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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA
NÚCLEO BIOTECNOLÓGICO MESTRADO ACADÊMICO EM CIÊNCIA E BIOTECNOLOGIA
TATHIANA CARLA GELINSKI
ESTUDO DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA E CICATRIZANTE TÓPICA DE BASES DERMATOLÓGICAS EM FERIDAS CUTÂNEAS ABERTAS EM RATOS.
VIDEIRA 2016
1
TATHIANA CARLA GELINSKI
ESTUDO DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA E CICATRIZANTE TÓPICA DE BASES DERMATOLÓGICAS EM FERIDAS CUTÂNEAS ABERTAS EM RATOS.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Mestrado Acadêmico em Ciência e
Biotecnologia, da Universidade do Oeste de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do t ítulo de Mestre em Ciência e Biotecnologia.
Orientador: Prof. Dr. Geisson Marcos Nardi
Área: Biotecnologia Aplicada á Agroindústria e Saúde. Linha de Pesquisa: Bioprospecção, produção e processamento de matéria-prima e
bioproduto.
VIDEIRA 2016
2
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos, que de uma maneira ou outra se fizeram presentes auxiliando e
contribuindo para a realização deste trabalho, especialmente:
A Deus pela minha vida, por me guiar em minhas escolhas, pois sem ele, nada disso
seria possível.
Ao meu orientador, Professor Dr. Geisson Marcos Nardi, pela orientação, pela
paciência, pelos sábios ensinamentos, pelos conselhos, pela dedicação. Por ser um
profissional de respeito, agradeço pelo incentivo e confiança no meu crescimento
profissional.
A minha família, ao meu pai José Carlos e minha mãe Wilma, a minhas irmãs Denise
e Jéssica, pelo carinho e AMOR, suporte e apoio, por compreender a minha
ausência em muitas ocasiões.
Ao meu namorado Eduardo, pelo carinho, companheirismo, por fazer parte desta
etapa, me apoiando sempre com seu otimismo e por estar ao meu lado me
incentivando.
Ao Professor Dr. Osmar Damasceno Ribeiro pelas contribuições dadas para a
elaboração deste trabalho.
À Professora Dra. Estela Nunes que me guiou em muitas escolhas e com seus
conselhos me ajudou a prosseguir.
Ao Professor Jean Carlo Salomé dos Santos Menezes que muito me ensinou pela
sua experiência nestes anos.
A Professora Mestre e amiga Patrícia dos Santos a qual tenho como exemplo, me
acompanhou desde o início e estivemos juntas nos momentos difíceis que
passamos.
Aos professores do programa de Pós-graduação do Mestrado em Ciência e
Biotecnologia pelos ensinamentos transmitidos.
Aos colegas e amigos de mestrado Marta, Sally, Elis, Viviane, Gislaine, Marlene,
Evandro, Deise, Auro, Adriana e Camila, pela companhia, pelas divertidas aulas
práticas, pelas dificuldades que passamos e pelo bom humor que sempre nos
rodeava.
3
Aos colaboradores e á coordenação do Programa de Mestrado em Ciência e
Biotecnologia da UNOESC em especial a Professora Dra. Jane Mary Lafayette
Neves Gelinski que muito fez por mim.
Aos meus colegas e amigos que fizeram parte desta trajetória acadêmica.
MUITO OBRIGADA!
4
'' A cura é uma questão de tempo, mas às vezes é também uma questão de
oportunidade. ''
Hippocrates
RESUMO
A cicatrização de feridas consiste em um conjunto e sucessão de eventos
bioquímicos e celulares complexos que levam a reconstituição tecidual. O processo
5
cicatricial é dividido em fases distintas que são: inflamatória, proliferativa e
remodelativa, as quais compreendem intervalos de tempos e acontecimentos.
Muitas substâncias e estratégias têm sido utilizadas para a melhora dos sintomas e
estimulação da cicatrização de lesões. As bases de pomadas são recursos
terapêuticos bastante empregados pelas suas características oclusivas e de
absorção de ativos. Na presente pesquisa foram avaliadas as atividades anti-
inflamatória e cicatrizante tópica de bases dermatológicas em feridas cutâneas
abertas em ratos investigando os possíveis mecanismos envolvidos. Foi utilizado
método de dano epitelial induzido em animais para testar as bases de pomadas
hidrofílicas PP, PPII, PHA e lipofílicas PH e PLV, comparando com os controles
positivo dexpantenol e negativo de solução salina 0,9%. Para avaliar a retração da
ferida o software ImajeJ® mensurou em pixels através da imagem da lesão e
converteu em cm2 a área nos intervalos de 0, 3, 7, 14 e 21 dias. As análises
histomorfológicas foram realizadas nos tecidos utilizando coloração HE e tricômio de
Masson, para avaliar colagenização, reepitelização, vascularização e presença de
PMNs e neutrófilos. Na segunda fase os ensaios bioquímicos para a MPO e as
interleucinas IL-6 e TNF-α avaliaram os níveis destes mediadores inflamatórios. Os
resultados mostraram que a base lipofílica PH demonstrou de maneira efetiva a
melhor área de retração da ferida. A análise histológica permitiu verificar que a base
lipofílica PH obteve a vascularização, reepitelização e colagenização superior às
demais bases aplicadas e ao dexpantenol. A deposição de colágeno observada pela
coloração do Tricômico de Masson foi mais intensa no grupo PH, determinando
melhor cicatrização no tecido. Os níveis enzimáticos de MPO foram mais reduzidos
no grupo tratado com a base lipofílica PLV no plasma evidenciando quantidade de
infiltrado de neutrófilos baixa. O grupo tratado com a base lipofílica PH apresentou
altas concentrações de IL-6 no plasma coletado no período inflamatório agudo 8
horas após a lesão ao contrario do grupo PLV com concentrações baixas neste
período e aumentando sua concentração 24 horas após a lesão, sugerindo uma
inflamação crônica. Para o ensaio de TNF-α, o grupo PLV obteve concentrações
aumentadas desta citocina em relação ao grupo Controle e demais grupos tratados,
o que sugere uma alteração negativa no processo de cicatrização. Em contrapartida
os grupos PHA e PH apresentaram níveis baixos de TNF-α demonstrando um
fechamento da ferida acelerado. A base farmacológica de natureza lipofílica PH
6
apresentou melhor atividade anti-inflamatória e cicatrizante tópica quando
comparada a pomada dexpantenol e aos animais sem tratamento.
Palavras-chave: Bases dermatológicas. Cicatrização. Feridas. Inflamação.
ABSTRACT
7
Wound healing consists of a series and succession of complex cellular and
biochemical events that lead to tissue reconstitution. The healing process is divided
into distinct phases which are: inflammatory, proliferative and remodelate, which
comprise time intervals and events. Many substances and strategies have been used
for symptom improvement and stimulation of wound healing. Ointments bases are
quite therapeutic resources employed by its occlusive characteristics and absorption
of assets. In the present study we evaluated the anti-inflammatory activities and
topical healing of dermatological bases in open wounds in rats investigating the
possible mechanisms involved. It was used method of epithelial damage induced in
animals to test the basis of hydrophilic ointments PP, PPII, PHA and lipophilic PH
and PLV, compared to dexpanthenol and positive negative controls 0.9% saline
solution. To evaluate wound contraction of the software ImajeJ® measured in pixels
across the image of the lesion and become cm2 area at intervals of 0, 3, 7, 14 and 21
days. The morphometric analyzes were performed HE staining tissues using Masson
trichrome and to assess collagen deposition, reepithelialization, vascularisation and
the presence of PMNs and neutrophil. In the second phase biochemical assays for
MPO and IL-6 and TNF-α interleukins assessed the levels of these inflammatory
mediators. The results showed that the base lipophilic PH demonstrated effectively
the best area of retraction of the wound. Histological analysis has shown that the
base lipophilic PH obtained vascularity, epithelialization and higher colagenous
applied to other bases and dexpanthenol. The collagen deposition observed by
staining the Masson trichrome was more intense in the PH group, determining better
healing in tissue. The enzyme MPO levels were lower in the group treated with the
lipophilic base PLV plasma infiltrates showing amount of low neutrophils. The treated
group to the lipophilic basic pH showed higher IL-6 concentrations in plasma
collected in the acute inflammatory period 8 hours after injury unlike the PLV group
with low concentrations in this period and increasing its concentration 24 hours after
injury, suggesting inflammation chronic. For TNF-α assay, PLV group received
increasing concentrations of this cytokine compared to the control and other groups
treated group, suggesting a negative change in the scarring process. In contrast the
PHA groups and PH showed low levels of TNF-α showing a lock of accelerated
wound. The pharmacological basis of the lipophilic nature PH showed better anti -
inflammatory activity and topical wound healing when compared with dexpanthenol
ointment and the animals without treatment.
9
A/O – água em óleo
AA – ácido araquidônico
ANOVA – análise de variância
AP-1 – proteína ativadora-1
CD18 – integrina beta 2
CEUA – Comitê de Ética em Pesquisa
CO2 – dióxido de carbono
CONSEA – Conselho Nacional de Controle Animal
D.O. – densidade óptica
DEX – dexpantenol
E.P.M. – erro padrão das médias
EGF – fator de crescimento epidermal
EPA – ácido eicosapentaenóico
FGF – fator de crescimento fibroblástico
GM-CSF – fator estimulador de colônias de macrófagos e granulócitos
H2O2 – peróxido de hidrogênio
H2SO4 – ácido sulfúrico
HDR – grande alcance dinâmico
HE – hematoxilina–eosina
HTAB – hexadeciltrimetilamônio
IL-1 – interleucina 1
IL-1β – interleucina 1 beta
IL-2 – interleucina 2
IL-6 – interleucina 6
IL-8 – interleucina 8
IL-18 – interleucina 18
ILGF – fator de crescimento insulínico
NF-kB – factor nuclear kappa B
NK – exterminadoras naturais
LPS – lipopolissacarídeo
MEC – matriz extracelular
MMP – metaloproteinase da matriz
MPO – mieloperoxidase
10
PMN – polimorfonucleares
NO – óxido nítrico
O/A – óleo em água
PDGF – fator de crescimento derivado de plaquetas
PH – petrolato hidrofílico
PHA – pomada hidrofílica
PLV – pomada de lanolina e vaselina
PMSF – fenilmeti lsulfonilflúor
PP – pomada de polietilenoglicol
PPII – pomada de polietilenoglicol II
PVPI – iodopovidona
ROS – espécies reativas de oxigênio
SBTI – inibidor de serino tripsina Kunitz
TBARS – ácido tiobarbitúrico
TGFB1 – fator de crescimento transformante beta 1
TIMP – inibidores de metaloproteinase da matriz
TM – tricômio de Masson
TMB – tetrametilbenzidina
TNF-α – fator de necrose tumoral alfa
LISTA DE FIGURAS
11
Figura 1: Estrutura da pele humana demonstrando as duas camadas (epiderme e
derme) e a fáscia subcutânea (hipoderme). ..................................................................... 22
Figura 2: Sequência do procedimento do dano epitelial em animais.......................... 43
Figura 3: Avaliação da cicatrização por planimetria digital no software ImageJ® .... 44
Figura 4: Evolução cicatricial do grupo Controle. ........................................................... 55
Figura 5: Evolução cicatricial do grupo DEX (controle positivo). ................................. 55
Figura 6: Evolução cicatricial do grupo PP, base farmacêutica hidrofílica................. 55
Figura 7: Evolução cicatricial do grupo PPII, base farmacêutica hidrossolúvel. ....... 56
Figura 8: Evolução cicatricial do grupo PHA, base farmacêutica hidrofílica. ............. 56
Figura 9: Evolução cicatricial do grupo PH, base farmacêutica lipofílica. .................. 56
Figura 10: Evolução cicatricial do grupo PLV, base farmacêutica lipossolúvel. ........ 57
Figura 11: Fotografia da derme superficial e papilar do dorso de rato, corada pelo
Tricômio de Masson para análise da colagenização. ..................................................... 63
Figura 12: Identificação de fibras colágenas na pele cicatrizada de ratos após
tratamento com as bases farmacêuticas no 21º dia (coloração de Tricômico de
Masson em aumento de 40X) ............................................................................................. 64
Figura 13: Identificação de fibras colágenas na pele cicatrizada de ratos após
tratamento com as bases farmacêuticas no 21º dia (coloração de Tricômico de
Masson em aumento de 40X) ............................................................................................. 65
Figura 14: Análise da colagenização pela intensidade da cor azul resultante da
coloração por Tricômio de Masson em tecidos cicatrizados de ratos após 21 dias. . 66
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
12
Fluxograma 1: Distribuição dos grupos de animais para aplicação dos controles e
bases dermatológicas .......................................................................................................... 41
Fluxograma 2: Procedimentos de coleta do tecido cicatrizado e extração da amostra
por trituração para os ensaios bioquímicos de 2ª Etapa ................................................ 48
Fluxograma 3: Procedimentos realizados para determinação das citocinas Il-6 e
TNF-α em amostras de tecido cicatrizado e plasma....................................................... 51
LISTA DE TABELAS
13
Tabela 1: Base para pomada hidrossolúvel..................................................................... 38
Tabela 2: Base para pomada hidrossolúvel..................................................................... 38
Tabela 3: Base para pomada hidrofílica tipo emulsão O/A ........................................... 38
Tabela 4: Base para pomada de absorção tipo emulsão A/O ...................................... 39
Tabela 5: Base graxa para pomada de absorção ........................................................... 39
Tabela 6: Preparação das placas para adição das soluções da curva padrão e
amostras de sangue de 8 e 24 hs e tecido 24 hs ............................................................ 49
Tabela 7: Intensidade da vascularização, colagenização e reepitelização em
amostras de tecidos dos grupos controle, dexpantenol e tratados com as bases
farmacêuticas hidrofílicas e lipofílicas em ratos............................................................... 63
Tabela 8: Avaliação Histológica em amostras de tecidos dos grupos controle,
dexpantenol e tratados com as bases farmacêuticas hidrofílicas e lipofílicas em
ratos. ....................................................................................................................................... 67
LISTA DE GRÁFICOS
14
Gráfico 1: Variação dos valores em cm2 das áreas excisadas em ratos dos grupos
nos dias 0, 3, 7, 14 e 21....................................................................................................... 58
Gráfico 2: Variação dos valores em % das áreas excisadas em ratos dos grupos
nos dias 3, 7, 14 e 21. .......................................................................................................... 59
Gráfico 3: Efeito das bases hidrofílicas PP, PPII e PHA, bases lipofílicas PH e PLV,
DEX sobre a atividade enzimática da mieloperoxidase em plasma de ratos
excisados. As atividades enzimáticas nos plasmas foram mensuradas 8 horas após
o dano epitelial induzido com tratamento das bases e dexpantenol. Todos os dados
apresentados são média ± S.E.M. de 4-6 animais por grupo. Teste T de
Students................... ............................................................................................................ 69
Gráfico 4: Efeito das bases hidrofílicas PP, PPII e PHA, bases lipofílicas PH e PLV,
DEX sobre os níveis de citocina IL-6 em plasma de ratos excisados. As dosagens no
plasma foram mensuradas 8 horas após o dano epitelial induzido em animais
tratados com as bases e dexpantenol............................................................................... 71
Gráfico 5: Efeito das bases hidrofílicas PP, PPII e PHA, bases lipofílicas PH e PLV,
DEX sobre os níveis de citocina IL-6 em tecido de ratos excisados. As dosagens no
plasma foram mensuradas 24 horas após o dano epitelial induzido em animais
tratados com as bases e dexpantenol............................................................................... 72
Gráfico 6: Efeito das bases hidrofílicas PP, PPII e PHA, bases lipofílicas PH e PLV,
DEX sobre os níveis de citocina TNF-α em plasma de ratos excisados. As dosagens
no plasma foram mensuradas 8 horas após o dano epitelial induzido em animais
tratados com as bases e dexpantenol............................................................................... 73
