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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
MARTIN COACHMAN DIAS
DIAGNÓSTICO DAS PESCARIAS INDUSTRIAIS DO SUDESTE E SUL DO BRASIL FRENTE
AOS PADRÕES INTERNACIONAIS DE CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL: PANORAMA ATUAL,
AÇÕES E PERSPECTIVAS
ITAJAÍ, SC
Janeiro de 2012
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
MARTIN COACHMAN DIAS
DIAGNÓSTICO DAS PESCARIAS INDUSTRIAIS DO SUDESTE E SUL DO BRASIL FRENTE
AOS PADRÕES INTERNACIONAIS DE CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL: PANORAMA ATUAL,
AÇÕES E PERSPECTIVAS
Dissertação de mestrado apresentada como
requisito final à obtenção do título de Mestre
em Ciência e Tecnologia Ambiental, Curso de
Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência e
Tecnologia Ambiental, Centro de Ciências
Tecnológicas da Terra e do Mar, Universidade
do Vale do Itajaí.
Orientador: Dr. André Silva Barreto
Co-orientador: Dr. Paulo Ricardo Pezzuto
ITAJAÍ, SC
Janeiro de 2012
iii
Agradecimentos
Acho que por estarmos sempre tão exaustos ao final de trabalhos longos e árduos como estes
que compõem a “escada acadêmica”, até mesmo lembrar daqueles que nos apoiam e conosco
colaboram torna-se uma tarefa difícil. Falta cabeça. Na ausência de um cérebro em plenas
condições, buscarei naquele lugar da alma onde nós guardamos a gratidão, alguns nomes e
“grupos” que me acompanharam de perto ou de longe e que, de alguma forma, contribuíram
para o resultado final.
Em primeiro lugar, sou muito grato ao meu orientador, o Dr. André Barreto por aceitar o
desafio de encaramos este batalha tão diferente do que estamos acostumados a fazer. Para
mim foi um prazer termos trabalhado juntos! Ao Professor P. R. Pezzuto, que neste trabalho
foi meu (ou nosso) co-orientador, sempre aparecendo com pontos de vista que têm o poder
de redirecionar trabalhos! Agradeço também as valiosas contribuições do Dr. A. Lerípio, que se
dispôs a colaborar com o que fosse necessário. Da mesma forma, agradeço ao Dr. M. Polette,
pelas inúmeras conversas e sugestões. Muito obrigado.
Agradeço a minha equipe de trabalho, por compreender as dificuldades que envolvem esta
etapa da vida. Espero não ter-lhes atravancado muito as coisas!
Agradeço a todos os meus amigos (dos quais muitos já agradeci apenas uma linha acima) pelo
apoio fornecido, incentivos dados e, mais que tudo, pelos momentos alegres divididos que me
permitiram esquecer por sensacionais instantes as minhas preocupações, aflições e
responsabilidades!
Ao meu irmão, Eng. Eduardo Dias, que além do seu usual apoio e carinho de irmão, fez valiosas
contribuições a este trabalho, como bom engenheiro que é. Valeu Edu.
E o que seríamos nós sem a base que nos firma? Acho que não muita coisa. Tudo bem que
hoje eu não sou lá muita coisa, mas o pouco que sou devo a vocês, minha família! Obrigado
por existirem.
Agradeço finalmente a minha companheira, que vem estando presente nos agradecimentos
desde minha monografia, e que numa dessas aparece num doutorado... vai saber!
Obrigado a todos os que eu não mencionei aqui, e que tenham de alguma forma me apoiado!
Desculpem-me sinceramente se não os mencionei, mas conforme eu disse: falta cabeça!
iv
Sumário
Agradecimentos ................................................................................................................. iii
Lista de Tabelas .................................................................................................................. vi
Lista de Figuras ................................................................................................................. viii
Resumo geral ..................................................................................................................... ix
Abstract ............................................................................................................................. xi
Prefácio ............................................................................................................................ xiii
Referências .............................................................................................................................. xiv
Objetivos .......................................................................................................................... xvi
Objetivo geral: ......................................................................................................................... xvi
Objetivos específicos ............................................................................................................... xvi
Capítulo 1 – Uma análise dos programas de certificação ambiental de pescarias através de
seus requisitos..................................................................................................................... 1
Introdução ................................................................................................................................. 1
Metodologia .............................................................................................................................. 3
Resultados ................................................................................................................................. 8
Caracterização dos programas: requisitos e categorias como critérios de análise .............. 9
Agrupamento dos programas a partir dos requisitos ......................................................... 16
Discussão ................................................................................................................................. 19
Referências .............................................................................................................................. 23
Apêndice.................................................................................................................................. 26
Capítulo 2 - A certificação ambiental das pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil:
onde estamos? .................................................................................................................. 31
Introdução ............................................................................................................................... 31
Metodologia ............................................................................................................................ 33
Resultados ............................................................................................................................... 34
Considerações gerais sobre as pescarias industriais do SE e S do Brasil ............................ 34
v
Aspectos comuns a todas as pescarias ............................................................................... 38
Estudos de caso ................................................................................................................... 44
Discussão ................................................................................................................................. 58
Conclusões .............................................................................................................................. 66
Referências .............................................................................................................................. 67
Capítulo 3 – A certificação das pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil: o que
necessita ser feito para alcançá-la? .................................................................................... 79
Introdução ............................................................................................................................... 79
A elaboração do plano ............................................................................................................ 80
Análise do plano ...................................................................................................................... 83
As pescarias e o plano de ação................................................................................................ 91
Ações prioritárias .................................................................................................................... 94
Conclusões .............................................................................................................................. 95
Referências .............................................................................................................................. 95
Considerações finais .......................................................................................................... 98
vi
Lista de Tabelas
Capítulo 1
Tabela 1: Lista dos documentos utilizados nas análises dos programas de certificação de pescarias, contendo o título do documento e a fonte de obtenção deste. .................................4
Tabela 2. Listagem das categorias e seus respectivos requisitos obtidos a partir da análise dos programas de certificação. ...........................................................................................................8
Tabela 3. Resultado das análises de correspondência, apontando-se os Eigenvalues, a percentagem absoluta e acumulada de explicação de cada eixo. Valores em negrito apontam para as maiores forçantes positivas e negativas dentro de cada eixo de valores. .....................18
Capítulo 2
Tabela 1. Lista dos requisitos para certificação utilizados para a avaliação das pescarias.
Modificado do Capítulo 1............................................................................................................36
Tabela 2. Listagem das categorias de requisitos contidos nos programas de certificação avaliados (siglas e nomes) e o número identificador dos requisitos presentes em cada categoria seguindo a sequência da tabela 1. Adaptado do Capítulo 1.......................................................36 Tabela 3. Listagem das pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil utilizadas na avaliação
de sustentabilidade. Petrechos de pesca e recursos alvo foram adaptados da matriz de
permissionamento publicada pelo Governo Federal Brasileiro (BRASIL, 2011). Petrechos de
pesca em negrito representam aqueles avaliados com maior detalhamento no âmbito dos
estudos de caso...........................................................................................................................39
Tabela 4. Sumário das conformidades (C) e não conformidades (N) das pescarias de caranguejo
vermelho, peixe sapo, corvina e camarão rosa com os requisitos para certificação (1 à 55)
utilizados nos programas (MSC e FOS). Requisitos encontram-se agrupados por categorias.
Células marcadas em cinza com “-“ representam requisitos não utilizados por cada programa
de certificação. O percentual de conformidades em relação ao total de requisitos avaliados é
apresentado para cada pescaria e programa separadamente. ..................................................43
Tabela 5. Sumário das conformidades (em verde ou “C”) e não conformidades (em vermelho
ou “N”) das pescarias industriais do Sudeste e Sul com as categorias identificadas no Capítulo
1, estimados a partir dos resultados obtidos com os estudos de caso. .............6
Capítulo 3
Tabela 1. Plano contendo as ações prioritárias para promover a sustentabilidade nas pescarias
industriais do Sudeste e Sul do Brasil. São apresentadas as ações devidamente justificadas, os
responsáveis pela execução e a estratégia a ser utilizada para o sucesso da ação. Requisitos
vii
atingidos por cada ação também são apresentados, seguindo a listagem contida em Dias et al.
(em preparação – Ver Capítulo 2). ............................................................................................ 86
viii
Lista de Figuras
Capítulo 1 Figura 1. Representação esquemática do processo de construção da matriz global de requisitos a partir dos documentos de referência dos programas de certificação. ......................................6
Figura 2. Gráfico de radar representando o percentual de cobertura de cada categoria (vértice)
em relação a cada programa de certificação. Polígonos cinza referem-se aos programas de
certificação, enquanto as linhas pontilhadas representam as exigências contidas no CCPR-FAO
1995. Siglas presentes podem ser consultadas na tabela 3. ..................................................... 12
Figura 3. Dendrograma representando a análise de agrupamento (cluster) para os quatro
programas de certificação de pescarias além do Código da FAO para pesca responsável. Os
agrupamentos foram baseados nos requisitos comuns exigidos por cada programa. ..............17
Figura 4. Representação gráfica da análise de correspondência aplicada aos programas de
certificação além do código da FAO para a pesca responsável. Círculos verdes representam os
requisitos exigidos, enquanto que os triângulos escuros representam os programas de
certificação avaliados. Curvas representam a separação empírica dos grupos identificados.
Siglas sublinhadas em negrito identificam as categorias referentes aos principais
agrupamentos de requisitos, disponíveis para consulta no Apêndice 1. ...................................18
Capítulo 2
Figura 1. Esquema representando a estrutura do sistema de gestão das pescarias estabelecido.
Para descrição das siglas, consultar texto. .................................................................................41
Capítulo 3
Figura 1. Exemplificação da hierarquia observada nas ações contidas no plano elaborado.
Entende-se por “I.P.M.” Implementação de Planos de Manejo. ................................................83
Figura 2. Diagrama representando as ações necessárias para cada pescaria analisada. Células
marcadas em verde indicam ações as ações já realizadas ou não necessárias para cada
pescaria. Células em amarelo representam as ações necessárias cuja realização pode ser
iniciada imediatamente. Células em vermelho indicam ações necessárias, mas que dependem
de outras ações ainda não realizadas. Estas devem ser interpretadas como ações a serem
realizadas futuramente. .............................................................................................................91
ix
Resumo geral
Este trabalho teve por objetivo definir o cenário atual e estabelecer uma perspectiva para a
certificação de pescarias no Brasil tendo por base diagnósticos das pescarias industriais sul
brasileiras em relação aos requisitos utilizados pelos principais programas em atuação. Foram
identificados os requisitos utilizados nos programas Marine Stewardship Council - MSC, Friend
of the Sea - FOS, Krav e Naturland e construída uma matriz comum contendo a totalidade de
requisitos utilizados pelos programas bem como seus critérios de cumprimento. Um total de
62 requisitos (agrupados em 12 categorias) foram identificados. Os programas de certificação
apresentaram diferenças marcantes, as quais são atribuídas às características dos locais onde
se situam as pescarias alvo de cada programa. Os programas MSC e FOS apresentaram a maior
adequação com o Código de Conduta para a Pesca Responsável da FAO e a maior clareza na
apresentação dos requisitos. Estes programas foram selecionados com intuito de estabelecer
um diagnóstico de quatro pescarias diferentes (caranguejo vermelho, peixe sapo, corvina e
camarão rosa) em maior detalhamento como estudos de caso. A partir destes resultados,
cenários prováveis para as demais pescarias industriais do Sudeste e Sul foram projetados.
Quatro fatores chave contribuíram para diferentes patamares de sustentabilidade entre as
pescarias avaliadas: (1) o tipo de petrecho utilizado; (2) as áreas de pesca; (3) a existência de
planos de manejo e (4) um histórico de monitoramento por observadores embarcados. Outras
duas fontes de não conformidade com os requisitos comuns a todas as pescarias foram
identificadas: a atual estruturação do sistema de gestão pesqueira do Brasil e a ausência de
planos de manejo para os resíduos e insumos das embarcações. No entanto, por terem tido
resultado semelhante para todas as pescarias avaliadas, estas duas não contribuíram para
diferenças na possibilidade de certificação. Notou-se que as pescarias mais próximas dos
padrões de sustentabilidade foram aquelas que utilizam métodos de pesca passivos e de
pouca interação com o fundo, além das pescarias sob algum tipo de manejo. Neste cenário,
pescarias mais recentes como às direcionadas aos recursos de talude (caranguejo vermelho e
peixe sapo), além daquelas direcionadas aos atuns e afins apresentaram as maiores
conformidades com os requisitos utilizados na certificação. Pescarias tradicionais costeiras e
que utilizam métodos de pesca ativos (redes de arrasto) são atualmente as mais distantes dos
padrões de sustentabilidade. Com intuito de adequar as não conformidades observadas, foi
proposto um plano de ação baseado numa adaptação da metodologia 5W2H. Foram propostas
sete ações capazes de modificar os seis fatores geradores de não conformidades. Elenca-se
como ações prioritárias a serem realizadas pelo setor produtivo (1) a implementação de
programas independentes de monitoramento por observadores embarcados; (2) solicitar e
x
financiar de avaliações de estoque e (3) diagnósticos do bycatch. Como ação a ser realizada
pelo governo brasileiro, define-se como prioridade a (1) estruturação do sistema de gestão
previsto na legislação brasileira; (2) abrir linhas de financiamento de projetos focados na
caracterização dos ecossistemas marinhos de plataforma e talude e (3) manter programas de
avaliação dos estoques dos recursos alvo junto a instituições de pesquisa ou no próprio
governo. Por fim, conclui-se que os requisitos dos programas de certificação mostram-se
ferramentas úteis não somente para verificar o potencial para a certificação da
sustentabilidade, mas também funcionam satisfatoriamente como guias metodológicos para
elaborar planos de ação passíveis de utilização tanto por parte do setor pesqueiro quanto por
parte do governo na definição de política públicas e ações prioritárias.
Palavras-chave: Certificação de pesca; pesca industrial; requisitos para certificação.
xi
Abstract
This work aimed at establishing a general outlook for fisheries certification in Brazil, using the
environmental performance of industrial fisheries in southern Brazil relative to requirements
criteria used by the major programs in operation. A matrix was built using all the criteria used
by the Marine Stewardship Council - MSC, Friend of the Sea - FOS, Krav and Naturland
programs. A total of 62 criteria (grouped in 12 categories) were identified. The certification
programs exhibited strong differences, which were attributed to the specific characteristics
where the target fisheries are located. The MSC and FOS programs exhibited a greater
adherence to the FAO’s Code of Conduct for Responsible Fisheries, and a greater clarity when
presenting the indicators. These two programs were selected in order to diagnose four
different fisheries (red crab, monk fish, croaker and pink shrimp) in greater detail as study
cases. From these results, probable scenarios were projected for the remaining industrial
fisheries in the South and Southeast Brazilian coast. Four key factors contributed for the
different levels of sustainability among the evaluated fisheries: (1) the kind of fishery gear; (2)
the fishing areas; (3) the existence of management plans; and (4) previous monitoring by on-
board observers. Other two sources of nonconformities of the criteria common to all fisheries
were identified: the present structure of the Brazilian fisheries management system and the
absence of management plans for residues from the fishing vessels. However, since they
exhibited similar results for all evaluated fisheries, these two did not contribute to the
differences in the potentials for labeling. It was observed that the fisheries closer to the
sustainability standards were those that use passive fishing methods with low interaction with
the bottom, and those fisheries with some kind of management. In this light, more recent
fisheries such as those directed at shelf break resources (red crab and monkfish) and those
aimed at tuna and tuna-like fishes, exhibited more conformities to the analyzed indicators.
Traditional coastal fisheries that use active fishing gear (trawl nets) are at the moment the
ones further from the proposed sustainability standards. In order to adequate the observed
nonconformities, an action plan was proposed based on an adaptation of the 5W2H
methodology. Seven actions were proposed, able to change six of the factors that caused
nonconformities. The actions that should be prioritized by the productive sector should be (1)
implement independent monitoring programs by on-board observers; (2) request and fund
stock evaluations and (3) a bycatch diagnosis. As actions to be implemented by the Brazilian
government, priority should be given to (1) structuring the fishery management system
defined by Brazilian law; (2) start funding programs for projects aimed at the characterization
xii
of marine ecosystems on the shelf and shelf break and (3) maintain stock evaluation programs
for the fishery target species, together with research institutions or the government proper.
Finally, it can be concluded that the requirements criteria of the certifications programs
criteria are useful tools not only for evaluating the sustainability certification itself, but can
also be adequately used as methodological guides for structuring action plans that can be used
both by the fishery sector and the government when defining public policies and to prioritize
actions.
Key-words: Fisheries ecolabelling; crite; industrial fishery.
xiii
Prefácio
Os primeiros colapsos de estoques pesqueiros observados, já no início do século 20,
evidenciaram a necessidade da gestão adequada destes recursos. O surgimento de modelos
matemáticos para cálculos de tamanhos de estoque, esforço de pesca e estimativas de
rendimentos máximos sustentáveis apareciam como soluções para o manejo dos estoques dos
quais se tinha informação de sobre-explotação (Pauly et al., 2002 e 2005). Todavia,
expectativas de sucesso foram gradativamente sendo substituídas por novos colapsos
pesqueiros. Como reflexos dos inúmeros exemplos de fracassos das formas clássicas de gestão,
novas formas de manejo pesqueiro começaram a ganhar importância, cada qual defendida por
diferentes grupos de pesquisadores. Considerações a respeito da aplicação de quotas de
captura (Individual Transferable Quotas) (Wilen, 2006), da elaboração de áreas vetadas à pesca
(Marine Protected Areas), de abordagens ecossistêmicas da gestão pesqueira (Ecosystem
Based Fisheries Management) (Field & Francis, 2006) dentre outras formas de manejo da
atividade têm enriquecido fóruns e debates. No entanto, sua aplicação ainda se dá em escala
muito reduzida.
Num cenário de incertezas, a preocupação com o futuro da atividade pesqueira tem
promovido mudanças na sua forma de atuação e de inserção nos mercados de modo a garantir
a sua sustentabilidade ambiental e econômica (Erwann, 2009; Grafton et al., 2008; Pauly et al.,
2005; Shelton, 2009; Thrane et al., 2009). Diferentemente dos cenários observados no
passado, tais mudanças têm sido alavancadas principalmente por mudanças nos padrões de
consumo e comercialização de pescado, resultado de uma demanda crescente por produtos
provenientes de pescarias ambientalmente sustentáveis (Brécard et al.,2009; Jacquet e Pauly,
2007; Jaffry et al., 2004). A certificação ambiental de pescarias surge como principal
ferramenta nesta nova fase em que a pesca industrial têm entrado. O crescente número de
pescarias aderindo a estas estratégias de mercado refletem a tendência global de ajuste das
pescarias aos padrões de sustentabilidade exigidos por certificadoras e escolhidos pelo
consumidor.
A certificação consiste basicamente na realização de auditorias que têm por objetivo avaliar o
desempenho das pescarias em relação a uma série de padrões pré-definidos – requisitos e
seus critérios de cumprimento. Num contexto no qual este tipo de medida têm tido uma
importância crescente, a não adequação de uma pescaria aos padrões de sustentabilidade
exigidos pode resultar na perda de mercado, principalmente se esta atuar em mercados nos
xiv
quais a demanda por produtos certificados já se mostra uma realidade (Brécard et al., 2009;
Jaffry et al., 2004). Desta forma, é nítido que o aumento no número de pescarias aderindo aos
selos de sustentabilidade e a demanda já existente por produtos obtidos com baixo impacto
são fatores que tendem a expor em breve às pescarias nacionais a uma nova fronteira ainda
não conhecida na maior parte dos países em desenvolvimento.
Num cenário destes, identificar os principais padrões utilizados, os gargalos para a adequação
e estabelecer uma escala de ações prioritárias são medidas já necessárias para evitar perdas
econômicas atuais e futuras bem como para reduzir os impactos ambientais das pescarias
industriais brasileiras. Paralelamente, cenários de não adequação ou de existência de gargalos
em pontos-chave são fatores que representam o distanciamento das pescarias nacionais
frente aos padrões internacionais de sustentabilidade da atividade pesqueira. Neste sentido,
além de apontar as principais fontes potenciais de prejuízo ao setor produtivo, um diagnóstico
das pescarias frente aos padrões de certificação ambiental evidencia o grau de
sustentabilidade atual das pescarias brasileira, servindo de alerta às potenciais fontes de
prejuízo ambiental do ponto de vista dos estoques, ecossistemas e formas de gestão da
atividade.
Referências
Brécard, D.; Hlaimi, B.; Lucas, S.; Perraudeau, Y.; Salladarré, F. 2009. Determinats of demand
for reen products: An application to eco-label demand for fish in Europe. Ecological Economics,
69: 115-125.
Erwann, C. 2009. Eco-labeling: A new deal for a more durable fishery management? Ocean &
Coastal Management, 52: 250-257.
Field, J. C.; Francis, R. C. 2006. Considering ecosystem-based fisheries management in the
California Current. Marine Policy, 30: 552-569.
Grafton, R. Q.; Hilborn, R.; Ridgeway, L.; Squires, D.; Williams, M.; Garcia, S.; Groves, T.; Joseph,
J.; Kelleher, K.; Kompas, T.; Libecap, G.; Lundin, C. G.; Makino, M.; Matthiasson, T.; McLoughlin,
R.; Parma, A.; San Martin, G.; Satia, B.; Schmidt, C-C.; Tait, M. & Zang, L. X. 2008. Positioning
fisheries in a changing world. Marine Policy, 32: 630-634.
Jacquet, J. L.; Pauly, D. 2008. Trade secrets: Renaming and mislabeling of sefood. Marine
Policy, 32: 309-318.
xv
Jaffry, S.; Pickering, H.; Ghulam, Y.; Whitmarsh,D.; Wattage, P. 2004. Consumer choice for
quality and sustainability labeled seafood products in the UK. Food Policy, 29: 215-228.
Pauly, D.; Christensen, V.; Guénette, S.; Pitcher, T. J.; Sumaila, U. R.; Walters, C. J.; Watson, R.;
Zeller, D. 2002. Towards sustainability in world fisheries. Nature. 418: 689-684.
Pauly, D.; Watson, R.; Alder, J. 2005. Global trends in world fisheries: impacts on marine
ecosystems and food security. Philosophical Transactions of The Royal Society B. 360: 5-12.
Shelton, P. A. 2009. Eco-certification of sustainably management fisheries – Redundancy or
synergy? Fisheries Research, 100: 185-190.
Thrane, M.; Ziegler, F.; Sonesson, U. 2009. Eco-labeling of wild-caught seafood products.
Journal of Cleaner Production, 17: 416-423.
Wilen, J. E. 2006. Why fisheries management fails: treating symptoms rather than the cause.
Bulletin of Marine Science, 78 (3): 529-546.
xvi
Objetivos
Objetivo geral:
� Avaliar o desempenho das pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil em relação
às certificações ambientais de pescarias, propondo ações para adequação do setor
pesqueiro aos requisitos exigidos.
Objetivos específicos
• Levantar e analisar os principais programas de certificação ambiental de pescarias;
• Propor um modelo de avaliação do setor pesqueiro com base nos requisitos dos
programas de certificação avaliados;
• Avaliar, com base em fontes secundárias, o nível de atendimento do setor pesqueiro
aos requisitos dos programas de certificação.
• Identificar e propor as ações prioritárias para adequação do setor pesqueiro aos
requisitos de sustentabilidade utilizados nos programas de certificação de pescarias.
1
Capítulo 1 – Uma análise dos programas de certificação ambiental de
pescarias através de seus requisitos
Resumo
Selos de certificação de pescarias são ferramentas para auxiliar o consumidor na diferenciação de pescados provenientes de pescarias de baixo impacto. Baseiam-se na verificação do grau de atendimento das pescarias a uma série de padrões (requisitos) pré-estabelecidos. Contudo, variações entre os requisitos utilizados por diferentes programas tendem a gerar conseqüências negativas tanto para as indústrias quanto para os consumidores. Este trabalho analisou criticamente quatro programas de certificação de pescarias – MSC; FOS; Naturland e Krav – através dos seus requisitos para certificação, fornecendo uma análise comparativa dos programas bem como o alinhamento destes com as diretrizes da FAO para a pesca responsável. Um total de 62 requisitos foram levantados e agrupados em 12 categorias. Os programas da MSC e FOS mostraram-se os mais completos e de maior conformidade com a FAO, abordando categorias associados aos estoques, sistemas de gestão e impactos da pesca nos ecossistemas. Os programas da Naturland e Krav focam basicamente categorias da área social e de produção de resíduos, respectivamente. Identificou-se diferenças entre as formas de apresentação dos requisitos, fato que prejudica a compreensão e comparação dos padrões adotados pelos programas. Discute-se ainda que as diferenças entre a abordagem oferecida a cada categoria são reflexos das fragilidades e necessidades existentes na região de origem das pescarias-alvo destes programas. Desta forma, as diferenças entre os programas podem ser vistas como estratégias para ocupação de diferentes nichos de mercado para a certificação de pescarias, gerando consequências ao consumidor, indústria e ao próprio selo.
Palavras-chave: Certificação de pesca; requisitos; ecolabelling
Introdução
Os selos de certificação ambiental para pescarias têm se tornado ferramentas cada vez mais
populares no direcionamento da escolha dos consumidores no momento da aquisição de
pescado, promovendo produtos provenientes de pescarias de baixo impacto ao ambiente
(Erwann, 2009). Sua atuação consiste principalmente na diferenciação dos produtos
certificados em relação aos não certificados, fornecendo um “atestado” de que o produto com
a marca do programa é proveniente de uma pescaria bem manejada (Erwann, 2009; FAO,
2005; Philips et al., 2003; Shelton, 2009; Thrane et al., 2009). Informando-se a existência de
produtos de baixo impacto ambiental, deixa-se a critério do consumidor a opção por um
produto em detrimento a outro. A capacidade de direcionar as opções de consumo em
determinados mercados é tal que este tipo de ação tem sido relatado como uma terceira
geração de instrumentos de gestão dos recursos pesqueiros, na qual a noção da
responsabilidade civil no co-manejo das pescarias é explicitamente introduzida e divulgada ao
2
público-alvo, favorecendo diretamente as pescarias sustentáveis e bem manejadas (Erwan,
2009).
