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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CAMPUS DO SERTÃO
IVANY JOVINO DOS SANTOS
IDENTIDADE TERRITORIAL E ENSINO DE GEOGRAFIA NO POVOADO JARDIM
CORDEIRO, DELMIRO GOUVEIA-AL.
DELMIRO GOUVEIA- AL
2015
IVANY JOVINO DOS SANTOS
IDENTIDADE TERRITORIAL E ENSINO DE GEOGRAFIA NO POVOADO JARDIM
CORDEIRO, DELMIRO GOUVEIA-AL.
Trabalho de Conclusão de Curso – TCC
apresentada ao Curso de Geografia da Universidade
Federal de Alagoas, Campus do Sertão, como
requisito para a obtenção do título de Graduada em
Geografia - Licenciatura.
Orientador: Prof. Msc. Kleber Costa da Silva
DELMIRO GOUVEIA- AL
2015
FOLHA DE APROVAÇÃO
IVANY JOVINO DOS SANTOS
Identidade Territorial e Ensino de Geografia no povoado Jardim Cordeiro, Delmiro Gouveia-
AL / Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em Geografia Licenciatura, da
Universidade Federal de Alagoas – UFAL Campus do Sertão.
Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao
corpo docente do Curso de Geografia
Licenciatura da Universidade Federal de Alagoas,
Campus do Sertão. Aprovada em 28 de setembro
de 2015.
_________________________________________________________________
Mestre, Kleber Costa da Silva, Universidade Federal de Alagoas – UFAL Campus do Sertão
(orientador)
Banca Examinadora:
________________________________________________________________
Doutora, Ângela Fagna Gomes de Souza, Universidade Federal de Alagoas – UFAL Campus
do Sertão (Examinador Interno)
________________________________________________________________
Mestre, Vagner Gomes Bijagó, Universidade Federal de Alagoas – UFAL Campus do Sertão
(Examinadora externa)
Ao meu pai José Jovino Filho e minha mãe Deuzelia Bispo dos
Santos; às minhas irmãs Adriana Jovino dos Santos, Ivanilde Jovino
dos Santos e irmãos Daniel Jovino dos Santos e Rafael Jovino dos
Santos, que sempre me apoiaram; e amigos que perto ou longe nunca
duvidaram de minha capacidade.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, à luz maior que me guia.
Agradeço, antes de tudo, à minha família, em especial ao meu pai José Jovino Filho e minha
mãe Deuzelia Bispo dos Santos pelo exemplo de honestidade, determinação e
responsabilidade, sem o seu amor e seus conselhos eu não seria nada. Amo Vocês!
Agradeço, em especial, ao meu Orientador Kleber Costa da Silva, pelas oportunidades,
paciência e incentivos demonstrados durante toda essa jornada. Agradeço por me mostrar que
eu sempre posso melhorar e que dá para fazer melhor. Por acreditar em mim e por me mostrar
um mundo além daquilo que se pode ver. Meu sincero obrigado!
Às minhas irmãs pelo carinho, amor e ajuda, aos meus irmãos e cunhado pelas caronas, em
especial, por vir me salvar quando a moto dava o “prego”, valeu gente.
Ao meu querido Avô, José Bispo dos Santos por suas sábias palavras ao longo de toda uma
vida e seu exemplo de homem sério e minha avó pelo amor dado.
Aos meus tios e tias pelos incentivos.
Ao meu querido amigo e “filho” que começou trilhando comigo, mas tomou outros rumos.
Obrigado pelo amor dado e incentivar meus estudos!
Agradeço ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID) que durante
esses 2 anos contribuiu com minha formação e me mostrou um mundo completamente novo,
fascinante e desafiador. Obrigado CAPES!
Agradeço à Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. José Correa Filho por me acolher
tão bem e contribuir para as realizações das atividades, mostrando-se sempre prestativa e
servindo de exemplo de profissionalismo. Muito Obrigado!
Agradeço aos moradores do Povoado Jardim Cordeiro pela participação e contribuição nas
pesquisas de campo.
Agradeço à professora Elânia dos Santos Oliveira pelo carinho, atenção e dedicação durante
toda minha participação no PIBID, me mostrando que o ensino de qualidade é possível
quando se tem boa vontade e criatividade. Obrigada Professora!
Agradeço aos alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. José Correa Filho pela
paciência e por terem me acolhido tão bem e, acima de tudo, me ensinando muito. Valeu
Galera!
Agradeço, em particular, aos meus colegas do coração e de equipe Edjane Vieira Domingos,
Fabio Pereira, Jose Sidney Gomes e Maria Aparecida Lima que foram minha equipe de
trabalho, pesquisa e brigas – Nossa, quantas brigas né? Mas enfim, conseguimos galera.
Obrigada Edjane pela paciência, amizade e sinceridade demonstrada e compartilhada, irmã te
amo!
Obrigado Fabio por ser companheiro e nem um pouco individualista comigo, só com quem
merece. Por ter me ajudado nas horas de sufoco, amei te conhecer e ter sua amizade.
Obrigado ao meu irmão na fé Edmar Correia, que simplesmente é demais!
Obrigada a Elder Leite, meu achocolatado que amo muito!
Obrigada Mayara Feitosa e Aline Alves pelas risadas e espontaneidade, com vocês aprendi a
ser forte e ao mesmo tempo ser a mais delicada das pessoas, vocês são especiais.
Obrigada Clara e Silvia pela amizade e paciência com esses pobres mortais, e pelas séries
compartilhadas.
A minha mais que amada turma que durante todo esse tempo me suportou e dividiu comigo
muitas emoções, alegrias, tristezas e conhecimentos. Por tornar essa caminhada menos pesada
e mais alegre. As viagens com vocês foram inesquecíveis e com certeza as melhores. Nunca
irei esquecer vocês. Obrigado pelos conhecimentos compartilhado!
A todos os Professores do Campus do Sertão que contribuíram ricamente para minha
formação e crescimento acadêmico. Em especial, ao Professor Msc. Leônidas Marques e Drª.
Ângela Fagna Gomes pela ajuda, carinho e dedicação ao ensinar. Agradeço por tudo, muito
obrigado!
Agradeço à Universidade Federal de Alagoas – UFAL, Campus do Sertão, meu xodó, que tá
crescendo e só me dá orgulho de ter feito parte de sua história na Geografia.
Agradeço, a todos aqueles que de certa forma contribuíram direta ou indiretamente para a
realização e concretização deste sonho.
Sinceramente,
Muito Obrigado!
“Que Deus nos dê forças para mudar as coisas que podem ser
mudadas; serenidade para aceitar as coisas que não podem mudar; e
sabedoria para perceber a diferença. Mas Deus nos dê, sobretudo,
coragem para não desistir daquilo que pensamos estar certo”.
Chester W Nimitz
RESUMO
Este estudo é fruto de uma experiência de ensino de Geografia na Escola Municipal Dr. José
Correa Filho situada no Povoado Jardim Cordeiro, Delmiro Gouveia-AL, onde foram
realizadas atividades que tinham como intuito levar os alunos a refletirem sobre a importância
de se estudar o território e as dinâmicas ali existentes, bem como a relação dos alunos com o
espaço vivenciado por eles, buscando compreender a situação territorial daquela localidade
levando em conta as relações de poder ali existentes e o sentimento de pertencimento e
enraizamento com o lugar na construção da identidade local. O estudo objetivou debater a
temática de construção da identidade territorial no povoado Jardim Cordeiro, dando atenção
especial ao cotidiano dos alunos e buscando uma proposta de ensino de Geografia que
pudesse viabilizar a contextualização dos conteúdos com a realidade local. O trabalho se
justifica pela oportunidade de percepção das territorialidades ali existentes e os processos de
construção das novas identidades, bem como permitir o debater sobre a necessidade de se
contextualizar os conhecimentos geográficos com o cotidiano dos alunos no povoado Jardim
Cordeiro, em especial ao que se refere ao conceito de território e identidade territorial. O
trabalho foi dividido em quatro capítulos: introdução; a construção da identidade; o jardim
cordeiro: a construção de um território de “fronteira” e identidade territorial e ensino de
geografia. A metodologia foi dividida da seguinte forma: a) Embasamento teórico-conceitual
com base em autores como Castells (1999); Hall (2014); Haesbaert (2007); Penna (1992);
Perico (2009); Raffestin (1993); Saquet (2005, 2007, 2010); entre outros; b) Levantamento da
formação histórica e do cotidiano dos moradores, com a caracterização geográfica da
localização do povoado, bem como entrevistas com moradores antigos, aplicação de
questionário, registro fotográfico, etc.; c) Realização de atividade ligada ao ensino com a qual
fizemos um levantamento bibliográfico sobre ensino de Geografia, baseado em autores como
Becker (2001); Callai (2011), Cavalcanti (2010); Castrogiovanni (2009); Maceno (2005); etc.
– explicamos o passo a passo das atividades realizadas nas aulas junto a Escola Municipal Dr.
Jose Correia Filho, com a turma do 8º ano do ensino fundamental. Este trabalho possibilitou
vivenciar experiências no que diz respeito à formação acadêmica como futura docente,
ampliando os conhecimentos adquiridos à luz dos conceitos geográficos, contribuindo
também com o exercício de iniciação a docência e o conhecimento da realidade das escolas e
de seus alunos, bem como a reflexão crítica quanto a importância do exercício da pesquisa
científica, ou seja, do professor/pesquisador que estimula seus alunos na busca do
conhecimento, incentivando a irem sempre mais longe, mais do que eles sabem e do que eles
veem. De modo geral, foi um trabalho importantíssimo quanto à formação e amadurecimento
da questão, bem como oportunizou a constituição de novos saberes e reflexões referentes ao
papel do professor no processo de ensino e aprendizagem.
Palavras chaves: Território, Cotidiano e Identidade Territorial.
ABSTRACT
This study is the result of an experiment with teaching Geography at the Municipal School
Dr. José Correa Son situated in the Village Lamb Garden, Delmiro Gouveia-AL, where
activities were carried out that had the intention to bring all involved to reflect on the
importance of studying the territory and the dynamics therein, and the relationship of students
with the space experienced by them, trying to understand the territorial situation that location
taking into account the their existing power relations and the feeling of belonging and
rootedness with the place in the construction of the local identity. The study aimed to discuss
the territorial identity construction theme in the village Lamb Garden, giving special attention
to the daily lives of students and seeking a geography teaching proposal that would enable the
contextualization of the content with the local reality. The work is justified by the perceived
opportunity of their existing territoriality and the processes of construction of new identities
and allows the debate on the need to contextualize the geographical knowledge with the daily
lives of students in the village Lamb Garden, in particular to what is refers to the concept of
territory and territorial identity. Our work was divided into four chapters that tell how the
steps were performed inside and outside the classroom: a) theoretical and conceptual
Basement based on authors such as CASTELLS (1999); HALL (2014); HAESBAERT
(2007); PENNA (1992); PERICO (2009); RAFFESTIN (1993); SAQUET (2005, 2007,
2010); among others; b) Survey of historical formation and daily life of the residents, with the
geographical characterization of village location, as well as interviews with former residents,
questionnaires, photographic record, etc .; c) carrying out activities related to teaching with
which we made a literature on teaching Geography, based on authors such as BECKER
(2001); CALLAI (2011), CAVALCANTI (2010); CASTROGIOVANNI (2009); MACENO
(2005); etc. - Explain step by step the activities carried out in class with the Municipal School
Dr. Jose Correia Son, with the class of the 8th year of elementary school. This work enabled a
maturing with regard to academic future as a teacher, expanding the knowledge acquired in
the light of geographical concepts, also contributing to the exercise of initiation teaching and
knowledge of the reality of schools and their students as well as the critical reflection about
the importance of scientific research exercise, ie, teacher researcher who encourages his
students in the pursuit of knowledge by encouraging always go further, what they know and
what they see. Overall, it was an extremely important job in the formation and maturation of
the issue and provided an opportunity to set up new sabers and reflections on the role of the
teacher in the process of teaching and learning.
