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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO
MICHELE GOULART MASSUCHIN
MEIO AMBIENTE E FOLHA DE SÃO PAULO: A CONSTRUÇÃO DE NOTÍCIAS NO PERIÓDICO DIÁRIO
PONTA GROSSA
2009
MICHELE GOULART MASSUCHIN
MEIO AMBIENTE E FOLHA DE SÃO PAULO: A CONSTRUÇÃO DE NOTÍCIAS NO PERIÓDICO DIÁRIO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Área de Comunicação. Orientador: Prof. Dr. Emerson Urizzi Cervi
PONTA GROSSA 2009
MICHELE GOULART MASSUCHIN
MEIO AMBIENTE E FOLHA DE SÃO PAULO: A CONSTRUÇÃO DE NOTÍCIAS NO PERIÓDICO DIÁRIO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção de título de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Ponta Grossa, _____ de ________________ de 2009. _______________________________ Professor Orientador _______________________________ Convidado _______________________________ Professor (a) indicado pelo Decom
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO
Ata de Avaliação de Projeto Experimental em Jornalismo (PEJ) Aos _____ dias do mês de __________ do ano de 2009, nas dependências do curso de Comunicação Social – Jornalismo, situado no Campus Central da Universidade, reuniu-se a Banca Examinadora composta por: __________________________________________ (Orientador) __________________________________________ (Convidado) __________________________________________ (Professora Indicada pelo Decom) para avaliação do Projeto Experimental em Jornalismo (PEJ) sob o título _____________________________________________________________________, de autoria de ___________________________________________________________. Após a apresentação e questionamentos realizados pelos membros da Banca, chegou-se aos seguintes resultados: Professor orientador, nota (___) Convidado, nota (___) Professor indicado pelo Decom (___) Nota final (___) Aprovado (___) Reprovado (___) Indicado para reapresentação (___)
Ponta Grossa, ____ de ________________ de 2008 __________________________________ Professor Orientador _____________________________________ Convidado _____________________________________ Professor Indicado pelo Decom
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO
CURSO DE COMUNICAÇÃO
TERMO DE RESPONSABILIDADE DECLARAÇAO DE COMPROMISSO ÉTICO COM A ORIGINALIDADE CIENTÍFICO-INTELECTUAL
Responsabilizo-me pela redação do Projeto Experimental em Jornalismo sob o título ___________________________________________________________________, atestando que todos os trechos que tenham sido transcritos de outros documentos (publicados ou não) e que não sejam de minha exclusiva autoria estão citados entre aspas e está identificada a fonte e a página de que foram extraídos (se transcrito literalmente) ou somente indicados fonte e ano (se utilizada a idéia do autor citado), conforme normas e padrões da ABNT vigentes. Declaro, ainda, ter pleno conhecimento de que posso ser responsabilizado legalmente caso infrinja tais disposições.
Ponta Grossa, ___ de ____________ de 2009 ________________________________________________ Assinatura do estudante ________________________________________________ Nome legível do estudante ________________________________________________ Número do R.A.
AUTORIZAÇÃO
Ponta Grossa, _____de ____________________de 20___. Eu, __________________________________________________, estudante do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa, portador do R.G. _______________________ e R.A ____________________, autorizo o Departamento de Comunicação a divulgar por qualquer meio de comunicação o produto artístico/científico intitulado_______________________________________ _______________________, desde que tal exibição não resulte em ganho financeiro para nenhuma das partes envolvidas.
Assumo, para todos os fins, total responsabilidade pela autoralidade do conteúdo escrito, de áudio e visual constante neste produto.
________________________________
Assinatura:
Dedico aos meus pais, Celso e Elenir.
AGRADECIMENTOS
A todos que contribuíram para a realização deste trabalho, fica expressa aqui a minha gratidão, especialmente:
à Deus, por me guiar nesses quatro anos de faculdade;
aos meus pais, que mesmo com a distância sempre estiveram
presentes, apoiando e aconselhando nos momentos difíceis;
à minha tia, Bia, pelo incentivo em fazer Jornalismo;
ao meu orientador, Emerson, pelas dicas, cobranças, correções e acompanhamento durante este último ano;
à professora Hebe, que despertou em mim o interesse em pesquisar
o tema deste trabalho ainda no 2º ano do curso;
à professora Maria Lúcia, pelas orientações no projeto de pesquisa, extensão e iniciação científica, que de alguma forma
contribuíram para a produção da monografia;
ao professor Paulo, pelas correções finais;
à Bárbara, que também ajudou a corrigir;
aos funcionários da Biblioteca Pública do Paraná, que me auxiliaram na pesquisa de campo;
à Tássia e à Líria, que me ‘emprestaram’ um pedacinho da casa
quando estive em Curitiba fazendo a análise dos jornais;
aos professores do Decom, que contribuíram para a minha formação acadêmica;
aos meus amigos, de longe e de perto, que me
acompanharam na realização deste trabalho;
aos colegas do Centro Acadêmico João do Rio Gestão 2008/2009, pelo companheirismo e amizade;
Enfim, a todos que de alguma forma ajudaram, apoiaram
e incentivaram a produção desta pesquisa e me ‘socorreram’ nos momentos mais difíceis.
Muito obrigada.
RESUMO
Este trabalho apresenta uma análise de como o jornal Folha de São Paulo aborda o tema meio ambiente de 1992 a 2008. A observação dos textos sobre esse tema possibilita identificar as características da produção jornalística levando em consideração as teorias do jornalismo. O presente trabalho aborda no decorrer dos capítulos, um estudo sobre os problemas ambientais, discute as teorias do jornalismo, fontes e rotinas produtivas e por fim apresenta a análise das reportagens catalogadas. O trabalho se baseia na análise de conteúdo e tem como objetivo apresentar um panorama de como o veículo abre espaço para essa temática, relacionando com os estudos das teorias e discutindo como os fatores presentes entre o acontecimento e a produção influenciam na forma que a notícia é apresentada ao leitor. Palavras-chave: meio ambiente; teorias do jornalismo; análise de conteúdo.
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Espaço total utilizado com o tema meio ambiente ................... 102 TABELA 2 - Número de entradas por edição .............................................. 105 TABELA 3 - Tamanho categórico (Sturges) dos textos coletados ............... 107 TABELA 4 - Localização dos textos na página do jornal ............................. 108 TABELA 5 - Composição dos textos jornalísticos sobre meio ambiente ..... 109 TABELA 6 - Presença do tema meio ambiente na capa do jornal ............... 110 TABELA 7 - Espaço (cm2) utilizado pelo tema ambiental nas capas do
jornal ........................................................................................ 113
TABELA 8 - Número total de vezes que os temas aparece durante o
período ..................................................................................... 115
TABELA 9 - Freqüência dos temas ao longo dos anos ............................... 117 TABELA 10 - Números de entradas de cada tema durante o período .......... 118 TABELA 11 - Espaço ocupado em cm2 por cada tema no jornal .................. 120 TABELA 12 Tamanho dos textos de acordo com a fórmula de (Sturges) ... 122 TABELA 13 - Localização dos temas nos quadrantes ................................... 123 TABELA 14 - Distribuição dos temas pelo número de entradas .................... 124 TABELA 15 - Presença dos textos nas editorias ........................................... 127 TABELA 16 - Distribuição dos temas nas editorias do jornal ........................ 129 TABELA 17 - Freqüência dos temas específicos das matérias ..................... 131 TABELA 18 - Distribuição dos temas específicos ao longo do período (92-
08) ............................................................................................ 132
TABELA 19 - Abrangência da produção jornalística em meio ambiente ....... 140 TABELA 20 - Relação entre os temas ambientais e as regiões do planeta 141 TABELA 21 - Abrangência da produção do veículo nas regiões brasileiras 142 TABELA 22 - Abrangência dos textos de cada um dos temas ambientais .... 143
TABELA 23 - Relação entre o tema geral e a abrangência das matérias ..... 145 TABELA 24 - Tamanho dos textos referentes a cada região ........................ 146 TABELA 25 - Distribuição da primeira fonte citada em cada texto ................ 148 TABELA 26 - Segunda fonte que mais aparece nos textos coletados .......... 151 TABELA 27 - Número de fontes catalogadas em cada texto ........................ 152 TABELA 28 - Distribuição das primeiras fontes de acordo com o tema ........ 154 TABELA 29 - Localização das primeiras fontes nos formatos de textos ....... 155
TABELA 30 - Distribuição das fontes em cada tipo de texto ......................... 157
FIGURA 1 - Demonstração da localização dos quadrantes ........................ 95
LISTA DE GRÁFICOS
GRAFICO 1 - Espaço total ocupado pelo tema meio ambiente no jornal (cm2) 100 GRÁFICO 2 - Número médio de textos por edição pesquisada .................... 104 GRÁFICO 3 - Tamanho do texto (pequeno, médio e grande) ....................... 106 GRÁFICO 4 - Número de chamadas de 1ª página por ano .......................... 111 GRÁFICO 5 - Espaço (cm2) ocupado pelo tema na 1ª página do jornal ........ 112 GRÁFICO 6 - Distribuição dos temas ao longo dos anos ............................. 115 GRÁFICO 7 - Espaço utilizado pelos temas durante o período .................... 121 GRÁFICO 8 - Variação da incidência do tema aquecimento global .............. 132 GRÁFICO 9 - Incidência do tema biodiversidade de 1992 a 2008 ................ 133 GRÁFICO 10 - Distribuição do tema “transgênico” ao longo do período ........ 134 GRÁFICO 11 - Desenvolvimento do tema biocombustível .............................. 134 GRÁFICO 12 - O tema ECO-92 nas páginas do jornal de 1992 a 2008 ......... 135 GRÁFICO 13 - Incidência do tema “desmatamento” no período de analise ... 136 GRÁFICO 14 - Incidência do tema “enchente” ao longo do período ............... 137 GRÁFICO 15 - Fontes com primeira citação nos textos de meio ambiente .... 150
SUMÁRIO INTRODUÇÃO 15 CAPÍTULO 1 - MEIO AMBIENTE: HISTÓRIA, DESENVOLVIMENTO E PERSPECTIVAS ..............................................................
19
1.1 PROBLEMAS AMBIENTAIS COMO PARTE DA HISTÓRIA DO HOMEM E DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, POLÍTICO E INDUSTRIAL .............................................................................
19 1.2 A TRAJETÓRIA DAS INDÚSTRIAS: DA CUSA DOS
PROBLEMAS À CONSCIENTIZAÇÃO ........................................
23 1.3 ZONA RURAL: MEIO AMBIENTE E AGRICULTURA ................. 25 1.4 O DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES E AS
CONSEQÜÊNCIAS PARA O MEIO AMBIENTE ..........................
27 1.5 MOVIMENTO AMBIENTALISTA: HISTÓRIA, TRABALHOS E
DESENVOLVIMENTO .................................................................
29 1.6 CONFERÊNCIAS DA ONU: PRINCIPAIS DISCUSSÕES SOBRE
MEIO AMBIENTE DE ESTOCOLMO A JOHANESBURGO ........
31 1.7 AVANÇOS E RETROCESSOS PÓS RIO-92 ................................ 34 1.8 DESENVOLVIMENTO E CONSUMO SUSTENTÁVEL:
TENTATIVAS DE MUDAR O MUNDO ......................................... 38
CAPÍTULO 2 - JORNALISMO E A CONSTRUÇÃO DE NOTÍCIAS
SOBRE MEIO AMBIENTE ........................................................................
45 2.1 JORNALISMO COMO CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE 45 2.2 TEORIAS DO JORNALISMO E CONSTRUÇÃO DA NOTÍCIA
PELA INFLUÊNCIA EXTERNA ÀS REDAÇÕES .........................
47 2.3 ESPECIALIZAÇÃO E SEGMENTAÇÃO JORNALÍSTICA PARA
ATENDER A DEMANDA ..............................................................
59 2.4 O PAPEL DAS EDITORIAS NO DESENVOLVIMENTO DO
JORNALISMO ESPECIALIZADO E NA ORGANIZAÇÃO DOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO .................................................
62 2.5 O JORNALISMO CIENTÍFICO COMO FONTE DE
INFORMAÇÃO PARA A POPULAÇÃO .......................................
66 2.6 JORNALISMO AMBIENTAL: UM OLHAR PARA O MEIO
AMBIENTE ...................................................................................
71 CAPÍTULO 3 - JORNALISMO AMBIENTAL: A ANÁLISE DO JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO.............................................................................
88
3.1 JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO: DESCRIÇÃO DO OBJETO DE ANÁLISE ...............................................................................
88
3.2 ANÁLISE DE CONTEÚDO COMO MÉTODO DA PESQUISA .... 90 3.3 DELIMITAÇÃO DO CONTEÚDO E VARIÁVEIS DA ANÁLISE .... 93 3.4 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................ 99 3.4.1 Presença e visibilidade do tema meio ambiente nas páginas do
jornal FSP .....................................................................................
99 3.4.2 Os temas veiculados no jornal ...................................................... 114 3.4.3 A abrangência da produção em meio ambiente na Folha de São
Paulo ............................................................................................ 140 3.4.4 A distribuição das fontes nas notícias de meio ambiente ........... 147 CONCLUSÃO ............................................................................................. 159 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 167 ANEXOS - Exemplos de matérias ........................................................... 176 APÊNDICE A – Livro de códigos ............................................................ 187 APÊNDICE B – Pré-projeto ...................................................................... 191 APÊNCICE C – Relatório Analítico ......................................................... 204
15
INTRODUÇÃO
O tema meio ambiente está diretamente ligado à sociedade, pois nossos atos
freqüentemente refletem ações prejudiciais à natureza, por meio da poluição do ar
pelo uso dos automóveis, produção de lixo doméstico, utilização de agrotóxicos nas
lavouras etc. Com o passar do tempo e o aumento da degradação da natureza pelas
ações do homem, percebeu-se a necessidade de chamar a atenção para esse tema.
A mídia é um espaço que pode proporcionar visibilidade e levar à população
diversos tipos de informação, através do rádio, jornal, revista, televisão ou internet.
Dessa forma, pode ser utilizada como forma educativa, de divulgação, denúncia ou
conscientização, mas isso vai depender da forma que os veículos abordam os
temas.
Foi a partir do final do século XX que o jornalismo ambiental se desenvolveu
com mais ênfase na mídia (SCHIMIDT, 2005). Dessa forma, analisar um veículo de
comunicação é uma forma de verificar que tipo de informação sobre o tema é
publicada. Para dar um panorama do desenvolvimento do tema na mídia, é utilizado
o jornal Folha de São Paulo.
O objeto dessa pesquisa são somente as notícias que, de alguma forma,
fazem referência ao meio ambiente, por meio de denúncias, discussões públicas,
eventos ou resultados científicos. Neste trabalho, são consideradas os textos que
seguem o seguinte conceito: textos que trabalham com o conjunto de temas que
englobam fauna, flora, ecologia, biodiversidade, as ações do homem contra a
natureza e as possíveis formas de sanar os problemas que surgem a partir dessas
ações.
A pesquisa no Jornal Folha de São Paulo foi por amostragem e foram
selecionadas edições do ano de 1992 até 2008. O período escolhido justifica-se pelo
fato de que foi a partir da ECO-92 que os veículos de comunicação passaram a
pautar mais o assunto, sendo o início da década de 90, considerado o boom do
jornalismo ambiental (TOSI E VILLAR, 2001).
Com as discussões das três conferências realizadas pela ONU, em Estocolmo
(1972), Rio de Janeiro (1992) e Johanesburgo (2002), assuntos como
desenvolvimento sustentável, consumo e mudanças climáticas se transformaram em
pauta para os veículos.
16
A pesquisa tem como objetivo analisar o conteúdo do Jornal Folha de São
Paulo para verificar de que forma o veículo abordou a crise ambiental de 1992 até
2008. Por meio das variáveis da análise, construídas a partir da revisão bibliográfica,
será possível identificar os tipos e a quantidade de fontes mais utilizadas, os
assuntos abordados, o espaço destinado tanto na capa quanto no interior do jornal,
o impacto das três conferências nas pautas, a região geográfica a que pertencem as
notícias, a origem e formato da produção. Com os resultados, será possível fazer a
relação entre as teorias do jornalismo e os resultados encontrados, numa discussão
sobre a produção jornalística, envolvendo as rotinas produtivas, estudos de fontes e
as teorias que compreendem o jornalismo como uma construção social.
Apesar do extenso período analisado, a pesquisa tornou-se viável, pois a
forma de abordagem, a metodologia de trabalho e a escolha pelo método de
amostragem permitiram a realização do trabalho no período planejado. O
desenvolvimento da pesquisa é importante na comunicação por ser uma área em
desenvolvimento. O foco é estar voltada aos produtores das notícias por mostrar o
resultado do trabalho realizado pelo veículo e, ao mesmo tempo, alertar ao público
quanto ao que é veiculado na mídia e como isso pode ser resultado de visões,
interpretações e opiniões que vão além da mera observação da realidade tal como
ela é.
A análise mostra como o jornal pauta, apura, desenvolve e prioriza os temas,
defendendo a existência de fatores que interferem na produção e na forma de
abordagem. O trabalho visa mostrar como os meios de comunicação abordam a
temática discutida nesse trabalho, a partir da análise de um veículo diário de
abrangência nacional, por apresentar assuntos de todo o país e não apenas de uma
região específica. Caso fosse um veículo regional, a abrangência menor não
proporcionaria um leque maior de assuntos pautados. É mais uma forma de verificar
como as rotinas produtivas e a influência dos interesses externos (como por
exemplo, o interesse político expresso na teoria da ação política e da teoria
construcionista) podem de fato influenciar no processo de produção das notícias.
São apresentadas aqui algumas hipóteses que são verificadas se procedem
ou não ao final da pesquisa. A primeira delas é de que, com o passar dos anos,
houve aumento do número de textos que trabalham a temática ambiental. Ela parte
do princípio de que o jornalista escreve sobre aquilo que está acontecendo na
sociedade e, na medida em que aumentaram os debates relacionados a temas
17
ambientais, até mesmo partindo de eventos que pautam o assunto,
conseqüentemente os meios de comunicação aumentaram a produção desse tipo de
texto jornalístico.
Outra hipótese é a ausência de textos que denunciam os problemas causados
pelo desenvolvimento urbano e industrial. Detectou-se esta possível ausência a
partir das leituras feitas no decorrer deste trabalho que falam sobre a relação que
existe entre o setor comercial e jornalístico dentro do veículo e, nesse caso, a
relação entre os anunciantes e a própria temática trabalhada. Dessa forma, partimos
para a análise com a hipótese de que notícias referentes a denúncias são
encontradas em menor número e têm menos visibilidade no jornal.
A terceira hipótese é a predominância de fontes oficiais1 nos textos, da
mesma forma que em outros temas abordados pela mídia. Ela está relacionada com
o processo das rotinas jornalísticas, a falta de tempo e a grande quantidade de
textos para poucos jornalistas que trabalham nas redações. Outra hipótese
levantada é o aumento do número de notícias em 1992 e 2002, devido às duas
conferências da ONU que aconteceram nesses dois anos que se encontram entre os
17 anos de análise. Isso poderá ser constatado no sentido de que os eventos se
transformam em pauta nos meios de comunicação. A última hipótese é a falta de
reportagens que trabalham com educação ambiental, no sentido que o veículo
explora mais o factual e textos de impacto (eventos e desastres) por chamarem mais
a atenção.
A escolha pelo jornal impresso se deu pelo fato de que no período em que
será feita a análise, o jornalismo on-line estava ainda em processo de iniciação. A
opção em não trabalhar com rádio e TV é com relação à dificuldade de acesso aos
arquivos. Outro aspecto importante na escolha do veículo foi a área de circulação. A
Folha de São Paulo é considerada um jornal de abrangência nacional e dessa forma
apresenta um panorama dos fatos mais importantes de todo o país, por ter que
atender um público amplo e também por se dizer mais plural e menos conservador
do que o Estado de São Paulo, o outro veículo de abrangência nacional e de grande
circulação no país que também poderia ter sido o foco da pesquisa. O porte do
veículo foi importante na escolha do jornal. A Folha é considerada o jornal de maior
circulação no país, segundo dados do Instituto de Verificação de Circulação (IVC).
1 Representam instituições públicas ou privadas, não falando apenas em seu próprio nome, mas sim institucionalmente. Ex: Estado, ONGs, legislativo e Judiciário.
18
O trabalho que surgiu a partir de leituras exigidas na disciplina de Redação
Jornalística II, em 2007, engloba a discussão sobre o tema meio ambiente, teorias
do jornalismo e metodologia da pesquisa, os resultados da análise e a conclusão do
trabalho. Todos esses passos foram distribuídos em três capítulos. No primeiro
deles, o objetivo foi apresentar um panorama sobre a evolução das discussões
sobre o tema, incluindo aspectos históricos, econômicos e sociais, uma abordagem
dos debates realizados nas três Conferências da ONU, o surgimento do
desenvolvimento sustentável, entre outros aspectos.
No segundo capítulo, o trabalho se volta para a comunicação, na tentativa de
abordar as teorias do jornalismo e os estudos que podem ajudar a compreender os
resultados observados a partir da análise. Foram estudadas as teorias do jornalismo,
enfatizando aquelas que compreendem o jornalismo como construção social, os
estudos de fontes e as rotinas produtivas. Além disso, o capítulo dois trata da
relação do jornalismo científico e especializado na produção das notícias sobre meio
ambiente. Para finalizar o capítulo, trabalha-se especificamente com o jornalismo
ambiental.
No capítulo três, são apresentados: a metodologia utilizada no trabalho, o
método de pesquisa, as características do jornal analisado, as variáveis observadas,
além da descrição e análise dos resultados fazendo relação com as leituras sobre o
tema e as discussões sobre as teorias do jornalismo.
19
1 MEIO AMBIENTE: HISTÓRIA, DESENVOLVIMENTO E PERSPECTIVAS
Neste primeiro capítulo é abordado o tema do trabalho, levando em
consideração a história do desenvolvimento dos problemas ambientais no Brasil e no
mundo, levando em consideração os aspectos sociais, econômicos e políticos, assim
como o papel da zona rural e urbana na poluição do meio ambiente. Também fazem
parte deste capítulo as discussões abordadas nas conferências da Organização das
Nações Unidas (ONU) que tratam do tema, assim como o desenvolvimento dos
movimentos ambientalistas como forma de combater e minimizar os problemas e
uma breve explicação sobre o desenvolvimento sustentável. Por falta de referências
bibliográficas sobre o assunto, não será discutido o tema mudanças climáticas, como
foi discutido poluição e desenvolvimento sustentável, os quais fazem parte das
variáveis de análise no capítulo três.
1.1 PROBLEMAS AMBIENTAIS COMO PARTE DA HISTÓRIA DO HOMEM E DO
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, POLÍTICO E INDUSTRIAL
Os problemas ligados ao meio ambiente não são recentes, porém a
preocupação mundial só pareceu a partir da década de 70, quando os estudiosos
perceberam que o desenvolvimento tecnoindustrial era responsável por grande parte
dos problemas causados na natureza. Ainda na década de 60, houve um
acontecimento que é o marco quando se discute o tema meio ambiente: em 1962,
houve denúncias da norte-americana Rachel Carson sobre envenenamento por
pesticidas nos EUA. Segundo Arruda (2006), foi a partir desse fato que aumentaram
as discussões, preocupações e buscas por soluções para os problemas ambientais
no mundo. A autora relata, ainda, que a idéia de crescimento econômico que
predominava nos anos 70 perdeu espaço nos últimos trinta anos para as
preocupações com o meio ambiente.
Foi nessa época que, segundo Schimidt (2005), surgiram as primeiras
indagações sobre o que estava acontecendo com o planeta. A partir disso, uma
consciência voltada para a recuperação ambiental na tentativa de encontrar
soluções para os problemas toma conta do mundo.
Com a mesma preocupação, Boff (2008) diz:
20
Só mais recentemente foi que a humanidade, assustada e perplexa deu-se conta, novamente, de que as reservas naturais do planeta não eram inesgotáveis. Que o avanço predatório sobre o mundo natural poderia produzir alterações climáticas e nos provar de bens preciosos. Que produtos químicos envenenam a terra, as águas e o mar. Que, enfim, o planeta encontrava-se ameaçado. E, com ele, a vida humana. (BOFF, 2008, p. 50)
Nesse mesmo período, o homem percebe que não será possível resolver
todos esses problemas sem a união e força de todos. Não se trata mais de um
problema isolado, mas de algo que abrange todo o planeta. Para discutir os efeitos
da ação humana com a participação de diversos presidentes, chefes de estado, reis,
cientistas, estudiosos e ambientalistas, a Organização das Nações Unidas já
realizou três conferências mundiais: a primeira em Estocolmo, na Suécia, em 1972,
a segunda no Rio de Janeiro em 1992 e a terceira em Johanesburgo, na África do
Sul. Além disso, outros eventos também contribuíram para falar sobre o tema, como
é o caso do COP8 MOP3 que aconteceu em Curitiba, em 2006.
Segundo diversos estudos já realizados, os problemas ambientais são frutos
das modificações e degradações que foram acontecendo com o passar do tempo.
Porém as atividades humanas, especialmente as atividades econômicas, são
apontadas como sendo as principais causadoras da degradação ambiental,
acelerando esse processo.
O ambientalista Paul Hawken, citado por Arruda (2006) explica que a
revolução industrial, surgida no final do século XVIII, é a grande responsável pela
difusão do capitalismo e automaticamente de todo o desenvolvimento até hoje. Mas,
isso resultou na degradação desenfreada da natureza. Segundo o autor, a partir de
meados do século XVII destruiu-se mais a natureza, do que em toda a história.
Souza (2005) também concorda com Hawken e afirma que, antes da
revolução industrial, o homem pouco interferiu na natureza, porém a partir do final do
século XVIII, o papel dele na degradação ambiental aumentou, elevando-se ainda
mais a partir de 1950. Nesse processo, o aumento da economia foi fundamental,
pois incentivava a produção e conseqüentemente a utilização de mais matérias
primas vindas da natureza.
Para Besserman (2008), a degradação do meio ambiente evolui da escala
local para global durante o século XX: De violentas agressões localizadas (destruição de floresta, bacias hidrográficas, da qualidade do ar nas cidades) passamos a importantes agressões regionais (chuva ácida na Europa e leste da América do Norte), chegando, finalmente, a agressões ao ecossistema do planeta, como a mudança no clima (o aquecimento global causado pelas emissões humanas
21
de gases do efeito estufa), a crise de biodiversidade, a crise de recursos hídricos, a desertificação, a degradação dos oceanos e a destruição da camada de Ozônio (BESSERMAN, p. 95).
Segundo Morin, citado por Schimidt (2005), os principais problemas que
pairam sobre o planeta estão nos países industrializados, apesar de atingirem o
planeta como um todo, como já explicou Besserman. Entre eles, Morin cita a
contaminação da água e dos lençóis freáticos, o envenenamento do solo pelos
agrotóxicos, a urbanização em locais ecologicamente frágeis, as chuvas ácidas e o
depósito indevido de detritos nocivos, além das emissões de CO2, presentes em
todos os países do planeta, que aumenta o processo de efeito estufa prejudicando a
camada de ozônio.
Além da interferência econômica (revolução industrial e desenvolvimento das
cidades e das tecnologias no campo), os processos de degradação ambiental
possuem um forte vínculo com as questões social, cultural e histórica. Segundo
Souza (2005), é a cultura que dá sentido a tudo o que ocorre nos processos sócio-
históricos. Os problemas ambientais, dessa forma, não são fatos isolados e muito
menos ligados apenas às questões econômicas. Claro que de, alguma forma, o fator
econômico se ressalta, mas as outras questões também permeiam o problema.
O discurso do neoliberalismo, segundo Tautz (2004), é responsável pela
industrialização e urbanização a qualquer custo, sendo distribuído principalmente
pela mídia de massa, a qual se tornou inerte perante as discussões que começaram
a surgir após esses avanços. Grandes propostas incentivadas pelos governos não
eram mais debatidas pela mídia, que pouco se preocupava com as questões sociais
e ambientais envolvidas. A cobertura passou a centrar-se na questão financeira,
deixando em segundo plano as conseqüências ambientais envolvidas.
Aproximando da realidade brasileira, a conscientização e discussão sobre
meio ambiente só começou a aparecer de forma mais nítida, também após a
Conferência de Estocolmo, em 1972. Nesse período a consciência do próprio
governo também passou por modificações e percebeu-se que as atitudes políticas e
econômicas influenciavam no meio ambiente. Resultado dessa mudança de
pensamento, surgiu a necessidade de programar uma legislação específica em meio
ambiente. Criou-se, em 1986, o Estudo de Impacto Ambiental; em 1988, a
Constituição ganhou um capítulo específico sobre o tema e, em 1998, foram
22
aprovadas as Leis de Crimes Ambientais, além da criação do IBAMA, do Ministério e
das Secretarias de Meio ambiente.
Atualmente, um dos maiores problemas relacionados à crise ambiental são as
mudanças climáticas que envolvem o setor alimentício. Com o aquecimento global, a
produção de alimentos é prejudicada, pois a falta ou a grande quantidade de chuvas,
por exemplo, prejudica as lavouras.
Conforme assevera Arruda (2006),
Segundo comunicado da OMM (Organização Meteorológica Mundial), o clima do planeta tornou-se caótico em 2003 e o maior responsável por esta situação é o aquecimento global resultante da ação do homem. O estudo sustenta que as médias mensais e anuais de temperatura vem aumentando gradualmente nos últimos cem anos e aponta que os dez anos mais quentes já registrados desde que se iniciaram as medições ocorreram depois de 1990, sendo que três mais quentes foram 1998, 2001 e 2002 (ARRUDA, 2006, p.8).
Segundo Darangoski (2001), as mudanças no clima são percebidas
gradualmente, quando a fauna e a flora nos apresentam sinais, tais como as
enchentes e secas que se alteram ano a ano no Sul e Nordeste do Brasil. Em outros
locais do planeta, essa mesma situação está acontecendo com freqüência, afetando
principalmente a rotina dos animais e o ciclo das plantas, como é o caso da
diminuição do tamanho das plantas no Norte do continente, devido ao frio que atinge
as lavouras. Por meio dos relatórios publicados pelo Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é possível observar algumas mudanças na
temperatura, no nível dos oceanos, na precipitação de chuvas e a diminuição da
neve e gelo sobre os continentes.
A poluição do ar também é preocupante para Darangoski (2001). Tanto os
poluentes gasosos (gás carbônico, óxido de enxofre) quanto os sólidos prejudicam a
qualidade do ar. O gás carbônico, proveniente da utilização de combustíveis fósseis
e das queimadas de florestas, aumentou em grande quantidade, o que impossibilita
o processo natural de consumo pelas plantas. Nos próximos tópicos, serão
apresentados os impactos da urbanização, industrialização e da tecnologia agrícola
para com o meio ambiente.
23
1.2 A TRAJETÓRIA DAS INDÚSTRIAS: DA CAUSA DOS PROBLEMAS À
CONSCIENTIZAÇÃO
Em sua dissertação de mestrado, Arruda (2006) indaga sobre o fato das
grandes empresas terem sido as principais causadoras dos problemas ambientais e
sobre a preocupação em reverter a situação atual. Alguns autores citados pela
autora defendem que, a partir da ECO-92, houve uma maior conscientização dos
empresários. Essa preocupação resultou em parcerias de empresas com o governo
e ambientalistas na tentativa de procurar soluções para o problema.
Um dos motivos que leva os empresários e até mesmo a população a tomar
consciência de que seus atos podem prejudicar o meio ambiente é saber que mais
cedo ou mais tarde isso vai voltar em forma de problemas para si mesmos. É o caso
das empresas que atualmente estão sendo multadas por violarem as leis ambientais,
que ainda pagam com os eventuais desastres que atrapalham na própria produção e
têm grande preocupação na imagem que a população terá sobre elas (ARRUDA,
2006).
A autora descreve ainda a trajetória do mercado na conscientização
ambiental. Até os anos 60, a principal idéia dos grandes empresários era de que a
natureza seria uma fonte inesgotável de matérias-primas. Ao longo do século XVII e
XVIII faziam queimadas, os solos empobreciam, o consumo de lenha era abundante,
a devastação da mata aumentava em larga escala e se intensificou com a
agricultura. Apesar dessas atitudes durante muito tempo, o pensamento de que tudo
era inesgotável não se comprovou com o passar dos anos.
O que no início era quase inexistente começou a aparecer com o tempo.
Kishiname, Grajew, Itacarambi e Weingrill (2004) identificam as mudanças na
conscientização das empresas por meio de uma modificação nos discursos com o
passar dos anos. “O problema não existe” era o que predominava até final de 1960,
época em que reinava a industrialização no país. Quando os ambientalistas e ONGs
ambientais começaram a pressionar para que algo fosse feito para conter a
destruição, a reação das empresas foi: “O problema existe, mas não é meu”. Depois,
ainda sob pressão, as empresas passaram a tentar resolver a situação e o discurso
passava a ser: “O problema existe e eu sei resolvê-lo”. Para a atualidade, os autores
colocam que o discurso vai em direção à produção limpa, que remete a “reduzir ou
24
eliminar o problema na origem”, ou seja, ainda na seleção de matérias-primas ou
insumos.
O termo meio ambiente só chamou realmente a atenção das empresas a
partir da ECO-92, porém, de acordo com Arruda (2006), as iniciativas de
preservação da natureza têm importância maior para a imagem da empresa como
instrumento de marketing do que para o meio ambiente.
Trigueiro (2006) também se reocupa quando diz que O fato é que o jornalismo ambiental ameaça os interesses das empresas públicas ou privadas que agem na contramão da sustentabilidade. Para essas empresas, uma exposição ruim na mídia pode desencadear uma sucessão de desastres que vão de um ligeiro arranhão na imagem à perda de credibilidade – com eventuais impactos no faturamento e na cotação das ações no mercado de bolsa. A maquiagem verde – marketing ambiental que constrói uma imagem ecologicamente correta sem a devida contrapartida no mundo real – vem se consolidando como uma alternativa para os executivos que agem de má fé. (TRIGUEIRO, in ARRUDA, 2006, p.36).
Villar (1997) chama isso de "ambientalismo empresarial", onde as grandes
indústrias fazem campanhas publicitárias e plantam notícias na imprensa para se
promoverem. Esse é o cenário que rege o jornalismo ambiental na década de 90,
segundo o autor.
Ainda no início do século XX, o Oeste Paulista, por exemplo, exportava
borracha, cacau, mate e fumo, tornando-se um dos maiores exportadores de
matérias-primas tropicais. O desenvolvimento e as crises apareciam e
desapareciam, mas deixavam para trás os impactos ambientais, os quais já eram
relativamente visíveis (ABREU, 2006).
A década de 70 ainda foi marcada pela diversificação da Bacia carbonífera,
época de acentuada exploração de carvão. E, em 1975, intensificou-se a
implantação das minas de grande porte, o que conseqüentemente contribuiu para o
aumento de prejuízos na natureza. Segundo Abreu (2006), o final dos anos 70 foi
marcado pela entrada dos debates relacionados à Amazônia, a partir de denúncias
da exploração madeireira da floresta vindas de intelectuais, cientistas e militares que
perceberam o problema.
Derenkoski (2001) relata uma lista dos dez agentes considerados mais
poluidores para o meio ambiente, que de alguma forma estão presentes no lixo
doméstico e industrial, na utilização de automóveis, na produção agrícola e em
outras atividades dos seres humanos. São eles o dióxido de carbono, monóxido de
25
carbono, dióxido de enxofre, óxido de nitrogênio, fosfatos, mercúrio, chumbo,
petróleo, pesticidas e as radiações.
A poluição da água é uma das formas mais próximas da população perceber
a relação de seus atos e a degradação do planeta. E, além da poluição, a escassez
devido ao consumo exagerado, tanto nas cidades quanto na zona rural é aparente
em diversos locais do mundo. Rios, lagos e córregos secos já não é algo tão
incomum. Tudo aquilo que produzimos utiliza a água. O setor siderúrgico, por
exemplo, utiliza 15 mil litros de água para cada tonelada de aço produzido. Esse é
apenas um exemplo, mas em todas as atividades humanas ela está presente em
grandes quantidades. No caso da agricultura, isso se repete e o cenário é mais
preocupante, pois é o setor que mais desperdiça água, devido às irrigações. Além
disso, tanto as indústrias quanto a agricultura são responsáveis pela poluição dos
mananciais que servem para abastecer as cidades.
A utilização de energia pelas empresas também causa preocupações com o
esgotamento das reservas naturais. Goldemberg (2008) defende que o aumento do
uso das energias aumentou gradativamente conforme o aumento da população. E,
além do esgotamento das reservas, como é o caso do petróleo, o real problema é a
poluição. Segundo o autor, os impactos do uso de energia não são novidade, pois já
vem acontecendo durante séculos, com a queima de madeira em áreas de florestas.
Goldemberg (2008) defende ainda que, apesar da energia ter facilitado a vida
humana, é ao mesmo tempo responsável pela degradação do meio ambiente devido
ao consumo excessivo, como é o caso da emissão de combustíveis fósseis pelos
veículos, que corresponde à maior forma de poluição urbana atualmente.
1.3 ZONA RURAL: MEIO AMBIENTE E AGRICULTURA
Outro fator importante que tem grande relação com o meio ambiente é a
produção agrícola no campo. Kolling (2006), em sua dissertação de mestrado, atenta
para a relação da agricultura com o processo de devastação e poluição do meio
ambiente. Segunda a autora, o processo de modernização no campo intensificou o
processo de degradação ambiental.
Essa lógica da produção baseada em novas tecnologias é conhecida como
“revolução verde”, que tinha como proposta substituir o trabalho humano braçal, por
novas tecnologias para auxiliar a evolução no campo (CAMARGO, CAPOBIANO E
26
OLIVEIRA, 2004, p, 207). A produção também foi baseada no trabalho com
variedades modificadas geneticamente, uso de fertilizantes e agrotóxicos. Com a
implantação desse modelo desenvolvimentista, segundo Primavesi (2004), a
agricultura brasileira é palco da guerra química com os agrotóxicos, ocasionando
intoxicações em agricultores, além de poluir as águas, o solo e o ar. A agricultura
baseada na produção em larga escala e dependente de produtos químicos sustenta
uma enorme produção de agrotóxicos e fertilizantes em empresas internacionais.
A pecuária, também considerada uma importante atividade da zona rural no
Brasil, recebeu grande incentivo na década de 60, porém deixou graves
conseqüências para o meio ambiente. Segundo Primavesi (2004), muitas áreas de
cerrado e floresta Amazônica foram devastadas para a implantação da pecuária.
José Lis da Veiga, citado por Kolling (2006) explica que a exploração sem controle é
responsável pelos prejuízos causados à natureza, tais como o empobrecimento do
solo e as erosões. Nesse processo, há um círculo vicioso que complica ainda mais a
produção agrícola. Devido aos problemas causados no solo, por exemplo, é
necessária a utilização de mais fertilizantes, o que encarece a produção e diminui os
lucros do produtor.
Segundo Kolling (2006), os danos ambientais mais graves são a poluição dos
rios por produtos químicos e dejetos animais, o assoreamento dos rios devido à
erosão, a poluição atmosférica causada pelas queimadas de canaviais e matas, a
emissão dos gases que causam problemas a saúde e contribuem com o efeito
estufa, a redução da biodiversidade e a contaminação dos alimentos pelos
agrotóxicos.
Fritjof Capra, citado por Kolling (2006) relata que a ação do homem interfere
diretamente na organização e sustentabilidade dos sistemas vivos, desequilibrando
toda a teia, que é o que tem acontecido no último século. Atualmente uma das
soluções para a agricultura, segundo Derengoski (2001) são os métodos orgânicos.
Apesar da rejeição por não propiciar lucros rápidos, esse tipo de produção não
causa prejuízos ao meio ambiente, amplia a variedade e rotação de culturas. Veiga
(2008) apresenta o conceito de agricultura sustentável como resultado da
insatisfação com o modelo de agricultura moderna atual.
O desmatamento para utilização de área para plantio de produtos agrícolas,
contribui para a poluição do meio ambiente por meio das queimadas e da
concentração de poluentes na atmosfera. Além disso, o aquecimento global é
27
resultado da falta de árvores que são os reservatórios de carbono que retiram o gás
da atmosfera e contribuem para a limpeza do ar que o ser humano respira. Esse
desmatamento, assim como outros problemas, também está presente na zona
urbana, tornando o cenário ainda mais alarmante.
1.4 O DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES E AS CONSEQÜÊNCIAS PARA O
MEIO AMBIENTE
Villar (2005) relata que, no Brasil, o marco para os problemas ambientais foi o
início da industrialização brasileira, datada de 1930, devido à implantação das
grandes empresas, principalmente as automobilísticas. Com o crescimento da
população urbana, agravaram os problemas que atingem o meio ambiente, como é o
caso do aumento do lixo, da poluição do ar, das águas e dos rios, do desmatamento,
do efeito estufa, consumo exagerado, entre outros. Esse aumento significativo da
população urbana, que saltou de 30% em 1950 para 74% em 2000, é originado
ainda com a revolução Industrial e intensificado a partir da globalização. Atualmente,
calcula-se que quase 80% da população mundial vivem em centros urbanos.
Estes problemas que, de alguma forma, aparecem na mídia, precisam de uma
boa reportagem para mostrar a relação existente entre a produção de lixo, o
tratamento de esgoto e o surgimento de doenças na população (VILLAR, 2004).
Essa é uma fórmula de mostrar que o meio ambiente está intimamente relacionado
com os seres humanos.
Segundo Villar (2004), o primeiro ecossistema brasileiro a ser atingido pela
urbanização foi a Mata Atlântica. Atualmente, o espaço que era ocupado pela mata,
comporta mais de três mil municípios e 108 milhões de pessoas. Hoje resta menos
de 8% da mata original, distribuída em 17 estados. Para aqueles que acham que
áreas de florestas não têm relação com a vida nas cidades, estão enganados, pois
elas servem para proteger os córregos que, em muitos casos, são as fontes de
abastecimento de água.
A famosa ‘panela’ urbana é responsável pela dificuldade de escoamento das
águas, ocasionando as enchentes. Segundo Trigueiro (2005), estima-se que 45% da
superfície da capital paulista, por exemplo, esteja coberta artificialmente impedindo o
escoamento das águas. Outro problema causador das enchentes é a construção de
projetos urbanos, modificando o curso natural dos rios e nascentes. A produção de
28
lixo é outro problema que aumentou consideravelmente a partir do processo de
urbanização. Segundo dados utilizados por Campos (2006), apenas 28% do lixo
produzido no Brasil, por exemplo, recebe algum tipo de tratamento, sendo que
apenas 2% são reciclados.
Nesse mesmo contexto de desenvolvimento da sociedade urbana e industrial,
o que toma conta do céu é a poluição do ar, resultado do funcionamento das
indústrias e do movimento de veículos. No caso dos automóveis, no Brasil, por
exemplo, os mais de 33,7 milhões de veículos são responsáveis por cerca de 70%
da poluição do ar nas cidades, pois emitem óxidos de nitrogênio, monóxido de
carbono, partículas em suspensão e chumbo. O século XX foi marcado pelo boom
do automóvel, a partir das invenções de Henry Ford, em 1920 (FELDMANN, 2008).
A partir daí, a difusão foi inevitável. Conseqüentemente, para que as cidades
pudessem comportar os carros, ônibus e caminhões, ruas e estradas foram
construídas, o que de alguma forma é responsável pela “panela” de concreto
formada pelas cidades. No Brasil, a era do automóvel se difundiu mais
profundamente com a chegada do presidente Juscelino Kubitschek e a construção
de rodovias para comportar o movimento. Apesar de ter sido sinônimo de
modernidade, Feldmann (2005) alerta para o papel das indústrias automobilísticas
no peso nas emissões de gases de efeito estufa, junto com a queima de carvão nas
fábricas, nas residências e nas queimas de florestas.
Esse problema já ficou visível, segundo Villar (2004, p. 31), em Londres,
quando mais de quatro mil pessoas morreram em uma semana, na época em que o
carvão era queimado nas fábricas e residências sem limitação. “Esse mesmo fato
deu origem às primeiras legislações de controle de emissão de poluentes nas
cidades”. Com a consolidação das leis ambientais, por pressão de entidades
internacionais ambientalistas, apareceram tentativas de estancamento da
degradação da natureza (ABREU, 2006).
Com a Eco-92 e a criação da Agenda 21, implantaram-se metas para
melhorar a vida nos centros urbanos, englobando a redução da produção de
resíduos sólidos, energia, transporte, água e investindo-se em saúde e projetos
sociais. Esse processo recebe apoio de diversos movimentos ambientalistas, tema
trabalhado no próximo tópico.
29
1.5 MOVIMENTO AMBIENTALISTA: HISTÓRIA, TRABALHOS E
DESENVOLVIMENTO
Um dos incentivos na luta pela preservação do meio ambiente são as
organizações não-governamentais (ONGs) que tem um papel cada vez mais efetivo
em políticas públicas e diversas iniciativas relacionadas ao assunto (BORN, 2008). O
autor destaca duas grandes correntes de pensamento que envolve os movimentos
ambientalistas: os reformistas e os transformistas; estes últimos também chamados
de utopistas. Segundo o autor, os reformistas defendem as práticas, reformas e
políticas que lidam com a reciclagem de lixo, por exemplo, ou seja, iniciativas
necessárias, mas que mantém a dinâmica do sistema vigente. Essa corrente
trabalha com uma perspectiva mais pragmática e de fácil visibilidade na sociedade,
porém ela não mudaria o sistema vigente. Já a outra corrente, dos transformistas ou
utópicos, busca o estabelecimento de sociedades sustentáveis, pois suas iniciativas
estão voltadas para questões de ética e justiça social. Mudanças que levariam muito
tempo para transformar os hábitos da sociedade (BORN, 2008).
Born (2008) também identifica distintas correntes entre os ambientalistas, tais
como dos sustentabilistas, conservacionistas, preservacionistas, ecocapitalistas,
ecossocialistas etc. O autor também defende alguns papéis/funções que as
organizações ambientalistas no Brasil vêm desempenhando ao longo do tempo.
Partindo de uma perspectiva funcional, Born (2008) destaca oito funções exercidas
pelos ambientalistas no Brasil: revelação (denúncias e divulgação de informações
sobre problemas de degradação ambiental); educação e formação (conscientização
da opinião pública e da mídia em torno dos problemas); advocacia (defesa dos
direitos e políticas públicas para o meio ambiente e sustentabilidade, que surgiram
em decorrência das duas primeiras funções); pesquisa e conhecimento (os grupos
ambientalistas começaram a desempenhar essa função com objetivo de disseminar
conhecimento sobre a situação); monitoramento e fiscalização (acompanhamento
das ações e resultados); implementação de projetos (colocar em prática com
objetivo de solucionar os problemas apontados até então); assessoria, disseminação
e multiplicação de idéias e práticas (ONGs passam a atuar em parceria com outras
instituições compartilhando acúmulo de experiências na área), formação de
“quadros” (perfil de quem trabalha em ONGs).
30
A primeira função, de revelação, é uma das marcas fundadoras de muitos
movimentos, nas décadas de 70 e 80, pois muitos surgiram com o intuito de
denunciar a contaminação dos solos, da água e outros problemas da época (BORN,
2008). Exemplos como o Greenpeace e a Agapan (Associação Gaúcha de Proteção
ao Ambiente Natural).
Born (2008) também trabalha com uma perspectiva evolutiva dos movimentos
ambientalistas. Por meio de cinco eixos de análise, Born explica a evolução dos
movimentos: motivação; mobilização; formas de atuação e estrutura; consolidação
institucional; diversificação e tensão dos focos de ação. Houve mudanças quanto à
motivação das lutas. Se nos anos 70 prevalecia a idéia de preservação e
conservação, a partir de 1990 foram incorporadas as dimensões sociais nas lutas
(iniciativas de renda a partir de ambientes sustentáveis). O segundo eixo –
mobilização – apresenta a evolução das formas de luta, ou seja, nos anos 70
existiam as lutas contra poluição numa determinada cidade (localismo de
resistência), mas, a partir de 1990, a mobilização abrange políticas públicas que
atingem espaços maiores. Sobre as formas de atuação também aconteceram
mudanças, pois no início as ONGs eram baseadas em voluntariado, sendo que
agora há equipes de trabalho que são remuneradas. No eixo da consolidação
institucional, as entidades passaram a concentrar esforços para captação de
recursos públicos e privados para financiar suas atividades. O último eixo –
diversificação e tensão dos focos de ação – revela a mudança nas ações dos
movimentos que, da esfera local, passaram para a global.
No que abrange os desafios a serem enfrentados pelos movimentos
ambientalistas, Born (2008) fala que tais organizações precisam se aprofundar e
integrar perspectivas sociais em suas ações, pois “um possível risco para o
movimento ambientalista brasileiro num futuro próximo pode estar na busca de
parcerias com empresas privadas e certos financiadores, podendo haver por parte
de algumas ONGs a suavização ou abrandamento de posturas críticas” (BORN,
2008, p. 120).
Segundo o autor, o surgimento das redes e coalizões de organizações,
contribui para melhor eficiência e efetividade das organizações, pois conseguirá
perceber resultados em curto, médio e longo prazo, nas esferas, local, nacional e
global. Segundo Trigueiro (2005), uma das grandes contribuições do movimento
ambientalista é lembrar que as gerações futuras têm o mesmo direito do que essa
31
geração de dispor dos recursos vindos da natureza. É necessário, primeiramente
entender que deixaremos algo para as próximas gerações. Cada ato do ser humano
influencia significativamente naquilo que restará na sociedade.
