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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ABEL VIEIRA VELHO NETO O EXERCÍCIO E LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL EM TUTELA DIFUSA DE SEGURANÇA PÚBLICA Florianópolis 2020

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

ABEL VIEIRA VELHO NETO

O EXERCÍCIO E LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE

EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL EM TUTELA DIFUSA DE SEGURANÇA

PÚBLICA

Florianópolis

2020

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ABEL VIEIRA VELHO NETO

O EXERCÍCIO E LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE

EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL EM TUTELA DIFUSA DE SEGURANÇA

PÚBLICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Direitoda Universidade do Sul de

Santa Catarina, como requisito parcial à

obtenção do título de bacharel em Direito.

Orientador: Wanio Wiggers. Prof. Msc.

Florianópolis

2020

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ABEL VIEIRA VELHO NETO

O EXERCÍCIO E LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE

EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL EM TUTELA DIFUSA DE SEGURANÇA

PÚBLICA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi

julgado adequado à obtenção do título de

bacharel em Direito e aprovado em sua forma

final pelo Curso de Direito da Universidade do

Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 23 de julho de 2020.

______________________________________________________

Professor e orientador Wânio Wiggers, MSC

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________

Prof. André Opilhar, MSC

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________

Prof. Carina Milioli Corrêa, MSC

Universidade do Sul de Santa Catarina

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A todos os meus professores, que lapidaram o

meu conhecimento, e me inspiraram para que

hoje eu possa estar aqui.

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AGRADECIMENTOS

Não poderia deixar de iniciar meus agradecimentos, senão ao meu bom Deus, que me

proporcionou a vida e mais uma chance no plano terreno, e neste embalo, reverencio meus

agradecimentos aos meus amados Orixás, que iluminam o meu caminho e me dão forças para

sempre continuar, e ainda, aos meus guias espirituais, que me acompanham diariamente nos

mais diversos desafios que a vida apresenta pra mim, pois sem vocês, eu nada seria.

Aos meus pais, Simone e Marcio, e a minha irmã Camila e meu cunhado Fábio, que

como meus alicerces, me mantiveram no mais reto cumprimento do dever, e me ensinaram a

prosperar e a sempre seguir os meus objetivos e sonhos, amparando-me nos momentos de

dificuldade, e garantindo que eu carregasse comigo os valores da ética, moral, e respeito.

Obrigado por lutarem e se sacrificarem por mim, seus sacrifícios serão recompensados.

Aos meus avós, Abel (in memoriam) e Margarida, Zuleide e Tadeu, pelo amor

incondicional, por cuidarem de mim, e estarem sempre ao meu lado, torcendo pelas minhas

vitórias.

A tia Estela, tia Vivian e tia Deize, que juntamente de suas famílias, me acolheram em

suas casas, em São Joaquim e aqui em Florianópolis respectivamente, onde eu pude estar

rodeado de carinho e amor, demonstrando que onde quer que eu fosse, estaria amparado por

aqueles que amo, e em seus nomes, estendo meu carinho a todos meus tios e primos.

À tia Nádia, Padrinho Otávio e meu primo Thiago, operadores do Direito que

estiveram amplamente presentes na minha jornada da graduação, e dispuseram-se inúmeras

vezes de seus conhecimentos jurídicos, com livros, estágios, discussões que me fizeram

crescer cada vez mais.

Em especial, gostaria de agradecer à minha mestre Adriana dos Santos, que me

acompanhou durante os dois anos de estágio no Ministério Público de Santa Catarina, e me

ensinou não só as mais diversas lições de Direito, mas também as mais belas lições de vida,

por quem sou eternamente grato, pela amizade, companheirismo e princípios profissionais, e

mais ainda, pela paixão ao exercício profissional.

Aos meus inúmeros amigos, que conheci nos mais diversos caminhos que a trajetória

da minha vida levou, e que carrego no peito o amor e o companheirismo, pelas experiencias e

os momentos mais felizes da minha vida.

Ao meu namorado Mateus, que durante esta jornada me ouviu, ajudou, aconselhou,

compreendeu, e muitas vezes me repreendeu para que tudo isso fosse possível, e mesmo

assim, diante de todos os estresses, permaneceu ao meu lado.

Ao Ministério Público de Santa Catarina, representado pela Promotora de Justiça

Silvana Schimidt Vieira, que me oportunizaram realizar o estágio não obrigatório, em um

órgão de execução do controle externo da atividade policial, onde conheci minha vocação e

minha paixão no mundo do Direito.

Ao corpo docente da UNISUL, em especial ao meu Professor orientador Wânio

Wiggers, pela paciência, dedicação e inspiração, juntamente com os Professores Fátima

Mustafá, Danielle Espezim dos Santos, Patrícia Russi, Gisele Goedert, Patrícia Mombach,

Diane Dal Mago, muito mais que docentes na graduação, foram fundamentais na formação e

serão exemplos para mim, durante toda a minha jornada acadêmica e profissional.

A todos vocês, meu eterno respeito e gratidão.

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“A justiça sem a força é impotente, a força sem justiça é tirana” (PASCAL, Blaise).

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RESUMO

O Ministério Público recebeu pelo constituinte originário a missão de exercer em tutela difusa

da segurança pública o controle externo da atividade policial. Com isso, surgiram várias

divergências de posicionamento quanto à legitimidade na atuação como controlador externo

dos órgãos de polícia. Estes órgãos de polícia também foram retratados na magna carta, sendo

o braço do Estado com legitimidade para utilizar a força física e o poder de polícia para

realizar a preservação da ordem pública, juntamente com os demais atores da sociedade. O

objetivo geral foi o de evidenciar os instrumentos jurídicos que estão à disposição do

Ministério Público para proporcionar maior efetividade na sua atribuição constitucional do

controle externo da atividade policial. O método de abordagem utilizado foi o pensamento

dedutivo. Resultado apresentado de forma qualitativa. Constatou-se que o Ministério Público

possui a legitimidade conferida pelo constituinte originário e legislador infraconstitucional

para exercer o Controle Externo da atividade policial para garantir maior efetividade na

atuação dos órgãos de Polícia.

Palavras-chave: Constitucional. Ministério Público. Segurança Pública. Controle Externo.

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ABSTRACT

The Ministério Público received by the original constituent the mission of exercising in

diffuse protection of public security, on external control of police activity. Several differences

of knowledge emerged regarding the legitimacy in the performance as external controller of

police agencies. These police corporations were also portrayed in the Constitution, being the

state arm with legitimacy to use physical force and the power of police to carry out the

preservation of public order, along with the other actors of society. The general objective was

to highlight the legal instruments that are available to the Ministério Público to provide

greater effectiveness in its constitutional attribution of external control of police activity. The

approach method used was deductive. Result presented qualitatively. Was evidenced that the

Ministério Público has the legitimacy conferred by the original constituent and legislator to

exercise external control of police activity to ensure greater effectiveness in the performance

of police agencies

Keywords:Constitutional Law. Ministério Público. Public Security. External Control.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 10

2 O MINISTÉRIO PÚBLICO: HISTORICIDADE E PRINCÍPIOS

INSTITUCIONAIS ................................................................................................................. 13

2.1 CONTEXTO HISTÓRICO .............................................................................................. 13

2.2 CONTEXTO HISTÓRICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO BRASIL ....................... 15

2.3 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 ........................................ 18

2.4 ETMOLOGIA .................................................................................................................. 19

2.5 A NATUREZA JURÍDICA DO MINISTÉRIO PÚBLICO ............................................ 20

2.6 OS PRINCÍPIOS ATRELADOS AO MINISTÉRIO PÚBLICO .................................... 21

2.6.1 Autonomia, independência funcional e Responsabilidade ...................................... 22

2.6.2 Unidade ........................................................................................................................ 23

2.6.3 Indivisibilidade ............................................................................................................ 24

2.6.4 Promotor natural......................................................................................................... 25

3 A SEGURANÇA PÚBLICA E SEUS ÓRGÃOS COMPONENTES ........................... 27

3.1 CONCEITO DE SEGURANÇA PÚBLICA E ORDEM PÚBLICA .............................. 27

3.2 A SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ................... 29

3.3 SEGURANÇA PÚBLICA, UM DEVER DE TODOS .................................................... 31

3.4 OS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA ................................................................. 34

3.4.1 Polícia Federal ............................................................................................................. 34

3.4.2 Polícia Rodoviária Federal ......................................................................................... 36

3.4.3 Polícia Ferroviária Federal ........................................................................................ 37

3.4.4 Polícias Civis ................................................................................................................ 37

3.4.5 Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares ................................................ 39

3.4.6 Polícias Penais Federal, Estaduais e Distrital ........................................................... 40

4 A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM CONTROLE EXTERNO DA

ATIVIDADE POLICIAL ...................................................................................................... 41

4.1 O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO GARANTIA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE

DIREITO .................................................................................................................................. 41

4.2 A FUNÇÃO CUSTUS LEGIS ......................................................................................... 43

4.3 CAPACIDADE INVESTIGATÓRIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO ............................ 46

4.4 O CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL ............................................ 50

4.4.1 O Conceito de Controle Externo ................................................................................ 50

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4.4.2 A legitimidade do Ministério no exercício do controle externo da atividade

policial ...................................................................................................................................... 52

4.4.3 O exercício do controle externo da atividade policial .............................................. 57

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 61

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 64

ANEXOS ................................................................................................................................. 69

ANEXO A – “NÓS SOMOS A POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA” ........... 70

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1 INTRODUÇÃO

A atuação do Ministério Público, em sua atribuição frente à tutela difusa da segurança

pública, por meio do controle externo da atividade policial, à linha de pesquisa da Justiça e

Sociedade, adotada pela Universidade do Sul de Santa Catarina, é o objeto de estudo da

presente monografia.

Isto se dá mediante análise à legitimidade e aos instrumentos jurídicos à disposição do

Ministério Público, a fim de exercer com maior efetividade, a instrução de procedimentos

correcionais nos órgãos estaduais de segurança pública, bem como atentar à legalidade dos

atos praticados pelas corporações policiais.

Sendo assim, o objetivo geral foi evidenciar os instrumentos jurídicos que estão à

disposição do Ministério Público, para proporcionar maior efetividade na sua atribuição

constitucional do controle externo da atividade policial.

Os objetivos específicos da monografia foram os relacionados à contextualização das

atribuições e legitimidade constitucionais conferidas ao Ministério Público, e como este órgão

de execução externa as suas atividades.

Ademais, foram estudadas as estruturas dos órgãos componentes da segurança pública,

previstos na Constituição Federal, quais sejam, a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal,

Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis, Polícias Militares, Corpos de Bombeiros Militar e

as Polícias Penais federal, estaduais e distrital.

Por fim, verificou-se por meio de pesquisas doutrinárias, jurisprudenciais e

regulamentares os instrumentos jurídicos utilizados pelo Ministério Público, a fim de exercer

e legitimar o controle externo exercido pelo órgão, fiscalizando as instituições previstas no

artigo 144 da Constituição Federal.

Por justificativa ao trabalho apresentado, ao Ministério Público foi concedida, dentre

suas atribuições, por meio do poder constituinte originário, em 1988, no art. 129,

posteriormente regulamentado pelo ordenamento jurídico infraconstitucional, a tutela dos

interesses difusos de segurança pública, primordialmente realizado por meio de controle

externo da atividade policial.

Assim, no decorrer deste estudo, foram apresentados os princípios regentes do

Ministério Público, a sua função de fiscal da leie competência, para posteriormente,

demonstrar o controle externo da atividade policial, evidenciandoo exercício e a legitimidade

conferida ao Ministério Público, a fim de realizar a fiscalização dos órgãos de polícia.

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O tema foi apresentado a este estudante primeiramente pelo contato familiar,

acompanhando as atividades de seu tio, Delegado da Polícia Civil, e posterior e

primordialmente, já na graduação, em estágio não obrigatório.

No Ministério Público de Santa Catarina, precisamente na 40ª Promotoria de Justiça

da Capital, que detinha atribuição de Controle Externo da Atividade Policial e Segurança

Pública, com a edição da Lei n. 13.491/2017, que alterou a competência da justiça militar, e

nova reestruturação do MPSC, absorvendo parte da auditoria militar, junto com a 5ª

Promotoria de Justiça da Capital, na instrução até o oferecimento da denúncia.

A colaboração para com a sociedade e seus interesses difusos, a partir da atuação deste

órgão externo de controle, se dá pela garantia do estado de normalidade do Estado,

diminuindo a violência urbana e criminalidade, estabelecendo o devido controle da força

coercitiva em detrimento do Estado Democrático de Direito.

O método de abordagem de pensamento é o dedutivo, em razão da contextualização

quanto à atuação do Ministério Público, na tutela difusa de segurança pública por meio do

controle externo da atividade policial, até demonstrar de forma qualitativa a legitimidade e de

que forma o constituinte originário e legislador infraconstitucional dispuseram aos Órgãos

Ministeriais para garantir maior efetividade na atuação dos órgãos de Polícia.

Para o seu desenvolvimento, a pesquisa teve natureza qualitativa, com procedimento

monográfico e técnica bibliográfica, em doutrinas, artigos científicos e no ordenamento

jurídico vigente.

No segundo capítulo, em desenvolvimento dos estudos, observou-se brevemente o

contexto histórico do Ministério Público, desde o seu surgimento até a estrutura que o Brasil

adota atualmente, frente à Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em

1988, bem como as atribuições garantidas ao Órgão pela Magna Carta.

Neste momento, foram esclarecidos a etimologia do nome da Instituição, a natureza

jurídica, e adentrou-se na atividade ministerial no tocante aos princípios institucionais

inerentes à atividade do Ministério Público: Autonomia, independência funcional e

Responsabilidade; a Unidade; a Indivisibilidade e; o Promotor natural.

O terceiro capítulo teve por objetivo retratar o sistema constitucional de segurança

pública que o constituinte originário de 1988 elencou, observado o conceito de segurança

pública e de ordem pública, o dever e obrigação do Estado e de todos para com este direito

fundamental e ao término, foram estudadas as instituições componentes da segurança pública,

a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis,

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12

Polícias Militares, Corpos de Bombeiros Militares e as Polícias Penais federal, estaduais e

distrital.

O quarto capítulo objetivou realizar a análise específica do Ministério Público em

controle externo da atividade policial.

Abordados os temas da proteção ao Estado Democrático de Direito, e como o

Ministério Público exerce suas funções para garantir este fundamento constitucional, e seus

reflexos na seara da segurança pública.

Nesta toada, estudou-se a função do Ministério Público como fiscal da lei,

fundamental para conferir a esta Instituição a atribuição do controle de legalidade de outros

órgãos, de forma externa.

Apresentadas as discussões sobre a possibilidade e legitimidade do Ministério Público

e o poder de investigação, frente à divergência doutrinária em detrimento da lacuna deixada

pelo poder constituinte referente à exclusividade da investigação pelas policiais judiciárias.

Ao final, abordou-se o controle externo da atividade policial, conceituando-se esta

atribuição, estudando a legitimidade do Ministério Público para a atuação nesta área e ainda o

exercício que realiza como órgão externo de controle de polícia.

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2 O MINISTÉRIO PÚBLICO: HISTORICIDADE E PRINCÍPIOS

INSTITUCIONAIS

Para início dos estudos, apresenta-se a análise pormenorizada do Ministério Público,

como Instituição, no qual buscou-se seu contexto histórico, como o surgimento nas

organizações sociais, a evolução no Brasil, seu embasamento constitucional e os princípios a

ele inerentes.

A memória da reconstrução institucional do Ministério Público brasileiro é uma

história de sucesso. Em menos de vinte anos, a Instituição conseguiu passar de mero apêndice

do Poder Executivo para a condição de órgão independente e, nesse processo que alterou sua

estrutura, funções e privilégios, o Ministério Público também abandonou seu papel de

advogado dos interesses do Estado para se tornar defensor público da sociedade, como retrata

Arantes (2002, apud MARTINS JUNIOR, 2015).

O Ministério Público é a instituição permanente, essencial à função jurisdicional do

Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses

sociais e individuais indisponíveis, nos termos do artigo 137, da Constituição Federal, e a ele

lhe foi incumbido, dentre as atribuições de tutela difusa e coletiva, o controle externo da

atividade policial(BRASIL, 1988).

Para a análise mais ampla deste papel, cabe, em um primeiro momento contextualizar

a sua existência e atuação, vez que previsto no sistema jurídico vigente, como função

essencial à justiça, com independência a fim de promover o bem de toda a sociedade.

2.1 CONTEXTO HISTÓRICO

A origem do Ministério Público compreende um emaranhado de situações e contextos

históricos que evoluíram até chegar ao modelo que se adota no Brasil, objeto de análise da

presente monografia, isto posto em razão da diversidade de modelos organizacionais que

surgiram e existem nos Estados soberanos que, todavia, convergem na ideia da função

exercida pelo Estado individualizada da função jurisdicional, concentrada na Coroa

(GARCIA, 2017, p. 78).

O Ministério Público surge da evolução social consoante aos aspectos punitivos do

poder estatal, à época, predominantemente monárquica, os procuradores do rei ou da Coroa

eram funcionários reais cuja função era a de exercer a acusação e repreensão aos rebeldes, a

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14

fim de proteger a coletividade, e estavam sempre atrelados ao poder estatal e àpersecução

penal, pondo fim ao sistema inquisitorial, em que o julgador era o mesmo que acusava.

O surgimento do exercício acusatório pelos procuradores da Coroa diverge entre os

doutrinadores. Contudo, costumeiro inferir que o Ministério Público próximo ao modelo que

existente atualmente no Estado surge na Idade Média, em 1302, no reinado de Felipe IV, o

Belo, da França, como um mecanismo para a manutenção do monopólio jurisdicional, contra

os tribunais eclesiásticos que imperavam naquele tempo (MARTINS JUNIOR, 2015).

Alcançado o poder jurisdicional pela Coroa Francesa, Felipe, o Belo, chamou para si a

tutela para atuar perante a autoridade jurisdicional que exercia por meio de agentes do poder

real perante a corte, “procureur du roi” ou “le gens du roi”.

