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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA PROPPEC CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PMGPP PROGRAMA UNIVERSIDADE SEM FRONTEIRAS DO PARANÁ: UMA ANÁLISE DO SUB PROGRAMA DE EXTENSÃO TECNOLÓGICA EMPRESARIAL, EXECUTADO NA UNICENTRO IVONETE DE FÁTIMA MORAES ITAJAÍ (SC) 2014

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA –

PROPPEC

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DE POLÍTICAS

PÚBLICAS – PMGPP

PROGRAMA UNIVERSIDADE SEM FRONTEIRAS DO PARANÁ: UMA ANÁLISE

DO SUB PROGRAMA DE EXTENSÃO TECNOLÓGICA EMPRESARIAL, EXECUTADO NA UNICENTRO

IVONETE DE FÁTIMA MORAES

ITAJAÍ (SC) 2014

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA –

PROPPEC

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DE POLÍTICAS

PÚBLICAS – PMGPP

PROGRAMA UNIVERSIDADE SEM FRONTEIRAS DO PARANÁ: UMA ANÁLISE DO SUB PROGRAMA DE EXTENSÃO TECNOLÓGICA EMPRESARIAL,

EXECUTADO NA UNICENTRO IVONETE DE FÁTIMA MORAES

Dissertação apresentada à Banca no Programa de Mestrado Profissional de Gestão de Políticas Públicas da Universidade do Vale do Itajaí- UNIVALI, sob a orientação do Prof. Dr. Flávio Ramos, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Gestão de Políticas Públicas.

ITAJAÍ (SC) 2014

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ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS EXTENSIONISTAS, PROGRAMA DE EXTENSÃO TECNOLÓGICA EMPRESARIAL: A VISÃO DOS

COORDENADORES DOS PROJETOS DESENVOLVIDOS NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE- UNICENTRO

Esta dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em

Gestão de Políticas Públicas e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-

Graduação Stricto Sensu, nível de Mestrado Profissional do Centro de Ciências

Sociais e Jurídicas, da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

_________________________________________________

Prof. Dr. Flávio Ramos Coordenador

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________________ Prof. Dr. Flávio Ramos - Orientador

_________________________________________________ Prof. Dr. Carlos Golembiewski

_________________________________________________

Prof. Dr. Fernando Franco Netto (UNICENTRO) – Membro externo

Itajaí, 24 de março de 2014.

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"Desistir... eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério; é que tem mais chão nos meus olhos do que o cansaço nas minhas pernas, mais

esperança nos meus passos, do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça”.

“Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida e não

desistir da luta, recomeçar na derrota, renunciar a palavras e pensamentos negativos. Acreditar nos valores humanos e ser otimista”.

(Cora Coralina)

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Dedico este trabalho aos amores da minha vida: meu filho amado, Dener Brandelero; meu esposo

querido Marcio R. Brandelero; e a minha mãe adorada, Dona Maria Trindade Moraes.

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AGRADECIMENTOS

Quando você se propõe a iniciar um novo projeto na sua vida, você tem que

ter em mente que não o fará sozinho, e que só conseguirá se tiver a condição de

trabalhar em conjunto. Então, para que eu conseguisse chegar ao final desse

precioso projeto, contei com a colaboração de muitas pessoas que, direta ou

indiretamente deram-me aquela “força” quando eu estava prestes a desistir. Por isso,

mesmo correndo o risco de ser injusta com alguns, arrisco-me a agradecer àqueles

que, de maneira mais direta, me colocaram de volta no caminho, mostrando-me a

direção, facilitando a realização desse trabalho, que com certeza me realiza

profissional e pessoalmente, assim aqui está o meu sincero e especial

agradecimento:

Em primeiro lugar a Deus, que sempre renova as minhas forças e me dá

motivos para continuar na minha batalha diária;

Ao Professor Flávio Ramos, pela preciosa colaboração, pela paciência com

que me orientou nesse momento tão importante, e principalmente pelo carinho e

alegria com que nos recebia na PMGPP;

Ao querido amigo Professor Fernando Franco Netto, que já conhecendo

minhas angústias, dedicou seu tempo a me dar apoio nos momentos cruciais da

jornada.

Ao Professor Stavros Wrobel Abib, que me acompanhou no início desse

trabalho.

Ao meu esposo Marcio Rogério Brandelero, pelo apoio em todos os

momentos desse processo, pela força e confiança que me passou.

Ao meu filho Dener Brandelero, por todas as vezes que ele me olhou e disse

“você vai viajar de novo mãe”? E que com seu jeito todo especial me deu forças para

seguir e soube entender meus momentos de ausência.

A minha Mãe querida, por todas as noites que esperou ansiosa pela minha

chegada, me oferecendo a segurança e o aconchego de sua casa para que eu

pudesse repor minhas energias.

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As minhas irmãs: Salete, Tereza, Clarisse e Elisete, meus cunhados e

sobrinhos pelo apoio, incentivo e pelas boas risadas que me acompanharam durante

todo o período.

À UNICENTRO e à UNIVALI pela oportunidade que nos ofereceram para a

realização dessa meta da minha vida e da de meus colegas.

Às pessoas queridas que trabalharam na secretaria da PMGPP: Tânia,

Elienai, Melissa e Luiz Fernando, pela atenção e carinho que sempre nos

receberam.

A todos vocês, o meu sincero e carinhoso “Muito Obrigada”!

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RESUMO

Este trabalho teve como objetivo analisar o subprograma de Extensão Tecnológica Empresarial a partir da visão de seus coordenadores. O referido subprograma foi desenvolvido na Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO, através do Programa Universidade Sem Fronteiras, que é um programa de políticas públicas de extensão do Estado do Paraná, o qual foi desenvolvido em mais de trezentos municípios com baixo IDH e que apresentam bolsões de pobreza. O Programa Universidade Sem Fronteiras foi implantado em 2007, pelo Governo do Estado, com o objetivo de executar uma política pública de extensão em parceria com as Instituições públicas e privadas do Estado, que praticam a disseminação do conhecimento via projetos de extensão, priorizando o financiamento de áreas estratégicas para o desenvolvimento social de populações vulneráveis. O programa foi coordenado pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado do Paraná – SETI, a qual propôs um conjunto de atividades organizadas e definidas a partir das necessidades de cada região. A pesquisa documental foi realizada com materiais disponibilizados na UNICENTRO. Foram analisados três projetos desenvolvidos por professores do quadro docente permanente da universidade. Esses projetos atenderam a doze municípios que fazem parte da região de abrangência da UNICENTRO. Para conhecer a opinião dos coordenadores acerca do Programa, aplicamos um questionário, o qual nos possibilitou entender um pouco mais sobre os projetos e como foram desenvolvidos. Dessa maneira, o resultado principal da pesquisa foi a detecção da satisfação dos coordenadores em relação ao programa, porque mesmo não tendo uma avaliação dos resultados já demonstra ser uma política pública que deve continuar a ser desenvolvida na região, pois a intervenção do Estado através desse programa tende a levar ao desenvolvimento regional. Palavras-chave: Extensão universitária. Desenvolvimento regional. Políticas Públicas. Índice de Desenvolvimento Humano.

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RESUMEN Este trabajo tuvo como objetivo analizar el subprograma de Extensión Tecnológica Empresarial a partir de la visión de sus coordinadores. Dicho subprograma se desarrolló en la Universidad Estatal del Centro Oeste – UNICENTRO, a través del Programa Universidad Sin Fronteras, que es un programa de políticas públicas de extensión del Estado de Paraná, que fue desarrollado en más de trescientos municipios con bajo IDH y que presentan bolsones de pobreza. El Programa Universidad Sin Fronteras fue implementado en 2007 por el Gobierno del Estado con el objetivo de ejecutar una política pública de extensión en colaboración con instituciones públicas y privadas del Estado que practican la difusión del conocimiento a través de proyectos de extensión, priorizando la financiación de las áreas estratégicas para el desarrollo social de las poblaciones vulnerables. El programa fue coordinado por la Secretaría de Estado de Ciencia, Tecnología y Educación Superior del Estado de Paraná - SETI, que propuso un conjunto de actividades organizadas y definidas a partir de las necesidades de cada región. La investigación documental se llevó a cabo con los materiales puestos a disposición en la UNICENTRO. Fueron analizados tres proyectos desarrollados por profesores del cuadro docente permanente de la Universidad. Estos proyectos atendieron a doce municipios que forman parte de la región de cobertura de la UNICENTRO. Para conocer la opinión de los coordinadores con relación al programa fue aplicado un cuestionario, lo que nos permitió entender un poco más acerca de los proyectos y la forma en que se desarrollaron. De esta manera, el resultado principal de la investigación fue detectar la satisfacción de los coordinadores del programa, porque aun no teniendo una evaluación de los resultados, ya ha demostrado ser una política pública que debe desarrollarse aún más en la región, pues la intervención del Estado a través de este programa tiende a conducir a un desarrollo regional. Palabras clave: Extensión universitaria. Desarrollo regional. Políticas Públicas. Índice de Desarrollo Humano.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Índice de desenvolvimento Humano das microrregiões de abrangência

da UNICENTRO. ....................................................................................................... 50

Quadro 2 - Variação do IDH nos municípios atendidos. ........................................... 79

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Municípios atendidos pela UNICENTRO. ........................................................ 48

Mapa 2 - Municípios onde foram desenvolvidos os Projetos. ................................... 65

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - População estimada da Região de abrangência da UNICENTRO ........... 48

Tabela 2 - Números do programa Universidade Sem Fronteiras. ............................ 53

Tabela 3 - Abrangência do projeto e “Transferência de tecnologias de produtos de

panificação”. .............................................................................................................. 55

Tabela 4 - Municípios atendidos pelo projeto: “Transferência de tecnologia para

viabilização econômica de produtos lácteos e bebidas na região Centro-Oeste do

Paraná”. .................................................................................................................... 58

Tabela 5 - Proposta de atendimento e municípios efetivamente atendidos pelo

Projeto Planejamento e Gestão Estratégica para a Central Regional de Cooperativas

do Centro Oeste do Paraná-CERCOOP. ................................................................... 63

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LISTA DE SIGLAS

AACS – Associação de Agricultores da Colônia São Pedro;

ACRUB – Associação Comunitária Rural Unidos do Butiazinho;

ADCSJT – Associação para Desenvolvimento da Colônia São Judas Tadeu;

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

APRP – Associação dos Produtores Rurais de Paiquerê;

ASIMP – Associação Imbuía de Pesquisa;

CCBEU – Congresso Brasileiro de Extensão Universitária de Dourados;

CEDETEG – Centro de Desenvolvimento Educacional e Tecnológico;

CEMEI – Centro Municipal de Educação Infantil;

CEPE – Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão;

CERCOOP – Central Regional de Cooperativas do Centro-Oeste do Paraná;

CINCRUTA – Comissão Incentivadora dos Centros Rurais de Treinamento e Ação

Comunitária;

CODAE – Coordenação de Atividades de Extensão;

COMICRO – Cooperativa Mista de Micros e Pequenos Agricultores de Guarapuava;

CONCISA – Congresso de Ciências Sociais Aplicadas;

COORLAF – Cooperativas de Leite e Agricultura Familiar;

