42
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA MARDEINE PEREIRA SOUSA LÍBANO ETERNO: migrantes árabes no comércio e na política do Maranhão (1930- 1945) São Luís 2007

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO … · universidade estadual do maranhÃo departamento de histÓria e geografia curso de licenciatura em histÓria mardeine pereira sousa lÍbano

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA

CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

MARDEINE PEREIRA SOUSA

LÍBANO ETERNO: migrantes árabes no comércio e na política do Maranhão (1930-1945)

São Luís 2007

MARDEINE PEREIRA SOUSA

LÍBANO ETERNO: migrantes árabes no comércio e na política do Maranhão (1930-1945)

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual do Maranhão para obtenção do título de Licenciado em História. Orientador: Prof.º Doutor Paulo Roberto Rios

Ribeiro

São Luís 2007

Sousa, Mardeine Pereira.

Líbano eterno migrantes árabe no comércio e na política do Maranhão (1930 – 1945) / Mardeine Pereira Sousa, 2007.

44f.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Rios Ribeiro Monografia (Graduação) – Curso de História, Universidade Estadual do

Maranhão, 2007. 1. Sírio-libaneses. 2. Comércio. 4. Economia. 5. Governo I. Título.

CDU: 94(812.1)

MARDEINE PEREIRA SOUSA

LÍBANO ETERNO: migrantes árabes no comércio e na política do Maranhão (1930-1945)

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual do Maranhão para obtenção do título de Licenciado em História.

Aprovada em: / /

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Prof.º Doutor Paulo Roberto Rios Ribeiro

______________________________________________ 1º Examinador

______________________________________________ 2º Examinador

Ao invisível, porém real, Deus. Aos meus pais, Rosa e Luís. Ao meu namorado, Max.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que me ajudaram materialmente e moralmente para a realização deste trabalho.

A Deus, pela força divina na qual eu acredito. A meus pais Rosa e Luís, que me ajudaram moralmente e agora materialmente. Ao meu namorado Max Oliveira, pela força moral e pelos conhecimentos de

informática dispensados. As pessoas que trabalham nas repartições públicas as quais eu pesquisei, como a

biblioteca pública, arquivo e também a Associação Comercial, que me ajudaram através da paciência e disponibilidade de encontrar e indicar os documentos primários.

Aos amigos universitários. E ao professor Paulo Rios, pelo conhecimento, instruções e disponibilidade de

emprestar seus recursos materiais, os livros.

Quando falamos de história, temos o costume de nos refugiar no passado. É nele que se pensa encontrar o seu começo e o seu fim. Na realidade, é o inverso: a história começa hoje e continua amanhã.

Marinotis

RESUMO

Na história do Maranhão, notamos a presença dos imigrantes sírios-libaneses em pontos

importantes da sociedade maranhense: comércio e política. A chegada a estes dois ramos que

influenciaram diretamente a vida dos maranhenses não foi fácil, teve que passar por

obstáculos como medo, preconceito, embora não tão exacerbado, além de enfrentarem as

crises pelas quais passaram a economia do Maranhão. Venceram. Passaram a fazer parte da

sociedade como novos ricos e também dos quadros de decisões político-administrativas,

defendendo os interesses de um Estado que os acolheu. Chegaram então ao ponto maior do

Estado, ou seja, ao governo em 1951 com Cézar Aboud. Mostrando que souberam enfrentar

as intempéries iniciais, conquistar espaço na sociedade maranhense e em meio aos nomes da

política do Estado.

Palavras-chaves: Sírios-libaneses. Economia. Novos ricos. Governo.

ABSTRACT

In the history of Maranhão, we noted the presence of the immigrants syrian-lebanese at

important points of society of Maranhão business and politics. The arrival in this two points,

that influency directly life in the life of Maranhão’s people, it wasn’t easy.They had to face

the obstacles like fear, prejudice, although it wasn’t so huge, despite facing the crises that

economy of Maranhão go throw. Win. Go throw to do part of society like new rich and doing

part the politics decisions administred, defend the interests of state that receive them. Arrived,

in the major point of state, that in the govern at 1951 with Cézar Aboud. Showing that they

knowing to face the initial obstacles, conquer space in society of Maranhão, in the middle of

names from politcs of state.

Key words: Syrian-labanese. Economy. New richs. Goverment.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Fábrica de Miguel Ahid em Coroatá............................................................... 16

Figura 2 – Lista de recolhimento das importações ........................................................... 17

Figura 3 – Carta de exportação das empresas Chames Aboud.......................................... 18

Figura 4 – Carta de exportação das empresas de Elias Fiquene........................................ 19

Figura 5 – Carta de aceitação de Elias Fiquene como membro da Associação

Comercial ..................................................................................................... 32

Figura 6 – Excursão do presidente Aboud ....................................................................... 33

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 10

2 A GÊNESE DA IMIGRAÇÃO SÍRIO-LIBANESA PARA O BRASIL E PARA

O MARANHÃO ......................................................................................................... 13

3 O OLHAR DO OUTRO: DEBATE SÍRIO-LIBANÊS COM A SOCIEDADE

MARANHENSE......................................................................................................... 25

4 NA ERA PAULO RAMOS ........................................................................................ 34

4.1 Os intelectuais e os empresários ............................................................................. 34

4.2 De empresários a políticos ...................................................................................... 38

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 40

REFERÊNCIAS........................................................................................................... 43

10

1 INTRODUÇÃO

Toda esta análise que será desenvolvida refere-se ao período que vai de 1930 a

1945. O ano de 1930 marcou o início em que foi estabelecida a relação direta entre os grandes

comerciantes e os governos estadual e federal, fruto do crescimento deste setor (REIS, 1992,

p.181). Com as constantes crises internas das oligarquias maranhenses, houve o

enfraquecimento dos grupos políticos tradicionais. O empresariado tendeu a aproximar-se das

instâncias do poder, criando um ambiente de influências e apoio nos níveis mais altos do

processo político e decisório do estado e do país.

Era necessário criar influências para que o objetivo de distanciamento entre os

empresários e os agentes de representação política fosse alcançado (REIS, 1992, p 181-182),

pois queriam voz ativa nos assuntos que afetavam diretamente questões relacionadas aos seus

negócios. Apesar do objetivo dos comerciantes urbanos de afastar das decisões a classe

política, as quais afetavam diretamente seus interesses, a aliança entre a política e a economia

não deixou de existir, conforme menciona Reis (1992 p 177): “Proteção e outros

favorecimentos, fossem setoriais ou individuais, permeavam as relações entre os núcleos

econômicos e o Estado”.

Desta forma, observamos que o ano de 1930 e os anos que se seguem marcam

dois pontos importantes e decisivos na história da imigração sírio-libanesa para o Maranhão.

Um deles reside no enfraquecimento das oligarquias dominantes, daí um maior

“afrouxamento”1 para a entrada de outras visões e participações no meio das decisões

político-administrativas que não aquelas já estabelecidas pelas alianças políticas. De outro

modo, os empresários maranhenses, principalmente os comerciantes, levantaram a bandeira

da independência política, quanto às decisões que afetam diretamente seus próprios interesses.

É neste ambiente de tramas, articulações, novos rumos, poderio político e

financeiro, que analisaremos a participação dos árabes na política do Maranhão, bem como se

dá a forma de aceitação de um “forasteiro”2 na política oligárquica maranhense e sua defesa

de interesses em prol da comunidade ou não, descobrindo o olhar e a participação desses

imigrantes que fizeram a “Libanização” do Maranhão3

1 Aqui a palavra afrouxamento quer dizer um maior alargamento para a entrada de novas idéias políticas que não

sejam aquelas confeccionadas pelas elites dominantes. 2 A idéia passada pela palavra forasteiro é de um indivíduo que veio de fora, desconhecido e que não conhece a ninguém. 3 Este termo foi utilizado por Sérgio Brito como título da reportagem publicada em 1991 na Revista Leia Hoje.

11

O tema da migração sírio-libanesa no Maranhão não se esgotou neste trabalho

monográfico. Há muito ainda a ser abordado. Variedades de temas e olhares sobre o assunto

para que possamos entender a história do nosso estado através da participação de outros

povos, no caso os árabes, os quais, ao saírem de sua terra natal, de perto dos seus patrícios,

deram a sua importante contribuição para a História do Maranhão.

Se olharmos para a sociedade maranhense, ao longo da história do século XX e,

inclusive, na atualidade, veremos a participação sírio-libanesa no espaço social do estado.

Estes migrantes árabes galgaram sua influência nas artes, na música, nas letras, no comércio

e, com mais nitidez, na política do Maranhão.

Este trabalho que tem como tema “Líbano Eterno”: migrantes árabes no comércio

e na política do Maranhão” pretende demonstrar como se deu o processo de inserção de parte

dos imigrantes árabes na política maranhense, apontando se houve interesse mais específico

dos sírio-libaneses em relação a essa atividade política, ou se pelo jogo de influências

acabaram por seguir este caminho, já que possuíam no interior da formação social

maranhense, uma participação bastante significativa nas atividades comerciais, sobretudo nos

órgãos competentes.

Primeiramente, de forma breve, analisaremos os motivos que levaram os

imigrantes árabes a sair de sua terra natal para um país tão distante, que, além do

desconhecimento da região, não possuíam ninguém para lhes dar apoio financeiro e moral.

Se não bastasse a desvantagem do desconhecimento da região e da falta de

aliados, tinham que lidar com a situação econômico-financeira de um Maranhão que sofria

com crises oscilantes. Procuraremos abordar a situação que os sírios-libaneses iriam enfrentar

no Estado, além de analisar um pouco da vida de um dos maiores expoentes desta imigração:

Chames Aboud.

