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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
ROGÉRIO MARQUES DE ALMEIDA
CAMINHOS TRILHADOS PELA EDUCAÇÃO FÍSICA NO INSTITUTO FEDERAL
DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO GROSSO – CAMPUS
CUIABÁ - OCTAYDE JORGE DA SILVA.
CUIABÁ-MT
2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
ROGÉRIO MARQUES DE ALMEIDA
CAMINHOS TRILHADOS PELA EDUCAÇÃO FÍSICA NO INSTITUTO FEDERAL
DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO GROSSO – CAMPUS
CUIABÁ - OCTAYDE JORGE DA SILVA.
CUIABÁ-MT
2011
ROGÉRIO MARQUES DE ALMEIDA
CAMINHOS TRILHADOS PELA EDUCAÇÃO FÍSICA NO INSTITUTO FEDERAL
DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO GROSSO – CAMPUS
CUIABÁ - OCTAYDE JORGE DA SILVA.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal de
Mato Grosso como requisito para a obtenção do título
de Mestre em Educação na Área de Concentração
Educação, Cultura e Sociedade, Linha de Pesquisa
Culturas Escolares e Linguagem.
Orientador: Prof. Dr. Cleomar Ferreira Gomes
Co-orientador: Prof. Dr. Evando Carlos Moreira
Cuiabá-MT
2011
Divisão de Serviços Técnicos. Catalogação da publicação na fonte. IFMT/Campus Bela Vista.
Biblioteca Francisco de Aquino Bezerra
A447c
Almeida, Rogério Marques de.
Caminhos trilhados pela educação física no Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, Campus Cuiabá Octayde
Jorge da Silva / Rogério Marques de Almeida. __ Cuiabá, 2011.
119f.
Orientador: Prof. Dr. Cleomar Ferreira Gomes.
Co-Orientador: Prof. Dr. Evandro Carlos Moreira
Dissertação (Mestrado em Educação) –. Programa de pós-graduação em
Educação - Universidade Federal de Mato Grosso.
1. IFMT – Dissertação. 2. Educação física – Dissertação.
3. História – Dissertação. I. Gomes, Cleomar Ferreira. II. Moreira, Evandro
Carlos. III. Título.
CDU 796 IFMT/CAMPUS BELA VISTA CDD 613.7
ROGÉRIO MARQUES DE ALMEIDA
Profa. Dra. Silvana Vilodre Goellner
Examinadora Externa (UFMT)
Prof. Dr. José Tarcísio Grunennvaldt Examinador Interno (UFMT)
Prof. Dr. Cleomar Ferreira Gomes Orientador (UFMT)
Prof. Dr. Evando Carlos Moreira Co-Orientador (UFMT)
Aprovado em, 23 de novembro de 2011
DISSERTAÇÃO APRESENTADA À COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM EDUCAÇÃO DA UFMT
DEDICATORIA
Dedico Este trabalho a minha família, em especial aos meus Pais Olímpio Santana de
Almeida, Minha mãe Alice Marques de Almeida, a minha esposa Valéria Regina Santos Silva
de Almeida, e aos meus filhos Lucas Silva de Almeida e Gabriel Silva de Almeida, vocês são
muito importantes em minha vida.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por este objetivo alcançado.
Aos meus Pais, Alice Marques de Almeida e Olímpio Santana de Almeida, que se
mostrou um grande contador de historia, e foi o meu farol na busca pelos elementos que
deram sustentação a este trabalho, agradeço pela minha vida, pela educação que me deram e
pelos referenciais que balizam a minha vida;
A Valéria Regina Santos Silva de Almeida, pela paciência e dedicação nas leituras
dos meus escritos.
Ao Professor Dr. Evando Carlos Moreira, pelas suas valorosas contribuições e por
estar sempre atento e apontando o caminho a ser percorrido, sua atenção e presteza nas
respostas às minhas dúvidas e inquietações, me traziam a cada etapa percorrida, animo para
seguir em frente, tranquilidade e segurança por saber que o tinha como companheiro e guia
nesta caminhada.
Ao Professor Dr. Cleomar Ferreira Gomes, pela confiança em mim depositada e pela
contribuição dada na escolha do tema desta pesquisa.
Às minhas colegas de mestrado Elisangela Almeida e Raquel Firmino Barbosa,
vocês me proporcionaram as mais valiosas aprendizagens esse período do mestrado.
A Reitoria e aos servidores do Atual IFMT, que me auxiliaram na obtenção dos
dados desta pesquisa.
A todos os professores, servidores e egressos do atual IFMT, pela inestimável
contribuição a esta pesquisa.
Ao também mestrando, Claudemir Gomes da Cruz, que contribuiu na coleta de
dados, meu muito obrigado.
Aos professores doutores: Silvana Vilodre Goellner e José Tarcísio Grunennvaldt,
pelas valorosas contribuições dadas a esta pesquisa.
RESUMO
Nesta pesquisa procuramos identificar e compreender os caminhos trilhados pela Educação
Física no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – IFMT,
Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva desde o ano de 1909 até 2002. Para tanto, tem-se
como subsídio teórico-metodológico a História Cultural, com abordagem qualitativa, cujas
fontes primárias de consulta foram documentos oficiais encontrados nos arquivos permanente
e fotográfico, além das narrativas de professores e egressos do IFMT. A partir da análise dos
dados coletados, foi possível identificar os caminhos percorridos pela disciplina, destacando-
se que entre 1910 a 1934, por escassez de documentos e relatos, apesar de oficialmente
presente na estrutura curricular e na legislação da época, não foi possível identificar a
existência da prática da Educação Física. Entre 1935 e 1944, é possível afirmar que a escola
não oferecia práticas de Educação Física e nem de exercícios pré-militares, como
recomendado pela legislação do período. A partir de 1945, não há dúvidas sobre a presença
dessas práticas, se destacando a vigência do método francês, por meio da ordem unida,
presente até o final da década de 1960 e da ginástica calistênica, que perdurou até meados da
década de 1980. Vale considerar que o esporte surge como prática na década de 1950, como
uma opção para os mais habilidosos e perdura até os dias de hoje, sendo que, com o tempo tal
prática foi estendida para os menos habilidosos e, na década de 1980, os alunos passam a ter
novas possibilidades de práticas, tais como a dança, a musculação, a ginástica aeróbica e o
judô. As aulas de caráter obrigatório eram organizadas no contraturno e no decorrer dos anos
as sessões semanais foram diminuindo. O planejamento das aulas nunca teve uma orientação
de integração ao projeto pedagógico da instituição, sendo que o principal objetivo das aulas,
apontado pelos professores, era que os alunos compreendessem a importância da atividade
física para a vida. O processo de avaliação utilizado pelos professores era baseado em testes
de aptidão física e na frequência nas aulas. A infraestrutura destinada a Educação Física
começa a receber atenção na década de 1950, e desde então tem recebido considerável aporte
financeiro, sendo possível concluir que a Educação Física tem adquirido crescente prestígio
neste estabelecimento de ensino. Não foi possível identificar quem foram os professores de
Educação Física entre 1910 e 1944. Entre 1945 e 1972, encontramos registros de profissionais
com formação de Instrutor de Educação Física, advindos do sistema militar e do esporte de
rendimento. Por sua vez, os primeiros professores graduados em nível superior e do sexo
feminino chegaram de outros Estados na década de 1970, na década de 1980 começam a ser
contratados professores graduados pela recém criada Faculdade de Educação Física da
Universidade Federal de Mato Grosso. Dos egressos pesquisados apenas um afirma que a
Educação Física não foi importante em sua formação, os demais afirmam que as aulas apesar
de repetitivas eram prazerosas e foram importantes em sua formação.
Palavras-chaves: IFMT. Educação Física. História
ABSTRACT
In this study we look for identifing and understanding the ways followed by Physical
Education at the Federal Institute of Education, Science and Technology of Mato Grosso -
IFMT Campus Cuiabá - Octayde Jorge da Silva since the year 1909 until 2002. For this, it has
been theoretical-methodological subsidy the Cultural History, with a qualitative approach,
whose primary sources were consulted official documents found in the permanent file and
photographic registers, plus the narratives of teachers and former graduates of IFMT. From
the analysis of data collected, it was possible to identify the ways followed by discipline,
highlighting that between 1910 to 1934, for lack of documents and reports, in spite of
formally present in the curriculum structure and legislation of the time, it couldn‟t be
identified the existence of the practice of Physical Education. Between 1935 and 1944, we
could claim that the school didn‟t offer physical education practices and not pre-military
exercises, as recommended by the legislation of the period. From 1945, there isn‟t doubt
about the presence of these practices, most notably the duration of the French method,
through the united order, present to the end of the 1960s and calisthenics gymnastics, which
endured until mid-1980. Considering that the sport emerges as a practice in the 1950s, as an
option for the most skilful and still exists today, and that, this practice was extended to the
less skilled and, in the 1980s, the students now have new possibilities of practices, such as
dance, strength training, aerobics gymnstic and judo. The classes with obligatory nature were
organized in anather turn and over the years, the weekly sessions were decreasing. The
planning of lessons has never had a direction of integration to the institution's educational
project, which the main objective of the classes, pointed out by teachers, was that students
understand the importance of physical activity for life. The review process used by teachers
was based on tests of physical fitness and frequency in the classroom. The infrastructure
intended to Physical Education begins to receive attention in the 1950s, and it has received
considerable financial support, it is possible to conclude that physical education has acquired
a growing reputation in this educational institution. Could not be identified who were the
teachers of Physical Education between 1910 and 1944. Between 1945 and 1972 we find
professionals‟ registers of Instructor of Physical Education, arising out of the military and
sport performance. In turn, the first graduate teachers in higher education and female arrived
from other States in the 1970s, the decade of 1980 to begin graduate teachers hired by the
newly created Faculty of Physical Education, Federal University of Mato Grosso. Of the
former graduates surveyed only one of them said that physical education wasn‟t important in
their education, others say that the classes were enjoyable despite repetitive and were
important in their formation.
Key words: IFMT. Physical Education. History
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Alunos do EAAMT perfilados para desfile cívico 1914 30
Figura 2 Folha I e II do Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações,
Estatística e Divulgação, do Ministério da Educação e Saúde Pública do
ano de 1934.
33
Figura 3 Ficha individual de aluno da EAAMT (193?) 35
Figura 4 Folha IV do Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações,
Estatística e Divulgação, do Ministério da Educação e Saúde Pública do
ano de 1934.
38
Figura 5 Folha II do Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações,
Estatística e Divulgação, do Ministério da Educação e Saúde Pública dos
anos de 1945.
40
Figura 6 Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística e
Divulgação, do Ministério da Educação e Saúde Pública, anexo, 1945.
41
Figura 7 Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística e
Divulgação, do Ministério da Educação e Saúde Pública, anexo, 1945.
42
Figura 8 Folha IV do Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações,
Estatística e Divulgação, do Ministério da Educação e Saúde Pública dos
anos de 1943.
44
Figura 9 Vista aérea da EIC, 195? 45
Figura 10 Vista aérea da ETFMT, 199? 46
Figura 11 Relatório de obras de infraestrutura, 1949. 47
Figura 12 Portaria nº 13 de 22 de junho de 1948 – obrigatoriedade da Educação
Física, 1948.
49
Figura 13 Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística e
Divulgação, do Ministério da Educação e Saúde Pública, folha II, 1945.
51
Figura 14 Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística e
Divulgação, do Ministério da Educação e Saúde Pública, folha II, 1956.
52
Figura 15 Histórico escolar do ano de 1944. 54
Figura 16 Abertura dos jogos estudantis mato-grossense de 1959 59
Figura 17 Abertura dos jogos estudantis mato-grossense de 1959 60
Figura 18 Abertura dos jogos estudantis mato-grossense de 1959 61
Figura 19 Abertura dos jogos estudantis mato-grossense de 1959 62
Figura 20 Competição de Atletismo no 16º Batalhão de Caçadores do Exercito
1970.
66
Figura 21 Competição de Atletismo no 16º Batalhão de Caçadores do Exercito 1970 67
Figura 22 Professor Emílio Albernaz Polzin. 70
Figura 23 Aula de ginástica calistênica, ministrada pelo professor Polzin. 71
Figura 24 Foto do parque aquático Emílio Albernaz Polzin no Campus Cuiabá –
Octayde Jorge de Silva.
72
Figura 25 Professora Cinira, em pé a direita da foto, com equipe de basquete da
ETFMT, 1974.
78
Figura 26 Aula de Voleibol feminino 79
Figura 27 Aula de Ginástica feminina; 80
Figura 28 Jogo de Basquete no Ginásio da ETFMT, 1979. 83
Figura 29 Jogo de Handebol Feminino no Ginásio da ETFMT, 1979. 84
Figura 30 Ficha individual de aluno do ano de 1970.
87
Figura 31 Aula Ginástica masculina 97
Figura 32 Histórico Escolar de egresso do curso de Eletrotécnica; 98
Figura 33 Competição de Dança na Gincana das Cores; 101
Figura 34 Placa de inauguração bloco Zeli Isabel Roesler; 103
Figura 35 Bloco Zeli Isabel Roesler; 103
Figura 36 Placa de inauguração do Parque esportivo Emílio Albernaz Polzin; 104
Figura 37 Construção do Parque esportivo Emílio Albernaz Polzin; 104
Figura 38 Placa de inauguração do complexo poliesportivo e de multieventos Cel.
Octayde Jorge da Silva;
105
Figura 39 Construção do complexo poliesportivo e de multieventos Cel. Octayde
Jorge da Silva;
105
LISTA DE SIGLAS
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
CAA Companhia de Aprendizes Artífices
CADES Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário
CEFETMT Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso
CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica
DED/MT Departamento de Desporto do Estado de Mato Grosso
EAA Escola de Aprendizes Artífices
EAAMT Escola de Aprendizes Artífices de Mato Grosso
EIC Escola Industrial de Cuiabá
ESEFFEGO Escola Superior de Educação Física do Estado de Goiás
ETF Escola Técnica Federal
ETFMT Escola Técnica Federal de Mato Grosso
IFMT Instituto Federal de Mato Grosso
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
LIMT Liceu Industrial de Mato Grosso
MAIC Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio
MEC Ministério da Educação e Cultura
MES Ministério da Educação e Saúde Pública
MT Mato Grosso
PCN‟s Parâmetros Curriculares Nacionais
PECPP Programa de Ensino do Curso Profissional Primário
PDI Plano de Desenvolvimento Institucional
PROEJA Programa Nacional de Educação de Jovens e Adultos
PROEP Programa de Expansão da Educação Profissional
UFMT Universidade Federal de Mato Grosso
UNED Unidades de Ensino Descentralizadas
UNIVAG Universidade de Várzea Grande
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 1
1 A HISTÓRIA COMO POSSIBILIDADE DE INVESTIGAÇÃO NA
EDUCAÇÃO FÍSICA
5
2 A REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA NO
BRASIL
14
2.1 O Campus Cuiabá Octayde Jorge da Silva e a Rede Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia em Mato Grosso
21
3 A EDUCAÇÃO FÍSICA NO IFMT CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE
JORGE DA SILVA
26
3.1 A Certidão de Nascimento de uma Prática Inexistente – 1910 a 1941 26
3.2 A Educação Física na Escola Industrial de Cuiabá 1942 – 1965: da previsão
legal à efetivação pela prática
39
3.3 A Educação Física à Margem do Projeto Pedagógico da Escola 53
3.4 Exercícios Pré-militares e o Esporte: o que dizem as evidências na década de
1940 e 1950
55
3.5 O Incremento da Infraestrutura e da Prática da Educação Física pós 1964 64
3.6 A Abertura Para o Ingresso das Mulheres - 1971 74
3.7 Aptidão Física e Esporte, os Reflexos do Discurso Oficial do Governo - 1970 81
3.8 A mudança no Perfil dos Professores de Educação Física a partir da Década
de 1970
88
3.9 O Reflexo da Mudança do Perfil dos Professores no Método de Ensino Após
1980
92
3.10 A Ampliação das Possibilidades de Prática na Década de 1990 94
3.11 Educação Física Integrada a Proposta Pedagógica da Escola: o que diz a
prática
99
CONSIDERAÇÕES FINAIS 108
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 111
APÊNDICES 115
1
INTRODUÇÃO
Um dos fatores mobilizadores dessa pesquisa é minha história de vida, que tem
profundas ligações com esta instituição de ensino, visto que sou filho de servidor e, tive no
espaço físico dessa instituição minha residência dentre os anos de 1976 a 1988. Nesta,
também tive minha formação secundária, e foi aqui que conheci a minha esposa e, pela
postura, integridade e admiração pelos meus professores de Educação Física, me direcionei
para a graduação em Educação Física. Atualmente sou professor efetivo de Educação Física
do atual Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso - IFMT, Campus
Cuiabá – Bela Vista.
Meu interesse e ligação com a Educação Física nessa instituição, começa no período
em que fui aluno do curso de eletrotécnica, entre os anos de 1987 a 1989 e, como todos os
alunos, fui matriculado na modalidade de ginástica masculina por dois meses. Ao término
desse período, como jogava handebol, passei no teste de habilidade para tal modalidade mas
não me adaptei à metodologia de ensino do professor, fiz então teste para basquete sendo
reprovado e, posteriormente, para voleibol, modalidade que pratiquei até o término do meu
curso, e que foi bastante significativo para a formação de minha identidade, devido a
admiração por um de meus professores, que também foi meu professor na Faculdade de
Educação Física e meu padrinho de casamento, pelas amizades feitas no time, que perduram
até hoje e pelo prestígio social no seio da comunidade estudantil, que tinha enquanto aluno,
proporcionado pelo fato de fazer parte da equipe que representava a escola.
Em geral os cursos de engenharia são o desdobramento esperado para os alunos
egressos do curso de Eletrotécnica. Sendo assim, no último ano do curso secundário a
Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT ofereceu um vestibular especial, podendo
optar por dois cursos, minha primeira opção e aprovação, foi para o curso de Engenharia
Sanitária, que não cheguei a cursar, pois era um curso de período integral e havia sido
convocado a prestar serviço militar. A segunda opção foi para o curso de Educação Física,
que por ser um curso matutino, seria possível conciliar com o serviço militar, o que acabou
não acontecendo. Dessa forma tive que trancar o curso e ao término do período militar, não
tinha mais dúvida que queria seguir a profissão de Educação Física, curso superior que
concluí em 1994.
Desde o segundo ano do curso de Educação Física atuo como professor de Educação
Física, em toda Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio),
além de ter atuado como professor de turmas de treinamento esportivo em diversas
2
modalidades. Além disso, atuei durante seis anos como docente de nível superior até que em
2007 fui aprovado em concurso público para professor de Educação Física do Centro Federal
de Educação Tecnológica de Mato Grosso - CEFETMT, atualmente IFMT.
Após ser empossado e ao assumir as aulas de Educação Física, em 2008, no atual
Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva chamou minha atenção o baixo índice de evasão às
aulas de Educação Física, em comparação com a rede particular de ensino de Cuiabá, onde
atuei durante 13 anos, situação que pretendia discutir no curso de mestrado. A opção feita em
conjunto com meu orientador foi investigar se fatores do passado poderiam ter sido
responsáveis pela situação presente, o que nos remeteu para o método histórico, que para
Lakatos (2009):
[...] consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do
passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as
instituições alcançaram sua forma atual através de alterações de suas partes
componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural
particular de cada época. (LAKATOS, 2009, p.107)
No decorrer do levantamento das possíveis fontes para esta pesquisa observamos a
falta de documentos que registrem a história desse componente curricular nessa instituição
centenária de significativa importância no cenário sócio-educacional do município de Cuiabá
e no Estado de Mato Grosso, fato que redirecionou o foco da pesquisa para a necessidade de
preservar a memória, registro e valorização da história da Educação Física no IFMT, memória
que poderia estar registrada nos documentos oficiais, sendo narrada pelos atores sociais da
instituição, os professores e alunos.
Esse trabalho justifica-se ainda, pela ausência de trabalhos acerca da história, bem
como pela falta de registros referentes à Educação física nos mais de cem anos de história
neste estabelecimento, além da diminuta quantidade de estudos referentes à Educação Física
no ensino médio profissionalizante.
A partir daí surgiram os seguintes questionamentos: quais são os fatores que
contribuíram para a inserção e os caminhos trilhados pela Educação Física na estrutura
curricular do IFMT? Existem semelhanças entre a história da Educação Física no Brasil e a
prática da Educação Física do IFMT no mesmo período?
O presente estudo tem como objetivo identificar e compreender os caminhos
trilhados pela Educação Física no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso – IFMT, Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva, por meio das evidências das
práticas, narradas pelos sujeitos históricos diretamente envolvidos, pelos documentos oficiais
3
e registros fotográficos, desde o ano de 1909, ano de sua criação, a 2002, contribuindo para
discussões e registro da história da Educação Física em Mato Grosso, bem como para
preservação da memória e da identidade dos indivíduos que construíram a história e a
identidade desta centenária e conceituada instituição de ensino do estado de Mato Grosso.
Pois como afirma Burke (1992, p. 11) “tudo tem uma história, como escreveu certa
ocasião o cientista J.B.S. Haldane; ou seja, tudo tem um passado que pode a princípio ser
reconstruído e relacionado ao restante do passado”.
Para responder a essas questões a pesquisa se desenvolveu a partir: da análise de
fontes primárias e secundárias de investigação sobre a história da Educação Física e do
Esporte no Brasil; da constituição dos Institutos Federais no Brasil, desde os primeiros
modelos, até as nomenclaturas e modelos atuais, bem como dessa instituição no Estado de
Mato Grosso. Como fontes primárias, encontram-se: os documentos dos arquivos, permanente
e fotográfico do atual IFMT; entrevistas semi-estruturadas com os professores que atuaram no
período da Escola Técnica Federal de Mato Grosso - ETFMT, abordando quais conteúdos e
metodologias eram desenvolvidos; os referenciais teóricos que orientavam a prática docente.
As entrevistas foram gravadas mediante a utilização de um gravador digital e foram
conduzidas com a intenção de captar informações a partir da temática da pesquisa. Por fim,
utilizamos um questionário com questões abertas e fechadas, aplicadas aos egressos do
período entre 1909 a 2002 desta instituição. Como fontes secundárias foram analisadas
pesquisas, dissertações, livros e artigos que tematizam a História da Rede Federal de Ensino
Profissionalizante e o papel da Educação Física nessa estrutura educacional.
Ao iniciar a pesquisa e a identificação das possíveis fontes a serem analisadas,
percebemos que, com as constantes mudanças de espaço físico do arquivo permanente,
perderam-se muitos documentos referentes a história dessa instituição no período entre 1909 a
1960, os documentos que ainda restam estão abandonados, carentes de organização e
conservação em uma sala no atual Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva, cuja direção
informou que medidas já foram tomadas para sanar esse problema. É importante destacar que
algumas ações nesse sentido já foram desenvolvidas, como a realizada pela servidora e
pesquisadora Nadia Cuiabano Kunze, autora do livro A Escola de Aprendizes Artífices de
Mato Grosso 1909/1941, situação que reforça a importância das informações narradas pelos
atores sociais elencados para este estudo.
A pesquisa que ora apresentamos está estruturada da seguinte forma:
O capítulo 1 traz a História Cultural como possibilidade investigativa na Educação
Física, entendendo a escola como um rico espaço cultural, como um conjunto de significados
4
construídos e partilhados pelos homens.
No capítulo 2 apresentamos a história da Rede Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia no Brasil e em Mato Grosso, desde a sua criação em 1909 até os dias atuais.
No capítulo 3 passamos a apresentar e analisar os dados referentes à história da
Educação Física desde 1909 até 2002, tendo como linhas norteadoras as práticas da Educação
Física no atual IFMT em relação à legislação educacional e a história da Educação Física no
Brasil.
Este estudo, por meio das evidências das práticas dos sujeitos históricos diretamente
envolvidos com a Educação Física, conta parte de uma possível história desta disciplina, em
uma das mais antigas instituições públicas de ensino profissionalizante do país, sendo que,
das existentes na época de sua fundação no estado, é a única que permanece em atividade, na
atualidade, nesse segmento de ensino. Dentre os Campi que hoje compõem o IFMT, o mais
antigo e por isso nosso lócus de pesquisa é o Campus Octayde Jorge da Silva. A delimitação
temporal compreende o período de 1909, ano de sua fundação, a 2002, ano em que passa a
oferecer cursos de nível superior, além dos cursos de ensino médio, neste recorte temporal
teve sua nomenclatura e nível de ensino profissionalizante modificados por força de leis
federais, para atender as demandas político-econômicas de cada época. A instituição foi
fundada em 1909 e entrou em atividade em 1910 como Escola de Aprendizes Artífices de
Mato Grosso – EAAMT, com objetivo de oferecer o ensino profissional, primário e gratuito.
A lei nº 378 de 1937 autorizou a mudança do nome da EAAMT para Liceu Industrial, mas foi
em 05 de setembro de 1941, que a EAAMT assumiu oficialmente a denominação de Liceu
Industrial de Mato Grosso – LIMT e em 1942, o Decreto presidencial nº 4.127 transformou o
LIMT em Escola Industrial de Cuiabá – EIC. Em 1965 recebe nova denominação, passando a
se chamar Escola Industrial Federal de Mato Grosso e, em 1968, por meio da portaria
ministerial nº 331, recebe o nome de Escola Técnica Federal de Mato Grosso – ETFMT. Em
2002 o Decreto Presidencial transformou a ETFMT em Centro Federal de Educação
Tecnológica de Mato Grosso – CEFETMT e, em 2008, por força da Lei 11.892 de 29 de
dezembro, o CEFETMT passou a ser denominado Instituto Federal de Mato Grosso – IFMT,
composto por dez Campi, tendo como missão, oferecer cursos de ensino médio integrado ao
profissionalizante, cursos superiores de tecnologia, cursos de licenciatura e bacharelado.
Pretende-se com este estudo contar uma história possível da Educação Física nesse
centenário estabelecimento de ensino em Mato Grosso, pelas evidências das práticas dos
sujeitos históricos diretamente envolvidos em sua construção, de modo a preservar a sua
memória, assim como a dos atores sociais que contribuíram com sua construção.
5
1. A HISTÓRIA COMO POSSIBILIDADE DE INVESTIGAÇÃO NA EDUCAÇÃO
FÍSICA
No momento histórico que vivemos de economia e cultura globalizada, com forte
apelo ao desenvolvimento de novas tecnologias para fomentar o consumo desenfreado, a
organização social multicultural crescente, vem se contrapondo a massificação cultural
mundial, buscando, em diversos segmentos da sociedade, resgatar e fortalecer suas raízes
identitárias. Dessa forma, nos apresentamos com a preocupação de registrar uma história, de
maneira que esta não se perca e auxilie na compreensão do papel da Educação Física no atual
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – IFMT, Campus
Cuiabá – Octayde Jorge da Silva.
A complexidade do mundo contemporâneo, o crescente e rápido processo de
individualização do sujeito urbano, o acelerado ritmo das modificações
tecnológicas, a profusão de informações a interpelar homens e mulheres
cotidianamente e mesmo a superficialidade com que, muitas vezes, essas
informações são veiculadas têm diminuído o poder seletivo da memória, ou
seja, a capacidade de eleição do que é ou não importante armazenar. Tal
perda tem sido apontada, por profissionais que atuam no campo da
informação, como um elemento a colaborar na estruturação de sociedades do
esquecimento (Simson, 2001). Para evitar o esquecimento, há que preservar
a memória e reconstruir histórias. (GOELLNER et al., 2007, p. 39).
A importância de se desenvolver pesquisa histórica em Educação Física é orientada
por diversos autores, dentre eles Mello (1999; 2008), que destaca crescente relevância das
“práticas” como objeto de investigação histórica:
“Práticas” é um dos paradigmas da Nova História Cultural: a história das
práticas religiosas e não da teologia, a história da fala e não da lingüística, a
história do experimento e não da teoria científica. Graças a essa virada em
direção às práticas, a história do esporte, que antes era tema de amadores,
tornou-se profissionalizada, um campo com suas próprias revistas, como
International Journal of History of Sport (BURKE, 2005 apud MELLO,
2008, p. 2, grifos do autor). (sic.).
Ainda sobre as práticas, Chartier (1991) apresenta a sua importância, como uma nova
forma de ver e dar sentido ao mundo, pelo olhar dos indivíduos.
Daí as tentativas para decifrar de outro modo as sociedades, penetrando na
meadas das relações e das tensões que as constituem a partir de um ponto de
entrada particular (um acontecimento, importante ou obscuro, um relato de
vida, uma rede de práticas específicas) e considerando não haver prática ou
6
estrutura que não seja produzida pelas representações, contraditórias e em
confronto, pelas quais os indivíduos e os grupos dão sentido ao mundo que é
o deles. (CHARTIER, 1991, p. 177).
Para o autor:
Toda reflexão metodológica enraíza-se, com efeito, numa prática histórica
particular, num espaço de trabalho específico. O meu organiza-se em torno
de três pólos, geralmente separados pelas tradições acadêmicas: de um lado,
o estudo crítico dos textos, literários ou não, canônicos ou esquecidos,
decifrados nos seus agenciamentos e estratégias; de outro lado, a história dos
livros e, para além, de todos os objetos que contém a comunicação do
escrito; por fim, a análise das práticas que, diversamente, se apreendem dos
bens simbólicos, produzindo assim usos e significações diferençadas.
(CHARTIER, 1991, p. 178).
Goellner e Jaeger (2007, p.4) afirmam que:
Abordar historicamente um tema é, porque não pensar assim, construir um
passeio por um tempo que é passado e é presente, pois, apesar de distante na
cronologia, carrega em si proximidades com representações, conceitos,
preconceitos, formulações teóricas, construções estéticas, políticas e
ideológicas desse tempo que é hoje e que é nosso. É procurar nos fragmentos
do passado, vínculos e persistências com o presente e o futuro, não no seu
desenrolar contínuo e cronológico, mas na descontinuidade dos enlaces que
entre eles vão se construindo.
Essa pesquisa tem como subsídio teórico-metodológico a abordagem da História
Cultural, entendida aqui como uma nova forma de intervenção acadêmica que ampliou o
horizonte historiográfico, ao possibilitar o aparecimento de novas perspectivas de se olhar
antigos e novos problemas, e de novos métodos que renovaram os velhos moldes da história
e, principalmente pelo aparecimento no campo da história, de novos objetos de pesquisa
(PESAVENTO, 2005; CHARTIER, 1991).
