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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL EMANOELLE LYRA JARDIM EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PARA QUEM ELA SERVE AFINAL? Uma discussão sobre a RESEX de Tauá-Mirim e projetos de desenvolvimento no povoado de Porto Grande SÃO LUÍS-MA 2010

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO PRÓ-REITORIA … · Em especial ao senhor José Nilton e sua família pelo maravilhoso almoço e pela companhia, obrigada ao João (Tatu) pelos

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

EMANOELLE LYRA JARDIM

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PARA QUEM ELA SERVE AFINAL?

Uma discussão sobre a RESEX de Tauá-Mirim e projetos de

desenvolvimento no povoado de Porto Grande

SÃO LUÍS-MA

2010

EMANOELLE LYRA JARDIM

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PARA QUEM ELA SERVE AFINAL?

Uma discussão sobre a RESEX de Tauá-Mirim e projetos de

desenvolvimento no povoado de Porto Grande

Artigo apresentado para obtenção do título de especialização

no Curso de Educação Ambiental na Universidade Estadual

do Maranhão.

Orientadora: Dra Madian de Jesus Frazão Pereira

Co-orientador: Dr Horácio Antunes de Sant’Ana Júnior

\

SÃO LUÍS-MA

2010

Jardim, Emanoelle Lyra.

Educação ambiental, para quem ela serve afinal? Uma discussão

sobre a Reserva de Tauá-Mirim e projetos de desenvolvimento no

povoado de Porto Grande / Emanoelle Lyra Jardim. – São Luís,

2010.

29 f

Artigo científico (Especialização) – Curso de Educação ambiental,

Universidade Estadual do Maranhão, 2010.

Orientador: Prof. Madian de Jesus Pereira Frazão

1.Educação ambiental. 2.Reserva de Tauá-Mirim. 3.Projetos de

desenvolvimento. 4.Porto Grande. I.Título

CDU: 504:37

EMANOELLE LYRA JARDIM

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PARA QUEM ELA SERVE AFINAL?

Uma discussão sobre a RESEX de Tauá-Mirim e projetos de

desenvolvimento no povoado de Porto Grande

Artigo apresentado para obtenção do título de especialização

no Curso de Educação Ambiental na Universidade Estadual

do Maranhão.

Aprovada em: ___/___/____

Banca Examinadora

__________________________________________

Profa. Madian de Jesus Frazão Pereira

Doutora em Sociologia

Universidade Federal da Paraíba

___________________________________________

Lígia Tchaicka

Doutora em Genética e Biologia Molecular

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

____________________________________________

Itaan de Jesus Pastor Santos

Mestre em Agroecologia

Universidade Estadual do Maranhão

Dedico este trabalho aos moradores de Porto Grande.

.

AGRADECIMENTOS

À Deus, amor eterno e verdadeiro;

À minha família, agradeço por todos existirem em minha vida: Esther, Eudes, Eudinho,

Domingas, José Carlos, Valéria, José Carlos Júnior, Ana Lúcia, Vinícius, Carlos Victor,

Elisângela, Davi, Márcia, Vivian, Manoel, Rafael (tá quase nascendo), Socorro,

Nayllana e Tereza.

Ao professor Horácio Antunes, pessoa que a cada dia me entusiasma pela dedicação ao

seu trabalho, pela simplicidade e carisma que contagia a todos. Agradeço imensamente

pela orientação e confiança. Como eu gosto de você!!!

À professora Madian, pelo apoio e orientação em momento extremamente importante.

Obrigada de coração!!!

Ao GEDMMA (Grupo de Estudos, Modernidade e Meio Ambiente) pelo enorme

aprendizado e pelos materiais que me auxiliaram bastante na realização deste trabalho.

A professora Zulene Muniz, a grande Zu, que me acompanha desde de 2004 tanto na

vida acadêmica como na vida pessoal. Agradeço pela amizade, pela alegria, pela

compreensão e por se importar tanto comigo. Você é indiscutivelmente minha segunda

mãe.

Aos meus amigos irmãos: Desni Lopes e Uslan Júnior. Não existem palavras para

descrever a dimensão de nossa relação. Ela é mais que especial, mais que extraordinária,

ela simplesmente é a AMIZADE no formato mais singelo do Coríntios 13 contido na

Bíblia.

Às minhas amigas Deranilde Santana, Vivian Cristina, Edijanne Mendes, Andréa

Serrão, Márcia Kallinka, Rosário Pereira, Dora Fonseca, Antonio, Sabrina, Soraia

Lobos, Mayara, Girlene, Danuza, Jacira, Gabriella, Vanessa, Nítia, Danielle, Liana e

Danielle Fonseca. Eu amo vocês demasiadamente apesar da correria do dia à dia

impedir por vezes nossos encontros.

