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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
ABEL VIEIRA VELHO NETO
O EXERCÍCIO E LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE
EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL EM TUTELA DIFUSA DE SEGURANÇA
PÚBLICA
Florianópolis
2020
ABEL VIEIRA VELHO NETO
O EXERCÍCIO E LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE
EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL EM TUTELA DIFUSA DE SEGURANÇA
PÚBLICA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Direitoda Universidade do Sul de
Santa Catarina, como requisito parcial à
obtenção do título de bacharel em Direito.
Orientador: Wanio Wiggers. Prof. Msc.
Florianópolis
2020
ABEL VIEIRA VELHO NETO
O EXERCÍCIO E LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE
EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL EM TUTELA DIFUSA DE SEGURANÇA
PÚBLICA
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi
julgado adequado à obtenção do título de
bacharel em Direito e aprovado em sua forma
final pelo Curso de Direito da Universidade do
Sul de Santa Catarina.
Florianópolis, 23 de julho de 2020.
______________________________________________________
Professor e orientador Wânio Wiggers, MSC
Universidade do Sul de Santa Catarina
______________________________________________________
Prof. André Opilhar, MSC
Universidade do Sul de Santa Catarina
______________________________________________________
Prof. Carina Milioli Corrêa, MSC
Universidade do Sul de Santa Catarina
A todos os meus professores, que lapidaram o
meu conhecimento, e me inspiraram para que
hoje eu possa estar aqui.
AGRADECIMENTOS
Não poderia deixar de iniciar meus agradecimentos, senão ao meu bom Deus, que me
proporcionou a vida e mais uma chance no plano terreno, e neste embalo, reverencio meus
agradecimentos aos meus amados Orixás, que iluminam o meu caminho e me dão forças para
sempre continuar, e ainda, aos meus guias espirituais, que me acompanham diariamente nos
mais diversos desafios que a vida apresenta pra mim, pois sem vocês, eu nada seria.
Aos meus pais, Simone e Marcio, e a minha irmã Camila e meu cunhado Fábio, que
como meus alicerces, me mantiveram no mais reto cumprimento do dever, e me ensinaram a
prosperar e a sempre seguir os meus objetivos e sonhos, amparando-me nos momentos de
dificuldade, e garantindo que eu carregasse comigo os valores da ética, moral, e respeito.
Obrigado por lutarem e se sacrificarem por mim, seus sacrifícios serão recompensados.
Aos meus avós, Abel (in memoriam) e Margarida, Zuleide e Tadeu, pelo amor
incondicional, por cuidarem de mim, e estarem sempre ao meu lado, torcendo pelas minhas
vitórias.
A tia Estela, tia Vivian e tia Deize, que juntamente de suas famílias, me acolheram em
suas casas, em São Joaquim e aqui em Florianópolis respectivamente, onde eu pude estar
rodeado de carinho e amor, demonstrando que onde quer que eu fosse, estaria amparado por
aqueles que amo, e em seus nomes, estendo meu carinho a todos meus tios e primos.
À tia Nádia, Padrinho Otávio e meu primo Thiago, operadores do Direito que
estiveram amplamente presentes na minha jornada da graduação, e dispuseram-se inúmeras
vezes de seus conhecimentos jurídicos, com livros, estágios, discussões que me fizeram
crescer cada vez mais.
Em especial, gostaria de agradecer à minha mestre Adriana dos Santos, que me
acompanhou durante os dois anos de estágio no Ministério Público de Santa Catarina, e me
ensinou não só as mais diversas lições de Direito, mas também as mais belas lições de vida,
por quem sou eternamente grato, pela amizade, companheirismo e princípios profissionais, e
mais ainda, pela paixão ao exercício profissional.
Aos meus inúmeros amigos, que conheci nos mais diversos caminhos que a trajetória
da minha vida levou, e que carrego no peito o amor e o companheirismo, pelas experiencias e
os momentos mais felizes da minha vida.
Ao meu namorado Mateus, que durante esta jornada me ouviu, ajudou, aconselhou,
compreendeu, e muitas vezes me repreendeu para que tudo isso fosse possível, e mesmo
assim, diante de todos os estresses, permaneceu ao meu lado.
Ao Ministério Público de Santa Catarina, representado pela Promotora de Justiça
Silvana Schimidt Vieira, que me oportunizaram realizar o estágio não obrigatório, em um
órgão de execução do controle externo da atividade policial, onde conheci minha vocação e
minha paixão no mundo do Direito.
Ao corpo docente da UNISUL, em especial ao meu Professor orientador Wânio
Wiggers, pela paciência, dedicação e inspiração, juntamente com os Professores Fátima
Mustafá, Danielle Espezim dos Santos, Patrícia Russi, Gisele Goedert, Patrícia Mombach,
Diane Dal Mago, muito mais que docentes na graduação, foram fundamentais na formação e
serão exemplos para mim, durante toda a minha jornada acadêmica e profissional.
A todos vocês, meu eterno respeito e gratidão.
“A justiça sem a força é impotente, a força sem justiça é tirana” (PASCAL, Blaise).
RESUMO
O Ministério Público recebeu pelo constituinte originário a missão de exercer em tutela difusa
da segurança pública o controle externo da atividade policial. Com isso, surgiram várias
divergências de posicionamento quanto à legitimidade na atuação como controlador externo
dos órgãos de polícia. Estes órgãos de polícia também foram retratados na magna carta, sendo
o braço do Estado com legitimidade para utilizar a força física e o poder de polícia para
realizar a preservação da ordem pública, juntamente com os demais atores da sociedade. O
objetivo geral foi o de evidenciar os instrumentos jurídicos que estão à disposição do
Ministério Público para proporcionar maior efetividade na sua atribuição constitucional do
controle externo da atividade policial. O método de abordagem utilizado foi o pensamento
dedutivo. Resultado apresentado de forma qualitativa. Constatou-se que o Ministério Público
possui a legitimidade conferida pelo constituinte originário e legislador infraconstitucional
para exercer o Controle Externo da atividade policial para garantir maior efetividade na
atuação dos órgãos de Polícia.
Palavras-chave: Constitucional. Ministério Público. Segurança Pública. Controle Externo.
ABSTRACT
The Ministério Público received by the original constituent the mission of exercising in
diffuse protection of public security, on external control of police activity. Several differences
of knowledge emerged regarding the legitimacy in the performance as external controller of
police agencies. These police corporations were also portrayed in the Constitution, being the
state arm with legitimacy to use physical force and the power of police to carry out the
preservation of public order, along with the other actors of society. The general objective was
to highlight the legal instruments that are available to the Ministério Público to provide
greater effectiveness in its constitutional attribution of external control of police activity. The
approach method used was deductive. Result presented qualitatively. Was evidenced that the
Ministério Público has the legitimacy conferred by the original constituent and legislator to
exercise external control of police activity to ensure greater effectiveness in the performance
of police agencies
Keywords:Constitutional Law. Ministério Público. Public Security. External Control.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 10
2 O MINISTÉRIO PÚBLICO: HISTORICIDADE E PRINCÍPIOS
INSTITUCIONAIS ................................................................................................................. 13
2.1 CONTEXTO HISTÓRICO .............................................................................................. 13
2.2 CONTEXTO HISTÓRICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO BRASIL ....................... 15
2.3 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 ........................................ 18
2.4 ETMOLOGIA .................................................................................................................. 19
2.5 A NATUREZA JURÍDICA DO MINISTÉRIO PÚBLICO ............................................ 20
2.6 OS PRINCÍPIOS ATRELADOS AO MINISTÉRIO PÚBLICO .................................... 21
2.6.1 Autonomia, independência funcional e Responsabilidade ...................................... 22
2.6.2 Unidade ........................................................................................................................ 23
2.6.3 Indivisibilidade ............................................................................................................ 24
2.6.4 Promotor natural......................................................................................................... 25
3 A SEGURANÇA PÚBLICA E SEUS ÓRGÃOS COMPONENTES ........................... 27
3.1 CONCEITO DE SEGURANÇA PÚBLICA E ORDEM PÚBLICA .............................. 27
3.2 A SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ................... 29
3.3 SEGURANÇA PÚBLICA, UM DEVER DE TODOS .................................................... 31
3.4 OS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA ................................................................. 34
3.4.1 Polícia Federal ............................................................................................................. 34
3.4.2 Polícia Rodoviária Federal ......................................................................................... 36
3.4.3 Polícia Ferroviária Federal ........................................................................................ 37
3.4.4 Polícias Civis ................................................................................................................ 37
3.4.5 Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares ................................................ 39
3.4.6 Polícias Penais Federal, Estaduais e Distrital ........................................................... 40
4 A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM CONTROLE EXTERNO DA
ATIVIDADE POLICIAL ...................................................................................................... 41
4.1 O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO GARANTIA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE
DIREITO .................................................................................................................................. 41
4.2 A FUNÇÃO CUSTUS LEGIS ......................................................................................... 43
4.3 CAPACIDADE INVESTIGATÓRIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO ............................ 46
4.4 O CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL ............................................ 50
4.4.1 O Conceito de Controle Externo ................................................................................ 50
4.4.2 A legitimidade do Ministério no exercício do controle externo da atividade
policial ...................................................................................................................................... 52
4.4.3 O exercício do controle externo da atividade policial .............................................. 57
5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 61
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 64
ANEXOS ................................................................................................................................. 69
ANEXO A – “NÓS SOMOS A POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA” ........... 70
10
1 INTRODUÇÃO
A atuação do Ministério Público, em sua atribuição frente à tutela difusa da segurança
pública, por meio do controle externo da atividade policial, à linha de pesquisa da Justiça e
Sociedade, adotada pela Universidade do Sul de Santa Catarina, é o objeto de estudo da
presente monografia.
Isto se dá mediante análise à legitimidade e aos instrumentos jurídicos à disposição do
Ministério Público, a fim de exercer com maior efetividade, a instrução de procedimentos
correcionais nos órgãos estaduais de segurança pública, bem como atentar à legalidade dos
atos praticados pelas corporações policiais.
Sendo assim, o objetivo geral foi evidenciar os instrumentos jurídicos que estão à
disposição do Ministério Público, para proporcionar maior efetividade na sua atribuição
constitucional do controle externo da atividade policial.
Os objetivos específicos da monografia foram os relacionados à contextualização das
atribuições e legitimidade constitucionais conferidas ao Ministério Público, e como este órgão
de execução externa as suas atividades.
Ademais, foram estudadas as estruturas dos órgãos componentes da segurança pública,
previstos na Constituição Federal, quais sejam, a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal,
Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis, Polícias Militares, Corpos de Bombeiros Militar e
as Polícias Penais federal, estaduais e distrital.
Por fim, verificou-se por meio de pesquisas doutrinárias, jurisprudenciais e
regulamentares os instrumentos jurídicos utilizados pelo Ministério Público, a fim de exercer
e legitimar o controle externo exercido pelo órgão, fiscalizando as instituições previstas no
artigo 144 da Constituição Federal.
Por justificativa ao trabalho apresentado, ao Ministério Público foi concedida, dentre
suas atribuições, por meio do poder constituinte originário, em 1988, no art. 129,
posteriormente regulamentado pelo ordenamento jurídico infraconstitucional, a tutela dos
interesses difusos de segurança pública, primordialmente realizado por meio de controle
externo da atividade policial.
Assim, no decorrer deste estudo, foram apresentados os princípios regentes do
Ministério Público, a sua função de fiscal da leie competência, para posteriormente,
demonstrar o controle externo da atividade policial, evidenciandoo exercício e a legitimidade
conferida ao Ministério Público, a fim de realizar a fiscalização dos órgãos de polícia.
11
O tema foi apresentado a este estudante primeiramente pelo contato familiar,
acompanhando as atividades de seu tio, Delegado da Polícia Civil, e posterior e
primordialmente, já na graduação, em estágio não obrigatório.
No Ministério Público de Santa Catarina, precisamente na 40ª Promotoria de Justiça
da Capital, que detinha atribuição de Controle Externo da Atividade Policial e Segurança
Pública, com a edição da Lei n. 13.491/2017, que alterou a competência da justiça militar, e
nova reestruturação do MPSC, absorvendo parte da auditoria militar, junto com a 5ª
Promotoria de Justiça da Capital, na instrução até o oferecimento da denúncia.
A colaboração para com a sociedade e seus interesses difusos, a partir da atuação deste
órgão externo de controle, se dá pela garantia do estado de normalidade do Estado,
diminuindo a violência urbana e criminalidade, estabelecendo o devido controle da força
coercitiva em detrimento do Estado Democrático de Direito.
O método de abordagem de pensamento é o dedutivo, em razão da contextualização
quanto à atuação do Ministério Público, na tutela difusa de segurança pública por meio do
controle externo da atividade policial, até demonstrar de forma qualitativa a legitimidade e de
que forma o constituinte originário e legislador infraconstitucional dispuseram aos Órgãos
Ministeriais para garantir maior efetividade na atuação dos órgãos de Polícia.
Para o seu desenvolvimento, a pesquisa teve natureza qualitativa, com procedimento
monográfico e técnica bibliográfica, em doutrinas, artigos científicos e no ordenamento
jurídico vigente.
No segundo capítulo, em desenvolvimento dos estudos, observou-se brevemente o
contexto histórico do Ministério Público, desde o seu surgimento até a estrutura que o Brasil
adota atualmente, frente à Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em
1988, bem como as atribuições garantidas ao Órgão pela Magna Carta.
Neste momento, foram esclarecidos a etimologia do nome da Instituição, a natureza
jurídica, e adentrou-se na atividade ministerial no tocante aos princípios institucionais
inerentes à atividade do Ministério Público: Autonomia, independência funcional e
Responsabilidade; a Unidade; a Indivisibilidade e; o Promotor natural.
O terceiro capítulo teve por objetivo retratar o sistema constitucional de segurança
pública que o constituinte originário de 1988 elencou, observado o conceito de segurança
pública e de ordem pública, o dever e obrigação do Estado e de todos para com este direito
fundamental e ao término, foram estudadas as instituições componentes da segurança pública,
a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis,
12
Polícias Militares, Corpos de Bombeiros Militares e as Polícias Penais federal, estaduais e
distrital.
O quarto capítulo objetivou realizar a análise específica do Ministério Público em
controle externo da atividade policial.
Abordados os temas da proteção ao Estado Democrático de Direito, e como o
Ministério Público exerce suas funções para garantir este fundamento constitucional, e seus
reflexos na seara da segurança pública.
Nesta toada, estudou-se a função do Ministério Público como fiscal da lei,
fundamental para conferir a esta Instituição a atribuição do controle de legalidade de outros
órgãos, de forma externa.
Apresentadas as discussões sobre a possibilidade e legitimidade do Ministério Público
e o poder de investigação, frente à divergência doutrinária em detrimento da lacuna deixada
pelo poder constituinte referente à exclusividade da investigação pelas policiais judiciárias.
Ao final, abordou-se o controle externo da atividade policial, conceituando-se esta
atribuição, estudando a legitimidade do Ministério Público para a atuação nesta área e ainda o
exercício que realiza como órgão externo de controle de polícia.
13
2 O MINISTÉRIO PÚBLICO: HISTORICIDADE E PRINCÍPIOS
INSTITUCIONAIS
Para início dos estudos, apresenta-se a análise pormenorizada do Ministério Público,
como Instituição, no qual buscou-se seu contexto histórico, como o surgimento nas
organizações sociais, a evolução no Brasil, seu embasamento constitucional e os princípios a
ele inerentes.
A memória da reconstrução institucional do Ministério Público brasileiro é uma
história de sucesso. Em menos de vinte anos, a Instituição conseguiu passar de mero apêndice
do Poder Executivo para a condição de órgão independente e, nesse processo que alterou sua
estrutura, funções e privilégios, o Ministério Público também abandonou seu papel de
advogado dos interesses do Estado para se tornar defensor público da sociedade, como retrata
Arantes (2002, apud MARTINS JUNIOR, 2015).
O Ministério Público é a instituição permanente, essencial à função jurisdicional do
Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis, nos termos do artigo 137, da Constituição Federal, e a ele
lhe foi incumbido, dentre as atribuições de tutela difusa e coletiva, o controle externo da
atividade policial(BRASIL, 1988).
Para a análise mais ampla deste papel, cabe, em um primeiro momento contextualizar
a sua existência e atuação, vez que previsto no sistema jurídico vigente, como função
essencial à justiça, com independência a fim de promover o bem de toda a sociedade.
2.1 CONTEXTO HISTÓRICO
A origem do Ministério Público compreende um emaranhado de situações e contextos
históricos que evoluíram até chegar ao modelo que se adota no Brasil, objeto de análise da
presente monografia, isto posto em razão da diversidade de modelos organizacionais que
surgiram e existem nos Estados soberanos que, todavia, convergem na ideia da função
exercida pelo Estado individualizada da função jurisdicional, concentrada na Coroa
(GARCIA, 2017, p. 78).
O Ministério Público surge da evolução social consoante aos aspectos punitivos do
poder estatal, à época, predominantemente monárquica, os procuradores do rei ou da Coroa
eram funcionários reais cuja função era a de exercer a acusação e repreensão aos rebeldes, a
14
fim de proteger a coletividade, e estavam sempre atrelados ao poder estatal e àpersecução
penal, pondo fim ao sistema inquisitorial, em que o julgador era o mesmo que acusava.
O surgimento do exercício acusatório pelos procuradores da Coroa diverge entre os
doutrinadores. Contudo, costumeiro inferir que o Ministério Público próximo ao modelo que
existente atualmente no Estado surge na Idade Média, em 1302, no reinado de Felipe IV, o
Belo, da França, como um mecanismo para a manutenção do monopólio jurisdicional, contra
os tribunais eclesiásticos que imperavam naquele tempo (MARTINS JUNIOR, 2015).
Alcançado o poder jurisdicional pela Coroa Francesa, Felipe, o Belo, chamou para si a
tutela para atuar perante a autoridade jurisdicional que exercia por meio de agentes do poder
real perante a corte, “procureur du roi” ou “le gens du roi”.