A Nova História Cultural ou História Cultural emergiu do final dos anos 1960 aos
anos 1980, como oposição à ortodoxia teórica marxista, no seio de duas correntes bastante
distintas, a saber: a do neomarxismo inglês e da história francesa dos Annales, estas passaram
a trabalhar com uma história social que avançava para os domínios da cultura, entendida
como uma das possibilidades de expressão e tradução da realidade e, pensada “[...] como um
conjunto de significados partilhados e construídos pelos homens para explicar o mundo.”
(PESAVENTO, 2005, p. 15). Na mesma obra a autora afirma ainda que tais significados “se
manifestam em palavras, discursos, imagens, coisas, práticas.” (PESAVENTO, 2005, p. 17),
logo, entende-se que toda atividade humana produz história, tudo tem um passado que pode,
7
em princípio, ser reconstruído e relacionado ao restante do passado. As verdades consideradas
imutáveis pela história positivista tradicional são agora encaradas como “construções
culturais”, sujeitas a variações espaço-temporal e que não representam a totalidade ou a
verdade absoluta.
Segundo Pesavento (2005, p. 37), a História Cultural possibilita “um novo olhar da
história, a partir dos seus principais pressupostos teóricos de análise”, a “representação”, o
“imaginário”, a “narrativa”, “a ficção” e a “sensibilidade”, que de forma expressa ou
intrínseca, norteiam esse estudo.
A “representação”, é apresentada por Pesavento (2005), como a categoria central da
História Cultural, possibilita decifrar a realidade e construir, a partir dela, o experimentado em
outros tempos, o não-visto e o não-vivido.
Representar é, pois, fundamentalmente, estar no lugar de, é presentificação
de um ausente; é um apresentar de novo, que dá a ver uma ausência. A idéia
central é, pois, a da substituição, que recoloca uma ausência e torna sensível
uma presença. (PESAVENTO, 2005, p. 40). (sic.).
Para Pesavento (2005, p. 40), a força da representação não se dá pelo seu valor de
verdade, “[...] a representação não é uma cópia do real, sua imagem perfeita, espécie de
reflexo, mas uma construção feita a partir dele”, mas, na sua capacidade de mobilização e de
produzir reconhecimento e legitimidade social. As representações se inserem em regimes de
verossimilhança e de credibilidade e não de veracidade.
A representação é possibilitada pelas informações (fontes) ou documentos do
passado, que podem ser encontradas nos registros escritos, orais, iconográficos, dentre outros,
e sua análise permite compreender as representações presentes em uma temporalidade
passada, pois são os registros e os sinais do passado.
No entanto, Chartier (1991, p.185) chama a atenção para:
[...] as possíveis incompreensões da representação, seja por falta de "
preparação" do leitor (o que remete às formas e aos modos de inculcação das
convenções), seja pelo fato da "extravagância" de uma relação arbitrária
entre o signo e o significado (o que levanta a questão das próprias condições
de produção das equivalências admitidas e partilhadas [...]. A relação de
representação é, desse modo, perturbada pela fraqueza da imaginação, que
faz com que se tome o engodo pela cerdade, que considera os signos visíveis
como índices seguros de uma realidade que não o é.
O “imaginário” é entendido como “um sistema de idéias e imagens de representação
8
coletiva que os homens, em todas as épocas, construíram para si, dando sentido ao mundo, [é
histórico e datado e se expressa por] palavras/discursos/sons, imagens, coisas, materialidades
e por práticas, ritos, performances.” (PESAVENTO, 2005, p. 43) (sic.). Para a autora, assim
como a representação, o imaginário não é reflexo ou cópia do real, pois comporta além do
cotidiano da vida dos homens suas utopias e elaborações mentais que só existem no mundo
dos sonhos e que juntas, compõem o que é chamado de real.
Chartier (1991, p. 183) acrescenta que o retorno à noção de representação coletiva,
[...] autoriza a articular, sem dúvida melhor que o conceito de mentalidade,
três modalidades de relação com o mundo social: de início, o trabalho de
classificação e de recorte que produz configurações intelectuais múltiplas
pelas quais a realidade é contraditoriamente construída pelos diferentes
grupos que compõem uma sociedade; em seguida, as práticas que visam a
fazer reconhecer uma identidade social, a exibir uma maneira própria de ser
no mundo, a significar simbolicamente um estatuto e uma posição; enfim, as
formas institucionalizadas e objetivadas em virtude das quais
"representantes" (instâncias coletivas ou indivíduos singulares) marcam de
modo visível e perpétuo a existência do grupo, da comunidade ou da classe.
A “narrativa”, é entendida como o relato de uma sequência de ações encadeadas, que
tem como meta, chegar o mais próximo possível da verdade do acontecido. No entanto, na
História Cultural “[...] o historiador sabe que a sua narrativa pode relatar o que ocorreu um
dia, mas que esse mesmo fato pode ser objeto de múltiplas versões” (PESAVENTO, 2005, p.
51). Desse modo, o historiador deverá ter sempre a meta de buscar a verdade, sabendo que
esta, não será única ou absoluta. Goellner (2006, p. 4) afirma que o historiador precisa
perceber que “[...] o conhecimento histórico é uma construção que envolve inúmeras reflexões
[...], a subjetividade de quem escreve e a mediação entre o passado (objeto de investigação) e
o presente (tempo no qual escreve o/a historiador/a)”. A autora entende que:
[...] uma narrativa do passado e esta pode nos fazer lembrar de algo que já se
passou, mas pode fazer esquecer, na medida em que, ao contar sobre o
tempo que já não é mais, a História tanto pode “celebrar” o que deve ser
lembrado quanto “inviabilizar” o que deve ser esquecido. Nesse sentido é
preciso pensar que a narrativa histórica é resultante de um entrelaçamento de
objetividade subjetividade, de percepções, de olhares, de possibilidades de
análise e estas são sempre datadas. Em última instância, a História é ela
própria datada, está ancorada no tempo e tem narrado o mundo de acordo
com interesses, pessoais, políticos, sociais, econômicos, culturais, étnicos,
etc., evidenciando, sobre tudo a possibilidade de descrever o real como ele é.
[...]. (GOELLNER, 2006, apud ALBA, 2008, p. 18, grifos do autor).
A “ficção” é apresentada como presente na capacidade imaginária da narrativa,
9
utilizada pelo historiador para construir uma visão do passado, e passa a ser um discurso
histórico que, mesmo construído na perspectiva da verossimilhança e não da veracidade,
produz um efeito de verdade, logo, não é possível pensar a narrativa que passa a representar o
acontecido sem “levar em conta a presença da criação ficcional, tanto do lado da escrita
quanto da leitura” (PESAVENTO, 2005, p. 54).
A “sensibilidade” é apresentada por Pesavento (2005) como o “cerne” que o
historiador, pesquisador do passado, pretende atingir, pois marca a emergência da
subjetividade nas preocupações do historiador: A sensibilidade se dá na percepção e tradução
da experiência humana no mundo, que vêm do íntimo de cada pessoa, por meio das
sensações, do sentimento, das emoções, da subjetividade. No entanto, essas sensibilidades
devem estar expressas e materializadas em alguma forma de registro (fontes) para que possa
ser acessado pelo pesquisador.
Goellner (1999, p. 12) considera como fontes:
[...] textos, imagens, sons, objetos, cheiros, monumentos, equipamentos,
vestes e tantas outras produções humanas vistas como possibilidade de
compreender que ali estão inscritas sensações, ideologias, valores,
mensagens e preconceitos que permitem conhecer parte do tempo onde
foram produzidos, através da intervenção do pesquisador que, utilizando-se
de uma forma de narrativa, arranca-os de um esquecimento/desconhecimento
e os traz para o temo presente. Ou seja, costura interpretações através dos
vestígios e testemunhos que escolheu para pesquisar e de sua imaginação,
originada de um desejo que parte de um sentimento que é individual e
também social, porque molhado pelo tempo presente, a partir do qual olha
para o que não viveu e assim atribui significação ao que pode conhecer e
imaginar nesse tempo que não lhe pertence.
Pesavento (2005) afirma ainda que a apresentação das fontes-provas e o seu
encadeamento lógico permitem fazer da História uma ficção controlada e, permite que se
possa testar e comprovar, mesmo que a experiência passada não possa mais ser reproduzida,
pois o leitor pode refazer os passos do historiador pelos arquivos e deduções.
A partir de alguns dos pressupostos da História Cultural, como a ampliação da noção
de fontes, esta pesquisa se fundamenta nas informações levantadas no acervo dos arquivos
permanente e fotográfico do atual IFMT. Nesses espaços foram levantados os documentos
escritos e registros fotográficos, com possibilidade de fornecer informações sobre a história da
Educação Física nessa instituição de ensino.
Buscamos também informações na legislação educacional federal, estadual e
municipal, para conferir voz a vários registros sobre a prática da Educação Física, fazendo
10
com que dialogassem com outras fontes de investigação, dentre elas, o questionário com
questões abertas e fechadas para os egressos e a entrevista semi-estruturada com os
professores, cuja realização e processamento inserem-se dentro da perspectiva teórico-
metodológica da História Oral, “entendida aqui a partir de três grandes atribuições: como uma
técnica de produção e tratamento de entrevistas; como um método de investigação científica;
como uma fonte de pesquisa.” (GOELLNER et al., 2007, p. 40).
Segundo Goellner et al. (2007), essa perspectiva historiográfica vem sendo muito
utilizada, de formas distintas, por diversas áreas do conhecimento, associando pesquisa e
documentação, desde meados do século XX, como contraposição ao “status” dado apenas aos
documentos escritos e oficiais.
Nessa pesquisa o documento (entrevista) não é observado como um relato do que
efetivamente ocorreu, mas como uma versão do entrevistado, pois busca privilegiar a
recuperação do vivido conforme concebido por quem viveu,
[...] pois ainda que a memória seja guardada por um indivíduo e tem como
referência suas experiências e vivências, essa memória está marcada pelo
grupo social onde conviveu e se socializou. E esse caráter social constitui-
se em um elemento essencial da formação de sua identidade, da percepção
que tem de si mesmo e dos outros. (GOELLNER et al., 2007, p. 41)
Para Lakatos e Marconi (2009, p. 107), o método histórico:
[...] consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do
passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as
instituições alcançaram sua forma atual através de alterações de suas partes
componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural
particular de cada época.
Por sua vez, a abordagem qualitativa se justifica para o presente estudo, pois
realizará um aprofundamento da compreensão de um fenômeno social por meio da análise dos
atores envolvidos com o fenômeno. (RICHARDSON et al., 1999).
Segundo Oliveira (2000, p. 117) esse tipo de abordagem não tem a intenção de
numerar ou medir durante a análise do problema, e sim:
[...] descrever a complexidade de uma determinada hipótese ou problema,
analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos
dinâmicos experimentados por grupos sociais, apresentar contribuições no
processo de mudança, criação ou formação de opiniões de determinado
grupo e permitir, em maior grau de profundidade, a interpretação das
particularidades dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos.
11
(OLIVEIRA, 2000, p. 117).
De acordo com o exposto, apresentamos os procedimentos dessa pesquisa, a partir
das proposições de Goellner et al. (2007) e, adaptados para a mesma, que se baseia na coleta
de depoimentos e documentos oficiais escritos e fotográficos.
1. Identificação das pessoas contatadas para as entrevistas: realizada a partir do
levantamento de informações dos arquivos, atas, registros, relatórios e livros dos acervos do
atual IFMT. Nessa fase encontramos em Albuquerque, Silva e Coelho (1984) uma relação de
nomes dos professores de Educação Física que atuaram no período da ETFMT, um de nossos
pontos de partida. No acervo do arquivo permanente encontramos os registros que nos
levaram aos professores que atuaram nas décadas de 1940, 1950, e 1960, com essas
informações buscamos os registros do Departamento de Recursos Humanos, onde pouca
informação obtivemos, basicamente ano de ingresso e saída. As informações apresentadas na
pesquisa são oriundas das entrevistas e de documentos encontrados no arquivo permanente.
Para a escolha dos egressos, definimos que entrevistaríamos dois (2) egressos por
década entre os anos de 1910 a 1971, a partir deste ano, em virtude do ingresso das mulheres,
seriam quatro (4) egressos por década sendo dois homens e duas mulheres, totalizando vinte e
quatro (24) egressos. Para a escolha destes, Buscamos as informações do Departamento de
Registro Escolar, que por ter sido informatizado pouco tempo atrás e não ter seus arquivos
mais antigos digitalizados inviabilizou, pela limitação do tempo do mestrado, outra forma de
escolha senão a facilidade de acesso, de modo que, não localizamos nenhum egresso das
décadas de 1910, 1920 e 1930. O primeiro egresso a ser entrevistado foi o senhor Olimpio
Santana de Almeida que indicou outros egressos anteriores e posteriores ao período em que
permaneceu como aluno dessa instituição. Dessa forma, fomos localizando os egressos
entrevistados, sendo o senhor Otávio Florisvaldo da Silva, egresso da década de 1940, o mais
antigo egresso localizado.
2. Elaboração de roteiros para cada entrevista (apêndices A e B): esse procedimento
foi realizado após a coleta de informações sobre os entrevistados e sua relação com o tema da
pesquisa. Os eixos que conduziram a entrevista foram: a história de vida e a temática central
da pesquisa, já com a preocupação de buscar nas respostas dos entrevistados as informações
não encontradas nos documentos oficiais, bem como elementos para validar ou refutar as
encontradas.
3. Realização da entrevista com os professores: a entrevista (anexo B) foi gravada
mediante utilização de gravador digital pelo pesquisador. Com a intenção de proporcionar
12
maior conforto, o local das entrevistas foi escolhido pelos entrevistados, o que nem sempre
correspondeu a um local adequado para este fim.
Foram entrevistados os seguintes professores: Kenji Kido, graduado em 1968, pela
Escola Superior de Educação Física do Estado de São Paulo (USP). Foi contratado como
horista em março de 1972 e permaneceu até dezembro do mesmo ano, ao logo do texto será
citado como (KK, Professor 1); Natanael Henrique de Moraes, graduado pela ESEFFEGO em
1972. Foi contratado como horista em 1973 e se aposentou em 2008, ao longo do texto será
citado como (NHM, Professor 2); Sabino Albertão Filho, graduado pelo Instituto Toledo de
Ensino, São Paulo. Ingressou em 1973 e aposentou-se em 2008, ao longo do texto será citado
como (SAF, Professor 3); Cinira Melhorança Albertão, graduada pelo Instituto Toledo de
Ensino, São Paulo, ingressou em 1973 e aposentou-se em 1994, ao longo do texto será citada
como (CMA, Professora 4); Evandro Ferreira da Silva, graduado pela Faculdade de Educação
Física da UFMT em 1983. Foi contratado como professor substituto em 1985 e na atualidade
é professor e coordenador de Educação Física do atual IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge
da Silva, ao longo do texto será citado como (EFS, professor 5); Tânia Maria Pinheiro,
graduada pela Faculdade de Educação Física da UFMT em 1983. Foi contratada como
professora substituta em 1985 e na atualidade é professora do IFMT Campus Cuiabá –
Octayde Jorge da Silva, ao longo do texto será citada como (TMP, Professora 6); Pedro Luiz
Sinohara, graduado pela Faculdade de Educação Física da UFMT em 1982. Foi contratado
como estagiário em 1979 e na atualidade é professor do IFMT Campus Cuiabá – Octayde
Jorge da Silva, ao longo do texto será citado como (PLS, Professor 7).
4. Aplicação dos questionários com os egressos: a entrega dos questionários (anexo
C) foi feita pessoalmente e uma vez localizado o egresso, este era informado verbalmente
sobre os objetivos da pesquisa e convidado a participar da mesma, ao aceitar, recebia a carta
convite com as informações sobre a pesquisa e, o termo de consentimento livre e esclarecido.
O questionário foi respondido pelos seguintes egressos: Otávio Florisvaldo da Silva,
egresso da década de 1940 do curso de Forja em Serralheria, ao longo do texto será citado
como (OFS, Egresso 1); Benedito Epitácio de França, egresso do ano de 1958 do curso de
Tipografia e Encadernação, ao longo do texto será citado como (BEF, Egresso 2); Olímpio
Santana de Almeida, egresso do curso de Artes Gráficas do ano de 1965, ao longo do texto
será citado como (OSA, Egresso 3); Severiano do Carmo, egresso do curso de Tipografia do
ano de 1963, ao longo do texto será citado como (SC, Egresso 4); Henrique do Carmo Barros,
cursou o Ginasial Industrial de 1968 a 1971 e o curso de Edificações de 1972 a 1974, ao logo
do texto será citado como (HCB, Egresso 5); Renilda Ribeiro de Almeida, egressa do ano de
13
1974 da primeira turma de Secretariado, ao longo do texto será citada como (RRA, egressa 6);
Dulcinéia Souza Magalhães, egressa do ano de 1975 do curso de Secretariado, ao longo do
texto será citada como (DSM, Egressa 7); Francisco Carlos Souza Magalhães, egresso do ano
de 1976 do curso de Edificações, ao longo do texto será citado como (FCSM, Egresso 8),
Meyre Marinho, egressa do curso de Eletrotécnica do ano de 1977, ao longo do texto será
citada como (MM, Egressa 9); Valéria Regina Santos Silva de Almeida, egressa do ano de
1989 do curso de Secretariado, ao longo do texto será citada como (VRSSA, Egressa 10);
Leticia Sempio Torres Magalhães, egressa do ano de 1986 do curso de Edificações, ao longo
do texto será citada como (LSTM, Egressa 11); Luís Júlio de Gusmão Rocha Pedroso, egresso
do ano de 1984 do curso de Eletrônica, ao longo do texto será citado como (LJGRP, Egresso
12); Danillo Mattos Gregório, egresso do ano de 1991 do curso de Eletrotécnica, ao longo do
texto será citado como (DMG, Egresso 13); Daniella de Mattos Gregório Nogueira, egressa
do curso de Secretariado do ano de 1998, ao longo do texto será citada como (DMGN,
Egressa 14); Angela Augusta Passos Conic, egressa do curso de Telecomunicações do ano de
1994, ao longo do texto será citada como (AAPC, Egressa 15); Waldelucy Virginia
Rodrigues, egressa do curso de secretariado do ano de 2000, ao longo do texto será citada
como (WVR, Egressa 16).
5. Processamento da entrevista: após a coleta do depoimento em forma oral as
informações foram convertidas em informação escrita.
6. Pesquisa: depois da realização do processamento da entrevista, procedemos sua
análise para conferência e posterior utilização no trabalho.
7. Carta de cessão de direitos autorais: foi assinada pelos entrevistados no momento
da entrevista, pois nenhuma pessoa solicitou a leitura da entrevista antes de assiná-la,
concedendo ao pesquisador a propriedade e os direitos autorais do depoimento de caráter
histórico e documental.
Dessa forma, nos capítulos seguintes apresentaremos os elementos de fontes
primárias e secundárias, com vistas a indicar os possíveis caminhos trilhados pela Educação
Física na história do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso –
IFMT, Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva.
14
2. A REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA NO BRASIL
Antes de adentrarmos, especificamente, na história do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – IFMT, Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva,
torna-se essencial apresentar alguns elementos do contexto em que o mesmo surgiu e se situa
atualmente.
Dessa forma, é necessário compreender que a Rede Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia foi criada com a função de exercer a formação para o trabalho. Para tanto, nos
apoiamos na legislação educacional brasileira e nos estudos de autores que apresentaremos a
seguir. Contanto, vamos nos ater a algumas informações de seus primeiros registros, para
deixar claro que essa modalidade de ensino advém de tempos anteriores ao início da rede
federal de ensino profissionalizante, nosso recorte, cientes de que importantes acontecimentos
se deram nesse interstício.
A formação para o trabalho no Brasil tem registros desde os tempos mais remotos da
colonização, tendo como os primeiros aprendizes de ofícios os índios e os escravos.
O ensino elementar das mais necessárias profissões manuais, feitos pelos
padres da Companhia de Jesus, fora determinado pelas circunstâncias e não
tivera caráter de sistematização, nem obedecera a nenhum plano. Tudo
conforme a exigência do momento, tudo de acordo com as necessidades
imediatas (FONSECA, 1961, p. 17)
Esse fato criou um pré-conceito acerca desse tipo de formação, que ficou
caracterizado como sendo apenas para a população pobre e/ ou marginalizada, e “habituou-se
o povo de nossa terra a ver aquela forma de ensino como destinada somente a elementos das
mais baixas categorias sociais”. (FONSECA, 1961, p. 68).
Com a descoberta do ouro, o acontecimento mais significativo da história econômica
do Brasil colônia, em Minas Gerais, no final do século XVII e início do século XVIII, seguida
dos achados em Jacobina e no Rio das Contas na Bahia, nos de Forquilha e Sutil no Mato
Grosso, e em Goiás, foram criadas as Casas de Fundição e de Moeda e com elas a necessidade
de um ensino mais especializado, destinado aos filhos de homens brancos empregados da
própria Casa. Ainda, no final do século XVIII, com a fundação dos Arsenais da Marinha,
sentiu-se a necessidade da especialização profissional e, para suprir essa demanda, surgiram
outras experiências de ensinamentos programados nos ofícios. Esses arsenais foram
importantes centros de aprendizagem para funileiros, carpinteiros, ferreiros, tecelões, dentre
outros.
15
O desenvolvimento tecnológico do Brasil ficou estagnado com a proibição da
existência de fábricas em 1785. Isso aconteceu devido à consciência dos portugueses de que:
O Brasil é o país mais fértil do mundo em frutos e produção da terra. Os seus
habitantes têm por meio da cultura, não só tudo quanto lhes é necessário para
o sustento da vida, mais ainda artigos importantíssimos, para fazerem, como
fazem, um extenso comércio e navegação. Ora, se a estas incontáveis
vantagens reunirem as das indústrias e das artes para o vestuário, luxo e
outras comodidades, ficarão os mesmos totalmente independentes da
metrópole. É, por conseguinte, de absoluta necessidade acabar com todas as
fábricas e manufaturas no Brasil. (ALVARÁ, 1785 apud FONSECA, 1961).
A vinda da família real portuguesa em 1808 teve como consequência a revogação do
referido Alvará e a criação, por Dom João VI, do Colégio das Fábricas, considerado o
primeiro estabelecimento instalado pelo poder público, com o objetivo de atender à educação
dos artistas e aprendizes vindos de Portugal (GARCIA, 2000).
Isto posto, com a única intenção de balizar que a educação profissional já estava
presente no Brasil muito antes da criação da Rede Federal de Educação Profissional,
passamos agora para sua apresentação.
Em 1906, Nilo Peçanha, então Presidente do Estado do Rio de Janeiro (como eram
chamados os governadores na época), instituiu no Brasil o ensino técnico por meio do Decreto
n° 787, de 11 de setembro, criando quatro escolas profissionais nas cidades de Campos,
Petrópolis, Niterói e Paraíba do Sul, sendo as três primeiras, destinadas ao ensino de ofícios e
a última à aprendizagem agrícola. (BRASIL, 2009a)
No mesmo ano algumas ações consolidaram o ensino técnico-industrial no Brasil,
dentre elas a realização do “Congresso de Instrução” que apresentou ao Congresso Nacional
um projeto de promoção do ensino prático industrial, agrícola e comercial, que previa a
criação de campos e oficinas escolares onde os alunos dos ginásios seriam habilitados como
aprendizes, no manuseio de instrumentos de trabalho e o aumento da dotação orçamentária
para os Estados instituírem escolas técnicas e profissionais elementares, sendo criada, na
Estrada de Ferro Central do Brasil, a Escola Prática de Aprendizes das Oficinas do Engenho
de Dentro, no Rio de Janeiro.
Tal fato culmina com a declaração do então Presidente da República, Afonso Pena,
em seu discurso de posse, no dia 15 de novembro de 1906: “A criação e multiplicação de
institutos de ensino técnico e profissional muito podem contribuir também para o progresso
das indústrias, proporcionando-lhes mestres e operários instruídos e hábeis”. (BRASIL,
2009a).
16
Em 1909, Nilo Peçanha agora Presidente do Brasil assina, em 23 de setembro, o
Decreto nº 7.566, criando, sob a jurisdição do Ministério dos Negócios da Agricultura,
Indústria e Comércio, dezenove “Escolas de Aprendizes Artífices”, com objetivo de oferecer o
ensino profissional, primário e gratuito.
Em 1930 essas escolas passam a ser supervisionadas pelo então criado Ministério da
Educação e Saúde Pública. Foi um período de grande expansão do ensino industrial,
impulsionada por uma política de criação de novas escolas industriais e introdução de novas
especializações nas escolas existentes.
A Constituição brasileira de 1937 (Constituição dos Estados Unidos do Brasil) foi a
primeira a tratar especificamente de ensino técnico, profissional e industrial, estabelecendo no
artigo 129:
Art 129 - A infância e à juventude, a que faltarem os recursos necessários à
educação em instituições particulares, é dever da Nação, dos Estados e dos
Municípios assegurar, pela fundação de instituições públicas de ensino em
todos os seus graus, a possibilidade de receber uma educação adequada às
suas faculdades, aptidões e tendências vocacionais.
O ensino pré-vocacional profissional destinado às classes menos favorecidas
é em matéria de educação o primeiro dever de Estado. Cumpre-lhe dar
execução a esse dever, fundando institutos de ensino profissional e
subsidiando os de iniciativa dos Estados, dos Municípios e dos indivíduos ou
associações particulares e profissionais.
É dever das indústrias e dos sindicatos econômicos criar, na esfera da sua
especialidade, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus operários
ou de seus associados. A lei regulará o cumprimento desse dever e os
poderes que caberão ao Estado, sobre essas escolas, bem como os auxílios,
facilidades e subsídios a lhes serem concedidos pelo Poder Público.
(BRASIL, 1937a)
As Escolas de Aprendizes e Artífices, em 13 de janeiro de 1937, foram
transformadas em Liceus Profissionais por meio da Lei 378, destinados ao ensino
profissional, de todos os ramos e graus.
Art. 37 - A Escola Normal de Artes e Officios Wencesláo Braz e as escolas
de aprendizes artifices, mantidas pela União, serão transformadas em lyceus,
destinados ao ensino profissional, de todos os ramos e graos.
Paragrapho unico. Novos lyceus serão instituidos, para propagação do ensino
profissional, dos varios ramos e graos, por todo o territorio do Paiz
(BRASIL, 1937b). (sic.)
Em 1941, a “Reforma Capanema” modificou o ensino no país, e a partir dela, o
ensino profissional passou a ser considerado de nível médio, o ingresso nas escolas industriais
17
passou a depender de exame de admissão e seus cursos foram divididos em dois ciclos, o
primeiro compreendia os cursos básico industrial, artesanal, de aprendizagem e de mestria e, o
segundo ciclo, correspondia ao curso técnico industrial, com três anos de duração e mais um
de estágio supervisionado na indústria. (KUNZE, 2006; BRASIL, 2009a)
Em 1942, os liceus profissionais foram transformados em Escolas Industriais e
Técnicas, pelo Decreto nº 4.127 de 25 de fevereiro, passando a oferecer a formação
profissional em nível equivalente ao secundário, iniciando formalmente, o processo de
vinculação do ensino industrial ao ensino formal brasileiro. (KUNZE, 2006; BRASIL, 2009a)
No ano de 1959, as Escolas Industriais e Técnicas foram transformadas em
autarquias, as quais receberam o nome de Escolas Técnicas Federais. No mesmo período
ganharam autonomia didática e de gestão. A partir de então, intensificaram a formação de
técnicos, mão de obra indispensável diante da aceleração da industrialização, que foi
impulsionada pela indústria automobilística, ícone da consolidação da indústria brasileira.
Ainda em 1959, o Plano de Metas do Governo de Juscelino Kubitschek, contempla
pela primeira vez o setor educacional com 3,4% do total de investimentos previstos. O
objetivo era a formação de profissionais para sustentar o plano de metas de desenvolvimento
do país. (BRASIL, 2009a; PEREIRA, 2003).
Em 1971 a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira – LDB, nº. 5.692,
provocou profundas mudanças no sistema educacional, rompendo, segundo Silva (1999), com
uma tradição secular no Brasil que não vinculava o ensino médio, até então em sua maior
parte com formação propedêutica destinada às elites, ao mundo do trabalho, tornando, de
maneira compulsória, todo currículo do segundo grau num currículo técnico-profissional.
O número de matrículas nas Escolas Técnicas apresentou um aumento significativo e
diversos novos cursos foram implantados para atender emergencialmente a formação de
técnicos sob o regime de urgência. (BRASIL, 2009a).
Essa urgência foi provocada, segundo Pereira (2003, p. 60), pelo exponencial
crescimento da economia brasileira que aconteceu no período de 1968 a 1972 conhecido
como o “milagre econômico”, proporcionado pela grande oferta de capital externo e o desejo
do governo militar de transformar o Brasil em uma nação desenvolvida. Esses fatores
viabilizaram grandes investimentos em infraestrutura, indústria de base, de transformação,
equipamentos, bens duráveis e na agroindústria de alimentos, o que demandou mão de obra
qualificada, que poderia ser suprida pela formação técnica profissionalizante.
Moura (2007, p. 12, grifos do autor) afirma ainda:
18
Assim, a opção política do governo, sustentada no modelo de
desenvolvimento econômico por ele potencializado, foi dar uma resposta
diferente às demandas educacionais das classes populares, mas que pudesse
“atendê-las”. Utilizou-se, então, da via da formação técnica
profissionalizante a nível de 2º grau, o que “garantiria” a inserção no
“mercado de trabalho” - em plena expansão em função dos elevados índices
de desenvolvimento.
Em 1978, com a Lei nº 6.545, três Escolas Técnicas Federais (Paraná, Minas Gerais e
Rio de Janeiro) foram transformadas em Centros Federais de Educação Tecnológica,
conhecidos como CEFETs. Essa mudança conferiu àquelas instituições outra atribuição,
formar engenheiros de operação e tecnólogos, processo esse que se estendeu aos outros
CEFETs, contudo, bem mais tarde. (BRASIL, 2009a).
