os demais. Ademais, ao invés de

presumir que os Estados buscam sempre segurança, assume-se que eles buscam responder as

incertezas da anarquia, procurando controlar o ambiente externo.

Outro ponto importante do realismo neoclássico está relacionado ao papel das

percepções dos formuladores de decisão. Como são os indivíduos que atuam em nome do

Estado; a forma como o Estado vai se projetar depende de como os indivíduos percebem a

capacidade que o mesmo possui (WOHLFORTH, 1994).

A partir dos conceitos explicados, depreende-se que a forma com que o Brasil vai

conduzir suas políticas de segurança e defesa para o Atlântico Sul está relacionado a

6 Noção de que os Estados só podem contar com a sua própria capacidade no que diz respeito às relações

internacionais de acordo com a teoria realista clássica.

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distribuição de poder no sistema internacional e a sua posição relativa nele. Somado a isso, as

escolhas dos líderes também são influenciadas pelos recursos disponíveis e pelo ambiente

político-institucional, econômico e cultural do país.

É inegável que o Atlântico Sul corresponde a um espaço estratégico para o Brasil. Nas

últimas décadas, o mesmo passou a ganhar destaque na Política Externa Brasileira uma vez

que se fez necessário assegurar direitos e interesses do país nesse entorno estratégico. Logo,

para compreender como o Atlântico Sul passou a gradativamente ganhar espaço nas políticas

de segurança e defesa brasileira devemos analisar os documentos oficiais do país e as

constantes iniciativas brasileiras voltadas para essas águas marítimas sejam de cooperação ou

dissuasão.

Além disso, visualizar a percepção dos formuladores de decisão e os constrangimentos

internos e externos que os mesmos sofreram para o estabelecimento de certas políticas,

demonstra como o país se projetou para o Atlântico Sul num determinado período. Pode-se

dizer ainda que as capacidades materiais e não materiais que o país detinha para determinar

suas ações também influíram na condução das políticas. Em outras palavras, o poder relativo

do Brasil, em um determinado momento, determina os parâmetros da sua política externa e a

distribuição internacional de poder pode guiar as atitudes e comportamento dos países. Sendo

assim, faz-se necessário analisar se o desenvolvimento de uma política de defesa e segurança

voltada para o Atlântico Sul baseada em estratégias de cooperação e dissuasão foi coerente

com o poder relativo material que o país possuía no momento vigente, visualizando se

posturas mais assertivas posteriores ocorreram em virtude de um aumento de poder relativo

seja material ou não material7.

Ainda que se tenha escolhido o realismo como base da análise, é importante considerar

outras teorias das relações internacionais que criticam alguns pressupostos realistas e que, por

vezes, também explicam a atuação brasileira no Atlântico Sul. O institucionalismo neoliberal,

por exemplo, apresenta uma abordagem menos pessimista das relações entre os Estados,

argumentando que não se deve desconsiderar o grande potencial existente para a cooperação

entre os Estados concretizada no âmbito de regimes e instituições. A partir da teoria dos

jogos, Keohane, precursor da teoria institucionalista neoliberal nas Relações Internacionais,

pretendeu demonstrar que os Estados enfrentam uma lógica da ação coletiva na busca de seus

interesses individuais e bem-estar próprio. Mesmo os Estados sendo reconhecidos como

7Entende-se que como poder não material, os mecanismos e as estratégias adotadas pelo país sem a adoção do

uso da força ou da capacidade bélica como a cooperação bilateral, a integração como forma estratégica, criação

de acordos de benefício mútuo, dentre outras iniciativas.

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entidades egoístas e racionais, eles abdicariam desses ganhos no presente e reconheceriam as

instituições como meios para alcançar seus objetivos em longo prazo (KEOHANE, 1984).

Outra corrente que critica a análise realista nas relações internacionais é o

construtivismo. Analisar o processo de construção do discurso e da identidade é fundamental

para se entender a política de um país, segundo as perspectivas construtivistas. A autoimagem

de um país construída historicamente, politicamente e culturalmente representa um importante

elemento para se entender como o país irá formular sua política externa. Além disso, na

formação da política externa, o processo de construção da ameaça determina limites regionais

de segurança e até mesmo um espaço de identidade. Ao identificar-se com seus vizinhos

regionais, um país pode excluir a ideia de ameaças regionais ou estabelecer uma ameaça

comum a todos (JEPPERSON; WENDT; KATZENSTEIN, 1996).

Ainda assim, o trabalho terá como grande fundamento teórico o realismo neoclássico

reconhecendo que, em alguns momentos, outras correntes das relações internacionais podem

fornecer explicações diferentes sobre a política de defesa brasileira para o Atlântico Sul.

Desse modo, não podemos esquecer que a cooperação internacional, no realismo, funciona

como uma ferramenta de ampliação de poder ou manutenção do equilíbrio de poder no

sistema internacional.

Há mais de um século já se pensava na importância da defesa do mar, entretanto, nos

últimos anos, o mar começou a ganhar relevância na política externa brasileira e, até então, o

Brasil tem logrado sucesso em alargar sua presença no Atlântico Sul. Por outro lado, como

um país em desenvolvimento num sistema internacional sem governança global, é

compreensível que se faça necessário à construção de uma autonomia estratégica nacional,

com capacidade militar suficiente para fazer frente aos desafios e ameaças do mundo vigente.

1.4. Contribuições para o Tema

Diversos autores brasileiros já escreveram sobre a importância do Atlântico Sul para o

Brasil e os esforços estratégicos brasileiros voltados para a região.

Desse modo, cabe destacar algumas obras como A Fronteira Oriental Brasileira e os

Desafios da Segurança Regional no Atlântico Sul de Eli Alves Penha de 2012. O objetivo

principal do texto é discutir a importância crescente do Atlântico Sul como um espaço

estratégico para o Brasil e para os demais países costeiros, analisando concepções como a

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‘fronteira oriental’ 8 e sua aplicação na política externa brasileira. Esse autor reforça a ideia de

que é fundamental que o Brasil estabeleça políticas direcionadas para a África.

A África seria a continuidade da própria fronteira Brasileira e, como ponto mais

vulnerável da região, deveria merecer maior atenção política por parte do governo

brasileira, em termos de segurança mútua. Segundo ele, por conta dessa

vulnerabilidade caberia ao Brasil, no contexto da guerra fria, ‘cooperar na

imunização também dos jovens países africanos à infecção fatal do comunismo,

estar vigilante e atento a qualquer propensão soviética na direção dessa África

Atlântica onde se situa a fronteira avançada e decisiva da própria segurança nacional

(SILVA, 1967 apud PENHA, 2012, p.118-119).

Também podemos destacar a obra O Atlântico Sul na perspectiva da segurança

regional e da defesa de Antonio Ruy de Almeida Silva a qual texto tem como objetivo

principal destacar a importância estratégica do Atlântico Sul para o Brasil e,

consequentemente, os desafios que o Brasil enfrentará para consolidar, nesse espaço

marítimo, uma zona de paz e cooperação, construindo uma “identidade atlântica” 9. O autor

fala da forte presença de atores extrarregionais na região como os Estados Unidos e, em

contrapartida, de alguns esforços brasileiros para a região como a criação da Zona de Paz e

Cooperação do Atlântico-Sul (ZOPACAS).

A obra O Brasil e a cooperação em defesa: a construção de uma identidade regional

no Atlântico Sul, de 2014, de Adriana Erthal Abdenur e Danilo Marcondes de Souza Neto

ressalta a necessidade brasileira em estabelecer programas de cooperação com países no

perímetro do Atlântico Sul, utilizando-se dessa estratégia para promover a construção de uma

identidade regional que começa a alterar as relações de poder nesse espaço. Segundo esses

autores:

Assim como o Estado, a região pode, portanto, ser pensada como comunidade

imaginada, com dimensões espaciais (Anderson 1983). A rotulação e reificação da

região traz consequências concretas, pois o próprio processo de construção afeta a

distribuição de poder. Por exemplo, ao assumirem um papel de protagonismo, certos

Estados se tornam, efetivamente, os principais construtores da região (region-

builders) – influenciando os padrões de amizade e rivalidade entre os Estados que

passam a constituir a região. (ABDENUR; NETO, 2014, p.6-7)

Vale lembrar-se de Wanderley Messias em Projeção do Brasil no Atlântico Sul:

geopolítica e estratégia do ano de 2012, o qual escreve sobre a projeção do Brasil sobre o

Atlântico Sul e a importância do país se estabelecer soberano sobre seu território marítimo.

Ademais, pode-se citar Lucas Oliveira, Marco Cepik e Pedro Vinicius Brites, na obra O Pré-

Sal e a Segurança no Atlântico Sul: A Defesa em Camadas e o Papel da Integração Sul-

8É uma ideia, utilizada desde o governo Castello Branco na qual o Atlântico Sul passou a representar a “fronteira

oriental” para o país, com base na formulação geopolítica de Meira Mattos (PENHA, 2012). 9Ideia de que esses países sul-atlânticos se sentem pertencentes a uma mesma comunidade, realçando laços de

fraternidade e amizade. Além disso, essa identidade está centrada em preocupações com novas ameaças nesse

entorno estratégico, enfatizando a responsabilidade de defesa desse território marítimo por cada país da região.

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22

Americana de 2014, os quais vão tratar da questão do pré-sal no Atlântico Sul. O artigo

mostra possíveis desafios que o país terá de enfrentar para se estabelecer soberano sobre suas

riquezas sul-atlânticas.

Por último, não se pode esquecer grandes nomes da geopolítica brasileira como

Golbery do Couto e Silva, em Geopolítica do Brasil de 1967, Therezinha de Castro, em

Geopolítica. Princípios, meios e fins de 1999, e Meira Mattos, em Geopolítica e Modernidade

de 2002. Ainda que do século passado, esses grandes geopolíticos lançaram bases essenciais

para discussões de questões no século XXI como a defesa e segurança no Atlântico Sul. Eles

já falavam da necessidade brasileira em se lançar à África já que fazia parte do entorno

estratégico do Brasil.

Golbery do Couto e Silva (1967) afirma que o ‘Continente Negro’ seria a continuação

da fronteira brasileira e, consequentemente, o ponto mais vulnerável para o Brasil em termos

de segurança. Enquanto isso, Therezinha de Castro (1999) caracteriza a posição geográfica

brasileira como uma área ‘pivot’ para a defesa ocidental. Desse modo, o Brasil seria um

‘ponto chave’ entre as passagens marítimas caribenhas e austrais por conta da sua extensão

costeira. Por fim, Meira Mattos (2002) ressalta que nenhuma Marinha sozinha será capaz de

dissuadir potências ou resolver problemas no Atlântico Sul. Ademais, ressalta as

potencialidades brasileiras e sua capacidade em se tornar uma potência.

1.5. Hipótese e Metodologia da Pesquisa

Partindo de que foi explicado, essa pesquisa se baseia na hipótese de que a medida em

que inúmeras riquezas econômicas e estratégicas foram descobertas no Atlântico Sul, houve

uma mudança na percepção das lideranças brasileiras de que era necessário proteger a região,

em parte do século XX e no início do século XXI, sobretudo nas últimas três décadas.

Sabe-se que, desde meados do século XIX, o Atlântico Norte captou maiores atenções

globais, com clímaces durante a 1.ª e 2.ª Guerra Mundial e durante a Guerra Fria, enquanto, o

Atlântico Sul foi praticamente passivo, sendo caracterizado pela literatura internacional, de

uma forma geral, como uma região periférica. Pode-se dizer que essa situação começou a

mudar a partir da década de 90, e principalmente, no início do século XXI com a descoberta

de novas e importantes jazidas de petróleo e de gás natural em ambas as suas margens e a

crescente valorização de outros recursos naturais, fazendo com que a região fosse percebida

como alvo de várias ameaças externas. Desse modo, depreende-se que o Atlântico Sul passou

a ganhar um grande destaque na Política Externa Brasileira, sendo evidentes grandes esforços

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em cooperação – seja militar, econômica, política e até mesmo social – com países africanos,

uma vez que se fez necessário assegurar direitos e interesses do país nesse entorno estratégico.

Dessa forma, o método de abordagem a ser utilizado neste estudo é um método

dedutivo, ou seja, utiliza-se uma teoria geral (as Políticas Externas dos presidentes em

questão) para tratar de um evento específico (as políticas de Segurança e Defesa adotadas

pelos mesmos) e, por fim, as estratégias adotadas por cada líder será visualizada com base nos

pressupostos do realismo neoclássico.

1.6. Sistematização

Essa monografia será estruturada em cinco partes principais, sendo estas a introdução,

três capítulos dedicados ao desenvolvimento da tese e a conclusão da pesquisa. Dessa forma,

acredita-se que com tais componentes este projeto contempla todos os elementos necessários

para alcançar o objetivo do estudo e chegar a uma conclusão.

Viu-se que, na introdução, um breve resumo foi apresentado de forma a demonstrar o

que será analisado nessa monografia. Essa primeira parte descreveu o problema de pesquisa, a

hipótese de pesquisa, a metodologia a ser adotada e obras que servirão de contribuição para o

tema discutido. Além disso, fomos capazes de perceber que, num primeiro momento, a década

de 1990 foi marcante para os rumos da política externa dos países e, no caso brasileiro, o país

buscou estabelecer diretrizes mais concretas para as políticas de defesa e segurança brasileira.

Diante da evidencia do Atlântico Sul como um espaço estratégico, fez-se necessário pensar

nesse oceano como uma questão principal no âmbito da segurança e da defesa.

Ao longo da análise serão abordados três eixos principais, correspondendo aos

seguintes capítulos: 1) A geografia e as potencialidades do Atlântico Sul; 2) A confluência e a

divergência de interesses no Atlântico Sul; e por fim, 3) A evolução das políticas de

segurança e defesa para o Atlântico Sul.

O primeiro capítulo do desenvolvimento da pesquisa consiste em, sobretudo,

caracterizar e delimitar a área tratada pela análise: o Atlântico Sul. Dessa forma, entende-se

que seria de extrema importância demonstrar algumas características geográficas desse

oceano e uma breve exposição acerca de sua delimitação. Além disso, fez-se necessário

enumerar as diversas riquezas naturais e energéticas presentes no Atlântico Sul, motivo de

interesses de países regionais e extrarregionais. Logo, detalhou-se também o fluxo comercial

presente essas águas, entendendo-se a razão de ponderar o Atlântico Sul como uma via

significação de comunicação marítima. E para completar essa primeira seção da análise, foi

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considerado essencial narrar questões a respeito do Direito do Mar o qual vai dar respaldo

jurídico sobre a responsabilidade brasileira e a autorização desse país em atuar diante do

Atlântico Sul.

Para dar respaldo aos argumentos e fatos descritos, utilizaram-se diversos autores e

profissionais que já fizeram análises sobre essas questões como mapas, tabelas e figuras de

forma a ilustrar e comprovar o que estará sendo analisado. Acredita-se que, dentre outros

pontos, esse capítulo será capaz de demonstrar as potencialidades existentes no Atlântico Sul

e, devido a isso, servir de base para se compreender o motivo de confluências de interesses

nesse espaço estratégico e a necessidade brasileira em promover uma política de defesa e

segurança para a área.

O capítulo 2 irá se concentrar em descrever o Atlântico Sul como um espaço

estratégico onde potências regionais e não-regionais se esforçam para exercer influência sobre

a região. Será analisada a atuação dos principais Estados extrarregionais no Atlântico Sul,

visualizando não só o local onde eles se fazem presentes como a posição estratégica desses

países no entorno sul-atlântico. Também coube analisar a atuação brasileira frente a essas

águas, destacando os seus principais feitos e ações diante de um cenário de consolidação de

uma liderança regional a partir dos anos 1970.

Já o capítulo 3 do desenvolvimento tem por objetivo principal mostrar como os três

ex-presidentes, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef,

conduziram sua política externa e a política de defesa brasileira, sobretudo, para o Atlântico

Sul. A partir disso, foi realizada uma análise comparativa entre os três presidentes com base

nos documentos oficiais de defesa do Brasil e nos discursos oficiais proferidos por

representantes oficiais do governo brasileiro na qual se procurou entender se na medida em

que o Atlântico Sul foi sendo visto como um espaço estratégico e de extrema importância para

o Brasil houve uma preocupação com política de defesa nacional para a área.

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2. CAPÍTULO I: A GEOGRAFIA E AS POTENCIALIDADES DO ATLÂNTICO

SUL

A ideia principal do capítulo é demonstrar os diversos potenciais econômicos e

energéticos no Atlântico Sul assim como o direito soberano do Brasil em se fazer presente

nessas águas. Dessa forma, o capítulo contemplará elementos explicativos sobre a geografia

do local, os recursos econômicos e energéticos presentes nessas águas, a importância desse

espaço como via de comunicação e uma explicação a respeito de uma parte do Direito

Internacional Público dedicada ao uso do mar.

2.1. A geografia e a geologia

Entende-se que a porção Sul do Atlântico possui particularidades geográficas que

sejam interessantes para o decorrer do estudo. Entretanto, vale salientar que alguns desses

pontos serão mais bem explicados em outras partes do estudo.

Para começar, a região chamada de Atlântico Sul está localizada entre a costa leste

sul-americana e a costa oeste africana. Limitado ao norte pelo eixo Natal-Decar e ao sul pelo

Oceano Glacial Antártico, o Atlântico Sul se encontra numa posição estratégica, o que lhe

permite a conexão interoceânica, tanto com o Oceano Pacífico quanto com o Índico

(GONÇALVES Jr, 2014). Ainda que não esteja no cerne das grandes rotas comercias,

revelou-se de extrema importância por ser uma rota alternativa aos canais de Suez e do

Panamá.

Tanto o mundo como o Atlântico Sul foram formados pela movimentação das placas

tectônicas10

. No caso, esse oceano passou a existir devido ao afastamento dessas estruturas

sobre as quais se encontram o continente da América do Sul e da África. Desse mesmo

processo, originou-se o maior grupamento de montanhas oceânicas do mundo, constituindo o

que podemos chamar de Dorsal Meso-Atlântica11

(WEGENER, 1966). Atualmente, as massas

continentais da África e da América do Sul continuam se afastando em virtude da contínua

movimentação das placas, e a dorsal aumentando com a constante injeção de magma. Cabe

lembrar que ao longo dessa estrutura, podem-se enxergar diversos arquipélagos como

Islândia, Açores, Jan Mayen, Kolbeinsey, Bermuda, Ascensão, Santa Helena, dentre outros.

10

De acordo com o IBGE, são porções da crosta terrestre limitados por zonas de convergência ou divergência.

Essas estruturas se movimentam, ocasionando atividades geológicas. 11

Relevo submarino formado pelo afastamento de placas tectônicas que se que se estende sob o Oceano Atlântico

e o Oceano Ártico, desde a latitude 87ºN até à ilha subantártica de Bouvet, à latitude 54ºS (BROZOSKI, 2013).

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26

Fonte: http://vitingeo.wikispaces.com

A partir do final do século XIX, a topografia marinha começou a ser conhecida, com

pesquisas de HMS Challenger12

. Logo após a Segunda Guerra Mundial, ocorreu uma

sistematização do fundo dos oceanos com a finalidade de se conhecer os fundos marinhos

para melhor posicionar navios e embarcações. Partindo desse mapeamento, definiram-se três

partes oceânicas principais: as margens continentais, as bacias dos fundos oceânicos e as

cordilheiras meso-oceânicas (VIDIGAL et al., 2006, p.56).

É necessário falar sobre a variedade de relevos nos fundos oceânicos para

compreender a presença de recursos econômicos no Atlântico Sul. Assim como a parte

terrestre, os fundos oceânicos apresentam diferentes formas, cabendo destacar dentro das

margens continentais a plataforma continental, o talude continental, e a elevação continental.

Verificam-se também, em outras partes do oceano, planícies abissais, cordilheiras oceânicas e

fossas oceânicas.

Prolongamento da área continental, com profundidade de até 200 metros, a plataforma

continental é a área mais importante do relevo submarino. Nessa região, encontram-se

diversas formas de vida marinha uma vez que a luz solar atinge essa profundidade. Além do

12

Grande excursão realizada no período de 1872 a 1876 a qual foi responsável por diversas descobertas

oceanográficas (VIDIGAL et al., 2006).

Figura 1 - Estrutura Dorsal Meso-Atlântica

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27

mais, é nela que são encontradas grandes de poços de petróleo e de gás procedentes das

rochas submersas (MACHADO, 2015).

O talude continental, localizado logo após a plataforma continental, inclina-se até o

fundo oceânico, atingindo entre 3.000 e 4.000 metros de profundidade. Ao contrário da

plataforma, seu relevo não é regular, podendo ser encontrado cânions e vales submersos.

Ainda que pouca, a luz ainda alcança áreas do talude. Enquanto isso, a planície abissal é uma

área extremamente profunda, com mais de 5.000 metros de profundidade, nas quais não há

incidência de luz e as temperaturas são baixíssimas (MACHADO, 2015).

Também são encontradas cordilheiras ou fossas oceânicas. Enquanto as cordilheiras

funcionam como uma cadeia de montanhas, geralmente, pelo afastamento das placas

tectônicas, as fossas representam grandes depressões estreitas e compridas, com

profundidades que chegam a 11.000 metros (VIDIGAL et al., 2006).

O Atlântico Sul, para o Brasil, representa uma grande fonte de riquezas. Dentre tantas,

localiza-se, na plataforma continental, as principais reservas petrolíferas do Brasil. Além

disso, a importância econômica e estratégica da região cresceu na medida em que foram

descobertos novos poços petrolíferos nas águas profundas sob jurisdição brasileira. As novas

reservas petrolíferas encontradas nas águas profundas que vai do Espírito Santo a Santa

Catarina repercutiram sobre as reservas do país. O desafio da exploração do pré-sal, assim

denominado esses grandes poços, pode ultrapassar os limites no âmbito das tecnologias

tradicionalmente utilizadas. Nesse sentido, ressalta-se a atuação da Petrobras em pesquisas e

desenvolvimento aplicado em atividades de extração de petróleo e gás em águas profundas

(COSTA, 2012).

2.2. Recursos energéticos

Pode-se afirmar que a oceanografia, no Brasil, teve início com o descobrimento do

país uma vez que já existiam valiosas informações sobre a costa brasileira. No entanto, o

grande impulso para a sua evolução foi a criação da Comissão Interministerial para os

Recursos do Mar (CIRM) em 1974. Essa comissão tinha por finalidade coordenar assuntos

referentes a consecução de uma Política Nacional para os Recursos do Mar13

(PNRN) e, dessa

13

Promulgada em 1980, visa estabelecer planos de ação e objetivos no campo de desenvolvimento de pesquisa,

ciência e tecnologia marinha, utilizando os recursos do mar de forma sustentável para o desenvolvimento

socioeconômico do país (VIDIGAL et al., 2006).

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forma, ao longo dos anos, implementar programas importantíssimos visando a gestão e o uso

sustentável dos recursos marinhos (VIDIGAL et al., 2006, p.59-60).

Dente esses programas, cabe destacar o Programa de Avaliação do Potencial

Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva14

(Revizee), Programa

Antártico Brasileiro15

, Programa Train-Sea-Coast Brasil16

(TSC-BR), Programa Arquipélago

de São Pedro e São Paulo17

, Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma

Continental Jurídica Brasileira18

(Remplac) e até um Programa de Mentalidade

Marítima19

(VIDIGAL et al., 2006).

Partindo do pressuposto de que é interesse vital a garantia da sua própria segurança

estratégica, o Brasil ratificou, em 1988, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do

Mar (ONU, 1982). Por essa atitude, foi-se capaz de delimitar a fronteira marítima brasileira.

Hoje, consagrada como Amazônia Azul, pela PND e END, a área possui elevada importância

geopolítica e geoestratégica uma vez considerada a gama de recursos econômicos presentes

nesse oceano.

Fonte: http://www.defesa.gov.br/20

14

Coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, tem como finalidade principal realizar levantamento do

potencial sustentável da captura de recursos vivos na zona econômica exclusiva (VIDIGAL et al., 2006). 15

Programa que garantiu ao Brasil a capacidade de membro consultivo e, em 2012, de membro pleno no Tratado

da Antártica, apoiando a execução de pesquisas na região (VIDIGAL et al., 2006). 16

Sediado na Furg, tem por objetivo capacitar recursos humanos atuantes nas áreas costeiras e oceânicas. 17

Programa desenvolvido a fim de consolidar o direito de 200 milhas náuticas do país (VIDIGAL et al., 2006). 18

Programa Desenvolvido para efetuar análise e levantamento geológico-geofísico da plataforma continental

brasileira (VIDIGAL et al., 2006). 19

Programa dedicado a consolidar a compreensão pelo povo brasileiro da essencialidade do mar para a

sobrevivência do país (VIDIGAL et al., 2006). 20

Disponível em:

<http://www.defesa.gov.br/arquivos/ensino_e_pesquisa/defesa_academia/cedn/viii_cedn/altemonteiroviiicedn.pd

f >

Figura 2 – Amazônia Azul

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29

A figura 2 ilustra o que seria a Amazônia Azul, como visto uma parte do Atlântico

Sul. Pode-se dizer que se trata de uma área estratégica do entorno brasileiro uma vez que

circula toda a vastidão do litoral do país somada a gama de recursos minerais e econômicos

presentes na região.

A expressão “Amazônia Azul”, vista pela primeira vez num artigo elaborado pelo

Almirante Roberto de Guimarães Carvalho, surgiu como apelo à sociedade brasileira para

atentar-se sobre a importância do imenso mar que nos cerca e da necessidade de existir uma

marinha capaz de defender os interesses brasileiros no Atlântico Sul (NETO et al., 2004).