A exemplo de outros tipos de selos como os de alimentos orgânicos ou as séries ISO, a
certificação de pescarias baseia-se no princípio do “selo de aprovação”, no qual um
determinado produto recebe o selo de um programa ao atender satisfatoriamente uma série
de exigências contidas dentro de indicadores de performance (requisitos) pré-definidos por
este (Kaiser e Edwards-Jones, 2005). A certificação de uma pescaria é de caráter voluntário,
cabendo à empresa ou organização solicitar adesão ao programa desejado (Deere, 1999; FAO,
2005). De maneira geral, existem basicamente dois tipos de selos de certificação de pescarias,
sendo (a) os selos monocriteriosos, os quais avaliam somente um aspecto de uma pescaria
(e.g. Dolphin Safe) e (b) os selos multicriteriosos, que avaliam de maneira mais ampla os
impactos de uma pescaria sobre os estoques, ecossistemas e sociedade (e.g. Friend of the Sea -
FOS e Marine Stewardship Council - MSC).
Dentre os selos multicriteriosos para certificação de pescarias, destacam-se o MSC, FOS,
Naturland e o Krav-ecolabel, os quais apesar de diferirem nas áreas de abrangência e número
de pescarias certificadas, têm sido os mais difundidos mundialmente sendo também os mais
discutidos na literatura (Parkes et al., 2010; Sainsbury, 2010; Thrane et al., 2009). Destes, o
programa da MSC mostra-se o de maior adesão, com mais de 100 pescarias já certificadas,
seguido pelo FOS, com cerca de 30 pescarias certificadas, ambos os esquemas com
abrangência global (FOS, 2011; MSC, 2011; Sainsbury, 2010). Os programas Krav e Naturland
ainda não apresentam a mesma amplitude, com quatro e uma pescarias certificadas
respectivamente, sendo estas restritas à Escandinávia e Tanzânia (Leste Africano) (Sainsbury,
2010; Thrane et al., 2009).
Mesmo compartilhando a ideologia comum de “incentivo às pescarias sustentáveis”, os
programas de certificação diferenciam-se em grande parte pelos princípios que embasam os
seus conceitos de sustentabilidade bem como pela maneira como a sustentabilidade das
pescarias é atestada, reflexo dos diferentes requisitos utilizados e das metodologias de
avaliação empregadas (Parkes et al., 2010; Sainsbury, 2010). Como exemplo, programas de
certificação podem compartilhar princípios comuns (e.g. estoques em níveis seguros de
explotação) ou possuir princípios específicos (e.g. redução das emissões de carbono). As
mesmas diferenças se aplicam aos requisitos utilizados por cada programa, os quais muitas
vezes apresentam diferentes critérios de cumprimento mesmo que para avaliar princípios
3
comuns (Parkes et al., 2010). Com intuito de nortear os padrões adotados pelos programas,
uma lista de critérios mínimos a serem considerados pelos esquemas de certificação foi
publicada pela FAO (FAO, 2005) com base nas suas diretrizes para a pesca sustentável (FAO,
1995). Todavia, diferenças marcantes entre os programas ainda podem ser facilmente
observadas, em geral associadas aos princípios abordados por cada um bem como pelas
diferentes metodologias de avaliação utilizadas (Accenture, 2009; Parkes et al., 2010;
Sainsbury, 2010; Thrane et al., 2009).
A importância crescente dos selos de certificação na produção e comércio mundial de pescado
associada às já conhecidas discrepâncias entre os diferentes programas aumentam a
necessidade de análise, compreensão e avaliação dos esquemas de certificação de pescarias
em atuação. Como reflexo deste processo, nota-se consecutivas avaliações destes programas
sendo publicadas recentemente (Accenture, 2009; Parkes et al., 2010; Sainsbury, 2010; Thrane
et al., 2009). Contudo, nota-se nas avaliações publicadas uma carência de análises
comparativas que permitam avaliar de maneira aprofundada as diferenças e semelhanças
entre os esquemas de certificação considerando cada requisito como critério de avaliação.
Este tipo de análise tende a propiciar uma compreensão mais aprofundada sobre os esquemas
de certificação, pois além de permitir avaliar os princípios abordados por cada programa, torna
possível verificar a coerência dos princípios abordados com os requisitos utilizados. Este tipo
de análise permite também verificar o aprofundamento e relevância dada pelos programas aos
princípios que o fundamentam, tema este de extrema relevância tanto para o consumidor
quanto para o setor produtivo (Kuminoff et al., 2009).
Neste sentido, este trabalho preenche esta lacuna, aportando uma análise detalhada dos
principais programas de certificação ambiental de pescarias em atuação avaliando cada
programa em relação aos seus princípios considerados, aos requisitos utilizados e o
alinhamento destes com as diretrizes da FAO para a pesca sustentável.
Metodologia
A partir de uma revisão na qual foram consideradas a atuação e a projeção dos programas de
certificação, foram selecionados os quatro programas não governamentais e multicriteriosos
de maior expressão internacionalmente, sendo estes o MSC; FOS; Naturland e Krav-ecolabel. A
escolha destes programas deu-se em razão destes (a) possuírem seus critérios de certificação
disponíveis publicamente; (b) por serem os de maior aceitação e utilização em nível global
além de (c) figurarem como os mais debatidos na literatura, o que facilitaria comparações
entre os resultados deste estudo com trabalhos semelhantes já publicados (e.g. Parkes et al.,
4
2010; Sainsbury, 2010). Guias de consumo, por não serem caracterizados como selos de
certificação (Parkes et al., 2010), foram desconsiderados neste estudo. Selos monocriteriosos,
por avaliarem somente aspectos pontuais de uma pescaria, também foram desconsiderados.
Os documentos contendo a descrição dos princípios e critérios exigidos foram obtidos nas
páginas virtuais dos programas, e serviram como documentos-base para a análise de cada
programa separadamente (Tabela 1). Para fins de comparação com as diretrizes da FAO para a
pesca sustentável, foram utilizados como critérios de referência os capítulos 6 a 8 do Código
de Conduta da Pesca Responsável (CCPR/FAO) os quais estabelecem as diretrizes necessárias
para assegurar a sustentabilidade das pescarias (FAO, 1995). A preferência por considerar o
CCPR/FAO em detrimento ao “Guidelines for the Ecolabelling of Fishery Products From
Captured Fisheries” (FAO, 2005) justifica-se pelo fato da maioria dos critérios mínimos
indicados nos Guidelines for ecolabelling estarem baseados no CCPR/FAO. Apenas aspectos
institucionais e estruturais dos programas de certificação aparecem em maior detalhamento
neste último documento. Contudo, tais aspectos fogem ao escopo deste trabalho.
Tabela 1. Lista dos documentos utilizados nas análises dos programas de certificação de pescarias, contendo o título do documento e a fonte de obtenção deste.
Programa de certificação
Documento utilizado Fonte
MSC
Fisheries Assessment Methodology and Guidance
to Certification Bodies – Version 2 – July 2009
http://www.msc.org/documents/scheme-documents/methodologies
FOS
Friend Of The Sea Certification Criteria
Checklist For Wild Catch Fisheries –May 2010
http://www.friendofthesea.org/download.asp
Naturland
Naturland Standards for Sustainable Capture
Fisheries http://www.naturland.de/standards.html#c1856
Krav-ecolabel Krav standards Chapter 17 http://www.krav.se/KravsRegler/10/
Os documentos selecionados foram analisados através dos requisitos que os compõem,
tomando como nível de referência as exigências mínimas de cada programa. Tal procedimento
teve por objetivo considerar as mínimas exigências dos programas avaliando-se cada requisito
isoladamente. Neste processo, foram avaliadas dentro da MSC todas as exigências contidas no
5
Score 60 (SG 60) do documento de referência – Score mínimo a ser atribuído a um requisito
sem que este inviabilize instantaneamente a pescaria de certificar-se (MSC, 2009). O mesmo
princípio foi adotado para o FOS, no qual o check-list analisado apresenta requisitos
classificados como “essenciais”, “importantes” e “recomendados”, sendo as duas primeiras
classes essenciais à certificação. De maneira similar, somente estas duas classes de requisitos
foram consideradas (FOS, 2010). Para os programas Krav e Naturland, é fornecida somente
descrição textual dos requisitos utilizados, sem menção às formas de avaliação e nem mesmo
uma escala de referência ou classificação destes (Naturland, 2010; Krav, 2011). Desta forma,
todos os requisitos relacionados às pescarias descritos nestes documentos foram
considerados.
Todos os documentos de referência dos quatro programas passaram por uma análise prévia de
modo a verificar o seu grau de clareza e detalhamento na apresentação dos requisitos
utilizados por cada um. Posteriormente, foi construída uma matriz comum contendo o
universo de todos os requisitos identificados nos quatro programas de certificação além das
diretrizes encontradas no CCPR/FAO. A matriz de requisitos foi criada a partir de um processo
iterativo no qual (i) selecionou-se o programa de maior clareza e detalhamento; (ii) analisou-se
detalhadamente cada requisito apresentado no documento de referência deste programa; (iii)
descreveu-se de maneira genérica os requisitos encontrados, inserindo-os numa matriz
temporária; (iv) selecionou-se o segundo programa, analisando seu documento de referência
contra a matriz temporária, de forma a identificar (v) a existência de requisitos presentes no
programa já descritos na matriz pré-existente bem como (vi) a necessidade de inserir novos
requisitos à matriz, fruto de um novo critério abordado pelo programa não encontrado no
anterior (Figura 1). A construção da matriz de requisitos considerou inicialmente o programa
MSC, seguido pela FOS, Naturland e Krav como ordem de avaliação dos documentos. O Código
de Conduta da FAO (FAO, 1995) foi inserido por último na matriz seguindo estratégia similar,
porém adotou-se como requisitos da FAO as diretrizes contidas em cada parágrafo dos
capítulos 6 à 8 do documento.
Considerando que os programas de certificação diferiam no grau de abrangência de um
requisito em comparação à descrição da matriz global, elaborou-se neste processo uma escala
de valores, classificando cada requisito a partir da forma como este fora apresentado, sendo:
forma implícita (1); parcial (2) ou explícita (3) no documento de referência. Este procedimento
teve por objetivo gerar uma escala de clareza na forma como cada requisito é apresentado
dentro de cada programa.
6
Figura 1. Representação esquemática do processo de construção da matriz global de requisitos a partir dos documentos de referência dos programas de certificação.
Desta maneira formou-se uma matriz M(i,j), na qual “i“ representa o número de requisitos
identificados e “j” as colunas referentes aos programas de certificação. Nesta matriz, uma
célula “A(i,j)” foi preenchida com “-“,1,2 ou 3 seguindo a escala de clareza de um requisito “i”
apresentado pela certificadora “j”, sendo que a classe “-“ corresponde à um requisito não
exigido (ver Apêndice 1).
7
Na matriz global, requisitos similares foram classificados de acordo com a natureza de suas
exigências e posteriormente agrupados na forma de categorias. A comparação entre os
programas de certificação foi realizada por categorias e por requisitos individualmente. Nas
análises comparativas por categoria, as certificações foram comparadas através do percentual
de cobertura de cada categoria, conforme a equação 1.
Equação (1) 100*,
,
A
BA
BA
N
nP = com 0 ≤ PA,B ≤ 100
onde: PA,B representa o percentual de cobertura da categoria “A” pelo programa “B”; nA,B
representa o número de requisitos exigidos pelo programa “B” dentro da categoria “A” e NA
refere-se ao número total de requisitos que compõe a categoria “A”. O objetivo desta análise
consistiu na verificação do detalhamento dados por cada programa a cada categoria
identificada.
As análises considerando os critérios individualmente foram realizadas com intuito de verificar
a existência de similaridades entre os programas bem como identificar os critérios
responsáveis pelas similaridades identificadas. Para tal, uma análise de agrupamento (Cluster)
com as certificadoras entrando como amostras e os critérios como variáveis foi realizada sobre
a matriz global de critérios modificada na forma de presença/ausência, inserindo-se valores de
0 e 1 para os critérios ausentes e presentes nos documentos de referência, respectivamente.
Nesta matriz foram desconsiderados os níveis de exigência de cada critério (escala de 1 a 3), de
maneira que qualquer critério exigido foi identificado como presente (1) independente do seu
nível de exigência. Para a criação da matriz de distância utilizou-se o método de Jaccard, por
ser o mais indicado para dados de presença e ausência e também por desconsiderar duplas
ausências nos cálculos de distância. O método de agrupamento utilizado foi o Complete
linkage, o qual considera as maiores distâncias entre os grupos (Clarke e Warwick, 1997). Para
identificar quais critérios foram os responsáveis pela formação dos agrupamentos, foi
realizada uma análise de correspondência sobre a mesma matriz de presença e ausência.
Por fim, uma descrição dos programas de certificação foi realizada tomando como base os
resultados obtidos nas etapas anteriores bem como o nível de aprofundamento dos programas
nos requisitos e categorias identificadas, consultando-se a matriz global contendo os níveis de
exigência. Um paralelo com os próprios documentos de referência e o histórico dos programas
foi elaborado.
8
Resultados
A matriz global de requisitos criada a partir dos documentos de referência dos programas de
certificação foi composta por 62 diferentes requisitos. De acordo com a natureza de suas
exigências, estes requisitos foram categorizados em 12 categorias distintas (Tabela 2). A maior
parte das categorias criadas possuiu de 4 a 5 requisitos cada, apesar de categorias como
“Estrutura e princípios do sistema de gestão – EPSG” e “Conformidade com a legislação - CLE”
terem tido 9 e 1 requisitos cada, respectivamente (Tabela 2).
Por apresentar um maior número de requisitos, uma maior clareza na descrição destes bem
como a melhor organização e estruturação do documento de referência, a matriz de requisitos
criada com base nos quatro programas assemelhou-se em grande parte à estrutura do
documento de referência da MSC – primeiro programa a ser inserido na matriz. Tal
semelhança apareceu como resultado do processo iterativo de leitura dos documentos de
referência e de inserção dos requisitos na matriz global. Programas com maior número de
requisitos e com organização mais clara tenderam a puxar a formação da matriz global para
uma maior semelhança desta com seu documento de referência. Este fato torna-se nítido
quando nota-se que a maior parte das categorias criadas na matriz criada seguiu uma
estruturação formada por um requisito focando (1) um diagnóstico/avaliação do assunto
abordado na categoria (e.g. Descartes), outro associado às (2) medidas e estratégias existentes
para o manejo desta categoria e (3) uma verificação/monitoramento da categoria. Este
padrão, conforme mencionado, assemelha-se em grande parte ao identificado no documento
de referência da MSC. Requisitos e categorias adicionais foram incluídos na matriz, sendo estes
em geral formados por aspectos não abordados pela MSC.
Tabela 2. Listagem das categorias e seus respectivos requisitos obtidos a partir da análise dos programas de certificação.
Categorias Número de requisitos
CSE Considerações sobre o estoque 5 EEX Estratégias de explotação 4 FAC Fauna acompanhante (by-catch aproveitado) 4 DES Descartes 7 CEC Captura de espécies críticas 3 IHE Impactos sobre o hábitat e ecossistema 6 IPR Insumos e produção de resíduos 4 FGE Ferramentas de gestão 6 CLE Conformidade com a legislação 1
EPSG Estrutura e princípios do sistema de gestão 9 PSG Políticas do sistema de gestão 5 COS Considerações sociais 8
Total 62
9
Caracterização dos programas: requisitos e categorias como critérios de análise
Marine Stewardship Council - MSC
O programa da MSC cobriu 10 das 12 categorias identificadas, sendo que em 8 destas mais da
metade dos requisitos levantados na matriz global estiveram presentes no documento de
referência do programa (Figura 1). Categorias relacionadas aos estoques-alvo (“Considerações
sobre o estoque” – CSE e “Estratégias de explotação”- EEX), aos impactos da pesca (“Fauna
acompanhante” - FAC, “Captura de espécies críticas” - CEC, “Impactos no hábitat e
ecossistema” – IHE) bem como associados ao sistema de gestão (“Conformidade com a
legislação” - CLE e “Estrutura e princípios do sistema de gestão” – EPSG) tiveram ao menos
75% dos requisitos da matriz presentes nos documentos de referência do programa (Figura 2).
De uma maneira geral, os requisitos presentes no programa da MSC encontram-se
segmentados em três grandes princípios: (1) status das espécies-alvo; (2) status das demais
espécies, habitats e ecossistemas impactados pela pesca e (3) eficiência do sistema de gestão
da pescaria (Phillips et al., 2003; MSC, 2009). As coberturas satisfatórias de categorias
relacionadas aos estoques, aos impactos da pesca e ao sistema de gestão identificados neste
trabalho evidenciam a consistência dos requisitos utilizados no programa da MSC com os
princípios que o fundamentam. Tal alinhamento mostra que os padrões estabelecidos através
dos requisitos refletem os objetivos do programa de certificação. As diretrizes da FAO para o
estabelecimento de padrões em selos de certificação de pesca apontam que deve haver
coerência entre os objetivos do programa e os requisitos utilizados na avaliação das pescarias.
Tal fato indica o atendimento da MSC em relação a estas diretrizes (FAO, 2005).
Contudo, notou-se que categorias como “Insumos e produção de resíduos” - IPR e
“Considerações sociais” - COS não são sequer abordados pelo programa (Figura 2). Apesar de
ambas as categorias não aparecerem nos critérios mínimos a serem considerados pelos
programas de certificação (FAO, 2005), desconsiderar atributos sociais e éticos bem como
aspectos relacionados à produção de resíduos ou a emissão de gases-estufa emergem como as
principais fragilidades do programa.
A ausência da dimensão social e ética nos padrões estabelecidos pelo programa também foi
registrada em duas avaliações pretéritas (Accenture, 2009; Parkes et al., 2010), ressaltando
estes como sendo os pontos de maior distanciamento da MSC em relação aos demais
programas. Tal fragilidade ainda não apresentou maiores repercussões em virtude da
concentração das pescarias cerificadas em países Europeus e Norte Americanos. Contudo, a
10
tendência de aumento no número de pescarias certificadas em países em desenvolvimento
(Perez e Ramirez, 2012) – nos os quais aspectos sociais e éticos das relações trabalhistas ainda
não são totalmente assegurados pelo estado – deve trazer a tona o debate sobre a inclusão
destes padrões no programa da MSC (Accenture, 2009). Já os aspectos relacionados à
produção de resíduos sólidos, emissão de gases estufa e CFCs deveriam possuir requisitos
específicos dentro do programa da MSC, visto não se tratar de problemas restritos aos países
em desenvolvimento. Contudo, tais aspectos ainda carecem de abordagem pela MSC.
O programa da MSC apresentou conformidade com o CCPR/FAO em categorias como
“Estratégias de explotação” - EEX e “Estrutura e princípios do sistema de gestão” – EPSG.
Considerando o CCPR/FAO como um documento fornecedor de diretrizes e critérios gerais
para que os Estados implementem um quadro institucional e legal para a gestão pesqueira
(FAO, 1995), o alinhamento dos critérios contidos no documento de referência com o Código
da FAO indica que aspectos legais e institucionais são abordados pelo programa de maneira
satisfatória. Categorias relacionadas aos estoques (CSE), by-catch (FAC e CEC), descartes (DES)
e impactos ao ecossistema (IHE) são cobertos pela MSC de forma ainda mais detalhada do que
a relatada pela FAO no CCPR. Este maior detalhamento podia ser esperado, já que o CCPR/FAO
foca mais em aspectos institucionais para a implementação de uma gestão eficiente. Neste
sentido, aspectos mais específicos como avaliação de impactos tendem a aparecer em menor
detalhamento no CCPR/FAO. Por outro lado, os aspectos relacionados à produção de resíduos
(IPR), às políticas e ferramentas de gestão (PSG e FGE) e às considerações sociais (COS) –
apectos presentes no Código da FAO – são abordados em menor detalhamento,
representando discrepâncias do programa em relação às diretrizes da FAO, demandando uma
revisão nestas categorias (Figura 2).
Ao atribuir valores aos requisitos identificados na matriz global, pôde-se identificar o grau de
clareza com que os programas de certificação apresentaram seus padrões e o alinhamento
destes com a descrição presente na matriz. Praticamente todos os requisitos presentes no
programa da MSC apareceram de forma explícita, o que aponta o atendimento integral destes
à descrição apresentada na matriz global. Considerando que o sucesso dos selos de
certificação baseia-se na confiança do mercado consumidor e na compreensão do setor
produtivo sobre os critérios a serem avaliados (Erwann, 2009), a adoção de padrões claros,
precisos e coerentes são aspectos fundamentais na manutenção da credibilidade dos
programas, pontos que o programa da MSC atende de forma satisfatória para os três
princípios que o fundamentam.
11
Friend of the Sea - FOS
Assim como observado para a MSC, o programa FOS apresentou requisitos em 10 das 12
categorias identificadas. Categorias relacionadas aos estoques alvo (CSE) às capturas de
espécies não-alvo (FAC, DES, CEC), à produção de resíduos (IPR), às ferramentas do sistema de
gestão (FGE) e aspectos sociais (COS) foram abordadas com elevado número de requisitos,
evidenciando o detalhamento dado pelo programa à estes aspectos (Figura 2). Por outro lado,
categorias de grande relevância para assegurar a gestão segura de uma pescaria, como
aquelas relacionadas aos princípios e políticas dos sistemas de gestão (EPSG e PSG) bem como
às estratégias de explotação (EEX) não são abordados pelo programa, emergindo como
fragilidades da FOS.
Enquanto a MSC adota em seu documento de referência o sistema de Scores para apresentar
seus padrões e verificá-los quanto à conformidade, a FOS faz uso de um sistema de check-list
para descrição e verificação de cumprimento aos requisitos utilizados pelo programa (MSC,
2009; FOS, 2011). Apesar dos padrões descritos na forma de check-list apresentarem-se de
maneira mais direta – sendo possível em parte deles verificar rapidamente a presença de
requisitos quantitativos e qualitativos – este tipo de abordagem torna mais complexa a
inserção de aspectos subjetivos e conceituais dentro de requisitos precisos. Como exemplo,
nota-se que a avaliação de uma metodologia de monitoramento de descartes raramente
obedece a uma escala de duas categorias (conformidade / não conformidade), mas sim uma
escala gradual na qual a confiabilidade sobre a metodologia cresce à medida que a
metodologia mostra-se mais adequada e mais próxima do ideal. Nestes casos, uma avaliação
através do sistema de Scores parece mais adequada, tendo em vista que é capaz de identificar
o quão confiável é a metodologia utilizada. Talvez por este motivo, categorias relevantes,
porém naturalmente conceituais (e.g. EPSG, EEX, PSG,) não tenham sido abordados pelo
programa. Estas categorias foram responsáveis também pela maior discrepância do programa
em relação às diretrizes do CCPR/FAO (Figura 2).
12
Figura 2. Gráfico de radar representando o percentual de cobertura de cada categoria (vértice) em relação a cada programa de certificação. Polígonos cinza referem-se aos programas de certificação, enquanto as linhas pontilhadas representam as exigências contidas no CCPR-FAO 1995. As siglas presentes podem ser consultadas na tabela 3.
A forma de estruturação do documento de referência da FOS favoreceu uma cobertura
satisfatória de categorias mais facilmente inseridas dentro de um check-list, tais como o estado
dos estoques, by-catch, ferramentas de gestão e manejo de resíduos. Os requisitos presentes
nestas categorias caracterizaram-se pela utilização de ferramentas simples e diretas para a
verificação de conformidade, característica positiva do programa (Sainsbury, 2010). Requisitos
quantitativos estiveram presentes em categorias nas quais uma avaliação numérica mostrava-
se possível (e.g. diagnóstico dos estoques, restrições ao volume de descartes e quantificação
do consumo de combustíveis). Requisitos qualitativos em geral apareceram na forma de
avaliações de presença e ausência (Conformidade / Não conformidade), fazendo uso de
ferramentas simples para auditoria (e.g. registro das embarcações, minimização da produção
de resíduos).
13
Conforme o esperado, a estruturação do documento de referência do programa na forma de
check-list fez com que a maioria dos requisitos presentes atendesse de maneira explícita aos
seus critérios de cumprimento presentes na matriz, evidenciando a clareza do programa na
apresentação dos padrões. Contudo, a descrição sucinta com que determinados requisitos são
mostrados resultou também na necessidade de gerar interpretações sobre a sua real
abrangência. Nestes casos, notaram-se requisitos no check-list da FOS que atendiam de forma
explicita a certos critérios de cumprimento da matriz enquanto paralelamente atendiam
implicitamente aos critérios de cumprimento de outros requisitos. Um exemplo claro deste
tipo de problema foi encontrado no requisito de número 5.4 do check-list do programa.
Descrito como “The fishery has a by-catch reporting methodology that is accountable”, o
critério atendeu explicitamente ao requisito de número 13 da matriz (ver Apêndice 1).
Paralelamente, pôde-se interpretar que informações adequadas para o by-catch estariam
disponíveis (requisito de número 12) em decorrência de uma metodologia confiável de
registro. Contudo, neste último caso este foi inserido como implícito no documento.
Naturland
Diferindo dos dois programas anteriores, a Naturland apresenta seu documento de referência
com os padrões descritos numa forma textual, não deixando clara a forma de avaliação
empregada (check-list ou Scores), os requisitos exigidos nem os seus critérios de cumprimento.
De acordo com a Naturland, a seleção dos requisitos é feita de maneira interativa entre o
programa e a pescaria avaliada através de verificações in situ das condições locais, avaliando-
se a necessidade de construção e adaptação de diferentes padrões a cada caso (Naturland,
2010; Sainsbury, 2010; Parkes et al., 2010). Considerando a inexistência de requisitos claros
pré-estabelecidos, a inserção do programa na matriz global foi resultado de um processo de
interpretação textual do documento de referência e posterior alocação destes dentro da
matriz.
O programa da Naturland para certificação de pescarias foi o que apresentou o maior número
de categorias abordadas, possuindo requisitos em 11 das 12 categorias identificadas. Apesar
desta cobertura aparentemente ampla, a maior parte das categorias foi abordada com um
reduzido detalhamento. Nestes casos, notou-se que menos de metade do total de requisitos
identificados na matriz global foram encontrados no documento de referência da Naturland.
