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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA MARCELO ABBEHUSEN MAGALHÃES CARACTERIZAÇÃO FACIOLÓGICA DA FORMAÇÃO TAQUIPE, AFLORAMENTO DA PRAIA DE INEMA, SALVADOR - BAHIA Salvador 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE …twiki.ufba.br/twiki/pub/IGeo/GeolMono20111/Marcelo_Abbehusen_20112.pdf · 7 ABSTRACT The Reconcavo Basin is inserted into the Reconcavo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE GEOLOGIA

MARCELO ABBEHUSEN MAGALHÃES

CARACTERIZAÇÃO FACIOLÓGICA DA FORMAÇÃO TAQUIPE, AFLORAMENTO DA PRAIA DE INEMA, SALVADOR - BAHIA

Salvador 2011

2

MARCELO ABBEHUSEN MAGALHÃES

CARACTERIZAÇÃO FACIOLÓGICA DA FORMAÇÃO TAQUIPE, AFLORAMENTO DA PRAIA DE INEMA,

SALVADOR - BAHIA

Monografia apresentada ao Curso de Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia. Orientador: Prof. Msc. Roberto Rosa da Silva

Salvador 2011

3

TERMO DE APROVAÇÃO

MARCELO ABBEHUSEN MAGALHÃES

Salvador, 27 de Dezembro de 2011

CARACTERIZAÇÃO FACIOLÓGICA DA FORMAÇÃO TAQUIPE, AFLORAMENTO DA PRAIA DE INEMA,

SALVADOR - BAHIA

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

Prof. Msc. Roberto Rosa da Silva - Orientador

Petrobras/Instituto de Geociências – UFBA

Prof. Dr. Olívia Maria Cordeiro de Oliveira

Instituto de Geociências – UFBA

Prof. Dr. Carlson de Matos Maia Leite

Petrobras/Instituto de Geociências – UFBA

4

“Don‟t worry

About a thing

„Cause every little thing

Gonna be all right”

Bob Marley

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha família, por todo o amor e carinho, e por

serem os responsáveis pela pessoa que sou hoje. Em especial aos meus pais,

Marcelo e Marisa; meus avós, Roberto e Marília; meus tios, verdadeiros pais e

irmãos para mim; meus primos, especialmente betinho, por ter feito parte de minha

infância, e lucas (guri), por ser o mais próximo que tenho de um irmão; à Luiza,

minha afilhada, pelos momentos de diversão; à Nana, pelo carinho; à Nando, por ter

sido um pai para mim.

À Nanda, amor da minha vida, pelo amor sincero, apoio, incentivo e

paciência. À Marcia, minha sogrinha do coração, e Dani, minha querida cunhada,

por me acolherem como parte da família.

Aos professores Michael Holz, Carlson Leite, André Netto, Débora Rios,

Olívia, César Gomes, dentre outros, pelos ensinamentos prestados ao longo do

curso.

Aos professores Ângela, Simone, Osmário e Eron, por, além de terem sido

excelentes professores, terem me ajudado tanto nesta reta final. À vocês, minha

eterna gratidão e amizade. Ao professor e amigo Roberto Rosa, pela grande ajuda e

orientação no presente trabalho. À Mércia, pela ajuda e torcida.

À família Rodrigues Brazileiro, que tenho o orgulho e a felicidade de chamar

de segunda família: Thiago (kakinho), Matheus (kekeu), Kamilla (miminha), Divaldo,

Miriam e Ari.

Aos velhos amigos: Delmar, Rodriguinho, Paulinho, Dudão, Caio (navara),

CD, Isaac, Caio (cassio), Fifi, Nikiba, Sorin, Fabinho, Renanzinho, Eclético, Dene,

Nicolas, Secão, Fumacinha e Leo.

Aos amigos do Karatê, minha eterna saudade, ao meu primeiro mestre na

vida, Enobaldo Ataíde.

Aos novos amigos e agora colegas de profissão, Brunão, Emo, Pri, Vitinho,

Mineiro, Samuel, Beca, Cabeça, Kim, Luan, Luciano, Acácio, Gonti, Muriel, Salsicha,

Tico, Lucas, Cipri, Dira, MV, Mario, Carlos, Ray Charles, Fabi, Luana, Laura,

Alexandre, Eula, Priscilona... Enfim... Toda a galera de Geologia da UFBA.

Caso tenha esquecido alguém, peço sinceras desculpas.

À todos vocês, meu muito OBRIGADO.

6

RESUMO

A Bacia do Recôncavo está inserida no Sistema de riftes Recôncavo-Tucano-

Jatobá (MAGNAVITA, 1996) e está localizada no Nordeste do Brasil, no estado da

Bahia, ocupando uma área aproximada de 11.500 km² (SILVA et al., 2007).

Dentre os vários sistemas petrolíferos encontrados na Bacia do Recôncavo,

os turbiditos da Formação Taquipe, objeto de estudo do presente trabalho,

caracterizam o quinto mais importante play da bacia (Roberto Rosa, informação

verbal), com porosidade de 18 a 24% e permeabilidade de 30 a 300 md

(ROSTIROLLA, 1997).

A presente monografia teve como principal objetivo a caracterização

faciológica dos ritmitos da Formação Taquipe, no afloramento da Praia de Inema,

Base Naval de Aratu. A partir deste estudo, pôde-se identificar os processos e

ambientes deposicionais que originaram as fácies e estruturas sedimentares

observadas durante os trabalhos de campo, sendo traçados paralelos com os dados

e informações pretéritas obtidas acerca desta Formação.

Utilizando critérios como, estruturas sedimentares, granulometria e geometria

dos corpos, individualizou-se quatro fácies sedimentares: (i) Folhelho com laminação

plano-paralela e intercalações de níveis arenosos à sílticos; (ii) Arenito fino à médio

maciço ou com estratificação plano-paralela; (iii) Arenito fino a médio com

laminações cruzadas cavalgantes (climbing ripples); (iv) Arenitos com intercalações

de folhelhos.

O principal mecanismo de deposição interpretado para a presente Formação

foi o de correntes de turbidez, visto que as estruturas sedimentares encontradas nas

fácies sedimentares observadas representam os intervalos Ta – Tc/Td da Sequência

de Bouma, e dos intervalos F7, F8 e F9a, das fácies turbidíticas de Mutti.

Concluiu-se que as correntes de turbidez se propagaram em condições de

regimes de fluxo superior e inferior de baixa densidade, além da ocorrência de fluxos

gravitacionais de massa, que foram responsáveis por depósitos de slump.

O ambiente em que esta formação está inserida é o Cânion de Taquipe, em

regime subaquoso, lacustre e escavado sobre os deltas da Fm. Pojuca.

Palavras-chave: Taquipe, Turbiditos, Recôncavo, Facies.

7

ABSTRACT

The Reconcavo Basin is inserted into the Reconcavo – Tucano – Jatoba rifts

(MAGNAVITA, 1996) and is located in northeastern Brazil, in Bahia state, occupying

an area of approximately 11,500 km² (SILVA et al., 2007).

Among the various petroleum systems found in the Reconcavo Basin, the Taquipe

Formation turbidites, study object of this work, represent the fifth most important play

of the basin (ROBERTO ROSA, verbal information), with a porosity of 18-24% and

permeability 30-300 md (ROSTIROLLA, 1997).

This work aimed the facies characterization of the rhythmites of the Taquipe

Formation, in the outcrop of Inema Beach, Aratu Naval Base. From this study, we

could identify the processes and depositional environments that gave rise to facies

and sedimentary structures observed during the field work, being drawn parallel with

the data and information obtained about the preterit formation.

Using criteria such as sedimentary structures, grain size and geometry of the bodies,

individualized Four sedimentary facies: (i) shale with parallel lamination and

interbedded sand layers (ii) fine to medium sandstone with massive or plane-

parallel, (iii) Fine to medium sandstone with laminations cross cavalgantes (climbing

ripples), (iv) sandstones with interbedded shales.

The main mechanism of deposition interpreted to this formation is of turbidity

currents, since the sedimentary structures found in sedimentary facies observed

represent the intervals Ta - Tc / Td the sequence of Bouma, and the intervals F7, F8

and F9a, the turbidite facies of Mutti.

It was found that the turbidity is propagated under top and bottom low density flow

regimes, and the occurrence of gravitational mass flows, that were responsible for

the deposition of slumps.

The environment in which this formation is included in the Canyon Taquipe, under

subaqueous, lacustrine deltas and excavated on Fm. Pojuca..

Keywords: Taquipe, Turbidites, Recôncavo, Facies.

8

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO ............................................................ 14

1. INTRODUÇÃO ............................................................................... 14

1.1. LOCALIZAÇÃO E ACESSO DA ÁREA DE ESTUDO .................................... 16

1.2. CONTEXTUALIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA .................... 16

1.3. OBJETIVOS ................................................................................................... 19

1.4. JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 19

1.5. MÉTODO DE TRABALHO ............................................................................. 19

1.5.1. Fase Pré-Campo ......................................................................................... 19

1.5.2. Fase Campo ............................................................................................... 19

1.5.3. Fase Pós-Campo ........................................................................................ 20

CAPÍTULO 2 – GEOLOGIA REGIONAL ............................................ 21

2. GEOLOGIA REGIONAL ................................................................ 21

2.1. LITOESTRATIGRAFIA ................................................................................... 21

2.1.1. Estratigrafia do Paleozóico ....................................................................... 21

2.1.2. Estratigrafia do Mesozóico ........................................................................ 22

2.1.3. Estratigrafia do Cenozóico ........................................................................ 26

2.2. ARCABOUÇO ESTRUTURAL ....................................................................... 26

2.3. EVOLUÇÃO TECTONO-SEDIMENTAR ......................................................... 28

2.4. FORMAÇÃO TAQUIPE .................................................................................. 31

CAPÍTULO 3 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................. 40

3. ASPECTOS TEÓRICOS RELACIONADOS ÀS FÁCIES SEDIMENTARES E PROCESSOS DEPOSICIONAIS ....................... 40

9

3.1. FLUXOS GRAVITACIONAIS DE MASSA ...................................................... 40

3.2. FLUXOS GRAVITACIONAIS DE SEDIMENTOS ........................................... 41

CAPÍTULO 4 – GEOLOGIA LOCAL ................................................... 46

4. GEOLOGIA LOCAL ....................................................................... 46

4.1. CARACTERIZAÇÃO GERAL DO AFLORAMENTO ...................................... 46

4.2. CARACTERIZAÇÃO DAS FÁCIES SEDIMENTARES ................................... 51

4.2.1. Folhelho com laminação plano-paralela e intercalações de níveis arenosos à sílticos ................................................................................................. 51

4.2.2. Arenito fino a médio maciço ou com estratificação plano-paralela ....... 54

4.2.3. Arenito fino a médio com laminações cruzadas cavalgantes (climbing ripples) .................................................................................................................... 58