A partir da Revolução Francesa, este Órgão sai da esfera do Poder Executivo exercido
pela monarquia, deixando de desenvolver suas atividades em interesse do Rei, para tutelar os
interesses sociais e coletivos (MARTINS JUNIOR, 2015).
Na sequência, verificam-se as diversas facetas do Ministério Público ao redor do
mundo, nas quais os seus membros podem ser eleitos, ou o preenchimento dos cargos pode se
dar por contratação direta ou ainda em seleção pública.
A carreira dos membros do Ministério Público pode estar totalmente separada da do
Poder Judiciário ou do Estado, em um corpo autônomo e individualizado, ou vinculada a
algum deles, integrados em função distinta e pertencente ao Poder Judiciário (MARTINS
JUNIOR, 2015).
Dentre as atribuições, restringir-se-ia à persecução penal, por meio da investigação
criminal e incitação da ação penal, ou incidindo em tutelas diversas das individuais, chamadas
de difusas e coletivas.
Mendes e Branco (2020, p. 1154-1155), retratam a mudança de contexto na atuação do
Ministério Público no início de sua história:
As dificuldades que rondam o estudo do Ministério Público começam já com
desafio de se indicar a sua precisa origem histórica, que é retrocedida, por vezes, ao
Egito Antigo, onde se descobriram funcionários do rei, encarregados de, em nome
do soberano, reprimir rebeldes e proteger os cidadãos pacíficos, dando curso a
acusações e buscando a verdade. Indica‐se, em outras ocasiões, o berço do
Ministério Público em figuras da vida política da Grécia Antiga. Há os que situam as
raízes do Ministério Público na Idade Média. Estes aludem ao “comum acusador”
(Gemeiner Anklager), figura germânica que exercia a acusação, quando o particular
não perseguia o seu ofensor. A doutrina converge, entretanto, em apontar, como
origem mais provável do órgão, a Ordenança francesa de 25 de março de 1302, de
Felipe IV, o Belo. Ali, exigiu‐se dos Procuradores do Rei que prestassem o mesmo
juramento dos juízes, o que os impedia de patrocinar outras causas além das de
interesse real. Aos poucos, esses Procuradores foram deixando de ser meros
15
defensores dos interesses privados do monarca para se transformarem em agentes do
poder público junto aos tribunais.
Assim, será apresentado o desenho que vem atrelado ao órgão atualmente, proposto
pela ordem Constitucional vigente, frente ao Estado Democrático de Direito garantida pela
Carta Magna de 1988, com prerrogativas, atribuições e obrigações próprias a serem
discriminadas.
2.2 CONTEXTO HISTÓRICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO BRASIL
No Brasil, este Órgão sofreu diversas alterações, desde institucionais, como das suas
atribuições, e até mesmo no vínculo com o poder público, passando pelo Poder Judiciário e
pertencendo posteriormente ao Poder Executivo, até ser-lhe concedida autonomia.
Mendes e Branco (2020, p. 1155) ressaltam a inexistência de previsão na Constituição
do Império:
O Ministério Público não é mencionado nem pela Constituição do Império, nem pela
de 1891. Esta última apenas alude ao Procurador‐Geral e à sua iniciativa na revisão
criminal pro reo. Não obstante, diplomas legais já faziam referência ao parquet
desde o Império.
No Brasil colônia vigia o ordenamento jurídico português, composto pelas Ordenações
Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, que disciplinavam a atuação de funcionários públicos
cujas atividades se assemelhavam aos membros do atual Ministério Público.
Nesta época, no Brasil só havia a primeira instância de jurisdição, enquanto os
recursos das lides eram julgados no Tribunal de Relação de Lisboa, que perdurou até a criação
do Tribunal de Relação do Brasil, que previa a atuação do Procurador dos Feitos da Coroa,
Fazenda e Fisco, atuante neste Tribunal. A previsão legal do Promotor de Justiça estava
atrelada à jurisdição eclesiástica, tutelando os interesses da jurisdição da igreja, como ocorreu,
posteriormente, com a criação das Relações do Rio de Janeiro, Maranhão, Pernambuco, São
Pedro do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e a nomeação de outros Procuradores
(GARCIA, 2017, 94).
Com a conversão da Relação do Rio de Janeiro em Casa de Suplicação do Brasil,
como órgão julgador dos recursos contra as decisões proferidas pelos órgãos jurisdicionais
suso, houve a distinção efetiva dos cargos de Promotor de Justiça e Procuradores, ocupados,
assim, por agentes distintos com atribuições específicas em órgãos determinados.
Na Monarquia, a Constituição Imperial de 1824 trazia no capítulo destinado à
organização do Senado, a acusação dos crimes realizada pelo Procurador da Coroa e
16
Soberania Nacional, e ainda, a nomeação de um dos desembargadores junto aos Tribunais da
Relação para atuar como acusador, chamado de Procurador da Coroa, que exercia o comando
do Parquet (GARCIA, 2017, p.95).
Com a criação do Processo Criminal, surgiu a figura dos Promotores Públicos, que
poderiam exercer a função pelo período de 3 (três) anos, aqueles que pudessem ser jurados no
processo, nomeados pelo Executivo perante á corte, mediante apresentação de lista tríplice
pelo legislativo.
Detinham estes a função de denunciar crimes, solicitar a prisão e punição de
criminosos, promover sentenças, além de representar contra autoridades negligentes, omissos,
e demais crimes consoantes ao exercício do poder público ou contra as suas autoridades e
nobres (GARCIA, 2017, p. 95).
Em 1838 foi delegada aos Promotores Públicos a função de fiscalizar a lei, evoluindo
no ano 1841 a preferência de bacharéis, idôneos, nomeados pelo Imperador ou presidentes das
províncias, havendo pelo menos um em cada comarca. Na sua falta, poderia o juiz nomear
Promotor Público “ad hoc”, pois a figura do Adjunto do Promotor tão somente ocorreu em
1871, para suprir à falta ou atender ao impedimento do titular (GARCIA, 2017, p. 96).
Com a edição da Lei do Ventre Livre, ainda em 1871, os Promotores Públicos foram
incumbidos de fiscalizar o registro e a proteção dos filhos dos escravos, como lecionam
Mendes e Branco (2020, p. 1155):
Vale recordar que a Lei do Ventre Livre (Lei n. 2.040/1871) confiava ao Promotor a
função de proteger os filhos libertos dos escravos. O Decreto n. 848, de 11 de
outubro de 1890, trata do Ministério Público como Instituição.
Em 1876, o Procurador da Coroa atuava em segunda instância, com a função de
acusação e fiscalização da lei, sem exercer as funções de chefia do órgão.
Tem-se, contudo, que até o ano de 1890, os Promotores Públicos eram quaisquer
eleitores e jurados, portanto, o que poderia levar ao exercício do cargo até mesmo analfabetos,
desde que preenchidos os requisitos e nomeados pelo executivo ou pela Coroa, a depender da
época (GARCIA, 2017, p. 97).
À exemplo do Decreto n. 848, de 11 de outubro de 1890, de autoria do então Ministro
da Justiça do Governo Provisório da República, é editado o Decreto Federal n. 1.030,
considerado o patrono do Ministério Público no Brasil.
Neste diploma, foi conferido o status de Instituição ao órgão, dispondo sobre o
Procurador-geral da República, atuante perante o Supremo Tribunal Federal, e que, em cada
Seção Judiciária Federal deveria atuar um Procurador da República, nomeados pelo
17
Presidente da República, com garantia de sua estabilidade e, vinculado ao Poder Executivo da
época, e que tinha por funções promover a ação pública e fiscalizar a execução das leis
(GARCIA, 2017, p. 97).
Outras alterações significantes não foram apresentadas até a Constituição de 1934,
que, apesar de manter a vinculação ao Poder Executivo, previu a existência dos Ministérios
Públicos da União, dos Estados, Territórios e do Distrito Federal, dispondo sobre estabilidade,
vedações e primordialmente, o ingresso no órgão por meio da aprovação em concurso
público.
A Constituição de 1937 trouxe como mudanças a livre nomeação e demissão do
Procurador-Geral da República pelo Presidente, e ainda, elencou como requisitos os mesmos
previstos ao cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal, além da possibilidade dos seus
membros interporem recursos às instâncias superiores. Como principal inovação, o ingresso
nos Tribunais pelo quinto constitucional (GARCIA, 2017, p. 99).
Tão somente em 1939 surge a atribuição do Ministério Público na esfera civil, e em
1941, concedeu-se ao Ministério Público o poder de requisitar a instauração da investigação
criminal.
Em 1946, o Ministério Público deteve seu título próprio, desconectado dos Poderes
Executivo e Legislativo, previsto nas normas as prerrogativas da estabilidade, a
inamovibilidade e a necessidade do concurso público para ingresso na carreira (GARCIA,
2017, p. 99).
Nesta mesma época, passa ao Senado a competência para aprovar a escolha do
Presidente da República ao cargo de Procurador-Geral da República, enquanto o quinto
constitucional retroage, passando a valer apenas na esfera estadual.
Nas atribuições, as mudanças sobrevieram na representação da União ou da Fazenda
Nacional, quando réus na esfera cível.
A Constituição de 1967 elabora outra redação com localização distinta do Ministério
Público, concentrada no capítulo destinado ao Poder Executivo (MENDES; BRANCO, 2020,
p. 1155):
Ao longo da história dos nossos diplomas constitucionais, o Ministério Público já foi
tratado no capítulo do Poder Judiciário (Constituição de 1967), passando, dois anos
mais tarde, com a Emenda à Constituição n. 1, a figurar no capítulo do Poder
Executivo. Na Constituição de 1946, a instituição aparece em tópico autônomo, em
linha análoga ao que ocorreu em 1934. Na topografia da Constituição de 1988
tampouco o Ministério Público está inserido especificamente nos capítulos
específicos dos três poderes clássicos, surgindo no capítulo seguinte ao do Poder
Judiciário entre os entes compreendidos nas “funções essenciais à Justiça”
18
Em 1981, denota-se o modelo mais próximo ao adotado atualmente, onde a Lei
Complementar n. 40/1981 confere ao Ministério Público a posição de Instituição permanente
e essencial à função jurisdicional do Estado, prevendo os princípios da unidade,
indivisibilidade e autonomia funciona, com as garantias de autonomia administrativa e
financeira, mantendo-se a atribuição de representar judicialmente a união (PIETRO, 2010, p.
6).
2.3 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988
No modelo Constitucional vigente, a atuação do Ministério Público não se restringe à
persecução penal, mas, também atinge a tutela dos interesses difusos e coletivos, de forma
individualizada e sem vínculos com o Poder Judiciário, nem mesmo como tutor dos interesses
subjetivos do Estado (GARCIA, 2017, p. 103).
A Constituição Federal de 1988, elaborada após o período ditatorial militar, e com isso
diversos traços de garantias individuais e sociais foram abarcados e ressaltados, como reflexos
diretos na atuação do Ministério Público, não sendo diferente com a previsão do Poder
Judiciário e das instituições essenciais à Justiça.
Mendes e Branco (2020, p. 1156) retratam:
O Ministério Público na Constituição de 1988 recebeu uma conformação inédita e
poderes alargados. Ganhou o desenho de instituição voltada à defesa dos interesses
mais elevados da convivência social e política, não apenas perante o Judiciário, mas
também na ordem administrativa. Está definido como “instituição permanente,
essen‐cial à função jurisdicional do Estado, incumbindo‐lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”
(art. 127). A instituição foi arquitetada para atuar desinteressadamente no arrimo dos
valores mais encarecidos da ordem constitucional.
Assim, na Seção I do Capítulo IV, intitulada “Das Funções Essenciais à Justiça”, está
previsto o Ministério Público, conceituado em Instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, com a finalidade da defesa da ordem jurídica, do regime democrático
e dos interesses sociais e individuais indisponíveis – art. 127, da CR/1988 (BRASIL, 1988).
Nele está compreendido o Ministério Público da União, do qual pertencem o
Ministério Público Federal, do Trabalho, Militar, do distrito Federal e Territórios – art. 128, I
da CR/1988, e ainda o dos Estados, com atribuições distintas – art. 128, II (BRASIL, 1988).
A eles foram garantidas a autonomia funcional, administrativa, financeira e
orçamentária, com inciativa legislativa para editar e regulamentar a sua organização,
19
atribuições e estatutos, com vedações e órgão próprio de controle, o Conselho Nacional do
Ministério Público.
A Magna Carta ainda determina que as atribuições do Ministério Público poderão ser
exercidas apenas pelos membros da carreira, cujo ingresso se dá por meio de aprovação em
Concurso Público, de provas e títulos, e a investidura do Procurador-Geral da República,
chefe do Ministério Público da União, exercida necessariamente por membro da Carreira do
Órgão, nomeado pela Presidência da República, com a aprovação do Senado, para mandato
com prazo específico de 2 anos permitida a recondução, contudo sem a possibilidade da
demissão ad nutun. De igual modo ocorre no âmbito estadual, em que a escolha é feita pelo
Governador do estado (MARTINS JUNIOR, 2015).
O Ministério Público foi consagrado no âmbito constitucional com finalidades,
premissas, autonomia, independência, funções e garantias equiparadas à magistratura, sendo
este o ápice do Órgão, em salvaguarda do Estado Democrático de Direito e proteção à ordem
jurídica e às tutelas difusas e coletivas (MARTINS JUNIOR, 2015).
2.4 ETMOLOGIA
A expressão Ministério Público surge a partir do latim ministerium, minister, que
indica o ofício de servo, função sérvio, ou ainda ofício, cuidado, ocupação ou trabalho
(GARCIA, 2017, p. 68).
O adjetivo público que acompanha o Ministério vem vinculado ao conceito de Estado,
Instituição, no aspecto subjetivo. No sentido objetivo, dá a ideia do interesse geral ou social.
Em que pese a ideia de atividade estatal estar cunhada no interesse social, o prisma a
ser analisado no termo Ministério Público está vinculado à posição que se encontra a
Instituição na estrutura do Estado, bem como às suas atribuições.
É o que direciona à ideia de Ministério Público como Instituição social, ligada à
proteção do Estado Democrático de Direito, o que será abordado posteriormente, ao Estado
Social, à sociedade como um todo, e à proteção dos poderes constituídos (GARCIA, 2017, p.
68).
Outra ideia que se apresenta, é de que a origem do termo Ministério Público é oriunda
da terminação ter, de minister, que indica a comparação por graduação, inferindo ideia de
superioridade pelo termo magister, referindo-se ao magistrado. Isto, demonstraria que o
menor, minister, serve a alguém, é servidor de algo, posição ocupada historicamente junto às
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monarquias, e posteriormente vinculados aos Poderes Executivo e Judiciário (REZENDE
FILHO, 1962, p. 78 apud GARCIA, 2017, p. 68).
É costumeiro encontrar a designação do Ministério Público pelo vocábulo Parquet, de
origem francesa, que indica o ajuntamento de tábuas que formam o chão dos cômodos de
habitação, ou o de chapas que integram uma plataforma ou chão do compartimento de um
navio (GARCIA, 2017, p. 68).
Apresentou-se no meio jurídico porque os representantes do Ministério Público
(agents du roi) postulavam de pé, fora do tablado onde ficavam os juízes, mas sim no
assoalho da sala de audiências, junto às partes e seus representantes, como forma de
demonstrar a força e independência concedida pelos Monarcas aos Procuradores, em relação
aos juízes (GARCIA, 2017, p. 68).
Outras formas de representação do poder do Rei e de seus representantes foram
apresentadas na história, como eram apresentados ao lado dos juízes, no mesmo estrado, e
nesta circunstância, o Parquet se tornou sinônimo da instituição Ministério Público
(GARCIA, 2017, p. 68).
2.5 A NATUREZA JURÍDICA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Conforme retratado, o Ministério Público tem por posicionamento constitucional de
função essencial à justiça, isto porque o Poder Judiciário detém a competência para exercer
controle sobre os atos praticados pelos Poderes Legislativo e Executivo, e até mesmo do
próprio Poder Judiciário, sendo-lhe, todavia, vedado atuar sem provocação externa.
Para tanto, o constituinte dispôs no Capítulo IV do Título da Organização dos Poderes,
o qual rege as normas referentes aos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, estruturas
alheias a estes poderes, a fim provocar a atuação do Poder Judiciário, dentre eles, o Ministério
Público. (MENDES; BRANCO, 2020, p. 1166)
Dito isto, o Ministério Público, juntamente com o Tribunal de Contas, ocupa posição
intermediária na organização Administrativa e Política do Estado, visto que apresenta um
limiar teórico entre órgão e pessoa jurídica, dadas as suas características administrativas e
estruturais, e principalmente a falta de critérios objetivos que o definam entre os demais no
poder público.
O Ministério Público é autônomo, e consequentemente desvinculado de qualquer
Poder estatal, possuindo estrutura hierárquica e administrativa própria, e porquanto não possui
personalidade jurídica.
21
Ademais, o Ministério público faz parte das pessoas jurídicas de direito público, com
administração centralizada, caso fosse caracterizado de forma diversa, implicaria em
consequências tais quais a responsabilidade civil direta de seus membros.
Entende-se que o Ministério Público tem natureza jurídica de órgão sui generis, visto
que inexistem semelhanças com quaisquer outros institutos públicos previstos na constituição,
sendo então único em seu gênero, e, ao mesmo tempo, Instituição (GARCIA, 2017, p. 110-
112).
No primeiro entendimento, se dá em razão da centralização de unidade e competência,
intrínsecos inclusive nos princípios do Ministério Público, embasados também na
independência.
Os designados membros, como órgão, exercem a atividade fim, enquanto os servidores
ou colaboradores desempenham a atividade meio, não se caracterizando entidade porque não
possui personalidade jurídica.
Para estabelecer, então, esta natureza jurídica, há de ser considerado o
desenvolvimento legal e a sua delineação, com especo na Carta Magna, que garantiu ao
Ministério Público um regime jurídico peculiar amparado em sua autonomia.