CRESOL – Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária;

CRUB – Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras;

CRUTAC – Centros Rurais de Treinamento e Ação Comunitária;

DASP – Departamento de Administração do Serviço Público;

DIRORC – Diretoria de Orçamentos e Custos;

ECOPAR – Encontro de Economia Paranaense;

FAFIG – Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Guarapuava;

FECLI – Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Irati;

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia;

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano;

IES – Instituição de Ensino Superior;

IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social;

MEC – Ministério da Educação e Cultura;

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MRG – Microrregião de Guarapuava;

PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional;

PIB – Produto Interno Bruto;

POP – Procedimento Operacional Padronizado;

PROEC – Pró-Reitoria de Extensão e Cultura;

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas;

SENAR – Serviço de Aprendizagem Rural;

SES – Secretaria de Ensino Superior;

SETI - Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino;

SIEPE – Semana de Integração, Ensino, Pesquisa e Extensão;

UNE – União Nacional dos Estudantes;

UNICENTRO – Universidade Estadual do Centro-Oeste;

USAID – United Agency for International Development;

USF – Universidade Sem Fronteira;

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 16 1 GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS .................................................................. 21

1.1 Políticas Públicas ............................................................................................. 21

1.2 Políticas Públicas: Tipos e Características ...................................................... 22

1.3 Administração Pública ...................................................................................... 24

1.4 A reforma gerencial da administração pública ................................................. 29

1.5 Delimitação da área de atuação da Reforma do Estado ................................. 31

2 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA .............................................................................. 34 2.1 Breve histórico brasileiro .................................................................................. 34

2.2 Extensão Universitária no Paraná ................................................................... 37

2.3 UNICENTRO e a extensão universitária .......................................................... 39

3 METODOLOGIA ................................................................................................... 41 3.1 Classificação da pesquisa ............................................................................... 41

3.2 Coleta de dados ............................................................................................... 41

3.3 Seleção das amostras ..................................................................................... 42

3.4 Caracterização dos municípios que fizeram parte do estudo. ......................... 42

3.5 Caracterização da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) ... 47

4 ANÁLISE DOS PROJETOS SELECIONADOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ................................................................................................................ 51

4.1 Sobre os subprogramas desenvolvidos pelo USF ........................................... 51

4.2 Projeto 01 – Transferência de tecnologias de produtos de panificação ........... 53

4.3 Projeto 2 – Transferência de tecnologia para viabilização econômica de

produtos lácteos e bebidas na região Centro-Oeste do Paraná. ........................... 56

4.4 Projeto 3 - Planejamento e Gestão Estratégica para a Central Regional de

Cooperativas do Centro-Oeste do Paraná - CERCOOP........................................ 58

5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA ...................................... 66 5.1 Sobre o Programa Universidade Sem Fronteiras ........................................... 66

5.2 Bloco de perguntas relacionado aos projetos desenvolvidos .......................... 72

5.3 Evolução do IDH dos municípios atendidos pelos projetos ............................. 78

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 86

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2 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

2.1 Breve histórico brasileiro

A Extensão Universitária vem ganhando visibilidade no Brasil nas últimas

décadas, mas suas atividades começaram no início do século XX. Sua origem está

relacionada ao modelo europeu de extensão universitária, que é o das

Universidades Populares, as quais são datadas no século XIX, e existiram na

Inglaterra, Alemanha, França, Bélgica e Itália, vinculadas à ideia de educação de

adultos, aberta a todos os interessados, desmistificando a ideia de que esse tipo de

educação servia somente para a população menos favorecida (SOUZA, 2000).

É através desse modelo que se inicia no Brasil essa atividade universitária,

onde a antiga Universidade Livre de São Paulo (1912-1917) é apontada como a

primeira instituição de ensino superior no país a desenvolver atividades de extensão.

Dessa forma, caracteriza suas experiências por meio de conferências gratuitas

oferecidas semanalmente à população e tinha como objetivo a disseminação do

conhecimento técnico (CASTRO, 2004). Porém, vale dizer que, a maioria da

população ignorava as atividades desenvolvidas na Universidade Popular, uma vez

que os temas abordados nessa época não eram de interesse da massa (GURGEL,

1986).

Em 11 de abril de 1931, através do Decreto 19.851 surge a primeira referência

legal às atividades de extensão, trazendo o Estatuto das Universidades Brasileiras,

que, segundo Botomé (1996, p.60) surgiu “[...] com referências claras ao papel da

extensão universitária: divulgar, em benefício coletivo, as atividades técnicas e

científicas da Universidade, através de cursos e conferências de caráter educativo,

ou utilitário, difundir o conhecimento”, e às Universidades, através de seus órgãos

colegiados, tinham a responsabilidade de aprovar e divulgar o conhecimento.

Em 1937 foi criada a União Nacional dos Estudantes - UNE, a qual se tornou

um elo importante no processo de desenvolvimento da extensão universitária no

Brasil. Com postura firme, propunham atividades extensionistas enfatizando o

comprometimento da Universidade com as classes populares, ressurgindo através

do movimento estudantil a ideia de universidade popular no Brasil em 1938

(GURGEL, 1986).

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Em consequência, os estudantes universitários deram início aos movimentos

culturais e políticos no fim dos anos 1950, início dos anos 1960 os quais foram

considerados como “[...] fundamentais para a formação das lideranças intelectuais

de que carecia o país. Estavam assim definidas as áreas de atuação extensionista,

antes mesmo que o conceito fosse formalmente definido1”.

A influência do movimento estudantil na reforma universitária de 1968 teve

grande importância para a extensão universitária, pois o movimento tinha como

missão “a escola a serviço do povo” nivelando institucionalmente, a extensão

universitária com o ensino e a pesquisa, tendo eles conseguido colocar parte de

seus anseios em relação, principalmente à estrutura das universidades na Lei nº

5.540/68 (SOUZA, 2000).

Após o Golpe Militar de 1964, o governo passa a ditar as atividades de

extensão na perspectiva do desenvolvimento nacional. Com a expectativa de

resolver os problemas das Universidades brasileiras, o MEC firma acordos com os

Estados Unidos, os acordos MEC/USAID (United States Agency for International

Development), na tentativa de encontrar um modelo que atendesse aos interesses

do governo (CASTRO, 2004).

Rudolph Atcon, representante da USAID, fez interferências importantes na

política educacional brasileira. O modelo sugerido por ele para a reforma do ensino

superior dava às Universidades o status de empresa. Desse modo, a influência

americana na reforma de 1968 trouxe o regime de créditos, fragmentação do

currículo, pós-graduação e departamentalização das unidades acadêmicas

(CASTRO, 2004).

Em 1966 foi criado o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras –

CRUB, e seu papel é crucial para a institucionalização da extensão universitária

(CASTRO, 2004). Assim, a partir da reforma Universitária amparada na Lei nº

5540/68, a qual previa no Art. 20 que a “Universidade e os estabelecimentos

isolados de ensino superior estenderão à comunidade, sob a forma de cursos e

serviços especiais, as atividades de ensino e os resultados de pesquisa que lhe são

inerentes”, a Extensão Universitária torna-se obrigatória em todas as Instituições de

Ensino Superior.

1 http://www.extensao.ufba.br/arquivos/inextensao/plano_nacional_de_extens%e3o_universitaria.pdf

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No I Seminário sobre Educação e Segurança Nacional, realizado em outubro

e novembro de 1966, acontece a discussão acerca do Projeto Rondon, com a

participação de professores e militares e sua criação caracterizava a forma ideal de

concepção da extensão universitária (SOUZA, 2000).

O Projeto Rondon mesmo sem vínculo com o sistema educacional abre

espaço em suas operações e permite às universidades o exercício de ações

extensionistas, transformando-se em um mecanismo de apoio à extensão

universitária (GURGEL, 1986). Também como resultado da atuação do Projeto

Rondon tem-se a criação do Programa dos Campi Avançados2, que foi disseminado

em todo território nacional.

Por iniciativa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, surge os

Centros Rurais de Treinamento e Ação Comunitária - CRUTAC, tendo como objetivo

o treinamento de estudantes nas suas respectivas áreas e a assistência às

comunidades rurais, principalmente na área da saúde (SOUZA, 2000). A relevância

das atividades do CRUTAC leva o Governo federal a criar, dentro de suas estruturas,

a Comissão Incentivadora dos Centros Rurais Universitários de Treinamento e Ação

Comunitária – CINCRUTAC.

O CINCRUTAC dá origem à criação da Coordenação de Atividades de

Extensão – CODAE, que segundo Gurgel (1986, p. 137) configurou a

“materialização da ideia de constituição de uma instituição coordenadora nacional de

extensão universitária no MEC”. Isso levou o MEC a assumir a função de

institucionalizar e incorporar a extensão como função da universidade (SOUZA,

2000), ficando sob a responsabilidade da CODAE, a coordenação de outras

estruturas já existentes como o Projeto Rondon e o CINCRUTAC.

Contudo, em 1979 a Coordenação foi extinta, mas em consequência da

criação da CODAE, as universidades já haviam criado estruturas administrativas,

preconizando que a extensão estava, segundo Castro (2004, p. 27) “dentro da

estrutura da Universidade e fora do MEC”.

A década de 80 marca uma nova fase para a Universidade, onde a

implementação da democratização e o fortalecimento da categoria docente

influencia definitivamente a extensão universitária, proporcionando maior efetividade

2 A ideia era que a Universidade, ao implantar o seu campus avançado, estaria penetrando no interior do país, interiorizando e integrando-se com as comunidades de tal forma que poderia assim contribuir para o “desenvolvimento integral do homem brasileiro” (BRASIL; MINTER, 1974, p. 64) (SOUZA, 2000, p. 66-67).

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na institucionalização e reformulação da concepção de extensão nas Universidades,

a qual passa também a prestar serviços e difundir cultura (SOUZA, 2000).

A extensão universitária até então dependia da situação política que o país

vivia e das atividades que eram desenvolvidas em nome da extensão. Para Souza

(2000, p.101), “as atividades de extensão em nossas Instituições são

desconhecidas. Não se sabe reconhecer o que seja atividade de extensão, porque

também não se sabe definir o que é Extensão”, dentro desse contexto, surge em

1987, com o compromisso de tornar a extensão universitária conhecida,

apresentando-a com um conceito que possibilitasse dar uma diretriz à sua prática, o

Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas

Brasileiras.

O Fórum surge, segundo Castro (2004, p.28), “[...] da discussão sobre o

compromisso da Universidade como uma instituição de interesse público e da

necessidade de romper com os muros e de resgatar a produção de conhecimento

não fragmentado”. Em 1987, acontece no Distrito Federal o 1º Encontro Nacional do

Fórum de Pró-Reitores de Extensão Universitária, constituindo-se como espaço de

debates sobre extensão universitária.

Em 1998 os representantes do Fórum e os técnicos da Secretaria de Ensino

Superior do Ministério da Educação - SESU/MEC apresentam o Plano Nacional de

Extensão, o qual especifica as bases conceituais e políticas para o desenvolvimento

da extensão, na perspectiva do comprometimento da Universidade com a

transformação da sociedade brasileira em direção à justiça, à solidariedade e à

democracia (CASTRO, 2004).