Aspectos de alta relevância para a explotação segura dos estoques pesqueiros, tais como os
relacionados aos estoques (CSE), ao by-catch (FAC, DES e CEC) e ao sistema de gestão (EPSG)
são apenas tangenciados pelo programa em seu documento (Figura 2). As maiores
14
discrepâncias do programa em relação às diretrizes para pesca sustentável (FAO, 1995) situam-
se em categorias associadas ao sistema de gestão (EPSG e PSG), à produção de resíduos (IPR) e
às estratégias de explotação dos recursos pesqueiros (EEX) (Figura 2).
A não padronização prévia dos requisitos e de seus critérios de cumprimento observada no
programa resultou em descrições genéricas, de modo a viabilizar sua adaptação às
necessidades locais de cada certificação. Como resultado, a já mencionada carência de
requisitos em número suficiente para avaliar aspectos de alta relevância foi ainda acentuada
por uma apresentação implícita e pouco clara destes em comparação às descrições
encontradas na matriz global. Requisitos no documento da Naturland que atenderam apenas
parcialmente aos respectivos critérios de cumprimento presentes na matriz também foram
comuns. Neste sentido, a menos que requisitos mais precisos e claros sejam formulados
durante o processo de certificação, o programa da Naturland apresenta sérias discrepâncias
com as diretrizes da FAO (FAO, 2005), não atendendo nem mesmo aos mínimos critérios
necessários para a certificação de pescarias.
Por outro lado, notaram-se categorias que foram abordadas de maneira satisfatória pelo
programa. Assim como já registrado em avaliações anteriores, o foco do programa parece
estar direcionado para questões relacionadas à responsabilidade social (Accenture, 2009;
Parkes et al., 2010; Sainsbury, 2010). Dentre todos os programas, a Naturland apresentou a
mais detalhada cobertura da categoria relacionada aos aspectos sociais da pescaria, possuindo
7 requisitos diferentes para avaliar o desempenho da pescaria, sendo considerados desde
princípios como “igualdade de oportunidades“ até mesmo a existência de assistência médica
para funcionários das empresas (ver Apêndice 1). Da mesma forma que se pôde atribuir a
ausência de considerações sociais no programa da MSC à concentração das certificações em
países desenvolvidos, a atenção especial dada pela Naturland a estas questões parece possuir
relação direta com as pescarias-alvo do programa, que até o presente momento certificou
somente pescarias de países subdesenvolvidos. Todas as quatro pescarias certificadas pelo
programa situam-se na Tanzânia, país de baixo índice de desenvolvimento humano onde
aspectos sociais tendem a ganhar importância (Naturland, 2011).
Krav-ecolabel
Dentre os quatro programas avaliados, a Krav foi aquele que abordou o menor número de
categorias identificadas, com requisitos em 9 das 12 categorias formadoras da matriz global.
Foi também o programa com o menor número total de requisitos na matriz, possuindo em seu
15
documento apenas 18 dos 62 requisitos totais levantados (ver Apêndice 1). Como reflexo
deste baixo número de requisitos, apenas 5 das 9 categorias abordadas pelo programa (CSE,
CEC, IPR, FGE e CLE) apresentaram cobertura maior que 50 % em relação ao número total de
requisitos da categoria (Figura 2). Aspectos associados ao sistema de gestão (categorias EPSG e
PSG) foram abordados de maneira superficial pelo programa, enquanto outras categorias
relevantes como as “Estratégias de explotação” e “Impactos no habitat e ecossistema” não
apresentaram nenhum requisito no documento de referência do programa. Categorias não
abordadas ou abordadas de maneira pouco detalhada e superficial (EEX, FGE, EPSG e PSG),
apareceram como as maiores discrepâncias do programa em relação às diretrizes do
CCPR/FAO (Figura 2).
O programa da Krav – juntamente com a FOS – apresentou a mais detalhada cobertura de
aspectos relacionados aos insumos e a produção de resíduos (IPR), possuindo um grande
número de requisitos específicos para avaliar a emissão de poluentes na atmosfera e na água.
Já em relação aos aspectos sociais, um único requisito específico para avaliar a capacitação da
tripulação e o conhecimento desta em relação aos dos padrões da Krav tangenciou a categoria
“Considerações Sociais”. Assim como observado para a MSC, a não consideração de questões
sociais mostra-se um reflexo do grau de desenvolvimento dos países-alvo do programa, sendo
neste caso países da Escandinávia (Accenture, 2009). De maneira similar, a adoção de
requisitos detalhados para a produção e dispersão de resíduos reflete a preocupação da UE
com este tipo de problema.
Praticamente todos os programas de certificação avaliados apresentaram de maneira explícita
requisitos para restringir a utilização de determinados equipamentos bem como para
promover a utilização das melhores tecnologias existentes. Contudo, o programa da Krav
apresenta em seu documento de referência uma série de restrições e recomendações
direcionadas a diferentes petrechos de pesca que, apesar de não terem sido robustos o
suficiente para descrevê-los como requisitos separados na matriz, representam parte
considerável dos padrões utilizados pelo programa. Desta forma, nota-se o foco do programa
em avaliar também aspectos operacionais de pescarias, com requisitos específicos para avaliar
o desempenho de cada arte de pesca separadamente (e.g. arrasto de fundo, armadilhas, redes
de emalhar e long-lines) (Krav, 2011).
16
Similaridade dos programas
Uma análise de similaridade foi aplicada sobre a matriz global agrupando-se programas de
certificação com base nos requisitos utilizados por cada um. Esta análise permitiu a
identificação de duas associações distintas. A primeira associação foi formada entre o
programa da MSC e o Código da FAO, evidenciando o maior alinhamento do programa com as
diretrizes contidas no documento da FAO. Um segundo par foi formado entre o programa da
FOS e a Krav. O programa da Naturland permaneceu isolado no dendrograma, evidenciando as
diferenças já citadas deste programa em relação aos demais (Figura 3).
A análise de correspondência corroborou os resultados visualizados nos dendrogramas. Por
explicarem praticamente 67 % da variabilidade da matriz, apenas os eixos 1 e 2 da análise de
correspondência foram demonstrados graficamente (Tabela 3). Considerando somente estes
dois eixos, percebe-se que a proximidade entre o programa da MSC e o CCPR/FAO decorre
basicamente de requisitos comuns pertencentes às categorias que avaliam o desempenho do
sistema de gestão das pescarias (EPSG e PSG). Os requisitos para avaliar os impactos da pesca
no hábitat e ecossistema (incluídos na categoria IHE), além daqueles para avaliar as estratégias
de explotação dos estoques alvo (EEX) apareceram como os principais responsáveis pela
separação da MSC dos demais programas (Figura 4).
Os programas da Naturland e da Krav mantiveram-se opostos espacialmente, sendo puxados
por requisitos ligados aos aspectos sociais das pescarias (COS) e aos insumos e à produção de
resíduos (IPR), respectivamente. Tal oposição torna evidente o foco de cada programa, sendo
utilizados requisitos específicos para avaliar detalhadamente os aspectos de maior relevância
nos locais de atuação destes programas. Requisitos comuns entre estes programas foram
raros, caracterizando-os como altamente específicos (Figura 4).
O programa da FOS manteve-se no meio termo entre todos os demais programas. Por
apresentar requisitos relacionados tanto aos aspectos sociais, quanto aos insumos e à
produção de resíduos, a FOS situou-se praticamente equidistante entre a Naturland e Krav.
Requisitos relacionados aos estoques alvo e às ferramentas para gestão – situados no centro
do gráfico – mantiveram o programa relativamente próximo da MSC. No entanto, diferenças
entre estes dois programas foram observadas em decorrência dos requisitos relacionados às
estratégias de explotação (EEX), descartes (DES) e à avaliação do sistema de gestão (PSG e
EPSG). Todos estes aspectos são avaliados pela MSC com um maior detalhamento (Figura 4).
17
Figura 3. Dendrograma representando a análise de agrupamento (cluster) para os quatro
programas de certificação de pescarias além do Código da FAO para pesca responsável. Os
agrupamentos foram baseados nos requisitos comuns exigidos por cada programa.
18
Figura 4. Representação gráfica da análise de correspondência aplicada aos programas de
certificação além do código da FAO para a pesca responsável. Círculos verdes representam os
requisitos exigidos, enquanto que os triângulos escuros representam os programas de
certificação avaliados. Curvas representam a separação empírica dos grupos identificados.
Siglas sublinhadas em negrito identificam as categorias referentes aos principais
agrupamentos de requisitos, disponíveis para consulta no Apêndice 1.
Tabela 3. Resultado das análises de correspondência, apontando-se os Eigenvalues, a percentagem absoluta e acumulada de explicação de cada eixo. Valores em negrito apontam para as maiores forçantes positivas e negativas dentro de cada eixo de valores.
Eixo 1 Eixo 2 Eixo 3 Eixo 4
Eigenvalues 0,348 0,278 0,211 0,106
% 36,88 29,52 22,39 11,21
% Acum. 36,88 66,40 88,79 100,00
MSC 1,457 0,147 0,742 -0,619
FOS -1,025 -0,110 1,359 0,804
Naturland -0,767 2,038 -0,774 -0,633
Krav -0,994 -1,633 -0,562 -1,785
FAO 0,390 -0,431 -1,120 1,089
19
Discussão
Os programas de certificação têm sido foco de consecutivos questionamentos sobre a sua real
eficácia na promoção de pescarias verdadeiramente sustentáveis (e.g. Jacquet et. al., 2010).
Este fato tem chamado a atenção para a necessidade de se analisar e avaliar como estes
programas têm atestado a sustentabilidade das pescarias. Exemplificando tal tendência, nota-
se revisões dos programas sendo publicados nos últimos anos (Acenture, 2009; Parkes et al.,
2010; Sainsbury, 2010). Em geral estas revisões têm tido por objetivo caracterizar os
programas de certificação através de sua estrutura, metodologia, princípios abordados e,
principalmente, o alinhamento destes com o guia para a certificação de pescarias (disponível
em FAO, 2005).
Trabalhos como os recentemente publicados, mesmo acrescentando importantes
contribuições à compreensão da estrutura de cada programa, ainda assim se mostram
restritos no que tange à exposição de como a sustentabilidade das pescarias é avaliada por
cada um. Isto porque as análises publicadas consideram uma gama maior de aspectos que
envolvem os processos de certificação (e.g. presença de auditorias independentes,
rastreabilidade e transparência). Consequentemente, têm-se tratado superficialmente de
aspectos que exigem um maior detalhamento, mas que ainda assim mostram-se de extrema
importância para a compreensão dos programas, citando-se como exemplo os requisitos
utilizados para atestar a sustentabilidade das pescarias. Este trabalho propôs uma abordagem
alternativa, utilizando os requisitos exigidos para certificar pescarias como critérios para
caracterizar e comparar os programas de certificação.
Tal abordagem baseou-se na criação de uma matriz contendo todos os critérios requisitados
pelos programas de certificação. Esta matriz possuiu 24 requisitos a mais do que a elaborada
por González et al. (2007) durante o processo de avaliação da sustentabilidade da pesca
artesanal da merluza na Patagônia, Argentina. Contudo, a avaliação desta pescaria foi baseada
exclusivamente nos padrões da MSC, de maneira que a presença de um número maior neste
estudo deve-se a existência de requisitos exigidos e categorias abordadas pelos demais
programas os quais não são considerados pela MSC. Porém, avaliando-se somente os
requisitos exigidos pela MSC, a matriz elaborada neste estudo apresentou grande semelhança
com a lista de critérios produzida na avaliação da pesca da merluza patagônica – ambas com
38 requisitos cada (González et al., 2007).
Diferenças marcantes observadas entre os requisitos utilizados pelos programas sugerem a
existência de uma adaptação destes à realidade ambiental e socioeconômica das regiões onde
20
as pescarias foco de cada programa de situam. Como exemplo, pode-se citar o foco social do
programa da Naturland ao utilizar sete requisitos para atestar o desempenho social de uma
pescaria, o que se explica ao verificar que as pescarias certificadas por este programa situam-
se na África, onde questões sociais não podem ser ignoradas. De forma semelhante, a inclusão
de quatro requisitos relacionados à produção de resíduos no programa Krav mostra-se um
reflexo da política de resíduos vigente na União Européia (ver Apêndice). A preocupação da
MSC com impactos ecossistêmicos de uma pescaria também exemplifica esta tendência. Três
requisitos são utilizados pela MSC para avaliar o desempenho ecossistêmico da pescaria, os
quais demandam uma detalhada descrição e compreensão da estrutura trófica dos
ecossistemas com os quais a pescaria interage para atestar conformidade. Isto porque nos
ecossistemas de áreas temperadas – onde se situam a maior parte das pescarias certificadas
pelo programa – a menor diversidade e complexidade trófica tornam as cascatas tróficas mais
prováveis de acontecer, como relatado em Frank et al. (2005).
O contexto apresentado aponta para um movimento de especialização dos programas na
certificação de tipos determinados de pescarias, as quais parecem figurar como nichos
independentes de mercado a serem atendidos pelos selos de certificação. Esta constatação já
havia sido previamente identificada, quando foi apresentado o porque da criação do programa
da Naturland: “Other capture fishery programs were leaving a gap open by certifying very few
artisanal fisheries, so Naturland decided it was really worth going into that niche and setting
up a certification program for small scale capture fisheries…” (Acenture, 2009 página 43). Este
fato evidencia a existência de objetivos implicitamente inclusos nos selos de certificação, os
quais tendem a aparecer refletidos nos requisitos utilizados por cada programa para atestar
sustentabilidade das pescarias. Mesmo que certo grau de especialização seja positivo, dada a
maior capacidade de visualizar problemas específicos de uma determinada região, deve-se
ponderar algumas consequências negativas que tendem a surgir deste movimento de
especialização na certificação de pescarias.
A proliferação de diversos programas de certificação, cada qual com seu conjunto de requisitos
e sua metodologia de avaliação próprias, têm resultado em dúvidas sobre a origem, o tipo, a
quantidade e qualidade das informações necessárias para correr um processo de certificação
(Erwann, 2009). Espera-se com isso que programas com menor exigência de entrada de
informações para atendimento aos requisitos devem ser favorecidos em locais nos quais a
qualidade e a quantidade destas sejam fatores limitantes. Uma alta variabilidade nos custos
totais de certificação também aparece como consequência das discrepâncias entre os
21
programas, em geral resultado do nível de complexidade dos requisitos de cada programa e
das metodologias de auditoria (Erwann, 2009). Nestes casos, programas com altos custos de
implementação devem tornar-se inviáveis para certificar pescarias de pequena escala ou
pouco organizadas (Perez-Ramirez et al., 2012). Desta forma, apesar dos programas
teoricamente possuírem uma abrangência global, nota-se que nem todos estão de fato
“disponíveis” para certificar qualquer pescaria do globo. Parte dos requisitos utilizados pelos
programas reflete este cenário.
Diferenças entre programas de certificação também podem trazer consequências negativas
para os selos de maneira geral. Mesmo diferindo em relação aos padrões utilizados, todos os
programas clamam suas pescarias certificadas como “sustentáveis” ao final do processo, o que
as une dentro de um pacote comum genericamente rotulado de “pescarias sustentáveis”.
Neste contexto, questões como “O que significa sustentabilidade?” para cada programa ou
“Como a sustentabilidade é avaliada?” por cada programa começam a emergir como temas
chave na discussão sobre o futuro desta estratégia de gestão. Isto se reflete na necessidade de
um controle maior – como o inicialmente elaborado em FAO (2005) – sobre o que de fato
significa a sustentabilidade pesqueira e como este conceito deve ser avaliado e passado ao
consumidor. Caso este conceito e suas formas de avaliação não fiquem claros a todos os
interessados, a perda de credibilidade será inevitável (Erwann, 2009).
Ao analisar conjuntamente todos os requisitos para certificação identificados nos programas,
parece razoável supor que a utilização de todos estes conjuntamente identificaria de maneira
mais segura as pescarias “sustentáveis” de uma forma holística. No entanto, o foco da questão
consiste no fato de que nem todos os requisitos levantados neste estudo estão presentes em
todos os programas. A especialização dos programas na certificação de determinadas pescarias
parece exercer papel chave neste processo, visto que aspectos de menor importância nos
locais onde as pescarias-alvo dos programas se situam tendem a ser abordados
superficialmente.
O movimento de especialização dos programas de certificação para determinados tipos de
pescarias tem resultado numa extensa lista de diferentes requisitos e categorias utilizadas
pelos programas. Tal ausência de padronização tem aberto espaço para inconsistências quanto
aos padrões e metodologias utilizados bem como quanto à forma como estes são
apresentados. Um exemplo destas inconsistências pode ser visto através das diferenças entre
os princípios abordados e os requisitos utilizados. Nestes casos, os requisitos utilizados pelo
22
programa não garantem uma avaliação precisa e uniforme de todos os aspectos supostamente
abordados. Isto foi observado neste trabalho através do nível de detalhamento dado pelos
programas a cada categoria, o que explicita a importância dada por cada um às diferentes
dimensões de uma pescaria a serem avaliadas.
A apresentação dos requisitos para certificação de maneira subjetiva e que não permitem
verificar o que de fato está sendo realmente avaliado nem tampouco como este processo está
sendo desenrolado também emerge como uma inconsistência dos programas. Considerando a
clareza e transparência de todo o processo de certificação como aspectos fundamentais para o
sucesso dos selos (FAO, 2005), apresentar padrões de forma subjetiva ou pouco direta aparece
como um aspecto negativo de determinados programas como a Naturland, por exemplo.
Inconsistências devem surgir também a partir da utilização de metodologias inapropriadas
para avaliação dos requisitos, os quais podem vir a certificar pescarias não sustentáveis ou a
elaborar relatórios frágeis a revisões e críticas. Apesar deste aspecto não ter sido considerado
neste trabalho, a partir das análises dos documentos de referência dos programas, notou-se a
existência de diferenças metodológicas entre estes as quais podem facilitar a elaboração de
avaliações mais superficiais e menos consistentes. Por exemplo, metodologias de avaliação
que apresentam escalas graduais de cumprimento (como Scores), tendem a avaliar com maior
precisão atributos que não obedecem uma simples escala de conformidade/não
conformidade, estabelecendo uma escala de valores que expressa o desempenho do atributo.
Aspectos conceituais, como a avaliação de um sistema de gestão ou dos processos de tomadas
de decisão em geral enquadram-se neste cenário. Check-lists, por outro lado, apresentam de
forma clara e direta os requisitos a serem avaliados, o que é positivo do ponto de vista da
clareza do programa. No entanto, este tipo de metodologia pode se mostrar inadequado para
avaliar aspectos conceituais de uma pescaria e, consequentemente, atestar conformidade a
atributos que, caso avaliados de outra maneira, se encontrariam em não conformidade.
Atualmente, a crescente exposição de exemplos de pescarias insustentáveis certificadas bem
como os questionamentos cada vez mais comuns a cerca do real funcionamento da
certificação como ferramenta para promover a sustentabilidade tendem a gerar um descrédito
generalizado, alertando a sociedade sobre os pontos negativos da certificação, ao invés de
promover esta iniciativa e evidenciar a necessidade de ajustes (Erwann, 2009). Desta forma,
assim como observado para produtos orgânicos, parece necessária uma padronização do
conceito de “pescaria sustentável” para a manutenção da credibilidade dos selos de
23
certificação ambiental de pescarias. Esta padronização deve, além de definir o conceito de
“pesca sustentável”, reestabelecer os requisitos mínimos necessários e avaliar os programas e
suas metodologias, de maneira a nivelar a certificação de pescarias corrigindo inconsistências
nos padrões e metodologias. Uma avaliação externa e independente, possivelmente realizada
pela própria FAO, dos relatórios finais das auditorias de cada pescaria certificada também
podem contribuir para o aumento da credibilidade da certificação.
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26
Apêndice.
Matriz global contendo os requisitos identificados nos documentos de referência dos programas de certificação. São apresentados os requisitos
enumerados; os respectivos critérios de cumprimento e as categorias onde cada critério foi enquadrado. Símbolos correspondem aos quatro programas
mais a FAO (da direita para a esquerda: MSC, FOS, Naturland, Krav e FAO). Números representam a forma como cada requisito foi exigido dentro de cada
programa, sendo: (-) requisito não exigidos; (1) requisito exigidos de forma implícita; (2) requisitos parcialmente exigidos e (3) requisitos totalmente exigidos
de maneira explícita.
Categoria Requisito Critério de cumprimento
CSE
1 Disponibilidade de informação
Informações referentes ao estado do estoque devem estar disponíveis. - 3 - 3 -
2 Caracterização do estoque O estoque deve ter suas características biológicas relevantes (produtividade, posição trófica, áreas e épocas de ocorrência) cientificamente caracterizadas.
1 1 - 2 3
3 Diagnóstico do estoque O estoque deve ter um diagnóstico positivo em relação à PTRs e PTLs. 3 3 1 3 3
4 Validação do diagnóstico O diagnóstico do estoque deve ter sido elaborado de maneira correta com base em PTs que estejam de acordo com a natureza e a produtividade do recurso.
3 1 - 1 -
5 Avaliação de estoque adequada
Exige que as avaliações de estoque estimem a abundância considerando incertezas e erros. 3 1 - - 1
EEX
6 Objetivos adequados para a pescaria
A pescaria deve ter objetivos claros, consistentes e que permitam uma explotação sustentável do recurso. 3 - - - 3
7 Recuperação do estoque Para estoques depletados, exige a existência de um plano de recuperação e monitoramento do estoque. 3 - - - 3
8 Estratégias de explotação As estratégias de explotação empregadas na pescaria devem comprovar (com argumentos e monitoramento) a viabilidade de manter a pescaria no PTR e alcançar seus objetivos.
3 - - - 2
9 Informações e monitoramento do estoque
Parâmetros do estoque devem estar sendo monitorados de modo a embasar as estratégias, sendo mantidos em formatos adequados e disponibilizados.
3 - 3 - 3
FAC
10 Diagnóstico da fauna acompanhante
A fauna acompanhante deve ter um diagnóstico positivo baseado na sua quantificação em relação à PTs. 3 - - - -
11 Medidas de gestão da fauna acompanhante
Medidas consistentes para manter a fauna acompanhante dentro de níveis seguros devem estar em prática. 3 1 3 - 3
12 Informações adequadas para fauna acompanhante
As informações disponíveis sobre a fauna acompanhante devem ser adequadas para elaborar os diagnósticos e embasar as medidas de gestão.
3 1 - - -
13 Monitoramento da fauna acompanhante
Parâmetros da fauna acompanhante devem estar sendo monitorados através de metodologia confiável. - 3 - - -
DES
14 Restrições diretas ao volume do descarte
O volume dos descartes não deve exceder a média global dos descartes (FAO). - 3 - - -
15 Diagnóstico dos descartes As espécies descartadas devem ter um diagnóstico positivo em relação à PTs. 3 - - - -
27
Categoria Requisito Critério de cumprimento
16 Medidas de gestão dos descartes
Medidas consistentes para manter as espécies descartadas dentro de níveis seguros devem estar em prática. 3 - 1 - 3
17 Medidas para minimizar a pesca fantasma
Medidas para minimizar a perda de material de pesca que possa resultar em pesca fantasma devem estar em prática. 3 3 - 1 3
18 Informações adequadas para o descarte
As informações disponíveis sobre as espécies descartadas devem ser adequadas para elaborar os diagnósticos e embasar as medidas de gestão.
3 1 - - -
19 Monitoramento dos descartes
Parâmetros dos descartes devem estar sendo monitorados através de metodologia confiável. - 3 - 3 3
20
Estratégias para sobrevivência de organismos vivos
Um plano de ação para retornar ao mar os organismos capturados ainda vivos e com chances de voltar com vida ao mar deve existir.
- 3 - - -
CEC
21 Diagnóstico sobre a captura de espécies críticas
Um diagnóstico positivo dos impactos causados às espécies em risco (ameaçadas, sob-legislação específica ou dentro da IUCN red list) deve existir. Este diagnóstico pode ter como PTRs a legislação nacional/internacional ou a IUCN red list.
3 3 - - -
22 Medidas precautórias para espécies críticas
Medidas comprovadas para a redução dos impactos sobre espécies em risco devem existir. 3 3 2 3 3
23 Informações adequadas para espécies críticas
Informações adequadas devem estar disponíveis para elaborar os diagnósticos e embasar as medidas de gestão. 3 1 - - -
24 Monitoramento das espécies críticas
Capturas de espécies críticas devem estar sendo monitoradas através de metodologia confiável. - 3 - 3 3
IHE
25 Avaliação dos impactos sobre o habitat (ambiente)
Um diagnóstico positivo dos impactos da pescaria sobre o habitat (geralmente ambientes bentônicos) deve existir. 3 3 3 - 1
26 Medidas de redução de impacto no hábitat
Medidas consistentes para reduzir os impactos da pescaria sobre o habitat devem existir. 3 - - - 2
27 Informações sobre o habitat
Informações adequadas e conhecimento básico sobre o(s) habitat(s) devem existir para avaliar os impactos da pescaria e embasar as medidas de mitigação.
3 - - - -
28 Avaliação dos impactos sobre o ecossistema
Um diagnóstico positivo dos impactos da pescaria sobre o ecossistema e sobre elementos-chave na estruturação do ecossistema deve existir.
