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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ MARTIN COACHMAN DIAS DIAGNÓSTICO DAS PESCARIAS INDUSTRIAIS DO SUDESTE E SUL DO BRASIL FRENTE AOS PADRÕES INTERNACIONAIS DE CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL: PANORAMA ATUAL, AÇÕES E PERSPECTIVAS ITAJAÍ, SC Janeiro de 2012

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

MARTIN COACHMAN DIAS

DIAGNÓSTICO DAS PESCARIAS INDUSTRIAIS DO SUDESTE E SUL DO BRASIL FRENTE

AOS PADRÕES INTERNACIONAIS DE CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL: PANORAMA ATUAL,

AÇÕES E PERSPECTIVAS

ITAJAÍ, SC

Janeiro de 2012

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

MARTIN COACHMAN DIAS

DIAGNÓSTICO DAS PESCARIAS INDUSTRIAIS DO SUDESTE E SUL DO BRASIL FRENTE

AOS PADRÕES INTERNACIONAIS DE CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL: PANORAMA ATUAL,

AÇÕES E PERSPECTIVAS

Dissertação de mestrado apresentada como

requisito final à obtenção do título de Mestre

em Ciência e Tecnologia Ambiental, Curso de

Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência e

Tecnologia Ambiental, Centro de Ciências

Tecnológicas da Terra e do Mar, Universidade

do Vale do Itajaí.

Orientador: Dr. André Silva Barreto

Co-orientador: Dr. Paulo Ricardo Pezzuto

ITAJAÍ, SC

Janeiro de 2012

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Agradecimentos

Acho que por estarmos sempre tão exaustos ao final de trabalhos longos e árduos como estes

que compõem a “escada acadêmica”, até mesmo lembrar daqueles que nos apoiam e conosco

colaboram torna-se uma tarefa difícil. Falta cabeça. Na ausência de um cérebro em plenas

condições, buscarei naquele lugar da alma onde nós guardamos a gratidão, alguns nomes e

“grupos” que me acompanharam de perto ou de longe e que, de alguma forma, contribuíram

para o resultado final.

Em primeiro lugar, sou muito grato ao meu orientador, o Dr. André Barreto por aceitar o

desafio de encaramos este batalha tão diferente do que estamos acostumados a fazer. Para

mim foi um prazer termos trabalhado juntos! Ao Professor P. R. Pezzuto, que neste trabalho

foi meu (ou nosso) co-orientador, sempre aparecendo com pontos de vista que têm o poder

de redirecionar trabalhos! Agradeço também as valiosas contribuições do Dr. A. Lerípio, que se

dispôs a colaborar com o que fosse necessário. Da mesma forma, agradeço ao Dr. M. Polette,

pelas inúmeras conversas e sugestões. Muito obrigado.

Agradeço a minha equipe de trabalho, por compreender as dificuldades que envolvem esta

etapa da vida. Espero não ter-lhes atravancado muito as coisas!

Agradeço a todos os meus amigos (dos quais muitos já agradeci apenas uma linha acima) pelo

apoio fornecido, incentivos dados e, mais que tudo, pelos momentos alegres divididos que me

permitiram esquecer por sensacionais instantes as minhas preocupações, aflições e

responsabilidades!

Ao meu irmão, Eng. Eduardo Dias, que além do seu usual apoio e carinho de irmão, fez valiosas

contribuições a este trabalho, como bom engenheiro que é. Valeu Edu.

E o que seríamos nós sem a base que nos firma? Acho que não muita coisa. Tudo bem que

hoje eu não sou lá muita coisa, mas o pouco que sou devo a vocês, minha família! Obrigado

por existirem.

Agradeço finalmente a minha companheira, que vem estando presente nos agradecimentos

desde minha monografia, e que numa dessas aparece num doutorado... vai saber!

Obrigado a todos os que eu não mencionei aqui, e que tenham de alguma forma me apoiado!

Desculpem-me sinceramente se não os mencionei, mas conforme eu disse: falta cabeça!

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Sumário

Agradecimentos ................................................................................................................. iii

Lista de Tabelas .................................................................................................................. vi

Lista de Figuras ................................................................................................................. viii

Resumo geral ..................................................................................................................... ix

Abstract ............................................................................................................................. xi

Prefácio ............................................................................................................................ xiii

Referências .............................................................................................................................. xiv

Objetivos .......................................................................................................................... xvi

Objetivo geral: ......................................................................................................................... xvi

Objetivos específicos ............................................................................................................... xvi

Capítulo 1 – Uma análise dos programas de certificação ambiental de pescarias através de

seus requisitos..................................................................................................................... 1

Introdução ................................................................................................................................. 1

Metodologia .............................................................................................................................. 3

Resultados ................................................................................................................................. 8

Caracterização dos programas: requisitos e categorias como critérios de análise .............. 9

Agrupamento dos programas a partir dos requisitos ......................................................... 16

Discussão ................................................................................................................................. 19

Referências .............................................................................................................................. 23

Apêndice.................................................................................................................................. 26

Capítulo 2 - A certificação ambiental das pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil:

onde estamos? .................................................................................................................. 31

Introdução ............................................................................................................................... 31

Metodologia ............................................................................................................................ 33

Resultados ............................................................................................................................... 34

Considerações gerais sobre as pescarias industriais do SE e S do Brasil ............................ 34

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Aspectos comuns a todas as pescarias ............................................................................... 38

Estudos de caso ................................................................................................................... 44

Discussão ................................................................................................................................. 58

Conclusões .............................................................................................................................. 66

Referências .............................................................................................................................. 67

Capítulo 3 – A certificação das pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil: o que

necessita ser feito para alcançá-la? .................................................................................... 79

Introdução ............................................................................................................................... 79

A elaboração do plano ............................................................................................................ 80

Análise do plano ...................................................................................................................... 83

As pescarias e o plano de ação................................................................................................ 91

Ações prioritárias .................................................................................................................... 94

Conclusões .............................................................................................................................. 95

Referências .............................................................................................................................. 95

Considerações finais .......................................................................................................... 98

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Lista de Tabelas

Capítulo 1

Tabela 1: Lista dos documentos utilizados nas análises dos programas de certificação de pescarias, contendo o título do documento e a fonte de obtenção deste. .................................4

Tabela 2. Listagem das categorias e seus respectivos requisitos obtidos a partir da análise dos programas de certificação. ...........................................................................................................8

Tabela 3. Resultado das análises de correspondência, apontando-se os Eigenvalues, a percentagem absoluta e acumulada de explicação de cada eixo. Valores em negrito apontam para as maiores forçantes positivas e negativas dentro de cada eixo de valores. .....................18

Capítulo 2

Tabela 1. Lista dos requisitos para certificação utilizados para a avaliação das pescarias.

Modificado do Capítulo 1............................................................................................................36

Tabela 2. Listagem das categorias de requisitos contidos nos programas de certificação avaliados (siglas e nomes) e o número identificador dos requisitos presentes em cada categoria seguindo a sequência da tabela 1. Adaptado do Capítulo 1.......................................................36 Tabela 3. Listagem das pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil utilizadas na avaliação

de sustentabilidade. Petrechos de pesca e recursos alvo foram adaptados da matriz de

permissionamento publicada pelo Governo Federal Brasileiro (BRASIL, 2011). Petrechos de

pesca em negrito representam aqueles avaliados com maior detalhamento no âmbito dos

estudos de caso...........................................................................................................................39

Tabela 4. Sumário das conformidades (C) e não conformidades (N) das pescarias de caranguejo

vermelho, peixe sapo, corvina e camarão rosa com os requisitos para certificação (1 à 55)

utilizados nos programas (MSC e FOS). Requisitos encontram-se agrupados por categorias.

Células marcadas em cinza com “-“ representam requisitos não utilizados por cada programa

de certificação. O percentual de conformidades em relação ao total de requisitos avaliados é

apresentado para cada pescaria e programa separadamente. ..................................................43

Tabela 5. Sumário das conformidades (em verde ou “C”) e não conformidades (em vermelho

ou “N”) das pescarias industriais do Sudeste e Sul com as categorias identificadas no Capítulo

1, estimados a partir dos resultados obtidos com os estudos de caso. .............6

Capítulo 3

Tabela 1. Plano contendo as ações prioritárias para promover a sustentabilidade nas pescarias

industriais do Sudeste e Sul do Brasil. São apresentadas as ações devidamente justificadas, os

responsáveis pela execução e a estratégia a ser utilizada para o sucesso da ação. Requisitos

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atingidos por cada ação também são apresentados, seguindo a listagem contida em Dias et al.

(em preparação – Ver Capítulo 2). ............................................................................................ 86

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Lista de Figuras

Capítulo 1 Figura 1. Representação esquemática do processo de construção da matriz global de requisitos a partir dos documentos de referência dos programas de certificação. ......................................6

Figura 2. Gráfico de radar representando o percentual de cobertura de cada categoria (vértice)

em relação a cada programa de certificação. Polígonos cinza referem-se aos programas de

certificação, enquanto as linhas pontilhadas representam as exigências contidas no CCPR-FAO

1995. Siglas presentes podem ser consultadas na tabela 3. ..................................................... 12

Figura 3. Dendrograma representando a análise de agrupamento (cluster) para os quatro

programas de certificação de pescarias além do Código da FAO para pesca responsável. Os

agrupamentos foram baseados nos requisitos comuns exigidos por cada programa. ..............17

Figura 4. Representação gráfica da análise de correspondência aplicada aos programas de

certificação além do código da FAO para a pesca responsável. Círculos verdes representam os

requisitos exigidos, enquanto que os triângulos escuros representam os programas de

certificação avaliados. Curvas representam a separação empírica dos grupos identificados.

Siglas sublinhadas em negrito identificam as categorias referentes aos principais

agrupamentos de requisitos, disponíveis para consulta no Apêndice 1. ...................................18

Capítulo 2

Figura 1. Esquema representando a estrutura do sistema de gestão das pescarias estabelecido.

Para descrição das siglas, consultar texto. .................................................................................41

Capítulo 3

Figura 1. Exemplificação da hierarquia observada nas ações contidas no plano elaborado.

Entende-se por “I.P.M.” Implementação de Planos de Manejo. ................................................83

Figura 2. Diagrama representando as ações necessárias para cada pescaria analisada. Células

marcadas em verde indicam ações as ações já realizadas ou não necessárias para cada

pescaria. Células em amarelo representam as ações necessárias cuja realização pode ser

iniciada imediatamente. Células em vermelho indicam ações necessárias, mas que dependem

de outras ações ainda não realizadas. Estas devem ser interpretadas como ações a serem

realizadas futuramente. .............................................................................................................91

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Resumo geral

Este trabalho teve por objetivo definir o cenário atual e estabelecer uma perspectiva para a

certificação de pescarias no Brasil tendo por base diagnósticos das pescarias industriais sul

brasileiras em relação aos requisitos utilizados pelos principais programas em atuação. Foram

identificados os requisitos utilizados nos programas Marine Stewardship Council - MSC, Friend

of the Sea - FOS, Krav e Naturland e construída uma matriz comum contendo a totalidade de

requisitos utilizados pelos programas bem como seus critérios de cumprimento. Um total de

62 requisitos (agrupados em 12 categorias) foram identificados. Os programas de certificação

apresentaram diferenças marcantes, as quais são atribuídas às características dos locais onde

se situam as pescarias alvo de cada programa. Os programas MSC e FOS apresentaram a maior

adequação com o Código de Conduta para a Pesca Responsável da FAO e a maior clareza na

apresentação dos requisitos. Estes programas foram selecionados com intuito de estabelecer

um diagnóstico de quatro pescarias diferentes (caranguejo vermelho, peixe sapo, corvina e

camarão rosa) em maior detalhamento como estudos de caso. A partir destes resultados,

cenários prováveis para as demais pescarias industriais do Sudeste e Sul foram projetados.

Quatro fatores chave contribuíram para diferentes patamares de sustentabilidade entre as

pescarias avaliadas: (1) o tipo de petrecho utilizado; (2) as áreas de pesca; (3) a existência de

planos de manejo e (4) um histórico de monitoramento por observadores embarcados. Outras

duas fontes de não conformidade com os requisitos comuns a todas as pescarias foram

identificadas: a atual estruturação do sistema de gestão pesqueira do Brasil e a ausência de

planos de manejo para os resíduos e insumos das embarcações. No entanto, por terem tido

resultado semelhante para todas as pescarias avaliadas, estas duas não contribuíram para

diferenças na possibilidade de certificação. Notou-se que as pescarias mais próximas dos

padrões de sustentabilidade foram aquelas que utilizam métodos de pesca passivos e de

pouca interação com o fundo, além das pescarias sob algum tipo de manejo. Neste cenário,

pescarias mais recentes como às direcionadas aos recursos de talude (caranguejo vermelho e

peixe sapo), além daquelas direcionadas aos atuns e afins apresentaram as maiores

conformidades com os requisitos utilizados na certificação. Pescarias tradicionais costeiras e

que utilizam métodos de pesca ativos (redes de arrasto) são atualmente as mais distantes dos

padrões de sustentabilidade. Com intuito de adequar as não conformidades observadas, foi

proposto um plano de ação baseado numa adaptação da metodologia 5W2H. Foram propostas

sete ações capazes de modificar os seis fatores geradores de não conformidades. Elenca-se

como ações prioritárias a serem realizadas pelo setor produtivo (1) a implementação de

programas independentes de monitoramento por observadores embarcados; (2) solicitar e

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financiar de avaliações de estoque e (3) diagnósticos do bycatch. Como ação a ser realizada

pelo governo brasileiro, define-se como prioridade a (1) estruturação do sistema de gestão

previsto na legislação brasileira; (2) abrir linhas de financiamento de projetos focados na

caracterização dos ecossistemas marinhos de plataforma e talude e (3) manter programas de

avaliação dos estoques dos recursos alvo junto a instituições de pesquisa ou no próprio

governo. Por fim, conclui-se que os requisitos dos programas de certificação mostram-se

ferramentas úteis não somente para verificar o potencial para a certificação da

sustentabilidade, mas também funcionam satisfatoriamente como guias metodológicos para

elaborar planos de ação passíveis de utilização tanto por parte do setor pesqueiro quanto por

parte do governo na definição de política públicas e ações prioritárias.

Palavras-chave: Certificação de pesca; pesca industrial; requisitos para certificação.

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Abstract

This work aimed at establishing a general outlook for fisheries certification in Brazil, using the

environmental performance of industrial fisheries in southern Brazil relative to requirements

criteria used by the major programs in operation. A matrix was built using all the criteria used

by the Marine Stewardship Council - MSC, Friend of the Sea - FOS, Krav and Naturland

programs. A total of 62 criteria (grouped in 12 categories) were identified. The certification

programs exhibited strong differences, which were attributed to the specific characteristics

where the target fisheries are located. The MSC and FOS programs exhibited a greater

adherence to the FAO’s Code of Conduct for Responsible Fisheries, and a greater clarity when

presenting the indicators. These two programs were selected in order to diagnose four

different fisheries (red crab, monk fish, croaker and pink shrimp) in greater detail as study

cases. From these results, probable scenarios were projected for the remaining industrial

fisheries in the South and Southeast Brazilian coast. Four key factors contributed for the

different levels of sustainability among the evaluated fisheries: (1) the kind of fishery gear; (2)

the fishing areas; (3) the existence of management plans; and (4) previous monitoring by on-

board observers. Other two sources of nonconformities of the criteria common to all fisheries

were identified: the present structure of the Brazilian fisheries management system and the

absence of management plans for residues from the fishing vessels. However, since they

exhibited similar results for all evaluated fisheries, these two did not contribute to the

differences in the potentials for labeling. It was observed that the fisheries closer to the

sustainability standards were those that use passive fishing methods with low interaction with

the bottom, and those fisheries with some kind of management. In this light, more recent

fisheries such as those directed at shelf break resources (red crab and monkfish) and those

aimed at tuna and tuna-like fishes, exhibited more conformities to the analyzed indicators.

Traditional coastal fisheries that use active fishing gear (trawl nets) are at the moment the

ones further from the proposed sustainability standards. In order to adequate the observed

nonconformities, an action plan was proposed based on an adaptation of the 5W2H

methodology. Seven actions were proposed, able to change six of the factors that caused

nonconformities. The actions that should be prioritized by the productive sector should be (1)

implement independent monitoring programs by on-board observers; (2) request and fund

stock evaluations and (3) a bycatch diagnosis. As actions to be implemented by the Brazilian

government, priority should be given to (1) structuring the fishery management system

defined by Brazilian law; (2) start funding programs for projects aimed at the characterization

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of marine ecosystems on the shelf and shelf break and (3) maintain stock evaluation programs

for the fishery target species, together with research institutions or the government proper.

Finally, it can be concluded that the requirements criteria of the certifications programs

criteria are useful tools not only for evaluating the sustainability certification itself, but can

also be adequately used as methodological guides for structuring action plans that can be used

both by the fishery sector and the government when defining public policies and to prioritize

actions.

Key-words: Fisheries ecolabelling; crite; industrial fishery.

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Prefácio

Os primeiros colapsos de estoques pesqueiros observados, já no início do século 20,

evidenciaram a necessidade da gestão adequada destes recursos. O surgimento de modelos

matemáticos para cálculos de tamanhos de estoque, esforço de pesca e estimativas de

rendimentos máximos sustentáveis apareciam como soluções para o manejo dos estoques dos

quais se tinha informação de sobre-explotação (Pauly et al., 2002 e 2005). Todavia,

expectativas de sucesso foram gradativamente sendo substituídas por novos colapsos

pesqueiros. Como reflexos dos inúmeros exemplos de fracassos das formas clássicas de gestão,

novas formas de manejo pesqueiro começaram a ganhar importância, cada qual defendida por

diferentes grupos de pesquisadores. Considerações a respeito da aplicação de quotas de

captura (Individual Transferable Quotas) (Wilen, 2006), da elaboração de áreas vetadas à pesca

(Marine Protected Areas), de abordagens ecossistêmicas da gestão pesqueira (Ecosystem

Based Fisheries Management) (Field & Francis, 2006) dentre outras formas de manejo da

atividade têm enriquecido fóruns e debates. No entanto, sua aplicação ainda se dá em escala

muito reduzida.

Num cenário de incertezas, a preocupação com o futuro da atividade pesqueira tem

promovido mudanças na sua forma de atuação e de inserção nos mercados de modo a garantir

a sua sustentabilidade ambiental e econômica (Erwann, 2009; Grafton et al., 2008; Pauly et al.,

2005; Shelton, 2009; Thrane et al., 2009). Diferentemente dos cenários observados no

passado, tais mudanças têm sido alavancadas principalmente por mudanças nos padrões de

consumo e comercialização de pescado, resultado de uma demanda crescente por produtos

provenientes de pescarias ambientalmente sustentáveis (Brécard et al.,2009; Jacquet e Pauly,

2007; Jaffry et al., 2004). A certificação ambiental de pescarias surge como principal

ferramenta nesta nova fase em que a pesca industrial têm entrado. O crescente número de

pescarias aderindo a estas estratégias de mercado refletem a tendência global de ajuste das

pescarias aos padrões de sustentabilidade exigidos por certificadoras e escolhidos pelo

consumidor.

A certificação consiste basicamente na realização de auditorias que têm por objetivo avaliar o

desempenho das pescarias em relação a uma série de padrões pré-definidos – requisitos e

seus critérios de cumprimento. Num contexto no qual este tipo de medida têm tido uma

importância crescente, a não adequação de uma pescaria aos padrões de sustentabilidade

exigidos pode resultar na perda de mercado, principalmente se esta atuar em mercados nos

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quais a demanda por produtos certificados já se mostra uma realidade (Brécard et al., 2009;

Jaffry et al., 2004). Desta forma, é nítido que o aumento no número de pescarias aderindo aos

selos de sustentabilidade e a demanda já existente por produtos obtidos com baixo impacto

são fatores que tendem a expor em breve às pescarias nacionais a uma nova fronteira ainda

não conhecida na maior parte dos países em desenvolvimento.

Num cenário destes, identificar os principais padrões utilizados, os gargalos para a adequação

e estabelecer uma escala de ações prioritárias são medidas já necessárias para evitar perdas

econômicas atuais e futuras bem como para reduzir os impactos ambientais das pescarias

industriais brasileiras. Paralelamente, cenários de não adequação ou de existência de gargalos

em pontos-chave são fatores que representam o distanciamento das pescarias nacionais

frente aos padrões internacionais de sustentabilidade da atividade pesqueira. Neste sentido,

além de apontar as principais fontes potenciais de prejuízo ao setor produtivo, um diagnóstico

das pescarias frente aos padrões de certificação ambiental evidencia o grau de

sustentabilidade atual das pescarias brasileira, servindo de alerta às potenciais fontes de

prejuízo ambiental do ponto de vista dos estoques, ecossistemas e formas de gestão da

atividade.

Referências

Brécard, D.; Hlaimi, B.; Lucas, S.; Perraudeau, Y.; Salladarré, F. 2009. Determinats of demand

for reen products: An application to eco-label demand for fish in Europe. Ecological Economics,

69: 115-125.

Erwann, C. 2009. Eco-labeling: A new deal for a more durable fishery management? Ocean &

Coastal Management, 52: 250-257.

Field, J. C.; Francis, R. C. 2006. Considering ecosystem-based fisheries management in the

California Current. Marine Policy, 30: 552-569.

Grafton, R. Q.; Hilborn, R.; Ridgeway, L.; Squires, D.; Williams, M.; Garcia, S.; Groves, T.; Joseph,

J.; Kelleher, K.; Kompas, T.; Libecap, G.; Lundin, C. G.; Makino, M.; Matthiasson, T.; McLoughlin,

R.; Parma, A.; San Martin, G.; Satia, B.; Schmidt, C-C.; Tait, M. & Zang, L. X. 2008. Positioning

fisheries in a changing world. Marine Policy, 32: 630-634.

Jacquet, J. L.; Pauly, D. 2008. Trade secrets: Renaming and mislabeling of sefood. Marine

Policy, 32: 309-318.

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Jaffry, S.; Pickering, H.; Ghulam, Y.; Whitmarsh,D.; Wattage, P. 2004. Consumer choice for

quality and sustainability labeled seafood products in the UK. Food Policy, 29: 215-228.

Pauly, D.; Christensen, V.; Guénette, S.; Pitcher, T. J.; Sumaila, U. R.; Walters, C. J.; Watson, R.;

Zeller, D. 2002. Towards sustainability in world fisheries. Nature. 418: 689-684.

Pauly, D.; Watson, R.; Alder, J. 2005. Global trends in world fisheries: impacts on marine

ecosystems and food security. Philosophical Transactions of The Royal Society B. 360: 5-12.

Shelton, P. A. 2009. Eco-certification of sustainably management fisheries – Redundancy or

synergy? Fisheries Research, 100: 185-190.

Thrane, M.; Ziegler, F.; Sonesson, U. 2009. Eco-labeling of wild-caught seafood products.

Journal of Cleaner Production, 17: 416-423.

Wilen, J. E. 2006. Why fisheries management fails: treating symptoms rather than the cause.

Bulletin of Marine Science, 78 (3): 529-546.

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Objetivos

Objetivo geral:

� Avaliar o desempenho das pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil em relação

às certificações ambientais de pescarias, propondo ações para adequação do setor

pesqueiro aos requisitos exigidos.

Objetivos específicos

• Levantar e analisar os principais programas de certificação ambiental de pescarias;

• Propor um modelo de avaliação do setor pesqueiro com base nos requisitos dos

programas de certificação avaliados;

• Avaliar, com base em fontes secundárias, o nível de atendimento do setor pesqueiro

aos requisitos dos programas de certificação.

• Identificar e propor as ações prioritárias para adequação do setor pesqueiro aos

requisitos de sustentabilidade utilizados nos programas de certificação de pescarias.

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Capítulo 1 – Uma análise dos programas de certificação ambiental de

pescarias através de seus requisitos

Resumo

Selos de certificação de pescarias são ferramentas para auxiliar o consumidor na diferenciação de pescados provenientes de pescarias de baixo impacto. Baseiam-se na verificação do grau de atendimento das pescarias a uma série de padrões (requisitos) pré-estabelecidos. Contudo, variações entre os requisitos utilizados por diferentes programas tendem a gerar conseqüências negativas tanto para as indústrias quanto para os consumidores. Este trabalho analisou criticamente quatro programas de certificação de pescarias – MSC; FOS; Naturland e Krav – através dos seus requisitos para certificação, fornecendo uma análise comparativa dos programas bem como o alinhamento destes com as diretrizes da FAO para a pesca responsável. Um total de 62 requisitos foram levantados e agrupados em 12 categorias. Os programas da MSC e FOS mostraram-se os mais completos e de maior conformidade com a FAO, abordando categorias associados aos estoques, sistemas de gestão e impactos da pesca nos ecossistemas. Os programas da Naturland e Krav focam basicamente categorias da área social e de produção de resíduos, respectivamente. Identificou-se diferenças entre as formas de apresentação dos requisitos, fato que prejudica a compreensão e comparação dos padrões adotados pelos programas. Discute-se ainda que as diferenças entre a abordagem oferecida a cada categoria são reflexos das fragilidades e necessidades existentes na região de origem das pescarias-alvo destes programas. Desta forma, as diferenças entre os programas podem ser vistas como estratégias para ocupação de diferentes nichos de mercado para a certificação de pescarias, gerando consequências ao consumidor, indústria e ao próprio selo.

Palavras-chave: Certificação de pesca; requisitos; ecolabelling

Introdução

Os selos de certificação ambiental para pescarias têm se tornado ferramentas cada vez mais

populares no direcionamento da escolha dos consumidores no momento da aquisição de

pescado, promovendo produtos provenientes de pescarias de baixo impacto ao ambiente

(Erwann, 2009). Sua atuação consiste principalmente na diferenciação dos produtos

certificados em relação aos não certificados, fornecendo um “atestado” de que o produto com

a marca do programa é proveniente de uma pescaria bem manejada (Erwann, 2009; FAO,

2005; Philips et al., 2003; Shelton, 2009; Thrane et al., 2009). Informando-se a existência de

produtos de baixo impacto ambiental, deixa-se a critério do consumidor a opção por um

produto em detrimento a outro. A capacidade de direcionar as opções de consumo em

determinados mercados é tal que este tipo de ação tem sido relatado como uma terceira

geração de instrumentos de gestão dos recursos pesqueiros, na qual a noção da

responsabilidade civil no co-manejo das pescarias é explicitamente introduzida e divulgada ao

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público-alvo, favorecendo diretamente as pescarias sustentáveis e bem manejadas (Erwan,

2009).