A partir da Revolução Francesa, este Órgão sai da esfera do Poder Executivo exercido

pela monarquia, deixando de desenvolver suas atividades em interesse do Rei, para tutelar os

interesses sociais e coletivos (MARTINS JUNIOR, 2015).

Na sequência, verificam-se as diversas facetas do Ministério Público ao redor do

mundo, nas quais os seus membros podem ser eleitos, ou o preenchimento dos cargos pode se

dar por contratação direta ou ainda em seleção pública.

A carreira dos membros do Ministério Público pode estar totalmente separada da do

Poder Judiciário ou do Estado, em um corpo autônomo e individualizado, ou vinculada a

algum deles, integrados em função distinta e pertencente ao Poder Judiciário (MARTINS

JUNIOR, 2015).

Dentre as atribuições, restringir-se-ia à persecução penal, por meio da investigação

criminal e incitação da ação penal, ou incidindo em tutelas diversas das individuais, chamadas

de difusas e coletivas.

Mendes e Branco (2020, p. 1154-1155), retratam a mudança de contexto na atuação do

Ministério Público no início de sua história:

As dificuldades que rondam o estudo do Ministério Público começam já com

desafio de se indicar a sua precisa origem histórica, que é retrocedida, por vezes, ao

Egito Antigo, onde se descobriram funcionários do rei, encarregados de, em nome

do soberano, reprimir rebeldes e proteger os cidadãos pacíficos, dando curso a

acusações e buscando a verdade. Indica‐se, em outras ocasiões, o berço do

Ministério Público em figuras da vida política da Grécia Antiga. Há os que situam as

raízes do Ministério Público na Idade Média. Estes aludem ao “comum acusador”

(Gemeiner Anklager), figura germânica que exercia a acusação, quando o particular

não perseguia o seu ofensor. A doutrina converge, entretanto, em apontar, como

origem mais provável do órgão, a Ordenança francesa de 25 de março de 1302, de

Felipe IV, o Belo. Ali, exigiu‐se dos Procuradores do Rei que prestassem o mesmo

juramento dos juízes, o que os impedia de patrocinar outras causas além das de

interesse real. Aos poucos, esses Procuradores foram deixando de ser meros

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15

defensores dos interesses privados do monarca para se transformarem em agentes do

poder público junto aos tribunais.

Assim, será apresentado o desenho que vem atrelado ao órgão atualmente, proposto

pela ordem Constitucional vigente, frente ao Estado Democrático de Direito garantida pela

Carta Magna de 1988, com prerrogativas, atribuições e obrigações próprias a serem

discriminadas.

2.2 CONTEXTO HISTÓRICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO BRASIL

No Brasil, este Órgão sofreu diversas alterações, desde institucionais, como das suas

atribuições, e até mesmo no vínculo com o poder público, passando pelo Poder Judiciário e

pertencendo posteriormente ao Poder Executivo, até ser-lhe concedida autonomia.

Mendes e Branco (2020, p. 1155) ressaltam a inexistência de previsão na Constituição

do Império:

O Ministério Público não é mencionado nem pela Constituição do Império, nem pela

de 1891. Esta última apenas alude ao Procurador‐Geral e à sua iniciativa na revisão

criminal pro reo. Não obstante, diplomas legais já faziam referência ao parquet

desde o Império.

No Brasil colônia vigia o ordenamento jurídico português, composto pelas Ordenações

Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, que disciplinavam a atuação de funcionários públicos

cujas atividades se assemelhavam aos membros do atual Ministério Público.

Nesta época, no Brasil só havia a primeira instância de jurisdição, enquanto os

recursos das lides eram julgados no Tribunal de Relação de Lisboa, que perdurou até a criação

do Tribunal de Relação do Brasil, que previa a atuação do Procurador dos Feitos da Coroa,

Fazenda e Fisco, atuante neste Tribunal. A previsão legal do Promotor de Justiça estava

atrelada à jurisdição eclesiástica, tutelando os interesses da jurisdição da igreja, como ocorreu,

posteriormente, com a criação das Relações do Rio de Janeiro, Maranhão, Pernambuco, São

Pedro do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e a nomeação de outros Procuradores

(GARCIA, 2017, 94).

Com a conversão da Relação do Rio de Janeiro em Casa de Suplicação do Brasil,

como órgão julgador dos recursos contra as decisões proferidas pelos órgãos jurisdicionais

suso, houve a distinção efetiva dos cargos de Promotor de Justiça e Procuradores, ocupados,

assim, por agentes distintos com atribuições específicas em órgãos determinados.

Na Monarquia, a Constituição Imperial de 1824 trazia no capítulo destinado à

organização do Senado, a acusação dos crimes realizada pelo Procurador da Coroa e

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16

Soberania Nacional, e ainda, a nomeação de um dos desembargadores junto aos Tribunais da

Relação para atuar como acusador, chamado de Procurador da Coroa, que exercia o comando

do Parquet (GARCIA, 2017, p.95).

Com a criação do Processo Criminal, surgiu a figura dos Promotores Públicos, que

poderiam exercer a função pelo período de 3 (três) anos, aqueles que pudessem ser jurados no

processo, nomeados pelo Executivo perante á corte, mediante apresentação de lista tríplice

pelo legislativo.

Detinham estes a função de denunciar crimes, solicitar a prisão e punição de

criminosos, promover sentenças, além de representar contra autoridades negligentes, omissos,

e demais crimes consoantes ao exercício do poder público ou contra as suas autoridades e

nobres (GARCIA, 2017, p. 95).

Em 1838 foi delegada aos Promotores Públicos a função de fiscalizar a lei, evoluindo

no ano 1841 a preferência de bacharéis, idôneos, nomeados pelo Imperador ou presidentes das

províncias, havendo pelo menos um em cada comarca. Na sua falta, poderia o juiz nomear

Promotor Público “ad hoc”, pois a figura do Adjunto do Promotor tão somente ocorreu em

1871, para suprir à falta ou atender ao impedimento do titular (GARCIA, 2017, p. 96).

Com a edição da Lei do Ventre Livre, ainda em 1871, os Promotores Públicos foram

incumbidos de fiscalizar o registro e a proteção dos filhos dos escravos, como lecionam

Mendes e Branco (2020, p. 1155):

Vale recordar que a Lei do Ventre Livre (Lei n. 2.040/1871) confiava ao Promotor a

função de proteger os filhos libertos dos escravos. O Decreto n. 848, de 11 de

outubro de 1890, trata do Ministério Público como Instituição.

Em 1876, o Procurador da Coroa atuava em segunda instância, com a função de

acusação e fiscalização da lei, sem exercer as funções de chefia do órgão.

Tem-se, contudo, que até o ano de 1890, os Promotores Públicos eram quaisquer

eleitores e jurados, portanto, o que poderia levar ao exercício do cargo até mesmo analfabetos,

desde que preenchidos os requisitos e nomeados pelo executivo ou pela Coroa, a depender da

época (GARCIA, 2017, p. 97).

À exemplo do Decreto n. 848, de 11 de outubro de 1890, de autoria do então Ministro

da Justiça do Governo Provisório da República, é editado o Decreto Federal n. 1.030,

considerado o patrono do Ministério Público no Brasil.

Neste diploma, foi conferido o status de Instituição ao órgão, dispondo sobre o

Procurador-geral da República, atuante perante o Supremo Tribunal Federal, e que, em cada

Seção Judiciária Federal deveria atuar um Procurador da República, nomeados pelo

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17

Presidente da República, com garantia de sua estabilidade e, vinculado ao Poder Executivo da

época, e que tinha por funções promover a ação pública e fiscalizar a execução das leis

(GARCIA, 2017, p. 97).

Outras alterações significantes não foram apresentadas até a Constituição de 1934,

que, apesar de manter a vinculação ao Poder Executivo, previu a existência dos Ministérios

Públicos da União, dos Estados, Territórios e do Distrito Federal, dispondo sobre estabilidade,

vedações e primordialmente, o ingresso no órgão por meio da aprovação em concurso

público.

A Constituição de 1937 trouxe como mudanças a livre nomeação e demissão do

Procurador-Geral da República pelo Presidente, e ainda, elencou como requisitos os mesmos

previstos ao cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal, além da possibilidade dos seus

membros interporem recursos às instâncias superiores. Como principal inovação, o ingresso

nos Tribunais pelo quinto constitucional (GARCIA, 2017, p. 99).

Tão somente em 1939 surge a atribuição do Ministério Público na esfera civil, e em

1941, concedeu-se ao Ministério Público o poder de requisitar a instauração da investigação

criminal.

Em 1946, o Ministério Público deteve seu título próprio, desconectado dos Poderes

Executivo e Legislativo, previsto nas normas as prerrogativas da estabilidade, a

inamovibilidade e a necessidade do concurso público para ingresso na carreira (GARCIA,

2017, p. 99).

Nesta mesma época, passa ao Senado a competência para aprovar a escolha do

Presidente da República ao cargo de Procurador-Geral da República, enquanto o quinto

constitucional retroage, passando a valer apenas na esfera estadual.

Nas atribuições, as mudanças sobrevieram na representação da União ou da Fazenda

Nacional, quando réus na esfera cível.

A Constituição de 1967 elabora outra redação com localização distinta do Ministério

Público, concentrada no capítulo destinado ao Poder Executivo (MENDES; BRANCO, 2020,

p. 1155):

Ao longo da história dos nossos diplomas constitucionais, o Ministério Público já foi

tratado no capítulo do Poder Judiciário (Constituição de 1967), passando, dois anos

mais tarde, com a Emenda à Constituição n. 1, a figurar no capítulo do Poder

Executivo. Na Constituição de 1946, a instituição aparece em tópico autônomo, em

linha análoga ao que ocorreu em 1934. Na topografia da Constituição de 1988

tampouco o Ministério Público está inserido especificamente nos capítulos

específicos dos três poderes clássicos, surgindo no capítulo seguinte ao do Poder

Judiciário entre os entes compreendidos nas “funções essenciais à Justiça”

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18

Em 1981, denota-se o modelo mais próximo ao adotado atualmente, onde a Lei

Complementar n. 40/1981 confere ao Ministério Público a posição de Instituição permanente

e essencial à função jurisdicional do Estado, prevendo os princípios da unidade,

indivisibilidade e autonomia funciona, com as garantias de autonomia administrativa e

financeira, mantendo-se a atribuição de representar judicialmente a união (PIETRO, 2010, p.

6).

2.3 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

No modelo Constitucional vigente, a atuação do Ministério Público não se restringe à

persecução penal, mas, também atinge a tutela dos interesses difusos e coletivos, de forma

individualizada e sem vínculos com o Poder Judiciário, nem mesmo como tutor dos interesses

subjetivos do Estado (GARCIA, 2017, p. 103).

A Constituição Federal de 1988, elaborada após o período ditatorial militar, e com isso

diversos traços de garantias individuais e sociais foram abarcados e ressaltados, como reflexos

diretos na atuação do Ministério Público, não sendo diferente com a previsão do Poder

Judiciário e das instituições essenciais à Justiça.

Mendes e Branco (2020, p. 1156) retratam:

O Ministério Público na Constituição de 1988 recebeu uma conformação inédita e

poderes alargados. Ganhou o desenho de instituição voltada à defesa dos interesses

mais elevados da convivência social e política, não apenas perante o Judiciário, mas

também na ordem administrativa. Está definido como “instituição permanente,

essen‐cial à função jurisdicional do Estado, incumbindo‐lhe a defesa da ordem

jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”

(art. 127). A instituição foi arquitetada para atuar desinteressadamente no arrimo dos

valores mais encarecidos da ordem constitucional.

Assim, na Seção I do Capítulo IV, intitulada “Das Funções Essenciais à Justiça”, está

previsto o Ministério Público, conceituado em Instituição permanente, essencial à função

jurisdicional do Estado, com a finalidade da defesa da ordem jurídica, do regime democrático

e dos interesses sociais e individuais indisponíveis – art. 127, da CR/1988 (BRASIL, 1988).

Nele está compreendido o Ministério Público da União, do qual pertencem o

Ministério Público Federal, do Trabalho, Militar, do distrito Federal e Territórios – art. 128, I

da CR/1988, e ainda o dos Estados, com atribuições distintas – art. 128, II (BRASIL, 1988).

A eles foram garantidas a autonomia funcional, administrativa, financeira e

orçamentária, com inciativa legislativa para editar e regulamentar a sua organização,

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19

atribuições e estatutos, com vedações e órgão próprio de controle, o Conselho Nacional do

Ministério Público.

A Magna Carta ainda determina que as atribuições do Ministério Público poderão ser

exercidas apenas pelos membros da carreira, cujo ingresso se dá por meio de aprovação em

Concurso Público, de provas e títulos, e a investidura do Procurador-Geral da República,

chefe do Ministério Público da União, exercida necessariamente por membro da Carreira do

Órgão, nomeado pela Presidência da República, com a aprovação do Senado, para mandato

com prazo específico de 2 anos permitida a recondução, contudo sem a possibilidade da

demissão ad nutun. De igual modo ocorre no âmbito estadual, em que a escolha é feita pelo

Governador do estado (MARTINS JUNIOR, 2015).

O Ministério Público foi consagrado no âmbito constitucional com finalidades,

premissas, autonomia, independência, funções e garantias equiparadas à magistratura, sendo

este o ápice do Órgão, em salvaguarda do Estado Democrático de Direito e proteção à ordem

jurídica e às tutelas difusas e coletivas (MARTINS JUNIOR, 2015).

2.4 ETMOLOGIA

A expressão Ministério Público surge a partir do latim ministerium, minister, que

indica o ofício de servo, função sérvio, ou ainda ofício, cuidado, ocupação ou trabalho

(GARCIA, 2017, p. 68).

O adjetivo público que acompanha o Ministério vem vinculado ao conceito de Estado,

Instituição, no aspecto subjetivo. No sentido objetivo, dá a ideia do interesse geral ou social.

Em que pese a ideia de atividade estatal estar cunhada no interesse social, o prisma a

ser analisado no termo Ministério Público está vinculado à posição que se encontra a

Instituição na estrutura do Estado, bem como às suas atribuições.

É o que direciona à ideia de Ministério Público como Instituição social, ligada à

proteção do Estado Democrático de Direito, o que será abordado posteriormente, ao Estado

Social, à sociedade como um todo, e à proteção dos poderes constituídos (GARCIA, 2017, p.

68).

Outra ideia que se apresenta, é de que a origem do termo Ministério Público é oriunda

da terminação ter, de minister, que indica a comparação por graduação, inferindo ideia de

superioridade pelo termo magister, referindo-se ao magistrado. Isto, demonstraria que o

menor, minister, serve a alguém, é servidor de algo, posição ocupada historicamente junto às

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monarquias, e posteriormente vinculados aos Poderes Executivo e Judiciário (REZENDE

FILHO, 1962, p. 78 apud GARCIA, 2017, p. 68).

É costumeiro encontrar a designação do Ministério Público pelo vocábulo Parquet, de

origem francesa, que indica o ajuntamento de tábuas que formam o chão dos cômodos de

habitação, ou o de chapas que integram uma plataforma ou chão do compartimento de um

navio (GARCIA, 2017, p. 68).

Apresentou-se no meio jurídico porque os representantes do Ministério Público

(agents du roi) postulavam de pé, fora do tablado onde ficavam os juízes, mas sim no

assoalho da sala de audiências, junto às partes e seus representantes, como forma de

demonstrar a força e independência concedida pelos Monarcas aos Procuradores, em relação

aos juízes (GARCIA, 2017, p. 68).

Outras formas de representação do poder do Rei e de seus representantes foram

apresentadas na história, como eram apresentados ao lado dos juízes, no mesmo estrado, e

nesta circunstância, o Parquet se tornou sinônimo da instituição Ministério Público

(GARCIA, 2017, p. 68).

2.5 A NATUREZA JURÍDICA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Conforme retratado, o Ministério Público tem por posicionamento constitucional de

função essencial à justiça, isto porque o Poder Judiciário detém a competência para exercer

controle sobre os atos praticados pelos Poderes Legislativo e Executivo, e até mesmo do

próprio Poder Judiciário, sendo-lhe, todavia, vedado atuar sem provocação externa.

Para tanto, o constituinte dispôs no Capítulo IV do Título da Organização dos Poderes,

o qual rege as normas referentes aos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, estruturas

alheias a estes poderes, a fim provocar a atuação do Poder Judiciário, dentre eles, o Ministério

Público. (MENDES; BRANCO, 2020, p. 1166)

Dito isto, o Ministério Público, juntamente com o Tribunal de Contas, ocupa posição

intermediária na organização Administrativa e Política do Estado, visto que apresenta um

limiar teórico entre órgão e pessoa jurídica, dadas as suas características administrativas e

estruturais, e principalmente a falta de critérios objetivos que o definam entre os demais no

poder público.

O Ministério Público é autônomo, e consequentemente desvinculado de qualquer

Poder estatal, possuindo estrutura hierárquica e administrativa própria, e porquanto não possui

personalidade jurídica.

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Ademais, o Ministério público faz parte das pessoas jurídicas de direito público, com

administração centralizada, caso fosse caracterizado de forma diversa, implicaria em

consequências tais quais a responsabilidade civil direta de seus membros.

Entende-se que o Ministério Público tem natureza jurídica de órgão sui generis, visto

que inexistem semelhanças com quaisquer outros institutos públicos previstos na constituição,

sendo então único em seu gênero, e, ao mesmo tempo, Instituição (GARCIA, 2017, p. 110-

112).

No primeiro entendimento, se dá em razão da centralização de unidade e competência,

intrínsecos inclusive nos princípios do Ministério Público, embasados também na

independência.

Os designados membros, como órgão, exercem a atividade fim, enquanto os servidores

ou colaboradores desempenham a atividade meio, não se caracterizando entidade porque não

possui personalidade jurídica.