Neste trabalho, o processo histórico de imigração sírio-libanesa para o Brasil será

abordado a partir da narrativa e da interpretação de outros estudos que explicitam o tema.

Estudaremos a participação dos imigrantes libaneses, entendendo que as

atividades mercantis, além de “válvula de escape” 4em um momento econômico ruim, lhe

serviram como porta de entrada para o estabelecimento financeiro mais consistente, que irá,

na década de 1930 e nos anos que se seguem, guiá-los para uma importante participação nas

atividades políticas.

4 A alternativa viável para o início de uma construção neste lugar desconhecido baseado nas suas tradições.

12

Em segundo plano, além do comércio, pretendemos analisar o “olhar do outro” 5para esse migrante, que, embora não abruptamente, veio ao longo do tempo ganhando espaço

social e legitimação na sua nova condição de cidadão maranhense. O que a sociedade

maranhense tinha a oferecer a esse estrangeiro? Quais são os efeitos dessa inserção?

O preconceito e, por conseguinte, as aculturações são inevitáveis para um

estrangeiro que não viveu isolado em pequenas colônias, como aconteceu com os migrantes

do sul do país.

Entendendo que não houve apenas uma questão de aculturação, mas sim de um

debate com a sociedade maranhense em busca de um lugar adequado para eles e

descendência, em termos simbólicos, qual o preço que os imigrantes pagaram para que fossem

integrados nessa nova sociedade? Como viver no meio de uma “sociedade fechada”?6 Como

sobreviver a olhares desconfiados pelo modo de vestir, de comer, de falar e pensar?

Conclusão: Analisaremos o olhar do migrante para os maranhenses e destes para o estrangeiro

árabe.

Por fim, veremos o sírio-libanês já estabelecido financeiramente e socialmente

dentro da política, tomando decisões no âmbito onde as oligarquias predominavam com poder

e prestígio ou pelo menos diretamente ligado às decisões importantes que foram tomadas.

5 O olhar do nacional para o modo de vida do imigrante.

6 A sociedade maranhense como provinciana se fechava em meio aos seus pares. O mesmo grupo político, a mesma roda social e etc.

13

2 A GÊNESE DA IMIGRAÇÃO SÍRIO-LIBANESA PARA O BRASIL E PARA O

MARANHÃO

Líbano, 1860. A rivalidade e os conflitos entre camponeses e nobres, maronitas

(cristãos) e drusos (mulçumanos) deu origem a chamada “Guerra Civil do Líbano”7, que

ocasionou destruições, aumentou a opressão e destruiu os planos e sonhos de vida de milhões

de pessoas. O conflito armado espalhou para diversas regiões os “Filhos do Líbano”, que não

mais podiam viver em harmonia na sua terra natal.

A interferência das potências européias, em especial da França e da Inglaterra,

acelerou o êxodo do Líbano ainda mais. O jogo de interesses econômico e imperialista dos

países ocidentais dividiu a Síria e o Líbano acelerando a separação entre as diversas camadas

sociais existentes nessa região. Para a maioria destes descendentes fenícios, o aparelhamento

educacional dado pelos franceses e a expansão dos campos produtivos agrícolas8 não foram

suficientes para impedir a idéia da partida.

O processo histórico de ocidentalização levado a efeito pelos países europeus não

seduziu a maioria dos árabes. A supressão da liberdade em seu próprio país foi o golpe de

misericórdia que os levou definitivamente ou temporariamente a deixar o local rumo ao

desconhecido. A situação no Líbano tornou-se insuportável, com a proibição de direitos

básicos, como aprender a ler e a escrever, podando a expressão de opiniões, além do direito de

ir e vim.

lá eles não podiam aprender a ler nem escrever, não podiam escolher o seu trabalho e nem reclamar do modo de vida que levavam. Assim, um a um, às vezes sozinhos, se aventurando e enfrentando toda sorte de perigo, doenças e adversidades, foram saindo de seu país, de sua aldeia (TAJRA, 2006, p.241).

Partiram, mas deixaram guardadas na memória as peculiaridades do vilarejo, da

praça, do mercado, da rua, das casas, das pessoas, peculiaridades essas que permitiriam o

contraponto com as características do espaço onde iriam aportar e reconstruir suas vidas

novamente. Ao chegar a algum país, estado e município, sua visão de mundo os levariam a

refletir sobre as potencialidades e dificuldades vigentes no território, possibilitando a direção

7 A guerra Civil Libanesa, iniciada em 1860, marca o início da imigração sírio-libanesa para todo o mundo. A

política imperialista das tribos árabes, do Império Turco Otomano e a intervenção das potências européias fizeram eclodir a Guerra que matou cerca de 1.400 cristãos. 8 A agricultura era a atividade predominante no Líbano, as sobras da plantação eram vendidas no comércio popular em espécies de feiras, ativando assim pequenos comércios entre as aldeias.

14

de crescimento na sociedade, mudar o espaço onde viveriam e, enfim, alcançar o desejo que

todo imigrante almeja e sonha: vencer, conquistar e estabelecer-se com prosperidade.

As migrações seguintes9 transportaram um número cada vez maior de pessoas.

Nos anos que foram se passando e para aqueles que foram ficando, a melhoria no nível de

educação dada pelas escolas criadas pelas irmandades católicas e pelos missionários

protestantes franceses formou novos cidadãos com uma visão de mundo mais crítica e com

objetivos diferentes.

Segundo Najla Eluf, migrante libanês, a melhoria da escolaridade e a entrada do

Líbano no mercado mundial criaram uma pequena burguesia: comerciantes, agentes de

companhia de viagens, empregados de bancos e profissionais liberais, assim como jornalistas

e professores (GATTAZ, 2006, p.11). Tais pessoas não encontraram no campo, oportunidade

viável e possibilidades econômicas mais significativas, além dos milhares de jovens que

saíam das universidades “sedentos” por uma qualidade de vida melhor.

É claro que voltar sempre representou uma “ameaça” para aqueles que eram mais

nacionalistas, havia uma divisão de pensamentos. A primeira leva de imigrantes, a de 1860,

trouxe em suas fileiras para o Brasil não só quantidade significativa de desempregados, mas

também uma elite intelectual que tinha por objetivo tornar mundialmente conhecida a causa

árabe: a libertação de seu país para depois retornarem, inclusive com uma militância forte e

unida, aparelhada com mais de 400 jornais, revistas e periódicos ao redor do mundo (TAJRA,

2006, p.243-44).

Entre aqueles que não resistiram a “tentação da volta”, destaca-se Maick Fiquene,

que retornou a Zahle (sua cidade natal) em 1946 (BRITO, 2002, p.243) com alguns contos-de

réis. Para aqueles que não mais pensavam em voltar, havia a prática de ajuda humanitária aos

conventos e igrejas, tratando inclusive de trazer para junto de si, no Brasil e no Maranhão, os

seus patrícios.

O imperialismo das potências européias, aliado ao domínio turco originou o êxodo

que levou os migrantes sírio-libaneses a partilhar de sua identidade, cultura e sonhos,

modificando espaços, participando da vida pública dos lugares nos quais chegavam.

Chegaram então no Maranhão no final do século XIX, mais precisamente em 1886, segundo

Lima (1987, p.37).

Nesta Província, começaram uma nova vida, lutaram contra as intempéries físicas,

culturais e, principalmente, econômicas de um Maranhão que padecia com uma economia em

9 Houve várias correntes migratórias saídas do Líbano, com destaque as dos anos de 1900 e de 1920, que foram

bem mais numerosas que a primeira e apresentando motivos diferentes.

15

crise: extensão da crise de agro-exportação, produção açucareira em decadência e o principal

produto exportador: o algodão, perdendo espaço de compra no mercado consumidor

(RUTIER, 2000, p.27-28).

A realidade do estado talvez, em um primeiro momento, tenha decepcionado esses

migrantes, mas nada que os fizessem desistir do sonho de “conquista” da América, continente

este que representava liberdade, prosperidade, paz, direito ao culto, tudo que em seu país,

devido ambição de grupos políticos e religiosos, não lhes puderam oferecer.

Quadro 1 – Total de população estrangeira / total da população – 1920 País Total imigrantes

(a) População total

(b) Proporção

(a) / (b) Estados Unidos 13.921.000 106.466.000 13,1% Canadá 1.956.000 8.788.000 22,3% Argentina 1.930.000 8.314.000 23,0% Brasil 1.566.000 30.636.000 5,1%

Fonte: GATTAZ, 2005, p.84

O sonho da América tornou-se uma verdadeira febre. Inicialmente, a opção

preferencial era os Estados Unidos, mas, tendo em vista a política rigorosa de fiscalização e

legislação daquele país, isto acabou afugentando a maior parte dos sírio-libaneses para outras

partes do continente americano.

O Brasil acabou se constituindo no país que mais abrigou descendentes vindos da

Síria e do Líbano (GATTAZ, 2005, p.78), devido às condições favoráveis à imigração. A lei

que regia o deslocamento populacional de migrantes de outras nações para o Brasil era mais

liberal que a norte-americana, país que, somente em 1934, estabeleceu um sistema de cotas

para o ingresso de outros povos em seu território.

Assim, nos Estados Unidos, nesse contexto em estudo, o governo não emitia visto

para a entrada de migrantes de quaisquer países, utilizando vários impedimentos legais,

inclusive, as leis sanitárias.

Quanto ao Brasil, tal lei não existia ou, pelo menos, não funcionava com tanto

rigor. A liberdade de culto foi outro fator que atraiu mais libaneses para o Brasil. A

possibilidade de cultuar o seu próprio Deus, sem complicações maiores, se tornou um dos

pontos mais considerados pelos sírio-libaneses, já que eles se constituem em um povo

bastante religioso.

Chegados nessa terra estranha, os migrantes perguntam-se: E agora? Como

começar em uma terra distante, sem patrícios, sem ninguém? As pessoas lhes dirigiam olhares

16

de estranheza e consideravam suas roupas diferentes, seus aspectos físicos rudes, sua

linguagem engraçada e difícil de ser compreendida e seus nomes quase impronunciáveis. A

integração social neste meio era importante, mas o olhar do outro o incomodava. O

preconceito inicial barrou algumas portas de acesso, dificultando o processo de integração

deles na sociedade maranhense.

Pelo menos de trabalho o Maranhão precisava. Com a sua cultura e a sua arte de

mascatear, descobriram as ruas da capital – São Luís –, rumando, em seguida, para o interior

do estado.

No interior, o custo de vida seria menor, a concorrência comercial não era tão

acirrada como na capital. Há vários exemplos de famílias que buscavam refúgio nos lugares

interioranos: Maluf e Sauaya, em Rosário; Aboud, na cidade de Pinheiro; Abdalla, em

Timbiras, e Salém, em Codó (FRANÇA, 1991, p.32), conforme indica Figura 1.

Figura 1 – Fábrica de Miguel Ahid em Coroatá Fonte: Associação Comercial

Aqui e acolá foram quebrando preconceitos, conhecendo novas pessoas, abrindo

uma lojinha, depois um armazém, começando o processo de sociabilização mais aguçado. É

claro que nem todos seguiram a saga comercial, rumando pelo caminho das artes, da música e

das letras. Mas, foi com o comércio que ganharam notoriedade. Segundo Jerônimo Viveiros

(1964, p.159), os imigrantes chegaram a transformar a Rua Grande em uma rua de armarinhos

libaneses.

Dentre as inúmeras famílias sírio-libanesas do Maranhão e de outros estados,

encontramos exemplos de construção de reputação e conquista de respeito na sociedade, como

é o caso de Aziz Tajra, comerciante de São Luís descrito no jornal piauiense “O Estado do

Piauí”, publicado em 1929, “todo árabe que chegava via Belém tinha passagem obrigatória

por São Luís.Todo imigrante de Malula tinha que comer na mesa do Velho Aziz (...) Aziz foi

o imigrante que mais conseguiu fazer fortuna de todos eles” (TAJRA, 1986, p.14)

A vida comercial dos migrantes evoluiu de caixeiro a proprietário de pequenos

armazéns, e, alguns, ao patamar de grandes industriais, tendo, como exemplo, a comerciante

Chames Aboud, dona de casa de tecidos, de usina de descaroçar algodão e usinas de arroz.

Abaixo, vemos a Lista de Recolhimento das Importações demonstrando o

crescimento dos negócios que abrangiam outras regiões.

17

Figura 2 – Lista de recolhimento das importações Fonte: Associação Comercial

Chames Aboud conseguiu romper as regras de um povo que girava em torno da

figura masculina. A imigração foi um fenômeno que rompeu regras antes já estabelecidas pela

cultura de um povo em nome dos intempéries que o deslocamento ocasionou.

Por isso, ela torna-se um dos principais exemplos da prosperidade que alcançou

aqui no Estado onde chegou, em 1902, vinda do Acre, estado onde tentou a vida

primeiramente (RUTIER, 2000, p.38).

Sua firma Chames Aboud e Filhos, fundada em 1904, alcançou grande

prosperidade com o alargamento da empresa para outros ramos, exportando produtos

maranhenses tais como amêndoas de babaçu para portos dos Estados Unidos, também atuou

no ramo das importações, aumentando a renda para o Estado, assim como outras empresas de

descendentes ou próprios dos imigrantes.

Figura 3 – Carta de exportação das empresas de Chames Aboud Fonte: Associação Comercial

Desta forma, não só os Aboud destacaram-se, mas também os Fiquenes e os

Mettre, na figura de Miguel Mettre, um dos primeiros fundadores da casa comercial em São

Luís, localizada na Rua Portugal (Praia Grande), rivalizando com os portugueses, os quais

desde os tempos coloniais comandavam a venda no atacado na cidade de São Luís (LIMA,

1987, p.49).

Figura 4 – Carta de exportação das empresas de Elias Fiquene Fonte: Associação Comercial

O desempenho deles no comércio os tornaram mais conhecidos em todo o estado

do Maranhão, tanto no seio da população em geral como principalmente entre os segmentos

integrantes das classes dominantes.

A situação da economia maranhense no que tange ao comércio não era das

melhores nos anos 30. O centro comercial de São Luís passava por sucessivas crises. As ruas

estavam vazias, os armazéns falidos, sem compradores, o tempo outrora escasso devido à

abundância de clientes, agora se dispunha com sobras.

Umas das principais fontes de renda do Estado vinha padecendo com uma

combinação de fatores negativos: más administrações, falta de planejamento, crise mundial,

crises internas. O comércio do Maranhão era “uma barca sem leme”, como disse o químico e

bom conhecedor dos assuntos comerciais, Alfredo Bessa (VIVEIROS, 1964, p.229), com

18

grande destaque, tanto no comércio como na sociedade. Publicava colunas, que falavam a

respeito da esfera mercantil nos jornais maranhenses.

Com a primeira guerra mundial, o comércio se consolidou, embora em bases não

tão resistentes ao tempo capazes de lhe garantir fôlego de vida duradouro. O ano de 1914 deu

aos produtos maranhenses boas cotações mundiais. O algodão, principal produto, chegou ao

patamar de 5.200$00 réis, valor bastante alto para a cotação de tal produto (VIVEIROS, 1964,

p.217).

No contexto em estudo, o coco babaçu, a nova mercadoria produzida e ofertada

pelo Maranhão para o comércio, sobretudo internacional, almejou bons preços de compra para

os investidores. A necessidade do consumo do óleo de babaçu na Europa, durante a primeira

guerra, garantiu esta benesse ao Estado. Além do coco babaçu, outros produtos eram

comercializados, como exemplo temos o couro curtido ou apenas cru, que desde os tempos

coloniais era levado aos quilos nas embarcações portuguesas. Seu apogeu se dá no final do

conflito que abalava o mundo e estendia suas conseqüências desastrosas à economia do

planeta.

Mas, a desgraça de alguns é a ventura de outros: a guerra, não pôde, com seus

efeitos, mudar, somente melhorar o destino comercial da Terra das Palmeiras. Segundo Fran

Paxeco, imigrante português que se estabeleceu no Maranhão e tornou-se profundo

conhecedor das carências maranhenses, em seu livro “A Geografia do Maranhão”, os nossos

principais produtos de exportação eram os mesmos do século retrasado.

O algodão de consumo externo não fez progressos quanto à qualidade: sujíssimos,

nos termos de Paxeco (1922, p.286). As cotações de couros sofrem um decréscimo devido às

condições comerciais: falta de técnicos e de veterinários. Além de gêneros com mal-preparo,

nos restavam as condições da Alfândega, com mercadorias que nem sempre chegavam aos

locais apropriados, tomando outro rumo.

As condições materiais do Maranhão refletiram o pensamento retrógrado das

políticas comerciais. As transações mercantis limitavam-se à parte ocidental européia,

perdendo a chance de ampliação para mercados valiosos como Mediterrâneo, a Itália,

Espanha Meridional, França do Sul, a Síria e a Feira de Barcelona (PAXECO, 1922, p.286). O

ônus fiscal não era diminuído, para que as poucas empresas que o Maranhão possuía tivessem

a oportunidade de crescer gerando renda e lucro.

O transporte precário só se consolidou em 1920 com a viação férrea (PAXECO,

1922, p.321). Na década de 1930, as informações existentes mostravam uma situação

desfavorável, segundo os jornais da época. Ressalte-se a coluna intitulada “Cartas do

19

Maranhão”10, no qual um leitor, indignado, após passar vinte anos fora do estado e, sendo um

conhecedor do período áureo do comércio, mostrou a sua opinião no jornal “Correio do

Manhã”, publicado no dia 12 de julho de 1930 sobre a situação comercial da época.

Um dos primeiros pontos a ser abordado pelo leitor refere-se à desolação da Praia

Grande, outrora bairro cheio de mercadores e comerciantes. Em depoimento à historiadora

Magda França, o senhor José Ribamar Heluy dá o seu parecer sobre a situação anterior à crise

do bairro comercial, da seguinte forma:

(...) Imagina a Praia Grande. Era o empório comercial do Maranhão. As grandes firmas negociavam com a Europa.(...): tecidos, gêneros. Aquilo ali devia ser um negócio já feito, não tinha bairro em São Luís, ou o sujeito trabalhava na Praia Grande ou não tinha onde trabalhar(...). (apud FRANÇA, 1990, p.32).

Gente vinda de longe, do interior maranhense, aportava em São Luís para comprar

e revender em seus estabelecimentos, ruas cheias de quinquilharias prontas para agradar os

fregueses de todos os gostos. Este cenário mudou consideravelmente na década de 30, pois a

situação comercial do Maranhão não era das melhores.

Com a crise que afeta a parte comercial do Estado, houve o desaparecimento de

algumas firmas comerciais muito famosas como Cunha e Companhia; Fernando Pinto e

Companhia; Santos e Companhia; etc. Das ruas principais do comércio maranhense como a

Rua do Trapiche, hoje Portugal, estavam instaladas outras importantes empresas do estado:

Bastos Lisboa Mello e Irmão; as oficinas de Braga e Companhia e, até a Companhia de

Navegação a Vapor do Maranhão (CORREIO DA MANHÃ, 12 jul. 1930).

Muitas outras firmas acabaram por sucumbir à falta de clientes, com seus produtos

mofando nas prateleiras. Em razão disso, os bancos já não mais lhes abriam créditos devido à

falta de confiabilidade. Nos jornais da época muitos eram os anúncios de leilão dos prédios,

bens que cobririam as dívidas e garantiriam aos pequenos e grandes comerciantes dinheiro

para continuar a vida.

No irromper dos anos 30, além da desolação da capital, o interior sobrevivia à

transferência do comércio do Alto Sertão para os Estados do Piauí e do Pará, assim como foge

das zonas do Itapecuru e Alto Mearim. Essa fuga representava a tentativa de um novo começo

e a tentativa de salvar o pouco que lhes restava.

10

Seção do Jornal Correio da Manhã, no qual os maranhenses comuns e as personalidades do Estado emitem a sua opinião sobre as diversas áreas da vida maranhense, uma das mais publicadas diz respeito à área comercial.

20

Mas, em meio à crise, figuravam as firmas falidas, os armazéns fechados, as ruas

desoladas, os pequenos bazares, barracas e lojas dos “turcos”. No romance “A Crise” de

Manoel de Bethencourt , o autor nos mostra este retrato:

Não se via entrar pessoa alguma nos armazéns, apenas numa ou noutra porta destes estavam a fazer o mesmo que Peixoto fazia: a olhar. Dois outros árabes, à porta duma das barracas, falavam no seu idioma gutural, com abundância de gestos.(...) Ali, naquêle lugar, outrora tão animado, sentia-se atmosfera pesada de um luto que não se podia definir...(apud VIVEIROS, 1964, p.13).

Ainda bebendo na fonte da visão aprimorada do leitor de nome Jayme, em

depoimento ao Jornal Correio da Manhã, vemos que nas suas andanças pelas ruas comerciais

de São Luís, encontrou nos armazéns do Arco pequenas lojas de turcos, cafés e vendedores de

galinhas e bananas.

Além das crises externas, a desorganização comercial afetou profundamente o

Maranhão. A disputa no interior das classes conservadoras fez com que o comércio do interior

não aceitasse as sugestões do comércio da capital. Havia concorrências desleais fugindo às

normas comerciais: compras sem base visando a alta de produtos imaginários. Além disso, a

qualidade dos produtos deixava muito a desejar, além de estoques em armazéns impróprios. O

comércio do interior retém produtos comprados sem base, acarretando prejuízos na circulação

do dinheiro, dando prejuízo às finanças.11

Os árabes com seus pequenos estabelecimentos passaram pela “prova de fogo”

das más administrações, crises internas e externas da economia maranhense. As suas

empresas não figuravam entre as maiores e mais conhecidas do Maranhão.

Destacam-se, a seguir, alguns exemplos do tipo de comércio que os imigrantes

sírio-libaneses praticavam no Maranhão, juntamente com seus descendentes: Lojas Africanas

(tecidos), de propriedade da família Saback; Casa Moderna (armarinho), propriedade da

família Azar; Casa Olímpica (bazar), de propriedade da família Cateb; Lojas Otomanas

(tecidos), de propriedade da família Mouchereck; Casa Waquim (bazar), de propriedade da

família Waquim (FRANÇA, 1990, p.48).

Havia algumas famílias que lidavam com alimentos, como a empresa J. Naufel e

Irmãos (café), de propriedade da família Naufel. Além de produtos alimentícios, os

comerciantes lidavam com couro, elemento que não possuía tanta expressão no cenário

11

O químico e comerciante Alfredo Benna, profundo conhecedor das questões do Maranhão, publica em um artigo intitulado “A Desorganização Comercial ” na edição do dia 11 de setembro de 1930 do jornal Diário do Povo, informações valiosíssimas sobre o comércio do Estado.

21

comercial do estado: Casa Dois Irmãos (couros, malas, sapatos e artigos para viagem), de

propriedade da família Heluy.

A crise não atingiu a todos os tipos de produtos, tais como: fazendas de retalho,

artigos importados, entre outros. Os libaneses tratavam com gêneros de pequenas

necessidades, fugindo então da crise que atingia o alto comércio.

Não sofrendo tão diretamente os efeitos da crise, se preocupavam em como atrair

mais clientes e com a concorrência de lojas como as “Casas Inglesas”, “Casas Brasileiras”, “A

Pernambucana” e “Rianil”, lojas freqüentadas pelas senhoras da alta sociedade e que já

possuíam uma clientela formada que deixavam boa parte de suas fortunas em vestidos,

chapéus, sapatos e bijuterias.

Para vencer tal concorrência e crescer com os poucos clientes que possuíam, os

sírio-libaneses traziam suas inovações para o comércio da capital: a venda à prestação. No

comércio só havia o sistema de compra à vista, ou seja, comprar e pagar. Com o crédito para

pagar no final do mês, economicamente eles foram se estabelecendo. Além da venda a

prestação, desenvolveu um novo estilo de comerciar, o que hoje conhecemos como entrega

em domicílio, isso à medida que a loja ia alcançando prosperidade (CHAIB, 2006, p.156).

Esta nova estratégia de vendas no comércio já era conhecida no Piauí, sendo

exportada para outras localidades. Além do crédito mensal, ainda havia os ambulantes, que

iam atrás dos clientes em sua casa, compravam a mercadoria na loja e vendiam para as donas-

de-casa a preços acessíveis.

Com as novas técnicas comerciais já consolidadas, aqueles que seguiram o

caminho do comércio acabam conseguindo a prosperidade econômica. Além da propaganda, a

forma de tratar os clientes era fator relevante na escolha de uma loja de imigrantes libaneses.

A dona ou o dono sempre estavam presentes para melhor atender a clientela, para dizer a

oferta do dia, qual peça ficava mais bonita nas senhoras e senhoritas, assim como os rapazes,

para poderem conquistar determinada senhorita.

Esta prática comercial pressupunha o contato direto do comerciante com o cliente,

fato que nas lojas dos maranhenses não acontecia, pois a concepção de trabalho era totalmente

diferente, uma vez donos de lojas, não precisariam mais trabalhar diretamente no balcão de

seus estabelecimentos e sim colocar alguém para fazer o serviço por eles.

Com carisma e técnicas de vendas, foram transformando suas lojas mais

conhecidas. Nos anúncios de jornais, nota-se claramente que os comerciantes sírio-libaneses

ocupavam um espaço maior nas páginas dos jornais citadinos, demonstrando maior vigor

22

econômico, saindo de uma realidade anterior, de publicação de seus anúncios sem a

visibilidade que estes passaram a ter.

Com a prosperidade, foram trazendo seus parentes do Líbano para viver na capital

e no interior. Os parentes que chegavam compravam mercadorias nas lojas já estabelecidas e

vendiam nas ruas como caixeiros ou começavam com pequenas lojas.

Depois de conseguir capital mascateando, abriu seus próprios negócios, alargando

os números de familiares em terras maranhenses. Este é o caso de Paulo Antônio Simão, que

trabalhava para seu irmão Basílio Simão (FRANÇA, 1990, p.34), e também de Rachid

Abdalla, que, com o apoio de Miguel Abraão Mohana, conseguiu alcançar indústrias de

descaroçar algodão e pilar arroz, comercializando os seus produtos em São Luís (FRANÇA,

1990, p.35)

23

3 O OLHAR DO OUTRO: DEBATE SÍRIO-LIBANÊS COM A SOCIEDADE

MARANHENSE

Ao adentrar na sociedade maranhense com sua forma de vida, seus costumes, suas

crenças, o migrante sírio-libanês causa impacto cultural. Impacto este que vai mudar a vida

dos estrangeiros e interferir no olhar dos maranhenses sobre eles.

O choque provocado pela presença de outra cultura irá refletir nas concepções que

o migrante tomará para tornar possíveis seus objetivos, pois as dificuldades promovidas pelas

situações do dia-a-dia e pelo nacional dará vigor ou não para planos futuros.

A trajetória da ascensão social do migrante sírio-libanês no Maranhão não se

constitui muito diferente das demais regiões, guarda apenas suas peculiaridades. O árabe, de

uma forma geral, é visto como um ser exótico, não eram nem brancos, nem negros ou

amarelos na concepção da elite. Chamavam atenção pela sua forma grotesca de falar,

indumentárias, aspecto físico mais rude com traços não tão singelos, olhos grandes e negros e

nariz comprido, diferente dos traços europeus caracterizados pelos olhos claros e nariz

afilado.

A famosa trilogia: família, religião e comércio (Lima, 1987, p.32) era e continua

sendo o aspecto principal de sua cultura. O árabe em geral atribui a família valor imensurável,

possuindo uma divisão mais prolongada que o habitual da família ocidental12, dando não

somente ao pai a chefia da família, mas também ao avô e aos demais parentes.

Com o devido valor, o ambiente familiar ganha solidez caracterizada também pelo

respeito e união (Lima, 1987, p.32), com constantes reuniões para discutir fatos do dia e os

negócios da família.

A religião que chega a substituir a nacionalidade (LIMA, 1987, p.33) é

caracterizada pelos costumes da Igreja Ortodoxa, pois a maioria dos sírios e libaneses vindos

para cá eram cristãos. A religião é uma barreira quase intransponível, este ponto do tripé

difere as etnias entre si, funcionando como nacionalidade. No vizinho Piauí, nos lugares onde

os imigrantes eram mais concentrados, o sacerdote passava nas comunidades uma vez por

mês para realizar matrimônios, batismos e outras cerimônias religiosas (TAJRA, 2006,

p.253).

12

Família conjugal (pais e filhos), família extensa (avô, chefe de família), família grupal (todos os parentes). Todas as esferas influenciam nas decisões da família.

24

Se não freqüentavam a Igreja Ortodoxa, pela falta de um templo em terras

maranhenses, guardavam os valores e ensinamentos oriundos da Igreja Católica, sempre

respeitando os rituais que diferiam da Igreja Oriental.

A prática do comércio vem desde os seus antepassados: o povo fenício. Naquela

região, costumes passam de geração a geração, através da família. Este último ponto da

trilogia abriu muitas portas para o caminho da inserção social dos sírios e libaneses no

Maranhão.

A forma de trabalhar atrás do balcão ou recepcionando os clientes na porta de uma

forma gentil e amável representava não somente o desejo de agradar, mas também de ficar e

ser aceito pelos nacionais como parte integrante deste Estado.

No Brasil, o preconceito, apesar de existir, não apresentava traços mais fortes,

levando os imigrantes a ouvir apenas apelidos pejorativos como carcamano13 e turcos. O

progresso econômico não foi impedido de ser alcançado por fatos como este.

O professor da UNICAMP, Mohammed Habib, em entrevista à Revista Com

Ciência (dez 2000/jan. 2001, p.5), destaca que:

[...] quando eu comparo a minha vida aqui com a vida de outros imigrantes árabes em outros países, acredito que tive muita sorte. Estou numa sociedade realmente onde eu tenho que agradecer a Deus. Porque aqui eu não sofri problemas que eles sofreram e continuam sofrendo em outros países, como preconceitos e discriminação racial. Pode até haver algumas manifestações de preconceito e discriminação racial no Brasil, mas não chegam ao estado dramático que tem, por exemplo, nos Estados Unidos, na Alemanha, na Inglaterra, no Canadá. Como conseqüência disso, no Brasil, os muçulmanos andam totalmente despercebidos, enquanto que, nos Estados Unidos, são muito visíveis. Devido ao preconceito que sofrem nos Estados Unidos, esses imigrantes se fecham, se unem, se individualizam. O imigrante árabe está totalmente integrado à sociedade brasileira. Diferente, por exemplo, do imigrante árabe nos Estados Unidos.

Mas há sempre um preço a ser pago, no caso destes viajantes afortunados e sem

muita perspectiva, foi a aculturação que mexeu com estruturas sólidas e que duravam por

séculos. A assimilação de costumes e normas do nacional foi inevitável, pelo menos para

estes imigrantes que tinham a intenção de se “entrosar” em meio à população local.

Valores vão se perdendo ou agregando-se ao longo do tempo. Um dos pilares da

tríade, a família, ganha novos contornos e papéis vão se alternando, mas a cumplicidade

sempre cresce.

13

Segundo Lima (1987, p.37), carcamano é uma palavra de origem duvidosa. Mas a mesma possui o sentido de alguém que pesa a “mão na balança”.

25

A família dá mais espaço ao papel da mulher. Na sociedade árabe, a mulher

desempenha a sua função como educadora dos filhos e dona de casa (FAUSTO, 1998, p.36).

Devido às necessidades geradas pela situação em um país distante, a mulher torna-se

companheira do marido, sabendo administrar muito bem os negócios no balcão e o restante da

casa.

Não apenas as necessidades do cotidiano funcionaram como fator de mudanças,

mas também a educação que os filhos destes imigrantes que começaram a chegar em 1886

(Lima, 1987, p.30), trouxe para o espaço privado da casa novos rumos, novas idéias.

A entrada na universidade para a formação de profissionais liberais, as idéias

trazidas do mundo externo do nacional para a casa árabe trouxeram maior liberdade de

expressão. Os filhos já não buscam nos pais permissão para casar ou se relacionar,

conquistando maior liberdade, muitas vezes dando idéias científicas ou estratégias

econômicas no negócio da família.

Esta liberdade em relação aos filhos traz características novas para os casamentos.

Outrora realizados somente entre os pares, os casamentos de sírios-libaneses também

passaram a ser realizados com brasileiros(as).

Embora haja a quebra deste costume, o casamento continua sendo “à moda

antiga”, apresentação da brasileira que, na concepção árabe, era “fraca, não gosta de ter

filhos... de cozinha (...)” (apud FRANÇA, 1991, p 39), palavras de Nabira ao neto Sérgio,

personagens de Galhos do Cedro14, que não difere da realidade.

Estes casamentos trouxeram para o convívio árabe famílias importantes da

sociedade local, de forma a integrá-los ao espaço público. A condição financeira nas quais as

famílias árabes se encontravam, ajudou a união entre nacionais e imigrantes bem como seus

descendentes.

No Piauí, somente em 1930, os árabes casam-se com as brasileiras, tudo por um

motivo muito bom e claro: “o dinheiro estava na mão dos árabes, as casas boas, as comidas

boas, as festas boas, os aniversários bons, eram todos feitos nas casas de árabes” (TAJRA,

2006, p.231).

Estas festas traziam, em seu bojo, cardápio árabe como kibe, chieriê – arroz de

macarrão, doces como beleva, doce de trigo, quinepe15 entre outros. Culinária que atraía o

14

Romance de Conceição Aboud que narra a história de Nabira, matriarca que venceu obstáculos para sobreviver em terra estrangeira. 15 Palavras árabes que significam nomes de comidas típicas.

26

maranhense para o mundo árabe e que com o tempo integraram-se ao cotidiano maranhense,

como é o caso do arroz de macarrão e o Kibe.

A alimentação do imigrante árabe é rica em açúcar e também é baseada em carne,

legumes, trigo e outros ingredientes, típico de um povo que desde a antiguidade cultiva e

comercializa seus produtos agrícolas. No início, além de carcamanos e turcos, eram

apelidados de lagartas pelas folhas verdes que fazia parte de sua dieta: alface, hortelã entre

outros (TAJRA, 2006. p 257).

A comunicação para quem buscava o interesse por se integrar era de fundamental

importância, e no caso dos árabes muito teve que ser modificada para o processo de

integração social. A língua, a fala complicada e os nomes difíceis de serem pronunciados

tiveram que sofrer alterações para que o nacional pudesse melhor compreendê-lo.

A língua não podia se constituir em uma barreira, muito menos os nomes, então

tiveram que ser trocados por nomes comuns aos brasileiros, Muhrry Eldin Elmisri

transformou-se em Camilo Santos, Farid Hadad em Alfredo Ferreira (TAJRA, 2006, p.263).

Muito pouco foi se resguardando da cultura destes imigrantes durante o dia-a-dia.

A necessidade da integração somada a intensa e permanente divulgação da cultura

maranhense através dos jornais, TV e revistas (Fausto, 1998, p.36) trouxe conhecimento a

mais sobre as formas de viver do maranhense, os fatos da cidade, os nomes das ruas e os

movimentos políticos.

Mas nem por isso o lugar original foi esquecido. Na parede das casas, os retratos

representam a história de vida, os velhos lugares, vilarejos, roupas, indumentárias de festas,

tudo representa um pedacinho da pátria-mãe que trazia memórias boas para dentro de casa.

As reuniões de família, até mesmo de grupos de amigos na praça para relembrar a

vida que foi deixada para trás, vai se esvaindo ao longo do tempo, como relata a senhora Gib

Farah: “Não tem mais reunião como tinha antigamente (...) Chamava botequim de árabe, lá na

praça, na porta do palácio (...) (apud FRANÇA, 1991, p 39).

Reuniões estas que representam um elo de ligação com sua terra natal, pois

relembram o passado em Zahle. Através destes constantes encontros, acabou surgindo a

Sociedade Libanesa, localizada primeiramente na Rua de Nazaré, depois mudou-se para ao

lado do antigo Colégio Meng, na Praça Urbano Santos (FRANÇA, 1991, p.39).

27

Nestas reuniões locais reuniam-se para jogar gamão, xadrez, conversar sobre

negócios do dia-a-dia etc. Tudo que restou ou que continuou foi passado de geração para

geração. Este povo dá muito valor à palavra16.

Certamente, para alcançar a integração social, eles pagaram um alto preço, na

medida que abdicaram parte de suas vidas para assimilar-se ao outro, como mudança de

hábitos milenares relacionados à sua cultura: língua, religião, família. Tudo para serem vistos

como agentes do progresso de uma nação que buscava o crescimento. Não aceitaram,

portanto, de bom grado apenas uma integração, queriam ser vistos como “brasileiros” sem

ressalvas.

Culturalmente, logo trataram de manter distância do que lhes pudesse associar a

não brancos, afinal de contas a elite buscava padrões europeus para a construção de uma

identidade brasileira.

Em troca da coragem, do conhecimento que colocaram em prática e do respeito

para com aquilo que poderiam atrapalhar os planos, entraram para a história do Maranhão.

Podem ser considerados como um dos grupos formadores da sociedade maranhense, assim

como os indígenas, os afro-descendentes e os portugueses (FERRACINI, 2006, p.4). Se não,

grupos formadores pela gênese brasileira, mais pela forma expressiva com que atuaram na

política e no comércio do Maranhão, com fervor e inovação.

Cuidaram muito bem da sua imagem, longe de estereótipos como fanáticos

costumes exóticos, poligamia, entre outros (TRUZZI, 2001, p.12). Eram conhecidos pela

bondade, respeito à ordem, trabalhadores e de fácil assimilação ao elemento nacional, como é

assim visto pelos sanitaristas paulistas Vitor Godinho e Adolfo Lindemberg, primeiros

cronistas dos sírios e libaneses no Maranhão (apud LIMA, 2001, p.38).

Com uma imagem de bons “cidadãos”, partiram para o debate com os intelectuais

e políticos por um lugar tido como adequado para si próprios na economia e na sociedade. A

elite intelectual, os políticos, os industriais e grandes comerciantes eram influenciados pelas

ideologias que vinham da Europa mais precisamente o racismo científico.

No Maranhão, um estado que guardava suas peculiaridades à vinda de imigrantes,

atraía, na concepção dos intelectuais, o progresso, à medida que o Estado precisava de braços

dispostos ao trabalho para promover a modernidade, o luxo e o reconhecimento nacional tão

desejado.

16

Em algumas cidades árabes, o hábito de contar história se tornou tão importante que virou profissão, inclusive com sindicatos.

28

Buscavam a valorização através de laços que o ligavam a terra e, no caso do

Maranhão, era o trabalho. Reforçavam sempre que podiam a imagem de trabalhadores,

construtores do progresso e da modernidade. O debate promovido através destes imigrantes

difere bastante daquele promovido pelos alemães das colônias do sul, ou seja, não isolaram-se

em colônias cultivando apenas seus modos de vida.

Em 1938, Waldemar Falcão, um dos autores do Decreto n.º 341, publicado no

Diário Oficial do Estado, determina no artigo 1º aos estrangeiros residentes no Brasil que

junto ao Registro do Comércio requererem matrícula, inscrição de firma individual ou

arquivamento de contrato e quaisquer outros documentos, exigirão: passaporte estrangeiro,

carteira de identidade civil, atestado do tempo de residência e de bom procedimento do

estrangeiro no país.

Os estrangeiros que quiserem trabalhar no Brasil, no ramo da indústria ou

comércio, terão que obedecer à lei, as empresas que contratarem no serviço técnico,

estrangeiros fora do decreto-lei incorrerão em multa.

O decreto é estendido a ambulantes, agentes de vendas e outros intermediários

comerciais, sendo dispensados os que provarem morar no Brasil há mais de cinco anos sem

faltas graves, os que tiverem firma registrada há mais de dois anos e os que sejam casados(as)

com brasileiros(as) ou tenham filhos nacionais.

O motivo pelo qual o decreto é instituído é o de expulsar do país os estrangeiros

de mau caráter, que se fazem de fraudes e manobras clandestinas, infiltrando-se no social,

causando danos à coletividade, segundo Valdemar Falcão17.

Não formaram no Maranhão a intelectualidade através de organizações, mas com

o Padre Mohana, ganharam um renomado escritor (LIMA, 1987, p.43). Não tornaram-se

passivos, adentraram à sociedade gradativamente, sempre reforçando uma imagem, como

coloca Viveiros, de “disciplinados, ordeiros e respeitadores das instituições”(apud LIMA,

1987, p.51).

Apesar de terem uma visão “desmerecida” como pessoas exóticas e diferentes,

eram bem vindos pelos intelectuais (LESSER, 1999, p.3). Paxeco (1922, p.231), imigrante

português, diz em um dos seus escritos que o Maranhão precisava de quem o povoasse e

arroteasse.

Eles não trabalharam somente pela aceitação da sociedade, mas sim por um lugar

adequado para eles e seus descendentes. Fundaram uma sociedade de mútua ajuda, hospitais,

17

Diário Oficial do Estado do Maranhão, 21 de agosto de 1938.

29

casas comunitárias, escolas com seus nomes em municípios do interior, bairros étnicos ou

pelo menos refúgios (FAUSTO, 1998, p.36) onde pudessem se identificar.

Estes locais representavam um meio de interação com a sociedade maranhense, o

Casino e o Jaguarema, outrora clubes de renome, atraíam a família dos ludovicenses para

junto dos árabes (FRANÇA, 1991, p.39).

O trabalho ativo de alguns destes imigrantes no Centro Caixeiral, órgão que

funcionava como sindicato dos empregados em contraponto à Associação Comercial, os

colocam a par da situação do trabalhador maranhense, participando, portanto, mais afundo dos

problemas da região

O Centro Caixeiral era um órgão ativo que tinha como um dos seus líderes

Raimundo Tribuzzi, onde sempre promoviam-se debates, como o de Educação Política, como

assunto de efetiva relevância para os empregados do comércio.

Se ativamente agiam nos órgãos do comércio por meio dos empregados, também

faziam parte das pautas da Associação Comercial como participantes e ganhando prestígio em

meio aos patrões, como podemos analisar o caso de Elias Fiquene, através de sua carta de

aceitação.

Figura 5 – Carta de aceitação de Elias Fiquene como membro da Associação Comercial Fonte: Associação Comercial

Através do comércio, eles conheceram e tomaram posse de lugar de destaque, a

interferência deles no meio dos patrões e empregados abriu-lhes “o caminho” para melhor

serem aceitos.

Logo, conseguiram o comércio na parte alta da cidade, na Rua Grande, onde se

fazia, na época, o comércio elegante de São Luís (LIMA, 1987, p.49). Suas lojas rivalizavam

com a de outros imigrantes, como a dos portugueses, ganhando na preferência da população.

A família Aboud chega à presidência da Associação Comercial com bastante

atuação, conhecendo ainda mais as problemáticas maranhenses no que tange ao comércio,

sendo assim, se tornaram mais íntimos no meio influente da sociedade maranhense. Abaixo

temos uma das viagens realizadas por Cezar Aboud pelo interior do Maranhão.

Figura 6 – Excursão do presidente Aboud Fonte: Associação Comercial

30

O debate nunca se esvaiu, continuou e nos dias de hoje podemos dizer que estão

bem localizados na sociedade maranhense. Negociaram a identidade com suas imposições e

reelaborações, chegando aos termos da política, na qual se encontravam as pessoas mais

influentes do Maranhão e que regiam os rumos do Estado.

4 NA ERA PAULO RAMOS

4.1 Os intelectuais e os empresários

Através do comércio e de um debate nas entrelinhas da sociedade maranhense, os

imigrantes sírio-libaneses chegaram a um estágio maior, levando-se em consideração que na

política encontram-se as pessoas de grandes decisões na história do Maranhão.

O período que vai de 1930 a 1945 trouxe significativas mudanças no cenário

nacional, guardando suas peculiaridades em cada Estado. O movimento de 30 veio a por fim à

política do Café com Leite, na qual políticos de Minas Gerais e São Paulo revezavam na

presidência da República.

A iniciativa deste movimento veio a contra golpe da “quebra de contrato”, por

parte do político paulista Washington Luìs, então presidente do Brasil, ao indicar Júlio

Prestes, presidente de São Paulo. O candidato lesado, Antônio Carlos, na época presidente de

Minas, aliou-se a João Pessoa, presidente da Paraíba, para a candidatura do político sulista

Getúlio Dornelles Vargas, antes ministro da Fazenda e que no momento exercia a presidência

do Rio Grande do Sul.

Sob a égide da campanha da presidência do Brasil de Getúlio Vargas, formou-se a

Aliança Liberal, que contava com o apoio dos tenentes de partidos dos centros urbanos

sulistas e também nordestinos.

Os tenentes, com exceção do capitão Luís Carlos Prestes, que seria mais tarde

expoente do Partido Comunista, organizaram a revolução contra o fato que se verificou na

campanha tida como fraudulenta de Júlio Prestes ao cargo de chefe do Estado Brasileiro, foi

revogado e ele obrigado pelos tenentes a aceitar a liderança do movimento.

Com a vitória quase garantida, um fato novo precipitou a revolução contra o

presidente do Brasil: o assassinato de João Pessoa. A revolução armada foi vitoriosa e em 24

31

de outubro de 1930, Washington Luís entrega o poder a uma junta militar, onde Getúlio

Vargas assume um governo provisório em 3 de novembro.

No novo governo, tido como provisório até a convocação de uma Assembléia

Constituinte18, este novo comando dissolveu o Congresso Nacional e as Assembléias

Estaduais, e para os Estados da Federação nomeou interventores no período de 1937 a 1945.

Depois do impeachment de Aquiles Lisboa, o poder maior do Estado é entregue

nas mãos do advogado Paulo Martins de Sousa Ramos, que caracterizava-se “imune às

paixões provocadas pelo partidarismo intransigente e intolerante que tanto perturbara a curta

gestão de seu antecessor” (MEIRELES, s.d, p.31).

Ao assumir o cargo de Interventor Federal, Paulo Ramos efetivou algumas

estratégias, para isso, com uma política pautada na “produção e consolidação de uma

convincente autonomia administrativa” (CORRÊA, 1993, p.207).

Esta autonomia, na concepção do interventor, afastaria o perigo da volta de

tradicionais correntes políticas da máquina estatal. Ele referia-se às correntes que vigoravam

na época e que estavam sedentas por um desfile para um possível retorno.19Correntes

lideradas pelo então oficial da marinha José Maria Magalhães de Almeida, os genesistas

liberados por Genésio Rêgo e os marcelinistas liderados pelo médico Marcelino Machado.20

Uma vez conquistada a atenção política em torno de si, atraiu reforços para a

mudança da situação econômica do Maranhão. Em seus relatórios escritos publicados a cada

ano, onde o interventor repassava o quadro econômico político e cultural que o Estado se

encontrava, vários são os “álibis” utilizados em seu favor como grande estadista.

Como de praxe, ressalta as péssimas condições financeiras administrativas que

recebeu do Estado. Fora este habitual episódio, o interventor destaca e descreve que muito

havia por se fazer, ressaltando mais ainda o desprovimento de Recursos do Tesouro

Maranhense.

Como grande articulador, Paulo Ramos apresenta a Vargas a situação que agora

vigora em seu governo, são algumas delas finanças semeadas, transportes garantidos por

estradas de custo pouco elevado, mas francamente trafegáveis, rios desobstruídos (....), força

18

No Maranhão, fechada a Assembléia, que seria substituída por um conselho consultivo de apenas três membros e de livre nomeação do Presidente, indicado pelo interventor (MEIRELES, s.d, p.40). 19

Intuito de atrair as classes médias e os trabalhadores urbanos do Maranhão (CALDEIRA, 1999, p.86). 20 Os magalhaesistas têm como integrantes principais os grandes proprietários rurais, agroindustriais e comerciantes importadores – exportadores, os genesistas tinham como principal reduto político a cidade de Pedreiras e os marcelinistas tinham um discurso pautado como de oposição com o seu irmão Lino Machado (CALDEIRA, 1999, p.85/86).

32

política, social e econômica mobilizada para a conquista de um melhor padrão de vida

(Relatório apresentado a Getúlio Vargas. Imprensa Oficial, p.41).

Todos estes benefícios estão bem aos moldes do que Getúlio pretendia para os

Estados, como a contenção das despesas, aplicação racional dos recursos, montagem da infra-

estrutura (CALDEIRA, 1999, p.87).

Atualizado as ordens de Getúlio e construindo sobre si a imagem de um político

construtor, saneador dos problemas e amigo da família21 maranhense, Paulo Ramos traz para

ser seus alidos os intelectuais, mais precisamente os da Academia Maranhense de Letras e os

empresários, incluindo os libaneses, já com grande destaque na época. Estes dois agregados

ao grupo do interventor manteram distanciamento dos grupos políticos outrora vigentes.

Uma vez conseguido o sucesso da administração, era preciso legitimar o Estado.

Os intelectuais, com todo o seu bojo cultural e influência que exerciam sobre a sociedade que

vivia o status, ajudaram a construir um quadro perfeito.

O caminho de facilidades aberto pelo interventor aos intelectuais fez com que

alguns desdobrassem ao poderio da dominação do Estado Novo.

Na Academia Maranhense de Letras, nomes como Agnello Costa, diretor da

Imprensa Oficial, Clodoaldo Cardoso, diretor da Fazenda do Estado, Ribamar Pinheiro,

diretor do departamento Estadual de Imprensa e propaganda, Nascimento Moraes, catedrático

do Liceu Maranhense e presidente da Academia Maranhense de Letras, entre outros, (Côrrea,

1993, p.210) são alguns dos nomes relacionados ao governo Paulo Ramos.

Desta feita, muitas são as homenagens prestadas ao interventor com o intuito de

divulgar o governo por ele realizado. Através de homenagens na Academia Maranhense de

Letras, como a realizada na posse do fardão por Viriato Correia, em carta publicada em 27 de

julho de 1938 ao seu “ilustre e prezado amigo D. Paulo”.

Viriato Correia comove-se com o gesto do amigo pela “espontaneidade e a

presteza com que ele foi feito e revela lisonjeiramente a mentalidade de um homem no

governo” (Diário Oficial, 27 de agosto de 1938).

Assim como em texto de outros autores publicados no Diário Oficial do Estado.,

Agnello Costa publicou um texto intitulado “Num ambiente de confiança, paz e ordem”

enfatizando a situação do antes e depois, pois segundo ele,

21

Além de uma imagem política pautada na construção de uma infra-estrutura para o Maranhão, o interventor ratava de cuidar das questões morais: a pacificação dos espíritos, a conciliação da família, a abertura de uma nova era de congraçamento geral. São alguns dos pontos abordados para a construção de um Maranhão maior e mais feliz (Relatório, Imprensa Oficial, 1941).

33

O Maranhão que se aviltava na aridez das lutas ésteres de mesquinho partidarismo, que o dividia e o distanciava, dia a dia, da paz e da ordem, encontrou no Dr. Paulo Ramos o realizador dos seus anseios e das suas aspirações (Diário Oficial, 14 de agosto de 1938).

E ainda perguntou: “Nas malhas da miséria está, de certo na escravidão mais

negra. Como pode ser livre o povo que não tem independência econômica?” (Diário Oficial,

14 de agosto de 1938).

E o mesmo autor responde: “Faz-se necessário promover-lhe o levantamento

imediato, dando impulso e vigor às forças produtoras do Estado” (Diário Oficial, 14 de agosto

de 1938).

E, para fazer crescer as forças produtivas do Estado, o interventor dá vasão para

os empresários no seu governo, como afirma Mário Meirelles, em História do Comércio,

Não obstante, não se poderá afirmar que, por isso as classes empresariais tenham gozado, durante esse tempo, de maior prestígio ou de terem tido maior influência na pública administração, do que tinham tido com os interventores passados notadamente com Paulo Ramos (...) [s.d., p.76]

E foi através das influências empresariais que os primeiros deputados

descendentes dos sírios-libaneses apareceram no cenário político. Em o “poder legislativo do

Maranhão de 1830 a 1930” de Milson Coutinho, encontramos os nomes libaneses a partir de

1927 como Sebastião Archer da Silva, eleito com 6.13222, votos. Ainda em 1930, notamos o

seu nome galgando espaço como deputado estadual

E neste ambiente político tiveram uma participação decisiva, deixando para trás o

medo do que representavam para o Estado em um início de imigração difícil. Não defenderam

os seus interesses pessoais, mas sim lutaram pelos interesses de um Estado que os acolheu e

lhes proporcionou experiência política. Cada vez mais ganhando espaço, chegaram ao

governo do Estado em 1951, como Cézar Aboud, período que extrapola os limites do

trabalho.

22

Sendo contestado sua eleição pelo Dr. Lino Machado, mas não foi acatado (COUTINHO, 1981, p.375).

34

4.2 De empresários a políticos

Com o fechamento das Assembléias Legislativas, a última sessão da Assembléia

ocorreu em 06 de novembro de 1937, com a interrupção pelo historiador Jerônimo de

Vivieiros, que nas palavras de Coutinho (1998, p.21), “colitado por esbirros, tentou obstruir a

reunião da casa, valendo-se de assuadas que dificultaram o regular funcionamento do

parlamento estadual naquele dia”, o que depois lhe valeu 30 dias de suspensão.

Quatro dias depois, em 10 de novembro de 1937, “O Estado Novo” acometeu o

Brasil e apenas em 1947 volta-se a ter a casa aberta com a eleição de 36 deputados. Dos 36

deputados eleitos, não encontramos nomes de sírios-labaneses para continuar agora na

redemocratização.

Antes de 1930, apenas Sebastião Archer é encontrado nas fileiras dos deputados

eleitos, pelo menos com um nome que possa se identificar. Joaquim Nagib Haickel,

descendente de libaneses, deputado estadual declara: “eles começaram a se aclimatar apenas

na II metade do século XX, começaram a procriar e começaram a se sobressair, com exceção

de Sebastião Archer, eu não conheço nenhum árabe importante na década de 30”.

De fato, na década de 30 e até 1945 que é o enfoque da pesquisa, eles começam a

dar os primeiros passos na política do Estado maranhense, deixando de lado o medo que

sentiam do Estado enquanto agente da administração.

Depois de Sebastião, da família Archer, encontramos os nomes de Cézar, da

família Aboud, que dois anos após 1945, é suplente do PTB, quando ainda lançava-se na

política do Maranhão, e também Alfredo, da família Dualibe.

Em 1930 o Coronel Sebastião Archer da Silva estava nas fileiras daqueles que

ficaram conhecidos como “o último suspiro democrático da República de Ruy Barbosa’,

(COUTINHO, 1988, p.145) iniciado aqui pelo conhecimento e pelas influências que

conquistaram na política e entre os políticos maranhenses e carreira política visivelmente

crescente.

Outros políticos, como Ismael Salomão Moussalem, estavam entre os nomes

daqueles que na década de 1930 foram surpreendidos pelo Estado Novo.

Nos anos 40, a política do Maranhão caracteriza-se pelo “esquecimento” de

programas, idéias, grandes temas nacionais, liberdade e imprensa livre (COUTINHO, 1988,

p.27). No regime arbitrário e insensato no que tange às liberdades públicas (COUTINHO,

35

1988, p.22) de Paulo Martins Ramos, a política se tornou ainda mais intrigante e dedurista

(COUTINHO, 1988, p.27).

A base governista vivia na idéia de que o governo de Paulo Ramos representava:

A abertura de uma nova era de congraçamento geral, sob o influxo de princípios novos, inspirados no desejo coletivo de edificar um Maranhão maior e mais feliz sobre as ruínas do Maranhão antigo, dividido e torturado pelas lutas dos partidos que o aniquilavam (...) (Relatório apresentado a Getúlio Vargas em 1941).

Em meio a esta política, souberam se adaptar, conquistando a partir de 1947

postos mais significativos como a posse do governo por Sebastião Archer da Silva, em 1947.

Neste quadro, os políticos libaneses faziam parte do grupo governista, embora não

tivessem ainda, neste momento da história, grande influência. Sobre isso, Joaquim Haickel

diz: “Havia uma grande (...) não influência, mas o Paulo Ramos tinha grandes amigos

libaneses, eu não conheço nenhuma influência política”.

Embora não tivessem tamanha influência na política maranhense, podemos sim

detectar que faziam parte da bancada governista e não da oposição23.

Os documentos que poderiam “desvendar” um pouco mais sobre o assunto não

existem em virtude do fechamento da Assembléia, no período que vai de 1935 a 1947. O

período que vai de 1930 a 1945 revela os primeiros passos dos descendentes sírios libaneses

na política do Maranhão, “jogando luz” numa história antes pouco conhecida.

23

Pelo menos nos documentos que tive acesso posso detectar este fato.

36

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A guerra afastou do Líbano seus filhos e os expulsou para terras longínquas. Um

destes locais é o Brasil, mais particularmente o Maranhão.

No Maranhão, aos poucos conquistaram seu espaço. Venceram a saudade da terra,

dos lugarejos, dos locais em particular, de parentes, que mais tarde irão se deslocar para a

“terra da prosperidade” devido à conquista dos primeiros viajantes.

O Brasil, o Maranhão, enfim, o continente americano, tornou-se o lugar onde os

sonhos se realizam. Trouxeram consigo motivação para progredir, aliás, todos os imigrantes

possuem este tipo de sentimento em relação à terra que procuram como nova pátria. Para eles,

talvez, se torne mais fácil deixar para trás os empecilhos que vêm com a migração.

Aqui, viveram de atividades mercantis, embora fossem agricultores de primeiro

escalão. O Maranhão e as suas considerações primárias não lhes permitiram adentrar ao

“mundo da terra”.

Todo imigrante precisou de uma “válvula de escape”. Para estes sírios-libaneses, o

comércio abriu as portas. Utilizando-se de suas “artimanhas” comerciais, de um conhecimento

que já vem desde os seus antepassados fenícios, conseguiram uma grande influência

comercial.

O seu novo jeito de vender, de tratar e de ver seus próprios negócios trouxeram a

alta sociedade para os armazéns, lojas ou até pequenos estabelecimentos. Na corrida pela

clientela, seu desejo de se “tornar maranhense” fez com que aprendessem como lidar com esta

sociedade que buscava a modernidade a todo preço.

Através do comércio, conseguiram vencer os primeiros obstáculos: financeiros e

discriminativos, embora no Maranhão não fosse tão exacerbado como em outros locais da

América.

Na década de 30, começam a fazer parte dos quadros de um dos órgãos mais

influentes no meio social maranhense: a Associação Comercial.

Fazendo parte da Associação Comercial, passaram a entender e a conhecer melhor

como funcionava a economia do Maranhão e também a conviver com pessoas importantes da

política e do comércio do Estado.

A primeira etapa “passaram com louvor” e foram parar nas altas do mundo social

ludovicense. Eles não apenas aculturavam-se, mas conquistaram terreno e ganharam

37

influência no meio da “classe média” maranhense. No interior e na capital, levantaram sua

voz, o que outrora não acontecia.

Inicialmente o cuidado com o comportamento foi até exagerado. Para sobreviver

em uma terra estrangeira, era necessário ter uma boa conduta para não causar escândalos que

pudessem impedir o crescimento, a trajetória e o caminho de seus planos.

Planos estes que consistiram em uma família estruturada financeiramente e

moralmente em um espaço dito como adequado para eles. Os olhares desconfiados e o

preconceito, embora não tão expostos, foram superados e a sociedade maranhense aprendeu a

viver com o atendimento amável e delicado das lojas, a entrada na Associação Comercial e

mais tarde, com o carisma, o que ajuda no engajamento na política do Maranhão.

Como dito antes, eles não apenas assimilaram costumes do Maranhão, como

tiveram o seu espaço e ganharam voz, apesar do preço de ter modificado costumes milenares.

A título de melhor compreensão, os costumes milenares aos quais me refiro são: a

mulher como administradora de negócios; os filhos, que já não são tão submissos aos paises,

devido à influência externa de pessoas; TV; rádio; jornais e outros.

Esta nova posição, bem mais confortável, trouxe a possibilidade de avançar no

processo de “conquista” da nova terra. Com uma combinação de persistência, sorte e

prestígio, chegaram ao ramo mais complicado para estrangeiros ou descendentes: a política,

último estágio de um estabelecimento mais concreto e certeiro.

Neste campo, as pessoas mais influentes em situações que envolvem não somente

o Maranhão mas o quadro político do Brasil.

Nesta época, O Estado Novo vigorava com suas políticas ditatoriais. Assim a

condição delicada a qual vivia o Maranhão, com a Era Paulo Ramos, contou com a visão de

mundo dos descendentes e sírios-libaneses que se encontravam no Estado.

Esta fase representa a perda do medo de se envolver com os assuntos mais

intimistas dos maranhenses. Antes da década de 30, e até neste período, encontramos apenas o

“cacique de Codó”, como nome atuante e conhecedor da administração: Sebastião Archer.

Quanto da evolução do período, vamos encontrar mais outro representante: Cézar

Aboud. Com o fechamento da Assembléia Legislativa, em 1935, as atas não mais existiam, o

que possibilitava o melhor entendimento de suas atuações.

Através deste trabalho, podemos compreender que a conquista de novos

patamares, através da realização comercial, os levaram até as “entranhas” políticas. Não

defenderam seus interesses diretos, mas sim de todos os maranhenses como eles se tornaram

e, conseqüentes seus filhos.

38

O comércio, a sociedade e a política formam o tripé utilizado para a compressão

da jornada destes “novos maranhenses”. O respeito que ganharam os levou ao governo do

Estado e à Presidência da Assembléia, politicamente falando, ponto mais importante para a

inserção na vida do Maranhão. Agora bem colocados, perpetuam ao longo dos anos suas

conquistas sociais e influências na história do Estado.

39

REFERÊNCIAS

BRITO, Sérgio. A libanização do Maranhão. In: Felix Alberto Lima (org). Maranhão reportagem. São Luís: Clara Editora, 2000. CALDEIRA, João Ricardo de Castro. Integralismo e política regional: a ação integralista no Maranhão. São Paulo: Anna Blume, 1999. CHAIB, Jorge Azar. Os sírios no Piauí. In: Maria Mafalda Baldoino de Araújo, João Kenne dy Eugênio (org). Gente de longe: histórias e memórias. Teresina: Halley, 2006. COUTINHO, Milson, O poder legislativo do Maranhão de 1830. São Luís: SIOGE, 1981 ________________, O poder legislativo do Maranhão. v. II. São Luís: ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA, 1988. CORRÊA, Rossini. Formação social do Maranhão: o presente de uma arqueologia. São Luís: SIOGE, 1993. DIÁRIO Oficial do Maranhão. Ano 3.3 , 14 de agosto de 1938 numero 179. _______________________. Ano 3.3 , 21 de agosto de 1938 numero 179. FAUSTO, Boris. Imigração: cortes e continuidades. In: Fernando Antônio Novaes (org). História da vida privada no Brasil. V. 4. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. FERRACINI, Abimael. As comemorações dos 400 anos de Québec e São Luís. Jornal Pequeno. Disponível em: www.jornalpequeno.com.br. Acesso em: 10 set. 2007. FRANÇA, Magda. O estabelecimento da colônia libanesa no Maranhão. Monografia de graduação, UFMA, 1990. GATTAZ, André. Do Líbano ao Brasil: história oral de imigrantes. São Paulo: Gandalf, 2005. JORNAL, Correio da Manhã. 12 de julho de 1930. HABIIB, Mohammed, A presença árabe no Brasil: Mohammed Habib, um "híbrido cultural". Revista Com Ciência, n.º 16, p. 5, dez 2000/jan 2001. Disponível em: http://www.comciencia.br/reportagens/framereport.htm. Acesso em: 11 ago 2007. HAICKEL, Joaquim nagib. Entrevista concedida. 20 ago. 2007. LESSER, Jefrey. O choque de civilizações. Seminário Cultura e Intolerância. SESC. São Paulo, 2003. LIMA, Olavo Correia. Os sírios e os libaneses no Maranhão. 2 ed. São Luís: E.C., 1987.

40

MEIRELES, Mário M. História do comércio do Maranhão. São Luís: Lithograf,. PAXECO, Fran. Geografia do Maranhão. São Luís: Lithograf, 1992. REIS, Flávio Antônio Moura. Grupos políticos e a estrutura oligárquica no Maranhão (1875 – 1914). Dissertação de mestrado, IFCH / Unicamp. 1992. RELATÓRIO apresentado ao Dr. Paulo Ramos a Getúlio Vargas, 1941. RUTIER, Robson. Estudo da imigração libanesa no Estado do Maranhão. Trabalho de conclusão de curso. UFMA, 2000. TAJRA, Marta. Gente de longe: o manjar (imigração de sírios para o Piauí. In: Maria Mafalda Baldoíno de Araújo, João Kenne dy Eugênio (org). Gente de longe: histórias e memórias. Teresina: Halley, 2006. TRUZZI, Oswaldo. O lugar certo na época certa: sírios e libaneses no Brasil e nos Estados Unidos – um enfoque comparativo. Rio de Janeiro, 2001. VIVEIROS, Jerônimo. História do comércio do Maranhão (1896 – 1934). São Luís: Lithograf, 1964.