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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO MICHELE GOULART MASSUCHIN MEIO AMBIENTE E FOLHA DE SÃO PAULO: A CONSTRUÇÃO DE NOTÍCIAS NO PERIÓDICO DIÁRIO PONTA GROSSA 2009

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

MICHELE GOULART MASSUCHIN

MEIO AMBIENTE E FOLHA DE SÃO PAULO: A CONSTRUÇÃO DE NOTÍCIAS NO PERIÓDICO DIÁRIO

PONTA GROSSA

2009

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MICHELE GOULART MASSUCHIN

MEIO AMBIENTE E FOLHA DE SÃO PAULO: A CONSTRUÇÃO DE NOTÍCIAS NO PERIÓDICO DIÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Área de Comunicação. Orientador: Prof. Dr. Emerson Urizzi Cervi

PONTA GROSSA 2009

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MICHELE GOULART MASSUCHIN

MEIO AMBIENTE E FOLHA DE SÃO PAULO: A CONSTRUÇÃO DE NOTÍCIAS NO PERIÓDICO DIÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção de título de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Ponta Grossa, _____ de ________________ de 2009. _______________________________ Professor Orientador _______________________________ Convidado _______________________________ Professor (a) indicado pelo Decom

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

Ata de Avaliação de Projeto Experimental em Jornalismo (PEJ) Aos _____ dias do mês de __________ do ano de 2009, nas dependências do curso de Comunicação Social – Jornalismo, situado no Campus Central da Universidade, reuniu-se a Banca Examinadora composta por: __________________________________________ (Orientador) __________________________________________ (Convidado) __________________________________________ (Professora Indicada pelo Decom) para avaliação do Projeto Experimental em Jornalismo (PEJ) sob o título _____________________________________________________________________, de autoria de ___________________________________________________________. Após a apresentação e questionamentos realizados pelos membros da Banca, chegou-se aos seguintes resultados: Professor orientador, nota (___) Convidado, nota (___) Professor indicado pelo Decom (___) Nota final (___) Aprovado (___) Reprovado (___) Indicado para reapresentação (___)

Ponta Grossa, ____ de ________________ de 2008 __________________________________ Professor Orientador _____________________________________ Convidado _____________________________________ Professor Indicado pelo Decom

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

CURSO DE COMUNICAÇÃO

TERMO DE RESPONSABILIDADE DECLARAÇAO DE COMPROMISSO ÉTICO COM A ORIGINALIDADE CIENTÍFICO-INTELECTUAL

Responsabilizo-me pela redação do Projeto Experimental em Jornalismo sob o título ___________________________________________________________________, atestando que todos os trechos que tenham sido transcritos de outros documentos (publicados ou não) e que não sejam de minha exclusiva autoria estão citados entre aspas e está identificada a fonte e a página de que foram extraídos (se transcrito literalmente) ou somente indicados fonte e ano (se utilizada a idéia do autor citado), conforme normas e padrões da ABNT vigentes. Declaro, ainda, ter pleno conhecimento de que posso ser responsabilizado legalmente caso infrinja tais disposições.

Ponta Grossa, ___ de ____________ de 2009 ________________________________________________ Assinatura do estudante ________________________________________________ Nome legível do estudante ________________________________________________ Número do R.A.

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AUTORIZAÇÃO

Ponta Grossa, _____de ____________________de 20___. Eu, __________________________________________________, estudante do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa, portador do R.G. _______________________ e R.A ____________________, autorizo o Departamento de Comunicação a divulgar por qualquer meio de comunicação o produto artístico/científico intitulado_______________________________________ _______________________, desde que tal exibição não resulte em ganho financeiro para nenhuma das partes envolvidas.

Assumo, para todos os fins, total responsabilidade pela autoralidade do conteúdo escrito, de áudio e visual constante neste produto.

________________________________

Assinatura:

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Dedico aos meus pais, Celso e Elenir.

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AGRADECIMENTOS

A todos que contribuíram para a realização deste trabalho, fica expressa aqui a minha gratidão, especialmente:

à Deus, por me guiar nesses quatro anos de faculdade;

aos meus pais, que mesmo com a distância sempre estiveram

presentes, apoiando e aconselhando nos momentos difíceis;

à minha tia, Bia, pelo incentivo em fazer Jornalismo;

ao meu orientador, Emerson, pelas dicas, cobranças, correções e acompanhamento durante este último ano;

à professora Hebe, que despertou em mim o interesse em pesquisar

o tema deste trabalho ainda no 2º ano do curso;

à professora Maria Lúcia, pelas orientações no projeto de pesquisa, extensão e iniciação científica, que de alguma forma

contribuíram para a produção da monografia;

ao professor Paulo, pelas correções finais;

à Bárbara, que também ajudou a corrigir;

aos funcionários da Biblioteca Pública do Paraná, que me auxiliaram na pesquisa de campo;

à Tássia e à Líria, que me ‘emprestaram’ um pedacinho da casa

quando estive em Curitiba fazendo a análise dos jornais;

aos professores do Decom, que contribuíram para a minha formação acadêmica;

aos meus amigos, de longe e de perto, que me

acompanharam na realização deste trabalho;

aos colegas do Centro Acadêmico João do Rio Gestão 2008/2009, pelo companheirismo e amizade;

Enfim, a todos que de alguma forma ajudaram, apoiaram

e incentivaram a produção desta pesquisa e me ‘socorreram’ nos momentos mais difíceis.

Muito obrigada.

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RESUMO

Este trabalho apresenta uma análise de como o jornal Folha de São Paulo aborda o tema meio ambiente de 1992 a 2008. A observação dos textos sobre esse tema possibilita identificar as características da produção jornalística levando em consideração as teorias do jornalismo. O presente trabalho aborda no decorrer dos capítulos, um estudo sobre os problemas ambientais, discute as teorias do jornalismo, fontes e rotinas produtivas e por fim apresenta a análise das reportagens catalogadas. O trabalho se baseia na análise de conteúdo e tem como objetivo apresentar um panorama de como o veículo abre espaço para essa temática, relacionando com os estudos das teorias e discutindo como os fatores presentes entre o acontecimento e a produção influenciam na forma que a notícia é apresentada ao leitor. Palavras-chave: meio ambiente; teorias do jornalismo; análise de conteúdo.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Espaço total utilizado com o tema meio ambiente ................... 102 TABELA 2 - Número de entradas por edição .............................................. 105 TABELA 3 - Tamanho categórico (Sturges) dos textos coletados ............... 107 TABELA 4 - Localização dos textos na página do jornal ............................. 108 TABELA 5 - Composição dos textos jornalísticos sobre meio ambiente ..... 109 TABELA 6 - Presença do tema meio ambiente na capa do jornal ............... 110 TABELA 7 - Espaço (cm2) utilizado pelo tema ambiental nas capas do

jornal ........................................................................................ 113

TABELA 8 - Número total de vezes que os temas aparece durante o

período ..................................................................................... 115

TABELA 9 - Freqüência dos temas ao longo dos anos ............................... 117 TABELA 10 - Números de entradas de cada tema durante o período .......... 118 TABELA 11 - Espaço ocupado em cm2 por cada tema no jornal .................. 120 TABELA 12 Tamanho dos textos de acordo com a fórmula de (Sturges) ... 122 TABELA 13 - Localização dos temas nos quadrantes ................................... 123 TABELA 14 - Distribuição dos temas pelo número de entradas .................... 124 TABELA 15 - Presença dos textos nas editorias ........................................... 127 TABELA 16 - Distribuição dos temas nas editorias do jornal ........................ 129 TABELA 17 - Freqüência dos temas específicos das matérias ..................... 131 TABELA 18 - Distribuição dos temas específicos ao longo do período (92-

08) ............................................................................................ 132

TABELA 19 - Abrangência da produção jornalística em meio ambiente ....... 140 TABELA 20 - Relação entre os temas ambientais e as regiões do planeta 141 TABELA 21 - Abrangência da produção do veículo nas regiões brasileiras 142 TABELA 22 - Abrangência dos textos de cada um dos temas ambientais .... 143

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TABELA 23 - Relação entre o tema geral e a abrangência das matérias ..... 145 TABELA 24 - Tamanho dos textos referentes a cada região ........................ 146 TABELA 25 - Distribuição da primeira fonte citada em cada texto ................ 148 TABELA 26 - Segunda fonte que mais aparece nos textos coletados .......... 151 TABELA 27 - Número de fontes catalogadas em cada texto ........................ 152 TABELA 28 - Distribuição das primeiras fontes de acordo com o tema ........ 154 TABELA 29 - Localização das primeiras fontes nos formatos de textos ....... 155

TABELA 30 - Distribuição das fontes em cada tipo de texto ......................... 157

FIGURA 1 - Demonstração da localização dos quadrantes ........................ 95

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LISTA DE GRÁFICOS

GRAFICO 1 - Espaço total ocupado pelo tema meio ambiente no jornal (cm2) 100 GRÁFICO 2 - Número médio de textos por edição pesquisada .................... 104 GRÁFICO 3 - Tamanho do texto (pequeno, médio e grande) ....................... 106 GRÁFICO 4 - Número de chamadas de 1ª página por ano .......................... 111 GRÁFICO 5 - Espaço (cm2) ocupado pelo tema na 1ª página do jornal ........ 112 GRÁFICO 6 - Distribuição dos temas ao longo dos anos ............................. 115 GRÁFICO 7 - Espaço utilizado pelos temas durante o período .................... 121 GRÁFICO 8 - Variação da incidência do tema aquecimento global .............. 132 GRÁFICO 9 - Incidência do tema biodiversidade de 1992 a 2008 ................ 133 GRÁFICO 10 - Distribuição do tema “transgênico” ao longo do período ........ 134 GRÁFICO 11 - Desenvolvimento do tema biocombustível .............................. 134 GRÁFICO 12 - O tema ECO-92 nas páginas do jornal de 1992 a 2008 ......... 135 GRÁFICO 13 - Incidência do tema “desmatamento” no período de analise ... 136 GRÁFICO 14 - Incidência do tema “enchente” ao longo do período ............... 137 GRÁFICO 15 - Fontes com primeira citação nos textos de meio ambiente .... 150

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO 15 CAPÍTULO 1 - MEIO AMBIENTE: HISTÓRIA, DESENVOLVIMENTO E PERSPECTIVAS ..............................................................

19

1.1 PROBLEMAS AMBIENTAIS COMO PARTE DA HISTÓRIA DO HOMEM E DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, POLÍTICO E INDUSTRIAL .............................................................................

19 1.2 A TRAJETÓRIA DAS INDÚSTRIAS: DA CUSA DOS

PROBLEMAS À CONSCIENTIZAÇÃO ........................................

23 1.3 ZONA RURAL: MEIO AMBIENTE E AGRICULTURA ................. 25 1.4 O DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES E AS

CONSEQÜÊNCIAS PARA O MEIO AMBIENTE ..........................

27 1.5 MOVIMENTO AMBIENTALISTA: HISTÓRIA, TRABALHOS E

DESENVOLVIMENTO .................................................................

29 1.6 CONFERÊNCIAS DA ONU: PRINCIPAIS DISCUSSÕES SOBRE

MEIO AMBIENTE DE ESTOCOLMO A JOHANESBURGO ........

31 1.7 AVANÇOS E RETROCESSOS PÓS RIO-92 ................................ 34 1.8 DESENVOLVIMENTO E CONSUMO SUSTENTÁVEL:

TENTATIVAS DE MUDAR O MUNDO ......................................... 38

CAPÍTULO 2 - JORNALISMO E A CONSTRUÇÃO DE NOTÍCIAS

SOBRE MEIO AMBIENTE ........................................................................

45 2.1 JORNALISMO COMO CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE 45 2.2 TEORIAS DO JORNALISMO E CONSTRUÇÃO DA NOTÍCIA

PELA INFLUÊNCIA EXTERNA ÀS REDAÇÕES .........................

47 2.3 ESPECIALIZAÇÃO E SEGMENTAÇÃO JORNALÍSTICA PARA

ATENDER A DEMANDA ..............................................................

59 2.4 O PAPEL DAS EDITORIAS NO DESENVOLVIMENTO DO

JORNALISMO ESPECIALIZADO E NA ORGANIZAÇÃO DOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO .................................................

62 2.5 O JORNALISMO CIENTÍFICO COMO FONTE DE

INFORMAÇÃO PARA A POPULAÇÃO .......................................

66 2.6 JORNALISMO AMBIENTAL: UM OLHAR PARA O MEIO

AMBIENTE ...................................................................................

71 CAPÍTULO 3 - JORNALISMO AMBIENTAL: A ANÁLISE DO JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO.............................................................................

88

3.1 JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO: DESCRIÇÃO DO OBJETO DE ANÁLISE ...............................................................................

88

3.2 ANÁLISE DE CONTEÚDO COMO MÉTODO DA PESQUISA .... 90 3.3 DELIMITAÇÃO DO CONTEÚDO E VARIÁVEIS DA ANÁLISE .... 93 3.4 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................ 99 3.4.1 Presença e visibilidade do tema meio ambiente nas páginas do

jornal FSP .....................................................................................

99 3.4.2 Os temas veiculados no jornal ...................................................... 114 3.4.3 A abrangência da produção em meio ambiente na Folha de São

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Paulo ............................................................................................ 140 3.4.4 A distribuição das fontes nas notícias de meio ambiente ........... 147 CONCLUSÃO ............................................................................................. 159 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 167 ANEXOS - Exemplos de matérias ........................................................... 176 APÊNDICE A – Livro de códigos ............................................................ 187 APÊNDICE B – Pré-projeto ...................................................................... 191 APÊNCICE C – Relatório Analítico ......................................................... 204

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INTRODUÇÃO

O tema meio ambiente está diretamente ligado à sociedade, pois nossos atos

freqüentemente refletem ações prejudiciais à natureza, por meio da poluição do ar

pelo uso dos automóveis, produção de lixo doméstico, utilização de agrotóxicos nas

lavouras etc. Com o passar do tempo e o aumento da degradação da natureza pelas

ações do homem, percebeu-se a necessidade de chamar a atenção para esse tema.

A mídia é um espaço que pode proporcionar visibilidade e levar à população

diversos tipos de informação, através do rádio, jornal, revista, televisão ou internet.

Dessa forma, pode ser utilizada como forma educativa, de divulgação, denúncia ou

conscientização, mas isso vai depender da forma que os veículos abordam os

temas.

Foi a partir do final do século XX que o jornalismo ambiental se desenvolveu

com mais ênfase na mídia (SCHIMIDT, 2005). Dessa forma, analisar um veículo de

comunicação é uma forma de verificar que tipo de informação sobre o tema é

publicada. Para dar um panorama do desenvolvimento do tema na mídia, é utilizado

o jornal Folha de São Paulo.

O objeto dessa pesquisa são somente as notícias que, de alguma forma,

fazem referência ao meio ambiente, por meio de denúncias, discussões públicas,

eventos ou resultados científicos. Neste trabalho, são consideradas os textos que

seguem o seguinte conceito: textos que trabalham com o conjunto de temas que

englobam fauna, flora, ecologia, biodiversidade, as ações do homem contra a

natureza e as possíveis formas de sanar os problemas que surgem a partir dessas

ações.

A pesquisa no Jornal Folha de São Paulo foi por amostragem e foram

selecionadas edições do ano de 1992 até 2008. O período escolhido justifica-se pelo

fato de que foi a partir da ECO-92 que os veículos de comunicação passaram a

pautar mais o assunto, sendo o início da década de 90, considerado o boom do

jornalismo ambiental (TOSI E VILLAR, 2001).

Com as discussões das três conferências realizadas pela ONU, em Estocolmo

(1972), Rio de Janeiro (1992) e Johanesburgo (2002), assuntos como

desenvolvimento sustentável, consumo e mudanças climáticas se transformaram em

pauta para os veículos.

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A pesquisa tem como objetivo analisar o conteúdo do Jornal Folha de São

Paulo para verificar de que forma o veículo abordou a crise ambiental de 1992 até

2008. Por meio das variáveis da análise, construídas a partir da revisão bibliográfica,

será possível identificar os tipos e a quantidade de fontes mais utilizadas, os

assuntos abordados, o espaço destinado tanto na capa quanto no interior do jornal,

o impacto das três conferências nas pautas, a região geográfica a que pertencem as

notícias, a origem e formato da produção. Com os resultados, será possível fazer a

relação entre as teorias do jornalismo e os resultados encontrados, numa discussão

sobre a produção jornalística, envolvendo as rotinas produtivas, estudos de fontes e

as teorias que compreendem o jornalismo como uma construção social.

Apesar do extenso período analisado, a pesquisa tornou-se viável, pois a

forma de abordagem, a metodologia de trabalho e a escolha pelo método de

amostragem permitiram a realização do trabalho no período planejado. O

desenvolvimento da pesquisa é importante na comunicação por ser uma área em

desenvolvimento. O foco é estar voltada aos produtores das notícias por mostrar o

resultado do trabalho realizado pelo veículo e, ao mesmo tempo, alertar ao público

quanto ao que é veiculado na mídia e como isso pode ser resultado de visões,

interpretações e opiniões que vão além da mera observação da realidade tal como

ela é.

A análise mostra como o jornal pauta, apura, desenvolve e prioriza os temas,

defendendo a existência de fatores que interferem na produção e na forma de

abordagem. O trabalho visa mostrar como os meios de comunicação abordam a

temática discutida nesse trabalho, a partir da análise de um veículo diário de

abrangência nacional, por apresentar assuntos de todo o país e não apenas de uma

região específica. Caso fosse um veículo regional, a abrangência menor não

proporcionaria um leque maior de assuntos pautados. É mais uma forma de verificar

como as rotinas produtivas e a influência dos interesses externos (como por

exemplo, o interesse político expresso na teoria da ação política e da teoria

construcionista) podem de fato influenciar no processo de produção das notícias.

São apresentadas aqui algumas hipóteses que são verificadas se procedem

ou não ao final da pesquisa. A primeira delas é de que, com o passar dos anos,

houve aumento do número de textos que trabalham a temática ambiental. Ela parte

do princípio de que o jornalista escreve sobre aquilo que está acontecendo na

sociedade e, na medida em que aumentaram os debates relacionados a temas

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ambientais, até mesmo partindo de eventos que pautam o assunto,

conseqüentemente os meios de comunicação aumentaram a produção desse tipo de

texto jornalístico.

Outra hipótese é a ausência de textos que denunciam os problemas causados

pelo desenvolvimento urbano e industrial. Detectou-se esta possível ausência a

partir das leituras feitas no decorrer deste trabalho que falam sobre a relação que

existe entre o setor comercial e jornalístico dentro do veículo e, nesse caso, a

relação entre os anunciantes e a própria temática trabalhada. Dessa forma, partimos

para a análise com a hipótese de que notícias referentes a denúncias são

encontradas em menor número e têm menos visibilidade no jornal.

A terceira hipótese é a predominância de fontes oficiais1 nos textos, da

mesma forma que em outros temas abordados pela mídia. Ela está relacionada com

o processo das rotinas jornalísticas, a falta de tempo e a grande quantidade de

textos para poucos jornalistas que trabalham nas redações. Outra hipótese

levantada é o aumento do número de notícias em 1992 e 2002, devido às duas

conferências da ONU que aconteceram nesses dois anos que se encontram entre os

17 anos de análise. Isso poderá ser constatado no sentido de que os eventos se

transformam em pauta nos meios de comunicação. A última hipótese é a falta de

reportagens que trabalham com educação ambiental, no sentido que o veículo

explora mais o factual e textos de impacto (eventos e desastres) por chamarem mais

a atenção.

A escolha pelo jornal impresso se deu pelo fato de que no período em que

será feita a análise, o jornalismo on-line estava ainda em processo de iniciação. A

opção em não trabalhar com rádio e TV é com relação à dificuldade de acesso aos

arquivos. Outro aspecto importante na escolha do veículo foi a área de circulação. A

Folha de São Paulo é considerada um jornal de abrangência nacional e dessa forma

apresenta um panorama dos fatos mais importantes de todo o país, por ter que

atender um público amplo e também por se dizer mais plural e menos conservador

do que o Estado de São Paulo, o outro veículo de abrangência nacional e de grande

circulação no país que também poderia ter sido o foco da pesquisa. O porte do

veículo foi importante na escolha do jornal. A Folha é considerada o jornal de maior

circulação no país, segundo dados do Instituto de Verificação de Circulação (IVC).

1 Representam instituições públicas ou privadas, não falando apenas em seu próprio nome, mas sim institucionalmente. Ex: Estado, ONGs, legislativo e Judiciário.

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O trabalho que surgiu a partir de leituras exigidas na disciplina de Redação

Jornalística II, em 2007, engloba a discussão sobre o tema meio ambiente, teorias

do jornalismo e metodologia da pesquisa, os resultados da análise e a conclusão do

trabalho. Todos esses passos foram distribuídos em três capítulos. No primeiro

deles, o objetivo foi apresentar um panorama sobre a evolução das discussões

sobre o tema, incluindo aspectos históricos, econômicos e sociais, uma abordagem

dos debates realizados nas três Conferências da ONU, o surgimento do

desenvolvimento sustentável, entre outros aspectos.

No segundo capítulo, o trabalho se volta para a comunicação, na tentativa de

abordar as teorias do jornalismo e os estudos que podem ajudar a compreender os

resultados observados a partir da análise. Foram estudadas as teorias do jornalismo,

enfatizando aquelas que compreendem o jornalismo como construção social, os

estudos de fontes e as rotinas produtivas. Além disso, o capítulo dois trata da

relação do jornalismo científico e especializado na produção das notícias sobre meio

ambiente. Para finalizar o capítulo, trabalha-se especificamente com o jornalismo

ambiental.

No capítulo três, são apresentados: a metodologia utilizada no trabalho, o

método de pesquisa, as características do jornal analisado, as variáveis observadas,

além da descrição e análise dos resultados fazendo relação com as leituras sobre o

tema e as discussões sobre as teorias do jornalismo.

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1 MEIO AMBIENTE: HISTÓRIA, DESENVOLVIMENTO E PERSPECTIVAS

Neste primeiro capítulo é abordado o tema do trabalho, levando em

consideração a história do desenvolvimento dos problemas ambientais no Brasil e no

mundo, levando em consideração os aspectos sociais, econômicos e políticos, assim

como o papel da zona rural e urbana na poluição do meio ambiente. Também fazem

parte deste capítulo as discussões abordadas nas conferências da Organização das

Nações Unidas (ONU) que tratam do tema, assim como o desenvolvimento dos

movimentos ambientalistas como forma de combater e minimizar os problemas e

uma breve explicação sobre o desenvolvimento sustentável. Por falta de referências

bibliográficas sobre o assunto, não será discutido o tema mudanças climáticas, como

foi discutido poluição e desenvolvimento sustentável, os quais fazem parte das

variáveis de análise no capítulo três.

1.1 PROBLEMAS AMBIENTAIS COMO PARTE DA HISTÓRIA DO HOMEM E DO

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, POLÍTICO E INDUSTRIAL

Os problemas ligados ao meio ambiente não são recentes, porém a

preocupação mundial só pareceu a partir da década de 70, quando os estudiosos

perceberam que o desenvolvimento tecnoindustrial era responsável por grande parte

dos problemas causados na natureza. Ainda na década de 60, houve um

acontecimento que é o marco quando se discute o tema meio ambiente: em 1962,

houve denúncias da norte-americana Rachel Carson sobre envenenamento por

pesticidas nos EUA. Segundo Arruda (2006), foi a partir desse fato que aumentaram

as discussões, preocupações e buscas por soluções para os problemas ambientais

no mundo. A autora relata, ainda, que a idéia de crescimento econômico que

predominava nos anos 70 perdeu espaço nos últimos trinta anos para as

preocupações com o meio ambiente.

Foi nessa época que, segundo Schimidt (2005), surgiram as primeiras

indagações sobre o que estava acontecendo com o planeta. A partir disso, uma

consciência voltada para a recuperação ambiental na tentativa de encontrar

soluções para os problemas toma conta do mundo.

Com a mesma preocupação, Boff (2008) diz:

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Só mais recentemente foi que a humanidade, assustada e perplexa deu-se conta, novamente, de que as reservas naturais do planeta não eram inesgotáveis. Que o avanço predatório sobre o mundo natural poderia produzir alterações climáticas e nos provar de bens preciosos. Que produtos químicos envenenam a terra, as águas e o mar. Que, enfim, o planeta encontrava-se ameaçado. E, com ele, a vida humana. (BOFF, 2008, p. 50)

Nesse mesmo período, o homem percebe que não será possível resolver

todos esses problemas sem a união e força de todos. Não se trata mais de um

problema isolado, mas de algo que abrange todo o planeta. Para discutir os efeitos

da ação humana com a participação de diversos presidentes, chefes de estado, reis,

cientistas, estudiosos e ambientalistas, a Organização das Nações Unidas já

realizou três conferências mundiais: a primeira em Estocolmo, na Suécia, em 1972,

a segunda no Rio de Janeiro em 1992 e a terceira em Johanesburgo, na África do

Sul. Além disso, outros eventos também contribuíram para falar sobre o tema, como

é o caso do COP8 MOP3 que aconteceu em Curitiba, em 2006.

Segundo diversos estudos já realizados, os problemas ambientais são frutos

das modificações e degradações que foram acontecendo com o passar do tempo.

Porém as atividades humanas, especialmente as atividades econômicas, são

apontadas como sendo as principais causadoras da degradação ambiental,

acelerando esse processo.

O ambientalista Paul Hawken, citado por Arruda (2006) explica que a

revolução industrial, surgida no final do século XVIII, é a grande responsável pela

difusão do capitalismo e automaticamente de todo o desenvolvimento até hoje. Mas,

isso resultou na degradação desenfreada da natureza. Segundo o autor, a partir de

meados do século XVII destruiu-se mais a natureza, do que em toda a história.

Souza (2005) também concorda com Hawken e afirma que, antes da

revolução industrial, o homem pouco interferiu na natureza, porém a partir do final do

século XVIII, o papel dele na degradação ambiental aumentou, elevando-se ainda

mais a partir de 1950. Nesse processo, o aumento da economia foi fundamental,

pois incentivava a produção e conseqüentemente a utilização de mais matérias

primas vindas da natureza.

Para Besserman (2008), a degradação do meio ambiente evolui da escala

local para global durante o século XX: De violentas agressões localizadas (destruição de floresta, bacias hidrográficas, da qualidade do ar nas cidades) passamos a importantes agressões regionais (chuva ácida na Europa e leste da América do Norte), chegando, finalmente, a agressões ao ecossistema do planeta, como a mudança no clima (o aquecimento global causado pelas emissões humanas

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de gases do efeito estufa), a crise de biodiversidade, a crise de recursos hídricos, a desertificação, a degradação dos oceanos e a destruição da camada de Ozônio (BESSERMAN, p. 95).

Segundo Morin, citado por Schimidt (2005), os principais problemas que

pairam sobre o planeta estão nos países industrializados, apesar de atingirem o

planeta como um todo, como já explicou Besserman. Entre eles, Morin cita a

contaminação da água e dos lençóis freáticos, o envenenamento do solo pelos

agrotóxicos, a urbanização em locais ecologicamente frágeis, as chuvas ácidas e o

depósito indevido de detritos nocivos, além das emissões de CO2, presentes em

todos os países do planeta, que aumenta o processo de efeito estufa prejudicando a

camada de ozônio.

Além da interferência econômica (revolução industrial e desenvolvimento das

cidades e das tecnologias no campo), os processos de degradação ambiental

possuem um forte vínculo com as questões social, cultural e histórica. Segundo

Souza (2005), é a cultura que dá sentido a tudo o que ocorre nos processos sócio-

históricos. Os problemas ambientais, dessa forma, não são fatos isolados e muito

menos ligados apenas às questões econômicas. Claro que de, alguma forma, o fator

econômico se ressalta, mas as outras questões também permeiam o problema.

O discurso do neoliberalismo, segundo Tautz (2004), é responsável pela

industrialização e urbanização a qualquer custo, sendo distribuído principalmente

pela mídia de massa, a qual se tornou inerte perante as discussões que começaram

a surgir após esses avanços. Grandes propostas incentivadas pelos governos não

eram mais debatidas pela mídia, que pouco se preocupava com as questões sociais

e ambientais envolvidas. A cobertura passou a centrar-se na questão financeira,

deixando em segundo plano as conseqüências ambientais envolvidas.

Aproximando da realidade brasileira, a conscientização e discussão sobre

meio ambiente só começou a aparecer de forma mais nítida, também após a

Conferência de Estocolmo, em 1972. Nesse período a consciência do próprio

governo também passou por modificações e percebeu-se que as atitudes políticas e

econômicas influenciavam no meio ambiente. Resultado dessa mudança de

pensamento, surgiu a necessidade de programar uma legislação específica em meio

ambiente. Criou-se, em 1986, o Estudo de Impacto Ambiental; em 1988, a

Constituição ganhou um capítulo específico sobre o tema e, em 1998, foram

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aprovadas as Leis de Crimes Ambientais, além da criação do IBAMA, do Ministério e

das Secretarias de Meio ambiente.

Atualmente, um dos maiores problemas relacionados à crise ambiental são as

mudanças climáticas que envolvem o setor alimentício. Com o aquecimento global, a

produção de alimentos é prejudicada, pois a falta ou a grande quantidade de chuvas,

por exemplo, prejudica as lavouras.

Conforme assevera Arruda (2006),

Segundo comunicado da OMM (Organização Meteorológica Mundial), o clima do planeta tornou-se caótico em 2003 e o maior responsável por esta situação é o aquecimento global resultante da ação do homem. O estudo sustenta que as médias mensais e anuais de temperatura vem aumentando gradualmente nos últimos cem anos e aponta que os dez anos mais quentes já registrados desde que se iniciaram as medições ocorreram depois de 1990, sendo que três mais quentes foram 1998, 2001 e 2002 (ARRUDA, 2006, p.8).

Segundo Darangoski (2001), as mudanças no clima são percebidas

gradualmente, quando a fauna e a flora nos apresentam sinais, tais como as

enchentes e secas que se alteram ano a ano no Sul e Nordeste do Brasil. Em outros

locais do planeta, essa mesma situação está acontecendo com freqüência, afetando

principalmente a rotina dos animais e o ciclo das plantas, como é o caso da

diminuição do tamanho das plantas no Norte do continente, devido ao frio que atinge

as lavouras. Por meio dos relatórios publicados pelo Painel Intergovernamental

sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é possível observar algumas mudanças na

temperatura, no nível dos oceanos, na precipitação de chuvas e a diminuição da

neve e gelo sobre os continentes.

A poluição do ar também é preocupante para Darangoski (2001). Tanto os

poluentes gasosos (gás carbônico, óxido de enxofre) quanto os sólidos prejudicam a

qualidade do ar. O gás carbônico, proveniente da utilização de combustíveis fósseis

e das queimadas de florestas, aumentou em grande quantidade, o que impossibilita

o processo natural de consumo pelas plantas. Nos próximos tópicos, serão

apresentados os impactos da urbanização, industrialização e da tecnologia agrícola

para com o meio ambiente.

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1.2 A TRAJETÓRIA DAS INDÚSTRIAS: DA CAUSA DOS PROBLEMAS À

CONSCIENTIZAÇÃO

Em sua dissertação de mestrado, Arruda (2006) indaga sobre o fato das

grandes empresas terem sido as principais causadoras dos problemas ambientais e

sobre a preocupação em reverter a situação atual. Alguns autores citados pela

autora defendem que, a partir da ECO-92, houve uma maior conscientização dos

empresários. Essa preocupação resultou em parcerias de empresas com o governo

e ambientalistas na tentativa de procurar soluções para o problema.

Um dos motivos que leva os empresários e até mesmo a população a tomar

consciência de que seus atos podem prejudicar o meio ambiente é saber que mais

cedo ou mais tarde isso vai voltar em forma de problemas para si mesmos. É o caso

das empresas que atualmente estão sendo multadas por violarem as leis ambientais,

que ainda pagam com os eventuais desastres que atrapalham na própria produção e

têm grande preocupação na imagem que a população terá sobre elas (ARRUDA,

2006).

A autora descreve ainda a trajetória do mercado na conscientização

ambiental. Até os anos 60, a principal idéia dos grandes empresários era de que a

natureza seria uma fonte inesgotável de matérias-primas. Ao longo do século XVII e

XVIII faziam queimadas, os solos empobreciam, o consumo de lenha era abundante,

a devastação da mata aumentava em larga escala e se intensificou com a

agricultura. Apesar dessas atitudes durante muito tempo, o pensamento de que tudo

era inesgotável não se comprovou com o passar dos anos.

O que no início era quase inexistente começou a aparecer com o tempo.

Kishiname, Grajew, Itacarambi e Weingrill (2004) identificam as mudanças na

conscientização das empresas por meio de uma modificação nos discursos com o

passar dos anos. “O problema não existe” era o que predominava até final de 1960,

época em que reinava a industrialização no país. Quando os ambientalistas e ONGs

ambientais começaram a pressionar para que algo fosse feito para conter a

destruição, a reação das empresas foi: “O problema existe, mas não é meu”. Depois,

ainda sob pressão, as empresas passaram a tentar resolver a situação e o discurso

passava a ser: “O problema existe e eu sei resolvê-lo”. Para a atualidade, os autores

colocam que o discurso vai em direção à produção limpa, que remete a “reduzir ou

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eliminar o problema na origem”, ou seja, ainda na seleção de matérias-primas ou

insumos.

O termo meio ambiente só chamou realmente a atenção das empresas a

partir da ECO-92, porém, de acordo com Arruda (2006), as iniciativas de

preservação da natureza têm importância maior para a imagem da empresa como

instrumento de marketing do que para o meio ambiente.

Trigueiro (2006) também se reocupa quando diz que O fato é que o jornalismo ambiental ameaça os interesses das empresas públicas ou privadas que agem na contramão da sustentabilidade. Para essas empresas, uma exposição ruim na mídia pode desencadear uma sucessão de desastres que vão de um ligeiro arranhão na imagem à perda de credibilidade – com eventuais impactos no faturamento e na cotação das ações no mercado de bolsa. A maquiagem verde – marketing ambiental que constrói uma imagem ecologicamente correta sem a devida contrapartida no mundo real – vem se consolidando como uma alternativa para os executivos que agem de má fé. (TRIGUEIRO, in ARRUDA, 2006, p.36).

Villar (1997) chama isso de "ambientalismo empresarial", onde as grandes

indústrias fazem campanhas publicitárias e plantam notícias na imprensa para se

promoverem. Esse é o cenário que rege o jornalismo ambiental na década de 90,

segundo o autor.

Ainda no início do século XX, o Oeste Paulista, por exemplo, exportava

borracha, cacau, mate e fumo, tornando-se um dos maiores exportadores de

matérias-primas tropicais. O desenvolvimento e as crises apareciam e

desapareciam, mas deixavam para trás os impactos ambientais, os quais já eram

relativamente visíveis (ABREU, 2006).

A década de 70 ainda foi marcada pela diversificação da Bacia carbonífera,

época de acentuada exploração de carvão. E, em 1975, intensificou-se a

implantação das minas de grande porte, o que conseqüentemente contribuiu para o

aumento de prejuízos na natureza. Segundo Abreu (2006), o final dos anos 70 foi

marcado pela entrada dos debates relacionados à Amazônia, a partir de denúncias

da exploração madeireira da floresta vindas de intelectuais, cientistas e militares que

perceberam o problema.

Derenkoski (2001) relata uma lista dos dez agentes considerados mais

poluidores para o meio ambiente, que de alguma forma estão presentes no lixo

doméstico e industrial, na utilização de automóveis, na produção agrícola e em

outras atividades dos seres humanos. São eles o dióxido de carbono, monóxido de

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carbono, dióxido de enxofre, óxido de nitrogênio, fosfatos, mercúrio, chumbo,

petróleo, pesticidas e as radiações.

A poluição da água é uma das formas mais próximas da população perceber

a relação de seus atos e a degradação do planeta. E, além da poluição, a escassez

devido ao consumo exagerado, tanto nas cidades quanto na zona rural é aparente

em diversos locais do mundo. Rios, lagos e córregos secos já não é algo tão

incomum. Tudo aquilo que produzimos utiliza a água. O setor siderúrgico, por

exemplo, utiliza 15 mil litros de água para cada tonelada de aço produzido. Esse é

apenas um exemplo, mas em todas as atividades humanas ela está presente em

grandes quantidades. No caso da agricultura, isso se repete e o cenário é mais

preocupante, pois é o setor que mais desperdiça água, devido às irrigações. Além

disso, tanto as indústrias quanto a agricultura são responsáveis pela poluição dos

mananciais que servem para abastecer as cidades.

A utilização de energia pelas empresas também causa preocupações com o

esgotamento das reservas naturais. Goldemberg (2008) defende que o aumento do

uso das energias aumentou gradativamente conforme o aumento da população. E,

além do esgotamento das reservas, como é o caso do petróleo, o real problema é a

poluição. Segundo o autor, os impactos do uso de energia não são novidade, pois já

vem acontecendo durante séculos, com a queima de madeira em áreas de florestas.

Goldemberg (2008) defende ainda que, apesar da energia ter facilitado a vida

humana, é ao mesmo tempo responsável pela degradação do meio ambiente devido

ao consumo excessivo, como é o caso da emissão de combustíveis fósseis pelos

veículos, que corresponde à maior forma de poluição urbana atualmente.

1.3 ZONA RURAL: MEIO AMBIENTE E AGRICULTURA

Outro fator importante que tem grande relação com o meio ambiente é a

produção agrícola no campo. Kolling (2006), em sua dissertação de mestrado, atenta

para a relação da agricultura com o processo de devastação e poluição do meio

ambiente. Segunda a autora, o processo de modernização no campo intensificou o

processo de degradação ambiental.

Essa lógica da produção baseada em novas tecnologias é conhecida como

“revolução verde”, que tinha como proposta substituir o trabalho humano braçal, por

novas tecnologias para auxiliar a evolução no campo (CAMARGO, CAPOBIANO E

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OLIVEIRA, 2004, p, 207). A produção também foi baseada no trabalho com

variedades modificadas geneticamente, uso de fertilizantes e agrotóxicos. Com a

implantação desse modelo desenvolvimentista, segundo Primavesi (2004), a

agricultura brasileira é palco da guerra química com os agrotóxicos, ocasionando

intoxicações em agricultores, além de poluir as águas, o solo e o ar. A agricultura

baseada na produção em larga escala e dependente de produtos químicos sustenta

uma enorme produção de agrotóxicos e fertilizantes em empresas internacionais.

A pecuária, também considerada uma importante atividade da zona rural no

Brasil, recebeu grande incentivo na década de 60, porém deixou graves

conseqüências para o meio ambiente. Segundo Primavesi (2004), muitas áreas de

cerrado e floresta Amazônica foram devastadas para a implantação da pecuária.

José Lis da Veiga, citado por Kolling (2006) explica que a exploração sem controle é

responsável pelos prejuízos causados à natureza, tais como o empobrecimento do

solo e as erosões. Nesse processo, há um círculo vicioso que complica ainda mais a

produção agrícola. Devido aos problemas causados no solo, por exemplo, é

necessária a utilização de mais fertilizantes, o que encarece a produção e diminui os

lucros do produtor.

Segundo Kolling (2006), os danos ambientais mais graves são a poluição dos

rios por produtos químicos e dejetos animais, o assoreamento dos rios devido à

erosão, a poluição atmosférica causada pelas queimadas de canaviais e matas, a

emissão dos gases que causam problemas a saúde e contribuem com o efeito

estufa, a redução da biodiversidade e a contaminação dos alimentos pelos

agrotóxicos.

Fritjof Capra, citado por Kolling (2006) relata que a ação do homem interfere

diretamente na organização e sustentabilidade dos sistemas vivos, desequilibrando

toda a teia, que é o que tem acontecido no último século. Atualmente uma das

soluções para a agricultura, segundo Derengoski (2001) são os métodos orgânicos.

Apesar da rejeição por não propiciar lucros rápidos, esse tipo de produção não

causa prejuízos ao meio ambiente, amplia a variedade e rotação de culturas. Veiga

(2008) apresenta o conceito de agricultura sustentável como resultado da

insatisfação com o modelo de agricultura moderna atual.

O desmatamento para utilização de área para plantio de produtos agrícolas,

contribui para a poluição do meio ambiente por meio das queimadas e da

concentração de poluentes na atmosfera. Além disso, o aquecimento global é

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resultado da falta de árvores que são os reservatórios de carbono que retiram o gás

da atmosfera e contribuem para a limpeza do ar que o ser humano respira. Esse

desmatamento, assim como outros problemas, também está presente na zona

urbana, tornando o cenário ainda mais alarmante.

1.4 O DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES E AS CONSEQÜÊNCIAS PARA O

MEIO AMBIENTE

Villar (2005) relata que, no Brasil, o marco para os problemas ambientais foi o

início da industrialização brasileira, datada de 1930, devido à implantação das

grandes empresas, principalmente as automobilísticas. Com o crescimento da

população urbana, agravaram os problemas que atingem o meio ambiente, como é o

caso do aumento do lixo, da poluição do ar, das águas e dos rios, do desmatamento,

do efeito estufa, consumo exagerado, entre outros. Esse aumento significativo da

população urbana, que saltou de 30% em 1950 para 74% em 2000, é originado

ainda com a revolução Industrial e intensificado a partir da globalização. Atualmente,

calcula-se que quase 80% da população mundial vivem em centros urbanos.

Estes problemas que, de alguma forma, aparecem na mídia, precisam de uma

boa reportagem para mostrar a relação existente entre a produção de lixo, o

tratamento de esgoto e o surgimento de doenças na população (VILLAR, 2004).

Essa é uma fórmula de mostrar que o meio ambiente está intimamente relacionado

com os seres humanos.

Segundo Villar (2004), o primeiro ecossistema brasileiro a ser atingido pela

urbanização foi a Mata Atlântica. Atualmente, o espaço que era ocupado pela mata,

comporta mais de três mil municípios e 108 milhões de pessoas. Hoje resta menos

de 8% da mata original, distribuída em 17 estados. Para aqueles que acham que

áreas de florestas não têm relação com a vida nas cidades, estão enganados, pois

elas servem para proteger os córregos que, em muitos casos, são as fontes de

abastecimento de água.

A famosa ‘panela’ urbana é responsável pela dificuldade de escoamento das

águas, ocasionando as enchentes. Segundo Trigueiro (2005), estima-se que 45% da

superfície da capital paulista, por exemplo, esteja coberta artificialmente impedindo o

escoamento das águas. Outro problema causador das enchentes é a construção de

projetos urbanos, modificando o curso natural dos rios e nascentes. A produção de

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lixo é outro problema que aumentou consideravelmente a partir do processo de

urbanização. Segundo dados utilizados por Campos (2006), apenas 28% do lixo

produzido no Brasil, por exemplo, recebe algum tipo de tratamento, sendo que

apenas 2% são reciclados.

Nesse mesmo contexto de desenvolvimento da sociedade urbana e industrial,

o que toma conta do céu é a poluição do ar, resultado do funcionamento das

indústrias e do movimento de veículos. No caso dos automóveis, no Brasil, por

exemplo, os mais de 33,7 milhões de veículos são responsáveis por cerca de 70%

da poluição do ar nas cidades, pois emitem óxidos de nitrogênio, monóxido de

carbono, partículas em suspensão e chumbo. O século XX foi marcado pelo boom

do automóvel, a partir das invenções de Henry Ford, em 1920 (FELDMANN, 2008).

A partir daí, a difusão foi inevitável. Conseqüentemente, para que as cidades

pudessem comportar os carros, ônibus e caminhões, ruas e estradas foram

construídas, o que de alguma forma é responsável pela “panela” de concreto

formada pelas cidades. No Brasil, a era do automóvel se difundiu mais

profundamente com a chegada do presidente Juscelino Kubitschek e a construção

de rodovias para comportar o movimento. Apesar de ter sido sinônimo de

modernidade, Feldmann (2005) alerta para o papel das indústrias automobilísticas

no peso nas emissões de gases de efeito estufa, junto com a queima de carvão nas

fábricas, nas residências e nas queimas de florestas.

Esse problema já ficou visível, segundo Villar (2004, p. 31), em Londres,

quando mais de quatro mil pessoas morreram em uma semana, na época em que o

carvão era queimado nas fábricas e residências sem limitação. “Esse mesmo fato

deu origem às primeiras legislações de controle de emissão de poluentes nas

cidades”. Com a consolidação das leis ambientais, por pressão de entidades

internacionais ambientalistas, apareceram tentativas de estancamento da

degradação da natureza (ABREU, 2006).

Com a Eco-92 e a criação da Agenda 21, implantaram-se metas para

melhorar a vida nos centros urbanos, englobando a redução da produção de

resíduos sólidos, energia, transporte, água e investindo-se em saúde e projetos

sociais. Esse processo recebe apoio de diversos movimentos ambientalistas, tema

trabalhado no próximo tópico.

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1.5 MOVIMENTO AMBIENTALISTA: HISTÓRIA, TRABALHOS E

DESENVOLVIMENTO

Um dos incentivos na luta pela preservação do meio ambiente são as

organizações não-governamentais (ONGs) que tem um papel cada vez mais efetivo

em políticas públicas e diversas iniciativas relacionadas ao assunto (BORN, 2008). O

autor destaca duas grandes correntes de pensamento que envolve os movimentos

ambientalistas: os reformistas e os transformistas; estes últimos também chamados

de utopistas. Segundo o autor, os reformistas defendem as práticas, reformas e

políticas que lidam com a reciclagem de lixo, por exemplo, ou seja, iniciativas

necessárias, mas que mantém a dinâmica do sistema vigente. Essa corrente

trabalha com uma perspectiva mais pragmática e de fácil visibilidade na sociedade,

porém ela não mudaria o sistema vigente. Já a outra corrente, dos transformistas ou

utópicos, busca o estabelecimento de sociedades sustentáveis, pois suas iniciativas

estão voltadas para questões de ética e justiça social. Mudanças que levariam muito

tempo para transformar os hábitos da sociedade (BORN, 2008).

Born (2008) também identifica distintas correntes entre os ambientalistas, tais

como dos sustentabilistas, conservacionistas, preservacionistas, ecocapitalistas,

ecossocialistas etc. O autor também defende alguns papéis/funções que as

organizações ambientalistas no Brasil vêm desempenhando ao longo do tempo.

Partindo de uma perspectiva funcional, Born (2008) destaca oito funções exercidas

pelos ambientalistas no Brasil: revelação (denúncias e divulgação de informações

sobre problemas de degradação ambiental); educação e formação (conscientização

da opinião pública e da mídia em torno dos problemas); advocacia (defesa dos

direitos e políticas públicas para o meio ambiente e sustentabilidade, que surgiram

em decorrência das duas primeiras funções); pesquisa e conhecimento (os grupos

ambientalistas começaram a desempenhar essa função com objetivo de disseminar

conhecimento sobre a situação); monitoramento e fiscalização (acompanhamento

das ações e resultados); implementação de projetos (colocar em prática com

objetivo de solucionar os problemas apontados até então); assessoria, disseminação

e multiplicação de idéias e práticas (ONGs passam a atuar em parceria com outras

instituições compartilhando acúmulo de experiências na área), formação de

“quadros” (perfil de quem trabalha em ONGs).

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A primeira função, de revelação, é uma das marcas fundadoras de muitos

movimentos, nas décadas de 70 e 80, pois muitos surgiram com o intuito de

denunciar a contaminação dos solos, da água e outros problemas da época (BORN,

2008). Exemplos como o Greenpeace e a Agapan (Associação Gaúcha de Proteção

ao Ambiente Natural).

Born (2008) também trabalha com uma perspectiva evolutiva dos movimentos

ambientalistas. Por meio de cinco eixos de análise, Born explica a evolução dos

movimentos: motivação; mobilização; formas de atuação e estrutura; consolidação

institucional; diversificação e tensão dos focos de ação. Houve mudanças quanto à

motivação das lutas. Se nos anos 70 prevalecia a idéia de preservação e

conservação, a partir de 1990 foram incorporadas as dimensões sociais nas lutas

(iniciativas de renda a partir de ambientes sustentáveis). O segundo eixo –

mobilização – apresenta a evolução das formas de luta, ou seja, nos anos 70

existiam as lutas contra poluição numa determinada cidade (localismo de

resistência), mas, a partir de 1990, a mobilização abrange políticas públicas que

atingem espaços maiores. Sobre as formas de atuação também aconteceram

mudanças, pois no início as ONGs eram baseadas em voluntariado, sendo que

agora há equipes de trabalho que são remuneradas. No eixo da consolidação

institucional, as entidades passaram a concentrar esforços para captação de

recursos públicos e privados para financiar suas atividades. O último eixo –

diversificação e tensão dos focos de ação – revela a mudança nas ações dos

movimentos que, da esfera local, passaram para a global.

No que abrange os desafios a serem enfrentados pelos movimentos

ambientalistas, Born (2008) fala que tais organizações precisam se aprofundar e

integrar perspectivas sociais em suas ações, pois “um possível risco para o

movimento ambientalista brasileiro num futuro próximo pode estar na busca de

parcerias com empresas privadas e certos financiadores, podendo haver por parte

de algumas ONGs a suavização ou abrandamento de posturas críticas” (BORN,

2008, p. 120).

Segundo o autor, o surgimento das redes e coalizões de organizações,

contribui para melhor eficiência e efetividade das organizações, pois conseguirá

perceber resultados em curto, médio e longo prazo, nas esferas, local, nacional e

global. Segundo Trigueiro (2005), uma das grandes contribuições do movimento

ambientalista é lembrar que as gerações futuras têm o mesmo direito do que essa

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geração de dispor dos recursos vindos da natureza. É necessário, primeiramente

entender que deixaremos algo para as próximas gerações. Cada ato do ser humano

influencia significativamente naquilo que restará na sociedade.