A exemplo de outros tipos de selos como os de alimentos orgânicos ou as séries ISO, a

certificação de pescarias baseia-se no princípio do “selo de aprovação”, no qual um

determinado produto recebe o selo de um programa ao atender satisfatoriamente uma série

de exigências contidas dentro de indicadores de performance (requisitos) pré-definidos por

este (Kaiser e Edwards-Jones, 2005). A certificação de uma pescaria é de caráter voluntário,

cabendo à empresa ou organização solicitar adesão ao programa desejado (Deere, 1999; FAO,

2005). De maneira geral, existem basicamente dois tipos de selos de certificação de pescarias,

sendo (a) os selos monocriteriosos, os quais avaliam somente um aspecto de uma pescaria

(e.g. Dolphin Safe) e (b) os selos multicriteriosos, que avaliam de maneira mais ampla os

impactos de uma pescaria sobre os estoques, ecossistemas e sociedade (e.g. Friend of the Sea -

FOS e Marine Stewardship Council - MSC).

Dentre os selos multicriteriosos para certificação de pescarias, destacam-se o MSC, FOS,

Naturland e o Krav-ecolabel, os quais apesar de diferirem nas áreas de abrangência e número

de pescarias certificadas, têm sido os mais difundidos mundialmente sendo também os mais

discutidos na literatura (Parkes et al., 2010; Sainsbury, 2010; Thrane et al., 2009). Destes, o

programa da MSC mostra-se o de maior adesão, com mais de 100 pescarias já certificadas,

seguido pelo FOS, com cerca de 30 pescarias certificadas, ambos os esquemas com

abrangência global (FOS, 2011; MSC, 2011; Sainsbury, 2010). Os programas Krav e Naturland

ainda não apresentam a mesma amplitude, com quatro e uma pescarias certificadas

respectivamente, sendo estas restritas à Escandinávia e Tanzânia (Leste Africano) (Sainsbury,

2010; Thrane et al., 2009).

Mesmo compartilhando a ideologia comum de “incentivo às pescarias sustentáveis”, os

programas de certificação diferenciam-se em grande parte pelos princípios que embasam os

seus conceitos de sustentabilidade bem como pela maneira como a sustentabilidade das

pescarias é atestada, reflexo dos diferentes requisitos utilizados e das metodologias de

avaliação empregadas (Parkes et al., 2010; Sainsbury, 2010). Como exemplo, programas de

certificação podem compartilhar princípios comuns (e.g. estoques em níveis seguros de

explotação) ou possuir princípios específicos (e.g. redução das emissões de carbono). As

mesmas diferenças se aplicam aos requisitos utilizados por cada programa, os quais muitas

vezes apresentam diferentes critérios de cumprimento mesmo que para avaliar princípios

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comuns (Parkes et al., 2010). Com intuito de nortear os padrões adotados pelos programas,

uma lista de critérios mínimos a serem considerados pelos esquemas de certificação foi

publicada pela FAO (FAO, 2005) com base nas suas diretrizes para a pesca sustentável (FAO,

1995). Todavia, diferenças marcantes entre os programas ainda podem ser facilmente

observadas, em geral associadas aos princípios abordados por cada um bem como pelas

diferentes metodologias de avaliação utilizadas (Accenture, 2009; Parkes et al., 2010;

Sainsbury, 2010; Thrane et al., 2009).

A importância crescente dos selos de certificação na produção e comércio mundial de pescado

associada às já conhecidas discrepâncias entre os diferentes programas aumentam a

necessidade de análise, compreensão e avaliação dos esquemas de certificação de pescarias

em atuação. Como reflexo deste processo, nota-se consecutivas avaliações destes programas

sendo publicadas recentemente (Accenture, 2009; Parkes et al., 2010; Sainsbury, 2010; Thrane

et al., 2009). Contudo, nota-se nas avaliações publicadas uma carência de análises

comparativas que permitam avaliar de maneira aprofundada as diferenças e semelhanças

entre os esquemas de certificação considerando cada requisito como critério de avaliação.

Este tipo de análise tende a propiciar uma compreensão mais aprofundada sobre os esquemas

de certificação, pois além de permitir avaliar os princípios abordados por cada programa, torna

possível verificar a coerência dos princípios abordados com os requisitos utilizados. Este tipo

de análise permite também verificar o aprofundamento e relevância dada pelos programas aos

princípios que o fundamentam, tema este de extrema relevância tanto para o consumidor

quanto para o setor produtivo (Kuminoff et al., 2009).

Neste sentido, este trabalho preenche esta lacuna, aportando uma análise detalhada dos

principais programas de certificação ambiental de pescarias em atuação avaliando cada

programa em relação aos seus princípios considerados, aos requisitos utilizados e o

alinhamento destes com as diretrizes da FAO para a pesca sustentável.

Metodologia

A partir de uma revisão na qual foram consideradas a atuação e a projeção dos programas de

certificação, foram selecionados os quatro programas não governamentais e multicriteriosos

de maior expressão internacionalmente, sendo estes o MSC; FOS; Naturland e Krav-ecolabel. A

escolha destes programas deu-se em razão destes (a) possuírem seus critérios de certificação

disponíveis publicamente; (b) por serem os de maior aceitação e utilização em nível global

além de (c) figurarem como os mais debatidos na literatura, o que facilitaria comparações

entre os resultados deste estudo com trabalhos semelhantes já publicados (e.g. Parkes et al.,

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2010; Sainsbury, 2010). Guias de consumo, por não serem caracterizados como selos de

certificação (Parkes et al., 2010), foram desconsiderados neste estudo. Selos monocriteriosos,

por avaliarem somente aspectos pontuais de uma pescaria, também foram desconsiderados.

Os documentos contendo a descrição dos princípios e critérios exigidos foram obtidos nas

páginas virtuais dos programas, e serviram como documentos-base para a análise de cada

programa separadamente (Tabela 1). Para fins de comparação com as diretrizes da FAO para a

pesca sustentável, foram utilizados como critérios de referência os capítulos 6 a 8 do Código

de Conduta da Pesca Responsável (CCPR/FAO) os quais estabelecem as diretrizes necessárias

para assegurar a sustentabilidade das pescarias (FAO, 1995). A preferência por considerar o

CCPR/FAO em detrimento ao “Guidelines for the Ecolabelling of Fishery Products From

Captured Fisheries” (FAO, 2005) justifica-se pelo fato da maioria dos critérios mínimos

indicados nos Guidelines for ecolabelling estarem baseados no CCPR/FAO. Apenas aspectos

institucionais e estruturais dos programas de certificação aparecem em maior detalhamento

neste último documento. Contudo, tais aspectos fogem ao escopo deste trabalho.

Tabela 1. Lista dos documentos utilizados nas análises dos programas de certificação de pescarias, contendo o título do documento e a fonte de obtenção deste.

Programa de certificação

Documento utilizado Fonte

MSC

Fisheries Assessment Methodology and Guidance

to Certification Bodies – Version 2 – July 2009

http://www.msc.org/documents/scheme-documents/methodologies

FOS

Friend Of The Sea Certification Criteria

Checklist For Wild Catch Fisheries –May 2010

http://www.friendofthesea.org/download.asp

Naturland

Naturland Standards for Sustainable Capture

Fisheries http://www.naturland.de/standards.html#c1856

Krav-ecolabel Krav standards Chapter 17 http://www.krav.se/KravsRegler/10/

Os documentos selecionados foram analisados através dos requisitos que os compõem,

tomando como nível de referência as exigências mínimas de cada programa. Tal procedimento

teve por objetivo considerar as mínimas exigências dos programas avaliando-se cada requisito

isoladamente. Neste processo, foram avaliadas dentro da MSC todas as exigências contidas no

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Score 60 (SG 60) do documento de referência – Score mínimo a ser atribuído a um requisito

sem que este inviabilize instantaneamente a pescaria de certificar-se (MSC, 2009). O mesmo

princípio foi adotado para o FOS, no qual o check-list analisado apresenta requisitos

classificados como “essenciais”, “importantes” e “recomendados”, sendo as duas primeiras

classes essenciais à certificação. De maneira similar, somente estas duas classes de requisitos

foram consideradas (FOS, 2010). Para os programas Krav e Naturland, é fornecida somente

descrição textual dos requisitos utilizados, sem menção às formas de avaliação e nem mesmo

uma escala de referência ou classificação destes (Naturland, 2010; Krav, 2011). Desta forma,

todos os requisitos relacionados às pescarias descritos nestes documentos foram

considerados.

Todos os documentos de referência dos quatro programas passaram por uma análise prévia de

modo a verificar o seu grau de clareza e detalhamento na apresentação dos requisitos

utilizados por cada um. Posteriormente, foi construída uma matriz comum contendo o

universo de todos os requisitos identificados nos quatro programas de certificação além das

diretrizes encontradas no CCPR/FAO. A matriz de requisitos foi criada a partir de um processo

iterativo no qual (i) selecionou-se o programa de maior clareza e detalhamento; (ii) analisou-se

detalhadamente cada requisito apresentado no documento de referência deste programa; (iii)

descreveu-se de maneira genérica os requisitos encontrados, inserindo-os numa matriz

temporária; (iv) selecionou-se o segundo programa, analisando seu documento de referência

contra a matriz temporária, de forma a identificar (v) a existência de requisitos presentes no

programa já descritos na matriz pré-existente bem como (vi) a necessidade de inserir novos

requisitos à matriz, fruto de um novo critério abordado pelo programa não encontrado no

anterior (Figura 1). A construção da matriz de requisitos considerou inicialmente o programa

MSC, seguido pela FOS, Naturland e Krav como ordem de avaliação dos documentos. O Código

de Conduta da FAO (FAO, 1995) foi inserido por último na matriz seguindo estratégia similar,

porém adotou-se como requisitos da FAO as diretrizes contidas em cada parágrafo dos

capítulos 6 à 8 do documento.

Considerando que os programas de certificação diferiam no grau de abrangência de um

requisito em comparação à descrição da matriz global, elaborou-se neste processo uma escala

de valores, classificando cada requisito a partir da forma como este fora apresentado, sendo:

forma implícita (1); parcial (2) ou explícita (3) no documento de referência. Este procedimento

teve por objetivo gerar uma escala de clareza na forma como cada requisito é apresentado

dentro de cada programa.

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Figura 1. Representação esquemática do processo de construção da matriz global de requisitos a partir dos documentos de referência dos programas de certificação.

Desta maneira formou-se uma matriz M(i,j), na qual “i“ representa o número de requisitos

identificados e “j” as colunas referentes aos programas de certificação. Nesta matriz, uma

célula “A(i,j)” foi preenchida com “-“,1,2 ou 3 seguindo a escala de clareza de um requisito “i”

apresentado pela certificadora “j”, sendo que a classe “-“ corresponde à um requisito não

exigido (ver Apêndice 1).

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Na matriz global, requisitos similares foram classificados de acordo com a natureza de suas

exigências e posteriormente agrupados na forma de categorias. A comparação entre os

programas de certificação foi realizada por categorias e por requisitos individualmente. Nas

análises comparativas por categoria, as certificações foram comparadas através do percentual

de cobertura de cada categoria, conforme a equação 1.

Equação (1) 100*,

,

A

BA

BA

N

nP = com 0 ≤ PA,B ≤ 100

onde: PA,B representa o percentual de cobertura da categoria “A” pelo programa “B”; nA,B

representa o número de requisitos exigidos pelo programa “B” dentro da categoria “A” e NA

refere-se ao número total de requisitos que compõe a categoria “A”. O objetivo desta análise

consistiu na verificação do detalhamento dados por cada programa a cada categoria

identificada.

As análises considerando os critérios individualmente foram realizadas com intuito de verificar

a existência de similaridades entre os programas bem como identificar os critérios

responsáveis pelas similaridades identificadas. Para tal, uma análise de agrupamento (Cluster)

com as certificadoras entrando como amostras e os critérios como variáveis foi realizada sobre

a matriz global de critérios modificada na forma de presença/ausência, inserindo-se valores de

0 e 1 para os critérios ausentes e presentes nos documentos de referência, respectivamente.

Nesta matriz foram desconsiderados os níveis de exigência de cada critério (escala de 1 a 3), de

maneira que qualquer critério exigido foi identificado como presente (1) independente do seu

nível de exigência. Para a criação da matriz de distância utilizou-se o método de Jaccard, por

ser o mais indicado para dados de presença e ausência e também por desconsiderar duplas

ausências nos cálculos de distância. O método de agrupamento utilizado foi o Complete

linkage, o qual considera as maiores distâncias entre os grupos (Clarke e Warwick, 1997). Para

identificar quais critérios foram os responsáveis pela formação dos agrupamentos, foi

realizada uma análise de correspondência sobre a mesma matriz de presença e ausência.

Por fim, uma descrição dos programas de certificação foi realizada tomando como base os

resultados obtidos nas etapas anteriores bem como o nível de aprofundamento dos programas

nos requisitos e categorias identificadas, consultando-se a matriz global contendo os níveis de

exigência. Um paralelo com os próprios documentos de referência e o histórico dos programas

foi elaborado.

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Resultados

A matriz global de requisitos criada a partir dos documentos de referência dos programas de

certificação foi composta por 62 diferentes requisitos. De acordo com a natureza de suas

exigências, estes requisitos foram categorizados em 12 categorias distintas (Tabela 2). A maior

parte das categorias criadas possuiu de 4 a 5 requisitos cada, apesar de categorias como

“Estrutura e princípios do sistema de gestão – EPSG” e “Conformidade com a legislação - CLE”

terem tido 9 e 1 requisitos cada, respectivamente (Tabela 2).

Por apresentar um maior número de requisitos, uma maior clareza na descrição destes bem

como a melhor organização e estruturação do documento de referência, a matriz de requisitos

criada com base nos quatro programas assemelhou-se em grande parte à estrutura do

documento de referência da MSC – primeiro programa a ser inserido na matriz. Tal

semelhança apareceu como resultado do processo iterativo de leitura dos documentos de

referência e de inserção dos requisitos na matriz global. Programas com maior número de

requisitos e com organização mais clara tenderam a puxar a formação da matriz global para

uma maior semelhança desta com seu documento de referência. Este fato torna-se nítido

quando nota-se que a maior parte das categorias criadas na matriz criada seguiu uma

estruturação formada por um requisito focando (1) um diagnóstico/avaliação do assunto

abordado na categoria (e.g. Descartes), outro associado às (2) medidas e estratégias existentes

para o manejo desta categoria e (3) uma verificação/monitoramento da categoria. Este

padrão, conforme mencionado, assemelha-se em grande parte ao identificado no documento

de referência da MSC. Requisitos e categorias adicionais foram incluídos na matriz, sendo estes

em geral formados por aspectos não abordados pela MSC.

Tabela 2. Listagem das categorias e seus respectivos requisitos obtidos a partir da análise dos programas de certificação.

Categorias Número de requisitos

CSE Considerações sobre o estoque 5 EEX Estratégias de explotação 4 FAC Fauna acompanhante (by-catch aproveitado) 4 DES Descartes 7 CEC Captura de espécies críticas 3 IHE Impactos sobre o hábitat e ecossistema 6 IPR Insumos e produção de resíduos 4 FGE Ferramentas de gestão 6 CLE Conformidade com a legislação 1

EPSG Estrutura e princípios do sistema de gestão 9 PSG Políticas do sistema de gestão 5 COS Considerações sociais 8

Total 62

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Caracterização dos programas: requisitos e categorias como critérios de análise

Marine Stewardship Council - MSC

O programa da MSC cobriu 10 das 12 categorias identificadas, sendo que em 8 destas mais da

metade dos requisitos levantados na matriz global estiveram presentes no documento de

referência do programa (Figura 1). Categorias relacionadas aos estoques-alvo (“Considerações

sobre o estoque” – CSE e “Estratégias de explotação”- EEX), aos impactos da pesca (“Fauna

acompanhante” - FAC, “Captura de espécies críticas” - CEC, “Impactos no hábitat e

ecossistema” – IHE) bem como associados ao sistema de gestão (“Conformidade com a

legislação” - CLE e “Estrutura e princípios do sistema de gestão” – EPSG) tiveram ao menos

75% dos requisitos da matriz presentes nos documentos de referência do programa (Figura 2).

De uma maneira geral, os requisitos presentes no programa da MSC encontram-se

segmentados em três grandes princípios: (1) status das espécies-alvo; (2) status das demais

espécies, habitats e ecossistemas impactados pela pesca e (3) eficiência do sistema de gestão

da pescaria (Phillips et al., 2003; MSC, 2009). As coberturas satisfatórias de categorias

relacionadas aos estoques, aos impactos da pesca e ao sistema de gestão identificados neste

trabalho evidenciam a consistência dos requisitos utilizados no programa da MSC com os

princípios que o fundamentam. Tal alinhamento mostra que os padrões estabelecidos através

dos requisitos refletem os objetivos do programa de certificação. As diretrizes da FAO para o

estabelecimento de padrões em selos de certificação de pesca apontam que deve haver

coerência entre os objetivos do programa e os requisitos utilizados na avaliação das pescarias.

Tal fato indica o atendimento da MSC em relação a estas diretrizes (FAO, 2005).

Contudo, notou-se que categorias como “Insumos e produção de resíduos” - IPR e

“Considerações sociais” - COS não são sequer abordados pelo programa (Figura 2). Apesar de

ambas as categorias não aparecerem nos critérios mínimos a serem considerados pelos

programas de certificação (FAO, 2005), desconsiderar atributos sociais e éticos bem como

aspectos relacionados à produção de resíduos ou a emissão de gases-estufa emergem como as

principais fragilidades do programa.

A ausência da dimensão social e ética nos padrões estabelecidos pelo programa também foi

registrada em duas avaliações pretéritas (Accenture, 2009; Parkes et al., 2010), ressaltando

estes como sendo os pontos de maior distanciamento da MSC em relação aos demais

programas. Tal fragilidade ainda não apresentou maiores repercussões em virtude da

concentração das pescarias cerificadas em países Europeus e Norte Americanos. Contudo, a

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tendência de aumento no número de pescarias certificadas em países em desenvolvimento

(Perez e Ramirez, 2012) – nos os quais aspectos sociais e éticos das relações trabalhistas ainda

não são totalmente assegurados pelo estado – deve trazer a tona o debate sobre a inclusão

destes padrões no programa da MSC (Accenture, 2009). Já os aspectos relacionados à

produção de resíduos sólidos, emissão de gases estufa e CFCs deveriam possuir requisitos

específicos dentro do programa da MSC, visto não se tratar de problemas restritos aos países

em desenvolvimento. Contudo, tais aspectos ainda carecem de abordagem pela MSC.

O programa da MSC apresentou conformidade com o CCPR/FAO em categorias como

“Estratégias de explotação” - EEX e “Estrutura e princípios do sistema de gestão” – EPSG.

Considerando o CCPR/FAO como um documento fornecedor de diretrizes e critérios gerais

para que os Estados implementem um quadro institucional e legal para a gestão pesqueira

(FAO, 1995), o alinhamento dos critérios contidos no documento de referência com o Código

da FAO indica que aspectos legais e institucionais são abordados pelo programa de maneira

satisfatória. Categorias relacionadas aos estoques (CSE), by-catch (FAC e CEC), descartes (DES)

e impactos ao ecossistema (IHE) são cobertos pela MSC de forma ainda mais detalhada do que

a relatada pela FAO no CCPR. Este maior detalhamento podia ser esperado, já que o CCPR/FAO

foca mais em aspectos institucionais para a implementação de uma gestão eficiente. Neste

sentido, aspectos mais específicos como avaliação de impactos tendem a aparecer em menor

detalhamento no CCPR/FAO. Por outro lado, os aspectos relacionados à produção de resíduos

(IPR), às políticas e ferramentas de gestão (PSG e FGE) e às considerações sociais (COS) –

apectos presentes no Código da FAO – são abordados em menor detalhamento,

representando discrepâncias do programa em relação às diretrizes da FAO, demandando uma

revisão nestas categorias (Figura 2).

Ao atribuir valores aos requisitos identificados na matriz global, pôde-se identificar o grau de

clareza com que os programas de certificação apresentaram seus padrões e o alinhamento

destes com a descrição presente na matriz. Praticamente todos os requisitos presentes no

programa da MSC apareceram de forma explícita, o que aponta o atendimento integral destes

à descrição apresentada na matriz global. Considerando que o sucesso dos selos de

certificação baseia-se na confiança do mercado consumidor e na compreensão do setor

produtivo sobre os critérios a serem avaliados (Erwann, 2009), a adoção de padrões claros,

precisos e coerentes são aspectos fundamentais na manutenção da credibilidade dos

programas, pontos que o programa da MSC atende de forma satisfatória para os três

princípios que o fundamentam.

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Friend of the Sea - FOS

Assim como observado para a MSC, o programa FOS apresentou requisitos em 10 das 12

categorias identificadas. Categorias relacionadas aos estoques alvo (CSE) às capturas de

espécies não-alvo (FAC, DES, CEC), à produção de resíduos (IPR), às ferramentas do sistema de

gestão (FGE) e aspectos sociais (COS) foram abordadas com elevado número de requisitos,

evidenciando o detalhamento dado pelo programa à estes aspectos (Figura 2). Por outro lado,

categorias de grande relevância para assegurar a gestão segura de uma pescaria, como

aquelas relacionadas aos princípios e políticas dos sistemas de gestão (EPSG e PSG) bem como

às estratégias de explotação (EEX) não são abordados pelo programa, emergindo como

fragilidades da FOS.

Enquanto a MSC adota em seu documento de referência o sistema de Scores para apresentar

seus padrões e verificá-los quanto à conformidade, a FOS faz uso de um sistema de check-list

para descrição e verificação de cumprimento aos requisitos utilizados pelo programa (MSC,

2009; FOS, 2011). Apesar dos padrões descritos na forma de check-list apresentarem-se de

maneira mais direta – sendo possível em parte deles verificar rapidamente a presença de

requisitos quantitativos e qualitativos – este tipo de abordagem torna mais complexa a

inserção de aspectos subjetivos e conceituais dentro de requisitos precisos. Como exemplo,

nota-se que a avaliação de uma metodologia de monitoramento de descartes raramente

obedece a uma escala de duas categorias (conformidade / não conformidade), mas sim uma

escala gradual na qual a confiabilidade sobre a metodologia cresce à medida que a

metodologia mostra-se mais adequada e mais próxima do ideal. Nestes casos, uma avaliação

através do sistema de Scores parece mais adequada, tendo em vista que é capaz de identificar

o quão confiável é a metodologia utilizada. Talvez por este motivo, categorias relevantes,

porém naturalmente conceituais (e.g. EPSG, EEX, PSG,) não tenham sido abordados pelo

programa. Estas categorias foram responsáveis também pela maior discrepância do programa

em relação às diretrizes do CCPR/FAO (Figura 2).

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Figura 2. Gráfico de radar representando o percentual de cobertura de cada categoria (vértice) em relação a cada programa de certificação. Polígonos cinza referem-se aos programas de certificação, enquanto as linhas pontilhadas representam as exigências contidas no CCPR-FAO 1995. As siglas presentes podem ser consultadas na tabela 3.

A forma de estruturação do documento de referência da FOS favoreceu uma cobertura

satisfatória de categorias mais facilmente inseridas dentro de um check-list, tais como o estado

dos estoques, by-catch, ferramentas de gestão e manejo de resíduos. Os requisitos presentes

nestas categorias caracterizaram-se pela utilização de ferramentas simples e diretas para a

verificação de conformidade, característica positiva do programa (Sainsbury, 2010). Requisitos

quantitativos estiveram presentes em categorias nas quais uma avaliação numérica mostrava-

se possível (e.g. diagnóstico dos estoques, restrições ao volume de descartes e quantificação

do consumo de combustíveis). Requisitos qualitativos em geral apareceram na forma de

avaliações de presença e ausência (Conformidade / Não conformidade), fazendo uso de

ferramentas simples para auditoria (e.g. registro das embarcações, minimização da produção

de resíduos).

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Conforme o esperado, a estruturação do documento de referência do programa na forma de

check-list fez com que a maioria dos requisitos presentes atendesse de maneira explícita aos

seus critérios de cumprimento presentes na matriz, evidenciando a clareza do programa na

apresentação dos padrões. Contudo, a descrição sucinta com que determinados requisitos são

mostrados resultou também na necessidade de gerar interpretações sobre a sua real

abrangência. Nestes casos, notaram-se requisitos no check-list da FOS que atendiam de forma

explicita a certos critérios de cumprimento da matriz enquanto paralelamente atendiam

implicitamente aos critérios de cumprimento de outros requisitos. Um exemplo claro deste

tipo de problema foi encontrado no requisito de número 5.4 do check-list do programa.

Descrito como “The fishery has a by-catch reporting methodology that is accountable”, o

critério atendeu explicitamente ao requisito de número 13 da matriz (ver Apêndice 1).

Paralelamente, pôde-se interpretar que informações adequadas para o by-catch estariam

disponíveis (requisito de número 12) em decorrência de uma metodologia confiável de

registro. Contudo, neste último caso este foi inserido como implícito no documento.

Naturland

Diferindo dos dois programas anteriores, a Naturland apresenta seu documento de referência

com os padrões descritos numa forma textual, não deixando clara a forma de avaliação

empregada (check-list ou Scores), os requisitos exigidos nem os seus critérios de cumprimento.

De acordo com a Naturland, a seleção dos requisitos é feita de maneira interativa entre o

programa e a pescaria avaliada através de verificações in situ das condições locais, avaliando-

se a necessidade de construção e adaptação de diferentes padrões a cada caso (Naturland,

2010; Sainsbury, 2010; Parkes et al., 2010). Considerando a inexistência de requisitos claros

pré-estabelecidos, a inserção do programa na matriz global foi resultado de um processo de

interpretação textual do documento de referência e posterior alocação destes dentro da

matriz.

O programa da Naturland para certificação de pescarias foi o que apresentou o maior número

de categorias abordadas, possuindo requisitos em 11 das 12 categorias identificadas. Apesar

desta cobertura aparentemente ampla, a maior parte das categorias foi abordada com um

reduzido detalhamento. Nestes casos, notou-se que menos de metade do total de requisitos

identificados na matriz global foram encontrados no documento de referência da Naturland.