Ainda sobre esse termo e a regulamentação dos espaços marítimos, Marianne

Wiesebron prosseguiu:

O termo Amazônia Azul foi lançado para chamar a atenção quanto às imensas

riquezas da área oceânica sob a jurisdição brasileira. Essa área abrange a ZEE de

200 milhas náuticas, com uma superfície de 3.539.919 km², enquanto a PC, até 350

milhas náuticas, correspondendo a 960 mil km². Somadas, elas abrangem 4.499.919

km², ou praticamente 4,5 milhões km², o que acrescenta uma área marítima

equivalente a mais de 50% da extensão territorial brasileira (WIESEBRON, 2013,

p.109).

O Atlântico Sul, de uma forma geral, é um área extremamente rica em petróleo e gás.

De acordo com a Energy Information Administration (2011), na África, encontram-se cerca

de 8% das reservas mundiais de petróleo e 7% das reservas de gás. Países como Angola e

Nigéria se destacam como os cinco maiores produtores de petróleo no continente. É de se

imaginar, portanto, que o Brasil, detentor de uma grande vastidão territorial marítima no

Atlântico Sul, tenha sob sua posse uma grande zona econômica.

Historicamente, desde a década de 1970, o Atlântico Sul representou uma fonte de

recursos energéticos para o Brasil. No entanto, somente no início do século XXI, um novo

cenário regional se abre para o país. Além da exploração petrolífera que já existia nas águas

sob domínio brasileiro, as novas jazidas na Bacia de Campos e, principalmente, os

promissores poços nas águas profundas da Bacia de Santos (pré-sal) reordenaram as diretrizes

e os objetivos brasileiros para a região (COSTA, 2012).

O Estado brasileiro usufrui de uma posição estratégica tanto no âmbito continental

quanto no âmbito marítimo. As descobertas de petróleo offshore21

deu destaque a esse oceano

até então com pouco peso no cenário global (RUCKS, 2014). Valem salientar que essas

bacias petrolíferas podem ser encontradas em ambas as partes do Atlântico. Além disso,

registra-se que a maior parte dos poços conhecidos se encontra dentro das 350 milhas da

plataforma continental preconizadas pela Convenção do Direito do Mar (CNUDM) de 1982.

21

São aquelas reservas que se encontram em área marítima.

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30

A maior parte das reservas de petróleo e gás do Brasil encontra-se na plataforma

continental. Segundo a ANP (2011), a exploração dessas reservas corresponde a,

aproximadamente, 90% da produção atual do petróleo do Brasil e 75% da produção de gás

(BRITISH PETROLEUM, 2011). Analisando a tabela abaixo, percebe-se o processo histórico

de evolução das reservas e da produção petrolífera de alguns países, sendo cinco deles

pertencentes à ZOPACAS.

Fonte: BP Statistical Review of World Energy (2013)22

.

Nessa tabela, pode-se distinguir a Nigéria, a Líbia e a Venezuela como grandes

produtores de petróleo. Sabendo que a Nigéria é um país banhado pelo Atlântico Sul e, ao

mesmo tempo, extremamente instável e problemático, faz-se necessário um esforço em

cooperação pelos países banhados por esse oceano a fim de proteger e defender esses recursos

no Atlântico Sul. Na África, pode-se destacar o Golfo da Guiné – vai do Senegal ao Congo,

estendido a Angola – como um grande produtor petrolífero.

Diante desse cenário, no Brasil a Petrobras decidiu criar um programa, chamado

Programa de Capacitação Tecnológica em Águas Profundas (Procap), voltado para a extensão

e inovação em tecnologia no sistema de produção do petróleo. O Procap foi organizado em

quatro grandes temas: poço, elevação, escoamento, casco e ancoragem. Por outro lado, deve-

22

Disponível em: < http://large.stanford.edu/courses/2013/ph240/lim1/docs/bpreview.pdf >.

Tabela 1 – Reservas e produção dos principais países petrolíferos da América do Sul e da África.

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31

se ressaltar que esse processo de mobilização e logística de Petrobras não é exclusivo da

empresa, ou seja, outras empresas e outros centros de pesquisa no exterior se interessam em

investir recursos para a exploração do petróleo no Atlântico Sul (VIDIGAL et al., 2006).

Segundo Fiore (2013), na região do Golfo da Guiné, no Gabão, no Congo, no Brasil e

em São Tomé e Príncipe são encontrados diversos recursos minerais. Ele afirma que

Também existem na Bacia Atlântica crostas cobaltíferas, nódulos poli metálicos

(contendo níquel, cobalto, cobre e manganês), sulfetos poli metálicos (contendo

zinco, prata, cobre e ouro), além de depósitos de diamante, ouro, e fósforo, entre

outros minerais relevantes, e já forma identificados grandes fontes energéticas e

mineiras na região da Antártida. Encontram-se na região grandes reservas de gás e

carvão, respectivamente na Namíbia e na África do Sul (FIORI, 2013, p. 8).

Como se sabe, o carvão pode ser utilizado como fonte alternativa ao petróleo. Logo,

esse mineral possui uma relativa importância no mercado intencional. Dessa forma, mais uma

vez, o Atlântico Sul chama atenção já que esse recurso energético pode ser detectado em

vários pontos da costa brasileira e da África do Sul. Agora, no que tange os minerais pesados,

as principais reservas no Atlântico Sul são de diamante na Namíbia e de ouro e diamante na

África do Sul (BROZOSKI, 2013).

Quanto ao Brasil, existe uma determinada expectativa em se encontrar metais

preciosos. Como se vê na figura 3, no litoral do Nordeste as pesquisas concentram-se nos

calcários marinhos. Muitos desconhecem, mas esse tipo de produção e exploração (areia,

cascalho, fosforita e calcário marinho) é de alta demanda e prioridade assim como

economicamente viável. O país também se dedica a pesquisar os sulfetos polimetálicos. O

arquipélago de São Pedro e São Paulo é um dos raros pontos em que a cordilheira atlântica

está sob jurisdição nacional e, onde o país pode desenvolver tais pesquisas e explorações. Por

fim, cabe destacar a elevação do Rio Grande, um monte marinho na altura dos Estados de

Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Segundo Luciana Christante, “pesquisadores estrangeiros

já estudaram a região no passado e obtiveram indícios da existência de crostas cobaltíferas,

ricas em manganês, níquel, platina, tálio e telúrio, além de cobalto” (CHRISTANTE, 2010,

p.25).

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32

Fonte: CHRISTANTE, 2010.

Viu-se, então, que esse oceano contabiliza uma imensidão de reservas dispostas tanto

na costa sul-americana quanto na costa africana. Cabe, portanto, a esses países protegerem

suas riquezas marinhas uma vez que as mesmas têm atraído olhares de potências

extrarregionais (PENHA, 2012).

2.3. Via comercial e de comunicação

O Atlântico Sul é assim compreendido como um espaço marítimo geográfico que

abarca três frentes continentais – América, África e Antártida – e três corredores

estratégicos – ao norte, a zona Natal-Dakar, e, ao sul, entre a Antártida e o

continente africano, a Rota do Cabo, e entre a Antártida e a América do Sul, a

Passagem de Drake –, onde, historicamente, ocorreram importantes fluxos

econômicos e culturais e cujos contornos políticos dependem sempre do

relacionamento entre os países que compõem suas margens africana e sul-americana

(HORING; WEBER; CROSS, 2014, p. 487).

Figura 3 – Recursos Minerais na Amazônia Azul

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33

Podemos dizer que o Atlântico Sul teve sua importância geopolítica gradualmente

acentuada desde a expansão ultramarinha europeia do século XV. Sabe-se que, durante esse

período, motivado pelo desejo de contornar a África e alcançar as Índias, as ilhas meso-

oceânicas desse espaço marítimo tiveram um papel logístico importante, abastecendo os

navios (HORING; WEBER; CROSS, 2014).

Com o descobrimento do Brasil, o Atlântico Sul passa a funcionar como uma rota para

o tráfego de escravos vindos da África. Ademais, o estreitamento econômico e político entre o

Brasil e África decorreram-se da transposição da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, no

século XIX, e, com isso, as relações entre esses continentes se tornaram mais autônomas

(HORING; WEBER; CROSS, 2014).

Entretanto, o avanço europeu no continente africano, no século XIX, marginalizou o

peso do Atlântico Sul como uma rota marítima comercial. Além do mais, a construção do

Canal do Suez (1869) e do Panamá (1914) contribuiu para a diminuição da importância dessa

passagem.

Ainda que no contexto da Segunda Guerra Mundial o Atlântico Sul tenha

desempenhado um relevante papel logístico, essa revalorização foi passageira, deixando para

o fim do século XIX e início do século XX o seu ressurgimento como um espaço estratégico

no cenário político-econômico internacional. No início do século XXI torna-se visível o

aumento das relações entre os países que compõe o Atlântico Sul em razão da necessidade de

defesa dos interesses desses Estados sobre a gama de recursos naturais e energéticos sobre as

duas margens sul-atlânticas (HORING; WEBER; CROSS, 2014).

Com relação à África,

Em 2011, a Nigéria exportou mais de 2 milhões de barris de petróleo por dia, sendo

33% para os EUA (9% das importações estadunidenses), 28% para a Europa, 12%

para a Índia e 8% para o Brasil. Para a África do Sul as exportações foram de 3% do

total e para o Sudeste da Ásia (incluindo China) 5% do total exportado. Angola

exporta quase toda sua produção, cerca de 75 mil barris diários, sendo 45% de suas

exportações para a China, 23% para os EUA e 9% para a Índia. A Guiné Equatorial

exporta quase toda sua produção petroleira, destinando 30% de suas exportações

para os EUA, 41% para a Europa (sendo os principais destinos 14% para Espanha e

13% para Itália), 10% para o Canadá e 7% para a China (ainda 6% para o Brasil). O

Congo (Brazzaville) exporta 90% de sua produção, sendo 49% de suas exportações

para os EUA, 31% para a China e 10% para a França. O Gabão exporta 90% de sua

produção e tem como principais destinos EUA e Europa (FIORI; VATER;

PADULA, 2012, 139-140).

Sabendo que o Atlântico Sul é uma rota marítima capaz de interligar a África,

América, Europa e Antártica, pode-se dizer que a região entre o Atlântico e o Pacífico foi a

que tem demonstrado maior crescimento em comércio marítimo desde o fim do século XX.

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34

Correspondendo a uma saída de utilização do Canal do Suez e do Panamá, o Atlântico Sul

serve como uma via de comunicação interoceânica (RICHARDSON et al., 2012).

Therezinha de Castro (1999) já apontava quatro rotas fundamentais no Atlântico Sul

para o desenvolvimento e a projeção do Brasil. Sem contar com a rota sul-americana,

passando pelo Rio da Prata até Trinidad, chegando à passagem de Drake, cabe destacar a rota

europeia23

, a rota africana24

e a própria rota do Cabo da Boa Esperança25

.

Por mais que s países pertencentes a região do Atlântico Sul não sejam os maiores

fornecedores de petróleo às potências extrarregionais, esse espaço se apresenta como uma via

substituta para países como os Estado Unidos, o qual depende em grande parte de importações

petrolíferas oriundas do Oriente Médio. O mesmo acontece com a União Europeia, ou seja,

segundo a Eurostat26

, ainda que seus principais fornecedores de petróleo sejam a Rússia, a

Noruega e a Líbia, não dependendo do Atlântico Sul como rota marítima, os europeus detém

relações comercias com a África do Sul (3º maior produtor de carvão para a União Europeia)

e com a Nigéria (7º maior exportador de petróleo e 6º exportador de gás para a União

Europeia). Sendo assim, esse oceano ganha determinada importância como via comercial.

Com respeito à China, dentre os países costeados pelo Atlântico Sul, os seus maiores

exportadores de petróleo são Angola, Brasil e Gabão como se pode observar na tabela 2.

Além do mais, o Atlântico Sul serve como espaço estratégico por conectar potência chinesa a

grandes fornecedores de minérios e alimentos.

Fonte: Comtrade27

23

Compreendida pela conexão entre o continente europeu e a América do Sul/África, através do estreitamento

do Atlântico, entre o Nordeste Brasileiro e Cabo Verde (CASTRO, 1999). 24

No sentido leste-oeste, conecta a África e a América do Sul (CASTRO, 1999). 25

Enquadrada na conexão interoceânica da África do Sul, congrega três continentes, sendo passagem de recursos

do Oriente Médio para a Europa e Estados Unidos (CASTRO, 1999). 26

Gabinete de Estatísticas da União Europeia disponível em: <http://ec.europa.eu/eurostat/>. 27

Disponível em <https://comtrade.un.org/>.

Tabela 2 – Importações chinesas

Tabela 2 - Importações Chinesas

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35

Com relação ao Brasil, o fluxo comercial no Atlântico Sul constitui um fator

indispensável para se pensar na economia brasileira já que, atualmente, cerca de 90% das

importações e exportações brasileiras passam por essas águas (PENHA, 2011). Como grande

exportador de commodities, a figura 4 evidencia a importância estratégica do Atlântico Sul

para os interesses brasileiros.

Fonte: MILANI, 2014, p.28.

2.4. Histórico, Princípios e Delimitações do Direito do Mar

Há tempos as nações ambicionam dominar os mares, usá-los como via de

comunicação, como fonte de alimento e, muitas vezes, como palco de guerras para suas

conquistas. No entanto, a concreta normatização do mar só foi possível graças à liderança e

perseverança da Organização das Nações Unidas (ONU) e das conferências realizadas até se

alcançar a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) a qual, de uma

forma geral, concretizou a percepção da utilização dos oceanos como res communes28

da

sociedade internacional.

Desse modo, o Direito do Mar se consolidou como um novo ramo do Direito, dentro

do estudo do Direito Internacional Público, essencial para a proteção dos interesses dos

28“são bens insuscetível de apropriação, os que pertencem a todos Ex. ar, a água corrente, a luz do sol”

(AMARAL, 2006, p.336).

Figura 4 - Mercado Brasileiro de Agronegócio

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36

Estados, delimitando os espaços marítimos e traçando as prerrogativas de soberania nessas

águas.

Pode-se falar que boa parte da compreensão normativa sobre o Direito do Mar

originou-se no costume, assim como acontece com outras áreas no Direito Internacional.

Como já mencionado, as relações estabelecidas sobre a utilização dos mares já era se pensado

antes mesmo da própria consolidação do Estado, por uma visão particular da Igreja Católica.

Assim, o mar, sendo obra do criador, seria um bem comum a todos, sendo livre a sua

utilização para a navegação ou até a sua exploração (MENEZES, 2015).

Contrastando a essa ideia e atendendo aos interesses dos reinos protestantes, Hugo

Grotius (1609) passa a defender o principio do mare liberum, ou seja, ainda que os todos

tenham o mar como propriedade comum à navegação, o mesmo não pode ser apropriado por

um Estado. Por outro lado, contrapondo essa ideia, o inglês John Selden (1635), defendendo

os interesses marítimos ingleses, passou a invocar o principio do mare clausum o qual alegava

que existia um direito de propriedade do mar nas proximidades do território da Inglaterra sob

domínio inglês, tratando o mar como objeto de apropriação (MENEZES, 2015).

Como consequência, essa discussão se manteve em pauta por anos e sendo assim, por

conveniência econômica e política, o principio da liberdade dos mares foi considerado na

relação interestatal perante o mar. Entretanto, os Estados se mostravam receosos quanto a

possíveis invasões e ataques aos seus territórios e passaram a considerar desde a Idade Média

o entendimento de uma norma costumeira, mais tarde formalizada, sobre a dimensão do mar

territorial. Essas nações entendiam que um espaço de três milhas náuticas, o que seria o mar

territorial, ficaria no alcance da soberania do Estado como forma de proteção estratégica de

diversas possíveis ameaças. Logo, ambas as perceptivas – mare liberum e mare clausum –

passaram a reger a relação dos Estados para com o mar (MENEZES, 2015).

Antes da codificação do Direito do Mar em meados do século XX, a sua primeira

tentativa de sistematização ocorreu em 1856, com a realização do Congresso de Paris29

e,

posteriormente, com a Convenção de Genebra30

de 1864. Como nesse contexto as relações

entre os Estados ainda ocorriam por meio de alianças estratégicas, não existia uma noção de

regras e de uma sociedade internacional consolidada. Subsequentes, as Conferências da Paz

de Haia (1889 -1907) e a criação da Sociedade das Nações (1919) estimularam a discussão da

necessidade de regras para coordenar o uso comum do mar. Não obstante, as discordâncias

entre os Estados acabaram por paralisar as discussões sobre o tema (MENEZES, 2015).

29

Regime do uso dos navios durante conflito. 30

Regime sobre as condições dos feridos em mar.

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37

O desencadeamento da Segunda Guerra Mundial combinado ao processo de

descolonização contribuiu para o estacionamento do processo de regulamentação

internacional sobre o uso do mar. Alguns Estados passaram a alegar que a plataforma

continental poderia ser fonte de exploração dos países uma vez que a mesma representa a

continuidade do próprio território estatal. Desse modo, era necessário retornar as discussões

sobre o desenvolvimento do Direito do Mar de forma a regulamentar o seu uso (MENEZES,

2015).

Sendo assim, a criação da ONU representou uma retomada na busca dessa

regulamentação, englobando outros aspectos ainda não abordados como a exploração de

riquezas na área marinha. Então, em 1958, a Assembleia das Nações Unidas convocou a

Primeira Conferência das Nações Unidas sobre Direito do Mar a qual resultou em quatro

convenções sobre o Direito do Mar: 1) mar territorial e zona contígua; 2) plataforma

continental; 3) alto-mar; e 4) pesca e conservação dos recursos vivos do alto-mar. Entretanto,

a constante dificuldade em estabelecer a extensão do mar territorial influenciou a realização

da Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Direito do Mar, em 1960, a qual terminou

sem o resultado esperado. Por fim, em 1973, a Terceira Conferência das Nações Unidas sobre

o Direito do Mar, que se desenvolveu em onze seções ao longo de nove anos, foi aprovada,

entrando, efetivamente, em vigor em 1994 (MENEZES, 2015).

A CNUDM, assinada em Montego Bay em 1982 e desde sua entrada em vigor em

1994, tem normatizado assuntos quanto aos usos dos espaços marítimos, inclusive aqueles

relacionados à explotação e exploração dos recursos naturais. Dotada de uma ampla aceitação

na comunidade internacional, contando com 167 Estados (ONU, 2016) é voltada para um

reconhecimento legal e formal da Ordem Pública dos Oceanos. Elaborada de forma a

estabelecer diretrizes de regulamentação da relação da humanidade com o mar, a CNUDM

tem funcionado como uma via de “promoção de uma real cooperação marítima internacional

dos Estados no plano mundial e regional” (RIBEIRO, 2015, p.91).

Pode-se dizer que existiram diversas razões para os Estados voluntariamente

firmassem essa convenção. Era imprescindível que os Estados formalizassem mecanismos de

controle da utilização dos oceanos em função do seu caráter transnacional. Já que não

existiam fronteiras, as áreas marítimas poderiam servir como zona de tensão mediante

interesses diversos dos Estados nessas áreas. Assim, como já explicado, o espírito norteador

dessas normas é o de cooperação mútua para a manutenção da paz e do progresso da

comunidade internacional (MENEZES, 2015).

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38

Também podemos destacar outras razões como o controle do transito marítimo já que

o avanço tecnológico permitiu um crescente deslocamento de pessoas e mercadorias pelo

mundo ou até o reconhecimento de zonas marítimas como direito soberano de países.

Assentado pela ideia de justiça e de respeito ao Direito, segundo Wagner Menezes:

A boa-fé, a igualdade soberana, a não intervenção, a autodeterminação dos povos, o

respeito aos direitos humanos, a solução pacífica de controvérsias e a não agressão

ou uso da força são princípios do Direito Internacional que orientam a compreensão

do Direito do Mar (MENEZES, 2015, p.50).

A partir disso, cabe explicar sobre um principio fundamental do Direito do Mar: a

igualdade. Esse, por sua vez, não só justifica o pressuposto de que o mar para além da zona de

jurisdição do Estado corresponde a patrimônio comum da humanidade, como também elucida

que a igualdade não é e não pode ser absoluta uma vez que existem Estados com limitações

geográficas ou que, em razão ao seu pouco desenvolvimento econômico, não possuem

capacidade de explorar seus recursos marinhos. Essa mesma ideia envolve a lógica de

responsabilidade igualitária pela proteção e preservação do meio marítimo (MENEZES,

2015).

Quanto aos sujeitos no Direito do Mar, por excelência, são os Estados que se

submeteram à CNUDM. Considera-se também, as organizações internacionais como um ator

especial na construção de mecanismos de cooperação nesse Direito, no entanto, cabe lembrar

que esses mecanismos intergovernamentais são regidos e compostos por Estados. A CNUDM

inova ao permitir que empresas privadas ou pessoas físicas que explorem atividades nas áreas

marítimas sejam capazes de propor ações e demandas perante o Tribunal Internacional sobre o

Direito do Mar. Em resumo, os países, indivíduos, organização internacionais ou até empresas

privadas podem se engajar de forma a retirar algum tipo de benefício do mar, considerando

todos aqueles que se utilizam do mar para esse fim nos processos inerentes à Ordem Pública

nos Oceanos (McDOUGAL; BURKE, 1965).

A CNUDM fixou os seguintes limites a partir da lista de base: 12 milhas náuticas31

para o Mar Territorial e para a Zona Contínua32

; e 200 milhas para a Zona Econômica

Exclusiva (ZEE). A plataforma Continental também ficou delimitada a 200 milhas, podendo

ser revindicada perante a Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) da ONU a

sua extensão até o máximo de 350 milhas náuticas (MENEZES, 2015).

31

Unidade de medida, equivalente a 1 852 metros, utilizada quase exclusivamente para a área marítima e aérea. 32

Faixa compreendida logo após o mar territorial, juridicamente pertencente a área de alto-mar, fixada entre 12 e

24 milhas, na qual o Estado exerce sua jurisdição sobre a área, podendo fiscalizar e regular atividades marítimas

compreendidas na zona (VIDIGAL et al., 2006).

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39

No que tange ao Mar Territorial, a CNUDM reconhece a jurisdição absoluta do Estado

sobre essa área, cabendo às embarcações particulares ou comerciais dos demais Estados

adentrar nessas águas em casos de passagem33

, mediante aviso. Por outro lado, a ZEE seria

uma área a qual o Estado costeiro possui direitos de soberania voltados exclusivamente para

propósitos de exploração e explotação, conservação e gerenciamento dos recursos naturais –

vivos ou não vivos – e dos leitos e subsolos marinhos (SCHRIJVER, 1997). Como já

mencionado, a exploração é permitida numa expansão marítima contada a partir da linha de

base até o limite de 200 milhas. Ainda que exista essa denominação “exclusiva”, a CNUDM

prevê que, em alguns casos particulares, esse espaço deve ser compartilhado com outros

países. Isso ocorre porque, diferentemente do Mar Territorial, a ZEE possui um regime

jurídico de sui generis34

de modo a limitar a atuação do Estado costeiro no seu interior

(JUDICE; PINON, 2016).

Fonte: MENEZES, 2015.

33

Deve ser uma travessia continua e rápida de forma a não produzir ameaças à paz, a segurança e a ordem do

Estado costeiro. 34

Entende-se que a ZEE, ao ser introduzida a CNUDM, não faz parte do alto-mar uma vez que os Estados

possuíam direitos soberanos sobre essa área, no entanto, esses direitos se limitam à exploração econômica da

área (VIDIGAL et al., 2006).

Figura 5 - Limites marítimos

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40

Como se vê na Figura 5, além do Mar Territorial, da Zona Contínua e da ZEE, tem-se

o alto-mar. Assim, por exclusão, chamou-se alto-mar partes do mar o qual Estado algum pode

exercer qualquer tipo de soberania, conforme o artigo 1º da Convenção sobre o Alto-Mar

aprovada no contexto da Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar,

realizada em Genebra, 1958. No século XVIII, Emmer de Vattel já delimitava a natureza

jurídica do que seria o alto-mar:

O alto-mar não é de natureza a ser ocupado, e ninguém pode nele se estabelecer de

maneira a impedir outros de transitar por ele. [...] Ninguém tem o direito de

apropriar-se do uso do alto-mar. [...] Nenhuma nação tem, pois, o direito de tomar

posse do alto-mar, ou de atribuir-se o direito de usá-lo, com a exclusão de outros

(VATTEL, 2004, p. 179-183).

Portanto, o alto-mar é um espaço comum aos Estados onde todos possuem direitos

iguais, não podendo revindicar qualquer tipo de direito preferencial que não esteja

mencionado na CNUDM. Dentre os direitos que os Estados possuem nessa área marítima,

cabe enumerar alguns como: a) liberdade de instalação de cabos e oleodutos; b) liberdade de

construção de ilhas artificiais e outras instalações; c) liberdade de sobrevoo; d) liberdade de

pesca; e) liberdade de pesquisa científica; f) liberdade de navegação (MENEZES, 2015).

Ainda sobre esse assunto, convenhou-se chamar de Área35

a parte do solo e subsolo

marinho situados além da jurisdição de algum Estado, sendo reconhecida como patrimônio

comum da humanidade. Como nenhum Estado pode exercer ou reivindicar soberania sobre

esses recursos, coube a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos atuar e legislar sobre

esse espaço (VIDIGAL et al., 2006).

Vê-se também na Figura 5 o que se chama de Plataforma Continental. De acordo com

o artigo 76° da CNUDM, essa área representa o leito e o subsolo das áreas submarinhas que

compreende toda a extensão do prolongamento natural de seu território terrestre até o bordo

exterior da margem continental, ou até a distância de duzentas milhas marítimas das linhas de

base. Diante disso, é necessário entender que existem diferenças entre a Plataforma

Continental e a ZEE relacionadas a delimitações quanto aos direitos concedidos ao Estado

(VIDIGAL et al., 2006).