Keywords: Territory, Everyday and Territorial Identity.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Foto 01: Ponte Dom Pedro II...............................................................................................28
Foto 02: Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Jose Correia Filho.........................31
Foto 03: Posto de Saúde Familiar.........................................................................................32
Foto 04: Posto da Guarda Municipal....................................................................................32
Foto 05: Quadra de Esportes................................................................................................33
Foto 06: Igreja Evangélica....................................................................................................33
Foto 07: Igreja Católica........................................................................................................34
Foto 08: Clube de festas.......................................................................................................34
Foto 09: Mercadinho.............................................................................................................35
Foto 10: Churrascaria e Lanchonete.....................................................................................35
Foto 11: Posto de Gasolina...................................................................................................36
Foto 12: Ponto de ônibus......................................................................................................36
Foto 13: 1ª Aula expositiva com os alunos do 8º ano...........................................................42
Foto 14: 1ª Aula expositiva com os alunos do 8º ano...........................................................43
Imagens 01 Perguntas elaboradas pelos alunos do 8º ano....................................................44
Imagens 02, 03 e 04: Perguntas elaboradas pelos alunos do 8º ano.....................................45
Foto 15: 2ª Aula expositiva com os alunos do 8º ano...........................................................47
Foto 16: 2ª Aula expositiva com os alunos do 8º ano...........................................................47
LISTA DE MAPAS E GRÁFICOS
Mapa 01: Localização geográfica do povoado Jardim Cordeiro no município de Delmiro
Gouveia – AL....................................................................................................................13 e 27
Imagem de satélite 02: Planta do Povoado Jardim Cordeiro....................................................30
Gráfico 01: Percentual de nascimentos por estado...................................................................48
Gráfico 02: Divisão estadual do território.................................................................................48
Gráfico 03: Divisão municipal do território..............................................................................49
Gráfico 04: Relação dos motivos que levara a morar no povoado...........................................49
Gráfico 05: Quantidade de viagens à cidade de Delmiro Gouveia semanalmente .................50
Gráfico 06: Quantidade de viagens à cidade de Paulo Afonso semanalmente........................50
Gráfico 07: Relação percentual das formas de lazer dos moradores........................................52
Gráfico 08: Relação percentual sobre as necessidades encontradas no povoado....................53
Gráfico 09: Relação percentual dos problemas enfrentados pelos moradores.........................53
Gráfico 10: Número de moradores que se consideraram Paul Afonsino.................................54
Gráfico 11: Percentual de opiniões quanto à divisão política do território..............................55
Gráfico 12: Relação percentual quanto ao sentimento dos moradores....................................56
Gráfico 13: Relação percentual das opiniões quanto a morar no povoado..............................57
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 13
2. A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ......................................................................... 17
2.1 O conceito de território ..................................................................................................... 17
2.2 O conceito de identidade .................................................................................................... 21
3. O JARDIM CORDEIRO: A CONSTITUIÇÃO DE UM TERRITÓRIO DE
“FRONTEIRA”.......................................................................................................................27
3.1 Cotidiano ............................................................................................................................ 29
4. IDENTIDADE TERRITORIAL E ENSINO DE GEOGRAFIA .................................. 40
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 59
6. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 61
APÊNDICE ............................................................................................................................. 65
13
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho é fruto de uma experiência de ensino de Geografia no Programa
Institucional de Bolsas de iniciação à docência (PIBID) do qual faço parte desde 2012. O foco
deste trabalho, intitulado “Identidade Territorial e ensino de geografia no povoado Jardim
Cordeiro, Delmiro Gouveia – AL” é tratar de temáticas sobre as relações entre cotidiano,
território e identidade em suas diferentes dimensões, buscando compreender como os
significados territoriais influenciam no processo de construção das identidades e dos
significados territoriais.
O trabalho tem como recorte espacial o povoado Jardim Cordeiro, localizado ao
extremo oeste da cidade de Delmiro Gouveia-AL, às margens da BR-423, próximo a ponde
Dom Pedro II que faz a divisa entre os estados da Bahia e Alagoas.
MAPA DE DELMIRO GOUVEIA
Mapa 1. Localização geográfica do município de Delmiro Gouveia e seus povoados e distritos – AL. Fonte IBGE.
Nosso trabalho tem como objetivo geral estudar os conceitos de território e identidade
territorial, identificando, através do cotidiano dos alunos, os processos que levaram as
transformações do povoado. Nossos objetivos específicos estão pautados no levantamento de
pesquisas bibliográficas sobre os conceitos de território, territorialidade e identidade
14
territorial; aula expositiva; realização de entrevistas com os moradores antigos; aplicação de
questionários; registros fotográficos; análise e organização de dados e informações.
O estudo se justifica pela oportunidade de percepção das territorialidades existentes no
povoado Jardim Cordeiro e os processos de construção das novas identidades, bem como
levantar alguns elementos norteadores através de uma abordagem teórica que explique como
ocorre a construção dos significados territoriais, identificando as possibilidades de
contextualizações dos conhecimentos geográficos ao cotidiano dos alunos no povoado Jardim
Cordeiro, Delmiro Gouveia-AL. Nesse sentido, procuramos compreender como contextualizar
o ensino de Geografia ao cotidiano dos alunos tratando questões de identidade e significados
territoriais e de relações com o território.
Este trabalho tem um percurso metodológico baseado em um estudo de caso do
povoado Jardim Cordeiro, no qual buscamos realizar a construção dos conhecimentos
referentes às temáticas debatidas de forma acessível ao nível de conhecimento dos alunos,
além da preocupação com uma aprendizagem.
A metodologia adotada conta com um referencial bibliográfico no qual optamos
trabalhar com os principais autores que tratam das temáticas pesquisadas. Trabalhamos
território a partir de Haesbaert (2007), Perico (2009), Raffestin (1993), Saquet (2005, 2007,
2010) e Santos (1988), que trazem o conceito desde sua origem de espaço delimitado por
relações de poder tendo o estado por referência, até o conceito atual de relações de poder a
partir do político, econômico, cultural, social e natural. Trabalhamos identidade tendo como
suporte teórico metodológico Castells (1999); Hall (2014); Haesbaert (2007), Penna (1992),
procurando entender a identidade como fruto de um processo que esta em constante
construção. Utilizamos as concepções de Andreis (2014), Callai (2009, 2011) e Carlos (2007),
para explanar a importância do uso do cotidiano nas aulas e nos estudos dos conceitos
geográficos, finalizando com as concepções sobre o ensino de Geografia através de autores
como Becker (2001), Callai (2009, 2011), Cavalcanti (2010) e Castrogiovanni (2009).
Realizamos entrevistas com moradores antigos, buscando conhecer a formação
histórica do povoado para entender as relações com o lugar; realizamos o registro fotográfico
dos principais pontos de convivência entre os moradores para entendermos melhor alguns
aspectos de sua configuração espacial, ou seja, os valores, o modo de vida, as tradições e os
hábitos do cotidiano das pessoas daquela comunidade.
Nosso trabalho é dividido em quatro capítulos que relatam como foram realizadas as
etapas da pesquisa.
15
Em seu primeiro capítulo, temos a introdução do trabalho. No segundo capítulo, cujo
titulo é: a construção da identidade, apresentamos concepções em relação aos processos que
se apropriam e/ou modificam o território, servindo de base para a construção das identidades
em circunvizinhanças de fronteiras, optamos por um procedimento metodológico baseado em
revisões/pesquisas bibliográficas em torno dos conceitos de território, identidade territorial e
territorialidade, tendo como base referencial: (CASTELLS 1999); (HALL, 2014);
(HAESBAERT 2007); (PENNA 1992); (PERICO 2009); (RAFFESTIN 1993); (SAQUET
2005, 2007, 2010); (SANTOS 1988). Buscando elementos norteadores para explicações
plausíveis quanto à apropriação afetiva e simbólica do território estudado.
No terceiro capítulo, temos: Jardim Cordeiro: a constituição de um território de
“fronteira”, no qual discutimos a formação e transformações ocorridas no povoado ao longo
do tempo, através de entrevistas com os moradores antigos, fotografias dos principais pontos
de convivência daquela comunidade e aplicação de questionário, objetivando entender a
construção da identidade a partir do vivido, da afetividade, do enraizamento e territorialidades
construídas. Para uma melhor compreensão de nosso objeto de estudo foram realizadas
observações in loco, e levantamento histórico da formação do povoado através de conversas
abertas com os alunos, professores e moradores.
No quarto capítulo, intitulado: identidade territorial e ensino de geografia, relatamos o
percurso relativo ás atividades realizadas com os 16 alunos do 8º ano do ensino fundamental
durante nosso estudo. Partimos do levantamento das noções dos alunos em relação aos
conceitos trabalhados e os debates em sala através da contextualização dos conceitos e
conteúdos geográficos ao cotidiano dos alunos. Fizemos um levantamento bibliográfico sobre
ensino de Geografia, baseado em autores como: (BECKER 2001); (CALLAI 2009, 2011);
(CAVALCANTI 2010); (CASTROGIOVANNI 2009). Foram realizadas: aulas expositivas,
entrevistas quanto à formação do povoado, bem como uma pesquisa de amostra com a
aplicação de 22 questionários aos moradores do povoado com idades entre 16 e 73 anos,
objetivando conhecer os principais motivos que levaram os atuais moradores a residirem ali,
bem como seu cotidiano e opiniões a respeito do povoado. Nessa etapa, investigamos os
processos de apropriação e dominação do território através das relações de poder.
Em outro momento, realizamos a análise dos dados obtidos por meio de questionários
para a conclusão de nossas atividades onde se pretendeu aliar o saber geográfico ao cotidiano
de forma que a compreensão sobre as relações de poder dominante no território e a identidade
territorial fossem perceptíveis e que o ensino de Geografia fosse visto como uma disciplina
16
que possibilita a formação de indivíduos críticos e capazes de compreenderem o mundo em
suas múltiplas escalas a partir dos conhecimentos geográficos.
Por isso, dentro desta proposta de estudo, buscamos primeiramente os conhecimentos
teóricos das categorias estudadas em seu espaço-temporal. Longo em seguida, começamos os
trabalhos em sala de aula com a explanação dos conceitos com levantamento prévio dos
alunos, conhecimento de seu cotidiano, sua história e suas opiniões. Posteriormente, foram
realizadas atividades intra e extraclasse com alunos e moradores com a intenção de descobrir
sua realidade, noções e conhecimentos que eles têm a respeito de sua experiência como
morador do povoado, a fim de, com essas informações e dados, compreender e explicar traços
de sua (s) identidade (s).
Por fim, concluímos nosso trabalho com as considerações finais a respeito dos
conceitos e do ensino de Geografia. Nessa discussão, busca-se uma articulação entre as áreas
do conhecimento geográfico e a contextualização dos conteúdos condizentes com a realidade
escolar dos alunos, bem como refletir sobre a prática docente frente às mudanças do mundo
contemporâneo.
Este trabalho possibilitou desenvolver o senso crítico e a reflexão em relação aos
conceitos pesquisados e serviu como palco de reflexões quanto ao ensino de geografia sendo
um elemento enriquecedor de atualização da formação do professor-pesquisador.
17
2. A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE
Os debates que permeiam o processo de construção da noção de identidade vêm
ganhando cada vez mais ênfase no âmbito acadêmico em diversas áreas, tais como;
Psicologia, sociologia, geografia etc. A identidade é fruto da experiência, da afetividade e da
apropriação de significados de um povo, sendo ela mesma construída ao longo de um
processo de reconhecimento.
Sendo assim, no decorrer do estudo se fez necessário um referencial teórico que possa
servir de base para explanar como é feita a construção desse conceito. Quem são os atores
envolvidos? Por que acontece essa construção? (CASTELLS apud PERICO, 2009. p. 38).
Neste sentido, o presente trabalho busca discutir categorias conceituais como: território, lugar
e identidade territorial, a partir de um referencial teórico e metodológico baseado em:
(CASTELLS 1999); (HAESBAERT 2007); (PERICO 2009); (RAFFESTIN 1993); (SAQUET
2005, 2007, 2010); (SANTOS 1988); (TUAN 1983). Posteriormente, optamos por tratar o
ensino como pesquisa e a pesquisa como ensino num processo que contextualizará o cotidiano
dos alunos do ensino fundamental, na disciplina de Geografia, para se chegar ao nosso
objetivo principal que é a Identidade Territorial do povoado Jardim Cordeiro, Delmiro
Gouveia-AL. Essa questão torna-se pertinente ao verificarmos o sentimento de pertencimento
e enraizamento que os morados têm com o estado vizinho (BA) e como o cotidiano contribui
para o fortalecimento das identidades. No decorrer da nossa pesquisa buscamos compreender
porque isso ocorre.