3 - 3 - 1
29 Estratégias para manejo do ecossistema
Medidas consistentes para reduzir os impactos da pescaria sobre o ecossistema devem existir. 3 - 1 - 2
30 Informações adequadas para o ecossistema
Informações adequadas devem estar disponíveis para elaborar os diagnósticos e embasar as medidas de gestão. 3 - - - -
IPR
31 Minimização da produção de resíduos
Um programa para minimização da produção de resíduos/subprodutos (reutilização e reciclagem de materiais) deve
estar em prática. - 3 - 3 3
28
Categoria Requisito Critério de cumprimento
32 Medidas para prevenção da dispersão de resíduos
Um programa de prevenção de dispersão de resíduos (incluindo combustível, lubrificantes e resíduos sólidos não
biodegradáveis) deve estar em prática. - 3 3 2 2
33 Restrições quanto ao uso de produtos
Deve-se comprovar a não utilização de produtos que interfiram na camada de ozônio e outros produtos tóxicos quando
tecnologias não-tóxicas estiverem disponíveis. - 3 - 3 2
34 Quantificação do consumo de energia
Os combustíveis consumidos pela frota/empresa devem ser quantificados. - 3 - 3 1
FGE
35
Existência de sistemas
legais e/ou usuais para
gestão
Um sistema ilegal consistente e apropriado (contendo ferramentas básicas do tipo: áreas de pesca, petrecho, licenças e
outros) para gestão da pescaria de forma a assegurar a sustentabilidade deve estar em prática. 3 3 3 - 3
36 Regras de controle e
ferramentas
Regras para de controle consistentes e que efetivamente assegurem a manutenção da pescaria dentro de PTRs devem
estar em vigor. 3 1 - - 3
37 Registro de embarcações Embarcações devidamente registradas no país devem ser as únicas participar da pescaria, sendo que as leis do país de
registro estejam em acordo com as normas internacionais (prevenir IUU fishing). - 3 1 - 3
38 Restrição à utilização de
petrechos
As práticas de pesca e petrechos utilizados devem estar devidamente descritos de modo a proibir o uso de
equipamentos altamente destrutivos ou proibidos bem como aplicar as melhores tecnologias existentes. - 3 3 3 3
39 Monitoramento, controle e
vigilância
Mecanismos de monitoramento, vigilância, controle e penalização devem existir de modo a assegurar o cumprimento da
legislação. 3 3 1 3 3
CLE
40
Cumprimento dos sistemas
legais e/ou usuais de
gestão
As legislações e/ou acordos aos quais as pescarias estão sujeitas devem estar sendo cumpridos. 3 3 3 3 3
EPSG
41 Objetivos de longo prazo O sistema de gestão embasar suas políticas em objetivos de longo prazo para a pescaria. 3 - - - 3
42 Principio da precaução O princípio da precaução deve estar implícito no sistema de manejo da pescaria. 3 3 - 3 3
43 Processos de tomada de
decisão
O sistema de gestão deve incluir processos de tomadas de decisão, mesmo que informais, mas que sejam transparentes
e que respondam por questões relevantes ao manejo da pescaria. 3 - - - 3
29
Categoria Requisito Critério de cumprimento
44 Mecanismos para resolução
de conflitos O sistema de gestão deve possuir mecanismos para a resolução de conflitos e disputas legais dentro do sistema. 3 - 2 - 3
45 Definição dos atores O sistema de gestão deve identificar as partes interessadas e seus respectivos papéis e responsabilidades. 3 - - - -
46
Sistemas de gestão que
considerem direitos de
populações tradicionais
O sistema de gestão deve considerar populações tradicionais dependentes do recurso, quando for o caso de recursos
compartilhados. 3 - - - 3
47 Consultas e entrada de
informações
O sistema de gestão deve incluir processos de consultas as partes interessadas ou órgão e instituições relevantes ao
manejo da pescaria. 3 - 3 2 3
48 Confiabilidade da
informação
O sistema de gestão deve estar embasado nas melhores evidências científicas disponíveis além de outras fontes como
conhecimento tradicional. - - - - 3
49 Avaliação da performance
do sistema de gestão O sistema de gestão deve incluir mecanismos para auto-avaliação e passar por revisões periódicas dos seus critérios. 3 - - - -
PSG
50
Colaboração com outros
órgãos gestores de
pescarias
Órgãos gestores devem colaborem com os demais órgãos gestores de pescarias (regionais, nacionais ou internacionais). - - - - 3
51 Incentivos à pesca
sustentável O sistema de gestão deve incluir ferramentas de incentivo à pesca sustentável. 3 - - - 2
52 Produtos gerados A pescaria deve adotar práticas de captura e manuseio que mantenham a qualidade do produto e minimizem os
desperdícios. - - - 3 3
53 Incorporação de planos de
pesquisa
Pesquisas científicas devem estar sendo realizadas de acordo com a necessidade e que os resultados desta estejam
disponíveis aos interessados. 3 - - - 3
54 Divulgação das regras As regras da pescaria devem ser disseminadas, divulgadas e explicadas às partes interessadas interessados. - - - - 3
CO
S
55 Direitos humanos Os direitos humanos listados na UM Conventions e ILO (Int. Labour Org.) devem ser respeitados. - 3 3 - -
56 Trabalho infantil A pescaria/empresa deve estar em conformidade com as diretrizes internacionais para o trabalho infantil. - 3 3 - -
57 Trabalho forçado Qualquer tipo de trabalho forçado não deve ocorrer na pescaria. - - 3 - -
58 Igualdade de
oportunidades Qualquer tipo de discriminação seja por sexo, raça ou credo, não deve ocorrer na pescaria. - - 3 - -
59 Remuneração mínima e
condições do emprego
Uma remuneração mínima dos trabalhadores (pescadores) com salários em conformidade com a legislação deve estar
sendo aplicada. - 3 3 - -
60 Assistência médica Os pescadores e demais trabalhadores do setor devem ter acesso à assistência médica. - 3 3 - -
61 Segurança de trabalho As embarcações devem possuir as medidas de segurança previstas na legislação. - 3 3 - 3
30
Categoria Requisito Critério de cumprimento
62 Capacitação da tripulação Os pescadores/tripulação devem receber cursos de capacitação e treinamento. - - - 3 3
31
Capítulo 2 - A certificação ambiental das pescarias industriais do Sudeste e
Sul do Brasil: onde estamos?
Resumo
Este trabalho fornece uma análise do desempenho das pescarias industriais do Sudeste e Sul
do Brasil avaliado através dos requisitos utilizados nos programas Marine Stewardship Council
(MSC) e Friend of the Sea (FOS) para a certificação de pescarias. Foram utilizados 55 requisitos
– agrupados em 12 categorias – para avaliar o desempenho de quatro pescarias: caranguejo
vermelho, peixe sapo, corvina e camarão rosa. Através dos resultados obtidos foram
projetados cenários prováveis para outras oito pescarias industriais. A dimensão social não
aparece como um entrave à certificação das pescarias industriais Brasileiras. Por outro lado, a
atual estruturação do sistema de gestão pesqueira do Brasil faz deste um dos principais pontos
negativos, distanciando todas as pescarias dos requisitos. Aspectos relacionados ao manejo e
controle de resíduos também não se encontram em conformidade. Identificou-se que a
conformidade com os requisitos relacionados aos estoques e aos impactos das pescarias sobre
outras espécies, hábitat e ecossistema ocorre basicamente em função do tipo de petrecho
utilizado, das áreas de pesca e da existência de planos de manejo para a pescaria.
Monitoramento por observadores de bordo, voluntários ou não, contribuem positivamente
para a conformidade das pescarias. Por fim, identificou-se um cenário no qual pescarias mais
recentes, como as direcionadas aos recursos de profundidade, bem como as pescarias com
alvo nos atuns, apresentam o maior potencial para iniciar a certificação de pesca no Brasil.
Pescarias tradicionais e costeiras somente poderão alcançar a certificação em longo prazo.
Palavras-chave: Certificação de pesca; diagnóstico de sustentabilidade; pesca industrial.
Introdução
Atualmente a pesca convive com estimativas nas quais cerca de um terço dos seus recursos
pesqueiros encontram-se sobrepescados ou depletados (FAO, 2009). Sem entrar no mérito de
serem conservacionistas ou não, o fato é que a magnitude destas estimativas torna evidente a
incapacidade dos órgãos gestores na reversão das tendências globais de esgotamento dos
estoques pesqueiros (Pauly et al., 2005; Grafton et al., 2008; Shelton, 2009). A mortalidade de
espécies ameaçadas, os descartes promovidos por pescarias não seletivas e os danos aos
ecossistemas decorrentes do uso de aparelhos de pesca demasiadamente destrutivos figuram
como motivos adicionais que evidenciam a necessidade de se repensar as estratégias de pesca
e as formas de gestão pesqueira (Grafton et al., 2008).
32
É com base nestes argumentos que organizações não governamentais (ONGs) têm alertado o
público sobre pescarias não sustentáveis ou altamente impactantes e os problemas associados
à aquisição de certos tipos de pescado. Um claro exemplo deste processo foi observado na
pesca do atum com redes de cerco, cuja associação entre a pesca do recurso e a mortalidade
de golfinhos gerou prejuízos econômicos à indústria e resultou em adaptações tanto do setor
produtivo quanto da legislação. Um dos principais resultados – ainda que involuntário – deste
processo foi o surgimento do selo Dolphin Safe, criado com intuito de distinguir e promover
àquelas pescarias com reduzido impacto sobre os cetáceos (Earth Island Institute, 2010).
Os selos de certificação ambiental de pescarias compartilham do mesmo objetivo, no entanto
tendem a avaliar múltiplos atributos de uma pescaria, considerando além da mortalidade
indesejada de outras espécies (como cetáceos, por exemplo), aspectos relacionados aos
estoques alvo, ao tipo de petrecho e ao manejo da pescaria. Sua forma de atuação consiste na
adesão voluntária da indústria a um dos vários selos existentes. Os selos, por sua vez, avaliam
o atendimento (conformidade) da pescaria a uma série de requisitos pré-definidos
teoricamente capazes de expressar a sustentabilidade de uma pescaria. A conformidade com
os requisitos confere à pescaria um “atestado de sustentabilidade”, em geral apresentado nos
rótulos dos produtos, cujo objetivo consiste em informar ao consumidor sobre os baixos
impactos associados à produção daquele pescado (Sainsbury, 2010; Ward e Phillips, 2008).
Produtos rotulados com estes selos são fornecidos a consumidores que optam por pagar um
preço um pouco maior aos produtos de baixo impacto, no chamado princípio do price
premmium (Brécard et al., 2009; Jaffry et al., 2004). Atualmente existem diversos selos em
atuação, porém destacam-se os programas da Marine Stewardship Council (MSC) e Friend of
the Sea (FOS) como os mais utilizados mundialmente (Sainsbury, 2010).
O crescente número de pescarias certificadas e, consequentemente, de produtos certificados,
tem levantado questões quanto ao futuro do comércio de pescado. Projeta-se um cenário no
qual as pescarias não certificadas tenderão a perder mercado em locais no qual o consumo
consciente é uma realidade (Brécard et al., 2009; Jaffry et al., 2004). No caso de países em
desenvolvimento, a perspectiva para a implementação da certificação de pescarias ainda é
incerta. Tem sido relatado que a implementação dos selos nestes países esbarra
principalmente na ausência de informações em qualidade e quantidade necessárias para as
avaliações, bem como no custo envolvido no processo de certificação (Pérez-Ramírez et al.,
2012). No entanto, ainda não se sabe na realidade o quão distantes estas pescarias
encontram-se dos padrões exigidos, o que reflete também num desconhecimento atual sobe a
33
sustentabilidade das pescarias dos países em desenvolvimento. Paralelamente, cada vez mais
os países em desenvolvimento têm suprido a demanda de pescados dos países desenvolvidos,
tornando claro que os produtos exportados já estão inseridos em países e blocos econômicos
nos quais o consumo consciente e a certificação de pescarias já vêm ocorrendo. Desta forma,
nota-se que situar as pescarias de países em desenvolvimento no contexto da certificação de
pesca aparece como um demanda imediata e ainda não suprida, dada a ausência de estudos
focados neste aspecto.
Neste cenário, este trabalho toma algumas pescarias industriais brasileiras como estudos de
caso para uma avaliação de sua adequação aos requisitos exigidos pelos programas de
certificação de pesca. Com isso, pretende-se fornecer um diagnóstico do potencial de
certificação das pescarias brasileiras, identificando principalmente onde se situam os gargalos
e potencialidades para a implementação destes selos no Brasil.
Metodologia
Em um trabalho focando analisar os programas de certificação de pescaria (Capítulo 1)
compilaram e classificaram todos requisitos utilizados por quatro dos principais programas de
certificação ambiental de pescarias em atuação no mercado mundial – Marine Stewardship
Council (MSC); Friend of the Sea (FOS); Krav e Naturland. A matriz de requisitos obtida como
parte dos resultados do referido trabalho, foi adaptada neste estudo com a finalidade de
elaborar um quadro descritivo da situação atual das pescarias industriais do Sudeste e Sul do
Brasil contra os padrões nela contidos (Tabela 1).
Dentre os quatro programas analisados no (Capítulo 1), foram selecionados somente os
programas MSC e FOS. A escolha destes dois programas justifica-se por estes apresentarem o
maior número de pescarias aderidas e, consequentemente, por serem os mais reconhecidos
internacionalmente. Paralelamente, a maior clareza na descrição dos requisitos em seus
documentos de referência (Dias et al., em preparação – ver Capítulo 1) contribuiu para a
seleção deste programas. A matriz utilizada neste estudo possui apenas 55 requisitos, ao invés
dos 62 descritos no trabalho tomado como referência, devido à supressão daqueles existentes
somente nos programas de certificação excluídos desta análise (Tabela 1).
Considerando a complexidade do processo de auditoria pesqueira e o tempo demandado para
realizá-la de maneira confiável, optou-se por selecionar apenas quatro pescarias distintas e
analisá-las em maior detalhamento como estudos de caso. As pescarias foram selecionadas de
34
maneira a abranger pescarias com diferentes recursos-alvo; petrechos de pesca; histórico de
desenvolvimento; disponibilidade de informação e impactos potenciais. Esta opção permitiu
estabelecer um amplo leque de diferentes diagnósticos, a ser utilizado como referência para as
demais pescarias. Utilizou-se como estudos de caso as pescarias de (a) covos para o
caranguejo vermelho (Chaceon notiallis); (b) emalhe direcionada ao peixe sapo (Lophius
gatrophysus); (c) arrasto duplo direcionado ao camarão rosa (Farfantepenaeus paulensis e F.
brasiliensis) e (d) emalhe de fundo com alvo na corvina (Micropogonias furnieri).
As pescarias foram avaliadas através dos requisitos para certificação, utilizando-se diferentes
fontes de informação, obtidas através de uma revisão bibliográfica. Seis fontes distintas foram
consideradas: (1) artigos científicos publicados; (2) monografias, dissertações e teses; (3)
relatórios técnicos de ordenamento; (4) dados e relatórios de observadores de bordo; (5)
legislação pesqueira; e (6) dados de estatística pesqueira. As conformidades e não
conformidades das pescarias foram avaliadas contrapondo-se as informações e dados
levantados contra as exigências expressas em cada requisito. Ausências de informação foram
consideradas como não conformidades. Os resultados obtidos foram utilizados para projetar
cenários prováveis para outras oito pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil (Tabela 3)
traçando-se paralelos entre semelhanças e diferenças destas com os estudos de caso.
Resultados
Considerações gerais sobre as pescarias industriais do SE e S do Brasil
De uma maneira geral, as pescarias brasileiras apresentam baixa produtividade e múltiplos
alvos de pesca, reflexos de um regime oceanográfico no qual predominam águas tropicais
quentes e pobres em nutrientes na maior parte da costa. Salvo as pescarias off-shore para
atuns e afins – as quais ocorrem ao longo de toda a costa – a maior parte das pescarias
industriais brasileiras estiveram principalmente restritas às regiões Sudeste e Sul. A maior
produtividade das águas destas regiões deve-se a características oceanográficas diferenciadas,
nas quais aportes fluviais como o Rio da Prata, a proximidade com a convergência subtropical
e ressurgências da Água Central do Atlântico Sul – ACAS tendem a tornar estas regiões mais
piscosas (Braga et al., 2006).
Dentre as diversas pescarias industriais existentes nestas regiões, a de maior contribuição em
termos de volume é sem dúvida a pesca da sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis).
Capturada com redes de cerco, este pequeno pelágico corresponde a 15 % da produção total
35
de peixes no país (MPA, 2010). Apesar de constituir o principal alvo de pesca da frota de cerco,
uma diversificação nos alvos desta frota foi observada a partir da década de 1990, uma
resposta às sensíveis reduções nos estoques da espécie (Gasalla et a., 2007; Schwingel e
Occhialini, 2007). Atualmente, cerca de seis espécies apresentam elevada importância para
esta frota, sendo a maior parte destas capturadas durante o defeso da sardinha
(UNIVALI/CTTMar, 2010; Schwingel e Occhialini, 2007).
Tunídeos também apresentam elevada importância para as pescarias industriais das regiões
Sudeste e Sul. O Brasil possui lugar de destaque na ICCAT – International Commission for the
Conservation of Tuna and Tuna-like Fishes (órgão internacional para gestão e conservação de
atuns e afins), aparecendo como o maior produtor de atuns do Atlântico Sudoeste. Tal posição
é conferida basicamente em função das elevadas capturas brasileiras de bonito-listrado
(Katsuwonus pelamis) realizadas por uma frota que opera com vara e isca-viva. Já os grandes
atuns (Thunnus spp.), espadarte (Xiphias gladius) e os tubarões constituem os alvos de pesca
dos espinheleiros de superfície (longliners) (ICCAT, 2011a).
36
Tabela 1. Lista dos requisitos para certificação utilizados para a avaliação das pescarias.
Modificado do Capítulo 1.
Requisitos 1. Disponibilidade de informação para a pescaria 29. Medidas para gestão de impactos no ecossistema
2. Estoques caracterizados 30. Inform. adequadas sobre os impactos no ecossistema
3. Diagnóstico positivo do estoque 31. Medidas para minimizar a produção de resíduos
4. Diagnóstico deve ser válido 32. Medidas para prevenir a dispersão de resíduos
5. Avaliação de estoque adequada 33. Restrições quanto ao uso de produtos
6. Pescarias com objetivos adequados 34. Quantificação do consumo de energia
7. Medidas para recuperação do estoque 35. Existência de sistemas legais de gestão
8. Estratégias de explotação coerentes 36. Existência de regras de controle
9. Monitoramento do estoque 37. Registro de embarcações
10. Diagnóstico positivo da fauna acompanhante 38. Restrição à utilização de petrechos
11. Medidas para gestão da fauna acompanhante 39. Monitoramento, controle e vigilância da pescaria
12. Informações adequadas para fauna acompanhante 40. Sistemas legais de gestão cumpridos
13. Monitoramento da fauna acompanhante 41. Objetivos de longo prazo para a pescaria
14. Restrições diretas ao volume do descarte 42. Principio da precaução aplicado
15. Diagnóstico positivo dos descartes 43. Processos para tomada de decisão
16. Medidas para gestão dos descartes 44. Mecanismos para resolução de conflitos
17. Medidas para minimizar a pesca fantasma 45. Definição das partes interessadas na pescaria
18. Informações adequadas para o descarte 46. Considerar populações tradicionais
19. Monitoramento dos descartes 47. Consultas às partes interessadas e entrada de inform.
20. Estratégia para sobrevivência de organismos vivos 48. Avaliação da performance do sistema de gestão
21. Diagnóstico da captura de espécies críticas 49. Incentivos à pesca sustentável
22. Medidas precautórias para espécies críticas 50. Incorporação de planos de pesquisa
23. Informações adequadas para as espécies críticas 51. Respeito aos direitos humanos
24. Monitoramento das espécies críticas 52. Inexistência de trabalho infantil
25. Avaliação dos impactos sobre o habitat 53. Remuneração mínima e condições do emprego
26. Medidas para redução de impacto no hábitat 54. Acesso à assistência médica
27. Inform. adequadas sobre os impactos no habitat 55. Condições seguras de trabalho
28. Avaliação dos impactos sobre o ecossistema
Tabela 2. Listagem das categorias de requisitos contidos nos programas de certificação avaliados (siglas e nomes) e o número identificador dos requisitos presentes em cada categoria seguindo a sequência da tabela 1. Adaptado do Capítulo 1.
Categorias Número dos
requisitos
CSE Considerações sobre o estoque 1 a 5
EEX Estratégias de explotação 6 a 9
FAC Fauna acompanhante 10 a 13
DES Descartes 14 a 20 CEC Captura de espécies críticas 21 a 24
IHE Impactos sobre o hábitat e ecossistema 25 a 30
IPR Insumos e produção de resíduos 31 a 34
FGE Ferramentas de gestão 35 a 39
CLE Conformidade com a legislação 40
EPSG Estrutura e princípios do sistema de gestão 41 a 48
PSG Políticas do sistema de gestão 49 a 50
COS Considerações sociais 51 a 55
37
Apesar dos recursos demersais geralmente apresentarem uma produção inferior aos
pelágicos, os seus maiores valores de comercialização conferem ao grupo um papel de
destaque na indústria pesqueira brasileira. Uma das mais tradicionais pescarias industriais do
Sudeste e Sul é realizada por embarcações de arrasto duplo, que têm como alvos de pesca os
camarões costeiros. Dentre as espécies capturadas, destaca-se o camarão rosa por seu
histórico de desenvolvimento e importância econômica, apesar de outros camarões costeiros
(camarão sete barbas e camarões vermelho e ferrinho) terem ganhado importância nas
últimas décadas (Baptista-Mitri, 2007; Branco e Verani, 2006). O camarão rosa vem sendo
explotado desde a década de 70 (Valentini et al., 1991). Contudo, reduções na abundância dos
estoques da espécie motivaram a frota a buscar alternativas para assegurar a sustentabilidade
econômica, destacando-se (i) o aproveitamento de espécies anteriormente descartadas – em
geral peixes demersais (Perez et al., 2001; Vianna, 2001) e (ii) a busca por novos recursos
pesqueiros através da ampliação da sua área de atuação e adaptação dos petrechos de pesca à
nova realidade (Perez et al., 2007). Apesar de atualmente estar diversificada quanto aos seus
alvos de pesca, a frota arrasteira ainda figura como a maior frota industrial do Sudeste e Sul do
Brasil (UNIVALI/CTTMar, 2010).
A queda nos rendimentos da frota de arrasto motivou a adaptação dos petrechos e o
surgimento de uma importante frota de emalhe de fundo direcionada à corvina
(Micropogonias furnieri) (Pio, 2011). Atualmente, esta frota conta com cerca de 160
embarcações, e a corvina figura como terceira espécie mais capturada no Sudeste e Sul. Para a
parcela da frota que não trocou de petrecho, esta modificou seus alvos de pesca,
consolidando-se na explotação de peixes demersais. As frotas de arrasto duplo e simples
passaram a atuar especificamente sobre peixes costeiros, principalmente da família Sciaenidae
(Perez et al., 2007). Gradativamente, parte desta frota direcionou-se também para áreas mais
profundas, operando sobre crustáceos e peixes da quebra de plataforma, iniciando a
explotação de recursos de profundidade ao largo da costa brasileira (Perez et al., 2001; Perez e
Pezzuto, 2006). Atualmente, parte da frota arrasteira – sobretudo arrasteiros duplos - já tem
como alvo principal peixes demersais de talude, como a abrótea-de-fundo (Urophicys
mystacea), a merluza (Merluccius hubbsi) e o peixe-sapo (Lophius gastrophysus).
No processo de aumento na participação de recursos demersais de profundidade na produção
pesqueira brasileira, teve destaque o processo de arrendamento de embarcações estrangeiras
para ocupação de áreas profundas da ZEE (Zona Econômica Exclusiva), o qual mostrou-se
responsável pela introdução de novas tecnologias de pesca bem como pela abertura de
38
mercado para produtos nacionais (Perez et al., 2009). Neste processo, pescarias com emalhe
de fundo direcionado ao peixe-sapo, com covos para caranguejo vermelho e caranguejo real
(Chaceon notialis e C. ramosae, respectivamente) além de arrasto de fundo para peixes
demersais e camarões-de-profundidade (família Aristeidae) foram introduzidas em águas
brasileiras. Ao final dos processos de arrendamento, em geral têm-se instalado frotas
nacionais para explotação destes recursos utilizando as tecnologias absorvidas através do
arrendamento (e.g. peixe-sapo e caranguejo vermelho). Outras pescarias, como o caso dos
camarões-de-profundidade e do caranguejo-real deixaram de existir com o final do programa
de arrendamento (Perez et al., 2009).
De uma maneira geral, as frotas atuantes sobre recursos costeiros apresentaram ao longo do
tempo um elevado dinamismo no que se refere às mudanças nos recursos alvo, nos petrechos
de pesca e áreas de operação (Rossi-Wongtchowsky et al., 2007). Tais mudanças são
historicamente observadas principalmente na frota de arrasto, a qual tem alterado seu padrão
de operação em função da abundância dos recursos pesqueiros e das pressões de mercado
decorrentes de variações nos preços dos recursos capturados (Perez et al., 2007). A legislação
nacional por sua vez, além de mostrar-se incapaz de restringir e nortear tais mudanças, bem
como de acompanhar a rapidez com que estas ocorriam, mantendo-se a margem do processo
e em geral publicando medidas de ordenamento emergenciais com intuito de legitimizar
situações já estabelecidas (Perez et al., 2001; Perez et al., 2009).
Aspectos comuns a todas as pescarias
O sistema Brasileiro de gestão pesqueira
A evolução da gestão pesqueira no Brasil foi, desde seu início, marcada por constantes
mudanças estruturais, sendo historicamente delegada a diferentes escalas e setores do
Governo Federal (e.g. superintendências, departamentos, secretarias e ministérios). A última
destas mudanças foi observada em 2009, através de um Ato Normativo no qual o Governo
Federal criou o Ministério da Pesca e Aqüicultura (MPA), delegando a este ministério e ao já
existente o Ministério do Meio Ambiente (MMA) a responsabilidade pela gestão pesqueira.