1.6 CONFERÊNCIAS DA ONU: PRINCIPAIS DISCUSSÕES SOBRE MEIO

AMBIENTE DE ESTOCOLMO A JOHANESBURGO

O jornalismo ambiental, como uma realidade que nos cerca de um ângulo

mais abrangente, privilegiando a qualidade de vida, no planeta surgiu na

Conferência Mundial da ONU sobre meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92

(TRIGUEIRO, 2005). Segundo Camargo, Capobianco e Oliveira (2004), a

Conferência de 1992 foi um marco histórico nas discussões em todo o planeta,

inclusive no Brasil. De alguma forma, isso demonstra a influência que os eventos

possuem sobre a forma de trabalhar os assuntos, principalmente por serem marcos

nas discussões sobre o tema. De todos os eventos que discutem meio ambiente, a

Conferência de Estocolmo, que aconteceu em 1972; a Rio-92; e a Conferência de

Johanesburgo (Rio+10, em 2002), foram os principais eventos mundiais que

pautaram o tema.

Mas, apesar destes três serem discutidos com mais ênfase no trabalho,

devido à pesquisa partir de um período que perpassa dois deles (Rio-92 e Rio+10),

outros eventos também contribuíram para a discussão, tais como a Conferência das

Partes, realizada de 1995 a 2002, todos os anos; a Convenção de Viena, em 1985;

as Convenções de Montreal e do Clima; o Protocolo de Quioto; a Rio+5 (1997); entre

outros. Todos eles que tinham como objetivo discutir as alterações do meio

ambiente, as mudanças climáticas, o desenvolvimento sustentável etc. Os

documentos resultantes destes encontros foram aprovados e incorporaram-se às

Nações Unidas e influenciaram a opinião pública mundial (CAMARGO, CAPOBIANO

E OLIVEIRA, 2004).

O primeiro evento realizado pela ONU, sobre Meio Ambiente, foi a

Conferência de Estocolmo, que ocorreu no ano de 1972, em Estocolmo, na Suécia.

O evento contou com representantes de 113 países. Segundo Mousinho (2008),

esse foi o marco nas discussões voltadas ao tema e foi decisivo para o surgimento

de políticas de gerenciamento ambiental. A atenção foi para a poluição que é

transfronteiriça, ou seja, independe dos limites entre os países e atinge muito além

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do seu ponto de origem. Foi nesse encontro que se designou o dia 5 de junho como

Dia Mundial do Meio Ambiente, data em que todos os países devem repensar suas

políticas de atuação, preservação e conscientização da população. Também

resultou do encontro a Declaração sobre o Ambiente Humano e o Plano de Ação

Mundial. As principais discussões do evento foram baseadas na capacidade do

homem de transformar o mundo, podendo causar danos incalculáveis, se mal

utilizada. É o caso da poluição da água, do ar, da terra, do desequilíbrio ecológico e

da exaustão de recursos insubstituíveis citados na Declaração sobre Ambiente

Humano. Além disso, o documento já apresenta algumas outras preocupações como

o crescimento desordenado da população, a implantação de políticas ambientais de

governo, a preservação dos recursos naturais, fauna e flora, a produção baseada

em recursos renováveis, as deficiências que poderão causar desastres naturais, uso

da ciência e tecnologia para combater os riscos ao meio ambiente, a importância da

educação ambiental e a eliminação de armas nucleares.

Depois de 20 anos, aconteceu uma nova Conferência, agora no Rio de

Janeiro, em 2002. Nessa edição do evento, o fato que chamou atenção e foi o centro

das discussões foi a compreensão de que os problemas ambientais do planeta estão

intimamente ligados às condições econômicas e à justiça social (MOUSINHO, 2008).

Assim sendo, reconheceu-se que seria necessário o equilíbrio entre as questões

ambientais, sociais e econômicas e foi apresentado o termo desenvolvimento

sustentável.

Este foi considerado o maior de todos os eventos de discussão ambiental em

todo o mundo e ficou conhecido como Rio-92 ou Eco-92. De acordo com Trigueiro

(2008), nunca houve no mundo um espaço que reunisse tantas pessoas para

discutir meio ambiente. Estiveram presentes 104 reis, rainhas e chefes de estado,

acompanhados por 10 mil delegados de 180 países. Além disso, foi um evento

acompanhado pela mídia. Mais de nove mil jornalistas foram credenciados para

fazer a cobertura. Na Conferência, foram adotados três grandes acordos: Agenda

21, Declaração do Rio e Declaração dos Princípios das Florestas.

Na tentativa de avaliar os resultados obtidos ate o momento, em 1997,

realizou-se em Nova York a Rio+5, que reuniu 53 chefes de estado com objetivo de

avaliar os progressos após a Conferência do Rio. A Rio+5 também teve como

objetivo a revitalização e o estímulo aos compromissos com o desenvolvimento

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sustentável, o reconhecimento das falhas e a identificação das razões dos fracassos

e a definição de prioridades para os anos seguintes.

Após 10 anos da Rio-92, aconteceu em Johanesburgo, na África do Sul, a

terceira grande conferência realizada pela Organização das Nações Unidas. Desta

vez, o objetivo era o reforço dos compromissos políticos com o desenvolvimento

sustentável, já que estavam reunidos 104 chefes de Estados, ONGs, setor

empresarial e outros segmentos da sociedade. Dessa Conferência, chamada

também de Rio+10 ou Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável resultou

a Declaração de Johanesburgo para o Desenvolvimento Sustentável e o Plano de

Implementação.

Apesar dos três eventos, entre 1992 e 2002 houve paralisias e retrocessos,

no sentido de que pouco se desenvolveu a ideia de desenvolvimento sustentável,

devido a problemas econômicos, restrições orçamentárias e resistência de empresas

(CAMARGO, CAPOBIANO E OLIVEIRA, 2004). Para os autores, a Convenção sobre

Mudanças Climáticas demorou para ser encaminhada devido aos mesmos

problemas que também fizeram com que as discussões da Rio-92 não evoluíssem.

Outros eventos que pode ter evidenciado as discussões em meio ambiente no

país é a 3ª. Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança

(MOP3) e a 8ª. Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica

(COP8). Os eventos aconteceram juntos, na cidade de Curitiba, em março de 2006.

A MOP3 discutiu o documento que visa garantir segurança na transferência,

manipulação e uso de organismos geneticamente modificados. A COP8 debateu

questões relacionadas à conservação da biodiversidade.

As reuniões da Conferência das Partes (COP) acontecem a cada dois anos

num sistema de rodízio entre os continentes. O evento conta com a participação de

delegações oficiais de 188 membros da Convenção sobre Diversidade Biológica,

além de representantes também de organizações acadêmicas, organizações não-

governamentais, organizações empresariais e lideranças indígenas. Já a reunião

das Partes (MOP) reúne os países membros do Protocolo de Cartagena sobre

Biossegurança por meio de seus representantes que discutem e analisam

documentos referentes ao Protocolo.

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1.7 AVANÇOS E RETROCESSOS PÓS RIO-92

Grande parte das discussões da Rio-92 não saíram do papel, devido a

problemas que perpassavam o Brasil naquela mesma época e tomaram o espaço na

mídia e nas discussões da população (CAMARGO, CAPOBIANCO E OLIVEIRA,

2004). Apesar de alguns avanços, houve muitos retrocessos, segundo os autores.

Várias políticas públicas que deveriam ter saído do papel, passaram esquecidas.

Um caso é a preservação da biodiversidade, já que o Brasil possui uma das

maiores taxas do planeta, distribuída em vários biomas. Os autores relatam que a

perda da biodiversidade se dá pela fragmentação, contaminação e poluição do meio

ambiente. Após a Rio-92, começaram a surgir áreas sob proteção graças à adesão

dos governos, até alcançar um aumento de 55% da área total destinada à

preservação ambiental. Porém, um dos problemas é a falta de dados sobre os

biomas e suas situações. Segundo Capobianco (2004), apenas a Amazônia e a

Mata Atlântica possuem grande quantidade de dados e são alvos de estudos

permanentes.

Neste início do século XXI, um dos grandes problemas é a invasão do

Cerrado pelas áreas de plantio de grãos, que aumentou a partir da última década do

século XX. Segundo Capobianco (2004), apesar de surgirem mais discussões sobre

meio ambiente após 1992, a expansão da soja aumentou de 4,5 mil toneladas para

45 mil toneladas de 1997 a 2007 em Rondônia. Segundo o autor, os números da

destruição demonstram falta de políticas públicas e fiscalização pelos órgãos

públicos. Na Mata Atlântica, por exemplo, regiões são devastadas a poucos

quilômetros de São Paulo.

Outro bioma brasileiro que sofre ameaças é o Pantanal que, a partir das

últimas três décadas do século, foi altamente povoado e utilizado como área

cultivável. Além disso, a ameaça mais grave é a possível construção da Hidrovia

Paraná-Paraguai que, segundo Capobianco (2004), promoverá alterações no ciclo

da água, interferindo no habitat de aves, peixes mamíferos e répteis.

Além disso, os focos de queimadas e incêndios florestais também atingem os

biomas e preocupam os ambientalistas, ou seja, pouco foi o papel da Conferência

como forma de conscientização para os produtores rurais. Se não bastasse a

invasão das áreas de florestas e as queimadas, a insustentabilidade do solo

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apareceu com o tempo, resultado do aumento do uso de defensivos agrícolas,

também neste período pós 1992 e atingindo grandes áreas no estado de São Paulo.

Assim como continuaram e até mesmo aumentaram os problemas na área

rural, as cidades não ficaram para trás: foram crescendo de forma desordenada e a

falta de saneamento básico elevou-se. A população urbana aumentou em mais de

40% em meio século, exigindo políticas públicas na área de infra-estrutura e

saneamento, porém as falhas deram espaço para a instalação de milhares de

famílias em locais onde não havia estrutura. O esgoto, por exemplo, deveria ser

recolhido e passar por tratamento, porém apenas 33,5% dos domínios possuem

estrutura para esse processo (CAMARGO, CAPOBIANCO E OLIVEIRA, 2004). Na

última década, contrariando a realidade, o investimento na área caiu de 0,33% do

PIB para 0,24%, impossibilitando a implantação de rede de saneamento básico no

país.

Segundo Capobianco (2004), é possível observar que, após 1992, houve um

avanço no campo legal. Foram aprovadas quatro leis de grande relevância para a

gestão dos recursos naturais. Porém, um dos problemas é a debilidade da

fiscalização para manter as áreas de conservação e coibir a retirada de madeira e as

queimadas.

A questão das mudanças climáticas está fortemente ligada ao

desenvolvimento sustentável, proposto em 1992, ou seja, se diminuir a taxa de

emissão de gases, automaticamente colabora-se para o equilíbrio do clima e a

diminuição das temperaturas que aumentaram nos últimos anos, devido ao efeito

estufa. Os cientistas concordam com o aumento da temperatura e, segundo Santilli,

Carvalho e Nepstad (2004), em 2001, mais de mil climatologistas e cientistas

concordaram que o aquecimento Global já começou. Apesar das emissões

brasileiras representarem apenas 3% das emissões globais e ser relativamente

pequenas com relação à de outros países, grande parte da emissão provém do

desmatamento e queimadas.

A agricultura sustentável, agroecologia e produção orgânica passaram a

incorporar as discussões sobre a produção rural na medida em que a agricultura

atual passou a ser vista como inviável pelos ambientalistas. O modelo de

monocultura baseado na inesgotabilidade de recursos naturais, destrutivo quanto ao

uso das novas tecnologias e dando pouca atenção a biodiversidade, sofreu

transformações quanto a sua visibilidade com a chegada dos novos métodos,

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considerados mais adequados. O modelo proposto pela “revolução verde” vem

sendo cada vez mais criticado, pois não respeita os aspectos sociais e ambientais

(CAMARGO, CAPOBIANCO E OLIVEIRA, 2004, p. 2.007).

Para Shiki (2004), o caráter não sustentável desse formato trabalhado na

zona rural a partir da década de 60, vem sendo observado desde a década de 80,

quando foram percebidos os primeiros impactos causados na natureza, na

biodiversidade e nos recursos hídricos. A autora coloca algumas metas para um

novo modelo que possa substituir este formato: redução de uso de insumos, utilizar

microbacias e gestão agro ecológica para agricultura familiar. Além disso, deve

prever ainda a reforma agrária e incentivar estudos sobre o sistema de

comercialização dos produtos, observando a presença do uso de selos de qualidade

social e ambiental. Weid (2004) define a agroecologia como uma ciência nova que

busca combinar agronomia e ecologia num sistema agrícola sem uso de

transgênico, produtos químicos e mecanização pesada.

Outro assunto que ganhou destaque após a Rio 92 foi a crise da água, devido

à “redução da quantidade, aumento da demanda e deteriorização por causa da

poluição” (TUCCI, 2004, p. 276). O autor explica que, quando as cidades eram

menores, esses problemas não estavam presentes, pois a utilização era em menor

quantidade e automaticamente a poluição era menor por que havia menos pessoas

poluindo com resíduos domésticos, de agrotóxicos etc. A água também passou a ser

usada em grande quantidade na agricultura para irrigação, o que influência na crise

da escassez da água.

Em muitos casos, para facilitar a utilização da água e evitar sua falta, cidades

e áreas agrícolas são planejadas em locais que possuem grandes quantidades de

água como é o caso de áreas próximas ao Rio são Francisco, no Nordeste. Neste

caso a produção aumenta, pois em outras regiões a falta de chuva prejudica as

lavouras. Porém, em outros casos, como a construção de cidades em locais

inadequados, acaba resultando em enchentes como nas grandes cidades cortadas

por rios, como é o caso de São Paulo. Nos veículos de comunicação, as enchentes

são pauta em diversas edições, pois são freqüentes e tingem grande quantidade de

pessoas.

Para Tucci (2004, p. 282) “as enchentes urbanas têm sido uma das grandes

calamidades a que a população brasileira está sujeita, como resultado da ocupação

inadequada do leito dos rios”. O autor acrescenta que as enchentes são impactos

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gerados pelo desenvolvimento urbano, porém os municípios não foram planejados e

hoje não há capacidade de administrar os problemas. Como forma de resolver parte

das deficiências que atingem o setor hídrico que abastece as cidades, Camargo,

Capobianco, Oliveira (2004) propõem um melhor papel fiscalizador dos órgãos

ambientais e organização da sociedade para uso racional dos recursos e

sustentabilidade das bacias hidrográficas.

O aumento das cidades, o crescimento industrial e o elevado tráfego de

veículos nas grandes cidades resultaram na maior produção de energia para sanar

as necessidades da população. Isso necessitou o aumento da produção e utilização

de combustíveis, gerando maior emissão de gases tóxicos na atmosfera e

resultando em poluição ambiental (GOLDEMBERG, 2004) em nível local, regional e

global. Mas, para tentar conter ou minimizar esses problemas, Trierveiller, Costa e

Mecca (2004) colocam em pauta a necessidade de construir um novo modelo

energético baseado em algumas alternativas como a geração de energia a partir da

biomassa, do vento, das hidrelétricas e da potencialização das usinas existentes.

Com relação à mudança de pensamento quanto às iniciativas das empresas

na tentativa de reduzir a poluição ao ambiente, elas foram evoluindo até se

conscientizarem de que são grandes poluidoras e emitem parte considerável dos

gases que contribuem para o efeito estufa. Com a evolução das empresas, a última

década do século XX já mostrava empresas mais responsáveis e com iniciativas

promissoras (KISHINAME, GRAJEW, ITACARAMBI E WEINGRILL, 2004). Porém,

nessa mesma época, estudiosos e ambientalistas reconhecem que “há muito

marketing, em uma proporção muito maior que ações e investimentos efetivos”. Na

mídia, por exemplo, são facilmente encontradas notícias que fazem “ecomarketing”

de empresas que propõe projetos ou iniciativas que demonstre sua preocupação

com o meio ambiente.

A partir de todas essas discussões sobre os elementos que fazem parte do

meio ambiente e que, de alguma forma, são prejudicados pela ação do homem, é

possível se utilizar de alguns termos colocados por Camargo, Capobianco e Oliveira

(2004) e dizer que essa realidade demonstra a falta de políticas públicas e

consciência da sociedade civil e das empresas, apesar de ter aumentado o

conhecimento das pessoas quanto ao assunto, a partir de 1992.

A seguir, o trabalho tratará especificamente do desenvolvimento sustentável,

que ampara todas as discussões feitas até então, com objetivo de conceituar,

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contextualizar e entender os discursos que o desenvolvimento sustentável engloba,

desde a preservação da biodiversidade até as políticas voltadas para a diminuição

do consumo.

1.8 DESENVOLVIMENTO E CONSUMO SUSTENTÁVEL: TENTATIVAS DE

MUDAR O MUNDO

O que grande parte da população encara como meio ambiente é apenas a

fauna e a flora (TRIGUEIRO, 2008). Muitos também não veem relação entre o

homem e a natureza, como duas coisas próximas. E, muito menos, veem alguma

relação entre a poluição dos rios, a produção de lixo e o abastecimento de água das

cidades. Segundo Trigueiro (2008), meio ambiente ainda é uma expressão que não

possui uma definição clara, porém é possível perceber a sua amplitude a partir do

aumento de discussões sobre as questões ambientais.

É a partir desse contexto que esse tópico visa explicar e contextualizar o

surgimento e apropriação da expressão desenvolvimento sustentável e qual sua

importância no contexto das preocupações ambientais do final do século XX, mais

precisamente a partir da década de 70, onde se passou a incorporar as

preocupações sociais e ambientais às demandas econômicas (ABREU, 2006).

O desenvolvimento sustentável tem como objetivo apresentar à sociedade

projetos que, com a participação de todos, podem melhorar a situação vivida pelo

meio ambiente. Trigueiro (2005) ressalta a importância e urgência em debater o

assunto em meio a crise que vivemos, principalmente no meio urbano. Segundo o

autor, não é de hoje que o mundo vem dando sinais de que não suporta mais o

modo de vida da população baseado apenas no consumo exagerado, mas as

pessoas ainda têm dificuldade de relacionar os problemas ambientais com os

hábitos cotidianos. Segundo o autor, nossa sociedade é chamada de sociedade do

consumo por que a atividade se tornou cotidiana e foi além de satisfazer as

necessidades do ser humano.

A crise ambiental, que se estendeu pelo mundo no final do século XX, é fruto

do aumento da população, mas também é um reflexo da modelo de civilização

urbano-industrial que está em crise por se pautar no crescimento da produção e

consumo, com a utilização dos recursos da natureza, entendendo-os como

inesgotáveis (TAUTZ, 2004). Nesse contexto surgiu a idéia de promover o

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desenvolvimento que se sustentasse sem prejudicar a natureza como acontecia até

então.

Para Abreu (2006), a origem do desenvolvimento sustentável está na

Conferência de Estocolmo, quando surgiu o termo ecodesenvolvimento, com o

intuito de expressar a necessidade de pensar estratégias ambientalmente

adequadas para promover o desenvolvimento sócio econômico. A partir de 1980, o

termo sofre algumas mudanças e passa a ser chamado de sustentabilidade por

Lester Brown, fundador do Worldwatch Institute (CAPRA, 2008). O termo foi

conceituado como “o desenvolvimento que atende às necessidades do presente

sem comprometer a capacidade de as gerações também satisfazerem as suas”. O

mesmo conceito foi usado no Relatório de Brundtland, para definir o

desenvolvimento sustentável.

Esse conceito se popularizou, de fato, a partir da Eco-92, quando o Brasil

reuniu grande parte das discussões sobre meio ambiente. Essa noção de

sustentabilidade segundo Campos (2006), é resultado da atuação dos movimentos

ambientalistas. Mas, de acordo com Abreu (2006), na década de 90 surgiram

polêmicas em torno da definição dada ao termo, alegando que era vaga e poderia

ter diversas interpretações. A partir do momento em que se percebeu que, durante o

século, foram acontecendo diversos pontos de degradação ambiental ao longo do

território brasileiro, o discurso de desenvolvimento sustentável caiu por terra, ou

seja, não adiantava ter um discurso para promover a conscientização, sendo que em

cada espaço havia diferentes tipos de relações entre a sociedade e a natureza. Isso

deixou claro que o problema é mundial, mas que cada espaço precisa de soluções e

estratégias próprias.

O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável

entende o termo desenvolvimento sustentável como um conceito que visa conciliar

as necessidades econômicas, sociais e ambientais. Nesse sentido, o termo continua

fortalecendo o modelo empresarial. Ao contrário desta visão, o Fórum Brasileiro de

Organizações Não-Governamentais e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente

propõe dar um caráter mais distante do mercado e da economia que privilegie a

qualidade de vida e a justiça ambiental. Segundo Scharf (2004), o desenvolvimento

sustentável pode ser comparado a um tripé formado por interesses sociais,

ambientais e econômicos.

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No Brasil, a conscientização e a busca pelo desenvolvimento sustentável

começaram aparecer de forma tímida, no final dos anos 80 (CRESPO, 2008),

quando apareceram as primeiras pesquisas sobre a poluição em alguns pontos de

São Paulo. Com a Eco-92, realizada no Brasil, abriu-se maior espaço para essas

discussões, na medida em que o evento ia se aproximando. Segundo a autora, foi a

partir desse período que se pode discutir o tema meio ambiente com a devida

atenção que o assunto merece.

A partir das pesquisas que foram sendo realizadas, principalmente a partir da

Conferência, em 1992, foi possível definir o perfil da população brasileira quanto ao

nível de informação sobre meio ambiente, levando em consideração a relação com a

escolaridade, idade e local. O perfil do ambientalista ou simpatizante do movimento,

segundo Crespo (2008) é homem ou mulher entre 22 e 25 anos, com alta

escolaridade, morador de centros urbanos e que tem a televisão como principal fonte

de informação. Os menos informados sobre o assunto, a autora descreve como

sendo as mulheres de baixa escolaridade, com mais de 50 anos e que mora no

interior ou nas áreas periféricas da cidade.

O consumo sustentável, conceito presente nas discussões sobre meio

ambiente, recebe influência dos meios de comunicação por meio da publicidade

(TRIGUEIRO, 2005). Ela é responsável por influenciar no consumo e na formação

de estilos de vida da população e está presente em diversos locais, desde um

outdoor até nas propagandas de jornais. Segundo Trigueiro (2005), a publicidade é a

ponte entre a produção e o consumo.

Além disso, o consumo insustentável também é um dos grandes causadores

dos problemas ambientais. Essa “doença” surgiu, segundo Trigueiro (2005), com o

avanço tecnológico a partir da Revolução Industrial, porém nem bem se entrou no

século XXI e isso já está custando caro para o planeta. O consumo é fundamental

na vida, mas o problema está na falta de limites e no desperdício.

Segundo Campos (2006), os números da ONU atentam para o crescimento

desenfreado do consumo pela população. Os dados revelam que, em 2050, o

mundo deverá ter nove bilhões de habitantes e que se nada for feito para reduzir o

consumo, o impacto sobre as águas, a qualidade do ar, o clima será muito grave.

Campos (2006) afirma que os países ricos são os principais causadores dos

problemas ambientais, pois são os maiores consumidores de alimentos,

combustíveis, materiais eletrônicos etc.

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Nesse processo de evolução do mundo sem pensar nas conseqüências, a

mídia tem o papel de alertar e informar sobre os problemas causados pela

sociedade no meio ambiente. Segundo Campos (2006), é necessário educar para o

consumo sustentável na tentativa de implantar o consumo justo e a consciência

ambiental na população.

A partir dos anos 90, um debate entre economistas e ambientalistas definiu

que o desenvolvimento sustentável seria encontrado a partir da resposta para a

seguinte pergunta: “Como atingir a sustentabilidade? Como crescer sem destruir a

natureza?”. A resposta, desse modo, deve responder inúmeras questões

relacionadas a essas primeiras, sempre pensando que o objetivo é sustentar a vida

e não o lucro (CAMPOS, 2006, P.96). Hoje, alguns movimentos ambientalistas não

gostam da expressão “desenvolvimento sustentável”, pois consideram o termo

desenvolvimento incompatível com o ideal de preservação.

Apesar de ainda ser apenas um ideário, Campos (2006) descreve seis metas

que envolvem o Desenvolvimento Sustentável. 1) Satisfação das necessidades

básicas da população como alimentação, saúde e educação; 2) Solidariedade com

as gerações futuras; 3) Participação da População na Agenda 21, definida na Rio-

92; 4) Preservação dos recursos vitais com água e oxigênio; 5) Sistema social justo

e 6) Efetivação de Programas educativos.

Leff, citado por Campos (2006, p.99), propõe o conceito de ecotecnologia,

que seria a geração de “novos potenciais produtivos que congregasse ordenamento

ecológico, redistribuição territorial e reorganização das atividades produtivas”. Esse

processo tem como objetivo descentralizar as riquezas e preservar o meio ambiente,

na tentativa de crescer sem destruir o mundo.

Villar (2004) enfatiza o papel educacional dos meios de comunicação, o que

neste caso, é um espaço para a difusão do consumo sustentável para a população.

Isso pode acontecer, pois segundo ele, o jornalismo é uma ferramenta de educação

ambiental. “A imprensa pode fazer campanhas publicitárias, cobrar soluções do

governo, abrir espaço para novas idéias e melhorar a qualidade de vida nas cidades”

(VILLAR, 2004, p. 35).

Entender o meio ambiente como assunto que só interessa aos jovens

românticos e idealistas, como cita Sharf (2004), é um erro histórico que se reflete

não só nos problemas, mas na própria apuração que a imprensa faz sobre os

assuntos: geralmente algo superficial, espetacular que tem como objetivo apenas

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atrair o leitor. Isso também pode ser reflexo da falta de compreensão do tema pela

mídia, pois em muitos casos a ecologia urbana, por exemplo, é confundida com a

simples conservação de áreas verdes, sendo que esse conceito envolve a

sustentabilidade econômica, social e energética das relações humanas (SIRKIS,

2008).

Segundo Derengoski (2001), a defesa da ecologia e do meio ambiente está

centrada em três pontos importantes. Primeiro é necessário entender que a luta pelo

meio ambiente não está separada do sistema sócio-político-econômico. Segundo

ele, deve ser evitada a tentativa do sistema de absorver e dirigir o movimento

ecológico. E, por ultimo, é necessário entender as relações entre homem e natureza.

Hoje, na tentativa de ensinar os seres humanos desde a infância que é necessário

consumir com cautela e preservar o meio ambiente por ele fazer parte da vida

humana, as entidades ambientalistas estão investindo na educação ambiental nas

escolas.

Assim, Trigueiro (2005) nos afirma que Se a criança, desde o seu processo de formação, adquirir os conceitos e a prática do consumo consciente, isso será um valor para ela. A criança não precisará mais ser reforçada pela sociedade para que continue a ter um comportamento consciente em relação ao consumo, que respeite os impactos sobre a sociedade e o meio ambiente. (TRIGUEIRO, 2005, p. 29)

Capra (2008) apresenta a alfabetização ecológica como forma de educar os

jovens e crianças para a sustentabilidade. Segundo o autor, o entendimento de que

a sustentabilidade implica na preservação do hoje para conservar para as gerações

futuras se tornou conhecido com a alfabetização ecológica. O saber ecológico,

segundo ele, será o papel mais importante da educação no século XXI, desde o

ensino fundamental às universidades. “Nas próximas décadas, a sobrevivência

humana dependerá da nossa alfabetização ecológica, da nossa capacidade de

compreender os princípios básicos da ecologia e viver de acordo com eles” (CAPRA,

2008, p. 20).

Além da educação nas escolas, práticas familiares contribuem para a

preservação do meio ambiente. São coisas simples, mas que de alguma forma

contribuem para o consumo sustentável e conseqüentemente para a preservação da

natureza. O planejamento das compras, por exemplo, é um exemplo de consumo

consciente, pois atualmente o Brasil perde mais de 12 bilhões de reais em alimentos

que são desperdiçados.

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Com relação ao lixo produzido nas cidades, é necessário estimular a coleta

seletiva, o que geraria ainda emprego e renda para a população e reduziria a

quantidade de lixo depositado nos aterros sanitários (TRIGUEIRO, 2005). O

gerenciamento dos resíduos sólidos, quando projetado dentro das expectativas do

consumo sustentável parte do princípio dos três Rs: reduzir, reutilizar e reciclar. Esse

conceito também ganhou visibilidade a partir da Eco-92 e está presente na Agenda

21. Antes de tudo, é necessário reduzir o consumo de produtos, pois atualmente

consumimos 20% a mais do que o meio ambiente pode repor para a sociedade

(BOFF, 2008). Além disso, a reutilização das embalagens colabora para o

aparecimento de menos lixo nos aterros sanitários. E, por fim, a reciclagem que é o

retorno do produto ao ciclo de produção, sem necessitar a utilização de material da

natureza.

Na área de combustíveis, o Brasil salta na frente mais uma vez com a

produção do biodiesel. Essa é uma das soluções para a diminuição da poluição do

ar, principalmente nas cidades, além de deixar de utilizar o petróleo que é uma fonte

não renovável da natureza. Há mais de 30 anos, o Brasil já deu seus primeiros

passos na produção do álcool com o Proálcool e, em 2005, marca um novo período

com o início da produção do biodiesel que tem como fonte de matéria-prima os óleos

de mamona, babaçu e palma (TRIGUEIRO, 2005).

Apesar do Brasil já estar num processo avançado de produção associada à

preservação do meio ambiente, Viola (2008) atenta para a dificuldade de atenuar as

mudanças climáticas devido aos países priorizarem o desenvolvimento nacional e

não a responsabilidade de unir-se com os demais na tentativa de reduzir os

problemas por meio da atuação de todos. Isso acaba prejudicando os mais pobres

que sofrerão com as mudanças climáticas (VIOLA, 2008).

Após a Rio-92, os problemas que assolaram o Brasil (Collor e Plano Real)

fizeram com que a temática meio ambiente e as políticas públicas relacionadas ao

assunto não fossem pautadas pelos jornais (CAMARGO, CAPOBIANO E OLIVEIRA,

2004). Dessa forma, o desenvolvimento sustentável acabou perdendo espaço para

outros acontecimentos da época, impedindo de conscientizar e implantar os ideais

do consumo sustentável.

O consumo sustentável ainda é ignorado por grande parte da população,

alguns por não entenderem a dinâmica da natureza, e outros por não perceberem os

resultados. Porém, segundo Trigueiro (2005), o processo é lento e as conseqüências

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aparecerão para as próximas gerações. É necessário mudar a política econômica,

cultural e social e o cotidiano da população. Besserman (2008, p.97) defende que a

“preocupação com o meio ambiente não deve ser conseqüência de uma postura

paternalista em relação à natureza, mas, ao contrário, um reconhecimento da nossa

impotência e dependência dela”. Segundo o autor, o princípio da consciência

ecológica, na tentativa de reverter a situação em que o planeta se encontra, é o

humanismo, pois precisamos dela e ela faz parte da nossa história.

A partir desse breve histórico sobre como os problemas ambientais tomaram

conta do mundo, principalmente durante o século XX, percebe-se que a evolução do

tema na mídia e nas discussões e preocupações da sociedade está intimamente

ligado com o próprio desenvolvimento das questões ambientais no mundo e

relacionado também com o surgimento de acontecimentos que pautaram o assunto,

como foi o caso das Conferências da ONU, que ganharam espaço na mídia e foram

responsáveis em desencadear discussões como do desenvolvimento sustentável,

poluição e mudanças climáticas. E, na medida em que os problemas foram

aflorando, como é o caso do desmatamento, efeito estufa e aquecimento global, a

mídia foi se aproximando do tema e dando a ele um espaço determinado dentro do

jornalismo, especialmente a partir do jornalismo especializado em meio ambiente,

chamado de jornalismo ambiental.

No próximo capítulo do trabalho, é discutido como o assunto é abordado

pelos meios de comunicação, relacionando com as discussões teóricas da área que

ajudam a explicar as diferentes formas de tratamento dado ao tema. Meio ambiente

é um assunto que envolve diversas discussões políticas e econômicas, que tornam o

assunto complexo, quando reconhecemos as influências internas e externas na

produção jornalística.

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2. JORNALISMO E A CONSTRUÇÃO DE NOTÍCIAS SOBRE MEIO AMBIENTE

Neste capítulo são apresentadas as discussões que envolvem a

comunicação, ou seja, de que forma a construção das notícias e as influências que

perpassam o processo de produção jornalística são responsáveis pelo produto final

tal como ele é. Dessa forma, evidenciamos os estudos de Berger e Luckman (1985)

sobre a construção social da realidade, envolvendo os meios de comunicação nesse

processo e as contribuições das teorias do jornalismo, aprofundando nas teorias

construcionistas, que vêem a notícia como um processo em que estão envolvidos

fatores técnicos, sociais, culturais e históricos.

Além desse aspecto, o capítulo aborda também o jornalismo especializado

como um meio de atender uma demanda específica da sociedade e o jornalismo

científico como forma de levar conhecimento à população. Para finalizar,

destacamos o desenvolvimento do jornalismo ambiental, os aspectos históricos mais

relevantes, as características ressaltadas pelos autores que discutem o assunto, o

desenvolvimento a partir das conferências e dos acontecimentos marcantes, além

das formas de produção atuais e os problemas observados.

2.1 JORNALISMO COMO CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE

Não é de hoje que se discute o poder que permeia os meios de comunicação,

principalmente no que tange ao fato da mídia ser a principal fonte de ligação entre

as pessoas e os acontecimentos. Ainda mais quando a distância entre o fato e o

público impossibilita o contato mais próximo, dando à mídia o poder de ser o

transmissor de toda e qualquer informação. É nesse contexto que Traquina (2005b)

passa a discutir o papel da mídia como construtor de realidades, por envolver uma

série de fatores culturais, sociais, históricos e políticos, que impossibilita entender a

mídia como mera transmissora dos acontecimentos tais como eles são.

Nas sociedades contemporâneas, a realidade social é instituída por discursos

e interesses que ganham visibilidade. E é nesse cenário, que se destacam também

os meios de comunicação. A notícia compreendida como construção social da

realidade surge basicamente entre o final dos anos 60 e início da década de 70

(GADINI, 2007).

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Como defendem os autores em suas teorias (Traquina (2005) e Jorge Pedro

Sousa (2002)), o jornalismo não é mera retratação da realidade. Segundo eles, no

processo diário de produção das notícias, há fatores que influenciam, os quais se

situam entre o acontecimento e o texto escrito pelo jornalista. A notícia é o resultado

da interação simultaneamente histórica e presente de força pessoal, social

(organizacional e extra-organizacional), ideológica, cultural, do meio físico e dos

dispositivos tecnológicos (SOUSA, 2002).

Ainda em 1985, Berger e Luckmann (1985, p.16) já discutiam a construção

social da realidade, defendendo a interferência do contexto social específico de cada

um, no contar dos fatos. Um exemplo, dado pelos autores, é de que “o conhecimento

do criminoso é diferente do conhecimento do criminalista”, enfatizando a influência

do contexto social em que cada um está inserido. Por isso que notícia é construída

pela diversidade de “conhecimentos” (devido ao enfoque diferente dado por cada

veículo ao acontecimento) produzidos pelo jornalismo.

Quando os meios de comunicações são a única forma de o sujeito tomar

conhecimento sobre alguma coisa, ou seja, a única versão possível é a que é dada

pelos media, podemos associar essa discussão àquela feita por Berger e Luckmann,

em 1985, de que a partir do discurso de alguém, a ‘realidade’ é admitida como certa,

pois a pessoa não teve acesso ao fato tal como ele é, apenas ouviu um discurso.

Para boa parte dos consumidores das notícias, o real apresenta-se como o

fragmentado exposto no jornal, revista, televisão ou qualquer meio de comunicação.

O jornalismo é um processo realizado por sujeitos formados por valores que

não são excluídos durante a produção das notícias, além de envolverem mais

pessoas, como as fontes, por exemplo. Dessa forma, a realidade pode ser

interpretada de formas diferentes por diferentes indivíduos.

Aquilo que não é apreendido no “aqui e agora” (BERGER e LUCKMANN, p.

39), pode ser transmitido pelos veículos de comunicação, dando a eles esse poder

de agir como agentes da construção social da realidade dotados de sentidos. É

possível fazer essa referência, já que os produtores são sujeitos, os quais são

construtores de realidades, como afirmam os autores. No caso específico do

jornalismo, as notícias são apenas mais uma forma de discurso que circula no

espaço social em que se situa a noção de construção social da realidade (GADINI,

2007).

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Para Gay Tuchman, citada por Traquina (2005a), devemos compreender a

notícia como estória e entender que elas são construídas e não são espelho da

realidade, como defendem alguns autores na Teoria do Espelho. O enquadramento

dado ao fato pelo jornalista é embutido de subjetividades como defende as outras

teorias do jornalismo que surgiram para rebater a teoria do espelho. As notícias

acontecem na junção de acontecimentos e textos. Segundo Traquina (2004),

enquanto o acontecimento cria a notícia, a notícia cria o acontecimento, onde os

textos jornalísticos são construções, narrativas, estórias.

A junção desse poder dado aos jornalistas de contar estórias sobre fatos do

cotidiano e a presença das mídias cada vez com mais freqüência no dia-a-dia dos

sujeitos, fez com que a política, por exemplo, mudasse a partir dos anos 60. Esse

processo se deu em especial após o debate de Kennedy-Nixon, em que foi possível

perceber como o modo de contar a estória é capaz de interferir nas formas de

pensar da sociedade, além de fomentar a possibilidade (poder, melhor dizendo) dos

meios de construir imagens.

Nesse contexto, é possível trabalhar no item abaixo deste trabalho, as

discussões estabelecidas por alguns autores a cerca desse processo de construção

das notícias, levando em consideração as teorias que atentam para a influência de

fatores externos à organização, tais como fatores políticos, econômicos e

ideológicos que tendem a reforçar o poder capitalista. Sempre lembrando que esses

são possíveis interferentes na construção de notícias de meio ambiente. O próximo

tópico deste capítulo trata especialmente da discussão sobre as teorias do

jornalismo e os fatores que interferem na produção jornalística.

2.2 TEORIAS DO JORNALISMO E CONSTRUÇÃO DA NOTÍCIA PELA

INFLUÊNCIA EXTERNA ÀS REDAÇÕES

As teorias do Jornalismo que norteiam essa pesquisa e podem ajudar a

explicar a produção noticiosa do jornal a ser analisado são a Teoria da Ação Política

e as Teorias Construcionistas, as quais explicam a produção pela influência de

fatores externos às redações, especialmente de outras instituições externas ao

veículo.

Ainda no século XIX, dois pólos passaram a emergir do campo jornalístico

contemporâneo. O pólo econômico, que define a notícia como um negócio, idéia que

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nasceu após o desenvolvimento da imprensa, e o pólo ideológico, que é a definição

da notícia como serviço público. Esses dois aspectos remetem à discussão da

influência de fatores internos e externos na produção das notícias.

Quando Traquina (2005a) discute o poder do campo do jornalismo,

chamando-o de “quarto poder”, deduzimos que os jornalistas possuem poder na

construção da notícia e conseqüentemente de realidades, como discutimos

anteriormente. O campo jornalístico pode ser entendido como um campo magnético

de dois pólos, como escreve Traquina (2005a), o qual pode ser entendido como um

espaço de desenvolvimento da ideologia profissional e do jornalismo como negócio,

deixando para traz o pólo político que perdurou durante anos e perdeu espaço a

partir da intensificação do trabalho da imprensa. Porém, em diferentes épocas e

situações, os dois pólos atuais vivem altos e baixos. O que muitos estudiosos

defendem, é que o pólo político foi substituído pelo pólo econômico, porém, este

também possui características negativas que interferem na produção jornalística.

Ao longo do livro sobre teorias do jornalismo, Traquina (2005a) discute como

os fatores internos e externos influenciam o campo jornalístico na produção das

notícias, contribuindo dessa forma, na construção da realidade. Ao longo dos anos,

as teorias puderam explicar esses fatores. No desenvolvimento deste trabalho,

vamos abordar com mais profundidade as teorias da Ação Política e as Teorias

Construcionistas, pois elas podem explicar a forma de abordagem das notícias de

meio ambiente pautadas pelo Jornal, no sentido que partimos do pressuposto de

que a influência não é apenas interna (das redações), mas gira em torno de

aspectos mais profundos da sociedade.

O jornalismo do século XX e XXI, no Brasil, apesar de seu caráter

mercadológico, surgiu com característica informacional, somente a partir do século

XIX, devido ao desenvolvimento da imprensa e a expansão dos jornais, o que

resultou no jornalismo como atividade remunerada (Traquina, 2005a). Isso significou

o afastamento dos jornais do pólo político, predominante anterior a esse período,

podendo agora se manter independente financeiramente. Foi paralelo a essa

mudança, que surgem os conceitos de jornalismo objetivo e imparcial, na tentativa

de afastar-se ainda mais das raízes de onde nasceu. Contudo, são esses valores

que, de algum modo, acobertam as possíveis escolhas e decisões que acontecem

nas redações. Por meio deles, os jornalistas negam notícias como construção e

acreditam no trabalho imparcial, objetivo e livre de influências, pensamento rejeitado

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nas teorias mais recentes do jornalismo. Segundo Traquina (2005a), o conceito de

objetividade surgiu no século XX, com base nas mudanças das redações, onde se

passou a primar pelos fatos e não pelas opiniões.

Segundo Gaye Tuchman citada por Traquina (2005), a objetividade é um

ritual estratégico utilizado pelos jornalistas para se defenderem de críticas e

assegurar credibilidade. Como este trabalho parte do pressuposto de que os

veículos sofrem interferências externas, que refletem na construção das notícias,

discutiremos agora as teorias que defendem e respaldam essa referência, ou seja,

trataremos com mais ênfase a teoria da ação política e as teorias construcionistas,

as quais levam em considerações fatores externos à redação.

A mais antiga teoria que tenta explicar a produção jornalística baseia-se no

jornalismo como espelho da realidade, ou seja, as notícias são assim porque a

realidade as determina. Essa teoria defende e legitima os jornalistas, mantendo-os

como comunicadores desinteressados que não sofrem influências externas e

também não utilizam seus princípios para escrever a notícia.

Já na teoria conhecida como teoria do gatekeeper, as notícias são entendidas

como resultado da interferência apenas de quem as produz, ou seja, dos jornalistas.

Eles têm o poder de seleção das notícias, porém, ainda são ignorados quaisquer

fatores macro-sociológicos que possam influenciar na produção. Segundo Traquina

(2005a), essa ainda é uma visão bastante limitada da produção jornalística. No caso

de ter que escolher entre dois temas, como descoberta científica ou energia nuclear,

o jornalista pode fazer escolhas: o mais fácil ou aquele que já tem as fontes

conhecidas. Esse seria um exemplo na área ambiental sobre o tipo de influencia

defendida nessa teoria.

Avançando um pouco mais, surge a teoria organizacional, a qual tem como

foco a importância de uma cultura organizacional ou invés de uma cultura

profissional (TRAQUINA, 2005a). Defende-se que o jornalista sofre

constrangimentos organizacionais sobre a atividade jornalística e tende a seguir um

padrão editorial do veículo. Quando se trata de política isso fica mais evidente. No

caso do jornalismo ambiental é mais complicado fazer essa observação, mas pode-

se utilizar como exemplo a preferência por notícias sobre desenvolvimento

sustentável do que por textos que tendem a fazer alguma denúncia. Essa escolha do

veículo evita atritos com as empresas, que possivelmente podem ser patrocinadores.

Outro assunto que geralmente não possui espaço na Folha de São Paulo é a

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produção orgânica e a crítica a utilização de agrotóxicos. Isso acontece, pois o jornal

possui uma editoria chamada “agrofolha” onde são abordados temas relacionados à

agricultura e que tem como anunciantes empresas de sementes e fertilizantes. Na

Teoria Organizacional, Traquina (2005a) já cita a influência do fator econômico na

produção, porém somente na teoria da Ação Política que isso é mais bem discutido.

Começam a aparecer as referências quanto à relação jornalismo e publicidade, a

dependência econômica e o espaço ocupado nos jornais pelas propagandas.

Após essa passagem rápida pelas teorias micro-sociológicas, passamos para

uma discussão mais aprofundada daquelas que enfatizamos neste trabalho e nas

quais a pesquisa é baseada. Nas próximas teorias – da Ação Política e

Construcionistas – observa-se a influência de fatores externos à organização

jornalística no processo de produção da notícia. Dessa forma, chamamos tais

teorias de macro-sociológicas e micro-sociológicas, pois envolvem diversos aspectos

e não ficam focadas apenas na empresa jornalística.

Os estudos avançaram a partir dos anos 60 e 70, o que se deve às inovações

metodológicas que contribuíram para aumentar e enriquecer os novos estudos em

comunicação (TRAQUINA, 2005a). A teoria da Ação Política surgiu nos anos 60, em

decorrência da necessidade de maiores investigações no processo de produção das

notícias. Nessa fase, o grande interesse é nos estudo de ideologia, onde o marxista

Antônio Gramsci teve grande influência (TRAQUINA, 2005a).

A partir desse momento, os estudos sobre jornalismo têm um novo foco e não

fica apenas no espaço da empresa ou do jornalista. Passa-se a entender o

jornalismo a partir das suas implicações sociais e políticas. De uma forma ou de

outra, nas terias da ação política, os meios de comunicação são visto de forma

instrumentalista, servindo apenas aos interesses políticos (TRAQUINA, 2005a). No

jornalismo ambiental a interferência política se dá na relação com as empresas

governamentais, que ao mesmo tempo em que poluem o meio ambiente, querem

divulgar a imagem preservacionista e de preocupação com o bem estar da

sociedade, como é o caso da Petrobras e de algumas hidrelétricas.

Nos estudos já realizados surgiram conclusões opostas: os meios de

comunicação como forma de ajudar a manter o sistema capitalista (visão de

esquerda) ou servem como instrumentos que põem em causa o capitalismo.

Segundo Traquina (TRAQUINA, 2005a, p.163), nas duas visões se percebe que “as

notícias são distorções sistemáticas que servem aos interesses políticos de certos

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agentes sociais bem específicos que utilizam as notícias na projeção da sua visão

de mundo, da sociedade etc.”.

Na visão de esquerda da teoria da ação política, entende-se o jornalista como

um mero executante a serviço do capitalismo, onde o fator econômico é

determinante no processo de produção das notícias. Além disso, Herman e

Chomsky citados por Traquina (2005a), relatam que segundo essa teoria, o

conteúdo das notícias não é determinado ao nível interior do jornalista nem ao nível

interno da empresa, mas sim ao nível externo, macroeconômico. Dessa forma,

colaboram e reforçam o poder já instituído dos donos e anunciantes. De acordo com

Sousa (2002), atualmente a força econômica exercida sob os meios de comunicação

é maior do que a força das influências políticas sobre o veículo. Quando isso

acontece, as fontes têm mais facilidade de influenciar nos conteúdos do jornalismo.

Albuquerque citado por Cervi (2007) faz três divisões para explicar o

comportamento da imprensa, levando em consideração as influências externas às

redações: Independente, Oficialista e Partidário. Porém, no caso brasileiro, segundo

o autor, não há como encaixar o papel dos jornalistas brasileiros em nenhuma

dessas divisões, pois “a imprensa aqui não é autônoma, nem submissa ao Estado,

mas também não pode ser considerada como porta-voz da elite partidária”. Isso faz

com que a visão dos fatos noticiados pelos meios de comunicação seja diferente de

outros sistemas.

O peso dos anunciantes, segundo Sousa (2002), interfere na produção

jornalística, assim como o poder político. As empresas de comunicação, inseridas

numa visão capitalista, visam lucro, ou seja, o fator econômico está intrinsecamente

relacionado com o processo de produção. Um exemplo da influência de empresas

(fator econômico) no processo de produção das notícias de meio ambiente é o fato

da Monsanto, por exemplo, ser anunciante de um determinado veículo. Dessa forma,

o jornalista evita produzir textos que envolvam a empresa de forma negativa, como

na discussão sobre os transgênicos e a produção de agrotóxicos, pois isso poderá

levar à perda do anunciante ou o jornalista sofrerá sanções dentro da empresa. Para

evitar esses problemas, ele tenta escrever de forma mais amena, evitando prejudicar

a visibilidade de seu anunciante. Segundo Trigueiro (2008, p.85), “é a publicidade

que sustenta os veículos de comunicação e paga os salários dos jornalistas, daí

porque não é difícil imaginar que em algumas redações possa haver

constrangimentos, ou até mesmo impedimentos”.

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Os autores defendem que os proprietários têm estreita ligação com a classe

capitalista, além de que, há um acordo entre os donos da mídia e influentes da

classe dominante, resultando num produto que atenda a esses interesses. Herman e

Chomski citados por Traquina (2005a), explicam esse fato por meio de alguns

fatores que podem ser aplicados a outras realidades, não só a americana: estrutura

de propriedade dos media, sua natureza capitalista, dependência das fontes

governamentais e empresariais e as possíveis ações punitivas dos poderosos.

Apesar de toda a argumentação presente nos estudos, Traquina (TRAQUINA,

2005a) apresenta algumas possíveis falhas dessa teoria como, por exemplo, o fato

de não levarem em consideração que os donos pouco freqüentam as empresas, o

que limita o processo de interferência no trabalho dos jornalistas; há possibilidade do

jornalista decidir o que é notícia sem o aval dos donos da empresa e o fato dos

jornalistas não conhecerem muito além da estrutura das redações dos veículos.