Aos meus amigos licenciados em Biologia espalhados por este mundão: Allyson,

Francisco, Cristiano, Dayse Pestana, Poliana, Gildeny, Rodrigo, Mona Meire, Karen,

Itatiane, Sérgio, Ellen, Luziene, Adriana, Hugo,Fábio, Francinara, Selma Patrícia,

Francisca Frazão, Carlos Erick, Edyane, Nádia, Leonardo, Giselle Morais, Geylene,

Nirany, Adriana Cavalcante, Elisabeth...e aos graduandos mais chegados: Jhonny,

Nedma, Alex, Antonio Carlos, Vavá, Luciana Patrícia...será que esqueci o nome de

alguém???

Ao Artêmio, amigo que amo demais por toda vida. Amizade esborniástica!!!!!

Ao Gabriel Xavier, pela amizade e compreensão. Eu adoro você!!!

Às minhas amigas de trabalho ou simplesmente as meninas do LABEX (Laboratório de

Extensão Rural): Nadiane, Maria e Lívia. A correria do dia a dia, nosso

compartilhamento de almoços, de viagens, de alegrias, de “babados”, de revoltas e

expectativas me fazem dizer que vocês são bem importantes para mim e quando esta

fase acabar vou sentir um bocado de falta de vocês. Claro que não poderia deixar de

citar o Assistente Técnico do Labex: O Rafael!!! Cara, você é demais!!!!

Aos professores: Romel Pinheiro, Luíz Carlos Rêgo de Oliveira, Itaan Souza, Lígia

Tchaicka, Ana Rosa e Claúdio Castro. Se deixasse de citar o nome de vocês estaria

sendo injusta. A profissional que sou se deve ao misto de cada um de vocês. Obrigada,

obrigada e obrigada pelas oportunidades.

À professora Raimunda Fortes: pessoa magnânima. Quando falo dessa educadora não

consigo conter minha emoção.

À professora Vanilda Abreu. Como à senhora está fazendo falta em minha vida, espero

revê-la logo, a saudade já não quer mais esperar.

À Ivany, Dona Fátima (in memorian), Laurinete, Carlos e Juju. Vocês me viram

“crescer” na UEMA. Grata eternamente!!!

Ao professor Jackson Ronié, agradeço pelos ensinamentos e dedicação destinados a

nossa turma da especialização durante as três disciplinas que foram ministradas com

muita competência.

Ao Acrísio Motta, educador que me incentiva me apossar da teoria para assim a práxis

ser bem fundamentada e menos contraditória;

Ao professor José Joaquim Teixeira Lopes, o Juca, expressão real de luta. Você é uma

das pessoas mais lindas e transparentes que eu conheço. Você é uma grandiosa pessoa;

Professoras a graduação que não consigo esquecer: Vera Maciel, Débora Martins,

Ivanilde e Eliane. Grata pelos ensinamentos e pelo sorriso de cada uma de vocês me

impulsionando a permanecer na caminhada.

Pessoas especiais da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis: Maura Cléia,

Marly, Grete Pllugger, Jane, Lurdinha, Luzinele e Claudinei.

Ao meu amigo Raimundo Reis. Pessoa que me aborrece e muito. A façanha deste ser é:

ele consegue me mostrar a outra face da moeda. Obrigada por me fazer enxergar e a

repensar minha própria caminhada. Minha vida sem você seria sem graça. Ou não

(rsrssrsrsrsrsr). Que nada seu besta, eu te adoro pra toda vida!!!

A querida e doce Zelinda, pelo pouco tempo que estamos juntas agradeço por todas as

quintas-feiras ver aqueles olhos “azuzinhos” sempre cheio de carinho e atenção que me

tranqüilizam tanto. Agradeço pela oportunidade profissional e pela amizade. Também

não poderia deixar de citar a Giovanna, minha amiga de profissão lá no Paralelo. Que

coisa boa ter te conhecido. Adoro tua alegria Gio!!!

Aos meus colegas da especialização em Educação Ambiental e professores que

ministraram disciplinas no curso, pelas discussões travadas no cenário acadêmico,

aprendi bastante com as diversificadas experiências de cada um de vocês.

Aos moradores da região de Porto Grande, pela hospitalidade, pela paciência destinadas

a mim nas entrevistas longas de mais de 2 horas que acabavam se tornando uma grande

satisfação para mim. Em especial ao senhor José Nilton e sua família pelo maravilhoso

almoço e pela companhia, obrigada ao João (Tatu) pelos materiais que o senhor me

emprestou que realmente valem ouro, ao Júlio César pelas majestosas palavras e toda

alegria de toda sua família e não poderia deixar de citar Dona Davina , que muito bem

me acolheu em sua casa. Obrigada, vocês estarão eternizados na minha história de vida.

Agradeço também ao Beto do TAIM, pela hospitalidade, pelas informações, pelo

exemplo de compromisso real e pela militância séria.

A Universidade Estadual do Maranhão, ou simplesmente, UEMA. Seria estranho minha

existência se eu não tivesse vivido ali.

“Glorioso Senhor Pedro, patriarca do mar. Que leva a barca

ao vento, sem temer e vacilar.”