Aspectos de alta relevância para a explotação segura dos estoques pesqueiros, tais como os

relacionados aos estoques (CSE), ao by-catch (FAC, DES e CEC) e ao sistema de gestão (EPSG)

são apenas tangenciados pelo programa em seu documento (Figura 2). As maiores

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discrepâncias do programa em relação às diretrizes para pesca sustentável (FAO, 1995) situam-

se em categorias associadas ao sistema de gestão (EPSG e PSG), à produção de resíduos (IPR) e

às estratégias de explotação dos recursos pesqueiros (EEX) (Figura 2).

A não padronização prévia dos requisitos e de seus critérios de cumprimento observada no

programa resultou em descrições genéricas, de modo a viabilizar sua adaptação às

necessidades locais de cada certificação. Como resultado, a já mencionada carência de

requisitos em número suficiente para avaliar aspectos de alta relevância foi ainda acentuada

por uma apresentação implícita e pouco clara destes em comparação às descrições

encontradas na matriz global. Requisitos no documento da Naturland que atenderam apenas

parcialmente aos respectivos critérios de cumprimento presentes na matriz também foram

comuns. Neste sentido, a menos que requisitos mais precisos e claros sejam formulados

durante o processo de certificação, o programa da Naturland apresenta sérias discrepâncias

com as diretrizes da FAO (FAO, 2005), não atendendo nem mesmo aos mínimos critérios

necessários para a certificação de pescarias.

Por outro lado, notaram-se categorias que foram abordadas de maneira satisfatória pelo

programa. Assim como já registrado em avaliações anteriores, o foco do programa parece

estar direcionado para questões relacionadas à responsabilidade social (Accenture, 2009;

Parkes et al., 2010; Sainsbury, 2010). Dentre todos os programas, a Naturland apresentou a

mais detalhada cobertura da categoria relacionada aos aspectos sociais da pescaria, possuindo

7 requisitos diferentes para avaliar o desempenho da pescaria, sendo considerados desde

princípios como “igualdade de oportunidades“ até mesmo a existência de assistência médica

para funcionários das empresas (ver Apêndice 1). Da mesma forma que se pôde atribuir a

ausência de considerações sociais no programa da MSC à concentração das certificações em

países desenvolvidos, a atenção especial dada pela Naturland a estas questões parece possuir

relação direta com as pescarias-alvo do programa, que até o presente momento certificou

somente pescarias de países subdesenvolvidos. Todas as quatro pescarias certificadas pelo

programa situam-se na Tanzânia, país de baixo índice de desenvolvimento humano onde

aspectos sociais tendem a ganhar importância (Naturland, 2011).

Krav-ecolabel

Dentre os quatro programas avaliados, a Krav foi aquele que abordou o menor número de

categorias identificadas, com requisitos em 9 das 12 categorias formadoras da matriz global.

Foi também o programa com o menor número total de requisitos na matriz, possuindo em seu

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documento apenas 18 dos 62 requisitos totais levantados (ver Apêndice 1). Como reflexo

deste baixo número de requisitos, apenas 5 das 9 categorias abordadas pelo programa (CSE,

CEC, IPR, FGE e CLE) apresentaram cobertura maior que 50 % em relação ao número total de

requisitos da categoria (Figura 2). Aspectos associados ao sistema de gestão (categorias EPSG e

PSG) foram abordados de maneira superficial pelo programa, enquanto outras categorias

relevantes como as “Estratégias de explotação” e “Impactos no habitat e ecossistema” não

apresentaram nenhum requisito no documento de referência do programa. Categorias não

abordadas ou abordadas de maneira pouco detalhada e superficial (EEX, FGE, EPSG e PSG),

apareceram como as maiores discrepâncias do programa em relação às diretrizes do

CCPR/FAO (Figura 2).

O programa da Krav – juntamente com a FOS – apresentou a mais detalhada cobertura de

aspectos relacionados aos insumos e a produção de resíduos (IPR), possuindo um grande

número de requisitos específicos para avaliar a emissão de poluentes na atmosfera e na água.

Já em relação aos aspectos sociais, um único requisito específico para avaliar a capacitação da

tripulação e o conhecimento desta em relação aos dos padrões da Krav tangenciou a categoria

“Considerações Sociais”. Assim como observado para a MSC, a não consideração de questões

sociais mostra-se um reflexo do grau de desenvolvimento dos países-alvo do programa, sendo

neste caso países da Escandinávia (Accenture, 2009). De maneira similar, a adoção de

requisitos detalhados para a produção e dispersão de resíduos reflete a preocupação da UE

com este tipo de problema.

Praticamente todos os programas de certificação avaliados apresentaram de maneira explícita

requisitos para restringir a utilização de determinados equipamentos bem como para

promover a utilização das melhores tecnologias existentes. Contudo, o programa da Krav

apresenta em seu documento de referência uma série de restrições e recomendações

direcionadas a diferentes petrechos de pesca que, apesar de não terem sido robustos o

suficiente para descrevê-los como requisitos separados na matriz, representam parte

considerável dos padrões utilizados pelo programa. Desta forma, nota-se o foco do programa

em avaliar também aspectos operacionais de pescarias, com requisitos específicos para avaliar

o desempenho de cada arte de pesca separadamente (e.g. arrasto de fundo, armadilhas, redes

de emalhar e long-lines) (Krav, 2011).

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Similaridade dos programas

Uma análise de similaridade foi aplicada sobre a matriz global agrupando-se programas de

certificação com base nos requisitos utilizados por cada um. Esta análise permitiu a

identificação de duas associações distintas. A primeira associação foi formada entre o

programa da MSC e o Código da FAO, evidenciando o maior alinhamento do programa com as

diretrizes contidas no documento da FAO. Um segundo par foi formado entre o programa da

FOS e a Krav. O programa da Naturland permaneceu isolado no dendrograma, evidenciando as

diferenças já citadas deste programa em relação aos demais (Figura 3).

A análise de correspondência corroborou os resultados visualizados nos dendrogramas. Por

explicarem praticamente 67 % da variabilidade da matriz, apenas os eixos 1 e 2 da análise de

correspondência foram demonstrados graficamente (Tabela 3). Considerando somente estes

dois eixos, percebe-se que a proximidade entre o programa da MSC e o CCPR/FAO decorre

basicamente de requisitos comuns pertencentes às categorias que avaliam o desempenho do

sistema de gestão das pescarias (EPSG e PSG). Os requisitos para avaliar os impactos da pesca

no hábitat e ecossistema (incluídos na categoria IHE), além daqueles para avaliar as estratégias

de explotação dos estoques alvo (EEX) apareceram como os principais responsáveis pela

separação da MSC dos demais programas (Figura 4).

Os programas da Naturland e da Krav mantiveram-se opostos espacialmente, sendo puxados

por requisitos ligados aos aspectos sociais das pescarias (COS) e aos insumos e à produção de

resíduos (IPR), respectivamente. Tal oposição torna evidente o foco de cada programa, sendo

utilizados requisitos específicos para avaliar detalhadamente os aspectos de maior relevância

nos locais de atuação destes programas. Requisitos comuns entre estes programas foram

raros, caracterizando-os como altamente específicos (Figura 4).

O programa da FOS manteve-se no meio termo entre todos os demais programas. Por

apresentar requisitos relacionados tanto aos aspectos sociais, quanto aos insumos e à

produção de resíduos, a FOS situou-se praticamente equidistante entre a Naturland e Krav.

Requisitos relacionados aos estoques alvo e às ferramentas para gestão – situados no centro

do gráfico – mantiveram o programa relativamente próximo da MSC. No entanto, diferenças

entre estes dois programas foram observadas em decorrência dos requisitos relacionados às

estratégias de explotação (EEX), descartes (DES) e à avaliação do sistema de gestão (PSG e

EPSG). Todos estes aspectos são avaliados pela MSC com um maior detalhamento (Figura 4).

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Figura 3. Dendrograma representando a análise de agrupamento (cluster) para os quatro

programas de certificação de pescarias além do Código da FAO para pesca responsável. Os

agrupamentos foram baseados nos requisitos comuns exigidos por cada programa.

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Figura 4. Representação gráfica da análise de correspondência aplicada aos programas de

certificação além do código da FAO para a pesca responsável. Círculos verdes representam os

requisitos exigidos, enquanto que os triângulos escuros representam os programas de

certificação avaliados. Curvas representam a separação empírica dos grupos identificados.

Siglas sublinhadas em negrito identificam as categorias referentes aos principais

agrupamentos de requisitos, disponíveis para consulta no Apêndice 1.

Tabela 3. Resultado das análises de correspondência, apontando-se os Eigenvalues, a percentagem absoluta e acumulada de explicação de cada eixo. Valores em negrito apontam para as maiores forçantes positivas e negativas dentro de cada eixo de valores.

Eixo 1 Eixo 2 Eixo 3 Eixo 4

Eigenvalues 0,348 0,278 0,211 0,106

% 36,88 29,52 22,39 11,21

% Acum. 36,88 66,40 88,79 100,00

MSC 1,457 0,147 0,742 -0,619

FOS -1,025 -0,110 1,359 0,804

Naturland -0,767 2,038 -0,774 -0,633

Krav -0,994 -1,633 -0,562 -1,785

FAO 0,390 -0,431 -1,120 1,089

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Discussão

Os programas de certificação têm sido foco de consecutivos questionamentos sobre a sua real

eficácia na promoção de pescarias verdadeiramente sustentáveis (e.g. Jacquet et. al., 2010).

Este fato tem chamado a atenção para a necessidade de se analisar e avaliar como estes

programas têm atestado a sustentabilidade das pescarias. Exemplificando tal tendência, nota-

se revisões dos programas sendo publicados nos últimos anos (Acenture, 2009; Parkes et al.,

2010; Sainsbury, 2010). Em geral estas revisões têm tido por objetivo caracterizar os

programas de certificação através de sua estrutura, metodologia, princípios abordados e,

principalmente, o alinhamento destes com o guia para a certificação de pescarias (disponível

em FAO, 2005).

Trabalhos como os recentemente publicados, mesmo acrescentando importantes

contribuições à compreensão da estrutura de cada programa, ainda assim se mostram

restritos no que tange à exposição de como a sustentabilidade das pescarias é avaliada por

cada um. Isto porque as análises publicadas consideram uma gama maior de aspectos que

envolvem os processos de certificação (e.g. presença de auditorias independentes,

rastreabilidade e transparência). Consequentemente, têm-se tratado superficialmente de

aspectos que exigem um maior detalhamento, mas que ainda assim mostram-se de extrema

importância para a compreensão dos programas, citando-se como exemplo os requisitos

utilizados para atestar a sustentabilidade das pescarias. Este trabalho propôs uma abordagem

alternativa, utilizando os requisitos exigidos para certificar pescarias como critérios para

caracterizar e comparar os programas de certificação.

Tal abordagem baseou-se na criação de uma matriz contendo todos os critérios requisitados

pelos programas de certificação. Esta matriz possuiu 24 requisitos a mais do que a elaborada

por González et al. (2007) durante o processo de avaliação da sustentabilidade da pesca

artesanal da merluza na Patagônia, Argentina. Contudo, a avaliação desta pescaria foi baseada

exclusivamente nos padrões da MSC, de maneira que a presença de um número maior neste

estudo deve-se a existência de requisitos exigidos e categorias abordadas pelos demais

programas os quais não são considerados pela MSC. Porém, avaliando-se somente os

requisitos exigidos pela MSC, a matriz elaborada neste estudo apresentou grande semelhança

com a lista de critérios produzida na avaliação da pesca da merluza patagônica – ambas com

38 requisitos cada (González et al., 2007).

Diferenças marcantes observadas entre os requisitos utilizados pelos programas sugerem a

existência de uma adaptação destes à realidade ambiental e socioeconômica das regiões onde

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as pescarias foco de cada programa de situam. Como exemplo, pode-se citar o foco social do

programa da Naturland ao utilizar sete requisitos para atestar o desempenho social de uma

pescaria, o que se explica ao verificar que as pescarias certificadas por este programa situam-

se na África, onde questões sociais não podem ser ignoradas. De forma semelhante, a inclusão

de quatro requisitos relacionados à produção de resíduos no programa Krav mostra-se um

reflexo da política de resíduos vigente na União Européia (ver Apêndice). A preocupação da

MSC com impactos ecossistêmicos de uma pescaria também exemplifica esta tendência. Três

requisitos são utilizados pela MSC para avaliar o desempenho ecossistêmico da pescaria, os

quais demandam uma detalhada descrição e compreensão da estrutura trófica dos

ecossistemas com os quais a pescaria interage para atestar conformidade. Isto porque nos

ecossistemas de áreas temperadas – onde se situam a maior parte das pescarias certificadas

pelo programa – a menor diversidade e complexidade trófica tornam as cascatas tróficas mais

prováveis de acontecer, como relatado em Frank et al. (2005).

O contexto apresentado aponta para um movimento de especialização dos programas na

certificação de tipos determinados de pescarias, as quais parecem figurar como nichos

independentes de mercado a serem atendidos pelos selos de certificação. Esta constatação já

havia sido previamente identificada, quando foi apresentado o porque da criação do programa

da Naturland: “Other capture fishery programs were leaving a gap open by certifying very few

artisanal fisheries, so Naturland decided it was really worth going into that niche and setting

up a certification program for small scale capture fisheries…” (Acenture, 2009 página 43). Este

fato evidencia a existência de objetivos implicitamente inclusos nos selos de certificação, os

quais tendem a aparecer refletidos nos requisitos utilizados por cada programa para atestar

sustentabilidade das pescarias. Mesmo que certo grau de especialização seja positivo, dada a

maior capacidade de visualizar problemas específicos de uma determinada região, deve-se

ponderar algumas consequências negativas que tendem a surgir deste movimento de

especialização na certificação de pescarias.

A proliferação de diversos programas de certificação, cada qual com seu conjunto de requisitos

e sua metodologia de avaliação próprias, têm resultado em dúvidas sobre a origem, o tipo, a

quantidade e qualidade das informações necessárias para correr um processo de certificação

(Erwann, 2009). Espera-se com isso que programas com menor exigência de entrada de

informações para atendimento aos requisitos devem ser favorecidos em locais nos quais a

qualidade e a quantidade destas sejam fatores limitantes. Uma alta variabilidade nos custos

totais de certificação também aparece como consequência das discrepâncias entre os

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programas, em geral resultado do nível de complexidade dos requisitos de cada programa e

das metodologias de auditoria (Erwann, 2009). Nestes casos, programas com altos custos de

implementação devem tornar-se inviáveis para certificar pescarias de pequena escala ou

pouco organizadas (Perez-Ramirez et al., 2012). Desta forma, apesar dos programas

teoricamente possuírem uma abrangência global, nota-se que nem todos estão de fato

“disponíveis” para certificar qualquer pescaria do globo. Parte dos requisitos utilizados pelos

programas reflete este cenário.

Diferenças entre programas de certificação também podem trazer consequências negativas

para os selos de maneira geral. Mesmo diferindo em relação aos padrões utilizados, todos os

programas clamam suas pescarias certificadas como “sustentáveis” ao final do processo, o que

as une dentro de um pacote comum genericamente rotulado de “pescarias sustentáveis”.

Neste contexto, questões como “O que significa sustentabilidade?” para cada programa ou

“Como a sustentabilidade é avaliada?” por cada programa começam a emergir como temas

chave na discussão sobre o futuro desta estratégia de gestão. Isto se reflete na necessidade de

um controle maior – como o inicialmente elaborado em FAO (2005) – sobre o que de fato

significa a sustentabilidade pesqueira e como este conceito deve ser avaliado e passado ao

consumidor. Caso este conceito e suas formas de avaliação não fiquem claros a todos os

interessados, a perda de credibilidade será inevitável (Erwann, 2009).

Ao analisar conjuntamente todos os requisitos para certificação identificados nos programas,

parece razoável supor que a utilização de todos estes conjuntamente identificaria de maneira

mais segura as pescarias “sustentáveis” de uma forma holística. No entanto, o foco da questão

consiste no fato de que nem todos os requisitos levantados neste estudo estão presentes em

todos os programas. A especialização dos programas na certificação de determinadas pescarias

parece exercer papel chave neste processo, visto que aspectos de menor importância nos

locais onde as pescarias-alvo dos programas se situam tendem a ser abordados

superficialmente.

O movimento de especialização dos programas de certificação para determinados tipos de

pescarias tem resultado numa extensa lista de diferentes requisitos e categorias utilizadas

pelos programas. Tal ausência de padronização tem aberto espaço para inconsistências quanto

aos padrões e metodologias utilizados bem como quanto à forma como estes são

apresentados. Um exemplo destas inconsistências pode ser visto através das diferenças entre

os princípios abordados e os requisitos utilizados. Nestes casos, os requisitos utilizados pelo

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programa não garantem uma avaliação precisa e uniforme de todos os aspectos supostamente

abordados. Isto foi observado neste trabalho através do nível de detalhamento dado pelos

programas a cada categoria, o que explicita a importância dada por cada um às diferentes

dimensões de uma pescaria a serem avaliadas.

A apresentação dos requisitos para certificação de maneira subjetiva e que não permitem

verificar o que de fato está sendo realmente avaliado nem tampouco como este processo está

sendo desenrolado também emerge como uma inconsistência dos programas. Considerando a

clareza e transparência de todo o processo de certificação como aspectos fundamentais para o

sucesso dos selos (FAO, 2005), apresentar padrões de forma subjetiva ou pouco direta aparece

como um aspecto negativo de determinados programas como a Naturland, por exemplo.

Inconsistências devem surgir também a partir da utilização de metodologias inapropriadas

para avaliação dos requisitos, os quais podem vir a certificar pescarias não sustentáveis ou a

elaborar relatórios frágeis a revisões e críticas. Apesar deste aspecto não ter sido considerado

neste trabalho, a partir das análises dos documentos de referência dos programas, notou-se a

existência de diferenças metodológicas entre estes as quais podem facilitar a elaboração de

avaliações mais superficiais e menos consistentes. Por exemplo, metodologias de avaliação

que apresentam escalas graduais de cumprimento (como Scores), tendem a avaliar com maior

precisão atributos que não obedecem uma simples escala de conformidade/não

conformidade, estabelecendo uma escala de valores que expressa o desempenho do atributo.

Aspectos conceituais, como a avaliação de um sistema de gestão ou dos processos de tomadas

de decisão em geral enquadram-se neste cenário. Check-lists, por outro lado, apresentam de

forma clara e direta os requisitos a serem avaliados, o que é positivo do ponto de vista da

clareza do programa. No entanto, este tipo de metodologia pode se mostrar inadequado para

avaliar aspectos conceituais de uma pescaria e, consequentemente, atestar conformidade a

atributos que, caso avaliados de outra maneira, se encontrariam em não conformidade.

Atualmente, a crescente exposição de exemplos de pescarias insustentáveis certificadas bem

como os questionamentos cada vez mais comuns a cerca do real funcionamento da

certificação como ferramenta para promover a sustentabilidade tendem a gerar um descrédito

generalizado, alertando a sociedade sobre os pontos negativos da certificação, ao invés de

promover esta iniciativa e evidenciar a necessidade de ajustes (Erwann, 2009). Desta forma,

assim como observado para produtos orgânicos, parece necessária uma padronização do

conceito de “pescaria sustentável” para a manutenção da credibilidade dos selos de

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certificação ambiental de pescarias. Esta padronização deve, além de definir o conceito de

“pesca sustentável”, reestabelecer os requisitos mínimos necessários e avaliar os programas e

suas metodologias, de maneira a nivelar a certificação de pescarias corrigindo inconsistências

nos padrões e metodologias. Uma avaliação externa e independente, possivelmente realizada

pela própria FAO, dos relatórios finais das auditorias de cada pescaria certificada também

podem contribuir para o aumento da credibilidade da certificação.

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Apêndice.

Matriz global contendo os requisitos identificados nos documentos de referência dos programas de certificação. São apresentados os requisitos

enumerados; os respectivos critérios de cumprimento e as categorias onde cada critério foi enquadrado. Símbolos correspondem aos quatro programas

mais a FAO (da direita para a esquerda: MSC, FOS, Naturland, Krav e FAO). Números representam a forma como cada requisito foi exigido dentro de cada

programa, sendo: (-) requisito não exigidos; (1) requisito exigidos de forma implícita; (2) requisitos parcialmente exigidos e (3) requisitos totalmente exigidos

de maneira explícita.

Categoria Requisito Critério de cumprimento

CSE

1 Disponibilidade de informação

Informações referentes ao estado do estoque devem estar disponíveis. - 3 - 3 -

2 Caracterização do estoque O estoque deve ter suas características biológicas relevantes (produtividade, posição trófica, áreas e épocas de ocorrência) cientificamente caracterizadas.

1 1 - 2 3

3 Diagnóstico do estoque O estoque deve ter um diagnóstico positivo em relação à PTRs e PTLs. 3 3 1 3 3

4 Validação do diagnóstico O diagnóstico do estoque deve ter sido elaborado de maneira correta com base em PTs que estejam de acordo com a natureza e a produtividade do recurso.

3 1 - 1 -

5 Avaliação de estoque adequada

Exige que as avaliações de estoque estimem a abundância considerando incertezas e erros. 3 1 - - 1

EEX

6 Objetivos adequados para a pescaria

A pescaria deve ter objetivos claros, consistentes e que permitam uma explotação sustentável do recurso. 3 - - - 3

7 Recuperação do estoque Para estoques depletados, exige a existência de um plano de recuperação e monitoramento do estoque. 3 - - - 3

8 Estratégias de explotação As estratégias de explotação empregadas na pescaria devem comprovar (com argumentos e monitoramento) a viabilidade de manter a pescaria no PTR e alcançar seus objetivos.

3 - - - 2

9 Informações e monitoramento do estoque

Parâmetros do estoque devem estar sendo monitorados de modo a embasar as estratégias, sendo mantidos em formatos adequados e disponibilizados.

3 - 3 - 3

FAC

10 Diagnóstico da fauna acompanhante

A fauna acompanhante deve ter um diagnóstico positivo baseado na sua quantificação em relação à PTs. 3 - - - -

11 Medidas de gestão da fauna acompanhante

Medidas consistentes para manter a fauna acompanhante dentro de níveis seguros devem estar em prática. 3 1 3 - 3

12 Informações adequadas para fauna acompanhante

As informações disponíveis sobre a fauna acompanhante devem ser adequadas para elaborar os diagnósticos e embasar as medidas de gestão.

3 1 - - -

13 Monitoramento da fauna acompanhante

Parâmetros da fauna acompanhante devem estar sendo monitorados através de metodologia confiável. - 3 - - -

DES

14 Restrições diretas ao volume do descarte

O volume dos descartes não deve exceder a média global dos descartes (FAO). - 3 - - -

15 Diagnóstico dos descartes As espécies descartadas devem ter um diagnóstico positivo em relação à PTs. 3 - - - -

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27

Categoria Requisito Critério de cumprimento

16 Medidas de gestão dos descartes

Medidas consistentes para manter as espécies descartadas dentro de níveis seguros devem estar em prática. 3 - 1 - 3

17 Medidas para minimizar a pesca fantasma

Medidas para minimizar a perda de material de pesca que possa resultar em pesca fantasma devem estar em prática. 3 3 - 1 3

18 Informações adequadas para o descarte

As informações disponíveis sobre as espécies descartadas devem ser adequadas para elaborar os diagnósticos e embasar as medidas de gestão.

3 1 - - -

19 Monitoramento dos descartes

Parâmetros dos descartes devem estar sendo monitorados através de metodologia confiável. - 3 - 3 3

20

Estratégias para sobrevivência de organismos vivos

Um plano de ação para retornar ao mar os organismos capturados ainda vivos e com chances de voltar com vida ao mar deve existir.

- 3 - - -

CEC

21 Diagnóstico sobre a captura de espécies críticas

Um diagnóstico positivo dos impactos causados às espécies em risco (ameaçadas, sob-legislação específica ou dentro da IUCN red list) deve existir. Este diagnóstico pode ter como PTRs a legislação nacional/internacional ou a IUCN red list.

3 3 - - -

22 Medidas precautórias para espécies críticas

Medidas comprovadas para a redução dos impactos sobre espécies em risco devem existir. 3 3 2 3 3

23 Informações adequadas para espécies críticas

Informações adequadas devem estar disponíveis para elaborar os diagnósticos e embasar as medidas de gestão. 3 1 - - -

24 Monitoramento das espécies críticas

Capturas de espécies críticas devem estar sendo monitoradas através de metodologia confiável. - 3 - 3 3

IHE

25 Avaliação dos impactos sobre o habitat (ambiente)

Um diagnóstico positivo dos impactos da pescaria sobre o habitat (geralmente ambientes bentônicos) deve existir. 3 3 3 - 1

26 Medidas de redução de impacto no hábitat

Medidas consistentes para reduzir os impactos da pescaria sobre o habitat devem existir. 3 - - - 2

27 Informações sobre o habitat

Informações adequadas e conhecimento básico sobre o(s) habitat(s) devem existir para avaliar os impactos da pescaria e embasar as medidas de mitigação.

3 - - - -

28 Avaliação dos impactos sobre o ecossistema

Um diagnóstico positivo dos impactos da pescaria sobre o ecossistema e sobre elementos-chave na estruturação do ecossistema deve existir.