Nesse mesmo período em que surgiram as teorias da Ação Política

apareceram também os estudos que defendem as notícias como construção

(TRAQUINA, 2005a). Nas teorias construcionistas, nega-se a posição das notícias

como espelho da realidade, pois se defende que a linguagem não é transmissora

direta de significado, porque é impossível que seja neutra (TRAQUINA, 2005a). E

apesar de rejeitar a teoria do espelho, essas teorias não defendem a noticia como

ficção. Entende-se que as notícias são narrativas que informam o público. Segundo

Tuchman citada por Traquina (TRAQUINA, 2005a), as notícias são estórias, porém

isso não as rebaixa nem as acusam de ser fictícias, apenas alerta os leitores de que

como qualquer outro documento público, como defendem Berger e Luckmann

(1985), representam uma realidade construída.

Nesse contexto, defendendo a notícias como construção social surgem duas

teorias - Estruturalista e Interacionista - que são complementares. Segundo Traquina

(2005a), ambas rejeitam a teoria do espelho e concordam que as notícias surgem

em meio a um processo complexo que envolve diferentes pessoas: jornalistas,

fontes de informação, sociedade, ou seja, pessoas internas e externas às redações.

Exceto a teoria do espelho, todas as demais estão de alguma forma inclusas

nas teorias construcionistas. Ambas são micro-sociológicas e macro-sociológicas,

pois situam o jornalista quanto ao seu local de trabalho, a importância da

organização, as rotinas de produção, as fontes de informação etc. Todos esses

fatores interferem na produção da notícia e são responsáveis pelo resultado final do

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trabalho do jornalista. Desse modo, baseando-se nessas afirmações, Traquina

(2005a) reconhece que tanto uma quanto a outra teoria entendem as notícias como

estórias, marcadas pela cultura dos membros da tribo e da sociedade.

A teoria estruturalista se aproxima da teoria da ação política, versão de

esquerda, pois reconhece o papel da mídia na reprodução da ‘ideologia dominante’,

porém, diverge no sentido de reconhecer a autonomia do jornalista. Nessa teoria, os

autores defendem que as notícias são o que são, pois resultam de vários fatores

como a organização do meio, os valores-notícia e o momento da construção da

notícia, onde também perpassam os valores culturais.

Os meios de comunicação, além de definir para a população quais são os

acontecimentos mais importantes que ocorrem, também apresentam interpretações

de como compreender os fatos. Isso é que faz referência à hegemonia ideológica na

teoria estruturalista. Stuart Hall citado por Traquina (2005a) tenta explicar, a partir

das rotinas de produção, a predominância da ideologia dominante na produção das

notícias.

Por questões de tempo e exigência de imparcialidade e objetividade, percebe-

se a procura por fontes de informação que detém posições institucionalizadas

privilegiadas. Esse acesso sempre às mesmas pessoas faz com que estas sejam

chamadas de ‘definidores primários’. Dessa forma, o que define as notícias não são

os meios, mas a relação com as fontes. Segundo Pena (2006), as fontes podem

manipular o jornalista e agendar os meios de comunicação, mesmo não sendo uma

assessoria ou uma empresa. Um exemplo é a divulgação de uma notícia para

amenizar o impacto de outra. Podemos exemplificar com o seguinte fato: para

minimizar o impacto das notícias sobre poluição das águas, as empresas petrolíferas

pautam os meios de comunicação com notícias de projetos sociais e culturais para

universidades. Ou ainda, a instalação de uma hidroelétrica pode causar muitos

danos à natureza e à população local, porém a empresa pode diminuir o impacto

dessas notícias levantando pautas sobre os benefícios da obra para a população.

Para Traquina (2005a), a partir dessa relação entre fontes e jornalistas, é

possível explicar como se dá o papel ideológico dos meios de comunicação. Isso

não significa que os meios de comunicação não possuam autonomia, porém são os

definidores primários (as fontes as quais os jornalistas sempre recorrem) que dão o

enquadramento ao tema. Sousa (2002) afirma que a mídia não é um monólito

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ideológico, porém serviria para reproduzir uma visão ideológica, que legitima o senso

comum e ordem social vigente.

Em resumo, na teoria estruturalista, são os definidores primários (fontes) que

comandam a ação de produção da notícia e fazem com que os espaços das notícias

sirvam para reproduzir a ideologia dominante. Sousa considera as rotinas

produtivas, as fontes, os valores notícias e a estrutura organizacional como fatores

que, combinados, mantêm um sistema de reprodução de ideologias dominantes. No

caso do meio ambiente, notícias que mantém a ideologia capitalista são aquelas

impostas pelas assessorias de grandes empresas, tentando, por exemplo, minimizar

os aspectos da poluição, por meio da divulgação de novas tecnologias.

A partir da linha de raciocínio, em que as fontes detêm poder sobre a

produção (teoria estruturalista), os jornalistas são meros instrumentos utilizados por

elas. Assim, os meios de comunicação estariam a serviço de uma ideologia

hegemônica da sociedade. Mas, o que se deve levar em consideração é que,

segundo Sousa (2002), são os jornalistas que determinam e dão acesso a

determinadas fontes.

Outra teoria que se assemelha à estruturalista e conceitua a notícia como

construção é a teoria interacionista, porém, as mesmas divergem quanto a relação

fontes e jornalistas (TRAQUINA, 2005a). Nesse caso, as notícias são definidas como

o resultado do processo de percepção, seleção e transformação de uma matéria

prima num produto. O que define as notícias é o fator tempo e para se enquadrar

nessa exigência os jornalistas impõem estratégias (TRAQUINA, 2005a).

Pelo fato de um acontecimento poder acontecer em qualquer parte e a

qualquer momento, é preciso impor essas estratégias. Quanto à ordem no espaço,

isso é resolvido por meio das redes noticiosas, o que resulta na divulgação de

acontecimentos de um lugar e não de outros. A organização se dá por

territorialidade geográfica, especialização organizacional e de temas. As estratégias

resultam nos agrupamentos de notícias de um só espaço e na falha de outros, na

escolha por determinados temas e exclusão de outros, nos locais que só viram

notícia quando o fator é a desordem (acidentes, crime, deslocações de autoridades,

enchentes) etc.

Com relação à ordem no tempo, isso também é ‘resolvido’ por meio das redes

noticiosas que ajudam a empresa a acompanhar com mais facilidade o ritmo das

redações, incluindo aqui a interferência das fontes mais próximas e de mais fácil

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acesso. Nesse sentido, entende-se a produção noticiosa como resultado de um

processo de interferência de diversos agentes sociais, principalmente de

profissionais do campo político, que tentam fazer das suas necessidades algum tipo

de acontecimento para ser divulgado pelos jornalistas.

Traquina (2005a) revela que o acesso das fontes aos meios de comunicação

é essencial para a definição das notícias, pois nem todos possuem o mesmo tipo de

acesso. Dentre eles destacam o acesso habitual, disruptivo e direto. Nesse caso o

acesso habitual tem forte relação com a produção e com o sustentáculo das

relações de poder.

Apesar da possibilidade do acesso disruptivo de certa parcela da população

aos meios de comunicação, essa teoria também defende o papel da mídia como

mantenedora da ideologia dominante e favorável aos mais poderosos. Isso está

estreitamente relacionado à criação da rede noticiosa, pois a lógica da concentração

de forças dos mais poderosos está na formação da rede, na relação entre jornalistas

e fontes, nos critérios de avaliação que os jornalistas utilizam para interagir com os

diversos agentes sociais, no cultivo das fontes, etc. (TRAQUINA, 2005a).

Devido aos critérios de avaliação das fontes (autoridade, produtividade e

credibilidade) estarem fortemente relacionados com as rotinas produtivas e as redes

noticiosas, a fonte oficial acaba sempre sendo a mais procurada. E dessa forma,

segundo Traquina (2005a), os jornalistas se tornam dependentes dos canais de

rotina por necessitarem impor ordem no espaço e no tempo, e conseqüentemente

estabelecerem uma interdependência com as fontes oficiais.

As fontes de jornalismo ambiental são os movimentos ambientalistas,

ecologistas, entidades que cometem crimes ambientais, autoridades (ministros,

secretários, diretores de órgãos públicos), pesquisadores, biólogos, zoólogos,

botânicos, agrônomos e a população. À frente, faremos a divisão das fontes nas

categorias dispostas pelos autores, mas já dá para saber quem são aquelas que

tendem a contribuir para a lógica da ideologia dominante na sociedade e quais

precisam “promover” acontecimentos para ganhar espaço na mídia.

Além disso, para a teoria interacionista, enquanto as fontes oficiais são

predominantes no jornalismo, os outros agentes sociais não têm acesso regular. Um

exemplo, utilizado por Traquina (2005a), é dos movimentos sociais que dificilmente

veem seus acontecimentos virarem notícia. O mesmo caso acontece com as ONGs

ambientalistas que perdem espaço na mídia para as grandes empresas. Sousa

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(2002) afirma que o acesso é prioritário para as fontes oficiais organizacionais nos

veículos. Algumas características disso é o horário do expediente das empresas.

Sobre a relação entre a teoria estruturalista e interacionista, Traquina (2005a)

escreve que as duas defendem que as notícias são um aliado das instituições legitimadas. Devido à necessidade de impor ordem no espaço e no tempo, a “estória” do jornalismo, no seu funcionamento diário, é descrita como sendo essencialmente “estória” da interação de jornalistas e fontes oficiais. As fontes provêm, sobretudo da estrutura do poder estabelecido e, pó isso, as notícias tendem a apoiar o status quo (TRAQUINA, 2005a, p. 199).

Apesar das duas teorias partilharem da idéia de que as fontes oficiais detêm

vantagens importantes, a teoria interacionista defende que esse papel dominante

não é algo automático, mas sim resultado de uma ação estratégica das próprias

fontes. Isso pode ser explicado por quatro fatores listados por Traquina (2005a):

capitais econômicos, institucionais, sócio cultural e suas estratégicas de

comunicação. Sousa (2002) também fala sobre o competitivo acesso das fontes aos

meios jornalísticos, pois elas desenvolvem táticas para criar uma relação com os

jornalistas e com determinados veículos, sempre com o objetivo de pautar os

assuntos que desejam.

Pena (2006) considera as fontes oficiais as mais tendenciosas, que

preservam informações e divulgam somente aquilo que é de seu interesse. Institutos

de pesquisa, segundo o autor, fazem parte dessa categoria, tendo como objetivo

divulgar as pesquisas, mas esconder o que não querem tornar público. O fato de

essas instituições serem considerados fontes oficiais, faz com que o jornalista não

os utilize como únicas fontes de informação, como veremos mais a frente.

Em resumo, para Traquina (2005a) pode-se dizer que as notícias são uma

construção social da realidade que envolve, além do acontecimento, os

constrangimentos organizacionais, os fatores econômicos, as rotinas produtivas, os

valores notícias e as fontes. Outro autor que partilha dessa mesma concepção de

Traquina, sobre o que é notícia e o que interfere na sua produção é Jorge Pedro

Sousa. Em seu livro, Teorias da notícia e do Jornalismo, ainda na introdução, ele

define as notícias como artefatos lingüísticos que representam determinados

aspectos da realidade. Segundo o autor, no processo de fabricação desses artefatos

lingüísticos interagem diversos fatores de natureza pessoal, social, ideológica,

cultural, histórica e do meio tecnológico. Além disso, Sousa (2002) enfatiza que

embora as notícias representem determinada parcela da realidade, elas contribuem

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para construir socialmente novas realidades a partir da leitura e interpretação das

mesmas pelos leitores.

Sousa (2002) cita Shoemaker e Rese para fazer referência a cinco possíveis

níveis de interferência no conteúdo das notícias: nível individual (jornalista), nível das

rotinas produtivas, nível organizacional, nível externo as organizações e nível

ideológico. Percebe-se que os autores enfatizam os fatores externos às redações,

defendendo uma teoria macro-sociológica para explicar a produção noticiosa, assim

como Traquina e Sousa.

Sousa parte de uma visão construcionista das notícias para discutir as teorias

do jornalismo ao longo do seu livro. Segundo ele, é possível fazer um

aproveitamento das teorias já estudadas por outros autores para defender a sua

visão sobre o processo de produção. Essa relação sustentada pelo autor, também

pode ser percebida ao longo deste capítulo, onde partimos da teoria do espelho para

explicar a trajetória e desenvolvimento das demais teorias.

Outro autor que também faz referência às notícias como resultado de diversos

fatores que influenciam na produção é Schudson, citado por Sousa (2002). Segundo

ele, as notícias são o que são podem ser explicadas pela inter-relação da ação

pessoal, social e cultural da sociedade. Sousa enfatiza o fato de que estudos

recentes também partilham da mesma idéia de que o papel dos jornalistas na

produção sofre influência de fatores externos. Sobre isso, escreve: Os estudos mais recentes parecem indicar que fatores “ambientais”, “ecossistemáticos”, como as deadlines, o espaço, as políticas organizacionais, as características do meio social e da cultura desempenham um papel importante na construção de notícias. [...] Podemos afirmar agora que os fatores “ecossistemáticos” são vistos agora como o fator crítico para a construção das notícias e, consequentemente, e pra dissonância não pretendida entre as representações da realidade que as notícias são e a realidade em si (SOUSA, 2002, p.40).

Outro conceito que envolve as teorias, mas que nesse espaço terá uma

discussão separada são as rotinas produtivas que também possuem influência na

produção das notícias, acima do poder dos próprios jornalistas. Elas podem ajudar a

explicar o porquê as notícias de meio ambiente são como são no Jornal Folha de

São Paulo, por exemplo, a partir das rotinas dos jornalistas.

Tanto Traquina quanto Sousa, falam sobre as rotinas produtivas como fator

que interfere na produção devido ao curto tempo de produção e conseqüentemente

à construção da rede noticiosa que facilita o trabalho do jornalista. No processo de

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produção jornalística, verifica-se a ocorrência de diversos tipos de acontecimentos

que de alguma forma tem ligação com as fontes escolhidas na produção.

Segundo Sousa (2002), há os acontecimentos imprevistos, pseudo-

acontecimentos, acontecimentos mediáticos, acontecimentos não categorizados e

não acontecimentos. Essa categorização feita por Sousa tem forte relação com a

influência das fontes na produção. Os acontecimentos imprevistos se impõem à

mídia, porém os acontecimentos previsíveis (eventos) são ‘impostos’ à mídia ou até

‘impostos’ pela mídia (SOUSA, 2002).

Em face desses acontecimentos imprevisíveis, as organizações noticiosas

procuram impor ordem no tempo. As redes têm o papel de buscar notícias por área

geográfica e por especialização organizacional e temática. Os meios também fazem

uma agenda, onde já tem acontecimentos pré-lançados, muitos deles indicados por

possíveis fontes e assessorias. Dessa forma, como explica Sousa, grande parte das

notícias, já são previsíveis e fazem parte da agenda dos jornalistas.

Nesse agendamento, segundo Denis McQuail, citado por Sousa (2002), é

possível diferenciar noticias programadas (serviço de agenda), não programadas

(acontecimentos inesperados) e fora do programa (não precisam de difusão

imediata, são atemporais). No caso do jornalismo ambiental, consideram-se notícias

programadas, aquelas que pautam eventos sobre o tema, congressos, encontro de

pesquisa, conferências etc. As não programadas, geralmente são aquelas

relacionadas a catástrofes naturais, queimadas, descobertas da ciência etc. As

consideradas fora do programa, são notícias que cotidianamente podem estar

presentes nos veículos, mas que independem de um acontecimento ou agenda. É o

caso de reportagens sobre reciclagem de lixo, formas de preservação ambiental,

entre outras.

Na tentativa de situar a produção jornalística de meio ambiente num contexto

histórico e social da sociedade, trataremos na próxima etapa deste capítulo, da

especialização e segmentação jornalística, características do final do século XX. O

trabalho também vai abordar a relação do jornalismo ambiental com o científico.

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2.3 ESPECIALIZAÇÃO E SEGMENTAÇÃO JORNALÍSTICA PARA ATENDER A

DEMANDA

Vivemos numa Sociedade da Informação, onde a todo o momento somos

bombardeados por informações, seja via internet, televisão, rádiojornal ou revista.

Porém, com o passar dos anos, além das mudanças ocorridas nas redações, como

por exemplo, o aparecimento das inovações tecnológicas que auxiliaram a produção

noticiosa, houve também uma modificação na relação do público com as

informações, o que abriu novos leques para a produção informativa (ABIAHY, 2005).

Trata-se da informação especializada2 e segmentada que busca profundidade e

personalização para atender o público, cada vez mais exigente.

Para falar de jornalismo especializado, aparece outro conceito chamado

jornalismo segmentado. Para fazer a diferenciação entre um conceito e outro,

relaciona-se a segmentação com a escolha por públicos específicos e a

especialização pelo tema do veículo. Em partes, essa nova tendência retira a

imagem da informação massificada e o profissional tende a se aprofundar para

produzir. No caso dos jornalistas que trabalham com jornalismo ambiental, por

exemplo, é preciso ter certo conhecimento prévio sobre o assunto. Para Abiahy

(2005), são consideradas produções segmentadas desde um programa televisivo

para um público específico até as revistas especializadas.

Já sobre sua definição de jornalismo especializado, a autora inclui tanto a

abordagem de um assunto específico quanto a abordagem para um público

especializado sobre determinado tema. Essa concepção de jornalismo especializado

é questionada por Ferreira (2007), pois segundo ele, o jornalismo especializado não

está apenas relacionado aos procedimentos profissionais do jornalista que cobre

áreas específicas. O fato de o jornalista cobrir determinada área não significa que

está fazendo jornalismo especializado.

Ferreira (2007) afirma que O termo Jornalismo especializado não está associado imediatamente à cobertura de áreas especializadas, mas a algo intrínseco ao jornalismo em si. Ou seja, é algo muito mais endógeno do que exógeno ao jornalismo. É endógeno porque o jornalismo especializado evoca para si a habilidade e conhecimento do profissional para lida com as sofisticadas ferramentas de elaboração, tratamento e divulgação da informação jornalística (FERREIRA, 2007, p. 2).

2 Neste trabalho, apesar das divergências sobre o assunto, o conceito de especialização está relacionado ao tema e o de segmentação relacionado à definição de um público específico.

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Ferreira defende que o fato do jornalista cobrir rotineiramente um mesmo

tema e adquirir certa habilidade, não significa que seja especialista. “Não se pode

pensar que se trata de jornalismo especializado o simples fato de se estar cobrindo

áreas especializadas e tampouco pelo fato do jornalista cobrir cotidianamente

apenas uma área” (FERREIRA, 2007, p. 3). O cerne da especialização está no

processo de contextualização, conexões e resgate do passado, interpretação do

presente e a projeção para o futuro dos fenômenos abordados.

Para Ferreira (2007), deve-se trabalhar com o conceito de que existem vários

jornalismos que atuam e cobrem áreas especializadas e não um jornalismo

especializado. Com relação a uma publicação especializada, está deve garantir os

princípios do jornalismo e, além disso, conhecer o público a que é destinada.

Porém anterior a esses conceitos trabalhados por Ferreira (2007), Lustosa

(1996) coloca que esse processo de especialização nasce no Brasil com outro

propósito. Segundo o autor, “durante o regime militar, com o esvaziamento da esfera

pública, os jornalistas, mais do que nunca, foram obrigados a trabalhar com

assuntos especializados, principalmente econômicos” para deixar de tratar de

assuntos que eram censurados pelo regime político (LUSTOSA, 1996, p.111). Dessa

forma, novos assuntos ganharam espaço no jornal.

Segundo Trigueiro (2005), não se deve exigir do jornalista a formação do

especialista, pois na verdade, o especialista é a fonte. “Ao jornalista cabe a função

de identificar os assuntos que merecem visibilidade e, especificamente na área

ambiental, traduzir os saberes da ciência de forma clara e objetiva” (TRIGUEIRO,

2005, p.1). Para Schwaab (2005), academicamente é possível definir o jornalismo

especializado como a produção com o máximo de profundidade, sofisticação e

distante da generalização. Conceito este, que de alguma forma se aproxima daquele

proposto por Ferreira.

Para Mattelart (1999), a sociedade passou por um processo de

individualização, o que reflete diretamente sobre a produção de informação e na

busca por informação personalizada. Não é mais possível imaginar um público

padronizado e produzir um só veículo para atender a todos. Atualmente, o

consumidor prefere opções de escolha na hora de adquirir um produto, e isso faz

com que o mercado modifique sua rotina de produção na tentativa de atendê-los. A

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mesma coisa acontece nos veículos de comunicação, em que as empresas tendem

a apresentar uma diversidade maior de programas, cadernos, etc.

Além da discussão dos interesses das empresas em atender as fatias de

mercado, Abiahy (2005) apresenta outros dois pontos relacionados com a mudança

no mercado consumidor e conseqüentemente nas empresas. Ao mesmo tempo em

que a procura por um assunto específico representa a necessidade de identificação

e o elo com outras pessoas que também apreciam o mesmo assunto, esse processo

significa a perda da coletividade, já que os assuntos não são mais incomuns entre o

público em geral.

Dessa forma, a segmentação do público e a especialização do mercado

envolvem os interesses econômicos das empresas, o individualismo da população, a

impossibilidade das discussões públicas (pois cada um tem conhecimento mais

sobre um assunto específico e do que em assuntos que interessam a todo mundo) e

a busca por um assunto mais aprofundado. Porém, a especialização nas redações é

o reflexo das modificações nos gostos dos leitores, o que pode ser explicado pelas

mudanças do mundo contemporâneo. “Na medida em que diferenças e divergências

foram afrouxando os laços da coletividade, os indivíduos foram se fechando em seus

interesses particulares e constatamos hoje o quanto a comunidade encontra-se

dividida em nichos os mais diversos” (ABIAHY, 2005, p. 5).

Segundo a autora, enquanto as publicações especializadas atendem os

interesses das áreas específicas, como por exemplo, saúde, educação, meio

ambiente e moda, as produções segmentadas são uma resposta para determinados

grupos de pessoas que buscam uma linguagem e/ou uma temática apropriada ao

seu interesse e/ou contexto. Assim, o papel do jornalismo especializado passa a

cumprir a função de agregar indivíduos de acordo com suas afinidades.

Ciro Marcondes Filho citado por Abihay (2005), defende a especialização

jornalística como forma de aprofundar a informação e ao mesmo tempo atender os

interesses dos leitores, que conseqüentemente terão habilidade para entender e

interpretar o que leram, pela proximidade com o assunto. Os veículos generalistas

tendem a falar de quase tudo, porém de forma mais superficial.

Na produção televisiva, as TVs a cabo são exemplos de espaços para o

jornalismo segmentado, que atraem uma audiência específica com algo diferente da

programação das TVs generalistas. Nesse caso, a televisão segue a tendência das

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revistas. As generalistas continuam existindo, mas abre o leque de possibilidade de

veículos especializados e para um público segmentado.

Outro âmbito dessa discussão é a diversidade de pontos de vista e a

democratização da informação. A partir da necessidade por informação diferenciada

e do surgimento de uma mídia para atender a demanda, abre-se um leque de

opções e conseqüentemente aumenta a possibilidade da informação chegar até o

público, o qual possui um perfil que contribui para sua identificação. Não basta ter

informação, é preciso que esta esteja de acordo com a quem se destina.

No caso deste trabalho, a importância de discutir o jornalismo especializado

está no fato da temática meio ambiente ser considerada um desmembramento do

jornalismo especializado. O jornalista Roberto Villar (1997) é um dos defensores do

jornalismo ambiental como uma especialização do jornalismo. No próximo tópico é

abordado a função das editorias na produção jornalística e seu papel no

desenvolvimento do jornalismo e também mais especificamente na Folha de São

Paulo.

2.4 O PAPEL DAS EDITORIAS NO DESENVOLVIMENTO DO JORNALISMO

ESPECIALIZADO E NA ORGANIZAÇÃO DOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO

O desenvolvimento do jornalismo especializado possui relação com o

surgimento das editorias nos veículos de comunicação, as quais são consideradas

como sendo responsáveis pela divisão dos temas para que cada um tenha seu

determinado espaço. Essa discussão sobre a influência das editorias no

desenvolvimento das especializações, inclusive do jornalismo ambiental está

relacionada com o fato de que, na análise do Jornal Folha de São Paulo, foi

observado em quais editorias pertencem os textos, o tema e outros aspectos

relacionados. Segundo Lustosa (1996), o desenvolvimento do jornalismo

especializado é resultado de uma nova lógica que passa a permear a produção

jornalística: a divisão do trabalho nos veículos de comunicação. A mídia tende a

trabalhar com as mesmas lógicas de uma empresa.

Diz o autor que A exemplo do que ocorreu na produção industrial, os veículos de comunicação departamentalizaram as redações nos anos 1960 com a criação de editorias especializadas, encarregadas da cobertura jornalística de atividades ou setores específicos. Com a reorganização, desapareceu a

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figura do secretário de redação, que era uma espécie de faz e sabe-tudo (LUSTOSA, 1996, p. 109)

Para o autor, foram essas mudanças que levaram ao surgimento das

produções especializadas. Nilson Lage citado por Lustosa (1996, p. 110) afirma que

“as reformas gráficas e editoriais se amiudaram a partir de 1964, quando a

repressão do conteúdo estimulou a busca de apresentação atraente, moderna e o

regime autoritário ergueu a bandeira da eficiência e da tecnocracia”. E, mesmo

sendo considerada por esse autor como resultado das impossibilidades impostas

pelo novo regime as especializações não deixaram os jornais após o fim da ditadura: Os fatos divulgados pelos veículos de comunicação, notadamente os jornais, passaram a ser narrados por especialistas dos diversos temas ou setores, cujo material da cobertura jornalística seria distribuído em páginas ou cadernos para cada editoria. Assim, encontram-se em espaços próprios os assuntos econômicos, políticos, etc. (LUSTOSA, p. 111)

Hoje as editorias passaram a ter um novo sentido: a organização para o leitor.

Segundo Lustosa (1996), não se edita mais um jornal sem um nível de distribuição

dos textos em suas páginas, para que o leitor saiba onde encontrar o que lhe

interessa. Os jornais já têm as editorias distribuídas em páginas específicas na

tentativa de melhor atender o público, que adquire o hábito de buscar editoria para

encontrar o tema que deseja. Segundo Abiahy (2005, p. 15), é “o nível de interesse

dos leitores pelo tema tende a influenciar na decisão das editorias. Por isso é

notável o crescimento dos suplementos especializados que passaram a fazer parte

dos jornais diários”.

Na Folha de São Paulo, é bastante visível a criação de editorias específicas.

Por meio dos dados obtidos no site do jornal sobre a criação das editorias, cadernos

e suplementos percebe-se que aos poucos cada assunto, que antes era agrupado

com os demais, vai ganhando relevância e passa a ter um espaço próprio e

independente. Já outros, surgiram com lugar próprio e depois perderam força e

foram incorporados a outros cadernos. As informações possibilitam ainda observar

que essa segmentação do jornal em temas específicos aparece mais expressiva no

final nos anos 80 e início dos anos 90.

Atualmente o jornal é dividido em sete cadernos e 14 suplementos, cada um

com um tema específico, porém nenhum em meio ambiente, o que provoca a

dispersão textos ao longo de várias editorias. Brasil, Cotidiano, Ciência, Dinheiro,

Esporte, Ilustrada e Mundo são os cadernos temáticos diários apresentados.

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Informática, Equilíbrio, Turismo, Folhinha, Folhateen, Mais, Revista da Folha,

Veículos, Construção, Empregos, Negócios, Imóveis, Guia da Folha e Moda são os

suplementos que circulam semanalmente, maior parte aos Domingos, exceto Moda,

que tem periodicidade Trimestral.

Essa divisão atual do jornal é resultado de diversas modificações que

aconteceram ao longo do tempo3 nas editorias. Alguns dados podem ajudar a

mostrar essas mudanças e também a expressividade das décadas de 80 e 90 nesse

processo. A editoria Brasil surge com este nome em 1991, mas já existia

anteriormente com o nome Política. Cotidiano aparece em 1991, mas antes tinha a

mesma proposta com o nome de Cidade, a qual surgiu em 1887. Ciência foi criada

em 1989, circulando apenas nas sextas e a partir de 1992 integrava o caderno Mais.

Diariamente, ciência era apenas uma seção juntamente com Atmosfera, ocupando

apenas meia página. Em 2000, ganha cabeçalho próprio, ocupa uma página inteira e

passa a ser editoria independente. Dinheiro surgiu em 1991, mas antes tratava do

mesmo assunto com o nome Economia, a qual teve início em 1986. Já a Editoria de

Esporte aparece pela primeira vez em 1972 com circulação nas sextas-feiras e em

1988 ganhou periodicidade diária e espaço próprio. Mundo surge com este título em

1991, mas já existia anteriormente com o nome de Exterior. A editoria Ilustrada é a

mais antiga, pois surgiu ainda em 1960 e anterior a isso já estava presente nos

jornais Folha da Tarde, Folha da Manhã e Folha da Noite. O espaço próprio para a

opinião do jornal e também de leitores é datado de 1975, já com o cabeçalho

‘Opinião’.

Os cadernos e suplementos que não são diários também fazem parte dessa

tendência de especialização e segmentação do mercado. Turismo, por exemplo, já

existia anterior a 1960 (quando foi feita a junção dos três jornais em um só,

chamando-o de Folha de São Paulo), mas só em 1966 ganhou espaço independente

(antes era seção do caderno Ilustrada). O caderno Agrofolha, especializado em

jornalismo rural, teve início em 1986 no formato tablóide e em 1989 passa para

standard. Informática surgiu em 1986, FolhaTeen em 1991 e Folhinha em 1963, os

três já com cabeçalho próprio. Já o caderno Mais, que circula sempre aos domingos

e engloba diversas editorias foi criado em 1992, assim como a Revista Folha. Esta

3 Os dados sobre a história das editorias na Folha de São Paulo é resultado de pesquisa no site do jornal (www.uol.com.br/folha/circulo) e também de informações repassadas por telefone pelos atendentes do banco de

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última teve outros nomes anteriormente: Folha D (1989) e Revista D (1990). O

suplemento Veículos teve início em 1985, ligado ao caderno Classifolha e ganhou

autonomia em 1990.

Até mesmo os Classificados passaram por mudanças durante os anos. O

Classifolha Tudo aparece já em 1987. Já Classifolha Imóveis surgiu em 1983 e em

1991 passa a ser apenas Imóveis e o Classifolha Emprego nasce em 1989 e ganha

autonomia em 1991. Há também as editorias, suplementos e seções que em algum

momento tiveram espaço próprio, mas que desapareceram com o tempo. É o caso

de Folhetim (1977-1989), Viva Folha (1988-1989), Casa e Companhia (1985-1989),

Porto Folha/navegação e Transporte (1988-1990). Outros como Letras (1989-1992)

e Consumo (1993-1994) e Negócios (1987-1991) foram absorvidos por outros

cadernos maiores.

Esses dados ajudam a entender o surgimento das editorias e os diversos

tipos de especializações que foram aparecendo com o passar do tempo, como forma

de melhor atender o público. Na Folha de São Paulo, as décadas de 80 e 90 foram

períodos de grandes mudanças em quase todas as editorias.

Porém, é importante ressaltar que, essa busca do jornal em se especializar

em diversos assuntos tem um embate com a questão do trabalhador polivalente,

conceito proposto por Braverman citado por Baldessar (1998). Segundo o autor, o

jornalista não seria especialista e polivalente ao mesmo tempo, pois nesse último o

jornalista seria caracterizado como sendo um funcionário com multifunções e

conhecimento para exercer diversas tarefas, ao contrário de um jornalista

especializado que trabalharia sempre com um tema específico, estudando e

tentando conhecê-lo melhor. Essa discussão está relacionada com o fato de que, a

partir dos resultados obtidos, percebe-se que apesar do jornalismo ambiental ser

considerado uma especialização, ele não tem um espaço próprio no jornal e não

apresenta as características desse tipo de produção como é o caso da

contextualização, textos longos e aprofundados, enfatizados por Schwaab (2005).

Isso significa que, apesar do jornalista trabalhar um assunto específico ele é um

trabalhador com muitas funções e não apenas com aquela específica e isso poderia

afetar a produção por não haver uma maior dedicação nas produções pelo fato de

ter outras tarefas na redação do jornal.

dados do jornal, porém algumas das editorias possuem menos ‘história’ do que outras e outras não constam a data do surgimento, pois faltam dados.

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Travanca (2000) fala sobre a divisão das redações em trabalhar com temas

específicos como sendo uma divisão de conhecimentos. Segundo a autora, as

editorias apontam para uma topografia do conhecimento, em que os saberes são

distribuídos em áreas “estanques e distintas fisicamente” que estão relacionadas

com a realidade dos indivíduos.

A autora diz que É uma expressão da realidade, como se a vida pudesse ser e fosse compartimentada em seções. [...] A representação que os jornais fazem da realidade é uma construção sobre essa mesma realidade. E um dos pilares desta construção é a criação e organização da vida em ``editorias e seções'', e conseqüentemente em hierarquias (TRAVANCA, 2000, p.3)

Alzamora (2006) trabalha com o desenvolvimento da hipermídia e fala que os

anos 80 podem ser considerados um período de personalização e segmentação.

Segundo ela, a multiplicação de editorias pode ser considerada uma das formas que

contribui para esse processo, pois elas têm o papel de segmentar os assuntos e

abordagens e assim cada pessoa lê aquilo que mais lhe couber.

Mesmo não tendo um lugar específico no jornal Folha de São Paulo, o tema

meio ambiente é considerado por alguns autores um tipo de especialização

juntamente com economia, política, esportes, entre outros. E, além disso, a temática

ambiental perpassa pelo jornalismo científico, o qual vai ser discutido a partir de

agora, na próxima parte deste capítulo.

2.5 O JORNALISMO CIENTÍFICO COMO FONTE DE INFORMAÇÃO PARA A

POPULAÇÃO

Foi na década de 80 que o jornalismo científico teve maior avanço no Brasil e

uma das razões para isso, foi a consolidação da pesquisa científica nacional

(Oliveira, 2002). Esse processo é significativo para a desmistificação do estereótipo

do pesquisador e para promover a alfabetização científica na população. Segundo

Burkett (1990) o jornalismo científico é um entre os vários novos tipos de

comunicação especializada que surgiram no século XX.

Um dos papéis fundamentais desse jornalismo, segundo Oliveira (2002) é

atender as necessidades das pessoas, levando até elas informações científicas que

interferem nas suas vidas. Além dessa importância da divulgação das informações

científicas, a população é responsável pelas iniciativas à pesquisa, pois a maior

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parte dos investimentos em ciência e tecnologia vem dos cofres públicos, e deve

retornar como benefícios para a sociedade (OLIVEIRA, 2002). Nesse processo de

divulgação científica, os meios de comunicação de massa têm papel fundamental e

muitas vezes é a única forma de acesso a informação que a população possui.

A relação entre imprensa e ciência possui indícios de ter se iniciado ainda

com o próprio desenvolvimento dos tipos móveis, em meados do século XV

(OLIVEIRA, 2002), onde os europeus já possuíam conhecimentos sobre o assunto.

No Brasil, um fato marcante na ciência foi a criação, em 1948, da Sociedade

Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Outro passo foi a criação do

Conselho Nacional de Pesquisas, o CNPq, em 1951.

Oliveira (2002) afirma que a divulgação científica foi uma das primeiras formas

de jornalismo especializado que chegou ao Brasil, influenciada pelas grandes

revoluções científicas na Europa e Estados Unidos. Entre os pioneiros na área,

encontramos Euclides da Cunha, que escreveu Os Sertões no início do Século XX.

“Euclides preconiza o jornalismo científico e ambiental contextualizado e

interpretativo, no qual a informação científica dá suporte à compreensão da

realidade” (OLIVEIRA, 2002, p. 33).

Já na década de 80, o salto do jornalismo científico se deu também pelo

surgimento das Revistas Ciência Hoje e Ciência Ilustrada, além da

Superinteressante e da Globo Ciência. Em meados da mesma década, foi a vez dos

jornais cederem espaço para editorias e cadernos especializados no assunto.

Porém, na década de 90, a autora afirma que devido ao baixo número de

profissionais na área, houve uma retração nas empresas tradicionais de

comunicação.

Contrariando Oliveira, França (2005) afirma que na década de 90 houve um

crescimento de equipes de comunicação a serviço de pesquisas. Isso elevou as

preocupações sobre a relação do jornalista e dos cientistas e também aumentou a

visibilidade do assunto e conseqüentemente percebeu-se maior interesse do público.

França observa ainda, que nesse período houve mudança nas redações do jornais.

As notícias de ciência deixaram de ocupar parte do espaço de textos internacionais

e ganharam seu próprio espaço. Os jornalistas passaram a valorizar as pesquisas

brasileiras e dar atenção aos assuntos nacionais, como é o caso da Amazônia e da

biodiversidade. Anterior a essa mudança, 90% das notícias sobre ciência vinha de

agências internacionais.

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O principal papel do jornalismo científico, como já foi colocado acima é levar à

população aquilo que é de interesse público, produzido pelos cientistas. Segundo

Ivanissevich (2005), os meios de comunicação são o caminho mais fácil de

intensificar a divulgação científica para a população. Dessa forma, o que nos

interessa aqui é a linguagem utilizada para levar a informação até eles, pois,

enquanto o cientista produz trabalhos dirigidos para um leitor específico, o jornalista

precisa usar uma linguagem para que a população possa compreender a

informação. Segundo Oliveira (2002), a escrita jornalística deve ser amena,

coloquial, atrativa, objetiva e simples, pois ela é determinante para o sucesso ou

fracasso da informação.

No caso de notícias de meio ambiente, por exemplo, além de o jornalismo

científico ter o papel de contextualizar e falar sobre as perspectivas para o futuro, as

conseqüências e as causas de determinado acontecimento ou descoberta, é

necessário saber levar a informação ao público de maneira que este possa

interpretar e compreender a notícia. O assunto é pertinente e deve chegar ao

conhecimento do publico, porém o jornalista precisa saber como fazer isso por meio

da linguagem.

Segundo Burkett (1990, p. 6), “a redação científica tende a ser dirigida para

fora, para audiências além da estreita especificidade científica onde a informação se

origina”. O escritor de ciência possui o papel de comunicador e, além disso, de

educador da sociedade para os temas que as ciências abrangem. A mídia tem o

papel de informar o público, porém, essa informação precisa despertar interesse, de

acordo com os valores notícias apresentados pelos teóricos da comunicação.

O jornalismo busca na informação sobre ciência algo para interpretar o

conhecimento da realidade. Isso ocorre quando o jornalista aborda um

acontecimento e relaciona este com os fatores causadores, contexto etc. Segundo

Oliveira (2002), a informação científica pode estar presente em qualquer editoria,

pois ela é responsável em ajudar a entender os fenômenos sociais e a interpretar as

causas e conseqüências dos fatos, independente do assunto. A relação entre

jornalismo ambiental e jornalismo científico se sustenta já a partir dessa afirmação

da autora.

Segundo Oliveira (2002), a ética nas questões ambientais é um dos principais

temas do jornalismo científico. Em 1992, no Encontro Internacional de Imprensa,

Meio Ambiente e Desenvolvimento, que antecedeu a ECO-92, foi discutida a postura

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dos jornalistas na cobertura de questões ambientais e a partir disso foi divulgada a

Carta de Belo Horizonte, onde continham os princípios éticos a serem seguidos no

jornalismo ambiental, tais como a pluralidade de pontos de vista, comprometimento

com a qualidade de vida no planeta, entre outros.

O jornalismo ambiental4 envolve discussões sobre diversos assuntos, desde

descobertas até os transgênicos e o efeito estufa. Esses assuntos envolvem a

poluição gerada pelas grandes empresas nas cidades, os fabricantes de

agrotóxicos, cientistas, ambientalistas, ONGs, entre outras entidades. Isso revela

um cenário onde há disputa pelo melhor discurso, o que envolve os jornalistas na

hora de produzir o texto. Segundo França (2005), o jornalista não deve se contentar

com apenas uma fonte. É necessário confrontar as informações para evitar ter um

discurso apenas como se fosse a verdade absoluta.

No caso específico dos transgênicos, França (2005) argumenta que o assunto

é bastante confuso e repleto de discursos que querem mais ganhar o espaço na

mídia do que esclarecer as dúvidas ao público. O tema envolve governo federal,

empresas privadas, comunidade científica e movimentos sociais. E no meio dessa

discussão que se estende há vários anos, os agricultores continuam a plantar

transgênico sem entender de fato, do que se trata a discussão. Segundo a autora,

passaram-se vários anos e não se chegou a um consenso sobre o assunto e a

população tem desconfiança sobre as partes envolvidas.

Segundo Oliveira (2002), no caso do jornalismo científico é preciso tratar as

questões ambientais no nível da universalidade, ou seja, tratar o problema local, mas

tendo em mente que ele está vinculado a contextos sociais, econômicos e políticos

globais e que se insere num leque de problemas semelhantes no mundo todo.

Discussão essa, que trataremos mais a frente quando estivermos falando

especificamente sobre jornalismo ambiental.

Burkett (1990) fala ainda sobre a falta de espaço e a competição entre os

assuntos a serem pautados pela mídia. Isso varia conforme os níveis de

popularização, educação e esclarecimento. O veículo, a partir do conhecimento que

tem do seu público faz a seleção dos fatos. Além disso, dependendo do meio usado

para transmitir a informação, leva-se em consideração o grau de impacto. No caso

4 Especialidade do jornalismo que trabalha com a temática ambiental e se desenvolveu no final do século XX, especialmente na década de 90. O item 2.5 desse capítulo trata especificamente sobre o termo.

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das notícias de meio ambiente, geralmente têm mais repercussão na sociedade

quando bem escritas pelos jornalistas e possibilitando a interpretação por parte do

leitor. Isso se dá pelo fato de incluir uma diversidade de subtemas que têm forte

relação com o dia-a-dia da população, com é o caso da produção de alimentos

orgânicos, lixo, aquecimento global, mudanças climáticas, poluição, entre outros.

Burkett coloca ainda, que as notícias científicas têm valores notícias além

daqueles comuns a toda produção jornalística. Necessidade de sobrevivência,

cultura, conhecimento e demografia são os valores notícias tratados pelo autor como

intrínsecos da redação sobre ciência. Quando um grande interesse de leitores se

volta para um tema que lida com aspectos fundamentais para a sobrevivência

humana, tais como moradia, saúde e segurança, as notícias que abordam esses

aspectos pautam os jornais. É o caso das leis de preservação do meio ambiente e a

lei do fluorcarboneto que poucos achavam que causaria problemas à camada de

ozônio e que foram pautadas pela mídia. Esse tipo de pauta é chamado de “análise

de risco” por Burkett (1990, p. 61). Nesse caso, um valor notícia que justifica a

presença das notícias de meio ambiente nos veículos de comunicação é a

necessidade de sobrevivência, já que os assuntos são ligados diretamente ao dia-a-

dia da população. Outras reportagens que têm prioridades e tendem a dominar os

interesses dos leitores são as necessidades culturais ou de “estilo de vida”, onde se

inclui os temas na área de alimentação e nutrição. O valor notícia demografia está

relacionado ao processo de definição das noticias pelo conhecimento do público a

quem elas se destinam.

Abordamos até aqui da importância da linguagem e dos aspectos da notícia

científica, e partimos agora para uma discussão sobre outra função da mídia além da

mera transmissão da informação: seu papel de mediador de debates sobre questões

polêmicas. No caso do jornalismo ambiental, por exemplo, um assunto que gera

polêmica e precisa ser trabalhado com responsabilidade ética, promovendo o debate

e difusão das informações é a comida geneticamente modificada. Esses temas têm

grande apelo popular, por envolver diretamente a sociedade e seus diversos setores

(empresas capitalistas, movimentos sociais, ONGs etc.).

Antes de finalizar a discussão sobre o jornalismo científico, abordamos a

relação entre a produção científica e as teorias estudadas anteriormente, neste

capítulo. Segundo França, há forte relação entre essa especialidade do jornalismo

com a política, o que traz à tona a influência do poder político e econômico sobre a

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produção jornalística. Segundo Tuffani (2005), os assuntos científicos, e

coincidentemente, os temas de meio ambiente geram discordância entre os

jornalistas. Alguns consideram a ciência neutra e em outros casos como braço da

política, no sentido de envolver questões externas a redação na hora de produzir e

discutir os temas. Tuffani (2005) coloca que por muito tempo essa idéia da ligação

entre ciência e política ficou restrita aos pesquisadores com orientação marxista,

porém mudou com o passar do tempo.

Outra discussão que permeia o jornalismo científico, especializado e

ambiental é até que ponto o jornalismo ambiental pertence ao científico. Para Lima

(2002), jornalismo ambiental deve ser considerado uma ramificação do científico.

Apesar da visão distorcida, a autora revela que é possível trabalhar meio ambiente

como sendo um tema na área da ciência. De acordo com Linhares e Morais (2002),

os temas relativos ao meio ambiente fazem parte do universo da ciência e há pouco

tempo passaram a se inserir no universo social, assim como os demais temas que

abrange o jornalismo científico. Para Abiahy (2005), o jornalismo científico pertence

ao jornalismo especializado e pode ser considerado um dos primeiros ramos da

especialização. “Por motivos evidentes a abordagem da ciência não poderia ter uma

boa qualidade apenas nos espaços reduzidos destinados pela mídia em geral”

(ABIAHY, 2005, p. 23).

Em alguns casos, ao se fazer uma relação entre jornalismo ambiental e

ciência, pensa-se se de fato o jornalismo ambiental pertence ao jornalismo científico.

Porém, Campos (2006) explica que, quando a mídia faz a cobertura de assuntos

como por exemplo, o Furação Katrina, a Tsunami na Ásia e as devastações por

causa da seca, quando bem fundamentadas e contextualizadas, a cobertura

necessita das características do jornalismo cientifico para transmitir as informações.

Toda discussão de meio ambiente, quando bem aprofundada e contextualizada se

pauta no jornalismo científico, ou seja, em partes o jornalismo ambiental se utilizada

de diretrizes do jornalismo científico. Segundo Tuffani (2005, p. 99), é possível

considerar meio ambiente como um dos diversos assuntos da cobertura científica.

2.6 JORNALISMO AMBIENTAL: UM OLHAR PARA O MEIO AMBIENTE

Na medida em que a sociedade discute temas, assuntos e acontecimentos, a

mídia tende a acompanhar e pautar o que está acontecendo. Isso explica o porquê

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do tema meio ambiente ter ganhado espaço nos veículos de comunicação nos

últimos anos. Apesar na insuficiência das abordagens apontada por diversos

autores, é por meio da mídia que as pessoas tomam conhecimento das catástrofes

ambientais e das explicações científicas para os fenômenos envolvidos. Os meios de

comunicação, e especificamente os jornais, diariamente falam de crise ambiental e

de problemas ecológicos (ABREU, 2006).

Alguns autores datam o jornalismo ambiental de pouco mais de 30 anos. O

interesse dos veículos de comunicação por temas ambientais surgiu a partir de

1970, com o trabalho dos movimentos ambientalistas no Brasil. “O jornalismo

ambiental nasceu juntamente com os movimentos ambientalistas e eventos

promovidos pela Organização das Nações Unidas ao longo das últimas décadas”

(SOUZA, 2005, p. 33). Porém, segundo Bonfiglioli (2006, p. 70), além da demora

para o tema surgir como importante nas discussões públicas, ele aparece com

“características do lirismo e do romantismo, típicas dos movimentos sociais de

contracultura, em especial o movimento pacifista hippie”, que foram característicos

dessa época.

Em nível mundial, a defesa do meio ambiente foi um movimento que nasceu

principalmente nos países do Norte nos anos 60, com as denúncias da norte-

americana Rachel Carson sobre envenenamento com pesticidas (ARRUDA, 2006).

Para alguns autores, Rachel Carson é considerada a precursora do movimento

ambientalista no mundo. “(...) Rachel Carson iniciou o movimento ambientalista com

seu livro sobre os efeitos dos pesticidas e os ecólogos foram solicitados a

testemunhar de ambos os lados do debate que se seguiu. (...)O assunto passou a

ser uma questão moral. O ecossistema, e às vezes, “a ecologia” estavam sendo

perturbados e os homens estavam em perigo por destruir um sistema do qual

dependiam. (GOllEY,1993, in: BONFIGLIOLI, 2006, p. 71).

Nessa década, surgiu na França a primeira organização de jornalistas que

trabalhavam com o tema meio ambiente e em 1968, aconteceu a Conferência da

Biosfera. Nessa mesma época, aconteceram alguns outros episódios que marcaram

o início da cobertura ambiental pelos veículos, porém, somente a partir da

Conferência de Estocolmo, em 1972, foi possível perceber de fato o aumento da

cobertura da imprensa. Segundo Abreu (2006), os temas discutidos atualmente

como, por exemplo, aquecimento global, desmatamento, contaminação das águas,

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poluição do ar, excessiva produção de resíduos e fontes renováveis de energia, só

passaram a integrar o jornalismo ambiental a partir da Conferência de 1972.

Para Bonfiglioli (2006), os meios de comunicação foram fundamentais para

tornar o tema meio ambiente um assunto de conhecimento público. A partir da década de 70, a vulgarização de conceitos e noções da temática ambiental junto ao público é ampliada, graças à crescente evolução tecnológica dos meios de comunicação. Cada vez mais, discursos relativos à defesa do ambiente natural e à garantia de qualidade de vida urbana, até então restritos aos seus lugares oficiais (ciência e governos), começam a adentrar o espaço simbólico do senso comum, gerando novos nós de significação e sentido e adquirindo relevância frente aos demais discursos contraculturais do mesmo período (BONFIGLIOLI, 2006, p. 71).

