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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA
JÁDER RIBEIRO DE LIMA
UMA PROPOSTA DE DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE
DEGRADAÇÃO/DESERTIFICAÇÃO DE CANINDÉ, CEARÁ.
FORTALEZA - CEARÁ
2015
JÁDER RIBEIRO DE LIMA
UMA PROPOSTA DE DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE
DEGRADAÇÃO/DESERTIFICAÇÃO DE CANINDÉ, CEARÁ.
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado Acadêmico em Geografia do
Programa de Pós-Graduação em Geografia
do Centro de Ciência e Tecnologia da
Universidade Estadual do Ceará, como
requisito parcial a obtenção do título de
mestre em Geografia. Área de
Concentração: Análise Geoambiental e
Ordenação do Território nas Regiões
Semiáridas e Litorâneas.
Orientador: Prof. Dr. Frederico de Holanda
Bastos
FORTALEZA – CEARÁ
2015
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Estadual do Ceará
Sistema de Bibliotecas
Lima, Jader Ribeiro de. Uma proposta de delimitação da área dedegradação/desertificação de Canindé, Ceará [recursoeletrônico] / Jader Ribeiro de Lima. – 2015. 1 CD-ROM: il.; 4 ¾ pol.
CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF dotrabalho acadêmico com 105 folhas, acondicionado emcaixa de DVD Slim (19 x 14 cm x 7 mm).
Dissertação (mestrado acadêmico) – UniversidadeEstadual do Ceará, Centro de Ciências e Tecnologia,Programa de Pós-Graduação em Geografia, Fortaleza,2015. Área de concentração: Análise Geoambiental eOrdenação do Território nas Regiões Semiáridas eLitorâneas. Orientação: Prof. Dr. Frederico de Holanda Bastos.
1. Degradação Ambiental. 2. Desertificação. 3.Sensoriamento Remoto. 4. Sistema de InformaçõesGeográficas. I. Título.
AGRADECIMENTOS
Sou grato, primeiramente, a Deus pela força maior e pela saúde que nos dá para que
possamos seguir em frente;
Aos meus pais José Melinho de Lima Filho e Maria Ribeiro de Lima por sempre estarem
ali para dar apoio e fortalecer as decisões. Ao meu irmão, José Melinho de Lima Neto por
revigorar a alma e esquecer problemas lá fora. A minha irmã, Lívia Maria Ribeiro de
Lima;
A minha avó, Maria Adelaide, que, aos seus 93 anos, é exemplo de vida e sempre
impressiona pela perseverança;
Ao meu avô, José Melinho de Lima (in memorian), por ser referência de trabalho para
alguns da família;
A minha, hoje, noiva e amanhã, esposa, Amanda Aragão Alves, pelo apoio cotidiano,
conversas e planejamentos e pelos momentos de tristeza e alegria que fortalecem cada
vez mais o relacionamento. E a sua família, Sr. José Alves, D. Fátima, Juliana, Rafael,
Daywison e Alice que me acolhem com toda atenção;
A Professora Lucia Brito por aceitar e acolher inicialmente ao entrar no Mestrado;
Ao orientador deste trabalho, Prof. Fred (Frederico de Holanda Bastos), que sempre me
atendeu pacientemente, agradeço também pelos conselhos e pela paciência nos caminhos
de pedra que é a construção da pesquisa;
Aos professores do programa que contribuíram direta e indiretamente para a pesquisa;
Aos colegas de turma, pelo compartilhamento de momentos de alegria e contribuição para
a pesquisa em dois anos. Em especial Evelize Teixeira, Otávio Barra, Rafaela Monteiro,
Abner Monteiro, Iaponan Almeida, Mailton Nogueira.
Aos professores que participaram da banca de qualificação e de defesa Prof.ª Dr.ª Marta
Celina, Prof. Dr. Manoel Rodrigues de Freitas Filho e Rodrigo Guimarães de Carvalho.
Meu agradecimento pela contribuição;
Às que trabalham nos bastidores para que tudo isso possa acontecer, Maria Júlia e Adriana
Livino pelo pronto atendimento;
Aos meus poucos e verdadeiros amigos, Juliana Rodrigues, Thiago Moraes, Henrique
Sampaio, Tiago Rodrigues, Giselle Mariana, Juliana Bandeira, João Paulo Carozo, Joana
D’Arc Nascimento, Felipe Anselmo, Joana Lacerda, Carlos Hathyla e Diego de Souza;
À pessoa de Marcelo Maia, homem de referência profissional desde os tempos de estágio
no IBGE, durante o período da graduação, na UFC;
À pessoa de Marcelo Maia, homem de referência profissional desde os tempos de estágio
no IBGE, durante o período da graduação, na UFC;
Ao Cleyber Nascimento de Medeiros, pelo exemplo de profissional digno e extremamente
capacitado.
Enfim, agradeço a todas as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para
concretização desta pesquisa, desta realização, deste sonho. Meu muito obrigado.
RESUMO
Este trabalho tem o objetivo principal de apresentar uma área de
degradação/desertificação, nos sertões de Canindé, Ceará. Inicialmente identificada, em
estudo da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), em
1990, mapeando 37.913 ha de área degradada. Em 2010, a Secretaria de Recursos
Hídricos (SRH) lança o Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação e
Mitigação dos Efeitos contra a Seca (PEA – CE). Como resultado do programa,
identificaram-se três grandes áreas susceptíveis à desertificação, chamadas ASDs.
Canindé agora está contemplada no núcleo de Irauçuba, com nova mancha de degradação
de 53.440 ha. De 2012 a 2015, a capacidade dos reservatórios passou de 63,8 % para
alarmantes 18,8 %, segundo dados da Funceme. Lança-se novo olhar à área degradada,
para acompanhamento pelas instituições públicas, academia e a própria sociedade civil,
no intuito da preservação do ambiente e da conservação da biodiversidade. Por meio de
técnicas de geoprocessamento associado a trabalhos de campo para validação de dados
obtidos em escritório, foi possível identificar uma área de 14.539 há, em 2013, passando
para 81.086 ha no ano de 2014. Por fim, correlacionando duas áreas, foi proposta uma
área de degradação/desertificação de aproximadamente 45.049 ha.
Palavras-chave: Degradação Ambiental. Desertificação. Geoprocessamento.
Sensoriamento Remoto.
ABSTRACT
This paper has as its main objective to present an area of degradation/desertification in
the outback-like in Canindé, Ceará. Initially identified in a study conducted by Fundação
Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME) in 1990, which charted
37.913 ha as a degraded area. In 2010, the Secretaria de Recursos Hídricos (SRH)
launched the Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos
Efeitos contra a Seca (PEA – CE). As a result of this program, three large areas susceptible
to desertification (ASDs) were identified. Canindé is now included in the Irauçuba hub,
having a new degradation spot that comprehends 53.440 ha. Between 2012 and 2015, the
reservoirs’ capacity went from 63.8% to a startling 18.8%, according to Funceme. Like
so, a new gaze is directed to the degraded area, for its monitoring by both public
institutions/academics and the very own civil society, aiming to preserve the environment
and conserve biodiversity. Through geoprocessing techniques in conjunction with field
work in order to validate the office-obtained data, it was possible to identify an area that
comprehended 14.539 ha in 2013 and rose to 81.086 ha in 2014. At last, correlating both
areas, a degradation/desertification area circa 45.049 was proposed.
Keywords: Ambiental degradation. Desertification. Geoprocessing. Remote Sensing.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fluxograma das Etapas Metodológicas 33
Figura 2 - Radiação Eletromagnética (REM) 39
Figura 3 - Exemplo de Composição RGB para o Landsat - 8 43
Figura 4 - Fluxograma da Metodologia da Classificação das Imagens 45
Figura 5 - Classificação das Unidades Morfoestruturais do Ceará 50
Figura 6 - Perfil de Elevação Guaramiranga / Itatira 59
Figura 7 - Setores da Economia no PIB de Canindé em 2011 74
Figura 8 - Fabrica de cerâmica 80
Figura 9 - Erosão intensificada 90
Figura 10 - Porte vegetacional tipo 1 90
Figura 11 - Porte vegetacional tipo 2 90
Figura 12 - Vegetação caatinga arbustiva aberta 90
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 - Nova Delimitação do Semiárido Brasileiro (2005) 20
Mapa 2 - Comparativo do estudo da FUNCEME (1990) e PAE (2010) 23
Mapa 3 - Mapa de Localização da Área de Estudo 24
Mapa 4 - Pontos dos Trabalhos de campo realizados 47
Mapa 5 - Relação das Unid. Geológicas, Unid. Geoambientais e Altimetria 53
Mapa 6 - Formações geomorfológicas associadas a áreas degradadas 57
Mapa 7 - Perfil de Elevação sentido Guaramiranga (A) – Itatira (B) 59
Mapa 8 - Relação do tipo de solo com as Unidades Fitoecológicas 62
Mapa 9 - Empreendimentos licenciados pelo DNPM na área de estudo 82
Mapa 10 - Mapa de Cobertura e Uso da Terra 2013 89
Mapa 11 - Mapa de Cobertura e Uso da Terra 2014 90
Mapa 12 - Proposta de delimitação de área 93
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Municípios inclusos no semiárido nordestino 19
Tabela 2 - Evolução da População de Canindé, entre 1860 e 2014 63
Tabela 3 - Divisão Territorial de Canindé em distritos 64
Tabela 4 - PIB municipal e PIB per capita de Canindé, entre 1999 e 2011 66
Tabela 5 - IDM do município de Canindé, entre 1999 e 2010 68
Tabela 6 - Domicílios segundo abastecimento de água de 2000 e 2010 70
Tabela 7 - Domicílios tipo de esgotamento sanitário de 2000 e 2010 70
Tabela 8 - Principais Açudes de Abastecimento do Município de Canindé 71
Tabela 9 - Quantidade e situação dos Poços do Município de Canindé 73
Tabela 10 - Área Plantada de Milho e Feijão em Canindé entre 2003 e 2013 74
Tabela 11 - Produção de Milho e Feijão em Canindé entre 2003 e 2013 74
Tabela 12 - Culturas Temporárias de Canindé entre 2000 e 2013 76
Tabela 13 - Efetivo dos Rebanhos de Canindé entre 2000 e 2013 77
Tabela 14 - Quantidade Produzida na extração vegetal entre 2000 e 2013 79
Tabela 15 - Núcleos como Áreas Susceptíveis à Desertificação do Ceará 84
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Série histórica Guaramiranga e Canindé 59
Gráfico 2 - Evolução Populacional de Canindé, entre 1860 e 2014 64
Gráfico 3 - Setores da Economia no PIB de Canindé, entre 2002 e 2011 66
Gráfico 4 - Variação do PIB municipal de Canindé de 1999 até 2011 67
Gráfico 5 - Precipitação Pluviométrica Anual de Canindé de 1999 a 2014 68
Gráfico 6 - Evolução do IDM de Canindé entre 1999 e 2010 69
Gráfico 7 - Capacidade Hídrica dos três Açudes que abastecem Canindé 72
Gráfico 8 - Área plantada - Milho e Feijão entre 2003 e 2013 75
Gráfico 9 - Milho e Feijão Produzida em Canindé entre 2003 e 2013 75
Gráfico 10 - Precipitação Pluviométrica entre os anos de 2000 e 2013 78
Gráfico 11 - Rebanhos de Canindé entre os anos de 2000 e 2013 78
LISTA DE SIGLAS
ASD Área Susceptível a Desertificação
AVHRR Advanced Very High Resolution Radiometer
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CCD Convenção de Combate a Desertificação
CID Conferência Internacional sobre Variações Climáticas e Desenvolvimento
Sustentável no Semiárido
CNUMAD Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento
CPRM Serviço Geológico do Brasil
EEM Espectro Eletromagnético
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EMATERCE Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural do Estado do Ceará
FUNCEME Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
GPS Global Positioning System
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDACE Instituto de Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
INSA Instituto Nacional do Semiárido
IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
LDCM Landsat Data Continuity Mission
MIN Ministério da Integração
MDT Modelo Digital do Terreno
MMA Ministério do Meio Ambiente
MMS Multispectral Scanner Sensor
NASA National Aeronautics and Space Administration
ND Números Digitais
NDVI Normatized Difference Vegetation Index
NOAA National Oceanic and Atmospheric Administration
OLI Operacional Land Imager
ONG Organização Não Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
PAE Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos
Efeitos da Seca
PROPGEO Programa de Pós-Graduação em Geografia
RADAM Radar na Amazônia
REM Radiação Eletromagnética
SAD69 South American Datum 1969
SBSR Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto
SIG Sistema de Informações Geográficas
SITIM Sistema de Tratamento de Imagens
SRH Secretaria de Recursos Hídricos
SRTM Shuttle Radar Topography Mission
SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
TIN Triangulated Irregular Network
TM Thematic Mapper
TIRS Thermal Infrared Sensor
UECE Universidade Estadual do Ceará
UFPE Universidade Federal de Pernambuco
USGS United States Geological Survey
UTM Universal Tranversa de Mercator
UVA Universidade Estadual Vale do Acaraú
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 18
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................... 28
2.1 DESERTIFICAÇÃO .................................................................................... 28
2.2 GEOTECNOLOGIAS E MAPEAMENTO DE ÁREAS DEGRADADAS 32
3 PROCEDIMENTOS TÉCNICO-METODOLÓGICO .................................. 35
3.1 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO E CARTOGRÁFICO ................. 36
3.2 REFERENCIAL TEÓRICO TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO .. 37
3.2.1 Energia eletromagnética e Espectro eletromagnético ............................. 40
3.2.2 Satélite LANDSAT-8 .................................................................................. 41
3.2 MATERIAL E MÉTODO ............................................................................ 42
3.3 LEVANTAMENTO DE CAMPO ............................................................... 46
3.4 INTEGRAÇÃO DOS DADOS .................................................................... 47
4 CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL .................................................... 49
4.1 CARACTERISTICAS GEOLÓGICO-GEOMORFOLÓGICO .................. 49
4.2 MACIÇOS CRISTALINOS E CRISTAS RESIDUAIS .............................. 51
4.3 DEPRESSÃO SERTANEJA ....................................................................... 52
4.4 CARACTERISTICAS HIDROCLIMÁTICAS ........................................... 55
4.5 SOLOS E COBERTURA VEGETAL ......................................................... 61
5 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DO MUNICIPIO DE CANINDÉ .................................................................................................................. 64
5.1 ORGANIZAÇÃO POPULACIONAL E DESIDADE DEMOGRÁFICA (CENSO 2010) ............................................................................................................ 64
5.2 INFRAESTRUTURAS ................................................................................ 71
5.2.1 Taxa de cobertura urbana com esgotamento sanitário ................................ 71
5.2.2 Taxa de cobertura de água e Uso da Água Superficial e Subsuperficial .... 71
5.3 ECONOMIA E RENDA ....................................................................................... 74
5.3.1 Tipo de cultivo .................................................................................................. 74
5.4 EXTRAÇÃO DE MATÉRIA PRIMA ................................................................. 80
6 CONSIDERAÇÕES SOBRE MAPEAMENTOS DE ÁREAS EM PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO DOS SERTÕES DE CANINDÉ ............ 84
6.1 MAPEAMENTO REALIZADO PELA FUNCEME1990 E PAE 2010 ...... 84
7 RESULTADOS .................................................................................................. 87
8 CONCLUSÃO .................................................................................................... 93
REFERENCIAS ................................................................................................ 96
16
1. INTRODUÇÃO
O semiárido brasileiro está sobreposto a grande parte da região Nordeste do Brasil.
Diferente do que se pensa, o Nordeste apresenta configurações quanto aos aspectos dos
elementos da natureza, relevo, vegetação, clima, hidrografia, devido a tais variações, a
região foi dividida em sub-regiões: zona da mata, meio-norte, agreste e sertão.
Nesse mesmo contexto nordestino, o Ceará abriga certa diversidade de domínios
naturais e paisagísticos. As condições geológicas são variadas, apesar da primazia de
terrenos cristalinos. Em porções limítrofes com os Estados, bacias sedimentares assumem
peculiaridades próprias. Na faixa litorânea e pré-litorânea, tem-se cobertura sedimentar
dentrítica depositada ao longo da história geológica recente.
O processo de formação do território do Ceará vê-se pela ocupação que aconteceu
de forma tardia, pelos europeus, comparada com a da zona da mata nordestina ou a do
litoral açucareiro, no início do século XVI. A produção açucareira avançava pelas terras
do litoral, desde a Paraíba até a Bahia, enquanto o território da pecuária, atividade
subsidiária, somente vem a expandir-se para o interior, no final do século XVII. Assim, a
interiorização das capitanias do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte aconteceram pela
estruturação de territórios da pecuária, em que as populações nativas foram dizimadas em
função da comercialização do território, além disso, tinha-se muito evidente a
subordinação ao europeu, como retrata Pinheiro (2000):
“As terras deveriam ser doadas de acordo com o numero de índios de cada
aldeia. Nesse caso o que prevalecia era a noção mercantil de propriedade,
deixando-se de lado não só todo o caráter simbólico do território como a
necessidade de áreas de dispersão, que era um dado marcante no modo de vida
dos povos originários.” (2000, p. 23).
Ainda segundo Pinheiro (op. cit.) a ocupação da capitania do Ceará se consolida
somente em 1720, com a transformação do antigo território indígena em território voltado
à pecuária. Diante dos baixos valores obtidos com produtos agrícolas, no mercado
interno, a mão de obra escrava não seria viável, devido a altos preços. Desta forma, mão
de obra livre de migrantes, principalmente de indígenas, aculturados e catequizados, passa
a ser a principal forma de trabalho para movimentação da pecuária. Girão (1995) discute
que a agricultura somente se expandiu, no período, devido à distância do sertão ao litoral,
17
ou seja, da área de criação à área de comercialização do produto, também devido às
péssimas condições das estradas.