O Ministério Público, como Instituição, por meio da sua atividade fim com
estruturação fundada na busca pelo bem comum, sendo, pois, de relevante atuação social, e
essencial para a convivência em coletividade.
Com isso, entende-se que o Ministério Público, como Instituição, é parte essencial à
atuação da justiça, nos moldes da Constituição Federal, manifestamente social, como parte do
Estado, por fomentar os ideais da realização da Justiça, do Estado Democrático de Direito e
ao respeito ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana (MARTINS JUNIOR, 2015).
2.6 OS PRINCÍPIOS ATRELADOS AO MINISTÉRIO PÚBLICO
Para o desenvolvimento da atividade do Ministério Público, bem como à sua
organização administrativa, a Constituição Federal, as normas infraconstitucionais, e a
doutrina elencam diversos princípios norteadores, sendo selecionados os mais importantes que
tangem ao tema da presente monografia.
22
2.6.1 Autonomia, independência funcional e Responsabilidade
O primeiro princípio analisado é o da Autonomia, em exegese aos artigos 127, §§ 2º a
6º e 128, §§ 1º a 5º, relativos à capacidade de autogestão do órgão, capacitando o próprio
direcionamento, ou seja, impossibilitando que os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário,
estabeleçam por normas ou requisitem por instruções, o exercício de direção do Órgão
Ministerial.
Esta autonomia, que permite a autogestão e regulamentação própria não tem caráter
absoluto, isto porque a Constituição trouxe limitações à competência de auto-organização
(CAZETTA JÚNIOR, 2001 apud MARTINS JÚNIOR, 2015).
Isto posto, cabe ponderar a efetiva independência funcional do Ministério Público de
seus membros, ao exercício livre das atribuições e funções, por parte de seus membros, sem a
intervenção de órgãos terceiros.
Ao passo que o Ministério Público possui independência funcional, que é a manifesta
autonomia por parte de seus membros e gestores, em um contexto geral, dá-se ao conceito de
forma concomitante a responsabilidade, vez que aquele que tem poder e autonomia para
decidir, deve suportar consequentemente a responsabilidade que dela decorre.
Logo, distintos são os princípios da autonomia institucional, também chamada de
orgânica, se refere ao órgão do Ministério Público em si, como Instituição, com a
independência dos seus membros agirem com liberdade dentro dos liames estabelecidos
unicamente pelo ordenamento jurídico, ao passo que a segunda independência trata-se da
autonomia de seus membros.
Depreende-se, portanto, que o ordenamento constitucional vigente outorgou ao
Ministério Público, como Instituição permanente e essencial à função jurisdicional, a
autonomia de sua organização financeira, e ainda a atuação dos seus agentes públicos, no
exercício da defesa da ordem jurídica do regime democrático, dos interesses sociais e
individuais indisponíveis (FINGER, 2010, p. 84).
Quando se retrata, então, que o Ministério Público tem atuado, ou ainda que a atuação
de seus membros aborde certas perspectivas jurídicas, não há o que se falar em decisão
política pela instituição, posto que as chefias institucionais e corregedorias não detêm
vinculação em suas orientações, porquanto a decisão de seus membros é independente e
dotados de livre convencimento motivado (FINGER, 2010, p. 85).
23
2.6.2 Unidade
O princípio da unidade, de que trata a Magna Carta, conforme o entendimento da
própria palavra, apesar de sua polissemia, se traduz em um Ministério Público como
Instituição, unido, homogêneo, uniforme e coordenado e, primordialmente, funcionando cada
órgão como partes de um todo indivisível, e não como entidades separadas.
Isto se dá pela divisão do Ministério Público em competências específicas, na esfera
Federal e Estadual, que, por sua vez, distribuem sua competência por atribuições conferidas
aos seus membros, que exercerão a atividade, todos subordinados ao respectivo Procurador-
Geral.
Significa que essas facetas que se encontram na atividade se dão tão somente em razão
da distribuição da competência, no âmbito federal e estadual, e posteriormente na disposição
de seus membros, a fim de exercerem as atribuições de forma organizada.
Dentre os aspectos jurídicos, três são apresentados como principais: o Ministério
Público como Instituição, a atuação dos seus membros, e ao final, a influência exógena que
recebe.
As ramificações do Ministério Público possuem, entre si, autonomia nos planos
administrativos, financeiros e funcionais, compatibilizando a unidade institucional e
autonomia pelo seguinte motivo.
Existe um só Ministério Público, este previsto no Capítulo IV, Seção I, da
Constituição Federal de 1988, que o descreve em seu artigo 127 (BRASIL, 1988).
No dispositivo seguinte, faz o arranjo inicial da distribuição de competências, no
inciso I, o Ministério Público da União, que compreende o Ministério Público Federal,
Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Militar e
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, e no inciso II os Ministérios Públicos dos
Estados, distribuídos nas demais unidades da federação (MARTINS JUNIOR, 2015).
A unidade e posterior distribuição é importante e imprescindível para a realização dos
objetivos institucionais, como unidade ideológica e ainda na unidade de ação, com direção
consciente e orientada pelos princípios e valores institucionais a fim de concretizar o plano
Constitucional previsto no caput do artigo 127 (GOULART, 2010, p. 171).
No que tange à atuação funcional, o princípio da unidade indica que o Ministério
Público constitui uma Instituição única, das quais emana princípios, normativas e atribuições
que determinam diretrizes de atuação de seus membros.
24
Contudo, o entendimento apresentado nessa situação é de que, em que pese os
membros do Ministério Público praticam individualmente suas atribuições, ainda são a
representação e integração do corpo Ministerial como um todo.
A unidade funcional surge assim como o instrumento disponível à Instituição para
garantir a preeminência de sua atuação, distribuindo as atividades em determinados órgãos
jurisdicionais e controles externos específicos, em que cada detentor da atribuição atuará em
áreas afetas apenas às suas atribuições que lhe foram concedidas.
O princípio da unidade poder-se-á distribuir: (1) pela competência de cargo, como o
exercício junto aos 1º e 2º graus de jurisdição, promotor de justiça e procurador de justiça
com mesma matéria, (2) pela própria matéria afeta, a exemplo criminal comum e tribunal do
júri, (3) função de tutelas difusas e coletivas, interesses transindividuais, e curadorias, e por
fim (4) a territorial, distintas entre as comarcas de atuação (GARCIA, 2017, p 133-134).
Concluindo, a influência exógena que trata a doutrina refere-se à atuação do Conselho
Nacional do Ministério Público, que, vem por meio de suas diretrizes e fiscalização, fomenta
e estabelece uniformidade às práticas adotadas nas diversas competências da Instituição,
frente à carência de lei complementar que vise regulamentar a atuação de forma vertical.
Para tanto, a desconformidade das diversas legislações específicas para cada parte da
divisão do Ministério Público vem de encontro à atuação do Conselho Superior, o qual almeja
absorver as consequências da divisão da Instituição por meio da padronização da atuação,
visto que, como dito alhures, o Ministério Público é uno, e indivisível como será verificado a
seguir (GARCIA, 2017, p. 135).
2.6.3 Indivisibilidade
Este princípio está intimamente ligado ao estudado anteriormente, todavia, não pode
ser confundido com a unidade, visto que o presente tem por função conter a mitigação do
princípio da unidade.
Primordialmente, a indivisibilidade retrata que todo ato praticado pelos membros do
Ministério Público, sejam os promotores ou procuradores, independente do grau de jurisdição
que atuam, ou ainda da competência, é creditado ao órgão, e não aos agentes públicos.
Isto posto, observa-se que a substituição dos membros na prática de determinados atos,
seja na fiscalização ou na postulação em juízo, não ensejaria em anulação ou nulidade, no
caso de suspeição, ausência por férias ou licença, e ainda impedimentos (GARCIA, 2017,
145).
25
Não há o que se falar em ilegitimidade, portanto, vez que a atuação em esferas
específicas se trata de distribuição de atribuição no âmbito administrativo do próprio órgão,
podendo os membros substituir, responder e colaborar entre si, quando pertencentes a mesma
carreira (GARCIA, 2017, 145).
Conclui-se assim que o princípio da indivisibilidade tem caráter meramente
procedimental, visando a atuação da Instituição Ministério Público como defensora da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, sendo
seus membros atores do exercício da função (GOULART, 2010, p. 171).
2.6.4 Promotor natural
Complementando, então, os princípios intrínsecos ao exercício direto da atividade do
Ministério Público, a Constituição Federal elencou no artigo 5º, LIII, dois princípios, o
primeiro relacionado à atuação do Ministério Público, e o atrelado ao exercício jurisdicional,
quais sejam, o promotor e o juiz natural.
No momento em que a constituição separa em termos o processar e sentenciar, senão
pela autoridade competente, distingue as atividades do Promotor/Procurador figurar no polo
ativo das ações de sua competência, restando ao magistrado decidir sobre a demanda trazida
pelo membro do Ministério Público.
Assim, Goulart (2010, p. 177) elenca quatro aspectos diretos os quais são
manifestamente consagrados pelo princípio do promotor natural.
Primeiramente o aspecto social, em que a sociedade possui, na defesa dos interesses
difusos, coletivos e transindividuais, o agente público e político, com independência dos
órgãos administrativos, legislativos e jurisdicionais.
Após, o aspecto individual, conferido ao membro da sociedade, o direito de ser
investigado, processado, e por vezes tutelado pelo Ministério Público nas ações e matérias que
o compete.
Em terceiro, o aspecto institucional, que trata da independência em relação a outros
órgãos administrativos, supostamente superiores, por meio de requisições e orientações
arbitrárias e protecionistas.
Por último, o aspecto funcional, garantindo ao membro do Ministério Público em si, o
exercício de todas as suas funções dentre as atribuições que lhe foram conferidas, de forma
independente e discricionária (GOULART, 2010, p. 177).
26
Ademais, o princípio do Promotor Natural vem como forma de proteção ao exercício
da função na própria administração autônoma do instituto, isto porque coíbe, por exemplo, a
designação de Promotor ad hoc, ou a exceção de finalidade, e ainda o exercício de forma
hierarquizada da atividade fim.
Diante deste princípio é que se torna indevida a designação de pessoa qualquer, até
mesmo como ocorria outrora, sem formação acadêmica, para o exercício das tutelas
asseguradas ao Ministério Público pela Constituição Federal, com a consequente proibição do
Promotor ad hoc.
Logo, para ser membro do Ministério Público, a pessoa deve preencher diversos
requisitos, tais como a formação acadêmica no curso de direito, três anos de prática jurídica e
a aprovação em concurso público de provas e títulos.
O princípio do Promotor Natural tolheu a exceção de finalidade, ou seja, a designação
de Promotor/Procurador em específico para atuar em demanda específica, individualizando e
especializando o exercício de certo membro ou de certo caso em que se atua.
Limitou ainda a atuação do Procurador-Geral, no exercício da atividade fim do
Ministério Público, para que este, na posição que se encontra, deixe de atuar em processos de
forma hierarquizada, ou seja, utilizar do cargo para obter vantagem (MARTINS JUNIOR,
2015).
A fim de estudar as atividades do Ministério Público, no exercício do controle externo
da atividade policial, será abordado no próximo capítulo a ordem constitucional da Segurança
Pública e seus órgãos componentes.
27
3 A SEGURANÇA PÚBLICA E SEUS ÓRGÃOS COMPONENTES
O Estado, como provedor e garantidor de diversos direitos e garantias fundamentais,
tem por dever efetivar a segurança pública, como forma de preservar a ordem pública e a
incolumidade das pessoas e do patrimônio, por meio de seus órgãos, a serem abordados a
seguir – art. 144 da CR/1988 (BRASIL, 1988).
3.1 CONCEITO DE SEGURANÇA PÚBLICA E ORDEM PÚBLICA
O conceito de segurança pública vem junto ao dever do Estado na garantia de
estabilidade, isto porque, o termo “segurança” tem origem latina da palavra “securus” cujo
objetivo é livrar algo de perigos, incertezas, para que seja assegurada a ausência de danos ou
prejuízos (SILVA, 1987).
Logo, a “segurança” é garantia e proteção, proporcionando à situação, pessoa ou coisa
o sentido de estabilidade e resguardo, atingindo assim o setor específico de acordo como o
adjetivo que o acompanha (MARTINS; COLPANI, 2011, p 56).
Neste contexto, a segurança pública assume o papel em razão do adjetivo que o
acompanha, neste caso “pública”, portando, é garantia e proteção, seja ela individual ou
coletiva, proveniente do poder público, configurando uma das dimensões da segurança
interna, juntamente com oEstado de Defesa e o Estado de Sítio, também previstos na Carta
Magna (MARTINS; COLPANI, 2011, p 56).
No entendimento de Álvaro Lazzarini (1994), não há como separar a ordem pública da
segurança pública, sequer o Estado da ideia de polícia, frente à necessidade da garantia de
convivência pacífica das pessoas, de modo que o exercício dos direitos individuais não se
sobreponham, ofendam, perturbem ou sequer impeçam o exercício do direito alheio, o que se
alcança com o policiamento da sociedade.
Lazzarini (1994) conceitua segurança pública como o estado antidelitual, que nada
mais é que um resultado da interpretação e aplicação das leis penais comuns e de
contravenções penais vigentes, juntamente com a ação das polícias preventivas e repressivas,
cujas funções são de obstar todo perigo que possa afetar a ordem pública, por meio de
instituições específicas e destinadas para tanto.
José Sérgio Marcondes ([2015]) expõe que a segurança pública contempla ações de
caráter diversos e entrelaçados: a) preventivo, por meio da educação, saúde e emprego, etc., e
aqui acrescento a importância das políticas públicas; b) legislativo, com a definição dos
28
crimes e penas; c) de fiscalização e preensão, com a atuação dos órgãos e polícia e atuação do
Ministério Público; d) responsabilização, por meio da atividade jurisdicional; e) punição pelo
cumprimento da pena imposta e por fim; f) ressocialização, com a reintegração do indivíduo à
sociedade.
Assim, a ordem pública, no sentido da organização administrativa, juntamente com o
poder coercitivo do Estado, é o efetivo exercício das instituições e prerrogativas da segurança
pública, que traz a tranquilidade e a salubridade públicas (LAZZARINI, 1994).
A ordem pública, portanto, é a situação alcançada pelo exercício da segurança pública,
de normalidade da sociedade, na busca pela concretização de direitos individuais, estabilidade
das instituições e o devido funcionamento do serviço público, a ser provida tanto pelo Estado
como pelos cidadãos, de forma individual, com respeito mútuo das liberdades individuais e
instituições (LAZZARINI, 1992).
Há também o entendimento de que segurança pública e ordem pública não resultam de
causa e efeito, mas sim de situações jurídicas complementares, com a concretização dos
postulados oriundos do ordenamento jurídico, e destas surgem as diretrizes para atuação do
poder de polícia, e de acordo com as necessidades, apontar as ações a limites das ações a
serem tomadas pelas corporações (MOREIRA NETO, 1986, p. 88).
Diante de todo este exposto, há de se inferir que a segurança pública e a preservação
da ordem social não são consequências exclusivas da ação policial, seja ela preventiva ou
repressiva, mas sim de um complexo de ações e políticas engrenadas (MARTINS; COLPANI,
2011, p 66).
Valter Foleto Santin (2004 apud MARTINS; COLPANI, 2011, p. 66) destaca a
responsabilidade de cada cidadão para com a ordem e segurança públicas, aduzindo que se
trata de um regime permanente de proteção dos cidadãos no interior da nação, a fim de que
exista a estabilidade institucional e ordem interna, com escopo na convivência normal e em
harmonia.
Por conseguinte, a ordem pública e segurança pública são configurados em conceitos
diversos, porém entrelaçados, junto ao ordenamento jurídico que dão azo a melhor
convivência, com estabilidade e harmonia, das instituições do poder público e da sociedade
em si, vinculados aos fundamentos elencados na Carta Maior.
Isto vai ao encontro da preservação dos direitos individuais e sociais, ao passo que
legislador constituinte estabeleceu à República Federativa a condição de Estado Democrático
de Direito, com primazia na Dignidade da Pessoa Humana, para que o poder público possa
29
atender as mais variadas faces da sociedade, ensejando a prática dos movimentos políticos e
ações públicas voltadas à preservação da ordem social (MARTINS; COLPANI, 2011, p 70).
A segurança pública também atinge a esfera do Governo, visto que este é o executor
das políticas públicas de responsabilidade do Estado, e está diretamente ligado pelos
investimentos feitos nos órgãos vinculados, uma vez geridos pelo Poder Executivo
(LAMBERT, 2018).
Compreende-se, portanto, ações específicas em cada ramificação do poder estatal
executivo, em que o Governo Federal tem por dever exercer a proteção e policial das
fronteiras, e o combate ao tráfico internacional de drogas, além de outros delitos de
competência da União, e por fim, o patrulhamento das rodovias federais (LAMBERT, 2018).
Aos Estados e ao Distrito Federal, foram atribuídos o policiamento ostensivo, aqueles
de repressão, que causam maior visibilidade da atuação do Estado no ramo, mantendo e
provendo a organização das políciasmilitares e civis, e ainda o Corpo de Bombeiros
Militar,além dos demais crimes comuns, de competência da jurisdição estadual (LAMBERT,
2018).
3.2 A SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
A Constituição Federal, conhecida popularmente como Constituição Cidadã,
caracterizada em seu modelo estatal pela ampla proteção às pessoas e ao bem-estar, tornando
o Brasil um dos primeiros a alçar como garantia constitucional a qualidade de vida
(LAMBERT, 2018).
Esse reflexo inicia com o preâmbulo da Constituição Federal (BRASIL, 1988), que,
em que pese não exista força normativa ou vinculante, estabelece uma cadeia principiológica
adotada pelo Estado em sua formação, veja-se:
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (Grifo nosso)
Em que pese se tratar de texto introdutório, acentuam Sarlet et al (2019, p. 84-85) que
o preâmbulo de uma Constituição é formado pelas posturas valorativas, suas convicções,
motivações que o Estado adotará nas normas subsequentes.