Segundo Villar (1997), entre a Conferência de Estocolmo e a Rio-92 um novo

boom contribuiu com o aumento da produção da imprensa: a descoberta do buraco

da camada de ozônio em meados de 80 e o papel do homem no processo de

destruição da natureza. Segundo Feldmann (2008), essas descobertas foram o

marco para tirar as duvidas sobre o impacto da ação humana no planeta, que havia

sido discutido em 1972, em Estocolmo.

Durante as décadas de 70 e 80, aconteceram outros encontros que discutiram

o tema meio ambiente e influenciaram a imprensa, mas para a jornalista Eliana de

Souza Lima (2002) foi somente a partir de 1992 que o jornalismo ambiental

despontou nos veículos de comunicação, como resultado da ECO-92, realizada no

Rio de Janeiro. O evento fez com que a mídia respondesse a demanda por notícias

de meio ambiente por meio da criação de cadernos e suplementos (TRIGUEIRO,

2008).

Nesse contexto, começaram a aparecer mais claramente a cobertura

relacionada a assuntos de meio ambiente no Brasil. Mas na dissertação do

mestrado, Arruda (2006) considera Randau Marques, do Jornal da Tarde, como o

primeiro a se destacar na cobertura ambiental no Brasil, ainda em 1968. Além disso,

em termos de pioneiros no jornalismo ambiental considera-se também a revista

Realidade, na edição especial sobre as cidades, de 1972.

Arruda revela ainda que no início os jornalistas tiveram que ser persistentes e

se empenhar para elaborar as notícias, pois nem mesmo os donos dos veículos

apoiavam esse tipo de cobertura, especialmente quando se tratava de denúncias. O

jornalista Randau Marques foi preso na Operação Bandeirante e considerado

subversivo quando escreveu em um jornal paulista sobre a contaminação de gráficos

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e sapateiros por chumbo, além de questionar se os agrotóxicos eram os

responsáveis pela contaminação e mortandade de peixes.

Segundo Alves (2002), o estado do Rio Grande do Sul dever ser considerado

o pioneiro na luta pelas questões ambientais no Brasil. A autora usa como exemplo,

o jornal Correio do Povo, que em seu Suplemento Rural no período de 1957 a 1963,

publicou 301 artigos assinados por Henrique Luís Roessler (fundador da primeira

entidade de luta e defesa da natureza no Brasil-1955). Outro veículo gaúcho que

apresentava notícias sobre o tema era a Folha da Tarde, junto com o Correio do

Povo e a Folha da Manhã. Os três foram os principais responsáveis pela divulgação

da temática e das lutas pela preservação ambiental na década de setenta (ALVES,

2002). Segundo a autora, o jornal Zero Hora também dedica espaço à cobertura

ambiental a partir de 1974, resultado da década de 70 ter sido o período em que

ocorreram as principais lutas e protestos dos ambientalistas gaúchos.

Outro passo importante na discussão do tema foi o surgimento dos veículos

especializados em jornalismo ambiental. Alves mais uma vez destaca o Rio Grande

do Sul, como local onde surgiram os jornais ecológicos, geralmente ligados a

organizações ambientais. “Esses impressos surgem com o intuito de divulgar

questões importantes que não recebem espaço ou não são abordadas de forma

consciente pela grande imprensa” (Alves, 2002, p. 4).

Na década de 90, a cobertura se deu com mais ênfase a partir da inclusão de

pautas “na medida em que apareceram os debates sobre transgênicos, biodiesel,

biopirataria e aquecimento global” (BUENO, 2004). Além disso, tem se tratado com

mais relevância os temas como a questão do lixo urbano, poluição, transgênicos,

agrotóxicos, desmatamento, entre outros (BUENO, 2004). Castro (2004) também

explica o desenvolvimento do jornalismo ambiental devido à maior preocupação da

sociedade.

Porém, Arruda (2006) defende a infidelidade dos veículos com o tema,

abordando-o apenas quando acontecem tragédias. A crítica sobre a grande mídia se

dá pelo fato das notícias só ganharem espaço quando relacionadas a uma catástrofe

ou acidente ambiental. “Retratam apenas as catástrofes ecológicas globais, que não

tem como função promover debate e conscientização pelas causas da natureza,

apenas apresentam a crise do meio vinculada com uma heurística do medo”

(AGUIAR, 2005, p. 1). Segundo Bueno (2004), “as catástrofes ecológicas estão

tomando conta das primeiras páginas dos veículos diários (...), os quais podem ser

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considerados sensacionalistas quando retratam apenas acidentes ambientais como

forma de aumentar a audiência”.

E Villar (1997) destaca que A imprensa brasileira dificilmente trata dos problemas ambientais com profundidade na pauta das discussões públicas. As exceções são fruto de um esforço pessoal e isolado. O meio ambiente é manchete e ganha espaço e tempo na cobertura diária quando acontecem desastres, ou quando os assuntos repercutem no exterior, como a morte de um ecologista famoso, as queimadas e os desmatamentos na Amazônia e na Mata Atlântica (VILLAR, 1997, p. 1).

Os autores defendem a mesma idéia de que os veículos não fazem

acompanhamento do assunto e geralmente partem de algum evento pra falar sobre

o tema, como foi o caso da Eco-92 que despertou o interesse dos jornalistas, mas

após passado certo tempo, os jornais acabaram com as editorias especiais e

suplementos criados na época da Conferência. Scharf (2004) exemplifica a

cobertura pautada por eventos ambientais com a ECO-92, pois foi um período que,

apesar da falta de qualidade dos textos, a quantidade aumentou consideravelmente,

segundo o autor.

Ramos, citado por Correa (2007), comenta que as notícias sobre o tema meio

ambiente nos grandes veículos se dão de forma fragmentada e dependem de

eventos especiais para se consolidar como notícia. Segundo o autor, a

fragmentação se dá no sentido de que a contextualização é pobre e não contribui

para o entendimento das implicações do fato noticiado. Segundo Scharf (2004), falta

uma cobertura aprofundada, contextualizada, multifacetada e que se mantenha nas

páginas dos veículos independente dos eventos. Essa cobertura deficitária remete,

segundo Ramos, citado por Correa (2007), que essa questão não é prioridade para

os meios de comunicação, pois não refletem seus interesses imediatos.

Segundo Villar (2004), o que predomina ainda hoje nos noticiários sobre os

problemas urbanos é a cobertura pontual, que se acentua em momentos de crise

(como foi o caso das enchentes no litoral de Santa Catarina em 2008, os

alagamentos quase que normais nas grandes cidades, o Tsunami em dezembro de

2004 etc.) e pouco espaço para debate, análise, investigação das causas,

interpretações e apresentações de soluções para os problemas. O autor ressalta que

a mídia nem sempre se pauta pelo debate público e prefere dar destaque as

catástrofes, por meio das manchetes de terrorismo, ressaltando o medo e não a

conscientização. Para Villar (2004), a mídia apenas noticia textos sobre meio

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ambiente ao invés de educar e transformar, que deveria ser o papel dos meios de

comunicação, além do mero fato de informar a população. Segundo Trigueiro (2005),

o aquecimento global é uma das maiores tragédias ambientais no planeta, o que

justificaria uma cobertura densa sobre o assunto, porém não é isso que a mídia

retrata. O autor também afirma que ao tratar de saúde, educação, segurança,

economia e outros assuntos que envolvem diversos problemas nas cidades, os

jornalistas não fazem uma abordagem integrada que envolve o meio ambiente.

Trigueiro (2008) ressalta que, apesar de vivermos na Era da Informação, os

profissionais de comunicação ainda veem o meio ambiente como uma questão

periférica, pois compreendem o assunto como algo restrito a fauna e flora, sem a

amplitude que o tema ganhou nos últimos anos. Um exemplo desse aumento é a

definição das agendas verde, marrom e azul que se refletem na criação de políticas

públicas voltadas ao meio ambiente, além da presença do conceito de

desenvolvimento sustentável nas empresas, governo e ONGs.

Para falar sobre meio ambiente é necessário entender que o tema é

complexo, ou seja, os problemas estão envolvidos por um contexto histórico, social,

político e econômico, o que exige um maior conhecimento do jornalista

(MASSIERER e GIRARDI, 2008). Quando isso não é levado em consideração pelo

repórter, as notícias ficam desconexas e isoladas. A imprensa, apesar de ampliar o espaço para divulgação das matérias de meio ambiente, ainda apresenta o tema deforma isolada e fragmentada privilegiando as fontes oficiais e a publicação de notícias sensacionalistas e superficiais. A falta de profundidade nas matérias sobre meio ambiente se deve à complexidade deste campo e às dificuldades enfrentadas no jornalismo de ter que apresentar as co-relações com os fatores econômicos, políticos, culturais e sociais em um curto espaço de tempo (MASSIERER e GIRARDI, 2008, p. 2).

De acordo com Souza (2005), essa falta de contextualização é bastante

expressa nos veículos, quando as matérias focam apenas um aspecto sendo que há

outros mais importantes que não foram abordados. Para o autor, é necessário ir

além das seis perguntas do lead ao tratar do tema. Villar (2004) acrescenta que não

há interesse editorial para publicar grandes reportagens sobre o tema e faltam

recursos além de espaço e tempo, para os veículos fazerem investimentos.

Segundo Villar (2004), o que também prejudica o trabalho dos jornalistas que

escrevem sobre meio ambiente nos veículos de comunicação é a dificuldade em

obter informações sobre o assunto. Só em 2002, por exemplo, que o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou a primeira edição de um

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relatório sobre o desenvolvimento sustentável no Brasil. Apesar da produção

acadêmica de trabalhos relacionados ao tema, faltam informações, resultado de

pesquisas, etc.

A partir de 2003, com a aprovação da Lei de Acesso à Informação Ambiental,

foi possível ampliar a rede de informações sobre meio ambiente no país. De acordo

com essa lei, todo cidadão tem direito a acessar as informações produzidas pelo

Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama). Com essa maior transparência dos

órgãos públicos, é possível facilitar a atividade jornalística. Segundo Tautz (2005,

p.1), o campo de investigação jornalística na área ambiental é grande e essa lei

facilitaria a produção, pois garantiria o acesso as informações, que muitas vezes não

eram repassadas ao jornalista. Há um campo enorme para a realização de investigações jornalísticas em temas de fundo sócio-ambiental. É um espaço maior do que temas mais tradicionalmente cobertos pela imprensa brasileira, como corrupção governamental. De depósito de resí¬duos sólidos (lixo) à construção de hidrelétricas, os temas só esperam pela boa e velha prática da reportagem para virem à tona. (TAUTZ, 2005, p. 1)

Apesar de contemplar a vigência da nova lei, proposta pelo Deputado Fabio

Feldmann em conjunto com a Deputada Rita Camata ao Congresso Nacional em

1998 e aprovada em 16 de abril de 2003, Tautz (2005) ressalta a importância do

jornalista na cobrança para que a lei, de fato, seja colocada em prática. A partir de

2003, os órgãos públicos ficam obrigados a permitir o acesso aos documentos que

tratem de assunto ambiental e a fornecer todas as informações ambientais relativas

à qualidade do meio ambiente; políticas, planos e programas potencialmente

causadores de impacto ambiental; resultados de monitoramento; ações de

recuperação de áreas degradadas; acidentes, situações de risco ou de emergência

ambientais; emissões de efluentes e substâncias tóxicas; diversidade biológica e

organismos geneticamente modificados.

Há diversas outras leis, anteriores a essa que de alguma forma também

contribuíam para facilitar o acesso às informações, o diferencia da Lei 10.650 é que

ela é voltada especificamente para o meio ambiente. O desafio dos jornalistas agora

é o acesso às informações de empresas privadas. “A Lei é inédita e representa um

avanço no Direito Ambiental [...] Poucos países do mundo editaram legislação

semelhante e a norma está sendo considerada um avanço por juristas brasileiros e

de outros países” (FURRIELA, 2004, p 5).

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Apesar de a lei ter melhorado o acesso às informações, outro fator, que

segundo Trigueiro (2008) influencia no processo de produção das notícias é o timing

das mudanças climáticas que envolvem um grande período de tempo, diferente das

notícias que tem um prazo de validade muito curto. Esse longo prazo que envolve as

mudanças climáticas, por exemplo, segundo o autor, parece não fazer sentido para

uma sociedade cada vez mais imediatista. Besserman (2008) relata que ainda não

há estatísticas ambientais e indicadores de desenvolvimento sustentável, apesar da

dimensão da questão ambiental no mundo.

Outro fator levantado por Trigueiro (2008) é a utilização de uma linguagem

científica que dificulta o trabalho do jornalista, pois ele precisa ‘traduzir’ o texto com

clareza mantendo a qualidade, sem dar prejuízo à informação. Nesse processo há

dois extremos: muitos cientistas trabalham com excesso de cientificismo,

transformando o assunto em algo que é entendido apenas pelos seus pares,

afastando o público leigo e inclusive o jornalista. O outro lado é o comprometimento

da notícia se há simplificação demais no texto. Muitas palavras não têm outro

significado de mais fácil compreensão e demoram algum tempo para o público se

familiarizar.

Para Erbolato citado por Shimidt (2005) o jornalismo que trata de meio

ambiente, independente de uma editoria de jornal ou de uma revista temática, pode

ser considerado jornalismo ambiental. Mas, o que ainda intriga os estudiosos e

pesquisadores na área, é a forma que os veículos de comunicação estão abordando

o assunto.

Santos, citado por Abreu (2006) explica que a mídia pode ter um discurso

tanto interessado quanto interesseiro ao falar de meio ambiente. Por meio da

linguagem, pode fazer um discurso falso que impossibilita a população de entender

o assunto, porém, ao mesmo tempo, tem a possibilidade de fazer um papel nobre

deixando de expressar o senso comum, voltando-se para as necessidades da

população e não do mercado.

Scharf (2005) adverte para a relação dos jornalistas com as fontes, devido

aos interesses envolvidos. Muitos jornalistas não se sentem livres para fazer a

cobertura sobre o assunto. Segundo o autor, eles possuem uma liberdade de

expressão relativa, ou seja, publicam desde que as notícias não prejudiquem os

interesses econômicos de outras pessoas, principalmente de seus anunciantes. “[...]

isso significa que as empresas jornalísticas dificilmente aprovam reportagens sobre

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degradações ambientais provocadas por seus grandes anunciantes” (SCHARF,

2005, p. 64).

Há também o caso de empresas que tentam divulgar suas ações na área

ambiental como forma de minimizar as falhas. Um exemplo, citado pelo autor, foi a

Agência de Energia Atômica, que vendeu a idéia de que as centrais nucleares

emitem menos poluentes do que outras formas de geração de energia elétrica.

Segundo o autor, é necessário saber escrever sobre as qualidades, sem omitir os

erros e falhas. Scharf também ressalta alguns instrumentos de venda das empresas

tomados como certos para a produção jornalística pelo jornalista. É o caso dos

selos e certificados ambientais utilizados para convencer o jornalista e também os

consumidores.

Villar (1997) considera o jornalismo ambiental como algo irreversível dentro

das redações por uma questão mercadológica: Os grandes grupos de comunicação do país sabem que não podem ignorar a questão ambiental, meramente por uma questão de mercado, e por isso fazem pequenas concessões, abrindo janelas periféricas aqui e ali. No entanto, mantêm o jornalismo ambiental com um status marginal. E o jornalista que se especializa é rapidamente tachado de ecochato ou ecologista, minando a credibilidade do profissional. Principalmente quando começa a discutir com profundidade as questões ecológicas e denunciar grandes empresas poluidoras (VILLAR, 2007).

Segundo ele, apesar da ECO-92 ser um marco nas questões ambientais e no

trabalho da mídia, no decorrer da década isso não se reflete. Já Aguiar (2005)

partilha da concepção de que esses tipos de notícias vêm ocupando as páginas dos

jornais, em especial nos diários, com maior destaque, apesar das deficiências e

falhas presentes na cobertura jornalística.

No Brasil, na última década do século XX, a cobertura sobre o assunto

passou por três momentos distintos segundo Tosi e Villar (2001). Os autores

caracterizam o início dos anos 90 até 92 como o boom da discussão. Já um

momento mais a frente, caracterizam como “ressaca”, devido à diminuição de pautas

sobre o tema na grande imprensa. Este recuo não foi geral. A Agência Estado, a Gazeta Mercantil e a TV Cultura mantiveram o tema em pauta. Os demais veículos da chamada grande imprensa só voltaram a considerar os temas ecológicos como assuntos importantes quando acontecia um desastre. (TOSI E VILLAR, 2001, p. 1)

Após esse período em que perdeu espaço na mídia, nos últimos anos do

século o assunto voltou a compor as pautas devido ao aparecimento das grandes

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empresas poluidoras e do crescente interesse pelo Selo Verde. “Nesse período os

empresários começaram a aparecer com uma postura menos reativa e mais pró-

ativa, discursando sobre as tecnologias limpas, a mudança dos processos industriais

para diminuir o desperdício de energia, matéria-prima e água” (TOSI e VILLAR, 2001

p. 1).

No início da década de 90, o que impulsionou a divulgação do tema foi a

realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, no Rio de Janeiro. E no período de ressaca o tema apenas

ganhava espaço quando acontecia um desastre. Agora, as notícias são diárias, mas

de fatos desconexos.

Segundo Aguiar (2005), aumentou a incidência de matérias sobre meio

ambiente nos principais jornais diários do país, porém as notícias abordam na

grande maioria, os desastres e as catástrofes ecológicas. Villar (1997) concorda com

a afirmação de Aguiar e reafirma as falhas da imprensa ao tratar do tema meio

ambiente: A imprensa brasileira dificilmente trata dos problemas ambientais com profundidade na pauta das discussões públicas. As exceções são fruto de um esforço pessoal e isolado. O meio ambiente é manchete e ganha espaço e tempo na cobertura diária quando acontecem desastres, ou quando os assuntos repercutem no exterior, como a morte de um ecologista famoso, as queimadas e os desmatamentos na Amazônia e na Mata Atlântica. (VILLAR, 2007).

Para explicar a trajetória da produção nesta área do jornalismo, Aguiar (2005)

define quatro formas de representação do meio ambiente, que se dá por décadas.

Na década de 60, começaram a ser divulgados os riscos ambientais pelo uso de

produtos químicos industriais na agricultura e os efeitos perigosos para o meio

ambiente. Nessa época, os problemas com o meio ambiente eram representados

como uma crise de participação.

Na década seguinte, a representação social da desordem do meio ambiente

assume o enfoque de uma crise de sobrevivência. Nesse período aconteceu a 1ª

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente. A crise ambiental passou a

ser representada agora, como um problema de escassez, já que os cientistas e as

autoridades governamentais afirmavam a existência de limites para a exploração e

uso dos recursos naturais, que antes eram vistos como ilimitados. Passou-se a

divulgar a necessidade de frear a expansão ilimitada da sociedade. Nessa época,

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também se percebeu que o projeto desenvolvimentista da sociedade moderna está

baseado em um sistema de valores materialistas e prejudicial ao meio ambiente.

Na década de 80, a representação da crise assume a imagem de uma crise

cultural. “A crise do meio ambiente passa a ser representada como o momento

oportuno para superar a racionalidade instrumental e a ética de valores materialistas

que construíram a modernidade” (AGUIAR, 2005, p. 5). Nesse contexto surgiu o

conceito de desenvolvimento sustentável que deu origem a uma maior cobertura

sobre o assunto. Segundo o autor, foram assegurados amplos espaços de

divulgação nos meios de comunicação de massa, levando em conta os interesses

empresariais e governamentais e apresentando os três aspectos principais do

projeto: crescimento econômico, equidade social e equilíbrio ecológico. Na última

década do século, o que marca são as crises. A desordem ecológica do meio

ambiente não é apenas o resultado de uma explosão demográfica ou da escassez

dos recursos naturais, mas é representada pela ótica de uma crise global de

civilização, de um modelo de sociedade que se tornou globalizado e não possibilita

mais manter os mesmos padrões de até então.

“A partir da crise que tomou conta das últimas décadas do século XX, espera-

se que o jornalismo dê sentido a toda essa massa de informações que circula pelo

planeta, abrindo um espaço para a reflexão e contribuindo para a descoberta de

soluções para esta crise” (ARRUDA, 2006, p. 2). Para isso, é preciso mudar a forma

de cobertura feita pelos veículos. Como relata Aguiar (2005, p. 13), a cobertura até o

momento “foi baseada apenas no medo e nas catástrofes”, ou seja, em matérias que

apareciam apenas em momentos que aconteciam tempestades, acidentes

ambientais, etc..

Outro fator que pode interferir na produção de notícias de meio ambiente no

Brasil, é o crescimento do agronegócio que já contribui para que o foco dos veículos

no tema meio ambiente se torne difuso. Como explica Bueno (2004), o lucro se torna

maior para a grande imprensa ao apoiar o crescimento econômico. O jornalismo

ambiental fica sufocado na grande mídia e se desenvolve somente a partir de

olhares que não expressam de fato, os problemas que existem. Enquanto o

movimento ambientalista, os sem terra, a população ribeirinha e os indígenas, que

são possíveis fontes, ficam esquecidos, os jornalistas acompanham as grandes

empresas, dando a estas, oportunidades de plantar notícias dentro das redações, o

que nem sempre representa o problema ambiental de fato.

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O surgimento de novos canais de informação, como a internet, as rádios

comunitárias e os jornais locais, por exemplo, proporcionam espaço para a

multiplicação de vozes, dando espaço aos movimentos ambientalistas, ONGs etc.

(BUENO, 2004). Segundo Alves (2002, p. 8), é necessário que os meios de

comunicação, independente de qual seja, façam jornalismo ambiental relacionando

“a ecologia e o meio ambiente com nossas vivências diárias”.

A autora afirma ainda que é necessário que a mídia assuma seus valores e

filosofias, e que a questão ambiental faça parte destes. Assim, os meios de

comunicação terão ações responsáveis de forma ética, social e ambientalmente

correta nas comunidades nas quais estão inseridos, incentivando e estimulando a

especialização de seus profissionais na área ambiental assim como disponibilizando

“espaço para as reportagens de cunho preservacionista, ecológico e ambiental”

(ALVES, 2002, p. 10).

Segundo Lima (2002), os veículos jamais vão se recusar a publicar o assunto

devido a sua importância. A mídia tem um importante papel na conscientização

ambiental da população, porém, para que isso de fato aconteça, é preciso verificar

de que forma se está abordando o assunto, já que afeta a vida dos cidadãos. A

autora entende a produção midiática como educadora, porém revela que há falta de

instrução para os jornalistas [...] lhe falta também uma formação específica no campo educacional e principalmente no científico. [...] Durante a Rio 92 e no ano subseqüente, os grandes veículos mantinham setoristas nas dependências do Ibama. Passada a moda, o assunto perdeu espaço. Os cadernos especiais tranformaram-se em seções, e em seguida subseções. Não há, pelo menos no grau que se espera, por parte dos responsáveis pela formação dos jornalistas, uma preocupação com as questões científicas, incluindo as ambientais (LIMA, 2002, p. 01).

A idéia da mídia como educadora, no caso do tema meio ambiente se deu já

no início dos anos 80, quando foi por meio dela que a população passou a conhecer

e ao mesmo tempo tentar corrigir os malefícios causados pelo próprio homem. Para

Trigueiro (2005), o jornalismo ambiental deve perceber a realidade que nos cerca de

um ângulo mais abrangente.

Para Alves (2002) [...] o jornalismo ambiental deva contextualizar o homem dentro da natureza, apresentando os problemas suas causas e conseqüências, sugerindo soluções, estimulando ações para que possam enfrentá-los. Contribuindo para a formação da cidadania ambiental. Incentivando relações sociais de respeito à natureza, a si próprios e aos demais seres humanos (ALVES, 2002, p. 12).

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Segundo Villar (1997), a forma de tratamento que se dá ao tema varia

conforme a região e conforme o envolvimento das pessoas. As ONGs, por exemplo,

são responsáveis por grande parte do que é veiculado na mídia, porém onde elas

não atingem, esse tipo de jornalismo é quase inexistente. Apesar de ressaltar a

importância de não transformar a mídia em porta voz das entidades ambientalistas, é

necessário é ouvir todos os lados possíveis e entender que o jornalismo ambiental

envolve um universo bastante complexo. Segundo Massierer e Girardi (2008),

entender as relações do meio ambiente com as outras áreas é essencial para a

qualidade da informação e para que de fato a mídia exerça seu papel educacional.

Atualmente, um dos desafios da comunicação é fazer com que o tema meio

ambiente tenha vínculo com o dia-a-dia da população para que, de fato, tenha

significação para as pessoas e de alguma forma possam introduzir um pensamento

mais cidadão com relação ao assunto.

Tereza Urban, jornalista e ambientalista, fala sobre os problemas causados

na população quando falta informação sobre o tema meio ambiente. Segundo ela, o

desconhecimento ou o distanciamento com o tema transforma o cidadão num

predador, por ignorância de causas e conseqüências, dificulta o exercício da

cidadania por desconhecimento dos direitos individuais e coletivos e determina o

isolamento das organizações governamentais e não-governamentais da área, que

não conseguem apoio na opinião pública. Urban (2006) defende que a participação

da população é importante para influenciar nos debates, pois no Brasil o tema não é

prioridade dos governos, os quais também não exigem do setor privado maiores

responsabilidades na área ambiental. Esse descaso do setor público reflete na forma

de abordagem jornalística sobre o tema e, segundo a autora, justifica a cobertura

pontual e limitada aos desastres ecológicos.

Apesar da falha do governo, a mídia é uma das principais formas de informar

a população, ou seja, é por meio dos veículos que as pessoas têm acesso as

informações sobre meio ambiente. Por isso que Urban (2006) ressalta a importância

do jornalismo na conscientização e educação da população. A falta de

contextualização faz com que as pessoas tenham uma idéia simplista sobre o termo

meio ambiente. Segundo a autora, o cidadão comum ainda tem a idéia de que

ecologia “é assunto distante, coisa do mato, da Amazônia, do alto mar, em nada

semelhante ao esgoto a céu aberto diante das casas, ao lixo jogado no terreno

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baldio ou na praia, às emanações imperceptíveis da fabriqueta do bairro, à erosão

da lavoura, ao agrotóxico mal aplicado etc.”.

É nesse sentido que o papel da universidade é fundamental para o

desenvolvimento do jornalismo ambiental. Roberto Villar, citado por Arruda (2006)

explica que ainda hoje as reportagens não partem de uma edição editorial, mas sim,

da curiosidade dos jornalistas. Segundo ele, a falta de discussão nos cursos de

Jornalismo pode ser um dos causadores do problema. Nesse processo de

aprendizagem das universidades, Tosi e Villar (2001) sugerem aos estudantes

conhecer a trajetória daqueles que já lidam com o assunto nas redações. Jornalistas como Randau Marques e suas matérias sobre poluição industrial, Lúcio Flávio Pinto e as histórias sobre a Amazônia, e Elson Martins, que assistiu de perto ao aparecimento e à liderança de Chico Mendes no Acre, deixaram um legado e um exemplo que não podem ser ignorados pelas novas gerações. Os jovens também devem procurar aprender com os artigos de Washington Novaes, explicando os grandes temas internacionais, as matérias de Regina Scharf, mostrando as implicações econômicas das questões ambientais, as reportagens científicas de Liana John e Marcelo Leite, tradutores dos fatos que envolvem as ciências da natureza. Todos talhados na prática cotidiana das redações (TOSI e VILLAR, 2001, p. 1).

Campos (2006) defende que a universidade tem papel fundamental na

formação profissional, sendo ali o espaço que deveria formar o jornalista para

trabalhar com ecologia, o que é chamado por André Trigueiro, de “alfabetização

ecológica dos jornalistas”. Segundo Campos (2006), é necessária uma visão crítica

já na formação acadêmica para melhor enfrentar o mercado de trabalho. Em uma

pesquisa realizada com os alunos da Unesp/Bauro, o autor detectou que poucos são

os alunos que vêem o problema ambiental como algo relacionado com os demais

setores da sociedade, sendo que na verdade isso deveria ser de entendimento de

todos. É necessário que o jornalismo ambiental esteja presente na universidade, na

mídia, nas escolas e em todos os espaços (CAMPOS, 2006).

Na tentativa de aproximar a população da natureza e conseqüentemente

fazer a relação entre os problemas ambientais e as atividades humanas é que a

mídia deve exercer seu papel. Mas, segundo Urban (2006), para os meios de

comunicação fazerem melhor seu papel, é necessário qualificação dos jornalistas.

“As deficiências na formação do profissional, com certeza contribuem para agravar o

problema da falta de informação na sociedade” (URBAN, 2006, p.1).

Trigueiro (2008) faz uma comparação do jornalismo ambiental com outras

especializações e defende que ainda falta estrutura nas universidades, cursos de

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graduação e pós-graduação para o jornalismo ambiental, se comparado com outras

áreas como economia, em que os jornalistas encontram um leque de opções para se

especializarem. É intrigante como no Brasil, país que detém a maior reserva muncial de água doce, maior biodiversidade, a maior floresta tropical do planeta, a maior disponibilidade de solo fértil [...] haja tanta escassez na oferta de cursos de meio ambiente voltados para estudantes de comunicação e jornalistas profissionais (TRIGUEIRO, 2008, p.83)

Jukofski (2000) aponta três razões para a escassez de jornalistas ambientais:

as notícias ambientais geralmente são de pouco interesse, os editores e diretores

não gostam delas e não é prestigiado ser um jornalista ambiental. Outro problema

apontado pela autora é a dificuldade de apuração nas redações. Es difícil convencer a un editor respecto a los méritos de las noticias ambientales. Hacer una buena investigación sobre un asunto ambiental requiere de tiempo y recursos. Los medios de comunicación, usualmente, tienen un déficit de personal y pocas veces un editor permite que se dedique más de un día para una historia o está dispuesto a pagar los costos de una larga investigación fuera de la ciudad (JUKOFSKI, 2000).

Apesar da falta de reconhecimento na área ambiental, Trigueiro acredita que

o espaço do jornalismo especializado em meio ambiente está destinado a crescer

em todas as mídias e que isso se dará ainda mais rapidamente à medida que os

profissionais da imprensa souberem fundamentar suas pautas com boas fontes e

informação qualificada (TRIGUEIRO, 2005).

Nesse contexto, em que o tema meio ambiente foi ganhando espaço na mídia

e necessitando de um tratamento diferenciado, surgiram no Brasil, a partir de 1989,

com o auxílio da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), comunidades de

jornalistas que trabalhavam o tema e pretendiam se especializar para a ECO-92. A

entidade ajudou a formar diversos núcleos de ecojornalistas em diversas cidades

brasileiras como em São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, com o

objetivo de criar uma entidade nacional de jornalismo ambiental. Somente um deles

ainda sobrevive ao tempo, o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (Nejrs).

Os grupos foram criados a partir de iniciativas de jornalistas do setor e de conversas

com militantes de movimentos ambientalistas, especialmente a Associação Gaúcha

de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) (VILLAR, 2004).

O Nejrs trabalha em parceria com ONGs gaúchas, na tentativa de divulgar as

causas ambientais, promovem debates nos cursos de comunicação nas

universidades. Segundo Villar (1997), o grupo é bastante ativo, especialmente na

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promoção de eventos que discute meio ambiente e jornalismo. Entre eles destacam-

se o Encontro Jornalismo e Ecologia, o I Curso de Extensão em Ecologia para

Jornalistas (preparatório para a cobertura da Rio 92) e a segunda edição deste

último, em 1993. Os eventos têm como objetivo discutir o papel da imprensa nos

desastres ambientais.

O Encontro Internacional de Imprensa, Meio Ambiente e Desenvolvimento,

realizado em maio de 1992, em Belo Horizonte, teve como resultado a criação de um

núcleo mundial de jornalistas em Meio ambiente, chamado de Green Press. O

principal objetivo é ampliar a compreensão dos problemas ambientais por meio da

relação entre os profissionais especializados durante os eventos que realizam

anualmente. Segundo Trigueiro (2005), nos locais onde as ONGs, movimentos

ambientalistas e grupos de jornalistas especializados atuam com maior efetividade, o

noticiário ambiental é mais freqüente. Por isso, em 1998, foi criada a rede Brasileira

de Jornalismo Ambiental, reunindo profissionais no assunto que atuam em diferentes

estados brasileiros.

O jornalismo ambiental movimenta diversos setores da sociedade, mobiliza a

população e os jornalistas e gera inúmeras discussões, até mesmo na própria área

do jornalismo, como defende Trigueiro (2005). Segundo o autor, o jornalismo

ambiental quebra o dogma da imparcialidade, tão discutido nos cursos de

comunicação e nas próprias redações, a partir do momento que toma partido em

favor da sustentabilidade, do consumo consciente, do uso correto de recursos da

natureza e de tudo aquilo que remete a um novo modelo de civilização pautado na

preservação do meio ambiente. Mas segundo Correa (2007, p. 57) “a integração dos

problemas ambientais numa visão sistêmica ainda é um desafio, tanto do ponto de

vista da formação dos jornalistas que ainda possui falhas, quanto dos interesses

políticos e econômicos que influenciam o conteúdo das notícias”.

Por meio dos estudos de outros autores foi possível perceber como o campo

jornalístico está ligado a outras instâncias da sociedade e como elas são capazes de

interferir no processo de produção das notícias. Além disso, foi possível estabelecer

uma linha do tempo sobre o desenvolvimento do jornalismo ambiental e também a

ligação deste com as especializações e com o jornalismo científico. Após todas as

leituras que deram embasamento para a pesquisa empírica e ajudaram a entender o

desenvolvimento do jornalismo ambiental como um espaço de produção dos

veículos de comunicação, o próximo capítulo apresenta a parte prática da pesquisa

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e vai mostrar como os conceitos expostos nos capítulos um e dois estão

relacionados com os dados obtidos na pesquisa com o Jornal folha de São Paulo.

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3 JORNALISMO AMBIENTAL: A ANÁLISE DO JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO

Este capítulo apresenta a análise do material. O primeiro tópico aborda a

descrição do objeto, o Jornal Folha de São Paulo; posteriormente, o texto trata do

método utilizado, a análise de conteúdo, fazendo ainda uma explicação e uma

descrição das variáveis observadas na pesquisa. O último tópico faz a análise do

material catalogado, mostrando a relação com os capítulos um e dois e também

observando a validade das hipóteses colocadas na introdução deste trabalho.

3.1 JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO: DESCRIÇÃO DO OBJETO DE ANÁLISE

A Folha de São Paulo, fundada em 1921, é, desde a década de 80, o jornal

mais vendido no país, segundo os dados do próprio veículo. Essa posição se

consolidou durante a campanha pela redemocratização do país, em 1984, quando

defendeu as Diretas Já. Segundo o site do jornal (www.folha.uol.com.br), em 2008,

por exemplo, a circulação média foi de 31 mil exemplares em dias de semana e 365

mil aos domingos.

O jornal é resultado da junção de três diários. Em 1921, Olival Costa e Pedro

Cunha fundaram o jornal "Folha da Noite". Em 1925, nasce a "Folha da Manhã", a

edição matutina da "Folha da Noite" e, após 24 anos, surge a “Folha da Tarde". Em

1960, os três jornais se unem num só é recebe o nome de Folha de São Paulo. Em

1962, muda a direção do jornal. Ele é vendido e quem assume é Octavio Frias de

Oliveira e Carlos Caldeira Filho.

Os princípios que devem guiar a produção jornalística do veículo são

desenvolvidos a partir da criação do primeiro projeto editorial, esboçado em 1981 e

publicado em 1984, mesmo ano em que o jornal lança o primeiro Manual da Folha,

com objetivo de publicizar os guias da produção jornalística do veículo. O primeiro

projeto foi calcado em três princípios básicos da produção: informação correta,

interpretações competentes e pluralidade de opiniões.

O projeto editorial foi sendo atualizado com o passar do tempo e a última

atualização foi em 1997. Se, no primeiro, a atenção foi voltada para a “informação

correta, interpretação competente e pluralidade de opiniões”, a segunda atualização,

em 1984, foi marcada pela atuação do jornal nas Diretas Já e pelo jornalismo

moderno (MANUAL, 1992). A Folha foi o primeiro jornal a aderir ao movimento e,

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com isso, segundo as informações do Manual do jornal, adquiriu “crédito de

confiança com a sociedade”. De acordo com o site www.folha.uol.com.br, o

documento “A Folha depois da campanha diretas-já” define jornalismo moderno

como aquele “que se propõe a introduzir, na discussão pública, temas que até então

não tinham ingresso nela", colocando "em circulação novos enfoques, preocupações

e tendências".

Em 1985, um novo projeto foi elaborado, calcado nos ideais de um estado

democrático. Agora, a sociedade se desenvolvia e era politicamente aberta. O

objetivo no momento era caracterizar o jornal como algo diferenciado para tornar-se

um produto indispensável ao público.

No projeto atualizado em 1986, o objetivo do jornal passou a ser a notícia

exclusiva, comprovada e exata. De 1984 a 1986, as vendas aumentaram mais de

39% e, dessa forma, o jornal pretendia não perder leitores para os concorrentes. Já

em 1988, os olhares se voltam para os concorrentes, como é o caso da televisão,

por exemplo. As preocupações com os erros e falhas se tornam maiores, na

intenção de continuar na liderança.

O último projeto editorial foi atualizado em 1997. Nele, foram feitas avaliações

do passado e das perspectivas para os anos seguintes. Impacto tecnológico e

mercado entraram em pauta. Com relação às diretrizes para o texto jornalístico, o

documento aponta para a qualificação do conteúdo dos jornais, enfatizando uma

abordagem mais compreensiva e criteriosa dos fatos.

O jornal foi pioneiro em vários aspectos como, por exemplo, o uso da

impressão off set, a utilização do espaço para ombudsman e a disponibilização do

conteúdo on-line para os leitores, além da própria produção dos projetos editoriais.

De acordo com informações no site do Jornal, o crescimento se deve aos princípios

editoriais do veículo: pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

De acordo com o Manual de Redação (1992) do jornal, o apartidarismo é

descrito como um dos princípios do veículo, que defende o não atrelamento do

grupo a nenhuma tendência ideológica ou partido político. Sobre o princípio de

independência (política e financeira), o manual coloca como condição essencial para

a independência editorial e política do veículo. O pluralismo é apresentado ao leitor

quando o fato apresenta diversas interpretações e o jornal tem o dever de assegurar

o acesso a todas elas. O jornalismo crítico é descrito como um dos princípios

editoriais em que o jornal deve mostrar a realidade de um ponto de vista crítico.

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O manual deixa claro que não há objetividade jornalística, afirmando que, na

escolha do assunto e na forma de redigir, o jornalista toma decisões que são

influenciadas por suas posições pessoais. Porém, isso não exime o jornalista da

obrigação de ser o mais próximo da objetividade possível. A transparência é definida

como uma atitude permanente do veículo diante dos seus leitores, sendo que isso

se expressa por meio do espaço para erros do jornal e das cartas dos leitores.

Outro princípio editorial é o jornalismo moderno, caracterizado como sendo a

introdução de temas que ainda não tinham ingressado na discussão pública, tendo

novos enfoques, novas preocupações e novas tendências. Sobre o espaço de

publicidade do jornal, o manual descreve os dois departamentos, jornalismo e

publicidade, como autônomos, sem relação de subordinação. De acordo com as

informações contidas no manual, mesmo que a publicidade tenha prioridade na

divisão de espaço do jornal, o trabalho jornalístico não deve estar subordinado aos

“interesses, presumidos ou manifestos, de anunciantes” (MANUAL, 1992, p. 21).

Dessa forma, ressaltasse que a pesquisa empírica tem como objetivo

identificar de que forma esses conceitos são aplicados na produção do jornal. Os

dados coletados mostram como a pluralidade, a objetividade e os princípios do

veículo estão presentes no conteúdo analisado. a utilização ou não desses conceitos

implica na forma que o veículo aborda e direciona os temas. por isso, no próximo

tópico, faz-se uma descrição do que é análise de conteúdo e sua importância como

método de pesquisa para chegar aos resultados desse trabalho

3.2 ANÁLISE DE CONTEÚDO COMO MÉTODO DA PESQUISA

Nesta segunda parte do capítulo abordamos a discussão sobre o trabalho de

campo, ressaltando aspectos evidenciados por autores, tais como Bauer (2002),

Gaskell (2002), Kientz (1973) e Fonseca (2008) que delimitam e embasam a

pesquisa empírica. Bauer e Gaskell (2002) explicam que a primeira coisa a ser feita

em uma pesquisa é pensar nas quatro dimensões que descrevem o processo,

independente da metodologia que será utilizada: delineamento da pesquisa (neste

caso, a escolha foi pelo levantamento por amostragem); escolha do método de

coletas de dados (utilizaram-se jornais pelo método da observação); definição pelo

tratamento dos dados (opção pela análise do conteúdo) e os interesses do

conhecimento.

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A pesquisa com o Jornal Folha de São Paulo parte do princípio da

observação quantitativa, mas utilizando algumas variáveis para o estudo qualitativo

(uso de fontes, temáticas etc.). Bauer e Gaskell (2002) defendem que não há

pesquisa quantitativa sem qualificação do conteúdo. Falando mais especificamente

sobre a coleta de dados, será feita a coleta por amostragem, devido ao extenso

período de análise.

Sobre o corpus da pesquisa, podemos identificar como sendo a amostra

composta pelas edições do jornal. Como o objetivo é analisar o Jornal Folha de São

Paulo e sua abordagem sobre os assuntos relacionados à crise ambiental, a

pesquisa vai se dar a partir da análise das edições escolhidas para a verificação da

existência ou não do tema e, conseqüentemente, da análise de conteúdo daquilo

que for catalogado.

Como o estudo utiliza o método da análise do conteúdo para o tratamento dos

dados recolhidos, este espaço será usado para colocar alguns pontos consideráveis

sobre o método, o que de alguma forma explica o porquê da escolha do mesmo para

o desenvolvimento deste trabalho. Para definir a análise de conteúdo, Bauer (2002)

apresenta definições de outros autores. Uma delas, que remete à comunicação,

explica as suas ações sobre o corpus da pesquisa. Berelson, citado por Bauer

(2002), define esse método como uma técnica de pesquisa para descrição objetiva,

sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação. Esta análise

baseia-se nesse método por tentar abordar apenas o conteúdo manifesto, ou seja,

não se atém ao conteúdo presumido em função do que diz ou se crê sobre a

psicologia e as intenções dos autores-emissores. É diferente da análise do discurso,

que se atém àquilo que está oculto e nas intenções do texto.

O primeiro passo do trabalho dentro da análise do conteúdo foi a pré-análise,

antes da exploração do material e tratamento de dados. Após as leituras, que

delimitam o tema, o problema, os objetivos e hipóteses, foi delimitado o corpus da

pesquisa, ou seja, definido o número de edições a serem submetidas à análise.

As duas regras para a constituição do corpus da pesquisa, propostas Fonseca

(2008) - da exaustividade e da representatividade - estão intimamente ligadas com

esta pesquisa, pois, apesar do longo período de análise e falta de arquivos, não é

possível deixar de fora nenhuma edição que, pela amostragem, deve compor o

corpus da pesquisa. Com relação à regra da representatividade, foi definida a

pesquisa por amostragem.

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Sobre a escolha da amostra, há três fatores que interferem nos resultados e

foram levados em conta nesta pesquisa: a representatividade (já citada acima), o

tamanho, a unidade de amostragem e a codificação. Como essa pesquisa se

estende das edições do ano de 1992 até 2008, impossibilita a utilização de todas as

edições para a análise, por isso a opção em trabalhar com uma amostra. O jornal é

diário e o número de edições é demasiadamente grande para o período de

produção.

O tipo de amostra utilizada neste estudo, segundo Bauer (2002), é chamada

de amostra por semana composta, ou seja, é utilizada para análise uma edição

quinzenal durante todo o período, totalizando 442 edições. Geralmente esses tipos

de amostragem são usados em pesquisa na área da comunicação, que é o caso

deste trabalho. Bauer (2002) cita a “semana artificial” que, na amostragem de jornal

por datas, como este caso, as edições são as unidades de amostragem (UA) e

constituem uma amostragem de agrupamento, ou unidades de registro (UR), que

remetem aos textos. São essas unidades de registro (cada reportagem selecionada)

que serão tomadas por base para o trabalho de pesquisa, já que apesar da escolha

por edições, serão analisadas apenas as notícias sobre jornalismo ambiental.

Depois de feita a amostragem, foi definido o referencial de codificação

(Apêndice A), a partir das leituras sobre o tema meio ambiente. Segundo Fonseca

(2008), a função da codificação é servir de elo entre o material escolhido para

análise e a teoria do pesquisador. Apesar das inúmeras questões que podem surgir

para análise, o pesquisador só analisa o que estiver no referencial de codificação.

Como este trabalho refere-se a uma pesquisa de anos anteriores,

perpassamos rapidamente também pelo método de análise documental que,

segundo Moreira (2008), compreende a identificação, a verificação e a apreciação

de documentos. Os jornais são considerados fontes da análise documental

secundárias, pois aquilo que é publicado no jornal já passou por um jornalista e não

apresenta os discursos de fato como foram apresentados pelas fontes. Esse

conceito se aplica à pesquisa da Folha de São Paulo, pois a análise volta no

tempo, mais especificamente em 1992, tendo que acessar os arquivos para obter o

material.

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3.3 DELIMITAÇÃO DO CONTEÚDO E VARIÁVEIS DA ANÁLISE

Assim como Campos (2006) coloca, há certa dificuldade em definir o que é

jornalismo ambiental. Isso se deve pelas diferentes definições dadas ao longo do

tempo para o termo. Segundo o autor, no início, “ambiental” era considerado a

fauna, flora, as águas, ou seja, a natureza de modo geral. Com o passar dos anos, o

termo passou por uma análise mais crítica e se refere também às questões

problemáticas, como é o caso do desmatamento, problemas de saneamento básico

e até políticas públicas voltadas para solução dos mesmos.

Além disso, a pesquisa também considera matérias que fazem referência ao

tema meio ambiente, aquelas que falam de eventos, conferências e acordos entre

países, pois de alguma forma as decisões políticas influenciam as ações do homem

na natureza. Outro ponto que deve ser ressaltado é a inclusão de textos sobre

catástrofes naturais (enchentes, estiagem, nevascas etc.), pois há relação entre

estes acontecimentos e o aquecimento global, efeito estufa e mudanças climáticas.

Outro assunto considerado ramificação do tema ambiental é consumo

sustentável, desenvolvimento sustentável, projetos de educação ambiental e novas

tecnologias que contribuem para a preservação do meio ambiente. Estes assuntos

são encontrados a partir de 1992, pois foi na Rio-92 que o termo passou a ser

utilizado para explicar uma forma de desenvolvimento capaz de não destruir a

natureza. Os textos que envolvem saneamento básico (coleta seletiva, rede de

esgoto e água) também são considerados notícias ambientais, pois têm relação com

a poluição dos rios, reservas hídricas etc.

Em muitos casos, algumas matérias pertencentes ao setor de agronegócios e

agricultura, relacionadas ao uso de agrotóxicos, fertilizantes, produção orgânica e

agroecologia, são consideradas como jornalismo ambiental, pois têm relação direta

com a preservação ou poluição do meio ambiente. Outro tema, muitas vezes

relacionado à economia e que, nesta pesquisa, é considerado tema ambiental, é o

biodiesel, pois remete à diminuição do uso de combustíveis vindos do petróleo, que

prejudicam o meio ambiente.

A partir dessa conceituação feita por Campos (2006) e de outras leituras a

respeito do tema meio ambiente, foi possível definir o termo meio ambiente para esta

pesquisa. A análise do conteúdo da Folha de São Paulo terá como base a seguinte

definição para o que será considerado jornalismo ambiental: conjunto de temas que

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englobam desde a fauna, flora, ecologia, biodiversidade (consideradas meio

ambiente por si só) até as ações do homem contra a natureza, tais como

desmatamento, queimadas, efeito dos gases poluentes, produção de lixo (que de

alguma forma prejudicam a natureza) e as possíveis formas de sanar esses

problemas (saneamento básico, consumo e desenvolvimento sustentável, políticas e

discussões públicas sobre o assunto, reciclagem, projetos educacionais etc.).

A pesquisa que visa analisar o Jornal Folha de São Paulo de 1992 a 2008,

para apresentar um panorama de como o veículo aborda o tema meio ambiente,

partiu da definição de uma amostra não probabilística de semanas compostas, em

que foi definida uma edição quinzenal, totalizando 442 edições. A partir da

conceituação sobre o que será considerado ‘jornalismo ambiental’ no trabalho, foi

possível definir as unidades de registro (notícias categorizadas como meio ambiente)

encontradas nas unidades de amostragem (442 edições).

Após a definição do corpus da pesquisa, foi produzido o livro de códigos para

análise das notícias. Foram identificadas possíveis variáveis para a construção das

tabelas de análise. A proposta conta com diversos pontos a serem observados em

cadatexto: data, seqüência das matérias na edição, formato, título, localização nas

editorias, posição na página, altura e largura, composição visual, tema ambiental,

tema amplo, tema aberto, abrangência, origem e quantidade das fontes, além das

observações adicionais. Todas as variáveis serão explicadas, enfocando a

importância de utilizá-las para entender a produção das notícias.

O primeiro item do livro de códigos é a definição da data em que o texto foi

veiculado. Como a pesquisa engloba um longo período de análise, os resultados

obtidos serão divididos por ano para mostrar se houve evolução ou não. A utilização

da numeração com seqüência das notícias na edição pode dar um panorama de

quantas matérias foram apresentadas em cada data.