Primeiramente, a definição de plataforma continental na CDUM abarca um conceito

jurídico, o qual teve existência com o Direito Internacional. Enquanto a ZEE compreende uma

área entre o fim do mar territorial até um limite de 200 milhas, a Plataforma Continental pode

atingir até 350 milhas náuticas a partir da linha de base. Por vezes, a Plataforma Continental

pode coincidir com a ZEE, no entanto o direito dos Estados sobre elas se diferem

(MENEZES, 2015).

35

Conceito jurídico que compreende os espaços marinhos que não estejam sob o domínio de nenhum Estado.

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41

Como é visível na figura 6, no espaço da Plataforma Continental, os Estados possuem

soberania para exploração do leito e do subsolo marinho. Entender essa questão é

extremamente importante para a defesa dos interesses nacionais do Estado. Nesse contexto,

julga-se oportuno ressaltar um episódio que ocorreu com o Brasil em 1962-1963, levando-o a

guerra 36

com a França. O conflito, que ficou conhecido como a Guerra da Lagosta, ocorreu

por conta do apresamento de navios de pesca franceses por embarcações de guerra brasileiras.

O conflito ocorreu devido à interpretação da Convenção sobre a Plataforma Continental de

1958 a qual afirmava que os Estados costeiros exercem direitos soberanos sobre a mesma no

caso de exploração e aproveitamento de recursos naturais. A França, alegando que a lagosta

se movimentava em massa líquida, não poderia ser considerada recurso da plataforma

continental brasileira. Entretanto, o Brasil alegava que poderia apreender os navios franceses

que estavam praticando a pesca porque a lagosta é um animal que se locomove em solo

marinho, deslocando-se por saltos. Por fim, a tese brasileira foi validada e o conflito acabou.

Além do mais, esse conflito contribui para estabelecer bases mais concretas para a Convenção

de 1994 (VIDIGAL et al., 2006).

Fonte: EMEPC (2009) 37

.

36

Não ocorreu a guerra entre os dois países uma vez que ficou comprovado que a tese brasileira estava correta. 37

Disponível em: <http://www.ordemengenheiros.pt/fotos/editor2/eng.naval/9projecto_emepc.pdf>.

Figura 6 - Direito do Estado sobre os espaços marítimos

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42

Outro princípio que permeia o Direito do Mar ligado diretamente à divisão e

delimitação das ZEE e da Plataforma Continental é o da equidistância. Entende-se pela

CNUDM que

Quando as costas de dois Estados são adjacentes ou se encontram situadas frente a

frente, nenhum desses Estados tem o direito, salvo acordo de ambos em contrário, de

estender o seu mar territorial além da linha mediana cujos pontos são eqüidistantes

dos pontos mais próximos das linhas de base, a partir das quais se mede a largura do

mar territorial de cada um desses Estados. Contudo, este artigo não se aplica quando,

por motivo da existência de títulos históricos ou de outras circunstâncias especiais,

for necessário delimitar o mar territorial dos dois Estados de forma diferente

(BRASIL, Decreto nº 1.530, de 22 de junho de 1995). Visto isso, muitos países não entram em acordo com as delimitações de sua fronteira

marinha, cabendo a Corte Internacional de Justiça (CIJ) julgar e solucionar casos de

controvérsias.

Quanto ao regime de ilhas, pode-se dizer que o mar territorial, a zona contínua, a ZEE

e a plataforma continental desse espaço serão determinadas de acordo com a CNUDM. No

entanto, os rochedos que não se apresentam à habitação humana ou à vida econômica não

devem possuir ZEE ou plataforma continental. Essa distinção entre o que seriam rochedos e o

que seriam ilhas é um pouco problemática na medida em que a CNDUM não detalha o que

seria ao certo uma habitação humana e uma vida econômica para que esses pedaços de terra

sejam considerados ilhas ou rochedos. O Brasil, por exemplo, ao final dos anos 1990, adotou

algumas providências em relação aos rochedos de São Pedro e São Paulo para se

caracterizarem como ilhas, cabendo obter ZEE e plataforma continental sobre esses espaços:

mudou-lhes o nome de “rochedos” para arquipélagos; construiu e instalou um farol; e

construiu uma estação científica permanente composta por quatro pesquisadores (VIDIGAL

et al., 2006).

Por último, cabe mencionar a respeito da proteção do meio marinho e da investigação

científica marinha. Todos os Estados têm por obrigação proteger e preservar o meio marinho

ainda que na área sob sua jurisdição. Todos devem, igualmente, adotar leis e regulamentos a

fim de prevenir e controlar a poluição do espaço marítimo. Já na investigação científica

marinha, os Estados possuem direitos de realizar investigações exclusivamente com fins

pacíficos. No caso, sob a área de jurisdição de outro Estado, a pesquisa deve ser realizada com

o consentimento do Estado costeiro e o mesmo pode exigir suspensão de qualquer atividade

desde que não esteja sendo conduzida de acordo com a CNUDM e com os termos acordados

com o Estado costeiro (VIDIGAL et al., 2006).

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43

2.5. O Brasil e o Direito do Mar

É importante entender a aplicabilidade da III CNUDM na soberania brasileira frente às

águas no Atlântico Sul, buscando demonstrar que o Brasil possui autonomia e soberania para

além de seu território e das suas águas interiores. A utilização da CNUDM, adotada em

Montego Bay, pelo país corresponde a uma nova realidade para a exploração dos mares,

respeitando o princípio do res communis para áreas marítimas fora da jurisdição de um

Estado. Pode-se dizer que o Brasil se empenhou em elaborar um regime jurídico que

protegesse e salvaguardasse seus interesses nacionais.

Nos últimos anos, o país desenvolveu algumas ações, voltadas ao Atlântico do Sul, as

quais exemplificam seu interesse pelo Direito do Mar: a extensão da plataforma continental

para além das 200 milhas (projeto passou a ser chamado nos documentos oficiais brasileiros

de Amazônia Azul), o Programa Arquipélago de São Pedro de São Paulo

(PROARQUIPELAGO), o Programa de Pesquisas Científicas na Ilha da Trindade

(PROTRINDADE) e o Programa de Prospecção e Exploração de Recursos Minerais da Área

Internacional do Atlântico Sul e Equatorial (PROAREA) (SILVA, 2015).

Posteriormente a Guerra da Lagosta, vivenciada pelo Brasil e a França, um fato que

repercutiu internacionalmente ligado à esfera do Direito do Mar foi o alargamento do mar

territorial brasileiro para 200 milhas por meio do Decreto-lei n. 1098 de 1970. Nessa época,

diversos países latinos já haviam adotado essa medida, sendo que o Brasil se mostrava

relutante a expandir a esse limite. Aos poucos o país foi aumentando essa medida e as razões

pelas quais o Brasil expandiu de 12 milhas para 200 milhas tiveram razões tanto internas

como externas (SILVA, 2015).

No entanto, houve um rebuliço por parte dos Estados desenvolvidos em torno do

debate a cerca da expansão do mar territorial em 200 milhas, ficando determinada pela III

Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar a definição da largura máxima de 12

milhas marítimas contadas a partir da linha de base para o mar territorial dos Estados. Para

abrandar o assunto e chegar a uma solução conciliatória, criou-se o conceito de ZEE a qual

teria um limite máximo de 200 milhas náuticas (SILVA, 2015).

Já era de se imaginar que, inicialmente, essa proposta tenha sido mal recebida pelo

governo brasileiro o qual tentou, por anos, se opor ao consenso. No entanto, como a adoção

da CNUDM só ocorreu 12 anos depois da sua elaboração, o Brasil pertencia a outro tipo de

regime interno, entendendo que a CDUDM corresponde a um mecanismo importante de

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controle sobre os mares. Em 1993, o país elabora o Decreto-lei 8.617, revogando o antigo

Decreto-lei. Diante disso, tem-se

Art.1° O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de doze milhas marítima de

largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular, tal

como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no

Brasil.

[...]Art.6° A zona econômica exclusiva brasileira compreende uma faixa que se

estende das doze às duzentas milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base

que servem para medir a largura do mar territorial (BRASIL, 1993).

A partir da entrada em vigor da CNUDM, em 1994, o Decreto n. 1530 passou a dar

efeitos dessa convenção dentro do Brasil. Uma das principais novidades da CNUDM foi a

nova definição de plataforma continental. Dotada de um conceito jurídico e não geológico, o

Estado pode utilizar-se de um limite de 200 milhas náuticas, cabendo sua expansão até 350

milhas, para a exploração do solo e subsolo marinho. Submetida à CLPC em 2004, o Brasil

foi um dos primeiros Estados a pleitear a extensão da sua plataforma de acordo com o artigo

76 da CNUDM. O Brasil, detentor de uma extensa margem continental, fez um pleito o qual

abrangeria as principais províncias e interesses brasileiros. Entretanto, a proposta foi

recusada, cabendo ao Brasil à apresentação de uma nova proposta à CLPC. Diante desse

cenário, após uma nova proposta à CLPC, o governo brasileiro declarou que

[...] independentemente de o limite exterior da Plataforma Continental (PC) além das

200 MN não ter sido definitivamente estabelecido, o Brasil tem o direito de avaliar

previamente os pedidos de autorização para a realização de pesquisa na sua PC além

das 200 MN, tendo como base a proposta de limite exterior encaminhada à

Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC), em 2004 (CIRM, 2010).

Com vistas em aumentar sua presença no Atlântico Sul, o Brasil criou o

PROARQUIPELAGO, em 1996, em que seu objetivo principal era uma implementação de

uma Estação Científica permanente na área. Criou também o PROTRINDADE, em 2007, que

tem por objetivo promover e gerenciar o desenvolvimento de pesquisas científicas nessas

ilhas e na área marítima adjacente. Por último, em 2009, o Brasil criou um projeto

interessante chamado PROAREA. Diferente dos demais, esse projeto não ocorre dentro dos

limites nacionais e, sim no que a CNUDM estabeleceu como Área. A Convenção criou um

órgão denominado de Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos que tem por finalidade

cuidar da Área e dos recursos presentes nela. Como essa Área é patrimônio comum da

humanidade, o Brasil por meio de um contrato com a Autoridade começou a realizar

pesquisas nesse espaço marítimo. É de se imaginar que o programa tenha por objetivo geral

identificar áreas de valor econômico e de importância político-estratégico para o Brasil, ainda

que sob os moldes da CNUDM.

Na figura 7 ficam visíveis as limitações brasileiras no Atlântico Sul e o aumento de

sua presença com a posse dessas ilhas marítimas.

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45

Figura 7 - Limites Marítimos Brasileiros

Fonte: NÁUTICO (2015) 38

.

38

Disponível em: <http://salvador-nautico.blogspot.com.br/2015/05/amazonia-azul.html#!/2015/05/amazonia-

azul.html>.

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46

3. CAPÍTULO II: CONFLUÊNCIA E DIVERGÊNCIA DE INTERESSES NO

ATLÂNTICO SUL

Diante do enorme potencial energético, econômico e de comunicação, o Atlântico Sul

tem sido alvo de crescente atenção no cenário internacional. O potencial da área resultou em

convergências e divergências de interesses estratégicos dos estados costeiros e até mesmo de

outros fora da região. Sendo assim, esse capítulo tem por objetivo demonstrar como o essa

zona estratégica despertou o interesse dos Estados e como eles têm atuado na região (COSTA,

2012).

3.1. Atlântico Sul como Espaço Estratégico

Os mares e os oceanos possuem um papel importante na história da humanidade.

Desde a obra de The Influence of Sea Power Upon History de 1890, de Alfred Mahan, a qual

realçava a relevância da utilização do mar pelas grandes potências, os oceanos passaram a

dotar de uma crescente valorização. Dessa forma, pode-se dizer que as percepções e

avaliações a respeito da importância estratégica do Atlântico Sul vêm se alterando nos últimos

anos em razão às grandes descobertas econômicas e à intensificação dos fluxos comerciais na

área, principalmente (RUCKS, 2014).

Em primeiro lugar, os recursos energéticos ocupam papel de destaque no mundo.

Como já visto, quer na costa da América do Sul, em especial o Brasil, quer na costa ocidental

africana, em especial a Nigéria, Angola, Costa do Marfim, Camarões, Congo e Gabão, a

existência de jazidas de minérios como as grandes áreas de exploração de petróleo e gás

natural atraem interesses para a região. Vale lembrar que essa relevância não resulta apenas

do volume de riquezas existentes em ambos os lados do Atlântico Sul, mas também da visão

estratégica de grandes potências em diversificar suas fontes de abastecimento energético e

reduzirem sua dependência do petróleo vindo do Oriente Médio (NEVES, 2013).

Somado a isso, o crescimento das economias margeadas por esse oceano gerou uma

expansão das exportações e, por consequência, um aumento do fluxo comercial sobre as águas

do Atlântico Sul. Além disso, vimos que o Atlântico Sul funciona como uma rota alternativa

de ligação entre o Pacífico e o Atlântico, atraindo foco de potencias extrarregionais. Também

se pode sublinhar a importância do Atlântico Sul como base de projeção para a Antártida,

uma área na qual as principais potências se posicionam para uma corrida em busca dos

recursos energéticos e minerais existentes, ainda que não explorados (NEVES, 2013).

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47

Dessa forma, vê-se o Atlântico Sul como cenário de competição por influências e

obtenção de poder. Tanto os Estados Unidos, como a Índia, a China, a França e Inglaterra

buscam projeção e posição geoestratégica nessas águas como forma de expansão de poder. A

emergência do Brasil como poder regional, preocupado em garantir a segurança da Amazônia

Azul, conflita com interesses de potências extrarregionais já que o veem como uma ameaça

(NEVES, 2013).

É necessário considerar outro geoestrategista que pondera sobre a teoria do

Heartland39

, formulando a teoria do Rimland40

: Nicholas Spykman. A visão desse geógrafo

sugere uma atuação dos Estados Unidos para a América Latina de forma a se manter como

potência de supremacia mundial. Para Fiori; Padula; Vater,

Uma questão importante a ser considerada é a posição relativa da América do Sul

em área geoestratégica, de interesse e ação (direta e indireta) permanente por parte

dos Estados Unidos. Sua postura intervencionista e imperialista na região se respalda

na sua estratégia geopolítica de se tornar árbitro político e exercer controle sobre a

massa de recursos do hemisfério ocidental, não deixando que nenhuma potência do

hemisfério oriental, ou a emergência de uma potência ou coligação de países no

continente americano, venha contestar ou ameaçar seu predomínio hemisférico. Esta

concepção geopolítica foi formulada por Nicholas Spykman (1942), para quem o

predomínio estadunidense no continente deve ser incontestável e irrevogável para a

sua segurança (FIORI; PADULA; VATER, 2012, p.109).

A visão de Spykman levou os Estados Unidos a incorporar uma postura em relação à

America do Sul. Com as descobertas das grandes reservas energéticas brasileiras, sobretudo o

pré-sal, os Estados Unidos reativaram a IV Frota naval, alegando que era necessário patrulhar

as águas do Atlântico Sul. No entanto, sabe-se que essa posição norte-americana denuncia

uma linha de ação mais realista e imperial a fim de delimitar sua zona de influência

(BROZOSKI, 2013).

Em vista disso, surge a necessidade a garantir o controle das linhas de comunicação

como exercer soberania, de acordo com os princípios do Direito do Mar, sobre as enormes

reservas naturais existentes no Atlântico Sul. Sendo assim, ainda que o Brasil esteja inserido

numa região que apresenta poucos conflitos, fazem-se necessárias iniciativas direcionadas a

defesa e segurança da região.

A PND contempla a América do Sul, o Atlântico Sul, a Antártida e os países lindeiros

africanos como parte do entorno estratégico brasileiro, tratando a América do Sul e o

Atlântico Sul como áreas prioritárias. Logo, considerado como uma área estratégica existe

39

Teoria desenvolvida por Mackinder na qual defendia que o controle político e militar dc oração da terra,

localizado na Rússia, representaria o domínio dos recursos demográficos e naturais da eurásia e, por conseguinte,

a chance de controlar o mundo (MACKINDER, 1996). 40

Reformulando a teoria de Makinder, sugere que quem tem o poder mundial não é quem controla diretamente o

‘coração do mundo’, mas sim quem é capaz de cercá-lo.

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48

uma preocupação constante pelos países margeados pelo Atlântico Sul com questões de

segurança tradicionais e não tradicionais41

.

Vale destacar que o Atlântico Sul dispõe de um conjunto de ilhas as quais lhe

conferem caráter estratégico para se projetar sobre a África, a América do Sul e a Antártica. A

existência dessas porções de terra no meio do oceano permite que os Estados instalem bases

militares, facilitando a circulação de meios navais como aéreos. Ainda sobre essas ilhas,

Therezinha de Castro formula a tese dos triângulos geoestratégicos do Atlântico Sul. Segundo

a geógrafa, nesse espaço marítimo estão dispostos três triângulos cujos vértices correspondem

às ilhas presentes como se pode ver na figura 8. Dessa forma, o primeiro triângulo representa

as Ilhas Ascensão, Santa Helena e Tristão da Cunha servindo de projeção tanto para a

América do Sul como base de apoio para o controle da Rota do Cabo. Já o segundo triângulo

corresponde ao Arquipélago de Fernando de Noronha, na ilha de Trindade e no arquipélago

das Malvinas, permitindo, sobretudo, o controle da passagem Atlântico-Pacífico. Quanto o

último triângulo, formado pelos arquipélagos subantárticos de Shetlands do Sul, Orcadas do

Sul e Gough, Geórgias do Sul e Sanduíches do Sul, representa uma rota alternativa para

projeções sobre o continente americano e a África (HORING; WEBER; CLOSS; 2014).

A presença desse cinturão de ilhas no Atlântico Sul condiz a um alto valor estratégico

à região uma vez que, além de servir de projeção e passagem, “a soberania sobre estas ilhas

implica o direito à exploração de suas respectivas zonas econômicas exclusivas, muitas das

quais apresentando reservas minerais e energéticas” (HORING; WEBER; CLOSS; 2014,

p.492).

Fonte: CASTRO, 1999, p.309.

41

A pirataria e o tráfico de drogas e pessoas na região estão causando alarde nos países que detêm interesses na

região, principalmente no Golfo da Guiné (GUIMARÃES, 2015).

Figura 8 - Triângulos Estratégicos

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49

Diante das inúmeras potencialidades do Atlântico Sul, tornando-o um espaço

estratégico é essencial avaliar o equilíbrio de forças presentes nessas águas e, particularmente,

a atuação brasileira em incrementar sua capacidade de integração regional.

3.2. Atuação e esforços extrarregionais no Atlântico Sul

O Sistema Internacional mais uma vez tem se mostrado progressivamente instável,

na medida em que as grandes potências continuam dispostas a defender seus

interesses, se necessário, por meio da força contra os mais fracos. A instabilidade

política tornou-se crescente no mundo, especialmente em regiões disputadas entre as

grandes potências. (...). Tornaram-se ainda mais claras as novas disputas

internacionais pelo controle de reservas de recursos petrolíferos ou gasíferos, ao

ponto de se estabelecer uma clara disputa estratégica pelo controle das rotas de

passagem ou escoamento destes recursos através de oleodutos ou gasodutos

(OLIVEIRA, 2010, s/p).

Nos últimos anos, o Atlântico Sul têm captado atenções em virtude de seu grande

potencial estratégico. Sendo assim, diversas potências externas a região e até mesmo a

Organização do Tratado do Atlântico Norte 42

(OTAN), sob liderança norte-americana, têm

procurado se fazer presente no Atlântico Sul. A figura 9 ilustra a dimensão da presença das

principais potências externas no entorno do Atlântico Sul. Diante disso, faz-se necessário

analisar a atuação e os esforços dos principais países nessa região a fim de projetar influência

e fazer valer seus interesses econômicos, estratégicos e até militares.

Fonte: Ministério da Defesa43

42

Organização Militar Intergovernamental de Defesa criada no contexto da Guerra-Fria a qual permaneceu

mesmo após a queda da URSS. 43

Disponível em:

<http://www.defesa.gov.br/arquivos/ensino_e_pesquisa/defesa_academia/cedn/viii_cedn/altemonteiroviiicedn.pd

f>.

Figura 9 - Presença de Potências Extrarregionais no Atlântico Sul

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50

3.2.1. Os Estados Unidos no Atlântico Sul

Após dominar Cuba, Porto Rico e as Ilhas Virgens, já se via uma intenção norte-

americana em controlar as rotas do Golfo do México e o que viria a ser o Canal do Panamá. A

partir daí, os Estados Unidos começou a se firmar como uma grande potência marítima no

Oceano Atlântico, estabelecendo somente no final do século XX e início do século XXI, uma

estratégia um pouco diferenciada para o Atlântico Sul (HORING; WEBER; CLOSS, 2014).

Desde a Guerra Fria, os Estados Unidos detinham de mecanismos militares de controle

sobre o Atlântico Sul ainda que o mesmo ocupasse uma posição marginal na geoestratégia das

superpotências. A importância do Atlântico Sul se restringia a servir como uma rota marítima

e como fonte de recursos energéticos, controlada por potências Ocidentais. Sabe-se que a

criação desses mecanismos foi resultado de uma sequência de eventos relacionados à

bipolaridade que se formou após a Segunda Guerra Mundial, os quais tinham por objetivo

defender essa área da ameaça soviética (HORING; WEBER; CLOSS; 2014).

Dentre os principais eixos de ação voltados para o Atlântico Sul, cabe destacar o

Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR). Celebrado em 1947, o TIAR tinha

como princípio central a ideia da “doutrina de defesa hemisférica”, ou seja, um ataque contra

um membro do tratado consistiria em um ataque a todos. No entanto, esse tratado tinha uma

funcionalidade precária uma vez que, além de seu caráter bilateral44

, não envolvia comandos

militares combinados e planificados como acontecia com a OTAN (OLIVEIRA; NETTO,

2016). Sob a ótica do realismo neoclássico de que a política externa de um Estado vai

depender do seu lugar no sistema internacional, da sua capacidade de poder material e a

necessidade de responder as incertezas da anarquia, presume-se que isso já era esperado

porque o objetivo principal norte-americano, ocupando uma posição de superpotência, estava

centrado em combater a ameaça comunista, voltando a maior parte de sua atenção para a

Europa (ROSE, 1998).

Com o fim da Guerra Fria, o Atlântico Sul não ocupava uma posição de destaque na

pauta política norte-americana. Pode-se dizer que a falta de uma ameaça aparente nessas

águas fez com que esse país reduzisse seu orçamento militar para a região. No entanto, as

turbulências ocorridas no sistema internacional em razão dos atentados terroristas contra as

embaixadas estadunidenses em Nairobi e em Dar El Salaam, em 1998, e do ataque de 11 de

44

Os Acordos estabelecidos não tinham um caráter multilateral, ou seja, os Estados Unidos tratava de cooperar

militarmente com cada país sul-americano.

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51

Setembro, em 2001, no próprio território dos Estados Unidos, fez com que o Estado adotasse

uma doutrina significante para o Atlântico Sul (HORING; WEBER; CLOSS, 2014).

Compreende-se, então, que os Estados Unidos passaram a ver o terrorismo como a

principal ameaça a sua liderança global. Partindo da visão de Battaglino (2009), sendo o

terrorismo de caráter transnacional, sem Estado soberano responsável, sem um território fixo,

sem uma delimitação fixa de prática dos atos, cabia aos Estados Unidos executar um plano de

ação de infraestrutura militar para todo o globo.

Soma-se a isso o fato de que, com o Fim da Guerra Fria, novos polos de poder global e

regional começam a emergir. Sendo assim, os Estados Unidos passaram a investir num

projeto chamado de Integrated Global Presence o qual tem por característica aumentar o

número de bases estadunidenses no exterior por meio da expansão dos Comandos Unificados

Combatentes45

(HORING; WEBER; CLOSS, 2014).

Diante desse cenário, podem-se destacar o restabelecimento da IV Frota dos EUA46

,

em julho de 2008, o fortalecimento do Southcom e a criação do Africom, em outubro de 2008

como três frentes de ação norte-americana para o Atlântico Sul.

A IV Frota é responsável pela segurança no Atlântico Sul, abrangendo navios,

aeronaves e submarinos para a defesa da área. Como o Southcom é responsável pela América

Latina, consequentemente, a IV Frota trabalha juntamente com o Southcom (HORING;

WEBER; CLOSS, 2014). O governo estadunidense alegou que a reativação desta força naval,

desabilitada desde 1950, significava somente uma decisão de cunho administrativo com fins

pacíficos e, sobretudo, para apoiar o combate ao terrorismo. Oficialmente, o objetivo

declarado da IV Frota é aproximar os países na região por meio da cooperação, baseando-se

em cinco missões: apoio a operações de manutenção de paz, exercícios marítimos

tradicionais, assistência humanitária, auxílio a desastres e apoio a operações antidroga

(MACLAY et al., 2009). No entanto, esses objetivos declarados são, por vezes, questionados

como uma forma estratégica dos Estados Unidos de controlar a região do Atlântico Sul

(BATTAGLINO, 2009). Nos documentos oficiais norte-americanos sobre essa Frota é

explicito que a emergência da China e do Brasil no Atlântico Sul como desafios aos interesses

estadunidenses. Ademais, alguns autores como Posen (2003) salientam que, pela sua

45

São estruturas militares estadunidenses que se responsabilizam por regiões específicas do globo. De acordo

com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, em 2011, existem seis Comandos Unificados Combatentes:

o Northcom, responsável pela América do Norte; o Southcom, responsável pela América Latina; o Africom,

responsável pela África; Centcom, responsável pelo Oriente Médio e Ásia Central; Eucom, responsável pela

Europa; e Pacom, responsável pela Ásia-Pacífico (HORING; WEBER; CLOSS; 2014). 46

Frota militar norte-americana, fundada para atuar na Segunda Guerra Mundial com o objetivo de caçar

submarinos nazistas nas águas do Atlântico Sul. Em 1950, a IV Frota foi desmontada.