30
Não só seus ideais, eles representam o aspecto histórico em que a nova Constituição
foi elaborada, e não só isso, asseguram a legitimidade daquele poder constituinte originário, a
fim de enunciar os objetivos e promessas do Estado para com o povo (SARLET et al. 2019, p.
84-85).
Essa promessa vem em consonância com a formação em Estado Democrático de
Direito e os fundamentos da República Federativa do Brasil, expressos no artigo 1º,
precisamente quanto à dignidade da pessoa humana:
Uma primeira função, aqui vinculada à sua condição de valor e princípio, diz com o
fato de a dignidade da pessoa humana ser considerada elemento que confere unidade
de sentido e legitimidade a uma determinada ordem constitucional. De acordo com
Jorge Miranda, aqui representando expressiva parcela da doutrina constitucional
contemporânea, a Constituição, ao reconhecer e proteger a dignidade da pessoa
humana, confereuma unidade de sentido, de valor e de concordância prática ao
sistema de direitos fundamentais e ao sistema constitucional, o que implica um dever
de interpretação de todaa ordem jurídica em conformidade com tais fundamentos.
(SARLET et al. 2019, p. 84-85).
A partir disto, surge a segurança pública como exercício em prol do bem da
coletividade, Queiroz (2019) entende que o principal bem jurídico tutelado pela segurança
pública é a liberdade, a possibilidade de prover os caminhos necessários à realização própria,
desde que respeitados os direitos dos demais, dentro da coletividade.
Assim, a proteção constante na segurança pública nada mais é que a forma que o
Estado encontrou de proteger a identidade, juntamente com os dons e propriedades
desenvolvidas por cada um, a fim de formar a sociedade pacífica e ordenada, fortalecendo a
liberdade, e a capacidade de ser pessoa (Queiroz, 2019).
Em continuação à análise constitucional, Lambert (2018) sustenta que o Estado
formado pelo Poder Constituinte originário de 1988 tem por razão de existir, tão somente a
satisfação das necessidades humanas, assegurando os direitos e liberdades individuais.
Art. 3º – Comstituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I – comstruir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988).
Prevista na Constituição Federal junto ao Título V, “Da Defesa do Estado e Das
Instituições Democráticas”, com um capítulo próprio contendo um único artigo, o 144, do
qual emana toda a essência constitucional, a segurança pública está voltada aos princípios
constitucionais que tangem a harmonia social (BRASIL, 1988).
31
Em uma primeira análise, o caput do artigo suso considera a segurança pública um dever
do Estado, direito e responsabilidade de todos.
Bulos (2018, p. 1480) enfatiza que para a concretização da ideia de convivência
harmônica e preservação dos direitos e garantias individuais e sociais, é necessário o controle
pelo Estado, que se caracteriza pela vigilância, prevenção e repressão das condutas tidas como
ilícitas, antijurídicas e reprováveis.
Moraes (2016, p. 854), retrata que a Constituição Federal previu a segurança pública
como um dever do Estado, que em conjunto com a responsabilidade dos cidadãos, objetivam
a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e patrimônios.
Ao passo que esses deveres se tornam direitos, a atuação e exercício da segurança
pública devem respeitar a livre manifestação de pensamentos, reprimindo qualquer conduta
abusiva (MORAES, 2016, p. 854).
Este é ponto de conflito, que gera a necessidade do exercício da segurança pública,
visto que a liberdade causa adversidades, pela pluralidade de seres em exercício da dita
liberdade, e o agrupamento destas pessoas e destas liberdades causam embate (Queiroz,
2019).
Demonstrado então a finalidade, e também conceito da segurança pública, a
preservação do equilíbrio social, dever do Estado, será exercida pela polícia, que pode se
apresentar de duas formas: (1) a polícia administrativa, que tem por objetivo a proteção da
liberdade e propriedade e; (2) a polícia judiciária, esta por sua vez dividida em polícia
ostensiva e judiciária (BULOS, 2018, p. 1480).
Costa (2014) diferencia as polícias administrativa e judiciária na forma de atuação de
cada uma delas, a primeira, agindo preventivamente enquanto a segunda atua
repressivamente, ou seja, a polícia administrativa tem por objetivo impedir a conduta
delituosa e a polícia judiciária investiga os fatos ocorridos.
A polícia judiciária tem corporações específicas: a Polícia Civil com o exercício de
investigação dos fatos já corridos, enquanto a Polícia Militar que tem atuação repressiva e
ostensiva, a serem estudadas posteriormente (COSTA, 2014).
3.3 SEGURANÇA PÚBLICA, UM DEVER DE TODOS
Ocorre que a segurança pública, conforme o texto constitucional, não é dever só ao
Estado e direito dos cidadãos, mas também como um dever e responsabilidade comum a
todos, isto porque as adversidades no bem social são causadas justamente pelas interações
32
entre as pessoas, sendo necessário uma abordagem mais ampla, abarcando a humanidade de
forma mais efetiva, como retrata Queiroz (2019):
São esses os pilares de uma capacidade de resposta adequada às adversidades,
considerando sua energia agregadora. De modo similar, são estas as qualidades de
tratamento ao problema da criminalidade, considerando que falta ao Poder Público,
por meio de seus agentes, o comprometimento com as realidades sociais injustas
vivenciadas
Afirma ainda que as relações interpessoais acabam por gerar distorções de valores, face à
defesa de interesses particulares sobre os interesses da coletividade, fazendo com que as ações
tomadas possam se consolidar de forma contraposta ao bem-estar do grupo social, e por isso,
a segurança pública transcende a atuação Estatal (QUEIROZ, 2019).
Lambert (2018) relembra que a segurança pública, de forma integral, e que é adotada no
ordenamento jurídico brasileiro, bem como defendido pela Organização das Nações Unidas
(ONU), tem por objetivo inserir uma “Segurança Cidadã”, com a promoção e tutela de
Direitos Humanos.
Em 24 de outubro de 2007, entrou em vigor a Lei n. 11.530, que institui o Programa
Nacional de Segurança Pública com Cidadania – PRONASCI (BRASIL, 2007), e em seu
artigo 1º, celebra a cooperação entre a União e demais entes federados, com a participação das
famílias e comunidade, por meio de programas, projetos e ações de assistência técnica e
financeira, com a mobilização social, com o fito de melhorar a Segurança Pública.
Em referência ao Relatório de Atividades: Implantação do Sistema Único de Segurança
Pública (BRASIL, 2007), observa-se o processo de reforma das polícias brasileiras, com a
implantação do Sistema Único de Segurança Pública, e nele consta o conceito de Segurança
Cidadã, pactuado:
Segurança Cidadã - é a segurança pública integral, que promove osdireitos humanos,
transforma - com a participação efetiva do mundo acadêmico - pela educação em
segurança cidadã, sistematiza o arcabouço do conhecimento dos vários atores do
sistema de segurança, indo além do tradicional sistema policial. Garante o
planejamento, a prevenção e a repressão qualificada de forma a propiciar uma
sociedade livre, democrática, num ambiente multicultural, multirracial e
multidisciplinar. A segurança cidadã estimula a adoção de tecnologias sociais que
visam a resolução pacífica dos conflitos, o fortalecimento da família, a proteção às
mulheres, aos idosos, às minorias, garante as políticas públicas deprevenção
determinadas pelo governo, primando pela observância permanenteda contribuição
das universidades, através de seus estudos acadêmicos e científicos.
Assim, conforme se extrai do referido relatório, fomentou-se a segurança pública
brasileira com ações estruturadas por sete eixos estratégicos e convergentes: a gestão do
conhecimento, reorganização institucional, formação e valorização profissional, prevenção,
33
estruturação da perícia, controle externo e participação social, e programas de redução da
violência (BRASIL, 2007).
Nesta mesma toada, a articulação das ações de segurança pública para prevenção,
controle e repressão da criminalidade, com as devidas ações políticas e sociais para a proteção
das vítimas, estão galgadas em diretrizes descritas no artigo 3º da Lei 11.530/2007 (BRASIL,
2007), com redação dada pela Lei 11.707/2008:
Art. 3º – São diretrizes do Pronasci:
I – promoção dos direitos humanos, intensificando uma cultura de paz, de apoio ao
desarmamento e de combate sistemático aos preconceitos de gênero, étnico, racial,
geracional, de orientação sexual e de diversidade cultural;
II – criação e fortalecimento de redes sociais e comunitárias;
III – fortalecimento dos conselhos tutelares;
IV – promoção da segurança e da convivência pacífica;
V – modernização das instituições de segurança pública e do sistema prisional;
VI – valorização dos profissionais de segurança pública e dos agentes penitenciários;
VII – participação de jovens e adolescentes, de egressos do sistema prisional, de
famílias expostas à violência urbana e de mulheres em situação de violência;
VIII – ressocialização dos indivíduos que cumprem penas privativas de liberdade e
egressos do sistema prisional, mediante implementação de projetos educativos,
esportivos e profissionalizantes;
IX – intensificação e ampliação das medidas de enfrentamento do crime organizado
e da corrupção policial;
X – garantia do acesso à justiça, especialmente nos territórios vulneráveis;
XI – garantia, por meio de medidas de urbanização, da recuperação dos espaços
públicos;
XII – observância dos princípios e diretrizes dos sistemas de gestão descentralizados
e participativos das políticas sociais e das resoluções dos conselhos de políticas
sociais e de defesa de direitos afetos ao Pronasci;
XIII – participação e inclusão em programas capazes de responder, de modo
consistente e permanente, às demandas das vítimas da criminalidade por intermédio
de apoio psicológico, jurídico e social;
XIV – participação de jovens e adolescentes em situação de moradores de rua em
programas educativos e profissionalizantes com vistas na ressocialização e
reintegração à família;
XV – promoção de estudos, pesquisas e indicadores sobre a violência que
considerem as dimensões de gênero, étnicas, raciais, geracionais e de orientação
sexual;
XVI – transparência de sua execução, inclusive por meios eletrônicos de acesso
público; e
XVII – garantia da participação da sociedade civil.
Queiroz (2018) finaliza estabelecendo o vínculo entre a responsabilidade do Estado e o
papel da comunidadepara com a segurança pública, considerando as normas constitucionais,
sendo o poder público provedor dos instrumentos para estruturar as relações sociais, a criação
de elos entre as pessoas e a atuação do poder público.
Para tanto, retrata que a efetividade das ações realizadas pelo poder público está
sempre acompanhada dos atos praticados pela sociedade, pela formação da identidade e
valores próprios da coletividade e seu autocontrole.
Conclui Nucci (2016):
34
Considerando-se os direitos humanos de terceira geração, especificamente, o direito
à solidariedade, havemos de entender o compromisso de todos nós em face da
segurança pública. É importante cuidar, zelar, denunciar, fiscalizar, acompanhar e
vistoriar tudo o que se refere ao interesse público. Desse modo, havemos de prestar a
devida atenção tanto à vítima do crime quanto ao agente do delito, para que não se
instaure um tribunal de exceção, como se dá, por exemplo, na hipótese de um
linchamento.
Por fim, Lambert (2019) acredita que o compromisso dos governos, seja ele a União,
Estados ou Municípios, estejam integrados em movimentos coordenados de programas,
projetos e campanhas de cunho social, no intuito de realizar a mobilização comunitária para a
percepção da sociedade de sua parcela de responsabilidade.
3.4 OS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA
O braço do Estado a quem foi concedida a competência pra exercer a tutela da
segurança pública é a polícia, que possui a legitimidade de submeter as pessoas às normas e
regulamentos da sociedade, pela vigilância e autoridade, as quais foram pactuadas na
Constituição Federal, e ainda por meio da legislação infraconstitucional (MARTINS;
COLPANI, 2011, p. 49).
Como forma de legitimar a atuação do Estado na segurança pública, em sua parcela de
responsabilidade, a Constituição Federal elencou no artigo 144 órgãos responsáveis,
estabelecendo a competência para a formação de cada um deles, conforme será visto a seguir
(BRASIL, 1988).
3.4.1 Polícia Federal
A Polícia Federal é o primeiro órgão previsto no artigo 144 da Constituição Federal, e
sua estrutura legal está prevista no Decreto n. 73.332, de 19 de dezembro de 1973.
Subsidiariamente, a Portaria n. 155, de 27 de dezembro de 2018, do Ministério da
Justiça, institui o Regimento Interno da Corporação, enquanto a Portaria n. 3997/2013-
DG/DPF, de 24 de outubro de 2013, define as circunscrições oficiais das Superintendências
Regionais e das Delegacias de Polícia Federal Descentralizadas.
A Instrução Normativa n. 013/2005-DG/DPF, de 15 de junho de 2005, define as
competências específicas das unidades centrais e descentralizadas do Departamento de Polícia
Federal e as atribuições de seus dirigentes.
Alexandre de Moraes (2016) esclarece:
35
Polícia federal: deve ser instituída por lei como órgão permanente, organizado e
mantido pela União e estruturado em carreira. Destina-se a: apurar infrações penais
contra a ordem pública e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da
União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras
infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija
repressão uniforme, segundo se dispuser em lei, prevenir e reprimir o tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da
ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; exercer, com
exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
A afirmação está em consonância com a redação do §1º do artigo 144, que preconiza a
competência e delimita a área de atuação da Polícia Federal.
Tem por missão exercer “[...] as atribuições de polícia judiciária e administrativa da
União, a fim de contribuir na manutenção da lei e da ordem, preservando o estado
democrático de direito”, com a visão estabelecida pela organização de tornar-se referência em
Ciência Policial.
Disposto na Portaria n. 4.453/2014-DG/DPF, de 16 de maio de 2014, a Polícia Federal
é composta por cinco valores, a coragem, lealdade, legalidade, ética e probidade, e respeito
aos Direitos Humanos, a saber:
Coragem - Possuir a capacidade e a iniciativa de agir no cumprimento de dever em
situações extremas, ainda que com risco à própria vida.
Lealdade - Cultuar a verdade, a sinceridade e o companheirismo, mantendo-se fiel às
responsabilidades e aos compromissos assumidos.
Legalidade - Comprometer-se com a democracia e com o ordenamento jurídico
vigente, sublimando a determinação de defender os interesses vitais da União.
Ética e Probidade - Desenvolver práticas de gestão e padrões de trabalho calcados
em preceitos éticos e morais, pautados pela honradez, honestidade e constante busca
da verdade.
Respeito aos Direitos Humanos - Alicerçar atitudes, como servidor e cidadão, na
preservação dos princípios basilares de respeito aos Direitos Humanos.
Por fim, os agentes públicos da Polícia Federal devem ser portadores valores éticos e
morais firmados por solenidades que determinam diretrizes da atuação de cada servidor de
polícia, no exercício de suas funções ou fora dele, sendo eles o Juramento do Policial Federal,
“que consiste na sagrada promessa de um compromisso consciente, moral e ético assumido
em declaração solene”, os Preceitos Éticos, que são “normas de conduta, princípios,
fundamentos e valores morais” e a Oração do Policial Federal, sendo a “súplica religiosa do
homem de polícia, de livre manifestação, para que se sinta espiritualmente confortado,
protegido e em perfeita sintonia com a Lei e a sua crença no Criador” (BRASIL, [2014]).
A Polícia Federal presta serviços de segurança pública com atividades referentes a
aeroportos, acordos de cooperação, adoção internacional, migração e imigração, Passaporte,
Produtos Químicos, Segurança Privada, Segurança Portuária, Sigilo Bancário, entre outros.
36
Vinculados ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, a carreira da Polícia Federal
é regulamentada pela Lei n. 9.266/1996, compondo o quadro de funcionários os cargos de
Delegados de Polícia Federal, Perito Criminal Federal, Escrivão de Polícia Federal, Agente de
Polícia Federal e Papiloscopista Policial Federal (SOUZA NETO, 2007).
3.4.2 Polícia Rodoviária Federal
Com previsão no artigo 144, II, da Constituição Federal, a Polícia Rodoviária Federal
é o órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se
ao patrulhamento ostensivo da malha rodoviária federal. nos termos da Lei n. 9.654, de 2 de
junho de 1998 (BULOS, 2018, p. 1481).
De acordo com informações do Ministério da Infraestrutura do Brasil, a malha
rodoviária federal possui cerca de 75,8 mil km, e destas, 65,4 mil km estão pavimentadas,
sendo responsáveis por 65% das movimentações das cargas, isso no ano de 2015
(MINISTÉRIO DA INFRAESTRUTURA, 2019).
Em termos de fiscalização, as rodovias têm características específicas, visto que 12%
da malha rodoviária está sob administração de concessões reguladas pela Agência Nacional
de Transportes Terrestres (ANTT), que tem por função a supervisão e fiscalização da
prestação de serviços e de exploração da infraestrutura de transportes (MINISTÉRIO DA
INFRAESTRUTURA, 2019).
Esta atribuição é concorrente com o Ministério da Infraestrutura, que supervisiona os
órgãos de controle com competência nesta área, e se dá por meio de orientação, coordenação e
controle das atividades de órgãos como a Secretaria Nacional de Transportes Terrestres
(SNTT) e a Secretária de Fomento, Planejamento e Parcerias (SFPP), além da ANTT
(MINISTÉRIO DA INFRAESTRUTURA, 2019).
A Polícia Rodoviária Federal surge neste ínterim, para promover a segurança das
rodovias federais, juntamente com as outras corporações policiais do Estado acima
mencionadas, atuando em patrulhamento ostensivo, para fiscalização e restrição do trânsito e
produtos perigosos, atendimento a acidentes ocorridos nas rodovias federais, e ainda na
educação de trânsito, por orientações de viagens, dentre outras práticas (POLÍCIA
RODOVIÁRIA FEDERAL, [2020]).