1.6 CONFERÊNCIAS DA ONU: PRINCIPAIS DISCUSSÕES SOBRE MEIO
AMBIENTE DE ESTOCOLMO A JOHANESBURGO
O jornalismo ambiental, como uma realidade que nos cerca de um ângulo
mais abrangente, privilegiando a qualidade de vida, no planeta surgiu na
Conferência Mundial da ONU sobre meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92
(TRIGUEIRO, 2005). Segundo Camargo, Capobianco e Oliveira (2004), a
Conferência de 1992 foi um marco histórico nas discussões em todo o planeta,
inclusive no Brasil. De alguma forma, isso demonstra a influência que os eventos
possuem sobre a forma de trabalhar os assuntos, principalmente por serem marcos
nas discussões sobre o tema. De todos os eventos que discutem meio ambiente, a
Conferência de Estocolmo, que aconteceu em 1972; a Rio-92; e a Conferência de
Johanesburgo (Rio+10, em 2002), foram os principais eventos mundiais que
pautaram o tema.
Mas, apesar destes três serem discutidos com mais ênfase no trabalho,
devido à pesquisa partir de um período que perpassa dois deles (Rio-92 e Rio+10),
outros eventos também contribuíram para a discussão, tais como a Conferência das
Partes, realizada de 1995 a 2002, todos os anos; a Convenção de Viena, em 1985;
as Convenções de Montreal e do Clima; o Protocolo de Quioto; a Rio+5 (1997); entre
outros. Todos eles que tinham como objetivo discutir as alterações do meio
ambiente, as mudanças climáticas, o desenvolvimento sustentável etc. Os
documentos resultantes destes encontros foram aprovados e incorporaram-se às
Nações Unidas e influenciaram a opinião pública mundial (CAMARGO, CAPOBIANO
E OLIVEIRA, 2004).
O primeiro evento realizado pela ONU, sobre Meio Ambiente, foi a
Conferência de Estocolmo, que ocorreu no ano de 1972, em Estocolmo, na Suécia.
O evento contou com representantes de 113 países. Segundo Mousinho (2008),
esse foi o marco nas discussões voltadas ao tema e foi decisivo para o surgimento
de políticas de gerenciamento ambiental. A atenção foi para a poluição que é
transfronteiriça, ou seja, independe dos limites entre os países e atinge muito além
32
do seu ponto de origem. Foi nesse encontro que se designou o dia 5 de junho como
Dia Mundial do Meio Ambiente, data em que todos os países devem repensar suas
políticas de atuação, preservação e conscientização da população. Também
resultou do encontro a Declaração sobre o Ambiente Humano e o Plano de Ação
Mundial. As principais discussões do evento foram baseadas na capacidade do
homem de transformar o mundo, podendo causar danos incalculáveis, se mal
utilizada. É o caso da poluição da água, do ar, da terra, do desequilíbrio ecológico e
da exaustão de recursos insubstituíveis citados na Declaração sobre Ambiente
Humano. Além disso, o documento já apresenta algumas outras preocupações como
o crescimento desordenado da população, a implantação de políticas ambientais de
governo, a preservação dos recursos naturais, fauna e flora, a produção baseada
em recursos renováveis, as deficiências que poderão causar desastres naturais, uso
da ciência e tecnologia para combater os riscos ao meio ambiente, a importância da
educação ambiental e a eliminação de armas nucleares.
Depois de 20 anos, aconteceu uma nova Conferência, agora no Rio de
Janeiro, em 2002. Nessa edição do evento, o fato que chamou atenção e foi o centro
das discussões foi a compreensão de que os problemas ambientais do planeta estão
intimamente ligados às condições econômicas e à justiça social (MOUSINHO, 2008).
Assim sendo, reconheceu-se que seria necessário o equilíbrio entre as questões
ambientais, sociais e econômicas e foi apresentado o termo desenvolvimento
sustentável.
Este foi considerado o maior de todos os eventos de discussão ambiental em
todo o mundo e ficou conhecido como Rio-92 ou Eco-92. De acordo com Trigueiro
(2008), nunca houve no mundo um espaço que reunisse tantas pessoas para
discutir meio ambiente. Estiveram presentes 104 reis, rainhas e chefes de estado,
acompanhados por 10 mil delegados de 180 países. Além disso, foi um evento
acompanhado pela mídia. Mais de nove mil jornalistas foram credenciados para
fazer a cobertura. Na Conferência, foram adotados três grandes acordos: Agenda
21, Declaração do Rio e Declaração dos Princípios das Florestas.
Na tentativa de avaliar os resultados obtidos ate o momento, em 1997,
realizou-se em Nova York a Rio+5, que reuniu 53 chefes de estado com objetivo de
avaliar os progressos após a Conferência do Rio. A Rio+5 também teve como
objetivo a revitalização e o estímulo aos compromissos com o desenvolvimento
33
sustentável, o reconhecimento das falhas e a identificação das razões dos fracassos
e a definição de prioridades para os anos seguintes.
Após 10 anos da Rio-92, aconteceu em Johanesburgo, na África do Sul, a
terceira grande conferência realizada pela Organização das Nações Unidas. Desta
vez, o objetivo era o reforço dos compromissos políticos com o desenvolvimento
sustentável, já que estavam reunidos 104 chefes de Estados, ONGs, setor
empresarial e outros segmentos da sociedade. Dessa Conferência, chamada
também de Rio+10 ou Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável resultou
a Declaração de Johanesburgo para o Desenvolvimento Sustentável e o Plano de
Implementação.
Apesar dos três eventos, entre 1992 e 2002 houve paralisias e retrocessos,
no sentido de que pouco se desenvolveu a ideia de desenvolvimento sustentável,
devido a problemas econômicos, restrições orçamentárias e resistência de empresas
(CAMARGO, CAPOBIANO E OLIVEIRA, 2004). Para os autores, a Convenção sobre
Mudanças Climáticas demorou para ser encaminhada devido aos mesmos
problemas que também fizeram com que as discussões da Rio-92 não evoluíssem.
Outros eventos que pode ter evidenciado as discussões em meio ambiente no
país é a 3ª. Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança
(MOP3) e a 8ª. Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica
(COP8). Os eventos aconteceram juntos, na cidade de Curitiba, em março de 2006.
A MOP3 discutiu o documento que visa garantir segurança na transferência,
manipulação e uso de organismos geneticamente modificados. A COP8 debateu
questões relacionadas à conservação da biodiversidade.
As reuniões da Conferência das Partes (COP) acontecem a cada dois anos
num sistema de rodízio entre os continentes. O evento conta com a participação de
delegações oficiais de 188 membros da Convenção sobre Diversidade Biológica,
além de representantes também de organizações acadêmicas, organizações não-
governamentais, organizações empresariais e lideranças indígenas. Já a reunião
das Partes (MOP) reúne os países membros do Protocolo de Cartagena sobre
Biossegurança por meio de seus representantes que discutem e analisam
documentos referentes ao Protocolo.
34
1.7 AVANÇOS E RETROCESSOS PÓS RIO-92
Grande parte das discussões da Rio-92 não saíram do papel, devido a
problemas que perpassavam o Brasil naquela mesma época e tomaram o espaço na
mídia e nas discussões da população (CAMARGO, CAPOBIANCO E OLIVEIRA,
2004). Apesar de alguns avanços, houve muitos retrocessos, segundo os autores.
Várias políticas públicas que deveriam ter saído do papel, passaram esquecidas.
Um caso é a preservação da biodiversidade, já que o Brasil possui uma das
maiores taxas do planeta, distribuída em vários biomas. Os autores relatam que a
perda da biodiversidade se dá pela fragmentação, contaminação e poluição do meio
ambiente. Após a Rio-92, começaram a surgir áreas sob proteção graças à adesão
dos governos, até alcançar um aumento de 55% da área total destinada à
preservação ambiental. Porém, um dos problemas é a falta de dados sobre os
biomas e suas situações. Segundo Capobianco (2004), apenas a Amazônia e a
Mata Atlântica possuem grande quantidade de dados e são alvos de estudos
permanentes.
Neste início do século XXI, um dos grandes problemas é a invasão do
Cerrado pelas áreas de plantio de grãos, que aumentou a partir da última década do
século XX. Segundo Capobianco (2004), apesar de surgirem mais discussões sobre
meio ambiente após 1992, a expansão da soja aumentou de 4,5 mil toneladas para
45 mil toneladas de 1997 a 2007 em Rondônia. Segundo o autor, os números da
destruição demonstram falta de políticas públicas e fiscalização pelos órgãos
públicos. Na Mata Atlântica, por exemplo, regiões são devastadas a poucos
quilômetros de São Paulo.
Outro bioma brasileiro que sofre ameaças é o Pantanal que, a partir das
últimas três décadas do século, foi altamente povoado e utilizado como área
cultivável. Além disso, a ameaça mais grave é a possível construção da Hidrovia
Paraná-Paraguai que, segundo Capobianco (2004), promoverá alterações no ciclo
da água, interferindo no habitat de aves, peixes mamíferos e répteis.
Além disso, os focos de queimadas e incêndios florestais também atingem os
biomas e preocupam os ambientalistas, ou seja, pouco foi o papel da Conferência
como forma de conscientização para os produtores rurais. Se não bastasse a
invasão das áreas de florestas e as queimadas, a insustentabilidade do solo
35
apareceu com o tempo, resultado do aumento do uso de defensivos agrícolas,
também neste período pós 1992 e atingindo grandes áreas no estado de São Paulo.
Assim como continuaram e até mesmo aumentaram os problemas na área
rural, as cidades não ficaram para trás: foram crescendo de forma desordenada e a
falta de saneamento básico elevou-se. A população urbana aumentou em mais de
40% em meio século, exigindo políticas públicas na área de infra-estrutura e
saneamento, porém as falhas deram espaço para a instalação de milhares de
famílias em locais onde não havia estrutura. O esgoto, por exemplo, deveria ser
recolhido e passar por tratamento, porém apenas 33,5% dos domínios possuem
estrutura para esse processo (CAMARGO, CAPOBIANCO E OLIVEIRA, 2004). Na
última década, contrariando a realidade, o investimento na área caiu de 0,33% do
PIB para 0,24%, impossibilitando a implantação de rede de saneamento básico no
país.
Segundo Capobianco (2004), é possível observar que, após 1992, houve um
avanço no campo legal. Foram aprovadas quatro leis de grande relevância para a
gestão dos recursos naturais. Porém, um dos problemas é a debilidade da
fiscalização para manter as áreas de conservação e coibir a retirada de madeira e as
queimadas.
A questão das mudanças climáticas está fortemente ligada ao
desenvolvimento sustentável, proposto em 1992, ou seja, se diminuir a taxa de
emissão de gases, automaticamente colabora-se para o equilíbrio do clima e a
diminuição das temperaturas que aumentaram nos últimos anos, devido ao efeito
estufa. Os cientistas concordam com o aumento da temperatura e, segundo Santilli,
Carvalho e Nepstad (2004), em 2001, mais de mil climatologistas e cientistas
concordaram que o aquecimento Global já começou. Apesar das emissões
brasileiras representarem apenas 3% das emissões globais e ser relativamente
pequenas com relação à de outros países, grande parte da emissão provém do
desmatamento e queimadas.
A agricultura sustentável, agroecologia e produção orgânica passaram a
incorporar as discussões sobre a produção rural na medida em que a agricultura
atual passou a ser vista como inviável pelos ambientalistas. O modelo de
monocultura baseado na inesgotabilidade de recursos naturais, destrutivo quanto ao
uso das novas tecnologias e dando pouca atenção a biodiversidade, sofreu
transformações quanto a sua visibilidade com a chegada dos novos métodos,
36
considerados mais adequados. O modelo proposto pela “revolução verde” vem
sendo cada vez mais criticado, pois não respeita os aspectos sociais e ambientais
(CAMARGO, CAPOBIANCO E OLIVEIRA, 2004, p. 2.007).
Para Shiki (2004), o caráter não sustentável desse formato trabalhado na
zona rural a partir da década de 60, vem sendo observado desde a década de 80,
quando foram percebidos os primeiros impactos causados na natureza, na
biodiversidade e nos recursos hídricos. A autora coloca algumas metas para um
novo modelo que possa substituir este formato: redução de uso de insumos, utilizar
microbacias e gestão agro ecológica para agricultura familiar. Além disso, deve
prever ainda a reforma agrária e incentivar estudos sobre o sistema de
comercialização dos produtos, observando a presença do uso de selos de qualidade
social e ambiental. Weid (2004) define a agroecologia como uma ciência nova que
busca combinar agronomia e ecologia num sistema agrícola sem uso de
transgênico, produtos químicos e mecanização pesada.
Outro assunto que ganhou destaque após a Rio 92 foi a crise da água, devido
à “redução da quantidade, aumento da demanda e deteriorização por causa da
poluição” (TUCCI, 2004, p. 276). O autor explica que, quando as cidades eram
menores, esses problemas não estavam presentes, pois a utilização era em menor
quantidade e automaticamente a poluição era menor por que havia menos pessoas
poluindo com resíduos domésticos, de agrotóxicos etc. A água também passou a ser
usada em grande quantidade na agricultura para irrigação, o que influência na crise
da escassez da água.
Em muitos casos, para facilitar a utilização da água e evitar sua falta, cidades
e áreas agrícolas são planejadas em locais que possuem grandes quantidades de
água como é o caso de áreas próximas ao Rio são Francisco, no Nordeste. Neste
caso a produção aumenta, pois em outras regiões a falta de chuva prejudica as
lavouras. Porém, em outros casos, como a construção de cidades em locais
inadequados, acaba resultando em enchentes como nas grandes cidades cortadas
por rios, como é o caso de São Paulo. Nos veículos de comunicação, as enchentes
são pauta em diversas edições, pois são freqüentes e tingem grande quantidade de
pessoas.
Para Tucci (2004, p. 282) “as enchentes urbanas têm sido uma das grandes
calamidades a que a população brasileira está sujeita, como resultado da ocupação
inadequada do leito dos rios”. O autor acrescenta que as enchentes são impactos
37
gerados pelo desenvolvimento urbano, porém os municípios não foram planejados e
hoje não há capacidade de administrar os problemas. Como forma de resolver parte
das deficiências que atingem o setor hídrico que abastece as cidades, Camargo,
Capobianco, Oliveira (2004) propõem um melhor papel fiscalizador dos órgãos
ambientais e organização da sociedade para uso racional dos recursos e
sustentabilidade das bacias hidrográficas.
O aumento das cidades, o crescimento industrial e o elevado tráfego de
veículos nas grandes cidades resultaram na maior produção de energia para sanar
as necessidades da população. Isso necessitou o aumento da produção e utilização
de combustíveis, gerando maior emissão de gases tóxicos na atmosfera e
resultando em poluição ambiental (GOLDEMBERG, 2004) em nível local, regional e
global. Mas, para tentar conter ou minimizar esses problemas, Trierveiller, Costa e
Mecca (2004) colocam em pauta a necessidade de construir um novo modelo
energético baseado em algumas alternativas como a geração de energia a partir da
biomassa, do vento, das hidrelétricas e da potencialização das usinas existentes.
Com relação à mudança de pensamento quanto às iniciativas das empresas
na tentativa de reduzir a poluição ao ambiente, elas foram evoluindo até se
conscientizarem de que são grandes poluidoras e emitem parte considerável dos
gases que contribuem para o efeito estufa. Com a evolução das empresas, a última
década do século XX já mostrava empresas mais responsáveis e com iniciativas
promissoras (KISHINAME, GRAJEW, ITACARAMBI E WEINGRILL, 2004). Porém,
nessa mesma época, estudiosos e ambientalistas reconhecem que “há muito
marketing, em uma proporção muito maior que ações e investimentos efetivos”. Na
mídia, por exemplo, são facilmente encontradas notícias que fazem “ecomarketing”
de empresas que propõe projetos ou iniciativas que demonstre sua preocupação
com o meio ambiente.
A partir de todas essas discussões sobre os elementos que fazem parte do
meio ambiente e que, de alguma forma, são prejudicados pela ação do homem, é
possível se utilizar de alguns termos colocados por Camargo, Capobianco e Oliveira
(2004) e dizer que essa realidade demonstra a falta de políticas públicas e
consciência da sociedade civil e das empresas, apesar de ter aumentado o
conhecimento das pessoas quanto ao assunto, a partir de 1992.
A seguir, o trabalho tratará especificamente do desenvolvimento sustentável,
que ampara todas as discussões feitas até então, com objetivo de conceituar,
38
contextualizar e entender os discursos que o desenvolvimento sustentável engloba,
desde a preservação da biodiversidade até as políticas voltadas para a diminuição
do consumo.
1.8 DESENVOLVIMENTO E CONSUMO SUSTENTÁVEL: TENTATIVAS DE
MUDAR O MUNDO
O que grande parte da população encara como meio ambiente é apenas a
fauna e a flora (TRIGUEIRO, 2008). Muitos também não veem relação entre o
homem e a natureza, como duas coisas próximas. E, muito menos, veem alguma
relação entre a poluição dos rios, a produção de lixo e o abastecimento de água das
cidades. Segundo Trigueiro (2008), meio ambiente ainda é uma expressão que não
possui uma definição clara, porém é possível perceber a sua amplitude a partir do
aumento de discussões sobre as questões ambientais.
É a partir desse contexto que esse tópico visa explicar e contextualizar o
surgimento e apropriação da expressão desenvolvimento sustentável e qual sua
importância no contexto das preocupações ambientais do final do século XX, mais
precisamente a partir da década de 70, onde se passou a incorporar as
preocupações sociais e ambientais às demandas econômicas (ABREU, 2006).
O desenvolvimento sustentável tem como objetivo apresentar à sociedade
projetos que, com a participação de todos, podem melhorar a situação vivida pelo
meio ambiente. Trigueiro (2005) ressalta a importância e urgência em debater o
assunto em meio a crise que vivemos, principalmente no meio urbano. Segundo o
autor, não é de hoje que o mundo vem dando sinais de que não suporta mais o
modo de vida da população baseado apenas no consumo exagerado, mas as
pessoas ainda têm dificuldade de relacionar os problemas ambientais com os
hábitos cotidianos. Segundo o autor, nossa sociedade é chamada de sociedade do
consumo por que a atividade se tornou cotidiana e foi além de satisfazer as
necessidades do ser humano.
A crise ambiental, que se estendeu pelo mundo no final do século XX, é fruto
do aumento da população, mas também é um reflexo da modelo de civilização
urbano-industrial que está em crise por se pautar no crescimento da produção e
consumo, com a utilização dos recursos da natureza, entendendo-os como
inesgotáveis (TAUTZ, 2004). Nesse contexto surgiu a idéia de promover o
39
desenvolvimento que se sustentasse sem prejudicar a natureza como acontecia até
então.
Para Abreu (2006), a origem do desenvolvimento sustentável está na
Conferência de Estocolmo, quando surgiu o termo ecodesenvolvimento, com o
intuito de expressar a necessidade de pensar estratégias ambientalmente
adequadas para promover o desenvolvimento sócio econômico. A partir de 1980, o
termo sofre algumas mudanças e passa a ser chamado de sustentabilidade por
Lester Brown, fundador do Worldwatch Institute (CAPRA, 2008). O termo foi
conceituado como “o desenvolvimento que atende às necessidades do presente
sem comprometer a capacidade de as gerações também satisfazerem as suas”. O
mesmo conceito foi usado no Relatório de Brundtland, para definir o
desenvolvimento sustentável.
Esse conceito se popularizou, de fato, a partir da Eco-92, quando o Brasil
reuniu grande parte das discussões sobre meio ambiente. Essa noção de
sustentabilidade segundo Campos (2006), é resultado da atuação dos movimentos
ambientalistas. Mas, de acordo com Abreu (2006), na década de 90 surgiram
polêmicas em torno da definição dada ao termo, alegando que era vaga e poderia
ter diversas interpretações. A partir do momento em que se percebeu que, durante o
século, foram acontecendo diversos pontos de degradação ambiental ao longo do
território brasileiro, o discurso de desenvolvimento sustentável caiu por terra, ou
seja, não adiantava ter um discurso para promover a conscientização, sendo que em
cada espaço havia diferentes tipos de relações entre a sociedade e a natureza. Isso
deixou claro que o problema é mundial, mas que cada espaço precisa de soluções e
estratégias próprias.
O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
entende o termo desenvolvimento sustentável como um conceito que visa conciliar
as necessidades econômicas, sociais e ambientais. Nesse sentido, o termo continua
fortalecendo o modelo empresarial. Ao contrário desta visão, o Fórum Brasileiro de
Organizações Não-Governamentais e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente
propõe dar um caráter mais distante do mercado e da economia que privilegie a
qualidade de vida e a justiça ambiental. Segundo Scharf (2004), o desenvolvimento
sustentável pode ser comparado a um tripé formado por interesses sociais,
ambientais e econômicos.
40
No Brasil, a conscientização e a busca pelo desenvolvimento sustentável
começaram aparecer de forma tímida, no final dos anos 80 (CRESPO, 2008),
quando apareceram as primeiras pesquisas sobre a poluição em alguns pontos de
São Paulo. Com a Eco-92, realizada no Brasil, abriu-se maior espaço para essas
discussões, na medida em que o evento ia se aproximando. Segundo a autora, foi a
partir desse período que se pode discutir o tema meio ambiente com a devida
atenção que o assunto merece.
A partir das pesquisas que foram sendo realizadas, principalmente a partir da
Conferência, em 1992, foi possível definir o perfil da população brasileira quanto ao
nível de informação sobre meio ambiente, levando em consideração a relação com a
escolaridade, idade e local. O perfil do ambientalista ou simpatizante do movimento,
segundo Crespo (2008) é homem ou mulher entre 22 e 25 anos, com alta
escolaridade, morador de centros urbanos e que tem a televisão como principal fonte
de informação. Os menos informados sobre o assunto, a autora descreve como
sendo as mulheres de baixa escolaridade, com mais de 50 anos e que mora no
interior ou nas áreas periféricas da cidade.
O consumo sustentável, conceito presente nas discussões sobre meio
ambiente, recebe influência dos meios de comunicação por meio da publicidade
(TRIGUEIRO, 2005). Ela é responsável por influenciar no consumo e na formação
de estilos de vida da população e está presente em diversos locais, desde um
outdoor até nas propagandas de jornais. Segundo Trigueiro (2005), a publicidade é a
ponte entre a produção e o consumo.
Além disso, o consumo insustentável também é um dos grandes causadores
dos problemas ambientais. Essa “doença” surgiu, segundo Trigueiro (2005), com o
avanço tecnológico a partir da Revolução Industrial, porém nem bem se entrou no
século XXI e isso já está custando caro para o planeta. O consumo é fundamental
na vida, mas o problema está na falta de limites e no desperdício.
Segundo Campos (2006), os números da ONU atentam para o crescimento
desenfreado do consumo pela população. Os dados revelam que, em 2050, o
mundo deverá ter nove bilhões de habitantes e que se nada for feito para reduzir o
consumo, o impacto sobre as águas, a qualidade do ar, o clima será muito grave.
Campos (2006) afirma que os países ricos são os principais causadores dos
problemas ambientais, pois são os maiores consumidores de alimentos,
combustíveis, materiais eletrônicos etc.
41
Nesse processo de evolução do mundo sem pensar nas conseqüências, a
mídia tem o papel de alertar e informar sobre os problemas causados pela
sociedade no meio ambiente. Segundo Campos (2006), é necessário educar para o
consumo sustentável na tentativa de implantar o consumo justo e a consciência
ambiental na população.
A partir dos anos 90, um debate entre economistas e ambientalistas definiu
que o desenvolvimento sustentável seria encontrado a partir da resposta para a
seguinte pergunta: “Como atingir a sustentabilidade? Como crescer sem destruir a
natureza?”. A resposta, desse modo, deve responder inúmeras questões
relacionadas a essas primeiras, sempre pensando que o objetivo é sustentar a vida
e não o lucro (CAMPOS, 2006, P.96). Hoje, alguns movimentos ambientalistas não
gostam da expressão “desenvolvimento sustentável”, pois consideram o termo
desenvolvimento incompatível com o ideal de preservação.
Apesar de ainda ser apenas um ideário, Campos (2006) descreve seis metas
que envolvem o Desenvolvimento Sustentável. 1) Satisfação das necessidades
básicas da população como alimentação, saúde e educação; 2) Solidariedade com
as gerações futuras; 3) Participação da População na Agenda 21, definida na Rio-
92; 4) Preservação dos recursos vitais com água e oxigênio; 5) Sistema social justo
e 6) Efetivação de Programas educativos.
Leff, citado por Campos (2006, p.99), propõe o conceito de ecotecnologia,
que seria a geração de “novos potenciais produtivos que congregasse ordenamento
ecológico, redistribuição territorial e reorganização das atividades produtivas”. Esse
processo tem como objetivo descentralizar as riquezas e preservar o meio ambiente,
na tentativa de crescer sem destruir o mundo.
Villar (2004) enfatiza o papel educacional dos meios de comunicação, o que
neste caso, é um espaço para a difusão do consumo sustentável para a população.
Isso pode acontecer, pois segundo ele, o jornalismo é uma ferramenta de educação
ambiental. “A imprensa pode fazer campanhas publicitárias, cobrar soluções do
governo, abrir espaço para novas idéias e melhorar a qualidade de vida nas cidades”
(VILLAR, 2004, p. 35).
Entender o meio ambiente como assunto que só interessa aos jovens
românticos e idealistas, como cita Sharf (2004), é um erro histórico que se reflete
não só nos problemas, mas na própria apuração que a imprensa faz sobre os
assuntos: geralmente algo superficial, espetacular que tem como objetivo apenas
42
atrair o leitor. Isso também pode ser reflexo da falta de compreensão do tema pela
mídia, pois em muitos casos a ecologia urbana, por exemplo, é confundida com a
simples conservação de áreas verdes, sendo que esse conceito envolve a
sustentabilidade econômica, social e energética das relações humanas (SIRKIS,
2008).
Segundo Derengoski (2001), a defesa da ecologia e do meio ambiente está
centrada em três pontos importantes. Primeiro é necessário entender que a luta pelo
meio ambiente não está separada do sistema sócio-político-econômico. Segundo
ele, deve ser evitada a tentativa do sistema de absorver e dirigir o movimento
ecológico. E, por ultimo, é necessário entender as relações entre homem e natureza.
Hoje, na tentativa de ensinar os seres humanos desde a infância que é necessário
consumir com cautela e preservar o meio ambiente por ele fazer parte da vida
humana, as entidades ambientalistas estão investindo na educação ambiental nas
escolas.
Assim, Trigueiro (2005) nos afirma que Se a criança, desde o seu processo de formação, adquirir os conceitos e a prática do consumo consciente, isso será um valor para ela. A criança não precisará mais ser reforçada pela sociedade para que continue a ter um comportamento consciente em relação ao consumo, que respeite os impactos sobre a sociedade e o meio ambiente. (TRIGUEIRO, 2005, p. 29)
Capra (2008) apresenta a alfabetização ecológica como forma de educar os
jovens e crianças para a sustentabilidade. Segundo o autor, o entendimento de que
a sustentabilidade implica na preservação do hoje para conservar para as gerações
futuras se tornou conhecido com a alfabetização ecológica. O saber ecológico,
segundo ele, será o papel mais importante da educação no século XXI, desde o
ensino fundamental às universidades. “Nas próximas décadas, a sobrevivência
humana dependerá da nossa alfabetização ecológica, da nossa capacidade de
compreender os princípios básicos da ecologia e viver de acordo com eles” (CAPRA,
2008, p. 20).
Além da educação nas escolas, práticas familiares contribuem para a
preservação do meio ambiente. São coisas simples, mas que de alguma forma
contribuem para o consumo sustentável e conseqüentemente para a preservação da
natureza. O planejamento das compras, por exemplo, é um exemplo de consumo
consciente, pois atualmente o Brasil perde mais de 12 bilhões de reais em alimentos
que são desperdiçados.
43
Com relação ao lixo produzido nas cidades, é necessário estimular a coleta
seletiva, o que geraria ainda emprego e renda para a população e reduziria a
quantidade de lixo depositado nos aterros sanitários (TRIGUEIRO, 2005). O
gerenciamento dos resíduos sólidos, quando projetado dentro das expectativas do
consumo sustentável parte do princípio dos três Rs: reduzir, reutilizar e reciclar. Esse
conceito também ganhou visibilidade a partir da Eco-92 e está presente na Agenda
21. Antes de tudo, é necessário reduzir o consumo de produtos, pois atualmente
consumimos 20% a mais do que o meio ambiente pode repor para a sociedade
(BOFF, 2008). Além disso, a reutilização das embalagens colabora para o
aparecimento de menos lixo nos aterros sanitários. E, por fim, a reciclagem que é o
retorno do produto ao ciclo de produção, sem necessitar a utilização de material da
natureza.
Na área de combustíveis, o Brasil salta na frente mais uma vez com a
produção do biodiesel. Essa é uma das soluções para a diminuição da poluição do
ar, principalmente nas cidades, além de deixar de utilizar o petróleo que é uma fonte
não renovável da natureza. Há mais de 30 anos, o Brasil já deu seus primeiros
passos na produção do álcool com o Proálcool e, em 2005, marca um novo período
com o início da produção do biodiesel que tem como fonte de matéria-prima os óleos
de mamona, babaçu e palma (TRIGUEIRO, 2005).
Apesar do Brasil já estar num processo avançado de produção associada à
preservação do meio ambiente, Viola (2008) atenta para a dificuldade de atenuar as
mudanças climáticas devido aos países priorizarem o desenvolvimento nacional e
não a responsabilidade de unir-se com os demais na tentativa de reduzir os
problemas por meio da atuação de todos. Isso acaba prejudicando os mais pobres
que sofrerão com as mudanças climáticas (VIOLA, 2008).
Após a Rio-92, os problemas que assolaram o Brasil (Collor e Plano Real)
fizeram com que a temática meio ambiente e as políticas públicas relacionadas ao
assunto não fossem pautadas pelos jornais (CAMARGO, CAPOBIANO E OLIVEIRA,
2004). Dessa forma, o desenvolvimento sustentável acabou perdendo espaço para
outros acontecimentos da época, impedindo de conscientizar e implantar os ideais
do consumo sustentável.
O consumo sustentável ainda é ignorado por grande parte da população,
alguns por não entenderem a dinâmica da natureza, e outros por não perceberem os
resultados. Porém, segundo Trigueiro (2005), o processo é lento e as conseqüências
44
aparecerão para as próximas gerações. É necessário mudar a política econômica,
cultural e social e o cotidiano da população. Besserman (2008, p.97) defende que a
“preocupação com o meio ambiente não deve ser conseqüência de uma postura
paternalista em relação à natureza, mas, ao contrário, um reconhecimento da nossa
impotência e dependência dela”. Segundo o autor, o princípio da consciência
ecológica, na tentativa de reverter a situação em que o planeta se encontra, é o
humanismo, pois precisamos dela e ela faz parte da nossa história.
A partir desse breve histórico sobre como os problemas ambientais tomaram
conta do mundo, principalmente durante o século XX, percebe-se que a evolução do
tema na mídia e nas discussões e preocupações da sociedade está intimamente
ligado com o próprio desenvolvimento das questões ambientais no mundo e
relacionado também com o surgimento de acontecimentos que pautaram o assunto,
como foi o caso das Conferências da ONU, que ganharam espaço na mídia e foram
responsáveis em desencadear discussões como do desenvolvimento sustentável,
poluição e mudanças climáticas. E, na medida em que os problemas foram
aflorando, como é o caso do desmatamento, efeito estufa e aquecimento global, a
mídia foi se aproximando do tema e dando a ele um espaço determinado dentro do
jornalismo, especialmente a partir do jornalismo especializado em meio ambiente,
chamado de jornalismo ambiental.
No próximo capítulo do trabalho, é discutido como o assunto é abordado
pelos meios de comunicação, relacionando com as discussões teóricas da área que
ajudam a explicar as diferentes formas de tratamento dado ao tema. Meio ambiente
é um assunto que envolve diversas discussões políticas e econômicas, que tornam o
assunto complexo, quando reconhecemos as influências internas e externas na
produção jornalística.
45
2. JORNALISMO E A CONSTRUÇÃO DE NOTÍCIAS SOBRE MEIO AMBIENTE
Neste capítulo são apresentadas as discussões que envolvem a
comunicação, ou seja, de que forma a construção das notícias e as influências que
perpassam o processo de produção jornalística são responsáveis pelo produto final
tal como ele é. Dessa forma, evidenciamos os estudos de Berger e Luckman (1985)
sobre a construção social da realidade, envolvendo os meios de comunicação nesse
processo e as contribuições das teorias do jornalismo, aprofundando nas teorias
construcionistas, que vêem a notícia como um processo em que estão envolvidos
fatores técnicos, sociais, culturais e históricos.
Além desse aspecto, o capítulo aborda também o jornalismo especializado
como um meio de atender uma demanda específica da sociedade e o jornalismo
científico como forma de levar conhecimento à população. Para finalizar,
destacamos o desenvolvimento do jornalismo ambiental, os aspectos históricos mais
relevantes, as características ressaltadas pelos autores que discutem o assunto, o
desenvolvimento a partir das conferências e dos acontecimentos marcantes, além
das formas de produção atuais e os problemas observados.
2.1 JORNALISMO COMO CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE
Não é de hoje que se discute o poder que permeia os meios de comunicação,
principalmente no que tange ao fato da mídia ser a principal fonte de ligação entre
as pessoas e os acontecimentos. Ainda mais quando a distância entre o fato e o
público impossibilita o contato mais próximo, dando à mídia o poder de ser o
transmissor de toda e qualquer informação. É nesse contexto que Traquina (2005b)
passa a discutir o papel da mídia como construtor de realidades, por envolver uma
série de fatores culturais, sociais, históricos e políticos, que impossibilita entender a
mídia como mera transmissora dos acontecimentos tais como eles são.
Nas sociedades contemporâneas, a realidade social é instituída por discursos
e interesses que ganham visibilidade. E é nesse cenário, que se destacam também
os meios de comunicação. A notícia compreendida como construção social da
realidade surge basicamente entre o final dos anos 60 e início da década de 70
(GADINI, 2007).
46
Como defendem os autores em suas teorias (Traquina (2005) e Jorge Pedro
Sousa (2002)), o jornalismo não é mera retratação da realidade. Segundo eles, no
processo diário de produção das notícias, há fatores que influenciam, os quais se
situam entre o acontecimento e o texto escrito pelo jornalista. A notícia é o resultado
da interação simultaneamente histórica e presente de força pessoal, social
(organizacional e extra-organizacional), ideológica, cultural, do meio físico e dos
dispositivos tecnológicos (SOUSA, 2002).
Ainda em 1985, Berger e Luckmann (1985, p.16) já discutiam a construção
social da realidade, defendendo a interferência do contexto social específico de cada
um, no contar dos fatos. Um exemplo, dado pelos autores, é de que “o conhecimento
do criminoso é diferente do conhecimento do criminalista”, enfatizando a influência
do contexto social em que cada um está inserido. Por isso que notícia é construída
pela diversidade de “conhecimentos” (devido ao enfoque diferente dado por cada
veículo ao acontecimento) produzidos pelo jornalismo.
Quando os meios de comunicações são a única forma de o sujeito tomar
conhecimento sobre alguma coisa, ou seja, a única versão possível é a que é dada
pelos media, podemos associar essa discussão àquela feita por Berger e Luckmann,
em 1985, de que a partir do discurso de alguém, a ‘realidade’ é admitida como certa,
pois a pessoa não teve acesso ao fato tal como ele é, apenas ouviu um discurso.
Para boa parte dos consumidores das notícias, o real apresenta-se como o
fragmentado exposto no jornal, revista, televisão ou qualquer meio de comunicação.
O jornalismo é um processo realizado por sujeitos formados por valores que
não são excluídos durante a produção das notícias, além de envolverem mais
pessoas, como as fontes, por exemplo. Dessa forma, a realidade pode ser
interpretada de formas diferentes por diferentes indivíduos.
Aquilo que não é apreendido no “aqui e agora” (BERGER e LUCKMANN, p.
39), pode ser transmitido pelos veículos de comunicação, dando a eles esse poder
de agir como agentes da construção social da realidade dotados de sentidos. É
possível fazer essa referência, já que os produtores são sujeitos, os quais são
construtores de realidades, como afirmam os autores. No caso específico do
jornalismo, as notícias são apenas mais uma forma de discurso que circula no
espaço social em que se situa a noção de construção social da realidade (GADINI,
2007).
47
Para Gay Tuchman, citada por Traquina (2005a), devemos compreender a
notícia como estória e entender que elas são construídas e não são espelho da
realidade, como defendem alguns autores na Teoria do Espelho. O enquadramento
dado ao fato pelo jornalista é embutido de subjetividades como defende as outras
teorias do jornalismo que surgiram para rebater a teoria do espelho. As notícias
acontecem na junção de acontecimentos e textos. Segundo Traquina (2004),
enquanto o acontecimento cria a notícia, a notícia cria o acontecimento, onde os
textos jornalísticos são construções, narrativas, estórias.
A junção desse poder dado aos jornalistas de contar estórias sobre fatos do
cotidiano e a presença das mídias cada vez com mais freqüência no dia-a-dia dos
sujeitos, fez com que a política, por exemplo, mudasse a partir dos anos 60. Esse
processo se deu em especial após o debate de Kennedy-Nixon, em que foi possível
perceber como o modo de contar a estória é capaz de interferir nas formas de
pensar da sociedade, além de fomentar a possibilidade (poder, melhor dizendo) dos
meios de construir imagens.
Nesse contexto, é possível trabalhar no item abaixo deste trabalho, as
discussões estabelecidas por alguns autores a cerca desse processo de construção
das notícias, levando em consideração as teorias que atentam para a influência de
fatores externos à organização, tais como fatores políticos, econômicos e
ideológicos que tendem a reforçar o poder capitalista. Sempre lembrando que esses
são possíveis interferentes na construção de notícias de meio ambiente. O próximo
tópico deste capítulo trata especialmente da discussão sobre as teorias do
jornalismo e os fatores que interferem na produção jornalística.
2.2 TEORIAS DO JORNALISMO E CONSTRUÇÃO DA NOTÍCIA PELA
INFLUÊNCIA EXTERNA ÀS REDAÇÕES
As teorias do Jornalismo que norteiam essa pesquisa e podem ajudar a
explicar a produção noticiosa do jornal a ser analisado são a Teoria da Ação Política
e as Teorias Construcionistas, as quais explicam a produção pela influência de
fatores externos às redações, especialmente de outras instituições externas ao
veículo.
Ainda no século XIX, dois pólos passaram a emergir do campo jornalístico
contemporâneo. O pólo econômico, que define a notícia como um negócio, idéia que
48
nasceu após o desenvolvimento da imprensa, e o pólo ideológico, que é a definição
da notícia como serviço público. Esses dois aspectos remetem à discussão da
influência de fatores internos e externos na produção das notícias.
Quando Traquina (2005a) discute o poder do campo do jornalismo,
chamando-o de “quarto poder”, deduzimos que os jornalistas possuem poder na
construção da notícia e conseqüentemente de realidades, como discutimos
anteriormente. O campo jornalístico pode ser entendido como um campo magnético
de dois pólos, como escreve Traquina (2005a), o qual pode ser entendido como um
espaço de desenvolvimento da ideologia profissional e do jornalismo como negócio,
deixando para traz o pólo político que perdurou durante anos e perdeu espaço a
partir da intensificação do trabalho da imprensa. Porém, em diferentes épocas e
situações, os dois pólos atuais vivem altos e baixos. O que muitos estudiosos
defendem, é que o pólo político foi substituído pelo pólo econômico, porém, este
também possui características negativas que interferem na produção jornalística.
Ao longo do livro sobre teorias do jornalismo, Traquina (2005a) discute como
os fatores internos e externos influenciam o campo jornalístico na produção das
notícias, contribuindo dessa forma, na construção da realidade. Ao longo dos anos,
as teorias puderam explicar esses fatores. No desenvolvimento deste trabalho,
vamos abordar com mais profundidade as teorias da Ação Política e as Teorias
Construcionistas, pois elas podem explicar a forma de abordagem das notícias de
meio ambiente pautadas pelo Jornal, no sentido que partimos do pressuposto de
que a influência não é apenas interna (das redações), mas gira em torno de
aspectos mais profundos da sociedade.
O jornalismo do século XX e XXI, no Brasil, apesar de seu caráter
mercadológico, surgiu com característica informacional, somente a partir do século
XIX, devido ao desenvolvimento da imprensa e a expansão dos jornais, o que
resultou no jornalismo como atividade remunerada (Traquina, 2005a). Isso significou
o afastamento dos jornais do pólo político, predominante anterior a esse período,
podendo agora se manter independente financeiramente. Foi paralelo a essa
mudança, que surgem os conceitos de jornalismo objetivo e imparcial, na tentativa
de afastar-se ainda mais das raízes de onde nasceu. Contudo, são esses valores
que, de algum modo, acobertam as possíveis escolhas e decisões que acontecem
nas redações. Por meio deles, os jornalistas negam notícias como construção e
acreditam no trabalho imparcial, objetivo e livre de influências, pensamento rejeitado
49
nas teorias mais recentes do jornalismo. Segundo Traquina (2005a), o conceito de
objetividade surgiu no século XX, com base nas mudanças das redações, onde se
passou a primar pelos fatos e não pelas opiniões.
Segundo Gaye Tuchman citada por Traquina (2005), a objetividade é um
ritual estratégico utilizado pelos jornalistas para se defenderem de críticas e
assegurar credibilidade. Como este trabalho parte do pressuposto de que os
veículos sofrem interferências externas, que refletem na construção das notícias,
discutiremos agora as teorias que defendem e respaldam essa referência, ou seja,
trataremos com mais ênfase a teoria da ação política e as teorias construcionistas,
as quais levam em considerações fatores externos à redação.
A mais antiga teoria que tenta explicar a produção jornalística baseia-se no
jornalismo como espelho da realidade, ou seja, as notícias são assim porque a
realidade as determina. Essa teoria defende e legitima os jornalistas, mantendo-os
como comunicadores desinteressados que não sofrem influências externas e
também não utilizam seus princípios para escrever a notícia.
Já na teoria conhecida como teoria do gatekeeper, as notícias são entendidas
como resultado da interferência apenas de quem as produz, ou seja, dos jornalistas.
Eles têm o poder de seleção das notícias, porém, ainda são ignorados quaisquer
fatores macro-sociológicos que possam influenciar na produção. Segundo Traquina
(2005a), essa ainda é uma visão bastante limitada da produção jornalística. No caso
de ter que escolher entre dois temas, como descoberta científica ou energia nuclear,
o jornalista pode fazer escolhas: o mais fácil ou aquele que já tem as fontes
conhecidas. Esse seria um exemplo na área ambiental sobre o tipo de influencia
defendida nessa teoria.
Avançando um pouco mais, surge a teoria organizacional, a qual tem como
foco a importância de uma cultura organizacional ou invés de uma cultura
profissional (TRAQUINA, 2005a). Defende-se que o jornalista sofre
constrangimentos organizacionais sobre a atividade jornalística e tende a seguir um
padrão editorial do veículo. Quando se trata de política isso fica mais evidente. No
caso do jornalismo ambiental é mais complicado fazer essa observação, mas pode-
se utilizar como exemplo a preferência por notícias sobre desenvolvimento
sustentável do que por textos que tendem a fazer alguma denúncia. Essa escolha do
veículo evita atritos com as empresas, que possivelmente podem ser patrocinadores.
Outro assunto que geralmente não possui espaço na Folha de São Paulo é a
50
produção orgânica e a crítica a utilização de agrotóxicos. Isso acontece, pois o jornal
possui uma editoria chamada “agrofolha” onde são abordados temas relacionados à
agricultura e que tem como anunciantes empresas de sementes e fertilizantes. Na
Teoria Organizacional, Traquina (2005a) já cita a influência do fator econômico na
produção, porém somente na teoria da Ação Política que isso é mais bem discutido.
Começam a aparecer as referências quanto à relação jornalismo e publicidade, a
dependência econômica e o espaço ocupado nos jornais pelas propagandas.
Após essa passagem rápida pelas teorias micro-sociológicas, passamos para
uma discussão mais aprofundada daquelas que enfatizamos neste trabalho e nas
quais a pesquisa é baseada. Nas próximas teorias – da Ação Política e
Construcionistas – observa-se a influência de fatores externos à organização
jornalística no processo de produção da notícia. Dessa forma, chamamos tais
teorias de macro-sociológicas e micro-sociológicas, pois envolvem diversos aspectos
e não ficam focadas apenas na empresa jornalística.
Os estudos avançaram a partir dos anos 60 e 70, o que se deve às inovações
metodológicas que contribuíram para aumentar e enriquecer os novos estudos em
comunicação (TRAQUINA, 2005a). A teoria da Ação Política surgiu nos anos 60, em
decorrência da necessidade de maiores investigações no processo de produção das
notícias. Nessa fase, o grande interesse é nos estudo de ideologia, onde o marxista
Antônio Gramsci teve grande influência (TRAQUINA, 2005a).
A partir desse momento, os estudos sobre jornalismo têm um novo foco e não
fica apenas no espaço da empresa ou do jornalista. Passa-se a entender o
jornalismo a partir das suas implicações sociais e políticas. De uma forma ou de
outra, nas terias da ação política, os meios de comunicação são visto de forma
instrumentalista, servindo apenas aos interesses políticos (TRAQUINA, 2005a). No
jornalismo ambiental a interferência política se dá na relação com as empresas
governamentais, que ao mesmo tempo em que poluem o meio ambiente, querem
divulgar a imagem preservacionista e de preocupação com o bem estar da
sociedade, como é o caso da Petrobras e de algumas hidrelétricas.
Nos estudos já realizados surgiram conclusões opostas: os meios de
comunicação como forma de ajudar a manter o sistema capitalista (visão de
esquerda) ou servem como instrumentos que põem em causa o capitalismo.
Segundo Traquina (TRAQUINA, 2005a, p.163), nas duas visões se percebe que “as
notícias são distorções sistemáticas que servem aos interesses políticos de certos
51
agentes sociais bem específicos que utilizam as notícias na projeção da sua visão
de mundo, da sociedade etc.”.
Na visão de esquerda da teoria da ação política, entende-se o jornalista como
um mero executante a serviço do capitalismo, onde o fator econômico é
determinante no processo de produção das notícias. Além disso, Herman e
Chomsky citados por Traquina (2005a), relatam que segundo essa teoria, o
conteúdo das notícias não é determinado ao nível interior do jornalista nem ao nível
interno da empresa, mas sim ao nível externo, macroeconômico. Dessa forma,
colaboram e reforçam o poder já instituído dos donos e anunciantes. De acordo com
Sousa (2002), atualmente a força econômica exercida sob os meios de comunicação
é maior do que a força das influências políticas sobre o veículo. Quando isso
acontece, as fontes têm mais facilidade de influenciar nos conteúdos do jornalismo.
Albuquerque citado por Cervi (2007) faz três divisões para explicar o
comportamento da imprensa, levando em consideração as influências externas às
redações: Independente, Oficialista e Partidário. Porém, no caso brasileiro, segundo
o autor, não há como encaixar o papel dos jornalistas brasileiros em nenhuma
dessas divisões, pois “a imprensa aqui não é autônoma, nem submissa ao Estado,
mas também não pode ser considerada como porta-voz da elite partidária”. Isso faz
com que a visão dos fatos noticiados pelos meios de comunicação seja diferente de
outros sistemas.
O peso dos anunciantes, segundo Sousa (2002), interfere na produção
jornalística, assim como o poder político. As empresas de comunicação, inseridas
numa visão capitalista, visam lucro, ou seja, o fator econômico está intrinsecamente
relacionado com o processo de produção. Um exemplo da influência de empresas
(fator econômico) no processo de produção das notícias de meio ambiente é o fato
da Monsanto, por exemplo, ser anunciante de um determinado veículo. Dessa forma,
o jornalista evita produzir textos que envolvam a empresa de forma negativa, como
na discussão sobre os transgênicos e a produção de agrotóxicos, pois isso poderá
levar à perda do anunciante ou o jornalista sofrerá sanções dentro da empresa. Para
evitar esses problemas, ele tenta escrever de forma mais amena, evitando prejudicar
a visibilidade de seu anunciante. Segundo Trigueiro (2008, p.85), “é a publicidade
que sustenta os veículos de comunicação e paga os salários dos jornalistas, daí
porque não é difícil imaginar que em algumas redações possa haver
constrangimentos, ou até mesmo impedimentos”.
52
Os autores defendem que os proprietários têm estreita ligação com a classe
capitalista, além de que, há um acordo entre os donos da mídia e influentes da
classe dominante, resultando num produto que atenda a esses interesses. Herman e
Chomski citados por Traquina (2005a), explicam esse fato por meio de alguns
fatores que podem ser aplicados a outras realidades, não só a americana: estrutura
de propriedade dos media, sua natureza capitalista, dependência das fontes
governamentais e empresariais e as possíveis ações punitivas dos poderosos.
Apesar de toda a argumentação presente nos estudos, Traquina (TRAQUINA,
2005a) apresenta algumas possíveis falhas dessa teoria como, por exemplo, o fato
de não levarem em consideração que os donos pouco freqüentam as empresas, o
que limita o processo de interferência no trabalho dos jornalistas; há possibilidade do
jornalista decidir o que é notícia sem o aval dos donos da empresa e o fato dos
jornalistas não conhecerem muito além da estrutura das redações dos veículos.