Percebe-se que a extensão universitária sofre modificações de acordo com o

momento político, social, econômico, cultural e a região de cada Instituição.

Porquanto, está em constantes adaptações para poder refletir o que se espera de

uma Universidade, e consequentemente da Extensão Universitária.

2.2 Extensão Universitária no Paraná

A década de 60 assiste emergir um grande número de atividades propostas

pelos alunos através do movimento estudantil e também por iniciativa das IES e do

governo. Essas atividades tinham o propósito de aproximar a universidade da

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sociedade, apesar de na maioria das vezes serem restritas ao nível local e com

duração curta, no entanto, mesmo sendo regionais, algumas se tornaram

importantes no processo histórico de desenvolvimento da extensão universitária no

Brasil. Uma delas é a Universidade Volante, da Universidade Federal do Paraná,

criada em 1960, que se configurou como uma das influências das universidades

populares e uma grande experiência aproveitada pelo governo depois do ano de

1964 (GURGEL, 1986).

Organizada pelo Departamento de Educação e Cultura da UFPR, com a

colaboração do Governo do estado e dos municípios das regiões onde se

realizaram, a primeira Universidade Volante foi criada em Ponta Grossa no ano de

1961. Foram realizadas mais seis edições: em Londrina – 1962, em Maringá – 1963,

em Jacarezinho - 1964, em Paranaguá em 1965, em Cascavel – 1968 e em

Paranavaí - 1969, influenciando também a criação da Universidade Estadual de

Ponta Grosa (GURGEL, 1986).

Como programa de extensão universitária mais recente, teve início em março

de 2007, as atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE3. O

Programa foi criado pelo Governo do Estado do Paraná e sua execução e

planejamento são de responsabilidade da Secretaria de Estado da Educação -

SEED, em parceria com a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino

Superior, SETI e as Universidades (estaduais e federais) e Faculdades Estaduais, e

tem o objetivo de estender maior formação aos professores da rede estadual de

ensino fundamental e médio.

Diante disso, entendemos que a extensão universitária é sistematizada por

atos oficiais na maioria das vezes, e objetivam regular, normatizar e incentivar a

prática da extensão na universidade e nas comunidades.

3 Programa de Desenvolvimento Educacional. Disponível em: http://www.pde.pr.gov.br, acesso em 31 de maço de 2013.

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2.3 UNICENTRO e a extensão universitária

A primeira atividade de extensão desenvolvida pela UNICENTRO, de que se

tem registro, foi a Semana de Cursos de Extensão realizada em 1976, e aconteceu

quando a instituição ainda não havia sido reconhecida como Universidade e ainda

se chamava Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Guarapuava – FAFIG.

Em 1992 foi aprovado na FAFIG o Programa de Extensão e Cultura, a

Regulamentação de Projetos de Extensão Universitária e a rotina de tramitação de

Projetos de Extensão da UNICENTRO, demonstrando a preocupação em consolidar

e institucionalizar a extensão universitária no Interior da Universidade. Dessa forma,

seguiu-se o que prevê a Lei da Reforma Universitária (Lei n. 5.540/68), a qual

estabelece que “[...] as universidades e as instituições de ensino superior estenderão

à comunidade, sob a forma de cursos e serviços especiais, as atividades de ensino

e os resultados da pesquisa que lhe são inerentes”.

Em 1997 a UNICENTRO foi reconhecida oficialmente como Universidade e as

atividades passaram a ser deliberadas pelo Conselho de Ensino Pesquisa e

Extensão - CEPE. A Lei nº 5.540/68 que instituiu a Extensão Universitária estabelece

no Art. 40 que:

As instituições de ensino superior por meio de suas atividades de extensão proporcionarão aos seus corpos discentes oportunidades de participação em programas de melhoria das condições de vida da comunidade e no processo geral de desenvolvimento.

Com o objetivo de proporcionar aos discentes a oportunidade conforme

estabelecido pela Lei, a UNICENTRO aprova o Programa Institucional de Concessão

de Bolsa Extensão-Cultura. O programa de bolsas de extensão teve início no ano de

2000 oportunizando que a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura – PROEC atuasse

também na execução de projetos (UNICENTRO, 2000).

A partir de 2005, as atividades extensionistas passaram a apresentar uma

característica de continuidade, contando com um número cada vez maior de projetos

e programas, os quais são desenvolvidos nos três Campi Universitários e nos quatro

Campi Avançados, abrangendo uma população de quase um milhão de pessoas.

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O processo de ramificação de suas unidades estabelece múltiplas relações

entre a UNICENTRO e os Municípios envolvidos, contribuindo no estabelecimento e

implementação de políticas públicas incorporadas pelos campi universitários o que

leva a grande contribuição para o desenvolvimento regional.

Em janeiro de 2007, a extensão universitária é regulamentada na

UNICENTRO, através da Resolução Conjunta nº 001/2007 – CEPE -

CAD/UNICENTRO. Dessa forma, a Universidade mantém ampla e intensa ligação

com a comunidade, procurando sociabilizar conhecimentos, seja através de projetos,

seja através de programas específicos viabilizados pela relação entre a instituição e

a comunidade, proporcionando a integração entre a Universidade e a sociedade

(UNICENTRO, 2007).

A política de extensão desenvolvida na UNICENTRO pode ser dividida em

duas grandes categorias com relação aos programas e projetos:

1. Institucionais - que são propostos por servidores da própria instituição,

muitos desses com parcerias com instituições não governamentais;

2. Interinstitucionais - são os projetos e programas desenvolvidos pela

Universidade em parceria com os governos federal, estadual e municipal no

que diz respeito às políticas públicas (UNICENTRO, 2007).

Os programas e projetos de extensão desenvolvidos na UNICENTRO

representam a possibilidade de integração entre a Universidade e as ações

implementadas pelos governos, no que se refere à aplicação das políticas públicas.

A importância desses projetos caracteriza-se pela produção do conhecimento, no

campo de aprendizagem, na articulação entre a teoria e a prática, dando aos

envolvidos o aprimoramento na formação profissional.

A Extensão Universitária na UNICENTRO abrange aproximadamente 50

municípios do Estado, e segundo a PROEC nos últimos anos, ofereceu à

comunidade uma diversidade de projetos e programas com o intuito de estreitar o

diálogo entre a Universidade e a comunidade, levando a comunidade para dentro da

Universidade, inserindo definitivamente a universidade na comunidade, contribuindo

assim para o desenvolvimento regional.

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4 ANÁLISE DOS PROJETOS SELECIONADOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

4.1 Sobre os subprogramas desenvolvidos pelo USF

No início da implementação do programa foram lançados os editais que

contemplaram, entre os anos de 2007 a 2010, 602 projetos nos oito subprogramas

ofertados pelo programa Universidade Sem Fronteiras. Para fins de conhecimento e

contextualização, acreditamos ser relevante apresentar alguns dados e informações

que julgamos importantes referentes aos subprogramas abordados.

1- Apoio à Agricultura Familiar: Teve como propósito contribuir para a

implantação de políticas públicas de desenvolvimento sustentável bem como

incentivar a geração de renda aos agricultores, para isso, foram aprovados 90

projetos, tendo 90 coordenadores e 220 bolsistas.

2 - Apoio à Pecuária Leiteira: Teve como finalidade a formação de equipes

interdisciplinares para atuar no fortalecimento de ações promotoras de transferência

tecnológica na cadeia produtiva do leite, aprovando 19 projetos, do qual participaram

57 coordenadores e 152 bolsistas.

3 - Apoio à Produção Agroecológica Familiar: Concedeu apoio financeiro e

atendimento às demandas tecnológicas nos processos de produção orgânica da

agricultura familiar, aprovou 50 projetos, e contou com 96 coordenadores e 480

bolsistas.

4 - Apoio às Licenciaturas: Teve o objetivo de promover a interação e o

aprofundamento das relações entre a Educação Básica e o Ensino Superior Público

do Estado do Paraná; e em parceria com os educadores das escolas municipais e

estaduais, buscou proporcionar apoio nas questões que interferem a relação

ensino/aprendizagem direcionadas aos temas centrais que compõem os conteúdos

das diversas disciplinas do Ensino Fundamental e Médio. Este subprograma foi o

que teve mais projetos aprovados, sendo 180 no total e envolveu 330 coordenadores

e 660 bolsistas.

5 - Ações de Apoio à Saúde: Seu objetivo foi financiar projetos que

destacassem a saúde de populações com baixo IDH como forma de garantir o

acesso a esses serviços, aprovando 30 projetos e contou com a participação de 56

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coordenadores e 140 bolsistas.

6 - Diálogos Culturais: Seu objetivo foi financiar e orientar atividades que

trabalharam a partir da diversidade de expressões artísticas vinculadas aos demais

campos do conhecimento, como grupos ou comunidades que se encontram ainda na

invisibilidade, silenciadas por pressões econômicas e fundiárias, processos

discriminatórios e excluídas socialmente. Sobre esse subprograma, apenas foi

informado que aprovou 40 projetos, mas não informaram quantos coordenadores se

envolveram nem quantos bolsistas participaram dele.

7 - Incubadora de Direitos Sociais - Seu objetivo foi de antecipar o desafio

das Instituições Estaduais e Federais de Ensino Superior na área dos Direitos

Sociais, e assim, disseminar e aplicar a legislação brasileira pertinente no dia a dia

das populações em situação de vulnerabilidade social. Nesse subprograma foram

aprovados 71 projetos, tendo a participação de 123 coordenadores e 328 bolsistas.

8 - Extensão Tecnológica Empresarial: subprograma objeto desse estudo

que conforme já explicitado, buscou estimular a integração entre os

professores/pesquisadores das Instituições de Ensino Superior e Institutos de

Pesquisa, com o intuito de fomentar o surgimento de novos empreendimentos, bem

como o desenvolvimento de micro e pequenos empreendimentos, propiciando

condições de acesso a conhecimentos tecnológicos e de gestão por um período

mais longo. O subprograma de Extensão Tecnológica Empresarial teve aprovou 122

projetos em 2008, dos quais 212 professores participaram da coordenação,

contando com a colaboração de 441 bolsistas recém-formados e acadêmicos,

trabalhando nos projetos durante o período de implementação e execução. Em

2008, foram contempladas 26 instituições nesse subprograma, sendo que dos 122

projetos aprovados, 17 foram desenvolvidos por equipes multidisciplinares da

UNICENTRO, e destes, 3 fizeram parte dessa pesquisa.

Para melhor visualização desses números, na tabela 2 apresentamos os

dados sintetizados dos subprogramas desenvolvidos no período de 2008 a 2010, em

todo o Estado.

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Tabela 2 - Números do programa Universidade Sem Fronteiras.

Sub programa Projetos Coordenadores Bolsistas

Apoio à Agricultura Familiar 90 90 220

Apoio à Pecuária Leiteira 19 57 152

Apoio à Prod. Agro ecológica Familiar 50 96 480

Ações de Apoio à Saúde 30 56 140

Apoio às Licenciaturas 180 330 660

Diálogos Culturais 40 S/I S/I

Extensão Tecnológica Empresarial 122 212 441

Incubadora de Direitos Sociais 71 123 328

Total 602 964 2.421

Fonte: Elaborada pela autora.