Em 1994, a Lei nº 8.948, de 8 de dezembro, criou o Sistema Nacional de Educação
Tecnológica, que transformou as Escolas Técnicas Federais e as Escolas Agrotécnicas
Federais em Centros Federais de Educação Tecnológica – CEFETs. No entanto, essa
transformação aconteceu de forma gradativa, mediante decretos específicos para cada
instituição, respeitando critérios estabelecidos pelo Ministério da Educação, considerando as
instalações físicas, os laboratórios e equipamentos adequados, as condições técnico-
pedagógicas e administrativas, os recursos humanos e financeiros necessários ao
funcionamento de cada centro. (BRASIL, 2009a)
Em 20 de novembro de 1996 foi sancionada a nova Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, nº 9.394. Nesta, a Educação Profissional foi tratada num capítulo
separado da Educação Básica, apesar de superar enfoques de assistencialismo e de
preconceito social contido nas primeiras legislações de educação profissional do país, mantém
como afirma Silva (1999), a distinção entre educação escolar e educação profissional, mas
com avanços nesta última. A mesma recebeu uma roupagem de intervenção social crítica e
qualificada, tornando-se um mecanismo para favorecer a inclusão social e democratização dos
bens sociais da sociedade. Além disso, definiu um sistema de certificação profissional que
permitia o reconhecimento das competências adquiridas fora do sistema escolar. (BRASIL,
2009a)
Após a publicação da LDB 9.394/96, foi promulgado o Decreto 2.208/1997, que
regulamentou a educação profissional e criou o Programa de Expansão da Educação
Profissional - PROEP. (BRASIL, 2009a).
Esse decreto regulamentou a organização do ensino profissionalizante, especificando
os objetivos da educação profissional, bem como ampliou as possibilidades de acesso a esta,
19
certificando os cursos oferecidos em instituições de ensino especializadas ou no ambiente de
trabalho e para pessoas com qualquer nível de escolaridade (SILVA, 1999).
Para Moura (2007) este decreto separa obrigatoriamente o ensino técnico do ensino
médio, podendo, no entanto, serem oferecidos de forma concomitante ou de forma
subsequente para aqueles que já tenham cursado o ensino médio.
Segundo Moura (2007), o Programa de Expansão da Educação Profissional –
PROEP aportou e financiou com recursos provenientes do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), a reforma da Educação Profissional, para que esta pudesse se
modernizar e se tornar auto-suficiente financeiramente. Trouxe ainda, significativas mudanças
no cenário da educação profissional.
O autor apresenta dois aspectos dessa mudança, o primeiro foi a clara intenção de
acabar com a oferta de vagas para o ensino médio nos Institutos Federais, fazendo com que
estes se dedicassem exclusivamente ao ensino profissionalizante, para isso destinou
significativo aporte financeiro para a modernização e oferta de cursos técnicos e tecnológicos.
O segundo aspecto denominado “eficiência”, diz respeito a definição de três níveis para o
ensino profissionalizante: básico, que não requer escolaridade prévia; técnico, para os
matriculados e egressos do ensino médio; tecnólogo, correspondente a cursos de nível
superior (SILVA, 1999). Este último provocou uma explosão de ofertas de cursos
tecnológicos em instituições de ensino privadas. (MOURA, 2007).
Em 2004, foi promulgado o Decreto 5.154, que representou um significativo avanço
para a educação profissional, pois, além de manter os cursos técnicos concomitantes e
subsequentes, possibilitou a integração do ensino médio à educação profissional técnica de
nível médio, o que na visão do autor tem significativa importância para formação dos jovens,
filhos da classe trabalhadora, que não podem esperar a conclusão de um curso de nível
superior para adentrar no mercado de trabalho e que, até então, encontravam barreiras para
ingressar no ensino superior, visto a formação estritamente técnica, a que tinham maior
possibilidade de acesso. (MOURA, 2007).
Em 2005, com a promulgação da Lei 11.195, foi lançada a primeira fase do Plano de
Expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, com a construção de 64
novas unidades de ensino, bem como a transformação do CEFET – Paraná, na primeira
universidade especializada em tecnologia no Brasil (BRASIL, 2009a).
O Decreto 5.840, de 13 de julho de 2006, instituiu, no âmbito federal, o Programa
Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação de Jovens e Adultos –
PROEJA com o ensino fundamental, médio e educação indígena. (BRASIL, 2009a). Esse
20
decreto mostra a opção do governo em qualificar jovens e adultos que tiveram a trajetória
escolar interrompida através da oferta de educação profissional técnica de nível médio com
ensino médio, o que também demonstra a preocupação do governo com qualificação da mão
de obra para atender a demanda do mercado em expansão.
Em 2007, o lançamento da segunda fase do Plano de Expansão da Rede Federal de
Educação Profissional e Tecnológica, teve como meta entregar à sociedade brasileira mais
150 novas unidades dos CEFETs, perfazendo um total de 354 unidades até o final de 2010,
cobrindo todo território nacional e oferecendo cursos de qualificação, de ensino técnico,
superior e de pós-graduação, de acordo com as demandas locais e regionais. (BRASIL,
2009a).
A Lei Nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, instituiu a Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica, e criou os Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia. O seu Art. 2º caracteriza os Institutos como:
Art. 2º Os Institutos Federais são instituições de educação superior, básica e
profissional, pluricurriculares e multicampi, especializados na oferta de
educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino,
com base na conjugação de conhecimentos técnicos e tecnológicos com as
suas práticas pedagógicas, nos termos desta Lei. (BRASIL, 2008).
Dessa forma, os CEFETs, Escolas Técnicas e Agrotécnicas, entre outras instituições
de ensino federal, passaram a se chamar Institutos Federais. (BRASIL, 2008).
A Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica está calçada numa história
construída em mais de 100 anos e, acompanha a dualidade da educação brasileira, entre o
ensino para as elites e para as massas. Em suas atividades iniciais, a educação para o trabalho
era instrumento de uma política voltada para as “classes desprovidas” (PEREIRA, 2003) e
eram atividades finalísticas, que não possibilitavam aos seus egressos almejarem o ensino
superior. Sua trajetória acompanhou a trajetória política e econômica do Brasil, sendo sempre
um instrumento para atender a demanda, maior ou menor, de mão de obra qualificada para o
mercado.
A dualidade entre ensino profissionalizante e o acadêmico começou a ser
questionada segundo Haidar e Tanuri (1999) no final da década de 1960 e início de 1970,
acompanhando o forte crescimento da economia brasileira, o “milagre econômico”
(PERREIRA, 2003, p. 59), o que segundo Silva (1999), culminou com a LDB 5692/71 que
rompeu com a dualidade existente e, de forma compulsória, tornou a Educação profissional
obrigatória no 2º grau, obrigatoriedade que não se efetivou na prática pela falta de
21
professores, estrutura física e resistência das elites. Essa obrigatoriedade caiu na década de 80
com a Lei 7.044/82, neste período o Brasil sofre com a desaceleração da economia mundial,
provocada pela crise do petróleo. Caracterizada como “década perdida”, por Pereira (2003, p.
61), a desaceleração da economia produz um forte impacto no processo de industrialização do
país que, além das consequências econômicas, sociais e políticas, atinge também o modelo de
ensino voltado para o trabalho. (PEREIRA, 2003).
A educação profissional volta a ganhar espaço com a Lei 2.208/1997, que instituiu
o Programa de Expansão da Educação Profissional - PROEP, possibilitando a criação de
novas unidades de ensino técnico federal (BRASIL, 2009a) e hoje se configura como uma das
maiores estruturas de ensino profissionalizante do Brasil. Com a ampliação das unidades
escolares, a intensificação e diversificação das atividades de ensino, oferece na atualidade
cursos profissionalizantes nas modalidades: presencial, semi-presencial e a distância, em nível
de PROEJA, ensino médio integrado, tecnológico subsequente, superior, pós graduação lato e
stricto senso.
No Estado de Mato Grosso, atualmente, existem dez Campi que fazem parte das
unidades da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica brasileira. A seguir
abordaremos, de forma breve, a história do lócus da pesquisa, o Campus Cuiabá - Octayde
Jorge da Silva, situado em Cuiabá, Mato Grosso.
2.1 O Campus Cuiabá Octayde Jorge da Silva e a Rede Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia em Mato Grosso
Iniciamos o presente tópico destacando a escassez de referenciais bibliográficos para
relatar a história desse Campi, as fontes são poucas e as existentes apresentam breves
considerações, em função da especificidade do estudo. Em se tratando da prática da Educação
Física no IFMT tal condição se faz ainda mais presente, contudo será abordado
posteriormente.
A referência de análise desse item do trabalho é o Plano de Desenvolvimento
Institucional – PDI 2009 (BRASIL, 2009), bem como os sites de alguns Campi, mais
especificamente Octayde Jorge da Silva, Bela Vista e São Vicente. A escassez de publicações
que abordem tal assunto fez com que tais documentos fossem analisados, o que sabe-se torna
a análise por vezes governamental, sempre com a visão de que o melhor sempre se faz, mas
buscamos realizar uma leitura imparcial dos fatos.
Em Mato Grosso, segundo Crudo (1999 apud KUNZE, 2006) e Sá e Siqueira (2006),
22
a educação profissional sempre teve significativa importância na organização social, seja para
manter a ordem ou na formação educacional. Tal ensino foi contemplado a partir do final da
primeira metade do século XIX, pelo Arsenal de Guerra instalado na capital Cuiabá,
mantenedor da Companhia de Aprendizes Artífices – CAA, destinada a servir de abrigo e de
instituição educacional para meninos pobres, oferecendo cursos de ferreiro, carpinteiro,
funileiro, dentre outros.
O Ensino Profissional, considerando a forte herança colonial, onde o
trabalho manual era considerado uma ação que desqualificava socialmente o
indivíduo e era destinado às camadas inferiores da sociedade, o ensino
profissional e técnico visava atender a esses segmentos. Ao lado dessa
característica mais geral, outra específica se colocava por Mato Grosso se
posicionar numa região de fronteira, contando, portanto, com um número
significativo de militares, figuras indispensáveis na proteção da raia oeste do
Império. Advindos das camadas mais baixas da sociedade, esses grupos,
ligados tanto ao Exército como à Marinha, ao mesmo tempo em que se
prestavam à defesa e manutenção da ordem, estavam constantemente
envolvidos nas desordens, seja no interior das cidades, seja junto aos
quartéis, fortalezas, fortes e prisões, construções arquitetônicas estendidas ao
longo da extensa fronteira ocidental. A renovação desse contingente era
problemática para as autoridades imperiais e provinciais, que viram na
criação dos Arsenais uma saída estratégica: enquanto instruíam e educavam
crianças e jovens, estavam reproduzindo a força necessária à defesa do
território. Dois arsenais foram criados em Mato Grosso: o Arsenal de Guerra
e o da Marinha. No primeiro funcionou uma Escola de Aprendizes Artífices;
no segundo, a Escola de Aprendizes Marinheiros. A Clientela dessas
instituições eram compostas majoritariamente, por crianças miseráveis,
abandonadas ou espontaneamente entregues pelas famílias pobres a esses
estabelecimentos. Assim, elas deixavam as ruas – lugar da desordem – e se
internavam nos Arsenais – lugar da ordem - e enquanto recebiam uma rígida
educação militar, eram instruídas nos diferentes ofícios – de ferreiro,
sapateiro, marceneiro, calafateiro, etc. Muitas dessas crianças, quando
adolescentes, optavam pela carreira militar ou ingressando nas fileiras do
Exército ou tornando se marinheiros. Esse tipo de formação tinha um
público alvo: os homens livres pobres e seus filhos. Com essa vocação, os
arsenais representavam no interior da província de Mato Grosso, importantes
mecanismos de ordenamento social (SÁ; SIQUEIRA,2006, p. 134-135).
A Rede Federal de Educação, Ciência e Tecnologia está representada, na atualidade,
em Mato Grosso, pelo IFMT, criado pela Lei Nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, como
mencionado anteriormente, teve a sua implementação dividida em duas fases, na primeira
houve a integração e transformação em Campi de seis unidades de ensino (três Centros
Federais e três unidades descentralizadas) já existentes em Mato Grosso, a saber: o Centro
Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso em Cuiabá, capital do Estado; o Centro
Federal de Educação Tecnológica de Cuiabá (antiga Escola Agrotécnica Federal de São
23
Vicente) no município Santo Antonio do Leverger; a Escola Agrotécnica Federal de Cáceres;
e as unidades de ensino descentralizadas UNED – Bela Vista, em Cuiabá, UNED – Campo
Novo do Parecis, na cidade que leva o mesmo nome e UNED – Lacerda, na cidade de Pontes
e Lacerda.
Como parte da segunda fase de expansão da Rede, entraram em atividade em 2011
mais quatro campus, sendo eles nos municípios de Barra do Garças, Confresa, Juína e
Rondonópolis.
Em Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso está uma das três instituições de
ensino da rede federal mais antiga do Brasil, juntamente com as EAA‟s do Piauí e de Goiás, a
Escola de Aprendizes Artífices de Mato Grosso - EAAMT atual IFMT, Campus Cuiabá –
Octayde Jorge da Silva foi criada pelo Decreto nº 7.566, em 23 de setembro de 1909, e
inaugurada em 1º de janeiro de 1910, oferecendo, inicialmente, para as crianças de no mínimo
10 e no máximo 13 anos de idade, o ensino profissional de nível primário, composto por um
núcleo comum, com os cursos de primeiras letras e de desenho e, por um núcleo
profissionalizante, composto pela aprendizagem dos ofícios de alfaiataria, carpintaria, ferraria,
sapataria e selaria e, posteriormente, o de tipografia (KUNZE, 2006).
Kunze (2006) afirma que esta instituição veio atender ao clamor da elite cuiabana da
época que ressentia a transferência, para Ladário e posterior fechamento, da Companhia de
Aprendizes Artífices do Arsenal da Marinha de Mato Grosso, deixando a capital desprovida
de um estabelecimento de ensino destinado a prover as “massas populares”, de arte e ofício
com a qual pudessem ser úteis a sociedade.
A lei nº 378 de 1937 autorizou a mudança do nome da EAA para Liceu Industrial,
mas foi em 05 de setembro de 1941, via Circular nº 1.971, que a EAAMT assumiu
oficialmente a denominação de Liceu Industrial de Mato Grosso - LIMT e, a partir de 1942,
passou a oferecer o ensino industrial com os cursos industriais básico e de mestria de
alfaiataria, artes do couro, marcenaria, serralheria, tipografia e encadernação (BRASIL,
2009b). Apesar da mudança do seu nome sugerir também a mudança no ramo de ensino de
artífices para industrial, os cursos oferecidos refletem a condição econômica do Estado, na
época, de produtor agrícola com baixa atividade industrial.
Em 1942, o Decreto presidencial nº 4.127 transforma o LIMT em Escola Industrial
de Cuiabá - EIC e a Lei nº 3.552, de 16 de fevereiro de 1959, implementa este Decreto dando
à EIC personalidade jurídica, autonomia didática, administrativa, técnica e financeira. Em
1965 esta recebe nova denominação, passando a se chamar Escola Industrial Federal de Mato
Grosso e, em 1968, por meio da portaria ministerial nº 331, recebe o nome de Escola Técnica
24
Federal de Mato Grosso - ETFMT (BRASIL, 2009b).
Com a reforma do ensino de 1º e 2º graus (antigo ginasial e colegial), introduzida
pela LDB nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, a ETFMT deixou de oferecer os cursos ginasiais
industriais e passou a oferecer o ensino técnico de 2º grau integrado ao propedêutico com os
cursos de Secretariado, Estradas, Edificações, Eletrônica, Eletrotécnica e Telecomunicações.
Essa reforma também permitiu o ingresso de discentes do sexo feminino nessa unidade de
ensino da Rede Federal de Ensino no Estado de Mato Grosso.
Pereira (2003) destaca que a profissionalização compulsória do ensino médio
proposta por esta Lei provocou profunda crise nas escolas de ensino médio propedêuticas,
visto que, da forma como eram dirigidas, não dispunham de corpo docente e espaços para
oficinas, específica para a formação profissional, situação contrária a das escolas técnicas que
passaram a se destacar pela qualidade da formação profissional e pelas boas colocações nos
vestibulares. Em Cuiabá, Albuquerque, Silva e Coelho (1984) apontam que um baixo número
de egressos, da então Escola Técnica, se diplomou como técnicos, contrário a isso, um grande
número de alunos deixou a escola apenas com o diploma de conclusão do segundo grau, o que
pressupõe-se que a ETFMT passou a ser procurada pelas classes sociais que não a buscavam
com vistas a uma formação profissional, mais sim, como uma boa escola preparatória para o
ingresso no ensino superior, situação semelhante ao que aconteceu com outras ETF‟s no
Brasil.
Por sua vez, em 1996, com a publicação da LDB nº 9.394, o ensino profissional
deixa de ser integrado ao propedêutico e a ETFMT passou a oferecer, separadamente, o
ensino médio (antigo propedêutico) e o ensino profissional de nível técnico (BRASIL,
2009b).
Em 2002, com oito anos de atraso, o Decreto Presidencial publicado no Diário
Oficial da União (DOU) em 19 de agosto, transforma a ETFMT em Centro Federal de
Educação Tecnológica de Mato Grosso - CEFETMT, já autorizada pela Lei n.º 8.948 do ano
de 1994. A partir de então, além do ensino médio e do ensino profissional de nível técnico e
básico, a instituição passou a oferecer o ensino profissional de nível tecnológico e a pós-
graduação em nível Lato Sensu (BRASIL, 2009b).
Com a Transformação em IFMT em 2008, por meio da Lei 11.892 de 29 de
dezembro, esse Campus passou a ser conhecido como Octayde Jorge da Silva, recebendo a
missão de oferecer, além dos cursos do CEFETMT, cursos superiores de tecnologia, cursos de
licenciatura, com vistas à formação de professores para a educação básica, sobretudo nas
áreas de ciências da natureza e matemática e, para a educação profissional, cursos de
25
bacharelado e engenharia (BRASIL, 2009b).
O nome do Campus, segundo o Reitor José Bispo Barbosa, em entrevista ao Diário
News, de 03/02/2009, foi uma homenagem prestada pelo antigo diretor do CEFET-MT,
Henrique do Carmo Barros, aprovada pelo Conselho Diretor da Instituição, ao Coronel
Octayde Jorge da Silva, nascido em 03 de fevereiro de 1926, e falecido em 1991, com 65
anos. Foi membro da Academia Militar das Agulhas Negras, chefe do Departamento de
Ensino, Vice-diretor e Diretor Interino da antiga Escola Técnica Federal de Mato Grosso. Foi
também membro do Instituto Histórico-geográfico de Mato Grosso, Membro do Conselho
Estadual de Educação e Membro da Academia Mato-grossense de Letras. Uma das suas
produções literárias, intitulada “Um estudo de história de Mato Grosso. Cuiabá, MT: Escola
Técnica Federal de Mato Grosso, de 1980.”, foi editada e recomendada pela Secretaria
Estadual de Educação e Cultura ao ensino das escolas do 1º e 2º graus da rede pública de
ensino. (BARBOSA, 2009).
Este Campus conta com a maior e melhor infraestrutura e o maior número de
professores de Educação Física entre todos os Campi do Estado de Mato Grosso, oferecendo,
na atualidade, aos alunos e servidores, 1 (um) ginásio poliesportivo coberto, 2 (duas) quadras
poliesportivas cobertas, 1 (uma) piscina de 25 metros, 1 (uma) sala de dança, 1 (uma) sala
para artes marciais, 1 (uma) sala de musculação, 1 (uma) pista não oficial de atletismo, todos
esses espaços possuem vestiários, banheiros e bebedouro, além de depósitos para material
esportivo. O quadro de professores em 2010 era composto por nove profissionais de Educação
Física, destes, duas professoras estão afastadas para doutoramento.
26
3 A EDUCAÇÃO FÍSICA NO IFMT CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE JORGE DA
SILVA
No desenvolvimento do percurso investigativo a utilização das fontes históricas,
principalmente das primárias, bem como as entrevistas e questionários, tiveram significativa
importância para uma aproximação à dinâmica histórica da Educação Física no IFMT, pois
frente ao contexto em que foram produzidas, proporcionaram a obtenção de informações
esclarecedoras que ultrapassaram o caráter meramente descritivo.
O primeiro passo de nossa trajetória foi investigar os documentos disponibilizados na
biblioteca do Instituto, onde se encontra o arquivo fotográfico que retrata, guarda e registra as
diversas etapas e mudanças pelas quais esse passou. O passo seguinte foi identificar nos
documentos do arquivo permanente do IFMT elementos acerca dos planos de ensino, planos
de aula, ficha funcional de professores, histórico escolar de alunos e estrutura curricular dos
cursos.
Por conta de diversas mudanças de local, o arquivo se encontra em condições
precárias de conservação e preservação, vários documentos estão embrulhados em papel
pardo sem identificação, espalhados por prateleiras e pelo chão, o que dificultou sobremaneira
o trabalho. Nesse local permanecemos por vários dias, no esforço de localizar e organizar, por
período, documentos que pudessem conter informações referentes aos elementos desejados. A
Secretaria Geral de Documentação Escolar (SGDE) foi nosso destino seguinte, local em que
continuamos a busca pelos elementos já descritos.
De uma história que teve seu início em 1909 e perdura até os dias atuais,
encontramos poucos documentos oficiais e fotos do período em que a instituição se chamava
Escola de Aprendizes Artífices (1910-1941). Os atuais servidores do IFMT, responsáveis
pelos departamentos citados anteriormente, afirmam desconhecer o paradeiro e existência de
documentos referentes a esse período. Na tentativa de preencher este vazio, procuramos o
arquivo público da Secretaria de Educação do Município de Cuiabá e a Secretaria de
Educação do Estado. Nesses locais fomos informados, pelos seus servidores, que os mesmos
não dispunham de documentação a respeito da instituição investigada, visto que a mesma
pertence à esfera administrativa federal.
3.1 A Certidão de Nascimento de uma Prática Inexistente – 1910 a 1941
O que apresentamos a seguir é fruto da análise de documentos e fotos do acervo do
27
IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva, e no relato de um egresso registrado por
meio de questionário com questões abertas e fechadas.
Devido a dificuldade para localizar egressos desse período, a coleta de informações
destes foi como o último passo de nossa trajetória, no entanto, as informações mais
significativas foram narradas e posteriormente anotadas, pois pela opção metodológica, não
tínhamos a intenção de gravar uma entrevista, mais o egresso fez-se muito solicito e feliz por
ter alguém para contar um pouco de sua história de vida neste estabelecimento de ensino, e
por respeito, dedicamos algum tempo a ouvi-lo.
Para apresentar e discutir a Educação Física na EAAMT 1910 – 1942,
estabeleceremos uma descrição da legislação pertinente e a introdução desta disciplina no
sistema educacional brasileiro.
Segundo Cantarino Filho (1982 apud BETTI, 2009), a Educação Física foi
oficialmente introduzida nas escolas brasileiras em 1851, por meio da reforma Couto Ferraz:
Em 1854, a ginástica se torna matéria obrigatória no primário e a dança no secundário. Em
1882, Rui Barbosa recomendou a obrigatoriedade da Ginástica para ambos os sexos, para a
escola normal e para as escolas primárias de todos os graus. No entanto, Betti (2009) destaca
que anterior a década de 1930, a Educação Física já estava presente nas escolas do Rio de
Janeiro (capital da República) e nas escolas militares, pois a prerrogativa de legislar sobre a
instrução nesses espaços era do Governo Federal, ao contrário dos Estados e Municípios,
responsáveis por legislar sobre a educação em seus territórios.
A partir da Constituição da República de 1891 a responsabilidade pelo ensino
superior e secundário passou a ser do Governo Federal e a Educação Física foi incorporada
aos programas educacionais dos Estados com o nome de “ginástica”, por meio das reformas
educacionais que começaram na década de 1920, contando com o apoio de segmentos
importantes do período, como por exemplo, os pensadores do movimento da “Escola Nova”,
que desempenharam forte influência nessas reformas e defendiam uma escola mais ativa, uma
escola do movimento e da saúde. Tal movimento contou também com o apoio das forças
armadas brasileiras, responsável pela introdução em nosso país do sistema ginástico europeu
(método Francês) que exerceu forte influência na Educação Física brasileira. Este sistema
desenvolvido pela Escola Militar Normal de Ginástica Joenville-Le-Point, na França, com
forte conotação militar, foi desenvolvido e baseado na preocupação com a segurança nacional
e fortalecimento do nacionalismo, destinado a promover o vigor físico dos soldados ou
futuros soldados (BETTI, 2009), o que se adequava ao contexto sócio-político da época.
Em Mato Grosso, a primeira tentativa de inserção da Ginástica na estrutura curricular
28
das escolas, foi feita em 1874 pelo do então Inspetor Geral dos Estudos de Mato Grosso, o
Padre Ernesto Camilo Barreto. Em defesa dessa implantação citava a presença da mesma na
estrutura curricular dos países europeus com reconhecido desenvolvimento na área
educacional, a sua importância para saúde e desenvolvimento físico, e que a escola, para
desempenhar a sua missão, não deveria educar meio homem (intelecto), mas sim o homem
todo (intelecto, alma e corpo), e daí a necessidade da aplicação da ginástica nas escolas
primárias (SANTOS, 1999).
Trinta e seis anos após essa primeira tentativa, a Educação Física, com a
denominação de Ginástica, foi introduzida no programa dos grupos escolares do Estado de
Mato Grosso, por meio da reforma educacional de 1910 (RODRIGUES, 2009). A demora
entre a primeira tentativa e a sua implantação se deu pela resistência à inserção e a prática da
Ginástica, como em outros lugares do Brasil, feita pela população economicamente
privilegiada que tinha acesso à educação, que buscava na preparação intelectual o ingresso
nas universidades, associando o esforço físico da ginástica, ao trabalho braçal dos escravos e
das classes sociais mais baixas (SANTOS, 1999).
A estrutura física dos prédios escolares em Cuiabá, voltados para formação
intelectual das elites, foi outro fator que dificultou a implantação da Educação Física em Mato
Grosso e na EAAMT.
A instrução pública cuiabana durante todo o período imperial desconheceu
estruturas físicas escolares especificamente criadas para esse fim. [...] Em
geral, as aulas funcionavam em espaços “híbridos”, visto que eram
realizadas nas casas dos professores, em cômodos separados e
disponibilizados, nos horários de estudo, para as atividades pedagógicas.
(PAIÃO, 2006, p. 81).
A precariedade das instalações das escolas públicas se estendia também às escolas
particulares.
Segundo o Inspetor Geral Pe. Barreto, em relatório de 1874, a maioria das
escolas públicas primárias funcionava em casas particulares, “sem
disposições adaptadas ao ensino, acanhadíssimas na maior parte, não
convenientemente eqüidistantes e todas elas sem as proporções higiênicas e
pedagógicas” (MATO GROSSO, 1874). Essa, aliás, era a realidade física da
maioria das escolas regidas por professores particulares em Cuiabá. (PAIÃO,
2006, p. 82)
Todavia, a obrigatoriedade dos exercícios militares, estabelecida no “[...] artigo 170
do regulamento federal de 8 de maio de 1908 expedido pela lei nº 1860 de 4 de janeiro do
29
mesmo ano [...]” (SANTOS, 1999, p. 95), indica que essa prática deveria existir na EAAMT,
uma vez que era uma escola destinada a homens com mais de treze anos de idade.
Em consonância com este dispositivo legal, o regimento interno dos grupos escolares
de Mato Grosso de 1910, em seus artigos 46, 47, 48 e 49 contemplam e orientam a prática de
exercícios militares para os alunos maiores de 16 anos e da ginástica nos grupos escolares do
Estado.
Art.46 – Como meio de estímulo poderão ser criados batalhões escolares sob
a condição de que os postos sejam distribuídos pelos alunos que mais se
distinguirem por seu comportamento, aplicação e garbo militar.
Art.47 – [...]
Art.48 – Exercícios de ginástica serão feitos diariamente nas classes ou pelo
menos três vezes por semana nos pátios de recreio.
Parágrafo único: quando os exercícios e o local permitirem, poderão ser
reunidas duas ou mais turmas.
Art.49 – Os exercícios calistênicos serão feitos, de preferência na secção
feminina. (REGIMENTO INTERNO DOS GRUPOS ESCOLARES DE
MATO GROSSO, 1910 apud SANTOS, 1999, p. 93). (sic.)
Outro dado que reforça nossa hipótese é a figura 1, que pode ser encontrada no
acervo fotográfico do IFMT, e é apresentada por Kunze (2006, p. 88), onde alunos da então
EAAMT estão perfilados e fardados para desfile cívico militar de 7 de setembro de 1914,
indicando a possível existência da prática da ordem unida.
Esta hipótese se baseia ainda, na proximidade do militarismo com a Educação Física
no Brasil, relação existente desde a reforma do ensino realizada por Benjamim Constant no
Distrito Federal em 1890 quando determina “[...] o conteúdo de algumas matérias do primário
e secundário incluía marchas, evoluções militares, manejo de arma de fogo e exercícios de
tiro ao alvo” (BETTI, 2009, p. 83).
30
Figura 1 - Alunos do EAAMT perfilados para desfile cívico 1914
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
Santos (1999) analisando a Educação Física em Mato Grosso nesse período, destaca
que os exercícios militares aplicados na Escola Liceu Cuiabano, instituição estadual, se
diferenciavam da proposta Francesa para meninos de 9 a 13 anos, apresentada no relatório da
professora Leopoldina Tavares Portocarrero, constituídos por exercícios de marcha,
alinhamento, formação de pelotões, tiro, princípios dos diferentes passos militares,
alinhamento, contramarchas, paradas a voz de alto e mudança de direção, restringindo-se a
“[...] exercícios de manobra a que são obrigados os alunos maiores de 16 anos matriculados
nas aulas daquele estabelecimento.” (SANTOS, 1999, p. 96).
Os elementos apresentados, legislação e foto, são importantes indícios para afirmar a
existência dos exercícios pré-militares, porém, como orienta Chartier (1991), é necessário que
tomemos cuidado coma as possíveis incompreensões da representação, para não incorrermos
em uma relação arbitrária entre o signo e o significado e considerar os signos visíveis como
indícios seguros de uma realidade que não o é, pelo menos, é o que se apresenta na narrativa
do egresso Otávio Florisvaldo da Silva, que ingressou na escola em 1940, ao ser questionado
sobre a prática da ordem unida, informou que de 1940 a 1944, para participar do desfile cívico
31
de 7 de setembro, treinavam ordem unida, com algumas semanas de antecedência ao desfile, e
estes eram ministrados pelo porteiro da escola.