RESUMO

O artigo tem como objetivo estudar os grandes projetos de desenvolvimento oriundos

dos desdobramentos do modelo de desenvolvimento decorrentes das investidas

modernizadoras e suas conseqüências sócio-ambientais no povoado de Porto Grande,

situado na região rural da Ilha do Maranhão. O processo de criação da Reserva

Extrativista de Tauá-Mirim é uma estratégia de defesa territorial e resistência a projetos

desenvolvimentistas. O Plano de Manejo da referida reserva extrativista deverá envolver

os povoados situados na RESEX, as universidades, os órgãos ambientais e o poder

público. A educação ambiental que se anseia é aquela que se encontra pautada na

resistência ao bombardeio conservador de uma realidade alienante aos “progressos”.

Palavras-chaves: Educação ambiental. Reserva de Tauá-Mirim. Projetos de

desenvolvimento. Porto Grande

ABSTRACT

The article has how I aim to study the great projects of development originating from

the ramifications of the model of development resulting from the attacks

modernizadoras and his consequences environmental-partner in the village of Big

Oporto, situated in the rural region of the Island of the Maranhão. The process of

creation of the Reserve Extrativista de Tauá-Mirim is a strategy of territorial defense

and resistance to projects desenvolvimentistas. The Plan of Handling of the above-

mentioned reserve extrativista will have to wrap the villages situated in the RESEX, the

universities, the environmental organs and the public power. The environmental

education what one yearns is that what is ruled in the resistance to the conservative

bombing of a reality alienante to the "progresses".

Words-keys: Environmental education. Reserve of Tauá-Mirim. Projects of

development. Big Oporto

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Foto I- Mineração Porto Grande..........................................................................................

Foto II. Entrada do Porto.....................................................................................................

Figura III. Novo acesso ao Porto.........................................................................................

Foto IV: Procissão após a missa..........................................................................................

Figura V. Dia de São Pedro no povoado de Porto Grande..................................................

LISTA DE SIGLAS

CLA- Centro de Lançamento de Alcântara

CVRD- Companhia Vale do Rio Doce

EMAP-Empresa Maranhense portuária

GEDMMA- Grupo de Estudos Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente

IBAMA- Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

RESEX- Reserva Extrativista

SNUC- Sistema Nacional de Unidades de Conservação

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................

2. A TRAMA DOS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO NA ILHA DO

MARANHÃO.........................................................................................................

3. RESEX DE TAUÁ-MIRIM: POSSIBILIDADES DE MANUTENÇÃO DE

UM TERRITÓRIO..............................................................................................

4. PORTO GRANDE E OS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS....................

5. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTUMENTO DE

ADESTRAMENTO OU ENFRENTAMENTO?................................................

REFERÊNCIAS...................................................................................................

1- INTRODUÇÃO

Com este artigo, buscamos divulgar através de uma conclusão de Especialização

em Educação Ambiental, a pesquisa “Educação Ambiental, para quem ela serve afinal?

Uma discussão sobre a RESEX de Tauá-Mirim e projetos de desenvolvimento no

povoado de Porto Grande”, articulada à pesquisa Projetos de Desenvolvimento e

Conflitos Socioambientais no Maranhão, realizada pelo Grupo de Estudos:

Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA).

A minha inserção no GEDMMA, encorajou-me na busca pela compreensão do

modelo de desenvolvimento decorrente das investidas modernizadoras e suas

conseqüências sócio-ambientais no povoado de Porto Grande, situado na região rural da

Ilha do Maranhão bem como a discussão de qual educação ambiental é de fato

necessária para a reconfiguração do cenário de prejuízos incontáveis presenciados

nestes últimos anos.

A coleta das informações que embasam este artigo foi realizada na pesquisa de

campo em vários momentos e a utilização de várias técnicas tais como: levantamento

bibliográfico, entrevistas informais gravadas com consentimento para posterior

conferência com alguns moradores do povoado de Porto Grande, participação em

eventos da comunidade, observação participante que para Minayo (2007, p.70) é “um

processo pelo qual um pesquisador se coloca como observador de uma situação social,

com a finalidade de realizar uma investigação científica.” Atrelado a observação

participante o fato de eu estar fotografando nas várias idas a campo me possibilitou o

conhecimento das pessoas. Esta técnica é similar à utilizada no trabalho de Silva (2009,

p.26) que relata no seu trabalho de campo que

A fotografia possibilitou o contato com algumas famílias do

Taim, assim como se tornou uma desculpa para eu estar em

determinados espaços da família e do grupo, de festinhas na

escola até projetos de capacitação comunitários. Nestas ocasiões,

conheci pessoas que posteriormente se tornaram meus

interlocutores. A minha aproximação com membros do grupo que

não fossem representantes comunitários, uma vez que com essas

pessoas eu já havia estabelecido contato e precisava ouvir outras

vozes, deu-se a partir das mulheres que, nas ocasiões citadas,

pediam para eu fotografar seus filhos. Assim, pude adentrar em

alguns ambientes familiares sem causar tanto estranhamento e estabelecer uma relação que, no mínimo, resultou em empatia.