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52

capacidade militar, econômica e política, os Estados Unidos têm capacidade de projeção de

forças para eventuais conflitos em qualquer lugar do globo, podendo se firmar no Atlântico

Sul o que já fazem uma vez que arrendam a ilha de Ascensão – de posse inglesa.

Quanto à projeção norte americano no continente africano, pode-se afirmar que o

comércio dos Estados Unidos com a África Subsaariana, em 2011, foi de US$ 95 bilhões,

com previsão de aumento de 20% em 2012. Desde o início do século XXI, o montante

aumentou aproximadamente 300% o que comprova a crescente importância da região para

esse país (MAKENZIE, 2012). Além disso, a região é de extrema importância para a obtenção

de petróleo, gás e outros recursos naturais, ganhando destaque o Golfo da Guiné e Angola, o

que acaba de se tornar uma alternativa aos Estados Unidos a reduzir sua dependência do

Oriente Médio (PAIVA, 2015).

Outra zona importante para os propósitos de projeção dos Estados Unidos é o corredor

Nigéria-Chade-Sudão-Etiópia-Eritreia-Somália-Djibouti, por onde está localizado um

oleoduto desde o Golfo Pérsico até o Golfo da Guiné. Sabendo que o terrorismo internacional

procura expandir suas redes em diversas partes no mundo, os Estados Unidos estabeleceu

mecanismos de cooperação militar com países africanos de forma a reprimir e prevenir

qualquer tipo de ameaça de grupos radicais islâmicos de forma a atingir seus interesses na

região (PAIVA, 2015).

Como clara demonstração da crescente importância da África para os Estados Unidos,

o Africom, em 2008, foi elevado à condição de Comando Unificado Independente.

Diferentemente de alguns comandos independentes, o Africom está dedicado à prevenção da

guerra e não ao seu combate. Segundo seu próprio documento47

, sua missão consiste

em conjunto com agências e parceiros internacionais, neutraliza as ameaças

transnacionais, protege o pessoal e as instalações dos Estados Unidos, evitar e

mitigar o conflito e criar capacidade de defesa dos parceiros africanos a fim de

promover a segurança, a estabilidade e a prosperidade (UNITED STATES AFRICA

COMMAND, s.d., s/p).

Enquanto que os Estados Unidos procuram atingir um nível de engajamento constante

com os países africanos de forma a estabelecer programas de prevenção ao conflito e

promoção ao diálogo, há muita desconfiança por parte dos países africanos com relação aos

objetivos do Comando, vendo-o como uma projeção imperialista norte-americana (PAIVA,

2015). Esse receio dos países africanos pode ser interpretado segundo pressupostos do

realismo neoclássico de Wehlforth (1994), o presidente da época, Barack Obama, junto com

os formuladores de decisão perceberam que a cooperação militar com a África através do

47

Disponível em: <http://www.africom.mil/about-the-command>. Acesso em: 02 jun. 2017.

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Africom traria ganhos positivos ao país uma vez que garantiria a proteção dos seus interesses e

uma alternativa viável a sua sobrevivência energética.

3.2.2. O Reino Unido no Atlântico Sul

A Grã-Bretanha estabeleceu uma presença destacada ao longo do Atlântico Sul o que,

atualmente, lhe confere uma capacidade estratégica singular. Com uma das Marinhas mais

bem equipadas do mundo, o Reino Unido faz-se presente nos três triângulos estratégicos na

região. Dentre as ilhas ocupadas, pode-se dizer que às ilhas das Malvinas aparecem como uma

problemática constante porque representam uma disputa territorial entre o Reino Unido e a

Argentina (HORING; WEBER; CLOSS, 2014).

A briga pela dominação das Malvinas por ambos os países é de longa data e causa

transtornos no debate internacional até os dias atuais. As tensões latentes entre o Reino Unido

e a Argentina se agravaram durante a metade do século XX, no momento em que o presidente

da Argentina declara soberania sobre o arquipélago. O embate militar, por sua vez, entre os

dois países pela dominação da ilha só ocorreu em 1982, com a Guerra das Malvinas

(OLIVEIRA; NETTO, 2016).

Durante anos, a Argentina manteve as ilhas abandonadas, deixando existir em vários

momentos, assentamentos franceses, britânicos e espanhóis. O questionamento sob a posse

das ilhas só ocorreu no período em que a Argentina estava vivendo uma ditadura militar e o

regime já estava desgastado em razão da crise econômica que assolava o país. Nesse sentido,

o governo Argentino decide atacar às ilhas, até então sob domínio inglês, como forma de

estimular o nacionalismo argentino. No entanto, os militares argentinos não esperavam uma

resposta ofensiva do Reino Unido, o qual também vivenciava uma crise econômica e social.

Por fim, o Reino Unido saiu vitorioso da Guerra (HORING; WEBER; CLOSS, 2014).

Ficou caracterizado, portanto, às ilhas como território britânico com governo próprio.

De acordo com a Carta das Nações Unidas, os ilhéus possuem direito a autodeterminação,

porém a Argentina discorda, alegando que as autoridades britânicas, sob o uso da ‘força’,

expulsaram os argentinos residentes da ilha. Em 2013, diante das insatisfações argentinas, um

referendo foi realizado sobre a soberania das ilhas, ficando decidido, por quase 100% dos

eleitores, a manutenção das ilhas Malvinas, chamadas e reconhecidas internacionalmente

como Falklands Islands, sob controle britânico (MALLMANN, 2016).

A partir do realismo neoclássico, pode-se entender a disputa inglesa e argentina pelas

Falklands. Ambos os Estados influenciados por variáveis de ordem interna, no caso a crise

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econômica, política e social, visualizaram a tomada de posse das ilhas como uma forma de

retomar a coesão interna. No entanto, governo argentino não percebeu que a invasão às

Falklands ocasionaria uma guerra e, por outro lado, a potência inglesa, mediante cálculos de

poder, decidiu pelo conflito armado do que abdicar por esse território. Entende-se que,

influenciados por constrangimentos internos, Margaret Thatcher48

via que os custos pela

disputa das ilhas não seriam maiores que os benefícios advindos da vitória da guerra.

Vê-se que, para o Reino Unido, a posse das Falklands é de estrema importância

estratégica. Além de seguir como base para a projeção inglesa à Antártica, a Inglaterra possui

o direito de exploração dos recursos naturais existentes nas águas territoriais das ilhas. Além

disso, somam-se às ilhas Malvinas, as Geórgias e Sandwich do Sul, e as ilhas de Santa

Helena, Tristão da Cunha e Ascensão, permitindo a potência britânica ser presente no

Atlântico Sul desde a costa da Argentina até o sudoeste africano.

3.2.3. A França no Atlântico Sul

Ainda que em menor proporção, a França também se faz presente no Atlântico Sul

tanto no lado da costa sul-americana como na costa africana. Desde o processo de

independência dos países africanos, a França, antiga metrópole de alguns países, busca de

alguma forma estabelecer influência sobre os países nascentes. Pode-se deduzir que o

principal objetivo francês na África é a aquisição de matérias-primas e a obtenção de Estados

consumidores. De certa forma, as ex-colônias francesas possuem relativa dependência da

antiga metrópole, constatando como exemplo a Comunidade Financeira Africana (CFA) que

adota o Franco como moeda local (HORING; WEBER; CLOSS, 2014).

Ainda que com o Fim da Guerra Fria essa dependência tenha se reduzido, vê-se a

manutenção de relações assimétricas e vínculos de dependência econômica. Aliás, o Livro

Branco de Defesa da França, de 2008, caracteriza a África como zona de interesse francês,

sendo-o fundamental estabelecer influencia na área para a manutenção do status da França

como grande potência. Dentre tantos, destaca-se o interesse francês em petróleo e metais,

especialmente o urânio do Niger.

A partir de 2002, o país realizou intervenções na Costa do Marfim, no Chade, na

Líbia, e no Mali. Ainda hoje, a França atua em missões de paz lideradas pela ONU na Costa

48

Primeira-Ministra do Reino Unido no período da Guerra das Malvinas.

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do Marfim e na República Democrática do Congo. Além disso, cabe dizer que a França possui

bases militares tanto no Gabão como no Senegal (HORING; WEBER; CLOSS, 2014).

Por último, a França se faz presente também no Atlântico Sul em função da posse da

Guiana Francesa. Para França, esse território é de extrema importância por, sobretudo, dois

motivos: a existência do centro de lançamentos da Agência Espacial Europeia, em Kourou e o

direito de exploração dos recursos marítimos na região em função da CNUDM. Detentora de

uma grande força aérea, é essencial para a França uma base no Atlântico Sul como forma

estratégica de controle de suas esferas de influencia e de suprimento aos aviões (HORING;

WEBER; CLOSS, 2014).

3.2.4. A China no Atlântico Sul

Detentora de uma grande extensão territorial e de um enorme poder econômico, a

China tem vindo reforçar sua presença em ambos os lados do Atlântico Sul. Desse modo,

desde o final dos anos 1990, a China vêm implementando uma estratégia chamada de Going

Out a qual tem por objetivos o controle de recursos naturais, em especial, os energéticos. Essa

estratégia utilizou, em grande parte, exercícios de soft power, articulando com o hard power49

e o investimento significativo na modernização. Esse tipo de estratégica levou a China a se

direcionar para áreas fora da Ásia, em especial a África e a América Latina, procurando

garantir o controle sobre recursos estratégicos fundamentais para sua segurança energética

assim como uma diversificação de mercados (NEVES, 2013).

Dentre seus principais parceiros, cabe destacar países centrados na orla do Atlântico

Sul como a Nigéria, a Angola e a África do Sul, na costa africana, e o Brasil e a Argentina, na

costa da América do Sul. Diferentemente das outras potências como Estados Unidos e Grã-

Bretanha, a presença chinesa no Atlântico Sul não está relacionada à possessão de ilhas nesse

espaço marítimo, mas a atuação desse país, tanto num âmbito comercial, financeiro e de

investimento, nesses países margeados pelo Atlântico Sul (NEVES, 2013).

Destaca-se a China como grande importador de petróleo de países africanos, cabendo

mencionar Angola como o segundo maior fornecedor da China com 12% do total de

importações chinesas em 2012. Ainda que a dependência ao Oriente Médio seja grande, a

China têm se esforçado em diversificar seus países fornecedores voltando sua atenção à

África e à América do Sul, como visível na tabela 3.

49

Exercer influência sobre o comportamento do outro mediante o uso de meios militares e coercitivos, de acordo

com Joseph Nye.

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56

Tabela 3 – Comércio Chinês no Atlântico Sul (2011)

Fonte: NEVES, 2013.

Como mencionado, outra estratégia chinesa como forma de projeção e influência diz

respeito ao seu investimento nesses países. A China, como forma de controle da exploração

dos recursos energéticos, participa na exploração direta do petróleo tanto na Angola como no

Brasil. O investimento nas indústrias de extração de minérios é também significativo,

correspondendo em investimentos na África do Sul, por exemplo (NEVES, 2013).

Ainda sobre o aspecto do investimento, a questão da insegurança alimentar na China,

agravada nos anos de 2007-2009, resultou numa preocupação do país em adquirir terras

agrícolas em países com disponibilidade para a produção de alimentos. Logo, a China destaca

o potencial brasileiro em contornar a situação vivida pelo país. Outro ponto que tange a

questão da insegurança alimentar é o fato de que os países costeiros do Atlântico Sul possuem

direitos à pesca, um dos fatores centrais nas disputas territoriais (Mar do Sul da China) em

que a China tem estado envolvida. Dessa forma, juntamente com a Noruega e a Coréia do Sul,

a China é um dos principais atores na pesca do krill nas águas do Atlântico Sul (NEVES,

2013).

Além do instrumento de investir como forma de adentrar e reforçar a posição da China

nos mercados sul-americanos e africanos, o financiamento também tem sido utilizado como

forma de influência econômica ainda que com menos expressão (NEVES, 2013).

No que tange o Atlântico Sul, esse país também visualiza uma dimensão de hard

power, relacionada a consolidação do poder naval chinês. Sabendo que a maior parte das

trocas comerciais da China ocorre por meio marítimo, é essencial para a sua prosperidade uma

marinha organizada, respondendo, caso necessário, às ameaças como a pirataria e o crime

organizado transnacional. Além disso, diante da presença chinesa em ambos os lados do

Atlântico Sul e a proteção do seu acesso aos recursos energéticos, é de interesse do país uma

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57

capacidade naval capaz de garantir a segurança tanto da exploração como do transporte desses

recursos. Cabe mencionar que a China também vem dando apoio a investimentos na

capacidade naval dos Estados do Atlântico Sul, como nos casos da Nigéria e da Namíbia,

representando, mais uma vez, um reforço para sua influencia na área (NEVES, 2013).

Sabendo que a premissa do realismo neoclássico tem por objetivo identificar o

comportamento das unidades no sistema internacional e as interações entre os mesmos na

estrutura mediante as suas percepções de ameaças, entendemos que a China, buscando

contornar problemas internos de cunho energético e social, vê o Atlântico Sul como um

espaço de afirmação de interesses e construção de alianças. Diante de um mundo multipolar e

do acelerado crescimento chinês, o governo desse país ponderou que os custos com

investimentos e financiamentos em países margeados pelo Atlântico Sul seriam menores que

os benefícios adquiridos com as alianças no continente africano e sul-americano. É essencial

para o contínuo desenvolvimento chinês o aumento de sua margem de manobra no mundo.

Já se pode imaginar que essa estratégia diplomática chinesa a qual vêm alargando sua

presença no Atlântico Sul pode gerar um cenário de potencial tensão com os Estados Unidos

que vêm se esforçando em consolidar sua posição na região com a reativação da IV Frota e a

criação do Africom.

3.3. Atuação e esforços brasileiros no Atlântico Sul

O mar teve importante papel na história do Brasil. No entanto, durante séculos o

Atlântico era visto somente como uma via comercial e de comunicação para o país. Na

medida em que o país começou a se desenvolver, esse espaço marítimo, sobretudo o Atlântico

Sul, passou a ser relevante para a economia brasileira, sobretudo com as importantes

descobertas de petróleo, de gás e de minérios.

Durante o período da Guerra Fria, na década de 1970, a disputa por polos de poder

levou, por parte dos Estados Unidos, uma tentativa de militarização do espaço do Atlântico

Sul que foi malsucedida. Em contrapartida, foi proposta a criação da Organização do Tratado

do Atlântico Sul (OTAS) a qual substituiria as prerrogativas da OTAN em patrulhar o

Atlântico. Entretanto, por medo de que essa organização levasse a uma espécie de corrida

armamentista na região do Cone Sul, o Brasil a refutou.

Será no fim da Guerra Fria, mediante a existência de ameaças, que o Brasil sentiu a

necessidade de criar ações para a proteção desse espaço marítimo. Pode-se dizer que desde a

década de 1970, já existia, no Brasil, uma política externa mais independente do centro

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58

hegemônico onde o Atlântico Sul passou a representar a “fronteira oriental” para o país.

Como já visto, o Estado começou a dar maior importância ao mar, resultando numa expansão

sobre o “mar territorial” de 200 milhas (PENHA, 2012).

A partir dessa data, diversos mecanismos de cooperação foram criados a fim de

proteger os interesses dos países margeados no Atlântico Sul nas áreas sob sua soberania.

Entende-se que o desenvolvimento de uma política exterior direcionada ao Atlântico Sul e ao

continente africano representavam um eixo estratégico para o país. A sua proximidade com a

África reforça a concepção de uma nova vizinhança, uma “fronteira ocidental”. O General

Golbery do Couto e Silva apud Ely Alves Penha já afirmava que

A África seria a continuidade da própria fronteira Brasileira e, como ponto mais

vulnerável da região, deveria merecer maior atenção política por parte do governo

brasileira, em termos de segurança mútua. Segundo ele, por conta dessa

vulnerabilidade caberia ao Brasil, no contexto da guerra fria, ‘cooperar na

imunização também dos jovens países africanos à infecção fatal do comunismo,

estar vigilante e atento a qualquer propensão soviética na direção dessa África

Atlântica onde se situa a fronteira avançada e decisiva da própria segurança

nacional. (PENHA, 2012, p.118-119)

Dentre as diversas iniciativas, cabe destacar a tentativa bem sucedida brasileira em

promover o Atlântico Sul numa Zona de Paz e Cooperação, em meados dos anos 1980, em

contraposição à proposta da OTAS e a tentativa de controle dessa área pela OTAN. Aprovada

pela ONU em 1986, tinha como objetivo principal combater a militarização e nuclearização

do Atlântico Sul por países não pertencentes à região. Sob o ponto de vista político, era

fundamental afirmar a identidade própria da região e o papel primordial dos Estados

margeados no Atlântico Sul de conduzir os assuntos relacionados a esse oceano.

Diferentemente da OTAN a qual se caracteriza por ser uma aliança militar voltada para

combater um inimigo, a ZOPACAS está calcada na ideia de promoção da paz e cooperação

entre os países do entorno estratégico (ABDENUR; NETO, 2014).

Cabe falar que a ZOPACAS não se limitou somente a tratar questões de segurança. No

seu texto, submetido a ONU, havia o interesse em fomentar as relações econômicas, políticas

e sociais entre os países da costa sul-americana e da costa africana. O documento postulou

sobre questões como a Guerra das Malvinas, o repúdio ao apartheid, a ocupação na Namíbia e

a guerra civil em Angola (COUTINHO, 2014).

Com base no realismo neoclássico, entendemos que a ZOPACAS tinha uma

importância particular para o Brasil em garantir o reconhecimento dos seus direitos em torno

das ZEE e da sua plataforma continental. O governo brasileiro utilizou-se desse mecanismo

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59

para responder uma incerteza do sistema internacional já que, até então, o Atlântico Sul era

caracterizado por um ‘vazio de poder’50

.

A década de 1980 foi caracterizada por um amplo diálogo com a África. Assim como

no governo Geisel e Figueiredo, Sarney manteve contato com o continente seguindo os

posicionamentos de defesa da independência das colônias luso-africanas, condenação do

apartheid e da ocupação do território da Namíbia. Tanto África do Sul, como Angola e

Nigéria representavam importantes parceiros comercias para o Brasil (COUTINHO, 2014).

Pode-se dizer que, de modo geral, a política africana, nesse momento, foi uma clara

demonstração da capacidade governamental brasileira de inserção internacional, tornando-se

uma das principais lideranças do Terceiro Mundo. O Atlântico Sul representou um ganho

diplomático do país na medida em que o transformou em uma zona de paz e cooperação, em

substituição à perspectiva de militarização dessas águas. A ZOPACAS, em resumo,

representou a materialização desse início de cooperação sul-atlântica.

Contudo, o novo reordenamento internacional que começou a ser definido com o fim

da Guerra Fria, provocou certa inflexão nas ações da ZOPACAS já que, num primeiro

momento, não existia uma ameaça à militarização da região. A agenda internacional foi

ocupada por novos temas como direitos humanos, narcotráfico, meio ambiente,

marginalizando a necessidade de tratar de questões de segurança (COUTINHO, 2014).

A aceleração do processo de globalização somado a um novo sistema internacional

multipolar cobrou ao Brasil um novo direcionamento da sua política externa, uma política em

que o país poderia se mover e se projetar estrategicamente no sistema internacional. Percebe-

se, dessa forma, certa dispersão do interesse brasileiro, no final do século XX, para com a

África e, consequentemente, com o projeto das ZOPACAS (COUTINHO, 2014).

Com o aumento da percepção do Atlântico Sul como um espaço estratégico, nos

primeiros anos do século XXI, tornou-o uma área de prioridade para a política externa

brasileira. Durante os dois governos de Lula da Silva (2003-2011), os laços econômicos,

políticos e de segurança com os países africanos foram aprofundados de forma significativa.

A cooperação aparecia de forma diversificada abarcando áreas como a agricultura com

empresas como a Embrapa até áreas de cooperação militar (COUTINHO, 2014).

A aproximação com os países africanos esteve ligada a diversas razões como a

necessidade de diversificar os parceiros econômicos num mundo multipolar, a busca por

50

Área na qual não se percebe a presença de Estados.

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apoio em organismos multinacionais, o aumento da importância de recursos naturais

existentes no Atlântico Sul e a necessidade de defender os interesses locais, dentre outros.

Para manter o controle e a defesa do Atlântico Sul, o Brasil aumentou significativamente sua

cooperação internacional ao longo da última década. Utilizando-se de mecanismos de soft

power, o país visava ampliar sua influencia na região, defendendo seus interesses no entorno

estratégico brasileiro.

A expressão ‘entorno estratégico’ surge pela primeira vez no documento oficial da

PND de 2005. Pode-se dizer que a área abrangida por esse entorno nacional é considerada

como prioridade estratégica, a partir de então, para a política externa do Brasil, cabendo as

estratégias de defesa e segurança aproveitar as oportunidades para projetarem seu poder e

neutralizar ameaças nessa região (PAIVA, 2015).

De acordo com a figura 10, vê-se que o entorno abrange a Bacia do Atlântico Sul, que

vai da linha Foz do Rio Amazonas – Guiné Equatorial (África) – até a Antártida; a costa

ocidental da África; e a América do Sul, cuja área setentrional é banhada pelo Atlântico

Norte. Nas áreas delimitadas pela cor vermelha, o país é responsável por direcionar estratégias

de defesa enquanto que nas áreas em amarelo, o Brasil não possui o dever de proteger a área,

mas tem a intenção de projetar seu poder na região. Além do Atlântico Sul, o Atlântico Norte

também é uma área de interesse para a defesa nacional. Estados brasileiros como Amapá e

Roraima podem ser afetados por tomadas de decisões bélicas oriundas do Mar do Caribe em

virtude da forte presença da OTAN nessas águas (PAIVA, 2015).

Figura 10 - Entorno Estratégico

Fonte: PAIVA, 2015.

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61

A área englobada pelo entorno detém de elevada importância geopolítica e

geoestratégica para o Brasil em razão dos diversos recursos econômicos na região. Tanto a

costa ocidental da África como o Atlântico e a Antártica correspondem a áreas de interesse

brasileiro. A costa ocidental da África, por exemplo, é uma região rica em recursos

energéticos e com grande potencial de investimento. Países como África do Sul, Namíbia,

Angola, Congo, São Tomé e Príncipe, Nigéria, Guiné Bissau, Senegal e Cabo Verde são

importantes geopoliticamente tanto no âmbito da exploração quanto na questão da segurança

da Bacia Atlântica. Enquanto o Atlântico Sul funciona como uma região econômica, enérgica

e comercial para o país, a Antártica é detentora das maiores reservas de gelo, de água doce do

Planeta e de recursos minerais e energéticos (PAIVA, 2015).

Mais especificamente, com relação à Antártica, os interesses brasileiros possuem

cunho tanto político (possível instabilidade da região em razão de problemas reivindicatórios

sobre o território) como científico (grande laboratório natural) e estratégico (sua posição em

relação a confluência de três oceanos de três oceanos, mais os Estreitos de Drake, de

Magalhães e o Cabo da Boa Esperança). Assinando o Tratado da Antártica em 1975, o Brasil

pode se fazer presença numa região de extrema cobiça internacional (SILVEIRA, 2014).

O Brasil reúne algumas condições favoráveis para se fazer presente na Antártica tais

como “a proximidade com a Antártida, a continuidade desta com a América do Sul, as linhas

de comunicação marítima (Rota do Cabo), a influência sobre o clima do país e a capacidade

do país de atuar fora das fronteiras nacionais” (SILVEIRA, 2014, p.353). Sabendo que a

manutenção da paz, proteção e controle do tráfego marítimo, a estabilidade da região e a

defesa da soberania dos países costeiros constituem objetivos político-estratégicos

perseguidos pelo Brasil no Atlântico Sul, a Antártica possui extrema importância estratégica

para o Brasil não só pelas suas riquezas naturais como também pela sua posição em relação a

esse oceano (margeada pelas águas do Oceano Pacífico, Oceano Atlântico e Oceano

Índico)(SILVEIRA, 2014).

Diante da relevância geoestratégica do entorno, a política externa brasileira confere

prioridade ao entorno, cabendo ao país traçar estratégicas de cooperação bilateral e

multilateral com países banhados pelo Atlântico Sul assim como mecanismos nacionais de

controle e proteção dos recursos presentes no entorno estratégico (PAIVA, 2015). No âmbito

da cooperação bilateral, destacam-se acordos com a África do Sul, com a Guiné Bissau, com

Moçambique, com a Namíbia, com a Nigéria, com Senegal, com a Angola, com a Guiné

Equatorial, dentre vários. A partir da figura 11, fica visível a grandeza da atuação brasileira no

continente africano no campo de defesa (AGUILAR, 2013).

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62

Fonte: THOMPSON; MUGGAH, 2015.

No caso da África do Sul, a cooperação em defesa está vinculada à iniciativa do

Fórum IBAS, iniciado em 2003. Nessa iniciativa, foram estabelecidos diversos exercícios

militares navais no litoral sul-africano. Dentre as outras formas de cooperação que existem

entre ambos os países, destaca-se a parceria estratégica firmada entre a África do Sul e o

Brasil, em 2010, com o objetivo de estimular a cooperação e o intercâmbio em segurança e

defesa. O documento firmado nesse acordo reconhece o interesse bilateral em se desenvolver

um programa sobre o fundo e os recursos no Atlântico Sul, reconhecendo essa zona como

estratégica a qual necessita proteção (ABDENUR; NETO, 2014).

Um dos parceiros brasileiros mais antigos na África é a Namíbia. Desde 1992, a

Marinha do Brasil vem cooperando com o país africano. Um dos maiores responsáveis pela

criação da Marinha da Namíbia, o Brasil participou em grande parte da formação do pessoal e

da força naval do país. Desde cooperação de apoio técnico a doação de embarcações não mais

utilizadas pelo Brasil para a Namíbia, a Namíbia ilustra o bom funcionamento da cooperação

brasileira no continente africano (ABDENUR; NETO, 2014).