4.2.4. Arenitos com intercalações de folhelhos ................................................. 61

4.3. PROCESSOS, AMBIENTES E MODELOS DEPOSICIONAIS ....................... 64

CAPÍTULO 5 - CONCLUSÃO ............................................................. 68

5. CONCLUSÃO ................................................................................. 68

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................. 70

ANEXO I ............................................................................................... 73

ANEXO II .............................................................................................. 75

10

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Localização da Bacia do Recôncavo em relação à América do Sul, Brasil e

bacias adjacentes. Fonte: DIAS FILHO (2002) apud SANTOS (2011). .................... 14

Figura 2. Localização, limites e arcabouço estrutural da bacia do Recôncavo. Fonte:

Milhomem et al. (2003). ........................................................................................... 15

Figura 3. Localização e Acesso da Base Naval de Aratu. A - BR - 324; B - Praia de

Inema, Base Naval de Aratu. Fonte: GoogleMaps. .................................................. 17

Figura 4. Paleogeografia da seção Pré-Rifte da Bacia do Recôncavo. Fonte:

Medeiros & Ponte (1981) apud Magnavita et al. (2005). .......................................... 23

Figura 5. Paleogeografia sin-rifte da Bacia do Recôncavo. Fonte: Medeiros & Ponte

(1981) apud Magnavita et al. (2005). ....................................................................... 24

Figura 6. Seção geológica esquemática NW-SE, ilustrando a morfologia de meio-

gráben da bacia do Recôncavo, cujo depocentro situa-se a leste. Fonte: Milhomem

et al. (2003). ............................................................................................................. 27

Figura 7. Mapa geológico esquemático com a localização do Rifte Recôncavo-

Tucano-Jatobá, mostrando a distribuição de sedimentos pré-, sin- e pós-rifte. Fonte:

Magnavita (1992). .................................................................................................... 29

Figura 8. Paleogeografia durante a deposição da Formação Taquipe (modificado de

Figueiredo et al. 1994). Fonte: Magnavita et al. (2005). ........................................... 33

Figura 9. Limites do Cânion de Taquipe (modificado de Netto et al., 1984). Fonte:

Amorim (1992). ........................................................................................................ 34

Figura 10. Arenitos da Formação Taquipe, cortados por falhas normais de pequeno

porte. Fonte: Magnavita et al. (2005). ...................................................................... 35

Figura 11. Arenito com estrutura de escape de fluidos. ............................................ 36

Figura 12. Arenito com estrutura de escape de fluidos. ............................................ 36

Figura 13. Conglomerado com fragmentos lamosos. ............................................... 36

Figura 14. Conglomerado com fragmentos lamosos. ............................................... 36

Figura 15. Arenito maciço. ....................................................................................... 37

Figura 16. Arenito com estruturas de escorregamento. ............................................ 37

Figura 17. Arenito maciço. ....................................................................................... 37

Figura 18. Arenito com estruturas de escorregamento. ............................................ 37

Figura 19. Arenito com sequência de Bouma incompleta, intervalos Tb - Tc. .......... 38

11

Figura 20. Arenito com sequência de Bouma incompleta, intervalos Tb - Tc. .......... 38

Figura 21. Siltito arenoso. ........................................................................................ 38

Figura 22. Lamito com deformação plástica. ............................................................ 38

Figura 23. Arenito com estratificação cruzada acanalada. ....................................... 39

Figura 24. Conglomerado de oncolitos. .................................................................... 39

Figura 25. Arenito com estratificação cruzada acanalada. ....................................... 39

Figura 26. Conglomerado de oncolitos. .................................................................... 39

Figura 27. Desenho esquemática do processo gravitacional de fluxo de detritos

formados a partir de Slides e Slumps. Modificado de Magalhães (1990). Fonte:

Almeida (2004). ........................................................................................................ 41

Figura 28. Diagrama esquemático idealizando a evolução de um fluxo gravitacional.

Shanmungam (2006) apud Santos (2011). .............................................................. 43

Figura 29. Sequência clássica de Bouma, adaptada de Walke (1978). Fonte:

Almeida (2004). ........................................................................................................ 44

Figura 30. Fácies turbidíticas de Mutti (1992) e processos relacionados. (Almeida,

2004)........................................................................................................................ 45

Figura 31. Modelo Deposicional para a Fm. Taquipe. Fonte: Mato (1990) apud Paz &

Oliveira (1996). ........................................................................................................ 67

12

ÍNDICE DE FOTOS

Foto 1. Sucessão de arenitos e pelitos (ritmitos) da Fm. Taquipe. Afloramento da

Praia de Inema. ........................................................................................................ 46

Foto 2. Blocos soltos e fragmentos de rocha............................................................ 47

Foto 3. Estratos Basculados para NW...................................................................... 48

Foto 4. Falha normal. ............................................................................................... 49

Foto 5. Par conjugado, cortando a sucessão de arenitos e pelitos. .......................... 49

Foto 6. Dobra apertada à isoclinal recumbente, com plano axial e linha de charneira

horizontais, provavelmente associada à mecanismos de slump. ............................. 50

Foto 7. Sucessão mostrando padrão thickening e coarsening upwards. .................. 50

Foto 8. Folhelhos com laminação plano-paralela e intercalações com níveis

arenosos à sílticos. .................................................................................................. 52

Foto 9. Camada de folhelhos intercalados lentes areníticas a sílticas, exibindo

geometria sigmoidal e convolucionada. ................................................................... 52

Foto 10. Diápiro de argila. ........................................................................................ 53

Foto 11. Lutocinese. Diápiros de argila intrudindo em camada de arenito................ 53

Foto 12. Corpo de arenito fino à médio dobrado com geometria de lobo. ................ 54

Foto 13. Corpo de arenito fino à médio dobrado com geometria de lobo. ................ 55

Foto 14. Convoluções no corpo de arenito fino à médio, provavelmente associadas à

diapirismo de argila ou escorregamentos. ................................................................ 55

Foto 15. Arenito fino à médio exibindo convoluções na base e estraficação plano-

paralela no topo. Intervalo Tb, da Sequência de Bouma. ......................................... 56

Foto 16. Lente de arenito fino à médio na base do corpo de arenito com geometria

em lobo. ................................................................................................................... 56

Foto 17. Vista lateral da lente de arenito fino à médio, situado na base do corpo

arenítico dobrado. .................................................................................................... 57

Foto 18. Lente de arenito fino à médio, maciço na base e com estratificação plano-

paralela nas porções intermediárias, gradando para laminação plano-paralela no

topo. Intervalos Ta e Tb de Bouma. ......................................................................... 57

Foto 19. Laminações cruzadas cavalgantes (climbing ripples). ................................ 58

13

Foto 20. Laminação plano-paralela, na base, arenito maciço na porção intermediária

e laminações cruzadas cavalgantes no topo. Intervalos Tb, Ta e Tc, da Sequência

de Bouma, respectivamente. .................................................................................... 59

Foto 21. Arenito fino à médio com laminação cruzada cavalgante gradando para

laminação cruzada tangencial. ................................................................................. 59

Foto 22. Arenito maciço na base e com laminações cruzadas cavalgantes no topo.

Intervalos Ta e Tc da Sequência de Bouma, respectivamente. ................................ 60

Foto 23. Arenito fino à médio apresentando climbing ripples. .................................. 60

Foto 24. Intercalações de arenitos e folhelhos (ritmitos), em afloramento de quase 10

metros de altura ....................................................................................................... 61

Foto 25. Sucessão de arenitos e folhelhos (ritmitos). ............................................... 62

Foto 26. Arenitos e folhelhos cortados por duas falhas normais. ............................. 62

Foto 27. Arenito fino à médio apresentando estrutura maciça, intercalado por

folhelhos interlaminados com siltitos, com laminação plano-paralela. Intervalos Ta e

Te da Sequência de Bouma, respectivamente. ........................................................ 63

Foto 28. Sucessão coarsening e thickening upwards. .............................................. 64

14

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

1. INTRODUÇÃO

A Bacia do Recôncavo está inserida no Sistema de riftes Recôncavo-Tucano-

Jatobá (MAGNAVITA, 1996) e está localizada no Nordeste do Brasil (Figura 1), no

estado da Bahia, ocupando uma área aproximada de 11.500 km². Ela é delimitada

pelo Alto de Aporá, a norte e noroeste; pelo sistema de falhas da Barra, ao sul; pela

Falha de Maragogipe, a oeste; e pelo sistema de falhas de Salvador, a leste (SILVA

et al., 2007). O arcabouço estrutural, os limites e as principais falhas da Bacia do

Recôncavo estão representados na Figura 2.

Figura 1. Localização da Bacia do Recôncavo em relação à América do Sul, Brasil e bacias adjacentes. Fonte: DIAS FILHO (2002) apud SANTOS (2011).

15

Figura 2. Localização, limites e arcabouço estrutural da bacia do Recôncavo. Fonte: Milhomem et al. (2003).

A Bacia do Recôncavo é uma bacia sedimentar do tipo rifte, formada durante

o processo de estiramento crustal que resultou na fragmentação do continente

Gondwana (SILVA et al., 2007). Se o processo de fragmentação e separação de um

continente for bem sucedido, uma crosta oceânica é formada, que, por ser mais

densa que a crosta continental, tende a ocupar uma área topograficamente mais

baixa, que pode vir a ser invadida pelo mar. Com a contínua formação de crosta

oceânica e a evolução do rifteamento para as fases posteriores (sag e drifte), os

continentes tendem a se afastar e essa região, que provavelmente foi tomada pelo

mar, tende a evoluir e atingir o estágio de oceano, dando origem a uma margem

passiva, que é o caso da margem leste brasileira. No caso da Bacia do Recôncavo,

esse rifte não evoluiu até este ponto, ou seja, sua crosta não foi rompida. Por este

16

motivo, de acordo com Magnavita et al. (2005), a Bacia do Recôncavo é considerada

um rifte abortado.

O processo de formação da bacia iniciou-se entre o Mesojurássico (há cerca

de 165 Ma) e o Eocretáceo (há cerca de 115 Ma) (MILHOMEM et al., 2003), e

culminou na formação do Oceano Atlântico Sul e dos continentes Africano e Sul-

Americano.

Dentre os vários sistemas petrolíferos encontrados na Bacia do Recôncavo,

os turbiditos da Formação Taquipe, objeto de estudo do presente trabalho,

caracterizam o quinto mais importante play da bacia (Roberto Rosa, informação

verbal), com porosidade de 18 a 24% e permeabilidade de 30 a 300 md

(ROSTIROLLA, 1997).

Dentro deste contexto, o estudo destes arenitos justifica-se pela importância

das feições sedimentares das rochas, principalmente as siliciclásticas, para a

aplicação na caracterização de reservatórios de hidrocarbonetos. No que diz

respeito às acumulações de hidrocarbonetos no Brasil, o principal alvo das

atividades exploratórias de petróleo e gás são os arenitos turbidíticos, uma vez que

grande parte das acumulações são encontradas neste tipo de depósito.