Gráfico 7: Efeito das bases hidrofílicas PP, PPII e PHA, bases lipofílicas PH e PLV,
DEX sobre os níveis de citocina TNF-α em tecido de ratos excisados. As dosagens
no plasma foram mensuradas 24 horas após o dano epitelial induzido em animais
tratados com as bases e dexpantenol ............................................................................... 74
SUMÁRIO
15
1 INTRODUÇÂO............................................................................................................17
2 OBJETIVOS................................................................................................................19
2.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................19
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................19
3 JUSTIFICATIVA .........................................................................................................20
4 REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................21
4.1 MORFOFISIOLOGIA DA PELE ..............................................................................21
4.2 CICATRIZAÇÃO CUTÂNEA .....................................................................................24
4.2.1 Fase inflamatória - 1 a 3 dias ................................................................................25
4.2.2 Fase proliferativa - 4 a 21 dias .............................................................................26
4.2.3 Fase de remodelamento – 21 dias a 1 ano dias...............................................28
4.3 CITOLOGIA DA INFLAMAÇÃO E CICATRIZAÇÃO ............................................29
4.3.1 Polimorfonucleares (PMNs, Neutrófilos) ...........................................................29
4.3.2 Macrófagos/Monócitos ...........................................................................................30
4.3.3 Colágeno ....................................................................................................................31
4.4 BIOQUÍMICA E PERMEABILIDADE CUTÂNEA ..................................................32
4.5 BASES DERMATOLÓGICAS ..................................................................................33
5 MATERIAL E MÉTODOS .........................................................................................37
5.1 ANIMAIS ......................................................................................................................37
5.2 TÉCNICAS EXPERIMENTAIS .................................................................................37
5.2.1 Bases dermatológicas ............................................................................................37
5.2.2 Grupos experimentais ............................................................................................40
5.2.3 Indução do Dano epitelial .....................................................................................42
5.2.4 1ª Etapa - Avaliação da cicatrização ...................................................................43
5.2.5 Avaliação Histológica – Reepitelização, colagenização, vascularização,
presença de neutrófilos e polimorfonucleares ...........................................................44
5.2.6 2ª Etapa - Avaliação das bases dermatológicas sobre os mediadores
inflamatórios no processo de cicatrização...................................................................45
5.2.7 Modelo de coleta de sangue pela técnica de punção caudal ......................45
5.2.8 Modelo de coleta de sangue pela técnica de punção cardíaca ...................46
5.2.9 Modelo de coleta do tecido cicatrizado e extração da amostra por
trituração ................................................................................................................................46
16
5.2.10 Dosagem de Proteínas Totais via espectrofotometria em tecido
cicatrizado .............................................................................................................................47
5.2.11 Dosagem das citocinas inflamatória IL-6 e TNF-α no tecido de
cicatrização e sangue .........................................................................................................49
5.2.12 Dosagem da Atividade da Enzima Mieloperoxidase (MPO) ........................52
5.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA ...........................................................................................52
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..............................................................................53
6.1 AVALIAÇÃO DA EVOLUÇÃO CICATRICIAL ........................................................54
6.1.1 Evolução da área de retração da lesão cicatricial ..........................................54
6.2 AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA DA REEPITELIZAÇÃO, COLAGENIZAÇÃO,
VASCULARIZAÇÃO, POLIMORFONUCLEARES E MONONUCLEARES .................61
6.2.1 Histopalogia de tecidos coletados .....................................................................61
6.3 AVALIAÇÃO DO ENSAIO DA ATIVIDADE DA ENZIMA MIELOPEROXIDASE
(MPO) EM PLASMA DE RATOS.........................................................................................68
6.4 AVALIAÇÃO DA DOSAGEM DE CITOCINAS PRÓ-INFLAMATÓRIAS IL-6 E
TNF-α .......................................................................................................................................70
7 CONCLUSÕES............................................................................................................77
REFERÊNCIAS......................................................................................................................79
ANEXO ....................................................................................................................................94
1 INTRODUÇÂO
17
Cicatrização é um processo pelo qual um tecido lesado é substituído por
tecido conjuntivo vascularizado. A cicatrização constitui conjunto dinâmico de
alterações teciduais importantes na manutenção da integridade do organismo, que
envolve inflamação, quimiotaxia, proliferação celular, diferenciação e remodelação.
(CARRICO et al., 1984; HATANAKA; CURI, 2007).
No processo de cicatrização estão envolvidos os componentes da matriz
extracelular, células residentes (queratinócitos, fibroblastos), leucócitos (neutrófilos,
macrófagos/monócitos), bem como mediadores de natureza protéica (citocinas e
fatores de crescimento) É uma resposta tecidual às lesões, sejam induzidas por
traumatismo ou por procedimentos cirúrgicos (HATANAKA; CURI, 2007).
A pele desempenha papel importante de proteção e manutenção da defesa,
pois é ela quem faz a delimitação com o meio externo e protege nosso organismo
aos agentes invasores e agressões físicas. Uma ferida ou uma lesão geram
estímulos inflamatórios e podem provocar a perda da integridade cutânea e até
mesmo um desequilíbrio na fisiologia do tecido ou órgão se não houver um reparo
adequado.
No entanto, quando o estímulo inflamatório não pode ser eliminado ou
removido, desencadeia- se uma resposta complexa, envolvendo todo o organismo e
levando a processo inflamatório crônico, o qual muitas vezes pode ser deletério
(CONTRERA et al., 1985).
A instalação de um processo inflamatório crônico tem sido considerada a
base de muitas doenças, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes e algumas
doenças dermatológicas (ROBERT; KUPPER, 1999; DEBENEDICTIS et al., 2001;
MUELLER, 2006).
Existe uma grande variedade de agentes anti-inflamatórios disponíveis no
mercado, mas, alguns fatores comprometem a adesão do paciente ao tratamento
como a posologia, efeitos adversos indesejáveis, custo elevado do tratamento, baixa
eficácia entre outros (LEUNG et al., 2004; GOTTLIEB, 2005).
Com o objetivo de acelerar o processo de cicatrização, muitos estudos têm
sido direcionados para entender os eventos que envolvem a inflamação e sua
relação com a cicatrização. O conhecimento das bases dermatológicas de uso
tópico e de suas características na aplicação em processos de cicatrização é
18
importante para que estas sejam inseridas como veículos eficazes para ativos no
tratamento e possíveis agravos de patologias.
Diversas afecções dermatológicas estão relacionadas com o desenvolvimento
de inflamações que podem evoluir a patologias letais. O combate efetivo a
inflamação ocasionada por lesões de pele pode ser evidenciada por uma rápida e
ativa cicatrização. Na maior parte dos casos o uso de anti -inflamatórios e
cicatrizantes tópicos, como as pomadas, acarreta reações adversas e indesejadas,
piora no quadro e muitas vezes não apresenta bons resultados.
Para uma substância penetrar na pele, é preciso atravessar duas barreiras: a
camada córnea como a película lipídica que a reveste exteriormente e as
assentadas da epiderme. Algumas substâncias lipossolúveis são absorvidas através
da pele. Esta propriedade embora não necessariamente uma “função” no sentido de
ter uma finalidade biológica, é aproveitada na administração de certos agentes
lipossolúveis terapêuticos para a pele (ROSS; ROWRELL, 1999; LACHMAN;
LIEBERMAN; KANING, 2001).
O uso de formulações tópicas na cicatrização, principalmente bases
dermatológicas com características similares a pele, minimiza as decorrências dos
medicamentos alopáticos e por ser de fácil preparo e aplicação oferece um valor
acessível para a comunidade. O objetivo deste trabalho foi avaliar se as bases
possuem alguma propriedade que facilite a cicatrização, determinando sua possível
aplicação em formulações como veículo com atividade anti-inflamatória e cicatrizante
tópica em feridas cutâneas abertas em ratos. Investigando os possíveis mecanismos
envolvidos com a atividade anti-inflamatória e cicatrizante destas preparações
através das técnicas bioquímicas e farmacológicas “in vivo” e “in vitro”.
19
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar a atividade anti-inflamatória e cicatrizante tópica de bases
dermatológicas em feridas cutâneas abertas em ratos investigando os possíveis
mecanismos envolvidos com a atividade anti-inflamatória e cicatrizante destas
preparações através das técnicas bioquímicas e farmacológicas in vivo e in vitro.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Avaliar a atividade cicatrizante das diferentes formulações de bases
dermatológicas em lesões dorsocostais de ratos pela da área de retração nos
intervalos de dias através do software ImajeJ;
Determinar histologicamente a proliferação fibroblástica (colagenização),
reepitelização, presença de neutrófilos e polimorfonucleares bem como a
vascularização nos tecidos cicatriciais após a aplicação das bases;
Avaliar a capacidade das formulações modularem as citocinas inflamatórias -
através de testes bioquímicos de dosagem de TNF-alfa e IL-6;
Determinar o efeito das formulações sobre a peroxidação lipídica nos tecidos
de cicatrização através das substâncias que reagem com o ácido
tiobarbitúrico (TBARS);
Avaliar os níveis de mieloperoxidase, indicativo da presença de
polimorfonucleares, nas lesões dos grupos tratados com as formulações.
20
3 JUSTIFICATIVA
Agressões físicas e a exposição ao meio ambiente geram estímulos
inflamatórios e podem provocar a perda da integridade cutânea e até mesmo um
desequilíbrio na fisiologia do tecido e ou órgão se não houver um reparo adequado.
A cicatrização compreende uma série de eventos que envolvem células e
mediadores ao quais tornam esse processo muito importante para a manutenção da
homeostasia do órgão cutâneo.
Muitas formas dermatológicas podem ser aplicadas para acelerar o
fechamento da lesão e impedir o agravamento que pode gerar uma disfunção
crônica. Dentre as formas mais utilizadas, destacam-se as pomadas de uso tópico.
As bases para pomadas geralmente possuem caráter lipossolúvel ou hidrossolúvel e
são desenvolvidas para receber ativos medicamentosos.
Este trabalho foi realizado para testar as bases dermatológicas de pomadas
analisando seu potencial anti-inflamatório e cicatrizante e demonstrar qual tipo de
base é mais eficaz na cura da lesão. Justifica-se pela importância de se evidenciar
quais compostos, e sua natureza química, modulam os eventos bioquímicos e
histológicos de maneira mais ativa, bem como sua sinérgica utilização para
incorporar princípios ativos com propriedades medicamentosas.
21
4 REVISÃO DE LITERATURA
4.1 MORFOFISIOLOGIA DA PELE
A pele é o maior órgão do corpo humano com uma área de extensão de
aproximadamente 2m2 e representa 16% do peso corpóreo. A estrutura, as
propriedades e a sua composição variam de forma considerável em cada organismo.
A pele e seus anexos desempenham diversas funções, dentre elas: proteger contra
lesões físicas, químicas e biológicas, impermeabilização, promover os sentidos,
sintetizar certos hormônios e vitaminas, regular a temperatura corporal, metabolizar
xenobióticos e excretar substâncias (HAAKE; SCOTT; HOLBROOK, 2001; CHUONG
et al., 2002).
O contato direto com o meio ambiente, faz da pele uma barreira protetora que
impede que agressores externos interfiram com a homeostasia do organismo. Sua
principal função é a proteção primária do organismo, contra estímulos provenientes
do meio externo. A pele é ainda o componente periférico do sistema imune, sendo
capaz de iniciar uma resposta imune primária frente a um patógeno. É na verdade
um órgão complexo que envolve diversos tipos celulares e estruturas (SPELLBERG,
2000; DEBENEDICTIS et al., 2001; MAKRANTONAKI; ZOUBOULIS, 2007).
Na classificação histológica a pele faz parte do sistema tegumentar composta
por duas principais camadas - a epiderme e a derme – e uma fáscia subcutânea
chamada hipoderme (Figura 1) que se encontra profundamente na derme, ainda que
tenha a mesma origem da derme, não é componente da pele, apenas desempenha
função de suporte e união com os órgãos subjacentes (GRATIERI, GELFUSO,
LOPEZ, 2008; ARDA; GÖKSÜGÜR; TÜZÜN, 2014).
22
Fonte: Adaptado de Macneil (2007).
A epiderme, camada superior da pele, é relativamente fina (0,1-0,2 mm de
profundidade) e está firmemente ligada à derme pela membrana basal (MACNEIL,
2007). Esta membrana possui funcionalidades como permeabilidade seletiva de
nutrientes, pois a epiderme é avascularizada. É dividida em cinco camadas com
funções distintas: estrato córneo, camada lúcida, granulosa, espinhosa e basal (DE
JESUS; DA SILVA FERREIRA; MENDONÇA, 2006; KUHNEN; SILVA, 2010).
O estrato córneo é uma barreira cutânea e tem um papel na resposta
inflamatória, com ativação de melanócitos, angiogênese e fibroplasia, cuja
intensidade depende, basicamente, da intensidade da agressão (ADDOR; AOKI,
2010).
Na camada espinhosa encontram-se os queratinócitos que são responsáveis
pela produção dos filamentos de queratina (queratinização) e principalmente síntese
de agentes antioxidantes (glutationa redutase, peroxidase, catalase), citocinas,
quimiocinas, queratohialina, entre outros (ALVES et al., 2005).
Cerca de 95% da epiderme é constituída de queratinócitos em diferenciação,
e os 5% restantes por melanócitos, células de Langerhans, com função imunológica,
Figura 1: Estrutura da pele humana demonstrando as duas camadas (epiderme e derme)
e a fáscia subcutânea (hipoderme).
23
e células de Merkel, com função sensória (KOSTER; ROOP, 2004; SCHAEFER;
REDELMEIER, 1996, apud PÓVOA; DINIZ, 2011).
A derme varia de espessura, dependendo do seu local no corpo, e é
composta principalmente de colágeno I, com inclusões dérmicas de fios de cabelo e
glândulas sudoríparas, que são revestidas com queratinócitos epidérmicos. A derme
é bem vascularizada e também contém receptores para o tato, temperatura e dor.
Os queratinócitos perdem seus núcleos e, eventualmente, tornar-se uma folha de
queratina. As camadas epidérmicas queratinizadas superiores tornam-se uma
barreira, que resiste à entrada de bactérias e impede a perda de fluidos (SORREL;
CAPLAN, 2004).
A derme é constituída de polissacarídeos (hialuronidatos e condroitinsulfatos),
substância fundamental (glicoproteínas, proteoglicanas e glicosaminoglicanas),
material fibrilar (fibras colágenas, fibras elásticas e fibras reticulares), receptores
sensoriais (corpúsculos de Meissner, corpúsculos de Pacini), fibroblastos, que
sintetizam macromoléculas de colágeno e elastina (SAMPAIO; RAE; HENRIQUES,
2000; HAAKE; SCOTT; HOLBROOK, 2001; RYAN, 2004).