Nesse mesmo período em que surgiram as teorias da Ação Política
apareceram também os estudos que defendem as notícias como construção
(TRAQUINA, 2005a). Nas teorias construcionistas, nega-se a posição das notícias
como espelho da realidade, pois se defende que a linguagem não é transmissora
direta de significado, porque é impossível que seja neutra (TRAQUINA, 2005a). E
apesar de rejeitar a teoria do espelho, essas teorias não defendem a noticia como
ficção. Entende-se que as notícias são narrativas que informam o público. Segundo
Tuchman citada por Traquina (TRAQUINA, 2005a), as notícias são estórias, porém
isso não as rebaixa nem as acusam de ser fictícias, apenas alerta os leitores de que
como qualquer outro documento público, como defendem Berger e Luckmann
(1985), representam uma realidade construída.
Nesse contexto, defendendo a notícias como construção social surgem duas
teorias - Estruturalista e Interacionista - que são complementares. Segundo Traquina
(2005a), ambas rejeitam a teoria do espelho e concordam que as notícias surgem
em meio a um processo complexo que envolve diferentes pessoas: jornalistas,
fontes de informação, sociedade, ou seja, pessoas internas e externas às redações.
Exceto a teoria do espelho, todas as demais estão de alguma forma inclusas
nas teorias construcionistas. Ambas são micro-sociológicas e macro-sociológicas,
pois situam o jornalista quanto ao seu local de trabalho, a importância da
organização, as rotinas de produção, as fontes de informação etc. Todos esses
fatores interferem na produção da notícia e são responsáveis pelo resultado final do
53
trabalho do jornalista. Desse modo, baseando-se nessas afirmações, Traquina
(2005a) reconhece que tanto uma quanto a outra teoria entendem as notícias como
estórias, marcadas pela cultura dos membros da tribo e da sociedade.
A teoria estruturalista se aproxima da teoria da ação política, versão de
esquerda, pois reconhece o papel da mídia na reprodução da ‘ideologia dominante’,
porém, diverge no sentido de reconhecer a autonomia do jornalista. Nessa teoria, os
autores defendem que as notícias são o que são, pois resultam de vários fatores
como a organização do meio, os valores-notícia e o momento da construção da
notícia, onde também perpassam os valores culturais.
Os meios de comunicação, além de definir para a população quais são os
acontecimentos mais importantes que ocorrem, também apresentam interpretações
de como compreender os fatos. Isso é que faz referência à hegemonia ideológica na
teoria estruturalista. Stuart Hall citado por Traquina (2005a) tenta explicar, a partir
das rotinas de produção, a predominância da ideologia dominante na produção das
notícias.
Por questões de tempo e exigência de imparcialidade e objetividade, percebe-
se a procura por fontes de informação que detém posições institucionalizadas
privilegiadas. Esse acesso sempre às mesmas pessoas faz com que estas sejam
chamadas de ‘definidores primários’. Dessa forma, o que define as notícias não são
os meios, mas a relação com as fontes. Segundo Pena (2006), as fontes podem
manipular o jornalista e agendar os meios de comunicação, mesmo não sendo uma
assessoria ou uma empresa. Um exemplo é a divulgação de uma notícia para
amenizar o impacto de outra. Podemos exemplificar com o seguinte fato: para
minimizar o impacto das notícias sobre poluição das águas, as empresas petrolíferas
pautam os meios de comunicação com notícias de projetos sociais e culturais para
universidades. Ou ainda, a instalação de uma hidroelétrica pode causar muitos
danos à natureza e à população local, porém a empresa pode diminuir o impacto
dessas notícias levantando pautas sobre os benefícios da obra para a população.
Para Traquina (2005a), a partir dessa relação entre fontes e jornalistas, é
possível explicar como se dá o papel ideológico dos meios de comunicação. Isso
não significa que os meios de comunicação não possuam autonomia, porém são os
definidores primários (as fontes as quais os jornalistas sempre recorrem) que dão o
enquadramento ao tema. Sousa (2002) afirma que a mídia não é um monólito
54
ideológico, porém serviria para reproduzir uma visão ideológica, que legitima o senso
comum e ordem social vigente.
Em resumo, na teoria estruturalista, são os definidores primários (fontes) que
comandam a ação de produção da notícia e fazem com que os espaços das notícias
sirvam para reproduzir a ideologia dominante. Sousa considera as rotinas
produtivas, as fontes, os valores notícias e a estrutura organizacional como fatores
que, combinados, mantêm um sistema de reprodução de ideologias dominantes. No
caso do meio ambiente, notícias que mantém a ideologia capitalista são aquelas
impostas pelas assessorias de grandes empresas, tentando, por exemplo, minimizar
os aspectos da poluição, por meio da divulgação de novas tecnologias.
A partir da linha de raciocínio, em que as fontes detêm poder sobre a
produção (teoria estruturalista), os jornalistas são meros instrumentos utilizados por
elas. Assim, os meios de comunicação estariam a serviço de uma ideologia
hegemônica da sociedade. Mas, o que se deve levar em consideração é que,
segundo Sousa (2002), são os jornalistas que determinam e dão acesso a
determinadas fontes.
Outra teoria que se assemelha à estruturalista e conceitua a notícia como
construção é a teoria interacionista, porém, as mesmas divergem quanto a relação
fontes e jornalistas (TRAQUINA, 2005a). Nesse caso, as notícias são definidas como
o resultado do processo de percepção, seleção e transformação de uma matéria
prima num produto. O que define as notícias é o fator tempo e para se enquadrar
nessa exigência os jornalistas impõem estratégias (TRAQUINA, 2005a).
Pelo fato de um acontecimento poder acontecer em qualquer parte e a
qualquer momento, é preciso impor essas estratégias. Quanto à ordem no espaço,
isso é resolvido por meio das redes noticiosas, o que resulta na divulgação de
acontecimentos de um lugar e não de outros. A organização se dá por
territorialidade geográfica, especialização organizacional e de temas. As estratégias
resultam nos agrupamentos de notícias de um só espaço e na falha de outros, na
escolha por determinados temas e exclusão de outros, nos locais que só viram
notícia quando o fator é a desordem (acidentes, crime, deslocações de autoridades,
enchentes) etc.
Com relação à ordem no tempo, isso também é ‘resolvido’ por meio das redes
noticiosas que ajudam a empresa a acompanhar com mais facilidade o ritmo das
redações, incluindo aqui a interferência das fontes mais próximas e de mais fácil
55
acesso. Nesse sentido, entende-se a produção noticiosa como resultado de um
processo de interferência de diversos agentes sociais, principalmente de
profissionais do campo político, que tentam fazer das suas necessidades algum tipo
de acontecimento para ser divulgado pelos jornalistas.
Traquina (2005a) revela que o acesso das fontes aos meios de comunicação
é essencial para a definição das notícias, pois nem todos possuem o mesmo tipo de
acesso. Dentre eles destacam o acesso habitual, disruptivo e direto. Nesse caso o
acesso habitual tem forte relação com a produção e com o sustentáculo das
relações de poder.
Apesar da possibilidade do acesso disruptivo de certa parcela da população
aos meios de comunicação, essa teoria também defende o papel da mídia como
mantenedora da ideologia dominante e favorável aos mais poderosos. Isso está
estreitamente relacionado à criação da rede noticiosa, pois a lógica da concentração
de forças dos mais poderosos está na formação da rede, na relação entre jornalistas
e fontes, nos critérios de avaliação que os jornalistas utilizam para interagir com os
diversos agentes sociais, no cultivo das fontes, etc. (TRAQUINA, 2005a).
Devido aos critérios de avaliação das fontes (autoridade, produtividade e
credibilidade) estarem fortemente relacionados com as rotinas produtivas e as redes
noticiosas, a fonte oficial acaba sempre sendo a mais procurada. E dessa forma,
segundo Traquina (2005a), os jornalistas se tornam dependentes dos canais de
rotina por necessitarem impor ordem no espaço e no tempo, e conseqüentemente
estabelecerem uma interdependência com as fontes oficiais.
As fontes de jornalismo ambiental são os movimentos ambientalistas,
ecologistas, entidades que cometem crimes ambientais, autoridades (ministros,
secretários, diretores de órgãos públicos), pesquisadores, biólogos, zoólogos,
botânicos, agrônomos e a população. À frente, faremos a divisão das fontes nas
categorias dispostas pelos autores, mas já dá para saber quem são aquelas que
tendem a contribuir para a lógica da ideologia dominante na sociedade e quais
precisam “promover” acontecimentos para ganhar espaço na mídia.
Além disso, para a teoria interacionista, enquanto as fontes oficiais são
predominantes no jornalismo, os outros agentes sociais não têm acesso regular. Um
exemplo, utilizado por Traquina (2005a), é dos movimentos sociais que dificilmente
veem seus acontecimentos virarem notícia. O mesmo caso acontece com as ONGs
ambientalistas que perdem espaço na mídia para as grandes empresas. Sousa
56
(2002) afirma que o acesso é prioritário para as fontes oficiais organizacionais nos
veículos. Algumas características disso é o horário do expediente das empresas.
Sobre a relação entre a teoria estruturalista e interacionista, Traquina (2005a)
escreve que as duas defendem que as notícias são um aliado das instituições legitimadas. Devido à necessidade de impor ordem no espaço e no tempo, a “estória” do jornalismo, no seu funcionamento diário, é descrita como sendo essencialmente “estória” da interação de jornalistas e fontes oficiais. As fontes provêm, sobretudo da estrutura do poder estabelecido e, pó isso, as notícias tendem a apoiar o status quo (TRAQUINA, 2005a, p. 199).
Apesar das duas teorias partilharem da idéia de que as fontes oficiais detêm
vantagens importantes, a teoria interacionista defende que esse papel dominante
não é algo automático, mas sim resultado de uma ação estratégica das próprias
fontes. Isso pode ser explicado por quatro fatores listados por Traquina (2005a):
capitais econômicos, institucionais, sócio cultural e suas estratégicas de
comunicação. Sousa (2002) também fala sobre o competitivo acesso das fontes aos
meios jornalísticos, pois elas desenvolvem táticas para criar uma relação com os
jornalistas e com determinados veículos, sempre com o objetivo de pautar os
assuntos que desejam.
Pena (2006) considera as fontes oficiais as mais tendenciosas, que
preservam informações e divulgam somente aquilo que é de seu interesse. Institutos
de pesquisa, segundo o autor, fazem parte dessa categoria, tendo como objetivo
divulgar as pesquisas, mas esconder o que não querem tornar público. O fato de
essas instituições serem considerados fontes oficiais, faz com que o jornalista não
os utilize como únicas fontes de informação, como veremos mais a frente.
Em resumo, para Traquina (2005a) pode-se dizer que as notícias são uma
construção social da realidade que envolve, além do acontecimento, os
constrangimentos organizacionais, os fatores econômicos, as rotinas produtivas, os
valores notícias e as fontes. Outro autor que partilha dessa mesma concepção de
Traquina, sobre o que é notícia e o que interfere na sua produção é Jorge Pedro
Sousa. Em seu livro, Teorias da notícia e do Jornalismo, ainda na introdução, ele
define as notícias como artefatos lingüísticos que representam determinados
aspectos da realidade. Segundo o autor, no processo de fabricação desses artefatos
lingüísticos interagem diversos fatores de natureza pessoal, social, ideológica,
cultural, histórica e do meio tecnológico. Além disso, Sousa (2002) enfatiza que
embora as notícias representem determinada parcela da realidade, elas contribuem
57
para construir socialmente novas realidades a partir da leitura e interpretação das
mesmas pelos leitores.
Sousa (2002) cita Shoemaker e Rese para fazer referência a cinco possíveis
níveis de interferência no conteúdo das notícias: nível individual (jornalista), nível das
rotinas produtivas, nível organizacional, nível externo as organizações e nível
ideológico. Percebe-se que os autores enfatizam os fatores externos às redações,
defendendo uma teoria macro-sociológica para explicar a produção noticiosa, assim
como Traquina e Sousa.
Sousa parte de uma visão construcionista das notícias para discutir as teorias
do jornalismo ao longo do seu livro. Segundo ele, é possível fazer um
aproveitamento das teorias já estudadas por outros autores para defender a sua
visão sobre o processo de produção. Essa relação sustentada pelo autor, também
pode ser percebida ao longo deste capítulo, onde partimos da teoria do espelho para
explicar a trajetória e desenvolvimento das demais teorias.
Outro autor que também faz referência às notícias como resultado de diversos
fatores que influenciam na produção é Schudson, citado por Sousa (2002). Segundo
ele, as notícias são o que são podem ser explicadas pela inter-relação da ação
pessoal, social e cultural da sociedade. Sousa enfatiza o fato de que estudos
recentes também partilham da mesma idéia de que o papel dos jornalistas na
produção sofre influência de fatores externos. Sobre isso, escreve: Os estudos mais recentes parecem indicar que fatores “ambientais”, “ecossistemáticos”, como as deadlines, o espaço, as políticas organizacionais, as características do meio social e da cultura desempenham um papel importante na construção de notícias. [...] Podemos afirmar agora que os fatores “ecossistemáticos” são vistos agora como o fator crítico para a construção das notícias e, consequentemente, e pra dissonância não pretendida entre as representações da realidade que as notícias são e a realidade em si (SOUSA, 2002, p.40).
Outro conceito que envolve as teorias, mas que nesse espaço terá uma
discussão separada são as rotinas produtivas que também possuem influência na
produção das notícias, acima do poder dos próprios jornalistas. Elas podem ajudar a
explicar o porquê as notícias de meio ambiente são como são no Jornal Folha de
São Paulo, por exemplo, a partir das rotinas dos jornalistas.
Tanto Traquina quanto Sousa, falam sobre as rotinas produtivas como fator
que interfere na produção devido ao curto tempo de produção e conseqüentemente
à construção da rede noticiosa que facilita o trabalho do jornalista. No processo de
58
produção jornalística, verifica-se a ocorrência de diversos tipos de acontecimentos
que de alguma forma tem ligação com as fontes escolhidas na produção.
Segundo Sousa (2002), há os acontecimentos imprevistos, pseudo-
acontecimentos, acontecimentos mediáticos, acontecimentos não categorizados e
não acontecimentos. Essa categorização feita por Sousa tem forte relação com a
influência das fontes na produção. Os acontecimentos imprevistos se impõem à
mídia, porém os acontecimentos previsíveis (eventos) são ‘impostos’ à mídia ou até
‘impostos’ pela mídia (SOUSA, 2002).
Em face desses acontecimentos imprevisíveis, as organizações noticiosas
procuram impor ordem no tempo. As redes têm o papel de buscar notícias por área
geográfica e por especialização organizacional e temática. Os meios também fazem
uma agenda, onde já tem acontecimentos pré-lançados, muitos deles indicados por
possíveis fontes e assessorias. Dessa forma, como explica Sousa, grande parte das
notícias, já são previsíveis e fazem parte da agenda dos jornalistas.
Nesse agendamento, segundo Denis McQuail, citado por Sousa (2002), é
possível diferenciar noticias programadas (serviço de agenda), não programadas
(acontecimentos inesperados) e fora do programa (não precisam de difusão
imediata, são atemporais). No caso do jornalismo ambiental, consideram-se notícias
programadas, aquelas que pautam eventos sobre o tema, congressos, encontro de
pesquisa, conferências etc. As não programadas, geralmente são aquelas
relacionadas a catástrofes naturais, queimadas, descobertas da ciência etc. As
consideradas fora do programa, são notícias que cotidianamente podem estar
presentes nos veículos, mas que independem de um acontecimento ou agenda. É o
caso de reportagens sobre reciclagem de lixo, formas de preservação ambiental,
entre outras.
Na tentativa de situar a produção jornalística de meio ambiente num contexto
histórico e social da sociedade, trataremos na próxima etapa deste capítulo, da
especialização e segmentação jornalística, características do final do século XX. O
trabalho também vai abordar a relação do jornalismo ambiental com o científico.
59
2.3 ESPECIALIZAÇÃO E SEGMENTAÇÃO JORNALÍSTICA PARA ATENDER A
DEMANDA
Vivemos numa Sociedade da Informação, onde a todo o momento somos
bombardeados por informações, seja via internet, televisão, rádiojornal ou revista.
Porém, com o passar dos anos, além das mudanças ocorridas nas redações, como
por exemplo, o aparecimento das inovações tecnológicas que auxiliaram a produção
noticiosa, houve também uma modificação na relação do público com as
informações, o que abriu novos leques para a produção informativa (ABIAHY, 2005).
Trata-se da informação especializada2 e segmentada que busca profundidade e
personalização para atender o público, cada vez mais exigente.
Para falar de jornalismo especializado, aparece outro conceito chamado
jornalismo segmentado. Para fazer a diferenciação entre um conceito e outro,
relaciona-se a segmentação com a escolha por públicos específicos e a
especialização pelo tema do veículo. Em partes, essa nova tendência retira a
imagem da informação massificada e o profissional tende a se aprofundar para
produzir. No caso dos jornalistas que trabalham com jornalismo ambiental, por
exemplo, é preciso ter certo conhecimento prévio sobre o assunto. Para Abiahy
(2005), são consideradas produções segmentadas desde um programa televisivo
para um público específico até as revistas especializadas.
Já sobre sua definição de jornalismo especializado, a autora inclui tanto a
abordagem de um assunto específico quanto a abordagem para um público
especializado sobre determinado tema. Essa concepção de jornalismo especializado
é questionada por Ferreira (2007), pois segundo ele, o jornalismo especializado não
está apenas relacionado aos procedimentos profissionais do jornalista que cobre
áreas específicas. O fato de o jornalista cobrir determinada área não significa que
está fazendo jornalismo especializado.
Ferreira (2007) afirma que O termo Jornalismo especializado não está associado imediatamente à cobertura de áreas especializadas, mas a algo intrínseco ao jornalismo em si. Ou seja, é algo muito mais endógeno do que exógeno ao jornalismo. É endógeno porque o jornalismo especializado evoca para si a habilidade e conhecimento do profissional para lida com as sofisticadas ferramentas de elaboração, tratamento e divulgação da informação jornalística (FERREIRA, 2007, p. 2).
2 Neste trabalho, apesar das divergências sobre o assunto, o conceito de especialização está relacionado ao tema e o de segmentação relacionado à definição de um público específico.
60
Ferreira defende que o fato do jornalista cobrir rotineiramente um mesmo
tema e adquirir certa habilidade, não significa que seja especialista. “Não se pode
pensar que se trata de jornalismo especializado o simples fato de se estar cobrindo
áreas especializadas e tampouco pelo fato do jornalista cobrir cotidianamente
apenas uma área” (FERREIRA, 2007, p. 3). O cerne da especialização está no
processo de contextualização, conexões e resgate do passado, interpretação do
presente e a projeção para o futuro dos fenômenos abordados.
Para Ferreira (2007), deve-se trabalhar com o conceito de que existem vários
jornalismos que atuam e cobrem áreas especializadas e não um jornalismo
especializado. Com relação a uma publicação especializada, está deve garantir os
princípios do jornalismo e, além disso, conhecer o público a que é destinada.
Porém anterior a esses conceitos trabalhados por Ferreira (2007), Lustosa
(1996) coloca que esse processo de especialização nasce no Brasil com outro
propósito. Segundo o autor, “durante o regime militar, com o esvaziamento da esfera
pública, os jornalistas, mais do que nunca, foram obrigados a trabalhar com
assuntos especializados, principalmente econômicos” para deixar de tratar de
assuntos que eram censurados pelo regime político (LUSTOSA, 1996, p.111). Dessa
forma, novos assuntos ganharam espaço no jornal.
Segundo Trigueiro (2005), não se deve exigir do jornalista a formação do
especialista, pois na verdade, o especialista é a fonte. “Ao jornalista cabe a função
de identificar os assuntos que merecem visibilidade e, especificamente na área
ambiental, traduzir os saberes da ciência de forma clara e objetiva” (TRIGUEIRO,
2005, p.1). Para Schwaab (2005), academicamente é possível definir o jornalismo
especializado como a produção com o máximo de profundidade, sofisticação e
distante da generalização. Conceito este, que de alguma forma se aproxima daquele
proposto por Ferreira.
Para Mattelart (1999), a sociedade passou por um processo de
individualização, o que reflete diretamente sobre a produção de informação e na
busca por informação personalizada. Não é mais possível imaginar um público
padronizado e produzir um só veículo para atender a todos. Atualmente, o
consumidor prefere opções de escolha na hora de adquirir um produto, e isso faz
com que o mercado modifique sua rotina de produção na tentativa de atendê-los. A
61
mesma coisa acontece nos veículos de comunicação, em que as empresas tendem
a apresentar uma diversidade maior de programas, cadernos, etc.
Além da discussão dos interesses das empresas em atender as fatias de
mercado, Abiahy (2005) apresenta outros dois pontos relacionados com a mudança
no mercado consumidor e conseqüentemente nas empresas. Ao mesmo tempo em
que a procura por um assunto específico representa a necessidade de identificação
e o elo com outras pessoas que também apreciam o mesmo assunto, esse processo
significa a perda da coletividade, já que os assuntos não são mais incomuns entre o
público em geral.
Dessa forma, a segmentação do público e a especialização do mercado
envolvem os interesses econômicos das empresas, o individualismo da população, a
impossibilidade das discussões públicas (pois cada um tem conhecimento mais
sobre um assunto específico e do que em assuntos que interessam a todo mundo) e
a busca por um assunto mais aprofundado. Porém, a especialização nas redações é
o reflexo das modificações nos gostos dos leitores, o que pode ser explicado pelas
mudanças do mundo contemporâneo. “Na medida em que diferenças e divergências
foram afrouxando os laços da coletividade, os indivíduos foram se fechando em seus
interesses particulares e constatamos hoje o quanto a comunidade encontra-se
dividida em nichos os mais diversos” (ABIAHY, 2005, p. 5).
Segundo a autora, enquanto as publicações especializadas atendem os
interesses das áreas específicas, como por exemplo, saúde, educação, meio
ambiente e moda, as produções segmentadas são uma resposta para determinados
grupos de pessoas que buscam uma linguagem e/ou uma temática apropriada ao
seu interesse e/ou contexto. Assim, o papel do jornalismo especializado passa a
cumprir a função de agregar indivíduos de acordo com suas afinidades.
Ciro Marcondes Filho citado por Abihay (2005), defende a especialização
jornalística como forma de aprofundar a informação e ao mesmo tempo atender os
interesses dos leitores, que conseqüentemente terão habilidade para entender e
interpretar o que leram, pela proximidade com o assunto. Os veículos generalistas
tendem a falar de quase tudo, porém de forma mais superficial.
Na produção televisiva, as TVs a cabo são exemplos de espaços para o
jornalismo segmentado, que atraem uma audiência específica com algo diferente da
programação das TVs generalistas. Nesse caso, a televisão segue a tendência das
62
revistas. As generalistas continuam existindo, mas abre o leque de possibilidade de
veículos especializados e para um público segmentado.
Outro âmbito dessa discussão é a diversidade de pontos de vista e a
democratização da informação. A partir da necessidade por informação diferenciada
e do surgimento de uma mídia para atender a demanda, abre-se um leque de
opções e conseqüentemente aumenta a possibilidade da informação chegar até o
público, o qual possui um perfil que contribui para sua identificação. Não basta ter
informação, é preciso que esta esteja de acordo com a quem se destina.
No caso deste trabalho, a importância de discutir o jornalismo especializado
está no fato da temática meio ambiente ser considerada um desmembramento do
jornalismo especializado. O jornalista Roberto Villar (1997) é um dos defensores do
jornalismo ambiental como uma especialização do jornalismo. No próximo tópico é
abordado a função das editorias na produção jornalística e seu papel no
desenvolvimento do jornalismo e também mais especificamente na Folha de São
Paulo.
2.4 O PAPEL DAS EDITORIAS NO DESENVOLVIMENTO DO JORNALISMO
ESPECIALIZADO E NA ORGANIZAÇÃO DOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO
O desenvolvimento do jornalismo especializado possui relação com o
surgimento das editorias nos veículos de comunicação, as quais são consideradas
como sendo responsáveis pela divisão dos temas para que cada um tenha seu
determinado espaço. Essa discussão sobre a influência das editorias no
desenvolvimento das especializações, inclusive do jornalismo ambiental está
relacionada com o fato de que, na análise do Jornal Folha de São Paulo, foi
observado em quais editorias pertencem os textos, o tema e outros aspectos
relacionados. Segundo Lustosa (1996), o desenvolvimento do jornalismo
especializado é resultado de uma nova lógica que passa a permear a produção
jornalística: a divisão do trabalho nos veículos de comunicação. A mídia tende a
trabalhar com as mesmas lógicas de uma empresa.
Diz o autor que A exemplo do que ocorreu na produção industrial, os veículos de comunicação departamentalizaram as redações nos anos 1960 com a criação de editorias especializadas, encarregadas da cobertura jornalística de atividades ou setores específicos. Com a reorganização, desapareceu a
63
figura do secretário de redação, que era uma espécie de faz e sabe-tudo (LUSTOSA, 1996, p. 109)
Para o autor, foram essas mudanças que levaram ao surgimento das
produções especializadas. Nilson Lage citado por Lustosa (1996, p. 110) afirma que
“as reformas gráficas e editoriais se amiudaram a partir de 1964, quando a
repressão do conteúdo estimulou a busca de apresentação atraente, moderna e o
regime autoritário ergueu a bandeira da eficiência e da tecnocracia”. E, mesmo
sendo considerada por esse autor como resultado das impossibilidades impostas
pelo novo regime as especializações não deixaram os jornais após o fim da ditadura: Os fatos divulgados pelos veículos de comunicação, notadamente os jornais, passaram a ser narrados por especialistas dos diversos temas ou setores, cujo material da cobertura jornalística seria distribuído em páginas ou cadernos para cada editoria. Assim, encontram-se em espaços próprios os assuntos econômicos, políticos, etc. (LUSTOSA, p. 111)
Hoje as editorias passaram a ter um novo sentido: a organização para o leitor.
Segundo Lustosa (1996), não se edita mais um jornal sem um nível de distribuição
dos textos em suas páginas, para que o leitor saiba onde encontrar o que lhe
interessa. Os jornais já têm as editorias distribuídas em páginas específicas na
tentativa de melhor atender o público, que adquire o hábito de buscar editoria para
encontrar o tema que deseja. Segundo Abiahy (2005, p. 15), é “o nível de interesse
dos leitores pelo tema tende a influenciar na decisão das editorias. Por isso é
notável o crescimento dos suplementos especializados que passaram a fazer parte
dos jornais diários”.
Na Folha de São Paulo, é bastante visível a criação de editorias específicas.
Por meio dos dados obtidos no site do jornal sobre a criação das editorias, cadernos
e suplementos percebe-se que aos poucos cada assunto, que antes era agrupado
com os demais, vai ganhando relevância e passa a ter um espaço próprio e
independente. Já outros, surgiram com lugar próprio e depois perderam força e
foram incorporados a outros cadernos. As informações possibilitam ainda observar
que essa segmentação do jornal em temas específicos aparece mais expressiva no
final nos anos 80 e início dos anos 90.
Atualmente o jornal é dividido em sete cadernos e 14 suplementos, cada um
com um tema específico, porém nenhum em meio ambiente, o que provoca a
dispersão textos ao longo de várias editorias. Brasil, Cotidiano, Ciência, Dinheiro,
Esporte, Ilustrada e Mundo são os cadernos temáticos diários apresentados.
64
Informática, Equilíbrio, Turismo, Folhinha, Folhateen, Mais, Revista da Folha,
Veículos, Construção, Empregos, Negócios, Imóveis, Guia da Folha e Moda são os
suplementos que circulam semanalmente, maior parte aos Domingos, exceto Moda,
que tem periodicidade Trimestral.
Essa divisão atual do jornal é resultado de diversas modificações que
aconteceram ao longo do tempo3 nas editorias. Alguns dados podem ajudar a
mostrar essas mudanças e também a expressividade das décadas de 80 e 90 nesse
processo. A editoria Brasil surge com este nome em 1991, mas já existia
anteriormente com o nome Política. Cotidiano aparece em 1991, mas antes tinha a
mesma proposta com o nome de Cidade, a qual surgiu em 1887. Ciência foi criada
em 1989, circulando apenas nas sextas e a partir de 1992 integrava o caderno Mais.
Diariamente, ciência era apenas uma seção juntamente com Atmosfera, ocupando
apenas meia página. Em 2000, ganha cabeçalho próprio, ocupa uma página inteira e
passa a ser editoria independente. Dinheiro surgiu em 1991, mas antes tratava do
mesmo assunto com o nome Economia, a qual teve início em 1986. Já a Editoria de
Esporte aparece pela primeira vez em 1972 com circulação nas sextas-feiras e em
1988 ganhou periodicidade diária e espaço próprio. Mundo surge com este título em
1991, mas já existia anteriormente com o nome de Exterior. A editoria Ilustrada é a
mais antiga, pois surgiu ainda em 1960 e anterior a isso já estava presente nos
jornais Folha da Tarde, Folha da Manhã e Folha da Noite. O espaço próprio para a
opinião do jornal e também de leitores é datado de 1975, já com o cabeçalho
‘Opinião’.
Os cadernos e suplementos que não são diários também fazem parte dessa
tendência de especialização e segmentação do mercado. Turismo, por exemplo, já
existia anterior a 1960 (quando foi feita a junção dos três jornais em um só,
chamando-o de Folha de São Paulo), mas só em 1966 ganhou espaço independente
(antes era seção do caderno Ilustrada). O caderno Agrofolha, especializado em
jornalismo rural, teve início em 1986 no formato tablóide e em 1989 passa para
standard. Informática surgiu em 1986, FolhaTeen em 1991 e Folhinha em 1963, os
três já com cabeçalho próprio. Já o caderno Mais, que circula sempre aos domingos
e engloba diversas editorias foi criado em 1992, assim como a Revista Folha. Esta
3 Os dados sobre a história das editorias na Folha de São Paulo é resultado de pesquisa no site do jornal (www.uol.com.br/folha/circulo) e também de informações repassadas por telefone pelos atendentes do banco de
65
última teve outros nomes anteriormente: Folha D (1989) e Revista D (1990). O
suplemento Veículos teve início em 1985, ligado ao caderno Classifolha e ganhou
autonomia em 1990.
Até mesmo os Classificados passaram por mudanças durante os anos. O
Classifolha Tudo aparece já em 1987. Já Classifolha Imóveis surgiu em 1983 e em
1991 passa a ser apenas Imóveis e o Classifolha Emprego nasce em 1989 e ganha
autonomia em 1991. Há também as editorias, suplementos e seções que em algum
momento tiveram espaço próprio, mas que desapareceram com o tempo. É o caso
de Folhetim (1977-1989), Viva Folha (1988-1989), Casa e Companhia (1985-1989),
Porto Folha/navegação e Transporte (1988-1990). Outros como Letras (1989-1992)
e Consumo (1993-1994) e Negócios (1987-1991) foram absorvidos por outros
cadernos maiores.
Esses dados ajudam a entender o surgimento das editorias e os diversos
tipos de especializações que foram aparecendo com o passar do tempo, como forma
de melhor atender o público. Na Folha de São Paulo, as décadas de 80 e 90 foram
períodos de grandes mudanças em quase todas as editorias.
Porém, é importante ressaltar que, essa busca do jornal em se especializar
em diversos assuntos tem um embate com a questão do trabalhador polivalente,
conceito proposto por Braverman citado por Baldessar (1998). Segundo o autor, o
jornalista não seria especialista e polivalente ao mesmo tempo, pois nesse último o
jornalista seria caracterizado como sendo um funcionário com multifunções e
conhecimento para exercer diversas tarefas, ao contrário de um jornalista
especializado que trabalharia sempre com um tema específico, estudando e
tentando conhecê-lo melhor. Essa discussão está relacionada com o fato de que, a
partir dos resultados obtidos, percebe-se que apesar do jornalismo ambiental ser
considerado uma especialização, ele não tem um espaço próprio no jornal e não
apresenta as características desse tipo de produção como é o caso da
contextualização, textos longos e aprofundados, enfatizados por Schwaab (2005).
Isso significa que, apesar do jornalista trabalhar um assunto específico ele é um
trabalhador com muitas funções e não apenas com aquela específica e isso poderia
afetar a produção por não haver uma maior dedicação nas produções pelo fato de
ter outras tarefas na redação do jornal.
dados do jornal, porém algumas das editorias possuem menos ‘história’ do que outras e outras não constam a data do surgimento, pois faltam dados.
66
Travanca (2000) fala sobre a divisão das redações em trabalhar com temas
específicos como sendo uma divisão de conhecimentos. Segundo a autora, as
editorias apontam para uma topografia do conhecimento, em que os saberes são
distribuídos em áreas “estanques e distintas fisicamente” que estão relacionadas
com a realidade dos indivíduos.
A autora diz que É uma expressão da realidade, como se a vida pudesse ser e fosse compartimentada em seções. [...] A representação que os jornais fazem da realidade é uma construção sobre essa mesma realidade. E um dos pilares desta construção é a criação e organização da vida em ``editorias e seções'', e conseqüentemente em hierarquias (TRAVANCA, 2000, p.3)
Alzamora (2006) trabalha com o desenvolvimento da hipermídia e fala que os
anos 80 podem ser considerados um período de personalização e segmentação.
Segundo ela, a multiplicação de editorias pode ser considerada uma das formas que
contribui para esse processo, pois elas têm o papel de segmentar os assuntos e
abordagens e assim cada pessoa lê aquilo que mais lhe couber.
Mesmo não tendo um lugar específico no jornal Folha de São Paulo, o tema
meio ambiente é considerado por alguns autores um tipo de especialização
juntamente com economia, política, esportes, entre outros. E, além disso, a temática
ambiental perpassa pelo jornalismo científico, o qual vai ser discutido a partir de
agora, na próxima parte deste capítulo.
2.5 O JORNALISMO CIENTÍFICO COMO FONTE DE INFORMAÇÃO PARA A
POPULAÇÃO
Foi na década de 80 que o jornalismo científico teve maior avanço no Brasil e
uma das razões para isso, foi a consolidação da pesquisa científica nacional
(Oliveira, 2002). Esse processo é significativo para a desmistificação do estereótipo
do pesquisador e para promover a alfabetização científica na população. Segundo
Burkett (1990) o jornalismo científico é um entre os vários novos tipos de
comunicação especializada que surgiram no século XX.
Um dos papéis fundamentais desse jornalismo, segundo Oliveira (2002) é
atender as necessidades das pessoas, levando até elas informações científicas que
interferem nas suas vidas. Além dessa importância da divulgação das informações
científicas, a população é responsável pelas iniciativas à pesquisa, pois a maior
67
parte dos investimentos em ciência e tecnologia vem dos cofres públicos, e deve
retornar como benefícios para a sociedade (OLIVEIRA, 2002). Nesse processo de
divulgação científica, os meios de comunicação de massa têm papel fundamental e
muitas vezes é a única forma de acesso a informação que a população possui.
A relação entre imprensa e ciência possui indícios de ter se iniciado ainda
com o próprio desenvolvimento dos tipos móveis, em meados do século XV
(OLIVEIRA, 2002), onde os europeus já possuíam conhecimentos sobre o assunto.
No Brasil, um fato marcante na ciência foi a criação, em 1948, da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Outro passo foi a criação do
Conselho Nacional de Pesquisas, o CNPq, em 1951.
Oliveira (2002) afirma que a divulgação científica foi uma das primeiras formas
de jornalismo especializado que chegou ao Brasil, influenciada pelas grandes
revoluções científicas na Europa e Estados Unidos. Entre os pioneiros na área,
encontramos Euclides da Cunha, que escreveu Os Sertões no início do Século XX.
“Euclides preconiza o jornalismo científico e ambiental contextualizado e
interpretativo, no qual a informação científica dá suporte à compreensão da
realidade” (OLIVEIRA, 2002, p. 33).
Já na década de 80, o salto do jornalismo científico se deu também pelo
surgimento das Revistas Ciência Hoje e Ciência Ilustrada, além da
Superinteressante e da Globo Ciência. Em meados da mesma década, foi a vez dos
jornais cederem espaço para editorias e cadernos especializados no assunto.
Porém, na década de 90, a autora afirma que devido ao baixo número de
profissionais na área, houve uma retração nas empresas tradicionais de
comunicação.
Contrariando Oliveira, França (2005) afirma que na década de 90 houve um
crescimento de equipes de comunicação a serviço de pesquisas. Isso elevou as
preocupações sobre a relação do jornalista e dos cientistas e também aumentou a
visibilidade do assunto e conseqüentemente percebeu-se maior interesse do público.
França observa ainda, que nesse período houve mudança nas redações do jornais.
As notícias de ciência deixaram de ocupar parte do espaço de textos internacionais
e ganharam seu próprio espaço. Os jornalistas passaram a valorizar as pesquisas
brasileiras e dar atenção aos assuntos nacionais, como é o caso da Amazônia e da
biodiversidade. Anterior a essa mudança, 90% das notícias sobre ciência vinha de
agências internacionais.
68
O principal papel do jornalismo científico, como já foi colocado acima é levar à
população aquilo que é de interesse público, produzido pelos cientistas. Segundo
Ivanissevich (2005), os meios de comunicação são o caminho mais fácil de
intensificar a divulgação científica para a população. Dessa forma, o que nos
interessa aqui é a linguagem utilizada para levar a informação até eles, pois,
enquanto o cientista produz trabalhos dirigidos para um leitor específico, o jornalista
precisa usar uma linguagem para que a população possa compreender a
informação. Segundo Oliveira (2002), a escrita jornalística deve ser amena,
coloquial, atrativa, objetiva e simples, pois ela é determinante para o sucesso ou
fracasso da informação.
No caso de notícias de meio ambiente, por exemplo, além de o jornalismo
científico ter o papel de contextualizar e falar sobre as perspectivas para o futuro, as
conseqüências e as causas de determinado acontecimento ou descoberta, é
necessário saber levar a informação ao público de maneira que este possa
interpretar e compreender a notícia. O assunto é pertinente e deve chegar ao
conhecimento do publico, porém o jornalista precisa saber como fazer isso por meio
da linguagem.
Segundo Burkett (1990, p. 6), “a redação científica tende a ser dirigida para
fora, para audiências além da estreita especificidade científica onde a informação se
origina”. O escritor de ciência possui o papel de comunicador e, além disso, de
educador da sociedade para os temas que as ciências abrangem. A mídia tem o
papel de informar o público, porém, essa informação precisa despertar interesse, de
acordo com os valores notícias apresentados pelos teóricos da comunicação.
O jornalismo busca na informação sobre ciência algo para interpretar o
conhecimento da realidade. Isso ocorre quando o jornalista aborda um
acontecimento e relaciona este com os fatores causadores, contexto etc. Segundo
Oliveira (2002), a informação científica pode estar presente em qualquer editoria,
pois ela é responsável em ajudar a entender os fenômenos sociais e a interpretar as
causas e conseqüências dos fatos, independente do assunto. A relação entre
jornalismo ambiental e jornalismo científico se sustenta já a partir dessa afirmação
da autora.
Segundo Oliveira (2002), a ética nas questões ambientais é um dos principais
temas do jornalismo científico. Em 1992, no Encontro Internacional de Imprensa,
Meio Ambiente e Desenvolvimento, que antecedeu a ECO-92, foi discutida a postura
69
dos jornalistas na cobertura de questões ambientais e a partir disso foi divulgada a
Carta de Belo Horizonte, onde continham os princípios éticos a serem seguidos no
jornalismo ambiental, tais como a pluralidade de pontos de vista, comprometimento
com a qualidade de vida no planeta, entre outros.
O jornalismo ambiental4 envolve discussões sobre diversos assuntos, desde
descobertas até os transgênicos e o efeito estufa. Esses assuntos envolvem a
poluição gerada pelas grandes empresas nas cidades, os fabricantes de
agrotóxicos, cientistas, ambientalistas, ONGs, entre outras entidades. Isso revela
um cenário onde há disputa pelo melhor discurso, o que envolve os jornalistas na
hora de produzir o texto. Segundo França (2005), o jornalista não deve se contentar
com apenas uma fonte. É necessário confrontar as informações para evitar ter um
discurso apenas como se fosse a verdade absoluta.
No caso específico dos transgênicos, França (2005) argumenta que o assunto
é bastante confuso e repleto de discursos que querem mais ganhar o espaço na
mídia do que esclarecer as dúvidas ao público. O tema envolve governo federal,
empresas privadas, comunidade científica e movimentos sociais. E no meio dessa
discussão que se estende há vários anos, os agricultores continuam a plantar
transgênico sem entender de fato, do que se trata a discussão. Segundo a autora,
passaram-se vários anos e não se chegou a um consenso sobre o assunto e a
população tem desconfiança sobre as partes envolvidas.
Segundo Oliveira (2002), no caso do jornalismo científico é preciso tratar as
questões ambientais no nível da universalidade, ou seja, tratar o problema local, mas
tendo em mente que ele está vinculado a contextos sociais, econômicos e políticos
globais e que se insere num leque de problemas semelhantes no mundo todo.
Discussão essa, que trataremos mais a frente quando estivermos falando
especificamente sobre jornalismo ambiental.
Burkett (1990) fala ainda sobre a falta de espaço e a competição entre os
assuntos a serem pautados pela mídia. Isso varia conforme os níveis de
popularização, educação e esclarecimento. O veículo, a partir do conhecimento que
tem do seu público faz a seleção dos fatos. Além disso, dependendo do meio usado
para transmitir a informação, leva-se em consideração o grau de impacto. No caso
4 Especialidade do jornalismo que trabalha com a temática ambiental e se desenvolveu no final do século XX, especialmente na década de 90. O item 2.5 desse capítulo trata especificamente sobre o termo.
70
das notícias de meio ambiente, geralmente têm mais repercussão na sociedade
quando bem escritas pelos jornalistas e possibilitando a interpretação por parte do
leitor. Isso se dá pelo fato de incluir uma diversidade de subtemas que têm forte
relação com o dia-a-dia da população, com é o caso da produção de alimentos
orgânicos, lixo, aquecimento global, mudanças climáticas, poluição, entre outros.
Burkett coloca ainda, que as notícias científicas têm valores notícias além
daqueles comuns a toda produção jornalística. Necessidade de sobrevivência,
cultura, conhecimento e demografia são os valores notícias tratados pelo autor como
intrínsecos da redação sobre ciência. Quando um grande interesse de leitores se
volta para um tema que lida com aspectos fundamentais para a sobrevivência
humana, tais como moradia, saúde e segurança, as notícias que abordam esses
aspectos pautam os jornais. É o caso das leis de preservação do meio ambiente e a
lei do fluorcarboneto que poucos achavam que causaria problemas à camada de
ozônio e que foram pautadas pela mídia. Esse tipo de pauta é chamado de “análise
de risco” por Burkett (1990, p. 61). Nesse caso, um valor notícia que justifica a
presença das notícias de meio ambiente nos veículos de comunicação é a
necessidade de sobrevivência, já que os assuntos são ligados diretamente ao dia-a-
dia da população. Outras reportagens que têm prioridades e tendem a dominar os
interesses dos leitores são as necessidades culturais ou de “estilo de vida”, onde se
inclui os temas na área de alimentação e nutrição. O valor notícia demografia está
relacionado ao processo de definição das noticias pelo conhecimento do público a
quem elas se destinam.
Abordamos até aqui da importância da linguagem e dos aspectos da notícia
científica, e partimos agora para uma discussão sobre outra função da mídia além da
mera transmissão da informação: seu papel de mediador de debates sobre questões
polêmicas. No caso do jornalismo ambiental, por exemplo, um assunto que gera
polêmica e precisa ser trabalhado com responsabilidade ética, promovendo o debate
e difusão das informações é a comida geneticamente modificada. Esses temas têm
grande apelo popular, por envolver diretamente a sociedade e seus diversos setores
(empresas capitalistas, movimentos sociais, ONGs etc.).
Antes de finalizar a discussão sobre o jornalismo científico, abordamos a
relação entre a produção científica e as teorias estudadas anteriormente, neste
capítulo. Segundo França, há forte relação entre essa especialidade do jornalismo
com a política, o que traz à tona a influência do poder político e econômico sobre a
71
produção jornalística. Segundo Tuffani (2005), os assuntos científicos, e
coincidentemente, os temas de meio ambiente geram discordância entre os
jornalistas. Alguns consideram a ciência neutra e em outros casos como braço da
política, no sentido de envolver questões externas a redação na hora de produzir e
discutir os temas. Tuffani (2005) coloca que por muito tempo essa idéia da ligação
entre ciência e política ficou restrita aos pesquisadores com orientação marxista,
porém mudou com o passar do tempo.
Outra discussão que permeia o jornalismo científico, especializado e
ambiental é até que ponto o jornalismo ambiental pertence ao científico. Para Lima
(2002), jornalismo ambiental deve ser considerado uma ramificação do científico.
Apesar da visão distorcida, a autora revela que é possível trabalhar meio ambiente
como sendo um tema na área da ciência. De acordo com Linhares e Morais (2002),
os temas relativos ao meio ambiente fazem parte do universo da ciência e há pouco
tempo passaram a se inserir no universo social, assim como os demais temas que
abrange o jornalismo científico. Para Abiahy (2005), o jornalismo científico pertence
ao jornalismo especializado e pode ser considerado um dos primeiros ramos da
especialização. “Por motivos evidentes a abordagem da ciência não poderia ter uma
boa qualidade apenas nos espaços reduzidos destinados pela mídia em geral”
(ABIAHY, 2005, p. 23).
Em alguns casos, ao se fazer uma relação entre jornalismo ambiental e
ciência, pensa-se se de fato o jornalismo ambiental pertence ao jornalismo científico.
Porém, Campos (2006) explica que, quando a mídia faz a cobertura de assuntos
como por exemplo, o Furação Katrina, a Tsunami na Ásia e as devastações por
causa da seca, quando bem fundamentadas e contextualizadas, a cobertura
necessita das características do jornalismo cientifico para transmitir as informações.
Toda discussão de meio ambiente, quando bem aprofundada e contextualizada se
pauta no jornalismo científico, ou seja, em partes o jornalismo ambiental se utilizada
de diretrizes do jornalismo científico. Segundo Tuffani (2005, p. 99), é possível
considerar meio ambiente como um dos diversos assuntos da cobertura científica.
2.6 JORNALISMO AMBIENTAL: UM OLHAR PARA O MEIO AMBIENTE
Na medida em que a sociedade discute temas, assuntos e acontecimentos, a
mídia tende a acompanhar e pautar o que está acontecendo. Isso explica o porquê
72
do tema meio ambiente ter ganhado espaço nos veículos de comunicação nos
últimos anos. Apesar na insuficiência das abordagens apontada por diversos
autores, é por meio da mídia que as pessoas tomam conhecimento das catástrofes
ambientais e das explicações científicas para os fenômenos envolvidos. Os meios de
comunicação, e especificamente os jornais, diariamente falam de crise ambiental e
de problemas ecológicos (ABREU, 2006).
Alguns autores datam o jornalismo ambiental de pouco mais de 30 anos. O
interesse dos veículos de comunicação por temas ambientais surgiu a partir de
1970, com o trabalho dos movimentos ambientalistas no Brasil. “O jornalismo
ambiental nasceu juntamente com os movimentos ambientalistas e eventos
promovidos pela Organização das Nações Unidas ao longo das últimas décadas”
(SOUZA, 2005, p. 33). Porém, segundo Bonfiglioli (2006, p. 70), além da demora
para o tema surgir como importante nas discussões públicas, ele aparece com
“características do lirismo e do romantismo, típicas dos movimentos sociais de
contracultura, em especial o movimento pacifista hippie”, que foram característicos
dessa época.
Em nível mundial, a defesa do meio ambiente foi um movimento que nasceu
principalmente nos países do Norte nos anos 60, com as denúncias da norte-
americana Rachel Carson sobre envenenamento com pesticidas (ARRUDA, 2006).
Para alguns autores, Rachel Carson é considerada a precursora do movimento
ambientalista no mundo. “(...) Rachel Carson iniciou o movimento ambientalista com
seu livro sobre os efeitos dos pesticidas e os ecólogos foram solicitados a
testemunhar de ambos os lados do debate que se seguiu. (...)O assunto passou a
ser uma questão moral. O ecossistema, e às vezes, “a ecologia” estavam sendo
perturbados e os homens estavam em perigo por destruir um sistema do qual
dependiam. (GOllEY,1993, in: BONFIGLIOLI, 2006, p. 71).
Nessa década, surgiu na França a primeira organização de jornalistas que
trabalhavam com o tema meio ambiente e em 1968, aconteceu a Conferência da
Biosfera. Nessa mesma época, aconteceram alguns outros episódios que marcaram
o início da cobertura ambiental pelos veículos, porém, somente a partir da
Conferência de Estocolmo, em 1972, foi possível perceber de fato o aumento da
cobertura da imprensa. Segundo Abreu (2006), os temas discutidos atualmente
como, por exemplo, aquecimento global, desmatamento, contaminação das águas,
73
poluição do ar, excessiva produção de resíduos e fontes renováveis de energia, só
passaram a integrar o jornalismo ambiental a partir da Conferência de 1972.
Para Bonfiglioli (2006), os meios de comunicação foram fundamentais para
tornar o tema meio ambiente um assunto de conhecimento público. A partir da década de 70, a vulgarização de conceitos e noções da temática ambiental junto ao público é ampliada, graças à crescente evolução tecnológica dos meios de comunicação. Cada vez mais, discursos relativos à defesa do ambiente natural e à garantia de qualidade de vida urbana, até então restritos aos seus lugares oficiais (ciência e governos), começam a adentrar o espaço simbólico do senso comum, gerando novos nós de significação e sentido e adquirindo relevância frente aos demais discursos contraculturais do mesmo período (BONFIGLIOLI, 2006, p. 71).