A infraestrutura da EAAMT é outro fator que sugere a não existência da prática da
Educação Física e dos Exercícios Militares. Segundo Kunze (2006) o curto espaço de tempo
entre a aprovação da criação das EAA‟s em 23 de setembro de 1909 e a entrada em atividade
das mesmas, bem como a falta de imóveis adequados do governo federal nos estados, motivou
em sua maior parte, parcerias entre o governo federal e os governos estaduais que deveriam
disponibilizar a infraestrutura para que essas instituições fossem instaladas e posteriormente
doadas ao governo federal.
A EAAMT, inaugurada em 1º de janeiro de 1910, foi instalada numa chácara
residencial nas proximidades da região central de Cuiabá, onde até os dias atuais funciona o
IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva, alugada pelo estado e cedida para o governo
federal. O imóvel media 10.179 m² e, por ter sido construído para uso domiciliar, não
dispunha de estrutura física adequada para a implantação e funcionamento de um
estabelecimento de ensino profissional que, além das salas de aula, necessitava de espaço para
a instalação das oficinas de ofícios. A precariedade das instalações perdurou por um bom
tempo, pois como o imóvel era de propriedade particular, a EAAMT não podia receber
recursos federais para construção e reformas, situação que perdurou até 1930.
Apesar do tamanho da área disponibilizada, ao descrever a precária estrutura física
do prédio onde a EAAMT foi instalada, Kunze (2006), mesmo não tendo a preocupação de
investigar a Educação Física, não relata espaço para a prática de atividade física, apresentando
assim, o primeiro elemento para afirmarmos que está prática, que por força de Lei deveria
existir, não fazia parte da rotina da Escola.
Rodrigues (2009) ao analisar as mensagens dos diretores de algumas escolas destaca
que, por falta de espaço para a prática da ginástica nas escolas, estas eram realizadas por meio
de passeios campestres.
[...] Limitei esta parte do programa a passeios campestres, os quaes, além de
offerecer aos alunos um campo mais hygienico para a bôa respiração e mais
próprio para os jogos infantis, tornavam mais proveitosas, por serem
práticas, as lições de coisas. Este systema de gynastica é hoje adaptado nos
países de Educação adiantada [...] (RELATÓRIO de 1911 apud
RODRIGUES, 2009, p. 88). (sic).
Outro elemento que indica a não existência de práticas de atividade física na
EAAMT, é o fato de que estas, não faziam parte do Programa de Ensino do Curso
32
Profissional Primário -PECPP (1910 – 1926), apresentado por Kunze (2006).
Importante também são os dados apresentados pelos Boletins de Informação da
Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação, do Ministério da Educação e Saúde
Pública, composto por 10 páginas imprensas na frente e verso das folhas, estes relatórios que
podem ser localizados no arquivo permanente do IFMT, informam nas edições de 1934 a
1944, a não existência da Educação Física e exercícios militares (figura 2).
O PECPP da EAAMT foi reformulado em 1926 pelo Ministério da Agricultura,
Indústria e Comércio - MAIC, que com o intuito de unificar os programas de ensino da Rede
Federal, criou e submeteu todas as escolas da Rede a um currículo único. A nova estruturação
ampliou o tempo de duração do curso profissional primário de quatro para seis anos e o
organizou em dois níveis, o Elementar e o Complementar: o primeiro nível voltado para a
formação dos “primeiros conhecimentos referentes ao ofício, enquanto uma aprendizagem
preparatória para a profissão, complementada pelo ensino de humanidades elementares, mais
noções de ciências naturais, lições de Coisas e conhecimentos cívicos” (KUNZE, 2006, p.
91); o segundo nível se voltava para o ensino “[...] dos conhecimentos mais especializados
dos ofícios que fossem mais aplicáveis ao processo produtivo. (KUNZE, 2006, p. 91, grifo
nosso). Nessa reformulação, em seu artigo 5º, a Ginástica é introduzida como disciplina
obrigatória a ser desenvolvida por todas as EAA‟s.
Desse modo, a “certidão de nascimento” da Educação Física do atual IFMT, é data
de 1927, com a Ginástica oficialmente registrada no PECPP da EAAMT, para o período
compreendido entre 1927 e 1941, introduzida na estrutura curricular do primeiro e segundo
ano do curso primário (KUNZE, 2006), o que atendia ao disposto na Reforma da Educação de
Mato Grosso de 1927.
No sentido de “formar bons cidadãos”, eram oferecidas aulas de educação
militar, duas vezes por semana aos alunos do Liceu Cuiabano, do Liceu
Salesiano e Artes e ofícios e da EAAMT. Instituídas pelo Dec. 6947/1908
que exigia o serviço militar obrigatório nos estabelecimentos equiparados.
(ALVES, 1998, p. 77, grifo do autor).
No entanto, os Boletins de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística
e Divulgação, do Ministério da Educação e Saúde Pública dos anos de 1934 a 1944,
apresentam na folha II (figura 2) situação divergente da previsão legal supracitada, pois, nos
itens seis (6) e sete (7) deste documento podemos observar a negativa às respostas sobre a
existência das aulas de Educação Física e da instrução militar.
33
Figura 2 – Folha I e II do Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação, do
Ministério da Educação e Saúde Pública do ano de 1934.
Fonte: Arquivo Permanente do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva.
Também podemos observar a pouca importância dispensada à ginástica e aos
exercícios militares em outras escolas de Cuiabá, visto que o regulamento de 1916 do Liceu
Cuiabano em seus artigos 38º e 73º orientavam que as notas obtidas em desenho e ginástica
34
não deveriam reprovar e o exame seria através de prova prática. (SANTOS, 1999, p. 95)
Na década de 1920 a “Educação Física voltava sua preocupação para a ortopedia
como arte de correção das deformações que assombravam setores privilegiados da
sociedade”, Carvalho (1997, apud NEIRA; NUNES, 2008, p. 107) o que se adequava ao
ensino secundário propedêutico das elites da época e foi transferido para o ensino
profissionalizante com uma nova função, formar uma geração forte para suportar a grande
carga de trabalho exigida pela industrialização, trabalhar sem queixar e obedecer. A Educação
Física denominada higienista se preocupava com os hábitos de higiene, a saúde e o
desenvolvimento físico e moral a partir do exercício.
A atenção do governo na área da educação, nesse período, estava voltada para a
educação das elites (ensino propedêutico) e não das classes trabalhadoras (ensino
profissionalizante), destacamos a seguir duas significativas reformas educacionais e suas
contribuições para a Educação Física.
A Reforma Campos de 1931 deu significativa atenção ao ensino secundário (elite) e
previa a expedição, pelo Ministério da Educação e Saúde, dos programas do ensino
secundário e das instruções sobre os métodos de ensino (BETTI, 2009), segundo o autor
foram expedidos programas de Educação Física para o curso fundamental do ensino
secundário e inspetores foram designados para verificar a aplicação das normas de aplicação e
orientar a prática dos exercícios de Educação Física, o autor salienta ainda que a mesma
atenção não foi dada ao ensino primário profissional e comercial.
Em 1931, a ideia de progresso por meio do desenvolvimento físico dos alunos,
motivou a criação do Departamento de Educação Física em Cuiabá, com a finalidade de
difundir, unificar e controlar a prática da Educação Física nos estabelecimentos de Ensino do
Estado, bem como manter cursos durante as férias escolares, para habilitar professores a
ministrar aulas de Educação Física, segundo o método francês (ALVES, 1988), que no
mesmo ano foi oficializado para as escolas secundárias, aumentando ainda mais a relação
entre o sistema educacional e o sistema militar. A responsabilidade pela tradução deste
método foi da Escola de Sargentos da Infantaria, considerada um dos principais centros de
formação de professores para a Educação Física militar e civil da época (BETTI, 2009).
A Reforma Capanema de 1934 manteve a preocupação com o ensino secundário (das
elites) e a sua separação do ensino profissional (dos trabalhadores), reforçando a dualidade
entre trabalho intelectual e manual. Essa reforma tornou a Educação Física obrigatória para os
alunos com até 21 anos de idade, do ensino secundário, industrial, comercial e agrícola. A
obrigatoriedade reforçou a inclusão da Ginástica nos PECPP das EAA‟s.
35
As duas reformas mencionadas demonstram a atenção dispensada à Educação Física e
a preocupação do governo com a educação das elites, o que justifica a adoção da Ginástica,
uma vez que esta se prestava a atender os objetivos estabelecidos na Portaria Ministerial nº
70, que dentre outros aspectos, previa como objetivos para a Educação Física “[...]
desenvolver integralmente o organismo, corrigir as “constituições franzinas”, revigorar
energias orgânicas e prevenir enfermidades [...]” (BETTI, 2009, p. 82, grifo do autor).
Apesar de oficialmente presente na estrutura curricular da EAAMT, ao analisarmos
os documentos do arquivo permanente do IFMT, localizamos fichas de registro individuais de
alunos (figura 3) desse período. Nelas não encontramos registros da Educação Física como
matéria de ensino, nem tão pouco atribuição de nota, o que sugere que pouca importância era
dada a disciplina, ou ainda, reforça os indícios da não existência de sua prática.
Figura 3 – Ficha individual de aluno da EAAMT (193?)
Fonte: Arquivo permanente do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva.
Esse período de centralismo e intervencionismo na sociedade civil é marcado pelo
rompimento da velha ordem social oligárquica e a implantação do capitalismo no Brasil pelo
governo de Getúlio Vargas, conhecido como “Estado Novo”. Betti (2009) destaca ainda que,
neste período a Educação Física recebe o apoio de vários segmentos da nova organização
social, econômica e política e é impulsionada principalmente pelos ideais dos pensadores da
Escola Nova, e o apoio e interesse dos militares, que viam-na como um importante
36
instrumento para se alcançar a eugenia e a preparação militar para a defesa nacional.
A Carta Constitucional de 1937 passa a considerar o ensino profissional como
“primeiro dever do Estado” (HAIDAR; TANURI, 1999, p. 90). Essa atenção, no entanto, não
se traduziu em canalização de recursos nem esforços para sua expansão, estes continuaram
direcionados para a preparação das elites, ou seja, ao ensino secundário.
A criação do Ministério da Educação e Saúde Pública - MES substitui o MAIC nas
atribuições de gerir a saúde pública e assistência hospitalar e a educação, que pela
Constituição da República de 1934 atribuiu à União, a competência para fixar o plano
nacional abrangendo todos os graus e ramos de ensino (HAIDAR; TANURI, 1999).
Na Educação Física pode-se verificar alguns reflexos dessas mudanças, como por
exemplo, as mudanças no enfoque dado à formação voltada para as questões de
desenvolvimento econômico (economia de energia), que passam a ser relacionadas a partir de
então com questões de saúde pública (higiene).
A constituição da República de 1937 torna a Educação física obrigatória para as
escolas primária, normal e secundária.
Em 1940, o Decreto-Lei 8072 dispôs sobre a obrigatoriedade da Educação Física na
infância e na juventude, juntamente com a educação moral e cívica, com o objetivo contribuir
para a formação da consciência patriótica e responsabilidade pela segurança da pátria (BETTI,
2009)
Betti (2009) também destaca que nesse período, pouca atenção foi dada ao ensino
profissionalizante destinado as classes baixas, ao analisar a exposição de motivos da reforma
de 1942, feita pelo então Ministro Gustavo Capanema. Este enfatiza que o ensino se destinava
a formação dos “predestinados” a formar a elite dirigente do país, “[...] homens que deverão
assumir as responsabilidades maiores dentro da sociedade e da nação” (BETTI, 2009, p. 76),
ou seja um ensino elitista, que passou a ser desejado e cobrado pela nova classe média,
oriundo do novo modelo econômico que buscava ascensão social, o que provocou o
crescimento do ensino tradicional propedêutico em detrimento do ensino profissionalizante,
associado à formação das classes sociais mais baixas (BETTI, 2009).
Durante todo esse período de significativas transformações no ensino profissional,
inclusive no nome das Instituições da Rede Federal de Ensino, o PECPP da EAAMT,
reformulado em 1926, não acompanhou estas mudanças e perdurou até 1941, e a ginástica,
continuou sendo oferecida no primeiro e segundo ano do curso primário como prática
educativa, não sendo reconhecida como disciplina, o que justifica o fato de não constar na
ficha individual do aluno, conforme figura 2.
37
O currículo, como afirmam alguns teóricos, deve ser entendido a partir dos conflitos
entre as classes e as significações de dominação e subordinação, como o resultado dos
conflitos, acordos e alianças entre grupos sociais, de modo que para a classe média que
procurava por meio da educação propedêutica a formação necessária para ingressar na
universidade, a ginástica como forma corretiva tinha nesse momento maior importância e para
o estado, que dava pouca importância ao ensino técnico, a preocupação era com o
desenvolvimento do patriotismo e nacionalismo nos jovens estudantes e, como afirma Betti
(2009), a Ginástica Francesa havia sido introduzida nas escolas brasileiras também com este
fim, logo não se fazia necessária nenhuma mudança.
Em 1940 relatório do Departamento de Educação Física do Ministério de Educação e
Saúde, apresenta que a Educação Física no ensino industrial acontecia com pequena
frequência, acompanhada de assistência médica deficiente e ausência de materiais e pessoal
especializado. Esta preocupação, segundo Betti (2009), se justificava pelo fato de que, apesar
da educação para o trabalho incluir, na visão dos educadores da Escola Nova, a “[...]
aquisição de hábitos higiênicos, dentre os quais o mais importante é o hábito do exercício
fácil de adquirir [...]” (AZEVEDO, 1931, apud BETTI, 2009, p. 96), na infância e na
adolescência. Este ramo de ensino não era prioritário nas políticas públicas da educação,
voltadas para a formação propedêutica das elites.
Os documentos encontrados, bem como o relato do egresso Otávio Florisvaldo da
Silva, indicam a inexistência da prática regular, bem como de infraestrutura para a prática de
Educação Física e exercícios militares.
Como documento oficial apresentamos a folha IV (figura 4) do Boletim de
Informação, da Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação, do Ministério da
Educação e Saúde Pública do ano de 1934, sendo possível verificar a resposta negativa à
pergunta sobre a existência de instalações para a Educação Física e essa resposta se repete no
ano de 1944.
Este Documento é endossado pelo relato do egresso Otávio Florisvaldo da Silva, que
afirma que nos anos de 1940 e 1941, não existia a prática de Educação Física e nem de
exercícios pré-militares, não existindo espaço físico para essas práticas.
38
Figura 4 - Folha IV do Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação, do
Ministério da Educação e Saúde Pública do ano de 1934.
Fonte: Arquivo Permanente do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
A falta de professores e mestres de ofícios habilitados era uma das dificuldades
encontradas pela maior parte das EAA‟s que se encontravam no interior do país. Isso fez com
que, apesar do decreto de criação destas instituições prever a contratação de professores com
formação normalista para o ensino primário e mestres para as oficinas, várias EAA‟s
contratassem professores sem a habilitação necessária. Na EAAMT não foi diferente, a
relação de professores contratados em 1910, apresentada por Kunze (2006), não faz menção a
professor ou instrutor de ginástica ou exercícios militares e os documentos oficiais
encontrados bem como o relato do egresso afirmam a não existência da Educação Física e dos
exercícios pré-militares no período entre 1934 até 1944, o que contradiz as normas legais
apresentadas, nos deixando apenas com as orientações legais descritas anteriormente, e que
permitem apenas apresentar as seguintes hipóteses:
A falta de documentos referentes aos professores de Educação Física nesta
Instituição aponta para a seguinte situação: Apesar da ginástica ser uma das atribuições dos
professores normalistas, a EAAMT era uma escola destinada apenas para homens acima de 13
anos, e para estes, como apresentamos nas legislações citadas anteriormente, era previsto pelo
39
método francês, os exercícios militares, o que pressupõe a presença de um professor/instrutor
do sexo masculino, no entanto, a vaga de normalista era ocupada pela professora Ana Isabel,
o que levanta duas hipóteses, a primeira é de que esta “prática educativa” prevista no PECPP
a partir de 1927 , não existia, e a segunda, é que tenha sido ministrada por militares a exemplo
do que aconteceu no Liceu Cuiabano e está descrito no regimento interno dos grupos
escolares, “sobre os exercícios militares, [...] que estavam sob a responsabilidade do instrutor
militar aspirante a oficial João Ferreira Mendes [...]” (SANTOS, 1999, p. 95). Esta hipótese é
reforçada ainda pelo fato da Professora Ana Isabel não ter formação normalista, o que sugere
que não tinha formação necessária para desenvolver as aulas de Ginástica francesa e
exercícios militares recomendados para a época.
A respeito das aulas de Educação Física na EAAMT entre os anos de 1910 a 1944, se
apresenta uma tensão entre as práticas representadas pelos documentos da instituição e da
legislação em vigor na época, que não permitiu levantar com exatidão de que modo as
mesmas ocorriam, uma vez que segundo Betti (2009), a portaria nº 70 do MES recomendava
para cada série objetivos, normas e diretrizes baseadas no método francês, adotado pelo
Centro de Educação Física do Exército, o que poderia justificar o que foi apresentado na
figura 1. Na legislação educacional do Estado, encontramos normas referentes à ginástica e
exercícios militares, sugerindo a hipótese de prática de duas sessões semanais de atividades
pré-militares, aplicadas por oficiais do exército, em contraposição ao exposto, as práticas
representadas pelos documentos e relato do egresso, apresentam elementos de que não existia
a prática de Educação Física e exercícios militares entre os anos de 1933 a 1944.
3.2 A Educação Física na Escola Industrial de Cuiabá 1942 – 1965: da previsão legal à
efetivação pela prática
Como observado anteriormente, apesar da lei nº 378 de 1937 ter autorizado a
mudança do nome da EAA para Liceu Industrial, na prática a EAAMT só assumiu
oficialmente a denominação de Liceu Industrial de Mato Grosso - LIMT em 05 de setembro
de 1941, via Circular nº 1.971, passando a partir de 1942 a oferecer o ensino industrial com
os cursos industriais básicos e de mestria de alfaiataria, artes do couro, marcenaria,
serralheria, tipografia e encadernação. Ainda em 1942, o Decreto presidencial nº 4.127,
transforma o LIMT em Escola Industrial de Cuiabá - EIC e a Lei nº 3.552, de 16 de fevereiro
de 1959, implementa este Decreto dando à EIC personalidade jurídica, autonomia didática,
administrativa, técnica e financeira (BRASIL, 2009b).
40
Nota-se que as mudanças na legislação federal levaram muito tempo para se efetivar
em Mato Grosso e mesmo após a alteração do nome e modalidade de ensino de artífices para
industrial, os cursos oferecidos continuaram sendo os de artífices, isso aconteceu, segundo Sá
e Siqueira (2006), devido a vocação agropastoril e a diminuta quantidade de indústrias no
Estado neste período.
Sobre as aulas de Educação Física, enquanto componente curricular, podemos
afirmar baseados em documentos do arquivo permanente do IFMT, como na folha II, do
Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação, do
Ministério da Educação e Saúde Pública (figura 5), que apesar de estar prevista em lei e no
Programa de Ensino desde 1927, na prática, a Educação Física e os exercícios pré-militares só
começaram a ser desenvolvidos ano de 1945.
Figura 5 - Folha II do Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação, do
Ministério da Educação e Saúde Pública dos anos de 1945.
Fonte: Arquivo Permanente do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
Contribuem ainda para essa afirmação os manuscritos (figura 6 e 7), encontrados em
anexo ao Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação,
do Ministério da Educação e Saúde Pública, do ano de 1945.
41
Figura 6 - Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação, do Ministério da
Educação e Saúde Pública, anexo, 1945.
Fonte: Arquivo Permanente do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
Na figura 6 podemos verificar que nos anos de 1943 e 1944, não existe menção a
disciplina de Educação Física ou exercícios militares.
Além desses documentos, em sua resposta ao questionário, o egresso Otávio
Florisvaldo da Silva confirma o início das práticas de Educação Física e exercícios pré-
militares a partir do ano de 1945, ao responder a questão: Em sua opinião, a Educação Física
foi importante em sua formação?
Sim, mas infelizmente eu tive apenas o último ano de aproveitamento desta
matéria em minha formação nesta escola. (OFS, Egresso 1).
Como já informamos este egresso estudou entre os anos de 1940 e 1945, o que não
deixa dúvidas sobre o fato que pelo menos entre os anos de 1934 a 1944 não existiu a prática
da Educação Física e dos exercícios pré-militares neste estabelecimento de ensino.
É a partir de 1945 que começamos a encontrar documentos que fazem referência à
Educação Física, como a figura 7, onde a Educação Física aparece na relação de “disciplinas”
e, a frente desta, o nome do Professor Dillo, do qual trataremos a frente.
42
Figura 7 - Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação, do Ministério da
Educação e Saúde Pública, anexo, 1945.
Fonte: Arquivo Permanente do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
Esse documento ganha força da verossimilhança na narrativa do egresso Otávio
Florisvaldo, quando afirma que “sempre” participou da Educação Física, consideremos aqui
que o mesmo só teve a disciplina em 1945, e ao justificar a sua resposta reforça a novidade da
matéria, escreveu:
Era uma nova modalidade de aprendizado. (OFS, Egresso 1).
A materialização da prática da Educação Física, (reforçando, até aqui, encontrada
apenas na previsão legal) é apresentada pelo egresso Otávio Florisvaldo da Silva ao assinalar
em ordem de importância os fatores pelo qual participava das aulas, sendo que, a
“obrigatoriedade”, previsão legal, foi a primeira, seguida pelo fato de “estar com os amigos”,
aponta em terceiro lugar o fato de gostar de atividade física, em quarto que as aulas eram
prazerosas, em quinto que as aulas era uma opção de lazer e em último o prestígio que
participar das equipes dava com os colegas.
43
O egresso classifica as suas aulas de Educação Física como prazerosas e ao justificar
relata que aconteciam:
Disputa de força entre os colegas do mesmo porte físico, corridas ou saltos a
distância. (OFS, egresso 1).
Além desses elementos, a lembrança das atividades desenvolvidas nas aulas não
deixa dúvida da prática da Educação Física, o egresso descreve que aprendeu nas aulas,
“Esporte, brincadeiras, a importância e benefício da atividade física, luta e ordem unida”, já o
egresso Severiano do Carmo destaca a “ordem unida e a importância e benefício da atividade
física”, e o egresso Benedito Epitácio de França, “ordem unida e esporte”.
Essas informações demonstram que não só a ginástica calistênica estava presente
enquanto método de ensino, mas também o esporte já fazia parte das atividades desenvolvidas
nas aulas de Educação Física desde o ano de 1945.
A partir de 1947, após a doação do terreno onde estava instalada a EAAMT ao
governo federal, quando funcionava com o nome de Liceu Industrial de Mato Grosso, no
período do Estado Novo, esta pôde receber recursos para investimento em sua estrutura física,
reivindicação constante dos diretores nas várias cartas destinadas ao ministério, as quais
relatavam as precárias condições das instalações das oficinas que iam desde a insalubridade
(iluminação, ventilação, temperatura) a higiene (banheiros, água tratada). Contudo, em Kunze
(2006), nenhuma reivindicação foi encontrada sobre estrutura física para a Educação Física.
Para descrever a inexistência de infraestrutura adequada para a prática da Educação
Física na EIC, apresentamos os relatos de três egressos da EIC, e documentos oficiais que
encontramos nos arquivos permanente e fotográfico do IFMT.
O Senhor Otávio Florisvaldo da Silva, aluno do curso de Forja em Serralheria entre
os anos de 1940 e 1945, escreveu em seu questionário que o espaço para a Educação Física
não era apropriado,
[...] era um espaço muito reduzido para a prática de esportes, pois era um
pátio quadrado de aproximadamente 20 m de lado e de terra batida. (OFS,
Egresso 1).
Esse relato é confirmado pelas informações encontradas na folha IV (figura 8), dos
Boletins de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação, do
Ministério da Educação e Saúde Pública dos anos de 1942 a 1945, que confirma a negativa
sobre a existência de instalações para a Educação Física, ou seja, a mesma resposta desde
1934, como apresentada anteriormente.
44
Figura 8 - Folha IV do Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação, do
Ministério da Educação e Saúde Pública dos anos de 1943.
Fonte: Arquivo Permanente do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
Para reforçar este documento apresentamos duas fotos aéreas desta instituição (figura
9 e 10), que por falta de data e, considerando informações apresentadas a seguir, deduzimos
que: a figura 9 seja da década de 50, nesta, podemos verificar uma grande área sem nenhum
tipo de edificação no canto superior direito, área que atualmente estão os espaços destinados à
prática da Educação Física, como apresentaremos a frente.
45
Figura 9 – Vista aérea da EIC, 195?
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
Para sugerirmos uma data aproximada para a figura 9, tomamos como referência o
documento intitulado histórico (figura 11), encontrado no arquivo permanente do IFMT,
referente a relatório de obras de infraestrutura datado do ano de 1949 e o questionário para
levantamento de dados sobre as escolas, do Ministério da Educação e Cultura, Diretoria do
Ensino Industrial, de 24 de abril de 1968, disponível no arquivo permanente do IFMT. Nesse
documento é apresentado como espaço para Educação Física, uma praça de esporte com 8.988
metros quadrados para as seguintes especialidades: “futebol de campo, futebol de salão, bola
ao cesto, volley-ball, atletismo” (sic), e como pode-se observar na figura (9), não existe
nenhuma destas edificações, ao contrário, no canto superior direito existia uma grande área
sem edificações. Essas observações possibilitam afirmar que esta foto é anterior a 1968. Pois,
como é possível verificar em foto mais recente, nesse espaço sem construção, na atualidade
existe a praça de esportes com ginásio coberto, piscina e quadra coberta (figura 10).
46
Figura 10 – Vista aérea da ETFMT, 199?
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
Outro elemento que justifica a afirmação de que não existia espaço físico para a
prática de Educação Física, é a constatação na figura 8 de que não existem as construções
consideradas necessárias para o bom funcionamento do estabelecimento, descritas no item 3
da figura 11. Este documento apresenta ainda, que estas demandas já dispunham de projetos e
orçamento para a sua execução, no entanto, podemos observar que a Educação Física, por
meio da construção da praça esportiva, aparenta ser a terceira na prioridade de construção, e
como veremos no relato dos egressos desse período, levou bastante tempo para ser
concretizado. Podemos verificar ainda que dispunha do menor aporte financeiro, o que pode
sinalizar a pouca importância dada a esta área de ensino pela direção da escola.
47
Figura 11 – Relatório de obras de infraestrutura, 1949. Fonte: Arquivo permanente do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
Esta suspeita encontra eco na fala do senhor Benedito Epitácio de França, egresso do
ano de 1958 do curso de Tipografia, que escreveu em seu questionário que o espaço físico
destinado as aulas de Educação Física.
Não era apropriado p/ a pratica, a não ser nos esportes que algumas vezes
nos deslocávamos p/ o Colégio Estadual de Mato Grosso, onde eram
realizados jogos de futebol. (BEF, Egresso 2).(sic.)
O senhor Severiano do Carmo, egresso do curso de Tipografia no ano de 1963,
reforça a falta de infraestrutura ao descrever o espaço onde fazia as suas aulas:
Num espaço aberto da paróquia da igreja da Boa Morte e em rua próxima a
escola. (SC, Egresso 4).
As fotos, ao dialogar com os relatórios apresentados, por si só apresentam elementos
suficientes para afirmarmos que a Educação Física, continuava sem infraestrutura para as suas
práticas, afirmação reforçada pelos relatos dos egressos desse período e pelo o Senhor
Olímpio Santana de Almeida, servidor do IFMT e egresso da Escola Industrial Federal de
48
Mato Grosso, aluno da Escola Industrial de Cuiabá, no período de 1963 a 1965, ao ser
questionado sobre quais eram os espaços para as aulas de Educação Física, respondeu:
[...] não lembro de já ter o campo, eu era da equipe de atletismo e nós
corríamos na rua mesmo, eram quatorze (14) voltas no quarteirão da escola,
eu lembro que, nós fazíamos ginástica, pulo chinelo, apoio, onde hoje é a
sala de projeções, lá era tudo aberto, sem parede. (OSA, egresso 3).
Pelo que foi exposto, podemos afirmar que no período em que esta escola recebeu a
denominação de Escola Industrial de Cuiabá (1942 a 1965), não dispunha de espaço adequado
para a prática de atividade física em suas dependências.
Outro importante elemento para afirmar a efetivação da Educação Física são os
registros da contratação de professores.
O Egresso Otávio Florisvaldo da Silva, em conversa não gravada sobre o tema da
pesquisa, informou que o seu professor de Educação Física foi o senhor Dillo, e que o mesmo
trabalhou pouco tempo na escola, devido a um a acidente sofrido ao tentar dar um salto,
fraturando a coluna e ficando com paralisia.
Para identificar quem foram os Professores, primeiramente apresentamos a portaria
nº 13 de 22 de junho de 1948 (figura 12), assinada pelo diretor da EIC, destinada aos
professores de Educação Física e Canto Orfeônico, dando ciência aos mesmos, da alteração
do Decreto Lei 4.073 de 1942, pela Lei nº 28 de fevereiro de 1947, ampliando a
obrigatoriedade da Educação Física para os alunos de ambos os sexos com até 21 anos de
idade, e da Educação Musical para alunos com até 18 anos de idade. Chama a atenção o fato
dessa portaria ter sido publicada mais de 1 (um) ano após a aprovação da Lei nº 28, e 11
(onze) anos após a promulgação da constituição da república de 1937, a primeira a fazer
referência a Educação Física e que, em seu artigo 131, determinava a obrigatoriedade da
Educação Física.
49
Figura 12 – Portaria nº 13 de 22 de junho de 1948 – obrigatoriedade da Educação Física, 1948.
Fonte: Arquivo permanente do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
Chama atenção, além da demora entre a promulgação da Lei e o conhecimento dado
aos professores pela direção da escola, o fato de que a única mudança entre as duas
legislações é a retirada da Lei nº 28, da educação pré-militar para os homens, presente no Art.