Diante disso, percebemos que todos os subprogramas foram relevantes para

a região, no entanto, selecionamos três projetos analisados que foram

desenvolvidos através do subprograma de Extensão Tecnológica Empresarial, para

serem analisados nessa pesquisa, os quais foram protocolados e institucionalizados

na UNICENTRO. Segue a descrição dos projetos de acordo com as informações

contidas nos relatórios apresentados pelos Coordenadores, bem como do objetivo

inicial proposto pelo projeto e os resultados efetivamente alcançados.

4.2 Projeto 01 – Transferência de tecnologias de produtos de panificação

Esse projeto foi protocolado na modalidade de intervenção extensionista, para

ser realizado, num primeiro momento, no período de 01 de dezembro de 2008 a 31

de março de 2010, e foi direcionado às famílias que estavam organizadas em

associações ou que tinham interesse em desenvolver produtos de panificação. O

projeto teve como objetivos iniciais, transmitir conhecimentos técnicos para

associações rurais e para a população da periferia visando a aumentar o valor

agregado da matéria prima através da elaboração de produtos de panificação,

segundo as normas da legislação vigentes e implantação de novas panificadoras.

Dentre os objetivos, buscou-se ainda incentivar o empreendedorismo nos

pequenos produtores qualificando e aprimorando técnicas de preparo já utilizadas

por eles; estimular a troca de conhecimentos tecnológicos entre a universidade e a

comunidade, otimizando as tecnologias já utilizadas e disponibilizando as

tecnologias tradicionais aplicadas às desenvolvidas para toda a comunidade local;

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incentivar a participação de docentes, acadêmicos e recém-formados em projetos

voltados ao desenvolvimento de tecnologias apropriadas ao pequeno produtor rural;

O projeto propôs também ministrar cursos de capacitação em três módulos:

1. Curso básico: boas práticas, noções de microbiologia, higiene de

manipuladores, limpeza e sanitização;

2. Cursos de gestão: gestão de agronegócios e microempresas, controle de

qualidade, noções de legislação e noções de marketing;

3. Cursos específicos de tecnologia: fermentação na panificação, biscoitos,

folhados, pães caseiros, produtos integrais e cucas de frutas.

O projeto foi dividido em duas fases: planejamento e processo.

a) Planejamento: foi proposto desenvolver um plano de trabalho e de

aplicação financeira, com a elaboração de um questionário, que seria utilizado nas

entrevistas das associações; realizar um levantamento de recursos disponíveis e o

que era necessário para a realização dos cursos e treinamentos; identificar as

principais dificuldades em relação à higiene e sanitização dos ambientes, onde

seriam realizados os treinamentos e a criação de atividades de acordo com o grau

de instrução do público alvo.

b) Processo: segundo a proposta do projeto, nessa etapa seriam criadas e

implementadas as estratégias e atividades para a implementação do projeto. O

coordenador e os orientadores do projeto executariam a capacitação e treinamento

dos integrantes da equipe de trabalho através de reuniões semanais, para serem

estudadas a formulação e a elaboração de produtos de panificação.

O projeto envolveu a UNICENTRO, a Secretaria Municipal da Agricultura,

Cooperativa Mista de Micros e Pequenos Agricultores de Guarapuava - COMICRO,

Associação Imbuia de Pesquisa -ASIMP e SEBRAE/Guarapuava-PR, Associação

para o Desenvolvimento da Colônia São Judas Tadeu- ADCSJT, Associação dos

Produtores Rurais de Paiquerê – APRP, Associação Comunitária Rural Unidos do

Butiazinho- ACRUB e Associação de Agricultores da Colônia São Pedro - AACS e foi

desenvolvido em cinco municípios (ver tabela 3), teve a participação de três

professores, três egressos da UNICENTRO e dois acadêmicos.

O projeto teve previsão orçamentária inicial, segundo planilha fornecida pela

Diretoria de Orçamentos e Custos da UNICENTRO- DIRORC, no valor de R$

97.000,00 (noventa e sete mil reais), sendo repassado pela Fundação Araucária,

instituição fomentadora do Programa, a fim de cobrir o custeio de material de

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consumo, recursos humanos, equipamentos, combustível, passagens e

hospedagens.

O projeto teve duas solicitações de prorrogação, as quais foram aceitas,

totalizando 27 meses de duração. Em virtude da prorrogação do prazo para o

desenvolvimento do projeto, a Fundação Araucária repassou mais R$ 50.000,00,

(cinquenta mil reais), totalizando um valor de R$ 147.000,00 (cento e quarenta e

sete mil reais) aplicados no projeto.

Segundo o relatório apresentado pelo Coordenador, o projeto atendeu 1.500

pessoas das comunidades onde foi desenvolvido. O público alvo do projeto

participou de cursos teóricos alicerçados pela ANVISA sobre a higiene de alimentos

e boas práticas de fabricação, com isso, houve melhora na qualidade dos produtos

produzidos em suas propriedades (PROCESSO 06089/2009).

Tabela 3 - Abrangência do projeto e “Transferência de tecnologias de produtos de panificação”.

Municípios Atendidos Comunidades

1. Boa Ventura de São Roque Comunidade Rural

2. Cantagalo Comunidade Rural

3. Guarapuava Guairaca, Rio das Mortes, Paiol de Telhas, Rio das Cobras, Bairro Primavera, Divino Espírito Santo, Feroz 2, Campo Velho, Cáritas Sociais, Morada Nova

4.Mangueirinha Comunidade Indígena

5.Pinhão Comunidade Todos os Santos

Fonte: Elaborado pela Autora a partir das informações contidas nos Relatórios dos projetos (2013)

Analisando os resultados finais, podemos observar que os objetivos iniciais do

projeto foram atingidos em sua maioria. Verificamos ainda, que o relatório não faz

nenhuma referência à criação ou não de padarias nas comunidades atendidas,

também não constatamos a interdisciplinaridade do projeto, tendo em vista que

todos os participantes pertenciam ao curso de Engenharia de Alimentos. O Relatório

também não informa se houve alguma dificuldade em relação ao desenvolvimento

do projeto e, no caso afirmativo, quais foram essas dificuldades.

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4.3 Projeto 2 – Transferência de tecnologia para viabilização econômica de produtos lácteos e bebidas na região Centro-Oeste do Paraná.

Esse projeto foi protocolado na modalidade de intervenção extensionista, para

ser realizado, num primeiro momento, no período de 01 de outubro de 2008 a 28 de

fevereiro de 2010, e seu público alvo eram as associações de produtores de leite.

Os objetivos do projeto se concentravam em: gerar, adaptar e transferir

conhecimento e tecnologias para os produtores e empresas; oferecer cursos e

assessorias; melhorar a qualidade dos produtos lácteos; adaptar a produção dentro

das normas de boas práticas de fabricação; implantar o empreendedorismo e

associativismo nas comunidades produtoras; buscar a melhoria da qualidade dos

produtos; adaptar a produção dentro das normas relativas à produção tanto aos

produtores de leite quanto aos produtores e beneficiadores de alimentos; implantar o

associativismo nas comunidades produtoras, a fim de promover o fortalecimento das

atuais associações e empresas; implantar novas unidades produtoras de derivados

de leite; e colocar em funcionamento a usina de leite do Centro de Desenvolvimento

Tecnológico de Guarapuava - CEDETEG.

O projeto propôs trabalhar em oito municípios, desenvolvendo atividades nas

indústrias de laticínios, em conjunto com as Secretarias de Agricultura das cidades

atendidas, associações de bairro, usina de leite do CEDETEG e algumas

comunidades.

Para atingir os objetivos propostos, o projeto ofertou vários cursos aos

produtores participantes, que, de acordo com o relatório do projeto, foram os

seguintes:

1. Curso Básico de Boas Práticas de Fabricação: este curso trouxe noções de

microbiologia, higiene de manipuladores, de limpeza e sanitização, com o intuito de

melhorar a qualidade dos produtos lácteos.

2. Curso Pratico de Boas Práticas de Ordenha: o curso envolveu a higiene

local dos animais, dos utensílios e do ordenhador.

3. Curso Específico de Tecnologia de Derivados Lácteos: esse curso foi

ofertado de acordo com a demanda dos produtores e foi apresentado nos seguintes

módulos: leite pasteurizado; queijo minas frescal, trançado e ricota; manteiga; doce

de leite; requeijão.

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Em parceria com o SEBRAE/PR foram ofertados os cursos: “Aprender a

empreender”; “Boas vendas”; “Juntos somos fortes”, e “Juntos somos fortes no

agronegócio”. Além disso, foi oferecida a implementação de Procedimentos

Operacionais Padronizados (POPs) definidos pela Portaria 275/2002/ANVISA, como

o procedimento que estabelece instruções sequenciais para a realização de

operações rotineiras e específicas em cada etapa da industrialização do alimento,

desde a sua produção até seu transporte.

Aos participantes dos cursos foram distribuídas cartilhas sobre boas práticas

de fabricação e boas práticas de ordenha e também receberam certificados de

participação no treinamento técnico. Foi desenvolvido ainda, um plano de negócios,

como forma de auxiliar os produtores que desejassem implantar uma mini usina de

leite. Na primeira fase do projeto, foram atendidas 300 pessoas.

Para a finalização do projeto, foi solicitada sua prorrogação para o período de

01 de março a 01 de dezembro de 2010, com o objetivo de dar continuidade aos

trabalhos iniciados. Nesta segunda fase foi liberado pela Fundação Araucária o valor

de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), totalizando um montante de R$ 147.000,00

(cento e quarenta e sete reais) para o desenvolvimento total do projeto. Na segunda

fase foram atendidas e orientadas 250 pessoas por meio de cursos e treinamentos.

O projeto teve ainda mais uma prorrogação, para o período de 01 de março

de 2011 a 30 de junho de 2011, totalizando 27 meses, essa prorrogação se deu em

virtude da necessidade de aplicação máxima dos recursos recebidos. Atingiu-se ao

final do projeto um total de dezessete comunidades, seis municípios (ver tabela 4),

oito laticínios e uma cervejaria.

Como forma de diagnosticar as possíveis falhas na qualidade da produção,

foram verificadas as condições higiênicas e estruturais na indústria, onde foram

analisados cinco itens que contemplam procedimentos referentes às condições

higiênico-sanitárias e estruturais das indústrias, sendo: edificações e instalações;

equipamentos (móveis e utensílios); manipuladores de alimentos; produção de

alimentos e documentação.

Para tanto, foram analisadas amostras de queijos para verificação da

qualidade microbiológica e físico-química, cujos resultados foram organizados em

forma de laudos, segundo os critérios da legislação vigente.

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Esse projeto envolveu a participação de três professores dos cursos de

Engenharia de Alimentos e Medicina Veterinária, três alunos da graduação e sete

recém-formados.

Tabela 4 - Municípios atendidos pelo projeto: “Transferência de tecnologia para viabilização econômica de produtos lácteos e bebidas na região Centro-Oeste do Paraná”.