2.1 O conceito de território
Os conceitos de território e de identidade surgiram na Alemanha por volta de 1870 e,
através das concepções de F. Ratzel, o conceito de território foi concebido como um recorte
do espaço delimitado por relações de poder. “Tendo o estado por referência, com suas
subdivisões ou contradições internas, o território constitui sua expressão legal e moral, o que
justifica sua defesa, assim como a conquista de novos territórios” (PERICO, 2009, p. 32).
Esse conceito de território esteve por muito tempo enraizado no pensamento social e
científico como um recorte espacial delimitado e limitado tanto em sua área de extensão
quanto de atuação, governado e controlado pelo Estado.
18
Para Claude Raffestin (1993), o conceito de território é concebido a partir de relações
de poder. Segundo o autor, o território é resultado da ação do homem sobre o espaço e “ao se
apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator
territorializa o espaço” (RAFFESTIN, 1993, p. 143). Ou seja, o espaço só passaria a ser
território a partir do momento que existissem relações que permeassem a produção desse
espaço, transformando-o em território, pois “o território, nessa perspectiva, é um espaço onde
se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência, revela relações
marcadas pelo poder. O espaço é a "prisão original", o território é a prisão que os homens
constroem para si” (RAFFESTIN, 1993, p. 143-144). O território nessa concepção é
entendido como posterior ao espaço e fruto das relações de produção que, por sua vez, está
atrelado a relações de poder, onde somos obrigados a permanecer no espaço, mas podemos
escolher e/ou construir nosso próprio território segundo a nossa vontade, necessidade ou
interesse.
Raffestin (1993) refere-se às relações e à distribuição dos indivíduos e/ou grupos em
diferentes localidades como “tessituras”, malhas, nós e redes. Segundo ele:
Esses sistemas de tessituras, de nós e de redes organizadas hierarquicamente
permitem assegurar o controle sobre aquilo que pode ser distribuído, alocado e/ou
possuído. Permitem ainda impor e manter uma ou várias ordens. Enfim, permitem
realizar a integração e a coesão dos territórios. Esses sistemas constituem o
invólucro no qual se originam as relações de poder. Tessituras, nós e redes podem
ser muito diferentes de uma sociedade para outra, mas estão sempre presentes. Quer
sejam formados a partir do princípio da propriedade privada ou coletiva, nós os
encontramos em todas as práticas espaciais. (RAFFESTIN, 1993, p. 152).
Para o autor, é a partir deste sistema que é possível organizar e controlar as interações
que estão sob o nosso poder, sejam eles de ordem política, econômica, social ou cultural.
Interações essas que surgem dos jogos de interesses e que acabam por produzir o território, ou
seja, as relações de poder que não se limitam apenas ao poder político ou do Estado, pois,
como afirma Rogério Haesbaert (2007, p.20), “desde a origem, o território nasce com uma
dupla conotação, material e simbólica”. Segundo ele, o território já nasce subentendido a
noção de dominação e de apropriação que o homem tem em relação ao espaço construído.
Ainda, segundo Haesbaert (2007):
Território, assim, em qualquer acepção, tem a ver com poder, mas não apenas ao
tradicional "poder político". Ele diz respeito tanto ao poder no sentido mais
explícito, de dominação, quanto ao poder no sentido mais implícito ou simbólico, de
apropriação. (HAESBAERT, 2007, p. 20-21).
19
Nessa perspectiva, o primeiro seria o valor funcional atrelado ao valor de troca, o
poder delimitado e limitado, tendo uma conotação material e funcional. O segundo diz
respeito ao poder no sentido de apropriação, do vivido, do simbólico. Sendo o território palco
dessas duas dinâmicas de territorialização (dominação e apropriação), ele estende-se ao longo
do tempo-espaço por relações de poder objetivas e subjetivas. Para analisar determinado
território deve-se primeiramente observar quem exerce poder sob este mesmo território, pois
este é produzido e consumido através das relações sociais e, quando essas relações se
materializam e enraízam-se, criam-se as territorialidades.
A territorialidade, além de incorporar uma dimensão mais estritamente política, diz
respeito também às relações econômicas e culturais, pois está ‘’intimamente ligada
ao modo como as pessoas utilizam a terra, como elas próprias se organizam no
espaço e como elas dão significado ao lugar’’. (HAESBAERT, 2007, p. 22).
Segundo o autor, a territorialidade é a incorporação das diversas dimensões que
formam as relações sociais. A partir do momento que existe uma organização no espaço, cria-
se um território e quando esse passa a ter interações simbólicas ou concretas surgem às
territorialidades, que são criadas a partir dos significados que o individuo ou grupo dá ao
lugar de vivência. Ou, como afirma Saquet (2007, p.58), “os processos sociais e naturais, e
mesmo nosso pensamento, efetivam-se na e com a territorialidade cotidiana. É aí, neste nível,
que se dá o acontecer de nossa vida e é nesta que se concretiza a territorialidade”, pois ela é
construída através das relações sociais e de dominação. Para esse autor, é através das relações
do cotidiano que construímos nossas territorialidades e as reproduzimos em processos sociais,
naturais, e até mesmo, em nossos pensamentos.
Atualmente, pensar o conceito de território é pensar em relações de poder articuladas
através do tempo e do espaço, simultaneamente, com as esferas políticas, econômicas,
culturais e naturais (SAQUET, 2007). Essas esferas encontram-se entrelaçadas e a existência
de diferentes abordagens acerca do conceito de território é resultado das diversas formas com
que o território foi, e ainda é pesquisado, por diferentes ciências e teóricos, evidenciando a
necessidade de superação da dicotomia imposta pelo estudo de segmentos isolados – político,
econômico, cultural, social e natural, visto que esses segmentos são indissociáveis para o
entendimento do território como unidade (Saquet, 2007, p. 69).
Nesse sentido, Milton Santos (1998, p.17) salienta que “as mudanças que o território
vai conhecendo, nas formas de sua organização, acabam por invalidar os conceitos herdados
do passado e a obrigar a renovação das categorias de análise”. Para Santos (1998), o território
passou, e vem passando, por diversas transformações em sua organização, tornando-o palco
20
de diversas manifestações naturais e sociais ao longo da história, sendo assim, surge a
necessidade de conceituá-lo segundo a realidade que se apresenta, pois os conceitos herdados
do passado podem não refletir mais a realidade atual.
Saquet (2010) define o conceito de território como uma área na qual existe um poder
centralizado que, embora seja limitado, pode ser expandido.
[...] o conceito de território não pode ser classificado como físico ou fenômeno
inanimado, mas como uma área onde há um elemento de centralidade, que pode ser
uma autoridade exercendo soberania sobre as pessoas ou sobre o uso de um lugar
[...] O território designa uma porção do espaço geográfico sod jurisdição de certos
povos, ou seja, significa distinção, separação e compartimentação, a partir de
comportamentos geopolíticos e psicológicos, [...] Mesmo limitado, o espaço pode
ser expandido. (SAQUET, 2010, P.68).
Nessa perspectiva, para conceituá-lo devemos, primeiramente, entender qual é o
elemento central de poder, visto que o território é concebido através de relações de poder de
origem política, econômica, cultural ou social. Assim, essa força central é quem orienta e
organizar determinado espaço conforme suas necessidades ou interesses. Um mesmo território
pode ter um recorte espacial limitado, mas dependendo da força central que organiza as
relações de poder, o mesmo pode expandir-se tanto em sua extensão quanto em sua atuação.
O território não pode ser visto de forma fragmentada, mas como um conjunto
indissociável de diferentes relações de poder, como afirma Haesbaert:
[...] o território pode ser concebido a partir da imbricação de múltiplas relações de
poder, do poder mais material das relações econômico políticas ao poder mais
simbólico das relações de ordem mais estritamente cultural. (HAESBAERT, 2004a:
HAESBAERT, 2007, p.27).
Para Haesbaert, o território pode ser organizado através de diferentes relações de
poder. O autor entende o território a partir de duas dimensões de territorialização (dominação
e apropriação), indo do material ao imaterial, do funcional ao simbólico e vice-versa.
Imbricações essas que acabam por construir as relações espaciais de vínculo com determinado
território, que vai do real ao abstrato do qual um poder se sobressai aos demais.
Neste trabalho, compreende-se o território a partir do vivido, contemplando as
relações simbólicas e afetivas, que em seu cotidiano moldam e constituem o território, pois
entendemos que no povoado Jardim Cordeiro, Delmiro Gouveia-AL, além das relações de
poder do campo político, existe vínculos afetivos e simbólicos que configuram a criação de
identidades territoriais, ou seja, o território aqui estudado é percebido como fruto de uma
21
apropriação simbólica, na qual produz sua territorialidade cotidianamente. Tendo como
suporte teórico as concepções de Haesbaert (2007); Saquet (2007, 2009, 2010).
2.2 O conceito de identidade
O debate acerca da construção da identidade perpassa os conceitos de território e
territorialidade. Segundo a concepção de Castells (1999), a identidade seria um:
[...] processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou
ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, o(s) qual (is)
prevalece(m) sobre outras fontes de significado. Para um determinado indivíduo ou
ainda um ator coletivo, pode haver identidades múltiplas (CASTELLS, 1999, p. 22).
Nessa perspectiva, a identidade em seu processo de construção, passa a se apropriar de
características culturais de diferentes atores do território, sejam eles históricos, religiosos,
biológicos, geográficos, etc. A identidade compreende relações de interesses econômicos,
políticos, sociais e culturais, pois se encontra fortemente atrelada às relações de poder em
diferentes esferas. Sendo assim, poderá haver múltiplas identidades em uma mesma
localidade por interesse de determinado grupo de apropriar-se e/ou construir significados de
forma a diferenciá-los dos demais. Ainda a esse respeito, Haesbaert (2007) afirma que:
Isto significa que nada impede este indivíduo ou este grupo de produzir e de
"habitar" mais de um território. [...] é raro que apenas um território seja suficiente
para assumir corretamente todas as dimensões de uma vida individual ou de um
grupo. O indivíduo, por exemplo, vive ao mesmo tempo ao seu "nível", ao nível de
sua família, de um grupo, de uma nação. Existe, portanto multipertencimento
territorial (BAREL, 1986, p.13 apud HAESBAERT, 2007, p.35).
A identidade territorial é algo construído por processos cotidianos em diferentes
escalas que acabam por moldar características específicas de um indivíduo ou de um grupo.
Essa territorialização não se limita às fronteiras dos territórios, visto que esse processo
acontece através de uma ação de apropriação simbólica e subjetiva. Desse modo, ao
tratarmos de identidade observamos as dimensões do indivíduo com o lugar, pois “no lugar
que se desenvolve a vida em todas as suas dimensões” (CARLOS, 2007, p.14); o sentido de
lugar nasce a partir da experiência e quando atribuímos a ele valor e significados. Sendo
assim, “a identidade refere-se ao espírito, ao sentido, ao gênio do lugar. Ela provém das
intenções e experiências intersubjetivas, que resultam da familiaridade” (RELPH, 1976 apud
HOLZER, 1999, p. 72). Esse sentimento de pertencimento foi e é construído pelo homem
22
através de relações de poder de ordem material e simbólica que marcam o território segundo
características que os identificam.
Sendo assim, o papel do território seria fornecer os subsídios necessários para a
efetivação do sentimento de pertencimento.
(O território) contribui, em compensação, [...] para fortalecer o sentimento de
pertencimento, ajuda na cristalização de representações coletivas, dos símbolos que
se encarnam em lugares memoráveis (hauts lieux) (BRUNET et al. 1992: 436 apud
CLAVAL, 1996, p. 11).
O território adquire, nessa perspectiva, uma dimensão geográfica necessária para a
construção dos processos identitário, pois o território oferece os referenciais necessários para
a construção de múltiplas identidades, já que o mesmo é apropriado de formas diferentes pela
coletividade. Perico (2009) acrescenta que:
[...] toda e qualquer identidade é construída. A principal questão diz respeito a como,
a partir de que, por quem e para que isso ocorre. A construção de identidades se vale
da matéria-prima fornecida pela história, geografia, biologia, instituições produtivas
e reprodutivas, pela memória coletiva e pelas fantasias pessoais, pelas pompas do
poder e por revelações de cunho religioso. Com certeza todos esses materiais são
processados pelos indivíduos, grupos sociais e sociedades que reorganizam seu
significado em função de tendências sociais e projetos culturais enraizados na
estrutura social, assim como em função da percepção que têm sobre o tempo/espaço
(CASTELLS, 1999, apud PERICO, 2009, p. 38).