3 - 3 - 1

29 Estratégias para manejo do ecossistema

Medidas consistentes para reduzir os impactos da pescaria sobre o ecossistema devem existir. 3 - 1 - 2

30 Informações adequadas para o ecossistema

Informações adequadas devem estar disponíveis para elaborar os diagnósticos e embasar as medidas de gestão. 3 - - - -

IPR

31 Minimização da produção de resíduos

Um programa para minimização da produção de resíduos/subprodutos (reutilização e reciclagem de materiais) deve

estar em prática. - 3 - 3 3

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28

Categoria Requisito Critério de cumprimento

32 Medidas para prevenção da dispersão de resíduos

Um programa de prevenção de dispersão de resíduos (incluindo combustível, lubrificantes e resíduos sólidos não

biodegradáveis) deve estar em prática. - 3 3 2 2

33 Restrições quanto ao uso de produtos

Deve-se comprovar a não utilização de produtos que interfiram na camada de ozônio e outros produtos tóxicos quando

tecnologias não-tóxicas estiverem disponíveis. - 3 - 3 2

34 Quantificação do consumo de energia

Os combustíveis consumidos pela frota/empresa devem ser quantificados. - 3 - 3 1

FGE

35

Existência de sistemas

legais e/ou usuais para

gestão

Um sistema ilegal consistente e apropriado (contendo ferramentas básicas do tipo: áreas de pesca, petrecho, licenças e

outros) para gestão da pescaria de forma a assegurar a sustentabilidade deve estar em prática. 3 3 3 - 3

36 Regras de controle e

ferramentas

Regras para de controle consistentes e que efetivamente assegurem a manutenção da pescaria dentro de PTRs devem

estar em vigor. 3 1 - - 3

37 Registro de embarcações Embarcações devidamente registradas no país devem ser as únicas participar da pescaria, sendo que as leis do país de

registro estejam em acordo com as normas internacionais (prevenir IUU fishing). - 3 1 - 3

38 Restrição à utilização de

petrechos

As práticas de pesca e petrechos utilizados devem estar devidamente descritos de modo a proibir o uso de

equipamentos altamente destrutivos ou proibidos bem como aplicar as melhores tecnologias existentes. - 3 3 3 3

39 Monitoramento, controle e

vigilância

Mecanismos de monitoramento, vigilância, controle e penalização devem existir de modo a assegurar o cumprimento da

legislação. 3 3 1 3 3

CLE

40

Cumprimento dos sistemas

legais e/ou usuais de

gestão

As legislações e/ou acordos aos quais as pescarias estão sujeitas devem estar sendo cumpridos. 3 3 3 3 3

EPSG

41 Objetivos de longo prazo O sistema de gestão embasar suas políticas em objetivos de longo prazo para a pescaria. 3 - - - 3

42 Principio da precaução O princípio da precaução deve estar implícito no sistema de manejo da pescaria. 3 3 - 3 3

43 Processos de tomada de

decisão

O sistema de gestão deve incluir processos de tomadas de decisão, mesmo que informais, mas que sejam transparentes

e que respondam por questões relevantes ao manejo da pescaria. 3 - - - 3

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29

Categoria Requisito Critério de cumprimento

44 Mecanismos para resolução

de conflitos O sistema de gestão deve possuir mecanismos para a resolução de conflitos e disputas legais dentro do sistema. 3 - 2 - 3

45 Definição dos atores O sistema de gestão deve identificar as partes interessadas e seus respectivos papéis e responsabilidades. 3 - - - -

46

Sistemas de gestão que

considerem direitos de

populações tradicionais

O sistema de gestão deve considerar populações tradicionais dependentes do recurso, quando for o caso de recursos

compartilhados. 3 - - - 3

47 Consultas e entrada de

informações

O sistema de gestão deve incluir processos de consultas as partes interessadas ou órgão e instituições relevantes ao

manejo da pescaria. 3 - 3 2 3

48 Confiabilidade da

informação

O sistema de gestão deve estar embasado nas melhores evidências científicas disponíveis além de outras fontes como

conhecimento tradicional. - - - - 3

49 Avaliação da performance

do sistema de gestão O sistema de gestão deve incluir mecanismos para auto-avaliação e passar por revisões periódicas dos seus critérios. 3 - - - -

PSG

50

Colaboração com outros

órgãos gestores de

pescarias

Órgãos gestores devem colaborem com os demais órgãos gestores de pescarias (regionais, nacionais ou internacionais). - - - - 3

51 Incentivos à pesca

sustentável O sistema de gestão deve incluir ferramentas de incentivo à pesca sustentável. 3 - - - 2

52 Produtos gerados A pescaria deve adotar práticas de captura e manuseio que mantenham a qualidade do produto e minimizem os

desperdícios. - - - 3 3

53 Incorporação de planos de

pesquisa

Pesquisas científicas devem estar sendo realizadas de acordo com a necessidade e que os resultados desta estejam

disponíveis aos interessados. 3 - - - 3

54 Divulgação das regras As regras da pescaria devem ser disseminadas, divulgadas e explicadas às partes interessadas interessados. - - - - 3

CO

S

55 Direitos humanos Os direitos humanos listados na UM Conventions e ILO (Int. Labour Org.) devem ser respeitados. - 3 3 - -

56 Trabalho infantil A pescaria/empresa deve estar em conformidade com as diretrizes internacionais para o trabalho infantil. - 3 3 - -

57 Trabalho forçado Qualquer tipo de trabalho forçado não deve ocorrer na pescaria. - - 3 - -

58 Igualdade de

oportunidades Qualquer tipo de discriminação seja por sexo, raça ou credo, não deve ocorrer na pescaria. - - 3 - -

59 Remuneração mínima e

condições do emprego

Uma remuneração mínima dos trabalhadores (pescadores) com salários em conformidade com a legislação deve estar

sendo aplicada. - 3 3 - -

60 Assistência médica Os pescadores e demais trabalhadores do setor devem ter acesso à assistência médica. - 3 3 - -

61 Segurança de trabalho As embarcações devem possuir as medidas de segurança previstas na legislação. - 3 3 - 3

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Categoria Requisito Critério de cumprimento

62 Capacitação da tripulação Os pescadores/tripulação devem receber cursos de capacitação e treinamento. - - - 3 3

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31

Capítulo 2 - A certificação ambiental das pescarias industriais do Sudeste e

Sul do Brasil: onde estamos?

Resumo

Este trabalho fornece uma análise do desempenho das pescarias industriais do Sudeste e Sul

do Brasil avaliado através dos requisitos utilizados nos programas Marine Stewardship Council

(MSC) e Friend of the Sea (FOS) para a certificação de pescarias. Foram utilizados 55 requisitos

– agrupados em 12 categorias – para avaliar o desempenho de quatro pescarias: caranguejo

vermelho, peixe sapo, corvina e camarão rosa. Através dos resultados obtidos foram

projetados cenários prováveis para outras oito pescarias industriais. A dimensão social não

aparece como um entrave à certificação das pescarias industriais Brasileiras. Por outro lado, a

atual estruturação do sistema de gestão pesqueira do Brasil faz deste um dos principais pontos

negativos, distanciando todas as pescarias dos requisitos. Aspectos relacionados ao manejo e

controle de resíduos também não se encontram em conformidade. Identificou-se que a

conformidade com os requisitos relacionados aos estoques e aos impactos das pescarias sobre

outras espécies, hábitat e ecossistema ocorre basicamente em função do tipo de petrecho

utilizado, das áreas de pesca e da existência de planos de manejo para a pescaria.

Monitoramento por observadores de bordo, voluntários ou não, contribuem positivamente

para a conformidade das pescarias. Por fim, identificou-se um cenário no qual pescarias mais

recentes, como as direcionadas aos recursos de profundidade, bem como as pescarias com

alvo nos atuns, apresentam o maior potencial para iniciar a certificação de pesca no Brasil.

Pescarias tradicionais e costeiras somente poderão alcançar a certificação em longo prazo.

Palavras-chave: Certificação de pesca; diagnóstico de sustentabilidade; pesca industrial.

Introdução

Atualmente a pesca convive com estimativas nas quais cerca de um terço dos seus recursos

pesqueiros encontram-se sobrepescados ou depletados (FAO, 2009). Sem entrar no mérito de

serem conservacionistas ou não, o fato é que a magnitude destas estimativas torna evidente a

incapacidade dos órgãos gestores na reversão das tendências globais de esgotamento dos

estoques pesqueiros (Pauly et al., 2005; Grafton et al., 2008; Shelton, 2009). A mortalidade de

espécies ameaçadas, os descartes promovidos por pescarias não seletivas e os danos aos

ecossistemas decorrentes do uso de aparelhos de pesca demasiadamente destrutivos figuram

como motivos adicionais que evidenciam a necessidade de se repensar as estratégias de pesca

e as formas de gestão pesqueira (Grafton et al., 2008).

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32

É com base nestes argumentos que organizações não governamentais (ONGs) têm alertado o

público sobre pescarias não sustentáveis ou altamente impactantes e os problemas associados

à aquisição de certos tipos de pescado. Um claro exemplo deste processo foi observado na

pesca do atum com redes de cerco, cuja associação entre a pesca do recurso e a mortalidade

de golfinhos gerou prejuízos econômicos à indústria e resultou em adaptações tanto do setor

produtivo quanto da legislação. Um dos principais resultados – ainda que involuntário – deste

processo foi o surgimento do selo Dolphin Safe, criado com intuito de distinguir e promover

àquelas pescarias com reduzido impacto sobre os cetáceos (Earth Island Institute, 2010).

Os selos de certificação ambiental de pescarias compartilham do mesmo objetivo, no entanto

tendem a avaliar múltiplos atributos de uma pescaria, considerando além da mortalidade

indesejada de outras espécies (como cetáceos, por exemplo), aspectos relacionados aos

estoques alvo, ao tipo de petrecho e ao manejo da pescaria. Sua forma de atuação consiste na

adesão voluntária da indústria a um dos vários selos existentes. Os selos, por sua vez, avaliam

o atendimento (conformidade) da pescaria a uma série de requisitos pré-definidos

teoricamente capazes de expressar a sustentabilidade de uma pescaria. A conformidade com

os requisitos confere à pescaria um “atestado de sustentabilidade”, em geral apresentado nos

rótulos dos produtos, cujo objetivo consiste em informar ao consumidor sobre os baixos

impactos associados à produção daquele pescado (Sainsbury, 2010; Ward e Phillips, 2008).

Produtos rotulados com estes selos são fornecidos a consumidores que optam por pagar um

preço um pouco maior aos produtos de baixo impacto, no chamado princípio do price

premmium (Brécard et al., 2009; Jaffry et al., 2004). Atualmente existem diversos selos em

atuação, porém destacam-se os programas da Marine Stewardship Council (MSC) e Friend of

the Sea (FOS) como os mais utilizados mundialmente (Sainsbury, 2010).

O crescente número de pescarias certificadas e, consequentemente, de produtos certificados,

tem levantado questões quanto ao futuro do comércio de pescado. Projeta-se um cenário no

qual as pescarias não certificadas tenderão a perder mercado em locais no qual o consumo

consciente é uma realidade (Brécard et al., 2009; Jaffry et al., 2004). No caso de países em

desenvolvimento, a perspectiva para a implementação da certificação de pescarias ainda é

incerta. Tem sido relatado que a implementação dos selos nestes países esbarra

principalmente na ausência de informações em qualidade e quantidade necessárias para as

avaliações, bem como no custo envolvido no processo de certificação (Pérez-Ramírez et al.,

2012). No entanto, ainda não se sabe na realidade o quão distantes estas pescarias

encontram-se dos padrões exigidos, o que reflete também num desconhecimento atual sobe a

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33

sustentabilidade das pescarias dos países em desenvolvimento. Paralelamente, cada vez mais

os países em desenvolvimento têm suprido a demanda de pescados dos países desenvolvidos,

tornando claro que os produtos exportados já estão inseridos em países e blocos econômicos

nos quais o consumo consciente e a certificação de pescarias já vêm ocorrendo. Desta forma,

nota-se que situar as pescarias de países em desenvolvimento no contexto da certificação de

pesca aparece como um demanda imediata e ainda não suprida, dada a ausência de estudos

focados neste aspecto.

Neste cenário, este trabalho toma algumas pescarias industriais brasileiras como estudos de

caso para uma avaliação de sua adequação aos requisitos exigidos pelos programas de

certificação de pesca. Com isso, pretende-se fornecer um diagnóstico do potencial de

certificação das pescarias brasileiras, identificando principalmente onde se situam os gargalos

e potencialidades para a implementação destes selos no Brasil.

Metodologia

Em um trabalho focando analisar os programas de certificação de pescaria (Capítulo 1)

compilaram e classificaram todos requisitos utilizados por quatro dos principais programas de

certificação ambiental de pescarias em atuação no mercado mundial – Marine Stewardship

Council (MSC); Friend of the Sea (FOS); Krav e Naturland. A matriz de requisitos obtida como

parte dos resultados do referido trabalho, foi adaptada neste estudo com a finalidade de

elaborar um quadro descritivo da situação atual das pescarias industriais do Sudeste e Sul do

Brasil contra os padrões nela contidos (Tabela 1).

Dentre os quatro programas analisados no (Capítulo 1), foram selecionados somente os

programas MSC e FOS. A escolha destes dois programas justifica-se por estes apresentarem o

maior número de pescarias aderidas e, consequentemente, por serem os mais reconhecidos

internacionalmente. Paralelamente, a maior clareza na descrição dos requisitos em seus

documentos de referência (Dias et al., em preparação – ver Capítulo 1) contribuiu para a

seleção deste programas. A matriz utilizada neste estudo possui apenas 55 requisitos, ao invés

dos 62 descritos no trabalho tomado como referência, devido à supressão daqueles existentes

somente nos programas de certificação excluídos desta análise (Tabela 1).

Considerando a complexidade do processo de auditoria pesqueira e o tempo demandado para

realizá-la de maneira confiável, optou-se por selecionar apenas quatro pescarias distintas e

analisá-las em maior detalhamento como estudos de caso. As pescarias foram selecionadas de

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34

maneira a abranger pescarias com diferentes recursos-alvo; petrechos de pesca; histórico de

desenvolvimento; disponibilidade de informação e impactos potenciais. Esta opção permitiu

estabelecer um amplo leque de diferentes diagnósticos, a ser utilizado como referência para as

demais pescarias. Utilizou-se como estudos de caso as pescarias de (a) covos para o

caranguejo vermelho (Chaceon notiallis); (b) emalhe direcionada ao peixe sapo (Lophius

gatrophysus); (c) arrasto duplo direcionado ao camarão rosa (Farfantepenaeus paulensis e F.

brasiliensis) e (d) emalhe de fundo com alvo na corvina (Micropogonias furnieri).

As pescarias foram avaliadas através dos requisitos para certificação, utilizando-se diferentes

fontes de informação, obtidas através de uma revisão bibliográfica. Seis fontes distintas foram

consideradas: (1) artigos científicos publicados; (2) monografias, dissertações e teses; (3)

relatórios técnicos de ordenamento; (4) dados e relatórios de observadores de bordo; (5)

legislação pesqueira; e (6) dados de estatística pesqueira. As conformidades e não

conformidades das pescarias foram avaliadas contrapondo-se as informações e dados

levantados contra as exigências expressas em cada requisito. Ausências de informação foram

consideradas como não conformidades. Os resultados obtidos foram utilizados para projetar

cenários prováveis para outras oito pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil (Tabela 3)

traçando-se paralelos entre semelhanças e diferenças destas com os estudos de caso.

Resultados

Considerações gerais sobre as pescarias industriais do SE e S do Brasil

De uma maneira geral, as pescarias brasileiras apresentam baixa produtividade e múltiplos

alvos de pesca, reflexos de um regime oceanográfico no qual predominam águas tropicais

quentes e pobres em nutrientes na maior parte da costa. Salvo as pescarias off-shore para

atuns e afins – as quais ocorrem ao longo de toda a costa – a maior parte das pescarias

industriais brasileiras estiveram principalmente restritas às regiões Sudeste e Sul. A maior

produtividade das águas destas regiões deve-se a características oceanográficas diferenciadas,

nas quais aportes fluviais como o Rio da Prata, a proximidade com a convergência subtropical

e ressurgências da Água Central do Atlântico Sul – ACAS tendem a tornar estas regiões mais

piscosas (Braga et al., 2006).

Dentre as diversas pescarias industriais existentes nestas regiões, a de maior contribuição em

termos de volume é sem dúvida a pesca da sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis).

Capturada com redes de cerco, este pequeno pelágico corresponde a 15 % da produção total

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35

de peixes no país (MPA, 2010). Apesar de constituir o principal alvo de pesca da frota de cerco,

uma diversificação nos alvos desta frota foi observada a partir da década de 1990, uma

resposta às sensíveis reduções nos estoques da espécie (Gasalla et a., 2007; Schwingel e

Occhialini, 2007). Atualmente, cerca de seis espécies apresentam elevada importância para

esta frota, sendo a maior parte destas capturadas durante o defeso da sardinha

(UNIVALI/CTTMar, 2010; Schwingel e Occhialini, 2007).

Tunídeos também apresentam elevada importância para as pescarias industriais das regiões

Sudeste e Sul. O Brasil possui lugar de destaque na ICCAT – International Commission for the

Conservation of Tuna and Tuna-like Fishes (órgão internacional para gestão e conservação de

atuns e afins), aparecendo como o maior produtor de atuns do Atlântico Sudoeste. Tal posição

é conferida basicamente em função das elevadas capturas brasileiras de bonito-listrado

(Katsuwonus pelamis) realizadas por uma frota que opera com vara e isca-viva. Já os grandes

atuns (Thunnus spp.), espadarte (Xiphias gladius) e os tubarões constituem os alvos de pesca

dos espinheleiros de superfície (longliners) (ICCAT, 2011a).

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Tabela 1. Lista dos requisitos para certificação utilizados para a avaliação das pescarias.

Modificado do Capítulo 1.

Requisitos 1. Disponibilidade de informação para a pescaria 29. Medidas para gestão de impactos no ecossistema

2. Estoques caracterizados 30. Inform. adequadas sobre os impactos no ecossistema

3. Diagnóstico positivo do estoque 31. Medidas para minimizar a produção de resíduos

4. Diagnóstico deve ser válido 32. Medidas para prevenir a dispersão de resíduos

5. Avaliação de estoque adequada 33. Restrições quanto ao uso de produtos

6. Pescarias com objetivos adequados 34. Quantificação do consumo de energia

7. Medidas para recuperação do estoque 35. Existência de sistemas legais de gestão

8. Estratégias de explotação coerentes 36. Existência de regras de controle

9. Monitoramento do estoque 37. Registro de embarcações

10. Diagnóstico positivo da fauna acompanhante 38. Restrição à utilização de petrechos

11. Medidas para gestão da fauna acompanhante 39. Monitoramento, controle e vigilância da pescaria

12. Informações adequadas para fauna acompanhante 40. Sistemas legais de gestão cumpridos

13. Monitoramento da fauna acompanhante 41. Objetivos de longo prazo para a pescaria

14. Restrições diretas ao volume do descarte 42. Principio da precaução aplicado

15. Diagnóstico positivo dos descartes 43. Processos para tomada de decisão

16. Medidas para gestão dos descartes 44. Mecanismos para resolução de conflitos

17. Medidas para minimizar a pesca fantasma 45. Definição das partes interessadas na pescaria

18. Informações adequadas para o descarte 46. Considerar populações tradicionais

19. Monitoramento dos descartes 47. Consultas às partes interessadas e entrada de inform.

20. Estratégia para sobrevivência de organismos vivos 48. Avaliação da performance do sistema de gestão

21. Diagnóstico da captura de espécies críticas 49. Incentivos à pesca sustentável

22. Medidas precautórias para espécies críticas 50. Incorporação de planos de pesquisa

23. Informações adequadas para as espécies críticas 51. Respeito aos direitos humanos

24. Monitoramento das espécies críticas 52. Inexistência de trabalho infantil

25. Avaliação dos impactos sobre o habitat 53. Remuneração mínima e condições do emprego

26. Medidas para redução de impacto no hábitat 54. Acesso à assistência médica

27. Inform. adequadas sobre os impactos no habitat 55. Condições seguras de trabalho

28. Avaliação dos impactos sobre o ecossistema

Tabela 2. Listagem das categorias de requisitos contidos nos programas de certificação avaliados (siglas e nomes) e o número identificador dos requisitos presentes em cada categoria seguindo a sequência da tabela 1. Adaptado do Capítulo 1.

Categorias Número dos

requisitos

CSE Considerações sobre o estoque 1 a 5

EEX Estratégias de explotação 6 a 9

FAC Fauna acompanhante 10 a 13

DES Descartes 14 a 20 CEC Captura de espécies críticas 21 a 24

IHE Impactos sobre o hábitat e ecossistema 25 a 30

IPR Insumos e produção de resíduos 31 a 34

FGE Ferramentas de gestão 35 a 39

CLE Conformidade com a legislação 40

EPSG Estrutura e princípios do sistema de gestão 41 a 48

PSG Políticas do sistema de gestão 49 a 50

COS Considerações sociais 51 a 55

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Apesar dos recursos demersais geralmente apresentarem uma produção inferior aos

pelágicos, os seus maiores valores de comercialização conferem ao grupo um papel de

destaque na indústria pesqueira brasileira. Uma das mais tradicionais pescarias industriais do

Sudeste e Sul é realizada por embarcações de arrasto duplo, que têm como alvos de pesca os

camarões costeiros. Dentre as espécies capturadas, destaca-se o camarão rosa por seu

histórico de desenvolvimento e importância econômica, apesar de outros camarões costeiros

(camarão sete barbas e camarões vermelho e ferrinho) terem ganhado importância nas

últimas décadas (Baptista-Mitri, 2007; Branco e Verani, 2006). O camarão rosa vem sendo

explotado desde a década de 70 (Valentini et al., 1991). Contudo, reduções na abundância dos

estoques da espécie motivaram a frota a buscar alternativas para assegurar a sustentabilidade

econômica, destacando-se (i) o aproveitamento de espécies anteriormente descartadas – em

geral peixes demersais (Perez et al., 2001; Vianna, 2001) e (ii) a busca por novos recursos

pesqueiros através da ampliação da sua área de atuação e adaptação dos petrechos de pesca à

nova realidade (Perez et al., 2007). Apesar de atualmente estar diversificada quanto aos seus

alvos de pesca, a frota arrasteira ainda figura como a maior frota industrial do Sudeste e Sul do

Brasil (UNIVALI/CTTMar, 2010).

A queda nos rendimentos da frota de arrasto motivou a adaptação dos petrechos e o

surgimento de uma importante frota de emalhe de fundo direcionada à corvina

(Micropogonias furnieri) (Pio, 2011). Atualmente, esta frota conta com cerca de 160

embarcações, e a corvina figura como terceira espécie mais capturada no Sudeste e Sul. Para a

parcela da frota que não trocou de petrecho, esta modificou seus alvos de pesca,

consolidando-se na explotação de peixes demersais. As frotas de arrasto duplo e simples

passaram a atuar especificamente sobre peixes costeiros, principalmente da família Sciaenidae

(Perez et al., 2007). Gradativamente, parte desta frota direcionou-se também para áreas mais

profundas, operando sobre crustáceos e peixes da quebra de plataforma, iniciando a

explotação de recursos de profundidade ao largo da costa brasileira (Perez et al., 2001; Perez e

Pezzuto, 2006). Atualmente, parte da frota arrasteira – sobretudo arrasteiros duplos - já tem

como alvo principal peixes demersais de talude, como a abrótea-de-fundo (Urophicys

mystacea), a merluza (Merluccius hubbsi) e o peixe-sapo (Lophius gastrophysus).

No processo de aumento na participação de recursos demersais de profundidade na produção

pesqueira brasileira, teve destaque o processo de arrendamento de embarcações estrangeiras

para ocupação de áreas profundas da ZEE (Zona Econômica Exclusiva), o qual mostrou-se

responsável pela introdução de novas tecnologias de pesca bem como pela abertura de

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mercado para produtos nacionais (Perez et al., 2009). Neste processo, pescarias com emalhe

de fundo direcionado ao peixe-sapo, com covos para caranguejo vermelho e caranguejo real

(Chaceon notialis e C. ramosae, respectivamente) além de arrasto de fundo para peixes

demersais e camarões-de-profundidade (família Aristeidae) foram introduzidas em águas

brasileiras. Ao final dos processos de arrendamento, em geral têm-se instalado frotas

nacionais para explotação destes recursos utilizando as tecnologias absorvidas através do

arrendamento (e.g. peixe-sapo e caranguejo vermelho). Outras pescarias, como o caso dos

camarões-de-profundidade e do caranguejo-real deixaram de existir com o final do programa

de arrendamento (Perez et al., 2009).

De uma maneira geral, as frotas atuantes sobre recursos costeiros apresentaram ao longo do

tempo um elevado dinamismo no que se refere às mudanças nos recursos alvo, nos petrechos

de pesca e áreas de operação (Rossi-Wongtchowsky et al., 2007). Tais mudanças são

historicamente observadas principalmente na frota de arrasto, a qual tem alterado seu padrão

de operação em função da abundância dos recursos pesqueiros e das pressões de mercado

decorrentes de variações nos preços dos recursos capturados (Perez et al., 2007). A legislação

nacional por sua vez, além de mostrar-se incapaz de restringir e nortear tais mudanças, bem

como de acompanhar a rapidez com que estas ocorriam, mantendo-se a margem do processo

e em geral publicando medidas de ordenamento emergenciais com intuito de legitimizar

situações já estabelecidas (Perez et al., 2001; Perez et al., 2009).

Aspectos comuns a todas as pescarias

O sistema Brasileiro de gestão pesqueira

A evolução da gestão pesqueira no Brasil foi, desde seu início, marcada por constantes

mudanças estruturais, sendo historicamente delegada a diferentes escalas e setores do

Governo Federal (e.g. superintendências, departamentos, secretarias e ministérios). A última

destas mudanças foi observada em 2009, através de um Ato Normativo no qual o Governo

Federal criou o Ministério da Pesca e Aqüicultura (MPA), delegando a este ministério e ao já

existente o Ministério do Meio Ambiente (MMA) a responsabilidade pela gestão pesqueira.