É importante ressaltar que o beneficiamento da carne de gado proporcionou nova
expressão econômica do território cearense, possibilitou à participação no mercado
interno de abastecimento alimentar das principais regiões produtoras. Transportava-se o
gado por rotas terrestres a regiões produtoras de cana-de-açúcar, em Pernambuco, com
abertura de novas estradas e ocupação do território cearense, pernambucano e baiano.
Devido à grande seca de 1790-1793, que assolou rebanhos cearenses, o
beneficiamento da carne de gado migra para o sul e chega ao Rio Grande do Sul onde é
adaptado ao clima mais frio e úmido dos pampas gaúchos.
Pela grande dependência da chegada de recursos, produtos e de tecnologia, atrasou
a ocupação e desenvolvimento, o que fez com que, no final do século XVIII (1799),
houvesse separação política da província cearense da pernambucana. Nesse momento de
emancipação política, a província do Ceará iniciou novo ciclo econômico, ciclo do
algodão, favorecido pelos novos rumos políticos e econômicos tomados em níveis
nacional e mundial.
O caráter nômade dos nativos, associados a técnicas rudimentares de cultivo,
como uso do fogo, em regime de subsistência, já nos denuncia relação predatória homem
versus natureza, nos sertões, há mais de 400 anos, onde as coberturas naturais começaram
a ser substituídas pelas culturas itinerantes, principalmente de mandioca, milho e algodão.
Diante disso, evidencia-se que, desde o início da colonização brasileira, especialmente a
partir do século XVIII, o semiárido vem sofrendo, devido a processos físicos naturais
associados à ação do homem, que explora os recursos de forma indevida, e altera a
dinâmica natural da paisagem. O fato é facilmente identificado à observação de áreas de
degradação, no caso, especificamente no sertão central do Estado do Ceará.
O território cearense se confunde com o semiárido: o Estado apresenta boa parte
do território incluso na grande área do semiárido brasileiro. Segundo dados do Instituto
Nacional do Semiárido (INSA, 2011), a região, compreende 969.589,4 Km² ou 11% do
território nacional, é caracterizada pelas elevadas médias anuais de temperatura (27ºC) e
evaporação (2.000 mm), com precipitações pluviométricas inferiores a 800 mm ao ano,
concentradas entre três a cinco meses e irregularmente distribuídas no tempo e no espaço.
18
A paisagem característica do semiárido nordestino é o sertão, que constitui vasta
superfície de aplainamento, recoberta pela caatinga, com solos rasos, pedregosos e
bastante susceptíveis à ação erosiva.
A degradação do ambiente, em áreas semiáridas do Nordeste brasileiro, é
facilmente identificável no Estado do Ceará, que apresenta quase 90% do território sob
condições climáticas semiáridas. Tem se que, ao associar limitações ambientais de
ecossistemas do semiárido, com longos anos de ocupação desordenada e predatória, é
possível a verificação de áreas de fragilidade natural, afetadas também pelo crescimento
urbano e interesses econômicos. A preocupação com o meio ambiente e a relação
sociedade e natureza são temas de grande importância. O confronto, entre interesses
econômicos e a defesa do meio natural, vem sendo objeto de análise e estudos, que
buscam caminhos alternativos, formas de controle para evitar futuros cenários
catastróficos.
Em 2001, a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) foi
extinta, com isso o Ministério da Integração Nacional lhe assume as atribuições. No ano
de 2004, criou-se o Grupo de Trabalho Interministerial, diretamente ligado ao Ministério
da Integração Nacional, para redefinição do semiárido brasileiro, tendo em vista ser
considerada área semiárida, definida pela (SUDENE), em 1989, quando o critério
pluviométrico foi adotado como principal caracterizador da área nesse momento. Até
2004, área com média pluviométrica anual, igual ou inferior a 800 mm, seria tida
pertencente ao semiárido brasileiro.
O produto final do estudo do GT foi a nova delimitação do semiárido, em 2005
(Mapa 1). Neste trabalho, constata-se insuficiência do índice pluviométrico como critério
exclusivo de seleção dos municípios inclusos na região. Não só o baixo índice
pluviométrico é responsável pela oferta insuficiente de água, mas também a má
distribuição de chuva, associada a uma alta taxa de evapotranspiração, resultaria no
fenômeno da seca.
Diante disso, a nova delimitação do semiárido brasileiro leva em consideração três
eixos principais:
Precipitação pluviométrica média anual inferior a 800 milímetros;
19
Índice de aridez de até 0,5 calculado pelo balanço hídrico, que relaciona
precipitações e evapotranspiração potencial, no período entre 1961 e 1990;
Risco de seca maior que 60%, tomando por base o período entre 1970 e 1990.
Assim, o quadro da nova delimitação, considerando o numero de municípios,
ficaria da seguinte forma (Tabela 1):
Tabela 1: Municípios inclusos no Semiárido Nordestino.
Critério de Delimitação Quantidade de Municípios (Nº)
Precipitação – isoieta de 800 mm 604
Índice de Aridez 875
Déficit hídrico 1.108
Total 1.133
Fonte: Ministério da Integração Nacional (2005).
O processo de desertificação também pode ser biologicamente conceituado,
segundo maior ou menor vigor da biosfera, quando a escassez de organismos vivos,
principalmente vegetais, indicar incidência de ambiente desértico e declínio da atividade
biológica corresponder ao avanço do processo.
Na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento –
CNUMAD (Eco-92), no Rio de Janeiro, em 1992, define-se desertificação: “degradação
das terras em regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, desencadeada por fatores
diversos, tais como variações climáticas e ação antrópica”. Como resultado da Eco-92,
elabora-se a Agenda 21, com o objetivo de preparar o mundo aos desafios do século XXI,
entre eles em destaque, combate à desertificação, capitulo 12 do tema, com abordagem
especial.
20
Mapa 1: Nova delimitação do Semiárido Brasileiro (2015).
A Convenção de Combate à Desertificação – CCD, dada em paralelo com a Eco-
92, entra em vigor, em 1996 e foi assinada pelos 148 países, inclusive Brasil, com o
objetivo principal de implementar políticas de combate e prevenção à degradação de
terras em áreas susceptíveis à desertificação.
Professor Vasconcelos Sobrinho, da Universidade Federal de Pernambuco, foi um
pioneiro em estudos sobre desertificação, no Nordeste Brasileiro, durante os anos 70, do
século passado. Sobrinho (1974) conceitua desertificação como degradação de terras
produtivas do semiárido.
A expansão dos processos de degradação em regiões áridas, semiáridas e
subúmidas do planeta, aumenta cada vez mais consumo e degradação dos recursos
naturais. Rodrigues (2006) afirma que as evidências indicam áreas maiores as até agora
identificadas. Ou seja, degradação vem aumentando cada vez mais, o que motiva o
pesquisador a procurar entender as causas do processo e buscar alternativas viáveis para
não se ter situação irreversível.
21
Segundo Ab’Saber (2003), na região Nordeste, tem-se o domínio de Depressões
Interplanálticas Semiáridas, que dispõe de limitado potencial produtivo, em decorrência
da semiaridez. Logo, os domínios apresentam áreas de vulnerabilidade extremamente
elevada, em que se constata a presença de ambientes em processo de desertificação.
O semiárido brasileiro abrange aproximadamente 11% do território nacional, e
comporta 29% da população. O grande contingente populacional, de 22 milhões de
pessoas (IBGE, 2000), faz aumentar ainda mais a pressão exercida pela população, em
busca de sobrevivência, e destaca a Região Nordeste como área semiárida mais populosa
do planeta.
Entre as limitações do semiárido, citem-se as irregularidades pluviométricas,
trazendo grandes períodos de seca, elevadas temperaturas médias anuais, entre 27 a 29ºC
(AB’SABER, 1974), em elevados índices de evapotranspiração, com consequências
negativas do balanço hídrico. Característica que influencia diretamente áreas do
semiárido são estruturas geológicas cristalinas, o que interfere diretamente no potencial
hidrogeológico.
No Brasil, áreas susceptíveis à desertificação, onde se localizam núcleos de
desertificação, contemplam setores semiáridos e subúmidos secos, locais de entorno de
áreas semiáridas e subúmidas secas e novas áreas sujeitas ao processo de desertificação,
distribuídas 1.138.076 km², com abrangência de nove estados nordestinos e norte mineiro,
incluído também norte do Espírito Santo (BRASIL, 2004).
Degradação de solos com alto teor de areia processa-se de maneira muito rápida,
com destaque da arenização, ou seja, transformação de solo arenoso, com pouca cobertura
vegetal, em área bastante arenosa, sem nenhuma ou quase nenhuma cobertura vegetal. O
processo se dá em poucos anos, dependendo da intensidade com que o manejo inadequado
da agricultura ou pecuária são nessas áreas. Na região Sul do Brasil, o processo se acentua
devido a solos altamente arenosos, com baixa coesão entre partículas, baixa fertilidade
natural e vegetação rala e esparsa fazendo a região sudoeste do Rio Grande do Sul
apresentar solos com altas taxas de erosão hídrica e eólica. A região, especificamente do
sudoeste gaúcho, destaca-se entre as mais susceptíveis à degradação fora do semiárido,
com peculiaridades de deserto, em vastas áreas com pouca vegetação.
22
O conceito de desertificação não se aplica às áreas da região, visto que as regiões
desérticas do globo, do ponto de vista climático, são áridas, sendo que a região gaúcha
alcança 1400 mm anuais (SOUTO, 1985).
Em 1990, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
(FUNCEME) elaborou trabalho com o objetivo de indicar e mapear áreas dos municípios,
susceptíveis a processos de desertificação, tomando por base o critério de áreas
semiáridas, adotado pela Organização das Nações Unidas – ONU (1991), e evidência de
degradação dos fatores físicos e biológicos, pela análise de imagens orbitais, por meio do
uso de técnicas de sensoriamento remoto.
Posteriormente foi lançado, em 2010, o Programa de Ação Estadual (PAE), que
visa ao combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca no Estado do Ceará. O
programa delimitou Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD), pelas imagens de satélite,
indicadores naturais, econômicos e sociais. Pesquisadores apontaram como principais
causas de desertificação, no semiárido, a ocupação desordenada do solo, desmatamento,
com a prática de queimadas.
Têm-se, no Mapa 2, mesmo com mapeamentos distintos, áreas susceptíveis à
desertificação, em trabalhos da Funceme (1990) e do Pae (2010), que apresentam certa
similaridade espacial, porém com delimitações distintas.
24
O recorte espacial definido para a presente pesquisa é uma área situada nos sertões
de Canindé e Caridade, localizada na Região do Sertão Central do Estado do Ceará.
Localizado a aproximadamente, 115 km da capital Fortaleza, onde o acesso se dá pela
BR-020 (Mapa 3).
A escolha da área se deve à sua identificação tanto no estudo de 1990, feito pela
FUNCEME, quanto ano estudo do ano de 2010, feito pelo PAE. Também é importante
destacar o interesse por esta área pelo fato da maioria dos estudos voltados para a temática
da degradação e desertificação ambiental estarem voltados para a região do médio
Jaguaribe ou para a região de Irauçuba, com poucos estudos nesse setor, especificamente.
Mapa 3: Mapa de Localização da Área de Estudo.
A importância de estudos de desertificação se justifica, entre outros motivos, pelo
fato de que, segundo Lemos (2001), de oito estados do Nordeste do Brasil. Com áreas de
semiárido, o Ceará apresentou maior porcentagem de áreas afetadas intensamente pelo
processo de desertificação: cerca de 30% do território atingindo 14% da população.
Com o advento de novas tecnologias, no campo de produtos de imageamento por
satélites e na área de programas computacionais de tratamento de imagens orbitais,
25
buscou-se utilizar ferramentas, suporte para identificação e delimitação de áreas
degradadas.
Diante disso, propõe-se nesta pesquisa, a aplicação de técnicas de processamento
digital de imagens, associadas a trabalhos de campo, como proposta redelimitação de área
de degradação/desertificação, no município de Canindé, tendo por base estudos da
FUNCEME, elaborados em 1990 e estudo em 2010, pela Secretaria de Recursos Hídricos,
conforme Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos
Efeitos da Seca – PAE.
26
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1.Desertificação
O pioneirismo de uso do termo desertificação se deve ao botânico e ecólogo
francês Aubreville (1949), ao trabalhar, na década de 40 do século XX, a identificação do
que se denominou, na época, de “verdadeiros desertos”, em colônias europeias no norte
da África. A degradação se deu, notadamente, no Sahel onde foram aplicadas, de forma
equivocada, técnicas agrícolas europeias no território semiárido africano (NOLÊTO,
2005).
Na literatura disponível, encontram-se definições de desertificação, causas e
consequências. Autores deram sua contribuição na evolução dos estudos da
desertificação, cita-se Rapp (1974), Ab’Saber (1977), Vasconcelos Sobrinho (1978),
Nimer (1980), Dregne (1987), Conti (1989), Rochette (1989), Goudie (1990), Sales
(1996), Verdum (2002) entre outros.
Rapp (1974) afirma que a desertificação trata da propagação das condições
ambientais das regiões áridas e semiáridas, devido às ações humanas ou pelas mudanças
climáticas.
Ab’Saber (1977) concebe como processo parcial de desertificação todos os fatos
pontuais ou areolares, suficientemente radicais na criação de degradações irreversíveis da
paisagem e tecidos ecológicos naturais. O autor classifica a desertificação como antrópica
e afirma que:
“[...] as faixas de transição entre regiões úmidas e as regiões secas do
nordeste, sofrem mais processo de degradação ambiental e
‘savanização’, em sentido abrangente, do que a própria área nuclear das
resistentes caatingas – ecologicamente, resistentes caatingas”
(AB’SABER, 1977, p.11).
Para Vasconcelos Sobrinho (1978),
“[...] desertificação é um processo de fragilidade dos ecossistemas das
terras secas em geral, que em decorrência da pressão excessiva exercida
pelas populações humanas, ou às vezes pela fauna autóctone, perdem
sua produtividade e capacidade de recuperar-se” (VASCONCELOS
SOBRINHO, 1978).
Trabalhos de Aziz Nacib Ab’Saber, na Universidade de São Paulo, merecem
destaque especial. Em 1977, a comunidade tomou conhecimento do ensaio
27
“Problemáticas da desertificação e a savanização no Brasil intertropical”, apresentado
sob forma de artigo, na coleção “Geomorfologia”, editada pelo Instituto de Geografia da
USP, em que se chamava a atenção para:
“Processos parciais de desertificação pontuais ou areolares,
superficialmente radicais para criar degradações irreversíveis da
paisagem e dos tecidos naturais... nesse sentido, o território brasileiro,
em seu conjunto, exibe um dos mais impressionantes quadros de
modificações ecológicas sutis, à vezes irreversíveis, incidindo sobre
quase todos os seus grandes domínios paisagísticos” (AB’ SABER,
1977).
Nimer (1980) entende ser a desertificação crescente degradação ambiental
expressa no ressecamento e perda de capacidade dos solos, em resultado de mudanças de
clima, caracterizada principalmente pela crescente deficiência de chuvas e ação do
homem. Para Rochette (1989), a desertificação é um processo mais complexo, evolutivo,
resultante da ação de vários agentes, com implicação em todos os domínios e no
comportamento humano. Para Goudie (1990), o processo é uma alteração na biomassa
com deterioração acelerada do solo, responsabilizando as atividades humanas e o fator
climático como principais agentes de modificação.
Desertificação supõe processo e, assim, dinamismo. Entende-se conjunto de
fenômenos que conduz determinadas áreas à transformação em desertos ou a eles se
assemelharem. Importante no estudo de desertificação é que sejam ressaltados e
devidamente analisados da natureza do fenômeno; escala espacial em que se manifesta;
fatores envolvidos; papel dos mecanismos naturais ou da ação antrópica; questão de
irreversibilidade ou não dos efeitos do processo (CONTI, 1995).
Para Araújo Filho (2001), os desertos começam a se formar com mudanças na
composição florística da comunidade vegetal, devido ao desaparecimento da vegetação
original, com intensificação da destruição gradual da camada florística e consequente
redução do aporte de matéria orgânica do solo, com a perda de fertilidade e da estrutura.
As mudanças na comunidade vegetal podem ter por causa mudanças climáticas ou
degradação pelas atividades antrópicas, o que levaria, respectivamente, a tipos de
desertificação climática e ecológica de Conti (1998).
Conforme Galvão (2001), a desertificação constitui o conjunto de processos de
desequilíbrio dos meios físico, químico, biológico e socioeconômico que direcionam para
o sentido da exaustão ambiental. Os processos, via de regra, se desencadeiam pela ação
28
antrópica, atuam de forma conjunta e retroalimentadora e encontram-se substancialmente
agravados pelas limitações climáticas impostas a ambientes ecologicamente frágeis.
Para Sales (2002), os processos de desertificação, no Nordeste seco, resultam da
predisposição da estrutura geoecológica determinada, principalmente pelas deficiências
hídricas sazonais que, em alguns setores, associam-se às atividades humanas, levando ao
surgimento de “pontos ou agrupamentos-de-pontos filiados a processos locais de
desertificação”. Considera-se o potencial natural das terras para processos de degradação
e a ação antrópica como desencadeadora.