O presente artigo é composto pelos respectivos tópicos:

1- A trama dos projetos de desenvolvimento na ilha do Maranhão

Neste tópico realizo um resgate da inserção de projetos de desenvolvimento no

Brasil e no Maranhão e discuto os impactos sociais e ambientais gerados.

2- Resex de Tauá-Mirim: possibilidades de manutenção de um território

Discuto a motivação da iniciativa para criação da reserva extrativista que

perpassa o conflito em torno dos empreendimentos instalados na área.

3- Porto Grande e os problemas socioambientais:

Enfoco a pesquisa de campo realizada no povoado de Porto Grande e os

principais problemas socioambientais oriundos da Mineração Porto Grande

localizada na região e a polêmica de acesso ao porto que hoje é de

responsabilidade da estatal estadual Empresa Maranhense Portuária-EMAP.

4- A educação ambiental como instrumento de adestramento ou enfrentamento?

Neste capítulo discorro sobre a importância da educação ambiental focada na

ruptura da legitimação de empreendimentos desenvolvimentistas que degradam

os ambientes.

1- A trama dos projetos de desenvolvimento na Ilha do Maranhão

No Brasil, na década de 1950, a subordinação à lógica do capital internacional a

partir da implantação da industrialização determinou o processo de inserção às

dinâmicas do imperialismo americano e a dependência da economia brasileira ao

majoritário projeto de “prosperidade econômica” internacional.

A retomada acelerada de grandes projetos de desenvolvimento oriundos dos

desdobramentos do modelo de desenvolvimento decorrentes dos investimentos

modernizadores dos governos ditatoriais instalados após 1964 contaram com a

participação da iniciativa privada brasileira e internacional. O modelo previa a

industrialização, a modernização do país e a integração da Amazônia à dinâmica

econômica nacional e internacional. (BUNKER, 1988; SANT’ANNA JÚNIOR, 2004;

SANT’ANNA JÚNIOR et al, 2010).

No Maranhão, com as iniciativas desenvolvimentistas levou desde

do final da década de 1970 a implantação de extensa rede de estradas de rodagem cortando todo o território estadual e ligando-

o ao restante do país; a Estrada de Ferro Carajás, ligando as

grandes minas do sudeste do Pará ao litoral maranhense (

administrada pela Companhia do Vale do Rio Doce); o Complexo

Portuário de São Luis, formado pelos Portos do Itaqui, Grande (

estes dois administrados pela estatal estadual Empresa

Maranhense de Administração Portuária-EMAP, da Ponta da

Madeira (pertencente à Vale) e da Alumar (pertencente ao

Consórcio Alumínio do Maranhão, subsidiária da multinacional

do alumínio Alcoa); a hidrelétrica do Estreito e a Termelétrica do

Porto do Itaqui (estes últimos em fase de construção). Paralelo e

associadamente a estas grandes obras de infra-estrutura, foram

instalados neste período: oito usinas de processamento de ferro gusa nas margens da Estrada de Ferro Carajás; uma grande

indústria de alumina e alumínio (Alumar) e bases para estocagem

processamento industrial de minério de ferro ( Vale) na Ilha do

Maranhão; um centro de lançamento de artefatos espaciais

(Centro de Lançamento de Alcântara-CLA), em Alcântara;

projetos de monocultura agrícola (soja, sorgo,milho) no sul e

sudeste do estado; projetos de criação de búfalos, na Baixada

Maranhense; ampliação da pecuária bovina extensiva, em todo o

Maranhão; projetos de carcinicultura, no litoral. ( SANT’ANNA

et al, 2009, p.3-4)

De acordo com Sant’ana Júnior et al (2010, p.30)

Em 2001, o governo do Estado do Maranhão assinou um

protocolo de intenções com a Vale com vistas à construção do

Pólo Siderúrgico. No projeto original do pólo, a área destinada às

instalações físicas das usinas seria de 2.471,71 hectares,

localizados entre o Porto do Itaqui e o Rio dos Cachorros, na

região administrativa municipal do Itaqui/Bacanga.

Em 2004, esta área foi declarada como de utilidade pública para fins de

desapropriação pelo governo do Estado do Maranhão (Decretos n° 20.727-DO, de

30/08/2004, e n/ 20.781-DO, de 29/09/2004). Por se tratar de uma área localizada na

Zona Rural, o que poderia barrar a retirada compulsória de 14.400 pessoas distribuídas

em doze povoados (Vila Maranhão, Taim, Cajueiro, Rio dos Cachorros, Porto Grande,

Limoeiro, São Benedito, Vila Conceição, Anandiba, Parnuaçu, Camboa dos Frades e

Vila Madureira) seria a Lei de Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo do

Município de São Luís. Segundo esta lei, empreendimentos industriais somente podem

ser instalados em Zona Industrial. Porém, a Prefeitura de São Luís encaminhou à

Câmara Municipal um projeto de alteração da lei que modificaria a área em Zona

Industrial (SANT’ANA JÚNIOR et al, 2010).