Angola, com quem o Brasil assinou uma grande parceria estratégica em 2010, possui

muitos laços com o país. Ambas ex-colônias de Portugal, constata-se a presença de brasileiros

na Angola e de angolanos no Brasil. Somado a isso, o Brasil se faz presente em Angola de

diversas formas como a instalação de multinacionais em território angolano, a participação do

Figura 11 - Cooperação em defesa Brasil-África

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63

Brasil no levantamento da plataforma continental da Angola, o auxílio à industria nacional de

defesa angolana, dentre outros (ABDENUR; NETO, 2014).

Atualmente, a Nigéria é um importante ator no âmbito da cooperação Brasil-África.

Desde 2010, ambos os países discutem uma posição de coordenação quanto à mineração no

Atlântico Sul. Além do mais, o Brasil e a Nigéria assinaram um acordo de cooperação em

defesa com destaque na área naval (ABDENUR; NETO, 2014).

Outro exemplo recente de cooperação entre o Brasil e os países africanos é com a

Guiné Equatorial e com Cabo Verde. Com relação ao primeiro país, mesmo iniciado em

1974, o relacionamento entre o Brasil e a Guiné Equatorial só ganhou importância a partir de

2006 quando o Brasil se comprometeu em fornecer assistência técnica na área de treinamento

militar conjunto. Ademais do crescimento do comércio entre os dois países, o Brasil apoia a

candidatura da Guiné Equatorial como membro pleno da Comunidade dos Países de Língua

Portuguesa (CPLP)51

. Em relação a Cabo Verde, a Marinha brasileira se comprometeu em

auxiliar o país a mapear sua Plataforma Continental. Além disso, o Brasil possui a intenção

em doar algumas aeronaves brasileiras para as Forças Armadas cabo-verdenses para que esse

país patrulhe o seu litoral (ABDENUR; NETO, 2014).

No âmbito de iniciativas multilaterais, as descobertas de petróleo e a valorização das

potencialidades do Atlântico Sul contribuíram para a revitalização da importância da

ZOPACAS para seus países membros. Composta hoje por 24 países52

, é de grande interesse

brasileiro fortalecer esse mecanismo de cooperação (PAIVA, 2015).

Sem dúvida, a ZOPACAS é um foro político e ajuda a reforçar as relações bilaterais

entre seus países membros como se pode perceber com o aumento do comércio intrabloco na

tabela 4. No entanto, ainda que exista a convergência de entendimento de que o Atlântico Sul

é um espaço estratégico o qual necessita de proteção, alguns países africanos veem com bons

olhos o apoio norte-americano no combate de crimes existentes no litoral sul-atlântico

(PENNA FILHO, 2015).

51

Organização internacional integrada, atualmente, por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-

Bissau, Moçambique, Portugal, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe (GUIMARÃES, 2015). 52

África do Sul, Angola, Argentina, Benin, Brasil, Cabo Verde, Camarões, Congo, Costa do Marfim, Gabão,

Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné Bissau, Guiné Equatorial, Libéria, Namíbia, Nigéria, República Democrática do

Congo, São Tomé e Príncipe, Senegal, Serra Leoa, Togo e Uruguai (PAIVA, 2015).

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64

Tabela 4 - Comércio Intrabloco e Extrabloco

Fonte: Divisão de Inteligência Comercial/MRE53

.

Nesse cenário, reforça-se a ideia da criação de uma identidade regional sul-atlântica.

Sob a liderança brasileira, a estratégia de construção de um ‘cinturão de boa vontade’ não está

centrada apenas na manutenção e proteção dos interesses dos países no Atlântico Sul, mas na

tentativa de afastar a atuação de países externos na área. O discurso brasileiro das ZOPACAS

não destaca apenas os interesses comuns entre os países atlânticos da África e América do

Sul, ressalta que há uma necessidade de minimizar a presença de atores extrarregionais nessa

área (ABDENUR; NETO, 2014).

Outros fóruns inter-regionais que aprofundaram o diálogo e a cooperação com os

países sul-atlânticos foram a CPLP, a cúpula América do Sul-África (ASA) e o Fórum de

Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (IBAS). Com o objetivo de ampliar sua inserção

internacional e reafirmar seu compromisso com a estabilidade do Atlântico Sul, o Brasil vê

essas iniciativas como uma forma de assegurar sua posição e seus interesses na região sul-

atlântica (LIMA, 2015).

A ASA é uma das muitas iniciativas que refletem a aproximação do Brasil com os

países africanos. Com 66 países participantes, a participação brasileira na ASA reflete a

retomada de visão da África como uma região importante, compartilhando problemas e

desafios comuns com esse continente. A cooperação sul-sul desse organismo multilateral

destina-se a assegurar o crescimento econômico das duas regiões, baseados numa perspectiva

de inclusão social (LIMA, 2015).

Formada por países lusófonos, a CPLP, criada em 1996, tinha como missão

aprofundar a amizade mútua e a cooperação entre os seus membros No campo da segurança e

da defesa, a CPLP se tornou um fórum internacional bastante atuante. Foram criadas diversas

reuniões como a Reunião de Ministros da Defesa Nacional, a Reunião dos Chefes de Estado-

Maior de Defesa, e o Centro de Análise Estratégica com o objetivo de discutir a profissão do

militar, a profissionalização das forças armadas e a sua ética. Ainda relacionado à CPLP, o

53

Disponível em:< www.mre.gov.br>.

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65

Brasil participa, desde 2000, das Operações Felino as quais representam exercícios

multinacionais de treinamento conjunto de Operações de Paz e de Ajuda Humanitária. Em

2013, o país sediou a Operação Felino, tendo realizado exercícios militares no litoral do

Espírito Santo, contando com a participação de, aproximadamente, 1.000 militares da CPLP

(LIMA, 2015).

Quanto ao foro IBAS – que reúne Índia, Brasil e África do Sul – são realizados, desde

2008, exercícios navais bianuais os quais foram denominados de IBSAMAR. Além disso, a

parceria entre Brasil e África do Sul possibilitou, ainda em 2006, o desenvolvimento em

conjunto do míssil A-Darter, de curto alcance, com sistema de detecção infravermelho

(LIMA, 2015).

Percebe-se que as diversas iniciativas de cooperação do Brasil, no âmbito de defesa,

com os países margeados pelo Atlântico Sul não refletem uma intenção de criar um grande

mecanismo coletivo de defesa, atuando de forma a constranger ameaças no Atlântico Sul, mas

sim um mecanismo para que esses países africanos possam construir forças armadas e de

segurança pública capazes de garantir a paz interna e, consequentemente, regional. Partindo

de princípios do realismo neoclássico de que os Estados necessitam sobreviver e reagir as

ameaças no meio internacional dispondo de capacidades matérias e não-materiais, conhecido

por ser um país pacífico, o Brasil utiliza-se de estratégicas de cooperação como forma de não

só estabelecer a paz e a segurança no seu entorno estratégico, como também aumentar sua

influencia dentro e fora dessa zona estratégica.

Cabe analisar criticamente, no entanto, que mesmo sendo capaz de presumir o

comportamento brasileiro através do realismo neoclássico, outras correntes das relações

internacionais poderiam criticar essa forma de análise entendendo que, para países como a

Inglaterra, os Estados Unidos e a China, detentores de um grande arsenal militar e/ou grandes

investidores desse setor, é lógico se pensar num sistema realista onde a inexistência de um

órgão supranacional que garanta garantindo a sobrevivência dos Estados culmina numa

competição entre os Estados em que o interesse maior do Estado deve ser o de possuir mais

poder frente aos outros para garantir sua posição no sistema e atingir seu objetivo. No entanto,

o Brasil, sendo uma potência média no sistema internacional e possuidor de um relativo poder

militar, não faria sentido analisar suas estratégias no Atlântico Sul dentro dos pressupostos

realistas.

Talvez pensar o comportamento brasileiro por um viés institucionalista neoliberal

explique melhor a atuação brasileira no Atlântico Sul e na América do Sul. Entendendo o

conflito como não necessariamente eminente, a criação de instituições e de mecanismos de

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integração contribui para desenvolver um ambiente propício para a cooperação, gerando

resultados positivos. Entendendo os interesses dos Estados não só restritos à segurança, as

instituições funcionam como uma forma de mitigar os efeitos da anarquia internacional. A

criação da Unasul54

, das ZOPACAS, da CPLP e das iniciativas de cooperação com os países

da África, então, poderiam ser explicados através da visão do neoinstitucionalismo liberal

como uma forma de promover ganhos mútuos aos países sem dispor necessariamente do uso

da força militar.

54

Bloco regional o qual reúne doze países da América Latina com o intuito de promover a integração entre seus

países membros.

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67

4. CAPÍTULO III: POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA E A DEFESA PARA O

ATLÂNTICO SUL

Esse capítulo tem por objetivo demonstrar quais foram as principais diretrizes da

política externa brasileira, observando como sucedeu a política de defesa do país. A partir da

análise dos principais documentos de defesa – o Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN), a

END e a PND – e das diversas iniciativas internas e externas voltadas para o Atlântico Sul,

será realisado um estudo comparativo nos governos de Fernando Henrique Cardoso, Lula da

Silva e Dilma Rousseff com o intuito de entender como foram dadas as políticas de defesa

nesses governos mediante a percepção do Atlântico Sul como um espaço estratégico.

4.1. Política Externa nos governos Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva e Dilma

Rousseff

Tendo considerado o realismo neoclássico como marco teórico, podemos aqui partir

do pensamento de Causewitz de que a guerra seria a continuação da política por outros meios,

Reymond Aron retoma esse pensamento, acrescentando por a guerra ser um instrumento

político gera um consequente diálogo entre as partes em conflito, ou seja, o soldado e o

diplomata representam canais de diálogo pelos quais os Estados promovem seus interesses

conforme também foi especificado e exemplificado por Camila Luis (2012).

Muitos acreditam que a diplomacia e a estratégica representam expressões

excludentes, no entanto, ambas as ações não passam de modalidades complementares do

diálogo político porque, ainda que em um determinado momento predomine uma ou outra

modalidade, as ações não se retiram completamente. Como se pode visualizar

Tanto a estratégia quanto a diplomacia estão subordinadas à política, isto é, a

concepção que a coletividade, ou aqueles que assumem a responsabilidade pela vida

coletiva, fazem do interesse nacional. Em tempo de paz, a política se utiliza de

meios diplomáticos, sem excluir o recurso às armas, pelo menos a título de ameaça.

Durante a guerra, a política não afasta a diplomacia, que continua a conduzir o

relacionamento com os aliados e os neutros (...). Neste sentido, a diplomacia pode

ser definida como a arte de convencer sem usar a força, e a estratégia como a arte de

vencer de um modo mais direto. Mas impor-se também é uma forma de convencer.

(...). O Estado que adquire uma reputação de equidade e moderação tem maior

probabilidade de alcançar seus objetivos sem precisar para isto da vitória militar

(ARON, 2002, p. 72-73).

Pode-se dizer que cabe aos tomadores de decisão determinar os meios para se atingir

os fins desejados.

Partindo disso, entende-se que o contexto político brasileiro responde à uma

determinada configuração do Sistema Internacional onde a dinâmica política e os possíveis

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68

conflitos influenciam diretamente na Política Externa brasileira. Por outro lado, os interesses

dos Estados não necessariamente devem ser definidos de acordo com sua posição relativa no

sistema internacional, a localização geográfica, a experiência histórica e o código da língua e

da cultura também podem construir interesses (LUIS, 2012).

No que se refere ao Brasil, alguns fatores passaram a definir tanto sua identidade como

seus interesses, cabendo destaque a sua localização geográfica, a qual lhe conferiu não só

maior afastamento dos principais focos de conflitos internacionais, o seu bom relacionamento

com os países vizinhos, a sua unidade linguística e o fato de estar situado na área periférica do

globo (LUIS, 2012).

Como o Brasil não ocupa uma posição de grande destaque no jogo político mundial, a

Política Externa brasileira tem como objetivo garantir a independência e a soberania do país,

contribuir para a paz e a estabilidade no seu entorno regional de modo a captar atenções dos

grandes decisores da política internacional. Não obstante, a consecução dos objetivos da

política externa brasileira depara-se, na década de 1990, com um cenário tão complexo que

acaba por impor diversos desafios políticos ao país para a sua inserção como um ator influente

na dinâmica política internacional. O mundo se deparava com o fim de uma ordem bipolar e a

ascensão de um período multipolar apesar da preponderância político-militar dos Estados

Unidos. A aceleração do processo de globalização econômica acentuou as diferenças entre os

países desenvolvidos e aqueles em via do desenvolvimento. Além disso, no fim do século XX

e no início do século XXI, o mundo passou a lidar com novos tipos de ameaças55

as quais

colocavam em risco a soberania e a integridade dos Estados (LUIS, 2012).

Mais um problema é o risco de que essas ‘novas ameaças’ sejam securitizadas, ou seja,

que esses problemas em especial saíam do âmbito político e se tornarem questão de segurança

porque, dessa forma, seria legítimo o uso de medidas excepcionais ou ações emergenciais,

legitimando intervenções militares, o uso da força e atividades que em outros contextos

seriam ilegais. Como já analisaram Buzan e Weaver (1998), a securitização não é um ato

exclusivo da linguagem, envolvem gestos, manobras, demonstrações de força. Quem tem

capacidade de securitizar são atores em posição de autoridade na sociedade internacional.

Portanto, para compreender esse processo é necessário se atentar para as relações de poder

dentro da esfera social nacional e internacional (BUZAN; WAEVER, 1998).

55

As ameaças deixam de ser inter-estatal e passam a ser intra-estratal. Dentre as diversas ‘novas ameaças’,

podem ser identificadas o terrorismo, o crime organizado transnacional, problema mundial das drogas, a

corrupção, o tráfico ilícito de armas, a pobreza extrema, os desastres naturais, o tráfico de seres humanos, os

ataques à segurança cibernética, dentre outras (LUIS, 2012).

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69

Assim, na América Latina ou em qualquer outra região do globo, as ‘novas ameaças’

internacionais podem ser evocadas para justificar potenciais intervenções externas. Como já

se sabe, em razão das diversas riquezas existentes no Atlântico Sul, a região pode ser

entendida como uma área ameaçada, justificando a atuação da OTAN. Sendo assim, é

necessário analisar como se caracterizaram as políticas externas brasileiras a partir do governo

Fernando Henrique Cardoso até o governo Dilma Rousseff para se entender as diretrizes das

políticas de defesa e segurança desses presidentes para o Atlântico Sul (LUIS, 2012).

4.1.1. O governo Fernando Henrique Cardoso

Primeiramente, a política externa é uma política pública, adotada pelo Estado, a qual

deve promover e salvaguardar os interesses nacionais nos ambientes interno e externo.

Sabendo que todos os Estados se relacionam num sistema anárquico, é de se imaginar que

eles estabelecem certos objetivos que dizem a respeito da sua própria sobrevivência. Através

da política externa, o país tende a assegurar o máximo de influência e projeção internacional

de modo a garantir, sobretudo, as condições ideais de desenvolvimento e afirmação do seu

território.

Como já visto, na década de 1990, uma nova ordem internacional configurava-se no

mundo, sendo percebidas três linhas de ação da política externa brasileira nesse período: a

afirmação da democracia no Brasil, a tentativa de inserção competitiva do Brasil na economia

mundial e a reinteração do respeito brasileiro a ética cosmopolita no que tange aos direitos

humanos, à preservação do meio ambiente, ao combate ao crime internacional, dentre outros.

O sistema internacional passava por mudanças as quais refletiram no contexto doméstico. No

plano comercial, houve uma mudança na percepção do processo da globalização com o

fracasso da Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio, em Seattle, no

momento em que diversas nações caracterizaram as normas vigentes na Organização Mundial

do Comércio (OMC) como injustas e protecionistas aos países ricos. Percebeu-se, na área

política, um crescente esvaziamento da ONU diante da reestruturação do sistema

internacional. Visto isso, é num contexto internacional complexo que transitará a política

externa de Fernando Henrique Cardoso (VIGEVANI; OLIVEIRA; CINTRA, 2003).

Pode-se dizer que a política externa brasileira não sofreu grandes rupturas ao longo da

presidência de Fernando Collor, estendendo-se ao governo de Fernando Henrique Cardoso.

Até o fim da década de 1980, a política externa brasileira seguia a ideia de ‘autonomia pela

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70

distância’ a qual passou a ser substituída no início do governo Collor pela ‘autonomia pela

integração’ (VIGEVANI; OLIVEIRA; CINTRA, 2003). Como fica esclarecido:

[...]o acervo de uma participação positiva, sempre apoiada em critérios de

legitimidade, nos abre a porta para uma série de atitudes que tem dado uma nova

feição ao trabalho diplomático brasileiro. A autonomia, hoje, não significa mais

“distância” dos temas polêmicos para resguardar o país de alinhamentos

indesejáveis. Ao contrário, a autonomia se traduz por “participação”, por um desejo

de influenciar a agenda aberta com valores que exprimem tradição diplomática e

capacidade de ver os rumos da ordem internacional com olhos próprios, com

perspectivas originais. Perspectivas que correspondam à nossa complexidade

nacional (FONSECA Jr., 1998, p. 368).

Essa nova perspectiva, a qual permeou os dois mandatos do governo Fernando

Henrique Cardoso, defendia uma participação ativa do Brasil na elaboração das normas e das

pautas para o sistema internacional. Acreditava-se que estando ativo no cenário internacional,

o país garantiria um ambiente favorável ao seu desenvolvimento econômico. Na perspectiva

de Fernando Henrique Cardoso, diante de um ambiente desfavorável, a visão do futuro é de

extrema importância, cabendo a diplomacia atuar em longo prazo de acordo com as mudanças

(VIGEVANI; OLIVEIRA; CINTRA, 2003).

De acordo com Lampreia, a política externa brasileira no período de 1995-2002 seguiu

[...] uma linha que eu chamaria de ‘convergência crítica’ em relação ao conjunto dos

valores, compromissos e práticas que hoje orientam a vida internacional [...].

“Convergência”, porque as transformações ocorridas no Brasil nos aproximaram,

por decisão própria, desse curso central da história mundial, em uma era na qual a

democracia política e a liberdade econômica são as referências fundamentais

(LAMPREIA, 2001, p. 2).

As gestões de Luiz Felipe Lampreia (1995-2000) e a de Celso Lafer (2001- 2002) no

Ministério das Relações Exteriores (MRE) foram caracterizadas por uma desdramatização da

agenda política, ou seja, a busca por uma redução em crises, conflitos e entraves no âmbito

diplomático, objetivando resolver as diferenças por um meio pacífico. Percebe-se que, nesse

período, prevaleceu uma perceptiva de cooperação, cabendo alertar que a busca pela

convergência em lugar do isolamento não significava colocar-se numa posição de

subordinação. Acreditava-se que esse era o caminho para se fortalecer a posição relativa do

país no sistema internacional (VIGEVANI; OLIVEIRA; CINTRA, 2003).

Não que o universalismo não se fazia presente na política externa do Brasil. A questão

é que essa característica passa a agregar um valor regionalista. A incorporação do conceito de

global trader traduzia que o Brasil possuía interesses globais, assumindo posições e agendas

diversificadas as quais refletiam uma vertente regionalista. Como se pode ver, pelas palavras

de Lafer, “para nós, [o Mercosul é] destino, parte das nossas circunstâncias. A Alca não é

destino, é opção” (LAFER, 2001, p.A7). O Mercosul serviria como um instrumento de poder

e de inserção internacional (VIGEVANI; OLIVEIRA; CINTRA, 2003).

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71

Caracterizado por uma diplomacia presidencial, o governo de Fernando Henrique

Cardoso logrou mudanças positivas para o país como a confiabilidade no exterior, a qual

atraiu investimentos externos diretos e o apoio de organismos multilaterais e de governos de

países desenvolvidos em momentos de crise como ocorreu na crise cambial de 1999. Pode-se

dizer que o governo Fernando Henrique Cardoso melhorou a imagem do Brasil no cenário

internacional (VIGEVANI; OLIVEIRA; CINTRA, 2003).

Quanto à relação Estados Unidos-Brasil, a opção da ‘autonomia pela integração’

permitiu com que o país mantivesse boas relações com os Estados Unidos, sem a necessidade

de excluir outros parceiros comerciais. Mesmo confirmando que os Estados Unidos

representavam um grande parceiro para o país, a prioridade do Brasil seria a consolidação do

Mercosul, prevalecendo à estratégia do regionalismo aberto. Segundo o presidente, a América

do Sul corresponderia ao nosso espaço histórico-geográfico e a opção de integração sul-

americana poderia ser útil para o país barganhar no exterior um assento permanente no

Conselho de Segurança da ONU (VIGEVANI; OLIVEIRA; CINTRA, 2003).

Com relação à Alca, o presidente afirmou que

[...] a Alca será bem-vinda se sua criação for um passo para dar acesso aos mercados

mais dinâmicos; se efetivamente for o caminho para regras compartilhadas sobre

antidumping; se reduzir as barreiras não tarifárias; se evitar a distorção protecionista

das boas regras sanitárias; se, ao proteger a propriedade intelectual, promover, ao

mesmo tempo, a capacidade tecnológica dos nossos povos; e, ademais, se for além

da Rodada Uruguai e corrigir as assimetrias então cristalizadas, sobretudo na área

agrícola. Não sendo assim, seria irrelevante ou, na pior das hipóteses, indesejável

(CARDOSO, 2001, p. 3).

Percebe-se no governo Fernando Henrique Cardoso a consolidação do Mercosul como

centralidade para a política externa brasileira. Ocorreu um redirecionamento da matriz

energética do país, até então muito dependente das exportações do Golfo Pérsico, para à

Argentina e a Venezuela. Enfim, na percepção desse governo, o crescimento do papel do

Brasil na América do Sul aumentava a sua projeção internacional e o seu poder de barganha

extrarregional (VIGEVANI; OLIVEIRA; CINTRA, 2003).

Sendo guiadas pelo universalismo, as negociações comerciais multilaterais,

principalmente desenvolvidas no quadro da OMC, foram consideradas importantes para

atender os interesses nacionais uma vez que protegeria o país contra abusos ou qualquer

questão que tende a ser resolvidas pela lei do mais forte. Já com relação à União Europeia, o

governo Fernando Henrique Cardoso não logrou sucesso em estabelecer relações entre esse

bloco e o Mercosul porque, ainda que esses blocos sejam compostos por países que

compartilham valores, não existia uma compatibilidade de interesses o que inviabilizou o

estreitamento das relações (VIGEVANI; OLIVEIRA; CINTRA, 2003).

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Com relação ao Atlântico Sul, o Brasil perdeu parte de sua influência no espaço sul-

atlântico com o fim da Guerra Fria. Um dos projetos onde o país se manteve influente foi na

ZOPACAS. Ainda que esse projeto tenha perdido sentido com a reorientação internacional, o

Itamaraty decidiu adaptá-lo ao novo cenário político em 1992. No governo Fernando

Henrique Cardoso, novas áreas de cooperação foram adicionadas na pauta do grupo,

sobretudo, a econômica. Como visto, a política externa brasileira nesse período dava ênfase

ao projeto de integração o que não ocorreu de forma distinta para com o Atlântico Sul

(GUIMARÃES, 2015).

No escopo das ZOPACAS, o Brasil normatizou suas relações com a África do Sul no

período pós-apartheid. As relações com a África, no entanto, foram reduzidas drasticamente.

Pode-se dizer que a política brasileira no governo Fernando Henrique Cardoso focou sua

atenção em quatro países africanos: África do Sul, Nigéria, Namíbia e Angola. Sabe-se que o

Brasil se tornou um grande parceiro comercial da África do Sul. Com relação à Nigéria, o

governo brasileiro voltou-se para seu interesse em importar petróleo no país que contava com

a participação da Petrobrás. Já a Namíbia, a cooperação deu-se num âmbito da defesa com o

intuito de se criar a Marinha namibiana. Por fim, o Brasil participou da missão de paz da

ONU (1995-1997) em Angola, sendo o principal contribuidor de tropas (GUIMARÃES,

2015).

Criada em 1996, a CPLP esboçou outra iniciativa no governo Fernando Henrique

Cardoso direcionada para o continente africano a qual envolve o espaço do Atlântico Sul.

Segundo alguns autores como Ely Penha, o Itamaraty enxergava esse grupo como uma forma

de integrar o Mercosul à Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental56

(CEDEAO) e à Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral57

(SADC)

(GUIMARÃES, 2015).

Ainda que percebidas algumas iniciativas, a política externa na era Cardoso em

direção ao Atlântico Sul foi bastante limitada. Além das relações com a África terem sido

reduzidas a um número mínimo de países, houve uma limitação de qualquer tipo de projeto

naval vinculado ao oceano, levando a obsolescência de frotas militares e o abandono da

Marinha. Somente no fim do segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso que

56

Organização de integração regional a qual engloba quinze países da África Ocidental: Benim, Burkina Faso,

Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal,

Serra Leoa e Togo. 57

Organização intergovernamental, criada em 1992, com o intuito de cooperar e integrar socioeconomicamente

os países da África Austral.

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73

impulsos foram dados a fim de aumentar o papel do Brasil no oceano os quais foram

aprofundados no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (GUIMARÃES, 2015).

4.1.2. O governo Lula da Silva

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu um novo rumo à política

externa do país. Assim como Fernando Henrique Cardoso, ele buscou adotar uma política

universalista e de diversificação de parceiros, no entanto, o governo Lula da Silva se esforçou

em caracterizar o Brasil como potência média58

e nação emergente, destacando a capacidade

de defesa dos interesses do país no cenário internacional. Pode-se afirmar que a ideia de o

Brasil ser caracterizado como país fraco e sem capacidade de poder que procurava projeção

internacional por meio do respeito às regras do sistema, as determinações da ONU e o

alinhamento com os Estados Unidos foi abandonada no governo Lula da Silva (RIEDIGER,

2010).