Na derme os vasos sanguíneos e linfáticos permitem que ocorra infiltração de
células migratórias importantes no processo de resposta de defesa inata ou imune e
de cicatrização, como os macrófagos, linfócitos, eosinófilos, neutrófilos e outros
(RYAN, 2004).
A hipoderme possui espessura variável e é composta exclusivamente de
tecido adiposo (metade da gordura do corpo está localizada na hipoderme), também
tem função no estoque energético, isolamento térmico e proteção contra injúria
(SAMPAIO; RAE; HENRIQUES, 2000).
Nesse contexto, a pele é muito mais do que simplesmente uma barreira física
passiva entre o meio externo e interno, mas também uma extensão do sistema
imunológico (WILLIAMS; KUPPER, 1996).
Na manutenção e desenvolvimento da defesa contra agentes i nvasores ou
lesões a pele desencadeia um processo inflamatório que é mantido pela interação
de diversos tipos celulares como: terminações nervosas, queratinócitos, mastócitos,
fibroblastos, macrófagos, células endoteliais e células migratórias como neutrófilos,
eosinófilos, monócitos e linfócitos. Estas células liberam, ativam e sintetizam
moléculas e susbtâncias chamadas de pró-inflamatórias como as citocinas
24
(BUCKLE; HEDGECOCK, 1997; PUIGNERO; QUERALT, 1997; BHAGWAT et al.,
1999; CRUVINEL et al., 2010).
Na epiderme humana pelo menos 5 tipos diferentes de células (melanócitos,
queratinócitos, células de Langerhans, linfócitos T e NK) fazem a defesa da
epiderme e derme subjacente ao ataque a agentes biológicos, químicos, energia
solar ou agentes hostis (CHUONG et al., 2002).
4.2 CICATRIZAÇÃO CUTÂNEA
Processos anatomopatológicos podem ocorrer na pele como: degenerações,
alterações metabólicas, proliferações, malformações, disfunções e inflamações.
Estas alterações são decorrentes a diversos estímulos nocivos como ação de
toxinas, organismos patogênicos, radiação ultravioleta, extremos de temperatura,
agentes mecânicos, agentes químicos e resposta auto-imune. Imediatamente estes
estímulos desencadeiam respostas com função protetora (resposta inflamatória) cuja
finalidade é eliminar o agente agressor, para impedir sua disseminação a outras
regiões do organismo, promover o reparo tecidual e restabelecer a homeostasia da
pele (WILLIAMS; KUPPER, 1996; SAMPAIO; CASTRO; RIVITTI, 2000; CHUONG et
al., 2002; FIRESTEIN, 2004).
A perda da integridade da pele, decorrente de alguma lesão ou doença, pode
potencializar o aparecimento de um desequilíbrio fisiológico, que se não tratado
devidamente poderá resultar numa perda de viabilidade do tecido ou até mesmo na
morte do indivíduo (LANZA; LANGER; VACANTI, 2011).
A resposta inflamatória é caracterizada, a nível clínico, por quatro sinais
clássicos, que incluem calor, eritema, edema e dor. Porém, uma resposta
inflamatória exacerbada pode promover uma descompensação fisiológica, levando a
perda de função do tecido e/ou órgão (SERHAN; SAVILL, 2005).
Após uma agressão ou estimulo cutâneo ocorre uma resposta inflamatória e
em seguida a cicatrização. Esta envolve reações cruzadas entre as células da
epiderme e derme incluindo substâncias como as citocinas e fatores de crescimento.
O processo de cicatrização envolve três fases: inflamação (fase exudativa),
reconstrução ou formação (fase proliferativa) e remodelação tecidual (fase
25
regenerativa) (EMING; KRIEG; DAVIDSON, 2007; MARTINS et. al., 2006; PÓVOA;
DINIZ, 2011).
4.2.1 Fase inflamatória - 1 a 3 dias
Na fase inflamatória, haverá um aporte de células sanguíneas no local em
resposta a inflamação, devido ao aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos
(vasodilatação), o que facilita o deslocamento de células como leucócitos
polimorfonucleares (neutrófilos e PMN) e plaquetas até o local lesionado (CLARK;
GHOSH; TONNESEN, 2007).
Durante esta fase inicia-se a cascata da coagulação. A trombina e o colágeno
formados durante o combate a hemorragia ativam a agregação plaquetária. A
trombina atua sobre o fibrinogênio originando fibrina, esta, conjuntamente, com a
fibronectina, irá formar uma matriz contrácti l essencial à cicatrização. Nesta matriz
irão multiplicar-se e crescer monócitos, fibroblastos, neutrófilos e queratinócitos que
migram através da ferida para iniciar a reepitelização . Estas células fazem a
remoção e desinfecção inata do tecido morto, por fenômenos de fagocitose,
libertação de enzimas proteolíticas e radicais livres. O processo de fagocitose é
realizado pelos monócitos que se transformam em macrófagos. Os macrófagos são
grandes células que no processo inflamatório produzem inúmeras citocinas, radicais
livres e enzimas (FALABELA; FALANGA, 2001; HARDING; MORRIS; PATEL, 2002;
CLARK; GHOSH; TONNESEN, 2007).
O coágulo é formado por colágeno, trombina e plaquetas e servem de reserva
proteica energética para a síntese de citocinas e fatores de crescimento aumentando
seus efeitos. Assim a resposta inflamatória se inicia com vasodilatação e aumento
da permeabilidade vascular, ocasionando a quimiotaxia, quando os neutrófilos
migram para a ferida (CAMPOS; BORGES-BRANCO; GROTH, 2007).
Os mediadores pró-inflamatórios liberados tanto pelas células residentes do
tecido cutâneo quanto pelas células transientes (neutrófilos, linfócitos, monócitos),
incluem os metabólitos do ácido araquidônico (AA), histamina, serotonina,
substância P, citocinas, óxido nítrico (NO), espécies reativas de oxigênio, entre
outras (KUPPER, 1990; SIMMONS, 2006).
26
Vinte e quatro horas após a lesão, Broughton, Janis e Attinger (2006), relatam
que os neutrófilos estão em maior concentração e são as primeiras células atraídas
por substâncias quimiotáticas (liberadas pelas plaquetas) para a ferida. As ROS são
produzidas pelos neutrófilos e auxiliam na destruição bacteriana.
Os neutrófilos são substituídos por macrófagos gradativamente. Infiltração de
macrófagos no local da ferida é regulada por fatores quimiotáticos, incluindo fatores
de crescimento, citocinas pró-inflamatórias e quimiocinas. Após 48-96 horas da
lesão os macrófagos migram para a ferida antes dos fibroblastos. Tem função de
terminar a remoção do tecido desvitalizado e secretar citocinas e fatores de
crescimento (DIPIETRO et al., 1998; FRANK et al., 2000; WETZLER et al., 2000;
WERNER; GROSE, 2003; BROUGHTON; JANIS; ATTINGER, 2006).
Os monócitos aderidos a matriz se transformam em macrófagos, onde as
citocinas essenciais para a cicatrização liberadas por estes são PDGF, TGF-α, FGF,
ILGF, TGF-β, interleucinas 1 (IL-1), EGF e TNF-α (BEANES et. al., 2003;
BROUGHTON; JANIS; ATTINGER, 2006).
4.2.2 Fase proliferativa - 4 a 21 dias
A partir dos bordos da ferida vai ocorrendo a epitelização, ou reepitelização
dos anexos cutâneos, ou dos restos de tecidos que ainda existem na lesão (CLARK;
GHOSH; TONNESEN, 2007).
Ainda nesta fase se inicia os processos de angiogênese, fibroplasia e
contração da cicatriz. A angiogênese ou neovascularização caracteriza-se pelo
crescimento de capilares a partir dos vasos adjacentes a lesão, onde este
crescimento será induzido pelas citocinas de células vizinhas e matriz extracelular. A
fibroplasia que é migração até o local lesionado de fibroblastos que é induzida pela
trombina, pelo pH ácido no local e pelos fatores quimiotáticos. Estes fibroblastos
segregam substancias que fazem parte da matriz extracelular como o colágeno,
elastina, fibronectina, proteoglicanos e outros (CLARK; GHOSH; TONNESEN, 2007).
As citocinas são mediadores protéicos, compõem um grupo heterogêneo de
polipeptídeos, cujas ações envolvem o desenvolvimento da resposta imune celular e
humoral, indução da inflamação, controle da proliferação e diferenciação celular,
27
bem como a indução da cicatrização (WILLIAMS; KUPPER, 1996; UCHI et al., 2000;
SOMMER, 2001; VARELLA; FORTE, 2001).
As citocinas primárias (IL-1 e TNF- α) resulta na ativação de algumas vias de
sinalização e promovem a ativação de fatores de transcrição como fator de
transcrição nuclear Kappa B (NF-kB) e proteína ativadora-1 (AP-1). Estes fatores de
transcrição quando ativados induzem a transcrição gênica de diversas citocinas
(TNF-α, IL-1, IL-2, IL-6, IL-8, GM-CSF, TGFB1 - fator de crescimento tumoral).
Geralmente as citocinas pró-inflamatórias como IL-1β, IL-6, TNF-α e IL-18, estão
envolvidas no início e amplificação da resposta inflamatória (BARNES; KARIN, 1997;
DELHASE, 2003; WINYARD, 2003; CALIXTO et al., 2004; PASCUAL; GLASS, 2006;
LAWRENCE; GILROY, 2007).
A IL-6 pode ser produzida por vários tipos celulares, sendo as células B, T e
monócitos as principais fontes. Os estímulos para a sua síntese são IL-1, LPS e
TNF-α. É uma citocina pleiotrópica que influencia respostas imuno-antígeno
específicas e reações inflamatórias, sendo um dos maiores mediadores da fase
aguda da inflamação. Portanto quando o processo inflamatório precisa ser reparado,
IL-6 é um dos primeiros mediadores a agir. É responsável pela substituição de PMN
ou eosinófi los por monócitos e macrófagos fagocíticos. Tem ainda ação importante
na atração de eosinófilos para o local de inflamação (HEINRICH; CASTELL;
ANDUS, 1990; ROTHEWELL, 1991 apud VARELLA; FORTE, 2001; WILLOUGHBY
et al., 2000; LAWRENCE; GILROY, 2007).
A angiogênese é estimulada pelo fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), e é
caracterizada pela migração de células endoteliais e formação de capilares,
essencial para a cicatrização adequada (CAMPOS; BORGES-BRANCO; GROTH,
2007).
O TNF-α também tem um papel importante no processo de remodelação do
tecido após um dano, pois atua como fator angiogênico e como fator de crescimento
dos fibroblastos (BURBACH; ANSEL; ARMSTRONG, 2000).
Os fibroblastos e as células endoteliais são as principais células da fase
proliferativa. Os fibroblastos dos tecidos vizinhos migram para a ferida e são atraídos
quimiotaticamente por fatores de crescimento como o PDGF e TGFβ e sintetizam
colágeno tipo I, e especialmente o colágeno do tipo III. Essa grande produção e
deposição do colágeno é influenciada pelo TGFβ que também é responsável pela
28
contração da cicatriz junto com os miofibroblastos (KARUKONDA et. al., 2000;
BROUGHTON; JANIS; ATTINGER, 2006; LI; CHEN; KIRSNER, 2007).
4.2.3 Fase de remodelamento – 21 dias a 1 ano
A remodelação consiste em reformulação da matriz extracelular. Tem a
função de reestabelecer a integridade total da derme e epiderme no local da lesão.
Queratinócitos, fibroblastos e macrófagos vão produzir enzimas colagenases e
proteases que irão permitir uma reposição e consolidação do colágeno juntamente
com a maturação da cicatriz. O aparecimento dos fibroblastos é dominante e estes
liberam colágeno tipo I e III (BEANES et. al., 2003; CLARK; GHOSH; TONNESEN,
2007).
A característica mais importante desta fase é a deposição de colágeno de
forma organizada. As colagenases agem de forma a equilibrar a deposição do
colágeno novo e a lise do colágeno velho. Com o tempo o colágeno tipo III é
substituído pelo colágeno tipo I que é mais espesso. Ocorre uma diminuição da
angiogênese e os macrófagos começam a desaparecer. Os principais fatores de
crescimento envolvidos nesta fase são o TNF-α, PDGF e TGF-β (KARUKONDA et
al., 2000; BEANES et al., 2003; BROUGHTON; JANIS; ATTINGER, 2006; LI; CHEN;
KIRSNER, 2007).
As metaloproteinases da matriz (MMP) e os inibidores de metaloproteinase da
matriz (TIMP) são enzimas extremamente importantes na remodelação do tecido
conjuntivo durante o desenvolvimento, homeostase e cicatrização. O TGF-β também
regula positivamente a expressão de TIMP, diminui a produção de MMP, e aumenta
a expressão de proteínas de adesão de tecido. A produção de TIMP também é
regulada positivamente pela IL-6. O TNF-α estimula a liberação de IL-6 pelos
fibroblastos, aumentando ainda mais a produção de TIMP (BROUGHTON; JANIS;
ATTINGER, 2006; FRANCO et al., 2009).
Quando a deposição de colágeno é maior, a cicatrização obteve êxito. Após
um ano a ferida apresentará um colágeno menos organizado que a pele saudável.
Todas estas alterações resultam na contração da ferida e a formação de um tecido
cicatricial. O processo de remodelação pode continuar indefinidamente, e o tecido
29
cicatricial não atingir a força tênsil da pele ilesa, podendo chegar a 80% desta força
em 3 meses (SINGER; CLARK, 1999; BROUGHTON; JANIS; ATTINGER, 2006).
4.3 CITOLOGIA DA INFLAMAÇÃO E CICATRIZAÇÃO
4.3.1 Polimorfonucleares (PMNs, Neutrófilos)
Estas células são recrutadas para iniciar o desbridamento do tecido
desvitalizado e fagocitar os agentes infecciosos. Para executar esta tarefa, os
neutrófilos liberam uma grande variedade de substâncias antimicrobianas altamente
ativas (espécies reativas de oxigênio (ROS), peptídeos catiônicos, eicosanóides) e
enzimas proteases (WEISS; 1989). Theilgaard-Mönch et al. (2004), cita que a
migração de PMNs para lesões da pele induz uma grande ativação da transcrição,
que pode regular o destino e a função celular e promover a cura de feridas.
Algumas quimiocinas e seus receptores são os mais prováveis mediadores
cruciais para o recrutamento de neutrófi los durante o reparo tecidual (GILLITZER;
GOEBELER, 2001; ESCHE; STELLATO; BECK, 2005).
Apesar do conhecimento detalhado sobre a síntese de mediadores liberados
por PMNs e mecanismos envolvidos e seu papel na defesa, essas células podem
ser benéficas ou prejudiciais para a cicatrização. Experimentos na década de 1970
mostraram que a depleção de neutrófilos por anti-soro de cobaias não afetaram
significativamente a reparação tecidual de feridas incisionais em condições estéreis
(SIMPSON; ROSS, 1972).
Um estudo recente da Dovi, He e DiPietro (2003), uti lizando uma abordagem
semelhante de depleção de neutrófilos, confirmou parcialmente esses estudos
iniciais. Embora os parâmetros de reparação por via cutânea não foram afetados
pela neutropenia, a reepitelização foi significativamente acelerada. No entanto, neste
estudo, não fica claro se a falta de PMNs tem, um efeito benéfico direto sobre a
reepitelização ou se o aumento relativo em outros subconjuntos de células
inflamatórias tais como os macrófagos, pode ser responsável pela acelerada
epitelização.