Para a promoção da segurança pública, a Polícia Rodoviária Federal carrega como
missão a proteção da vida, com atuação nas rodovias federais e áreas de interesse da União,
cuja visão é de ser referência em inovação, integração e conhecimento na segurança pública, e
37
os valores institucionais são integridade, respeito, profissionalismo, excelência e transparência
(POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL, [2020]).
Embora exista atuação ostensiva nesta instituição, e uso de uniformes por parte de seus
agentes, a Polícia Rodoviária Federal é órgão de Polícia Civil, e suas competências estão
descritas no artigo 20 do Código de Trânsito Brasileiro. O Plano de Carreira é composto pelas
classes de Inspetor, Agente Especial e Agente, conforme previsto na Lei n. 9.654/1998
(SOUZA NETO, 2007).
3.4.3 Polícia Ferroviária Federal
O terceiro órgão discriminado no artigo 144 da Constituição é a Polícia Ferroviária
Federal, permanente e organizado pela União, também estruturado em carreira, destina-se, na
forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
Porém, como rememora Bulos (2018, p, 1482), o Supremo Tribunal Federal
reconheceu que, tão somente a previsão constitucional não legitima a investidura nos cargos
da carreira de Polícia Ferroviária Federal, isto porque, não há estruturação do referido
departamento policial.
Isso se dá em razão do disposto no §7º, do Artigo 144 da Constituição Federal, que
determina a necessidade de regulamentação, por meio de Lei, que disciplinará a organização e
o funcionamento dos órgãos responsáveis pela Segurança Pública.
Contudo, desde a promulgação da Carta Magna, em 1988, ainda não houve a
elaboração da referida lei, acarretando diversos efeitos jurídicos, como a proibição dos
servidores públicos atuantes na segurança da malha ferroviária em portar armas, e estarem
caracterizados. Além disso, a falta de regulamentação legal impede o concurso público e
investidura, sequer existindo a carreira pública desta Instituição (FUNÇÃO..., 2019).
3.4.4 Polícias Civis
Primeira organização de polícia em nível estadual, as Polícias Civis foram elencadas
no artigo IV da Constituição Federal, e conforme o §4º a elas “incumbem, ressalvada a
competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,
exceto as militares” (BRASIL, 1988).
O Delegado de Polícia aposentado Antonio Edison Francelin (2015) retrata que a
Polícia Civil é corporação eminentemente civil, com agentes dotados de conhecimentos sobre
38
investigação de fatos delituosos já cometidos, ou seja, após a concretização do ato, têm por
escopo a elucidação da existência da materialidade e autoria.
A Polícia Civil de Santa Catarina (POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SANTA
CATARINA), em seu sítio eletrônico oficial, esclarece:
A Polícia Civil combate o crime através da complexa atividade de Investigação
Criminal. Há diversos sistemas de prevenção, entretanto, a Polícia Civil age quando
outras barreiras preventivas não deram resultado. A principal atribuição da
Instituição é a apuração das circunstâncias do evento criminoso e identificação de
seus responsáveis.
A corporação da Polícia Civil é composta por Delegado de Polícia, Agente de Polícia,
Escrivão de Polícia, e a depender da matéria investigada, psicólogo policial, e sua atuação se
dá de forma intensiva e investigativa, no papel de Polícia Judiciária. (FRANCELIN, 2015).
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul (POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL), também em seu sítio eletrônico oficial, elenca diversas atribuições,
referentes à investigação e àsegurança pública que promove:
I – exercer as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto
as militares;
II – determinar a realização de exames periciais, providenciando a adoção de
medidas cautelares, visando a colher e a resguardar indícios ou provas da ocorrência
de infrações penais ou a assegurar a execução judicial;
III – praticar os atos necessários para assegurar a apuração de infrações penais,
inclusive a representação e o cumprimento de mandado de prisão, a realização de
diligências requisitadas pelo Poder Judiciário ou pelo Ministério Público nos autos
do inquérito policial e o fornecimento de informações para a instrução processual;
IV – zelar pela ordem e segurança pública, promovendo ou participando de medidas
de proteção a sociedade e ao indivíduo;
V – colaborar para a conveniência harmônica da sociedade, respeitando a dignidade
da pessoa humana e protegendo os direitos coletivos e individuais;
VI – adotar as providências necessárias para evitar perigo ou lesões as pessoas e
danos aos bens públicos ou particulares; e
VII – organizar, executar e manter serviços de registro, cadastro, controle e
fiscalização de armas, munições e explosivos, e expedir licença para as respectivas
aquisições e portes, na forma da legislação pertinente;
A segurança pública é exercida pela Polícia Civil na atividade investigativa, utilizando
métodos, técnicas e tecnologias, agregadas ao conhecimento jurídico a fim de formular a
elucidação do fato investigado, e o Inquérito Policial será encaminhado ao Poder Judiciário,
para o devido processamento e posterior responsabilização.
Sobre a atuação da Polícia Civil, conclui Francelin (2015):
Todavia, se porventura, ocorrer uma falha e crimes aflorarem, vem a Polícia Civil,
incumbida através de preceito constitucional nas funções de polícia (repressiva e
judiciária), no teor investigativo, com o escopo da apuração das infrações penais.
Se a autoria é conhecida, havendo o sujeito passivo e o sujeito ativo, instaurado o
competente Inquérito Policial, carreando as provas e materialidade do delito nos
39
autos, liame da autoria, remete-se a juízo para a devida condenação ou quiçá, a
absolvição. Se a autoria for desconhecida, com a competente investigação, advirá a
autoria, concluído o procedimento inquisitório, seguirá o mesmo caminho na esfera
judicial.
3.4.5 Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares
Bulos (2018, p. 1482), em anotações feitas ao artigo 144, V, da Carta Maior, esclarece
que Polícias Militares realizam o “policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública”,
enquanto aos Corpos de Bombeiros Militares, dentre as demais atribuições, está a “execução
de atividades de defesa civil”.
Também vinculada aos Poderes Executivos do Estados-membros e do Distrito Federal,
caberá à Polícia Militar a realização do policiamento ostensivo, ou seja, antes da ocorrência
de um evento delituoso como explica Sannini Neto (2013).
Francelin (2015) ainda destaca a função preventiva da atividade ostensiva:
As viaturas com dois ou até quatro policiais, patrulham as ruas de uma cidade, sendo
que ao passar geram o respeito e a incolumidade ao cidadão ordeiro e de bem.
Portanto, vemos na atuação da Polícia Militar, uma seara de valor no policiamento
preventivo, evitando a ocorrência de crimes, inibindo as infrações tanto penais,
como administrativas, mormente no trânsito (moderação na velocidade, respeito aos
sinais semafóricos e aos pedestres, mão correta de direção, estacionamento regular,
etc.).
A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar são órgãos subordinados aos
governadores dos estados, que seguem o modelo adotado nas Forças Armadas, com
organização da carreira no sistema de patentes, e fundado nos princípios da hierarquia e
disciplina, e são caracterizadas por serem forças auxiliares e reserva do Exército (SOUZA
NETO, 2007).
Importante lembrar que a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar poderão sim,
exercer a atividade Polícia Judiciária ou investigativa, mas, tão somente em caso de infrações
penais militares, disciplinadas de acordo com o Código Penal Militar e o Código de Processo
Penal Militar (SANNINI NETO, 2013).
A Polícia Militar de Santa Catarina, a exemplo, informa que a Corporação existe no
estado para proteger, e suas ações são tomadas a fim de “garantir que o risco real e a
percepção de risco para crime, violência e desordem sejam aqueles socialmente desejados e
aceitos” (ANEXO A).
A imagem de instituição reconhecidamente legítima, a Polícia Militar de Santa
Catarina fomenta ações efetivas, com serviços de excelência, confiável nas crises e promotora
40
dos Direitos Humanos, com operacional baseado na ostensividade, proximidade, proatividade,
pronta resposta, ação sobre as causas e demais parcerias (ANEXO A).
Cabe destacar que a Polícia Militar adota programas institucionais com intuído de
conscientização e prevenção, como a “Rede Catarinense de Proteção à Mulher”, a “Rede de
Vizinhos”, “Rede de Segurança Escolar” e o “Programa Educacional de Resistência às Drogas
e Violência – PROERD”, os quais têm por objetivo a aproximação da sociedade a sua
responsabilidade para com a Segurança Pública em cooperação com a Polícia Militar.
3.4.6 Polícias Penais Federal, Estaduais e Distrital
A alteração mais recente artigo 144 da Constituição Federal, cuida da inclusão do
inciso VI e §5º-A, que se deu por meio de Emenda Constitucional n. 104, de 2019, que
acrescentou ao texto da Magna Carta com status de Polícia, a Polícia Penal, com objetivo de
promover a segurança dos estabelecimentos penais, vinculadas ao órgão administrador do
sistema penal da unidade federativa a que pertencem.
Dentre os efeitos causados, é necessidade o provimento dos cargos de agentes
penitenciários, agora policiais penais, por concurso público, vedando a prática comum de
agentes penitenciários por tempo determinado – ACTs. (AGNALDO BASTOS
ADVOCACIA ESPECIALIZADA, 2020).
Na atividade fim, a grande mudança é a legitimidade destes agentes públicos em
atividades de guarda e escoltas, geralmente realizadas pela Polícia Civil e/ou Militar, sendo a
atuação em Segurança Pública precisamente junto às unidades prisionais, a depender do
Órgão Administrativo da Unidade Federativa que estejam vinculados, esclarece Herbert
Resende (2019).
Neste contexto, serão observadas, no próximo capítulo, as funções extrajudiciais do
Ministério Público na fiscalização dos serviços de relevância pública e precisamente o
controle externo da atividade policial.
41
4 A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM CONTROLE EXTERNO DA
ATIVIDADE POLICIAL
Frente à apresentação realizada no tocante ao contexto histórico e estrutural do
Ministério Público, e após análise acerca da segurança pública, seu ordenamento
constitucional e os órgãos componentes, será verificada a atuação do Ministério Público em
controle externo da atividade policial.
4.1 O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO GARANTIA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE
DIREITO
A Constituição Federal de 1988 foi elaborada em substituição à editada no período
militar que a antecedeu, enfrentando diversos desafios que o País de histórica instabilidade
política e dificuldade de pôr em supremacia as normas constitucionais.
Portanto, a Constituição Federal de 1988 buscou respaldar suas normas no fomento à
estabilidade política, dificultando as rupturas institucionais e prevendo a resolução de crises
que pudessem afrontar a democracia (FINGER, 2010, p. 84).
A exemplo disto, estão as cláusulas pétreas elencadas no artigo 60, §4º, prevendo que
não será objeto de deliberação a proposta de emenda constitucional tendente a abolir a forma
federativa do Estado, o voto direto, secreto e universal, a separação dos Poderes e os direitos e
garantias individuais (BRASIL, 1988).
Ademais, o artigo 1º, caput, da Constituição de 1988 institui a República Federativa
do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constituindo um Estado Democrático de Direito.
Nestes termos, o constituinte apresentou uma fórmula composta por princípios
estruturantes de um Estado Democrático, Social e Ambiental, interdependentes e articulados
entre si.
Estes princípios trazem a veiculação do ordenamento jurídico à supremacia
constitucional, a legalidade e a segurança jurídica, dando forma ao conteúdo e ao princípio do
estado de direito (SARLET et al. 2019, p. 276).
Este ordenamento jurídico primordial é retratado pelos princípios e garantias
fundamentais, que buscam a limitação do poder estatal e a proteção da coletividade, por meio
da separação dos Poderes e o Estado de Direito.
42
As leis que decorrem do ordenamento jurídico infraconstitucional são elaboradas pelo
pacto social, visto que o Poder emana única e exclusivamente do povo, que exerce por meio
dos representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição Federal (ADVOCACIA
GERAL DA UNIÃO, 2018).
Desta forma, conclui-se que o Estado Democrático de Direito é a conexão entre os
Estado de Direito e o princípio democrático, elencados respectivamente no caput e no
parágrafo único do artigo 1º Constituição da República Federativa do Brasil.
Este por sua vez se efetiva pela incorporação dos princípios jurídicos, realização
material dos direitos fundamentais, separação dos Poderes, fundadas na soberania popular.
Para a realização e proteção destes princípios constitucionais, se faz necessário a
atuação de instituições políticas, com capacidade para transitar entre os Poderes e a sociedade
em si.
Assim, no ordenamento jurídico Pátrio, o Ministério Público recebeu em sua
regulamentação constitucional uma das maiores inovações, diverso do que se apresentava nas
Constituições anteriores.
Isto em razão da atribuição, pela primeira vez, dada a uma Instituição pertencente ao
Estado, desvinculada dos três Poderes, de fiscalização e defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Ademais, presente está o zelo pelo respeito à divisão dos poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário, dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na Carta
Magna, e ainda, à proteção ao patrimônio público e social.
A partir desta comunicação entre os princípios do Estado de Direito e do princípio
democrático, previsto o artigo 1º da Constituição Federal, a busca pela efetividade da nova
tarefa Constitucional atribuída ao Ministério Público teve suas dificuldades.
Dentre eles, a estrutura social e política historicamente consolidada se tornou um
grande desafio, visto a característica do Brasil, antropológica e sociológica de
patrimonialismo, com confusão entre entes públicos e privados, corrupção e hierarquização
social (LAZZARINI, 1991).
Essa conjuntura social e histórica é antagônica ao que preceitua o modelo republicano,
e consequentemente, de qualquer Instituição que o promova ou o defenda, sendo resistência
direta ao projeto democrático.
Contudo, a estruturação jurídica que trouxe a Constituição Federal de 1988,
estruturando os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e o ordenamento jurídico vigente,
43
reconheceram o Ministério Público, e deram-lhe a legitimidade para propor ações em defesa
dos direitos que concernem à cidadania (FINGER, 2010, p. 84).
A partir disto, ocorre o conflito entre os princípios da unidade e da independência
funcional, uma vez que o primeiro estabelece que o Ministério Público é órgão uno, e que os
seus membros fazem parte de uma mesma Instituição sob única chefia, o segundo
compreende que os membros em si, são subordinados tão somente à lei de acordo com a sua
consciência, pelo livre convencimento motivado.
Além disso, as vertentes do Ministério Público também não se comunicam, ora que os
Ministérios Públicos estaduais, Federal, do Distrito Federal e Territórios, Militar, do
Trabalho, podem possuir diretrizes próprias de atuação em sua administração, não estando
adstrito entre si (FINGER, 2010, p. 85).
Consequentemente, a ideia da independência funcional passou a abranger não só a
autonomia dos membros, mas também a autonomia administrativa das instituições
desvinculadas.
Não obstante, a conjuntura formada é de fundamental importância para a defesa da
cidadania, uma vez que a autonomia permitiu que a gestão administrativa garantisse, mais
ainda, e conforme a especificidade da atuação dos Ministérios Públicos, na proteção do
Estado Democrático de Direito (FINGER, 2010, p. 87).
4.2 A FUNÇÃO CUSTUS LEGIS
A configuração proposta pela Constituição Federal de 1988, no tocante à capacidade
postulatória do Ministério Público, entre as diversas áreas de atribuição, pode se distinguir
entre duas naturezas na relação processual, na condição de “dominus litis” ou “custos legis”.
Esclarece Garcia (2017, p. 282), que o termo “dominus litis” tem por significado
“senhor da lide”, e refere-se à atuação do Ministério Público junto ao processo quando
postulam no polo ativo da demanda, em especial na Ação Penal Pública, da qual é titular.
A figura do “dominus litis” está arraigada de preconceitos históricos, visto que o
Ministério Público, desde o seu surgimento até as suas mais diversas facetas desenvolvidas na
sociedade, tem por atribuição a acusação nos processos penais, seja qual for o modelo adotado
(BARAZAL, 2013).
Esta titularidade privativa da Instituição, que inicia o ius puniendi estatal, passa a estar
separado aquele que acusa e o que julga, todavia, ambos são braços do Estado, e estão
disciplinados desta forma por estarem amplamente ligados à segurança.
44
O início da atividade ministerial é resultado da conclusão da investigação criminal,
realizado majoritariamente pelas Polícias Judiciárias, e daí também decorrem a legitimidade
para requerer junto ao Poder Judiciário medidas acautelatórias e outros incidentes processuais
(MARTINS JUNIOR, 2015).
Relembra o Advogado Criminalista Carlos Felipe de F. Guimares (2019):
Durante as investigações o Parquet pode participar efetivamente, seja presidindo a
investigação – por meio dos Procedimentos Investigatórios Criminais – ou mesmo
atuando nos Inquéritos Policiais. A atuação vai desde a requisição de diligências até
representação por medidas cautelares, como interceptação telefônica, quebra de
sigilo fiscal e prisões cautelares.
Na Condição de “dominus litis”, o Superior Tribunal de Justiça reconhece a
capacidade postulatória do Ministério Público juntamente com a discricionariedade do Órgão
de execução em ingressar com a competente ação, se entender possível e cabível, como
consequência a vedação, ao magistrado, de determinar o arquivamento de inquérito, veja-se:
PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. ARQUIVAMENTO DE
INQUÉRITO DE OFÍCIO PELO MAGISTRADO. INADMISSIBILIDADE.
PRECEDENTES. AGRAVO DESPROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte
Superior de Justiça é no sentido de que compete ao Ministério Público, na
condição de dominus litis, promover a ação penal pública, avaliando se as
provas obtidas na fase pré-processual são suficientes para sua propositura, por
ser ele o detentor do 'jus persequendi'. Portanto, não cabe ao magistrado assumir
o papel constitucionalmente assegurado ao órgão de acusação e, de ofício,
determinar o arquivamento de inquérito ou peças de informação. 2. Agravo
regimental desprovido. (BRASIL, 2017) (Grifo nosso)
De outro norte, o que define o termo “custos legis” é a atuação do Ministério Público
como “guardião da lei”, que exerce nas ações judiciais de forma interveniente, nem sempre
figurando em algum polo da lide, mas sim, fiscalizando a aplicação do ordenamento jurídico e
do regime democrático (GARCIA, 2017, p. 283).