Segundo Villar (1997), entre a Conferência de Estocolmo e a Rio-92 um novo
boom contribuiu com o aumento da produção da imprensa: a descoberta do buraco
da camada de ozônio em meados de 80 e o papel do homem no processo de
destruição da natureza. Segundo Feldmann (2008), essas descobertas foram o
marco para tirar as duvidas sobre o impacto da ação humana no planeta, que havia
sido discutido em 1972, em Estocolmo.
Durante as décadas de 70 e 80, aconteceram outros encontros que discutiram
o tema meio ambiente e influenciaram a imprensa, mas para a jornalista Eliana de
Souza Lima (2002) foi somente a partir de 1992 que o jornalismo ambiental
despontou nos veículos de comunicação, como resultado da ECO-92, realizada no
Rio de Janeiro. O evento fez com que a mídia respondesse a demanda por notícias
de meio ambiente por meio da criação de cadernos e suplementos (TRIGUEIRO,
2008).
Nesse contexto, começaram a aparecer mais claramente a cobertura
relacionada a assuntos de meio ambiente no Brasil. Mas na dissertação do
mestrado, Arruda (2006) considera Randau Marques, do Jornal da Tarde, como o
primeiro a se destacar na cobertura ambiental no Brasil, ainda em 1968. Além disso,
em termos de pioneiros no jornalismo ambiental considera-se também a revista
Realidade, na edição especial sobre as cidades, de 1972.
Arruda revela ainda que no início os jornalistas tiveram que ser persistentes e
se empenhar para elaborar as notícias, pois nem mesmo os donos dos veículos
apoiavam esse tipo de cobertura, especialmente quando se tratava de denúncias. O
jornalista Randau Marques foi preso na Operação Bandeirante e considerado
subversivo quando escreveu em um jornal paulista sobre a contaminação de gráficos
74
e sapateiros por chumbo, além de questionar se os agrotóxicos eram os
responsáveis pela contaminação e mortandade de peixes.
Segundo Alves (2002), o estado do Rio Grande do Sul dever ser considerado
o pioneiro na luta pelas questões ambientais no Brasil. A autora usa como exemplo,
o jornal Correio do Povo, que em seu Suplemento Rural no período de 1957 a 1963,
publicou 301 artigos assinados por Henrique Luís Roessler (fundador da primeira
entidade de luta e defesa da natureza no Brasil-1955). Outro veículo gaúcho que
apresentava notícias sobre o tema era a Folha da Tarde, junto com o Correio do
Povo e a Folha da Manhã. Os três foram os principais responsáveis pela divulgação
da temática e das lutas pela preservação ambiental na década de setenta (ALVES,
2002). Segundo a autora, o jornal Zero Hora também dedica espaço à cobertura
ambiental a partir de 1974, resultado da década de 70 ter sido o período em que
ocorreram as principais lutas e protestos dos ambientalistas gaúchos.
Outro passo importante na discussão do tema foi o surgimento dos veículos
especializados em jornalismo ambiental. Alves mais uma vez destaca o Rio Grande
do Sul, como local onde surgiram os jornais ecológicos, geralmente ligados a
organizações ambientais. “Esses impressos surgem com o intuito de divulgar
questões importantes que não recebem espaço ou não são abordadas de forma
consciente pela grande imprensa” (Alves, 2002, p. 4).
Na década de 90, a cobertura se deu com mais ênfase a partir da inclusão de
pautas “na medida em que apareceram os debates sobre transgênicos, biodiesel,
biopirataria e aquecimento global” (BUENO, 2004). Além disso, tem se tratado com
mais relevância os temas como a questão do lixo urbano, poluição, transgênicos,
agrotóxicos, desmatamento, entre outros (BUENO, 2004). Castro (2004) também
explica o desenvolvimento do jornalismo ambiental devido à maior preocupação da
sociedade.
Porém, Arruda (2006) defende a infidelidade dos veículos com o tema,
abordando-o apenas quando acontecem tragédias. A crítica sobre a grande mídia se
dá pelo fato das notícias só ganharem espaço quando relacionadas a uma catástrofe
ou acidente ambiental. “Retratam apenas as catástrofes ecológicas globais, que não
tem como função promover debate e conscientização pelas causas da natureza,
apenas apresentam a crise do meio vinculada com uma heurística do medo”
(AGUIAR, 2005, p. 1). Segundo Bueno (2004), “as catástrofes ecológicas estão
tomando conta das primeiras páginas dos veículos diários (...), os quais podem ser
75
considerados sensacionalistas quando retratam apenas acidentes ambientais como
forma de aumentar a audiência”.
E Villar (1997) destaca que A imprensa brasileira dificilmente trata dos problemas ambientais com profundidade na pauta das discussões públicas. As exceções são fruto de um esforço pessoal e isolado. O meio ambiente é manchete e ganha espaço e tempo na cobertura diária quando acontecem desastres, ou quando os assuntos repercutem no exterior, como a morte de um ecologista famoso, as queimadas e os desmatamentos na Amazônia e na Mata Atlântica (VILLAR, 1997, p. 1).
Os autores defendem a mesma idéia de que os veículos não fazem
acompanhamento do assunto e geralmente partem de algum evento pra falar sobre
o tema, como foi o caso da Eco-92 que despertou o interesse dos jornalistas, mas
após passado certo tempo, os jornais acabaram com as editorias especiais e
suplementos criados na época da Conferência. Scharf (2004) exemplifica a
cobertura pautada por eventos ambientais com a ECO-92, pois foi um período que,
apesar da falta de qualidade dos textos, a quantidade aumentou consideravelmente,
segundo o autor.
Ramos, citado por Correa (2007), comenta que as notícias sobre o tema meio
ambiente nos grandes veículos se dão de forma fragmentada e dependem de
eventos especiais para se consolidar como notícia. Segundo o autor, a
fragmentação se dá no sentido de que a contextualização é pobre e não contribui
para o entendimento das implicações do fato noticiado. Segundo Scharf (2004), falta
uma cobertura aprofundada, contextualizada, multifacetada e que se mantenha nas
páginas dos veículos independente dos eventos. Essa cobertura deficitária remete,
segundo Ramos, citado por Correa (2007), que essa questão não é prioridade para
os meios de comunicação, pois não refletem seus interesses imediatos.
Segundo Villar (2004), o que predomina ainda hoje nos noticiários sobre os
problemas urbanos é a cobertura pontual, que se acentua em momentos de crise
(como foi o caso das enchentes no litoral de Santa Catarina em 2008, os
alagamentos quase que normais nas grandes cidades, o Tsunami em dezembro de
2004 etc.) e pouco espaço para debate, análise, investigação das causas,
interpretações e apresentações de soluções para os problemas. O autor ressalta que
a mídia nem sempre se pauta pelo debate público e prefere dar destaque as
catástrofes, por meio das manchetes de terrorismo, ressaltando o medo e não a
conscientização. Para Villar (2004), a mídia apenas noticia textos sobre meio
76
ambiente ao invés de educar e transformar, que deveria ser o papel dos meios de
comunicação, além do mero fato de informar a população. Segundo Trigueiro (2005),
o aquecimento global é uma das maiores tragédias ambientais no planeta, o que
justificaria uma cobertura densa sobre o assunto, porém não é isso que a mídia
retrata. O autor também afirma que ao tratar de saúde, educação, segurança,
economia e outros assuntos que envolvem diversos problemas nas cidades, os
jornalistas não fazem uma abordagem integrada que envolve o meio ambiente.
Trigueiro (2008) ressalta que, apesar de vivermos na Era da Informação, os
profissionais de comunicação ainda veem o meio ambiente como uma questão
periférica, pois compreendem o assunto como algo restrito a fauna e flora, sem a
amplitude que o tema ganhou nos últimos anos. Um exemplo desse aumento é a
definição das agendas verde, marrom e azul que se refletem na criação de políticas
públicas voltadas ao meio ambiente, além da presença do conceito de
desenvolvimento sustentável nas empresas, governo e ONGs.
Para falar sobre meio ambiente é necessário entender que o tema é
complexo, ou seja, os problemas estão envolvidos por um contexto histórico, social,
político e econômico, o que exige um maior conhecimento do jornalista
(MASSIERER e GIRARDI, 2008). Quando isso não é levado em consideração pelo
repórter, as notícias ficam desconexas e isoladas. A imprensa, apesar de ampliar o espaço para divulgação das matérias de meio ambiente, ainda apresenta o tema deforma isolada e fragmentada privilegiando as fontes oficiais e a publicação de notícias sensacionalistas e superficiais. A falta de profundidade nas matérias sobre meio ambiente se deve à complexidade deste campo e às dificuldades enfrentadas no jornalismo de ter que apresentar as co-relações com os fatores econômicos, políticos, culturais e sociais em um curto espaço de tempo (MASSIERER e GIRARDI, 2008, p. 2).
De acordo com Souza (2005), essa falta de contextualização é bastante
expressa nos veículos, quando as matérias focam apenas um aspecto sendo que há
outros mais importantes que não foram abordados. Para o autor, é necessário ir
além das seis perguntas do lead ao tratar do tema. Villar (2004) acrescenta que não
há interesse editorial para publicar grandes reportagens sobre o tema e faltam
recursos além de espaço e tempo, para os veículos fazerem investimentos.
Segundo Villar (2004), o que também prejudica o trabalho dos jornalistas que
escrevem sobre meio ambiente nos veículos de comunicação é a dificuldade em
obter informações sobre o assunto. Só em 2002, por exemplo, que o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou a primeira edição de um
77
relatório sobre o desenvolvimento sustentável no Brasil. Apesar da produção
acadêmica de trabalhos relacionados ao tema, faltam informações, resultado de
pesquisas, etc.
A partir de 2003, com a aprovação da Lei de Acesso à Informação Ambiental,
foi possível ampliar a rede de informações sobre meio ambiente no país. De acordo
com essa lei, todo cidadão tem direito a acessar as informações produzidas pelo
Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama). Com essa maior transparência dos
órgãos públicos, é possível facilitar a atividade jornalística. Segundo Tautz (2005,
p.1), o campo de investigação jornalística na área ambiental é grande e essa lei
facilitaria a produção, pois garantiria o acesso as informações, que muitas vezes não
eram repassadas ao jornalista. Há um campo enorme para a realização de investigações jornalísticas em temas de fundo sócio-ambiental. É um espaço maior do que temas mais tradicionalmente cobertos pela imprensa brasileira, como corrupção governamental. De depósito de resí¬duos sólidos (lixo) à construção de hidrelétricas, os temas só esperam pela boa e velha prática da reportagem para virem à tona. (TAUTZ, 2005, p. 1)
Apesar de contemplar a vigência da nova lei, proposta pelo Deputado Fabio
Feldmann em conjunto com a Deputada Rita Camata ao Congresso Nacional em
1998 e aprovada em 16 de abril de 2003, Tautz (2005) ressalta a importância do
jornalista na cobrança para que a lei, de fato, seja colocada em prática. A partir de
2003, os órgãos públicos ficam obrigados a permitir o acesso aos documentos que
tratem de assunto ambiental e a fornecer todas as informações ambientais relativas
à qualidade do meio ambiente; políticas, planos e programas potencialmente
causadores de impacto ambiental; resultados de monitoramento; ações de
recuperação de áreas degradadas; acidentes, situações de risco ou de emergência
ambientais; emissões de efluentes e substâncias tóxicas; diversidade biológica e
organismos geneticamente modificados.
Há diversas outras leis, anteriores a essa que de alguma forma também
contribuíam para facilitar o acesso às informações, o diferencia da Lei 10.650 é que
ela é voltada especificamente para o meio ambiente. O desafio dos jornalistas agora
é o acesso às informações de empresas privadas. “A Lei é inédita e representa um
avanço no Direito Ambiental [...] Poucos países do mundo editaram legislação
semelhante e a norma está sendo considerada um avanço por juristas brasileiros e
de outros países” (FURRIELA, 2004, p 5).
78
Apesar de a lei ter melhorado o acesso às informações, outro fator, que
segundo Trigueiro (2008) influencia no processo de produção das notícias é o timing
das mudanças climáticas que envolvem um grande período de tempo, diferente das
notícias que tem um prazo de validade muito curto. Esse longo prazo que envolve as
mudanças climáticas, por exemplo, segundo o autor, parece não fazer sentido para
uma sociedade cada vez mais imediatista. Besserman (2008) relata que ainda não
há estatísticas ambientais e indicadores de desenvolvimento sustentável, apesar da
dimensão da questão ambiental no mundo.
Outro fator levantado por Trigueiro (2008) é a utilização de uma linguagem
científica que dificulta o trabalho do jornalista, pois ele precisa ‘traduzir’ o texto com
clareza mantendo a qualidade, sem dar prejuízo à informação. Nesse processo há
dois extremos: muitos cientistas trabalham com excesso de cientificismo,
transformando o assunto em algo que é entendido apenas pelos seus pares,
afastando o público leigo e inclusive o jornalista. O outro lado é o comprometimento
da notícia se há simplificação demais no texto. Muitas palavras não têm outro
significado de mais fácil compreensão e demoram algum tempo para o público se
familiarizar.
Para Erbolato citado por Shimidt (2005) o jornalismo que trata de meio
ambiente, independente de uma editoria de jornal ou de uma revista temática, pode
ser considerado jornalismo ambiental. Mas, o que ainda intriga os estudiosos e
pesquisadores na área, é a forma que os veículos de comunicação estão abordando
o assunto.
Santos, citado por Abreu (2006) explica que a mídia pode ter um discurso
tanto interessado quanto interesseiro ao falar de meio ambiente. Por meio da
linguagem, pode fazer um discurso falso que impossibilita a população de entender
o assunto, porém, ao mesmo tempo, tem a possibilidade de fazer um papel nobre
deixando de expressar o senso comum, voltando-se para as necessidades da
população e não do mercado.
Scharf (2005) adverte para a relação dos jornalistas com as fontes, devido
aos interesses envolvidos. Muitos jornalistas não se sentem livres para fazer a
cobertura sobre o assunto. Segundo o autor, eles possuem uma liberdade de
expressão relativa, ou seja, publicam desde que as notícias não prejudiquem os
interesses econômicos de outras pessoas, principalmente de seus anunciantes. “[...]
isso significa que as empresas jornalísticas dificilmente aprovam reportagens sobre
79
degradações ambientais provocadas por seus grandes anunciantes” (SCHARF,
2005, p. 64).
Há também o caso de empresas que tentam divulgar suas ações na área
ambiental como forma de minimizar as falhas. Um exemplo, citado pelo autor, foi a
Agência de Energia Atômica, que vendeu a idéia de que as centrais nucleares
emitem menos poluentes do que outras formas de geração de energia elétrica.
Segundo o autor, é necessário saber escrever sobre as qualidades, sem omitir os
erros e falhas. Scharf também ressalta alguns instrumentos de venda das empresas
tomados como certos para a produção jornalística pelo jornalista. É o caso dos
selos e certificados ambientais utilizados para convencer o jornalista e também os
consumidores.
Villar (1997) considera o jornalismo ambiental como algo irreversível dentro
das redações por uma questão mercadológica: Os grandes grupos de comunicação do país sabem que não podem ignorar a questão ambiental, meramente por uma questão de mercado, e por isso fazem pequenas concessões, abrindo janelas periféricas aqui e ali. No entanto, mantêm o jornalismo ambiental com um status marginal. E o jornalista que se especializa é rapidamente tachado de ecochato ou ecologista, minando a credibilidade do profissional. Principalmente quando começa a discutir com profundidade as questões ecológicas e denunciar grandes empresas poluidoras (VILLAR, 2007).
Segundo ele, apesar da ECO-92 ser um marco nas questões ambientais e no
trabalho da mídia, no decorrer da década isso não se reflete. Já Aguiar (2005)
partilha da concepção de que esses tipos de notícias vêm ocupando as páginas dos
jornais, em especial nos diários, com maior destaque, apesar das deficiências e
falhas presentes na cobertura jornalística.
No Brasil, na última década do século XX, a cobertura sobre o assunto
passou por três momentos distintos segundo Tosi e Villar (2001). Os autores
caracterizam o início dos anos 90 até 92 como o boom da discussão. Já um
momento mais a frente, caracterizam como “ressaca”, devido à diminuição de pautas
sobre o tema na grande imprensa. Este recuo não foi geral. A Agência Estado, a Gazeta Mercantil e a TV Cultura mantiveram o tema em pauta. Os demais veículos da chamada grande imprensa só voltaram a considerar os temas ecológicos como assuntos importantes quando acontecia um desastre. (TOSI E VILLAR, 2001, p. 1)
Após esse período em que perdeu espaço na mídia, nos últimos anos do
século o assunto voltou a compor as pautas devido ao aparecimento das grandes
80
empresas poluidoras e do crescente interesse pelo Selo Verde. “Nesse período os
empresários começaram a aparecer com uma postura menos reativa e mais pró-
ativa, discursando sobre as tecnologias limpas, a mudança dos processos industriais
para diminuir o desperdício de energia, matéria-prima e água” (TOSI e VILLAR, 2001
p. 1).
No início da década de 90, o que impulsionou a divulgação do tema foi a
realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, no Rio de Janeiro. E no período de ressaca o tema apenas
ganhava espaço quando acontecia um desastre. Agora, as notícias são diárias, mas
de fatos desconexos.
Segundo Aguiar (2005), aumentou a incidência de matérias sobre meio
ambiente nos principais jornais diários do país, porém as notícias abordam na
grande maioria, os desastres e as catástrofes ecológicas. Villar (1997) concorda com
a afirmação de Aguiar e reafirma as falhas da imprensa ao tratar do tema meio
ambiente: A imprensa brasileira dificilmente trata dos problemas ambientais com profundidade na pauta das discussões públicas. As exceções são fruto de um esforço pessoal e isolado. O meio ambiente é manchete e ganha espaço e tempo na cobertura diária quando acontecem desastres, ou quando os assuntos repercutem no exterior, como a morte de um ecologista famoso, as queimadas e os desmatamentos na Amazônia e na Mata Atlântica. (VILLAR, 2007).
Para explicar a trajetória da produção nesta área do jornalismo, Aguiar (2005)
define quatro formas de representação do meio ambiente, que se dá por décadas.
Na década de 60, começaram a ser divulgados os riscos ambientais pelo uso de
produtos químicos industriais na agricultura e os efeitos perigosos para o meio
ambiente. Nessa época, os problemas com o meio ambiente eram representados
como uma crise de participação.
Na década seguinte, a representação social da desordem do meio ambiente
assume o enfoque de uma crise de sobrevivência. Nesse período aconteceu a 1ª
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente. A crise ambiental passou a
ser representada agora, como um problema de escassez, já que os cientistas e as
autoridades governamentais afirmavam a existência de limites para a exploração e
uso dos recursos naturais, que antes eram vistos como ilimitados. Passou-se a
divulgar a necessidade de frear a expansão ilimitada da sociedade. Nessa época,
81
também se percebeu que o projeto desenvolvimentista da sociedade moderna está
baseado em um sistema de valores materialistas e prejudicial ao meio ambiente.
Na década de 80, a representação da crise assume a imagem de uma crise
cultural. “A crise do meio ambiente passa a ser representada como o momento
oportuno para superar a racionalidade instrumental e a ética de valores materialistas
que construíram a modernidade” (AGUIAR, 2005, p. 5). Nesse contexto surgiu o
conceito de desenvolvimento sustentável que deu origem a uma maior cobertura
sobre o assunto. Segundo o autor, foram assegurados amplos espaços de
divulgação nos meios de comunicação de massa, levando em conta os interesses
empresariais e governamentais e apresentando os três aspectos principais do
projeto: crescimento econômico, equidade social e equilíbrio ecológico. Na última
década do século, o que marca são as crises. A desordem ecológica do meio
ambiente não é apenas o resultado de uma explosão demográfica ou da escassez
dos recursos naturais, mas é representada pela ótica de uma crise global de
civilização, de um modelo de sociedade que se tornou globalizado e não possibilita
mais manter os mesmos padrões de até então.
“A partir da crise que tomou conta das últimas décadas do século XX, espera-
se que o jornalismo dê sentido a toda essa massa de informações que circula pelo
planeta, abrindo um espaço para a reflexão e contribuindo para a descoberta de
soluções para esta crise” (ARRUDA, 2006, p. 2). Para isso, é preciso mudar a forma
de cobertura feita pelos veículos. Como relata Aguiar (2005, p. 13), a cobertura até o
momento “foi baseada apenas no medo e nas catástrofes”, ou seja, em matérias que
apareciam apenas em momentos que aconteciam tempestades, acidentes
ambientais, etc..
Outro fator que pode interferir na produção de notícias de meio ambiente no
Brasil, é o crescimento do agronegócio que já contribui para que o foco dos veículos
no tema meio ambiente se torne difuso. Como explica Bueno (2004), o lucro se torna
maior para a grande imprensa ao apoiar o crescimento econômico. O jornalismo
ambiental fica sufocado na grande mídia e se desenvolve somente a partir de
olhares que não expressam de fato, os problemas que existem. Enquanto o
movimento ambientalista, os sem terra, a população ribeirinha e os indígenas, que
são possíveis fontes, ficam esquecidos, os jornalistas acompanham as grandes
empresas, dando a estas, oportunidades de plantar notícias dentro das redações, o
que nem sempre representa o problema ambiental de fato.
82
O surgimento de novos canais de informação, como a internet, as rádios
comunitárias e os jornais locais, por exemplo, proporcionam espaço para a
multiplicação de vozes, dando espaço aos movimentos ambientalistas, ONGs etc.
(BUENO, 2004). Segundo Alves (2002, p. 8), é necessário que os meios de
comunicação, independente de qual seja, façam jornalismo ambiental relacionando
“a ecologia e o meio ambiente com nossas vivências diárias”.
A autora afirma ainda que é necessário que a mídia assuma seus valores e
filosofias, e que a questão ambiental faça parte destes. Assim, os meios de
comunicação terão ações responsáveis de forma ética, social e ambientalmente
correta nas comunidades nas quais estão inseridos, incentivando e estimulando a
especialização de seus profissionais na área ambiental assim como disponibilizando
“espaço para as reportagens de cunho preservacionista, ecológico e ambiental”
(ALVES, 2002, p. 10).
Segundo Lima (2002), os veículos jamais vão se recusar a publicar o assunto
devido a sua importância. A mídia tem um importante papel na conscientização
ambiental da população, porém, para que isso de fato aconteça, é preciso verificar
de que forma se está abordando o assunto, já que afeta a vida dos cidadãos. A
autora entende a produção midiática como educadora, porém revela que há falta de
instrução para os jornalistas [...] lhe falta também uma formação específica no campo educacional e principalmente no científico. [...] Durante a Rio 92 e no ano subseqüente, os grandes veículos mantinham setoristas nas dependências do Ibama. Passada a moda, o assunto perdeu espaço. Os cadernos especiais tranformaram-se em seções, e em seguida subseções. Não há, pelo menos no grau que se espera, por parte dos responsáveis pela formação dos jornalistas, uma preocupação com as questões científicas, incluindo as ambientais (LIMA, 2002, p. 01).
A idéia da mídia como educadora, no caso do tema meio ambiente se deu já
no início dos anos 80, quando foi por meio dela que a população passou a conhecer
e ao mesmo tempo tentar corrigir os malefícios causados pelo próprio homem. Para
Trigueiro (2005), o jornalismo ambiental deve perceber a realidade que nos cerca de
um ângulo mais abrangente.
Para Alves (2002) [...] o jornalismo ambiental deva contextualizar o homem dentro da natureza, apresentando os problemas suas causas e conseqüências, sugerindo soluções, estimulando ações para que possam enfrentá-los. Contribuindo para a formação da cidadania ambiental. Incentivando relações sociais de respeito à natureza, a si próprios e aos demais seres humanos (ALVES, 2002, p. 12).
83
Segundo Villar (1997), a forma de tratamento que se dá ao tema varia
conforme a região e conforme o envolvimento das pessoas. As ONGs, por exemplo,
são responsáveis por grande parte do que é veiculado na mídia, porém onde elas
não atingem, esse tipo de jornalismo é quase inexistente. Apesar de ressaltar a
importância de não transformar a mídia em porta voz das entidades ambientalistas, é
necessário é ouvir todos os lados possíveis e entender que o jornalismo ambiental
envolve um universo bastante complexo. Segundo Massierer e Girardi (2008),
entender as relações do meio ambiente com as outras áreas é essencial para a
qualidade da informação e para que de fato a mídia exerça seu papel educacional.
Atualmente, um dos desafios da comunicação é fazer com que o tema meio
ambiente tenha vínculo com o dia-a-dia da população para que, de fato, tenha
significação para as pessoas e de alguma forma possam introduzir um pensamento
mais cidadão com relação ao assunto.
Tereza Urban, jornalista e ambientalista, fala sobre os problemas causados
na população quando falta informação sobre o tema meio ambiente. Segundo ela, o
desconhecimento ou o distanciamento com o tema transforma o cidadão num
predador, por ignorância de causas e conseqüências, dificulta o exercício da
cidadania por desconhecimento dos direitos individuais e coletivos e determina o
isolamento das organizações governamentais e não-governamentais da área, que
não conseguem apoio na opinião pública. Urban (2006) defende que a participação
da população é importante para influenciar nos debates, pois no Brasil o tema não é
prioridade dos governos, os quais também não exigem do setor privado maiores
responsabilidades na área ambiental. Esse descaso do setor público reflete na forma
de abordagem jornalística sobre o tema e, segundo a autora, justifica a cobertura
pontual e limitada aos desastres ecológicos.
Apesar da falha do governo, a mídia é uma das principais formas de informar
a população, ou seja, é por meio dos veículos que as pessoas têm acesso as
informações sobre meio ambiente. Por isso que Urban (2006) ressalta a importância
do jornalismo na conscientização e educação da população. A falta de
contextualização faz com que as pessoas tenham uma idéia simplista sobre o termo
meio ambiente. Segundo a autora, o cidadão comum ainda tem a idéia de que
ecologia “é assunto distante, coisa do mato, da Amazônia, do alto mar, em nada
semelhante ao esgoto a céu aberto diante das casas, ao lixo jogado no terreno
84
baldio ou na praia, às emanações imperceptíveis da fabriqueta do bairro, à erosão
da lavoura, ao agrotóxico mal aplicado etc.”.
É nesse sentido que o papel da universidade é fundamental para o
desenvolvimento do jornalismo ambiental. Roberto Villar, citado por Arruda (2006)
explica que ainda hoje as reportagens não partem de uma edição editorial, mas sim,
da curiosidade dos jornalistas. Segundo ele, a falta de discussão nos cursos de
Jornalismo pode ser um dos causadores do problema. Nesse processo de
aprendizagem das universidades, Tosi e Villar (2001) sugerem aos estudantes
conhecer a trajetória daqueles que já lidam com o assunto nas redações. Jornalistas como Randau Marques e suas matérias sobre poluição industrial, Lúcio Flávio Pinto e as histórias sobre a Amazônia, e Elson Martins, que assistiu de perto ao aparecimento e à liderança de Chico Mendes no Acre, deixaram um legado e um exemplo que não podem ser ignorados pelas novas gerações. Os jovens também devem procurar aprender com os artigos de Washington Novaes, explicando os grandes temas internacionais, as matérias de Regina Scharf, mostrando as implicações econômicas das questões ambientais, as reportagens científicas de Liana John e Marcelo Leite, tradutores dos fatos que envolvem as ciências da natureza. Todos talhados na prática cotidiana das redações (TOSI e VILLAR, 2001, p. 1).
Campos (2006) defende que a universidade tem papel fundamental na
formação profissional, sendo ali o espaço que deveria formar o jornalista para
trabalhar com ecologia, o que é chamado por André Trigueiro, de “alfabetização
ecológica dos jornalistas”. Segundo Campos (2006), é necessária uma visão crítica
já na formação acadêmica para melhor enfrentar o mercado de trabalho. Em uma
pesquisa realizada com os alunos da Unesp/Bauro, o autor detectou que poucos são
os alunos que vêem o problema ambiental como algo relacionado com os demais
setores da sociedade, sendo que na verdade isso deveria ser de entendimento de
todos. É necessário que o jornalismo ambiental esteja presente na universidade, na
mídia, nas escolas e em todos os espaços (CAMPOS, 2006).
Na tentativa de aproximar a população da natureza e conseqüentemente
fazer a relação entre os problemas ambientais e as atividades humanas é que a
mídia deve exercer seu papel. Mas, segundo Urban (2006), para os meios de
comunicação fazerem melhor seu papel, é necessário qualificação dos jornalistas.
“As deficiências na formação do profissional, com certeza contribuem para agravar o
problema da falta de informação na sociedade” (URBAN, 2006, p.1).
Trigueiro (2008) faz uma comparação do jornalismo ambiental com outras
especializações e defende que ainda falta estrutura nas universidades, cursos de
85
graduação e pós-graduação para o jornalismo ambiental, se comparado com outras
áreas como economia, em que os jornalistas encontram um leque de opções para se
especializarem. É intrigante como no Brasil, país que detém a maior reserva muncial de água doce, maior biodiversidade, a maior floresta tropical do planeta, a maior disponibilidade de solo fértil [...] haja tanta escassez na oferta de cursos de meio ambiente voltados para estudantes de comunicação e jornalistas profissionais (TRIGUEIRO, 2008, p.83)
Jukofski (2000) aponta três razões para a escassez de jornalistas ambientais:
as notícias ambientais geralmente são de pouco interesse, os editores e diretores
não gostam delas e não é prestigiado ser um jornalista ambiental. Outro problema
apontado pela autora é a dificuldade de apuração nas redações. Es difícil convencer a un editor respecto a los méritos de las noticias ambientales. Hacer una buena investigación sobre un asunto ambiental requiere de tiempo y recursos. Los medios de comunicación, usualmente, tienen un déficit de personal y pocas veces un editor permite que se dedique más de un día para una historia o está dispuesto a pagar los costos de una larga investigación fuera de la ciudad (JUKOFSKI, 2000).
Apesar da falta de reconhecimento na área ambiental, Trigueiro acredita que
o espaço do jornalismo especializado em meio ambiente está destinado a crescer
em todas as mídias e que isso se dará ainda mais rapidamente à medida que os
profissionais da imprensa souberem fundamentar suas pautas com boas fontes e
informação qualificada (TRIGUEIRO, 2005).
Nesse contexto, em que o tema meio ambiente foi ganhando espaço na mídia
e necessitando de um tratamento diferenciado, surgiram no Brasil, a partir de 1989,
com o auxílio da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), comunidades de
jornalistas que trabalhavam o tema e pretendiam se especializar para a ECO-92. A
entidade ajudou a formar diversos núcleos de ecojornalistas em diversas cidades
brasileiras como em São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, com o
objetivo de criar uma entidade nacional de jornalismo ambiental. Somente um deles
ainda sobrevive ao tempo, o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (Nejrs).
Os grupos foram criados a partir de iniciativas de jornalistas do setor e de conversas
com militantes de movimentos ambientalistas, especialmente a Associação Gaúcha
de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) (VILLAR, 2004).
O Nejrs trabalha em parceria com ONGs gaúchas, na tentativa de divulgar as
causas ambientais, promovem debates nos cursos de comunicação nas
universidades. Segundo Villar (1997), o grupo é bastante ativo, especialmente na
86
promoção de eventos que discute meio ambiente e jornalismo. Entre eles destacam-
se o Encontro Jornalismo e Ecologia, o I Curso de Extensão em Ecologia para
Jornalistas (preparatório para a cobertura da Rio 92) e a segunda edição deste
último, em 1993. Os eventos têm como objetivo discutir o papel da imprensa nos
desastres ambientais.
O Encontro Internacional de Imprensa, Meio Ambiente e Desenvolvimento,
realizado em maio de 1992, em Belo Horizonte, teve como resultado a criação de um
núcleo mundial de jornalistas em Meio ambiente, chamado de Green Press. O
principal objetivo é ampliar a compreensão dos problemas ambientais por meio da
relação entre os profissionais especializados durante os eventos que realizam
anualmente. Segundo Trigueiro (2005), nos locais onde as ONGs, movimentos
ambientalistas e grupos de jornalistas especializados atuam com maior efetividade, o
noticiário ambiental é mais freqüente. Por isso, em 1998, foi criada a rede Brasileira
de Jornalismo Ambiental, reunindo profissionais no assunto que atuam em diferentes
estados brasileiros.
O jornalismo ambiental movimenta diversos setores da sociedade, mobiliza a
população e os jornalistas e gera inúmeras discussões, até mesmo na própria área
do jornalismo, como defende Trigueiro (2005). Segundo o autor, o jornalismo
ambiental quebra o dogma da imparcialidade, tão discutido nos cursos de
comunicação e nas próprias redações, a partir do momento que toma partido em
favor da sustentabilidade, do consumo consciente, do uso correto de recursos da
natureza e de tudo aquilo que remete a um novo modelo de civilização pautado na
preservação do meio ambiente. Mas segundo Correa (2007, p. 57) “a integração dos
problemas ambientais numa visão sistêmica ainda é um desafio, tanto do ponto de
vista da formação dos jornalistas que ainda possui falhas, quanto dos interesses
políticos e econômicos que influenciam o conteúdo das notícias”.
Por meio dos estudos de outros autores foi possível perceber como o campo
jornalístico está ligado a outras instâncias da sociedade e como elas são capazes de
interferir no processo de produção das notícias. Além disso, foi possível estabelecer
uma linha do tempo sobre o desenvolvimento do jornalismo ambiental e também a
ligação deste com as especializações e com o jornalismo científico. Após todas as
leituras que deram embasamento para a pesquisa empírica e ajudaram a entender o
desenvolvimento do jornalismo ambiental como um espaço de produção dos
veículos de comunicação, o próximo capítulo apresenta a parte prática da pesquisa
87
e vai mostrar como os conceitos expostos nos capítulos um e dois estão
relacionados com os dados obtidos na pesquisa com o Jornal folha de São Paulo.
88
3 JORNALISMO AMBIENTAL: A ANÁLISE DO JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO
Este capítulo apresenta a análise do material. O primeiro tópico aborda a
descrição do objeto, o Jornal Folha de São Paulo; posteriormente, o texto trata do
método utilizado, a análise de conteúdo, fazendo ainda uma explicação e uma
descrição das variáveis observadas na pesquisa. O último tópico faz a análise do
material catalogado, mostrando a relação com os capítulos um e dois e também
observando a validade das hipóteses colocadas na introdução deste trabalho.
3.1 JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO: DESCRIÇÃO DO OBJETO DE ANÁLISE
A Folha de São Paulo, fundada em 1921, é, desde a década de 80, o jornal
mais vendido no país, segundo os dados do próprio veículo. Essa posição se
consolidou durante a campanha pela redemocratização do país, em 1984, quando
defendeu as Diretas Já. Segundo o site do jornal (www.folha.uol.com.br), em 2008,
por exemplo, a circulação média foi de 31 mil exemplares em dias de semana e 365
mil aos domingos.
O jornal é resultado da junção de três diários. Em 1921, Olival Costa e Pedro
Cunha fundaram o jornal "Folha da Noite". Em 1925, nasce a "Folha da Manhã", a
edição matutina da "Folha da Noite" e, após 24 anos, surge a “Folha da Tarde". Em
1960, os três jornais se unem num só é recebe o nome de Folha de São Paulo. Em
1962, muda a direção do jornal. Ele é vendido e quem assume é Octavio Frias de
Oliveira e Carlos Caldeira Filho.
Os princípios que devem guiar a produção jornalística do veículo são
desenvolvidos a partir da criação do primeiro projeto editorial, esboçado em 1981 e
publicado em 1984, mesmo ano em que o jornal lança o primeiro Manual da Folha,
com objetivo de publicizar os guias da produção jornalística do veículo. O primeiro
projeto foi calcado em três princípios básicos da produção: informação correta,
interpretações competentes e pluralidade de opiniões.
O projeto editorial foi sendo atualizado com o passar do tempo e a última
atualização foi em 1997. Se, no primeiro, a atenção foi voltada para a “informação
correta, interpretação competente e pluralidade de opiniões”, a segunda atualização,
em 1984, foi marcada pela atuação do jornal nas Diretas Já e pelo jornalismo
moderno (MANUAL, 1992). A Folha foi o primeiro jornal a aderir ao movimento e,
89
com isso, segundo as informações do Manual do jornal, adquiriu “crédito de
confiança com a sociedade”. De acordo com o site www.folha.uol.com.br, o
documento “A Folha depois da campanha diretas-já” define jornalismo moderno
como aquele “que se propõe a introduzir, na discussão pública, temas que até então
não tinham ingresso nela", colocando "em circulação novos enfoques, preocupações
e tendências".
Em 1985, um novo projeto foi elaborado, calcado nos ideais de um estado
democrático. Agora, a sociedade se desenvolvia e era politicamente aberta. O
objetivo no momento era caracterizar o jornal como algo diferenciado para tornar-se
um produto indispensável ao público.
No projeto atualizado em 1986, o objetivo do jornal passou a ser a notícia
exclusiva, comprovada e exata. De 1984 a 1986, as vendas aumentaram mais de
39% e, dessa forma, o jornal pretendia não perder leitores para os concorrentes. Já
em 1988, os olhares se voltam para os concorrentes, como é o caso da televisão,
por exemplo. As preocupações com os erros e falhas se tornam maiores, na
intenção de continuar na liderança.
O último projeto editorial foi atualizado em 1997. Nele, foram feitas avaliações
do passado e das perspectivas para os anos seguintes. Impacto tecnológico e
mercado entraram em pauta. Com relação às diretrizes para o texto jornalístico, o
documento aponta para a qualificação do conteúdo dos jornais, enfatizando uma
abordagem mais compreensiva e criteriosa dos fatos.
O jornal foi pioneiro em vários aspectos como, por exemplo, o uso da
impressão off set, a utilização do espaço para ombudsman e a disponibilização do
conteúdo on-line para os leitores, além da própria produção dos projetos editoriais.
De acordo com informações no site do Jornal, o crescimento se deve aos princípios
editoriais do veículo: pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
De acordo com o Manual de Redação (1992) do jornal, o apartidarismo é
descrito como um dos princípios do veículo, que defende o não atrelamento do
grupo a nenhuma tendência ideológica ou partido político. Sobre o princípio de
independência (política e financeira), o manual coloca como condição essencial para
a independência editorial e política do veículo. O pluralismo é apresentado ao leitor
quando o fato apresenta diversas interpretações e o jornal tem o dever de assegurar
o acesso a todas elas. O jornalismo crítico é descrito como um dos princípios
editoriais em que o jornal deve mostrar a realidade de um ponto de vista crítico.
90
O manual deixa claro que não há objetividade jornalística, afirmando que, na
escolha do assunto e na forma de redigir, o jornalista toma decisões que são
influenciadas por suas posições pessoais. Porém, isso não exime o jornalista da
obrigação de ser o mais próximo da objetividade possível. A transparência é definida
como uma atitude permanente do veículo diante dos seus leitores, sendo que isso
se expressa por meio do espaço para erros do jornal e das cartas dos leitores.
Outro princípio editorial é o jornalismo moderno, caracterizado como sendo a
introdução de temas que ainda não tinham ingressado na discussão pública, tendo
novos enfoques, novas preocupações e novas tendências. Sobre o espaço de
publicidade do jornal, o manual descreve os dois departamentos, jornalismo e
publicidade, como autônomos, sem relação de subordinação. De acordo com as
informações contidas no manual, mesmo que a publicidade tenha prioridade na
divisão de espaço do jornal, o trabalho jornalístico não deve estar subordinado aos
“interesses, presumidos ou manifestos, de anunciantes” (MANUAL, 1992, p. 21).
Dessa forma, ressaltasse que a pesquisa empírica tem como objetivo
identificar de que forma esses conceitos são aplicados na produção do jornal. Os
dados coletados mostram como a pluralidade, a objetividade e os princípios do
veículo estão presentes no conteúdo analisado. a utilização ou não desses conceitos
implica na forma que o veículo aborda e direciona os temas. por isso, no próximo
tópico, faz-se uma descrição do que é análise de conteúdo e sua importância como
método de pesquisa para chegar aos resultados desse trabalho
3.2 ANÁLISE DE CONTEÚDO COMO MÉTODO DA PESQUISA
Nesta segunda parte do capítulo abordamos a discussão sobre o trabalho de
campo, ressaltando aspectos evidenciados por autores, tais como Bauer (2002),
Gaskell (2002), Kientz (1973) e Fonseca (2008) que delimitam e embasam a
pesquisa empírica. Bauer e Gaskell (2002) explicam que a primeira coisa a ser feita
em uma pesquisa é pensar nas quatro dimensões que descrevem o processo,
independente da metodologia que será utilizada: delineamento da pesquisa (neste
caso, a escolha foi pelo levantamento por amostragem); escolha do método de
coletas de dados (utilizaram-se jornais pelo método da observação); definição pelo
tratamento dos dados (opção pela análise do conteúdo) e os interesses do
conhecimento.
91
A pesquisa com o Jornal Folha de São Paulo parte do princípio da
observação quantitativa, mas utilizando algumas variáveis para o estudo qualitativo
(uso de fontes, temáticas etc.). Bauer e Gaskell (2002) defendem que não há
pesquisa quantitativa sem qualificação do conteúdo. Falando mais especificamente
sobre a coleta de dados, será feita a coleta por amostragem, devido ao extenso
período de análise.
Sobre o corpus da pesquisa, podemos identificar como sendo a amostra
composta pelas edições do jornal. Como o objetivo é analisar o Jornal Folha de São
Paulo e sua abordagem sobre os assuntos relacionados à crise ambiental, a
pesquisa vai se dar a partir da análise das edições escolhidas para a verificação da
existência ou não do tema e, conseqüentemente, da análise de conteúdo daquilo
que for catalogado.
Como o estudo utiliza o método da análise do conteúdo para o tratamento dos
dados recolhidos, este espaço será usado para colocar alguns pontos consideráveis
sobre o método, o que de alguma forma explica o porquê da escolha do mesmo para
o desenvolvimento deste trabalho. Para definir a análise de conteúdo, Bauer (2002)
apresenta definições de outros autores. Uma delas, que remete à comunicação,
explica as suas ações sobre o corpus da pesquisa. Berelson, citado por Bauer
(2002), define esse método como uma técnica de pesquisa para descrição objetiva,
sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação. Esta análise
baseia-se nesse método por tentar abordar apenas o conteúdo manifesto, ou seja,
não se atém ao conteúdo presumido em função do que diz ou se crê sobre a
psicologia e as intenções dos autores-emissores. É diferente da análise do discurso,
que se atém àquilo que está oculto e nas intenções do texto.
O primeiro passo do trabalho dentro da análise do conteúdo foi a pré-análise,
antes da exploração do material e tratamento de dados. Após as leituras, que
delimitam o tema, o problema, os objetivos e hipóteses, foi delimitado o corpus da
pesquisa, ou seja, definido o número de edições a serem submetidas à análise.
As duas regras para a constituição do corpus da pesquisa, propostas Fonseca
(2008) - da exaustividade e da representatividade - estão intimamente ligadas com
esta pesquisa, pois, apesar do longo período de análise e falta de arquivos, não é
possível deixar de fora nenhuma edição que, pela amostragem, deve compor o
corpus da pesquisa. Com relação à regra da representatividade, foi definida a
pesquisa por amostragem.
92
Sobre a escolha da amostra, há três fatores que interferem nos resultados e
foram levados em conta nesta pesquisa: a representatividade (já citada acima), o
tamanho, a unidade de amostragem e a codificação. Como essa pesquisa se
estende das edições do ano de 1992 até 2008, impossibilita a utilização de todas as
edições para a análise, por isso a opção em trabalhar com uma amostra. O jornal é
diário e o número de edições é demasiadamente grande para o período de
produção.
O tipo de amostra utilizada neste estudo, segundo Bauer (2002), é chamada
de amostra por semana composta, ou seja, é utilizada para análise uma edição
quinzenal durante todo o período, totalizando 442 edições. Geralmente esses tipos
de amostragem são usados em pesquisa na área da comunicação, que é o caso
deste trabalho. Bauer (2002) cita a “semana artificial” que, na amostragem de jornal
por datas, como este caso, as edições são as unidades de amostragem (UA) e
constituem uma amostragem de agrupamento, ou unidades de registro (UR), que
remetem aos textos. São essas unidades de registro (cada reportagem selecionada)
que serão tomadas por base para o trabalho de pesquisa, já que apesar da escolha
por edições, serão analisadas apenas as notícias sobre jornalismo ambiental.
Depois de feita a amostragem, foi definido o referencial de codificação
(Apêndice A), a partir das leituras sobre o tema meio ambiente. Segundo Fonseca
(2008), a função da codificação é servir de elo entre o material escolhido para
análise e a teoria do pesquisador. Apesar das inúmeras questões que podem surgir
para análise, o pesquisador só analisa o que estiver no referencial de codificação.
Como este trabalho refere-se a uma pesquisa de anos anteriores,
perpassamos rapidamente também pelo método de análise documental que,
segundo Moreira (2008), compreende a identificação, a verificação e a apreciação
de documentos. Os jornais são considerados fontes da análise documental
secundárias, pois aquilo que é publicado no jornal já passou por um jornalista e não
apresenta os discursos de fato como foram apresentados pelas fontes. Esse
conceito se aplica à pesquisa da Folha de São Paulo, pois a análise volta no
tempo, mais especificamente em 1992, tendo que acessar os arquivos para obter o
material.
93
3.3 DELIMITAÇÃO DO CONTEÚDO E VARIÁVEIS DA ANÁLISE
Assim como Campos (2006) coloca, há certa dificuldade em definir o que é
jornalismo ambiental. Isso se deve pelas diferentes definições dadas ao longo do
tempo para o termo. Segundo o autor, no início, “ambiental” era considerado a
fauna, flora, as águas, ou seja, a natureza de modo geral. Com o passar dos anos, o
termo passou por uma análise mais crítica e se refere também às questões
problemáticas, como é o caso do desmatamento, problemas de saneamento básico
e até políticas públicas voltadas para solução dos mesmos.
Além disso, a pesquisa também considera matérias que fazem referência ao
tema meio ambiente, aquelas que falam de eventos, conferências e acordos entre
países, pois de alguma forma as decisões políticas influenciam as ações do homem
na natureza. Outro ponto que deve ser ressaltado é a inclusão de textos sobre
catástrofes naturais (enchentes, estiagem, nevascas etc.), pois há relação entre
estes acontecimentos e o aquecimento global, efeito estufa e mudanças climáticas.
Outro assunto considerado ramificação do tema ambiental é consumo
sustentável, desenvolvimento sustentável, projetos de educação ambiental e novas
tecnologias que contribuem para a preservação do meio ambiente. Estes assuntos
são encontrados a partir de 1992, pois foi na Rio-92 que o termo passou a ser
utilizado para explicar uma forma de desenvolvimento capaz de não destruir a
natureza. Os textos que envolvem saneamento básico (coleta seletiva, rede de
esgoto e água) também são considerados notícias ambientais, pois têm relação com
a poluição dos rios, reservas hídricas etc.
Em muitos casos, algumas matérias pertencentes ao setor de agronegócios e
agricultura, relacionadas ao uso de agrotóxicos, fertilizantes, produção orgânica e
agroecologia, são consideradas como jornalismo ambiental, pois têm relação direta
com a preservação ou poluição do meio ambiente. Outro tema, muitas vezes
relacionado à economia e que, nesta pesquisa, é considerado tema ambiental, é o
biodiesel, pois remete à diminuição do uso de combustíveis vindos do petróleo, que
prejudicam o meio ambiente.
A partir dessa conceituação feita por Campos (2006) e de outras leituras a
respeito do tema meio ambiente, foi possível definir o termo meio ambiente para esta
pesquisa. A análise do conteúdo da Folha de São Paulo terá como base a seguinte
definição para o que será considerado jornalismo ambiental: conjunto de temas que
94
englobam desde a fauna, flora, ecologia, biodiversidade (consideradas meio
ambiente por si só) até as ações do homem contra a natureza, tais como
desmatamento, queimadas, efeito dos gases poluentes, produção de lixo (que de
alguma forma prejudicam a natureza) e as possíveis formas de sanar esses
problemas (saneamento básico, consumo e desenvolvimento sustentável, políticas e
discussões públicas sobre o assunto, reciclagem, projetos educacionais etc.).
A pesquisa que visa analisar o Jornal Folha de São Paulo de 1992 a 2008,
para apresentar um panorama de como o veículo aborda o tema meio ambiente,
partiu da definição de uma amostra não probabilística de semanas compostas, em
que foi definida uma edição quinzenal, totalizando 442 edições. A partir da
conceituação sobre o que será considerado ‘jornalismo ambiental’ no trabalho, foi
possível definir as unidades de registro (notícias categorizadas como meio ambiente)
encontradas nas unidades de amostragem (442 edições).
Após a definição do corpus da pesquisa, foi produzido o livro de códigos para
análise das notícias. Foram identificadas possíveis variáveis para a construção das
tabelas de análise. A proposta conta com diversos pontos a serem observados em
cadatexto: data, seqüência das matérias na edição, formato, título, localização nas
editorias, posição na página, altura e largura, composição visual, tema ambiental,
tema amplo, tema aberto, abrangência, origem e quantidade das fontes, além das
observações adicionais. Todas as variáveis serão explicadas, enfocando a
importância de utilizá-las para entender a produção das notícias.