Outra variável é o formato do texto noticioso, que foi classificado em oito tipos

diferentes: chamada de 1ª. página, que demonstra a importância/relevância do

assunto; reportagem, texto informativo produzido por jornalistas e agências;

entrevista, texto em formato pergunta e resposta com alguém importante nas

discussões sobre o tema analisado; nota, texto jornalístico curto, composto

basicamente do lead; coluna, texto interpretativo/opinativo, assinado por articulista

do veículo ou agência; artigo assinado, normalmente presente nas páginas de

opinião; editorial, texto que expressa a opinião do veículo sobre o assunto; e

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95

fotolegenda, foto com legenda explicativa desvinculada de outro texto informativo. A

partir dessa caracterização, é possível perceber se o assunto recebe destaque no

jornal, ganhando chamada de 1ª página ou não e de que forma é encontrado no

jornal.

A localização do texto e o espaço que ocupa na página também são fatores

observados. São identificados as páginas, a editoria, o espaço (em cm²) e a posição

na página. As editorias podem explicar a forma de abordagem das notícias, ou seja,

um texto da editoria de “dinheiro” tem um enfoque diferente daquele presente na

editoria “ciência” mesmo que o assunto seja o mesmo. Além disso, ao medir o

espaço ocupado pelo tema no jornal, é possível verificar se o assunto é considerado

importante pelo veículo já que, pela lógica, o assunto mais importante (ou mais

‘vendável’?) recebe mais espaço nas páginas. Outra variável que remete a

importância/relevância do tema é a posição em que o texto se encontra na página.

De acordo com a categorização feita na pesquisa, as notícias podem ocupar a

página inteira, metade superior, metade interior, quadrante superior direito ou

esquerdo, quadrante inferior direito ou esquerdo (Figura 1), sendo considerado

sempre onde está a maior parte do texto.

Figura 1 – Demonstração da localização dos quadrantes Fonte: Autora

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96

A fotografia é um componente que chama a atenção do leitor para a matéria,

ajuda na compreensão, complementa o texto e apresenta melhor a realidade. Dessa

forma, será analisada a valorização visual da notícia com as seguintes categorias:

matéria textual ou matéria textual complementada com fotografia, box, ilustração ou

gráficos. A composição do material, assim como o espaço destinado ao tema,

representa uma forma de dar ou não visibilidade. Além de informação, a fotografia

representa uma força a mais para a leitura do texto jornalístico. Lima (1989) coloca

que a notícia vinculada com a foto é sempre mais lida, pois ganha mais visibilidade.

Outro caso em que a foto é essencial é quando o jornal precisa chamar a atenção do

leitor e prolongar o impacto da notícia (LIMA, 1989).

As variáveis seguintes apresentam maior proximidade com o tema do

trabalho, na tentativa de apresentar nos resultado da pesquisa os temas

predominantes, o impacto das três conferências na atuação do veículo, a

abrangência das matérias e as fontes mais utilizadas pelos jornalistas, fazendo

relação com os estudos expostos nos capítulo um e dois deste trabalho.

O ‘tema amplo’ busca identificar o ‘teor’ de cada texto, ou seja, sem levar em

conta o tema específico da matéria, identificar se a idéia do texto é apresentar uma

discussão/política pública sobre o tema, uma denúncia, resultado de pesquisas,

eventos ou educação ambiental. Além da categoria ‘outro’ que pode englobar as

notícias não contempladas pelas outras categorias. A pesquisa entende como

política ou discussão pública, as notícias que apresentam projetos do governo,

discussões sobre o tema entre ministros, propostas de leis ou textos que

apresentam a opinião de alguém sobre determinado assunto específico englobado

pelo tema meio ambiente, como a discussão sobre transgênico, biodiesel etc.

Reportagens de denúncia geralmente são aquelas que apresentam resultados

impactantes, vindos de investigações tais como aumento do desmatamento, focos

de queimada, números de mortos numa enchente, entre outros. Exemplo para essa

categoria é o texto do dia 03 de novembro de 2008, que tem como título “ONG

aponta 345 Km² de degradação na AM”, que apresenta um dado que denuncia o

desmatamento na regia Norte do país. Resultados de pesquisa são as notícias que

apresentam ao leitor uma nova descoberta ou estudo que de alguma forma possui

relação com o tema, como é o caso de descobertas de novos animais

(biodiversidade), novas tecnologias para diminuir a emissão de gases etc. A opção

‘eventos’ contempla notícias que falam de conferências, palestras ou reuniões que

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tem como objetivo discutir o tema meio ambiente. ‘Educação ambiental’ faz

referência aos textos jornalísticos que têm como objetivo instruir o leitor a contribuir

para a preservação do meio ambiente seja mostrando como fazer o aproveitamento

da água, de alimentos, de papel etc.

Além da variável ‘tema amplo’, há outras duas que trabalham com o tema

específico. É o caso de ‘tema ambiental’ e ‘tema aberto’. A primeira foi construída a

partir de leituras dos três documentos que resultaram das conferências da ONU. O

‘tema ambiental’ é composto de três categorias: poluição, desenvolvimento

sustentável e mudanças climáticas. Cada uma delas, nesta ordem, representa o

tema mais relevante de cada conferência, e se não o mais relevante, o que se

desencadeou a partir do evento. Como já foi colocado no capítulo um, o tema

poluição foi o ‘carro chefe’ da conferência de 1972, em Estocolmo, e, a partir disso,

ganhou espaço na mídia e nas discussões na sociedade, pois até o momento não

possuía destaque. Em 1992, o tema que ocupou quase todo o documento resultante

da conferência foi o desenvolvimento sustentável. A discussão se baseava na

tentativa de reverter a situação em que o mundo se encontrava por meio do

desenvolvimento econômico e social sem agredir o meio ambiente. Na última

conferência, em 2002, o tema mudanças climáticas não foi tão relevante, pois o

desenvolvimento sustentável ainda permaneceu em foco, já que a reunião tinha

como objetivo avaliar os resultados da Rio-92, porém, o tema ‘novo’ que apareceu

nas discussões foi mudanças climáticas, devido ao efeito estufa, emissão de gases,

derretimento das geleiras e aumento das temperaturas (aquecimento global). A partir

dessas definições, foi possível enquadrar as notícias relacionadas a cada um desses

temas. Todo tipo de poluição, desde rios, mares, ar e água que abastece as cidades

fazem referência ao tema ambiental ‘poluição’. As reportagens que trabalham com

novas formas de desenvolvimento, pensando na proteção ao meio ambiente numa

perspectiva preservacionista, como é o caso da biodiversidade, ecologia,

reflorestamento, projetos ambientais, produção orgânica, consumo e eventos são

enquadradas na opção de ‘desenvolvimento sustentável’. Outro tipo de texto que é

considerado dessa categoria são aqueles que remetem ao não desenvolvimento

sustentável, por exemplo, o desmatamento e o tráfico de animais, pois só foram

veiculados por representar o não desenvolvimento.

A variável ‘tema aberto’ tem como objetivo identificar os temas específicos

trabalhados pelo veículo. A idéia inicial era já estabelecê-los por meio de códigos,

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98

mas como são inúmeros os assuntos e dificilmente seria possível colocar no papel

sem antes fazer a análise, optou-se em descrever o tema específico e depois

apresentar o panorama do que foi encontrado.

Outra categoria que pode ajudar a compreender a produção jornalística sobre

o tema ambiental é identificar qual a região a que o texto se refere. Nesse caso, a

variável foi dividida nas regiões do globo mais o Brasil. E, numa segunda forma de

observação, quando o texto faz referência ao Brasil, é observada de qual região

brasileira ela fala. Por meio desses dados, é possível identificar se alguma região

não é abordada, mesmo apresentando problemas ambientais, se a região mais

abordada tem a ver com o maior desenvolvimento das cidades ou com a localização

da sede do veículo etc.

As últimas três variáveis tratam das fontes de informação. A primeira e a

segunda é para identificar quais são os dois principais entrevistados utilizados na

produção jornalística de cada matéria. Para a produção do livro de códigos, foram

identificados dez tipos de fontes freqüentes nesse tipo de notícia, mais a categoria

‘outro’. ‘Estado/governo’ é quando a pessoa representa o poder público (prefeito,

governador, ministros, representantes de instituições governamentais etc.);

‘cientistas/pesquisadores’ (quando representa uma universidade, uma instituição de

pesquisa, um grupo de pesquisadores etc.). ‘Ambientalista e ONGs’ enquadram as

que representam instituições que lutam pelas causas ambientais e que defendem a

preservação do meio ambiente. Geralmente são dessas fontes que partem as

denúncias. ‘Empresas privadas’ enquadram aquelas que representam as empresas

envolvidas com o assunto da reportagem. Aqui entram os fazendeiros, latifundiários,

proprietários de grande extensão de terra etc. Define-se como ‘população’, os

entrevistados que dão depoimentos sem ser nenhuma das definições das categorias

acima citadas. Geralmente compreendem as pessoas afetadas pelos problemas

causados pela poluição, desmatamento, enchentes etc. Outra variável é

‘policia/bombeiros’, a qual aparece geralmente em matérias sobre queimadas,

desastres naturais e tragédias. ‘Legislativo’ e ‘Judiciário’ também compõem a divisão

de fontes e estão relacionados à criação de novas leis e julgamento de crimes

ambientais. Para finalizar, mais duas categorias: ONU e jornalistas. A ONU recebe

uma categoria específica por ser uma representante da sociedade organizada na

luta pela preservação do meio ambiente e os jornalistas quando eles descrevem

aquilo que presenciaram.

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99

A última variável é a quantificação das fontes para estabelecer o número total

que cada notícia apresenta. Fator este que ajuda a entender o processo de

produção quanto à utilização ou não de fontes pelos jornalistas (a pluralidade está

relacionada com os tipos de fontes e não com a quantidade utilizada).

No próximo tópico do capítulo, serão apresentados os dados recolhidos,

catalogados e analisados. As informações foram observadas tendo como base o

livro de códigos (em anexo) e seguindo as orientações descritas acima.

3.4 ANÁLISE DOS DADOS

A partir dessa etapa são apresentados os dados e a análise dos mesmos, de

acordo com as discussões propostas nos primeiros capítulos da monografia. Durante

a catalogação, foram pesquisadas 442 edições referentes à amostra dos 17 anos

em que será observada a produção jornalística sobre meio ambiente na Folha de

São Paulo. Na coleta de dados foram catalogados 783 textos, os quais foram

analisados de acordo com as variáveis descritas anteriormente neste mesmo

capítulo.

Para a análise, os dados foram agrupados em quatro partes, e cada uma foi

analisada em separado, na seguinte seqüência: 1) presença e visibilidade do tema

nas páginas do jornal; 2) tipos de temáticas referentes ao meio ambiente que são

veiculadas; 3) abrangência das matérias produzidas; 4) escolha e distribuição das

fontes nos textos de meio ambiente. O primeiro tópico abaixo mostra como o tema

meio ambiente ganha visibilidade nas páginas internas do jornal e também na capa.

3.4.1 Presença e visibilidade do tema meio ambiente nas páginas do jornal FSP

Nesta etapa da análise, são apresentadas as informações que mostram de

que forma se dá a presença e visibilidade desse tema na Folha de São Paulo no

período de 1992 a 2008. A primeira variável apresentada é o total de cm2 destinado

ao tema, nas edições que compõe a amostra. De acordo com as informações do

gráfico abaixo, não é possível identificar um crescimento contínuo desse assunto

nas páginas do jornal ao longo dos 17 anos (Gráfico 1).

Como pode ser observado, o tema apresenta períodos de pico. Os anos de

1992, 2000 e 2001 e 2008 apresentam um número elevado de matérias em relação

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20082007200620052004200320022001200019991998199719961995199419931992

tam

anho

em

cm

2

40000,00

30000,00

20000,00

10000,00

0,00

Espaço total ocupado pela temática Meio Ambiente por ano (cm2)

aos demais. E, além dos anos que chamaremos de pico, há também os estágios

intermediários que se caracterizam distintamente: entre 1993 e 1999 há uma

tendência de queda e entre 2001 e 2007 uma tendência de crescimento.

Gráfico 1 – Espaço total ocupado pelo tema meio ambiente no jornal (cm2) Fonte: Autora

É possível perceber que há os três picos onde o tema ganhou maior espaço,

mas não há crescimento contínuo da produção no jornal. Essa maior disponibilidade

de espaço, nesses três períodos, pode ser explicada de acordo com acontecimentos

marcantes de cada época. Em 1992, por exemplo, o que pode ajudar a explicar a

elevação no espaço destinado ao meio ambiente foi a Eco-92 no Brasil, que teve

uma grande cobertura jornalística. Nas edições de 1992 que compuseram a

amostra, foram encontrados 70 textos jornalísticos, sendo que, destes, 29 tratavam

especificamente da Eco-92. ‘Europeus tentam aproximação com EUA para evitar

fracasso da Eco-92’ (7/6/1992) e ‘Noruega critica resultados da Eco-92’ (15/06/92)

são exemplos de textos que enfatizaram o evento e se repetiram diversas vezes no

ano de 1992 fazendo com que aumentasse o espaço utilizado pelo tema meio

ambiente naquele ano (os textos completos estão no Anexo A).

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101

O segundo momento de pico, que compreende os períodos de 2000 e 2001,

tem duas explicações. A primeira delas é que, a partir de 20005, ‘Ciência’ passa a

ser editoria e ter periodicidade diária (em alguns períodos, temas relacionados à

ciência ocupavam apenas meia página, dividindo com ‘Atmosfera’). A editoria

‘Ciência’ apresentou um total de 182 entradas, sendo que, anterior ao ano 2000, na

amostra coletada, a seção (que ainda não era considerada editoria) de “Ciência”

teve apenas 10 entradas. Dessa forma, partir de 2000, a editoria teve 172 entradas

coletadas, concentrando grande parte dos textos de meio ambiente. Só em 2000 e

2001, foram 37, mais de 20% do total. Dessa forma, a concentração dos textos em

“Ciência” pode ter aumentado o espaço destinado ao tema no jornal. Ou seja, o

surgimento da editoria pode ser responsável pelo aumento da entrada sobre o

assunto a partir desse período. Se antes não havia um local ‘adequado’ para

produção sobre o tema, com a implantação dessa editoria foi possível abordá-lo

mais vezes. Mesmo surgida apenas em 2002, “Ciência” aparece em segundo lugar,

como a editoria que mais concentra a produção em meio ambiente.

Outra explicação para o aumento do espaço utilizado pelas notícias é a

entrada de novos temas específicos a partir desse período. O tema ‘coleta seletiva’

apresentou oito textos coletados na amostra, sendo que seis estão nesses dois

anos. O tema ‘transgênicos’, por exemplo, ganhou visibilidade no ano 2000. Das 35

noticias que representam esse tema específico durante todo o período, 10 estão

presentes no ano 2000. Outro tema que ganha destaque nesse ano é ‘legislação

ambiental’, pois das 13 notícias catalogadas, cinco são datadas deste período. Em

2001, um assunto que apresenta maior visibilidade do que nos demais períodos são

os protocolos resultantes das conferências que debatem o tema meio ambiente,

como de Kyoto, do Clima e das Florestas. Foram catalogadas 10 reportagens sobre

essas temáticas específicas e cinco delas são datadas do ano de 2001.

O terceiro pico também pode ser justificado pela entrada de alguns temas em

maior número no ano de 2008, aumentando também o número de entradas, como é

o caso do ‘desmatamento’ (com 13 das 47 entradas totais), ‘preservação’ (com 10

das 24 entradas totais) e ‘enchentes’ (2008 teve 14 das 112 entradas totais, 2º maior

número após 1994, com 15). A tabela abaixo (Tabela 1) ajuda a compreender as

informações, pois apresenta o valor em cm2 referente a cada ano de análise.

5 Informação fornecida por funcionários do Banco de Dados da Folha de São Paulo no dia 4 de agosto de 2009 por telefone.

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102

TABELA 1 – Espaço total utilizado com o tema meio ambiente

Ano Nº matérias/ano Total espaço cm² ano 1992 70 17905,75 1993 13 4588,50 1994 35 12327,00 1995 38 9877,50 1996 30 7970,50 1997 40 10777,00 1998 34 9787,00 1999 18 5332,00 2000 65 20790,50 2001 60 20285,00 2002 29 6706,00 2003 47 13130,50 2004 46 11507,10 2005 54 15563,75 2006 48 17094,00 2007 50 14893,50 2008 106 35951,45 TOTAL 783 (média/ano) 13793,35

Fonte: Autora

Pelo gráfico e pela tabela acima, é possível perceber os três momentos

históricos distintos: o primeiro que chamamos de picos e que compreende os anos

de 1992, 2000, 2001 e 2008 (que explicamos acima), o segundo que é a queda

(1993 a 1999) e o terceiro que é o crescimento (2002 a 2007).

Os períodos de queda e aumento do espaço destinado ao tema podem ser

explicados por alguns fatos que aconteceram na sociedade que se refletiram nas

redações e influenciaram na produção realizada pelo veículo. O período entre 1993

e 1999 apresenta uma tendência de queda no espaço utilizado pelas notícias de

meio ambiente e o que pode ajudar a explicar isso, são os problemas políticos e

econômicos (Governo Collor e Plano Real) que ficaram bastante visíveis nas

páginas do jornal nesse espaço de tempo. Em alguns casos, esses temas ocupavam

quase todo o espaço das editorias e ganhavam ainda uma editoria especial.

Alguns autores, como Trigueiro (2008) e Aguiar (2005), defendem que a partir

de 1992 houve um crescimento do tema na mídia, especialmente nos diários, porém

de acordo com os dados coletados na Folha de São Paulo, é possível perceber que,

após 1992 (ano em que aconteceu a ECO-92), diminuiu o espaço destinado ao meio

ambiente. A modificação na abordagem observada nessa pesquisa também é

enfatizada por Camargo, Capobianco e Oliveira (2004) que justificam a menor

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103

visibilidade da produção em meio ambiente nesse período devido ao aparecimento

desses outros dois temas, minimizando a importância do meio ambiente.

Já o terceiro momento, chamado de crescimento, pode ser explicado

principalmente pelo aparecimento de novos assuntos relacionados ao meio

ambiente ao longo desses anos, principalmente a partir de 2000. Alguns temas que

ganharam visibilidade nesse período e possivelmente influenciaram o aumento da

produção foi ‘desmatamento’, ‘biodiversidade’, ‘mudanças climáticas’ e

‘biocombustível’. Este último, por exemplo, teve seu auge em 2007 e as primeiras

matérias catalogadas sobre o tema na amostra datam de 2004. ‘Mudanças

climáticas’, apesar de já ter aparecido na década de 90, aparece em maior número

no ano de 2007, após o lançamento do último relatório do IPCC sobre mudanças

climáticas e aquecimento global. Dessa forma, como os temas que entraram em

debate na sociedade passaram a incorporar a agenda dos jornalistas, isso pode ter

aumentado espaço ocupado pelo meio ambiente nesse período.

Já é possível, a partir desses dados iniciais da pesquisa, retomar uma das

hipóteses do trabalho, que se refere ao aumento da produção ambiental no jornal

durante o período. Como foi percebido nos dados apresentados, essa afirmação não

procede, pois, apesar dos períodos de pico e do aumento do espaço utilizado no

estágio de 2000 a 2007, não há um crescimento constante do espaço utilizado pelo

assunto no jornal, mas sim oscilante, que não possibilita afirmar que o tema de fato

obteve maior visibilidade com o passar dos anos. Essa oscilação mostra que meio

ambiente não é um assunto de discussão permanente no veículo, mas sim que

depende de acontecimentos factuais para ser noticiado.

Para complementar as informações sobre o espaço destinado ao tema ao

longo dos 17 anos, apresentamos agora os resultados referentes à quantidade de

entradas (textos por edição). Nesse caso, analisando o gráfico seguinte (Gráfico 2)

percebe-se um padrão muito mais normal, ou seja, com diferenças menores no

número de entrada entre os anos.

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20082007200620052004200320022001200019991998199719961995199419931992

Mea

n nú

mer

o da

ent

rada

6

5

4

3

2

1

0

Número médio de textos sobre meio ambiente por edição pesquisada

Gráfico 2 – Número médio de textos por edição pesquisada Fonte: Autora

Analisando o número de textos catalogados, apenas o ano de 1992 apresenta

uma quantidade muito acima dos demais (mais de cinco textos por edição). Nos

outros anos, esse número varia entre um e três textos por edição. Ou seja, as

grandes mudanças na variável anterior (cm2) devem-se mais à diferença de espaço

ocupado pelos textos e não ao maior ou menor número deles no jornal, o que leva à

discussão sobre a visibilidade do tema nas páginas do jornal e também volta na

afirmação da primeira hipótese do trabalho. Quando observado o número de textos

por edição, percebe-se uma maior estabilidade no gráfico, o que significa que, além

de não haver um aumento constante do espaço utilizado pelo tema meio ambiente

ao longo do tempo, também se percebe que a quantidade de textos por edição não

se eleva. Mais uma vez pode-se confirmar que a hipótese inicial não procede.

No ano de 1992, o aumento da produção foi marcante, principalmente na

imprensa brasileira, pelo fato de que a Eco-92 aconteceu no Rio de Janeiro. Dessa

forma foi uma ‘grande fonte’ de pautas para os veículos brasileiros durante o

período. Mas, apesar da realização de outros eventos e conferências, como é o caso

da Rio+10, Rio+5, que não aconteceram no Brasil, houve diminuição do textos no

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jornal. A tabela abaixo (tabela 2), que complementa as informações do gráfico 2,

apresenta detalhadamente o número de texto catalogados em cada ano, a média de

textos por edição e apresenta a média geral durante o período, que foi de 2,7 textos

por edição.

TABELA 2 – Número de entradas por edição

Fonte: Autora

A partir dessa tabela, também se percebe mais claramente que há pouca

diferença no número de entradas entre os anos analisados. Ou seja, isso revela que

o espaço utilizado não segue a mesma lógica da quantidade de textos publicados.

Olhando para o valor total de entradas, apenas 1992 e 2008 apresentam números

mais elevados de textos. O ‘espaço utilizado’ varia mais do que o número de texto

catalogado em cada ano durante o período. Enquanto a média de textos permanece

mais estável, o espaço aparece bastante oscilante. Como já percebemos que a

variável ‘espaço utilizado’ apresenta os três momentos distintos (picos, queda e

crescimento) e há pouca mudança com relação ao número de entradas, o gráfico

abaixo (Gráfico 3) apresenta os resultados referentes ao tamanho dos textos, que

foram divididos em pequeno, médio e grande de acordo com a Fórmula de Sturges.6

6 Os limites de espaço entre pequeno médio e grande são definidos a partir de uma fórmula, chamada de Fórmula de Sturges, que distribui os casos em amplitudes iguais. Exemplo: se menor texto tem 10

Ano Número Textos Média Textos/Ed 1992 70 5,54 1993 13 1,38 1994 35 2,54 1995 38 2,32 1996 30 1,97 1997 40 2,70 1998 34 2,29 1999 18 1,50 2000 65 2,89 2001 60 2,85 2002 29 2,17 2003 47 2,23 2004 46 2,20 2005 54 2,20 2006 48 1,96 2007 50 2,46 2008 106 3,25 TOTAL 783 2,76

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106

20082007200620052004200320022001200019991998199719961995199419931992

N of

núm

ero

da e

ntra

da

80

70

60

50

40

30

20

10

0

altomédiobaixo

Tamanho por categorias

Gráfico 3 – Tamanho do texto (pequeno, médio e grande) Fonte: Autora

A partir desse gráfico, é possível observar a visibilidade do tema nas páginas

do jornal de acordo com o espaço disponibilizado pelos diferentes tamanhos de

texto. Pelos dados, percebe-se que os textos curtos estão presentes ao longo do

período sempre em maior número que os de tamanho médio e grande. Vale

ressaltar que isso não acontece apenas com o tema meio ambiente, mas também

com os demais assuntos o que significa que os veículos têm preferência por textos

menores. Nos períodos de pico (1992, 2000, 2002 e 2008), eles se elevam ainda

mais. Das 70 entradas no ano de 1992, por exemplo, 63 foram de textos curtos e 7

se enquadraram como médio e grande. A disparidade entre os textos de tamanho

pequeno e grande/médio é bastante evidente em todos os anos analisados. A tabela

abaixo (Tabela 3) mostra mais especificadamente como essas três categorias

aparecem distribuídas em cada ano analisado.

cm2 e o maior 1000 cm2, a fórmula trabalha com a amplitude de 990 cm2 e divide em três partes com mesmas amplitudes (330 cm2) cada um.

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TABELA 3 – Tamanho categórico (Sturges) dos textos coletados

Ano Baixo Médio Alto Total 1992 63 90,00% 6 8,60% 1 1,40% 70 100,00% 1993 9 69,20% 4 30,80% 0 0,00% 13 100,00% 1994 28 80,00% 7 20,00% 0 0,00% 35 100,00% 1995 34 89,50% 3 7,90% 1 2,60% 38 100,00% 1996 26 86,70% 4 13,30% 0 0,00% 30 100,00% 1997 33 82,50% 6 15,00% 1 2,50% 40 100,00% 1998 29 85,30% 5 14,70% 0 0,00% 34 100,00% 1999 17 94,40% 1 5,60% 0 0,00% 18 100,00% 2000 56 86,20% 7 10,80% 2 3,10% 65 100,00% 2001 48 80,00% 10 16,70% 2 3,30% 60 100,00% 2002 27 93,10% 2 6,90% 0 0,00% 29 100,00% 2003 40 85,10% 5 10,60% 2 4,30% 47 100,00% 2004 40 87,00% 6 13,00% 0 0,00% 46 100,00% 2005 48 88,90% 5 9,30% 1 1,90% 54 100,00% 2006 39 81,30% 8 16,70% 1 2,10% 48 100,00% 2007 43 86,00% 6 12,00% 1 2,00% 50 100,00% 2008 81 76,40% 22 20,80% 3 2,80% 106 100,00%

Total 661 84,40% 107 13,70% 15 1,90% 783 100,00% Fonte: Autora

Como pode ser observado, aos textos médios demonstram elevação nos

períodos de pico e representam, dessa forma, o aumento do espaço utilizado nesses

três espaços de tempo. Os anos de 2001 e 2008, por exemplo, apresentam 10 e 22

entradas, respectivamente, de textos de tamanho médio, sendo que estas foram as

maiores entradas durante todo o período e conseqüentemente são dois dos

momentos de picos quando observado o espaço utilizado. Não é possível afirmar

que houve um crescimento constante (há algumas oscilações), mas percebe-se que

em 1992 os textos dessa categoria ocupavam 8,6% do total e em 2008 passaram a

ocupar 20,8%.

Os de tamanho grande, como pode ser observado no gráfico e na tabela

acima (Gráfico e Tabela 3), também apresentam elevação. Analisando o ano de

1992 e de 2008, por exemplo, percebe-se que dobrou a quantidade (1,4% do total

passou para 2,8%). Ressalta-se que houve aumento das duas categorias, o que

deve ser levado em consideração para explicar os períodos de pico no espaço

ocupado pelo tema, mas, mesmo a partir dessas informações, as matérias ainda

tendem a ser de maioria curtas. Das 783 entradas, 661 são de textos curtos (84,4%),

107 médios (13,7%) e 15 grandes (1,9%).

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Esses dados referentes ao tamanho dos textos levam à outra discussão, que

diz respeito ao fato do jornalismo ambiental ser um tipo de especialização, que

deveria trabalhar de uma forma mais aprofundada na produção dos textos. Porém,

quando se dá preferência a textos curtos, como é a maioria dos casos analisados,

não é possível contextualizar e produzir com o máximo de profundidade, que é como

Schwaab (2005) define que deve ser o jornalismo especializado. Além disso, textos

curtos ocupam pouco espaço no veículo, o que significa que possui menos

visibilidade do que se apresentassem um tamanho maior. A tabela abaixo (Tabela 4)

mostra dados referentes à posição dos textos na página do jornal, o que também

está intimamente ligado com a visibilidade dada ao tema.

TABELA 4 – Localização dos textos na página do jornal Localização Na Página Freqüência % Página Inteira 4 0,5 Metade Superior 54 6,9 Metade Inferior 1 0,1 Quadrante Superior Direito 117 14,9 Quadrante Superior Esquerdo 200 25,5 Quadrante Inferior Direito 191 24,4 Quadrante Inferior Esquerdo 216 27,6

Fonte: Autora

Esses dados demonstram que, além dos textos coletados na amostra serem a

maioria de pequeno porte, mais de 52% deles está na parte inferior do jornal

(metade inferior, quadrante inferior direto e esquerdo), ou seja, na parte em que a

visibilidade é menor. Outro dado que mostra que o veículo dá pouca visibilidade ao

tema é que apenas quatro dos 718 textos internos coletados na amostra ocuparam

página inteira. Isso acontece por que geralmente parte da página é utilizada para a

publicidade, o que impede textos maiores, já que sempre há um espaço delimitado

para anunciantes. Isso já mostra como os fatores externos podem influenciar no tipo

de jornalismo produzido pelo veículo, pois grande parte do jornal, que poderia

apresentar texto jornalístico, é voltada para os anunciantes. Dessa forma, a

publicidade também pode ser uma das possíveis causas da pouca produção de

tamanho grande no jornal. Outro dado que pode mostrar como o tema meio

ambiente aparece no jornal é a presença ou não de elementos gráficos para compor

os textos (Tabela 5).

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TABELA 5 – Composição dos textos jornalísticos sobre meio ambiente Composição Freqüência % Texto apenas 410 52,4 Texto com elementos gráficos 373 47,6

Total 783 100,0 Fonte: Autora

A composição dos textos com elementos gráficos (Tabela 5) também é um

dado importante, pois os gráficos e fotos são responsáveis em chamar a atenção do

leitor para ler o texto. Apesar da tabela não apresentar uma diferença tão elevada

(menos de 5%) é importante ressaltar esses números que mostram de que forma as

notícias aparecem nas páginas. Nesse caso, as matérias que possuem elementos

gráficos estão quase na mesma proporção do que aquelas que não têm.

Além do não crescimento constante do tema na produção jornalística do

periódico no decorrer do período, de 1992 a 2008 (tanto relacionado com o espaço

quanto com o número de entradas), o tema não se apresenta nos lugares mais

estratégicos das páginas e mais de 50% não apresenta elementos gráficos. Além

disso, cerca de 80% dos textos catalogados são de pequeno porte, perdendo as

características do jornalismo especializado propostas pelos autores que trabalham o

assunto.

Como até o momento está sendo falado de espaço e visibilidade do tema no

jornal, abaixo serão apresentados os dados referentes apenas à apresentação do

tema na primeira página, já que a capa é o espaço de maior visibilidade do jornal

impresso. A tabela abaixo (Tabela 6) apresenta os dados referentes às chamadas de

capa catalogadas em cada ano de análise e a média por edição.

Na tabela, consideram-se apenas as capas que apresentaram chamadas

sobre meio ambiente, ou seja, das 783 edições, apenas 60 apresentaram chamada

de capa, totalizando 65. Um número relativamente baixo, pois apenas 13,5% do total

de edições analisadas possuem chamadas de capa, o que representa que o tema

meio ambiente tem pouca visibilidade na primeira página dos jornais.

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TABELA 6 – Presença do tema meio ambiente na capa do jornal

Ano Número de chamadas Média por edição em que aparece 1992 6 1,00 1994 3 1,00 1995 4 2,00 1996 6 1,17 1997 2 2,00 1998 1 1,00 1999 3 1,33 2000 5 1,00 2001 4 1,00 2002 1 1,00 2003 5 1,00 2004 5 1,00 2005 6 1,00 2006 2 1,00 2007 1 1,00 2008 11 1,18 Total 65 1,15

Fonte: Autora

Apesar da média apresentada na tabela ser de 1,15 por edição, o dado mais

importante é a inexistência das chamadas no restante das edições analisadas.

Quando comparado o número de chamadas (65) com o número de textos internos

do jornal (718), apenas 9% deles apresentam chamada na primeira página. Isso

significa que, apesar de existirem os textos sobre o tema no interior do jornal, o

assunto ainda não é considerado importante para merecer visibilidade na capa,

como por exemplo, o tema ‘política’ ou ‘economia’, que sempre ganham espaço nas

capas dos jornais. O Gráfico 4, abaixo, mostra o número de chamadas de capa em

cada ano analisado.

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Gráfico 4 – Número de chamadas de 1ª página por ano Fonte: Autora

Os dados mostram o total de chamadas de primeira página por ano,

exemplificando melhor a tabela 6. Novamente, a variação não apresenta uma

tendência constante, assim como nas demais variáveis já analisadas, oscilando ao

longo do tempo, exceto no último ano da pesquisa, 2008, quando temos 11

chamadas sobre meio ambiente, um número alto em relação aos outros anos, que

pode ser explicado pela maior entrada de texto nesse período em relação aos outros

anos.

Fazendo a relação do tema com o que aparece nas chamadas, das 65

entradas na capa, 37 são de denúncia, 14 sobre discussão/políticas públicas, 8

relacionadas a pesquisas científicas, quatro de eventos, uma de educação ambiental

e uma na categoria ‘outro’. Esses dados mostram que quando o assunto trata de

denúncia ele ganha mais visibilidade do que quando está relacionado com os

demais temas.

Já o gráfico a seguir (Gráfico 5) apresenta a distribuição do espaço (em cm2)

ocupado pelo tema meio ambiente na primeira página. A partir dele podemos

perceber algumas variações em relação ao número de chamadas. Há alguns

padrões entre os anos. Entre 1992 e 1996 há uma tendência na manutenção do

espaço na primeira página. Em 1997 há uma queda drástica, seguida de um

movimento de crescimento até 2002. Depois, oscilações com tendência de queda

até 2008.

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Gráfico 5 – Espaço (cm2) ocupado pelo tema meio ambiente na 1ª. página. Fonte: Autora

Em alguns casos, a relação entre espaço e número de chamadas varia, pois

apesar de poucas chamadas em determinado período, o espaço dado a elas são

maiores (e com fotos, por exemplo) enquanto em outro período apesar de ser maior

o número de chamadas, menor é a visibilidade dada a elas (sem foto, poucos

caracteres, sem ser manchete etc.). É o caso, do ano de 2001 e 2008. Em 2001

apesar do número de chamadas ser menor do que de 2008 (4 e 11,

respectivamente), o espaço utilizado é maior em 2001 do que em 2008 (298,1250

cm2 e 184,8818 cm2). Para complementar as informações do gráfico acima, a tabela

seguinte (Tabela 7) mostra a média em cm2 ocupada por ano pelas chamadas de

primeira página sobre meio ambiente.

A média de todo o período foi de 185 cm2. Percebe-se claramente que a partir

de 2003 há uma significativa queda na média de cm2. Entre 1992 e 2002 as médias

variam entre 175 a 338. De 2003 a 2008 as variações vão de 31 até 184 cm2. De

fato, o tema perdeu visibilidade nesse período na primeira página. Dessa forma,

apesar de o tema ter um significativo crescimento no jornal durante 2002 e 2008 (de

acordo com as informações presentes no Gráfico 1), ele aparece utilizando menos

espaço na primeira página, onde seria o espaço mais importante do jornal. Porém,

não se sabe se essa diminuição do espaço foi apenas do tema meio ambiente ou de

outros assuntos também, já que isso pode ser resultado de reformulação gráfica e

inclusão de maior número de chamadas a partir de certo tempo no jornal.

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TABELA 7 - Espaço (cm2) utilizado pelo tema ambiental nas capas do jornal

Ano Número de chamadas Média em cm2 1992 6 258,2917 1994 3 338,1667 1995 4 251,8750 1996 6 204,4167 1997 2 34,8750 1998 1 373,5000 1999 3 275,1667 2000 5 175,8000 2001 4 298,1250 2002 1 310,5000 2003 5 136,5500 2004 5 31,0500 2005 6 73,4167 2006 2 136,2500 2007 1 40,5000 2008 11 184,8818 Total 65 185,7569

Fonte: Autora

Antes de passar para o próximo tópico, são feitas algumas considerações a

respeito dos resultados obtidos até o momento. A primeira observação é relacionada

à contestação da primeira hipótese proposta no trabalho, pois apesar de alguns

teóricos defenderem o aumento da produção jornalística em meio ambiente partir da

realização da Eco-92, os dados obtidos nesta pesquisa feita com a Folha de São

Paulo não mostram isso nesse veículo. Por meio dos dados recolhidos na amostra,

percebe-se que o tema não apresenta um crescimento constante durante os 17 anos

analisados, apenas apresentou alguns períodos de pico, que são bastante pontuais

relacionados a eventos e acontecimentos da época. Isso mostra que o tema ainda

não é permanente no jornal, necessitando de acontecimentos específicos para

ganhar visibilidade, como o caso da Eco-92, dos Protocolos e do surgimento de

novos temas como biodiesel. Outro ponto importante a respeito da visibilidade no

jornal é que o tema possui pouca representatividade nas capas, com relação ao

número de textos internos (apenas 13,5% dos textos foi destaque na capa do jornal).

Isso mostra que o tema meio ambiente além de não ser um assunto permanente do

veículo, como esporte, política ou economia, também ainda não é considerado

importante o suficiente para merecer destaque maior nas capas. Comparando os

dados com uma pesquisa realizada pelo Grupo de Mídia, Política e Atores Sociais da

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UEPG que observou 92 edições de 1º de agosto a 31 de outubro de 2007, o tema

Economia, por exemplo, aparece em chamada de capa com 236 entradas. Esse

número demonstra que o tema meio ambiente, quando relacionado com outros

assuntos, aparece com bem menos visibilidade. Além disso, comparando a Folha de

São Paulo com outros veículos, os dados mostram que o jornal da menos

visibilidade ao tema. O Grupo de Mídia e Política observou também o Jornal Gazeta

do Povo, onde o tema meio ambiente aparece 131 vezes nas 92 edições. Isso

mostra que na Folha de São Paulo o tema ganha pouca visibilidade também se

comparado a outros veículos.

Além desses dois pontos importantes, outro fator relevante é que a grande

incidência de textos curtos demonstra que a produção em meio ambiente é bastante

fragmentada e não aprofundada, o que acaba contrariando os conceitos de

jornalismo especializado apresentados no capítulo dois, ou seja, há distinção entre o

que é produzido pelo veículo e o que os autores definem como sendo esse tipo de

jornalismo. Esse elevado número de textos curtos pode estar relacionado ao espaço

que precisa ser destinado à publicidade e também remete a preferência do veículo

por esse modelo de produção, já que esse resultado não é apenas encontrado em

análises de notícias desse assunto, mas também de outros. Vale ressaltar que

durante o período aumentou o número de textos médios e curtos, mas os de

tamanho pequeno continuam prevalecendo sobre os demais. No próximo tópico,

serão apresentados os temas abordados pelo jornal ao longo do período

pesquisado, que, junto com esses dados, vão ajudando a explicar como o tema meio

ambiente aparece nas páginas do jornal.

3.4.2 Os temas veiculados no jornal

Neste segundo momento serão apresentados os dados referentes às

variáveis específicas sobre as temáticas relacionadas ao meio ambiente. Tema

ambiental, geral e específico são as três formas em que foi observado o conteúdo

apresentado pelo jornal nas edições catalogadas. Para tentar explicar de que forma

o veículo aborda os diferentes assuntos relacionados ao tema central desta

pesquisa, apresentamos nesta primeira tabela (Tabela 8) como que as três

discussões centrais das conferências realizadas pela ONU estiveram presentes no

jornal.

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TABELA 8 – Número de vezes que os temas aparece durante o período

Tema Ambiental Freqüência % Poluição_Estocolmo-72 180 23,0 Desenvolvimento Sustentável_Rio 92 368 47,0 Mudanças climáticas_Rio+10 235 30,0 Total 783 100,0

Fonte: autora

De acordo com a tabela (Tabela 8), é possível perceber que o tema

‘Desenvolvimento Sustentável’, que foi a principal discussão durante a ECO-92, é

também o que mais apareceu durante os 17 anos analisados (47% das entradas).

‘Poluição’, por exemplo, não chega nem a metade do número de entradas sobre

‘Desenvolvimento Sustentável’ (180 de poluição contra 368 de desenvolvimento

sustentável). ‘Mudanças climáticas’ ficaram com 30% das entradas totais do período

(235 entradas). Outro dado que ajuda a compreender como esses temas aparecem

no jornal, e se de fato, os eventos tiveram alguma relevância para influenciar a

discussão sobre eles, é mostrado no gráfico abaixo (Gráfico 6), o qual apresenta a

quantidade de entradas desses três assuntos ao longo do tempo.

Gráfico 6 – Distribuição dos temas ao longo dos anos

Fonte: Autora

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Por meio do Gráfico 6, é possível perceber que, apesar dos eventos terem os

três temas como principal discussão em cada um deles, as conferências não

influenciaram para aumentar a cobertura do veículo sobre eles. As informações do

gráfico mostram que não há relação entre a realização dos eventos e o aumento de

entradas sobre os temas no jornal, pelo menos em 2002. Uma das hipóteses

colocadas no início do trabalho era que os eventos tiveram influência no aumento do

número de textos de 1992 e 2002, devido à realização das duas conferências da

ONU. Mesmo que no Gráfico 6 os dados não mostram o número total de entradas

desses dois períodos, já é possível perceber que em 2002, a conferência não ‘surtiu

efeito’ nem para aumentar a produção sobre ‘desenvolvimento sustável’, que foi

retomado, nem das ‘mudanças climáticas’ que era o assunto novo que foi discutido.

O ‘desenvolvimento sustentável’, além de ter o maior número de entradas

durante o período todo é aquele que possui mais entradas em cada ano (exceto

1994, 1996 1998). O que pode ajudar a explicar os três períodos de pico (1992,

2000 e 2008) é que no primeiro caso houve a realização da Eco-92, a qual discutiu o

tema, no segundo, pelo aumento de notícias sobre legislação, novas tecnologias e

discussão/políticas públicas’ e no terceiro pelo fato de ser o ano em que teve o maior

número de textos coletados, fazendo com que os três tivessem uma elevação no

período. Relacionando com os outros dois assuntos, o ‘desenvolvimento sustentável’

é o único em que o aumento do número de notícias pode ter relação com o evento

no qual ele foi discutido (Eco-92, em 1992, no Rio de Janeiro). Além disso, ele se

manteve durante quase todo o período pesquisado liderando o número de textos no

jornal, perdendo apenas em 1994, 1996 e 1998 para os outros dois.

O tema ‘mudanças climáticas’, foi o ‘assunto novo’ na Rio+10, em

Johanesburgo, na África do Sul, mas o Gráfico 6 mostra que o evento não teve força

para aumentar o número de notícias sobre o tema na Folha de São Paulo. O evento

aconteceu em 2002, mas ‘mudanças climáticas’, além de já ser pauta desde o início

da pesquisa, não teve aumento significativo no ano em que aconteceu o evento.

Vale ressaltar que, em 2002, o tema teve menos entradas do que nos anos

anteriores (2000 e 2001). Nos anos seguintes ao evento, em 2004 e 2005, foi

percebido um pequeno aumento, mas mesmo assim não foi tão relevante, pois 2001

continua tendo maior número de entradas e, nos anos de 2003, 2006 e 2007, houve

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uma queda. Isso mostra que o tema oscila durante todo o período e tem seu pico em

2008, o que está relacionado com o aumento no número de entradas naquele ano.

Já ‘poluição’, que foi uma das discussões centrais da Conferência de

Estocolmo (1972), aparece em maior número apenas a partir do ano 2000. Isso

significa que o assunto também não é estável no jornal, pois aparece em maior

proporção apenas nos últimos anos da pesquisa. Apesar de a poluição ser um

assunto recorrente no planeta, o tema não é pauta freqüente no jornal e é o que

menos aparece dos três. A Tabela 9 mostra a freqüência dos temas ao longo dos

anos de forma mais clara complementando as informações do Gráfico 6.

TABELA 9 – Freqüência dos temas ao longo dos anos

Fonte: Autora

É possível identificar que, no ano de 2008, como já foi colocado, houve um

aumento elevado de todos os temas, já que foi o ano em que teve maior incidência

de entradas (13,5% do total) e como mostram os dados da Tabela 9, todos os

assuntos também tiveram maior número de matérias, comparando com períodos

anteriores. Além disso, essa tabela apresenta os pontos de picos semelhantes

Ano Poluição Des. Sust. Mud. Clim. Total 1992 3,3% 6 13,3% 49 6,4% 15 8,9% 70 1993 6% 1 2,2% 8 1,7% 4 1,7% 13 1994 5,0% 9 1,6% 6 8,5% 20 4,5% 35 1995 6,7% 12 3,8% 14 5,1% 12 4,9% 38 1996 5,0% 9 2,2% 8 5,5% 13 3,8% 30 1997 1,7% 3 5,2% 19 7,7% 18 5,1% 40 1998 5,6% 10 1,6% 6 7,7% 18 4,3% 34 1999 2,2% 4 2,4% 9 2,1% 5 2,3% 18 2000 9,4% 17 9,8% 36 5,1% 12 8,3% 65 2001 10,0% 18 6,3% 23 8,1% 19 7,7% 60 2002 6,1% 11 1,9% 7 4,7% 11 3,7% 29 2003 9,4% 17 5,4% 20 4,3% 10 6,0% 47 2004 3,3% 6 7,3% 27 5,5% 13 5,9% 46 2005 6,1% 11 7,1% 26 7,2% 17 6,9% 54 2006 5,0% 9 8,4% 31 3,4% 8 6,1% 48 2007 7,2% 13 6,8% 25 5,1% 12 6,4% 50 2008 13,3% 24 14,7% 54 11,9% 28 13,5% 106 Total 100,0% 180 100,0% 368 100,0% 235 100,0% 783

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àqueles identificados na Tabela 1 e Gráfico 1, sobre a maior utilização do espaço

para o tema dentro do jornal (em 1992, 2000, 2001 e 2008).

Com os dados da Tabela 9, após já observarmos que a conferência de 2002

não aumentou a produção sobre mudanças climáticas nem sobre desenvolvimento

sustentável, podemos ver nos valores totais de entradas, que 2002 também não tem

elevação quanto ao número total de textos, diferente de 1992, em que o evento foi

responsável pelo aumento da produção. Dessa forma, uma das hipóteses iniciais

que fazia referência ao aumento da produção, em decorrência dos grandes eventos

promovidos pela ONU, não procede, pois em 2002 o evento não refletiu em aumento

da produção, nem sobre os temas específicos e nem no número total de entradas. O

que pode ajudar a explicar essa diferença observada entre a atuação de um evento

e outro na produção do jornal é a questão geográfica. A ECO-92 aconteceu no Rio

de Janeiro, o que pode ser uma das influências para a maior produção do veículo já

que era na área de abrangência do veículo. O evento instigou as discussões sobre o

tema, fazendo com que o jornal produzisse mais sobre aquele assunto. Porém isso

não ocorre quando acontece a Rio+10, em Johanesburgo. A pesar da tendência da

globalização, do uso de agências de notícias e da própria internet, o jornalismo

ainda tem como valor notícia a proximidade, por isso que um evento teve influência

na produção e o outro não.

Além do tema ambiental, a análise apresenta outra variável nessa mesma

área que discute os assuntos apresentados pelo veículo. Porém, esta outra está

relacionada com o tema geral da matéria (políticas/discussão pública, denúncia,

resultado de pesquisa, eventos, educação ambiental e outro). A tabela que vem a

seguir (Tabela 10) mostra o número de entradas de cada uma das categorias

durante todo o período analisado.

TABELA 10 – Números de entradas de cada tema durante o período

Fonte: Autora

Tema Geral Freqüência % Políticas públicas em meio ambiente 238 30,4 Denúncia 372 47,5 Resultado de pesquisas 93 11,9 Eventos 61 7,8 Educação ambiental 15 1,9 Outro 4 0,5 Total 783 100,0

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‘Denúncia’ é o tema mais recorrente durante todo o período analisado,

chegando a 47,5% dos textos coletados. Dessa forma, uma das hipóteses propostas

no início do trabalho, de que notícias sobre denúncia não aparecem no jornal, não

se verifica, já que os dados da amostra dizem que quase 50% dos textos são dessa

categoria (372 dos 783 textos). Vale ressaltar que isso é uma característica

observada apenas na Folha de são Paulo e não na produção geral da imprensa

sobre meio ambiente. Esse dado obtido na análise não significa que não há

influência da publicidade ou de outras ações externas às redações na produção do

material jornalístico, porém se há interferências no jornal, ela não se dá pela

exclusão de determinados temas, como os de ‘denúncia’, que era o que se

imaginava antes da análise, mas sim de outras formas, as quais só são possíveis de

estudar numa pesquisa mais aprofundada de caráter qualitativo.

Outro tema que é bastante visível no jornal e ocupa a segunda colocação

entre os que mais aparecem é ‘discussão e política pública em meio ambiente’. Essa

categoria ficou com 30,4% das entradas. Esse resultado pode estar relacionado com

a facilidade na cobertura, já que quando se trata de políticas públicas, na maior parte

dos casos, um dos entrevistados será fonte oficial (ministro, deputado etc.) e como

há preferência do veículo por esse tipo de fontes (como veremos mais à frente)

facilitaria a cobertura. ‘Resultados de pesquisa’ ocupa a terceira colocação com

11,9% e ‘eventos’ fica com 7,8%. Já ‘educação ambiental’ e ‘outro’ são quase

insignificantes perto do número de entradas (783) obtidas na pesquisa. ‘Educação

ambiental’ possui 15 entradas e ‘outro’, apenas quatro entradas.