Além disso, o deslocamento previsto dos moradores desta localidade foi

orquestrado pelo Governo do Estado e a Companhia Vale do Rio Doce com a

contratação da empresa paulista Diagonal Urbana Consultoria LTDA para realização do

Diagnóstico Sócio-Organizativo da área.

Visando viabilizar o deslocamento daqueles que atualmente

ocupam a área destinada ao pólo, o Governo do Estado e a

Companhia Vale do Rio Doce contrataram a empresa paulista

Diagonal Urbana Consultoria LTDA para fazer o Diagnóstico

Sócio-Organizativo da área (MENDONÇA, 2006) A Diagonal

entrou em contato direto com os moradores, levantou dados e

chegou a marcar com tinta preta e numeração as casas das

famílias que deveriam ser deslocadas (com exceção de parte das

casas de Rio dos Cachorros e do povoado do Taim, onde os

moradores resistiram e impediram esta marcação). Paralelamente,

a Companhia Vale do Rio Doce instalou uma draga na praia

próxima ao Povoado do Cajueiro, que retira areia do local e visa aumentar a profundidade das águas. Esta draga tem trazido

problemas e prejuízos para os pescadores do povoado, que

afirmam ter diminuído os estoques de peixe e crustáceos, e

aumentando a sensação de insegurança com relação às

possibilidades de permanência no local. (SANT’ANA JÚNIOR &

MENDONÇA, 2006 apud SANT’ANA JÚNIOR et al, 2010, p-33

Os ditos projetos de desenvolvimentos situados na região colocam em risco

iminente a biodiversidade além de provocar graves alterações no modo de vida das

comunidades locais. Exemplo disso é a ALUMAR (Consórcio de Alumínio do

Maranhão), instalada na década de 1980, que utiliza o porto localizado na confluência

do Estreito dos Coqueiros com o Rio dos Cachorros.

O Porto da Alumar tem capacidade para atracação de navios de

até 50 mil toneladas. É responsável pelo desembarque das

matérias-primas e insumos para a produção como, por exemplo,

bauxita, coque, piche, carvão e soda caústica e, também, pelo

escoamento de sua produção. Os impactos ambientais causados

pelo tráfego intenso de navios de grande calado, pelos processos

de dragagem do canal (que são necessários para manter a

profundidade) e da possível descarga de dejetos e água de lastro,

podem estar ocasionando a diminuição do pescado na região, com o desaparecimento de algumas espécies de peixes que

freqüentavam o estuário, configurando-se como primeiro sintoma

do desequilíbrio ambiental observado nos relatos dos moradores

(DAMASCENO & BARBOSA, 2010, p-142).

Não se vê notícias na mídia maranhense de que estes empreendimentos

diminuam a produtividade pesqueira da região. Substâncias nocivas são desembarcadas

nos portos, a exemplo do coque (combustível derivado do carvão betuminoso), o carvão

e a soda cáustica e as constantes dragagens efetuadas, necessárias para manter a

profundidade do canal, considerando-se o grande calado dos navios, fatores esses que

causam o rebaixamento e/ou a extinção de inúmeras espécies marítimas (CARVALHO,

2010).

Difunde-se a ilusória ideologia de que estes empreendimentos são benéficos para

a economia do Estado e escamoteiam as pessoas que estão inseridas nas respectivas

localidades que sofrem impactos extremamente penosos.

A trama destes projetos se deve aos enormes impactos sociais e ambientais

advindos de projetos desenvolvimentistas que visam tão somente à geração de lucros

não levando em conta a presença de pessoas, de comunidades denominadas tradicionais,

que utilizam o referido território com vistas à reprodução social e cultural, além do forte

impacto ambiental com alterações climáticas e da ameaça aos manguezais situados na

região. A área destinada para criação da Reserva Extrativista de Tauá-Mirim reside uma

população que possui um modo de vida característico.

A criação da RESEX seria vantajosa porque a população se transformaria, oficialmente, em guardiã da floresta ajudando na

conservação daquele ambiente. Por outro lado, a população se

beneficiaria do direito de uso da terra, regulado pelo plano de

manejo, diminuindo a possibilidade de êxodo rural, e conseqüente

marginalização da população, ou exaustão dos recursos naturais,

dos quais a população extrativista sobrevive (DAMASCENO &

BARBOZA, p, 126-127).

2- RESEX de Tauá-Mirim: possibilidades de manutenção de um território

No Brasil, o Sistema Nacional de Conservação (SNUC) define na Lei n° 9985, de

18 de julho de 2000, no capítulo III do artigo 18°

A Reserva Extrativista é uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, completamente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade (BRASIL, 2004, p-19-20).

As reservas extrativistas, segundo a legislação ambiental brasileira, são modalidades

de unidades de conservação pertencentes à categoria de unidades de uso sustentável.

São áreas destinadas à exploração sustentável realizada por populações tradicionais que

dependem do extrativismo e/ou agricultura de subsistência com fins de uso sustentável

dos recursos naturais, além da manutenção do modo de vida dessas populações.

A região na qual se pretende implantar a Reserva Extrativista de Tauá-Mirim está

localizada em uma área no sudoeste do município de São Luís e da Ilha do Maranhão,

região voltada para a Baía de São Marcos, integrante do Golfão Maranhense. Esta área,

conforme “Laudo Sócio-Econômico e Biológico para criação da Reserva Extrativista”

elaborado pelo IBAMA/CNPT-MA (2006), é considerada prioritária para conservação

da biodiversidade de espécies marinhas, como o peixe boi (Trichechus manatus), o

guaiamu (Cardizoma guanhumi), o cação-bicuda (Zyphius cavirostris), o mero

(Epinephelus itajara), espécies ameaçadas de extinção (MIRANDA, 2010).

A proposta encaminhada da Reserva Extrativista de Tauá-Mirim gira em torno

de uma área de 16.663,55 hectares com perímetro aproximado de 71,21 km abrange os

respectivos povoados: Cajueiro, Limoeiro, Taim, Rio dos Cachorros, Porto Grande,

Portinho, Embaubal, Jacamin, Amapá e Tauá-Mirim (DAMASCENO & BARBOZA,

2010).

Na disputa pelo controle do território, as lideranças dos povoados do Taim e de

Rio dos Cachorros solicitaram ao CNPT/IBAMA o andamento do pedido de

constituição da Reserva Extrativista que foi demandado no ano de 2003. O desejo de

regularizar o uso e controle do território ancestralmente ocupado e de manutenção das

possibilidades de reprodução do grupo é anterior à discussão da instalação do pólo

siderúrgico. (SANT’ANA JÚNIOR et al., 2010).

Conforme Diegues (1994), a questão fundiária sempre foi um ponto conflitante,

principalmente para a população que vive na área sob sistema de posse, pois nem

mesmo o Plano Nacional de Reforma Agrária nem os procedimentos estaduais de

regularização fundiária na região conseguiram equacionar seu ordenamento territorial,

projetando para o futuro problemas cada vez mais difíceis de serem solucionados tais

como as constantes ameaças advindas de instalações de empreendimentos na área.

3- Porto Grande e os problemas socioambientais

Com a observação in loco durante a pesquisa realizada no período de maio a junho

de 2010, deparei-me com a Mineração Porto Grande que coloca em risco o acesso ao

povoado do Taim. Pude em informação concedida pelo morador Júlio César*, constatar

que:

A Mineração Porto Grande já criou uma grande cratera que já está

se aproximando da estrada principal de Porto Grande e da entrada

principal do Taim sendo que a estrada do Taim já está mais

comprometida. Se o período de chuva fosse igual o período de

chuva do ano passado automaticamente aquela estrada não

existiria mais (Júlio César, entrevista realizada em 19/06/2010 por

Emanoelle Lyra Jardim, integrante do GEDMMA-Grupo de Estudos Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente).

*Júlio César é morador da região de Porto Grande, tem 24 anos, possui formação em Letras Licenciatura e acompanha o processo de implantação da Reserva Extrativista de Tauá-Mirim

Foto I. Mineração Porto Grande

(Fonte: Emanoelle Lyra Jardim, 2010)

Além deste prejuízo verifica-se também a configuração de outros problemas

para o povoado.

A roça que meu pai trabalha tem próxima uma jazida de extração

de areia. Tava tendo areia, barro da jazida já na estrada e a na roça

que meu pai trabalha. Com isso você vê a forma de degradação do

meio ambiente que a gente tá vendo na nossa região. (Júlio César,

entrevista realizada em 19/06/2010 por Emanoelle Lyra Jardim,

integrante do GEDMMA-Grupo de Estudos Desenvolvimento,

Modernidade e Meio Ambiente).

Outro ponto que chamou bastante atenção no povoado foi o impedimento de

acesso ao porto que é gerenciado hoje pela Empresa Maranhense Portuária. O acesso é

restrito e fui aconselhada para a realização de encaminhamento de um ofício para

permissão de minha entrada. Já tinha informações anteriores de que este acesso foi

retirado dos moradores pela vinda da empresa. As conseqüências deste ato são

extremamente danosas porque foi dito por alguns moradores de maneira informal que

este porto foi criado pela comunidade. Na entrevista pude sentir a angústia expressa

pelo morador de algo retirado.

A EMAP tomou de conta do porto da comunidade alegando que

toda zona portuária é do estado. Um porto comunitário feito pela

própria comunidade, feito por pessoas da comunidade para o seu

sustento e que foi tomado (Júlio César, entrevista realizada em

19/06/2010 por Emanoelle Lyra Jardim, integrante do

GEDMMA-Grupo de Estudos Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente).

Foto II. Entrada do Porto

(Fonte: Emanoelle Lyra Jardim, 2010)

Outro morador chamado José Nilton** me explicou que várias famílias

receberam propostas de indenizações de seus terrenos. Fotografei o local das antigas

casas que foram indenizadas e acompanhei o relato do mesmo morador que expressou

que boa parte destes moradores voltaram para a região de Porto Grande. Confessou-me

que é extremamente difícil confiar nos que venderam seus terrenos pelo fato dos

mesmos receberem novamente propostas de indenização e assim os empreendimentos

ganharem espaço cada vez mais e ameaçarem os modos de vida particulares das

populações tradicionais além de colocar em xeque a destruição dos manguezais e

mananciais presentes na região.

A quantidade de peixes diminuiu consideravelmente por causa do

aprofundamento do canal, teve o aprofundamento do canal da

Alumar e começou a matar os peixes, os peixes começaram a

sumir, teve uma época que, para pescar tava complicado, não

pegava quase nada. (Júlio César, 19/06/2010).

1

**José Nilton é morador da região de Porto Grande, tem 51 anos, é presidente da Associação de

Moradores de Porto Grande

Figura III. Novo acesso ao Porto

(Fonte: Emanoelle Lyra Jardim, 2010)

Pude observar em um festejo realizado na comunidade em comemoração ao dia

29 de junho, dia de São Pedro, que os moradores possuem a tradição de realizarem a

missa na igreja Católica localizada na região e, logo após a procissão, levam a estátua

do santo até o porto. O ritual da missa foi conduzido pelos moradores do povoado de

Porto Grande. A maioria das pessoas que estavam na missa eram mulheres e crianças. A

equipe do GEDMMA acompanhou a missa e a condução da estátua do santo da igreja

até o porto.

Foto IV: Procissão após a missa

(Fonte: Emanoelle Lyra Jardim, 2010)

Havia dois barcos para levar aos que estivessem interessados em participar do

ritual. Na trajetória os moradores cantavam diversas músicas as que se destacaram

foram: “ Senhor São Pedro é protetor. Tu és a glória do redentor”; “ Glorioso Senhor

São Pedro. Patriarca do mar. Que leva a barca ao vento. Sem temer e vacilar.”

Figura V. Dia de São Pedro no povoado de Porto Grande

(Fonte: Emanoelle Lyra Jardim, 2010)

Em todo itinerário pude perceber a importância que este ritual tem para os

moradores de Porto Grande. Observa-se que o modo de vida deste povoado encontra-se

ameaçado, pois, de acordo com Jardim (2009, p.48) “a dificuldade de sair do local não

está atrelada a perder a uma propriedade que lhe pertence, mas sim o indivíduo perder

sua identidade por se considerar pertencente ao local.”

4- A educação ambiental como instrumento de adestramento ou

enfrentamento?

Adestramento ou enfrentamento? Essa foi minha principal inquietação durante todo

meu período de estudos na especialização em educação ambiental. Busquei uma

discussão que me levasse a refletir uma possibilidade de ir para além da educação que

apenas legitima o que está posto, que está sintonizada apenas na permanência do status

quo, que não problematiza, que não interroga e que não pensa na ruptura das

contradições.

Ao tratar da educação ambiental, Reigota (2004, p.10-11) afirma que:

Parto do princípio de que a educação ambiental é uma proposta que altera profundamente a educação como a conhecemos, não sendo necessariamente uma prática pedagógica voltada para a transmissão de

conhecimentos sobre ecologia. Trata-se de uma educação que visa não só a utilização racional dos recursos naturais, mas basicamente a participação dos cidadãos nas discussões e decisão sobre a questão ambiental.

A região de Porto Grande como já foi exposto até aqui é marcada pelas

incertezas, pela degradação ambiental e social, pela marginalização dos direitos, enfim,

esmaga sob o falso discurso de desenvolvimento.

A região acima faz parte da proposta de criação da Reserva Extrativista de Tauá-

Mirim, um debate que envolve interesses distintos: conservação da biodiversidade, uso

indevido dos territórios sociais, ambientais e culturais de povos tradicionais por parte de

interesses de desapropriação para instalação de projetos industriais de grande impacto

socioambiental.

Dentre as etapas necessárias para a implantação da RESEX, já

foram cumpridas: a solicitação formal dos moradores da área; a

realização de vistoria técnica pelo CNPT/IBAMA para realização

do levantamento sobre a potencialidade dos recursos; a elaboração

de laudos socioeconômicos e biológicos; e a realização de

consulta pública aos moradores da área para a implantação da

reserva. Atualmente, o processo foi concluído, aguardando sanção

presidencial( DAMASCENO & BARBOSA, 2010 p-132).

A existência desta proposta impulsiona “questionar este desenvolvimento,

pensar e pôr em ação idéias e propostas que possam promover um outro

desenvolvimento, o qual não ponha em risco o planeta e seus habitantes” Leroy ( 2010,

p-25).

No Brasil, o Sistema Nacional de Conservação (SNUC) define na Lei n° 9985, de

18 de julho de 2000, no capítulo IV do artigo 14° estabelece sobre o Plano de Manejo:

Os órgãos executores do Sistema Nacional de Unidades de

Conservação da Natureza-SNUC, em suas respectivas esferas de

situação, devem estabelecer, no prazo de cento e oitenta dias, a

partir da publicação deste Decreto, roteiro metodológico básico

para a elaboração dos Planos de Manejo das diferentes categorias

de unidades de conservação, uniformizando conceitos e

metodologias, fixando diretrizes para o diagnóstico da unidade,

zoneamento, programas de manejo, prazos de avaliação e de

revisão e fases de implementação (BRASIL, 2004, p-41).

A construção do Plano de Manejo da RESEX de Tauá-Mirim deverá envolver os

povoados situados na RESEX, as universidades, os órgãos ambientais e o poder público.

A universidade necessita trazer a responsabilidade de realizar a extensão na

perspectiva pautada na realidade e que expresse desejos de mudança encerrando em si

uma explícita intencionalidade imediata de conexão entre o ensino e a pesquisa. A

extensão deve ser um fazer acadêmico respaldado de lutas, importante tanto para a

formação acadêmica e profissional bem como a aproximação da universidade com

outros segmentos da sociedade para o estabelecimento de diálogos capazes de

proporcionar transformações política e social.

A educação ambiental que se anseia não é a que está dentro dos muros da

universidade, solitária, mas uma educação ambiental vinculada ao drama em que vivem

a humanidade e o planeta. Uma educação pautada na resistência ao bombardeio

conservador de uma realidade alienante aos “progressos”. Esta que se aprisiona ao atual

modelo de produção e consumo que favorece a catástrofe ecológica e norteia a

“invasão” de espaços tradicionalmente ocupados.

A educação ambiental que se deseja é o conhecimento e saberes tradicionais,

transmitidos oralmente pelos moradores que lutam pela permanência em um território.

Olha, a gente aprendeu, isso foi uma lição pra nós. Assim, a princípio, a gente só sabia dizer: “-daqui não saio daqui ninguém me tira”, porque ninguém queria sair daqui por entender que aqui é nosso lugar. Isso é uma questão. Aí, depois a gente começou a aprender com processos, começou a perceber, isso foi como se fosse uma chamada de consciência. Vai ver, nós chegamos à conclusão que nem se dava conta de tanta

riqueza natural se tinha aqui. Ninguém quer sair daqui porque aqui todo mundo se conhece, um vigiando o outro a gente tem do que sobreviver, mas, talvez, a gente mesmo não dava valor ao que se tinha. Daí, começou a nossa Educação Ambiental e a gente começou a ver isso de uma forma diferente. Bom, nós agredimos também. Aí veio a questão do discurso ambiental, porque as empresas vêm e fazem uma degradação enorme e a gente começou a ver em nós, não estamos agredindo também? Começamos a consciência do que é realmente Educação Ambiental. Veio

a questão do lixo doméstico. Bom, o carro de lixo, vamos começar a não jogar mais a garrafa PET no rio. “-Vocês pescadores, quando forem pescar de madrugada e levar água, tragam a garrafa PET de volta, não levem o plástico que vocês levam com a farinha, tragam de volta”. Começou essa educação realmente ambiental. “-Bom, nós não vamos mais colocar mandioca dentro do rio para apodrecer”, porque, se é para fazer farinha, a mandioca tem que apodrecer, amolecer. Na verdade, começou assim: “-gente, vocês se lembram que aqui tinha muito bacural?

Porque será que eles sumiram?” Preguiça, nós tínhamos demais aqui, porque será que elas sumiram?” ( começou daí nossa Educação Ambiental), “ –por quê? Por conta do desmatamento que se teve para tirar pedra, tirar areia. Eles sumiram e o que está acontecendo agora? Aí a gente também pensou: “-lá na Alumar tem um parque ambiental, esses animais eles estão indo pra lá, e porque estão indo pra lá?” Porque, lógico, que de certa forma, estão lá as mangueiras preservadas, estão caindo as mangas, ninguém apanha, é privado é, mas eles estão indo para

o refúgio de lá, porque lá está tendo de qualquer forma a preservação. Aí, começou a nossa educação de pensar como trazer isso para cá, daí que veio a necessidade da gente estudar o meio ambiente, reflorestamento (SANTOS & BARBOZA, 2010, p. 223-224)

A RESEX de Tauá-Mirim é uma possibilidade concreta dos moradores dos

povoados envolvidos juntamente com os órgãos ambientais em consonância com as

universidades e toda a sociedade civil a discutirem, refletirem qual futuro que queremos

ter.

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_________Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza-SNUC:lei n°

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