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Tabela 3. Listagem das pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil utilizadas na avaliação de sustentabilidade. Petrechos de pesca e recursos alvo foram 1

adaptados da matriz de permissionamento publicada pelo Governo Federal Brasileiro (BRASIL, 2011). Petrechos de pesca em negrito representam aqueles 2

avaliados com maior detalhamento no âmbito dos estudos de caso. 3

Petrecho de pesca Recursos alvo Tipo da pescaria Surgimento Planos de manejo Principais referências

Arrasto duplo Camarão rosa Demersal costeira Década de 1960 Não possui

Valentini et al. (1991)

D’Incao et al. (2002)

Perez et al. (2007)

Arrasto duplo Camarões 7-barbas,

vermelho, barba-ruça Demersal costeira Não possui

D’Incao et al. (2002)

D’Incao (1995)

Baptista-Metri (2007)

Arrasto duplo Abrótea, merluza e peixe

sapo Demersal oceânica Década de 1990 IN nº 022/2008

Perez et al., (2009)

Perez et al., (2003)

Arrasto meia água Castanha Pelágica costeira 2009 Não possui -

Arrasto parelha e simples Peixes demersais diversos Demersal costeira Década de 1980 Não possui Perez et al. (2007)

Castro et al. (2007)

Cerco Sardinhas, anchova, tainha e

espécies acessórias Pelágica costeira Década de 1960 Não possui

Gasalla et al. (2007

Schwingel e Occhialini (2007)

Covos Caranguejos de

profundidade Demersal oceânica Década de 2000 IN nº 023/2008

Pezzuto et al. (2002)

Perez et al. (2009)

Emalhe de fundo Peixe sapo Demersal oceânica Década de 2000 IN nº 03/2009 Perez et al. (2009)

Emalhe de fundo Corvina Demersal costeira Década de 1980 Não possui Pio (2011)

Espinhel de superfície Atuns e afins Pelágica oceânica Não possui Azevedo et al. (2007)

Vara e isca viva Bonito listrado Pelágica oceânica Década de 1980 Não possui Andrade et al. (2008

Potes Polvo Demersal costeira Década de 2000 INº 026/2008 Ávila-da-Silva e Tomás (2007)

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O novo modelo de gestão pesqueira no Brasil tem por principal alicerce a Lei nº 11.959

publicado em 29 de junho de 2009, a qual dispõe sobre uma política Nacional para o

desenvolvimento sustentável da pesca e da aquicultura (BRASIL, 2009a). Esta política tem por

objetivo central a promoção de um desenvolvimento sustentável da atividade pesqueira

através do ordenamento e da fiscalização, de maneira a viabilizar o desenvolvimento sócio-

econômico alinhado à conservação dos recursos pesqueiros. Considerando a abrangência de

seus objetivos, o texto desta nova “Lei Geral da Pesca” apresenta basicamente princípios,

conceitos e diretrizes gerais a serem seguidas, carecendo de ferramentas para ordenar

efetivamente as pescarias. Neste caso, os instrumentos específicos aparecem na forma de

normativas complementares (em geral Instruções Normativas - INs), as quais devem

implementar as ferramentas apropriadas para a gestão de cada pescaria e que reflitam os

objetivos, princípios, conceitos e diretrizes estabelecidos na “Lei Geral da Pesca” (Figura 1).

Apesar da existência de um ministério exclusivamente criado para tratar da gestão pesqueira

no país, não cabe somente ao MPA o gerenciamento da atividade. O regime de gestão

compartilhada entre o MPA e o MMA delega a ambos os ministérios a responsabilidade pela

elaboração e implementação das medidas de ordenamento (INs), teoricamente baseadas em

planos de manejo. Seguindo parcialmente um modelo já estabelecido e que apresentava sinais

claros e positivos de funcionamento (ver Perez et al., 2002; Pezzuto et al., 2005), a atual

elaboração dos planos de manejo das pescarias e suas respectivas INs devem levar em

consideração as recomendações multilaterais aportadas por cientistas e especialistas na área,

além do setor pesqueiro e do Governo Federal.

A estruturação do Sistema de Gestão Compartilhada dos Recursos Pesqueiros e suas câmaras e

comitês consultivos segue uma hierarquia de atribuições e competências relativamente

simples. Nela, cabe aos ministros de ambos os ministérios a legitimação – assinatura – dos atos

normativos elaborados e revisados por uma Comissão Técnica para a Gestão Pesqueira (CTGP),

composta por oito membros sendo quatro de cada ministério. A CTGP possui assessoramento

técnico fornecido pelo Comitê de Gestão (CG, anteriormente chamado de Comitê Permanente

de Gestão - CPG), o qual é formado pelas diferentes partes interessadas na pescaria (incluindo

o governo, academia e indústria). No âmbito do CPG ocorrem os debates para propor as

medidas de ordenamento, devendo haver um CPG para cada pescaria ou grupo de pescaria

(Unidades de Gestão – UG). O aporte de informações ao CPG é fornecido por Subcomitês

Científicos (SCC) e Subcomitês de Acompanhamento (SAC), responsáveis por recomendações

científicas à pescaria e pelo cumprimento das medidas de ordenamento, respectivamente

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(BRASIL 2009b) (Figura 1). Câmaras Técnicas (CTs) e Grupos de Trabalho (GTs) podem ser

formados para aportar informações adicionais ao manejo da pescaria diretamente ao CTGP.

Figura 1. Esquema representando a estrutura do sistema de gestão das pescarias estabelecido.

Para descrição das siglas, consultar texto.

Seguindo a estrutura descrita, a elaboração de medidas de ordenamento de uma pescaria

deveria preferencialmente passar pelos quatro níveis identificados (SCC/SCA, CPG, CTGP e

Ministérios). Contudo, atualmente nota-se que apesar da ampla estrutura armada, os níveis

inferiores da estrutura (CPGs e SCs) necessitam ainda ser instituídos, evidenciando um grave

problema para a gestão pesqueira. Desde a implantação da “Gestão Compartilhada”, decisões

sobre as pescarias têm sido tomadas exclusivamente na esfera do CTGP e dos Ministérios, já

que os comitês de assessoramento previstos não foram criados. Consultas técnicas para

assessoramento nas tomadas de decisão têm sido feitas exclusivamente através das CTs e GTs,

criados em geral emergencialmente, num contexto no qual não há espaço para debate ou

revisão dos dados gerados. Neste modelo, as partes interessadas também não são

consultadas, dada à presença exclusiva de membros do Governo na esfera deliberativa (CTGP).

Soma-se ao contexto descrito a presença de dois ministérios muitas vezes antagônicos em

seus interesses, sendo um de vertente conservacionista (MMA) e outro desenvolvimentista

(MPA), tendo por missão tomar decisões unanimes desprovidos, na maior parte das vezes, das

informações técnicas necessárias para embasar suas discussões.

Tomadas de decisão sem o devido embasamento técnico têm sido cada vez mais contestadas

pelo Ministério Público Federal (MPF), órgão responsável pela fiscalização das ações do

Governo. Problemas com a pesca da tainha (Mugil spp.) têm sido recorrentes nos últimos

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anos, e exemplificam claramente a fragilidade de medidas de gestão adotadas sem o

embasamento técnico necessário. A tainha é uma espécie pelágica de elevado valor comercial

por suas “ovas”, sendo capturada durante uma safra que dura não mais que 60 dias. O

incremento do esforço sobre os estoques, impasses com comunidades de pesca artesanal além

da ausência de dados biológico-populacionais sobre as espécies fazem deste recurso um

exemplo da falta de governança sobre uma importante e valiosa pescaria (SINDIPI, 2011).

Mesmo com uma estrutura aparentemente eficiente e completa para a gestão pesqueira, a

incapacidade atual de gerenciar efetivamente as pescarias tem mantido boa parte dos

recursos pesqueiros – e principalmente os mais costeiros e com maior histórico de pesca – em

um caráter de livre-acesso.

Considerando o cenário descrito, nota-se ser um problema comum a todas as pescarias as não

conformidades com requisitos da categoria “Estrutura e Princípios do Sistema de Gestão”, os

quais são especialmente utilizados no programas da MSC (Tabela 3). Desta forma, requisitos

que avaliam os processos de tomadas de decisão como um todo representam não

conformidades para todas as pescarias brasileiras, pois, apesar da existência de um sistema

aparentemente eficiente previsto por lei, este não encontra-se instituído e mostra-se

atualmente incapaz de atuar da forma como deveria.

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Tabela 4. Sumário das conformidades (C) e não conformidades (N) das pescarias de caranguejo vermelho, peixe sapo, corvina e camarão rosa com os

requisitos para certificação (1 à 55) utilizados nos programas (MSC e FOS). Requisitos encontram-se agrupados por categorias. Células marcadas em cinza

com “-“ representam requisitos não utilizados por cada programa de certificação. O percentual de conformidades em relação ao total de requisitos

avaliados é apresentado para cada pescaria e programa separadamente.

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Insumos e produção de resíduos – IPR

Requisitos associados aos insumos e à produção de resíduos não são utilizados pela MSC na

avaliação da sustentabilidade das pescarias, de forma que os resultados obtidos para esta

categoria são aplicáveis somente ao programa FOS. Nota-se que grande parte dos requisitos

associados a esta categoria apresenta não conformidade comum a todas as pescarias. Isto

porque não existem programas implementados nas pescarias brasileiras focados na reciclagem

de materiais e na minimização da produção e dispersão de resíduos – o que, segundo os

padrões, deve incluir combustíveis e óleos lubrificantes. Não conformidades no que se refere

ao uso de produtos tóxicos também aparecem em todas as pescarias. No entanto faz-se

necessário esclarecer que estas não conformidades não caracterizam o uso destas substâncias,

e sim a ausência destas informações, somente possíveis de serem coletadas realizando

análises in situ. Outro aspecto comum a todas as pescarias consiste na necessidade da

quantificação do consumo de combustíveis. O programa de subsídio de óleo diesel adotado

pelo Governo Brasileiro exige um monitoramento do consumo das embarcações.

Considerando que todas as embarcações recebem este benefício, atestou-se uma

conformidade comum para todas (requisito 34, Tabela 3).

Considerações sociais – COS

Assim como observado para a categoria IPR, aspectos sociais não são avaliados pelo programa

da MSC, e todos os requisitos avaliados são referentes ao programa FOS (Capítulo 1). Os

requisitos desta categoria avaliam basicamente aspectos relacionados ao respeito aos direitos

humanos, à remuneração dos trabalhadores e o acesso à saúde e a segurança do trabalho

(Tabela 1). Todos estes requisitos são garantidos por lei aos trabalhadores envolvidos na

pesca, e não há indícios de descumprimento das leis trabalhistas e/ou de segurança de

trabalho. Acesso à saúde também é garantido pelo governo brasileiro. Neste cenário, atestou-

se conformidade com todos os requisitos referentes ao desempenho das pescarias na esfera

social.

Estudos de caso

A pesca de covos direcionada ao caranguejo vermelho

Disponibilidade de dados

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A pesca de caranguejos de profundidade ao largo da costa do Brasil desenvolveu-se a partir de

frotas arrendadas que operaram ao longo do talude das regiões Sudeste e Sul entre o final da

década de 90 e início de 2000. O histórico desta pescaria encontra-se detalhadamente descrito

em Perez et al. (2009). Das duas espécies de caranguejos da família Geryonidae capturadas em

águas brasileiras, o caranguejo vermelho (C. notialis) é a única com uma pescaria efetivamente

direcionada, atualmente realizada por uma única embarcação nacional permissionada para

atuar sobre o recurso. Durante o processo de desenvolvimento, ordenamento e consolidação

da pescaria, observadores de bordo acompanharam todas as viagens de pesca realizadas, fato

que resultou num considerável volume de dados disponíveis (Pezzuto et al., 2006a; Wahrlich,

2002). No entanto, inexistem dados de cruzeiros científicos o que de certa forma limita

inferências de maior confiabilidade sobre o recurso.

Os principais aspectos biológico-populacionais dos caranguejos Gerionídeos já se encontram

detalhadamente descritos na literatura (Hastie, 1995 e referências nele citadas). Assim como

outros recursos demersais de profundidade, os caranguejos Gerionídeos apresentam

crescimento lento, maturação tardia e recrutamento variável, características que

potencializam a fragilidade do recurso. Sua distribuição no sudoeste do Atlântico estende-se

do extremo Sul do Estado do Rio Grande do Sul até a zona comum de pesca Uruguai-Argentina

(Defeo et al., 1992). Sugere-se que uma porção do estoque realize movimentos migratórios

sazonais entre a ZEE do Brasil e do Uruguai, os quais estão associados aos eventos

reprodutivos (Defeo et al., 1991 e 1992, Pezzuto et al., 2006a). Os principais aspectos

biológico-populacionais da espécie já encontram-se relativamente bem descritos, tanto em

águas brasileiras quanto em Uruguaias (Santana e Pezzuto, 2009; Pezzuto et al., 2006b; Defeo

et al., 1992; Gutierrez et al., 2011).

Estado dos estoques

Avaliações diretas foram realizadas na porção uruguaia do estoque no início da década de 90

através de cruzeiros científicos (Arena et al., 1988; Defeo et al., 1991). Recentemente uma

nova avaliação utilizando modelos geoestatísticos permitiu atualizar as estimativas de

biomassa para o estoque e corroborar avaliações pretéritas (Gutierrez et al., 2011).

Diagnósticos do estoque do caranguejo vermelho são realizados anualmente na porção

uruguaia através de atualizações das estimativas de rendimento máximo sustentável (RMS)

com base em dados de captura e esforço (DINARA, 2011). Não há indícios que a porção

Uruguaia do estoque esteja sobrepescada.

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Para a porção brasileira do estoque, avaliações de estoque utilizando a área efetiva de pesca e

modelos lineares generalizados (GLMs) corroboraram as avaliações uruguaias (Pezzuto et al.,

2002 e 2006b). A partir destas estimativas, uma quota anual de captura (TAC) foi estabelecida

em 735 toneladas (BRASIL, 2008). Atualmente as capturas anuais encontram-se abaixo da TAC

estabelecida. Se considerado ainda o longo período sem pescaria, observado desde o final da

atuação de embarcações arrendadas até o início das operações da única embarcação nacional,

o que durou cerca de seis anos, nota-se ser grande a probabilidade do estoque encontrar-se

em uma zona segura (Perez et al., 2009b). Um programa de monitoramento com base em

dados de CPUE (modelada e bruta) e em modelos de produção excedentária (RMS) encontra-

se em prática, e indica que os índices de biomassa encontram-se em níveis aceitáveis (Pezzuto

et al., 2006b). No entanto, novas avaliações diretas do estoque devem ser realizadas, de

maneira a verificar se os níveis de biomassa encontram-se realmente nos patamares que se

supõem.

Em relação à metodologia utilizada na avaliação de estoque, relata-se que a espécie apresenta

recrutamentos variáveis, o que quebra o pressuposto de “estoque em estado estável”

utilizados nos modelos de produção excedente. Tal fato tende a aumentar as incertezas sobre

os resultados do modelo, demandando uma utilização precautória dos valores de captura e

esforço sustentável (Pezzuto et al., 2006; Gulland, 1971). Neste sentido, novas avaliações e

diagnósticos conjuntos com o Uruguai aumentariam o grau de certeza sobre o estado atual dos

estoques para embasar futuras medidas de gestão. Recomenda-se também avaliações das

estruturas de tamanho para verificar eventuais comprometimentos ao recrutamento, aspecto

exigido pela MSC (MSC, 2009).

Impactos sobre outras espécies, habitat e ecossistema

A pesca de caranguejos de profundidade com armadilhas (covos) tem sido relatada como

altamente seletiva e de baixo impacto (Barnette et al., 2001; Eno et al., 2001; Shester e

Micheli, 2011). No Brasil, esta pescaria ocorre sobre fundos lamosos, naturalmente menos

sensíveis aos impactos dos aparelhos de pesca (Figueiredo Jr. e Madureira, 2004). Com isto, é

razoável supor que os impactos sobre o habitat e o ecossistema sejam muito reduzidos. Em

relação ao bycatch desta pescaria, nota-se uma carência de trabalhos publicados no Brasil, e os

relatórios de observadores de bordo figuram como principal fonte de dados sobre este

aspecto. Nestes relatórios não há registro de volumes expressivos de capturas de outras

espécies, nem tampouco descartes significativos ou mortalidade de espécies ameaçadas. A

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única medida de implementação necessária consiste na utilização de painéis de escape para

reduzir a pesca fantasma. Apesar de previstos na legislação, estes não vêm sendo utilizados,

resultando em não conformidades com o requisito 17. Considerando os reduzidos impactos

desta pescaria, outras medidas de gestão para mitigar eventuais danos ao habitat,

ecossistemas e outras espécies mostram-se desnecessárias.

Ordenamento da pescaria e as ferramentas para gestão

O ordenamento da pescaria do caranguejo vermelho é realizado através de ato normativo

específico (BRASIL, 2008). Por ter se baseado num plano de manejo consistente, o

ordenamento possui os principais critérios para assegurar uma explotação segura do recurso.

Das ferramentas disponíveis, destacam-se: princípio da precaução explicitamente considerado,

objetivos para a pescaria (implícitos no plano de manejo), registro de embarcação, limitação

de esforço, TAC, áreas e períodos de exclusão à pesca, tamanhos de malha, dispositivos para

evitar pesca fantasma, mecanismos de monitoramento (observadores de bordo e log books),

mecanismos para controle e vigilância (PREPS – VMS) e restrição à utilização de outros

petrechos nas viagens de pesca. Alterações e adequações no ordenamento desta pescaria

devem obedecer à estrutura do sistema de gestão pesqueira vigente, descrito anteriormente.

Relatórios de observadores de bordo indicam que a frota tem cumprido a maior parte das

regras estabelecidas no ordenamento. No entanto, foram registradas em 2009 e 2010

operações de pesca em áreas não permitidas (Perez et al., 2009 b), motivo pelo qual a licença

da embarcação foi suspensa por 60 dias (BRASIL, 2010).

Por apresentar um estoque caracterizado, delimitado e em estado aparentemente seguro de

explotação, estratégias de captura baseadas na utilização de aparelhos de pesca de baixo

impacto a alta seletividade e um sistema de ordenamento e gestão implementado e que

contém os principais aspectos necessários para assegurar a sustentabilidade da atividade,

nota-se que esta pescaria poderia ser, atualmente, descrita como sustentável de acordo com

os padrões utilizados em ambos os programas de certificação. Apenas mínimos ajustes seriam

necessários para que esta atendesse totalmente aos padrões dos programas. Exemplifica-se tal

constatação ao verificar que, para ambos os programas considerados, esta pescaria

apresentou conformidade em cerca de 85 % dos requisitos avaliados.

A pesca de emalhe direcionada ao peixe sapo

Disponibilidade de dados

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Assim como observado para os caranguejos de profundidade, a pesca do peixe sapo com redes

de emalhe de fundo no Brasil também teve seu início a partir do arrendamento de

embarcações estrangeiras a partir de 2000 (Perez et al., 2009). Ao final de aproximadamente

três anos de operação, a frota estrangeira abandonou as águas brasileiras deixando para trás

as primeiras reduções de biomassa deste estoque – decorrente dentre outros fatores da

ausência de ordenamento, do elevado esforço, e da crescente participação das frotas

nacionais de arrasto de fundo nas capturas da espécie. Entre 2003 e 2009, capturas de peixe

sapo estiveram restritas à frota de arrasto, dada a ausência de embarcações nacionais para

atuar com redes de emalhe (Perez et al., 2002b; Perez et al., 2005). Somente em 2009 que

duas embarcações brasileiras optaram por ingressar na pescaria, a qual já apresentava plano

de manejo e ordenamento implementados.

Desde seu início em meados de 2000, observadores de bordo monitoraram todas as viagens

de pesca realizadas com redes de emalhe, tanto da frota arrendada quanto da atual frota

nacional. Os dados gerados permitiram caracterizar os aspectos biológico-populacionais do

recurso e dimensionar o bycatch e os descartes (Lopes, 2005; Perez e Wahrlich, 2005).

Avaliações de estoque e cálculos dos potenciais de rendimento também foram elaboradas,

incorporando-se às análises dados das frotas de arrasto monitoradas por programas de

estatística pesqueira (Perez et al., 2002c; Perez et al., 2005; Perez, 2006). Apesar da ausência

de observadores de bordo para coleta de dados na frota arrasteira, esta pescaria e seu

estoque alvo não podem ser caracterizados como deficientes de dados.

Estado dos estoques

As avaliações apontaram uma biomassa virginal com cerca de 61.000 toneladas, e uma captura

anual sustentável (TAC) de 2.500 toneladas (Perez et al., 2002c). Avaliações posteriores

baseadas em modelos de idade, de excedente de produção, cenários de depleção e GLMs

corroboraram os cálculos anteriores e validaram os pontos técnicos de referência

estabelecidos. No entanto, a ausência de ordenamento resultou em capturas

consideravelmente maiores que a TAC sugerida. Estimou-se que entre 30 e 60 % da biomassa

total desovante foi removida entre 2001 e 2003 (Perez et al., 2005). Reduções de 1000

toneladas na TAC foram propostas com intuito de recuperar o estoque, porém a pescaria

seguiu sem ordenamento (Perez et al., 2009; Perez et al., 2009b). Os diagnósticos mais atuais

datam de 2009, e indicam uma leve recuperação da biomassa entre 2004 e 2006, porém

seguida de um novo declínio em 2008, indicando que o quadro de sobrepesca permanece

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(Perez et al., 2009b). Apesar do ordenamento da pescaria - publicado em 2009 - possuir

ferramentas e estratégias apropriadas para recuperar o estoque e permitir uma explotação

racional e sustentável do peixe-sapo, a atuação da frota de arrasto segue em caráter de “livre

acesso”, o que pode comprometer seu estoque.

Impactos sobre outras espécies, habitat e ecossistema

Por ser um método de pesca passivo, as redes de emalhe tendem a apresentar baixo impacto

sobre o fundo marinho quando comparadas a métodos como o arrasto (Jennings e Kaiser,

1998). No entanto, observadores de bordo indicam capturas ocasionais de corais, sugerindo

danos pontuais em locais de substrato rígido, mais propícios à ocorrência destes organismos

(Reed, 2002). Medidas como a incorporação de áreas de exclusão de pesca (BRASIL, 2009c)

devem atenuar tais impactos, mantendo áreas intactas. Neste sentido, considerando a

pequena escala da pescaria, as medidas de gestão existentes e os danos causados apenas em

escala pontual, nota-se ser pouco provável que os impactos deste petrecho sobre organismos

associados ao substrato rígido sejam irreversíveis e de grande escala. De maneira semelhante,

há a possibilidade de que impactos sobre a estrutura do ecossistema ocorram, porém não

devem comprometer permanentemente sua estrutura ou função. A origem destes impactos

associa-se à forma de operação da rede, a qual atua “deitada” sobre o fundo, com as capturas

ocorrendo através de embolamento (Wahrlich et al., 2004). A estratégia de capturas por

embolamento reduz a seletividade do petrecho, que captura inclusive organismos menores

que os tamanhos de malha, como caranguejos e baratas do mar (Perez e Wahrlich, 2005).

Grandes capturas de organismos detrivívoros relatadas podem alterar a estrutura da

comunidade. No entanto, ainda não há evidências de tais impactos.

A baixa seletividade do petrecho torna o bycatch um fator de destaque tanto em termos de

diversidade quanto biomassa, tornando-se um problema de difícil resolução. Grande parte

desta captura indesejada é descartada, incluindo desde espécies sem valor comercial

(crustáceos diversos, elasmobrânquios e cnidários) além de espécies de interesse comercial

para outras frotas (e.g. caranguejos, merluza e abrótea). Deste grupo destacam-se os

caranguejos. Em 14 viagens de pesca avaliadas, estima-se que mais de 400 mil caranguejos

reais (C. ramosae) foram descartados ao mar, numa taxa próxima à 1:2 caranguejos/peixe

sapo, respectivamente. Níveis de descarte desta ordem podem vir a comprometer estes

estoques, devendo ser incluídas estas mortalidades na gestão das pescarias que têm estas

espécies como alvo (Perez e Wahrlich, 2005). Em relação à captura retida, destaca-se o cherne

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poveiro (Polyprion americannus), cujas capturas próximas a 10 mil indivíduos foram registradas

nas viagens monitoradas. Considerando que seus estoques encontram-se atualmente

colapsados (Perez et al., 2009a; Haimovici et al., 2005), é alta a probabilidade de que capturas

desta ordem interfiram na sua recuperação (Perez e Wahrlich, 2005). Medidas como a

proibição na comercialização de mais de 5 % em peso da espécie em relação à captura total de

uma viagem atua positivamente na não estimulação de suas capturas (BRASIL, 2009c). No

entanto, relatórios de observadores de bordo indicam que este limite não vem sendo

respeitado.

Ordenamento da pescaria e as ferramentas para gestão

Um plano de manejo e uma proposta de ordenamento para a pescaria do peixe sapo foram

elaborados ao final do ciclo de atuação da frota arrendada. No entanto, uma série de entraves

institucionais e de governança impediram sua implementação (Perez et al., 2005). Somente em

2009 um ordenamento foi finalmente instituído, incorporando as devidas correções nas TAC

decorrentes da sobre explotação observada no início da década (BRASIL, 2009c). Este

ordenamento assemelha-se ao do caranguejo vermelho, fornecendo as principais ferramentas

para assegurar uma explotação segura do recurso. Destas, destacam-se a necessidade de

registro de embarcações e de permissão de pesca, as limitações de esforço (9 embarcações),

TAC, áreas de exclusão à pesca, tamanhos de malha, cumprimento obrigatório dos

mecanismos de monitoramento (presença de observadores de bordo e entrega dos log books -

mapas de bordo) e a incorporação de mecanismos para controle e vigilância (PREPS – VMS).

Relatórios de observadores de bordo indicam que a frota tem cumprido praticamente todas as

regras estabelecidas no ordenamento.

De uma maneira geral, nota-se que a pescaria apresenta aspectos positivos e negativos em

relação aos padrões exigidos pelos selos de certificação. A existência de um ordenamento

baseado num plano de manejo coerente e o elevado volume de informações em qualidade e

quantidade sobre a pescaria e seu estoque alvo figuram como principais pontos positivos.

Aspectos negativos estão associados ao estoque sobrepescado (em decorrência dentre outros

fatores da pesca desordenada promovida pela frota de arrasto), aos elevados descartes, e à

mortalidade de espécies ameaçadas ou sobrepescadas. Com relação à sobrepesca do peixe

sapo, há indícios de que a frota arrasteira seja a principal responsável pelo atual quadro de

sobrepesca do recurso, atuando ilegalmente na captura do recurso (Dias e Perez, em

preparação; Perez et al., 2009b). Desta forma, o principal aspecto a ser considerado é a

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necessidade de um ordenamento urgente da pesca de arrasto direcionada a recursos

demersais de profundidade, medida de extrema necessidade para que esta pescaria possa ser

caracterizada como sustentável ou para que obtenha um selo de certificação ambiental.