Outra hipótese proposta no início do trabalho se refere ao pequeno número

de textos referentes à educação ambiental e por meio dos dados observados é

possível dizer que esta afirmação procede, pois dos 783 textos catalogados, apenas

15 era sobre o tema. Dessa forma, é possível dizer que pelo número de entradas,

esse assunto específico não recebe visibilidade no jornal. Nessa argumentação,

entra outra questão importante que é o valor notícia “atualidade/novidade”, ou seja,

aquilo que é novo, que acontece no dia-a-dia e tem que ser noticiado. Isso também

ajuda a explicar o grande número de entradas de ‘denúncia’ (que também é o tema

que mais aparece na capa) e a pequena quantidade sobre ‘educação ambiental’, já

que este último não é um tema factual, no sentido de ter que ser noticiado naquele

dia senão vai perder seu ‘valor’ notícia. Como o espaço do jornal é restrito,

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priorizam-se então as notícias mais urgentes em serem noticiadas e que chamam

mais a atenção. Como o tema meio ambiente ainda não é permanente no jornal e

depende de acontecimentos para ganhar visibilidade, não há muitas notícias não-

factuais e de contextualização, como geralmente são aquelas sobre educação

ambiental, que englobam coleta seletiva, projetos educacionais etc.

Apesar de a pesquisa ter catalogado 61 notícias sobre ‘eventos’, 33 delas

estão compactadas no ano de 1992, quando aconteceu a Eco-92, e são apenas

sobre esse evento. Já a Rio+5 e Rio+10, outros dois eventos importantes na área de

meio ambiente, apareceram cinco e duas vezes, respectivamente. Outro dado que

enfatiza que a Rio+10 ganhou pouca visibilidade na Folha de São Paulo. Os outros

21 são distribuídos durantes os outros anos, em eventos menores. Essas

informações mostram que o aumento do número de notícias, em 1992, diz respeito à

eventos, mas, além disso, essa diferença entre a cobertura de um acontecimento e

outro, leva novamente à discussão sobre a importância do valor notícia proximidade,

pois como os outros eventos não aconteceram no Brasil, conseqüentemente, a

cobertura feita pelo jornal foi menor, explicando então o número reduzido de textos.

Para exemplificar essa mesma variável, é possível mostrar pela tabela abaixo

(Tabela 11) que assim como o número de entradas, o espaço ocupado pelas

notícias segue a mesma seqüência da tabela acima, dada pelo número de entrada

de cada categoria.

TABELA 11 – Espaço ocupado em cm2 por cada tema no jornal Tema Geral Nº De Ent. Cm2

Políticas públicas em meio ambiente 238 75144,75 Denúncia 372 110655,05 Resultado de pesquisas 93 30862,75 Eventos 61 13554,75 Educação ambiental 15 3369,50 Outro 4 900,25 Total 783 234487,05

Fonte: Autora

Como se pode observar, ‘denúncia’ além de ser o tema que obteve maior

número de entradas, também é o que utiliza maior espaço no jornal, com 110655,05

cm2. O segundo colocado que também ocupa grande parte do espaço é

‘discussão/políticas públicas em meio ambiente’, com 75144,75 cm2. ‘Resultados de

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pesquisa’ fica em terceiro lugar, com 30862,75 cm2 e ‘eventos’ em quarto com

13554,75. Esses dados mostram que assim como os temas se colocam com relação

ao número de entradas, continuam quando observado o espaço utilizado. ‘Educação

ambiental’, que, já na hipótese, contatava-se que não ganhava visibilidade, além de

ter o segundo menor número de entradas, também aparece na mesma situação se

observar o espaço ocupado. O gráfico abaixo (Gráfico 7) ajuda a visualizar como os

temas aparecem.

Gráfico 7 – Espaço utilizado pelos temas durante o período Fonte: Autora

Por meio do Gráfico 7, é possível observar como o tema ‘denúncia’ recebe

mais espaço nas edições analisadas do que os demais. O tema ‘discussões/políticas

públicas em meio ambiente’ também se mantém elevado e uma das respostas para

isso é o fato de que na medida em que há problemas acontecendo e estes

problemas são divulgados, seja pelos meios de comunicações, ONGs ou pela

própria população, as instituições governamentais que tratam deste assunto

aumentam as discussões sobre o assunto na tentativa de melhorar a situação e

diminuir os impactos ambientais. Como a mídia se pauta pelos acontecimentos da

sociedade, o segundo tema, muitas vezes recorrente do primeiro, também acaba

aparecendo mais nos jornais. Além disso, há também como já foi colocada

anteriormente, a facilidade na apuração devido ao contato com as fontes, que nesse

caso, quase sempre são oficiais por se tratar de ações do governo.

Outra forma de observar o espaço e a visibilidade de cada tema no jornal

Folha de São Paulo é por meio da tabela abaixo (Tabela 12) que trabalha com o

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tamanho categórico (baixo, médio e alto), obtido pela Fórmula de Sturges e que

ajuda a perceber como a quantidade de textos de tamanho baixo está acima da

média da categoria. Como já se sabe que o tamanho baixo é predominante, a

observação é baseada na média obtida em cada um dos tamanhos e nos valores de

cada um dos temas, observando se estão abaixo ou acima da média geral.

TABELA 12 – Tamanho dos textos (de acordo com Sturges) Tamanho Categórico (Sturges) x Tema Geral

Tema Baixo Médio Alto Total Políticas públicas em meio ambiente

198 34 6 238 83,2% 14,3% 2,5% 100,0%

Denúncia 315 52 5 372 84,7% 14,0% 1,3% 100,0%

Resultado de pesquisas

74 15 4 93 79,6% 16,1% 4,3% 100,0%

Eventos 56 5 0 61 91,8% 8,2% ,0% 100,0%

Educação ambiental 14 1 0 15 93,3% 6,7% ,0% 100,0%

Outro 4 0 0 4 100,0% ,0% ,0% 100,0%

Total 661 107 15 783 84,4% 13,7% 1,9% 100,0%

Fonte: Autora

Os valores maiores estão todos na categoria ‘baixo’, pois esta engloba mais

de 84% dos textos pesquisados na amostra e aparece sempre em número acima

dos demais. Dessa forma, analisaremos a Tabela 12 fazendo a relação com o valor

médio e o de cada um dos temas. A média do tamanho ‘baixo’ é de 84,4% e apenas

‘discussão/políticas públicas’ e ‘resultados de pesquisa’ estão abaixo dessa média,

com 83,2% e 79,6%. Isso significa que as demais categorias apresentam maior

número de textos de tamanho ‘baixo’ do que a média geral, centrando a produção

em textos curtos e mais uma vez mostrando como a produção na área de meio

ambiente é fragmentada e pouco aprofundada devido ao pouco espaço destinado a

ela. Na categoria ‘educação ambiental’, por exemplo, 93,% dos textos estão na

categoria ‘baixo’, um valor bem acima da média, que é de 84,4% na categoria.

Textos sobre eventos também ultrapassam a média, com 93,3%. Isso significa que a

maior parte deles tem tamanho pequeno e isso pode ser explicado pelo fato de que

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as notícias sobre isso, geralmente são notas de divulgação e não de cobertura do

evento. Já quando falamos de ‘educação ambiental’, um tema que não é tão factual

e poderia receber uma melhor apuração, percebe-se que isso não acontece e os

textos estão concentrados na categoria ‘baixo’.

Na categoria ‘grande’, apenas resultados de pesquisa, com 4,3%, e

discussão/políticas públicas, com 2,5%, estão acima da média, que é 1,9%. Isso

significa que estes assuntos têm uma incidência maior de textos grandes. Essas

duas categorias também têm grande número de textos ‘médios’. A média é 13,7%,

mas apresentam 16,1% e 14,3% dos textos como sendo de tamanho ‘médio’. Nessa

categoria, ‘denúncia’ também está acima, mas com uma diferença menor,

apresentando 14% dos textos na categoria ‘tamanho médio’. Além da quantidade de

textos e de espaço utilizado nas páginas do jornal, a localização dos textos também

implica na sua visibilidade, como se pode notar pela Tabela 13, abaixo.

TABELA 13 – Localização dos temas nos quadrantes

Fonte: Autora

Os diferentes espaços na página estão relacionados com a visibilidade que os

assuntos vão receber. Uma matéria nos quadrantes superiores, por exemplo, é mais

visível do que uma que está presente nos quadrantes inferiores. A tabela (Tabela

13) mostra como os temas aparecem localizados na página do jornal.

Localização Pol. Pub. Denúncia Res. de Pes. Eventos Ed. Amb. Outro Total Página Inteira

1 1 2 0 0 0 4 0,4% 0,3% 2,2% 0,0% 0,0% 0,0% 0,5%

Metade Sup. 19 26 8 1 0 0 54 8,0% 7,0% 8,6% 1,6% 0,0% 0,0% 6,9%

Metade Inf. 0 1 0 0 0 0 1 0,0% 0,3% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,1%

Quadrante Sup. Dir.

27 62 17 6 3 2 117 11,3% 16,7% 18,3% 9,8% 20,0% 50,0% 14,9%

Quadrante Sup. Esq.

68 87 23 18 4 0 200 28,6% 23,4% 24,7% 29,5% 26,7% 0,0% 25,5%

Quadrante Inf. Direito

55 88 25 18 5 0 191 23,1% 23,7% 26,9% 29,5% 33,3% 0,0% 24,4%

Quadrante Inf. Esq.

68 107 18 18 3 2 216 28,6% 28,8% 19,4% 29,5% 20,0% 50,0% 27,6%

Total 238 372 93 61 15 4 783 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

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É possível observar como todos os temas têm maior incidência nos

quadrantes menores e pouca em espaços maiores, como página inteira e meia

página. O tema ‘resultados de pesquisa’ é o que mais aparece nos espaços maiores

(meia página e página inteira). Relacionando os números obtidos em cada tema com

a média final, percebe-se que o tema ‘resultado de pesquisa’, tem 2,2% dos textos

na página inteira, estando está acima da média que é 0,5%. Os dados da ‘metade

superior’ dão uma média de 6,9% e essa mesma categoria possui 8,6%. É também o

tema que possui maior incidência nesse espaço quando relacionado com os demais.

Dessa forma, pode-se dizer que esse tema é o que possui maior visibilidade

quando analisando a localização nas páginas, já que quando relacionado com os

demais, apresenta mais textos ocupando a metade superior e página inteira do

jornal. Mesmo não sendo a categoria com maior número de entradas, os textos

possuem melhor localização no jornal.

Outro dado importante é como esses temas apareceram ao longo dos anos. A

próxima tabela (Tabela 14) mostra a quantidade de vezes que os assuntos

apareceram em cada ano ao longo do período, o que possibilita perceber como eles

foram ganhando ou perdendo espaço na pauta do jornal durante os 17 anos.

TABELA 14 – Distribuição dos temas pelo número de entradas

Fonte: Autora

P. Públicas Denúncia R. Pesq. Eventos Ed. Amb. Outro Total 1992 4,6% 11 5,4% 20 4,3% 4 54,1% 33 13,3% 2 ,0% 0 8,9% 70 1993 1,7% 4 1,9% 7 1,1% 1 1,6% 1 ,0% 0 ,0% 0 1,7% 13 1994 2,1% 5 6,2% 23 4,3% 4 3,3% 2 6,7% 1 ,0% 0 4,5% 35 1995 1,7% 4 5,9% 22 8,6% 8 1,6% 1 6,7% 1 50,0% 2 4,9% 38 1996 2,5% 6 4,8% 18 1,1% 1 ,0% 0 33,3% 5 ,0% 0 3,8% 30 1997 4,6% 11 4,6% 17 2,2% 2 14,8% 9 6,7% 1 ,0% 0 5,1% 40 1998 3,4% 8 6,7% 25 ,0% 0 ,0% 0 6,7% 1 ,0% 0 4,3% 34 1999 2,5% 6 3,0% 11 ,0% 0 ,0% 0 6,7% 1 ,0% 0 2,3% 18 2000 10,5% 25 8,3% 31 8,6% 8 1,6% 1 ,0% 0 ,0% 0 8,3% 65 2001 8,4% 20 8,9% 33 5,4% 5 ,0% 0 13,3% 2 ,0% 0 7,7% 60 2002 3,4% 8 3,8% 14 4,3% 4 4,9% 3 ,0% 0 ,0% 0 3,7% 29 2003 5,9% 14 6,7% 25 7,5% 7 1,6% 1 ,0% 0 ,0% 0 6,0% 47 2004 6,3% 15 3,8% 14 12,9% 12 8,2% 5 ,0% 0 ,0% 0 5,9% 46 2005 8,4% 20 6,7% 25 9,7% 9 ,0% 0 ,0% 0 ,0% 0 6,9% 54 2006 7,6% 18 5,6% 21 9,7% 9 ,0% 0 ,0% 0 ,0% 0 6,1% 48 2007 9,7% 23 5,4% 20 4,3% 4 4,9% 3 ,0% 0 ,0% 0 6,4% 50 2008 16,8% 40 12,4% 46 16,1% 15 3,3% 2 6,7% 1 50,0% 2 13,5% 106 Total 100% 238 100% 372 100% 93 100% 61 100% 15 100% 4 100% 783

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Observando os dados, percebe-se que os temas não são regulares ao longo

do período. Alguns crescem e outros decrescem durante os 17 anos da pesquisa. O

tema ‘discussões/políticas públicas’ é um exemplo de tema que se mantém estável

até 1999, cresce em 2000 e 2001, tem uma queda em 2002, mas volta a crescer até

2008, ano que tem um crescimento mais elevado. Os anos de 2000 e 2001 podem

ser considerados períodos de pico, assim como o ano de 2008.

No primeiro ano, o que pode explicar o aumento das notícias sobre esse tema

é o aparecimento das discussões sobre transgênico e legislação ambiental, que

envolvem diversas esferas da sociedade e também as discussões sobre o Protocolo

de Kyoto e do Clima. Com isso, os jornais, inclusive a Folha de São Paulo, passaram

a pautar as decisões governamentais e as discussões públicas sobre esses

assuntos. Exemplos de notícias que ilustram esse caso são: ‘Código florestal:

mudança já’ (20/03/2000) e ‘Ministro propõe texto mais restritivo para florestas’

(19/05/2000) (os textos encontram-se no Anexo B). Em 2008, os assuntos que

fizeram com que aumentassem as discussões e políticas públicas em meio ambiente

são novas discussões sobre transgênico, produção de energia, desmatamento e

preservação. Como já foi colocado anteriormente, nesse ano houve um aumento

elevado no número de entradas, fazendo com que a maior parte dos temas

aumentasse a visibilidade no jornal nesse período.

Já o tema ‘denúncia’ aparece mais estável durante todo o período. Há

aumento da produção em 2000, 2001 e 2008 e o restante do período a produção

não oscila muito. Em 2008, quando houve aumento significativo em quase todos os

temas, devido à ‘anormalidade’ na produção daquele ano, muito acima dos demais,

as denúncias eram sobre poluição, desmatamento ilegal e problemas causadores de

desastres naturais e enchentes. Em 2000 e 2001, os temas mais recorrentes nas

denúncias eram poluição, contaminação química e enchentes. Exemplos de notícias

sobre esses assuntos são ‘Esgoto polui lagoa e estatal leva multa de 300 mil’

(11/02/2000) e ‘Inquérito apura contaminação ambiental’ (08/1/2001) (os textos

encontram-se no Anexo C).

O tema ‘resultado de pesquisa’ também cresceu ao longo do tempo, assim

como as discussões e políticas públicas em meio ambiente, mas o desenvolvimento

desse assunto pode ser dividido em dois períodos: 1992 até 1999 e 2000 até 2008.

Nos primeiros anos, não há uma produção elevada, mas há um pico em 1995, onde

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há uma produção voltada para a biodiversidade e novas descobertas na área

ambiental. A partir de 2000, a produção aumenta em relação ao período anterior,

com dois períodos de produção mais elevada: 2004 e 2008. Em 2004, o assunto que

mais aparece quando se trata desse tema é biodiversidade, como é o caso da

chamada que tem como título ‘Pesquisa descobre no mar mais de 13 mil

organismos’ (24/11/2004, capa), a qual mostra uma nova descoberta científica. Em

2008, ‘biodiversidade’, ‘novas tecnologias’ e ‘pesquisas ambientais’ apareceram

diversas vezes, resultando numa maior visibilidade dos resultados de pesquisa. Um

fator que também pode ter influenciado no aumento da produção a partir de 2000,

em relação ao período anterior é a criação da editoria de Ciência, onde aparece a

maior parte das entradas sobre resultados de pesquisa (a relação entre as editorias

e os temas será discutida nas próximas páginas).

Os eventos, outra categoria da tabela, têm forte relação com a produção de

conferências e reuniões relacionadas ao tema central este trabalho. Dessa forma, a

produção depende da atualidade/factualidade e também da proximidade. Por meio

dos dados, percebe-se que 54,1% das notícias relacionada a eventos estão em

1992. Esse número elevado está relacionado com a realização da Eco-92. Diferente

dos outras conferências (Rio+5 e Rio+10), a Eco 92 obteve uma maior cobertura,

pois o evento acontecia no Brasil. Já os outros dois ventos, que aconteceram em

1997 e 2002, tiveram pouca cobertura, principalmente por serem distantes. Dessa

forma, a produção relacionada a eventos oscila bastante durante o período

analisado, devido à dependência da realização de eventos na área ambiental. Em

alguns anos, por exemplo, não há entradas dessa categoria na amostra coletada.

A outra categoria é ‘educação ambiental’, a qual aparece apenas em 15 das

783 entradas sobre meio ambiente. Por meio da tabela é possível perceber que o

tema apareceu mais no período de 1992 a 1999, após apareceu apenas em 2001 e

em 2008. Nos outros anos, não havia entradas sobre esse tema na amostra

coletada. Em 1996, foi observado um número maior de notícias em relação os outros

anos. O tema que aparece nesse período é a divulgação de iniciativas de

preservação, como é o caso do texto com o título ‘Projeto mobiliza alunos a

educação ambiental’ (18/03/1996, FolhaTeen 5.3), que abordava a iniciativa das

escolas ensinarem os estudantes a fazer a coleta seletiva. Porém, é preciso

ressaltar que o número de textos é muito pequeno em relação aos demais assuntos;

então a variação entre um ano e outro, de acordo com os dados da coleta, é de uma

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ou duas notícias e que o ano que obteve textos coletados (1996) teve apenas cinco

entradas, sendo que quatro era em uma edição. A categoria ‘outro’, conta com

apenas quatro entradas, pois eram textos que não tinham proximidade com

nenhuma das outras categorias.

Por meio dessa análise foi possível perceber que os temas não aparecem de

forma igual durante todo o período: ‘denúncia’ pode ser considerado o mais estável,

‘discussão/políticas públicas’ e ‘resultados de pesquisa’ apresentam crescimento,

‘eventos’ depende da realização de atividades (o que o torna oscilante em relação

aos demais) e educação ambiental, além de ser quase insignificante quando

relacionado aos demais, se concentra na década de 90.

Na tabela abaixo (Tabela 15) são apresentados os números de entradas em

cada editoria, o que ajuda a mostrar onde o tema aparece distribuído no jornal.

TABELA 15 – Presença dos textos nas editorias

Fonte: Autora

Por meio dos dados percebe-se que as editorias Cotidiano e Ciência são as

que apresentam maior número de entradas. As matérias se concentram nessas duas

(totalizando 63,2% das entradas) e as outras dão menos visibilidade ao tema, como

é o caso das editorias Dinheiro, Brasil e Mundo. Outras são quase insignificantes

como é o caso de Turismo e Esportes. Em alguns casos, como durante a Eco-92, foi

criada uma editoria especial para fazer a cobertura do evento e que teve duração

Editoria Nº de entradas % Agrofolha 17 2,2 Atmosfera 10 1,3 Brasil 59 7,5 Capa 65 8,3 Ciência 180 22,9 Cotidiano 316 40,3 Dinheiro 46 5,9 Especial 1 ,1 Especial Eco-92 10 1,3 Esportes 2 ,3 FolhaTeen 3 ,4 Mundo 32 4,1 Opinião 41 5,2 Turismo 1 ,1 Total 783 100,0

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128

apenas de alguns dias, enquanto ocorria a Conferência. Essa abertura de espaço

demonstra visibilidade ao assunto, porém essa visibilidade fica restrita apenas ao

evento e não abrange o tema meio ambiente como um todo, ou seja, não há uma

editoria específica para tratar do assunto, por isso ele aparece disperso nas outras.

Na pesquisa, foi possível observar como a editoria de ciência, uma proposta

de trabalhar com o jornalismo científico no veículo, apresenta grande número de

textos. Os assuntos abordados nessa editoria são na maioria das vezes

biodiversidade, novas tecnologias e descobertas científicas. É importante ressaltar

que essa editoria foi criada em 2000, o que ajuda a explicar o crescimento de alguns

temas durante o período analisado.

A próxima tabela (Tabela 16) mostra a relação dos temas gerais com a

editoria no qual aparecem. Alguns dados podem ajudar a explicar alguns resultados

obtidos sobre o crescimento da cobertura de alguns temas. Por meio da tabela

percebe-se que cada um dos temas aparece mais em uma ou outra editoria. Esse

dado mostra que apesar das falhas detectadas na produção das notícias sobre meio

ambiente até o momento, os assuntos aparecem ‘bem’ distribuídos nas editorias, ou

seja, elas cumprem o papel de dividir os temas, enfoques e discussões dentro do

jornal.

Começaremos a análise pelo primeiro tema disposto na Tabela 16 que segue

logo abaixo. ‘Discussões/políticas públicas’ aparece preferencialmente em Ciência,

Cotidiano e Opinião. No caso desse tema específico, a primeira possível explicação

é que a editoria Ciência e Cotidiano já detêm os primeiros lugares no número de

entradas totais. No caso da editoria ‘Opinião’, a maior parte dos artigos e editoriais

apresentados faz referência a discussões governamentais sobre o tema central, por

isso que a editoria aparece com grande parte dos textos desse assunto. Textos que

ilustram essa afirmação são ‘A liberação do uso de OGM envolve mais uma

discussão’ do dia 09/09/2000, em formato de artigo e ‘Ambiente em conflito’ de

26/08/2008, no formato editorial (ver texto no Anexo D). Como os textos presentes

na editoria ‘Opinião’ geralmente fomentam ou são resultados de uma discussão,

possuem grande relação com o tema ‘políticas públicas em meio ambiente’, que

geralmente geram polêmica na sociedade.

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129

TABELA 16 – Distribuição dos temas nas editorias do jornal

Fonte: Autora

A segunda categoria da tabela, ‘denúncia’, aparece em disparada na editoria

‘Cotidiano’, com 57,7% dos textos nessas páginas. ‘Rhodia é intimada a depor sobre

lixo tóxico’ (31/01/1992) e ‘Esgoto sem tratamento mata duas tonelada de peixe’

(10/08/2000) são títulos de textos que exemplificam os tipos de matérias freqüentes

na editoria de cotidiano sobre denúncias (os textos completos estão no Anexo E).

Esse assunto está mais presente em ‘Cotidiano’ por ser um assunto relacionado com

as ações do dia-a-dia, como o caso da atuação de empresas, problemas

denunciados por ONGs etc.

Editoria

Políticas públicas em meio ambiente Denúncia

Res. de pesquisas Eventos

Educação ambiental Outro Total

Agrofolha 11 5 1 0 0 0 17 4,6% 1,3% 1,1% 0,0% 0,0% 0,0% 2,2%

Atmosfera 2 4 4 0 0 0 10 0,8% 1,1% 4,3% 0,0% 0,0% 0,0% 1,3%

Brasil 21 21 0 14 2 1 59 8,8% 5,6% 0,0% 23,0% 13,3% 25,0% 7,5%

Capa 14 37 8 4 1 1 65 5,8% 9,9% 8,6% 6,6% 6,7% 25,0% 8,3%

Ciência 61 51 64 4 0 0 180 25,6% 13,7% 68,8% 6,6% 0,0% 0,0% 22,9%

Cotidiano 61 215 11 20 8 1 316 25,6% 57,7% 11,8% 32,8% 53,3% 25,0% 40,3%

Dinheiro 29 11 1 4 0 1 46 12,2% 3,0% 1,1% 6,6% 0,0% 25,0% 5,9%

Especial 0 1 0 0 0 0 1 0,0% 0,3% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,1%

Especial Eco-92

0 1 0 9 0 0 10 0,0% 0,3% 0,0% 14,8% 0,0% 0,0% 1,3%

Esportes 2 0 0 0 0 0 2 0,8% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,3%

FolhaTeen 0 0 0 0 3 0 3 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 20,0% 0,0% 0,4%

Mundo 4 24 2 2 0 0 32 1,7% 6,5% 2,2% 3,3% 0,0% 0,0% 4,1%

Opinião 32 2 2 4 1 0 41 13,4% 0,5% 2,2% 6,6% 6,7% 0,0% 5,2%

Turismo 1 0 0 0 0 0 1 0,4% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,1%

Total 238 372 93 61 15 4 783 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

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130

A terceira categoria, que reúne os resultados de pesquisas científicas na área

de meio ambiente, aparece com 68,8% dos textos na editoria de Ciência. Isso pode

ser explicado pela proximidade entre o tema ambiental e o jornalismo científico. Isso

ajuda a explicar a discussão presente no capítulo dois, sobre essa especialização da

produção neste trabalho. “Brasil tem salto em descobrimento de sapos” (13/03/2008)

e “Ilha Bela é campeã da mata Atlântica, diz Atlas” (27/05/2004) são exemplos de

notícias que aparecem nessa editoria (ver Anexos F e G). Antes de 2000, quando

ainda não havia a editoria de ciência, foram coletadas apenas 20, das 93 matérias

totais sobre essa categoria (resultados de pesquisa), ou seja, a entrada da editoria

em 2000 influenciou para que o tema ganhasse mais espaço no veículo.

O tema ‘eventos’ aparece em maior número em Cotidiano e Brasil, onde

geralmente há textos sobre isso, englobando, dessa forma, os ambientais. A

presença de entradas dessa categoria depende da realização de eventos na área

ambiental e do interesse da mídia em fazer a cobertura. ‘ONU entrega últimos

prêmios Global 500’ (07/06/1992) e ‘Físico da USP ganha prêmio de 800 mil’

(20/06/2008) são exemplos de eventos que representam a cobertura de meio

ambiente realizado pelo jornal (os textos estão no Anexo H).

O último tema da categoria é educação ambiental. Das 15 notícias coletadas,

oito estão na editoria Cotidiano. “Mergulhadores tiram lixo de praia da BA”

(30/1/1999) e “Separação não custa nada, diz estudante” (14/08/1992) ajudam a

ilustrar o tipo de matérias que compõe essa categoria que pouco aparece no jornal

(os textos estão no Anexo I).

De maneira geral, é possível afirmar que o jornal cumpre o papel dado às

editorias, no que diz respeito a dividir os assuntos, temas e tipos de discussão.

Exemplo disso é que a maior parte dos resultados de pesquisa se concentra na

editoria Ciência e as notícias sobre eventos, em Cotidiano.

Para ajudar a entender como os assuntos aparecem no jornal, a terceira e

última variável que trabalha exclusivamente com tema, mostra o assunto específico

de cada texto coletado. Como o espaço ficava aberto para escrever, no final da

pesquisa, contabilizaram-se 68 assuntos específicos, como por exemplo,

desmatamento, enchente, novas tecnologias, transgênico, energia, entre outros.

Como a Tabela 17 apresenta muitas categorias, apresentaremos abaixo apenas

alguns exemplos que possam dar um panorama de como há disparidade entre um

assunto e outro durante o período observado.

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131

TABELA 17 – Freqüência dos temas específicos das matérias Tema Freqüência % Tema Freqüência % Enchente 112 14,3 Legislação Amb. 13 1,7 Desmatamento 52 6,6 Reciclagem 16 2,0 Poluição do ar 45 5,7 Efeito estufa 14 1,8 Transgênico 35 4,5 Biopirataria 6 0,8 Biodiversidade 32 4,1 Reflorestamento 6 0,8 Poluição de rio 28 3,6 Rio+5 6 0,8 Aquecimento Global 25 3,2 Produtos Orgânicos 3 0,4 Preservação 24 3,1 Protocolo Do clima 2 0,3 Mudança climática 19 2,4 Rio+10 2 0,3 Poluição do solo 18 2,3 Fórum da Água 1 0,1 Biocombustível 17 2,2 Ecodesenvolvimento 1 0,1

Fonte: Autora

De acordo com a tabela (Tabela 17), é possível perceber que a incidência dos

temas varia muito, além do grande número de temas específicos que foram

coletados (68 tipos diferentes). O que tem maior número de entradas é ‘enchentes’,

com 112 textos, representando 14,3% do total coletado. ‘Desmatamento’ e ‘poluição

do ar’ ocupam o segundo e terceiro lugar, respectivamente, com 52 e 45 textos. Ao

contrário destes assuntos que são encontrados em grande quantidade, há outros

que apareceram apenas uma vez, como é o caso do ecodesenvolvimento. Textos

relacionados a eventos, como é o caso do Fórum da Água, que ocorreu em 2003,

também aparecem em pequena quantidade, pois só estão no jornal devido ao

evento, diferente de enchente e desmatamento que sempre acontece em algum

lugar do país, sem depender de um acontecimento produzido.

Outro ponto importante relacionado a esses temas específicos é como eles

aparecem ao longo do tempo. E isso oscila bastante conforme alguns exemplos que

serão apresentados nos gráficos e tabelas a seguir. Há temas que apareciam, mas

só depois passaram a crescer visivelmente nas páginas do jornal; alguns que estão

atrelados a eventos e aparecem apenas em determinados períodos; outros que

aparecem apenas depois de certo tempo; uns apareciam e foram perdendo espaço

para outros temas; os que oscilam diversas vezes, sem longos períodos de queda

ou crescimento que sejam visíveis; e os que apresentam visíveis períodos de queda,

pico e crescimento. A tabela abaixo (Tabela 18) mostra como alguns assuntos

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132

apareceram distribuídos ao longo do período exemplificando essas mudanças

descritas acima.

TABELA 18 – Distribuição dos temas específicos ao longo do período (92-08) Número de entradas em cada ano

Tema 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 Total Aq. Global 0 0 0 1 1 1 0 0 1 1 3 1 3 3 5 2 3 25 Biocomb. 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 4 6 5 17 Biodivers. 3 0 1 3 0 1 0 0 5 0 0 2 5 0 6 0 6 32 Desmat. 6 0 1 0 0 0 2 3 3 2 0 1 4 9 4 4 13 52 Eco-92 33 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 34 Enchente 4 3 15 10 8 11 11 2 8 7 1 6 7 4 1 0 14 112 Pol. do solo 2 0 0 0 0 0 1 1 0 4 6 2 0 2 0 0 0 18

Transg. 0 0 0 0 0 0 0 2 10 3 2 2 6 3 3 1 3 35 Fonte: Autora

A tabela acima (Tabela 18) mostra como cada um dos temas pareceu de

forma diferente durante o período analisado. O ano de 2008, apesar de ser o ano

que mais teve entradas durante a coleta dos dados, não possui incidência de alguns

temas. A partir de agora, serão apresentados alguns gráficos referentes aos

assuntos específicos dispostos na Tabela 14 que exemplificam as diferentes

variações ao longo dos 17 anos. O primeiro deles é mostrando o desenvolvimento

do tema ‘aquecimento global’.

Gráfico 8 – Variação da incidência do tema aquecimento global Fonte: Autora

0

1

2

3

4

5

6

1995 1996 1997 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Entradas AQUECIMENTO GLOBAL

Ano da entrada

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133

A produção sobre esse assunto aparece com maior número de entradas nos

últimos anos da análise e pequena incidência no início. Até 2000, em alguns anos

analisados não foi encontrado material na amostra (1992, 1993, 1994, 1998, 1999).

Já a partir do ano de 2002, o tema apareceu em todos os anos. O número maior de

textos foi coletado em 2006 e na maioria falavam sobre resultados de pesquisas que

mostrava o aumento da temperatura da terra. Esse, portanto é um exemplo de tema

que ganha visibilidade a partir de um tempo, apesar de já estar presente desde o

início do período analisado. O tema ‘biodiversidade’, apresentado no gráfico

seguinte, Gráfico 9, também tem semelhança na distribuição do tema ao longo do

tempo, mas apresenta-se mais oscilante.

Gráfico 9 – Incidência do tema biodiversidade de 1992 a 2008

Fonte: Autora

O Gráfico 9 mostra que o tema biodiversidade, apesar de estar presente já

em 1992, apresenta períodos de pico em 2000, 2004, 2006 e 2008, porém em

período intermediários (2001, 2002, 2005, 2007) não há sequer incidência do tema.

Isso demonstra que o tema, apesar dos períodos de pico, não está sempre presente

no jornal, pois apresenta grandes oscilações. Enquanto, em 2004, foram

catalogadas cinco entradas sobre o assunto, no ano seguinte, em 2005, não houve

nenhuma entrada. Mesmo com a grande quantidade de notícias no final do período

analisado, não é possível dizer que houve crescimento, já que os anos que

intercalam os períodos de pico não apresentaram nenhuma matéria na amostra

coletada. Esse tema exemplifica os casos que oscilam bastante durante o tempo

pesquisado. Os dois gráficos a seguir (Gráficos 10 e 11) mostram outro exemplo de

assunto que aparece apenas a partir de um determinado tempo na pauta do jornal.

O primeiro apresenta o desenvolvimento do ‘transgênico’ e o segundo o do

‘biocombustível’.

0

1

2

3

4

5

6

7

1992 1994 1995 1997 2000 2003 2004 2006 2008Entradas BIODIVERSIDADE

Ano de entrada

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134

Gráfico 10 – Distribuição do tema “transgênico” ao longo do período Fonte: Autora

O tema transgênico, diferente dos demais analisados, só aparece a partir de

1999. Isso acontece, pois anterior ao período os produtos geneticamente

modificados não geravam discussão na sociedade. A partir do momento que eles

entraram na agenda pública, os veículos passam a pautar o tema. Segundo

Sampaio (2002), somente a partir de 1998 foi autorizada a plantação de transgênico

no Brasil, mas o uso foi suspenso logo em seguida, o que provocou diversas

discussões e a criação de leis que dificultam a experimentação em diversos estados.

Como o assunto tornou-se polêmico, isso se refletiu na produção feita pelo jornal.

‘Encontro discutirá OGMs’ (26/02/2000, Mundo 1.3) e ‘Transgênico sofre derrota’

(14/08/199, capa) mostram que a discussão do tema pela sociedade começou a ser

pautada pelos veículos de comunicação a partir da produção que começa a

aparecer a partir de 1999. O gráfico abaixo (Gráfico 11) mostra mais um tema que

segue o mesmo desenvolvimento dos transgênicos, o biocombustível.

Gráfico 11 – Desenvolvimento do tema biocombustível Fonte: Autora

01234567

2004 2005 2006 2007 2008

Ano da entrada

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135

Assim como os ‘transgênicos’, o ‘biocombustível’ também ilustra os assuntos

que entram na pauta dos veículos a partir de certo momento, quando passa a ser

discutido na sociedade. O tema aparece nos dados da amostra a partir de 2004,

aumentando a incidência até 2008. O início do debate sobre o assunto nos jornais

pode estar relacionado com a publicação do decreto Nº. 5.488, em 20 de maio de

2005, que regulamenta a lei 11.097, de janeiro de 2005, a qual dispõe sobre a

introdução do biodiesel na matriz energética brasileira. ‘Governo aprova primeiro

acordo para exploração de biodiesel’ (2/10/2004, ciência A7) e ‘País terá papel de

destaque na era do combustível’ (09/06/2007, capa) são exemplos de textos que

tratam desse assunto.

Os dois últimos exemplos ajudam a mostrar como os temas não são sempre

os mesmos e vão mudando com o tempo. E conforme aumenta os acontecimentos

na sociedade, conseqüentemente ele aparece mais no jornal. Foi o que aconteceu

com os transgênicos e biocombustível, pois foram se tornando mais presentes no

dia-a-dia e também no jornal. Já o gráfico abaixo (Gráfico 12), exemplifica outro tipo

de assunto, o qual aparece apenas em determinado período, pois está relacionado

com um evento específico. É o caso do tema Eco-92 que aparece apenas em 1992

e 1993.

Gráfico 12 – O tema ECO-92 nas páginas do jornal de 1992 a 2008 Fonte: Autora

O Gráfico 12 mostra como o tema parece concentrado em 1992, com apenas

uma entrada em 1993 e sem entradas nos anos seguintes. Eventos aparecem

apenas num determinado período e, nesse caso, as notícias que compõem os dados

do gráfico eram relacionadas a Eco-92. Como aconteceu no Brasil, o jornal

apresentou uma grande cobertura elevando significativamente o número de textos

sobre meio ambiente em 1992. Porém, passado o evento, no ano seguinte o tema

05

101520253035

1992 1993

Entradas ECO-92

Ano da entrada

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136

perdeu a visibilidade que obteve em 1992 e apresentou apenas uma notícia. Nos

anos seguintes, nenhum texto que compunha a amostra fazia referência à Eco-92, o

que fez com que o tema desaparece da cobertura do jornal. ‘Um ano depois, Eco-92

é só intenção’ (05/05/1993, cotidiano 1.3) é única matéria coletada em 1993 que

possui alguma relação com o evento. O tema ‘Eco-92’ mostra como um assunto

ligado a um evento pode elevar a produção do veículo num dado momento, mas não

se manter por um longo período. Já o tema representado pelo gráfico seguinte

(Gráfico 13) mostra como é possível a existência de temas que perpassam por

momentos de queda, crescimento e pico e aparecem ao longo de todo o período.

Gráfico 13 – Incidência do tema ‘desmatamento’ no período de análise. Fonte: Autora

O ‘desmatamento’ exemplifica os temas que não são regulares e apresentam

períodos de queda, pico e crescimento ao longo de todo o período. Por meio do

gráfico é possível perceber que os anos de 1992, 2005 e 2008 podem ser

considerados períodos de pico na cobertura sobre desmatamento. Já 1998 a 2000

mostram o crescimento e 2000 a 2003 a queda. De 2004 a 2008, o tema apresenta

oscilações maiores, devido aos dois períodos de pico (2005 e 2008). Em 2005, o

pico pode ser explicado pela incidência de textos sobre novos dados sobre o

desmatamento e as discussões sobre a relação com a agricultura e pecuária. Em

2008, aparecem diversas notícias sobre denúncias de desmatamento ilegal no Mato

Grosso e região Sudeste. Dessa forma, o assunto aparece em todo o período, mas

em alguns momentos perde espaço para outras temáticas. Essa oscilação mostra

que o tema não é, de fato, permanente no jornal, mas ele depende de

acontecimentos para introduzir a cobertura.

0

5

10

15

1992 1994 1998 1999 2000 2001 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Entradas

DESMATAMENTO

Ano da Entrada

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137

O tema a seguir, disposto no Gráfico 14, ilustra os assuntos que perderam

espaço com o passar do tempo. Ao contrário dos temas ‘biocombustível’ e

‘transgênicos’ que cresceram a partir de determinado período, ‘enchentes’ teve

queda a partir de 1999, voltando a ter grande elevação apenas em 2008. Como o

número de entradas totais não se elevou significativamente com o passar do tempo,

para que alguns temas pudessem apresentar crescimento, outros deveriam,

necessariamente, apresentar queda para estar de acordo com o gráfico que

representa o valor total de entradas ao longo do tempo analisado. Como vimos nos

gráficos acima, alguns temas cresceram durante o período, agora o gráfico abaixo

mostra como o tema ‘enchente’ diminuiu o número de entradas.

Gráfico 14 – Incidência do tema ‘enchente’ ao longo do período Fonte: Autora

De acordo com o Gráfico 14, acima, é possível perceber que o tema

‘enchente’ tem grande incidência de 1994 a 1998, mas depois desse período

apresenta queda em relação ao período anterior. O tema aparece em todos os anos

(exceto em 2007), mas fica evidente a queda a partir de 1999. Quando relacionamos

um ano ao outro, o gráfico aparenta ser bastante irregular, mas no geral percebesse

que até 1999, a incidência de entradas é maior que nos anos seguintes. Esse

assunto é pautado em decorrência dos desastres naturais que causam problemas

nas cidades e áreas rurais, e depende desses “acontecimentos” para serem

pautados pelo jornal.

Por meio desses gráficos, de cada assunto específico, conclui-se que os

temas não estão presentes durante todo o período de análise. Enquanto alguns

perdem espaço, outros passam a ocupá-lo e pautar o jornal. Como o período de

analise é bastante longo, fica visível como os assuntos não permanecem estáveis ao

longo do tempo. A análise permite observar que na medida em que os temas

0

5

10

15

20

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2008Entrada ENCHENTE

Ano de Entrada

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138

passam a ser discutidos pela sociedade e pelos governos, os veículos passam a

incorporá-los na produção.

Os dados recolhidos na amostra ajudam a entender como um tema acaba

ganhando mais espaço que outro, devido a seus valores notícia: impacto, novidade,

factualidade, tamanho, etc. Isso se verifica quando observamos que os temas

relacionados à educação ambiental, por exemplo, aparecem em pequena

quantidade se relacionado com outros temas. As notícias de denúncia, apesar de

envolverem empresas, governos e entidades passam a ter mais visibilidade, na

medida em que chamam maia a atenção, causam mais impacto na sociedade e

instigam o leitor a comprar o jornal. Os dados também revelam que denúncia é o

tema que mais aparece nas capas. Essa escolha do veículo se dá pelos valores

notícias atrelados ao fato.

Temas como ‘reciclagem’ e ‘produção orgânica’, aparecem 16 e 03 vezes,

respectivamente. Mesmo sendo assuntos que freqüentemente são pautas de

eventos, ocupam espaço nas discussões da sociedade e são importantes para a

preservação do meio ambiente, não ganham tanto espaço no jornal. Apesar de

propiciarem informação ao leitor, as notícias muitas vezes não contêm informação

que causa impacto na sociedade como, por exemplo, informar que as enchentes

causam mortes, que toneladas de peixes morrem por poluição, que a temperatura da

terra vai aumentar e causar sérios problemas a saúde humana.

Essa discussão proposta não quer dizer que estes fatos (desastres) não

devem ser noticiados, pelo contrário, a população deve ser informada, já que os

meios de comunicação fazem o papel de levar a ‘realidade’ distante para perto de

seus leitores. Porém, as notícias não deveriam apresentar apenas o problema. O

jornalismo ambiental é considerado por Villar (1997) uma das especializações do

jornalismo e dessa forma a cobertura não deveria ficar restrita apenas ao factual.

Mesmo sendo um veículo diário, seria necessário contextualizar o fato e apontar

possíveis soluções e conseqüências, o que englobaria matérias de educação

ambiental, por exemplo. Se houve essa relação entre os temas, os gráficos não

apresentariam tanta disparidade entre um assunto e outro, como é o caso do Gráfico

7, que mostra o espaço que cada tema obteve no jornal durante o período.

Antes de passar para o próximo tópico de análise, finalizamos a pesquisa

sobre os temas já apresentando alguns resultados obtidos. O primeiro aspecto para

ser ressaltado é que os temas não possuem o mesmo espaço no jornal. Isso se

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verifica quando ‘denúncia’ e ‘políticas/discussões públicas’ tem um número bastante

elevado em relação aos demais, tanto na quantidade de entradas coletadas quanto

no espaço utilizado por cada um. Outro dado importante é que duas das hipóteses

propostas na introdução do trabalho têm relação com o tema e já foi possível

perceber que uma delas procede e outra não. As notícias de denúncia, ao contrário

do que se achava no começo da pesquisa, aparecem em grande número no veículo,

contestando a hipótese de que quase não eram abordadas no jornal. Já a outra que

levantava a discussão sobre o baixo número de textos sobre ‘educação ambiental’

foi confirmada, pois o número de textos jornalísticos sobre o assunto é quase

insignificante perto do número total catalogado. Das 783 entradas sobre meio

ambiente que faziam parte da amostra, apenas 15 abordavam o tema ‘educação

ambiental’. Dessa forma, é possível perceber que a abordagem feita pelo jornal fica

restrita a apenas alguns assuntos, enquanto outros são quase invisíveis.

Por meio dos gráficos que mostraram a incidência dos temas específicos ao

longo do tempo, percebe-se que não são sempre os mesmos, pois alguns aparecem

(como transgênicos) e outros perdem visibilidade (como enchentes e a Eco-92).

Observando os dados sobre o número de entradas e espaço utilizado pelos temas

(denúncia, resultado de pesquisa etc.) pode-se dizer que o jornal prioriza notícias de

maior impacto, que seriam as denúncias e catástrofes, por exemplo. As matérias de

educação ambiental, que ajudariam a contextualizar as mais factuais quase nunca

aparecem.

Outra informação importante é que, de acordo com os dados recolhidos pela

amostra no Jornal Folha de São Paulo, as conferências realizadas pela ONU não

foram necessariamente o que desencadeou a discussão sobre os ‘temas ambientais’

no jornal. Os temas discutidos em cada um dos eventos não apresentam elevação

após os eventos. Essa informação contesta, em partes, a hipótese de que as

conferências de 1992 e 2002 contribuíram para o aumento do número de textos

sobre meio ambiente. Em 1992, de fato, houve um número de matérias bastante

acima dos demais, mas em 2002 o número apresenta-se menor que o ano anterior.

Pode-se concluir então que apenas um dos eventos influenciou na produção do

jornal, e isso se deve muito a proximidade, já que o evento de 1992 aconteceu no

Brasil.

Além disso, é importante ressaltar que os textos sobre ‘resultado de

pesquisa’, apesar de aparecerem em menor quantidade que outros são os que

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ganham mais visibilidade de acordo com a posição na página do jornal, ganhando

página inteira e metade superior. Chama a atenção também o papel das editorias

que possibilitam a divisão dos assuntos e cumprem o seu papel no veículo. Isso se

dá porque os temas que mais aparecem em Ciência são resultados de pesquisa e

em Cotidiano denúncia. Percebe-se que, mesmo que o tema meio ambiente não

possua um espaço próprio no jornal, cada tema específico tem relação com uma

editoria. Um último fator importante a ser relembrado aqui antes de passar para a

próxima etapa da análise é que os temas específicos das notícias variam bastante

com o tempo, já que a análise aborda um período longo. É o caso de temas que

surgem durante o período, outros que perdem espaço e outros que possuem

períodos de queda e elevação, etc. E, apesar do número total de entradas não

oscilar muito durante o período, os temas específicos ganham e perdem espaço, ou

seja, um ocupa o espaço do outro.

No tópico a seguir, serão apresentados os dados referentes à abrangência

dos textos publicados no jornal. O trabalho apresenta duas variáveis sobre a

abrangência, uma sobre a abrangência geral e a outra no Brasil (dividida pelas

regiões brasileiras).

3.4.3 A abrangência da produção em meio ambiente na Folha de São Paulo

A partir desse tópico, as tabelas e gráficos apresentam a abrangência

geográfica da produção feita pelo jornal. Divididas em duas variáveis, apresentamos

os dados relacionados com a abrangência geral (no mundo) e a abrangência Brasil

(regiões do país). A primeira tabela (Tabela 19) apresenta os dados da abrangência

geral, a qual possui sete categorias, onde está dividida a produção.

TABELA 19 – Abrangência da produção jornalística em meio ambiente Região Freqüência %

Brasil 615 78,5 América do Norte 32 4,1 América Central 4 0,5 América do Sul 4 0,5 Europa 24 3,1 Ásia e Oceania 21 2,7 Região Indefinida 83 10,6 Total 783 100,0

Fonte: Autora

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De acordo com a Tabela 19, percebe-se que a produção referente a assuntos

nacionais é bem maior do que o restante. Das 783 entradas, 615 são relacionadas a

acontecimentos e temas brasileiros. Isso mostra que o valor notícia proximidade tem

relação com o tipo de produção do jornal e pode explicar o número elevado de

material produzido sobre o Brasil. Em seguida, com 83 entradas, estão os textos que

não fazem referência a um lugar específico, categorizados como “região indefinida”.

‘Mudanças Climáticas e o Protocolo de Quioto’ (08/4/2001, Opinião A3) e

‘Aquecimento Global se acelerou nos últimos 30 anos’ (26/09/2006, capa) são

exemplos de textos categorizados como ‘região específica’, falando da situação

geral do planeta. A incidência de textos na amostra referentes às outras regiões é

pequena ou até mesmo não aparecem, como é o caso da África. A tabela abaixo

(Tabela 20) mostra a relação das regiões com os temas ambientais.

TABELA 20 – Relação entre os temas ambientais e as regiões do planeta Região Poluição Desenv. Sustentável Mudanças Climáticas Total Brasil 26,7% 164 46,3% 285 27,0% 166 100,0% 615 América do Norte 9,4% 3 37,5% 12 53,1% 17 100,0% 32 América Central 0,0% 0 50,0% 2 50,0% 2 100,0% 4 América do Sul 0,0% 0 75,0% 3 25,0% 1 100,0% 4 Europa 16,7% 4 50,0% 12 33,3% 8 100,0% 24 Ásia e Oceania 14,3% 3 38,1% 8 47,6% 10 100,0% 21 Região Indefinida 7,2% 6 55,4% 46 37,3% 31 100,0% 83 Total 23,0% 180 47,0% 368 30,0% 235 100,0% 783

Fonte: Autora

A Tabela 20 apresenta os dados sobre quais temas predominam em cada

região. ‘Desenvolvimento sustentável’ e ‘mudanças climáticas’ são os que aparecem

em maior número em todas as regiões, enquanto ‘poluição’ está sempre em ultima

colocação aparecendo pouco em todas as regiões. Além de aparecer sempre em

menor quantidade em todas as categorias, em duas delas ele nem aparece (América

Centra e América do Sul). No caso da ‘região indefinida’, os temas que predominam

são mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável, assim como nas demais,

mas neste caso a explicação para esse dado é de que a poluição é um problema

muito mais localizado do que os outros dois por isso aparece em pequena

quantidade nessa categoria.