Municípios Atendidos Comunidades

1. Boa Ventura de São Roque Sem informação

2. Guarapuava Bairro Primavera, Rio das Mortes, Bairro Industrial e Entre Rios.

3. Palmital Sem informação

4. Pitanga Sem informação

5 .Pinhão Sem informação

6. Santa Maria D’Oeste Sem informação

Fonte: Elaborado pela Autora a partir das informações contidas nos Relatórios dos projetos (2013)

O projeto não traz informações a respeito das comunidades atendidas,

apresentando apenas o nome dos municípios. Observamos no relatório, o viés

interdisciplinar do projeto, pois foram envolvidos docentes e discentes dos cursos

de: Engenharia de Alimentos, Medicina Veterinária e Administração. O relatório traz

também a participação em eventos para divulgação das atividades realizadas bem

como a produção de artigos científicos.

Não constatamos no relatório a informação sobre a contratação dos discentes

por cooperativas, laticínios ou outras empresas. Também não há informações se

houve dificuldades na liberação da verba destinada ao projeto e se houve

dificuldades na implementação do projeto.

4.4 Projeto 3 - Planejamento e Gestão Estratégica para a Central Regional de Cooperativas do Centro-Oeste do Paraná - CERCOOP

Esse projeto foi protocolado na modalidade de intervenção extencionista, para

ser realizado, no primeiro momento, no período de 01 de outubro de 2008 a 28 de

fevereiro de 2010 e seu público alvo eram os produtores de leite associados às

cooperativas de leite, COORLAF, de cinco municípios (tabela 5), o valor liberado

inicialmente pela Fundação Araucária para a realização do projeto foi de R$

97.000,00 (noventa e sete mil reais).

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O projeto foi desenvolvido em parceria com a SETI, a Fundação Araucária, a

UNICENTRO e as Cooperativas de Leite da Agricultura Familiar com Interação

Solidária, COORLAF, tendo como público alvo os produtores de leite da região

Centro-Sul do Paraná, vinculados à COORLAF - Central.

O objetivo inicial do projeto era fortalecer as ações dos cooperados vinculados

às cooperativas singulares COORLAF/CERCOOP nos aspectos operacional de

produção, comercialização e de estratégias comuns visando à melhor rentabilidade.

No aspecto operacional, a proposta foi analisar os fatores de produção

relevantes, como: a logística de captação, capacidade ociosa, custos, distribuição,

margem de contribuição do produto e equipamentos existentes nas cooperativas. No

aspecto comercial buscou-se analisar os impactos de estratégias operacionais

conjuntas entre cooperativas, como empresas compradoras, preço, logística e

alianças estratégicas. Em relação ao aspecto de estratégia, foi proposto realizar

estudos de caso de estratégias cooperativas, a fim de identificar os fatores e as

viabilidades de replicação.

O projeto teve o intuito de oferecer assistência técnica e assessoramento aos

associados nas áreas de Medicina Veterinária, Administração e Economia. E ainda,

desenvolvê-lo no formato de intervenção extensionista e prestação de serviço,

envolvendo as etapas de estruturação das cooperativas e qualificação dos

cooperados.

Para promover a estruturação das cooperativas de forma a atender as

necessidades de seus cooperados, foi necessária primeiramente, a realização de

um diagnóstico de cada cooperativa, a fim de conhecer seus pontos fortes e fracos.

Tendo em mãos esses dados, se faziam necessárias a qualificação administrativa e

técnica dos cooperados através de cursos e palestras, visando à maior rentabilidade,

redução de custos de produção e maior qualidade do produto.

O projeto contou, em sua equipe executora, com a participação de quatro

professores das áreas de economia e medicina veterinária, nove bolsistas recém-

formados, nas áreas de Administração, Ciências Econômicas, Marketing e

Secretariado Executivo. Os profissionais recém-formados fizeram o

acompanhamento das atividades desenvolvidas em cada cooperativa singular, com

o intuito de executar um plano de ação, focando na organização dos procedimentos

administrativos e contábeis, em que mostraram a importância de sua padronização

em todo o sistema COORLAF, buscando alcançar a melhoria na gestão.

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Aos poucos, as cooperativas do sistema COORLAF foram sendo equipadas

com computadores, acesso à internet, facilitando a comunicação entre as

cooperativas singulares e a cooperativa central, trazendo aprimoramento no

processo de informação contribuindo para a melhoria de gestão das cooperativas.

Visando à melhoria no controle e na organização das atividades

administrativas, o sistema COORLAF contratou uma empresa de locação de

software específico na área contábil e financeira, possibilitando a implantação e a

elaboração de controles básicos de caixa, bancos, contas, estoque, cadastro de

associados, fornecedores, produtos, valores financeiros que cada associado

receberá após a entrega de produtos à cooperativa, bem como, recibos e notas

fiscais eletrônicas.

Para garantir a operacionalização de tudo que foi implantado, foram treinados

os operadores do programa, de forma a entender a dinâmica do processo. Após toda

a estrutura pronta, as cooperativas singulares regularizaram suas pendências junto à

Receita Federal e Estadual, obtendo o direito de emitir nota fiscal eletrônica através

do sistema contratado, o qual tornou mais eficiente o controle interno das unidades

Assim, as Cooperativas puderam unir o conhecimento de longos anos de

trabalho no campo ao conhecimento acadêmico dos profissionais do projeto, os

quais explicitaram a importância da organização administrativa, contábil e financeira

no ambiente de trabalho.

Os integrantes do projeto realizaram palestras aos associados do Sistema

COORLAF, onde abordaram o Estatuto da organização, a fim de aumentar o

conhecimento dos associados em relação ao funcionamento da cooperativa,

oferecendo-lhes maior confiança para trabalhar com o mercado. Dessa maneira,

aumentando seus argumentos de luta por seus direitos, o poder de barganha das

cooperativas junto aos laticínios, conseguindo um melhor preço pelo produto

produzido em cada propriedade, gerando maior renda aos associados, o que pode

contribuir para a melhoria na qualidade de vida da população local e o fortalecimento

do Sistema COORLAF.

Outro aspecto importante apresentado no relatório final foi o resultado

alcançado pelo profissional de Medicina Veterinária, que trabalhou diretamente com

os produtores de leite, nas regiões atendidas pelo Sistema COORLAF. O trabalho

prestado pelo profissional, auxiliando os produtores na inserção de novas técnicas

de manejo do leite e na qualidade da produção, os instruiu sobre as doenças que

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ameaçam a saúde do rebanho leiteiro, proporcionou a melhoria na rentabilidade dos

produtores bem como o crescimento das cooperativas inseridas no sistema.

A fim de complementar e aprimorar o trabalho desenvolvido, foi distribuída aos

cooperados uma cartilha contendo alguns processos de padronização na atividade

de ordenha e também do cadastro dos animais em cada propriedade, visando ao

registro da produtividade do rebanho, facilitando o diagnóstico dos pontos fortes e

fracos de cada propriedade.

Na segunda visita do técnico às propriedades, realizou-se o trabalho de

assistência técnica no qual através dos diagnósticos já efetuados foram propostas

melhorias como: uso de suplementação com cana e uréia, uso racional de

suplementação com concentrados, controle leiteiro, fichas para controle zootécnico e

reprodutivo dos animais, incentivo ao uso de inseminação artificial, uso de silagens,

dentre outros.

Conforme as informações do relatório, o maior problema encontrado nas

visitas às propriedades rurais, foi a falta de planejamento da propriedade. Os

produtores não possuíam nenhuma planilha de custos de produção, nem anotações

dos principais gastos para que fossem feitos os cálculos da rentabilidade da

atividade leiteira. Diante disso, foi necessário começar os trabalhos por meio da

conscientização sobre a necessidade de apurar e elaborar os custos de produção,

para que o produtor tivesse ciência dos itens que fazem parte do processo produtivo.

Para tanto, foi elaborada uma planilha com orientações básicas sobre o que anotar e

como calcular a rentabilidade da atividade.

O conceito de planejamento alimentar dos animais aos poucos foi

implementado nas propriedades, e como consequência, houve a melhoria no

produto final para o consumidor.

A equipe envolvida nesse projeto constatou que as cooperativas singulares

inseridas no Sistema COORLAF apresentavam dificuldades de gestão e de

padronização das atividades realizadas, e destacaram alguns pontos “fracos”,

importantes que afetavam o desenvolvimento das cooperativas:

- Capital de giro e fundo de reservas escassos, dificultando a contratação de

mão de obra qualificada e o planejamento de negócio;

- O papel da cooperativa para os agricultores bem como o papel deles

enquanto cooperados;

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- Dependência total de conhecimentos técnicos dos colaboradores dos

projetos;

- Necessidade de treinamento para o pessoal de apoio administrativo e

diretores;

- A relação das cooperativas com os laticínios, sendo identificada como

concorrente e não como possível parceira;

- Poder de barganha dos laticínios dificultando a negociação das

cooperativas;

- Má condição de estradas, dificultando a logística de distribuição;

- Falha na comunicação interna e na divisão de tarefas na diretoria;

- Falha na comunicação com os associados;

- Falta de um site para ampliar o acesso e divulgação das atividades da

cooperativa.

A partir dessas informações, os responsáveis pelo projeto desenvolveram

várias ações que promoveram a conscientização e o aprimoramento de pessoas e

processos, conseguindo alguns avanços:

- Parcerias com entidades da agricultura familiar;

- Implantação de software em todas as cooperativas, inclusive na central;

- Maior valor de mercado no preço do leite, diminuindo a diferença entre o

valor pago para os maiores e os menores produtores;

- Informatização das singulares possibilitando a análise das informações para

maior eficiência do trabalho;

- Maior participação das cooperativas singulares;

- Fornecimento de insumos e suprimentos com preços reduzidos.

Ainda, segundo o relatório do projeto, após um ano de atividades foram

alcançados vários objetivos como:

- Aumento no número de associados na Cooperativa Singular de Reserva do

Iguaçu, que passou de 64 para 104;

- Parceria com a prefeitura de Reserva do Iguaçu com o Serviço de

Aprendizagem Rural - SENAR, para ministrar cursos aos cooperados;

- Melhoria significativa da qualidade nutricional e microbiológica do leite;

- Acordo firmado entre as prefeituras, a COORLAF e o SENAR, para a

disponibilização de botijões de sêmen e a oferta de cursos de inseminação artificial

de forma gratuita aos produtores cooperados;

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- Parceria com a CRESOL para obter melhor qualificação do produtor quando

este for buscar algum financiamento;

- Início da comercialização de alguns produtos pela cooperativa, a fim de

aumentar a receita e obter reserva de recursos.

- O profissional da área de Medicina Veterinária, trabalhou junto aos

produtores de leite, na inserção de técnicas no manejo do leite e na qualidade da

produção, foi importante para o aumento da rentabilidade dos produtores e o

crescimento das cooperativas inseridas no sistema.

- O médico veterinário passou a fazer visitas às singulares com uma proposta

baseada na criação de propriedades modelo/referência em cada região, e com a

proposta de um dia de campo em cada propriedade modelo, havendo maior difusão

de tecnologia entre os associados gerando benefícios à cooperativa como um todo.

O projeto superou o objetivo inicial, em que seriam atendidos cinco

municípios, ao final, o projeto atendeu oito municípios da região, como podemos

verificar na tabela 5, atendendo oito Cooperativas Singulares, contando com um total

de 620 associados, e dentre eles, houve a participação de quatro professores das

áreas de economia e medicina veterinária, nove bolsistas recém-formados nas áreas

de Administração, Ciências Econômicas, Marketing e Secretariado Executivo.