Sampaio et al. (2003) discutem desertificação e seca. Para o autor, desertificação
é um processo cumulativo e de deterioração das condições ambientais que, num estágio
mais avançado, afeta as condições econômicas e sociais, em que a interferência humana
tem papel decisivo na instalação, avanço e seu processo de se tornar irreversível. A seca
é um fenômeno natural reversível, esporádico ou repetido, numa periodicidade complexa
e não estabelecida. Parte de suas consequências é reversível, disponibilidade hídrica,
recuperação da vegetação e animais, retorno de pastagens e plantios, volta da renda
agrícola e refluxo do retirante. São consequências permanentes, eliminação de espécie,
abandono de culturas susceptíveis a alterações do ambiente e marcas deixadas para a
economia e sociedade da área afetada.
Assim, segundo Souza & Suertegaray (2005), a desertificação, bem como a
possibilidade de expansão tornam necessário aumento de pesquisas sobre a problemática
criando-se acompanhamento contínuo do processo visando combater e reduzir o tipo de
degradação, o que inevitavelmente envolve dinheiro público e vida de milhões de pessoas.
O fenômeno da desertificação afeta cerca de um terço da superfície do planeta,
atingindo mais de 100 países. Dessa forma, milhões de hectares de terras agricultáveis se
perdem pelos efeitos erosivos e milhões são degradados pela salinização dos solos (VAZ,
2005).
De acordo com Nascimento (2006), há evidências do processo de desertificação
em período bem anterior ao ano em que o termo foi utilizado por Aubreville:
“[...] a problemática da desertificação é um fenômeno antigo, embora
somente no último século tenha ganhado destaque. Relatos históricos
dão conta desse problema em pelo menos três regiões no mundo, que
há milhares de anos incorreram em processos de degradação e
29
desertificação, quer dizer Mediterrâneo, Mesopotâmia e Loess
Chineses” (NASCIMENTO, 2006, p. 48).
Rodrigues (2006) considera a desertificação processo que lentamente destrói a
base de recursos naturais de determinada área, o que leva à inviabilidade parcial ou
definitiva de convivência da comunidade ensejando má qualidade de vida,
impossibilidade de obtenção de renda digna e estímulo à migração de sociedades inteiras.
O autor reitera a necessidade de se evitar que áreas degradadas e/ou atingidas pelo
processo de desertificação entrem em processo irreversível de degradação.
É importante ressaltar que o tema desertificação ganhou destaque no cenário
mundial pela realização da Conferência Mundial sobre Desertificação, em Nairobi, no
Quênia, em agosto / setembro de 1977. Segundo Conti (2008):
“A motivação desse simpósio internacional, que contou com a
participação de 95 países, 50 entidades ligadas à ONU, oito
organizações intergovernamentais e 65 não governamentais (ONGs),
foi à prolongada estiagem que se abateu sobre a região subsaariana do
Sahel, entre 1968 e 1973, com graves consequências ambientais e
humanas, afetando seis milhões de pessoas e um rebanho estimado em
25 milhões de cabeças, 40% das quais pereceram, vitimadas pela fome”
(CONTI, 2008, p. 1).
Segundo Conti (2008), desertificação é o processo por meio do qual determinada
área, sob influência de um conjunto de fatores, se transforma em deserto, ou a ele se
assemelha. Pode ser resultado de fenômenos naturais ou da pressão das atividades
humanas sobre ecossistemas frágeis, ou da combinação de ambos. Periferias de desertos
ou áreas de transição apresentam maior risco de degradação generalizada, em virtude de
frágil equilíbrio ambiental.
Desse modo, o Ceará, com 92% do território inserido no semiárido, preenche pré-
requisitos para ser considerada região propensa à desertificação. Some-se a isso alta
vulnerabilidade Geoambiental, devido às irregularidades pluviométricas, à pecuária
extensiva, agricultura arcaica, ao exacerbado extrativismo vegetal e obtêm-se como
resultado áreas degradadas susceptíveis ao processo de desertificação ou Áreas
Susceptíveis à Desertificação (ASD’s), como se denominam pelo PAN-BRASIL.
Para este trabalho, adota-se o conceito de desertificação/degradação, da definição
da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento –
CNUMAD (Eco – 92), no Rio de Janeiro, em 1992: degradação das terras em regiões
30
áridas, semiáridas e subúmidas secas, desencadeada por fatores diversos, tais como
variações climáticas e atividades humanas.
2.2.Geotecnologias do mapeamento de áreas degradadas
Logo no inicio dos trabalhos de análise da desertificação, manifestou-se a
necessidade de identificadores estacionais que pudessem ser eficientemente controlados
pelo monitor do processo (CARVALHO, 2001).
Entre as tentativas, cabe destacar a Conferência das Nações Unidas sobre a
Desertificação (UNCCD), em 1977, Rodrigues (1974), particularmente, de Pouget (1989)
e Cammeraat (1998), que fazem análise de indicadores de desertificação susceptíveis de
serem identificados pelo sensoriamento remoto (Op. cit).
“[...] dos indicadores biológicos / agronômicos: grau de cobertura e
altura da vegetação; biomassa aérea e subterrânea; rendimentos;
distribuição e frequência de espécies; produção de litiére; medidas
sazonais de decomposição de litiére, índice de área foliar; organização
e profundida das raízes, queda e organização das folhas, produção
primária, assinatura espectral, padrão e densidade de pastoreio,
composição de espécies, atraso de germinação, e medidas esporádicas
do padrão espacial da vegetação.” (Op. Cit).
Atualmente a geração de Sistema de Informações Geográficas configura
tecnologia adequada para armazenar, organizar, modificar informações sobre a
distribuição espacial de recursos naturais e dados socioeconômicos; entretanto a questão
de ordem, na área, traduz-se no aprimoramento e construção de técnicas inovadoras que
consigam representar satisfatoriamente os fenômenos espaço-temporal essencialmente
dinâmicos.
Destaca-se que o uso e aplicação de sensores remotos constituem suporte crucial
para monitoramento do fenômeno da degradação/desertificação. É fato que existe faixa
significativa de áreas susceptíveis ao processo, no semiárido e podem ser visualizadas
pelos sensores orbitais em níveis de resolução espaço-temporal satisfatórios às diversas
situações da realidade. Produzem-se, em função do avanço tecnológico crescente, novos
sistemas de sensores remotos que possibilitam suprir limitações identificadas pelos
pesquisadores na área, como resolução geométrica das imagens possibilitando melhor
identificação de feições pela a análise de imagens orbitais.
31
Ressalta-se a importância da evolução tecnológica, por possibilitar a utilização de
ferramentas, suporte para delimitar e monitorar a degradação da área dos sertões de
Canindé e Caridade, proposto nesta pesquisa.
Ferramenta relevante para o monitoramento das mudanças de cobertura da
vegetação e uso do solo, vem da utilização de imagens de satélite, sendo que:
“no caso de regiões semiáridas, as condições do clima, da vegetação e
da degradação da paisagem, têm importante influência na resposta
espectro-textural da cobertura e uso do solo, quando observadas em
dados sensoriados” (MALDONADO, 2001).
Levando em consideração a análise da cobertura vegetal, a detecção de mudanças,
em níveis de degradação ou em estado aparente, pode ser determinada por meio de
métodos e técnicas que utilizam Índices de Vegetação em períodos distintos.
Pela técnica de análise de imagem pelo Índice de Vegetação por Diferença
Normatizada (NDVI), do inglês Normatized Difference Vegetation Index, é possível
identificar e quantificar os níveis de degradação da cobertura vegetal, na área de
degradação de Canindé.
Para Gomes (2010), a utilização dos índices de vegetação tem se tornado
importante ferramenta para o sensoriamento remoto, empregados na busca de relacionar
informações captadas pelos sensores com a vegetação presente na área imageada.
Segundo Ponzoni e Shimakuri (2007), existem índices de vegetação propostos na
literatura, objetivando explorar propriedades espectrais da vegetação cuja fundamentação
reside no comportamento espectral na região do visível e do infravermelho próximo.
Para Liu (2007), múltiplos índices de vegetação para monitorar e quantificar as
condições e distribuições espaciais da vegetação, usando dados digitais de referências
espectrais da radiação eletromagnética, possuem como objetivo condensar as informações
espectrais e discriminar o que é ou não vegetação, avaliando condições de crescimento
das culturas, ocorrências de doenças, pragas, secas e geadas, bem como eventos
meteorológicos.
Entre as vantagens de aplicação dos índices de vegetação, para monitoramento e
discriminação da vegetação, Liu (op. cit.) cita as seguintes:
“Os dados compactados dos índices de vegetação são calculados com
os dados de reflectâncias espectrais da radiação eletromagnética; Os
32
valores relativos compensam a variação de intensidade da radiação;
Corrigem parcialmente os efeitos das condições atmosféricas e das
variações de ângulo de visada de reflectância recebidas pelos sensores
nas bandas que compões os índices são da mesma magnitude. (LIU,
2007, p.217).”
Segundo Xavies e Vettorazzi (2004), a importância dos índices de vegetação
consiste em delimitar a área da cobertura verde da superfície analisada.
O NDVI foi inicialmente proposto por Reuse et al. (1973), no artigo Monitoring
Vegetation Systems in Teh Great Plains Whith Erts, onde o índice de vegetação é
calculado pela diferença de reflectância, entre faixa de infravermelho próximo – NIR
(0,725 a 1,10 micrometros) e faixa do visível – VIS (0,4 a 0,7 micrometros) (LIU,2007).
O NDVI é de grande vantagem sobre índices de vegetação, eliminação parcial de
interferência atmosférica, das perturbações radiométricas e geométricas (LIU, 2007).
De acordo com Ponzoni e Shimakuro (2007, p.33), para a geração de imagens de
índice de vegetação, é importante a transformação dos números digitais (ND) para valores
de radiância e salientam que:
“A não conversão dos números digitais das imagens em valores físicos
como radiância ou fatores de reflectância bidimensional na elaboração
de imagens Índices de Vegetação pode implicar em um erro grave, pois
os números digitais não estão em uma mesma escala radiométrica nas
diferentes bandas, o que vale dizer em um determinado valor de numero
digital em uma determinada imagem de uma banda espectral específica,
não correspondente à mesma intensidade de radiação medida ou
representada pelo mesmo valor de número digital em outra imagem de
outra banda espectral (PONZONI e SHIMAKURO, 2007, p. 33).”
33
3. PROCEDIMENTOS TÉCNICO-METODOLÓGICO
A descrição dos procedimentos da pesquisa é de suma importância para melhor
entendimento do leitor das etapas do processo de construção.
O procedimento metodológico dividiu-se em quatro fases (Figura 1). Primeira,
levantamento bibliográfico e de dados cartográficos da área de estudo. Segunda, etapa
subdividida em duas, que consiste na montagem de um banco de dados, em ambiente de
Sistema de Informações Geográficas (SIG), em que se utilizou o sorfware ArcGis 9.3,
licenciado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará, em que o software
licenciado. No processamento digital de imagens para geração de produtos de base para
mapeamento das áreas degradadas, incluindo classificação da cobertura vegetal, pelas
imagens de satélite e elaboração do NDVI para datas selecionadas. A terceira parte é
referente aos trabalhos de campo, em que se destaca a ida até a área de estudo em dois
momentos: Uma, em 19 de outubro de 2013 e outra em 19 de dezembro de 2014. E a
quarta fase consiste na integralização de dados e geração dos mapas de degradação dos
anos estudados e busca de fatores diretamente ligados à esta degradação, assim como a
elaboração do relatório final.
Figura 1: Fluxograma das etapas metodológicas.
Fonte: Elaboração do autor.
1. LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO E CARTOGRÁFICO
2. TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO
3. LEVANTAMENTO DE CAMPO
4. INTEGRALIZAÇÃO DOS DADOS
34
3.1.Levantamento Bibliográfico e Cartográfico
Na primeira etapa, o levantamento bibliográfico fez-se em dois eixos. O primeiro,
busca de material com abordagem sobre a temática da desertificação, degradação
ambiental, desertificação do semiárido nordestino e estudos de desertificação e
degradação da área especifica dos sertões de Canindé e Caridade. O segundo seguiu pelo
viés da geotecnologia de técnicas de sensoriamento remoto para identificação de
degradação, técnicas de sensoriamento voltadas ao semiárido, utilização de sistema de
informação geográfica voltados para o armazenamento e gerenciamento de dados.
Autores foram abordados, em destaque a importância de estudos pioneiros de
Aubreville (1949), Vasconcelos Sobrino (1978), Conti (1995;1998; 2008), Ab’Saber
(1977) e outros. Também destacam-se estudos mais recentes sobre a temática da
desertificação, de Rodrigues (2006; 2013), Sales (2002) entre outros. Há destacar estudos,
principalmente, da iniciativa pública, como o da Funceme (1990) e da SRH (2010), em
que o produto final serve de base, até hoje, para estudos que abordam desertificação e
degradação do semiárido cearense. O levantamento referido foi feito pela consulta do
Portal de Periódicos da CAPES, de levantamento de Anais de congressos e encontros, de
edições das mais diferenciadas revistas, consulta a banco de teses da CAPES,
levantamento de dissertações e teses não só da UFC e da UECE, como também da
Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).
Sobre base cartográfica, vale destacar que o formato de arquivos utilizados foi o
shapefile (. shp), extensão compatível com a maior parte dos programas que trabalham
como armazenamento de dados georreferenciados. Boa parte de arquivos utilizados na
pesquisa foi adquirida, via ofício, no IPECE: arquivos como os limites estaduais e
municipais, sedes municipais, sedes distritais, delimitação de áreas degradadas com
susceptibilidade à desertificação, feita pela Funceme em 1990, delimitação de áreas
susceptíveis à desertificação, feita pela SRH em 2010, recursos hídricos do Estado,
estradas pavimentadas e não pavimentadas e insumos utilizados na pesquisa.
Dados da série histórica de postos pluviométricos da sede de Guaramiranga e da
de Canindé, com atualizações até junho de 2014, foram adquiridos, na Funceme.
35
Conseguiram-se dados de mapeamento geológico do Estado pelo site da
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), base muito importante para
entendimento e elaboração dos mapas geológico e geomorfológico da área de estudo.
O arquivo raster do Modelo Digital do Terreno (MDT), para a análise altimétrica,
foi adquirido mediante download diretamente do site da Embrapa (Cena SA-24-Z-C).
Imagens de satélite foram adquiridas através de download gratuito, baixadas do site do
Serviço Geológico Americano (USGS). Com destaque para a utilização do Sensor
LANDSAT-8, mais detalhado adiante.
Dessa forma, o material para leitura foi lido e fichado e, consequentemente,
utilizado para construção da pesquisa e informações cartográficas foram introduzidas em
ambiente SIG, possibilitando a construção do banco de dados georreferenciado para a
aplicação de técnicas de geoprocessamento, geração de produtos, pelo cruzamento dos
mais diversos tipos de informação e integralização de dados.
3.2.Referencial teórico de técnicas de geoprocessamento
Segundo Bastos (2011 apud CÂMARA & MEDEIROS, 1998), geoprocessamento
é a disciplina do conhecimento, com técnicas matemáticas computacionais para
tratamento de informações geográficas cuja técnica tem, como uma das principais
vantagens, a possibilidade de avaliação de áreas cada vez maiores, em intervalo de tempo
cada vez menor.
SIG é equivalente em inglês, Geographic Information System (GIS), é utilizado
para descrição de sistemas computacionais que utilizam dados contendo referências
geográficas, em correspondência à ferramenta computacional do geoprocessamento.
SIG é constituído pelo conjunto de "ferramentas" especializadas em aquisição,
armazenamento, recuperação, transformação e emissão de informações espaciais. Os
dados geográficos descrevem objetos do mundo real, em termos de posicionamento, com
relação ao sistema de coordenadas, atributos não aparentes e relações topológicas
(BURROUGH, 1987).
O desenvolvimento de um SIG tem base em inovações, em áreas distintas,
Geografia, Cartografia, Sensoriamento Remoto, Topografia, Geodésia, Engenharia Civil,
Estatística, Ciência da Computação e muitos ramos das ciências sociais, naturais e
engenharias, com a contribuição das citadas disciplinas (SILVA, 1999).
36
Assim, conforme Medeiros et al. (2013), SIG pode ser utilizado em estudos do
meio físico e socioeconômico, em pesquisa de previsão de determinados fenômenos, ao
levar em consideração a concepção de que os dados organizados, de acordo com a sua
estrutura, representam modelo do mundo real.
Com isso, surgem definições de SIG, alguns deixam de citar na alta capacidade
de atuação, a habilidade em informar e prover suporte para a tomada de decisões, mas,
em geral, todos incluem características essenciais de referência geográfica. Definições de
SIG comprovam o dito anteriormente.
Caso especial de sistemas de informações, cujo banco de dados consiste em
informações sobre características distribuídas espacialmente, atividades ou eventos, os
quais se definem no espaço como pontos, linhas ou áreas. SIG manipula dados acerca de
pontos, linhas e áreas para estabelecimento de perguntas e fazer análises (DUEKER,
1979).
É o banco de dados com discreta representação da realidade geográfica, na forma
estática de objetos geométricos, em duas dimensões, com atributos associados, com
funcionalidade limitada para criação de novos objetos, computação de relações entre
objetos, ou para simples interrogações e descrições sumárias (GOODCHILD, 1991).