O autor afirma que as identidades são construídas. Com isso, a questão central é a de
como esse processo ocorre. No caso do Povoado Jardim Cordeiro, a identidade é construída
através do cotidiano a partir de relações sociais, econômicas e culturais praticadas pela
comunidade, com a finalidade de obtenção das necessidades e interesses individuais e
coletivos, não deixando de lado as características geográficas, biológicas, históricas e
religiosas da comunidade. Pois, como afirma Hall (2014, p. 108), “as identidades estão
sujeitas a uma historicização radical, estando constantemente em processo de mudança e
transformação”. Assim, elas não poderiam ser singulares e unificadas, mas fragmentadas e
múltiplas, pois o processo de construção é constante.
Desse modo, torna-se necessário tomar como referência o contexto histórico, a
realidade do grupo social e suas particularidades que levaram aos processos de construção das
identidades no decorrer do tempo e do espaço, pois, como ressalta Penna (1992):
O tratamento da identidade social [...] implica necessariamente em considerar os
processos que constroem, social e culturalmente, os esquemas de classificação
dominantes e determinadas representações compartilhadas, e onde e sem duvida
relevante a atuação de especialistas da produção simbólica, assim como de
23
mecanismos institucionais de definição da "realidade": enfim, não permite esquecer
a função política dos sistemas simbólicos (PENNA, 1992, p. 71).
Para a autora, a identidade deve ser tratada e concebida através das relações com todos
os elementos, visto que ela é culturalmente formada por diferentes sistemas e processos.
Nesse processo de construção da identidade deve-se compreender a interação entre o
poder de dominação política atuante no território e suas relações com as dinâmicas locais,
evidenciando a necessidade de observação das relações materiais e imaterias, de dominação e
de apropriação. Nesse sentido, podemos entender as leis a partir de um conjunto de normas
instituídas pelo Estado para a organização da sociedade. Freitas (2007) cita que:
As leis definem os limites de um direito ou de uma reserva. Os objetivos legais de
um território são normalmente descritos pelos limitem que demarcam onde um
direito ou uma restrição termina e onde um próximo direito ou uma próxima
restrição começa assim como os conteúdos desse direito. (KAUFMANN, 1998 apud
FREITAS, 2007, p. 19).
A dominação e a apropriação do “território concreto” organizam as informações e as
relações no território, sejam nas dimensões política, econômica, cultural ou social. Nesse
sentido, a identidade é fruto das relações de poder atuantes no território.
Segundo Castells (1999, p. 24) a construção da identidade ocorre sob “três formas e
origem” que são: legitimadora, de resistência e de projeto. Para uma melhor compreensão
elaboramos um organograma.
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE EM ESCALA NACIONAL.
A identidade legitimadora; tratada como raiz da sociedade civil, aquela que se originam
das instituições dominantes e reproduzem suas formas de dominação, como por exemplo, a
identidade nacional que garante os direitos e deveres aos cidadãos; a Identidade de
resistência; que nasce a partir de atores marginalizados e em situação de “desvalorização e/ou
estigmatizados” como forma contra-hegemônica e como forma de resistência e sobrevivência
e é daí que nascem as comunidades, essas por sua vez são dotadas de “essências”, como por
LEGITIMADORA
IDENTIDADE
DE RESISTÊNCIA DE PROJETO
24
exemplo, a identidade quilombola e/ou indígena que lutam pelo seu território e pela
continuação de suas tradições, costumes e cultura e; a Identidade de projeto – identidade
construída culturalmente capaz de reformular sua posição social através de uma mudança
estrutural da sociedade, com uma perspectiva construtivista, como por exemplo, a
comunidade GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) que vem ganhando o direito à união
homoafetiva.
Essas são concepções sugeridas por Castells (1999) sobre como se dá a construção da
identidade a nível nacional. Já Penna (1992, p. 50-51) expõe suas concepções acerca da
identidade a nível regional. Segundo a autora, a identidade pode ser formulada a partir de
quatro, que são: naturalidade, vivência, cultura e autoatribuição. Para uma melhor
compreensão elaboramos um organograma.
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE EM ESCALA REGIONAL
Nessas denominações, a autora propõe que a identidade seja pontuada a partir da: 1ª)
Naturalidade: o local de nascimento do indivíduo é decisivo para determinar e classificar a
naturalidade no documento de identidade, a esse respeito podemos citar o caso dos moradores
que nasceram na cidade de Paulo Afonso e se consideram pauloafonsino; 2ª) Vivência: que
está relacionada às experiências dos indivíduos dentro de determinado território, e que em seu
cotidiano, seria capaz de produzi a identidade, aqui evidenciamos o caso dos moradores do
povoado que não nasceram em Paulo Afonso, mas que através do cotidiano possuem uma
vivência maior com o território vizinho do qual estão sempre vivenciando em seu dia a dia; 3
ª) Cultura: referente às práticas originária de alguma cultura que identifica a origem de
determinado grupo ou indivíduo, a exemplo da apropriação material e simbólica da cultura
baiana que é utilizada continuamente pelos moradores do povoado e; 4ª) Autoatribuição:
indicação do próprio indivíduo quanto ao seu pertencimento a determinado território ou
região, a exemplo de alguns moradores que por necessidade ou interesse específico, se
NATURALIDADE VIVÊNCIA CULTURA AUTOATRIBUIÇÃO
IDENTIDADE
25
autoatribui pauloafonsino/baiano. No caso do povoado essas modalidades estão agregadas,
pois os moradores vivenciam de forma diferente e variadas os múltiplos processos que
constroem as identidades.
Nessas concepções de Penna (1992) a identidade é vista, com exceção da
autoatribuição, como algo dado através de características que identificam o indíviduo como
pertencente a um grupo ou diferente deste. Estas concepções são pertinentes, pois produz
reflexões sobre até que ponto a identidade é produzida/construída é até que ponto ela é
dada/atribuída? É preciso analisar as diferentes escalas de construção das identidades
territoriais e/ou das territorialidades, bem como de que forma essas são representadas em seus
territórios.
A partir destes diferentes cortes territoriais é possível construir diversas identidades,
dentro de uma hierarquia onde uma identidade mais ampla (por ex. regional) e capaz
de englobar outras mais exclusivas (por ex. relativas ao estado ou município) que,
em outro nível, se oporiam entre si. A referência última e a identidade nacional, a
mais abrangente. Sendo assim, sua capacidade de unificar, de estabelecer, sob a
nacionalidade, uma coesão por sobre tantas possíveis fontes de diferenciação exige
um maior grau de abstração em relação as particularidades da experiência mais
imediata do indivíduo (PENNA, 1992, p. 52).
Nessa perspectiva, as diferentes escalas possibilitam a interpretação de múltiplas
identidades, que compreende a nacional, regional, local, etc. E, através da nacionalidade seria
possível a unificação dessa pluralidade identitária, sem que a escala menor perca suas
particularidades frente à escala maior. Nesse aspecto, Perico (2009) acrescenta que:
A forma como os grupos se organizam para fazer a gestão, defender ou integrar seu
território constitui expressão política da identidade no território. Consiste na
expressão da territorialidade que se manifesta nos valores, como o patriotismo, o
amor à terra, a diferenciação, a afirmação e a competência em relação a outros
grupos ou territórios. (PERICO, 2009, p. 39).
Cada território organiza-se segundo uma hierarquização advinda de dimensões
política/jurídicas, mas também de relações econômicas, culturais e simbólicas como crenças,
valores, tradições, etc. A identidade territorial que aparentemente é “dada” por meio da
naturalidade não se limita a essa expressão, pois é através das experiências do vivido, do
sentimento de pertencimento e enraizamento, da apropriação e da afetividade com o lugar que
a mesma é construída, e sucessivamente, reconstruída por práticas diárias que na maioria das
vezes fazem parte de uma dimensão mais simbólica e de apropriação do que de dominação e
imposição, mas que não deixam de fazer parte de uma rede de relações sociais que estão em
um campo de poder. Como afirma Woodward (2014):
26
Todas as práticas de significação que produzem significados envolvem relações de
poder, incluindo o poder para definir quem é incluído e quem é excluindo. A cultura
molda a identidade ao dar sentido à experiência e ao tornar possível optar, entre
várias identidades possíveis, por um modo específico de subjetividade
(WOODWARD, 2014, p.19).
A cultura que molda a identidade permite a escolha entre o que “eu sou” e “o que eu
quero ser”, como o “eu” se diferencia e assimila-se ao “outro”. Dessa forma, ao moldar às
identidades a cultura inclui ou exclui os indivíduos através das relações cotidianas de
subordinação e dominação, na qual se opta por pertencer ou não a determinada cultura.
Sendo assim, neste trabalho optamos pela construção das identidades territoriais
através da “tríade” Território - Territorialidade - Identidade, por entendermos que esses
conceitos são indissociáveis, quando tratarmos de questões de ligação dos humanos com
lugares geográficos, visto que é através do sentimento de afetividade, enraizamento e
pertencimento ao lugar que surgem as territorialidades, as relações em suas múltiplas formas e
escalas, que por sua vez, conduz as relações de poder concreta e simbólica, constituindo-se
assim um conjunto de significados compartilhados que moldam o território e dá origem as
identidades.
Para entendermos como permeiam essas questões do/no território, temos que conhecer
melhor o território trabalhado e para isso buscamos conhecer o contexto histórico local e os
processos que levaram o povoado a ser o que ele é hoje. Para isso, no próximo capítulo iremos
fazer uma leitura sobre a localização, formação e o cotidiano dos moradores do povoado
Jardim Cordeiro.
27
3. O JARDIM CORDEIRO: A CONSTITUIÇÃO DE UM TERRITÓRIO DE
“FRONTEIRA”
O território estudado foi escolhido a partir de sua localização geográfica e por conter
relações dinâmicas, tanto com a cidade de Delmiro Gouveia-AL quanto com Paulo Afonso-
BA. As relações de poder que permeiam a construção das identidades territoriais ali existentes
estão ligadas aos processos de territorialização pelas quais passam os moradores ao longo da
história do Povoado. Relações essas que se tornaram objeto de apreciação nesta proposta de
trabalho.
O Povoado Jardim Cordeiro está localizado na Zona Rural do município de Delmiro
Gouveia-AL (Figura 1), numa área de fronteira interestadual – Alagoas e Bahia. Divisão essa
que consta na Lei Orgânica Municipal de Delmiro Gouveia, Seção II, Art. 5º,§ 2° “Município
de Delmiro Gouveia para fins administrativos será dividido em Zona Urbana e Zona Rural, a
Zona Urbana compreende a sede do Município e a Zona Rural os distritos e povoados”.
(BRASIL, 1990, p. 02).
MAPA DE DELMIRO GOUVEIA
Mapa 1. Localização geográfica do município de Delmiro Gouveia e seus povoados e distritos – AL. Fonte IBGE.
A formação do povoado, segundo moradores antigos, começou na “cabeça” da ponte
Dom Pedro II (Foto 1), que liga os estados de Alagoas e Bahia. O nome do povoado a
28
princípio era Cangambá, mas tinha quem o chama-se pelo apelido de “Beija Bode”, nessa
época só existiam algumas casas de taipa e vegetação na área ocupada na “cabeça” da ponte.
PONTE DOM PEDRO II
Foto 1. Ponte Dom Pedro II. FONTE: kalangodosertao.webnode.com.br. Acessado em: 05/12/2014.
Um dos moradores antigos conta que chegou ao povoado no período de construção da
ponte Dom Pedro II (meados de 1957) e que a CHESF (Companhia Hidrelétrica do São
Francisco) necessitou da área para passar mais linhas de transmissão, “então ela indenizou os
moradores, que saíram da “cabeça” da ponte e construíram suas casas a alguns metros mais
afastados da ponte onde só existia uma casa no local. Nesse mesmo período surgiu a venda
de lotes através dos promotores “Bastos e Elias” e os moradores que foram indenizados
compraram esses lotes e construíram suas casas no povoado”. Relata o morador I.
“O nome Jardim Cordeiro surge a partir da Fazenda Cordeiro, de propriedade da
família Cordeiro, que ficava próxima à cidade de Delmiro Gouveia e que deu origem ao
nome dos lotes Jardim Cordeiro”1, Acrescenta a moradora II.
Os moradores foram chegando aos poucos na época da formação do povoado e, “as
famílias sobreviviam do trabalho prestado à CHESF ou à Fábrica da Pedra, bem como da
agricultura, pecuária e pescaria” nos conta o morador I. A população foi aumentando
gradativamente através do casamento dos filhos dos primeiros moradores que não quiseram
1 Entrevista concedida pelos moradores. Entrevistador: alunos da E.M.E.F. Dr. José Correia, Jardim Cordeiro:
14/10/14.