A pesca de emalhe direcionada à corvina

Disponibilidade de dados

A pesca costeira de emalhe de fundo tomou impulso no final da década de 80, e apresentou

crescimento contínuo ao longo destes quase 30 anos de existência (Barcellos et al., 1991;

Haimovici, 1997; Pio, 2011). Nos últimos dez anos, uma média de 900 desembarques anuais

foram realizados por cerca de 160 embarcações de emalhe de fundo (UNIVALI/CTTMar, 2010).

Esta frota direciona-se basicamente à captura da corvina (Micropogonias furnieri), espécie de

extrema importância econômica para a indústria pesqueira, aparecendo como a terceira

espécie mais pescada no Sudeste e Sul do Brasil (UNIVALI/CTTMar, 2010). Esta pescaria atua

sobre dois estoques distintos - ao sul e ao norte do Cabo de Santa Marta – no estado de Santa

Catarina (Haimovici e Ignácio, 2005; Vasconcellos e Haimovici, 2006; Vazzoler, 1991; Carneiro,

2007). Apesar deste cenário sugerir duas unidades de manejo e certificação distintas, neste

estudo de caso considerou-se uma única unidade, já que atuam sobre os estoques a mesma

frota e os mesmos petrechos de pesca, evidenciando apenas uma mudança sazonal de suas

áreas de operação. Neste sentido, a maior parte das categorias e requisitos não justificava uma

análise em separado. Somente aspectos associados aos estoques foram avaliados de forma

independente.

Aspectos biológicos e populacionais da espécie já são relativamente bem descritos na

literatura, com informações disponíveis sobre ambos os estoques (Haimovici e Ignácio, 2005;

Vasconcellos e Haimovici, 2006; Vazzoler, 1991; Carneiro, 2007). A atuação da frota também

tem sido monitorada, e informações sobre seus padrões de operação também encontram-se

descritos. De maneira geral, durante meses de inverno a frota desloca-se para áreas do

Sudeste (estados do Rio de Janeiro e São Paulo), operando em áreas mais profundas (abaixo

de 40 metros). Nos meses de inverno, as operações concentram-se em áreas mais próximas à

costa, ao largo estado do Rio Grande do Sul (Haimovici e Umpierre, 1996; Pio, 2011). Sabe-se

que o estoque sul corresponde a uma fração de um estoque Argentino-Uruguaio que migra

para águas brasileiras para alimentação, fato que o caracteriza como um estoque

compartilhado (Vaz dos Santos et al., 2008; Vasconcellos e Haimovici, 2006). Apesar de nos

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três países a corvina representar um recurso pesqueiro de extrema importância, inexiste um

manejo compartilhado da espécie.

Dados de captura e esforço têm sido coletados nos portos de descarga do Sudeste e Sul,

totalizando mais de 10 anos de monitoramento (UNIVALI/CTTMar, 2010). Recentemente,

programas de amostragens de estrutura de tamanhos também foram inseridos no

monitoramento da pescaria. Entre 2007 e 2010, observadores de bordo monitoraram uma

parcela da frota, gerando um volume maior de dados com qualidade e nível de detalhamento

também maiores. Nota-se, portanto, que esta pescaria não é deficiente de dados.

Estado dos estoques

Haimovici e Vasconcellos (2006) forneceram os primeiros PTRs consistentes para diagnosticar

o estoque Sul da corvina, incluindo em seu diagnóstico aspectos relacionados ao seu

compartilhamento com o Uruguai e a Argentina. Segundo os resultados da análise, o estoque

sul da corvina encontra-se atualmente fortemente sobrepescado, com a mortalidade por

pesca (F) entre 2 a 6 vezes acima mortalidade que produz o RMS (FRMS). A biomassa (B) atual é

cerca de 40 % inferior à biomassa do RMS (BRMS). Avaliações realizadas no Uruguai e na

Argentina indicam cenário de sobrepesca semelhante, corroborando a atual avaliação

mencionada neste estudo de caso (Carozza e Hernández, 2004). Um cenário precautório

sugere um RMS médio de 10.500 toneladas para a espécie no estoque Sul. Apesar de não

haver diferenciação das capturas totais de corvina entre os estoques Norte e Sul, é muito

provável que as capturas do estoque Sul estejam atualmente acima da calculada no RMS

(Haimovici e Vasconcellos 2006).

Uma avaliação do status do estoque Norte da corvina foi elaborada em Carneiro et al. (2005) e

reapresentada em Carneiro (2007), constituindo atualmente a única disponível deste estoque.

No entanto, pontos técnicos de referência não foram fornecidos. Parâmetros do ciclo de vida

foram calculados para a espécie (tamanhos de maturação e ciclo reprodutivo). Composições

de idades foram inferidas através do método de análise modal aplicado sobre uma distribuição

de tamanhos amostradas num período cerca de 10 anos anterior ao da avaliação. Estes dados

foram inseridos na equação de Von Bertalanffy para estimativa de crescimento. A partir da

composição de idades foram estimadas taxas instantâneas de mortalidade natural através de

uma curva de captura linearizada. Estimativas de mortalidade natural foram realizadas com

base nos parâmetros da curva de crescimento através da equação de Pauly. Foi utilizado como

ferramenta de diagnóstico a fração da mortalidade total correspondente à mortalidade por

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pesca. Chegou-se a uma taxa de explotação de 0,63 o que aparentemente indica que o

estoque esteja sobre explotado, apesar de não existem PTRs estabelecidos (Carneiro, 2007).

No entanto, este resultado deve ser visto com certa ponderação, visto que esta avaliação não

considera fontes de incerteza, não apresenta limites de confiança e faz uso de métodos não

adequados para estimativas de parâmetros de crescimento.

Impactos sobre outras espécies, habitat e ecossistema

Conforme já mencionado, as redes de emalhe apresentam baixo impacto sobre o habitat,

tendendo a interagir danosamente com o fundo apenas pontualmente, através de suas

âncoras de fixação (Jennings e Kaiser, 1998). Considerando que os fundos de pesca são em sua

maioria inconsolidados, é razoável supor tais impactos como reduzidos (Figueiredo Jr. e

Madureira, 2004). No entanto, o elevado número de embarcações (cerca de 160) e a extensão

média das redes (em alguns casos com mais de 20 km – ver Pio (2011)) devem intensificar a

magnitude destes impactos, e devem ser considerados para que uma conformidade seja

atestada . Em relação aos danos causados à estrutura ou função dos ecossistemas, relata-se

que estes em geral ocorrem pela remoção de espécies chave, o que pode alterar padrões de

dominância e estruturação de teias tróficas (cascatas tróficas) (Frank et al., 2005; Mills et al.,

1993). Áreas marinhas tropicais de plataforma continental, por apresentarem elevada

diversidade, extensa área de abrangência e uma complexa cadeia trófica (normalmente sem

um único mecanismo de controle, seja ele top down ou botton up), apresentam as menores

susceptibilidades a estes eventos, o que deve tornar esta pescaria pouco impactante sob este

aspecto (Frank et al., 2005; Reid, 2000).

Apesar da ampla dominância da corvina, as capturas da frota de emalhe de fundo são

compostas por quase 200 outras espécies, incluindo peixes ósseos, elasmobrânquios e

crustáceos (Schroeder et al., 2011). Não existem atualmente informações sobre os descartes

desta pescaria. O baixo número de viagens monitoradas por observadores de bordo torna

ainda qualquer inferência sobre este aspecto demasiadamente subjetiva. Peixes ósseos de

valor comercial são desembarcados, porém somente àqueles de maior abundância (em geral

cabrinha – Prionotus punctatus e a castanha – Umbrina canosaii) são discriminados – os

demais são descritos como “mistura”. Em relação às duas espécies citadas, não há evidências

de que esta pescaria seja capaz de comprometer seus estoques, visto que as capturas médias

por viagem mostram-se reduzidas (UNIVALI/CTTMar,2010) além do petrecho tender a capturar

basicamente espécimes de maior porte (Dias, observações pessoais). Já os “caçonetes” - grupo

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de pequenos cações – são espécies capturadas com frequência. Considerando a menor

resiliência destes elasmobrânquios (tipicamente k-estrategistas) e as consecutivas quedas em

suas produções, é possível que seus estoques estejam comprometidos (UNIVALI/CTTMar,

2010). Espécies ameaçadas e/ou protegidas por legislação específica, como tartarugas e

cetáceos e algumas aves, também são capturados com frequência, o que indica um impacto da

pescaria sobre estes grupos. Mecanismos para a redução da captura de espécies não alvo são

raros e, em sua maioria, de eficácia ainda não comprovada, sugerindo que por este motivo, os

impactos desta pescaria não possam ser desprezados (Bull, 2007).

Ordenamento da pescaria e as ferramentas para gestão

Do ponto de vista da gestão desta pescaria, nota-se um histórico de desenvolvimento

caracterizado por uma ausência de planos de manejo, regras de controle e ordenamento. Estas

características têm se mantido até os dias de hoje. Historicamente, as medidas de

ordenamento para a frota de emalhe foram debatidas em fóruns que incorporam

problemáticas tanto das frotas de emalhe de fundo quanto de superfície, sendo as da última

frota as de maior urgência dada à iminência de colapso dos estoques de tubarões – espécies

alvo desta antiga frota (IBAMA, 2006; Kotas et al., 2008).

A inclusão de problemáticas diversas nas mesas de discussão gerou conflitos crescentes entre

setor produtivo e órgãos gestores, além de medidas de ordenamento com caráter confuso e

fora da realidade das frotas. A frota de emalhe de fundo, cujo ordenamento deveria estar

focado em análises de produtividade dos estoques alvo da frota (basicamente a corvina),

sofreu reflexos da necessidade de reduzir capturas de elasmobrânquios pela frota de

superfície, destacando-se a limitação dos tamanhos máximos das redes para limites fora da

realidade das embarcações atuantes sobre a corvina (BRASIL, 2007; Pio, 2011). Neste cenário,

apesar de existirem algumas ferramentas para o ordenamento da pescaria (e.g. IN nº

166/2007 em BRASIL, (2007)), estas mostram-se completamente inapropriadas para a

realidade da pescaria, necessitando ser totalmente reformuladas. Atualmente, a inadequação

destas ferramentas de “ordenamento” obriga toda a frota a atuar de forma ilegal, causando a

não conformidade da pescaria com ambas as certificadoras.

A pesca de arrasto direcionada ao camarão rosa

Disponibilidade de dados

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A pesca industrial do camarão rosa tomou impulso em meados dos anos 60, a partir da

mecanização da frota pesqueira industrial e da incorporação de novas tecnologias, como as

redes sintéticas e os tangones – petrecho utilizado na pesca de arrasto duplo. A facilidade de

acesso ao recurso e aos seus mercados, o alto valor comercial e sua elevada abundância foram

fatores que atuaram conjuntamente para o desenvolvimento abrupto desta pescaria no Brasil,

sobretudo entre a metade dos anos 60 e 70. Historicamente, tem-se dividido a pesca industrial

do camarão rosa em três fases distintas, sendo os limites entre as fases caracterizados por

quedas na abundância do recurso e variações no esforço de pesca (Valentini et al., 1991;

D’incao et al., 2002; Perez et al., 2007).

Apesar da importância deste recurso para a indústria pesqueira brasileira, planos eficientes

para gerar dados confiáveis sobre a pescaria – incluindo observadores de bordo, coleta de

dados de produção e cruzeiros de pesquisa – foram extremamente raros, descontínuos ou

simplesmente não existiram. Desta forma, a quase totalidade dos dados disponíveis referente

às fases iniciais restringe-se aos dados de captura e esforço de pesca coletados por órgãos

ambientais governamentais (IBAMA) (D’Incao et al., 2002). A dificuldade de se gerar

informações adequadas sobre este recurso explica-se em parte pelas características biológicas

e populacionais que tornam o monitoramento dos seus estoques e da pescaria uma tarefa

extremamente complexa.

Em primeiro lugar, sob o recurso chamado “camarão rosa” explota-se na realidade duas

espécies (Farfantepenaeus paulensis e F. brasiliensis). Até os dias de hoje, dados de produção

tem agrupado ambas as espécies, o que é bastante negativo do ponto de vista de manejo.

Outro fator prejudicial é o fato da espécie apresentar uma forte segregação espacial da

população. Enquanto adultos ocorrem ao longo de praticamente toda a plataforma

continental interna do SE e S do Brasil, os juvenis ocupam lagunas costeiras e estuários. Nestes

locais, a fração juvenil dos estoques sustenta uma antiga pescaria artesanal, cujo

monitoramento mostra-se complexo em decorrência da pulverização dos pontos de captura e

comercialização. Com isto, flutuações no recrutamento em função de uma pescaria artesanal

pouco monitorada devem atuar como incertezas nas avaliações. Soma-se ao quadro um

recrutamento altamente dependente de variáveis climáticas e regimes oceanográficos, que

conferem ao recurso uma alta variabilidade natural na abundância de cada coorte. Por fim, o

alto valor de comercialização torna a coleta de amostras biológicas e tomada de dados

morfométricos uma tarefa que necessita de um planejamento cuidadoso.

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Desta maneira, nota-se que apesar de um histórico de cinco décadas de existência, as

informações disponíveis sobre a pescaria apresentam grande fragilidade pelos motivos

descritos. Avaliações da pescaria e medidas de ordenamento devem, portanto, considerar

abertamente as fragilidades nos dados e incorporar incertezas e limites precautórios.

Estado dos estoques

Foram encontradas três avaliações de estoque do camarão rosa publicadas desde o início da

pescaria (Valentini et al., 1991; D’Incao et al., 2002; Leite Jr. e Petrere Jr., 2006). No entanto

outras avaliações foram publicadas no âmbito de Grupo de Trabalho criados pelo Governo,

porém seus relatórios não se encontram disponíveis. As três avaliações de estoque apontam o

recurso como fortemente sobre pescado, com reduções de até 85 % entre as décadas de 70 e

2000 (D’Incao et al., 2002). A primeira avaliação realizada baseou-se nos modelos de produção

excedente de Schaefer, e resultou em estimativas de RMS de 7.000 e 2.800 toneladas/ano

para os períodos de 1965-1972 e 1973-1986, respectivamente (Valentini et al., 1991). Estes

dois períodos representam as duas fases iniciais da pescaria, nas quais o esforço de pesca e as

capturas totais mantiveram-se sempre acima dos limites máximos estimados, o que levou a

uma nova redução nos rendimentos em 1987 (D’Incao et al., 2002). Após 1987, relata-se o

início da terceira fase, marcada por reduções ainda maiores na biomassa do recurso e um RMS

estimado de 1.900 toneladas/ano. Para ambas as avaliações, nota-se que uma certa incerteza

em seus valores deve ser considerada, tendo em vista a fragilidade dos dados de captura e

esforço e a ausência de equilíbrio no estoque, ambos pressupostos aos modelos de produção

excedente.

A avaliação mais recente (Leite Jr. e Petrere Jr., 2006) foi até o momento a única a considerar

as duas espécies separadamente, utilizando para cada uma modelos de rendimentos por

recruta, os quais incorporam parâmetros biológicos das espécies. Os pressupostos destes

modelos são menos exigentes em relação aos de excedente de produção. No entanto,

informações mais detalhadas necessitam ser aportadas, incluindo mortalidade natural e por

pesca, parâmetros de crescimento, composição das coortes e seletividade. Uma das vantagens

deste tipo de abordagem consiste na possibilidade de elaborar estratégias como alternar

mortalidade por pesca e tamanhos de primeira captura (seletividade) (Sparre e Venema,

1997). Esta avaliação elaborou também os tradicionais modelos de produção excedente para

diagnósticos com base nas capturas totais, porém agrupando ambas as espécies. Seus

resultados indicam que a pescaria encontra-se atualmente no RMS, estimado em 1.500

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toneladas/ano, apesar de este valor representar apenas 20 % do RMS estimado para 1970 e

cerca da metade do estimado para o período seguinte (1972-1986)

Impactos sobre outras espécies, habitat e ecossistema

A pesca de arrasto de fundo direcionada aos camarões tropicais costeiros tem sido

amplamente relatada como a pescaria de maior nível de bycatch no mundo. Isto se dá pela

união entre um petrecho de pesca de baixa seletividade aliado a atuação da frota numa área

de alta diversidade e biomassa de outras espécies (Alverson, 1994; Kelleher, 2005; Graça Lopes

et al. (2002); Vianna e Almeida, 2005).

Dentre os descartes, nota-se a ocorrência tanto de organismos sem valor comercial quanto

aqueles que, apesar de passíveis de comercialização, são capturados em tamanhos inferiores

aos de mercado. Avaliações realizadas em outras regiões indicam que os descartes deste tipo

de pescaria variam entre 30 e 70 % do peso das capturas (Kelleher, 2005). Trabalhos ainda em

escala preliminar realizados para esta pescaria na costa brasileira sugerem descartes de até 90

% das capturas (Segatto, 2010). Já as espécies retidas são em geral compostas por peixes e

elasmobrânquios demersais (incluindo algumas das espécies ameaçadas), além de cefalópodes

nos meses de verão (Graça Lopes et al., 2002; Vianna e Almeida, 2005; Perez et al., 2007;

Gasalla et al., 2010). Para a maior parte das espécies não alvo, tanto retidas quanto

descartadas, não existem diagnósticos dos seus estoques. Para àquelas cujo diagnóstico existe,

há indícios de sobre explotação da maioria (e.g. corvina, goete, pescadas) (Cergole et al., 2005;

Wongtschowsky et al., 2006).

Espécies ameaçadas são capturadas com relativa freqüência. Vooren e Klippel (2005)

identificaram que a pesca de camarões costeiros captura cinco espécies de raias e cações

ameaçados de extinção. Apesar de dispositivos para a redução do bycatch existirem (e.g.

Turtle Exclude Devices - TEDs e Bycatch Exclude Devices - BEDs) e contribuírem

significativamente na redução da captura de espécies não alvo, as espécies acessórias como

peixes demersais e raias emplastro têm uma participação tão importante na renda das

embarcações que reduzir suas capturas deve tornar a pescaria economicamente inviável

(Graça Lopes et al. 2002; Vianna e Almeida, 2005; Perez et al., 2007; Vianna, 2001). Por este

motivo, apesar do uso de TEDs estar previsto na legislação, há indícios de descumprimento

sistemático na norma.

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Apesar do consenso de que a pesca de arrasto cause efeitos negativos sobre os ambientes com

os quais as redes interagem, o dimensionamento destes efeitos ainda não é de todo

conhecido, em decorrência principalmente da dificuldade de se isolar os efeitos do arrasto dos

demais fatores naturalmente causadores de distúrbios (Jones, 1992; Valdemarsen et al., 2007;

Armstrong e Falk-Petersen, 2008; Jennings e Kaiser, 1998; Thrush et al., 1998). No entanto,

modificações nas condições físico-quimicas, impactos sobre organismos filtradores (e.g.

bivalves) e sobre a fauna séssil (corais e esponjas) já tem sido descritos (Charlier, 2001; Jones,

1992). Apesar de diferentes níveis de susceptibilidade do fundo marinho estarem relacionados

à sua composição granulométrica, é fato que o principal fator atuante na sua degradação é a

frequência com que estas áreas são arrastadas, muitas vezes impedindo uma regeneração

antes de novos distúrbios (Charlier, 2001). Tal fato pode até modificar a estrutura do

ambiente, favorecendo espécies r-estrategistas. Considerando a dimensão da frota

direcionada ao camarão rosa – historicamente oscilando entre 200 e 400 embarcações – é

grande a probabilidade de que distúrbios estejam ocorrendo em uma freqüência danosa ao

habitat e ao ecossistema.

Ordenamento da pescaria e as ferramentas para gestão

Em nenhum momento do histórico de desenvolvimento da pescaria do camarão rosa foi

elaborado qualquer tipo de plano de manejo. Estratégias de explotação e pontos técnicos de

referência (PTRs), ferramentas essenciais para um ordenamento eficiente, também nunca

foram adotadas. O ordenamento desta pescaria tem tido historicamente um caráter

emergencial, no qual medidas pontuais são adotadas quando grandes problemas ocorrem –

estes em geral associados a reduções drásticas na abundância dos estoques. Um exemplo claro

deste processo desordenado pode ser observado no surgimento dos defesos de pesca na

década de 1980 (Valentini, 1991). Desta forma, pode-se dizer que o “sistema de gestão” da

pescaria do camarão rosa é composto unicamente de medidas pontuais desenhadas para

reduzir o esforço de pesca durante períodos reprodutivos. Cálculos de esforço ou quotas de

captura jamais estiveram presentes no ordenamento da pescaria.

Discussão

Os resultados obtidos nos estudos de caso indicam a existência de pescarias mais próximas e

mais distantes dos padrões exigidos pelos programas de certificação. Categorias como Insumos

e Produção de Resíduos – IPR, Considerações Sociais – COS e Estrutura do Sistema de Gestão

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tiveram resultados comuns para todas as pescarias, evidenciando que estes aspectos não são

responsáveis por gerar diferenças entre as pescarias. No entanto, categorias relacionadas aos

estoques-alvo e às estratégias de explotação – CSE e EEX; aos impactos da pescaria sobre

outras espécies habitat e ecossistema – IHE, CEC, FAC, DES, bem como as ferramentas e

políticas de gestão – PSG e FGE – apresentaram diferentes resultados para cada pescaria,

evidenciando que estas categorias são responsáveis por diferentes distâncias das pescarias em

relação aos padrões exigidos. Ao analisar a relação de causa-efeito destas conformidades e

não conformidades, parece estar clara a atuação de quatro fatores centrais no distanciamento

das pescarias aos padrões exigidos pelos selos de certificação:

1. Tipo de petrecho utilizado na pescaria: o tipo de petrecho responde pela

potencialidade da pescaria em causar danos ao habitat, comprometer os estoques

alvo, ecossistemas e outras espécies – sejam elas ameaçadas ou não. Interferem neste

aspecto a seletividade, o contato com o fundo, o tipo de material que o compõe,

dentre outros fatores;

2. Características da área de pesca: dependendo da área, os danos potenciais causados

pelo petrecho (e pela pescaria) podem ser atenuados ou intensificados. Considera-se

como exemplo a importância ecológica, a diversidade, produtividade, fragilidade

estrutural e natureza do substrato das áreas de pesca;

3. Existência de planos de manejo e ordenamento: planos de manejo fornecem

principalmente as estratégias de explotação e as ferramentas de gestão necessárias

para assegurar que os estoques sejam mantidos em patamares desejados ou para

recuperá-los. No entanto, podem incorporar também alternativas para minimizar os

impactos decorrentes da interação entre o tipo de petrecho e as áreas de pesca (e.g.

incorporação de BRDs, criação de áreas de exclusão de pesca);

4. Existência de um programa de monitoramento qualificado e independente baseado

em observadores embarcados: apesar de planos de manejo em geral incorporarem

programas de observadores como ferramentas de gestão, notou-se que mesmo em

pescarias sem ordenamento, a adoção voluntária destes programas aproximou-as da

obtenção de selos de sustentabilidade. Isto porque observadores de bordo permitem

gerar informações e dados sobre a pescaria difíceis de serem obtidos de outra forma

(e.g. registro de espécies ameaçadas e perda de material de pesca, quantificação dos

descartes, etc.). Sem estas informações, mais não conformidades são geradas e mais

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precautória tem de ser a auditoria, em virtude de ter de se buscar e adaptar

informações de outras áreas para a realidade local.

A interação entre estes quatro fatores definiu as pescarias mais próximas e mais distantes dos

padrões exigidos nos selos de certificação. Exemplifica-se tal fato com uma comparação entre

a pescaria do caranguejo vermelho e a do camarão rosa. A pescaria de covos para caranguejo

tem sido monitorada censitariamente por observadores, responsáveis por gerar os dados

necessários para as análises do bycatch e avaliações de estoque – ambas já realizadas (Bastos,

2004; Pezzuto et al., 2006b). A existência de um plano de manejo adequado e implementado

confere a esta pescaria as principais ferramentas necessárias para uma gestão segura (BRASIL,

2008). A utilização de armadilhas em áreas de talude tem sido descrito como minimamente

impactante quando comparada aos demais métodos de pesca (reduzido bycatch, danos

apenas pontuais ao habitat) (Barnette et al., 2001; Eno et al., 2001; Shester e Micheli, 2011).

Por outro lado, a pesca do camarão rosa, apesar de extremamente antiga, não foi monitorada

por observadores de bordo, fato que resultou numa atual ausência de uma ampla gama de

informações necessárias para avaliar os estoques e dimensionar os impactos sobre outras

espécies, habitats e ecossistemas. A ausência de planos de manejo mantém a pescaria sem as

ferramentas necessárias para uma gestão segura. Petrechos como as redes de arrasto para

camarão apresentam baixa seletividade, e quando operando em áreas de elevada diversidade

e abundância de outras espécies não alvo, tendem a causar impactos expressivos em

categorias como FAC, DES, CEC e IHE (Vianna e Almeida, 2005; Valdemarsen et al., 2007;

Segatto, 2010).

Nestes dois exemplos, nota-se claramente que os quatro fatores-chave elencados, quando

analisados de maneira criteriosa, indicam o distanciamento de cada pescaria aos padrões

exigidos. Desta maneira, mesmo com a ausência de análises detalhadas em nível de requisitos

(como as elaboradas nos estudos de caso), uma avaliação criteriosa destes quatro fatores

permite ter uma razoável ideia sobre o que se esperar das demais pescarias industriais do

Sudeste e Sul no que se refere à proximidade com os padrões exigidos nos selos de

certificação. Alguns cenários prováveis são então projetados para as demais pescarias com

base nos quatro fatores listados. Nestes cenários, conformidades e não conformidades

esperadas foram projetadas para as categorias de requisitos, como maneira de simplificar a

análise. Para tal, não conformidades com um requisito foram extrapoladas para toda a

categoria.