Para estabelecer, então, esta natureza jurídica, há de ser considerado o

desenvolvimento legal e a sua delineação, com especo na Carta Magna, que garantiu ao

Ministério Público um regime jurídico peculiar amparado em sua autonomia.

O Ministério Público, como Instituição, por meio da sua atividade fim com

estruturação fundada na busca pelo bem comum, sendo, pois, de relevante atuação social, e

essencial para a convivência em coletividade.

Com isso, entende-se que o Ministério Público, como Instituição, é parte essencial à

atuação da justiça, nos moldes da Constituição Federal, manifestamente social, como parte do

Estado, por fomentar os ideais da realização da Justiça, do Estado Democrático de Direito e

ao respeito ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana (MARTINS JUNIOR, 2015).

2.6 OS PRINCÍPIOS ATRELADOS AO MINISTÉRIO PÚBLICO

Para o desenvolvimento da atividade do Ministério Público, bem como à sua

organização administrativa, a Constituição Federal, as normas infraconstitucionais, e a

doutrina elencam diversos princípios norteadores, sendo selecionados os mais importantes que

tangem ao tema da presente monografia.

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2.6.1 Autonomia, independência funcional e Responsabilidade

O primeiro princípio analisado é o da Autonomia, em exegese aos artigos 127, §§ 2º a

6º e 128, §§ 1º a 5º, relativos à capacidade de autogestão do órgão, capacitando o próprio

direcionamento, ou seja, impossibilitando que os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário,

estabeleçam por normas ou requisitem por instruções, o exercício de direção do Órgão

Ministerial.

Esta autonomia, que permite a autogestão e regulamentação própria não tem caráter

absoluto, isto porque a Constituição trouxe limitações à competência de auto-organização

(CAZETTA JÚNIOR, 2001 apud MARTINS JÚNIOR, 2015).

Isto posto, cabe ponderar a efetiva independência funcional do Ministério Público de

seus membros, ao exercício livre das atribuições e funções, por parte de seus membros, sem a

intervenção de órgãos terceiros.

Ao passo que o Ministério Público possui independência funcional, que é a manifesta

autonomia por parte de seus membros e gestores, em um contexto geral, dá-se ao conceito de

forma concomitante a responsabilidade, vez que aquele que tem poder e autonomia para

decidir, deve suportar consequentemente a responsabilidade que dela decorre.

Logo, distintos são os princípios da autonomia institucional, também chamada de

orgânica, se refere ao órgão do Ministério Público em si, como Instituição, com a

independência dos seus membros agirem com liberdade dentro dos liames estabelecidos

unicamente pelo ordenamento jurídico, ao passo que a segunda independência trata-se da

autonomia de seus membros.

Depreende-se, portanto, que o ordenamento constitucional vigente outorgou ao

Ministério Público, como Instituição permanente e essencial à função jurisdicional, a

autonomia de sua organização financeira, e ainda a atuação dos seus agentes públicos, no

exercício da defesa da ordem jurídica do regime democrático, dos interesses sociais e

individuais indisponíveis (FINGER, 2010, p. 84).

Quando se retrata, então, que o Ministério Público tem atuado, ou ainda que a atuação

de seus membros aborde certas perspectivas jurídicas, não há o que se falar em decisão

política pela instituição, posto que as chefias institucionais e corregedorias não detêm

vinculação em suas orientações, porquanto a decisão de seus membros é independente e

dotados de livre convencimento motivado (FINGER, 2010, p. 85).

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23

2.6.2 Unidade

O princípio da unidade, de que trata a Magna Carta, conforme o entendimento da

própria palavra, apesar de sua polissemia, se traduz em um Ministério Público como

Instituição, unido, homogêneo, uniforme e coordenado e, primordialmente, funcionando cada

órgão como partes de um todo indivisível, e não como entidades separadas.

Isto se dá pela divisão do Ministério Público em competências específicas, na esfera

Federal e Estadual, que, por sua vez, distribuem sua competência por atribuições conferidas

aos seus membros, que exercerão a atividade, todos subordinados ao respectivo Procurador-

Geral.

Significa que essas facetas que se encontram na atividade se dão tão somente em razão

da distribuição da competência, no âmbito federal e estadual, e posteriormente na disposição

de seus membros, a fim de exercerem as atribuições de forma organizada.

Dentre os aspectos jurídicos, três são apresentados como principais: o Ministério

Público como Instituição, a atuação dos seus membros, e ao final, a influência exógena que

recebe.

As ramificações do Ministério Público possuem, entre si, autonomia nos planos

administrativos, financeiros e funcionais, compatibilizando a unidade institucional e

autonomia pelo seguinte motivo.

Existe um só Ministério Público, este previsto no Capítulo IV, Seção I, da

Constituição Federal de 1988, que o descreve em seu artigo 127 (BRASIL, 1988).

No dispositivo seguinte, faz o arranjo inicial da distribuição de competências, no

inciso I, o Ministério Público da União, que compreende o Ministério Público Federal,

Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Militar e

Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, e no inciso II os Ministérios Públicos dos

Estados, distribuídos nas demais unidades da federação (MARTINS JUNIOR, 2015).

A unidade e posterior distribuição é importante e imprescindível para a realização dos

objetivos institucionais, como unidade ideológica e ainda na unidade de ação, com direção

consciente e orientada pelos princípios e valores institucionais a fim de concretizar o plano

Constitucional previsto no caput do artigo 127 (GOULART, 2010, p. 171).

No que tange à atuação funcional, o princípio da unidade indica que o Ministério

Público constitui uma Instituição única, das quais emana princípios, normativas e atribuições

que determinam diretrizes de atuação de seus membros.

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24

Contudo, o entendimento apresentado nessa situação é de que, em que pese os

membros do Ministério Público praticam individualmente suas atribuições, ainda são a

representação e integração do corpo Ministerial como um todo.

A unidade funcional surge assim como o instrumento disponível à Instituição para

garantir a preeminência de sua atuação, distribuindo as atividades em determinados órgãos

jurisdicionais e controles externos específicos, em que cada detentor da atribuição atuará em

áreas afetas apenas às suas atribuições que lhe foram concedidas.

O princípio da unidade poder-se-á distribuir: (1) pela competência de cargo, como o

exercício junto aos 1º e 2º graus de jurisdição, promotor de justiça e procurador de justiça

com mesma matéria, (2) pela própria matéria afeta, a exemplo criminal comum e tribunal do

júri, (3) função de tutelas difusas e coletivas, interesses transindividuais, e curadorias, e por

fim (4) a territorial, distintas entre as comarcas de atuação (GARCIA, 2017, p 133-134).

Concluindo, a influência exógena que trata a doutrina refere-se à atuação do Conselho

Nacional do Ministério Público, que, vem por meio de suas diretrizes e fiscalização, fomenta

e estabelece uniformidade às práticas adotadas nas diversas competências da Instituição,

frente à carência de lei complementar que vise regulamentar a atuação de forma vertical.

Para tanto, a desconformidade das diversas legislações específicas para cada parte da

divisão do Ministério Público vem de encontro à atuação do Conselho Superior, o qual almeja

absorver as consequências da divisão da Instituição por meio da padronização da atuação,

visto que, como dito alhures, o Ministério Público é uno, e indivisível como será verificado a

seguir (GARCIA, 2017, p. 135).

2.6.3 Indivisibilidade

Este princípio está intimamente ligado ao estudado anteriormente, todavia, não pode

ser confundido com a unidade, visto que o presente tem por função conter a mitigação do

princípio da unidade.

Primordialmente, a indivisibilidade retrata que todo ato praticado pelos membros do

Ministério Público, sejam os promotores ou procuradores, independente do grau de jurisdição

que atuam, ou ainda da competência, é creditado ao órgão, e não aos agentes públicos.

Isto posto, observa-se que a substituição dos membros na prática de determinados atos,

seja na fiscalização ou na postulação em juízo, não ensejaria em anulação ou nulidade, no

caso de suspeição, ausência por férias ou licença, e ainda impedimentos (GARCIA, 2017,

145).

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Não há o que se falar em ilegitimidade, portanto, vez que a atuação em esferas

específicas se trata de distribuição de atribuição no âmbito administrativo do próprio órgão,

podendo os membros substituir, responder e colaborar entre si, quando pertencentes a mesma

carreira (GARCIA, 2017, 145).

Conclui-se assim que o princípio da indivisibilidade tem caráter meramente

procedimental, visando a atuação da Instituição Ministério Público como defensora da ordem

jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, sendo

seus membros atores do exercício da função (GOULART, 2010, p. 171).

2.6.4 Promotor natural

Complementando, então, os princípios intrínsecos ao exercício direto da atividade do

Ministério Público, a Constituição Federal elencou no artigo 5º, LIII, dois princípios, o

primeiro relacionado à atuação do Ministério Público, e o atrelado ao exercício jurisdicional,

quais sejam, o promotor e o juiz natural.

No momento em que a constituição separa em termos o processar e sentenciar, senão

pela autoridade competente, distingue as atividades do Promotor/Procurador figurar no polo

ativo das ações de sua competência, restando ao magistrado decidir sobre a demanda trazida

pelo membro do Ministério Público.

Assim, Goulart (2010, p. 177) elenca quatro aspectos diretos os quais são

manifestamente consagrados pelo princípio do promotor natural.

Primeiramente o aspecto social, em que a sociedade possui, na defesa dos interesses

difusos, coletivos e transindividuais, o agente público e político, com independência dos

órgãos administrativos, legislativos e jurisdicionais.

Após, o aspecto individual, conferido ao membro da sociedade, o direito de ser

investigado, processado, e por vezes tutelado pelo Ministério Público nas ações e matérias que

o compete.

Em terceiro, o aspecto institucional, que trata da independência em relação a outros

órgãos administrativos, supostamente superiores, por meio de requisições e orientações

arbitrárias e protecionistas.

Por último, o aspecto funcional, garantindo ao membro do Ministério Público em si, o

exercício de todas as suas funções dentre as atribuições que lhe foram conferidas, de forma

independente e discricionária (GOULART, 2010, p. 177).

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Ademais, o princípio do Promotor Natural vem como forma de proteção ao exercício

da função na própria administração autônoma do instituto, isto porque coíbe, por exemplo, a

designação de Promotor ad hoc, ou a exceção de finalidade, e ainda o exercício de forma

hierarquizada da atividade fim.

Diante deste princípio é que se torna indevida a designação de pessoa qualquer, até

mesmo como ocorria outrora, sem formação acadêmica, para o exercício das tutelas

asseguradas ao Ministério Público pela Constituição Federal, com a consequente proibição do

Promotor ad hoc.

Logo, para ser membro do Ministério Público, a pessoa deve preencher diversos

requisitos, tais como a formação acadêmica no curso de direito, três anos de prática jurídica e

a aprovação em concurso público de provas e títulos.

O princípio do Promotor Natural tolheu a exceção de finalidade, ou seja, a designação

de Promotor/Procurador em específico para atuar em demanda específica, individualizando e

especializando o exercício de certo membro ou de certo caso em que se atua.

Limitou ainda a atuação do Procurador-Geral, no exercício da atividade fim do

Ministério Público, para que este, na posição que se encontra, deixe de atuar em processos de

forma hierarquizada, ou seja, utilizar do cargo para obter vantagem (MARTINS JUNIOR,

2015).

A fim de estudar as atividades do Ministério Público, no exercício do controle externo

da atividade policial, será abordado no próximo capítulo a ordem constitucional da Segurança

Pública e seus órgãos componentes.

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3 A SEGURANÇA PÚBLICA E SEUS ÓRGÃOS COMPONENTES

O Estado, como provedor e garantidor de diversos direitos e garantias fundamentais,

tem por dever efetivar a segurança pública, como forma de preservar a ordem pública e a

incolumidade das pessoas e do patrimônio, por meio de seus órgãos, a serem abordados a

seguir – art. 144 da CR/1988 (BRASIL, 1988).

3.1 CONCEITO DE SEGURANÇA PÚBLICA E ORDEM PÚBLICA

O conceito de segurança pública vem junto ao dever do Estado na garantia de

estabilidade, isto porque, o termo “segurança” tem origem latina da palavra “securus” cujo

objetivo é livrar algo de perigos, incertezas, para que seja assegurada a ausência de danos ou

prejuízos (SILVA, 1987).

Logo, a “segurança” é garantia e proteção, proporcionando à situação, pessoa ou coisa

o sentido de estabilidade e resguardo, atingindo assim o setor específico de acordo como o

adjetivo que o acompanha (MARTINS; COLPANI, 2011, p 56).

Neste contexto, a segurança pública assume o papel em razão do adjetivo que o

acompanha, neste caso “pública”, portando, é garantia e proteção, seja ela individual ou

coletiva, proveniente do poder público, configurando uma das dimensões da segurança

interna, juntamente com oEstado de Defesa e o Estado de Sítio, também previstos na Carta

Magna (MARTINS; COLPANI, 2011, p 56).

No entendimento de Álvaro Lazzarini (1994), não há como separar a ordem pública da

segurança pública, sequer o Estado da ideia de polícia, frente à necessidade da garantia de

convivência pacífica das pessoas, de modo que o exercício dos direitos individuais não se

sobreponham, ofendam, perturbem ou sequer impeçam o exercício do direito alheio, o que se

alcança com o policiamento da sociedade.

Lazzarini (1994) conceitua segurança pública como o estado antidelitual, que nada

mais é que um resultado da interpretação e aplicação das leis penais comuns e de

contravenções penais vigentes, juntamente com a ação das polícias preventivas e repressivas,

cujas funções são de obstar todo perigo que possa afetar a ordem pública, por meio de

instituições específicas e destinadas para tanto.

José Sérgio Marcondes ([2015]) expõe que a segurança pública contempla ações de

caráter diversos e entrelaçados: a) preventivo, por meio da educação, saúde e emprego, etc., e

aqui acrescento a importância das políticas públicas; b) legislativo, com a definição dos

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crimes e penas; c) de fiscalização e preensão, com a atuação dos órgãos e polícia e atuação do

Ministério Público; d) responsabilização, por meio da atividade jurisdicional; e) punição pelo

cumprimento da pena imposta e por fim; f) ressocialização, com a reintegração do indivíduo à

sociedade.

Assim, a ordem pública, no sentido da organização administrativa, juntamente com o

poder coercitivo do Estado, é o efetivo exercício das instituições e prerrogativas da segurança

pública, que traz a tranquilidade e a salubridade públicas (LAZZARINI, 1994).

A ordem pública, portanto, é a situação alcançada pelo exercício da segurança pública,

de normalidade da sociedade, na busca pela concretização de direitos individuais, estabilidade

das instituições e o devido funcionamento do serviço público, a ser provida tanto pelo Estado

como pelos cidadãos, de forma individual, com respeito mútuo das liberdades individuais e

instituições (LAZZARINI, 1992).

Há também o entendimento de que segurança pública e ordem pública não resultam de

causa e efeito, mas sim de situações jurídicas complementares, com a concretização dos

postulados oriundos do ordenamento jurídico, e destas surgem as diretrizes para atuação do

poder de polícia, e de acordo com as necessidades, apontar as ações a limites das ações a

serem tomadas pelas corporações (MOREIRA NETO, 1986, p. 88).

Diante de todo este exposto, há de se inferir que a segurança pública e a preservação

da ordem social não são consequências exclusivas da ação policial, seja ela preventiva ou

repressiva, mas sim de um complexo de ações e políticas engrenadas (MARTINS; COLPANI,

2011, p 66).

Valter Foleto Santin (2004 apud MARTINS; COLPANI, 2011, p. 66) destaca a

responsabilidade de cada cidadão para com a ordem e segurança públicas, aduzindo que se

trata de um regime permanente de proteção dos cidadãos no interior da nação, a fim de que

exista a estabilidade institucional e ordem interna, com escopo na convivência normal e em

harmonia.

Por conseguinte, a ordem pública e segurança pública são configurados em conceitos

diversos, porém entrelaçados, junto ao ordenamento jurídico que dão azo a melhor

convivência, com estabilidade e harmonia, das instituições do poder público e da sociedade

em si, vinculados aos fundamentos elencados na Carta Maior.

Isto vai ao encontro da preservação dos direitos individuais e sociais, ao passo que

legislador constituinte estabeleceu à República Federativa a condição de Estado Democrático

de Direito, com primazia na Dignidade da Pessoa Humana, para que o poder público possa

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atender as mais variadas faces da sociedade, ensejando a prática dos movimentos políticos e

ações públicas voltadas à preservação da ordem social (MARTINS; COLPANI, 2011, p 70).

A segurança pública também atinge a esfera do Governo, visto que este é o executor

das políticas públicas de responsabilidade do Estado, e está diretamente ligado pelos

investimentos feitos nos órgãos vinculados, uma vez geridos pelo Poder Executivo

(LAMBERT, 2018).

Compreende-se, portanto, ações específicas em cada ramificação do poder estatal

executivo, em que o Governo Federal tem por dever exercer a proteção e policial das

fronteiras, e o combate ao tráfico internacional de drogas, além de outros delitos de

competência da União, e por fim, o patrulhamento das rodovias federais (LAMBERT, 2018).

Aos Estados e ao Distrito Federal, foram atribuídos o policiamento ostensivo, aqueles

de repressão, que causam maior visibilidade da atuação do Estado no ramo, mantendo e

provendo a organização das políciasmilitares e civis, e ainda o Corpo de Bombeiros

Militar,além dos demais crimes comuns, de competência da jurisdição estadual (LAMBERT,

2018).

3.2 A SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A Constituição Federal, conhecida popularmente como Constituição Cidadã,

caracterizada em seu modelo estatal pela ampla proteção às pessoas e ao bem-estar, tornando

o Brasil um dos primeiros a alçar como garantia constitucional a qualidade de vida

(LAMBERT, 2018).

Esse reflexo inicia com o preâmbulo da Constituição Federal (BRASIL, 1988), que,

em que pese não exista força normativa ou vinculante, estabelece uma cadeia principiológica

adotada pelo Estado em sua formação, veja-se:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional

Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o

exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-

estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma

sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e

comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das

controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO

DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (Grifo nosso)

Em que pese se tratar de texto introdutório, acentuam Sarlet et al (2019, p. 84-85) que

o preâmbulo de uma Constituição é formado pelas posturas valorativas, suas convicções,

motivações que o Estado adotará nas normas subsequentes.