Emerson Garcia (2017, p. 283) leciona:
A atuação do MinistérioPúblico deve ser direcionada à consecução das regras e dos
princípios inerentes ao sistema, sendo legitimo que, em dado momento, insurja-se
contra preceito legal incompatível com as normas de estamento superior em que
deveria auferir seu fundamento de validade (v. g.: incompatibilidade entre a lei e a
Constituição).
Barazal (2013) sustenta ser necessário deixar de tratar o Ministério Público única e
exclusivamente como parte, pois antes mesmo da atividade acusatória, tem a Instituição por
dever a proteção do Estado Democrático de Direito, frisando:
[...] já que antes de autor exerce a função de custos legis. Isso demonstra que o
Ministério Público ao verificar a incorreção de elementos nos quais se baseou para a
45
promoção da ação penal, deve buscar a absolvição do réu, inclusive se necessário,
apelando para a Instância Superior.
Câmara (2006 apud Tapety, 2012), aponta que, diferentemente da função “dominus
litis”, o Ministério Público como fiscal da lei estabelece relação imparcial na lide,
desvinculado de qualquer das partes:
De acordo com tal hipótese, o Parquet não está vinculado anenhum interesse das
partes, devendo limitar-se apenas à corretaaplicação do Direito.
Câmara (2006, p. 223) enfatiza:
Ao atuar como fiscal da lei, e como indica a própria nomenclatura tradicionalmente
empregada, o Ministério Público exercerá afunção de órgão responsável por velar
pela justiça e legalidade dadecisão judicial, fiscalizando assim a atuação da vontade
da lei peloEstado-juiz. Atua, pois, como órgão imparcial. Note-se que
estaimparcialidade está presente em todas as hipóteses de intervenção, podendo o
MP, por exemplo, recorrer de uma sentença injusta ouilegal que tenha sido proferida
e que se revele favorável ao incapaz.
O MP não atua no processo, nesta hipótese, como assistente doincapaz, mas como
fiscal da atuação da vontade do Direito.
Ressalte-se que, conforme decidido pelo Pretório Excelso, o Ministério Público pode
atuar, ao mesmo tempo como “dominus litis” e “custos legis”, sem que isto ofenda os
princípios do devido processo legal e do contraditório:
CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS. FUNÇÕES ESSENCIAIS E
INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO (ARTIGOS 127 E 129 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL). NÍTIDA DISTINÇÃO ENTRE A ATUAÇÃO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO COMO DOMINUS LITIS, AO OFERECER
CONTRARRAZÕES À APELAÇÃO DA DEFESA E, COMO CUSTOS LEGIS,
AO OFERTAR PARECER NOS AUTOS DO RECURSO. AUSÊNCIA DE
OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL E DO
CONTRADITÓRIO. 1. O Procurador de Justiça, ao ofertar parecer em recurso de
apelação no qual o Promotor de Justiça oferecera contrarrazões, não viola os
princípios do devido processo legal e do contraditório. 2. O Ministério Público tem
como uma de suas funções essenciais à garantia da ordem jurídica, atuando em prol
dela como custos legis (Constituição Federal, art. 127), mercê do exercício de uma
das funções institucionais que é a de promover, privativamente, a ação penal pública
(Constituição Federal, art. 129, I), situações que não se confundem. 3. Precedentes:
HC n. 81.436/MG, Rel. o Ministro Néri da Silveira, Segunda Turma, j. em
11/12/2001, e RE n. 99.116-6/MT, Rel. o Ministro Alfredo Buzaid, Primeira Turma,
DJ de 16/03/84. 4. Recurso em habeas corpus não provido (BRASIL, 2011).
Estas duas configurações fazem com que o Ministério Público tenha se tornado um
modelo institucional de referência, podendo exercer ambas as funções num mesmo
procedimento, garantindo a legalidade da persecução, seja penal seja civil, ganhando cada vez
mais novas imagens perante a sociedade, afirma Barazal (2013).
46
4.3 CAPACIDADE INVESTIGATÓRIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
A Magna Carta, no texto em que previu o Ministério Público e deu-lhes os status de
instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, previu como funções a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis.
O Promotor de Justiça Thiago Freitas Camelo (2017) afirma que no artigo 129 não
foram expressas a capacidade investigativa do Ministério Público e, em contrapartida, o
capítulo destinado à Segurança Pública incumbiu às Polícias Judiciárias a apuração das
condutas criminais, gerando divergência no entendimento quanto à exclusividade destas
instituições em detrimento daquela, posto a posição de “dominus litis” na ação penal pública
do Parquet.
Nesta seara, surgem posicionamentos diversos, em que doutrinadores e operadores do
Direito defendem ou refutam a intervenção do Ministério Público na investigação criminal e
na atuação das Polícias Judiciárias.
Guilherme Nucci (2018, p. 209) se posiciona:
O tema é, sem dúvida, controverso, comportando várias visões a respeito, mas
cremos inviável que o promotor de justiça, titular da ação penal, assuma, sozinho, a
postura de órgão investigatório, sem qualquer fiscalização, substituindo a polícia
judiciária e produzindo inquéritos visando à apuração de infrações penais e de sua
autoria. Esses procedimentos de investigação criminal (PIC), como regra, são
conduzidos em absoluto sigilo, sem nenhuma previsão legal acerca do
procedimento.
E o autor esclarece que suas considerações estão fundadas no fato de a Magna Carta
foi clara em prever órgãos específicos pela investigação dos fatos já ocorridos, servindo como
auxiliares ao Poder Judiciário, por isso chamada de Polícia Judiciária, enquanto ao Ministério
Público reservado à titularidade exclusiva da propositura da Ação Penal.
Os defensores da intervenção ministerial na investigação criminal elaboram sua teoria
a partir da leitura feita ao inciso IV, §4º, do artigo 144 da Constituição Federal, que trata do
exercício exclusivo das funções de polícia judiciária, na medida em que a expressão “com
exclusividade” refere-se exclusivamente entre as polícias em si, e não ao ato investigatório
(CAMELO, 2017).
Lenio Streck e Luciano Feldens (2005, p. 92-93 apud CAMELO, 2017) lecionam:
Logicamente, ao referir-se à “exclusividade” da Polícia Federal para exercer funções
“de polícia judiciária da União”, o que fez a Constituição foi, tão-somente, delimitar
as atribuições entre as diversas polícias (federal, rodoviária, ferroviária, civil e
47
militar), razão pela qual observou, cada uma delas, um parágrafo dentro do mesmo
art. 144.
Esta corrente também se vale do constante no artigo 58, §3º, da Magna Carta, que
delimita as Comissões Parlamentares de Inquérito – CPIs, em que o Poder Legislativo recebe
competência para investigação desta natureza, o que corrobora com a ideia de que não é
exclusividade na capacidade investigatória, e sim na atribuição entre as próprias polícias
(CAMELO, 2017).
Gize-se que, o Inquérito Policial sequer é essencial à propositura da ação penal,
podendo o Ministério Público ingressar com a persecução penal pela informação direta ao
órgão, se acompanhadas dos elementos indicativos da ocorrência delituosa, veja-se:
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME IMPUTADO A
AUTORIDADE POLICIAL. INQUÉRITO POLICIAL. AUSÊNCIA. NOTITIA
CRIMINIS DIRIGIDA AO MINISTÉRIO PÚBLICO. DECLARAÇÕES
PRESTADAS AO MINISTÉRIO PÚBLICO. BUSCA E APREENSÃO
REQUERIDA PELO MP. DENÚNCIA. POSSIBILIDADE. O inquérito policial não
constitui peça essencial e imprescindível à propositura da ação penal. Qualquer do
povo pode provocar a ação do Ministério Público, fornecendo-lhe elementos
indicativos de materialidade, autoria e de convicção, para fins de instauração da ação
penal pública (arts. 27 e 46, § 1º, do CPP). Pode o Ministério Público oferecer
denúncia com base em peças de informações fornecidas, inclusive, por qualquer
pessoa do povo, uma vez convencido da existência dos requisitos necessários à
propositura da ação (arts. 5º, § 3º, 27, 41 e 46, § 1º, do CPP). Negado provimento ao
Recurso. (BRASIL, 2006)
Analisa Thaise Barbosa e Silvaas consequências que podem acarretar a pela condição
inerte do Ministério Público frente à ação penal, caso assim fosse:
Esse sistema de investigação exclusivamente policial, que procura manter o
Ministério Público afastado e em uma postura inerte, de mero repassador da prova
colhida pela Polícia, causa inúmeros problemas de eficiência e celeridade em
determinadas apurações, contribuindo para o avanço do crime.
De fato, uma vez que se trata de atividade essencial à segurança pública, à defesa da
ordem jurídica e à mantença de direitos e liberdades fundamentais e, tendo em vista
que sua inadequada prestação pode acarretar prejuízos à persecução penal, urgente é
a interferência de um órgão capaz de contribuir para a melhoria na qualidade de sua
prestação.
Corroborando com a sustentação de que a intervenção ministerial é válida na
investigação, está a teoria dos poderes implícitos, que defendem serem as atribuições
elencadas na Constituição apenas limites, permitindo a ação em tudo o que for relacionado
com suas áreas de competências, se não vedado pela legislação, e ressalta Larissa Padilha
Roriz Penna (2015, p. 24):
Assim, as Constituições apenas dispõem sobre normas gerais acerca das atividades
dos poderes e órgãos que criam, cabendo a esses a utilização de mecanismos
48
necessários ao alcance de seus fins. Isto é, os órgãos possuem poderes essenciais ao
exercício da atividade-fim prevista na Constituição Federal (Colares, 2007)
Esta autora conclui que, em sendo o Ministério Público o titular da Ação Penal, em
consonância com o princípio da obrigatoriedade, nada impede que o órgão de execução
realize a colheita das provas que entender necessárias para a formação da opinio delicti, como
ensina Hugo Nigro Mazzilli (1997, p. 63 apud SILVA, 2013, p. 86):
No inc. VI do art. 129, da Constituição, cuida-se de procedimentos administrativos
de atribuição do Ministério Público – e aqui também se incluem investigações
destinadas à coleta direta de elementos de convicção para formar sua opinio
delicitis: se os procedimentos administrativos a que se refere este inciso fossem
apenas de matéria cível, teria bastado o inquérito civil de que cuida o inc. III.
O inquérito civil nada mais é do que um procedimento administrativo de atribuição
ministerial. Mas o poder de requisitar informações e diligências não se exaure na
esfera cível; atinge também a área destinada a investigações criminais.
E por fim, relembra Silva (2013, p. 85):
É notório que ao titular da ação penal é permitido oferecer denúncia prescindindo do
inquérito policial, bastando-lhe dispor de provas que reforcem o seu convencimento.
Também é sabido que a Lei Processual Penal confere a todo cidadão a faculdade de
provocar a iniciativa do Ministério Público, dando-lhe a notitia criminis que,
devidamente instruída, poderá servir de base à denúncia, dispensando o inquérito.
Essa discussão avançou até os Tribunais Superiores, havendo diversas ações sobre a
matéria, principalmente no Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição Federal, o
órgão máximo do Poder Judiciário pátrio.
Das decisões mais recentes e de maior relevância, tem-se o julgamento dos Embargos
de Declaração no Agravo Regimental no Recurso Especial n. 1.316.659 – MG
(2012/0077061-5), em que a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça confirmou a decisão do
ministro Marco Aurélio Belizze, no ano de 2013 (BRASIL, 2016):
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL. MINISTÉRIO PÚBLICO. PODERES DE
INVESTIGAÇÃO. LEGITIMIDADE. PREVISÃO CONSTITUCIONAL. ATUAL
ORIENTAÇÃO DO STJ E DO STF. DECISÃO MANTIDA POR SEUS
PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 1. O Ministério Público, por expressa previsão
constitucional, possui a prerrogativa de instaurar procedimento administrativo e
conduzir diligências investigatórias, podendo requisitar documentos e informações
que entender necessários ao exercício de suas atribuições. Precedentes desta Corte e
do STF. 2. A atuação do Ministério Público, no contexto da investigação penal,
longe de comprometer ou de reduzir as atribuições de índole funcional das
autoridades policiais - a quem sempre caberá a presidência do inquérito policial -,
representa, na realidade, o exercício concreto de uma atividade típica de cooperação,
que, em última análise, mediante a requisição de elementos informativos e
acompanhamento de diligências investigatórias, além de outras medidas de
colaboração, promove a convergência de dois importantes órgãos estatais
incumbidos, ambos, da persecução penal e da concernente apuração da verdade real.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
49
A consolidação do presente entendimento jurisprudencial ocorreu no ano de 2015, em
uma evolução do entendimento que já adotava o Pretório Excelso, no julgamento do Recurso
Extraordinário n. 593.727/MG, confirmou a possibilidade de o Ministério Público exercer
atividade investigatória, e nesta oportunidade, estabeleceu a amplitude e os seus requisitos de
validade.
Repercussão geral. Recurso extraordinário representativo da controvérsia.
Constitucional. Separação dos poderes. Penal e processual penal. Poderes de
investigação do Ministério Público. 2. Questão de ordem arguida pelo réu, ora
recorrente. Adiamento do julgamento para colheita de parecer do Procurador-Geral
da República. Substituição do parecer por sustentação oral, com a concordância do
Ministério Público. Indeferimento. Maioria. 3. Questão de ordem levantada pelo
Procurador-Geral da República. Possibilidade de o Ministério Público de estado-
membro promover sustentação oral no Supremo. O Procurador-Geral da República
não dispõe de poder de ingerência na esfera orgânica do Parquet estadual, pois lhe
incumbe, unicamente, por expressa definição constitucional (art. 128, § 1º), a Chefia
do Ministério Público da União. O Ministério Público de estado-membro não está
vinculado, nem subordinado, no plano processual, administrativo e/ou institucional,
à Chefia do Ministério Público da União, o que lhe confere ampla possibilidade de
postular, autonomamente, perante o Supremo Tribunal Federal, em recursos e
processos nos quais o próprio Ministério Público estadual seja um dos sujeitos da
relação processual. Questão de ordem resolvida no sentido de assegurar ao
Ministério Público estadual a prerrogativa de sustentar suas razões da tribuna.
Maioria. 4. Questão constitucional com repercussão geral. Poderes de investigação
do Ministério Público. Os artigos 5º, incisos LIV e LV, 129, incisos III e VIII, e 144,
inciso IV, § 4º, da Constituição Federal, não tornam a investigação criminal
exclusividade da polícia, nem afastam os poderes de investigação do Ministério
Público. Fixada, em repercussão geral, tese assim sumulada: “O Ministério Público
dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável,
investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que
assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado,
observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de
jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em
nosso País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III,
XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado
democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos,
necessariamente documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros
dessa instituição”. Maioria. 5. Caso concreto. Crime de responsabilidade de prefeito.
Deixar de cumprir ordem judicial (art. 1º, inciso XIV, do Decreto-Lei nº 201/67).
Procedimento instaurado pelo Ministério Público a partir de documentos oriundos de
autos de processo judicial e de precatório, para colher informações do próprio
suspeito, eventualmente hábeis a justificar e legitimar o fato imputado. Ausência de
vício. Negado provimento ao recurso extraordinário. Maioria (Recurso
Extraordinário n. 593.727/MG, BRASIL, 2015).
Sobre esta decisão, Camelo (2017) comenta que o STF reconheceu a competência do
Ministério Público nas atividades investigatórias, das quais podem ser promovidas de acordo
com o livre convencimento do órgão de execução, abarcando quaisquer situações ou crimes.
Entretanto, demonstra que na confirmação desta atribuição, os nobres julgadores
anotaram que os atos investigatórios podem ser praticados por membros do Ministério
Público, visto que a investigação criminal não é exclusividade da polícia, observando os
50
direitos e garantias fundamentais e individuais dos investigados, devidamente documentados,
dentro do prazo razoável, observadas as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição, bem
como outras prerrogativas asseguradas por lei especial, quando aplicável, e por fim, sempre
sujeitos ao controle do Poder Judiciário.
4.4 O CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL
Conforme demonstrado até o presente momento, a partir da promulgação da
Constituição Federal de 1988, e as novas dinâmicas apresentadas pelo texto da magna carta,
os órgãos de execução do Ministério Público voltaram suas atividades ao estudo e teses
quanto ao desempenho destas novas funções, em razão da tutela dos interesses difusos e
coletivos (PENA, 2010, p. 402).
Esta mesma autora aponta a polarização das atribuições novas e as que já estavam
presentes antes da Constituição Cidadã:
Nessa etapa histórica, as atividades na área criminal seguiam modelo conhecido de
promoção da “velha” ação penal pública e o controle externo da atividade policial
era embrionário e, ainda assim, noticiavam-se casos de resistência da Polícia Civil
ao desempenho da atividade fiscalizadora, mesmo que quase resumida a visitas de
inspeção.(PENA, 2010, p. 402).
4.4.1 O Conceito de Controle Externo
Para entender melhor o assunto, cabe neste momento apresentar o conceito de
Controle Externo, a atividade específica realizada pelo Ministério Público em face de outros
órgãos, independente de existência das corregedorias internas destes.
O autor Emerson Garcia (2017, p. 218) estuda a etimologia das palavras constantes no
termo controle externo aplicadas ao seu exercício, e retrata:
Partindo da própria etimologia da expressão, podemos assentar algumas premissas
em relação ao denominado controle externo: a) ainda que observadas diretrizes
externas, o ato sob controle é integralmente praticado no âmbito da Instituição
controlada; b) por se tratar de controle externo, ainda que se trate de ato complexo, o
ente controlador não deve concorrer para a sua prática; c) o ente controlador,
observados os limites fixados em lei, afere o conteúdo do ato praticado; e d) o ente
controlador não integra a estrutura organizacional da Instituição controlada.