Diferentemente da estratégia da credibilidade utilizado no governo de Fernando

Henrique Cardoso, o governo de Lula da Silva utilizou-se de uma estratégia autonomista para

orientar a política externa. Essa estratégia preconizava a junção do interesse em se projetar

internacionalmente com uma política ativa de desenvolvimento. Com relação aos Estados

Unidos, o novo governo reconhece a importância política, militar e econômica desse país, mas

busca atenuar o predomínio indiscutível do mesmo (RIEDIGER, 2010). Como se observa

Em um mundo menos homogêneo e mais competitivo, haveria espaço para um

movimento contrahegemônico cujos eixos estariam na Europa ampliada, com a

inclusão da Rússia, e na Ásia, onde potências como China e índia podem vir a

representar um contraponto aos Estados Unidos na região (LIMA, 2003, p.98).

Diversos fatores levaram essa nova postura da política externa brasileira, cabendo

destacar o atentado do 11 de setembro de 2001 que evidenciaram um viés unilateralista da

política externa americana e as dificuldades da Rodada Doha da OMC. Os novos rumos da

política internacional levaram uma reformulação de atitudes pelo governo brasileiro. O

presidente Lula da Silva passa a dar ênfase à ideia de que a globalização funciona de forma

assimétrica, cabendo ao país prover recursos ao seu desenvolvimento (RIEDIGER, 2010).

Dando continuidade à prioridade dada a América do Sul no governo Fernando

Henrique Cardoso, a política externa na era Lula da Silva procura sustentar um projeto do

Brasil como liderança regional. Desde 2003, o Brasil utiliza-se da diplomacia em crises

58

Partindo da concepção de Wayne Selcher, potência média é um “Estado cujas capacidades e compromissos

internos permitem-lhe desempenhar apenas papéis restritos e cuidadosamente escolhidos, e assumir iniciativas

modestas fora de sua própria região” (SELCHER, 1983 apud SENNES, 1998, p. 387).

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políticas na região sul-americana como na Venezuela, Bolívia e Equador. O princípio da não-

intervenção já defendido pelo Brasil passa a somar-se ao da não-indiferença, ou seja,

Ciente de sua posição geográfica e do peso de sua economia nas transações intra-

regionais, o Brasil reconhece que seu papel nesse processo de integração comporta

custos e supõe uma visão ‘generosa’, para que possamos compensar os

desequilíbrios nos diferentes graus de desenvolvimento dos países da região.

Generosidade, neste caso, nada mais é do que a capacidade de colocar os interesses

do longo prazo acima de objetivos imediatistas (AMORIM, 2005, s/p).

O multilateralismo e o terceiro-mundismo mantêm-se como elementos centrais no

discurso diplomático do país uma vez que se acreditava que esses elementos colaboram para a

manutenção de um ambiente pacífico propício ao desenvolvimento. Desse modo, cabe

mencionar que os organismos internacionais passaram a ser vistos como fóruns essenciais

para a diplomacia brasileira. Fóruns como IBAS (Índia, Brasil e África do Sul), o G4, o G20,

a ONU representam algumas opções da estratégia brasileira porque esses ambientes servem

como forma do país articular seus interesses, compartilhar preocupações e buscar igualdade

no jogo político-comercial (RIEDIGER, 2010).

Uma das metas estabelecidas no governo Lula da Silva foi a criação de uma ‘nova

geografia comercial’. Seria errado comentar que a Cooperação Sul-Sul não caracterizava o

governo de Fernando Henrique Cardoso, entretanto, a grande expansão do comércio nesse

eixo ocorre no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Normalmente, as relações entre os países se

orientavam por uma lógica vertical, uma lógica Norte/Sul, ou seja, os intercâmbios entre os

países ocorriam entre aqueles denominados desenvolvidos com aqueles em desenvolvimento.

Percebe-se, no entanto, uma clara assimetria de poder nessas parcerias o que o governo Lula

da Silva passa a criticar. Logo, a política externa do governo Lula da Silva irá priorizar uma

Cooperação Sul-Sul, ou seja, um regime de parcerias, sobretudo, com países em

desenvolvimento. Não que esse eixo horizontal substitua o relacionamento com os Estados

Unidos e a União Europeia, mas esse nova geografia representa a ampliação do

relacionamento brasileiro num sistema internacional anárquico (RIEDIGER, 2010).

Desse modo, a ‘autonomia pela integração’ (ou ‘autonomia pela participação’)

presente no governo Fernando Henrique Cardoso deu lugar a uma ‘autonomia pela

diversificação’. Acreditava-se que as diversas alianças regionais e extrarregonais

estabelecidas serviriam como uma forma de reduzir as assimetrias entre os países e aumentar,

consequentemente, a capacidade de barganha do Brasil no cenário internacional. Sob uma

análise crítica com base nos fundamentos do realismo neoclássico, entende-se que a

‘autonomia pela diversificação’ foi uma estratégia utilizada pelo governo brasileiro de forma

a responder à falta de proeminência do Brasil na distribuição de poder internacional. Logo, o

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75

presidencialismo de Lula da Silva foi caracterizado por uma postura ativa e altiva frente ao

sistema internacional, problematizando a dinâmica do mundo globalizado

(VIGEVANI; CEPALUNI, 2007).

Um caso que serve perfeitamente para problematizar o significado da ‘autonomia pela

diversificação’ é o do Haiti. A diversificação no governo Lula da Silva não se restringe

apenas em alargar as alternativas nas relações com outros Estados, mas também na

capacidade brasileira de intervir em questões que nem sempre representam seu interesse

imediato. A presença brasileira no Haiti desde 2003 vincula-se a concepção da diplomacia

brasileira de cooperação em prol da paz nacional e internacional. Além disso, frente ao

interesse do país em ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU,

mostrar o engajamento e a vontade brasileira na pacificação do Haiti constituía uma estratégia

da política externa brasileira (VIGEVANI; CEPALUNI, 2007).

Como já é de se imaginar, o critério que passou a reger as relações Brasil-Estados

Unidos no governo Lula da Silva foi o da não-exclusividade. Ainda que a relação com esse

país fosse importante, não representa a melhor alternativa para o Brasil atingir suas metas

diplomáticas e econômicas. Com o objetivo de se consolidar como um global trader, o Brasil

aumentou seu comércio com mercados não-tradicionais como a China, a África, a Europa

Oriental, o Oriente Médio e a Ásia (VIGEVANI; CEPALUNI, 2007). De acordo com

Daniela Prates (2006), no período de 1998 até 2005, o peso desses mercados na economia

brasileira aumentou de 19,7% para 31%.

Com relação a Alca, enquanto Fernando Henrique Cardoso demonstrava a

possibilidade de aprovação desse projeto caso servisse ao desenvolvimento do Brasil, Lula da

Silva se opunha ao projeto, temendo representar uma forma de anexação da América Latina

aos Estados Unidos. Além disso, os interesses brasileiros não condiziam com a liberalização

de serviços e investimentos proposta pelos Estados Unidos uma vez que a posição brasileira

ansiava o acesso a mercados e acordos sobre o comércio agrícola. Vale destacar que a política

externa do governo Lula da Silva via a União Europeia como um bom parceiro para o

Mercosul como contraponto à Alca (VIGEVANI; CEPALUNI, 2007).

Assim como no governo Fernando Henrique Cardoso, o governo de Luiz Inácio Lula

da Silva estabeleceu como prioritária as relações com a América do Sul. Lula deu

continuidade tanto às negociações entre o Mercosul e a Comunidade Andina como ao projeto

de se criar uma Comunidade Sul-Americana de Nações (CASA). O Mercosul, para o Brasil,

atuaria como um instrumento político-estratégico na medida em que funciona como base para

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a união dos países na América do Sul, livrando a região de influências externas

(VIGEVANI; CEPALUNI, 2007).

Com a ascensão de Lula da Silva à presidência do Brasil, houve uma mudança na

política externa brasileira em relação ao Atlântico Sul direcionada ao resgate da política

africana e a necessidade de se investir em ações conjuntas como forma de controlar e defender

a região. As relações com os países africanos se intensificaram em diversos níveis. Pelo

discurso de Celso Amorim é possível depreender que a África vai ocupar um lugar especial na

Política Externa brasileira neste período (FERREIRA; CORRÊA, 2016).

A África ocupa um lugar muito especial na diplomacia brasileira. Desde a sua posse,

o Presidente Lula foi à África onze vezes. Visitou mais de duas dezenas de países.

Implantamos um escritório de pesquisas agrícolas em Gana; uma fazenda-modelo

de algodão no Mali; uma fábrica de medicamentos anti-retrovirais em

Moçambique; centros de formação profissional em cinco países africanos

(AMORIM, 2010, p.1).

A aproximação com o continente africano possui um viés estratégico na medida em

que ele representa uma fonte de riquezas, de negócios, uma forma de obter novos mercados,

um meio de promover alianças, dentre outros. Nesse caso, a relação com os países africanos

foi traduzida pela política externa do governo Lula da Silva como um elemento essencial e de

interesse brasileiro.

Dentre as diversas iniciativas multilaterais nesse período, cabe destaque ao IBAS, a

CPLP e a ZOPACAS. Quanto ao exemplo do IBAS, um fórum de diálogo entre três países, a

saída vitoriosa da Índia, do Brasil e da África do Sul, que lutavam para a quebra de patentes

dos medicamentos para tratamento da Aids acabou por demonstrar as potencialidades das

Cooperações Sul-Sul. Já referente à CPLP, o Brasil desenvolveu fortes programas de

coordenação bilateral, destacando a abertura de centros de ensino técnicos no Timor e em

Angola e a instalação de uma fábrica de medicamentos antirretrovirais em Moçambique. As

relações comerciais com a Angola foram ampliadas enquanto que em São Tomé e Príncipe, o

Brasil contribuiu para que o país retomasse seu regime democrático. A ZOPACAS, por sua

vez, representa um espaço capaz de combinar diversos processos de integração, sobretudo, na

região do Atlântico Sul. O seu relançamento no governo Lula da Silva traduz o esforço

brasileiro em estreitar os laços com os países africanos.

No âmbito dessas relações com a África, cabe destacar os diversos intercâmbios

comerciais e as iniciativas de cooperação técnica fomentados pelo Brasil. No campo

comercial, cabe destacar um grande parceiro do país que é Angola. O interesse brasileiro com

Angola se concentra, na maior parte, na grande presença de biocombustíveis em seu território.

Já refrente aos projetos de cooperação técnica, o governo Lula aumentou de forma

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significativa a atenção para esse continente. Aliás, o orçamento da Agência Brasileira de

Cooperação59

(ABC), nesse período, foi ampliado (COSTA, 2015).

Pode-se afirmar, portanto, que a política externa de Lula da Silva representa uma

‘mudança dentro da continuidade’, ou seja, não ocorreu um afastamento dos princípios que

caracterizam a diplomacia brasileira, porém, há uma divergência de ideias e ações estratégicas

para guiar a política externa do país. O período entre 2003-2010 foi caracterizado por um

equilíbrio relacional com os países, onde uma ‘estratégia de diversificação’ foi empregada

como forma de reduzir as assimetrias de poder no sistema internacional. Em termos políticos-

diplomáticos, a África representou um grande parceiro ao Brasil, garantindo ao mesmo acesso

a novos mercados, a sua influência nesses países como forma de preservação dos seus

interesses e, consequentemente, uma estratégia para aumentar o seu protagonismo no cenário

internacional.

4.1.3. O governo Dilma Rousseff

O crescimento econômico, reflexos das políticas implementadas nos oito anos do

governo Lula da Silva, gerou uma série de otimismo para o governo Dilma Rousseff. Pode-se

falar, então, que a política externa no Governo Dilma Rousseff segue a linha da política

externa desenvolvida no governo Lula da Silva, porém com algumas diferenças. O mandato

de Dilma Rousseff continuava a sustentar a aspiração por um protagonismo internacional do

Brasil, mas combinando medida de retração e de reorientação. Para alguns autores como

Andrés Malamud (2011), a política externa de Dilma Rousseff conteria o que ele chamou de

‘menos do mesmo’, ou seja, a política externa não sofreria mudanças drásticas, mas a

intensidade nos temas de diplomacia presencial seria menor (OLIVEIRA; SILVEIRA, 2015).

A sociedade, de uma forma geral, se pergunta a razão da mudança da política externa

uma vez que tanto o ex-presidente Lula da Silva como a ex-presidente Dilma Rousseff

pertenciam ao mesmo partido político. Dessa forma, assim como foi descrito por Rose (1998),

cabe mencionar que diversas causas, sejam de ordem interna como externa, podem influenciar

na tomada de decisão do líder. Reestruturações domésticas, choques externos, reivindicação

de burocratas e a própria percepção do líder sobre o cenário internacional podem impactar de

modo incisivo ou mais brando nos ajustes de política externa (OLIVEIRA; SILVEIRA,

2015).

59

Criada em 1987 para coordenar os projetos brasileiros em cooperação.

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78

Pode-se dizer que diversos acontecimentos no sistema internacional influenciaram na

mudança da política externa brasileira. Dilma Rousseff iniciou seu mandato durante a

Primavera Árabe60

que, num primeiro momento, representava um otimismo quanto à vitória

da democracia, sendo substituído gradativamente por crises em várias regiões. Para além da

Tunísia, esse movimento culminou numa nova ditadura no Egito, na intervenção armada na

Líbia, na intervenção de Israel em Gaza e numa guerra declarada pelos Estados Unidos e seus

aliados ao Estado Islâmico. A Aliança do Pacífico61

surge como uma forma de contrapor a

integração sul-americana. As crises político-econômica na Argentina, Venezuela e Paraguai

fizeram com que o Mercosul e a Unasul perdessem força. Além disso, a crise econômica

mundial de 2008 repercutiu no país, sobretudo, em grande parte do governo Dilma Rousseff,

fazendo com que essa governante enfrentasse um cenário internacional diferente de seu

antecessor. Sabe-se, então, que a margem de ação da política externa de Dilma Rousseff ficou

limitada e o não protagonismo global do Brasil apareceu de forma mais velada (GAMA,

2014).

Diante de um cenário nada favorável, a presidente teve de diversificar suas estratégias.

Após uma relutância do G-8 em reformar as instituições financeiras mundiais, o Brasil passou

a pensar conjuntamente com os países pertencentes ao BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e

África do Sul) a criação de um Banco dos BRICS. Outra estratégia utilizada pela política

externa brasileira nesse período, seguindo a mesma lógica do governo anterior, foi a redução

da importância dos Estados Unidos para o Brasil. Afetados mais que o Brasil na crise de

2008, o comércio bilateral com os Estados Unidos foi reduzido em razão da emergência de

outros Estados como grandes parceiros para o Brasil, como a China (GAMA, 2014).

A política externa brasileira conquistou um relativo espaço nos debates internacionais

por se posicionar ativamente com relação às questões do meio ambiente. Sediando a

conferência Rio+2062

, o Brasil passou a questionar pontos fundamentais no Protocolo de

Quioto63

. Além disso, o país começou a associar temas de meio ambiente ao do combate à

pobreza através de programas como o PAA África64

(GAMA, 2014).

Por outro lado, se comparado ao governo anterior, é visível uma drástica redução na

quantidade de viagens internacionais realizada por Dilma Rousseff. De acordo com os dados

60

Série de protestos e revoltas, deflagradas em 2011, contra os governos locais por conta do descontentamento

da população com a crise econômica e a falta de democracia. 61

Bloco comercial latino-americano formado para promover a integração econômica e o livre coércio entre os

países membros. 62

Conferência realizada no Rio de Janeiro, em 2015, com o objetivo de renovar o compromisso dos países com o

desenvolvimento sustentável. 63

Tratado Internacional que se compromete com a redução da emissão dos gases que agravam o efeito estufa. 64

Programa de iniciativa conjunta com o intuito de superar a pobreza rural e erradicar a insegurança alimentar.

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79

divulgados no site da Presidência da República, Lula da Silva passou mais de 400 dias no seu

mandato fora do país enquanto Dilma Rousseff passou menos do que 200 dias. Sabe-se

também que a presidente viajou menos até que o presidente Fernando Henrique Cardoso. Essa

redução no número de viagens internacionais acaba por impactar em longo prazo a relação

Brasil-Mundo na medida em que as decisões tomadas em uma determinada reunião podem

refletir negativamente nos interesses brasileiros (OLIVEIRA; SILVEIRA, 2015).

Quanto a América do Sul, as ações e políticas voltadas para o bloco seguiram a mesma

linha traçada pelo ex-presidente Lula da Silva. Destaca-se que coube a Dilma Rousseff não só

um esforço para consolidar a Unasul e fortalecer o Mercosul, mas também dar continuidade à

Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), criada em 2010. Para

tal, houve um esforço brasileiro em retomar a noção de uma identidade sul-americana,

procurando atingir também a retomada de uma identidade latino-americana (OLIVEIRA;

SILVEIRA, 2015).

Estaremos empenhados nos próximos anos na consolidação da América do Sul

como um espaço de crescente paz e prosperidade. [...] Trabalharemos pelo

fortalecimento do MERCOSUL e pela construção de uma UNASUL robusta, sem

deixarmos de dedicar uma atenção diferenciada a cada país sul-americano. A

integração da América do Sul permanecerá o ponto de partida para uma diplomacia

latino-americana e caribenha em sentido mais amplo (PATRIOTA, 2011, s/p).

Quando mencionada a questão de integração regional, os diversos discursos proferidos

por Celso Amorim na Assembleia Geral da ONU deixa clara a intenção brasileira em se

projetar num nível regional, assumindo um papel de líder, articulando com os diversos

Estados da América do Sul. Além disso, como fica visível no discurso de Antônio Patriota,

Primeiro Ministro das Relações Exteriores no governo Dilma Rousseff, acreditava-se que a

retomada de uma identidade sul-america funcionaria como uma estratégia de inserção

internacional no Brasil (OLIVEIRA; SILVEIRA, 2015).

[...] em certo sentido podemos nos situar no mesmo espírito que inspirou Rio

Branco: precisamos ser cada vez mais sul-americanos e cada vez mais sintonizados

com o momento vivido pelo conjunto da comunidade das nações. Como às vezes

afirmo, mais ancorados em nossa região e, ao mesmo tempo, mais multipolares

(PATRIOTA, 2013, p. 72).

No entanto, comparado ao governo Lula da Silva, é perceptível a perda de espaço da

América do Sul no governo Dilma Rousseff em função das preferências da presidente pela

resolução dos problemas domésticos existentes no seu governo. As tabelas 5 e 6 mostram as

viagens desses presidentes para países na América do Sul (LEÃO, 2016).

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Tabela 5 - Viagens de Lula da Silva para América do Sul

Fonte: LEÃO, 2016.

Tabela 6 - Viagens de Dilma Rousseff para América do Sul

Fonte: LEÃO, 2016.

Pelos discursos brasileiros no período Dilma Rousseff, fica evidente também a

declaração de compromisso do Brasil com o continente africano em questões econômicas,

sociais, políticas e de segurança. Na área de segurança, detentor da maior extensão territorial

margeada pelo Atlântico Sul e, consequentemente, estando na vanguarda de exercer maior

influência, é de extrema importância que o Brasil coopere com países africanos para a defesa

do entorno estratégico (FERREIRA; CORRÊA, 2016).

Assim como no governo Lula, no governo Dilma Rousseff iniciaram-se inúmeros

projetos de cooperação técnica para com a África. No entanto, essas iniciativas foram

acompanhadas de uma gradativa redução de acordo com o gráfico 1. Houve progressivos

cortes orçamentários para os projetos de cooperação, dando prioridade aqueles que já estavam

em execução. Como se vê, mais uma vez as diversas turbulências ocorridas no cenário

internacional afetaram o ambiente interno e impactaram na retração da política externa

brasileira (COSTA, 2015).

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Gráfico 1 - Distribuição Anual de Projetos de Cooperação Técnica nos Governos Lula da

Silva e Dilma Rousseff

Fonte: PENHA FILHO, 2015.

A partir dos princípios fundamentais do realismo neoclássico de que a política externa

do Brasil pode ser explicada tanto por variáveis internacionais como variáveis domésticas, é

possível concluir que a relativa mudança do posicionamento brasileiro frente ao mundo

ocorreu em virtude de um cenário externo turbulento o qual influiu no âmbito doméstico.

Ainda que tenha sido contínuo o projeto de cooperação baseado na relação sul-sul, viu-se uma

retração da presença brasileira tanto na África como na América do Sul e uma política de

projeção do país no jogo de poder internacional de forma mais contida. Buscando satisfazer as

pressões internas e minimizar as consequências externas, a política externa do governo Dilma

Rousseff se caracterizou por uma ‘contenção na continuidade’ (COSTA, 2015).

4.2. Política de Defesa nos governos Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva e Dilma

Rousseff

Nos últimos anos, o Brasil tem se tornado um ator internacional de crescente

relevância. Pode-se dizer que no contexto atual em que o país procura se afirmar como

potência regional e se projetar num cenário de constantes lutas pelo controle de poder reforça-

se a importância de se pensar na Defesa nacional como forma de proteção. Assim, considera-

se a Defesa como uma atividade de responsabilidade do Estado uma vez que sua missão é

constituí-lo e preservá-lo. A política de defesa, levando em consideração essa característica,

constitui uma política pública (ALMEIDA, 2010).

A sua dimensão 'pública' é dada não pelo tamanho do agregado social sobre o qual

incidem, mas pelo seu caráter 'imperativo'. Isto significa que uma das suas

características centrais é o fato de que são decisões e ações revestidas da autoridade

soberana do poder público (RUA, 1998, p. 2).

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Além disso, sob o ponto de vista político, a defesa nacional não deve constituir uma

política de governo, mas sim de Estado. Isso significa dizer que independente do líder ou do

arranjo governamental do momento, deve haver um arranjo político à estrutura da defesa

nacional o qual permita sua condução apesar das percepções distintas dos líderes de Estado

(ALMEIDA, 2010).

Como a política de defesa se caracteriza por uma política pública, diversos atores

políticos são envolvidos no processo de sua formulação. Dentre os atores públicos, "aqueles

que se distinguem por exercer funções públicas e por mobilizar os recursos associados a estas

funções” (RUA, 1998, p.4), cabe destacar na política de defesa brasileira o Presidente da

República, as comissões parlamentares, o Congresso Nacional, os políticos profissionais, o

Ministério da Defesa, as Forças Armadas, os partidos políticos, os órgãos governamentais da

área orçamentária, os servidores públicos desses órgãos, entre outros. Além desses, atores

privados não são menos importantes na implementação das políticas públicas como é o caso

das organizações não governamentais (ALMEIDA, 2010).

Quase uma década após o fim dos governos militares, o Brasil ainda não possuía uma

política de defesa integrada e que representasse os anseios da sociedade. Desse modo, o

governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vai representar um grande ponto de

inflexão. Foi o primeiro momento na história do Brasil em que se procurou tornar o tema da

defesa em um assunto da sociedade e não apenas dos militares. Em 1996, cria-se um

documento ainda vago e abrangente, mas que se revelou um grande passo dessa nova

orientação estratégica (CORRÊA, 2014).

Com a criação do Ministério da Defesa em 1999, um esforço foi dado em direção a

uma redefinição da política de defesa nacional sustentável e mais abrangente. No entanto,

somente em 2005, durante o governo Lula da Silva, a PDN foi renovada. Em 2008, lançou-se

a END como uma tentativa de traçar as pretensões brasileiras e as formas de atuação do país

na área de defesa. Apesar desses avanços, o Brasil ainda não possuía um documento principal

capaz de oferecer a visão do governo a respeito da defesa (CORRÊA, 2014).

Nesse contexto, no governo Dilma Rousseff surge um documento que ficou conhecido

como o LBDN. Lançado em 2012, percebe-se que o LBDN visa esclarecer a sociedade

brasileira e a comunidade internacional sobre as políticas e ações que coordenam os

movimentos de segurança e proteção à soberania brasileira (CORRÊA, 2014).

Depreende-se, então, que o LBDN, a PND (anteriormente chamada de PDN) e a END

são os documentos basilares da Política de Defesa do Brasil. Sendo a END o documento que

vai definir os meios para se traçar os alvos da Política de Defesa, o LBDN um documento do

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governo o qual as perspectivas no longo prazo para a defesa nacional e o PND responsável

por elaborar os objetivos e as diretrizes que devem ser seguidas para equiparar as forças

armadas, a aprovação desses três documentos é de extrema importância para a política de

segurança nacional já que mostram o compromisso com os valores democráticos e

caracterizando os debates sobre a segurança e a defesa não restrita à área militar (CORRÊA,

2014).

A partir disso, faz-se necessário uma análise das políticas de defesa brasileira nos

governos Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff,

destacando os pontos chaves e, sobretudo, como ela foi direcionada ao Atlântico Sul.

4.2.1. Política de Defesa no governo Fernando Henrique Cardoso

Como já visto, uma das características mais evidentes do governo de Fernando

Henrique Cardoso é o seu enquadramento num aspecto mais liberal da esfera política. Desta

forma, a economia, muitas vezes, era responsável por conduzir a política externa do país,

deixando para segundo plano temas como segurança e defesa. Ainda assim, foi nesse governo

que avanços significativos ocorreram nessa área (PRATES et al., 2016).

Condizente com as diretrizes da política externa, a atuação brasileira em questões de

segurança internacional, na era Cardoso, reflete a vontade de obter maior prestígio e

reconhecimento na Comunidade Internacional. Desse modo, é de se imaginar que o Brasil

queira se fazer presente no principal fórum multilateral de segurança coletiva: a ONU. Pode-

se falar que o país se manteve atuante nas operações de paz da ONU, enviando contingente

militar tanto para Angola como para o Timor Leste (PRATES et al., 2016).