26, § 1º do Decreto Lei 4.073 de 1942 “§ 1º Aos alunos do sexo masculino se dará ainda a
educação pré-militar, até atingirem a idade própria da instrução militar”.
Esse documento é, mais um elemento que comprova que Educação Física, apesar de
constar do PECPP do período e na legislação educacional, não existia na prática.
50
As duas assinaturas que constam neste documento (figura 12) nos levaram à
Professora Maria de Lourdes Oliveira, professora de Canto Orfeônico e ao Professor Dillo
Pinto de Moraes, sendo deste o mais antigo registro de profissional da área de Educação
Física encontrado no arquivo permanente do IFMT.
Vale ressaltar que o professor Dillo foi lembrado apenas pelo egresso Otávio
Florisvaldo da Silva que no período da pesquisa tinha 82 anos de idade, e por mais nenhum
dos entrevistados, o que mais uma vez reforça nosso objetivo, pois entendemos que a História
é feita por homens e mulheres e segundo Goellner (2007, p. 38), a “História feita pela ação de
diferentes homens e mulheres que, a seu tempo, realizaram ações que consolidaram estas
práticas influenciando, de certa forma, o que hoje vivenciamos”.
Nos registros do arquivo permanente da Divisão de Pessoal do atual IFMT consta
que o professor Dillo Pinto de Moraes foi contratado em 17 de maio de 1945, como instrutor
de Educação Física, no entanto, não consta registro de sua aposentadoria. Consta ainda que o
mesmo faleceu em 10 de fevereiro de 1987.
Com base no registro do seu nome nos documentos encontrados, podemos afirmar
que este trabalhou na instituição até 1948.
De acordo com o Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações,
Estatística e Divulgação, do Ministério da Educação e Saúde Pública, do ano de 1945, folha II
(figura 13), encontrado no arquivo permanente do IFMT – Campus Cuiabá – Octayde Jorge
da Silva, item 10, última linha do quadro, o Professor Dillo Pinto de Moraes era natural do
Espírito Santo e possuía diploma de Instrutor de Educação Física, o item (6) seis (situação) do
quadro, informa que não era efetivo e sim interino e podemos observar no item (5) cinco
(categoria), que é o único descrito como instrutor (“Inst. Ed. Física”), e não professor como os
demais.
51
Figura 13 – Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação, do Ministério
da Educação e Saúde Pública, folha II, 1945.
Fonte: Arquivo Permanente do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
Ao contrário do Professor Dillo, os Professores Benedito de Carvalho e o Professor
Emílio Albernaz Polzin, ainda são bastante lembrados pela maior parte dos entrevistados.
Só me lembro do professor Polzin, é, dava aula de atletismo e era chefe dos
inspetores dos alunos, tinha também o professor Carvalho ele dava futebol, só me
lembro desses dois. (OSA, informação verbal)
O Professor Benedito de Carvalho, segundo os dados da ficha financeira da Diretoria
de Recursos Humanos, encontrada no Arquivo permanente do IFMT, foi contratado em 1951
e as anotações nesta ficha se encerram em 1969, no entanto, não foi possível afirmar que este
52
tenha sido o ano em que o professor saiu da escola, uma vez que o nome deste professor não
foi encontrado no banco de dados desta diretoria.
Além da ficha financeira, a folha II (figura 14) do Boletim de Informação da
Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação, do Ministério da Educação e Saúde
Pública, do ano de 1956, encontrada no arquivo permanente do IFMT Campus Cuiabá –
Octayde Jorge da Silva, confirma o matogrossense Benedito de Carvalho, portador de
diploma de Instrutor de Educação Física, como o Instrutor da escola. Novamente chamo a
atenção para o fato de que este é o único docente que é nomeado como “Instrutor”.
Figura 14 – Boletim de Informação da Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação, do Ministério
da Educação e Saúde Pública, folha II, 1956.
Fonte: Arquivo Permanente do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
O Professor Emílio Albernaz Polzin, foi contratado em 17/08/1965 e atuou como
professor e chefe do departamento de Educação Física da EIC. Esse professor é lembrado por
todos os nossos entrevistados, e trataremos de sua atuação neste estabelecimento de ensino no
item Escola Industrial Federal de Mato Grosso.
53
3.3 A Educação Física à Margem do Projeto Pedagógico da Escola
Legalmente inserida e efetivada na prática, a Educação Física se apresenta
desvinculada do projeto pedagógico da escola, pois assim como nos períodos anteriores, não
foi encontrado nenhum registro de lançamento de notas, no entanto, esse processo estava
presente na prática das aulas como nos mostra o relato dos egressos ao informar no
questionário como os alunos eram avaliados,
Mais pela presença e pela dedicação. (OSA, Egresso 3).
Pela participação e dedicação. (SC, Egresso 4).
Já o egresso Benedito Epitácio de França, apresenta uma classificação, “conceito”,
que os alunos recebiam de acordo com seu desempenho.
Conceito: ótimo, bom, regular, sofrível. (BEF, Egresso 2).
Esse cenário nos levou a buscar justificativas para entender esse fato, uma vez que a
avaliação presente no imaginário dos egressos, inclusive com conceitos atribuídos aos alunos,
não era registrada no histórico escolar, como mostra a figura 15.
Em relação à Educação Física na estrutura curricular da EIC, encontramos registrada
como “prática educativa”, e não “disciplina” como as demais, no campo de práticas
educativas (figura 15) junto com Educação Musical, Educação Pré-militar e Educação
Doméstica, é possível constatar também, que não existe registro de nota para as práticas
educativas no período em questão.
Esse fato é justificado pelo Decreto-Lei nº 4.073 de 1942, alterado pela Lei nº 28 de
25/02/47 que, em seu artigo 39, estabelece a obrigatoriedade da frequência nas aulas das
práticas educativas: “É obrigatória a freqüência das aulas, tanto das disciplinas como das
práticas educativas”. (DECRETO-LEI 4.073,1942). (sic.). E no artigo 42, estabelece a
obrigatoriedade das disciplinas conferirem notas ao desempenho dos alunos, não fazendo
menção às práticas educativas a qual pertencia a Educação Física.
Art. 42. Mensalmente, de março a novembro, será dada, em cada disciplina,
e a cada aluno, pelo respectivo professor, uma nota, resultante da verificação
de seu aproveitamento, por meio de exercícios escolares. Se, por falta de
comparecimento, não se puder apurar o aproveitamento de um aluno, ser-
lhe-á atribuída a nota zero. (DECRETO-LEI 4.073, 1942).
54
Figura 15 – Histórico escolar do ano de 1944.
Fonte: Arquivo permanente do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
Na seção V, artigo 43, parágrafo 7º, esta legislação trata dos exames escolares e
condiciona a sua realização aos alunos que, entre outros pré-requisitos, não tenham tido mais
que 30% de faltas nas aulas dadas, em cada prática educativa obrigatória:
Art. 43. Haverá, em cada período letivo, para todas as disciplinas, duas
ordens de exames escolares: os primeiros exames e os exames finais.
§ 7º Não poderá prestar exames finais, de primeira ou de segunda época, o
aluno que houver faltado a vinte por cento da totalidade das aulas dadas nas
disciplinas de cultura técnica, ou de cultura pedagógica, ou a trinta por cento
da totalidade das aulas nas disciplinas de cultura Geral, ou a trinta por cento
das aulas e exercícios dados em cada prática educativa obrigatória, e bem
assim o que tiver como resultado dos exercícios escolares e dos primeiros
exames, no grupo das disciplinas de cultura geral e no grupo das disciplinas
de cultura técnica, ou no grupo das disciplinas de cultura pedagógica, média
aritmética inferior a quarenta. (DECRETO-LEI 4.073, 1942).
55
Podemos verificar aqui, que a falta de registros referentes às notas, não pode ser
atribuída aos professores, mas sim a menor importância dada às práticas educativas na
formação dos alunos das escolas de ensino profissional, entre elas a Educação Física, isso se
acentua na Lei nº n 28 de 15/02/1947 que permite que os alunos façam os exames finais
mesmo não tendo frequentado estas aulas.
Art 1º O art. 26 do Decreto-lei nº 4.073, de 30 de janeiro de 1942, passa a ter
a seguinte redação: [...]
Art 2º Os alunos matriculados em qualquer curso do segundo ciclo
industrial, no ano letivo de 1946, poderão prestar exames finais de primeira
época, independente da freqüência às aulas de práticas educativas.
Art 3º Revogam-se as disposições em contrário. (LEI Nº 28, 1947).
Tal Lei enfraquece ainda mais a Educação Física enquanto área de formação humana
e reforça a sua utilização como instrumento de manipulação e alienação, como observa Betti
(2009), no período de 1930 a 1945, em que a sociedade brasileira vivia um momento de
consolidação do modelo econômico urbano-industrial, em substituição ao modelo agrário. As
políticas públicas para a educação orientavam-se para a “[...] formação da elite política e de
recursos humanos de nível médio para a indústria e o comércio” (BETTI, 2009, p.150), com
ênfase em valores que exaltavam o nacionalismo e o militarismo.
3.4 Exercícios Pré-militares e o Esporte: o que dizem as evidências na década de 1940 e
1950
Como já apresentamos anteriormente, a ordem unida se evidencia no relato dos
egressos da EIC, assim como atividades que sugerem uma prática militarizada e a
predominância do Método Francês.
Quando fui prestar o serviço militar no Corpo de Fuzileiros Navais do Rio de
Janeiro, em uma turma de veteranos em corrida de distância, consegui um 3º
lugar entre eles (OFS, Egresso 1).
Essa situação vai ao encontro com o que acontecia no cenário nacional e se justifica
porque, segundo Betti (2009), o discurso pedagógico da Educação Física era eminentemente
biologicista, de caráter higienista e eugenista. Seus objetivos direcionavam-se para a melhora
de “funções orgânicas”, “aperfeiçoamento físico” e desenvolvimento de “qualidades morais”.
Esses objetivos são encontrados no relato dos egressos quando perguntados sobre o
56
que se esperava que os alunos aprendessem nas aulas. Os itens, importância da atividade
física, importância do trabalho em equipe e respeito ao adversário ou às regras estabelecidas,
aparecem entre as três mais apontadas.
Nos relatos, a “disciplina” também está destacada, quando os egressos afirmam como
era a participação e o comportamento dos alunos nas aulas:
Total, de respeito com o professor (SC, Egresso 4);
Comportava com respeito ao professor e com os demais colegas (OSA,
Egresso 3).
Capanema (1942 apud BETTI, 2009) atribuiu ao ensino secundário a finalidade de
formação da personalidade adolescente dos “predestinados” a formar a elite dirigente do país,
através do humanismo, patriotismo e moralidade, para essa formação deveriam se valer da
Educação Física, educação moral e cívica e a instrução militar, para a “formação de hábitos de
disciplina mental e corporal favoráveis ao desenvolvimento pleno, correto e útil da
personalidade” (CAPANEMA, 1940 apud BETTI 2009, p. 99). A atenção dispensada ao
secundário não se refletiu no primário e deficitariamente no ensino profissional (BETTI,
2009).
Betti (2009) apresenta como crítica ao método de ensino francês, as aulas com
repetição de gestos mecanizados a partir da voz de comando do professor/ instrutor que
tornava a prática enfadonha e pouco atrativa, no entanto chama nossa atenção que apenas um
egresso apontou que as aulas eram repetitivas e “Quase todas as vezes era a mesma
modalidade” (OSA, Egresso 3), os outros três egressos as classificaram como prazerosas e
algumas respostas do questionário indicam que isso possa ser atribuído à uma certa sensação
de liberdade e a possibilidade da ampliação do convívio social.
Opção de lazer (BEF, Egresso 2);
Porque era momento de recreação e encontrava com colegas de outras
turmas (OSA, Egresso 3);
Integração com os colegas de outras classes de aulas deste educandário
(OFS, Egresso 1);
[...] era uma das atividades em que eu mais gostava (SC, Egresso 4).
Logo, poderíamos afirmar que na memoria dos egressos da EIC o cenário da
Educação Física era diferente do que se observava no cenário nacional, pois segundo Betti
(2009), em 1942 começam as críticas ao método Francês por proprietários de escolas
57
particulares, diretores de escolas e autores como Marinho (1944), Musa (1946) e Costa
(1949), que atribuíam o fato da Educação Física ser enfadonha e não respeitar as
características etárias, psíquicas e sociais dos alunos, propondo a substituição do conceito
anátomo-fisiológico para um conceito bio-sócio-psico-fisiológico, influenciados pelos
pensamentos escolanovistas.
A partir de 1946, segundo Betti (2009), a portaria do Ministério da Educação e Saúde
nº 5, do mesmo ano, diminui de três para duas sessões semanais e o tempo de duração das
aulas de Educação Física no ensino secundário. Já no ano seguinte, os dirigentes de
estabelecimentos de ensino, principalmente os particulares, entram em choque com a DEF,
reivindicando novos regulamentos e melhor formação dos profissionais, de modo a
transformar a Educação Física do ensino médio, de enfadonha e ineficaz, em prática atraente e
proveitosa.
Na esteira dessas reivindicações, Musa (1946 apud BETTI, 2009) propõe um novo
método baseado no esporte, em substituição aos exercícios de ordem de comando do método
Francês, com objetivos voltados para a melhoria da saúde, o desenvolvimento intelectual, o
desenvolvimento moral (porque cria o hábito de vencer as dificuldades), adaptável a todas as
idades e sexo, e atraente.
Como já apresentamos anteriormente, o esporte é apontado como um dos elementos
aprendidos nas aulas de Educação Física por três dos quatro egressos da EIC, desde 1945, o
que não deixa dúvida de sua utilização, mesmo não possuindo estrutura física para a sua
prática:
[...] nos deslocávamos para o Colégio Estadual de Mato Grosso, onde eram
realizados jogos de futebol (BEF, Egresso 2).
O uso do esporte como meio de educação, já vinha sendo utilizado pela Inglaterra
(pioneira neste modelo), com o objetivo de formar bons chefes de empreendimento e bons
oficiais, “As Escolas Públicas enfatizaram a influência socializante dos jogos e seu uso para
promover liderança, lealdade, cooperação, auto-estima, iniciativa, tenacidade e espírito
esportivo” (BETTI 2009, p. 54). No movimento esportivo inglês do século XIX, o esporte, até
então presente no dia a dia destas escolas, destinadas exclusivamente à nobreza e aristocracia
inglesa, como uma atividade de ócio e de educação social dos filhos da elite inglesa, passou a
fazer parte da vida da classe média, que a partir da revolução industrial e com a ascensão
econômica e social, passou a reivindicar o seu acesso às instituições de ensino destinadas, até
então, aos filhos da elite, aliada a isto, as conquistas trabalhistas permitiram a apropriação e
58
popularização do esporte pelas classes trabalhadoras industrial e urbana. (BERGOLATO,
2003).
No Brasil, apesar de introduzido “nos primeiros anos da República, o futebol fez
parte do movimento modernizador da nação” (SANTOS, 2009, p. 179), movimento ao qual a
educação profissional estava inserida. Isso aconteceu devido à possibilidade de acesso que o
futebol permitia às classes populares, o que não era visto nos demais esportes.
A afinidade demostrada pelos brasileiros com a seleção de futebol na copa de 1938,
na França, demonstrou que “A popularidade de esportes como o futebol se apresentava como
um novo meio de levar a ideologia oficial às massas” (DRUMOND, 2009, p. 233), e no
governo de Vargas “[...] o esporte foi uma das ferramentas utilizadas pelo governo na
consolidação de uma nova imagem do homem brasileiro e na preparação da chamada „raça‟
brasileira e seu aperfeiçoamento pela prática esportiva” (DRUMOND, 2009, p. 233).
Com o objetivo de elevar o prestígio do ensino profissionalizante frente ao
secundário, em 1950 e 1953 foram aprovadas as “leis da equivalência” que de forma tímida e
com algumas exigências, como a de cursar disciplinas não cursadas e ser aprovado em
exames, por exemplo, possibilitava a migração do ensino profissional para o secundário e
permitia a esse egresso concorrer a vagas, de qualquer modalidade, do ensino superior
(HAIDAR; TANURI, 1999).
Na Educação Física brasileira da década de 50, o esporte e o treinamento desportivo
passam a ter destaque na revista de “Educação Física” do Exército e no “Boletim de Educação
Física” do DEF e, em 1956, através da Portaria Ministerial nº 168, a Educação Física nas
escolas secundárias volta a ter três sessões semanais com cinquenta minutos de duração,
autorizando ainda, a suspensão das atividades escolares para participação em atividades
esportivas e demonstração de Educação Física (BETTI, 2009). Ainda no mesmo ano, pode-se
observar o início da ascensão do fenômeno esportivo, apesar dessa portaria não fazer menção
às escolas de ensino profissional, encontramos no arquivo de fotos do IFMT (figuras 16,17,18
e 19), organizado pela professora Nadia Kunze, pasta com fotos datadas de 1959, que fazem
menção a participação da então Escola Industrial de Cuiabá na abertura dos jogos estudantis
mato-grossense.
Estas fotos em consonância com as respostas dos egressos desse período demonstram
que a prática esportiva fazia parte das atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física,
o que sugere consonância com o discurso oficial da década de 1950 para a área.
Demonstra ainda, que as práticas esportivas tinham como objetivo a participação em
eventos esportivos.
59
O destaque ao nacionalismo também pode ser observado na figura 16, com as
bandeiras do Brasil decorando cada uma das bicicletas conduzidas pelos alunos da EIC, as
festas cívicas e os esportes “funcionavam como a teatralização de uma imagem de nação feliz
e longeva” (DRUMOND, 2009, p. 239), desde a era Vargas e eram consideradas como o
ápice do movimento ufanista de exaltação da nação.
Figura 16 – Abertura dos jogos estudantis mato-grossense de 1959
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
60
Figura 17 – Abertura dos jogos estudantis mato-grossense de 1959.
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva.
61
Figura 18 – Abertura dos jogos estudantis mato-grossense de 1959.
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
Nas figuras 16 e 17 podemos observar que o desfile de abertura se dava pelas ruas da
cidade e era prestigiado pela população local,
Os desfiles, também conhecidos como paradas, produzem um espetáculo que
traduz as grandes referências identitárias culturais de forma ordenada e
harmoniosa. Nestes eventos figuram “ os diversos componentes do conjunto
nacional – identificados, nomeadamente, pelos trajes regionais – sob a égide
de representantes do Estado e de representantes da nação” (THIIESSE, 2000,
p. 234). São verdadeiros espetáculos nos quais se sucedem uma narrativa
permeada por ideais nacionalistas, seja ela real ou inventada (HOBSBAWN,
1984), a ser compartilhada por todos (MAZO; ROLIM, 2007, p. 26) (grifo
do autor)
Segundo os autores, o desfile representa a história de um povo e é um meio de
difundir o patrimônio cultural da nação despertando na população o sentimento de
pertencimento comum, contribuindo no processo de educação para o cultural, trabalho
compartilhado com a escola e presente nas atividades de lazer da população.
62
Figura 19 – Abertura dos jogos estudantis mato-grossense de 1959.
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
Na figura 19 observamos um aluno da EIC conduzindo a tocha olímpica, o que
sugere que a escola já gozava de prestígio junto aos organizadores do evento, sendo possível
verificar, ao fundo, grande número de pessoas prestigiando a abertura dos jogos.
Em 1959 o ensino profissional é reformulado e em substituição ao seu primeiro ciclo
é criado o ginásio: um curso de formação geral (semelhante ao da escola secundária) que
substitui os de caráter profissionalizante (HAIDAR; TANURI, 1999).
A LDB nº 4.024 de 1961, manteve a diferenciação entre os ramos de ensino
63
secundário e profissional, mas os englobou com a mesma denominação de ensino médio,
generalizou as denominações ginásio e colégio respectivamente para o primeiro e segundo
ciclo de todos os ramos e admitiu a equivalência de todos os cursos médios para efeito de
continuação de estudos sem barreiras de qualquer natureza como, por exemplo, os exames
(HAIDAR; TANURI, 1999).
Essa LDB estendeu a obrigatoriedade da Educação Física para os alunos com idade
até 18 anos dos cursos primário e médio regulamentada, posteriormente, pelo Decreto 58.130
de 1966, que não especificou o número de sessões semanais, mas consolidou a substituição do
modelo vigente na Educação Física ao incorporar o conceito bio-psico-social para a mesma
(BETTI, 2009)
Na década de 60 do século XX surgem as críticas à forma de utilização do esporte
para alcançar interesses políticos, para alienação econômica e manipulação das massas, com a
ilusão do êxito esportivo. Essas críticas relacionavam as características do esporte às
características da sociedade como um todo, e que entre outras coisas, este era burguês e
refletia o sistema capitalista industrial: “competição, medição, rendimento técnico, divisão do
trabalho, hierarquia social, maquinização do homem, trabalho abstrato e alienação”
(BROHM, 1978; LAGUILLAUMIE 1978 apud BETTI, 2009, p. 58). Para esses autores, o
esporte reproduzia o fundamento das relações humanas no capitalismo, já que sua essência é a
competição, e exige especialização, seus movimentos são a repetição de si mesmos
(mecanizados) para fazer mais em menor tempo e devem ser treinados até a sua
automatização, o corpo passa a ser um meio para se conseguir os melhores resultados, e para
Vinnai (1978 apud BETTI, 2009, p. 59) o que pretende ser um jogo “reproduz, sob a
aparência do livre desenvolvimento das forças, o mundo do trabalho”, e tanto o esporte como
a economia, são dirigidos pela razão técnica capitalista, e os sujeitos humanos pela
maximização do rendimento.
Belbenoit (1976 apud BETTI, 2009) defende o uso do esporte na escola como forma
de estender a todos uma gama de atividades formativas e este oferece como virtudes
formativas pela competição, o desejo de fazer o melhor, de sentir-se física e moralmente forte,
de ultrapassar-se, de superar obstáculos e vencer o adversário, destrói pelo menos durante a
prática as diferenças sociais.
De 1946 a 1968 o país viveu um período de intenso crescimento industrial, de
ideologia desenvolvimentista e relativa democratização política e apresentava uma política
educacional voltada para uma “descentralização liberal-democrática” e expansão do ensino
público. Nesse período o discurso pedagógico da Educação Física tornou-se “biopsicossocial”
64
com ênfase “no valor educativo do jogo”, com objetivos voltados para a melhoria “fisiológica,
psíquica, social e moral”. O método prevalecente, por excelência, foi a Ginástica Desportiva
Generalizada (BETTI, 2009).
Apesar de termos encontrado registros fotográficos da participação da EIC em
eventos esportivos, de acordo com os documentos oficiais aqui expostos e com as memórias
dos egressos do período, podemos afirmar que, a partir do ano de 1945 até 1962 a Escola
disponha em seu quadro docente de profissionais habilitados como Instrutores de Educação
Física, no entanto, não possuía espaço físico adequado para o ensino e treinamento do esporte
na Educação Física, e também não é possível afirmar se todos tinham acesso ao esporte. A
obediência às orientações oficiais se materializa na prática da “ordem unida”, e indica a
utilização do Método Francês. Os egressos afirmam ainda que sempre participavam das aulas,
primeiramente porque era obrigatória, no entanto, reforçam que estar nas aulas era prazeroso.
3.5 O Incremento da Infraestrutura e da Prática da Educação Física pós 1964
A década dos anos 1960, marcada pelo Golpe Civil Militar de 1964, foi também o
período em que entrou em vigor a primeira Lei de Diretrizes e Bases – LDB (Lei 4.024/61),
com esta, a educação passou a ser considerada prioritária para o Governo da época, “a meta a
ser alcançada é a transformação do Brasil numa grande potência, no espaço de uma geração,
através do que se constituiu o modelo brasileiro do desenvolvimento”. (NISKIER, 1974 apud
MOURA, 2007, p. 11). Esperava-se que a educação alavancaria o desenvolvimento e desse
modo poderia ser utilizada como meio de propaganda e inculcação da ideologia do governo
autoritário. (MOURA, 2007).
É nesse cenário que em 1965, a então Escola Industrial de Cuiabá, recebe nova
denominação, passando a se chamar Escola Industrial Federal de Mato Grosso (BRASIL,
2009b), divisor de águas no que se refere ao nível de ensino, deixando de oferecer os cursos
de artífices e de mestria, passando a oferecer cursos técnicos voltados para o desenvolvimento
do Estado, segundo o questionário para levantamento de dados sobre as escolas, do Ministério
da Educação e Cultura, Diretoria do Ensino Industrial, de 24 de abril de 1968, disponível no
arquivo permanente do IFMT. Nesse ano eram oferecidos os cursos de Admissão, Ginasial e
os cursos técnicos de Estradas e Eletrotécnica, dois cursos de significativa importância para a
formação de mão de obra qualificada para dois setores estratégicos no Plano de Metas de
Juscelino Kubitschek, os de produção de energia e transportes.
O revigoramento da tendência tecnicista, impulsionado pelo projeto de
65
“desenvolvimentismo” do período de Juscelino Kubitschek se reflete no currículo da
Educação Física brasileira. O pensamento de Fisher (1934 apud NEIRA ; NUNES, 2008) a
favor do esporte, atribuindo a este a força e a capacidade de formar o homem de iniciativa,
vivo e criterioso, qualidades indispensáveis para as novas necessidades sócio-econômicas,
ganha forte repercussão junto ao regime autoritário da época. Segundo os autores, que se
valem das afirmações de Taborda de Oliveira (2004) para destacar que o currículo esportivo
foi sugerido de forma exclusiva pelos órgãos oficiais para a Educação Física escolar e
pensada numa perspectiva de controle social, confundida com formação moral. O esporte era
considerado pelo governo ditatorial como “um dos vetores do possível reconhecimento do
Brasil no cenário mundial” (OLIVEIRA, 2009, p. 386).
Ainda que a ditadura brasileira fosse uma aliança entre o poder militar e
significativos e poderosos segmentos da elite civil, foi no âmbito das
políticas oficiais, tendo à frente normalmente oficiais militares de baixa
patente que se viu um vigoroso movimento para o desenvolvimento do
esporte nacional (OLIVEIRA, 2009, p. 386).
Como já apresentamos anteriormente a precariedade da infraestrutura destinada a
Educação Física, se apresenta como um possível limitador das possibilidades de prática nesta
escola. Esse quadro começa a mudar após o golpe de 1964, quando a infraestrutura destinada
a Educação Física da escola, que até então não tinham espaços adequados, passa a receber um
grande volume de obras, como informa o professor Evandro Ferreira da Silva, que foi egresso
do curso ginasial no final da década de 1960, que destaca os espaços existentes e as suas
limitações.
A infraestrutura era composta por um ginásio poliesportivo, campo de futebol e uma
quadra descoberta. As aulas de natação eram desenvolvidas no Clube Náutico na
cidade vizinha de Várzea Grande e as aulas de Atletismo no 44 (EFS, Professor 5).
O 44º Batalhão de Infantaria Motorizada de Cuiabá, antigo 16º Batalhão de
Caçadores do Exercito – 16 BC, tem estreitas relações com a Educação Física e com a direção
da EIC e da Escola Técnica, cedendo seus espaços para a prática da Educação Física e na
figura de dois dos Diretores desta Escola, que fizeram parte do seu quadro de oficiais,
Coronel Estevão Torquato da Silva, que também foi presidente do Mixto Esporte Clube, de
blusa escura no centro da figura 21, e o Coronel Octayde Jorge da Silva.
A figura 20 retrata a proximidade dos militares com a ETFMT, nesta, podemos
identificar junto aos militares, os professores Hélio Machado, o terceiro em pé da esquerda
para a direita, professor por três anos da ETFMT, se afastou para assumir a função de docente
66
na Faculdade de Educação Física da UFMT e ao seu lado, o quarto no mesmo sentido, o
professor Natanael Henrique de Moraes.
Figura 20 – Competição de Atletismo no 16º Batalhão de Caçadores do Exercito 1970.
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
O professor Natanael, de roupa clara no lado direito da figura 21, professor de duas
cadeiras, atletismo e futebol, no período da ETFMT, confirma o relato do professor Evandro
Ferreira da Silva, que relata ainda que várias aulas da equipe de atletismo da Escola se davam
com corridas nas ruas da cidade, saindo da escola, passando pelas ruas Floriano Peixoto,
Avenida Lava Pés, Perimetral (atual Avenida Miguel Sutil), Avenida Marechal Deodoro,
retornando à rua Floriano Peixoto e a escola, uma prática metodológica recorrente para as
aulas/ treinamento das turmas de atletismo, uma vez que esta dinâmica também foi relatada
pelo Sr. Olímpio Santana e que apresenta a precariedade da infraestrutura destinada às
praticas da Educação Física.
67
Figura 21 – Competição de Atletismo no 16º Batalhão de Caçadores do Exercito 1970.
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva
“Espaços esportivos foram construídos maciçamente naqueles anos como parte do
que muitos chamam de projeto de esportivização da sociedade brasileira” (OLIVEIRA, 2009,
p. 389).
A infraestrutura disponível para a Educação Física, tomando como referência o
questionário para levantamento de dados sobre as escolas, do Ministério da Educação e
Cultura, Diretoria do Ensino Industrial, de 24 de abril de 1968, disponível no arquivo
permanente do IFMT. Era composta por uma praça de esporte com 8.988 metros quadrados
para as seguintes “especialidades: futebol de campo, futebol de salão, bola ao cesto, volley-
ball, atletismo” (sic.), conforme mencionado anteriormente.
Apesar do incremento da infraestrutura, o relato do professor Evandro indica que os
espaços construídos ainda não atendiam a demanda, criando a necessidade dos professores se
deslocarem para espaços de outras instituições para desenvolver as suas modalidades.
Com a carência de fontes escritas, de registros da forma como a Educação Física era
organizada, conteúdos, organização das turmas, didática utilizada pelos professores,
atividades/modalidades oferecidas e infraestrutura nesse período, fomos buscar nas fontes
68
orais, os registros da memória dos atores sociais desse período, para tanto, elegemos o relato
do professor Evandro Ferreira da Silva, por ter sido aluno/atleta dessa escola no período em
questão e ter se tornado, professor e coordenador de Educação Física do atual Campus Cuiabá
– Octayde Jorge da Silva, o mesmo ingressou no atual IFMT em 1967, no curso de Artes
Gráficas da então Escola Industrial Federal de Mato Grosso, posteriormente ingressou no
curso técnico em Eletrotécnica na já Escola Técnica Federal de Mato Grosso, fez parte da
equipe de Atletismo o que, segundo ele, o direcionou para a graduação da Faculdade de
Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso, que concluiu em 1983. Ingressou
na Escola Técnica Federal de Mato Grosso (ETFMT) em 1985 como professor substituto.