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30

Não só seus ideais, eles representam o aspecto histórico em que a nova Constituição

foi elaborada, e não só isso, asseguram a legitimidade daquele poder constituinte originário, a

fim de enunciar os objetivos e promessas do Estado para com o povo (SARLET et al. 2019, p.

84-85).

Essa promessa vem em consonância com a formação em Estado Democrático de

Direito e os fundamentos da República Federativa do Brasil, expressos no artigo 1º,

precisamente quanto à dignidade da pessoa humana:

Uma primeira função, aqui vinculada à sua condição de valor e princípio, diz com o

fato de a dignidade da pessoa humana ser considerada elemento que confere unidade

de sentido e legitimidade a uma determinada ordem constitucional. De acordo com

Jorge Miranda, aqui representando expressiva parcela da doutrina constitucional

contemporânea, a Constituição, ao reconhecer e proteger a dignidade da pessoa

humana, confereuma unidade de sentido, de valor e de concordância prática ao

sistema de direitos fundamentais e ao sistema constitucional, o que implica um dever

de interpretação de todaa ordem jurídica em conformidade com tais fundamentos.

(SARLET et al. 2019, p. 84-85).

A partir disto, surge a segurança pública como exercício em prol do bem da

coletividade, Queiroz (2019) entende que o principal bem jurídico tutelado pela segurança

pública é a liberdade, a possibilidade de prover os caminhos necessários à realização própria,

desde que respeitados os direitos dos demais, dentro da coletividade.

Assim, a proteção constante na segurança pública nada mais é que a forma que o

Estado encontrou de proteger a identidade, juntamente com os dons e propriedades

desenvolvidas por cada um, a fim de formar a sociedade pacífica e ordenada, fortalecendo a

liberdade, e a capacidade de ser pessoa (Queiroz, 2019).

Em continuação à análise constitucional, Lambert (2018) sustenta que o Estado

formado pelo Poder Constituinte originário de 1988 tem por razão de existir, tão somente a

satisfação das necessidades humanas, assegurando os direitos e liberdades individuais.

Art. 3º – Comstituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I – comstruir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – garantir o desenvolvimento nacional;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e

regionais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e

quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988).

Prevista na Constituição Federal junto ao Título V, “Da Defesa do Estado e Das

Instituições Democráticas”, com um capítulo próprio contendo um único artigo, o 144, do

qual emana toda a essência constitucional, a segurança pública está voltada aos princípios

constitucionais que tangem a harmonia social (BRASIL, 1988).

Page 32: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ABEL VIEIRA …

31

Em uma primeira análise, o caput do artigo suso considera a segurança pública um dever

do Estado, direito e responsabilidade de todos.

Bulos (2018, p. 1480) enfatiza que para a concretização da ideia de convivência

harmônica e preservação dos direitos e garantias individuais e sociais, é necessário o controle

pelo Estado, que se caracteriza pela vigilância, prevenção e repressão das condutas tidas como

ilícitas, antijurídicas e reprováveis.

Moraes (2016, p. 854), retrata que a Constituição Federal previu a segurança pública

como um dever do Estado, que em conjunto com a responsabilidade dos cidadãos, objetivam

a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e patrimônios.

Ao passo que esses deveres se tornam direitos, a atuação e exercício da segurança

pública devem respeitar a livre manifestação de pensamentos, reprimindo qualquer conduta

abusiva (MORAES, 2016, p. 854).

Este é ponto de conflito, que gera a necessidade do exercício da segurança pública,

visto que a liberdade causa adversidades, pela pluralidade de seres em exercício da dita

liberdade, e o agrupamento destas pessoas e destas liberdades causam embate (Queiroz,

2019).

Demonstrado então a finalidade, e também conceito da segurança pública, a

preservação do equilíbrio social, dever do Estado, será exercida pela polícia, que pode se

apresentar de duas formas: (1) a polícia administrativa, que tem por objetivo a proteção da

liberdade e propriedade e; (2) a polícia judiciária, esta por sua vez dividida em polícia

ostensiva e judiciária (BULOS, 2018, p. 1480).

Costa (2014) diferencia as polícias administrativa e judiciária na forma de atuação de

cada uma delas, a primeira, agindo preventivamente enquanto a segunda atua

repressivamente, ou seja, a polícia administrativa tem por objetivo impedir a conduta

delituosa e a polícia judiciária investiga os fatos ocorridos.

A polícia judiciária tem corporações específicas: a Polícia Civil com o exercício de

investigação dos fatos já corridos, enquanto a Polícia Militar que tem atuação repressiva e

ostensiva, a serem estudadas posteriormente (COSTA, 2014).

3.3 SEGURANÇA PÚBLICA, UM DEVER DE TODOS

Ocorre que a segurança pública, conforme o texto constitucional, não é dever só ao

Estado e direito dos cidadãos, mas também como um dever e responsabilidade comum a

todos, isto porque as adversidades no bem social são causadas justamente pelas interações

Page 33: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ABEL VIEIRA …

32

entre as pessoas, sendo necessário uma abordagem mais ampla, abarcando a humanidade de

forma mais efetiva, como retrata Queiroz (2019):

São esses os pilares de uma capacidade de resposta adequada às adversidades,

considerando sua energia agregadora. De modo similar, são estas as qualidades de

tratamento ao problema da criminalidade, considerando que falta ao Poder Público,

por meio de seus agentes, o comprometimento com as realidades sociais injustas

vivenciadas

Afirma ainda que as relações interpessoais acabam por gerar distorções de valores, face à

defesa de interesses particulares sobre os interesses da coletividade, fazendo com que as ações

tomadas possam se consolidar de forma contraposta ao bem-estar do grupo social, e por isso,

a segurança pública transcende a atuação Estatal (QUEIROZ, 2019).

Lambert (2018) relembra que a segurança pública, de forma integral, e que é adotada no

ordenamento jurídico brasileiro, bem como defendido pela Organização das Nações Unidas

(ONU), tem por objetivo inserir uma “Segurança Cidadã”, com a promoção e tutela de

Direitos Humanos.

Em 24 de outubro de 2007, entrou em vigor a Lei n. 11.530, que institui o Programa

Nacional de Segurança Pública com Cidadania – PRONASCI (BRASIL, 2007), e em seu

artigo 1º, celebra a cooperação entre a União e demais entes federados, com a participação das

famílias e comunidade, por meio de programas, projetos e ações de assistência técnica e

financeira, com a mobilização social, com o fito de melhorar a Segurança Pública.

Em referência ao Relatório de Atividades: Implantação do Sistema Único de Segurança

Pública (BRASIL, 2007), observa-se o processo de reforma das polícias brasileiras, com a

implantação do Sistema Único de Segurança Pública, e nele consta o conceito de Segurança

Cidadã, pactuado:

Segurança Cidadã - é a segurança pública integral, que promove osdireitos humanos,

transforma - com a participação efetiva do mundo acadêmico - pela educação em

segurança cidadã, sistematiza o arcabouço do conhecimento dos vários atores do

sistema de segurança, indo além do tradicional sistema policial. Garante o

planejamento, a prevenção e a repressão qualificada de forma a propiciar uma

sociedade livre, democrática, num ambiente multicultural, multirracial e

multidisciplinar. A segurança cidadã estimula a adoção de tecnologias sociais que

visam a resolução pacífica dos conflitos, o fortalecimento da família, a proteção às

mulheres, aos idosos, às minorias, garante as políticas públicas deprevenção

determinadas pelo governo, primando pela observância permanenteda contribuição

das universidades, através de seus estudos acadêmicos e científicos.

Assim, conforme se extrai do referido relatório, fomentou-se a segurança pública

brasileira com ações estruturadas por sete eixos estratégicos e convergentes: a gestão do

conhecimento, reorganização institucional, formação e valorização profissional, prevenção,

Page 34: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ABEL VIEIRA …

33

estruturação da perícia, controle externo e participação social, e programas de redução da

violência (BRASIL, 2007).

Nesta mesma toada, a articulação das ações de segurança pública para prevenção,

controle e repressão da criminalidade, com as devidas ações políticas e sociais para a proteção

das vítimas, estão galgadas em diretrizes descritas no artigo 3º da Lei 11.530/2007 (BRASIL,

2007), com redação dada pela Lei 11.707/2008:

Art. 3º – São diretrizes do Pronasci:

I – promoção dos direitos humanos, intensificando uma cultura de paz, de apoio ao

desarmamento e de combate sistemático aos preconceitos de gênero, étnico, racial,

geracional, de orientação sexual e de diversidade cultural;

II – criação e fortalecimento de redes sociais e comunitárias;

III – fortalecimento dos conselhos tutelares;

IV – promoção da segurança e da convivência pacífica;

V – modernização das instituições de segurança pública e do sistema prisional;

VI – valorização dos profissionais de segurança pública e dos agentes penitenciários;

VII – participação de jovens e adolescentes, de egressos do sistema prisional, de

famílias expostas à violência urbana e de mulheres em situação de violência;

VIII – ressocialização dos indivíduos que cumprem penas privativas de liberdade e

egressos do sistema prisional, mediante implementação de projetos educativos,

esportivos e profissionalizantes;

IX – intensificação e ampliação das medidas de enfrentamento do crime organizado

e da corrupção policial;

X – garantia do acesso à justiça, especialmente nos territórios vulneráveis;

XI – garantia, por meio de medidas de urbanização, da recuperação dos espaços

públicos;

XII – observância dos princípios e diretrizes dos sistemas de gestão descentralizados

e participativos das políticas sociais e das resoluções dos conselhos de políticas

sociais e de defesa de direitos afetos ao Pronasci;

XIII – participação e inclusão em programas capazes de responder, de modo

consistente e permanente, às demandas das vítimas da criminalidade por intermédio

de apoio psicológico, jurídico e social;

XIV – participação de jovens e adolescentes em situação de moradores de rua em

programas educativos e profissionalizantes com vistas na ressocialização e

reintegração à família;

XV – promoção de estudos, pesquisas e indicadores sobre a violência que

considerem as dimensões de gênero, étnicas, raciais, geracionais e de orientação

sexual;

XVI – transparência de sua execução, inclusive por meios eletrônicos de acesso

público; e

XVII – garantia da participação da sociedade civil.

Queiroz (2018) finaliza estabelecendo o vínculo entre a responsabilidade do Estado e o

papel da comunidadepara com a segurança pública, considerando as normas constitucionais,

sendo o poder público provedor dos instrumentos para estruturar as relações sociais, a criação

de elos entre as pessoas e a atuação do poder público.

Para tanto, retrata que a efetividade das ações realizadas pelo poder público está

sempre acompanhada dos atos praticados pela sociedade, pela formação da identidade e

valores próprios da coletividade e seu autocontrole.

Conclui Nucci (2016):

Page 35: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ABEL VIEIRA …

34

Considerando-se os direitos humanos de terceira geração, especificamente, o direito

à solidariedade, havemos de entender o compromisso de todos nós em face da

segurança pública. É importante cuidar, zelar, denunciar, fiscalizar, acompanhar e

vistoriar tudo o que se refere ao interesse público. Desse modo, havemos de prestar a

devida atenção tanto à vítima do crime quanto ao agente do delito, para que não se

instaure um tribunal de exceção, como se dá, por exemplo, na hipótese de um

linchamento.

Por fim, Lambert (2019) acredita que o compromisso dos governos, seja ele a União,

Estados ou Municípios, estejam integrados em movimentos coordenados de programas,

projetos e campanhas de cunho social, no intuito de realizar a mobilização comunitária para a

percepção da sociedade de sua parcela de responsabilidade.

3.4 OS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA

O braço do Estado a quem foi concedida a competência pra exercer a tutela da

segurança pública é a polícia, que possui a legitimidade de submeter as pessoas às normas e

regulamentos da sociedade, pela vigilância e autoridade, as quais foram pactuadas na

Constituição Federal, e ainda por meio da legislação infraconstitucional (MARTINS;

COLPANI, 2011, p. 49).

Como forma de legitimar a atuação do Estado na segurança pública, em sua parcela de

responsabilidade, a Constituição Federal elencou no artigo 144 órgãos responsáveis,

estabelecendo a competência para a formação de cada um deles, conforme será visto a seguir

(BRASIL, 1988).

3.4.1 Polícia Federal

A Polícia Federal é o primeiro órgão previsto no artigo 144 da Constituição Federal, e

sua estrutura legal está prevista no Decreto n. 73.332, de 19 de dezembro de 1973.

Subsidiariamente, a Portaria n. 155, de 27 de dezembro de 2018, do Ministério da

Justiça, institui o Regimento Interno da Corporação, enquanto a Portaria n. 3997/2013-

DG/DPF, de 24 de outubro de 2013, define as circunscrições oficiais das Superintendências

Regionais e das Delegacias de Polícia Federal Descentralizadas.

A Instrução Normativa n. 013/2005-DG/DPF, de 15 de junho de 2005, define as

competências específicas das unidades centrais e descentralizadas do Departamento de Polícia

Federal e as atribuições de seus dirigentes.

Alexandre de Moraes (2016) esclarece:

Page 36: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ABEL VIEIRA …

35

Polícia federal: deve ser instituída por lei como órgão permanente, organizado e

mantido pela União e estruturado em carreira. Destina-se a: apurar infrações penais

contra a ordem pública e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da

União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras

infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija

repressão uniforme, segundo se dispuser em lei, prevenir e reprimir o tráfico ilícito

de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da

ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;

exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; exercer, com

exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

A afirmação está em consonância com a redação do §1º do artigo 144, que preconiza a

competência e delimita a área de atuação da Polícia Federal.

Tem por missão exercer “[...] as atribuições de polícia judiciária e administrativa da

União, a fim de contribuir na manutenção da lei e da ordem, preservando o estado

democrático de direito”, com a visão estabelecida pela organização de tornar-se referência em

Ciência Policial.

Disposto na Portaria n. 4.453/2014-DG/DPF, de 16 de maio de 2014, a Polícia Federal

é composta por cinco valores, a coragem, lealdade, legalidade, ética e probidade, e respeito

aos Direitos Humanos, a saber:

Coragem - Possuir a capacidade e a iniciativa de agir no cumprimento de dever em

situações extremas, ainda que com risco à própria vida.

Lealdade - Cultuar a verdade, a sinceridade e o companheirismo, mantendo-se fiel às

responsabilidades e aos compromissos assumidos.

Legalidade - Comprometer-se com a democracia e com o ordenamento jurídico

vigente, sublimando a determinação de defender os interesses vitais da União.

Ética e Probidade - Desenvolver práticas de gestão e padrões de trabalho calcados

em preceitos éticos e morais, pautados pela honradez, honestidade e constante busca

da verdade.

Respeito aos Direitos Humanos - Alicerçar atitudes, como servidor e cidadão, na

preservação dos princípios basilares de respeito aos Direitos Humanos.

Por fim, os agentes públicos da Polícia Federal devem ser portadores valores éticos e

morais firmados por solenidades que determinam diretrizes da atuação de cada servidor de

polícia, no exercício de suas funções ou fora dele, sendo eles o Juramento do Policial Federal,

“que consiste na sagrada promessa de um compromisso consciente, moral e ético assumido

em declaração solene”, os Preceitos Éticos, que são “normas de conduta, princípios,

fundamentos e valores morais” e a Oração do Policial Federal, sendo a “súplica religiosa do

homem de polícia, de livre manifestação, para que se sinta espiritualmente confortado,

protegido e em perfeita sintonia com a Lei e a sua crença no Criador” (BRASIL, [2014]).

A Polícia Federal presta serviços de segurança pública com atividades referentes a

aeroportos, acordos de cooperação, adoção internacional, migração e imigração, Passaporte,

Produtos Químicos, Segurança Privada, Segurança Portuária, Sigilo Bancário, entre outros.

Page 37: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ABEL VIEIRA …

36

Vinculados ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, a carreira da Polícia Federal

é regulamentada pela Lei n. 9.266/1996, compondo o quadro de funcionários os cargos de

Delegados de Polícia Federal, Perito Criminal Federal, Escrivão de Polícia Federal, Agente de

Polícia Federal e Papiloscopista Policial Federal (SOUZA NETO, 2007).

3.4.2 Polícia Rodoviária Federal

Com previsão no artigo 144, II, da Constituição Federal, a Polícia Rodoviária Federal

é o órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se

ao patrulhamento ostensivo da malha rodoviária federal. nos termos da Lei n. 9.654, de 2 de

junho de 1998 (BULOS, 2018, p. 1481).

De acordo com informações do Ministério da Infraestrutura do Brasil, a malha

rodoviária federal possui cerca de 75,8 mil km, e destas, 65,4 mil km estão pavimentadas,

sendo responsáveis por 65% das movimentações das cargas, isso no ano de 2015

(MINISTÉRIO DA INFRAESTRUTURA, 2019).

Em termos de fiscalização, as rodovias têm características específicas, visto que 12%

da malha rodoviária está sob administração de concessões reguladas pela Agência Nacional

de Transportes Terrestres (ANTT), que tem por função a supervisão e fiscalização da

prestação de serviços e de exploração da infraestrutura de transportes (MINISTÉRIO DA

INFRAESTRUTURA, 2019).

Esta atribuição é concorrente com o Ministério da Infraestrutura, que supervisiona os

órgãos de controle com competência nesta área, e se dá por meio de orientação, coordenação e

controle das atividades de órgãos como a Secretaria Nacional de Transportes Terrestres

(SNTT) e a Secretária de Fomento, Planejamento e Parcerias (SFPP), além da ANTT

(MINISTÉRIO DA INFRAESTRUTURA, 2019).

A Polícia Rodoviária Federal surge neste ínterim, para promover a segurança das

rodovias federais, juntamente com as outras corporações policiais do Estado acima

mencionadas, atuando em patrulhamento ostensivo, para fiscalização e restrição do trânsito e

produtos perigosos, atendimento a acidentes ocorridos nas rodovias federais, e ainda na

educação de trânsito, por orientações de viagens, dentre outras práticas (POLÍCIA

RODOVIÁRIA FEDERAL, [2020]).

Para a promoção da segurança pública, a Polícia Rodoviária Federal carrega como

missão a proteção da vida, com atuação nas rodovias federais e áreas de interesse da União,

cuja visão é de ser referência em inovação, integração e conhecimento na segurança pública, e

Page 38: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ABEL VIEIRA …

37

os valores institucionais são integridade, respeito, profissionalismo, excelência e transparência

(POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL, [2020]).

Embora exista atuação ostensiva nesta instituição, e uso de uniformes por parte de seus

agentes, a Polícia Rodoviária Federal é órgão de Polícia Civil, e suas competências estão

descritas no artigo 20 do Código de Trânsito Brasileiro. O Plano de Carreira é composto pelas

classes de Inspetor, Agente Especial e Agente, conforme previsto na Lei n. 9.654/1998

(SOUZA NETO, 2007).

3.4.3 Polícia Ferroviária Federal

O terceiro órgão discriminado no artigo 144 da Constituição é a Polícia Ferroviária

Federal, permanente e organizado pela União, também estruturado em carreira, destina-se, na

forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.

Porém, como rememora Bulos (2018, p, 1482), o Supremo Tribunal Federal

reconheceu que, tão somente a previsão constitucional não legitima a investidura nos cargos

da carreira de Polícia Ferroviária Federal, isto porque, não há estruturação do referido

departamento policial.

Isso se dá em razão do disposto no §7º, do Artigo 144 da Constituição Federal, que

determina a necessidade de regulamentação, por meio de Lei, que disciplinará a organização e

o funcionamento dos órgãos responsáveis pela Segurança Pública.

Contudo, desde a promulgação da Carta Magna, em 1988, ainda não houve a

elaboração da referida lei, acarretando diversos efeitos jurídicos, como a proibição dos

servidores públicos atuantes na segurança da malha ferroviária em portar armas, e estarem

caracterizados. Além disso, a falta de regulamentação legal impede o concurso público e

investidura, sequer existindo a carreira pública desta Instituição (FUNÇÃO..., 2019).

3.4.4 Polícias Civis

Primeira organização de polícia em nível estadual, as Polícias Civis foram elencadas

no artigo IV da Constituição Federal, e conforme o §4º a elas “incumbem, ressalvada a

competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,

exceto as militares” (BRASIL, 1988).

O Delegado de Polícia aposentado Antonio Edison Francelin (2015) retrata que a

Polícia Civil é corporação eminentemente civil, com agentes dotados de conhecimentos sobre

Page 39: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ABEL VIEIRA …

38

investigação de fatos delituosos já cometidos, ou seja, após a concretização do ato, têm por

escopo a elucidação da existência da materialidade e autoria.

A Polícia Civil de Santa Catarina (POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SANTA

CATARINA), em seu sítio eletrônico oficial, esclarece:

A Polícia Civil combate o crime através da complexa atividade de Investigação

Criminal. Há diversos sistemas de prevenção, entretanto, a Polícia Civil age quando

outras barreiras preventivas não deram resultado. A principal atribuição da

Instituição é a apuração das circunstâncias do evento criminoso e identificação de

seus responsáveis.

A corporação da Polícia Civil é composta por Delegado de Polícia, Agente de Polícia,

Escrivão de Polícia, e a depender da matéria investigada, psicólogo policial, e sua atuação se

dá de forma intensiva e investigativa, no papel de Polícia Judiciária. (FRANCELIN, 2015).

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul (POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL), também em seu sítio eletrônico oficial, elenca diversas atribuições,

referentes à investigação e àsegurança pública que promove:

I – exercer as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto

as militares;

II – determinar a realização de exames periciais, providenciando a adoção de

medidas cautelares, visando a colher e a resguardar indícios ou provas da ocorrência

de infrações penais ou a assegurar a execução judicial;

III – praticar os atos necessários para assegurar a apuração de infrações penais,

inclusive a representação e o cumprimento de mandado de prisão, a realização de

diligências requisitadas pelo Poder Judiciário ou pelo Ministério Público nos autos

do inquérito policial e o fornecimento de informações para a instrução processual;

IV – zelar pela ordem e segurança pública, promovendo ou participando de medidas

de proteção a sociedade e ao indivíduo;

V – colaborar para a conveniência harmônica da sociedade, respeitando a dignidade

da pessoa humana e protegendo os direitos coletivos e individuais;

VI – adotar as providências necessárias para evitar perigo ou lesões as pessoas e

danos aos bens públicos ou particulares; e

VII – organizar, executar e manter serviços de registro, cadastro, controle e

fiscalização de armas, munições e explosivos, e expedir licença para as respectivas

aquisições e portes, na forma da legislação pertinente;

A segurança pública é exercida pela Polícia Civil na atividade investigativa, utilizando

métodos, técnicas e tecnologias, agregadas ao conhecimento jurídico a fim de formular a

elucidação do fato investigado, e o Inquérito Policial será encaminhado ao Poder Judiciário,

para o devido processamento e posterior responsabilização.

Sobre a atuação da Polícia Civil, conclui Francelin (2015):

Todavia, se porventura, ocorrer uma falha e crimes aflorarem, vem a Polícia Civil,

incumbida através de preceito constitucional nas funções de polícia (repressiva e

judiciária), no teor investigativo, com o escopo da apuração das infrações penais.

Se a autoria é conhecida, havendo o sujeito passivo e o sujeito ativo, instaurado o

competente Inquérito Policial, carreando as provas e materialidade do delito nos

Page 40: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ABEL VIEIRA …

39

autos, liame da autoria, remete-se a juízo para a devida condenação ou quiçá, a

absolvição. Se a autoria for desconhecida, com a competente investigação, advirá a

autoria, concluído o procedimento inquisitório, seguirá o mesmo caminho na esfera

judicial.

3.4.5 Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares

Bulos (2018, p. 1482), em anotações feitas ao artigo 144, V, da Carta Maior, esclarece

que Polícias Militares realizam o “policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública”,

enquanto aos Corpos de Bombeiros Militares, dentre as demais atribuições, está a “execução

de atividades de defesa civil”.

Também vinculada aos Poderes Executivos do Estados-membros e do Distrito Federal,

caberá à Polícia Militar a realização do policiamento ostensivo, ou seja, antes da ocorrência

de um evento delituoso como explica Sannini Neto (2013).

Francelin (2015) ainda destaca a função preventiva da atividade ostensiva:

As viaturas com dois ou até quatro policiais, patrulham as ruas de uma cidade, sendo

que ao passar geram o respeito e a incolumidade ao cidadão ordeiro e de bem.

Portanto, vemos na atuação da Polícia Militar, uma seara de valor no policiamento

preventivo, evitando a ocorrência de crimes, inibindo as infrações tanto penais,

como administrativas, mormente no trânsito (moderação na velocidade, respeito aos

sinais semafóricos e aos pedestres, mão correta de direção, estacionamento regular,

etc.).

A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar são órgãos subordinados aos

governadores dos estados, que seguem o modelo adotado nas Forças Armadas, com

organização da carreira no sistema de patentes, e fundado nos princípios da hierarquia e

disciplina, e são caracterizadas por serem forças auxiliares e reserva do Exército (SOUZA

NETO, 2007).

Importante lembrar que a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar poderão sim,

exercer a atividade Polícia Judiciária ou investigativa, mas, tão somente em caso de infrações

penais militares, disciplinadas de acordo com o Código Penal Militar e o Código de Processo

Penal Militar (SANNINI NETO, 2013).

A Polícia Militar de Santa Catarina, a exemplo, informa que a Corporação existe no

estado para proteger, e suas ações são tomadas a fim de “garantir que o risco real e a

percepção de risco para crime, violência e desordem sejam aqueles socialmente desejados e

aceitos” (ANEXO A).

A imagem de instituição reconhecidamente legítima, a Polícia Militar de Santa

Catarina fomenta ações efetivas, com serviços de excelência, confiável nas crises e promotora

Page 41: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ABEL VIEIRA …

40

dos Direitos Humanos, com operacional baseado na ostensividade, proximidade, proatividade,

pronta resposta, ação sobre as causas e demais parcerias (ANEXO A).

Cabe destacar que a Polícia Militar adota programas institucionais com intuído de

conscientização e prevenção, como a “Rede Catarinense de Proteção à Mulher”, a “Rede de

Vizinhos”, “Rede de Segurança Escolar” e o “Programa Educacional de Resistência às Drogas

e Violência – PROERD”, os quais têm por objetivo a aproximação da sociedade a sua

responsabilidade para com a Segurança Pública em cooperação com a Polícia Militar.

3.4.6 Polícias Penais Federal, Estaduais e Distrital

A alteração mais recente artigo 144 da Constituição Federal, cuida da inclusão do

inciso VI e §5º-A, que se deu por meio de Emenda Constitucional n. 104, de 2019, que

acrescentou ao texto da Magna Carta com status de Polícia, a Polícia Penal, com objetivo de

promover a segurança dos estabelecimentos penais, vinculadas ao órgão administrador do

sistema penal da unidade federativa a que pertencem.

Dentre os efeitos causados, é necessidade o provimento dos cargos de agentes

penitenciários, agora policiais penais, por concurso público, vedando a prática comum de

agentes penitenciários por tempo determinado – ACTs. (AGNALDO BASTOS

ADVOCACIA ESPECIALIZADA, 2020).

Na atividade fim, a grande mudança é a legitimidade destes agentes públicos em

atividades de guarda e escoltas, geralmente realizadas pela Polícia Civil e/ou Militar, sendo a

atuação em Segurança Pública precisamente junto às unidades prisionais, a depender do

Órgão Administrativo da Unidade Federativa que estejam vinculados, esclarece Herbert

Resende (2019).

Neste contexto, serão observadas, no próximo capítulo, as funções extrajudiciais do

Ministério Público na fiscalização dos serviços de relevância pública e precisamente o

controle externo da atividade policial.

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41

4 A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM CONTROLE EXTERNO DA

ATIVIDADE POLICIAL

Frente à apresentação realizada no tocante ao contexto histórico e estrutural do

Ministério Público, e após análise acerca da segurança pública, seu ordenamento

constitucional e os órgãos componentes, será verificada a atuação do Ministério Público em

controle externo da atividade policial.

4.1 O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO GARANTIA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE

DIREITO

A Constituição Federal de 1988 foi elaborada em substituição à editada no período

militar que a antecedeu, enfrentando diversos desafios que o País de histórica instabilidade

política e dificuldade de pôr em supremacia as normas constitucionais.

Portanto, a Constituição Federal de 1988 buscou respaldar suas normas no fomento à

estabilidade política, dificultando as rupturas institucionais e prevendo a resolução de crises

que pudessem afrontar a democracia (FINGER, 2010, p. 84).

A exemplo disto, estão as cláusulas pétreas elencadas no artigo 60, §4º, prevendo que

não será objeto de deliberação a proposta de emenda constitucional tendente a abolir a forma

federativa do Estado, o voto direto, secreto e universal, a separação dos Poderes e os direitos e

garantias individuais (BRASIL, 1988).

Ademais, o artigo 1º, caput, da Constituição de 1988 institui a República Federativa

do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,

constituindo um Estado Democrático de Direito.

Nestes termos, o constituinte apresentou uma fórmula composta por princípios

estruturantes de um Estado Democrático, Social e Ambiental, interdependentes e articulados

entre si.

Estes princípios trazem a veiculação do ordenamento jurídico à supremacia

constitucional, a legalidade e a segurança jurídica, dando forma ao conteúdo e ao princípio do

estado de direito (SARLET et al. 2019, p. 276).

Este ordenamento jurídico primordial é retratado pelos princípios e garantias

fundamentais, que buscam a limitação do poder estatal e a proteção da coletividade, por meio

da separação dos Poderes e o Estado de Direito.

Page 43: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ABEL VIEIRA …

42

As leis que decorrem do ordenamento jurídico infraconstitucional são elaboradas pelo

pacto social, visto que o Poder emana única e exclusivamente do povo, que exerce por meio

dos representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição Federal (ADVOCACIA

GERAL DA UNIÃO, 2018).

Desta forma, conclui-se que o Estado Democrático de Direito é a conexão entre os

Estado de Direito e o princípio democrático, elencados respectivamente no caput e no

parágrafo único do artigo 1º Constituição da República Federativa do Brasil.

Este por sua vez se efetiva pela incorporação dos princípios jurídicos, realização

material dos direitos fundamentais, separação dos Poderes, fundadas na soberania popular.

Para a realização e proteção destes princípios constitucionais, se faz necessário a

atuação de instituições políticas, com capacidade para transitar entre os Poderes e a sociedade

em si.

Assim, no ordenamento jurídico Pátrio, o Ministério Público recebeu em sua

regulamentação constitucional uma das maiores inovações, diverso do que se apresentava nas

Constituições anteriores.

Isto em razão da atribuição, pela primeira vez, dada a uma Instituição pertencente ao

Estado, desvinculada dos três Poderes, de fiscalização e defesa da ordem jurídica, do regime

democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Ademais, presente está o zelo pelo respeito à divisão dos poderes Legislativo,

Executivo e Judiciário, dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na Carta

Magna, e ainda, à proteção ao patrimônio público e social.

A partir desta comunicação entre os princípios do Estado de Direito e do princípio

democrático, previsto o artigo 1º da Constituição Federal, a busca pela efetividade da nova

tarefa Constitucional atribuída ao Ministério Público teve suas dificuldades.

Dentre eles, a estrutura social e política historicamente consolidada se tornou um

grande desafio, visto a característica do Brasil, antropológica e sociológica de

patrimonialismo, com confusão entre entes públicos e privados, corrupção e hierarquização

social (LAZZARINI, 1991).

Essa conjuntura social e histórica é antagônica ao que preceitua o modelo republicano,

e consequentemente, de qualquer Instituição que o promova ou o defenda, sendo resistência

direta ao projeto democrático.

Contudo, a estruturação jurídica que trouxe a Constituição Federal de 1988,

estruturando os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e o ordenamento jurídico vigente,

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43

reconheceram o Ministério Público, e deram-lhe a legitimidade para propor ações em defesa

dos direitos que concernem à cidadania (FINGER, 2010, p. 84).

A partir disto, ocorre o conflito entre os princípios da unidade e da independência

funcional, uma vez que o primeiro estabelece que o Ministério Público é órgão uno, e que os

seus membros fazem parte de uma mesma Instituição sob única chefia, o segundo

compreende que os membros em si, são subordinados tão somente à lei de acordo com a sua

consciência, pelo livre convencimento motivado.

Além disso, as vertentes do Ministério Público também não se comunicam, ora que os

Ministérios Públicos estaduais, Federal, do Distrito Federal e Territórios, Militar, do

Trabalho, podem possuir diretrizes próprias de atuação em sua administração, não estando

adstrito entre si (FINGER, 2010, p. 85).

Consequentemente, a ideia da independência funcional passou a abranger não só a

autonomia dos membros, mas também a autonomia administrativa das instituições

desvinculadas.

Não obstante, a conjuntura formada é de fundamental importância para a defesa da

cidadania, uma vez que a autonomia permitiu que a gestão administrativa garantisse, mais

ainda, e conforme a especificidade da atuação dos Ministérios Públicos, na proteção do

Estado Democrático de Direito (FINGER, 2010, p. 87).

4.2 A FUNÇÃO CUSTUS LEGIS

A configuração proposta pela Constituição Federal de 1988, no tocante à capacidade

postulatória do Ministério Público, entre as diversas áreas de atribuição, pode se distinguir

entre duas naturezas na relação processual, na condição de “dominus litis” ou “custos legis”.

Esclarece Garcia (2017, p. 282), que o termo “dominus litis” tem por significado

“senhor da lide”, e refere-se à atuação do Ministério Público junto ao processo quando

postulam no polo ativo da demanda, em especial na Ação Penal Pública, da qual é titular.

A figura do “dominus litis” está arraigada de preconceitos históricos, visto que o

Ministério Público, desde o seu surgimento até as suas mais diversas facetas desenvolvidas na

sociedade, tem por atribuição a acusação nos processos penais, seja qual for o modelo adotado

(BARAZAL, 2013).

Esta titularidade privativa da Instituição, que inicia o ius puniendi estatal, passa a estar

separado aquele que acusa e o que julga, todavia, ambos são braços do Estado, e estão

disciplinados desta forma por estarem amplamente ligados à segurança.

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44

O início da atividade ministerial é resultado da conclusão da investigação criminal,

realizado majoritariamente pelas Polícias Judiciárias, e daí também decorrem a legitimidade

para requerer junto ao Poder Judiciário medidas acautelatórias e outros incidentes processuais

(MARTINS JUNIOR, 2015).

Relembra o Advogado Criminalista Carlos Felipe de F. Guimares (2019):

Durante as investigações o Parquet pode participar efetivamente, seja presidindo a

investigação – por meio dos Procedimentos Investigatórios Criminais – ou mesmo

atuando nos Inquéritos Policiais. A atuação vai desde a requisição de diligências até

representação por medidas cautelares, como interceptação telefônica, quebra de

sigilo fiscal e prisões cautelares.

Na Condição de “dominus litis”, o Superior Tribunal de Justiça reconhece a

capacidade postulatória do Ministério Público juntamente com a discricionariedade do Órgão

de execução em ingressar com a competente ação, se entender possível e cabível, como

consequência a vedação, ao magistrado, de determinar o arquivamento de inquérito, veja-se:

PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE

DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. ARQUIVAMENTO DE

INQUÉRITO DE OFÍCIO PELO MAGISTRADO. INADMISSIBILIDADE.