O primeiro item do livro de códigos é a definição da data em que o texto foi
veiculado. Como a pesquisa engloba um longo período de análise, os resultados
obtidos serão divididos por ano para mostrar se houve evolução ou não. A utilização
da numeração com seqüência das notícias na edição pode dar um panorama de
quantas matérias foram apresentadas em cada data.
Outra variável é o formato do texto noticioso, que foi classificado em oito tipos
diferentes: chamada de 1ª. página, que demonstra a importância/relevância do
assunto; reportagem, texto informativo produzido por jornalistas e agências;
entrevista, texto em formato pergunta e resposta com alguém importante nas
discussões sobre o tema analisado; nota, texto jornalístico curto, composto
basicamente do lead; coluna, texto interpretativo/opinativo, assinado por articulista
do veículo ou agência; artigo assinado, normalmente presente nas páginas de
opinião; editorial, texto que expressa a opinião do veículo sobre o assunto; e
95
fotolegenda, foto com legenda explicativa desvinculada de outro texto informativo. A
partir dessa caracterização, é possível perceber se o assunto recebe destaque no
jornal, ganhando chamada de 1ª página ou não e de que forma é encontrado no
jornal.
A localização do texto e o espaço que ocupa na página também são fatores
observados. São identificados as páginas, a editoria, o espaço (em cm²) e a posição
na página. As editorias podem explicar a forma de abordagem das notícias, ou seja,
um texto da editoria de “dinheiro” tem um enfoque diferente daquele presente na
editoria “ciência” mesmo que o assunto seja o mesmo. Além disso, ao medir o
espaço ocupado pelo tema no jornal, é possível verificar se o assunto é considerado
importante pelo veículo já que, pela lógica, o assunto mais importante (ou mais
‘vendável’?) recebe mais espaço nas páginas. Outra variável que remete a
importância/relevância do tema é a posição em que o texto se encontra na página.
De acordo com a categorização feita na pesquisa, as notícias podem ocupar a
página inteira, metade superior, metade interior, quadrante superior direito ou
esquerdo, quadrante inferior direito ou esquerdo (Figura 1), sendo considerado
sempre onde está a maior parte do texto.
Figura 1 – Demonstração da localização dos quadrantes Fonte: Autora
96
A fotografia é um componente que chama a atenção do leitor para a matéria,
ajuda na compreensão, complementa o texto e apresenta melhor a realidade. Dessa
forma, será analisada a valorização visual da notícia com as seguintes categorias:
matéria textual ou matéria textual complementada com fotografia, box, ilustração ou
gráficos. A composição do material, assim como o espaço destinado ao tema,
representa uma forma de dar ou não visibilidade. Além de informação, a fotografia
representa uma força a mais para a leitura do texto jornalístico. Lima (1989) coloca
que a notícia vinculada com a foto é sempre mais lida, pois ganha mais visibilidade.
Outro caso em que a foto é essencial é quando o jornal precisa chamar a atenção do
leitor e prolongar o impacto da notícia (LIMA, 1989).
As variáveis seguintes apresentam maior proximidade com o tema do
trabalho, na tentativa de apresentar nos resultado da pesquisa os temas
predominantes, o impacto das três conferências na atuação do veículo, a
abrangência das matérias e as fontes mais utilizadas pelos jornalistas, fazendo
relação com os estudos expostos nos capítulo um e dois deste trabalho.
O ‘tema amplo’ busca identificar o ‘teor’ de cada texto, ou seja, sem levar em
conta o tema específico da matéria, identificar se a idéia do texto é apresentar uma
discussão/política pública sobre o tema, uma denúncia, resultado de pesquisas,
eventos ou educação ambiental. Além da categoria ‘outro’ que pode englobar as
notícias não contempladas pelas outras categorias. A pesquisa entende como
política ou discussão pública, as notícias que apresentam projetos do governo,
discussões sobre o tema entre ministros, propostas de leis ou textos que
apresentam a opinião de alguém sobre determinado assunto específico englobado
pelo tema meio ambiente, como a discussão sobre transgênico, biodiesel etc.
Reportagens de denúncia geralmente são aquelas que apresentam resultados
impactantes, vindos de investigações tais como aumento do desmatamento, focos
de queimada, números de mortos numa enchente, entre outros. Exemplo para essa
categoria é o texto do dia 03 de novembro de 2008, que tem como título “ONG
aponta 345 Km² de degradação na AM”, que apresenta um dado que denuncia o
desmatamento na regia Norte do país. Resultados de pesquisa são as notícias que
apresentam ao leitor uma nova descoberta ou estudo que de alguma forma possui
relação com o tema, como é o caso de descobertas de novos animais
(biodiversidade), novas tecnologias para diminuir a emissão de gases etc. A opção
‘eventos’ contempla notícias que falam de conferências, palestras ou reuniões que
97
tem como objetivo discutir o tema meio ambiente. ‘Educação ambiental’ faz
referência aos textos jornalísticos que têm como objetivo instruir o leitor a contribuir
para a preservação do meio ambiente seja mostrando como fazer o aproveitamento
da água, de alimentos, de papel etc.
Além da variável ‘tema amplo’, há outras duas que trabalham com o tema
específico. É o caso de ‘tema ambiental’ e ‘tema aberto’. A primeira foi construída a
partir de leituras dos três documentos que resultaram das conferências da ONU. O
‘tema ambiental’ é composto de três categorias: poluição, desenvolvimento
sustentável e mudanças climáticas. Cada uma delas, nesta ordem, representa o
tema mais relevante de cada conferência, e se não o mais relevante, o que se
desencadeou a partir do evento. Como já foi colocado no capítulo um, o tema
poluição foi o ‘carro chefe’ da conferência de 1972, em Estocolmo, e, a partir disso,
ganhou espaço na mídia e nas discussões na sociedade, pois até o momento não
possuía destaque. Em 1992, o tema que ocupou quase todo o documento resultante
da conferência foi o desenvolvimento sustentável. A discussão se baseava na
tentativa de reverter a situação em que o mundo se encontrava por meio do
desenvolvimento econômico e social sem agredir o meio ambiente. Na última
conferência, em 2002, o tema mudanças climáticas não foi tão relevante, pois o
desenvolvimento sustentável ainda permaneceu em foco, já que a reunião tinha
como objetivo avaliar os resultados da Rio-92, porém, o tema ‘novo’ que apareceu
nas discussões foi mudanças climáticas, devido ao efeito estufa, emissão de gases,
derretimento das geleiras e aumento das temperaturas (aquecimento global). A partir
dessas definições, foi possível enquadrar as notícias relacionadas a cada um desses
temas. Todo tipo de poluição, desde rios, mares, ar e água que abastece as cidades
fazem referência ao tema ambiental ‘poluição’. As reportagens que trabalham com
novas formas de desenvolvimento, pensando na proteção ao meio ambiente numa
perspectiva preservacionista, como é o caso da biodiversidade, ecologia,
reflorestamento, projetos ambientais, produção orgânica, consumo e eventos são
enquadradas na opção de ‘desenvolvimento sustentável’. Outro tipo de texto que é
considerado dessa categoria são aqueles que remetem ao não desenvolvimento
sustentável, por exemplo, o desmatamento e o tráfico de animais, pois só foram
veiculados por representar o não desenvolvimento.
A variável ‘tema aberto’ tem como objetivo identificar os temas específicos
trabalhados pelo veículo. A idéia inicial era já estabelecê-los por meio de códigos,
98
mas como são inúmeros os assuntos e dificilmente seria possível colocar no papel
sem antes fazer a análise, optou-se em descrever o tema específico e depois
apresentar o panorama do que foi encontrado.
Outra categoria que pode ajudar a compreender a produção jornalística sobre
o tema ambiental é identificar qual a região a que o texto se refere. Nesse caso, a
variável foi dividida nas regiões do globo mais o Brasil. E, numa segunda forma de
observação, quando o texto faz referência ao Brasil, é observada de qual região
brasileira ela fala. Por meio desses dados, é possível identificar se alguma região
não é abordada, mesmo apresentando problemas ambientais, se a região mais
abordada tem a ver com o maior desenvolvimento das cidades ou com a localização
da sede do veículo etc.
As últimas três variáveis tratam das fontes de informação. A primeira e a
segunda é para identificar quais são os dois principais entrevistados utilizados na
produção jornalística de cada matéria. Para a produção do livro de códigos, foram
identificados dez tipos de fontes freqüentes nesse tipo de notícia, mais a categoria
‘outro’. ‘Estado/governo’ é quando a pessoa representa o poder público (prefeito,
governador, ministros, representantes de instituições governamentais etc.);
‘cientistas/pesquisadores’ (quando representa uma universidade, uma instituição de
pesquisa, um grupo de pesquisadores etc.). ‘Ambientalista e ONGs’ enquadram as
que representam instituições que lutam pelas causas ambientais e que defendem a
preservação do meio ambiente. Geralmente são dessas fontes que partem as
denúncias. ‘Empresas privadas’ enquadram aquelas que representam as empresas
envolvidas com o assunto da reportagem. Aqui entram os fazendeiros, latifundiários,
proprietários de grande extensão de terra etc. Define-se como ‘população’, os
entrevistados que dão depoimentos sem ser nenhuma das definições das categorias
acima citadas. Geralmente compreendem as pessoas afetadas pelos problemas
causados pela poluição, desmatamento, enchentes etc. Outra variável é
‘policia/bombeiros’, a qual aparece geralmente em matérias sobre queimadas,
desastres naturais e tragédias. ‘Legislativo’ e ‘Judiciário’ também compõem a divisão
de fontes e estão relacionados à criação de novas leis e julgamento de crimes
ambientais. Para finalizar, mais duas categorias: ONU e jornalistas. A ONU recebe
uma categoria específica por ser uma representante da sociedade organizada na
luta pela preservação do meio ambiente e os jornalistas quando eles descrevem
aquilo que presenciaram.
99
A última variável é a quantificação das fontes para estabelecer o número total
que cada notícia apresenta. Fator este que ajuda a entender o processo de
produção quanto à utilização ou não de fontes pelos jornalistas (a pluralidade está
relacionada com os tipos de fontes e não com a quantidade utilizada).
No próximo tópico do capítulo, serão apresentados os dados recolhidos,
catalogados e analisados. As informações foram observadas tendo como base o
livro de códigos (em anexo) e seguindo as orientações descritas acima.
3.4 ANÁLISE DOS DADOS
A partir dessa etapa são apresentados os dados e a análise dos mesmos, de
acordo com as discussões propostas nos primeiros capítulos da monografia. Durante
a catalogação, foram pesquisadas 442 edições referentes à amostra dos 17 anos
em que será observada a produção jornalística sobre meio ambiente na Folha de
São Paulo. Na coleta de dados foram catalogados 783 textos, os quais foram
analisados de acordo com as variáveis descritas anteriormente neste mesmo
capítulo.
Para a análise, os dados foram agrupados em quatro partes, e cada uma foi
analisada em separado, na seguinte seqüência: 1) presença e visibilidade do tema
nas páginas do jornal; 2) tipos de temáticas referentes ao meio ambiente que são
veiculadas; 3) abrangência das matérias produzidas; 4) escolha e distribuição das
fontes nos textos de meio ambiente. O primeiro tópico abaixo mostra como o tema
meio ambiente ganha visibilidade nas páginas internas do jornal e também na capa.
3.4.1 Presença e visibilidade do tema meio ambiente nas páginas do jornal FSP
Nesta etapa da análise, são apresentadas as informações que mostram de
que forma se dá a presença e visibilidade desse tema na Folha de São Paulo no
período de 1992 a 2008. A primeira variável apresentada é o total de cm2 destinado
ao tema, nas edições que compõe a amostra. De acordo com as informações do
gráfico abaixo, não é possível identificar um crescimento contínuo desse assunto
nas páginas do jornal ao longo dos 17 anos (Gráfico 1).
Como pode ser observado, o tema apresenta períodos de pico. Os anos de
1992, 2000 e 2001 e 2008 apresentam um número elevado de matérias em relação
100
20082007200620052004200320022001200019991998199719961995199419931992
tam
anho
em
cm
2
40000,00
30000,00
20000,00
10000,00
0,00
Espaço total ocupado pela temática Meio Ambiente por ano (cm2)
aos demais. E, além dos anos que chamaremos de pico, há também os estágios
intermediários que se caracterizam distintamente: entre 1993 e 1999 há uma
tendência de queda e entre 2001 e 2007 uma tendência de crescimento.
Gráfico 1 – Espaço total ocupado pelo tema meio ambiente no jornal (cm2) Fonte: Autora
É possível perceber que há os três picos onde o tema ganhou maior espaço,
mas não há crescimento contínuo da produção no jornal. Essa maior disponibilidade
de espaço, nesses três períodos, pode ser explicada de acordo com acontecimentos
marcantes de cada época. Em 1992, por exemplo, o que pode ajudar a explicar a
elevação no espaço destinado ao meio ambiente foi a Eco-92 no Brasil, que teve
uma grande cobertura jornalística. Nas edições de 1992 que compuseram a
amostra, foram encontrados 70 textos jornalísticos, sendo que, destes, 29 tratavam
especificamente da Eco-92. ‘Europeus tentam aproximação com EUA para evitar
fracasso da Eco-92’ (7/6/1992) e ‘Noruega critica resultados da Eco-92’ (15/06/92)
são exemplos de textos que enfatizaram o evento e se repetiram diversas vezes no
ano de 1992 fazendo com que aumentasse o espaço utilizado pelo tema meio
ambiente naquele ano (os textos completos estão no Anexo A).
101
O segundo momento de pico, que compreende os períodos de 2000 e 2001,
tem duas explicações. A primeira delas é que, a partir de 20005, ‘Ciência’ passa a
ser editoria e ter periodicidade diária (em alguns períodos, temas relacionados à
ciência ocupavam apenas meia página, dividindo com ‘Atmosfera’). A editoria
‘Ciência’ apresentou um total de 182 entradas, sendo que, anterior ao ano 2000, na
amostra coletada, a seção (que ainda não era considerada editoria) de “Ciência”
teve apenas 10 entradas. Dessa forma, partir de 2000, a editoria teve 172 entradas
coletadas, concentrando grande parte dos textos de meio ambiente. Só em 2000 e
2001, foram 37, mais de 20% do total. Dessa forma, a concentração dos textos em
“Ciência” pode ter aumentado o espaço destinado ao tema no jornal. Ou seja, o
surgimento da editoria pode ser responsável pelo aumento da entrada sobre o
assunto a partir desse período. Se antes não havia um local ‘adequado’ para
produção sobre o tema, com a implantação dessa editoria foi possível abordá-lo
mais vezes. Mesmo surgida apenas em 2002, “Ciência” aparece em segundo lugar,
como a editoria que mais concentra a produção em meio ambiente.
Outra explicação para o aumento do espaço utilizado pelas notícias é a
entrada de novos temas específicos a partir desse período. O tema ‘coleta seletiva’
apresentou oito textos coletados na amostra, sendo que seis estão nesses dois
anos. O tema ‘transgênicos’, por exemplo, ganhou visibilidade no ano 2000. Das 35
noticias que representam esse tema específico durante todo o período, 10 estão
presentes no ano 2000. Outro tema que ganha destaque nesse ano é ‘legislação
ambiental’, pois das 13 notícias catalogadas, cinco são datadas deste período. Em
2001, um assunto que apresenta maior visibilidade do que nos demais períodos são
os protocolos resultantes das conferências que debatem o tema meio ambiente,
como de Kyoto, do Clima e das Florestas. Foram catalogadas 10 reportagens sobre
essas temáticas específicas e cinco delas são datadas do ano de 2001.
O terceiro pico também pode ser justificado pela entrada de alguns temas em
maior número no ano de 2008, aumentando também o número de entradas, como é
o caso do ‘desmatamento’ (com 13 das 47 entradas totais), ‘preservação’ (com 10
das 24 entradas totais) e ‘enchentes’ (2008 teve 14 das 112 entradas totais, 2º maior
número após 1994, com 15). A tabela abaixo (Tabela 1) ajuda a compreender as
informações, pois apresenta o valor em cm2 referente a cada ano de análise.
5 Informação fornecida por funcionários do Banco de Dados da Folha de São Paulo no dia 4 de agosto de 2009 por telefone.
102
TABELA 1 – Espaço total utilizado com o tema meio ambiente
Ano Nº matérias/ano Total espaço cm² ano 1992 70 17905,75 1993 13 4588,50 1994 35 12327,00 1995 38 9877,50 1996 30 7970,50 1997 40 10777,00 1998 34 9787,00 1999 18 5332,00 2000 65 20790,50 2001 60 20285,00 2002 29 6706,00 2003 47 13130,50 2004 46 11507,10 2005 54 15563,75 2006 48 17094,00 2007 50 14893,50 2008 106 35951,45 TOTAL 783 (média/ano) 13793,35
Fonte: Autora
Pelo gráfico e pela tabela acima, é possível perceber os três momentos
históricos distintos: o primeiro que chamamos de picos e que compreende os anos
de 1992, 2000, 2001 e 2008 (que explicamos acima), o segundo que é a queda
(1993 a 1999) e o terceiro que é o crescimento (2002 a 2007).
Os períodos de queda e aumento do espaço destinado ao tema podem ser
explicados por alguns fatos que aconteceram na sociedade que se refletiram nas
redações e influenciaram na produção realizada pelo veículo. O período entre 1993
e 1999 apresenta uma tendência de queda no espaço utilizado pelas notícias de
meio ambiente e o que pode ajudar a explicar isso, são os problemas políticos e
econômicos (Governo Collor e Plano Real) que ficaram bastante visíveis nas
páginas do jornal nesse espaço de tempo. Em alguns casos, esses temas ocupavam
quase todo o espaço das editorias e ganhavam ainda uma editoria especial.
Alguns autores, como Trigueiro (2008) e Aguiar (2005), defendem que a partir
de 1992 houve um crescimento do tema na mídia, especialmente nos diários, porém
de acordo com os dados coletados na Folha de São Paulo, é possível perceber que,
após 1992 (ano em que aconteceu a ECO-92), diminuiu o espaço destinado ao meio
ambiente. A modificação na abordagem observada nessa pesquisa também é
enfatizada por Camargo, Capobianco e Oliveira (2004) que justificam a menor
103
visibilidade da produção em meio ambiente nesse período devido ao aparecimento
desses outros dois temas, minimizando a importância do meio ambiente.
Já o terceiro momento, chamado de crescimento, pode ser explicado
principalmente pelo aparecimento de novos assuntos relacionados ao meio
ambiente ao longo desses anos, principalmente a partir de 2000. Alguns temas que
ganharam visibilidade nesse período e possivelmente influenciaram o aumento da
produção foi ‘desmatamento’, ‘biodiversidade’, ‘mudanças climáticas’ e
‘biocombustível’. Este último, por exemplo, teve seu auge em 2007 e as primeiras
matérias catalogadas sobre o tema na amostra datam de 2004. ‘Mudanças
climáticas’, apesar de já ter aparecido na década de 90, aparece em maior número
no ano de 2007, após o lançamento do último relatório do IPCC sobre mudanças
climáticas e aquecimento global. Dessa forma, como os temas que entraram em
debate na sociedade passaram a incorporar a agenda dos jornalistas, isso pode ter
aumentado espaço ocupado pelo meio ambiente nesse período.
Já é possível, a partir desses dados iniciais da pesquisa, retomar uma das
hipóteses do trabalho, que se refere ao aumento da produção ambiental no jornal
durante o período. Como foi percebido nos dados apresentados, essa afirmação não
procede, pois, apesar dos períodos de pico e do aumento do espaço utilizado no
estágio de 2000 a 2007, não há um crescimento constante do espaço utilizado pelo
assunto no jornal, mas sim oscilante, que não possibilita afirmar que o tema de fato
obteve maior visibilidade com o passar dos anos. Essa oscilação mostra que meio
ambiente não é um assunto de discussão permanente no veículo, mas sim que
depende de acontecimentos factuais para ser noticiado.
Para complementar as informações sobre o espaço destinado ao tema ao
longo dos 17 anos, apresentamos agora os resultados referentes à quantidade de
entradas (textos por edição). Nesse caso, analisando o gráfico seguinte (Gráfico 2)
percebe-se um padrão muito mais normal, ou seja, com diferenças menores no
número de entrada entre os anos.
104
20082007200620052004200320022001200019991998199719961995199419931992
Mea
n nú
mer
o da
ent
rada
6
5
4
3
2
1
0
Número médio de textos sobre meio ambiente por edição pesquisada
Gráfico 2 – Número médio de textos por edição pesquisada Fonte: Autora
Analisando o número de textos catalogados, apenas o ano de 1992 apresenta
uma quantidade muito acima dos demais (mais de cinco textos por edição). Nos
outros anos, esse número varia entre um e três textos por edição. Ou seja, as
grandes mudanças na variável anterior (cm2) devem-se mais à diferença de espaço
ocupado pelos textos e não ao maior ou menor número deles no jornal, o que leva à
discussão sobre a visibilidade do tema nas páginas do jornal e também volta na
afirmação da primeira hipótese do trabalho. Quando observado o número de textos
por edição, percebe-se uma maior estabilidade no gráfico, o que significa que, além
de não haver um aumento constante do espaço utilizado pelo tema meio ambiente
ao longo do tempo, também se percebe que a quantidade de textos por edição não
se eleva. Mais uma vez pode-se confirmar que a hipótese inicial não procede.
No ano de 1992, o aumento da produção foi marcante, principalmente na
imprensa brasileira, pelo fato de que a Eco-92 aconteceu no Rio de Janeiro. Dessa
forma foi uma ‘grande fonte’ de pautas para os veículos brasileiros durante o
período. Mas, apesar da realização de outros eventos e conferências, como é o caso
da Rio+10, Rio+5, que não aconteceram no Brasil, houve diminuição do textos no
105
jornal. A tabela abaixo (tabela 2), que complementa as informações do gráfico 2,
apresenta detalhadamente o número de texto catalogados em cada ano, a média de
textos por edição e apresenta a média geral durante o período, que foi de 2,7 textos
por edição.
TABELA 2 – Número de entradas por edição
Fonte: Autora
A partir dessa tabela, também se percebe mais claramente que há pouca
diferença no número de entradas entre os anos analisados. Ou seja, isso revela que
o espaço utilizado não segue a mesma lógica da quantidade de textos publicados.
Olhando para o valor total de entradas, apenas 1992 e 2008 apresentam números
mais elevados de textos. O ‘espaço utilizado’ varia mais do que o número de texto
catalogado em cada ano durante o período. Enquanto a média de textos permanece
mais estável, o espaço aparece bastante oscilante. Como já percebemos que a
variável ‘espaço utilizado’ apresenta os três momentos distintos (picos, queda e
crescimento) e há pouca mudança com relação ao número de entradas, o gráfico
abaixo (Gráfico 3) apresenta os resultados referentes ao tamanho dos textos, que
foram divididos em pequeno, médio e grande de acordo com a Fórmula de Sturges.6
6 Os limites de espaço entre pequeno médio e grande são definidos a partir de uma fórmula, chamada de Fórmula de Sturges, que distribui os casos em amplitudes iguais. Exemplo: se menor texto tem 10
Ano Número Textos Média Textos/Ed 1992 70 5,54 1993 13 1,38 1994 35 2,54 1995 38 2,32 1996 30 1,97 1997 40 2,70 1998 34 2,29 1999 18 1,50 2000 65 2,89 2001 60 2,85 2002 29 2,17 2003 47 2,23 2004 46 2,20 2005 54 2,20 2006 48 1,96 2007 50 2,46 2008 106 3,25 TOTAL 783 2,76
106
20082007200620052004200320022001200019991998199719961995199419931992
N of
núm
ero
da e
ntra
da
80
70
60
50
40
30
20
10
0
altomédiobaixo
Tamanho por categorias
Gráfico 3 – Tamanho do texto (pequeno, médio e grande) Fonte: Autora
A partir desse gráfico, é possível observar a visibilidade do tema nas páginas
do jornal de acordo com o espaço disponibilizado pelos diferentes tamanhos de
texto. Pelos dados, percebe-se que os textos curtos estão presentes ao longo do
período sempre em maior número que os de tamanho médio e grande. Vale
ressaltar que isso não acontece apenas com o tema meio ambiente, mas também
com os demais assuntos o que significa que os veículos têm preferência por textos
menores. Nos períodos de pico (1992, 2000, 2002 e 2008), eles se elevam ainda
mais. Das 70 entradas no ano de 1992, por exemplo, 63 foram de textos curtos e 7
se enquadraram como médio e grande. A disparidade entre os textos de tamanho
pequeno e grande/médio é bastante evidente em todos os anos analisados. A tabela
abaixo (Tabela 3) mostra mais especificadamente como essas três categorias
aparecem distribuídas em cada ano analisado.
cm2 e o maior 1000 cm2, a fórmula trabalha com a amplitude de 990 cm2 e divide em três partes com mesmas amplitudes (330 cm2) cada um.
107
TABELA 3 – Tamanho categórico (Sturges) dos textos coletados
Ano Baixo Médio Alto Total 1992 63 90,00% 6 8,60% 1 1,40% 70 100,00% 1993 9 69,20% 4 30,80% 0 0,00% 13 100,00% 1994 28 80,00% 7 20,00% 0 0,00% 35 100,00% 1995 34 89,50% 3 7,90% 1 2,60% 38 100,00% 1996 26 86,70% 4 13,30% 0 0,00% 30 100,00% 1997 33 82,50% 6 15,00% 1 2,50% 40 100,00% 1998 29 85,30% 5 14,70% 0 0,00% 34 100,00% 1999 17 94,40% 1 5,60% 0 0,00% 18 100,00% 2000 56 86,20% 7 10,80% 2 3,10% 65 100,00% 2001 48 80,00% 10 16,70% 2 3,30% 60 100,00% 2002 27 93,10% 2 6,90% 0 0,00% 29 100,00% 2003 40 85,10% 5 10,60% 2 4,30% 47 100,00% 2004 40 87,00% 6 13,00% 0 0,00% 46 100,00% 2005 48 88,90% 5 9,30% 1 1,90% 54 100,00% 2006 39 81,30% 8 16,70% 1 2,10% 48 100,00% 2007 43 86,00% 6 12,00% 1 2,00% 50 100,00% 2008 81 76,40% 22 20,80% 3 2,80% 106 100,00%
Total 661 84,40% 107 13,70% 15 1,90% 783 100,00% Fonte: Autora
Como pode ser observado, aos textos médios demonstram elevação nos
períodos de pico e representam, dessa forma, o aumento do espaço utilizado nesses
três espaços de tempo. Os anos de 2001 e 2008, por exemplo, apresentam 10 e 22
entradas, respectivamente, de textos de tamanho médio, sendo que estas foram as
maiores entradas durante todo o período e conseqüentemente são dois dos
momentos de picos quando observado o espaço utilizado. Não é possível afirmar
que houve um crescimento constante (há algumas oscilações), mas percebe-se que
em 1992 os textos dessa categoria ocupavam 8,6% do total e em 2008 passaram a
ocupar 20,8%.
Os de tamanho grande, como pode ser observado no gráfico e na tabela
acima (Gráfico e Tabela 3), também apresentam elevação. Analisando o ano de
1992 e de 2008, por exemplo, percebe-se que dobrou a quantidade (1,4% do total
passou para 2,8%). Ressalta-se que houve aumento das duas categorias, o que
deve ser levado em consideração para explicar os períodos de pico no espaço
ocupado pelo tema, mas, mesmo a partir dessas informações, as matérias ainda
tendem a ser de maioria curtas. Das 783 entradas, 661 são de textos curtos (84,4%),
107 médios (13,7%) e 15 grandes (1,9%).
108
Esses dados referentes ao tamanho dos textos levam à outra discussão, que
diz respeito ao fato do jornalismo ambiental ser um tipo de especialização, que
deveria trabalhar de uma forma mais aprofundada na produção dos textos. Porém,
quando se dá preferência a textos curtos, como é a maioria dos casos analisados,
não é possível contextualizar e produzir com o máximo de profundidade, que é como
Schwaab (2005) define que deve ser o jornalismo especializado. Além disso, textos
curtos ocupam pouco espaço no veículo, o que significa que possui menos
visibilidade do que se apresentassem um tamanho maior. A tabela abaixo (Tabela 4)
mostra dados referentes à posição dos textos na página do jornal, o que também
está intimamente ligado com a visibilidade dada ao tema.
TABELA 4 – Localização dos textos na página do jornal Localização Na Página Freqüência % Página Inteira 4 0,5 Metade Superior 54 6,9 Metade Inferior 1 0,1 Quadrante Superior Direito 117 14,9 Quadrante Superior Esquerdo 200 25,5 Quadrante Inferior Direito 191 24,4 Quadrante Inferior Esquerdo 216 27,6
Fonte: Autora
Esses dados demonstram que, além dos textos coletados na amostra serem a
maioria de pequeno porte, mais de 52% deles está na parte inferior do jornal
(metade inferior, quadrante inferior direto e esquerdo), ou seja, na parte em que a
visibilidade é menor. Outro dado que mostra que o veículo dá pouca visibilidade ao
tema é que apenas quatro dos 718 textos internos coletados na amostra ocuparam
página inteira. Isso acontece por que geralmente parte da página é utilizada para a
publicidade, o que impede textos maiores, já que sempre há um espaço delimitado
para anunciantes. Isso já mostra como os fatores externos podem influenciar no tipo
de jornalismo produzido pelo veículo, pois grande parte do jornal, que poderia
apresentar texto jornalístico, é voltada para os anunciantes. Dessa forma, a
publicidade também pode ser uma das possíveis causas da pouca produção de
tamanho grande no jornal. Outro dado que pode mostrar como o tema meio
ambiente aparece no jornal é a presença ou não de elementos gráficos para compor
os textos (Tabela 5).
109
TABELA 5 – Composição dos textos jornalísticos sobre meio ambiente Composição Freqüência % Texto apenas 410 52,4 Texto com elementos gráficos 373 47,6
Total 783 100,0 Fonte: Autora
A composição dos textos com elementos gráficos (Tabela 5) também é um
dado importante, pois os gráficos e fotos são responsáveis em chamar a atenção do
leitor para ler o texto. Apesar da tabela não apresentar uma diferença tão elevada
(menos de 5%) é importante ressaltar esses números que mostram de que forma as
notícias aparecem nas páginas. Nesse caso, as matérias que possuem elementos
gráficos estão quase na mesma proporção do que aquelas que não têm.
Além do não crescimento constante do tema na produção jornalística do
periódico no decorrer do período, de 1992 a 2008 (tanto relacionado com o espaço
quanto com o número de entradas), o tema não se apresenta nos lugares mais
estratégicos das páginas e mais de 50% não apresenta elementos gráficos. Além
disso, cerca de 80% dos textos catalogados são de pequeno porte, perdendo as
características do jornalismo especializado propostas pelos autores que trabalham o
assunto.
Como até o momento está sendo falado de espaço e visibilidade do tema no
jornal, abaixo serão apresentados os dados referentes apenas à apresentação do
tema na primeira página, já que a capa é o espaço de maior visibilidade do jornal
impresso. A tabela abaixo (Tabela 6) apresenta os dados referentes às chamadas de
capa catalogadas em cada ano de análise e a média por edição.
Na tabela, consideram-se apenas as capas que apresentaram chamadas
sobre meio ambiente, ou seja, das 783 edições, apenas 60 apresentaram chamada
de capa, totalizando 65. Um número relativamente baixo, pois apenas 13,5% do total
de edições analisadas possuem chamadas de capa, o que representa que o tema
meio ambiente tem pouca visibilidade na primeira página dos jornais.
110
TABELA 6 – Presença do tema meio ambiente na capa do jornal
Ano Número de chamadas Média por edição em que aparece 1992 6 1,00 1994 3 1,00 1995 4 2,00 1996 6 1,17 1997 2 2,00 1998 1 1,00 1999 3 1,33 2000 5 1,00 2001 4 1,00 2002 1 1,00 2003 5 1,00 2004 5 1,00 2005 6 1,00 2006 2 1,00 2007 1 1,00 2008 11 1,18 Total 65 1,15
Fonte: Autora
Apesar da média apresentada na tabela ser de 1,15 por edição, o dado mais
importante é a inexistência das chamadas no restante das edições analisadas.
Quando comparado o número de chamadas (65) com o número de textos internos
do jornal (718), apenas 9% deles apresentam chamada na primeira página. Isso
significa que, apesar de existirem os textos sobre o tema no interior do jornal, o
assunto ainda não é considerado importante para merecer visibilidade na capa,
como por exemplo, o tema ‘política’ ou ‘economia’, que sempre ganham espaço nas
capas dos jornais. O Gráfico 4, abaixo, mostra o número de chamadas de capa em
cada ano analisado.
111
Gráfico 4 – Número de chamadas de 1ª página por ano Fonte: Autora
Os dados mostram o total de chamadas de primeira página por ano,
exemplificando melhor a tabela 6. Novamente, a variação não apresenta uma
tendência constante, assim como nas demais variáveis já analisadas, oscilando ao
longo do tempo, exceto no último ano da pesquisa, 2008, quando temos 11
chamadas sobre meio ambiente, um número alto em relação aos outros anos, que
pode ser explicado pela maior entrada de texto nesse período em relação aos outros
anos.
Fazendo a relação do tema com o que aparece nas chamadas, das 65
entradas na capa, 37 são de denúncia, 14 sobre discussão/políticas públicas, 8
relacionadas a pesquisas científicas, quatro de eventos, uma de educação ambiental
e uma na categoria ‘outro’. Esses dados mostram que quando o assunto trata de
denúncia ele ganha mais visibilidade do que quando está relacionado com os
demais temas.
Já o gráfico a seguir (Gráfico 5) apresenta a distribuição do espaço (em cm2)
ocupado pelo tema meio ambiente na primeira página. A partir dele podemos
perceber algumas variações em relação ao número de chamadas. Há alguns
padrões entre os anos. Entre 1992 e 1996 há uma tendência na manutenção do
espaço na primeira página. Em 1997 há uma queda drástica, seguida de um
movimento de crescimento até 2002. Depois, oscilações com tendência de queda
até 2008.
112
Gráfico 5 – Espaço (cm2) ocupado pelo tema meio ambiente na 1ª. página. Fonte: Autora
Em alguns casos, a relação entre espaço e número de chamadas varia, pois
apesar de poucas chamadas em determinado período, o espaço dado a elas são
maiores (e com fotos, por exemplo) enquanto em outro período apesar de ser maior
o número de chamadas, menor é a visibilidade dada a elas (sem foto, poucos
caracteres, sem ser manchete etc.). É o caso, do ano de 2001 e 2008. Em 2001
apesar do número de chamadas ser menor do que de 2008 (4 e 11,
respectivamente), o espaço utilizado é maior em 2001 do que em 2008 (298,1250
cm2 e 184,8818 cm2). Para complementar as informações do gráfico acima, a tabela
seguinte (Tabela 7) mostra a média em cm2 ocupada por ano pelas chamadas de
primeira página sobre meio ambiente.
A média de todo o período foi de 185 cm2. Percebe-se claramente que a partir
de 2003 há uma significativa queda na média de cm2. Entre 1992 e 2002 as médias
variam entre 175 a 338. De 2003 a 2008 as variações vão de 31 até 184 cm2. De
fato, o tema perdeu visibilidade nesse período na primeira página. Dessa forma,
apesar de o tema ter um significativo crescimento no jornal durante 2002 e 2008 (de
acordo com as informações presentes no Gráfico 1), ele aparece utilizando menos
espaço na primeira página, onde seria o espaço mais importante do jornal. Porém,
não se sabe se essa diminuição do espaço foi apenas do tema meio ambiente ou de
outros assuntos também, já que isso pode ser resultado de reformulação gráfica e
inclusão de maior número de chamadas a partir de certo tempo no jornal.
113
TABELA 7 - Espaço (cm2) utilizado pelo tema ambiental nas capas do jornal
Ano Número de chamadas Média em cm2 1992 6 258,2917 1994 3 338,1667 1995 4 251,8750 1996 6 204,4167 1997 2 34,8750 1998 1 373,5000 1999 3 275,1667 2000 5 175,8000 2001 4 298,1250 2002 1 310,5000 2003 5 136,5500 2004 5 31,0500 2005 6 73,4167 2006 2 136,2500 2007 1 40,5000 2008 11 184,8818 Total 65 185,7569
Fonte: Autora
Antes de passar para o próximo tópico, são feitas algumas considerações a
respeito dos resultados obtidos até o momento. A primeira observação é relacionada
à contestação da primeira hipótese proposta no trabalho, pois apesar de alguns
teóricos defenderem o aumento da produção jornalística em meio ambiente partir da
realização da Eco-92, os dados obtidos nesta pesquisa feita com a Folha de São
Paulo não mostram isso nesse veículo. Por meio dos dados recolhidos na amostra,
percebe-se que o tema não apresenta um crescimento constante durante os 17 anos
analisados, apenas apresentou alguns períodos de pico, que são bastante pontuais
relacionados a eventos e acontecimentos da época. Isso mostra que o tema ainda
não é permanente no jornal, necessitando de acontecimentos específicos para
ganhar visibilidade, como o caso da Eco-92, dos Protocolos e do surgimento de
novos temas como biodiesel. Outro ponto importante a respeito da visibilidade no
jornal é que o tema possui pouca representatividade nas capas, com relação ao
número de textos internos (apenas 13,5% dos textos foi destaque na capa do jornal).
Isso mostra que o tema meio ambiente além de não ser um assunto permanente do
veículo, como esporte, política ou economia, também ainda não é considerado
importante o suficiente para merecer destaque maior nas capas. Comparando os
dados com uma pesquisa realizada pelo Grupo de Mídia, Política e Atores Sociais da
114
UEPG que observou 92 edições de 1º de agosto a 31 de outubro de 2007, o tema
Economia, por exemplo, aparece em chamada de capa com 236 entradas. Esse
número demonstra que o tema meio ambiente, quando relacionado com outros
assuntos, aparece com bem menos visibilidade. Além disso, comparando a Folha de
São Paulo com outros veículos, os dados mostram que o jornal da menos
visibilidade ao tema. O Grupo de Mídia e Política observou também o Jornal Gazeta
do Povo, onde o tema meio ambiente aparece 131 vezes nas 92 edições. Isso
mostra que na Folha de São Paulo o tema ganha pouca visibilidade também se
comparado a outros veículos.
Além desses dois pontos importantes, outro fator relevante é que a grande
incidência de textos curtos demonstra que a produção em meio ambiente é bastante
fragmentada e não aprofundada, o que acaba contrariando os conceitos de
jornalismo especializado apresentados no capítulo dois, ou seja, há distinção entre o
que é produzido pelo veículo e o que os autores definem como sendo esse tipo de
jornalismo. Esse elevado número de textos curtos pode estar relacionado ao espaço
que precisa ser destinado à publicidade e também remete a preferência do veículo
por esse modelo de produção, já que esse resultado não é apenas encontrado em
análises de notícias desse assunto, mas também de outros. Vale ressaltar que
durante o período aumentou o número de textos médios e curtos, mas os de
tamanho pequeno continuam prevalecendo sobre os demais. No próximo tópico,
serão apresentados os temas abordados pelo jornal ao longo do período
pesquisado, que, junto com esses dados, vão ajudando a explicar como o tema meio
ambiente aparece nas páginas do jornal.
3.4.2 Os temas veiculados no jornal
Neste segundo momento serão apresentados os dados referentes às
variáveis específicas sobre as temáticas relacionadas ao meio ambiente. Tema
ambiental, geral e específico são as três formas em que foi observado o conteúdo
apresentado pelo jornal nas edições catalogadas. Para tentar explicar de que forma
o veículo aborda os diferentes assuntos relacionados ao tema central desta
pesquisa, apresentamos nesta primeira tabela (Tabela 8) como que as três
discussões centrais das conferências realizadas pela ONU estiveram presentes no
jornal.
115
TABELA 8 – Número de vezes que os temas aparece durante o período
Tema Ambiental Freqüência % Poluição_Estocolmo-72 180 23,0 Desenvolvimento Sustentável_Rio 92 368 47,0 Mudanças climáticas_Rio+10 235 30,0 Total 783 100,0
Fonte: autora
De acordo com a tabela (Tabela 8), é possível perceber que o tema
‘Desenvolvimento Sustentável’, que foi a principal discussão durante a ECO-92, é
também o que mais apareceu durante os 17 anos analisados (47% das entradas).
‘Poluição’, por exemplo, não chega nem a metade do número de entradas sobre
‘Desenvolvimento Sustentável’ (180 de poluição contra 368 de desenvolvimento
sustentável). ‘Mudanças climáticas’ ficaram com 30% das entradas totais do período
(235 entradas). Outro dado que ajuda a compreender como esses temas aparecem
no jornal, e se de fato, os eventos tiveram alguma relevância para influenciar a
discussão sobre eles, é mostrado no gráfico abaixo (Gráfico 6), o qual apresenta a
quantidade de entradas desses três assuntos ao longo do tempo.
Gráfico 6 – Distribuição dos temas ao longo dos anos
Fonte: Autora
116
Por meio do Gráfico 6, é possível perceber que, apesar dos eventos terem os
três temas como principal discussão em cada um deles, as conferências não
influenciaram para aumentar a cobertura do veículo sobre eles. As informações do
gráfico mostram que não há relação entre a realização dos eventos e o aumento de
entradas sobre os temas no jornal, pelo menos em 2002. Uma das hipóteses
colocadas no início do trabalho era que os eventos tiveram influência no aumento do
número de textos de 1992 e 2002, devido à realização das duas conferências da
ONU. Mesmo que no Gráfico 6 os dados não mostram o número total de entradas
desses dois períodos, já é possível perceber que em 2002, a conferência não ‘surtiu
efeito’ nem para aumentar a produção sobre ‘desenvolvimento sustável’, que foi
retomado, nem das ‘mudanças climáticas’ que era o assunto novo que foi discutido.
O ‘desenvolvimento sustentável’, além de ter o maior número de entradas
durante o período todo é aquele que possui mais entradas em cada ano (exceto
1994, 1996 1998). O que pode ajudar a explicar os três períodos de pico (1992,
2000 e 2008) é que no primeiro caso houve a realização da Eco-92, a qual discutiu o
tema, no segundo, pelo aumento de notícias sobre legislação, novas tecnologias e
discussão/políticas públicas’ e no terceiro pelo fato de ser o ano em que teve o maior
número de textos coletados, fazendo com que os três tivessem uma elevação no
período. Relacionando com os outros dois assuntos, o ‘desenvolvimento sustentável’
é o único em que o aumento do número de notícias pode ter relação com o evento
no qual ele foi discutido (Eco-92, em 1992, no Rio de Janeiro). Além disso, ele se
manteve durante quase todo o período pesquisado liderando o número de textos no
jornal, perdendo apenas em 1994, 1996 e 1998 para os outros dois.
O tema ‘mudanças climáticas’, foi o ‘assunto novo’ na Rio+10, em
Johanesburgo, na África do Sul, mas o Gráfico 6 mostra que o evento não teve força
para aumentar o número de notícias sobre o tema na Folha de São Paulo. O evento
aconteceu em 2002, mas ‘mudanças climáticas’, além de já ser pauta desde o início
da pesquisa, não teve aumento significativo no ano em que aconteceu o evento.
Vale ressaltar que, em 2002, o tema teve menos entradas do que nos anos
anteriores (2000 e 2001). Nos anos seguintes ao evento, em 2004 e 2005, foi
percebido um pequeno aumento, mas mesmo assim não foi tão relevante, pois 2001
continua tendo maior número de entradas e, nos anos de 2003, 2006 e 2007, houve
117
uma queda. Isso mostra que o tema oscila durante todo o período e tem seu pico em
2008, o que está relacionado com o aumento no número de entradas naquele ano.
Já ‘poluição’, que foi uma das discussões centrais da Conferência de
Estocolmo (1972), aparece em maior número apenas a partir do ano 2000. Isso
significa que o assunto também não é estável no jornal, pois aparece em maior
proporção apenas nos últimos anos da pesquisa. Apesar de a poluição ser um
assunto recorrente no planeta, o tema não é pauta freqüente no jornal e é o que
menos aparece dos três. A Tabela 9 mostra a freqüência dos temas ao longo dos
anos de forma mais clara complementando as informações do Gráfico 6.
TABELA 9 – Freqüência dos temas ao longo dos anos
Fonte: Autora
É possível identificar que, no ano de 2008, como já foi colocado, houve um
aumento elevado de todos os temas, já que foi o ano em que teve maior incidência
de entradas (13,5% do total) e como mostram os dados da Tabela 9, todos os
assuntos também tiveram maior número de matérias, comparando com períodos
anteriores. Além disso, essa tabela apresenta os pontos de picos semelhantes
Ano Poluição Des. Sust. Mud. Clim. Total 1992 3,3% 6 13,3% 49 6,4% 15 8,9% 70 1993 6% 1 2,2% 8 1,7% 4 1,7% 13 1994 5,0% 9 1,6% 6 8,5% 20 4,5% 35 1995 6,7% 12 3,8% 14 5,1% 12 4,9% 38 1996 5,0% 9 2,2% 8 5,5% 13 3,8% 30 1997 1,7% 3 5,2% 19 7,7% 18 5,1% 40 1998 5,6% 10 1,6% 6 7,7% 18 4,3% 34 1999 2,2% 4 2,4% 9 2,1% 5 2,3% 18 2000 9,4% 17 9,8% 36 5,1% 12 8,3% 65 2001 10,0% 18 6,3% 23 8,1% 19 7,7% 60 2002 6,1% 11 1,9% 7 4,7% 11 3,7% 29 2003 9,4% 17 5,4% 20 4,3% 10 6,0% 47 2004 3,3% 6 7,3% 27 5,5% 13 5,9% 46 2005 6,1% 11 7,1% 26 7,2% 17 6,9% 54 2006 5,0% 9 8,4% 31 3,4% 8 6,1% 48 2007 7,2% 13 6,8% 25 5,1% 12 6,4% 50 2008 13,3% 24 14,7% 54 11,9% 28 13,5% 106 Total 100,0% 180 100,0% 368 100,0% 235 100,0% 783
118
àqueles identificados na Tabela 1 e Gráfico 1, sobre a maior utilização do espaço
para o tema dentro do jornal (em 1992, 2000, 2001 e 2008).
Com os dados da Tabela 9, após já observarmos que a conferência de 2002
não aumentou a produção sobre mudanças climáticas nem sobre desenvolvimento
sustentável, podemos ver nos valores totais de entradas, que 2002 também não tem
elevação quanto ao número total de textos, diferente de 1992, em que o evento foi
responsável pelo aumento da produção. Dessa forma, uma das hipóteses iniciais
que fazia referência ao aumento da produção, em decorrência dos grandes eventos
promovidos pela ONU, não procede, pois em 2002 o evento não refletiu em aumento
da produção, nem sobre os temas específicos e nem no número total de entradas. O
que pode ajudar a explicar essa diferença observada entre a atuação de um evento
e outro na produção do jornal é a questão geográfica. A ECO-92 aconteceu no Rio
de Janeiro, o que pode ser uma das influências para a maior produção do veículo já
que era na área de abrangência do veículo. O evento instigou as discussões sobre o
tema, fazendo com que o jornal produzisse mais sobre aquele assunto. Porém isso
não ocorre quando acontece a Rio+10, em Johanesburgo. A pesar da tendência da
globalização, do uso de agências de notícias e da própria internet, o jornalismo
ainda tem como valor notícia a proximidade, por isso que um evento teve influência
na produção e o outro não.
Além do tema ambiental, a análise apresenta outra variável nessa mesma
área que discute os assuntos apresentados pelo veículo. Porém, esta outra está
relacionada com o tema geral da matéria (políticas/discussão pública, denúncia,
resultado de pesquisa, eventos, educação ambiental e outro). A tabela que vem a
seguir (Tabela 10) mostra o número de entradas de cada uma das categorias
durante todo o período analisado.
TABELA 10 – Números de entradas de cada tema durante o período
Fonte: Autora
Tema Geral Freqüência % Políticas públicas em meio ambiente 238 30,4 Denúncia 372 47,5 Resultado de pesquisas 93 11,9 Eventos 61 7,8 Educação ambiental 15 1,9 Outro 4 0,5 Total 783 100,0
119
‘Denúncia’ é o tema mais recorrente durante todo o período analisado,
chegando a 47,5% dos textos coletados. Dessa forma, uma das hipóteses propostas
no início do trabalho, de que notícias sobre denúncia não aparecem no jornal, não
se verifica, já que os dados da amostra dizem que quase 50% dos textos são dessa
categoria (372 dos 783 textos). Vale ressaltar que isso é uma característica
observada apenas na Folha de são Paulo e não na produção geral da imprensa
sobre meio ambiente. Esse dado obtido na análise não significa que não há
influência da publicidade ou de outras ações externas às redações na produção do
material jornalístico, porém se há interferências no jornal, ela não se dá pela
exclusão de determinados temas, como os de ‘denúncia’, que era o que se
imaginava antes da análise, mas sim de outras formas, as quais só são possíveis de
estudar numa pesquisa mais aprofundada de caráter qualitativo.