29
ou não puderam sair do povoado, bem como com a chegada de pessoas que iriam trabalharam
na CHESF2, na Fábrica da pedra
3 ou que possuíam familiares que morassem no povoado.
3.1 Cotidiano
Os moradores do povoado Jardim Cordeiro, ao longo de sua história, vem passando
por um processo de apropriação e valorização de signos e símbolos da cultura baiana que aos
poucos vão sendo incorporadas ao território e a identidade local. Nesse sentido, segundo
Saquet (2007):
O processo de produção do território é construído pelo movimento histórico e por
simultaneidade. Há movimento constante que se materializa na vida cotidiana e no
território, centrado na intersecção entre os tempos histórico e coexistente
(multiescalar). No território há uma conjugação entre aspectos da economia, da
política, da cultura e da natureza exterior ao homem (E-P-C-N) (SAQUET, 2007, p.
56).
Para o autor, a observação desse processo de construção do território é de suma
importância para entendermos como a atual noção de identidade foi moldada ao longo da sua
história, visto que essa construção foi realizada cotidianamente através das múltiplas relações
entre os diferentes indivíduos e territórios.
Nessa perspectiva, pensamos no cotidiano dos moradores – onde trabalham, estudam,
passeiam, fazem a feira, pagam seus impostos, vão ao médico, etc. - e desenvolvemos uma
análise sobre o significado de sua identidade territorial, pois são as práticas do cotidiano que
moldam a identidade local. Essas questões são pertinentes ao nosso estudo para compreender
as relações existentes no território. Salientamos que é preciso conhecer os atores e as ações
envolvidas nessa dinâmica, visto que nessas relações existe uma dependência entre o lugar
estudado e os outros lugares que transpõe os limites físicos.
O lugar é produto das relações humanas, entre homem e natureza, tecido por
relações sociais que se realizam no plano do vivido o que garante a construção de
uma rede de significados e sentidos que são tecidos pela história e cultura
civilizadora produzindo a identidade, posto que é aí que o homem se reconhece
porque é o lugar da vida (CARLOS, 2007, p. 22).
A forma como os moradores interagem com o lugar de origem e os lugares vizinhos
vão ao longo do tempo produzindo uma rede de relações de conexões com o estado vizinho e
2 Companhia Hidrelétrica do São Francisco, usina hidrelétrica localizada na cidade de Paulo Afonso, nos
Cânions do Rio São Francisco, na divisa entre os estados da Bahia e Alagoas. 3 Em 1912 Delmiro Augusto da Cruz Gouveia registra a Companhia Agro-Fabril Mercantil (Fábrica da Pedra) e
em 1914 ela é inaugurada produzindo linhas com a marca Estrela.
30
essas conexões vão gerando uma apropriação da cultura e uma dependência econômica e de
serviços que produz um processo de construção da identidade local.
Atualmente, o povoado possui cerca de 1072 morados segundo dados do Censo 2010
do IBGE. A população está distribuída nas 16 quadras (mapa 2) que formam o povoado.
PLANTA DO POVOADO JARDIM CORDEIRO
Mapa 2. Planta do Povoado Jardim Cordeiro. Acessado em: 23/01/2015.
No povoado apenas as 4 principais ruas possuem nomes: Rua Ana Neri; Av. Jardim
Cordeiro; Rua Paulo XI e Rua Pilar. Em sua estrutura territorial urbana. Existe uma escola de
ensino fundamental I e II, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Jose Correia Filho
(Foto 2), um posto de saúde (Foto 3), um posto da guarda municipal (Foto 4), uma quadra de
esportes (Foto 5), uma igreja evangélica (Foto 6), uma igreja católica (Foto 7), um clube de
festas (Foto 8), um posto de gasolina, (Foto 9) e dois pequenos mercadinhos (Foto 10).
Nos estabelecimentos públicos os funcionários são contratados e concursados, e são
moradores da cidade de Delmiro Gouveia e de Paulo Afonso e dos povoados vizinhos. A
maioria das ruas do povoado são pavimentadas e os moradores contam com serviços de
iluminação pública, água encanada (embora exista uma falta constante no fornecimento de
água) e rede de esgoto, porém precária.
31
Em seu cotidiano os moradores vivenciam os objetos e executam ações que servem de
“condições” para a construção de sua identidade- representados pelas fotos abaixo.
E. M. E. F. DR. JOSE CORREIA FILHO
Foto 2. Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Jose Correia Filho. Autor: Ivany Jovino. Data: 07/10/2014.
A escola Municipal Dr. José Correia Filho está localizada na Rua Paulo VI s/n,
funciona no período matutino com turmas do fundamental I e no período vespertino com
turmas do fundamental II. As crianças do povoado frequentam a escola do ensino
fundamental I e II, depois a grande maioria opta por estudar o ensino médio na cidade de
Paulo Afonso, visto que é mais próximo e a prefeitura de Delmiro Gouveia disponibiliza
ônibus que leva e trás os alunos diariamente. Essa opção possibilita aos alunos um convívio
diário com a cidade baiana e com sua cultura, pois os alunos tem que adaptar-se ao calendário
escolar do estado da Bahia.
O Posto de Saúde da Família (PSF) possui uma ambulância e deveria funcionar de
segunda a sexta, porém existem reclamações por parte dos moradores do não atendimento ou
atendimento precário, por falta de material ou profissional, os moradores recorem sempre à
Paulo Afonso para consultas ou exames médicos.
POSTO DE SAÚDE DA FAMILIAR
32
Foto 3. Posto de Saúde da Familiar. Autor: Ivany Jovino. Data: 07/10/2014.
POSTO DA GUARDA MUNICIPAL
Foto 4. Posto da Guarda Municipal. Autor: Ivany Jovino. Data: 07/10/2014.
O posto da guarda municipal conta com uma viatura de patrulhamento que faz ronda
no povoado, porém nem sempre ela está no povoado, quando acontece uma ocorrência os
moradores reclamam da demora dos policiais em chegar ao local, o que possibilita a funga
dos criminosos. Moradores relatam o aumento da criminalidade no povoado que, segundo
eles, não são moradores e sim pessoas que vêm principalmente da cidade vizinha fazer
pequenos furtos e até assassinatos.
33
QUADRA DE ESPORTES
Foto 5. Quadra de Esportes. Autor: Ivany Jovino. Data: 07/10/2014.
A quadra de esporte localiza-se em frente à escola, para alguns, é a única área de lazer do
povoado. Ela é utilizada em alguns eventos realizados pela escola para apresentações culturais e
esportivas. Moradores relatam que a mesma precisa de uma reforma e de uma cobertura para a
realização das atividades, pois devido às altas temperaturas registradas no povoado muitas vezes a
utilização da quadra fica inviável.
IGREJA EVANGÉLICA
Foto 6. Igreja Evangélica. Autor: Ivany Jovino. Data: 07/10/2014.
A igreja evangélica mostra um pouco da religiosidade dos moradores, bem como uma
moderna construção.
34
IGREJA CATÓLICA
Foto 7. Igreja Católica. Autor: Ivany Jovino. Data: 10/12/2014.
A igreja católica funciona normalmente aos Domingos, mantendo as tradições
religiosas do povo sertanejo.
CLUBE DE FESTA
Foto 8. Clube de Festa. Autor: Ivany Jovino. Data: 07/10/2014.
No Clube são realizadas festas que vão desde pequenos shows a locação para a
realização festas particulares, confraternizações, etc.
35
MERCADINHO
Foto 9. Mercadinho. Autor: Ivany Jovino. Data: 10/12/2014.
O povoado conta com dois mercadinhos para atender as necessidades dos moradores,
porém eles não têm serviços como farmácia e padaria. Quando não se encontram
medicamentos simples ou pão os moradores precisam se deslocar até Paulo Afonso para
comprar (existe uma pessoa que leva o pão pra vender, porém alguns moradores reclamam da
qualidade do produto).
CHURRASCARIA E LANCHONETE
Foto 10. Churrascaria e Lanchonete. Autor: Ivany Jovino. Data: 10/12/2014.
36
No povoado existe uma Churrascaria/Lanchonete localizada as margens da BR 423,
utilizada pelos moradores e, principalmente, pelos caminhoneiros e viajantes que param para
descansar durantes à noite.
POSTO DE GASOLINA
Foto 11. Posto de gasolina. Autor: Ivany Jovino. Data: 10/12/2014.
No povoado, a margem da BR 423, existe um posto de gasolina que possui serviços
como conveniência, banheiros e lavanderia.
PONTO DE ÔNIBUS
Foto 12. Ponto de ônibus. Autor: Ivany Jovino. Data: 10/12/2014.
Ao lado do posto de gasolina e as margens da BR - 423 existem dois pontos de ônibus-
um de cada lado.
37
Nas observações das relações do povoado com as cidades de Delmiro Gouveia-AL e
Paulo Afonso-BA, notou-se que a maior “dependência socioeconômica” diz respeito à cidade
baiana, onde moradores recorrem em caso da saúde, trabalho, estudo, serviços e lazer. Outro
aspecto importante é a existência de uma alta taxa de natalidade dos moradores referentes à
cidade baiana devido à distância, pois, o hospital mais próximo encontra-se à cerca de 50mim,
na cidade de Paulo Afonso.
Nesse contexto, devido às vivências cotidianas dos moradores, optamos dentro das
concepções aqui propostas, a compreensão de uma “territorialidade sem território” do ponto
de vista político/jurídico - entendemos que o fato do território baiano existir e os moradores
utilizarem e sentirem-se pertencentes e dependentes dele, não torna o território baiano
propriamente deles, mas sim, eles pertencentes ao território baiano através das dimensões
econômicas, culturais e sociais. Paulo Afonso-BA exerce um controle simbólico muito forte
na vida cotidiana dos moradores, porém o povoado não deixa de pertencer ao município de
Delmiro Gouveia-AL e de estar dentro dos limites territoriais do estado de Alagoas. Podemos
notar esse “não pertencimento” a partir dos serviços públicos prestados em Paulo Afonso-BA,
os moradores relatam que encontram muitas dificuldades, a exemplo, na obtenção de
atendimento médico nos postos de saúde da família (PSF) no estado da Bahia devido ao
comprovante de residência ser da cidade de Alagoas. Porém, nas dimensões econômica,
cultural e social, eles reconhecerem os moradores do povoado como pertencentes aquele
território, visto que, devido às idas à feira, aos mercados e farmácias, aos espaços de lazer, os
moradores do povoado acabam conhecendo e fazendo amizades com os moradores de Paulo
Afonso-BA, criando-se uma rotina na vida de ambos, que acabam compartilhando os mesmos
espaços e experiências. Em alguns casos é comum a confusão referente à que município
pertence o povoado Jardim Cordeiro, tanto com moradores de Delmiro Gouveia-AL quanto
aos moradores de Paulo Afonso-BA.
Esses são alguns dos elementos que servem de base para as nossas indagações. Nesse
sentido, Haesbaert (2007), resalta que a:
Territorialidade como concepção mais ampla que território, que o engloba (a todo
território corresponderia uma territorialidade, mas nem toda territorialidade teria,
necessariamente, um território), territorialidade tanto como uma propriedade de
territórios efetivamente construídos quanto como "condição" (teórica) para a sua
existência [...] (HAESBAERT, 2007, p. 26).
Segundo o autor, a territorialidade é vista como uma concepção mais ampla e
compreender as dimensões material e imaterial. A territorialidade pode ser a “condição” para
38
a existência de um território ou ela pode existir sem ter a existência de um território concreto,
ou seja, pode existir uma territorialidade sem um território concreto.
Nesse sentido, vale resaltar que, não é só da vontade da população local ir à cidade de
Paulo Afonso, em muitos casos é necessário ir resolver seus problemas, suas necessidades,
visto que existe um déficit do poder público na prestação de serviços, além disso, é mais
cômodo ir a Paulo Afonso devido a sua dinâmica econômica (no que se refere a serviços,
empregos, lazer, etc.), além da proximidade geográfica que facilita a gestão do tempo entre ir
e vir, além do baixo valor da passagem. Esses são apenas alguns exemplos das dinâmicas
encontradas nesse povoado, cujas relações apresentam em seu território especificidades que
caracteriza essa comunidade e os diferenciam dos demais povoados do mesmo município.