Este relata que em 1967 a Educação Física tinha três sessões semanais, todos os alunos
eram matriculados nas turmas de Educação Física (ginástica masculina) e eram selecionados
por (habilidade ou estatura) para as modalidades esportivas, os alunos não selecionados eram
organizados nas turmas de ginástica masculina, onde predominava a prática da calistenia.
Contribui também com suas memórias desse período o Professor Henrique do Carmo
Barros, que cursou o Ginasial Industrial de 1968 a 1971 e o curso de Edificações de 1972 a
1974, é professor efetivo do atual IFMT, foi diretor geral da ETFMT e do CEFETMT,
atualmente ocupa o cargo de diretor de desenvolvimento institucional do IFMT.
Sobre a infraestrutura o professor relata, “Só havia o campo de futebol na escola,
para o atletismo utilizava a pista do antigo 16 BC” (HCB, Egresso 5).
O egresso informou ainda que sempre participava das aulas, primeiramente porque
era obrigatória e enumera ainda como motivos o fato de gostar de atividade física e por ser
uma opção de lazer. De acordo com sua avaliação, as aulas não seguiam nenhum tipo de
planejamento e tinham como conteúdos a importância e benefício da atividade física,
brincadeiras e esporte, as aulas eram prazerosas e “quase sempre terminavam em uma partida
de futebol” (HCB, Egresso 5)
Em relação ao registro de notas e processo de avaliação na Educação Física, o quadro
que encontramos é o mesmo do período anterior, ou seja, não existe registro de nota para a
Educação Física.
O egresso Henrique relata que os alunos eram avaliados por “teste de esforço”.
O que nos leva a supor que esse processo, juntamente com a frequência do aluno as
aulas, compunha o modelo de avaliação, o que, como já descrevemos, estava previsto no
artigo 39 do Decreto-Lei nº 4.073 de 1942, alterado pela Lei nº 28 de 25/02/47, o fato novo
nesse período, e que encontramos em alguns históricos de alunos, são os registros do número
de aulas dadas, mas também o de faltas na disciplina, o que pressupõe o início da valorização
69
da Educação Física nesse estabelecimento de ensino.
É nesse cenário que encontramos uma das figuras mais emblemáticas da Educação
Física na rede federal em Cuiabá, o Professor Emílio Albernaz Polzin, militar que esteve a
frente da Educação Física na Então Escola Industrial Federal de Mato Grosso e que
trataremos a seguir.
Em 1967, a Portaria nº 148 do MEC conceituou a Educação Física como “conjunto
de ginástica, jogos, desportos, danças e recreação” e as atividades esportivas foram admitidas
como atividades regulares. (BETTI, 2009, p. 108).
Ao final da década de 60, o “Diagnóstico da Educação Física e Desportos do Brasil”
apontava que a sociedade ainda oferecia resistência a sua implantação, pois, apesar de ser
obrigatória, era praticamente inexistente no nível primário, no ensino médio não disponham
de espaços adequados e as escolas normais não preparavam suas alunas para a docência de
Educação Física/Desporto, o que dentro de uma visão de seleção piramidal, modelo esportivo
detalhado no “Diagnóstico publicado em 1971” (OLIVEIRA, 2009, p. 391), dos mais
habilidosos, justificava o baixo desempenho das equipes nacionais em eventos internacionais,
uma vez que a formação de base, que deveria acontecer na escola, era deficitária. Como
resposta a essa situação, em 1968, o DEF promoveu o “Curso de Introdução à Ciência do
Treinamento Desportivo” (BETTI, 2009), reforçando o esporte como modelo a ser seguido.
A Educação Física brasileira passa então a ser influenciada por um novo modelo,
também Francês, conhecido como “Educação Física Desportiva Generalizada”, seu principal
defensor e divulgador no Brasil foi o Professor Augusto Listello, ficando conhecido como
“Método Desportivo Generalizado”. Sua principal característica era a proposta de
incorporação do conteúdo esporte com ênfase no aspecto lúdico (prazerosa e que englobe o
indivíduo como um todo), aos métodos da Educação Física. (BETTI, 2009).
Para Listello, os objetivos desse método eram iniciar nos diferentes esportes, orientar
para as especializações através do desenvolvimento e aperfeiçoamento das atitudes e gestos,
desenvolver o gosto pelo belo, pelo esforço e performance e provocar a necessidade pela
higiene.
A aula deveria ser composta de quatro fases: Exercícios de aquecimento com
pequenas corridas e marchas; de flexibilidade; de agilidade (barras, escada, espaldar, etc.),
saltos em profundidade, transposição de obstáculos e exercícios esportivos de iniciação na
forma de jogos, para o método, o esporte não é um fim mais um meio de preparação para a
vida (BETTI, 2009).
A Educação Física na Escola Industrial Federal de Mato Grosso tem a presença do
70
militarismo e do esporte de rendimento, na figura dos professores/instrutores citados pelos
entrevistados. A concepção militar está representada na presença do professor Emílio
Albernaz Polzin, a quem pela forma como foi lembrado e pelos registros encontrados,
dedicaremos posteriormente maior atenção e, a concepção do esporte de rendimento na figura
do senhor Júlio César, goleiro da equipe profissional de futebol do Mixto Esporte Clube, uma
das equipes de futebol profissional mais tradicional e popular de Cuiabá.
O professor lembrado por vários entrevistados, Emílio Albernaz Polzin (figura 22),
de acordo com sua “ficha financeira”, encontrada no Arquivo Permanente do IFMT, foi
contratado em 17 de agosto de 1965. Segundo o relato do professor Natanael Henrique de
Moraes, era subtenente da polícia militar e atuou como professor e coordenador de Educação
Física, nos relatos dos Professores, Kenji Kido, Natanael Henrique de Moraes, Evandro
Ferreira da Silva e do senhor Olímpio Santana de Almeida, este professor, lembrado como
Professor Polzin, deixou impressa significativas recordações, seja de sua organização, de sua
autoridade, ou pela forma como conduzia a Educação Física.
Figura 22 - Professor Emílio Albernaz Polzin
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT, Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva, 196?
71
Embasados nos dados levantados através de fotos e fontes orais, podemos afirmar
que o Professor Polzin ministrava aulas de ginástica calistênica e atletismo, ele foi
identificado na figura 23, encontrada no acervo fotográfico do IFMT, pelos professores
Natanael Henrique de Moraes e Evandro Ferreira da Silva, como o senhor sem camisa, de
bermuda branca e com corte de cabelo militar, no canto inferior direito da foto.
O senhor Olímpio relata uma passagem do Professor Polzin como professor de
Atletismo:
Na véspera da eliminatória para acorrida de São Silvestre, eu tinha treinado muito e
tinha chance de ser classificado. O professor Polzin que era meu treinador, também
era chefe dos inspetores, me proibiu de entrar na escola para fazer uma prova,
porque eu estava com o cabelo comprido, isso era uma sexta feira. Aí, de raiva, eu
fui numa festa no sábado e tomei uns ponches, fiquei mal. No domingo cedo nós
tinhamos que encontrar na escola para ir juntos para a corrida, como não apareci, o
professor Polzin pegou o caminhão da escola e foi me buscar em casa e me levou
para correr do jeito que eu tava. (OSA, informação verbal).
Figura 23 – Aula de ginástica calistênica, ministrada pelo professor Polzin
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT, Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva, 196?
Como Coordenador de Educação Física, o Professor Polzin é lembrado por sua
72
extrema organização, presença e respeito, na fala do professor Kenji Kido:
Ele andava com um apito no pescoço, e se via alguma coisa errada ele apitava, para
gente saber que ele tava vendo. (Kk, Professor 1)
O professor Natanael Henrique de Moraes destaca a sua organização:
Ele anotava tudo. Se emprestava uma trena, ele anotava e mandava você assinar. Eu
lembro uma vez (risos) eu substitui ele, que tava doente, e emprestei a trena não
lembro pra quem (risos). Quando ele voltou no fim do dia ele me chamou e
perguntou onde é que está a trena (risos). Fiquei num apuro porque não lembrava
pra quem eu tinha emprestado (risos). Ele era assim. (NHM, Professor 2)
É tão significativa e marcante a trajetória desse professor nesta instituição que o
parque aquático do Campus Octayde Jorge da Silva, leva seu nome (figura 24).
Figura 24 – Foto do parque aquático Emílio Albernaz Polzin no Campus Cuiabá – Octayde Jorge de Silva.
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT, Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva, 200?
Pelo aqui exposto, a presença de jogadores profissionais, o incremento da
infraestrutura para a prática da Educação Física, a presença do registro de faltas no histórico
escolar dos alunos, nos leva a supor que a Educação Física começava a ganhar prestígio
dentro desta Instituição de Ensino e, podemos destacar também, a adaptação às
recomendações da Portaria ministerial nº 148, comentada no início deste item, que traz como
73
o discurso pedagógico para Educação Física, a ênfase no valor educativo do jogo, “unificando
o esporte com a ginástica” (BREGOLATO, 2003, p. 61) e que provavelmente tenha tornado a
Educação Física, neste estabelecimento, mais atraente.
Em 1968, por meio da portaria ministerial nº 331, este estabelecimento de ensino
sofre nova e significativa alteração em sua nomenclatura, organização curricular e função
educacional, que abordaremos a frente, passando a se chamar Escola Técnica Federal de Mato
Grosso - ETFMT (BRASIL, 2009b), nome que ainda nos dias atuais, permanece vivo e
bastante forte na memória da sociedade cuiabana, mesmo após ter se passado mais de uma
década da sua transformação em Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso -
CEFETMT e, posteriormente em Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Mato Grosso - IFMT, nomenclatura atual.
Em 1971, sob o regime ditatorial, a educação brasileira, criticada pelo seu elitismo e
exclusão das classes sociais menos favorecidas, passa por uma profunda reforma promovida
pela Lei nº 5.692/71.
Essa Lei trouxe significativas mudanças na organização da educação de primeiro e
segundo grau, mais especificamente nos cursos até então denominados primário, ginasial e
colegial, o primário e o ginasial foram transformados em 1º grau, passando a ter 8 anos de
duração, direcionado para os jovens entre 7 a 14 anos de idade, dividido em primeiro grau
menor de 1ª a 4ª série e primeiro grau maior de 5ª a 8ª série, que passou a fazer parte da fase
inicial de estudos e não mais do ensino secundário, mudança que contribuiu para a elevação
do grau de escolarização mínima da população, anteriormente circunscrito às quatro primeiras
séries. O 2º grau absorveu o colegial e passou a ser realizado em três anos, direcionado aos
jovens entre 15 a 17 anos de idade, com caráter de profissionalização obrigatória, o que
segundo Moura (2007), se deu por uma conjugação de fatores, entre eles a pressão popular
para ter acesso a profissionalização, função nesse período quase que exclusiva do ensino de
nível superior.
Por um lado, um governo autoritário com elevados índices de aceitação
popular, evidentemente interessado em manter-se dessa forma. Para isso era
necessário dar respostas à crescente demanda das classes populares por
acesso a níveis mais elevados de escolarização, o que acarretava uma forte
pressão pelo aumento de vagas no ensino superior. (MOURA, 2007, P. 12)
Ainda segundo Moura (2007), o governo militar, sustentado no modelo de
desenvolvimento econômico conhecido como milagre brasileiro, e na necessidade de dar uma
resposta às demandas educacionais das classes populares, utilizou-se, então, da via da
74
formação técnica profissionalizante em nível de 2º grau, como forma de atender as demandas
populares e de “garantir” a inserção de mão-de-obra qualificada (técnicos de nível médio) no
“mercado de trabalho”, em plena expansão em função dos elevados índices de
desenvolvimento. Desse modo, a Lei nº 5.692/71 surge para eliminar a dualidade entre a
educação básica e a educação profissional, ao tornar compulsória a profissionalização ao nível
do 2º grau, última etapa da educação básica, em todas as escolas públicas e privadas do país.
(MOURA, 2007).
3.6 A Abertura Para o Ingresso das Mulheres - 1971
Com a reforma do ensino de 1º e 2º graus (antigo ginasial e colegial), introduzida
pela LDB nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, a ETFMT deixou de oferecer os cursos ginasiais
industriais e passou a oferecer o ensino técnico de 2º grau integrado ao propedêutico com os
cursos de Secretariado, Estradas, Edificações, Eletrônica, Eletrotécnica e Telecomunicações.
Essa reforma também permitiu o ingresso de discentes do sexo feminino, o que até então não
acontecia nesta unidade de ensino, como informa a egressa Renilda Ribeiro de Almeida da
primeira turma de Secretariado. “Por sermos da 1ª turma de meninas e tbém do 1º curso de
Secretariado, estavamos todas animadas e alegres. E tínhamos ótimas professoras. (Cinira e
Delma)”. (RRA, egressa 6) (sic)
Essa abertura para o sexo feminino, em particular, teve um reflexo bastante
significativo na Educação Física da escola, pois é a partir desse período que encontramos o
registro das primeiras Professoras de Educação Física, mencionadas pela egressa Renilda,
contratadas para lecionar as aulas das turmas femininas nas modalidades esportivas e na
ginástica feminina. A Professora Delma Borges da Silva, já falecida, foi contratada em 1972 e
no ano seguinte, soma-se a esta a Professora Ciníra Melhorança Albertão, graduada em Bauru
em 1971, que trabalhou no período de 1973 a 1994.
A minha carga horária era 40 horas aula e tinha que dar as 40 horas, a gente
começava as 6:30 da manhã e ia até as 7 da noite todos os dias. (CMA,
Professora 4).
Essa fala reforça que a escola tinha um número de professoras insuficiente para
atender todas as turmas do sexo feminino, tanto da ginástica como das modalidades
esportivas, sobrecarregando as duas professoras mencionadas.
O planejamento das aulas apresenta a preocupação de diferenciar as aulas para as
75
turmas masculinas e as femininas. Ao ser questionada se existia e como eram os
planejamentos respondeu:
Existia, era a época que Skinner imperava, então tinha planejamento rígido,
era época que a escola era dirigida por militares, então tinha um
planejamento muito rígido, mas mesmo assim o Coronel Octayde que era o
responsável pedagógico dava uma certa abertura, dava para dialogar com ele
uma pessoa muito especial. (CMA, Professora 4).
Sobre a diferenciação entre os planejamentos para as turmas masculinas e femininas
respondeu:
A escola não aceitava uma padronização de aulas para homens e mulheres
era bem diferenciado [...] naquela época os militares não permitiam,
inclusive professoras davam aulas para as meninas e professores davam
aulas para meninos, a gente fazia uma diferença sim e os testes que tinham
vindo do MEC e do próprio Kennedy Cooper eram diferenciados os
resultados. (CMA, Professora 4).
Podemos destacar nas narrativas anteriores a forte influência do militarismo, no
planejamento das aulas de Educação Física, impondo barreiras e condições, a preocupação
com o condicionamento físico é uma das preocupações dos professores, embora não houvesse
uma proposta oficial para a área.
Em relação a essas restrições, Goellner (2009) chama a atenção que isso já se
estendia desde o “governo estadonovista” por meio do Decreto-lei n. 3.199 de 1941, que
infringiu uma série de restrições à participação das mulheres nos esportes, alegando:
O suor excessivo, o esforço físico, as emoções fortes, as competições, a
rivalidade consentida, os músculos delineados, os gestos espetacularizados
do corpo, a liberdade de movimentos, a leveza das roupas e a seminudez,
práticas comuns ao universo da cultura física, quando relacionados à mulher,
despertavam suspeitas porque pareciam abrandar certos limites que
contornavam uma imagem ideal de ser feminina. (GOELLNER, 2009, p.
279).
As consequências dessas restrições, como informa Goellner (2009), se fizeram notar
no ano de 1970 e, na ETFMT, pode ser observada na forma como as turmas eram
organizadas.
As turmas eram separadas por sexo meninas não faziam aulas com os
meninos o coronel não permitia, na época também eu acredito né, década de
setenta, e eram separados e o aluno escolhia a modalidade que ele queria
fazer [...] a grande maioria escolhia ginástica e alguns escolhiam esportes.
(CMA, Professora 4).
76
O discurso oficial da época também se faz presente na escolha dos conteúdos e
referencial teórico a ser utilizado, embora não houvesse uma orientação explícita por parte da
direção da escola.
Cada professor buscava o seu material, nos fazíamos reuniões constantes e
chegávamos a um consenso [...] inclusive testes físicos, que a gente aplicou
na escola era uma coisa obrigatória pela instituição, nós mesmos que
fizemos, buscando meios assim variados, não tinha internet, buscávamos em
livros, os autores eu não lembro [...], de diversos autores, livros mesmo, na
moda inclusive da época tinha um autor chamado Kennedy Cooper, que
judiou muito desses alunos (risos), mais era o que tinha na época, era
considerado atualizado moderno a gente usou muito Kennedy Cooper lá
dentro. (CMA, Professora 4).
Segundo a professora Cinira Melhorança Albertão, os planos de aula eram
encaminhados para o departamento de educação física e eram acompanhados pelo chefe do
departamento de Educação Física. Os conteúdos eram embasados nos livros que cada
professor buscava e no que os testes pediam, pois segundo ela:
[...] o governo militar tinha alguns objetivos, a Educação Física para todos,
então tinham objetivos específicos que a gente tinha que alcançar então
pensado nisso a gente tinha que dar atividades que favorecessem o alcance
desses objetivos propostos pelo governo. (CMA, Professora 4).
Segundo Taborda de Oliveira (2009) como parte do projeto oficial do Governo
militar, ações eram pensadas a partir do conceito de “Esporte para Todos”.
Além de um discurso voltado para a saúde (aptidão física) e o bem-estar do
trabalhador, também estava em jogo uma idéia de vida em comunidade, de
harmonia social, visto que as pessoas praticariam essas atividades com
outras pessoas. [...] Partia-se do pressuposto que as pessoas que tinham
talento esportivo teriam no esporte de massa uma possibilidade de mostrara
seus atributos. Aquelas que não tinham uma vocação atlética, nem por isso
deixariam de usufruir os “benefícios” da atividade física regular.
(OLIVEIRA, 2009, p. 393, grifos do autor) (sic.).
Em relação ao método e a metodologia de aula, mais uma vez se mostra presente o
controle do sistema militar:
O regime militar impunha até um tempo para a chamada, nós tínhamos
tantos minutos para a chamada, então você fazia tudo muito rápido, mas era
uma padronização que era possível na época, sempre começava com a
chamada que era obrigatório, uma conversa de motivação que eu sempre
gostava de ter com minhas alunas mesmo que rápida para motivar, explicar o
que a gente ia fazer naquele dia, quais objetivos que a gente tinha em mente
com aquela aula, aquecimento e desenvolvimento das atividades propostas
77
para aquele dia. (CMA, Professora 4).
A calistenia era o método mais utilizado, uma vez que, segundo a professora Cinira
Melhorança Albertão, e informações anteriores, a maior parte dos alunos estava nas turmas de
ginástica.
Os professores é que, cada um definia, mas a gente usava no começo se usa
muito o calistênico, porque por ser uma escola com orientação militar, mas
não se pode falar que o coronel não tinha uma mente aberta, ele deixava, aos
poucos a gente foi colocando inclusive na ginástica feminina comecei
fazendo demonstrações calistênicas depois foi para ginástica rítmica, e fluiu
normal. (CMA, Professora 4).
Duas egressas pesquisadas, uma do curso de Eletrotécnica do ano de 1977 e outra do
curso de Secretariado de 1974, assinalaram a ordem unida como um dos conteúdos que
aprenderam na Educação Física.
Para as turmas das modalidades esportivas se apresentava o método desportivo
generalizado, com ênfase no rendimento.
O colégio exigia vitória, tinha que ganhar, então as meninas eram treinadas
para ganhar treinamento pesado, puxado e, as meninas que vinham para o
esporte eram as que queriam, quem queria esporte se inscreviam, nós
criamos um sistema novo, até prá época foi audacioso, o aluno escolhia a
modalidade e o professor, no que gostava. (CMA, Professora 4).
78
Figura 25: Professora Cinira, em pé a direita da foto, com equipe de basquete da ETFMT, 1974.
Fonte: Arquivo Fotográfico da Professora Cinira Melhorança Albertão.
As alunas eram avaliadas pela participação nas aulas e pelo desempenho físico, como
instrumento de avaliação eram utilizados testes de aptidão física.
Tinha testes no início do semestre, tinha o teste diagnóstico no começo, era
tudo anotado, inclusive pesava media os alunos, passava por um exame
médico muito rápido, o médico só olhava tirava a pressão, mas pelo menos
tinha, o médico se responsabilizava se algum aluno tivesse algum coisa, e a
gente não soubesse e tinha uma bateria de testes pré determinado que eles
tinham que se submeter e no final do semestre esse mesmo teste era aplicado
e se via a evolução individual de cada aluno. (CMA, Professora 4).
Para a aprovação na disciplina as alunas tinham que alcançar os critérios de
desempenho e participação do aluno na aula, “o coronel levava isso a sério, se um aluno
reprovasse por falta ou por qualquer outro motivo, ele reprovava, ficava retido mesmo”
(CMA, Professora 4), para as alunas, no entanto, a avaliação respeitava as individualidades,
na narrativa da professora Cinira Melhorança Albertão, era direcionada para o:
Crescimento individual de cada um, não era visto um resultado que todos,
padronizado, que todos deveriam alcançar, de repente uma aluna ficou
abaixo da média, mas ela teve um crescimento excepcional naquele
semestre, uma boa nota. (CMA, Professora 4).
79
Apesar do incremento da infraestrutura para a prática da Educação Física apresentada
anteriormente, a fala da professora Cinira e da egressa Renilda, são reveladoras:
Eu não reclamo, por exemplo, no esporte eu tinha o que eu queria, o que eu
pedisse a escola me fornecia, fazia uma listagem do material que eu ia usar
no semestre seguinte e recebia esse material, o que nós não tínhamos na
época era local adequado, as quadras externas foram construídas
posteriormente, então a gente dava aula duas horas da tarde no sol de
Cuiabá, não era fácil, teve época que nós demos aula no asfalto em frente a
ETF, o local não era tão adequado mais dava para trabalhar. (CMA,
Professora 4).
Informação Confirmada por uma das egressas da década de 1970.
Fazíamos aulas aonde é o estacionamento em frente onde hoje é a quadra
poliesportiva, e as vezes fazíamos no fornão (ginásio coberto) (RRA, egressa
6).
Figura 26 – Aula de voleibol feminino
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva, 1974.
80
Figura 27 – Aula de ginástica feminina
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva, 1979.
Essas narrativas e as fotos 26 e 27, indicam que as práticas esportivas tinham
prioridade na utilização dos espaços físicos que ofereciam melhores condições de prática, a
figura 26 mostra aula de voleibol no ginásio poliesportivo coberto, ficando as turmas
femininas em especial as de ginástica, utilizando os espaços possíveis e nem sempre
adequados, devido entre outras coisas, ao calor intenso de Cuiabá. A figura 27 retrata aula de
ginástica rítmica, pois vemos um instrumento de percussão do lado esquerdo da foto, sendo
ministrada na quadra poliesportiva descoberta.
No imaginário das egressas pesquisadas, as aulas se apresentam das seguintes
maneiras:
Eram prazerosas porque era uma turma boa, que disputava melhor nota e
tudo isso era cobrado. Como naquele tempo não tinha muito esporte, futsal,
vôlei, etc. nós fazíamos mais era exercícios. (RRA, Egressa 6).
A maior parte do tempo era gasto com atletismo, atividades para melhorar o
condicionamento. (DSM, Egressa 7).
O número de professoras para ministrar as aulas, as restrições da direção de ensino
sob o comando de um militar e a falta de espaço físico adequado, se apresentam como
limitadores das possibilidades de prática para as mulheres dessa instituição de ensino.
81
3.7 Aptidão Física e Esporte, os Reflexos do Discurso Oficial do Governo - 1970
Silva (1999) demonstra que a realidade da educação brasileira foi construída de
forma bastante distinta do que previa a Lei 5.692, em um cenário sem financiamento,
materiais, professores qualificados, instalações e equipamentos, a maioria das escolas
privadas “[...] continuaram, em sua absoluta maioria, com os currículos propedêuticos
voltados para as ciências, letras e artes, visando o atendimento às elites [...]” (MOURA, 2007,
p.12). Esses problemas fizeram com que as escolas públicas estaduais criassem formas de
baixo custo para se adequar à nova legislação. Na prática, as escolas que já se dedicavam ao
ensino técnico, públicas ou privadas, na sua maioria nos sistemas de ensino público, não
tiveram dificuldades para atender a nova legislação, se destacando “[...] as Escolas Técnicas e
Agrotécnicas Federais que consolidaram sua atuação principalmente na vertente industrial
[...],” (MOURA, 2007, p.13), pois dispunham de financiamento adequado, infraestrutura de
laboratórios e corpo docente especializado.
Nesse cenário as Escolas Técnicas Federais - ETFs consolidam-se ainda mais como
referência de qualidade na formação de técnicos de nível médio. Os egressos dessas
instituições passam a compor quadros importantes de grandes empresas nacionais e
internacionais no país, e “é igualmente, significativa a quantidade de estudantes egressos das
ETFs que continuaram seus estudos em nível superior, imediatamente após a conclusão do
respectivo curso técnico ou posteriormente”. (MOURA, 2007, p.13).
Com a reformulação da LDB, ocorrida em 1971 (lei nº 5.692 de 11 de agosto de
1971), a Educação Física passa a ter um novo tratamento enquanto elemento escolar, nesta,
foram formulados novos objetivos e a sua obrigatoriedade foi ampliada aos demais níveis de
escolarização, embora, fosse considerada mera “atividade extracurricular”, sem ligação com o
projeto político pedagógico da escola.
O discurso pedagógico da Educação Física vincula-se ao valor “educativo do
esporte”, cujos objetivos são a iniciação e o rendimento esportivo, tendo a aptidão física como
referência central. Aqui não há caracterização de um método, mas sim a total esportivização,
elevada inclusive, a “razão de estado”, e a Educação Física escolar passando a ser considerada
como base de uma “pirâmide esportiva”, pela qual se pretendia elevar o nível das equipes de
representação nacional e melhorar os resultados em eventos internacionais, servindo como
instrumento de propaganda política para o governo.
O reflexo desse discurso é percebido na fala do Professor Kenji Kido, quando
questionado sobre quais eram os objetivos das aulas de Educação Física que ele ministrava na
82
ETFMT:
Fui encaminhado para ganhar do São Gonçalo, treinamento esportivo. Fui
contratado para dar treinamento desportivo, não tinha qualquer referência a
normas, de formação, cidadania, questão ética, era esportiva mesmo, mas é
preciso ser ressaltado essa questão que não, não preocupava à época a
questão das aulas de Educação na ETF. (KK, Professor 1).
Segundo Bregolato (2003), a ascensão do esporte voltado para o rendimento se deu
no período entre 1969 e 1979, afinado com o modelo de ensino profissional.
A história justifica como sendo uma construção ufanista, pois a política
educacional o evidenciou como uma forma de reproduzir a razão do Estado:
a qualificação técnico-profissionalizante para garantir a mão-de-obra nas
fábricas e indústrias que cresciam no Brasil desde 1937. O ensino
profissionalizante no 2º grau – hoje ensino médio – vinha então colaborar
com a preparação da juventude para o crescimento econômico do país e com
o qual o esporte técnico se afinava (BREGOLATO, 2003, p. 61)
A fala do professor Natanael Henrique de Moraes, também destaca a cobrança da
direção da escola, na época, ocupada pelo Coronel Estevão Torquato.
Nós, professores, todos tínhamos essa preocupação, porque que eu vou ficar
com um menino que tinha condição, principalmente a gente tinha que levar
em mente o seguinte, a direção da escola, principalmente o Coronel
Torquato adorava o esporte, tanto que eles adoravam, que todas as
competições da escola eles estavam presentes, tá, e havia uma cobrança, não
havia aquela história de vamos participar por participar ele queria a
apresentação da escola bem feita, a representatividade da escola, eles davam
todo apoio nesse sentido e cobravam mesmo, queriam participação da
escola, porque que a escola não está nesses jogos, não havia possibilidade,
não pode, ou vocês não quiseram e tal, eles cobravam a participação da
escola em todas as atividades de educação física, esporte,[...].(NHM,
Professor 2).
Bregolato (2003, p. 61) se apropria das palavras de Bracht para afirmar que:
[...] o esporte estabelecido com as características de performance é vinculado
à ideologia capitalista do trabalho e a juventude é educada para uma
sociedade competitiva na qual o princípio do rendimento gerado pelo capital
se impõe aos valores humanista. O lema é ganhar a qualquer preço, o que
estabelece uma competição – concorrência – exacerbada na qual um jogo
pode parecer uma batalha e perde-se a ética esportiva.
83
Esse comportamento é reforçado quando perguntamos “O que se esperava que os
alunos aprendessem nas aulas?”, a resposta é:
Ganhar do São Gonçalo, a rivalidade era muito grande e a cobrança era
intensa pelos pais e alunos. O ginásio da ETF ficava lotado e a pressão era
intensa. (KK, Professor 1).
Figura 28 – jogo de Basquete no Ginásio da ETFMT, 1979.
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT, Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva.
Na figura 28, o grande número de alunos uniformizados na arquibancada do ginásio
da ETFMT não deixa dúvida a respeito da afinidade da comunidade escolar com os eventos
esportivos e a sua participação nos eventos, e na figura 29, podemos observar que há
espectadores não uniformizados e várias crianças e adultos, o que sugere a efetiva
participação da família como informou o professor Kenji Kido.
84
Figura 29 – Jogo de Handebol Feminino no Ginásio da ETFMT, 1979.
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva.
A preocupação com a busca de resultados destacada pelo professor Kido e Natanael,
encontra eco na resposta de um dos egressos desse período, que ao ser questionado sobre a
participação e o comportamento dos alunos durante as aulas, afirma:
No antigo segundo grau, participava da equipe de atletismo e éramos uma
equipe disciplinada compromissada e nas competições sempre buscando
troféus. (HCB, Egresso 5).