Celso Antônio Bandeira de Mello (2010), em seus ensinamentos de Direito
Administrativo, a fim de explicar o assunto, expõe a diferença entre o controle interno e o
controle externo, do qual a Administração Pública, seja ela direta, indireta ou fundacional,
está sujeito.
51
Afirma que as entidades da Administração passam por fiscalização realizada pela
própria Administração Pública, dividida em interior e exterior, a primeira pelo próprio órgão
enquanto a fiscalização exterior é feita por órgão hierárquico superior da Administração
Direta.
Este tipo de controle decorrente do exercício fiscalizador do próprio órgão não exime
a existência da vigilância de outras instituições, como o ocorre com o Ministério Público, e
assim destaca:
2. Cumpre consignar que qualquer pessoa pode suscitar o controle da Administração
para que seja sancionado o agente que haja incidido em “abuso de autoridade”, Tal
possibilidade está contemplada na importantíssima, mas, infelizmente, quase
ignorada, Lei 4.898/65, de 9.12.65, que “regula o direito de representação e o
processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos de abuso de
autoridade”. Para fazê-lo, o interessado procederá mediante petição “dirigida à
autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à autoridade civil ou
militar culpada, a respectiva sanção” “e/ou ao órgão do Ministério Público que tiver
competência para iniciar processo crime contra a autoridade culpada” (art. 2º). Para
os efeitos desta lei, considera-se autoridade “quem exerce cargo, emprego ou função
pública, de natureza civil ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração”
(art. 5º) (MELLO,2010).
Cumpre salientar neste momento que o trecho transcrito acima não tem por condão
fundamentar juridicamente o conceito de Controle Externo, mas sim, estabelecer a relação dos
exercícios diversos de controle interno e externo das quais a Administração Pública está
sujeita.
Diz-se isso pois a Lei n. 4.898/1965 foi recentemente revogada pela Lei n. 13.869, de
05 de setembro de 2019, que dispõe sobre os crimes de abuso de autoridade, e ainda assim,
previu a atuação do Ministério Público como polo ativo da ação penal pública condicionada, a
ser intentada na prática dos crimes de abuso de autoridade, no artigo 3º, §1º (BRASIL, 2019).
Logo, o controle externo figura como manifestação de órgão diverso, alcançando
ações quem podem incidir no apontamento de diretrizes da atuação futura do órgão
controlado, bem como promover ações competentes quanto aos atos já praticados pelo Poder
Público (GARCIA, 2017, p. 218).
E por fim, o Promotor de Justiça José Fernando Marreiros Sarabando (1997) considera
o controle externo uma das forças encontradas no sistema constitucional pátrio, que
estabelecer “freios e contrapesos entre os Poderes e as instituições públicas”, incidindo a
fiscalização mútua entre os diversos braços do Estado, essencial e saudável para o bem
comum e social, visto que a coletividade é o alicerce da nação, e destinatária das ações
públicas.
52
4.4.2 A legitimidade do Ministério no exercício do controle externo da atividade
policial
A primeira, e mais importante tratativa da legitimidade do Ministério Público no
exercício do controle externo da atividade policial está consubstanciada no próprio texto
constitucional, não só no artigo 127, caput, que atribuiu aos órgãos ministeriais “a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”, e
logo após, como no artigo 129, concedeu à Instituição a atribuição específica para atuar na
função:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
[...]
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar
mencionada no artigo anterior; (BRASIL, 1988)
Sobre a defesa dos interesses difusos e coletivos tutelados pelo Ministério Público,
Renan Soares Torres de Sá e Leonardo Barreto Ferraz Gominho (2016) comentam:
Nesse contexto, cumpre ressaltar que a atividade policial, essencial para a
manutenção da segurança pública e a garantia dos direitos individuais, encontra-se
inserida no rol de atividades administrativas exercidas pelo Estado – aqui entendido
em seu conceito amplo – e que, portanto, encontra-se no contexto de atividades a
serem controladas pelo Ministério Público.
Acerca do texto constitucional, Mazzilli (1991), infere a necessidade da edição de Lei
Complementar para a sua efetivação, portanto trata-se de uma norma constitucional de
eficácia limitada:
Ora, retomando festejados ensinamentos de José Afonso da Silva,
podemosconsiderar a norma constitucional, ora analisada, como desprovida de
eficáciaplena: trata-se, antes, de uma das normas ditas de eficácia limitada ou
reduzida,porque não tem aptidão para produzir, por si mesma, com a só entrada em
vigor danova Constituição, todos os seus direitos essenciais. Com efeito, o inc. VII,
aoimpor que a lei orgânica de cada Ministério Público deva disciplinar a forma
derealizar-se o controle externo da atividade policial, afastou do texto maior,
ipsofactu, uma normatividade bastante em si mesma para que se estabelecessem
deimediato, à só promulgação da Constituição, os mecanismos de seu exercício,
aindaque de forma parcial.
Thiago de Ávila (2014) retrata que o controle externo da atividade policial está
previsto brevemente, e remete à legislação editada posteriormente, a qual concedeu a
plenitude da norma constitucional:
O controle externo da atividade policial está genericamente previsto no art. 129, VII,
da CRFB/1988, com uma referência ao anterior inciso VI, que prevê a possibilidade
de o Ministério Público realizar atos de investigação (como expedir notificações ou
53
requisitr [sic] documentos) nos procedimentos de sua competência. Segundo a
Constituição o controle externo deve ser regulamentado por lei complementar.
As ferramentas específicas de atuação do Ministério Público no exercício docontrole
externo da atividade policial estão disciplinadas na LC n. 75/1993, 9º, que prevê o
livreingresso em estabelecimentos policiais, acesso a quaisquer documentos
relativos à atividade-fimpolicial, a possibilidade de representar à autoridade
competente pela adoção de providências parasanar a omissão indevida, ou para
prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder, poder derequisição à autoridade
competente para instauração de inquérito policial sobre a omissão ou fatoilícito
ocorrido no exercício da atividade policial e ainda promover a ação penal por abuso
depoder. O dispositivo indica que o exercício do controle externo pode ocorrer por
medidasjudiciais ou extrajudiciais.
Sarabando (1997) descreve que a Lei Orgânica do Ministério Público da União – Lei
Complementar n. 75/1993, destina o capítulo III do título I, especificamente ao controle
externo da atividade policial, dispondo sobre prerrogativas no exercício desta fiscalização dos
órgãos de Segurança Pública, veja-se:
Do Controle Externo da Atividade Policial
Art. – 9º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da
atividadepolicial por meio de medidas judiciais e extrajudiciais podendo:
I - ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou prisionais;
II - ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade-fim policial;
III - representar à autoridade competente pela adoção de providências para sanar a
omissão indevida, ou para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder;
IV - requisitar à autoridade competente para instauração de inquérito policial sobre a
omissão ou fato ilícito ocorrido no exercício da atividade policial;
V - promover a ação penal por abuso de poder.
Art. – 10 A prisão de qualquer pessoa, por parte de autoridade federal ou do Distrito
Federal e Territórios, deverá ser comunicada imediatamente ao Ministério Público
competente, com indicação do lugar onde se encontra o preso e cópia dos
documentos comprobatórios da legalidade da prisão. (BRASIL, 1993)
Ocorre que a legislação federal, que regulamenta o Ministério Público da União não
abarca as unidades da federação, e como relembra Mazzili (1991), em detrimento da unidade,
o exercício do controle externo da atividade policial depende do advento de lei complementar
local, ou da recepção das normas caso já existentes, que ocorreu após a publicação do artigo
científico ora analisado.
A título de exemplo, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina aprovou, e o Governo
do Estado de Santa Catarinapublicou, em 23 de janeiro de 2019, a Lei Complementar n. 738,
que consolida as Leis que instituem a Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Santa
Catarina (SANTA CATARINA, 2019).
Neste diploma legal, o artigo 90 elenca como função institucional o exercício do
controle externo da atividade policial, civil ou militar, enumerando, em rol não exaustivo, as
medidas administrativas e judiciais cabíveis:
Art. 90 – São funções institucionais do Ministério Público, nos termos da legislação
aplicável:
54
XVII – exercer o controle externo da atividade policial, civil ou militar, podendo,
entre outras medidas administrativas e judiciais:
a) ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou prisionais;
b) ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade de polícia judiciária, ou
requisitá-los;
c) requisitar à autoridade competente a adoção de providências para sanar a omissão
ou para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder;
d) requisitar à autoridade competente a abertura de inquérito sobre a omissão ou fato
ilícito ocorridos no exercício da atividade policial, determinando as diligências
necessárias e a forma de sua realização, podendo acompanhá-las e também proceder
diretamente a investigações, quando necessário;
e) acompanhar atividades investigatórias;
f) recomendar à autoridade policial a observância das leis e princípios jurídicos;
g) requisitar à autoridade competente a instauração de sindicância ou procedimento
administrativo cabível;
h) exigir comunicação imediata sobre apreensão de adolescente; e
i) avocar inquérito policial em qualquer fase de sua elaboração e requisitar, a
qualquer tempo, as diligências que se fizerem necessárias. (SANTA CATARINA,
2019)
O parágrafo primeiro deste artigo indica as justificativas e as diretrizes constitucionais
que motivam e legitimam o exercício do controle externo da atividade policial, a ser exercido
pelo MPSC.
§1º – O controle externo da atividade policial será exercido tendo em vista:
I – o respeito aos fundamentos do Estado Democrático de Direito, aos objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil, aos princípios informadores das
relações internacionais, bem como aos direitos assegurados na Constituição Federal
e na lei;
II – a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio
público;
III – a prevenção e a correção de ilegalidade ou de abuso de poder;
IV – a indisponibilidade da persecução penal;
V – a competência dos órgãos incumbidos da segurança pública; e
VI – outros interesses, direitos e valores relacionados ao exercício da atividade
policial. (SANTA CATARINA, 2019)
Nem só por intermédio de Leis Complementares o controle externo da Atividade
Policial foi regulamentado, isto porque, frente ao ordenamento jurídico que disciplina o tema,
o Conselho Nacional do Ministério Público editou a Resolução n. 20, de 28 de maio de 2007,
regulamentou administrativamente o controle externo da atividade policial (CONSELHO
NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, 2007).
Cabe destacar os dois primeiros artigos previstos na resolução retromencionada, o
primeiro que estabelece a legitimidade do Ministério Público, e o segundo as diretrizes do
controle externo, veja-se:
Art. 1º Estão sujeitos ao controle externo do Ministério Público, na forma do art.
129, inciso VII, da Constituição Federal, da legislação em vigor e da presente
Resolução, os organismos policiais relacionados no art. 144 da Constituição Federal,
bem como as polícias legislativas ou qualquer outro órgão ou instituição, civil ou
militar, à qual seja atribuída parcela de poder de polícia, relacionada com a
segurança pública e persecução criminal.
55
Art. 2º O controle externo da atividade policial pelo Ministério Público tem como
objetivo manter a regularidade e a adequação dos procedimentos empregados na
execução da atividade policial, bem como a integração das funções do Ministério
Público e das Polícias voltada para a persecução penal e o interesse público,
atentando, especialmente, para: [...](CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO
PÚBLICO, 2007)
Não mais importante, o STJ, em sede de Recurso Especial, faz referência à
legitimidade do exercício do Ministério Público no controle externo da atividade policial:
ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA.
CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO. ARTS. 129, VII, DA CF E 9º, II, DA LC N. 75/1993.
DISPONIBILIZAÇÃO DE DOCUMENTOS E INFORMAÇÕES
MENCIONADOS NA INICIAL. ATIVIDADE-FIM POLICIAL CONFIGURADA.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO. I - No caso concreto, o Ministério Público
Federal impetrou mandado de segurança contra ato ilegal do Delegado-Chefe da
Delegacia de Polícia Federal em Santa Maria-RS, que teria obstado a
disponibilização de documentos e informações requisitados pelo Parquet Federal no
exercício da atividade de controle externo da atividade policial, especificamente. II -
A Justiça Federal do Estado do Rio Grande do Sul determinou ao Delegado-Chefe
da DPF Santa Maria-MS que concedesse o acesso e cópias ao Ministério Público
dos seguinteS documentos: a) relação de servidores e contratados em exercício na
unidade, com especificação daqueles atualmente afastados; b) relação de coletes
balísticos da unidade; c) pasta com ordens de missão policial (OMP) expedidas nos
últimos 12 meses; d) livro de sindicâncias e processos disciplinares, bem assim
autos de sindicâncias e processos disciplinares eventualmente em trâmite na
delegacia; e) memorandos, ofícios, mensagens circulares, relatórios de missão
policial e quaisquer outros documentos que envolvam comunicações oficiais, para
que o próprio Ministério Público Federal avalie o interesse ao controle externo da
atividade policial. III - O Tribunal Regional Federal da 4ª Região reformou,
parcialmente, a decisão (fls. 366/393), limitando a análise pelo Ministério Público
Federal apenas às pastas com ordens de missão policial (OMP), expedidas nos
últimos 12 meses. IV - Recurso Especial do MPF que alega, em síntese, que os
documentos solicitados têm relação com a análise da atividade-fim da Polícia
Federal, que a fiscalização pretendida está inserida entre os deveres do Ministério
Público no exercício do controle externo da atividade policial e que o pedido por ele
formulado não é ilegal, sendo injustificável a recusa do Delegado-Chefe da DPF
Santa Maria-RS. V - O controle externo da atividade policial pelo Ministério Público
está previsto expressamente no art. 129, VII, da Constituição Federal e disciplinado
na Lei Complementar 75/93. VI - O Conselho Nacional do Ministério Público -
CNMP, com o objetivo de disciplinar o controle externo da atividade policial
pelo Ministério Público, editou a Resolução nº 20/2007, e estabeleceu nos arts.
2º, V e 5º, II, respectivamente: "O controle externo da atividade policial pelo
Ministério Público tem como objetivo manter a regularidade e a adequação dos
procedimentos empregados na execução da atividade policial, bem como a
integração das funções do Ministério Público e das Polícias voltada para a
persecução penal e o interesse público atentando, especialmente, para: a
correção de irregularidades, ilegalidades ou de abuso de poder relacionados à
atividade de investigação criminal" ; "Aos órgãos do Ministério Público, no
exercício das funções de controle externo da atividade policial caberá: ter
acesso a quaisquer documentos, informatizados ou não, relativos à atividade-
fim policial civil e militar, incluindo as de polícia técnica desempenhadas por
outros órgãos (...)" Precedente: REsp 1365910/RS, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, Rel. p/ Acórdão Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 05/04/2016, DJe 28/09/2016. VII - Requisição de
registros escritos elencados na inicial está em absoluta consonância com teor dos
arts. 129, VII, da Constituição Federal, 3º e 9º da Lei Complementar 75/93 e 5º,
incisos II, III e VI, da Resolução 20/2007 do Conselho Nacional do Ministério
56
Público. VIII - Recurso especial conhecido e provido, com o restabelecimento da
decisão federal de primeira instância. (BRASIL, 2017)(GRIFO NOSSO).
E mais:
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. PROCESSO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. APLICABILIDADE DA
LEGISLAÇÃO PENAL. PRECEDENTES. INDEPENDÊNCIA DAS ESFERAS
ADMINISTRATIVA E PENAL. PRESCINDIBILIDADE DE SENTENÇA PENAL
CONDENATÓRIA. PARTICIPAÇÃO DE REPRESENTANTES DO
MINISTÉRIO PÚBLICO EM CONSELHO DISCIPLINAR DA POLÍCIA.
POSSIBILIDADE. 1. A sanção administrativa é aplicada para salvaguardar os
interesses exclusivamente funcionais da Administração Pública, enquanto a sanção
criminal destina-se à proteção da coletividade. Consoante entendimento desta Corte,
a independência entre as instâncias penal, civil e administrativa, consagrada na
doutrina e na jurisprudência, permite à Administração impor punição disciplinar ao
servidor faltoso à revelia de anterior julgamento no âmbito criminal, ou em sede de
ação civil, mesmo que a conduta imputada configure crime em tese. Ademais, a
sentença penal somente produz efeitos na seara administrativa, caso o provimento
reconheça a não ocorrência do fato ou a negativa da autoria. 2. O Superior
Tribunal de Justiça já firmou posicionamento no sentido de haver respaldo no
texto constitucional a presença de Promotor de Justiça e/ou de Procuradores do
Estado no Conselho da Polícia Civil, tendo em vista que a Carta Magna não
impede a participação de membros do Ministério Público em órgão consultivo
ou de deliberação. Vale ressaltar que a própria Constituição prevê o controle
externo da atividade policial como uma das funções institucionais do Ministério
Público (art. 129, inciso VII, CF). Além do mais, esta participação no Conselho
de Polícia é compatível com a missão do Ministério Público de fiscalizar a
legalidade e moralidade pública. 3. Recurso ordinário em mandado de segurança
não provido. (BRASIL, 2011) (GRIFO NOSSO).
Por fim, o Pretório Excelso reconheceu a legitimidade do Ministério Público para o
exercício do controle externo da atividade policial no julgamento de Habeas Corpus:
HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. POLICIAL CIVIL.