Outro tema que é bastante visível no jornal e ocupa a segunda colocação
entre os que mais aparecem é ‘discussão e política pública em meio ambiente’. Essa
categoria ficou com 30,4% das entradas. Esse resultado pode estar relacionado com
a facilidade na cobertura, já que quando se trata de políticas públicas, na maior parte
dos casos, um dos entrevistados será fonte oficial (ministro, deputado etc.) e como
há preferência do veículo por esse tipo de fontes (como veremos mais à frente)
facilitaria a cobertura. ‘Resultados de pesquisa’ ocupa a terceira colocação com
11,9% e ‘eventos’ fica com 7,8%. Já ‘educação ambiental’ e ‘outro’ são quase
insignificantes perto do número de entradas (783) obtidas na pesquisa. ‘Educação
ambiental’ possui 15 entradas e ‘outro’, apenas quatro entradas.
Outra hipótese proposta no início do trabalho se refere ao pequeno número
de textos referentes à educação ambiental e por meio dos dados observados é
possível dizer que esta afirmação procede, pois dos 783 textos catalogados, apenas
15 era sobre o tema. Dessa forma, é possível dizer que pelo número de entradas,
esse assunto específico não recebe visibilidade no jornal. Nessa argumentação,
entra outra questão importante que é o valor notícia “atualidade/novidade”, ou seja,
aquilo que é novo, que acontece no dia-a-dia e tem que ser noticiado. Isso também
ajuda a explicar o grande número de entradas de ‘denúncia’ (que também é o tema
que mais aparece na capa) e a pequena quantidade sobre ‘educação ambiental’, já
que este último não é um tema factual, no sentido de ter que ser noticiado naquele
dia senão vai perder seu ‘valor’ notícia. Como o espaço do jornal é restrito,
120
priorizam-se então as notícias mais urgentes em serem noticiadas e que chamam
mais a atenção. Como o tema meio ambiente ainda não é permanente no jornal e
depende de acontecimentos para ganhar visibilidade, não há muitas notícias não-
factuais e de contextualização, como geralmente são aquelas sobre educação
ambiental, que englobam coleta seletiva, projetos educacionais etc.
Apesar de a pesquisa ter catalogado 61 notícias sobre ‘eventos’, 33 delas
estão compactadas no ano de 1992, quando aconteceu a Eco-92, e são apenas
sobre esse evento. Já a Rio+5 e Rio+10, outros dois eventos importantes na área de
meio ambiente, apareceram cinco e duas vezes, respectivamente. Outro dado que
enfatiza que a Rio+10 ganhou pouca visibilidade na Folha de São Paulo. Os outros
21 são distribuídos durantes os outros anos, em eventos menores. Essas
informações mostram que o aumento do número de notícias, em 1992, diz respeito à
eventos, mas, além disso, essa diferença entre a cobertura de um acontecimento e
outro, leva novamente à discussão sobre a importância do valor notícia proximidade,
pois como os outros eventos não aconteceram no Brasil, conseqüentemente, a
cobertura feita pelo jornal foi menor, explicando então o número reduzido de textos.
Para exemplificar essa mesma variável, é possível mostrar pela tabela abaixo
(Tabela 11) que assim como o número de entradas, o espaço ocupado pelas
notícias segue a mesma seqüência da tabela acima, dada pelo número de entrada
de cada categoria.
TABELA 11 – Espaço ocupado em cm2 por cada tema no jornal Tema Geral Nº De Ent. Cm2
Políticas públicas em meio ambiente 238 75144,75 Denúncia 372 110655,05 Resultado de pesquisas 93 30862,75 Eventos 61 13554,75 Educação ambiental 15 3369,50 Outro 4 900,25 Total 783 234487,05
Fonte: Autora
Como se pode observar, ‘denúncia’ além de ser o tema que obteve maior
número de entradas, também é o que utiliza maior espaço no jornal, com 110655,05
cm2. O segundo colocado que também ocupa grande parte do espaço é
‘discussão/políticas públicas em meio ambiente’, com 75144,75 cm2. ‘Resultados de
121
pesquisa’ fica em terceiro lugar, com 30862,75 cm2 e ‘eventos’ em quarto com
13554,75. Esses dados mostram que assim como os temas se colocam com relação
ao número de entradas, continuam quando observado o espaço utilizado. ‘Educação
ambiental’, que, já na hipótese, contatava-se que não ganhava visibilidade, além de
ter o segundo menor número de entradas, também aparece na mesma situação se
observar o espaço ocupado. O gráfico abaixo (Gráfico 7) ajuda a visualizar como os
temas aparecem.
Gráfico 7 – Espaço utilizado pelos temas durante o período Fonte: Autora
Por meio do Gráfico 7, é possível observar como o tema ‘denúncia’ recebe
mais espaço nas edições analisadas do que os demais. O tema ‘discussões/políticas
públicas em meio ambiente’ também se mantém elevado e uma das respostas para
isso é o fato de que na medida em que há problemas acontecendo e estes
problemas são divulgados, seja pelos meios de comunicações, ONGs ou pela
própria população, as instituições governamentais que tratam deste assunto
aumentam as discussões sobre o assunto na tentativa de melhorar a situação e
diminuir os impactos ambientais. Como a mídia se pauta pelos acontecimentos da
sociedade, o segundo tema, muitas vezes recorrente do primeiro, também acaba
aparecendo mais nos jornais. Além disso, há também como já foi colocada
anteriormente, a facilidade na apuração devido ao contato com as fontes, que nesse
caso, quase sempre são oficiais por se tratar de ações do governo.
Outra forma de observar o espaço e a visibilidade de cada tema no jornal
Folha de São Paulo é por meio da tabela abaixo (Tabela 12) que trabalha com o
122
tamanho categórico (baixo, médio e alto), obtido pela Fórmula de Sturges e que
ajuda a perceber como a quantidade de textos de tamanho baixo está acima da
média da categoria. Como já se sabe que o tamanho baixo é predominante, a
observação é baseada na média obtida em cada um dos tamanhos e nos valores de
cada um dos temas, observando se estão abaixo ou acima da média geral.
TABELA 12 – Tamanho dos textos (de acordo com Sturges) Tamanho Categórico (Sturges) x Tema Geral
Tema Baixo Médio Alto Total Políticas públicas em meio ambiente
198 34 6 238 83,2% 14,3% 2,5% 100,0%
Denúncia 315 52 5 372 84,7% 14,0% 1,3% 100,0%
Resultado de pesquisas
74 15 4 93 79,6% 16,1% 4,3% 100,0%
Eventos 56 5 0 61 91,8% 8,2% ,0% 100,0%
Educação ambiental 14 1 0 15 93,3% 6,7% ,0% 100,0%
Outro 4 0 0 4 100,0% ,0% ,0% 100,0%
Total 661 107 15 783 84,4% 13,7% 1,9% 100,0%
Fonte: Autora
Os valores maiores estão todos na categoria ‘baixo’, pois esta engloba mais
de 84% dos textos pesquisados na amostra e aparece sempre em número acima
dos demais. Dessa forma, analisaremos a Tabela 12 fazendo a relação com o valor
médio e o de cada um dos temas. A média do tamanho ‘baixo’ é de 84,4% e apenas
‘discussão/políticas públicas’ e ‘resultados de pesquisa’ estão abaixo dessa média,
com 83,2% e 79,6%. Isso significa que as demais categorias apresentam maior
número de textos de tamanho ‘baixo’ do que a média geral, centrando a produção
em textos curtos e mais uma vez mostrando como a produção na área de meio
ambiente é fragmentada e pouco aprofundada devido ao pouco espaço destinado a
ela. Na categoria ‘educação ambiental’, por exemplo, 93,% dos textos estão na
categoria ‘baixo’, um valor bem acima da média, que é de 84,4% na categoria.
Textos sobre eventos também ultrapassam a média, com 93,3%. Isso significa que a
maior parte deles tem tamanho pequeno e isso pode ser explicado pelo fato de que
123
as notícias sobre isso, geralmente são notas de divulgação e não de cobertura do
evento. Já quando falamos de ‘educação ambiental’, um tema que não é tão factual
e poderia receber uma melhor apuração, percebe-se que isso não acontece e os
textos estão concentrados na categoria ‘baixo’.
Na categoria ‘grande’, apenas resultados de pesquisa, com 4,3%, e
discussão/políticas públicas, com 2,5%, estão acima da média, que é 1,9%. Isso
significa que estes assuntos têm uma incidência maior de textos grandes. Essas
duas categorias também têm grande número de textos ‘médios’. A média é 13,7%,
mas apresentam 16,1% e 14,3% dos textos como sendo de tamanho ‘médio’. Nessa
categoria, ‘denúncia’ também está acima, mas com uma diferença menor,
apresentando 14% dos textos na categoria ‘tamanho médio’. Além da quantidade de
textos e de espaço utilizado nas páginas do jornal, a localização dos textos também
implica na sua visibilidade, como se pode notar pela Tabela 13, abaixo.
TABELA 13 – Localização dos temas nos quadrantes
Fonte: Autora
Os diferentes espaços na página estão relacionados com a visibilidade que os
assuntos vão receber. Uma matéria nos quadrantes superiores, por exemplo, é mais
visível do que uma que está presente nos quadrantes inferiores. A tabela (Tabela
13) mostra como os temas aparecem localizados na página do jornal.
Localização Pol. Pub. Denúncia Res. de Pes. Eventos Ed. Amb. Outro Total Página Inteira
1 1 2 0 0 0 4 0,4% 0,3% 2,2% 0,0% 0,0% 0,0% 0,5%
Metade Sup. 19 26 8 1 0 0 54 8,0% 7,0% 8,6% 1,6% 0,0% 0,0% 6,9%
Metade Inf. 0 1 0 0 0 0 1 0,0% 0,3% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,1%
Quadrante Sup. Dir.
27 62 17 6 3 2 117 11,3% 16,7% 18,3% 9,8% 20,0% 50,0% 14,9%
Quadrante Sup. Esq.
68 87 23 18 4 0 200 28,6% 23,4% 24,7% 29,5% 26,7% 0,0% 25,5%
Quadrante Inf. Direito
55 88 25 18 5 0 191 23,1% 23,7% 26,9% 29,5% 33,3% 0,0% 24,4%
Quadrante Inf. Esq.
68 107 18 18 3 2 216 28,6% 28,8% 19,4% 29,5% 20,0% 50,0% 27,6%
Total 238 372 93 61 15 4 783 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
124
É possível observar como todos os temas têm maior incidência nos
quadrantes menores e pouca em espaços maiores, como página inteira e meia
página. O tema ‘resultados de pesquisa’ é o que mais aparece nos espaços maiores
(meia página e página inteira). Relacionando os números obtidos em cada tema com
a média final, percebe-se que o tema ‘resultado de pesquisa’, tem 2,2% dos textos
na página inteira, estando está acima da média que é 0,5%. Os dados da ‘metade
superior’ dão uma média de 6,9% e essa mesma categoria possui 8,6%. É também o
tema que possui maior incidência nesse espaço quando relacionado com os demais.
Dessa forma, pode-se dizer que esse tema é o que possui maior visibilidade
quando analisando a localização nas páginas, já que quando relacionado com os
demais, apresenta mais textos ocupando a metade superior e página inteira do
jornal. Mesmo não sendo a categoria com maior número de entradas, os textos
possuem melhor localização no jornal.
Outro dado importante é como esses temas apareceram ao longo dos anos. A
próxima tabela (Tabela 14) mostra a quantidade de vezes que os assuntos
apareceram em cada ano ao longo do período, o que possibilita perceber como eles
foram ganhando ou perdendo espaço na pauta do jornal durante os 17 anos.
TABELA 14 – Distribuição dos temas pelo número de entradas
Fonte: Autora
P. Públicas Denúncia R. Pesq. Eventos Ed. Amb. Outro Total 1992 4,6% 11 5,4% 20 4,3% 4 54,1% 33 13,3% 2 ,0% 0 8,9% 70 1993 1,7% 4 1,9% 7 1,1% 1 1,6% 1 ,0% 0 ,0% 0 1,7% 13 1994 2,1% 5 6,2% 23 4,3% 4 3,3% 2 6,7% 1 ,0% 0 4,5% 35 1995 1,7% 4 5,9% 22 8,6% 8 1,6% 1 6,7% 1 50,0% 2 4,9% 38 1996 2,5% 6 4,8% 18 1,1% 1 ,0% 0 33,3% 5 ,0% 0 3,8% 30 1997 4,6% 11 4,6% 17 2,2% 2 14,8% 9 6,7% 1 ,0% 0 5,1% 40 1998 3,4% 8 6,7% 25 ,0% 0 ,0% 0 6,7% 1 ,0% 0 4,3% 34 1999 2,5% 6 3,0% 11 ,0% 0 ,0% 0 6,7% 1 ,0% 0 2,3% 18 2000 10,5% 25 8,3% 31 8,6% 8 1,6% 1 ,0% 0 ,0% 0 8,3% 65 2001 8,4% 20 8,9% 33 5,4% 5 ,0% 0 13,3% 2 ,0% 0 7,7% 60 2002 3,4% 8 3,8% 14 4,3% 4 4,9% 3 ,0% 0 ,0% 0 3,7% 29 2003 5,9% 14 6,7% 25 7,5% 7 1,6% 1 ,0% 0 ,0% 0 6,0% 47 2004 6,3% 15 3,8% 14 12,9% 12 8,2% 5 ,0% 0 ,0% 0 5,9% 46 2005 8,4% 20 6,7% 25 9,7% 9 ,0% 0 ,0% 0 ,0% 0 6,9% 54 2006 7,6% 18 5,6% 21 9,7% 9 ,0% 0 ,0% 0 ,0% 0 6,1% 48 2007 9,7% 23 5,4% 20 4,3% 4 4,9% 3 ,0% 0 ,0% 0 6,4% 50 2008 16,8% 40 12,4% 46 16,1% 15 3,3% 2 6,7% 1 50,0% 2 13,5% 106 Total 100% 238 100% 372 100% 93 100% 61 100% 15 100% 4 100% 783
125
Observando os dados, percebe-se que os temas não são regulares ao longo
do período. Alguns crescem e outros decrescem durante os 17 anos da pesquisa. O
tema ‘discussões/políticas públicas’ é um exemplo de tema que se mantém estável
até 1999, cresce em 2000 e 2001, tem uma queda em 2002, mas volta a crescer até
2008, ano que tem um crescimento mais elevado. Os anos de 2000 e 2001 podem
ser considerados períodos de pico, assim como o ano de 2008.
No primeiro ano, o que pode explicar o aumento das notícias sobre esse tema
é o aparecimento das discussões sobre transgênico e legislação ambiental, que
envolvem diversas esferas da sociedade e também as discussões sobre o Protocolo
de Kyoto e do Clima. Com isso, os jornais, inclusive a Folha de São Paulo, passaram
a pautar as decisões governamentais e as discussões públicas sobre esses
assuntos. Exemplos de notícias que ilustram esse caso são: ‘Código florestal:
mudança já’ (20/03/2000) e ‘Ministro propõe texto mais restritivo para florestas’
(19/05/2000) (os textos encontram-se no Anexo B). Em 2008, os assuntos que
fizeram com que aumentassem as discussões e políticas públicas em meio ambiente
são novas discussões sobre transgênico, produção de energia, desmatamento e
preservação. Como já foi colocado anteriormente, nesse ano houve um aumento
elevado no número de entradas, fazendo com que a maior parte dos temas
aumentasse a visibilidade no jornal nesse período.
Já o tema ‘denúncia’ aparece mais estável durante todo o período. Há
aumento da produção em 2000, 2001 e 2008 e o restante do período a produção
não oscila muito. Em 2008, quando houve aumento significativo em quase todos os
temas, devido à ‘anormalidade’ na produção daquele ano, muito acima dos demais,
as denúncias eram sobre poluição, desmatamento ilegal e problemas causadores de
desastres naturais e enchentes. Em 2000 e 2001, os temas mais recorrentes nas
denúncias eram poluição, contaminação química e enchentes. Exemplos de notícias
sobre esses assuntos são ‘Esgoto polui lagoa e estatal leva multa de 300 mil’
(11/02/2000) e ‘Inquérito apura contaminação ambiental’ (08/1/2001) (os textos
encontram-se no Anexo C).
O tema ‘resultado de pesquisa’ também cresceu ao longo do tempo, assim
como as discussões e políticas públicas em meio ambiente, mas o desenvolvimento
desse assunto pode ser dividido em dois períodos: 1992 até 1999 e 2000 até 2008.
Nos primeiros anos, não há uma produção elevada, mas há um pico em 1995, onde
126
há uma produção voltada para a biodiversidade e novas descobertas na área
ambiental. A partir de 2000, a produção aumenta em relação ao período anterior,
com dois períodos de produção mais elevada: 2004 e 2008. Em 2004, o assunto que
mais aparece quando se trata desse tema é biodiversidade, como é o caso da
chamada que tem como título ‘Pesquisa descobre no mar mais de 13 mil
organismos’ (24/11/2004, capa), a qual mostra uma nova descoberta científica. Em
2008, ‘biodiversidade’, ‘novas tecnologias’ e ‘pesquisas ambientais’ apareceram
diversas vezes, resultando numa maior visibilidade dos resultados de pesquisa. Um
fator que também pode ter influenciado no aumento da produção a partir de 2000,
em relação ao período anterior é a criação da editoria de Ciência, onde aparece a
maior parte das entradas sobre resultados de pesquisa (a relação entre as editorias
e os temas será discutida nas próximas páginas).
Os eventos, outra categoria da tabela, têm forte relação com a produção de
conferências e reuniões relacionadas ao tema central este trabalho. Dessa forma, a
produção depende da atualidade/factualidade e também da proximidade. Por meio
dos dados, percebe-se que 54,1% das notícias relacionada a eventos estão em
1992. Esse número elevado está relacionado com a realização da Eco-92. Diferente
dos outras conferências (Rio+5 e Rio+10), a Eco 92 obteve uma maior cobertura,
pois o evento acontecia no Brasil. Já os outros dois ventos, que aconteceram em
1997 e 2002, tiveram pouca cobertura, principalmente por serem distantes. Dessa
forma, a produção relacionada a eventos oscila bastante durante o período
analisado, devido à dependência da realização de eventos na área ambiental. Em
alguns anos, por exemplo, não há entradas dessa categoria na amostra coletada.
A outra categoria é ‘educação ambiental’, a qual aparece apenas em 15 das
783 entradas sobre meio ambiente. Por meio da tabela é possível perceber que o
tema apareceu mais no período de 1992 a 1999, após apareceu apenas em 2001 e
em 2008. Nos outros anos, não havia entradas sobre esse tema na amostra
coletada. Em 1996, foi observado um número maior de notícias em relação os outros
anos. O tema que aparece nesse período é a divulgação de iniciativas de
preservação, como é o caso do texto com o título ‘Projeto mobiliza alunos a
educação ambiental’ (18/03/1996, FolhaTeen 5.3), que abordava a iniciativa das
escolas ensinarem os estudantes a fazer a coleta seletiva. Porém, é preciso
ressaltar que o número de textos é muito pequeno em relação aos demais assuntos;
então a variação entre um ano e outro, de acordo com os dados da coleta, é de uma
127
ou duas notícias e que o ano que obteve textos coletados (1996) teve apenas cinco
entradas, sendo que quatro era em uma edição. A categoria ‘outro’, conta com
apenas quatro entradas, pois eram textos que não tinham proximidade com
nenhuma das outras categorias.
Por meio dessa análise foi possível perceber que os temas não aparecem de
forma igual durante todo o período: ‘denúncia’ pode ser considerado o mais estável,
‘discussão/políticas públicas’ e ‘resultados de pesquisa’ apresentam crescimento,
‘eventos’ depende da realização de atividades (o que o torna oscilante em relação
aos demais) e educação ambiental, além de ser quase insignificante quando
relacionado aos demais, se concentra na década de 90.
Na tabela abaixo (Tabela 15) são apresentados os números de entradas em
cada editoria, o que ajuda a mostrar onde o tema aparece distribuído no jornal.
TABELA 15 – Presença dos textos nas editorias
Fonte: Autora
Por meio dos dados percebe-se que as editorias Cotidiano e Ciência são as
que apresentam maior número de entradas. As matérias se concentram nessas duas
(totalizando 63,2% das entradas) e as outras dão menos visibilidade ao tema, como
é o caso das editorias Dinheiro, Brasil e Mundo. Outras são quase insignificantes
como é o caso de Turismo e Esportes. Em alguns casos, como durante a Eco-92, foi
criada uma editoria especial para fazer a cobertura do evento e que teve duração
Editoria Nº de entradas % Agrofolha 17 2,2 Atmosfera 10 1,3 Brasil 59 7,5 Capa 65 8,3 Ciência 180 22,9 Cotidiano 316 40,3 Dinheiro 46 5,9 Especial 1 ,1 Especial Eco-92 10 1,3 Esportes 2 ,3 FolhaTeen 3 ,4 Mundo 32 4,1 Opinião 41 5,2 Turismo 1 ,1 Total 783 100,0
128
apenas de alguns dias, enquanto ocorria a Conferência. Essa abertura de espaço
demonstra visibilidade ao assunto, porém essa visibilidade fica restrita apenas ao
evento e não abrange o tema meio ambiente como um todo, ou seja, não há uma
editoria específica para tratar do assunto, por isso ele aparece disperso nas outras.
Na pesquisa, foi possível observar como a editoria de ciência, uma proposta
de trabalhar com o jornalismo científico no veículo, apresenta grande número de
textos. Os assuntos abordados nessa editoria são na maioria das vezes
biodiversidade, novas tecnologias e descobertas científicas. É importante ressaltar
que essa editoria foi criada em 2000, o que ajuda a explicar o crescimento de alguns
temas durante o período analisado.
A próxima tabela (Tabela 16) mostra a relação dos temas gerais com a
editoria no qual aparecem. Alguns dados podem ajudar a explicar alguns resultados
obtidos sobre o crescimento da cobertura de alguns temas. Por meio da tabela
percebe-se que cada um dos temas aparece mais em uma ou outra editoria. Esse
dado mostra que apesar das falhas detectadas na produção das notícias sobre meio
ambiente até o momento, os assuntos aparecem ‘bem’ distribuídos nas editorias, ou
seja, elas cumprem o papel de dividir os temas, enfoques e discussões dentro do
jornal.
Começaremos a análise pelo primeiro tema disposto na Tabela 16 que segue
logo abaixo. ‘Discussões/políticas públicas’ aparece preferencialmente em Ciência,
Cotidiano e Opinião. No caso desse tema específico, a primeira possível explicação
é que a editoria Ciência e Cotidiano já detêm os primeiros lugares no número de
entradas totais. No caso da editoria ‘Opinião’, a maior parte dos artigos e editoriais
apresentados faz referência a discussões governamentais sobre o tema central, por
isso que a editoria aparece com grande parte dos textos desse assunto. Textos que
ilustram essa afirmação são ‘A liberação do uso de OGM envolve mais uma
discussão’ do dia 09/09/2000, em formato de artigo e ‘Ambiente em conflito’ de
26/08/2008, no formato editorial (ver texto no Anexo D). Como os textos presentes
na editoria ‘Opinião’ geralmente fomentam ou são resultados de uma discussão,
possuem grande relação com o tema ‘políticas públicas em meio ambiente’, que
geralmente geram polêmica na sociedade.
129
TABELA 16 – Distribuição dos temas nas editorias do jornal
Fonte: Autora
A segunda categoria da tabela, ‘denúncia’, aparece em disparada na editoria
‘Cotidiano’, com 57,7% dos textos nessas páginas. ‘Rhodia é intimada a depor sobre
lixo tóxico’ (31/01/1992) e ‘Esgoto sem tratamento mata duas tonelada de peixe’
(10/08/2000) são títulos de textos que exemplificam os tipos de matérias freqüentes
na editoria de cotidiano sobre denúncias (os textos completos estão no Anexo E).
Esse assunto está mais presente em ‘Cotidiano’ por ser um assunto relacionado com
as ações do dia-a-dia, como o caso da atuação de empresas, problemas
denunciados por ONGs etc.
Editoria
Políticas públicas em meio ambiente Denúncia
Res. de pesquisas Eventos
Educação ambiental Outro Total
Agrofolha 11 5 1 0 0 0 17 4,6% 1,3% 1,1% 0,0% 0,0% 0,0% 2,2%
Atmosfera 2 4 4 0 0 0 10 0,8% 1,1% 4,3% 0,0% 0,0% 0,0% 1,3%
Brasil 21 21 0 14 2 1 59 8,8% 5,6% 0,0% 23,0% 13,3% 25,0% 7,5%
Capa 14 37 8 4 1 1 65 5,8% 9,9% 8,6% 6,6% 6,7% 25,0% 8,3%
Ciência 61 51 64 4 0 0 180 25,6% 13,7% 68,8% 6,6% 0,0% 0,0% 22,9%
Cotidiano 61 215 11 20 8 1 316 25,6% 57,7% 11,8% 32,8% 53,3% 25,0% 40,3%
Dinheiro 29 11 1 4 0 1 46 12,2% 3,0% 1,1% 6,6% 0,0% 25,0% 5,9%
Especial 0 1 0 0 0 0 1 0,0% 0,3% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,1%
Especial Eco-92
0 1 0 9 0 0 10 0,0% 0,3% 0,0% 14,8% 0,0% 0,0% 1,3%
Esportes 2 0 0 0 0 0 2 0,8% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,3%
FolhaTeen 0 0 0 0 3 0 3 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 20,0% 0,0% 0,4%
Mundo 4 24 2 2 0 0 32 1,7% 6,5% 2,2% 3,3% 0,0% 0,0% 4,1%
Opinião 32 2 2 4 1 0 41 13,4% 0,5% 2,2% 6,6% 6,7% 0,0% 5,2%
Turismo 1 0 0 0 0 0 1 0,4% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,1%
Total 238 372 93 61 15 4 783 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
130
A terceira categoria, que reúne os resultados de pesquisas científicas na área
de meio ambiente, aparece com 68,8% dos textos na editoria de Ciência. Isso pode
ser explicado pela proximidade entre o tema ambiental e o jornalismo científico. Isso
ajuda a explicar a discussão presente no capítulo dois, sobre essa especialização da
produção neste trabalho. “Brasil tem salto em descobrimento de sapos” (13/03/2008)
e “Ilha Bela é campeã da mata Atlântica, diz Atlas” (27/05/2004) são exemplos de
notícias que aparecem nessa editoria (ver Anexos F e G). Antes de 2000, quando
ainda não havia a editoria de ciência, foram coletadas apenas 20, das 93 matérias
totais sobre essa categoria (resultados de pesquisa), ou seja, a entrada da editoria
em 2000 influenciou para que o tema ganhasse mais espaço no veículo.
O tema ‘eventos’ aparece em maior número em Cotidiano e Brasil, onde
geralmente há textos sobre isso, englobando, dessa forma, os ambientais. A
presença de entradas dessa categoria depende da realização de eventos na área
ambiental e do interesse da mídia em fazer a cobertura. ‘ONU entrega últimos
prêmios Global 500’ (07/06/1992) e ‘Físico da USP ganha prêmio de 800 mil’
(20/06/2008) são exemplos de eventos que representam a cobertura de meio
ambiente realizado pelo jornal (os textos estão no Anexo H).
O último tema da categoria é educação ambiental. Das 15 notícias coletadas,
oito estão na editoria Cotidiano. “Mergulhadores tiram lixo de praia da BA”
(30/1/1999) e “Separação não custa nada, diz estudante” (14/08/1992) ajudam a
ilustrar o tipo de matérias que compõe essa categoria que pouco aparece no jornal
(os textos estão no Anexo I).
De maneira geral, é possível afirmar que o jornal cumpre o papel dado às
editorias, no que diz respeito a dividir os assuntos, temas e tipos de discussão.
Exemplo disso é que a maior parte dos resultados de pesquisa se concentra na
editoria Ciência e as notícias sobre eventos, em Cotidiano.
Para ajudar a entender como os assuntos aparecem no jornal, a terceira e
última variável que trabalha exclusivamente com tema, mostra o assunto específico
de cada texto coletado. Como o espaço ficava aberto para escrever, no final da
pesquisa, contabilizaram-se 68 assuntos específicos, como por exemplo,
desmatamento, enchente, novas tecnologias, transgênico, energia, entre outros.
Como a Tabela 17 apresenta muitas categorias, apresentaremos abaixo apenas
alguns exemplos que possam dar um panorama de como há disparidade entre um
assunto e outro durante o período observado.
131
TABELA 17 – Freqüência dos temas específicos das matérias Tema Freqüência % Tema Freqüência % Enchente 112 14,3 Legislação Amb. 13 1,7 Desmatamento 52 6,6 Reciclagem 16 2,0 Poluição do ar 45 5,7 Efeito estufa 14 1,8 Transgênico 35 4,5 Biopirataria 6 0,8 Biodiversidade 32 4,1 Reflorestamento 6 0,8 Poluição de rio 28 3,6 Rio+5 6 0,8 Aquecimento Global 25 3,2 Produtos Orgânicos 3 0,4 Preservação 24 3,1 Protocolo Do clima 2 0,3 Mudança climática 19 2,4 Rio+10 2 0,3 Poluição do solo 18 2,3 Fórum da Água 1 0,1 Biocombustível 17 2,2 Ecodesenvolvimento 1 0,1
Fonte: Autora
De acordo com a tabela (Tabela 17), é possível perceber que a incidência dos
temas varia muito, além do grande número de temas específicos que foram
coletados (68 tipos diferentes). O que tem maior número de entradas é ‘enchentes’,
com 112 textos, representando 14,3% do total coletado. ‘Desmatamento’ e ‘poluição
do ar’ ocupam o segundo e terceiro lugar, respectivamente, com 52 e 45 textos. Ao
contrário destes assuntos que são encontrados em grande quantidade, há outros
que apareceram apenas uma vez, como é o caso do ecodesenvolvimento. Textos
relacionados a eventos, como é o caso do Fórum da Água, que ocorreu em 2003,
também aparecem em pequena quantidade, pois só estão no jornal devido ao
evento, diferente de enchente e desmatamento que sempre acontece em algum
lugar do país, sem depender de um acontecimento produzido.
Outro ponto importante relacionado a esses temas específicos é como eles
aparecem ao longo do tempo. E isso oscila bastante conforme alguns exemplos que
serão apresentados nos gráficos e tabelas a seguir. Há temas que apareciam, mas
só depois passaram a crescer visivelmente nas páginas do jornal; alguns que estão
atrelados a eventos e aparecem apenas em determinados períodos; outros que
aparecem apenas depois de certo tempo; uns apareciam e foram perdendo espaço
para outros temas; os que oscilam diversas vezes, sem longos períodos de queda
ou crescimento que sejam visíveis; e os que apresentam visíveis períodos de queda,
pico e crescimento. A tabela abaixo (Tabela 18) mostra como alguns assuntos
132
apareceram distribuídos ao longo do período exemplificando essas mudanças
descritas acima.
TABELA 18 – Distribuição dos temas específicos ao longo do período (92-08) Número de entradas em cada ano
Tema 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 Total Aq. Global 0 0 0 1 1 1 0 0 1 1 3 1 3 3 5 2 3 25 Biocomb. 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 4 6 5 17 Biodivers. 3 0 1 3 0 1 0 0 5 0 0 2 5 0 6 0 6 32 Desmat. 6 0 1 0 0 0 2 3 3 2 0 1 4 9 4 4 13 52 Eco-92 33 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 34 Enchente 4 3 15 10 8 11 11 2 8 7 1 6 7 4 1 0 14 112 Pol. do solo 2 0 0 0 0 0 1 1 0 4 6 2 0 2 0 0 0 18
Transg. 0 0 0 0 0 0 0 2 10 3 2 2 6 3 3 1 3 35 Fonte: Autora
A tabela acima (Tabela 18) mostra como cada um dos temas pareceu de
forma diferente durante o período analisado. O ano de 2008, apesar de ser o ano
que mais teve entradas durante a coleta dos dados, não possui incidência de alguns
temas. A partir de agora, serão apresentados alguns gráficos referentes aos
assuntos específicos dispostos na Tabela 14 que exemplificam as diferentes
variações ao longo dos 17 anos. O primeiro deles é mostrando o desenvolvimento
do tema ‘aquecimento global’.
Gráfico 8 – Variação da incidência do tema aquecimento global Fonte: Autora
0
1
2
3
4
5
6
1995 1996 1997 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Entradas AQUECIMENTO GLOBAL
Ano da entrada
133
A produção sobre esse assunto aparece com maior número de entradas nos
últimos anos da análise e pequena incidência no início. Até 2000, em alguns anos
analisados não foi encontrado material na amostra (1992, 1993, 1994, 1998, 1999).
Já a partir do ano de 2002, o tema apareceu em todos os anos. O número maior de
textos foi coletado em 2006 e na maioria falavam sobre resultados de pesquisas que
mostrava o aumento da temperatura da terra. Esse, portanto é um exemplo de tema
que ganha visibilidade a partir de um tempo, apesar de já estar presente desde o
início do período analisado. O tema ‘biodiversidade’, apresentado no gráfico
seguinte, Gráfico 9, também tem semelhança na distribuição do tema ao longo do
tempo, mas apresenta-se mais oscilante.
Gráfico 9 – Incidência do tema biodiversidade de 1992 a 2008
Fonte: Autora
O Gráfico 9 mostra que o tema biodiversidade, apesar de estar presente já
em 1992, apresenta períodos de pico em 2000, 2004, 2006 e 2008, porém em
período intermediários (2001, 2002, 2005, 2007) não há sequer incidência do tema.
Isso demonstra que o tema, apesar dos períodos de pico, não está sempre presente
no jornal, pois apresenta grandes oscilações. Enquanto, em 2004, foram
catalogadas cinco entradas sobre o assunto, no ano seguinte, em 2005, não houve
nenhuma entrada. Mesmo com a grande quantidade de notícias no final do período
analisado, não é possível dizer que houve crescimento, já que os anos que
intercalam os períodos de pico não apresentaram nenhuma matéria na amostra
coletada. Esse tema exemplifica os casos que oscilam bastante durante o tempo
pesquisado. Os dois gráficos a seguir (Gráficos 10 e 11) mostram outro exemplo de
assunto que aparece apenas a partir de um determinado tempo na pauta do jornal.
O primeiro apresenta o desenvolvimento do ‘transgênico’ e o segundo o do
‘biocombustível’.
0
1
2
3
4
5
6
7
1992 1994 1995 1997 2000 2003 2004 2006 2008Entradas BIODIVERSIDADE
Ano de entrada
134
Gráfico 10 – Distribuição do tema “transgênico” ao longo do período Fonte: Autora
O tema transgênico, diferente dos demais analisados, só aparece a partir de
1999. Isso acontece, pois anterior ao período os produtos geneticamente
modificados não geravam discussão na sociedade. A partir do momento que eles
entraram na agenda pública, os veículos passam a pautar o tema. Segundo
Sampaio (2002), somente a partir de 1998 foi autorizada a plantação de transgênico
no Brasil, mas o uso foi suspenso logo em seguida, o que provocou diversas
discussões e a criação de leis que dificultam a experimentação em diversos estados.
Como o assunto tornou-se polêmico, isso se refletiu na produção feita pelo jornal.
‘Encontro discutirá OGMs’ (26/02/2000, Mundo 1.3) e ‘Transgênico sofre derrota’
(14/08/199, capa) mostram que a discussão do tema pela sociedade começou a ser
pautada pelos veículos de comunicação a partir da produção que começa a
aparecer a partir de 1999. O gráfico abaixo (Gráfico 11) mostra mais um tema que
segue o mesmo desenvolvimento dos transgênicos, o biocombustível.
Gráfico 11 – Desenvolvimento do tema biocombustível Fonte: Autora
01234567
2004 2005 2006 2007 2008
Ano da entrada
135
Assim como os ‘transgênicos’, o ‘biocombustível’ também ilustra os assuntos
que entram na pauta dos veículos a partir de certo momento, quando passa a ser
discutido na sociedade. O tema aparece nos dados da amostra a partir de 2004,
aumentando a incidência até 2008. O início do debate sobre o assunto nos jornais
pode estar relacionado com a publicação do decreto Nº. 5.488, em 20 de maio de
2005, que regulamenta a lei 11.097, de janeiro de 2005, a qual dispõe sobre a
introdução do biodiesel na matriz energética brasileira. ‘Governo aprova primeiro
acordo para exploração de biodiesel’ (2/10/2004, ciência A7) e ‘País terá papel de
destaque na era do combustível’ (09/06/2007, capa) são exemplos de textos que
tratam desse assunto.
Os dois últimos exemplos ajudam a mostrar como os temas não são sempre
os mesmos e vão mudando com o tempo. E conforme aumenta os acontecimentos
na sociedade, conseqüentemente ele aparece mais no jornal. Foi o que aconteceu
com os transgênicos e biocombustível, pois foram se tornando mais presentes no
dia-a-dia e também no jornal. Já o gráfico abaixo (Gráfico 12), exemplifica outro tipo
de assunto, o qual aparece apenas em determinado período, pois está relacionado
com um evento específico. É o caso do tema Eco-92 que aparece apenas em 1992
e 1993.
Gráfico 12 – O tema ECO-92 nas páginas do jornal de 1992 a 2008 Fonte: Autora
O Gráfico 12 mostra como o tema parece concentrado em 1992, com apenas
uma entrada em 1993 e sem entradas nos anos seguintes. Eventos aparecem
apenas num determinado período e, nesse caso, as notícias que compõem os dados
do gráfico eram relacionadas a Eco-92. Como aconteceu no Brasil, o jornal
apresentou uma grande cobertura elevando significativamente o número de textos
sobre meio ambiente em 1992. Porém, passado o evento, no ano seguinte o tema
05
101520253035
1992 1993
Entradas ECO-92
Ano da entrada
136
perdeu a visibilidade que obteve em 1992 e apresentou apenas uma notícia. Nos
anos seguintes, nenhum texto que compunha a amostra fazia referência à Eco-92, o
que fez com que o tema desaparece da cobertura do jornal. ‘Um ano depois, Eco-92
é só intenção’ (05/05/1993, cotidiano 1.3) é única matéria coletada em 1993 que
possui alguma relação com o evento. O tema ‘Eco-92’ mostra como um assunto
ligado a um evento pode elevar a produção do veículo num dado momento, mas não
se manter por um longo período. Já o tema representado pelo gráfico seguinte
(Gráfico 13) mostra como é possível a existência de temas que perpassam por
momentos de queda, crescimento e pico e aparecem ao longo de todo o período.
Gráfico 13 – Incidência do tema ‘desmatamento’ no período de análise. Fonte: Autora
O ‘desmatamento’ exemplifica os temas que não são regulares e apresentam
períodos de queda, pico e crescimento ao longo de todo o período. Por meio do
gráfico é possível perceber que os anos de 1992, 2005 e 2008 podem ser
considerados períodos de pico na cobertura sobre desmatamento. Já 1998 a 2000
mostram o crescimento e 2000 a 2003 a queda. De 2004 a 2008, o tema apresenta
oscilações maiores, devido aos dois períodos de pico (2005 e 2008). Em 2005, o
pico pode ser explicado pela incidência de textos sobre novos dados sobre o
desmatamento e as discussões sobre a relação com a agricultura e pecuária. Em
2008, aparecem diversas notícias sobre denúncias de desmatamento ilegal no Mato
Grosso e região Sudeste. Dessa forma, o assunto aparece em todo o período, mas
em alguns momentos perde espaço para outras temáticas. Essa oscilação mostra
que o tema não é, de fato, permanente no jornal, mas ele depende de
acontecimentos para introduzir a cobertura.
0
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1992 1994 1998 1999 2000 2001 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Entradas
DESMATAMENTO
Ano da Entrada
137
O tema a seguir, disposto no Gráfico 14, ilustra os assuntos que perderam
espaço com o passar do tempo. Ao contrário dos temas ‘biocombustível’ e
‘transgênicos’ que cresceram a partir de determinado período, ‘enchentes’ teve
queda a partir de 1999, voltando a ter grande elevação apenas em 2008. Como o
número de entradas totais não se elevou significativamente com o passar do tempo,
para que alguns temas pudessem apresentar crescimento, outros deveriam,
necessariamente, apresentar queda para estar de acordo com o gráfico que
representa o valor total de entradas ao longo do tempo analisado. Como vimos nos
gráficos acima, alguns temas cresceram durante o período, agora o gráfico abaixo
mostra como o tema ‘enchente’ diminuiu o número de entradas.
Gráfico 14 – Incidência do tema ‘enchente’ ao longo do período Fonte: Autora
De acordo com o Gráfico 14, acima, é possível perceber que o tema
‘enchente’ tem grande incidência de 1994 a 1998, mas depois desse período
apresenta queda em relação ao período anterior. O tema aparece em todos os anos
(exceto em 2007), mas fica evidente a queda a partir de 1999. Quando relacionamos
um ano ao outro, o gráfico aparenta ser bastante irregular, mas no geral percebesse
que até 1999, a incidência de entradas é maior que nos anos seguintes. Esse
assunto é pautado em decorrência dos desastres naturais que causam problemas
nas cidades e áreas rurais, e depende desses “acontecimentos” para serem
pautados pelo jornal.
Por meio desses gráficos, de cada assunto específico, conclui-se que os
temas não estão presentes durante todo o período de análise. Enquanto alguns
perdem espaço, outros passam a ocupá-lo e pautar o jornal. Como o período de
analise é bastante longo, fica visível como os assuntos não permanecem estáveis ao
longo do tempo. A análise permite observar que na medida em que os temas
0
5
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20
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2008Entrada ENCHENTE
Ano de Entrada
138
passam a ser discutidos pela sociedade e pelos governos, os veículos passam a
incorporá-los na produção.
Os dados recolhidos na amostra ajudam a entender como um tema acaba
ganhando mais espaço que outro, devido a seus valores notícia: impacto, novidade,
factualidade, tamanho, etc. Isso se verifica quando observamos que os temas
relacionados à educação ambiental, por exemplo, aparecem em pequena
quantidade se relacionado com outros temas. As notícias de denúncia, apesar de
envolverem empresas, governos e entidades passam a ter mais visibilidade, na
medida em que chamam maia a atenção, causam mais impacto na sociedade e
instigam o leitor a comprar o jornal. Os dados também revelam que denúncia é o
tema que mais aparece nas capas. Essa escolha do veículo se dá pelos valores
notícias atrelados ao fato.
Temas como ‘reciclagem’ e ‘produção orgânica’, aparecem 16 e 03 vezes,
respectivamente. Mesmo sendo assuntos que freqüentemente são pautas de
eventos, ocupam espaço nas discussões da sociedade e são importantes para a
preservação do meio ambiente, não ganham tanto espaço no jornal. Apesar de
propiciarem informação ao leitor, as notícias muitas vezes não contêm informação
que causa impacto na sociedade como, por exemplo, informar que as enchentes
causam mortes, que toneladas de peixes morrem por poluição, que a temperatura da
terra vai aumentar e causar sérios problemas a saúde humana.
Essa discussão proposta não quer dizer que estes fatos (desastres) não
devem ser noticiados, pelo contrário, a população deve ser informada, já que os
meios de comunicação fazem o papel de levar a ‘realidade’ distante para perto de
seus leitores. Porém, as notícias não deveriam apresentar apenas o problema. O
jornalismo ambiental é considerado por Villar (1997) uma das especializações do
jornalismo e dessa forma a cobertura não deveria ficar restrita apenas ao factual.
Mesmo sendo um veículo diário, seria necessário contextualizar o fato e apontar
possíveis soluções e conseqüências, o que englobaria matérias de educação
ambiental, por exemplo. Se houve essa relação entre os temas, os gráficos não
apresentariam tanta disparidade entre um assunto e outro, como é o caso do Gráfico
7, que mostra o espaço que cada tema obteve no jornal durante o período.
Antes de passar para o próximo tópico de análise, finalizamos a pesquisa
sobre os temas já apresentando alguns resultados obtidos. O primeiro aspecto para
ser ressaltado é que os temas não possuem o mesmo espaço no jornal. Isso se
139
verifica quando ‘denúncia’ e ‘políticas/discussões públicas’ tem um número bastante
elevado em relação aos demais, tanto na quantidade de entradas coletadas quanto
no espaço utilizado por cada um. Outro dado importante é que duas das hipóteses
propostas na introdução do trabalho têm relação com o tema e já foi possível
perceber que uma delas procede e outra não. As notícias de denúncia, ao contrário
do que se achava no começo da pesquisa, aparecem em grande número no veículo,
contestando a hipótese de que quase não eram abordadas no jornal. Já a outra que
levantava a discussão sobre o baixo número de textos sobre ‘educação ambiental’
foi confirmada, pois o número de textos jornalísticos sobre o assunto é quase
insignificante perto do número total catalogado. Das 783 entradas sobre meio
ambiente que faziam parte da amostra, apenas 15 abordavam o tema ‘educação
ambiental’. Dessa forma, é possível perceber que a abordagem feita pelo jornal fica
restrita a apenas alguns assuntos, enquanto outros são quase invisíveis.
Por meio dos gráficos que mostraram a incidência dos temas específicos ao
longo do tempo, percebe-se que não são sempre os mesmos, pois alguns aparecem
(como transgênicos) e outros perdem visibilidade (como enchentes e a Eco-92).
Observando os dados sobre o número de entradas e espaço utilizado pelos temas
(denúncia, resultado de pesquisa etc.) pode-se dizer que o jornal prioriza notícias de
maior impacto, que seriam as denúncias e catástrofes, por exemplo. As matérias de
educação ambiental, que ajudariam a contextualizar as mais factuais quase nunca
aparecem.
Outra informação importante é que, de acordo com os dados recolhidos pela
amostra no Jornal Folha de São Paulo, as conferências realizadas pela ONU não
foram necessariamente o que desencadeou a discussão sobre os ‘temas ambientais’
no jornal. Os temas discutidos em cada um dos eventos não apresentam elevação
após os eventos. Essa informação contesta, em partes, a hipótese de que as
conferências de 1992 e 2002 contribuíram para o aumento do número de textos
sobre meio ambiente. Em 1992, de fato, houve um número de matérias bastante
acima dos demais, mas em 2002 o número apresenta-se menor que o ano anterior.
Pode-se concluir então que apenas um dos eventos influenciou na produção do
jornal, e isso se deve muito a proximidade, já que o evento de 1992 aconteceu no
Brasil.
Além disso, é importante ressaltar que os textos sobre ‘resultado de
pesquisa’, apesar de aparecerem em menor quantidade que outros são os que
140
ganham mais visibilidade de acordo com a posição na página do jornal, ganhando
página inteira e metade superior. Chama a atenção também o papel das editorias
que possibilitam a divisão dos assuntos e cumprem o seu papel no veículo. Isso se
dá porque os temas que mais aparecem em Ciência são resultados de pesquisa e
em Cotidiano denúncia. Percebe-se que, mesmo que o tema meio ambiente não
possua um espaço próprio no jornal, cada tema específico tem relação com uma
editoria. Um último fator importante a ser relembrado aqui antes de passar para a
próxima etapa da análise é que os temas específicos das notícias variam bastante
com o tempo, já que a análise aborda um período longo. É o caso de temas que
surgem durante o período, outros que perdem espaço e outros que possuem
períodos de queda e elevação, etc. E, apesar do número total de entradas não
oscilar muito durante o período, os temas específicos ganham e perdem espaço, ou
seja, um ocupa o espaço do outro.
No tópico a seguir, serão apresentados os dados referentes à abrangência
dos textos publicados no jornal. O trabalho apresenta duas variáveis sobre a
abrangência, uma sobre a abrangência geral e a outra no Brasil (dividida pelas
regiões brasileiras).
3.4.3 A abrangência da produção em meio ambiente na Folha de São Paulo
A partir desse tópico, as tabelas e gráficos apresentam a abrangência
geográfica da produção feita pelo jornal. Divididas em duas variáveis, apresentamos
os dados relacionados com a abrangência geral (no mundo) e a abrangência Brasil
(regiões do país). A primeira tabela (Tabela 19) apresenta os dados da abrangência
geral, a qual possui sete categorias, onde está dividida a produção.
TABELA 19 – Abrangência da produção jornalística em meio ambiente Região Freqüência %
Brasil 615 78,5 América do Norte 32 4,1 América Central 4 0,5 América do Sul 4 0,5 Europa 24 3,1 Ásia e Oceania 21 2,7 Região Indefinida 83 10,6 Total 783 100,0
Fonte: Autora
141
De acordo com a Tabela 19, percebe-se que a produção referente a assuntos
nacionais é bem maior do que o restante. Das 783 entradas, 615 são relacionadas a
acontecimentos e temas brasileiros. Isso mostra que o valor notícia proximidade tem
relação com o tipo de produção do jornal e pode explicar o número elevado de
material produzido sobre o Brasil. Em seguida, com 83 entradas, estão os textos que
não fazem referência a um lugar específico, categorizados como “região indefinida”.
‘Mudanças Climáticas e o Protocolo de Quioto’ (08/4/2001, Opinião A3) e
‘Aquecimento Global se acelerou nos últimos 30 anos’ (26/09/2006, capa) são
exemplos de textos categorizados como ‘região específica’, falando da situação
geral do planeta. A incidência de textos na amostra referentes às outras regiões é
pequena ou até mesmo não aparecem, como é o caso da África. A tabela abaixo
(Tabela 20) mostra a relação das regiões com os temas ambientais.
TABELA 20 – Relação entre os temas ambientais e as regiões do planeta Região Poluição Desenv. Sustentável Mudanças Climáticas Total Brasil 26,7% 164 46,3% 285 27,0% 166 100,0% 615 América do Norte 9,4% 3 37,5% 12 53,1% 17 100,0% 32 América Central 0,0% 0 50,0% 2 50,0% 2 100,0% 4 América do Sul 0,0% 0 75,0% 3 25,0% 1 100,0% 4 Europa 16,7% 4 50,0% 12 33,3% 8 100,0% 24 Ásia e Oceania 14,3% 3 38,1% 8 47,6% 10 100,0% 21 Região Indefinida 7,2% 6 55,4% 46 37,3% 31 100,0% 83 Total 23,0% 180 47,0% 368 30,0% 235 100,0% 783
Fonte: Autora
A Tabela 20 apresenta os dados sobre quais temas predominam em cada
região. ‘Desenvolvimento sustentável’ e ‘mudanças climáticas’ são os que aparecem
em maior número em todas as regiões, enquanto ‘poluição’ está sempre em ultima
colocação aparecendo pouco em todas as regiões. Além de aparecer sempre em
menor quantidade em todas as categorias, em duas delas ele nem aparece (América
Centra e América do Sul). No caso da ‘região indefinida’, os temas que predominam
são mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável, assim como nas demais,
mas neste caso a explicação para esse dado é de que a poluição é um problema
muito mais localizado do que os outros dois por isso aparece em pequena
quantidade nessa categoria.
142
Um exemplo disso é São Paulo, uma cidade bastante poluidora, que
rotineiramente é fonte de notícias, porém as outras regiões do país já nem
apresentam esse problema. Já as questões referentes ao clima são ‘sentidas’ em
todos os locais. Ou seja, pelo fato da poluição ser um problema mais localizado, ele
aparece menos na nessa categoria de região indefinida, já que sempre está
relacionado com um local específico, como é o caso da notícia referente aos
Estados Unidos, de 1/11/2000 (Ciência, A17): ‘EUA emitiram mais gás carbônico em
1999’. Já o texto sobre o aquecimento, de 31/01/2005 (Ciência, A13) com o título
‘ONG vê aquecimento perigoso em 20 anos’ é um exemplo que demonstra como o
tema acaba aparecendo de forma geral, sem fazer referência a nenhuma localidade,
pelo fato dos próprios acontecimentos serem globalizados.
Como se verificou nas tabelas acima, 78,5% dos textos catalogados na
amostra são ligados a algum assunto ou acontecimento brasileiro. Dessa forma, as
próximas tabelas apresentam como esses 615 textos são distribuídos nas regiões
brasileiras (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte, Nordeste e região indefinida). Os
dados das tabelas que virão em seguida são apenas referentes ao Brasil, retirando
aqueles enquadrados nas regiões indefinidas da abrangência geral. As informações
contidas na tabela mostram a relação entre a realidade de cada região e aquilo que
é veiculado pelo jornal. Percebe-se como as ações cotidianas têm proximidade com
a produção jornalística.
TABELA 21 – Abrangência da produção do veículo nas regiões brasileiras Região Freqüência %
Sul 42 6,8% Sudeste 244 39,7% Centro Oeste 30 4,9% Norte 73 11,9% Nordeste 44 7,2% Região indefinida 182 29,6% Total no Brasil 615 100,0
Fonte: Autora
Por meio dos dados acima, a região Sudeste é a que mais aparece
representada no jornal nas notícias de meio ambiente, com 39,7% das entradas das
matérias referentes ao Brasil. Isso pode ser explicado pela proximidade, já que a
redação do jornal fica em São Paulo. Apesar de o jornal ser de abrangência
nacional, a maior relação dos repórteres com os fatos incide na produção. As
143
notícias de outras regiões dependem do trabalho das agências, dos colaboradores
(free-lancer) ou das sucursais. Além disso, a região Sudeste ganha mais visibilidade
por ser também uma região bastante populosa, com diversos problemas ambientais,
como por exemplo, enchentes, poluição etc. Esses problemas cotidianos influenciam
para aumentar a produção.
Assim como na tabela da abrangência geral, esses dados mostram que a
região indefinida também ocupa o segundo lugar na predominância dos textos. Um
dos fatores que explica isso são as notícias sobre políticas públicas, legislação e
decisões governamentais que não dizem respeito apenas a uma região, mas ao país
todo. ‘Parlamentares precisam votar decisões da Eco-92’ (15/06/1992, Brasil 1.8) e
‘Ministro propõe texto mais restritivo para florestas’ (19/05/2000, Ciência A 20) são
títulos que exemplificam notícias que se encaixam nessa categoria.
A região Norte aparece em terceiro lugar nas regiões que mais ganham
visibilidade no jornal. Nesse caso a explicação para que 11,9% dos textos estejam
nessa categoria é que há diversas discussões e problemas relacionados à floresta
Amazônica, como é o caso de desmatamento, queimadas e invasão da mata. As
demais regiões aparecem poucas vezes, geralmente com fatos mais isolados. A
próxima tabela (Tabela 22) mostra como os temas ambientais estão relacionados
com a abrangência dos textos produzidos e também com as ações cotidianas de
cada região.
TABELA 22 – Abrangência dos textos de cada um dos temas ambientais
Fonte: Autora
Os dados coletados mostram que o tema ‘poluição’ se concentra com mais de
65% das entradas referentes à região Sudeste do país. Isso pode ser explicado pela
região ser fortemente poluída devido às grandes cidades e áreas industriais. ‘Frente
Fria em SP diminui a poluição do ar’ (05/08/1995) e ‘Rio lança campanha de
Região Poluição Desenvolvimento Sustentável Mudanças Climáticas Total Sul 2,4% 4 2,5% 7 18,7% 31 6,8% 42 Sudeste 65,9% 108 22,1% 63 44,0% 73 39,7% 244 Centro Oeste 4,3% 7 7,4% 21 1,2% 2 4,9% 30 Norte 10,4% 17 17,2% 49 4,2% 7 11,9% 73 Nordeste 3,0% 5 3,5% 10 17,5% 29 7,2% 44 Região Ind. 14,0% 23 47,4% 135 14,5% 24 29,6% 182 Total 100,0% 164 100,0% 285 100,0% 166 100,0% 615
144
combate a poluição’ (30/08/1996) são exemplos de textos que exemplificam as
matérias relacionadas à poluição da região Sudeste.
Já no tema ‘desenvolvimento sustentável’, ao contrário do primeiro, a maior
parte das notícias (47,4%) não tem relação com uma região específica e se encaixa
na categoria ‘região indefinida’. Esse número resulta da relação desse tema com as
políticas e discussões públicas, como já foi colocado anteriormente. Das 135
matérias sobre o tema desenvolvimento sustentável que estão na categoria região
indefinida, 81 são referentes à ‘discussão e políticas públicas’. Como as políticas
públicas (leis, programas, trabalhos e projetos) realizadas no país geralmente não
atendem regiões específicas, conseqüentemente os textos jornalísticos produzidos a
respeito do assunto também tratam o assunto como algo realizado no país todo, sem
ter relação com determinada região.
O tema ‘mudanças climáticas’ aparece em maior proporção em textos
referentes à região Sudeste (44%). Esse dado que aparece na tabela pode ser
explicado pelo seguinte fato. As mudanças climáticas, apesar de não serem
problemas localizados, mas sim algo que alcança grandes proporções, são
ocasionadas principalmente pela destruição da natureza, como é o caso da poluição.
Sendo assim, onde há uma incidência maior desse problema, as mudanças
climáticas, conseqüência do primeiro, também aparece com maior relevância. Nesse
caso, a mídia também tende a pautar as mudanças climáticas, como sendo
conseqüência da poluição, por isso que o maior número de textos sobre mudanças
climáticas também se concentra na região sudeste.
Outro fator já discutido, mas que vale ressaltar é a relação de proximidade da
região Sudeste com a redação do jornal, o que aumenta a incidência de todos os
textos relacionados a essa região, sendo eles de qualquer assunto. No caso de
desenvolvimento sustentável a região Sudeste aparece em segundo lugar, logo
atrás de ‘região indefinida’. Para ajudar a entender a relação da abrangência dos
textos produzidos e os temas propostos, a tabela abaixo (Tabela 23) mostra a
relação entre a região e o tema geral das notícias.
145
TABELA 23 - Relação entre o tema geral e a abrangência das matérias
Fonte: Autora
Por meio da Tabela 23, é possível observar como cada um desses temas
também tem ligação com uma determinada região. No caso das ‘discussões/políticas
públicas’, a maior parte dos textos (48,4%) está categorizada como ‘região
indefinida’. Como já foi explicado, esse dado pode ser justificado pelo fato de que as
políticas e discussões nunca são centradas numa determinada região, mas sim
relacionadas com o país como um todo. A constatação se repete aqui, pois na tabela
anterior, relacionava-se região indefinida e desenvolvimento sustentável, sendo que
políticas públicas são o que mais aparece quando se trata desse tema ambiental.
Aqui, especificamente, mostramos como as próprias políticas públicas aparecem
catalogadas como ‘regiões indefinidas’. Um dado complementa o outro e mostra
como de fato há essa relação das políticas públicas como algo mais abrangente.
No caso do tema ‘denúncia’, 55,2% dos textos são referentes a
acontecimentos da região Sudeste do país. Novamente o fator proximidade é
relevante, assim como as características da região: grandes cidades com movimento
intenso de veículos, poluição de rios e lagos próximos aos centros urbanos, região
industrial etc. Esses fatores, de certa forma prejudicial ao meio ambiente, mais uma
vez explicam a relação entre o tema e a região, pois a incidência de denúncias
devido às ações do homem aumenta por haver muitos problemas na região.
O tema ‘resultado de pesquisas’ também se apresenta comum um tema
independente de regiões. A incidência maior dos textos está na categoria ‘região
Região Pol. Públicas Denúncia Res. Pesq. Eventos Ed. Amb. Outro Total Sul 5 33 2 1 0 1 42
2,6% 10,4% 3,8% 2,9% 0,0% 25,0% 6,8% Sudeste 36 175 13 7 11 2 244
18,8% 55,2% 25,0% 20,0% 73,3% 50,0% 39,7% Centro Oeste
12 17 1 0 0 0 30 6,3% 5,4% 1,9% 0,0% 0,0% 0,0% 4,9%
Norte 33 31 8 1 0 0 73 17,2% 9,8% 15,4% 2,9% 0,0% 0,0% 11,9%
Nordeste 13 26 1 1 2 1 44 6,8% 8,2% 1,9% 2,9% 13,3% 25,0% 7,2%
Região indefinida
93 35 27 25 2 0 182 48,4% 11,0% 51,9% 71,4% 13,3% 0,0% 29,6%
Total 192 317 52 35 15 4 615 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
146
indefinida’, com 27 entradas catalogadas na amostra pesquisada. As notícias
geralmente não citam nenhuma região de abrangência, como por exemplo,
‘Brasileiros catalogam baleias na Antártida’ (12/12/2001, Ciência A12) e ‘Brasil
ganha primeiro mapa das aves ameaçadas’ (04/02/2006, Ciência A19).
O tema ‘educação ambiental’, além da pouca incidência de textos, se
concentra na região Sudeste, com 11 dos 15 textos. Levando em consideração que
os temas apresentam relação entre eles, automaticamente onde há mais problemas
deve haver uma tentativa maior de conscientizar a população. Dessa forma, a
incidência de textos sobre denúncia e poluição no Sudeste, explica que haja projetos
educativos na região e conseqüentemente também que a mídia faça a cobertura
desse assunto. Já a tabela abaixo mostra a relação entre o tamanho dos textos e a
região ao qual fazem referência.
TABELA 24 – Tamanho dos textos referentes a cada região Tamanho Categórico (Sturges)
Região Baixo Médio Alto Total Sul 6,8% 35 7,9% 7 0,0% 0 6,8% 42 Sudeste 38,7% 200 43,8% 39 55,6% 5 39,7% 244 Centro Oeste 5,0% 26 4,5% 4 0,0% 0 4,9% 30 Norte 11,8% 61 12,4% 11 11,1% 1 11,9% 73 Nordeste 7,4% 38 6,7% 6 0,0% 0 7,2% 44 Região indefinida 30,4% 157 24,7% 22 33,3% 3 29,6% 182 Total 100,0% 517 100,0% 89 100,0% 9 100,0% 615
Fonte: Autora
Como a incidência maior de textos está na região ‘Sudeste’ e na ‘região
indefinida’, a tendência é de que os números se concentrem sempre nessas regiões.
Dessa forma, a análise da Tabela 24 será feita pela relação dos dados de cada
tamanho com a média geral dos textos em cada região. A região Sul, por exemplo,
apresenta mais textos de tamanho médio, do que baixo e alto, pois a média é 6,8%
e o único que ultrapassa esse valor é o tamanho ‘médio’. Os textos referentes à
região Sudeste tendem a ser de tamanho médio e alto, já os relacionados ao Centro-
Oeste são a maioria pequenos, pois a média geral é de 4,9% e o tamanho ‘baixo’
apresenta 5%, ou seja, acima da média, o que significa que a tendência é por
produzir textos pequenos e não textos médios, já que nessa categoria o valor (4,5%)
está abaixo da média. Já a região Norte aparece na maior parte das vezes com
147
textos médios (12,4%). Os da categoria ‘baixo’ representam 11,8% e da alta 11,1 %,
o que significa que estão abaixo da média geral. O Nordeste, além da pouca
incidência de notícias sobre a região, apresenta número de textos de tamanho baixo
(7,4%) acima da média (7,2%). Os textos que se apresentam na categoria “região
indefinida” tendem a ser de tamanho baixo ou alto, pois essas duas categorias
apresentam-se acima da média.
Para finalizar essa parte da análise na qual discutimos as variáveis
‘abrangência geral’ e ‘abrangência Brasil’, colocamos abaixo algumas breves
considerações, que serão retomadas na conclusão do trabalho. Até o momento, já
foi possível perceber que a realidade de cada região influencia na produção
jornalística realizada pelo veículo, já que cada uma possui mais produção em um
determinado tipo de matérias, o que sempre está associado aos acontecimentos
locais. É o caso da região Sudeste que apresenta o maior número de textos sobre
poluição, o que está relacionado com os aspectos locais. Além disso, por meio dos
dados percebe-se que a proximidade da região com a sede do jornal pode ser uma
das influências para o grande número de matérias, já que as demais regiões
dependem de agências, free lancer ou sucursais. Outro dado importante é que as
notícias categorizadas como ‘região indefinida’ são na maior parte (93 das 182)
sobre políticas ou discussões públicas e aparecem sempre em segundo lugar,
somente atrás da região Sudeste, o que está relacionado com o fato das ações do
governo terem abrangência nacional e não localizada.
No último tópico da análise, serão observadas a relação das fontes na
produção jornalística do veículo, onde são observados os tipos e quantidade
utilizada nos textos.
3.4.4 A distribuição das fontes nas notícias de meio ambiente
Este tópico apresenta os dados referentes à distribuição das fontes
jornalísticas nas notícias. Durante a coleta do material, as fontes foram analisadas
por tipo e pela quantidade em cada texto. Foi observada a primeira fonte citada no
texto e a segunda que mais aparecia após essa primeira. Se o texto apresentar mais
de duas, as outras não entram na pesquisa, porém a observação apenas das duas
primeiras se justifica porque a grande maioria dos textos só apresenta até duas. Por
último, foi contabilizado o número total de fontes ouvidas em cada texto. A tentativa
148
de identificar a primeira que aparece e a que mais aparece depois dessa está
relacionado com a visibilidade/espaço destinado a cada uma delas. Quando a fonte
aparece no título, por exemplo, ela obtém maior visibilidade do que as que aparecem
no decorrer do texto, como é o seguinte caso: ‘Obra pode secar segunda maior
lagoa no RN, dizem ecologista’ (06/10/1999) (o texto completo está no Anexo J).
Nesse texto, a fonte ‘ONGs/Ambientalista’ é considerada como primeira fonte, pois já
aparece no título.
Por meio dos dados coletados, é possível identificar de que forma se dá a
produção em jornalismo ambiental de acordo com as fontes entrevistadas, a relação
delas com cada tema e com a região de abrangência dos textos. A tabela abaixo
(Tabela 25) mostra os tipos de fonte que apareceram com maior visibilidade, ou seja,
aquela que é a primeira citada em cada notícia. É possível perceber a prioridade do
veículo por dois tipos de fontes que se caracterizam como oficiais: ‘estado/governo’
(39,9%) e ‘cientistas/pesquisadores’ (32,1%) são as categorias que mais aparecem
como sendo a primeira fonte citada no texto. O grupo que exemplificaria a utilização
de fontes não oficiais, os ‘ambientalistas’ e a ‘população’, quase não aparece como
primeira fonte. As duas juntas não somam nem 11% nesse espaço de maior
visibilidade (título ou início da notícia). Os textos sem nenhuma citação de
entrevistados chegam a mais de 40% do total dos textos catalogados.
TABELA 25 - Distribuição da primeira fonte citada em cada texto Tipo de fonte Freqüência % Estado_Governo 185 39,9% Cientistas_Pesquisadores 149 32,1% Ambientalistas_ONGs 20 4,3% Empresas privadas 41 8,8% População 40 8,6% Polícia_Bombeiros 16 3,4% Legislativo 1 0,2% Judiciário_juiz, promotor advogado 8 1,7% ONU 2 0,4% Outro 2 0,4% Total 464 100,0
Total de textos com fontes 464 59,3 Textos sem fontes 319 40,7 Total 783 100,0
Fonte: Autora
149
Textos sem fontes, como já foi colocado, é a informação da Tabela 25 que
mais chama a atenção. Para ser mais exata, 40,7% das entradas não possuem
fontes e são baseadas apenas em relatos dos fatos feito pelo repórter. Essa falta de
informação vinda de pessoas externas pode ser uma das explicações para o grande
número de textos pequenos no jornal, pois a pouca informação devido à ausência de
fontes também impede uma melhor e mais extensa produção. Tratando-se de uma
especialização do jornalismo como defende Villar (1997) os textos deveriam
apresentar mais fontes, afinal elas são responsáveis por repassar as informações ao
repórter. Dessa forma, não ter entrevistados ajuda a explicar parte dos problemas
identificados por autores da área como é o caso da descontextualização,
fragmentação e falta de visibilidade dos textos. Sem diversidade de fontes os textos
apresentam-se frágeis, baseados apenas em relatos do jornalista sem mostrar-se
plural.
O outro dado relevante é que a fonte que mais aparece como primeira citada
é ‘estado/governo’ que engloba prefeitos, governadores, presidente, ministros,
deputados, entre outros cargos governamentais ou representantes de instituições do
Estado. Isso demonstra a preferência por fontes oficiais nas notícias. Além disso, o
segundo tipo que mais aparece como primeira fonte são ‘cientistas e pesquisadores’,
que representam as instituições de pesquisa e universidades e também são fontes
oficiais. Geralmente essa última categoria aparece em matérias sobre descobertas
científicas, como por exemplo, ‘Algas podem filtrar poluentes de usinas’ (26/07/2000,
Ciência A16) e ‘Unicamp cria plástico degradável com luz solar que reduz poluição’
(22/08/2003, Ciência A16).
Como se percebe, estes dois tipos ocupam as primeiras colocações como
sendo as primeiras fontes de informação ouvidas pelo veículo. A partir do terceiro
tipo, o número aparece bastante reduzido. ‘Ambientalistas/ONGs’, ‘empresas’ e
‘população’, por exemplo, somam apenas 4,3%, 8,8% e 8,6%, respectivamente. Isso
mostra que há uma centralização na escolha das fontes. A população e as ONGs
ambientalistas que representariam as fontes não-oficiais relacionadas a temas
ambientais aparecem no grupo das que quase nunca ganham melhor visibilidade e
são as primeiras a aparecerem no texto. As demais categorias são quase
insignificantes em relação aos demais, como é o caso do ‘judiciário’, que aparece
apenas em oito das 464 notícias com fonte como sendo a primeira delas.
150
O gráfico abaixo (Gráfico 15) identifica melhor a diferença que existe entre a
visibilidade de um tipo de fonte e outro quando observada a que é primeira citada no
texto jornalístico. Chamamos a atenção que gráfico só apresenta 59,3% das
entradas, pois os outros 40,7% não apresentam fontes. Dessa forma, foram
contabilizadas apenas as entradas que apresentam pelo menos uma fonte.
Gráfico 15 – Fontes com primeira citação nos textos de meio ambiente Fonte: Autora
O Gráfico 15 evidencia os dois tipos de fontes que são os primeiros a serem
acessados pelos jornalistas na hora da produção das matérias. Enquanto duas
categorias alcançam 185 e 149 entradas como primeira fonte citada, os demais tipos
não passam de 50 entradas juntos, mostrando a diferença entre a visibilidade de
uma e outra. Outro dado que complementa as informações acima está presente na
tabela abaixo, onde é observada a segunda fonte que mais aparece nos textos
(Tabela 26), ou seja, após a primeira, aquela que entre as demais tem mais espaço
no texto. Observa-se que a mesma seqüência da tabela e do gráfico acima se repete
na tabela que mostra a segunda fonte com mais visibilidade.
151
TABELA 26 – Segunda fonte que mais aparece nos textos coletados Fonte Freqüência % Estado/Governo 86 39,3 Cientistas/Pesquisadores 70 32 Ambientalistas/ONGs 10 4,5 Empresas privadas 22 10,4 População 27 12,3 Polícia/Bombeiros 1 0,4 Judiciário 3 1,3 Total de textos com mais de uma fonte 219 100,0
Total de textos com mais de uma fonte 219 28,0 Total de textos com apenas uma fonte 245 31,2 Total de textos sem fontes 319 40,7 Total de textos coletados 783 100,0
Fonte: Autora
Analisando a Tabela 26, percebe-se que ‘governo/estado’ e
‘cientistas/pesquisadores’ não são prioridades apenas na primeira fonte utilizada nos
textos, mas também se repetem quando observada a segunda com mais visibilidade.
Isso significa que, no geral, essas duas categorias são as que mais aparecem em
todo o texto, pois além de serem as primeiras citadas, são as que ganham melhor
visibilidade também depois dessa. Outro dado importante é que dos 783 textos
coletados, apenas 219 apresentam mais de uma fonte. Isso enfatiza ainda mais a
visibilidade dada às fontes oficiais, pois na maioria dos casos elas aparecem
sozinhas nos textos. Essa informação compromete até mesmo do discurso do
próprio jornal analisado, pois ele se diz ‘pluralista’ e que ‘houve os diversos lados do
acontecimento’. Essa informação que está no Manual de Redação da Folha de São
Paulo é contestada quando observada as duas tabelas sobre a utilização das fontes.
Primeiramente, um texto sem entrevistados não tem como ser plural e mais de 40%
aparecem nessa situação. Além disso, como a maioria das notícias tem apenas uma
fonte e a maior parte dos textos tem como primeira fonte as oficiais, há possibilidade
de vários textos terem apenas informação oficial. E mesmo que as notícias possuam
duas ou mais fontes, há grande chance de que pelo menos duas sejam oficias, já
que na segunda fonte observada (Tabela 26), a categoria ‘estado/governo’ e
‘’cientista/pesquisador’ se repetem também como sendo as de mais visibilidade após
a primeira citada, com 39,3% e 32%, respectivamente. E apenas observando as
tabelas, percebe-se na discrepância dos dados entre uma e outra fonte, que o jornal
152
não tende a ser plural, já que para que de fato este conceito seja aplicado na
produção, ela deve ter não apenas quantidade de fontes, mas diferentes tipos, ou
seja, um texto ter duas fontes não significa que ele seja plural se as duas sejam da
mesma categoria.
Como define Traquina (2005a), as fontes é que dão o enquadramento do
tema, e sendo assim, a partir do momento em que os veículos se utilizam das fontes
oficiais ou centralizam a produção em apenas um tipo delas, como mostra os dados
oferecidos pela tabela, o texto passa a ser enquadrado de acordo com uma fonte e
não a partir do ‘confronto’ das informações passadas por diversas delas. Em
resumo, das 783 matérias, 319 não possuem fontes e 464 possuem pelo menos
uma. Dessas 464, 219 apresentam mais de uma e 245 possuem apenas uma.
Para mostrar a quantidade de fontes encontradas em cada texto,
apresentamos a tabela abaixo (Tabela 27). Os dados evidenciam que o número de
texto vai diminuindo na medida em que aumenta a quantidade de fontes utilizadas.
TABELA 27 – Número de fontes catalogadas em cada texto Quantidade Freqüência % 0 319 40,7 1 245 31,3 2 130 16,6 3 60 7,7 4 22 2,8 5 6 0,8 6 1 0,1 Total 783 100,0
Fonte: Autora
A Tabela 27 mostra que o número de textos sem fontes (40,7%) é maior do
que das outras categorias, até mesmo daqueles com apenas um entrevistado, que
somam 31,3% do total. O fato do número de textos diminuírem na medida em que
aumenta as fontes mostra que de modo geral apresentam poucas fontes de
informação, evidenciando a falta de pluralidade já discutida acima. Vale ressaltar
que essa afirmação também não é referente apenas ao tema meio ambiente, mas
também em outros. O Grupo Mídia, Política e Atores sociais da UEPG catalogou o
número de fontes presentes nos textos sobre campanha eleitoral de agosto a
outubro de 2008 na Folha de São Paulo e das 832 entradas, 48,6% não
apresentaram fontes. Um valor ainda maior do que no tema meio ambiente, que
153
chegou a 40,7%. Além disso, na pesquisa realizada pelo Grupo, percebe-se a
mesma relação entre textos e fontes presentes nessa análise: na medida em que
aumenta o número de fontes, diminui os textos de cada categoria.
Na tabela 27, textos com apenas uma fonte somam 245 e com duas fontes
chegam a 130. A partir daí diminui bastante: textos com três fontes somam 60, com
quatro 22, com cinco apenas seis e somente uma entrada da amostra apresentou
seis fontes. Esse baixo índice de pluralidade de fontes mostra que há fatores que
influenciam para que esse fato ocorra nas redações, já que nos cursos de jornalismo
é evidenciado que se utilize um maior número de fontes para que o texto seja mais
plural, que as informações e os diversos pontos de vista possam ser “confrontados”
etc.
Como a prática das redações não está de acordo com o que é repassado nos
cursos de jornalismo, há algumas possíveis explicações para isso. A primeira delas é
a falta de espaço destinado ao tema. Como os textos tendem a ser de tamanho
baixo não seria possível utilizar muitas fontes. Para isso seria necessário um maior
espaço dedicado ao tema dentro do veículo.
Outro motivo que pode explicar a ausência de fontes ou o pouco uso delas na
produção é a própria rotina do veículo impresso e o enxugamento das redações que
aumenta o trabalho de cada repórter, o que impossibilita a dedicação maior na
produção de cada texto, que é o que foi discutido no capítulo dois sobre as rotinas
de produção. Além disso, a comodidade de entrevistas sempre com as mesmas
fontes ou as que são mais conhecidas e fáceis de serem encontradas, como é o
caso de pessoas públicas, faz com que o jornalista não busque fontes diferentes e
trabalhe na maior parte das vezes, apenas com fontes oficiais, o que resulta nos
dados das tabelas que mostraram que a prioridade do jornal é para as fontes
governamentais ou cientistas.
No caso das fontes que representam o governo, as quais aparecem em
evidência na coleta de dados, esse resultado pode ser explicado pela relação das
redes noticiosas, com o cultivo das fontes e a relação entre fonte e jornalista, fatores
já colocados por Sousa (2002) e Traquina (2005a) quando falam sobre as teorias
que enfatizam o poder das fontes na produção. Além disso, a disparidade entre a
utilização de uma fonte e outra mostra que, de fato, na abordagem do tema meio
ambiente, elas não possuem o mesmo tipo de acesso, como defende Traquina
(2005a). Essa discussão sobre o espaço dado a cada tipo de fonte mostra que há a
154
interferência de fatores externos, neste caso das fontes na produção, pois na
medida em que uma tem mais acesso a mídia que outra, consegue impor suas
interpretações do fato, sem nenhuma contestação, influenciando na forma que o
texto chegará ao leitor.
Os tipos de fontes também podem variar conforme o tema abordado em cada
texto. Esses dados estão na tabela seguinte (Tabela 28) onde são apresentados os
valores referentes ao cruzamento das informações sobre fontes com o tema
ambiental.
TABELA 28 – Distribuição das primeiras fontes de acordo com o tema
Fontes Poluição Desenvolvimento. Sust. Mud. climáticas Total Estado_Governo 48,2% 53 40,2% 92 32,0% 40 39,9% 185 Cientistas_Pesq. 24,5% 27 34,5% 79 34,4% 43 32,1% 149 Ambientalistas_ONGs 1,8% 2 7,0% 16 1,6% 2 4,3% 20 Empresas privadas 13,6% 15 8,3% 19 5,6% 7 8,8% 41 População 6,4% 7 5,7% 13 16,0% 20 8,6% 40 Polícia_Bombeiros 3,6% 4 0,4% 1 8,8% 11 3,4% 16 Legislativo 0,0% 0 0,4% 1 0,0% 0 0,2% 1 Judiciário 1,8% 2 2,6% 6 0,0% 0 1,7% 8 ONU 0,0% 0 0,4% 1 0,8% 1 0,4% 2 Outro 0,0% 0 0,4% 1 0,8% 1 0,4% 2 Total 110 229 125 464
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Fonte: Autora
O primeiro dado observado é que em dois dos três temas as fontes
‘governamentais’ prevalecem como sendo as mais procuradas pelos jornalistas. No
tema ‘poluição’ aparece em 48,2% dos textos e no ‘desenvolvimento sustentável’
com 40,2%. Já se tratando de ‘mudanças climáticas’, as fontes governamentais
(32%) perdem espaço para os ‘cientistas e pesquisadores’ (34,4%), que passam a
ser as mais procuradas para falar sobre esse assunto.
Levando em consideração a média geral (da última coluna da tabela),
percebe-se que as fontes governamentais estão acima da média no tema ‘poluição’
e em ‘desenvolvimento sustentável’ e já ‘cientistas e pesquisadores’ estão acima em
‘desenvolvimento sustentável’ e ‘mudanças climáticas’. Em ‘mudanças climáticas’ o
número de fontes governamentais aparece abaixo da média, dando espaço para os
outros tipos de fontes, como por exemplo, para a ‘população’, que está com 16%,
155
diferente do que nos dois temas, onde essa categoria está em 6,4% e 5,7% dos
textos como fonte principal.
As outras fontes apresentam-se quase sempre centralizadas em um tema. A
categoria ‘ambientalistas/ONG’, por exemplo, aparece mais nos textos sobre
‘desenvolvimento sustentável’ (7%, sendo que a média é 4,3%). Outro dado
relevante é a concentração das fontes ‘empresas privadas’ na categoria ‘poluição’, o
que é resultado da relação do tema poluição com denúncias feitas contra empresas,
as quais são procuradas para dar informação. Já ‘população’ se concentra em
notícias sobre ‘mudanças climáticas’. Isso pode ser explicado pela grande
quantidade de notícias relacionadas a enchentes que contam com o depoimento de
pessoas. As outras categorias aparecem em número bastante reduzido.
Para complementar essas informações, tabela abaixo (Tabela 29) mostra a
relação das fontes com o tipo de entrada.
TABELA 29 – Localização das primeiras fontes nos formatos de textos
Fonte: Autora
Fonte 1ª página Reportagem Entrevista Nota Total Estado_Governo 4 147 2 32 185
66,7% 41,6% 20,0% 33,7% 39,9% Cientistas_Pesquisadores 1 103 8 37 149
16,7% 29,2% 80,0% 38,9% 32,1% Ambientalistas_ONGs 0 18 0 2 20
0,0% 5,1% 0,0% 2,1% 4,3% Empresas privadas 0 34 0 7 41
0,0% 9,6% 0,0% 7,4% 8,8% População 1 36 0 3 40
16,7% 10,2% 0,0% 3,2% 8,6% Polícia_Bombeiros 0 8 0 8 16
0,0% 2,3% 0,0% 8,4% 3,4% Legislativo 0 1 0 0 1
0,0% 0,3% 0,0% 0,0% 0,2% Judiciário 0 5 0 3 8
0,0% 1,4% 0,0% 3,2% 1,7% ONU 0 1 0 1 2
0,0% 0,3% 0,0% 1,1% 0,4% Outro 0 0 0 2 2
0,0% 0,0% 0,0% 2,1% 0,4% Total 6 353 10 95 464
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
156
Por meio dos dados da Tabela 29, é possível observar que, além de poucas
chamadas possuírem citação, 66,7% delas são de fontes ‘governamentais’. Esse
dado mostra novamente a visibilidade dada às fontes governamentais que
representam também as fontes oficiais. Outra informação a ser ressaltada é que
‘cientistas/pesquisadores’ é a categoria que mais aparece em entrevistas, em 80%
das entradas. Esse dado pode ser explicado pelo fato do entrevistado geralmente
ser alguém importante na área de meio ambiente e que tenha um grande número de
informações sobre o tema para repassar aos leitores. Os políticos, apesar de
receberem bastante espaço nas notícias e serem importantes, não aparecem em
grande quantidade nas entrevistas, pois não são especialistas em assuntos
relacionados ao tema meio ambiente (a não ser que seja o Ministro do meio
ambiente, por exemplo). Já os cientistas e pesquisadores apresentam um leque
maior de informações sobre o assunto, podendo ‘render’ uma entrevista.
Outro dado importante da tabela é que as categorias ‘ambientalistas/ONGs’ e
‘população’, que geralmente são a contraposição das fontes ‘governamentais’ e de
‘empresas’, se encontram em maior número (18 e 36, respectivamente) apenas nas
reportagens, que são textos maiores e que possibilitam a inserção de mais de uma
fonte. Para complementar essa informação, a próxima tabela apresenta os dados de
como as fontes aparecem distribuídas nos textos coletados. Percebe-se que elas se
concentram nas reportagens, entrevistas, chamadas e nota. As colunas, artigos,
editoriais e foto-legendas dessa amostra não apresentaram fontes.
As ‘notas’ apresentam um total de 235 entradas, mas destas, 59,6% não
apresentam fontes e 33,2% apresentam apenas uma fonte. Textos com duas fontes
não chega a 5% do total, alcançando apenas 4,3%. Isso mostra que os textos que
são pequenos tendem a ter poucas fontes. Se o tema tivesse mais espaço no jornal
e as notícias fossem maiores, haveria como colocar as informações dos
entrevistados.
Já nas reportagens, há um número maior de textos com fontes, pois das 409
reportagens, apenas 13,7% não apresentaram fontes. Além disso, é nessa categoria
que há textos com maior número de fontes, como por exemplo, com cinco e seis
entrevistados. Porém é nesta mesma categoria que há também o maior percentual
de textos com apenas uma fonte (37,4% contra 33,2% nas notas), mesmo sendo
textos mais extensos e que comportava mais informação. A Tabela 30 mostra os
157
dados de todas as categorias, onde pode ser percebida a relação do número de
fontes com cada tipo de texto.
TABELA 30 – Distribuição das fontes em cada tipo de texto Formato Da Entrada Qt Font Freqüência % Chamada de 1ª página 0 59 90,8 1 6 9,2 Total 65 100,0
Reportagem 0 56 13,7 1 153 37,4 2 118 28,9 3 55 13,4 4 20 4,9 5 6 1,5 6 1 0,2 Total 409 100,0
Entrevista 1 8 80,0 2 2 20,0 Total 10 100,0
Nota 0 140 59,6 1 78 33,2 2 10 4,3 3 5 2,1 4 2 0,9 Total 235 100,0
Coluna 0 4 100,0 Artigo Assinado 0 28 100,0 Editorial 0 17 100,0 Foto-legenda 0 15 100,0
Fonte: Autora
Para finalizar a análise da tabela 30, ressalta-se que, nas entrevistas, há oito
entradas com uma fonte e duas com duas fontes. A entrevista de pergunta e
resposta com duas fontes se dá quando há dois entrevistados que respondem as
mesmas perguntas, geralmente quando o tema é polêmico, por exemplo, e há duas
visões distintas. Cada uma das fontes responde as mesmas perguntas sobre o
mesmo assunto, mas sob pontos de vista diferentes. Já nas chamadas de capa, das
65 entradas, apenas seis apresentaram citação de fontes. Um número pequeno em
158
relação ao valor total, que mostra que as fontes ganham pouco espaço nas
chamadas de capa.
Antes de passar para a conclusão, vale ressaltar alguns dados relevantes.
Este estudo mostra mais uma vez que as fontes oficiais recebem espaço maior na
cobertura das notícias do que as demais e acabam sendo prioridade na escolha dos
jornalistas, seja pela facilidade de contatar, rotina das redações com mais produção
e menos tempo para produzir cada texto ou outros fatores.
A visibilidade dada há alguns tipos de fontes, que representam as fontes
oficiais, fica evidente pela quantidade de vezes que aparecem nos textos, pelo
formato onde são encontradas (nas chamadas de capa, por exemplo, as fontes
governamentais aparecem em quatro das seis que possuíam fontes) e na relação
entre temas e fontes, onde se observa que elas também predominam em quase
todos.
Além disso, pelos dados recolhidos percebe-se que há pouca pluralidade de
fontes nos textos, já que esse conceito está relacionado com a variedade de tipos de
fontes e não apenas com a quantidade utilizada pelo repórter. A maior parte dos
textos ou não apresentam fontes ou possuem apenas uma citação, a qual tem
grandes chances de ser de fonte oficial, pois ‘governo/estado’ e
cientistas/pesquisadores’ somam 72% do total de primeiras fontes citadas e 71,3%
como sendo a segunda que mais aparece no texto. Além dessas, há outras
categorias que também são geradoras de informação oficial como ‘polícia’,
‘empresas privadas’ etc., porém essas aparecem em menor número. Observa-se
também que predomina nos textos sempre uma ou duas fontes e que, na medida em
que aumenta o número de fontes, diminui a quantidade de textos em cada categoria,
mostrando que, além da prioridade para fontes oficiais, os textos utilizam poucas
fontes de informação.
Outro dado relevante é que a inexistência de entrevistados nos textos
jornalísticos em grande parte do material catalogado na amostra. Isso dificulta
trabalhar com o conceito de jornalismo especializado, aprofundado e
contextualizado, pois não há ‘repassadores’ de informações, que são as fontes. É
importante ressaltar que as não-oficiais geralmente aparecem nas reportagens, ou
seja, onde os textos são maiores e tendem a ser mais completos.
159
CONCLUSÃO
O meio ambiente, apesar de ser um tema em constante discussão na
sociedade, não é permanente nas redações da Folha de São Paulo, pois em alguns
períodos aparece em pequena quantidade e não possui um espaço específico no
jornal. Comparando com outros, como esportes, por exemplo, é evidente que ganha
menos espaço no jornal. A partir dessa pesquisa é possível mostrar de que forma o
Jornal Folha de São Paulo, trata o tema meio ambiente, num período em que alguns
autores, como Tosi e Villar (2001), consideram como sendo um marco do jornalismo
ambiental na mídia brasileira. Por meio do estudo dos temas, das fontes, da
abrangência e da visibilidade, apresentamos as conclusões, onde podemos
identificar as características do desenvolvimento deste assunto no veículo e
responder a pergunta: que tipo de informação o jornal produz sobre meio ambiente?
O objeto de análise foram as notícias sobre meio ambiente publicadas pela
Folha de São Paulo de 1992 a 2008. O total de edições que compuseram a pesquisa
foi 442, o que no final resultou em 783 textos coletados. Para a identificação das
notícias, produziu-se um conceito do que seria considerado texto sobre meio
ambiente, resultado da junção de diversas leituras: temas que englobam a fauna,
flora, ecologia, biodiversidade, as ações do homem contra a natureza e as formas de
sanar os problemas causados por essas ações.
Por meio da pesquisa foi possível perceber o número de entradas, os temas
mais relevantes, o espaço que ocupam nas páginas, a visibilidade nas capas e no
interior do jornal, o desenvolvimento ao longo do tempo, os tipos e quantidade de
fontes, a abrangência dos textos, entre outros aspectos que ajudam a explicar como
o meio ambiente aparece no jornal. Seja pela escolha dos entrevistados, a relação
da produção com a realidade de cada local, o tema escolhido, o espaço ocupado,
percebe-se que a produção jornalística não é a mera reprodução da realidade, mas
que está embutida de ideologia, preferências, aspectos sociais, culturais e do próprio
cotidiano do jornalista. Essas influências na produção são identificadas na pesquisa
e, colocadas ao longo do trabalho e evidenciadas na conclusão.
O assunto meio ambiente não apresenta um crescimento constante ao longo
do período analisado quando se observa o espaço ocupado e o número de entradas.
Na pesquisa identificaram-se períodos de pico (1992, 2000, 2001 e 2008), queda
160
(entre 1993 e 1999) e crescimento (entre 2001 e 2007) no espaço destinado ao
tema, o que mostra que não houve um crescimento contínuo ao longo dos anos.
Quando observado o número médio de entradas em cada ano, o tema aparece
bastante estável, ou seja, demonstra que também não aumentou o número de textos
produzidos. Apenas o ano de 1992 aparece bem acima da média com 5,54, após, as
médias variam entre 1,38 e 3,25. No Gráfico 2 (p. 104) deste trabalho fica evidente a
estabilidade do número de entradas. Essas informações mostram que apesar de
diversos autores defenderem o crescimento do jornalismo ambiental na mídia, isso
não ocorre em termos quantitativos na Folha de São Paulo, o que refuta a primeira
hipótese proposta neste trabalho, que defendia o crescimento do tema ao longo dos
anos.
Diferente de outros assuntos, como política (caderno ‘Brasil’) e economia
(caderno ‘Dinheiro’) que estão todos os dias no jornal, meio ambiente não tem um
espaço específico e nem aparece em todas as edições da amostra (Em 93, por
exemplo, quando diminuiu bastante o número de entradas, muitas das edições não
tinham textos sobre o assunto. Já em 2006, apenas três edições não possuem
entradas catalogadas). Por não ter uma editoria, meio ambiente ora está em
Cotidiano, ora em Ciência e o que define onde a matéria vai ser diagramada é o
enfoque.
Além do tema não apresentar um crescimento constante no jornal, ele
também perde espaço para outros temas na capa, que seria o lugar de maior
visibilidade do jornal. Foram catalogadas apenas 65 chamadas de primeira página,
em 60 edições de um total de 783. O que representa apenas 9% dos textos que
apareceram na parte interna do jornal. Os dados foram comparados com o material
catalogado pelo Grupo de Mídia, Política e Atores Sociais da UEPG, que mostra que
enquanto em 92 edições o tema economia apareceu 236 vezes na capa, nas 783
analisadas nesta pesquisa, meio ambiente aparece apenas 65 vezes no espaço
privilegiado do jornal. Isso demonstra que o tema ainda não é considerado relevante
para chamar a atenção do leitor.
Outro dado que aparece na pesquisa deixa evidente a discrepância entre os
diferentes temas abordados pelo jornal. Enquanto ‘denúncia’ aparece em 372 textos
(47,5%) dos 783 coletados e ‘discussão/políticas públicas’ em 238 (30,4%), os
demais temas aparecem em número bem mais reduzido. É o caso de ‘resultados de
pesquisa’, ‘eventos’ e ‘educação ambiental’, que aparecem com, 93, 61 e 15 textos,
161
respectivamente. Essa informação, além de mostrar que o veículo dá mais espaço
para um tema e não a outro, refuta a segunda hipótese proposta na pesquisa, de
que o tema denúncia não apareceria no jornal, resultado da relação que os meios de
comunicação em geral têm com as empresas anunciantes, podendo sofrer sanções
externas. Porém, de acordo com os dados da pesquisa é o tema que mais apareceu.
Vale ressaltar que apesar de haver contestado essa hipótese por meio dos
dados obtidos na pesquisa, essa informação é baseada apenas na Folha de São
Paulo e não pode servir para identificar a produção da mídia em geral. Por meio
dessa informação, de que pelo menos neste veículo os textos sobre denúncia estão
presentes, é possível contestar alguns autores que fazem estudos sobre jornalismo
ambiental e reproduzem a informação de que as denúncias não aparecem na mídia
brasileira. Neste caso estudado, a afirmação não procede, porém o dado sobre a
incidência de denúncias não significa que não há influência da publicidade ou de
outras ações externas às redações na produção do material jornalístico. Porém, se
há interferências no jornal, ela não se dá pela exclusão de determinados temas,
como os de ‘denúncia’, que era o que se imaginava antes da análise, mas sim de
outras formas, as quais só são possíveis estudar numa pesquisa mais aprofundada
de caráter qualitativo.
Os dados sobre o número de entradas sobre cada tema também confirma
outra hipótese do trabalho, que diz respeito ao baixo número de notícias sobre
‘educação ambiental’, por ser um tema menos factual e de caráter mais contextual,
que pode ser caracterizado como notícias fora de programa (ou seja, que não
dependem de um acontecimento para serem divulgadas). Por meio da pesquisa
percebe-se que a hipótese se sustenta, já que ‘educação ambiental’ é o tema que
menos apareceu.
A pesquisa observou também que dentre os temas ambientais, categorizados
em desenvolvimento sustentável, poluição e mudanças climáticas, por serem as
discussões centrais das conferências realizadas pela ONU, o desenvolvimento
sustentável foi o que mais apareceu durante todo o período. O tema é o que possui
maior número de entradas em quase todos os anos, exceto 1994, 1996 1998. De
modo geral, desenvolvimento sustentável aparece com 368 entradas, poluição com
180 e mudanças climáticas com 235.
Além disso, a entrada de temas no jornal não segue a lógica das
conferências, as quais foram a pauta principal, pois poluição aparece mais a partir
162
de 2000, sendo que foi pauta em 1972 e mudanças climáticas além de já aparecer
ao longo do período não apresenta grande elevação em 2002, quando aconteceu a
conferência em Johanesburgo. Apenas o tema desenvolvimento sustentável, pauta
da ECO-92, teve aumento no ano do evento.
As conferências realizadas pela ONU também não possuíram tanto impacto
na produção jornalística do jornal. A idéia inicial do trabalho era que as duas
conferências da ONU, que aconteceram em 1992 e 2002, tivessem contribuído para
aumentar a produção do jornal nesses dois períodos de modo geral, não penas
especificamente dos temas centrais. Porém, pelos dados observados na análise,
percebe-se que isso se afirma apenas em parte e contesta-se na outra, pois em
1992 houve aumento da produção com relação aos outros anos, mas em 2002 a
produção foi menor do que nos anos anteriores, o que significa que a conferência de
2002, diferente da de 1992 não influenciou no aumento da produção sobre meio
ambiente na Folha de São Paulo. Enquanto 1992 possui 70 entradas catalogadas na
amostra, 2002 tem apenas 29. No primeiro período 33 textos são só sobre o evento
e no segundo período, apenas dois se referem à conferência. Isso pode ser
explicado pela distância, pois a ECO-92 foi no Brasil e a de 2002 em Johanesburgo,
na África do Sul. Vale ressaltar que se tratando de aumentar a produção geral, isso
acontece em 1992 por que o evento foi pauta 33 vezes, mas se fosse pensar na
contribuição do evento para discutir o tema, isso não acontece, pois a produção
centra-se apenas na conferência e não no tema como um todo.
Outro dado relevante que diz respeito às temáticas abordadas pelo jornal é
que ao longo do período foram encontrados mais de 60 temas específicos nas
notícias e que eles não aparecem durante todo o tempo. Alguns permanecem em
todo o período, outros aparecem a partir de certo tempo, outros estão em grande
quantidade no início e decrescem no final, alguns se apresentam bastante oscilantes
e outros são apenas relacionados a eventos. ‘Aquecimento global’, por exemplo,
ganha visibilidade a partir de 2002, apesar de já aparecer no jornal em anos
anteriores. O tema ‘biodiversidade’ apresenta-se mais oscilante, pois em alguns
anos apresenta várias matérias e em outros nenhuma. Diferente desses, há os que
aparecem apenas num determinado período, que é o caso do ‘biocombustível’ e
‘transgênico’. Os dois temas surgem a partir de certo período. O primeiro em 2004 e
o segundo em 1999. Já o tema ‘enchente’, ao invés de aumentar, faz o percurso
contrário e diminui ao longo do tema. Como o número de entradas não possui
163
grande elevação no período pesquisado, é necessário, de fato, que um tema
‘diminua’ para que outro ‘apareça’ no jornal, para que os dados estejam coerentes.
Isso leva a conclusão que constantemente um tema toma espaço do outro.
O estudo de fontes realizado contesta o próprio ‘discurso’ do jornal que se diz
plural. As duas fontes que mais aparecem nas notícias, tanto como primeira citação
ou a segunda que mais ganha visibilidade, são as governamentais e as que
representam instituição de ensino e pesquisa, que no trabalho foram categorizadas
como ‘estado/governo’ e ‘cientista/pesquisador’. Das 783 entradas, 59,3%
apresentam pelo menos uma fonte de informação, totalizando 464 textos. Desses,
72% apresentam como primeira fonte essas duas categorias identificadas acima, as
quais representam fontes oficiais. A partir deste dado já é possível mostrar a
predominância das fontes oficiais sobre as não-oficiais apenas mostrando as duas
categorias que se apresentam nas primeiras colocações. Observando a segunda
fonte que mais aparece no texto, percebe-se que elas também permanecem como
as que possuem mais visibilidade e somam as duas juntas 71,3% como sendo as
fontes que mais aparecem após a primeira citada.
Outro dado importante é que as fontes que representariam as não oficiais,
ambientalistas e a população, aparecem como sendo a primeira citada apenas em
12,9% dos textos que possuem fontes. Isso mostra a disparidade que existe entre
fontes oficias e não oficiais na produção jornalística feita pelo jornal (isso que nem
foram incluídas nas fontes oficiais aquelas que aparecem poucas vezes como donos
de empresas, polícia, etc.).
Observou-se também a quantidade de fontes nos textos e percebeu-se que
na medida em que aumenta o número de fontes, diminui o número de texto em cada
categoria. Além das 319 matérias que não possuem fontes e são baseadas apenas
em relatos do próprio repórter, textos com uma fonte somam 245, mas com seis, que
foi o número maior encontrado num texto, há apenas um texto na amostra. Isso
evidencia a tendência do uso de poucas fontes na produção jornalística da Folha de
São Paulo.
Esses dados levantam outra discussão sobre a distinção entre quantidade e
pluralidade, ou seja, quantidade de fontes não significa pluralidade de informação.
Como as duas primeiras categorias, que representam as oficiais, aparecem em mais
de 70% dos textos como primeiras e segundas fontes e poucos possuem mais de
duas, as chances do texto ser plural quanto ao caráter da informação é pequeno.
164
Isso mostra que além dos textos possuírem poucas fontes de informação há poucas
chances da utilização de fontes oficiais e não oficiais no mesmo texto, na tentativa
de mostrar os vários ‘lados’ do acontecimento. Essa constatação feita após a análise
dos textos contesta o ‘discurso’ do veículo que o define como pluralista que está
presente nos últimos manuais de redação da Folha e é levantado como sendo uma
das bandeiras do jornal. Pode ser que em outros assuntos o jornal possa trabalhar
de acordo com este conceito, mas no caso da produção sobre meio ambiente isso
não é prioridade do veículo, já que a discrepância entre fontes oficiais e não oficiais
é bastante evidente.
Além de esta pesquisa contestar o discurso de pluralidade levantado pelo
jornal, no Manual de Redação da Folha, é feita uma classificação de fontes, onde os
políticos se encontram como sendo a tipo três, que é considerada como sendo a de
menor confiabilidade, pois apesar de bem informada, tem interesses que tornam a
sua informação menos confiável. Segundo os dados do Manual, esse tipo de fonte
só seria utilizado pelo veículo como “ponto de partida para o trabalho jornalístico ou,
na impossibilidade de cruzamento com outras fontes, ser publicada em coluna de
bastidores, com a indicação explícita de que ainda se trata de rumor, informação não
confirmada” (MANUAL DE REDAÇÃO, 2006). Porém, analisando os textos sobre
meio ambiente, os dados encontrados dizem justamente o contrário daquilo exposto
no manual. As fontes categorizadas como ‘estado/governo’ que englobam prefeitos,
governadores, senadores, deputados e ministros são as que mais aparecem entre
todas as categorias, muitas vezes sozinhas já que a maior parte dos textos tem
apenas uma ou duas fontes e as duas que mais aparecem tanto na primeira citada
quanto na segunda com mais visibilidade são essas duas. A explicação que
Traquina (2005a) faz sobre fontes aparece claramente na pesquisa: as fontes oficiais
são predominantes enquanto os outros agentes sociais não têm acesso regular.
Sobre a visibilidade e espaço utilizado pelos textos, a pesquisa mostra que
neste tema, predomina os textos de tamanho pequeno. A disparidade observada no
gráfico 6 (p.115) mostra claramente que os textos de tamanho pequeno
predominam ao longo de todo o período. O ano de 2008, mesmo apresentando um
aumento das categorias médio e grande, continua ressaltando a diferença entre os
três tamanhos: dos 106 textos coletados, 81 são de tamanho pequeno, 22 médios e
3 grandes. Durante os 17 anos, mesmo não sendo de forma constante, houve
aumento do número de textos médios e grandes. O tamanho médio passa de 8,6%
165
em 1992 para 20,8% em 2008 de textos e o pequeno cresce de 1,4% para 2,8%.
Porém, ressalta-se que os textos pequenos sempre predominam em todo o período.
Essa informação referente ao tamanho dos textos leva a outra discussão
relacionada ao capítulo dois, referente ao jornalismo especializado e científico. Por
meio da análise pode-se dizer que o jornal apresenta-se dividido em editorias, o que
demonstra que os temas possui espaços próprios, mas não que produz jornalismo
especializado. De acordo com os conceitos propostos por autores que estudam o
jornalismo especializado, a produção da Folha não se caracterizaria como sendo
especializada, pois não atende os pré-requisitos tais como o máximo de
profundidade, sofisticação e distância da generalização, os quais foram propostos
por Schwaab (2005). A especialização surgiu como forma de ‘dividir’ os temas, mas
atualmente ela tem outras definições mais completas, as quais não aparecem na
produção do jornal. Isso ocorre principalmente pelo fato do pouco espaço destinado
ao tema, dos textos observados serem prioritariamente de tamanho pequeno e haver
poucas fontes de informação nas produções. Dessa forma, apesar do jornal
defender que sua produção é especializada, principalmente no caso da editoria de
ciência que trabalha com temas científicos (incluindo grande parte de matérias de
meio ambiente), o jornal não faria jornalismo especializado. Tanto o jornalismo
científico (que deveria estar presente na editoria de ciência) e o jornalismo ambiental
são ramificações da especialização e deveriam ser baseados em produção mais
completa, contextualizada e aprofundada, mas que, de fato, não ocorre na Folha de
São Paulo pelas limitações da produção.
Observando a relação dos temas com as editorias é possível dizer que o
jornal cumpre o papel de divisão de assuntos, temas e enfoques. Isso fica evidente
quando a análise indica que os ‘resultados de pesquisa’ estão em maior parte na
editoria de Ciência, que Opinião é um dos espaços onde mais aparecem as
‘discussões/políticas públicas em meio ambiente’, que ‘eventos’ fica centralizado
entre as editorias ‘Cotidiano’ e ‘Brasil’ e que ‘denúncia’ aparece com 57,7% em
Cotidiano. Ou seja, apesar de não apresentar os textos de acordo com os quesitos
necessários propostos pelos autores apara caracterizar-se como especializado, o
veículo consegue manter as temáticas divididas nas editorias de acordo com o
enfoque dos textos, já que o jornalismo ambiental não possui um espaço específico
no veículo.
166
Outro dado levantado na pesquisa é que além da produção ser 78% sobre
fatos e acontecimentos no Brasil, o que demonstra prioridade para fatos nacionais,
percebeu-se que há relação entre incidência dos temas com cada região específica,
o que significa que os fatores regionais e cotidianos exercem influência sobre a
abordagem dos temas e até mesmo o uso de fontes. A região Sudeste, pela
proximidade com a sede do jornal, é a que mais apresenta textos com 39,7% das
entradas de abrangência Brasil, seguida da região indefinida, com 29,6%, o que é
resultado do grande número de textos sobre políticas públicas, as quais não são
referentes a uma região específica, mas a todo o país. Quando observada a relação
entre os temas ambientais os aspectos regionais, percebe-se relação entre o tema
dos textos e as características de cada local. Poluição, por exemplo, aparece em
maior número (65,9%) na região Sudeste, o que está relacionado com a poluição
característica das grandes cidades e regiões industriais. O mesmo caso ocorre
quando observada a relação com os temas amplos. O tema ‘discussão/políticas
públicas’ aparece com 48,3% das entradas na categoria ‘região indefinida’, já que as
políticas públicas e discussões governamentais, de modo geral, são referentes a
ações que atingem o país todo e não apenas uma região. Esses exemplos apontam
para a tendência dos textos de estarem relacionados com os aspectos de cada
lugar, evidenciando que as ações cotidianas e fatores localizados influenciam na
produção jornalística do jornal.
A partir dos resultados obtidos nessa pesquisa é possível contestar a
informação da Folha de São Paulo de fazer debate público sobre os assuntos
importantes na sociedade. No caso do meio ambiente apesar do tema aparecer no
jornal, e de alguma forma haver esse debate, ele não se apresenta plural e se dá
apenas pelos acontecimentos factuais, o que faz não ser permanente. De acordo
com a análise, a promessa do jornal não se cumpre por diversos fatores, os quais já
foram citados ao longo da conclusão que é a baixa presença de fontes; a falta de
pluralidade (o jornal prioriza as fontes oficiais); atenção para eventos factuais, o que
é evidente na cobertura oscilante ao longo do tempo, já que ainda é dependente de
fatos isolados para ganhar espaço no jornal; e não propõe textos com caráter mais
contextual e de conscientização do leitor.
167
REFERÊNCIAS
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176
ANEXOS – EXEMPLOS DE MATÉRIAS
177
ANEXO A
178
ANEXO B
179
ANEXO C
180
ANEXO D
181
ANEXO E
182
ANEXO F
183
ANEXO G
184
ANEXO H
185
ANEXO I
186
ANEXO J
187
APÊNDICE A – Livro De Códigos
188
PESQUISA TCC – 1992 – 2008/Folha de São Paulo
Proposta inicial – abril 2009 1 – DATA data da publicação. 2 - MATÉRIA indica a numeração seqüencial das matérias naquela edição daquele jornal. 3 - FORMATO indica o tipo de matéria noticiosa de acordo com a seguinte classificação:
TIPO CÓDIGO Explicação
Chamada de 1ª página 1 Chamada de matérias sobre meio ambiente na 1ª página.
Reportagem 2 Textos informativos e noticiosos produzidos por jornalistas/agências a respeito do tema meio ambiente.
Entrevista 3 Entrevista com figuras de destaque que falam sobre meio ambiente
Nota 4 Texto jornalístico curto, basicamente o lead.
Coluna 5 Texto interpretativo/opinativo, assinado por articulista do veículo ou agência.Normalmente com espaço fixo no jornal.
Artigo Assinado 6 Texto interpretativo/opinativo, assinado por especialista ou figura de destaque. Normalmente nas páginas de opinião.
Editorial 7 Texto opinativo, em espaço fixo no jornal, sem assinatura, que representa a opinião do próprio veículo de comunicação.
Fotolegenda 8 Foto com legenda explicativa desvinculada de outro texto jornalístico.
4 - TÍTULO transcrever o título da matéria ou, no caso de fotos, charges e infográfico, legenda. 5 - PROCEDENCIA DAS INFORMAÇÕES indica a autoria do texto
TIPO CÓDIGO Explicação
Repórter local 1 Matéria escrita por um repórter da redação local.
Agência 2 Matérias retiradas de agencias.
Colaborador 3 Matérias feitas por jornalistas não contratados do jornal
Colunista 4 Texto opinativo escrito por colunistas.
Correspondente Internacional 5 Matéria escrita por correspondentes que estão em outros países.
Redação 6 Matéria que não tem um jornalista específico que assina, levando o nome “Redação”
Sucursal 7 Matérias feitas nas sucursais da Folha
Editorial 8 Editorial, voz do jornal não possui assinatura
Sem identificação 9 O texto jornalístico não possui assinatura
Editor 10 Textos jornalísticos escritos pelo editor de cada editoria e não pelos repórteres.
6 - PÁGINA número da página e editoria. No caso de cadernos que mudam a paginação, transcrever também a letra que identifica o caderno, Exemplo: A5, Cotidiano. 7 - POSIÇÃO localização da matéria relativa ao espaço que ocupa na página. Obs.: Onde está a maior parte. Se for partes iguais, predomina onde está o título.
TIPO CÓDIGO Página Inteira 1
Metade Superior 2 Metade Inferior 3 Metade Direita 4
Metade Esquerda 5 Quadrante Superior Direito 6
Quadrante Superior Esquerdo 7 Quadrante Inferior Direito 8
Quadrante Inferior Esquerdo 9 8 - ALTURA em cm. 9 - LARGURA em cm. Quando largura padrão de coluna - 6 colunas de igual largura por página -, usar 4,5 cm
189
10 – VALORIZAÇÃO VISUAL DA MATÉRIA relacionado a composição do material.
COMPOSIÇÃO CÓDIGO Texto 1
Texto com elementos gráficos (fotos, gráficos, boxes, ilustrações)
2
11 - TEMA AMBIENTAL relacionado a prevalência dos temas mais discutidos, baseando nas três conferências da ONU.
TEMA AMBIENTAL CÓDIGO Poluição (Estocolmo-72) 1
Desenvolvimento Sustentável (Rio 92) 2 Mudanças climáticas (Rio+10) 3
12 - TEMA AMPLO relacionado ao assunto que predomina no texto.
TEMA AMPLO CÓDIGO Políticas públicas em meio ambiente 1
Denúncia 2 Resultado de pesquisas 3
Eventos 4 Educação ambiental 5
Outro 6 13 - TEMA ABERTO relacionado ao assunto que predomina no texto. 14 – RELAÇÃO GEOGRÁFICA região a qual a matéria faz referência.
Região CÓDIGO Mundo
Brasil 1 América do Norte 2
América Central 3 América do Sul 4
Europa 5 Ásia e Oceania 6
África 7 Região Indefinida 8
Brasil
Sul 1 Sudeste 2
Centro Oeste 3 Norte 4
Nordeste 5 Região indefinida 6
15 – FONTES – relação da 1ª e 2ª fonte mais citada nas matérias. Obs.: citação no titulo jê é considerada primeira
Tipo CÓDIGO Estado/Governo 1
Cientistas/Pesquisadores 2 Ambientalistas/ONGs 3
Empresas privadas 4 População 5
Polícia/Bombeiros 6 Legislativo 7
Judiciário (juiz, promotor advogado) 8 ONU 9
Jornalista 10 Outro 11
190
26 – ORIGEM DA FONTE – (ausência = 0 ou códigos abaixo para presença por predominância ou precedência) Deve-se registrar a codificação da primeira ou da fonte mais citada no texto.
Tipo Código Explicação
Oficial habitual 1
Representam instituições públicas ou privadas, não falando apenas em seu próprio nome, mas sim institucionalmente. Ex: Estado, ONGs, legislativo e Judiciário.
Disruptiva Social 2
Representam opiniões expressas a partir de eventos ou crises sociais que gerem algum tipo de confronto ou instabilidade social. Aqui, o fato social é maior do que a fonte que o expressa. Ex: População.
Cidadão individuali
zado 3
Deve-se codificar como Outro qualquer fonte que não for representante oficial de órgãos públicos (diretos ou indiretos) e que não esteja promovendo nenhum confronto ou instabilidade social. Ou seja, trata-se de fonte da sociedade organizada que fala em nome dela mesma ou de uma organização não ligada ao aparato Estatal. Ex: Pesquisadores
Próprio jornalista 4
Situações em que o repórter, sem nenhuma outra citação de fonte, apresenta ou descreve situação a partir de observação direta ou memória histórica. Ex.: Acompanha reunião de partido e conta o que viu sem citar ninguém.
Baseado em Molotch e Lester (1993) Santos (2001) 17 – NÚMERO DE FONTES – total de fontes citadas ao longo do texto. 18 – OBSERVAÇÕES Obs.: Nem todas as variáveis observadas na pesquisa estão presentes na análise, pois foram usadas apenas as que renderam mais.
191
APÊNDICE B – Pré-projeto
192
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA Bacharelado em Comunicação Social – Jornalismo Disciplina de Metodologia de Pesquisa em Comunicação 3º ano Projeto de Pesquisa
Meio Ambiente: como o jornal folha de São Paulo aborda o tema Formato: (x) Monografia. ( ) TCC Aluno: Michele Goulart Massuchin Orientador: Emerson Urizzi Cervi 2008
193
1. Identificação do Tema e Delimitação do Problema
Essa pesquisa tem como tema o jornalismo ambiental, uma das segmentações
do jornalismo especializado, o qual vem se desenvolvendo para atender a sociedade
cada vez mais segmentada (ABIAHY, 200-, p.02). Nos últimos anos o jornalismo
ambiental tem tratado de temas como a questão do lixo urbano, poluição,
transgênicos, agrotóxicos, desmatamento, entre outros (BUENO, 2007) com mais
efetividade nos meios de comunicação.
O objeto dessa pesquisa são as notícias pautadas pelo Jornal Folha de São
Paulo, relacionadas ao meio ambiente. Para este trabalho são utilizadas as edições
do ano de 1992 até 2008.
Essa especialização no jornalismo teve um desenvolvimento bastante relevante
nos últimos anos, quando o tema ecologia passou a ser incluído nas pautas dos
veículos com bastante freqüência, “na medida em que apareceram os debates sobre
transgênicos, biodiesel, biopirataria e aquecimento global” (BUENO, 2007).
A grande mídia retrata apenas as catástrofes ecológicas globais, que não tem
como função promover debate e conscientização pelas causas da natureza, apenas
apresentam a crise do meio vinculada com uma heurística do medo (AGUIAR, 2005,
p.01). Segundo Bueno (2007), as catástrofes ecológicas estão tomando conta das
primeiras páginas dos veículos diários (...) a qual pode ser considerada
sensacionalista quando retrata apenas acidentes ambientais como forma de
aumentar a audiência.
Segundo Aguiar (2005, p.01), esse tipo de notícia vêm ocupando as páginas dos
jornais, em especial nos diários, com maior destaque. Na última década do século
XX, por exemplo, a cobertura sobre o assunto passou por três momentos distintos
segundo Tosi e Belmonte (2001, p.01). Os autores caracterizam o início dos anos 90
até 92 como o boom da discussão, outro momento posterior como ressaca e os
últimos anos do século com o ressurgimento do tema, devido ao aparecimento das
grandes empresas poluidoras.
Tosi e Belmonte (2001, p.01) explicam que no final do século mudou-se a forma
de trabalhar o tema. Agora as notícias são diárias, mas de fatos desconexos. No
início da década de 90, o que impulsionou a divulgação do tema foi a realização da
Conferencia das nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de
194
Janeiro. E no período de ressaca o tema apenas ganhava espaço quando acontecia
um desastre.
Segundo Arruda (2006, p.01) a defesa do meio ambiente foi um movimento que
nasceu principalmente nos países do Norte nos anos 60, com as denúncias da
norte-americana Rachel Carson de envenenamento com pesticidas. Para a autora o
espaço destinado ao desenvolvimento econômico foi substituído pela preocupação
ambiental a partir de 1970.
Para Aguiar (2005, p.13) as formas de representação da crise ambiental se dão
por década. Nos anos 60, como uma crise de participação; nos anos 70, como uma
crise de sobrevivência; anos 80 como crise cultural ou de civilização e a partir da
década de 90, com a cobertura jornalística da grande imprensa assume o significado
de uma crise dos riscos globais.
A partir da crise que tomou conta das últimas décadas do século XX, espera-se
que o jornalismo dê sentido a toda essa massa de informações que circula pelo
planeta, abrindo um espaço para a reflexão e contribuindo para a descoberta de
soluções para esta crise (ARRUDA, 2006, p.02). É preciso mudar a forma de
cobertura dos veículos, como relata Aguiar (2005, p.13): “a cobertura foi baseada
apenas no medo e nas catástrofes”.
Sendo assim, o problema de pesquisa, o qual deve ser explicado ao longo do
trabalho de análise das edições do jornal é: de que forma a folha de São Paulo
abordou o tema meio ambiente a partir de 1992 até hoje?
195
2. Objetivos 2.1 Objetivo geral - analisar o conteúdo do Jornal Folha de São Paulo para verificar de que forma o veículo abordou a crise ambiental a partir de 1992; 2.2 Objetivos Específico
- fazer análise do conteúdo, tendo como foco as matérias jornalísticas sobre meio
ambiente;
- observar quais as temáticas encontradas com maior freqüência nos textos
jornalísticos ambientais;
-verificar a partir de alguns critérios, de que forma o jornal trata o assunto;
196
3. Justificativa Este trabalho é conveniente cientificamente por abordar um tema novo na
área de comunicação. O jornalismo ambiental se desenvolveu com mais ênfase,
substituindo outras prioridades a partir do final do século XX, por isso do interesse
de observar como a mídia abordou o tema nesse período. Além disso, a crise
ambiental tem uma pertinência na discussão pública e conseqüentemente os meios
de comunicação fazem, ou deveriam fazer, o papel de mediadores.
A pesquisa é viável, pois a forma de abordagem, a metodologia a ser
desenvolvida e o tempo de análise permitem dar um panorama do tratamento dado
ao assunto nesse veículo. Verifica-se também pouca quantidade de trabalhos
realizados nessa área. Dessa forma, a pesquisa ajudará nas próximas etapas a
serem desenvolvidas sobre o assunto por outros pesquisadores. A falta de estudos
se dá por ser um assunto ainda em desenvolvimento. Além de que, será possível ter
acesso as edições do jornal para a análise do seu conteúdo. O tempo disponível
está dentro do esperado, já que será possível fazer durante o período designado.
O desenvolvimento da pesquisa é importante na área de comunicação, por se
tratar de um conteúdo de interesse dos jornalistas, no sentido de ser uma área em
desenvolvimento. O trabalho tem como foco atender as expectativas dos jornalistas
e não do público, já que é uma análise de conteúdo das matérias já publicadas e se
refere a um estudo de caso.
A análise visa explicar ainda como os meios de comunicação pautam,
apuram, desenvolvem e priorizam os assuntos, defendendo a existência de fatores
que interferem na produção e na forma de abordagem. A implicação desse trabalho
na “comunidade” dos jornalistas é justamente mostrar como os meios de
comunicação abordam a temática discutida desse trabalho, a partir da análise de um
veículo diário de abrangência nacional. Da mesma forma que surgem trabalhos que
analisam como os veículos pautam os assuntos políticos, este pretende analisar a
cobertura apenas dos assuntos relacionados com o meio ambiente.
O aporte teórico desse trabalho se direciona para o enriquecimento das
teorias do jornalismo. É mais uma forma de verificar como as rotinas produtivas, o
enquadramento e a influência dos interesses externos (como por exemplo, o
interesse político expresso na teoria da ação política) podem de fato influenciar no
processo de produção das notícias.
197
A escolha pelo jornal impresso e não pelos veículos on-line se deu pelo fato
de que a época em que será feito a análise, o jornalismo on-line estava em processo
de iniciação, e as criações especializadas na rede ainda não estavam a disposição.
Foi no início do século XXI que a rede passou a ser o campo de estudo nas áreas
especializadas, anterior a isso não há material que suporte a pesquisa.
Além disso, outro aspecto importante na escolha do veículo foi a área de
circulação e o porte. A Folha de SP é considerada um jornal de abrangência
nacional, dessa forma apresenta sempre um panorama dos fatos mais importantes
de todo o país, diferente de um veículo menor, que restringe sua apuração no
estado ou na região, trabalhando mais um jornalismo regional. Isso exclui muitos
assuntos que foram pautados sobre meio ambiente em veículos maiores.
O porte do veículo foi importante na hora da escolha do jornal, pois por ser
um dos mais antigos e maiores jornais em circulação no país, a Folha já estava
pautando o tema meio ambiente. Os jornais do interior só pautaram o assunto mais
tarde, devido ao distanciamento as novas tendências. E como foi na década de 90
que o jornalismo ambiental tomou conta das redações, pela lógica, se desenvolveu
primeiro nos veículos maiores e mais sólidos, onde se destaca a Folha de SP.
O período de análise se justifica por ser nesse período que os veículos
passaram a pautar e dar mais ênfase ao assunto devido a ECO -92. E,
conseqüentemente, com o assunto meio ambiente em discussão nos últimos anos
devido aos transgênicos e biodiesel, por exemplo, a tendência é de que os veículos
pautam com mais efetividade o assunto do que antes da ECO-92, que é considerado
o boom do jornalismo ambiental.
198
4. Fundamentação Teórica pertinente ao trabalho
As teorias do Jornalismo que norteiam essa pesquisa e podem ajudar a explicar
a produção noticiosa do jornal a ser analisado são a teoria da Ação Política e Teoria
Organizacional, as quais explicam a produção pela influencia de outras instituições e
pela linha editorial do veículo, respectivamente.
Autores como Warren Breed e James Curran, escrevem sobre a teoria
Organizacional e ressaltam a interferência da organização sob o trabalho realizado
nas redações. Nessa visão, as notícias são resultado da política editorial do veículo.
Segundo Breed, o jornalista se adapta as regras da empresa, mesmo elas sendo
implícitas no ambiente. Além disso, a teoria ressalta a influência da economia na
produção, o que mais tarde será resgatado pela Teoria da ação política.
Na teoria da ação política destaca-se Efron, Kristol, Lichter, Herman, Chomsky e
os destaques mais recentes são Nelson Traquina e Gaye Tuchman, influenciados
por Antônio Gransci, Start Hall e Roland Barthes. Nesta abordagem teórica, cresce
os estudos sobre ideologia, em que se evidencia o poder das notícias de sustentar o
poder capitalista.
Nessa teoria, os meios de comunicação são vistos numa visão instrumental, ou
seja, servem aos interesses políticos. Herman e Chomsky reforçam a idéia de que
os meios mantêm o poder instituído devido aos donos e aos anunciantes. Para os
autores, os veículos estão embutidos no sistema comercial.
O fator tempo (rotinas produtivas) também influencia na produção das notícias,
acima do poder dos próprios jornalistas. Elas são formas de constrangimento,
segundo Sousa, além de manter uma semelhança entre as diversas produções.
A discussão de especializado também faz parte da pesquisa e pode ajudar a
entender a difusão do jornalismo ambiental, já que este é uma das especialidades
dessa área de discussão. A partir do desenvolvimento do jornalismo especializado é
que se desenvolveram as temáticas dentro dessa grande área. Atualmente as
pesquisas sobre jornalismo especializado e científico passam por um processo de
discussão sobre o que de fato são as especialidades e como é a relação com as
características do próprio fazer jornalismo. Atualmente grande parte dos estudos
trata do uso indevido da palavra especializado.
199
Autores como Ricardo Alexino Ferreira, discutem o jornalismo especializado
como algo mais aprofundado do que a apuração por áreas de atuação, como se
conhece atualmente.
Ana Carolina de Araújo Abiahy, Sandra Ball-Rokeach, Melvin Defleur discutem a
aceleração das especialidades como uma necessidade dos indivíduos. Wilma
Moraes, Peter Nelson, André Trigueiro, Leonel Azevedo de Aguiar também discutem
o assunto, porém focam diretamente no jornalismo ambiental.
200
5. Metodologia e Estratégia de Ação Empírica
O presente trabalho, que tem como objetivo analisar o Jornal Folha de São
Paulo e sua abordagem sobre os assuntos relacionados a crise ambiental que
tomou conta do final do século, vai se dá a partir da análise das edições para a
verificação da existência ou não do tema e conseqüentemente da análise de
conteúdo daquilo que for catalogado.
A pesquisa se estende das edições do ano de 1992 até 2008. Como o jornal é
diário e o número de edições é demasiadamente grande, impossibilitando a
pesquisa no tempo designado, será feito uma coleta por amostragem. A mostra
deverá ser por semana composta, ou seja, serão utilizadas para análise duas
edições por semana durante todo o período, totalizando em torno de 1900
exemplares para análise.
O método de pesquisa utilizado será a análise documental, por meio da
técnica de análise de conteúdo, onde será verificada de que forma o jornal Folha de
São Paulo aborda o assunto.
O propósito desse trabalho é o diagnóstico, onde será explorado o ambiente
(no caso o jornal Folha de São Paulo) com objetivo de levantar os dados
necessários e definir os problemas que fazem com que as notícias sobre meio
ambiente sejam pautadas ou não e o enfoque.
A técnica de coleta será a avaliação do conteúdo. A partir disso, pode-se
verificar se as notícias veiculadas no jornal Folha de São Paulo sobre o tema deste
trabalho concordam com os estudos já feitos sobre o período. Para a análise, a
técnica a ser usada é qualitativa, ou seja, será avaliado o conteúdo do jornal e não
somente a quantidade de notícias sobre o assunto. O objetivo é a análise do
conteúdo observado para explicar como o tema é abordado, enquadrado, enfocado
e exposto no jornal.
201
6. Possíveis Resultados
A partir dos estudos realizados sobre esse tema, das leituras para
embasamento e o trabalho de análise das notícias, será possível obter um panorama
de como o jornal abordou o tema meio ambiente ao longodos anos a partir da ECO-
92. Devem-se perceber as mudanças, os enfoques, os temas mais observados,
entre outros fatores importantes para complementar a pesquisa.
Por meio desse resultado é possível relatar sobre as influências de fatores
externos ao jornalista, compreendidos pelas teorias do jornalismo. Será possível
observar se de fato há influências de acordo com a análise do conteúdo apresentado
pelo veículo.
A pesquisa também vai validar os trabalhos anteriores, citados neste, que
defendem os períodos distintos de abordagem. Pode-se mostrar se de fato isso se
materializa pela análise do Jornal folha de São Paulo. O trabalho ainda contribui
para os estudos sobre o desenvolvimento do jornalismo ambiental, que ainda estão
se iniciando neste século. Será possível apresentar o cenário de desenvolvimento do
tema no jornal de maior circulação nacional.
A análise também vai verificar se houve aumento significativo da difusão de
matérias ao longo dos anos. A partir disso, podemos chegar a conclusão se de fato o
jornalismo feito nas redações do jornal sofre influências econômicas (teoria da ação
política) das grandes empresas poluidoras por isso pode evitar notícias relacionadas
a denúncias de empresas ilegais com relação às normas ambientais, por isso o
número de matérias relacionadas a esses fatos pode ser menor que as demais.
Outra conclusão esperada é se há ou não a apropriação dos momentos da
década de 90 pela Folha de SP, os quais podem ser ou não fatores norteadores da
produção jornalística. As notícias são o resultado da opção editorial do veículo, do
agendamento, do recebimento de release e utilização das agências de notícias, e
pode não ter ligação com os três momentos distintos da cobertura das questões
ambientais da década.
202
7. Referências Bibliográficas
ABIAHY, Ana Carolina de Araújo. O jornalismo especializado na sociedade da informação. Disponível em: www.bocc.ubi.pt/pag/abiahy-ana-jornalismo-especializado.pdf. Acesso em: 20 de setembro de 2008. AGUIAR, Leonel Azevedo de. Representações da crise do meio ambiente no jornalismo científico. Disponível em: www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R0338-1.pdf. Acesso em: 20 de setembro de 2008. ARRUDA, Denise Juliani De. Imprensa E Meio Ambiente: As Mudanças Na Cobertura Jornalística Entre A Rio-92 E A Rio+10 – O Caso DaGazeta Mercantil. Disponível em: poseca.incubadora.fapesp.br/portal/comunicacao/outrosccom/dados/2006/orientador/r/. Acesso em: 20 de setembro de 2008. BRAGA, Camila Lourenço Barbosa Pastorelli. Análise da cobertura da imprensa sobre a produção de biocombustíveis no Brasil. Disponível em: www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R1128-1.pdf Acesso em: 20 de setembro de 2008. BUENO, Wilson da Costa. Jornalismo Ambiental: navegando por um conceito e por uma prática. Disponível em: www.ecoviagem.com.br/fique.../jornalismo-ambiental-navegando-por-um-conceito-e-por-uma-pratica. Acesso em: 20 de setembro de 2008. CAMPOS, Pedro Celso. Uma abordagem sistêmica para as Teorias do Jornalismo. Disponível em: www.bocc.ubi.pt/pag/campos-pedro-uma-abordagem-sistemica-teorias-do-jornalismo.pdf. Acesso em: 20 de setembro de 2008. CASTRO, Camila Carolina de. Jornalismo ambiental: Como O Jornal Correio Centro Oeste Trata As Questões Ambientais. Disponível em: www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/cd3/jornal/camilacarolinadecastro.doc. Acesso em: 20 de setembro de 2008. LIMA, Eliana de Souza. A importância da mídia na consciência ambiental. Disponível em: Acesso em: PIMENTA, Caroline Petian. Jornalismo e divulgação científica: Uma análise de reportagens sobre ciência e tecnologia em um programa rural da televisão brasileira. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/petian-caroline-jornalismo-divulgacao-cientifica.pdf . Acesso em: 20 de setembro de 2008. SOUSA, Jorge Pedro. Teorias da Notícia e do Jornalismo. Florianópolis: Argos, 2002. SOUZA, Jean Carlos Porto Vilas Boas. Comunicação, meio ambiente e práticas culturais: um estudo sobre o alto Uruguai catarinense.
203
SCHIMIDT, Simone. Páginas verdes – A presença da emoção no Jornalismo Especializado em Meio Ambiente: Uma análise da seção de entrevistas pingue-pongue da revista Ecologia & Desenvolvimento. Disponível em: www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/7772/000556583.pdf?sequence=1. Acesso em: 20 de setembro de 2008. SCHWAAB, Reges Toni. Jornalismo Ambiental no rádio educativo: a experiência do programa Ambiente Vivo. Disponível em: www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/cd3/sonora/regestonischwaab . Acesso em: 20 de setembro de 2008. TOSI, Juares e BELMONTE. Roberto Villar. Jornalismo Ambinetal: onde estão as faculdades de comunicação? Disponível em: www.portoalegre.rs.gov.br/ecos/revistas/ecos19/opiframe.htm. Acesso em: 20 de setembro de 2008. TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo. Vol I. Florianópolis: Insular, 2004. VILLAR, Roberto. Jornalismo Ambiental - Evolução e Perspectivas. Disponível em: www.agirazul.com.br/artigos/jorental.htm. Acesso em: 20 de setembro de 2008.
204
APÊNDICE C – Relatório analítico
205
Relatório Analítico
Este trabalho de conclusão de curso tem suas raízes ainda em 2007. A ideia
de estudar algo relacionado com o tema meio ambiente surgiu nas aulas de
Redação Jornalística II, ministradas na época pela professora Hebe Gonçalves. O
segundo ano do curso estava terminado e eu já estava aflita por não saber o que
faria no famoso ‘TCC’.
Nas últimas aulas teóricas de redação, a professora Hebe trabalhou com três
textos: um sobre jornalismo especializado e dois sobre jornalismo ambiental. Lendo
o material, alguns dias antes da aula, o tema dos artigos me interessou e comecei a
ler notícias de meio ambiente quase todos os dias na internet. Entrei em alguns sites
de jornalismo ambiental e até me cadastrei para receber as newsletters (as quais
recebo até hoje e lotam minha caixa de e-mail todos os dias!).
O segundo ano terminou e eu fui para casa, estava de férias, sabia que no
ano seguinte já tinha que fazer um projeto na disciplina de Metodologia de Pesquisa.
Nesse período decidi trabalhar com o tema meio ambiente, mas ainda não sabia
muito bem o que eu ia fazer. Comecei certo, como mandava meu orientador nas
aulas de metodologia: primeiro o tema, depois o formato. Mas eu já tinha certeza
que queria fazer pesquisa! Nada de documentário, reportagem, livro e coisas do
gênero...
Não sei bem onde surgiu esse interesse, mas tentando lembrar agora, acho
que é resultado da minha participação no grupo de Pesquisa em Jornalismo Digital,
coordenado pela professora Maria Lúcia Becker. Entrei no grupo quando ainda
estava no segundo ano do curso e participei das pesquisas sobre jornalismo digital
no Paraná. Além disso, desenvolvi um projeto de iniciação científica, o que
aumentou meu interesse em fazer monografia.
No terceiro ano, iniciei a disciplina de Metodologia de Pesquisa e o professor
Emerson foi quem ministrou as aulas e orientou o pré-projeto (ainda bastante
incipiente nas primeiras entregas). Durante o ano o projeto passou por modificações.
Só não modificou o tema! Na primeira versão, a idéia era fazer uma análise
comparativa de como um veículo on-line e um impresso abordavam o tema. Já na
segunda, com medo de ter problemas com o banco de dados do site a ser escolhido,
decidi trabalhar apenas com o impresso e não mais fazer análise comparativa.
206
No decorrer do terceiro ano fui lendo sobre o assunto e conhecendo outros
trabalhos já produzidos na área. A partir do segundo semestre, já tive mais clareza
do que queria fazer: analisar como a Folha de São Paulo aborda o tema meio
ambiente. Faltava ainda decidir o período a ser pesquisado e justificar um bocado de
coisas. No final do ano o projeto da disciplina, era de fato, aquele que eu iria
desenvolver na monografia.
No pré-projeto já tive pré - orientação do Emerson, que posteriormente seria
meu orientador do TCC de verdade. Durante as aulas de metodologia, sempre
quando havia conteúdo novo eu não sabia como ‘encaixar’ no meu projeto, eu
perguntava: ‘E o meu professor?! E o meu?!’. Pergunta essa que eu fiz muitas e
muitas vezes durante o ano; e o Emerson, muito paciente (pelo menos aparentava,
rs!) respondia e eu anotava para chegar em casa e arrumar projeto.
Na verdade sempre faltava alguma coisa e eu nunca me contentava com a
minha nota. No final da aula eu ia perguntar o que ainda estava faltando para
colocar no projeto novamente. Aos poucos o trabalho foi melhorando e a nota
também.
Antes de terminar o terceiro ano pedi dicas de leituras para as férias e
também investiguei se conseguiria encontrar as edições da Folha de São Paulo,
desde 1992, para analisar. Liguei nas bibliotecas de Ponta Grossa, Curitiba, de
outros estados e até mesmo no acervo do jornal, em São Paulo. Os únicos locais
que encontrei o material foi na Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba e no acervo
do jornal.
A primeira tentativa, após não encontrar em Ponta Grossa, foi o próprio
acervo do jornal, mas quando liguei lá levei um susto que quase desisti de fazer o
trabalho. A Folha cobra para fazer fotocópia do material e também pelo tempo de
análise (R$ 15,00 para estudantes). Como na época eu iria analisar duas edições
semanais durante os 17 anos, se eu tivesse que pagar a pesquisa seria inviável.
Indignada com os valores, resolvi ligar para a biblioteca Pública do Paraná, onde
consegui o material e a pesquisa era gratuita. Apenas teria que me deslocar para
Curitiba para fazer a análise dos dados.
No final do terceiro ano, toda a turma recebeu uma ficha para colocar os
dados do trabalho a ser desenvolvido no último ano e sugerir dois professores para
orientar o TCC. Minha primeira opção foi o Emerson, pois ele já apresentava
bastante afinidade com pesquisa.
207
Nas férias, consegui fazer diversas leituras sobre o tema, a metodologia e as
teorias que eu iria usar no trabalho. Quando iniciou o ano letivo, começaram as
orientações. Eu cheia de ‘tarefas’, como diz o Gadini, já vinha desde o ano anterior
preocupada se eu ia dar conta de fazer o TCC, pois juntamente com a produção da
monografia eu tinha o projeto de PIBIC, a Semana de Resistência para organizar e o
CAJOR para presidir até o final do semestre.
Para evitar problemas, durante quase todo o ano eu segui a mesma
metodologia de trabalho (proposta pelo Emerson): fazíamos a orientação nas terças-
feiras, eu saia da conversa e ia para casa e começava a produzir. Eu tinha sempre
até o sábado para mandar o texto que escrevi durante a semana e fazer os ajustes
propostos no texto produzido na semana anterior. Mandava o trabalho no sábado e
o Emerson respondia no domingo ou segunda (exceto quando eu mandei no e-mail
errado, rs!) com as observações, correções e novas propostas. Na orientação
seguinte discutíamos as observações do e-mail e ele me dava outra tarefa. E assim
foi o ano todo (quase todo), mesmo com o restante dos meus afazeres!
O que me ajudou muito foram as leituras que eu fiz durante as férias, pois
quando voltei já sabia mais ou menos o que eu precisava colocar no texto da
monografia e o que ainda faltava pesquisar. Como havia poucos textos sobre o tema
na biblioteca, resolvi adquirir alguns livros. Cinco para ser mais exata. E lá se foram
quase duzentos reais! Mas tudo bem, era por uma boa causa. Eu defendia tanto
meu trabalho que valeria a pena o investimento.
Lá por meados de maio eu já estava com a parte teórica (capítulos um, dois e
algumas páginas do terceiro) pronta, faltando apenas as correções e os cortes. Sim,
o Emerson me fazia diminuir o tamanho do texto por que tinha colocado coisas
demais! Eu tinha uma dificuldade imensa de cortar e fica brava por que tinha escrito
tanto e ele queria que eu tirasse. Mas aos poucos fui conseguindo fazer com que os
dois primeiros capítulos coubessem em pouco mais de 70 páginas.
Terminado essa parte teórica, começamos a discutir o terceiro capítulo: as
variáveis a serem analisadas, o recorte das matérias (definição do que eu entendia
por ‘meio ambiente’ para fazer a análise e selecionar os textos), a amostra a ser
escolhida, entre outras coisas. Em poucos dias fiz isso e escrevi mais uma parte do
capítulo três para apresentar na pré-banca. Após definidas as variáveis, decidimos
testar numa amostra.
208
Para não perder trabalho, optamos em já pegar a amostra que seria a final:
duas edições semanais durante os 17 anos, o que seria em torno de 1700 edições a
serem analisadas. Resolvemos já definir as datas da amostra. Um belo dia sai da
orientação e fui para casa fazer a tal da seleção das datas que seria a amostra.
Peguei o calendário do meu computador, lá de janeiro de 1992 e comecei a anotar
as datas, uma de cada semana, uma na segunda, a outra na terça e assim
sucessivamente. Acho que fiquei umas cinco horas só vendo as datas das edições
(isso que para o teste eu estava anotando apenas de uma edição por semana e não
de duas como seria o normal).
Anotadas as datas, resolvi usar o ano de 2008 para o teste, pois este eu tinha
acesso em Ponta Grossa. Peguei as mais de 50 edições (que representavam cada
semana) e levei para casa para fazer num final de semana. Porém, passou o final de
semana e eu ainda estava analisando o mês de junho. Fazendo as contas se eu
demorasse todo esse tempo para analisar seis meses de apenas uma edição por
semana, eu demoraria ao todo 102 dias, em média, para a análise (a essa altura do
campeonato já havíamos descartamos fazer duas edições semanais). Ou seja,
apresentaria meu TCC só em 2010!
‘Michele, você é louca!’. Como ouvi isso durante o primeiro semestre. Não era
um nem dois que falava isso, mas quando diminui a amostragem acalmaram-se.
Para conseguir dar conta, resolvemos analisar novamente o ano e 2008, mas com
uma edição a cada 15 dias, o que dava em média 25 edições por ano, totalizando
442 edições para a análise. Dessa vez consegui analisar em pouco mais de um dia
(já estava mais prática e já sabia os códigos de cor e salteado). Só em 2008
cataloguei 106 matérias.
Esse ‘teste’ foi utilizado já na pré-banca como uma amostra como ficaria a
pesquisa no final do ano. Juntei esses dados ao texto, coloquei nas normas e fiz a
correção. Depois de ‘aprovado o teste’ e monografia pronta para a pré-banca fui
para Curitiba começar a análise de vez! Para evitar gastos com hotel, fiquei na casa
de duas amigas, que me emprestaram o apartamento por duas semanas e mais uns
dias. Analisei 15 anos em Curitiba e dois em Ponta Grossa. O Decom tinha o acervo
de 1992 e de 2008.
Voltei de Curitiba com vários dados em mãos, entreguei a monografia no dia
10 de junho e esperei a pré-banca que aconteceu no dia 30 de junho, depois do meu
atraso. Sim, eu me atrasei para a minha pré-banca! Ou melhor, não fui avisada da
209
mudança de horário. Eu achava que a banca seria às 15 horas, e na verdade era às
11 horas. É claro que eu não estava na UEPG às 11 horas, afinal estava chovendo
no bendito dia. Às 11h10 mais ou menos, o meu orientador ligou para saber onde
eu estava e eu nem sabia da banca. Saí correndo para a UEPG desesperada e
muito brava. Cheguei lá e encontrei todo mundo me esperando, inclusive o
convidado!
Enfim, cheguei às 11h30 para a banca, a qual não durou muito. Acho que uns
40 minutos, no máximo. Alguns elogios, algumas observações e pequenos ajustes.
Eis a minha nota: 9,5. Porém, na mesma semana tive orientação e lá fui eu com
tarefa para as férias: ir para Curitiba terminar a catalogação das matérias, passar
todos os dados da tabela para o computador e arrumar os erros e observações feitas
pelo convidado e pelo professor Rafael.
Na semana seguinte da banca fui para Curitiba novamente. Fiquei uma
semana fazendo a análise dos dados que faltavam e consegui finalizar a pesquisa
(como foram longos aqueles dias!). Com meu TCC descobri que tenho muita alergia
a jornal velho. A primeira ida a Curitiba foi pior, nessa eu já estava ‘vacinada’! Na
biblioteca tive o auxílio dos funcionários e também muitas perguntas de curiosos que
me viam lendo um jornal de 1995, por exemplo. E como aqueles plásticos que
separavam as quinzenas dos jornais estavam “estranhos”! As mãos ficavam pretas
com o pó do jornal e o grude do plástico antigo. Que beleza!
Após terminar a análise (ainda bem!), viajei para a casa dos meus pais e nas
duas semanas que fiquei lá fiz o restante das tarefas. Voltei para Ponta Grossa,
mandei a monografia com as alterações para o Emerson e também todos os dados
na tabela do Excel. Resumo das férias: passei as tardes digitando os dados das 783
notícias catalogadas e algumas noites fazendo correções e lendo alguns textos que
poderiam complementar a pesquisa.
Quando iniciou o segundo semestre eu já estava na UEPG para começar a
análise dos dados. O Emerson passou algumas tabelas e gráficos e eu iniciei a parte
prática do terceiro capítulo. Como tivemos três semanas de recesso por causa da
gripe suína eu consegui escrever grande parte da análise nesse período. O Emerson
veio para Ponta Grossa algumas vezes e nos reuníamos para fazer os cruzamentos
dos dados para eu poder dar continuidade ao trabalho.
Consegui adiantar bastante conteúdo neste período de ‘férias suínas’ e tive
mais tranquilidade nos meses mais próximos da entrega da monografia. Tanta que
210
meu orientador me deixou “abandonar” o TCC para estudar para as seleções de
mestrados que aconteceram no mês de outubro. Pelo que eu lembro, acho que
fiquei um mês sem se quer olhar para minha monografia. Após as provas, e já
desesperada achando que estava atrasada (tanto adiantamento e eu ainda achando
que estava atrasada), voltei a fazer TCC. Já estava com saudades para falar a
verdade! Faltavam apenas alguns detalhes, a conclusão, acrescentar algumas
informações e fazer as correções.
Lá pelo dia 20 de outubro eu retomei a monografia. Como eu sempre trabalho
na base de um cronograma para não deixar as coisas atrasarem ou acumular
tarefas, fiz um novo ‘calendário’ para que eu pudesse finalizar a análise ainda no dia
30 de outubro. Porém, eu não sabia que detalhes exigiam tanto trabalho (ainda mais
numa monografia com 200 páginas). Um detalhe aqui, outro ali e a impressão
mesmo só saiu no dia nove de novembro, um dia antes da entrega.
Como nem tudo são flores, o maior problema que eu tive ao longo do ano foi
encontrar informações sobre o próprio jornal. Durante o período de pesquisa precisei
entrar em contato para pedir alguns dados, porém isso sempre era uma grande dor
de cabeça. Ficava horas e horas na linha e nada, ou melhor, no final do mês vinha
uma conta enorme, porém eu continuava sem as informações. Somente a partir de
agosto que consegui as informações que precisava, quando deixei meu telefone e o
próprio funcionário me retornou. Quase um milagre, nem acreditei! Mas quando eu
achava que estava tudo indo muito bem, ainda faltava alguma ‘coisa’ para
complementar a parte teórica: se eu tanto falei de jornalismo especializado,
segmentado e editorias, nada mais certo do que eu colocar como se deu esse
processo evolutivo no jornal (algo que também foi cobrado na pré-banca).
Aí começou a dor de cabeça de novo: como conseguir essas informações
sendo que no site eu não havia encontrado e para conseguir informações no banco
de dados era complicado? Acho que de tanto eu ligar lá e dizer ‘eu sou de Ponta
Grossa, faço jornalismo na UEPG e meu tcc é a análise da Folha de São Paulo...’,
os atendentes já me conheciam e viram que de fato eu não ia parar de ligar se eles
não me passassem as informações. Quase no dead line do tcc, no dia 27 de
outubro, depois de um tempo pendurada no telefone, consegui com a ajuda de um
dos atendentes, encontrar as informações no site do banco de dados. Como se não
bastasse, vinha mais um problema: algumas informações estavam incompletas (uma
das atendentes disse que, de fato, o site está desatualizado) e não estavam de
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acordo com o próprio jornal atual e nem com informações que haviam passado por
telefone. Precisei novamente entrar em contato. Mais algumas ligações, juntando
informação aqui e ali, consegui visualizar o histórico de cada uma das editorias do
jornal e enfim pude complementar o que ainda faltava no capítulo dois.
Ao longo da produção da monografia participei de vários congressos, onde
pude apresentar minha pesquisa, mesmo estando em andamento. Ainda em junho
participei do Intercom Sul, onde apresentei o projeto da pesquisa, e do Seminário de
Inverno, que escrevi sobre a análise previa do ano de 2008. Em setembro apresentei
a discussão teórica proposta no capítulo dois no Intercom Nacional, e fiz uma fala
rápida a respeito do percurso de trabalho, já podendo passar alguns resultados no
Encontro de Iniciação Científica da Secal. Em outubro apresentei o projeto do
trabalho já discutindo as hipóteses no Encontro de Iniciação Científica da Unopar e
em Novembro no Encontro Paranaense de Pesquisa em Jornalismo já com o
trabalho praticamente finalizado, pude apresentar os resultados referentes a primeira
parte da análise, que trata especificamente da presença e visibilidade do tema no
jornal. As apresentações contribuíram com as dicas e observações. Como dizem
meus calouros: ‘Nunca vi ninguém que gostar tanto de falar do TCC!’. Mas não é
isso, ou melhor, é sim! Eu gosto muito do meu TCC. Na verdade, eu tenho interesse
por pesquisa e acho que trabalhos engavetados não servem para muita coisa, por
isso tento socializar os conhecimentos que adquiri ao longo da produção.