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Pescarias demersais

As pescarias de arrasto listadas na Tabela 3 têm por alvo camarões costeiros e peixes

demersais de plataforma e talude (Baptista-Mitri, 2007; Branco e Verani, 2006; Perez et al.,

2007). Conforme mencionado, a ausência de planos de manejo e ordenamento adequados

deve gerar não conformidades observadas em categorias como estratégias de explotação (EEX)

e ferramentas de gestão (FGE) (Tabela 5). A gestão das pescarias direcionadas aos camarões

tem se baseado unicamente no controle de licenças – historicamente ineficiente – e na política

dos defesos de pesca, os quais isoladamente mostraram-se incapazes de controlar e manter o

esforço de pesca dentro de limites ótimos (D’Incao et al., 2002). Para a frota direcionada aos

peixes demersais, nem mesmo medidas como defesos foram aplicadas. A ausência de planos

de manejo ao longo das décadas de existência torna provável – isso quando não evidente – um

quadro de sobre explotação dos recursos alvo, tanto nas pescarias dirigidas aos peixes

demersais quanto aos camarões costeiros, resultando em não conformidades com a categoria

CSE. (D’Incao et al., 2002; Cergole et al., 2005; Perez et al., 2009a). Estoques só não parecem

comprometidos na pescaria dos camarões ferrinho e vermelho (Baptista-Mitri, 2007) (Tabela

5).

Para todas estas pescarias esperam-se não conformidades comuns relacionadas aos impactos

sobre hábitat, decorrente do tipo de petrecho utilizado, cuja justificativa foi exposta no estudo

de caso referente ao camarão rosa. Efeitos sobre os ecossistemas foram assumidos como não

conformidades em decorrência do caráter multiespecífico das capturas da maioria destas

pescarias (Perez et al., 2007 e 2009a; Baptista-Mitri, 2007; Branco e Verani, 2006), o que

reflete na necessidade de conhecimento aprofundado da ecologia de um amplo leque de

espécies capturadas e ecossistemas afetados (Pérez-Ramírez et al., 2007). A ausência destes

dados deve resultar em não conformidades (Tabela 5).

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Tabela 5. Sumário das conformidades (em verde ou “C”) e não conformidades (em vermelho ou “N”) das pescarias industriais do Sudeste e Sul com as

categorias identificadas no Capítulo 1, estimados a partir dos resultados obtidos com os estudos de caso.

Petrecho de pesca Recursos alvo CSE EEX FAC DES CEC IHE IPR FGE CLE EPSG PSG COS

Arrasto duplo Camarões 7-barbas,

vermelho, barba-ruça N N C N N N N N N N N C

Arrasto duplo Abrótea, merluza e peixe

sapo N N N N N N N N N N N C

Arrasto meia água Castanha N N C C C C N N C N N C

Arrasto parelha e simples Peixes demersais diversos N N N N N N N N C N N C

Cerco Sardinhas, anchova, tainha e

espécies acessórias N N C C C C N N C N N C

Espinhel de superfície Atuns e afins C N C C N C N N C N C C

Vara e isca viva Bonito listrado C N N C C N N N C C N C C

Potes Polvo N C C C C C N C N N N C

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Conforme explicado, a interação entre a baixa seletividade das redes de arrasto

(principalmente da frota camaroneira) e alta diversidade nas áreas de pesca resulta na captura

de um amplo leque espécies não alvo. A frequente ocorrência de organismos sem valor ou

tamanho comercial gera elevado volume de descartes (Alverson, 1994; Kelleher, 2005; Graça

Lopes et al., 2002; Vianna e Almeida, 2005). A ausência de observadores de bordo tanto nas

frotas direcionadas aos camarões quanto aos peixes demersais costeiros e de profundidade,

resulta ainda numa carência de informações em qualidade e quantidade suficientes para a

área de interesse. Neste contexto pode-se prever não conformidades para estas pescarias por

duas razões distintas: (a) seja pelos indícios de que os descartes podem vir a comprometer

outras espécies, como reportado para a pesca do camarão sete barbas (Branco e Verani 2006)

(b) seja pelo desconhecimento sobre a real dimensão destes impactos,como o caso da das

frotas dirigidas aos peixes demersais (Tabela 5).

Para aquelas pescarias nas quais há uma fauna acompanhante aproveitada (e.g. arrasto para

peixes demersais de talude e de plataforma), impactos sobre as espécies que a compõe podem

comprometer seus estoques, como observado para o peixe sapo e para alguns Scienídeos

(Perez et al., 2009a; Cergole et al., 2005; Rossi-Wongtchowsky et al., 2006). Já para as

pescarias de camarões costeiros, praticamente não há outras espécies aproveitadas, sendo

todo o montante de outras espécies descartado (Baptista-Metri, 2007; Branco e Verani, 2006).

Apesar de impactantes em virtude destes descartes, a inexistência de capturas acessórias

permite assumir conformidades com os requisitos presentes na categoria FAC (Tabela 5).

Assim como os descartes, espécies ameaçadas ou protegidas por legislação específica

mostram-se particularmente difíceis de serem monitoradas sem a presença de observadores

de bordo. A ausência de dados de observadores reflete na ausência de diagnósticos sobre a

ocorrência destas espécies, assumindo-se não conformidade com a categoria (Tabela 5). Estas

não conformidades apresentam ainda um maior embasamento se considerados os registros da

ocorrência de quelônios na pesca de camarões costeiros (Poiner e Harris, 1995), fato que levou

à obrigatoriedade no uso de TEDs (BRASIL, 2004a). Para a pesca dos camarões ferrinho e

vermelho, relata-se a ocorrência de elasmobrânquios, espécies naturalmente sensíveis e sendo

algumas ameaçadas de extinção e de captura proibida (Cedrola et al., 2005).

Já a pescaria de potes dirigida ao polvo comum é em grande parte semelhante à do caranguejo

vermelho. Nesta pescaria praticamente não ocorrem espécies acessórias, não há descartes e

os impactos do petrecho e da pescaria sobre o habitat e o ecossistema podem ser descritos

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como mínimos ou desprezíveis. A existência de um ordenamento baseado em um plano de

manejo fornece à pescaria os instrumentos necessários para sua gestão (e.g. PTRs,

padronização das operações de pesca e presença observadores de bordo). No entanto,

observam-se não conformidades principalmente no que se refere ao cumprimento da

legislação. As últimas avaliações obtidas indicam certa estabilidade nos rendimentos (Ávila da

Silva e Tomás, 2007). No entanto, deve-se ponderar esta análise, dada a queda na produção

observada desde que a referida avaliação foi realizada (UNIVALI/CTTMar, 2010)

Pescarias pelágicas

A pesca de arrasto de meia água com alvo na castanha (Umbrina canosai) é extremamente

recente e, apesar de ter por alvo um recurso demersal, sua forma de atuação assemelha-se a

uma pescaria pelágica. Relata-se que suas redes não interagem com o fundo, e os lances de

pesca concentram-se sobre cardumes da espécie alvo, semelhante à frota de cerco. Por este

motivo, requisitos associados ao bycatch (DES e FAC) e aos impactos sobre o habitat e o

ecossistema (IHE) são assumidos como desprezíveis (observações pessoais). As não

conformidades desta pescaria devem surgir em decorrência da ausência de planos de manejo

e ordenamento, do possível quadro de sobre explotação do recurso alvo e da necessidade de

uma gestão compartilhada com o Uruguai, visto tratar-se de um recurso pesqueiro

compartilhado (Vasconcellos e Haimovici, 2006; Haimovici et al., 2005; Vaz do Santos et al.,

2008) (Tabela 5).

A pesca de cerco tem por alvo principal a sardinha verdadeira (Sardinella brasiliensis), e ocorre

desde meados da década de 70 (Gasalla et al., 2007; Schwingel e Occhialini, 2007). Por jamais

ter tido planos de manejo, inexistem estratégias de explotação voltadas ao recurso, o que no

longo prazo resultou num quase colapso da pescaria (Cergole e Rossi-Wongtchowski, 2007). A

histórica sobrepesca do recurso aliado à atual ausência de avaliações de estoque deve resultar

em não conformidades na categoria CSE. Espécies acessórias nestas pescarias aparecem

raramente como bycatch (e.g. cavalinha ou sardinha laje) bem como parte de um

direcionamento sazonal da frota para recursos de maior valor agregado (e.g. tainha, anchova e

bagre) (Gasalla et al., 2007; Schwingel e Occhialini, 2007). Em ambos os casos não há uma

avaliação do impacto potencial da pescaria sobre estes recursos (Tabela 5).

Atuns e afins são pescados na costa brasileira por apenas duas frotas: espinheleiros de

superfície (longliners) e embarcações de vara e isca viva (bait boats). Ambas as pescarias

encontram-se numa situação diferenciada em relação aos padrões observados para as demais.

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Apesar de seguirem o padrão caracterizado pela ausência de planos de manejo, estas pescarias

são gerenciadas pela ICCAT (International Commission for the Conservation of Tunas and Tuna-

like Fishes). Esta organização torna obrigatório aos países associados à coleta e o fornecimento

dos dados das pescarias. A própria organização promove avaliações de estoque, elabora PTRs e

estabelece TACs para os países. Desta maneira, por mais que não haja um ordenamento destas

pescarias no Brasil, aspectos relacionados aos estoques e às estratégias de explotação devem

apresentar conformidade. No entanto, existem peculiaridades de ambas as pescarias que

podem vir a comprometer futuras certificações por não atestarem conformidade com os

padrões de sustentabilidade.

A frota de vara e isca viva dirige-se exclusivamente à captura do bonito listrado (Katsuwonus

pelamis). Nas capturas desta frota o bycatch é algo relativamente raro, e a captura de outras

espécies que não peixes pelágicos é inexistente. Quando ocorrem capturas de outras espécies,

nota-se o predomínio dos albacora laje e albacora branca, ambas espécies monitoradas pela

ICCAT nos mesmos moldes já mencionados. Ambos os estoques não apresentam indícios de

comprometimento (ICCAT, 2011 b,c,d). O principal ponto a ser considerado na

sustentabilidade desta pescaria consiste na problemática envolvendo o uso das iscas, uma

constante fonte de conflitos entre a frota de isca viva e a de cerco (Sckendorff e Azevedo,

2007). Em geral são utilizadas como iscas juvenis de sardinha verdadeira, capturadas pelas

próprias embarcações em enseadas e áreas costeiras abrigadas (Santos, 2000). Não há até o

momento um dimensionamento dos impactos da captura destes atuneiros sobre os estoques

da sardinha. No entanto, a possibilidade de comprometimento dos estoques de sardinha em

decorrência da magnitude das capturas promovidas por atuneiros não pode ser descartada

(IBAMA, 2004). Considerando a inexistência de requisitos voltados à avaliação das iscas

utilizadas, assumiu-se a problemática das iscas como relacionado à fauna acompanhante na

pesca do atum, visto não se tratar da espécie alvo da frota nem tampouco de uma mortalidade

indesejada. Considerando os juvenis de sardinha como espécies base de cadeias tróficas,

ponderou-se ainda a possibilidade de distúrbios nos ecossistemas de enseadas decorrentes

desta remoção. Neste sentido, atestou-se não conformidade com as categorias FAC e IHE

(Tabela 5). É interessante notar também que já existem empresas certificadas sob o selo FOS

operando com vara e isca viva. No entanto a problemática envolvendo a captura das iscas foi

ignorada nas auditorias (FOS, 2012).

A frota de espinhel de superfície também possui aspectos peculiares que devem ser

considerados nas avaliações de sustentabilidade. As capturas com este petrecho mostram-se

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menos seletivas, sendo especialmente prejudiciais para aves e tartarugas marinhas – ambos os

grupos naturalmente suscetíveis mesmo a baixos níveis de mortalidade e, em alguns casos,

protegidos por legislação específica (BRASIL, 2004b). Medidas como a aplicação de anzóis

circulares e tori lines têm gerado resultados positivos na redução da mortalidade destas

espécies.

Conclusões

Os diagnósticos das pescarias industriais de Sudeste e Sul do Brasil em relação aos requisitos

exigidos nos programas de certificação de pescarias brasileira permitiram identificar diferenças

marcantes na potencialidade de certificação para as diversas pescarias nacionais consideradas.

Pescarias demersais de profundidade, por serem mais recentes e terem surgido num contexto

no qual a ausência manejo já não mais era tolerada, apresentam-se atualmente com maior

potencial de certificar-se em curto e médio prazo. Pescarias pelágicas oceânicas seguem a

mesma tendência, porém sua proximidade com os padrões exigidos explica-se mais por estas

terem sido historicamente submetidas a algum tipo de manejo, mesmo que promovido por

organizações internacionais como a ICCAT. Já as pescarias tradicionais costeiras, especialmente

as de arrasto direcionadas aos camarões, mostram-se extremamente distantes dos padrões de

sustentabilidade, e carregam problemas de décadas de atuação sem ordenamento. Sua

adequação e possível certificação só poderão ocorrer em longo prazo.

Os resultados obtidos mostram-se potencialmente úteis à indústria pesqueira, a qual pode

fazer uso dos diagnósticos gerados para verificar sua proximidade com os programas de

certificação, identificando a necessidade de realizar adaptações antes de investir em onerosas

auditorias. Apesar de não ter constituído o foco deste trabalho, o nível de detalhamento dos

resultados obtidos – principalmente nos estudos de caso – também apresentou um grande

potencial de aplicabilidade à gestão pesqueira. A identificação de não conformidades

acompanhadas de justificativas detalhadas das suas razões facilita a elaboração de planos de

ação para cada pescaria, destacando-se quesitos de maior necessidade para alocar recursos de

maneira mais eficiente, tanto no que se refere a eventuais benefícios a indústria (como

subsídios) quanto na definição de futuras linhas de pesquisa e desenvolvimento prioritários.

Por fim, nota-se que a metodologia aplicada apresenta um potencial positivo para avaliar a

sustentabilidade de pescarias industriais. Apesar dos consecutivos questionamentos sobre a

real eficácia da certificação para garantir a sustentabilidade ambiental de uma atividade

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pesqueira (e.g. Jacquet et al., 2010), parece razoável que, quanto mais distante uma pescaria

de encontre dos padrões exigidos por um selo de certificação, tanto menor é seu nível de

sustentabilidade. Avaliar a sustentabilidade de pescarias mostra-se uma tarefa de extrema

complexidade, porém cada vez mais necessária. Isto porque é crescente a aceitação da

necessidade de tornar a atividade pesqueira menos impactante, e o favorecimento de

métodos de produção mais “sustentáveis” têm emergido como um dos caminhos de maior

destaque (Ward e Phillips, 2008). No entanto, avalia-las adequadamente se depara ainda com

a dificuldade de se definir quais atributos devem ser considerados nas avaliações e como

pondera-los de uma forma equilibrada e segura (Standal e Utne, 2011).

A utilização de requisitos fornecidos pelos selos de certificação de pesca mostrou-se válida

para este tipo de avaliação. A ausência de consenso sobre a eficácia da certificação, tem

levado a uma crescente exposição das diferenças, fragilidades e potencialidades dos

programas de certificação e de seus requisitos utilizados para atestar sustentabilidade, o que

não é necessariamente ruim (Accenture, 2009; Sainsbury, 2010; Leadbitter e Ward,

2007;Parkes et al., 2010; Goyert et al., 2010; ver Capítulo 1). Isto porque a manutenção do

foco neste tipo de debate assegura que os padrões e programas estão sob constante revisão e

fiscalização, o que aumenta a segurança e confiabilidade no seu uso, além de permitir corrigir

e adaptar os requisitos à medida que novas críticas são publicadas. Desta forma, sugere-se que

diagnósticos independentes de pescarias tendo como base os requisitos dos programas de

certificação sejam uma forma robusta o suficiente para avaliar sua sustentabilidade, podendo

ser utilizada tanto pela indústria quanto pelo governo, cada qual dentro de seus objetivos e

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Capítulo 3 – A certificação das pescarias industriais do Sudeste e Sul do

Brasil: o que necessita ser feito para alcançá-la?

Resumo

Este trabalho baseou-se num diagnóstico da sustentabilidade das pescarias industriais do

Sudeste e Sul do Brasil para fornecer um plano de ação com o objetivo de aproximá-las dos

requisitos exigidos pelos programas de certificação de pesca. A metodologia 5W2H foi

adaptada neste estudo para a elaboração de um plano de ação. Neste plano, foram

desconsiderados os custos e locais de execução das ações. Foram propostas oito ações a

serem executadas: (1) implementar programas de monitoramento por observadores

embarcados; (2) avaliar o estado dos estoques; (3) avaliar o bycatch; (4) caracterizar

ecossistemas; (5) adaptar os petrechos e estratégias de pesca; (6) implementar planos de

gestão para resíduos; (7) estruturar o sistema de gestão pesqueira; (8) implementar planos de

manejo. Tanto o governo quanto o setor produtivo devem atuar como executores de ações no

plano proposto. No entanto, uma execução coordenada e sequencial deve ser praticada, tendo

em vista a relação de dependência entre ações contidas no plano. Isto porque ações mais

complexas quase sempre dependem de outras para que possam ser executadas. Em relação às

pescarias, notou-se que nem todas as ações propostas no plano são necessárias a todas as

pescarias. Os diferentes patamares de sustentabilidade de cada uma explicam estas

diferenças. Definiu-se como prioridade gerar subsídios para a implementação de planos de

manejo. Para tal, sugere-se que o setor pesqueiro terceirize a implantação de monitoramento

por observadores embarcados e a realização de avaliações dos estoques e do bycatch. O

governo deve focar na estruturação do sistema de gestão pesqueira no Brasil, atualmente

desarticulado e na abertura e financiamento de linhas de pesquisa.

Palavras-chave: Certificação de pesca; plano de ação; pesca industrial; sustentabilidade.

Introdução

Atualmente as pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil encontram-se em diferentes

patamares de proximidade com os requisitos exigidos para a certificação ambiental de

pescarias (Capítulo 2). Algumas não conformidades com os requisitos mostram-se comuns a

todas as pescarias avaliadas, citando-se exemplos como a não implementação de um sistema

de gestão ou a ausência de planos de manejo para os resíduos e insumos das embarcações

pesqueiras. No entanto, nota-se a existências de diversas outras não conformidades as quais

têm sua origem atribuída à interação de fatores como os tipos de petrecho utilizados, as áreas

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de pesca, a existência ou não de planos de manejo e a existência de monitoramento por

observadores embarcados (Ver Capítulo 2).

Ao analisar as razões do distanciamento das pescarias em relação aos requisitos exigidos,

percebe-se claramente a atuação simultânea de diferentes forças motrizes. O

desconhecimento sobre aspectos relevantes à pescaria (e.g. produtividade dos estoques,

descartes); a utilização de petrechos poucos seletivos; pescarias ocorrendo em áreas

inadequadas; a ausência de planos de manejo e até mesmo fragilidades nas esferas superiores

do sistema de gestão pesqueira exemplificam a existência de um quadro complexo de

problemas a serem resolvidos. Num cenário como este, definir as ações destinadas à

adequação das pescarias significa incorporar as diferentes partes interessadas, capacitadas e

responsáveis por cada uma das não conformidades observadas de forma a solucionar os

problemas expostos pelos requisitos não atendidos.

Paralelamente, nota-se preocupação com a forma como os recursos naturais são utilizados

tem cada vez mais chegado à ponta da cadeia produtiva. Num contexto como este, distanciar-

se de padrões de sustentabilidade, além de indicar a necessidade urgente de rever a forma de

uso e exploração destes recursos, tende a refletir também na perda de mercados nos quais o

consumo responsável já se mostra uma realidade (Brecard et al., 2009; Erwann, 2009). Para

ambos os casos, identificar as principais fragilidades no desempenho das pescarias e propor

ações coordenadas para correção torna-se crucial para um futuro de longo prazo da atividade

pesqueira, tanto do ponto de vista do sucesso do manejo quanto do sucesso econômico da

atividade.

Neste sentido, este trabalho fornece um plano de ação piloto para as pescarias industriais do

Sudeste e Sul do Brasil com base nos diagnósticos realizados anteriormente (Capítulo 2). Por

considerar a totalidade de requisitos utilizados nos programas de certificação de pesca, o

plano de ação proposto visa ao mesmo tempo desenhar os passos necessários rumo à

introdução da certificação de pescarias no Brasil, bem como identificar de uma maneira mais

ampla as principais demandas por políticas públicas voltadas para o setor pesqueiro.

A elaboração do plano

O plano de ação tomou por base os diagnósticos das pescarias realizados contra 55 requisitos

exigidos pelos programas Marine Stewardship Council – MSC e Friend of the Sea – FOS (ver

Capítulo 2). As principais fontes de não conformidade relatadas foram isoladas e possíveis

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ações de correção foram levantadas. Considerando o elevado número de requisitos e, para

algumas pescarias, de não conformidades, propor ações com uma resolução num nível de

requisito tornaria o plano demasiadamente extenso e, consequentemente, pouco prático. Ao

mesmo tempo, percebeu-se a existência de algumas “ações-chave”, capazes de solucionar,

sozinhas, problemas em diversos requisitos, além de adaptarem-se facilmente à realidade de

qualquer pescaria. Com isto, adotou-se como estratégia elaborar um plano comum contendo

ações chave genéricas passíveis de aplicação em todas as pescarias.

Com as ações definidas, identificou-se a necessidade de escolher dentre as diversas partes

envolvidas no plano àquelas responsáveis pela execução das ações. A definição de “Quem age”

teve de ponderar dois pontos centrais: (1) a capacidade técnica/legal para se realizar a ação e

(2) o interesse das partes envolvidas/capacitadas em realizar a ação. Em relação ao primeiro

ponto, ações foram delegadas somente aos setores capazes de as solucionarem (e.g. somente

o poder público é capaz legalmente de implementar os planos de manejo). Em relação ao

segundo caso, notou-se a existência de ações passíveis de serem realizadas por mais de uma

parte (e.g. avaliar um estoque pesqueiro). Quando o setor privado esteve envolvido num

destes casos, optou-se por apresentá-lo como executor prioritário das ações, tanto por ser

este o principal interessado na resolução do problema – na perspectiva da implementação de

um selo ambiental – quanto pela maior agilidade e menores burocracias deste setor em

comparação aos setores públicos e institucionais. No entanto, apesar de uma maior exposição

ter sido dada ao setor privado, muitas vezes manteve-se outros setores responsáveis pela ação

como alternativa para a resolução dos problemas. Por fim, com ações e agentes estabelecidos,

focou-se em como cada parte deveria agir. Nesta etapa buscou-se tornar o mais claro possível

aos executores o caminho a ser percorrido para que cada ação do plano tivesse o resultado

desejado.

As diferentes etapas permitiram chegar a um plano de ação contendo 4 aspectos descritivos:

(1) o que deve ser feito – sendo esta a ação a ser executada; (2) quem deve executá-la; (3)

porque de executá-la – justificativa da ação e (4) como ela deve ser executada. Nota-se que a

estruturação do plano seguiu em grande parte à metodologia 5W2H – do inglês What; Who;

Why; Where; When; How e How much (Meira, 2005). Esta metodologia tem sido amplamente

utilizada como ferramenta para a melhoria da qualidade em empresas, por delimitar os

problemas e definir ações claras para solucioná-los.

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No entanto, optou-se por desconsiderar aspectos como “onde” e “quanto” no plano de ação.

Isto porque, tratando-se de um plano não direcionado para nenhuma instituição, setor ou

empresa específica, definir onde a ação deveria ocorrer torna-se desnecessário. Já o custo de

execução de cada ação, mesmo possuindo uma elevada importância em um plano como este,

mostra-se extremamente difícil de ser estimado com precisão. Isto porque existem ações cujo

custo de execução mostra-se extremamente variável ou subjetivo (e.g. implementação de

planos de manejo). Paralelamente, foram propostas ações a serem realizadas através de

consultorias. No Brasil, inexiste um histórico de prestação de serviços deste tipo financiados e

solicitados pelo setor privado brasileiro, o que tornaria a estimativa destes custos sem um

referencial de mercado coerente.

Outro importante aspecto de um plano de ação ainda não mencionado indica quando cada

ação deve ser executada (Meira, 2005). Quando uma ação deve ser executada depende

basicamente de dois fatores: da importância da ação para o plano como um todo e da

existência e disponibilidade de todas as condições necessárias para a realização da ação. Ao

analisar as ações do plano, notou-se a existência de uma relação de dependência entre ações,

observando-se um tipo de hierarquia entre diferentes ações, conforme exemplificado na

Figura 1. Esta hierarquia permitiu identificar se, para determinadas ações, havia os

embasamentos necessários ou não. Com base nesta análise, definiu-se para cada pescaria

quando cada ação poderia ser iniciada, estabelecendo-se uma escala de três classes (i) ações já

realizadas ou desnecessárias para uma dada pescaria; (ii) ações necessárias e passíveis de

serem executadas imediatamente e (iii) ações que somente podem ser executadas

futuramente (Figura 2).

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Figura 1. Exemplificação da hierarquia observada nas ações contidas no plano elaborado.

Entende-se por “I.P.M.” Implementação de Planos de Manejo.

Em relação à importância de cada ação para o funcionamento do plano como um todo,

definiu-se para cada uma o número de requisitos diretamente afetados por cada ação. A

escala de prioridades de execução das ações obedeceu, desta maneira, a posição da ação na

hierarquia (caso aplicável), bem como o número e a importância dos requisitos diretamente

atingidos pela execução da ação.

Análise do plano

Apesar do elevado número de requisitos utilizados nos diagnósticos das pescarias, relata-se

que apenas seis fatores chave têm atuado no distanciamento das pescarias industriais

brasileiras com os padrões exigidos pelos programas de certificação, sendo quatro destes

responsáveis por diferenças entre os níveis de distanciamento entre as pescarias (Ver Capítulo

2). Alguns aspectos como a fragilidade estrutural do sistema de gestão pesqueira e a ausência

de planos para tratar dos insumos e resíduos consumidos e produzidos a bordo, mesmo

estando em não conformidade com os requisitos, não contribuem para diferenças no

diagnóstico das pescarias. Já o tipo de petrecho utilizado, as áreas de pesca, a existência de

planos de manejo para a pescaria e um monitoramento (voluntário ou obrigatório) por

observadores embarcados explicaram as principais diferenças observadas. Estes seis fatores

devem ser, conjunta ou separadamente, abordados no plano de ação.

I.P.M.

Estruturação do Sistema

de Gestão

Análises e diagnósticos

Levantamento de dados e informações

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Um total de oito ações foram propostas, delegando-se responsabilidades de execução tanto

para o Governo Federal quanto para o setor produtivo. Das ações a serem executadas pelo

setor produtivo, apenas duas delas (“Adaptação tecnológica/estratégica do petrecho e da

pescaria” e “Implementação de plano de gestão de resíduos”) puderam ser delegadas aos

armadores de pesca, dada a reduzida escala deste tipo de ação e a relativa simplicidade em

seu desenvolvimento e implementação. As demais ações propostas para o setor produtivo

apresentam maior grau de complexidade e abrangência, demandando uma atuação conjunta

de armadores de pesca no que foi aqui chamado de Setor Pesqueiro Organizado - SPO.