Quanto aos regimes internacionais, o Tratado de Não-Proliferação de Armas

Nucleares (TNP) foi assinado e ratificado na gestão de Fernando Henrique Cardoso. Ainda

que muitos critiquem a posição tomada pelo ex-presidente uma vez que essa atitude foi

responsável por restringir toda a geração de armas nucleares no território nacional, para o

governo brasileiro essa decisão culminou num amadurecimento e na colaboração do país no

tocante a não-proliferação de armas nucleares. Essa medida representava o desejo do

presidente em aderir aos acordos internacionais e garantir prestígio ao Brasil (PRATES et al,

2016).

Herdada por Fernando Henrique Cardoso a intenção do Brasil em manter a cooperação

política com seus vizinhos, as Negociações com o Mercosul e a desconfiança com a Argentina

não estava mais em pauta como ameaças a segurança. Nesse modo, a única região que seria

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um possível foco de instabilidade era a região amazônica porque incitava o interesse de

diversos países por conta da potencialidade da área. Sendo assim, visando o monitoramento e

o processamento de informações dessa zona, foram criadas iniciativas de sistema de

vigilância, o SIVAM, e de proteção, o SIPAM (FERNANDES, 2006).

Em 1996, foi formulada a PDN a qual representou os primeiros passos para a se pensar

na defesa nacional não limitada ao setor militar. Nas palavras do ministro da Defesa, Geraldo

Magela Quintão:

Foi primeira vez que se colocou em um texto, em um ato declaratório uma

orientação estratégica brasileira que até então não havia. E tudo foi feito centrado

naqueles princípios da constituição. Vejo isso como o maior avanço que se fez nesse

país em termos de Defesa neste país, fruto do Estado Democrático de Direito, que

passamos a viver a partir da Constituição de 1988, e da liderança inconteste do

Presidente (Fernando Henrique Cardoso) (QUINTÃO 2002 apud SANTOS, 2002, p.

464). Analisando o documento, percebe-se que ele é de caráter muito preliminar devido a

sua não profundidade. Aparentemente não existe nenhum conceito novo fixado ou algum tipo

de projeto proposto; ficam declaradas apenas as intenções brasileiras para com uma política

de defesa nacional, ressaltando alguns princípios básicos que serviriam de parâmetro para a

formulação das estratégias (soberania, autodeterminação, identidade nacional) e os objetivos

brasileiros com a defesa nacional (FERNANDES, 2006).

3.3. São objetivos da Defesa Nacional:

a. a garantia da soberania, com a preservação da integridade territorial, do

patrimônio e dos interesses nacionais;

b. a garantia do Estado de Direito e das instituições democráticas;

c. a preservação da coesão e da unidade da Naação;

d. a salvaguarda das pessoas, dos bens e dos recursos brasileiros ou sob

jurisdição brasileira;

e. a consecução e a manutenção dos interesses brasileiros no exterior;

f. a projeção do Brasil no concerto das nações e sai maior inserção no processo

decisório internacional; e

g. a contribuição para a manutenção da paz e da segurança internacionais.

(BRASIL, 1996, p.7).

Vale destacar que, com o fim da Guerra Fria, não só conflitos entre Estados passam a

ser foco de insegurança. Movimentos religiosos, nacionalistas, éticos podem influir

negativamente na segurança do país. Nesse contexto, a orientação estratégica do Brasil era de

dissuasão defensiva, ou seja, uma tentativa de impedir que o adversário promova alguma ação

que possa vir a ameaçar ou que ameace a segurança do país por meio da demonstração que os

objetivos iniciais traçados não serão atingidos. Tira-se, então, qualquer conotação agressiva

do termo dissuasão não significando necessariamente que o caráter defensivo resulta na

aplicação de medidas estritamente defensivas. Em casos de conflito, as Forças Armadas

podem se utilizar de medidas ofensivas com a finalidade de assegurar sua integridade e

soberania (PRATES et al., 2016).

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Também é relevante mencionar que a PDN previa, então, a modernização das Forças

Armadas, assegurando-lhes condições para o cumprimento das suas tarefas. Nas suas

diretrizes, vê-se um desejo de aprimorar a organização, o aparelhamento e a articulação entre

as Forças Armadas assim como melhorar o sistema de vigilância e o controle das fronteiras,

das águas jurisdicionais, da plataforma continental e do espaço aéreo brasileiro (BRASIL,

1996).

Sem sombra de dúvidas, o marco institucional relevante para a área de defesa do

Brasil foi a criação do Ministério da Defesa em 1999. Essa atitude submeteu o poder militar

ao controle civil, culminando na extinção do Estado Maior das Forças Armadas. Além de

melhorar o diálogo entre os civis e os militares, essa medida melhorou a imagem do país no

sistema internacional e permitiu maior transparência nos assuntos relacionados à defesa

(PRATES et al., 2016).

Ainda muito recente, percebe-se que esse documento é extremamente vago, não

estabelecendo diretrizes concretas para a defesa do Brasil. Partindo da afirmação de que “para

o Brasil, país de diferentes regiões internas e de diversificado perfil, ao mesmo tempo

amazônico, atlântico, platino e do Cone Sul, a concepção do espaço regional extrapola a

massa continental sul-americana e inclui, também, o Atlântico Sul” (BRASIL, 1996, p.5)

percebe-se que o documento ressalta à América do Sul e o Atlântico Sul como parte do

entorno territorial do Brasil, no entanto não se percebe interesse político por essas imediações

e, consequentemente, uma estratégia de defesa específica para esse espaço. A PDN limitava-

se a mencionar sobre a utilização da cooperação no entorno regional como forma de viabilizar

a paz e repelir uma possível ameaça (GONÇALVES; CORBELLINI, 2014).

Essa configuração da política de defesa do Brasil começa a mudar no início do século

XXI por conta de uma série de acontecimentos. Com os ataques terroristas do 11 de setembro

de 2001 fez com que a agenda de segurança se tornasse um pouco mais realista,

marginalizando visões mais liberais sobre evitar o conflito com cooperação, interdependência

e equilíbrio de poder. Somasse a essas mudanças, o fato de que o Atlântico Sul passa a

assumir uma nova posição no pensamento estratégico brasileiro em virtude das importantes

descobertas energéticas nessas águas. Dessa forma, com a eleição de Lula da Silva para

presidente, o país começa a reconsiderar as pautas de defesa brasileira (PRATES et al., 2016).

4.2.2. Política de Defesa no governo Lula da Silva

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Oficialmente, a política de defesa no governo Lula da Silva teve como base três

documentos – a PDN, a END e a LBDN –, sendo que o último só foi concluído no governo

Dilma Rousseff. É necessário atentar-se que, no governo Lula da Silva, houve uma

reformulação da PDN não correspondendo à mesma que baseou a política de defesa no

governo Fernando Henrique Cardoso.

A Política de Defesa Nacional (PDN), aprovada em 2005, é o principal documento

de planejamento da defesa do Brasil. A Estratégia Nacional de Defesa (END),

elaborada no ano de 2008, por sua vez, busca definir como operacionalizar aquilo

que se determinou na PDN. Finalmente, o Livro Branco de Defesa Nacional,

lançado em 2012, é um documento público que tem por objetivo permitir o acesso à

informação sobre o setor de defesa brasileiro. (SILVA, 2014, p.72)

Pode-se dizer que a institucionalização das políticas de defesa no governo Lula da

Silva ganhou uma nova configuração com a publicação da PDN em 2005. Condizente com

uma política externa ativa e altiva, a nova orientação da política de defesa, durante oito anos,

refletiu as alterações que estavam ocorrendo no sistema internacional. Definido como o mais

alto nível do planejamento de ações destinadas à defesa nacional, esse documento interligava

a noção de desenvolvimento nacional com a necessidade de defesa.

A PDN buscou reiterar o comprometimento brasileiro de conduzir a resolução de

conflitos através da ação diplomática. Desse modo, vê-se a necessidade de articulação entre a

diplomacia e a defesa, condicionando às estratégias brasileiras a forma preventiva e a reativa.

A diplomacia, ferramenta principal, seria utilizada para fins de persuasão enquanto o emprego

do uso da força militar se limitaria ao exercício de legítima defesa (GONÇALVES;

CORBELLINI, 2014).

No que diz respeito ao entorno regional, o documento pondera que “é importante para

o Brasil que se aprofunde o processo de desenvolvimento harmônico e integrado da América

do Sul, o que se estende naturalmente, à área de defesa e segurança regionais” (BRASIL,

2005, p.23). Segundo o documento, “a segurança de um país é afetada pelo grau de

instabilidade da região onde está inserido” (BRASIL, 2005, p.23). Dessa forma, além de

considerar a América do Sul uma área onde a harmonia deve permanecer, o país passa a

visualizar um entorno estratégico o qual vai além da massa continental, incluindo o Atlântico

Sul e os países lindeiros da África. Acreditava-se que o fortalecimento do processo de

integração, o estreito relacionamento entre os países amazônicos, a intensificação da

cooperação e do comércio com países africanos e a consolidação da Zona de Paz e de

Cooperação do Atlântico Sul contribuem para a redução da possibilidade de conflitos no

entorno estratégico (BRASIL, 2005).

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Sabe-se que, no início do século XXI, o Atlântico Sul passa a receber maior atenção

da comunidade internacional em virtude das grandes descobertas energéticas na região, em

especial, as descobertas das jazidas do Pré-Sal, em 2006. Dessa forma, o novo documento

produzido na gestão de Lula da Silva contempla e apresenta a importância estratégica do

Atlântico Sul para o Brasil, vendo-o como prioridade no assunto da defesa nacional

(GONÇALVES; CORBELLINI, 2014).

4.5 O mar sempre esteve relacionado com o progresso do Brasil, desde o

seu descobrimento. A natural vocação marítima brasileira é respaldada pelo seu

extenso litoral e pela importância estratégica que representa o Atlântico Sul.

A Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar permitiu ao Brasil

estender os limites da sua Plataforma Continental e exercer o direito de jurisdição

sobre os recursos econômicos em uma área de cerca de 4,5 milhões de quilômetros

quadrados, região de vital importância para o País, uma verdadeira "Amazônia

Azul".

Nessa imensa área estão as maiores reservas de petróleo e gás, fontes de

energia imprescindíveis para o desenvolvimento do País, além da existência de

potencial pesqueiro.

A globalização aumentou a interdependência econômica dos países e,

consequentemente, o fluxo de cargas. No Brasil, o transporte marítimo é responsável

por movimentar a quase totalidade do comércio exterior (BRASIL, 2005, s/p).

A partir de 2007, o Ministério da Defesa passa a agir de forma mais atuante na agenda

de política externa. A nova participação do Brasil como uma das principais economias

mundiais demandava uma política de defesa mais consistente do que já havia sendo

demonstrado. Sendo assim, a END, elaborada em 2008, contempla aspectos que não foram

suficientemente comentados no documento de defesa anterior no que tange à estratégia

nacional de defesa (CASTRO, 2015). A END trouxe mais clareza sobre os reais objetivos e o

planejamento das Forças Armadas brasileiras. Segundo o documento:

2. A Estratégia Nacional de Defesa organiza-se em torno de três eixos estruturantes.

O primeiro eixo estruturante diz respeito a como as Forças Armadas devem-se

organizar e orientar para melhor desempenharem sua destinação constitucional e

suas atribuições na paz e na guerra. Enumeram-se diretrizes estratégicas relativas a

cada uma das Forças e especifica-se a relação que deve prevalecer entre elas.

Descreve-se a maneira de transformar tais diretrizes em práticas e capacitações

operacionais e propõe-se a linha de evolução tecnológica necessária para assegurar

que se concretizem.

A análise das hipóteses de emprego das Forças Armadas - para resguardar o espaço

aéreo, o território e as águas jurisdicionais brasileiras - permite dar foco mais preciso

às diretrizes estratégicas. Nenhuma análise de hipóteses de emprego pode, porém,

desconsiderar as ameaças do futuro. Por isso mesmo, as diretrizes estratégicas e as

capacitações operacionais precisam transcender o horizonte imediato que a

experiência e o entendimento de hoje permitem descortinar.

Ao lado da destinação constitucional, das atribuições, da cultura, dos costumes e das

competências próprias de cada Força e da maneira de sistematizá-las em estratégia

de defesa integrada, aborda-se o papel de três setores decisivos para a defesa

nacional: o espacial, o cibernético e o nuclear. Descreve-se como as três Forças

devem operar em rede - entre si e em ligação com o monitoramento do território, do

espaço aéreo e das águas jurisdicionais brasileiras.

O segundo eixo estruturante refere-se à reorganização da indústria nacional de

material de defesa, para assegurar que o atendimento das necessidades de

equipamento das Forças Armadas apoie-se em tecnologias sob domínio nacional.

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O terceiro eixo estruturante versa sobre a composição dos efetivos das Forças

Armadas e, consequentemente, sobre o futuro do Serviço Militar Obrigatório. Seu

propósito é zelar para que as Forças Armadas reproduzam, em sua composição, a

própria Nação - para que elas não sejam uma parte da Nação, pagas para lutar por

conta e em benefício das outras partes. O Serviço Militar Obrigatório deve, pois,

funcionar como espaço republicano, no qual possa a Nação encontrar-se acima das

classes sociais (BRASIL, 2008, s/p).

Essa nova orientação estratégica entende que a estratégia nacional de defesa é

inseparável da estratégia nacional de desenvolvimento. Uma reforça a razão da existência da

outra na medida em que “defendido, o Brasil terá como dizer não, quando tiver que dizer não.

Terá capacidade para construir seu próprio modelo de desenvolvimento” (BRASIL, 2008,

s/p).

Pode-se dizer que a EDN e, mais tarde, o LBDN foi crucial para entender o papel do

Ministério da Defesa e das Forças Armadas na formulação da estratégia de defesa nacional.

Entende-se como prioritária não só a defesa terrestre como também a defesa aérea e, em

especial, a marítima. Para tal, conceitos de controle e monitoramento são apontados em todo

documento como fundamentais para o exercício da soberania. Aliás, entende-se que as áreas

marítimas de maior importância para o poder marítimo brasileiro de acordo com a EDN são a

área vital, chamada de Amazônia Azul seguida do Atlântico Sul (GONÇALVES;

CORBELLINI, 2014).

Essa posição mais assertiva da política de defesa brasileira se relaciona com a nova

reorientação da política externa no governo Lula da Silva em que a prioridade não seria só

uma integração regional, mas sim uma inserção internacional de forma independente baseada

na diversificação das relações com o mundo. Não coincide com o interesse brasileiro,

portanto, a entrada em conflitos, no entanto, vale mencionar que em caso da falha das ações

diplomáticas, é de extrema importância que o país esteja preparado militarmente e

estrategicamente para defender o território brasileiro (GONÇALVES; CORBELLINI, 2014).

No contexto de estímulo de integração regional e da elaboração de uma política de

defesa com diretrizes traçadas, o Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) foi uma

importante iniciativa brasileira no âmbito da cooperação em segurança e defesa. Estabelecido

no âmbito da Unasul, Bettaglino (2009) aponta três funções principais do CDS: construir um

pensamento coletivo regional para as questões de defesa, desenvolver uma indústria regional

de defesa e atuar como gerenciador de crises e tensões. Com suas negociações iniciadas em

2008, o CDS é essencial para o processo de integração sul-americana como a própria END faz

menção (CASTRO, 2015).

Assim, podem-se compreender as atitudes tomadas no governo Lula da Silva mediante

o realismo neoclássico. Diante de um cenário onde vários Estados passam a emergir na

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dinâmica de poder internacional, a política exterior de Lula da Silva busca uma autonomia

brasileira através da diversificação de parcerias – ou seja, uma variável externa passou a

influenciar a percepção do líder. Devendo reafirmar o interesse nacional e o protagonismo do

país no cenário internacional, o modelo adotado por Fernando Henrique Cardoso é

abandonado, dando espaço a uma postura mais crítica que fosse capaz de promover o

desenvolvimento nacional. Assim, era necessário estabelecer diretrizes concretas para a

defesa nacional uma vez que defesa e desenvolvimento, segundo a própria END, estavam

atrelados.

Não tirando o foco da análise realista neoclássica para se pensar na atuação da política

externa brasileira, é importante aportarmos que as análises construtivistas também podem

fornecer explicações em relação às diversas iniciativas multilaterais no governo Lula da Silva.

Partindo da ideia de que a ameaça é um ato de fala, a baixa securitização de ameaças na

região culmina numa visão de segurança que privilegia o desenvolvimento da região. Desse

modo, faz-se presente mecanismos de cooperação e diálogo com os países no entorno

estratégico brasileiro como forma de mecanismos de defesa. A criação da Unasul, do

Conselho de Defesa Sul-Americano e a reinteração da importância da ZOPACAS, por

exemplo, reforça o reconhecimento de identidades, valores e aspectos culturais comuns,

aprofundando os laços de diálogo e confiança mútua entre os países regionais ao Atlântico

Sul.

4.2.3. Política de Defesa no governo Dilma Rousseff

Em relação ao período de gestão de Dilma Rousseff, cabe considerar que as

dificuldades externas e internas enfrentadas nessa época acabaram por configurar

constrangimentos as Políticas Externa e de Defesa ativas, formuladas no governo Lula da

Silva. Por mais que essas políticas tenham seguido a mesma linha do governo Lula da Silva,

percebeu-se um perfil mais retraído de diplomacia presidencial se comparado ao governo

anterior. Ainda assim, considera-se importante analisar a política de defesa a qual permeou o

governo Dilma Rousseff uma vez que, mesmo diante de um cenário internacional conturbado,

importantes projetos firmados nesse período demonstram o reconhecimento da importância da

Defesa para o país.

Em 2012, destaca-se o lançamento do LBDN conjuntamente com a publicação do

documento PND – END. Pode-se dizer que esses documentos pautam as ações, projetos,

estrutura e os desafios brasileiros no campo de defesa. O LBDN, somando-se ao PND – END

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possuem um caráter esclarecedor não só para o meio internacional como para o doméstico.

Realizada pela primeira vez de forma conjunta, a atualização da PND e da END procura

atender um objetivo até então não visto nos governos anteriores: a conscientização da

sociedade sobre a importância dos temas de defesa para o país. Parte-se do princípio de que a

defesa não deve ser assunto só do setor militar, ela deve ser uma preocupação de toda

sociedade (BRASIL, 2012b).

A PND – END inicia mostrando que a nova configuração da ordem internacional,

marcada por assimetrias de poder, gera um cenário de possíveis tensões e instabilidades para a

paz. Desse modo, a prevalência do multilateralismo e o fortalecimento de princípios como a

soberania, não-intervenção e a igualdades entre os Estados colabora para um mundo mais

estável, cabendo ao Brasil colaborar com tais preceitos a fim de promover uma boa imagem

do país no sistema internacional (BRASIL, 2012b).

Esse documento prossegue enfatizando que o país visualiza seu entorno estratégico

para além da América do Sul, incluindo as regiões do Atlântico Sul, os países lindeiros da

África e até mesmo a Antártica. Assim como o documento anterior produzido na gestão Lula

da Silva, a PND – END destaca que a segurança de um país depende do grau de estabilidade

da região onde ele está inserido, ou seja, isso implica dizer que a defesa do Brasil não se

limita apenas as suas fronteiras, mas sim a todo seu entorno estratégico (BRASIL, 2012b).

É importante mencionar os principais objetivos nacionais de defesa, que de acordo

com o documento,

O primeiro deles é a garantia da soberania, do patrimônio nacional e da integridade

territorial. Outros objetivos incluem a estruturação de Forças Armadas com

adequadas capacidades organizacionais e operacionais e a criação de condições

sociais e econômicas de apoio à Defesa Nacional no Brasil, assim como a

contribuição para a paz e a segurança internacionais e a proteção dos interesses

brasileiros nos diferentes níveis de projeção externa do País (BRASIL, 2012b, p.

41).

O planejamento de defesa do governo Dilma Rousseff presume que uma política de

defesa ativa necessariamente contém uma dimensão de dissuasão e outra de cooperação. A

dissuasão não implica obrigatoriamente o uso da força militar; ela é vista, nesse caso, como

uma forma de persuadir o outro ao seu interesse. Vendo como prioridade a região da

Amazônia e do Atlântico Sul, áreas sobre eventuais ameaças externas em virtude das riquezas

existentes, o país reconhece a cooperação com países da América do Sul e da África

Ocidental como forma de estratégia de defesa. Por mais que pareça contraditório alinhar a

cooperação como uma política de defesa, a verdade é que a cooperação se torna uma maneira

de se evitar o conflito e produzir ganhos comuns (AMORIM, 2013).

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No governo Dilma Rousseff, reforça-se a importância do CDS, iniciado no governo

Lula da Silva, como uma forma de desenvolver um pensamento de defesa sul-americana.

Outro fórum de destaque para o planejamento estratégico da defesa brasileira é a ZOPACAS.

Sabendo que o Atlântico Sul se tornou uma área vital para o poder econômico e político

brasileiro, é interesse brasileiro eliminar qualquer tipo de ameaça nessa zona. O Brasil, então,

deve reinterar e reforçar esse fórum de cooperação, a ZOPACAS, de modo a assumir suas

responsabilidades por esse mar. Segundo as próprias palavras de Celso Amorim, “se não o

fizermos, outros países a farão em nosso lugar, às custas de nossa autonomia e de nossa

soberania. São os países ribeirinhos do Atlântico Sul podem tomar as melhores decisões para

proteger seu oceano comum” (AMORIM, 2013, p.14).

Com a vocação por uma tendência universalista e de país pacífico, a política de defesa

brasileira atua conforma a política externa do país por uma estratégia de inserção

internacional. Como o Brasil não possui inimigos no presente, as Forças Armadas brasileiras

devem se estruturar em termos de capacidades, de modernização. E, “para não tê-los no

futuro, é preciso preservar a paz e preparar-se para a guerra” (BRASIL, 2012b, p. 59) levando

em conta o sentido ‘preparar’ como estar pronto para a eventualidade de uma guerra e até

contribuir para evitá-la (AMORIM, 2013).

O LBND, lançado em 2012, representa o pensamento nacional voltado para a área de

defesa. Tendo como objetivo promover a transparência entre o Estado e a sociedade nos

assuntos de defesa, esse documento é dividido em seis partes: 1. O Estado Brasileiro e a

Defesa Nacional; 2. O Ambiente Estratégico do Século XXI; 3. A Defesa e o Instrumento

Militar; 4. Defesa e Sociedade; 5. Transformação da Defesa; 6. Economia da Defesa. Mais

uma vez, fica destacada a ideia de o país ser um amante da paz, porém atentando-se para o

fato que, ainda assim, o Brasil não pode abdicar da sua capacidade de dissuasão (militar ou

não) e do preparo da defesa contra ameaças externas (BRASIL, 2012a).

Como forma de inserção internacional, esclarece-se que a vocação brasileira para o

diálogo constitui um elemento fundamental para a inserção do país no cenário internacional.

Logo, o Estado brasileiro deve trabalhar em prol de uma ‘multipolaridade cooperativa’,

contribuindo para a criação de uma sociedade global participativa e inclusiva. Como já

divulgado em documentos anteriores, a política de defesa brasileira se utiliza da cooperação

como forma de estratégia de defesa (BRASIL, 2012a).

O LBDN dedica um capítulo somente para a contextualização do ambiente estratégico

do Brasil. Diante de um contexto de aceleração da globalização e de crises internacionais

políticas, econômicas e sociais, é necessário que o país delimite seu entorno estratégico a fim

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de defendê-lo. Dessa forma, o LBDN destaca a América do Sul e o Atlântico Sul como área

de interesse vital para o país. Com relação ao Atlântico Sul, é dever brasileiro estabelecer

mecanismos de controle e proteção dessas águas em razão do seu caráter estratégico

(BRASIL, 2012a).

Esse oceano possui áreas estratégicas relevantes como a ‘Garganta Atlântica’, entre

a costa do nordeste brasileiro e a África ocidental, espaço intercontinental de vital

importância para o comércio mundial. As passagens ao sul, que ligam o Atlântico ao

Pacífico, constituem uma via alternativa ao canal do Panamá, principalmente para os

navios de grande porte. A rota do cabo da Boa Esperança, conectando o Atlântico

Sul ao oceano Índico, é uma alternativa ao canal de Suez e oferece também o melhor

acesso marítimo à Antártica. Para além do pré--sal, boa parte do petróleo que o

Brasil importa vem de países na faixa equatorial do Atlântico (BRASIL, 2012a,

p.35).

A figura, presente no próprio LBDN, ilustra a presença do pré-sal nas águas de

jurisdição brasileira de acordo com a CNUDM.

.

Figura 12 - Espaço marítimo de jurisdição brasileira

Fonte: BRASIL, 2012a.

No que diz respeito à cooperação em defesa, nos países africanos, nota-se uma

continuidade dos projetos do governo Lula da Silva, firmados pela ABC, no mandato do

governo de Dilma Rousseff. Os países que receberam o maior envio de missões de

treinamento militar são os membros da ZOPACAS. Isso evidencia o interesse brasileiro em

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assegurar a segurança e a estabilidade da Costa Atlântica. O gráfico 2 demonstra o aumento

significativo dos projetos em defesa do Brasil na África (OLIVEIRA et al., s.d.).

Gráfico 2 - Projetos de Cooperação em defesa no continente africano

Fonte: OLIVEIRA et al, s.d.

Viu-se que a política de defesa do governo Dilma Rousseff adequou-se, da melhor

forma possível, ainda que muito desacordado, as dificuldades impostas pelo sistema

internacional. Viu-se uma continuidade da política do governo anterior, cabendo destacar a

elaboração de documentos importantíssimos para o âmbito da defesa nacional. Houve uma

preocupação maior em inserir a sociedade nas questões de defesa nacional. Os esforços em

cooperação, utilizados como estratégia de defesa, continuaram assim como o reforço da ideia

de necessidade de se proteger o entorno estratégico brasileiro.