39
Tabela 3. Listagem das pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil utilizadas na avaliação de sustentabilidade. Petrechos de pesca e recursos alvo foram 1
adaptados da matriz de permissionamento publicada pelo Governo Federal Brasileiro (BRASIL, 2011). Petrechos de pesca em negrito representam aqueles 2
avaliados com maior detalhamento no âmbito dos estudos de caso. 3
Petrecho de pesca Recursos alvo Tipo da pescaria Surgimento Planos de manejo Principais referências
Arrasto duplo Camarão rosa Demersal costeira Década de 1960 Não possui
Valentini et al. (1991)
D’Incao et al. (2002)
Perez et al. (2007)
Arrasto duplo Camarões 7-barbas,
vermelho, barba-ruça Demersal costeira Não possui
D’Incao et al. (2002)
D’Incao (1995)
Baptista-Metri (2007)
Arrasto duplo Abrótea, merluza e peixe
sapo Demersal oceânica Década de 1990 IN nº 022/2008
Perez et al., (2009)
Perez et al., (2003)
Arrasto meia água Castanha Pelágica costeira 2009 Não possui -
Arrasto parelha e simples Peixes demersais diversos Demersal costeira Década de 1980 Não possui Perez et al. (2007)
Castro et al. (2007)
Cerco Sardinhas, anchova, tainha e
espécies acessórias Pelágica costeira Década de 1960 Não possui
Gasalla et al. (2007
Schwingel e Occhialini (2007)
Covos Caranguejos de
profundidade Demersal oceânica Década de 2000 IN nº 023/2008
Pezzuto et al. (2002)
Perez et al. (2009)
Emalhe de fundo Peixe sapo Demersal oceânica Década de 2000 IN nº 03/2009 Perez et al. (2009)
Emalhe de fundo Corvina Demersal costeira Década de 1980 Não possui Pio (2011)
Espinhel de superfície Atuns e afins Pelágica oceânica Não possui Azevedo et al. (2007)
Vara e isca viva Bonito listrado Pelágica oceânica Década de 1980 Não possui Andrade et al. (2008
Potes Polvo Demersal costeira Década de 2000 INº 026/2008 Ávila-da-Silva e Tomás (2007)
40
O novo modelo de gestão pesqueira no Brasil tem por principal alicerce a Lei nº 11.959
publicado em 29 de junho de 2009, a qual dispõe sobre uma política Nacional para o
desenvolvimento sustentável da pesca e da aquicultura (BRASIL, 2009a). Esta política tem por
objetivo central a promoção de um desenvolvimento sustentável da atividade pesqueira
através do ordenamento e da fiscalização, de maneira a viabilizar o desenvolvimento sócio-
econômico alinhado à conservação dos recursos pesqueiros. Considerando a abrangência de
seus objetivos, o texto desta nova “Lei Geral da Pesca” apresenta basicamente princípios,
conceitos e diretrizes gerais a serem seguidas, carecendo de ferramentas para ordenar
efetivamente as pescarias. Neste caso, os instrumentos específicos aparecem na forma de
normativas complementares (em geral Instruções Normativas - INs), as quais devem
implementar as ferramentas apropriadas para a gestão de cada pescaria e que reflitam os
objetivos, princípios, conceitos e diretrizes estabelecidos na “Lei Geral da Pesca” (Figura 1).
Apesar da existência de um ministério exclusivamente criado para tratar da gestão pesqueira
no país, não cabe somente ao MPA o gerenciamento da atividade. O regime de gestão
compartilhada entre o MPA e o MMA delega a ambos os ministérios a responsabilidade pela
elaboração e implementação das medidas de ordenamento (INs), teoricamente baseadas em
planos de manejo. Seguindo parcialmente um modelo já estabelecido e que apresentava sinais
claros e positivos de funcionamento (ver Perez et al., 2002; Pezzuto et al., 2005), a atual
elaboração dos planos de manejo das pescarias e suas respectivas INs devem levar em
consideração as recomendações multilaterais aportadas por cientistas e especialistas na área,
além do setor pesqueiro e do Governo Federal.
A estruturação do Sistema de Gestão Compartilhada dos Recursos Pesqueiros e suas câmaras e
comitês consultivos segue uma hierarquia de atribuições e competências relativamente
simples. Nela, cabe aos ministros de ambos os ministérios a legitimação – assinatura – dos atos
normativos elaborados e revisados por uma Comissão Técnica para a Gestão Pesqueira (CTGP),
composta por oito membros sendo quatro de cada ministério. A CTGP possui assessoramento
técnico fornecido pelo Comitê de Gestão (CG, anteriormente chamado de Comitê Permanente
de Gestão - CPG), o qual é formado pelas diferentes partes interessadas na pescaria (incluindo
o governo, academia e indústria). No âmbito do CPG ocorrem os debates para propor as
medidas de ordenamento, devendo haver um CPG para cada pescaria ou grupo de pescaria
(Unidades de Gestão – UG). O aporte de informações ao CPG é fornecido por Subcomitês
Científicos (SCC) e Subcomitês de Acompanhamento (SAC), responsáveis por recomendações
científicas à pescaria e pelo cumprimento das medidas de ordenamento, respectivamente
41
(BRASIL 2009b) (Figura 1). Câmaras Técnicas (CTs) e Grupos de Trabalho (GTs) podem ser
formados para aportar informações adicionais ao manejo da pescaria diretamente ao CTGP.
Figura 1. Esquema representando a estrutura do sistema de gestão das pescarias estabelecido.
Para descrição das siglas, consultar texto.
Seguindo a estrutura descrita, a elaboração de medidas de ordenamento de uma pescaria
deveria preferencialmente passar pelos quatro níveis identificados (SCC/SCA, CPG, CTGP e
Ministérios). Contudo, atualmente nota-se que apesar da ampla estrutura armada, os níveis
inferiores da estrutura (CPGs e SCs) necessitam ainda ser instituídos, evidenciando um grave
problema para a gestão pesqueira. Desde a implantação da “Gestão Compartilhada”, decisões
sobre as pescarias têm sido tomadas exclusivamente na esfera do CTGP e dos Ministérios, já
que os comitês de assessoramento previstos não foram criados. Consultas técnicas para
assessoramento nas tomadas de decisão têm sido feitas exclusivamente através das CTs e GTs,
criados em geral emergencialmente, num contexto no qual não há espaço para debate ou
revisão dos dados gerados. Neste modelo, as partes interessadas também não são
consultadas, dada à presença exclusiva de membros do Governo na esfera deliberativa (CTGP).
Soma-se ao contexto descrito a presença de dois ministérios muitas vezes antagônicos em
seus interesses, sendo um de vertente conservacionista (MMA) e outro desenvolvimentista
(MPA), tendo por missão tomar decisões unanimes desprovidos, na maior parte das vezes, das
informações técnicas necessárias para embasar suas discussões.
Tomadas de decisão sem o devido embasamento técnico têm sido cada vez mais contestadas
pelo Ministério Público Federal (MPF), órgão responsável pela fiscalização das ações do
Governo. Problemas com a pesca da tainha (Mugil spp.) têm sido recorrentes nos últimos
42
anos, e exemplificam claramente a fragilidade de medidas de gestão adotadas sem o
embasamento técnico necessário. A tainha é uma espécie pelágica de elevado valor comercial
por suas “ovas”, sendo capturada durante uma safra que dura não mais que 60 dias. O
incremento do esforço sobre os estoques, impasses com comunidades de pesca artesanal além
da ausência de dados biológico-populacionais sobre as espécies fazem deste recurso um
exemplo da falta de governança sobre uma importante e valiosa pescaria (SINDIPI, 2011).
Mesmo com uma estrutura aparentemente eficiente e completa para a gestão pesqueira, a
incapacidade atual de gerenciar efetivamente as pescarias tem mantido boa parte dos
recursos pesqueiros – e principalmente os mais costeiros e com maior histórico de pesca – em
um caráter de livre-acesso.
Considerando o cenário descrito, nota-se ser um problema comum a todas as pescarias as não
conformidades com requisitos da categoria “Estrutura e Princípios do Sistema de Gestão”, os
quais são especialmente utilizados no programas da MSC (Tabela 3). Desta forma, requisitos
que avaliam os processos de tomadas de decisão como um todo representam não
conformidades para todas as pescarias brasileiras, pois, apesar da existência de um sistema
aparentemente eficiente previsto por lei, este não encontra-se instituído e mostra-se
atualmente incapaz de atuar da forma como deveria.
43
Tabela 4. Sumário das conformidades (C) e não conformidades (N) das pescarias de caranguejo vermelho, peixe sapo, corvina e camarão rosa com os
requisitos para certificação (1 à 55) utilizados nos programas (MSC e FOS). Requisitos encontram-se agrupados por categorias. Células marcadas em cinza
com “-“ representam requisitos não utilizados por cada programa de certificação. O percentual de conformidades em relação ao total de requisitos
avaliados é apresentado para cada pescaria e programa separadamente.
44
Insumos e produção de resíduos – IPR
Requisitos associados aos insumos e à produção de resíduos não são utilizados pela MSC na
avaliação da sustentabilidade das pescarias, de forma que os resultados obtidos para esta
categoria são aplicáveis somente ao programa FOS. Nota-se que grande parte dos requisitos
associados a esta categoria apresenta não conformidade comum a todas as pescarias. Isto
porque não existem programas implementados nas pescarias brasileiras focados na reciclagem
de materiais e na minimização da produção e dispersão de resíduos – o que, segundo os
padrões, deve incluir combustíveis e óleos lubrificantes. Não conformidades no que se refere
ao uso de produtos tóxicos também aparecem em todas as pescarias. No entanto faz-se
necessário esclarecer que estas não conformidades não caracterizam o uso destas substâncias,
e sim a ausência destas informações, somente possíveis de serem coletadas realizando
análises in situ. Outro aspecto comum a todas as pescarias consiste na necessidade da
quantificação do consumo de combustíveis. O programa de subsídio de óleo diesel adotado
pelo Governo Brasileiro exige um monitoramento do consumo das embarcações.
Considerando que todas as embarcações recebem este benefício, atestou-se uma
conformidade comum para todas (requisito 34, Tabela 3).
Considerações sociais – COS
Assim como observado para a categoria IPR, aspectos sociais não são avaliados pelo programa
da MSC, e todos os requisitos avaliados são referentes ao programa FOS (Capítulo 1). Os
requisitos desta categoria avaliam basicamente aspectos relacionados ao respeito aos direitos
humanos, à remuneração dos trabalhadores e o acesso à saúde e a segurança do trabalho
(Tabela 1). Todos estes requisitos são garantidos por lei aos trabalhadores envolvidos na
pesca, e não há indícios de descumprimento das leis trabalhistas e/ou de segurança de
trabalho. Acesso à saúde também é garantido pelo governo brasileiro. Neste cenário, atestou-
se conformidade com todos os requisitos referentes ao desempenho das pescarias na esfera
social.
Estudos de caso
A pesca de covos direcionada ao caranguejo vermelho
Disponibilidade de dados
45
A pesca de caranguejos de profundidade ao largo da costa do Brasil desenvolveu-se a partir de
frotas arrendadas que operaram ao longo do talude das regiões Sudeste e Sul entre o final da
década de 90 e início de 2000. O histórico desta pescaria encontra-se detalhadamente descrito
em Perez et al. (2009). Das duas espécies de caranguejos da família Geryonidae capturadas em
águas brasileiras, o caranguejo vermelho (C. notialis) é a única com uma pescaria efetivamente
direcionada, atualmente realizada por uma única embarcação nacional permissionada para
atuar sobre o recurso. Durante o processo de desenvolvimento, ordenamento e consolidação
da pescaria, observadores de bordo acompanharam todas as viagens de pesca realizadas, fato
que resultou num considerável volume de dados disponíveis (Pezzuto et al., 2006a; Wahrlich,
2002). No entanto, inexistem dados de cruzeiros científicos o que de certa forma limita
inferências de maior confiabilidade sobre o recurso.
Os principais aspectos biológico-populacionais dos caranguejos Gerionídeos já se encontram
detalhadamente descritos na literatura (Hastie, 1995 e referências nele citadas). Assim como
outros recursos demersais de profundidade, os caranguejos Gerionídeos apresentam
crescimento lento, maturação tardia e recrutamento variável, características que
potencializam a fragilidade do recurso. Sua distribuição no sudoeste do Atlântico estende-se
do extremo Sul do Estado do Rio Grande do Sul até a zona comum de pesca Uruguai-Argentina
(Defeo et al., 1992). Sugere-se que uma porção do estoque realize movimentos migratórios
sazonais entre a ZEE do Brasil e do Uruguai, os quais estão associados aos eventos
reprodutivos (Defeo et al., 1991 e 1992, Pezzuto et al., 2006a). Os principais aspectos
biológico-populacionais da espécie já encontram-se relativamente bem descritos, tanto em
águas brasileiras quanto em Uruguaias (Santana e Pezzuto, 2009; Pezzuto et al., 2006b; Defeo
et al., 1992; Gutierrez et al., 2011).
Estado dos estoques
Avaliações diretas foram realizadas na porção uruguaia do estoque no início da década de 90
através de cruzeiros científicos (Arena et al., 1988; Defeo et al., 1991). Recentemente uma
nova avaliação utilizando modelos geoestatísticos permitiu atualizar as estimativas de
biomassa para o estoque e corroborar avaliações pretéritas (Gutierrez et al., 2011).
Diagnósticos do estoque do caranguejo vermelho são realizados anualmente na porção
uruguaia através de atualizações das estimativas de rendimento máximo sustentável (RMS)
com base em dados de captura e esforço (DINARA, 2011). Não há indícios que a porção
Uruguaia do estoque esteja sobrepescada.
46
Para a porção brasileira do estoque, avaliações de estoque utilizando a área efetiva de pesca e
modelos lineares generalizados (GLMs) corroboraram as avaliações uruguaias (Pezzuto et al.,
2002 e 2006b). A partir destas estimativas, uma quota anual de captura (TAC) foi estabelecida
em 735 toneladas (BRASIL, 2008). Atualmente as capturas anuais encontram-se abaixo da TAC
estabelecida. Se considerado ainda o longo período sem pescaria, observado desde o final da
atuação de embarcações arrendadas até o início das operações da única embarcação nacional,
o que durou cerca de seis anos, nota-se ser grande a probabilidade do estoque encontrar-se
em uma zona segura (Perez et al., 2009b). Um programa de monitoramento com base em
dados de CPUE (modelada e bruta) e em modelos de produção excedentária (RMS) encontra-
se em prática, e indica que os índices de biomassa encontram-se em níveis aceitáveis (Pezzuto
et al., 2006b). No entanto, novas avaliações diretas do estoque devem ser realizadas, de
maneira a verificar se os níveis de biomassa encontram-se realmente nos patamares que se
supõem.
Em relação à metodologia utilizada na avaliação de estoque, relata-se que a espécie apresenta
recrutamentos variáveis, o que quebra o pressuposto de “estoque em estado estável”
utilizados nos modelos de produção excedente. Tal fato tende a aumentar as incertezas sobre
os resultados do modelo, demandando uma utilização precautória dos valores de captura e
esforço sustentável (Pezzuto et al., 2006; Gulland, 1971). Neste sentido, novas avaliações e
diagnósticos conjuntos com o Uruguai aumentariam o grau de certeza sobre o estado atual dos
estoques para embasar futuras medidas de gestão. Recomenda-se também avaliações das
estruturas de tamanho para verificar eventuais comprometimentos ao recrutamento, aspecto
exigido pela MSC (MSC, 2009).
Impactos sobre outras espécies, habitat e ecossistema
A pesca de caranguejos de profundidade com armadilhas (covos) tem sido relatada como
altamente seletiva e de baixo impacto (Barnette et al., 2001; Eno et al., 2001; Shester e
Micheli, 2011). No Brasil, esta pescaria ocorre sobre fundos lamosos, naturalmente menos
sensíveis aos impactos dos aparelhos de pesca (Figueiredo Jr. e Madureira, 2004). Com isto, é
razoável supor que os impactos sobre o habitat e o ecossistema sejam muito reduzidos. Em
relação ao bycatch desta pescaria, nota-se uma carência de trabalhos publicados no Brasil, e os
relatórios de observadores de bordo figuram como principal fonte de dados sobre este
aspecto. Nestes relatórios não há registro de volumes expressivos de capturas de outras
espécies, nem tampouco descartes significativos ou mortalidade de espécies ameaçadas. A
47
única medida de implementação necessária consiste na utilização de painéis de escape para
reduzir a pesca fantasma. Apesar de previstos na legislação, estes não vêm sendo utilizados,
resultando em não conformidades com o requisito 17. Considerando os reduzidos impactos
desta pescaria, outras medidas de gestão para mitigar eventuais danos ao habitat,
ecossistemas e outras espécies mostram-se desnecessárias.
Ordenamento da pescaria e as ferramentas para gestão
O ordenamento da pescaria do caranguejo vermelho é realizado através de ato normativo
específico (BRASIL, 2008). Por ter se baseado num plano de manejo consistente, o
ordenamento possui os principais critérios para assegurar uma explotação segura do recurso.
Das ferramentas disponíveis, destacam-se: princípio da precaução explicitamente considerado,
objetivos para a pescaria (implícitos no plano de manejo), registro de embarcação, limitação
de esforço, TAC, áreas e períodos de exclusão à pesca, tamanhos de malha, dispositivos para
evitar pesca fantasma, mecanismos de monitoramento (observadores de bordo e log books),
mecanismos para controle e vigilância (PREPS – VMS) e restrição à utilização de outros
petrechos nas viagens de pesca. Alterações e adequações no ordenamento desta pescaria
devem obedecer à estrutura do sistema de gestão pesqueira vigente, descrito anteriormente.
Relatórios de observadores de bordo indicam que a frota tem cumprido a maior parte das
regras estabelecidas no ordenamento. No entanto, foram registradas em 2009 e 2010
operações de pesca em áreas não permitidas (Perez et al., 2009 b), motivo pelo qual a licença
da embarcação foi suspensa por 60 dias (BRASIL, 2010).
Por apresentar um estoque caracterizado, delimitado e em estado aparentemente seguro de
explotação, estratégias de captura baseadas na utilização de aparelhos de pesca de baixo
impacto a alta seletividade e um sistema de ordenamento e gestão implementado e que
contém os principais aspectos necessários para assegurar a sustentabilidade da atividade,
nota-se que esta pescaria poderia ser, atualmente, descrita como sustentável de acordo com
os padrões utilizados em ambos os programas de certificação. Apenas mínimos ajustes seriam
necessários para que esta atendesse totalmente aos padrões dos programas. Exemplifica-se tal
constatação ao verificar que, para ambos os programas considerados, esta pescaria
apresentou conformidade em cerca de 85 % dos requisitos avaliados.
A pesca de emalhe direcionada ao peixe sapo
Disponibilidade de dados
48
Assim como observado para os caranguejos de profundidade, a pesca do peixe sapo com redes
de emalhe de fundo no Brasil também teve seu início a partir do arrendamento de
embarcações estrangeiras a partir de 2000 (Perez et al., 2009). Ao final de aproximadamente
três anos de operação, a frota estrangeira abandonou as águas brasileiras deixando para trás
as primeiras reduções de biomassa deste estoque – decorrente dentre outros fatores da
ausência de ordenamento, do elevado esforço, e da crescente participação das frotas
nacionais de arrasto de fundo nas capturas da espécie. Entre 2003 e 2009, capturas de peixe
sapo estiveram restritas à frota de arrasto, dada a ausência de embarcações nacionais para
atuar com redes de emalhe (Perez et al., 2002b; Perez et al., 2005). Somente em 2009 que
duas embarcações brasileiras optaram por ingressar na pescaria, a qual já apresentava plano
de manejo e ordenamento implementados.
Desde seu início em meados de 2000, observadores de bordo monitoraram todas as viagens
de pesca realizadas com redes de emalhe, tanto da frota arrendada quanto da atual frota
nacional. Os dados gerados permitiram caracterizar os aspectos biológico-populacionais do
recurso e dimensionar o bycatch e os descartes (Lopes, 2005; Perez e Wahrlich, 2005).
Avaliações de estoque e cálculos dos potenciais de rendimento também foram elaboradas,
incorporando-se às análises dados das frotas de arrasto monitoradas por programas de
estatística pesqueira (Perez et al., 2002c; Perez et al., 2005; Perez, 2006). Apesar da ausência
de observadores de bordo para coleta de dados na frota arrasteira, esta pescaria e seu
estoque alvo não podem ser caracterizados como deficientes de dados.
Estado dos estoques
As avaliações apontaram uma biomassa virginal com cerca de 61.000 toneladas, e uma captura
anual sustentável (TAC) de 2.500 toneladas (Perez et al., 2002c). Avaliações posteriores
baseadas em modelos de idade, de excedente de produção, cenários de depleção e GLMs
corroboraram os cálculos anteriores e validaram os pontos técnicos de referência
estabelecidos. No entanto, a ausência de ordenamento resultou em capturas
consideravelmente maiores que a TAC sugerida. Estimou-se que entre 30 e 60 % da biomassa
total desovante foi removida entre 2001 e 2003 (Perez et al., 2005). Reduções de 1000
toneladas na TAC foram propostas com intuito de recuperar o estoque, porém a pescaria
seguiu sem ordenamento (Perez et al., 2009; Perez et al., 2009b). Os diagnósticos mais atuais
datam de 2009, e indicam uma leve recuperação da biomassa entre 2004 e 2006, porém
seguida de um novo declínio em 2008, indicando que o quadro de sobrepesca permanece
49
(Perez et al., 2009b). Apesar do ordenamento da pescaria - publicado em 2009 - possuir
ferramentas e estratégias apropriadas para recuperar o estoque e permitir uma explotação
racional e sustentável do peixe-sapo, a atuação da frota de arrasto segue em caráter de “livre
acesso”, o que pode comprometer seu estoque.
Impactos sobre outras espécies, habitat e ecossistema
Por ser um método de pesca passivo, as redes de emalhe tendem a apresentar baixo impacto
sobre o fundo marinho quando comparadas a métodos como o arrasto (Jennings e Kaiser,
1998). No entanto, observadores de bordo indicam capturas ocasionais de corais, sugerindo
danos pontuais em locais de substrato rígido, mais propícios à ocorrência destes organismos
(Reed, 2002). Medidas como a incorporação de áreas de exclusão de pesca (BRASIL, 2009c)
devem atenuar tais impactos, mantendo áreas intactas. Neste sentido, considerando a
pequena escala da pescaria, as medidas de gestão existentes e os danos causados apenas em
escala pontual, nota-se ser pouco provável que os impactos deste petrecho sobre organismos
associados ao substrato rígido sejam irreversíveis e de grande escala. De maneira semelhante,
há a possibilidade de que impactos sobre a estrutura do ecossistema ocorram, porém não
devem comprometer permanentemente sua estrutura ou função. A origem destes impactos
associa-se à forma de operação da rede, a qual atua “deitada” sobre o fundo, com as capturas
ocorrendo através de embolamento (Wahrlich et al., 2004). A estratégia de capturas por
embolamento reduz a seletividade do petrecho, que captura inclusive organismos menores
que os tamanhos de malha, como caranguejos e baratas do mar (Perez e Wahrlich, 2005).
Grandes capturas de organismos detrivívoros relatadas podem alterar a estrutura da
comunidade. No entanto, ainda não há evidências de tais impactos.
A baixa seletividade do petrecho torna o bycatch um fator de destaque tanto em termos de
diversidade quanto biomassa, tornando-se um problema de difícil resolução. Grande parte
desta captura indesejada é descartada, incluindo desde espécies sem valor comercial
(crustáceos diversos, elasmobrânquios e cnidários) além de espécies de interesse comercial
para outras frotas (e.g. caranguejos, merluza e abrótea). Deste grupo destacam-se os
caranguejos. Em 14 viagens de pesca avaliadas, estima-se que mais de 400 mil caranguejos
reais (C. ramosae) foram descartados ao mar, numa taxa próxima à 1:2 caranguejos/peixe
sapo, respectivamente. Níveis de descarte desta ordem podem vir a comprometer estes
estoques, devendo ser incluídas estas mortalidades na gestão das pescarias que têm estas
espécies como alvo (Perez e Wahrlich, 2005). Em relação à captura retida, destaca-se o cherne
50
poveiro (Polyprion americannus), cujas capturas próximas a 10 mil indivíduos foram registradas
nas viagens monitoradas. Considerando que seus estoques encontram-se atualmente
colapsados (Perez et al., 2009a; Haimovici et al., 2005), é alta a probabilidade de que capturas
desta ordem interfiram na sua recuperação (Perez e Wahrlich, 2005). Medidas como a
proibição na comercialização de mais de 5 % em peso da espécie em relação à captura total de
uma viagem atua positivamente na não estimulação de suas capturas (BRASIL, 2009c). No
entanto, relatórios de observadores de bordo indicam que este limite não vem sendo
respeitado.
Ordenamento da pescaria e as ferramentas para gestão
Um plano de manejo e uma proposta de ordenamento para a pescaria do peixe sapo foram
elaborados ao final do ciclo de atuação da frota arrendada. No entanto, uma série de entraves
institucionais e de governança impediram sua implementação (Perez et al., 2005). Somente em
2009 um ordenamento foi finalmente instituído, incorporando as devidas correções nas TAC
decorrentes da sobre explotação observada no início da década (BRASIL, 2009c). Este
ordenamento assemelha-se ao do caranguejo vermelho, fornecendo as principais ferramentas
para assegurar uma explotação segura do recurso. Destas, destacam-se a necessidade de
registro de embarcações e de permissão de pesca, as limitações de esforço (9 embarcações),
TAC, áreas de exclusão à pesca, tamanhos de malha, cumprimento obrigatório dos
mecanismos de monitoramento (presença de observadores de bordo e entrega dos log books -
mapas de bordo) e a incorporação de mecanismos para controle e vigilância (PREPS – VMS).
Relatórios de observadores de bordo indicam que a frota tem cumprido praticamente todas as
regras estabelecidas no ordenamento.
De uma maneira geral, nota-se que a pescaria apresenta aspectos positivos e negativos em
relação aos padrões exigidos pelos selos de certificação. A existência de um ordenamento
baseado num plano de manejo coerente e o elevado volume de informações em qualidade e
quantidade sobre a pescaria e seu estoque alvo figuram como principais pontos positivos.
Aspectos negativos estão associados ao estoque sobrepescado (em decorrência dentre outros
fatores da pesca desordenada promovida pela frota de arrasto), aos elevados descartes, e à
mortalidade de espécies ameaçadas ou sobrepescadas. Com relação à sobrepesca do peixe
sapo, há indícios de que a frota arrasteira seja a principal responsável pelo atual quadro de
sobrepesca do recurso, atuando ilegalmente na captura do recurso (Dias e Perez, em
preparação; Perez et al., 2009b). Desta forma, o principal aspecto a ser considerado é a
51
necessidade de um ordenamento urgente da pesca de arrasto direcionada a recursos
demersais de profundidade, medida de extrema necessidade para que esta pescaria possa ser
caracterizada como sustentável ou para que obtenha um selo de certificação ambiental.