Enquadrou-se neste tipo de ação, por exemplo, a implementação de programas de

monitoramento através de observadores embarcados (Tabela 1).

Ações cuja execução foi delegada a mais de um responsável foram em geral compartilhadas

entre o SPO e o governo. Nestas ações compartilhadas, optou-se por favorecer ações a serem

realizadas pelo SPO como forma de acelerar o processo de adequação das pescarias com os

padrões. Isto porque há exemplos de que a dependência exclusiva do poder público tende a

tornar o processo consideravelmente mais lento, em decorrência dos consecutivos entraves

institucionais, políticos e burocráticos à que este está submetido – alguns exemplos podem ser

consultados em Perez et al. (2009). Exemplifica-se este processo com as avaliações de estoque.

Não há como excluir o papel do Estado na realização de avaliações e fiscalização dos estoques

pesqueiros sob sua tutela. No entanto, na ausência ou demora na participação governamental,

deve o SPO como principal parte interessada na sustentabilidade da atividade e,

possivelmente, na obtenção de selos de certificação, tomar a responsabilidade pela realização

das avaliações como forma de promover a adequação com os padrões mais rapidamente

(Tabela 1). Nestes casos – que não se restringem somente às avaliações de estoque – sugere-

se que o processo seja terceirizado na forma de projetos e consultorias financiadas pelo

próprio SPO. Um exemplo deste modelo estrutural é observado no Chile, país no qual o setor

pesqueiro financia parte das avaliações dos recursos pesqueiros para que seus resultados

sejam utilizados e discutidos nas tomas de decisão (Arana et al, 2001).

A forma de participação do poder público nas ações propostas no plano deve se dar de

diferentes maneiras de acordo com a natureza de cada ação proposta. Para a resolução de

problemas associados às lacunas de conhecimento técnico-científico, como o observado nos

requisitos e categorias relacionadas aos impactos potenciais da pescaria sobre o ecossistema

(Ver Capítulo 2), a abertura de linhas de financiamento para projetos de pesquisa com foco

neste tema pode apresentar resultados satisfatórios em médio prazo. Para

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avaliação/monitoramento de estoques e bycatch, sugere-se a formação de convênios e

parcerias com instituições capacitadas para a função. Já as ações focadas na redução dos

impactos da pescaria devem ocorrer na forma de incentivos à adoção de equipamentos e

práticas de pesca, possivelmente acoplando adaptações à legislação dos subsídios de

combustível. Problemas associados à atual estruturação do sistema de gestão têm sua origem

em entraves burocráticos e disputas políticas. Num cenário como este, determinar “Como” o

executor da ação – no caso o próprio governo – deve agir torna-se extremamente difícil. Por

este motivo, as estratégias de execução não foram inseridas de maneira detalhada como nos

demais casos (Tabela 1).

Em relação à forma de atuação do setor pesqueiro, ações a serem realizadas pelo setor em sua

forma organizada (SOP) foram maioria no plano. Tal necessidade justifica-se por três razões.

Em primeiro lugar, a maior parte das ações requer a participação de uma parcela

representativa da frota atuante, evidenciando a necessidade do setor em agir conjuntamente.

Cita-se como exemplo a implementação de programas de monitoramento através de

observadores embarcados. Em segundo lugar, nota-se que os benefícios das ações não devem

permanecer restritos a uma ou duas empresas, podendo ser usufruídos por todo o setor e,

portanto, executados conjuntamente (e.g. a avaliação e o diagnóstico de um estoque

pesqueiro qualquer). Por fim, nota-se que mesmo não tendo sido realizadas estimativas de

custos de execução, espera-se que ações como as exemplificadas sejam de custo elevado,

dado o nível de complexidade que envolve a sua realização. Desta forma, agir individualmente

tende a tornar os custos inviáveis ou pouco atrativos, mantendo a pescaria distante dos

padrões desejados.

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Tabela 1. Plano contendo as ações prioritárias para promover a sustentabilidade nas pescarias industriais do Sudeste e Sul do Brasil. São apresentadas as

ações devidamente justificadas, os responsáveis pela execução e a estratégia a ser utilizada para o sucesso da ação. Requisitos atingidos por cada ação

também são apresentados, seguindo a listagem contida no Capítulo 2.

O que? Quem? Porque? Requisitos

diretamente beneficiados

Como?

Implementar um programa de observadores embarcados

Setor pesqueiro

organizado (SPO)

Para levantar dados que somente são possíveis de serem coletados abordo das embarcações:

• Descartes Para levantar dados com maior confiabilidade e resolução:

• Captura e esforço lance a lance

• Captura de espécies protegidas

• Biometrias

• Pesca fantasma

1;9;12;13; 18;19;23;24;

27;30

� Buscando instituições e/ou empresas capazes de fornecer este tipo de serviço.

Avaliar o estado dos estoques explotados

Setor pesqueiro

organizado (SPO)

Governo

Para:

• Caracterizar o estoque;

• Dimensionar o seu tamanho;

• Identificar seus potenciais de produtividade;

• Gerar subsídios técnicos para planos de manejo.

2;3;4;5

� Desenvolvendo projetos focados na avaliação dos estoques junto a instituições de pesquisa/ensino na forma de parcerias sindicato-instituição e convênios governo-instituição;

� Solicitando e financiando avaliações de estoque junto à instituições/empresas capacitadas na forma de consultorias.

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O que? Quem? Porque? Requisitos

diretamente beneficiados

Como?

Avaliar e dimensionar o bycatch

Setor pesqueiro

organizado (SPO)

Para identificar a potencialidade da pescaria de causar danos à:

• Espécies “acessórias”;

• Espécies descartadas;

• Espécies ameaçadas;

• Espécies protegidas por legislação.

Para identificar a necessidade de se adotar medidas mitigatórias.

10;15;21

� Desenvolvendo projetos focados na análise de dados do bycatch junto a instituições de pesquisa/ensino na forma de parcerias sindicato-instituição e convênios governo-instituição;

� Solicitando e financiando análise de dados do bycatch junto à instituições/empresas capacitadas na forma de consultorias.

Caracterizar os ecossistemas com os quais a pescaria interage.

Governo

Instituições de

pesquisa

Para:

• Preencher a lacuna de informações referente à estrutura e função de ecossistemas em interação com a pesca;

• Identificar possíveis impactos da pescaria sobre a sua estrutura e função (e.g. cascatas tróficas).

25;28;29

� Abrindo linhas de financiamento para o desenvolvimento de projetos focados na caracterização dos ecossistemas e das comunidades, pressupondo parcerias com instituições de pesquisa/ensino e setor produtivo;

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O que? Quem? Porque? Requisitos

diretamente beneficiados

Como?

Adaptar equipamentos/estratégias para reduzir mortalidades e impactos indesejados na pescaria.

Armador de pesca

Governo

Para:

• Identificar a possibilidade de reduzir mortalidades indesejadas;

• Identificar a possibilidade de reduzir impactos sobre o fundo;

11;14;16;17;22;26;29;49

Armador de pesca: � Buscando junto a fornecedores

equipamentos que aumentem a seletividade (e.g. BRDs, TEDs);

� Buscando junto a fornecedores equipamentos que diminuam impactos sobre o fundo (e.g. rockhoppers, portas mais leves);

� Testando-se adaptações nas estratégias de pesca (e.g. horas de arrasto ou o tempo de imersão das redes).

Governo: � Verificando a necessidade e

viabilidade de criar AMPs. � Fornecendo incentivos à adoção de

dispositivos que diminuam os impactos do petrecho;

Implementar um plano de gestão para os resíduos

Armador de pesca

Para:

• Reduzir a possibilidade de despejo de resíduos no mar;

• Melhorar a higiene a bordo e a boa aparência da embarcação;

• Identificar eventuais desperdícios e a possibilidade de reutilização de materiais;

• Melhorar a imagem da empresa.

31;32;33;34

� Quantificando os resíduos; � Identificando sua origem; � Verificando a possibilidade de aplicar

os 3 Rs; � Estabelecendo padrões de limpeza,

classificação e armazenamento dos resíduos.

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O que? Quem? Porque? Requisitos

diretamente beneficiados

Como?

Implementar a estrutura do Sistema de Gestão prevista por lei

Setor pesqueiro

organizado (SPO)

Governo

Para reestabelecer os processos de tomadas de decisão na estrutura prevista na legislação nacional da pesca.

43;44;45;46;47;48

SPO: � Agindo via Ministério Público Federal

explanando a ilegalidade da atual estrutura e a urgência na necessidade de implementar a estrutura definida na legislação;

Governo: � Nomear os membros dos comitês e

subcomitês; � Convocar o seu funcionamento.

Elaborar e implementar um plano de manejo para a pescaria

Comitês do

Governo (CPGs)

Setor pesqueiro

organizado (SPO)

Para:

• Tornar claros os objetivos da pescaria;

• Colocar em prática estratégias de explotação;

• Definir e justificar as regras;

• Estabelecer mecanismos de vigilância, controle e monitoramento na pescaria;

• Assegurar uma explotação racional do recurso pesqueiro.

6;7;8;9;11;13;16;19;22;26;29;35;36;37;

38;39

CPG: � Definindo os objetivos da pescaria; � Estabelecendo estratégias para

alcançar os objetivos; � Fixando PTRs e PTLs; � Debatendo as metodologias e

técnicas utilizadas na elaboração dos PTs e nas avaliações de estoque;

� Incorporando informações de outras naturezas (e.g. seletividade, bycatch);

� Debatendo alternativas com as diferentes partes afetadas.

SPO: � Agindo via Ministério Público Federal

tornando formal a exigência de planos de manejo;

� Aportando as informações geradas pelo próprio setor.

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Cada ação proposta no plano atingiu diretamente diferentes números de requisitos. Tomando

este critério como referência para identificar ações chave, três ações se destacaram com

números elevados de requisitos beneficiados. A elaboração e implementação de planos de

manejo para a pescaria deve beneficiar 16 requisitos, o maior número de requisitos atingidos

dentre todas as ações propostas. A implementação destes planos de manejo atua diretamente

sobre aqueles requisitos que avaliam as regras de controle da pescaria, as medidas de gestão

existentes e as estratégias de explotação adotadas. A adoção de programas de monitoramento

por observadores deve beneficiar diretamente outros dez requisitos, relacionados ao

monitoramento e geração de informações para diferentes finalidades (e.g. estoque alvo,

bycatch e pesca fantasma). A verificação da viabilidade de se adaptar equipamentos e

estratégias de pesca deve agir diretamente sobre outros oito requisitos, basicamente

relacionados a medidas para redução de impactos sobre outras espécies, habitat e

ecossistema (Tabela 1).

Considerando a relação de dependência entre ações, como exemplificado na Figura 1, nota-se

que além do número de requisitos diretamente beneficiados, também deve ser considerada na

definição das ações prioritárias a posição de cada ação na hierarquia existente. Isto porque

podem existir ações que atingem número reduzido de requisitos, mas que, no entanto,

constituem o embasamento para a realização de diversas outras ações contidas no plano.

Neste sentido, ações relacionadas à geração de informações e elaboração de diagnósticos

tendem a ganhar importância, por serem a base para a elaboração dos planos de manejo. Sob

esta perspectiva, a implantação dos programas de monitoramento por observadores

embarcados ganha novamente destaque, emergindo como ação prioritária para a adequação

das pescarias industriais brasileiras aos padrões exigidos. Paralelamente, avaliações e

diagnósticos dos estoques alvo e das demais espécies e ecossistemas em interação com a

pescaria também ganham destaque, por mostrarem-se necessários à elaboração dos planos de

manejo.

Conforme mencionado, a variável “tempo” em um plano de ação define quando cada ação de

deve ser tomada. Apesar de não ter sido analisada de maneira aprofundada, uma avaliação

criteriosa do posicionamento da cada ação na hierarquia exemplificada, bem como a

verificação da existência de todo o embasamento técnico e legal para sua execução permite

supor quando cada ação pode ser iniciada. Notou-se que o número de ações que somente

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podem ser iniciadas futuramente cresce com o nível de complexidade da ação. A

implementação de planos de manejo, por exemplo, apareceu como ação a ser realizada

futuramente em praticamente todas as pescarias avaliadas, em decorrência da falta dos

subsídios necessários para sua execução, seguindo os moldes ideais de um plano de manejo

(Cochrane, 2005). Avaliar o bycatch também aparece como ações que somente podem ser

executadas futuramente em pescarias com menos informações disponíveis para análise.

(Figura 2). Por outro lado a caracterização dos ecossistemas, apesar de ser uma ação

complexa, está descrita no plano como política pública, podendo ser iniciada imediatamente.

Figura 2. Diagrama representando as ações necessárias para cada pescaria analisada. Células

marcadas em verde indicam ações as ações já realizadas ou não necessárias para cada

pescaria. Células em amarelo representam as ações necessárias cuja realização pode ser

iniciada imediatamente. Células em vermelho indicam ações necessárias, mas que dependem

de outras ações ainda não realizadas. Estas devem ser interpretadas como ações a serem

realizadas futuramente.

As pescarias e o plano de ação

Apenas a reestruturação do sistema de gestão e a implementação de um plano de

gerenciamento para os insumos e resíduos podem ser descritas como ações necessárias a

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todas as pescarias avaliadas. Em ambos os casos, nota-se que as ações podem ser iniciadas

imediatamente, não dependendo de outras ações elencadas no plano. Em relação à

implementação de planos de gerenciamento de resíduos, nota-se que os próprios armadores

de pesca podem iniciar o processo de adequação, mediante a adoção de práticas e

procedimentos relativamente simples (Tabela 1). Reestruturar o sistema de gestão é uma ação

que deve beneficiar todas as frotas e pescarias brasileiras e que pode ser iniciada

imediatamente tanto por parte do Governo quanto por parte do SPO. Recomenda-se que o

SPO entre com ações no Ministério Público explanando a ilegalidade na manutenção do

cenário atual. Por parte do Governo, lhe cabe formar, nomear e por em funcionamento os

comitês responsáveis pela elaboração dos planos de manejo e fiscalização da atividade

pesqueira no Brasil.

Com exceção das duas comentadas acima, as demais ações não se mostraram necessárias para

todas as pescarias, como pode ser observado para os programas de observadores embarcados,

por exemplo (Tabela 1). Logicamente, a necessidade de se implementar programas de

monitoramento por observadores somente se mostra necessário naquelas que não possuem

tal ferramenta, o que exclui as pescarias de emalhe direcionado ao peixe sapo, e a de

armadilhas para polvo e caranguejos (BRASIL, 2008 e 2009). A pesca de emalhe com alvo na

corvina, mesmo já tendo sido monitorada por observadores de bordo, atualmente apresenta

uma cobertura extremamente reduzida frente à dimensão da frota (Pio, 2011), tornando

necessária a introdução de um programa com maior cobertura (Ver Capítulo 2 – Estudo de

caso com a pesca da corvina). Considerando que esta ação responde pela geração de

informações necessárias para diversas outras avaliações (e.g. descartes ou captura de espécies

críticas), recomenda-se iniciar com urgência a implementação deste tipo de programa em

praticamente todas as pescarias industriais brasileiras.

Pescarias que em algum momento estiveram monitoradas por observadores embarcados

possuem considerável volume de informações coletadas. Nestes casos avaliações do bycatch

ou já foram realizadas (e.g. Perez e Wahrlich, 2005) ou podem ser iniciadas imediatamente já

que parte dos dados encontra-se disponível para análise (e.g. Schroeder et al., 2011). Há casos

ainda onde avaliações do bycatch mostram-se desnecessárias, em virtude das capturas

altamente seletivas, como o reportado por observadores de bordo nas pescarias do

caranguejo vermelho e do polvo. Para a pescaria de arrasto de meia água e para as pescarias

de cerco, capturas compostas quase que exclusivamente pela espécie alvo tornam avaliações

do bycatch de menor importância, sendo assumidas como desnecessárias. Pescarias

tradicionais de arrasto de fundo direcionadas aos peixes demersais e camarões somente

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poderão ter avaliações do bycatch depois de implementados os programas de monitoramento

por observadores embarcados, dada à carência de dados desta natureza.

Em relação às avaliações e diagnósticos dos estoques pesqueiros, apenas as pescarias de atuns

e afins (vara e isca viva e espinhel de superfície) possuem avaliações de estoque sendo

realizadas rotineiramente. Para as demais pescarias, diagnósticos e avaliações de estoque

podem e devem ser iniciadas ou atualizadas imediatamente. Para grande parte das pescarias,

conta-se com dados de captura e esforço os quais permitem realizar diagnósticos com certa

precisão (Hilborn e Walters, 1992). No entanto, cruzeiros de pesquisa aumentariam a

confiabilidade nos resultados. Somente para o caso do camarão rosa notou-se que ainda não

há como realizar avaliações de estoque confiáveis em virtude de fatores como a presença de

mais de uma espécie sendo capturada sem discriminação nos dados de captura e esforço;

remoções pouco controladas de uma fração juvenil do estoque e recrutamentos altamente

dependentes de variáveis climáticas (Valentini et al., 1991; D’Incao et al., 2002).

A necessidade de adaptação nos petrechos e estratégias de pesca só não foi observada nas

pescarias de cerco, arrasto de meia água e potes, já que estas capturam quase que

exclusivamente as espécies alvo sem interações expressivas com o fundo. Avaliar a viabilidade

de adaptarem-se os petrechos de pesca é necessário em todas as demais pescarias, tanto

pelágico quanto demersais. Pescarias demersais em geral necessitam testar adaptações para

reduzir seu contato com o fundo e aumentar a seletividade, como o relatado para as redes de

arrasto (Valdemarsen et al., 2007). Para pescarias de emalhe, adaptações tecnológicas focadas

na redução do bycatch são raras e de funcionamento questionável (Dawson et al., 1998).

Neste caso, considerar como estratégia possível para mitigar impactos a restrição das áreas de

pesca pode ser a saída. Mesmo em pescarias altamente seletivas como a direcionada ao

caranguejo vermelho, observadores de bordo relatam a não utilização dos painéis de escape,

exemplificando a necessidade destas ações mesmo em pescarias mais próximas dos padrões

de sustentabilidade (Ver Capítulo 2).

Apesar de não elencada no plano de ação por representar uma medida pontual, a questão dos

subsídios deve ser considerada. Subsídios aparecem nos requisitos inseridos como Políticas do

Sistema de Gestão, através de “Incentivos à pesca sustentável”. Segundo os padrões adotados,

subsídios passam a figurar como incentivos negativos – e consequentemente como não

conformidades – quando permitem que pescarias inviáveis economicamente sigam operando

num regime de dependência destes incentivos para sua sobrevivência (Ver Capítulo 2).

Estendendo um pouco o conceito, aplicar incentivos financeiros a pescarias altamente

impactantes em decorrência do tipo de petrecho utilizado ou das áreas de pesca, também

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enquadra o governo como coparticipante de uma atividade danosa. Neste sentido, estratégias

voltadas no condicionamento dos subsídios à adoção de práticas de pesca menos prejudiciais

devem ser consideradas.

Ações prioritárias

As ações prioritárias para promover a adequação das pescarias aos padrões dos programas de

certificação foram definidas a partir da importância da ação em termos de número de

requisitos diretamente beneficiados e da posição hierárquica de cada ação, conforme

demonstrado na Figura 1. Foram selecionadas as ações consideradas prioritárias para serem

realizadas tanto pelo setor pesqueiro quanto pelo governo. Foi dada preferência às ações base

para o funcionamento do plano. Demais ações não listadas abaixo dividem-se em dois grupos:

(a) aquelas que necessitam ser realizadas futuramente, dada à carência do embasamento

necessário (e.g. elaborar planos de manejo) e (b) as que podem ser realizadas futuramente,

visto tratar-se de ações de rápida realização e que abordam poucos requisitos.

Setor Pesqueiro Organizado:

• Implementar programas de monitoramento contínuo através de observados

capacitados embarcados em parcela representativa da frota pesqueira;

• Solicitar avaliações de estoque junto a instituições e empresas capacitadas, buscando-

se alternativas como cruzeiros de pesca para pescarias nas quais dados de captura e

esforço mostram-se insuficientes (e.g. castanha com arrasto de meia água);

• Nos mesmos moldes das avaliações de estoques, solicitar diagnósticos do bycatch das

frotas que já tiverem informações disponíveis a este respeito.

Governo:

• Estruturar o sistema de gestão instituindo os Comitês de Gestão previstos na

legislação;

• Abrir linhas de financiamento para pesquisa com foco na caracterização dos

ecossistemas de plataforma e talude do Sudeste e Sul do Brasil;

• Manter um programa de avaliação dos estoques dos recursos alvo junto à instituições

de pesquisa ou no próprio governo. Como alternativa, um programa de certificação de

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avaliações privadas, como eventualmente realizadas pelo SPO, pode ser uma solução

viável e de menor complexidade.

Conclusões

Os diagnósticos das pescarias industriais realizados com base nos requisitos exigidos pelos

programas de certificação de pescarias mostraram-se extremamente úteis na elaboração de

planos de ação. O nível de detalhamento fornecido nestes diagnósticos facilitou a identificação

das ações necessárias para a adequação das pescarias aos padrões utilizados. A proposição do

plano, ao contrário do que vem sendo observado em décadas de relação pesquisa-setor

produtivo-governo, delegou ao setor produtivo uma maior parcela de responsabilidade. Isto

porque partiu-se do pressuposto que o mesmo é o maior interessado na manutenção de sua

atividade em longo prazo. No caso de pescarias que almejem em algum momento certificar-se,

é natural esperar que o setor atue efetivamente segundo o plano proposto. No entanto, para

pescarias que não tem como objetivo uma certificação ambiental e que dependem da

manutenção do cenário atual, espera-se atrito e discordância com este plano. Neste caso, será

responsabilidade do governo a realização da maior parte das ações propostas.

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Considerações finais

Apesar do escopo central deste trabalho consistir num diagnóstico das pescarias industriais do

Sudeste e Sul do Brasil em relação aos requisitos exigidos nos programas de certificação de

pescarias, a independência observada entre os objetivos específicos permitiu que os

resultados fossem apresentados em capítulos separados. Tal separação motivou análises mais

aprofundadas dentro de cada objetivo específico, gerando conclusões independentes para

cada etapa. Três resultados diferentes destacaram-se ao longo dos capítulos apresentados.

Em primeiro lugar, notou-se que os programas de certificação de pescarias apresentam

diferenças marcantes quanto aos padrões utilizados nas avaliações de sustentabilidade

pesqueira. Sugere-se que tais diferenças existam em função das diferentes necessidades nos

locais onde as pescarias alvo de cada programa se situam. Exemplifica-se este fato através do

foco do programa Naturland na avaliação de aspectos sociais ao certificar pescarias africanas.

Um cenário como este indica que os programas de certificação tem se especializado em

certificar determinados tipos de pescarias, e as diferenças entre os requisitos utilizados

refletem esta especialização. Por outro lado todos estes programas avaliam e atestam

pescarias como sustentáveis mesmo possuindo diferentes focos. Diferenças desta natureza,

quando aliadas a uma rotulagem comum erguida sobre o conceito de sustentabilidade,

tendem a trazer dúvidas quanto ao que significa sustentabilidade para cada programa e o que

cada um realmente avalia. Neste sentido, este trabalho evidencia a existência de tais

diferenças e questiona a necessidade de se padronizar o conceito de sustentabilidade na

certificação de pescarias. O problema central não consiste no fato dos requisitos identificados

não se mostrarem capazes de atestar “sustentabilidade” quando auditados, mas sim que nem

todos os requisitos identificados são utilizados por todos os programas de certificação.

Ao se elaborar um diagnóstico das pescarias industriais brasileiras contra os padrões exigidos

nos dois programas de certificação mais utilizados, notou-se que atualmente estas pescarias

encontram-se em diferentes patamares de proximidade com os padrões exigidos, estando

algumas mais próximas que outras de alcançar uma certificação. Enxergando-se o nível de

atendimento aos requisitos dos programas de certificação índices de sustentabilidade, pode-se

concluir que as pescarias brasileiras encontram-se também em diferentes patamares de

sustentabilidade. Maiores discrepâncias com os requisitos foram observados nas pescarias

mais tradicionais e costeiras, sujeitas a décadas de um manejo que na prática mostrou-se

inexistente. Pescarias mais recentes estiveram mais próximas dos padrões utilizados como

Page 115: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ MARTIN COACHMAN DIASsiaibib01.univali.br/pdf/Martin Coachman Dias.pdf · financiar de avaliações de estoque e (3) diagnósticos do bycatch . Como

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referência e, em alguns casos, podem vir a certificar-se em curto/médio prazo. Notou-se ainda

a existência de fatores chave que fazem de determinadas pescarias mais ou menos

sustentáveis. Estes fatores podem ser utilizados para identificar ações que visem reverter

diagnósticos negativos.

Por fim, notou-se que uma lista de requisitos retirada dos programas de certificação de

pescarias pode servir não somente para estabelecer perspectivas para a certificação de

determinadas pescarias. O nível de detalhamento possível de ser obtido quando os requisitos

são utilizados como guias metodológicos é tal que a elaboração de planos de ação para a

adequação das pescarias aos padrões de sustentabilidade é claramente facilitada. Neste

sentido, sua utilização pode se dar até mesmo como ferramenta de governo para a gestão

pesqueira, podendo nortear com precisão políticas públicas e investimentos para o setor

pesqueiro.

Ao final das análises, sugere-se que o setor produtivo – como principal interessado na

promoção de pescarias sustentáveis, seja por benefícios de mercado ou mesmo por

perspectivas de sobrevivência do setor em longo prazo – inicie um processo de levantamento e

geração de informações sobre pescarias que ainda carecem de dados para serem efetivamente

manejadas. Quanto ao poder público, identificou-se que suas prioridades atualmente devem

focar na implementação do sistema de gestão previsto na legislação, bem como no

financiamento de pesquisas que venham a preencher as principais lacunas de conhecimento

identificadas. Rever a forma como ocorrem os subsídios ao setor produtivo também deve ser

repensada.