Quanto ao que foi visto, até então, faz-se necessário uma análise crítica a configuração

da ação brasileira se levarmos em conta os aspectos do realismo neoclássico. È passível de

questionamento o estabelecimento de uma estratégia de dissuasão e cooperação como forma

de política de defesa. Por mais que os líderes atuem de acordo com seus constrangimentos

internos e externos, o principal objetivo de um Estado é garantir sua sobrevivência. Os

Estados, atores racionais no sistema internacional, para fazerem valer seus interesses devem

investir nas suas capacidades militares porque, em última instância a guerra é o cenário mais

provável num sistema anárquico. Sendo assim, seria o mais vantajoso uma postura brasileira

de investimento em cooperação e dissuasão como estratégia de defesa numa área como o

Atlântico Sul em que grandes potências visam garantir influência?

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Sabe-se que os esforços em modernização do setor militar brasileiro estão previstos

nos documentos oficiais, incluindo projetos como a construção de um submarino nuclear.

Com a retomada do crescimento do Brasil no início do século XXI, o país passou a dispor de

recursos e vontade política num projeto de reaparelhamento militar. De acordo com o Sistema

de Promoção de Investimentos e Transferência de Tecnologia para Empresas (SIPRI), entre

2001 e 2010, houve sim um aumento nos gastos militares brasileiros, principalmente em razão

das descobertas do Pré-Sal no Atlântico Sul. No entanto, encontra-se um grande vácuo entre o

discurso proferido e o que se pretende nos documentos oficiais e o que de fato está em

andamento. Será que uma potência média como o Brasil pode concretizar e defender seus

interesses no Atlântico Sul utilizando-se somente de estratégias de soft power sem a

combinação com um hard power eficiente e moderno?

Tendo em vista que o Brasil utiliza-se de mecanismos dissuasivos e cooperativos

como estratégia de defesa e de projeção internacional, sob um olhar do realismo neoclássico

faz-se importante uma análise quanto a isso. Ainda que essa corrente entenda que a

capacidade de atuação de um Estado sofre influência de limitações internas, a defesa de um

Estado está intrinsecamente ligada ao uso dos meios militares. Como fica reconhecido no

próprio LBDN:

Projeção de poder sobre terra — Tarefa básica do poder naval que abrange um

amplo espectro de atividades, que podem incluir o bombardeio naval, o bombardeio

aeronaval e operações anfíbias. Nessa tarefa também estão enquadrados os ataques a

terra com mísseis, a partir de unidades navais e aeronavais. As ações podem ter um

ou mais dos seguintes propósitos: reduzir o poder inimigo pela destruição ou

neutralização de objetivos importantes; conquistar área estratégica para a conduta da

guerra naval ou aérea, ou para propiciar o início de uma campanha terrestre; negar

ao inimigo o uso de uma área capturada; apoiar operações em terra; e salvaguardar a

vida humana ou resgatar pessoas e materiais de interesse (BRASIL, 2012a).

Por outro lado, o que se vê ao longo dos discursos e da realidade brasileira é falar de

projeção de poder através de cooperação e dissuasão. Como um país pretende se projetar

sobre uma determinada área e assegurar seus interesses regionais numa área extremamente

estratégica sem estar preparado militarmente e, inclusive, considerando a guerra uma

eventualidade? Um país que evoca a necessidade de fazer frente às ameaças potenciais ao seu

entorno estratégico, investindo em mecanismos de cooperação em defesa, precisa atentar-se

para o fato principal da premissa realista que é a necessidade de garantir sua sobrevivência

num ambiente anárquico. Portanto, sob um ponto de vista crítico, ainda que o país estabeleça

como estratégias de defesa o binômio dissuasão e cooperação, é importante um investimento

no setor militar diante da perspectiva brasileira de defesa do Atlântico Sul.

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95

4.3. Análise Comparativa das Políticas de Defesa nos governos Fernando Henrique

Cardoso, Lula da Silva e Dilma Rousseff

A palavra ‘Estratégia’ passou por um processo de transformação, dotando um

significado atual diferente da sua origem. Nascida nos campos de batalha, sendo refrente à

conduta dos chefes militares, a estratégia hoje pode ser substituída pela palavra

‘planejamento’ uma vez que trata de todos os casos de um conjunto de ações, desencadeadas

por princípios julgados como racionais, que visam o cumprimento de objetivos específicos.

(MARTINS; OLIVEIRA, 2015). Outra diferenciação daquela estratégia militar do conceito de

estratégia dos dias atuais, também chamada de Grande Estratégia, pode ser visualizada por

Lidell Hart:

Enquanto o horizonte da estratégia é limitado pela guerra, a grande estratégia olha

mais para frente, preocupando-se com os problemas da paz subseqüente. Utiliza os

instrumentos necessários à conduta da guerra e procura evitar os danos, tendo em

vista a paz, preocupando-se com a segurança e a prosperidade (HART, 1982, p.

407).

É no âmbito da Grande Estratégia que se discute questões próprias aos tempos de paz

como: a prática da dissuasão, a política de alianças e relacionamentos e o dimensionamento

dos orçamentos militares. Partindo dessa perspectiva, toda escolha ou construção de um

grande sistema de armas é produto de um complexo processo decisório o qual inclui tanto

fatores de ordem interna como as capacidades econômicas e tecnológicas como fatores de

ordem externa como a configuração do sistema internacional. (MARTINS; OLIVEIRA,

2015). Esse princípio organizador que está intrinsecamente ligado à aplicação da Grande

Estratégia é chamado de Conceito Estratégico Nacional que, segundo Golbery do Couto e

Silva pode ser definido como:

[...] a diretriz fundamental que, em dado período, deve nortear toda a estratégia da

Nação, com vistas da consecução ou salvaguardados Objetivos Nacionais a despeito

dos antagonismos que se manifestem ou possam a vir manifestar-se, tanto no campo

internacional, como até mesmo no âmbito interno do país (SILVA, 1981, p. 251).

O Conceito Estratégico Nacional, podendo ser montado por uma análise conjuntural

do sistema, percepção de ameaças e capacidade de mobilização de poder, é o responsável por

estabelecer as diretrizes para a aplicação de uma estratégia em um dado momento. Sendo

assim, essa parte do trabalho irá comparar os principais documentos de defesa nacional,

sobretudo a PDN do governo Fernando Henrique Cardoso e a END do governo Lula da Silva,

com o objetivo de analisar a mentalidade governamental brasileira sobre a defesa, procurando

identificar a existência de algum tipo de relação entre os acontecimentos no sistema

internacional somados ao aumento de relevância do Atlântico Sul e sua inclusão ao entorno

estratégico brasileiro (MARTINS; OLIVEIRA, 2015).

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A análise comparativa terá como base a PDN do governo Fernando Henrique Cardoso

e a END do governo Lula da Silva em razão da clara evolução da construção de um conceito

estratégico nacional. Com relação ao LBDN e a atualização das PND e END, publicado no

governo Dilma Rousseff, viu-se que esse documento representou um desdobramento das

ideias contidas na estratégia apresentada pelo governo Lula da Silva. Ainda que seja

importante diplomaticamente e represente uma ligação entre o Estado e a sociedade, em

termos estratégicos, os documentos seguem as premissas já alcançadas pela Estratégia

Nacional de Defesa (MARTINS; OLIVEIRA, 2015).

Pode-se dizer que tanto a PDN do governo de Fernando Henrique Cardoso como do

governo Lula da Silva apresentam estruturas semelhantes. Ambos os documentos são

parecidos no que se refere a menções quanto a pouca probabilidade de conflitos bélicos no

sistema internacional, as incertezas e a redução de cálculos probabilísticos e à caracterização

de conflitos não mais de caráter interestatal. No entanto, a PDN de 2005 acrescenta novos

subtítulos: o Estado, a segurança e a defesa, o ambiente regional e o entorno estratégico e o

Brasil (MARTINS; OLIVEIRA, 2015).

O governo Fernando Henrique Cardoso, diante de um cenário de desconstrução de

uma ideologia bipolar e da exacerbação de nacionalismo e fragmentação de Estados, entendeu

como necessário a criação de um Ministério da Defesa e a elaboração de um documento que

norteasse a política de defesa brasileira. Contudo, a preferência por temas econômicos e uma

política externa voltada por uma ‘autonomia pela integração’, por vezes, marginalizou temas

como a defesa e a segurança. Dessa forma, ainda que a PDN no seu governo tenha

representado um grande avanço para a defesa brasileira, as premissas nesse documento

dotaram um caráter vago e bastante genérico para o estabelecimento de uma estratégia de

defesa (MARTINS; OLIVEIRA, 2015).

Uma grande mudança presente na II PND é a definição de segurança e de defesa.

Entendendo a defesa como a efetividade da ação para se manter seguro e a segurança como a

condição em que o Estado e a sociedade se vê protegido pela sociedade, o documento define

os conceitos básicos para se entender numa política de defesa nacional (BRASIL, 2005).

Outra grande diferença presente no documento de 2005 é o entendimento do quadro

internacional o qual influenciou nas orientações estratégicas da PDN. A partir do

entendimento de que as relações internacionais são pautadas por um jogo de atores, interesses

e normas as quais estimulam e limitam o poder e a atuação dos Estados, as questões de

segurança e de defesa não estão somente ligadas à confrontação entre os Estados, mas as

possíveis vulnerabilidades de um país que podem ser exploradas por outro. Caracterizado por

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uma aceleração do processo de globalização e um grande avanço tecnológico, o mundo do

século XXI se encontra diante de desafios mais complexos. A crise internacional no âmbito de

segurança com o 11 de setembro, a expansão do comércio internacional e do fluxo de capitais,

a criação de blocos mais competitivos, os avanços no sistema de informação reduziram o grau

de previsibilidade nas relações internacionais (BRASIL, 2005). De acordo com a II PND:

Neste século, poderão ser intensificadas disputas por áreas marítimas, pelo domínio

aeroespacial e por fontes de água doce e de energia, cada vez mais escassas. Tais

questões poderão levar a ingerências em assuntos internos, configurando quadros de

conflito (BRASIL, 2005, s/p).

Diante disso, a II PDN, entende que a cooperação funciona como um mecanismo para

a superação das vulnerabilidades dos países porque “o aprofundamento da interdependência

dificulta a precisa delimitação dos ambientes externo e interno.” (BRASIL, 2005). Pode-se

dizer que ambos os documentos reconhecem a importância do processo de integração do

Mercosul e da consolidação das ZOPACAS. No entanto, a inclusão da América do Sul e do

Atlântico Sul no documento de 1996 está relacionada ao interesse de proteção dessas áreas já

que elas caracterizam o entorno regional brasileiro. A I PDN via a cooperação no entorno

regional como forma de viabilizar a paz. Por outro lado, a II PND e a END atribuem um

caráter estratégico à América do Sul e ao Atlântico Sul, caracterizando-os como entorno

estratégico brasileiro e não só um entorno regional. O LBDN, estabelecido no governo Dilma

Rousseff, segue a mesma linha de pensamento dos documentos elaborados no governo Lula

da Silva, estabelecendo a Amazônia e o Atlântico Sul como área de interesse vital ao país

(BRASIL, 1996; BRASIL, 2005; BRASIL, 2012a).

Isso pode ser interpretado pelo reconhecimento do Atlântico Sul como uma região

extremamente rica em recursos vivos e não-vivos. Tanto a II PND e o LBDN reconhecem a

existência de imensas camadas de petróleo e gás nessa área as quais necessitam de uma

política de defesa concreta e ativa. O LBDN, inclusive faz menção ao SisGAAz, já em curso e

com a implementação total prevista até 2024, que prevê o monitoramento e controle das

águas jurisdicionais brasileiras, proporcionando maior segurança, fiscalização e controle do

patrimônio brasileiro (BRASIL, 2012).

O reconhecimento de ameaças presentes na conjuntura atual é outro ponto que faz com

que a I PDN se diferencie dos documentos posteriores. A PDN do governo Lula da Silva

enfatiza a necessidade de fortalecer as atividades de inteligências e vigilância territorial como

forma de manutenção da segurança no espaço terrestre, aéreo e marítimo, alertando para

possibilidades não só de conflitos convencionais como não convencionais também. O Brasil

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considera, segundo a II PDN e o LBDN, o terrorismo e o crime organizado como um risco à

paz e a segurança mundiais (BRASIL, 1996; BRASIL, 2005; BRASIL, 2012a).

Compreende-se que tanto a END como o LBDN representaram uma reconfiguração na

geopolítica e na estratégia brasileira diante dos desafios impostos pelo século XXI. A END

possui uma base geopolítica sólida na medida em que determina o entorno estratégico do

Brasil, avançando para um planejamento das forças armadas nacionais quanto à defesa

nacional. Verifica-se uma Grande Estratégia que vai além das grandes bacias fluviais do

território nacional, abrangendo áreas como a Amazônia Azul. Desse modo, o documento

aponta a necessidade de uma presença naval brasileira forte que obrigaria o suposto inimigo a

uma mobilização nacional mais potente para neutralizar a presença marítima brasileira

(MARTINS; OLIVEIRA, 2015).

Segundo os documentos elaborados a partir de 2005, os setores espacial, cibernético e

nuclear são estratégicos para a Defesa do País, cabendo fortalecê-los e modernizá-los. Além

disso, a II PND e a END introduz como estratégias de defesa a cooperação e a dissuasão. Com

relação à dissuasão, isso não implica na utilização efetiva da força militar, mas na capacidade

de persuadir o outro de que o ataque ao Brasil não produziria benefícios ao precursor da ação.

Contudo, a END alerta que para dissuadir, é preciso mostrar estar pronto para o combate.

Quanto à cooperação, ele consiste num meio de prevenir conflitos e integrar as bases

indústrias de defesa dos países na região sul-americana e sul-atlântica. No quadro 1, presente

no LBDN, vê-se os diversos esforços brasileiros em cooperação na área de defesa.

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Quadro 1 - Cooperação em defesa - exercícios militares 2010/2011

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Fonte: BRASIL, 2012a.

Diante da análise apresentada, foi possível a elaboração de um quadro comparativo

onde foram trabalhadas as variáveis: Sistema Internacional, Política Externa e Política de

Defesa, Documentos Oficiais e Atlântico Sul na Política de Defesa.

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102

Quadro 2 - Comparação Política de defesa e Atlântico Sul como espaço estratégico

Governos Fernando

Henrique Cardoso Lula da Silva Dilma Rousseff

Sistema

Internacional

Nos anos 1990,

mudanças

sistêmicas,

marcadas pelo fim

de uma ordem

bipolar,

influenciaram de

forma significativa

a política externa

brasileira. Com o

fortalecimento da

hegemonia

americana, a

aceitação de novos

temas e valores

universais passa a

ser prioridade.

O início do século

XXI é caracterizado

por um sistema

multipolar, marcado

pela emergência de

países no jogo de

poder internacional.

As dificuldades da

Rodada Doha e o

atentado do 11 de

setembro cobraram

uma nova postura da

política externa

brasileira.

Diante de um canário

internacional o qual lidava

com as consequências da

crise econômica de 2008,

da relutância do G-8 em

reformar organismos

como o FMI e o Banco

Mundial e da insatisfação

de Estados com seus

regimes políticos

culminando na Primavera

Árabe, em 2011, a política

externa do governo Dilma

teve que diversificar suas

estratégias num sistema

desfavorável.

Política

Externa e

Política de

Defesa

A política externa

de Fernando

Henrique se

caracterizou por

uma “autonomia

pela integração” /

“autonomia pela

participação”. A

centralidade da

integração sul-

americana na

política externa

brasileira estava

relacionada como

uma forma de

buscar autonomia.

A busca pelo

universalismo nas

relações com os

países foi expressa

mais por um

regionalismo

(global trader).

Enquanto, buscava-

se o

estabelecimento de

uma autonomia em

relação aos Estados

Unidos, sem

A política externa de

Lula é definida como

realista, universalista

e pragmática. Esse

líder dá continuidade

às políticas

implementadas no

governo anterior,

porém se afirma de

forma mais ativa na

política externa.

Além de assumir a

liderança da região

tornando prioritários

os projetos de

integração regional,

a política externa de

Lula assumiu um

caráter de

“autonomia pela

diversificação”, ou

seja, o Brasil buscou

diversas parceiras

estratégicas no

mundo, priorizando

as relações sul-sul.

Com os Estados

Unidos, foram

mantidas as relações

A política externa do

governo Dilma seguiu as

mesmas diretrizes da

política anterior só que de

uma forma mais contida

em razão aos desafios

enfrentados no sistema

internacional. As relações

com a África foram

mantidas assim como a

priorização de uma

agenda para a integração

regional. A relação

bilateral com os Estados

Unidos foi reduzida em

razão da diversificação de

parcerias. Após uma

relutância do G-8 em

reformar as instituições

financeiras mundiais, o

Brasil passou a pensar

conjuntamente com os

países pertencentes ao

BRICS a criação de um

Banco dos BRICS.

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103

excluir as relações

bilaterais com o

mesmo, as relações

com a África foram

drasticamente

reduzidas.

vistas como

estratégicas, mas de

uma forma não-

exclusiva. Houve

extrema

aproximação com a

África.

Documentos

Oficiais

Pela primeira vez

na história, em

1996, criou-se um

documento para a

se pensar na defesa

nacional não

limitada ao setor

militar: a PDN.

Documento ainda

vago e abrangente,

mas que se revelou

um grande passo

dessa nova

orientação

estratégica. Com a

criação do

Ministério da

Defesa em 1999,

um esforço foi

dado em direção a

uma redefinição da

política de defesa

nacional

sustentável. A

atuação brasileira

em questões de

segurança

internacional, na

era Cardoso, reflete

a vontade de obter

maior prestígio e

reconhecimento da

Comunidade

Internacional.

A política de defesa

no governo Lula teve

como base os

documentos: a PDN,

reformulação da I

PDN, e a END.

Ambos buscam

reafirmar o

compromisso

brasileiro em

conduzir a resolução

de conflitos através

da diplomacia. A

END foi

importantíssima para

esclarecer sobre os

reais objetivos

brasileiros no campo

da defesa e o

planejamento das

Forças Armadas

brasileiras. Soma-se

a isso o fato de que

essa nova orientação

estratégica entende

que a estratégia

nacional de defesa é

inseparável da

estratégia nacional

de desenvolvimento.

Por fim, esses

documentos inovam

ao caracterizar a

América do Sul, o

Atlântico Sul e os

países lindeiros da

África como

pertencentes ao

entorno estratégico

brasileiro.

Representando a

continuidade dos

documentos apresentados

no governo Lula, em

2012, destaca-se o

lançamento do LBDN

conjuntamente com a

publicação do documento

PND – END como

importantes documentos

da política de defesa

nacional. Tendo como

objetivo promover a

transparência entre o

Estado e a sociedade nos

assuntos de defesa, o

LBDN reforça que o país

visualiza seu entorno

estratégico para além da

América do Sul, incluindo

as regiões do Atlântico

Sul, os países lindeiros da

África e até mesmo a

Antártica.

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104

Atlântico Sul

na Política de

Defesa

Nesse período, o

Atlântico Sul ainda

ocupava uma

posição marginal

nos assuntos da

agenda

internacional. Seria

errado afirmar que

o ele não estava

presente nas

diretrizes da defesa

nacional, entretanto

a menção de se

defender o

Atlântico Sul

ocorre pela

percepção desse

espaço no entorno

do território

brasileiro. Não

existia um interesse

político, econômico

e estratégico por

essa região para se

estabelecer uma

política de defesa

específica.

As descobertas de

petróleo offshore,

sobretudo o pré-sal

brasileiro, deram

destaque a esse

oceano até então

com um peso

relativo no cenário

global. Os

documentos de

defesa elaborados no

governo Lula

constantemente

chamam a atenção

para a necessidade

de defesa das

riquezas presentes

nessas águas. Visto

como parte do

entorno estratégico,

diversos mecanismos

no âmbito da

cooperação em

defesa iniciaram-se

no governo Lula.

A política de defesa em

direção ao Atlântico Sul

do governo Dilma

Rousseff adequou-se, da

melhor forma possível, as

dificuldades impostas pelo

sistema internacional. Os

próprios documentos de

defesa caracterizam o

Atlântico Sul como área

estratégica para o Brasil,

onde está localizado o

pré-sal além de

corresponder a uma

importante via comercial

e rota alternativa. Desse

modo, existe uma

continuidade dos projetos

do governo Lula, firmados

pela ABC, com os países

africanos assim como o

reforço da importância

das ZOPACAS para

assegurar a estabilidade

da região.

Fonte: Elaboração do autor.

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105

5. CONCLUSÃO

As percepções e as avaliações sobre a importância estratégica do Atlântico Sul vem se

alterando nos últimos anos acompanhando grandes mudanças no sistema internacional.

Tradicionalmente caracterizado por ser uma região relativamente marginalizada pela agenda

internacional, esse oceano transformou-se em um espaço no qual se projetam interesses tanto

de países regionais como de potências extrarregionais.

Diante de um enorme potencial energético, econômico e de comunicação, no final do

século XX e início do século XXI, o Atlântico Sul passa a ser visto como uma zona

estratégica. Além dos diversos conjuntos de ilhas na região as quais funcionam como forma

de projeção sobre a África, América do Sul e a África, as recentes descobertas petrolíferas

encontradas nas águas profundas que vão do Espírito Santo a Santa Catarina repercutiram

internacionalmente.

Pode-se dizer que, para o Brasil, o mar teve importante papel na história do país.

Entretanto, até a década de 1970, o Atlântico Sul era visto só como uma importante via

comercial e de comunicação. Pode-se dizer que, durante esse período, a disputas por polos de

poder em razão da Guerra Fria, encadeou uma tentativa norte-americana malsucedida de

militarizar esse espaço marítimo. A partir de então, essa região começa a captar a atenção

brasileira a qual passou a representar a ‘fronteira oriental’ do país.

O alargamento da soberania brasileira sobre o Atlântico Sul envolveu movimentos

estratégicos tanto no âmbito externo como no âmbito interno. Primeiramente, cabe mencionar

o pleito do país à ONU em alargar seu “mar territorial” para 200 milhas. Dentre algumas

iniciativas da época, destaca-se o sucesso brasileiro em promover o Atlântico Sul em uma

área de Paz e Cooperação, culminando na criação das ZOPACAS. De uma forma geral, a

década de 1980 foi caracterizada por um amplo diálogo com a África, envolvendo esforços

para a criação de uma identidade sul-americana a qual, no século seguinte, será reforçada.

Ainda que as relações com a África tenham sido reduzidas no governo de Fernando

Henrique Cardoso (1995-2002) em nome de uma opção de ‘autonomia pela integração’, a

partir do governo Lula da Silva, o Atlântico Sul ganhou extrema importância na agenda da

política externa e de defesa brasileira. Isso pode ser em parte explicado, como visto ao longo

do trabalho, pelas recentes descobertas de recursos energéticos no litoral Atlântico do país que

agregaram uma visão desse espaço como estratégico Viu-se que a expressão ‘entorno

estratégico’, abrangendo a Bacia do Atlântico Sul até a Antártica, surgiu pela primeira vez na

PND de 2005. Desde então, a política externa brasileira confere prioridade ao entorno,

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cabendo ao país traçar estratégias de cooperação bilateral e multilateral com países banhados

pelo Atlântico Sul assim como mecanismos nacionais de controle e proteção dos recursos

presentes nessas águas.

O governo Dilma Rousseff seguiu as mesmas orientações do governo Lula da Silva,

com uma postura menos ativa em razão de um contexto externo e interno adverso. O LBDN

reforça a ideia presente nos documentos anteriores de que o Atlântico Sul representa uma área

estratégica para o país onde está localizado o Pré-Sal além de corresponder como uma

importante via comercial e rota alternativa marítima. Além disso, viu-se o país utiliza-se de

da dissuasão e da cooperação como estratégias de defesa. É de se imaginar que o documento

previa a modernização das forças armadas brasileiras, mesmo destacando a posição brasileira

como um Estado pacífico.

Concluiu-se, então, que as descobertas de petróleo offshore, sobretudo o pré-sal

brasileiro, deram destaque a esse oceano até então com um peso relativo no cenário global.

Acredita-se que, diante do conteúdo todo exposto, fica evidente a gradativa inserção do

Atlântico Sul nas Políticas de Defesa brasileira graças à percepção dos líderes e dos

responsáveis pela elaboração da política externa dessa zona como estratégica. Com base nos

pressupostos do realismo neoclássico, entende-se que toda uma política de defesa voltada para

o Atlântico Sul atende as necessidades internas de proteger uma área de interesse vital ao país

tanto econômica como politicamente. A cooperação e a dissuasão como estratégias de defesa

respondem a um sistema internacional de crescentes instabilidades e emergências de países no

jogo de poder internacional, ainda que não condizentes num primeiro momento com uma

potência média que pretende projetar seu poder.

Como visto, portanto, esse estudo alcançou seu objetivo principal que era entender

como variou a percepção do Atlântico Sul como um espaço estratégico pelas políticas de

segurança e defesa brasileiras a partir da década de 1990. No decorrer da análise, ficou

comprovada a hipótese dessa pesquisa de que na medida em que as inúmeras riquezas foram

sendo descobertas nessas águas, houve uma mudança na percepção das lideranças brasileiras

de que era necessário proteger a região. No entanto, é importante lembrar que não somente o

aumento do potencial estratégico do Atlântico Sul acarretou numa mudança de percepção,

outros fatores como as novas ameaças, a presença de potências extrarregionais, a vontade de

se projetar internacionalmente fizeram com que o país se atentasse para o litoral.

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