Para Câmara (1995), SIG, é o sistema cuja principal característica é integrar
informações provenientes de dados cartográficos, dados tabulares, imagens de satélite,
entre outros; combinando várias informações, pelos algoritmos de manipulação, para
geração de mapeamentos derivados, consultar, recuperar, visualizar e plotar o conteúdo
da base de dados geocodificados.
SIG necessita do uso de meio digital, uso intensivo de informática é
imprescindível, para o que deve existir a base de dados integrada que precisam estar
georreferenciados com controle de erro e devem conter funções de análise destes dados
que variem de álgebra cumulativa (operações tipo soma, subtração, multiplicação e
divisão) até álgebra não cumulativa (operações lógicas) (SILVA, 1999).
Com referência à estrutura dos dados do SIG, duas abordagens são amplamente
utilizadas na estruturação dos componentes espaciais associados às informações
geográficas: estrutura matricial e estrutura vetorial (CÂMARA et al., 1996).
No modelo matricial, objetos cartográficos se representam pela atribuição de
valores às células da matriz. Cada uma dessas denominam-se pixel, com valor
representativo do objeto em questão, valor de altitude do terreno. No modelo vetorial, os
37
objetos cartográficos são modelados pela série de coordenadas cartesianas (X, Y), com
representações do tipo ponto, linha ou polígono.
A área geográfica pode se representar por diversos temas, sendo que células de
um tema armazenam valores associados a uma única variável. A posição da célula é
definida pela linha e pela coluna onde, conforme a localização na grade, cada célula
armazena valor que corresponde ao tipo de entidade encontrada na posição.
Na estrutura vetorial, o fenômeno geográfico é modelado, no banco de dados, pelo
objeto com identificação própria e representação espacial do tipo ponto, linha ou
polígono. Objetos vetoriais não preenchem todo o espaço, ou seja, nem todas as posições
da área de estudo necessitam estar referenciadas na base de dados. A posição do objeto é
definida pela localização no espaço, de acordo com sistema de coordenadas, no projeto
de trabalho.
A escolha do modelo, em aplicação, depende de fatores: natureza do estudo,
recursos computacionais disponíveis e disponibilidade de bases cartográficas digitais
(SILVA, 1999).
Seguindo o caminho de análise, conforme Lang & Blaschke (2009), o SIG fornece
importantes contribuições no apoio à atividade de planejamento, tornando-se suporte do
SIG cada vez mais complexo, diante de avanços tecnológicos, tendo em vista que essa
ferramenta permite aperfeiçoar informações por meio de consultas espaciais e tabulares
de modo integrado.
O sensoriamento remoto é tidp por Lillesand & Kiefer (1987) como “a ciência e a
arte de receber informações sobre um objeto, uma área ou fenômeno pela análise dos
dados obtidos de uma maneira tal que haja contato direto com este objeto, esta área ou
este fenômeno”. Para obtenção de informação, é necessário meio para tal, no caso, por
meio de ondas eletromagnéticas captadas pelos sensores orbitais que circundam a terra.
O Processamento Digital de Imagens (PDI), por sua vez, se contém uma área
maior que é o geoprocessamento. Mediante o processamento, é possível extrair
informações de imagens obtidas pelo sensoriamento remoto, contribuindo no processo de
criação de mapas temáticos e agregando dados ao SIG.
Há imagem define-se como função bidimensional de intensidade de luz, refletida
em determinado produto digital, na forma de iX, Y em que I representa intensidade da
imagem nas coordenadas X, Y. O valor da intensidade é inteiro, não negativo e finito. O
satélite capta energia refletida pelo objeto transformando informação em códigos
binários, pelos quais códigos gera-se a imagem (NOVO, 1992).
38
Para Medeiros (2014), a imagem se subdivide em pixels, que são a área mínima
na superfície imageada pelo sensor, com localização espacial definida, para a qual foram
registrados valores digitais de intensidade de energia refletida em diferentes faixas do
espectro eletromagnético.
Nesse contexto, o processamento digital de imagens é para melhorar o aspecto
visual de certas feições estruturais para a análise humana, e fornecer outros subsídios à
sua interpretação, inclusive com produtos que possam ser posteriormente submetidos a
processamento (INPE, 2012).
A imagem de satélite original contém contraste espectral de baixa qualidade, desta
forma, o realce de imagem consiste no conjunto de procedimentos aplicados na melhoria
de qualidade visual (DANTAS, 2013).
Conforme Grigio (2003), obtêm-se variações de respostas espectrais dos diversos
materiais na superfície em estudo, evidenciadas pelas diferenças e contraste entre cores e
composições coloridas.
Dessa forma, os conceitos trabalhados neste estudo, tratados sob o ponto de vista
dos inter-relacionamentos, permitem visão dinâmica do ambiente e constituem fontes de
informações fundamentais para entendimento da realidade do campo, possibilitando
compreensão do comportamento do ambiente, diante das análises de imagens de sensores
orbitais.
3.2.1. Energia eletromagnética e Espectro eletromagnético
Técnicas de sensoriamento remoto envolvem quatro elementos fundamentais:
fonte de radiação eletromagnética, atmosfera, alvo e sensor.
Em sistemas sensores passivos, a principal fonte de radiação é o sol cuja energia
radiante s distribui ao longo de espectro eletromagnético (EEM). Pela atmosfera propaga-
se radiação eletromagnética – REM (Figura 1), com modificações na intensidade e
distribuição espectral. Ao atingir o alvo, a REM incide sobre o processo de interação
caracterizado pelos fenômenos de absorção, reflexão e transmissão. Fração de REM,
refletida ou emitida, atravessa novamente a atmosfera, com novas modificações e atinge
o sensor, em órbita da Terra (SILVA, 1978).
Espectrorradiometria de reflectância é a técnica de sensoriamento remoto que
registra o fluxo de radiação eletromagnética refletida pelos objetos, no caso, solo, sem
contato físico entre sensor e alvo. A quantidade de energia refletida pelo solo é função de
39
três fatores: energia eletromagnética incidente, proveniente do sol ou de iluminação
artificial; quantidade de energia absorvida e quantidade de energia transmitida (STONER
& BAUMGARDNER, 1986). A relação se expressa como Rλ=Iλ – (Aλ + Tλ), onde R é
reflectância em determinado comprimento de onda (λ), I é a energia incidente, A é energia
absorvida e T, energia transmitida. A quantidade de radiação refletida (radiância),
comparada com quantidade incidente (irradiância), sobre o solo, fornece medida de
reflectância captada pelo sensor, denominados radiômetros ou espectrorradiômetros.
Figura 2: Radiação Eletromagnética (REM).
Fonte: Lillesand & Kiefer (2000).
Existem regiões do EEM onde a atmosfera quase não afeta a energia
eletromagnética, isto é, a atmosfera é “transparente” à REM proveniente do Sol ou da
superfície terrestre. As regiões se conhecem como janelas atmosféricas, onde se colocam
detectores de REM, esse realiza o sensoriamento remoto dos objetos terrestres (STEFFEN
e MORAES, 1993).
3.2.2. Satélite LANDSAT-8
É um dos principais programas espaciais voltados à área do sensoriamento remoto,
em que os dados são disponibilizados de forma gratuita para usuários. Considerando
bandas espectrais, as imagens se utilizam em estudos de cobertura vegetal e temperatura
do solo. O primeiro sensor do Programa foi o MSS (Multispectral Scanner Sensor), com
resolução de 80 metros. A partir de 1984, surgiu sensor importante do Progama, sensor
TM (Thematic Mapper) cuja resolução espacial era bem melhor que a do sensor
40
AVHRR/NOAA. A altitude média do satélite LANDSAT é de 705 km, com uma órbita
quase polar de 98,2 graus e heliossincronia em 98 minutos.
Em 2013, entrou em operação o satélite Landsat-8, disponibilizando imagens de
da terra, a cada 16 dias. Ou seja, de 16 em 16 dias, o satélite passa por qualquer ponto
escolhido na superfície terrestre. Os dados coletados pelos instrumentos a bordo estão
disponíveis para download, sem custo, pela pagina da USGS, pelo portal do
EarthExplorer.
O Landsat-8 carrega dois instrumentos: Operacional Land Imager (OLI) onde
estão as bandas de patrimônio refinadas, além de três novas bandas: banda azul profunda
para estudos costeiros / aerossol, faixa do infravermelho de ondas curtas para detecção de
nuvens. Sensor infravermelho (TIRS), Sensor Térmico, fornece duas bandas térmicas. Os
sensores fornecem melhor relação sinal-ruído (SNR) de desempenho radiométrico
quantizado pela gama dinâmica de 12 bits. Isso se traduz em 4.096 potenciais níveis de
cinza, em imagem e em comparação com apenas 256 níveis de cinza, em instrumentos de
8 bits anteriormente. Sinal de melhoria de desempenho de ruído permitindo melhor
caracterização do estado de cobertura do solo e suas condições. Os produtos são
disponibilizados com imagens de 16 bits, em escala de 55.000 níveis de cinza.
Destaca-se a permanência da banda Pancromática, com resolução espacial de 15
metros e acréscimo das bandas 1 e 9, a primeira voltada a estudos costeiros e a segunda
para detecção de nuvens. Ou seja, no processo de pré-processamento das imagens houve
o processo de fusão da banda com a composição 6R5G4B (Multiespectral) de 30 metros
e como resultado houve a geração de imagem com composição colorida e resolução
espectral de 15 metros, em que qualquer objeto de 15 metros pode ser identificado pela
imagem.
3.2.3 Material e Método
O Sistema de Projeção adotado foi SIRGAS 2000, Datum UTM, na Zona 24 Sul.
Com objetivo de organizar os processos para obtenção dos produtos finais, dividiram-se
as etapas do trabalho para facilitar a compreensão:
Etapa 1: É de suma importância a localização da área de estudo para melhor
compreensão da dinâmica espacial. Também adiciona-se arquivo referente às áreas
41
degradadas, susceptíveis à desertificação, identificadas no estudo da Funceme (1990) e
áreas identificadas no estudo da SRH (2010). Além disso, adicionou-se o arquivo de sedes
municipais do Estado e dos recursos hídricos. Todos os arquivos foram adicionados ao
software Arcgis onde foi possível delimitar a área de estudo, precisamente, e confeccionar
os primeiros mapas.
Etapa 2: De posse da série histórica de pluviometria solicitada à Funceme, fez-se
a tabulação dos dados no excel, para identificação, dentro da série histórica de 41 anos,
dos anos de maior e menor precipitação. Foi gerado gráfico de a toda a série. Fato
importante para utilização das imagens do sensor Landsat-8 é devido à disponibilidade
mensal de imagens e da sua resolução.
É importante destacar a utilização do sensor orbital Landsat-8, devido a sua
disponibilidade de imagens recentes, a partir do ano de 2013, e melhor resolução
espectral.
Etapa 3: Acessou-se o site da Embrapa
(http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br/download/ce/sa-24-z-c.htm) e o da USGS
(http://earthexplorer.usgs.gov/) para aquisição da imagem SRTM e cenas do sensor
Landsat-8, respectivamente. De posse dos dados, produziu-se o perfil de elevação
topográfica, com destaque da proximidade dos municípios de Guaramiranga e Canindé e
diferenciação pluviométrica devido, ao posicionamento geográfico. Foi possível a
construção uma grade triangular (TIN) de posse dos valores de altitudes pela imagem
SRTM.
As imagens Landsat-8 escolhidas referem-se aos meses de setembro de 2013 e
setembro de 2014. Segundo dados disponibilizados pela Funceme, os índices
pluviométricos correspondentes foram de 10,2 mm para Guaramiranga, em setembro de
2013, e 45 mm em setembro de 2014. Para Canindé foram 15 mm em setembro de 2013
e 28 mm em setembro de 2014. Apesar do pouco espaço de tempo, entre 2013 e 2014,
optou-se pela seleção dos dois anos, para acompanhar o comportamento da vegetação, no
espaço curto de tempo, em períodos do ano correspondentes, período de transição do
inverno para a primavera.
Etapa 4: Nessa etapa, houve trabalho de pré-processamento das cenas Landsat-8.
1. Download da cena selecionada. 2. Seleção das bandas trabalhadas, com utilização das
42
bandas 6(Red), 5(Green) e 4(Blue), correspondentes às bandas 5(Red) 4(Green) e
3(Blue), no sensor anterior (Landsat-7). 3. Adicionadas as bandas 654 ao Arcgis para
correção radiométrica de 16 bits (Original) para 8 bits. A resolução radiométrica é a
capacidade de o sensor diferenciar variação na intensidade de energia. A resolução é dada
pelo número de valores digitais representando níveis de cinza. Ou seja, a imagem com 8
bits tem 255 tons de cinza, enquanto a com 16 bits tem 65.536 tons de cinza. Por isso a
necessidade de reescalar cenas trabalhadas para 8 Bits, pois a maioria dos softwares não
fazem a leitura de todos os tons de cinza. Isso significa que a banda deixa de ter mais
informações. O mesmo foi repetido para a banda 8 das duas cenas, tendo em vista que a
banda (Pancromática) possui resolução de 15 metros e há ser trabalhada de forma
diferente das demais bandas multiespectrais. 4. Composição de bandas, em que através
do compositor de bandas do Arcgis compôs-se cena com três bandas citadas
anteriormente. As etapas foram elaboradas para cena de setembro de 2013 e setembro de
2015.
Etapa 5: Fusão das bandas 6(R) 5(G) e 4(B) com a banda 8 (Pancromática).
Somente com a cena com as bandas 654 ter-se-ia imagem com resolução espacial de 30
metros. Ou fusionar as bandas 654 com a banda 8, para obter-se imagem de resolução
espacial de 15 metros (Figura 3).
Figura 3: Exemplo de composição colorida 6(R) 5(G) 4(B) Satélite Landsat - 8, Set/ 2013 (A) e Set/2014
(B).
A B
43
Etapa 6: Mudança de fuso e projeção. Cenas, disponibilizadas pelo site da USGS,
estão dispostas ao hemisfério norte, com o Datum WGS84. Para isso fez-se a mudança
de hemisfério para as cenas, trazendo para o sul na zona 24, mudado o Datum para
SIRGAS 2000, no padrão para esta pesquisa.
Etapa 7: Execução de operações aritméticas em imagens, divisão entre bandas,
principalmente para cálculo do NDVI, pelas bandas que atuam na região do vermelho e
do infravermelho próximo. NDVI utiliza-se basicamente no monitoramento e
quantificação das condições e distribuição espacial da vegetação. Processo importante da
pesquisa, por objetivar principalmente identificar áreas degradadas pela classificação de
imagens associadas a trabalhos de campo. Com o NDVI no formato de imagem em tons
de cinza, é possível a aplicação de técnicas de classificação (Figura 4).
No tocante ao mapa de cobertura da vegetação, os procedimentos de elaboração
tiveram como referência metodológica a terceira edição do Manual Técnico de Uso da
Terra (IBGE, 2013).
O manual define que o levantamento do uso e da cobertura da terra indica a
distribuição geográfica da tipologia de uso, por meio de padrões homogêneos na
superfície terrestre.
Para a elaboração do mapa, é recorrer a etapas de escritório e de campo, voltadas
à interpretação de produtos de sensoriamento remoto, análise e registro de observações
da paisagem in loco, referente a tipos de uso e cobertura vegetacional. Salienta-se que
detalhes metodológicos para geração do mapa podem ser consultados no capítulo final.
A delimitação das unidades de cobertura e uso da construíram-se pela
interpretação da imagem Landsat 8, com técnicas de PDI, realce de imagens e
classificações supervisionadas, por inclusões de campo e recorrendo às imagens orbitais
do satélite Spot 5, da base cartográfica do IPECE (do ano de 2013), uma vez que possuem
resolução espacial de 2,5 metros, com identificação de feições em nível de detalhe.
44
Figura 4: Fluxograma das etapas para classificação das imagens.
Fonte: IBGE (2013).
Nesse contexto, as etapas do processo de levantamento e mapeamento da
cobertura e uso da terra seguiram proposta do manual de uso da terra do IBGE.
Isto posto, descrevem-se a seguir, classes mapeadas na área de estudo, adaptadas
de IBGE (2013), em cuja escolha e definição da nomenclatura proposta, o manual técnico
de uso da terra considera a terminologia corrente em pesquisas, nacionais e internacionais,
visando a sua compatibilização.
3.3.Levantamento de campo
A etapa do levantamento de campo é a oportunidade de comprovação da
veracidade de informações processadas em escritório, para o que fizeram-se três visitas à
área de estudo. A primeira, em 19 de novembro de 2013, e a segunda nos dias 17, 18 e 19
de outubro de 2014. Selecionaram-se pontos que tiveram representatividade durante o
processo de análise das imagens do satélite Landsat-8. Com isso, verificam-se
informações em campo com GPS de navegação Magellan Explorist 110 (Mapa 4).
1º levantamento de campo: A primeira atividade de campo, na área de estudo foi
durante o mês de novembro de 2013, dia 19. Anteriormente a essa etapa, no levantamento
de dados cartográficos, havia sido elaborado mapa preliminar da área de estudo. Com
destaque para as em que houve diferenciação espectral, à análise das imagens.
45
2º levantamento de campo: Etapa realizada nos dias 17, 18 e 19 de outubro de
2014, com a mesma metodologia do primeiro, repetida. Buscou-se identificar pontos
destacados na imagem Landsat-8, áreas em processo de degradação para validação em
campo. Ao se fazer o percurso de deslocamento da sede de Canindé à sede de Santa
Quitéria, pela rodovia CE-257, observou-se a mudança do porte da vegetação, devido ao
distanciamento da vertente ocidental do Maciço de Baturité para a vertente oriental da
Serra do Machado, diferenciando áreas de sotavento e barlavento, respectivamente.