CRIME DE EXTORSÃO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DE
CONCUSSÃO. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. CONTROLE
EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL. DENÚNCIA: CRIMES COMUNS,
PRATICADOS COM GRAVE AMEAÇA. INAPLICABILIDADE DO ART. 514
DO CPP. ILICITUDE DA PROVA. CONDENAÇÃO EMBASADA EM OUTROS
ELEMENTOS PROBATÓRIOS. DECISÃO CONDENATÓRIA
FUNDAMENTADA. ORDEM DENEGADA. 1. Legitimidade do órgão
ministerial público para promover as medidas necessárias à efetivação de todos
os direitos assegurados pela Constituição, inclusive o controle externo da
atividade policial (incisos II e VII do art. 129 da CF/88). Tanto que a
Constituição da República habilitou o Ministério Público a sair em defesa da
Ordem Jurídica. Pelo que é da sua natureza mesma investigar fatos,
documentos e pessoas. Noutros termos: não se tolera, sob a Magna Carta de
1988, condicionar ao exclusivo impulso da Polícia a propositura das ações
penais públicas incondicionadas; como se o Ministério Público fosse um órgão
passivo, inerte, à espera de provocação de terceiros. 2. A Constituição Federal
de 1988, ao regrar as competências do Ministério Público, o fez sob a técnica do
reforço normativo. Isso porque o controle externo da atividade policial engloba
a atuação supridora e complementar do órgão ministerial no campo da
investigação criminal. Controle naquilo que a Polícia tem de mais específico: a
investigação, que deve ser de qualidade. Nem insuficiente, nem inexistente, seja
por comodidade, seja por cumplicidade. Cuida-se de controle técnico ou
operacional, e não administrativo-disciplinar. [...]. (BRASIL, 2011)
57
4.4.3 O exercício do controle externo da atividade policial
Com a proteção constitucional do Estado democrático de direito, adotado pela
República Federativa, ocorreu o rompimento do regime ditatorial que imperava no país, e
assim, a partir da Constituição Cidadã, os direitos individuais e fundamentais do homem
foram alçados ao primeiro escalão da proteção estatal, de característica garantista e humanista
(GOMINHO; SÁ, 2016).
Como consequência destas prerrogativas encontradas no texto constitucional e nas leis
orgânicas do Ministério Público, seja ela da União ou dos demais entes federados, o controle
externo da atividade policial atinge o patamar de suma importância no Estado Democrático de
Direito, por estar subordinadoao Poder Executivo, em razão do objetivo intrínseco que tem,
em evitar abusos e disfunções praticadas pelos agentes públicos da segurança pública
(MARTINS JÚNIOR, 2015).
Guilherme Nucci (2018, p. 2010) retrata a falibilidade da investigação, quando
conduzida sem a supervisão de outrem:
Todo e qualquer procedimento investigatório exercido por autoridade, sem controle
externo (de outra autoridade, como o juiz, ou da própria parte interessada, como o
realizado pelo defensor do réu, indiciado ou suspeito), é um farto e fácil caminho
para o abuso de direitos e o cometimento de desvios graves, comprometedores da
ideia de um processo penal democrático.
Trata-se, pois, que, o controle externo da atividade policial é um dos instrumentos à
disposição da coletividade, exercida pelo órgão ministerial, a fim de manter preciso e
adequado aos interesses da sociedade e da ordem pública, mantendo a moralidade dos órgãos
e da prestação dos serviços policiais, coibindo abusos exercidos pelos seus operadores
(GOMINHO; SÁ, 2016).
A essencialidade que encontra a previsão constitucional para o controle externo da
atividade policial, estão os instrumentos disponíveis ao Ministério Público, na oportunidade
da investigação dos crimes, atuando ou não em inquéritos policiais, fiscalizando o exercício
da polícia judiciária e da apuração de delitos penais (MAZZILLI, 1991).
Sarabando (1997) analisa que o Ministério Público possui funções institucionais de
atuação junto ao exercício jurisdicional, lado a lado do Poder Judiciário ou Poder Legislativo,
este de forma imprópria.
Isto porque Ministério Público possui atribuições diversas, com características
próximas a atividade administrativa, a defesa da ordem jurídica, dos interesses indisponíveis,
58
difusos e coletivos, zelo ao respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública
aos direitos constitucionais.
Visto que as instituições policiais, aquelas previstas no artigo 144 da Magna Carta,
não detém independência funcional e administrativa, portanto, estão vinculadas e
subordinadas ao Poder Executivo, e na falta de um controle externo e desvinculado, estão
mais suscetíveis à corruptibilidade e sucumbência a pressões e interesses individuais e
econômicos, poderia deturpar a função final da polícia judiciária, qual seja, a segurança
pública (MAZZILLI, 1991).
Este controle externo pode abarcar não só esfera penal, mas também a administrativa,
em que o servidor público que incorreu em conduta ilegal, poderá ser responsabilizado
administrativamente, veja-se:
Dessarte, vedada a interpretação do controle externo da atividade policial pelo
Ministério Público como a imposição de uma hierarquia administrativa. Ainda
parafraseando o mestre Mazzilli, “certamente, aludido controle externo não
importará poder disciplinar do Ministério Público sobre a polícia. Na área funcional,
se o promotor de Justiça verificar a ocorrência de quaisquer faltas disciplinares,
tendo esse órgão ministerial atribuições de controle externo - forma irrecusável de
correição sobre a polícia judiciária -, há de dirigir-se aos superiores hierárquicos do
funcionário público faltoso (delegado de polícia, escrivão, investigador, carcereiro,
etc), indicando as falhas e as providências que entenda cabíveis, para que a
autoridade administrativa competente possa agir".(SARABANDO, 1997)
Nesta toada, não só como forma de revisar os atos praticados individualmente, o
controle externo reforça a operatividade do próprio controle interno, exercido
primordialmente pelas Corregedorias de cada Órgão de Polícia.
Todavia, a atuação ministerial junto aos órgãos de polícia, em controle externo, não
pode ser confundida com a capacidade investigatória do órgão, mas sim efeito decorrente
deste, como leciona Guilherme Nucci (2018, p. 2010):
[...] atribui-se ao Ministério Público o poder de expedir notificações nos
procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e
documentos (o que ocorre no inquérito civil ou em algum processo administrativo
que apure infração funcional de membro ou funcionário da instituição, por
exemplo), a possibilidade de exercer o controle externo da atividade policial (o que
não significa a substituição da presidência da investigação, conferida ao delegado de
carreira) [...]
Esta prática é forma de complemento e fiscalização da atividade correicional, frente ao
natural corporativismo dos órgãos de polícia, deixando a investigação adstrita aos
mecanismos de investigação interna, e assim proporcionando maior efetividade na
responsabilização dos agentes públicos.
59
Esse tipo de conduta é internalizado em grande parte das corporações policiais,
reverberando em um fenômeno histórico que gera efeitos prejudiciais nas investigações e
posterior punição, donde se extrai:
Estudos demonstram que, por mais bem-intencionados que sejam, as investigações
conduzidas pelos órgãos de controle interno tendem a serem corporativistas e a não
darem uma resposta plenamente satisfatória às reclamações de desvios policiais.
Como visto anteriormente, o órgão de controle interno tende a minimizar a
probabilidade de veracidade de uma alegação de desvio policial, o que induz a que
tais alegações não sejam imediatamente investigadas, e a ausência de uma
investigação imediata tende e favorecer o perecimento das provas do delito;
ademais, muitos supervisores tendem a partilhar a visão de que alguns pequenos
desvios formais são legítimos, pois seriam essenciais à função policial; muitos
dirigentes têm receio que um desvio grave seja descoberto, ante o receio que ele
venha macular a imagem da instituição, e ainda quando há um desvio relativamente
bem configurado, ele tende a ser tratado de forma leniente ou complacente (ÁVILA,
2014).
Assim, o Ministério Público não só exerce o controle externo da atividade policial ao
averiguar se as atividades policiais estão sendo praticadas corretamente, ou seja, se as
atribuições constitucionais e legais estão sendo cumpridas, mas também buscar inibir
condutas de agentes que possam exceder os limites impostos e aviltarem direitos e garantias
individuais e sociais (SARABANDO, 1997).
Nas palavras de Mazzilli (1991):
Anoto ser tarefa que exige cuidados especiais o adequado relacionamento do
Ministério público com a Polícia Civil, especialmente na fase do inquérito policial.
No acompanhamento das atividades da polícia judiciária, pode ocorrer que o
Promotor surpreenda prisões ilegais ou até mesmo torturas, nas suas visitas às
Delegacias ou à Cadeia Pública. Nesses casos, deve agir com rigor, dentro de suas
atribuições, coibindo de imediato abusos, pelos meios legais ao seu alcance, bem
como apurando ou fazendo apurar as responsabilidades.
Ao passo que exercem atividade de fiscalização, os membros do Ministério Público
são como paradigmas para as condutas investigativas e correcionais, que devem estar
galgadas no profissionalismo, na ética e na legalidade, como retrata Sarabando (1997):
O fiscal da legalidade não poderá compactuar com nenhuma arbitrariedade ou
violação da lei, não podendo, contudo, para o desempenho de suas tarefas cometer
arbitrariedades. Pretender vistoriar uma unidade policial fora do horário diurno, em
fins de semana ou feriados, certamente que será atitude no mínimo antipática,
principalmente por causa dos regulamentos internos rígidos que costuma haver em
delegacias de polícia que contenham cadeias públicas.
Sempre conveniente a conduta onde se misturem os ingredientes profissionalismo,
ética e bom relacionamento, de grande valia a prévia consulta à autoridade
titularsobre o dia e a hora da visita de inspeção, motivada essa, pela exigência legal
(artigo 68, parágrafo único da Lei de Execuções e artigo 25, VI, da Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público) ou por notícia de irregularidade, de cunho criminal
ou disciplinar.
60
Da mesma forma, em que pese essencial ao estado democrático de direito, o controle
externo deve sempre observar a separação dos poderes, prevista constitucionalmente, em que
estes controles não podem perpassar ao passo que inviabiliza o desempenho ordinário das
atividades das polícias, devendo a fiscalização ocorrer de forma simples, adequada e célere
(ÁVILA, 2014).
Sobre a importância do exercício do controle externo da atividade policial, Gominho e
Sá (2016) expressam:
O controle externo da atividade policial baseia-se das funções de suma importância
exercidas pelo Ministério Público após a promulgação da Constituição Federal em
vigor, onde referida instituição, dotada de autonomia, passou a ser garantidor da
ordem jurídica e do estado democrático de direito. Assim, o controle externo da
atividade policial visa, sobretudo, garantir que a atividade fiscalizada não atente
contra os direitos e garantias fundamentais do homem.
Conclui Mazzilli (1991), que a Constituição Federal previu instrumentos jurídicos para
o exercício do controle externo da atividade policial e deu-lhes a disponibilidade ao
Ministério Público, a fim de combater o desprestígio recorrente nas repartições policiais, pela
má atuação, fomentando que a segurança pública tenha maior efetividade como garantia
institucional, destinando a melhor atuação pelo bem da coletividade.
61
5 CONCLUSÃO
O Ministério Público exerce, dentre suas diversas atribuições, a proteção de interesses
difusos e coletivos, e contido nesta esfera está a atuação como controlador externo da
atividade policial, a fim de garantir a normalidade da atuação das polícias e o devido uso da
força coercitiva do Estado.
Para análise do tema, em específico, o desenvolvimento debruçou-se inicialmente no
contexto histórico do Ministério Público, que teve origem ainda nas monarquias absolutistas
europeias, em que o titular do cargo era agente do Rei, e realizava a persecução penal para o
posterior julgamento do soberano.
Demonstrando a evolução ocorrida no órgão em razão das mudanças sociais e políticas
do mundo, chegou-se ao modelo adotado pelas constituições brasileiras, que assim como os
demais países, estava atrelado ao processo penal e acusação.
Com a Constituição de 1988, o Ministério Público recebe a nova roupagem que possui
até os dias atuais, conferido ainda o desafio de proteger e tutelar os interesses difusos,
coletivos e transindividuais, a par da persecução penal no papel da acusação a busca pela
efetivação dos princípios constitucionais e o Estado Democrático de Direito.
A partir disto verificou-se a etimologia do termo “Ministério Público”, e a sua
natureza jurídica, retratando seu vínculo histórico com suas origens, e apresentando um
modelo de órgão ou Instituição sui generis, diverso de todos os outros braços do Estado, que
estão vinculados aos poderes Judiciário, Executivo e Legislativo.
Foram estudados alguns dos princípios atrelados ao Ministério Público, quais sejam a
autonomia, independência funcional e responsabilidade, unidade, indivisibilidade e do
promotor natural, fundamentais à legitimidade e ao exercício do controle externo da atividade
policial.
No momento seguinte, realizou-se o estudo específico da segurança pública no Brasil,
iniciando pela apresentação dos conceitos de segurança pública e da ordem pública, e suas
interações, em que se pôde inferir que a ordem pública é a mais próxima situação de
normalidade do convívio social, sendo resultado da segurança pública, que se trata do
exercício e controle por parte do poder público e da sociedade, na busca por esta normalidade.
Na esfera constitucional, demonstrou-se que o Estado tem por razão de ser a proteção
da raça humana, bem como prover as suas necessidades, e por isto, efetivou na Magna Carta a
esfera da segurança pública para garantir atuação estatal.
62
Contudo, o texto da Carta Maior não trata somente do dever do Estado e do direito da
população em detrimento da segurança pública, e sim, busca vincular as atividades da
coletividade e o controle social como dever de todos, para que a ordem pública seja resultado
do mútuo esforço da sociedade em geral e do poder coercitivo do Estado.
Assim, a Constituição Cidadã elencou figuras do Estado que atuam especificamente na
segurança pública.
A Polícia Federal exerce o papel de polícia judiciária no âmbito federal, a realizar
investigações dos crimes e delitos de competência da justiça federal.
A Polícia Rodoviária Federal, de natureza de polícia ostensiva e preventiva, que
executa suas atividades também na forma repressiva, tendo por zona de trabalho as rodovias
federais.
Polícia Ferroviária Federal teria de executar a atividade ostensiva e preventiva, e
repressiva nas malhas ferroviárias do país, funções, contudo, que até o momento não foram
regulamentadas por lei infraconstitucional, inexistindo agentes públicos nesta carreira, sendo
que o seu controle é realizado na esfera privada ou por agentes de fiscalização sem relação
com a segurança pública.
As Polícias Civis exercem a função de polícia judiciária nos Estados-membros e no
Distrito Federal, atuando na investigação de delitos cuja competência para julgamento é da
Justiça Estadual.
As Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares são os órgãos de polícia
ostensiva, diretamente ligados àprevenção de condutas delituosas, antecipando o seu
acontecimento ou atuando no momento da ação.
As Polícias Penais Federal, Estaduais e Distrital são a inovação do ordenamento
jurídico constitucional, tendo a redação da Emenda Constitucional n. 104, de 2019 elevado os
servidores dos estabelecimentos prisionais ao status de policial, resultando em efeitos
jurídicos como, por exemplo, o porte de armas e a impossibilidade da contratação de ACT’s
para a atividade fim.
No capítulo final, foi realizado o estudo sobre a proteção do Ministério Público em
favor do Estado Democrático de Direito, diante da estrutura firmada pelo constituinte e os
princípios elencados na Magna Carta que resultam na atuação do Ministério Público em
controle externo da atividade policial.
Isto porque o Ministério Público detém autonomia e unicidade, estando totalmente
desvinculado dos três poderes do Estado, mas com eles se comunica e transita
constantemente, tornando-se essencial à proteção dos princípios constitucionais.
63
Surge, então, a função custos legis, que cuida da forma de atuação do Ministério
Público, tanto nas ações que postula, como na atuação de curadoria, como fiscal de
instituições e órgãos públicos.
A função custos legis se torna o principal fundamento para o controle externo da
atividade policial, haja vista que o Ministério Público é o guardião da lei, e àquele cabe
postular e fiscalizar atividades contrárias à lei, ou eivadas e abusos de direito, principalmente
no tocante ao poder coercitivo do Estado e o uso da força física.
Isto vai ao encontro com a legitimidade conferida ao órgão, quanto ao poder de
investigação, em que há discussão calorosa entre os operadores do Direito, todavia,
consolidado o entendimento que o Ministério Público, por meio de seus membros, pode
investigar, desde que observados os princípios constitucionais inerentes à investigação.
A partir deste regulamento jurídico e da estrutura do Ministério Público, a função do
controle externo da atividade policial, que foi analisado por meio da conceituação, que se trata
da realização da fiscalização dos órgãos públicos pela própria administração pública, e neste
caso, de forma externa por ser desempenhada por órgão diverso ao investigado.
A legitimidade é encontrada no ordenamento jurídico vigente, dado a simetria
legislativa a partir da previsão constitucional, até a disposição nas Leis orgânicas dos
Ministérios Públicos Federal, dos Estados-membros e do Distrito Federal, em consonância
com a resolução do Conselho Nacional do Ministério Público que reconhece a legitimidade,
bem como ressalta as diretrizes para o exercício do controle externo.
Assim, o exercício do controle externo da atividade policial pelo Ministério Público
nada mais é que um desdobramento do controle exercido sobre os atos da Administração
Pública, em razão da sua função como fiscal da lei e defensor do estado democrático de
direito, cujo objetivo é a preservação os direitos individuais e sociais, conferidos pela
Constituição cidadã.
Por fim, infere-se que o controle externo da atividade policial é o meio pelo qual o
Ministério Público exerce a tutela difusa da segurança pública, garantindo à sociedade a
efetivação do estado de normalidade social, diminuindo a violência urbana e criminalidade
pela melhor atuação das corporações policiais e resguardando o devido controle da força
coercitiva do Estado Democrático de Direito.
64
REFERÊNCIAS
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Polícia Penal! E agora, quais as consequências?. Goiânia, 2020. Disponível em:
https://advogadoagnaldo.jusbrasil.com.br/artigos/797866151/agentes-penitenciarios-virou-
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Doutoramento em Direito e Ciências Jurídico-Criminais – Universidade de Lisboa, Lisboa,
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BARAZAL. Marcelo. O novo perfil constitucional do Ministério Público e suas
investigações independentes. 2013. Disponível em:
https://marcelobarazal2.jusbrasil.com.br/artigos/121943451/o-novo-perfil-constitucional-do-
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BRASIL, Lei nº 13.869, de 5 de setembro de 2019. Dispõe sobre os crimes de abuso de
autoridade; altera a Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, a Lei nº 9.296, de 24 de julho
de 1996, a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, e a Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994; e
revoga a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, e dispositivos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de dezembro de 1940 (Código Penal). Brasília, DF: Presidência da República, 2007.
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BRASIL. Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993. Dispõe sobre a organização, as
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65
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ANEXOS
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ANEXO A – “NÓS SOMOS A POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA”