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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA AGATHA PEIXOTO NEVES WALT DISNEY WORLD E BETO CARRERO WORLD: UM ESTUDO SOBRE OS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS NAS CIDADES DE ORLANDO E PENHA. Florianópolis 2018

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

AGATHA PEIXOTO NEVES

WALT DISNEY WORLD E BETO CARRERO WORLD:

UM ESTUDO SOBRE OS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS NAS CIDADES

DE ORLANDO E PENHA.

Florianópolis

2018

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AGATHA PEIXOTO NEVES

WALT DISNEY WORLD E BETO CARRERO WORLD:

UM ESTUDO SOBRE OS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS NAS CIDADES

DE ORLANDO E PENHA.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Katia Regina de Macedo, Msc.

Florianópolis

2018

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AGATHA PEIXOTO NEVES

WALT DISNEY WORLD E BETO CARRERO WORLD:

UM ESTUDO SOBRE OS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS NAS CIDADES

DE ORLANDO E PENHA.

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais e aprovado em sua forma final pelo Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 3 de dezembro de 2018.

______________________________________________________

Professor e orientador Katia Regina de Macedo, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________

Prof. Jurema Pacheco Marques, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________

Prof. Rejane Roecker, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente aos meus pais, Cristina e Cesar, por

toda a atenção dedicada durante esta jornada, por terem me dado a oportunidade de

fazer a minha faculdade dos sonhos e também o incentivo para que eu trabalhasse

no local dos meus sonhos: Walt Disney World, inspiração deste trabalho. A vocês o

meu amor e eterna gratidão.

As minhas amigas, em especial a Amanda, Giulia, Marina e Vitória, pela

constante demonstração de carinho e pela ajuda nos momentos difíceis. Eu não

conseguiria ter concluído esta pesquisa sem vocês me apoiando dia após dia, muito

obrigada!

Aos mestres e coordenação do curso, e, com carinho, a minha

orientadora, Katia Regina de Macedo, pelo seu auxilio e ensinamentos fundamentais

para a conclusão deste trabalho, que com certeza levarei comigo para o resto da

minha vida.

Aos meus colegas de trabalho no Walt Disney World, que me receberam

tão bem e foram minha família enquanto eu estava tão longe da minha.

Por fim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para esta

pesquisa, meu muito obrigado!

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“Você é eternamente responsável por aquilo que cativas.” (Beto Carrero)

“You can design and create, and build the most wonderful place in the

world. But it takes people to make the dream a reality.” (Walt Disney).

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RESUMO

A presente monografia aborda com fenômeno da globalização colabora para

que haja a expansão de cultura e informação pelo mundo todo. Um tipo de negócio

que registrou um grande crescimento foi o ramo do entretenimento, mais

especificamente os parques temáticos. Nesse contexto o Walt Disney World é um

complexo temático reconhecido no mundo todo e serviu de inspiração para a criação

de muitos parques temáticos ao redor do mundo, como foi o caso do Beto Carrero

World. O objetivo geral desta pesquisa é apresentar as mudanças econômicas e

sociais que ocorreram nas cidades de Orlando, na Flórida, e de Penha, em Santa

Catarina, após as inaugurações dos parques temáticos pesquisados. A partir daí,

apresentou-se as conjunturas econômicas dos Estados Unidos e do Brasil, durante a

criação dos parques, e a evolução dos indicadores socioeconômicos das cidades de

Orlando e Penha. Para a estruturação do trabalho foi utilizada a pesquisa aplicada.

Além disso, utilizou-se de objetivos descritivos e de natureza qualitativa. O

delineamento do estudo tem caráter de pesquisa bibliográfica e documental. O

trabalho em questão não pretende ser uma análise comparativa, dadas as

respectivas proporções de cada parque, mas uma descrição da evolução econômica

e social das cidades, após a implantação dos parques. Por fim, conclui-se que as

cidades estudadas, Orlando e Penha, passaram por diversas mudanças nos seus

aspectos socioeconômicos, desde a inauguração dos parques, alterando

completamente o perfil econômico das mesmas.

Palavras-chave: Parques Temáticos. Globalização. Indicadores Socioeconômicos.

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ABSTRACT

This monograph deals with globalization, and how this phenomenon

contributes to the expansion of culture and information around the world. One type of

business that has grown dramatically with globalization has been the entertainment

business, specifically the theme parks. In this context, Walt Disney World is a

thematic complex recognized all over the world, and served as inspiration for the

creation of many theme parks around the world, as was the case of Beto Carrero

World. The general objective of this research is to present the economic and social

changes that occurred in the cities of Orlando, Florida, and Penha, in Santa Catarina,

after the inaugurations of the theme parks surveyed. From there, the economic

conjunctures of the United States and Brazil were presented during the creation of

the parks, and the evolution of the socioeconomic indicators of the cities of Orlando

and Penha. For the structuring of the work were used as far as its applicability to

applied research, it uses descriptive objectives, and of qualitative nature. The study

design has the character of bibliographical and documentary research. The work in

question is not meant to be a comparative analysis, given the respective proportions

of each park, but rather a description of the economic and social evolution of the

cities after the parks' implementation. Finally, it is concluded that the cities studied,

Orlando and Penha, underwent several changes in their socioeconomic aspects

since the inauguration of the parks, completely altering their economic profile.

Keywords: Theme Parks. Globalization. Socioeconomic Indicators.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Magic Kingdom em Construção, 1970 ..................................................... 43

Figura 2 – Magic Kingdom no dia de sua inauguração ............................................. 44

Figura 3 – Mapa do Walt Disney World Resort em 1971 .......................................... 44

Figura 4 – Mapa do Walt Disney World Resort em 2017 .......................................... 47

Figura 5 – Beto Carrero World em Construção ......................................................... 51

Figura 6 – Mapa do Beto Carrero World em 1992 ..................................................... 52

Figura 7 – Beto Carrero em frente ao Castelo das Nações ....................................... 53

Figura 8 – Mapa do Beto Carrero World em 2017 ..................................................... 54

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Variação nos indicadores econômicos de Orlando e Penha. .................. 60

Gráfico 2 - Variação nos indicadores sociais de Orlando e Penha. ........................... 63

Gráfico 3 - Variação nos indicadores dos parques Walt Disney World e Beto Carrero

World. ........................................................................................................................ 67

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Classificação dos 10 parques temáticos mundiais mais populares

conforme a quantidade de visitantes anuais ............................................................. 36

Tabela 2 – Indicadores Econômicos da cidade de Orlando em 1971 e 2017 ...... Erro!

Indicador não definido.

Tabela 3 – Indicadores Sociais da cidade de Orlando em 1971 e 2017 .............. Erro!

Indicador não definido.

Tabela 4 – Indicadores do Walt Disney World Resort em 1971 e 2017 ............... Erro!

Indicador não definido.

Tabela 5 – Indicadores Econômicos da cidade de Penha em 1991 e 2017 ......... Erro!

Indicador não definido.

Tabela 6 – Indicadores Sociais da cidade de Penha em 1991 e 2017Erro! Indicador

não definido.

Tabela 7 – Indicadores do Beto Carrero World em 1991 e 2017Erro! Indicador não

definido.

Page 11: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA AGATHA PEIXOTO …

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E PROBLEMA ............................................................ 12

1.2 OBJETIVOS ...................................................................................................... 14

1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 14

1.2.2 Objetivos Especificos ................................................................................... 14

1.3 JUSTIFICATIVA................................................................................................ .14

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................... 16

2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................. 17

2.1 CAPITALISMO..................................................................................................... 17

2.2 GLOBALIZAÇÃO ................................................................................................. 20

2.2.1 Globalização Cultural .................................................................................... 23

2.2.2 Globalização Econômica .............................................................................. 25

2.3 DESENVOLVIMENTO ECONÒMICO ............................................................... 27

2.4 ATORES INTERNACIONAIS ............................................................................ 30

2.5 TURISMO DE ENTRETENIMENTO NO ÂMBITO DA GLOBALIZAÇÃO .......... 32

2.5.1 Entretenimento ............................................................................................... 33

2.5.2 Parques Temáticos......................................................................................... 34

3 AS IMPLANTAÇÕES DOS PARQUES E SUAS INFUENCIAS SOBRE AS

ECONOMIAS LOCAIS ............................................................................................ 316

3.1 CONTEXTO ECONÔMICO LOCAL DURANTE A IMPLANTAÇÃO DO WALT

DISNEY WORLD ...................................................................................................... 38

3.1.1 Biografia de Walter Elias Disney ................................................................. 40

3.1.2 História da Cidade de Orlando ..................................................................... 42

3.1.3 Implantação de Extrutura do Walt Disney World ........................................ 43

3.2 CONTEXTO ECONÔMICO LOCAL DURANTE A IMPLANTAÇÃO DO BETO

CARRERO WORLD ................................................................................................. 47

3.2.1 Biografia de João Batista Sérgio Murad “Beto Carrero” ................................... 49

3.2.2 História da Cidade de Penha ........................................................................ 51

3.2.3 Implantação de Extrutura do Beto Carrero World ...................................... 51

3.3 EVOLUÇÃO DOS INDICADORES .................................................................... 54

3.3.1 Globalização Cultural .................................................................................... 55

3.3.2 Globalização Cultural .................................................................................... 57

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3.4 DIAGNÓSTICO ................................................................................................. 60

4 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 69

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 72

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1 INTRODUÇÃO

Este capítulo apresentará o tema desta monografia, assim como a pergunta de

pesquisa, a qual possui a função de definir qual direção o trabalho irá tomar. Em

seguida, serão expostos os objetivos a serem alcançados por este trabalho. Por fim,

apresenta-se a justificativa para a escolha do tema, assim como os procedimentos

metodológicos utilizados para a construção desta monografia.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E PROBLEMA

Nas últimas décadas, um fenômeno socioeconômico e político vêm causando

importantes mudanças no mundo como conhecemos: a globalização. Segundo

Stiglitz (2004) a globalização é a integração mais profunda entre países e

sociedades, o que acarreta na diminuição de barreiras; na diminuição de custos de

comunicação; aumento da circulação de mercadorias, conhecimento, capitais, e até

mesmo pessoas. As transformações causadas por tal processo constroem novas

realidades, e podem trazer imprevistos, que acabam causando desafios aos

trabalhadores mundiais, de acordo com Gonçalves et al. (1998). Dessa forma,

observa-se que as ideias de globalização são diversas, muitos autores afirmam que

ela beneficia a economia, outros afirmam que ela traz prejuízos em determinadas

áreas, mas algo em comum entre quase todos eles é o fato de que ela afeta o

mundo contemporâneo no âmbito econômico, cultural e político, e traz as noções de

realidade que conhecemos atualmente.

Segundo Joshi (2009) a globalização econômica diz respeito ao aumento da

integração e da interdependência econômica das nações, principalmente por meio

do comércio. Já a parte política da globalização condiz com a multiplicação do

sistema político internacional, podendo ser observada por meio da democratização

do mundo (RITZER, 2007).

No âmbito cultural, a globalização é a forma mais perceptível para a

sociedade. Isso porque tal fenômeno ao trazer uma maior facilidade de

comunicação e diminuição de barreiras, fez com que culturas e costumes pudessem

ser transmitidos entre fronteiras para povos diferentes, segundo Crane (2011). Tal

área da globalização é uma das mais importantes a ser estudada, pois „cultura‟

possui um conceito muito amplo, e cada estudioso a define de uma forma diferente.

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Dentro disso, o autor em questão exemplifica que a globalização cultural pode ser

percebida por meio do americanismo e no modo como os Estados Unidos

influenciam outros países no âmbito cultural (CONVERSI, 2010).

Uma das maneiras mais conhecidas da influência estadunidense no mundo é

por meio do entretenimento. A indústria do entretenimento é uma das que mais

cresce atualmente, seja com o cinema, televisão, teatro, música ou experiências.

Segundo projeções da PwC (2017), espera-se que essa indústria movimente cerca

de US$ 2,23 trilhões em 2021, gerando um crescimento de 4,8% ao ano. Nesse

contexto, pode-se afirmar que uma das principais formas de entretenimento são os

parques temáticos. Tais parques estão espalhados pelo mundo, e representam uma

das atividades econômicas que mais cresce, aumentando seu número de visitantes

e faturamento a cada ano.

Ao falar de parques temáticos, pode-se citar uma empresa pioneira na área: a

The Walt Disney Company. Tal empresa conseguiu crescer de maneira gradual e

obter sucesso absoluto na área em que atua, o que a consolidou como uma das

maiores empresas do mundo. A The Walt Disney Company possui parques

temáticos em cinco cidades em diferentes continentes, mas o maior complexo de

parques encontra-se na cidade de Orlando, na Flórida. O Walt Disney World Resort

é formado por quatro parques temáticos, dois parques aquáticos, um complexo de

compras e vinte e sete resorts temáticos. Os parques do Disney World são

referência em atendimento ao cliente, e isso é apenas um dos motivos que faz com

que seus índices econômicos cheguem a até 90% na taxa de retorno (WALT

DISNEY WORLD, 2018).

Um complexo temático muito importante para a economia brasileira é o

parque Beto Carrero World. Localizado na cidade de Pena, no estado de Santa

Catarina, ele foi desenvolvido com inspiração no primeiro parque do Walt Disney

World, o Magic Kingdom. De acordo com os relatórios anuais divulgados pela

empresa, o Beto Carrero atualmente é o maior parque multitemático da América

Latina e conta com diversas atrações: áreas temáticas, shows, brinquedos, um

amplo zoológico e personagens. O parque contou com aproximadamente dois

milhões de visitantes no ano de 2016, e continua se consolidando como referência

em entretenimento no cenário nacional (BETO CARRERO WORLD, 2018).

Com a popularidade dos parques aumentando a cada ano, cresce também o

movimento de capitais nas regiões em questão, gerando o que pode ser chamado

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de desenvolvimento econômico. O desenvolvimento econômico para Schumpeter

(1980) é o que acontece toda vez que existe uma perturbação da inércia em uma

economia que se encontra estática. Nesse contexto, percebe-se por meio de

relatórios anuais, que tanto o Walt Disney World quanto o Beto Carrero World

contribuíram para que houvesse uma perturbação na inércia da economia local,

gerando um crescimento nas áreas de Orlando e Penha após a inauguração desses

parques.

A partir do exposto, tem-se a seguinte pergunta de pesquisa: “De que

maneira os complexos de parques temáticos do Walt Disney World e do Beto

Carrero World acarretaram mudanças econômicas nas regiões em que estão

localizados?”.

1.2 OBJETIVOS

Para a execução desta monografia foi necessário a utilização de alguns

objetivos, que dividem-se em objetivo geral, o propósito do trabalho; e objetivos

específicos, que auxiliam na concretização do objetivo geral.

1.2.1 Objetivo Geral

Reconhecer as mudanças acarretadas pelo Walt Disney World Resort na

cidade de Orlando e também as mudanças que o Beto Carrero World fizeram na

região de Penha, baseado numa análise socioeconômica.

1.2.2 Objetivos Específicos

Para alcançar o objetivo geral, utiliza-se de alguns objetivos específicos,

dentre eles:

• apresentar a conjuntura econômica local na época em que os parques foram

criados;

• descrever o processo de implantação do Walt Disney World Resort e do

Complexo Beto Carrero World;

• apresentar a evolução dos indicadores socioeconômicos locais no período

estudado, nas cidades de Orlando e Penha;

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1.3 JUSTIFICATIVA

O Walt Disney World Resort, desde o seu primeiro dia de abertura, em 1971,

além de vender o seu produto, vendeu sonhos. Lá, as pessoas encontram uma

felicidade imensurável, esquecem-se dos seus problemas e constroem memórias

que serão relembradas pelo resto de suas vidas. Isso é apenas um dos motivos que

acabou consolidando o Walt Disney World como o complexo de entretenimento mais

visitado do mundo de acordo com a CNN. Ao construir experiências incríveis para

seus visitantes, o complexo cresceu como empresa e virou exemplo para parques

temáticos ao redor do mundo, incluindo o Beto Carrero World.

O Beto Carrero World, inaugurado em 1991, respeitadas as devidas

proporções, foi pioneiro no Brasil, trazendo algo que as pessoas da região de Penha

nunca tinham visto antes. Com inspiração no primeiro parque do Walt Disney World,

o Magic Kingdom, o parque catarinense é dividido em sete áreas distintas, cada uma

com um tema diferente. O complexo traz alegria para seus visitantes, que se

deslocam de diversas áreas do país.

A realização deste trabalho se justifica pelo fato de que o grande crescimento

e a manutenção do sucesso desses empreendimentos trouxeram, mesmo que em

diferentes escalas, grandes benefícios para as cidades em que estão localizados.

Eles geraram novos empregos, maiores fluxos de capital, maior número de turistas,

mais oportunidades para empresas terceirizadas; tudo colaborando para que ocorra

um maior movimento da economia local e mundial.

Além disso, esse estudo se justifica também pelo interesse da pesquisadora,

que após ter trabalhado no Walt Disney World, se surpreendeu pela maneira com

que a empresa trata seus clientes e se impressionou com a relevância do complexo

para toda a cidade de Orlando. Daí surgiu à vontade de aprofundar seus

conhecimentos sobre os reflexos econômicos locais da Disney e, posteriormente,

pela proximidade, escolheu estudar também o parque Beto Carrero, por ser de

grande relevância para a cidade de Penha e o estado de Santa Catarina.

Para a sociedade, o estudo busca mostrar a importância desse tipo de

empreendimento para as cidades que os abrigam, a partir da apresentação de

dados sobre os impactos causados por eles. Já para a universidade, a presente

pesquisa é de grande importância para utilização como fonte de pesquisa, uma vez

que existem poucos trabalhos sobre o assunto.

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1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a realização dessa pesquisa, alguns procedimentos metodológicos

foram utilizados com objetivo de desenvolvê-la de forma satisfatória. De acordo com

a literatura estudada, a pesquisa caracteriza-se como aplicada, pois ela gera

conhecimentos para a solução de problemas práticos. O conteúdo do trabalho

abrange verdades e interesses universais para futuras pesquisas (FONSECA, 2002).

A abordagem da pesquisa é de cunho qualitativo, pois se utiliza do

levantamento de dados e fontes, com objetivo de obter uma análise subjetiva, a fim

da realização do trabalho (GIL, 2008).

Quanto aos objetivos, o presente trabalho trata-se de um estudo do tipo

descritivo, onde o pesquisador procura descrever dados e acontecimentos de um

objeto de pesquisa já conhecido, estabelecendo relação entre as variáveis, mas sem

que haja manipulação dos mesmos (GIL, 2008).

Por último, os métodos utilizados para coleta de dados foram o bibliográfico e

o documental. Segundo, Marconi e Lakatos (2003) o primeiro é feito através de

publicações, podendo ser encontradas em livros, artigos científicos ou base de

dados. Já o método documental, utiliza de fontes mais diversificadas, podendo ser

websites de empresas, relatórios, documentos oficiais e cartas. No trabalho em

questão, foram utilizados de relatórios anuais e documentos divulgados pelas

empresas The Walt Disney Company e pelo Beto Carrero, além de trabalhos

acadêmicos atuais sobre as determinadas empresas e voltados ao âmbito

econômico.

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17

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo são apresentados os conceitos gerais sobre o trabalho em

questão, para que seja possível situá-la no estudo das Relações Internacionais e,

assim, gerar uma melhor compreensão sobre o tema da pesquisa. Dentro dos temas

expostos aborda-se o Capitalismo, fenômeno econômico que deu início a

liberalização do comércio e que, consequentemente, desencadeou processos como

a Globalização, a qual, neste trabalho divide-se em Globalização Cultural e

Econômica. Em seguida, apresenta-se o conceito de Desenvolvimento Econômico

para compreender o processo em que as cidades onde estes parques estão

localizados passaram após a sua inauguração. Além disso, definem-se Atores

Internacionais, com ênfase nas Empresas Multinacionais, como a Walt Disney

Company. Por fim, estudar-se-á o Turismo de Entretenimento no Âmbito da

Globalização, tópico que se divide em Entretenimento e Parques Temáticos,

conceitos mais relevantes aos objetos de estudo do trabalho.

2.1 CAPITALISMO

O capitalismo atual passou por diversas mudanças ao longo dos anos. A

primeira fase, o capitalismo mercantil, perdurou entre os séculos XVI e XVIII por

meio de um conjunto de práticas que ficou conhecido como Mercantilismo. Nele, por

mais que as commodities fossem produzidas de forma não capitalista, as metrópoles

exploravam as colônias em busca do lucro de acordo com uma balança comercial

favorável, o que traz características do capitalismo. (SCOTT, 2005)

A segunda parte do capitalismo ficou conhecida como Capitalismo Industrial,

e surgiu com a Revolução Industrial, que ocorreu a partir da segunda metade do

século XVIII. “A Revolução Industrial transformou o homem de um agricultor em um

manipulador de maquinas movido por energia inanimada” (CIPOLLA, 1973, p.7).

Durante essa época, iniciou-se uma rápida transformação da indústria

inglesa, houve a introdução da máquina a vapor e da energia hidráulica, o que iria

substituir a utilização da força humana e animal. Tais mudanças geraram uma

grande urbanização, as cidades passaram a receber um grande número de

trabalhadores, as fábricas cresceram, e com isso, houve um maior fluxo de capital.

Page 19: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA AGATHA PEIXOTO …

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Em poucas décadas a sociedade britânica se transformou completamente, criando

as bases para o mundo modernizado. (SAES, 2013)

O capitalismo financeiro começou a surgir após a Segunda Guerra Mundial.

Nessa época houve um receio das potências de que haveria uma nova recessão,

porém não foi o que ocorreu, ao contrário, o mundo viveu uma época que ficou

conhecida como Era de Ouro, na qual se observou um grande crescimento

econômico.

[…] apesar da redução dos gastos bélicos do governo, outros componentes da demanda permitiram sustentar o crescimento da economia. Houve aumento das exportações para os países europeus em reconstrução; aumento do consumo pessoal, em parte com a poupança acumulada durante os anos do conflito, com pagamentos do governo aos veteranos de guerra e ainda com o resgate dos bônus emitidos para financiar os gastos do governo; os investimentos das empresas foram retomados com os lucros retidos durante a guerra. (SAES, 2013, p.435)

Para Flávio e Alexandre Saes (2013), apesar da era de estabilidade do

capitalismo, na segunda metade do século XX houve a ascensão do socialismo,

aumento nas taxas de inflação e desemprego, tudo contribuindo para gerar uma

ameaça ao modelo financeiro da época. Porém, anos mais tarde com a queda da

União Soviética pós Guerra Fria, e por consequência, do socialismo, o capitalismo

viveu o seu triunfo, dando lugar a uma „Nova Economia‟, onde houve o rápido

crescimento da produtividade, renda, baixo desemprego e inflação moderada

(BRENNER, 2003).

Foi nessa última etapa que o capitalismo e a cultura se entrelaçam, pois os

trabalhadores buscavam intensamente algo para fazer após as exaustivas horas de

trabalho, gerando a relação entre capitalismo e lazer que temos nos dias de hoje:

Os efeitos morais da sociedade eram realmente muito grandes. Induzia os homens a lerem livros, ao invés de gastarem seu tempo nas tabernas. Ensinava-os a pensar, a se respeitarem e a desejar educar seus filhos. Elevava-os em suas próprias opiniões. (WALLAS apud THOMPSON, 1987, p. 170).

Exemplos dessa ligação entre capitalismo e cultura, o Walt Disney World e o

Beto Carrero World são parques temáticos renomados na sociedade

contemporânea, servindo de inspiração para diversos parques menores ao redor do

mundo. Por serem formados por grandes empresas, eles geram grandes lucros para

os locais em que estão instalados, movimentando a economia de forma grandiosa.

Page 20: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA AGATHA PEIXOTO …

19

O capitalismo na maioria das vezes é definido como um sistema econômico

no qual os atores privados são habilitados a monitorar o uso de uma propriedade

privada para a obtenção de lucro, onde a mão invisível (Smith, 2008) trabalha para

que se alcance uma demanda desejada para a sociedade (SCOTT, 2006).

Segundo o The Macmillan Dictionary of Modern Economics, capitalismo é:

Sistema político, social e econômico no qual a propriedade, incluindo os bens de capital, é de propriedade e controlada em grande parte por pessoas privadas. O capitalismo contrasta com um sistema econômico anterior, o feudalismo, na medida em que é caracterizado pela compra de trabalho por salários monetários, em oposição ao trabalho direto obtido através de costume, dever ou comando no feudalismo […]. Sob o capitalismo, o mecanismo de preço é usado como um sistema de sinalização que aloca recursos entre usos. À medida que o mecanismo de preços é usado, o grau de competitividade nos mercados e o nível de intervenção do governo distinguem as formas exatas do capitalismo (Macmillan Dictionary of Modern Economics, 1986, p.54).

No capitalismo, de um lado os mercados conduzem a oferta e a procura com

a ajuda da mão invisível, de outro, o governo coordena a atualização de certas

estruturas de mercado de acordo a necessidade. Em outras palavras, para o

capitalismo funcionar, é preciso que exista dois tipos de intervenção: uma indireta,

como a mão invisível de acordo com a teoria de Adam Smith, que define a oferta e a

demanda; e uma direta, visível, coordenada pelo governo através de uma legislatura

e burocracia (HESSEN, 1979).

O sistema econômico capitalista começou a surgir de forma lenta, durante

vários anos, primeiramente na Europa para depois se espalhar para todos os cantos

do mundo. Segundo Hunt (2001), tal sistema demonstrou ser bem diferente dos

demais, pois possui um conjunto de características específicas diferente de todos os

sistemas anteriores, dentre elas: produção de mercadorias, propriedade privada dos

meios de produção, inexistência de parte da população com relação aos meios

produtivos, e o pensamento individualista.

Para a produção de mercadorias, a atividade produtiva de uma pessoa não

tem ligação com as pessoas que produzem tal mercadoria, ou com o seu consumo,

tendo apenas relação com o mercado, gerando uma relação de interdependência

complexa e indireta.

A segunda característica importante é a propriedade privada dos meios, ou

seja, a sociedade dá o direito de certas pessoas determinarem como as matérias-

primas podem ser utilizadas no mercado, gerando uma propriedade privada. Além

Page 21: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA AGATHA PEIXOTO …

20

disso, a grande classe trabalhadora apesar de participar ativamente da produção de

bens, não tem controle dos meios e matérias-primas necessárias para a produção

dos mesmos, fazendo com que as mercadorias por eles produzidas pertençam aos

capitalistas proprietários.

Por último, o pensamento individualista traz uma característica do capitalismo

indispensável para o funcionamento do mesmo, para que seja possível que exista

uma oferta adequada ao trabalho, facilitando o controle dos trabalhadores. (HUNT,

2001).

Para Thurow (1997), o capitalismo surgiu de forma diferente, através de um

processo de transformação da avareza, que era um pecado, em uma virtude, e

assim, o homem passou a acreditar que não possuía apenas o direito, mas também

o dever de gastar o máximo de dinheiro possível, para maximizar o seu consumo e

movimentar a economia.

Por último, muitos autores afirmam que o capitalismo é um fenômeno

econômico que derivou outro processo importantíssimo para a formação do mundo

atual, a globalização, a qual será estudada de forma aprofundada no tópico seguinte

deste trabalho.

2.2 GLOBALIZAÇÃO

A globalização é um fenômeno que afeta a população mundial em grande

escala. Um exemplo disso é o crescimento na indústria de parques temáticos, que

se espalham por vários cantos do mundo, como o Beto Carrero World e o Walt

Disney World, objetos de pesquisa deste trabalho.

O termo globalização possui diversas definições de acordo com diversos

autores, porém a ideia mais utilizada é a de que a globalização é um conjunto de

transformações socioeconômicas que vêm movimentando as sociedades

contemporâneas em todos os cantos do mundo. Para Alvarez (1999), a globalização

é utilizada para:

Caracterizar um conjunto aparentemente bastante heterogêneo de fenômenos que ocorreram ou ganharam impulso a partir do final dos anos 80 - como a expansão das empresas transnacionais, a internacionalização do capital financeiro, a descentralização dos processos produtivos, a revolução da informática e das telecomunicações, o fim do socialismo de Estado na ex-URSS e no Leste Europeu, o enfraquecimento dos Estados nacionais, o crescimento da influência cultural norte- americana etc. -, mas que estariam desenhando toda uma efetiva „sociedade

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mundial‟, ou seja, uma sociedade na qual os principais processos e acontecimentos históricos ocorrem e se desdobram em escala global. (ALVAREZ, 1999, p. 97).

Já para Gonçalves, Baumann, Prado e Canuto (1998), a globalização tem

uma definição mais complexa, porque possui uma diversidade de características

muito grande, o que dificulta que ele tenha apenas uma definição. Nesse sentido,

para Held, a globalização é:

É uma força condutora central por trás das rápidas mudanças sociais, políticas e económicas que estão a remodelar as sociedades modernas e a ordem mundial. […] O conceito de Globalização implica primeiro e acima de tudo um alongamento das atividades sociais, políticas e económicas através fronteiras, de tal modo que acontecimentos, decisões e atividades numa região do mundo podem ter significado para indivíduos e atividades em regiões distintas do globo. (HELD, 1999, p.15)

Pra Brum (2002), tal termo para caracterizar o processo de aproximação das

relações entre as nações, foi primeiramente utilizado durante a grande crise de

1929, mas só entrou no repertório popular na década de 1980. Para o mesmo autor,

observa-se também que a o mundo mudou profundamente nos últimos anos,

fazendo com que a globalização atinja um novo estágio, mais veloz, abrangente e

complexo. Sobre o assunto, o sociólogo e professor brasileiro Octávio Ianni também

afirma que “Com a aceleração da globalização, está se implementando no mundo

todo outro projeto de desenvolvimento capitalista - transnacionalizado, globalizado,

definido em termos de mercados mais amplos” (IANNI, 1996, P.8).

Um importante estudioso da globalização é Joseph Stiglitz, um economista

estadunidense formado pelo MIT, e que deu aula em universidades renomadas

como Harvard, Yale e Stanford. Stiglitz (2007) afirma que a globalização é a divisão

do mundo entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, e o que os

separa não é apenas a quantidade de recursos, mas também o nível de

conhecimento dessas nações. Novas tecnologias, formas de comercializar e

investimentos contribuem para que exista uma maior interdependência mundial nas

relações econômicas, e é essa relação de integração entre as nações que cria o que

conhecemos hoje como mundo globalizado.

Tal processo possui algumas características específicas, uma delas diz

respeito ao alcance que o fenômeno obtém, ou seja, não é um acontecimento

isolado e possui dimensões globais. A desterritorialização também é importante,

onde mostra que a globalização tem capacidade de desenraizar negócios,

movimentos e dilemas sociais. Outra característica é à força do capital, pois a busca

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pelo lucro é o que define a maioria das transações atuais. Por último, o

desenvolvimento da informática, que facilita a interligação entre o mundo todo

(STELZER, 1999).

Entretanto, a globalização atualmente não possui a mesma capacidade que

possuiu, e o mundo vive um processo de transição da „globalização profunda‟ para a

„desglobalização‟. Segundo um dos projetos desenvolvidos pelo BRICLab da

Universidade de Columbia, o professor Marcos Troyjo afirma que desde as crises de

2008 e 2011, a globalização profunda tem se dissipado, dando lugar ao processo

por ele chamado de desaceleração da globalização, no qual se observa o

fortalecimento do individualismo nacional, da transferência do epicentro dos fluxos

econômicos para o continente asiático e da reconfiguração do papel do Estado na

economia.·.

Ainda no mesmo pensamento, para o professor, esse fenômeno é transitório

e será superado pela retomada da globalização. Esse processo é chamado por ele

de reglobalização, e pode trazer diversas oportunidades e desafios para o Brasil:

Um desafio que Troyjo antecipa para o Brasil diz respeito à inserção do país na Quarta Revolução Industrial, tendo em vista as lacunas que o país apresenta nas áreas de educação e inovação. […] Como primeiro passo para a adaptação do Brasil a esses futuros contornos da reglobalização, Troyjo destaca a importância do ajuste macroeconômico e do avanço nas reformas domésticas; trabalhista e tributária. Ademais, o Professor vê grande espaço para avançar na negociação de acordos comerciais bilaterais, considerando a relativa inércia do Brasil neste quesito em anos recentes. (CEBRI, 2017, p.10)

Além disso, o jornalista econômico estadunidense Thomas Friedman apoia

que é fácil afirmar que a globalização não é apenas um fenômeno da esfera

econômica, mas sim, afetas diversas áreas.

Os que avaliam a globalização simplesmente com base em estatísticas comerciais – ou como um fenômeno puramente econômico, em vez de enxergá-lo como algo que afeta tudo, da aquisição de poder à cultura e ao funcionamento das instituições hierárquicas – não percebem o impacto dessa mudança. (FRIEDMAN, 2009, p.10)

A globalização pode ser dividida em diversas dimensões. Para Salvatore

(2008), ela possui três áreas distintas: económica, cultural e política. Já Gonçalves,

Baumann, Prado e Canuto (1998), dividem a globalização em duas, ambas com

relação ao investimento internacional, sendo elas a globalização financeira e a

globalização produtiva.

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No tópico a seguir, a Globalização Cultural e a Globalização Econômica serão

estudadas com maior aprofundamento com objetivo da melhor compreensão do

tema desta monografia.

2.2.1 Globalização Cultural

Cultura é uma palavra com diversos conceitos de acordo com diferentes

áreas de pensamento. Porém, o conceito mais clássico da palavra que determinou

as bases para os estudos do termo afirma que cultura é: “é aquele todo complexo,

que inclui conhecimento, crença, artes, moral, leis, costumes e quaisquer outras

capacidades e hábitos adquiridos por um homem como membro de uma sociedade”

(TYLOR, 1920, p. 18).

Tal definição é considerada muito genérica por alguns estudiosos, entre eles

Franz Boas (1911), que acreditava que cultura era o conjunto das ações do homem

de acordo com a natureza e aos outros indivíduos. O autor via a cultura como um

traço distintivo da humanidade, ou seja, o que difere os seres humanos de outras

espécies.

A globalização cultural é a forma mais visível da globalização, muitas vezes

podendo ser considerada a mais importante. Conversi afirma que:

Considero a globalização cultural a principal área de preocupação, porque a „cultura‟ abrange uma área suficientemente grande para cobrir a maior parte dos aspectos da globalização. Para este propósito, a cultura é aqui pretendida como um processo feito de valores, habilidades, ofícios, normas, conhecimentos gerais e particulares, bem como itens materiais, que são transmitidos, mas também enriquecidos, de uma geração para outra. (CONVERSI, 2014, p. 43)

Para o mesmo autor, globalização cultural, apesar de visível, é difícil de ser

estudada, pois possui caráter subjetivo. Ela afeta diretamente a expressão dos

costumes da sociedade. Tal forma de globalização tornou-se mais importante

durante o fim do século XX e início do XXI, principalmente com o fim da Guerra Fria

e o advento da Internet, que chamou a atenção da comunidade global para os

aspectos culturais que estão relacionados com as relações internacionais. Para Held

(2001), a definição de globalização de forma geral já obtém aspectos culturais e por

isso é tão importante: “Isso [globalização] é sobre o estiramento de conexões,

relações e redes entre comunidades humanas, um aumento na intensidade destes,

e uma aceleração geral de todos esses fenômenos” (HELD, 2001, p. 427).

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Essa forma de globalização utiliza da transmissão de ideias, valores e

costumes entre as nações (JAMES, 2006) e para estudá-la, segundo Crane (2011) é

necessário que haja um foco em certos elementos do ambiente social, tais como

sistemas de valores, os papéis dos fatores econômicos, políticos e a natureza da

produção cultural e da criatividade.

O estudo dessa forma de globalização deriva de algumas teorias. Uma

dessas teorias é a do imperialismo da mídia, que segundo Salwen (1991). Existe

uma imposição a outros países das crenças, valores, conhecimentos, normas

comportamentais e estilo de vida de uma determinada nação. Outra teoria é a da

hibridização, em que novas versões da cultura surgem quando diferentes culturas

entram em contato umas com as outras (PIETERSE, 2004).

Para Conversi (2014) muitas vezes tal forma de globalização pode ser

confundida com americanização, uma vez que os Estados Unidos acabam sendo

ditadores de comportamentos para o mundo todo. A americanização surgiu

principalmente após a Segunda Guerra Mundial, e por isso, anos após o final de tal

conflito com a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS, grande parte da

população mundial acreditou que tais processos gerariam barreiras ao domínio

cultural norte-americano, o que não aconteceu. Um exemplo disso são os estudos

de Kuisel (2003), que estudou intensamente a França, e argumenta que a cultura da

mídia estadunidense levou à americanização do país, mostrando que a cultura dos

Estados Unidos influencia a população francesa grandiosamente. O autor também

conclui que a americanização na forma de exportações culturais influencia o

comportamento daqueles que as utilizam em outros países, os significados que

atribuem aos produtos e o sentido de sua própria identidade.

Dois importantes estudiosos de globalização como um fenômeno cultural são

Edward S Herman, professor de finanças da Universidade da Pensilvânia; e Noam

Chomsky, linguista e ativista político considerado o „pai da linguística moderna‟. Para

eles, cultura e entretenimento são dois temas que, apesar de possuírem conceitos

distintos, caminham lado a lado, principalmente quando o assunto é globalização

cultural. A indústria de entretenimento americana é a mais lucrativa do mundo, sua

expansão sistemática faz parte de um projeto empresarial e jamais será interrompida

(HERMAN & CHOMSKY, 2003). Cada vez mais tais mudanças são perceptíveis e

mais presentes no dia a dia da população, por meio da internacionalização de

marcas de consumo, celebridades, música, cinema, moda, etc.

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Segundo Hedges (2010), tais transformações estão sendo feitas por

interesses corporativos, fazendo com que o Estado se submeta aos interesses das

grandes corporações, como por exemplo, a Walt Disney Company, pioneira na área

de internacionalização de parques temáticos, objeto de estudo deste trabalho.

Dessa maneira, é importante destacar que a globalização cultural caminha

junto da globalização econômica, uma vez que empresas transnacionais ditam os

costumes mundiais que devem ser seguidos, o que leva a um aumento do fluxo

econômico.

2.2.2 Globalização Econômica

Talvez sua dimensão mais forte, a globalização econômica lida com o livre

movimento de capitais, produtos, informações, tecnologias e pessoas. Esse tipo de

globalização tem sido objeto de estudo permanente, por causa das perspectivas

financeiras, comerciais, produtivas e devido à possibilidade de surgimento de novas

políticas nacionais (BAUMANNM 1996). A globalização econômica:

Pode ser entendida como a interação de três processos distintos ao longo dos últimos 20 anos: a expansão extraordinária dos fluxos financeiros internacionais, o acirramento da concorrência nos mercados internacionais de capitais e a maior integração entre os sistemas financeiros nacionais. (GONÇALVES, BAUMANN, PRADO E CANUTO, 1998, p. 147).

O primeiro processo citado pelos autores, à expansão extraordinária dos

fluxos financeiros internacionais, pode ser observada pelo aumento no fluxo total de

empréstimos internacionais e do investimento de portfólio durante os últimos anos.

Já o acirramento da concorrência internacional se manifesta pela maior disputa por

transações financeiras internacionais, as quais envolvem bancos de um lado e

instituições financeiras não bancárias do outro. O terceiro e último processo, a maior

integração dos sistemas financeiros nacionais, é observado por meio da verificação

que a maior parte dos ativos financeiros emitidos por residentes está na mão de não

residentes, e vice versa. (GONÇALVES, BAUMANN, PRADO E CANUTO, 1998).

A globalização econômica pode ser observada por meio da integração da

produção, finanças, mercados, tecnologia, regimes organizacionais, empresas,

instituições e do trabalho das nações (JAMES, 2007). Segundo Ianni (2006), essa

integração econômica pode ocorrer entre países com condições distintas, sempre

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fazendo com que nenhuma relação econômica seja superior à outra. Esse tipo de

relação entre os países traz desafios para empresas, pois é necessário que exista

um maior fluxo de capital para que seja possível assegurar seu lugar no mercado

mundial, uma vez que a concorrência é maior.

Esse tipo de globalização trouxe uma inquietude financeira para as nações e

tende-se a aprofundar, principalmente com o capital volátil, que busca as melhores

taxas de juros, uma vez que está diretamente ligada a internacionalização do

processo produtivo (BRUM, 2002).

Outro aspecto importante sobre os efeitos da globalização é de que:

A globalização pode fornecer, sob certas condições, novas oportunidades para a economia dos países anfitriões. Pode levar a novos investimentos, introduzir tecnologias modernas, aumentar as exportações ou envolver a redistribuição internacional da produção para localidades de baixo custo. (SUPPER, 1998, p.52)

Além disso, a globalização econômica trouxe algumas consequências para

a economia mundial, sendo elas o surgimento de novos países industrializados,

como os tigres asiáticos; a multipolarização econômica, com a formação de blocos

econômicos; fracasso de alguns países que não conseguem participar desse

crescimento da economia mundial; o crescimento da influência dos organismos

internacionais sobre as decisões dos governantes nacionais, o que limita seus

poderes; agravamento da exclusão social, o que acaba atingindo países inteiros por

não conseguirem seguir os padrões de competitividade (CARDOSO, 1995).

A Organização Mundial do Comércio considera que:

[…] a relação entre os investimentos diretos e o comércio internacional é o motor do processo de globalização da economia. […] Observa-se que há estreita relação entre os investimentos estrangeiros diretos e a participação de um país no comércio internacional. Quanto maiores os investimentos externos, maior tende a ser a participação do país nesse comércio. Pois grande parte das transações que ocorrem no mundo e realizam entre as corporações transnacionais, e não propriamente entre países. (ORTIZ, 1996, p.8)

A globalização econômica pode ser dividida em quatro formas diferentes:

comercial, com o comércio internacional de bens e serviços; produtiva, as operações

de transnacionais que controlam subsidiárias em outros países; tecnológica, onde

existe a transferência de know how; e a financeira, que diz respeito aos fluxos

internacionais de capital. (GONÇALVES, 2002, p. 5,6)

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Cada vez mais a globalização econômica se mostra mais presente na

realidade mundial, seja através da abertura de mercados, eliminação de entraves

alfandegários e burocráticos ou intensificação do comércio.

2.3 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

O desenvolvimento econômico é um aspecto importante a ser estudado na

seguinte pesquisa, pois tais parques em questão, o Walt Disney World e o Beto

Carrero World, ao se instalarem nas áreas que se encontram atualmente, geraram

desenvolvimento da economia, como será exemplificado nos capítulos futuros.

Desenvolvimento econômico é um processo no qual um país melhora o

padrão de vida econômico de sua sociedade, normalmente através dos estoques de

capital físico e humano, além de melhorando a sua tecnologia. (DEARDOFF, 2016).

O desenvolvimento socioeconômico é um processo de mudança social pelo qual um número crescente de necessidades humanas – preexistentes ou criadas pela própria mudança – são satisfeitas através de uma diferenciação no sistema produtivo decorrente da introdução de inovações tecnológicas. (FURTADO, 1964 p. 27)

Ainda segundo o mesmo autor, em outra obra ele afirma que o desenvolvimento

econômico passou a ser percebido após a Segunda Guerra Mundial, principalmente

por meio do grande atraso econômico sofrido por diversos países e o desejo em

melhorar suas situações financeiras. Para ele, as ideias iniciais sobre

desenvolvimento econômico que o definiam apenas como um aumento do fluxo de

bens e serviços foram gradativamente substituídos por ideias relacionadas à

satisfação das necessidades humanas (FURTADO, 2000).

Um ator que é considerado referência no estudo de desenvolvimento

econômico é Joseph A. Schumpeter, um economista e cientista político da Áustria

que foi o primeiro a considerar que o advento do capitalismo se dava devido às

inovações tecnológicas da época. Em uma de suas obras, o economista declara que

o desenvolvimento econômico ocorre por meio da transformação dos meios de

produção, ou seja, do rompimento do estado de equilíbrio, por intermédio da retirada

dos meios de produção dos locais onde estão empregados e colocação dos mesmos

em atividades novas, promovendo abertura para novos mercados e introduzindo

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inovações em produtos. Para ele ainda, a primeira teoria do desenvolvimento

econômico foi desenvolvida por meio da análise de Marx (SCHUMPETER, 1978).

O desenvolvimento era encarado como num conjunto de processos interdependentes e, mediante ele, a sociedade tradicional seria transformada numa sociedade moderna. [...] A meta adequada do desenvolvimento era uma sociedade urbana, e o moderno era medido de acordo com o grau de industrialização e urbanização que determinada sociedade houvesse atingido. Desenvolvimento era, sobretudo, desenvolvimento econômico. [...] expresso em termos monetários. (CAIDEN; CARAVANTES, 1988, p. 22).

É importante diferenciar crescimento econômico de desenvolvimento

econômico. O primeiro leva em consideração apenas as variáveis econômicas, como

produto interno bruto e produto nacional bruto. Já o último, além das variáveis

econômicas, aborda também questões de caráter social, como bem-estar, taxa de

analfabetismo, taxa de pobreza, IDH. Essa diferenciação foi primeiramente criada

por Schumpeter, segundo ele:

Nem o mero crescimento da economia, representado pelo aumento da população e da riqueza, será designado aqui como um processo do desenvolvimento. […] Entenderemos por „desenvolvimento‟, portanto, apenas as mudanças da vida econômica que não lhe forem impostas de fora, mas que surjam de dentro, por sua própria iniciativa. Se se concluir que não há tais mudanças emergindo na própria esfera econômica, e que o fenômeno que chamamos de desenvolvimento econômico é na prática baseado no fato de que os dados mudam e que a economia se adapta continuamente a eles, então diríamos que não há nenhum desenvolvimento econômico. (SCHUMPETER, 1978, p. 63)

Como mencionado, tais variáveis chamadas de indicadores econômicos de

desenvolvimento existem para que seja possível um melhor estudo da economia

global e do seu desenvolvimento. O presente trabalho irá lidar com algumas

específicas, entre elas o Produto Interno Bruto e o Índice de Desenvolvimento

Humano.

O Produto Interno Bruto (PIB) de acordo com Lourenço e Romero (2002)

corresponde à soma do valor monetário de todos os bens e serviços de uma

determinada região durante um determinado tempo, para que seja possível medir a

atividade econômica e o nível de riqueza ou pobreza da área estudada. Tal cálculo é

feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

É importante salientar que no cálculo do PIB apenas considera-se os bens e serviços finais da cadeia de produção, excluindo todos os insumos intermediários (matérias- primas, mão-de-obra, impostos e energia). A exclusão dos bens e serviços

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intermediários é feita para evitar a dupla contagem dos valores gerados na cadeia de produção, o que provocaria erro na soma do PIB. (IBGE, 2014)

Já o Índice de Desenvolvimento Humano foi criado em 1990 para avaliar e

medir o bem estar de uma população. O IDH, apesar de ampliar perspectivas, não

contém todos os pontos importantes de desenvolvimento, e não pode ser

considerado como uma representação da felicidade das pessoas, muito menos

indicar o melhor lugar no mundo para se viver. Atualmente o IDH é mensurado

através de três pilares principais: saúde, educação e renda. (PNUD, 2014).

O conceito de desenvolvimento econômico amplia o conceito de crescimento econômico, ao incluir na analise dos índices ou indicadores que contemplam a melhoria das condições de vida da população, que nem sempre crescem com a melhoria das condições econômicas (pobreza, desemprego, desigualdade, saúde, nutrição, educação e moradia). (LOURENÇO; ROMERO 2002 p. 37)

Para muitos, desenvolvimento econômico e capitalismo caminham juntos,

pois o primeiro só surgiu a partir da Revolução Capitalista e dos pensamentos

keynesianos.

O desenvolvimento econômico é um fenômeno histórico que passa a ocorrer nos países ou estados-nação que realizam sua revolução capitalista […]. Uma vez iniciado, o desenvolvimento econômico tende a ser relativamente automático ou autossustentado na medida em que no sistema capitalista os mecanismos de mercado envolvem incentivos para o continuado aumento do estoque de capital e de conhecimentos técnicos. (BRESSER, 2006, p.1)

Na mesma obra, o economista brasileiro Luiz Carlos Bresser-Pereira afirma

que existem quatro tipos de desenvolvimento econômico: o original, aquele realizado

pelos países pioneiros da Revolução Industrial; atrasado, desenvolvimento de

países ricos que se atrasaram em relação aos outros; autônomo, aquele das ex-

colônias que se tornaram países em desenvolvimento independentes; e o nacional-

dependente, dos países elites europeus (BRESSER, 2006).

Ao falar de desenvolvimento econômico, é fundamental citar o termo

externalidades. Esse termo diz respeito aos efeitos colaterais que uma decisão pode

ter economicamente sobre terceiros. Quando positivas, as externalidades são

fundamentais para o desenvolvimento econômico, pois é por meio delas que se tem

um crescimento da economia (LONGO 1982).

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2.4 ATORES INTERNACIONAIS

Atores internacionais são os agentes dos atos externos, os quais participam

das relações e sociedade internacionais. Além disso, os atores internacionais

cumprem determinadas funções ditadas pelo sistema internacional, podendo essas

ser econômicas, comerciais, financeiras, militares, culturais, ecológicas, entre outras.

(OLIVEIRA, 2001)

[…] o ator internacional é aquela unidade do sistema internacional (entidade, grupo, indivíduo) que tem habilidade para mobilizar recursos que lhe permitem alcançar seus objetivos e capacidade para exercer influência sobre outros atores do sistema e que goza de certa autonomia. (BARBÉ, 1995, p 117)

Para entender melhor como funciona a autoridade dos atores internacionais,

Bruce Russett e Harvey Starr (1989) o sistema internacional é como uma mesa de

xadrez, e os atores internacionais seriam as peças que se movem sobre elas. Outro

aspecto importante é levantado por Dias:

Podemos definir ator internacional como a autoridade, a organização, o grupo e, inclusive, no limite, toda pessoa capaz de desempenhar uma função no campo internacional. Ter uma função pode consistir em tomar uma decisão, iniciar uma ação e inclusive, simplesmente, exercer influência sobre os detentores do poder de decisão e da força material. (DIAS, 2010, p. 60)

Podem-se identificar dois tipos de atores no sistema internacional segundo

Peccequilo (2004), eles são os atores estatais e os não estatais. Os atores estatais

são os Estados enquanto os não estatais podem ser divididos em dois grupos de

acordo com Oliveira (2001), os que não possuem fins lucrativos, como as

Organizações Não-Governamentais (ONG), e os que se desenvolvem com fins

lucrativos, como as empresas multinacionais, tema de estudo desta pesquisa.

As empresas multinacionais têm uma grande influência na sociedade

internacional, seja ela nos campos econômico, social, político, cultural, ambiental

entre outros. Para Dias (2010), as empresas multinacionais começaram a surgir a

partir do século XIX, e até hoje afetam drasticamente os países onde atuam,

reforçando a ideia de interdependência entre as nações. Muitas vezes essa

interdependência se dá entre países pobres e países ricos, pois as multinacionais

geralmente se originam nos países ricos e se instalam nos países pobres devido à

mão de obra barata.

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As empresas multinacionais, fenômeno mundializado, têm incrível poder econômico, grande poder político e estrutural. Respaldadas por Estados e pelas organizações internacionais multilaterais na busca pela maximização dos lucros e minimização dos prejuízos, atuam por meio de coerção física e moral, cooptação e indução. Elas podem ser apontadas, ao lado dos Estados nacionais, seguramente, como os principais entes violadores de Direitos Humanos no mundo, verdadeiros obstáculos na luta social. (PRIOSTE, 2009, p. 11).

O termo „empresa multinacional‟ surgiu com o objetivo de englobar uma série

de situações diferentes, podendo gerar um conceito mais específico, segundo

Oliveira (2001). Tais situações incluem a extensão de sua atuação além das

fronteiras nacionais; uma organização fora do controle internacional; unidades de

produção em vários países.

O conceito de grande empresa, além da associação à eficiência econômica, incorpora aspectos relativos à expansão das fronteiras de acumulação do grande capital, considerando três dimensões: a primeira refere-se ao poder econômico que a caracteriza, capacitando-a como empresa líder em vários aspectos; a segunda diz respeito ao tipo de organização administrativa e funcional, dada por um „governo central‟ que articula as políticas e as atribuições das unidades produtivas; e a terceira dimensão se relaciona à progressiva internacionalização produtiva da grande empresa ao longo da evolução capitalista. (MARTINELLI, 1999, p. 9-10).

Outro importante aspecto a ser considerado é de que muitos autores, como

Ianni (1998), diferenciam empresa multinacional de empresa transnacional. A

primeira tendo bases operacionais em outros países, seguindo à risca os interesses

e modos de produção da matriz, sem haver mudança em nenhum produto ou

serviço. Já a transnacional possui uma maior autonomia em relação à matriz,

podendo produzir produtos diferentes, tudo de acordo com a demanda da população

do país onde se encontra instalado.

Uma importante empresa multinacional é a The Walt Disney World Company,

que atua em diversos países focando no turismo e entretenimento por meio de

algumas subsidiárias, como a Walt Disney Parks & Resorts, sempre produzindo os

mesmos produtos e mesmos serviços onde quer que esteja localizada. Atualmente,

ela é considerada uma das maiores multinacionais do mundo, influenciando

inúmeras empresas menores, como o Beto Carrero.

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2.5 TURISMO DE ENTRETENIMENTO NO ÂMBITO DA GLOBALIZAÇÃO

Turismo é uma prática cosmopolita utilizada no mundo todo, podendo ser a

lazer, trabalho, ou qualquer outra forma. Um exemplo de turismo é a ida aos parques

temáticos tema desta pesquisa, o Beto Carrero World e o Walt Disney World, que

diariamente recebem turistas de vários lugares do mundo que querem conhecer

suas atrações.

Por mais que a prática do turismo seja conhecida mundialmente, a origem do

termo é complexa, por isso existem diversas discussões sobre o assunto. Para

Andrade (1995), o termo se originou da palavra francesa tourisme, já para Oliveira

(2001), o termo surgiu a partir da palavra hebraica tur, que significa “viagem de

descoberta, de exploração e de reconhecimento”.

A Organização Mundial do Turismo (OMT) traz um dos principais

conceitos da palavra, para ela turismo é o conjunto das atividades que as pessoas

realizam enquanto em uma viagem ou estadia em locais diferentes do habitual, por

um período inferior a um ano, podendo ter finalidade de lazer, negócios, entre

outros. Para Rodrigues (2003), é necessário que haja uma maior seriedade e

profundidade durante os estudos do turismo, pois ele é um fenômeno complexo.

O fenômeno do turismo, por sua natureza complexa […], é um importante tema que deve ser tratado no âmbito de um quadro interativo de disciplinas de domínio conexo, em que o enfoque geográfico é de fundamental importância, uma vez que, por tradição, lida com a dualidade sociedade x natureza. (RODRIGUES, 2003 p.22)

Quanto ao surgimento histórico do turismo, Trigo (2007) afirma que após o

boom da Revolução Industrial, a sociedade passou por uma redução em sua jornada

de trabalho, o que, junto com a evolução e modernização dos meios de transportes

e estradas, contribuiu para o crescimento do turismo.

Para Krippendorf (2000), as viagens são importantes para sociedade, pois ao

se afastar da rotina e conhecer novos lugares, novas pessoas, novas culturas, gera-

se uma satisfação, relaxamento e diversão no ser humano. Segundo o autor, as

pessoas viajam por não se sentirem à vontade no local onde se encontram o que

acaba gerando uma receita grande aos locais visitados, se mostrando ser uma

atividade lucrativa.

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Turismo é o segundo setor em investimentos mundiais, movimentando cerca de 800 milhões de pessoas no mundo. O turismo é hoje uma das maiores fontes de emprego e renda do mundo em que vivemos: um mundo globalizado, onde a tecnologia e o desejo de consumo encurtam as distâncias. As pessoas têm muitos motivos para viajar: negócios, lazer, saúde, cultura, esportes e aventura, religião entre outros. (OMT, 2014)

Ainda de acordo com a Organização Mundial do Turismo, existem três formas

de turismo: o turismo receptivo, de chegada de não residentes a algum país; turismo

emissivo, de saída de residentes de um país em direção a outro; e turismo

doméstico, quando residentes de um país viajam dentro do mesmo.

Um relatório divulgado pela OMT em 2010 divulgou que o segundo país mais

visitado por turistas no mundo é os Estados Unidos, recebendo 59 milhões de

visitantes durante o ano, os quais geraram uma receita de mais de 100 milhões de

dólares.

Segundo o Ministério do Turismo do Brasil, o estado de Santa Catarina é o

segundo mais procurado do país quando o assunto é turismo, recebendo cerca de

20% dos turistas estrangeiros totais que entraram no Brasil em 2012.

Finalizando, para Taveira e Gonçalves (2012), entende-se que o turismo se

conecta com o entretenimento, pois o turismo pode ser uma forma de lazer e de

compartilhar novas culturas.

2.5.1 Entretenimento

Os parques do Walt Disney World e do Beto Carrero World, mesmo sendo

muito diferentes e estarem localizados em locais distantes, possuem uma coisa em

comum: gerar diversão para seus visitantes na forma de entretenimento.

A palavra entretenimento surgiu do latim inter (entre) e tenere (ter) e evoluiu

para o inglês entertainment (GABLER, 1999). De acordo com o Novo Dicionário da

Língua Portuguesa (1986), entretenimento é a ação, acontecimento ou atividade

com finalidade de entreter e despertar o interesse das pessoas, diferindo-se da

palavra „lazer‟ por possuir uma audiência.

A função do entretenimento é a obtenção de gratificação pessoal ou coletiva. Normalmente, não se espera mais nenhum resultado ou benefício quantificável. [...] O entretenimento tem mecanismos opostos à educação, a qual é concebida com a função de desenvolver as capacidades de compreensão ou de ajudar as pessoas na aprendizagem, e do marketing, cuja função é aliciar as pessoas a comprar produtos. No entanto, a fronteira tem-se tornado tênue à medida que a educação procura

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incorporar elementos recreativos e o entretenimento e o marketing procuram incorporar elementos educativos (SAYRE, 2010 p. 11).

O surgimento histórico do entretenimento gera diversas discussões entre

autores. Para alguns ele sempre existiu, uma vez que os homens sempre

trabalharam, portanto quando não estavam trabalhando, estavam se entretendo de

alguma forma. Já para outros escritores, o entretenimento e o lazer surgiram a partir

da sociedade-moderna-industrial (MARCELLINO, 1996).

Para Gabler (2013), o entretenimento tem como objetivo principal o

espetáculo por si só, mas atualmente com o grande crescimento da tecnologia e da

maior conexão entre culturas, o entretenimento obtém formas inovadoras de agir,

podendo ter como tema a economia, política, sociedade e vida cotidiana.

Além disso, o entretenimento está diretamente ligado ao capitalismo, criando

o que é conhecido hoje em dia como a Indústria do Entretenimento.

O consumo de bens de entretenimento alivia, em aspectos determinados, os indivíduos do processo de trabalho e possibilita um tipo de satisfação substitutiva. A central nisso é a necessidade dos que trabalham de fugir do trabalho alienado, e não a necessidade por entretenimento (BUSELMEIER, 1985, 39).

A indústria do entretenimento tem crescido cada vez mais, tornando-se uma

das que mais lucram no mundo, possuindo um faturamento anual maior que um

trilhão de dólares, ficando atrás apenas da indústria do petróleo e da indústria da

saúde. Nos Estados Unidos, país que mais investe nessa indústria, os gastos com

entretenimento consomem 5,4% do orçamento doméstico, de acordo com Debord

(1997).

2.5.2 Parques temáticos

Para a National Amusement Park Historical Association (NAPHA), parque de

diversões é um espaço de entretenimento com diversas atrações, jogos e comidas;

já os parques temáticos são parques de diversão com algum tema ou conjunto de

temas específicos, para que o visitante vivencie uma realidade nova. Para a autora

Mary Sandra Guerra Ashton, especialista em produção e gestão de turismo, o

conceito de parque temático é mais amplo:

O conceito de parque temático se baseia num tema específico, ilustrado por personagem(s), localizado(s) geralmente em áreas extensas que permitam uma

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35

ampla abordagem do tema escolhido, instalação de brinquedos de alta tecnologia e de uma boa infraestrutura para atividades complementares. Trata-se de um local cercado, o que contribui para a segurança de seus frequentadores, para cujo acesso cobra-se uma tarifa de entrada. Destina-se ao divertimento, entretenimento, contemplação, educação, alimentação (já que passamos muitas horas no local) e compras, utilizado em tempo de lazer, de descanso e de ócio. Trata-se de um espaço lúdico onde jogos, brinquedos e descontração convidam ao divertimento. É planejado de modo que o público permaneça por longo período desfrutando das várias opções e com a certeza e o desejo de repetir a visita (ASHTON, 1999, p. 66).

Sobre o contexto histórico dos parques temáticos, a NAPHA (2018) afirma

que os parques de diversão surgiram antes, durante a Europa Medieval, e eram

chamados de „jardins de prazer‟, porém, no início do século XVIII com as mudanças

políticas ocorridas na época, diversos desses parques fecharam suas portas.

Acredita-se que apenas um sobreviveu, o parque Bakken na cidade de Copenhague,

na Dinamarca, o qual abriu suas portas em 1983, e atualmente é considerado o

parque temático em funcionamento mais antigo do mundo.

Mesmo tendo seu início nos primórdios da Europa Medieval, foi a partir do

final do século XIX nos Estados Unidos que esses parques de diversão começaram

a se instalar efetivamente, fazendo com que ocorresse o surgimento da grande

indústria dos parques temáticos que conhecemos atualmente. Na época, esses

espaços foram surgindo devido à necessidade de movimentar as estações de trem

que ficavam vazias aos finais de semana, dessa forma, nas estações finais foram

construídos diferentes parques para entreter a população da época, um exemplo

disso foi Coney Island no estado de Nova York, que hoje é um dos complexos de

diversão mais clássicos do mundo (ZUCHI, BARLETO, 2002).

Diversos parques de diversão foram surgindo, até que em 1955, em Anaheim

na Califórnia, abriu o que foi considerado o primeiro parque temático do mundo: a

Disneyland. Com custo de 17 milhões de dólares, na época foi o maior investimento

feito na construção de um parque de diversões da história, e apesar de sua ideia

inovadora, o parque foi um sucesso, trazendo 3.8 milhões de visitantes em sua

primeira temporada. Foi a partir desse momento que os parques temáticos tomaram

conta do cenário mundial, substituindo os parques de diversão, tornando-se um dos

produtos turísticos melhores caracterizados da pós-modernidade (ASHTON, 2009).

Após a abertura da Disneyland na Califórnia, devido ao seu sucesso, um novo

parque da The Walt Disney Parks Company foi inaugurado na cidade de Orlando em

1971, o Walt Disney World Resort, que no inicio era composto por dois hotéis e

apenas um parque temático: o Magic Kingdom. Atualmente tal complexo temático se

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36

estende por mais de 11 mil hectares de terra, sendo composto por: quatro parques

temáticos, dois parques aquáticos, vinte e sete resorts temáticos, dois spas, cinco

campos de golfe e um complexo de compras.

Após o imenso sucesso de ambos os complexos temáticos, a Walt Disney

Parks & Resorts, subsidiária da The Walt Disney Company, inaugurou mais quatro

resorts temáticos em diferentes lugares do mundo: a Tokyo Disney Resort em 1983;

a Disneyland Paris em 1992; a Hong Kong Disneyland em 2005; e mais

recentemente, a Shanghai Disney Resort 2016 (THE WALT DISNEY COMPANY,

2018).

A Themed Entertainment Association, TEA, divulga anualmente um relatório

com diversas informações sobre os parques temáticos do mundo, entre elas uma

classificação conforme a popularidade dos mesmos, conforme a Tabela 1 abaixo.

Tabela 1 – Classificação dos 10 parques temáticos mundiais mais populares

conforme a quantidade de visitantes anuais.

Parque (Complexo – Local) Visitantes em 2017

Magic Kingdom (Walt Disney World Resort –

Orlando, FL.)

20.450.000

Disneyland Park (Disneyland Resort – Anaheim,

CA)

18.300.300

Tokyo Disneyland (Tóquio Disney Resort –

Tokyo, Japão)

16.600.000

Universal Studios Japão (Osaka, Japão) 14.935.000

Tokyo DisneySea (Tóquio Disney Resort –

Tokyo, Japão)

13.500.500

Disney’s Animal Kingdom (Walt Disney World

Resort – Orlando, FL)

12.500.000

Epcot Center (Walt Disney World Resort –

Orlando FL)

12.200.000

Shanghai Disneyland (Shanghai Disney Resort –

Shanghai, China)

11.000.000

Disney’s Hollywood Studios (Walt Disney World

Resort – Orlando, FL)

10.722.000

Universal Studios Florida (Universal Orlando

Resort)

10.198.000

Fonte: TEA (2017, p. 6, adaptado)

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37

Como podem ser observados por meio da tabela, os quatro parques temáticos

que compõem o Walt Disney World Resort se encontram na lista dos dez mais

populares, o que faz com que o complexo em questão seja o mais visitado no

mundo, se tornando referência absoluta para parques menores em diversas regiões,

como é o caso do Beto Carrero World.

Por fim, pode-se afirmar que ambos os parques temáticos em questão, Walt

Disney World e Beto Carrero World, são importantes para a região em que estão

localizados. Tendo isso, o próximo capítulo iniciará apresentando o contexto

econômico local durante a construção de ambos os parques, a biografia dos

idealizadores, e por fim irá efetuar a análise dos indicadores das cidades, Orlando e

Penha, no ano de inauguração dos parques e no ano de 2017, para que assim seja

possível observar as mudanças pelas quais elas passaram.

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38

3 AS IMPLANTAÇÕES DOS PARQUES TEMÁTICOS E SUAS INFLUÊNCIAS

SOBRE AS ECONOMIAS LOCAIS

Este capítulo apresenta os objetivos específicos do trabalho, como a

conjuntura econômica de cada região na época em que os parques foram criados e

o processo de implantação do Walt Disney World Resort e do Complexo

Multitemático Beto Carrero World.

Para isso, inicia-se o capítulo dando um contexto geral da economia dos

Estados Unidos na época em que o Walt Disney World foi construído, sendo seguido

por uma biografia do fundador do parque: Walter Elias Disney. Após isso, expõe-se

uma breve história da cidade de Orlando, onde se encontra o grande complexo

temático em questão. Após as informações sobre o Walt Disney World, o trabalho

segue expondo o contexto econômico brasileiro na época em que o Beto Carrero

World foi inaugurado. A história de seu criador, João Batista Sérgio Murad, mais

conhecido como Beto Carrero, também é explorada; assim como o histórico da

cidade de Penha.

Por fim, o capítulo traz informações sobre a construção de ambos os

complexos temáticos, com fotos e mapas atuais e antigos, onde é possível observar

as mudanças ocorridas.

3.1 CONTEXTO ECONÔMICO LOCAL DURANTE A IMPLANTAÇÃO DO WALT

DISNEY WORLD

Antes da implantação do Walt Disney World, o mundo passava por diversas

mudanças econômicas, principalmente derivadas do fim da Segunda Guerra

Mundial. Esse momento, de 1939 a 1945, ficou conhecido como a Era de Ouro.

Hobsbawm (1995) afirma que transformação do capitalismo e a internacionalização

da economia foram indispensáveis para essa época, e para isso foi necessária “[...] a

incomum combinação keynesiana de crescimento econômico numa economia

capitalista baseada no consumo de massa de uma forca de trabalho plenamente

empregada e cada vez mais bem paga e protegida” (HOBSBAWN, 1995, p.276).

Com o fim da Segunda Guerra, a Europa estava devastada, e isso deu

espaço para que se iniciasse uma ascensão dos Estados Unidos como potência

mundial, uma vez que a guerra não ocorreu em seu território. Devido a isso, o país

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39

começou a colocar em prática diversas mudanças com objetivo de aumentar ainda

mais a sua influência no âmbito internacional. Foram firmados os Acordos de Bretton

Woods (1944), que deu origem ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e a

implantação de um sistema com taxas de câmbio fixas em relação ao dólar

americano, em que o mesmo fosse convertível em ouro (KRUGMAN E OBSTFELD,

1999). Além disso, para evitar uma recessão como havia acontecido após a Primeira

Guerra, em 1947 surgiu à ideia da implantação de um esquema de ajuda econômica

dos Estados Unidos aos países devastados pela Guerra, que ficou conhecido por

Plano Marshall.

O Plano Marshall propôs que, em relação recuperação europeia, deveria se promover uma suspensão temporária dos princípios da economia mundial liberal e do sistema existente de empréstimos de curto prazo. Em seu lugar, um programa maciço de emergência deveria tornar a economia europeia autossustentável num período de quatro anos. (WEE, 1987, p.353)

Tal plano utilizou das razões humanitárias para justificar sua execução, porém

muitos afirmam que ele foi criado inicialmente como parte da Doutrina Truman, que

era uma estratégia de contenção para impedir que o comunismo se expandisse aos

países europeus, o que deu início a Guerra Fria. Um dos objetivos do Plano Marshall

foi investir cerca de 12 bilhões de dólares para reconstruir a Europa, o que

impulsionou a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA),

organização que futuramente iria virar a União Europeia. Com esse crescimento da

economia, aumentou a renda familiar da época e com a maior oferta de bens

inovadores surgiu o que ficou conhecido como American way of life. A supremacia

americana ao fim da segunda Guerra mundial era indiscutível. Os Estados Unidos se

tornaram a principal potência da época, porém com o tempo e com os crescentes

investimentos realizados na Europa, a distancia entre os Estados Unidos e os

principais países europeus foi o primeiro passo para a queda do sistema de taxas

fixas (SAES, 2013).

Além disso, os economistas Paul R. Krugman e Maurice Obstfeld (1999)

afirmam que a política macroeconômica dos Estados Unidos, os quais estavam

comprando armamentos para aumentar o envolvimento com a Guerra no Vietnã, fez

com que se iniciasse um processo inflacionário e uma desvalorização do dólar no

mercado internacional, uma vez que a moeda não era mais lastreada em nenhum

metal. Para tentar resolver o problema, foi instaurado o regime de taxas de câmbio

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40

flutuantes em 1973, porém, a elevação rápida e significativa do preço do barril do

petróleo em quase 400%, episódio que deu início a Crise do Petróleo, fez com que a

energia e os custos operacionais ficassem cada vez mais caros.

Nesse contexto, uma recessão de instalou em diversos países do mundo

todo, incluindo os Estados Unidos (SAES, 2013). Com isso, pode ser observado que

a implantação do Walt Disney World foi paralela a um momento de inovações

significativas e uma economia forte, porém após a sua inauguração, se instalou uma

grande recessão.

3.1.1 Biografia de Walter Elias Disney

Mais conhecido como Walt Disney, nasceu no dia 5 de dezembro de 1901 em

Chicago. Walt demonstrou desde muito novo um grande interesse pela arte e

fotografia, porém esse interesse foi deixado de lado quando ele completou 16 anos,

ano em que se se juntou a Cruz Vermelha e foi enviado à França para dirigir

ambulâncias durante a Primeira Guerra Mundial (NADER, 1993).

Em 1919, Walt retornou aos Estados Unidos e ingressou na Kansas City Film

Ad Company. Essa experiência com a câmera e com a criação de animações

derivadas de desenhos fez com que Walt Disney criasse a Laugh-O-Gram, pequena

produtora de filmes junto com seu amigo ilustrador Ub Iwerks e seu irmão Roy

Disney. Com essa produtora criaram diversas animações, a série mais conhecida

era Alice in Cartoonland, porém não obtiveram muito sucesso e tiveram que

abandonar a empresa e se mudar para Hollywood, era o início do Disney Brother‟s

Studio (GABLER 2006).

O primeiro acordo dessa nova empresa foi com a distribuidora de Nova York,

Margaret Winkler, para distribuir seus desenhos da série Alice, em 1927. Eles

também inventaram um personagem chamado Oswald the lucky rabbit, e venderam

os curtas a 1.500 dólares cada. Alguns anos mais tarde, Walter e seu irmão Roy

descobriram que Winkler havia roubado os direitos de Oswald, o que fez com que

eles rapidamente tivessem que produzir algo novo com personagens novos. Foi aí

que, em 1928, surgiu o Mickey Mouse por meio do cartoon Steamboat Willie, o

primeiro curta metragem com som da Disney Brother‟s Studio, o qual foi sucesso

absoluto na época (THOMAS, 1994).

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41

Segundo Gabler (2006), em 1932 Walt criou um novo curta chamado Flowers

and Trees estrelando Mickey Mouse e seus amigos, o primeiro a ser produzido em

cores, que mais tarde lhe rendeu o Oscar. Em 1937, o primeiro longa-metragem de

animação do mundo estreou: A Branca de Neve e os Sete Anões. Faturou cerca de

1.5 milhões de dólares, um número inimaginável devido a Grande Depressão, e

ganhou um total de oito Oscares para a The Walt Disney Productions, novo nome do

estúdio. Nos anos seguintes, Disney produziu mais dois longa-metragens Pinocchio

e Fantasia em 1940, que não se saíram tão bem, gerando grandes dívidas ao

estúdio.

No ano seguinte, em 1941, após a estreia de Dumbo, os Estados Unidos

entrou na Segunda Guerra Mundial. Com isso, o estúdio criou filmes instrutivos para

os militares, além de diversas propagandas; os quais geraram receita suficiente para

diminuir as dívidas. Devido à crise, Walt Disney lançou seu próximo longa-metragem

de animação apenas oito anos depois, em 1950, chamado Cinderella, que faturou

oito milhões de dólares em seu primeiro final de semana, tirando a empresa da

provável falência. O estúdio continuou produzindo e lançou Peter Pan e Alice no

País das Maravilhas no ano seguinte, este último baseado em seu cartoon Alice in

Cartoonland (BARRIER, 2007).

Durante muitos anos, Walt Disney sonhou em construir um parque de

diversões, e foi em 1954 que ele construiu a subsidiária WED Enterprises, e por

meio dela contratou designers e engenheiros para que esse seu sonho pudesse se

tornar possível. Esses profissionais ficaram conhecidos como Imagineers, e junto

com a criatividade de Walt Disney, desenvolveram construíram o primeiro parque

temático do mundo: a Disneyland em Anaheim, CA, inaugurada em julho de 1955;

que em pouco tempo se tornou sucesso absoluto (GABLER, 2013).

Em 1964, Walt Disney produziu o filme Mary Poppins, baseado no livro de P.L

Travers, que se tornou o filme de maior sucesso da década. Com a receita da

Disneyland crescendo cada vez mais, Walt continuou procurando locais para instalar

novas atrações. No final de 1965, ele anunciou planos para desenvolver outro

parque temático, o Disney World, a poucos quilômetros a sudoeste de Orlando, na

Flórida (NADER, 1993).

No ano seguinte, Walt Disney produziu animações como Mogli, e o Ursinho

Pooh, porém foi diagnosticado com câncer no pulmão de estágio avançado alguns

meses depois. Em 15 de dezembro de 1966, Walt Disney faleceu, deixando 45% de

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42

suas ações na The Walt Disney Productions para sua esposa e filhos, 10% para

seus irmãos e sobrinhos, e o resto, doado para caridade. Com a sua morte, seu

irmão Roy Disney tomou controle da empresa, e em 1971 inaugurou o que ele

chamou de The Walt Disney World, e dedicou o parque ao seu irmão (GABLER,

2013).

Walt Disney continuou ganhando prêmios com suas produções até mesmo

após a sua morte, o que lhe rendeu 26 Óscares, se tornando a pessoa com o maior

número de troféus da Academia na história do cinema.

3.1.2 História da Cidade de Orlando

A História da cidade tem início no ano de 1838 por meio da construção do

Forte Gatlin, que se localizava ao sul da cidade que hoje é conhecida como Orlando.

Esse forte foi criado para proteger a população dos ataques dos nativos indígenas, e

com isso, anos mais tarde acabou atraindo muitas pessoas para região, formando a

colônia Jernigan.

Em 1846, a colônia estava crescendo cada vez mais, e a comunidade decidiu

trocar o nome para Orlando; não se sabe ao certo as origens do nome, porém

acredita-se que foi em homenagem a um homem chamado Orlando que trabalhava

com o Juiz James Speer, político da época que lutou fortemente para que a colônia

fosse reconhecida como um condado. Apesar disso, foi apenas 11 anos mais tarde

que os correios dos Estados Unidos adotaram o nome (CITY OF ORLANDO, 2018).

A comunidade de Orlando continuou a ser um recanto rural e isolado durante

a Guerra Civil. Foi apenas em 1875 que a comunidade foi reconhecida oficialmente

com uma cidade, com apenas 82 habitantes. Orlando passou de um eixo agricultor

de laranjas no século XIV, para uma cidade voltada ao turismo no século XXI

(MOSIER, 2009).

Atualmente, a cidade de Orlando transformou-se um polo turístico e recebeu

cerca de 72 milhões de turistas em 2017 segundo o jornal Orlando Sentinel (2018), o

que a tornou a cidade mais visitada dos Estados Unidos no ano.

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3.1.3 Implantação e Estrutura do Walt Disney World

Após o sucesso da Disneyland em Anaheim, Walt Disney descobriu que

apenas 2% dos seus visitantes viajavam da Costa Leste até o parque, o que fez com

que o visionário decidisse começar a procurar locais para a construção de um novo

parque nessa área. Walt considerou várias cidades, Secaucus, Niagara Falls, St.

Louis, mas a cidade com a qual Walt se apaixonou foi Orlando. Orlando era uma

cidade que oferecia diversos atrativos, o clima favorável, terrenos baratos, mas o

mais importante para a decisão de Walt foi a construção de diversas novas rodovias

que na época, que não só conectavam a cidade de Orlando ao resto do estado da

Flórida, como a conectavam com toda a costa leste. Por ser uma figura conhecida,

para evitar o aumento do preço dos terrenos Walt criou diversas empresas falsas

para compra-los, garantindo 27 mil hectares de terra a um preço muito baixo

(GABLER, 2006).

A construção do Walt Disney World Resort teve início em 1967. Roy Disney

colocou em prática todas as ideias do irmão, Walt, na construção do complexo, que

demorou quatro anos para ficar pronto.

Figura 1 – Magic Kingdom em construção, 1970 Fonte: Orlando Sentinel, 2018

O complexo foi inaugurado em no dia 1 de Outubro de 1971, sendo composto

por um parque temático, o Magic Kingdom, e três hotéis, o Disney‟s Contemporary

Resort, Disney‟s Polynesian Resort e o Disney‟s Fort Wilderness and Campground

(DISNEY PARKS, 2010).

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Figura 2 – Magic Kingdom no dia de sua inauguração Fonte: Disney Parks Blog, 2010

Figura 3 – Mapa do Walt Disney World Resort em 1971 Fonte: Time, 1971

Atualmente, o Walt Disney World é composto por quatro parques temáticos,

vinte e sete resorts, dois spas, cinco campos de golfe, dois parques aquáticos e um

complexo de compras.

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Os parques temáticos são os principais destinos dos turistas que visitam o

Walt Disney World, o primeiro deles foi o Magic Kingdom, inaugurado em 1971,

sendo a réplica maior e aperfeiçoado da Disneyland da Califórnia. Ele possui sete

áreas temáticas: Main Street USA, Adventureland, Frontierland, Liberty Square,

Fantasyland, e a Tomorrowland. O símbolo do parque é o Castelo da Cinderella

(LIPP, 2014).

O segundo parque temático do complexo foi o EPCOT, inaugurado em 1982.

O nome do parque é um acrônimo de Comunidade Protótipo Experimental do

Amanhã, derivado de uma ideia que Walt Disney teve de construir uma cidade com

vinte mil habitantes, e que serviria de exemplo de planejamento e organização.

Este protótipo emprestou inúmeras ideias de planejadores urbanos do século XX, foi pensada como uma solução para a crise urbana dos anos 60 na América, e funcionaria como uma solução ao criar uma cidade planejada que buscaria uma maior qualidade de vida para os residentes por meio de inovação tecnológica e planejamento incrivelmente detalhado e esteticamente consistente que poderia ser usado em desenvolvimentos similares em todo o país. (NEGLIA, 2016, p.5)

Após a sua morte, seu irmão Roy decidiu que seria muito difícil criar uma

cidade sem o irmão, e decidiu transformar a ideia dele em um parque temático. O

EPCOT é dividido entre duas áreas principais, o Future World, onde se localiza o

símbolo deste parque, uma geoesfera prateada com 50 metros de altura e 6.200

toneladas; e a World Showcase, composta por 11 pavilhões, cada um representando

um país diferente, sendo eles: Estados Unidos, Japão, Marrocos, França, Reino

Unido, Canadá, México, Noruega, China, Alemanha e Itália (NADER, 2014).

O terceiro parque construído pelo Walt Disney World foi o Disney - MGM

Studios, hoje conhecido como Disney’s Hollywood Studios, inaugurado em Maio de

1989. O parque é inspirado pelo mundo do cinema, televisão, música e teatro. Assim

como os parques anteriores, a Hollywood Studios é dividido em seis áreas

temáticas, a grande maioria inspirada por locais reais da cidade de Los Angeles, na

Califórnia: Hollywood Boulevard; Echo Lake; Grand Avenue; Animation Courtyard

Sunset Boulevard; e a mais nova mais nova expansão do parque, Toy Story Land,

inaugurada em junho de 2018, inspirada pelos filmes de Toy Story. O parque possui

mais uma área em construção, o Star Wars: Galaxy’s Edge, que tem inauguração

prevista para 2019 (THE WALT DISNEY COMPANY, 2018).

Segundo o Disney Institute (2011) o quarto parque é o Disney’s Animal

Kingdom, inaugurado em 1998, é um parque temático e zoológico, e o maior do

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mundo em tamanho, com 230 hectares. O parque é dividido em sete áreas

temáticas: Oasis; Discovery Island, onde se encontra a The Tree of Life, árvore

artificial gigantesca que é o símbolo do parque; África; Rafiki’s Planet Watch; Ásia;

Dinoland USA; e Pandora: The Land of Avatar, expansão inaugurada em 2017 e

inspirada no filme Avatar, objetiva fazer com que os visitantes se sintam dentro do

filme, por isso nessa área não existe nada relacionado ao Mickey Mouse ou qualquer

outro personagem da Disney (THE WALT DISNEY COMPANY, 2018).

O primeiro parque aquático do The Walt Disney World inaugurou em 1989, e

ficou conhecido como Typhoon Lagoon. O parque tem como tema uma lenda criada

pelos imagineers, que segundo Nader (2014) conta a história de um pequeno

vilarejo de pescadores moradores da Ilha da Typhoon Lagoon, o qual foi alvo de

uma terrível tempestade que varreu os mares, fazendo com que inúmeros navios

encalhassem. Além dessa tempestade, houve também, uma erupção de um vulcão,

um terremoto e furacão, deixando o vilarejo praticamente de ponta cabeça. É o

segundo parque aquático mais visitado do mundo, recebendo cerca de dois milhões

de visitantes em 2017 (TEA, 2017).

O Blizzard Beach é o segundo parque aquático do complexo e inaugurou em

1995. Assim como o Typhoon Lagoon, o parque também possui uma lenda por trás

de seu tema:

Durante um inverno rigoroso, desabou sobre a Flórida uma tempestade de neve, cobrindo a área onde está situado o Complexo Walt Disney World Resort. Mais do que depressa, alguns habitantes daquela região aproveitaram para construir uma estação de esqui completa. Quando tudo estava quase pronto – rampas, trenós, esquis, teleféricos -, a temperatura esquentou, a neve degelou, atrapalhando o plano dos inventores. Quando fecharam a falida estação, foi visto um jacaré escorregando pelas encostas do morro e assim perceberam que a neve derretida havia criado divertidos tobogãs (NADER, 2014, p. 489).

Para dar continuidade a ideia de manter os visitantes dentro do Walt Disney

World mesmo após o fechamento dos parques, foi criado o Downtown Disney,

atualmente conhecido como Disney Springs, que é um complexo de entretenimento

e compras (LIPP, 2014). Ele é composto por uma mistura de mais de 50 lojas,

restaurantes exclusivos e atividades de lazer únicas.

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Figura 4 – Mapa Walt Disney World em 2017 Fonte: WDW Info, 2017.

A The Walt Disney Company é o grupo de parques temáticos que mais recebe

visitantes anualmente, cerca de 150 milhões, dos quais, mais de 20 milhões são

destinados ao Walt Disney World, fazendo dele o complexo temático mais visitado

no mundo inteiro (TEA, 2017).

3.2 CONTEXTO ECONÔMICO LOCAL DURANTE A IMPLANTAÇÃO DO BETO

CARRERO WORLD

Durante a construção e mesmo antes da inauguração do parque Beto Carrero

World, o Brasil passava por momentos difíceis em sua economia. A ditadura militar

no foi um regime que durou de 1964 até 1985, ela teve a sua queda primeiramente

devido ao movimento Diretas Já, de 1984, que buscava a eleição direta para

presidente. Apesar das manifestações, a volta do regime democrático não ocorreu

imediatamente, e em 1985 foram realizadas novas eleições indiretas, que elegeram

Tancredo Neves como presidente e José Sarney como vice, ambos da oposição,

dando fim ao regime da ditadura (SENADO, 2006).

Tancredo Neves faleceu antes mesmo de sua posse, e seu vice, José Sarney

tomou a presidência. No ano seguinte, o PIB brasileiro obteve uma queda de 3% e a

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inflação aumentou em quase 200% (LEAL, 2013). Por causa disso, em 1986, José

Sarney tentou controlar a economia por meio de um conjunto mudanças

econômicas, as quais ficaram conhecidas como Plano Cruzado. Esse plano tinha

como objetivo a mudança da moeda de cruzeiro para cruzado e o congelamento dos

preços, fazendo com que a maioria dos produtos tivessem valores tabelados. O

plano fracassou devido ao desequilíbrio dos preços na economia, o que gerou a

diminuição de qualidade dos produtos; falta de controle dos gastos pelo governo; e a

queda das reservas internacionais. Apesar disso, o governo decidiu manter o

congelamento dos preços até as eleições, em novembro de 1986 (AVERBURG,

2005).

Devido à popularidade do Plano Cruzado, o partido de Sarney conseguiu

consagrar governantes nos principais estados do Brasil. Devido a isso, Sarney

conseguiu colocar em prática o Plano Cruzado II ainda no mesmo ano, logo após as

eleições, em que fazia algumas mudanças ao plano original como liberalização

parcial do ajuste de preços; aumento de impostos sobre cigarros, bebidas alcoólicas,

automóveis e gasolina. Esse plano fez com que a população ficasse indignada, e

devido ao mau planejamento do mesmo, fez com que esse plano fracassasse,

levando o país à moratória. O presidente da República colocou a culpa do fracasso

em Dilson Funaro, ministro da fazenda, e o substituiu por Luiz Carlos Bresser

Pereira (LEAL, 2013).

Nos meses seguintes, o processo inflacionário se agravou, a economia entrou

novamente em recessão e o PIB caiu quase 5%. Em 1987 implantou o Plano

Bresser, para tentar conter a inflação, que novamente fracassou. Era necessário

realizar uma mudança, e ela veio com a Nova Constituição de 1988, que ficou

conhecida por Constituição Cidadã, pois objetivava a volta da democracia após o fim

da ditadura (OLIVEIRA, 2017). No ano seguinte, 1989, o governo colocou em prática

o Plano Verão, que mudou a moeda de Cruzado para Cruzado Novo, trouxe um

novo congelamento dos preços e a promessa de conter os gastos públicos. Apesar

de a inflação ter diminuído de início, ela aumentou novamente por causa da

sonegação de impostos que ocorria na época. Em meio a uma inflação altíssima,

chegou ao fim o governo de Sarney em 1990, o qual foi sucedido por Fernando

Collor (PLANO, 2018).

Collor assumiu a presidência em maio de 1990, e foi recebido com uma

hiperinflação, e por causa disso instituiu um plano econômico no dia seguinte de sua

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posse. O plano, que ficou conhecido como Plano Collor objetivava uma liberalização

fiscal, um congelamento do débito público e a redução da quantidade de dinheiro em

circulação. Porém, mais uma vez o plano econômico falhou. Em meados de 1991

começaram a surgir suspeitas de irregularidades do governo de Collor, devido a

isso, a população saiu às ruas pedindo o impeachment de Collor no movimento que

ficou conhecido como “caras pintadas”. Em votação aberta, a Câmara Federal

aprovou o impeachment do presidente, que teve seus direitos políticos suspensos

por oito anos (ESTADÃO, 1992).

Após a saída de Collor, o então vice-presidente do Brasil, Itamar Franco,

assumiu a presidência, e em dois de Outubro de 1992; e em 1994, lançou o Plano

Real. Esse Plano buscava acabar de vez com a crise hiperinflacionária por meio da

mudança da moeda de Cruzado Novo para Real, aumento da receita pública,

abertura econômica, privatizações e equilíbrio do valor dos impostos. O Plano

funcionou, e nos três primeiros anos a inflação diminuiu de 50% para 7,5%, os

preços se estabilizaram e o Brasil conseguiu sair da recessão em que se encontrava

por muitos anos, iniciando anos prósperos para a economia após 1994 (CYSNE

apud BAUMAN, 2000).

Nesse contexto, é possível observar que o parque Beto Carrero World surgiu

em uma época de crise econômica, e poucos anos após a sua inauguração, a

economia voltou ao equilíbrio a partir do Plano Real.

3.2.1 Biografia de João Batista Sérgio Murad “Beto Carrero”

Nascido em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, João Batista Sergio

Murad cresceu em uma fazenda onde seu pai trabalhava, de onde surgiu sua paixão

pelo mundo dos rodeios e dos cowboys. Em sua biografia, Alex Solnik (2008) conta

que seu pai, Alexandre Murad, era conhecido como “Alexandre Carrero” porque

conduzia um boi que transportava cargas e pessoas, devido a isso, João Batista se

intitulou “João Carrero” em homenagem ao pai, e anos mais tarde passou a ser Beto

Carrero.

Aos 18 anos, João Batista iniciou sua carreira artística com o lançamento do

seu programa de rádio, que misturava música sertaneja com humor. Pouco tempo

depois, ele foi trabalhar como corretor de anúncios no jornal Folha de São Paulo, o

que abriu as portas para que ele se lançasse no ramo da publicidade. Na década de

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1970, João foi responsável por diversas campanhas publicitárias e também

gerenciou a carreira de alguns artistas, porém sua paixão pela arte ele criou o

personagem pelo qual seria conhecido nacionalmente, o Beto Carrero, um cowboy

tipicamente brasileiro.

A partir daí, ele montou seu próprio circo com o qual percorreu diversas

cidades apresentando a história do Beto Carrero. Durante suas viagens conheceu

muitas pessoas e acabou estrelando o programa Os Insociáveis, na Rede Record,

ao lado de Renato Aragão e Dedé Santana, que mais tarde seria comprado pela

Rede Globo com o nome de Os Trapalhões (SOLNIK, 2008).

Anos mais tarde, Beto Carrero havia conseguido uma fama significativa

devido aos seus shows, e ao lado de Renato Aragão fez uma viagem a Walt Disney

World, em Orlando. O cowboy ficou encantado com a beleza do parque, e teve a

ideia de fazer algo similar no Brasil. Com isso, ele começou a procurar locais

favoráveis a instalação de um parque de grande magnitude, e acabou escolhendo a

cidade de Penha devido ao seu clima, população acolhedora, e a sua localização

estratégica: ficava apenas a 8 km do aeroporto de Navegantes. Com isso, Beto

comprou terras de maneira sigilosa e trabalhou com o Estado de Santa Catarina

para promover o turismo na região. Em 28 de dezembro de 1991, o parque Beto

Carrero World foi inaugurado, o que consolidou o nome do cowboy no setor de

entretenimento (ESTADÃO, 2008).

Em 2003, Beto decidiu criar o Instituto Beto Carrero, com objetivo de

promover projetos de responsabilidade social. Tal instituto é formado por uma

grande variedade de profissionais de diversas áreas, que atendem às necessidades

de crianças cujas famílias tenham renda baixa. (BETO CARRERO, 2018, online)

Em setembro de 2007, Beto Carrero faleceu durante complicações de uma

cirurgia, aos 70 anos de idade. O parque Beto Carrero World passou a ser

comandado por um de seus três filhos, Alexandre Von Janke Murad, e mais tarde

pelo diretor de marketing Rodrigo Siqueira, o qual trouxe inovações para que o

parque continuasse se consolidando como o maior da América Latina até os dias de

hoje (CARNEIRO; FIREMAN, 2008).

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3.2.2 História da Cidade de Penha

A colonização da cidade por portugueses teve início no século XVIII, devido à

invasão dos espanhóis às áreas litorâneas, o que fez com que os portugueses

adentrassem pelo continente. A primeira construção na área, que na época era

conhecida como Armação do Itapocoroy, foi a Capela de São João Batista, em 1759.

Ainda na mesma época, a comunidade abrigou uma das maiores armações

baleeiras do sul do Brasil, porém não pode ser elevada a categoria de freguesia.

Dessa forma, a apenas 6 km da Armação do Itapocoroy, um grupo de outros

pescadores criou uma nova comunidade que se saiu tão bem com a caça baleeira

que foi elevada a categoria de freguesia, ficando conhecida como Freguesia da

Nossa Senhora da Penha do Itacoporoy. Foi em Julho de 1958 que a freguesia foi

elevada a categoria de município, com 1640 habitantes, ficando oficialmente

conhecida como Cidade de Penha (IBGE, 2001).

Com o passar dos anos as atividade econômicas da região foram se

alterando, de armações baleeiras, para pescas artesanais, comércio rudimentar e

mais recentemente, o turismo (PENHA, 2018).

3.2.3 Implantação e Estrutura do Beto Carrero World

A construção do parque teve início em meados de 1990. A região de Penha

foi escolhida principalmente por oferecer isenção de impostos e mão de obra barata.

Figura 5 – Beto Carrero World em construção Fonte: ClicRBS, 2014

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O parque foi inaugurado em 28 de Dezembro de 1991, e recebeu nos

primeiros dias aproximadamente seis mil visitantes. O empreendimento contava com

uma variada gama de atrações, desde um teleférico até uma montanha-russa (BETO

CARRERO BLOG, 2018).

Figura 6 – Mapa do Beto Carrero em 1992. Fonte: Memórias Beto Carrero

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Figura 7 – Beto Carrero em frente ao Castelo das Nações. Fonte: Beto Carrero Blog

O parque do Beto Carrero World ocupa atualmente uma área de 14 milhões

de metros quadrados e é o maior complexo multitemático da América Latina. O

parque está dividido em sete áreas temáticas diferentes, a primeira se localiza na

entrada do parque e é conhecida como Avenida das Nações; é nela que se encontra

o Castelo das Nações, maior construção do parque, a alameda de serviços e a praça

de alimentação.

A próxima área é o Mundo Animal, onde se encontra o zoológico do parque. A

Vila Germânica é inspirada na imigração dos alemães no estado de Santa Catarina,

nela se localizam lojas e restaurantes temáticos, como o Excalibur, baseado na era

medieval.

O Velho Oeste é a área inspirada na paixão de Sérgio Murad: os cowboys do

cinema; entre aldeias indígenas e saloons, é lá que se encontra o memorial ao

cowboy Beto Carrero.

A Ilha dos Piratas se liga ao resto do parque por uma ponte pênsil, e é toda

inspirada no universo dos Piratas. A área mais visitada do parque é a Aventura

Radical é lá que se localiza as principais atrações do Parque; como a Big Tower,

torre de 93 metros de altura e que alcança uma velocidade de até 120 km por hora;

e a Fire Whip, primeira montanha-russa invertida do Brasil que custou

aproximadamente 15 milhões de reais.

A Terra da Fantasia é uma das maiores áreas do parque, e todas as suas

atrações são vistas por meio de um passeio de trem. A última área é a mais nova do

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parque é Madagascar, inaugurada em 2013 após o parque fechar uma parceria com

a DreamWorks, conta com atrações inspiradas no filme de mesmo nome (BETO

CARRERO, 2018).

Figura 8 – Mapa Beto Carrero World em 2017 Fonte: Site Beto Carrero (2018)

Após quase 27 anos de sua inauguração, o parque ainda é considerado o

maior complexo temático da América Latina, e recebe anualmente cerca de dois

milhões de visitantes (BETO CARRERO, 2016).

3.3 EVOLUÇÃO DOS INDICADORES ECONÔMICOS

O trabalho apresenta as mudanças acarretadas pelo Walt Disney World Resort,

na cidade de Orlando, e também as mudanças que o parque Beto Carrero World

provocaram na região de Penha. O estudo está baseado numa pesquisa

socioeconômica. Este capítulo apresenta a evolução dos indicadores

socioeconômicos locais nas regiões estudadas, tanto no ano de implantação dos

parques quanto atualmente, para que seja possível observar as mudanças nas

respectivas cidades após a inauguração dos empreendimentos.

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3.3.1 Walt Disney World

Nas tabelas apresentadas a seguir, apontam-se algumas variáveis

socioeconômicas da cidade de Orlando, no ano de inauguração do Walt Disney

World, 1971, e em 2017. As tabelas estão divididas em Tabela 2, com indicadores

econômicos; Tabela 3, com indicadores sociais; e Tabela 4, com indicadores

específicos dos parques.

Tabela 2 – Indicadores Econômicos da cidade de Orlando em 1971 e 2017.

Indicadores 1971 2017 Variação

PIB 360 milhões de dólares 780 milhões de dólares 116,6%

PIB per capita 13,7 milhões de dólares 34,8 milhões de dólares 154%

Despesas do

governo

39 bilhões de dólares 162,5 bilhões de dólares 316,6%

Receita Tributária 13,5 milhões 120 milhões de dólares 788,8%

Fonte: Department of Numbers (2017), Nader (2014), City of Orlando (2017)

Com a implantação do parque, a principal atividade econômica da região, que

era a agricultura de cítricos, foi gradativamente perdendo sua força, e foi sendo

substituída pelo turismo, que se tornou a principal atividade econômica da região

atualmente. O turismo é uma atividade econômica que movimenta grandes

quantidades de capital, tendo isso, é possível observar o crescimento do PIB e da

cidade de 360 milhões em 1971 para 780 milhões em 2017, de acordo com a Tabela

2. Assim como o PIB, o PIB per capita também apresentou um aumento de 13,7

milhões em 1971 para 34,8 milhões em 2017. As despesas do governo também

obtiveram um crescimento de quase quatro vezes o valor de 1971, numa variação de

316%, as despesas subiram de 39 bilhões para 162,5 bilhões. A Receita Tributária

da cidade foi o indicador que apresentou o maior crescimento, um aumento de mais

de 100 milhões de dólares.

Tabela 3 – Indicadores Sociais da cidade de Orlando em 1971 e 2017.

Indicadores 1971 2017 Variação

População 99.100 habitantes 280.257 habitantes 182,8%

Taxa de Pobreza 13,4% 19,4% 6%

Expectativa de vida 71 anos 79 anos 11,2%

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IDH 0,818 0,936 14,4%

Imigração Legal 8,1% 18,4% 10,4%

Índice de Gini 0,40 0,49 22,5%

Saneamento Básico 96% 99% 4%

População Desabrigada 1,3% 3% 2,7%

Escolaridade (Ensino Médio)

54,4% 86% 31,6%

Taxa de desemprego 5,9% 5,6% - 0,4%

População Urbana 72% 91,2%% 19,2%

Mulheres 51,47% 51,9% 0,43%

Fonte: World Population Review (2018), City Data (2018), DataUSA (2018), Census (2018)

A Tabela 3 traz os indicadores sociais da cidade de Orlando, iniciando com o

aumento considerável da população, de 99.100 habitantes em 1971 para 262.000

habitantes em 2017. A expectativa de vida também aumentou, de 71 anos para 79

anos, assim como o número de imigrantes legais também cresceu, fazendo com que

Orlando se tornasse uma das cidades com o maior número de imigrantes dos

Estados Unidos. Atualmente 18,4% da população de Orlando é formada por

imigrantes, a maioria de países latinos. Apesar do crescimento da população e da

economia, a taxa de pobreza na cidade também aumentou, de 13,4% em 1971 para

19,4% em 2017. Uma decorrência disso pode ser observada na queda do índice de

Gini, que mede a desigualdade social, de 0,40 para 0,49, numa variação de 22%.

O IDH, índice que calcula a qualidade de vida da população a partir da

expectativa de vida ao nascer, educação, PIB e PIB per capita; também obteve um

aumento de 0,818 em 1971 para 0,936, o que representa um IDH considerado muito

alto comparado a outras cidades da Florida.

Além disso, a quantidade de residências com saneamento básico de

qualidade aumentou, assim como o número de pessoas formadas no ensino médio,

que obteve um crescimento de mais de 30% nos últimos 30 anos. A população rural

diminuiu, em 2017 apenas 8,8% da população se encontravam nas áreas rurais,

fazendo com que a cidade de Orlando se tornasse um centro urbano importante na

região. A divisão por sexos não obteve uma alteração tão grande, a cidade tem uma

população de maioria feminina desde 1971. Apesar disso, a população desabrigada

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cresceu de 1,3% para 3% em 2017, o que pode ter sido derivado do crescimento da

taxa de pobreza.

Tabela 4 – Indicadores do Walt Disney World Resort em 1971 e 2017.

Indicadores 1971 2017 Variação

Valor do Ingresso 3,5 dólares 105 (MK) e 99 dólares 2900%

Funcionários Diretos 10.000 70.000 600%

Mulheres Empregadas 17% 47,3% 30,3%

Visitantes Anuais 100.000 20,4 milhões 20.300%

Número de quartos nos

Resorts

1.538 30.000 1850%

Fonte: Orlando Sentinel (2018), Walt Disney World (2018).

Na Tabela 4, o valor do ingresso para a visitação de um parque no dia da

abertura foi de 3,50 dólares, o que é muito menor do que os 105 dólares para o

Magic Kingdom e 99 dólares para os demais parques, pagos atualmente, mostrando

um aumento de 2900% no preço do ingresso nos últimos 47 anos. Assim como o

valor dos ingressos, a oferta de empregos dentro do Walt Disney World também

aumentou grandiosamente, pois o complexo multiplicou de tamanho desde 1971,

precisando assim de mais pessoas para trabalhar no mesmo, de 10 mil funcionários

diretos de início, passaram a 70 mil em 2017. O número de visitantes por ano no

complexo também cresceu consideravelmente, chegando a um total de 20,4 milhões

de visitantes em 2017, com um aumento de 20.300% desde o número inicial,

10.000. Com esse acréscimo no número de visitantes, o Walt Disney World se

tornou o complexo temático mais visitado no mundo todo, segundo um relatório

divulgado pela Themed Entertainment Association anualmente.

3.3.2 Beto Carrero World

Assim como foi feito com o Walt Disney World, a seguir estão apresentadas

algumas tabelas com dados econômicos importantes da cidade de Penha, sede do

Beto Carrero World. Os dados são dos anos de 1991, ano de abertura do parque, e

2017, para que seja possível observar uma diferença entre a cidade antes e depois

do parque abrir.

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Tabela 5 – Indicadores Econômicos da cidade de Penha em 1991 e 2017.

Indicadores 1991 2017 Variação

PIB 65.038 milhões de reais 594.255 milhões de reais 813,7%

PIB per capita 3.814 reais 20.149 reais 428,2%

Despesas do governo 15 milhões 65 milhões de reais 333%

Receita Tributária 3 milhões 21 milhões de reais 600%

Fonte: Atlas Brasil (2018), IBGE (2018), PNUD (2018)

Como pode ser observada pela Tabela 5, os indicadores econômicos de

Penha sofreram muitas mudanças, o PIB aumentou de 65.035 milhões reais em

1991 para 594.255 milhões de reais, um aumento de 800% em relação ao preço

inicial. Assim como o PIB, o PIB per capita registrou um crescimento de 425%.

Atualmente, o PIB da cidade de Penha se encontra na posição 77 do estado, e na

posição 1.879 do país, representando 0,3% do PIB total do Estado.

Tabela 6 – Indicadores Sociais da cidade de Penha em 1991 e 2017.

Indicadores 1991 2017 Variação

População 13.108 31.736 142,1%

Taxa de Pobreza 25,12% 3,5% -21%

Expectativa de vida 69 anos 77 anos 11,5%

IDH 0,493 0,743 50,7%

Índice de Gini 0,49 0,42 -14,2%

Saneamento Básico 86% 94% 8%

População Desabrigada 1,8% 0,74% - 1,06%

Escolaridade (Ensino Médio) 10% 31,17% 21,17%

Mortalidade Infantil 27% 10% -17%

Taxa de desemprego 10% 3,6% - 6,4%

População Urbana 80,2% 91,8% 11,6%

Mulheres 49,45% 50,13% 0,68%

Fonte: IBGE (2018), Atlas Brasil (2018), PNUD (2018)

De acordo com os indicadores sociais, a população da cidade de Penha

cresceu de 1991 até 2017, passando de 13.108 habitantes para 31.736, quase

triplicando de valor. Não se pode afirmar com certeza, porém esse aumento

populacional pode ter sido derivado da inauguração do parque, que para a cidade foi

um dos maiores empreendimentos já construídos, gerando uma maior busca das

pessoas por oportunidade de emprego e melhoria der vida. Considerando isso, a

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taxa de pobreza diminuiu de 25,12% para 3,5% e a expectativa de vida subiu de 69

para 77 anos, o que pode ser mais uma consequência da melhoria de vida da

população devido à instalação do parque.

O IDH também aumentou significativamente de 0,493 para 0,743, um

aumento de 50%, fazendo com que o município passasse de uma cidade com IDH

baixo para uma cidade com IDH elevado. O índice de Gini também está na Tabela 6,

e a cidade de Penha passou de 0,49 para 0,42 nos 27 anos que o parque está em

seu território, se tornando uma cidade com menos desigualdade social.

A quantidade de residências com acesso a saneamento básico cresceu de

86% em 1991 para 94% em 2017. A população desabrigada diminuiu de 1,8% para

0,74%, podendo ser derivada da maior oferta de trabalho após a abertura do parque,

uma vez que a taxa de desemprego também despencou. O índice de mortalidade

também caiu, chegando a 10% em 2017. A porcentagem da população com ensino

médio completo aumentou cerca de 20% nos últimos 27 anos, algo importantíssimo

para o desenvolvimento da cidade. Sobre a divisão da população por sexo, a

mudança não foi tão grande, porém em 1991 os homens eram maioria na cidade, e

em 2017 são as mulheres. Por último na Tabela 6, pode se observar a diminuição da

porcentagem da população rural em 11,6%.

Tabela 7 – Indicadores do parque Beto Carrero World em 1991 e 2017.

Indicadores 1991 2017 Variação

Funcionários Diretos 1.335 2.000 49%

Visitantes Anuais 6.852 2 milhões 29.088%

Fonte: Beto Carrero World (2018)

A Tabela 7 traz informações específicas sobre o parque Beto Carrero World,

como o valor do ingresso e a oferta de emprego, que aumentou desde a sua

abertura de 1335 para 2000. Outro índice apresentado na Tabela 7 é o número de

visitantes anuais, que aumentou cerca de 2.900% desde a inauguração do

empreendimento, passando de 6.852 visitantes em 1991 para 2 milhões em 2017.

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3.4 DIAGNÓSTICO

Para melhor identificar as mudanças ocorridas tanto na cidade de Orlando após

a inauguração do Walt Disney World, como em Penha, após o Beto Carrero World,

foram elaborados gráficos com as variações nos principais indicadores, como

seguem:

Gráfico 1 – Variação nos indicadores econômicos de Orlando e Penha.

Fonte: Department of Numbers (2017), Nader (2014), City of Orlando (2017), Atlas Brasil (2018), IBGE (2018), PNUD (2018), Autora (2018).

A partir do Gráfico 1, é possível perceber que ambas as cidade passaram por

intensas mudanças após a abertura dos parques. No caso de Orlando, a principal

atividade da cidade que era a agricultura de cítricos, foi gradualmente sendo

substituída pelo turismo devido ao grande sucesso do Walt Disney World e de outras

importantes construções em cidades vizinhas.

O Kennedy Space Center, um centro de estudos espaciais da NASA, segundo

Nader (2014), teve sua inauguração em 1962, em Merrit Island, cidade próxima a

Orlando, e foi importante para o início da mudança de ideais da população, que

passou a ver mais oportunidades de trabalho com o turismo e comércio do que com

a agricultura. Porém, o Kennedy Space Center necessitava de mão de obra

extremamente qualificada, o que fez com que os agricultores se voltassem a um

local turístico sem a necessidade de grandes qualificações: o Walt Disney World.

116% 154%

788%

316%

813%

428%

600%

333%

0%

100%

200%

300%

400%

500%

600%

700%

800%

900%

PIB PIB per capita Receita Tributária Despesas doGoverno

Orlando Penha

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Dessa forma, pode-se afirmar que os primeiros 10 mil trabalhadores do complexo

eram em sua maioria, agricultores.

A mudança na principal atividade econômica na cidade fez com que houvesse

um maior fluxo de capital, aumentando seu PIB e PIB per capita em 116% e 154%,

respectivamente. A partir daí, com a mudança de uma cidade predominantemente

agrícola para uma urbana, novos impostos foram criados e a Receita Tributária

aumentou significativamente, em 788%.

Além de novos impostos, com a instalação de um empreendimento de grande

porte e voltado para o lazer, como o Walt Disney World, o governo acaba tendo

novos gastos com turismo e entretenimento, o que pode ser observado pelo

crescimento de 316% nas despesas do governo.

Em 2017, a The Walt Disney Company faturou cerca de 95 bilhões de dólares,

grande parte deste faturamento derivado do complexo Walt Disney World, o que

demonstra, mais uma vez que a empresa é uma das maiores do mundo no âmbito

do entretenimento (STATISTA, 2018).

Esse maior fluxo de capital e de turistas na cidade de Orlando chamou a

atenção de novas empresas de entretenimento que gradativamente foram abrindo

sedes na cidade. O primeiro deles foi o Sea World, que já possuía um parque na

Costa Oeste, e que em Orlando foi inaugurado apenas 2 anos após o Walt Disney

World, com uma temática focada nos animais aquáticos e bem diferente do

complexo tema desta pesquisa. O Wet n Wild, maior parque aquático do mundo na

época, foi o segundo a ser inaugurado na cidade em 1977, e que recentemente

fechou suas portas em 2016 (NILES, 2013).

Outra empresa que chegou a Orlando anos mais tarde, em 1990 foi a Universal

Studios, que já possuía o Universal Studios Hollywood em Los Angeles, concorrente

da Disneyland; mas que rapidamente se tornou a principal concorrente da Disney em

relação a parques temáticos na região Orlando também (NILES, 2013).

Atualmente, mais de 1 milhão de pessoas trabalham na área de turismo na

Florida, o que colaborou para que o estado se tornasse o segundo estado do país

mais visitado por turistas no ano de 2017 com 112 milhões de visitantes, atrás

apenas da Califórnia (POLAND, 2017).

A Flórida enfrentou a multidão de ventos contrários no ano passado, incluindo desastres naturais, o surto do vírus Zika e o trágico ataque de boate em Orlando. Por tudo isso, os esforços de marketing de destino mantiveram os visitantes cientes de

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todo o estado que ele tem a oferecer e preservaram os meios de subsistência dos 1,4 milhão de habitantes da Flórida cujos empregos dependem de um mercado de turismo saudável. (DOW apud RUSSON, 2017)

Com relação ao Beto Carrero World, a principal atividade econômica da cidade

de Penha era a pesca, por ser uma cidade litorânea. Assim como ocorreu em

Orlando, com a inauguração do parque, a principal atividade econômica da cidade

que se encontrava no setor primário passou a fazer parte do setor terciário com o

turismo. Após a abertura do parque Beto Carrero World e o aumento no fluxo de

turistas na cidade, a rede de comércio e hoteleira cresceu grandiosamente,

atualmente a cidade possui mais de 200 hotéis registrados, se tornando a sexta

cidade do estado mais visitada anualmente (ROTA SC, 2017).

Considerando que o turismo e o comércio circulam uma grande quantidade de

capital, o aumento no PIB da cidade foi de 813% e o PIB per capita cresceu 428%.

Assim como ocorreu em Orlando, com a inauguração do Beto Carrero World, uma

cidade que era focada na pesca artesanal passou a receber uma grande quantidade

de turistas, o que fez com que a cidade tivesse que criar novos impostos e novas

regras para a economia. A criação de novos impostos fez com que a Receita

Tributária crescesse cerca de 600%. Além dos impostos, os investimentos do

governo na área do turismo também cresceram, o que pode ser exemplificado pelo

aumento em 333% nas despesas do governo. Em geral, esse maior fluxo de dinheiro

na cidade foi fundamental para o desenvolvimento da mesma, pois quanto mais

dinheiro é investido, mais turistas irão visitar a cidade.

O parque Beto Carrero é atualmente o maior complexo temático da América

Latina, e possui cerca de 180 empresas parceiras, fazendo da Beto Carrero a maior

empresa instalada na cidade. Essas mudanças no cenário de Penha apesar de

numericamente serem bem relevantes, não trouxeram para a cidade as mesmas

oportunidades que Orlando teve. Ao observar o gráfico, de uma forma geral, Orlando

obteve mais crescimento na área econômica do que Penha, o que pode ter sido

derivado da falta de empresas concorrentes no âmbito de entretenimento, novas

empresas de tecnologia e comércio em Penha, fazendo com que a mesma não se

destacasse tanto, ao contrário de Orlando, que virou um grande polo turístico.

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Gráfico 2 – Variação nos indicadores sociais de Orlando e Penha.

Fonte: World Population Review (2018), City Data (2018), DataUSA (2018), Census (2018),

IBGE (2018), Atlas Brasil (2018), PNUD (2018), Autora (2018).

No âmbito social, o gráfico 2 traz o crescimento da população, no caso de

Orlando, a população aumentou em quase 200% nos 47 anos em que o complexo

temático está aberto, muitos destes novos moradores sendo pequenos agricultores

de cidades vizinhas ou até mesmo outros estados, que se mudaram para Orlando

após a abertura do parque. O aumento na população também pode ser oriunda do

alto número de imigrantes legais e ilegais a cidade recebe ano após ano, que entram

nos Estados Unidos em busca de uma vida melhor.

O IDH da cidade de Orlando obteve um crescimento de apenas 14%, porém

ainda é considerada uma cidade de IDH muito alto. Se Orlando fosse um estado,

estaria na décima primeira posição dos estados americanos com o melhor IDH.

Apesar de ter um IDH alto, a cidade de Orlando se encontra atrás de algumas outras

cidades turísticas, Nova Iorque tem um IDH de 0,941; e Washington com 0,939;

porém também se encontra acima de outras cidades turísticas como Los Angeles,

com um IDH de 0,929. Os Estados Unidos como um país se encontra na oitava

posição dos países com o IDH mais alto no mundo todo (PNUD, 2018).

Apesar da principal atividade econômica de Orlando em 1971 ser a agricultura, a

cidade já eram em maioria urbana. Com a inauguração do complexo temático e o

grande fluxo de turistas na região, a cidade passou a se urbanizar cada vez mais,

obtendo um aumento de quase 20% na taxa de urbanização em 2017.

182%

14% 19% 6% 4% 11.00%

31% 3%

22% 0%

142%

50%

11%

-21%

8% 11% 21%

-1% -14% -6%

-50%

0%

50%

100%

150%

200%

Orlando Penha

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64

Com as maiores oportunidades e a disponibilidade de 10 mil novos empregos

com a abertura do Walt Disney World em 1971, a taxa de pobreza da cidade chegou

a 13,4%, um bom número comparado aos anos anteriores. Porém, apesar do

aumento em 600% no número de funcionários até 2017, a taxa de pobreza

aumentou novamente, chegando a 19,4%. Isso pode ter sido derivado do aumento

no fluxo imigratório, muitos imigrantes acabam se mudando para Orlando pois

sabem que é uma cidade com muitas oportunidades de emprego, porém acabam

não conseguindo um emprego de qualidade justamente por serem imigrantes, o que

faz com que a taxa de pobreza da cidade aumente. Além disso, a desigualdade na

distribuição de renda também está presente na cidade, o que demonstra que apesar

das grandes oportunidades e de ser considerada uma cidade boa para se viver, não

são todos os moradores que possuem a mesma qualidade de vida. Tendo isso,

observa-se a partir do gráfico que a população desabrigada aumentou em 3%, mais

um representativo da disparidade na qualidade de vida da população da cidade.

Com relação ao saneamento básico, Orlando já era uma referência antes

mesmo da abertura do Walt Disney World, 96% de suas residências possuíam

acesso a água potável. Em 2017, esse número chegou a 99%, o que demonstra que

apesar de 19,4% da população se encontrar na zona da pobreza, quase todos os

habitantes de Orlando tem um saneamento básico de qualidade, independente de

sua renda, algo importantíssimo para garantir a qualidade de vida.

Além do saneamento básico, a expetativa de vida da população também

aumentou em 11%, de 71 anos para 79, se igualando a média nacional. A

escolaridade também obteve um grande crescimento, de aproximadamente 31%,

demonstrando que após a inauguração do Walt Disney World, novas oportunidades

para estudo foram surgindo gradualmente, uma vez que a maioria dos empregos na

área de turismo exigem um nível mínimo de escolaridade. Os Estados Unidos em

geral prezam pela escolaridade da população, em Orlando 86% possuem diploma

de ensino médio, algo muito diferente da realidade brasileira.

Além de escolaridade, a cidade de Orlando preza pela especialização do

trabalho. Um exemplo disso pode ser observado na criação da Disney University,

uma vez que em 1971 o emprego não era uma área que gerava muita estabilidade

para a população devido a pouca especialização da mesma. Com a criação da

Disney University, espaço para o treinamento de seus funcionários, aumentou o

nível de especialização de parte da população. Ainda no âmbito de empregos, tem-

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65

se a taxa de desemprego, que diminuiu em 0,4%, número tão pequeno que nem é

mostrado adequadamente pelo gráfico. Atualmente, 95% da população de Orlando

se encontra empregada.

Outro indicador apontado no gráfico é o índice de Gini, que calcula a

desigualdade social. Quanto mais alto, mais desigualdade uma cidade possui, que é

o que aconteceu com Orlando. O índice cresceu em 22%, o que demonstra mais

uma vez que a distribuição de renda de Orlando não é feita adequadamente,

fazendo com que sua população possua uma desigualdade social grande.

Com relação a cidade de Penha, a população aumentou em 142%, o que pode

ser derivado pela mudança de pescadores de cidades próximas em busca de um

emprego melhor no setor turístico da cidade. A imigração na cidade de Penha não é

muito relevante, pois ao contrário de Orlando, ainda é uma cidade pequena e sem

tantas oportunidades de emprego quanto a anterior.

Porém, ao mesmo tempo em que as oportunidades são menores, o IDH da

cidade dobrou de valor, fazendo com que o município passasse de uma cidade com

IDH baixo para uma cidade com IDH elevado, significando que apesar de ainda ser

considerada uma cidade pequena e sem tantas oportunidades como Orlando, sua

qualidade de vida evoluiu muito nos últimos 27 anos.

Um dos motivos desse crescimento do IDH pode ter sido derivado da grande

quantidade de projetos sociais na cidade. A empresa Beto Carrero além de focar no

entretenimento com seu parque temático, também participa de diversas iniciativas

para a melhoria da qualidade de vida da comunidade, maioria delas por meio do

Instituto Beto Carrero, que foi criado em 2003.

O Instituto Beto Carrero é uma instituição voltada para o desenvolvimento, da educação formal e informal, da cultura e esporte, da saúde e do meio ambiente, da cidadania, do trabalho e renda. Suas ações estão pautadas com base no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, reconhecendo seus beneficiários como sujeitos portadores de direitos e deveres, capazes de promover transformações sociais, que mudem o quadro de pobreza, desigualdade e exclusão social, habilitando-os para o exercício pleno dos direitos da cidadania. O Instituto Beto Carrero por meio de suas ações de prestação de serviços gratuitos à comunidade (...) mantém-se atento as reais necessidades da comunidade, em especial atenção aos anseios das famílias quanto à oferta de ação educativa, direcionada ao atendimento a crianças e adolescentes, objetivando minimizar e combater as mazelas sociais que nos rodeiam. (BETO CARRERO, 2017).

Em 1991, apesar da atividade principal da cidade ser a pesca, Penha já era

considerada uma cidade de maioria urbana. Como o gráfico 2 apresenta, essa

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66

urbanização do município cresceu em 11%, fazendo com que Penha seja uma

cidade com 91% de sua população habitando regiões citadinas.

Outro aspecto demonstrado no gráfico que pode ser sinônimo de melhoria na

qualidade de vida é a diminuição em 21% da taxa de pobreza, número alto se

considerado a outras cidades do país. Além disso, a população desabrigada também

diminuiu, chegando a menos de 1% da população. Esses dados são completamente

oposto dos dados da cidade de Orlando, que obteve aumento em ambos, mostrando

que em Penha apesar de ter acontecido um crescimento e modernização da cidade,

problemas de cidades grandes derivados da má distribuição de renda não a

afetaram, ao contrário, a cidade conseguiu diminuir consideravelmente esses

indicadores.

Quanto ao saneamento básico, o município registrou um crescimento de 8%,

chegando a um total de 94% da população com acesso a água encanada, algo

muito importante para o aumento na qualidade de vida da população. Apesar do

crescimento considerável, o município de Penha ainda possui uma porcentagem de

população com saneamento básico em 2017 menor do que Orlando tinha em 1971,

algo que mostra a disparidade nas oportunidades nos dois países.

A expectativa de vida da população de Penha obteve um aumento de 11%,

mesma variação que a cidade de Orlando registrou. Nesse quesito, Penha superou

a média nacional de 75 anos, conseguindo uma expectativa de vida de 77 anos no

último ano. Porém, ainda encontra-se atrás da média estadual, Santa Catarina é

atualmente o estado brasileiro com a maior expectativa de vida do país, de 79 anos

(IBGE, 2016).

A escolaridade da população também cresceu em 21%, porém atualmente

apenas 31% da população possui diploma de ensino médio. Isso pode ser derivado

da falta de necessidade de escolaridade para os novos empregos fornecidos pela

cidade, se não é necessário que tenha ensino médio para trabalhar no setor

turístico, a população não irá se formar, algo muito diferente de Orlando, que preza a

escolaridade como ponto fundamental para a contratação.

Além disso, com objetivo de minimizar a baixa escolaridade da cidade, a

empresa Beto Carrero colocou em prática o Projeto Onda, que presta serviços

gratuitos a comunidade e foca na importância da educação. Além desse projeto, a

empresa também construiu a creche Betinho Carrero, para dar educação de

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67

qualidade a crianças cujas famílias possuam renda de até dois salários mínimos

(BETO CARRERO, 2017).

Outro indicador apresentado no gráfico é o índice de Gini, que registrou uma

queda de 14% desde a inauguração do parque Beto Carrero World, mais um índice

que demonstra uma diminuição na desigualdade social da cidade.

A taxa de desemprego da cidade diminuiu em 6%, podendo ter sido derivado

dos novos empregos gerados pelo setor turístico na cidade. Apesar da baixa

escolaridade, esse setor presa pela especialização de seus funcionários,

principalmente o parque Beto Carrero World, que de acordo com um relatório

divulgado pelo mesmo, em 2017 foram realizadas 2.035 horas de treinamento para

seus colaboradores, essas horas divididas em 5 categorias diferentes conforme a

função dos mesmos.

Em geral, a cidade de Penha se saiu melhor nas variações dos setores sociais

do que a cidade de Orlando, que apesar de ter registrado um grande crescimento

economicamente, ainda apresenta diversos problemas sociais, maioria deles que

diminuíram significativamente em Penha.

Gráfico 3 – Variação nos indicadores dos parques Walt Disney World e Beto

Carrero World.

Fonte: Orlando Sentinel (2018), Walt Disney World (2018), Beto Carrero World (2018), Autora

(2018).

600%

20300%

2900%

30% 49%

29000%

0% 0% 0%

5000%

10000%

15000%

20000%

25000%

30000%

35000%

Funcionários Visitantes Valor do Ingresso MulheresEmpregadas

Walt Disney World Beto Carrero World

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68

De acordo com o gráfico 3, o número de funcionários do Walt Disney World

aumentou em 600%, registrando um total de 70 mil trabalhadores em 2017. Já o

parque Beto Carrero World não houve um aumento tão relevante, uma variação de

apenas 49%. O maior aumento do número de empregos foi no setor turístico da

cidade em geral, pois antes do parque ele era quase inexistente.

Ao contrário do número de funcionários, no quesito visitantes o Beto Carrero

World obteve um crescimento maior, de apenas 1335 visitantes no ano de 1991 para

2 milhões em 2017, gerando uma variação de 29.000%. O Walt Disney World porém,

não ficou muito atrás, com uma variação de 20.300%, os iniciais 100 mil visitantes

no ano de inauguração subiram para mais de 20 milhões de visitantes no último ano,

fazendo com que o complexo se tornasse o mais visitado do mundo.

Com relação ao valor do ingresso e da porcentagem de mulheres empregadas,

o Beto Carrero World se recusou a providenciar as informações do valor em 1991,

portanto não foi possível calcular uma variação. No caso do Walt Disney World, o

preço do ingresso aumentou em 2900% desde 1971, no ano de inauguração ele

custava 3,50 dólares e atualmente 105 dólares para o Magic Kingdom e 99 dólares

para os parques restantes. Isso demonstra que o poder de compra da população

mudou muito devido a diversos processos inflacionários. Já no caso do número de

mulheres empregadas, houve uma variação de 30%, algo muito importante que

ilustra a inserção da mulher no mercado de trabalho.

Conclui-se então que a partir do gráfico 3, percebe-se que tanto Penha quanto

Orlando obtiveram mudanças de valores similares nos indicadores específicos do

parque, mostrando mais uma vez que apesar de terem sido empreendimentos

parecidos de início, geraram externalidades diferentes em ambos os locais, fazendo

com que as cidades adquirissem características diferentes.

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69

4 CONCLUSÃO

O Walt Disney World é o maior complexo de parques temáticos do mundo, o

mais visitado e o que gera o maior fluxo monetário. Com o processo da globalização

intensificado nas últimas décadas, observa-se como o Walt Disney World serviu de

inspiração para muitos outros parques no mundo todo, como por exemplo, o Beto

Carrero World, localizado na cidade de Penha, em Santa Catarina.

Ao estudar ambas as cidades e os empreendimentos em si, pode-se afirmar que

os parques em questão tinham algumas semelhanças no momento de sua

inauguração: eram os primeiros grandes empreendimentos das cidades, primeiros

parques temáticos de cada região. Suas cidades tinham como principal atividade

econômica o setor primário e não possuíam um turismo forte. Peculiarmente, ambos

tiveram um idealizador do qual o nome do parque se originou.

Pesquisando-se sobre o passado e o presente, é possível perceber que houve

diversas mudanças nas cidades de Orlando e Penha após a abertura do Walt Disney

World e do Beto Carrero World. Por serem cidades em países diferentes, e com

economias muito distintas, o presente trabalho não teve como objetivo fazer um

estudo comparativo entre as cidades, mas sim, desenvolver um panorama dos

municípios antes dos parques e depois do surgimento dos mesmos.

Respondendo ao objetivo geral do trabalho é possível reconhecer as

mudanças acarretadas pela instalação do Walt Disney World Resort, na cidade de

Orlando, e também as mudanças que o Beto Carrero World provocaram na região

de Penha. A partir dos indicadores socioeconômicos das cidades estudadas foi

possível identificar suas evoluções desde a criação dos parques. No caso de

Orlando, o país vivia uma época economicamente próspera. O pós-guerra trouxe

diversas oportunidades, porém esse momento cessou com a Crise do Petróleo e o

processo inflacionário que se iniciou nos Estados Unidos na década de 70. Já a

cidade de Penha passou por uma situação distinta, o país vivia uma grande crise

econômica, agravada pela hiperinflação da década de 80, durante os governos

Sarney e Collor, que só foi solucionada com a implantação do Plano Real, em 1994.

O trabalho mostrou também uma breve biografia de ambos os criadores dos

parques. No caso do Walt Disney World, descreveu-se a história de Walter Elias

Disney, um amante de animações que conseguiu se lançar na carreira de diretor de

cinema e atualmente é a pessoa que ganhou um maior número de Óscares da

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70

história. Já no caso do Beto Carrero World, pesquisou-se a biografia de João Batista

Sérgio Murad, um apresentador de televisão que utilizava do nome artístico Beto

Carrero em homenagem ao seu pai. Walt Disney criou o conceito de “parques

temáticos” e instalou o Walt Disney World na Flórida após o sucesso de seu primeiro

parque, a Disneyland na Califórnia. Já Beto Carrero decidiu criar seu parque após

uma visita ao Walt Disney World, na qual ficou encantado e desejou fazer algo

similar no Brasil.

O estudo apresentou o processo de implantação do Walt Disney World Resort

em 1971, e do Beto Carrero World, em 1991. Enquanto o Walt Disney World

demorou quatro anos para ser concluído, o Beto Carrero foi concluído em apenas

um. O Walt Disney World era composto de início por um parque, o Magic Kingdom, e

dois resorts. Já o Beto Carrero World tinha apenas um parque com, no máximo, 30

atrações. Por fim, descreveu-se as estruturas atuais dos parques.

Assim, com a evolução dos indicadores socioeconômicos é possível observar

as externalidades econômicas e sociais pelas quais ambas as cidades passaram

após a inauguração dos parques. Utilizou-se de alguns indicadores específicos para

tal pesquisa, entre eles o PIB de Orlando e Penha, no caso da cidade estadunidense

cresceu de 360 milhões em 1971 para 780 milhões de dólares em 2017, já na cidade

brasileira o crescimento foi de 65.035 milhões reais em 1991 para 594.255 milhões

de reais em 2017. Outro indicador que aumentou consideravelmente foi a

população, que registrou um crescimento de mais de 100% em ambas as cidades. O

número de visitantes também cresceu consideravelmente, de um inicial 100 mil

visitantes no ano de abertura do Walt Disney World para 20,4 milhões de visitantes

em 2017; e de aproximadamente 6 mil para 2 milhões de visitantes no Beto Carrero

World no último ano. Com base nessa evolução dos indicadores, foi possível

identificar os impactos socioeconômicos dos parques nas economias locais, fazendo

com que o objetivo geral do trabalho se concluísse.

Finalizando, não é possível afirmar com certeza que tais mudanças observadas

em ambas as cidades são de fato oriundas da criação dos parques. No caso de

Orlando, diversas outras empresas de entretenimento como a Universal Studios,

Sea World, e até mesmo de outras áreas se instalaram na cidade após a

inauguração do Walt Disney World por causa do potencial que tal empreendimento

trouxe para a região. Isso faz com que seja mais difícil afirmar que as mudanças que

a cidade passou foram em sua totalidade oriundas da instalação do Walt Disney

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71

World, uma vez que devido tais empresas concorrentes, caso o complexo nunca

tivesse sido construído na região, poderiam ter acontecido mudanças da mesma

maneira.

Já no caso de Penha, é mais provável que tais mudanças tenham sido

ocasionadas pelo Beto Carrero World, uma vez que empresas concorrentes no

âmbito de entretenimento e tecnologia não se instalaram em Penha como aconteceu

com a cidade estadunidense. Dessa forma, as externalidades geradas tem mais

chance de terem sido oriundas da instalação do parque, pois caso ele não tivesse

sido construído na região, a cidade de Penha provavelmente não seria um polo

turístico como atualmente é.

Em outras palavras, tanto Orlando quanto Penha registraram mudanças

positivas e, em alguns casos negativas, nos seus aspectos socioeconômicos desde

a inauguração dos parques, e que com certeza continuarão a ocorrer no futuro.

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72

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