30
Estudos in vitro recentes demonstraram que os neutrófi los isolados a partir de
sítios de reparação podem modular a expressão fenotípica e perfil de citocinas de
macrófagos, regulando assim a resposta imune inata durante a cicatrização (DALEY
et al., 2005). Além disso, um estudo mostra que a contração de feridas de excisão
em ratos com depleção de heterodímero de CD18, que codifica a cadeia comum das
proteínas beta-2-integrinas, foi significativamente retardada, provavelmente devido à
diferenciação de miofibroblastos prejudicada (PETERS et al., 2005). Os autores
especularam que em feridas deficientes de CD18, as quais estão desprovidas de
neutrófilos, a falta destes no local da ferida priva macrófagos da sua principal função
que é o estímulo de secreção de TGF-β1, um mediador chave envolvido na
diferenciação de miofibroblastos. Além disso, a cura de feridas prejudicada é uma
característica importante de doenças humanas que são caracterizadas por uma
deficiência na função de PMN (ROOS et al., 1993; KUIJPERS et al., 1997).
4.3.2 Macrófagos/Monócitos
Estas células constituem a primeira linha de defesa e atuam no processo de
reparo cutâneo em diferentes fases. Estão em grande quantidade na fase
inflamatória, tendo seu pico durante a fase de granulação decrescendo durante a
fase de maturação. Atuam na estimulação de secreção de fatores de crescimento e
citocinas que são importantes na síntese de colágeno e na fibrose. Macrófagos tipo
M1 produzem TNF-α e IL-6 (DELAVARY et al., 2011).
Os macrófagos proveem continuamente citocinas pró-inflamatórias
importantes para o estímulo de fibroblastos (WERNER; GROSE, 2003).
Em um estudo com modelo animal de cicatrização, mostrou que em ratos
modificados geneticamente sem o gene para a produção de IL-6, a lesão levou até
três vezes mais tempo para curar do que os dos animais controle. Desta forma a IL-6
é essencial para a resposta de cicatrização e também através do seu efeito
quimiotáxico sobre os neutrófilos (GALLUCCI et al., 2000).
Alguns estudos mostraram a importância de macrófagos na cicatrização, onde
a depleção de macrófagos em camundongos resultou num atraso significativo da
31
cicatrização e uma redução da proliferação de fibroblastos (LEIBOVICH; ROSS,
1975; MIRZA; DIPIETRO; KOH, 2009).
Estudos mais recentes têm apoiado e estendido estas observações
(NAGAOKA et al., 2000; MORI et al., 2002) têm demonstrado um atraso drástico no
fechamento da lesão em ratos associado com uma redução significativa na
infiltração de neutrófilos e macrófagos.
4.3.3 Colágeno
A proteína mais abundante do tecido conectivo em fase de cicatrização é o
colágeno. As formas diferenciadas da composição química determinam as suas
funções biológicas. Foram descritas até o presente 19 isoformas (tipos) de colágeno,
codificadas por um único gene. O colágeno é sintetizado pelos fibroblastos os quais
entram em mitose apenas por sobrecarga funcional ou em resposta a lesões
(ROBSON; STEED; FRANZ, 2001; RODRIGUES, 2009).
Os tipos de fibras colágenas do tecido conjuntivo são helicoidais, com
sequência tripeptídica repetitiva composta de glicina-X-Y, sendo X representada pelo
aminoácido prolina e Y pelo aminoácido hidroxiprolina. Os tipos mais comuns de
colágeno são do Tipo I, II e III. A derme sã contém aproximadamente 80% de
colágeno tipo I e 20 % de colágeno tipo III. Já o tecido de granulação expressa 30 a
40 % de colágeno do tipo III, sendo considerado colágeno imaturo (ROBSON;
STEED; FRANZ, 2001).
Os colágenos são as principais proteínas da matriz extracelular (MEC)
perfazendo aproximadamente 25% da massa protéica total do organismo, sendo os
componentes estruturais primários da MEC, tendo papel fundamental na arquitetura
tecidual, na resistência dos tecidos e em uma ampla variedade de interações célula-
célula e célula-matriz (BAYNES; DOMINICKZAC, 2000).
A formação da matriz extracelular é, pois, resultante de um balanço entre a
deposição (síntese) e degradação de colágeno. A degradação do colágeno se inicia
precocemente e é muito ativa durante o processo inflamatório (CAMPOS; BORGES-
BRANCO; GROTH, 2007).
32
Com o passar do tempo, os fibroblastos se diferenciam em miofibroblastos,
que induzirá a ferida a se contrair 0,60 a 0,75 mm por dia. Por volta do décimo dia, à
ferida terá a aparência de massa fibrótica característica da cicatriz. Com a evolução
do processo, as fibras de colágeno do tipo III vão sendo substituídas por fibras do
tipo I que é mais resistente e a maioria das células desaparecem forma ndo
finalmente a cicatriz (COELHO; REZENDE; TENÓRIO, 1999; BALBINO; PEREIRA;
CURI, 2005).
4.4 BIOQUÍMICA E PERMEABILIDADE CUTÂNEA
A bioquímica da pele é composta por substâncias orgânicas e inorgânicas.
Tais compostos são responsáveis pelas inúmeras reações químicas e metabolismo
cutâneo que incluem a síntese de moléculas e homeostasia. Os compostos
inorgânicos incluem a água e os sais minerais. Os compostos orgânicos estão
divididos em quatro classes: Carboidratos, Lípideos, Proteínas e Ácidos Nucleicos. A
água é o composto mais abundante do organismo humano e representa cerca de
70% da constituição da pele, encontrando-se distribuída entre a epiderme e a
derme. A hidratação da pele aumenta nas camadas mais profundas, onde a maior
quantidade de água está na derme. A água é fundamental em toda a fisiologia dos
tecidos e no transporte de substâncias entre as células (COHEN; WOOD, 2002;
PRISTA et al., 2008).
A permeabilidade da pele está relacionada tanto ao material cornificado dos
queratinócitos como ao material intercelular, principalmente o conteúdo lipídico
deste. Sendo assim, as diferenças regionais de permeabilidade estão associadas
principalmente ao conteúdo lipídico, e em segundo plano à espessura do estrato
córneo (ARCHER, 2010).
O principal fator condicionante da absorção cutânea de fármacos é o seu
coeficiente de partição óleo/água, pois é fundamental que este penetre bem através
da pele e se dissolva perfeitamente nos fluidos aquosos (solubilidade em água) do
organismo e se correlacione com suas características físico-químicas (TALREJA et
al., 2001).
33
Michaels, Chandrasekaran e Shaw, (1974) propuseram um modelo da
estrutura básica para explicar a permeabilidade cutânea conhecido como “brick and
mortar”, ou seja, “tijolo e cimento”, onde os “tijolos” são os corneócitos e o “cimento”
é o conteúdo lipídico extracelular. No decorrer dos anos, este modelo foi revisado e
confirmado, sendo o mais aceito até hoje e o mais adequado para a compreensão
do arranjo celular e dos trajetos para a permeabilidade cutânea (ADDOR; AOKI,
2010; TROMMER; NEUBERT, 2006).
O estrato córneo é composto por diversas camadas de células achatadas e
queratinizadas (corneócitos) suspensas em matriz lipídica extracelular. Os
corneócitos são células anucleadas repletas de filamentos de queratina ligados a um
envelope periférico cornificado, composto por ligações cruzadas de proteínas.
Enquanto isso na superfície externa desse envelope essas proteínas estão ligadas
de forma covalente a hidroxiceramidas formando o envelope lipídico.
Resumidamente o estrato córneo é composto por uma emulsão epicutânea
conhecida como manto hidrolipídico, naturalmente formada por substâncias
hidrofílicas e lipofílicas (MADISON, 2003).
A hidratação da camada córnea é uma das principais estratégias usadas para
aumentar a penetração cutânea. A abertura da estrutura compacta da camada
córnea é estimulada pela água. O teor de água na camada córnea pode ser
aumentado pelo fornecimento de água do veículo à pele (hidratação) ou pelo
impedimento da perda de água da pele (oclusão), aplicando formulações
parcialmente oclusivas sobre esta (DANIELS, 2010; WILLIAMS; BARRY, 2012).
4.5 BASES DERMATOLÓGICAS
Nas preparações de bases para aplicação cutânea os veículos usados são
geralmente constituídos por diversos excipientes, formando uma mistura com as
caraterísticas pretendidas (SILVA et al., 2010).
Dentre as diversas formas farmacêuticas existentes para veicular ativos
cicatrizantes, destacam-se as pomadas, as quais podem ser definidas como
preparações semi-sólidas, estáveis, de média consistência, para uso externo
(aplicadas sobre a pele ou sobre certas mucosas), constituídas pelos princípios
34
ativos e por excipientes com características lipofílicas ou hidrofílicas. Com a
finalidade de exercer uma ação local ou de realizar a penetração percutânea de
princípios ativos, a base de pomada deve apresentar aspecto homogêneo. Elas são
constituídas basicamente por excipientes e prontas para veicular os princípios ativos
(FONSECA, FERREIRA, 2004; THOMPSON; SILVEIRA, 2006; RANG et al., 2012;
ALLEN JR; ANSEL; POPOVICH, 2013; KATZUNG; MASTERS; TREVOR, 2014).
As bases de pomadas são utilizadas por seus efeitos físicos como proteção,
emoliência ou lubrificação, ou como veículo para pomadas medicamentosas. Assim
sendo, tais bases são úteis para incorporar ativos cicatrizantes, pois além do ativo
auxiliar na cicatrização, a base também tem função protetora e emoliente,
protegendo o local, que geralmente está sensibilizado pela lesão (ALLEN JR;
ANSEL; POPOVICH, 2013).
Por não possuírem grande quantidade de água e conter grandes
concentrações de agentes espessantes lipofílicos, as bases para pomadas
geralmente são oclusivas, pois formam um fi lme espesso sobre a pele, protegendo a
mesma de agentes externos agressivos que possam agravar a lesão. Além disso, os
neutrófilos são mais ativos em ambientes ocluídos (BETTES, 2003; SANTOS;
VIANNA; GAMBA, 2007; ALLEN JR; ANSEL; POPOVICH, 2013).
As pomadas proporcionam uma boa hidratação da pele e aumentam a
penetração cutânea de princípios ativos veiculados a estas. Deste modo, o uso
dessas bases pode auxiliar na ação do ativo cicatrizante. A matéria-prima lanolina,
presente em muitas bases de pomadas, por ser de origem animal, auxilia na
permeação e hidratação da pele (ALLEN JR; ANSEL; POPOVICH, 2013).
Devido às suas propriedades hidratantes, o petrolato branco (vaselina), uma
mistura de hidrocarbonetos alifáticos de cadeia longa, por muito tempo foi
considerado hidratante padrão em formulações. Os unguentos são utilizados por
formar uma camada oclusiva na superfície do estrato córneo bloqueando a perda de
água transcutânea (FLESCH, 1963).
Porém um estudo feito por Ghadially, Halkier-Sorensen e Elias (1992)
comprovou que o petrolato branco não age como uma membrana epicutânea
impermeável. Em vez disso, ela permeia todos os interstícios subcutâneos
acelerando a cicatrização apesar de suas propriedades oclusivas.
A lanolina é um composto lipofílico, utilizada como veículo em algumas
preparações farmacológicas para tratamento de feridas, devido a sua propriedade
35
oclusiva, de penetração e manutenção da hidratação da pele. Ela é composta por
uma mistura de ésteres e poliésteres de álcoois de cadeia longa e por ácidos
graxos, com predominância dos insaturados, representados por uma proporção
elevada dos ácidos eicosapentaenóico (EPA), linoléico e docosa-hexaenóico
(STONE, 2000; MARTINS et al., 2005).
Na pesquisa de Martins et al. (2005), com aplicação de lanolina em feridas de
ratos, observou-se um aumento médio de 14% da área, imediatamente após a
cirurgia, porém após o terceiro dia as lesões tiveram uma regressão até o final do
experimento.
Os polietilenoglicóis (PEG) são substâncias que apresentam características
tipicamente hidrófilas, sendo utilizados em formulações hidrossolúveis, pois são
excelentes emulsivos de óleo em água. Os polietilenoglicol 4000 e polietilenoglicol
400 são estáveis e não irritantes para a pele (FLECK; DE SOUZA TIMM, 2006;
BRASIL, 2012).
O PEG é utilizado em cosméticos e preparações tópicas como agente
espessante, estabilizante e emulsificante tanto em emulsões A/O quanto O/A,
estáveis em grande faixa de pH. Também é utilizado para melhorar as propriedades
emolientes de pomadas e é um agente oclusivo que retarda a perda de água
(FAGRON, 2008).
Já se conhece que durante a resposta inflamatória, os polimorfonucleares
(neutrófilos) são as primeiras células a aparecerem e produzem fatores quimiotáticos
para monócitos/macrófagos e linfócitos T (ZIJLSTRA et al., 2006).
A cicatrização de feridas é um processo dinâmico que envolve eventos
fisiológicos e bioquímicos com o objetivo de promover e garantir a restauração
vascular e tissular. O principal fator desencadeante da cicatrização é a própria lesão
local, com ou sem perda tecidual. Entretanto, quanto mais precoce for o processo de
reparação da área lesada maior o benefício, pois a ferida da pele representa uma
porta de entrada para os mais variados agentes agressores (vírus, bactérias, fungos,
protozoários), colocando em risco a integridade física do indivíduo e podendo
inclusive causar sua morte. Muitas variáveis, tanto de ordem local como sistêmica,
influenciam a cicatrização, entre elas destacam-se algumas bases dermatológicas
que podem acelerar o processo de reparação e cicatrização (DE SOUSA et al.,
2015).
36
O processo de cicatrização de feridas abertas ocorre a partir das bordas da
lesão para o centro. A explicação para isso se deve ao fato das feridas abertas
serem submetidas a um processo de contração da lesão na tentativa de diminuir a
área de exposição e propiciar a reparação. (DE SOUSA et al., 2015).
37
5 MATERIAL E MÉTODOS
5.1 ANIMAIS
Para a realização desta pesquisa foram utilizados Rattus norvegicus,
variedade Wistar albinos, machos com idade de 3 a 4 meses, pesando entre 200g e
250g. Os animais foram adquiridos da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) e aclimatados durante 15 dias no Biotério da Universidade do Oeste de
Santa Catarina (UNOESC) campus Joaçaba, anterior ao início dos experimentos. Os
animais foram mantidos em ciclo claro-escuro natural (12/12 h), controlados
automaticamente e em temperatura de (22 + 2º C). Os animais foram alimentados
(ração comercial Presence®) e água filtrada ad libitum. Aproximadamente 1 hora
anterior a realização dos experimentos os animais foram transportados até o
laboratório de Farmacologia, onde permaneceram sob condições controladas de luz
e temperatura para ambientação. Os experimentos serão realizados de acordo com
as normas éticas de cuidados do CONSEA - Conselho Nacional de Controle Animal.
Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEUA) da mesma
Universidade e aprovado de acordo com parecer número 009/2014 (Anexo A).