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Um exemplo disso é São Paulo, uma cidade bastante poluidora, que

rotineiramente é fonte de notícias, porém as outras regiões do país já nem

apresentam esse problema. Já as questões referentes ao clima são ‘sentidas’ em

todos os locais. Ou seja, pelo fato da poluição ser um problema mais localizado, ele

aparece menos na nessa categoria de região indefinida, já que sempre está

relacionado com um local específico, como é o caso da notícia referente aos

Estados Unidos, de 1/11/2000 (Ciência, A17): ‘EUA emitiram mais gás carbônico em

1999’. Já o texto sobre o aquecimento, de 31/01/2005 (Ciência, A13) com o título

‘ONG vê aquecimento perigoso em 20 anos’ é um exemplo que demonstra como o

tema acaba aparecendo de forma geral, sem fazer referência a nenhuma localidade,

pelo fato dos próprios acontecimentos serem globalizados.

Como se verificou nas tabelas acima, 78,5% dos textos catalogados na

amostra são ligados a algum assunto ou acontecimento brasileiro. Dessa forma, as

próximas tabelas apresentam como esses 615 textos são distribuídos nas regiões

brasileiras (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte, Nordeste e região indefinida). Os

dados das tabelas que virão em seguida são apenas referentes ao Brasil, retirando

aqueles enquadrados nas regiões indefinidas da abrangência geral. As informações

contidas na tabela mostram a relação entre a realidade de cada região e aquilo que

é veiculado pelo jornal. Percebe-se como as ações cotidianas têm proximidade com

a produção jornalística.

TABELA 21 – Abrangência da produção do veículo nas regiões brasileiras Região Freqüência %

Sul 42 6,8% Sudeste 244 39,7% Centro Oeste 30 4,9% Norte 73 11,9% Nordeste 44 7,2% Região indefinida 182 29,6% Total no Brasil 615 100,0

Fonte: Autora

Por meio dos dados acima, a região Sudeste é a que mais aparece

representada no jornal nas notícias de meio ambiente, com 39,7% das entradas das

matérias referentes ao Brasil. Isso pode ser explicado pela proximidade, já que a

redação do jornal fica em São Paulo. Apesar de o jornal ser de abrangência

nacional, a maior relação dos repórteres com os fatos incide na produção. As

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notícias de outras regiões dependem do trabalho das agências, dos colaboradores

(free-lancer) ou das sucursais. Além disso, a região Sudeste ganha mais visibilidade

por ser também uma região bastante populosa, com diversos problemas ambientais,

como por exemplo, enchentes, poluição etc. Esses problemas cotidianos influenciam

para aumentar a produção.

Assim como na tabela da abrangência geral, esses dados mostram que a

região indefinida também ocupa o segundo lugar na predominância dos textos. Um

dos fatores que explica isso são as notícias sobre políticas públicas, legislação e

decisões governamentais que não dizem respeito apenas a uma região, mas ao país

todo. ‘Parlamentares precisam votar decisões da Eco-92’ (15/06/1992, Brasil 1.8) e

‘Ministro propõe texto mais restritivo para florestas’ (19/05/2000, Ciência A 20) são

títulos que exemplificam notícias que se encaixam nessa categoria.

A região Norte aparece em terceiro lugar nas regiões que mais ganham

visibilidade no jornal. Nesse caso a explicação para que 11,9% dos textos estejam

nessa categoria é que há diversas discussões e problemas relacionados à floresta

Amazônica, como é o caso de desmatamento, queimadas e invasão da mata. As

demais regiões aparecem poucas vezes, geralmente com fatos mais isolados. A

próxima tabela (Tabela 22) mostra como os temas ambientais estão relacionados

com a abrangência dos textos produzidos e também com as ações cotidianas de

cada região.

TABELA 22 – Abrangência dos textos de cada um dos temas ambientais

Fonte: Autora

Os dados coletados mostram que o tema ‘poluição’ se concentra com mais de

65% das entradas referentes à região Sudeste do país. Isso pode ser explicado pela

região ser fortemente poluída devido às grandes cidades e áreas industriais. ‘Frente

Fria em SP diminui a poluição do ar’ (05/08/1995) e ‘Rio lança campanha de

Região Poluição Desenvolvimento Sustentável Mudanças Climáticas Total Sul 2,4% 4 2,5% 7 18,7% 31 6,8% 42 Sudeste 65,9% 108 22,1% 63 44,0% 73 39,7% 244 Centro Oeste 4,3% 7 7,4% 21 1,2% 2 4,9% 30 Norte 10,4% 17 17,2% 49 4,2% 7 11,9% 73 Nordeste 3,0% 5 3,5% 10 17,5% 29 7,2% 44 Região Ind. 14,0% 23 47,4% 135 14,5% 24 29,6% 182 Total 100,0% 164 100,0% 285 100,0% 166 100,0% 615

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combate a poluição’ (30/08/1996) são exemplos de textos que exemplificam as

matérias relacionadas à poluição da região Sudeste.

Já no tema ‘desenvolvimento sustentável’, ao contrário do primeiro, a maior

parte das notícias (47,4%) não tem relação com uma região específica e se encaixa

na categoria ‘região indefinida’. Esse número resulta da relação desse tema com as

políticas e discussões públicas, como já foi colocado anteriormente. Das 135

matérias sobre o tema desenvolvimento sustentável que estão na categoria região

indefinida, 81 são referentes à ‘discussão e políticas públicas’. Como as políticas

públicas (leis, programas, trabalhos e projetos) realizadas no país geralmente não

atendem regiões específicas, conseqüentemente os textos jornalísticos produzidos a

respeito do assunto também tratam o assunto como algo realizado no país todo, sem

ter relação com determinada região.

O tema ‘mudanças climáticas’ aparece em maior proporção em textos

referentes à região Sudeste (44%). Esse dado que aparece na tabela pode ser

explicado pelo seguinte fato. As mudanças climáticas, apesar de não serem

problemas localizados, mas sim algo que alcança grandes proporções, são

ocasionadas principalmente pela destruição da natureza, como é o caso da poluição.

Sendo assim, onde há uma incidência maior desse problema, as mudanças

climáticas, conseqüência do primeiro, também aparece com maior relevância. Nesse

caso, a mídia também tende a pautar as mudanças climáticas, como sendo

conseqüência da poluição, por isso que o maior número de textos sobre mudanças

climáticas também se concentra na região sudeste.

Outro fator já discutido, mas que vale ressaltar é a relação de proximidade da

região Sudeste com a redação do jornal, o que aumenta a incidência de todos os

textos relacionados a essa região, sendo eles de qualquer assunto. No caso de

desenvolvimento sustentável a região Sudeste aparece em segundo lugar, logo

atrás de ‘região indefinida’. Para ajudar a entender a relação da abrangência dos

textos produzidos e os temas propostos, a tabela abaixo (Tabela 23) mostra a

relação entre a região e o tema geral das notícias.

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TABELA 23 - Relação entre o tema geral e a abrangência das matérias

Fonte: Autora

Por meio da Tabela 23, é possível observar como cada um desses temas

também tem ligação com uma determinada região. No caso das ‘discussões/políticas

públicas’, a maior parte dos textos (48,4%) está categorizada como ‘região

indefinida’. Como já foi explicado, esse dado pode ser justificado pelo fato de que as

políticas e discussões nunca são centradas numa determinada região, mas sim

relacionadas com o país como um todo. A constatação se repete aqui, pois na tabela

anterior, relacionava-se região indefinida e desenvolvimento sustentável, sendo que

políticas públicas são o que mais aparece quando se trata desse tema ambiental.

Aqui, especificamente, mostramos como as próprias políticas públicas aparecem

catalogadas como ‘regiões indefinidas’. Um dado complementa o outro e mostra

como de fato há essa relação das políticas públicas como algo mais abrangente.

No caso do tema ‘denúncia’, 55,2% dos textos são referentes a

acontecimentos da região Sudeste do país. Novamente o fator proximidade é

relevante, assim como as características da região: grandes cidades com movimento

intenso de veículos, poluição de rios e lagos próximos aos centros urbanos, região

industrial etc. Esses fatores, de certa forma prejudicial ao meio ambiente, mais uma

vez explicam a relação entre o tema e a região, pois a incidência de denúncias

devido às ações do homem aumenta por haver muitos problemas na região.

O tema ‘resultado de pesquisas’ também se apresenta comum um tema

independente de regiões. A incidência maior dos textos está na categoria ‘região

Região Pol. Públicas Denúncia Res. Pesq. Eventos Ed. Amb. Outro Total Sul 5 33 2 1 0 1 42

2,6% 10,4% 3,8% 2,9% 0,0% 25,0% 6,8% Sudeste 36 175 13 7 11 2 244

18,8% 55,2% 25,0% 20,0% 73,3% 50,0% 39,7% Centro Oeste

12 17 1 0 0 0 30 6,3% 5,4% 1,9% 0,0% 0,0% 0,0% 4,9%

Norte 33 31 8 1 0 0 73 17,2% 9,8% 15,4% 2,9% 0,0% 0,0% 11,9%

Nordeste 13 26 1 1 2 1 44 6,8% 8,2% 1,9% 2,9% 13,3% 25,0% 7,2%

Região indefinida

93 35 27 25 2 0 182 48,4% 11,0% 51,9% 71,4% 13,3% 0,0% 29,6%

Total 192 317 52 35 15 4 615 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

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indefinida’, com 27 entradas catalogadas na amostra pesquisada. As notícias

geralmente não citam nenhuma região de abrangência, como por exemplo,

‘Brasileiros catalogam baleias na Antártida’ (12/12/2001, Ciência A12) e ‘Brasil

ganha primeiro mapa das aves ameaçadas’ (04/02/2006, Ciência A19).

O tema ‘educação ambiental’, além da pouca incidência de textos, se

concentra na região Sudeste, com 11 dos 15 textos. Levando em consideração que

os temas apresentam relação entre eles, automaticamente onde há mais problemas

deve haver uma tentativa maior de conscientizar a população. Dessa forma, a

incidência de textos sobre denúncia e poluição no Sudeste, explica que haja projetos

educativos na região e conseqüentemente também que a mídia faça a cobertura

desse assunto. Já a tabela abaixo mostra a relação entre o tamanho dos textos e a

região ao qual fazem referência.

TABELA 24 – Tamanho dos textos referentes a cada região Tamanho Categórico (Sturges)

Região Baixo Médio Alto Total Sul 6,8% 35 7,9% 7 0,0% 0 6,8% 42 Sudeste 38,7% 200 43,8% 39 55,6% 5 39,7% 244 Centro Oeste 5,0% 26 4,5% 4 0,0% 0 4,9% 30 Norte 11,8% 61 12,4% 11 11,1% 1 11,9% 73 Nordeste 7,4% 38 6,7% 6 0,0% 0 7,2% 44 Região indefinida 30,4% 157 24,7% 22 33,3% 3 29,6% 182 Total 100,0% 517 100,0% 89 100,0% 9 100,0% 615

Fonte: Autora

Como a incidência maior de textos está na região ‘Sudeste’ e na ‘região

indefinida’, a tendência é de que os números se concentrem sempre nessas regiões.

Dessa forma, a análise da Tabela 24 será feita pela relação dos dados de cada

tamanho com a média geral dos textos em cada região. A região Sul, por exemplo,

apresenta mais textos de tamanho médio, do que baixo e alto, pois a média é 6,8%

e o único que ultrapassa esse valor é o tamanho ‘médio’. Os textos referentes à

região Sudeste tendem a ser de tamanho médio e alto, já os relacionados ao Centro-

Oeste são a maioria pequenos, pois a média geral é de 4,9% e o tamanho ‘baixo’

apresenta 5%, ou seja, acima da média, o que significa que a tendência é por

produzir textos pequenos e não textos médios, já que nessa categoria o valor (4,5%)

está abaixo da média. Já a região Norte aparece na maior parte das vezes com

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textos médios (12,4%). Os da categoria ‘baixo’ representam 11,8% e da alta 11,1 %,

o que significa que estão abaixo da média geral. O Nordeste, além da pouca

incidência de notícias sobre a região, apresenta número de textos de tamanho baixo

(7,4%) acima da média (7,2%). Os textos que se apresentam na categoria “região

indefinida” tendem a ser de tamanho baixo ou alto, pois essas duas categorias

apresentam-se acima da média.

Para finalizar essa parte da análise na qual discutimos as variáveis

‘abrangência geral’ e ‘abrangência Brasil’, colocamos abaixo algumas breves

considerações, que serão retomadas na conclusão do trabalho. Até o momento, já

foi possível perceber que a realidade de cada região influencia na produção

jornalística realizada pelo veículo, já que cada uma possui mais produção em um

determinado tipo de matérias, o que sempre está associado aos acontecimentos

locais. É o caso da região Sudeste que apresenta o maior número de textos sobre

poluição, o que está relacionado com os aspectos locais. Além disso, por meio dos

dados percebe-se que a proximidade da região com a sede do jornal pode ser uma

das influências para o grande número de matérias, já que as demais regiões

dependem de agências, free lancer ou sucursais. Outro dado importante é que as

notícias categorizadas como ‘região indefinida’ são na maior parte (93 das 182)

sobre políticas ou discussões públicas e aparecem sempre em segundo lugar,

somente atrás da região Sudeste, o que está relacionado com o fato das ações do

governo terem abrangência nacional e não localizada.

No último tópico da análise, serão observadas a relação das fontes na

produção jornalística do veículo, onde são observados os tipos e quantidade

utilizada nos textos.

3.4.4 A distribuição das fontes nas notícias de meio ambiente

Este tópico apresenta os dados referentes à distribuição das fontes

jornalísticas nas notícias. Durante a coleta do material, as fontes foram analisadas

por tipo e pela quantidade em cada texto. Foi observada a primeira fonte citada no

texto e a segunda que mais aparecia após essa primeira. Se o texto apresentar mais

de duas, as outras não entram na pesquisa, porém a observação apenas das duas

primeiras se justifica porque a grande maioria dos textos só apresenta até duas. Por

último, foi contabilizado o número total de fontes ouvidas em cada texto. A tentativa

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de identificar a primeira que aparece e a que mais aparece depois dessa está

relacionado com a visibilidade/espaço destinado a cada uma delas. Quando a fonte

aparece no título, por exemplo, ela obtém maior visibilidade do que as que aparecem

no decorrer do texto, como é o seguinte caso: ‘Obra pode secar segunda maior

lagoa no RN, dizem ecologista’ (06/10/1999) (o texto completo está no Anexo J).

Nesse texto, a fonte ‘ONGs/Ambientalista’ é considerada como primeira fonte, pois já

aparece no título.

Por meio dos dados coletados, é possível identificar de que forma se dá a

produção em jornalismo ambiental de acordo com as fontes entrevistadas, a relação

delas com cada tema e com a região de abrangência dos textos. A tabela abaixo

(Tabela 25) mostra os tipos de fonte que apareceram com maior visibilidade, ou seja,

aquela que é a primeira citada em cada notícia. É possível perceber a prioridade do

veículo por dois tipos de fontes que se caracterizam como oficiais: ‘estado/governo’

(39,9%) e ‘cientistas/pesquisadores’ (32,1%) são as categorias que mais aparecem

como sendo a primeira fonte citada no texto. O grupo que exemplificaria a utilização

de fontes não oficiais, os ‘ambientalistas’ e a ‘população’, quase não aparece como

primeira fonte. As duas juntas não somam nem 11% nesse espaço de maior

visibilidade (título ou início da notícia). Os textos sem nenhuma citação de

entrevistados chegam a mais de 40% do total dos textos catalogados.

TABELA 25 - Distribuição da primeira fonte citada em cada texto Tipo de fonte Freqüência % Estado_Governo 185 39,9% Cientistas_Pesquisadores 149 32,1% Ambientalistas_ONGs 20 4,3% Empresas privadas 41 8,8% População 40 8,6% Polícia_Bombeiros 16 3,4% Legislativo 1 0,2% Judiciário_juiz, promotor advogado 8 1,7% ONU 2 0,4% Outro 2 0,4% Total 464 100,0

Total de textos com fontes 464 59,3 Textos sem fontes 319 40,7 Total 783 100,0

Fonte: Autora

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Textos sem fontes, como já foi colocado, é a informação da Tabela 25 que

mais chama a atenção. Para ser mais exata, 40,7% das entradas não possuem

fontes e são baseadas apenas em relatos dos fatos feito pelo repórter. Essa falta de

informação vinda de pessoas externas pode ser uma das explicações para o grande

número de textos pequenos no jornal, pois a pouca informação devido à ausência de

fontes também impede uma melhor e mais extensa produção. Tratando-se de uma

especialização do jornalismo como defende Villar (1997) os textos deveriam

apresentar mais fontes, afinal elas são responsáveis por repassar as informações ao

repórter. Dessa forma, não ter entrevistados ajuda a explicar parte dos problemas

identificados por autores da área como é o caso da descontextualização,

fragmentação e falta de visibilidade dos textos. Sem diversidade de fontes os textos

apresentam-se frágeis, baseados apenas em relatos do jornalista sem mostrar-se

plural.

O outro dado relevante é que a fonte que mais aparece como primeira citada

é ‘estado/governo’ que engloba prefeitos, governadores, presidente, ministros,

deputados, entre outros cargos governamentais ou representantes de instituições do

Estado. Isso demonstra a preferência por fontes oficiais nas notícias. Além disso, o

segundo tipo que mais aparece como primeira fonte são ‘cientistas e pesquisadores’,

que representam as instituições de pesquisa e universidades e também são fontes

oficiais. Geralmente essa última categoria aparece em matérias sobre descobertas

científicas, como por exemplo, ‘Algas podem filtrar poluentes de usinas’ (26/07/2000,

Ciência A16) e ‘Unicamp cria plástico degradável com luz solar que reduz poluição’

(22/08/2003, Ciência A16).

Como se percebe, estes dois tipos ocupam as primeiras colocações como

sendo as primeiras fontes de informação ouvidas pelo veículo. A partir do terceiro

tipo, o número aparece bastante reduzido. ‘Ambientalistas/ONGs’, ‘empresas’ e

‘população’, por exemplo, somam apenas 4,3%, 8,8% e 8,6%, respectivamente. Isso

mostra que há uma centralização na escolha das fontes. A população e as ONGs

ambientalistas que representariam as fontes não-oficiais relacionadas a temas

ambientais aparecem no grupo das que quase nunca ganham melhor visibilidade e

são as primeiras a aparecerem no texto. As demais categorias são quase

insignificantes em relação aos demais, como é o caso do ‘judiciário’, que aparece

apenas em oito das 464 notícias com fonte como sendo a primeira delas.

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O gráfico abaixo (Gráfico 15) identifica melhor a diferença que existe entre a

visibilidade de um tipo de fonte e outro quando observada a que é primeira citada no

texto jornalístico. Chamamos a atenção que gráfico só apresenta 59,3% das

entradas, pois os outros 40,7% não apresentam fontes. Dessa forma, foram

contabilizadas apenas as entradas que apresentam pelo menos uma fonte.

Gráfico 15 – Fontes com primeira citação nos textos de meio ambiente Fonte: Autora

O Gráfico 15 evidencia os dois tipos de fontes que são os primeiros a serem

acessados pelos jornalistas na hora da produção das matérias. Enquanto duas

categorias alcançam 185 e 149 entradas como primeira fonte citada, os demais tipos

não passam de 50 entradas juntos, mostrando a diferença entre a visibilidade de

uma e outra. Outro dado que complementa as informações acima está presente na

tabela abaixo, onde é observada a segunda fonte que mais aparece nos textos

(Tabela 26), ou seja, após a primeira, aquela que entre as demais tem mais espaço

no texto. Observa-se que a mesma seqüência da tabela e do gráfico acima se repete

na tabela que mostra a segunda fonte com mais visibilidade.

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TABELA 26 – Segunda fonte que mais aparece nos textos coletados Fonte Freqüência % Estado/Governo 86 39,3 Cientistas/Pesquisadores 70 32 Ambientalistas/ONGs 10 4,5 Empresas privadas 22 10,4 População 27 12,3 Polícia/Bombeiros 1 0,4 Judiciário 3 1,3 Total de textos com mais de uma fonte 219 100,0

Total de textos com mais de uma fonte 219 28,0 Total de textos com apenas uma fonte 245 31,2 Total de textos sem fontes 319 40,7 Total de textos coletados 783 100,0

Fonte: Autora

Analisando a Tabela 26, percebe-se que ‘governo/estado’ e

‘cientistas/pesquisadores’ não são prioridades apenas na primeira fonte utilizada nos

textos, mas também se repetem quando observada a segunda com mais visibilidade.

Isso significa que, no geral, essas duas categorias são as que mais aparecem em

todo o texto, pois além de serem as primeiras citadas, são as que ganham melhor

visibilidade também depois dessa. Outro dado importante é que dos 783 textos

coletados, apenas 219 apresentam mais de uma fonte. Isso enfatiza ainda mais a

visibilidade dada às fontes oficiais, pois na maioria dos casos elas aparecem

sozinhas nos textos. Essa informação compromete até mesmo do discurso do

próprio jornal analisado, pois ele se diz ‘pluralista’ e que ‘houve os diversos lados do

acontecimento’. Essa informação que está no Manual de Redação da Folha de São

Paulo é contestada quando observada as duas tabelas sobre a utilização das fontes.

Primeiramente, um texto sem entrevistados não tem como ser plural e mais de 40%

aparecem nessa situação. Além disso, como a maioria das notícias tem apenas uma

fonte e a maior parte dos textos tem como primeira fonte as oficiais, há possibilidade

de vários textos terem apenas informação oficial. E mesmo que as notícias possuam

duas ou mais fontes, há grande chance de que pelo menos duas sejam oficias, já

que na segunda fonte observada (Tabela 26), a categoria ‘estado/governo’ e

‘’cientista/pesquisador’ se repetem também como sendo as de mais visibilidade após

a primeira citada, com 39,3% e 32%, respectivamente. E apenas observando as

tabelas, percebe-se na discrepância dos dados entre uma e outra fonte, que o jornal

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não tende a ser plural, já que para que de fato este conceito seja aplicado na

produção, ela deve ter não apenas quantidade de fontes, mas diferentes tipos, ou

seja, um texto ter duas fontes não significa que ele seja plural se as duas sejam da

mesma categoria.

Como define Traquina (2005a), as fontes é que dão o enquadramento do

tema, e sendo assim, a partir do momento em que os veículos se utilizam das fontes

oficiais ou centralizam a produção em apenas um tipo delas, como mostra os dados

oferecidos pela tabela, o texto passa a ser enquadrado de acordo com uma fonte e

não a partir do ‘confronto’ das informações passadas por diversas delas. Em

resumo, das 783 matérias, 319 não possuem fontes e 464 possuem pelo menos

uma. Dessas 464, 219 apresentam mais de uma e 245 possuem apenas uma.

Para mostrar a quantidade de fontes encontradas em cada texto,

apresentamos a tabela abaixo (Tabela 27). Os dados evidenciam que o número de

texto vai diminuindo na medida em que aumenta a quantidade de fontes utilizadas.

TABELA 27 – Número de fontes catalogadas em cada texto Quantidade Freqüência % 0 319 40,7 1 245 31,3 2 130 16,6 3 60 7,7 4 22 2,8 5 6 0,8 6 1 0,1 Total 783 100,0

Fonte: Autora

A Tabela 27 mostra que o número de textos sem fontes (40,7%) é maior do

que das outras categorias, até mesmo daqueles com apenas um entrevistado, que

somam 31,3% do total. O fato do número de textos diminuírem na medida em que

aumenta as fontes mostra que de modo geral apresentam poucas fontes de

informação, evidenciando a falta de pluralidade já discutida acima. Vale ressaltar

que essa afirmação também não é referente apenas ao tema meio ambiente, mas

também em outros. O Grupo Mídia, Política e Atores sociais da UEPG catalogou o

número de fontes presentes nos textos sobre campanha eleitoral de agosto a

outubro de 2008 na Folha de São Paulo e das 832 entradas, 48,6% não

apresentaram fontes. Um valor ainda maior do que no tema meio ambiente, que

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chegou a 40,7%. Além disso, na pesquisa realizada pelo Grupo, percebe-se a

mesma relação entre textos e fontes presentes nessa análise: na medida em que

aumenta o número de fontes, diminui os textos de cada categoria.

Na tabela 27, textos com apenas uma fonte somam 245 e com duas fontes

chegam a 130. A partir daí diminui bastante: textos com três fontes somam 60, com

quatro 22, com cinco apenas seis e somente uma entrada da amostra apresentou

seis fontes. Esse baixo índice de pluralidade de fontes mostra que há fatores que

influenciam para que esse fato ocorra nas redações, já que nos cursos de jornalismo

é evidenciado que se utilize um maior número de fontes para que o texto seja mais

plural, que as informações e os diversos pontos de vista possam ser “confrontados”

etc.

Como a prática das redações não está de acordo com o que é repassado nos

cursos de jornalismo, há algumas possíveis explicações para isso. A primeira delas é

a falta de espaço destinado ao tema. Como os textos tendem a ser de tamanho

baixo não seria possível utilizar muitas fontes. Para isso seria necessário um maior

espaço dedicado ao tema dentro do veículo.

Outro motivo que pode explicar a ausência de fontes ou o pouco uso delas na

produção é a própria rotina do veículo impresso e o enxugamento das redações que

aumenta o trabalho de cada repórter, o que impossibilita a dedicação maior na

produção de cada texto, que é o que foi discutido no capítulo dois sobre as rotinas

de produção. Além disso, a comodidade de entrevistas sempre com as mesmas

fontes ou as que são mais conhecidas e fáceis de serem encontradas, como é o

caso de pessoas públicas, faz com que o jornalista não busque fontes diferentes e

trabalhe na maior parte das vezes, apenas com fontes oficiais, o que resulta nos

dados das tabelas que mostraram que a prioridade do jornal é para as fontes

governamentais ou cientistas.

No caso das fontes que representam o governo, as quais aparecem em

evidência na coleta de dados, esse resultado pode ser explicado pela relação das

redes noticiosas, com o cultivo das fontes e a relação entre fonte e jornalista, fatores

já colocados por Sousa (2002) e Traquina (2005a) quando falam sobre as teorias

que enfatizam o poder das fontes na produção. Além disso, a disparidade entre a

utilização de uma fonte e outra mostra que, de fato, na abordagem do tema meio

ambiente, elas não possuem o mesmo tipo de acesso, como defende Traquina

(2005a). Essa discussão sobre o espaço dado a cada tipo de fonte mostra que há a

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interferência de fatores externos, neste caso das fontes na produção, pois na

medida em que uma tem mais acesso a mídia que outra, consegue impor suas

interpretações do fato, sem nenhuma contestação, influenciando na forma que o

texto chegará ao leitor.

Os tipos de fontes também podem variar conforme o tema abordado em cada

texto. Esses dados estão na tabela seguinte (Tabela 28) onde são apresentados os

valores referentes ao cruzamento das informações sobre fontes com o tema

ambiental.

TABELA 28 – Distribuição das primeiras fontes de acordo com o tema

Fontes Poluição Desenvolvimento. Sust. Mud. climáticas Total Estado_Governo 48,2% 53 40,2% 92 32,0% 40 39,9% 185 Cientistas_Pesq. 24,5% 27 34,5% 79 34,4% 43 32,1% 149 Ambientalistas_ONGs 1,8% 2 7,0% 16 1,6% 2 4,3% 20 Empresas privadas 13,6% 15 8,3% 19 5,6% 7 8,8% 41 População 6,4% 7 5,7% 13 16,0% 20 8,6% 40 Polícia_Bombeiros 3,6% 4 0,4% 1 8,8% 11 3,4% 16 Legislativo 0,0% 0 0,4% 1 0,0% 0 0,2% 1 Judiciário 1,8% 2 2,6% 6 0,0% 0 1,7% 8 ONU 0,0% 0 0,4% 1 0,8% 1 0,4% 2 Outro 0,0% 0 0,4% 1 0,8% 1 0,4% 2 Total 110 229 125 464

100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Fonte: Autora

O primeiro dado observado é que em dois dos três temas as fontes

‘governamentais’ prevalecem como sendo as mais procuradas pelos jornalistas. No

tema ‘poluição’ aparece em 48,2% dos textos e no ‘desenvolvimento sustentável’

com 40,2%. Já se tratando de ‘mudanças climáticas’, as fontes governamentais

(32%) perdem espaço para os ‘cientistas e pesquisadores’ (34,4%), que passam a

ser as mais procuradas para falar sobre esse assunto.

Levando em consideração a média geral (da última coluna da tabela),

percebe-se que as fontes governamentais estão acima da média no tema ‘poluição’

e em ‘desenvolvimento sustentável’ e já ‘cientistas e pesquisadores’ estão acima em

‘desenvolvimento sustentável’ e ‘mudanças climáticas’. Em ‘mudanças climáticas’ o

número de fontes governamentais aparece abaixo da média, dando espaço para os

outros tipos de fontes, como por exemplo, para a ‘população’, que está com 16%,

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diferente do que nos dois temas, onde essa categoria está em 6,4% e 5,7% dos

textos como fonte principal.

As outras fontes apresentam-se quase sempre centralizadas em um tema. A

categoria ‘ambientalistas/ONG’, por exemplo, aparece mais nos textos sobre

‘desenvolvimento sustentável’ (7%, sendo que a média é 4,3%). Outro dado

relevante é a concentração das fontes ‘empresas privadas’ na categoria ‘poluição’, o

que é resultado da relação do tema poluição com denúncias feitas contra empresas,

as quais são procuradas para dar informação. Já ‘população’ se concentra em

notícias sobre ‘mudanças climáticas’. Isso pode ser explicado pela grande

quantidade de notícias relacionadas a enchentes que contam com o depoimento de

pessoas. As outras categorias aparecem em número bastante reduzido.

Para complementar essas informações, tabela abaixo (Tabela 29) mostra a

relação das fontes com o tipo de entrada.

TABELA 29 – Localização das primeiras fontes nos formatos de textos

Fonte: Autora

Fonte 1ª página Reportagem Entrevista Nota Total Estado_Governo 4 147 2 32 185

66,7% 41,6% 20,0% 33,7% 39,9% Cientistas_Pesquisadores 1 103 8 37 149

16,7% 29,2% 80,0% 38,9% 32,1% Ambientalistas_ONGs 0 18 0 2 20

0,0% 5,1% 0,0% 2,1% 4,3% Empresas privadas 0 34 0 7 41

0,0% 9,6% 0,0% 7,4% 8,8% População 1 36 0 3 40

16,7% 10,2% 0,0% 3,2% 8,6% Polícia_Bombeiros 0 8 0 8 16

0,0% 2,3% 0,0% 8,4% 3,4% Legislativo 0 1 0 0 1

0,0% 0,3% 0,0% 0,0% 0,2% Judiciário 0 5 0 3 8

0,0% 1,4% 0,0% 3,2% 1,7% ONU 0 1 0 1 2

0,0% 0,3% 0,0% 1,1% 0,4% Outro 0 0 0 2 2

0,0% 0,0% 0,0% 2,1% 0,4% Total 6 353 10 95 464

100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

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Por meio dos dados da Tabela 29, é possível observar que, além de poucas

chamadas possuírem citação, 66,7% delas são de fontes ‘governamentais’. Esse

dado mostra novamente a visibilidade dada às fontes governamentais que

representam também as fontes oficiais. Outra informação a ser ressaltada é que

‘cientistas/pesquisadores’ é a categoria que mais aparece em entrevistas, em 80%

das entradas. Esse dado pode ser explicado pelo fato do entrevistado geralmente

ser alguém importante na área de meio ambiente e que tenha um grande número de

informações sobre o tema para repassar aos leitores. Os políticos, apesar de

receberem bastante espaço nas notícias e serem importantes, não aparecem em

grande quantidade nas entrevistas, pois não são especialistas em assuntos

relacionados ao tema meio ambiente (a não ser que seja o Ministro do meio

ambiente, por exemplo). Já os cientistas e pesquisadores apresentam um leque

maior de informações sobre o assunto, podendo ‘render’ uma entrevista.

Outro dado importante da tabela é que as categorias ‘ambientalistas/ONGs’ e

‘população’, que geralmente são a contraposição das fontes ‘governamentais’ e de

‘empresas’, se encontram em maior número (18 e 36, respectivamente) apenas nas

reportagens, que são textos maiores e que possibilitam a inserção de mais de uma

fonte. Para complementar essa informação, a próxima tabela apresenta os dados de

como as fontes aparecem distribuídas nos textos coletados. Percebe-se que elas se

concentram nas reportagens, entrevistas, chamadas e nota. As colunas, artigos,

editoriais e foto-legendas dessa amostra não apresentaram fontes.

As ‘notas’ apresentam um total de 235 entradas, mas destas, 59,6% não

apresentam fontes e 33,2% apresentam apenas uma fonte. Textos com duas fontes

não chega a 5% do total, alcançando apenas 4,3%. Isso mostra que os textos que

são pequenos tendem a ter poucas fontes. Se o tema tivesse mais espaço no jornal

e as notícias fossem maiores, haveria como colocar as informações dos

entrevistados.

Já nas reportagens, há um número maior de textos com fontes, pois das 409

reportagens, apenas 13,7% não apresentaram fontes. Além disso, é nessa categoria

que há textos com maior número de fontes, como por exemplo, com cinco e seis

entrevistados. Porém é nesta mesma categoria que há também o maior percentual

de textos com apenas uma fonte (37,4% contra 33,2% nas notas), mesmo sendo

textos mais extensos e que comportava mais informação. A Tabela 30 mostra os

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dados de todas as categorias, onde pode ser percebida a relação do número de

fontes com cada tipo de texto.

TABELA 30 – Distribuição das fontes em cada tipo de texto Formato Da Entrada Qt Font Freqüência % Chamada de 1ª página 0 59 90,8 1 6 9,2 Total 65 100,0

Reportagem 0 56 13,7 1 153 37,4 2 118 28,9 3 55 13,4 4 20 4,9 5 6 1,5 6 1 0,2 Total 409 100,0

Entrevista 1 8 80,0 2 2 20,0 Total 10 100,0

Nota 0 140 59,6 1 78 33,2 2 10 4,3 3 5 2,1 4 2 0,9 Total 235 100,0

Coluna 0 4 100,0 Artigo Assinado 0 28 100,0 Editorial 0 17 100,0 Foto-legenda 0 15 100,0

Fonte: Autora

Para finalizar a análise da tabela 30, ressalta-se que, nas entrevistas, há oito

entradas com uma fonte e duas com duas fontes. A entrevista de pergunta e

resposta com duas fontes se dá quando há dois entrevistados que respondem as

mesmas perguntas, geralmente quando o tema é polêmico, por exemplo, e há duas

visões distintas. Cada uma das fontes responde as mesmas perguntas sobre o

mesmo assunto, mas sob pontos de vista diferentes. Já nas chamadas de capa, das

65 entradas, apenas seis apresentaram citação de fontes. Um número pequeno em

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relação ao valor total, que mostra que as fontes ganham pouco espaço nas

chamadas de capa.

Antes de passar para a conclusão, vale ressaltar alguns dados relevantes.

Este estudo mostra mais uma vez que as fontes oficiais recebem espaço maior na

cobertura das notícias do que as demais e acabam sendo prioridade na escolha dos

jornalistas, seja pela facilidade de contatar, rotina das redações com mais produção

e menos tempo para produzir cada texto ou outros fatores.

A visibilidade dada há alguns tipos de fontes, que representam as fontes

oficiais, fica evidente pela quantidade de vezes que aparecem nos textos, pelo

formato onde são encontradas (nas chamadas de capa, por exemplo, as fontes

governamentais aparecem em quatro das seis que possuíam fontes) e na relação

entre temas e fontes, onde se observa que elas também predominam em quase

todos.

Além disso, pelos dados recolhidos percebe-se que há pouca pluralidade de

fontes nos textos, já que esse conceito está relacionado com a variedade de tipos de

fontes e não apenas com a quantidade utilizada pelo repórter. A maior parte dos

textos ou não apresentam fontes ou possuem apenas uma citação, a qual tem

grandes chances de ser de fonte oficial, pois ‘governo/estado’ e

cientistas/pesquisadores’ somam 72% do total de primeiras fontes citadas e 71,3%

como sendo a segunda que mais aparece no texto. Além dessas, há outras

categorias que também são geradoras de informação oficial como ‘polícia’,

‘empresas privadas’ etc., porém essas aparecem em menor número. Observa-se

também que predomina nos textos sempre uma ou duas fontes e que, na medida em

que aumenta o número de fontes, diminui a quantidade de textos em cada categoria,

mostrando que, além da prioridade para fontes oficiais, os textos utilizam poucas

fontes de informação.

Outro dado relevante é que a inexistência de entrevistados nos textos

jornalísticos em grande parte do material catalogado na amostra. Isso dificulta

trabalhar com o conceito de jornalismo especializado, aprofundado e

contextualizado, pois não há ‘repassadores’ de informações, que são as fontes. É

importante ressaltar que as não-oficiais geralmente aparecem nas reportagens, ou

seja, onde os textos são maiores e tendem a ser mais completos.

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CONCLUSÃO

O meio ambiente, apesar de ser um tema em constante discussão na

sociedade, não é permanente nas redações da Folha de São Paulo, pois em alguns

períodos aparece em pequena quantidade e não possui um espaço específico no

jornal. Comparando com outros, como esportes, por exemplo, é evidente que ganha

menos espaço no jornal. A partir dessa pesquisa é possível mostrar de que forma o

Jornal Folha de São Paulo, trata o tema meio ambiente, num período em que alguns

autores, como Tosi e Villar (2001), consideram como sendo um marco do jornalismo

ambiental na mídia brasileira. Por meio do estudo dos temas, das fontes, da

abrangência e da visibilidade, apresentamos as conclusões, onde podemos

identificar as características do desenvolvimento deste assunto no veículo e

responder a pergunta: que tipo de informação o jornal produz sobre meio ambiente?

O objeto de análise foram as notícias sobre meio ambiente publicadas pela

Folha de São Paulo de 1992 a 2008. O total de edições que compuseram a pesquisa

foi 442, o que no final resultou em 783 textos coletados. Para a identificação das

notícias, produziu-se um conceito do que seria considerado texto sobre meio

ambiente, resultado da junção de diversas leituras: temas que englobam a fauna,

flora, ecologia, biodiversidade, as ações do homem contra a natureza e as formas de

sanar os problemas causados por essas ações.

Por meio da pesquisa foi possível perceber o número de entradas, os temas

mais relevantes, o espaço que ocupam nas páginas, a visibilidade nas capas e no

interior do jornal, o desenvolvimento ao longo do tempo, os tipos e quantidade de

fontes, a abrangência dos textos, entre outros aspectos que ajudam a explicar como

o meio ambiente aparece no jornal. Seja pela escolha dos entrevistados, a relação

da produção com a realidade de cada local, o tema escolhido, o espaço ocupado,

percebe-se que a produção jornalística não é a mera reprodução da realidade, mas

que está embutida de ideologia, preferências, aspectos sociais, culturais e do próprio

cotidiano do jornalista. Essas influências na produção são identificadas na pesquisa

e, colocadas ao longo do trabalho e evidenciadas na conclusão.

O assunto meio ambiente não apresenta um crescimento constante ao longo

do período analisado quando se observa o espaço ocupado e o número de entradas.

Na pesquisa identificaram-se períodos de pico (1992, 2000, 2001 e 2008), queda

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(entre 1993 e 1999) e crescimento (entre 2001 e 2007) no espaço destinado ao

tema, o que mostra que não houve um crescimento contínuo ao longo dos anos.

Quando observado o número médio de entradas em cada ano, o tema aparece

bastante estável, ou seja, demonstra que também não aumentou o número de textos

produzidos. Apenas o ano de 1992 aparece bem acima da média com 5,54, após, as

médias variam entre 1,38 e 3,25. No Gráfico 2 (p. 104) deste trabalho fica evidente a

estabilidade do número de entradas. Essas informações mostram que apesar de

diversos autores defenderem o crescimento do jornalismo ambiental na mídia, isso

não ocorre em termos quantitativos na Folha de São Paulo, o que refuta a primeira

hipótese proposta neste trabalho, que defendia o crescimento do tema ao longo dos

anos.

Diferente de outros assuntos, como política (caderno ‘Brasil’) e economia

(caderno ‘Dinheiro’) que estão todos os dias no jornal, meio ambiente não tem um

espaço específico e nem aparece em todas as edições da amostra (Em 93, por

exemplo, quando diminuiu bastante o número de entradas, muitas das edições não

tinham textos sobre o assunto. Já em 2006, apenas três edições não possuem

entradas catalogadas). Por não ter uma editoria, meio ambiente ora está em

Cotidiano, ora em Ciência e o que define onde a matéria vai ser diagramada é o

enfoque.

Além do tema não apresentar um crescimento constante no jornal, ele

também perde espaço para outros temas na capa, que seria o lugar de maior

visibilidade do jornal. Foram catalogadas apenas 65 chamadas de primeira página,

em 60 edições de um total de 783. O que representa apenas 9% dos textos que

apareceram na parte interna do jornal. Os dados foram comparados com o material

catalogado pelo Grupo de Mídia, Política e Atores Sociais da UEPG, que mostra que

enquanto em 92 edições o tema economia apareceu 236 vezes na capa, nas 783

analisadas nesta pesquisa, meio ambiente aparece apenas 65 vezes no espaço

privilegiado do jornal. Isso demonstra que o tema ainda não é considerado relevante

para chamar a atenção do leitor.

Outro dado que aparece na pesquisa deixa evidente a discrepância entre os

diferentes temas abordados pelo jornal. Enquanto ‘denúncia’ aparece em 372 textos

(47,5%) dos 783 coletados e ‘discussão/políticas públicas’ em 238 (30,4%), os

demais temas aparecem em número bem mais reduzido. É o caso de ‘resultados de

pesquisa’, ‘eventos’ e ‘educação ambiental’, que aparecem com, 93, 61 e 15 textos,

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respectivamente. Essa informação, além de mostrar que o veículo dá mais espaço

para um tema e não a outro, refuta a segunda hipótese proposta na pesquisa, de

que o tema denúncia não apareceria no jornal, resultado da relação que os meios de

comunicação em geral têm com as empresas anunciantes, podendo sofrer sanções

externas. Porém, de acordo com os dados da pesquisa é o tema que mais apareceu.

Vale ressaltar que apesar de haver contestado essa hipótese por meio dos

dados obtidos na pesquisa, essa informação é baseada apenas na Folha de São

Paulo e não pode servir para identificar a produção da mídia em geral. Por meio

dessa informação, de que pelo menos neste veículo os textos sobre denúncia estão

presentes, é possível contestar alguns autores que fazem estudos sobre jornalismo

ambiental e reproduzem a informação de que as denúncias não aparecem na mídia

brasileira. Neste caso estudado, a afirmação não procede, porém o dado sobre a

incidência de denúncias não significa que não há influência da publicidade ou de

outras ações externas às redações na produção do material jornalístico. Porém, se

há interferências no jornal, ela não se dá pela exclusão de determinados temas,

como os de ‘denúncia’, que era o que se imaginava antes da análise, mas sim de

outras formas, as quais só são possíveis estudar numa pesquisa mais aprofundada

de caráter qualitativo.

Os dados sobre o número de entradas sobre cada tema também confirma

outra hipótese do trabalho, que diz respeito ao baixo número de notícias sobre

‘educação ambiental’, por ser um tema menos factual e de caráter mais contextual,

que pode ser caracterizado como notícias fora de programa (ou seja, que não

dependem de um acontecimento para serem divulgadas). Por meio da pesquisa

percebe-se que a hipótese se sustenta, já que ‘educação ambiental’ é o tema que

menos apareceu.

A pesquisa observou também que dentre os temas ambientais, categorizados

em desenvolvimento sustentável, poluição e mudanças climáticas, por serem as

discussões centrais das conferências realizadas pela ONU, o desenvolvimento

sustentável foi o que mais apareceu durante todo o período. O tema é o que possui

maior número de entradas em quase todos os anos, exceto 1994, 1996 1998. De

modo geral, desenvolvimento sustentável aparece com 368 entradas, poluição com

180 e mudanças climáticas com 235.

Além disso, a entrada de temas no jornal não segue a lógica das

conferências, as quais foram a pauta principal, pois poluição aparece mais a partir

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de 2000, sendo que foi pauta em 1972 e mudanças climáticas além de já aparecer

ao longo do período não apresenta grande elevação em 2002, quando aconteceu a

conferência em Johanesburgo. Apenas o tema desenvolvimento sustentável, pauta

da ECO-92, teve aumento no ano do evento.

As conferências realizadas pela ONU também não possuíram tanto impacto

na produção jornalística do jornal. A idéia inicial do trabalho era que as duas

conferências da ONU, que aconteceram em 1992 e 2002, tivessem contribuído para

aumentar a produção do jornal nesses dois períodos de modo geral, não penas

especificamente dos temas centrais. Porém, pelos dados observados na análise,

percebe-se que isso se afirma apenas em parte e contesta-se na outra, pois em

1992 houve aumento da produção com relação aos outros anos, mas em 2002 a

produção foi menor do que nos anos anteriores, o que significa que a conferência de

2002, diferente da de 1992 não influenciou no aumento da produção sobre meio

ambiente na Folha de São Paulo. Enquanto 1992 possui 70 entradas catalogadas na

amostra, 2002 tem apenas 29. No primeiro período 33 textos são só sobre o evento

e no segundo período, apenas dois se referem à conferência. Isso pode ser

explicado pela distância, pois a ECO-92 foi no Brasil e a de 2002 em Johanesburgo,

na África do Sul. Vale ressaltar que se tratando de aumentar a produção geral, isso

acontece em 1992 por que o evento foi pauta 33 vezes, mas se fosse pensar na

contribuição do evento para discutir o tema, isso não acontece, pois a produção

centra-se apenas na conferência e não no tema como um todo.

Outro dado relevante que diz respeito às temáticas abordadas pelo jornal é

que ao longo do período foram encontrados mais de 60 temas específicos nas

notícias e que eles não aparecem durante todo o tempo. Alguns permanecem em

todo o período, outros aparecem a partir de certo tempo, outros estão em grande

quantidade no início e decrescem no final, alguns se apresentam bastante oscilantes

e outros são apenas relacionados a eventos. ‘Aquecimento global’, por exemplo,

ganha visibilidade a partir de 2002, apesar de já aparecer no jornal em anos

anteriores. O tema ‘biodiversidade’ apresenta-se mais oscilante, pois em alguns

anos apresenta várias matérias e em outros nenhuma. Diferente desses, há os que

aparecem apenas num determinado período, que é o caso do ‘biocombustível’ e

‘transgênico’. Os dois temas surgem a partir de certo período. O primeiro em 2004 e

o segundo em 1999. Já o tema ‘enchente’, ao invés de aumentar, faz o percurso

contrário e diminui ao longo do tema. Como o número de entradas não possui

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grande elevação no período pesquisado, é necessário, de fato, que um tema

‘diminua’ para que outro ‘apareça’ no jornal, para que os dados estejam coerentes.

Isso leva a conclusão que constantemente um tema toma espaço do outro.

O estudo de fontes realizado contesta o próprio ‘discurso’ do jornal que se diz

plural. As duas fontes que mais aparecem nas notícias, tanto como primeira citação

ou a segunda que mais ganha visibilidade, são as governamentais e as que

representam instituição de ensino e pesquisa, que no trabalho foram categorizadas

como ‘estado/governo’ e ‘cientista/pesquisador’. Das 783 entradas, 59,3%

apresentam pelo menos uma fonte de informação, totalizando 464 textos. Desses,

72% apresentam como primeira fonte essas duas categorias identificadas acima, as

quais representam fontes oficiais. A partir deste dado já é possível mostrar a

predominância das fontes oficiais sobre as não-oficiais apenas mostrando as duas

categorias que se apresentam nas primeiras colocações. Observando a segunda

fonte que mais aparece no texto, percebe-se que elas também permanecem como

as que possuem mais visibilidade e somam as duas juntas 71,3% como sendo as

fontes que mais aparecem após a primeira citada.

Outro dado importante é que as fontes que representariam as não oficiais,

ambientalistas e a população, aparecem como sendo a primeira citada apenas em

12,9% dos textos que possuem fontes. Isso mostra a disparidade que existe entre

fontes oficias e não oficiais na produção jornalística feita pelo jornal (isso que nem

foram incluídas nas fontes oficiais aquelas que aparecem poucas vezes como donos

de empresas, polícia, etc.).

Observou-se também a quantidade de fontes nos textos e percebeu-se que

na medida em que aumenta o número de fontes, diminui o número de texto em cada

categoria. Além das 319 matérias que não possuem fontes e são baseadas apenas

em relatos do próprio repórter, textos com uma fonte somam 245, mas com seis, que

foi o número maior encontrado num texto, há apenas um texto na amostra. Isso

evidencia a tendência do uso de poucas fontes na produção jornalística da Folha de

São Paulo.

Esses dados levantam outra discussão sobre a distinção entre quantidade e

pluralidade, ou seja, quantidade de fontes não significa pluralidade de informação.

Como as duas primeiras categorias, que representam as oficiais, aparecem em mais

de 70% dos textos como primeiras e segundas fontes e poucos possuem mais de

duas, as chances do texto ser plural quanto ao caráter da informação é pequeno.