Tabela 5 - Proposta de atendimento e municípios efetivamente atendidos pelo Projeto Planejamento e Gestão Estratégica para a Central Regional de Cooperativas do Centro Oeste do Paraná-CERCOOP.

Proposta inicial de atendimento

Associados a serem

atendidos

Municípios efetivamente Atendidos/ COORLAF

Associados atendidos

1. Candói 90 1. Boa Ventura de São Roque 38

2. Laranjeiras do Sul 86 2. Cantagalo 77

3. Pinhão 86 3. Candói 63

4. Reserva do Iguaçu 68 4. Laranjeiras do Sul 137

5.Santa Maria D’Oeste 140 5. Pitanga 32

6. Reserva do Iguaçu 70

7. Santa Maria D’Oeste 180

8. Turvo 23

TOTAL 470 TOTAL 620

Fonte: Elaborado pela Autora com informações contidas no projeto.

O projeto teve dois pedidos de prorrogação, o primeiro foi para o período de

01 de março a 30 de novembro de 2010, sendo acrescentado mais um objetivo ao

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projeto como justificativa para a prorrogação. O objetivo era realizar uma análise de

viabilidade para o início do processo de industrialização do leite captado pelas

cooperativas e verificar a possibilidade de implantar uma unidade própria de

beneficiamento desse produto. A prorrogação foi aprovada, sendo liberado ao

projeto o valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), totalizando R$ 147.000,00

(cento e quarenta e sete mil reais) para a realização de todo o projeto.

A segunda prorrogação foi solicitada para o período de 01 de dezembro de

2010 a 30 de junho de 2011, cujo objetivo foi elaborar um livro contendo os

resultados obtidos no projeto. A equipe elaborou e lançou o livro “A Importância do

Cooperativismo na Agricultura Familiar – caso da Cooperativa de leite COORLAF-

CENTRAL e suas singulares”.

Além desses resultados, o relatório traz a produção científica do projeto, com

a apresentação de trabalhos e artigos em eventos de nível regional, estadual,

nacional e internacional, entre eles estão: o 4º CCBEU - Congresso Brasileiro de

Extensão Universitária de Dourados - MS; 3º Encontro de Ciência e Tecnologia do

Paraná, Maringá – PR; ECOPAR - Encontro de Economia Paranaense, UNICENTRO

– Guarapuava - PR; SIEPE - Semana de Integração, Ensino, Pesquisa e Extensão;

III CONCISA - Congresso de Ciências Sociais Aplicadas, Guarapuava - PR.

O objetivo inicial com relação ao número de atendimentos promovido pelo

projeto foi superado. Observa-se que foram atendidos 620 associados da

cooperativa ao invés de 470, sendo oito os municípios atendidos, ao invés de cinco

mo foi proposto inicialmente. No entanto, não encontramos no relatório uma

justificativa para a exclusão do município de Pinhão.

Observamos ainda, que os projetos estudados receberam um financiamento

da Fundação Araucária no valor de R$ 147.000,00 (cento e quarenta e sete mil

reais) (UNICENTRO, 2010), distribuídos nos meses de duração do projeto. Como os

relatórios financeiros apresentam uma planilha zerada, entendemos que os valores a

eles destinados foram suficientes para o desenvolvimento dos projetos.

Percebe-se ainda que os relatórios não apresentam informações a respeito da

efetivação ou não dos bolsistas nas cooperativas, bem como se o tempo de vinte e

sete meses foi suficiente para que as intervenções feitas tanto nas Cooperativas e

quanto nas comunidades tenham surtido o efeito desejado.

Observa-se que os três projetos estudados promoveram intervenções em

municípios da mesorregião centro-sul, nas microrregiões de Guarapuava, Pitanga e

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Palmas, como podemos ver no mapa 2. Segundo dados do IPARDES (2010), esses

municípios, com exceção de Guarapuava, estão entre os piores com relação ao IDH

do Estado, conforme já mostrado no quadro 1.

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5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA

A pesquisa aplicada teve como finalidade conhecer a percepção dos

Coordenadores dos projetos desenvolvidos através do Programa Universidade Sem

Fronteiras - USF, bem como sua colaboração para o desenvolvimento regional,

melhorando ou não o Índice de Desenvolvimento Humano das localidades. Nessa

perspectiva, foram avaliados os aspectos como geração de emprego e renda,

inserção social, conhecimento e aprendizagem dos atores que participaram dos

projetos e finalmente melhoria dos processos e dos produtos comercializados.

Para obter essas informações, formulamos um questionário, o qual foi dividido

em dois blocos de perguntas. No primeiro bloco, procuramos conhecer a opinião

dos coordenadores a respeito do programa como um todo, identificando a percepção

de cada um sobre o programa e sobre a participação das universidades na

formulação do programa.

No segundo bloco, indagamos sobre os projetos apresentados, as

contribuições que eles trouxeram para o desenvolvimento regional e o grau de

satisfação do coordenador em relação ao apoio recebido para desenvolver o referido

projeto.

Ao final de cada bloco de perguntas havia um espaço para que os

Coordenadores fizessem suas manifestações a respeito do assunto.

Para manter o sigilo com relação à pessoa dos coordenadores, os

entrevistados serão identificados na pesquisa como Entrevistado 1 – E1;

entrevistado 2 – E2; e entrevistado 3 – E3.

A seguir faremos a apresentação das respostas dos coordenadores em

relação ao questionário.

5.1 Sobre o Programa Universidade Sem Fronteiras

O Programa USF é um programa de políticas públicas lançado em 2007, com

objetivos que visam ao desenvolvimento regional, sendo implementado e

desenvolvido em parceria com as universidades paranaenses através da extensão

universitária. Os projetos foram apresentados, aprovados e posteriormente

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desenvolvidos de acordo com a especificidade de cada um. Em 2010, a Lei

16643/2010, publicada no Diário Oficial nº. 8352, de 29 de novembro, instituiu o

Programa de Extensão “Universidade Sem Fronteiras”, no mesmo modelo

apresentado em 2007.

O Programa foi criado para ser desenvolvido em parceria com as

Universidades, entretanto, no entendimento dos entrevistados, não houve a

participação das IES, na elaboração do programa, ou seja, o programa já chegou

pronto e coube as IES desenvolvê-lo. Nossos entrevistados afirmam que o programa

contribui para o desenvolvimento regional, atendendo às demandas dos setores

menos favorecidos. Contudo, eles acreditam que o projeto deve ser rediscutido e

remodelado, e as Universidades, por sua vez, devem participar dessa discussão,

visto que cabe a essas instituições coloca-lo em prática além de ser as principais

conhecedoras das dificuldades encontradas, bem como da realidade do público alvo.

As universidades vêm se destacando devido ao papel que podem

desempenhar com relação ao desenvolvimento regional, chegando a ser

reconhecidas como elemento chave no processo de desenvolvimento das regiões

(ROLIM e SERRA, 2009). Dessa forma, entende-se a importância da participação

das universidades nas discussões e na elaboração de políticas públicas para o

desenvolvimento regional. São nessas instituições que o desenvolvimento científico

e tecnológico é aperfeiçoado e estão em constante transformação. Além disso, os

resultados efetivos de cada projeto devem ser levados em conta para o seu

aprimoramento, a fim de garantir melhores resultados junto à comunidade atendida.

Quando se propõe uma política pública, algumas etapas devem ser

observadas, como a formulação, implementação, resultados e impactos dessa

política. O Programa USF, teve sua origem a partir do propósito de promover o

desenvolvimento regional, após dois anos de implementação e com vários projetos

já finalizados, procuramos saber a opinião de nossos entrevistados em relação ao

impacto do programa nas comunidades atendidas. Segundo a visão dos mesmos, é

prematuro avaliar o impacto do programa de forma definitiva, pois as intervenções

feitas nas comunidades apresentarão resultados a médio e a longo prazo,

dificultando assim conhecer os resultados das ações nesse primeiro momento. De

acordo com eles:

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“Os impactos foram pequenos porque a região é imensa e o programa pequeno, no entanto algumas famílias atendidas conseguiram gerar renda comercializando os produtos de panificação feitos artesanalmente. Muitos participantes do projeto tiveram acesso aos conhecimentos teóricos e práticos sobre panificação em geral, e conhecimento em si já é uma forma de desenvolvimento. Cabe ressaltar que a maioria dos participantes do projeto tinha pouca educação formal” (E2). “Apesar de não conhecer os resultados dos projetos desenvolvidos, percebe-se que no curto, médio e longo prazo as ações promovem o desenvolvimento haja vista o papel que a universidade possui sobre os resultados de indicadores como saúde, educação e renda nas diversas localidades de abrangência da instituição” (E3).

Relacionado a experiências recentes de políticas participativas regionais no

Brasil, qualquer proposta de política pública que vise à ampliação do capital social

regional, através de práticas participativas, terá que manter por um longo período o

apoio institucional, a credibilidade e a sustentação política da proposta, sob pena de

inviabilizar no futuro, a continuidade das práticas cívicas e da solidariedade na

comunidade (BANDEIRA, 1999).

Assim, a continuidade do programa USF, com acompanhamento e assessoria

permanente aos projetos poderá, na percepção dos entrevistados, conduzir ao

desenvolvimento regional. Contudo, antes da implementação dos projetos, um

diagnóstico detalhado das necessidades das regiões de baixo IDH deve ser feito, a

fim de garantir que os objetivos do programa sejam atingidos, pois segundo Secchi

(2013, p 29) “a delimitação de um problema público é politicamente crucial no

processo de elaboração de uma política pública”. Sobre a continuidade do

programa:

“Considero importante a continuação do programa, dada a pobreza das comunidades rurais de Guarapuava e região. Levar conhecimento para elas foi a parte mais importante do projeto (E2). “O programa deveria ser ampliado em função de sua abrangência e pela capacidade de oportunizar novos conhecimentos para as propriedades. Penso que o Governo, bem como a Universidade, poderia desenvolver ações mais eficazes a partir do momento em que a participação dos atores envolvidos possa ser cada vez mais intensa nos projetos” (E3).

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Contudo, para que haja uma região diversificada e economicamente

desenvolvida faz-se necessário identificar as potencialidades da região onde será

aplicada uma política pública de desenvolvimento regional. Essa identificação evita

que sejam desenvolvidos projetos desnecessários, que não acrescentam nada às

necessidades regionais, garantindo o sucesso do trabalho implementado. Assim, a

partir de diagnósticos de potencialidades regionais, o Governo e as Universidades

podem desenvolver projetos mais eficazes a partir do momento em que sabem

exatamente onde e como atuar.

O Programa Universidade Sem Fronteiras é uma política pública, e busca

interferir em relações estruturais como emprego e renda, com projeção para o

desenvolvimento regional de longo prazo. Um dos entrevistados aponta o seguinte

argumento:

“O Programa é importante e deveria ser visto com maior atenção pelo Governo, inserindo os profissionais altamente qualificados das Universidades no ambiente externo a essas Instituições desenvolvendo ações que efetivamente tragam maior qualidade de vida a sua população e a inserção dessas pessoas no mundo dos negócios” (E3).