5.2 TÉCNICAS EXPERIMENTAIS
5.2.1 Bases dermatológicas
As formulações das bases dermatológicas foram escolhidas de acordo com o
Formulário Nacional (Farmacopéia Brasileira) de 2005 e 2012, seguindo os critérios
de ser todas da mesma forma farmacêutica pomada. As formulas sofreram
mudanças retirando os conservantes e antioxidantes e as quantidades ajustadas. As
bases de pomadas receberam denominações (siglas) para facilitar a identificação.
38
Tabela 1: Base para pomada hidrossolúvel
POMADA DE POLIETILENOGLICOL (PP)
FÓRMULA
Componentes Quantidade
Macrogol 400 (polietilenoglicol 400) 33,3 g
Macrogol 4000 (polietilenoglicol 4000) 33,3 g
Propilenoglicol 33,3 g
Fonte: Adaptado de Brasil (2012, p.190).
Tabela 2: Base para pomada hidrossolúvel
POMADA DE POLIETILENOGLICOL II (PPII)
FÓRMULA
Componentes Quantidade
Macrogol 400 (polietilenoglicol 400) 47,5 g
Macrogol 4000 (polietilenoglicol 4000) 47,5 g
Álcool cetílico 5 g
Fonte: Adaptado de Brasil (2005, p.138).
Tabela 3: Base para pomada hidrofílica tipo emulsão O/A
POMADA HIDROFÍLICA (PHA)
FÓRMULA
Componentes Quantidade
Fase aquosa
Laurilsulfato de sódio 1 g
Propilenoglicol 12 g
Fase oleosa
Álcool estearílico 25 g
Vaselina sólida 25 g
Água q.s.p. 100 g
Fonte: Adaptado de Brasil (2005, p.139).
39
Tabela 4: Base para pomada de absorção tipo emulsão A/O
PETROLATO HIDROFÍLICO (PH)
FÓRMULA
Componentes Quantidade
Colesterol 3 g
Álcool estearílico 3 g
Cera branca de abelha 8 g
Petrolato branco q.s.p 100 g
Fonte: Adaptado de Brasil (2012, p.188).
Tabela 5: Base graxa para pomada de absorção
POMADA DE LANOLINA E VASELINA (PLV)
FÓRMULA
Componentes Quantidade
Lanolina anidra 30 g
Petrolato líquido q.s
Petrolato branco q.s.p 100 g
Fonte: Adaptado de Brasil (2012, p.189).
O controle positivo foi utilizado a pomada dermatológica com principio ativo
dexpantenol, nome comercial Cicatenol® (Laboratório EMS S/A) na seguinte
composição:
Cada g da pomada dermatológica contém:
Dexpantenol (vitamina B5).................................................................................. 50 mg
Excipiente* qsp......................................................................................................... 1 g
* álcool cetoestearílico, álcool cetoestearílico etoxi lado, propilenoglicol,
monoisoestearato de glicerila, lanolina, óleo de amêndoas, palmitato de isopropila,
petrolato branco, água purificada (BRASIL, 2014).
O controle negativo foi aplicado solução salina 0,9% com movimentos
semelhantes ao utilizados com as bases.
40
5.2.2 Grupos experimentais
Os experimentos foram realizados em 2 etapas para cada base e os animais
distribuídos nos seguintes grupos:
1ª Etapa: Avaliação das bases dermatológicas sobre a Cicatrização
Após a excização do epitélio dorsal, os animais foram avaliados no 0, 3º, 7º,
14º e 21º dias mediante a mensuração da área de retração do ferimento. Cada
grupo foi composto por 6 animais (+20% de perda devido a anestesia profunda)
conforme Fluxograma 1.
41
Fonte: O Autor
Fluxograma 1: Distribuição dos grupos de animais para aplicação dos controles e bases
dermatológicas
42
2ª Etapa: Avaliação das bases dermatológicas sobre os mediadores
inflamatórios no processo de cicatrização
Após a excização do epitélio dorsal, os animais foram avaliados no 2º dia.
Cada grupo foi composto por 6 animais conforme Fluxograma 1.
5.2.3 Indução do Dano epitelial
O modelo de indução do dano epitelial foi conduzido conforme método
descrito por Ram et al. (2014), com algumas modificações. Os experimentos foram
realizados no Laboratório de Farmacologia da Universidade do Oeste de Santa
Catarina-UNOESC Campus Joaçaba.
Para indução do dano epitelial, cada animal foi anestesiado com cloridrato de
ketamina (Dopalen®) e cloridrato de xilazina (Anasedan®) adquiridos de Ceva
Saúde Animal Ltda, na concentração de 80/20 mg/kg, por via intramuscular. Os
animais foram submetidos à epilação na região dorsal, em área de 24 cm² (6 cm de
comprimento x 4 cm de largura), localizada caudalmente a uma linha imaginária que
passa pelos membros anteriores. Após epilação os animais foram posicionados em
decúbito dorsal. O local epilado recebeu assepsia com iodopovidona 10% (PVPI).
No centro da área epilada foi realizada demarcação na pele de cada animal por
rotação da borda cortante de demarcador (punch) metálico com 2 cm de diâmetro.
Com bisturi, foi excisado o fragmento cutâneo no centro da área epilada, até a
exposição da fáscia muscular dorsal (Figura 2). A hemostasia foi realizada por
compressão digital, utilizando-se gaze esterilizada. Logo após o ato operatório, os
animais foram reacondicionados nas caixas específicas, divididos de acordo com os
seus respectivos grupos. Todos os animais, 6 horas após o procedimento cirúrgico
receberam analgesia subcutânea com citrato de fentanila (Fentanest®) (adquirido de
Cristália) na concentração de 20 µg/kg, de 12/12hs por 3 dias. Após o procedimento
cirúrgico e verificação da hemostasia, os animais receberam a primeira aplicação
tópica das bases dermatológicas na ferida cutânea onde este procedimento foi
repetido diariamente. No subgrupo controle sem tratamento (C), não foi aplicado
nenhum tratamento. E o controle positivo foi tratado com pomada contendo
43
dexpantenol (Cicatenol® concentração 50mg/g) Todos os ratos foram examinados
diariamente quanto à sua mobilidade, receberam o tratamento com as bases
dermatológicas conforme Fluxograma 1 e feita à avaliação macroscópica da ferida
operatória.
Legenda: A- punch metálico para demarcação da área; B- área epilada e assepsia com PVPI; C-
técnica cirúrgica da área demarcada; D- área excizada de aproximadamente 2 cm com exposição da
fáscia muscular.
5.2.4 1ª Etapa - Avaliação da cicatrização
Para avaliação da cicatrização todos os animais foram novamente
anestesiados diariamente, conforme descrito no item 5.2.3, e tiveram suas lesões
fotografadas por câmera digital Motorola 13 megapixels, HDR. Para conversão da
escala de pixels em centímetros uma régua calibrada, em intervalo de centímetros,
foi posta imediatamente a margem da lesão e as imagens tanto da lesão quando da
escala da régua foram obtidas na mesma imagem. Os dados assim obtidos do
processo de cicatrização, no 0, 3º, 7º, 14º e 21º dias, foram registrados em protocolo
para posterior comparação, por planimetria digital, mediante aplicação do software
ImageJ® (RASBAND, 1997). A avaliação da cicatrização foi realizada em todos os
A B C D
Figura 2: Sequência do procedimento do dano epitelial em animais.
44
animais mediante a mensuração da área de retração do ferimento, importando-se a
imagem da fotografia digital da lesão para o software ImageJ® (Figura 3).
Legenda: A- conversão de pixels para escala em centímetros; B- mensuração e leitura da área da
lesão; C- Aproximação computadorizada da linha para demarcação da borda da lesão.
5.2.5 Avaliação Histológica – Reepitelização, colagenização, vascularização,
presença de neutrófilos e polimorfonucleares
No dia pré-estabelecido para o sacrifício dos animais da primeira etapa de
experimentos (21 dias), os ratos foram anestesiados e sacrificados através de
sedação com diazepam (10 mg/Kg peso), e colocados em câmara de CO2. Em
seguida fixados à mesa cirúrgica para a coleta de dados morfológicos e do espécime
cirúrgico. A amostra da ferida excisada foi retirada com margem de 1 cm de pele
íntegra em torno da lesão, em profundidade até a fáscia muscular. Cada peça foi
identificada individualmente, fixadas em solução e conservadas em formalina
tamponada 10% (formalins de Carlson) por 7 dias e posteriormente inclusas em
parafina Paraplast Plus® (Sigma-Aldrich), submetidas a cortes transversais de 4μ,
com micrótomo, e coradas com hematoxilina–eosina (HE), para avaliação global dos
cortes de tecido, e pelo Tricômio de Masson (TM) (Easypath), conforme instruções
do fabricantes, para avaliar a presença de fibras colágenas existentes nos locais de
fibrose do interstício. Foram avaliadas a proliferação fibroblástica (colagenização),
A B
C
Figura 3: Avaliação da cicatrização por planimetria digital no software ImageJ®
45
reepitelização, presença de neutrófilos e polimorfonucleares bem como a
vascularização. Para a avaliação dos escores foram atribuídas cinco graduações:
ausente (0), discreta (+), moderada (++), acentuada (+++) e aspecto normal da pele
(++++).
5.2.6 2ª Etapa - Avaliação das bases dermatológicas sobre os mediadores
inflamatórios no processo de cicatrização
Para os estudos de avaliação sobre os mediadores inflamatórios os animais
foram preparados conforme o item 5.2.3 e foram submetidos aos mesmos
tratamentos com as bases dermatológicas. No 2º dia após o dano epitelial os
animais foram sacrificados como descrito acima e tiveram os tecidos das áreas em
cicatrização retirados, acondicionados em tubos plásticos a -80 Cº, e amostras de
sangue para posterior quantificação dos níveis de citocinas inflamatórias (IL-6 e
TNF-), mieoloperoxidase como descritos abaixo.
5.2.7 Modelo de coleta de sangue pela técnica de punção caudal
Esta técnica para coleta das amostras de sangue para posteriores ensaios foi
realizada segundo descrita por Weiss et al. (2000) com algumas adaptações e
realizada após 8 horas após indução do dano epitelial.
Os animais foram anestesiados conforme o item 5.2.3 e foram colocados sob
placa aquecida a 37º C por 10 minutos. Após a adaptação da temperatura a cauda
foi seccionada a 3 mm da ponta e a cauda foi espremida na direção base-
extremidade onde o sangue foi coletado em eppendorf previamente preparado com
coquetel de inibidores de proteases (Inibidor de serino tripsina Kunitz (SBTI- soy
bean tripsin inhibitor), inibidor de serina protease (PMSF-
phenylmethanesulfonylfluoride or phenylmethylsulfonyl fluoride) aprotinina e
leupetina) e anticoagulante heparina. As amostras foram centrifugadas por 5 minutos
46
e o plasma retirado e posteriormente congelado a -80º C. Os animais foram
acondicionados em suas caixas até a próxima coleta de material.
5.2.8 Modelo de coleta de sangue pela técnica de punção cardíaca
Esta técnica para coleta das amostras de sangue para posteriores ensaios foi
realizada segundo descrita por Machado et al. (2003) com algumas adaptações e
realizada após 24 horas após indução do dano epitelial.
Os animais foram anestesiados conforme o item 5.2.3 e foram colocados no
campo cirúrgico em posição ventral e em seguida foi aberta a cavidade torácica,
exposto o coração, e o sangue foi coletado através de punção no ventrículo
esquerdo com seringa de volume 5 ml. Os animais obtiveram óbito por
exsanguinação. As amostras sanguíneas foram acondicionadas em eppendorf
previamente preparado com coquetel de inibidores de proteases (Inibidor de serino
tripsina Kunitz (SBTI- soy bean tripsin inhibitor), inibidor de serina protease (PMSF-
phenylmethanesulfonylfluoride or phenylmethylsulfonyl fluoride) aprotinina e
leupetina) e anticoagulante Heparina sódica (Cristália® Produtos Químicos
Farmacêuticos). As amostras foram centrifugadas por 5 minutos e o plasma retirado
e posteriormente congelado a -80º C.
5.2.9 Modelo de coleta do tecido cicatrizado e extração da amostra por
trituração
Após 24 horas da indução do dano epitelial, os animais foram sacrificados e
as amostras das feridas excisadas, utilizando bisturi, foram retiradas com margem
de 1 cm de pele íntegra em torno da lesão, em profundidade até a fáscia muscular
reservadas em tubos eppendorf para preparação das mesmas. As amostras de
tecido foram pesadas em balança analítica (Shimadzu® modelo AX200) com peso
padrão de aproximadamente 100 mg de cada amostra. Após pesagem, os tecidos
foram triturados em triturador de tecido (tipo Potter de vidro com capacidade de 10
47
ml) adicionados no momento da homogeneização os inibidores de proteases
(Inibidor de serino tripsina Kunitz (SBTI- soy bean tripsin inhibitor), inibidor de serina
protease (PMSF- phenylmethanesulfonylfluoride or phenylmethylsulfonyl fluoride)
aprotinina e leupetina) e solução tampão pH 7,4 mantidos sob refrigeração em
isopor com gelo durante todo o procedimento. O homogenato de tecido foi
transferido para eppendorf e centrifugado sob refrigeração a 4º C por 30 minutos
10.000g (Fluxograma 2). O volume de sobrenadante retirado para os ensaios
bioquímicos foi de 100 µL para cada amostra
5.2.10 Dosagem de Proteínas Totais via espectrofotometria em tecido
cicatrizado
Para dosagem de proteínas totais (Fluxograma 2) foram retiradas 40 µL de
cada amostra de homogenato e adicionadas 1960 µL de água pura (Milli-Q Milipore-
Bedford, MA, EUA) em cubeta de quartzo e levadas para leitura em
espectrofotômetro digital Shimadzu® modelo UV- Vis 1280 em comprimento de
onda de 280 nm.
48
Tecido
• Pesagem (± 0,1000 g)
Triturar
• 30 µL Solução tampão pH 7,4 + Aprotinina e Leupetina
• Tecido pesado
• 1,5 µL de Solução tampão + 5 µL de SBTI
• Resfriados em isopor com gelo
Centrifugar
• Refrigeração -20o C
• Tempo 30 min
Cubeta
• 1960 µL água pura (Milli-Q Milipore-Bedford, MA, EUA) + 40 µL amostra
Dosagem
Proteína
• Espectofotômetro Shimadzu® UV-Vis 1280
• Leitura a 280 nm
Fonte: O Autor
Fluxograma 2: Procedimentos de coleta do tecido cicatrizado e extração da amostra por
trituração para os ensaios bioquímicos de 2ª Etapa
49
5.2.11 Dosagem das citocinas inflamatória IL-6 e TNF-α no tecido de
cicatrização e sangue
Amostras de 100 µL do sobrenadante de tecido e plasma foram uti lizadas
para avaliação dos níveis de IL-6 e TNF-α através de kits comerciais (ELISA; R&D
Systems, Minneapolis, USA) segundo orientações do fabricante.
As placas High-Binding de 96 poços foram preparadas (imunização da Placa)
com 100 µL de Anticorpo de captura (anti rat-IL-6 e anti rat-TNF-α) em PBS e
cobertas imediatamente e incubadas overnight á temperatura ambiente.