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Isso mostra que além dos textos possuírem poucas fontes de informação há poucas

chances da utilização de fontes oficiais e não oficiais no mesmo texto, na tentativa

de mostrar os vários ‘lados’ do acontecimento. Essa constatação feita após a análise

dos textos contesta o ‘discurso’ do veículo que o define como pluralista que está

presente nos últimos manuais de redação da Folha e é levantado como sendo uma

das bandeiras do jornal. Pode ser que em outros assuntos o jornal possa trabalhar

de acordo com este conceito, mas no caso da produção sobre meio ambiente isso

não é prioridade do veículo, já que a discrepância entre fontes oficiais e não oficiais

é bastante evidente.

Além de esta pesquisa contestar o discurso de pluralidade levantado pelo

jornal, no Manual de Redação da Folha, é feita uma classificação de fontes, onde os

políticos se encontram como sendo a tipo três, que é considerada como sendo a de

menor confiabilidade, pois apesar de bem informada, tem interesses que tornam a

sua informação menos confiável. Segundo os dados do Manual, esse tipo de fonte

só seria utilizado pelo veículo como “ponto de partida para o trabalho jornalístico ou,

na impossibilidade de cruzamento com outras fontes, ser publicada em coluna de

bastidores, com a indicação explícita de que ainda se trata de rumor, informação não

confirmada” (MANUAL DE REDAÇÃO, 2006). Porém, analisando os textos sobre

meio ambiente, os dados encontrados dizem justamente o contrário daquilo exposto

no manual. As fontes categorizadas como ‘estado/governo’ que englobam prefeitos,

governadores, senadores, deputados e ministros são as que mais aparecem entre

todas as categorias, muitas vezes sozinhas já que a maior parte dos textos tem

apenas uma ou duas fontes e as duas que mais aparecem tanto na primeira citada

quanto na segunda com mais visibilidade são essas duas. A explicação que

Traquina (2005a) faz sobre fontes aparece claramente na pesquisa: as fontes oficiais

são predominantes enquanto os outros agentes sociais não têm acesso regular.

Sobre a visibilidade e espaço utilizado pelos textos, a pesquisa mostra que

neste tema, predomina os textos de tamanho pequeno. A disparidade observada no

gráfico 6 (p.115) mostra claramente que os textos de tamanho pequeno

predominam ao longo de todo o período. O ano de 2008, mesmo apresentando um

aumento das categorias médio e grande, continua ressaltando a diferença entre os

três tamanhos: dos 106 textos coletados, 81 são de tamanho pequeno, 22 médios e

3 grandes. Durante os 17 anos, mesmo não sendo de forma constante, houve

aumento do número de textos médios e grandes. O tamanho médio passa de 8,6%

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em 1992 para 20,8% em 2008 de textos e o pequeno cresce de 1,4% para 2,8%.

Porém, ressalta-se que os textos pequenos sempre predominam em todo o período.

Essa informação referente ao tamanho dos textos leva a outra discussão

relacionada ao capítulo dois, referente ao jornalismo especializado e científico. Por

meio da análise pode-se dizer que o jornal apresenta-se dividido em editorias, o que

demonstra que os temas possui espaços próprios, mas não que produz jornalismo

especializado. De acordo com os conceitos propostos por autores que estudam o

jornalismo especializado, a produção da Folha não se caracterizaria como sendo

especializada, pois não atende os pré-requisitos tais como o máximo de

profundidade, sofisticação e distância da generalização, os quais foram propostos

por Schwaab (2005). A especialização surgiu como forma de ‘dividir’ os temas, mas

atualmente ela tem outras definições mais completas, as quais não aparecem na

produção do jornal. Isso ocorre principalmente pelo fato do pouco espaço destinado

ao tema, dos textos observados serem prioritariamente de tamanho pequeno e haver

poucas fontes de informação nas produções. Dessa forma, apesar do jornal

defender que sua produção é especializada, principalmente no caso da editoria de

ciência que trabalha com temas científicos (incluindo grande parte de matérias de

meio ambiente), o jornal não faria jornalismo especializado. Tanto o jornalismo

científico (que deveria estar presente na editoria de ciência) e o jornalismo ambiental

são ramificações da especialização e deveriam ser baseados em produção mais

completa, contextualizada e aprofundada, mas que, de fato, não ocorre na Folha de

São Paulo pelas limitações da produção.

Observando a relação dos temas com as editorias é possível dizer que o

jornal cumpre o papel de divisão de assuntos, temas e enfoques. Isso fica evidente

quando a análise indica que os ‘resultados de pesquisa’ estão em maior parte na

editoria de Ciência, que Opinião é um dos espaços onde mais aparecem as

‘discussões/políticas públicas em meio ambiente’, que ‘eventos’ fica centralizado

entre as editorias ‘Cotidiano’ e ‘Brasil’ e que ‘denúncia’ aparece com 57,7% em

Cotidiano. Ou seja, apesar de não apresentar os textos de acordo com os quesitos

necessários propostos pelos autores apara caracterizar-se como especializado, o

veículo consegue manter as temáticas divididas nas editorias de acordo com o

enfoque dos textos, já que o jornalismo ambiental não possui um espaço específico

no veículo.

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Outro dado levantado na pesquisa é que além da produção ser 78% sobre

fatos e acontecimentos no Brasil, o que demonstra prioridade para fatos nacionais,

percebeu-se que há relação entre incidência dos temas com cada região específica,

o que significa que os fatores regionais e cotidianos exercem influência sobre a

abordagem dos temas e até mesmo o uso de fontes. A região Sudeste, pela

proximidade com a sede do jornal, é a que mais apresenta textos com 39,7% das

entradas de abrangência Brasil, seguida da região indefinida, com 29,6%, o que é

resultado do grande número de textos sobre políticas públicas, as quais não são

referentes a uma região específica, mas a todo o país. Quando observada a relação

entre os temas ambientais os aspectos regionais, percebe-se relação entre o tema

dos textos e as características de cada local. Poluição, por exemplo, aparece em

maior número (65,9%) na região Sudeste, o que está relacionado com a poluição

característica das grandes cidades e regiões industriais. O mesmo caso ocorre

quando observada a relação com os temas amplos. O tema ‘discussão/políticas

públicas’ aparece com 48,3% das entradas na categoria ‘região indefinida’, já que as

políticas públicas e discussões governamentais, de modo geral, são referentes a

ações que atingem o país todo e não apenas uma região. Esses exemplos apontam

para a tendência dos textos de estarem relacionados com os aspectos de cada

lugar, evidenciando que as ações cotidianas e fatores localizados influenciam na

produção jornalística do jornal.

A partir dos resultados obtidos nessa pesquisa é possível contestar a

informação da Folha de São Paulo de fazer debate público sobre os assuntos

importantes na sociedade. No caso do meio ambiente apesar do tema aparecer no

jornal, e de alguma forma haver esse debate, ele não se apresenta plural e se dá

apenas pelos acontecimentos factuais, o que faz não ser permanente. De acordo

com a análise, a promessa do jornal não se cumpre por diversos fatores, os quais já

foram citados ao longo da conclusão que é a baixa presença de fontes; a falta de

pluralidade (o jornal prioriza as fontes oficiais); atenção para eventos factuais, o que

é evidente na cobertura oscilante ao longo do tempo, já que ainda é dependente de

fatos isolados para ganhar espaço no jornal; e não propõe textos com caráter mais

contextual e de conscientização do leitor.

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SCHWAAB, Reges Toni. Jornalismo Ambiental no rádio educativo: a experiência do programa Ambiente Vivo. Disponível em: www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/cd3/sonora/regestonischwaab . Acesso em: 20 de setembro de 2008. SHIKI, Shigeo. Como tornar a agricultura brasileira sustentável. In: CAMARGO, Aspásia; CAPOBIANCO,João Paulo R.; OLIVEIRA, José Antonio Puppim de (orgs.). Meio Ambiente Brasil: avanços e obstáculos pós- Rio-92. São Paulo: Estação Liberdade: Instituto Socioambiental; Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2004. SIRKIS, Alfredo. O desafio ecológico das cidades. In: TRIGUEIRO, André. Meio Ambiente no século 21. Campinas: Armazém do Ipê, 2008. P. 215-229. TAUTZ, Carlos. Oxigênio para a energia: Entenda a Idéio de um “Jornalismo para o desenvolvimento”. In: VILAS BOAS, Sergio (Org.). Formação & Informação Ambiental: jornalismo para iniciados e leigos. São Paulo: Summus, 2004. P.149-176. ____________. Jornalismo sócio-ambiental investigativo. Disponível em: http://www.fenaj.org.br/materia.php?id=490. Acesso em: 16 de julho de 2009. TOSI, Juares e VILLAR, Roberto. Jornalismo Ambinetal: onde estão as faculdades de comunicação? Disponível em: www.portoalegre.rs.gov.br/ecos/revistas/ecos19/opiframe.htm. Acesso em: 20 de setembro de 2008. TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo. Vol I.Por que as notícias são como s. Florianópolis: Insular, 2005a. TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo. Vol II. A tribo Jornalistica – uma comunidade interpretativa transnacional. Florianópolis: Insular, 2005b. TRAVANCAS, Isabel. Suplementos e Leitores. Disponível em: http://www.bocc.uff.br/pag/travancas-isabel-suplementos-leitores.pdf. Acesso em: 25 de outubro de 2009. TRIERVEILER, Marco Antônio; COSTA, Luís Dalla; MECCA, José hélio; CUNHA, Renato. Como atender as necessidades energéticas do país de forma sustentável. In: CAMARGO, Aspásia; CAPOBIANCO, João Paulo R.; OLIVEIRA, José Antonio Puppim de (orgs.). Meio Ambiente Brasil: avanços e obstáculos pós- Rio-92. São Paulo: Estação Liberdade: Instituto Socioambiental; Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2004.

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DECLARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Disponível em: http://www.vitaecivilis.org.br/default.asp?site_Acao=mostraPagina&paginaId=2013. Acesso em: 12 de abril de 2009. DECLARAÇÃO DE JOANESBURGO SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Disponível em: http://www.vitaecivilis.org.br/default.asp?site_Acao=mostraPagina&paginaId=2013. Acesso em: 12 de abril de 2009. DECLARAÇÃO DA CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO (Declaração de Estocolmo). Disponível em: http://www.vitaecivilis.org.br/default.asp?site_Acao=mostraPagina&paginaId=2013. Acesso em: 12 de abril de 2009. FOLHA DE SÃO PAULO ON LINE. Disponível em: www.folha.uol.com.br/. Acesso em: 10 de abril de 2009. LEI FEDERAL 10.650, DE 16 DE ABRIL DE 2003. Disponível em: http://www.ibamapr.hpg.com.br/1065003lf.htm. Acesso em: 16 de julho de 2009. MANUAL DA REDAÇÃO DA FOLHA DE SÃO PAULO. São Paulo: Publifolha, 1992. MANUAL DA REDAÇÃO DA FOLHA DE SÃO PAULO. São Paulo: Publifolha, 2006.

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ANEXOS – EXEMPLOS DE MATÉRIAS

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ANEXO A

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ANEXO B

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ANEXO C

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ANEXO D

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ANEXO E

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ANEXO F

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ANEXO G

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ANEXO H

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ANEXO I

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ANEXO J

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APÊNDICE A – Livro De Códigos

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PESQUISA TCC – 1992 – 2008/Folha de São Paulo

Proposta inicial – abril 2009 1 – DATA data da publicação. 2 - MATÉRIA indica a numeração seqüencial das matérias naquela edição daquele jornal. 3 - FORMATO indica o tipo de matéria noticiosa de acordo com a seguinte classificação:

TIPO CÓDIGO Explicação

Chamada de 1ª página 1 Chamada de matérias sobre meio ambiente na 1ª página.

Reportagem 2 Textos informativos e noticiosos produzidos por jornalistas/agências a respeito do tema meio ambiente.

Entrevista 3 Entrevista com figuras de destaque que falam sobre meio ambiente

Nota 4 Texto jornalístico curto, basicamente o lead.

Coluna 5 Texto interpretativo/opinativo, assinado por articulista do veículo ou agência.Normalmente com espaço fixo no jornal.

Artigo Assinado 6 Texto interpretativo/opinativo, assinado por especialista ou figura de destaque. Normalmente nas páginas de opinião.

Editorial 7 Texto opinativo, em espaço fixo no jornal, sem assinatura, que representa a opinião do próprio veículo de comunicação.

Fotolegenda 8 Foto com legenda explicativa desvinculada de outro texto jornalístico.

4 - TÍTULO transcrever o título da matéria ou, no caso de fotos, charges e infográfico, legenda. 5 - PROCEDENCIA DAS INFORMAÇÕES indica a autoria do texto

TIPO CÓDIGO Explicação

Repórter local 1 Matéria escrita por um repórter da redação local.

Agência 2 Matérias retiradas de agencias.

Colaborador 3 Matérias feitas por jornalistas não contratados do jornal

Colunista 4 Texto opinativo escrito por colunistas.

Correspondente Internacional 5 Matéria escrita por correspondentes que estão em outros países.

Redação 6 Matéria que não tem um jornalista específico que assina, levando o nome “Redação”

Sucursal 7 Matérias feitas nas sucursais da Folha

Editorial 8 Editorial, voz do jornal não possui assinatura

Sem identificação 9 O texto jornalístico não possui assinatura

Editor 10 Textos jornalísticos escritos pelo editor de cada editoria e não pelos repórteres.

6 - PÁGINA número da página e editoria. No caso de cadernos que mudam a paginação, transcrever também a letra que identifica o caderno, Exemplo: A5, Cotidiano. 7 - POSIÇÃO localização da matéria relativa ao espaço que ocupa na página. Obs.: Onde está a maior parte. Se for partes iguais, predomina onde está o título.

TIPO CÓDIGO Página Inteira 1

Metade Superior 2 Metade Inferior 3 Metade Direita 4

Metade Esquerda 5 Quadrante Superior Direito 6

Quadrante Superior Esquerdo 7 Quadrante Inferior Direito 8

Quadrante Inferior Esquerdo 9 8 - ALTURA em cm. 9 - LARGURA em cm. Quando largura padrão de coluna - 6 colunas de igual largura por página -, usar 4,5 cm

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10 – VALORIZAÇÃO VISUAL DA MATÉRIA relacionado a composição do material.

COMPOSIÇÃO CÓDIGO Texto 1

Texto com elementos gráficos (fotos, gráficos, boxes, ilustrações)

2

11 - TEMA AMBIENTAL relacionado a prevalência dos temas mais discutidos, baseando nas três conferências da ONU.

TEMA AMBIENTAL CÓDIGO Poluição (Estocolmo-72) 1

Desenvolvimento Sustentável (Rio 92) 2 Mudanças climáticas (Rio+10) 3

12 - TEMA AMPLO relacionado ao assunto que predomina no texto.

TEMA AMPLO CÓDIGO Políticas públicas em meio ambiente 1

Denúncia 2 Resultado de pesquisas 3

Eventos 4 Educação ambiental 5

Outro 6 13 - TEMA ABERTO relacionado ao assunto que predomina no texto. 14 – RELAÇÃO GEOGRÁFICA região a qual a matéria faz referência.

Região CÓDIGO Mundo

Brasil 1 América do Norte 2

América Central 3 América do Sul 4

Europa 5 Ásia e Oceania 6

África 7 Região Indefinida 8

Brasil

Sul 1 Sudeste 2

Centro Oeste 3 Norte 4

Nordeste 5 Região indefinida 6

15 – FONTES – relação da 1ª e 2ª fonte mais citada nas matérias. Obs.: citação no titulo jê é considerada primeira

Tipo CÓDIGO Estado/Governo 1

Cientistas/Pesquisadores 2 Ambientalistas/ONGs 3

Empresas privadas 4 População 5

Polícia/Bombeiros 6 Legislativo 7

Judiciário (juiz, promotor advogado) 8 ONU 9

Jornalista 10 Outro 11

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26 – ORIGEM DA FONTE – (ausência = 0 ou códigos abaixo para presença por predominância ou precedência) Deve-se registrar a codificação da primeira ou da fonte mais citada no texto.

Tipo Código Explicação

Oficial habitual 1

Representam instituições públicas ou privadas, não falando apenas em seu próprio nome, mas sim institucionalmente. Ex: Estado, ONGs, legislativo e Judiciário.

Disruptiva Social 2

Representam opiniões expressas a partir de eventos ou crises sociais que gerem algum tipo de confronto ou instabilidade social. Aqui, o fato social é maior do que a fonte que o expressa. Ex: População.

Cidadão individuali

zado 3

Deve-se codificar como Outro qualquer fonte que não for representante oficial de órgãos públicos (diretos ou indiretos) e que não esteja promovendo nenhum confronto ou instabilidade social. Ou seja, trata-se de fonte da sociedade organizada que fala em nome dela mesma ou de uma organização não ligada ao aparato Estatal. Ex: Pesquisadores

Próprio jornalista 4

Situações em que o repórter, sem nenhuma outra citação de fonte, apresenta ou descreve situação a partir de observação direta ou memória histórica. Ex.: Acompanha reunião de partido e conta o que viu sem citar ninguém.

Baseado em Molotch e Lester (1993) Santos (2001) 17 – NÚMERO DE FONTES – total de fontes citadas ao longo do texto. 18 – OBSERVAÇÕES Obs.: Nem todas as variáveis observadas na pesquisa estão presentes na análise, pois foram usadas apenas as que renderam mais.

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APÊNDICE B – Pré-projeto

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA Bacharelado em Comunicação Social – Jornalismo Disciplina de Metodologia de Pesquisa em Comunicação 3º ano Projeto de Pesquisa

Meio Ambiente: como o jornal folha de São Paulo aborda o tema Formato: (x) Monografia. ( ) TCC Aluno: Michele Goulart Massuchin Orientador: Emerson Urizzi Cervi 2008

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1. Identificação do Tema e Delimitação do Problema

Essa pesquisa tem como tema o jornalismo ambiental, uma das segmentações

do jornalismo especializado, o qual vem se desenvolvendo para atender a sociedade

cada vez mais segmentada (ABIAHY, 200-, p.02). Nos últimos anos o jornalismo

ambiental tem tratado de temas como a questão do lixo urbano, poluição,

transgênicos, agrotóxicos, desmatamento, entre outros (BUENO, 2007) com mais

efetividade nos meios de comunicação.

O objeto dessa pesquisa são as notícias pautadas pelo Jornal Folha de São

Paulo, relacionadas ao meio ambiente. Para este trabalho são utilizadas as edições

do ano de 1992 até 2008.

Essa especialização no jornalismo teve um desenvolvimento bastante relevante

nos últimos anos, quando o tema ecologia passou a ser incluído nas pautas dos

veículos com bastante freqüência, “na medida em que apareceram os debates sobre

transgênicos, biodiesel, biopirataria e aquecimento global” (BUENO, 2007).

A grande mídia retrata apenas as catástrofes ecológicas globais, que não tem

como função promover debate e conscientização pelas causas da natureza, apenas

apresentam a crise do meio vinculada com uma heurística do medo (AGUIAR, 2005,

p.01). Segundo Bueno (2007), as catástrofes ecológicas estão tomando conta das

primeiras páginas dos veículos diários (...) a qual pode ser considerada

sensacionalista quando retrata apenas acidentes ambientais como forma de

aumentar a audiência.

Segundo Aguiar (2005, p.01), esse tipo de notícia vêm ocupando as páginas dos

jornais, em especial nos diários, com maior destaque. Na última década do século

XX, por exemplo, a cobertura sobre o assunto passou por três momentos distintos

segundo Tosi e Belmonte (2001, p.01). Os autores caracterizam o início dos anos 90

até 92 como o boom da discussão, outro momento posterior como ressaca e os

últimos anos do século com o ressurgimento do tema, devido ao aparecimento das

grandes empresas poluidoras.

Tosi e Belmonte (2001, p.01) explicam que no final do século mudou-se a forma

de trabalhar o tema. Agora as notícias são diárias, mas de fatos desconexos. No

início da década de 90, o que impulsionou a divulgação do tema foi a realização da

Conferencia das nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de

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Janeiro. E no período de ressaca o tema apenas ganhava espaço quando acontecia

um desastre.

Segundo Arruda (2006, p.01) a defesa do meio ambiente foi um movimento que

nasceu principalmente nos países do Norte nos anos 60, com as denúncias da

norte-americana Rachel Carson de envenenamento com pesticidas. Para a autora o

espaço destinado ao desenvolvimento econômico foi substituído pela preocupação

ambiental a partir de 1970.

Para Aguiar (2005, p.13) as formas de representação da crise ambiental se dão

por década. Nos anos 60, como uma crise de participação; nos anos 70, como uma

crise de sobrevivência; anos 80 como crise cultural ou de civilização e a partir da

década de 90, com a cobertura jornalística da grande imprensa assume o significado

de uma crise dos riscos globais.

A partir da crise que tomou conta das últimas décadas do século XX, espera-se

que o jornalismo dê sentido a toda essa massa de informações que circula pelo

planeta, abrindo um espaço para a reflexão e contribuindo para a descoberta de

soluções para esta crise (ARRUDA, 2006, p.02). É preciso mudar a forma de

cobertura dos veículos, como relata Aguiar (2005, p.13): “a cobertura foi baseada

apenas no medo e nas catástrofes”.

Sendo assim, o problema de pesquisa, o qual deve ser explicado ao longo do

trabalho de análise das edições do jornal é: de que forma a folha de São Paulo

abordou o tema meio ambiente a partir de 1992 até hoje?

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2. Objetivos 2.1 Objetivo geral - analisar o conteúdo do Jornal Folha de São Paulo para verificar de que forma o veículo abordou a crise ambiental a partir de 1992; 2.2 Objetivos Específico

- fazer análise do conteúdo, tendo como foco as matérias jornalísticas sobre meio

ambiente;

- observar quais as temáticas encontradas com maior freqüência nos textos

jornalísticos ambientais;

-verificar a partir de alguns critérios, de que forma o jornal trata o assunto;

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3. Justificativa Este trabalho é conveniente cientificamente por abordar um tema novo na

área de comunicação. O jornalismo ambiental se desenvolveu com mais ênfase,

substituindo outras prioridades a partir do final do século XX, por isso do interesse

de observar como a mídia abordou o tema nesse período. Além disso, a crise

ambiental tem uma pertinência na discussão pública e conseqüentemente os meios

de comunicação fazem, ou deveriam fazer, o papel de mediadores.

A pesquisa é viável, pois a forma de abordagem, a metodologia a ser

desenvolvida e o tempo de análise permitem dar um panorama do tratamento dado

ao assunto nesse veículo. Verifica-se também pouca quantidade de trabalhos

realizados nessa área. Dessa forma, a pesquisa ajudará nas próximas etapas a

serem desenvolvidas sobre o assunto por outros pesquisadores. A falta de estudos

se dá por ser um assunto ainda em desenvolvimento. Além de que, será possível ter

acesso as edições do jornal para a análise do seu conteúdo. O tempo disponível

está dentro do esperado, já que será possível fazer durante o período designado.

O desenvolvimento da pesquisa é importante na área de comunicação, por se

tratar de um conteúdo de interesse dos jornalistas, no sentido de ser uma área em

desenvolvimento. O trabalho tem como foco atender as expectativas dos jornalistas

e não do público, já que é uma análise de conteúdo das matérias já publicadas e se

refere a um estudo de caso.

A análise visa explicar ainda como os meios de comunicação pautam,

apuram, desenvolvem e priorizam os assuntos, defendendo a existência de fatores

que interferem na produção e na forma de abordagem. A implicação desse trabalho

na “comunidade” dos jornalistas é justamente mostrar como os meios de

comunicação abordam a temática discutida desse trabalho, a partir da análise de um

veículo diário de abrangência nacional. Da mesma forma que surgem trabalhos que

analisam como os veículos pautam os assuntos políticos, este pretende analisar a

cobertura apenas dos assuntos relacionados com o meio ambiente.

O aporte teórico desse trabalho se direciona para o enriquecimento das

teorias do jornalismo. É mais uma forma de verificar como as rotinas produtivas, o

enquadramento e a influência dos interesses externos (como por exemplo, o

interesse político expresso na teoria da ação política) podem de fato influenciar no

processo de produção das notícias.

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A escolha pelo jornal impresso e não pelos veículos on-line se deu pelo fato

de que a época em que será feito a análise, o jornalismo on-line estava em processo

de iniciação, e as criações especializadas na rede ainda não estavam a disposição.

Foi no início do século XXI que a rede passou a ser o campo de estudo nas áreas

especializadas, anterior a isso não há material que suporte a pesquisa.

Além disso, outro aspecto importante na escolha do veículo foi a área de

circulação e o porte. A Folha de SP é considerada um jornal de abrangência

nacional, dessa forma apresenta sempre um panorama dos fatos mais importantes

de todo o país, diferente de um veículo menor, que restringe sua apuração no

estado ou na região, trabalhando mais um jornalismo regional. Isso exclui muitos

assuntos que foram pautados sobre meio ambiente em veículos maiores.

O porte do veículo foi importante na hora da escolha do jornal, pois por ser

um dos mais antigos e maiores jornais em circulação no país, a Folha já estava

pautando o tema meio ambiente. Os jornais do interior só pautaram o assunto mais

tarde, devido ao distanciamento as novas tendências. E como foi na década de 90

que o jornalismo ambiental tomou conta das redações, pela lógica, se desenvolveu

primeiro nos veículos maiores e mais sólidos, onde se destaca a Folha de SP.

O período de análise se justifica por ser nesse período que os veículos

passaram a pautar e dar mais ênfase ao assunto devido a ECO -92. E,

conseqüentemente, com o assunto meio ambiente em discussão nos últimos anos

devido aos transgênicos e biodiesel, por exemplo, a tendência é de que os veículos

pautam com mais efetividade o assunto do que antes da ECO-92, que é considerado

o boom do jornalismo ambiental.

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4. Fundamentação Teórica pertinente ao trabalho

As teorias do Jornalismo que norteiam essa pesquisa e podem ajudar a explicar

a produção noticiosa do jornal a ser analisado são a teoria da Ação Política e Teoria

Organizacional, as quais explicam a produção pela influencia de outras instituições e

pela linha editorial do veículo, respectivamente.

Autores como Warren Breed e James Curran, escrevem sobre a teoria

Organizacional e ressaltam a interferência da organização sob o trabalho realizado

nas redações. Nessa visão, as notícias são resultado da política editorial do veículo.

Segundo Breed, o jornalista se adapta as regras da empresa, mesmo elas sendo

implícitas no ambiente. Além disso, a teoria ressalta a influência da economia na

produção, o que mais tarde será resgatado pela Teoria da ação política.

Na teoria da ação política destaca-se Efron, Kristol, Lichter, Herman, Chomsky e

os destaques mais recentes são Nelson Traquina e Gaye Tuchman, influenciados

por Antônio Gransci, Start Hall e Roland Barthes. Nesta abordagem teórica, cresce

os estudos sobre ideologia, em que se evidencia o poder das notícias de sustentar o

poder capitalista.

Nessa teoria, os meios de comunicação são vistos numa visão instrumental, ou

seja, servem aos interesses políticos. Herman e Chomsky reforçam a idéia de que

os meios mantêm o poder instituído devido aos donos e aos anunciantes. Para os

autores, os veículos estão embutidos no sistema comercial.

O fator tempo (rotinas produtivas) também influencia na produção das notícias,

acima do poder dos próprios jornalistas. Elas são formas de constrangimento,

segundo Sousa, além de manter uma semelhança entre as diversas produções.

A discussão de especializado também faz parte da pesquisa e pode ajudar a

entender a difusão do jornalismo ambiental, já que este é uma das especialidades

dessa área de discussão. A partir do desenvolvimento do jornalismo especializado é

que se desenvolveram as temáticas dentro dessa grande área. Atualmente as

pesquisas sobre jornalismo especializado e científico passam por um processo de

discussão sobre o que de fato são as especialidades e como é a relação com as

características do próprio fazer jornalismo. Atualmente grande parte dos estudos

trata do uso indevido da palavra especializado.

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Autores como Ricardo Alexino Ferreira, discutem o jornalismo especializado

como algo mais aprofundado do que a apuração por áreas de atuação, como se

conhece atualmente.

Ana Carolina de Araújo Abiahy, Sandra Ball-Rokeach, Melvin Defleur discutem a

aceleração das especialidades como uma necessidade dos indivíduos. Wilma

Moraes, Peter Nelson, André Trigueiro, Leonel Azevedo de Aguiar também discutem

o assunto, porém focam diretamente no jornalismo ambiental.

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5. Metodologia e Estratégia de Ação Empírica

O presente trabalho, que tem como objetivo analisar o Jornal Folha de São

Paulo e sua abordagem sobre os assuntos relacionados a crise ambiental que

tomou conta do final do século, vai se dá a partir da análise das edições para a

verificação da existência ou não do tema e conseqüentemente da análise de

conteúdo daquilo que for catalogado.

A pesquisa se estende das edições do ano de 1992 até 2008. Como o jornal é

diário e o número de edições é demasiadamente grande, impossibilitando a

pesquisa no tempo designado, será feito uma coleta por amostragem. A mostra

deverá ser por semana composta, ou seja, serão utilizadas para análise duas

edições por semana durante todo o período, totalizando em torno de 1900

exemplares para análise.

O método de pesquisa utilizado será a análise documental, por meio da

técnica de análise de conteúdo, onde será verificada de que forma o jornal Folha de

São Paulo aborda o assunto.

O propósito desse trabalho é o diagnóstico, onde será explorado o ambiente

(no caso o jornal Folha de São Paulo) com objetivo de levantar os dados

necessários e definir os problemas que fazem com que as notícias sobre meio

ambiente sejam pautadas ou não e o enfoque.

A técnica de coleta será a avaliação do conteúdo. A partir disso, pode-se

verificar se as notícias veiculadas no jornal Folha de São Paulo sobre o tema deste

trabalho concordam com os estudos já feitos sobre o período. Para a análise, a

técnica a ser usada é qualitativa, ou seja, será avaliado o conteúdo do jornal e não

somente a quantidade de notícias sobre o assunto. O objetivo é a análise do

conteúdo observado para explicar como o tema é abordado, enquadrado, enfocado

e exposto no jornal.

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6. Possíveis Resultados

A partir dos estudos realizados sobre esse tema, das leituras para

embasamento e o trabalho de análise das notícias, será possível obter um panorama

de como o jornal abordou o tema meio ambiente ao longodos anos a partir da ECO-

92. Devem-se perceber as mudanças, os enfoques, os temas mais observados,

entre outros fatores importantes para complementar a pesquisa.

Por meio desse resultado é possível relatar sobre as influências de fatores

externos ao jornalista, compreendidos pelas teorias do jornalismo. Será possível

observar se de fato há influências de acordo com a análise do conteúdo apresentado

pelo veículo.

A pesquisa também vai validar os trabalhos anteriores, citados neste, que

defendem os períodos distintos de abordagem. Pode-se mostrar se de fato isso se

materializa pela análise do Jornal folha de São Paulo. O trabalho ainda contribui

para os estudos sobre o desenvolvimento do jornalismo ambiental, que ainda estão

se iniciando neste século. Será possível apresentar o cenário de desenvolvimento do

tema no jornal de maior circulação nacional.

A análise também vai verificar se houve aumento significativo da difusão de

matérias ao longo dos anos. A partir disso, podemos chegar a conclusão se de fato o

jornalismo feito nas redações do jornal sofre influências econômicas (teoria da ação

política) das grandes empresas poluidoras por isso pode evitar notícias relacionadas

a denúncias de empresas ilegais com relação às normas ambientais, por isso o

número de matérias relacionadas a esses fatos pode ser menor que as demais.

Outra conclusão esperada é se há ou não a apropriação dos momentos da

década de 90 pela Folha de SP, os quais podem ser ou não fatores norteadores da

produção jornalística. As notícias são o resultado da opção editorial do veículo, do

agendamento, do recebimento de release e utilização das agências de notícias, e

pode não ter ligação com os três momentos distintos da cobertura das questões

ambientais da década.

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7. Referências Bibliográficas

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SCHIMIDT, Simone. Páginas verdes – A presença da emoção no Jornalismo Especializado em Meio Ambiente: Uma análise da seção de entrevistas pingue-pongue da revista Ecologia & Desenvolvimento. Disponível em: www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/7772/000556583.pdf?sequence=1. Acesso em: 20 de setembro de 2008. SCHWAAB, Reges Toni. Jornalismo Ambiental no rádio educativo: a experiência do programa Ambiente Vivo. Disponível em: www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/cd3/sonora/regestonischwaab . Acesso em: 20 de setembro de 2008. TOSI, Juares e BELMONTE. Roberto Villar. Jornalismo Ambinetal: onde estão as faculdades de comunicação? Disponível em: www.portoalegre.rs.gov.br/ecos/revistas/ecos19/opiframe.htm. Acesso em: 20 de setembro de 2008. TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo. Vol I. Florianópolis: Insular, 2004. VILLAR, Roberto. Jornalismo Ambiental - Evolução e Perspectivas. Disponível em: www.agirazul.com.br/artigos/jorental.htm. Acesso em: 20 de setembro de 2008.

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APÊNDICE C – Relatório analítico

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Relatório Analítico

Este trabalho de conclusão de curso tem suas raízes ainda em 2007. A ideia

de estudar algo relacionado com o tema meio ambiente surgiu nas aulas de

Redação Jornalística II, ministradas na época pela professora Hebe Gonçalves. O

segundo ano do curso estava terminado e eu já estava aflita por não saber o que

faria no famoso ‘TCC’.

Nas últimas aulas teóricas de redação, a professora Hebe trabalhou com três

textos: um sobre jornalismo especializado e dois sobre jornalismo ambiental. Lendo

o material, alguns dias antes da aula, o tema dos artigos me interessou e comecei a

ler notícias de meio ambiente quase todos os dias na internet. Entrei em alguns sites

de jornalismo ambiental e até me cadastrei para receber as newsletters (as quais

recebo até hoje e lotam minha caixa de e-mail todos os dias!).

O segundo ano terminou e eu fui para casa, estava de férias, sabia que no

ano seguinte já tinha que fazer um projeto na disciplina de Metodologia de Pesquisa.

Nesse período decidi trabalhar com o tema meio ambiente, mas ainda não sabia

muito bem o que eu ia fazer. Comecei certo, como mandava meu orientador nas

aulas de metodologia: primeiro o tema, depois o formato. Mas eu já tinha certeza

que queria fazer pesquisa! Nada de documentário, reportagem, livro e coisas do

gênero...

Não sei bem onde surgiu esse interesse, mas tentando lembrar agora, acho

que é resultado da minha participação no grupo de Pesquisa em Jornalismo Digital,

coordenado pela professora Maria Lúcia Becker. Entrei no grupo quando ainda

estava no segundo ano do curso e participei das pesquisas sobre jornalismo digital

no Paraná. Além disso, desenvolvi um projeto de iniciação científica, o que

aumentou meu interesse em fazer monografia.

No terceiro ano, iniciei a disciplina de Metodologia de Pesquisa e o professor

Emerson foi quem ministrou as aulas e orientou o pré-projeto (ainda bastante

incipiente nas primeiras entregas). Durante o ano o projeto passou por modificações.

Só não modificou o tema! Na primeira versão, a idéia era fazer uma análise

comparativa de como um veículo on-line e um impresso abordavam o tema. Já na

segunda, com medo de ter problemas com o banco de dados do site a ser escolhido,

decidi trabalhar apenas com o impresso e não mais fazer análise comparativa.

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No decorrer do terceiro ano fui lendo sobre o assunto e conhecendo outros

trabalhos já produzidos na área. A partir do segundo semestre, já tive mais clareza

do que queria fazer: analisar como a Folha de São Paulo aborda o tema meio

ambiente. Faltava ainda decidir o período a ser pesquisado e justificar um bocado de

coisas. No final do ano o projeto da disciplina, era de fato, aquele que eu iria

desenvolver na monografia.

No pré-projeto já tive pré - orientação do Emerson, que posteriormente seria

meu orientador do TCC de verdade. Durante as aulas de metodologia, sempre

quando havia conteúdo novo eu não sabia como ‘encaixar’ no meu projeto, eu

perguntava: ‘E o meu professor?! E o meu?!’. Pergunta essa que eu fiz muitas e

muitas vezes durante o ano; e o Emerson, muito paciente (pelo menos aparentava,

rs!) respondia e eu anotava para chegar em casa e arrumar projeto.

Na verdade sempre faltava alguma coisa e eu nunca me contentava com a

minha nota. No final da aula eu ia perguntar o que ainda estava faltando para

colocar no projeto novamente. Aos poucos o trabalho foi melhorando e a nota

também.

Antes de terminar o terceiro ano pedi dicas de leituras para as férias e

também investiguei se conseguiria encontrar as edições da Folha de São Paulo,

desde 1992, para analisar. Liguei nas bibliotecas de Ponta Grossa, Curitiba, de

outros estados e até mesmo no acervo do jornal, em São Paulo. Os únicos locais

que encontrei o material foi na Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba e no acervo

do jornal.

A primeira tentativa, após não encontrar em Ponta Grossa, foi o próprio

acervo do jornal, mas quando liguei lá levei um susto que quase desisti de fazer o

trabalho. A Folha cobra para fazer fotocópia do material e também pelo tempo de

análise (R$ 15,00 para estudantes). Como na época eu iria analisar duas edições

semanais durante os 17 anos, se eu tivesse que pagar a pesquisa seria inviável.

Indignada com os valores, resolvi ligar para a biblioteca Pública do Paraná, onde

consegui o material e a pesquisa era gratuita. Apenas teria que me deslocar para

Curitiba para fazer a análise dos dados.

No final do terceiro ano, toda a turma recebeu uma ficha para colocar os

dados do trabalho a ser desenvolvido no último ano e sugerir dois professores para

orientar o TCC. Minha primeira opção foi o Emerson, pois ele já apresentava

bastante afinidade com pesquisa.

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Nas férias, consegui fazer diversas leituras sobre o tema, a metodologia e as

teorias que eu iria usar no trabalho. Quando iniciou o ano letivo, começaram as

orientações. Eu cheia de ‘tarefas’, como diz o Gadini, já vinha desde o ano anterior

preocupada se eu ia dar conta de fazer o TCC, pois juntamente com a produção da

monografia eu tinha o projeto de PIBIC, a Semana de Resistência para organizar e o

CAJOR para presidir até o final do semestre.

Para evitar problemas, durante quase todo o ano eu segui a mesma

metodologia de trabalho (proposta pelo Emerson): fazíamos a orientação nas terças-

feiras, eu saia da conversa e ia para casa e começava a produzir. Eu tinha sempre

até o sábado para mandar o texto que escrevi durante a semana e fazer os ajustes

propostos no texto produzido na semana anterior. Mandava o trabalho no sábado e

o Emerson respondia no domingo ou segunda (exceto quando eu mandei no e-mail

errado, rs!) com as observações, correções e novas propostas. Na orientação

seguinte discutíamos as observações do e-mail e ele me dava outra tarefa. E assim

foi o ano todo (quase todo), mesmo com o restante dos meus afazeres!

O que me ajudou muito foram as leituras que eu fiz durante as férias, pois

quando voltei já sabia mais ou menos o que eu precisava colocar no texto da

monografia e o que ainda faltava pesquisar. Como havia poucos textos sobre o tema

na biblioteca, resolvi adquirir alguns livros. Cinco para ser mais exata. E lá se foram

quase duzentos reais! Mas tudo bem, era por uma boa causa. Eu defendia tanto

meu trabalho que valeria a pena o investimento.

Lá por meados de maio eu já estava com a parte teórica (capítulos um, dois e

algumas páginas do terceiro) pronta, faltando apenas as correções e os cortes. Sim,

o Emerson me fazia diminuir o tamanho do texto por que tinha colocado coisas

demais! Eu tinha uma dificuldade imensa de cortar e fica brava por que tinha escrito

tanto e ele queria que eu tirasse. Mas aos poucos fui conseguindo fazer com que os

dois primeiros capítulos coubessem em pouco mais de 70 páginas.

Terminado essa parte teórica, começamos a discutir o terceiro capítulo: as

variáveis a serem analisadas, o recorte das matérias (definição do que eu entendia

por ‘meio ambiente’ para fazer a análise e selecionar os textos), a amostra a ser

escolhida, entre outras coisas. Em poucos dias fiz isso e escrevi mais uma parte do

capítulo três para apresentar na pré-banca. Após definidas as variáveis, decidimos

testar numa amostra.

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Para não perder trabalho, optamos em já pegar a amostra que seria a final:

duas edições semanais durante os 17 anos, o que seria em torno de 1700 edições a

serem analisadas. Resolvemos já definir as datas da amostra. Um belo dia sai da

orientação e fui para casa fazer a tal da seleção das datas que seria a amostra.

Peguei o calendário do meu computador, lá de janeiro de 1992 e comecei a anotar

as datas, uma de cada semana, uma na segunda, a outra na terça e assim

sucessivamente. Acho que fiquei umas cinco horas só vendo as datas das edições

(isso que para o teste eu estava anotando apenas de uma edição por semana e não

de duas como seria o normal).

Anotadas as datas, resolvi usar o ano de 2008 para o teste, pois este eu tinha

acesso em Ponta Grossa. Peguei as mais de 50 edições (que representavam cada

semana) e levei para casa para fazer num final de semana. Porém, passou o final de

semana e eu ainda estava analisando o mês de junho. Fazendo as contas se eu

demorasse todo esse tempo para analisar seis meses de apenas uma edição por

semana, eu demoraria ao todo 102 dias, em média, para a análise (a essa altura do

campeonato já havíamos descartamos fazer duas edições semanais). Ou seja,

apresentaria meu TCC só em 2010!

‘Michele, você é louca!’. Como ouvi isso durante o primeiro semestre. Não era

um nem dois que falava isso, mas quando diminui a amostragem acalmaram-se.

Para conseguir dar conta, resolvemos analisar novamente o ano e 2008, mas com

uma edição a cada 15 dias, o que dava em média 25 edições por ano, totalizando

442 edições para a análise. Dessa vez consegui analisar em pouco mais de um dia

(já estava mais prática e já sabia os códigos de cor e salteado). Só em 2008

cataloguei 106 matérias.

Esse ‘teste’ foi utilizado já na pré-banca como uma amostra como ficaria a

pesquisa no final do ano. Juntei esses dados ao texto, coloquei nas normas e fiz a

correção. Depois de ‘aprovado o teste’ e monografia pronta para a pré-banca fui

para Curitiba começar a análise de vez! Para evitar gastos com hotel, fiquei na casa

de duas amigas, que me emprestaram o apartamento por duas semanas e mais uns

dias. Analisei 15 anos em Curitiba e dois em Ponta Grossa. O Decom tinha o acervo

de 1992 e de 2008.

Voltei de Curitiba com vários dados em mãos, entreguei a monografia no dia

10 de junho e esperei a pré-banca que aconteceu no dia 30 de junho, depois do meu

atraso. Sim, eu me atrasei para a minha pré-banca! Ou melhor, não fui avisada da

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mudança de horário. Eu achava que a banca seria às 15 horas, e na verdade era às

11 horas. É claro que eu não estava na UEPG às 11 horas, afinal estava chovendo

no bendito dia. Às 11h10 mais ou menos, o meu orientador ligou para saber onde

eu estava e eu nem sabia da banca. Saí correndo para a UEPG desesperada e

muito brava. Cheguei lá e encontrei todo mundo me esperando, inclusive o

convidado!

Enfim, cheguei às 11h30 para a banca, a qual não durou muito. Acho que uns

40 minutos, no máximo. Alguns elogios, algumas observações e pequenos ajustes.

Eis a minha nota: 9,5. Porém, na mesma semana tive orientação e lá fui eu com

tarefa para as férias: ir para Curitiba terminar a catalogação das matérias, passar

todos os dados da tabela para o computador e arrumar os erros e observações feitas

pelo convidado e pelo professor Rafael.

Na semana seguinte da banca fui para Curitiba novamente. Fiquei uma

semana fazendo a análise dos dados que faltavam e consegui finalizar a pesquisa

(como foram longos aqueles dias!). Com meu TCC descobri que tenho muita alergia

a jornal velho. A primeira ida a Curitiba foi pior, nessa eu já estava ‘vacinada’! Na

biblioteca tive o auxílio dos funcionários e também muitas perguntas de curiosos que

me viam lendo um jornal de 1995, por exemplo. E como aqueles plásticos que

separavam as quinzenas dos jornais estavam “estranhos”! As mãos ficavam pretas

com o pó do jornal e o grude do plástico antigo. Que beleza!

Após terminar a análise (ainda bem!), viajei para a casa dos meus pais e nas

duas semanas que fiquei lá fiz o restante das tarefas. Voltei para Ponta Grossa,

mandei a monografia com as alterações para o Emerson e também todos os dados

na tabela do Excel. Resumo das férias: passei as tardes digitando os dados das 783

notícias catalogadas e algumas noites fazendo correções e lendo alguns textos que

poderiam complementar a pesquisa.

Quando iniciou o segundo semestre eu já estava na UEPG para começar a

análise dos dados. O Emerson passou algumas tabelas e gráficos e eu iniciei a parte

prática do terceiro capítulo. Como tivemos três semanas de recesso por causa da

gripe suína eu consegui escrever grande parte da análise nesse período. O Emerson

veio para Ponta Grossa algumas vezes e nos reuníamos para fazer os cruzamentos

dos dados para eu poder dar continuidade ao trabalho.

Consegui adiantar bastante conteúdo neste período de ‘férias suínas’ e tive

mais tranquilidade nos meses mais próximos da entrega da monografia. Tanta que

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meu orientador me deixou “abandonar” o TCC para estudar para as seleções de

mestrados que aconteceram no mês de outubro. Pelo que eu lembro, acho que

fiquei um mês sem se quer olhar para minha monografia. Após as provas, e já

desesperada achando que estava atrasada (tanto adiantamento e eu ainda achando

que estava atrasada), voltei a fazer TCC. Já estava com saudades para falar a

verdade! Faltavam apenas alguns detalhes, a conclusão, acrescentar algumas

informações e fazer as correções.

Lá pelo dia 20 de outubro eu retomei a monografia. Como eu sempre trabalho

na base de um cronograma para não deixar as coisas atrasarem ou acumular

tarefas, fiz um novo ‘calendário’ para que eu pudesse finalizar a análise ainda no dia

30 de outubro. Porém, eu não sabia que detalhes exigiam tanto trabalho (ainda mais

numa monografia com 200 páginas). Um detalhe aqui, outro ali e a impressão

mesmo só saiu no dia nove de novembro, um dia antes da entrega.

Como nem tudo são flores, o maior problema que eu tive ao longo do ano foi

encontrar informações sobre o próprio jornal. Durante o período de pesquisa precisei

entrar em contato para pedir alguns dados, porém isso sempre era uma grande dor

de cabeça. Ficava horas e horas na linha e nada, ou melhor, no final do mês vinha

uma conta enorme, porém eu continuava sem as informações. Somente a partir de

agosto que consegui as informações que precisava, quando deixei meu telefone e o

próprio funcionário me retornou. Quase um milagre, nem acreditei! Mas quando eu

achava que estava tudo indo muito bem, ainda faltava alguma ‘coisa’ para

complementar a parte teórica: se eu tanto falei de jornalismo especializado,

segmentado e editorias, nada mais certo do que eu colocar como se deu esse

processo evolutivo no jornal (algo que também foi cobrado na pré-banca).

Aí começou a dor de cabeça de novo: como conseguir essas informações

sendo que no site eu não havia encontrado e para conseguir informações no banco

de dados era complicado? Acho que de tanto eu ligar lá e dizer ‘eu sou de Ponta

Grossa, faço jornalismo na UEPG e meu tcc é a análise da Folha de São Paulo...’,

os atendentes já me conheciam e viram que de fato eu não ia parar de ligar se eles

não me passassem as informações. Quase no dead line do tcc, no dia 27 de

outubro, depois de um tempo pendurada no telefone, consegui com a ajuda de um

dos atendentes, encontrar as informações no site do banco de dados. Como se não

bastasse, vinha mais um problema: algumas informações estavam incompletas (uma

das atendentes disse que, de fato, o site está desatualizado) e não estavam de

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acordo com o próprio jornal atual e nem com informações que haviam passado por

telefone. Precisei novamente entrar em contato. Mais algumas ligações, juntando

informação aqui e ali, consegui visualizar o histórico de cada uma das editorias do

jornal e enfim pude complementar o que ainda faltava no capítulo dois.

Ao longo da produção da monografia participei de vários congressos, onde

pude apresentar minha pesquisa, mesmo estando em andamento. Ainda em junho

participei do Intercom Sul, onde apresentei o projeto da pesquisa, e do Seminário de

Inverno, que escrevi sobre a análise previa do ano de 2008. Em setembro apresentei

a discussão teórica proposta no capítulo dois no Intercom Nacional, e fiz uma fala

rápida a respeito do percurso de trabalho, já podendo passar alguns resultados no

Encontro de Iniciação Científica da Secal. Em outubro apresentei o projeto do

trabalho já discutindo as hipóteses no Encontro de Iniciação Científica da Unopar e

em Novembro no Encontro Paranaense de Pesquisa em Jornalismo já com o

trabalho praticamente finalizado, pude apresentar os resultados referentes a primeira

parte da análise, que trata especificamente da presença e visibilidade do tema no

jornal. As apresentações contribuíram com as dicas e observações. Como dizem

meus calouros: ‘Nunca vi ninguém que gostar tanto de falar do TCC!’. Mas não é

isso, ou melhor, é sim! Eu gosto muito do meu TCC. Na verdade, eu tenho interesse

por pesquisa e acho que trabalhos engavetados não servem para muita coisa, por

isso tento socializar os conhecimentos que adquiri ao longo da produção.