Na atualidade essas falas podem causar estranheza, mas demonstra que para o
período em questão, a Educação Física na ETFMT estava perfeitamente condizente com as
ideias e discurso oficiais da época. É importante destacar que a legislação federal, por meio do
Decreto n. 69.450 (vigente de 1971 a 1996), concebia a Educação Física como atividade, que,
“[...] por seus meios, processos e técnicas, desperta, desenvolve e aprimoram forças físicas,
morais, cívicas, psíquicas e sociais do educando, constituindo um dos fatores básicos da
educação nacional.” (BRASIL, 1971 apud BETTI, 2009, p. 121).
De acordo com esse Decreto, a aptidão física passou a ser a referência para o
planejamento, controle e avaliação da Educação Física, e determinou também três aulas
85
semanais para o ensino médio (BETTI, 2009), o que fez com que a Educação Física escolar,
passa-se a interessar-se por corpos jovens e saudáveis, preferencialmente os que
apresentassem potencial para se tornar atletas ou incorporar-se às forças armadas.
A constatação da obediência a essa orientação vem das respostas dos quatro egressos
desse período, que entre nove (9) opções para a questão: “o que se esperava que os alunos
aprendessem nas aulas?”, os quatro assinalaram como primeira opção a “importância da
atividade física para a saúde” e o “condicionamento físico” foi indicado como segundo por
três egressos e como terceiro por um.
Na fala dos professores sobre o tema avaliação, fica evidente a preocupação com a
aptidão física, quando estes destacam a aplicação de baterias de testes físicos, e ênfase na
presença do aluno.
[...] a presença que tinha maior peso, pois o importante era ele estar fazendo,
no início era só a presença e teste de aptidão, às vezes até massacrava o
coitado que não tinha condição de estar ali fazendo, [...]. (NHM, Professor
2).
No treinamento era frequência, não havia avaliação técnica, rendimento
esportivo; havia padrão no início de ano, abdominal, estatura, bateria de teste
para constatação.(KK, Professor 1)
[...] no primeiro momento pela presença, determinado ponto e através de
baterias que nós montávamos valendo determinado ponto. Em cada
disciplina cada um montava sua bateria de teste, no esporte era diferente
cada uma ia cobrar aquilo que dava no treinamento todo mundo tinha nota,
mas a gente diferenciava [...]. (NHM, Professor 2).
Esses dois elementos, enquanto critérios de avaliação, também são os únicos
descritos pelos quatro egressos, em resposta ao questionário sobre: como os alunos eram
avaliados? Responderam:
Pelo número de faltas (presença/assiduidade). (FCSM, Egresso 8).
Teste de esforço. (HCB, Egresso 5).
Pela presença. (DSM, Egressa 7).
Éramos avaliados individualmente fazendo os exercícios ensinados durante o
bimestre. (RRA, Egressa 6).
Como podemos observar, a frequência é apresentada como um dos principais
critérios para a nota e se configurava, segundo um dos professores, como único elemento pelo
qual o aluno poderia ser reprovado na Educação Física e, consequentemente, teria que repetir
86
o ano letivo de todas as disciplinas.
Reprovava pela falta, por que tinha uma legislação, fazia uma recuperação,
fazia tudo o possível, para que o aluno pudesse ser agraciado no futuro com
essa atividade física. Éramos questionados quando o aluno reprovava só na
Educação Física, a direção mantia a reprovação. (NHM, Professor 2)
Em 1975, a Lei 6.251, definiu os objetivos da Política Nacional de Educação Física e
Desportos, que recomendava para o 2º grau “a ênfase no treinamento para as atividades
gímnico-desportivas e o desporto competitivo” (BETTI, 2009, p. 128). A partir dessa Lei “A
esportivização exerceu uma influência vital na organização curricular e programática da
Educação Física Escolar” (BETTI, 2009, p. 130), perpassando pela rigorosa escolha dos
alunos (que já tivessem habilidades e aptidão) que fariam parte das equipes de treinamento,
podendo, este, substituir as aulas de Educação Física e a participação em eventos esportivos
admitido como frequência escolar.
Nessa década a Educação Física na ETFMT tinha três sessões semanais, como
orientava a legislação em vigor, e sob a coordenação do Professor Polzin todos os alunos e
alunas eram matriculados nas turmas de Educação Física (ginástica masculina e ginástica
feminina), onde eram selecionados (por habilidade ou estatura) para as modalidades
esportivas, e os alunos não selecionados ou que não queriam fazer alguma das modalidades
oferecidas, eram organizados nas turmas de ginástica masculina onde predominava a prática
da calistenia. Para as alunas das turmas de ginástica feminina predominava a ginástica rítmica.
Em relação ao registro de notas e processo de avaliação na Educação Física, o quadro
que encontramos é o mesmo do período anterior, ou seja, não existe registro de nota para a
Educação Física, e como já mencionamos, o principal critério era a frequência do aluno nas
aulas e os testes físicos, que serviam para considerar se um aluno estava apto ou inapto em
termos de aptidão física, o que como já descrevemos, estava previsto no artigo 39 do Decreto-
Lei nº 4.073 de 1942, alterado pela Lei nº 28 de 25/02/47. Segundo o professor Sabino
Albertão Filho, estes testes deveriam servir como referência para o planejamento das aulas, no
entanto, como o número de alunos por turma era grande, acabavam ficando como um
referencial da evolução ou não da aptidão do aluno.
Você fazia uma avaliação que era a avaliação do mundo na época, que era o
teste de Cooper, e tentava colocar esse teste de Cooper, os alunos, dentro dos
parâmetros do teste de Cooper, aí você trabalhava todos, a carga deveria ser
diferente, não dava para você fazer isso porque as turmas eram de 40 alunos,
50 alunos, se as turmas fossem menores, [...] daria para você controlar, mas
87
mal dava para saber o nome dos alunos. (SAF, Professor 3).
O fato novo nesse período, e que encontramos em alguns históricos de alunos,
registros do número de aulas dadas e de faltas do aluno na disciplina de Educação Física, esse
fato pode indicar que a Educação Física começava a ganhar maior respeito na escola.
Figura 30 – Ficha individual de aluno do ano de 1970.
Fonte: Arquivo Permanente do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva.
Outro fator que indica a valorização de Educação Física, é a ampliação da
88
infraestrutura destinada a sua prática, já mencionada anteriormente, com a construção do
parque de atletismo, composto por pista com dimensões não oficial, caixa de salto em
extensão, salto em altura, lançamento de disco, dardo e peso, o que segundo o professor
Natanael Henrique de Moraes, permitiu a realização das aulas na própria escola,
principalmente a iniciação dessa modalidade, se deslocando para outras pistas com tamanho
oficial, apenas para preparação final de alguma competição.
3.8 A Mudança no Perfil dos Professores de Educação Física a partir da Década de 1970
A década de 1970 registra o início da mudança no perfil da formação dos professores
da escola. Graduados em Educação Física começam a ser contratados sob o regime de
trabalho horista, e passam a trabalhar junto com os professores leigos. Em nossa pesquisa
documental e entrevista foi possível identificar os seguintes professores leigos:
Emílio Albernaz Polzin, já apresentado anteriormente.
Delma Borges da Silva, que foi contratada em 1972, e aposentou-se em 1993,
segundo os entrevistados, a professora não tinha graduação em Educação Física, mas estava
apta a ministrar a disciplina, porque havia feito o curso CADES (Campanha de
Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário) que tinha como objetivo, elevar o nível do
ensino secundário.
Júlio César Huguiney de Siqueira, já apresentado anteriormente e, segundo registro
na ficha financeira do departamento de pessoal, atuou na escola como professor horista entre
os anos de 1969 a1973.
Osvaldo Roberto Sobrinho, segundo registro na ficha financeira do departamento de
pessoal, atuou na escola como professor horista nos anos de 1970, 1971 e 1972.
A partir de 1971, começam a ser contratados professores graduados, todos vindos de
outros Estados, uma vez que nesse período não existia curso de graduação em Educação
Física no Estado de Mato Grosso.
No relato do professor Sabino Albertão Filho, podemos observar que esta mudança
não ocorreu de forma tranquila, ou que fazia parte de uma política da direção da escola, para
melhorar o nível de formação acadêmica dos professores, muito pelo contrário.
Quando eu vim e solicitei as aulas na escola, eu vim prá universidade, mas o
salário era pequeno não dava pra ficar só na universidade. [...]. Então, nos
indicaram a Escola Técnica Federal de Mato Grosso. Nós viemos aqui e
pedimos as aulas, conversamos com quem era o diretor da época, que era o
89
coronel Torquato, e ele disse que já tinha o quadro completo de professores,
então que ele não podia nos ceder aula, tudo bem, tudo bem, o que que nós
fizemos, nós fomos num advogado e requeremos as aulas, eu tinha direito,
eu era graduado, eles não eram graduados, ai,[...] tive que voltar para São
Paulo porque tinha falecido minha mãe, quando eu cheguei aqui minha mãe
faleceu, e eu não pude voltar, não dava tempo, fiquei aqui, acertei a
universidade, assinei o contrato com a universidade em fevereiro de 73 e vim
para a escola e requeri as aulas, e deixei meu endereço em São Paulo, ai, o
Coronel Torquato disse que não era possível, porque ele tinha os professores
e tal, ai é briga de justiça, eu requeri e entrei com requerimento, o que que
eles fizeram, eu acabei de chegar em São Paulo, no outro dia veio um
telegrama, prá mim vir assumir as aulas em 24 horas, de três lagos até aqui
eu tinha gasto 36 horas, não ia assumir de jeito nenhum.[...]. Fomos a
Urubupunga, compramos uma passagem eu subi no avião no mesmo dia e
vim descer em Cuiabá a noite, no outro dia me apresentei aqui de manhã,
quando me apresentei nego quase desmaiou ai, já tinha política naquela
época, porque, eles não queriam tirar o pessoal que era deles, não sei se eles
estão certos ou errados mas eu tinha meus direitos, tinha que brigar pelos
meus direitos, quem não briga pelos seus direitos não tem direito de ter
direitos. (SAF, Professor 3) (sic.)
Vários desses professores passaram a compor o quadro de professores do recém
criado Curso de Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), este dado
confirma a já mencionada carência de profissionais graduados na área no Estado, e atesta a
competência técnica dos professores que lecionaram na ETFMT e que agora apresentamos de
forma breve:
O Professor Kenji Kido, graduado em 1968, na última turma da antiga Escola Superior
de Educação Física do Estado de São Paulo (USP). Foi contratado como horista em março de
1972 e permaneceu até dezembro do mesmo ano, quando pediu exoneração para assumir
contrato com a Faculdade de Educação Física da UFMT onde foi Pró-Reitor de Extensão e se
aposentou. Atualmente é professor do Curso de Educação Física do UNIVAG, de onde foi o
primeiro Coordenador.
O Professor Natanael Henrique de Moraes, foi jogador profissional de futebol,
graduou-se em Educação Física pela ESEFFEGO em 1972. Foi contratado como horista em
1973 e se aposentou em 2008. Atuou também, como técnico de atletismo, professor na
Faculdade de Educação Física da UFMT, Diretor do Departamento de Desporte do Estado de
Mato Grosso (DED/MT) e professor da rede estadual de ensino.
Espedito Sabino da Silva, graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais, foi
contratado em 1972 e pediu exoneração no mesmo ano para assumir contrato com a
Faculdade de Educação Física da UFMT. Foi ainda secretário de Esporte e Lazer de Cuiabá.
Sabino Albertão Filho, graduado pelo Instituto Toledo de Ensino, São Paulo.
Ingressou em 1973 e aposentou-se em 2008. Foi professor da Faculdade de Educação Física
90
da UFMT, secretário de Esportes do Estado de Mato Grosso, presidente da Federação
Matogrossense de Voleibol.
Cinira Melhorança Albertão, graduada pelo Instituto Toledo de Ensino, São Paulo,
ingressou em 1973 e aposentou-se em 1994. Foi professora da Faculdade de Educação
Física da UFMT.
José Carlos Paulino Gonçalves, ingressou em 1976 e aposentou-se em 2007.
Ugo da Conceição Padilha, ingressou em 1980 e aposentou-se em 1996. Na
atualidade, ano de 2011, é prefeito da cidade Santo Antonio do Leverger, município do Estado
de Mato Grosso.
Os professores entrevistados Sabino Albertão Filho, Cinira Melhorança Albertão e
Natanael Henrique de Moraes, informaram que possuem cursos de atualização e/ou
especialização lato sensu em modalidades esportivas e/ou ginástica. Já o professor Kenji
Kido, informou que possui o mestrado em Educação Física. Os professores Espedido Sabino
da Silva, José Carlos Paulino Gonçalves e Ugo da Conceição Padilha, por não terem sidos
entrevistados, não sabemos se possuem cursos de especialização lato ou stricto sensu.
Na década de 1980 novos professores passam compor o quadro docente da ETFMT.
São contratados três novos professores graduados pela Faculdade de Educação Física da
UFMT, todos eles egressos da ETFMT. A seguir faremos uma breve apresentação dos que
permanecem em atividade no atual IFMT, segundo as informações obtidas pelos mesmos
durante a entrevista.
Evandro Ferreira da Silva, graduado em Educação Física pela Faculdade de
Educação Física da UFMT em 1983. Foi contratado como professor substituto em 1985 e na
atualidade é professor e coordenador de Educação Física do atual IFMT Campus Cuiabá –
Octayde Jorge da Silva. Nessa instituição lecionou as modalidades de atletismo, ginástica
masculina e musculação.
Tânia Maria Pinheiro, graduada em Educação Física pela Faculdade de Educação
Física da UFMT em 1983. Foi contratada como professora substituta em 1985 e na atualidade
é professora do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva. Nessa instituição lecionou as
modalidades de dança, futsal feminino e basquete.
Pedro Luiz Sinohara, graduado em Educação Física pela Faculdade de Educação
Física da UFMT em 1982. Foi contratado como estagiário em 1979 e na atualidade é
professor do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva e da UFMT, atuando com a
modalidade de Judô. É treinador da seleção brasileira de Judô, e já ocupou o cargo de
secretário de Esporte e lazer da Prefeitura Municipal de Cuiabá.
91
Dessa relação, todos informaram que possuem cursos de atualização e/ou
especialização lato senso em modalidades esportivas, ginástica, dança ou musculação. Nesse
grupo a preocupação com a formação acadêmica já se observa. Na Atualidade o professor
Evandro é mestrando em ciências da educação na Universidad Técnica de Comercialización y
Desarrollo, U.T.C.D., Paraguai.
Novos professores vieram se somar aos que já mencionamos, alguns por
transferência de outras unidades de ensino, como os professores:
Antonio José Sacilotti, que chegou em 1991 e em 2011 continua em atividade;
José Waltoelson do Espírito Santo, chegou em 1993 e se aposentou em 2011;
E outros por concurso público como os professores:
Fredyson Hilton Figueiredo Cunha, ingressou em 1991, foi transferido para o
Instituto Federal de São Paulo;
Belnedice Terezinha Figueiredo Fernades, ingressou em 1992 e encontra-se em 2011
afastada para doutoramento;
Leila Auxiliadora de Arruda Alencar, ingressou em 1993 e encontra-se afastada para
doutoramento.
Nesse grupo de professores observa-se um salto na preocupação com a formação
acadêmica. Destes o professor Antonio José Sacilotti é mestrando em ciências da educação
na Universidad Técnica de Comercialización y Desarrollo, U.T.C.D., Paraguai. O professor
Fredyson, transferido para IFSP, tem mestrado e as professoras Belnedice Terezinha e Leila
Auxiliadora estão afastadas para doutoramento.
Temos que considerar as dificuldades e facilidades de cada época, em termos de
oferta e acesso aos cursos de atualização profissional em nível de Lato e Stricto Sensu, mas
podemos observar que a preocupação com a atualização profissional é mais visível nos
professores, que ingressaram na Instituição na década de 1990.
Podemos observar na fala dos professores de Educação Física da ETFMT, o impacto
das mudanças que estavam ocorrendo no país no final da década de 1970 e início da década
de 1980, e os seus reflexos na Educação Física da escola.
[...] Houve uma evolução muito grande, as pessoas diversificaram assim os
objetivo da Educação Física, tem muitos assim, que o objetivo está na saúde,
outros tá na educação e ficou esse jogo de empurra, até nos próprios alunos
mesmo da universidade eles, tipo que lado que nós estamos [...]. (NHM,
Professor 2).
92
No campo das políticas educacionais, as dificuldades encontradas pela maior parte
das escolas públicas estaduais e privadas, apresentadas anteriormente, e o desinteresse da
classe média pelo ensino profissionalizante (MOURA, 2007), fez com que a velha dualidade
entre ensino profissionalizante e propedêutico ressurgisse no âmbito da legislação, com todo o
seu vigor, reafirmando-se novamente na oferta propedêutica como a via preferencial para
ingresso no nível superior e o ensino profissional como via preferencial de acesso ao mundo
do trabalho (KUENZER, 2000).
A Lei nº 5.692/1971 foi sendo gradualmente flexibilizada, inicialmente pelo
Parecer nº 76/1975, do Conselho Federal de Educação, seguido da Lei nº
7.044/1982. O conjunto dessas modificações operou no sentido de facultar a
obrigatoriedade da profissionalização em todo o ensino de 2º grau.
(MOURA, 2007, p.14).
De 1980 a 1986, com a reabertura política caracterizada pelo esgotamento do regime
tecnoburocrático-militar, a política educacional passa a ser questionada em seus rumos
históricos e finalidades sociais. Surgem propostas de descentralização e participação como
solução para a crise (BETTI, 2009), bem como de uma revalorização do papel social da
escola. Segundo Silva (1999) é nesse contexto que a Lei 7.044/1982 veio liberar as escolas
que não desejavam oferecer qualificação profissional aos seus alunos, em sintonia com a luta
dos movimentos sociais pela democracia e com a renovação pedagógica que aflorava no
Brasil, ampliaram-se as discussões sobre o lugar ocupado pela Educação Física na escola,
tendo em vista a reconstrução de seu objetivo pedagógico.
O discurso pedagógico da Educação Física, nessa década, reflete a sua “crise de
identidade” (BETTI, 2009, p. 134), e adquire contornos críticos, numa busca de
transformação social, pensamento crítico, criatividade e conscientização. Entretanto, faltou
um método ou métodos de ensino que lhe correspondessem de forma mais sistemática e
efetiva, pois segundo Betti (2009), oficialmente o modelo piramidal foi substituído pelo
modelo de subsistemas, neste, “A Educação Física Escolar „um fim em si mesmo‟,
considerada como um conjunto de atividades educativas que visam a criar o gosto e o hábito
de exercício físico regular” (BETTI, 2009, p. 137), no entanto, os estudos do autor afirmam
que na prática, o sistema piramidal continuava sendo utilizado.
3.9 O Reflexo da Mudança do Perfil dos Professores no Método de Ensino Após 1980
Como resposta a pergunta se existia algum método de ensino que deveria ser seguido
93
(francês, esportivo generalizado, esportivização ou sistema piramidal, outros), e por quem era
definido, os três professores egressos da UFMT, contratados na década de 1980 afirmaram
que não recebiam nenhuma orientação nesse sentido, e ao serem questionados sobre qual
método utilizavam, responderam:
Na ginástica aeróbica e dança eu fazia essa pirâmide para selecionar para
apresentação, dava oportunidade para 70%, teve época que todas
apresentavam, nem que fosse para enfeitar, todas apresentavam, as que se
destacavam iam para a dança, as que não, iam para a ginástica com aparelho,
e mesmo com movimentos mais simples participavam. Na iniciação
esportiva nós íamos observando e indicávamos para as modalidades, pela
observação do biótipo. (TMP, Professora 6).
[...] até oriundo do meio que fui criando, eu também acompanhei um pouco
esse método, esse método de estar buscando a parte da ginástica, mais da
calistenia, porque eu entrei na instituição e eu vim com esse método
também. Antes havia uma cobrança para o aluno alcançar um desempenho,
os alunos teriam que demonstrar um desempenho, mesmo porque os alunos
eram preparados para buscar a competição, para ir para a competição. (EFS,
Professor 5).
[...] por isso eu usava o método padrão, todo mundo utilizava no judô. (PLS,
Professor 7).
Como podemos observar na narrativa dos professores, o sistema piramidal ainda
norteava a prática docente na Educação Física da ETFMT, assim como em boa parte do Brasil
como afirma os estudos de Betti (2009).
Podemos observar, ainda, na fala dos professores, que a opção por este método se
justifica em função da formação acadêmica e esportiva destes. Devemos considerar a
influência que os professores Sabino Albertão Filho, Natanael Henrique de Moraes, Hugo da
Conceição Padilha e a professora Cinira Melhorança Albertão, exerceram sobre os novos
professores, pois, eram docentes da recém criada Faculdade de Educação Física da UFMT,
onde este três professores se graduaram, além de terem sido seus professores no ensino médio
da ETFMT.
O professor Sabino Albertão Filho destaca que apesar de serem professores da
UFMT e lá participarem das discussões sobre as novas propostas para a Educação Física que
borbulhavam na década de 1980 e 1990, a opção pelo método na ETFMT se deu de forma
natural, uma vez que:
A discussão não acontecia aqui porque todos nós éramos do grupo técnico, a
contraposição do grupo técnico, nós chamávamos de grupo dos educadores,
e era o pessoal que ficou na universidade, tinham muitos que eram só
94
técnicos também, mas que ficaram na universidade. (SAF, Professor 3)
A nossa filosofia é meio diferente, vocês estão mais na parte educacional e
na minha visão é mais técnica do que educacional, embora dentro da técnica
você aplica o educacional, mais é diferente a visão, a minha visão e a do
Kido ela abre completamente. Nós dois temos quase que os mesmos
objetivos só que a formas que nós queremos atingir esses objetivos são
diferentes. (SAF, Professor 3).
É possível observar também, talvez como reflexo da crise instalada na área, novas
atitudes e posturas frente ao papel da Educação Física. Quando questionados sobre o que se
esperava que os alunos aprendessem nas aulas, os professores responderam:
O gosto pela atividade física, desenvolver a saúde e o gosto pelo esporte.
(NHM, Professor 2).
O conhecimento de coisas diferentes do que via la fora, diferente mais
relacionado com o dia dele, abaixar, levantar, sorrir, alongar, fazia eles
pensar, muito exemplo assim da realidade a vida do cotidiano. (TMP,
Professora 6).
Como toda atividade física a gente procura estar transmitindo a questão da
saúde e cidadania, porque através do esporte através de todas as ações da
disciplina evidencia este lado de estar buscando essa questão da saúde e
cidadania (EFS, Professor 5).
Era um auxiliar para a educação dos alunos, pelo auto grau de hierarquia de
disciplina que o judô requer, os alunos problemáticos eram mandados para o
judô e nós revertíamos o quadro. (PLS, Professor 7).
Chamo a atenção para as questões como saúde, educação, ampliação do
conhecimento sobre o universo da cultura de movimento, cidadania, dentre outros, que
mesmo atrelados ao esporte, demonstram que, pelo menos na intenção destes novos
professores, se buscava uma nova Educação Física para a ETFMT.
3.10 A Ampliação das Possibilidades de Prática na Década de 1990
As novas questões observadas na narrativa dos professores têm reflexos que podem
ser observados no final da década de 1980 e durante a década de 1990, nas atividades
ofertadas aos alunos, surgindo a modalidade de dança (dança afro, danças populares), novas
opções no campo da ginástica como a musculação e ginástica aeróbica e no campo das lutas, a
modalidade de Judô.
A infraestrutura para as aulas de Educação Física que teve um forte investimento nos
anos de 1980 início de 1990, também possibilitou o oferecimento das novas modalidades. Em
95
setembro de 1984, era composta por duas quadras de esportes sendo uma a céu aberto e uma
coberta (atual ginásio de esportes Sabino Albertão, ambas com instalações de banheiros e
sanitários, uma praça de Esportes “professor Darwin Monteiro da Silva”, com campo de
futebol, pista de atletismo, sanitários, arquibancadas e refletores para uso noturno
(ALBUQUERQUE, 1984). Ao lado da pista de atletismo existia uma área gramada com
aparelhos de barras horizontais suspensas e barras verticais com aproximadamente 6 metros
de altura, um cavalo sem alças (aparelho de ginástica artística), fixo ao solo, confeccionado
em madeira.
Apesar de ampla, a infraestrutura não atendia a demanda das aulas, pois como
observamos nas respostas dos egressos, até o estacionamento da escola era utilizado para as
aulas de Educação Física;
No campo, pista de corrida e no estacionamento. (VRSSA, Egressa 10).
Na Educação Física: tínhamos aula onde houvesse vaga e espaço, às vezes
até no estacionamento da escola. (LSTM, Egressa 11).
Apesar das mudanças e ampliação das possibilidades de prática, nem todos os alunos
tinham acesso a elas, uma vez que havia um limite de vagas oferecidas para cada modalidade.
A seletividade continuou sendo um dos critérios de organização das turmas, mas, também
nesse sentido, é possível observar avanços, pois começam a ser criadas turmas de iniciação
esportiva para aqueles que queriam apreender uma nova prática esportiva e não tinham
habilidade e/ou biotipo para fazerem parte das turmas de treinamento da escola.
Além das aulas de Educação Física propriamente dita existiam os esportes,
que eram direcionados para os esportes, então era, cada professor tinha o seu
planejamento de aula, planejamento anual, planejamento de aula que eles
faziam e executavam. Como eu disse para você aquelas orientações, aquelas
atitudes que eram colocadas ali vinham oriundas de onde, do conhecimento
que você teve através dos métodos da época, através dos métodos da
Educação Física que cada professor escolhia, e a Educação física sempre
procurando encaminhar aqueles alunos que tinham aptidão, boa
coordenação, para desenvolver os trabalhos dentro das aulas de treinamento,
e tinha a iniciação, que os bons e os menos bons, o gordinho e o magrinho
tava ali presente também para não haver aquele processo de discriminação.
(NHM, Professor 2).
Não existia nenhum critério, bastava a vontade e ter a vaga já que as turmas
eram limitadas em 35 vagas. (PLS, Professor 7).
96
Além das turmas de iniciação, começam a ser quebradas algumas barreiras típicas do
regime militar, como a criação de turmas femininas em modalidades esportivas, até então,
tipicamente masculinas, como se observa nas seguintes falas:
[...] o judô feminino no estado nasceu lá. Uma geração muito forte que
nasceu na escola técnica. Vou fazer um histórico aí também. O Coronel
Octayde sempre relutou para não apresentar o judô feminino na escola, e
esse grupo desde o primeiro semestre, no caso já tinha o judô masculino lá,
sempre brigou, pedia, eu ia falar com a direção, no caso o coronel ele não
deixava, falava que não era coisa para mulher, e o judô feminino não existia
no cenário nacional e mundial também, depois de três semestres insistindo o
coronel falou que: se vocês conseguirem reunir pelo menos umas vinte
meninas quem sabe a gente monta uma turma e, no semestre seguinte, já
tinha 35, então a primeira turma começou com trinta e cinco alunas, e ai o
judô foi tão forte que com um ano já fomos convidados para participar dos
jogos do interior de São Paulo, um campeonato muito forte, o nosso era o
único do estado e no Brasil. (PLS, Professor 7).
[...] eu também comecei o futsal feminino naquela época. Imagina mulher
jogar futsal, e as meninas como sabiam que eu era liberal, assim, de achar
que não tinha que ter esse negócio de homem pra lá e mulher pra cá, as
meninas vieram me procurar se eu não podia treinar porque elas estavam
loucas para entrar no estudantil, e a escola não tinha time, eu não podia
treinar elas, eu treino vocês fora do horário de aula. No início do semestre eu
falei que tinha meninas que queriam fazer futsal, mas o coordenador disse
que isso não era coisa de mulher e que não teria alunas, eu disse se eu provar
que tem meninas para fazer futsal você abre uma turma? O grupo começou
com 12 meninas e foi crescendo. No ano seguinte a coordenação abriu as
turmas de futsal feminino. (TMP, Professora 6).
Nos dois relatos destacamos que essa abertura se deu pela persistência das alunas,
frente às restrições à práticas consideradas pela direção da escola, exercida por um coronel do
exército, como práticas masculinas.
Para Goellner (2009, p. 271)
A história das mulheres no universo cultural do esporte brasileiro é marcado
por rupturas, persistências, transgressões, avanços e recuos. É uma história
plural, que não pode ser analisada por um único olhar, dado serem plurais as
próprias mulheres e, também, as formas através das quais participam do
esporte. [...].
Na década de 1990 encontramos na narrativa de uma das professoras o início das
turmas mistas com a inserção de meninos em modalidades tipicamente femininas.
Não existiam turmas mistas, eu trazia os meninos do basquete para fazer
aeróbica junto com as meninas, a porta ficava lotada eles queriam ver os
meninos fazer aeróbica, e ai foram ver que não tinha nada de mais, que
97
depende do professor, [...] (TMP, Professora 6).
A ginástica calistênica, figura 31, e feminina, figura 27, continuaram sendo
oferecidas, mas agora como opção para os alunos que não gostavam ou não queriam fazer
nenhum dos tipos de modalidades esportivas, dança, ou luta oferecidos. Na fala da professora
Tânia as aulas de ginástica passaram a ter um caráter mais lúdico, com atividades e jogos que
levassem o aluno a se interessar por alguma modalidade esportiva, o que corresponde à
proposta do modelo de subsistemas, onde “A Educação Física Escolar „um fim em si mesmo‟,
considerada como um conjunto de atividades educativas que visam a criar o gosto e o hábito
de exercício físico regular” (BETTI, 2009, p. 137).
Figura 31 – Aula ginástica masculina
Fonte: Arquivo Fotográfico do IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva, 1989;
As aulas eram eminentemente práticas, como nos informa o professor Natanael:
[...] eram práticas, teóricas aconteciam quando acontecia alguma coisa como
chuva, na natação em época de frio, não tinha dispensa, [...] (NHM,
Professor 2).
Ainda sobre as aulas e o planejamento das mesmas, identificamos que continuaram
98
sendo orientados pelo conhecimento de cada professor.