Porém, alguns de nossos entrevistados não percebem o Programa USF como

extensão universitária, entendem que são programas distintos que se

complementam em prol do desenvolvimento regional e o bem-estar da população.

Quanto à abrangência do USF, não há um consenso entre os entrevistados, eles

compreendem que a extensão universitária está inserida de tal forma que chega a

todas as regiões do Estado. Para os entrevistados, mesmo com toda a abrangência

com que se apresenta, o USF não chega a ser maior que a extensão universitária

desenvolvida no Paraná.

Todavia é válido observar que em 2009, dois anos depois de seu lançamento,

o Programa USF foi, em investimento financeiro e capital humano, configurando a

maior ação de extensão universitária no Brasil (SETI, 2009).

O programa apresenta vários atrativos, o que com certeza levaram nossos

entrevistados a participar do programa, como: investimento na área pública com

aquisição de máquinas e equipamentos, veículos, bem como a abrangência de

atuação do projeto, qualificação da mão de obra com a inserção de alunos de

graduação e de egressos, principalmente a possibilidade de levar novos

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conhecimentos à comunidade. Quando perguntamos para nossos entrevistados,

sobre o que os atraiu no programa, obtivemos as seguintes respostas:

“Para atender a demanda da região, uma vez que alguns alunos e professores já tinham me solicitado que escrevesse projetos de extensão. Também me interessei em desenvolver o projeto na comunidade e capacitar os alunos e recém-formados que atuaram no projeto, e ainda, por conta da bolsa recebida” (E2). “Tive interesse em participar do Programa porque o programa tem o objetivo de proporcionar a integração entre a universidade e a comunidade a fim de melhorar a qualidade de vida das pessoas” (E3).

O Art. 5° da Lei nº 16.643/2010 traz a seguinte redação “O Programa de

Extensão „Universidade Sem Fronteiras‟ será lançado anualmente pela Secretaria de

Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – SETI”, isto é, uma vez

determinado em Lei, o programa tem que ser ofertado garantindo assim sua

continuidade. Segundo a percepção dos coordenadores se a continuidade do

programa vem acompanhada de uma assessoria permanente aos projetos, isso

tende a levar ao desenvolvimento regional e à melhoria da qualidade de vida.

Ao lançar esses editais, o governo abre as portas para um número

considerável de profissionais altamente qualificados que levarão às comunidades

atendidas todo o conhecimento produzido dentro das universidades, é a

oportunidade de apresentar aos acadêmicos e profissionais recém-formados, a

realidade regional. Esses participantes terão a oportunidade ímpar de atuar e

colaborar para a melhoria da qualidade de vida das pessoas atendidas e para o

desenvolvimento regional, a partir de suas ações teóricas e práticas no campo do

saber relacionado aos aspectos técnicos e de gestão, que proporcionam novas

perspectivas para os agentes sociais e econômicos.

Ainda sobre o Programa USF, solicitamos que os coordenadores falassem

sobre a importância do Programa para as instituições de ensino que eram parceiras

no desenvolvimento do mesmo, e obtivemos as seguintes respostas:

“Aspectos como a maior integração entre as universidades e a comunidade regional, possibilidade de formação de mão de obra, a qualificação dos atores econômicos no projeto” (E1).

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“Para mim foi bom, pois pude conhecer a região rural e sua comunidade, e a Instituição teve seu nome levado até as comunidades atendidas cumprindo o papel extensionista da Universidade” (E2).

“No campo acadêmico foi importante para a percepção dos problemas enfrentados pelos atores regionais e que tem como consequência o aprimoramento dos aspectos teóricos aplicados em sala de aula e nas pesquisas. No campo social a possibilidade de inserção dessas pessoas no mercado de trabalho e no mercado de atuação, no campo econômico as melhorias de renda e do negócio. No caso da instituição a maior aproximação com a comunidade, os investimentos proporcionado pelo programa, a qualificação dos alunos, o aprimoramento dos professores” (E3).

Foram apontados pelos coordenadores alguns pontos que viabilizam e alguns

que dificultam a implementação de um programa baseado em parcerias entre

organizações de diferentes setores e de diferentes escalas de governo:

“Pontos positivos: recursos financeiros; havia acadêmicos e recém-formados interessados em trabalhar; o programa foi bem estruturado. Pontos negativos: A burocracia inerente do setor público (SETI e Universidade), fazendo que boa parte do tempo desprendido pela equipe fosse gasto com isso; a precária disponibilização de veículos para transporte da equipe de trabalho por parte da Universidade” (E2).

“Pontos que viabilizam: O interesse em obter parcerias com mão de obra barata, porém qualificada; investimentos em máquinas e equipamentos; qualificação profissional. Pontos que dificultam: a burocracia institucional; a dificuldade de obter novos conhecimentos por parte dos atores regionais; o processo das instituições e das pessoas com relação às mudanças organizacionais, técnicas e de gestão” (E3).

Em relação à efetivação do programa, de um modo geral, os coordenadores

avaliam que o programa foi satisfatório, uma vez que atendeu às expectativas dos

atores regionais, e que o programa tem uma importância estratégica para o

desenvolvimento regional abordando temas importantes como social, econômico,

histórico, cultural, infraestrutura, tecnológico, inovação, científico.

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5.2 Bloco de perguntas relacionado aos projetos desenvolvidos

O Programa USF está dividido em oito subprogramas: Apoio à Agricultura

Familiar; Apoio à Pecuária Leiteira; Apoio à Produção Agroecológica Familiar; Apoio

às Licenciaturas; Ações de Apoio à Saúde; Diálogos Culturais; Extensão Tecnológica

Empresarial; e Incubadora de Direitos Sociais.

Neste bloco vamos discutir as respostas dos Coordenadores em relação aos

projetos por eles desenvolvidos através do subprograma de Extensão Tecnológica

Empresarial. Perguntamos por que a escolha em participar do subprograma de

Extensão Tecnológica Empresarial? Os coordenadores foram unânimes em afirmar

que sua participação se deu em função de seus objetivos, que são: promover ações

de desenvolvimento social e econômico em localidades, com baixo índice de IDH,

voltadas para a gestão empresarial e técnica, esses fatores atendia aos interesses

de pesquisa dos coordenadores.

Segundo os Coordenadores, seus projetos foram desenvolvidos a partir do

diagnóstico acerca da condição socioeconômica das localidades selecionadas, das

quais foram identificadas não somente as potencialidades da região em razão das

características econômicas, mas também em função das fraquezas e ameaças nas

propriedades dos pequenos produtores,

“Já tinha um diagnóstico da precária situação da comunidade em relação ao baixo nível de instrução formal. Além de que muitos produtos de panificação produzidos no município artesanalmente poderiam ser elaborados seguindo as normas de boas práticas de fabricação e com controle de qualidade na produção, assim melhorando o produto final” (E2).

Para que haja avanços, seja em nível social seja em nível econômico,

algumas ações são necessárias, e a aplicação de projetos como os que foram

desenvolvidos através do programa USF são exemplos de ações que tendem a

alavancar esses avanços. Mas, para que uma política pública se concretize de forma

satisfatória não pode haver gargalos que possam comprometer a qualidade da

implementação dos projetos, todos os entrevistados afirmam que houve dificuldades

na implementação dos projetos .

Ao averiguar com nossos entrevistados em relação às dificuldades por eles

encontradas, algumas questões foram colocadas a respeito. Segundo nossos

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entrevistados, os projetos não se desenvolveram da forma como era esperada:

“Encontramos algumas dificuldades em relação à precária disponibilização de veículos para transporte da equipe de trabalho e a burocracia interna da Universidade, mas isso já era esperado, dado o número muito reduzido de funcionários da Universidade” (E2).

“São vários os fatores que contribuíram para o projeto não se efetivar de forma mais concreta na região. Primeiramente, as dificuldades com relação a sua operacionalização, tendo em vista as questões burocráticas e internas na Instituição que dificultaram as ações propostas no projeto. Em segundo lugar, a visão da população atingida, visto a falta de conhecimento das possíveis vantagens em firmar parcerias com as Universidades e seus alunos e egressos. Por fim, há necessidade de oportunizar melhores condições para que o pequeno agricultor se familiarize com determinadas ferramentas que possam trazer mais benefícios a propriedade. As dificuldades foram relacionadas com a demora na liberação dos recursos financeiros e na seleção dos profissionais, haja vista a novidade do programa, bem como na falta de compromisso de alguns profissionais. Também com relação ao deslocamento para visitas e trabalho de campo, haja vista a dificuldade de transporte” (E3).

Quando se fala de projetos desenvolvidos através de políticas públicas, é

preciso ficar atento quanto às condições oferecidas à aplicabilidade dos projetos.

Para alcançar os objetivos dos projetos alguns itens devem ser observados, dentre

eles: o tempo de aplicação, os recursos liberados e o apoio técnico. Os

coordenadores afirmam que o tempo para a execução dos projetos foi insuficiente, o

projeto deveria acontecer em um prazo maior, e isso com certeza contribuiu para

que os projetos não atingissem alguns de seus objetivos, pois o período de

execução não permitiu que todas as estratégias traçadas fossem cumpridas. Da

mesma forma, o preparo e condução dos participantes poderiam ter alcançado

melhores resultados com um período maior de tempo para a realização das ações

pensadas no projeto.

Quando comparamos essas respostas aos relatórios entregues pelos

Coordenadores, observamos que os projetos pesquisados pediram dilação de prazo

para a conclusão dos trabalhos. O período de realização dos projetos proposto pela

SETI era de 24 meses, mas foram prorrogados para 27 meses.

Apesar disso, afirmam que atenderam à maioria das pessoas envolvidas nos

projetos, e que mesmo sem uma avaliação aprofundada do impacto dos projetos,

conseguem vislumbrar que houve melhoria na qualidade de vida e no nível

educacional desses participantes. Com a geração de emprego e renda, naturalmente

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vão acontecendo melhorias na vida das pessoas, ressaltando que com os cursos e

treinamentos viabilizados pelos projetos, houve uma melhora no nível educacional e

formativo dos participantes.

Outro fator que pudemos identificar é que, segundo os entrevistados, houve

atraso nos repasses financeiros por parte do governo do Estado, criando sérias

dificuldades para o desenvolvimento dos projetos. Os coordenadores afirmam que a

maior dificuldade encontrada em relação ao atraso na liberação de verbas, foi “a

manutenção dos bolsistas que trabalhavam nos projetos, uma vez que os mesmos

não podiam ter nenhum vínculo empregatício ou receber qualquer outro tipo de

bolsa”, ficando totalmente dependente dos repasses financeiros do governo.

Apesar disso, os coordenadores afirmam que o apoio recebido do Setor

Público foi suficiente para o bom desempenho dos projetos, o programa foi bem

pensado, uma vez que tinha dinheiro para pagar as bolsas, diárias e materiais

permanentes, o que contribuiu para operacionalizar o projeto. A partir de iniciativas e

de apoio dos setores da economia é possível desenvolver projetos e ainda mostrar

que com parcerias podem-se atingir resultados positivos para a sociedade.