Posteriormente o Anticorpo de captura foi retirado dos poços através de aspiração
com sugador e lavadas com a Solução de lavagem num total de três vezes. As
placas foram bloqueadas com 300 µL de soro albumina Bovina e incubadas a
temperatura ambiente por 1 hora. O procedimento de lavagem foi repetido conforme
anteriormente e as placas receberam 100 µL dos padrões, e as amostras de sangue
(8 e 24 hs), e tecido (24 hs), conforme Tabela 6. As placas foram cobertas e
incubadas por 2 horas em temperatura ambiente em mini agitador de placas
(Agimaxx® Modelo AG-1PS).
Tabela 6: Preparação das placas para adição das soluções da curva padrão e amostras de
sangue de 8 e 24 hs e tecido 24 hs
Poço Padrão (pg/mL) Tubos
A1 4000 1 (100 µL)
A2 2000 2 (100 µL)
A3 1000 3 (100 µL)
A4 500 4 (100 µL)
A5 250 5 (100 µL)
A6 125 6 (100 µL)
A7 62,5 7 (100 µL)
A8 0 100 µL diluente de reagentes
A-H/9-96 Amostras 100 µL de cada (sangue-8 e 24 hs e tecido-24 hs)
Fonte: O Autor
50
Após incubação das placas com as amostras estas foram aspiradas e lavadas
repetindo este procedimento num total de três vezes. Com a remoção completa do
líquido as placas receberam 100 µL do Anticorpo de Detecção Diluído em cada poço
onde foram incubadas por 2 horas em agitador rotatório em temperatura ambiente e
cobertas para evitar a luz direta. A lavagem foi repetida três vezes e as placas
receberam 100 µL de Solução de trabalho de streptavidina a cada poço e após
cobertas com alumínio e incubadas durante 20 minutos a temperatura ambiente no
agitador. O processo de lavagem foi repetido novamente por três vezes e
acrescentado em cada poço 100 µL de Solução de substrato de reação (tetrametil
benzidina + H2O2), cobertas as placas com alumínio e incubadas por 20 minutos em
temperatura ambiente no agitador. Seguindo, foram acrescentadas as placas 100 µL
da Solução de parada a cada poço (H2SO4 1M) e agitadas para homogeneização. A
densidade óptica foi determinada usando um leitor de microplacas (Microplate
Reader Model 680 Bio-Rad® Laboratories) em 450 nm (Fluxograma 3).
51
Imunização da Placa
overnight
Bloqueio da Placa
Amostras e padrões
100 µL
Anticorpo de Detecção
100 µL
Solução de estreptavidina
100 µL
Substrato de reação
100 µL
Solução de parada
100 µL
Leitura em 450 nm
Lavar 3 x
Lavar 3 x
Lavar 3 x
Lavar 3 x
Lavar 3 x
Incubar
1 h
Incubar
2 h-Agitador
Incubar
2 h-Agitador
Incubar
20 min-Agitador
Incubar
20 min-Agitador
Agitar suavemente
Tecido
plasma
IL-6 e
TNF-α
Fonte: O Autor
Fluxograma 3: Procedimentos realizados para determinação das citocinas Il-6 e TNF-α em
amostras de tecido cicatrizado e plasma.
52
5.2.12 Dosagem da Atividade da Enzima Mieloperoxidase (MPO)
O recrutamento de neutrófilos foi quantificado indiretamente através da
determinação da atividade da MPO no sangue (8 hs) e no tecido cicatricial (24 hs). O
homogenato de tecido e o plasma foram preparados em tampão fosfato de sódio (80
mM; pH 5,4), contendo brometo de hexadeciltrimetilamônio (HTAB; 0,5%, p/v), com
o auxílio de um homogeneizador do tipo Ultra-Turrax. O homogenato resultante foi
centrifugado (20 min., 10.400 x g, 4º C) e uma alíquota de 30 μL do sobrenadante
utilizada para o ensaio da MPO. A reação enzimática foi desenvolvida na presença
de tetrameti lbenzidina (TMB) (1,6 mM) e H2O2 0,5 mM (em solução tampão fosfato
80 mM; pH 5,4) em volume final de 200 μL. Após o período de incubação (3 min, 37º
C) a absorbância foi medida em um leitor de microplacas (Microplate Reader Model
680 Bio-Rad® Laboratories) em 630 nm. A quantidade de proteína total foi estimada
pelo método de Bradford e a atividade da MPO expressa como unidades de
densidade óptica (D.O.) por mg de proteína.
5.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os resultados foram expressos como média + erro padrão das médias
(E.P.M.) dos respectivos índices analisados. As diferenças estatísticas entre os
grupos experimentais foram detectadas com análise de variância (ANOVA) seguida
pelo teste post hoc de Dunnett’s (quando comparado grupo controle versus grupos
tratatdos) ou teste T student (quando realizado a comparação entre dois grupos).
Valores de p menores que 0,05 (p < 0,05) foram considerados como indicativos de
significância. A análise estatística será realizada através do software GraphPad
Prisma® versão 6.0, direitos autorais pertencentes à Graph Pad Software®.
53
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A cicatrização de feridas é um processo dinâmico que envolve eventos
fisiológicos e bioquímicos com o objetivo de promover e garantir a restauração
vascular e tissular. O principal fator desencadeante da cicatrização é a própria lesão
local, com ou sem perda tecidual. No entanto, quanto mais precoce for o processo
de reparação da área lesada, maior o benefício, pois a ferida da pele representa
uma porta de entrada para agentes agressores como vírus, bactérias, fungos e
protozoários, colocando em risco a integridade física do indivíduo podendo até
desenvolver patologias infecciosas e inclusive causar sua morte (DE SOUSA et al.,
2015).
O modelo in vivo de dano epitelial induzido utilizado neste estudo vem sendo
aplicado em outras pesquisas (MARTINS et al., 2006; LEITE et al., 2015) como
método efetivo para avaliar o efeito cicatrizante de muitas substâncias e também
estas incorporadas a bases dermatológicas como as pomadas. De Jesus (2012)
utiliza este modelo para avaliar o efeito cicatrizante de uma pomada a base de
extrato de açaí apresentando resultado eficaz no processo.
A aplicação tópica de substâncias ou incorporadas a bases em estudos que
utilizaram este modelo obtiveram bons resultados quando o objetivo foi avaliar a
cicatrização (DE CASTRO GARROS et al., 2006; ROGALSKI, 2008; DE BARROS et
al., 2010; DE FARIAS MARTORELLI et al., 2011; DE SOUSA et al., 2015;
MONTEIRO et al., 2015).
De Farias Martorelli et al. (2011) testou a atividade cicatrizante do extrato de
aroeira, usando o dexpantenol, que possui efeito cicatrizante tópico, como
comparativo. Os resultados evidenciaram que o extrato de aroeira é mais eficaz no
fechamento da lesão do que o dexpantenol.
Não foram encontrados estudos comparativos de bases de pomadas em
modelos de cicatrização in vivo. Apenas que o uso da vaselina como veículo em
modelos de cicatrização, Fernandes et al. (2014) comprovou sua ação cicatrizante
no tratamento de feridas onde sua presença favoreceu o fechamento da lesão em
ratos.
54
6.1 AVALIAÇÃO DA EVOLUÇÃO CICATRICIAL
6.1.1 Evolução da área de retração da lesão cicatricial.
Este modelo de estudo mostrou a evolução da cicatrização de lesões em
ratos tratados com bases farmacêuticas de natureza hidrofílica (PP, PPII, PHA) e
lipofílica (PH e PLV), através da aplicação com auxílio de espátula de madeira
comparando com os grupos tratados com as bases, dexpantenol (DEX) e grupo
controle, este último recebeu o movimento de aplicação com a espátula e irrigação
com solução salina 0,9% semelhante aos grupos tratados.
No presente estudo os animais mantiveram-se saudáveis e apresentaram
propriedades de cicatrização sem evidências clínicas e/ou macroscópicas de
infecção. Nos animais dos grupos tratados e grupo controle (Figura 4), observou-se
o fechamento quase completo da lesão ao vigésimo primeiro dia na maioria dos
animais.
Nos grupos controle, DEX, PP, PPII, PH e PHA houve o desenvolvimento de
uma crosta necrótica (escara), que foi desenvolvendo uma maior espessura até
entre o terceiro e sétimo dia.
A maioria dos animais do grupo PLV não teve formação de escara (Figura
10). Após o sétimo dia os animais dos grupos PHA (Figura 8), PH (Figura 9) e PPII
(Figura 7) começaram a desprender a escara, debridando a mesma até o vigésimo
primeiro dia. Já nos grupos controle e PP as escaras destacaram-se após o décimo
quarto dia (Figuras 4 e 6). Nos grupos DEX e PLV a crosta necrótica permaneceu
até o vigésimo primeiro dia.
A análise macroscópica das lesões demonstrou que os grupos PPII e PHA
que são hidrofílicos, e o grupo PH que é lipofílico, apresentaram um processo
cicatricial mais acelerado quando comparados ao controle positivo-grupo DEX
(Figura 5), no entanto estas diferenças não foram significativas. O grupo DEX não
apresentou uma cicatrização tão rápida quanto às bases PPII, PHA e PH.
Desta forma, nem o tratamento com as bases e o dexpantenol acelerou de
maneira significativa a cicatrização, apenas as bases PPI e PH, apresentaram uma
55
tendência a cicatrização mais intensa. Já a base PLV piorou o processo de
cicatrização.
Legenda: Animais tratados apenas com água destilada; A) Dia da excisão (0 dia); B) Terceiro dia (3º dia); C) Sétimo dia (7º dia); D) Décimo quarto dia (14º dia); E) Vigésimo primeiro dia (21º dia).
Legenda: Animal tratado com pomada Dexpantenol; A) Dia da excisão (0 dia); B) Terceiro dia (3º dia);
C) Sétimo dia (7º dia); D) Décimo quarto dia (14º dia); E) Vigésimo primeiro dia (21º dia).
Legenda: Animal tratado com base pomada de polietilenoglicol; A) Dia da excisão (0 dia); B) Terceiro dia (3º dia); C) Sétimo dia (7º dia); D) Décimo quarto dia (14º dia); E) Vigésimo primeiro dia (21º dia).
A B C D E
C
A B C D E
C
A B C D E
C
Figura 4: Evolução cicatricial do grupo Controle.
Figura 5: Evolução cicatricial do grupo DEX (controle positivo).
Figura 6: Evolução cicatricial do grupo PP, base farmacêutica hidrofílica.
56
Legenda: Animal tratado com base pomada de polietilenoglicol II; A) Dia da excisão (0 dia); B) Terceiro dia (3º dia); C) Sétimo dia (7º dia); D) Décimo quarto dia (14º dia); E) Vigésimo primeiro dia
(21º dia).
Legenda: Animal tratado com base pomada hidrofílica; A) Dia da excisão (0 dia); B) Terceiro dia (3º dia); C) Sétimo dia (7º dia); D) Décimo quarto dia (14º dia); E) Vigésimo primeiro dia (21º dia).
Legenda: Animal tratado com base pomada petrolato hidrofílico; A) Dia da excisão (0 dia); B) Terceiro dia (3º dia); C) Sétimo dia (7º dia); D) Décimo quarto dia (14º dia); E) Vigésimo primeiro dia (21º dia).
A B C D E
C
A B C D E
C
A B C D E
C
Figura 7: Evolução cicatricial do grupo PPII, base farmacêutica hidrossolúvel.
Figura 8: Evolução cicatricial do grupo PHA, base farmacêutica hidrofílica.
Figura 9: Evolução cicatricial do grupo PH, base farmacêutica lipofílica.
57
Legenda: Animal tratado com base pomada de lanolina e vaselina; A) Dia da excisão (0 dia); B) Terceiro dia (3º dia); C) Sétimo dia (7º dia); D) Décimo quarto dia (14º dia); E) Vigésimo primeiro dia
(21º dia).
Para aplicação do teste estatístico a avaliação da retração da ferida foi
representada em cm2, e em percentagem. Porém, em ambos os casos não existiu
diferença significativa nas lesões (Gráficos 1 e 2). Os resultados da área média de
retração em cm2 do grupo PH foram mais expressivos. Contudo os grupos das
bases hidrofílicas PP, PPII e PHA apresentaram resultados satisfatórios para área
de retração da ferida quando comparados aos do grupo controle. A área de retração
da lesão do grupo DEX, controle positivo, obteve resultado positivo em relação ao
controle negativo. O grupo PLV, base lipofílica, mostrou uma área de retração
menos significativa que os demais grupos (Grafico 1).
A B C D E
C
Figura 10: Evolução cicatricial do grupo PLV, base farmacêutica lipossolúvel.
58
14 dias
Controle DEX PP PPII PHA PH PLV
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
Grupos
Áre
a e
m c
m2
3 dias
Controle DEX PP PPII PHA PH PLV
0
2
4
6
Grupos
Áre
a e
m c
m2
7 dias
Controle DEX PP PPII PHA PH PLV
0
2
4
6
Grupos
Áre
a e
m c
m2
0 dias
Controle DEX PP PPII PHA PH PLV
0
2
4
6
Grupos
Áre
a e
m c
m2
21 dias
Controle DEX PP PPII PHA PH PLV
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
Grupos
Áre
a e
m c
m2
Na avaliação da retração da ferida em percentual, o grupo PH demonstrou
promover melhor cicatrização, apresentando área relativa cicatrizada de 94,3%
quando comparada ao grupo controle negativo (90,68%). O grupo PPII também
obteve alterações significativas para a cicatrização (93,82%). No grupo DEX
(controle positivo) foi observado uma resposta positiva (93,86%) quando comparado
Gráfico 1: Variação dos valores em cm2 das áreas excisadas em ratos dos grupos nos dias
0, 3, 7, 14 e 21.
59
3 dias
Controle DEX PP PPII PHA PH PLV
0
50
100
150
Grupos
Áre
a %
lesão
7 dias
Controle DEX PP PPII PHA PH PLV
0
50
100
150
Grupos
Áre
a %
lesão
14 dias
Controle DEX PP PPII PHA PH PLV
0
10
20
30
40
50
Grupos
Áre
a %
lesão
21 dias
Controle DEX PP PPII PHA PH PLV
0
5
10
15
20
25
Grupos
Áre
a %
lesão
*
aos demais grupos. O menor percentual de retração da ferida foi observado no
grupo PLV (83,43%) que possui características lipofílicas (Gráfico 2).
O processo de cicatrização de feridas abertas ocorre a partir das bordas da
lesão para o centro. A explicação para isso se deve ao fato das feridas abertas
serem submetidas a um processo de contração da lesão na tentativa de diminuir a
área de exposição e propiciar a reparação (DE SOUSA et al., 2015).
Muitos fatores influenciam a cicatrização, entre eles destacam-se algumas
bases farmacológicas que podem acelerar o processo de reparação e cicatrização
(DE SOUSA et al., 2015).
O dexpantenol é análogo do ácido pantotênico, auxilia a cicatrização de
lesões de pele por estimular a epitelização e escoriações de pouca gravidade, pois
não possui ação anti-inflamatória (KOROLKOVAS; FRANÇA, 2015).
Gráfico 2: Variação dos valores em % das áreas excisadas em ratos dos grupos nos dias
3, 7, 14 e 21.
60
O tratamento com DEX demonstrou não ser tão regenerativo contra a lesão
produzida em ratos quanto à maioria das bases, sendo que a propriedade de
regeneração do epitélio foi relativamente insuficiente para os animais tratados com o
dexpantenol.