A pesca de emalhe direcionada à corvina
Disponibilidade de dados
A pesca costeira de emalhe de fundo tomou impulso no final da década de 80, e apresentou
crescimento contínuo ao longo destes quase 30 anos de existência (Barcellos et al., 1991;
Haimovici, 1997; Pio, 2011). Nos últimos dez anos, uma média de 900 desembarques anuais
foram realizados por cerca de 160 embarcações de emalhe de fundo (UNIVALI/CTTMar, 2010).
Esta frota direciona-se basicamente à captura da corvina (Micropogonias furnieri), espécie de
extrema importância econômica para a indústria pesqueira, aparecendo como a terceira
espécie mais pescada no Sudeste e Sul do Brasil (UNIVALI/CTTMar, 2010). Esta pescaria atua
sobre dois estoques distintos - ao sul e ao norte do Cabo de Santa Marta – no estado de Santa
Catarina (Haimovici e Ignácio, 2005; Vasconcellos e Haimovici, 2006; Vazzoler, 1991; Carneiro,
2007). Apesar deste cenário sugerir duas unidades de manejo e certificação distintas, neste
estudo de caso considerou-se uma única unidade, já que atuam sobre os estoques a mesma
frota e os mesmos petrechos de pesca, evidenciando apenas uma mudança sazonal de suas
áreas de operação. Neste sentido, a maior parte das categorias e requisitos não justificava uma
análise em separado. Somente aspectos associados aos estoques foram avaliados de forma
independente.
Aspectos biológicos e populacionais da espécie já são relativamente bem descritos na
literatura, com informações disponíveis sobre ambos os estoques (Haimovici e Ignácio, 2005;
Vasconcellos e Haimovici, 2006; Vazzoler, 1991; Carneiro, 2007). A atuação da frota também
tem sido monitorada, e informações sobre seus padrões de operação também encontram-se
descritos. De maneira geral, durante meses de inverno a frota desloca-se para áreas do
Sudeste (estados do Rio de Janeiro e São Paulo), operando em áreas mais profundas (abaixo
de 40 metros). Nos meses de inverno, as operações concentram-se em áreas mais próximas à
costa, ao largo estado do Rio Grande do Sul (Haimovici e Umpierre, 1996; Pio, 2011). Sabe-se
que o estoque sul corresponde a uma fração de um estoque Argentino-Uruguaio que migra
para águas brasileiras para alimentação, fato que o caracteriza como um estoque
compartilhado (Vaz dos Santos et al., 2008; Vasconcellos e Haimovici, 2006). Apesar de nos
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três países a corvina representar um recurso pesqueiro de extrema importância, inexiste um
manejo compartilhado da espécie.
Dados de captura e esforço têm sido coletados nos portos de descarga do Sudeste e Sul,
totalizando mais de 10 anos de monitoramento (UNIVALI/CTTMar, 2010). Recentemente,
programas de amostragens de estrutura de tamanhos também foram inseridos no
monitoramento da pescaria. Entre 2007 e 2010, observadores de bordo monitoraram uma
parcela da frota, gerando um volume maior de dados com qualidade e nível de detalhamento
também maiores. Nota-se, portanto, que esta pescaria não é deficiente de dados.
Estado dos estoques
Haimovici e Vasconcellos (2006) forneceram os primeiros PTRs consistentes para diagnosticar
o estoque Sul da corvina, incluindo em seu diagnóstico aspectos relacionados ao seu
compartilhamento com o Uruguai e a Argentina. Segundo os resultados da análise, o estoque
sul da corvina encontra-se atualmente fortemente sobrepescado, com a mortalidade por
pesca (F) entre 2 a 6 vezes acima mortalidade que produz o RMS (FRMS). A biomassa (B) atual é
cerca de 40 % inferior à biomassa do RMS (BRMS). Avaliações realizadas no Uruguai e na
Argentina indicam cenário de sobrepesca semelhante, corroborando a atual avaliação
mencionada neste estudo de caso (Carozza e Hernández, 2004). Um cenário precautório
sugere um RMS médio de 10.500 toneladas para a espécie no estoque Sul. Apesar de não
haver diferenciação das capturas totais de corvina entre os estoques Norte e Sul, é muito
provável que as capturas do estoque Sul estejam atualmente acima da calculada no RMS
(Haimovici e Vasconcellos 2006).
Uma avaliação do status do estoque Norte da corvina foi elaborada em Carneiro et al. (2005) e
reapresentada em Carneiro (2007), constituindo atualmente a única disponível deste estoque.
No entanto, pontos técnicos de referência não foram fornecidos. Parâmetros do ciclo de vida
foram calculados para a espécie (tamanhos de maturação e ciclo reprodutivo). Composições
de idades foram inferidas através do método de análise modal aplicado sobre uma distribuição
de tamanhos amostradas num período cerca de 10 anos anterior ao da avaliação. Estes dados
foram inseridos na equação de Von Bertalanffy para estimativa de crescimento. A partir da
composição de idades foram estimadas taxas instantâneas de mortalidade natural através de
uma curva de captura linearizada. Estimativas de mortalidade natural foram realizadas com
base nos parâmetros da curva de crescimento através da equação de Pauly. Foi utilizado como
ferramenta de diagnóstico a fração da mortalidade total correspondente à mortalidade por
53
pesca. Chegou-se a uma taxa de explotação de 0,63 o que aparentemente indica que o
estoque esteja sobre explotado, apesar de não existem PTRs estabelecidos (Carneiro, 2007).
No entanto, este resultado deve ser visto com certa ponderação, visto que esta avaliação não
considera fontes de incerteza, não apresenta limites de confiança e faz uso de métodos não
adequados para estimativas de parâmetros de crescimento.
Impactos sobre outras espécies, habitat e ecossistema
Conforme já mencionado, as redes de emalhe apresentam baixo impacto sobre o habitat,
tendendo a interagir danosamente com o fundo apenas pontualmente, através de suas
âncoras de fixação (Jennings e Kaiser, 1998). Considerando que os fundos de pesca são em sua
maioria inconsolidados, é razoável supor tais impactos como reduzidos (Figueiredo Jr. e
Madureira, 2004). No entanto, o elevado número de embarcações (cerca de 160) e a extensão
média das redes (em alguns casos com mais de 20 km – ver Pio (2011)) devem intensificar a
magnitude destes impactos, e devem ser considerados para que uma conformidade seja
atestada . Em relação aos danos causados à estrutura ou função dos ecossistemas, relata-se
que estes em geral ocorrem pela remoção de espécies chave, o que pode alterar padrões de
dominância e estruturação de teias tróficas (cascatas tróficas) (Frank et al., 2005; Mills et al.,
1993). Áreas marinhas tropicais de plataforma continental, por apresentarem elevada
diversidade, extensa área de abrangência e uma complexa cadeia trófica (normalmente sem
um único mecanismo de controle, seja ele top down ou botton up), apresentam as menores
susceptibilidades a estes eventos, o que deve tornar esta pescaria pouco impactante sob este
aspecto (Frank et al., 2005; Reid, 2000).
Apesar da ampla dominância da corvina, as capturas da frota de emalhe de fundo são
compostas por quase 200 outras espécies, incluindo peixes ósseos, elasmobrânquios e
crustáceos (Schroeder et al., 2011). Não existem atualmente informações sobre os descartes
desta pescaria. O baixo número de viagens monitoradas por observadores de bordo torna
ainda qualquer inferência sobre este aspecto demasiadamente subjetiva. Peixes ósseos de
valor comercial são desembarcados, porém somente àqueles de maior abundância (em geral
cabrinha – Prionotus punctatus e a castanha – Umbrina canosaii) são discriminados – os
demais são descritos como “mistura”. Em relação às duas espécies citadas, não há evidências
de que esta pescaria seja capaz de comprometer seus estoques, visto que as capturas médias
por viagem mostram-se reduzidas (UNIVALI/CTTMar,2010) além do petrecho tender a capturar
basicamente espécimes de maior porte (Dias, observações pessoais). Já os “caçonetes” - grupo
54
de pequenos cações – são espécies capturadas com frequência. Considerando a menor
resiliência destes elasmobrânquios (tipicamente k-estrategistas) e as consecutivas quedas em
suas produções, é possível que seus estoques estejam comprometidos (UNIVALI/CTTMar,
2010). Espécies ameaçadas e/ou protegidas por legislação específica, como tartarugas e
cetáceos e algumas aves, também são capturados com frequência, o que indica um impacto da
pescaria sobre estes grupos. Mecanismos para a redução da captura de espécies não alvo são
raros e, em sua maioria, de eficácia ainda não comprovada, sugerindo que por este motivo, os
impactos desta pescaria não possam ser desprezados (Bull, 2007).
Ordenamento da pescaria e as ferramentas para gestão
Do ponto de vista da gestão desta pescaria, nota-se um histórico de desenvolvimento
caracterizado por uma ausência de planos de manejo, regras de controle e ordenamento. Estas
características têm se mantido até os dias de hoje. Historicamente, as medidas de
ordenamento para a frota de emalhe foram debatidas em fóruns que incorporam
problemáticas tanto das frotas de emalhe de fundo quanto de superfície, sendo as da última
frota as de maior urgência dada à iminência de colapso dos estoques de tubarões – espécies
alvo desta antiga frota (IBAMA, 2006; Kotas et al., 2008).
A inclusão de problemáticas diversas nas mesas de discussão gerou conflitos crescentes entre
setor produtivo e órgãos gestores, além de medidas de ordenamento com caráter confuso e
fora da realidade das frotas. A frota de emalhe de fundo, cujo ordenamento deveria estar
focado em análises de produtividade dos estoques alvo da frota (basicamente a corvina),
sofreu reflexos da necessidade de reduzir capturas de elasmobrânquios pela frota de
superfície, destacando-se a limitação dos tamanhos máximos das redes para limites fora da
realidade das embarcações atuantes sobre a corvina (BRASIL, 2007; Pio, 2011). Neste cenário,
apesar de existirem algumas ferramentas para o ordenamento da pescaria (e.g. IN nº
166/2007 em BRASIL, (2007)), estas mostram-se completamente inapropriadas para a
realidade da pescaria, necessitando ser totalmente reformuladas. Atualmente, a inadequação
destas ferramentas de “ordenamento” obriga toda a frota a atuar de forma ilegal, causando a
não conformidade da pescaria com ambas as certificadoras.
A pesca de arrasto direcionada ao camarão rosa
Disponibilidade de dados
55
A pesca industrial do camarão rosa tomou impulso em meados dos anos 60, a partir da
mecanização da frota pesqueira industrial e da incorporação de novas tecnologias, como as
redes sintéticas e os tangones – petrecho utilizado na pesca de arrasto duplo. A facilidade de
acesso ao recurso e aos seus mercados, o alto valor comercial e sua elevada abundância foram
fatores que atuaram conjuntamente para o desenvolvimento abrupto desta pescaria no Brasil,
sobretudo entre a metade dos anos 60 e 70. Historicamente, tem-se dividido a pesca industrial
do camarão rosa em três fases distintas, sendo os limites entre as fases caracterizados por
quedas na abundância do recurso e variações no esforço de pesca (Valentini et al., 1991;
D’incao et al., 2002; Perez et al., 2007).
Apesar da importância deste recurso para a indústria pesqueira brasileira, planos eficientes
para gerar dados confiáveis sobre a pescaria – incluindo observadores de bordo, coleta de
dados de produção e cruzeiros de pesquisa – foram extremamente raros, descontínuos ou
simplesmente não existiram. Desta forma, a quase totalidade dos dados disponíveis referente
às fases iniciais restringe-se aos dados de captura e esforço de pesca coletados por órgãos
ambientais governamentais (IBAMA) (D’Incao et al., 2002). A dificuldade de se gerar
informações adequadas sobre este recurso explica-se em parte pelas características biológicas
e populacionais que tornam o monitoramento dos seus estoques e da pescaria uma tarefa
extremamente complexa.
Em primeiro lugar, sob o recurso chamado “camarão rosa” explota-se na realidade duas
espécies (Farfantepenaeus paulensis e F. brasiliensis). Até os dias de hoje, dados de produção
tem agrupado ambas as espécies, o que é bastante negativo do ponto de vista de manejo.
Outro fator prejudicial é o fato da espécie apresentar uma forte segregação espacial da
população. Enquanto adultos ocorrem ao longo de praticamente toda a plataforma
continental interna do SE e S do Brasil, os juvenis ocupam lagunas costeiras e estuários. Nestes
locais, a fração juvenil dos estoques sustenta uma antiga pescaria artesanal, cujo
monitoramento mostra-se complexo em decorrência da pulverização dos pontos de captura e
comercialização. Com isto, flutuações no recrutamento em função de uma pescaria artesanal
pouco monitorada devem atuar como incertezas nas avaliações. Soma-se ao quadro um
recrutamento altamente dependente de variáveis climáticas e regimes oceanográficos, que
conferem ao recurso uma alta variabilidade natural na abundância de cada coorte. Por fim, o
alto valor de comercialização torna a coleta de amostras biológicas e tomada de dados
morfométricos uma tarefa que necessita de um planejamento cuidadoso.
56
Desta maneira, nota-se que apesar de um histórico de cinco décadas de existência, as
informações disponíveis sobre a pescaria apresentam grande fragilidade pelos motivos
descritos. Avaliações da pescaria e medidas de ordenamento devem, portanto, considerar
abertamente as fragilidades nos dados e incorporar incertezas e limites precautórios.
Estado dos estoques
Foram encontradas três avaliações de estoque do camarão rosa publicadas desde o início da
pescaria (Valentini et al., 1991; D’Incao et al., 2002; Leite Jr. e Petrere Jr., 2006). No entanto
outras avaliações foram publicadas no âmbito de Grupo de Trabalho criados pelo Governo,
porém seus relatórios não se encontram disponíveis. As três avaliações de estoque apontam o
recurso como fortemente sobre pescado, com reduções de até 85 % entre as décadas de 70 e
2000 (D’Incao et al., 2002). A primeira avaliação realizada baseou-se nos modelos de produção
excedente de Schaefer, e resultou em estimativas de RMS de 7.000 e 2.800 toneladas/ano
para os períodos de 1965-1972 e 1973-1986, respectivamente (Valentini et al., 1991). Estes
dois períodos representam as duas fases iniciais da pescaria, nas quais o esforço de pesca e as
capturas totais mantiveram-se sempre acima dos limites máximos estimados, o que levou a
uma nova redução nos rendimentos em 1987 (D’Incao et al., 2002). Após 1987, relata-se o
início da terceira fase, marcada por reduções ainda maiores na biomassa do recurso e um RMS
estimado de 1.900 toneladas/ano. Para ambas as avaliações, nota-se que uma certa incerteza
em seus valores deve ser considerada, tendo em vista a fragilidade dos dados de captura e
esforço e a ausência de equilíbrio no estoque, ambos pressupostos aos modelos de produção
excedente.
A avaliação mais recente (Leite Jr. e Petrere Jr., 2006) foi até o momento a única a considerar
as duas espécies separadamente, utilizando para cada uma modelos de rendimentos por
recruta, os quais incorporam parâmetros biológicos das espécies. Os pressupostos destes
modelos são menos exigentes em relação aos de excedente de produção. No entanto,
informações mais detalhadas necessitam ser aportadas, incluindo mortalidade natural e por
pesca, parâmetros de crescimento, composição das coortes e seletividade. Uma das vantagens
deste tipo de abordagem consiste na possibilidade de elaborar estratégias como alternar
mortalidade por pesca e tamanhos de primeira captura (seletividade) (Sparre e Venema,
1997). Esta avaliação elaborou também os tradicionais modelos de produção excedente para
diagnósticos com base nas capturas totais, porém agrupando ambas as espécies. Seus
resultados indicam que a pescaria encontra-se atualmente no RMS, estimado em 1.500
57
toneladas/ano, apesar de este valor representar apenas 20 % do RMS estimado para 1970 e
cerca da metade do estimado para o período seguinte (1972-1986)
Impactos sobre outras espécies, habitat e ecossistema
A pesca de arrasto de fundo direcionada aos camarões tropicais costeiros tem sido
amplamente relatada como a pescaria de maior nível de bycatch no mundo. Isto se dá pela
união entre um petrecho de pesca de baixa seletividade aliado a atuação da frota numa área
de alta diversidade e biomassa de outras espécies (Alverson, 1994; Kelleher, 2005; Graça Lopes
et al. (2002); Vianna e Almeida, 2005).
Dentre os descartes, nota-se a ocorrência tanto de organismos sem valor comercial quanto
aqueles que, apesar de passíveis de comercialização, são capturados em tamanhos inferiores
aos de mercado. Avaliações realizadas em outras regiões indicam que os descartes deste tipo
de pescaria variam entre 30 e 70 % do peso das capturas (Kelleher, 2005). Trabalhos ainda em
escala preliminar realizados para esta pescaria na costa brasileira sugerem descartes de até 90
% das capturas (Segatto, 2010). Já as espécies retidas são em geral compostas por peixes e
elasmobrânquios demersais (incluindo algumas das espécies ameaçadas), além de cefalópodes
nos meses de verão (Graça Lopes et al., 2002; Vianna e Almeida, 2005; Perez et al., 2007;
Gasalla et al., 2010). Para a maior parte das espécies não alvo, tanto retidas quanto
descartadas, não existem diagnósticos dos seus estoques. Para àquelas cujo diagnóstico existe,
há indícios de sobre explotação da maioria (e.g. corvina, goete, pescadas) (Cergole et al., 2005;
Wongtschowsky et al., 2006).
Espécies ameaçadas são capturadas com relativa freqüência. Vooren e Klippel (2005)
identificaram que a pesca de camarões costeiros captura cinco espécies de raias e cações
ameaçados de extinção. Apesar de dispositivos para a redução do bycatch existirem (e.g.
Turtle Exclude Devices - TEDs e Bycatch Exclude Devices - BEDs) e contribuírem
significativamente na redução da captura de espécies não alvo, as espécies acessórias como
peixes demersais e raias emplastro têm uma participação tão importante na renda das
embarcações que reduzir suas capturas deve tornar a pescaria economicamente inviável
(Graça Lopes et al. 2002; Vianna e Almeida, 2005; Perez et al., 2007; Vianna, 2001). Por este
motivo, apesar do uso de TEDs estar previsto na legislação, há indícios de descumprimento
sistemático na norma.
58
Apesar do consenso de que a pesca de arrasto cause efeitos negativos sobre os ambientes com
os quais as redes interagem, o dimensionamento destes efeitos ainda não é de todo
conhecido, em decorrência principalmente da dificuldade de se isolar os efeitos do arrasto dos
demais fatores naturalmente causadores de distúrbios (Jones, 1992; Valdemarsen et al., 2007;
Armstrong e Falk-Petersen, 2008; Jennings e Kaiser, 1998; Thrush et al., 1998). No entanto,
modificações nas condições físico-quimicas, impactos sobre organismos filtradores (e.g.
bivalves) e sobre a fauna séssil (corais e esponjas) já tem sido descritos (Charlier, 2001; Jones,
1992). Apesar de diferentes níveis de susceptibilidade do fundo marinho estarem relacionados
à sua composição granulométrica, é fato que o principal fator atuante na sua degradação é a
frequência com que estas áreas são arrastadas, muitas vezes impedindo uma regeneração
antes de novos distúrbios (Charlier, 2001). Tal fato pode até modificar a estrutura do
ambiente, favorecendo espécies r-estrategistas. Considerando a dimensão da frota
direcionada ao camarão rosa – historicamente oscilando entre 200 e 400 embarcações – é
grande a probabilidade de que distúrbios estejam ocorrendo em uma freqüência danosa ao
habitat e ao ecossistema.
Ordenamento da pescaria e as ferramentas para gestão
Em nenhum momento do histórico de desenvolvimento da pescaria do camarão rosa foi
elaborado qualquer tipo de plano de manejo. Estratégias de explotação e pontos técnicos de
referência (PTRs), ferramentas essenciais para um ordenamento eficiente, também nunca
foram adotadas. O ordenamento desta pescaria tem tido historicamente um caráter
emergencial, no qual medidas pontuais são adotadas quando grandes problemas ocorrem –
estes em geral associados a reduções drásticas na abundância dos estoques. Um exemplo claro
deste processo desordenado pode ser observado no surgimento dos defesos de pesca na
década de 1980 (Valentini, 1991). Desta forma, pode-se dizer que o “sistema de gestão” da
pescaria do camarão rosa é composto unicamente de medidas pontuais desenhadas para
reduzir o esforço de pesca durante períodos reprodutivos. Cálculos de esforço ou quotas de
captura jamais estiveram presentes no ordenamento da pescaria.
Discussão
Os resultados obtidos nos estudos de caso indicam a existência de pescarias mais próximas e
mais distantes dos padrões exigidos pelos programas de certificação. Categorias como Insumos
e Produção de Resíduos – IPR, Considerações Sociais – COS e Estrutura do Sistema de Gestão
59
tiveram resultados comuns para todas as pescarias, evidenciando que estes aspectos não são
responsáveis por gerar diferenças entre as pescarias. No entanto, categorias relacionadas aos
estoques-alvo e às estratégias de explotação – CSE e EEX; aos impactos da pescaria sobre
outras espécies habitat e ecossistema – IHE, CEC, FAC, DES, bem como as ferramentas e
políticas de gestão – PSG e FGE – apresentaram diferentes resultados para cada pescaria,
evidenciando que estas categorias são responsáveis por diferentes distâncias das pescarias em
relação aos padrões exigidos. Ao analisar a relação de causa-efeito destas conformidades e
não conformidades, parece estar clara a atuação de quatro fatores centrais no distanciamento
das pescarias aos padrões exigidos pelos selos de certificação:
1. Tipo de petrecho utilizado na pescaria: o tipo de petrecho responde pela
potencialidade da pescaria em causar danos ao habitat, comprometer os estoques
alvo, ecossistemas e outras espécies – sejam elas ameaçadas ou não. Interferem neste
aspecto a seletividade, o contato com o fundo, o tipo de material que o compõe,
dentre outros fatores;
2. Características da área de pesca: dependendo da área, os danos potenciais causados
pelo petrecho (e pela pescaria) podem ser atenuados ou intensificados. Considera-se
como exemplo a importância ecológica, a diversidade, produtividade, fragilidade
estrutural e natureza do substrato das áreas de pesca;
3. Existência de planos de manejo e ordenamento: planos de manejo fornecem
principalmente as estratégias de explotação e as ferramentas de gestão necessárias
para assegurar que os estoques sejam mantidos em patamares desejados ou para
recuperá-los. No entanto, podem incorporar também alternativas para minimizar os
impactos decorrentes da interação entre o tipo de petrecho e as áreas de pesca (e.g.
incorporação de BRDs, criação de áreas de exclusão de pesca);
4. Existência de um programa de monitoramento qualificado e independente baseado
em observadores embarcados: apesar de planos de manejo em geral incorporarem
programas de observadores como ferramentas de gestão, notou-se que mesmo em
pescarias sem ordenamento, a adoção voluntária destes programas aproximou-as da
obtenção de selos de sustentabilidade. Isto porque observadores de bordo permitem
gerar informações e dados sobre a pescaria difíceis de serem obtidos de outra forma
(e.g. registro de espécies ameaçadas e perda de material de pesca, quantificação dos
descartes, etc.). Sem estas informações, mais não conformidades são geradas e mais
60
precautória tem de ser a auditoria, em virtude de ter de se buscar e adaptar
informações de outras áreas para a realidade local.
A interação entre estes quatro fatores definiu as pescarias mais próximas e mais distantes dos
padrões exigidos nos selos de certificação. Exemplifica-se tal fato com uma comparação entre
a pescaria do caranguejo vermelho e a do camarão rosa. A pescaria de covos para caranguejo
tem sido monitorada censitariamente por observadores, responsáveis por gerar os dados
necessários para as análises do bycatch e avaliações de estoque – ambas já realizadas (Bastos,
2004; Pezzuto et al., 2006b). A existência de um plano de manejo adequado e implementado
confere a esta pescaria as principais ferramentas necessárias para uma gestão segura (BRASIL,
2008). A utilização de armadilhas em áreas de talude tem sido descrito como minimamente
impactante quando comparada aos demais métodos de pesca (reduzido bycatch, danos
apenas pontuais ao habitat) (Barnette et al., 2001; Eno et al., 2001; Shester e Micheli, 2011).
Por outro lado, a pesca do camarão rosa, apesar de extremamente antiga, não foi monitorada
por observadores de bordo, fato que resultou numa atual ausência de uma ampla gama de
informações necessárias para avaliar os estoques e dimensionar os impactos sobre outras
espécies, habitats e ecossistemas. A ausência de planos de manejo mantém a pescaria sem as
ferramentas necessárias para uma gestão segura. Petrechos como as redes de arrasto para
camarão apresentam baixa seletividade, e quando operando em áreas de elevada diversidade
e abundância de outras espécies não alvo, tendem a causar impactos expressivos em
categorias como FAC, DES, CEC e IHE (Vianna e Almeida, 2005; Valdemarsen et al., 2007;
Segatto, 2010).
Nestes dois exemplos, nota-se claramente que os quatro fatores-chave elencados, quando
analisados de maneira criteriosa, indicam o distanciamento de cada pescaria aos padrões
exigidos. Desta maneira, mesmo com a ausência de análises detalhadas em nível de requisitos
(como as elaboradas nos estudos de caso), uma avaliação criteriosa destes quatro fatores
permite ter uma razoável ideia sobre o que se esperar das demais pescarias industriais do
Sudeste e Sul no que se refere à proximidade com os padrões exigidos nos selos de
certificação. Alguns cenários prováveis são então projetados para as demais pescarias com
base nos quatro fatores listados. Nestes cenários, conformidades e não conformidades
esperadas foram projetadas para as categorias de requisitos, como maneira de simplificar a
análise. Para tal, não conformidades com um requisito foram extrapoladas para toda a
categoria.
61
Pescarias demersais
As pescarias de arrasto listadas na Tabela 3 têm por alvo camarões costeiros e peixes
demersais de plataforma e talude (Baptista-Mitri, 2007; Branco e Verani, 2006; Perez et al.,
2007). Conforme mencionado, a ausência de planos de manejo e ordenamento adequados
deve gerar não conformidades observadas em categorias como estratégias de explotação (EEX)
e ferramentas de gestão (FGE) (Tabela 5). A gestão das pescarias direcionadas aos camarões
tem se baseado unicamente no controle de licenças – historicamente ineficiente – e na política
dos defesos de pesca, os quais isoladamente mostraram-se incapazes de controlar e manter o
esforço de pesca dentro de limites ótimos (D’Incao et al., 2002). Para a frota direcionada aos
peixes demersais, nem mesmo medidas como defesos foram aplicadas. A ausência de planos
de manejo ao longo das décadas de existência torna provável – isso quando não evidente – um
quadro de sobre explotação dos recursos alvo, tanto nas pescarias dirigidas aos peixes
demersais quanto aos camarões costeiros, resultando em não conformidades com a categoria
CSE. (D’Incao et al., 2002; Cergole et al., 2005; Perez et al., 2009a). Estoques só não parecem
comprometidos na pescaria dos camarões ferrinho e vermelho (Baptista-Mitri, 2007) (Tabela
5).
Para todas estas pescarias esperam-se não conformidades comuns relacionadas aos impactos
sobre hábitat, decorrente do tipo de petrecho utilizado, cuja justificativa foi exposta no estudo
de caso referente ao camarão rosa. Efeitos sobre os ecossistemas foram assumidos como não
conformidades em decorrência do caráter multiespecífico das capturas da maioria destas
pescarias (Perez et al., 2007 e 2009a; Baptista-Mitri, 2007; Branco e Verani, 2006), o que
reflete na necessidade de conhecimento aprofundado da ecologia de um amplo leque de
espécies capturadas e ecossistemas afetados (Pérez-Ramírez et al., 2007). A ausência destes
dados deve resultar em não conformidades (Tabela 5).
62
Tabela 5. Sumário das conformidades (em verde ou “C”) e não conformidades (em vermelho ou “N”) das pescarias industriais do Sudeste e Sul com as
categorias identificadas no Capítulo 1, estimados a partir dos resultados obtidos com os estudos de caso.
Petrecho de pesca Recursos alvo CSE EEX FAC DES CEC IHE IPR FGE CLE EPSG PSG COS
Arrasto duplo Camarões 7-barbas,
vermelho, barba-ruça N N C N N N N N N N N C
Arrasto duplo Abrótea, merluza e peixe
sapo N N N N N N N N N N N C
Arrasto meia água Castanha N N C C C C N N C N N C
Arrasto parelha e simples Peixes demersais diversos N N N N N N N N C N N C
Cerco Sardinhas, anchova, tainha e
espécies acessórias N N C C C C N N C N N C
Espinhel de superfície Atuns e afins C N C C N C N N C N C C
Vara e isca viva Bonito listrado C N N C C N N N C C N C C
Potes Polvo N C C C C C N C N N N C
63
Conforme explicado, a interação entre a baixa seletividade das redes de arrasto
(principalmente da frota camaroneira) e alta diversidade nas áreas de pesca resulta na captura
de um amplo leque espécies não alvo. A frequente ocorrência de organismos sem valor ou
tamanho comercial gera elevado volume de descartes (Alverson, 1994; Kelleher, 2005; Graça
Lopes et al., 2002; Vianna e Almeida, 2005). A ausência de observadores de bordo tanto nas
frotas direcionadas aos camarões quanto aos peixes demersais costeiros e de profundidade,
resulta ainda numa carência de informações em qualidade e quantidade suficientes para a
área de interesse. Neste contexto pode-se prever não conformidades para estas pescarias por
duas razões distintas: (a) seja pelos indícios de que os descartes podem vir a comprometer
outras espécies, como reportado para a pesca do camarão sete barbas (Branco e Verani 2006)
(b) seja pelo desconhecimento sobre a real dimensão destes impactos,como o caso da das
frotas dirigidas aos peixes demersais (Tabela 5).
Para aquelas pescarias nas quais há uma fauna acompanhante aproveitada (e.g. arrasto para
peixes demersais de talude e de plataforma), impactos sobre as espécies que a compõe podem
comprometer seus estoques, como observado para o peixe sapo e para alguns Scienídeos
(Perez et al., 2009a; Cergole et al., 2005; Rossi-Wongtchowsky et al., 2006). Já para as
pescarias de camarões costeiros, praticamente não há outras espécies aproveitadas, sendo
todo o montante de outras espécies descartado (Baptista-Metri, 2007; Branco e Verani, 2006).
Apesar de impactantes em virtude destes descartes, a inexistência de capturas acessórias
permite assumir conformidades com os requisitos presentes na categoria FAC (Tabela 5).
Assim como os descartes, espécies ameaçadas ou protegidas por legislação específica
mostram-se particularmente difíceis de serem monitoradas sem a presença de observadores
de bordo. A ausência de dados de observadores reflete na ausência de diagnósticos sobre a
ocorrência destas espécies, assumindo-se não conformidade com a categoria (Tabela 5). Estas
não conformidades apresentam ainda um maior embasamento se considerados os registros da
ocorrência de quelônios na pesca de camarões costeiros (Poiner e Harris, 1995), fato que levou
à obrigatoriedade no uso de TEDs (BRASIL, 2004a). Para a pesca dos camarões ferrinho e
vermelho, relata-se a ocorrência de elasmobrânquios, espécies naturalmente sensíveis e sendo
algumas ameaçadas de extinção e de captura proibida (Cedrola et al., 2005).
Já a pescaria de potes dirigida ao polvo comum é em grande parte semelhante à do caranguejo
vermelho. Nesta pescaria praticamente não ocorrem espécies acessórias, não há descartes e
os impactos do petrecho e da pescaria sobre o habitat e o ecossistema podem ser descritos
64
como mínimos ou desprezíveis. A existência de um ordenamento baseado em um plano de
manejo fornece à pescaria os instrumentos necessários para sua gestão (e.g. PTRs,
padronização das operações de pesca e presença observadores de bordo). No entanto,
observam-se não conformidades principalmente no que se refere ao cumprimento da
legislação. As últimas avaliações obtidas indicam certa estabilidade nos rendimentos (Ávila da
Silva e Tomás, 2007). No entanto, deve-se ponderar esta análise, dada a queda na produção
observada desde que a referida avaliação foi realizada (UNIVALI/CTTMar, 2010)
Pescarias pelágicas
A pesca de arrasto de meia água com alvo na castanha (Umbrina canosai) é extremamente
recente e, apesar de ter por alvo um recurso demersal, sua forma de atuação assemelha-se a
uma pescaria pelágica. Relata-se que suas redes não interagem com o fundo, e os lances de
pesca concentram-se sobre cardumes da espécie alvo, semelhante à frota de cerco. Por este
motivo, requisitos associados ao bycatch (DES e FAC) e aos impactos sobre o habitat e o
ecossistema (IHE) são assumidos como desprezíveis (observações pessoais). As não
conformidades desta pescaria devem surgir em decorrência da ausência de planos de manejo
e ordenamento, do possível quadro de sobre explotação do recurso alvo e da necessidade de
uma gestão compartilhada com o Uruguai, visto tratar-se de um recurso pesqueiro
compartilhado (Vasconcellos e Haimovici, 2006; Haimovici et al., 2005; Vaz do Santos et al.,
2008) (Tabela 5).
A pesca de cerco tem por alvo principal a sardinha verdadeira (Sardinella brasiliensis), e ocorre
desde meados da década de 70 (Gasalla et al., 2007; Schwingel e Occhialini, 2007). Por jamais
ter tido planos de manejo, inexistem estratégias de explotação voltadas ao recurso, o que no
longo prazo resultou num quase colapso da pescaria (Cergole e Rossi-Wongtchowski, 2007). A
histórica sobrepesca do recurso aliado à atual ausência de avaliações de estoque deve resultar
em não conformidades na categoria CSE. Espécies acessórias nestas pescarias aparecem
raramente como bycatch (e.g. cavalinha ou sardinha laje) bem como parte de um
direcionamento sazonal da frota para recursos de maior valor agregado (e.g. tainha, anchova e
bagre) (Gasalla et al., 2007; Schwingel e Occhialini, 2007). Em ambos os casos não há uma
avaliação do impacto potencial da pescaria sobre estes recursos (Tabela 5).
Atuns e afins são pescados na costa brasileira por apenas duas frotas: espinheleiros de
superfície (longliners) e embarcações de vara e isca viva (bait boats). Ambas as pescarias
encontram-se numa situação diferenciada em relação aos padrões observados para as demais.
65
Apesar de seguirem o padrão caracterizado pela ausência de planos de manejo, estas pescarias
são gerenciadas pela ICCAT (International Commission for the Conservation of Tunas and Tuna-
like Fishes). Esta organização torna obrigatório aos países associados à coleta e o fornecimento
dos dados das pescarias. A própria organização promove avaliações de estoque, elabora PTRs e
estabelece TACs para os países. Desta maneira, por mais que não haja um ordenamento destas
pescarias no Brasil, aspectos relacionados aos estoques e às estratégias de explotação devem
apresentar conformidade. No entanto, existem peculiaridades de ambas as pescarias que
podem vir a comprometer futuras certificações por não atestarem conformidade com os
padrões de sustentabilidade.
A frota de vara e isca viva dirige-se exclusivamente à captura do bonito listrado (Katsuwonus
pelamis). Nas capturas desta frota o bycatch é algo relativamente raro, e a captura de outras
espécies que não peixes pelágicos é inexistente. Quando ocorrem capturas de outras espécies,
nota-se o predomínio dos albacora laje e albacora branca, ambas espécies monitoradas pela
ICCAT nos mesmos moldes já mencionados. Ambos os estoques não apresentam indícios de
comprometimento (ICCAT, 2011 b,c,d). O principal ponto a ser considerado na
sustentabilidade desta pescaria consiste na problemática envolvendo o uso das iscas, uma
constante fonte de conflitos entre a frota de isca viva e a de cerco (Sckendorff e Azevedo,
2007). Em geral são utilizadas como iscas juvenis de sardinha verdadeira, capturadas pelas
próprias embarcações em enseadas e áreas costeiras abrigadas (Santos, 2000). Não há até o
momento um dimensionamento dos impactos da captura destes atuneiros sobre os estoques
da sardinha. No entanto, a possibilidade de comprometimento dos estoques de sardinha em
decorrência da magnitude das capturas promovidas por atuneiros não pode ser descartada
(IBAMA, 2004). Considerando a inexistência de requisitos voltados à avaliação das iscas
utilizadas, assumiu-se a problemática das iscas como relacionado à fauna acompanhante na
pesca do atum, visto não se tratar da espécie alvo da frota nem tampouco de uma mortalidade
indesejada. Considerando os juvenis de sardinha como espécies base de cadeias tróficas,
ponderou-se ainda a possibilidade de distúrbios nos ecossistemas de enseadas decorrentes
desta remoção. Neste sentido, atestou-se não conformidade com as categorias FAC e IHE
(Tabela 5). É interessante notar também que já existem empresas certificadas sob o selo FOS
operando com vara e isca viva. No entanto a problemática envolvendo a captura das iscas foi
ignorada nas auditorias (FOS, 2012).
A frota de espinhel de superfície também possui aspectos peculiares que devem ser
considerados nas avaliações de sustentabilidade. As capturas com este petrecho mostram-se
66
menos seletivas, sendo especialmente prejudiciais para aves e tartarugas marinhas – ambos os
grupos naturalmente suscetíveis mesmo a baixos níveis de mortalidade e, em alguns casos,
protegidos por legislação específica (BRASIL, 2004b). Medidas como a aplicação de anzóis
circulares e tori lines têm gerado resultados positivos na redução da mortalidade destas
espécies.
Conclusões
Os diagnósticos das pescarias industriais de Sudeste e Sul do Brasil em relação aos requisitos
exigidos nos programas de certificação de pescarias brasileira permitiram identificar diferenças
marcantes na potencialidade de certificação para as diversas pescarias nacionais consideradas.
Pescarias demersais de profundidade, por serem mais recentes e terem surgido num contexto
no qual a ausência manejo já não mais era tolerada, apresentam-se atualmente com maior
potencial de certificar-se em curto e médio prazo. Pescarias pelágicas oceânicas seguem a
mesma tendência, porém sua proximidade com os padrões exigidos explica-se mais por estas
terem sido historicamente submetidas a algum tipo de manejo, mesmo que promovido por
organizações internacionais como a ICCAT. Já as pescarias tradicionais costeiras, especialmente
as de arrasto direcionadas aos camarões, mostram-se extremamente distantes dos padrões de
sustentabilidade, e carregam problemas de décadas de atuação sem ordenamento. Sua
adequação e possível certificação só poderão ocorrer em longo prazo.
Os resultados obtidos mostram-se potencialmente úteis à indústria pesqueira, a qual pode
fazer uso dos diagnósticos gerados para verificar sua proximidade com os programas de
certificação, identificando a necessidade de realizar adaptações antes de investir em onerosas
auditorias. Apesar de não ter constituído o foco deste trabalho, o nível de detalhamento dos
resultados obtidos – principalmente nos estudos de caso – também apresentou um grande
potencial de aplicabilidade à gestão pesqueira. A identificação de não conformidades
acompanhadas de justificativas detalhadas das suas razões facilita a elaboração de planos de
ação para cada pescaria, destacando-se quesitos de maior necessidade para alocar recursos de
maneira mais eficiente, tanto no que se refere a eventuais benefícios a indústria (como
subsídios) quanto na definição de futuras linhas de pesquisa e desenvolvimento prioritários.
Por fim, nota-se que a metodologia aplicada apresenta um potencial positivo para avaliar a
sustentabilidade de pescarias industriais. Apesar dos consecutivos questionamentos sobre a
real eficácia da certificação para garantir a sustentabilidade ambiental de uma atividade
67
pesqueira (e.g. Jacquet et al., 2010), parece razoável que, quanto mais distante uma pescaria
de encontre dos padrões exigidos por um selo de certificação, tanto menor é seu nível de
sustentabilidade. Avaliar a sustentabilidade de pescarias mostra-se uma tarefa de extrema
complexidade, porém cada vez mais necessária. Isto porque é crescente a aceitação da
necessidade de tornar a atividade pesqueira menos impactante, e o favorecimento de
métodos de produção mais “sustentáveis” têm emergido como um dos caminhos de maior
destaque (Ward e Phillips, 2008). No entanto, avalia-las adequadamente se depara ainda com
a dificuldade de se definir quais atributos devem ser considerados nas avaliações e como
pondera-los de uma forma equilibrada e segura (Standal e Utne, 2011).
A utilização de requisitos fornecidos pelos selos de certificação de pesca mostrou-se válida
para este tipo de avaliação. A ausência de consenso sobre a eficácia da certificação, tem
levado a uma crescente exposição das diferenças, fragilidades e potencialidades dos
programas de certificação e de seus requisitos utilizados para atestar sustentabilidade, o que
não é necessariamente ruim (Accenture, 2009; Sainsbury, 2010; Leadbitter e Ward,
2007;Parkes et al., 2010; Goyert et al., 2010; ver Capítulo 1). Isto porque a manutenção do
foco neste tipo de debate assegura que os padrões e programas estão sob constante revisão e
fiscalização, o que aumenta a segurança e confiabilidade no seu uso, além de permitir corrigir
e adaptar os requisitos à medida que novas críticas são publicadas. Desta forma, sugere-se que
diagnósticos independentes de pescarias tendo como base os requisitos dos programas de
certificação sejam uma forma robusta o suficiente para avaliar sua sustentabilidade, podendo
ser utilizada tanto pela indústria quanto pelo governo, cada qual dentro de seus objetivos e
competências.
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Capítulo 3 – A certificação das pescarias industriais do Sudeste e Sul do
Brasil: o que necessita ser feito para alcançá-la?
Resumo
Este trabalho baseou-se num diagnóstico da sustentabilidade das pescarias industriais do
Sudeste e Sul do Brasil para fornecer um plano de ação com o objetivo de aproximá-las dos
requisitos exigidos pelos programas de certificação de pesca. A metodologia 5W2H foi
adaptada neste estudo para a elaboração de um plano de ação. Neste plano, foram
desconsiderados os custos e locais de execução das ações. Foram propostas oito ações a
serem executadas: (1) implementar programas de monitoramento por observadores
embarcados; (2) avaliar o estado dos estoques; (3) avaliar o bycatch; (4) caracterizar
ecossistemas; (5) adaptar os petrechos e estratégias de pesca; (6) implementar planos de
gestão para resíduos; (7) estruturar o sistema de gestão pesqueira; (8) implementar planos de
manejo. Tanto o governo quanto o setor produtivo devem atuar como executores de ações no
plano proposto. No entanto, uma execução coordenada e sequencial deve ser praticada, tendo
em vista a relação de dependência entre ações contidas no plano. Isto porque ações mais
complexas quase sempre dependem de outras para que possam ser executadas. Em relação às
pescarias, notou-se que nem todas as ações propostas no plano são necessárias a todas as
pescarias. Os diferentes patamares de sustentabilidade de cada uma explicam estas
diferenças. Definiu-se como prioridade gerar subsídios para a implementação de planos de
manejo. Para tal, sugere-se que o setor pesqueiro terceirize a implantação de monitoramento
por observadores embarcados e a realização de avaliações dos estoques e do bycatch. O
governo deve focar na estruturação do sistema de gestão pesqueira no Brasil, atualmente
desarticulado e na abertura e financiamento de linhas de pesquisa.
Palavras-chave: Certificação de pesca; plano de ação; pesca industrial; sustentabilidade.
Introdução
Atualmente as pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil encontram-se em diferentes
patamares de proximidade com os requisitos exigidos para a certificação ambiental de
pescarias (Capítulo 2). Algumas não conformidades com os requisitos mostram-se comuns a
todas as pescarias avaliadas, citando-se exemplos como a não implementação de um sistema
de gestão ou a ausência de planos de manejo para os resíduos e insumos das embarcações
pesqueiras. No entanto, nota-se a existências de diversas outras não conformidades as quais
têm sua origem atribuída à interação de fatores como os tipos de petrecho utilizados, as áreas
80
de pesca, a existência ou não de planos de manejo e a existência de monitoramento por
observadores embarcados (Ver Capítulo 2).
Ao analisar as razões do distanciamento das pescarias em relação aos requisitos exigidos,
percebe-se claramente a atuação simultânea de diferentes forças motrizes. O
desconhecimento sobre aspectos relevantes à pescaria (e.g. produtividade dos estoques,
descartes); a utilização de petrechos poucos seletivos; pescarias ocorrendo em áreas
inadequadas; a ausência de planos de manejo e até mesmo fragilidades nas esferas superiores
do sistema de gestão pesqueira exemplificam a existência de um quadro complexo de
problemas a serem resolvidos. Num cenário como este, definir as ações destinadas à
adequação das pescarias significa incorporar as diferentes partes interessadas, capacitadas e
responsáveis por cada uma das não conformidades observadas de forma a solucionar os
problemas expostos pelos requisitos não atendidos.
Paralelamente, nota-se preocupação com a forma como os recursos naturais são utilizados
tem cada vez mais chegado à ponta da cadeia produtiva. Num contexto como este, distanciar-
se de padrões de sustentabilidade, além de indicar a necessidade urgente de rever a forma de
uso e exploração destes recursos, tende a refletir também na perda de mercados nos quais o
consumo responsável já se mostra uma realidade (Brecard et al., 2009; Erwann, 2009). Para
ambos os casos, identificar as principais fragilidades no desempenho das pescarias e propor
ações coordenadas para correção torna-se crucial para um futuro de longo prazo da atividade
pesqueira, tanto do ponto de vista do sucesso do manejo quanto do sucesso econômico da
atividade.
Neste sentido, este trabalho fornece um plano de ação piloto para as pescarias industriais do
Sudeste e Sul do Brasil com base nos diagnósticos realizados anteriormente (Capítulo 2). Por
considerar a totalidade de requisitos utilizados nos programas de certificação de pesca, o
plano de ação proposto visa ao mesmo tempo desenhar os passos necessários rumo à
introdução da certificação de pescarias no Brasil, bem como identificar de uma maneira mais
ampla as principais demandas por políticas públicas voltadas para o setor pesqueiro.
A elaboração do plano
O plano de ação tomou por base os diagnósticos das pescarias realizados contra 55 requisitos
exigidos pelos programas Marine Stewardship Council – MSC e Friend of the Sea – FOS (ver
Capítulo 2). As principais fontes de não conformidade relatadas foram isoladas e possíveis
81
ações de correção foram levantadas. Considerando o elevado número de requisitos e, para
algumas pescarias, de não conformidades, propor ações com uma resolução num nível de
requisito tornaria o plano demasiadamente extenso e, consequentemente, pouco prático. Ao
mesmo tempo, percebeu-se a existência de algumas “ações-chave”, capazes de solucionar,
sozinhas, problemas em diversos requisitos, além de adaptarem-se facilmente à realidade de
qualquer pescaria. Com isto, adotou-se como estratégia elaborar um plano comum contendo
ações chave genéricas passíveis de aplicação em todas as pescarias.
Com as ações definidas, identificou-se a necessidade de escolher dentre as diversas partes
envolvidas no plano àquelas responsáveis pela execução das ações. A definição de “Quem age”
teve de ponderar dois pontos centrais: (1) a capacidade técnica/legal para se realizar a ação e
(2) o interesse das partes envolvidas/capacitadas em realizar a ação. Em relação ao primeiro
ponto, ações foram delegadas somente aos setores capazes de as solucionarem (e.g. somente
o poder público é capaz legalmente de implementar os planos de manejo). Em relação ao
segundo caso, notou-se a existência de ações passíveis de serem realizadas por mais de uma
parte (e.g. avaliar um estoque pesqueiro). Quando o setor privado esteve envolvido num
destes casos, optou-se por apresentá-lo como executor prioritário das ações, tanto por ser
este o principal interessado na resolução do problema – na perspectiva da implementação de
um selo ambiental – quanto pela maior agilidade e menores burocracias deste setor em
comparação aos setores públicos e institucionais. No entanto, apesar de uma maior exposição
ter sido dada ao setor privado, muitas vezes manteve-se outros setores responsáveis pela ação
como alternativa para a resolução dos problemas. Por fim, com ações e agentes estabelecidos,
focou-se em como cada parte deveria agir. Nesta etapa buscou-se tornar o mais claro possível
aos executores o caminho a ser percorrido para que cada ação do plano tivesse o resultado
desejado.
As diferentes etapas permitiram chegar a um plano de ação contendo 4 aspectos descritivos:
(1) o que deve ser feito – sendo esta a ação a ser executada; (2) quem deve executá-la; (3)
porque de executá-la – justificativa da ação e (4) como ela deve ser executada. Nota-se que a
estruturação do plano seguiu em grande parte à metodologia 5W2H – do inglês What; Who;
Why; Where; When; How e How much (Meira, 2005). Esta metodologia tem sido amplamente
utilizada como ferramenta para a melhoria da qualidade em empresas, por delimitar os
problemas e definir ações claras para solucioná-los.
82
No entanto, optou-se por desconsiderar aspectos como “onde” e “quanto” no plano de ação.
Isto porque, tratando-se de um plano não direcionado para nenhuma instituição, setor ou
empresa específica, definir onde a ação deveria ocorrer torna-se desnecessário. Já o custo de
execução de cada ação, mesmo possuindo uma elevada importância em um plano como este,
mostra-se extremamente difícil de ser estimado com precisão. Isto porque existem ações cujo
custo de execução mostra-se extremamente variável ou subjetivo (e.g. implementação de
planos de manejo). Paralelamente, foram propostas ações a serem realizadas através de
consultorias. No Brasil, inexiste um histórico de prestação de serviços deste tipo financiados e
solicitados pelo setor privado brasileiro, o que tornaria a estimativa destes custos sem um
referencial de mercado coerente.
Outro importante aspecto de um plano de ação ainda não mencionado indica quando cada
ação deve ser executada (Meira, 2005). Quando uma ação deve ser executada depende
basicamente de dois fatores: da importância da ação para o plano como um todo e da
existência e disponibilidade de todas as condições necessárias para a realização da ação. Ao
analisar as ações do plano, notou-se a existência de uma relação de dependência entre ações,
observando-se um tipo de hierarquia entre diferentes ações, conforme exemplificado na
Figura 1. Esta hierarquia permitiu identificar se, para determinadas ações, havia os
embasamentos necessários ou não. Com base nesta análise, definiu-se para cada pescaria
quando cada ação poderia ser iniciada, estabelecendo-se uma escala de três classes (i) ações já
realizadas ou desnecessárias para uma dada pescaria; (ii) ações necessárias e passíveis de
serem executadas imediatamente e (iii) ações que somente podem ser executadas
futuramente (Figura 2).
83
Figura 1. Exemplificação da hierarquia observada nas ações contidas no plano elaborado.
Entende-se por “I.P.M.” Implementação de Planos de Manejo.
Em relação à importância de cada ação para o funcionamento do plano como um todo,
definiu-se para cada uma o número de requisitos diretamente afetados por cada ação. A
escala de prioridades de execução das ações obedeceu, desta maneira, a posição da ação na
hierarquia (caso aplicável), bem como o número e a importância dos requisitos diretamente
atingidos pela execução da ação.
Análise do plano
Apesar do elevado número de requisitos utilizados nos diagnósticos das pescarias, relata-se
que apenas seis fatores chave têm atuado no distanciamento das pescarias industriais
brasileiras com os padrões exigidos pelos programas de certificação, sendo quatro destes
responsáveis por diferenças entre os níveis de distanciamento entre as pescarias (Ver Capítulo
2). Alguns aspectos como a fragilidade estrutural do sistema de gestão pesqueira e a ausência
de planos para tratar dos insumos e resíduos consumidos e produzidos a bordo, mesmo
estando em não conformidade com os requisitos, não contribuem para diferenças no
diagnóstico das pescarias. Já o tipo de petrecho utilizado, as áreas de pesca, a existência de
planos de manejo para a pescaria e um monitoramento (voluntário ou obrigatório) por
observadores embarcados explicaram as principais diferenças observadas. Estes seis fatores
devem ser, conjunta ou separadamente, abordados no plano de ação.
I.P.M.
Estruturação do Sistema
de Gestão
Análises e diagnósticos
Levantamento de dados e informações
84
Um total de oito ações foram propostas, delegando-se responsabilidades de execução tanto
para o Governo Federal quanto para o setor produtivo. Das ações a serem executadas pelo
setor produtivo, apenas duas delas (“Adaptação tecnológica/estratégica do petrecho e da
pescaria” e “Implementação de plano de gestão de resíduos”) puderam ser delegadas aos
armadores de pesca, dada a reduzida escala deste tipo de ação e a relativa simplicidade em
seu desenvolvimento e implementação. As demais ações propostas para o setor produtivo
apresentam maior grau de complexidade e abrangência, demandando uma atuação conjunta
de armadores de pesca no que foi aqui chamado de Setor Pesqueiro Organizado - SPO.
Enquadrou-se neste tipo de ação, por exemplo, a implementação de programas de
monitoramento através de observadores embarcados (Tabela 1).
Ações cuja execução foi delegada a mais de um responsável foram em geral compartilhadas
entre o SPO e o governo. Nestas ações compartilhadas, optou-se por favorecer ações a serem
realizadas pelo SPO como forma de acelerar o processo de adequação das pescarias com os
padrões. Isto porque há exemplos de que a dependência exclusiva do poder público tende a
tornar o processo consideravelmente mais lento, em decorrência dos consecutivos entraves
institucionais, políticos e burocráticos à que este está submetido – alguns exemplos podem ser
consultados em Perez et al. (2009). Exemplifica-se este processo com as avaliações de estoque.
Não há como excluir o papel do Estado na realização de avaliações e fiscalização dos estoques
pesqueiros sob sua tutela. No entanto, na ausência ou demora na participação governamental,
deve o SPO como principal parte interessada na sustentabilidade da atividade e,
possivelmente, na obtenção de selos de certificação, tomar a responsabilidade pela realização
das avaliações como forma de promover a adequação com os padrões mais rapidamente
(Tabela 1). Nestes casos – que não se restringem somente às avaliações de estoque – sugere-
se que o processo seja terceirizado na forma de projetos e consultorias financiadas pelo
próprio SPO. Um exemplo deste modelo estrutural é observado no Chile, país no qual o setor
pesqueiro financia parte das avaliações dos recursos pesqueiros para que seus resultados
sejam utilizados e discutidos nas tomas de decisão (Arana et al, 2001).
A forma de participação do poder público nas ações propostas no plano deve se dar de
diferentes maneiras de acordo com a natureza de cada ação proposta. Para a resolução de
problemas associados às lacunas de conhecimento técnico-científico, como o observado nos
requisitos e categorias relacionadas aos impactos potenciais da pescaria sobre o ecossistema
(Ver Capítulo 2), a abertura de linhas de financiamento para projetos de pesquisa com foco
neste tema pode apresentar resultados satisfatórios em médio prazo. Para
85
avaliação/monitoramento de estoques e bycatch, sugere-se a formação de convênios e
parcerias com instituições capacitadas para a função. Já as ações focadas na redução dos
impactos da pescaria devem ocorrer na forma de incentivos à adoção de equipamentos e
práticas de pesca, possivelmente acoplando adaptações à legislação dos subsídios de
combustível. Problemas associados à atual estruturação do sistema de gestão têm sua origem
em entraves burocráticos e disputas políticas. Num cenário como este, determinar “Como” o
executor da ação – no caso o próprio governo – deve agir torna-se extremamente difícil. Por
este motivo, as estratégias de execução não foram inseridas de maneira detalhada como nos
demais casos (Tabela 1).
Em relação à forma de atuação do setor pesqueiro, ações a serem realizadas pelo setor em sua
forma organizada (SOP) foram maioria no plano. Tal necessidade justifica-se por três razões.
Em primeiro lugar, a maior parte das ações requer a participação de uma parcela
representativa da frota atuante, evidenciando a necessidade do setor em agir conjuntamente.
Cita-se como exemplo a implementação de programas de monitoramento através de
observadores embarcados. Em segundo lugar, nota-se que os benefícios das ações não devem
permanecer restritos a uma ou duas empresas, podendo ser usufruídos por todo o setor e,
portanto, executados conjuntamente (e.g. a avaliação e o diagnóstico de um estoque
pesqueiro qualquer). Por fim, nota-se que mesmo não tendo sido realizadas estimativas de
custos de execução, espera-se que ações como as exemplificadas sejam de custo elevado,
dado o nível de complexidade que envolve a sua realização. Desta forma, agir individualmente
tende a tornar os custos inviáveis ou pouco atrativos, mantendo a pescaria distante dos
padrões desejados.
86
Tabela 1. Plano contendo as ações prioritárias para promover a sustentabilidade nas pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil. São apresentadas as
ações devidamente justificadas, os responsáveis pela execução e a estratégia a ser utilizada para o sucesso da ação. Requisitos atingidos por cada ação
também são apresentados, seguindo a listagem contida no Capítulo 2.
O que? Quem? Porque? Requisitos
diretamente beneficiados
Como?
Implementar um programa de observadores embarcados
Setor pesqueiro
organizado (SPO)
Para levantar dados que somente são possíveis de serem coletados abordo das embarcações:
• Descartes Para levantar dados com maior confiabilidade e resolução:
• Captura e esforço lance a lance
• Captura de espécies protegidas
• Biometrias
• Pesca fantasma
1;9;12;13; 18;19;23;24;
27;30
� Buscando instituições e/ou empresas capazes de fornecer este tipo de serviço.
Avaliar o estado dos estoques explotados
Setor pesqueiro
organizado (SPO)
Governo
Para:
• Caracterizar o estoque;
• Dimensionar o seu tamanho;
• Identificar seus potenciais de produtividade;
• Gerar subsídios técnicos para planos de manejo.
2;3;4;5
� Desenvolvendo projetos focados na avaliação dos estoques junto a instituições de pesquisa/ensino na forma de parcerias sindicato-instituição e convênios governo-instituição;
� Solicitando e financiando avaliações de estoque junto à instituições/empresas capacitadas na forma de consultorias.
87
O que? Quem? Porque? Requisitos
diretamente beneficiados
Como?
Avaliar e dimensionar o bycatch
Setor pesqueiro
organizado (SPO)
Para identificar a potencialidade da pescaria de causar danos à:
• Espécies “acessórias”;
• Espécies descartadas;
• Espécies ameaçadas;
• Espécies protegidas por legislação.
Para identificar a necessidade de se adotar medidas mitigatórias.
10;15;21
� Desenvolvendo projetos focados na análise de dados do bycatch junto a instituições de pesquisa/ensino na forma de parcerias sindicato-instituição e convênios governo-instituição;
� Solicitando e financiando análise de dados do bycatch junto à instituições/empresas capacitadas na forma de consultorias.
Caracterizar os ecossistemas com os quais a pescaria interage.
Governo
Instituições de
pesquisa
Para:
• Preencher a lacuna de informações referente à estrutura e função de ecossistemas em interação com a pesca;
• Identificar possíveis impactos da pescaria sobre a sua estrutura e função (e.g. cascatas tróficas).
25;28;29
� Abrindo linhas de financiamento para o desenvolvimento de projetos focados na caracterização dos ecossistemas e das comunidades, pressupondo parcerias com instituições de pesquisa/ensino e setor produtivo;
88
O que? Quem? Porque? Requisitos
diretamente beneficiados
Como?
Adaptar equipamentos/estratégias para reduzir mortalidades e impactos indesejados na pescaria.
Armador de pesca
Governo
Para:
• Identificar a possibilidade de reduzir mortalidades indesejadas;
• Identificar a possibilidade de reduzir impactos sobre o fundo;
11;14;16;17;22;26;29;49
Armador de pesca: � Buscando junto a fornecedores
equipamentos que aumentem a seletividade (e.g. BRDs, TEDs);
� Buscando junto a fornecedores equipamentos que diminuam impactos sobre o fundo (e.g. rockhoppers, portas mais leves);
� Testando-se adaptações nas estratégias de pesca (e.g. horas de arrasto ou o tempo de imersão das redes).
Governo: � Verificando a necessidade e
viabilidade de criar AMPs. � Fornecendo incentivos à adoção de
dispositivos que diminuam os impactos do petrecho;
Implementar um plano de gestão para os resíduos
Armador de pesca
Para:
• Reduzir a possibilidade de despejo de resíduos no mar;
• Melhorar a higiene a bordo e a boa aparência da embarcação;
• Identificar eventuais desperdícios e a possibilidade de reutilização de materiais;
• Melhorar a imagem da empresa.
31;32;33;34
� Quantificando os resíduos; � Identificando sua origem; � Verificando a possibilidade de aplicar
os 3 Rs; � Estabelecendo padrões de limpeza,
classificação e armazenamento dos resíduos.
89
O que? Quem? Porque? Requisitos
diretamente beneficiados
Como?
Implementar a estrutura do Sistema de Gestão prevista por lei
Setor pesqueiro
organizado (SPO)
Governo
Para reestabelecer os processos de tomadas de decisão na estrutura prevista na legislação nacional da pesca.
43;44;45;46;47;48
SPO: � Agindo via Ministério Público Federal
explanando a ilegalidade da atual estrutura e a urgência na necessidade de implementar a estrutura definida na legislação;
Governo: � Nomear os membros dos comitês e
subcomitês; � Convocar o seu funcionamento.
Elaborar e implementar um plano de manejo para a pescaria
Comitês do
Governo (CPGs)
Setor pesqueiro
organizado (SPO)
Para:
• Tornar claros os objetivos da pescaria;
• Colocar em prática estratégias de explotação;
• Definir e justificar as regras;
• Estabelecer mecanismos de vigilância, controle e monitoramento na pescaria;
• Assegurar uma explotação racional do recurso pesqueiro.
6;7;8;9;11;13;16;19;22;26;29;35;36;37;
38;39
CPG: � Definindo os objetivos da pescaria; � Estabelecendo estratégias para
alcançar os objetivos; � Fixando PTRs e PTLs; � Debatendo as metodologias e
técnicas utilizadas na elaboração dos PTs e nas avaliações de estoque;
� Incorporando informações de outras naturezas (e.g. seletividade, bycatch);
� Debatendo alternativas com as diferentes partes afetadas.
SPO: � Agindo via Ministério Público Federal
tornando formal a exigência de planos de manejo;
� Aportando as informações geradas pelo próprio setor.
90
Cada ação proposta no plano atingiu diretamente diferentes números de requisitos. Tomando
este critério como referência para identificar ações chave, três ações se destacaram com
números elevados de requisitos beneficiados. A elaboração e implementação de planos de
manejo para a pescaria deve beneficiar 16 requisitos, o maior número de requisitos atingidos
dentre todas as ações propostas. A implementação destes planos de manejo atua diretamente
sobre aqueles requisitos que avaliam as regras de controle da pescaria, as medidas de gestão
existentes e as estratégias de explotação adotadas. A adoção de programas de monitoramento
por observadores deve beneficiar diretamente outros dez requisitos, relacionados ao
monitoramento e geração de informações para diferentes finalidades (e.g. estoque alvo,
bycatch e pesca fantasma). A verificação da viabilidade de se adaptar equipamentos e
estratégias de pesca deve agir diretamente sobre outros oito requisitos, basicamente
relacionados a medidas para redução de impactos sobre outras espécies, habitat e
ecossistema (Tabela 1).
Considerando a relação de dependência entre ações, como exemplificado na Figura 1, nota-se
que além do número de requisitos diretamente beneficiados, também deve ser considerada na
definição das ações prioritárias a posição de cada ação na hierarquia existente. Isto porque
podem existir ações que atingem número reduzido de requisitos, mas que, no entanto,
constituem o embasamento para a realização de diversas outras ações contidas no plano.
Neste sentido, ações relacionadas à geração de informações e elaboração de diagnósticos
tendem a ganhar importância, por serem a base para a elaboração dos planos de manejo. Sob
esta perspectiva, a implantação dos programas de monitoramento por observadores
embarcados ganha novamente destaque, emergindo como ação prioritária para a adequação
das pescarias industriais brasileiras aos padrões exigidos. Paralelamente, avaliações e
diagnósticos dos estoques alvo e das demais espécies e ecossistemas em interação com a
pescaria também ganham destaque, por mostrarem-se necessários à elaboração dos planos de
manejo.
Conforme mencionado, a variável “tempo” em um plano de ação define quando cada ação de
deve ser tomada. Apesar de não ter sido analisada de maneira aprofundada, uma avaliação
criteriosa do posicionamento da cada ação na hierarquia exemplificada, bem como a
verificação da existência de todo o embasamento técnico e legal para sua execução permite
supor quando cada ação pode ser iniciada. Notou-se que o número de ações que somente
91
podem ser iniciadas futuramente cresce com o nível de complexidade da ação. A
implementação de planos de manejo, por exemplo, apareceu como ação a ser realizada
futuramente em praticamente todas as pescarias avaliadas, em decorrência da falta dos
subsídios necessários para sua execução, seguindo os moldes ideais de um plano de manejo
(Cochrane, 2005). Avaliar o bycatch também aparece como ações que somente podem ser
executadas futuramente em pescarias com menos informações disponíveis para análise.
(Figura 2). Por outro lado a caracterização dos ecossistemas, apesar de ser uma ação
complexa, está descrita no plano como política pública, podendo ser iniciada imediatamente.
Figura 2. Diagrama representando as ações necessárias para cada pescaria analisada. Células
marcadas em verde indicam ações as ações já realizadas ou não necessárias para cada
pescaria. Células em amarelo representam as ações necessárias cuja realização pode ser
iniciada imediatamente. Células em vermelho indicam ações necessárias, mas que dependem
de outras ações ainda não realizadas. Estas devem ser interpretadas como ações a serem
realizadas futuramente.
As pescarias e o plano de ação
Apenas a reestruturação do sistema de gestão e a implementação de um plano de
gerenciamento para os insumos e resíduos podem ser descritas como ações necessárias a
92
todas as pescarias avaliadas. Em ambos os casos, nota-se que as ações podem ser iniciadas
imediatamente, não dependendo de outras ações elencadas no plano. Em relação à
implementação de planos de gerenciamento de resíduos, nota-se que os próprios armadores
de pesca podem iniciar o processo de adequação, mediante a adoção de práticas e
procedimentos relativamente simples (Tabela 1). Reestruturar o sistema de gestão é uma ação
que deve beneficiar todas as frotas e pescarias brasileiras e que pode ser iniciada
imediatamente tanto por parte do Governo quanto por parte do SPO. Recomenda-se que o
SPO entre com ações no Ministério Público explanando a ilegalidade na manutenção do
cenário atual. Por parte do Governo, lhe cabe formar, nomear e por em funcionamento os
comitês responsáveis pela elaboração dos planos de manejo e fiscalização da atividade
pesqueira no Brasil.
Com exceção das duas comentadas acima, as demais ações não se mostraram necessárias para
todas as pescarias, como pode ser observado para os programas de observadores embarcados,
por exemplo (Tabela 1). Logicamente, a necessidade de se implementar programas de
monitoramento por observadores somente se mostra necessário naquelas que não possuem
tal ferramenta, o que exclui as pescarias de emalhe direcionado ao peixe sapo, e a de
armadilhas para polvo e caranguejos (BRASIL, 2008 e 2009). A pesca de emalhe com alvo na
corvina, mesmo já tendo sido monitorada por observadores de bordo, atualmente apresenta
uma cobertura extremamente reduzida frente à dimensão da frota (Pio, 2011), tornando
necessária a introdução de um programa com maior cobertura (Ver Capítulo 2 – Estudo de
caso com a pesca da corvina). Considerando que esta ação responde pela geração de
informações necessárias para diversas outras avaliações (e.g. descartes ou captura de espécies
críticas), recomenda-se iniciar com urgência a implementação deste tipo de programa em
praticamente todas as pescarias industriais brasileiras.
Pescarias que em algum momento estiveram monitoradas por observadores embarcados
possuem considerável volume de informações coletadas. Nestes casos avaliações do bycatch
ou já foram realizadas (e.g. Perez e Wahrlich, 2005) ou podem ser iniciadas imediatamente já
que parte dos dados encontra-se disponível para análise (e.g. Schroeder et al., 2011). Há casos
ainda onde avaliações do bycatch mostram-se desnecessárias, em virtude das capturas
altamente seletivas, como o reportado por observadores de bordo nas pescarias do
caranguejo vermelho e do polvo. Para a pescaria de arrasto de meia água e para as pescarias
de cerco, capturas compostas quase que exclusivamente pela espécie alvo tornam avaliações
do bycatch de menor importância, sendo assumidas como desnecessárias. Pescarias
tradicionais de arrasto de fundo direcionadas aos peixes demersais e camarões somente
93
poderão ter avaliações do bycatch depois de implementados os programas de monitoramento
por observadores embarcados, dada à carência de dados desta natureza.
Em relação às avaliações e diagnósticos dos estoques pesqueiros, apenas as pescarias de atuns
e afins (vara e isca viva e espinhel de superfície) possuem avaliações de estoque sendo
realizadas rotineiramente. Para as demais pescarias, diagnósticos e avaliações de estoque
podem e devem ser iniciadas ou atualizadas imediatamente. Para grande parte das pescarias,
conta-se com dados de captura e esforço os quais permitem realizar diagnósticos com certa
precisão (Hilborn e Walters, 1992). No entanto, cruzeiros de pesquisa aumentariam a
confiabilidade nos resultados. Somente para o caso do camarão rosa notou-se que ainda não
há como realizar avaliações de estoque confiáveis em virtude de fatores como a presença de
mais de uma espécie sendo capturada sem discriminação nos dados de captura e esforço;
remoções pouco controladas de uma fração juvenil do estoque e recrutamentos altamente
dependentes de variáveis climáticas (Valentini et al., 1991; D’Incao et al., 2002).
A necessidade de adaptação nos petrechos e estratégias de pesca só não foi observada nas
pescarias de cerco, arrasto de meia água e potes, já que estas capturam quase que
exclusivamente as espécies alvo sem interações expressivas com o fundo. Avaliar a viabilidade
de adaptarem-se os petrechos de pesca é necessário em todas as demais pescarias, tanto
pelágico quanto demersais. Pescarias demersais em geral necessitam testar adaptações para
reduzir seu contato com o fundo e aumentar a seletividade, como o relatado para as redes de
arrasto (Valdemarsen et al., 2007). Para pescarias de emalhe, adaptações tecnológicas focadas
na redução do bycatch são raras e de funcionamento questionável (Dawson et al., 1998).
Neste caso, considerar como estratégia possível para mitigar impactos a restrição das áreas de
pesca pode ser a saída. Mesmo em pescarias altamente seletivas como a direcionada ao
caranguejo vermelho, observadores de bordo relatam a não utilização dos painéis de escape,
exemplificando a necessidade destas ações mesmo em pescarias mais próximas dos padrões
de sustentabilidade (Ver Capítulo 2).
Apesar de não elencada no plano de ação por representar uma medida pontual, a questão dos
subsídios deve ser considerada. Subsídios aparecem nos requisitos inseridos como Políticas do
Sistema de Gestão, através de “Incentivos à pesca sustentável”. Segundo os padrões adotados,
subsídios passam a figurar como incentivos negativos – e consequentemente como não
conformidades – quando permitem que pescarias inviáveis economicamente sigam operando
num regime de dependência destes incentivos para sua sobrevivência (Ver Capítulo 2).
Estendendo um pouco o conceito, aplicar incentivos financeiros a pescarias altamente
impactantes em decorrência do tipo de petrecho utilizado ou das áreas de pesca, também
94
enquadra o governo como coparticipante de uma atividade danosa. Neste sentido, estratégias
voltadas no condicionamento dos subsídios à adoção de práticas de pesca menos prejudiciais
devem ser consideradas.
Ações prioritárias
As ações prioritárias para promover a adequação das pescarias aos padrões dos programas de
certificação foram definidas a partir da importância da ação em termos de número de
requisitos diretamente beneficiados e da posição hierárquica de cada ação, conforme
demonstrado na Figura 1. Foram selecionadas as ações consideradas prioritárias para serem
realizadas tanto pelo setor pesqueiro quanto pelo governo. Foi dada preferência às ações base
para o funcionamento do plano. Demais ações não listadas abaixo dividem-se em dois grupos:
(a) aquelas que necessitam ser realizadas futuramente, dada à carência do embasamento
necessário (e.g. elaborar planos de manejo) e (b) as que podem ser realizadas futuramente,
visto tratar-se de ações de rápida realização e que abordam poucos requisitos.
Setor Pesqueiro Organizado:
• Implementar programas de monitoramento contínuo através de observados
capacitados embarcados em parcela representativa da frota pesqueira;
• Solicitar avaliações de estoque junto a instituições e empresas capacitadas, buscando-
se alternativas como cruzeiros de pesca para pescarias nas quais dados de captura e
esforço mostram-se insuficientes (e.g. castanha com arrasto de meia água);
• Nos mesmos moldes das avaliações de estoques, solicitar diagnósticos do bycatch das
frotas que já tiverem informações disponíveis a este respeito.
Governo:
• Estruturar o sistema de gestão instituindo os Comitês de Gestão previstos na
legislação;
• Abrir linhas de financiamento para pesquisa com foco na caracterização dos
ecossistemas de plataforma e talude do Sudeste e Sul do Brasil;
• Manter um programa de avaliação dos estoques dos recursos alvo junto à instituições
de pesquisa ou no próprio governo. Como alternativa, um programa de certificação de
95
avaliações privadas, como eventualmente realizadas pelo SPO, pode ser uma solução
viável e de menor complexidade.
Conclusões
Os diagnósticos das pescarias industriais realizados com base nos requisitos exigidos pelos
programas de certificação de pescarias mostraram-se extremamente úteis na elaboração de
planos de ação. O nível de detalhamento fornecido nestes diagnósticos facilitou a identificação
das ações necessárias para a adequação das pescarias aos padrões utilizados. A proposição do
plano, ao contrário do que vem sendo observado em décadas de relação pesquisa-setor
produtivo-governo, delegou ao setor produtivo uma maior parcela de responsabilidade. Isto
porque partiu-se do pressuposto que o mesmo é o maior interessado na manutenção de sua
atividade em longo prazo. No caso de pescarias que almejem em algum momento certificar-se,
é natural esperar que o setor atue efetivamente segundo o plano proposto. No entanto, para
pescarias que não tem como objetivo uma certificação ambiental e que dependem da
manutenção do cenário atual, espera-se atrito e discordância com este plano. Neste caso, será
responsabilidade do governo a realização da maior parte das ações propostas.
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Considerações finais
Apesar do escopo central deste trabalho consistir num diagnóstico das pescarias industriais do
Sudeste e Sul do Brasil em relação aos requisitos exigidos nos programas de certificação de
pescarias, a independência observada entre os objetivos específicos permitiu que os
resultados fossem apresentados em capítulos separados. Tal separação motivou análises mais
aprofundadas dentro de cada objetivo específico, gerando conclusões independentes para
cada etapa. Três resultados diferentes destacaram-se ao longo dos capítulos apresentados.
Em primeiro lugar, notou-se que os programas de certificação de pescarias apresentam
diferenças marcantes quanto aos padrões utilizados nas avaliações de sustentabilidade
pesqueira. Sugere-se que tais diferenças existam em função das diferentes necessidades nos
locais onde as pescarias alvo de cada programa se situam. Exemplifica-se este fato através do
foco do programa Naturland na avaliação de aspectos sociais ao certificar pescarias africanas.
Um cenário como este indica que os programas de certificação tem se especializado em
certificar determinados tipos de pescarias, e as diferenças entre os requisitos utilizados
refletem esta especialização. Por outro lado todos estes programas avaliam e atestam
pescarias como sustentáveis mesmo possuindo diferentes focos. Diferenças desta natureza,
quando aliadas a uma rotulagem comum erguida sobre o conceito de sustentabilidade,
tendem a trazer dúvidas quanto ao que significa sustentabilidade para cada programa e o que
cada um realmente avalia. Neste sentido, este trabalho evidencia a existência de tais
diferenças e questiona a necessidade de se padronizar o conceito de sustentabilidade na
certificação de pescarias. O problema central não consiste no fato dos requisitos identificados
não se mostrarem capazes de atestar “sustentabilidade” quando auditados, mas sim que nem
todos os requisitos identificados são utilizados por todos os programas de certificação.
Ao se elaborar um diagnóstico das pescarias industriais brasileiras contra os padrões exigidos
nos dois programas de certificação mais utilizados, notou-se que atualmente estas pescarias
encontram-se em diferentes patamares de proximidade com os padrões exigidos, estando
algumas mais próximas que outras de alcançar uma certificação. Enxergando-se o nível de
atendimento aos requisitos dos programas de certificação índices de sustentabilidade, pode-se
concluir que as pescarias brasileiras encontram-se também em diferentes patamares de
sustentabilidade. Maiores discrepâncias com os requisitos foram observados nas pescarias
mais tradicionais e costeiras, sujeitas a décadas de um manejo que na prática mostrou-se
inexistente. Pescarias mais recentes estiveram mais próximas dos padrões utilizados como
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referência e, em alguns casos, podem vir a certificar-se em curto/médio prazo. Notou-se ainda
a existência de fatores chave que fazem de determinadas pescarias mais ou menos
sustentáveis. Estes fatores podem ser utilizados para identificar ações que visem reverter
diagnósticos negativos.
Por fim, notou-se que uma lista de requisitos retirada dos programas de certificação de
pescarias pode servir não somente para estabelecer perspectivas para a certificação de
determinadas pescarias. O nível de detalhamento possível de ser obtido quando os requisitos
são utilizados como guias metodológicos é tal que a elaboração de planos de ação para a
adequação das pescarias aos padrões de sustentabilidade é claramente facilitada. Neste
sentido, sua utilização pode se dar até mesmo como ferramenta de governo para a gestão
pesqueira, podendo nortear com precisão políticas públicas e investimentos para o setor
pesqueiro.
Ao final das análises, sugere-se que o setor produtivo – como principal interessado na
promoção de pescarias sustentáveis, seja por benefícios de mercado ou mesmo por
perspectivas de sobrevivência do setor em longo prazo – inicie um processo de levantamento e
geração de informações sobre pescarias que ainda carecem de dados para serem efetivamente
manejadas. Quanto ao poder público, identificou-se que suas prioridades atualmente devem
focar na implementação do sistema de gestão previsto na legislação, bem como no
financiamento de pesquisas que venham a preencher as principais lacunas de conhecimento
identificadas. Rever a forma como ocorrem os subsídios ao setor produtivo também deve ser
repensada.