Isso reforça a necessidade de manter relacionamentos duradouros e

construtivos com vários segmentos governamentais, a fim de alavancar a

implementação de projetos e prover recursos. Entretanto, para que os projetos

sejam implantados e desenvolvidos de maneira a conseguir o sucesso, é necessário

que o público para o qual o projeto está sendo oferecido, esteja realmente

interessado. Os participantes dos projetos estudados demonstraram, de acordo com

os coordenadores, um grande interesse no que estava sendo proposto e foram, aos

poucos, incentivados a se engajar com comprometimento aos projetos. Para um

dos coordenadores:

“O que os motivou foram as condições e as possibilidades que poderiam ter com esse programa como, melhoria de qualidade de vida, qualificação profissional, inserção no mercado de trabalho, interação social, acesso a programas sociais, porém, no início do projeto os atores se mostraram bastante interessados, entretanto durante a realização das ações alguns desses atores tiveram dificuldades em participar das reuniões de trabalho, bem como a falta de conhecimento básico na área de gestão” (E3).

Contudo, para que se chegue aos objetivos propostos, também são

necessários esclarecimentos técnicos em relação à atuação e função dos

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coordenadores, dos profissionais recém-formados e dos alunos participantes do

projeto. Segundo as respostas dos coordenadores em relação a isso, para cada ator

envolvido são dados esclarecimentos inerentes à sua função. Porém, percebe-se

algumas barreiras a serem rompidas, e para tal, os projetos deveriam ter um tempo

maior de amadurecimento, isto é, a relação formal entre os órgãos de Governo e a

Universidade poderia ter um maior tempo para a compreensão dos aspectos do

projeto, bem como das questões burocráticas e legais.

Quanto aos diversos atores, um maior tempo para a execução do projeto

poderia proporcionar resultados melhores quanto à compreensão da necessidade de

novos conhecimentos bem como de sua aplicabilidade.

Em relação à efetivação dos bolsistas que atuaram nos projetos, percebemos

que apenas um dos coordenadores não respondeu se tem conhecimento se os

mesmos foram ou não efetivados nas empresas/propriedades onde atuaram, ou se

conseguiram emprego através de sua participação no projeto. Os demais fizeram as

seguintes declarações:

“Hoje todos os bolsistas que trabalharam comigo estão no mercado de trabalho. Nenhum está desempregado. Atualmente só não trabalha quem não quer. Agora se o projeto foi a principal causa para os bolsistas ingressarem no mercado de trabalho eu não sei” (E2). “Todos os bolsistas recém formados, que participaram do projeto que eu coordenei, foram alocados no mercado de trabalho, não somente no Paraná, mas também em outros estados” (E3).

Sabe-se que o critério fundamental que orienta a proposição e seleção dos

projetos, é que o mesmo seja desenvolvido nos municípios socialmente mais

críticos, identificados a partir da mensuração do seu IDH (SETI, 2010), visando ao

desenvolvimento regional. Definidos os critérios para elaboração do planejamento e

das ações para o projeto, percebemos que algumas entidades participaram

ativamente e contribuíram significativamente para o seu desenvolvimento, por

exemplo, a UNICENTRO, a SETI, a RURECO, e a COORLAF.

Em relação aos critérios para a escolha dos projetos, os coordenadores

afirmam que houve critérios claros e específicos que nortearam essa escolha em

cada subprograma. No caso do subprograma de Extensão Tecnológica Empresarial,

os projetos com chances de serem selecionados eram os orientados à criação e/ou

consolidação de micro e pequenos empreendimentos por meio do acesso a

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tecnologias difundidas ou inovadoras, estimulando a integração entre os

professores/pesquisadores das Instituições de Ensino Superior, os Institutos de

Pesquisa e o desenvolvimento de empreendimentos com impactos sociais e

econômicos significativos em nível local e regional.

A escolha dos projetos, portanto, não partiu de indicação das prefeituras dos

municípios onde foram desenvolvidos. Contudo, para que houvesse critérios para

definição dos municípios beneficiários dos projetos, foram levados em consideração

os dados divulgados pelo IBGE referente ao IDH desses municípios, bem como o

potencial da região onde o projeto seria implantado.

Quando se fala em implantação de projetos, há sempre a preocupação em

apresentar uma coisa melhor, dar uma nova roupagem, investir em novas

tecnologias e principalmente em pessoal. Em relação aos projetos desenvolvidos,

procuramos saber se os mesmos já existiam antes do Programa USF, segundo os

coordenadores, os projetos implementados foram especialmente planejados e

desenvolvidos para esse programa.

Com isso, se deu condições para participação ativa, não só das entidades na

elaboração dos projetos, mas da comunidade em geral. Essa participação é

essencial, visto que possibilita formas de definir onde serão investidos e trabalhados

os meios que serão disponibilizados à comunidade, visando ao desenvolvimento

local. Partindo desse princípio, o programa Universidade Sem Fronteiras veio para

transferir conhecimento às diversas áreas sociais e alavancar o desenvolvimento

regional. Para um dos entrevistados:

“A contribuição do projeto foi no sentido de mostrar para as comunidades mais carentes a necessidade de maior qualificação e aprimoramento na gestão dos negócios a partir de novos

conhecimentos e práticas mais modernas de administração” (E3).

O uso da tecnologia disponibilizada através dos projetos desenvolvidos,

aliados à aprendizagem e à capacitação dos beneficiários do programa tem como

consequência imediata, a introdução de novas práticas produtivas, bem como o

lançamento de produtos no mercado. De acordo com dados da pesquisa, e

conforme a percepção dos coordenadores, houve avanços na qualidade do produto,

o que motiva ainda mais a consecução dos programas por parte da instituição e

seus parceiros. De acordo com os colaboradores,

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“Foi fundamental para melhoria de qualidade dos produtos, tanto na parte sanitária quanto tecnológica. O que não é pouco, pois a segurança alimentar dos produtos é fundamental para a comunidade” (E2). “Foi fundamental a implantação do projeto considerando os aspectos técnico e tecnológico, haja vista os resultados apresentados nas propriedades selecionadas para a adoção de modelos de gestão no campo” (E3).

Tendo em vista que o principal objetivo do Programa USF é alavancar o

desenvolvimento regional, o que se espera é que os projetos desenvolvidos

colaborem para atingir tal objetivo. Assim, perguntamos aos coordenadores quais

foram as contribuições que seu projeto trouxe às comunidades por ele atendidas.

Segundo eles, os projetos contribuíram na geração de emprego e renda, na inserção

social, na aprendizagem e na capacitação dos participantes, na melhoria da

qualidade dos produtos produzidos nas propriedades e no aproveitamento

tecnológico, conforme percebe-se nos relatos:

“A contribuição do projeto para as diversas áreas relacionadas na questão foram importantes, haja vista a conscientização dos atores envolvidos quanto a importância da geração de renda para as propriedades, dessa forma contribuindo para a manutenção das pessoas no campo, o papel de outras instituições quanto a inserção social das famílias atendidas, a capacitação que trouxe novos conhecimentos para os envolvidos no projeto e muito se aproveitou na parte técnica, em função de novos métodos aplicados na produção” (E1). “Primeiro de tudo se fez presente nas comunidades, depois interagiu com elas e passou conhecimentos. Algumas pessoas atendidas pelo programa conseguiram gerar renda com os produtos de panificação comercializados” (E2). “Diversas foram as contribuições, dentre elas o aperfeiçoamento da gestão administrativa das cooperativas em função dos novos conhecimentos nas áreas de finanças, marketing, processos, planejamento. Na parte técnica, implantação de novas técnicas que proporcionaram ganhos de escala e otimizaram os processos de produção do pequeno produtor” (E3).

Quando se inicia um processo de implementação de um projeto, independentemente

dos objetivos, é necessário ter ciência de que algumas dificuldades podem ser encontradas

pelo caminho, e que alguns desafios devem ser superados para que se atinja o que foi

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proposto. Sobre isso, os entrevistados comentam que:

“Dialogar com as comunidades rurais do interior, apresentar o programa de extensão e selecionar os participantes que tenham interesse em participar, depois executar o projeto de transferência de tecnologia, foi um desafio” (E2).

“Os principais desafios seriam relacionados com a maior participação da comunidade científica e acadêmica no desenvolvimento de ações permanentes para o pequeno produtor. Na esfera dos atores regionais, maior comprometimento com a qualificação e intensificação na implementação dos instrumentos de gestão e técnicos necessários para o desenvolvimento do negócio” (E3).

Para encerrar este bloco de questões, solicitamos aos entrevistados que

avaliassem de forma geral a implementação de seu projeto. Um dos coordenadores

fez essa avaliação:

“Apesar das dificuldades geradas pela gestão inicial do projeto, em função da demora nos repasses financeiros e na aquisição de equipamentos e veículos, de forma geral considero satisfatório a realização do projeto, haja vista os resultados iniciais apresentados com relação à gestão dos negócios e a conscientização dos produtores com relação aos aspectos técnicos sugeridos” (E3).

5.3 Evolução do IDH dos municípios atendidos pelos projetos

Apesar de ser prematuro apresentar dados práticos em relação ao Programa

Universidade Sem Fronteiras, pelo fato de não termos ainda uma avaliação do

programa, acreditamos ser prudente apresentar os dados referentes ao IDH dos

municípios onde foram desenvolvidos os projetos por nós estudados.

São pilares da elaboração do IDH: saúde, educação e renda, e sendo esses

pilares objetivos do Programa Universidade Sem Fronteiras para o desenvolvimento

regional, podemos verificar no quadro 2, o aumento significativo no Índice de

Desenvolvimento Humano de todos os 11 municípios em 10 anos. É evidente que

não podemos afirmar que essa melhora no IDH ocorreu devido à implementação dos

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projetos descritos, mas acredita-se que os mesmos contribuíram para essa nova

realidade.

Quadro 2 - Variação do IDH nos municípios atendidos.

Município IDH/

2000

Ranking/

Estado

IDH/

2010

Ranking/

Estado

% crescimento

Boaventura de S. Roque 0,515 363 0,655 351 27,18%

Candói 0,509 368 0,635 378 24,74%

Cantagalo 0,516 361 0,635 378 23,06%

Guarapuava 0,632 98 0,731 78 15,66%

Laranjeiras do Sul 0,598 195 0,706 199 18,06%

Mangueirinha 0,575 268 0,688 272 19,60%

Palmital 0,509 368 0,639 371 25,54%

Pinhão 0,526 350 0,654 354 24,33%

Pitanga 0,575 268 0,702 224 22,08%

Reserva do Iguaçu 0,554 312 0,648 362 16,96%

Santa Maria D‟Oeste 0,475 386 0,609 391 28,22%

Turvo 0,491 379 0,672 318 36,86%

Fonte: IBGE /2013. Adaptado pela autora.

De acordo com as informações do quadro, observamos que apesar do bom

desempenho dos municípios em relação à melhoria no IDH, os mesmos ainda

apresentam uma situação delicada, obtendo as piores colocações no ranking

estadual de desenvolvimento humano. Observamos ainda, que o município de

Guarapuava teve o pior desempenho do período, 15,66%, enquanto que o município

de Turvo apresentou um aumento de 36,86% no IDH, sendo o melhor resultado

dentre os municípios que receberam as intervenções dos projetos.