No experimento realizado por Presto et al. (2001), testou-se a propriedade de
regeneração da pele in vivo, utilizando preparações tópicas com 5% de d-pantenol,
As aplicações foram feitas sobre a oclusão da epiderme durante cinco dias. Uma
significativa aceleração da regeneração e da barreira epidérmica foi observada com
as preparações de d-pantenol, quando comparada com o placebo.
O estudo realizado por Giusti (2004) demonstrou a aceleração no processo de
cicatrização utilizando d-pantenol, com concentração de 10% em gel de carbopol, na
regeneração tegumentar de rato, promovendo a regeneração celular, estimulando a
epitelização precoce e age também como umectante devido às suas características
higroscópicas.
A permeabilidade da pele dos animais é superior à humana e, por esse
motivo muitos estudos feitos em pele de animais pode originar resultados distintos
quando aplicados em humanos (GHAFOURIAN et al., 2004; WILLIAMS; BARRY,
2012).
Embora a histologia da pele humana apresentar diferenças do rato (a derme
do rato é mais espessa e não apresenta tecido gorduroso subcutâneo nem tela
muscular subcutânea), os vasos sanguíneos responsáveis pela irrigação cutânea
são sub-dérmicos em ambos, e apresentam as mesmas alterações de perfusão de
macro e microvascularização (DA SILVA SANTOS et al., 2006). Desta forma, pode-
se realizar um estudo onde se observa a cicatrização na pele de um rato, e fazer a
analogia com a pele de um humano.
Em um estudo feito por Roman et al. (2004), as bases lipofílicas quando
comparadas com as hidrofílicas fornecem um melhor resultado quando se refere à
cicatrização de feridas em ratos. Segundo Prista et al. (2008), as pomadas de base
lipofílica formam películas oclusivas na área lesada, aumentando o conteúdo hídrico
e favorecendo a cicatrização.
Rogalski (2008) afirmou que a pomada base lipofílica (controle negativo)
também apresentou reparação cicatricial, embora mais lenta que os grupos
experimental e positivo. Esta reparação provavelmente ocorreu devido ao fato da
61
pomada empregada servir como uma camada protetora, reduzindo a vulnerabilidade
do organismo a possíveis complicações e agravamento da lesão.
Um vasto número de substâncias lipofílicas, que possuem ácidos graxos e
seus ésteres, tem sido usado como promotores de absorção cutânea, pois são
consideradas substâncias seguras, mas apresentam o inconveniente de poderem
causar irritabilidade na pele (MARTINS; VEIGA, 2002).
Vieira et al. (2008) utilizando cremes bases e com ativos de plantas em
feridas abertas em ratos, verificou total cicatrização no décimo quinto dia de
experimento em todos os grupos visto que as lesões tratadas com solução salina
0,9% cicatrizaram na mesma proporção das lesões tratadas com as pomadas testes.
Tais estudos corroboram com os dados desta pesquisa que demonstra a eficácia
das bases na cicatrização quando comparadas ao grupo controle positivo tratado
com dexpantenol.
6.2 AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA DA REEPITELIZAÇÃO, COLAGENIZAÇÃO,
VASCULARIZAÇÃO, POLIMORFONUCLEARES E MONONUCLEARES.
6.2.1 Histopalogia de tecidos coletados
Durante a resposta inflamatória, os polimorfonucleares (neutrófilos) são as
primeiras células a chegar à ferida, com maior concentração 24 horas após a lesão e
produzem fatores quimiotáticos para monócitos/macrófagos e linfócitos T. Após 48-
96 horas os neutrófilos são gradativamente substituídos por mononucleares
(macrófagos) os quais são as principais células antes dos fibroblastos. A maior
contribuição dos macrófagos é a secreção de citocinas e fatores de crescimento,
além de contribuírem na angiogênese e fibroplasia (BROUGHTON; JANIS;
ATTINGER, 2006; ZIJLSTRA et al., 2006).
Na fase proliferativa, em torno do quarto dia após a lesão, iniciando com a
angiogênese (proliferação vascular). A reepitelização ocorre precocemente e as
camadas normais da epiderme são restauradas em três dias. O processo continua
62
se estendendo até o décimo quinto dia após a lesão com a produção de colágeno
pelos fibroblastos (LAWRENCE; DIEGELMANN, 1994).
A fase de remodelação acontece aproximadamente após o vigésimo primeiro
dia após a lesão e consiste em reformular a matriz extracelular e a característica
mais importante desta fase é a deposição de colágeno (BEANES et. al., 2003;
CLARK; GHOSH; TONNESEN, 2007).
A análise histopatológica (Tabela 7) das amostras de tecidos possibilitou a
verificação da atividade angiogênica (vascularização), colagenização e
reepitelização justamente no final do experimento (21 dias). O grupo DEX
apresentou intensa vascularização, seguida dos grupos das bases hidrofílicas PP,
PPII, PHA e com moderada e grupo da base lipofílica com moderada
vascularização. O grupo controle e o grupo PLV da base lipofílica obtiveram fraca
angiogênese demonstrando que o dexpantenol possui propriedades de intensificar a
vascularização em lesões corroborando com o estudo feito por De Farias Martorelli
et al. (2014).
O grupo PH, caráter lipofílico, apresentou melhor resultado em relação a
deposição de colágeno, vascularização e reepitelização quando comparado ao
grupo controle. O grupo PH demonstrou resultado superior para colagenização e
intensidade de epitelização ao do grupo DEX (Tabela 7). Segundo Eckersley e
Dudley (1988) apud Balbino; Pereira; Curi (2005), a neovascularização é essencial
no processo de cicatrização, permitindo a troca de gases e a nutrição das células
metabolicamente ativas. Este resultado demostra que mesmo não obtendo
resultados significativos na redução da retração, as bases apresentaram melhora
nas avaliações histopatológicas superior ao grupo controle, favorecendo a
cicatrização.
63
Tabela 7: Intensidade da vascularização, colagenização e reepitelização em amostras de
tecidos dos grupos controle, dexpantenol e tratados com as bases farmacêuticas hidrofílicas
e lipofílicas em ratos.
Grupos Vascularização Colagenização Reepitelização
Controle + ++ ++ DEX +++ + + PP ++ ++ + PPII ++ + + PHA ++ ++ + PH ++ +++ ++
PLV + + + Legenda: (-) ausente; (+) fraca; (++) moderada; (+++) intensa; (++++) tecido normal
Para avaliar o grau de colagenização nos grupos estudados, as amostras de
tecidos receberam a coloração de Tricômico de Masson (Figura 11) e de acordo com
a intensidade da cor azul claro/escuro, foram classificados (Figuras 12 e 13).
O grupo PH apresentou a maior intensidade de colagenização entre todos os
grupos estudados e quando comparado ao grupo controle (Figura 12D) que teve
quantidade moderada de colágeno. Os grupos PP e PHA, de natureza hidrofílica,
demonstraram deposição de fibras colágenas moderadas (Figura 12B e Figura 12C).
Legenda: A) Identificação do colágeno pela coloração azul claro e escuro em corte de tecido de
animal tratado com base PH; aumento de 10x; B) Identificação das fibras colágenas pela coloração
azul escuro em corte de tecido de animal tratado com base PH; au mento de 40x.
A B
Figura 11: Fotografia da derme superficial e papilar do dorso de rato, corada pelo Tricômio
de Masson para análise da colagenização.
64
Legenda: intensa (+++); moderada (++); (+) fraca; A) Colagenização (+++) de tecido animal com a
base PH. B) Colagenização (++) de tecido animal tratado com a base PP. C) Colagenização (++) de
tecido animal tratado com a base PHA. D) Colagenização (++) de tecido animal controle.
Fonte: O Autor
Os grupos PPII, PLV e DEX apresentaram intensidade fraca para a deposição
do colágeno das amostras de tecidos (Figura 13).
A B
C D
Figura 12: Identificação de fibras colágenas na pele cicatrizada de ratos após tratamento
com as bases farmacêuticas no 21º dia (coloração de Tricômico de Masson em aumento de
40X)
65
Legenda: intensa (+++); moderada (++); (+) fraca; E) Colagenização (+) de tecido animal tratado com
a base PPII. F) Colagenização (+) de tecido animal tratado com a base PLV. G) Colagenização (+) de
tecido animal tratado com a pomada dexpantenol.
Fonte: O Autor
Para uma melhor avaliação da intensidade da coloração pelo Tricômico de
Masson, as imagens foram tratadas com balanço de temperatura e demonstraram
um resultado comparativo entre os grupos mais expressivos. O grupo PH teve uma
intensidade de coloração azul mais intensa. O grupo controle revelou uma coloração
azul moderada. O grupo tratado com dexpantenol, controle positivo, obteve uma
coloração azul fraca caracterizando pouca deposição de colágeno (Figura 14).
E F
G
Figura 13: Identificação de fibras colágenas na pele cicatrizada de ratos após tratamento
com as bases farmacêuticas no 21º dia (coloração de Tricômico de Masson em aumento de
40X)
66
Legenda: A) Coloração azul intensa em tecido de animal tratado com base PH. B) Coloração azul
moderada em tecido animal sem tratamento (grupo controle). C) Coloração azul quase inexistente em
tecido animal tratado com a pomada de dexpantenol.
Fonte: O Autor
O colágeno é proteína mais abundante do tecido conectivo em fase de
cicatrização, e é mais produzido pelos fibroblastos em resposta a lesões
(RODRIGUES, 2009; ROBSON; STEED; FRANZ, 2001).
Segundo Amaral e Solari (2009), o colágeno representa o principal elemento
presente na matriz extracelular, estando envolvido, principalmente, em processos de
renovação e cicatrização tissular.
Os resultados obtidos com o histológico demonstram que a base lipofílica PH
apresentou uma atividade superior de reepitelização e colagenização às demais
bases farmacêuticas, inclusive sobre a pomada com dexpantenol. De acordo com
Prista et al. (2008), as pomadas de base lipofílica fazem oclusão na área lesada
A B
C
Figura 14: Análise da colagenização pela intensidade da cor azul resultante da coloração
por Tricômio de Masson em tecidos cicatrizados de ratos após 21 dias.
67
estimulando a reparação cicatricial, corroborando com os dados de outras pesquisas
(ROMAN et al., 2004; ROGALSKI, 2008).
Os animais do grupo controle obtiveram melhores resultados do que o grupo
DEX. Este, por sua vez, obteve resultados insatisfatórios quando comparados ao do
grupo sem tratamento, justificando que o dexpantenol auxilia a cicatrização de
lesões de pele por estimular a epitelização e escoriações de pouca gravidade, não
se aplicando neste caso onde o tamanho da lesão é significativo (PRESTO et al.,
2001; KOROLKOVAS; FRANÇA, 2015).
A intensidade de fibras colágenas apresentadas pelo grupo tratado com a
base farmacêutica lipofílica PH, revelou que quando a deposição de colágeno é
maior a cicatrização obteve êxito. Tal alteração resulta na contração da ferida e a
formação de um tecido cicatricial e o processo de remodelação pode continuar
indefinidamente (SINGER; CLARK, 1999; BROUGHTON; JANIS; ATTINGER, 2006).
Na análise da presença de células mononucleares, que se caracterizam pelos
linfócitos e macrófagos, os grupos controle, dexpantenol, PPII, PHA e PLV
apresentaram intensidade moderada. Os grupos PP e PH apresentaram intensidade
fraca para presença de mononucleares. Quanto à presença de polimorfoucleares, os
neutrófilos, foram ausentes em todos os grupos (Tabela 8).
Tabela 8: Avaliação Histológica em amostras de tecidos dos grupos controle, dexpantenol e
tratados com as bases farmacêuticas hidrofílicas e lipofílicas em ratos.
Grupos Células Mononucleares Neutrófilos
Controle ++ (-) DEX ++ (-) PP + (-) PPII ++ (-) PHA ++ (-) PH + (-)
PLV ++ (-) Legenda: (-) ausente; (+) fraca; (++) moderada; (+++) intensa; (++++) tecido normal
Fonte: O Autor
68
A ausência de neutrófilos nos tecidos analisados se justifica pelas amostras
serem coletadas no vigésimo primeiro dia após o dano epitelial induzido, onde já
havia o desbridamento da crosta necrótica. Os neutrófilos são mais ativos em
ambientes ocluídos e em maior concentração nas vinte e quatro horas após a lesão
(BETTES, 2003; BROUGHTON; JANIS; ATTINGER, 2006).
Estudos histológicos mais recentes (NAGAOKA et al., 2000; MORI et al.,
2004) têm demonstrado um atraso drástico no fechamento da lesão em ratos
associado com uma redução significativa na infi ltração de neutrófilos e macrófagos.
No experimento de Mori et al. (2002) apesar de uma redução significativa na
infiltração de leucócitos no local da ferida, estas apresentaram um aumento na
angiogênese, teor de colágeno, reepitelização corroborando com os dados
apresentados nesta pesquisa.
A análise histológica das amostras de tecidos coletados no vigésimo primeiro
dia após o dano epitelial induzido, não foi satisfatória para os achados celulares de
neutrófilos e macrófagos. Algumas pesquisas mostraram a importância de
macrófagos na cicatrização, onde a depleção de macrófagos em camundongos
resultou num atraso significativo da cicatrização e uma redução da proliferação de
fibroblastos (LEIBOVICH; ROSS, 1975; MIRZA; DIPIETRO; KOH, 2009).
6.3 AVALIAÇÃO DO ENSAIO DA ATIVIDADE DA ENZIMA MIELOPEROXIDASE
(MPO) EM PLASMA DE RATOS
Os polimorfonucleares quando recrutados ao local da lesão, liberam uma
variedade de substâncias, como EROS, mediadores pró-inflamatórios e enzimas
proteolíticas, como a MPO, colaborando significativamente na manutenção do
processo inflamatório (BRADLEY et al., 1982).
A MPO é um marcador enzimático da infiltração de leucócitos
polimorfonucleares (neutrófilos) no tecido inflamado (LLORET; MORENO,1995). Os
grupos PLV e PP promoveram uma diminuição significativa na atividade da MPO em
73,47% (1.07 ± 4.16) e 62,15% (5.93 ± 0.73) respectivamente da D.O/mg quando
comparados ao grupo controle. Os grupos PHA, DEX e PH diminuíram a atividade
enzimática em 56,72% (6.77 ± 0.77), 46,49% (8.37 ± 1.22) e 43,8% (8.79 ± 1.29)
69
respectivamente. O grupo PPII não reduziu a atividade da MPO de forma
significativa 30,7% (10.84 ± 2.34) quando comparado ao grupo controle (Gráfico 3).
Gráfico 3: Efeito das bases hidrofílicas PP, PPII e PHA, bases lipofílicas PH e PLV,
dexpantenol sobre a atividade enzimática da mieloperoxidase em plasma de ratos
excisados. As atividades enzimáticas nos plasmas foram mensuradas 8 horas após o dano
epitelial induzido com tratamento das bases e dexpantenol. Todos os dados apresentados
são média ± S.E.M. de 4-6 animais por grupo. Teste T de Students.
Legenda: Controle – controle negativo salina a 0,9%; DEX-controle positivo pomada dexpantenol; PP-
base pomada de propilenoglicol; PP-base pomada de propilenoglicol II; PHA-base pomada hidrofílica;
PH-base petrolato hidrofílico; PLV-base pomada lanolina e vaselina. Diferença significativa em
relação ao grupo controle, sem tratamento (*p<0,05, **p<0,01 e ***p<0,001).
Fonte: O Autor
A administração de compostos, como as bases farmacêuticas PLV, PP e PHA
utilizadas neste estudo, reduziram a atividade da MPO, a qual pode ser ocasionada
principalmente pela diminuição da infiltração de neutrófilos no tecido inflamado, pela
inibição direta desta enzima ou até mesmo pela redução da disponibilidade de seu
substrato peróxido de hidrogênio (H2O2), porém esta diminuição de infiltrado celular
pode desacelerar o processo de cicatrização (ARNHOLD, 2003).
8hs
Controle DEX PP PPII PHA PH PLV
0
5
10
15
20
***
*
*****
**
Grupos
D.O
. m
ielo
/mg p
rote
ina
70
A base lipofílica PLV promoveu a maior inibição significativa da atividade
enzimática da MPO, sugerindo que pode estar ocorrendo diminuição substancial no
número de neutrófilos infiltrados no tecido. O aumento do número de
polimorfonucleares na lesão está relacionado com algumas doenças inflamatórias
cutâneas e a inibição excessiva da infiltração destas células ocasionada pela base
PLV pode estar contribuindo para um atraso da regeneração do tecido (SCHAERLI
et al., 2004; RANG et al, 2012).
As demais bases, destacando as bases hidrofílicas PP e PHA, mostraram-se
eficazes para o tratamento de afecções inflamatórias cutâneas quando comparadas
ao grupo controle, pela redução a atividade enzimática da MPO, considerando que
estas podem ser potentes no combate ao processo inflamatório atuando sobre a
infiltração de polimorfonucleares que caracterizam a presença de uma inflamação.
6.4 AVALIAÇÃO DA DOSAGEM DE CITOCINAS PRÓ-INFLAMATÓRIAS IL-6 E
TNF-α
As células mononucleares (macrófagos) atuam na estimulação de secreção
de fatores de crescimento e citocinas que são importantes na fibrose. Macrófagos
tipo M1 produzem TNF-α e IL-6 (DELAVARY et al., 2011).
As citocinas pró-inflamatórias, TNF-α e IL-6, modulam a iniciação e a
intensidade do processo inflamatório. Assim, neste estudo a dosagem das citocinas
permitiu avaliar quais bases tiveram uma melhor resposta para esta modulação
(CALIXTO et al., 2004).
A dosagem de IL-6 foi avaliada após 8 horas do dano epitelial. O grupo
controle apresentou níveis de interleucina IL-6 de 29,51 ± 10,90 Pmol/mg. O grupo
PLV apresentou quantidade significativamente baixa de IL-6, 5,13 ± 2,89 Pmol/mg
quando comparado ao grupo Controle. O tratamento com a base PH, mostrou níveis
elevados de citocina IL-6 de 59,78 ± 7,44 Pmol/mg quando comparado ao grupo
Controle. Os demais grupos, principalmente o grupo das bases hidrofílicas,
obtiveram níveis relativamente baixos de IL-6 (Gráfico 4).
71
Gráfico 4: Efeito das bases hidrofílicas PP, PPII e PHA, bases lipofílicas PH e PLV, Dex
sobre os níveis de citocina IL-6 em plasma de ratos excisados. As dosagens no plasma
foram mensuradas 8 horas após o dano epitelial induzido em animais tratados com as bases
e dexpantenol.
Controle DEX PP PPII PHA PH PLV
0
20
40
60
80
*
*
8hs
*
Grupos
Pm
ol d
e IL
-6
/mg d
e p
rote
ina
Legenda: Controle – controle negativo salina a 0,9%; DEX-controle positivo pomada dexpantenol; PP-
base pomada de propilenoglicol; PP-base pomada de propilenoglicol II; PHA-base pomada hidrofílica;
PH-base petrolato hidrofílico; PLV-base pomada lanolina e vaselina. Diferença significativa em
relação ao grupo controle, sem tratamento (*p<0,05, **p<0,01 e ***p<0,001). Todos os dados
apresentados são média ± S.E.M. de 4-6 animais por grupo. Teste T de Students.
Fonte: O Autor
Vinte e quatro horas após o dano epitelial, a dosagem de IL-6 ficou elevada
em todos os grupos tratados com as bases e com o dexpantenol. O grupo controle
apresentou 2,03 ± 0,49 Pmol/mg de interleucina. O grupo tratado com a base PH
obteve uma de concentração de 6,5 ± 1,74 Pmol/mg, e o grupo DEX com 6,69 ± 2,38
Pmol/mg de IL-6 representando um resultado baixo entre as demais bases quando
comparados ao grupo controle. Os grupos das bases hidrofílicas PP (14,10 ± 4,259
Pmol/mg), PHA (14,93 ± 3,75 Pmol/mg) e PPII (9,77 ± 0,92 Pmol/mg) tiveram níveis
significativamente elevados da citocina em comparação ao grupo controle. A
concentração de IL-6 no grupo tratado com a base lipofílica PLV apresentou
72
resultado significativamente alto de 18,57 ± 2,99 Pmol/mg em comparação ao grupo
controle (Gráfico 5).
Gráfico 5: Efeito das bases hidrofílicas PP, PPII e PHA, bases lipofílicas PH e PLV, Dex
sobre os níveis de citocina IL-6 em tecido de ratos excisados. As dosagens no plasma foram
mensuradas 24 horas após o dano epitelial induzido em animais tratados com as bases e
dexpantenol.
Controle DEX PP PPII PHA PH PLV
0
5
10
15
20
25
**
*
***
*
24hs
Grupos
Pm
ol d
e IL
-6
/mg d
e p
rote
ina
Legenda: Controle – controle negativo salina a 0,9%; DEX-controle positivo pomada dexpantenol; PP-
base pomada de propilenoglicol; PP-base pomada de propilenoglicol II; PHA-base pomada hidrofílica;
PH-base petrolato hidrofílico; PLV-base pomada lanolina e vaselina. Diferença significativa em
relação ao grupo c ontrole, sem tratamento (*p<0,05, **p<0,01 e ***p<0,001). Todos os dados
apresentados são média ± S.E.M. de 4-6 animais por grupo. Teste T de Students.
Fonte: O Autor
A concentração de citocina TNF-α em plasma no período de 8 horas após
dano epitelial induzido foi significativamente baixa em todos os grupos de bases
quando comparados ao grupo controle. O grupo controle apresentou nível de TNF-α
de 15,18 ± 3,23 Pmol/mg. O grupo PLV obteve a menor concentração de citocina de
0,0247 ± 0,0247 Pmol/mg em relação ao grupo controle (Gráfico 6).
73
Gráfico 6: Efeito das bases hidrofílicas PP, PPII e PHA, bases lipofílicas PH e PLV, DEX
sobre os níveis de citocina TNF-α em plasma de ratos excisados. As dosagens no plasma
foram mensuradas 8 horas após o dano epitelial induzido em animais tratados com as bases
e dexpantenol.
Controle DEX PP PPII PHA PH PLV
0
5
10
15
20
****
** **
**
8hs
Grupos
***
Pm
ol de T
NF
-
/mg d
e p
rote
ina
Legenda: Controle – controle negativo salina a 0,9%; DEX-controle positivo pomada dexpantenol; PP-
base pomada de propilenoglicol; PP-base pomada de propilenoglicol II; PHA-base pomada hidrofílica;
PH-base petrolato hidrofílico; PLV-base pomada lanolina e vaselina. Diferença significativa em
relação ao grupo c ontrole, sem tratamento (*p<0,05, **p<0,01 e ***p<0,001). Todos os dados
apresentados são média ± S.E.M. de 4-6 animais por grupo. Teste T de Students.
Fonte: O Autor
O efeito das bases sobre os níveis de TNF-α nas amostras de tecido dos
grupos, não teve diferenças significativas no tempo de vinte e quatro horas após a
lesão induzida em ratos. O grupo controle obteve 0,69 ± 0,17 Pmol/mg de TNF-α.
Neste período, o grupo PHA, base hidrofílica, apresentou a menor concentração de
0,61 ± 0,24 Pmol/mg da citocina quando comparado ao grupo controle. O grupo que
apresentou a maior concentração de TNF-α foi o grupo tratado com a base lipofílica
PLV com 0,98 ± 0,069 Pmol/mg de citocina TNF-α. As demais bases não
apresentaram concentrações significativas para a citocina (Gráfico 7).
74
Gráfico 7: Efeito das bases hidrofílicas PP, PPII e PHA, bases lipofílicas PH e PLV, DEX
sobre os níveis de citocina TNF-α em tecido de ratos excisados. As dosagens no plasma
foram mensuradas 24 horas após o dano epitelial induzido em animais tratados com as
bases e dexpantenol
Controle DEX PP PPII PHA PH PLV
0.0
0.5
1.0
1.5
24hs
Grupos
Pm
ol de T
NF
-
/mg d
e p
rote
ina
Legenda: Controle – controle negativo salina a 0,9%; DEX-controle positivo pomada dexpantenol; PP-
base pomada de propilenoglicol; PP-base pomada de propilenoglicol II; PHA-base pomada hidrofílica;
PH-base petrolato hidrofílico; PLV-base pomada lanolina e vaselina. Todos os dados apresentados
são média ± S.E.M. de 4-6 animais por grupo. Teste T de Students.
Fonte: O Autor
As citocinas são mediadores pró-inflamatórios da fase aguda da inflamação
entre o primeiro e o terceiro dia após a lesão, destacam-se a IL-6 e o TNF-α. Os
neutrófilos são fonte destes mediadores inflamatórios como a IL-6 que influencia
respostas imuno antígeno específicas e reações inflamatórias, sendo um dos
maiores mediadores da inflamação aguda. Portanto quando o processo inflamatório
precisa ser reparado, IL-6 é um dos primeiros mediadores a agir (DINARELLO,
1991; RICH; WHITTAKER, 2005).
75
Após 48 a 96 horas os neutrófilos são fagocitados pelos macrófagos que são
células importantes para a regulação da cicatrização de feridas, de modo que
substâncias tópicas que ativam macrófagos podem gerar estímulo pró-inflamatório,
proliferação celular e progressão do processo cicatricial (THOMAS; HARDING;
MOORE, 2000).
A base lipofílica PH apresentou níveis de IL-6 elevados nas primeiras vinte e
quatro horas, e após este período a concentração se manteve até obter uma
diminuição em comparação ao grupo controle, o que sugere uma atividade
inflamatória modulada influenciando na melhora da cicatrização. Corroborando com
estes dados um estudo com modelo animal de cicatrização, mostrou que em ratos
com depleção do gene para a produção de IL-6, a lesão levou até três vezes mais
tempo para curar do que os dos animais controle. Desta forma a IL-6 é essencial
para a resposta de cicatrização e também através do seu efeito quimiotáxico sobre
os neutrófilos (GALLUCCI et al., 2000).
Porém o grupo PLV apresentou valores de IL-6 muito abaixo em comparação
ao grupo controle nas primeiras oito horas, e obteve um aumento muito expressivo
nos níveis de IL-6 no período de vinte e quatro horas quando comparado aos demais
grupos, sugerindo que este excesso pode gerar um atraso na cicatrização em
decorrência a um quadro inflamatório.
O TNF-α é uma citocina pró-inflamatória sintetizada por muitos tipos celulares
diferentes, em resposta a estímulos infecciosos ou inflamatórios. Ele tem papel
adaptativo na resposta imune e na cicatrização de feridas em níveis fisiológicos. Seu
excesso pode levar a sérias consequências (AZEVEDO et al., 2012).
Em ensaios de cicatrização de ferida de pele em camundongos, os maiores
níveis de TNF foram encontrados entre quarenta e oito e setenta e duas horas, o
que permite comprovar através do aumento da TNF-α observada nas vinte e quatro
horas após a lesão (SATO; OHSHIMA, 2000),
O grupo PLV obteve concentrações aumentadas de TNF-α em relação ao
grupo controle e demais grupos tratados, o que sugere uma alteração negativa no
processo de cicatrização conforme dados de Azevedo et al. (2012).
O grupo PHA e PH apresentaram níveis baixos de TNF-α quando
comparados ao grupo controle, reforçando com Mori et al. (2002) em sua pesquisa
demonstrou que a deficiência de receptores TNF-α, onde a falta de sinalização desta
citocina resultou em acelerado processo de fechamento da ferida.
76
Células como os neutrófilos e macrófagos são importantes para avaliar o
processo inflamatório e os níveis de citocinas que estes liberam para a modulação
da inflamação aguda. Desta forma, alguns estudos têm estendido estas observações
da redução destes tipos celulares demonstrando um atraso significativo no processo
de cicatrização (LEIBOVICH; ROSS, 1975; MIRZA; NAGAOKA et al., 2000; MORI et
al., 2004; DIPIETRO; KOH, 2009).
Portanto a presença destes tipos celulares na fase de remodelamento, no
vigésimo primeiro dia após a lesão, não permitiu a correlação com os dados da
dosagem de citocinas em oito e vinte e quatro horas após o dano epitelial induzido. A
partir dos dados apresentados observou-se que as bases dermatológicas de
pomadas, mesmo sem a adição de princípios ativos são capazes de melhorar os
parâmetros de cicatrização e modular alguns eventos celulares inflamatórios.
77
7 CONCLUSÕES
Após a realização de todos os experimentos para análise do potencial de
cicatrização das bases farmacêuticas hidrofílicas e lipofílicas, os resultados obtidos
sugerem que:
As bases farmacológicas de natureza lipofílica possuem melhor atividade anti-
inflamatória e cicatrizante tópica quando comparadas a pomada dexpantenol
e aos animais sem tratamento.
A base lipofílica PH demonstrou de maneira efetiva a melhor área de retração
da ferida.
As bases hidrofílicas PPII e PHA e a base lipofílica PH apresentaram
melhores resultados no fechamento da lesão.
A análise histológica permitiu verificar que a base lipofílica PH obteve a
vascularização, reepitelização e colagenização superior às demais bases
aplicadas e ao dexpantenol.
As presenças de neutrófilos e mononucleares não foram representativas nas
amostras de tecidos coletadas no vigésimo primeiro dia após o dano epitelial
induzido.
A deposição de colágeno observada pela coloração do Tricômico de Masson
foi mais intensa no grupo tratado com a base lipofílica PH, determinando
melhor cicatrização no tecido.
O grupo DEX apresentou coloração mais fraca para a deposição de colágeno
entre os grupos tratados.
Os níveis enzimáticos de MPO foram mais reduzidos no grupo tratado com a
base lipofílica PLV no plasma coletado 8 horas após o dano induzido, o que
sugere pouca quantidade de infiltrado de neutrófi los.
O grupo tratado com a base lipofílica PH apresentou altas concentrações de
IL-6 no plasma coletado no período inflamatório agudo 8 horas após a lesão.
Estes níveis caíram 24 horas após o dano epitelial.
78
No período inflamatório agudo (8 horas após a lesão) o grupo tratado com
base lipofílica PLV apresentou níveis de IL-6 baixos aumentando sua
concentração 24 horas após a lesão, sugerindo uma i nflamação crônica.
Portanto, de maneira geral o grupo PH, que possui característica lipofílica,
obteve os melhores efeitos na cicatrização de feridas abertas.
Os grupos PLV e DEX apresentaram os resultados menos significativos em
relação a cicatrização das lesões, sendo que o grupo PLV induziu uma piora
no quadro inflamatório afetando o fechamento da ferida.
.
79
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