O planejamento que você tinha era o planejamento que você aprendeu na
faculdade [...], você fazia o planejamento do ano e dividia em dois semestres
e baseado naquilo que você achava que ia se fazer de campeonatos e na
Educação Física era a Educação Física normal, você planejava as aulas de
Educação Física e você dava, de que jeito, você fazia uma avaliação, que era
a avaliação do mundo na época, que era o teste de Cooper, e tentava colocar
os alunos dentro dos parâmetros do teste de Cooper, ai você trabalhava
todos, a carga deveria ser diferente, não dava para você fazer isso porque as
turmas eram 40 alunos, 50 alunos [...]. (SAF, Professor 3).
Os professores informaram ainda, que esse planejamento não tinha nenhum tipo de
acompanhamento por parte das coordenações a quem eram encaminhados.
Em relação aos registros de nota da disciplina, podemos verificar que nessa década
assim como nas anteriores, não existe lançamento referente a Educação Física nos históricos
dos egressos, conforme figura 32.
Figura 32 – Histórico Escolar de Egresso do Curso de Eletrotécnica
Fonte: Arquivo Pessoal, Rogério Marques de Almeida, 1989.
99
A avaliação continuou se referenciando nos teste de aptidão e na frequência às aulas,
que continua sendo apresentada como o principal elemento na aprovação ou reprovação do
aluno, conforme a narrativa dos professores e relatos dos egressos, que quando questionados
sobre como eram avaliados responderam:
Não sei te informar. Eu só tirava 10. (VRSSA, Egressa 10).
Pela presença. (LSTM, Egressa 11).
Presença e/ou escrita, prova de resistência. (LJGRP, Egresso 12).
Pela presença. (DMG, Egresso 13).
3.11 Educação Física Integrada a Proposta Pedagógica da Escola: o que diz a prática
A Educação Física na ETFMT, desde 1971, estava na estrutura curricular de todos os
cursos técnicos profissionalizantes da época: Estradas, Edificações (diurno e noturno),
Agrimensura, Eletrotécnica (diurno e noturno), Eletrônica (noturno), Telecomunicações
(noturno) e Secretariado, compondo o núcleo comum da formação geral, por força do artigo
7º da lei 5692 com três aulas semanais do primeiro ao quinto semestre, não sendo obrigatória
no sexto e sétimo semestre dos cursos (ALBUQUERQUE, 1984).
Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, oito anos depois, entra em
vigor uma nova LDB, a Lei nº 9.394/1996. Nesse período, praticamente só se encontra o 2º
grau profissionalizante nas Escolas Técnicas e Agrotécnicas Federais e em alguns poucos
sistemas estaduais de ensino. (MOURA, 2007).
Nessa proposta, o papel do ensino médio estaria orientado à recuperação da
relação entre conhecimento e a prática do trabalho, o que denotaria explicitar
como a ciência se converte em potência material no processo produtivo.
Dessa forma, “seu horizonte deveria ser o de propiciar aos alunos o domínio
dos fundamentos das técnicas diversificadas utilizadas na produção, e não o
mero adestramento em técnicas produtivas. Não se deveria, então, propor
que o ensino médio formasse técnicos especializados, mas sim politécnicos.”
(FRIGOTTO; CIAVATTA; RAMOS, 2005 apud MOURA, 2007, p. 35).
A LDB de 1996, em seu Art. 26º, parágrafo 3º, determina: “A Educação Física,
integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica,
ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos
cursos noturnos” (BRASIL, 1996). O que coloca a Educação Física, igualmente responsável
100
pela formação das crianças e jovens, deixando de ser considerada uma “atividade” e passando
a ser um componente curricular como os demais.
Analisando a Educação Física nesta instituição de ensino, à luz da LDB de 1996,
podemos afirmar com base nos dados demonstrados no estudo, que a Educação Física sempre
foi um componente curricular obrigatório, e como apregoavam as legislações anteriores,
considerada e tratada como uma “atividade”, desarticulada da proposta pedagógica da escola,
situação reconhecida na fala de um dos professores:
Eu posso sentir é que a educação física, ela praticamente funciona como uma
atividade a parte, não tem nenhuma ligação com as disciplina de sala de
aula, isso na visão de interdisciplinaridade, isso não quer dizer que a
educação física não contribui para isso, quando o aluno goza de boa saúde,
tem um condicionamento ele vai estar também preparado para estar
desempenhando suas funções intelectuais, concentração. (EFS, Professor 5).
Na fala dos professores, a única lembrança de atividades interdisciplinares em que a
Educação Física estava envolvida, era a Gincana das Cores (figura 33), atividade lúdico-
recreativa, criada pelas professoras Ciníra Melhorança Albertão e Delma Borges da Silva,
para as turmas de Ginástica Feminina, segundo o Professor Natanael Henrique de Moraes,
esta atividade era:
[...] uma festa, a quadra ficava lotada, a maior parte das atividades eram
voltadas para o esporte, arremessar na cesta, fazer gol do meio da quadra
sem goleiro. (NHM, Professor 2)
Esta atividade foi lembrada também pela professora Tânia:
[...]era o momento em que as alunas de todos os cursos se encontravam,
pois, as equipes eram feitas misturando todas elas. (TMF, informação
Verbal)
O professor Natanael Henrique de Moraes acrescentou que como a Gincana não
priorizava a rivalidade, logo foi aberto para as meninas das turmas de treinamento e várias
atividades de cunho cultural e de conhecimentos gerais foram introduzidas, abrindo espaço
para outras disciplinas escolares. Ainda de acordo com este professor, no início, a
participação dos professores de outras áreas era grande, mas com o tempo foi diminuindo.
101
Figura 33 – Competição de Dança na Gincana das Cores
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT, Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva, 1990;
De acordo com os registros fotográficos do IFMT, e com a fala dos professores
entrevistados, a Gincana das Cores tinha como um dos objetivos, “[...] despertar nas meninas
da ginástica o gosto pelo esporte” (NHM, Professor 2), com o tempo foi transformada em
Gincana Educativa da ETFMT, mais voltada para atividades da Cultura Geral do que para
prática de atividade física.
A década de 1990 foi muito fértil no que se refere a propostas pedagógicas para a
Educação Física Escolar, fruto da crise instaurada na área e que levantou vários
questionamentos sobre o papel da Educação Física, e entre eles o que mais gerou debates foi
uso do esporte, como já apresentamos, o principal elemento da cultuara corporal na Educação
Física da então ETFMT.
A narrativa dos professores não deixam dúvidas sobre a manutenção da opção de se
trabalhar com o sistema esportivo, apesar “da grande divulgação de novas idéias, com maior
embasamento científico e reflexão teórica, e propostas de inovação metodológica” (BETTI,
2009, p, 143) (sic.) que tiveram início a partir de 1982, como por exemplo as propostas
Crítico-emancipatória, a Desenvolvimentista, e a Construtivista que surgiram no período entre
1980 a 1990 e de 1991 a 2002 a Sistêmica, a Crítico-Superadora, a Cultural, a dos Jogos
Cooperativos, a da Saúde Renovada e a dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).
Das questões como saúde, educação, ampliação do conhecimento sobre o universo da
102
cultura de movimento, cidadania, citadas pelos professores como o que esperavam que os
alunos aprendessem nas aulas, apenas aquelas ligadas à saúde e ao esporte, reflete-se nas
respostas dos egressos desta década, quando perguntados sobre o que aprenderam na
Educação Física, assinalaram dentre as sete (7) alternativas, as que correspondiam ao Esporte,
e à importância e benefício da atividade física, esses duas vertentes também ganham destaque
quando foram questionados sobre “O que se esperava que os alunos aprendessem nas aulas?”,
por aparecerem entres as quatro assinaladas como de maior importância.
Esses dois elementos também são bastante significativos para esses egressos na
atualidade, pois quando questionados, “Em sua opinião, a Educação Física foi importante na
sua formação?”, obtivemos como respostas:
Com certeza que sim. Através da prática esportiva tive a oportunidade de ser
uma pessoa sadia não apenas fisicamente, mas mentalmente e
psicologicamente. (DMG, Egresso 13).
Já uma egressa que nas suas respostas afirma ter feito as aulas por ser obrigatória, e
“não via a hora de acabar” respondeu:
Sim, pois através delas consegui entender a importância para a saúde.
(DMGN, Egressa 14).
Na década de 1990 novos investimentos são feitos na infraestrutura, para as práticas
de Educação física, que passou a contar com uma praça de esportes redesenhada com a
inauguração de um novo bloco contendo quatro salas para guardar materiais esportivos, sala e
banheiros para professores, coordenação de Educação Física, sala para dança e sala para judô,
que recebeu o nome de bloco Zeli Isabel Roesler (figura 34 e 35), na área em que estava o
campo de futebol foi inaugurado em 1994 uma piscina de 25 metros e um novo bloco com
banheiros e vestiários para os alunos (figura 36 e 37) e, em 1997, duas novas quadras
poliesportivas cobertas, denominado Complexo poliesportivo e de multieventos Cel. Octayde
Jorge da Silva (figura, 38 e 39). Estes dados foram coletados nas placas de inauguração
afixadas nestes espaços.
103
Figura 34 – Placa de inauguração bloco Zeli Isabel Roesler;
Fonte: Arquivo Rogério Marques de Almeida, 2011;
Figura 35 – Bloco Zeli Isabel Roesler;
Fonte: Arquivo Rogério Marques de Almeida, 2011;
104
Figura 36 – Placa de inauguração do Parque esportivo Emílio Albernaz Polzin;
Fonte: Arquivo Rogério Marques de Almeida, 2011;
Figura 37 – Construção do Parque esportivo Emílio Albernaz Polzin;
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT, Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva, 1994;
105
Figura 38 – Placa de inauguração do complexo poliesportivo e de multieventos Cel. Octayde Jorge da Silva;
Fonte: Arquivo Rogério Marques de Almeida, 2011;
Figura 39 – Construção do complexo poliesportivo e de multieventos Cel. Octayde Jorge da Silva;
Fonte: Arquivo fotográfico do IFMT, Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva, 1994;
106
Esses dados demonstram que grande vulto de recursos financeiros foram destinados
para a melhoria e modernização dos espaços para a prática das aulas de Educação Física, o
que de certa forma demonstram a atenção dada pela direção da escola a este componente
curricular.
Após a aprovação da LDB 9.394/1996, que determinava a inserção da Educação
Física ao programa pedagógico da escola, alguns fatos demonstram que na ETFMT, a prática
se apresentava de forma contraditória a previsão legal, senão vejamos:
O novo bloco da praça de esportes passou a contar com uma sala de professores de
Educação Física o que afastou os professores desta, do convívio dos demais professores.
O número de aulas de Educação Física passa de três para duas sessões semanais.
Segundo o relato do professor Evandro Ferreira da Silva atual coordenador de Educação
Física do Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva, esta decisão foi tomada pelos professores
da época, e uma das justificativas, foi que, nas demais ETF‟s, isso já vinha acontecendo em
virtude da readequação das estruturas curriculares dos cursos para se adequarem a nova
estrutura exigida pelos Centros Federais de Educação Tecnológicas (CEFET), justificativa
que segundo o professor Evandro e o professor Natanael não era consenso entre os
professores e não encontrava respaldo em nenhuma legislação, norma ou parecer, no entanto,
contava com o apoio da diretoria de ensino e de coordenadores de curso, e foi vencedora em
votação entre os professores presentes a reunião.
Além da LDB de 1996, as Diretrizes Curriculares Nacionais, estabelecidas pelo
Conselho Nacional de Educação para a Educação Básica, atribuem à Educação Física valor
igual ao dos demais componentes curriculares, abandonando o entendimento de ser mera
atividade destituída de intencionalidade educativa (como na legislação de 1971), e passa a ser
considerada como área do conhecimento. A Educação Física deve, portanto, receber o mesmo
tratamento dispensado aos demais componentes curriculares.
As respostas dos professores que atuaram a partir da década de 1970, quando
indagados se as aulas de Educação Física ocorriam no turno ou contra turno das demais aulas,
foram:
No contraturno, na educação física existia aulas de manhã, tarde e noite.
(KK, Professor 1)
No contraturno, as aulas também eram articuladas para que os alunos que
tinham aula de laboratório tivessem aula de educação física, era articulado
para ele fazer, não ser dispensado. (NHM, Professor 2)
107
Contraturno (TMP, Professora 6).
Os elementos apresentados sugerem que a Educação Física, que legalmente deveria
estar inserida no projeto pedagógico da escola, continuou sendo relegada a um segundo plano,
em se tratando de sua função pedagógica atribuída pela legislação vigente. A fala dos
professores demonstra que os mesmos também não tinham essa preocupação, mas
acreditavam que se o aluno tivesse uma boa aptidão física teriam condições de saúde para ter
um bom aprendizado intelectual.
Nesse estudo, quando analisamos as entrevistas dos professores de Educação Física e
as respostas nos questionários dos egressos da ETFMT, verificamos que as aulas de Educação
Física Escolar apontam para uma prática ainda esportivista, ou seja, trabalham-se os jogos
coletivos de quadra (futsal, vôlei, handebol e basquete). No entanto, essa instituição desde a
década de 1980 já oferece, mesmo que por meio da seletividade, outros elementos da cultura
corporal, especificamente a dança, a musculação e a luta (judô), como seria sugerido, em
1999, pelos PCNs do Ensino Médio (DARIDO, 2003). Além disso, o esporte é abordado com
a ideia da pirâmide esportiva e desconectado do projeto político-pedagógico da escola. Tal
opção acaba desmotivando os alunos que percebem uma prática pedagógica repetitiva,
principalmente no Ensino Médio, onde de acordo com os PCNs, a Educação Física encontra-
se desprestigiada e relegada a segundo plano.
108
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os documentos oficiais dos arquivos do IFMT e as narrativas dos atores sociais que
participaram ativamente da construção dos caminhos percorridos pela Educação Física desse
estabelecimento de ensino no período histórico pesquisado (1909 a 2002), permitiu apresentar
algumas certezas e levantar várias hipóteses sobre o modo como ocorriam as aulas de
Educação Física.
Oficialmente inserida na educação pública do Estado desde 1910 e na estrutura
curricular desta escola apenas em 1927, a carência de documentos específicos a respeito das
práticas de Educação Física, no período de 1910 a 1934, não permitiu levantar com exatidão
de que modo ou se as mesmas ocorriam.
Os documentos oficiais datados de 1934 a 1944, bem como os relatos de um egresso
do período, demonstram que nesse intervalo de tempo a escola não oferecia práticas de
Educação Física e nem de exercícios pré-militares, como era recomendado pelas legislações
do período, e reforça a dúvida sobre a existência destas práticas no período anterior. É a partir
de 1945, que os documentos oficiais e as narrativas de professores e egressos não deixam
dúvidas sobre a efetivação das práticas da Educação Física no cotidiano da escola,
certificando o seu nascimento pela prática da ginástica calistênica o que destaca a presença do
método francês, por meio da ordem unida, presente até final da década de 1960. A ginástica
calistênica se mostrou presente até meados da década de 1980. O esporte aparece inserido no
contexto da Educação Física da escola na década de 1950, considerado pelo governo ditatorial
da época como importante instrumento de formação da identidade nacional, constituindo-se
como opção de prática para os mais habilidosos, situação que perdura até os dias de hoje, com
a diferença que a partir de meados da década de 1980, por meio das turmas de iniciação, foi
estendida para os menos habilidosos, bem como novas possibilidades de práticas como a
dança, musculação, ginástica aeróbica e judô, passaram a ser oferecidas.
O planejamento das aulas nunca teve uma orientação no sentido de integrar-se ao
projeto político pedagógico da escola. Os professores entrevistados informaram que o
elemento balizador sempre foi a experiência enquanto aluno/atleta e a formação acadêmica de
cada um, o que fica evidente nas entrevistas, é uma visão utilitarista da Educação Física com a
intenção de transmitir aos alunos a importância da atividade física para a vida. As respostas
dos egressos aos questionários, mostram que este objetivo foi em parte alcançado, pois, apesar
de afirmarem que esse era um dos principais aprendizados que levaram da Educação Física,
apontam a obrigatoriedade como o principal fator pelo qual participavam das aulas,
109
entretanto, parece-nos que no imaginário da maior parte dos entrevistados, as mesmas ficaram
registradas como momentos de prazer, pois afirmaram que as mesmas apesar de repetitivas
eram prazerosas, e que foram importantes em sua formação, seja como uma opção de lazer,
um espaço para ampliarem os laços de amizade e se divertirem, ou ainda como espaço de
superação dos próprios limites.
A infraestrutura destinada a Educação Física começa a receber atenção na década de
1950, acompanhando o movimento do governo federal de valorização do esporte e desde
então, vem recebendo considerável aporte financeiro, este, é um dos principais elementos para
concluir que a Educação Física foi ganhando, com o passar do tempo, crescente prestígio
nesse estabelecimento de ensino.
A relação de professores (em sua maioria sem a habilitação exigida) contratados
entre 1910 e 1941, apresentada por Kunze (2006), não faz menção a professor ou instrutor de
ginástica ou exercícios militares, o que levanta duas hipóteses: a primeira, é que esta
disciplina tenha sido ministrada por oficiais do exército a exemplo do que aconteceu na
Escola Estadual Liceu Cuiabano e a segunda, que de acordo com os documentos e relato de
egressos, aponta para o fato desta escola não ter tido a prática e nem profissionais entre os
anos de 1910 a 1944. Deixamos estas duas hipóteses como desafio para futuros estudos sobre
a história da Educação Física em Cuiabá.
A partir do ano de 1945 até 1972, encontramos o registro de professores leigos
advindos do sistema militar e do esporte de rendimento, o que reforça a hipótese da prática
dos métodos Francês e Esportivo Generalizado. O perfil do quadro de professores começa a
mudar com a chegada do primeiro grupo de professores graduados em Educação Física,
vindos de outros Estados, e a contratação das primeiras professoras, na década de 1970. Na
década de 1980 começam a ser contratados professores graduados pela recém criada
Faculdade de Educação Física da UFMT, todos os professores desse período continuam em
exercício e buscaram qualificação em nível de especialização. Na década de 1990 cinco (5)
novos professores chegaram por meio de concurso e por transferência. Destes, dois já
possuem, o título de mestre e duas estão afastadas para doutoramento, isso apontaria para o
incremento da capacitação acadêmica da área, mas destes um mestre foi transferido para outro
Campi, e uma doutoranda ministra aulas voltadas para segurança, ergonomia e postura, no
departamento de construção civil, afastada das atividades de prática e planejamento da
coordenação de Educação Física.
O ingresso de turmas femininas apresentou como reflexo na Educação Física, a
contratação de duas professoras para lecionar as aulas das turmas femininas de ginástica e
110
modalidades esportivas. A persistência e luta dessas alunas, superou o preconceito da direção
militar da escola, permitindo o acesso das alunas à modalidades até então exclusivas para os
homens, como o futsal e o judô. Modalidades que junto com a dança, ginástica aeróbica e
musculação, foram implantadas após a chegada dos professores graduados pela UFMT.
A Educação Física desse estabelecimento de ensino seguiu as orientações
pedagógicas oficiais até a década de 1980, quando se instala a crise de identidade na área, a
partir daí a falta de uma proposta pedagógica melhor estruturada e articulada a um projeto
maior de formação para o mundo do trabalho reflete-se no processo de avaliação utilizado
pelos professores, baseado em testes de aptidão física para identificar o nível de
condicionamento físico dos alunos e na frequência para atribuição de notas, que até o final da
década de 1980 não eram registradas no histórico escolar dos alunos.
As aulas eram organizadas no contraturno com frequência regular durante a semana,
e de caráter obrigatório, configuração presente na atualidade. Haviam três sessões semanais
com duração que alternou entre 45 a 60 minutos. Na década de 1990, por decisão dos próprios
professores, diminuíram para duas sessões semanais. As avaliações referenciadas nos teste de
aptidão e frequência, a ampliação da estrutura física com a construção de uma sala exclusiva
para os professores de Educação Física, que no primeiro momento indica uma valorização dos
mesmos, parece mais uma forma de isolamento dos demais professores, num momento em
que a Educação Física deveria estar mais integrada com estes, contradições que demonstram
que mesmo após a LDB de 1996 ter atribuído à Educação Física o mesmo tratamento dado as
demais disciplinas, esta não se inseriu na proposta pedagógica da instituição.
Nesse trabalho alguns fragmentos dos possíveis caminhos da Educação Física do
atual IFMT Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva, centenária e sem dúvida uma referência
de qualidade de ensino escolar, foram narrados sob ótica das legislações e documentos
oficiais (discurso oficial), dos professores, atores sociais responsáveis pela aplicação do
discurso oficial, e dos egressos atores sociais que deveriam ser moldados de acordo o discurso
oficial, mas, como apontam os dados, os atores sociais não são apenas receptores, mas agentes
e construtores de várias realidades, muitas vezes divergente do discurso oficial.
Por fim, entendo que vários pontos aqui apresentados, ainda podem revelar novos e
ricos cenários, se estudados em suas especificidades com mais sensibilidade e tempo, de
maneira que ensejo que os caminhos trilhados por esta pesquisa, estimulem outros
pesquisadores para a pesquisa da história da Educação Física em Cuiabá e no Estado de Mato
Grosso, contribuindo para que a história e a memória de homens, mulheres e instituições, não
caiam no esquecimento.
111
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Educação
Física. Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano, Porta Alegre, BR-
RS, 2008.
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Cuiabá, MT: EdUFMT, 1998.
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115
APÊNDICE A: ENTREVISTA
PROFESSORES
1. Qual foi o período em que trabalhou nesta Instituição?
2. Você se lembra do nome dos profissionais de Educação Física que atuaram no mesmo
período?
3. Quem ministrava as aulas de Educação Física eram professores habilitados na área?
Caso contrário, qual a área de formação desses professores?
4. Eram professores efetivos da Instituição? Caso contrário, de onde eram e qual era o
vínculo com a instituição?
5. Qual era a sua carga horária de trabalho semanal e como era distribuída?
6. Você trabalhou somente nesta escola no período em que era professor da ETF? Em
positivo ou negativo, onde mais e por quê?
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
7. Onde e em que ano você se graduou?
ATUALIZAÇÃO PROFISSIONAL
8. Durante o período que foi professor na ETF/MT participou de cursos de
aperfeiçoamento ou pós-graduação? Qual?
9. Em caso positivo, foi por iniciativa própria ou por indicação da instituição?
10. Em caso positivo, isso provocou mudança em sua prática como professor nesta escola?
11. Em caso negativo, qual o motivo?
PLANEJAMENTO E PLANO DE AULA
12. Existia alguma norma/ou modelo a ser seguido, que orientava o planejamento de
aulas?
13. Em caso de resposta positiva perguntar: Existia algum órgão federal, estadual,
municipal que orientava/ exigia os planos de aula?
14. Em caso de resposta positiva perguntar: Existia algum material ou obra de autor que
orientava a elaboração e aplicação do planejamento? Estes eram obtidos onde, no
acervo da biblioteca da ETF ou cada professor deveria se encarregar disso?
15. Em caso negativo perguntar: O que orientava o planejamento (preparação das aulas)?
16. Os planos de aula deveriam ser encaminhados para alguma coordenação?
116
17. Havia alguma forma de acompanhamento da aplicação desse planejamento ou das
aulas?
OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
18. Quais eram os objetivos das aulas de Educação Física que você ministrava na
ETF/MT?
19. O que se esperava que os alunos aprendessem nas aulas?
CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
20. Quais as atividades/ modalidades eram oferecidas nas aulas de educação física? Como
eram escolhidos?
21. Quais conteúdos eram desenvolvidos nas aulas de educação física/ treinamento? Como
eram escolhidos?
22. Os conteúdos eram os mesmos para homens e mulheres
ESTRATÉGIAS DE AULA
23. Como as aulas de Educação Física ocorriam (como começava, se desenvolvia, se
encerrava)?
24. Existia algum método de ensino que deveria ser seguido (francês, esportivo
generalizado, esportivização ou sistema piramidal, outros)? Por quem era definido?
25. Em caso negativo, qual método você utilizava?
26. Como era a participação dos alunos durante as aulas?
27. As aulas de Educação Física eram práticas, teóricas ou havia uma mesclagem entre
teoria e prática?
28. Em especial, no ensino dos esportes, o que predominava o ensino das regras,
fundamentos, técnica dos movimentos, tática de jogo, jogo recreativo ou outra forma?
29. Quantas aulas de Educação Física ocorriam por semana e qual o tempo de duração?
AVALIAÇÃO
30. Como os alunos eram avaliados?
31. Que instrumentos eram utilizados? (Avaliação escrita, trabalhos escritos, bateria de
exercícios,....)
32. Os alunos recebiam nota?
117
33. Quais critérios eram utilizados para a obtenção das notas?
34. A reprovação na disciplina de Educação Física acarretava a repetência do ano letivo?
Quais os critérios?
A ORGANIZAÇÃO DAS TURMAS
35. As turmas que participavam das aulas de Educação Física eram mistas ou separadas
por sexo?
36. Havia separação por faixa etária, grau de habilidade motora, curso ou alguma outra
forma?
37. As aulas de Educação Física ocorriam no turno ou contra turno das demais aulas?
38. Em caso de organização por modalidades, qual/ quais você ministrava?
INFRAESTRUTURA
39. Como era a infraestrutura disponibilizada para as aulas de Educação Física na ETF/
MT?
VISÃO/ CONCEITO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
40. Em sua opinião, como a Educação Física era compreendida pelos alunos?
41. Em sua opinião, como a Educação Física era compreendida pela Direção da Escola?
42. Em sua opinião, como a Educação Física era compreendida pelos professores de
outras áreas?
43. Existia estímulo ou incentivo para a participação em eventos? Como isso ocorria e de
quais eventos participou?
44. Na sua opinião como as aulas de Educação Física contribuíram para a formação
humana dos alunos da ETF/MT?
45. De que maneira essas contribuições aconteciam?
Desde já agradeço a colaboração!
Atenciosamente,
Rogério Marques de Almeida
Professor de Educação Física, IFMT - Campus Bela Vista
Mestrando em Educação, IE/UFMT
118
APÊNDICE B: QUESTIONÁRIO
EGRESSOS
1. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
2. Qual foi o período em que você estudou nesta Instituição?
___________________________________________________________________________
3. Qual foi o curso que concluiu nesta Instituição?
___________________________________________________________________________
PLANEJAMENTO E PLANO DE AULA
4. As aulas de Educação Física seguiam algum tipo de planejamento? Os alunos eram
informados sobre o que aconteceria naquele período?
___________________________________________________________________________
5. Você participava das aulas de Educação Física?
( ) sempre ( ) às vezes ( ) nunca participava
Justifique sua resposta:
___________________________________________________________________________
6. Em caso de resposta positiva, por que participava? (Caso seja necessário, assinale em
ordem decrescente de importância com o número (6) para a de menor, até o número (1) para a
de maior grau de importância)
( ) Era obrigatória
( ) Para estar com os amigos
( ) Gostava de atividade física
( ) As aulas eram prazerosas
( ) Era uma opção de lazer
( ) Participar das equipes te dava prestígio com os colegas
Outro:______________________________________________________________________
7. Em caso de resposta negativa, por que? (Caso seja necessário, assinale em ordem
decrescente de importância com o número (7) para a de menor, até o número (1) para a de
maior grau de importância)
( ) Não me sentia integrado ao grupo
( ) Não gostava do professor
( ) Sentia dificuldades em realizar as atividades
( ) Não sentia prazer nas atividades (aulas monótonas)
( ) Não gostava de atividade física
( ) Horário das aulas eram inadequados (fora do turno das demais aulas)
( ) Não julgava a Educação Física importante
Outro:______________________________________________________________________
119
8. O que se esperava que os alunos aprendessem nas aulas? (Caso seja necessário,
assinale em ordem decrescente de importância com o número (9) para a de menor, até o
número (1) para a de maior grau de importância)
( ) Técnica de algum esporte
( ) Regras de algum esporte
( ) Condicionamento físico
( ) Respeito as regras estabelecidas;
( ) Importância do trabalho em equipe;
( ) Respeito aos colegas;
( ) Importância da Atividade física para a saúde
( ) Respeito ao adversário
( ) Vencer a qualquer a custo
Outro:_____________________________________________________________________
CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
9. O que você aprendeu nas aulas de Educação Física? (pode ser assinalada mais de uma
alternativa)
( ) Esporte (s)
( ) Brincadeiras
( ) Dança
( ) Importância e benefício da atividade física
( ) Luta
( ) Ordem unida (exercícios de marcha)
( ) Não aprendeu nada
Outro:___________________________________________________________________
ESTRATÉGIAS DE AULA
10. Você classificaria as aulas como (pode ser assinalada mais de uma alternativa)
( ) monótonas ( ) prazerosas ( ) repetitivas
11. Justifique sua resposta:
___________________________________________________________________________
12. Como era a participação e o comportamento dos alunos durante as aulas?
___________________________________________________________________________
13. Em especial, no ensino dos esportes, o que predominava? (Caso seja necessário,
assinale em ordem decrescente de importância com o número (5) para a de menor, até o
número (1) para a de maior grau de importância)
( ) O ensino de regras
( ) Sistema tático de Jogo
120
( ) Fundamento da modalidade
( ) Jogo recreativo
( )Técnica de movimentos
Outro (s) aspecto (s) :________________________________________________________
AVALIAÇÃO
14. Como os alunos eram avaliados?
___________________________________________________________________________
INFRAESTRUTURA
15. Qual (is) era (m) o (s) espaço (s) físico (s) utilizado (s) para as suas aulas? Era um
espaço apropriado para a prática?
___________________________________________________________________________
CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A EDUCAÇÃO FÍSICA
16. O que mais gostava nas aulas?
___________________________________________________________________________
17. E o que menos gostava?
___________________________________________________________________________
VISÃO/ CONCEITO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
18. Em sua opinião, a Educação Física foi importante na sua formação?
__________________________________________________________________________
19. Em caso de resposta positiva, de que forma?
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
20. Em caso de resposta negativa, por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
21. A atividade física está presente atualmente em sua vida? Em caso positivo, de que
modo? Por quê?
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
Desde já agradeço a colaboração!
Atenciosamente,
Rogério Marques de Almeida
Professor de Educação Física, IFMT - Campus Bela Vista
Mestrando em Educação, IE/UFMT