PRECEDENTES. AGRAVO DESPROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte

Superior de Justiça é no sentido de que compete ao Ministério Público, na

condição de dominus litis, promover a ação penal pública, avaliando se as

provas obtidas na fase pré-processual são suficientes para sua propositura, por

ser ele o detentor do 'jus persequendi'. Portanto, não cabe ao magistrado assumir

o papel constitucionalmente assegurado ao órgão de acusação e, de ofício,

determinar o arquivamento de inquérito ou peças de informação. 2. Agravo

regimental desprovido. (BRASIL, 2017) (Grifo nosso)

De outro norte, o que define o termo “custos legis” é a atuação do Ministério Público

como “guardião da lei”, que exerce nas ações judiciais de forma interveniente, nem sempre

figurando em algum polo da lide, mas sim, fiscalizando a aplicação do ordenamento jurídico e

do regime democrático (GARCIA, 2017, p. 283).

Emerson Garcia (2017, p. 283) leciona:

A atuação do MinistérioPúblico deve ser direcionada à consecução das regras e dos

princípios inerentes ao sistema, sendo legitimo que, em dado momento, insurja-se

contra preceito legal incompatível com as normas de estamento superior em que

deveria auferir seu fundamento de validade (v. g.: incompatibilidade entre a lei e a

Constituição).

Barazal (2013) sustenta ser necessário deixar de tratar o Ministério Público única e

exclusivamente como parte, pois antes mesmo da atividade acusatória, tem a Instituição por

dever a proteção do Estado Democrático de Direito, frisando:

[...] já que antes de autor exerce a função de custos legis. Isso demonstra que o

Ministério Público ao verificar a incorreção de elementos nos quais se baseou para a

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45

promoção da ação penal, deve buscar a absolvição do réu, inclusive se necessário,

apelando para a Instância Superior.

Câmara (2006 apud Tapety, 2012), aponta que, diferentemente da função “dominus

litis”, o Ministério Público como fiscal da lei estabelece relação imparcial na lide,

desvinculado de qualquer das partes:

De acordo com tal hipótese, o Parquet não está vinculado anenhum interesse das

partes, devendo limitar-se apenas à corretaaplicação do Direito.

Câmara (2006, p. 223) enfatiza:

Ao atuar como fiscal da lei, e como indica a própria nomenclatura tradicionalmente

empregada, o Ministério Público exercerá afunção de órgão responsável por velar

pela justiça e legalidade dadecisão judicial, fiscalizando assim a atuação da vontade

da lei peloEstado-juiz. Atua, pois, como órgão imparcial. Note-se que

estaimparcialidade está presente em todas as hipóteses de intervenção, podendo o

MP, por exemplo, recorrer de uma sentença injusta ouilegal que tenha sido proferida

e que se revele favorável ao incapaz.

O MP não atua no processo, nesta hipótese, como assistente doincapaz, mas como

fiscal da atuação da vontade do Direito.

Ressalte-se que, conforme decidido pelo Pretório Excelso, o Ministério Público pode

atuar, ao mesmo tempo como “dominus litis” e “custos legis”, sem que isto ofenda os

princípios do devido processo legal e do contraditório:

CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS. FUNÇÕES ESSENCIAIS E

INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO (ARTIGOS 127 E 129 DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL). NÍTIDA DISTINÇÃO ENTRE A ATUAÇÃO DO

MINISTÉRIO PÚBLICO COMO DOMINUS LITIS, AO OFERECER

CONTRARRAZÕES À APELAÇÃO DA DEFESA E, COMO CUSTOS LEGIS,

AO OFERTAR PARECER NOS AUTOS DO RECURSO. AUSÊNCIA DE

OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL E DO

CONTRADITÓRIO. 1. O Procurador de Justiça, ao ofertar parecer em recurso de

apelação no qual o Promotor de Justiça oferecera contrarrazões, não viola os

princípios do devido processo legal e do contraditório. 2. O Ministério Público tem

como uma de suas funções essenciais à garantia da ordem jurídica, atuando em prol

dela como custos legis (Constituição Federal, art. 127), mercê do exercício de uma

das funções institucionais que é a de promover, privativamente, a ação penal pública

(Constituição Federal, art. 129, I), situações que não se confundem. 3. Precedentes:

HC n. 81.436/MG, Rel. o Ministro Néri da Silveira, Segunda Turma, j. em

11/12/2001, e RE n. 99.116-6/MT, Rel. o Ministro Alfredo Buzaid, Primeira Turma,

DJ de 16/03/84. 4. Recurso em habeas corpus não provido (BRASIL, 2011).

Estas duas configurações fazem com que o Ministério Público tenha se tornado um

modelo institucional de referência, podendo exercer ambas as funções num mesmo

procedimento, garantindo a legalidade da persecução, seja penal seja civil, ganhando cada vez

mais novas imagens perante a sociedade, afirma Barazal (2013).

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46

4.3 CAPACIDADE INVESTIGATÓRIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A Magna Carta, no texto em que previu o Ministério Público e deu-lhes os status de

instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, previu como funções a

defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais

indisponíveis.

O Promotor de Justiça Thiago Freitas Camelo (2017) afirma que no artigo 129 não

foram expressas a capacidade investigativa do Ministério Público e, em contrapartida, o

capítulo destinado à Segurança Pública incumbiu às Polícias Judiciárias a apuração das

condutas criminais, gerando divergência no entendimento quanto à exclusividade destas

instituições em detrimento daquela, posto a posição de “dominus litis” na ação penal pública

do Parquet.

Nesta seara, surgem posicionamentos diversos, em que doutrinadores e operadores do

Direito defendem ou refutam a intervenção do Ministério Público na investigação criminal e

na atuação das Polícias Judiciárias.

Guilherme Nucci (2018, p. 209) se posiciona:

O tema é, sem dúvida, controverso, comportando várias visões a respeito, mas

cremos inviável que o promotor de justiça, titular da ação penal, assuma, sozinho, a

postura de órgão investigatório, sem qualquer fiscalização, substituindo a polícia

judiciária e produzindo inquéritos visando à apuração de infrações penais e de sua

autoria. Esses procedimentos de investigação criminal (PIC), como regra, são

conduzidos em absoluto sigilo, sem nenhuma previsão legal acerca do

procedimento.

E o autor esclarece que suas considerações estão fundadas no fato de a Magna Carta

foi clara em prever órgãos específicos pela investigação dos fatos já ocorridos, servindo como

auxiliares ao Poder Judiciário, por isso chamada de Polícia Judiciária, enquanto ao Ministério

Público reservado à titularidade exclusiva da propositura da Ação Penal.

Os defensores da intervenção ministerial na investigação criminal elaboram sua teoria

a partir da leitura feita ao inciso IV, §4º, do artigo 144 da Constituição Federal, que trata do

exercício exclusivo das funções de polícia judiciária, na medida em que a expressão “com

exclusividade” refere-se exclusivamente entre as polícias em si, e não ao ato investigatório

(CAMELO, 2017).

Lenio Streck e Luciano Feldens (2005, p. 92-93 apud CAMELO, 2017) lecionam:

Logicamente, ao referir-se à “exclusividade” da Polícia Federal para exercer funções

“de polícia judiciária da União”, o que fez a Constituição foi, tão-somente, delimitar

as atribuições entre as diversas polícias (federal, rodoviária, ferroviária, civil e

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47

militar), razão pela qual observou, cada uma delas, um parágrafo dentro do mesmo

art. 144.

Esta corrente também se vale do constante no artigo 58, §3º, da Magna Carta, que

delimita as Comissões Parlamentares de Inquérito – CPIs, em que o Poder Legislativo recebe

competência para investigação desta natureza, o que corrobora com a ideia de que não é

exclusividade na capacidade investigatória, e sim na atribuição entre as próprias polícias

(CAMELO, 2017).

Gize-se que, o Inquérito Policial sequer é essencial à propositura da ação penal,

podendo o Ministério Público ingressar com a persecução penal pela informação direta ao

órgão, se acompanhadas dos elementos indicativos da ocorrência delituosa, veja-se:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME IMPUTADO A

AUTORIDADE POLICIAL. INQUÉRITO POLICIAL. AUSÊNCIA. NOTITIA

CRIMINIS DIRIGIDA AO MINISTÉRIO PÚBLICO. DECLARAÇÕES

PRESTADAS AO MINISTÉRIO PÚBLICO. BUSCA E APREENSÃO

REQUERIDA PELO MP. DENÚNCIA. POSSIBILIDADE. O inquérito policial não

constitui peça essencial e imprescindível à propositura da ação penal. Qualquer do

povo pode provocar a ação do Ministério Público, fornecendo-lhe elementos

indicativos de materialidade, autoria e de convicção, para fins de instauração da ação

penal pública (arts. 27 e 46, § 1º, do CPP). Pode o Ministério Público oferecer

denúncia com base em peças de informações fornecidas, inclusive, por qualquer

pessoa do povo, uma vez convencido da existência dos requisitos necessários à

propositura da ação (arts. 5º, § 3º, 27, 41 e 46, § 1º, do CPP). Negado provimento ao

Recurso. (BRASIL, 2006)

Analisa Thaise Barbosa e Silvaas consequências que podem acarretar a pela condição

inerte do Ministério Público frente à ação penal, caso assim fosse:

Esse sistema de investigação exclusivamente policial, que procura manter o

Ministério Público afastado e em uma postura inerte, de mero repassador da prova

colhida pela Polícia, causa inúmeros problemas de eficiência e celeridade em

determinadas apurações, contribuindo para o avanço do crime.

De fato, uma vez que se trata de atividade essencial à segurança pública, à defesa da

ordem jurídica e à mantença de direitos e liberdades fundamentais e, tendo em vista

que sua inadequada prestação pode acarretar prejuízos à persecução penal, urgente é

a interferência de um órgão capaz de contribuir para a melhoria na qualidade de sua

prestação.

Corroborando com a sustentação de que a intervenção ministerial é válida na

investigação, está a teoria dos poderes implícitos, que defendem serem as atribuições

elencadas na Constituição apenas limites, permitindo a ação em tudo o que for relacionado

com suas áreas de competências, se não vedado pela legislação, e ressalta Larissa Padilha

Roriz Penna (2015, p. 24):

Assim, as Constituições apenas dispõem sobre normas gerais acerca das atividades

dos poderes e órgãos que criam, cabendo a esses a utilização de mecanismos

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48

necessários ao alcance de seus fins. Isto é, os órgãos possuem poderes essenciais ao

exercício da atividade-fim prevista na Constituição Federal (Colares, 2007)

Esta autora conclui que, em sendo o Ministério Público o titular da Ação Penal, em

consonância com o princípio da obrigatoriedade, nada impede que o órgão de execução

realize a colheita das provas que entender necessárias para a formação da opinio delicti, como

ensina Hugo Nigro Mazzilli (1997, p. 63 apud SILVA, 2013, p. 86):

No inc. VI do art. 129, da Constituição, cuida-se de procedimentos administrativos

de atribuição do Ministério Público – e aqui também se incluem investigações

destinadas à coleta direta de elementos de convicção para formar sua opinio

delicitis: se os procedimentos administrativos a que se refere este inciso fossem

apenas de matéria cível, teria bastado o inquérito civil de que cuida o inc. III.

O inquérito civil nada mais é do que um procedimento administrativo de atribuição

ministerial. Mas o poder de requisitar informações e diligências não se exaure na

esfera cível; atinge também a área destinada a investigações criminais.

E por fim, relembra Silva (2013, p. 85):

É notório que ao titular da ação penal é permitido oferecer denúncia prescindindo do

inquérito policial, bastando-lhe dispor de provas que reforcem o seu convencimento.

Também é sabido que a Lei Processual Penal confere a todo cidadão a faculdade de

provocar a iniciativa do Ministério Público, dando-lhe a notitia criminis que,

devidamente instruída, poderá servir de base à denúncia, dispensando o inquérito.

Essa discussão avançou até os Tribunais Superiores, havendo diversas ações sobre a

matéria, principalmente no Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição Federal, o

órgão máximo do Poder Judiciário pátrio.

Das decisões mais recentes e de maior relevância, tem-se o julgamento dos Embargos

de Declaração no Agravo Regimental no Recurso Especial n. 1.316.659 – MG

(2012/0077061-5), em que a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça confirmou a decisão do

ministro Marco Aurélio Belizze, no ano de 2013 (BRASIL, 2016):

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO PENAL E

PROCESSUAL PENAL. MINISTÉRIO PÚBLICO. PODERES DE

INVESTIGAÇÃO. LEGITIMIDADE. PREVISÃO CONSTITUCIONAL. ATUAL

ORIENTAÇÃO DO STJ E DO STF. DECISÃO MANTIDA POR SEUS

PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 1. O Ministério Público, por expressa previsão

constitucional, possui a prerrogativa de instaurar procedimento administrativo e

conduzir diligências investigatórias, podendo requisitar documentos e informações

que entender necessários ao exercício de suas atribuições. Precedentes desta Corte e

do STF. 2. A atuação do Ministério Público, no contexto da investigação penal,

longe de comprometer ou de reduzir as atribuições de índole funcional das

autoridades policiais - a quem sempre caberá a presidência do inquérito policial -,

representa, na realidade, o exercício concreto de uma atividade típica de cooperação,

que, em última análise, mediante a requisição de elementos informativos e

acompanhamento de diligências investigatórias, além de outras medidas de

colaboração, promove a convergência de dois importantes órgãos estatais

incumbidos, ambos, da persecução penal e da concernente apuração da verdade real.

3. Agravo regimental a que se nega provimento.

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49

A consolidação do presente entendimento jurisprudencial ocorreu no ano de 2015, em

uma evolução do entendimento que já adotava o Pretório Excelso, no julgamento do Recurso

Extraordinário n. 593.727/MG, confirmou a possibilidade de o Ministério Público exercer

atividade investigatória, e nesta oportunidade, estabeleceu a amplitude e os seus requisitos de

validade.

Repercussão geral. Recurso extraordinário representativo da controvérsia.

Constitucional. Separação dos poderes. Penal e processual penal. Poderes de

investigação do Ministério Público. 2. Questão de ordem arguida pelo réu, ora

recorrente. Adiamento do julgamento para colheita de parecer do Procurador-Geral

da República. Substituição do parecer por sustentação oral, com a concordância do

Ministério Público. Indeferimento. Maioria. 3. Questão de ordem levantada pelo

Procurador-Geral da República. Possibilidade de o Ministério Público de estado-

membro promover sustentação oral no Supremo. O Procurador-Geral da República

não dispõe de poder de ingerência na esfera orgânica do Parquet estadual, pois lhe

incumbe, unicamente, por expressa definição constitucional (art. 128, § 1º), a Chefia

do Ministério Público da União. O Ministério Público de estado-membro não está

vinculado, nem subordinado, no plano processual, administrativo e/ou institucional,

à Chefia do Ministério Público da União, o que lhe confere ampla possibilidade de

postular, autonomamente, perante o Supremo Tribunal Federal, em recursos e

processos nos quais o próprio Ministério Público estadual seja um dos sujeitos da

relação processual. Questão de ordem resolvida no sentido de assegurar ao

Ministério Público estadual a prerrogativa de sustentar suas razões da tribuna.

Maioria. 4. Questão constitucional com repercussão geral. Poderes de investigação

do Ministério Público. Os artigos 5º, incisos LIV e LV, 129, incisos III e VIII, e 144,

inciso IV, § 4º, da Constituição Federal, não tornam a investigação criminal

exclusividade da polícia, nem afastam os poderes de investigação do Ministério

Público. Fixada, em repercussão geral, tese assim sumulada: “O Ministério Público

dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável,

investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que

assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado,

observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de

jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em

nosso País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III,

XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado

democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos,

necessariamente documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros

dessa instituição”. Maioria. 5. Caso concreto. Crime de responsabilidade de prefeito.

Deixar de cumprir ordem judicial (art. 1º, inciso XIV, do Decreto-Lei nº 201/67).

Procedimento instaurado pelo Ministério Público a partir de documentos oriundos de

autos de processo judicial e de precatório, para colher informações do próprio

suspeito, eventualmente hábeis a justificar e legitimar o fato imputado. Ausência de

vício. Negado provimento ao recurso extraordinário. Maioria (Recurso

Extraordinário n. 593.727/MG, BRASIL, 2015).

Sobre esta decisão, Camelo (2017) comenta que o STF reconheceu a competência do

Ministério Público nas atividades investigatórias, das quais podem ser promovidas de acordo

com o livre convencimento do órgão de execução, abarcando quaisquer situações ou crimes.

Entretanto, demonstra que na confirmação desta atribuição, os nobres julgadores

anotaram que os atos investigatórios podem ser praticados por membros do Ministério

Público, visto que a investigação criminal não é exclusividade da polícia, observando os

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direitos e garantias fundamentais e individuais dos investigados, devidamente documentados,

dentro do prazo razoável, observadas as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição, bem

como outras prerrogativas asseguradas por lei especial, quando aplicável, e por fim, sempre

sujeitos ao controle do Poder Judiciário.

4.4 O CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL

Conforme demonstrado até o presente momento, a partir da promulgação da

Constituição Federal de 1988, e as novas dinâmicas apresentadas pelo texto da magna carta,

os órgãos de execução do Ministério Público voltaram suas atividades ao estudo e teses

quanto ao desempenho destas novas funções, em razão da tutela dos interesses difusos e

coletivos (PENA, 2010, p. 402).

Esta mesma autora aponta a polarização das atribuições novas e as que já estavam

presentes antes da Constituição Cidadã:

Nessa etapa histórica, as atividades na área criminal seguiam modelo conhecido de

promoção da “velha” ação penal pública e o controle externo da atividade policial

era embrionário e, ainda assim, noticiavam-se casos de resistência da Polícia Civil

ao desempenho da atividade fiscalizadora, mesmo que quase resumida a visitas de

inspeção.(PENA, 2010, p. 402).

4.4.1 O Conceito de Controle Externo

Para entender melhor o assunto, cabe neste momento apresentar o conceito de

Controle Externo, a atividade específica realizada pelo Ministério Público em face de outros

órgãos, independente de existência das corregedorias internas destes.