Levantamentos de campo caracterizam-se uma importante etapa da pesquisa, que
ficaria incompleta, ou traria questionamentos passiveis de comprovação.
3.4.Integração dos dados
Ao final da validação dos pontos selecionados, durante o trabalho de campo,
confirma-se o processo de degradação ambiental, principalmente pela ausência da
vegetação, em face da exposição do solo, o que foi adicionado à base de dados e
correlacionado com informações geoambientais e socioeconômicas da região.
47
4. CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL
Segundo Press (2006), no interior do Planeta Terra e ao seu redor, existem forças
que regram a dinâmica natural do “Sistema Terra”. São forças que atuam em escala de
tempo geológico, para se iniciar a caracterização ambiental propriamente dita, da área de
estudo, foi necessário fazer levantamento da evolução morfoestrutural do Nordeste e do
Ceará, para melhor entendimento do relevo atual e da sua dinâmica.
4.1 Caracterização Geológico-Geomorfológico
O principal representante geológico da área de estudo é o Complexo Ceará
apresentado pelas Unidades Canindé e a Unidade Independência com grande variedade
de rochas da idade Paleo-Proterozóica. De três tipos de morfoestruturas, no Estado do
Ceará citados anteriormente, encontram-se, maciços cristalinos, Serra do Machado e o de
Baturité, com níveis altimétricos entre 300 a 1000 metros, envoltos pela superfícies de
erosão (Sertões de Canindé e Caridade) e pontuais cristas residuais e Inselbergs
resultantes da erosão diferencial em rochas pré-cambrianas (Mapa 5).
No Brasil, o conjunto da margem continental é do tipo passiva, e a passagem da
litosfera continental à litosfera oceânica se faz no seio da placa sul-americana, entidade
tectônica cuja individualização remonta ao Cretáceo (ALMEIDA, 1967; ALMEIDA et
al., 2000). Estrutura geológica e registros estruturais da plataforma sul-americana
apresentam marcas de 4 episódios de aglutinação e dispersão continental com lugar entre
Pré-cambriano e o Paleozóico (ALMEIDA et al, 2000), ao curso dos quais as margens de
antigos crátons se chocaram, desapareceram ou se reconstituíram durante eventos de
abertura e/ou fechamento oceânico.
1ª Aglutinação – Atlântida: A primeira aglutinação de massas continentais
ocorreu entre 2,2 Ga e 1,8 Ga, na era Pré-cambriana, e gerou o supercontinente
denominado Atlântida. Posteriormente, entre 1,8 Ga e 1,6 Ga, houve o processo de fissão
do supercontinente, onde foram gerados fragmentos (BRITO NEVES, 1999). É
importante ressaltar que não houve divisão na atual região do Brasil, apenas nas
adjacências. Durante o processo de aglutinação, ao se juntarem as massas, houve
formação de rochas em áreas de contato.
48
2ª Aglutinação – Rodínia: O segundo processo de aglutinação aconteceu entre
1,45 Ga e 970 Ma, no Proterozóico. Posteriormente, entre 1 Ga e 750 Ma, toda a massa
continental sofreu dispersão. Sem grandes repercussões estruturais para o Brasil.
3ª Aglutinação – Panottia: O processo de aglutinação do terceiro supercontinente
deu-se entre 880 Ma e 550 Ma, durante a Neoproterozóico, em que a parte sul do Panottia
era formada basicamente pela América do Sul, África e Antártica, denominada
Gondwana. O processo de colagem, mais conhecido como Orogênese Brasiliana, gerou
relevo de cadeias de montanhas que, durante o processo de fissão do Panottia, a
aproximadamente 500 Ma, manteve toda a massa correspondente ao Gondwana agrupada,
só dividida durante a formação do próximo supercontinente.
De acordo com Schobbenhaus et al. (1984 in BASTOS, 2011), “a orogênese
brasiliana representa o mais importante de todos os eventos tectônicos, na evolução
geológica do Brasil”. Próximo às linhas de colagem, formou-se grande sistema de
deformação e dobramento, “Província da Borborborema”, contemplando boa parte do
Nordeste (ALMEIDA, 1967; ALMEIDA et al., 2000 in BASTOS, 2011).
Ao término da terceira aglutinação, houve grande período de estabilidade, em que
processos erosivos atuaram na cadeira brasiliana, retirando e depositando seus sedimentos
na bacia do Parnaíba, Amazonas e Paraná, no início do Paleozóico.
É importante destacar que, mesmo com a separação do Pannotia, a América do
Sul e a África continuaram juntas, separando-se apenas no Mesozóico.
4ª Aglutinação – Pangea: Por volta de 230 Ma, no final do Paleozóico, foi a
aglutinação do supercontinente Pangea. O processo de formação da grande massa não
teve grandes reflexos para o território cearense e Nordeste brasileiro: os territórios
cearense e nordestino haviam permanecido agrupados, desde a formação da grande massa
Gondwana que não havia sofrido processo de divisão. A divisão do Pangea começou
durante o Mesozoico (200 Ma e 100 Ma). Primeiro, com a abertura do Atlântico Sul e
posteriormente com a do Atlântico Equatorial, correspondente à margem continental do
Nordeste. Reflexo da ultima divisão foi a formação de bacias intercratônicas (Araripe,
Apodi e Iguatu), soerguimento generalizado das estruturas pré-existentes e a abertura do
Oceano Atlântico.
49
A importância da descrição das etapas de aglutinações e separações de
supercontinentes reside no entendimento dos eventos geológicos, na tentativa de explicar
litologias e também deformações pretéritas.
De acordo com estudos de Souza (1988, 2000), o Ceará possui grande variedade
de tipos de relevo, agrupados em três unidades morfoestruturais (Figura 5):
1. Planícies e Terraços Fluviais cenozoicos;
2. Bacias sedimentares paleomesozoicas;
3. Planaltos residuais e depressões sertanejas do pré-cambriano.
Figura 5: Classificação das unidades morfoestruturais do Ceará.
Fonte: Souza, 1988.
4.2 Maciços Cristalinos e Cristas Residuais
Os Maciços Cristalinos da Serra do Machado e do Maciço de Baturité apresentam
aspectos peculiares que os distinguem na área. Diferentemente da depressão sertaneja
com intensos processos de rebaixamento da superfície, decorrente da ação erosiva de
agentes condicionantes, oscilações climáticas entre climas úmidos e áridos da Era
Cenozoica (SOUZA, 1988). Com as oscilações climáticas, setores de litologia resistentes,
50
planaltos, continuaram elevados, circundados por pediplanos com litologias menos
resistentes. Setores isolados também podem ser encontrados, Cristas e Inselbergs.
A Serra do Machado forma arco de aproximadamente 90º, na porção sudeste e
oeste do município de Canindé. Pertence à Unidade Independência, de origem do Pré-
Cambriano, e apresenta principais litotipos: gnaisses e xisto, também quartzitos e
calcários metamórficos. A Serra do Machado se estende pelas áreas do Complexo Ceará,
em níveis altimétricos mais baixos, com relevos menos acidentados e vales amplos.
A vertente ocidental a sotavento do Maciço de Baturité avança para Canindé,
apresenta relevo dissecado em vales rasos e abertos, uma vez que a umidade está voltada
para vertente a barlavento, minimizando o trabalho de entalhe e recuo da vertente pela
ação fluvial. A vertente ocidental apresenta relevos aguçados, em forma de cristas,
sustentados, na maioria, pelos quartzitos da Unidade Independência. Exemplo d é o Pico
Alto, que constitui o ponto mais alto do maciço e nada mais é do que crista de quartzito.
A morfologia do Maciço de Baturité e da Serra do Machado estão diretamente
associados à resistência do material geológico. Assim, é inevitável deixar de destacar sua
importância hidrológica, tendo em vista que, nesses maciços, nascem rios que alimentam
a Bacia do Curu, a sotavento do Maciço de Baturité, e Bacia Metropolitana, a barlavento
do maciço.
Cristas residuais da Serra do Pirão e do Tiracanga apresentam altitudes entre 300
e 600 metros e vertentes suaves, com vales abetos e rasos, com solos pouco desenvolvidos
e pedregosos. São considerados Inselbergs ou esporões do Maciço de Baturité, isolados
pelo processo de pediplanação.
4.3 Depressão Sertaneja
É correspondente ao maior compartimento da área de estudo, representada pela
Unidade Canindé, com relevo plano e suave ondulado. As características fitopedológicas
e hidroclimáticas, assim como características geológica-geomorfológicas são parecidas,
sem grande variação dentro da unidade. Importante destacar a presença da área de
degradação com susceptibilidade à desertificação na unidade, constatada pelo estudo da
Funceme (1990) e pelo do PAE (2010).
51
A semiaridez impede o desenvolvimento de solos profundos. A depressão
sertaneja é o setor me grau avançado de degradação e a descaracterização dos
componentes ambientais, principalmente pela ocupação antiga, baseada no binômio
gado-algodão.
Ponto importante destacado é referente aos padrões de alinhamento
geomorfológico e suas relações com o direcionamento dos ventos alísios de leste e
sudeste, que contribuem no surgimento de setores secos, com áreas susceptíveis à
desertificação. Nessa perspectiva, observa-se influência direta do Maciço de Baturité no
baixo índice pluviométrico dos sertões de Canindé e Caridade. Da mesma forma como
em Canindé, também é perceptível a situação nos setores circunvizinhos do sotavento das
serras da Meruoca, Uruburetama, Imburana, das Matas, do Machado, do Caloci, São
Domingos, do Pereiro e dos Bastiões (Mapa 5).
53
4.4 Características Hidroclimáticas
O CLIVAR/BRASIL (1998) identificou o clima brasileiro como caracterizado
pela forte variação anual da precipitação, com chuvas fortes durante o verão e estação das
secas durante o inverno, e associa a variação anual do regime de precipitação à variação
anual da circulação atmosférica sobre a América do Sul.
Em latitudes equatoriais, as maiores variações climáticas associam-se com
mudanças sazonais, na posição da zona de convergência intertropical (ZCIT) e das
monções de verão, responsáveis por grande parte da precipitação de verão na região.
A ZCIT corresponde à grande região onde confluem ventos alísios de nordeste e
sudeste, caracterizados pela intensa nebulosidade e baixa pressão atmosférica.
Normalmente, ZCIT migra sazonalmente, de posição mais ao norte, no Atlântico, para
posição ao sul, durante o verão austral. Os ventos alísios de sudeste são intensos quando
a ZCIT se encontra ao norte (agosto a outubro), diminuindo progressivamente com a
migração em direção ao equador, para alcançar os mínimos valores anuais, nos meses de
março e abril, com os ventos de sudeste mais fracos.
O movimento para o norte da ZCIT e a intensificação dos ventos de sudeste, que
iniciam em maio, apresentam fortes efeitos no oceano, variações de padrão da circulação
oceânica, variações do nível do mar e aumento da velocidade das correntes costeiras.
Além do ciclo sazonal, o clima da região apresenta uma série de modificações interanuais,
geralmente associadas ao fenômeno El Niño.
O fenômeno El Niño é caracterizado pelo aparecimento de águas quentes,
normalmente frias (como na costa oeste da América do Sul). Águas quentes são
decorrentes do aprofundamento da termoclina, no lado leste da bacia do Pacífico, onde
normalmente intersecta a superfície.
Por outro lado, destaca-se o fenômeno “La Niña”, com o esfriamento das águas,
na faixa equatorial do oceano Pacífico, produzindo índices significativos de chuvas, entre
os meses de novembro e janeiro, mais em áreas setentrionais do Nordeste (centro sul dos
Estados da Bahia, Maranhão e Piauí) do que na região semiárida (MAIA, 1998).
Segundo Bezerra (2009), são sistemas atmosféricos participantes de formação de
pluviosidade na região norte do Nordeste são:
54
Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN) são formados sobre o oceano
Atlântico, têm como característica a formação de chuva, às margens e centro há
formação de subsidência, inibindo a formação de nuvens, direção leste oeste, com
maior atuação nos meses de fevereiro a março (GAN e KOUSKY, 1982 apud
FERREIRA, 2005);
Linhas de Instabilidade (LI) são alinhamentos de nuvens Cúmulos, formadas pela
grande incidência de radiação nos primeiros meses do ano na região tropical, com
chuvas no final da tarde e início da noite. Fato intensificador das (LI) é a
proximidade da ZCIT, principalmente nos messes de fevereiro a março;
Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) são aglomerados de nuvens, que
às condições locais de relevo, pressão, temperatura, tem sua formação durante o
período noturno. São chuvas com rajadas de ventos, entre 10 e 20 horas,
apresentam formação com maior frequência nos meses de primavera e verão
austral (SOUZA et al., 1998 apud FERREIRA, op. cit);
Ondas de Leste (OL), quando com intensidade forte, alcançam a região centro
norte do estado, com formadas na região tropical, na zona de influência dos ventos
alísios, com deslocamento de leste a oeste, no oceano Atlântico, da costa da África
à do Brasil, sistema presente na rotina da Zona da Mata.
São os principais mecanismos climatológicos atuantes no Nordeste brasileiro, a
depender da temperatura da superfície do mar (moduladores das circulações e
mecanismos atmosféricos), determinantes do período chuvoso.
Ventos atuantes, principalmente, alísios de leste e sudeste. No mapa 6, a evidente
a influência do maciço de Baturité na área de degradação de Canindé, devido ao
posicionamento a sotavento do maciço. Desse modo, posicionamento e orientação dos
relevos ocasionam barramentos, ou seja, área de contenção dos ventos.
O clima de qualquer região é determinado, em grande parte, pela circulação geral
dos ventos na atmosfera. Tendo-se novamente o mapa 6, áreas suscetíveis à
desertificação, na porção oeste, estão diretamente ligadas à presença dos maciços centrais
do estado, serra da Imburana, serra das Matas, serra do Machado, Serra do Caloci e serra
São Domingos. Todo o conjunto geomorfológico se destaca na formação de barreira de
contenção dos ventos alísios de NE-SO e consequente barramento da umidade, a chegar
até a região a sotavento do complexo de serras. Da mesma forma acontece ao norte, em
55
consequência do posicionamento das serras da Meruoca e de Uruburetama. A leste, no
Vale do Jaguaribe, e posteriormente na serra do Pereiro, dos Bastiões, Serra do Martins e
Portalegre, no estado do Rio Grande do Norte. Por fim, na parte central do estado,
acontece a sotavento do maciço de Baturité, onde se encontra a área de degradação dos
sertões de Canindé e Caridade (Mapa 6).
57
É evidente que não se destaca apenas a posição de feições geomorfológicas
determinante da ocorrência de áreas degradadas. Também a degradação é um processo
antigo que tem se agravado com o tempo, devido à utilização de técnicas inadequadas ao
manejo do solo e da vegetação pelo homem.
Segundo Tricart (1977), as modificações na cobertura vegetal, provocam
alterações de equilíbrio do ambiente, onde as modificações aceleram processos de erosão,
aumento da temperatura, redução da recarga d’água de rios e aquíferos, entre outros
eventos, justificando-se a manutenção da cobertura vegetal para o equilíbrio ambiental.
As características se têm, à comparação dos índices pluviométricos dos
municípios de Guaramiranga e Canindé, onde a diferenciação pluviométrica, entre áreas
próximas, é discrepante (Gráfico 1). É importante destacar que os municípios são
vizinhos, e o que faz diferenciação pluviométrica é principalmente o posicionamento
geográfico. O município de Guaramiranga está situado no platô do maciço de Baturité, a
uma altitude de 865,24 metros, e tem média pluviométrica de 1.737,5 mm anuais,
enquanto município de Canindé, na depressão sertaneja, a sotavento do maciço, com
média pluviométrica de 756 mm anuais e altitude de 148 metros do nível do mar (IPECE,
2013).
Sedes municipais estão situadas a uma distância de apenas 43 km: são limítrofes.
O maciço de Baturité chega a altitudes máximas de 1.112 metros (Pico Alto), fazendo-se
uma barreira orográfica natural, tornando a região, a oeste do maciço, área de paisagem
diferenciada, reflexo do baixo índice pluviométrico. (Mapa 7 e Figura 6).
58
Mapa 7: Perfil de elevação sentido Guaramiranga (A) – Itatira (B).
0
50
100
150
200
250
1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Plu
vio
sid
ade
(mm
)
Série Histórica / Pluviometria - Guaramiranga - Canindé
B Canindé A
Guaramiranga
Canindé
Figura 6: Perfil de elevação Guaramiranga sentido Itatira (NE/SO).
Gráfico 1: Série histórica Guaramiranga e Canindé.
59
4.5 Solos e cobertura vegetal
Sobre a composição pedológica da área de estudo, destaca-se a presença de Solos
Litólicos Eutróficos (Neossolos Litólicos), Bruno não cálcico (Luvissolos), Planossolos
Solódicos (Planossolos), Solos Aluviais Eutróficos (Argissolos).
É importante a distribuição dos solos, diretamente relacionada com componentes
ambientais, uma vez que é resultado de influência e de processos, que atuam em
concordância com aspectos naturais, grau de declividade, material de origem, umidade
relativa do ar, entre outros aspectos.
As formações vegetais são reflexos diretos das condições pedológicas, por isso
mesmo, as áreas quase se confundem, não correspondendo integralmente devido, aos
enclaves resistentes às flutuações climáticas plio-pleistocênicas e à descaracterização
pelo desmatamento, para dar espaço às culturas de subsistência do binômio gado-algodão.
A unidade pedológica de maior extensão é a caatinga onde predominam
Luvissolos, associados a Neossolos Litólicos e Planossolos, em superfícies da depressão
sertaneja da área de estudo, onde o relevo apresenta-se plano e suave ondulado. Recoberto
pela caatinga arbustiva esparsa e degradada, onde a espécie de destaque é a jurema-preta
(Mimosa Hostilis), em número maior de marmeleiro (Cróton Sincorensis) e mofumbo
(Combretum Leprosum).
Segundo Oliveira (2008), os Luvissolos são solos muito férteis, agricultáveis, com
sérias restrições de uso de maquinaria pesada e pastagem do gado, que podem sofrer
compactação e impermeabilização da camada B textural, impedindo percolação de
fluídos, formando crosta na superfície que, nas chuvas torrenciais típicas do semiárido,
sofre erosão do tipo sulco ou do tipo lençol, com a perda de materiais do horizonte A. A
fisionomia característica da caatinga aberta que recobre o solo facilita a erosão pluvial,
notadamente em estágio secundário, em que as espécies lenhosas são subtraídas e sua
função de amortecimento de impacto das gotas da chuva se torna ineficiente.
A unidade, com maior e mais antiga intervenção da economia pecuarista,
associada a culturas de subsistência e plantações de algodão que a população já praticava.
Assim, é o setor que corresponde à área de estudo da pesquisa, de grande extensão de
características degradadas.
60
Os Neossolos Litólicos são rasos e pedregosos, em depressão sertaneja e encostas
dos maciços e cristas residuais. São frequentes os afloramentos rochosos, com exposição
do embasamento cristalino. Em áreas de declividade mais acentuadas, aumenta
consideravelmente a susceptibilidade à erosão.
Planossolos ocorrem em planícies fluviais e de inundação sazonal, onde a caatinga
arbustiva avança sobre áreas de mata ciliar e de carnaúbas degradadas. Dizem-se solos
mal drenados, de permeabilidade lenta, com sérias limitações físicas, conforme Oliveira
(2008). Formam lençol freático suspenso temporário, nos meses chuvosos, fator limitante
ao desenvolvimento de plantas inadaptadas ao hidromorfismo. É o ambiente endêmico
das florestas de carnaúba (Copernicia Cerifera), utilizadas na produção de cera,
fabricação de artesanatos de palha e edificações.
Matas secas são a transição entre caatinga arbórea e mata úmida, nas encostas dos
maciços e cristas residuais, com predomínio de neossolos litólicos associados a luvissolos
e argissolos, bem como na depressão sertaneja, associados a Luvissolos e Planossolos.
Encontram-se bastante degradadas, por servirem de matriz energética dos ocupantes, bem
como foram desmatadas para instalação de culturas de subsistência e forrageiras. De
acordo com Ceará (1994), as espécies típicas de ambientes de mata seca são: Pau-ferro
(Caesalpina leiostachya), Pau-d’arco-roxo (Tabebuia impetiginosa), Pereiro-Branco
(Aspidosperma cuspa), angico-vermelho (Anadenanthera macrocaspa), Jurema-Branca
(Piptadenia stipulacea), entre outras (Mapa 8).
62
5. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DO MUNICIPIO DE
CANINDÉ
5.1 Organização populacional e Densidade Demográfica (Censo 2010)
Pela evolução da população total de Canindé (Tabela 2), em escala do ano de 1860
ao de 2014 (Pinto, 2003; IPECE, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012,
2013 e 2014), percebe-se acelerado crescimento populacional apesar de óbitos
decorrentes de causas humanas de saúde pública e epidemias, trazidas pelos romeiros e
secas que assolaram o município ao longo de sua história, com destaque das grandes secas
de 1777 e 1778, quando 7/8 do rebanho bovino da Capitania do Siará Grande e metade
da população morreram (BRITO, 2005).
Tabela 2: Série Histórica de Evolução da População do Município de Canindé, entre 1860 e 2014.
Ano
1860
1865
1891
1920
1980
1991
2000
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Pop.
(hab.) 9.3
74
10.0
00
13.0
84
14.6
04
58.2
41
61.8
27
69.6
01
73.5
90
74.4
71
75.3
47
73.8
78
76.8
73
77.5
52
74.4
73
74.8
47
75.2
09
76.4
39
76.7
24
Figura 3: Fonte: IPECE, 2014.
Com população de 76.724 habitantes e densidade demográfica de 23,14 hab./km²
(IPECE, 2014), o município de Canindé apresenta elevada pressão social sobre escassos
e frágeis recursos naturais, o que provocou desequilíbrios ambientais: descaracterização
de coberturas vegetais, suprimidas pelos primitivos habitantes para dar lugar a culturas
de subsistência e ao algodão, posteriormente áreas transformadas em pastos para criação
de gado: assoreamento de rios e riachos, esgotamento de nascentes; queda acentuada da
biodiversidade, uma vez que a caça predatória não era controlada, bem como o
desmatamento para produção de lenha e carvão, fontes primárias de energia por muito
tempo; perdas irreversíveis de camadas de solo, além de problemas, compactação e
surgimento de sinais de erosão, como sulcos e ravinas; desaparecimento de espécies
animais e vegetais, substituídas pelas espécies invasoras: São problemas que
desencadeiam processos graves e amplos, por exemplo, a desertificação.
O estudo da evolução da população e de atividades econômicas pode explicar o
desencadeamento dos problemas ambientais, à análise do gráfico da evolução
populacional de Canindé (Gráfico 2), o crescimento acelerado, notadamente entre os anos
de 1860 e 1980 e, de forma concentrada, entre os anos de 1920 e 1980, a população
63
municipal quase triplicou, atingindo taxa de crescimento da ordem de 727 hab./ano,
quando a taxa da série histórica ficou em 429 hab./ano. O contingente populacional
progressivamente elevado abriu fronteiras agropecuárias e urbanas, uma vez que a
fundação da sedes distritais data do final do século XIX e início do século XX (Tabela
3), e as atividades econômicas canindeenses prosperaram no período, apesar de
intempéries e incertezas da semiaridez às quais estão submetidas.
Gráfico 2: Evolução Populacional do município de Canindé, entre os anos de 1860 e 2014.
Fonte: IPECE, 2014.
Tabela 3: Divisão Territorial de Canindé em distritos.
Distrito Ano de Criação
Canindé 1846
Bonito 1953
Capitão Pedro Sampaio 1992
Esperança 1953
Iguaçu 1992
Ipueiras dos Gomes 1964
Monte Alegre 1938
Targinos 1907
Fonte: IPECE, 2014.
Canindé possui população predominantemente urbana, num total de 46.875
habitantes (62,94%), em núcleos urbanos (sede e distritos) e 29.486 habitantes, em áreas
rurais (IBGE, 2010).
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
90.000
1850 1860 1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Total da População
(hab.)
64
A transição à fase urbana é reflexo da importante participação do comércio e
serviços na economia, atraindo mão de obra da zona rural para zonas urbanas, em busca
de emprego e serviços essenciais, atendimento médico-hospitalar e educacional. Além
disso, a religiosidade é fator determinante da urbanização, uma vez que, em função disso,
muitas atividades se desenvolvem e abrem postos de trabalho, visto que Canindé é o maior
santuário franciscano da América Latina, para onde se deslocam peregrinos de municípios
e estados, fomentando o turismo religioso, rede hoteleira, bem como restaurantes,
pequenos e médios comércios que alimentam migrantes sazonais.
Conforme afirma Brito (2005), apesar do acelerado processo de urbanização da
população canindeense, nas últimas décadas, com exceção da Sede, nos distritos, a
população permanece predominantemente rural, em atividades tipicamente rurais
(agricultura, pecuária e extrativismo), o que não significa redução da pressão de
demandas humanas sobre recursos naturais, aspecto reforçado pelo incremento
populacional urbano que encontra nas atividades distritais, fonte de abastecimento,
contingente de ampliação de festividades municipais e romarias, quando o município
recebe milhares de devotos de São Francisco de Assis, padroeiro do município.
É notória a vocação de Canindé para serviços, setor da economia responsável por
78,12 % do PIB de Canindé que, em 2011, foi de R$ 411.748,00 (IPECE, 2014), setor
que mais cresceu entre os anos de 2002 e 2011 (Gráfico 3). Em contrapartida, a
participação da indústria teve forte declínio, perdendo importância significativa em 2005,
com 12,12 % do PIB para 9,21 % em 2011, enquanto o setor agropecuário permaneceu
estagnado, na faixa dos 12 % do PIB acompanhando a participação da indústria.
É possível a conclusão de que acelerado processo de urbanização se deve à
expansão do setor de serviços, uma vez que postos de trabalho surgiram com a retração
do setor industrial e da estagnação da agropecuária, decorrentes principalmente da falta
de técnicas adequadas ao manejo do solo e falta de recuso hídrico, devido à escassez
chuvosa e à falta de planejamento do governo para o auxílio da classe produtora da região.
65
Gráfico 3: Participação dos Setores da Economia no PIB total de Canindé, entre os anos de 2002 e 2011.
Fonte: IPECE, 2014.
Tabela 4: dinâmica de crescimento do PIB total e per capita anual, entre os anos
de 1999 e 2011, com estagnação do PIB total entre 2002 e 2003, e retração entre 2003 e
2004, com diminuição do PIB per capita, em dois períodos: de 2000 e 2001, ano de forte
seca, com total acumulado de precipitações de 369 mm, e de 2002 para 2003, também
dois anos de seca, menos severa do que a de 2001, precipitações de 588,4 mm (2002) e
651,1 mm (2003) (Gráfico 4 e 5).
Tabela 4: PIB total municipal e PIB per capita do Município de Canindé, entre 1999 e 2011.
Ano PIB Total Municipal (R$ mil) PIB per capita (R$ mil)
1999 139.281,00 2.011,00
2000 186.401,14 2.678,00
2001 159.801,00 2.252,00
2002 216.523,00 3.039,00
2003 216.523,00 2.297,00
2004 184.283,00 2.504,00
2005 208.430,00 2.799,00
2006 214.174,18 2.842,50
2007 237.113,79 3.209,53
2008 313.710,64 4.080,90
2009 294.039,72 3.968,91
2010 343.583,44 4.860,64
8,82
9,84
9,19
12,15
18,62
15,1
15,05
12,6
10,35
12,66
47,19
38,1
23,19
12,12
10,05
11,2
11,25
9,81
10,53
9,21
43,99
52,05
67,63
75,73
71,36
73,7
73,7
77,59
79,11
78,12
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
PIB (%)Serviços Indústria Agropecuária
66
2011 392.022,00 5.501,19
Fonte: IPECE, 2014.
Transformada a tabela 4 em gráfico (Grafico 4), fazem-se perceptiveis períodos
de estagnação (2002 e 2003) e de retração (2000 a 2001; 2003 a 2004) da economia de
Canindé, pela vulnerabilidade às secas (Gráfico 4), em paralelo entre valores do PIB e
de precipitações pluviométricas anuais. Há correlação muito forte ao se analisar o
aumento do PIB (2011 e 2012), devido ao índice pluviométrico do ano de 2011
(107,66mm). Vale destacar a participação do setor de serviços na formação do valor do
PIB. Ou seja, apesar dos útimos 4 anos de baixos índices de precipitação, o PIB de
Canindé vem crescendo justamente pela influência do setor de serviços.
Gráfico 4: Variação do PIB municipal (R$ mil) de Canindé de 1999 até 2011.
Fonte: IPECE, 2014.
139.281,00
186.401,14
159.801,00
216.523,00
216.523,00
184.283,00
208.430,00
214.174,19
237.113,80
313.710,65
294.039,72
343.583,45
392.022,00
0,00
50.000,00
100.000,00
150.000,00
200.000,00
250.000,00
300.000,00
350.000,00
400.000,00
450.000,00
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012
PIB Total Municipal
67
Gráfico 5: Precipitação Pluviométrica (Média mensal) de Canindé de 1999 a 2014.
Fonte: FUNCEME, 2014.
Com relação à qualidade de vida, tomando como parâmetro IDM (Índice de
Desenvolvimento Municipal), elaborado pelo IPECE, e IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano), Canindé apresenta situação mediana em relação à realidade estadual.
O IDH reúne parâmetros sobre educação (taxa de analfabetismo e escolaridade),
longevidade (expectativa de vida) e renda (PIB per capita), em escala de 0 a 1. Quanto
mais próximo de 0 (zero), menor o índice, o contrário se explica a valores próximos de 1.
Canindé tem IDH de 0,612 em 2010 (IPECE, 2014), considerado IDH médio, de 0,500 a
0,799, o que reflete condição de vida geral da população, sob os aspectos considerados,
nesse índice, de região em desenvolvimento, pondo o município na posição 94º no
ranking estadual, quando o IDH do Estado do Ceará foi, no mesmo ano, de 0,682.
Tido como parâmetro, o IDM, engloba fatores: indicadores fisiográficos,
fundiários, agrícolas (IG1*); demográficos e econômicos (IG2**); infraestrutura de apoio
(IG3***) e sociais (IG4****). O município de Canindé apresentou evolução significativa
com relação à realidade estadual, galgando melhores posições entre os anos de 1999 e
2010 (Tabela 5).
Tabela 5: IDM do município de Canindé, entre 1999 e 2010.
Ano Índice Geral Ranking IG1* IG2** IG3*** IG4****
1999 24,27 85 21,32 11,50 25,90 43,10
2000 26,87 70 30,87 11,61 27,48 43,60
2002 27,97 58 32,55 23,31 26,51 31,53
46,25
81,16
73,8
84,05
130,22
108,41
66,6
119,58
82,32
86
196,8
48,48
107,66
49,52
55,72
82,36
0
50
100
150
200
250
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
Precipitação (mm)
68
2004 26,50 63 24,97 20,28 32,54 29,51
2006 30,72 62 42,28 25,07 30,90 24,64
2008 24,71 116 31,67 17,46 25,32 27,65
2010 22,42 85 17,33 15,17 38,34 19,21
Fonte: IPECE, 2014.
O acompanhamento do IDM, entre 1999 e 2010 (Tabela 5) é evidente no Gráfico
6, onde linhas ascendentes e descendentes explicitam tendências pelos indicadores
(Índice Geral, ranking, IG1, 2, 3 e 4), em que apenas o ranking e IG4, que englobam
variáveis sociais, apresentam redução entre os anos de 2000 e 2002. Entre os de 2002 e
2006, houve constância e pouca variação, apenas decréscimo para IG1 durante o ano de
2004, com ascensão, no ano de 2006. Após 2006, destaca-se queda do índice geral no ano
de 2008, e queda de posição no ranking geral, com processo reverso no ano de 2010, em
que se destaca o crescimento do IG3 refletindo em avanços em infraestrutura, ampliação
da rede de abastecimento, de 65,66 % em 2006 para cobertura total de abastecimento de
agua adequado para o ano de 2013 (IPECE, 2014).
Gráfico 6: Evolução do IDM de Canindé entre 1999 e 2010.
Fonte: IPECE, 2014.
Indicadores evidenciam pequena melhoria na qualidade de vida da população, em
paralelo, problemas ambientais permanecem, tendo em vista o aumento da densidade
demográfica que provoca maior demanda pelos recursos naturais e consequente
degradação do meio ambiente.
0
20
40
60
80
100
120
140
1999 2000 2002 2004 2006 2008 2010
Evolução IDM - Canindé
Índice Geral Ranking IG1 IG2 IG3 IG4
69
5.2 Infraestruturas
5.2.1 Taxa de cobertura urbana com esgotamento sanitário
De acordo com o IPECE (2014), Canindé possui 19.980 domicílios particulares,
entre área urbana, com 13.070 domicílios e 6.910 na área rural, em média de moradores
de 3,72 na área urbana e 3,58, área rural. Desses, toda a área urbana é coberta por algum
tipo de abastecimento, pela ligação à rede geral, poço ou nascente. Contrapondo ao dado,
apenas 36,59% dos domicílios urbanos estão cobertos pela rede de esgotamento sanitário
(Tabela 6 e 7).
Tabela 6: Domicílios particulares segundo as formas de abastecimento de água de 2000 e 2010.
Tipo Abastecimento de água
2000 % 2010 %
Total 15.741 100 19.950 100
Ligada a rede geral 8.542 54,27 13.914 69,74
Poço ou nascente 3.859 24,52 824 4,13
Outra 3.340 21,22 5.212 26,13
Fonte: IPECE, 2014.
Tabela 7: Domicílios particulares segundo o tipo de esgotamento sanitário de 2000 e 2010.
Tipo Esgotamento sanitário
2000 % 2010 %
Total 15.741 100 19.950 100
Rede geral ou pluvial 1.014 6,44 3.798 19,04
Fossa séptica 1.024 6,51 1.233 6,18
Outra 8.023 50,97 12.478 62,55
Não tinha banheiro 5.680 36,08 2.441 12,24
Fonte: IPECE, 2014.
5.2.2. Taxa de cobertura de água e Uso da Água Superficial e Subsuperficial
As terras de Canindé, sob diferentes regimes climáticos, são banhadas pelas bacias
hidrográficas do rio Curu e Metropolitana representando, respectivamente, 79,96% e
20,04% da área do município (OLIVEIRA, 2008).
A Bacia do Rio Curu possui área de 8.528 Km² (COGERH, 2014), abrangendo 25
municípios, incluindo Canindé, que participa com 29,87 (2.552,5 Km²) do total.
Coletor principal, o rio Curu nasce no Maciço Residual da Serra do Machado,
mais precisamente, na Serra do Céu, com tributários oriundos do Maciço de Baturité, da
Serra de Uruburetama e serras da Imburana e do Machado.
70
A Bacia Metropolitana ocupa área de 18.085 Km², com 40 municípios, banha
Canindé em área de 644,96 Km², o que representa 20,09% da área total.
Os principais riachos da bacia: riachos do Castro, Cangati e Jacinto. O acúmulo
superficial é bem menor, em comparação ao da bacia do rio Curu.
Três principais massas d’água, fonte de abastecimento: Açudes do Salão, São
Mateus e Souza (Tabela 8), todos fazem parte da Bacia Hidrográfica do Rio Curu,
monitorados pelo programa de gerenciamento de águas territoriais (COGERH, 2013). A
situação hídrica da região de abastecimento é preocupante, é que pela tabela, caminha-se
para o quarto ano consecutivo de seca e o volume hídrico vem diminuindo.
Tabela 8: Principais Açudes de Abastecimento do Município de Canindé.
Açude Tamanho
(Km²)
Capacidade
(mil m³)
Cota Atual (m)
Volume ao Final da
Estação Chuvosa
(mil m³)
Volume Início do
Ano (mil m³)
Volume Atual (mil
m³)
2011 2012 2013 2011 2012 2013 2011 2012 2013 2011 2012 2013
Salão 0,88 6.040 92 90 88 3.313 2.680 1.306 1.832 1.732 495 2.569 1.003 320
São
Mateus 1 10.330 191 188 185 7.112 10.330 5.954 3.769 7.512 3.183 9.990 5.184 1.217
Sousa 1,27 30.840 159 155 151 20.588 16.507 7.324 12.237 10.195 3.147 14.901 5.668 499
Fonte: COGERH, 2013.
Conforme Gráfico 7, a capacidade de abastecimento hídrico dos açudes vem
decrescendo progressivamente e, com a falta de medidas mitigadoras, comunidades
abastecidas por tais corpos d’água entraram em colapso.
71
Gráfico 7: Capacidade Hídrica dos três principais Açudes que abastecem o município de Canindé.
Fonte: COGERH, 2013.
Na quadra chuvosa de 2014, abril foi o mês mais crítico, com 32,2% de desvio
negativo, seguido de fevereiro (-27,7%) e março (23,3%). Viz-se negativo quando a
quantidade de precipitação é menor que a quantidade de precipitação habitual. Em maio,
houve melhoras significativas, de modo que as chuvas ficaram apenas 3,4% abaixo da
média. Entretanto, de acordo com a Funceme, não significa dizer que as precipitações
tenham sido expressivas, é que o mês de maio habitualmente registra poucas ocorrências
pluviométricas.
Em comparação com anos anteriores, a quadra chuvosa de 2014, no Ceará, teve
mais chuva que as de 2013 e 2012. Em 2013, choveu 37,7% a menos do que o normal,
enquanto o ano de 2012 registrou 50,7% de desvio negativo.
Apesar do aumento pluviométrico em 2014, o Estado enfrenta o terceiro ano
consecutivo de estiagem. Para 2015, a Funceme aponta possibilidade de mais um ano de
estiagem, caso se confirme a formação do fenômeno El Niño. Com o evento, diminui-se
a incidência de chuvas nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Com 95,28% de área sobre embasamento cristalino, Canindé apresenta fraca
vocação aquífera subsuperficial, restrita às zonas de falhamento.
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
Açude Salão Açude São Mateus Açude Sousa
Volume Hídrico (mil m³)
2011 2012 2013
72
De acordo com a SOHIDRA (2014), Canindé possui 249 poços profundos, com
profundidade média de 47,9 metros. O uso de água subterrânea, de forma diversa, destina-
se ao consumo doméstico, industrial, urbano, pecuária, irrigação.
O uso da água subterrânea é diverso, para consumo doméstico, industrial, urbano,
da pecuária, da irrigação e usos múltiplos (Tabela 9). Com base nos dados informados,
100 dos 249 poços estão em situação de abandono, seco ou sem equipamentos. Do ano
de 2000 até 2009, foram instalados 30 poços, 5 em situação de seca ou com problemas de
equipamentos.
Tabela 9: Quantidade e situação dos Poços do Município de Canindé.
Abastecimento Nº de Poços Situação
Funciona Não Funciona
Urbano 20 15 5
Domestico 61 36 25
Industrial 3 3 -
Pecuária 13 5 8
Múltiplo 106 65 41
Irrigação 3 3 -
Sem Denominação 43 22 21
Total 249 149 100
Fonte: IPECE, 2014.
5.3. Economia e Renda
5.3.1. Tipo de cultivo
Agricultura
Os serviços representam 78,12% do PIB, atualmente (IPECE, 2014), e
agropecuária ocupa 12,66% e a indústria 9,21% (Figura 7).
73
Figura 7: Participação dos Setores da Economia no PIB de Canindé em 2011.
Fonte: IPECE, 2014.
Entre lavouras de cultura temporária, destacam-se culturas de milho e feijão, com
aumento em áreas plantadas, entre os anos de 2003 e 2008/2009 (Tabela 10). A partir do
ano de 2009, houve queda significativa da quantidade de milho e de arroz (Tabela 11).
Ao pelos dados, tem-se declínio da produção agrícola do milho e do feijão (Gráfico 8 e
9).
Tabela 10: Área Plantada de Milho e Feijão em Canindé entre 2003 e 2013.
Cultura Área plantada (Hectares)
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Milho 16.883 19.448 19.253 18.389 27.115 26.275 25.886 18.870 18.120 12.684 6.594
Feijão 13.811 13.707 15.223 14.551 24.691 24.620 24.605 20.750 16.680 11.676 6.071
Fonte: EMATERCE, 2013.
Tabela 11: Quantidade Produzida de Milho e Feijão em Canindé entre 2003 e 2013.
Cultura Quantidade produzida (Toneladas)
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Milho 16.580 8.733 7.124 26.112 9.335 21.376 10.743 3.019 14.978 703 725
Feijão 6.930 3.127 1.644 6.213 3.390 13.126 3.297 2.096 5.951 413 636
Fonte: EMATERCE, 2013.
Agropecuária Indústria Serviços
74
Gráfico 8: Área plantada - Milho e Feijão entre 2003 e 2013.
Fonte: EMATERCE, 2013.
Gráfico 9: Quantidade de Milho e Feijão Produzida em Canindé entre 2003 e 2013.
Fonte: EMATERCE, 2013.
Praticam-se, em menor escala, com fortes flutuações interanuais, culturas de
batata-doce, cana-de-açúcar, fava, mamona, mandioca e tomate (Tabela 12). Em destaque
o desaparecimento de culturas com o tempo, por exemplo algodão herbáceo, plantado
pela última vez em 2004, arroz, até 1998, e sorgo em grão, apenas em 1995 e 1996.
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Área Plantada (Ha)
Milho Feijão
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Quantidade Produzida (t)
Milho Feijão
75
Tabela 12: Culturas Temporárias Município de Canindé entre 2000 e 2013.
Lavoura
Temporária
Área plantada (Hectares)
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Algodão herbáceo - - - 70 400 - - - 28 - - - - -
Batata-doce 8 8 10 15 20 25 28 30 32 50 58 67 80 26
Cana-de-açúcar 21 21 30 40 50 70 100 140 145 150 200 220 227 109
Fava 10 10 15 20 25 15 20 22 24 60 66 69 85 25
Mamona 10 20 50 70 1.500 800 250 714 3.603 2.490 3.200 3.625 2.535 885
Mandioca 30 40 60 30 20 60 100 50 50 50 160 160 320 72
Tomate 50 70 80 90 120 22 30 50 55 74 80 84 100 28
Lavoura
Temporária
Área colhida (Hectares)
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Algodão herbáceo - - - 70 400 - - - 28 - - - - -
Batata-doce 8 8 10 15 20 25 28 30 32 50 58 67 80 26
Cana-de-açúcar 21 21 30 40 50 70 100 140 145 150 200 220 227 109
Fava 10 10 15 20 25 15 20 22 24 60 66 69 85 25
Mamona 10 20 50 70 1.500 800 250 714 3.603 2.490 3.200 3.625 2.535 885
Mandioca 30 40 60 30 20 60 100 50 50 50 160 160 320 61
Tomate 50 70 80 90 120 22 30 50 55 74 80 84 100 28
Lavoura
Temporária
Quantidade produzida (Toneladas)
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Algodão herbáceo - - - 84 600 - - - 7 - - - - -
Batata-doce 37 37 36 57 78 100 118 129 138 216 231 304 368 47
Cana-de-açúcar 420 315 1.080 1.440 2.250 2.940 4.300 6.020 6.235 6.465 7.902 9.764 10.000 3.047
Fava 3 3 5 8 13 9 12 13 14 25 23 45 30 10
Mamona 8 6 40 59 1.200 365 150 94 1.261 600 620 1.160 99 100
Mandioca 184 326 480 240 180 510 900 450 475 264 960 1.595 2.502 299
Tomate 2.250 3.150 3.600 4.050 5.520 836 1.215 2.025 2.228 3.014 2.927 3.614 2.500 433
Lavoura
Temporária
Valor da produção (Mil Reais)
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Algodão herbáceo - - - 84 720 - - - 12 - - - - -
Batata-doce 9 9 11 20 39 52 66 72 77 132 140 188 336 53
Cana-de-açúcar 19 14 54 72 178 353 409 602 624 905 1.106 1.465 1.838 561
Fava 4 4 1 10 15 12 19 17 27 28 68 127 121 138
Mamona 2 2 16 47 888 153 73 64 1.044 592 620 1.276 119 120
Mandioca 11 20 24 24 33 74 117 59 62 58 211 367 814 144
Tomate 540 756 2.383 2.673 4.349 650 907 3.483 1.900 2.384 3.127 3.975 3.103 871
Fonte: EMATERCE, 2013.
Tenha-se que o setor agropecuário representa somente 12,66% do PIB, justamente
pela baixa capacidade de produção, se levar em conta o suporte de irrigação pela escassez
hídrica dos últimos quatro anos.
76
Pecuária
O rebanho bovino, em 2007, era de 33.214 cabeças, total de 47.684 em 1982, com
queda acentuada em 1994, quando o rebanho mundial chegou a apenas 11.767 cabeças
(IBGE, 2009). Os demais rebanhos apresentam variações quanto ao número efetivo de
unidades, por vulneráveis às incertezas climáticas do semiárido.
Os rebanhos se dividem em equinos, asininos, muares, suínos, caprinos e ovinos
(Tabela 13). Assim como na agricultura, a pecuária teve flutuações em efetivos, até
chegar 2010 e 2011, com crescimento razoável, e, a partir de 2012, alguns efetivos, queda
abrupta, pela influência de variações interanuais das chuvas, consideradas fatores
determinantes do comportamento.
Tabela 13: Efetivo dos Rebanhos de Canindé entre os anos de 2000 e 2013.
Efetivo dos Rebanhos (Cabeça)
Tipo de
rebanho 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Bovino 28.308 24.062 27.890 30.539 31.302 31.615 32.563 33.214 33.646 34.150 35.174 36.210 34.399 23.668
Equino 2.613 2.691 2.772 3.021 3.141 3.203 3.283 3.348 3.388 3.421 3.506 3.524 3.242 3.177
Suíno 16.441 17.263 18.719 19.896 20.663 21.076 21.693 22.126 22.392 22.663 23.342 23.850 20.213 17.235
Caprino 11.978 14.014 11.091 13.087 13.872 14.288 14.716 15.010 15.235 15.509 15.896 16.301 13.692 13.418
Ovino 18.647 21.444 17.266 20.546 21.367 21.794 22.447 22.895 23.238 23.633 24.223 24.881 21.397 21.076
Fonte: EMATERCE, 2013.
Observa-se um comportamento similar a todos rebanhos, tendo em vista o número
de seus quantitativos ao longo dos anos de 2000 e 2013, acompanhando a dinâmica da
linha que representa os torais pluviométricos de Canindé no mesmo período (Gráficos 10
e 11) de tal forma que, para os anos mais secos, todos os rebanhos tiveram declínio e para
os anos mais chuvosos, aumentaram, tendo encontrado forragem e água acumulada para
beber.
77
Gráfico 10: Histórico de Precipitação Pluviométrica (média mensal) entre os anos de 2000 e 2013 do
município de Canindé.
Fonte: FUNCEME, 2014.
Gráfico 11: Quantidade de cabeças (Rebanho) para o Município de Canindé entre os anos de 2000 e 2013.
Fonte: EMATERCE, 2013.
Do total de 78.574 cabeças rebanhos, atualmente (IBGE, 2014), o maior
contingente está representado pela criação de gado bovino, com 23.668 cabeças de gado,
seguido pelos ovino, suíno, caprino e equino, respectivamente 21.076, 17.235, 13.418 e
3.177.
Extrativismo
Os principais produtos do extrativismo são, entre 2000 e 2013, umbu, ceras em
geral, carnaúba em pó e tronco, fibras em geral, carvão vegetal e lenha (Tabela 14).
0
50
100
150
200
250
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
Precipitações Pluviométicas (mm/Ano)
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Quantitativo de Rebanhos (Cabeças)
Bovino Equino Suino Caprino Ovino
78
Tabela 14: Quantidade Produzida na extração vegetal entre 2000 e 2013.
Extrativismo Ano
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Alimentícios 1 2 21 23 23 24 25 25 26 26 27 27 26 17
Umbu 1 2 21 23 23 24 25 25 26 26 27 27 26 17
Ceras 10 30 20 130 137 140 147 150 152 157 160 161 169 178
Carnaúba
em pó 10 30 20 130 137 140 147 150 152 157 160 161 169 178
Fibras 133 166 111 715 733 770 808 16 17 17 18 18 19 20
Carnaúba 133 166 111 715 733 770 808 16 17 17 18 18 19 20
Carvão
vegetal 2.336 2.452 2.526 2.652 2.732 2.786 2.870 2.927 2.986 3.016 3.076 3.113 3.362 3.866
Lenha 86.541 90.868 93.594 99.209 101.986 103.515 106.620 108.752 109.839 110.937 113.155 114.400 123.552 140.849
Fonte: EMATERCE, 2013.
A extração de produtos começa recentemente, alimentícios e fruto umbu, em
1999, pó da carnaúba, em 1996, alguns tiveram-na finalizada, há uma década ou mais,
caso da cera de carnaúba, em 1998, tanantes e casca do angico, estes últimos com ciclo
mais curto, início em 1992 e término em 1998. As variações de produção são reflexo de
incertezas climáticas do semiárido.
5.4. Extração de matéria prima
É necessário trazer ao debate questões atinentes às relações de produção e de
organização do espaço agrário,que envolve logicamente o município de Caucaia,
especialmente condições sociais e técnicas da estrutura agrária, que se caracterizam,
normalmente, pela estrutura fundiária concentrada, base técnica rudimentar e oligarquia
agrária conservadora, fatores determinantes de relações sociais de produção e regimes de
exploração da terra predominante.
Cita-se que estrutura fundiária concentrada e áreas produtivas não utilizadas como
indicadores de uso da terra com fins especulativos ou objetivos menos nobres que não
função social da terra.
As Cerâmicas (Figura 8) situam-se predominantemente próximas às áreas de
planície fluvial, notadamente do rio Canindé, riacho das Furnas e riacho Bom Jesus, com
envolvimento de fases de remoção e estocagem da matéria-prima (argila), de fabricação,
secagem e queima (normalmente a lenha), sendo o produto final fabricação de tijolos e
telhas, entre outros itens.
79
Figura 8: Fabrica de cerâmica no município de Canindé (2014). UTM: E=467.483; N=9.520.153.
Com base no processo de produção tradicional de cerâmica, tem-se que a atividade
carece de cuidados ambientais visando minimizar possíveis impactos, por exemplo,
erosão do solo, devido à retirada indiscriminada de argila e de vegetação, usada como
matriz energética, assim como gases poluentes expelidos pelos fornos na atmosfera, que
podem causar doenças respiratórias.
Existem empresas licenciadas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM) para extração de calcário para produção de cimento e cal, por exemplo, Ical
Indústria de Calcinação Ltda, Ariston Araújo Cajaty, Votorantim Cimentos S/A, entre
outras, com exploração de cal e cimento nos serrotes Humaitá e da Pedreira.
Também identificaram-se empresas licenciadas pelo DNPM visando à extração
de areia para a utilização principalmente na construção civil, exploradas areias grossas do
Quaternário, oriundas de canais.
Areias apresentam variadas especificações de uso, por exemplo, como matéria-
prima na indústria de transformação (vidros, abrasivos, cerâmica, química, refratário,
cimento e outros); na indústria da construção civil, agregado miúdo, moldes de fundição;
80
no tratamento de água e esgoto e como portadora de minerais pesados e interesse
econômico, monazita, ilmenita, cassiterita (DNPM, 2012).
Os principais impactos de extração de areia são remoção da cobertura vegetal,
desfiguração da paisagem e alterações da morfologia do terreno, causando desequilíbrio
dos processos de transporte e sedimentação, assoreamento de ecossistemas aquáticos,
poluição e contaminação de aquíferos (DNPM, 2012). Impactos referem-se à emissão de
gases e poeira, geração de ruídos, perturbação das comunidades vizinhas, afugentamento
da fauna e poluição hídrica, pelo derramamento de óleos e graxas.
A extração em leito de rio colabora com o processo de desassoreamento, caso
houvesse planejamento. Não obstante, conforme DNPM (op. cit.), a maioria das áreas
ativas, em operações de lavra, não são planejadas de forma adequada. Assim, as extrações
praticadas, principalmente, em períodos de estiagem, com rios secos ou muito baixos,
provocam alterações morfologia dos canais e topografia do fundo, ocasionando, em
períodos chuvosos, quando o rio busca retornar ao equilíbrio anterior, intensa erosão das
margens e consequente assoreamento.
Mapa 9: empreendimentos licenciados pelo DNPM, com concessão de lavra, até
o mês de janeiro de 2015. Verifica-se a localização territorial, bem como substâncias
exploradas, com destaque para a extração de granito, grafita, areia, argila, fosfato, calcário
e gema.
À luz das considerações, ação fundamental é conhecer a realidade do município,
identificando características ambientais e socioeconômicas, maximizando
potencialidades e minimizando limitações, com ordenamento desenvolvimento
econômico, aliado à equidade social, preservação e conservação do meio ambiente.
82
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE MAPEAMENTOS DE ÁREAS EM
PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO DOS SERTÕES DE CANINDÉ
6.1.Mapeamento realizado pela FUNCEME 1990 e PAE 2010
Este trabalho se baseia na análise do estudo da Fundação Cearense de
Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), em 1990, e pelo trabalho da Secretaria
de Recursos Hídricos do Estado do Ceará (SRH), em 2010.
Objetivo principal do estudo da FUNCEME em 1990: indicar e mapear áreas
susceptíveis a processos de desertificação, tomando-se por base critérios de áreas
semiáridas adotados pela Organização das Nações Unidas (ONU), e ocorrência de
evidências de degradação de fatores físicos e biológicos, detectadas na análise de imagens
orbitais, pelo uso de técnicas de sensoriamento remoto.
Neste estudo, da FUNCEME, utilizaram-se insumos cartográficos:
• Mapa do Estado do Ceará na escala de 1:500.000, elaborado pela SUDEC
em 1988;
• Mapa do Estado do Ceará, escala de 1:800.000, tendo como base mapa
anterior;
• Mapa Exploratório –Reconhecimento de Solos do Estado do Ceará, escala
1:600.000, elaborado pelo Ministério da Agricultura;
• Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo; 1981, folha Jaguaribe SB.24 e
a folha Fortaleza SA. 24 elaborado pelo Ministério das Minas e Energia – Projeto
RADAMBRASIL;
• Imagens analógicas, em papel fotográfico do sensor TM (Thematic
Mapper) do LANDSAT-5, escala 1:250.000, composição colorida nas bandas TM
2, TM 3, TM 4, passagens de julho/agosto de 1984 /85, cobrindo todo o estado;
• Imagens analógicas, em papel fotográfico do sensor TM/LANDSAT-5,
escala 1:250.000, composição colorida nas bandas TM 2, TM 3, TM 4, com
passagens recentes de julho/agosto/setembro de 1990, nas órbitas correspondentes
a toda a cobertura territorial do Estado;
• Imagens digitais do TM/LANDSAT, gravadas em fitas, nas bandas TM 3,
TM 4, TM 5 datadas de julho/outubro de 84/85;
83
• Imagens analógicas pancromáticas do sensor MSS do LANDSAT-1,
escala 1:1.000.000, datadas de 1975 a 1979;
• Produtos fotográficos em dispositivos gerados das imagens digitais,
obtidos através da câmera REMBRANDT, acoplada ao Sistema de Tratamento de
Imagens – SITIM – 150, com análise automática;
• Dados do Balanço Hídrico, segundo Thornthwaite e Mather (1955),
calculados pelo programa de computador para todos os municípios considerados,
por meio de pacote gráfico elaborado por M.A. Varejão –Silva (1990).
Todo o processo metodológico foi descrito em artigo publicado, em 1993, pela
FUNCEME, em edição do Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto.
Tem-se do primeiro estudo que área de 74.651,2 Km², ou seja, 50,4% do estado,
estaria sob regime de semiaridez, conforme critérios adotados na metodologia do
trabalho. Dessa área, 11.459,4 Km², ou seja, 7,7% do território estariam situados na classe
crítica, isto é, entre isolinhas de 0,30 e 0,40.
Elaborou-se mapa resultante do cruzamento de informações orbitais, com de
informações sobre degradação e dados de semiaridez, definindo, assim, as áreas
susceptíveis à desertificação. Dessa forma, três grandes áreas destacaram-se com maior
vulnerabilidade ao fenômeno em estudo.
Diferente do estudo de 1993, com publicações dos processos metodológicos, o
estudo de 2010, em meio impresso e em meio digital, não apresentou de que forma as
áreas foram determinadas. Apenas na representação final, observa-se que as áreas mais
susceptíveis foram identificadas e recortadas conforme critérios físico-ambientais,
socioeconômicos, adotados blocos de municípios como Áreas Susceptíveis a
Desertificação (ASD’s).
Consideraram-se, neste estudo da SRH, apenas três núcleos do Estado do Ceará
(Tabela 15):
Tabela 15: Núcleos Configurados como Áreas Susceptíveis à Desertificação no Estado do Ceará (2010).
ASD Municípios Área Total
Núcleo I – Irauçuba Irauçuba, Santa Quitéria, Miraíma e Canindé. 9.706,42 Km²
Núcleo II - Sertões de Inhamuns Arneiroz, Independência e Tauá. 8.303,46 Km²
84
Núcleo III – Médio Jaguaribe Jaguaretama, Jaguaribara, Jaguaribe, Alto
Santo e Morada Nova. 8.422,77 Km²
Fonte: SRH, 2010.
Dessa forma, a disposição espacial acontece da mesma forma de dois estudos. À
análise do mapa anteriormente, é possível constatar que a área identificada em 1990,
novamente é evidenciada em 2010, em processo de expansão. No caso em especial desta
pesquisa, o trabalho é com o Núcleo I, de Irauçuba. Em destaque, o município de Canindé,
onde existe susceptibilidade à desertificação identificada e graduada como muito grave,
na porção nordeste do município, próximo ao limite com o município de Caridade.
Fato importante, em destaque, é o fato de não haver acontecido trabalho de campo
mais detalhado para o estudo de 2010, impossibilitando o mapeamento de área de
degradação precisa. Em mapas finais do estudo de 2010, fizeram-se colocadas referências
às imagens do satélite CBERS-2 (bandas 2, 3 e 4), datadas dos anos de 2004 a 2008.
Para elaboração deste estudo, selecionou-se área de degradação, entre os
municípios de Caridade e Canindé, cuja maior área encontra-se no território de Canindé,
em justificativa da referência ao título da pesquisa apenas por esse município, pertencente
à Macrorregião do Sertão Central na Área de Susceptibilidade à Desertificação de
Irauçuba. Foi escolhido este recorte, pois a área foi identificada nos dois estudos e por ser
local de pouca exploração acadêmica, nessa linha de pesquisa.
Segundo a FUNCEME (2015), este ano, o Ceará enfrentará o quarto ano
consecutivo de seca. Diante do fato, esta pesquisa tem contribuições visando a novas
técnicas e ferramentas para monitoramento das áreas degradadas identificadas no
território estadual. O uso de ferramentas no processamento de imagens de satélite mostra-
se bastante eficiente e preciso para identificação da cobertura vegetal da área de estudo.
Como isso, espera-se que este trabalho sirva de subsídio a medidas de preservação,
conservação e recuperação de áreas degradadas, assim como, para possível planejamento
ambiental voltado ao município de Canindé, tendo em vista que área de degradação
engloba a sede urbana.
85
7. RESULTADOS
É mencionar que coberturas e uso na terra são frutos de atividades econômicas
que, via de regra, privilegiam a antropização desregular, em detrimento da conservação
ou preservação dos ambientes, principalmente hoje, quando as atividades da indústria e
do turismo são apresentadas, pelo governo, como caminho indutor ao desenvolvimento
socioeconômico do município.
Atualmente, em Canindé, turismo religioso, indústria da cerâmica e seca
influenciam diretamente no aumento das áreas urbanizadas que modificam usos até então
consolidados, provocando uma série de impactos ambientais.
Citam-se, por exemplo, desmatamentos para extração de lenha principalmente da
indústria de cerâmica e retirada de sedimento das áreas de planície fluvial da
comercialização para a construção civil, locais que deveriam ser preservados visando
manter o equilíbrio do ambiente.
Nesse contexto, o mapeamento das unidades de cobertura e uso da terra se
realizam, considerando as modificações pelas atividades socioeconômicas e
diferenciação das tipologias de uso na área.
A diferença entre cobertura e uso da terra corresponde ao fato de que cobertura
avalia os elementos da natureza ou de aparelhos antrópicos que recobrem a superfície
terrestre, considerando camadas superficiais do solo, independentemente da cobertura ser
natural ou antropizada. O uso da terra configura as formas como os elementos ou
coberturas são tratados, atribuídos às atividades humanas, sejam eles industriais, urbanos,
agropecuárias ou florestais (IBGE, 2013).
Classes mapeadas no estudo: Agropecuária, área urbanizada, corpos d’água, solo
exposto, vegetação de caatinga aberta e vegetação de caatinga fechada. As classes se
identificam pelas porções de terra com comportamento espectral correspondente,
validadas pelas atividades de campo.
Agropecuária: Atividade que inclui pecuária e/ou agricultura, com cultivo de
lavouras temporárias e permanentes. A temporária corresponde à cultura de plantas de
curta ou média duração, geralmente com ciclo vegetativo inferior a um ano. A permanente
refere-se à cultura de ciclo longo que permite colheitas sucessivas, sem necessidade de
86
novo plantio a cada ano. Por sua vez, a pecuária relaciona-se à criação do gado (bovino,
suíno, caprino, etc.) aves e abelhas.
Área urbanizada: Compreende áreas de uso intensivo, estruturadas pelas
edificações e sistema viário, em que predominam superfícies artificiais não agrícolas.
Estão incluídas, na categoria, cidades, vilas, povoados, rodovias, serviços e transporte,
energia, comunicação e terrenos associados.
Corpo d’água: Consiste na área delimitada de lagos, lagoas e reservatórios.
Solo exposto: Definido como solo desnudo ou sem cobertura vegetal.
Vegetação de caatinga aberta: Vegetação de caatinga aberta com espécies
distantes entre si, isto é, com clareiras (espaçadas).
Vegetação de caatinga fechada: Consiste na vegetação de caatinga sem áreas
descobertas, ou seja, coberta toda a área de ocorrência de maneira ininterrupta (compacta)
e sem clareiras.
Como produto do mapeamento da cobertura da vegetação e do uso da terra para a
área de estudo, têm-se as seguintes situações. Para classificação da imagem do ano de
2013 (Mapa 10), observa-se área de solo exposto de aproximadamente 14.539 ha. A
classificação da imagem do ano de 2014 (Mapa 11) verifica-se extensão bem maior de
solo exposto, de aproximadamente 81.086 ha.
Pela validação de imagens de satélite e atividades de campo, o comportamento
registrado para atividades agropecuárias do ano de 2014, identificam-se aumento superior
ao ano de 2013. O comportamento não pode ser validado pelas atividades de campo,
devido ao curto prazo das atividades do mestrado. Observam-se claramente pode ser
comprovado o aumento de áreas com solos expostos. As áreas estão associadas a áreas
degradadas, com possibilidade de desertificação (Figuras 9, 10, 11 e 12).
89
Figura 9: Erosão intensificada, principalmente,
pela reduzida cobertura vegetacional–Ponto de
campo P7 (2013). UTM: E=466.603;
N=9.514.192.
Figura 10: Porte da vegetação próximo a vertente
ocidental do Maciço de Baturité –Ponto de campo
P154 (2014) UTM: E=462.112; N=9.519.768.
Figura 11: Porte da vegetação nos esporões da
Serra do Machado, Ponto de campo P149 (2014)
UTM: E=445.483; N=9.525.541.
Figura 12: Vegetação de caatinga arbustiva aberta
e solo exposto. Ponto de campo P10 (2013) UTM:
E=466.603; N=9.505.656.
Fonte: LIMA, J.R (2014).
N o levantamento de unidades de mapeamento da área, na escala 1:50.000,
utilizou-se imagem orbital do satélite Landsat 8, datada de setembro de 2013 e setembro
de 2014.
Tipo e qualidade de informação sobre a cobertura e uso da terra, obtidos de
sensores remotos, dependem de suas características técnicas, notadamente resolução
espacial que corresponde ao tamanho de menos área interpretável, compatível com escala
do mapeamento.
90
Conforme IBGE (op. Cit.), considera-se adequado representar a mínima área
mapeada pelo quadrado de 5 mm x 5 mm. Dessa forma, a relação entre menor área
passível de mapeamento e área real do terreno está vinculada à escala utilizada. Em
mapeamento de 1:250.000, por exemplo, a menor área a ser mapeada equivale a 156 ha,
enquanto, na escala 1:50.000, ter-se-ia aproximadamente área de 2,5 ha.
Nesse sentido, a preocupação, cada vez mais frequente, sobre a forma e tipo de
ocupação do território tem levado governos federais, estaduais e municipais, a se
interessarem pelos estudos a respeito da questão.
É tema da pesquisa a proposta de delimitação de área de
degradação/desertificação, na região de Canindé. Buscou-se identificar áreas que
obtiveram o mesmo comportamento de dois anos analisados. Ou seja, área de 45.049 ha
classificada como área de solo exposto nos anos de 2013 e 2014 (Mapa 12).
Entende-se que pesquisas, análises e interpretações do uso e cobertura da terra e
do ambiente colaboram, de maneira consistente, com o conhecimento aprofundado da
dinâmica da região.
92
CONCLUSÃO
As populações do planeta crescem em ritmo acelerado que as espécies animais e
vegetais, além de os ocupantes fazerem uso de forma predatória e degradante, com base na
organização social de ações imediatistas, sem respeito às relações de equilíbrio que regem o
ambiente, tampouco demandas de sociedades futuras.
Em ambientes áridos, semiáridos e subúmidos secos do planeta, além de mudanças
climáticas com tendência à maior aridez, tendo como consequência recorrência de secas, em
períodos mais longos e com temperaturas mais elevadas, intercaladas pelos chuvas torrenciais
cada vez mais raras e concentradas, habitam grandes contingentes populacionais, em condições
de miséria, produtos de elevada concentração de renda, o que os induz a extrair de escassos e
frágeis recursos naturais o mínimo para sobrevivência. O baixo nível de instrução e necessidade
de trabalho e ajuda no sustento de famílias, fazendo por abandonarem os estudos
prematuramente, contribuem na perpetuação dos métodos e técnicas rudimentares que remetem
ao paleolítico, com desequilíbrio sem precedentes, desencadeando processos erosivos,
inicialmente pontuais que podem tomar dimensões locais e regionais, em caráter irreversível,
que se traduz na degradação de ambientes.
Com o aumento da imprevisibilidade de eventos, o planejamento de atividades
produtivas tornou-se praticamente impossível: investimentos em trabalho, insumos e recursos
financeiros são aplicados, muitas vezes, completamente perdidos, agravando a pobreza,
demanda pela socorro público e pressão sobre os recursos.
Ao longo de séculos, o semiárido de Canindé vem sofrendo efeitos de mudanças naturais
e impactos da ação antrópica predatória, com evidencias de degradação ambiental, nítidas nas
imagens do satélite Landsat utilizadas, com áreas com elevado albedo, denunciando a supressão
ou degradação de áreas vegetais, expondo o solo as ações intempéricas.
Todas as áreas do complexo e frágil meio físico do município apresentam sinais de
desequilíbrio ambiental, descaracterização ou degradação de formações vegetais endêmicas,
substituição pelas espécies invasoras, com queda da biodiversidade; erosão em sulcos e
voçorocas; assoreamento de leitos fluviais; contaminação de lençol freático pelo chorume de
lixões a céu aberto, disseminando doenças pelos vetores, ratos e baratas; poluição das águas dos
rios pelo lançamento de dejetos líquidos e sólidos sem tratamento etc.
93
Surgiram as primeiras “manchas descarnadas”, perceptíveis em imagens orbitais, a
maior área contínua, desde os arredores da Sede, estendendo-se até o município de Caridade,
no pediplano da depressão sertaneja, região onde se destruíram as primeiras sesmarias,
latifúndios, com base econômica, no binômio gado-algodão. A agricultura de sequeiro
provocou o desmatamento das matas ciliares, desprotegendo margens dos rios, assoreados, com
provocação de enchentes devastadoras. No sotavento do Maciço de Baturité, culturas de
subsistência, praticadas pelos jenipapos e kanindés, bananicultura, pecuária intensiva e
desmatamento para extração de madeira nobre vêm tornando-a cada vez mais seca e devastada.
O êxodo em massa da população rural, em direção aos núcleos urbanos, principalmente
à sede de Canindé, nas ultimas décadas, explica o crescimento cidade e a ocupação desordenada
na periferia pela mão de obra desqualificada, que optou pelos serviços (comércio e turismo
religioso), em detrimento das atividades campestres (pecuária e agricultura). Em contrapartida,
o consumo crescente, na Sede e distritos, devido ao crescimento populacional e aos turistas,
com destaque de romeiros, pressiona os recursos naturais, pelo fornecimento de água, energia
(carvão), comida e artigos religiosos e de artesanato.
No campo, identificaram-se pequenas células de desertificação, invisíveis ao sensor
orbital, por questão de escala, coletadas por pontos GPS e imagens fotográficas, o que
demonstra ser a degradação mais extensa do que o sensoriamento remoto, e que a ação humana
é a principal responsável pela degradação ambiental da área.
94
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