O presente trabalho visa contribuir para uma melhor caracterização

faciológica da Formação Taquipe fornecendo dados importantes acerca da

qualidade de seus turbiditos, o que pode vir a ser útil na explotação de

hidrocarbonetos na Bacia do Recôncavo.

1.1. Localização e Acesso da Área de Estudo

A área de estudo localiza-se na cidade de Salvador, Bahia, mais

especificamente na Praia de Inema, que pertence à Base Naval de Aratu/Marinha do

Brasil.

O acesso se dá através da BR-324, seguindo pela Estrada da Base Naval de

Aratu, até a Praia de Inema (Figura 3).

1.2. Contextualização e Apresentação do Problema

Segundo Rocha et al. (2002), a Bacia do Recôncavo, onde foi descoberto

petróleo pela primeira vez no Brasil, é uma das bacias consideradas maduras mais

produtivas dentre todas as bacias brasileiras, considerando-se sua área (11.500

17

km²) e o volume de óleo encontrado até o momento. Nela foram gerados mais de

1000 milhões de m³ de óleo, dos quais esperava-se recuperar mais de 250 milhões

de m³, com os métodos de recuperação inerentes à época do estudo utilizado como

fonte para as presentes informações. Mais de 230 milhões de m³ de óleo equivalente

foram produzidos nos últimos 60 anos nos seus 80 campos de óleo e gás.

O conhecimento que hoje se detém sobre a sua evolução tectono-sedimentar

relaciona-se aos esforços exploratórios empreendidos pela Petrobras, consolidados

em cerca de 5.700 poços e 57.000 km de linhas sísmicas. As atividades de

prospecção antecedem, no entanto, a criação da Petrobras, tendo se iniciado já em

1937. Sob a gestão do antigo Conselho Nacional do Petróleo, a primeira descoberta

significativa de óleo data de 1939, em poço perfurado no distrito de Lobato, em

Salvador (MILHOMEM et al., 2003).

Segundo Rocha et al. (2002), dentre os campos existentes na bacia, pode-se

citar o campo de Água Grande e o de Araçás uns dos mais importantes. O primeiro,

Figura 3. Localização e Acesso da Base Naval de Aratu. A - BR - 324; B - Praia de Inema, Base Naval de Aratu. Fonte: GoogleMaps.

18

descoberto em 1951, é o maior da Bacia do Recôncavo. Ele está localizado ao longo

da falha de Mata-Catu e é um excelente exemplo de jazida estrutural. A produção do

campo provém dos arenitos neojurássicos flúvio-aluviais da formações Sergi e Água

Grande, estruturados por falhamento de grande rejeito. Nesse campo, assim como

nos demais da Bacia, o óleo, tipicamente continental, é altamente parafínico. Outro

exemplo de campos importantes controlados estruturalmente são os de Dom João e

Buracica. O segundo, descoberto em 1965, é um exemplo de acumulação múltipla,

onde ocorre uma grande quantidade de zonas produtoras empilhadas verticalmente,

associadas à zonas de falhas e é muito comum na Bacia. Nesse campo, a produção

de óleo é oriunda das Formações Sergi e Água Grande e de mais dez diferentes

reservatórios das Formações Marfim e Pojuca, estruturados em uma feição dômica e

falhada.

Ainda de acordo com Rocha et al. (2002), a Bacia do Recôncavo está em

avançado estágio exploratório, sendo considerada madura, com prospectos do tipo

estruturais praticamente esgotados. No entanto, nos últimos anos, com a utilização

de tecnologias avançadas, foi possível definir importantes prospectos estratigráficos

em partes mais profundas da Bacia, onde a atividade exploratória ainda era

relativamente pequena, o que resultou na descoberta de diversas acumulações.

Após 60 anos em atividade produtiva, a produção diária da Bacia do Recôncavo é

de 45.000 barris/dia (dados de 2011), resultando em um total de 16.425.000

barris/ano, cerca de um terço do seu pico histórico, no início dos anos 70.

Uma das razões que motivou a confecção do presente trabalho foi, além da

importância econômica e histórica da Bacia do Recôncavo para a indústria do

petróleo, a falta de trabalhos detalhados acerca da Formação Taquipe, o quinto mais

importante play da bacia. Desta maneira, um estudo apurado desta Formação,

integrando-se dados do afloramento com os dados regionais, pode-se tentar

reconstituir os eventos de sedimentação ocorridos na Bacia do Recôncavo e

elaborar modelos deposicionais para a Formação Taquipe, auxiliando as atividades

explotatórias de seus reservatórios.

.

19

1.3. Objetivos

Os objetivos da presente monografia foram:

Identificação e Caracterização das estruturas sedimentares observadas

em campo;

Integrar os dados de afloramento com os dados regionais.

1.4. Justificativa

De acordo com Magnavita et al. (2005), a Bacia do Recôncavo possui um

sistema petrolífero eficiente, o que a define como uma das mais prolíficas do Brasil.

Rocha et al. (2002) classificou a Bacia do Recôncavo como uma das bacias

maduras mais produtivas do país.

Apesar da Formação Taquipe constituir o quinto play mais importante da

Bacia, existem poucos trabalhos publicados acerca da mesma, o que foi uma das

razões para a escolha desta Formação como o tema da presente monografia.

O afloramento da Praia de Inema foi escolhido como objeto de estudo por

constituir um local de boa expressão, preservação e representatividade da

Formação Taquipe.

1.5. Método de Trabalho

Para a elaboração da presente monografia, as atividades foram divididas em

três etapas: fase pré-campo; fase campo; e fase pós-campo. Cada uma com sua

metodologia de trabalho específica, como descrito abaixo:

1.5.1. Fase Pré-Campo

Esta foi a primeira etapa do trabalho, onde inicialmente foi feita uma pesquisa

bibliográfica utilizando: artigos científicos e trabalhos anteriores acerca das

características que poderiam ser encontradas em campo com relação à

sedimentologia e estratigrafia. Além disto, buscou-se trabalhos que envolvessem a

Formação Taquipe em seus temas, porém pouco foi publicado acerca da mesma.

1.5.2. Fase Campo

20

A fase campo constituiu em visitas ao afloramento da Praia de Inema, com o

objetivo de caracterizar as estruturas sedimentares observadas, identificação de

fácies sedimentares e associação de fácies para a interpretação de ambientes

deposicionais. Os estudos de campo foram acompanhados pelo professor orientador

Msc. Roberto Rosa da Silva.

1.5.3. Fase Pós-Campo

Esta fase pode ser caracterizada como uma fase de interpretação e

tratamento dos dados obtidos durante a fase campo.

Por fim, todos os dados foram integrados para a composição da presente

monografia.

21

CAPÍTULO 2 – GEOLOGIA REGIONAL

2. GEOLOGIA REGIONAL

A seguir, serão apresentados os principais aspectos litológicos,

estratigráficos, estruturais e tectono-evolutivos da Bacia do Recôncavo, no intuito de

se estabelecer uma visão do contexto e da região em que se encontra inserida a

área de estudo.

2.1. Litoestratigrafia

Para a caracterização litoestratigráfica da Bacia do Recôncavo, utilizou-se

como referência a coluna estratigráfica proposta por Caixeta et al. (1994) (Anexo I).

De acordo com este autor, a sucessão sedimentar da Bacia do Recôncavo repousa

sobre as rochas do embasamento cristalino pré-cambriano, sendo separada do

mesmo por uma descontinuidade temporal erosiva.

Segundo Magnavita et al. (2005), a sucessão estratigráfica da Bacia do

Recôncavo possui estratos com idades que variam desde o Paleozóico até o

Cenozóico.

O embasamento da bacia é composto por gnaisses, granulitos e migmatitos

Arqueanos-Paleoproterozóicos do Cinturão Granulítico Atlântico e por rochas

metassedimentaress Neoproterozóicas da Formação Estância (SILVA et al., 2007).

A seguir, serão apresentados os principais aspectos litoestratigráficos da

Bacia, de acordo com a idade geológica e ordem cronológica dos eventos.

2.1.1. Estratigrafia do Paleozóico

A estratigrafia do Paleozóico é representada pela Formação Afligidos, do

Permiano. Esta unidade é composta por sedimentos depositados sob condições de

bacia intracratônica e pode ser subdividida em dois membros: Pedrão (inferior) e

Cazumba (superior).

O membro basal é constituído por arenitos intercalados por finas camadas de

lamitos e ainda por pelitos e evaporitos na sua porção superior. Esta unidade

corresponde a depósitos de barras de maré e plataforma, representando um ciclo

22

marinho regressivo. O Membro Cazumba é composto por folhelhos vermelhos com

níveis sílticos, constituindo um ambiente lacustre raso (MILHOMEM et al., 2003).

2.1.2. Estratigrafia do Mesozóico

Segundo Magnavita et al. (2005), a estratigrafia do Mesozóico no Rifte do

Recôncavo-Tucano-Jatobá é o resultado da própria evolução tectônica da bacia,

podendo ser dividida em seqüências depositadas nas fases pré-rifte, sin-rifte e pós-

rifte. Os depósitos continentais do Supergrupo Bahia incluem sedimentos com

idades entre o Neojurássico e o Eocretáceo.

Utilizando como base o conteúdo de ostracodes, Viana et al. (1971) apud

Magnavita et al. (2005) propôs a Série Recôncavo, composta por seis Andares

cronoestratigráficos locais, são eles: Dom João, Rio da Serra, Aratu, Buracica, Jiquiá

e Alagoas.

2.1.2.1. Fase Pré-Rifte

A fase Pré-Rifte ocorreu durante o Neojurássico e o Eocretáceo (REGALI &

VIANA, 1989; ARAI et al., 1989 apud Magnavita et al., 2005), estendendo-se

temporalmente do Thitoniano ao Eoberriasiano. Ela abrange os Andares Dom João

e Rio da Serra Inferior (MAGNAVITA et al., 2005). Segundo Milhomem et al. (2003),

esta fase desenvolveu-se sob um clima árido e em fase inicial de flexuramento

crustal.

De acordo com Magnavita et al. (2005), o Andar Dom João consiste em

depósitos aluviais do Grupo Brotas, representado pelas Formações Aliança e Sergi.

A Formação Aliança é composta, da base para o topo, pelos Membros

Boipeba e Capianga. O primeiro consiste em arenitos avermelhados, que variam de

finos à conglomeráticos e representam depósitos de um sistema fluvial entrelaçado

com retrabalhamento eólico. Já o segundo é formado por folhelhos vermelhos com

raras intercalações de arenitos finos, constituindo uma sedimentação lacustre rasa

(MEDEIROS & PONTE, 1981 apud ALMEIDA, 2004).

Ainda de acordo com o autor citado acima, a Formação Sergi, sobreposta à

Formação Aliança, é composta por arenitos finos a conglomeráticos, com

intercalações de folhelhos vermelhos à cinza esverdeados, depositados em um

sistema fluvial entrelaçado e, posteriormente, sofrendo retrabalhamento eólico.

23

Segundo Magnavita et al. (2005), a área fonte para a sequência citada acima

estava localizada na porção sudoeste da atual Bacia do Recôncavo, como mostra a

Figura 4.

O Grupo Brotas é sucedido pelos sedimentos do Grupo Santo Amaro. Na

Fase Pré-Rifte, este grupo é representado, da base para o topo, pelas Formações

Itaparica e Água Grande.

A Formação Itaparica, que encontra-se sobreposta e em concordância com a

Formação Sergi, é caracterizada por folhelhos e siltitos com raras intercalações de

arenitos finos. O seu ambiente deposicional foi o lacustre, com raras incursões

fluviais. (MEDEIROS & PONTE, 1981 apud ALMEIDA, 2004).

Figura 4. Paleogeografia da seção Pré-Rifte da Bacia do Recôncavo. Fonte: Medeiros & Ponte (1981) apud Magnavita et al. (2005).

Ainda de acordo com Medeiros & Ponte (1981) apud Almeida (2004), a

Formação Água Grande é representada por arenitos grossos a finos, sendo

interpretada como sistema fluvial entrelaçado, com retrabalhamento eólico.

2.1.2.2. Fase Sin-Rifte

Segundo Magnavita et al. (2005), o estabelecimento do rifte aconteceu

durante o Berriasiano (há cerca de 144 Ma), e teve duração de, aproximadamente,

24 milhões de anos. Nesta fase acumularam-se estratos que constituem os Andares

Rio da Serra Médio ao Jiquiá (Berriasiano Inferior ao Aptiano Inferior). Ela é

24

representada pelas Formações Candeias, Maracangalha, Salvador, Marfim, Pojuca,

Taquipe e São Sebastião.

De acordo Magnavita et al. (2005), nesta fase a Bacia foi preenchida por dois

sistemas progradantes (Figura 5). O principal deles foi um sistema flúvio-deltaico-

lacustre (longitudinal a oblíquo) proveniente da Bacia do Tucano, que depositou

folhelhos prodeltaicos e arenitos turbidíticos. O secundário foi transversal à bacia, e

consistiu em leques conglomeráticos derivados da erosão do bloco alto da falha de

borda.

Figura 5. Paleogeografia sin-rifte da Bacia do Recôncavo. Fonte: Medeiros & Ponte (1981) apud Magnavita et al. (2005).

A Formação Candeias, sobreposta à Formação Água Grande e pertencente

ao Grupo Santo Amaro, subdivide-se em dois membros: Tauá e Gomo. O Membro

Tauá consiste em folhelhos cinza escuros ricos em matéria orgânica, enquanto o

Membro Gomo consiste em folhelhos cinza esverdeados, intercalados com

biocalcarenitos, calcilutitos e arenitos turbidíticos depositados em um ambiente

lacustre profundo.

A Formação Maracangalha, pertencente ao Grupo Ilhas, está em contato

concordante na base com as rochas sedimentares da Formação Candeias e em

contato gradativo e concordante no topo com as Formações Marfim e Pojuca

(SANTOS, 2011). Esta Formação caracteriza-se por folhelhos cinza esverdeados e

25

cinza escuros, que contêm os Membros Caruaçu e Pitanga. O Membro Caruaçu é

constituído por camadas lenticulares de arenito fino a médio, geradas por fluxos

gravitacionais de massa e de sedimentos. O Membro Pitanga caracteriza-se por

arenitos finos, maciços, sílticos, argilosos, ricos em fragmentos de matéria orgânica

e originados por fluxos gravitacionais de massa (MEDEIROS & PONTE, 1981 apud

ALMEIDA, 2004).

A Formação Salvador, pertencente ao Grupo Santo Amaro, é constituída por

intercalações de níveis de conglomerados, arenitos e lamitos (ARAÚJO, 2008 apud

SANTOS, 2011). A sua deposição está associada a leques conglomeráticos

sintectônicos que marcam as atividades da falha de borda (Falha de Salvador), da

fase rifte desta bacia (MEDEIROS & PONTE, 1981 apud ALMEIDA, 2004;

MAGNAVITA & SILVA, 1995 apud SANTOS, 2011).

A Formação Marfim, pertencente ao Grupo Ilhas, é composta por arenitos de

granulometria fina à média, bem selecionados, intercalados com camadas de

folhelhos cinza-esverdeados, que correspondem a depósitos de origem deltaica

(MEDEIROS & PONTE, 1981 apud ALMEIDA, 2004).

A Formação Pojuca, pertencente ao Grupo Ilhas, é composta de arenitos

finos a médios e folhelhos cinza, siltitos e biocalcarenitos ostracoidais, cuja origem

está relacionada a um ambiente flúvio-deltáico (CAIXETA et al., 1994 apud

SANTOS, 2011).

A Formação Taquipe, pertencente ao Grupo Ilhas e objeto de estudo do

presente trabalho, caracteriza-se por folhelhos de cor cinza, arenitos muito fino a

finos, siltitos e, subordinadamente, conglomerados, margas e calcarenitos

ostracoidais (MILHOMEM et al., 2003).

A Formação São Sebastião, pertencente ao Grupo Massacará, é

caracterizada por intercalações de arenitos amarelo-avermelhados de origem fluvial,

intercalados com siltitos e folhelhos (MEDEIROS & PONTE, 1981 apud ALMEIDA,

2004). Segundo Milhomem et al. (2003), a deposição desta unidade marca o

encerramento do assoreamento da bacia.

2.1.2.3. Fase Pós-Rifte

A Fase Sin-Rifte terminou no Eoaptiano. A partir de então, dá-se início a Fase

Pós-Rifte, que abrange o Andar Alagoas, que vai do Aptiano ao Albiano Inferior, e é

26

representada pela Formação Marizal. Esta Formação é separada da tectono-

sequência do Cretáceo Inferior através de uma discordância angular (MAGNAVITA

et al., 2005).

A Formação Marizal caracteriza-se por constituir depósitos de leques aluviais,

compostos de arenitos e conglomerados, e, secundariamente, folhelhos e calcários

(MEDEIROS & PONTE, 1981 apud ALMEIDA, 2004).

2.1.3. Estratigrafia do Cenozóico

De acordo com Magnavita et al. (2005), não há unidades estratigráficas

correspondentes ao intervalo temporal do Mesoalbiano ao Eoceno preservadas na

Bacia do Recôncavo.

Na estratigrafia do Cenozóico, destacam-se as formações Sabiá e Barreiras.

A Formação Sabiá é composta por folhelhos cinza-esverdeados com

intercalações de arenitos e lentes de calcário. Eles caracterizam depósitos de leques

aluviais (MEDEIROS & PONTE, 1981 apud ALMEIDA, 2004).

Ainda de acordo com Magnavita et al. (2005), a Formação Barreiras é

constituída por arenitos grossos a conglomeráticos, com intercalações de lamitos,

também estando associada a depósitos de leques aluviais.

Segundo Magnavita et al. (2005), também ocorrem sedimentos quaternários,

representados por depósitos litorâneos no Recôncavo meridional e por sedimentos

aluviais presentes ao longo dos principais cursos d‟água da região.

2.2. Arcabouço Estrutural

A Bacia do Recôncavo compõe a porção sul do Rifte Intracontinental

Recôncavo – Tucano – Jatobá (Figura 1), que se desenvolveu sobre um complexo

mosaico de terrenos de idade predominantemente Pré-Cambriana (CAIXETA &

SILVA, 1994).

Diversos autores têm mostrado que o arcabouço estrutural da Bacia é

fortemente controlado pelo Cinturão Granulítico, que serve de embasamento para a

mesma, havendo evidências de que a orientação das zonas de falha, os altos do

embasamento e as zonas de acomodação sofrem este tipo de controle (MILANI,

1987; MAGNAVITA, 1989 apud ALMEIDA, 2004).

27

A Bacia do Recôncavo é delimitada pelo Alto de Aporá, a norte e noroeste;

pelo sistema de Falhas da Barra, ao sul; pela Falha de Maragogipe, a oeste; e pelo

sistema de falhas de Salvador, a leste, como foi demonstrado na Figura 2 (SILVA et

al., 2007).

A arquitetura estrutural da bacia é a de um meio-gráben (Figura 6) com

orientação geral NE-SW, com mergulho regional das camadas para SE. O sistema

de falhas que delimita a bacia do Recôncavo é constituído principalmente por falhas

normais planares, sintéticas e antitéticas, com direção preferencial N0300 – N0400E

e mergulhos elevados (em torno de 70°). A margem flexural do meio-gráben é

limitada por monoclinais falhadas ou por rampas discordantes sobre o

embasamento. (BRAGA et al., 1990; MAGNAVITA et al., 2005).

O sistema de falhas mais expressivo da bacia é o Sistema de Falhas de

Salvador, que pode atingir até mais de seis mil metros de rejeito (BRAGA et al.,

1990).

A bacia é cortada por duas zonas de falha transversais orientadas na direção

NW-SE, interpretadas tradicionalmente como falhas de transferência (MILANI &

DAVISON, 1988; ARAGÃO, 1994 apud MAGNAVITA et al., 2005; MILANI, 1987;

MAGNAVITA & CUPERTINO, 1998, SANTOS & BRAGA, 1989 apud ALMEIDA,

2004), são elas: Falha de Mata-Catu e Falha de Itanagra-Araçás. Segundo

Magnavita et al. (2005), a Falha de Mata-Catu, que controla o principal trend de

petróleo da bacia, foi interpretada por Destro et al. (2003) como sendo constituída

Figura 6. Seção geológica esquemática NW-SE, ilustrando a morfologia de meio-gráben da bacia do Recôncavo, cujo depocentro situa-se a leste. Fonte: Milhomem et al. (2003).

28

por duas falhas de alívio, geradas para compensar a variação do rejeito ao longo do

Sistema de Falhas de Salvador (falha de borda do Recôncavo) e de Tombador

(limite leste do Alto de Aporá).

2.3. Evolução Tectono-sedimentar

Segundo Magnavita et al. (2005) e Magnavita (1992), o rifte do Recôncavo –

Tucano – Jatobá tem sido interpretado como um braço abortado do Atlântico Sul,

tendo sua origem atrelada ao processo de estiramento crustal que resultou na

fragmentação do Supercontinente Gondwana, iniciado no final do Jurássico e

finalizado no final do Cretáceo.

Segundo Milani (1985), a margem leste brasileira evoluiu segundo um modelo

de rifteamento passivo, originado por esforços distensivos, oriundos da separação

dos continentes Sul-Americano e Africano.

De acordo com Silva et al. (2007), a evolução da Bacia do Recôncavo pode

ser dividida nas seguintes fases: sinéclise, pré-rift, sin-rift e pós-rift. A Figura 7

mostra a distribuição de sedimentos pré-, sin- e pós-rifte.

A fase sinéclise ocorreu durante o Paleozóico, onde a bacia subsidiu devido

ao flexuramento crustal, inerente à fase de deformação elástica. Esta fase é

representada pela Fm. Afligidos, associada ao desenvolvimento de mares

epicontinentais (MEDEIROS & PONTE, 1981; CAIXETA & SILVA, 1994 apud

ALMEIDA, 2004).

Antecedendo a ruptura do rift, houve um prolongado estágio com pequena

taxa de subsidência, o que propiciou o desenvolvimento de uma bacia com

características intracratônicas, denominada Depressão Afro-Brasileira (ESTRELA,

1972 apud ALMEIDA, 2004). Nesta depressão, foram depositados os sedimentos

continentais do Grupos Brotas e as Formações Aliança e Sergi.

A área fonte para a sequência do grupo Brotas estava localizada a sudoeste

da atual Bacia do Recôncavo (MAGNAVITA et al., 2005).

29

Figura 7. Mapa geológico esquemático com a localização do Rifte Recôncavo-Tucano-Jatobá, mostrando a distribuição de sedimentos pré-, sin- e pós-rifte. Fonte: Magnavita (1992).

Em seguida, ocorreu um período de afogamento, culminando na formação do

lago Itaparica (Fm. Itaparica), que foi seguido por um período de ressecamento da

bacia com recorrência do sistema fluvial com retrabalhamento eólico (Fomação Água

Grande), em uma fase tectonicamente estável. A implantação deste sistema flúvio-

eólico, que prograda de norte para sul, representou uma mudança nas áreas fontes

da bacia que até então se situavam a sul e a oeste (MAGNAVITA, 1992). As

formações Itaparica e Água Grande compem a sequência sedimentar inferior do

Grupo Santo Amaro.

Posteriormente, a taxa de subsidência passou a aumentar, e, associada à

uma brusca mudança climática, foi novamente implantado um sistema lacustre,

anóxico, dando origem aos folhelhos cinza-escuros do Membro Tauá (Formação

Candeias). O término da deposição destes sedimentos marca o início do

rompimento da crosta (início da fase rifte), cujos esforços distensivos geraram

30

falhamentos normais de ângulos elevados e direção predominante N30°E, que

originou as fossas tectônicas, onde se implantaram os lagos profundos

(MAGNAVITA, 1992). Para Aragão (1994) apud Silva et al. (2007), a fase inicial de

aprofundamento seria representada pelo Membro Gomo (Fm. Candeias), época em

que a bacia desenvolveu uma fisiografia caracterizada por áreas plataformais

relativamente estáveis e depocentros com elevadas taxas de subsidência. Enquanto

que, para Magnavita et al. (2005), o Membro Tauá (Fm. Candeias) depositou-se

numa fase em que a taxa de subsidência superou a taxa de sedimentação,

caracterizando o início da fase sin-rift.

Segundo Magnavita et al. (2005), o rifte ocorreu há, aproximadamente, 144

Ma, entretanto, o início da fase rifte ainda é motivo de controvérsias. Costuma-se

associar esta fase ao primeiro aparecimento da espessa cunha de conglomerados

sintectônicos da Fm. Salvador, a qual constitui parte do sistema de borda do rifte.

Porém, a presença de conglomerados parece indicar apenas a existência de uma

elevação topográfica ao longo da borda falhada (MAGNAVITA, 1996).

Segundo Da Silva et al. (2000) apud Magnavita et al. (2005), durante a fase

de bacia faminta (fase rifte) foram depositados turbiditos longitudinais e transversais

e folhelhos lacustres, ambos do Membro Gomo (Formação Candeias). Esta

deposição ocorre inicialmente em um lago restrito, que é posteriormente ampliado e

aprofundado durante a sedimentação da Formação Maracangalha (Membro Pitanga

/ Membro Caruaçu). A intensa atividade tectônica neste período foi o que propiciou a

formação de fluxos gravitacionais com fontes na borda oeste da bacia. A contínua

sedimentação de espessos arenitos deltaticos exerceu forte sobrecarga sobre os

folhelhos da Formação Maracangalha, pressurizando-os e resultando em diápiros de

folhelhos, associados a falhas de crescimento.

Após o ápice tectônico da fase rifte, a taxa de subsidência passa a diminuir,

no período que inclui as idades Rio da Serra Superior e Aratu, possibilitando que

deltas progradassem de NNW sobre as plataformas existentes na margem flexural

do rifte, preenchendo os depocentros com arenitos, siltitos, folhelhos e ocasionais

carbonatos do Grupo Ilhas, constituído pela Formação Marfim, Membro Catu, e

Formação Pojuca (MAGNAVITA et al., 2005). Durante o Eoaratu, uma queda no

nível do lago, tectonicamente induzida, originou um canyon na porção oeste das

bacias do Tucano Sul e Recôncavo (BUENO, 1987 apud MAGNAVITA et al., 2005),

31

onde acumularam- se os arenitos e folhelhos da Formação Taquipe (Netto e

Oliveira, 1985 apud MAGNAVITA et al., 2005).

O processo de assoreamento final da bacia coincide com o início da atividade

tectônica no sistema de falhas transferentes, com orientação N40oW, onde foram

depositados os arenitos fluviais da Formação São Sebastião, Grupo Massacará, que

progradaram de NNW para SSE a partir da Bacia do Tucano (GAMA, JR., 1970

apud MAGNAVITA et al., 2005).

A fase sin-rifte terminou no Eoaptiano. Com a separação dos continentes e o

afastamento das fontes de calor da Bacia, inicia-se a fase de subsidência térmica

pós-rifte (Fase Sag), que apresentou maior intensidade nas bacias marginais,

ficando atenuada no continente (MAGNAVITA et al., 2005). Dentro deste contexto,

ocorreu a deposição dos conglomerados, arenitos e ocasionais folhelhos e calcários

da Formação Marizal. Esta unidade cobre cerca de 75% do Rifte Recôncavo-

Tucano-Jatobá, tendo uma menor área de exposição na Bacia do Recôncavo, onde

sua espessura é da ordem de 50 m, mas atinge quase 500 m de espessura na Bacia

de Jatobá (MAGNAVITA et al., 2005).

Finalizando o processo deposicional da bacia, temos a bacia sendo invadida

por águas marinhas depositando a Formação Sabiá durante o Mioceno e já no

Plioceno a deposição dos sedimentos da Formação Barreiras.

2.4. Formação Taquipe

Segundo Bueno (1987) apud Silva (2007), no início do Mesoaratu (Neo-

Hauteriviano), a reativação da Falha de Paranaguá, associada a um provável

rebaixamento do nível de base, sob controle climático, deu origem ao Cânion de

Taquipe (Figuras 8 e 9). Nesta época, e ao longo do Neoaratu, ainda prevaleciam os

sistemas deltaicos relacionados à Formação Pojuca. A porção meridional da bacia

(Baixo de Camaçari) e o Cânion de Taquipe constituíam, no entanto, sítios

preferenciais para a deposição lacustre de arenitos e folhelhos das Formações

Maracangalha e Taquipe, com fluxos gravitacionais associados.

A Formação Taquipe, caracteriza-se por ser constituída de folhelhos, siltitos,

arenitos e, subordinadamente, conglomerados, margas e calcarenitos ostracodais,

depositados sobretudo como resultado de fluxos de detritos e correntes de turbidez

(MILHOMEM et al., 2003). Segundo este mesmo autor, estes fluxos teriam ocorrido

32

a partir da desestabilização das fácies de frente deltáica da Formação Pojuca e,

eventualmente, da remobilização de sedimentos mais antigos, pertencentes às

Formações Marfim e Maracangalha.

Segundo Magnavita et al. (2005), a Formação Taquipe representa um

depósito de preenchimento de cânion desenvolvido durante uma fase de queda do

nível do lago. Os arenitos finos a médios, bem selecionados, ocorrem em corpos

lobados. Algumas camadas de arenitos muito finos exibem laminações cruzadas e

outros estratos mostram-se maciços. Essas camadas, localmente cortadas por

pequenas falhas normais, podem ser interpretadas como turbiditos associados a

fluxos de detritos remobilizados em frentes deltaicas. Além disto, pode-se notar a

arquitetura de lobos sigmoidais nesta formação, além da presença de clastos de

folhelho (Figura 10).

Bueno (1987) apud Amorim (1992) analisou a sedimentação e origem do

paleocânion de Taquipe, dividindo a seção em função da fácies sedimentar, e, a

partir da associação das mesmas, postulou um modelo deposicional para o

preenchimento e evolução do cânion. Segundo este autor, o cânion teria sido gerado

pela ação de correntes de densidade e erosão retrogradante, condicionadas pelo

arcabouço estrutural.

A ação da subsidência tectônica agiu diferenciadamente ao longo do

compartimento Sul, formando depressões (blocos basculados) nas vizinhanças da

plataforma. Estas depressões determinaram o curso das correntes de densidade. Os

processos erosivos e deposicionais seriam recorrentes durante a evolução do

cânion, resultantes do escorregamento de massas trazidas pelo complexo deltaico,

durante um período de nível de lago alto, gerando fluxos hiperpicnais, ou originados

em épocas de rebaixamento do nível do lago. Este autor divide o preenchimento do

cânion em duas partes: inferior, de baixa resistividade, e superior, de alta

resistividade.

Ribeiro (1991) apud Amorim (1992) analisou a seção sedimentar da bacia sob

um enfoque sismoestratigráfico, dividindo o pacote sedimentar em duas sequências

sísmicas, a inferior e a superior.

Além disto, este autor aplicou os critérios da Estratigrafia de Sequências,

divindo a seção em cinco sequências, que apresentaram sincronismo com os ciclos

de segunda ordem da Carta de Vail. Na porção Sul, o autor observou um padrão de

33

refletores côncavos para cima, que pode ser interpretado como escavações e

preenchimentos de cânion, ou, também, representar o efeito de drag de falha.

Segundo Amorim (1992), o processo inicial do estabelecimento do Cânion de

Taquipe está relacionado ao tectonismo, seguido de uma fase de reduzido aporte,

gerada por uma elevação no nível eustático (transgressão), e, por fim, uma fase de

deposição e soterramento, associada à queda do nível eustático (regressão), o que

permitiu a progradação de frentes deltaicas e a redução na taxa de subsidência da

área. Não foram identificados registros de sistemas fluviais cronocorrelatos e na

porção norte do cânion, nem indícios de erosão que pudessem tê-los suprimido, o

que leva a conclusão de que não há relação entre o estabelecimento do Cânion de

Taquipe e sistemas fluviais, durante períodos de nível de base baixo.

A seguir, serão apresentadas 16 fotografias de testemunhos da Fm. Taquipe

(Figura 10), retiradas da dissertação de mestrado de Amorim 1992), no intuito de se

melhor caracterizar a presente formação e as suas principais estruturas, fácies e

características sedimentológicas (Figuras 11 à 26).

Figura 8. Paleogeografia durante a deposição da Formação Taquipe (modificado de Figueiredo et al. 1994). Fonte: Magnavita et al. (2005).

34

Figura 9. Limites do Cânion de Taquipe (modificado de Netto et al., 1984). Fonte: Amorim (1992).

35

Figura 10. Arenitos da Formação Taquipe, cortados por falhas normais de pequeno porte. Fonte: Magnavita et al. (2005).

36

Figura 12. Arenito com estrutura de escape de fluidos.

Figura 11. Arenito com estrutura de escape de fluidos.

Figura 13. Conglomerado com fragmentos lamosos.

Figura 14. Conglomerado com fragmentos lamosos.

37

Figura 15. Arenito maciço.

Figura 16. Arenito com estruturas de escorregamento.

Figura 18. Arenito com estruturas de escorregamento.

Figura 17. Arenito maciço.

38

Figura 22. Lamito com deformação plástica.

Figura 21. Siltito arenoso.

Figura 19. Arenito com sequência de Bouma incompleta, intervalos Tb - Tc.

Figura 20. Arenito com sequência de Bouma incompleta, intervalos Tb - Tc.

39

Figura 23. Arenito com estratificação cruzada acanalada.

Figura 25. Arenito com estratificação cruzada acanalada.

Figura 26. Conglomerado de oncolitos. Figura 24. Conglomerado de

oncolitos.

40

CAPÍTULO 3 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3. ASPECTOS TEÓRICOS RELACIONADOS ÀS FÁCIES SEDIMENTARES E

PROCESSOS DEPOSICIONAIS

Segundo Nichols (1999), fácies é o conjunto de feições e características de

uma rocha sedimentar, como litologia, textura, estruturas sedimentares,

granulometria, cor, espessura e conteúdo fossilífero. Através do reconhecimento das

fácies sedimentares, pode-se estabelecer os processos que foram dominantes

durante e gênese de determinada rocha. Ainda de acordo com este autor, as

características de um ambiente deposicional são determinadas pelos processos

presentes no mesmo, logo, pode-se fazer uma conexão entre as fácies

sedimentares e os ambientes deposicionais. Vale lembrar que as fácies remetem à

processos, e não à ambientes. É através da associação de fácies que se determina

um ambiente deposicional.

Um fluxo gravitacional de massa ou de sedimentos é a movimentação destes

corpos em decorrência da ação da gravidade (BOFFO, 2010). A seguir, serão

apresentadas as principais características dos processos deposicionais de fluxos

gravitacionais de massa e de sedimentos, pelo fato dos mesmos terem,

provavelmente, atuado no cânion.

3.1. Fluxos gravitacionais de massa

Fluxos gravitacionais de massa são aqueles em que a gravidade é o único

agente responsável pelo movimento dos sedimentos, sem a presença de água

(BOFFO, 2010).

Segundo Middleton & Hampton (1973), os fluxos gravitacionais de massa

podem ser subdivididos em escorregamentos (slumps) e deslizamentos (slides). Os

slumps são caracterizados por causarem a deformação na estruturação interna dos

corpos, enquanto os slides a deformação interna é existente ou muito pequena.

41

3.2. Fluxos gravitacionais de sedimentos

Fluxos gravitacionais de sedimentos são misturas de sedimento mais fluidas,

que fluem declive abaixo devido à ação diferencial da gravidade, causada pelo

contraste de densidade entre o fluxo e o meio circundante, em contexto subaéreo ou

subaquoso (d‟ÁVILA et al., 2008 apud SANTOS, 2011). Os fluxos gravitacionais de

sedimentos (FGS) diferenciam-se dos fluxos gravitacionais de massa (FGM) pela

perda total nos FGS da organização e estruturação interna que os sedimentos

possuíam antes de serem remobilizados.

Estes fluxos iniciam quando a ação da gravidade sobre misturas de

sedimento e água reprime a ação da fricção ou da coesão entre as partículas. Os

principais mecanismos desencadeadores desses fluxos são as inundações fluviais,

tempestades, terremotos, tsunamis, colapso de sedimentos, dentre outros, sendo

comumente derivada de outros fluxos de detritos (d‟ÁVILA et al., 2008 apud

SANTOS, 2011).

De acordo com Mulder & Alexander (2001), os fluxos gravitacionais de

sedimentos podem ser subdivididos em: (i) fluxos gravitacionais de sedimentos

coesivos; (ii) fluxos gravitacionais de sedimentos não-coesivos. Esta classificação

está relacionada à concentração de material coesivo presente na mistura.

Figura 27. Desenho esquemática do processo gravitacional de fluxo de detritos formados a partir de Slides e Slumps. Modificado de Magalhães (1990). Fonte: Almeida (2004).

42

Os fluxos gravitacionais de sedimentos coesivos são, geralmente, formados

por sedimentos finos (argila), o que faz com que o fluxo seja mais resistente à

incorporação de fluidos externos. A coesão entre as partículas faz com que o

sistema possua uma alta viscosidade (PERRET et al., 1995 apud MULDER &

ALEXANDER, 2001), gerando uma matriz de suporte de grãos pelo escoamento.

Este tipo de escoamento possui uma alta capacidade de transporte de materiais,

tendo capacidade de carrear partículas com granulometria desde o tamanho areia

até grandes blocos de rochas. Este fluxo pode ser subdividido em fluxos de detritos

e fluxos de lama.

Fluxos de lama e fluxos de detritos são classificações baseadas na relação

argila/areia. Quando a proporção argila/areia é maior do que 1, os fluxos são

classificados como fluxos de lama, e quando a proporção é menor do que 1, os

fluxos são definidos como fluxos de detritos (MULDER & ALEXANDER, 2001).

Os fluxos gravitacionais de sedimentos não-coesivos são formados, em sua

grande maioria, por sedimentos de granulometria superior à fração argila. De acordo

com Mulder & Alexander (2001), estes fluxos podem ser subdivididos em: (i)

correntes de densidade hiperconcentrada; e (ii) correntes de turbidez.

As correntes de densidade hipercocentradas são divididas em correntes de

baixa e alta densidade, de acordo com o grau de diluição das mesmas. As correntes

de baixa densidade permitem o desenvolvimento de estruturas turbulentas nas suas

porções superiores, enquanto que nas partes inferiores as partículas podem ser

depositadas sobre o fundo, ou seja, a mistura não pode oferecer nenhuma

resistência à queda das partículas. Quando estas condicionantes não são atendidas,

as correntes são caracterizadas como sendo de alta densidade.

As correntes de turbidez se formam na transferência do escoamento de um

rio para uma bacia receptora de sedimentos, como, por exemplo, o mar (BOFFO,

2010). De acordo com Amorim (1992), as correntes de turbidez são correntes de

densidade, nas quais o movimento do fluxo é mantido pela turbulência, que também

suporta os sedimentos em suspensão.

De acordo com Giannini & Riccomini (2000), a formação de uma corrente de

turbidez depende de um estímulo inicial, que coloque sedimentos do fundo

sedimentar em suspensão na água. O estímulo primário pode ser representado por

um abalo sísmico, pela chegada abrupta de uma corrente de fundo com forte esforço

43

cisalhante, pelo aporte e deposição rápida de grande quantidade de sedimentos ou

pelos diferentes tipos possíveis de combinações entre estes fatores. Por conta disto,

a ocorrência de correntes de turbidez concentra-se no talude continental, onde a

sismicidade e o declive acentuado estão presentes, defronte a zonas de intenso

aporte sedimentar terrígeno, como grandes deltas ou desembocaduras de rios

alimentados por imensos sistemas de leques aluviais.

Shanmungam (2006) propôs um modelo de evolução de fluxos gravitacionais,

onde, ao passo que o sistema desce o talude, a tendência é que os fluxos evoluam

dos menos deformados (slides), para os mais deformados (correntes de turbidez),

passando pelos fluxos intermediários, como slumps e fluxos de detritos (Figura 28).

Segundo Lowe (1982), as correntes de turbidez de alta densidade são

aquelas que conseguem transportar sedimentos de granulometria maior que a

fração areia média, a qual é depositada rapidamente, enquanto as correntes de

baixa densidade são explicadas para formar a clássica seqüência de Bouma (1962)

(Figura 29) cujos sedimentos são depositados em áreas de mais baixa energia,

situadas nas porções distais do ambiente. Os depósitos formados pelas correntes de

turbidez são denominados turbiditos.

Até pouco tempo atrás o elemento definidor deste tipo de depósito era a

Seqüência de Bouma. Esta seqüência, quando completa, apresenta os intervalos

Ta, Tb, Tc, Td e Te, ou intervalo gradacional, de laminação paralela, intervalo com

Figura 28. Diagrama esquemático idealizando a evolução de um fluxo gravitacional. Shanmungam (2006) apud Santos (2011).

44

ripples e intervalo de pelitos (sedimentos finos), respectivamente, sendo

denominados de Turbiditos Clássicos, de acordo com Walker (1978).

Posteriormente, Mutti (1992) estabeleceu uma nova classificação, baseada

nos principais fluxos gravitacionais subaquosos, entre eles o fluxo detrítico coeso, o

fluxo hiperconcentrado, a corrente de turbidez seixosa de alta densidade e a

corrente de turbidez arenosa de alta e de baixa densidades. Na nova classificação

de Mutti, a sequência de Bouma ficou representada nas fácies F8 e F9a (Figura 30).

A análise das Figuras 29 e 30 permite inferir que ocorre ou uma diminuição na

porcentagem de grãos mais grossos numa direção corrente abaixo, ou uma

organização textural diferente produzida por transformações de fluxos. A

característica do tipo de fácies é definido pela combinação entre as variações

texturais e os tipos de estruturas internas, além de feições erosivas. Nesta

classificação, as fácies podem ser subdivididas em três grupos principais: 1) fácies

muito grossas (matacões e seixos); 2) fácies grossas (seixos pequenos e areia

grossa) e 3) fácies de grãos finos (areia média e lama).

Figura 29. Sequência clássica de Bouma, adaptada de Walker (1978). Fonte: Almeida (2004).

45

Figura 30. Fácies turbidíticas de Mutti (1992) e processos relacionados. (Almeida, 2004).

46

CAPÍTULO 4 – GEOLOGIA LOCAL

4. GEOLOGIA LOCAL

4.1. Caracterização geral do afloramento

O afloramento da Praia de Inema, situado na Base Naval de Aratu e objeto de

estudo do presente trabalho, possui grande extensão lateral, e altura que chega a

atingir cerca de 10 metros, em alguns locais. Ele é constituído por intercalações de

arenitos e pelitos da Formação Taquipe (Foto 1). Os arenitos apresentam-se,

geralmente, com coloração marrom clara, marrom escura, cinza-claros e cinza-

amarelados, granulometria muito fina à média, selecionamento médio e sub-

angulosos à sub-arredondados. Os pelitos, compostos por folhelhos e siltitos,

apresentam-se cinza-claros e cinza-escuros. As principais estruturas sedimentares

observadas foram: estratificação plano-paralela, arenitos maciços, convoluções,

estruturas em chama (argilocinese), laminações plano-paralelas, cavalgantes e, por

vezes, cruzadas tangenciais.

Foto 1. Sucessão de arenitos e pelitos (ritmitos) da Fm. Taquipe. Afloramento da Praia de Inema.

47

De uma maneira geral, o afloramento encontra-se bastante alterado, pois o

mesmo está sujeito à ação de agentes intempéricos, como ondas, marés e chuvas.

Por conta disto, uma espessa crosta de alteração cobre os estratos, dificultando a

visualização das características faciológicas das rochas. Tal fato também está

diretamente relacionado à queda de blocos e desmoronamento de fragmentos de

rocha, bastante comum no local (Foto 2).

O afloramento apresenta, na porção basal, um corpo de arenito dobrado com

geometria externa em lobo, com estratificações plano-paralelas e estratificações

cruzadas cavalgantes (intervalos Tb e Tc da Sequência de Bouma), alem de

estruturas de escape de fluidos (convoluções), na porção superior. Acima deste

corpo, ocorrem ritmitos de arenitos muito finos a médios e lamitos.

Os estratos estão basculados para NW.

No afloramento, as fácies de ritmitos observadas permitem inferir um modelo

de channel-levee para aquela área. Identificou-se dobras não-tectônicas e abertas

nos ritmitos, situadas sobre o lobo de arenito turbidítico, que também apresenta-se

dobrado. Tais feições levam à conclusão de que houveram escorregamentos

sindeposicionais na região, o que é muito comum nas fácies de levee (AMORIM,

1992).

Foto 2. Blocos soltos e fragmentos de rocha.

48

Foram identificadas, também, falhas normais (Foto 4), além de estruturas do

tipo pares conjugados (Foto 5), evidenciando que a presente unidade esteve sujeita

à esforços distensivos, ao longo de sua história geológica. Estes esforços podem ser

tectônicos ou não. Devem ser realizados estudos envolvendo a geologia estrutural

da área, abordando temas como: paleofluxo e paleotensores, de maneira a

caracterizar a origem e o evento associado à tais falhas e estruturas. Do ponto de

vista econômico, estas falhas podem servir como rotas de migração em possíveis

sistemas petrolíferos associados à esta Formação.

Foram observadas dobras apertadas à isoclinais, associadas, provavelmente,

à mecanismos de slump (Foto 6).

Pôde-se identificar uma sucessão apresentando padrão thickening upwards e

coarsening upwards, ou seja, foi observado um aumento na espessura das camadas

e na granulometria dos sedimentos, da base para o topo (Foto 7).

Foto 3. Estratos Basculados para NW.

49

Foto 4. Falha normal planar.

Foto 5. Par conjugado, cortando a sucessão de arenitos e pelitos.

50

Foto 7. Sucessão mostrando padrão thickening e coarsening upwards.

Foto 6. Dobra apertada à isoclinal recumbente, com plano axial e linha de charneira horizontais, provavelmente associada à mecanismos de

slump.

51

4.2. Caracterização das fácies sedimentares

Os estudos de campo consistiram na análise e identificação das fácies

sedimentares existentes no afloramento da Praia de Inema. Além disto, construiu-se

um mosaico do afloramento, mostrando o empilhamento e continuidade lateral de

uma parte do afloramento (Anexo II)

As fácies sedimentares identificadas foram:

1) Folhelho com laminação plano-paralela e intercalações de níveis arenosos

à sílticos;

2) Arenito fino à médio maciço ou com estratificação plano-paralela;

3) Arenito fino a médio com laminações cruzadas cavalgantes (climbing

ripples);

4) Arenitos com intercalações de folhelhos.

4.2.1. Folhelho com laminação plano-paralela e intercalações

de níveis arenosos à sílticos

Esta fácies é composta por sedimentos argilosos, constituindo folhelhos, que

apresentam interlaminações milimétricas à centimétricas entre níveis arenosos à

sílticos e laminação plano-paralela (Foto 8). Os folhelhos são cinza escuros e cinza

claros, enquanto os níveis siltosos e arenosos possuem coloração cinza clara à

marrom clara (Foto 9). Esta fácies está, geralmente, nas porções basais do

afloramento. Ela possui espessura variando entre cerca de 40 cm à cerca de 1 m.

Por vezes, encontra-se estruturas de escape de fluidos por escorregamento

(convoluções), formando padrões estruturais com geometria sigmoidal. As

intercalações entre níveis argilosos e sílticos/areníticos podem ser interpretadas

como sucessões de ritmitos em pequena escala, ou seja, um fractal do que ocorre

no afloramento como um todo, na mesoescala.

Identificou-se, também, associadas à esta fácies, estruturas sugerindo

estruturas em chama (argilocinese) (Fotos 10 e 11), que estão relacionadas à

compensação isostática, em função do peso da sobrecarga sedimentar, sobre as

camadas de folhelho.

52

Foto 8. Folhelhos com laminação plano-paralela e intercalações com níveis arenosos à sílticos.

Foto 9. Camada de folhelhos intercalados lentes areníticas a sílticas, exibindo geometria sigmoidal e convolucionada.

53

Foto 10. Estrutura em chama.

Foto 11. Argilocinese. Estruturas de carga (balls and pillows).

54

Por vezes, pôde-se notar a razão areia-silte/argila, marcada pelas laminações

plano-paralelas, aumentando gradativamente da base para o topo, evidenciando um

possível aumento na energia do amibiente deposicional.

4.2.2. Arenito fino a médio maciço ou com estratificação plano-

paralela

Esta fácies é representada pelos níveis areníticos de granulometria fina a

média, que apresentam-se maciços ou com estratificações plano-paralelas, além de

laminações plano-paralelas.

A melhor representação desta fácies é o corpo em forma de lobo que ocorre

na base da sequência (Fotos 12 e 13), se estendendo e possuindo

representatividade em todo o afloramento. A espessura média deste corpo, medida

em campo, é cerca de 40 cm. Nele, foram identificadas dobras abertas, que podem

ou não estarem associadas à eventos tectônicos. Além disto, o mesmo apresenta

estruturas de escape de fluidos (convoluções) na base, que podem estar associadas

aos diápiros de argila, que truncam o corpo, ou à escorregamentos (Fotos 14 e 15).

As características da presente fácies também foram identificadas em uma

lente de arenito fino à médio, de coloração marrom e espessura chegando à cerca

de 50 cm, situada na base do corpo citado acima (Foto 16, 17 e 18).

Foto 12. Corpo de arenito fino à médio dobrado com geometria de lobo.

55

Foto 13. Corpo de arenito fino à médio dobrado com geometria de lobo.

Foto 14. Convoluções no corpo de arenito fino à médio, provavelmente associadas à diapirismo de argila ou escorregamentos.

56

Foto 15. Arenito fino à médio exibindo convoluções na base e estraficação plano-paralela no topo. Intervalo Tb, da Sequência de Bouma.

Foto 16. Lente de arenito fino à médio na base do corpo de arenito com geometria em lobo.

57

Foto 17. Vista lateral da lente de arenito fino à médio, situado na base do corpo arenítico dobrado.

Foto 18. Lente de arenito fino à médio, maciço na base e com estratificação plano-paralela nas porções intermediárias, gradando para laminação plano-paralela no topo. Intervalos Ta e Tb de Bouma.

Ta

Tb

58

4.2.3. Arenito fino a médio com laminações cruzadas

cavalgantes (climbing ripples)

Esta fácies é representada por estratos de arenitos finos a médios, de

coloração variando entre marrom claro, cinza claro e cinza escuro, com laminações

cruzadas cavalgantes (climbing ripples) (Foto 19).

As ripples observadas são de pequeno porte, possuindo até cerca de 3 - 5 cm

de amplitude. Em alguns locais, as laminações cruzadas cavalgantes podem gradar

para laminações cruzadas tangenciais.

Foi possível identificar estratos com a sequência de Bouma incompleta

(intervalos Ta, Tb e Tc). As estruturas observadas foram: textura maciça, laminações

plano-paralelas e laminações cruzadas cavalgantes (Fotos 20, 21, 22 e 23).

Foto 19. Laminações cruzadas cavalgantes (climbing ripples).

59

Foto 20. Laminação plano-paralela, na base, arenito maciço na porção intermediária e laminações cruzadas cavalgantes no topo. Intervalos Tb, Ta e Tc, da Sequência de Bouma, respectivamente.

Foto 21. Arenito fino à médio com laminação cruzada cavalgante gradando para laminação cruzada tangencial.

Tc

Ta

Tb

60

Foto 22. Arenito maciço na base e com laminações cruzadas cavalgantes no topo. Intervalos Ta e Tc da Sequência de Bouma, respectivamente.

Foto 23. Arenito fino à médio apresentando climbing ripples.

Ta

Tc

61

4.2.4. Arenitos com intercalações de folhelhos

Nesta fácies ocorrem sucessões de arenitos finos e finos à médios, de

coloração marrom claro, cinza claro e cinza escuro, intercalados por camadas de

folhelhos de coloração cinza claro e escuro (Fotos 24, 25 e 26), ou seja, ritmitos,em

que a deposição é controlada pela mudança na energia do ambiente deposicional.

Fatores que podem acarretar nestas mudanças são: tectônica, cheias de rios,

mudança no nível eustático (transgressões e regressões marinhas).

De uma maneira geral, as camadas de arenitos possuem espessura variando

entre 5 e 15 cm, enquanto as camadas de folhelhos possuem espessura variando

entre 5 e 40 cm.

Em relação às camadas de arenito, identificou-se estruturas do tipo maciça,

equivalente ao intervalo Ta, da Sequência de Bouma. Por vezes, identificou-se

camadas de arenito com estratificações plano-paralelas e laminações cruzadas

cavalgantes, equivalentes aos intervalos Tb e Tc da Sequência de Bouma,

respectivamente.

Foto 24. Intercalações de arenitos e folhelhos (ritmitos), em afloramento de quase 10 metros de altura

62

Foto 25. Sucessão de arenitos e folhelhos (ritmitos).

Foto 26. Arenitos e folhelhos cortados por duas falhas normais.

63

Da base para o topo do afloramento, nota-se um claro aumento na proporção

de arenitos em relação aos folhelhos. Além disto, nota-se, também, um aumento na

espessura das camadas de arenito e na fração granulométrica, da base para o topo,

com grãos chegando à fração areia grossa, nas camadas mais superiores. Logo,

pode-se concluir que há um padrão thickening upwards e coarsening upwards, no

empilhamento estratigráfico do afloramento (Foto 28).

Foto 27. Arenito fino à médio apresentando estrutura maciça, intercalado por folhelhos interlaminados com siltitos, com laminação plano-paralela. Intervalos Ta e Te da Sequência de Bouma, respectivamente.

64

4.3. Processos, Ambientes e Modelos Deposicionais

Através da análise das fácies observadas no afloramento da Praia de Inema,

Base Naval de Aratu, pode-se concluir que as estruturas sedimentares identificadas

(estratificação plano-paralela, climbing ripples, laminação plano-paralela,

convoluções, estruturas maciças) ocorrem, geralmente, obedecendo ao

empilhamento proposto por Bouma (1962), resultando na Sequência de Bouma.

Este empilhamento tem como ordem, da base para o topo: estrutura maciça (Ta),

Foto 28. Sucessão coarsening e thickening upwards.

65

estratificação plano-paralela (Tb), climbing ripples (Tc), laminação plano-paralela

(Tc-Td). Esta sucessão vertical possui granodecrescência ascendente (fining

upwards) e ocorre de maneira intraestratal. Deve-se frisar que nem sempre o

empilhamento vertical observado no afloramento da Praia de Inema obedece à esta

sequência, podendo ocorrer superposições de intervalos não consecutivos. Tal fato

está, possivelmente, associado à erosão.

Em relação às fácies turbidíticas estabelecidas por Mutti (1992), pode-se

classificar as camadas observadas no presente estudo como fazendo parte das

fácies F7, F8 e F9a. Estas fácies, nesta nova classificação, são as que representam

a Sequência de Bouma.

É importante salientar que os ciclos deposicionais não são completos, em

função, principalmente, de serem varios fluxos turbidíticos amalgamados, e, além

disto, muitas correntes de turidez erodem as partes superiores do estrato

sobjacente, ou seja, de um fluxo anterior.

Tal associação de fácies e estruturas sedimentares permite concluir e

associar o agente transportador e modelo deposicional à correntes de turbidez. Pelo

fato de se encontrar camadas de arenitos com granulometria fina à média, com

estrutura maciça, plano-paralela e, por vezes, cruzada cavalgante, intercaladas por

folhelhos, pode-se inferir que os principais mecanismos de deposição são, de acordo

com a Sequência de Bouma, os regimes de fluxo superior e inferior, com

componentes de suspensão e tração associada. No regime de fluxo superior,

formam-se os arenitos com granulometria fina à média, maciços e com

estratificações plano-paralelas, enquanto no regime de fluxo inferior formam-se as

climbing ripples, e as laminações plano-paralelas nos sedimentos de tamanho areia

fina, silte e argila.

As convoluções e dobras observadas no afloramento podem estar

relacionadas à mecanismos de slump, deformando as camadas sobjacentes no

momento da deposição, e à estruturas em chama e estruturas de carga (balls and

pillows) (argilocinese), que deformam as camadas sobrejacentes.

Identificou-se, também, um padrão thickening e coarsening upwards, no

empilhamento vertical das camadas do afloramento, o que evidencia um gradativo

aumento na energia do ambiente deposicional. Tal aumento pode ter relação com a

66

progradação da linha de costa durante o preenchimento do Cânion de Taquipe,

tornando as fácies cada vez mais proximais, da base para o topo do afloramento.

Em relação aos folhelhos, interpreta-se que os mesmos podem ser oriundos

das porções mais distais dos pulsos arenosos das correntes de turbidez, ou da

própria sedimentação natural da bacia, nos intervalos entre os pulsos turbidíticos,

em períodos de menor energia no ambiente deposicional.

No que diz respeito ao modelo deposicional, interpreta-se que o afloramento

está inserido em um depósito de leques sublacustres, estando associados ao

ambiente lacustre do rifte Recôncavo-Tucano-Jatobá. Estes leques são

representados pelos turbiditos, formados pelas correntes de turbidez, que são

controlados pelo aporte sedimentar, ambiente deposicional, nível eustático e

atividades tectônicas. Estes fatores agem em conjunto, determinando a forma,

extensão, granulometria, estruturas sedimentares e padrão de empilhamento dos

leques sublacustres.

Deve-se salientar, também, que a fonte dos sedimentos também é um fator

preponderante na caracterização de depósitos sublacustres. De acordo com

Milhomem et al. (2003), os fluxos de detritos que deram origem aos depósitos da

Formação Taquipe estão relacionados à desestabilização das fácies de frente

deltáica da Formação Pojuca e, eventualmente, da remobilização de sedimentos

mais antigos, pertencentes às Formações Marfim e Maracangalha.

Pode-se interpretar que o afloramento está inserido em um ambiente

progradante, associado à queda do nível eustático (regressão), em virtude dos

padrões thickening e coarsening upwards observados no empilhamento vertical dos

estratos. Tal inferência está de acordo com a interpretação realizada por Amorim

(1992), em que o processo inicial do estabelecimento do Cânion de Taquipe está

relacionado ao tectonismo, seguido de uma fase de reduzido aporte, gerada por uma

elevação no nível eustático (transgressão), e, por fim, uma fase de deposição e

soterramento, associada à queda do nível eustático (regressão), o que permitiu a

progradação de frentes deltaicas e a redução na taxa de subsidência da área.

Em relação ao intervalo estudado, pode-se deduzir que o mesmo está

relacionado, principalmente, às figuras 15, 16, 21 e 22, do presente trabalho, que

são imagens de testemunhos do poço de Cassarongongo (AMORIM, 1992).

O modelo deposicional para a Fm. Taquipe pode ser visualizado na Figura 31.

67

Figura 31. Modelo Deposicional para a Fm. Taquipe. Fonte: Mato (1990) apud Paz & Oliveira (1996).

68

CAPÍTULO 5 - CONCLUSÃO

5. CONCLUSÃO

O presente trabalho consistiu na caracterização faciológica dos ritmitos da

Formação Taquipe, no afloramento da Praia de Inema, Base Naval de Aratu. A partir

deste estudo, pode-se identificar os processos e ambientes deposicionais que

originaram as fácies e estruturas sedimentares observadas durante os trabalhos de

campo. Além disto, realizou-se um levantamento bibliográfico, buscando trabalhos

anteriores que envolvessem a presente Formação, o que possibilitou a integração

dos mesmos com os dados obtidos no presente estudo.

Os principais critérios utilizados para a individualização das fácies

sedimentares foram: estruturas sedimentares, granulometria e geometria dos corpos.

Sendo assim, foram identificadas quatro fácies sedimentares: (i) Folhelho com

laminação plano-paralela e intercalações de níveis arenosos à sílticos; (ii) Arenito

fino à médio maciço ou com estratificação plano-paralela; (iii) Arenito fino a médio

com laminações cruzadas cavalgantes (climbing ripples); (iv) Arenitos com

intercalações de folhelhos.

A granulometria dos arenitos varia entre arenito fino à médio, em

praticamente todas as camadas do afloramento, porém, nas porções superiores

foram identificados grãos na fração areia grossa.

As principais estruturas sedimentares identificadas no afloramento foram:

estruturas maciças, estratificações plano-paralelas, estratificações cruzadas

cavalgantes (climbing ripples), que, por vezes, gradam para laminações cruzadas

tangenciais e laminações plano-paralelas.

A identificação das estruturas sedimentares citadas acima permitiu inferir que

o mecanismo de deposição para a presente Formação foram as correntes de

turbidez, visto que estas estruturas fazem parte dos intervalos Ta – Tc/Td da

Sequência de Bouma, e dos intervalos F7, F8 e F9a, das fácies turbidíticas de Mutti.

Logo, conclui-se que os fluxos de detritos são os principais mecanismos de

deposição para estes ritmitos, representados pelas correntes de turbidez em

regimes de fluxo superior e inferior, além de influências de mecanismos de slumps,

69

pelo fato de terem sido identificadas deformações típicas destes processos, como

convoluções, dobras apertadas à isoclinais recumbentes.

O ambiente em que esta informação está inserida é o lacustre, representado

pelo rifte Recôncavo-Tucano-Jatobá. Os padrões thickening e coarsening upwards

permitiram inferir um padrão progradante para estes depósitos, associado à queda

do nível eustático (regressão). Tal inferência está de acordo com a interpretação

realizada por Amorim (1992), em que o processo inicial do estabelecimento do

Cânion de Taquipe está relacionado ao tectonismo, seguido de uma fase de

reduzido aporte, gerada por uma elevação no nível eustático (transgressão), e, por

fim, uma fase de deposição e soterramento, associada à queda do nível eustático

(regressão), o que permitiu a progradação de frentes deltaicas e a redução na taxa

de subsidência da área.

70

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, J.R. Reconhecimento faciológico dos arenitos turbidíticos da

Formação Maracangalha no afloramento de Bom Despacho, na Bacia do

Recôncavo - Bahia. Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia.

Trabalho Final de Graduação. 52p. 2004.

AMORIM, J. L. Evolução do preenchimento do Cânion de Taquipe,

Neocomiano da Bacia do Recôncavo, sob o enfoque da Estratigrafia Moderna.

Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Dissertação de Mestrado

não publicada, 110 pp. 1992.

BOFFO, C. H. Caracterização física de correntes de densidade em

ambientes salinos sob diferentes contrastes de densidade. Porto Alegre,

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Dissertação de Mestrado não

publicada, 141 pp. 2010.

BRAGA, J. A. E.; CUPERTINO, J. A.; SANTOS, C. F. Síntese sobre a

geologia das Bacias do Recôncavo, Tucano e Jatobá. In: Raja Gabaglia, G. P. &

Milani, E. J. (Eds.), Origem e evolução das bacias sedimentares. PETROBRAS, Rio

de Janeiro, PP. 235-266. 1990.

CAIXETA, J. M.; BUENO, G. V.; MAGNAVITA, L. P.; FEIJÓ, F.J. Bacias do

Recôncavo, Tucano e Jatobá. Bol. Geoc. Petrobras, Rio de Janeiro, 8 (1):163–

172. . 1994.

GIANNINI, P.C.F.; RICCOMINI, C. Sedimentos e processos sedimentares.

In: TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M.C.M.; FAIRCHILD, T.R.; TAIOLI, F. (orgs.).

Decifrando a Terra. São Paulo, Oficina de Textos. Cap. 9, p 167-190. 2000.

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137p. 1978.

LOWE, D. R. Sediment Gravity Flows: II. Depositional models with special

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73

ANEXO I

Carta Estratigráfica da Bacia do Recôncavo (Caixeta et al., 1994).

74

75

ANEXO II

Mosaico de uma porção representativa do afloramento da Praia de Inema,

mostrando padrão thickening e coarsening upwards, e cortado por falhas normais.

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