O autor Emerson Garcia (2017, p. 218) estuda a etimologia das palavras constantes no

termo controle externo aplicadas ao seu exercício, e retrata:

Partindo da própria etimologia da expressão, podemos assentar algumas premissas

em relação ao denominado controle externo: a) ainda que observadas diretrizes

externas, o ato sob controle é integralmente praticado no âmbito da Instituição

controlada; b) por se tratar de controle externo, ainda que se trate de ato complexo, o

ente controlador não deve concorrer para a sua prática; c) o ente controlador,

observados os limites fixados em lei, afere o conteúdo do ato praticado; e d) o ente

controlador não integra a estrutura organizacional da Instituição controlada.

Celso Antônio Bandeira de Mello (2010), em seus ensinamentos de Direito

Administrativo, a fim de explicar o assunto, expõe a diferença entre o controle interno e o

controle externo, do qual a Administração Pública, seja ela direta, indireta ou fundacional,

está sujeito.

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Afirma que as entidades da Administração passam por fiscalização realizada pela

própria Administração Pública, dividida em interior e exterior, a primeira pelo próprio órgão

enquanto a fiscalização exterior é feita por órgão hierárquico superior da Administração

Direta.

Este tipo de controle decorrente do exercício fiscalizador do próprio órgão não exime

a existência da vigilância de outras instituições, como o ocorre com o Ministério Público, e

assim destaca:

2. Cumpre consignar que qualquer pessoa pode suscitar o controle da Administração

para que seja sancionado o agente que haja incidido em “abuso de autoridade”, Tal

possibilidade está contemplada na importantíssima, mas, infelizmente, quase

ignorada, Lei 4.898/65, de 9.12.65, que “regula o direito de representação e o

processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos de abuso de

autoridade”. Para fazê-lo, o interessado procederá mediante petição “dirigida à

autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à autoridade civil ou

militar culpada, a respectiva sanção” “e/ou ao órgão do Ministério Público que tiver

competência para iniciar processo crime contra a autoridade culpada” (art. 2º). Para

os efeitos desta lei, considera-se autoridade “quem exerce cargo, emprego ou função

pública, de natureza civil ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração”

(art. 5º) (MELLO,2010).

Cumpre salientar neste momento que o trecho transcrito acima não tem por condão

fundamentar juridicamente o conceito de Controle Externo, mas sim, estabelecer a relação dos

exercícios diversos de controle interno e externo das quais a Administração Pública está

sujeita.

Diz-se isso pois a Lei n. 4.898/1965 foi recentemente revogada pela Lei n. 13.869, de

05 de setembro de 2019, que dispõe sobre os crimes de abuso de autoridade, e ainda assim,

previu a atuação do Ministério Público como polo ativo da ação penal pública condicionada, a

ser intentada na prática dos crimes de abuso de autoridade, no artigo 3º, §1º (BRASIL, 2019).

Logo, o controle externo figura como manifestação de órgão diverso, alcançando

ações quem podem incidir no apontamento de diretrizes da atuação futura do órgão

controlado, bem como promover ações competentes quanto aos atos já praticados pelo Poder

Público (GARCIA, 2017, p. 218).

E por fim, o Promotor de Justiça José Fernando Marreiros Sarabando (1997) considera

o controle externo uma das forças encontradas no sistema constitucional pátrio, que

estabelecer “freios e contrapesos entre os Poderes e as instituições públicas”, incidindo a

fiscalização mútua entre os diversos braços do Estado, essencial e saudável para o bem

comum e social, visto que a coletividade é o alicerce da nação, e destinatária das ações

públicas.

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52

4.4.2 A legitimidade do Ministério no exercício do controle externo da atividade

policial

A primeira, e mais importante tratativa da legitimidade do Ministério Público no

exercício do controle externo da atividade policial está consubstanciada no próprio texto

constitucional, não só no artigo 127, caput, que atribuiu aos órgãos ministeriais “a defesa da

ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”, e

logo após, como no artigo 129, concedeu à Instituição a atribuição específica para atuar na

função:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

[...]

VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar

mencionada no artigo anterior; (BRASIL, 1988)

Sobre a defesa dos interesses difusos e coletivos tutelados pelo Ministério Público,

Renan Soares Torres de Sá e Leonardo Barreto Ferraz Gominho (2016) comentam:

Nesse contexto, cumpre ressaltar que a atividade policial, essencial para a

manutenção da segurança pública e a garantia dos direitos individuais, encontra-se

inserida no rol de atividades administrativas exercidas pelo Estado – aqui entendido

em seu conceito amplo – e que, portanto, encontra-se no contexto de atividades a

serem controladas pelo Ministério Público.

Acerca do texto constitucional, Mazzilli (1991), infere a necessidade da edição de Lei

Complementar para a sua efetivação, portanto trata-se de uma norma constitucional de

eficácia limitada:

Ora, retomando festejados ensinamentos de José Afonso da Silva,

podemosconsiderar a norma constitucional, ora analisada, como desprovida de

eficáciaplena: trata-se, antes, de uma das normas ditas de eficácia limitada ou

reduzida,porque não tem aptidão para produzir, por si mesma, com a só entrada em

vigor danova Constituição, todos os seus direitos essenciais. Com efeito, o inc. VII,

aoimpor que a lei orgânica de cada Ministério Público deva disciplinar a forma

derealizar-se o controle externo da atividade policial, afastou do texto maior,

ipsofactu, uma normatividade bastante em si mesma para que se estabelecessem

deimediato, à só promulgação da Constituição, os mecanismos de seu exercício,

aindaque de forma parcial.

Thiago de Ávila (2014) retrata que o controle externo da atividade policial está

previsto brevemente, e remete à legislação editada posteriormente, a qual concedeu a

plenitude da norma constitucional:

O controle externo da atividade policial está genericamente previsto no art. 129, VII,

da CRFB/1988, com uma referência ao anterior inciso VI, que prevê a possibilidade

de o Ministério Público realizar atos de investigação (como expedir notificações ou

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53

requisitr [sic] documentos) nos procedimentos de sua competência. Segundo a

Constituição o controle externo deve ser regulamentado por lei complementar.

As ferramentas específicas de atuação do Ministério Público no exercício docontrole

externo da atividade policial estão disciplinadas na LC n. 75/1993, 9º, que prevê o

livreingresso em estabelecimentos policiais, acesso a quaisquer documentos

relativos à atividade-fimpolicial, a possibilidade de representar à autoridade

competente pela adoção de providências parasanar a omissão indevida, ou para

prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder, poder derequisição à autoridade

competente para instauração de inquérito policial sobre a omissão ou fatoilícito

ocorrido no exercício da atividade policial e ainda promover a ação penal por abuso

depoder. O dispositivo indica que o exercício do controle externo pode ocorrer por

medidasjudiciais ou extrajudiciais.

Sarabando (1997) descreve que a Lei Orgânica do Ministério Público da União – Lei

Complementar n. 75/1993, destina o capítulo III do título I, especificamente ao controle

externo da atividade policial, dispondo sobre prerrogativas no exercício desta fiscalização dos

órgãos de Segurança Pública, veja-se:

Do Controle Externo da Atividade Policial

Art. – 9º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da

atividadepolicial por meio de medidas judiciais e extrajudiciais podendo:

I - ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou prisionais;

II - ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade-fim policial;

III - representar à autoridade competente pela adoção de providências para sanar a

omissão indevida, ou para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder;

IV - requisitar à autoridade competente para instauração de inquérito policial sobre a

omissão ou fato ilícito ocorrido no exercício da atividade policial;

V - promover a ação penal por abuso de poder.

Art. – 10 A prisão de qualquer pessoa, por parte de autoridade federal ou do Distrito

Federal e Territórios, deverá ser comunicada imediatamente ao Ministério Público

competente, com indicação do lugar onde se encontra o preso e cópia dos

documentos comprobatórios da legalidade da prisão. (BRASIL, 1993)

Ocorre que a legislação federal, que regulamenta o Ministério Público da União não

abarca as unidades da federação, e como relembra Mazzili (1991), em detrimento da unidade,

o exercício do controle externo da atividade policial depende do advento de lei complementar

local, ou da recepção das normas caso já existentes, que ocorreu após a publicação do artigo

científico ora analisado.

A título de exemplo, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina aprovou, e o Governo

do Estado de Santa Catarinapublicou, em 23 de janeiro de 2019, a Lei Complementar n. 738,

que consolida as Leis que instituem a Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Santa

Catarina (SANTA CATARINA, 2019).

Neste diploma legal, o artigo 90 elenca como função institucional o exercício do

controle externo da atividade policial, civil ou militar, enumerando, em rol não exaustivo, as

medidas administrativas e judiciais cabíveis:

Art. 90 – São funções institucionais do Ministério Público, nos termos da legislação

aplicável:

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54

XVII – exercer o controle externo da atividade policial, civil ou militar, podendo,

entre outras medidas administrativas e judiciais:

a) ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou prisionais;

b) ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade de polícia judiciária, ou

requisitá-los;

c) requisitar à autoridade competente a adoção de providências para sanar a omissão

ou para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder;

d) requisitar à autoridade competente a abertura de inquérito sobre a omissão ou fato

ilícito ocorridos no exercício da atividade policial, determinando as diligências

necessárias e a forma de sua realização, podendo acompanhá-las e também proceder

diretamente a investigações, quando necessário;

e) acompanhar atividades investigatórias;

f) recomendar à autoridade policial a observância das leis e princípios jurídicos;

g) requisitar à autoridade competente a instauração de sindicância ou procedimento

administrativo cabível;

h) exigir comunicação imediata sobre apreensão de adolescente; e

i) avocar inquérito policial em qualquer fase de sua elaboração e requisitar, a

qualquer tempo, as diligências que se fizerem necessárias. (SANTA CATARINA,

2019)

O parágrafo primeiro deste artigo indica as justificativas e as diretrizes constitucionais

que motivam e legitimam o exercício do controle externo da atividade policial, a ser exercido

pelo MPSC.

§1º – O controle externo da atividade policial será exercido tendo em vista:

I – o respeito aos fundamentos do Estado Democrático de Direito, aos objetivos

fundamentais da República Federativa do Brasil, aos princípios informadores das

relações internacionais, bem como aos direitos assegurados na Constituição Federal

e na lei;

II – a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio

público;

III – a prevenção e a correção de ilegalidade ou de abuso de poder;

IV – a indisponibilidade da persecução penal;

V – a competência dos órgãos incumbidos da segurança pública; e

VI – outros interesses, direitos e valores relacionados ao exercício da atividade

policial. (SANTA CATARINA, 2019)

Nem só por intermédio de Leis Complementares o controle externo da Atividade

Policial foi regulamentado, isto porque, frente ao ordenamento jurídico que disciplina o tema,

o Conselho Nacional do Ministério Público editou a Resolução n. 20, de 28 de maio de 2007,

regulamentou administrativamente o controle externo da atividade policial (CONSELHO

NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, 2007).

Cabe destacar os dois primeiros artigos previstos na resolução retromencionada, o

primeiro que estabelece a legitimidade do Ministério Público, e o segundo as diretrizes do

controle externo, veja-se:

Art. 1º Estão sujeitos ao controle externo do Ministério Público, na forma do art.

129, inciso VII, da Constituição Federal, da legislação em vigor e da presente

Resolução, os organismos policiais relacionados no art. 144 da Constituição Federal,

bem como as polícias legislativas ou qualquer outro órgão ou instituição, civil ou

militar, à qual seja atribuída parcela de poder de polícia, relacionada com a

segurança pública e persecução criminal.

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55

Art. 2º O controle externo da atividade policial pelo Ministério Público tem como

objetivo manter a regularidade e a adequação dos procedimentos empregados na

execução da atividade policial, bem como a integração das funções do Ministério

Público e das Polícias voltada para a persecução penal e o interesse público,

atentando, especialmente, para: [...](CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO

PÚBLICO, 2007)

Não mais importante, o STJ, em sede de Recurso Especial, faz referência à

legitimidade do exercício do Ministério Público no controle externo da atividade policial:

ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA.

CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL PELO MINISTÉRIO

PÚBLICO. ARTS. 129, VII, DA CF E 9º, II, DA LC N. 75/1993.

DISPONIBILIZAÇÃO DE DOCUMENTOS E INFORMAÇÕES

MENCIONADOS NA INICIAL. ATIVIDADE-FIM POLICIAL CONFIGURADA.

RECURSO ESPECIAL PROVIDO. I - No caso concreto, o Ministério Público

Federal impetrou mandado de segurança contra ato ilegal do Delegado-Chefe da

Delegacia de Polícia Federal em Santa Maria-RS, que teria obstado a

disponibilização de documentos e informações requisitados pelo Parquet Federal no

exercício da atividade de controle externo da atividade policial, especificamente. II -

A Justiça Federal do Estado do Rio Grande do Sul determinou ao Delegado-Chefe

da DPF Santa Maria-MS que concedesse o acesso e cópias ao Ministério Público

dos seguinteS documentos: a) relação de servidores e contratados em exercício na

unidade, com especificação daqueles atualmente afastados; b) relação de coletes

balísticos da unidade; c) pasta com ordens de missão policial (OMP) expedidas nos

últimos 12 meses; d) livro de sindicâncias e processos disciplinares, bem assim

autos de sindicâncias e processos disciplinares eventualmente em trâmite na

delegacia; e) memorandos, ofícios, mensagens circulares, relatórios de missão

policial e quaisquer outros documentos que envolvam comunicações oficiais, para

que o próprio Ministério Público Federal avalie o interesse ao controle externo da

atividade policial. III - O Tribunal Regional Federal da 4ª Região reformou,

parcialmente, a decisão (fls. 366/393), limitando a análise pelo Ministério Público

Federal apenas às pastas com ordens de missão policial (OMP), expedidas nos

últimos 12 meses. IV - Recurso Especial do MPF que alega, em síntese, que os

documentos solicitados têm relação com a análise da atividade-fim da Polícia

Federal, que a fiscalização pretendida está inserida entre os deveres do Ministério

Público no exercício do controle externo da atividade policial e que o pedido por ele

formulado não é ilegal, sendo injustificável a recusa do Delegado-Chefe da DPF

Santa Maria-RS. V - O controle externo da atividade policial pelo Ministério Público

está previsto expressamente no art. 129, VII, da Constituição Federal e disciplinado

na Lei Complementar 75/93. VI - O Conselho Nacional do Ministério Público -

CNMP, com o objetivo de disciplinar o controle externo da atividade policial

pelo Ministério Público, editou a Resolução nº 20/2007, e estabeleceu nos arts.

2º, V e 5º, II, respectivamente: "O controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público tem como objetivo manter a regularidade e a adequação dos

procedimentos empregados na execução da atividade policial, bem como a

integração das funções do Ministério Público e das Polícias voltada para a

persecução penal e o interesse público atentando, especialmente, para: a

correção de irregularidades, ilegalidades ou de abuso de poder relacionados à

atividade de investigação criminal" ; "Aos órgãos do Ministério Público, no

exercício das funções de controle externo da atividade policial caberá: ter

acesso a quaisquer documentos, informatizados ou não, relativos à atividade-

fim policial civil e militar, incluindo as de polícia técnica desempenhadas por

outros órgãos (...)" Precedente: REsp 1365910/RS, Rel. Ministro HUMBERTO

MARTINS, Rel. p/ Acórdão Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,

SEGUNDA TURMA, julgado em 05/04/2016, DJe 28/09/2016. VII - Requisição de

registros escritos elencados na inicial está em absoluta consonância com teor dos

arts. 129, VII, da Constituição Federal, 3º e 9º da Lei Complementar 75/93 e 5º,

incisos II, III e VI, da Resolução 20/2007 do Conselho Nacional do Ministério

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56

Público. VIII - Recurso especial conhecido e provido, com o restabelecimento da

decisão federal de primeira instância. (BRASIL, 2017)(GRIFO NOSSO).

E mais:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. PROCESSO ADMINISTRATIVO

DISCIPLINAR. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. APLICABILIDADE DA

LEGISLAÇÃO PENAL. PRECEDENTES. INDEPENDÊNCIA DAS ESFERAS

ADMINISTRATIVA E PENAL. PRESCINDIBILIDADE DE SENTENÇA PENAL

CONDENATÓRIA. PARTICIPAÇÃO DE REPRESENTANTES DO

MINISTÉRIO PÚBLICO EM CONSELHO DISCIPLINAR DA POLÍCIA.

POSSIBILIDADE. 1. A sanção administrativa é aplicada para salvaguardar os

interesses exclusivamente funcionais da Administração Pública, enquanto a sanção

criminal destina-se à proteção da coletividade. Consoante entendimento desta Corte,

a independência entre as instâncias penal, civil e administrativa, consagrada na

doutrina e na jurisprudência, permite à Administração impor punição disciplinar ao

servidor faltoso à revelia de anterior julgamento no âmbito criminal, ou em sede de

ação civil, mesmo que a conduta imputada configure crime em tese. Ademais, a

sentença penal somente produz efeitos na seara administrativa, caso o provimento

reconheça a não ocorrência do fato ou a negativa da autoria. 2. O Superior

Tribunal de Justiça já firmou posicionamento no sentido de haver respaldo no

texto constitucional a presença de Promotor de Justiça e/ou de Procuradores do

Estado no Conselho da Polícia Civil, tendo em vista que a Carta Magna não

impede a participação de membros do Ministério Público em órgão consultivo

ou de deliberação. Vale ressaltar que a própria Constituição prevê o controle

externo da atividade policial como uma das funções institucionais do Ministério

Público (art. 129, inciso VII, CF). Além do mais, esta participação no Conselho

de Polícia é compatível com a missão do Ministério Público de fiscalizar a

legalidade e moralidade pública. 3. Recurso ordinário em mandado de segurança

não provido. (BRASIL, 2011) (GRIFO NOSSO).

Por fim, o Pretório Excelso reconheceu a legitimidade do Ministério Público para o

exercício do controle externo da atividade policial no julgamento de Habeas Corpus:

HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. POLICIAL CIVIL.

