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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC
UNIDADE ACADÊMICA DE HUMANIDADES, CIÊNCIA E
EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS
MESTRADO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS
AMANDA BELLETTINI MUNARI
MEMÓRIA E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE MORADORES DE
GAROPABA: UM ESTUDO DE CASO DA LAGOA DAS
CAPIVARAS
CRICIÚMA
2017
AMANDA BELLETTINI MUNARI
MEMÓRIA E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE MORADORES DE
GAROPABA: UM ESTUDO DE CASO DA LAGOA DAS
CAPIVARAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências Ambientais
(Mestrado/Doutorado) da Universidade do
Extremo Sul Catarinense- UNESC, como
exigência para obtenção do título de Mestre
em Ciências Ambientais.
Orientadora: Profª. Dr. Viviane Kraieski de Assunção
Co-orientador: Prof. Dr. Carlyle Torres Bezerra de Menezes
CRICIÚMA
2017
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Bibliotecária Eliziane de Lucca Alosilla – CRB 14/1101
Biblioteca Central Prof. Eurico Back - UNESC
M963m Munari, Amanda Bellettini.
Memória e percepção ambiental de moradores de
Garopaba : um estudo de caso da Lagoa das Capivaras /
Amanda Bellettini Munari ; orientadora : Viviane Kraieski
Assunção ; coorientador: Carlyle Torres Bezerra de
Menezes. – Criciúma, SC : Ed. do Autor, 2017.
133 p. : il.; 21 cm.
Dissertação (Mestrado) - Universidade do Extremo
Sul Catarinense, Programa de Pós-Graduação em Ciências
Ambientais, Criciúma, 2017.
1. Impacto ambiental – Avaliação – Capivaras, Lagoa
das (SC). 2. Urbanização – Capivaras, Lagoa das (SC).
3. Percepção ambiental. 4. Educação ambiental.
5. Ecodesenvolvimento. I. Título.
CDD. 22ª ed. 333.714
AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares que são base da minha vida, que sempre
estiveram ao meu lado, me apoiando e incentivando para alcançar este
sonho. Em especial aos meus pais, Mario e Santina e a minha irmã Tamara
que sempre caminharam ao meu lado, pelo incentivo, persistindo para que
eu seguisse em frente e me dando todo apoio, amor e carinho;
Agradeço a Marisa Hertel, que tornou-se uma segunda mãe para
mim, por todo amor e carinho dedicado, pelo apoio, pela prontidão em
todos os momentos em que precisei me acolhendo e sendo sempre esta
pessoa maravilhosa com que sempre pude contar; Agradeço seu Arthur
pelo apoio e confiança sempre.
Agradeço imensamente a família Da Soler, seu Nelson, Dona
Rosa, Kuka e Maciel por todo apoio e acolhimento de sempre.
Aos meus amigos e colegas, especialmente a Glaúcia, Renata,
Vanessa, Angelita, Diane, Flávio, Mirelle, Zeca B., Izadora, Samira, Zeza
e Cinthia que me acompanharam e me deram grande suporte para que eu
pudesse prosseguir, me ajudando nos momentos difíceis. Obrigada pelos
momentos de risadas, estudos, brincadeiras, enfim por todas as
experiências que passamos juntos que jamais esquecerei.
Agradeço também a Tia Rosi, Tio Nei, Karen, Diego e Lucas que
de uma maneira ou de outra me ajudaram e apoiaram nesta etapa.
Agradeço especialmente a minha orientadora e professora Viviane
Kraieski de Assunção, por toda sua paciência e dedicação para me ensinar
e orientar, por todo suporte para construir esta dissertação, pelo
conhecimento compartilhado, pelas oportunidades e experiências em
congressos que participei. MUITO OBRIGADA!
Agradeço ao meu professor e co-orientador Carlyle Torres Bezerra
de Menezes pelas conversas diárias, pelo suporte dado na construção
deste trabalho, pela convivência no laboratório, seus conselhos e
ensinamentos além de força para seguir na vida acadêmica.
Agradeço também ao professor Carola e Professora Fátima por
aceitarem participar da minha banca de defesa.
Agradeço a Fabi e Ali que me acolheram em meu trabalho de
campo, vocês foram maravilhosas! A minha prima Vivian por todas as
hospedagens cedidas em congressos! (rsrs)
A todo grupo de Gestão de Ambientes Alterados e Recursos
Hídricos (Profs. Carlyle, Viviane, Ledina, Yasmine, Miriam e Zeca, Gian
e Bianca) e o Núcleo Transdisciplinar de Meio Ambiente
Desenvolvimento – NMD-UFSC (em especial ao Prof. Paulo Vieria,
Mariana, Ana e Fabi) pelas experiências vivenciadas e toda troca de
conhecimento compartilhado.
Agradeço a CAPES e FAPESC pela concessão de bolsa para o
desenvolvimento da pesquisa.
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................. 11 ABSTRACT ......................................................................................... 13 1 INTRODUÇÃO .............................................................................. 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................... 19 2.1 ZONA COSTEIRA ....................................................................... 19 2.1.1 Lagoas Costeiras ....................................................................... 22 2.1.2 Principais Características das Lagoas Costeiras ................... 24 2.1.2.1 Importância Ecológica das Lagoas Costeiras ...................... 26 2.1.3 Impactos Ambientais que afetam as Lagoas Costeiras ......... 27 2.2 ECODESENVOLVIMENTO ....................................................... 30 2.3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL ........................................................ 34 2.4 PERCEPÇÃO E MEMÓRIA AMBIENTAL................................ 40 2.5 URBANIZAÇÃO .......................................................................... 48 3 METODOLOGIA .......................................................................... 55 3.1 ÁREA DE ESTUDO ..................................................................... 55 3.2 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA ........................................ 58 3.3 LEVANTAMENTO DE DADOS ................................................. 60 3.4 ANÁLISE DOS DADOS .............................................................. 61 4 A MEMÓRIA DOS MORADORES DE GAROPABA .............. 63 4.1 AS LAVADEIRAS ....................................................................... 63 4.2 A PESCA NA LAGOA ................................................................. 69 4.3 A PRESENÇA DE POPULAÇÃO INDÍGENA ........................... 71 5 A CIDADE CONTADA PELOS MORADORES ....................... 75 5.1 O PROCESSO DE OCUPAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO NO
ENTORNO DA LAGOA ...................................................................... 75 5.2 INÍCIO DO PROCESSO DE CRESCIMENTO URBANO ......... 80 6 A URBANIZAÇÃO TURISTICA NO MUNICIPIO DE
GAROPABA ........................................................................................ 89 6.1 O TURISMO E A APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO ..................... 89 6.2 PERSPECTIVAS FUTURAS PARA A LAGOA ......................... 96 6.3 CONTRIBUIÇÕES DA MEMÓRIA PARA A EDUCAÇÃO
AMBIENTAL ..................................................................................... 103 7 CONCLUSÕES ............................................................................ 109 REFERÊNCIAS ................................................................................ 115 APÊNDICE ........................................................................................ 133
RESUMO
O município de Garopaba, assim como muitos municípios da zona
costeira brasileira, teve um desenvolvimento que não conciliou o
crescimento imobiliário com a preservação dos bens de uso comuns.
Neste contexto, encontram-se disputas políticas e econômicas em
torno dos projetos de desenvolvimento local, que opõem, de um lado,
sujeitos interessados na preservação ambiental, e, de outro, sujeitos
que pretendem a implantação de grandes empreendimentos privados
no município. No ano de 1988, o projeto de construção de um
loteamento levou ao aterramento de uma lagoa localizada no centro da
cidade - a Lagoa Pequena, parte da Lagoa das Capivaras. Já a Lagoa
das Capivaras, situada ao lado da Lagoa Pequena, encontra-se
atualmente em estado de degradação devido à contaminação por
esgoto sanitário proveniente das residências do entorno, além do
descarte de resíduos sólidos. Deste modo, a pesquisa buscou, por meio
da memória e percepção dos moradores, identificar as mudanças e
transformações ocorridas no local, mais precisamente no entorno da
Lagoa das Capivaras. O estudo foi realizado por meio de uma pesquisa
de natureza qualitativa, cujo método empregado foi o estudo de caso
e a técnica de pesquisa a entrevista semiestruturada. Para o
desenvolvimento da pesquisa foram entrevistados 25 moradores, que
residem há mais de 10 anos no local. Pode-se destacar como principais
resultados, o impacto negativo a que foram submetidas as lagoas e a
percepção deste impacto do ponto de vista dos moradores mais
antigos, bem como o resgate e os efeitos do processo de urbanização
no município e a vinda do turismo para a região. Ademais, a pesquisa
torna-se ainda uma contribuição no intuito de compreender a realidade
deste ambiente e diagnosticar os efeitos causados pela poluição, a falta
de planejamento, o crescimento urbano e o turismo em massa no
ambiente costeiro. Deste modo, sugere-se que estes resultados sejam
socializados com os moradores com vistas a contribuir para a
construção de um território baseado em uma gestão integrada e
participativa promovendo um crescimento ordenado baseado no
ecodesenvolvimento, bem como colaborar com o Plano de
Recuperação de Área Degradada (PRAD), para recuperação do local
e posteriormente transformar a área em uma unidade de conservação
para os moradores do município. Por fim, contribuir com programas
de educação ambiental já existentes no município de maneira a
sensibilizar os indivíduos e estimulá-los a colaborarem e participarem
de ações que visem à recuperação do local.
Palavras-chave: Memória, Percepção Ambiental, Educação
Ambiental, Lagoas Costeiras, Urbanização.
ABSTRACT
The municipality of Garopaba, as well as many municipalities in the
Brazilian coastal zone, had a development that did not reconcile real
estate growth with the preservation of common assets. In this context,
there are political and economic disputes around local development
projects, which oppose, on one hand, subjects interested in
environmental preservation, and, on the other, subjects who intend to
implement large private enterprises in the municipality. In 1988, the
construction of a plot of land led to the grounding of a lagoon located
in the center of the city – Little Lagoon, part of Lagoon of Capivaras.
On the other hand, the Lagoa of Capivaras, located next to Little
Lagoon, is currently in a state of degradation due to the contamination
of sanitary sewage from surrounding residences, as well as the
disposal of solid waste. In this way, the research sought, through the
memory and perception of the inhabitants, to identify the changes and
transformations that occurred in the place, more precisely in the
surroundings of the Lagoon of Capivaras. 25 residents, who have been
living in the area for more than 10 years were interviewed for the
development of the research. The study was carried out through a
qualitative research, whose method was the case study and the semi -
structured interview technique. It is possible to highlight as main
results, the negative impact to which the lagoons were subjected and
the perception of this impact from the point of view of the older
residents, as well as the rescue and the effects of the process of
urbanization in the municipality and the coming of tourism to the
region. In addition, research is still a contribution in order to
understand the reality of this environment and diagnose the effects
caused by pollution, lack of planning, urban growth and mass tourism
in the coastal environment. Thus, it is suggested that these results be
socialized with the residents in order to contribute to the construction
of a territory based on an integrated and participative management
promoting an ordered growth based on ecodevelopment, as well as to
collaborate with the Degraded Area Recovery Plan (PRAD), to
recover the site and later transform the area into a conservation unit
for the residents of the municipality. Finally, to contribute with
existing environmental education programs in the municipality in
order to sensitize the individuals and encourage them to collaborate
and participate in actions aimed at the recovery of the place.
Key-words: Memory, Environmental Perception, Environmental
Education, Coastal Lagoons, Urbanization.
15
1 INTRODUÇÃO
A degradação dos ambientes costeiros, em função da ocupação
urbana desordenada e ações antrópicas sem planejamento, tem acentuado
o processo de destruição dos ecossistemas, que é agravado por sua
capacidade restrita de suportar os impactos gerados por estas atividades.
O município de Garopaba (Santa Catarina, Brasil), assim como
diversos municípios do litoral brasileiro, vem passando por um intenso
processo de ocupação desordenada, bem como destruição dos
ecossistemas devido à grande procura da população para residir na zona
costeira.
Devido a esta procura, o setor imobiliário pretendia a implantação
de empreendimentos privados no município, o que acarretou em conflitos
na região, por estes empreendimentos estarem diretamente situados na
área que engloba uma lagoa. Assim sendo, parte da Lagoa das Capivaras
– a Lagoa Pequena, como conhecida localmente – foi aterrada para a
implantação de um loteamento, que mais tarde foi embargado devido a
uma ação civil pública e hoje se encontra abandonado.
A Lagoa das Capivaras, localizada na zona central do município,
com uma área total de aproximadamente 20 hectares, além de sofrer com
as consequências do aterramento da Lagoa Pequena, vem passando por
um grave processo de degradação em virtude de estar situada em área
urbanizada entre o mar e o continente, recebendo o despejamento de
efluentes domésticos e industriais que está provocando a eutrofização da
mesma, além de ter o aterramento de suas margens, assoreamento da
bacia e supressão de sua mata ciliar (MARIANO, 2010).
O entorno da lagoa atualmente está passando por um processo de
readequação para regularização dos terrenos, processo este ainda em
tramitação no Ministério Público. No entanto, suas margens estão sendo
invadidas de forma desordenada e o local ainda continua sendo cercado
para a implantação de casas, ocasionando enorme impacto a este
ecossistema.
Este processo de urbanização se deu em razão da apropriação de
regiões do município de Garopaba como local de segunda residência. Este
processo de apropriação da praia está relacionado às transformações
urbanísticas decorrentes do crescimento e da modernização da zona costeira para classes de alto poder aquisitivo.
Na busca de alternativas para a reversão dos processos de
degradação ambiental na lagoa foi proposto um projeto, o projeto de um
Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD), resultado na
16
proposição de reparação por dano ambiental no processo de liquidação de
sentença, que comporta um conjunto de medidas que propiciará à área
degradada condições de estabelecer um equilíbrio dinâmico. Um dos
elementos que compõem o plano é a educação ambiental, na perspectiva
de trabalhar com os moradores para a restauração da área e para uso de
recreação e lazer da comunidade.
Este trabalho tem como foco a percepção e a memória ambiental
dos moradores do município de Garopaba, de modo a investigar a forma
como os sujeitos se relacionam com o meio e como compreendem os
processos de mudança ou transformação na lagoa e em seu entorno,
ocorrido ao longo dos últimos anos.
A pesquisa sobre esta temática pode subsidiar um importante
diagnóstico da situação do município em relação ao meio, avaliando o
nível de valoração dado aos diversos recursos naturais e serviços
ecossistêmicos, o processo de urbanização ocorrido no local e dar suporte
a programas de educação ambiental e ecodesenvolvimento
(MARCZWSKI, 2006).
Além disso, o estudo propõe que a investigação sobre memória e a
percepção pode ser utilizada como um instrumento de educação
ambiental, por suas relações com a territorialidade (SANTOS;
SILVEIRA, 2001), que, por sua vez, está atrelado ao processo de
identificação e ao sentimento de pertença de indivíduos ou grupos a um
determinado espaço.
O trabalho com a percepção ambiental pode ser uma ferramenta
importante no desenvolvimento de ações educativas para o ambiente. A
percepção ambiental é o meio pelo qual podemos compreender as
relações estabelecidas no ambiente vivido, nas quais as memórias
possuem um papel importante na identificação de padrões de
desenvolvimento e dos impactos ambientais ocorridos.
É por meio da memória que podemos encontrar os símbolos,
marcas, e traços deixados por um povo, reconstruindo assim os espaços
que foram transformados com o passar dos anos. Através da rememoração
dos fatos e paisagens se estabelece uma ligação com o tempo atual, tendo
então uma relação entre memória e percepção, que ajudam os indivíduos
a detectar as modificações ocorridas com o passar do tempo, e que, muitas
vezes, levaram à degradação do meio ambiente.
Este trabalho teve como objetivo compreender a percepção
ambiental de moradores de Garopaba a luz da memória, sobre os
processos de mudança e transformação da Lagoa das Capivaras.
Os objetivos específicos foram de i) reconhecer, considerando a
memória e a percepção dos moradores sobre as possíveis transformações
17
ocorridas na lagoa e seu entorno; ii) identificar, a partir da percepção dos
moradores os impactos socioambientais causados pela atividade turística
à localidade; iii) conhecer a partir dos relatos dos moradores, suas
expectativas quanto à recuperação, acessibilidade e melhoria na Lagoa
das Capivaras e seu entorno; iv) socializar os resultados da pesquisa com
a comunidade, divulgando os resultados com vistas a contribuir com o
Projeto do Plano de Recuperação da Área Degradada da Lagoa das
Capivaras.
A presente dissertação está dividida em cinco capítulos. No
primeiro capítulo é apresentado um referencial teórico mostrando os
conceitos, teorias e modelos que irão sustentar nossa argumentação a
respeito do tema;
No segundo capítulo é apresentada a metodologia, demostrando a
maneira como o trabalho foi realizado e os procedimentos que foram
necessários para se obter os resultados da pesquisa, apresentamos também
como procedeu a escolha dos informantes-chave e a respectiva coleta de
dados e a área de estudo;
No terceiro capítulo, refere-se à memória da lagoa, relatando as
atividades que eram realizadas na lagoa e sua importância como fonte de
renda e alimento para os moradores, bem como o modo de vida, o
cotidiano e as relações que os moradores mantinham com a lagoa
antigamente;
No quarto capítulo a cidade é contada do ponto de vista dos
moradores de Garopaba, seu processo histórico de urbanização e as
transformações ocorridas ao longo dos anos no entorno da Lagoa das
Capivaras;
No quinto capítulo refere-se a urbanização turística do município
de Garopaba, expondo o processo de apropriação do espaço pela indústria
turística e o setor imobiliário. Traz também as perspectivas dos moradores
para o futuro da lagoa, bem como suas percepções e opiniões a respeito
da degradação do local.
19
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico abrange a bibliografia publicada em relação
aos temas em estudo, permitindo ao investigador a cobertura de uma gama
de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar
diretamente (MARCONI; LAKATOS, 2010; GIL, 1994).
Posteriormente será descrita a fundamentação teórica que dará
suporte ao trabalho, abordando os conceitos como: Zona Costeira, Lagoas
Costeiras, Educação Ambiental, Percepção e Memória Ambiental,
Urbanização, Ecodesenvolvimento e demais fundamentos teóricos que
ajudarão o pesquisador se tornar um observador participante do processo
de conhecimento e interpretar os fenômenos, atribuindo-lhes um
significado.
2.1 ZONA COSTEIRA
O Brasil possui 7.367 km de linha costeira, segundo o
Macrodiagnóstico da Zona Costeira na escala da União (MMA, 2015).
Considerando os recortes litorâneos (baías e reentrâncias), essa extensão
amplia significativamente, elevando-a a mais de 8.500 km voltados para
o Oceano Atlântico (NOGUEIRA, 2006).
A zona costeira pode ser definida como uma faixa de terra seca e
o espaço oceânico adjacente, na qual a parte terrestre e seus usos afetam
diretamente a ecologia do espaço oceânico e vice-versa. Portanto, a zona
costeira é considerada uma faixa de largura variável que bordeia os
continentes, ou seja, um sistema ambiental formado na área de interação
direta entre componentes de geosfera (continente), hidrosfera (oceano) e
atmosfera (POLETTE, 1999).
Segundo o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, zona
costeira é considerada:
[...] O espaço geográfico de interação do ar, do mar
e da terra, incluindo seus recursos renováveis ou
não, abrangendo uma faixa marítima e outra
terrestre [...] (PNGC, 1997).
Para um melhor entendimento, inserem-se os conceitos de Faixa
Marítima e Faixa Terrestre (PNGC, 1997):
Faixa Marítima - é a faixa que se estende mar afora distando
12 milhas marítimas das Linhas de Base estabelecidas de
20
acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito
do Mar, compreendendo a totalidade do Mar Territorial.
Faixa Terrestre - é a faixa do continente formada pelos
municípios que sofrem influência direta dos fenômenos
ocorrentes na Zona Costeira.
A Constituição Federal Brasileira, no parágrafo 4º, do art. 225,
define a zona costeira como “patrimônio nacional” e ainda especifica que
“sua utilização far-se-á, na forma de lei, dentro das condições que
assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos
recursos naturais” (PNGC, 1997).
Tem-se com o PNGC II a delimitação terrestre da zona costeira
definida por limites político-administrativos. Com isso pode-se resumir
que a zona costeira do Brasil é oficialmente constituída pelo mar
territorial e pelo conjunto dos territórios dos municípios que integram o
espaço de atuação do Plano (MMA, 2006).
A zona costeira brasileira possui uma importância estratégica, que
pode ser evidenciada em vários aspectos, por abrigar um mosaico de
ecossistemas de alta relevância ambiental que abriga enorme
biodiversidade, marcada pela transição de ambientes terrestres e marinhos
com interferências econômicas conflitantes e associadas a uma
desordenada expansão urbana que acabam por fragilizar seu sistema
(BRASIL, 2015).
Não é somente na zona costeira que se situam os problemas. Existe
uma conexão direta e indireta tanto com o ambiente marinho quanto com
a área continental, sendo que qualquer atividade desenvolvida no
ambiente marinho interfere na ocupação dos espaços costeiros e
continentais, pois é esta região de transição –zona costeira- que
desempenha papel importante de ligação e trocas genéticas entre os
ecossistemas terrestres e marinhos, classificado como ambiente
complexo, diversificado e de extrema importância para sustentação da
vida do mar (MARIANO, 2010).
Por sua vez, são as diversas atividades econômicas na porção do
continente que são dependentes e afetam diretamente esse ecossistema.
Um exemplo seria o turismo, que gera grande fluxo sazonal de indivíduos
e de capital na alta temporada, causando impactos significativos,
principalmente o descarte de efluentes e resíduos sólidos (BRASIL,
2015).
Tendo em vista esta problemática, os ambientes costeiros se
transformaram em um dos principais focos de atenção no que diz respeito
à conservação ambiental e manutenção da biodiversidade.
21
O litoral do Estado de Santa Catarina apresenta uma variedade
relativamente grande de coberturas vegetais, caracterizadas por uma rica
formação e grande diversidade de ecossistemas, dentre os quais se
destacam: florestas ombrófilas densas e aluviais; banhados; dunas;
costões; restingas herbáceas, arbustivas e arbóreas e, lagoas pertencentes
ao maior complexo lagunas costeiro do mundo. Do ponto de vista
geológico e hidrológico, esta porção costeira constitui um importante
aquífero para onde fluem as águas que se infiltram nas encostas do
planalto serrano e se deslocam para o mar (MARIANO, 2010;
GUADAGNIN, 1999).
A mesma é caracterizada por compreender um faixa de 8.698 km
de extensão e largura variável, completando um conjunto de ecossistemas
contíguos sobre a área de aproximadamente 388.000 km2. Abrange uma
parte terrestre, com um conjunto de municípios selecionados segundo
critérios específicos, e uma área marinha, que corresponde ao mar
territorial brasileiro, com largura de 12 milhas náuticas a partir da linha
de costa (PROJETO ORLA, 2006).
A zona costeira de Santa Catarina tem uma superfície de 9.250
km2. A população litorânea é de cerca de 1.600.000 habitantes, com
elevada densidade demográfica (cerca de 170 hab-km2). Na parte norte
do Estado, as planícies litorâneas são estreitas, conformando baías ou
estuários e delimitadas por promontórios rochosos em basamentos de
estilos complexos. Na parte sul, principalmente a partir do Cabo de Santa
Marta, as planícies são alargadas, com faixa praial retificada e
acumulações de dunas e ambientes lacustres. Destaca-se também, entre
as feições da paisagem, a Ilha de Santa Catarina, como um importante
divisor climático e fitogeográfico (MARIANO, 2010; GUADAGNIN,
1999).
O Decreto Estadual no. 5.010, de 22 de dezembro de 2006 que
regulamenta a Lei no 13.553, de 16 de novembro de 2005, que institui o
Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro, definiu a Zona Costeira do
Estado de Santa Catarina como o espaço geográfico constituído: na faixa
terrestre, pelo conjunto de territórios dos municípios que confrontam com
o mar ou com as grandes lagoas costeiras, ou abrigam ecossistemas
costeiros relevantes e atividades socioeconômicas características da Zona
Costeira (PNGC, 1997).
Detalhadamente, no Litoral Centro Sul situa-se o maior complexo
lagunar Catarinense. O Farol de Santa Marta, localizado no município de
Laguna, é marco geográfico delimitador da linha de costa no litoral
catarinense e, também, o limite austral de espécies de mangue no litoral
brasileiro.
22
Na zona costeira do setor sul do Estado, a paisagem é formada por
uma grande planície cortada por rios, com presença de lagoas costeiras
paralelas à linha de costa. Mas a preocupação catarinense com este
quadrante se refere, em especial, aos poluentes de rejeitos do carvão que
comprometem o complexo hidrográfico, auxiliados pela rizicultura e pelo
descarte de efluentes domésticos (CASTILHOS; TREMEL, 2008).
Segundo a Agenda 21 (1992), mais da metade da população
mundial vivia em um raio de sessenta quilômetros do litoral. Face o tempo
decorrido, este número cresceu gradativamente, e atualmente se têm uma
quarto da população brasileira habitando a faixa costeira,
aproximadamente 36,5 milhões de pessoas, residentes em 500
municípios. Assim sendo, no Brasil, as atividades econômicas costeiras
são responsáveis por cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB)
nacional, principalmente devido à existência de portos nos quais é
realizada grande parte da atividade econômica exportadora brasileira.
A maioria das metrópoles encontra-se a beira-mar, no entanto a
faixa litorânea é composta desde grandes cidades até pequenos
municípios poucos desenvolvidos, inclusive locais que nem são
considerados municípios, mas simples vilas e, através disto pode-se notar
facilmente a importância da área costeira e a vulnerabilidade às intensas
atividades humanas vinculadas a elas.
O turismo, por exemplo, é uma das atividades mais importantes
das diversas cidades costeiras, principalmente as pequenas, que têm nele
a principal atividade econômica, inclusive com reflexos imobiliários
negativos: a expansão dos loteamentos e a crescente demanda de áreas
disponíveis favorecem o surgimento de construções irregulares, muitas
vezes realizadas sem a devida autorização do Poder Público.
A crescente exploração dos recursos marinhos sem o devido
cuidado pode levar a graves danos ambientais, com consequente prejuízo
a qualidade de vida humana, e ainda sendo que o litoral é um espaço raro
e frágil, a vida dos animais que dependem deste habitat estaria
completamente ameaçada (FREITAS, 2004).
2.1.1 Lagoas Costeiras
As lagoas costeiras são corpos d’ água localizados dentro do território continental, encontrados em todos os continentes, normalmente
orientados paralelamente à linha da costa, separados do oceano por uma
barreira ou conectados a este por um ou mais canais ou pequenas baías
que permanecem abertos, pelo menos intermitentemente, e que possuem
profundidade que raramente ultrapassam poucos metros.
23
Existem diversas formas de corpos hídricos, porém cada um
apresenta características peculiares e importantes em torno de seus usos.
Os rios são muito utilizados para abastecimento público, transporte, pesca
como atividades de subsistências em muitas regiões do mundo.
Os lagos e as lagoas também apresentam sua importância diante de
seus usos. Muitas comunidades utilizam-se dos mesmos para uso
doméstico, criação de animais, cultivo, pesca, lazer e pela sua própria
função natural como o controle de inundações, reservatório de água
salobra e drenagem. Além disso, proporcionam a manutenção do lençol
freático, contribuindo, também, para a estabilidade do clima no local,
sendo fundamental à produtividade biológica, mantendo a biodiversidade
inerente ao ambiente em estudo (NASCIMENTO, 2010; ASSIS, 2013).
Porém, a cada dia, esses corpos hídricos têm sido impactados por
estas atividades antrópicas. Na maioria das vezes, são nas regiões
metropolitanas que rios, lagos e lagoas são aterrados com resíduos sólidos
e contaminados intensamente por efluentes líquidos (industriais e
domésticos). Por vezes, suas margens são invadidas por habitações sem
nenhuma infra-estrutura de saneamento, logo os dejetos produzidos são
despejados no leito destes corpos, ocasionando diversas formas de
degradação ambiental (NASCIMENTO, 2010).
As lagoas costeiras são responsáveis pela sobrevivência de muitas
espécies aquáticas, como também para o desenvolvimento da fauna e
flora que fazem parte de todo o ecossistema ali presente. Existem diversas
formas de lagoas em nosso país, algumas são abertas para o oceano e por
isso são lagoas com características de águas salobras, outras são corpos
fechados que mesmo sendo costeiras, são de água doce, sendo assim, este
recurso hídrico pode ou não estar sujeito ao regime de marés, e a
salinidade pode variar da água doce até uma condição hipersalina,
dependendo do balanço hidrológico (NASCIMENTO, 2010; ASSIS,
2013).
A maioria das lagoas costeiras formou-se como resultado da
elevação do nível dos oceanos, especialmente durante o Holoceno (época
mais recente do período Cenozoico), e pela construção de barreiras
costeiras por processos marinhos (LEAL, 2002).
A formação e manutenção das lagoas são resultado de um
equilíbrio entre a chegada de sedimentos para a construção da
barreira/restinga, e a ação das ondas que irão retrabalhar estes sedimentos.
A qualidade de suas águas é resultado da hidrodinâmica, ou seja, da
circulação dessas águas, dos processos de dispersão dos sais e sólidos em
suspensão e do tempo de residência. E todos esses fatores estão ligados à
combinação entre a descarga fluvial, ação dos ventos, precipitação /
24
evaporação e processos dinâmicos da zona costeira como ondas e marés
(LEAL, 2002).
Estes ecossistemas ocorrem ao longo de toda a costa brasileira,
sendo um dos conjuntos de ecossistemas aquáticos continentais mais
representativos do país. Em Santa Catarina existem inúmeras lagoas
costeiras, que possuem grande importância econômica, na produção de
pescado e social, como área de lazer para a população. A distribuição dos
sistemas lagunares no Estado compreende um conjunto de 47 lagunas e
lagoas costeiras, ocupando uma área de 342,69 km2 (MARIANO, 2010).
2.1.2 Principais Características das Lagoas Costeiras
A definição de lagoa passa por vários fatores que ajudam na
caracterização e conhecimento destes mananciais. Vários autores
estudam este ecossistema tão necessário para o desenvolvimento de
muitas espécies. O Brasil é um país que apresenta uma grande quantidade
de lagoas costeiras de diversas naturezas, sejam elas diretamente ligadas
ao mar ou não (NASCIMENTO, 2010).
As lagoas costeiras comumente sofrem forte ação de descargas de
rios, ventos, marés, precipitação, evaporação, aquecimento superficial e
respondem de forma diferenciada a estas forçantes. A compreensão
acerca das dinâmicas físicas, químicas, geológicas e ecológicas das lagoas
são importantes no planejamento e implementação de estratégias de
gerenciamento nas lagoas costeiras (PADILHA, 2001).
As mesmas são ecossistemas que podem ter diversas formas,
podendo ser quanto ao grau de salinidade, tamanho e forma, níveis de
matéria orgânica dissolvida (coloração da água) e processos de formação
(MARIANO, 2010).
Esteves 1998 (p. 27) descreve a origem, classificação pela
coloração e salinidade das lagoas:
Formação por processos geomorfológicos, ou seja, aqueles
relacionados com os processos de erosão e de sedimentação
que isolaram antigas baías marinhas, originando lagunas com
águas salobras e claras.
Formação a partir dos processos de sedimentação de uma foz
do rio, originando lagos costeiros com águas doces ou
levemente salobras.
Formação por origem mista, que podem ser de dois tipos: (i)
lagos formados por associação entre isolamento de baías
25
marinhas e a foz do rio, quando esta última em destaque; e (ii)
lagos formados por associação entre assoreamento da foz de
rio e o aporte de água do lençol freático.
Dependendo da coloração que apresentam, as lagoas costeiras
podem ser classificadas em:
Lagoas costeiras de águas claras – são na maioria dos casos
lagunas, cujas águas provêm do oceano e/ou de rios. Em
muitos casos, as águas claras resultam de aporte fluvial que
drena terrenos que fornecem poucos elementos particulados
ou componentes solúveis para a solução;
Lagoas costeiras de águas escuras – têm suas águas
originadas, principalmente, do lençol freático de áreas
arenosas, ou de rios cujas bacias de drenagem percorrem
terrenos arenosos, como aqueles típicos de restinga.
Kjerfve 2008 (p. 28) usa o grau de troca d’água entre a lagoa e o
oceano para dividir as mesmas em sufocadas, restritas e vazadas:
Lagoas sufocadas – apresentam uma série conectada de
células elípticas, só um canal de comunicação longo e estreito
com o mar, possuem pouca influência da maré no seu interior
e um longo tempo de residência da água em seu interior. O
canal de comunicação pode ser permanente ou temporário.
Nestas lagoas os ventos são muito importantes para promover
a circulação e mistura das águas.
Lagoas restritas – apresentam dois ou mais canais de
comunicação com o oceano; possuem circulação da água
dominada pela maré; as águas são bem misturadas e o tempo
de residência é menor.
Lagoas vazadas – apresentam vários canais de comunicação;
as marés são mais fortes que as ondas, e a salinidade é
comparável à do oceano adjacente.
Em relação ao fitoplâncton (algas) que habitam as lagoas, seu
estudo é importante, por formarem grupos que respondem prontamente
às mudanças que ocorrem no ambiente, funcionando como indicadores
ecológicos e auxiliando no entendimento das interações existentes entre
os processos físicos, num extremo, e as respostas biológicas, no outro.
26
Estes, por sua vez, caracterizam e influenciam a concentração de
nutrientes, penetração da luz, temperatura e pH da água (ESTEVES,
1998).
Um aumento da concentração de nutrientes, especialmente fósforo
e nitrogênio, nos ecossistemas aquáticos, que tem como consequência o
aumento de suas produtividades, é denominado de eutrofização. Como
decorrência deste processo, o ecossistema aquático passa da condição de
oligotrófico e mesotrófico para eutrófico ou mesmo hipereutrófico
(PADILHA, 2001).
Assim sendo, a eutrofização pode ser natural ou artificial. Quando
é natural, é um processo lento e continuo que resulta do aporte de
nutrientes trazidos pelas chuvas e pelas águas superficiais que erodem e
lavam a superfície terrestre.
Segundo Padilha (2001, p. 53), [...] “a eutrofização natural
corresponde ao que poderia ser chamado de “envelhecimento natural” da
lagoa”.
Quando ocorre artificialmente, a eutrofização é induzida pelos
seres humanos, e denominada de artificial ou antrópica. Um dos aspectos
mais característicos do fenômeno de eutrofização das lagoas e
reservatórios é o crescimento exagerado de organismos aquáticos
autotróficos, particularmente algas planctônicas e macrófitas aquáticas. O
crescimento acentuado de fitoplâncton provoca várias complicações
quanto ao uso da água para abastecimento ou para outros fins (PADILHA,
2001).
Outro fator importante a ser considerado sobre as lagoas, é a
vegetação existente, a qual exerce influência em sua dinâmica, bem como
nos processos costeiros neste ecossistema, ou seja, o equilíbrio entre o
ambiente terrestre e aquático, que estão intimamente relacionados como,
por exemplo, o risco de enchentes e os custos com obras de drenagem
(VILAR, 2012).
2.1.2.1 Importância Ecológica das Lagoas Costeiras
A zona costeira brasileira é uma unidade territorial definida por
legislação para efeitos de gestão ambiental. A mesma mantém um forte
contato com outros dois biomas de elevada biodiversidade, o Amazônico com grande sobreposição territorial, e o da Mata Atlântica.
Esta é uma região de transição ecológica que desempenha
importante função de ligação e trocas genéticas entre os ecossistemas
terrestres e marinhos. Fato este que a classifica como ambiente complexo,
diversificado e de extrema importância para a sustentação da vida no mar
27
propiciando abrigo, suporte, reprodução e alimentação inicial, tornando o
ambiente espaço de atenção especial em relação à conservação ambiental
e manutenção de sua biodiversidade.
A zona costeira ainda é responsável por ampla gama de funções
ecológicas como a preservação de inundações, da intrusão salina e da
erosão costeira, a proteção contra tempestades, a reciclagem de nutrientes
e de substâncias poluidoras, e a provisão direta ou indireta de habitats e
de recursos para uma variedade de espécies exploradas (BRASIL, 2015).
As lagoas costeiras são de fundamental importância, tendo em
vista a sua rica biodiversidade, a fauna variada de espécies aquáticas e
terrestres associadas, além de possuir grande importância econômica,
social e turística para diversos municípios (LANZER, 2005).
A biodiversidade existente nas lagoas costeiras exerce papel
fundamental na maior parte desses mecanismos reguladores, contribuindo
para a caracterização do conjunto da zona costeira como um recurso
finito, resultante de um sistema complexo e sensível, abrigando uma
extraordinária inter-relação de processos e pressões entre o ambiente
marinho, terrestre e de água doce, constituindo ambiente de grande
produtividade.
Esta inter-relação propicia a interação direta ou indireta com o mar,
através dos aportes de água doce e do balanço hidrológico de precipitação
e evaporação. Em geral, exibem gradientes longitudinais e temporais de
salinidade, podendo ocorrer comunidades características de água doces,
como de águas salobras e de águas marinhas. Além disto, contribuem
significantemente para a manutenção do lençol freático e para
estabilidade climática do local (SANTOS, 2008).
Tendo em vista que os seres humanos utilizam este sistema
aquático como serviço de lazer e controle de inundações, por exemplo, e
retiram seus componentes como sal, pescado, etc., o ambiente pode ficar
fragilizado, sendo necessário um programa de gestão, com uma demanda
de capacitação e mobilização dos atores envolvidos, através de
intervenções integradas, redirecionadas às políticas públicas ambientais
da região (LANZER, 2005).
2.1.3 Impactos Ambientais que afetam as Lagoas Costeiras
A contínua interferência das atividades humanas nos sistemas
aquáticos continentais do Brasil produziram impactos ambientais diretos
ou indiretos, com consequências para a qualidade da água, a biota e o
funcionamento de lagoas, rios e represas.
28
De acordo com a resolução CONAMA nº001/86, art 1°, impacto
ambiental é considerado como toda alteração das propriedades físicas,
químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de
matéria ou energia resultante das atividades humanas, que direta ou
indiretamente afetam a saúde, o bem-estar da população e a qualidade do
meio ambiente (BRASIL, 1986).
O meio costeiro é considerado frágil e susceptível a qualquer tipo
de impacto. As áreas frágeis possuem particular sensibilidade aos
impactos ambientais diversos, baixa resistência e pouca capacidade de
recuperação. A necessidade de preservação das áreas litorâneas reside no
fato de que a sua fragilidade ambiental é muito alta, e qualquer distúrbio,
principalmente de natureza antrópica, tende a causar efeitos
extremamente negativos ao meio (MARIANO, 2010).
Dentre os diferentes tipos de corpos d’água, as lagoas costeiras
sofrem grande impacto ambiental, por estarem situadas em área
urbanizada entre o mar e o continente, recebendo os resíduos produzidos
pelas atividades humanas realizadas em seu entorno.
A expansão da ocupação urbana leva à diminuição da sua área
original, dos canais de escoamento de água pluvial e, para piorar, em
alguns casos, ainda há o lançamento, em suas águas, de efluentes
domésticos e industriais sem tratamento (LIMA, 2014).
O lançamento destes efluentes pode provocar a eutrofização da
lagoa, que seria o enriquecimento das águas com os nutrientes necessários
ao crescimento da vida vegetal aquática, reduzindo seu tempo de vida.
No caso da Lagoa das Capivaras, objeto de estudo desta pesquisa,
encontra-se situada ao centro do município de Garopaba, possui uma área
total de aproximadamente 20 hectares, com a lâmina d’água
correspondendo a aproximadamente 12 hectares, com parte da área em
estado adiantado de eutrofização. A extensão é de 200 m de comprimento
por 184 m de largura, e profundidade variando de aproximadamente 2 a
5 metros, dependendo do processo de assoreamento ocorrido sobre os
vários pontos da lagoa (MARIANO, 2010).
Conforme os níveis de matéria orgânica na água, a Lagoa das
Capivaras pode ser classificada como uma lagoa costeira de águas
escuras, que são caracterizadas por suas águas terem origem,
principalmente, do lençol freático de áreas arenosas, rios cujas bacias de
drenagem percorrem terrenos arenosos (MARIANO, 2010; ESTEVES,
1998).
Assim sendo, a ocupação urbana desordenada na área próxima à
lagoa tem causado séria degradação de seu ecossistema. Entre os
principais impactos em que a Lagoa das Capivaras está submetida,
29
destacam-se: aterro das margens, assoreamento da bacia, supressão da
mata ciliar e principalmente o lançamento de efluentes domésticos sem
tratamento (MENEZES; DAMÁZIO, 2005).
O controle da entrada de efluentes domésticos lançados
diretamente na Lagoa das Capivaras é uma das alternativas com vistas à
recuperação e preservação da Lagoa, mas exige novas posturas na gestão
de políticas, já que a questão do saneamento vem sendo negligenciada há
muito tempo, como instrumento de planejamento público (MARIANO,
2010).
Quanto às alterações urbanísticas sobre a zona costeira, desponta
como um processo altamente impactante no ordenamento territorial
ambiental, acarretando retrocessos na conservação ambiental,
despertando para a necessidade de incorporação de novas concepções ao
planejamento e gestão do espaço costeiro pautados em instrumentos
legais existentes (CORRÊA; FONTENELLE, 2010).
Segundo Andrade (2008, p. 35),
A corrida aos espaços costeiros trouxe como
consequência forte concentração de usos e intensa
ocupação humana, com significativa pressão sobre
os recursos naturais que promovem a ocorrência de
interesses socioespaciais divergentes e
conflituosos entre os diversos agentes produtores e
consumidores desses espaços.
Estes impactos geram grande degradação ambiental no sistema
lacruste, que se refere à perda ou deterioração do ambiente natural para
uso presente e futuro. A degradação no ambiente lacruste é cada vez mais
perceptível ao fazer paralelo com crescimento das cidades, pois os
ecossistemas aquáticos fazem parte do desenvolvimento das atividades
humanas.
Segundo o Decreto Federal nº 97.632/89, em seu art. 2° são
considerados como degradação “os processos resultantes dos danos ao
meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas
propriedades tais como: a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos
ambientais”, consequente da ação antrópica (BRASIL, 1989).
As lagoas localizadas em sede urbana sofrem ainda com o alto
valor imobiliário e comercial, que levam ao aterramento das margens até
sua totalidade para a construção de edificações, retirada da vegetação
nativa, canalização de riachos que outrora alimentavam as lagoas. O
abandono por parte de órgãos públicos, sem nenhuma fiscalização ou
30
projetos direcionados a esses ambientes, cada vez mais tem agravado a
situação do ecossistema (ROCHA, 2013).
A consolidação do mercado imobiliário, no litoral, e a
superconcentração de atividades econômicas, exigem um novo
planejamento deste espaço. O mesmo passou a ser entendido como –
espaço mercadoria - e como mercadoria produtiva (LIMA, 2014). Leva-
se em consideração essa nova dinâmica de apropriação territorial
justificada pelos elementos econômicos e culturais da sociedade. O valor
do espaço costeiro faz-se proporcional a possibilidades futuras de uso e à
capacidade de gerar valores de usos, renda e lucro. Assim sendo, o valor
das zonas costeiras é fator fundamental para a determinação das prováveis
usos que estes espaços terão (ANDRADE, 2008).
Hoje o turismo representa uma das principais fontes de renda para
a maioria dos municípios litorâneos, contudo é uma atividade que afeta
as populações de várias formas, gerando usos conflitivos. Tal fato é
agravado durante os meses de férias ou feriados, quando milhares de
pessoas passam a compartilhar de um espaço por vezes limitado.
Segundo Câmara (2001), a população de grandes centros urbanos
adere a uma segunda residência, adotando-a para veraneio/finais de
semana, o que pode ser observado no litoral catarinense, inclusive em
relação a cidades de pequeno e médio porte.
Assim, o abandono da agricultura e o declínio da pesca, bem como
hábitos, costumes e áreas que se desenvolviam que caracterizaram o
litoral podem desaparecer caso este processo de ocupação não seja
planejado, pois estes locais estão sendo apropriados e destinados para o
turismo e atividades do setor imobiliário, como a construção de hotéis,
resorts, pousada e loteamentos.
Para controlar este crescimento, é necessário mudar o enfoque do
desenvolvimento capitalista, de modo a levar em conta todos os seus
efeitos. O crescimento econômico e o meio ambiente estão em
contradição e os limites dos recursos naturais e sua importância ecológica
estão em situação de descaso pela sociedade (CAMARA, 2001).
2.2 ECODESENVOLVIMENTO
A cada dia o nível de informação e conscientização a respeito dos recursos naturais, bem como do meio ambiente no que se refere ao modo
de produção e equilíbrio ecológico vem em encontro à necessidade de um
planejamento local e global de sua utilização, sendo este imprescindível
para que a sociedade alcance um padrão de ecodesenvolvimento.
31
O ecodesenvolvimento, segundo Sachs (1986), é um estilo de
desenvolvimento que pode ser aplicado a projetos tanto em áreas rurais,
bem como em áreas urbanas, como é o caso deste trabalho. Ele é oposto
ao modelo de desenvolvimento hegemônico de países designados como
sub e desenvolvidos, que buscam por uma satisfação de suas necessidades
e promovem a autonomia da população.
Ainda, constitui um planejamento participativo de estratégias
múltiplas de intervenção, sendo adaptadas aos contextos socioculturais e
aos ambientes singulares. Deste modo, pode-se dizer que o
ecodesenvolvimento é uma alternativa de desenvolvimento, propondo a
substituição da meta de maximização da produção capitalista pelo bem-
estar da população, numa perspectiva de harmonia da relação sociedade-
natureza (SACHS, 1986).
O termo “ecodesenvolvimento” foi citado por Maurice Strong pela
primeira vez, na Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente
promovida pela ONU em Estocolmo, no ano de 1972. Posteriormente foi
amplamente difundido por Ignacy Sachs, a partir de 1974 (FILHO, 1993).
Estudioso mundialmente conhecido por suas obras e participações
em eventos sobre o desenvolvimento socioeconômico e questões
ecológicas, Sachs é considerado o propagador do conceito de
Ecodesenvolvimento, defendendo o crescimento econômico dentro do
contexto do desenvolvimento social e proteção ao meio ambiente. A tese
propagada por Sachs é de um contexto novo ao desenvolvimento, com
um modelo no qual os aspectos econômicos não deveriam estar
desvinculados das questões e problemas que permeiam os aspectos
sociais e ambientais das cidades (OLIVEIRA; MONTEIRO, 2015).
A questão ética se faz presente nesse contexto e aborda um
desenvolvimento que seja voltado para as verdadeiras necessidades
vivenciadas pela sociedade, no que tange a uma melhor qualidade de vida
e a preservação do meio ambiente como tarefa e dever social para as
futuras gerações (OLIVEIRA; MONTEIRO, 2015).
De acordo com Sachs (1986), o ecodesenvolvimento considera
cinco dimensões da sustentabilidade, sendo elas, a sustentabilidade
social, sendo esta um processo de desenvolvimento civilizatório, baseado
em uma maior equidade na distribuição dos recursos, tendo a população
direitos e condições amplas, diminuindo a distância existente entre os
padrões das classes sociais; a sustentabilidade econômica, que consiste
em um melhoramento na distribuição dos recursos, bem como em uma
melhor gestão dos mesmos, tendo-se um fluxo uniforme dos
investimentos, além de reduzir os custos através das decisões tomadas
pelas próprias comunidades, na perspectiva de uma autonomia nas
32
escolhas e decisões; a sustentabilidade ecológica refina a capacidade dos
recursos naturais, abalizando ao recursos não renováveis, diminuindo a
massa de poluição, induzindo a autolimitação do consumo exacerbado de
matéria pela sociedade de alto poder aquisitivo, promove a pesquisa para
resolução dos passivos ambientais existentes, bem como tecnologias
limpas e normas para que se acha adequação ambiental; sustentabilidade espacial, que é direcionada para o contexto rural-urbano, baseando-se
principalmente nas questões de aglomeração em excesso nas áreas
urbanas, processos de colonização desorganizados, industrialização
convergida, formação de empregos na área rural não agrícolas e criação
de redes de reservas naturais para proteger os ecossistemas;
sustentabilidade cultural, que inclui as raízes do modelo de modernização
e dos sistemas rurais integrados de produção, na perspectiva de manter as
tradições culturais, e a multiplicidade de soluções peculiares.
Sendo assim, o ecodesenvolvimento mostra-se como um novo
meio de desenvolvimento do território, que não têm suas atenções ligadas
extrema e exclusivamente para o desenvolvimento econômico, pois busca
também uma concepção social e ambiental, bem como uma participação
comunitária para o planejamento das ações para o desenvolvimento,
evidenciando ainda mais as potencialidades de cada região e seu
fortalecimento (CARVALHO; VIANNA, 1998).
Ao tratar deste modelo de desenvolvimento, tem-se uma visão de
sustentabilidade, deixando nítida a necessidade de uma visão holística dos
problemas enfrentados pela população, de modo a se ter uma percepção
maior da crise vivenciada, ou seja, dar atenção a todos os aspectos e não
se deter somente a gestão dos recursos naturais. É preciso perceber,
sensibilizar e construir uma consciência ecológica para poder pensar em
algo muito mais complexo, visando uma rigorosa mudança do modelo
civilizatório atual.
Dentre as condições necessárias para que o conceito venha a ser
operante, ressalta-se a importância do vasto conhecimento das culturas e
dos ecossistemas, principalmente no que diz respeito ao relacionamento
da sociedade com o meio ambiente e a maneira como encaram os dilemas
cotidianos, e o planejamento das estratégias envolvendo a população
tendo em vista que estes são os maiores conhecedores da realidade local.
O nível de consciência ecológica é dependente de variáveis
econômicas, culturais e sociais dos diversos grupos sociais, bem como os
conflitos de interesse dos distintos atores envolvidos (setor público,
privado, organismo social). Partindo deste pressuposto, a linha de ação
segue por enfatizar a minimização da poluição, a gestão dos riscos
33
globais, a internalização de externalidades, o desenvolvimento científico
e tecnológico e o acesso à informação (VIEIRA, 2016).
Contudo, a implementação e a garantia de sucesso de uma política
de recursos naturais e meio ambiente a nível local e global passa pelo
poder público e pela criação e manutenção de espaços destinados à
mobilização do potencial de todos os seguimentos, tanto o poder público
quanto a própria população. É preciso considerar que a implementação de
políticas deve considerar também as singularidades de todo contexto
socioeconômico, cultural e ecológico de cada local (VIEIRA, 2013).
Para Santos, acabamos por adotar conceitos que não cabem em
nossa realidade, modelos que praticamos para tentar solucionar nossos
problemas, derivadas de outros contextos, lugares e situações. Nesta
perspectiva, reforça-se a ideia de que é preciso considerar as
características locais e através de sua população residente propor
alternativas para a problemática existente (SANTOS; MENESES, 2010).
Novos arranjos institucionais descentralizados voltados para a atividade
governamental local e territorial, da igualdade na busca de cooperação
entre a população local e diferenciados campos de regulação e da gestão
do patrimônio de recursos existentes, bem como os meios naturais passa
a ser uma resposta em termos de reorganização socioeconômica,
sociocultural e político-institucional de gestão do território (VIEIRA,
2013).
Sendo assim, o ecodesenvolvimento é uma forma de
desenvolvimento que, em cada região, consiste em solucionar problemas
específicos e particulares, levando em consideração os elementos
ecológicos e culturais, além das necessidades a curto e longo prazo,
sempre pregando a participação da população local, sendo fator
indispensável para definição das potencialidades (SACHS, 1986).
A educação ecológica é fração integrante de uma politica
ambiental, não importando sua amplitude e extensão territorial. Sendo por
seu aspecto formal ou informal, a educação ambiental ajuda a assentar e
estabilizar, a médio e longo prazo, o nível de consciência ecológica
direcionado a um a uma politica voltada para o meio ambiente e ao
território. Mesmo sabendo que os conceitos de conservação e preservação
sejam apresentados para a sociedade de maneira sofisticada e formal, e
tendo em vista seu descompasso econômico e tecnológico, não impede de
que a introdução dos mesmos seja de forma direta ou indiretamente. Isto
se deve ao fato de que, ao longo prazo, as futuras gerações estarão, a
principio, gozando de uma educação mais elevada, bem como de um bem-
estar social, pois a qualidade ambiental estará integrada em sua lista de
reivindicações básicas (VIEIRA, 2016).
34
No que se refere à educação ambiental, Vieira e Ribeiro (1999),
observam a multiplicação de experiências de educação ambiental em
andamento nas mais diversas regiões do planeta, mas adverte que suas
concepções permanecem fragmentadas. Para o mesmo autor, a educação
para o ecodesenvolvimento constitui-se de um processo que ainda está em
desenvolvimento, abrangendo duas dimensões: a disseminação integrada
dos saberes científicos e tradicionais aglomerados; a mudança de
percepção e comportamento cotidiano através da experimentação.
Neste contexto, estudos indicam que o enfoque de
ecodesenvolvimento na implementação de estratégias e consolidação de
políticas públicas estaria dependente da aptidão de promover experiências
com os novos sistemas de planejamento e gestão integrada e participativa,
acompanhada de uma reforma no modelo de práticas educativas
convencionais.
Demostrou-se então a necessidade de adotar o conceito de
educação para o ecodesenvolvimento como base de uma nova construção
com processo que sejam igualitários, participativos, pluralistas e
promotor de uma descentralização e de empoderamento das comunidades
locais (VIEIRA, 1999).
2.3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Segundo Trevisol (2003), a educação ambiental surgiu na década
de 60, quando passaram a ser percebidos os problemas que estavam
surgindo pelo modelo desenvolvimento adotado pelos países
desenvolvidos, as grandes poluições nos centros urbanos, a contaminação
dos lagos pelos rejeitos indústrias, o desmatamento causando o
assoreamento dos rios, enchentes entre outros fatores.
Em 1977 foi realizada a Primeira Conferência Intergovernamental,
sobre educação ambiental, mais conhecida como Conferência de Tbilisi,
onde foram definidos os propósitos da educação ambiental, onde esta teve
seu ponto inicial para ser posta em prática, assim cabendo a cada país
introduzir e complementar conforme as necessidades de cada região.
Sendo considerado um dos eventos mais importantes para se definir
educação ambiental.
No Brasil, a educação ambiental era vista somente pelos ambientalistas que defendiam este ponto de vista juntamente com as
ONGs. Somente a partir da metade da década de 80 que as instituições
governamentais adotaram a educação ambiental e se fizeram presentes em
secretarias de meio ambiente de cada região respectivamente, assim
iniciando a praticar atividades sustentáveis (TREVISOL, 2003).
35
Conforme estabelecido na Lei N 9.795 da Educação Ambiental,
todos têm direito à educação ambiental como parte de um processo
educativo mais amplo. A educação ambiental é um componente essencial
e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma
articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em
caráter formal e não-formal (BRASIL, 1999).
Segundo Brügger (1994), há vários aspectos a serem abordados por
esse assunto, de modo formal ou informal, variando seus objetivos. No
presente trabalho, será abordada a educação ambiental de maneira
informal, como ferramenta indispensável, haja vista os grandes
problemas ambientais e a necessidade de conscientizar os indivíduos para
que se tornem sujeitos atuantes e participativos na resolução dos
problemas.
As ações de sobrevivência tomadas pelo ser humano fazem pensar
sobre seus resultados perante a degradação continua no meio ambiente e
no ecossistema, para tal usam-se ferramentas que possam minimizar estes
impactos. Para Leff (2001), a educação ambiental seria uma delas
buscando uma perspectiva holística, conectando o ser humano à natureza
e ao universo.
Assim sendo, educação ambiental constitui um processo resultante
de uma preocupação com o futuro da sociedade, das crianças e sua
qualidade de vida futura. Busca despertar a preocupação individual e
coletiva para alternativas de melhoramento, estimulando a formação de
grupos para trabalharem as questões ambientais e sociais. A EA procura
trabalhar não somente a mudança cultural, mas também a transformação
social do ser humano (CARVALHO, 2006).
Segundo Leff (1999, p. 128)
Neste sentido, a educação ambiental adquire um
sentido estratégico na condução do processo de
transição para uma sociedade sustentável. Trata-se
de um processo histórico que reclama o
compromisso do estado e da cidadania para
elaborar projetos nacionais, regionais e locais nos
quais a educação ambiental se defina através de um
critério de sustentabilidade que corresponda ao
potencial ecológico e aos valores culturais de cada
região; de uma educação ambiental que gere uma
consciência e capacidades próprias para que as
populações possam se apropriar de seu ambiente
como uma fonte de riqueza econômica, de gozo
estético e de novos sentidos civilizatórios; de um
36
novo mundo no qual todos os indivíduos, as
comunidades e as nações vivam irmanados em
laços de solidariedade e harmonia com a natureza.
Por sua vez, a educação ambiental não se trata necessariamente de
uma educação especial, mas sim de uma aprendizagem longa que o ser
humano deve introduzir em seu cotidiano e que todos ao seu redor devem
estar envolvidos de maneira consciente para habituassem a esse modo de
vida, aprendendo tecnologias que possam auxiliar de maneira favorável
na conservação e reutilização dos recursos naturais, bem como minimizar
os danos existentes e encontrar soluções para os diversos problemas
gerados por erradas decisões. (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE,
1997).
Morin (2010) questiona: o que é o homem? Qual seu papel na
sociedade? Qual seu sentido? Qual o seu lugar na vida? Ressalta ainda,
que temos uma vida dupla ou até mesmo tripla. Não somos só cientistas,
somos também cidadãos comuns introduzidos no processo de formação
ideológica, responsáveis também pela atual crise planetária. Não
devemos valorizar unicamente a vida humana, mas, sim respeitar a
natureza em geral ao máximo.
Por este motivo, a educação ambiental é vista como uma riqueza
para ampliar o processo educativo da população mostrando ao homem
que o meio ambiente é o seu “ser-no-mundo”, o meio onde ele tem suas
relações para com o resto das pessoas e da vida e não somente um objeto
a ser estudado. Entretanto, esta relação tornou-se mais do que um fator de
sobrevivência, introduzindo o conhecimento adquirido para conquista de
poder no qual as respostas de suas ações estão presentes em nosso dia-a-
dia. (SERCRETARIA DE MEIO AMBIENTE, 1997).
Muitas das atividades realizadas pelo ser humano para manter seu
progresso, para atender as necessidades, e para realizar suas ambições são
simplesmente insustentáveis - tanto nos grupos ricos como nos pobres.
Eles retiram mais do que o necessário, e a um ritmo muito acelerado
(GUERRA; COELHO, 2009). Não há dúvida que grande parte dos
problemas que enfrentamos está relacionada ao uso insustentável dos
recursos em um sistema político, econômico, social e ecológico
incoerente (MARRONI; ASMUS, 2005).
Segundo Leff, todo sistema econômico e social é construído sobre
pressupostos éticos. A racionalidade econômica se fundou na perspectiva
de agentes econômicos que traduzem condutas egoístas em um bem
comum. Suas consequências foram não somente a devastação da
natureza, que caracteriza o sistema ecológico que é suporte para todo
37
processo produtivo, mas também a transformação e destruição de valores
humanos, culturais e sociais (LEFF, 2008).
Por este motivo, a racionalidade ambiental incorpora as bases do
equilíbrio ecológico como norma do sistema econômico e condição de
um desenvolvimento sustentável, levando em consideração princípios
éticos e valores políticos. A ética ambiental propõe um sistema de valores
associados a uma racionalidade produtiva alternativa, a novos potenciais
de desenvolvimento e a uma diversidade de estilos culturais de vida. São
sistemas que regem a moral individual e os direitos coletivos. Isto implica
a transformação dos processos de produção, dos valores sociais e das
relações de poder para construir uma nova racionalidade produtiva, com
a gestão participativa da cidadania (LEFF, 2008).
Os valores ambientais surgem contra a cultura do poder fundado
na razão tecnológica e na racionalidade econômica. A educação ambiental
preza pelos valores do humanismo: a integridade humana, o sentido da
vida, a solidariedade social, o reencantamento da vida e a erotização do
mundo. Junto à educação ambiental, o racionalismo crítico e a ética
ambientalista buscam não só despertar o ser humano de seu pesadelo
desumanizante, mas também criar condições para a criatividade de todos
e a realização de seus potenciais (LEFF, 2008).
O conceito de qualidade de vida está penetrado em todas as classes
sociais. As exigências ambientalistas transcendem as aspirações por
melhor nível de vida, suscitam de novo o direito a terra e ao trabalho.
Requer a mobilização de uma série de processos sociais: a formação de
uma consciência ecológica, o planejamento territorial sustentável da
administração pública e a participação da sociedade na gestão dos
recursos naturais, a reorganização interdisciplinar do saber, tanto na
produção como na aplicação do conhecimento (LEFF, 2008).
O sistema social em que vivemos é profundamente antiecológico.
Por isso da exigência de uma ética que englobe as relações para com o
meio ambiente (ar, terra, água, animais, florestas, processos produtivos,
entre outros) (BOFF, 2000). De acordo com o mesmo autor, a ética não
pode ser somente ambiental, mas socioambiental, pois o ambiente é
composto pelo social e o social pelo ambiental.
Na educação ambiental, os princípios da sustentabilidade, da
complexidade e da interdisciplinaridade devem caminhar para um ponto
comum, porém os conteúdos são definidos conforme as estratégias que
melhor respondam a interesses diferenciados. Ou seja, o discurso de
desenvolvimento sustentável segue as diretrizes coerentes com os
interesses de quem o faz, para cada rumo que a sociedade levar o processo
38
de transição para a sustentabilidade, terá uma repercussão diferente na
educação ambiental (BOFF, 2000).
A educação ambiental foi reduzida a um processo geral de
sensibilização dos cidadãos, a incorporação de conteúdos ecológicos e a
fragmentação do saber ambiental numa ligeira capacitação sobre
problemas pontuais, nos quais a complexidade do saber ambiental
permanece reduzida e mutilada (LEFF, 2008).
Desde cedo, cada ser é instigado a lutar por si mesmo e levar o
individual acima do coletivo. No entanto, ações isoladas não passam de
soluções temporárias, sendo preciso que haja uma relação de
interdependência que só será alcançada quando ambos tiverem
necessidades comuns. A educação pode ser a forma para a inovação e
reconstrução de valores nos indivíduos, ressaltando a superioridade das
interações sobre as partes isoladas. Para isso, são necessárias novas
orientações e conteúdos, num programa de educação ambiental
abrangente e complexo, com práticas nas quais se construam relações
entre produção de conhecimentos, interesses sociais e sentidos culturais
por meio dos processos de circulação, transmissão e disseminação do
saber ambiental (MARRONI; ASMUS, 2005).
Segundo Boff (2000), a justiça ecológica propõe uma nova postura
perante a Terra, de complacência e ao mesmo tempo de reparação das
injustiças praticadas. Essa injustiça ecológica transformou-se em injustiça
social, pois através da degradação e diminuição dos recursos naturais, má
qualidade de vida, atingiu-se o ser humano e a sociedade global. Essa
lógica leva a dominar classes, oprimir povos e discriminar pessoas é a
mesma que explora a natureza.
A ética pragmatista e utilitarista da visão economicista do mundo
levaram a desconhecer o valor da educação ambiental, neste propósito
produtivista e eficientista dissolveu-se o pensamento critico e reflexivo,
pessoal e autônomo, para ceder o poder de decisão aos mecanismos de
mercado, aos aparelhos do Estado e as verdades cientificas desvinculadas
dos saberes pessoais, dos valores culturais e dos sentidos subjetivos que
regulam a qualidade de vida e o sentido da existência humana (LEFF,
2008).
A educação ambiental surge como necessidade de reverter os
caminhos que nossa cultura tomou. O sucesso desta luta ecológica
depende muito da capacidade de os ecologistas convencerem a maioria
da população de que se trata não apenas de limpar os rios, despoluir o ar,
reflorestar os campos, devastar para vivermos num planeta melhor num
futuro distante. Mas também de dar solução, simultaneamente, aos
problemas ambientais e aos problemas sociais. Os problemas que afetam
39
a ecologia não afetam apenas ao meio ambiente. Afetam o ser mais
complexo da natureza, que é o ser humano (GADOTTI, 2000).
A educação ambiental tem um papel estratégico no processo de
transição para uma sociedade sustentável, pois através dela se podem
incorporar novos valores ambientas e paradigmas do conhecimento. A
educação ambiental tenta articular subjetivamente o educando a produção
de conhecimentos e vinculá-lo aos sentidos do saber, isto implica
fomentar o pensamento crítico reflexivo e propositivo face às condutas
automatizadas, próprias do pragmatismo e do utilitarismo da sociedade
atual (LEFF, 2008).
A tendência da nova concepção de meio ambiente é que novos
paradigmas de desenvolvimento contemplem equidade social,
econômica, política e meio ambiente, com vistas a conciliar as
necessidades econômicas à disponibilidade limitada dos recursos naturais
e sua proteção. Neste sentido, prevê-se que cada vez mais os novos
paradigmas deverão compatibilizar os interesses econômicos e sociais
com a proteção ambiental, transformando o meio ambiente em fator de
desenvolvimento sem, contudo, causar danos ambientais (BRITO;
CÂMARA, 2001).
Os tempos são de se prever o futuro para tornar o
ecodesenvolvimento uma perspectiva importantíssima para melhorar o
grau de comprometimento com a questão ambiental, objetivando alcançar
resultados positivos para o meio ambiente. Promover a sensibilização da
população frente aos desafios ambientais é a ponte rumo à transição para
o ecodesenvolvimento (BRITO; CÂMARA, 2001).
É impossível considerar a conservação da biodiversidade apenas
desafio científico de dimensões ecológica e econômica, com soluções
puramente técnicas. As soluções para a degradação da biodiversidade não
podem ser reduzidas à substituição de técnicas, porque o status da
biodiversidade é uma produção social e sua manutenção ou degradação
resulta de processos históricos (GUERRA; COELHO, 2009).
As novas mudanças de paradigmas no contexto ambiental exigem
gestão descentralizada e compartilhada para executar ações inerentes ao
uso sustentável dos recursos naturais e realizar medidas administrativas
previstas na legislação ambiental (BRITO; CÂMARA, 2001).
Na educação ambiental comunitária, a inseminação de uma
racionalidade ambiental acarreta a necessidade de uma capacitação
técnica que permita as praticas tradicionais assimilar e apropriar-se de
maneira seletiva das técnicas modernas e intervir ativamente na produção
e novas tecnologias, ao mesmo tempo requer a formação de uma
consciência critica sobre as formas de inserção das comunidades na
40
globalização, afirmando seus direitos culturais e definindo novas formas
de aproveitamento sustentável de seus recursos (GUERRA; COELHO,
2009).
Isso promove o resgate e revalorização dos saberes tradicionais,
como também um processo de capacitação no qual se amalgamam estes
saberes com os conhecimentos científicos e tecnológicos para fortalecer
as capacidades de autogestão das próprias comunidades (LEFF, 2008).
Sachs (2002), enfatiza o potencial das populações locais agirem de
maneira ambientalmente viável, utilizando estratégias que vise a sua
reestruturação em bases ecologicamente sustentáveis aproveitando os
conhecimentos locais, reabilitando terras degradadas e adotando sistemas
agrícolas integrados. Isso implica o resgate e valorização dos saberes
tradicionais agregando-lhes aos conhecimentos científicos e tecnológicos
modernos e sua assimilação subjetiva e coletiva para o fortalecimento da
autogestão das próprias comunidades.
Explicitar os estilos de desenvolvimento ecologicamente prudentes
e socialmente justos é, portanto, uma tarefa de primeiríssima importância
na busca do ecodesenvolvimento: o cuidado com o futuro, em nome da
solidariedade com as gerações vindouras. (SACHS, 1986).
2.4 PERCEPÇÃO E MEMÓRIA AMBIENTAL
A lembrança é a reconstrução de experiências vivenciadas no
passado através de imagens e ideias atuais. Tal processo é definido como
memória, que por sua vez, é trabalhada por meio do inconsciente de cada
indivíduo, que constrói sua lembrança por meio de materiais que estão
disponíveis e por uma coleção de imagens que ocupam a consciência do
mesmo (BOSI, 1994).
A memória dos indivíduos está vinculada aos seus relacionamentos
cotidianos com o meio, por meio de conexões com os diversos grupos de
convívio que são fortalecidos ao longo do tempo (HALBSWACHS,
2006). A princípio, a memória estaria vinculada a algo alusivo ao íntimo
de cada pessoa. No entanto, Maurice Halbwachs, nos anos 20-30, afirmou
que a memória deveria se compreendida como sendo, ao mesmo tempo,
um fenômeno coletivo e social, construído a partir de flutuações,
transformações e mudanças contínuas. Deste modo, ressaltando este aspecto flutuante e mutável, tanto da
memória individual quanto coletiva, deve-se considerar que a memória
pode possuir marcos importantes que não variam. Isso pode ser observado
quando se faz entrevistas de história de vida e percebe-se que, no decorrer
destas entrevistas em profundidade, que a ordem cronológica não está
41
sendo seguida, pois os entrevistados voltam várias vezes aos mesmos
períodos de determinados acontecimentos na vida que consideram
marcantes (HALBWACHS, 2006).
Os fatos marcantes ocorrem da mesma maneira em memórias
construídas coletivamente havendo os elementos inflexíveis, onde o
trabalho de consolidação da memória foi tão importante que
impossibilitou o acontecimento de mudanças. Assim sendo, alguns fatos
tornam-se realidade e passam a fazer parte da própria essência da pessoa
do mesmo modo que outros tantos fatos ocorridos possam se modificarem
por meio dos interlocutores ou da fala (POLLAK, 1992).
De acordo com Nora (1993),
A memória é a vida, sempre carregada por grupos
vivos e, nesse sentido, ela está em permanente
evolução, aberta a dialética da lembrança e do
esquecimento, inconsciente de suas deformações
sucessivas, vunerável a todos os usos e
manipulações, suceptivel de longas latências e de
repentinas revitalizações (p.10).
Bosi (1994) traz o conceito de imagem-lembrança como
significado de um momento único da consciência, de modo que não
existiu acontecimento sobreposto a outro na vida do indivíduo, como
momento definido, tornando a lembrança conservada no passado. “O
passado, conservando-se no espírito de cada ser humano, aflora à
consciência na forma de imagens-lembrança” (BOSI, 1994, p. 55).
Ainda, segundo BOSI (1994),
O passado conserva-se e, além de conservar-se,
atua no presente, mas não de forma homogênea. De
um lado, o corpo guarda esquemas de
comportamento de que se vale muitas vezes
automaticamente na sua ação sobre as coisas: trata-
se da memória-hábito, memória dos mecanismos
motores. De outro lado, ocorrem lembranças
independentes de quaisquer hábitos: lembranças
isoladas, singulares, que constituíram autênticas
ressurreições do passado.
“O instrumento decisivamente socializador da memória é a
linguagem. Ela reduz, unifica e aproxima no mesmo espaço histórico e
cultural a imagem do sonho, a imagem lembrada e as imagens da vigília
atual” (BOSI, 1994). Ainda, segundo Bosi (1994), “a narração da própria
42
vida é o testemunho mais eloquente dos modos que a pessoa tem de
lembrar. É a sua memória”.
As memórias são extremamente importantes para cada indivíduo,
pois aquilo que cada um recorda é diferente de que os outros se lembram,
mesmo em situações que foram vivenciadas conjuntamente. No entanto,
apesar da característica de cada recordação, todos recordamos eventos,
fatos e emoções por um período curto ou para toda vida
(HALBSWACHS, 2006).
Para Pollak (1992), os elementos constitutivos da memória
individual e coletiva são os acontecimentos, os personagens (pessoas) e
os lugares. Existem lugares na memória que estão particularmente ligados
a uma lembrança pessoal que pode não ter apoio no tempo cronológico,
ou seja, não necessariamente o individuo irá lembrar em qual momento
especifico que se deu determinado acontecimento. Tomamos como
referência um lugar de férias na infância, que foi significativo e marcante
na memória do individuo, e em memórias coletivas, no aspecto público,
os lugares onde haviam festas de família.
Pollak (1992, p. 30) salienta que:
Locais muito longínquos, fora do espaço-tempo da
vida de uma pessoa, podem constituir lugar
importante para a memória do grupo, e por
conseguinte da própria pessoa, seja por tabela, seja
por pertencimento a esse grupo.
Estes elementos - acontecimentos, personagens e lugares - podem
estar relacionados a acontecimentos, personagens e lugares
empiricamente fundados em fatos concretos, ou uma projeção de outros
eventos. Além das projeções, pode ocorrer a ligação a eventos, lugares e
personagens acarretando o problema de vestígios datados da memória, no
caso aquilo que ficou gravado precisamente. Deste modo, em função da
vivência de um indivíduo, de sua inserção na vida pública, as datas da
vida pública e privada serão uma ora assimiladas, ou separadas ou ainda
não existirão no relato e na biografia (POLLAK, 1992).
A circunstância de ter vivenciado uma fase de alteração e
permanência, de não ser apenas entendido, mas sim testado e executado
como sujeito construtor de sua própria história, torna esse indivíduo
herdeiro de um saber construído com base na experiência de vida
(VIEIRA, 2006).
A concepção sobre o mundo é formada das experiências pessoais,
do aprendizado, imaginação e memória. Os espaços que compartilhamos,
43
em que vivemos e percorremos, os espaços lidos e vistos em trabalhos,
bem como a imaginação e fantasia, contribuem de forma significativa
para a construção das imagens do meio ambiente, além daquilo que o ser
humano destrói.
Nos tempos atuais o indivíduo se encontra frente a uma gama quase
que infinita de informações a serem processadas tais como os progressos
científicos, tecnológicos ou artísticos. O indivíduo, como ser
isoladamente pensado, tem uma consciência própria, mas ao mesmo
tempo está intrínseco no meio e não consegue se dar conta, onde frente a
este aspecto, instantaneamente, o leva a subjetivá-las por completo, mas
também não pode recusá-lo, pois fazem parte de sua esfera cultural
(SIMMEL, 2004).
Tendo em vista que o ser humano tem a capacidade de perceber,
conhecer, representar, pensar e se comunicar, o mesmo consegue criar e
modelar lugares e paisagens em sua memória, sendo assim influenciadas
por interpretações e conclusões que ele mesmo é capaz de fazer através
de suas vivencias presentes e passadas, além de seus gostos, objetivos,
absorção e opção (MACHADO, 1999).
[...]diferentes trajetórias de indivíduos que vão
dando profundidade aos significados inscritos na
paisagem urbana, seja pela repetição de gestos de
fundação de suas moradas nos bairros, arrabaldes e
ilhas da cidade, seja pela sua adesão a determinadas
práticas que se repetem em espaços de
sociabilidade que constituem a vida urbana.
(DEVOS, 2008)
A investigação da memória ambiental é uma forma de
compreender a interação entre o homem e o meio ambiente, as
transformações na paisagem e no trajeto escolhido pela população,
refletindo sobre os problemas criados através das atitudes humanas de
apropriação e uso do espaço de forma hegemônica causando a degradação
ambiental na busca pela urbanização (KUBO; DEMENIGHI, 2015).
Segundo Devos, Soares e Rocha (2010), “a pesquisa sobre
memória no meio urbano não é um mero registro do passado, mas sim
uma reflexão sobre a duração.”
Seguindo esta ótica, a memória não é mera construção do passado,
mas sim a sua construção a partir de proposições e motivações do
presente. É compreendida em coletividade, tendo em vista que não se
encontra apenas na consciência de um único individuo, e sim na sociedade
44
como um todo, nos símbolos, nos lugares, nas práticas e saberes em que
esta se reconhece (DEVOS; SOARES; ROCHA, 2010).
A interdependência ecossistêmica alia-se à perspectiva de
interdependência econômica e administrativa que marca o processo de
globalização contemporâneo. Voltada para o perigo e para o “risco
ambiental”, a chamada “consciência ecológica” que permeia essa ética
planetária segue o mesmo processo de “desencantamento” e
racionalização da Natureza, que marca o “Processo Civilizatório”
ocidental (DEVOS, 2009).
Colocando em análise, o mesmo autor comenta que questões como
a insuficiência de água no planeta, ou como as modificações climáticas
apontam um aperfeiçoamento contemporâneo de percepção de uma
realidade socioambiental que é parte do que se “entende enquanto um
processo histórico de ambientalização, de interiorização e naturalização
de uma nova questão pública” (DEVOS, 2009, p. 297).
Devos (2009) versa sobre não pontualidade da ideia de que a
problemática da crise ambiental, quando analisada sendo como uma
preocupação particular do indivíduo das alterações do ambiente, pode ser
algo mais do que a ingênua tomada de consciência das catástrofes
ambientais contemporâneas, como a extinção de inúmeras espécies, a
contaminação das águas, as inundações nas cidades, a escassez de água
potável ou seca na agricultura.
A memória tem uma função social importante, a partir do momento
em que as sociedades passaram a transmitir de forma oral, após passar as
fases de transição da oralidade à escrita, até a população de memória
basicamente escrita (THOMSON, 1997).
Por meio da memória pode-se preservar os rituais que conectavam
uma sociedade, os feitos passados, bem como os conhecimentos e saberes
que permitem uma maior e melhor sobrevivência.
Ainda, a memória dos indivíduos tem um papel importante na
identificação dos padrões de desenvolvimento e os impactos ambientais
decorrentes, já que através da memória é possível encontrar marcas e
lembranças significativas da história de uma população, reconstituindo
fatos e espaços que foram modificados com o passar dos anos.
Quando rememoramos momentos e situações de um tempo
passado estabelecemos conexões instantâneas com o instante atual, sendo
inevitável fazer comparações entre o passado e o presente. Deste modo,
pode-se dizer que há uma relação inerente entre memórias e as percepções
imediatas (MANCUSO, 1998).
Os trabalhos realizados no contexto de percepção ambiental
colaboram com a elaboração de técnicas de sensibilização ambiental
45
integrada de uma sociedade, onde são estimulados o contato e a relação
entre o meio físico, biológico, socioeconômico e antrópico. A partir desta
interação com o meio, possibilita ao individuo uma maior sensibilização,
na busca de uma melhor qualidade de vida e preservação de seus valores
sociais, morais e ambientais (NAIME; GARCIA, 2004).
É interessante destacar que a palavra percepção provém do latim
‘perceptio’ e significa o “ato de perceber, ação de formar mentalmente
representações sobre objetos externos a partir dos dados sensoriais. A
sensação seria assim a matéria da percepção” (JAPIASSÚ;
MARCONDES, 2008, p. 215).
O estudo sobre percepção ambiental é uma investigação sobre a
interação do ser humano com o meio em que vive, que pode ser definida
como uma tomada de consciência do meio pelo ser humano. O
aprofundamento sobre o tema pode contribuir para diagnosticar a atual
situação de uma comunidade em relação ao meio, de modo a qualificar a
importância dada aos diversos recursos naturais e serviços ambientais
ofertados pelo ecossistema e ainda, assistência a programas de educação
ambiental e ecodesenvolvimento (MARCZWSKI, 2006).
A percepção ambiental é considerada fundamental para se entender
a preferência, o gosto e as ligações cognitivas e afetivas dos indivíduos
com o meio ambiente, sendo que estes são responsáveis pela modificação
do território através de escolhas, ações e atitudes. Ainda, a percepção
ambiental é uma forma de instrumento para que possamos compreender
melhor as inter-relações entre ser humano e o ambiente, suas expectativas,
satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas (MACHADO, 1999).
É notório, portanto, que através desta percepção temos um modo
inteiramente particular de enxergar o mundo e a nós mesmos, de
confrontar experiências, descobrir semelhanças e diferenças entre
paisagens, pessoas e costumes.
A percepção da natureza está ligada dessa forma,
indubitavelmente, às necessidades de sobrevivência e aos valores
culturais do ser humano, já que em razão da história de vida, “cada
indivíduo tende a valorizar determinados aspectos da paisagem e do
ambiente em que vive ou trabalha” (RIBEIRO, 2009, p.95).
Ter um conhecimento preliminar dos indivíduos com quem
manteremos contato para realização do trabalho, para saber como os
mesmos percebem o ambiente em que vivem é importante, pois só
conhecendo cada individuo que será possível realizar um trabalho de
minimização dos impactos ambientais, bem como propor um programa
de educação ambiental, a partir da realidade do público-alvo (NAIME;
GARCIA, 2004).
46
Pelizzoli (2013) enfatiza que as ações de questionar, observar e
investigar são estimuladas, inclusive, pela própria educação ambiental
cujo objetivo precípuo é justamente contribuir para a reflexão crítica dos
problemas socioambientais:
Nesta perspectiva de experiência, há sempre uma atitude de
curiosidade, e uma estrutura de interrogação, a estrutura ontológica
essencial para a hermenêutica que é a da pergunta. Questionar, observar
e investigar, e não apenas receber pronto. Aqui entra plenamente a
educação ambiental, no sentido de proporcionar a reflexão crítica dos
problemas socioambientais que nos envolvem como seres humanos, de
estimular a pergunta, e encaminhar a criatividade e as motivações para
situá-las desde a infância (PELIZZOLI, 2013, p.50)
Os estudos sobre percepção ambiental não levam em consideração
apenas o meio físico e biológico, pois o meio ambiente engloba o meio
social-cultural e suas relações com os modelos de desenvolvimento
adotados pelo homem, deste modo tudo que é visto, sentido e ouvido, será
resumido na maneira pela qual este meio é percebido (MARQUES;
CARNIELLO; NETO, 2014).
Segundo Marques, Carniello e Neto (2014), “desta maneira quando
se olha, sente e ouve algo, atribui-se a ele significado, que permanece
constante na memória”.
Existem trabalhos sobre percepção ambiental que buscam
promover a sensibilização, de modo a instigar o individuo a perceber sua
relação com o meio ambiente e os outros seres, de maneira a fazê-lo
compreender o funcionamento do meio ambiente em que vive e a
atribuição de valores dada ao mesmo.
No momento em que a percepção ambiental tornar-se parte de
nossa consciência cotidiana, emergirá um novo sistema de ética e valores,
em que todos os seres vivos serão membros de comunidades ecológicas,
ligadas umas às outras numa rede de interdependências (CAPRA, 2006).
Partindo deste princípio de sensibilização com o meio ambiente,
Naime e Garcia (2004) dizem que esta situação torna o espaço
circundante um espaço conhecido (ou re-conhecido), descoberto (ou-
redescoberto), percebido e experienciado de inúmeras e infinitas
maneiras, conforme as condições internas e externas que o individuo
esteja vivenciando naquele momento, onde propicia-se a renovação
constante de suas percepções e da atribuição dos seus símbolos projetados
nas paisagens (NAIME; GARCIA, 2004).
O aperfeiçoamento de uma nova concepção do espaço e lugar,
tendo em vista nossa capacidade de aprender, conhecer, bem como
experimentar, sentir e refletir sobre o lugar, nos leva a questão do tempo,
47
ora por conjurar imagens do passado, ora por imagens de um presente
esperado ou um futuro planejado (MARQUES; CARNIELLO; NETO,
2014).
Assim sendo, com o passar dos anos, alguns lugares terão
identidade própria, através da conexão estabelecida pelo individuo com o
espaço por meio de sua afetividade, sentimento e concepção (NAIME;
GARCIA, 2004). Esta conexão com o espaço é responsável pela
construção do patrimônio sociocultural baseado na história local. Aos
poucos, sedimentará uma memória coletiva, associando os saberes e as
relações com o meio natural e social e, com o patrimônio material e
simbólico (MARQUES, 2010).
Segundo Marques (2010),
O espaço contém todos os tipos de espaços sociais
que resultam das relações entre os sujeitos, e entre
estes e a natureza, transformando assim esse
espaço, alterando as paisagens, construindo
territórios, regiões e lugares (p. 33).
A constituição do lugar é decorrente de sua ocupação e sua
transformação, permitindo que vários indivíduos ocupem determinado
espaço, no entanto os mesmos irão constituir lugares diferentes através
das relações estabelecidas com outras pessoas, grupos e elementos
espaciais. Deste modo, a transformação do espaço não será individual e
sim coletiva, mesmo considerando o fato deste lugar não ser apropriado
de forma igualitária por todos, resultando assim em formas de adaptação
diferenciadas, onde alguns indivíduos estabelecerão vínculos, criando o
sentimento de pertencimento por este espaço (FARINA; TRARBACH,
2009).
O território origina um espaço com características próprias, que
memora sentimentos de familiaridade e vizinhança, associa identidade e
história. Segundo Santos, (1999) o “território não é apenas o conjunto dos
sistemas naturais e de sistemas de coisas superpostas. O território tem que
ser entendido como o território usado, não o território em si”.
Ao se empregar o conceito de território, é preciso levar em
consideração a sociedade e sua particularização sobre o espaço bem como
o espaço imaginário, do sentimento que leva à identificação com o
território. O mesmo deve ser tido como um espaço de identidade, de
identificação, tendo o sentimento como suporte, não levando em conta
sua forma física, uma vez que a mesma é variável (BORTOLETO, 2010).
De acordo com Santos, (1999):
48
O território usado é o chão mais a identidade. A
identidade é o sentimento de pertencer àquilo que
nos pertence. O território é o fundamento do
trabalho, o lugar da residência, das trocas materiais
e espirituais e do exercício da vida (p. 8).
Desta forma, a pesquisa sobre território implica investigar uma
diversidade de questões sobre os indivíduos que o ocupam, e sua
territorialidade, ou seja, suas manifestações sociais dentro do território
(LEOPOLDO, 2015) para um melhor entendimento da relação que os
indivíduos criam com o espaço ocupado, e posteriormente, a partir de uma
análise, apontar alternativas e soluções para possíveis problemas e
conflitos gerados por conta das relações sociais dos mesmos e com o
ambiente (FREITAS, 2008).
Considera-se, então, que as relações sociais apontam como
produtoras do território, proporcionando uma relação de valorização do
espaço, que através da cultura de um grupo o torna identidade.
2.5 URBANIZAÇÃO
Os primeiros centros urbanos foram estabelecidos no início dos
séculos da colonização brasileira, situando-se principalmente no litoral,
por razões econômicas, políticas e militares. A implantação de rodovias
nacionais marcou a adoção do Brasil por uma nova politica econômica
voltada para a industrialização, demandando a interligação dos espaços,
como garantia de mercado. Neste sentido, fez-se o estabelecimento de
transportes e aberturas de estradas em todo país (LIMA, 2002).
Para Santos (2005), a urbanização iniciou com a transição da
população que vivia no meio rural para as cidades. Devido ao crescimento
econômico dessas cidades, que a princípio seriam apenas uma
aglomeração de pessoas, começou a ter uma importância para o país e,
por consequência, atraiu mais pessoas.
O processo de urbanização no Brasil é um acontecimento recente
e constante. No ano de 1940, iniciou-se a observar o crescimento da
urbanização brasileira e ainda num momento em que a população, em sua
maioria, era residente no meio rural. A partir da década de 70, a população
do meio rural diminuiu e houve um aumento das taxas de urbanização,
que chegou a 81% no ano de 2000 (IBGE, 2000). Hoje em dia, a taxa de
urbanização chega a 84%, sendo que a maioria da população reside em
área urbana na zona costeira (IBGE, 2016; United Nations Human
Settlements Programme, 2016).
49
A urbanização tem preocupado os cientistas, tendo em vista o
crescente aumento das cidades com um processo continuo e acelerado. O
geógrafo Milton Santos fala da importância dos estudos a respeito desta
temática, ao afirmar que “um fenômeno não apenas recente como também
crescente, e isto em escala planetária” (SANTOS, 1989, p. 17).
A partir do século XVIII, percebeu-se um grande interesse do
poder público para construção de espaços em área litorânea costeira,
apropriados para ao lazer e ao turismo, marcando o início dos primeiros
balneários alemães, franceses e ingleses. Observou-se que os balneários
se desenvolveram rapidamente e já na metade do século XIX estes, por
sua vez, demonstravam uma taxa grande e rápida de crescimento
populacional do que as cidades manufatureiras, promovendo uma rápida
urbanização e por consequência elevados níveis de pobreza e alto número
populacional (SANTOS, 1989).
A ocupação do litoral do Brasil iniciou a se constituir de maneira
especial a partir do século XX, foi no momento em que nos subúrbios das
cidades grandes costeiras iniciaram-se os banhos de mar, configurando
uma nova formação urbana, a qual se pode dar o nome de bairro para
veraneio.
O poder público, na década de 60, começou a se preocupar com o
turismo e passou a explorar o mar como espaço de lazer, sendo uma
alternativa de emprego e renda. As praias passaram a representar um
espaço público que assumia uma função de parque e deste modo, os
empreendedores têm criado espaços turísticos onde modificam elementos
da natureza em recursos. Ainda, divulgam ambientes ou cópias de lugares
que nunca existiram para os turistas que sonham com locais paradisíacos
(FONTELES, 2004).
Este processo acelerado de urbanização trouxe consigo um
crescimento desordenado das cidades, fato este que gerou diversos
conflitos socioambientais, como, por exemplo, a reprodução de bairros
com infraestrutura falha, habitações localizadas em áreas de risco, dando
inicio ao processo de favelização e causando alteração nos sistemas
naturais (PENNA, 2007).
Para Carmo (2012), a urbanização quando não planejada e não
acompanhada da implementação de uma infraestrutura básica, como
água, esgoto, luz e pavimentação acaba gerando áreas pobres e
marginalizadas, as quais são ocupadas pela população de baixa renda.
Deste modo, pode-se afirmar que esta forma de expansão do meio urbano
evidencia as desigualdades sociais.
Sendo que o espaço urbano mostra a impressão de uma sociedade,
é preciso definir os papéis que cada um de seus principais atores e agentes
50
produtores como o poder público, os produtores e agentes imobiliários, o
setor privado, a comunidade, os recursos naturais encontrados e
disponíveis e sua localização desempenham. Estes agentes/atores agem
no sentido de produzir o espaço urbano e, consequentemente, a
urbanização, orientados para seu próprio interesse, causando
frequentemente conflitos que acarretam em desigualdades (FONTELES,
2004).
Os governos pouco têm realizado investimentos em políticas
públicas no intuito de minimizar e até mesmo reverter esta problemática
de desigualdade. No entanto, a grande parte do recurso investido é
destinada às áreas nobres, deixando as periferias em segundo plano,
tornando assim a favelização uma das principais evidências territoriais no
país (MARQUES, 2007).
Por conta dessa evidência, nos últimos anos têm se intensificado
as preocupações em relação à qualidade de vida nas cidades, tendo em
vista que o aumento populacional e a falta de planejamento tem gerado
uma série de consequências para a vida urbana, como aumento do tráfego
de veículos, enchentes, poluição do ar, água , solo e visual.
Segundo o Relatório Mundial das Cidades de 2006/2007, a
população das cidades passará a de áreas rurais, fato este que aconteceu
segundo o Relatório Mundial das Cidades de 2016. Estima-se que o
Brasil, em 2020, possuirá 55 milhões de pessoas vivendo em favelas pela
falta de planejamento e organização urbana (United Nations Human
Settlements Programme, 2007, 2016).
Este processo é preocupante, porque a expansão horizontal das
cidades está causando, além de uma exclusão social, a criação de locais
sem infraestrutura necessária para a qualidade de vida na cidade. Pode-se
perceber também um processo no que há a valoração de áreas nobres e a
especulação imobiliária, promovendo um aumento das edificações e
estruturas já implantadas (VASCONSELOS; CORIOLANO, 2008).
O crescimento urbano no Brasil é acompanhado de contradições
sociais com suas diferenças e intensidades, tendo em vista que muitas
cidades apresentam problemas de emprego, habitação, transporte, lazer,
água potável, esgotos, educação, saúde, bem como apresentam grandes
insuficiências.
Na cidade e em seu espaço, que aumenta a cada momento existe
uma distribuição social do território, devido à sua função de mercadoria
agregando a este um valor de troca criando nas cidades áreas com valor
elevado, formando pequenos centros. Estas áreas têm por característica
localização favorável, serviços e infraestrutura construída pelas classes
sociais de alto poder aquisitivo, que habitam estes locais (PENNA, 2007).
51
A atividade turística é uma das principais causadores da
degradação do meio ambiente nas cidades litorâneas. Mesmo sendo uma
fonte de renda para muitos indivíduos, e promovendo a valorização do
espaço, consequentemente induz a transformação das paisagens com o
desenvolvimento dos centros urbanos.
Tendo em vista o fato de que, a recuperação do meio ambiente e
sua reprodução natural não é tão rápida quanto a sua exploração, e sendo
que o meio tornou-se um bem de comercialização para o ser humano, seu
tempo de resiliência e sua capacidade de reprodução não são respeitados.
Como consequência a este processo de apropriação, muitos lugares estão
sendo apropriados e explorados por um número exclusivo de pessoas,
como é o caso da Lagoa das Capivaras e seu entorno (NETO et al, 2016).
É assim que o mercado imobiliário ganha espaço, principalmente
em cidades grandes e litorâneas, áreas são produzidas para as classes
sociais mais abastadas, tornando a urbanização um negócio espaço
(BARBOSA; GOMES, 2016). As áreas degradadas, na perspectiva de
mercado viram mercadorias, ou seja, são novamente introduzidas nos
processos de negociação, iniciando uma nova produção do espaço. Este
artificio repele diferentes grupos da sociedade que tinham estes locais
como moradia e sociabilidade (CARLOS, 2015).
No entanto, é provável que a existência de áreas degradadas e
periferias estará presente por muito tempo ainda em nosso meio,
localizadas muitas vezes no entorno das cidades e com menor valor
agregado, possibilitando o estabelecimento de classes sociais mais
humildes.
É comum nas cidades encontrar locais de exclusão social e pobreza
urbana, em áreas degradadas, favelas e loteamentos irregulares formados
por famílias pobres, que não possuem emprego fixo e condições básicas
para viver. Este fato se deve, muitas vezes, à expulsão destas classes
menos abastadas de seus locais de origem, os quais são vendidos por
valores mínimos e acabam por se deslocar para áreas distantes dos
centros, onde viviam. Consideram-se dois mundos diferentes, que
compartilham o mesmo espaço em decorrência de um sistema social
capitalista iníquo e distinto (FONTELES, 2004).
A valorização do espaço das cidades, ao serem dominadas e
fragmentadas pelo mercado imobiliário, adquire uma nova forma, a de
lote urbano, cujo acesso e desfrute se submetem também ao mercado, ou
seja, aqueles com maior poder aquisitivo, estabelecendo a privatização da
área. Deste modo, iniciam-se os conflitos entre a propriedade privada e a
produção de espaço da sociedade, resultante da produção social do espaço
(BARBOSA; GOMES, 2016).
52
Essa divisão que aprofunda-se pelo parcelamento do espaço em
pequenas áreas de terra, são espaços comprados e vendidos no mercado,
fruto de atividades planejadas com intuito de esconder a percepção de que
o processo de parcelamento das áreas esta vinculado as estratégias
politicas e do mercado urbano, dando valores diferenciados ao ambiente
urbano (CARLOS, 2015).
Para Carlos (2015), no sistema econômico capitalista a produção
do espaço é a própria mercadoria, onde há a “produção da cidade como
negócio” (p. 5), sendo comercializado como uma mercadoria clássica,
tendo seu valor de uso e de troca. O espaço surge como um fator
necessário à reprodução do capital, condicionando o espaço a existência
de uma propriedade e assim a dinâmica do mercado.
Uma população pode ocupar o mesmo espaço de diferentes formas
e maneiras, tendo implicações ambientais significativamente distintas. A
tentativa de entender estes modos de ocupação diferenciados do espaço e
seu significado no que tange a questão ambiental é um modo de poder
abrir caminhos para a pesquisa e contribuir para reflexões sobre o que a
sociedade moderna necessita para alcançar o ecodesenvolvimento
(MARTINE, 2007).
O espaço é constituído a partir da vida social, como um produto
social apresentando características da população que está inserida nele.
No entanto, institui num reflexo e condicionante da sociedade, que
segundo Lefebvre (1976) ressalta o espaço como locus da reprodução das
relações sociais de produção (MARQUES; BARRETO, 2012).
Discutir a relação entre meio ambiente e espaço é discutir como a
população pode usar de maneira mais sustentável determinado território,
abrangendo seus recursos disponíveis, a população, o contexto
econômico e seu desenvolvimento atual.
A urbanização contemporânea expõe a instituição de uma
problemática espacial, esclarecendo a realidade urbana e mostrando o
processo de produção do espaço como uma representação da reprodução
de uma sociedade capitalista. A cidade materializa-se como uma
mercadoria, exposta e comercializada no mercado internacional, paralelo
a isto se produz um novo meio urbano, criando novos meios e métodos
mais modernos para mediar às relações sociais. Redefine-se assim, uma
nova forma de apropriação do espaço urbano, diminuindo a acessibilidade
dos espaços e impondo obstáculos a mobilidade socioespacial (CARLOS,
2015).
Para esta problemática é necessária uma abordagem holística, que
considere, ao mesmo tempo, usos diferenciados do espaço e fatores
ecológicos dentro de um espaço específico. Tentar compreender os pontos
53
positivos e negativos relativos às diferentes opções de distribuição
espacial, bem como ajudar a promover alternativas benéficas pode ser
uma forma eficiente de poder contribuir para um desenvolvimento
equilibrado das cidades (MARTINE, 2007).
As cidades turísticas apresentam uma forma diferenciada de uso,
ocupação do espaço oferecendo serviços de lazer, turismo e moradia ou
segunda residência. Ainda, funcionam como distritos de tranquilidade e
boa qualidade de vida no conjunto da urbanização, bem como apresentam
uma maior intervenção econômica e crescimento demográfico nos painéis
estaduais (LIMA, 2002).
Através de um estudo realizado por Mullins (1991), verificou-se
que as cidades turísticas apresentam também algumas diferenças às
demais cidades quando comparado os diversos setores de atividade da
economia urbana, crescimento demográfico, níveis de emprego e
dinâmica da sociedade em geral, ou seja, é um modo particular de
produzir e estruturar o espaço urbano.
A questão a respeito da urbanização neste trabalho se remete a um
estudo de destino turístico litorâneo. Este fato se dá em razão da maior
parte da concentração de pessoas com destino turístico situar-se em
ambiente costeiro, devido à hegemonia do consumo turístico.
O aumento da atividade turística juntamente a expansão
imobiliária são termômetros que mensuram a aceleração das
transformações que sofre determinada região. Uma parcela crescente da
população residente nos grandes centros urbanos buscam a fuga do
cotidiano urbano turbulento e o reencontro com a natureza, através de
forma física. Este processo movimenta e acumula rendas e problemas,
como ditos anteriormente, mesmo em regiões aparentemente distantes do
modo de vida acelerado das grandes cidades. Qualquer local, por menor
que seja, produz e reproduz processos socioespaciais, que se materializam
ao longo do tempo, produzindo assim aglomerações urbanas.
Sabe-se que as aglomerações urbanas surgiram e cresceram devido
à acumulação agrícola do excedente agrícola, do comércio e
posteriormente da produção de bens manufaturados. Por outro lado, as
cidades turísticas e, principalmente, as cidades turísticas litorâneas
empregam-se principalmente ao consumo de produtos e serviços
destinados a diversão, prazer, relaxamento e recreação, deixando de lado
as necessidades básicas como moradia, serviços de saúde, educação, etc.
(COSTA; OLIVEIRA; RAMOS, 2002).
A cidade é um espaço de luta pelos direitos sociais. O campo
urbano é um dos principais locais de conflitos políticos e sociais pelos
direitos de cidadania. Ou seja, a batalha por direito à moradia, à saúde, ao
54
transporte, toda a infraestrutura e a salários dignos e à melhoria da
qualidade de vida social (MELO, 2014).
Segundo Carlos (2015), é possível compreender a cidade como a
“luta na cidade pela cidade” (p. 2), gerando o questionamento sobre as
politicas publicas necessárias para as demandas do espaço urbano.
Áreas são impactadas para transformação e ampliação de novas
formas de apropriação do espaço no intuito de satisfazer as necessidades
de atividade turística. Quanto à valorização das áreas, estes ambientes
favorecem as atividades econômicas, onde o desenvolvimento urbano é
sinônimo de riqueza e o espaço para a ser explorado pela indústria
capitalista (NETO et al, 2016).
As cidades litorâneas e turísticas passaram a fazer parte deste
processo, tendo neste período o aumento de residências construídas e a
instalação de equipamentos turísticos que aumentou ainda mais a vinda
de pessoas para estas cidades e consequentemente produzindo
aglomerações que formaram bairros.
Para Gonçalves (2016), o capitalismo contemporâneo tem como
estratégia a transformação do espaço urbano em lugares de hegemonias
sociais e “estetização” da forma e da paisagem urbana (p. 12). Sua
intenção é a venda de espaços destinados a sociedade de alto poder
aquisitivo, proporcionando-lhes conforto e segunda, os famosos
condomínios fechados.
No entanto, as bruscas contradições demonstram a reiteração da
segregação urbana, manifestando-se na gentrificação da cidade
(GONÇALVES, 2016). No caso das cidades litorâneas, mais
precisamente em Garopaba, este processo foi constituído a partir da vinda
de turistas e veranistas.
O contato destes veranistas e turistas com a comunidade, por sua
vez, pode causar impactos na cultura local e no cotidiano dos moradores
nativos. Estes acabam por implantar novos costumes, como uma culinária
mais sofisticada para atendê-los, ou o uso e apropriação especifica de
alguns espaços como o pátio das casas, por exemplo. Pois quanto maior
o poder aquisitivo dos veranistas se tem uma maior tendência de
sofisticação dos costumes por eles trazidos, e uma importação de padrões
estrangeiros pelas comunidades locais, acarretando assim um
desenvolvimento urbano diferenciado dos demais espaços da cidade
(VASCONSELOS; CORIOLANO, 2008).
55
3 METODOLOGIA
3.1 Área de Estudo
O município de Garopaba está localizado na região sul de Santa
Catarina, a uma latitude de 27°58’15” e uma longitude de 48°39’36”,
distante 49 km de Florianópolis, capital do estado catarinense.
Desde a construção da rodovia BR-101, na década de 70, e da SC-
434, principal acesso ao município de Garopaba, intensificou-se a taxa de
urbanização e a ascensão do setor terciário em detrimento das atividades
primárias. Essas obras contribuíram para que muitas famílias de
agricultores e pescadores migrassem para realizar atividades remuneradas
fora da agricultura e da pesca. Neste processo, ainda em transição, os
terrenos agrícolas foram dando lugar aos novos loteamentos e a vários
tipos de estabelecimentos comerciais atrelados à indústria turística
(CERDAN et al, 2010; JACOMEL, 2012).
O mesmo possui uma área territorial de 115, 405 km² e uma
população de aproximadamente 18.138 habitantes, com uma densidade
demográfica de 157,17 hab / km², tendo em vista que esta densidade pode
aumentar, pois a estimativa para 2014 -foi de 20.545 habitantes, devido a
grande procura da população para residir no município (IBGE, 2010).
O município registra atualmente um índice referente à densidade
demográfica de 1,426 habitantes por hectare (hab / ha). Nos parâmetros
da escala de densidade demográfica adotada pelo IBGE, índices
superiores a 100 hab./Km² ou 1 hab./ha são considerados de grande
concentração populacional.
Estima-se que mais de 100 mil turistas visitem Garopaba na alta
temporada. Mesmo sem considerar o aumento da população turística na
época de veraneio, a cidade já dispõe de um índice populacional
considerado elevado conforme foi constatado nos estudos que embasaram
a elaboração do novo Plano Diretor Municipal (JACOMEL, 2012; IBGE,
2015).
Os moradores fixos ocupam pouco mais da metade dos domicílios
em Garopaba, o que corresponde a cerca de 6.200, e que abrigam, em
média, três pessoas em cada uma das residências. As demais habitações
são residências de veraneio que pertencem a pessoas que visitam Garopaba (JACOMEL, 2012; JORNAL DA PRAIA, 2010).
57
A ocupação urbana de Garopaba se deu inicialmente ao longo da
orla da praia Central e, posteriormente, no sentido praia – continente. A
Lagoa das Capivaras, localizada na zona central do município, com uma
área total de aproximadamente 20 hectares, seu entorno tornou-se um
foco do crescimento urbano no município.
O principal atrativo de crescimento é a qualidade de suas praias,
que impulsionou o desenvolvimento do turismo na região. Com o
aumento do turismo e sua estabilidade, a especulação imobiliária
aumentou, seguida de um processo de ocupação irregular e de
crescimento desordenado - inclusive com indicativos de uma grande
tendência de favelização nos próximos anos (BARROS, 2008;
JACOMEL, 2012).
Segundo o Plano Diretor Municipal, a ocupação do solo é um
ponto crítico em vários pontos da cidade, existindo um parcelamento sem
critérios, que é condutor de inúmeros conflitos na área. Loteamentos
clandestinos, aqueles sem aprovação na Prefeitura ou que estão
implantados de forma diferente daquela aprovada pelo poder público
municipal e/ou sem registro em cartório, qualificados como ocupação
irregular, estão tomando conta da zona costeira de Garopaba (JACOMEL,
2012).
O município é uma enseada, que se estende da praia da Gamboa
até a Praia do Ouvidor. O relevo, na maior parte do município, está em
ambiente de planície litorânea com áreas planas e onduladas, costões de
formação granítica, dunas e restingas, tendo o mar como influência direta
dessa configuração.
Parte do município de Garopaba está inserido dentro da área da
APA, que abrange cerca de 156.100 hectares e uma faixa de 130 km de
costa, entre o sul de Florianópolis e o Balneário Rincão.
A Unidade de Conservação, APA da Baleia Franca, foi criada em
2000, por um Decreto s/n°, com intuito de proteger a espécie Baleia
Franca Austral (Eubalaena australis) que vem para o litoral sul do país
para reproduzir. Este tem por objetivo a aplicação de normas de conduta
e manejo das atividades humanas a fim de preservar os recursos naturais
e a qualidade de vida das comunidades.
O município também faz parte da APA do Entorno Costeiro, criada
em 2009, a partir da Lei Estadual 14.661/2009, que reduziu a área do
Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, criado em 1975, através do
Decreto n° 1.260/75, e a maior unidade de conservação no Estado
ocupando aproximadamente 1% do território de Santa Catarina (REIS,
2012).
58
Figura 2 - Área de abrangência da Área de Proteção Ambiental da
Baleia Franca.
Fonte: ICMBIO, (2014)
Garopaba possui vegetação tropical atlântica e litorânea e uma
pluviosidade inferior a 1.400 ml, com menos de 120 dias de chuva/ano.
Tem como uso e padrão de cobertura de solo, uma vegetação secundária,
pastagens para a pecuária e lavouras. A geomorfologia e o relevo estão
caracterizados por planícies litorâneas e serras do leste catarinense
(MARTIN, 2013; GAROPABA, 2012).
O clima de Garopaba é mesotérmico úmido, sem estação seca.
Controlado por massas de ar frias e quentes, as quatro estações do ano são
bem definidas, sendo que no inverno pode atingir 10ºC e no verão
alcançar 38ºC, quando normalmente, na atualidade, o mar estará lotado.
A Massa Tropical Atlântica atua mais frequentemente na primavera e no
verão e a Massa Polar Atlântica no inverno e no outono (DA SOLLER,
2012).
3.2 CaracterísticaS da Pesquisa
A pesquisa utilizou a metodologia científica para obter novos
conhecimentos no campo da realidade social como conhecimentos sobre
a natureza, as populações e seus grupos territoriais bem como sua
organização e relacionamento (MARCONI; LAKATOS, 2010). Primeiramente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica,
abrangendo a bibliografia já tornada pública (artigos científicos, teses,
dissertações e livros) em relação ao tema de estudo, colocando o
pesquisador em contato com o que foi escrito, dito ou filmado sobre o
assunto (MARCONI; LAKATOS, 2008). A principal vantagem da
59
pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao pesquisador descobrir
uma série de acontecimentos e fatos mais vastos do que aquilo que
poderia ser pesquisado de modo direto (GIL,1994).
A pesquisa está inserida no âmbito da abordagem qualitativa que,
segundo Chizzotti (1998, p.79):
[...] parte do fundamento de que há uma relação
dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma
interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um
vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito. O conhecimento não se
reduz a um rol de dados isolados, conectados por
uma teoria explicativa, o sujeito-observador é parte
integrante do processo do conhecimento e
interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um
significado.
A pesquisa tem uma perspectiva exploratória, que tem como
objetivo alcançar um panorama geral da situação, a fim de “[...] esclarecer
e modificar conceitos e ideias, com vistas na formulação de problemas
mais precisos [...]” (GIL, 1999, p. 44).
Foi realizada uma pesquisa de campo, que tem por objetivo
conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para
qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira
comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre
eles (MARCONI; LAKATOS, 2010).
O método utilizado no trabalho é o estudo de caso, que segundo
Goldenberg (2009), caracteriza-se por reunir um maior número de
informações detalhadas, com a finalidade de apreender a totalidade de
uma situação e descrever a complexidade de um caso concreto (p. 33).
Ainda, de acordo com Gil (1999), o estudo de caso, é recomendado
nas fases iniciais de uma investigação sobre temas complexos, para a
construção de hipóteses ou reformulação de problemas, “pois é uma
categoria de pesquisa cujo objeto é analisado de forma profunda” (GIL,
1999, p.79).
O tempo de estadia no campo pode variar bastante, dependendo
das pessoas pesquisadas, do seu grau de conhecimento e o relacionamento
do pesquisador com o grupo e do tipo de problema abordado. O
pesquisador precisa ganhar a confiança da comunidade, para poder obter
as informações necessárias e que lhe interessam de forma consciente
(ALBUQUERQUE; LUCENA; NETO, 2010).
60
O trabalho de campo é tarefa que toma um volume de tempo e
trabalho do investigador, exigindo paciência, esforço e cuidado com o
registro dos dados (MARCONI; LAKATOS, 2008). Estando inserida
uma vastidão de informações que darão enriquecimento aos resultados
desta pesquisa (CHIZZOTTI, 1991).
As atividades de campo foram desenvolvidas no período de março
a novembro do ano de 2016. Durante este período, além das entrevistas,
foram realizadas conversas informais com os moradores do município,
tendo-se um maior convívio com os mesmos.
O convívio com os moradores durante este período foi importante
para se ter um melhor conhecimento a respeito de seu cotidiano e seu
modo de vida, bem como entender melhor a organização da cidade tanto
no que diz respeito aos moradores quanto aos turistas. Cabe salientar que
neste período foi possível presenciar algumas atividades realizadas no
entorno da lagoa, como queimadas e cortes de árvores.
3.3 Levantamento de Dados
Para obtenção dos dados, foram utilizados os processos de
pesquisa documental e bibliográfica e os contatos diretos. A soma destes
materiais coletados contribuiu para descobrir indícios ou subsídios
importantes para o trabalho (MARCONI; LAKATOS, 2010).
O levantamento de dados ocorreu predominantemente de forma
direta, com o levantamento das informações (MARCONI; LAKATOS,
2010; GIL, 1999), através da utilização de entrevistas semiestruturadas,
as quais foram realizadas a partir de um roteiro predeterminado, foram
gravadas e transcritas, permitindo ainda a utilização de outros temas e
conteúdos esclarecidos no desenrolar da entrevista (CARVALHO;
TOZONI-REIS, 2009).
Para a realização das entrevistas, foi utilizada a metodologia Bola
de Neve, na qual um sujeito que já possui uma convivência com o
pesquisador indica outro sujeito para incluir na amostra. Esta metodologia
é utilizada quando se trata de populações específicas e de um número
pequeno de indivíduos (DEWES, 2013).
Vale destacar que a entrevista é uma técnica que o pesquisador se
apresenta em frente ao público-alvo e lhe faz questionamentos, com o objetivo de obtenção dos dados que lhe interessam para investigação,
sendo também uma forma de interação com os indivíduos investigados
(GIL, 1999).
O trabalho de campo foi realizado no Município de Garopaba, no
período compreendido entre março e novembro de 2016, com os
61
moradores do município. Para a realização das entrevistas, foram
entrevistados 25 moradores1 com, no mínimo 18 anos, privilegiando os
moradores que residem há mais de 10 anos no local (permanecendo o ano
inteiro).
A maioria dos entrevistados já vivia há mais de 25 anos no
município, sendo moradores nativos ou pessoas que iniciaram a veranear
na cidade e, posteriormente, firmaram residência. Os entrevistados possui
idade entre 35 e 88 anos, tendo estes ocupações diversas, como
pescadores, comerciantes, taxistas, aposentados ou possuem renda
através do aluguel de casas para veraneio.
No entorno da lagoa foram entrevistados apenas três moradores,
pois muitos daqueles que residiam no entorno da lagoa acabaram se
deslocando para outros bairros do município, conforme explicado no
decorrer do trabalho.
As entrevistas foram concedidas, em sua maioria, na própria casa
dos moradores e no seu local de trabalho. Algumas entrevistas foram
realizadas em grupos, tendo em vista a presença de familiares no local.
No entanto, vale ressaltar que a prevalência foi de entrevistas individuais.
3.4 Análise dos dados
A partir dos dados coletados e obtidos os resultados, partiu-se para
interpretação dos mesmos, constituindo o núcleo central da pesquisa
(MARCONI; LAKATOS, 2010).
Os dados dão um significado com maior amplitude as respostas,
vinculados a outros conhecimentos, expondo o verdadeiro significado do
material apresentado em relação aos objetivos e ao tema. A
sistematização foi realizada a partir de narrativas por meio das
informações, falas e conversas com o público-alvo (MARCONI;
LAKATOS, 2010; GIL, 1999).
Os dados coletados através das entrevistas foram transcritos e
analisados de modo a classificar alguns trechos das entrevistas, seguindo
a análise e interpretação de sentidos proposta por Gomes (2012). Os
trechos classificados, bem como comentários e observações, serviram de
ponto chave para interpretar a percepção ambiental dos moradores sobre
a situação anterior e atual da Lagoa.
1 De acordo com Bauer e Gaskell (2008), o número ideal de
entrevistas semiestruturadas em uma pesquisa qualitativa varia entre 15 e 25, o
que permite que um pesquisador realize a análise do material com profundidade.
63
4 A MEMÓRIA DOS MORADORES DE GAROPABA
4.1 AS LAVADEIRAS
Na década de 40 e 50, já quase entrando na década de 60, se tinha
um problema, a água e energia. O processo de modernização de Garopaba
ainda engatinhava e o primeiro sistema de abastecimento de água
encanada no estado foi na grande Florianópolis, em 1910 (CASAN,
2016), e, posteriormente, se deu aos demais municípios do estado
catarinense. A água da Casan em Garopaba, segundo um dos
entrevistados, contou com a ajuda de seu Dedê.
Victor Carlos Nauck, conhecido como Dedê, é de família alemã, o
primeiro a vir para o Brasil foi seu avô Alberto Nauck, alemão vindo de
Bohn, que aportou no Paraná, trazendo uma pequena fortuna em ouro, o
que permitiu adquirir várias propriedades em Florianópolis, onde casou e
formou família. Deste casamento, nasceu Victor Carlos Nauck (Dedê);
Antonina e Teobaldo, todos falecidos. Em meados de 1960, seu Dedê
doou um terreno no morro, onde hoje é o Loteamento Panorâmico, para
colocar a caixa de água, e abastecer a cidade (HÜBNER, 2011).
De acordo com os moradores, a Lagoa das Capivaras, até o início
da década de 90, era frequentada por moradores nativos do local, que a
tinham como uma fonte de recursos para sua própria subsistência.
Mulheres de classes populares utilizavam a lagoa para lavar roupas e os
homens para pesca.
A água não era encanada, e as mulheres iam até a Lagoa Pequena
para lavar as roupas de sua família e de pessoas de grande poder aquisitivo
– neste caso, os donos das salgas de peixe e “coronéis”, como eram
chamados os donos das fazendas que havia na região.
Minha mãe lavava as nossas roupas e as roupas dos
donos da salga que tinha há muito empo aqui, eles
tinha dinheiro para pagar porque podiam [...] eu
lembro bastante da gente fazendo mais que uma
viagem pra buscar as roupas porque tinha a nossa e
a deles né, aí a gente ia junto com a mãe pra buscar
as roupas depois da praça, ali no centro histórico
com a beira da roupa molhada (F, 55).
Segundo uma das entrevistadas, que fora lavadeira,
cada uma das mulheres tinha seu “tanquinho” para
lavar roupa e, quando necessário, ajudavam as
64
amigas que tinham maior volume de roupa.
Cada uma tinha um cocho, mas quando precisava
se dividia, se emprestava, dependendo do tempo
uma ajudava a outra, porque se chovesse ia ter mais
roupa (J, 58).
Além disso, a lagoa era própria para tal atividade, por ser mais rasa
que a lagoa grande (Lagoa das Capivaras) e havia possibilidade de todas
as mulheres ficarem ao seu redor dividindo o espaço e tornando o trabalho
ainda um momento de socialização. Não havia dia específico para a
atividade, era nos dias em que havia maior disponibilidade, devido aos
demais trabalhos domésticos realizados em suas casas.
Geralmente, as mulheres iniciavam seu trabalho nos primeiros dias
da semana, pois eram nestes dias que seus maridos partiam para as
viagens de pescaria, ficando a semana fora pescando em outros
municípios e até estados, além de contar com o tempo favorável para que
as roupas secassem a beira da lagoa. Seus maridos retornavam
normalmente no final da semana e elas deveriam estar em casa para
recebê-los, deixando as tarefas da casa como comida pronta, roupa
lavada, pátio limpo, prontas para sua chegada.
Em relato da entrevista, a entrevistada conta que o trabalho de
lavadeira era um meio de poder falar com as amigas sobre os problemas
familiares e até mesmo um momento de descontração e descanso para os
bate-papos e cochichos, que não podiam comentar em suas casas, além da
cantoria com canções antigas.
Nesse sentido, além de ser uma fonte de água doce onde as
mulheres podiam lavar roupas, a lagoa também constitui um importante
espaço de sociabilidade para estes sujeitos. A sociabilidade é uma forma
independente de sociação, sendo uma atividade livre, ou seja, uma
interação que não é obrigatoriamente necessária ou possui interesses
específicos, mas caracteriza uma satisfação de estar socializado, passando
a ser uma forma pura de socialização (SIMMEL, 1964).
Para Simmel (2006), as manifestações sociais reciprocamente
estabelecidas compreendem a essência de uma sociedade, em um
processo de constante construção. A sociabilidade é uma capacidade
natural da espécie humana para viver em sociedade, desenvolve-se pelo
processo de socialização. Diante deste contexto, a sociabilidade é definida
por um processo no qual inicia-se a interação dos indivíduos, em que estes
adotam sistemas de cooperação e colaboração, como o caso das
lavadeiras.
65
A lagoa era além de um espaço de lazer para as famílias que viviam
no entorno da lagoa na época, era também um espaço de trabalho, onde
era realizada uma atividade de trabalho informal por mulheres moradoras
do local. Tornou-se um ambiente de sociabilidade, solidariedade e trocas
de favores onde se era compartilhado das brigas e fofocas de terceiros e
próprios, além de conhecimentos não autorizados. Era um local de
aprendizado e ensino, onde compartilhavam também as receitas de chás
para cura de doenças e benzeduras.
No momento em que lavavam as roupas, estas mulheres
compartilhavam seus conhecimentos com as lavadeiras mais novas,
geralmente eram suas filhas, ou então com aquelas que vinham morar no
local, após se casarem com seus filhos. Por serem de pouca idade, cerca
17-18 anos, não tinham muita experiência e, por meio desta socialização,
aprendiam a melhor maneira de lavar a roupa, as ervas que serviam como
remédio, bem como algumas dicas culinárias.
Eu comecei nova a lavar roupa, eu ia com a minha
mãe né, eu ajudava ela antes de casar, aí depois eu
lavava as minhas. A gente começava a trabalhar
cedo, ajudava nossos pais desde cedo. Eu ajudava
a limpa a casa e a minha mãe me ensinou tudo, lava,
cozinha, limpa...tudo...tudo. Porque eu tinha que
sabe me vira sozinha também né (M, 88).
Ademais, tornou-se um local de lazer para estas mulheres, tendo
em vista que este era o momento em que podiam conversar com aquelas
que eram mais que colegas de trabalho, eram amigas, companheiras e até
parte de sua família, muitas vezes.
Lavar roupa era até divertido, porque a gente ficava
só em mulheres, e ali a gente conversava as coisa
que não podia ser falado na frente dos marido
(risos) [...] a gente se ajudava, eu ajudava bastante
a minha irmã também e as outras né, no fim das
contas era divertido porque a gente ria das coisas
(M, 88).
O cotidiano das lavadeiras possibilitava muitas interações, desde
a prática do trabalho, tendo um contato com outras lavadeiras em local
público, bem como com suas “patroas” para quem lavavam roupa,
aproximando mulheres de classes distintas. A pesquisa evidenciou que o
gênero é uma categoria chave para pensar as relações que os moradores
mais antigos estabeleceram com a lagoa.
66
Para Scott (1990), o gênero é “um elemento constitutivo de
relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, e
o gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de poder”.
Falar sobre gênero não necessariamente significa falar apenas de
mulheres, mas de relações socialmente construídas, marcadas, muitas
vezes, por relações de poder e desigualdades. Estudos demonstram como
as relações de gênero organizam as relações familiares, estabelecendo
tarefas e comportamentos considerados apropriados para homens e
mulheres (COSTA; SILVEIRA; MADEIRA, 2016).
O poder masculino mostrava-se muito forte tanto na vida das
mulheres quanto em relação à divisão sexual do trabalho, sendo o homem
o responsável pelo sustento da casa por meio da atividade de pesca.
Porém, a atividade de lavadeira era fundamental para a economia
doméstica:
Eu tinha que trabalhar, porque só a pescaria não
dava conta de sustentar a casa e meu marido ficava
dias fora de casa, e eu tinha que dar comida pras
criança (L, 82).
O trabalho realizado por estas mulheres era de suma importância,
porém não tão visível. Os paradigmas existentes no mundo do trabalho
instauraram, como principal característica, o termo "trabalho invisível",
que passou a ser recorrente para caracterizar tipos de ocupação, em geral,
com baixa qualificação, com pouco ou nenhum vínculo empregatício, em
sua grande maioria, temporário e que se encontra fora dos sistemas de
proteção social. Esse tipo de ocupação, muito presente na informalidade,
gera uma invisibilidade social, pois não existem vínculos nem com o
Estado nem com as instituições civis (NUNES, 2007). Deste modo, a
atividade de lavadeira era vista como um “quebra-galho”, e não como um
trabalho formal, já que as mulheres viam-se como “donas de casa, mas
também eram lavadeiras” (MORAES, 2005 p. 23), exercendo ainda o
cuidado da casa e dos filhos. Estudos apontam que a profissão de
lavadeira é antiga, pois iniciou-se com as mulheres negras escravizadas,
exclusivamente atividade das mulheres da época colonial.
Há diversos trabalhos a respeito deste contexto histórico em
diferentes regiões do Brasil (SANTOS, 2000; MORAES, 2005; NUNES NETO, 2005; CUNHA, 2006; MELO, 2007; WOLFART, 2008;
SAMPAIO, 2013 ROSLAVO, 2016). Relações de intimidade e amizades
entre as lavadeiras certamente eram construídas, bem como troca de
favores. Isso porque passavam grande parte do tempo juntas e somente
67
entre mulheres, fato este que propicia uma maior relação de confiança
para troca de confidências sobre acontecimentos pessoais que surgiam em
casa e, muitas vezes, não eram discutidas e compartilhadas com seus
maridos ou outros familiares do sexo masculino (SILVA, 2011).
Algumas destas mulheres, quando iam lavar suas roupas na lagoa,
tinham o costume de levar seus filhos consigo. Estes, por sua vez,
brincavam e nadavam na lagoa, e costumavam pescar com caniço. A
lagoa se tornou um local de ambiente familiar, onde havia relações e
interações, bem como transmissão de valores, saberes e atitudes que
possibilitam um processo de construção e ensinamento sobre as práticas
realizadas pelos seus pais.
Os filho ia comigo, enquanto eu lavava roupa as
menina brincava na lagoa, tomava banho porque
em casa não podia deixa e tinha a mais nova com
aninho naquela época, porque a gente tinha filho
bem nova antes, hoje já é mais tarde que a mulher
fica grávida (M, 85).
Para Garcia et al 2007, aquilo que é transmitido pelas gerações
mais velhas para as gerações mais novas não permanecem íntegro, eterno
com o passar dos anos. As gerações possuem características próprias que
as tornam diferentes da geração futura e provavelmente distintas das
próximas gerações. Estas distinções devem-se à interferência de fatores
históricos e sociais que fazem parte do contexto de tempo e espaço vivido
por essas gerações.
As lavadeiras traziam suas roupas como uma trouxa, na cabeça.
Não existia dia especifico para lavar roupa na lagoa, era o que dia em que
havia disponibilidade e que não chovesse, mas normalmente eram nos
primeiros dias da semana. Segundo um dos sujeitos da pesquisa, as
lavadeiras eram identificadas por estarem sempre com as trouxas de
roupa, algumas deixavam suas roupas secando a beira da lagoa e
aproveitavam para ir buscar mais roupas, que seriam de seus patrões e
passavam pela praça com suas saias molhadas. Posteriormente passavam
pela praça novamente com trouxas de roupas em direção à lagoa para
lavar mais uma remessa. O trabalho era árduo e com dificuldade, segundo uma das
entrevistadas, que lavava roupa na lagoa e disse que não era fácil como
hoje que existem máquinas que fazem este serviço. Naquele tempo, não
havia sabão em pó e amaciante, o sabão era feito em casa com sebo de
animais e soda cáustica. De acordo com as lavadeiras, o sebo e a soda
68
deixavam as roupas macias. Depois de batê-las na tábua (tanquinho) para
tirar as manchas, as roupas, por fim, tinham que ser engomada.
Segundo uma ex-lavadeira, suas mãos ficavam machucadas de
tanto esfregar e bater as roupas, causando calos e “rasgando o couro (pele)
da ponta dos dedos”. Destacou que isso acontecia normalmente no
inverno, período em que a água era mais gelada. No verão era mais
agradável, pois havia mais peixes na lagoa e aproveitavam para se
refrescar também, como pode ser visto na fala de um dos filhos de uma
lavadeira.
Era um divertimento, um lugar que eu ia pra me
divertir, pegar comida pra me alimentar, era muito
importante pra mim. Acordava de manhã, tomava
um cafezinho e ia lá pra lagoa pescar, me divertir,
respira aquele ar puro, o dia que era de verão
tomava banho, nadava (C, 52).
No processo de engoma da roupa, as lavadeiras utilizavam amido
de milho e o dissolviam em água dentro de baldes. Á água era aquecida
no fogareiro (pequena fogueira), onde ficavam mexendo o amido sem
parar até chegar no ponto desejado. Após, a goma era coada com auxílio
de um pano e, posteriormente, as lavadeiras banhavam as roupas na goma
e colocavam para secar.
Em entrevista com uma lavadeira, a mesma ressaltou que não havia
recursos para cuidar melhor da roupa e este era o meio que utilizavam
para deixar a roupa em melhor estado. A água limpa que existia na lagoa
contribuía para deixar a roupa limpa.
A água era boa e bem limpa, nós lavava a roupa e
deixava secando no sol, a água da lagoa não
deixava a roupa encardida, nós lavava sempre ali
(M, 88).
Uma entrevistada que fora lavadeira disse que quando, completou
24 anos de idade, conseguiu emprego na casa de um “coronel”, onde
trabalhou como empregada doméstica durante décadas até conseguir a
aposentadoria. Sua infância foi muito sofrida, contou que no centro de
Garopaba havia lavoura de mandioca e pomares de laranja, que se
estendiam do entorno da lagoa até as proximidades do centro histórico.
Quando os coronéis das fazendas autorizavam, os empregados podiam
pegar as frutas que caíam no chão para levar para casa, o que acontecia
sempre com a presença de um dos coronéis, pois eles não deixavam
69
apanhar a fruta diretamente do pé. A fruta “boa” era destinada somente
para venda.
Quando dava vento, nós vinha pedir laranja do
chão, aí tinha morador que ainda ficava esperando
a gente se a gente pegava laranja do pé, porque não
podia, só do chão (M, 88).
Para a ex-lavadeira, trabalhar na casa dos patrões era melhor,
porque a comida era variada e de melhor qualidade, podendo se fazer três
refeições durante o dia. O pagamento era recebido no final do mês e o
trabalho era realizado durante o dia todo. As famílias que pagavam pelo
serviço de empregada doméstica eram poucas, pois a maioria da
população era de origem humilde. Estas famílias mais abastadas que
podiam pagar pelo serviço viviam onde hoje é o centro histórico do
município de Garopaba.
As mulheres que não conseguiram emprego como empregadas
domésticas trabalhavam na salga do seu Dedê, um próspero comerciante
que impulsionou os negócios do município de Garopaba no século
passado. Juntamente com as mulheres, a salga contava com cerca de 200
funcionários. As mulheres, especificamente, trabalhavam salgando cação,
tainha e enchova. Uma das entrevistadas contou que sua mãe trabalhou a
vida toda nesta salga, além de fazer tranças para confeccionar chapéus de
palha.
Como se pode perceber, a atividade de lavadeira era característica
das mulheres dos pescadores que exerciam outro tipo de trabalho fora do
lar, para ajudar a complementar a renda de seus maridos.
A memória das lavadeiras é importante, pois traz à tona o universo
vivido por aquelas mulheres, suas experiências e vivencias,
principalmente junto as demais mulheres, construindo um ambiente
feminino. Junto de seus maridos, sustentaram seus filhos, tinham a
lavação de roupas como seu sustento e, ao mesmo tempo, tinham a lagoa
como um local de divertimento, e estabeleciam com ela uma relação de
equilíbrio ecológico.
4.2 A PESCA NA LAGOA
A pesca na lagoa, de acordo com relatos de alguns moradores de
origem pobre, constituía uma fonte alimentar importante para suas
famílias. O peixe mais pescado era o Cará (Geophaginae). Além de
70
alimento, este peixe também servia de isca para os pescadores pegarem
peixes maiores no mar.
Ali na lagoa pescava também, tinha bastante Cará
ali, é um peixe com bastante espinho, eu gostava,
mas agora nem sei se tem mais ali (J, 67).
Às vezes vinha gente pescar ali, eles pegava os
peixe pra ir pescar no mar depois mas muita gente
pegava pra comer mesmo, [...] como não tinha
outra coisa, nós era muito pobre e muita gente
também, era o que tinha (B, 48).
Os pescadores deslocavam-se, durante a temporada de pesca, para
outros municípios e/ou até outros estados e lá permaneciam por períodos
que variavam entre 15 e 45 dias, aproximadamente.
Quando pescavam em Garopaba, os pescadores saíam às quatro da
manhã e voltavam às cinco da tarde. Pescavam cação de quatro metros,
linguado, pampa pescado na linha na Praia da Silveira.
Figura 3 – Pescados na praia
Fonte: Foto cedida por um dos entrevistados.
Seu Dedê começou a comprar toda a produção de peixe,
sustentando todos os pescadores. Seu Dedê veio parar em Garopaba,
quando os pais faleceram, e a mãe doou o dinheiro da família para a
Irmandade dos Passos de Florianópolis. Assim, seu Dedê ingressou na
Polícia Militar e chegou a Garopaba como cavalariano. Em Garopaba
casou com Auta de Freitas Nauck, filha do ex-delegado Genuíno Freitas,
homem de costumes bastante rígidos. Seu Dedê e dona Auta tiveram três
filhos: Ernesto Henrique Nauck, pai de Vitor; Aurino e Lica, todos
também já falecidos.
A pesca, porém, era considerada uma atividade econômica
instável, e a renda obtida pelas mulheres com a lavação de roupas
71
contribuía para sustentar a família. É válido lembrar que a atividade de
lavadeira, doméstica e empregada na salga era trabalho para subsistência,
dependendo das necessidades, elas se propunham a trabalhar em qualquer
outra coisa, como afirma o trecho da entrevista de uma ex-lavadeira.
Os nosso marido ficavam fora pra pesca né, mas eu
não me importava não, não me arrependo de nada
do que eu fiz até aqui, eu tenho muito orgulho de
ter lavado roupa na lagoa, e se fosse pra fazer tudo
de novo eu fazia, e se tivesse que trabalhar em outra
coisa eu trabalhava também, porque minha mãe me
ensinou assim e se a gente não trabalha a gente não
tem as coisas (L, 79).
Havia pessoas de outras localidades que pescavam na lagoa
também e tinham esta atividade como lazer, porém quem pescava com
maior frequência na lagoa eram os nativos.
As pessoas começaram a vir aos poucos pescar na lagoa, como dito
no parágrafo acima quem pescava na lagoa eram os moradores nativos.
No entanto, podia-se ver pessoas de outras localidades, principalmente
nos finais de semana no entorno da lagoa. Muitas destas vinham
acompanhadas de suas famílias, utilizando a lagoa também como área de
lazer. Estas atividades realizadas na lagoa podem ter sido o início do
turismo na região, pela incidência de mais pessoas frequentando a área.
Atualmente, segundo os moradores, as pessoas não costumam mais
pescar na lagoa, isso porque a lagoa, além de diminuir de tamanho, está
contaminada. A presença de aguapés no entorno da lagoa e os poluentes
derivados da falta de saneamento básico acabaram por espantar os turistas
e até mesmo os moradores nativos. Ainda, segundo relato dos moradores,
é possível existir algum peixe no local, porém este está contaminado e
não serve como alimento. Além do mais, a lagoa tornou-se imprópria para
banho na década de 1980, deixando de ser uma área de lazer para turistas
e os próprios nativos.
4.3 A PRESENÇA DE POPULAÇÃO INDÍGENA
Foi relatado pelos entrevistados a existência de indígenas que
frequentavam a lagoa, cerca de 80-90 anos atrás.
Segundo Santos (2004), os indígenas habitavam o litoral
catarinense, antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral, ocupando
grande parte do litoral dividido em grupos e aldeias. Era uma população
72
de Tupi-Guarani, que habitavam o litoral e foram chamados pelos
europeus de Carijó. Estes grupos já conheciam a agricultura e tinham a
pesca como atividade de subsistência.
Os indígenas ficavam acampados à beira da lagoa onde
costumavam pescar e utilizavam a água para banho e cozinha. Segundo
um dos moradores entrevistados, eles vinham da floresta que existia na
região, referindo-se neste caso ao Parque Estadual da Serra do Tabuleiro.
É válido destacar que este parque foi criado em 1975 e abrangia a
área de nove municípios, incluindo Garopaba. Em 2009, houve a
recategorização2 de sua área, transformando o parque em um mosaico de
unidades de conservação, com regimes jurídicos diferenciados (REIS,
2012).
Atualmente, segundo o relato dos moradores, os indígenas ainda
frequentam as margens da lagoa, como pode ser observado na Figura 4.
Neste verão de 2016/2017, indígenas da etnia Kaigang, vindos do oeste
do estado de Santa Catarina também acamparam no local para venderem
seu artesanato, juntamente com seus filhos, segundo relato de uma
conversa informal tida com um dos orientadores desta dissertação que fez
contato com alguns destes indivíduos.
Os indígenas chegam para o período de veraneio - mais
especificamente em novembro e dezembro, indo embora entre março e
abril - estes trazem consigo seus filhos, que são responsáveis pela venda
dos artesanatos na praia, confeccionados pelos próprios indígenas.
2 São propostas do “Movimento pela Recategorização das Áreas
Costeiras do PEST”: 1. Reduzir a área do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro,
excluindo os territórios a Leste da BR-101, relativos a parte da região denominada
Área Costeira do Parque da Serra do Tabuleiro [incluindo as localidades de
Gamboa, Siriú (praia), Macacu e Areias do Macacu no município de Garopaba;
região do rio da Lagoa e da lagoa do Ribeirão no município de Paulo Lopes; Ponta
do Sul/Pedras Altas, Baixada do Maciambu (Campos de Araçatuba), Ilha dos
Papagaios Grande, Ilha dos Papagaios Pequena, Ponta da Pinheira, morro da
Guarda do Embaú e Ponta da Guarda no município de Palhoça; e, Naufragados,
Ponta dos Naufragados e Ponta do Frade no município de Florianópolis]; 2. Criar
uma nova Unidade de Conservação, nas áreas excluídas e adicionadas de outras,
com denominação proposta de Área de Proteção Ambiental Costeira do
Maciambu. Em síntese a redução da área do Parque Estadual da Serra do
Tabuleiro e subsequente criação de outra Unidade de Conservação menos
restritiva nas áreas costeiras do Parque, conforma a ideia da Recategorização.
73
Figura 4 – Acampamento indígena.
Fonte: da autora, 2015.
Tendo em vista este histórico, pode-se dizer que a tradição de vir
até a lagoa era algo comum entre os indígenas, e que esta era vista como
ponto de referência e recurso para acampamento de sua tribo. Havia muita
riqueza na fauna litorânea, que por sua vez através do fruto aglomerava
uma quantidade diversa de animais, tornando-se um local de riqueza para
os indígenas (SANTOS, 2004).
A riqueza da área servia de atrativo para os demais grupos, bem
como era motivo de disputas (SANTOS, 2004). A terra historicamente
tem sido motivo de luta dos povos indígena brasileiros, sendo esta a
garantia de sobrevivência e permanência histórica e cultural desses povos.
Mudaram os cenários e emergiram novos atores, ascendendo novos
conflitos denominados de conflitos socioambientais (HOEFEL et al,
2013), fato este, que acontece atualmente no entorno da Lagoa das
Capivaras. Com o inchamento das cidades brasileiras na década anterior,
aumentaram também os problemas relacionados à superpopulação, a falta
de justiça social, a diminuição da qualidade de vida, a violência e a
desigualdade econômica. O avanço caótico que proveu dessa soma de
fatores trouxe uma multiplicidade de atores e cenários para o espaço
público. Nesse sentido, a fala sobre o território passa a envolver novas possibilidades ao se tornar um elemento importantíssimo das
reivindicações nas cidades (VALVERDE, 2004). Neste caso, os atores
sociais que dominam a o setor imobiliário e moradores dos arredores,
veem a presença dos indígenas de forma negativa.
74
Os moradores entrevistados dizem que os indígenas acabam
deixando muito lixo no local e, por não terem estrutura apropriada,
acabam por fazer suas necessidades fisiológicas no entorno da lagoa,
tornando-se um incômodo para os turistas e moradores.
Os índio tão colocando barraca lá no verão, que
eles vem pra cá expor no verão. Os índios enche
tudo de barraca... é um lixo, uma catinga que eles
fico lá, o banheiro lá é tudo pra eles... aí botam
bastante barraca, coisa e fico lá pros filho vender
no verão não tem aí os filho sai tudo vender aí na
praia (V, 38).
É fato que tivemos e passamos por um processo de modernização,
processo este que nos remeteu a novos hábitos e costumes - e de higiene
também. Porém não podemos dizer que os indígenas que habitavam e
habitam o litoral catarinense em especial, vivem sem organização. Os
Carijós, grupo de indígenas do litoral catarinense, formavam sociedades
organizadas e inteiramente adaptadas ao ambiente (SANTOS, 2004).
Esta adaptação, tanto em relação as suas necessidades básicas
quanto ao seu modo de viver, não foi motivo pela degradação e
eutrofização da Lagoa das Capivaras, mas sim o processo de
modernização que levou ao uso abundante e sem controle dos recursos e
ao aterramento da Lagoa Pequena, dano irreversível.
Vieira e Ribeiro (1999) explicam que as atividades colígenas
(coleta, caça, pesca) não causam perturbações significativas e nem
processos irreversíveis a longo prazo. Entretanto, existe uma cultura de
consumo, o ser humano moderno tem a prática de aperfeiçoar a sua
tecnologia, chegando ao ápice de acabar com todos os estoques de plantas
e animais. Os turistas e demais atores sociais ligados à especulação
imobiliária, por sua vez, seguem os mesmos passos e, com ferramentas
ainda mais aprimoradas, comprometem a vida na natureza, tornando-a
temporária para os novos indivíduos urbanizados.
Para tanto, estes últimos devem “assumir certas adversidades
inerentes como a obrigação e se submeter ao princípio da prevenção de
danos irreversíveis” (VIERIA; RIBEIRO, 1999 p. 174). Estes danos são
aspectos esperados tendo em vista o modelo econômico vigente e as
práticas do ser humano em relação à natureza. No entanto, parte-se do
pressuposto do princípio da prevenção como um garantia de que estes
processos não tragam danos futuros ao meio ambiente, bem como uma
avaliação dos possíveis riscos e impactos.
75
5 A CIDADE CONTADA PELOS MORADORES
5.1 O PROCESSO DE OCUPAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO NO
ENTORNO DA LAGOA
A percepção do progresso no fim do século XIX, como sendo um
promotor de riqueza é visto no final do século XX como causador de
impactos ambientais. O pessimismo global em relação ao futuro
preocupa-se com o grau de consciência, de que a busca do progresso, que
anunciava-se como construção de uma utopia de bem-estar e felicidade,
hoje se revela como ameaça ao meio ambiente, aos recursos naturais e a
vida da população (BURSZTYN, 2001).
Neste sentido, nos encaminhamos para uma reflexão acerca de uma
série de problemas deste século (BURSZTYN, 2001), sendo um deles, a
forma como o sistema capitalista criou sob o espaço, um modelo de
mercado, reproduzindo-o como locais de compra e venda. Para Sánchez
(2010), o espaço não é apenas algo vendido na forma de uma parcela ou
terreno, mas sua comercialização “assemelha-se à venda de estilos de
vida” (p.48).
Segundo o Relatório Mundial das Cidades (2016), as áreas urbanas
onde se tem um sequente crescimento demográfico podem vir a ocasionar
índices de poluição, sendo maiores que as geradas nos últimos anos em
todo planeta. É válido destacar que parte dos efeitos, em razão dessas
emissões e contaminantes, já estão presentes nas cidades, tornando-se
necessárias medidas com maiores custos em infraestrutura, degenerando
a mobilidade e abortando terras agrícolas.
Segundo os moradores ouvidos pela pesquisa, era comum ver as
pessoas a beira da lagoa pescando, mas esta atividade entrou em declínio
após a diminuição dos peixes no local pela contaminação da água por
esgoto, em razão da ocupação desordenada do entorno da lagoa.
Menezes e Damázio (2005) explicam que a contaminação da água
pelo despejamento de esgoto acarreta em um processo chamado de
eutrofização, no qual um corpo de água adquire níveis altos de nutrientes,
especialmente fosfatos e nitratos, provocando o posterior acúmulo de
matéria orgânica em decomposição. Este processo facilita a reprodução
de plantas aquáticas e seu posterior alastramento no entorno da lagoa. A consciência de que a humanidade pode se autodestruir, por si
própria, através de suas atividades de degradação ambiental, remete a
ciência e tecnologia constituírem um papel de apelo por mudanças de
conduta, tornando a sociedade consciente do esgotamento dos recursos
naturais (BURSZTYN, 2001).
76
Para os entrevistados, a lagoa está diminuindo de tamanho por
conta de plantas aquáticas que estão nascendo em grande quantidade em
seu entorno. Segundo eles, estas plantas surgiram devido a uma mulher,
moradora de Garopaba que vivia no entorno da lagoa. Ela tinha o costume
de cultivar plantas à beira da lagoa e teria plantado uma muda desta
espécie, que foi se multiplicando e tomando conta do espaço, uma vez
que segundo os moradores esta planta não existia no local.
Figura 5 – Plantas no entorno da Lagoa
Fonte: da autora, 2016.
É valido lembrar que antes mesmo da mudança de cenário no
entorno da lagoa, ou seja, anterior à ocupação desordenada pela classe
média e alta, os moradores tinham o costume de plantar árvores frutíferas
e ervas medicinal para chá no entorno da lagoa, além de palmeiras. Ainda
existem três moradores nativos no entorno da lagoa, e uma das moradoras
entrevistadas disse ainda plantar palmeiras na lagoa. No entanto,
reclamou do desmatamento que ocorreu e ainda existe na área.
Na lagoa existiam capivaras que também constituíam uma fonte
alimentar para os moradores, além do peixe. De acordo com a maioria dos
entrevistados, a Lagoa das Capivaras é assim denominada devido à
presença desses animais em suas proximidades.
As capivaras são animais adaptados para viverem na terra e na água, justificando sua presença no entorno que era composto por
formações de montanha e dunas, as quais abrigavam estes animais. Por
estarem nestas regiões onde não havia água, vinham até a lagoa, pois era
o local mais próximo com presença de água doce, além de encontrarem
comida e abrigo de seus predadores (PEREIRA; ESTON, 2007).
77
Um dos sujeitos da pesquisa relatou que, antes de a lagoa sofrer
com o processo de urbanização, ao seu redor existiam dunas fazendo uma
ligação com a praia e chegavam até as encostas do morro, iniciando a
floresta. Estas foram desaparecendo aos poucos com a construção de
moradias pelos turistas. As dunas foram lentamente sendo plainadas, e
sua areia foi utilizada, em parte, na construção civil.
Em relação às demais plantas e árvores na lagoa, os entrevistados
contam que havia grande área verde no entorno. Era composta por árvores
frutíferas como o araçá (Psidium cattleyanum) e goiaba (Psidium
guajava), havia também bastante xaxim (Dicksonia sellowiana), dentre
outras, que foram posteriormente cortadas para construção das
residências.
Era bem arborizada, linda, linda nós andava de
barco debaixo das árvores, era bem arborizada
mesmo, com bastante árvore (P, 49).
Uma das entrevistadas, antiga lavadeira que atualmente mora
distante da lagoa e tem como fonte de renda o aluguel de casas para
veraneio, disse que, mesmo não morando nas proximidades, ainda
mantém contato com a lagoa, por meio do plantio de ervas. Relatou a ex-
lavadeira que pediu ao seu marido para que fosse até a lagoa plantar uma
muda de espinheira santa (Maytenus ilicifolia), pois não havia espaço em
sua casa para a planta.
Eu tinha aqui no canto da casa um pé de espinheira
santa, sabe né. Aí eu pedi pro meu marido ir lá
plantar na lagoa, porque assim, eu gosto dali e antes
a gente tinha mais espaço ali e agora quando eu
alugo a casa aqui no verão os turistas não cuidam e
ia roubar espaço e ela tava grande já. Aí ele foi lá
plantar, mas eu acho que ele plantou muito perto da
estrada, ele tinha que te plantado mais pra dentro
que aí ela ia vinga. E é bom né porque dai mais
gente pega pra fazer chá porque ela é bem boa pro
estômago (M, 88).
Com o processo de urbanização e vinda de mais pessoas para
Garopaba, o aluguel de casas passou a ser uma nova renda para os
moradores antigos, que deixaram as atividades de pesca, lavadeira e
outras que realizavam para se dedicar ao aluguel de casas. Isso se deve
também ao fato de a maioria destes moradores mais antigos estarem
aposentados. Em razão da nova renda adotada pela ex-lavadeira, o aluguel
78
de casas para veraneio, ela acabou perdendo o espaço que tinha no pátio
de sua casa para cultivar e cuidar de suas plantas. O espaço que existe no
pátio é utilizado pelos turistas de outra maneira, como, por exemplo, para
estacionar carro, fazer churrasco e outras atividades de recreação,
impossibilitando o plantio destas plantas.
Não planto mais aqui porque não posso plantar,
porque a gente aluga a casa então estrova, mas eu
gosto muito de plantar o verde (M, 88).
Percebemos então como a presença do "outro" no local nativo cria
outros espaços simbólicos que se interconectam e promove uma
reconstrução constante do local, bem como uma mudança de hábitos no
lugar.
As atividades realizadas na lagoa e em seu entorno tem um
significado de cuidado e costume para os moradores nativos. Estes
percebem a lagoa como uma extensão de sua casa, onde realizam e
desenvolvem atividades tanto em beneficio próprio quanto para o
coletivo, tendo a oportunidade de preservar seu espaço.
Um dos sujeitos da pesquisa, contou que gosta muito da lagoa, é
um local que faz parte de sua vida, sua história, e por gostar deste lugar
disse que sente vontade de cuidar e plantar flores e ervas para fazer chá,
como era antigamente, quando lavava roupas.
Eu tinha dois pezinho de espinheira santa aqui e
disse pro meu marido que eu ia lá plantar e fui, que
é pra chá, né, que é muito bom pra pessoa tomar...
aí, sabe, eu não vou tirar, vou plantar lá na lagoa,
eu gosto da natureza (M, 88).
Existem diferentes ocupações de espaço, sendo a apropriação do
espaço composto por lugares transitórios, como é o caso dos turistas que
alugam as casas, não tendo para estes um significado específico ou uma
relação de maior intensidade com o local, o sentimento de pertença, por
exemplo. Para os moradores, existe a apropriação de um espaço essencial,
o qual foi estabelecendo um vínculo e existe uma relação de maior
intensidade, como a lagoa para os moradores antigos, local este que se
tornou uma extensão de suas casas, por ser frequentado diariamente
(JERÔNIMO; GONÇALVES, 2013).
A apropriação pode ser definida como uma prática sócio-espacial,
indivíduos e grupos, com o passar do tempo, não só transformam o lugar,
mas também o utilizam para suas atividades cotidianas diversas,
79
específicas ou não, produzindo um espaço concreto e material. Os turistas
que visitam Garopaba no verão, bem como os veranistas que ficam no
município na alta temporada, apropriam-se do espaço temporariamente, e
é neste espaço que desenvolvem suas atividades, porém não
necessariamente criam um vinculo de afeto com o local, pois permanecem
por pouco tempo neste espaço (DIAS, 2015).
Já os moradores antigos e atuais moradores do local tendem a
produzir um espaço com símbolos, fenômenos sensíveis, projeções,
imaginário, utopias. A apropriação do espaço permite aos seus atores
organizá-lo de maneira que possam estabelecer uma relação entre o
espaço e as características próprias dos indivíduos. O ser humano vive no
espaço produzindo e reproduzindo-se continuamente, ou seja, apropria-se
do espaço de maneira que, através de suas relações sociais, vai
construindo um ambiente para suas necessidades cotidianas como casas,
cidades e estradas (DIAS, 2015; NARCISO, 2009).
Pode-se perceber que há, por parte dos moradores mais antigos,
uma manifestação de sentimentos pelo local onde moravam e passaram
grande parte de sua vida, sendo estes sentimentos importantes para sua
vida social e os relacionamentos com os demais grupos.
Um dos aspectos mais significativos para se perceber e poder
compreender o sentimento de pertença destes moradores nativos esta
relacionado ao passado histórico destas pessoas, sendo a causa expressiva
de sentimentos de amor e afeto dado ao lugar (TUAN, 1980). Para Santos
(1999), a memória coletiva é tida como substancial à conservação das
comunidades da sociedade, sendo um componente de conexão
assegurando a construção e continuidade de um futuro.
A sociedade, enquanto grupo, constrói e reproduz a sua
identificação através das relações que se estabelecem com o seu passado,
as quais são vinculadas pelos objetos, acontecimentos, fatos que o
representam. Estes são apropriados pela sua capacidade de (re)memorar
acontecimentos e convocar o passado, razão pela qual são conservados e
protegidos de forma a perpetuar a sua existência no tempo. A memória,
na concepção adotada neste trabalho, é, ao mesmo tempo, individual e
coletiva. Os sujeitos, através da percepção do espaço atual, podem
reconhecer e localizar as suas memórias, estabelecendo relações de
continuidade ou descontinuidade.
Nesse sentido, podemos deduzir que a construção da afinidade
destes moradores pelo local parece estar ligada à reconstrução do passado
a partir de acontecimentos e conflitos do presente, através de uma seleção
de fatos lembrados, debatidos e atualizados e a partir de estímulos de
agentes externos.
80
Salientou a ex-lavadeira, que prefere ver o “verde”, a natureza e
que não gosta de prédios, referindo-se à urbanização da cidade. A
consciência do passado é indispensável para o sentimento de amor ao
local de origem. Deste modo, pode ser este o fato de os turistas e visitantes
terem visões diferentes dos moradores nativos sobre determinados locais.
Para aqueles que veem o local pela primeira vez, a novidade é decisiva
para sua impressão e representação. Para o morador nativo, os
conhecimentos tradicionais e costumes são os fatores que os influenciam
para uma visão diferenciada (TUAN, 1980).
Assim sendo, é necessário estimular os moradores, bem como, suas
comunidades em manter o presente, de modo a manter sua identidade
histórica, tendo em vista que, com o passar dos anos, as histórias e
acontecimentos do passado podem ficar esquecidas.
Em uma sociedade em constante modificação pelos fluxos
migratórios derivados da globalização e por novas tecnologias, a
identidade está submetida a uma mistura cultural e trocas interculturais,
que consequentemente transformam os costumes de comunidades locais
(GIDDENS, 2002) fazendo com que as novas gerações esqueçam suas
origens, de onde vieram e como eram anteriormente.
Ou seja, fortalecendo e mantendo presente a memória destas
comunidades, tem-se a possibilidade de estabelecer sentimentos de
pertença pelo lugar.
5.2 INÍCIO DO PROCESSO DE CRESCIMENTO URBANO
O primeiro povoamento de Garopaba surgiu no ano de 1666 por
imigrantes açorianos que caracterizaram em definitivo a área, marcando
de modo particular o ambiente (SANTOS, 2004). Modo este ainda
presente pela exploração agrícola, em especial a farinha e produtos
derivados da cana-de-açúcar. Além disso, haviam as embarcações
associadas à atividade pesqueira e, principalmente, a armação baleeira,
com a caça da baleia como influência para permanecer no local
comercializando seu óleo e barbatanas, não mais presente no
município(GAROPABA, 2016).
A primeira vila de Garopaba foi criada em 1877, a qual era uma
vila pacata, frequentada por poucos turistas. A população de Garopaba vivia em torno onde é o Centro Histórico atualmente, com poucas casas
espalhadas pelas comunidades. A pesca, agricultura familiar e os
engenhos de farinha, eram as atividades econômicas. As estradas de
acesso eram ruins e ainda não asfaltadas, a BR 101 ainda não era
duplicada. O asfalto de acesso ao município foi inaugurado em 1986, e a
81
partir daí a cidade começou a tomar um novo rumo através do turismo,
que já existia, porém não tão forte como é hoje através da vinda do asfalto.
Em dezembro de 1961, Garopaba firmou sua situação como
município. Desde a construção da rodovia BR-101, na década de 1970, e
da SC-434, principal acesso ao município de Garopaba, intensificou-se a
taxa de urbanização e a ascensão do setor terciário em detrimento das
atividades primárias. Essas obras de pavimentação contribuíram para que
muitas famílias de agricultores e pescadores passassem a realizar outras
atividades remuneradas fora da agricultura e da pesca. Neste processo,
ainda em transição, os terrenos agrícolas foram dando lugar aos novos
loteamentos e a vários tipos de estabelecimentos comerciais atrelados à
indústria turística (CERDAN et al, 2010; JACOMEL, 2012).
Em Garopaba existiam duas lagoas uma ao lado da outra, a Lagoa
Pequena e a Lagoa das Capivaras. Atualmente, a Lagoa Pequena já não
existe mais, pois foi aterrada no ano de 1988 para implantação de um
empreendimento, fato este que motivou uma Ação Civil Pública em
decorrência do dano ambiental causado e que ainda vem trazendo sérias
consequências ao local.
A lagoa das Capivaras é um caso muito sério, vixi...
ali tem muita encrenca, muito peixe grande [...] ali
todo mundo quer, né, eles queria construir ali, os
grandão aqui de Garopaba queriam construir ali,
mas não deu certo porque fizeram coisa errada, eles
tamparam a lagoa de cá, né (M, 56).
Ali tinham duas lagoa, né, a lagoa das capivara que
era maior e se pescava e a lagoa pequena que era
mais para lavar roupa, as duas lagoa era boa e
saudável, água limpa, limpinha guria, uma era mais
funda... nós andava até de barco e a pequena mais
rasa que era pra lava roupa, que nós dizia que era a
lagoa pequena (R, 62).
A ocupação urbana de Garopaba se deu inicialmente ao longo da
orla da praia Central e, posteriormente, no sentido praia-continente. O
principal atrativo de crescimento do município são suas praias, que
impulsionaram o desenvolvimento do turismo na região.
82
Figura 6 – Entorno da Lagoa das Capivaras na década de 70 e em dias
atuais.
Fonte: foto cedida por um dos entrevistados e Google Maps, 2016.
De acordo com um dos entrevistados, o primeiro turista que chegou
em Garopaba foi Ernesto Neugebauer, dono da fábrica de chocolates
Neugebauer, de Porto Alegre, no início dos anos 70. Ele vinha de
caminhão Mercedes, com umas 20 pessoas, e acampava no município.
Disse ainda que o turismo começou no centro histórico, quando foi
construído o Hotel Litoral, de propriedade de Huri, 47 anos, irmão de
Dedê, com pequenos quartos de madeira que eram alugados para os
amigos da família e conhecidos.
Para um dos moradores entrevistados, se não fosse a vinda do
turismo para Garopaba, o município seria ainda uma colônia de
pescadores e é hoje um lugar privilegiado para viver: “não se vê violência,
gente pedindo esmola, a qualidade de vida é excelente e isso se deve ao
turismo, e 90% ao povo gaúcho, que descobriu Garopaba,” diz.
O mesmo entrevistado, ainda, ressaltou que os turistas se encantam
com Garopaba, embora ele veja muito descaso com o turismo, que seria
a “única indústria”. Ele lamenta que, apesar de tão bela, com “gente tão
boa e honesta”, em Garopaba prevalece, na política, o interesse particular.
Aterraram a lagoa pra construir, né, aterraram, tão
construindo casa e agora tá um matagal, tem um
pedaço que têm, mas tá aterrado, construíram casas
em volta, foram aterrando e agora é só de um (J,
42).
Com o aumento do turismo e sua estabilidade, a
especulação imobiliária aumentou seguida de um
processo de ocupação irregular e de crescimento
desordenado - inclusive com indicativos de uma
grande tendência de favelização nas áreas
periféricas nos próximos anos (BARROS, 2008;
JACOMEL, 2012).
83
Este processo de crescimento urbano em área periféricas se deu em
razão do processo de elitização dos espaços resultantes de certas políticas
de revalorização urbana. Ações articuladas com atores sociais interferem
na materialidade e paisagem do espaço, incentivando a criação de novos
locais. Consequentemente, conseguem atrair e fomentam o interesse das
classes mais abastadas, provocando a exclusão da população,
especialmente devido à especulação imobiliária (SILVA, 2008).
Segundo um dos entrevistados, em aproximadamente em 1970,
Garopaba era uma pequena vila. Em sua maioria, era habitada por
pescadores e sua praia era frequentada por um pequeno número de
turistas. Praticamente não existia nenhuma infraestrutura para os
visitantes, como estradas, restaurantes, hotéis etc. (Figura 7).
Figura 7: Município de Garopaba, aproximadamente em 1970.
Fonte: foto cedida por um dos entrevistados.
Atualmente, Garopaba é um dos balneários mais procurados pelos
turistas, caracterizado pela ocupação urbana na orla e ao redor da Lagoa
das Capivaras. A habitação é algo que não recebeu importância nas
últimas duas décadas nas agendas de desenvolvimento dos poderes
públicos. Cerca de 70% da superfície está ocupada por habitações,
determinando a forma urbana e sua densidade (Relatório Mundial das
Cidades, 2016).
No município de Garopaba, esta interferência da ocupação urbana
é acentuada sobre a Lagoa das Capivaras, que recebe esgoto sanitário das
residências do entorno, o que leva a uma eutrofização artificial da mesma,
devido à grande carga de poluentes despejada. Ainda, suas margens estão
sendo invadidas por habitações irregulares construídas ao longo dos anos,
ocasionando enorme impacto a este ecossistema que se configura como a
união de uma vasta multiplicidade de espécies.
A Lagoa das Capivara tá cada vez mais critica,
antes eu pescava, pegava peixe, hoje não passo
mais nem... não tenho coragem nem de molhar
meus pé lá, tenho até medo, que antes eu tomava
84
banho, mergulhava, brincava, a gente fazia
jangada, andava de uma lado para outro, nadava,
mergulhava... hoje não deu mais (C, 54).
Este processo de urbanização se deu em razão da apropriação de
regiões do município de Garopaba como local de segunda residência por
classes média e alta. Este processo de apropriação da praia está atrelado
ao “enobrecimento” das águas salgadas do mar e das faixas de praia da
costa brasileira (ARAÚJO, 2013), relacionado às transformações
urbanísticas decorrentes do crescimento e da modernização da zona
costeira para classes de alto poder aquisitivo.
Nesse sentido, o crescimento urbano de Garopaba está atrelado a
uma “construção social da praia” por uma sociedade de alto poder
aquisitivo (MACHADO, 2000), transformando a natureza em áreas
privadas, em artigo de luxo e de acesso restrito para as classes menos
abastadas (WENDEL, 2015). Este processo de urbanização da cidade não
está associado aos costumes e tradições dos moradores nativos, mas à
criação de um novo espaço para indivíduos e grupos que buscam uma
vida próxima à natureza (WENDEL, 2015).
Segundo Sánchez (2010), a criação desses novos espaços se dá pela
“imposição de uma ideologia da felicidade” (p. 42), derivada do consumo
e de um urbanismo moldado para as classes superiores, de alto poder
aquisitivo. Deste modo, partes das cidades estão subordinadas ao controle
e privatização, causando impactos a vida social de muitos moradores.
Estas “partes” das cidades estão sendo tomadas pelo mercado
capitalista, que por sua vez, introduz a um processo de reestruturação
urbana, podendo ser a produção (indústrias, empresas multinacionais,
obras de infraestrutura, etc.), ou pelo próprio consumo do espaço, através
de ações destinadas ao lazer e turismo como também ações imobiliárias,
que é o caso de Garopaba (SÁNCHEZ, 2010).
Como consequência deste processo, o entorno da Lagoa das
Capivaras passará a ter um acesso restrito, imposto por mudanças e modos
de uso e consumo, separando o espaço público do privado. O espaço antes
frequentado por moradores nativos é dominado pelo mercado imobiliário,
fortalecendo ainda mais a inclusão e exclusão de grupos sociais
(SÁNCHEZ, 2010).
Todo este processo de ocupação desigual pode originar uma fase
de estagnação e possível declínio do ponto de vista ecológico (POLETTE
et al., 2000), acarretando a uma mudança do espaço, ou até mesmo o
desaparecimento de áreas naturais, antes intocadas.
85
Um lugar tão bonito, tão saudável que era, pessoal
não tá mais respeitando a natureza né, tão
destruindo com a própria natureza, o homem
mesmo, tem um pessoal que tá jogando lixo lá,
jogando objetos que não servem mais para a casa
fogão velho, essas coisa tudo e fica assim, né, tão
poluindo, e ela tá se destruindo assim sem a ajuda
a ajuda da população, que falta assim que a
população se reunir e lá pra manter a lagoa como
era antes... e tá abandonado, infelizmente (U, 41).
Eu nasci aqui na beira da lagoa, fui criado aqui,
pescava e brincava e agora não dá mais né, tá
destruída mesmo (D, 55).
Polette (2000) presume um modelo de ciclo de evolução para áreas
de grande potencial turístico. Inicialmente, tem-se um pequeno
crescimento do local, em sequência esboçam uma rápida taxa de
crescimento, e posterior a consolidação da área, se tem o declínio. O autor
explica que, inicialmente, se terá um número pequeno de visitantes em
razão das dificuldades de acesso; as facilidades e acesso são
reformulados, dando suporte e estrutura para novos visitantes, bem como
para a vinda de mais pessoas. Após, com a divulgação do local, a área irá
criar renome e rapidamente crescerá. Consequentemente, se terá um
aumento da população e a capacidade de suporte do local entrará no seu
limite e, posteriormente, em declínio.
Este processo pode ser observado por meio de alguns fatores, como
a falta de água e de espaço, diminuição da qualidade do ar e da água,
transporte inadequado ou ausência de modo coletivo, excesso de
população de classe média/alta nas praias e afastamento da população
nativa, falta de saneamento básico. Deste modo, a área deixará de ser um
atrativo, tendo em vista seu intenso uso e o abalo causado pelos turistas,
como por exemplo, lixo, esgoto, barulho excessivo, havendo grande
propensão de eversão, ou seja, a destruição da zona costeira.
Pode-se citar exemplos como Fortaleza, onde especialmente a
Praia do Futuro, compreendendo as áreas de proteção ambiental praia,
pós-praia e campo de dunas, tem causado alterações na dinâmica dos
elementos geoambientais que compõem esta unidade (CORREA;
DANTAS, 2003).
A construção desenfreada de casas, edifícios e outros
empreendimentos, aliada à especulação imobiliária em áreas de dunas,
aumenta a cada dia na Praia do Futuro, comprometendo a quantidade e
86
qualidade das reservas aquíferas, da paisagem físico-ambiental e
contribuindo para a degradação ambiental da zona costeira (CORREA;
DANTAS, 2003).
Além desta, pode-se citar o exemplo do município de São José do
Ribamar, no Maranhão, que vem passando pelo mesmo problema, a ação
antrópica pela construção de casas e bares vinda a influenciar diretamente
na atividades costeiras. Os principais problemas que a área costeira de
Panaquatira enfrenta estão relacionados a mudanças na dinâmica praial,
no curso do igarapé, destruição do manguezal e das dunas para construção
das casas de veraneio e bares; estas obras ocupam toda a franja costeira
deixando pouco espaço para uso coletivo (SOUZA, et al., 2006).
Um exemplo mais próximo ao município de Garopaba é o caso da
destruição da orla marítima no município de Itajaí, no litoral catarinense,
por empresas do ramo imobiliário. Estas empresas foram denunciadas por
associações preservacionistas, gerando grandes embates. Estes embates
tiveram início nas últimas décadas do século XX, e se acirraram com a
pressão de empreiteiros e empresários para a liberação destas áreas de
preservação e a construção de empreendimentos imobiliários de luxo nas
praias do município de Itajaí (LUNA, 2014).
Não é somente o turismo em massa que irá levar ao declínio da
área, mas também as atividades predatórias industriais. Tendo em vista o
potencial ecológico da região, indústrias irão instalar-se no local,
consolidando atividades de comércio destinadas a atender a população
mundial, como a pesca industrial.
Segundo os entrevistados a chegada de barcos pesqueiros
industriais na região acarretou um declínio da pesca no município. Os
pescadores apontaram a falta de fiscalização como principal problema, já
que estes fazem uso de tarrafas produzidas por eles mesmos. Ainda,
segundo eles, muitos são pescadores novos, e "não sabem pescar", ou seja,
não possuem experiência na atividade pesqueira, e acabam por prejudicar
outros pescadores mais antigos, quando entram no mar na hora errada,
espantando os peixes – podendo ser reflexo das deficiências na
transmissão de conhecimentos entre gerações (CAPELESSO;
CAZELLA, 2011), em razão deste declínio da atividade pesqueira.
O surgimento de novas atividades e serviços são reflexos
dominantes da aceleração da atividade turística (SÁNCHEZ, 2010).
Segundo moradores, a atividade de construção civil está em alta na região,
principalmente nas áreas próximas à praia. São visíveis as construções de
casas para novos moradores, o que gera um aumento na demanda por
mão-de-obra. Por este motivo e pela demanda de mão-de-obra, parte dos
moradores nativos deixou de lado a atividade de pesca e começaram a
87
trabalhar como pedreiros. Desde então, estes moradores ainda continuam
trabalhando na construção civil.
Garopaba vivia da pesca e da lavoura. Hoje é
diferente, vive de turismo, mudou, entendeu?
Pessoal que trabalhava na lavoura saiu para
trabalhar, pra vir trabalhar em Garopaba na
construção civil, hotelaria, assim por diante, né,
através do turismo (G, 47).
Como consequência mais direta da ação urbana voltada para o
mercado capitalista ocorre um aumento de serviços e produtos destinados
ao consumo, onde os processos de gentrificação (CERQUEIRA, 2014),
sugerem a elitização dos espaços, desdobrando-se na promoção de um
espaço artificial, da criação de locais com qualidade de vida em contato
com a natureza, para um público abastado com valores distintos da vida
da comunidade local (SILVA, 2008).
89
6 A URBANIZAÇÃO TURISTICA NO MUNICIPIO DE
GAROPABA
6.1 O TURISMO E A APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO
A atividade turística contribui positivamente e negativamente para
a zona costeira, porém, o aspecto positivo é, muitas vezes, utilizado como
suporte para a aprovação de determinados empreendimentos destinados
ao turismo de massa e como publicidade das alterações econômicas e
“cartão de visita” para muitos municípios. Nesse sentido, esse aspecto
esconde os impactos negativos.
A urbanização dos municípios litorâneos vem ocorrendo com a
exploração turística sazonal. O fenômeno veraneio (MATOS; GRUBER,
2012) e a construção de segunda residência (SILVA; FONSECA, 2010),
ilustram o impacto no desenvolvimento dos assentamentos urbanos. A
possibilidade de proveito e gozo pelo ambiente litorâneo contribuiu, em
grande parte, para a urbanização dos municípios e para o surgimento da
especulação imobiliária.
De acordo com relatos dos sujeitos da pesquisa, o turismo em
Garopaba teve um crescimento significativo por volta da década de 90,
quando um pequeno número de indivíduos passou a veranear na área
próxima à praia e no entorno da lagoa, e, aos poucos, foram se alastrando
para outras áreas do município e fixando sua segunda residência.
A aquisição de uma segunda residência é um fenômeno comum no
litoral brasileiro, e foi marcado pela valorização da área costeira como
paisagem de consumo, tornando-se um seguimento voltado para a
população de alto poder aquisitivo, que está associado à tranquilidade,
suavidade e beleza de paisagens naturais distantes dos centros urbanos
(SILVA; FONSECA, 2010).
As pessoas com maior poder aquisitivo foram comprando lotes
existentes próximos à orla marítima e entorno da praia, onde
posteriormente foram construindo casas e condomínios fechados para
período de veraneio. O impacto nos meses de verão pode ser observado
através do quadro abaixo, podendo observar que no período de veraneio
se tem um aumento da densidade populacional no município de
Garopaba.
90
1 – População fixa e população flutuante (nos meses de verão)
GAROPABA
População (2010) 18.138*
População Estimada (2016) 21.573*
Área (Km²) 115,405*
Densidade Populacional (hab/km²) – (2010) 157,17*
População Flutuante 100.000**
Densidade Populacional Flutuante (hab/km²) 866,52***
Fonte: IBGE, 2010*; Prefeitura de Garopaba, 2016**.
Dado calculado pela pesquisadora***
Este aumento populacional retrata o tipo de residências construídas
na área costeira, que consequentemente expressam cada vez mais a
desigualdade entre estes moradores e a comunidade local que vive em
casas humildes.
O crescimento econômico e demográfico levou ao aumento de uma
malha edificada, potencializando o desenvolvimento de extensos
contínuos urbanizados que contribuíram para a solidificação das áreas
metropolitanas, e determinou grandes mudanças na paisagem (SILVA;
MARQUES; DELGADO, 2012). A paisagem urbana é uma paisagem
alterada ou proveniente da natural, podendo ser positivas ou negativas.
Através de um planejamento é possível fazer com que essa mudança na
paisagem seja positiva para a cidade, de modo a ter uma maior harmonia
com a natureza e as próprias pessoas que residem no local há muito mais
tempo (FREITAS, et al. 2012).
A vinda de mais pessoas para o município foi acompanhada pela
construção de uma maior e melhor infraestrutura urbana, como ruas,
saneamento básico, transporte, dentre outras. A partir do momento em
que estas facilidades foram providenciadas, aumentou-se o número de
turistas e veranistas, popularizando a área, que, com o passar dos anos,
cresceu. Segundo Araújo (2013, p. 03), “novos espaços e equipamentos
urbanos e novos serviços públicos e privados surgiram para fomentar os
recreios e a sociabilidade de inspiração da burguesa [...]”. Como
consequência, esta urbanização, beneficiada por estas facilidades, levou
ao aterramento da Lagoa Pequena, conforme relatado anteriormente.
Uma das maiores discussões sobre meio ambiente em zonas
costeiras concentra-se em buscar conciliar o desenvolvimento do turismo
e a ocupação urbana com a preservação de suas características naturais.
Além da necessidade de melhoria nos serviços básicos de habitação, para
receber elevado número de pessoas e com as facilidades de acesso à praia
91
para todos, tendo em vista que a procura pela área de litoral cresce a cada
dia.
O município, que é conhecido por suas praias e belezas naturais, é
visualizado pelo mercado imobiliário como objeto de venda subordinado
ao mercado capitalista. Entende-se, a partir deste contexto, a
mercadificação (HARVEY, 2005) dos espaços que até então estavam
sobre o domínio público, passaram a ser de domínio privado a partir do
avanço deste modelo capitalista.
A rápida urbanização tornou mais notória as desigualdades
econômicas e sociais nos entornos urbanos (RELATÓRIO MUNDIAL
DAS CIDADES, 2016). No que se refere à área de litoral a qual a cidade
objeto de estudo está localizada, podemos citar um exemplo próximo
Jurerê Internacional, no norte da Ilha de Santa Catarina, que foi
considerado o sexto bairro mais caro para se morar do Brasil em 2013, de
acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). O local
está destinado para o estabelecimento de moradias para uma população
de altíssimo nível, seguindo os padrões arquitetônicos construídos com
uma identidade no estilo estadunidense. A venda destes espaços
construídos é qualificada pelas campanhas publicitárias vinculadas à
natureza, aliadas como sinônimo de qualidade de vida em harmonia com
a natureza (WENDEL, 2005).
Para Sánchez (2001), a transformação das cidades em mercadorias
indica que o processo de mercantilização do espaço, denominado por
Harvey (2005), chegou em outro nível, ou seja, em um produto, um objeto
de venda e troca do mundo da mercadoria, do capitalismo e do processo
de globalização presente. A autora ainda destaca que a existência de um
mercado de cidades é um acontecimento recente, e demonstra como o
mercado capitalista está tornando o espaço em mercadoria. A estratégia é
pela conquista do espaço, traçando todas as cidades e as colocando em
um mercado internacional, almejando a produção de um espaço social.
Este espaço natural é apropriado por empreendedores que os
colocam à disposição do mercado imobiliário, divulgando-os, muitas
vezes, como residência “verde”, ou seja, como construções
ambientalmente corretas. Esta apropriação do espaço pode ser associada
com o que Lefebvre (2006) denomina como objeto de venda e “coisas”,
que são comercializados entre a sociedade capitalista. Esse ambiente não
é natural, mas sim construído para saciar as necessidades de uma nova
geração de sociedade que busca a qualidade de vida ao entorno da
natureza.
Os novos empreendimentos imobiliários dos centros urbanos
persistem em unir sua imagem a da natureza visando um ambiente
92
tranquilo, saudável e com qualidade de vida para se viver. Para Sánchez
(2010), o ambiente urbano é requalificado para evidenciar a autoestima
dos moradores, bem como ganhar a confiança de novos investidores.
Deste modo, os componentes do meio ambiente são favorecidos
tendo um novo significado, se tornando interessantes para o mercado
imobiliário ao ponto de representarem a valorização de residências e
espaços da cidade, resultando em uma apropriação diferenciada do espaço
urbano (BRICALLI, 2010).
Este espaço de natureza artificial produzido para atender as
demandas de mercado encontra-se hoje em discussão no município de
Garopaba. A prefeitura está fazendo uma readequação da área para iniciar
o processo de recuperação do local, pois, segundo o Plano Diretor e
escrituras dos terrenos do entorno, a Lagoa das Capivaras já não existiria
mais. Ou seja, nos documentos do órgão municipal, a área da lagoa seria
um terreno disponível para uso. Segundo fontes da prefeitura, isso se deve
ao fato destes terrenos terem sido repassados para terceiros na forma de
herança familiar, mas que seriam propriedades que estão ainda em
processo de inventário e desmembramento.
É importante lembrar que o plano diretor municipal (PDM) é um
instrumento de planejamento e gestão de municípios (REZENDE;
ULTRAMARI, 2007), considerado extremamente importante para
facilitar a gestão municipal. O plano diretor municipal se apresenta hoje
como um instrumento básico do planejamento urbano nacional, com
intuito de construir cidades com uma qualidade urbana para todos. A
construção do Plano Diretor deve ocorrer por meio de mecanismos
democráticos, que viabilizem a prática da gestão compartilhada e
integrada, com a participação da comunidade no planejamento urbano
(MOREIRA, 2008).
Através dos relatos dos moradores e do órgão municipal, pode-se
perceber que a construção do plano diretor do município apresenta
informações que não coincidem com a realidade. A maioria dos
entrevistados disseram não participar das reuniões do plano diretor e
muitos nem se quer sabiam o que era o plano diretor.
Aqueles que disseram não participar das reuniões relataram não
saber destes encontros. Quanto aos entrevistados que tinham
conhecimento a respeito do plano diretor do município, uma das
entrevistadas disse que foi apenas a uma reunião e após não retornou, pois
não gostou do modo como a reunião era realizada, referindo-se ao fato de
estarem presentes somente os empresários locais. Além desta, outro
entrevistado disse que participou das reuniões do plano diretor e contou
que a maioria das pessoas que participavam das reuniões eram
93
empresários do município e funcionários da prefeitura e que a população
local não se fazia presente, eram raras às vezes quando havia algum
morador nativo.
Deste modo, pode-se ainda perceber que, diante do atrativo da área
para uso turístico, é de interesse público que a área se torne um
loteamento, para receber mais pessoas. Como explicou um dos moradores
entrevistados, “como a lagoa era bonita, todo mundo queria morar ali,
então o pessoal que tinha terreno foi vendendo aos poucos”. A venda
destas casas se deu além da boa oferta pelos empreendedores, bem como
pela necessidade dos moradores nativos, que viam a pesca como uma
atividade instável e em declínio devido aos arrastões que estavam
iniciando no município. Assim, podemos dizer que o local de moradia
articula o privado e o público, de acordo com o tempo ou interesse de seu
proprietário (SCARPELINE, 2012).
O espaço da casa traz inserido nele a vida de seu proprietário e de
seus familiares, que ali viveram por muito tempo e construíram um espaço
com usos e significados próprios (SCARPELINE, 2012). Conforme
explicado anteriormente, atualmente ainda existem apenas três moradores
nativos que ficaram no entorno da lagoa. Os moradores que venderam
seus terrenos migraram para bairros mais populares do município, como
Ambrósio, Macacu, Campo d’uma e Pinguirito, formando,
consequentemente, um novo conjunto de relações. Estes bairros
encontram-se mais distantes da lagoa, e consequentemente não possuem
a mesma estrutura do centro da cidade, fazendo com que muitos
moradores se desloquem para trabalhar todos os dias.
No início quando fizeram sua mudança para outro bairro, os
moradores ainda continuaram com suas atividades de pesca por um
tempo, porém, atualmente, não são mais pescadores, um deles vive do
aluguel de casas e o outro já está aposentado. Relataram que o problema
foi o fato de terem que conhecer novamente seus vizinhos, e isso foi um
ponto negativo para as suas esposas, pois tiveram que se adaptar ao novo
local.
Um dos moradores disse que sua mulher não gostou da mudança,
porque, além de refazer contato com as outras mulheres, não tinha amigas
para conversar, pois as mulheres do novo bairro tinham outra rotina,
acabavam saindo todos os dias para trabalhar no centro e sua mulher,
também aposentada, tem o costume de ficar em casa. Segundo a ex-
moradora, as mulheres no entorno da lagoa eram mais sociáveis e se
tinham um maior acolhimento pelos vizinhos. Hoje, relatou que já fez
amizades no novo bairro, por morar no local há algum tempo e, com o
passar dos anos, acostumou-se com a nova realidade do bairro.
94
Figura 8 - Localização dos bairros de Garopaba
Fonte: Garopaba, adaptado pela autora, 2016.
Este processo de mudança do entorno da lagoa pode ser
denominado de gentrificação, caracterizando-se pela ocupação de pessoas
de classe alta, com elevada remuneração em partes dos centros urbanos
das cidades, que por consequência acaba por retirar moradores nativos de
baixa remuneração do centro urbano, acarretando a estes moradores uma
mudança social (BATALLER, 2012).
Para Bataller (2012), a mudança de moradores antigos para outras
áreas é seguida de um processo de melhorias e investimentos tanto para
as moradias quanto para a área no geral. É fato que atualmente no entorno da Lagoa das Capivaras inexistem casas simples, o local é hoje ocupado
por casas de alto padrão, e até mesmo os três moradores que permanecem
no entorno reformaram e/ou construíram novas casas neste mesmo
padrão, as quais servem para aluguel em período de veraneio. Além disto,
95
a área foi modificada pela vinda e presença de mais pessoas, onde se teve
uma rua construída, bem como aumento de empreendimentos comerciais
e demais serviços destinados a atender a classe de alto poder aquisitivo.
Nas últimas décadas, o fato refletiu principalmente acima de
diversas áreas centrais urbanas que, continuamente eram objeto de ações
de valorização urbana, foram reinventadas como lugar de residência
moderna, consumo e lazer para uma parcela da população, as classes
superiores (CERQUEIRA, 2014), como é o caso do entorno da lagoa.
Atualmente, o entorno da lagoa configura-se como área nobre,
ocupado pela população de alta renda, com toda infraestrutura necessária
para atender a demanda de turistas e veranistas que são atraídos pelas
propagandas de residências em loteamentos seguros e com qualidade de
vida ao lado da natureza.
Para Sánchez (2010), a qualidade da vida parece quantificável, de
modo a ser contabilizada por uma matemática da cidade moderna, através
da construção de loteamentos e locais requintados e produzidos
esteticamente pelo mercado capitalista.
Em Garopaba, não é somente o entorno da Lagoa das Capivaras
que configura-se este contexto, mas também na entrada do município,
onde se encontras um processo de ocupação irregular do Banhado da
Palhocinha (JACOMEL, 2012). O local é caracterizado como área úmida
de transição entre ambientes terrestres e marinhos e preservados pela
legislação. Apesar disto, existem entraves relacionados à ocupação desta
área, dificultando o processo de negociação dos atores envolvidos, tendo
em vista a existência de divergências entre os interessados e o custo social
e ecológico que este empreendimento poderá causar.
É importante salientar que houve o embargo deste
empreendimento pelo Ministério Público Federal, porém as obras
introdutórias de infraestrutura não foram desfeitas, e neste caso ainda
continuam a ser realizadas. Estas obras tem o intuito de construir um
condomínio residencial de luxo – o Garopaba Internacional (JACOMEL,
2012), para receber turistas e futuros novos moradores de alto poder
aquisito, como é o caso de Jurerê Internacional (WENDEL, 2005).
Além do conflito existente mencionado acima, existe outro
conflito relacionado à ocupação urbana desordenada em outra lagoa do
município de Garopaba, a Lagoa de Garopaba. A existência do conflito é
relativa à abertura da barra, que nem sempre é aberta no período adequado
para entrada da água salgada e dos peixes que chegam do oceano,
conforme relatado pelos próprios pescadores.
A abertura da barra propõe a baixa do nível da lagoa e evitar a
elevação do lençol freático, que influencia no volume das fossas sépticas
96
de casas que foram construídas locais baixos, neste caso, ocupação
urbanas irregulares que, por consequência, são alugadas para turistas e
veranistas tornando-se fonte de renda para moradores destas cidades.
Além de se tornar uma fonte de renda, a vinda de pessoas em grande
escala para o local prejudicou a atividade pesqueira na Lagoa de
Garopaba, pois, segundo um dos entrevistados, os peixes são espantados
por luzes e barulho (CAPELESSO; CAZELLA, 2011).
Assim sendo, a ocupação urbana, além de afetar a área próxima à
Lagoa das Capivaras, causando degradação de seu ecossistema, também
afeta outras áreas do município, diminuindo o acesso à população de
baixa renda, tendo em vista que os terrenos em todas estas áreas tiveram
aumento em seu valor.
O planejamento desta área, bem como o controle da entrada de
efluentes domésticos lançados diretamente na Lagoa das Capivaras, é
uma das alternativas para recuperação e preservação da mesma, porém
exige novas posturas na gestão de políticas públicas e um planejamento
integrado.
Segundo Brito e Câmara (2001), a falta de visão global do governo
sobre o meio ambiente é a maior dificuldade para se viabilizar paradigmas
que tratem sobre as questões ambientais.
Os desafios se colocam, fundamentalmente, no esforço de prevenir
e frear o avanço territorial e contribuir para manter as características
tradicionais das comunidades. Avaliando cada espaço, pode-se
desenvolver metodologias para construir favoravelmente em um futuro
ecologicamente equilibrado.
6.2 PERSPECTIVAS FUTURAS PARA A LAGOA
Na busca de alternativas para a reversão dos processos de
degradação ambiental, encontra-se, foi proposto um projeto de um Plano
de Recuperação de Área Degradada (PRAD) para a Lagoa das Capivaras,
resultado na proposição de reparação por dano ambiental no processo de
liquidação de sentença. Trata-se de uma série de programas e ações que
permitem minimizar o impacto ambiental causado pela construção do
empreendimento, visando à estabilidade ambiental e ecológica da área.
Tendo em vista a importância do plano de recuperação da lagoa, é importante salientar que a proposta do uso futuro é transformar a lagoa
em um parque, que seria uma área de lazer (construída), que serviria como
atrativo a turistas e futuros moradores.
Quando questionados os moradores sobre o uso futuro da lagoa, ou
seja, como eles gostariam de ver a lagoa atualmente, a maioria respondeu
97
que gostaria que a lagoa fosse como era antes, cheia de peixes e com água
mais clara, como no tempo em que havia mulheres lavando roupa à beira
da lagoa e os homens pescando. Disse ainda uma das entrevistadas que o
recurso deve ser “tratado, não deixar o mato tomar conta da água e a lagoa
fechar”. Pois, consideram a lagoa como uma atração que existe no
município e que deve ser preservada.
Eu tenho a lagoa como lençol freático das água de Garopaba,
aquilo dali deve ser preservado, deve ser revitalizado, aquilo dali devia
ser uma área de lazer, uma área turística futuramente já era, não sei porque
que está assim... tem projeto, diz que têm projeto, acredito que tenha,
tomara, né, se tivesse eu troço pra isso, eu torço por Garopaba, então eu
vou torcer pra que faça algo pela lagoa (NSD, 49).
Os moradores entendem que o primeiro passo a ser dado para a
recuperação e revitalização da lagoa seria a retirada das plantas – aguapés
– no entorno, entendendo a retirada destas plantas como uma “limpeza” e
que ajudaria a lagoa voltar ao seu tamanho natural. Ressaltaram que o
crescimento destas plantas aquáticas fez com que a lagoa diminuísse de
tamanho.
Os entrevistados consideram que a lagoa está abandonada e muito
suja, conforme relatado por um dos entrevistados que costumava ir até a
lagoa para pescar e ter seus momentos de lazer e que hoje considera que
o recurso foi “deixado de lado”, por parte do poder público e dos próprios
moradores que hoje se encontram residindo no entorno, como pode ser
observado na Figura 9.
Todos os entrevistados manifestaram o interesse de ver a lagoa
recuperada e que a mesma se tornasse um ponto turístico do município,
voltando a ser atrativo como antes. Disseram que era um local com muito
verde, animais e agradável para frequentar, trazer os filhos nos finais de
semana para se divertir.
Ali tinha bastante árvore, era bem verde e tinha
capivara, jacaré e outros bicho, tinha passarinho. O
pessoal que vinha e até a gente ia ali né, pra toma
banho e fica ali, era bom (S, 53).
Eu vinha com meu pai ali, ele pescava e eu tomava
banho no verão, tinha umas mulher que ficava na
outra lagoa, as lavadeira né, mas nós ficava na
grande, era bem grande, tinha bastante mata ao
redor e peixe, dava bastante cará (J, 51).
98
Hoje ali só tem mato, eles tiraram as árvores bonita
que tinha e deixaram só as planta de água e tá feio,
se eles deixa assim vai tampa tudo ali e aí mesmo
que não vai ter lagoa pras criança brinca. As minha
filha brincavam bastante ali, hoje podia ser meus
netos se eles arrumassem (M, 64).
Figura 9 – Lagoa das Capivaras
Fonte: da autora, 2015.
Em fevereiro de 2016, a prefeitura fez uma limpeza na Lagoa das
Capivaras, limpeza esta que causou danos no local, como pode ser
observado na Figura 10. A limpeza realizada pelo órgão municipal foi
feita sem orientação de técnicos competentes, deste modo, caracterizou-
se como um desmatamento, tendo em vista que a margem da lagoa teve
suas árvores e plantas cortadas e posteriormente queimadas.
Após a “limpeza” realizada nas margens da lagoa, alguns
moradores se manifestaram denunciando um possível desmatamento na
área. Segundo uma ONG do município, a limpeza da Lagoa das Capivaras
que a Prefeitura Municipal fez é sem discernimento e sem estudo prévio
das espécies que foram cortadas. O ambiente deveria ter sido conservado
pela comunidade e pelo poder público local, pois contribui continuamente
para a manutenção do lençol freático, que é uma das fontes de
abastecimento de água do município.
99
Figura 10 - Entorno da lagoa após limpeza do órgão municipal.
Fonte: da autora, 2015.
Segundo um dos entrevistados, a prefeitura estaria limpando o
entorno da lagoa, e tirando os aguapés, após vários pedidos dos
moradores. Além disso, relatou que a prefeitura irá plantar mais árvores
no entorno da lagoa e construir um parque para que as famílias aproveitem
o espaço nos finais de semana. A ONG do município ressaltou que o corte
da vegetação e espécies nativas no entorno da Lagoa é incoerente e pode
ser tratado como crime ambiental por ser uma vegetação nativa de
restinga e protegida por Lei, tendo em vista que é considera como Área
de Preservação Permanente.
A prefeitura relatou que vem se comunicando com lideranças
estaduais para falar a respeito dos problemas da lagoa e sua revitalização,
com objetivo de estruturar um projeto de acordo com a legislação vigente.
Segundo a prefeitura, o primeiro passo será criar um cronograma de
trabalho, fazer um projeto para realizar a limpeza e melhorar o aspecto
visual da lagoa. Na sequência será feito um estudo ambiental para saber
qual o impacto que dará a dragagem da lagoa e, mais tarde, fazer daquela
região um espaço de lazer para a comunidade.
O estudo ambiental foi iniciado pela Universidade do Extremo Sul
Catarinense – UNESC, o qual não teve sequência por parte do poder
público municipal, e o que se pode ver no entorno da lagoa hoje é a
continuidade dos loteamentos, segundo relato de um dos moradores que
ainda vive no entorno da lagoa é contínua a construção de cercas
100
dividindo os terrenos, bem como a supressão da vegetação, como pode
ser observado na Figura 11.
A entrevistada ainda disse que as palmeiras que plantou no entorno
da lagoa também foram cortadas e que estes cortes são realizados no final
do dia para noite e em finais de semana, quando inexiste fiscalização por
parte de órgãos competentes, fato este que agrava mais ainda a situação
do local e coloca em risco a sobrevivência da lagoa.
Figura 11 – Entorno da lagoa das Capivaras
Fonte: da autora, 2016.
Como se pode perceber através das fotos, a Lagoa das Capivaras
corre o risco de ter o mesmo destino da Lagoa Pequena, ser aterrada para
construção de loteamento. Além disto, no que tange a fiscalização do
local, inexiste fiscalização da ocupação de seu entorno nem por moradias
e nem outras atividades. É uma realidade de muito tempo que os carros
apreendidos pela polícia estão depositados às margens da lagoa, onde é
possível perceber plantas e árvores crescendo dentro dos veículos, que
por sua vez acabam por causar danos ao ambiente, como pode ser
observado na Figura 12.
101
Figura 12 – Carros abandonados no entorno da lagoa
Fonte: da autora, 2016.
O fato é que os carros que ficam alocados no entorno da lagoa
acabam contaminando o ambiente, pelo meio físico contaminando o solo,
bem como as águas superficiais e águas subterrâneas, pois existe a
possibilidade de vazamento de óleo e combustível destes veículos e por
meio biológico, causando condições adversas para a existência da flora e
permanência de animais do próprio ecossistema, além de contribuir para
a existência de animais sinantrópicos, como ratos, baratas e insetos em
geral (NAIME et al, 2009).
O abandono destes carros às margens da lagoa representa um risco
à saúde pública, tendo em vista que estes veículos acabam por acumular
água em sua estrutura e tornando-se foco de água parada, contribuindo
para a criação de mosquitos.
Ademais, o abandono de carros contribui contra o aspecto estético
e urbanístico do local. A falta de iniciativa, tanto do público quanto do
privado, bem como de uma educação ambiental por partes da sociedade
em geral contribuem para este tipo de problema. O pensamento de que o
espaço público não é de ninguém onde nem todos cuidam e nem se
responsabilizam, podendo fazer o que quiser torna os espaços/lugares
abandonados, não tendo importância.
O ordenamento dos espaços públicos, sobretudo os de lazer, é
atualmente um dos aspectos vitais para a revitalização e a qualidade de
vida no meio urbano. O espaço público tem uma função e esta prevê um
uso, a natureza do espaço público está na maneira como este é usado pelos
atores sociais, ou seja, das práticas que possa abrigar, que se torna
102
possível ou até benéfico, podendo a sua forma, propiciar ou inibir essas
práticas (GOMES, 2002).
Este uso já não se faz só em razão das dimensões objetivas das
pessoas, isto é, idade, género, habilitações, classe social, estilo de vida,
etc., mas cada vez mais integram outros aspectos mais subjetivos, como
as motivações, as aspirações e os valores de uma população. A dimensão
simbólica tem força, pois os espaços são utilizados também pela sua
imagem, qualidade e conforto, bem como, quando estão localizados em
áreas verdes, tendo um maior contato com a natureza e longe da agitação
das cidades grandes (MATOS, 2010).
Gradativamente, a demanda pela construção de espaços públicos
destinados ao lazer vem sendo uma das maiores reinvindicações da
população, principalmente às administrações municipais. Os moradores
entrevistados relataram que o local seria um ponto forte para o turismo e
que, se recuperado, atrairia mais pessoas, tanto no período de temporada,
no verão, quanto no inverno, onde se tem uma baixa no fluxo de pessoas
que visitam o município. Alguns dos entrevistados disseram que não há
pontos turísticos em Garopaba no período de inverno, e que a Lagoa
poderia ser este ponto se fosse recuperada e transformada em um parque
com pedalinhos, ciclovia, quiosques e trilhas.
Os moradores sugerem que os quiosques poderiam ser alugados e,
consequentemente, ser uma renda para aqueles que têm seu sustento
baseado no turismo e no período de veraneio, vindo a ser uma alternativa
de renda na baixa temporada, além de ponto turístico.
Ia ajudar no turismo, ia trazer mais gente porque
seria uma área de lazer de verde, com água clara e
bonita como era antes e não escura. Ia ter bem
menos mato [...] acho que assim ia fica bom (A,
40).
Pode-se perceber, por meio dos relatos dos moradores, que a
maioria associou o uso futuro da lagoa ao Lago Negro, frequentemente se
referindo ao local gaúcho. O Lado Negro é um lago artificial da cidade de
Gramado no Rio Grande do Sul, oferece passeio de pedalinhos, bares,
restaurantes e lojas. É considerado um dos maiores pontos turísticos de
Gramado, que possui sua econômica baseada também no turismo, porém
no período de inverno.
Para os moradores entrevistados não há outro modelo de
desenvolvimento que seja melhor para o local, ou seja, em sua concepção
não consideram meios de evidenciar as qualidades locais e desenvolver
103
modelos próprios para a região, como prevê o conceito de
ecodesenvolvimento (SACHS, 1986; VIEIRA, 2013). Na realidade,
preveem em suas falas a concepção de usar o local para gerar lucro através
da atividade de turismo, comparando ainda a outros lugares distintos.
É possível observar que os moradores associam a Lagoa das
Capivaras ao Lago Negro pela fama e beleza que o mesmo possui, além
de ser grande atrativo de turismo. Um dos sujeitos entrevistados, que
trabalha no ramo hoteleiro, considera o Lago Negro cartão postal da
cidade gaúcha, foi construído. Em Garopaba, temos uma lagoa natural e
apropriada para tal atividade, porém abandonada, ressaltando que seu
abandono é devido à falta de iniciativa política.
Ali podia ser um lugar bonito, podia colocar
pedalinho, limpa de novo porque eles limparam
mais o mato cresceu de novo, podia ser uma área
de lazer para gente passear, levar os netos para
brincar, um lugar para comer pro nativo vende as
coisa dele no inverno, porque os turistas ia gosta
também, lá em Gramado eu já fui e é bem bonito,
podia ser aqui também, ia trazer mais turista (M,
34).
Deste modo, a modernização do ambiente urbano colaborou para
a mudança de hábitos sociais dos moradores de pequenas cidades. Além
das melhorias na infraestrutura, a modernização contribuiu na busca de
melhorias nos centros urbanos com o propósito de minimizar ou reverter
os impactos gerados pelo processo de industrialização sobre as cidades.
Paralelamente, essas intervenções, são definidas como melhoramento e
embelezamento da cidade, propiciando a introdução de praças, parques.
O objetivo é amenizar o ambiente urbano, atualmente perturbado, para
apropriação das elites (MENDONÇA, 2007).
6.3 CONTRIBUIÇÕES DA MEMÓRIA PARA A EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
A presente dissertação tinha como objetivo inicial trabalhar a
educação ambiental com os moradores do município de Garopaba, mais precisamente os moradores do entorno da Lagoa das Capivaras.
É sabido que existem disputas políticas e econômicas em torno dos
projetos de desenvolvimento local, que opõem, de um lado, sujeitos
interessados na preservação ambiental, e, de outro, sujeitos que
pretendem a implantação de grandes empreendimentos privados no
104
município. Diante deste fato, parte da sociedade local vem se mobilizando
para a transformação de sua área em uma unidade de conservação.
Além disso, a lagoa é responsável por inúmeras funções, como
controle de inundações, reservatório de água salobra e drenagem,
manutenção do lençol freático, estabilidade do clima no local, além de ser
fundamental à produtividade biológica, mantendo a biodiversidade
inerente ao ambiente em causa. Também é responsável pela sobrevivência
de muitas espécies aquáticas e também na sobrevivência da fauna e flora
local. Por isto, a importância de recuperação e preservação do recurso
hídrico.
Sendo assim, foi proposto pela ONG (Organização Não-
Governamental) Associação Comunitária Amigos do Meio Ambiente
(AMA), Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Parque
Científico e Tecnológico (IPARQUE) um Plano de Recuperação de Área
Degradada (PRAD) ao poder público municipal e a necessidade da
execução do Diagnóstico Ambiental para qualquer ação de limpeza da
Lagoa das Capivaras, pois diversas espécies nativas protegidas, como o
xaxim (Dicksonia sellowiana), está na lista do IBAMA (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) entre as espécies
ameaçadas de extinção. Em 2001, uma resolução do CONAMA
(Conselho Nacional do Meio Ambiente) proibiu o corte e a exploração da
espécie.
A reunião entre a UNESC, AMA, IPARQUE e órgão municipal
possibilitou alguns encaminhamentos, como a necessidade do
Diagnóstico Ambiental da lagoa a fim de delimitar o Plano de
Recuperação e os recursos necessários; a questão fundiária dos terrenos
do entorno em áreas de APP (Área de Proteção Ambiental) sendo que
estes estão sendo ocupados de forma irregular, a criação do Parque
Municipal da Lagoa das Capivaras e a elaboração de um termo de
cooperação entre UNESC e Prefeitura para recuperação da Lagoa das
Capivaras.
Posteriormente a este contato, o qual não foi o primeiro, uma nova
reunião com os órgãos presentes teria de ter sido agendada, juntamente
com o Ministério Público e os órgãos envolvidos na elaboração do PRAD
para a lagoa. A UNESC juntamente com IPARQUE e AMA tentaram
entrar em contato novamente com o órgão municipal, mas não tiveram
sucesso e o Plano de Recuperação da Lagoa das Capivaras foi estagnado.
O objetivo preliminar desta pesquisa era, paralelamente ao Plano
de Recuperação, desenvolver um Programa de Educação Ambiental
voltado para a comunidade da área, mais especificamente voltados para
adultos, em ambientes não-formais de educação, privilegiando processos
105
participativos, com engajamento da comunidade local na preservação e
recuperação do meio ambiente.
Ainda, a pesquisa propunha que a memória poderia ser utilizada
como um instrumento de educação ambiental, pela valorização e
reelaboração dos saberes e experiências vividas pelos sujeitos da
pesquisa, possibilitar a reflexividade dos indivíduos envolvidos no
processo educativo. Ou seja, elaborar e desenvolver ações de educação
ambiental que proporcionassem a sensibilização dos moradores com
vistas à recuperação da lagoa.
A memória poderia também contribuir para que a comunidade
(r)estabeleça o sentimento de pertença em relação à Lagoa das Capivaras,
desenvolvendo princípios como o cuidado e a responsabilidade em
relação ao lugar em que vivem, bem como em relação aos acontecimentos
ocorridos no passado e à orientação das ações futuras. É válido lembrar
que os programas de educação ambiental existentes no município
contemplam apenas crianças do ensino fundamental3, por isto o trabalho
3 Um dos programas existentes é o Monitoramento Mirim Costeiro, um
projeto de educação para conscientização da limpeza, preservação das praias e
proteção da vida marinha pioneiro na costa brasileira. O projeto iniciou em 2012
e já envolveu 830 alunos com idades entre 8 e 11 anos, dos 4º e 5º anos de 9
escolas municipais de ensino fundamental de Garopaba, além de mais de 24
professores da rede municipal, realizou 82 saídas a campo, 161 aulas teórico-
participativas e colocou 21 placas educativas nas principais vias de acesso das
praias monitoradas. O projeto monitora 7 das 9 praias do município. Cada escola
cuida e monitora a praia do seu bairro ao longo do ano letivo, através de
atividades como: 1) Estudo das características das praias: tipo de areia, largura e
inclinação da praia, fauna e flora existente, variação do nível da maré, ondulação,
condições climáticas no dia de campo, análise da qualidade da água do mar e dos
córregos que desembocam nas praias. 2) Monitoramento dos resíduos sólidos na
areia das praias. 3) Avaliação da infraestrutura existente nas praias para atender
aos turistas e ao mesmo tempo para garantir o mínimo de impacto ambiental neste
ambiente. Por meio de atividades práticas e lúdicas na beira da praia e no
ambiente escolar, as crianças aprendem os problemas socioambientais atuais
dentro do contexto em que elas vivem, permitindo o desenvolvimento de uma
reflexão crítica sobre o cenário atual, por meio da vivência, da observação e do
diálogo. O projeto acredita no potencial do público infantil como futuros agentes
de mudança dos principais problemas enfrentados atualmente pela humanidade,
dentre eles o consumo excessivo e o descarte inadequado de resíduos sólidos no
ambiente natural, degradando a qualidade do mesmo e, consequentemente, a
qualidade de vida no Planeta Terra.
106
tinha o enfoque em trabalhar com adultos, os quais, em nosso
entendimento, devem ser incluídos em ações educativas como esta.
Mesmo com a paralização no projeto do PRAD, a pesquisa deu
continuidade, buscando, por meio da memória e da percepção,
compreender os processos de mudança e transformação ocorridos no local
a partir da perspectiva dos morados do município.
Com intuito de contribuir e colaborar com projetos de educação
ambiental, este trabalho traz como proposta e sugestão o uso da memória
como instrumento de educação ambiental. A memória é um conceito que
abrange várias áreas da ciência como a psicologia, a medicina, a biologia,
entre outras. Neste trabalho, a memória é trabalhada no âmbito social.
Através das lembranças, é possível preservar as tradições de um povo, as
brincadeiras antigas, o modo de vida, as ruas e casas, as árvores, pássaros,
rios, matas, de sua própria vida, a memória de quem já se foi (LE GOFF,
1990).
O recurso da memória serve como instrumento de investigação de
eventos histórico-sociais, mudando o olhar e a forma de escrever a
história, de modo que o narrador é parte da narrativa tornando-se parte da
história. Para Portelli (1997), o recurso da memória utilizado para
investigar eventos históricos de uma sociedade não se reduz a um
individuo unificado, pois os fatos relatados são contados de diferentes
pontos de vistas e maneiras. Neste contexto, se traz para a pesquisa novas
perspectivas, um novo olhar sobre os acontecimentos, de maneira a trazer
um novo ponto de vista através da narrativa do indivíduo que vivenciou
o acontecimento.
As falas dos indivíduos trazem consigo as experiências e
transformações individuais e coletivas, bem como as transformações
ocorridas no espaço em que estão inseridos. Partindo deste pressuposto,
pode-se refletir acerca de um novo ponto de vista sobre as mudanças
ocorridas, fazendo da memória um instrumento de grande potencial na
análise dos impactos ambientais.
Com o avanço da tecnologia, mecanização e industrialização ao
modelo de desenvolvimento atual, os lugares estão se modificando com
uma maior intensidade e cada vez mais impactos degradantes são gerados
ao meio ambiente em decorrência de um modo de vida mais urbanizado
(LEFF, 2008).
O município de Garopaba passou por um processo de urbanização
acelerado atrelado ao desenvolvimento da indústria turística que trouxe
ainda mais pessoas para residir no município. Contudo, o entorno da
Lagoa das Capivaras, uma das áreas mais afetadas, encontra-se em estado
de degradação grave, devido ao despejamento de esgotos em seu corpo
107
hídrico e supressão da vegetação do entorno, para a construção de casas
para pessoas de alto poder aquisitivo. Deste modo, houve uma
transformação no local, que pode ser percebida através do relato dos
moradores, descritos neste trabalho. Estes relatos servem de alerta ao
estado degradante do local e à forte tendência da lagoa desaparecer.
É importante salientar que o uso da memória é, ainda, um avanço
no que diz respeito à análise da história da sociedade, o sentimento de
identidade e pertença pelo lugar, espaço e suas relações com outros
grupos sociais e o ambiente. Sendo individual e coletiva, a memória é
parte importante para a continuidade de um sujeito ou de um grupo em
sua conexão com seu espaço e história (POLLAK, 1992).
Através da memória, pode-se conservar e lembrar as paisagens,
sucessos e derrotas de uma sociedade. Por meio da memória, recordamos
as marcas deixadas por um povo na construção e reconstrução do espaço,
sendo possível perceber as mudanças ocorridas na paisagem.
A rememoração do passado, dos lugares destruídos, por meio das
lembranças dos sujeitos, faz deles um novo grupo, criando uma
resistência que os mantém unidos. É possível alterar, ruas, espaços,
lugares, casas, pedras, mas não se destrói o vínculo deste grupo. Pode-se
perceber que as lembranças das pessoas são ligadas, frequentemente, a
sua casa, ao bairro e os locais próximos que mantinham relações com seus
vizinhos. Os lugares podem não existir mais, porém as lembranças de
convívio e momentos podem ter ficado presentes em suas memórias (LE
GOFF, 1990).
Assim, a memória pode contribuir para a educação ambiental, por
permitir aos indivíduos acessar, por meio de suas recordações, o processo
de modificação do espaço ocorrido ao longo do tempo e os impactos
causados, que modificaram a paisagem e o modo de vida de moradores
que viviam no entorno da Lagoa das Capivaras.
A utilização da memória pode sustentar a compreensão de vários
processos que o modo de vida, bem como a utilização dos recursos
naturais, e o processo de urbanização degradou nos dias atuais. Através
da memória daqueles que vivenciaram os processos de transformação,
bem como presenciaram a degradação da lagoa é possível fazer uma
associação das interações socioambientais do passado e do presente e as
perspectivas para o futuro.
Presente na memória destes moradores está um conhecimento
amplo do local, que pode ser usado para fins acadêmicos, sendo que suas
falas relatam as relações socioambientais e econômicas que, limitado ao
local, este poderá ser recuperado. É importante salientar que a memória
de uma sociedade pode ser uma maneira importante de avaliação da
108
qualidade ambiental e de sua relação para com o meio, bem como os
impactos decorrentes do histórico de sua trajetória e suas atitudes futuras
com o local (LE GOFF, 1990).
No cenário destes ambientes modificados pelo ser humano, se
configuram como essenciais a práxis da educação ambiental tendo a
memória ambiental como um instrumento pedagógico para subsidiar a
relação entre o processo educativo e o ambiente, as inter-relações entre o
homem e o ambiente, suas expectativas, anseios, satisfações e
insatisfações, julgamentos e atitudes nesse meio a partir de suas
lembranças (GRÜN, 1996).
A memória pode ser um meio para entender como moradores de
uma cidade compreendem e percebem o ambiente nos seus aspectos
sociais, ecológicos, econômicos e culturais a partir das mudanças ao
longo do tempo. A educação ambiental parte dessas compreensões e
percepções no intuito de propor ações viáveis e compatíveis do ponto de
vista metodológico e epistemológico para uma melhoria da qualidade de
vida da população.
A memória traz consigo os erros do passado, que podem ser
revistos a partir de um processo educativo, como uma alternativa crítica
de análise as ações futuras e para uma melhor compreensão de nossos
propósitos. Este processo consiste, ainda, em um processo de
sensibilização da sociedade e sua relação com a natureza. A educação
ambiental tem de ser compreendida como uma educação social do povo,
proporcionando a autogestão ética na relação com o meio (REIGOTA,
2001).
Sendo assim, é possível dizer que o processo educativo ambiental
é uma prática de constituir-se como cidadão (TOZONI-REIS, 2004),
através da apropriação e transmissão crítica modifica-se a história de vida
do ser humano com a natureza. Exige-se então que os conhecimentos
sejam apropriados e construídos de maneira coletiva e integrada,
participativa, interdisciplinar, indo ao encontro do ecodesenvolvimento
(VIEIRA, 2013).
109
7 CONCLUSÕES
Com a presente dissertação, a partir da memória e percepção dos
sujeitos pôde-se observar a relação entre turismo e urbanização, a maneira
como os sujeitos se relacionam com o meio e compreendem as
transformações e mudanças ocorridas no ambiente, mas especificamente
no entorno da Lagoa das Capivaras, pelo turismo, com ênfase nas
consequências espaciais da urbanização turística ao longo do processo
evolutivo da cidade. Esta relação se estabelece a partir da expansão do
turismo que requer uma significativa produção de bens e serviços,
integrando ao seu sistema de produção e consumo novas áreas, sejam elas
já dotadas de serviços e infraestrutura urbana ou não.
Constatou-se, mediante esta pesquisa, a relevância da atividade
turística como fenômeno de desenvolvimento regional para o município
de Garopaba, que anteriormente tinha como base de sua economia a
pesca. Por meio da pesquisa, foi possível perceber que muitos moradores
tem sua renda baseada na atividade turística.
Por outro lado, esse desenvolvimento também consiste numa
ameaça ambiental, em função da acelerada disseminação urbana. Por
meio dos relatos, a memória dos moradores de Garopaba, vimos o quanto
a Lagoa das Capivaras, a paisagem de seu entorno, bem como seu
ecossistema acabaram sendo alterados pelo processo de urbanização.
Os moradores rememoraram a sua vida no entorno da lagoa, os
moradores antigos e as atividades desenvolvidas na lagoa, as ruas, as
árvores, as plantas, as brincadeiras, os banhos na lagoa, a pesca, os
curiosidades, os atores sociais predominantes. As lembranças dos
moradores nos remetem para um tempo em que era possível fazer uso da
lagoa, podia-se pescar, banhar, lavar roupa ou simplesmente contemplar
sua beleza natural, suas águas, animais, suas árvores.
O mais proeminente no relato dos sujeitos da pesquisa é o fato de
como era a vida anterior a este processo de ocupação, transformação e
apropriação do espaço. Pode-se perceber a tristeza no relato de muitos
moradores ao verem a paisagem da infância e da juventude modificada
tão radicalmente, ver a lagoa que tanta felicidade e alimento lhe deram,
hoje sem vida. Para os entrevistados, mesmo que ainda considerem o
município um lugar agradável e calmo de se viver, ressaltaram a questão
da alta temporada, com a vinda de mais pessoas para a cidade, acabam
por modificar seu cotidiano calmo.
Seus relatos nos mostram o início do crescimento do município e
o processo de mudança das atividades de lavadeira e pescadores, para a
renda proveniente da atividade turística e a região da lagoa que foi
110
ocupada, gerando um grande impacto em seu ecossistema. O local era
ocupado por moradores nativos pescadores e lavadeiras, indígenas e
outras pessoas que vinham de bairros mais distantes e cidades vizinhas
para banhar e pescar.
A ausência de planejamento na área proveu dessa região a
construção intensiva de casas de classe média e alta, irregulares, além de
uma tentativa de implantação de um empreendimento, posteriormente
embargado. Esta apropriação do espaço fez com que muitos moradores se
deslocassem para outros bairros da cidade, de característica mais simples
e com infraestrutura faltante ou em processo de instalação.
Dessa forma, a atividade turística gera uma modificação nos
territórios costeiros, transformados em áreas de lazer, onde o turista
encontra diversão, se isolando da realidade dos moradores nativos.
Constata-se um tipo de turismo, às vezes incapaz de gerar melhoria na
qualidade de vida dos indivíduos, quando deveria representar uma
alternativa de desenvolvimento socioeconômico para as localidades onde
é praticado. Ou seja, é preciso pensar no espaço para o turista, de modo a
recebê-lo em um local com infraestrutura básica, porém não se pode
esquecer o espaço do sujeito local.
Para os moradores, os turistas são importantes e os veem de forma
positiva para o crescimento e desenvolvimento da cidade. No entanto, de
acordo com o relato dos moradores, foi a partir desse crescimento do
município que o impacto na lagoa e no entorno da mesma, se tornou mais
intenso. Além da ocupação do local, onde existia mata ciliar e animais,
existe um grande volume de esgoto que é despejado em suas águas. No
período de alta temporada, este volume aumenta gradativamente,
intensificando ainda mais o impacto sobre o recurso hídrico.
Ademais, conforme mostram as imagens do trabalho, encontram-
se depositados em suas margens carros apreendidos pela Polícia Militar,
que consequentemente acabam por poluir suas águas, trazer doenças e
alterar a paisagem. É válido lembrar que o processo de urbanização no
entorno da lagoa, como consequência o aterramento da Lagoa Pequena,
teve-se também outra importante transformação na paisagem, a abertura
de uma rua entre as duas lagoas, dando lugar à paisagem urbana.
No que se refere à mudança de paisagem no local, o Poder Público
Municipal, em uma tentativa de “limpar” a área, fez o corte de toda mata
nos arredores da lagoa, fato este visto para os moradores como algo
positivo, tendo em vista que a lagoa está diminuindo de tamanho pelo
processo de eutrofização, os sujeitos da pesquisa entendem que a limpeza
é uma solução para que a lagoa não desapareça.
111
A partir desse contexto, observa-se que é apenas diante dos
impactos ambientais negativos evidenciados pela sociedade através de
reinvindicações é que se iniciam o planejamento de ações mitigadoras
destes impactos, como a elaboração do Plano Diretor, criação de Parques
e Estudos de Impacto Ambiental para regularizar destas áreas.
Esta postura, embora mitigadora, é de extrema importância para o
(re)ordenamento espacial da função turística e demais funções urbanas do
município de Garopaba. Caso fossem implementados programas de
gerenciamento costeiro integrado, estes poderiam minimizar os efeitos
desta tendência evolutiva, ou seja, atingir o declínio segundo os diversos
estágios de evolução que experimentam os balneários.
Positivamente a esta situação, teoricamente, segundo o órgão
público municipal encontra-se em processo de construção um Plano de
Recuperação de Área de Degradada pelo Poder Público Municipal, no
intuito de recuperação e revitalização da área para construção de uma área
de lazer para os moradores. No entanto, existe por partes de alguns atores
uma pressão para que o local não seja revitalizado, bem como sua área
seja utilizada para a construção de casas, dando continuidade ao projeto
de construção de um empreendimento privado. Por meio do relato dos
sujeitos que sonharam, cresceram, esperaram e viveram com as mudanças
ocorridas na área, é possível perceber a vontade destas pessoas para que
o local seja recuperado e volte a ser como antes.
O projeto de um Plano de Recuperação de Área Degradada para a
Lagoa das Capivaras proposto pela Universidade do Extremo Sul
Catarinense (UNESC), pela ONG (Organização Não-Governamental)
Associação Comunitária Amigos do Meio Ambiente (AMA) e o Parque
Científico e Tecnológico (IPARQUE) para o órgão público municipal e
também proposto pelo próprio Ministério Público após sentença aos
condenados, tinha como sugestão para o local a criação de um Parque
Ecológico Municipal da Lagoa das Capivaras, como unidade de
conservação do município.
As unidades de conservação são espaços territoriais que têm a
função de assegurar a representatividade de amostras significativas e
ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitat e ecossistemas
do território nacional e das águas jurisdicionais, preservando o patrimônio
biológico existente (MMA, 2016).
As unidades de conservação, segundo o SNUC, dividem-se em
dois grupos: o de Uso Sustentável e de Proteção Integral. As unidades de
Uso Sustentável compatibilizam a conservação da natureza com o uso
sustentável de parcela dos seus recursos naturais, as de Proteção Integral
112
preservam a natureza, sendo admitindo apenas o uso direto dos seus
recursos naturais (BRASIL, 2000).
A categoria de proteção integral englobaria o Parque, sendo as
atividades de recreação em contato com a natureza, turismo ecológico,
pesquisa científica, educação ambiental, entre outras, permitidas em seu
território.
No entanto, é possível perceber a vontade, por parte dos
entrevistados, de que o local seja transformado em um parque, que seja
destinado ao uso turístico, tornando-se uma renda para o município e seus
moradores. Através de seus relatos, é notória a comparação com outros
locais criados artificialmente, constituindo-se um atrativo turístico que
gera renda e atrai turistas de todos os lugares.
Entende-se que é essencial a compreensão do que foi perdido e
modificado com a degradação e desvalorização do meio ambiente, neste
caso a Lagoa Pequena, parte da Lagoa das Capivaras e sua área de
entorno. Neste sentido, buscou-se contribuir através da percepção dos
moradores atrelada às suas memórias o impacto ambiental causado pela
atividade antrópica e o processo de urbanização.
O litoral brasileiro vem passando por um intenso processo de
degradação. A cada dia mais estudos estão sendo realizados no intuito de
compreender a realidade deste ambiente e diagnosticar os efeitos
causados pela poluição, a falta de planejamento, o crescimento urbano e,
o turismo em massa na zona costeira (GUADAGNIN, 1999; PADILHA,
2001; CÂMARA, 2001; LEAL, 2002; CORREA; DANTAS, 2003;
FREITAS, 2004; MENEZES, 2005; ANDRADE 2008; BARROS, 2008;
MARIANO, 2010; NASCIMENTO, 2010; DA SOLLER, 2012;
JACOMEL, 2012; ASSIS, 2013; MARTIN, 2013, ROCHA, 2013).
A pesquisa, mesmo caracterizada por um estudo de caso, pode
ainda ajudar no entendimento das atividades desenvolvidas no ambiente
costeiro, bem como suas mudanças e transformações, tendo em vista que
a maioria dos problemas apresentados neste trabalho configuram a
realidade de muitos outros lugares, como os dos trabalhos referenciados
acima.
Todo o litoral brasileiro é alvo do turismo predatório e do aumento
da densidade demográfica, tornando-se característica de muitos
municípios a falta de infraestrutura e planejamento destas áreas para
atender a demanda de população que frequenta estas áreas.
Deste modo, ressalta-se a importância deste trabalho e sua
contribuição para a compreensão da importância ecológica do ambiente
costeiro e também econômica, tendo em vista que o turismo atualmente é
fonte de renda para muitos municípios costeiros. Além das consequências
113
dos impactos causados pelo ser humano, que ameaçam a resiliência e
conservação destas áreas.
Através dos objetivos propostos no trabalho, os relatos orais do
moradores de Garopaba podem contribuir no processo de educação
ambiental. De modo que a sua percepção dos fatos e espaço comparado
aos acontecimentos e imagens de suas memórias, possibilitem a estes uma
reflexão a cerca das transformações ocorridas ao longo dos anos. É uma
maneira de sensibilizar os indivíduos e estimulá-los a colaborarem e
participarem de ações que visem à recuperação do local, auxiliando em
programas de educação ambiental já existente, como o realizado pela
Associação Comunitária de Amigos da Natureza, o Monitoramento
Mirim Costeiro, um projeto socioeducativo para a preservação da zona
costeira, trazendo novos elementos para reflexão das áreas de
conhecimento.
Além disso, com intuito de contribuir com o Plano de Recuperação
de Área de Degradada do local, os resultados obtidos serão socializados
com os moradores. Tendo em vista que, além do relato dos moradores o
trabalho também traz a opinião, bem como suas vontades e desejos de
como gostariam que fosse o local futuramente, para que assim possam
desfrutar deste espaço, como faziam.
Sendo assim, a proposição de socializar os resultados com os
moradores é de suma importância no desenvolvimento da comunidade,
tanto em âmbito econômico como ambiental. Mostrando as possibilidades
da construção de um território com base no ecodesenvolvimento
territorial através da participação da comunidade como atores, sugerindo
propostas para resolver problemas, melhoria na sua qualidade de vida e
propiciando instrumentos de gestão para o presente e futuro de seus filhos.
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APÊNDICE
APÊNDICE 1:
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA PARA OS
MORADOS DO ENTORNO DA LAGOA DAS CAPIVARAS
ENTREVISTA
1. Você é morador do Município de Garopaba ou vem somente para
passar o verão?
2. Onde você nasceu? (trajetória) quando veio pra cá? Porque?
3. Costuma passar o verão todo ano no Município?
4. O que lhe atrai para passar todo ano o verão em Garopaba?
5. O que você acha das pesosas que vem veranear aqui?
6. O que você acha de Garopaba? A cidade mudou muito depois que
você chegou? De que forma? Foi bom ou foi ruim essa mudança?
7. Qual sua opinião sobre a Lagoa das Capivaras atualmente? E Antes?
Como era? E agora?
8. O que você costumava fazer na Lagoa? O que lhe marcou durante sua
vida?
9. E a Lagoa Pequena, você conheceu? Você sabe por que ela foi
aterrada? Qual sua opinião sobre isso?
10. Como você gostaria que fosse este lugar hoje?
11. Você sabe por que a Lagoa se chama “Lagoa das Capivaras”? Quem
deu este nome?
12. Existiam capivaras na lagoa anteriormente? Eram caçadas? A lagoa
dava peixe? Que tipo de peixe? Tinha outros bichos? Que tipo de
bichos? Tem ainda? Quais? Vinham pessoas de outros lugares
pescar/caçar aqui?
13. Você tem conhecimento sobre o Plano Diretor do Município de
Garopaba?
14. Você costuma participar das reuniões? Como são estas reuniões?
Você entende o que eles estão fazendo/falando?