Em suma, ao pensarmos no conceito de território como sendo uma porção do espaço
delimitado por relações de poder, estamos falando de informações que organizam esse
território, seja política, econômico, cultural ou natural, no qual as relações que a comunidade
tem com esses espaços podem ser observados através de suas ações, seu cotidiano, símbolos
que acabam delimitando e ampliando seu limite de extensão ou de ação, ficando visível ou
não esses limites. O território em questão não pode ser visto sem seu povo, visto que é através
das relações sociais e de poder que os indivíduos mantiveram e mantém até hoje, que se
constroem as identidades existentes.
No estudo das categorias de análise da Geografia procuramos aliar ao estudo do
território e da identidade o conceito de cotidiano para elucidar noções de espacialidade, bem
como servir de ferramenta pedagógica auxiliar nas aulas dessa disciplina, pois, concordando
com Andreis (2014):
O cotidiano não é apenas o dia a dia tecnicamente vivido em espaços-tempo, como
relação com lugares e coisas mais ou menos comuns aos sujeitos. O cotidiano na
sala de aula não diz respeito apenas à estruturação dos locais e dos tempos semanais
de disciplinas e cargas horárias. O cotidiano é composto pela visão de mundo que
cada sujeito constrói e que, em cada aula, é colocada em questão. O cotidiano é o
processo de acontecência de cada sujeito e em relações com os outros (ANDREIS,
2014, p. 119-120).
Nesse sentido, o cotidiano vai muito além do dia a dia de cada indivíduo, trata-se das
noções construídas individualmente a partir das experiências e vivências compartilhadas entre
o “eu” e o “outro” que dá origem as concepções espaciais de significados e que estão em
permanente atualização. Sendo assim, buscamos um diálogo entre os conceitos trabalhados e
a observação do cotidiano de alunos e moradores do povoado Jardim Cordeiro.
39
No próximo capítulo daremos início à prática de ensino de nossa pesquisa/ensino, pois
ela é parte fundamental de nosso estudo visto que serão aliados os conceitos teóricos com os
práticos no que tange ao curso de Licenciatura em Geografia- UFAL Campus Sertão.
40
4. IDENTIDADE TERRITORIAL E ENSINO DE GEOGRAFIA
A pesquisa foi desenvolvida junto à Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. José
Correa Filho, situada no Povoado Jardim Cordeiro, Delmiro Gouveia-AL, com os 16 alunos
do 8º ano, na qual daríamos continuação a nossa pesquisa iniciada no PIBID.
O caminho metodológico escolhido para este trabalho foi o estudo de caso, visto que o
TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) é fruto de discussões do PIBID (Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência). Como já tínhamos começado a trabalhar
questões referentes à identidade territorial, preferíamos acompanhar o desenvolvimento da
aprendizagem dos alunos, com atenção especial ao nosso objeto de estudo sob uma
perspectiva construtivista.
O construtivismo foi um percurso pedagógico adotado para esse estudo pela
oportunidade de propor aos alunos a reflexão sobre a importância de se compreender os
conceitos geográficos e os processos que ocorreram e que vem ocorrendo no território,
apresentando os conceitos trabalhados não como algo dado, mas como um conhecimento
construído ao longo do tempo, através das relações sociais e como esses processos têm
influenciado em suas vidas cotidiana e estão envolvidas na construção das identidades
territoriais.
No desenvolvimento deste projeto, preferimos tratar o ensino como pesquisa e a
pesquisa como ensino por entendermos que as inquietações à cerca do tema tratado requerem
alguns aprofundamentos, pois a questão da Identidade Territorial vem sendo trabalhada em
sala de aula e faz parte do cotidiano dos alunos/moradores, mas para que essas vivências
possam servir para a elaboração de noções sobre o território e sobre a identidade de forma
pertinente à realidade é preciso que os envolvidos compreendam os processos econômicos,
políticos, culturais, sociais e naturais locais. E, para isso, o ensino de Geografia serviria como
base para a organização dos conteúdos e dos conhecimentos geográficos. A esse respeito,
Callai (2011) diz que:
O ensino da Geografia pode servir então para situar os sujeitos nesse mundo, de
modo que compreendam a espacialidade dos fenômenos e que os espaços resultam
da história dos homens que vivem nos lugares, sendo assim um espaço construído a
partir dos interesses dos que ali vivem. E nesse contexto, há um jogo de forças a
partir de relações de poder, entre os que vivem no lugar. Há também, que se
reconhecer o jogo de forças decorrentes do entorno e do contexto em que se insere
cada lugar, sendo sempre necessário considerar nas análises e escala social.
Aprender a olhar para o local entendendo que o que está singularizado no lugar
possui, sim, elementos que fazem a distinção, mas olhando também para o contexto
mais amplo e global. Pode ser a resposta a para quê se ensina Geografia na escola.
(CALLAI, 2011, p. 25)
41
Para a autora, o ensino da Geografia serve para situar o sujeito, ou seja, ajudá-los a
assimilarem a realidade, os processos e as relações de poder por traz da construção, da
dominação ou da subordinação dos lugares não só na escala local, mas também na escala
global. Foi pensando nisso que planejamos as atividades a serem realizadas não só em sala de
aula, mas com a comunidade, os moradores do povoado.
Buscou-se a participação dos alunos em sala de aula, com o intuito de propor uma
reflexão sobre a importância de se compreender os conceitos de território e identidade
territorial, levantando questões fundamentais à afirmação da identidade territorial do povoado
e exercitando a reflexão sobre o ensino de Geografia e sobre seus conceitos que são caros à
produção do saber geográfico e que contribui para a compreensão da identidade territorial
daquela comunidade. Procurando levar em consideração as relações daquela comunidade com
o Lugar de vivência, ou seja, suas experiências como pertencente aquele lugar e a nossa visão
como “turistas”, (TUAN, 1983 apud FERREIRA, 2000, p.03).
Para o planejamento e confecção dos planos de aula foi realizada uma fundamentação
teórica e metodológica, com bases em estudiosos que fizeram e fazem um rico debate em
relação aos conceitos de território, territorialidade e identidade, e também ao ensino de
Geografia, entre os quais nos baseamos: (BECKER, 2001); (CALLAI, 2009, 2011);
(CAVALCANTI, 2010); (CASTROGIOVANNI, 2009); (MACENO, 2005). Segundo
Cavalcanti (2010) a didática de Geografia é:
[...] um campo do conhecimento que se ocupa da reflexão sobre o processo de
ensino, entendido como uma prática social, dinâmica e subjetiva, não limitada a uma
correta aplicação de regras gerais e procedimentos. Nessa perspectiva, a didática da
Geografia busca analisar a dinâmica do ensino dessa matéria: elementos
constitutivos, condições de realização, contextos e sujeitos, limites e demandas. Sua
contribuição é produzir conhecimento amplo do ensino e dos fundamentos teóricos e
metodológicos da Geografia escolar, seus princípios epistemológicos, subsidiando
assim a atuação docente consciente e autônoma. (CAVALCANTI, 2010, p. 03).
Nesse sentido, o trabalho buscou nas metodologias aplicadas no ensino de Geografia e
no cotidiano dos alunos, as explicações e as relações existentes entre a dependência política,
econômica ou cultural que possam existir naquela comunidade e que pode acabar por
influenciar sua identidade. Levamos em consideração a vivência do indivíduo, a cultura da
sociedade que ali se encontra, bem com as relações sociais e econômicas, e os recursos
financeiros e humanos que a escola dispõe para a realização de suas atividades.
42
O trabalho foi divido em três etapas: 1ª) Realização da aula para a explanação dos
conteúdos teóricos e confecção de algumas perguntas do questionário por parte dos alunos; 2ª)
Entrevistas com os moradores mais antigos para o levantamento de informações a respeito da
formação do povoado e aplicação dos questionários aos demais moradores e; 3ª) Organização
dos dados, reflexão dos resultados e conclusão da pesquisa.
Iniciamos no dia 07 de outubro de 2014, ao realizarmos o primeiro momento da aula
explicando a importância da pesquisa/ensino (Foto 12), pois como já citamos, os dados
obtidos seriam entregues a escola e que serviriam para as futuras pesquisas a respeito da
formação do povoado, assim como os estudos acerca de questões territoriais e identitária.
1º AULA EXPOSITIVA
Foto 13. 1ª Aula expositiva com os alunos do 8º ano. Autor: Elânia Oliveira. Data: 07/10/2014.
Começamos a aula com o levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos a
respeito do conteúdo que seria tratado, explanando o que seria território e identidade nas
concepções deles, onde esses se mostraram bem tímidos nas respostas apesar de já termos
trabalhado sobre o tema no PIBID – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência,
no ano de 2013, aos poucos foram se soltando e participaram ativamente da aula.
Em seguida, utilizamos Slides para discutir o tema e o contexto histórico de formação
dos conceitos de território e identidade através das concepções de autores como: Castells
(1999); Hall (2014); Haesbaert (2007); Perico (2009); Penna (1992); Raffestin (1993); Saquet
43
(2007); etc. Procuramos adaptar os conceitos de forma a uma melhor assimilação do conteúdo
pelos alunos. Na apresentação expomos imagens ilustrativas a respeito do assunto de forma a
atrair à atenção dos alunos para o tema debatido (Foto 13). Utilizamos também o livro
didático utilizado nas aulas de Geografia. Debatemos sobre a Fronteira4 México - EUA para
elucidar as semelhanças vivenciadas em outros territórios de fronteiras no intuito de
contextualizar o ensino com a realidade do povoado e compreender os processos e as relações
de poder em escala local/global.
1º AULA EXPOSITIVA
Foto 14. 1ª Aula expositiva com os alunos do 8º ano. Autor: Roberta Lima. Data: 07/10/2014.
Durante todo o trabalho realizado na escola houve uma preocupação com o processo
de aprendizagem dos alunos, tanto referentes aos conceitos, quanto a importância do ensino
de geografia para a vida deles. Isto tornou-se o ponto central de nossa pesquisa/ensino, bem
como a contextualização dos conteúdos didáticos e conceitos geográficos ligados ao cotidiano
dos alunos, pois como cita Cavalcanti (2011):
É preciso investir no processo de reflexão sobre a contribuição da Geografia em sua
vida, em sua realidade imediata, em sua diversidade. É também necessário não
perder de vista a importância desse conteúdo para uma análise crítica da realidade
social e natural mais ampla, daí contemplando a diversidade da experiência dos
4Nesse estudo, utilizamos o termo fronteiras como demarcação dos limites territoriais entre os estados da Bahia e
Alagoas. No livro didático o termo é utilizado de forma literal.
44
homens na produção do espaço global e dos espaços locais (CAVALCANTI, 2011,
p. 37).
Nesse sentido, não basta apenas ensinar um conteúdo para o aluno fazer uma prova ou
passar de ano, é preciso conscientizá-los da importância de se aprender determinados
conceitos para compreensão da realidade que está a sua volta, bem como para entender os
processos de transformação do espaço globalizado.
No estudo, abordamos à necessidade de se contextualizar os conhecimentos
geográficos ao cotidiano dos alunos, em especial, ao que se refere aos conceitos de território e
identidade territorial, pois o território é base de representação das ações e dos atores
envolvidos em dinâmicas políticas, econômicas, culturais e sociais. Essas dinâmicas tem um
papel importante na transformação do espaço/território e as suas ações vêm ao longo do
tempo modificando a estrutura cultural e social do povoado em questão.
Durante a aula, foram mostradas fotos tanto de Delmiro Gouveia-AL quanto de Paulo
Afonso-BA; os alunos reconheceram imediatamente locais como; a feira, o hospital, a
rodoviária, a praça, etc., da cidade baiana, mas mostraram dificuldades e/ou dúvidas com
relação à cidade alagoana.
Ao final da aula foi sugerido aos alunos que formassem duplas e elaborassem
perguntas para a confecção de um questionário, pois assim eles iriam interagir e debater sobre
as perguntas que pudessem esclarecer qual a identidade territorial que os moradores possuem,
baseando-se no tema estudado, bem como seu cotidiano. Vejamos algumas das perguntas
elaboradas pelos alunos (Imagens 01, 02, 03, 04).
PERGUNTA CONFECCIONADA PELOS ALUNOS
Imagem 01. Pergunta elaborada pelos alunos do 8º ano. Data: 07/10/2014.
01
45
PERGUNTA CONFECCIONADA PELOS ALUNOS
Imagem 02. Pergunta elaborada pelos alunos do 8º ano. Data: 07/10/2014.
PERGUNTA CONFECCIONADA PELOS ALUNOS
Imagem 03. Pergunta elaborada pelos alunos do 8º ano. Data: 07/10/2014.
PERGUNTA CONFECCIONADA PELOS ALUNOS
Imagem 04. Pergunta elaborada pelos alunos do 8º ano. Data: 07/10/2014.
02
03
04
46
As perguntas foram adaptadas para melhor compreensão dos entrevistados na hora da
aplicação dos questionários, mas conservou-se a essência das perguntas elaboradas pelos
alunos, no total de 20 perguntas.
No dia 14 de outubro de 2014, no segundo momento, foram realizadas as entrevistas
com os moradores mais antigos para o levantamento de informações a respeito da formação
do povoado e aplicação dos questionários aos demais moradores. Nesse momento, os alunos
formaram duplas para facilitar a participação dos mais tímidos. Dos 16 alunos do 8º ano
apenas 11 compareceu a aula. A cada aluno foi entregue 2 questionário que deveria ser
aplicado a uma pessoa jovem e um adulto, por isso analisamos os dados dos 22 questionários.
A realização das entrevistas foi somente com os moradores mais antigos e os alunos deveriam
registrar através de fotos ou vídeos (com a permissão dos moradores).
O intuito da atividade foi fazer o registro da história de formação do povoado a partir
dos primeiros moradores, visto que ainda não há registros sobre esse processo e o mesmo é
solicitado em diferentes momentos pelos diferentes professores da escola. A aplicação dos
questionários teve o intuito de analisar o conhecimento dos moradores tanto no que diz
respeito ao conceito de território quanto ao cotidiano e identidade. Foi pedido que cada aluno
entrevistasse duas pessoas, um (a) jovem e um adulto para analisa se existem diferenças nos
sentimentos de pertencimento e enraizamento entre os moradores mais antigos e os novos,
visto que a territorialidade é construída em práticas diárias poderia o morador mais antigo ter
mais sentimento ou se apropriado mais do território do que o morador mais novo?
No terceiro e último momento, foi realizado a última etapa de nossas atividades na
escola do povoado Jardim Cordeiro (Foto 16, 17).
47
2º AULA EXPOSITIVA (AULA RETORNO)
Foto 16. 2ª Aula expositiva com os alunos do 8º ano. Autor: Roberta Lima. Data: 10/12/2014.
2º AULA EXPOSITIVA (AULA RETORNO)
Foto 17. 2ª Aula expositiva com os alunos do 8º ano. Autor: Roberta Lima. Data: 10/12/2014.
No dia 10 de dezembro de 2014, foi realizada uma aula na qual através da organização
dos dados e reflexão dos resultados, podemos junto com os alunos, analisar as respostas dos
48
moradores bem como analisar os gráficos obtidos com o resultado dos 22 questionários
aplicados a pessoas com idades entre 16 a 73 anos. Seguindo a ordem das perguntas do
questionário cujos resultados foram os seguintes:
Gráfico 1. Percentual de nascimentos por estado.
Fonte: Dados da pesquisa da autora, 2014.
Quanto à naturalidade ou origem geográfica dos residentes, obteve-se um número
superior de nascidos no estado da Bahia, o que poderia justificar uma possível identidade
baiana apoiada na naturalidade ou local de origem, pois “a identidade nordestina é dada
objetivamente pelo local de nascimento, ou seja, se este pertence à região Nordeste,
automaticamente o indivíduo é nordestino” (PENNA, 1992, p. 50).
No que diz respeito ao conhecimento dos moradores no quesito de delimitação
territorial eles mostraram-se ciente dos limites interestadual; não todos, mas a grande maioria.
Vejamos nos gráficos 02 e 03.
Gráfico 2. Divisão estadual do território.
Fonte: Dados da pesquisa da autora, 2014.
9%
59%
32%
Onde Nasceu?
Delmiro Gouveia
Paulo Afonso
outro
86%
14%
O Povoado Pertence a qual Estado?
Alagoas
Bahia
49
Gráfico 3. Divisão municipal do território.
Fonte: Dados da pesquisa da autora, 2014.
Os dados nos mostram que os moradores tem conhecimento quanto ao pertencimento
político/administrativo que do povoado, compreendendo que todos os gastos jurídicos estão
atrelados ao município de Delmiro Gouveia.
Em seu cotidiano os moradores deparam com as mais diversas situações, problemas e
obrigações. Perguntados sobre o porquê de mora no povoado eles revelaram que:
Gráfico 4. Relação dos motivos que levara a morar no povoado.
Fonte: Dados da pesquisa da autora, 2014.
Como já foi dito, os primeiros moradores chegaram para trabalhar na construção da
ponte Dom Pedro II, na CHESF e na Fábrica da Pedra. Com o passar dos anos, as famílias
77%
18%
5%
O Povoado pertece a qual Cidade?
Delmiro Gouveia
Paulo Afonso
Os Dois
77%
9%
14%
O que motivou morar aqui?
Família
Trabalho
Família e Trabalho
50
foram crescendo, os filhos casaram e tiveram filhos, e continuaram morando ao lado dos pais
e mesmo indo trabalhar fora eles possuem sua casa no povoado. Cerca de 91% dos
entrevistados possuem familiares que moram no povoado, ou seja, mantém-se os vínculos
com o território. Podemos notar que em seu cotidiano os moradores possuem uma rotina de
viagens tanto para Delmiro Gouveia-AL quanto a Paulo Afonso-BA.
Gráfico 5. Quantidade de viagens à cidade de Delmiro Gouveia semanalmente.
Fonte: Dados da pesquisa da autora, 2014.
Gráfico 6. Quantidade de viagens à cidade de Paulo Afonso semanalmente.
Fonte: Dados da pesquisa da autora, 2014.
10
0
12
0
2
4
6
8
10
12
14
1 a 3 Vezes 4 a 7 Vezes Nenhuma
Quantas vezes vai para Delmiro
Gouveia na semana?
13
8
1
0
2
4
6
8
10
12
14
1 a 3 Vezes 4 a 7 Vezes Nenhuma
Quantas vezes vai para Paulo Afonso
na semana?
51
Nota-se que existe uma discrepância entre as “idas” à cidade de Delmiro Gouveia e à
cidade de Paulo Afonso, onde apenas 45% dizem que vão a Delmiro Gouveia de 1 a 3 vezes
na semana enquanto 55% não vão nenhuma vez. Quando se tratar das “idas” a Paulo Afonso,
apenas 5% relatam que não vão nenhuma vez na semana, 59% vão de 1 a 3 vezes e 36% vão
de 4 a 7 vezes na semana. Isso se deve, na maioria das respostas, a proximidade com a cidade
vizinha bem como devido aos moradores estudarem ou irem resolver algum problema em
Paulo Afonso.
Quando perguntados se trabalham as respostas surpreenderam a todos os alunos, pois
82% afirmaram não estarem trabalhando e os 18% que disseram está trabalhando; o seu
emprego é no próprio povoado – posto de saúde. Porém, em conversas com os alunos
descobriu-se que muitos moradores são aposentados, trabalham com agricultura e criação de
animais, possui membros da família que trabalham em outras cidades – inclusive em Paulo
Afonso e Delmiro Gouveia.
Quando perguntados onde fazem à feira, as compras de supermercado, vestuário e
todos os produtos necessários no dia a dia e na execução de serviços básicos a resposta foi
unânime, todos fazem a feira em Paulo Afonso-BA.
Isso se deve mais uma vez a proximidade com a cidade vizinha, pois no custo
beneficio tempo-passagem-variedade, Paulo Afonso-BA oferece mais opções devido à
facilidade de acesso e por já se tornar um hábito e/ou costume a ida a essa cidade, para essa
finalidade. Da mesma forma, ir estudar o ensino médio na cidade baiana vem se tornando
parte do cotidiano dos estudantes, pois 95% confirmaram a escolha da cidade vizinha para a
continuação dos estudos.
Quanto ao transporte ofertado a estudantes e moradores os dados devem ser pensados,
pois analisando também a gestão política/administrativa, notamos que a mesma tem uma
relevância muito grande na vida dos moradores do povoado, pois, todos afirmaram que o
transporte é ofertado pela prefeitura de Delmiro Gouveia-AL.
Nesse sentido, as relações políticas referentes ao povoado Jardim Cordeiro, exercem
uma importante influência no cotidiano dos moradores, sendo facilitadores do processo de (re)
construção das identidades locais.
Ao mesmo tempo em que a gestão política exerce seu poder dentro de seus limites
territoriais, legislando a serviço da sociedade que representa, vão sendo criados redes e fluxos
com outros territórios, que pode ser bom quando sem tem o poder de dominação ou ruim
quando se é subordinado e este. No caso do povoado, nota-se uma continua perda de poder de
52
dominação e um processo de subordinação à cidade de Paulo Afonso, que vai sendo criado a
partir das relações de poder econômicas e culturais e que vão muito além dos limites da
gestão, ação e atuação municipal. O poder público age em alguns casos como facilitador, mas
é através do cotidiano dos moradores que as relações de poder vão sendo criadas e sustentadas
ao longo do tempo e que consequentemente acaba por moldar as multiterritorialidades no
sentido mais estrito, ligando-se as experiências efetivas de múltiplos territórios em diferentes
escalas ou dimensões.
A ida à cidade de Paulo Afonso-BA, em busca de atendimento médico deve-se não
somente a proximidade, mas à qualidade no atendimento nos serviços públicos, à variedade de
serviços como consultas e exames, preços acessíveis, etc. Porém, existem algumas
dificuldades no acesso ao atendimento nas redes públicas. Mas mesmo assim, Paulo Afonso-
Ba é sempre a primeira opção no quesito saúde devido a maior deficiência nas condições do
atendimento público em Delmiro Gouveia-AL, bem como a relativa proximidade geográfica.
Em seu cotidiano, os momentos de lazer são baseados nas seguintes opções:
Gráfico 07. Relação percentual das formas de lazer dos moradores.
Fonte: Dados da pesquisa da autora, 2014.
Nota-se que por ser um povoado pequeno as opções de lazer são escassas, porém os
moradores criam estratégias pra se divertir nos finais de semana e feriados, a ida ao rio é a
opção mais escolhida pelos moradores, afinal eles moram as margens do Rio São Francisco e
a temperatura é muito elevada no povoado. Porém, programas como visitar parentes e amigos
e ir a outras cidades vizinhas também são formas de lazer praticadas pelos moradores. Sobre o
que eles sentem falta no povoado eles dizem que:
45%
24%
24%
7%
O que os moradores fazem para se
divertir nos mometos de lazer?
Vão ao Rio
Casa de familiares e
amigos
Outras cidades
Outros
53
Gráfico 08. Relação percentual sobre as necessidades encontradas no povoado.
Fonte: Dados da pesquisa da autora, 2014.
As poucas opções de lazer, a falta de uma farmácia, uma padaria, uma praça,
policiamento, comércio com mais variedades, etc., formam um leque de opções que os
moradores relatam que sentem falta no povoado. Problemas esses enfrentados diariamente e
que emergem em meio a discursos políticos de melhorias - que nunca chegam.
Gráfico 09. Relação percentual dos problemas enfrentados pelos moradores.
Fonte: Dados da pesquisa da autora, 2014.
A falta constante de água, de transporte à noite, a falta de pessoal ou
equipamentos/materiais no posto de saúde, falta de policiamento e de oportunidades de
21%
4%
29% 13%
8%
25%
O que os moradores sentem falta aqui no
Povoado?
Comércio melhor
Transporte
Praça
Policiamento
se desenvolver
nada
12%
13%
8%
17% 21%
25%
4%
Que problemas sua família enfreta por
morar no povoado?
Saúde
Transporte
Água
Emprego/Oportunidades
Coisa básicas do dia a dia
Nenhum
Lazer
54
empregos são apontadas como os principais problemas enfrentados diariamente por aquela
comunidade.
As questões de territorialidade ou identidade territoriais pertinentes ao nosso estudo e
aqui trabalhadas a partir da premissa de "território de dominância simbólica", cuja finalidade
é a compreensão, por parte dos alunos, das relações de poder em suas diferentes esferas e sua
produção e ligações afetivas com o território compartilhado e de vivência. Nesse sentido,
perguntamos aos moradores qual seria a sua identidade como morador do povoado,
independentemente do local de nascimento, pois o objetivo era conhecer a identidade de
“autoatribuição” desse morador, ou seja, como ele se reconhece.
Gráfico 10. Número de moradores que se consideraram pauloafonsino.
Fonte: Dados da pesquisa da autora, 2014.
Quando perguntados o porquê da escolha de tal identidade eles responderam que se
sentem pertencentes e dependentes, bem como necessitam ir mais a Paulo Afonso que fica
mais próximo. Como mencionamos anteriormente, há uma alta taxa de natalidade referente ao
estado da Bahia, mas muitos dos que responderam não nasceram em Paulo Afonso ou na
Bahia devemos deixar claro. Isso se deve não somente a influência que a cidade de Paulo
Afonso exerce sobre o povoado, mas a influência que os próprios moradores e/ou amigos e
familiares exercem entre si. No que diz Saquet (2007):
[...] entender a territorialidade como a tentativa de um indivíduo ou grupo social de
influenciar, controlar pessoas, recursos, fenômenos e relações, delimitando e
efetivando o controle sobre uma área. A territorialidade, [...] é uma expressão
3
19
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Delmirense Pauloafonsino
Você se considera?
55
geográfica do exercício do poder em uma certa área. Esta área é o território.
(SAQUET, 2007, p.65-66).
Segundo o autor, a partir do sentimento de pertencimento, a territorialidade serve de
“estratégia de dominação”, pois sua influência poderia, mesmo fora de sua área de atuação,
controlar tanto atividades quanto indivíduos. Essa influência é percebida nas respostas
referentes à possível escolha quanto à demarcação política do povoado.
Gráfico 11. Percentual de opiniões quanto à divisão política do território.
Fonte: Dados da pesquisa da autora, 2014.
Devemos destacar que existe um entendimento quanto aos limites e direitos políticos,
jurídicos e administrativos do povoado Jardim Cordeiro, os moradores sabem que o povoado
pertence à cidade de Delmiro Gouveia-AL, mas se fosse possível 77% mudar-se-iam de
estado sem se mudar do povoado, ou seja, se possível, o povoado Jardim Cordeiro faria parte
dos limites administrativos de Paulo Afonso-BA e não de Delmiro Gouveia-AL. Existe uma
necessidade e um interesse, por parte dos moradores, desta mudança administrativamente,
visto que as suas necessidades são supridas de imediato pela cidade de Paulo Afonso. Consta
na Lei Orgânica Municipal de Delmiro Gouveia, Seção II, Art. 5º,§ 4° que “- Qualquer
alteração territorial do Município só pode ser feita, na forma da lei Complementar Estadual
preservando a continuidade e a unidade histórico - cultural do ambiente urbano, dependendo
de consulta prévia às populações diretamente interessadas, mediante plebiscito” (BRASIL,
1990, p. 02). Sendo assim, administrativamente poderia acontecer esse desligamento de
23%
77%
O Povoado deveria pertencer a qual
cidade?
Delmiro Gouveia
Paulo Afonso
56
Alagoas, porém na atual conjuntura de nossas políticas públicas esse desligamento torna-se
inviável, mesmo existindo um interesse por parte dos moradores.
Pertenceria ao estado da Bahia visto que há uma afetividade e um enraizamento muito
forte com o lugar de vivência cotidiana. Segundo Leite (1998):
Trata-se na realidade de referenciais afetivos os quais desenvolvemos ao longo de
nossas vidas a partir da convivência com o lugar e com o outro. Eles são carregados
de sensações emotivas principalmente porque nos sentimos seguros e protegidos [...]
ele tanto nos transmite boas lembranças quanto a sensação de lar [...] (LEITE, 1998,
p. 10).
Para a autora, essa relação de afetividade com o lugar decorre de interesses ou
intencionalidades que os indivíduos possuem em relação a determinado espaço/território que
venha a suprir seus interesses e/ou necessidades. Podemos notar isso na seguinte resposta de
um entrevistado que diz que “as pessoas pertencem a essa cidade” - referindo-se a Paulo
Afonso.
Gostam de morar lá? Apesar dos problemas as respostas foram afirmativas.
Gráfico 12. Relação percentual quanto ao sentimento dos moradores.
Fonte: Dados da pesquisa da autora, 2014.
Mesmo com os problemas relatados observa-se que a grande maioria gosta de morar
no povoado, isso se deve aos sentimentos criados com o lugar e com a identidade construída
por aquela comunidade.
A construção da identidade territorial tem origem justamente nos sentimentos criados
cotidianamente pelos moradores do povoado com as cidades de Delmiro Gouveia-AL e Paulo
86%
14%
Gosta de morar no Povoado?
SIM
NÃO
57
Afonso-BA. A esse respeito, Leite (1998) coloca que “os lugares só adquirem identidade e
significado através da intenção humana e da relação existente entre aquelas intenções e os
atributos objetivos do lugar, ou seja, o cenário físico e as atividades ali desenvolvidas”
(LEITE, 1998, p. 10), ou seja, a identidade do povoado é adquirida através das relações de
poder existentes entre o povoado e à cidade de Paulo Afonso-BA, pois as necessidades e os
interesses daquela comunidade são supridos de imediato em práticas que vão sendo
incorporadas as atividades do cotidiano com a cidade geograficamente mais próxima e não
com sua cidade sede. Por isso, quando perguntados se eles mudariam do povoado as
respostam foram:
Gráfico 13. Relação percentual das opiniões quanto a morar no povoado.
Fonte: Dados da pesquisa da autora, 2014.
Mesmo gostando de morar no povoado houve um empate quanto ao quesito mudar-se
ou não de lá. Os motivos para mudar-se são os relatados acima: falta de empregos e
oportunidades, estudo, produtos e serviços do dia a dia, transporte, área de lazer para as
crianças, etc. Já para os que não se mudariam; o sossego de poder conversar na porta de casa,
dormir com a porta destrancada ou por simplesmente gostarem de morar no povoado é o que
os motivam a permanecerem lá.
Nesse trabalho, procuramos durante as aulas, instigar os alunos a participarem o tempo
todo, pois não se tratavam apenas de conceitos geográficos sem utilidade nenhuma para a sua
vida, mas de conteúdos que fazem parte de sua vida cotidiana e conceitos que explicariam a
realidade local. A partir daí eles poderiam compreender os conceitos em escala global –
como foi mostrado em aula.
50% 50%
Mudar-se-ia do Povoado?
SIM
NÃO
58
Nesse sentido, entendemos o território como uma relação de poder que está em
constante movimento e articulação em todas as suas vertentes, exercendo uma influência e/ou
dominação material ou imaterial, concreta ou simbólica que vai muitas vezes além dos limites
visíveis de ação e atuação e que tornar os indivíduos, grupos ou sociedades subordinados,
sejam por questões políticas, econômicas, culturais, sociais ou naturais. A identidade
territorial é entendida como algo (re) construído cotidianamente ao longo do tempo pelos
indivíduos e que não depende da naturalidade – lugar de origem - ou do território concreto
para existir. Ela está articulada aos valores simbólicos e ao sentimento de pertencimento e
enraizamento com o território e a cultura escolhida ou vivenciada, podendo existir múltiplas
identidades em um mesmo campo de forças.
O território, fruto da apropriação concreta ou simbólica está no topo do nosso campo
de forças, pois as relações de poder que moldam o território acabam entrando em conflitos
com as identidades que também moldam esse território, conflitos esses, que estão no
cotidiano dos indivíduos. As identidades passam por um processo constante de construção de
seus significados e valores, estando eles condicionados ao cotidiano e as experiências de vidas
dos indivíduos.
Em suma, pensar a prática docente e ensino, é pensar a educação como ferramenta de
formação para a cidadania, para a vida, para a leitura da realidade e sua interação com as mais
diferentes escalas.
O estudo desenvolvido junto à Escola de Ensino Fundamental Dr. Jose Correia Filho
possibilitou não somente o exercício da prática docente e reflexão quanto ao ensino, mas
mostrou a importância do professor-pesquisador e dos conceitos geográficos para a
compreensão das transformações do mundo contemporâneo e dos lugares.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou compreender a identidade territorial dos moradores do povoado
Jardim Cordeiro a partir do seu cotidiano identificando quais as relações de poder que
exercem maior influência sobre a citada comunidade.
Neste sentido, buscou-se fazer uma reflexão acerca das relações entre o povoado e as
cidades de Delmiro Gouveia-AL e Paulo Afonso-BA, enfatizando aspectos do seu dia a dia
que servissem de base para a explicação da identidade dos moradores, bem como para
elucidar as noções de território, territorialidade e identidade.
As discussões referentes à identidade territorial vão desde identidade concebida como
instrumento de dominação até as concepções referentes à sua construção simbólica e/ou
cultural, construídas a partir do vivido e das concepções de pertencimento e territorialidade.
Esta foi a linha adotada neste estudo para elucidar as questões sobre a identidade territorial no
povoado Jardim Cordeiro.
Sendo assim, optamos por uma abordagem voltada à constituição do território a partir
das relações de poder exercidas e estabelecidas pelo ser humano ao longo da história e que se
concretiza no espaço criando a identidade territorial de seu povo.
As contribuições referentes a esse estudo decorrem da oportunidade que o Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID) nos proporcionou de pensar o ensino
da geografia, nos oferecendo a chance de tratarmos de forma mais aprofundada os conceitos
em sala de aula, oferecendo aos alunos da escola a possibilidade de pensar de forma crítica
sua identidade e o porquê do território em questão esta envolvido em diferentes processos que
mexem com as identidades referentes ao território do cotidiano.
O ensino de geografia aliou-se as reflexões sobre os conceitos de forma a compara-lo
com a realidade local de forma simples e acessível, levando sempre em consideração a
importância que tem a experiência e o cotidiano dos alunos e a metodologia utilizada pelo (a)
professor (a) em sala de aula, o comprometimento com o trabalho interdisciplinar, visando à
amplitude do conhecimento e as melhorias que uma dinâmica escolar pode trazer para a
qualidade do ensino dessa disciplina.
Em fim, concluímos as nossas atividades com análises e debates das informações
obtidas em campo, na qual constatamos que a identidade territorial dos moradores do povoado
Jardim Cordeiro é baiana, eles são Pauloafonsino, pois com as práticas do cotidiano criaram-
se as territorialidades que moldam e constroem a identidade dos moradores, que se apropriam
dos símbolos e valores da cultura pauloafonsino e baiana.
60
Trabalhar esses conceitos nas aulas de geografia permitiu trazer a realidade dos
estudantes para dentro da sala de aula, pois o ensino de Geografia em sala de aula deve ser
visto como um diálogo construtivo dos conteúdos, procurando sempre o envolvimento de
todos na busca do conhecimento, pois esta participação na formação de conceitos possibilitará
a fixação e o entendimento de forma mais simples, descartando a necessidade de se gravá os
conteúdos e as idéias prontas apenas para a prova. Isso possibilitará a produção de explicações
plausíveis sobre a realidade dos lugares, onde o aluno terá a oportunidade de aprender e
utilizar esses conhecimentos dentro e fora da escola, em seu dia a dia.
As experiências nos estágios supervisionados e no Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação a Docência (PIBID) possibilitou pensar a educação e o ensino da universidade junto
com a comunidade escolar em geral, e desse povoado especificamente, na tentativa de trazer
sugestões que fosse auxiliar o processo de ensino e aprendizagem, procurando solucionar os
problemas referentes à falta de interesse dos alunos pela disciplina geográfica, problema esse
encontrado no âmbito escolar e na prática de ensino de diferentes disciplinas nas escolas em
geral.
De modo geral, avaliamos que este trabalho possibilitou um amadurecimento no que
diz respeito à formação acadêmica como futura docente, ampliando os conhecimentos
adquiridos à luz dos conceitos geográficos, contribuindo também para o exercício da iniciação
a docência e o conhecimento da realidade das escolas e de seus alunos, bem como a reflexão
crítica quanto a importância do exercício da pesquisa científica, ou seja, do professor-
pesquisador que estimula seus alunos na busca do conhecimento, incentivando a irem sempre
mais longe, mais do que eles sabem e do que eles veem.
Por fim, em nossa proposta de pesquisa-ensino, este trabalho não se limita ou tem a
intenção de parar por aqui, pretende-se por meio deste instigar novas pesquisas, bem como o
aprofundamento das questões aqui levantadas e que precisem de outras fontes para o seu
desenvolvimento, pois dentro de nossas limitações, existirão lacunas e falhas que poderão ser
corrigidas futuramente de forma a sanar e enriquecer ainda mais os processos de ensino e
aprendizagem.
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