CRIME DE EXTORSÃO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DE

CONCUSSÃO. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. CONTROLE

EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL. DENÚNCIA: CRIMES COMUNS,

PRATICADOS COM GRAVE AMEAÇA. INAPLICABILIDADE DO ART. 514

DO CPP. ILICITUDE DA PROVA. CONDENAÇÃO EMBASADA EM OUTROS

ELEMENTOS PROBATÓRIOS. DECISÃO CONDENATÓRIA

FUNDAMENTADA. ORDEM DENEGADA. 1. Legitimidade do órgão

ministerial público para promover as medidas necessárias à efetivação de todos

os direitos assegurados pela Constituição, inclusive o controle externo da

atividade policial (incisos II e VII do art. 129 da CF/88). Tanto que a

Constituição da República habilitou o Ministério Público a sair em defesa da

Ordem Jurídica. Pelo que é da sua natureza mesma investigar fatos,

documentos e pessoas. Noutros termos: não se tolera, sob a Magna Carta de

1988, condicionar ao exclusivo impulso da Polícia a propositura das ações

penais públicas incondicionadas; como se o Ministério Público fosse um órgão

passivo, inerte, à espera de provocação de terceiros. 2. A Constituição Federal

de 1988, ao regrar as competências do Ministério Público, o fez sob a técnica do

reforço normativo. Isso porque o controle externo da atividade policial engloba

a atuação supridora e complementar do órgão ministerial no campo da

investigação criminal. Controle naquilo que a Polícia tem de mais específico: a

investigação, que deve ser de qualidade. Nem insuficiente, nem inexistente, seja

por comodidade, seja por cumplicidade. Cuida-se de controle técnico ou

operacional, e não administrativo-disciplinar. [...]. (BRASIL, 2011)

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57

4.4.3 O exercício do controle externo da atividade policial

Com a proteção constitucional do Estado democrático de direito, adotado pela

República Federativa, ocorreu o rompimento do regime ditatorial que imperava no país, e

assim, a partir da Constituição Cidadã, os direitos individuais e fundamentais do homem

foram alçados ao primeiro escalão da proteção estatal, de característica garantista e humanista

(GOMINHO; SÁ, 2016).

Como consequência destas prerrogativas encontradas no texto constitucional e nas leis

orgânicas do Ministério Público, seja ela da União ou dos demais entes federados, o controle

externo da atividade policial atinge o patamar de suma importância no Estado Democrático de

Direito, por estar subordinadoao Poder Executivo, em razão do objetivo intrínseco que tem,

em evitar abusos e disfunções praticadas pelos agentes públicos da segurança pública

(MARTINS JÚNIOR, 2015).

Guilherme Nucci (2018, p. 2010) retrata a falibilidade da investigação, quando

conduzida sem a supervisão de outrem:

Todo e qualquer procedimento investigatório exercido por autoridade, sem controle

externo (de outra autoridade, como o juiz, ou da própria parte interessada, como o

realizado pelo defensor do réu, indiciado ou suspeito), é um farto e fácil caminho

para o abuso de direitos e o cometimento de desvios graves, comprometedores da

ideia de um processo penal democrático.

Trata-se, pois, que, o controle externo da atividade policial é um dos instrumentos à

disposição da coletividade, exercida pelo órgão ministerial, a fim de manter preciso e

adequado aos interesses da sociedade e da ordem pública, mantendo a moralidade dos órgãos

e da prestação dos serviços policiais, coibindo abusos exercidos pelos seus operadores

(GOMINHO; SÁ, 2016).

A essencialidade que encontra a previsão constitucional para o controle externo da

atividade policial, estão os instrumentos disponíveis ao Ministério Público, na oportunidade

da investigação dos crimes, atuando ou não em inquéritos policiais, fiscalizando o exercício

da polícia judiciária e da apuração de delitos penais (MAZZILLI, 1991).

Sarabando (1997) analisa que o Ministério Público possui funções institucionais de

atuação junto ao exercício jurisdicional, lado a lado do Poder Judiciário ou Poder Legislativo,

este de forma imprópria.

Isto porque Ministério Público possui atribuições diversas, com características

próximas a atividade administrativa, a defesa da ordem jurídica, dos interesses indisponíveis,

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58

difusos e coletivos, zelo ao respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública

aos direitos constitucionais.

Visto que as instituições policiais, aquelas previstas no artigo 144 da Magna Carta,

não detém independência funcional e administrativa, portanto, estão vinculadas e

subordinadas ao Poder Executivo, e na falta de um controle externo e desvinculado, estão

mais suscetíveis à corruptibilidade e sucumbência a pressões e interesses individuais e

econômicos, poderia deturpar a função final da polícia judiciária, qual seja, a segurança

pública (MAZZILLI, 1991).

Este controle externo pode abarcar não só esfera penal, mas também a administrativa,

em que o servidor público que incorreu em conduta ilegal, poderá ser responsabilizado

administrativamente, veja-se:

Dessarte, vedada a interpretação do controle externo da atividade policial pelo

Ministério Público como a imposição de uma hierarquia administrativa. Ainda

parafraseando o mestre Mazzilli, “certamente, aludido controle externo não

importará poder disciplinar do Ministério Público sobre a polícia. Na área funcional,

se o promotor de Justiça verificar a ocorrência de quaisquer faltas disciplinares,

tendo esse órgão ministerial atribuições de controle externo - forma irrecusável de

correição sobre a polícia judiciária -, há de dirigir-se aos superiores hierárquicos do

funcionário público faltoso (delegado de polícia, escrivão, investigador, carcereiro,

etc), indicando as falhas e as providências que entenda cabíveis, para que a

autoridade administrativa competente possa agir".(SARABANDO, 1997)

Nesta toada, não só como forma de revisar os atos praticados individualmente, o

controle externo reforça a operatividade do próprio controle interno, exercido

primordialmente pelas Corregedorias de cada Órgão de Polícia.

Todavia, a atuação ministerial junto aos órgãos de polícia, em controle externo, não

pode ser confundida com a capacidade investigatória do órgão, mas sim efeito decorrente

deste, como leciona Guilherme Nucci (2018, p. 2010):

[...] atribui-se ao Ministério Público o poder de expedir notificações nos

procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e

documentos (o que ocorre no inquérito civil ou em algum processo administrativo

que apure infração funcional de membro ou funcionário da instituição, por

exemplo), a possibilidade de exercer o controle externo da atividade policial (o que

não significa a substituição da presidência da investigação, conferida ao delegado de

carreira) [...]

Esta prática é forma de complemento e fiscalização da atividade correicional, frente ao

natural corporativismo dos órgãos de polícia, deixando a investigação adstrita aos

mecanismos de investigação interna, e assim proporcionando maior efetividade na

responsabilização dos agentes públicos.

Page 60: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ABEL VIEIRA …

59

Esse tipo de conduta é internalizado em grande parte das corporações policiais,

reverberando em um fenômeno histórico que gera efeitos prejudiciais nas investigações e

posterior punição, donde se extrai:

Estudos demonstram que, por mais bem-intencionados que sejam, as investigações

conduzidas pelos órgãos de controle interno tendem a serem corporativistas e a não

darem uma resposta plenamente satisfatória às reclamações de desvios policiais.

Como visto anteriormente, o órgão de controle interno tende a minimizar a

probabilidade de veracidade de uma alegação de desvio policial, o que induz a que

tais alegações não sejam imediatamente investigadas, e a ausência de uma

investigação imediata tende e favorecer o perecimento das provas do delito;

ademais, muitos supervisores tendem a partilhar a visão de que alguns pequenos

desvios formais são legítimos, pois seriam essenciais à função policial; muitos

dirigentes têm receio que um desvio grave seja descoberto, ante o receio que ele

venha macular a imagem da instituição, e ainda quando há um desvio relativamente

bem configurado, ele tende a ser tratado de forma leniente ou complacente (ÁVILA,

2014).

Assim, o Ministério Público não só exerce o controle externo da atividade policial ao

averiguar se as atividades policiais estão sendo praticadas corretamente, ou seja, se as

atribuições constitucionais e legais estão sendo cumpridas, mas também buscar inibir

condutas de agentes que possam exceder os limites impostos e aviltarem direitos e garantias

individuais e sociais (SARABANDO, 1997).

Nas palavras de Mazzilli (1991):

Anoto ser tarefa que exige cuidados especiais o adequado relacionamento do

Ministério público com a Polícia Civil, especialmente na fase do inquérito policial.

No acompanhamento das atividades da polícia judiciária, pode ocorrer que o

Promotor surpreenda prisões ilegais ou até mesmo torturas, nas suas visitas às

Delegacias ou à Cadeia Pública. Nesses casos, deve agir com rigor, dentro de suas

atribuições, coibindo de imediato abusos, pelos meios legais ao seu alcance, bem

como apurando ou fazendo apurar as responsabilidades.

Ao passo que exercem atividade de fiscalização, os membros do Ministério Público

são como paradigmas para as condutas investigativas e correcionais, que devem estar

galgadas no profissionalismo, na ética e na legalidade, como retrata Sarabando (1997):

O fiscal da legalidade não poderá compactuar com nenhuma arbitrariedade ou

violação da lei, não podendo, contudo, para o desempenho de suas tarefas cometer

arbitrariedades. Pretender vistoriar uma unidade policial fora do horário diurno, em

fins de semana ou feriados, certamente que será atitude no mínimo antipática,

principalmente por causa dos regulamentos internos rígidos que costuma haver em

delegacias de polícia que contenham cadeias públicas.

Sempre conveniente a conduta onde se misturem os ingredientes profissionalismo,

ética e bom relacionamento, de grande valia a prévia consulta à autoridade

titularsobre o dia e a hora da visita de inspeção, motivada essa, pela exigência legal

(artigo 68, parágrafo único da Lei de Execuções e artigo 25, VI, da Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público) ou por notícia de irregularidade, de cunho criminal

ou disciplinar.

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60

Da mesma forma, em que pese essencial ao estado democrático de direito, o controle

externo deve sempre observar a separação dos poderes, prevista constitucionalmente, em que

estes controles não podem perpassar ao passo que inviabiliza o desempenho ordinário das

atividades das polícias, devendo a fiscalização ocorrer de forma simples, adequada e célere

(ÁVILA, 2014).

Sobre a importância do exercício do controle externo da atividade policial, Gominho e

Sá (2016) expressam:

O controle externo da atividade policial baseia-se das funções de suma importância

exercidas pelo Ministério Público após a promulgação da Constituição Federal em

vigor, onde referida instituição, dotada de autonomia, passou a ser garantidor da

ordem jurídica e do estado democrático de direito. Assim, o controle externo da

atividade policial visa, sobretudo, garantir que a atividade fiscalizada não atente

contra os direitos e garantias fundamentais do homem.

Conclui Mazzilli (1991), que a Constituição Federal previu instrumentos jurídicos para

o exercício do controle externo da atividade policial e deu-lhes a disponibilidade ao

Ministério Público, a fim de combater o desprestígio recorrente nas repartições policiais, pela

má atuação, fomentando que a segurança pública tenha maior efetividade como garantia

institucional, destinando a melhor atuação pelo bem da coletividade.

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5 CONCLUSÃO

O Ministério Público exerce, dentre suas diversas atribuições, a proteção de interesses

difusos e coletivos, e contido nesta esfera está a atuação como controlador externo da

atividade policial, a fim de garantir a normalidade da atuação das polícias e o devido uso da

força coercitiva do Estado.

Para análise do tema, em específico, o desenvolvimento debruçou-se inicialmente no

contexto histórico do Ministério Público, que teve origem ainda nas monarquias absolutistas

europeias, em que o titular do cargo era agente do Rei, e realizava a persecução penal para o

posterior julgamento do soberano.

Demonstrando a evolução ocorrida no órgão em razão das mudanças sociais e políticas

do mundo, chegou-se ao modelo adotado pelas constituições brasileiras, que assim como os

demais países, estava atrelado ao processo penal e acusação.

Com a Constituição de 1988, o Ministério Público recebe a nova roupagem que possui

até os dias atuais, conferido ainda o desafio de proteger e tutelar os interesses difusos,

coletivos e transindividuais, a par da persecução penal no papel da acusação a busca pela

efetivação dos princípios constitucionais e o Estado Democrático de Direito.

A partir disto verificou-se a etimologia do termo “Ministério Público”, e a sua

natureza jurídica, retratando seu vínculo histórico com suas origens, e apresentando um

modelo de órgão ou Instituição sui generis, diverso de todos os outros braços do Estado, que

estão vinculados aos poderes Judiciário, Executivo e Legislativo.

Foram estudados alguns dos princípios atrelados ao Ministério Público, quais sejam a

autonomia, independência funcional e responsabilidade, unidade, indivisibilidade e do

promotor natural, fundamentais à legitimidade e ao exercício do controle externo da atividade

policial.

No momento seguinte, realizou-se o estudo específico da segurança pública no Brasil,

iniciando pela apresentação dos conceitos de segurança pública e da ordem pública, e suas

interações, em que se pôde inferir que a ordem pública é a mais próxima situação de

normalidade do convívio social, sendo resultado da segurança pública, que se trata do

exercício e controle por parte do poder público e da sociedade, na busca por esta normalidade.

Na esfera constitucional, demonstrou-se que o Estado tem por razão de ser a proteção

da raça humana, bem como prover as suas necessidades, e por isto, efetivou na Magna Carta a

esfera da segurança pública para garantir atuação estatal.

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62

Contudo, o texto da Carta Maior não trata somente do dever do Estado e do direito da

população em detrimento da segurança pública, e sim, busca vincular as atividades da

coletividade e o controle social como dever de todos, para que a ordem pública seja resultado

do mútuo esforço da sociedade em geral e do poder coercitivo do Estado.

Assim, a Constituição Cidadã elencou figuras do Estado que atuam especificamente na

segurança pública.

A Polícia Federal exerce o papel de polícia judiciária no âmbito federal, a realizar

investigações dos crimes e delitos de competência da justiça federal.

A Polícia Rodoviária Federal, de natureza de polícia ostensiva e preventiva, que

executa suas atividades também na forma repressiva, tendo por zona de trabalho as rodovias

federais.

Polícia Ferroviária Federal teria de executar a atividade ostensiva e preventiva, e

repressiva nas malhas ferroviárias do país, funções, contudo, que até o momento não foram

regulamentadas por lei infraconstitucional, inexistindo agentes públicos nesta carreira, sendo

que o seu controle é realizado na esfera privada ou por agentes de fiscalização sem relação

com a segurança pública.

As Polícias Civis exercem a função de polícia judiciária nos Estados-membros e no

Distrito Federal, atuando na investigação de delitos cuja competência para julgamento é da

Justiça Estadual.

As Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares são os órgãos de polícia

ostensiva, diretamente ligados àprevenção de condutas delituosas, antecipando o seu

acontecimento ou atuando no momento da ação.

As Polícias Penais Federal, Estaduais e Distrital são a inovação do ordenamento

jurídico constitucional, tendo a redação da Emenda Constitucional n. 104, de 2019 elevado os

servidores dos estabelecimentos prisionais ao status de policial, resultando em efeitos

jurídicos como, por exemplo, o porte de armas e a impossibilidade da contratação de ACT’s

para a atividade fim.

No capítulo final, foi realizado o estudo sobre a proteção do Ministério Público em

favor do Estado Democrático de Direito, diante da estrutura firmada pelo constituinte e os

princípios elencados na Magna Carta que resultam na atuação do Ministério Público em

controle externo da atividade policial.

Isto porque o Ministério Público detém autonomia e unicidade, estando totalmente

desvinculado dos três poderes do Estado, mas com eles se comunica e transita

constantemente, tornando-se essencial à proteção dos princípios constitucionais.

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63

Surge, então, a função custos legis, que cuida da forma de atuação do Ministério

Público, tanto nas ações que postula, como na atuação de curadoria, como fiscal de

instituições e órgãos públicos.

A função custos legis se torna o principal fundamento para o controle externo da

atividade policial, haja vista que o Ministério Público é o guardião da lei, e àquele cabe

postular e fiscalizar atividades contrárias à lei, ou eivadas e abusos de direito, principalmente

no tocante ao poder coercitivo do Estado e o uso da força física.

Isto vai ao encontro com a legitimidade conferida ao órgão, quanto ao poder de

investigação, em que há discussão calorosa entre os operadores do Direito, todavia,

consolidado o entendimento que o Ministério Público, por meio de seus membros, pode

investigar, desde que observados os princípios constitucionais inerentes à investigação.

A partir deste regulamento jurídico e da estrutura do Ministério Público, a função do

controle externo da atividade policial, que foi analisado por meio da conceituação, que se trata

da realização da fiscalização dos órgãos públicos pela própria administração pública, e neste

caso, de forma externa por ser desempenhada por órgão diverso ao investigado.

A legitimidade é encontrada no ordenamento jurídico vigente, dado a simetria

legislativa a partir da previsão constitucional, até a disposição nas Leis orgânicas dos

Ministérios Públicos Federal, dos Estados-membros e do Distrito Federal, em consonância

com a resolução do Conselho Nacional do Ministério Público que reconhece a legitimidade,

bem como ressalta as diretrizes para o exercício do controle externo.

Assim, o exercício do controle externo da atividade policial pelo Ministério Público

nada mais é que um desdobramento do controle exercido sobre os atos da Administração

Pública, em razão da sua função como fiscal da lei e defensor do estado democrático de

direito, cujo objetivo é a preservação os direitos individuais e sociais, conferidos pela

Constituição cidadã.

Por fim, infere-se que o controle externo da atividade policial é o meio pelo qual o

Ministério Público exerce a tutela difusa da segurança pública, garantindo à sociedade a

efetivação do estado de normalidade social, diminuindo a violência urbana e criminalidade

pela melhor atuação das corporações policiais e resguardando o devido controle da força

coercitiva do Estado Democrático de Direito.

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ANEXOS

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ANEXO A – “NÓS SOMOS A POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA”